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Última atualização: Junho/2024

Prólogo

O luar banhava em sua plenitude. Ao tocá-la, a sensação de uma doce sinfonia era iniciada, uma dança onde a interação entre as células e partículas se curvaram ao seu resplendor.
Não havia nada mais belo. Não havia nada mais puro.
Aquela era mais uma típica noite de verão, onde o mesmo espetáculo se repetia incessantemente.
buscava a lua. A lua buscava , mas ambas sabiam que o rio era seu verdadeiro dono. O guardião, o retentor.
Se ao menos pudesse estender suas mãos, quem sabe conseguisse tocar aquele ser iluminado.
Todas as noites, teimosa como era, ela tentava tomar o impulso, mesmo sabendo que falhar era inevitável.
Quão surpresa esteve quando, subitamente, conseguiu enxergar os próprios dedos.
Nos primeiros segundos, o choque a paralisou. Nos seguintes, a consciência do próprio respirar entrou em evidência e, de repente, se viu sufocada.
O rio tentou tragá-la, a água entrou por suas narinas, buscou roubar seu oxigênio, traçou um caminho mortal por sua garganta, porém ela não se deixaria vencer nunca mais.
Tossiu. Se agitou. Sacudiu o corpo.
A água voltou para sua boca e foi expelida. Seus pulmões quase saltaram junto.
riu daquele pensamento, mas logo se calou ao se assustar com o próprio som rouco a ecoar.
Suas mãos lhe chamaram a atenção novamente. Ela observou seus dedos levemente enrugados e, sem se dar conta ainda de não estar mais deitada, seus olhos se encheram de lágrimas.
— Que isso não seja mais um sonho. Eu te suplico, Iemanjá.
Era estranho ouvir sua voz depois de tanto tempo calada.
Mas o que era mesmo o tempo?
Talvez apenas uma medida.
Precisava descobrir, mas não queria.
Ela estava de volta!
Mais consciente de seus braços e pernas, nadou até a beira do rio e se levantou. Tremeu, incerta, porém não desistiu até se ver caminhando.
A sensação gelada das águas foi substituída pelo clima abafado que ela tanto amava.
Gargalhou alto. Chorou mais ainda.
Ela estava de volta!
Começou a correr sem se importar se parecia louca, ou com a ausência de suas roupas.
correu, ignorando o protesto de seus pulmões e o ardor em seus olhos com a claridade dos postes que surgiram.
Só devia se atentar, no entanto, à modernidade ao seu redor, ao asfalto onde seus pés passaram a pisar e ao som da buzina antes de sentir algo atingi-la, lançando seu corpo à estrada com um baque surdo.
Uma exclamação de dor escapou de seus lábios e ela pôde jurar ter ouvido xingamentos antes de fechar os olhos e suplicar, uma última vez, seu desejo de que aquilo não fosse mais um sonho.


Capítulo Um — o quê?

Aquela barulheira era demais para os ouvidos de . Um “tum-tum-tum” que não fazia sentido algum para ele e fazia a constante pergunta se destacar em seus pensamentos.
Como as pessoas conseguiam se entender no meio daquilo?
Sim, se entender, porque conversar elas conversavam.
Aos berros.
Qual idiota mesmo o convenceu de que ir àquela festa era uma boa ideia?
Primeiro, era velho demais.
Segundo, odiava aquele tipo de tumulto.
E terceiro, como poderia ser bom estar no mesmo lugar que sua ex-namorada acompanhada?
Não. Ele não tinha sentimentos por Manuela, ao menos não sentimentos românticos, porém a cidade era pequena demais e todo mundo, todo mundo mesmo, perguntava a se estava tudo bem.
O pior nem era isso, mas, sim, o olhar de pena.
Porra, dá um tempo! As pessoas superam términos! E ele e Manu mantinham uma amizade legal que era muito melhor do que o namoro. Os dois não eram um encaixe e estava tudo bem.
É sério. Estava tudo bem mesmo.
— Égua, Thiago, eu tô indo pra casa! — O resmungo veio seguido de um olhar fuzilador porque estava ali o autor da ótima ideia.
— Ahn? — Mais para lá do que para cá, o primo e melhor amigo de não entenderia suas palavras nem se conseguisse, de fato, o ouvir.
— Tô-indo-pra-casa — o mal humorado repetiu pausadamente e a resposta de Thiago foi um arquear de sobrancelha.
— Oxe, mas por quê? Você não tá bebendo, cara? — A mera ideia parecia deixá-lo indignado.
bufou.
— Meio litro de cachaça não vai melhorar essa festa em nada.
— E a Cibelle? Já viu que tá te secando? Espia só! — Thiago passou a língua pelos lábios e indicou a moça a apenas alguns metros dos dois.
Sem se dar ao trabalho de olhar, o outro apenas começou a caminhar em direção à saída.
— Bora logo?
Os dois vieram juntos à festa, então, ou o primo aceitava o final precoce da festinha, ou arrumava outra carona.
— Nah, eu dou meus pulos.
rolou os olhos.
— Tem certeza? Não quero tua mãe me ligando depois pra me dar mijada porque te abandonei na sarjeta.
— Se a sarjeta for aquela loirinha ali, é verdade.
Os dois riram alto e o apenas alguns meses mais velho negou com a cabeça.
— Tu és podre, rapaz.
— Podre és tu, só se faz de bom moço.
— Te orienta aí, Thiago.
— Oxe, te sai logo, !
Ainda rindo, seguiu a direção desejada desde que colocou os pés na festa. Precisava acordar cedo no dia seguinte e, de fato, ter aceitado a proposta descabida de Thiago havia sido burrice dele também. Ainda mais uma festa na vila vizinha.
De qualquer forma, finalmente ele pôde respirar aliviado quando seguiu até a estrada principal.
Ligou o rádio e sorriu satisfeito ao ouvir a voz de Ney Matogrosso entoar Sangue Latino. Aquilo sim era música. Sentiu até a tensão em seus ombros se dissipar.
entendia bem como as coisas eram. As canções que gostava não costumavam animar o povo a ponto de dançar e, por esse motivo, apreciava tantos os momentos de solidão.
Não que ele fosse antissocial, não era, porém, curtia demais a própria companhia. E, como seu psicólogo havia dito uma vez: quem não gosta de ficar sozinho, teme demais olhar para dentro de si.
— Imagina só se eu tivesse dado uma de Thiago? — Riu, ao se dar conta do rumo de seus pensamentos, então negou com a cabeça.
Quem sabe não fizesse uma cara tão azeda quando Manu chegou à festa com Pedro, o novo namorado.
Não era ciúmes, embora pudesse parecer, só era… estranho.
sabia das vezes que a ex ficava com outras pessoas, afinal, de fato permaneceram amigos, porém nunca tinha visto nada e vice-versa. Não era um santo, vira e mexe trocava uns amassos por aí, mas sabia que namoro não era algo para ele, e esse havia sido um dos motivos de seu término com Manuela.
Pedro era um cara gente boa. Um tanto afrescalhado demais, mas gente boa. Ele fazia Manu feliz e era o que importava. Desde sua chegada à festa, os dois não se desgrudaram, e não se lembrava de ter sido assim quando namoraram. Na verdade, em festas ou outros eventos públicos, interagiam mais com os amigos e brincavam bastante entre si.
De fato, os dois tentaram se enganar por vários meses. Eram amigos desde o início e se envolverem romanticamente havia sido um grande erro.
Pelo menos o término não estragou tudo. não era antissocial, mas eram poucas as pessoas nas quais podia confiar.
Qual seria o motivo então daquela sensação estranha?
Talvez cuidado com Manu? Receio que Pedro, por mais gente boa que fosse, acabasse a machucando?
Ele não sabia e também não importava mais. Estranho ou não, teria de lidar com aquilo.
A princípio, sua careta trouxe um certo desconforto e a interação com Manuela foi um tanto engraçada. Era como se os dois pisassem em ovos e só melhorou quando a mulher fez uma brincadeira, perguntando que tipo de mandinga Thiago teria feito para tirar de casa bem na época de aplicar provas.
Depois as coisas melhoraram um pouco, até conversou com Pedro e eles tinham alguns hobbies em comum, só que o grude dele com sua ex não era bem o que desejava ver pelo resto da noite, ficar segurando vela para qualquer casal sempre seria desconfortável, então logo arrumou uma desculpa para ir atrás de Thiago.
espantou os pensamentos e aumentou o volume do rádio. Cantou alguns trechos da música enquanto seus dedos batucavam o volante e quando seu olhar bateu no horário mostrado em seu relógio de pulso, acabou rindo.
Ele tinha durado quase duas horas na festa.
Voltou sua atenção para o rádio quando a canção chegou ao fim e, decidido sobre qual gostaria de ouvir a seguir, deu uma conferida de esguelha na estrada.
Seu estômago subiu à boca quando notou uma moça a atravessando sem nem olhar para os dois lados. Num ato reflexo, apertou a buzina, seria muito mais fácil se ela recuasse. O barulho estridente machucou seus ouvidos, porém a mulher parecia em outra dimensão, porque não ouviu. E mesmo que tivesse escutado, não seria o suficiente.
O veículo estava perto demais.
— Égua! — Pisou o freio, tentando evitar o inevitável.
achava que o pior da sua noite seria uma festa universitária, cheia de alunos bêbados e gente se agarrando e o aporrinhando para todo o lado.
Como dizia o ditado, tudo que está ruim sempre pode ficar péssimo.
Ele aceitaria qualquer música moderna no lugar daquele som nauseante do corpo da moça se chocando contra o seu carro.
Imediatamente desligou o veículo.
O nervosismo o fez tremer por inteiro. Nunca na vida tinha atropelado alguém. Detestava a ideia de fazer mal a um mosquito sequer. Sempre foi muito cuidadoso no trânsito, como podia dar uma daquelas?
Por que, diabo, o universo estava sendo tão cruel com ele?
Passou a mão pelos cabelos e suspirou fundo enquanto encarava o próprio reflexo no retrovisor. Precisava prestar socorro.
— Ai papai — resmungou consigo mesmo e tratou de sair logo do carro.
O trajeto da porta até a frente do veículo pareceu durar uma eternidade. O receio de como encontraria a moça pressionava sua cabeça e ele sentia vontade de vomitar.
Nada o preparou para a cena que viu.
Não havia feridas graves expostas, nem uma quantidade exagerada de sangue por todo o lado, só que a mulher jogada a poucos metros de seu carro, além de desacordada, estava nua.
Isso mesmo. Nua.
Como veio ao mundo.
Os olhos do homem se arregalaram de surpresa e ele sentiu suas bochechas esquentarem imediatamente.
Sua primeira reação foi desviar o olhar, como se acabasse de flagrar algum momento íntimo da moça e qualquer menção de se aproximar dela a desrespeitasse.
Tudo aquilo parecia muito surreal.
Ele tinha mesmo atropelado uma mulher pelada?
Balançou a cabeça e voltou a encarar a cena. Secretamente, desejou ter imaginado, ou até mesmo sonhado, porém era tudo muito real.
O que faria?
— Como é que você se meteu nessa, ? — Ficou ali parado, constrangido e confuso. — Aposto que é praga do Thiago. Da próxima vez, ele que vá a pé e dê seus pulos! Não ligo. Olha só para essa enrascada? Eu podia estar em casa dormindo, mas não…
Puxou o celular do bolso e encarou o visor. Eram quase duas da manhã.
Se ligasse para a ambulância, sabe-se lá até que horas ficaria ali esperando.
Será que ela estava muito machucada?
Com suas bochechas queimando mais do que nunca, ele deu alguns passos e ficou mais perto da mulher para tentar procurar algum ferimento mais grave.
— Certo, só tô vendo uns arranhões, mas vai que ela quebrou alguma coisa?
Deixá-la nua daquele jeito era o que mais estava lhe incomodando.
Tirou a camisa xadrez que vestia por cima da camiseta preta e se adiantou para colocá-la sobre o corpo da moça. Agachado diante dela, tentou fazer mais uma análise à procura de machucados.
— Moça? — Arriscou chamá-la e se assustou quando a mulher abriu os olhos subitamente. — Axí, credo! — Ela ficou o encarando sem dizer nada, ainda deitada, e respirou fundo. — Err… Oi. Me chamo e…
Interrompendo sua fala, ela se sentou no asfalto e se afastou num sobressalto. A camisa escapou do corpo dela no ato e, tomando consciência da própria nudez, a moça abraçou seus joelhos, tentando se proteger.
— Por favor, não me machuque! — Seus lábios tremeram e ela baixou o olhar, com medo do que encontraria nas íris dele.
— Ei, não vou te machucar, eu… — fez uma careta, o constrangimento e a culpa o faziam evitar tentar uma aproximação.
— Por favor, eu não fiz nada. Te arreda! — O grito apavorado dela o surpreendeu e ergueu as duas mãos em sinal de rendição.
— Oxe, eu não vou te machucar, moça! — reforçou, usando um tom mais firme e ela se calou.
Seus olhares se encontraram por alguns segundos e ele percebeu o quanto a mulher estava atordoada.
Quando ela pareceu menos assustada, arriscou pegar sua camisa atirada no chão e estendeu a peça até a moça. Após dois segundos de hesitação, ela concluiu que era seguro e aceitou, a vestindo e deixando uma exclamação de dor escapar.
— Preciso levá-la ao hospital. Acha que consegue levantar sozinha? — O homem se pôs de pé e a observou mais uma vez.
Assentindo, a moça conseguiu se erguer, porém, ao tentar colocar um dos pés no chão, gemeu baixinho.
— Vou te ajudar. Posso? — Estava temeroso em tocá-la e só o fez quando a viu afirmar mais uma vez.
se aproximou e a fez passar um dos braços nos ombros dele para ganhar apoio. Um suspiro dolorido dela sugeriu que poderia ter machucado uma de suas costelas e ele suspirou.
— Vou te pegar no colo pra te colocar no meu carro. É mais rápido irmos nele do que chamar uma ambulância.
— Tudo bem. — A mulher percebeu que estava dolorida demais para protestar.
Um dos braços fortes dele envolveu suas pernas, enquanto o outro a apoiou por baixo da axila, então ele a ergueu como se fosse leve feito uma pena.
Seu cheiro era bom, embora misturado ao de… cigarro, fumaça? Não conseguiu distinguir.
seguiu com ela até o carro e deu um jeito de abrir a porta do carona para colocá-la ali. Ele o fez com cuidado e voltou a se aproximar para passar seu cinto.
— O que… — Ela perdeu o fôlego ao encará-lo tão de perto. A estrada escura estava iluminada pelos postes e pelos faróis do carro de e talvez fosse aquilo que o deixava um tanto… charmoso. — O que aconteceu? — Piscou os olhos lentamente, em busca de foco.
Devia estar apavorada com aquele negócio estranho onde o homem a havia colocado, mas não. Era tudo muito confuso.
— Você foi atropelada. — fez uma careta culpada e fechou a porta para dar a volta e ocupar logo o assento do motorista.
Quanto antes chegassem ao hospital, melhor. Talvez ela tivesse batido a cabeça.
— Égua! Como assim, atropelada? — a mulher o indagou, assustada, assim que o viu entrar no carro.
— Olha, moça, você apareceu do nada no meio da estrada. E sabe como é a iluminação daqui, né? O que você estava fazendo, que mal lhe pergunte? — deu partida e pisou o acelerador.
— Pera aí… Foi você quem me atropelou? — Os lábios dela se abriram de surpresa.
— Foi, mas não deu nem tempo de desviar ou frear. Como falei, você apareceu do nada e…
— Êêê… Sua mãe não te ensinou a não sair atropelando as pessoas assim? E que tipo de carroça é essa aqui?
— É o quê? Carroça?
Definitivamente, ela tinha batido a cabeça. Estava estampado na forma como ela o olhava.
— Olha só, por que você não fica quietinha? O hospital é logo ali e se você tiver alguma concussão, não é bom ficar tagarelando. — Tentou focar na estrada, mas pelo canto do olho a notou encará-lo indignada.
— Como é que é? Pois se aquiete você, rapaz! Vou tagarelar o quanto eu quiser, oxe. Já não basta passar por cima de mim, quer que eu feche a boca?
respirou fundo.
Era só o que faltava.
— Que seja. Fale pelos cotovelos então. Só estou tentando te ajudar. — Deu de ombros.
— Fale você pelos cotovelos. Não te pedi ajuda nenhuma — retrucou, birrenta, e ele acabou rindo.
— Preferia que eu te deixasse atirada na estrada então? — Ergueu uma sobrancelha e a ouviu bufar.
— Preferia que não tivesse me atropelado, obrigada.
— Facilitaria muito se você não resolvesse sair caminhando pela estrada a essas horas, não sabe? — A viu revirar os olhos e negou com a cabeça.
Alguns minutos de silêncio passaram e o olhar da moça parecia distante na estrada.
Ainda assim, não conseguiu conter sua curiosidade.
— Era algum tipo de aposta? — A encarou de soslaio e recebeu uma careta confusa.
— Aposta? — indicou as pernas descobertas dela, demonstrando que falava de sua nudez. — Não. Não era.
Ele processou a resposta por alguns segundos antes de tentar de novo.
— Era o que então?
A mulher respirou fundo.
— Não é da sua conta.
se irritou. Antes tivesse realmente a deixado atirada no asfalto, porém não era da índole dele, jamais faria algo do tipo.
Quis retrucar, contudo, antes que o fizesse, a iluminação da cidade atraiu sua atenção e ele desistiu de tentar qualquer outra conversa até enxergar a fachada do hospital.


🌺


percebeu os olhares das pessoas os acompanharem enquanto caminhavam até o balcão da emergência. Tudo bem, ele apoiava em seus braços uma mulher seminua, mas bem que o povo poderia ser um pouco mais discreto, não?
Afinal, não era como se nunca tivessem visto uma daquelas.
Estreitou os olhos para um rapaz que quase comeu a moça com um olhar. Era muita cara de pau mesmo.
— Afrescalhado — resmungou para si mesmo.
— Boa noite, em que posso ajudar? — A recepcionista chamou sua atenção e, antes que pudesse falar, a mulher em seus braços se atravessou.
— Fui atropelada por esse mocorongo. — Indicou .
— Égua! — protestou e a outra imediatamente o encarou feio, enquanto pegava o telefone para chamar uma enfermeira.
Ele suspirou.
— Oi. Sim, eu a atropelei. Ela apareceu do nada no meio da estrada, não parece estar com ferimentos graves, mas acho que teve uma torção no tornozelo e…
— Não tive ferimentos graves? Tu és doido! E como é que sabe? Por um acaso é médico?
estreitou os olhos e pediu a todos os seres divinos por um pouco mais de paciência.
— Não. Não sou médico, sou biólogo.
— E o que diabo é um biólogo?
Ela estava de brincadeira, não estava?
— Você só pode estar brincando.
— Moça, você tem algum documento com você? — A recepcionista interrompeu a discussão, sem acreditar que as pessoas tinham disposição para discutir em uma hora daquelas.
A mulher imediatamente a olhou e pareceu ainda mais confusa.
— Documento?
— É. Identidade, carteira de motorista, qualquer documento com foto, para eu puxar seu registro no sistema. — Indicou a tela à sua frente.
percebeu como a moça perdeu totalmente o rumo e ficou nervosa. Sua confusão era muito genuína.
Se ele fosse o culpado por sua confusão mental, nunca se perdoaria, mesmo que a mulher fosse irritante daquele jeito.
— Eu… Eu não tenho nada disso daí. E se algum dia eu tive, não me lembro. — Seus olhos marejaram. Será que deixariam de ajudá-la?
A recepcionista assentiu devagar e abriu um sorriso fraco.
— Tudo bem. Uma coisa de cada vez então. Me diz o seu nome.
.
— E o sobrenome?
.
? — Quis confirmar.
— Peraí, o quê? — se intrometeu, incrédulo com o que ouviu.
Ou aquilo era piada, ou a mulher era doida de pedra.
. Você tem problemas de audição? — o olhou irritada.
— Você sabe o seu RG, ? — Mais uma vez, a recepcionista os interrompeu.
— Eu não sei nada, moça. A única coisa que consigo lembrar é o meu nome. Você consegue me ajudar?
— Consigo. A enfermeira já vai chegar aqui para te atender. Só aguardar.
e se entreolharam, então o homem a levou até um dos bancos da sala de espera e a ajudou a se sentar.
— Êêêê… seu nome é mesmo ? — Ela ia xingá-lo, ele sabia, mas não ligava. Ainda não conseguia acreditar naquilo.
Só conhecia uma . Aquela das lendas que sua avó contava e que ele estudou como uma planta na faculdade.
— Oxe, é. Por que eu mentiria sobre o meu nome? — Ergueu uma sobrancelha para ele. — E por que tanta surpresa?
— Nada. É um nome de planta. — Deu de ombros e abriu a boca incrédula.
— É não! Você é ridículo.
— É sim. Nunca viu uma ?
Aquilo já estava virando papo de maluco.
— Vi sim. Eu mesma no reflexo do rio. — Deu risada. Ela que batia a cabeça e ele que ficava doido.
— Ahn? — franziu o cenho.
Ok, ele estava começando a achar que dormiu no volante, ou até mesmo em um dos sofás daquela festa de maluco. Era a única explicação plausível.
— Olha, você gostando ou não, esse é o meu nome. É a única coisa da qual eu me lembro, mas tenho certeza. — suspirou.
— Então você também não sabe como foi parar nua no meio da estrada, né?
Ela o olhou aflita e não soube se era reflexo da luz ou se os olhos dela eram bonitos daquele jeito mesmo.
— Não. Não sei. Daria tudo para saber.
Os dois ficaram mais uns minutos em silêncio.
— E o seu, qual é? — ela indagou, de repente.
— O meu o quê? — , que acabou se perdendo em pensamentos, a olhou confuso.
— Seu nome, égua. — sorriu.
— Ah… É . .
— Prazer em conhecê-lo, . — Estendeu uma mão para ele e o gesto a fez ficar absurdamente charmosa. — Obrigada por me trazer até aqui, mesmo tendo me atropelado antes.
Ele não resistiu e acabou sorrindo de volta.
— Você vai ficar bem, . E não tem de quê.
Alguma coisa no olhar dela o prendeu, mas não gostou daquilo. Preferia ter controle sobre os próprios olhos, obrigado.
? — A voz hesitante da enfermeira os interrompeu. Ela trazia uma cadeira de rodas e imediatamente ajudou a ir até ela.
— Obrigada mesmo. Que Deus lhe pague.
apenas assentiu e acenou em despedida quando elas se afastaram.
Havia feito sua parte e tinha certeza de que o pessoal do hospital ajudaria a se encontrar novamente. Estava livre para voltar para sua vida.
No entanto, quando as portas se fecharam atrás da mulher, ir embora lhe pareceu extremamente errado.
Mas por quê? Ele não sabia.
Ela não era responsabilidade sua.
E mesmo não entendendo o motivo, ficou.


Continua...



Nota da autora: Confesso que já tô toda caidinha pelo pp e amando a interação deles.
Me contem o que acharam, please!

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Beijos e até a próxima.
Ste. ♥



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