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Fanfic finalizada.

Prólogo – Burnt Ashes

Big dreams and big thrills
Flying high 터무니없는 상상해봐
네 눈앞에 달려들고 있는 별
낚아 채 불을 태워 봐

Grandes sonhos e grandes emoções
Voando alto, imagine o absurdo
Estrelas que passam diante de seus olhos
Siga-as e deixe queimar


— Bom dia. Foi divulgado pelo Governo que as guerras estão voltando nas sociedades vizinhas. Após mais de mil anos sem guerras intersociais em nosso planeta, as sociedades Marsha e Werskingsh estão entrando em conflitos sociopolíticos.
soltou um suspiro assim que escutou a voz da âncora avisar no jornal. Ele não conseguia acreditar. Já estavam no ano 5216, as guerras haviam acabado em um acordo de paz entre todas as sociedades mundiais em no começo dos anos 4000.
O garoto se lembrava brevemente sobre o que estudara sobre guerras e conflitos sociopolíticos quando tinha História Mundial na escola, mas não conseguia acreditar que aquele pesadelo estava se tornando real nos dias de hoje.
— O Governo de Kwangya está preocupado com o aumento significativo de casos da doença Conflictus, até então desconhecida. Essa doença vem atingindo principalmente os jovens entre 15 e 29 anos.
Algumas imagens antigas começaram a passar na televisão. Registros de guerras bélicas entre diversos países e simulações das maiores guerras que já haviam ocorrido no mundo passavam diante dos olhos do garoto, que engoliu em seco.
Sua mãe parecia chocada com a reportagem, mas não tinha uma reação nem um pouco parecida com a do filho, que parecia lutar contra as próprias lágrimas.
— Por que toda essa angústia? — a mulher questionou ao seu lado, mas não recebeu nenhuma resposta.
— ...A Conflictus é uma doença desenvolvida no cérebro muito parecida com uma erradicada doença chamada Depressão. O último caso dela que fora diagnosticado e retratado no Centro de Controle de Saúde de Kwangya foi em 3785. Essa doença impossibilitava a pessoa de produzir um hormônio muito importante no corpo humano chamado serotonina, conhecida como hormônio da felicidade.
— Deveria ser muito difícil enfrentar essa doença, né? — a mãe comentou enquanto assistia a reportagem. — Se ter um desequilíbrio químico no cérebro já devia ser o motivo de um desânimo diário em alguém, imagina como ficava o psicológico dessa pessoa quando recebia essa notícia?
— A principal diferença é que a Conflictus não afeta diretamente a produção de serotonina no cérebro. Essa nova doença acaba deixando suas vítimas com um cansaço mental muito grande. Esse cansaço pode resultar na diminuição da paciência e, caso duas pessoas que estejam com essa doença se enfrentem, a possibilidade de uma briga acontecer se torna muito grande.
voltou a se lembrar de algumas aulas da escola. Lá, ele vira que, com o passar dos anos, com a erradicação de guerras e conflitos sociopolíticos entre as sociedades, as pessoas passaram a levar uma vida mais leve.
Sua professora ainda comentara que sim, os seres humanos ainda podem ficar mentalmente cansados, e que isso é muito comum. Contudo, com a evolução da sociedade, as pessoas foram ficando mais pacientes e deixaram de brigar por conta de um simples mau humor.
Eles viviam no mundo ideal.
— A Conflictus começou a ser notada há pouco mais de algumas semanas quando algumas discussões começaram a ser denunciadas na estação policial. Depois de centenas de anos, a estação geral de Kwangya recebeu sua primeira denúncia...
Um policial começara a falar sobre o caso e como foi esquisito receber alguém na estação para fazer uma reclamação depois de tantos anos. recordava-se de escutar ele comentando que os profissionais da polícia deixaram de ser renomados há muitos anos, e que, na atualidade, eles não tinham casos para resolver, apenas ajudavam os cientistas a estudar e decifrar casos passados.
— Pequenos grupos de jovens começaram a se levantar contra a doença, e seu objetivo é de diminuir os pequenos conflitos que estão voltando para a nossa sociedade.
O rosto de um de seus amigos, Jisung Park, apareceu na tela. Ele começou a falar o quão triste era a situação, uma vez que eles não estavam acostumados a discutir por pequenas coisas. Enquanto o menino retratava um caso em que ele e seu grupo de apoio impediram uma briga corporal entre dois alunos de uma escola, se virou para sua mãe:
— Eu achei que isso só estava acontecendo por aqui.
— Pelo visto, essas rixas voltarão a se tornar algo rotineiro. — a mulher deu de ombros, olhando para o filho com ternura. — Fico feliz que você se importe em não brigar por coisas fúteis.
— Não consigo acreditar que isso está acontecendo, mãe. Recentemente, houve um confronto entre algumas crianças quando jogavam futebol. — viajou para alguns dias atrás, quando ele e o seu grupo de apoio também tiveram que impedir uma possível briga. Seus ombros tremeram com a possibilidade de aquilo se tornar algo comum novamente.
— Apesar dessa ajuda voluntária, o aumento de casos da Conflictus foi de 3098% nos últimos seis meses de estudo.
se engasgou.
— Com todos esses novos problemas e ameaças à integridade da sociedade, os cientistas passaram o último semestre focados em desenvolver uma possível solução para esse problema.
O garoto levantou-se do sofá, voltando a ter esperanças de a situação se reverter.
— O Governo de Kwangya irá promover um programa no qual jovens mentalmente estáveis, ou seja, que não tenham desenvolvido a Conflictus, poderão se voluntariar para dormirem por 70 anos e acordarem no futuro, podendo promover a paz e tentar progredir novamente a partir dali.
— Eu preciso ir. — disse baixo, com a esperança crescendo ainda mais em seu peito.
— As famílias que permitirem que um de seus membros entre 15 e 29 anos se voluntariem para esse projeto receberão uma pensão mensal de 1 milhão de wons.
O rapaz virou-se na direção da mãe, esperando alguma reação.
— Você sabe que a nossa família não precisa desse dinheiro.
— Os jovens que se voluntariarem serão isolados durante trinta dias, onde serão diariamente acompanhados e treinados por especialistas para enfrentar situações de conflito. O Governo aceitará as fichas a partir das 12 horas de hoje, segunda-feira. Serão necessários 25 voluntários.
voltou a olhar para a tela.
— Caso não haja voluntários o suficiente até sexta-feira da próxima semana, será feito um sorteio entre os integrantes dos grupos de apoio registrados na Secretaria do Governo para fechar a quantidade de jovens necessária.
— Eu vou. — o garoto declarou já decidido, sem esperar pela opinião da mãe.
A mulher apenas suspirou, erguendo-se para dar um abraço no filho.
— Sentirei sua falta, meu amor.

Chapter I – Entropy

시작이라는 걸 넌 믿을 수 있겠니?
이제야 사랑을 알 것 같아
Ready or not 가는 거야 나를 믿어
Soldiers knocking doors down, yelling out

Você consegue acreditar que esse é só o começo?
Acho que eu finalmente sei o que é o amor
Pronto ou não, nós vamos em frente, confie em mim
Soldados, derrubem portas e gritem alto


— Quem você acha que será sorteado? — um dos rapazes questionou .
— Não tenho ideia, não conheço muito os membros dos outros grupos de apoio. — sussurrou de volta, observando aquelas várias pessoas unidas na frente do palco.
estava no fundo do tablado junto dos outros 22 jovens voluntários. Ele batucava os dedos das mãos enquanto esperava algum dos funcionários do Governo aparecer para fazer logo o bendito sorteio.
As últimas duas semanas pareceram voar diante de seus olhos. Ele passou a maior parte do tempo com sua família, visto que ele ficaria isolado por um tempo até ser liberado para dizer o último adeus.
Uma mulher vestida em um conjunto rosado subiu a escadaria do lado do palco. Ela carregava alguns cartões em uma das mãos, como se tivesse com um discurso previamente redigido.
— Olá? — a mulher disse no microfone, testando o volume do aparelho. — Bom dia, Kwangya. Eu sou a secretária Yang, responsável pelo projeto.
O povo aplaudiu brevemente a mulher, que sorriu e curvou a cabeça em agradecimento. Ela ergueu os cartões, aparentemente para ler os textos lá escritos, e sentiu um arrepio na espinha.
— Como já é de conhecimento geral da sociedade, o projeto consiste basicamente em adormecer alguns de nossos jovens mentalmente estáveis para que eles possam levar nossas raízes apassivadoras para os povos do futuro, uma vez que o número de casos da Conflictus vem aumentado muito nos últimos meses.
se atentou nos dois assistentes que vinham empurrando um carrinho com uma bola de vidro média com alguns papéis dobrados dentro, esquecendo-se por alguns segundos de que precisava prestar atenção nos anúncios.
— ...mas, infelizmente, não batemos o número mínimo de voluntários, portanto, iremos fazer um sorteio! — percebeu que a mulher sorria, já trocando os cartões. — Aqui, nessa caixa de vidro, tem o nome dos jovens que estão registrados em algum dos grupos de apoio atuais. Vamos ver quem são os escolhidos?
Afastando-se levemente do microfone, a mulher foi até detrás da caixa, logo colocando a mão direita ali e escolhendo um dos papéis aleatoriamente. Ela ergueu-o e mostrou para a população, logo colocando a outra mão e pegando outro papel.
Os assistentes voltaram ao palco e afastaram um pouco a mesa com a caixa de vidro para que os mais novos cobaias fossem apresentados para o povo.
A secretaria Yang ergueu o seu papel da mão direita primeiro, mais uma vez mostrando ao público. Assim que um dos assistentes a auxiliou e segurou o papel da mão esquerda junto dos cartões da apresentação, a mulher abriu-o, logo proferindo o nome do primeiro escolhido:
— Jaemin Na!
Uma luz do palco foi direcionada para um garoto de cabelos pretos no meio da multidão que reconheceu. Jaemin olhou em volta, caindo na realidade de que ele havia sido sorteado, e logo então um casal o abraçou. pensou se aqueles eram os pais dele.
Um segurança caminhou até do lado de Jaemin, esperando que o abraço em família se findasse para que pudesse conduzi-lo até o palco. Depois do que se pareceram uns cinco minutos, Na se afastou dos pais e foi até o outro homem, logo caminhando em direção ao palco.
A população em volta começou a aplaudi-lo, enquanto sua mãe se esforçava para não chorar muito alto.
— Agora, nosso próximo jovem sorteado... — a secretária Yang voltou a falar assim que Jaemin se juntou aos demais. Dramatizando, a mulher ergueu o papel e passou diante do povo mais de uma vez, fazendo um suspense.
Assim que abriu o papel e leu o nome, aproximou o rosto do microfone:
— Na verdade, é uma sorteada! — sorriu. — .
O mesmo holofote que indicara Jaemin na multidão mirou em direção a uma garota de cabelos tingidos. A tal piscou algumas vezes antes de acreditar que havia sido sorteada. Sua família a abraçou naturalmente, mas a garota não esboçava nenhuma reação.
Caminhou até o palco acompanhada do segurança e, assim que conseguiu enxergar bem a fisionomia da moça, sentiu o coração palpitar.
Que todos os deuses lhe zombassem, mas ele jurou que fora amor à primeira vista.
— As famílias dos jovens Jaemin Na e deverão deixar uma mala deles no portão do Laboratório Geral até o anoitecer. — avisou com o mesmo sorriso terno no rosto. — Uma salva de palmas aos nossos 25 jovens que irão participar desse projeto, e que eles estejam preparados para o que der e vier.

■□■□■


batucou na própria perna algumas vezes enquanto repassava algumas coisas em sua mente. Estava encarando o céu limpo pela janela da sala na qual estavam trancafiados desde que toda a cerimônia do sorteio acontecera.
Observou pequenos grupinhos de amigos discutindo sobre como seria o treinamento e o que eles esperavam encontrar quando acordassem daqui 70 anos, mas não se sentiu interessado de entrar no meio da conversa como ele geralmente fazia.
Na verdade, seu olhar sempre caía na garota de cabelos tingidos.
.
De cara, ele ficou encantado com a fisionomia dela. Parecia ser uma garota doce e gentil, disposta a ajudar quem precisasse e que odiava qualquer tipo de discussão. Olhos grandes e arredondados, nariz levemente arrebitado e com os lábios bem desenhados e rosados.
Seu coração estremecia.
Notou que, assim como ele, ela estava sem companhia lá na sala. parecia não se importar com os cabelos tampando uma boa parte de seu rosto. Suas pernas estavam juntas e dobradas próximo do tronco, parecendo dentro de um casulo próprio.
Determinado a falar com ela, se levantou e caminhou até a menina.
— Hey... — ele disse ao se aproximar, tentando chamar sua atenção.
Ela nem mesmo o olhou.
— Parabéns por ter sido sorteada para participar do projeto. — tentou puxar assunto enquanto se desdobrava para sentar-se próximo dela.
o olhou, mas continuou em silêncio. O rapaz sentiu a espinha tremer assim que ela o encarou nos olhos com uma certa frieza. Ele esperou que ela falasse algo, mas não obteve resposta.
— Você não parece tão animada, mas eu entendo também. — tornou a falar após dar um leve pigarreio. — Não teve tempo para se despedir direito e–
— Vai continuar tentando falar comigo? — interrompeu-o com os olhos cansados, mas nem mesmo conseguiu se atentar a esse fato.
Ele havia escutado a voz dela.
E que bela voz.
— Não queria te deixar sozinha.
— Pois eu gosto de ficar sozinha, então se você puder me dar licença... — a garota ameaçou se levantar, mas sentiu a mão do menino ao seu lado segurar seu pulso.
fechou os olhos e respirou fundo para não começar uma briga ali mesmo e acabarem diagnosticando-a como mais uma vítima da doença de Conflictus.
Numa investida rápida, a menina ficou em pé de frente a , que a observava sem nem mesmo piscar.
— Olha, garoto. — esperou que ele se levantasse também. — Você não parece ser uma pessoa ruim, então vou relevar, mas odeio que se metam nas minhas coisas.
nada disse, apenas concordou com a cabeça e assistiu-a se afastar.
Ele supostamente deveria ficar decepcionado por perceber que a personalidade da garota não era tão adocicada como ele esperava, mas não conseguiu.
Só havia ficado ainda mais encantado.

Chapter II – Boundary

Here we go, here we go
날개를 펼치고
또 꺾이고 다쳐도
누구보다 강한 너잖아
미래의 미래에도 널 사랑할 나란 걸

Aqui vamos nós, aqui vamos nós
Abra suas asas
Mesmo que machuque como na última vez
Você é mais forte que qualquer um
Eu continuarei te amando no futuro e além


Dia 1
abriu os olhos com cuidado, ainda se acostumando com a luminosidade que vinha da janela. Mexeu a cabeça para o lado, reconhecendo seu mais novo quarto. Paredes acinzentadas, móveis brancos e pretos e o chão de azulejo claro.
Sentiu a cabeça latejar de leve, começando a se lembrar mais ou menos do que havia acontecido. Olhou o relógio pendurado na parede. 03h18 da tarde.
Com cautela, ergueu o corpo e se sentou na cama, coçando a nuca enquanto soltava um bocejo. Seu braço doeu assim que o dobrou.
— Ah... — deixou escapar assim que notou os furinhos no interior de seu braço, recordando-se de todos aqueles tubinhos de sangue que teria que tirar.
Uma das veias em sua mão direita estava levemente roxeada, provavelmente porque ele se mexeu durante o exame. A região do seu pulso no braço esquerdo estava com diversos furinhos também, provavelmente por conta do exame de alergia que também fizera.
Espreguiçou-se enquanto pensava no que faria aquele dia. Já havia concluído o cronograma que os superiores tinham determinado – a manhã inteira fazendo os exames necessários. Teria todo o resto da tarde para conhecer seus novos companheiros.
Decidiu tomar um banho e colocar uma roupa confortável para andar e conhecer todo o local do isolamento.
— Será que eu encontro a por aí? — comentou enquanto se olhava no espelho para conferir se a roupa estava bacana. Um sorriso bobo nasceu em seus lábios quando a imagem da garota se aproximando do palco após ter sido sorteada veio em sua mente.
Calçou o tênis apressado, logo fechando a porta e a trancando com seu cartão de acesso, guardando-o no bolso traseiro. Estava com uma vontade imensa de sorrir, mas não sabia exatamente o motivo daquela alegria toda.
Talvez fosse aquela dose extra de esperança que aquele projeto estava lhe dando, ou talvez porque ele estava, enfim, “trabalhando” com o que tanto amava: vidas.
Lembrou-se de quando era pequeno e sonhava em ser médico, para poder salvar e curar pessoas, mas não seguiu carreira. Foi quando se formou no ensino médio que os problemas sociopolíticos das sociedades vizinhas começaram a aflorar e, por isso, decidiu dedicar sua vida nos grupos de apoio.
Deus, como ele odiava aquela maldita Conflictus.
Virou em um dos corredores, percebendo que estava na ala médica. Enquanto caminhava, notou plaquinhas com nomes em cada porta, logo encontrando a de seu amigo Jisung Park. se aproximou para conferir se era dele mesmo.
— Cada um tem a sua sala então? — fez a pergunta em voz alta sem esperar qualquer resposta.
Continuou andando até encontrar a portinha com o seu nome. Arregalou os olhos e tentou enxergar algo pela janelinha escura, mas a sala estava vazia. Provavelmente a mulher que havia feito os exames nele já tinha terminado toda a pesquisa, ou talvez só tivera saído para fazer alguma outra coisa.
— Se tem uma salinha para cada um, então a deve ter uma dela também. — concluiu enquanto um sorriso ainda maior nascia em seu rosto.
Começou a procurar de porta em porta, percebendo que, em algumas delas, os exames ainda estavam ocorrendo. Andou por um bom tempo, já que as salas eram bem espaçosas por dentro, então as portas eram distantes uma das outras.
Até que encontrou.
mordeu o lábio inferior com a ansiedade de talvez encontrá-la ali, fazendo os exames. Não que ele fosse conseguir falar com ela, visto que todos ficavam desacordados durante todo o processo, mas ele apenas queria vê-la.
Olhou pela janelinha, notando que havia um rapaz de costas e jaleco – provavelmente o cientista responsável por ela, e ficou ansioso para vê-la na salinha.
Assim que sua mão tocou a maçaneta, sentiu-se invasivo. Ele não queria parecer um doido stalker em cima dela, apesar de sua vontade ser de ficar assistindo-a o dia inteiro.
Desistindo de sua ideia inicial, soltou a maçaneta e suspirou. Ele poderia encontrar com ela depois.
Até que uma figura aparecida apareceu na sua frente, saindo da sala de com um jaleco e uma prancheta na mão.
O rapaz levantou a cabeça quando sentiu que havia alguém o observando, e acabou fazendo a mesma expressão que .
?
? — perguntaram juntos, com os olhos surpresos ao se olharem. — Meu Deus, cara, é você mesmo.
— Não acredito que você é um dos cientistas desse projeto.
O abraço de ambos foi instantâneo. deu algumas batidinhas nas costas do amigo que não via há tanto tempo.
— Eu sempre soube que você chegaria longe.
— Obrigado, fico orgulhoso em saber que um dos meus amigos do ensino médio se voluntariou para esse projeto. — confessou enquanto apoiava a mão direita no ombro do rapaz.
— Sim, sim.
— Já fez todos os seus exames?
concordou com a cabeça, sentindo vergonha de repente. provavelmente perguntaria então o porquê de ele estar ali, na ala dos exames, já que ele já havia os completado.
E a pergunta realmente veio.
— Se já fez todos, por que ainda está aqui nesse corredor?
— Conhecendo a área. — deu um sorriso amarelado.
uniu as sobrancelhas, estranhando a fala do amigo. Soltou uma risada desconfiada, logo tombando a cabeça para o lado e relaxando a postura.
— Você ‘tá esperando alguém que está fazendo os exames, né?
Os ombros de se encolheram automaticamente com a pergunta. Ou ele era muito previsível, ou outros já tinham feito a mesma coisa. O garoto olhou para os lados, pensando exatamente no que responder. Sua boca se abriu e fechou repetidas vezes, ato que não foi despercebido pelo cientista.
— Você sabe que eu tive que aprender o básico de psicologia comportamental para conseguir esse emprego, né?
— Não...
O cientista soltou uma risada baixa assim que percebeu as bochechas do amigo ruborescerem.
— É a , não é? — perguntou, mas não esperou que respondesse. — Entra, mas fica quieto.
O rapaz seguiu para dentro da sala de exames com um sorriso no rosto, ainda envergonhado, mas feliz porque conseguiu entrar na sala, afinal.
O espaço não era grande, tinha apenas uma mesa cheia de computadores e aparelhos que ele não sabia o nome – e muito menos a função –, além de uma vidraça enorme que dava visão de onde a menina estava deitada.
— Você conhece a ? — perguntou enquanto conferia algumas informações na tela do computador.
— Mais ou menos. — soltou o corpo na poltrona no canto da sala. — Ela foi sorteada para participar do projeto, mas acho que ela não gostou muito, não.
— Ela provavelmente tinha um motivo para isso.
— Eu também pensei nisso.
Como não perguntou mais nada, também não se deu ao trabalho de explicar o motivo dele estar tão ansioso para vê-la.
Antes que o cientista pudesse retomar aquele tópico, o garoto perguntou:
— Você também vai entrar em alguma das cápsulas?
— Não. — respondeu sem olhá-lo. Ele apertou alguns botões que fizeram a cama, na qual estava desacordada, se mexer. — Eu estou responsável por todo o processo individual da , então eu precisarei ficar conferindo a estabilidade vital dela durante todo o tempo que eu estiver trabalhando para o Governo.
Um barulho alto se iniciou e a parede da sala onde estava se abriu, permitindo que uma máquina imensa fosse colocada ali.
— O que é isso?
— Ela vai passar por uma ultrassonografia. — o cientista respondeu de forma simples, como se fosse entender o que aquilo significava. — A sua doutora responsável também fez esse exame em você.
Apesar de não entender, ele também não questionou.
— Enfim... — quis voltar para o assunto anterior. — Mas você nunca vai poder entrar em uma das cápsulas então?
— Basicamente. — se virou para o amigo sentado atrás de si. Um sorriso bobo nasceu em seus lábios repentinamente. — Não que eu fosse me encapsular caso eu pudesse também.
— Por quê? — sentiu uma preocupação subindo.
— A May está grávida.
sentiu o queixo caindo, chocado pela notícia. Há quanto tempo ele e não se falavam?
— Meu Deus, meus parabéns, amigo!
— Obrigado. — um sorriso meigo nasceu nos lábios do cientista, que se virou de frente para a paciente novamente.
— Há quantas semanas?
— Duas só, ela me contou anteontem. Pouca gente sabe.
Ótimo, pelo menos não estava tão desatualizado então.
— Agora eu consigo entender por que você não se voluntaria para o projeto.
não respondeu mais nada, parecendo concentrado demais na tela para dizer qualquer coisa. O corpo de estava completamente imerso na máquina, e diversas imagens de seu cérebro de altíssima qualidade apareciam no telão.
— Merda. — o cientista soltou enquanto conferia uma lista em uma das telas, alternando a cabeça para conseguir ver todas as informações em todas as telas e papéis sobre a mesa ao mesmo tempo.
— O que aconteceu? — se levantou e caminhou até o amigo com uma certa pressa.
— Preciso avisar aos meus superiores que a não pode continuar no programa.
Uma angústia revestiu o estômago de .
— O quê? Por quê?
— Ela tem uma doença rara. — deu espaço para que o amigo pudesse ver a planilha com os resultados dos exames que ela já havia feito. — Você já deve ter ouvido falar, é depressão.
Os ombros do garoto se tensionaram imediatamente.
— A dificuldade dela de processar serotonina é algo que vai danificar completamente o processo aqui dentro.
— Não tem algum jeito? Algo que a gente possa fazer, não sei... — começou a gesticular, indicando seu nervosismo.
negou com a cabeça, finalmente olhando na direção do amigo.
— A cura da depressão nunca foi algo totalmente desenvolvido pelo ser humano. — começou a explicar. — Antigamente, a depressão era uma doença ainda muito ignorada pela população. As pessoas romantizavam e achavam que eram um simples drama, mesmo já tendo estudos que comprovavam o contrário já naquela época.
O menino passou a estralar os dedos, desacreditado que não conseguiria mantê-la lá dentro.
— Os médicos até conseguiram sintetizar o hormônio da serotonina de forma manipulada em medicamentos, mas nunca foi 100% eficaz. Ainda é necessário o acompanhamento de especialistas, e hoje existem poucos deles pois é uma doença praticamente erradicada.
— Mas você não teve que cursar psicologia também? Não pode ajudá-la?
umedeceu os lábios, soltando alguns sons irreconhecíveis. Suas mãos se ergueram, como se ele tentasse falar por meio de gesticulações.
— Eu não sou especialista nisso e...
— Por favor, , eu realmente queria que ela pudesse participar do projeto. — uniu as mãos na frente do rosto. — Eu posso te ajudar, eu estudo sobre isso durante a madrugada inteira se for necessário, mas vou precisar da sua ajuda.
O cientista cerrou os dentes, nervoso.
— Não desista dela, por favor...
Ele talvez se arrependesse da sua decisão, mas quando viu, já havia respondido ao pedido de .
— Vou me esforçar.

Dia 2
caminhava sem rumo pelos corredores enquanto olhava as próprias unhas. Seu antebraço estava enfaixado por conta dos exames – e por outro motivo bem específico.
Estava tão concentrada em olhar cada cutícula que nem ao menos notou o quão próxima já estava da parede.
Bateu a cabeça em algo macio.
— O que...
— Você ia dar de cara na parede.
— Ah, é você. — a voz da garota pareceu cair alguns tons quando notou quem havia sido seu “salvador”. — Obrigada.
abriu um sorriso assim que escutou o agradecimento saindo de sua boca. Pensou que ela nem fosse dizer nada.
se virou para continuar andando sem rumo, mas quando levantou a cabeça e se deparou com uma área totalmente nova à sua frente, e percebeu que estava mais perdida do que ela achava que poderia ficar.
O garoto continuou parado.
— Você sabe como eu faço para voltar para o meu quarto?
— Posso te levar até o corredor dos quartos se você quiser. — ele se ofereceu prontamente.
negou com a cabeça.
— Não precisa, só dita a direção para mim que eu me encontro alguma hora.
soltou um suspiro, sem saber exatamente o que dizer para ficar próximo dela por mais um tempo.
— Qual o número do seu quarto?
— E isso importa? Você disse que tem um corredor só dos dormitórios.
Merda, pensou ele.
— Tudo bem, você venceu. — ergueu os braços como se estivesse se rendendo. — Só seguir esse corredor por onde você veio e seguir a esquerda. — começou a gesticular, apontando para cada lado como se houvesse uma maquete do laboratório todo à sua frente. — Segue reto até chegar no jardim. Lá tem algumas plaquinhas indicando qual entrada vai dar no corredor dos dormitórios.
— OK, obrigada.
não o olhou mais, apenas seguiu o caminho, cantarolando algumas músicas que lhe vinham à cabeça. Seus passos faziam um som baixo enquanto andava pelo corredor, mas percebeu que eles pareciam ecoar.
Melhor, parecia mais é que havia uma pessoa atrás de si.
— Você vai ficar me seguindo, mesmo?
ergueu os ombros, envergonhado.
— Só quero garantir que você não vai se perder de novo.
Revirando os olhos e soltando uma bufada alta, virou-se de costas para ele e começou a pisar forte, não querendo ouvir os passos do garoto atrás de si.
E realmente a acompanhou até o corredor dos quartos.

Dia 3
— Garoto, eu acho que preciso desenhar para você entender que eu não quero ficar conversando com você. — cerrou os dentes, travando a mandíbula.
— Eu não vou falar nada dessa vez.
e estavam no jardim, sentados um ao lado do outro – ele apareceu depois e se sentou ao lado dela no banco –, observando as árvores.
A menina prestava atenção no marrom do tronco, imaginando o quanto a casca deveria ser grossa, bloqueando possíveis inimigos que quisessem roubar sua seiva.
encarava a copa. As folhas bem verdes e algumas flores nascendo nos galhos por conta da estação. Todas trabalhando juntas para darem oxigênio à árvore e mantê-la viva.
Com observações e reflexões totalmente divergentes, e simplesmente não falavam nada, mesmo estando um ao lado do outro.
O rapaz se segurava para não puxar nenhum assunto com ela, visto que a garota já havia deixado bem claro que não estava no seu melhor humor naquele dia.
não sabia o que estava sentindo.
Ela não sabia há muito tempo.
— Você sabe que você é um saco, né? — olhou para o rapaz ao seu lado depois de alguns minutos de silêncio total entre ambos.
olhou para ela com um sorriso.
— Gosto de te fazer companhia, você parece ser uma pessoa legal.

Dia 4
— Como estão indo os seus relacionamentos aqui dentro?
— Não acho que eles tenham evoluído ainda. — olhou para o teto, encostando a cabeça no estofado do divã.
— Não se sente à vontade com ninguém ainda?
— Não.
olhou para a garota, soltando a caneta sobre a prancheta e respirando fundo. Ele sabia que precisava conversar sobre o “probleminha” da menina.
Só não sabia como.
— Como eram as suas amizades antes do isolamento?
— Eu só tinha uma amiga, que era a Tissa. De resto...
— Certo, e você era feliz com apenas uma amiga? — ele mordeu os lábios, incerto se aquela era uma pergunta coerente e ética.
Ele deveria ter prestado mais atenção nas aulas de psicologia.
— Você pode ser mais direto, se quiser. — virou o rosto em sua direção, percebendo o motivo daquele rodeio.
soltou os ombros que ele nem sabia que estavam tensos. Olhou para a prancheta com o papel escrito “Diário da paciente”. Não havia escrito nada ainda naquele dia, pois sabia que iriam desconfiar caso ele realmente registrasse o que ambos discutiriam dali em diante.
Abandonou a prancheta.
— Eu já imaginava que você fosse descobrir por conta dos exames. — a garota explicou antes mesmo de se pronunciar. — Só não entendi por que você não contou para os superiores ainda. Isso pode gerar um problemão para você.
— Acho que você tem potencial. — foi sincero, baseando-se nos últimos dias nos quais conversaram. — Você tem consciência da sua doença e sabe o quanto é triste e sofrido passar por isso.
A menina se sentou de frente ao cientista, com as sobrancelhas arqueadas.
— E o que isso tem a ver com o meu “potencial”? — fez aspas com as mãos, causando uma risada leve no homem.
— Apesar de negar, você tem um ótimo coração. Consegui notar isso em apenas três dias de sessão.
revirou os olhos, descrente que ele estivesse falando aquilo.
— Eu posso simplesmente ter mentido para você até agora.
— Também. — riu, pegando a prancheta de volta. — Mas você não faria isso porque odeia mentiras.
Com uma risada desacreditada, desistiu de argumentar com . Ela havia sido lida como um livro infantil.
, eu realmente perguntei sério sobre suas amizades.
— Não tenho muita facilidade em deixar as pessoas me conhecerem. — confessou com a voz envergonhada. — É como se eu me tornasse vulnerável.
— Eu compreendo que você tenha dificuldade para confiar nas pessoas a sua volta, mas eu posso ser seu melhor amigo durante esses dias, se você permitir.
Ela soltou um suspiro, ainda temendo sobre onde estaria se enfiando caso confiasse em .
Ela teria que pensar.

Dia 5
— Você está quieta hoje. — comentou enquanto se sentava ao lado da menina no refeitório. — Isso aqui me lembra a escola...
— Eu sempre estou quieta.
nem mesmo encarou o homem, apenas permaneceu com os olhos em sua tigela de arroz e acompanhamentos.
— Você gosta do seu doutor? — ele tentou puxar assunto, colocando uma colher de arroz com carne na boca.
— Não.
— Mas você gosta de alguém?
— Só da minha família e da minha melhor amiga. — respondeu simples, querendo que aquele papo acabasse logo.
Ela já havia desistido de tentar impedi-lo de ir falar com ela todo dia, toda hora.
— E sua melhor amiga é bonita?
— Bonita demais para você.
— Será que você pode não me detonar a cada dois segundos de conversa? — fez um biquinho inconscientemente. virou o rosto em sua direção e entortou a boca com a cena.
— É só não conversar comigo.
— Meu Deus do céu... — lamentou-se enquanto colocava as mãos sobre o rosto, tentando manter a calma.
já havia levantado e saído, carregando sua bandeja com seu almoço. Ela só não estava acostumada a interagir com outras pessoas, conseguiria reverter a situação em algum tempo.
Ele ainda tinha mais 20 dias antes de voltarem cada um para sua casa para se despedirem de suas famílias.

Dia 6
Primeiro dia com dinâmicas de treinamento.
sentia seu corpo inteiro ter espasmos a cada vez que o instrutor da atividade explicava a dinâmica e como iriam proceder nos próximos dias.
Seu olhar parou em .
— As atividades serão em duplas na maior parte das vezes. — o tal Sr. Wong avisou, expressando sua animação em sua expressão facial. — Então, para hoje, eu quero duplas de meninos com meninas, se possível com pessoas novas que vocês não tenham conhecido antes daqui.
não teve tempo de correr, logo sentindo uma presença, já muito bem conhecida, ao seu lado.
Seus olhos se fecharam na mesma hora em que ouviu a voz do rapaz dizer seus nomes:
e !
Enquanto o garoto parecia ainda mais animado que antes, sentia uma vontade imensa de quebrar a própria perna e sair dali. Ela não sabia se aguentaria fazer as atividades com sendo sua dupla.
Ela ficaria louca.
— Certo, hoje será uma coisa mais leve. Vou falando alguns tópicos de conversa e vocês irão apenas dialogar sobre. — o Sr. Wong voltou a falar assim que anotou todas as duplas. — Podem se abrir quando acharem uma oportunidade, principalmente porque iremos manter essas duplas pelos próximos dias.
quase enlouqueceu com apenas aquela informação.
— Podem se virar de frente um para o outro. — eles o fizeram. — Vocês que estão em trio podem fazer uma rodinha pequena.
estava com os olhos brilhando. Seu sorriso estava radiante, e ele parecia encantado apenas por estar de frente com . A garota mantinha uma expressão séria.
— Uma vez que vocês não conhecem sua dupla direito, digam seu nome, idade e cidade.
, 20, Busan. — respondeu de forma rápida e levemente ríspida. Era nítida a falta de vontade em participar da atividade que ela exalava.
, tenho 21 anos e nasci em Seul mesmo.
? Você é igual ao ? — a garota curvou as sobrancelhas.
— Dr. ? — optou por fingir que não o conhecia. — Há muitos em Kwangya, .
A garota apenas respirou fundo, levantando e soltando os ombros ao expirar. Sua desconfiança de e se conhecerem passou no instante em que lembrou que o cientista era de Incheon.
Ela se sentiria vulnerável demais caso eles se conhecessem.

Dia 7
Chuva.
olhava a chuva batendo em sua janela enquanto o céu ficava cada vez mais escuro. As gotas escorrendo pelas janelas pareciam prendê-la dentro do seu próprio mundo.
Era o primeiro domingo que ela não passaria com a sua família. Não que fosse super próxima de seus pais ou de sua irmã caçula, mas domingo era um dia sagrado para si.
Assim que a imagem de outro raio se formou, cortando o céu do topo até o chão, respirou fundo, como se pudesse sentir o cheiro da terra molhada. Seus olhos se fecharam com as lembranças de sua família invadindo sua mente à medida que os relâmpagos festejavam pelo horizonte.
Enquanto a maioria das pessoas ficava apreensiva com os trovões soando, sentia-se ainda mais acolhida no ambiente.
Aquele clima parecia sua mente.
Escura, chuvosa, bagunçada e levemente assustadora.

Dia 8
e caminhavam lado a lado pelo corredor. Ela havia acabado de sair de mais uma dinâmica com e ela sentia seus ombros pesarem. Ele não era um rapaz ruim, na verdade, ele parecia bom demais.
Mas ela não aguentava todo aquele ânimo que ele exalava.
— Você parece cansada. — disse ao seu lado, chamando a atenção da garota para si.
— Até onde eu me lembro, nós não temos sessões às segundas.
O cientista soltou uma risada nasal, nem um pouco surpreso pela reação da menina. Ele apressou o passo, virando-se de frente para ela e andando de costas.
— Não quero conversar com você agora como seu doutor, quero uma conversa de amigos.
— Não, obrigada. — virou o corredor, deixando .
Ele correu até ela.
— Ontem você disse que iria se esforçar para se abrir comigo, lembra? — ele insistiu mais uma vez, agora andando ao seu lado e a observando.
riu.
— Eu disse que me esforçaria para me abrir com o cientista responsável pela minha evolução durante o isolamento, não com meu amigo .
— Você me chamou de amigo. — o garoto apontou o dedo na direção dela, rindo com sua careta.
Diferente de , sabia como conversar com ela.
soltou um riso sincero pela primeira vez naquele laboratório, sentindo-se acolhida pelo homem ao seu lado. Parando de caminhar de volta ao seu quarto, ela se virou para ele.
— Me desculpa ser grossa todas as vezes que você se esforça para ser um bom amigo.
esboçou sua surpresa ao arregalar os olhos e, num ato automático, sua cabeça foi para trás. continuava com uma feição envergonhada, esperando pela resposta do rapaz.
Ele sorriu com ternura.
— Está tudo bem, . — ele ergueu a mão, fazendo um carinho leve no braço dela. — Eu só espero que você possa se sentir à vontade para me chamar quando precisar, mesmo que a gente não tenha sessão marcada no dia.
A garota de um sorriso, assentindo com a cabeça repetidas vezes. Como nenhum dos dois disse mais nada, respirou fundo antes de fazer um tchauzinho com a mão.
— Seu melhor amigo está indo agora, mas você pode, e deve, chamá-lo se precisar.
soltou outra risada, não respondendo-o com palavra alguma. Gesticulou um tchau com a mão assim como ele, logo se virando e seguindo para o jardim, realmente deixando para trás naquela vez.
Pela primeira vez em tanto tempo, ela sentia que tinha um novo amigo.
Um amigo com data de validade, uma vez que não entraria em nenhuma cápsula e continuaria vivendo no presente.
Mas não se importou, pelo menos naquele momento. Apenas de ter uma companhia no próximo mês já era muito mais do que ela pensou que teria naquele isolamento.

Dia 9
fechou os olhos quando inspirou o ar e pôde sentir o cheirinho do molho de seu jajangmyeon*.
Até que alguém lhe atrapalhou ao fazer barulho sentando-se em sua mesa.
Sua feição feliz mudou rapidamente.
, eu juro que... — continuou de olhos fechados enquanto iniciava uma provável discussão, mesmo que fosse proibido, até escutar uma voz um pouco diferente da que estava acostumada.
— Então você realmente é próxima do .
abriu os olhos, assustada ao ver três meninas sentadas à sua volta.
Aquilo não tinha como ficar pior.
— Ele não é meu amigo. — disse por fim, focada em apenas comer seu macarrão e sair dali o mais rápido possível.
Se possível, sem trocar mais nenhuma palavra com aquelas garotas.
Mas ela já sabia que não seria tão fácil assim.
— Eu o acho tão lindo...
— E habilidoso! Vi ele jogando futebol ontem no jardim com outros cinco garotos.
— Será que ele tem namorada?
As três não paravam de fazer especulações de “qual seria o tipo ideal para . jurou que poderia arrancar os próprios ouvidos ali mesmo.
— E você, ? — uma das três chamou sua atenção.
— Eu o quê?
— O que acha do ? Você vive grudada nele...
— Devem ser amigos de longa data, né? — a que estava ao seu lado disse com um bico no rosto. fez uma careta, ainda mais assustada. — Que sortuda...
— Deus me livre. — soltou sem querer, fazendo com que as três meninas a olhassem com indignação. — Não somos amigos, e é ele que vive grudado em mim.
cogitou pegar sua bandeja e apenas sair daquela mesa para comer em paz. Não aguentava mais ouvir as outras ainda falando sobre .
E o pior, fazendo especulações deles dois. Dela e .
Estremeceu.
— Então ele não deve namorar, né? Ele não deixaria a namorada aqui, sendo que só iremos acordar em setenta anos.
— Realmente. — uma outra falou. não sabia o nome de nenhuma delas. — Ele é meu.
— Não, Sira, eu que vi ele primeiro...
— Ei!
jurou que elas começaram uma discussão ali mesmo, mas as três apenas pararam de falar e voltaram a comer.
Realmente essa nossa cultura de nunca discutir é supersaudável, sua mente pontuou, mas ela não demonstrou nem com um mero sorriso.
Terminaram de comer em silêncio, para a felicidade – e pelo bem da sanidade – de .

jajangmyeon*: prato de origem chinesa composto por macarrão e molho de pasta de feijão com legumes.

Dia 10
— Bom dia, flor do dia. — declarou se aproximando da garota.
tirou um dos lados do fone de ouvido, levantando o olhar em sua direção e marcando a página do livro com o próprio dedo.
— Shh!
curvou-se de forma parcial, apenas para se desculpar com a bibliotecária por ter falado em voz alta ao entrar na biblioteca.
— Bem-feito. — resmungou com um sorriso no rosto, abrindo o livro novamente e voltando a mergulhar na leitura.
— ‘Tá lendo o quê? — o garoto escorregou as costas até se sentar ao lado da menina.
Ela não respondeu.
— Qual é, , já faz dez dias que a gente se conhece e você ainda fica nessas de me ignorar? — os lábios do garoto formaram um bico fofo. A menina olhou para ele novamente.
— Você ainda vai ficar insistindo para conversar comigo todos os dias, não é?
sorriu de lábios fechados, respondendo à pergunta da menina apenas com sua expressão.
— As dinâmicas já não são o suficiente, não?
— Os assuntos das nossas conversas nas atividades do Sr. Wong são sempre programados e é tudo relacionado à Conflictus.
concordou com a cabeça, respirando fundo e encarando a capa do livro. Pensou e repensou se cedia à insistência do garoto e tentava manter um bom relacionamento com ele, ou se continuava em seu casulo.
É importante que você tenha bons relacionamentos com pessoas daqui, ela se lembrou de uma das sessões com .
Fechando o livro após colocar um marca-páginas, virou para o garoto com um sorriso.
Não faria mal se esforçar e ceder um bocado.
— Sobre o que você quer conversar?

Dia 11
— E então agora você tem um outro amigo? — encarou a garota, que não o olhava.
— Amigo é uma palavra muito forte, estamos começando a ser... Parceiros.
O cientista soltou uma risada alta, nem um pouco surpreso da garota se recusar a chamar qualquer pessoa de amiga.
— Mas então você ficou conversando com o ontem na biblioteca?
— Sim, mas foram coisas tão fúteis que eu nem consigo me lembrar direito. — virou o rosto na direção de .
— Quando amigos se entrosam em uma boa conversa, não significa que vocês irão se lembrar de tudo.
— Não somos amigos.
— Pelo amor de Deus, mulher.
se sentou, ficando com as pernas cruzadas sobre o divã. A menina olhou para a janela, percebendo que o céu começara a fechar.
Voltou a olhar para o cientista.
, eu não tenho um bom histórico com amizades, não me culpe por relutar tanto.
Com um suspiro, ele largou a prancheta sobre sua poltrona, como sempre fazia quando a sessão entrava em tópicos mais sérios da vida de .
— Eu jamais iria lhe culpar por relutar sobre isso. Apesar de ser seu novo amigo, eu também estou sendo responsável pela sua estabilidade emocional aqui dentro. Você pode desabafar comigo quando quiser.
A garota deu um sorriso, demonstrando sua gratidão. Sua respiração começou a ficar mais pesada e seus olhos marejaram.
Com a voz embargada, começou a contar:
— Eu nunca fui uma pessoa de ter muitos amigos. Sempre tive dificuldade de me relacionar e confiar nas pessoas, mas eu tinha mais facilidade antigamente. — relatou sem olhar na direção de . — Não gosto de falar muito sobre esse tempo.
— Não precisa se não quiser, você só desabafa se achar que pode te aliviar. — o rapaz tranquilizou-a. — Se um dia você sentir vontade de falar sobre isso, pode me chamar.
concordou, levantando a cabeça e olhando nos olhos.
— Obrigada, .
— Amigos são para isso.

Dia 12
— Como foi a reação de vocês quando a notícia sobre a Conflictus foi anunciada? — o Sr. Wong deixou esse questionamento como a pergunta da dinâmica do dia.
e se encaravam sem nenhum sentimento evidente. A garota curvou a sobrancelha, confusa por não ver nenhum sorriso no rosto do rapaz.
Na verdade, ele nem mesmo parecia ligado à dinâmica.
— Você fica feio sério.
— Hm? — ele se curvou para frente, parecendo se tocar apenas naquele momento que a atividade já havia acontecido.
— Nada, era só para ver se você acordava.
apenas assentiu, voltando a mergulhar em seus pensamentos. se remexeu no lugar, incomodada pelo silêncio absoluto entre eles. Alguns dias atrás, ela estaria agradecendo a Deus por finalmente ter fechado a boca, mas depois de duas semanas conversando com ele direto, ela já estava se acostumando.
— O que foi, hein? — se aproximou de leve, chamando a atenção do rapaz mais uma vez.
— Só estou pensando um pouco.
Ela assentiu como se entendesse, virando o rosto para observar as outras duplas. Alguns riam enquanto contavam suas histórias de quando receberam a notícia sobre a doença, outros pareciam mais emotivos e sérios ao falar sobre aquele assunto.
Sentiu vontade de dizer algo ao garoto, mas antes mesmo de lembrar-se de que provavelmente se arrependeria, as palavras confortantes saíram pelos seus lábios:
— Pode contar se quiser.
Ajeitando a coluna, expressou sua confusão ao arquear as sobrancelhas. Sua cabeça se mexeu levemente, como se os movimentos travados fossem ajudá-lo a processar o que havia acabado de escutar.
— Aproveita a oportunidade e desembucha, eu geralmente não sou uma boa ouvinte. — disse logo em seguida, não querendo deixar aparente a sua preocupação com o garoto.
Com uma risada nasal, o menino encolheu os ombros, pensando se era mesmo necessário compartilhar aqueles pensamentos com ela.
Se você quiser que ela confie em você, primeiro você deve mostrar que confia nela também, a voz de soou em sua mente.
— Pode soar infantil, mas estou com saudades da minha mãe.
soltou uma risada ao ouvir aquilo.
— Eu sabia que você iria rir... — cruzou os braços, arrependido de ter desabafado com a garota. Ela era insensível demais para entender sobre aquilo.
— Antes que você pense que estou tirando sarro de você, eu quero que saiba que eu também estou com saudades da minha família. — disse olhando nos olhos do rapaz. — Isso não é infantil de forma alguma, você sente falta dela porque a ama, e isso não deveria ser motivo de vergonha.
Ele piscou não uma, nem duas, mas incontáveis vezes antes de conseguir entender o que havia acabado de dizer.
— Eu tenho muitos problemas familiares e eu sempre ansiava pela oportunidade de sair da casa dos meus pais, mas eu sinto falta mesmo, fazer o que.
O queixo de caiu com a revelação. Ele realmente não esperava que seria tão profunda e sincera em alguma conversa entre eles.
... Eu...
— Não precisa contar sobre como era a sua relação com a sua mãe para mim, eu não me importo tanto assim, ‘tá? — ela avisou já com outra expressão no rosto. — Só quero dizer que você não precisa sofrer tanto assim, você pelo menos está fazendo o que ama.
Ele tentou dizer algo, mas sua língua parecia ter desaparecido naquele momento.
Ele genuinamente não esperava por aquele tipo de coisa saindo de , a garota que jurava de pé junto que o odiava mais do que tudo na vida.

Dia 13
batia a bola contra o chão com facilidade de forma ritmada. Ele encarava a cesta de basquete e driblava o nada, uma vez que ele estava sozinho na quadra.
Até que ela chegou.
— Quer bater bola? — ele perguntou após fazer uma bandeja perfeita. negou com a cabeça.
— Eu só estava caminhando e escutei o som da bola aqui na quadra. Já estou de saída. — acenou com a mão direita, logo se virando e seguindo o caminho de volta para fora dali.
— Espera!
pegou a bola com as duas mãos e correu até . Sua camisa estava molhada e sua testa pingava de tanto suor. A garota ficou a alguns passos de distância.
— O que é?
— Quer jogar um pouco? — esticou os braços e aproximou a bola até o rosto da menina, que arregalou os olhos e deu outro passo para trás.
— Não sou a maior fã de esportes.
— É tranquilo, , você pega rapidinho.
Sem esperar a resposta dela, deu dois passos e pegou na mão da menina, puxando-a consigo até o meio da quadra.
— Já disse que não quero.
— Então faz uma cesta que eu te deixo em paz pelo resto do dia. — ele desafiou-a com um sorriso no rosto.
arqueou as sobrancelhas, logo engolindo a própria saliva e pegando a bola das mãos do rapaz.
— Tenho quantas chances?
— Três só.
Ela o encarou indignada, mas apenas levantou os ombros, indicando que o problema era todo dela. se posicionou no ponto onde o garoto indicou, e mirou.
A bola bateu na tabela e saiu pela direita.
— Merda — ela resmungou desacreditada. riu do descontentamento da garota, buscando a bola e entregando-a em suas mãos.
— Mais duas chances, gatinha.
entortou a boca com o apelido, mas se concentrou e arremessou novamente.
Passou longe.
— Que porra. — xingou baixo, causando uma gargalhada alta no rapaz.
— Por Deus, como pode ser tão estressada.
correu até a bola que saiu quicando pela quadra, voltando devagar enquanto batia-a contra o chão.
— Última chance ou eu vou ficar te enchendo o saco até depois da janta.
— Cala a boca.
Ele soltou mais uma risada alta, entregando a bola nas mãos da menina. sentiu seu coração batendo forte no peito, desacreditada de que não conseguiria acertar uma única cesta.
Se concentrou mais uma vez, respirando fundo antes de dobrar os joelhos e arremessar.
A bola rodou pelo aro até que finalmente cedeu e caiu.
Cesta.
— OBRIGADA DEUS! — ela saiu gritando e pulando de felicidade. ria da reação da garota.
— OK, você venceu. Só vou te irritar amanhã novamente.
Ela não escutou, apenas se aproximou com o sorriso superaberto.
estava tão feliz que não se tocou que havia abraçado o garoto em comemoração.
E sentiu o coração pulsando mais forte do que deveria.

Dia 14
— Você acha que a Conflictus é realmente séria? — perguntou aleatoriamente enquanto os dois olhavam para o céu estrelado.
virou a cabeça em sua direção, percebendo que a garota também fez o mesmo.
— Sim.
— Por quê?
O garoto mordeu o beiço enquanto refletia sobre. Ele encarou o céu novamente, tentando formular bem a sua resposta.
Não queria soar rude de forma alguma, principalmente depois dela ter iniciado uma conversa entre ambos – o que era muito raro.
— Desculpa perguntar sobre isso do nada, mas eu ‘tava lembrando que o Sr. Wong nos perguntou sobre isso durante uma das dinâmicas e nós nunca conversamos sobre.
— Os estudos mostraram que ela agrava a situação do cérebro, deixando-o mais cansado. — ele começou, prendendo a atenção da menina. — Com a mente a mil, as pessoas acabam naturalmente ficando mais impacientes, e depois do acordo de paz há mais de mil anos, não há mais guerra nem discordância. Então as pessoas não sabem mais lidar com isso.
— Exato! — se levantou, mas logo se deitou novamente, apoiando a cabeça no braço direito. — As pessoas não sabem mais lidar com o cansaço mental, o que é algo totalmente comum para o ser humano, e daí decidem ignorá-lo só para manter um “acordo de paz”. — fez as aspas com a mão esquerda.
não soube exatamente como refutar o que ela disse, então apenas assentiu, ainda olhando-a.
— Você não acha que é isso que está deixando as pessoas verdadeiramente doentes? — indagou outra vez, deixando confuso.
— A Conflictus?
— Não. — ela também negou com a cabeça. — Isso de guardar tudo para si. Tipo, como que não é normal discutir?
O garoto apenas uniu as sobrancelhas, realmente confuso.
— Não estou falando de brigas e guerras, ‘tô falando sobre discutir opiniões e ideias. — se defendeu. — Eu sempre me perguntei isso depois que comecei a faculdade de História da Saúde.
— Você queria ser professora? — sentiu-se curioso.
— Não, eu queria descobrir sobre algo meu mesmo, mas não vem ao caso.
apenas concordou mais uma vez, entendendo exatamente sobre o que ela falava.
Ela só não podia saber que ele sabia.

Dia 15
O refeitório estava vazio naquele momento, provavelmente porque ainda eram três da tarde e ninguém estava com fome para ir jantar. Portanto, o lugar estava praticamente deserto para e .
— Você acha que o Sr. Wong ainda vai mudar as duplas?
— Não sei. — ela foi sincera, logo abocanhando seu lanche. Ele a observou terminar de mastigar para continuar a resposta. — Ele disse que mudaria constantemente, mas estamos com as mesmas duplas desde o primeiro dia de atividade.
— Pois é... — observou a garota dar mais uma mordida em seu sanduíche, dessa vez sujando o canto da boca. — É... Licença, .
Com um guardanapo na mão, o rapaz aproximou a mão do rosto da garota e, cuidadosamente, limpou o canto de sua boca.
Os olhos de se arregalaram no mesmo instante, e sua mandíbula parou de mastigar.
— Perdão, é que... — ele pensou em se justificar, dizendo que havia sido por impulso e que não queria deixar aquele clima esquisito entre os dois, mas ele não conseguia dizer nada.
Ambos se encaravam meio surpresos com o que havia acontecido. estava preocupado com a reação de , que poderia apenas ignorar ou voltar a ser grossa com ele. Já a garota parecia petrificada.
— É, eu vou indo. Tchau. — disse em um fôlego só, rapidamente ficando em pé e saindo do refeitório.
permaneceu ali, ainda sem se mexer, mas agora sentindo uma pulsação esquisita em seu estômago.

Dia 16
— Então vocês simplesmente não expuseram suas opiniões?
— Tipo isso. — explicou, enchendo a mão de pipoca e colocando na boca.
— E você ainda me julga por achar que todo esse furdunço por conta da Conflictus é exagero.
ajeitou a coluna, ouvindo leves estalos quando o fez. Deixou a pipoca de lado, encarando a garota ao seu lado.
— Vamos realmente voltar nesse assunto? — ele perguntou ao se lembrar da conversa que haviam tido uns dois dias antes. — , não é “exagero”, só é desnecessário.
— Como assim?
— O problema da Conflictus é que ela acaba frutificando brigas sérias demais para assuntos superficiais demais.
— Mas ... — também deixou de comer para se concentrar mais na conversa. — Eu te disse que não normalizo guerras, eu só acho que discutir ideias é algo saudável.
— Eu entendi.
— Não pareceu. — a garota se virou novamente, cruzando os braços e perdendo a vontade de comer.
suspirou.
— É sobre isso que eu ‘tô falando.
— Sobre o quê? — ela perguntou sem olhá-lo.
— Esse drama que você está fazendo só porque eu discordo da sua opinião.
— Não é drama!
, calma. — começou a rir da reação da menina. — Esse é o problema da doença, entende? Ele rende discussões que só vão cansar a nossa mente e afastar boas pessoas.
mordeu o próprio lábio, atentada em respondê-lo, mas sabia que estava certo.
Ficou quieta, só colocando algumas pipocas na boca e mastigando em silêncio.

Dia 17
— E agora você não quer mais falar com ele? — perguntou enquanto anotava algumas informações na página do diário.
— Não é isso, eu só odeio que discordem de mim.
— Você sabe que se você deixar isso tão explícito assim, os outros cientistas vão ficar desconfiados de que você está infectada, não é?
tentou responder, mas não havia o que falar.
— Você não acha que talvez essa sua vontade toda para arranjar uma briga com o seja você se autossabotando e tentando afastá-lo?
— Eu não sei. — cobriu o rosto com as mãos. Sua cabeça estava encostada no divã e seu corpo estava deitado, numa tentativa fútil de manter a calma. — Não sei se consigo ser amiga do , ele me irrita demais às vezes.
— Eu acho importante o fato de você estar se esforçando em manter uma boa relação com ele, principalmente por ele ser sua dupla nas dinâmicas do Sr. Wong.
não virou na direção de , muito menos respondeu ao que ele dissera. Na verdade, ela sentia-se levemente zonza ao falar sobre depois dos últimos dias.
— Podemos não falar mais dele? — ela pediu ainda de olhos fechados, na esperança de que sua voz cansada fosse motivo o suficiente para convencer .
Ele sorriu, mesmo que ela não pudesse ver sua expressão.
— Tudo bem, mas não pense que pode fugir desse assunto para sempre.

Dia 18
encarou a sua frente, novamente na biblioteca.
— Vai me encher o saco com o que agora? — ela sussurrou enquanto fechava o livro com o marca-páginas.
riu.
— Bem, , dessa vez eu vim apenas para ficar próximo de sua ilustre presença. — ele riu baixo. — Só estava entediado e imaginei que você fosse estar aqui por agora.
A garota deu um sorriso de lado, voltando a abrir o livro e tentando ler, mas não conseguia se concentrar.
Não com lhe encarando.
— Você está me deixando incomodada.
— Era para ser algo fofo, que te deixasse com borboletas no estômago. — ele fingiu reclamar, arrancando uma risada nasal da menina.
— Como se eu fosse muito me apaixonar por você, né, ?
O garoto entortou a cabeça, ainda encarando , que tentava ignorar sua presença ali.
— Não duvide dessa possibilidade, . A gente ainda não sabe como iremos acordar daqui 70 anos.

Dia 19
— Como esse será nosso último encontro, eu quero que você e sua dupla façam algo diferente. — o Sr. Wong anunciou enquanto todos estavam sentados no chão. Ele caminhava por entre as duplas. — Depois de tantos dias sendo dupla da mesma pessoa, apesar de eu ter dito que vocês ficariam revezando, agora vocês têm uma ligação.
soltou uma risada baixa ao lembrar-se do Sr. Wong avisando que as duplas seriam mistas e temporárias para, no final das contas, ela acabar fazendo todas as dinâmicas junto de .
— Talvez vocês tenham descoberto gostos em comum, como tipo de comida ou estilo de música. Talvez tenham percebido que moravam na mesma cidade, mas nunca se esbarraram. Pensem nisso e reflitam com as duplas, porque, querendo ou não, vocês só terão a vocês mesmos quando acordarem no futuro.
encarou , que parecia fora de órbita.
— Terra chamando .
— O que foi? — respondeu ainda encarando o nada.
— Você acha que nós descobrimos algo em comum? — perguntou enquanto olhava para o céu, realmente tentando se lembrar se ele e já haviam conversado sobre seus gostos e preferências.
— Acho que não, a gente pensa superdiferente sobre muita coisa. — ela deu de ombros, não se importando tanto com a atividade.
soltou ar pelo nariz.
— E conseguimos ser amigos mesmo assim.
encarou-o com uma das sobrancelhas arqueadas, mas preferiu não provocar.
— Pois é, amigo.

Dia 20
assoprava a colher de sopa em sua mão quando percebeu três figuras já conhecidas se aproximando de sua mesa.
Quis sair correndo.
, querida... — uma das meninas disse com voz dócil. — Quanto tempo, não é?
— Siiiiim. — uma outra respondeu com um sorriso.
— Eu não lembro o nome de vocês, o que querem? — acabou sendo ríspida, já sem paciência para ouvir a ladainha daquelas meninas.
— Tem certeza de que não está com Conflictus? — uma delas reclamou com uma expressão de nojo, mas sentiu cansaço para discutir sobre qualquer coisa.
Voltou a prestar atenção em sua sopa.
— A gente queria saber se você poderia nos falar mais do . — a garota da voz dócil pediu, fazendo com que cuspisse a sopa em surpresa.
O problema só foi ela ter cuspido no rosto de uma das meninas.
— Meu Deus, me desculpe. — começou a pedir, sem saber o que fazer. A garota e suas amigas pareciam empenhadas em limpar os resquícios de sopa com um guardanapo, mas sentiu vergonha.
A menina respirou não só uma, nem duas vezes, mas ficou de olhos fechados até se acalmar. Sua expressão, que outrora parecia a de alguém muito irritado, sumiu, dando espaço para um rosto sorridente.
— Essas coisas acontecem. — ela disse com a voz esquisita, mas não respondeu. — Bem, eu só queria dizer que você e o parecem um casal.
jurou que fosse cuspir mais uma vez, sorte que não havia nada em sua boca ainda.
— Mas espero que você não goste dele como mais que um amigo, pois aí sim teremos problemas. — ela sorriu.
respirou fundo.
— Perdão, querida, mas acho que essa informação não lhe convém.
As três meninas fecharam a cara.
— Agora, se as patricinhas de Mean Girls falsificadas puderem me dar licença, eu vou indo porque combinei com o meu amigo de nos encontrarmos mais tarde, adeus.
Sem se dar o trabalho de perguntar o nome das garotas, se levantou e saiu.
Ela só podia ter jogado pedra na cruz mesmo.

Dia 21
caminhava pelos corredores sem um rumo específico. Estava animado para fazer o que já havia virado rotina para si: conversar com .
A menina que outrora tinha sido ríspida e não queria conversa de jeito nenhum, agora parecia muito mais solta e amigável.
Ele não deixava de achá-la uma moça linda, com olhos penetrantes e um carisma desigual. ainda sentia-se perdido em alguns momentos quando acabava se aprofundando demais na galáxia do olhar de , mesmo que não assumisse.
surgiu no corredor, com a mesma prancheta de sempre em suas mãos.
— Cadê a ? — questionou sem nem mesmo cumprimentar o amigo. levantou o olhar, levemente assustado pela abordagem.
— Deve estar andando por aí que nem você.
— Já procurei ela em todos os cantos.
— Até no quarto dela?
— Não, mas não vou arrombar a porta.
baixou os braços, curvando a cabeça para o lado, confuso.
— Por que você simplesmente não bate e pergunta se ela está, como uma pessoa normal?
— Já fiz isso... — assumiu em um fio de voz, sentindo-se envergonhado. — E se ela fugiu?
— A não fugiria assim.
— Tem certeza?
estava com as mãos na cintura, certo de que a garota, sim, fugiria. Era o que ela queria desde o começo do isolamento.
Ela devia ter encontrado alguma forma de fazê-lo naqueles últimos dias.
— Não tenho certeza, mas ela está evoluindo bastante na terapia. Não acho mais que há motivo para ela fugir.
Os dois rapazes não disseram mais nada depois da fala de , pois, apesar de quererem muito acreditar naquilo, o psicológico de ainda era instável.
E eles não sabiam o que esperar.

Dia 22
! — a menina escutou o grito vindo de fora do refeitório. Não olhou para trás, já sabendo quem lhe chamara apenas pelo timbre da voz. — Não te vi ontem, fiquei preocupado de você ter dado um jeito de fugir ou sei lá.
— Relaxa, , eu não vou pular um muro só para sair daqui. — relaxou-o, virando-se para ele. — O máximo que posso fazer é ficar dormindo no quarto igual ontem.
— Mas o ... Ah, esquece. — se sentou ao seu lado, roubando um de seus biscoitos.
fingiu uma tosse, afastando-se levemente do rapaz assim que sentiu sua presença ainda mais próxima. A garota coçou a nuca, sentindo-se deslocada.
nem mesmo percebeu.
— ‘Tá ansiosa?
— Para o quê?
— A volta para casa, ué. — ele curvou uma das sobrancelhas. — Já é daqui três dias.
Ela arregalou os olhos, chocada por ter-se esquecido daquele detalhe, jurando que ainda faltava pelo menos mais uma semana. Sua mão seguiu até seu rosto, uma vez que se sentiu nervosa com a informação.
— Você ‘tá bem?
— Hm? — olhou para , percebendo que ele havia se aproximado um pouco mais. — Sim. Para de me encher.
Levantou-se da mesa e saiu do refeitório, abandonando e seus biscoitos por lá. O garoto se sentia perdido com as ações inusitadas da menina, como se seu humor tivesse se desestabilizado mais uma vez.
torcia para que toda a confusão em sua mente e coração ficasse ali, no refeitório.
Antes que ela enlouquecesse e precisasse fugir mais uma vez.

Dia 23
— Você lembra que eu disse que não tinha um bom histórico de amizades, né? — perguntou assim que se sentou à sua frente.
— Silêncio!
Ela estava novamente na biblioteca, mas dessa vez, ela encontrara com o cientista. estava sentada em uma das mesas, lendo, até que viu entrando pela porta do local e se dirigindo a uma das prateleiras de livros científicos.
— Lembro.
Depois das formalidades ao cumprimentar , a garota perguntou se ele tinha tempo para ouvir um desabafo.
Felizmente ele tinha.
— Não tenho um bom histórico com paixonites também.
As sobrancelhas de se curvaram assim que o rapaz ouviu as palavras da menina.
— Mas você está gostando de alguém?
— Eu realmente acho que gostar seja uma palavra forte demais, por que eu não sei direito o que é sentir algo por alguém. — ela explicou com seriedade, recebendo apenas um aceno de , como se ele compreendesse o que ela queria dizer. — Mas eu certamente tenho uma queda em uma pessoa.
— E você pretende contar isso a ele? — perguntou sussurrando.
— Ele?! — acabou falando alto demais, recebendo outro puxão de orelha da bibliotecária. — Do que você está falando?
— Vai me dizer que esse alguém que está te fazendo ficar toda desse jeito não é o ?
— Mas é claro que não!
— SHH!
bateu na própria boca de leve.
— Tudo bem então, . — cedeu mesmo estando certo de que ela falava do amigo. — Se você não pretende contar a essa pessoa, muito menos fazer algo a respeito, o que resta é esperar até você sentir a necessidade de reagir a isso.
resmungou ao receber a resposta que ela já imaginava.
— Desculpa, , mas não tem muito o que te dizer já que você parece decidida a não contar nada.
— ‘Tá tudo bem, só de ter “desabafado” contigo já me ajudou a organizar minha cabeça. — ela fez as aspas com as mãos. — Obrigada, .
— Amigos são para isso. — ele sorriu, mas logo pareceu se lembrar de algo e sua feição ficou séria. — Posso te perguntar uma coisa também?
— É claro.
— Esse domingo agora você deu uma sumida e não parecia 100% bem na sessão, mas não quis te perguntar na hora sobre o que estava acontecendo porque você parecia não querer entrar no assunto.
concordou, lembrando-se nitidamente sobre como estava exausta no último domingo.
perguntou de você e acabamos ficando preocupados, você já quer falar sobre o que aconteceu ou... — achou que fosse continuar falando, mas ele não o fez.
Após respirar fundo e desviar o olhar, a garota pressionou os lábios antes de confessar:
— Era por conta desse meu problema com amizades e paixonites. Foi quando eu comecei a ficar em dúvida.
assentiu, finalmente juntando as pecinhas.
— Obrigado por confiar em mim e me contar.
— Eu que agradeço.

Dia 24
— Estou nervoso. — confessou enquanto encarava o céu escuro ao lado de .
Não era a primeira vez que eles deitavam na grama do jardim durante a noite e ficavam observando as estrelas.
— Por quê?
— Voltar para casa depois de todos esses dias para dar um adeus definitivo, sabe? Não sei se estou emocionalmente preparado para esse momento.
riu pelo nariz ao ouvir a confissão do garoto ao seu lado, achando fofo.
— Eu estou na mesma situação, não acredito que nunca mais verei minha melhor amiga.
— Achei que eu fosse seu melhor amigo.
— Pobre coitado. — ela soltou uma gargalhada apenas de imaginar a expressão de indignação que o rapaz deveria estar fazendo naquele instante.
Ficaram em silêncio por mais um tempo, apenas observando as estrelas brilhando no céu, sem a Lua para ofuscá-las.
— Espero poder ficar desse jeito quando acordarmos no futuro. — disse baixo, sem olhar para a menina.
o olhou.
— Como assim?
— Desse jeito. — ele virou o rosto em sua direção. — Eu e você, observando as estrelas, deitados no gramado e em um mundo ainda sem brigas e guerras.
sorriu junto do rapaz, rapidamente voltando a olhar o céu.
Eu também, pensou.

Dia 25
Última sessão.
O fato de que aquela seria a última vez que poderia desabafar com estava deixando-a aflita. Seu coração parecia chorar quando ela se lembrava de que, em cinco dias, ela estaria sendo encapsulada e mantida em segurança por setenta anos.
E ficaria.
— Ainda não acredito que você está chorando. — o cientista riu enquanto observava a garota limpar as lágrimas que insistiam em escorrer pelo seu rosto. — Você terá o , .
— Mas eu queria vocês dois.
... — soltou outra risada, levantando-se e indo se sentar ao lado da garota no divã. — Não sofra por conta disso, será melhor para você.
— Pois você pediu por isso tarde demais.
abraçou-a de lado, tentando acalmá-la de alguma forma. Ele havia se encantado com durante todos aqueles dias. Ela havia evoluído muito, e aquilo já o deixava de coração quente.
— Mas me diga, e aquele seu plano ridículo de fugir nos dias de despedida? — tentou trazer um assunto antigo para, finalmente, fechar a ficha de .
— Você promete não rir?
— É claro que prometo, me conta logo.
suspirou antes de olhar o rapaz ao seu lado. Secou as lágrimas mais uma vez e enroscou os próprios dedos uns nos outros. Seus ombros se encolheram e ela começou a se sentir levemente tímida para comentar sobre aquilo.
Ela ainda achava que era exposição demais.
— Faz alguns poucos dias que eu decidi que não iria mais tentar fugir. — ela começou baixo, mas pôde escutar com clareza. — Não sei explicar, mas eu finalmente vejo que há esperança para mim, entende?
O cientista concordou com a cabeça, mordendo o lábio inferior ao tentar segurar sua alegria ao escutar aquelas palavras.
— Antes eu não via sentido em lutar pela vida dos outros já que eu não sentia vontade alguma de viver. Bem, eu ainda não vejo tanto sentido, mas estou me esforçando. — ela riu.
— Fico contente de ouvir isso.
— Não queria assumir, mas confesso que você e o estão ligados nessa minha nova vontade de viver.
jurou que seu coração explodiria de emoção naquele instante. O orgulho e a felicidade martelavam em sua mente, deixando-o com um sorriso bem aberto no rosto. sorriu de volta.
— Eu não sinto essa vontade há tanto tempo que chega a ser esquisito... E ela parecia ainda mais inalcançável depois que fui diagnosticada com depressão.
— Você não sabe o quanto isso está me deixando feliz. — ele sentiu os olhos lacrimejarem.
— Obrigada por não desistir de mim, .

Chapter III – Cynical

타 버린 채 여린 온기의
남은 잿더미 속에 ready to clap back
그리 멀지 않은 peace
아픈 시간이 다만 짧기를 바라고 또 원했지
Who you gon' believe?

Nas cinzas queimadas
Pelo calor amigável, estamos prontos para revidar
A paz não está tão longe
Eu só espero que a dor acabe logo
Em quem você vai acreditar?


sorria de orelha a orelha, animado por conta da última sessão com . Seu coração palpitava forte, sentia-se competente e realizado.
Ele havia conseguido.
Lógico, aquilo não havia sido uma conquista somente dele. Graças a , seu amigo que o incentivou a seguir com aquela missão, e, obviamente, graças à própria , que também se esforçou.
Eles eram um time, afinal.
— E falando no diabo... — murmurou para si mesmo ao enxergar o amigo se aproximando.
— Que sorriso é esse? — perguntou assim que parou na frente de .
O cientista continuou sorrindo.
Preciso contar para ele e para May, sua mente processava as informações com rapidez, sem parar para realmente analisá-las.
Sua língua acabou sendo mais rápida que seu cérebro revisando os próprios pensamentos.
— Conseguimos, . — seus olhos pareciam marejar.
Por alguns segundos, continuou com a expressão de dúvida, sem entender sobre o que o doutor se referia.
Até que uma pequena luz se acendeu em sua cabeça.
Observou a alegria do doutor e soube.
estava bem.
Soltou um suspiro de alívio, com o coração batendo mais rápido que o normal. Suas mãos suaram e seus olhos também lacrimejaram. Tudo de felicidade.
abraçou o amigo com força, ainda surpreso. estava feliz e totalmente sem reação.
— Obrigado por não ter desistido dela. — o garoto agradeceu ainda no abraço.
— Se está bem, é graças a você, .
— Sem suas instruções nada disso teria acontecido, . Você conseguiu, eu apenas te ajudei um bocado.
O cientista riu, sentindo o peito se aliviar. Ele e haviam conseguido, e agora finalmente parecia estar caminhando em direção a cura.
Desvencilharam-se do abraço depois de alguns segundos.
— Agora, vai aproveitar seus últimos dias com a sua família. — avisou já com a voz tranquila.
apenas concordou, dando um breve tchau ao amigo e saindo com pressa daquele corredor. Ele precisava terminar de arrumar suas coisas e ainda tinha que encontrar para acompanhá-la até em casa.
Seriam apenas cinco dias, mas ele já havia planejado muito.

■□■□■


sorria ao se despedir de seus colegas de experimento, que ela apelidou carinhosamente de cobaias.
Apesar de ela não estar mentindo sobre aquilo, não era algo muito legal de se falar em voz alta, então ela apenas usava aquele nome ao conversar com seu próprio subconsciente.
Ela carregava sua mochila nas costas, segurando com força nos dois braços e dando leves saltos. se sentia feliz como não se sentia há muito tempo.
não parecia muito atento ao que acontecia à sua volta. Seus pensamentos continuavam processando as mesmas palavras.
Nós conseguimos.
Seus olhos não conseguiam realmente focar nas coisas e pessoas, e ele já havia tombado em pelo menos três colegas diferentes e errado os corredores outras quatro vezes.
— Ai, , pelo amor de Deus. — uma das garotas que também estava participando do programa reclamou ao sentir seu ombro batendo no do rapaz. — Presta atenção.
apenas curvou a cabeça suavemente em um pedido de desculpa, não deixando que a leve grosseria da menina lhe tirasse a felicidade. Ela apenas seguiu seu caminho.
soltou uma risada ao ver a cena.
— Hey! — ele gritou ao vê-la, dando uma pequena corridinha até a moça. — Preparada para esses últimos cinco dias?
Negou com a cabeça. não se sentia pronta para realmente dizer adeus a sua família. Ela queria continuar no projeto, mas seu coração tremia ao pensar que ela teria que se despedir de sua mãe.
deu uma risadinha com a resposta, e ambos passaram a caminhar lado a lado em direção a saída.
— Aproveite sua família ao máximo, sabe?
— Você vai aproveitar a sua? — ela o olhou em um relance. Ele fez o mesmo.
— Espero né.
apenas assentiu, sem saber como continuar a conversa. Ela não estava com a maior vontade do mundo para conversar, mas caso o rapaz puxasse algum assunto, ela estava com bom humor o suficiente para aguentar qualquer besteira que ele dissesse.
Ele não conseguia tirar nenhum assunto da cabeça para manter alguma conversa com a menina, uma vez que sua mente vagava ainda na conversa que tivera anteriormente com .
Observaram o céu azulado do lado de fora assim que atravessaram o portão. Alguns pais esperavam seus filhos ali, como se estivessem voltando de viagem e saindo pela porta do aeroporto.
enxergou seus pais de longe.
Virou-se para , que não procurava por ninguém já que ela sabia que sua família não estaria ali para recebê-la.
— Te vejo daqui cinco dias, certo? — ele perguntou com um sorriso.
Ela assentiu ainda com o sorriso.
— Não vai fugir, né? — ele riu, mas não percebeu o sorriso de murchar levemente. — Digo, você nem tem mais porque fugir.
As sobrancelhas da menina se arquearam.
— O que quer dizer com isso? — entortou a cabeça para o lado, ainda sem entender o motivo daqueles comentários do rapaz.
arregalou os olhos, como se fosse óbvio.
— Ué, você melhorou da sua depressão, não é? Então não tem mais motivo para fugir e...
parou de escutar. As coisas pareciam continuar em câmera lenta pelos seus olhos. Ela enxergava gesticulando e falando animadamente sobre algo, mas sua cabeça já não estava mais ali.
Ele sabia.
Como se não bastasse a tontura que começara a sentir, notou que uma pessoa se aproximava de ambos. Virou o rosto em sua direção.
.
Sua boca abriu e fechou algumas vezes enquanto encarava o cientista. Ele também sorria, assim como .
Um sorriso de missão cumprida.
— Espero que você tenha um bom temp–
— Você contou para o ? — interrompeu o que falava. O sorriso do doutor desmanchou. — Melhor, vocês se conhecem?!
engoliu em seco. parecia estático.
Se encararam ao mesmo tempo.
— Eu não acredito... — soltou um suspiro decepcionado enquanto seus olhos começavam a lacrimejar. — Vocês se conhecem e você ainda teve coragem de contar a ele.
Não precisou de muito para que juntasse as pecinhas e entendesse sobre o que ela estava falando.
realmente havia aberto a boca.
, eu...
— Você nada, , eu confiei em você. — a voz da garota estava embargada. — Em você também, . Como descobriu?
Ambos ficaram quietos.
— Eu ‘tô falando com você , me responde, cacete.
Ele revezou o olhar desde os olhos raivosos de até a expressão de socorro de . Soltou um suspiro.
— Eu pedi para te manter no projeto e esconder essa informação porque sabíamos que você seria expulsa caso descobrissem sobre...
— Minha depressão? — ela sorriu irônica, olhando nos olhos de .
mordeu os lábios ao receber um aceno de ambos os .
— Vocês são parentes? — se atentou ao mesmo sobrenome, mas negou com a cabeça.
— Isso é só coincidência mesmo, estudamos juntos quando éramos mais novos.
Ela assentiu. Baixou os olhos, ainda decepcionada. Nenhum dos rapazes sabia o que fazer.
— Obrigada por tentarem me manter no projeto. — disse depois de um tempo de silêncio.
As pessoas continuavam passando perto deles, mas ninguém parava para perguntar o que estava acontecendo. curvou uma das sobrancelhas, confuso.
— Você não está brava?
— Claro que estou. — o olhou de volta, percebendo que ele engoliu em seco. — Primeiro que eu confiei em , que ele não teria contado nada a ninguém, e isso é como uma traição na minha confiança. E outra, vocês praticamente tentaram me manipular para me manter em um lugar que eu não queria estar.
abaixou a cabeça, deixando uma lágrima escorrer. Ele, ainda mais que , sabia da dificuldade que tinha para confiar nas outras pessoas e ele conseguiu quebrar sua confiança. Sentia-se péssimo.
não sabia como reagir ainda.
— Olha, eu ‘tô indo agora. — segurou em um dos braços da mochila, virando seu corpo para voltar a andar. — Não contem com a minha volta.
E saiu.
Os dois rapazes continuaram estáticos no mesmo lugar, observando a garota se afastar.
— Ela ‘tá muito brava mesmo. — comentou.
— Merda. — murmuraram ao mesmo tempo, mas não se olharam.

■□■□■


Era a última noite antes de voltarem para o laboratório, e estava andando pelas ruas escuras, seguindo o caminho que suas pernas mais haviam traçado nos últimos dias.
O caminho até a casa de .
Ela não estava atendendo suas ligações e muito menos recebendo suas mensagens. Diariamente, ele ia até sua casa e ficava sentado perto da janela do quarto da garota – que ele só descobrira qual era ao lembrar que, em uma das suas conversas com , ela comentara que a cortina de seu quarto era azul marinho com rosa – e ficava ali, conversando com o nada.
Não ficava por muito tempo e sempre deixava um bombom no batente da janela. Ele sabia que o escutava pois, sempre que dizia tchau e saía, ela abria a janela e pegava o bombom.
Sorriu ao se lembrar, mas logo seus ombros murcharam.
Ela ainda não havia falado com ele e aquela era sua última chance para se desculpar pelo ocorrido.
já havia pedido desculpa algumas vezes, mas nunca respondia nada de volta. Ele não se importava em insistir, mas tinha medo de incomodar.
Mas sempre pegava os bombons, então ela não se incomodava tanto, não é?
Sua mente parou de processar qualquer questionamento no segundo em que ele enxergou a janela da cortina azul marinho e rosa.
Ela estava ali.
Todas as vezes em que notou pegando o bombom no batente, ela nunca colocava seu rosto para fora da cortina. Ele só enxergava sua pequena mão catando o bombom e fechando o vidro logo em seguida.
Ela olhava para o céu. Suas mãos estavam cruzadas e seus cotovelos estavam apoiados no batente. Seu cabelo estava solto e ela parecia ainda mais linda.
Uma ideia maluca surgiu na mente do garoto.
Será que ela estava lhe esperando?
Tentou sair do lugar, mas suas pernas não permitiram. Era como se elas, junto de seu cérebro, temessem que, quando ele se aproximasse, ela fugisse mais uma vez.
desviou o olhar do céu e observou a vista de sua janela. Ela varreu cada pedacinho de chão, árvore e flor.
Até que ela o viu parado ali, a olhando também.
A garota tinha uma expressão indecifrável aos olhos de , que tentava desvendar o que ela sentia. Sua confusão de pensamentos entre ir até lá ou permanecer parado ali aumentou ainda mais.
Repentinamente, desviou o olhar e respirou fundo, sentindo a brisa mais uma vez e se virando para trás, saindo da janela.
As cortinas foram fechadas e percebeu que ela também apagara as luzes.
Finalmente expirou o ar que ele segurava.
Caminhou lentamente até a janela que fora sua melhor amiga nos últimos dias. Ficou encarando o batente preto e a cortina colorida. Seu peito pareceu se apertar e sentiu uma vontade enorme de chorar.
— Hey, ... — começou a falar com a voz meio travada, não sabendo ainda o que queria dizer a ela naquela noite. — Hoje é o último dia que venho aqui, então espero que você esteja aí me escutando.
Como o esperado, ela não respondeu.
— Sei que te peço desculpas por ter feito tudo aquilo sem o seu consentimento, era um problema unicamente seu que eu queria resolver e por isso pedi ajuda de , não o culpe por ter ajudado um amigo, por favor...
Uma das coisas que mais machucava era saber que, de certa forma, ele havia estragado a amizade que e construíram ao longo dos 25 dias juntos.
E ele sabia o quanto o cientista estava mal com toda a situação.
— Visitei esses dias e ele está triste e preocupado com você. A gente gosta muito de ti, . — ele deu uma risada nasal, se preparando para o possível choro entalado em sua garganta. — Queríamos cuidar de você, mas fizemos do jeito errado.
Ficou quieto alguns segundos, ainda pensando no que iria dizer.
— Amanhã cedo estarei indo para o laboratório e eu realmente queria que você estivesse indo comigo. — disse um pouco mais baixo. De repente, soltou uma risada ao se lembrar de algo. — Quando eu conversei com o , ele disse que não entendi porque você estava no sorteio sendo que você não participa de nenhum grupo de ajuda.
Ele mexeu nas pedrinhas no chão com o tênis.
— Será que era o destino fazendo a gente se conhecer?
Apesar do tom engraçado, aquela pergunta realmente rondava a mente de . Ele encarou a cortina e sentiu o coração doer. Tinha muito a dizer, só não sabia como.
Suspirou.
— Eu preciso... — murmurou, logo se levantando e ficando ainda mais próximo da janela. — Eu gosto de você, , por isso fiz isso tudo.
Silêncio.
— Eu não sei como, só sei que quando te vi caminhando em direção ao palco no dia do sorteio, eu gostei de você. Te achei linda e planejei mil e uma formas de me aproximar de você, e quando eu descobri sobre sua depressão, eu...
Sua voz travou e lágrimas escorreram.
— Eu entrei em desespero, OK? Implorei para que desse um jeito de te deixar ali dentro, disse que faria de tudo para que você enxergasse o quanto a vida pode ser boa e eu nunca deixaria de estar do seu lado.
Mais lágrimas.
— Me desculpe por ter omitido isso tudo, eu genuinamente gosto de você e fiquei tão feliz quando soube da sua melhora... — ele fungou, sentindo o peito arder por dentro. — Eu só queria te ver bem. Achei que esse projeto fosse uma oportunidade única e acabei sendo egoísta em querer que você estivesse nele comigo mesmo contra sua vontade. Sei que errei.
Ele soltou um suspiro e olhou para o céu estrelado.
— Eu realmente fiz isso tudo com a melhor intenção do mundo, não imaginei o quanto poderia te machucar caso você descobrisse.
A cortina se mexeu – provavelmente com o vento – e sentiu o coração palpitar.
Ainda sem nenhuma resposta.
... — disse em um suspiro, secando suas lágrimas. — Eu não sei se você vai aparecer amanhã lá no laboratório mesmo depois de tudo, mas eu vou esperar sua resposta, ‘tá?
Como imaginado, não recebeu resposta. suspirou uma última vez, se afastando da janela e colocando a mão no bolso da calça, tirando o bombom dali e colocando-o no batente.
— Ham... Eu... Vou indo então, . — complicou-se nas palavras ao se despedir. — Me desculpa mais uma vez e... Até amanhã, caso você vá.
Andou alguns passos.
— E ah... — virou-se novamente. — Obrigado por tudo, você é uma garota incrível e qualquer um que tiver a chance de te conhecer vai ser muito abençoado. Caso você não vá... Adeus então, . Até a próxima vida, eu acho.
Deu um sorriso sem graça, escondendo as mãos nos bolsos da calça. voltou a caminhar, logo parando para observar aquela janela uma última vez.
Diferente das outras noites, não colocou a mão para fora e pegou o bombom.

■□■□■


— Entra logo, ! — o rapaz escutou sua doutora chamá-lo, mas não se virou. — Argh!
Ele estava parado em frente ao portão do laboratório, com os dedos cruzados e esticando o pescoço para ver se enxergava alguém se aproximando.
— Eu falo com ele. — escutou uma voz masculina atrás de si, logo seguida de passos se aproximando. — Você ainda acha que ela vem?
olhou para o lado, encarando o perfil de que continuava a observar o horizonte. O cientista estava com as mãos para trás e o jaleco aberto, neutro.
— Apesar de achar que continuar com o projeto seja a melhor coisa que poderia fazer, talvez ela não esteja preparada para dar esse passo. — voltou a falar, virando-se para encarar . — E se ela acha isso, está tudo bem também.
O garoto sentiu todo seu rosto murchar, junto de seus ombros que pareciam pesar ainda mais. Ele ainda tinha esperanças de que apareceria ali.
— Eu só espero que você não se culpe, independentemente da escolha dela.
Ambos os rapazes ficaram em silêncio, agora olhando para a frente. esperava que, em poucos minutos, uma silhueta muito bem conhecida por ele aparecesse.
, por outro lado, ainda pensava na garota e no quanto havia vacilado com ela. Era certo de que ela merecia boas amizades e ele não havia sido uma delas ao compartilhar com o seu segredo, mesmo que ele só estivesse pensando em ajudá-la.
Sentia-se culpado, mesmo que ela já o tivesse perdoado.
— Eu vou entrar para ajudar os outros cientistas a arrumarem todas as incubadoras. — avisou olhando para o amigo de relance. Pôs a mão direita sobre seu ombro. — Ela vindo ou não, por favor, não demore para entrar, OK? Antes que a doutora Weein enlouqueça por sua causa.
Os dois riram rapidamente e deu dois tapinhas no ombro de , logo se virando e entrando no laboratório.
— Vamos, ... Cadê você...
E ele esperou.
Esperou.
E esperou.

Epilogue – Hello Future

기다렸어 어서 와
어디든 we're coming together
아무 걱정 하지 마
잘 될 거야 hello future

Eu estive esperando por você, bem-vindo
Independente de onde seja, iremos juntos
Não se preocupe com nada
Vai ficar tudo bem, olá, futuro


Com um suspiro, se virou para, finalmente, entrar na base. O garoto sentiu o seu coração doer, não sabendo dizer ao certo se estava mais triste consigo mesmo ou com .
Quer dizer, óbvio que ele teve sua parcela de culpa, assim como o ... Mas ela podia ter respondido ontem. Ou, então, ela poderia simplesmente aparecer para dar um tchau, qualquer coisa. estava confuso.
E se, quando ela não pegou o bombom, já tivesse sido a sua resposta?
Ele estremeceu. A culpa pareceu tomar conta de todo seu corpo em um único segundo.
Assim que deu os primeiros três passos, escutou um barulho de passos atrás de si.
Eram passos apressados, como se a pessoa corresse.
Virou-se.
?
A garota continuou correndo com a mochila nas costas e um sorriso no rosto. estava paralisado.
— E aí? — ela disse com pouco fôlego ao se aproximar.
Com as mãos nos joelhos para tentar recuperar o ar, olhou nos olhos do garoto e riu com sua careta.
— Sei que não sou a coisa mais linda do mundo, mas achei que sua reação seria diferente.
piscou algumas vezes antes de abraçá-la.
— Meu Deus. Meu Deus? Meu Deus, você realmente veio.
— É claro que vim. — respondeu rindo alto, ainda com dificuldade para respirar. — E estou atrasada.
— Eu... Eu achei que...
— Olha, me desculpe por ontem também, OK? — ela se pronunciou antes que toda a coragem se fosse. — Eu fiquei mal com isso tudo, obviamente, mas eu entendo que vocês tenham feito tudo na melhor das intenções.
sorria, e isso fez com que sorrisse também ao afrouxar o abraço e se afastar.
— Obrigado.
Ela curvou a sobrancelha.
— Pelo quê?
— Por ter me desculpado. Por ter vindo. Por tudo.
— Já disse que está tudo bem, . — riu mais uma vez. Ele estava louco, ou ela parecia risonha demais? — Vamos logo.
Caminharam juntos até a entrada do laboratório, mas antes que pudessem entrar, a garota segurou um dos pulsos de , fazendo-o parar.
Ele se virou em sua direção.
— O que foi? — perguntou preocupado. Se antes ele já estava confuso com o humor de , agora, com aquela expressão que ela estava, uma interrogação enorme vagava seus pensamentos.
Ela continuou o olhando em silêncio.
Vamos, fale logo, seu subconsciente conversava consigo mesma, fazendo com que suspirasse.
— Primeiro eu queria te agradecer por ter ido todos os dias lá em casa, mesmo que eu não tenha te respondido uma vez sequer. — ruboresceu.
— De boas. — sorriu, mas percebeu que a garota não mudou sua expressão. Engoliu em seco. — Não é só isso que você tem para me falar, né?
— É que... — começou a falar com a voz tremendo. — Eu escutei tudo o que você me disse ontem.
prendeu a respiração.
— E, bem... Eu vou ser sincera, não sei se estou preparada para corresponder aos seus sentimentos.
Ele jurou ter escutado o barulho de seu coração quebrando em pequenos pedaços.
— Mas eu sinto algo por você. — ela voltou a falar, novamente o deixando confuso. — Só não sei direito como agir sobre isso.
esperou que dissesse algo, mas ele parecia tão confuso quanto ela.
— Então, se você puder ter paciência comigo...
Um sorriso brotou nos lábios do rapaz, que não conseguiu esconder sua felicidade.
estava ali, ao seu lado, embarcando naquele projeto com ele.
E ela gostava dele, aparentemente.
Se virou completamente em sua direção, segurando ambas as mãos de , que estava nervosa. mordeu o lábio inferior ao encará-la de perto.
— Eu nunca vou desistir de você, .
A garota sorriu, sentindo o coração palpitando mais forte. Ela não sabia direito o que era aquilo, mas gostava da sensação.
— E nós estaremos juntos quando acordarmos. — ele continuou ainda sorrindo e encarando os olhos da garota. — No nosso futuro.




FIM.



Nota da autora: Ok, essa fic foi... Muita loucura. Eu escrevi demais da conta e ainda tive que cortar algumas coisas para não ficar tão imensa hahah, acreditem.
Espero que tenham gostado dessa loucura! Confesso que Haechan e Minji me deixam com o coração bem quentinho ksksk quem sabe vem um spin-off em um futuro (distante)?
Não esqueçam de conferir minhas outras fics nesse ficstape e visitar minha page de autora caso tenham gostado da minha escrita <3
Um cheiroooo enorme em vocês que leram!
~xoxo



Nota da beta: Ai, gente, cadê a continuação? Já quero!
Bem, o Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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