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Última atualização: 16/02/2024

Prólogo

O texto a seguir possui descrição explícita de violência e pode causar incômodo.
Não recomendado para pessoas sensíveis. Ao pular, a história não será prejudicada.


Ouço-a gemer dolorosamente enquanto recobra seus sentidos. Estremeço com o barulho. Fecho os olhos. O som mistura-se com o ferro das correntes que arranham o chão, ela tenta se soltar, mas não tem força pra isso. Não conseguiria nem se tivesse. Inútil. Vou em passos lentos até o rack e alcanço o aparelho que guardava ali, o ligo. A música clássica começa a tocar: alta, gostosa, tranquilizadora, inspiradora. Sinto os timbres invadirem o meu corpo e minha mente sussurra, de forma tão sincrônica quanto instrumental: “invada o corpo dela”.
Calma.
Eu farei.
Minha atenção se volta à figura feminina, presa por correntes em uma barra de metal, sentada sobre um chão úmido e uma parede levemente mofada, o olhar teimoso que implorava pela vida e a barriga escondida, como se eu não pudesse ver que uma criança crescia ali dentro. Meu boneco. Minha porcelana mais bonita. Sorrio para ela e ela desvia seu olhar do meu, puxando as correntes mais uma vez. Inútil. “Ela era minha agora”, repito para mim mesmo. Ninguém iria a salvar, eu não permitiria que a tirassem de mim. Ela era a minha peça exclusiva. Minha maior obra de arte. Volto para perto dela.
Me ajoelho sobre o chão, as minhas mãos acariciam com ternura o seu cabelo, em seguida toco no rosto frio e pálido. Ela continua sem me olhar, mas não se afasta do meu toque. Ela sabe o que aconteceria caso buscasse distância porque ela já buscou manter-se longe uma vez. Inútil.

Tique.
Taque.
Tique.
Taque.


A maioria das pessoas não sabem o cheiro que o sangue humano tem, eu sei. Estou acostumado com a umidade vinda do sangue fresco, a forma que o líquido escorre pelo chão quando as coisas não dão muito certo. Tem cheiro de ferrugem, devido às moléculas de ferro que compõem a hemoglobina. Inspiro, trazendo o ar do ambiente para o meu cérebro, sentindo aquele aroma mais uma vez.

Metálico.
Forte.
Entorpecente.


Cerro os lábios de forma calma, comprimindo-os. Em seguida, ouço a próxima música que começava a tocar no aparelho pequeno. As lembranças não estavam mais sendo suficientes, eu precisava sentir de novo, precisava sentir as minhas mãos trêmulas de prazer e firmes com a força ao alcançar a pele pálida, fria e sem vida da minha escolhida. Eu começava a sentir o corpo reagir àquilo, como uma droga, penso, mas não era uma droga.
Drogas tiram os sentidos.
Matar me devolve os sentidos.
Abro o armário, após alguns passos que sequer lembro ter dado, encaro tudo que tinha ali. Os vidros pequenos eram organizados por cores, com rótulos simples, e deviam ser usados de acordo com cada situação. Um alfabeto fatal.

Vidro azul, letra B. Brugmansia suaveolens.
Vidro amarelo, letra C. Convallaria majalis.


Alcanço a minha predileta, não tem espelhos no lugar que estamos, mas consigo ver meus olhos brilhando quando a toco.

Vidro branco, letra N.
Nerium Oleander.


Separo-a das demais, eu iria usá-la mais tarde, na boneca maior.
Primeiro precisava arrancar aquela criança daquele ventre.
Não tinha certeza de quantos meses ela estava, talvez... oito? Fiz as contas de forma rápida e, pelo tamanho da barriga, não iria demorar a parir. A intenção inicial era que eu pudesse esperá-la naturalmente, mas não vou conseguir. Não mais. Eu precisava disso e eles estavam perto demais dela. De nós.

— Houve uma mudança de planos — sussurro. Ela me olha assustada, encarando-me pela primeira vez nos últimos dois dias. Eu gostava do tom de medo em seus olhos de avelã. — Faremos o seu parto. Agora — informo com a voz calma e tranquila, retirando da mala tudo que precisaria para a cirurgia.
— Não. Não. Não, por favor, não. Eu fiz tudo que você pediu. Eu me comportei. — Sua voz tremia, algo em sua voz me acusava de ser injusto. A vida é injusta, mon amour, não eu. — Se... se você fizer isso, ele vai morrer — ela suplica. Eu sorrio. Ele vai morrer de qualquer forma. Ela percebe isso. — Eu te imploro, não encosta no meu filho. Ele sequer faz parte do seu padrão. Você não machuca meninos, por favor. Não. Não. Não. — Outra tentativa. Inútil. Eu te escolhi pelo seu filho. Ou melhor, filha.
— Eu sei que é uma menina. — Ela me olha, confusa, ainda mais assustada. Talvez ela achasse que eu não iria descobrir. Ela me acha burro. Eu a acho ainda mais especial. — Uma boneca. Vocês duas vão ser as minhas porcelanas mais lindas. — Pego os dois pares de luvas, usando-as. — Sabe o que vou fazer? Eu vou tirar ela de dentro de você, você vai escutá-la chorar e irá chorar junto porque nascer não vai significar vida. Não para ela. Você não vai poder fazer nada. Vai ficar algemada, jogada nesse chão, sangrando pelo corte de seu ventre enquanto me assiste matá-la. Eu vou furar ela com uma agulha e injetar o líquido daquele vidro pequeno e branco, então você vai ouvir ela parar de chorar, porque não terá mais nenhuma partícula de vida nela. Com o mesmo bisturi que utilizarei para abrir você, eu a abrirei, irei remover o pequeno coração enquanto ele ainda estiver batendo, em seguida costurar cada pedaço necessário e finalmente arrumá-la como a mais linda boneca jamais vista. Em seguida será você, mon amour, mas não se preocupe. Você vai morrer antes que eu toque em você, você vai morrer junto dela.


Capítulo 1

Tendo visto o suficiente, o detetive logo saiu da loja. Mais uma vez, assim que pisou os pés fora do lugar, um grupo de pessoas tentavam fazer perguntas em alto som, perguntas que ele fazia questão de ignorar. Olhou atentamente, por uma única vez, para todos que se aproximavam da cena, talvez o assassino estivesse ali, entre a população assustada, assistindo de camarote o circo que ele mesmo havia feito. O loiro suspirou, andou até seu carro e antes que pudesse entrar no mesmo, viu o corpo médio de uma mulher entrar em sua frente. Ele franziu o cenho e respirou fundo assim que ela sorriu de maneira sarcástica e ergueu uma das sobrancelhas.

— Existem três tipos de policiais: os corruptos, os preconceituosos e os incompetentes. Qual você é? — questionou a mulher. O cabelo curto, cortado em camadas e um olhar petulante, não demorou até que percebesse em seu crachá o nome , e sua profissão escrita logo abaixo, em letras pequenas: jornalista.
Ele a olhou como se não a entendesse, confuso por alguns instantes, sem dúvidas aquela mulher havia o pegado de surpresa. Em seguida recuperou a sua expressão neutra.
— Onde encontro um hotel? — perguntou ao táxi, ignorando por completo a mulher.

revirou os olhos assim que viu o detetive do caso entrar no carro e ir embora. Ele nem ao menos se deu ao trabalho de tentar falar com a mídia. Como podia um homem recém-chegado ser tão arrogante? Tudo bem, sua pergunta também não havia sido a mais delicada e ela reconhecia que nem sempre falar com a mídia era recomendado em casos assim, mas ela precisava conhecer que tipo de homem era aquele e como cuidaria da sua cidade. Era sua vantagem, não era como os outros jornalistas, ela ia diretamente na ferida para despertar reações inesperadas, afinal, segundo estudos, provocar uma pessoa até ela se irritar faria com que ela desse respostas mais honestas, já que alguém irritado pensava menos no que deveria falar. Ela sabia que o ocorrido era algo muito trágico, embora tivesse voltado recentemente para a sua cidade e fosse quase uma recém-formada, não conhecendo a vítima, ela estava ali para fazer o trabalho dela e se um detetive mal educado não a permitia fazer, ela daria um jeito por si só.


(...)


Ao chegar em casa, a mulher de cabelos castanhos sentou-se no sofá e ligou a TV. Seu pai estava dando uma entrevista para um dos canais que cobriam a cena. Ela mordeu os lábios de forma leve, o Delegado nunca fornecera uma entrevista para a própria filha desde que ela chegara à cidade. “Busque seus próprios casos, filha.” Ou “Eu não posso dar uma entrevista para você, apontariam nosso parentesco e não demorariam a me acusar de passar informações para a imprensa”. revirou os olhos mais uma vez. Grande imprensa aquela cidade no fim do mundo tinha. No máximo dois canais de televisão e, talvez, três estações de rádio. Se seu pai não precisasse dela ali, ela estaria longe, em Londres e fazendo o que sabe de melhor: arrancando a verdade das pessoas.
Ela gargalhou pensando no dia que disse ao seu pai que queria ser jornalista, o nervosismo na pele dele demonstrava que, embora sua filha estivesse preparada para ver e cobrir todas as situações, ele não queria esse contato dela com o mundo exterior. Tamanho foi o susto que ele quase a proibiu, nada que uma conversa não resolveu depois. Beaufort não era assim tão ruim, na verdade era uma cidade muito bonita, mas era jovem, tinha vinte e quatro anos recém completados e não pensava em se prender ali, menos ainda com um assassino em série atormentando toda a paz do lugar. Ela pegou seu celular e rapidamente digitou uma mensagem de texto:


Billy
online

Venha almoçar aqui em casa hoje.

Eu não vou te dar informações, .

Eu não preciso de você para isso, papi.




O mais velho não respondeu mais e sequer precisou, a jornalista logo cuidou de ir até a sua cozinha e fazer a comida do dia, no fim havia decidido um cardápio simples e comum: feijão enlatado, carne, purê de batatas, macarrão e uma porção generosa de batatas fritas. Nada saudável, mas tudo muito gostoso.
O homem chegou algumas horas depois, deixou o casaco e o chapéu na área de entrada e entrou na casa, indo até a cozinha, se aproximou da filha e depositou um beijo no topo dos cabelos castanhos escuros que ela tinha. Ela sorriu enquanto terminava de pôr a mesa. O grisalho sentou-se à mesa enquanto sua filha servia seu prato e a agradeceu pelo ato, a vendo sentar-se logo depois.

— Quem era aquele... senhor loiro que veio aqui hoje mais cedo? Já sei que ele é o novo detetive, mas de onde veio? — a mulher perguntou, terminou de servir o próprio prato e então desviou o olhar para seu pai.
— Eu disse que não lhe daria informações, — brincou, enquanto dava uma garfada na comida de seu prato.
— Oras, papai! E eu falei que não preciso do senhor para conseguir minhas próprias informações, eu tenho minhas fontes — retrucou de imediato, não era mentira. — Perguntei porque preciso saber quem trabalha com meu pai e que tipo de homem está entrando em nossa cidade. O que aconteceu foi um crime bárbaro e eu apenas gostaria de saber se o tal homem é competente. Já foram seis mortes, pelo que pude pesquisar — explicou.
— O detetive é muito competente, se é isso que quer saber. Ele não esteve nos três últimos casos, teve que se afastar por... questões pessoais.
— E por que ele voltou? — a jovem perguntou, com uma sobrancelha erguida enquanto aguardava a resposta.
— Porque a chefe dele permitiu que voltasse. Os casos ficaram parados por um tempo, não por incompetência de outros policiais, mas... ele vê as coisas de uma forma diferente e isso é muito útil nas investigações. Acredito que, com ele de volta, logo pegaremos esse miserável.

O restante do almoço seguiu normalmente. Algumas vezes o silêncio passava, mas logo tinham o cômodo preenchido por risadas. Billy e tinham uma relação familiar muito boa, eram apenas os dois desde que sua mãe havia ido embora e eles conseguiam viver em perfeita harmonia, exceto quando Billy era o típico pai protetor que insistia para que a filha ficasse longe de casos perigosos, o que era impossível não apenas devido à profissão da jovem como principalmente por sua curiosidade. tinha um jeito muito determinado, no entanto era demasiadamente teimosa, sua independência gritava a qualquer um que quisesse ouvir, a audácia tornava seu trabalho muito bom, isso seu pai reconhecia completamente. Mesmo ele nunca passando nenhuma informação dos casos, a menina sempre conseguia o melhor dos furos e suas informações eram sempre verídicas.

— Bom, acho melhor eu ir embora. Tenho questões pendentes para resolver. Não fique sozinha hoje, por favor, não sabemos como ele pegou a vítima de hoje — pediu de forma protetora.
— Eu sou adulta, pai. Pode deixar que vou trancar todas as portas e tomar cuidado, tudo bem? Não se preocupe. Prometo lhe ligar no primeiro barulho que eu ouvir lá fora — ela respondeu, tentando acalmar o pai.

Sabia que sua proteção era mais que válida, mas ela era uma mulher adulta e conseguia cuidar de si mesma sozinha. Despediu-se do pai com um beijo no rosto e o deixou ir, agora ela iria atrás de informações do tal . Se ele era tão bom assim, então não tinha nada a esconder, não é mesmo?


Capítulo 2

— Todos os jornalistas daqui possuem a síndrome do Sherlock Holmes? — perguntou, ao entrar na delegacia, franzindo o cenho. Era irônico o quanto as pessoas não entendiam seus papéis diante de situações tão extremas.

Billy se aproximou do homem, o olhando de maneira confusa. Não era uma cidade com tantos jornalistas assim.

— Não exatamente, algumas pessoas que parecem jornalistas são apenas... pessoas curiosas. Não sei como era onde você morava, , mas aqui as pessoas são perigosamente envoltas na vida alheia — o detetive respondeu, guiando o homem até sua sala. — Ainda mais quando se vê, pela primeira vez, uma morte como aquelas. — balançou a cabeça, concordando, era realmente comum ver as pessoas surpresas, afinal, cenas como aquela só deveriam acontecer em filmes e séries. A fantasia só é algo bom de assistir porque não passa disso: fantasia. — Por que diz isso? Se refere aos jornalistas das outras cidades?
. Ela é bastante atrevida para alguém do seu tamanho — o maior respondeu, de forma simples, tirando o seu casaco e deixando sobre o cabideiro ali presente.
— Se lhe serve de algo, minha filha é pós graduada em jornalismo investigativo, . Não é simplesmente uma jornalista medíocre com síndrome de Sherlock Holmes. — Billy suspirou, recebendo um acenar de cabeça do detetive. — Venha, vou te levar para a sua nova sala.

adentrou o lugar, observando bem o espaço. As cortinas traziam pouca qualidade devido às persianas entreabertas e ele gostava disso. Detestava trabalhar com claridade. No lado esquerdo da sala, existia uma prateleira com alguns livros, regras, normas e decorações feitas de um globo terrestre de cor marrom que o fez revirar os olhos. Como alguém poderia considerar isso uma decoração? A mesa grande era marrom, com duas cadeiras de couro em sua frente, de costas para a porta e a uma que ia contra a janela. Na parede ao lado da porta, um quadro grande para evidências e suspeitas. O ambiente deveria ter sido inspirado nos anos 80, porque não havia nenhum indício do século XXI ali.

Após se acomodar, o homem então começou a ocupar o espaço. Seu casaco, que a pouco estava na sala do detetive, já se encontrava em sua sala, assim como sua mala, que estava sendo aberta sobre a mesa. De dentro dela, o homem retirava alguns recortes, jornais, cidades onde outros crimes aconteceram. Lista de pessoas sumidas. De mulheres. Foi assim que ele parou sobre uma das matérias, cujo título era tão temeroso quanto a situação: boneca assassinada.
Nas informações, encontrou o nome da que, até então, era considerada a primeira vítima do criador de bonecas: Lily Adlam.
A aparência loira dela demonstrava um possível motivo de ser escolhida, o rosto tinha uma simétrica perfeita, as bochechas eram naturalmente rosadas e de alguma forma ela realmente parecia uma boneca.
O vestido amassado demonstrava que o serial killer ainda não tinha o hábito de fazer as próprias roupas, por isso às vestes levaram os antigos policiais direto a uma loja de roupas a fantasia. Infelizmente, a pesquisa não deu em nada, a loja fora fechada há anos por falta de público e as últimas peças de roupas produzidas ainda estavam dentro de galpão. Seus olhos vagaram até a parte debaixo da folha: sem DNA encontrado.
Possível segunda vítima: Rose Cooper.
Idade: 28 anos.
Sem profissão. Família não encontrada.
Ela não era como Lily, seus traços eram diferentes. Os lábios eram maiores, os olhos mais fundos, a bochecha não tinha o aspecto arredondado, ao invés disso, a mulher apresentava um rosto mais quadrado. As diferenças não foram o suficiente para o criador, já que ela terminou tão morta quanto a anterior.

detestava reconhecer a incompetência na área que ele tanto amava trabalhar, mas era impossível pensar em como detalhes importantes passavam despercebidos. Os cortes em Lily eram perfeitos, o trabalho de costura parecia tão bom quanto feito em uma máquina e um dos olhos dela havia sido removido. O cabelo, no entanto, era bagunçado, as roupas não tinham cuidado algum. As incisões não eram trêmulas, o que demonstrava duas coisas:

1. Ele podia ser um médico cirurgião.
2. Essa não era sua primeira vítima, apenas a primeira que ele mostrou ao público.

— Senhor ? — Kyle, um dos policiais, o chamou, fazendo-o voltar a guardar as fichas em sua pasta. — O único DNA encontrado na cena do crime é o da vítima. Não tem sinais de luta pelo seu corpo e ainda estamos removendo as costuras em busca de abuso sexual.
— Ok — murmurou de forma simples, fechando os olhos e inspirando o ar que prendia em seus pulmões. Por mais que estivesse acostumado com crimes cometidos pelo criador, sempre nutria alguma esperança de que ele falhasse. Ele não era a porra de uma maldita máquina.
— Nós vamos pegar ele. — não respondeu, sequer balançou a cabeça. Ele sabia que iriam, mas quantas vidas mais ele conseguiria tirar antes? — Os pais da Amber estão aqui. Querem falar com o senhor.

O detetive então acenou de forma leve, suspirando. A pior coisa daquele serviço não era ver o os corpos, ou sentir o cheiro de podre, menos ainda o estresse mental que tudo isso causava, não era também a cobrança da população. O pior era ver os parentes das vítimas e o quanto isso mudava uma família, uma pessoa. Você pensa que as pessoas não se importam em te perder, mas não consegue mensurar a dor de alguém quando isso acontece. Perder alguém que você ama destrói.

Destrói tudo. É só dor.
Forte.
Entorpecente.


Capítulo 3

Durante a noite, ativou o seu modo stalker e falhou miseravelmente com ele. era um fantasma. Seu nome não aparecia na internet, nem mesmo nas matérias. Sua família? Parecia ser tão invisível quanto seu passado. Redes sociais? Nem pensar. Quem diabos não tinha redes sociais no dia de hoje? Era assim que ela deveria confiar nele? Ela, então, limitou-se às palavras do pai. Competente. Se afastar por questões pessoais. Ele sequer parecia uma pessoa!


Kyle
online

Kyle... Meu pai está aí hoje?

Não.

E o tal detetive novo?

, não.

Não inventa.

Não.

Ok, levo seu almoço.




Merda! conseguia facilmente imaginar o xingamento do amigo. Sabia que, às vezes, se aproveitava um pouco demais dos sentimentos do moreno, mas era ele que deixava, então teoricamente a culpa não era sua! Além disso, era um ótimo pretexto para se aproximar das respostas que queria.
Para azar de , ela não era tão boa na cozinha. Não a ponto de não queimar toda a lasanha que tinha preparado. A mulher então pegou seu celular, pedindo almoço para dois e sobremesa para três. Ao chegar, buscou e foi em direção à delegacia de polícia da cidade. Cumprimentou o porteiro, que a deixou entrar com facilidade. Os benefícios de ser a filha do chefe, pensou, rindo em meio aos pensamentos.
— Oi, baby. — Sorriu, se aproximando da mesa de Kyle e se sentando ali, aproveitando o horário de almoço da grande maioria dos funcionários. A menor então aproveitou a proximidade e deixou um selinho nos lábios do amigo. — Eu sou uma ótima namorada, não sou? — brincou, se aproveitando do fato que todos os consideravam namorados, graças à proximidade e, claro, à amizade colorida que tinham. Exceto seu pai, que detestava presenciar isso.
— Você é péssima, isso sim — falou, negando com a cabeça e tirou o marmitex de dentro da sacola, sobre o balançar de ombros da menina. A mulher então pegou uma das duas sobremesas que tinha ali e se levantou com o sorriso que Kyle conseguia reconhecer bem.
Kyle acompanhou o olhar da mulher e não precisou de muito pra entender o sorriso sapeca dela. Ele suspirou, se jogando na cadeira e abrindo a embalagem do seu almoço, pegando uma das colheres ali.
— Puta que pariu, — xingou, a arrancando um sorriso.
então caminhou com a sobremesa na mão, indo em direção a uma das salas ali, o brilho nos olhos quase deixava transparecer a placa dourada escrito “detetive”. Ela bateu na porta e, não esperando resposta, a abriu. Os olhos azuis encararam-na confuso e ela entrou, fechando com calma a porta atrás de si.
— Me chamo . Ainda não descobri que tipo de policial você é, mas vim aqui para me desculpar pela inconveniência de mais cedo. — A menor então se sentou em uma das cadeiras na frente da mesa do maior, que ainda a encarava sem expressão. — O quê? Você não sabe falar?
— Você é inconveniente. — A morena então gargalhou, colocando a embalagem sobre a mesa.
— E você sabe falar, afinal de contas. — Ele a analisou, descendo o olhar para suas mãos. — Eu te trouxe sobremesa. Não está envenenada, na farmácia não vendem certos remédios sem receita — brincou, não despertando a mesma animação no homem à sua frente.
— Obrigado — respondeu simples, não encostando no doce. também não se moveu. — Você é filha do detetive ?
então balançou a cabeça de maneira orgulhosa. Era apenas ela e seu pai há muito tempo e ela se orgulhava por ele não se enquadrar nos tipos de policiais. Para , seu pai era mesmo uma das exceções mais bonitas. Ele era seu exemplo e não tinha por que não demonstrar isso.
— E você, tem pais? — ela perguntou, curiosa, aproveitando a oportunidade para, quem sabe, sanar algumas de suas dúvidas.
— Todos têm pais — constatou de forma óbvia. Ela então concordou com a cabeça.
— Uhum. — Concordou com a cabeça. — Todos têm pais, mas nem todos têm, nesses pais, uma família — apontou, deixando o maior quieto por alguns segundos. — Você chegou ontem?
— Isso está virando uma entrevista? Eu não me lembro de ter marcado uma — resmungou de forma impaciente. Ele detestava jornalistas e todas as suas perguntas e curiosidades. Apesar de quase impossível, tentou ser amigável: — Sim, cheguei ontem. No horário que você viu.
— Quer conhecer a cidade? — ela perguntou, cortando o assunto anterior.
— Não, obrigado.
— E o que você pretende comer, ? — ela perguntou divertida, como em um desafio, e, por alguns segundos, ele quis ouvir ela repetindo seu sobrenome. tinha um tom diferente quando saía da voz dela. — Não conhece nenhum restaurante bom.
revirou os olhos, odiava quando não tinha razão. Ele então se levantou, pegando seu casaco e aceitou o convite da jovem jornalista. Seria bom conhecer os lugares, as pessoas e até mesmo as informações que ela, enquanto moradora, poderia fornecer.
— Aonde vão? — Kyle perguntou, levantando-se de sua mesa e se aproximou de , lhe roubando um selinho rápido.
— Vou mostrar o melhor restaurante dessa cidade para o , baby. — Kyle a olhou, com a sobrancelha arqueada, mas deu de ombros, afastando-se. Às vezes não adiantava nada insistir, fazia exatamente o que queria. Sempre.


Capítulo 4

— Você namora o Kyle? — perguntou curioso, então gargalhou. Os dois estavam sentados na mesa do Hub, um dos melhores restaurantes com comidas típicas da Itália. Ela negou com a cabeça, enquanto divagava pelo cardápio, tentando escolher uma, entre as várias opções que tinha em mente.
— Talvez. Quer dizer, não exatamente. — a encarou confuso, como se não fizesse o menor sentido. — Eu e ele temos algo legal, mas é preciso bem mais que uma boa química e amizade pra manter um relacionamento.
— Os melhores relacionamentos são feitos de boa amizade e química.
— Pode ser, mas eu prefiro os relacionamentos carregados de drama. Como em um livro, sabe? Onde o amor é um sentimento inabalável e a conexão é única — falou, de forma divertida. Era verdade que ela e Kyle tinham muito mais do que alguns relacionamentos por aí, mas ela não o amava. Por isso recusou o pedido de namoro do homem. — Você tem algum tipo de relacionamento?
— Não — respondeu desconfortável, agradecendo ao garçom por se aproximar. Eles fizeram os pedidos e então o homem se aproximou um pouco mais da mesa. — Você era amiga da mulher que morreu?
parou para pensar um pouco. Ela era amiga de Amber? Provavelmente amiga não era a palavra certa, mas a conhecia. Não muito, mas, de qualquer forma, já tinham conversado algumas vezes. Ela então engoliu a seco.
— Não amigas, mas todo mundo na cidade se conhece. — Ele balançou a cabeça, satisfeito com a resposta dela. — Por que não tem redes sociais?
pensou um pouco, é claro que tinha o procurado. Todos queriam informações de com quem iriam lidar e ele não a culpava, quem dera o seu serial killer tivesse uma rede social estampando: eu sou o culpado.
— Eu não gosto da exposição. Isso iria atrapalhar meu trabalho e eu não gosto de coisas que atrapalhem meu trabalho.
sorriu com a resposta, observando o garçom se aproximar mais uma vez, agora trazendo os pedidos. A morena encarou o homem loiro em sua frente de forma divertida e mordiscou os lábios de forma leve.
— Gosta de comida apimentada? — O tom de sua voz chegava a ser incitador.
— Me desafie, .
— Vai ser um prazer, .
Merda.
pensou, enquanto a ouvia falar seu sobrenome. Eram as mesmas letras, então por que porra seu sobrenome assumia um som tão diferente quando saía da voz dela? Ele não queria amizades, não encontraria aquilo e não queria sequer uma aproximação com as pessoas, a não ser que fosse extremamente necessário. Seus olhos então passam a analisar a mulher em sua frente. tinha uma altura média, embora fosse baixa comparada a ele. Os olhos eram grandes e castanhos, os lábios pareciam perfeitamente desenhados e o corpo... Ele voltou o olhar para o rosto dela ao perceber o rumo dos pensamentos.
— Você parece uma boneca. — o encarou confusa, com o cenho franzido. Definitivamente não esperava o comentário. Ela o encarou, buscando entender o comentário enquanto o observava colocar o garfo em sua boca. Realmente estava apimentado, as pessoas os olhavam estranhos por estragarem o prato, mas chegava a ser divertido. Quase ácido, assim como o humor e a disputa dos dois.
— Isso não é galanteador quando se tem um assassino à solta conhecido por, pasme, gostar de bonecas — respondeu, erguendo o rosto para encara o homem à sua frente.
— Eu não fui galanteador. Você deveria tomar cuidado, é perigosamente inconveniente. — A menor riu.
— Você está aqui pra ser o herói dessa porcaria de cidade, não é? Faça seu trabalho e eu não preciso tomar cuidado. — sorriu, por algum motivo gostava quando ela assumia essa postura de defensiva. — Qual seu primeiro nome, ?
— disse, a vendo dar mais uma garfada de sua comida.
— Você tem cara de Aaron.
— Bom, eu não me chamo Aaron.
então dá de ombros. . Solteiro. Sem passado. Ainda.
— De que lugar você é? Achei que fosse italiano. — Os olhos castanhos direcionaram-se para o maior, de maneira curiosa.
— Meus pais são italianos — devolveu, de forma simples.
Italiano. Ela adicionou em sua lista mental a última informação.
tentava entender como uma pessoa apenas podia atingir tantos extremos em tão pouco tempo. Em pouco menos de uma hora, já havia sido: gentil, sagaz, rude, divertida e ainda trazia consigo o tom de desconfiança que ele adorava nas pessoas. O tom desafiador de competição.
— Você é uma pessoa interessante, . — Ela o olhou, levando o olhar para o teto enquanto pensava, mas apenas sorriu, dando de ombros e concordando maleavelmente com a cabeça.


Capítulo 5

— Esses são Zyon, Helene e Bastien. São membros da minha equipe e irão participar desse caso comigo. Fomos designados pelo FBI e fazemos parte de uma equipe especial, iremos juntar as informações que temos e compartilhá-las com vocês para que fiquem cientes de quem estamos procurando — concluiu o início da apresentação do perfil, buscando as reações dos policiais e agentes em sua plateia. — A pessoa que estamos buscando é um homem branco, sua idade está entre os trinta e trinta e cinco anos. Essa é sua primeira vítima na cidade, o que indica que ele se mudou há pouco menos de um ano para cá ou para cidades vizinhas a esta. Ainda não se sabe como ele consegue sequestrar as vítimas, mas tudo indica que, ao primeiro olhar, seja alguém atraente e de classe social alta.
— Ele possui conhecimentos botânicos e anatômicos, essa combinação com sua classe social indica carreiras da saúde em um alto padrão. Provavelmente vem uma de uma família de médicos ou farmacêuticos, os materiais químicos que ele utiliza são de fácil acesso a ele. Suspeitamos que ele seja dono de uma rede hospitalar, de uma farmácia ou de materiais hospitalares — Helene completou. — A polícia não apresenta um risco real, então ele possui conhecimentos militares, talvez tenha servido ao exército por um médio período de sua vida.
— Esse homem não possui dificuldades em relacionamentos e não é socialmente desajeitado, pelo contrário, no entanto, descartamos que o sujeito tenha filhos ou que seja casado — Bastien continuou.
— A relação das vítimas, por enquanto, é que todas são mulheres jovens, entre os vinte e vinte e sete anos. São pequenas e tem traços físicos semelhantes a uma boneca. É exatamente isso que elas são para ele: bonecas. O crime é de ordem sexual e quatro das seis vítimas foram abusadas. Embora os corpos escondam bem a violência, todas foram torturadas — disse, ainda observando as expressões das pessoas em sua frente. — Não envolvam a mídia, é isso que ele quer. Os contatos serão feitos por Zyon e as coletivas também serão dadas por ele.
— A teoria é ótima, mas quanto tempo temos até ele matar de novo? — Kyle perguntou, um tanto quanto impaciente.
— Não temos. Ele só se livra de uma vítima, quando possui outra sob seu olhar. Se ele já não sequestrou alguém, fará em breve — o loiro respondeu, comprimindo os lábios. — Ele mantém a vítima em cárcere privado. O tempo varia entre semanas e meses, tudo depende do quanto ele quer a vítima. Quanto mais semelhante à sua fantasia, mais tempo ele passará com ela. Por hora é isso, finalizamos por aqui e...
— Detetive ? — o loiro virou, ouvindo seu nome e ignorando a nomenclatura que a antecedeu, deparando-se com o mensageiro da delegacia. Um envelope amarelo foi entregue nas mãos do maior, com um selo tão conhecido por ele. — Chegou isso, para você.

O agente pegou o envelope em suas mãos, agradecendo ao mensageiro. Helene o encarou com um olhar suspeito, já imaginando o que seria, Bastien e Zyon apenas sentaram-se esperando o teor da carta. O envelope era lacrado com cera e o desenho perfeito de uma flor.




— Isso é um Antúrio? — Zyon perguntou, olhando por cima dos ombros no loiro de forma curiosa. — O que significaria um Antúrio?
— É uma planta bonita, mas comum. Amber não saciou ele da forma que ele queria, ele irá atrás da próxima — Helene respondeu, aguardando que abrisse a carta a fim de ver seu conteúdo. — O que diz a carta?
Utilius tarde quam nunquam — o louro pronunciou, sentindo todo o seu sangue esquentar. Os olhos dele se cerraram e os lábios formaram uma linha fina com a provocação. — Antes tarde do que nunca. — Esse era o jogo deles. E agora tinham dado o play.
sentiu todo o seu corpo se arrepiar, era impossível não desejar acabar logo com aquilo tudo e mais impossível ainda esconder a excitação que tinha em participar daquele caso. Ele não torcia para que mais mulheres morressem, mas, de alguma forma, o sadismo do psicopata o despertavam uma energia que ele não costumava sentir com tanta facilidade. Tudo havia se tornado pessoal demais desde aquele evento. Era mais que um criminoso e um ‘herói’, era como se eles fossem dois jogadores de um só jogo e o agente precisava de muito esforço para esconder seu lado sombrio de todos. Uma vez que fosse solto, jamais conseguiria voltar a prendê-lo.
— Quem é ? — Zyon perguntou, com o cenho franzido ao observar o jornal local transmitir uma reportagem sobre o caso.
— Merda de mulher intrometida — resmungou o agente, sequer precisou ouvir o conteúdo da notícia antes de sair da sala, assim que pôs os olhos na tevê. parecia ter o dom da irritação. Bastien riu, divertindo-se com a situação. Adorava toda e qualquer pessoa que tirasse o amigo do sério.
— Não sei, mas quero conhecê-la — sussurrou o homem, com um desdém nato.
O agente especial se aproximou do detetive da pequena cidade, engolindo a seco com o pedido que faria e já imaginando a resposta que teria, principalmente após os comentários sobre a tal Sherlock Holmes de Princett.
— Eu preciso do telefone da sua filha — foi direto, com o tom sério de sempre.
— Você o quê? — o mais velho perguntou confuso, fingindo que não tinha escutado bem a pergunta. Reconhecia que seria uma ajuda excelente para o seu time e para combater a rede de assassinatos que estava por vir, mas era um desaforo fora do comum que o mais jovem viesse pedir o número de sua filha.
— Estou pedindo de forma educada e em consideração ao trabalho que teremos, não me leve a mal. Eu não quero que ela seja uma pedra no meu sapato nesse caso. Se você não concordar em me falar, Zyon encontrará isso pra mim em três minutos.
— Você realmente não tá nem aí pra boa convivência, não é? Puta que pariu, . Respeito seu trabalho e onde chegou sendo tão jovem, mas tenha o mínimo de respeito quando fala sobre a minha filha. Ela não vai atrapalhar a investigação — de forma protetora, o homem resmungou, anotando o número e passando para o loiro. Sabia que conseguia ser difícil, às vezes, mas não era pra tanto. — O que tem na carta?
— Faz parte de sua assinatura, para confirmar que os crimes são mesmo dele. Cada mulher que ele matou representa uma planta. Amber foi um antúrio. Não sabemos qual é a flor que ele está buscando. Talvez uma Middlemist’s.
Billy o olhou pensativo, balançando a cabeça. Conhecia a tal rosa por ter uma certa obsessão com esta, era a sua predileta e isso chegava a assustá-lo um pouco, a ideia de que ela pudesse atrair a atenção do criador de bonecas, apenas por conhecer as mesmas obsessões que ele, eram perturbadoras.


Capítulo 6

— Sim, eu aceitei o contrato com a dtteam. — A morena revirou os olhos, ouvindo a voz pesada arfar ao seu lado. falava que ela era teimosa, mas ele não percebia que ele era mil vezes pior. — Eu não vou escrever só sobre isso na minha coluna, — respondeu, como se fosse óbvio, não entendia todo o medo que ele tinha e duvidava que ele questionasse pessoalmente outros jornalistas, era como se um precisasse ter cuidado com o outro.
— Você sabe a influência que a mídia pode ter em um caso desses? Liam Cooper foi um serial killer que matou cinco mulheres, simplesmente porque não gostou de um artigo. Eu não autorizo que nada seja publicado sem antes passar pela droga da minha equipe.
— Desculpa, você não autoriza? Claro que vou alertar as pessoas, tem um louco a solta e você é incapaz de prendê-lo — provocou, não escondendo o ar de deboche na voz. — Procurou todos os outros jornalistas? Você me conheceu ontem e não manda no que eu escrevo ou no que eu falo, mas não se preocupe, eu não vou divulgar nada que possa prejudicar a sua investigação.
— Eu li alguns de seus artigos, . Você é descuidada, pretenciosa, é provocante e sarcástica. Além de ser a filha do detetive. Dá pra parar de se meter? Desde o momento que eu cheguei a essa cidade, o teu nome está em todos os lugares. Sabe em que isso ajuda? Em nada.
— No entanto fui a única que não postei nada do seu caso. A entrevista que participei foi informando para que mulheres tenham cuidado ao saírem sozinhas. Não dei detalhes, não especulei, não corroborei com apelidos. Eu poderia até ser isso que falou – o que não sou —, mas não sou burra. Sei do impacto que tem falar sobre um caso assim, mas também sei o peso que tem não falar nada. É uma cidade minúscula, as pessoas estão assustadas e silêncio não é bem o que querem do FBI agora. Ou da porra da polícia local.
respirou fundo, engolindo a seco as palavras da mulher. Odiava saber que ela estava certa e não conseguia entender como ela conseguia o desestruturar daquela forma. Ela o tirava do sério de uma forma inexplicável, mesmo quase não fazendo nada proposital para a reação exagerada do homem. O loiro respirou fundo, sabendo que não tinha outra coisa a fazer com seu descontrole, além de mantê-lo próximo de si.
— Trabalhe comigo. Eu dobro a proposta que te deram.
piscou algumas vezes, não entendendo bem as palavras do homem. Ele praticamente a havia chamado de uma péssima escritora e agora queria que ela trabalhasse para ele? Só podia ser uma piada de péssimo gosto.
— O que foi mesmo que você falou? Descuidada, pretenciosa, provocante e sarcástica? Alguém com essa escrita na sua equipe? — Riu de forma irônica, começando a se divertir com a situação. — Você sequer deve ter autonomia pra cobrir uma proposta que não sabe o valor. O governo federal tem verbas assim tão generosas? Para livre uso? Isso sim daria uma ótima matéria.
— Eu consigo a porra do dinheiro. Só... pensa no que eu estou te sugerindo, okay? — rebateu, cansado da discussão que não levaria a lugar algum.
riu, divertida e de forma audaciosa quando o homem afundou o rosto entre as mãos, por um instante, quase esqueceu que um louco fazia bonecas humanas por aí. Seus lábios se comprimiram em um sorriso de quem havia vencido a guerra e ela concordou, dando de ombros.
— Eu vou.
— Ótimo, me dê sua resposta quando a tiver.
— Não, . Não vou pensar, eu vou trabalhar com você.
O olhar do homem foi formado pela mais genuína surpresa, ele não achava que seria tão fácil assim convencer a mulher a trabalhar com a equipe, na verdade só estava tentando manter por perto a sua falta de controle. Havia feito uma proposta infundável, mexido na verba de sua equipe sem prévia comunicação, contratado alguém sem o treinamento específico para casos assim e sequer tinha autorização de seu supervisor imediato para decidir isso. Que merda ele havia feito? Bom, o que quer que tinha acontecido já estava feito.
— Vamos, vou te apresentar ao pessoal — disse, escondendo todo seu nervosismo ao levantar.
O caminho foi seguido por silêncio, o homem encarava a mulher pelo retrovisor do carro, que retribuía vez ou outra. O caminho para a delegacia era curto, por tudo ser tão perto e assim que chegaram, reuniu a equipe e Billy.
— Eu... — ele começou pigarreando, antes de tornar a sua voz mais firme, aguçando o tom rouco que naturalmente tinha. — fará parte da equipe, ela será responsável pela comunicação externa. Zyon, você pode ficar apenas com as tecnologias diversas. — O olhar do loiro então se virou para o detetive, que o fuzilava com os olhos. Se Billy já não o odiava antes, agora não restavam dúvidas disso.
— Você trouxe a minha filha pra essa merda? O que você tá pensando, ? Me dê um bom motivo pra não enviar todos vocês pra cidade de vocês e recusar a ajuda nesse caso dos infernos. Você só pode estar louco — praguejou o mais velho.
— Você não conseguiria lidar com a culpa de mais uma morte sobre si — respondeu, com a voz tão firme quanto a de . — E é possível que eu saiba quem é a próxima vítima — a mulher respondeu, lembrando-se da investigação solo que havia feito assim que sua vizinha desapareceu, no dia seguinte à boneca deixada.
Bastien, por sua vez, gargalhou. — É, , você sabe bem como encontrar as melhores caixinhas de surpresas. Bem vinda, .
— Eu preciso sair. Peguem todas as informações com a , montem o caso. Eu volto depois — informou, ainda sob o olhar inconformado do detetive.


Capítulo 7

— Beethoven é um gênio — sussurrei, fechando meus olhos e deixando com que a música clássica invadisse meus ouvidos, meu corpo, minha mente.
— O que você quer comigo? Por favor, me deixe ir embora... — ela falava em um tom de súplica, quase interrompendo os meus sonetos. Sorri com o canto dos lábios, a vendo se debater, os lábios arroxeados e o vestido azul que subia por suas coxas a cada mínimo movimento.
— Eu quero você. — Me aproximei, passando as mãos pelos lábios carnudos, a bochecha rosada me fazia ficar ainda mais animado com as ideias que surgiam em minha mente. — Não tenha medo por eu a desejar, tenha medo quando eu não a quiser mais.

Vidro laranja.
Letra A.
Mancenilheira.


Deslizei as mãos por entre suas coxas, em um carinho quase sem malícia. Levei as mãos até o seu cabelo, onde retirei o rabo de cavalo feito e avaliei o seu rosto com calma.
— Eu acho que você vai ficar ótima morena — resmunguei, levantando de perto da mulher e caminhei até o segundo dos meus armários, retirando uma tinta de cabelo na cor preta. Odiava quando elas não eram feitas de forma natural, os cabelos loiros tingidos apagavam o destaque no nariz fino, já o moreno iria realçar o tom pálido da pele.

Tique.
Taque.
Tique.
Taque.


O relógio me lembrava do tempo que passava, mas eu não tinha pressa. Teria muito tempo com a minha nova criação. Deixei a tinta de lado, havia uma outra urgência que eu precisaria sentir agora. Levei as mãos até o vidro A, injetando a seringa em uma quantidade pequena, quase inexistente, não queria matá-la, só queria me divertir... Abri bem o espaço de sua cabeça, um pouco acima da nuca e inseri a agulha ali, injetando o líquido aos poucos. Os olhos ficam totalmente brancos e minha mente totalmente vermelha, um vermelho vivo, que faria desenhos belíssimos.
— Ah, cherrie — disse, exalando o seu perfume com tons florais. — Você é tão doce.
Sussurrei, de forma suave. Sua cabeça pendeu para o lado, em uma convulsão lenta, a dor era tanta que a voz não saía dos lábios da mulher. Era irônico o quanto às comparava com flores, sendo que no fim se tornavam um belo vegetal.
— E se eu a chamar de... — Pensei um pouco, largando a seringa em cima da mesa de metal, pegando uma tesoura. Rasguei os tecidos do vestido da mulher, buscando manchas ou tinta em sua pele. Como esperado, não as encontrei. — Lily? — Gargalhei, deslizando a mão pela sua barriga e arranhando levemente as suas coxas. — Não, não, essa já foi. Talvez eu deva chamá-la de... — Pensei mais um pouco, arrancando o fino tecido de sua calcinha. — Orquídea.
Sabia que ela me ouvia, embora não pudesse se mexer, enxergar ou pensar no momento. Separei minhas ferramentas antes de voltar ao meu trabalho, odiava me despedir quando eu sequer havia iniciado a minha diversão.
— Eu sou um educador, Orquídea. E você vai perceber que fome é uma das coisas menos preocupantes que você vai se submeter. — Sorri, me aproximando do corpo quase sem vida e depositei um beijo rápido em sua testa.


Capítulo 8

— Onde você foi? — observa a figura feminina entrar em sua sala, fechando a porta sobre si.
— Eu não lembro de no seu contrato ter alguma cláusula sobre coletar informações sobre meu tempo livre. — A morena revirou os olhos, enquanto o loiro permanecia com as sobrancelhas erguidas.
cruzou os braços, observando a figura pequena da mulher se aproximar e avaliar sua sala, pairando o olhar sobre o quadro carregado de imagens das mulheres mortas e de possíveis evidências que se ligavam ao caso. O maior se apoia em sua mesa, tentando não esbarrar com os papéis que formam pilhas.
— Acha que vamos encontrá-la viva? — perguntou, avaliando as fotos cadavéricas na parede de vidro.
— Provavelmente não, mas é meu trabalho tentar — resmungou, deixando a respiração fluir por entre seus lábios.
— Nosso trabalho, . Agora faço parte da equipe, assim como meu pai, os policiais locais, o Bastien, o Zyon e a Helene.
— Já falou com a família da sua vizinha? — A troca de assunto era a forma que ele tinha de fugir de algo que não concordava ou simplesmente uma maneira torpe de mudar de assunto? se perguntou isso, não pensando em prolongar o assunto anterior.
— Uhum. O pai e a irmã dela vieram dar a queixa de sumiço e foram à sua casa. Não encontraram os documentos originais, apenas algumas cópias que Zyon está investigando. Por que acha que ele faz isso?
trava a respiração, observando as fotos. A pressão em sua mão fica mais forte quando ele fecha os punhos, tornando a área levemente amarelada antes de soltar as mãos e respirar fundo, liberando toda a pressão de seu corpo e de seus pulmões. O rosto sério vira em um pequeno círculo, girando sua cabeça e ele se aproxima de .
— Pelo controle. Encontramos algumas substâncias em suas vítimas, não são de medicamentos ou de drogas, acreditamos que sejam plantas medicinais, mas é difícil chegar a apenas uma espécie.
— E o que ele controla? — A pequena se aproximou mais do homem, mantendo a sobrancelha erguida e o olhar atento.
— As mulheres. Ele as trata como uma boneca e as deixa como uma. Qual o controle maior do que ter um corpo, inteiramente vivo, em suas mãos? Alguém que não se mexe, que não fala, não reclama e você pode manipular o quanto quiser? Ele as costura ainda vivas, . Sente prazer com isso. — A mulher, por sua vez, parece ponderar as falas do detetive e o quão íntimo ele parecia do caso. Talvez estivesse a pouco de ter pegado o criador de bonecas ou, possivelmente, estudou o caso o suficiente para entender como ele pensava. — É fácil pensar como um policial. É normal parar, olhar para essas fotos e só ver crueldade, é simples sentir as dores das famílias quando elas reconhecem os corpos ou quando dão entrevistas nas tevês. O que resolve é se colocar no lugar dele. Ele faz isso por prazer? Se excita olhando os olhos girarem, o medo e a dor expressa na face da vítima?
se encolheu com as informações, sentindo-se vulnerável. Era doentio se colocar no lugar de um homem como aqueles, imaginar o que ele sentia ou o quão duro ficava em ver mulheres sofrendo. Não era como se ela não soubesse que esse tipo de pessoa existia, ela sabia disso. Tinha acompanhado casos suficientes para ver a crueldade humana, mas ainda assim era algo tão perverso que colocar-se nesse lugar a fazia ficar enjoada.
— Você não... sei lá, não sonha com elas? — A insegurança da pergunta fez o homem pensar mais do que o normal em sua resposta.
— Apenas com uma.
A morena pensou em perguntar mais, suas perguntas eram definitivamente a base de toda a sua pesquisa, mas não quis ser invasiva demais. Seu pensamento foi interrompido com Helene, que entrou na sala como o pequeno furacão ruivo que era.
— Chefinho, você tem que ver isso. — A mulher falou, ignorando a jornalista na sala e mantendo um sorriso levemente arrogante em seus lábios.
— Claro, Helene, entendo perfeitamente sua falta de educação constante. Não se preocupe.
A mulher gargalhou, observando o chefe com uma das sobrancelhas erguidas e a língua bem afiada: — Ouviu algum pedido de desculpas?
O homem direcionou até a saída, demonstrando que não confiava nela tão bem a ponto de deixa-la só em sua sala, com algumas informações privilegiadas até demais. A equipe se reuniu em uma sala de reuniões, juntamente com Billy que desaprovava sua filha a cada olhar.
— Não encontramos nenhuma digital ou parte do DNA, mas ele trocou o tipo de tecido que utiliza. E esse tipo de tecido é bem específico e não tão fácil de encontrar. Ao todo achamos quatro cidades que fornecem o material. Duas delas ficam em Cooperdale. Outra na Bélgica e uma fechou a alguns anos em Grinswood. Preparo o carro?
sentiu todo o seu corpo gelar em um suor frio e satisfatório, a forma como, pela primeira vez, ele tinha cometido um deslize lhe causava uma sensação tão prazerosa que seus olhos esquentavam em uma raiva tão conhecida.
— Dois carros. Zyon continua investigando a mulher desaparecida e coleta informações sobre a fábrica fechada, Bastien e podem ir em para Cooperdale e eu vou com você até Grinswood.
A torce forçada, seguido de uma risada sarcástica, chamou a atenção de todos na sala. Os braços fortes e cruzados do moreno, assim como a sobrancelha arqueada, demonstravam a insatisfação de tal viagem.
— Com todo respeito, , mas foi ele que te colocou nessa e ele que fique responsável por você. Não duvido que seu pai tenha te treinado para defesa pessoal, mas... — resmungou, desviando o olhar para o detetive local — Não sou eu que vou testar esse treinamento.
levou a mão até a cabeça, arrumando os fios do cabelo loiro com impaciência. Tinha os melhores agentes trabalhando consigo, mas todos acompanhavam uma personalidade meticulosamente preocupante. esperou a contestação de Helene, o que não aconteceu e aceitou os olhares fulminantes de Billy.
— A cidade é longe, provavelmente vamos ficar um ou dois dias fora, mas qualquer novidade pode me chamar e viremos imediatamente. — O loiro falou, para Billy. encarava a cena de forma atônita, quase como se não estivesse de fato na sala e permaneceu assim, evitando uma discussão com seu pai.



— Eu adoro a forma como sua equipe é tão unida. — Brincou a menor, não escondendo o tom irônico em sua fala.
— Para nós não importa tanto quem. Temos uma fórmula. Que? mais como? é igual a quem?. Como nosso foco não é um nome e sim um perfil, então... sobra mais tempo para as desavenças. Não que na sua vida pessoal não tenha desavença o suficiente também, já que seu pai parece reprovar tudo que você faz.
— Viu? Não dá pra conversar com você, . — A mulher resmungou, revirando os olhos enquanto ligava o som do carro, com uma reclamação facial do mais velho. — O que? Não gosta de música? — A falta de resposta a fez aumentar o som em uma provocação nítida, mas ainda conseguia ouvir a respiração irritada do homem ao seu lado. — Por que eu vim?
— Você está fazendo a parte social, pode ser útil como jornalista.
A maneira como ele respondia tudo de forma simples irritava , ela gostava da intensidade, da profundidade das palavras e de ir a fundo em tudo que faria. Talvez precisasse um pouco desse profundidade.
— Por que vocês estudam a vítima? — Era uma resposta retórica, sabia o motivo porque tinha passado horas estudando sobre isso em sua faculdade.
— As vítimas não passam a surgir quando se tornam vítimas, elas já existiam antes. Claro que vítimas não são culpadas, mas quem as mata vê nelas um motivo de culpa e é isso que precisamos descobrir. O ponto de conexão, ou entender como ele pensa ou por quê a culpou. Isso ajuda. — Falou, levando a mão até o som e mudando para uma música clássica. — Chegamos.
— Você é tão careta.
O loiro a ajudou com as malas e juntos caminharam até a pousada. Apesar de não ser um lugar luxuoso, já que evitavam chamar atenção, era confortável o suficiente. O lugar tinha paredes brancas, os móveis também possuíam uma cor clara, apesar da cara de avó que o lugar possuía, com estampas floridas no abajur ou o livro manual que substituía um computador para os registros dos funcionários.
— Isso aqui tá faltando um pouco mais de cor. — apontou, seguindo o mais novo parceiro assim que terminaram os seus registros. — Qual o meu quarto?
— 302. — entendia o motivo de Bastien ter rejeitado a viajem com porque ele próprio já estava se sentindo culpado por tê-la trazido para isso. Ela definitivamente não era uma mulher indefesa, possuía mais garras do que ele poderia contar desde que se conheceram, mas isso não o tranquilizava. Talvez porque ele sabia que quem o procurava gostava de garras como as dela. — Fico no 304, caso precise.
— Não vou, mas obrigada, doutor. — O louro a olhou com certa surpresa, poucas pessoas sabiam que ele havia iniciado medicina antes de se dedicar a análises comportamentais. — O que? Eu sou uma jornalista, fuçar vidas faz parte da minha diversão.
Após a frase, ela simplesmente sumiu de sua visão, entrando pelo seu quarto minutos após saírem do elevador saído de 1930. então entrou em seu quarto, indo direto para o banho. Ele analisou bem o lugar, como todos que costuma entrar. O quarto tinha papel de parede floridos em tons de branco e amarelo, o banheiro tinha muita porcelana, o que indicava que a proprietária possuía mais dinheiro do que investia no lugar e a água era aquecida, apesar da péssima encanação da época da casa, o que indicava que o lugar havia sido reformado a alguns meses. Seu pensamento mudou do lugar para a e a besteira que havia feito em trazê-la para sua equipe. Ele precisava começar a entender o que Catarina lhe disse uma vez: você não vai resolver todos os problemas, trazendo-os para si.
Ao sair do banho o homem colocou a toalha enrolada em seu quadril, ia vestir uma roupa quando um grito alto e agudo adentrou pelas brechas da porta.
Ele tinha achado algo ou alguém tinha o achado?


Capítulo 9

Ao entrar no corredor percebeu uma mulher branca, com seus quarenta e muitos anos sair do quarto 303 com a mão na boca, trêmula e assustada. rapidamente saiu, aproximando-se da mulher a acolhendo e o loiro adentrou o quarto vizinho.
Lá ele encontrou o corpo nu e agredido de uma jovem mulher negra, com o rosto virado para cima e os olhos ainda abertos, já cobertos pela nata branca. Apesar de a cena já não estar intocável, o corpo permanecia imóvel, não tendo sido movido ou tocado por ninguém. Seu olhar saiu da vítima, mirando o quarto ao redor, não havia nenhuma bagunça, não tinha sangue e a mulher não estava ali por acaso, tinha sido exposta para que a encontrassem assim. Para que eles a encontrasse assim.
— Eu chamei a polícia. — A figura pequena da filha do detetive surgiu atrás do homem e ela observou o corpo da mulher. Sua pele já estava um pouco mais pálida do que seu tom natural devia ser.
— Não quero que veja isso, . Não assim, em fotos é menos impactante do quanto é real.
— Você não manda em mim. — Disse de forma simples, se aproximando. Ela não tocou em nada e quase não percebeu a falta de roupa do parceiro. — Vá se vestir.
Ele, por sua vez, acatou o pedido.
Demorou pouco mais de uma hora para que os policiais chegassem. conversava com o perito, apesar de não ter sido chamado para o caso ele estava ali e buscava ajudar. estava quieta, ficou em silêncio durante toda a análise e conversa dos dois, sentia enjoada. Não com a cena, mas com a crueldade. Como uma pessoa podia dormir depois de fazer isso a outra?
— Existe uma roxidão na área abdominal da vítima, não posso dar certeza ainda, mas... é praticamente certo que ela não morreu aqui. Se tivesse morrido, na posição que foi encontrada, essa lividez estaria em suas costas devido a gravidade que a puxaria para baixo. Além disso, o assentamento de sangue leva em média seis horas. A temperatura dela não é quente, está com a mesma temperatura do quarto. Ela não foi morta hoje e não foi trazida agora, tem entre dez e trinta horas que ela foi largada aqui. — ouvia as informações de forma quieta, não estava surpreso com o que o homem dizia, o que deixava a jornalista ainda mais inquieta. Imaginando quantas coisas daquelas ele já tinha visto para ter uma calma tão controlada. — Vou leva-la para a autópsia.
... — chamou, levando sua mão esquerda até o braço direito onde acariciou o mesmo sem jeito. Ele a olhou surpreso já que ela não o chamava assim. — Eu posso dormir com você?
A mordida nos lábios da menor fez com que o homem suspirasse, balançando a cabeça. De maneira alguma deixaria ela dormir sozinha após ver o fácil acesso que algum maníaco tinha ao prédio, embora duvidasse que ela conseguisse dormir.
já estava posicionada na cama do maior, a coberta a cobria quase que completamente e ele não estava junto, a fim de lhe dar mais privacidade.
— Crimes interraciais são raros. Não precisa ter medo. — Ele disse, mas não tinha certeza sobre a segunda frase.
— É meio mórbida às vezes que tenta me acalmar. Primeiro diz que pareço uma boneca, quando há um louco que adora bonecas humanas e agora diz pra eu não temer ser morta porque um homem, possivelmente, gosta de matar mulheres negras? — Era audível a indignação em sua voz, o que fez gargalhar e ela o encarar ainda mais irritada.
— Desculpa.
Ela pensou um pouco, ponderando se o desculparia ou não, mas apenas deu de ombros.
— Qual o pior caso em que já esteve? Além do criador de bonecas.
— Odeio que o chamem assim. Parece que é dado um endeusamento por esse apelido midiático. “O criador.” — repetiu, com certo rancor em sua voz. — Como se ele criasse algo além de caos. — percebia a pessoalidade nas palavras do homem, mas ia evitar brigar com o homem que estava cedendo o seu quarto para ela. — Crianças sempre são o pior caso. — Ele disse, engolindo a seco a própria resposta após se recompor. — Não tem nada mais angustiante do que ver uma criança vítima de assassinato.
A morena sentiu seu estômago revirar. Pensou na mulher que encontraram morta e imaginou aquele estado em um corpo infantil de alguma criança. Ela sequer era mãe, mas sentiu o desespero.
— Eu sinto muito por tudo que você já teve que ver. Não deve ser fácil.
Ele concordou com a cabeça, aproveitando-se do momento de paz entre eles. Em anos de carreira ninguém nunca tinha dito que sentia muito pelo que ele já viu, ou sua equipe. Talvez fosse porque ele escolheu ver isso. Se tornou agente e isso foi uma consequência.
O celular do loiro acendeu, notificando uma das mensagens e ele suspirou, mordiscando levemente o lábio inferior com certa força. Deslocamento no ombro direito, cortes e ferimentos profundos pelas pernas, lacerações pelo queixo, dentes quebrados, hematomas nos pulmões, contusão, hemorragia e cortes na vagina. A mulher havia sido estuprada, estrangulada, abusada sexualmente e espancada. Leu mais uma vez: cortes na vagina. O homem lembrou de um de seus carros e correu em busca do seu notebook, tentou não assustar ainda mais , mas lembrou onde já viu isso. Era ele. Como em um estalar mágico soube porque o homem tinha passado dois anos inativo. Ele não estava preso, não estava doente, ele apenas tinha mudado o seu modus operandis a fim de não ser pego.
— Por que? — sussurrou em um tom um pouco mais alto, o que fez se juntar com ele no sofá em frente a cama que ambos compartilhariam.
— O que foi? — O homem suspirou, olhando as feições naturais da mulher. Ele engoliu a seco, não poderia esconder dela porque hora ou outra saberia e, principalmente, porque ele colocou-a nisso. Então por quê defende-la agora?
— Por que você mudaria a forma que mata alguém? Por que passaria de uma idolatria para raiva?
— Pra início de conversa eu sequer mataria alguém. — Brincou, mas percebendo a seriedade do homem, apoiou a cabeça sobre o sofá. — Não sei. Talvez... Eu não quisesse ser pego?
— Não, não pode ser só isso. Ele tem um padrão, por que quebrar tão fortemente?
A mulher então parece entender as dúvidas do homem, de repente ela soube do que aquilo se tratava e quem havia feito isso com a mulher do quarto vizinho. lembrou das palavras de e o encarou, em dúvida. Ele devolveu o olhar e ela encolheu os ombros, sentia-se intimidade quando ele a olhava tão profundamente.
— E se for algo a ver com o tom de pele que falou antes? Ele idolatra mulheres brancas, mas odeia mulheres negras. Coloca ambas a mostra, mas uma ele põe numa vitrine e a outra em uma situação degradante numa pensão qualquer? — Seu estômago parecia revirar-se, porque de alguma forma aquilo fazia sentido. — Você disse que ele é branco. E se... a boneca for uma representação de alguém de sua família? Talvez uma irmã. A mulher negra teria alguma culpa nisso? Ele satisfaz seus dois maiores polos.
respirou fundo, era isso. Como ele não tinha pensado nisso antes? Estava tão cego que não viu o que estava abaixo de seus olhos? O agente rapidamente pega seu telefone, discando um número conhecido.
— Zyon, acho que ele teve uma irmã. A forma que ele transforma essas mulheres em bonecas representa uma fantasia de pureza, apesar dos abusos e torturas, no fim ele as idolatra. Pode ter sido uma irmã. — O agente ficou em silêncio, ouvindo algo do outro lado da linha — Não, não tenho certeza, mas busque todos os arquivos que possuam bonecas. Alguém que foi morta com sua boneca, ou alguém que parecia uma. Não sei, qualquer coisa.
O telefone havia sido desligado, mas as duas mentes no quarto ainda não. Talvez fosse uma pista infundável, talvez houvesse algo. Esta era a incerteza que tanto odiava. O talvez era irritantemente insuficiente.
... — ele chamou, em um tom de voz baixo. Seus olhares se cruzaram por alguns segundos e o maior encostou a mão nos braços da pequena figura feminina em sua frente, causando-lhe arrepios mútuos. — Obrigada pela ajuda.
A morena, por sua vez, não se afastou, ao invés disso aproximou um pouco mais o seu corpo do dele. Ela não sabia dizer o nome do impulso que tomou conta de si, mas fitando os olhos claros do homem ela enxergou a profundidade que tinha sentido tanta falta mais cedo e apenas não queria livrar-se disso.
— Somos uma equipe agora. — Seu tom de voz saiu baixo e rouco. Sua pele controlada em arrepios contrastava com a respiração, que se tornava descompassada. a puxou para seu colo e ela se acomodou ali prontamente.
As mãos do homem envolveram sua cintura, enquanto suas respirações se mesclavam sem que suas bocas se tocassem. a apertou contra si, ouvindo sua mente gritar que aquilo não deveria ser feito, seu corpo não escutou nenhum dos gritos, já que sua boca buscou os lábios da morena com fome. Porra. Ele a conheceu a tão pouco tempo, desde quando tinha tanta fome assim por ela?
levou as mãos até os ombros dele, mas desceu a unha em leves arranhões até a parte de baixo da camisa dele, puxando-a pra cima e afastando seus lábios apenas para livrar-se da peça. O beijo permaneceu intenso, não queriam se separar nem mesmo para respirar. afundou a mão dentro dos shorts do pijama dela, a fazendo gemer contra sua boca. A respiração quente aquecia ainda mais o corpo de ambos. Ele mordeu o lábio inferior dela, puxando-o para si.
Os dedos da mulher agarraram os fios loiros do seu cabelo e puxaram assim que os beijos do homem desceram para seu pescoço, seguido de mordidas. Seu quadril roçava contra o dele em uma provocação descontrolada e mais um gemido fora dado, dessa vez por ele assim que o volume entre suas pernas apertou ainda mais sua calça de moletom, com o esfregar da mulher.
O telefone de tocou, despertando-os para a realidade e um choque fez com que ambos parassem. As bochechas vermelhas dela demonstravam a vergonha. Ela sequer lembrava quando ele tinha removido sua blusa, apenas percebeu que estava de sutiã, em seu colo. Seu quadril ardia com a força que ele apertava, mas ela não tinha sentido isso antes. Olhou para a boca vermelha dele e soltou os fios que prendia em sua mão. rapidamente pegou seu telefone, vestindo a blusa desajeitava e saiu do quarto.
permaneceu estático. Que porra aconteceu?, ele se perguntava. Não fazia isso. Não atacava qualquer mulher que dividisse o cômodo com ele. Não costumava se excitar após ver uma cena como a que viram a horas atrás e fora só sentar em seu colo que ficou duro por ela. Desejando fodê-la ali mesmo, vizinhos a cena de um crime. Ele era profissional, mas desde que a viu cometia erros atrás de erros. Como iria dormir se não parava de se imaginar dentro dela? Merda, merda, merda. Repetia mentalmente, diversas vezes. Amaldiçoando o desejo explosivo que acabou de descobrir, ou que deixou vir à tona.


Capítulo 10

Era quarta-feira de manhã, às 8h32. A claridade no céu já estava forte o suficiente para entrar pela janela. estava próximo à janela, olhando a rua que estava vazia com uma pequena névoa que pairava por ali. O frio poderia ser ignorado facilmente pelas suas mãos, já que os pensamentos da noite anterior pareciam ferver todo o resto. Os lábios do loiro se encostaram, comprimindo-se em uma só linha e logo o homem saiu do quarto, deparando-se com a razão de sua insônia.

— Bom dia. — Sem piada, sem brincadeira, sem .
— Bom dia — devolveu o agente, no mesmo tom. Ignorando a mancha levemente roxa no pescoço da jornalista, mancha essa que ele lembrava bem de ter causado e que a maquiagem não parecia ser tão boa para esconder. — Olha, sobre ontem...
— Sim, eu fui atrás de mais informações. O legista confirmou que ela foi morta quinze horas após encontrada. O rosto estava inchado porque ele a espancou quando ela ainda estava viva. Ele falou algo sobre funções homeostáticas, mas senti vontade de vomitar e não prestei atenção.
balançou a cabeça, talvez realmente fosse melhor ignorar o que tinha acontecido. Eles eram colegas de trabalho graças a uma impulsividade dele próprio e, além disso, não gostavam tanto um do outro a ponto do que aconteceu não ser considerado uma anomalia, então que ele controlasse isso. Ele sabia o que acontecia quando não controlava, no entanto, era difícil ignorar a mulher vinte centímetros mais baixa, mas que a presença podia ser mais afiada que um bisturi de diamantes.
— Entendo. Você já tomou café? — A menor balançou a cabeça positivamente.
— De forma alguma eu aguentaria você sem cafeína.
— Vou atrás dos fornecedores. Você vai comigo? — pareceu pensar um pouco. Não sabia se era uma boa ideia ir com ele porque ainda não confiava nele, apesar do seu corpo ironicamente confiar.
— Uhum — disse apenas, lembrando que estava ali para a investigação. — Quer que eu te espere comer algo? Sua cara está péssima.
— Não costumo comer de manhã. — Ele vestiu o casaco, saindo na frente dela, que apenas o seguiu, revirando os olhos. Por sorte, não precisariam dividir o veículo ainda, ou algum espaço pequeno e privado que os deixasse a sós. Em vez disso, iriam caminhando, por ser uma cidade pequena e por ela gostar de passeios matinais.
Foram vinte e sete minutos de silêncio absurdo até chegarem a uma das lojas. A vidraçaria demonstrava a vasta variedade de tecidos e o homem foi direto até o balcão, sendo seguido pela mulher que o acompanhava. Ao chegar até a recepção, o procedimento foi comum: mostrou sua identificação e pediu a colaboração do proprietário para que mostrasse a lista de pessoas que havia fornecido, caso contrário, voltaria com um mandato. O homem prontamente lhe entregou um dos cadernos manuais que tinha para que ele tirasse cópias e ele passou o controle para .
A segunda loja já não existia mais, em vez disso tinha apenas assombros de um lugar incendiado há anos. Sentiu vontade de investigar todo o espaço, mas além de tudo, parecia estar saqueado e, dado a deterioração do ambiente, não haveria mais provas a serem localizadas ali.
A jornalista tirou algumas cópias do livro, verificando se alguma página havia sido removida. O livreto possuía números, o que tornava ainda mais fácil achar qualquer evidência de manipulação de informações ou de ocultação delas.
— Acabamos por aqui — o loiro deixou escapar, com a voz rouca de quem estava calado há muitos minutos.
— Você é tão autoritário — murmurou, revirando os olhos antes de guardar os papéis em sua bolsa.
— Deve ser porque sou o seu chefe aqui. — O tom de voz ainda era tranquilo, mas isso irritava a jornalista.
— Ou pode ser porque você é apenas insuportável e mal educado — devolveu, da forma ácida que conseguia tão bem.
— DETETIVES! DETETIVES! — As alfinetadas foram interrompidas pelo homem eufórico que vinha do outro lado da rua. se pôs na frente de e ela logo caminhou para o seu lado, saindo de trás do homem. O agente revirou os olhos com a teimosia da mulher, não conseguiria defendê-la nem se quisesse muito. — Tem um... Tem uma... Meu Deus! Mataram alguém.
se encolheu com a notícia e pensou na sua vizinha sumida, desejando ardentemente que não fosse o seu corpo ali, a duas horas de casa. Seria cruel com seus familiares, com as pessoas que a conheciam e com a própria população. passou a caminhar com certa rapidez até o local indicado pelo homem e a mulher foi logo atrás, o denunciante parecia estar nervoso demais para voltar para o que quer que tinha encontrado.
— É ela? — a menor perguntou, curiosa, decidindo se entraria ou não na área reservada do parque. Não precisou pensar muito, já que a falta de resposta do agente fora o suficiente para despertar sua curiosidade. Não era sua vizinha, mas isso não tornava a cena pior.
Outra mulher, a maquiagem semelhante à última, o vestido com o mesmo tecido, embora as cores fossem diferentes. As pernas dobradas para o lado com suavidade, exposta ali como um brinquedo. Em seu dedo anelar, havia um anel de ouro, semelhante a uma aliança, mas com detalhes delicados demais para ser uma. Era branca, deveria estar na casa dos quase trinta anos, cabelos castanhos compridos e a pele demasiadamente clara, com aspecto de porcelana. Ela o encarou como se implorasse por ajuda, os olhos abertos dessa vez não estavam cobertos por uma membrana branca, na verdade estavam vívidos como se...
... — A boca se abriu em um perfeito “O” e a jornalista segurou a vontade que sentiu de vomitar. — Ela está viva, cacete.
O loiro não pareceu tão assustado, em vez disso apenas se afastou e pegou o celular, pesquisando algo e digitando o número que devia ser do socorro médico. Os olhos da mulher não se mexiam, ela não piscava. Estava sem vida, mas ainda estava ali, conseguia senti-la. Que merda era essa?
— Você está bem? — o detetive perguntou, ainda percebendo o espanto de sua parceira.
— Bem? Caralho, ela está viva! Ela está viva, – murmurou com certa descrença, sentindo a raiva ocupar cada molécula de seu corpo. — Ela sentiu tudo que ele fez! Ela viu tudo que ele fez e ela nos viu chegando tarde demais. — As lágrimas se formaram nos lábios da morena, o pavor ocupava cada gota líquida que escorria pelos seus olhos.
— Se você quiser sair do caso, eu entendo — ele murmurou, tentava não soar tão frio, mas sentia suas mãos suarem. Ele odiava para um santo caralho uma mulher chorando em sua frente e isso tirava de si toda reação. — Quero dizer, tem cenas e situações que são pesadas e você não deveria ver isso. Só... não chora, tá legal? Nós não sabemos o que ele fez ainda. Talvez tenha sido diferente.
A mentira fez os olhos de arderem ainda mais. Ela não era tão ingênua, sabia que não existia diferenças esperançosas pela forma que a mulher se encontrava.
— Meu Deus — disse ela, baixinho, se apoiando no homem para manter-se em pé. — Prometa que vai pegar esse filho da puta, .
O loiro engole a seco, tentando não levar essa promessa como gasolina para o seu ódio tão latente. Não era justo se apoiar em uma promessa para fazer o que queria desde sempre.
— Nós vamos pegar ele, . — O conforto que ela buscava com a promessa aliviou um pouco a aflição em seu peito. — Vem, você precisa vir comigo.


Capítulo 11

— Senhor Brown? — falou, ainda não tinha esquecido a cena, mas estava recuperada o suficiente para tentar ser o lado social de . Era notório que ele não tinha pretensão alguma de ser simpático. Com ninguém. — Eu sinto muito pela sua perda.
O homem balançou a cabeça, ainda em choque. Não estava chorando, mas tinha surpresa em cada expressão do seu rosto. Haviam localizado a identidade da mulher com a polícia regional. Um mês atrás, o marido tinha dado queixa do desaparecimento de sua esposa e, assim, conseguiram o localizar.
William assentiu com a cabeça, observando o corpo da mulher pelo vidro do necrotério.
— Era impossível tê-la deixado viva — falou, mas foi quem se aproximou do viúvo.
William olhou mais uma vez para o lado, mas, em vez disso, encontrou apenas manchas verdes no corpo da mulher, coberto com um fino lençol branco. Ele sabia o que viria a seguir, seria interrogado não como quem perdeu a esposa, mas como quem matou-a. O marido sempre era um suspeito em casos assim.
Silenciosamente, o homem foi acompanhado para o carro de , ditou o endereço e se permitiu ser acompanhado pelos agentes. A morena estava ao seu lado enquanto o loiro dirigia o SUV preto.
— Sei que não é o momento ideal, mas poderíamos entrar para te fazer algumas perguntas? Queremos achar quem fez isso com a sua esposa. — A pergunta veio logo após a chegada deles à casa do casal. O homem balançou a cabeça, abrindo a porta e liberando espaço em sua frente.
— Não sei como posso ajudá-los. Eu não sei nada além do que sabia um mês atrás, quando reportei o desaparecimento dela. — Por algum motivo, ele ainda não conseguia dizer seu nome. O agente engoliu a seco, caminhando pela sala e observando as fotos da família espalhadas.
— Quanto tempo vocês tinham de casados, Sr. Brown? — lançou um olhar mortal para o agente, a sua linha de raciocínio curta e grossa chegava a ser ofensiva.
— Faríamos quatro anos em agosto.
— Filhos? — O incômodo em tornava-se cada vez maior. Ela era jornalista, sabia que perguntas eram necessários mesmo em momentos difíceis, mas parecia gostar de ser cruel.
— Não, eu sou estéril.
— Havia algum problema no casamento? Infidelidade da sua parte ou dela?
— Pelo amor de Deus, não! Eu amava a minha esposa!
— Alguma briga? Episódios de violência doméstica?
— Não.
— Sua esposa tinha inimigos?
— Não.
— No dia do desaparecimento, houve algo estranho? Alguma mudança na persona, algum telefonema estranho, ameaças...?
— Não, ela estava bem. Estava normal. Fez o café, tomamos juntos. Ela me deu um beijo de bom dia e saiu para o trabalho. Ela parecia... feliz. Havíamos feito amor a noite anterior. Estava tudo bem, eu garanto.
— Onde ela trabalhava?
— Eu já contei à polícia. — O tom de voz do homem estava se alterando cada vez mais quando decidiu interromper o colega de trabalho. Ela se sentou próxima ao homem, com o seu caderno de anotações.
— Eu sinto muito que não tenham ido atrás dela antes e lamento por ter que deixá-la morrer, senhor William, mas ela já estava morta. — A verdade vinda com tanta delicadeza arrancou a ficha do homem com força, o fazendo chorar. o abraçou de forma carinhosa. — Estamos tentando evitar que isso aconteça com mais pessoas. Se não conseguir conversar hoje, podemos vir em outro dia. — a encarou com raiva. Eles não tinham outro dia.
Após se sentir mais estabilizado, o homem abriu um pouco as pernas, inclinando o seu tronco contra a coxa e apoiou os cotovelos em seu joelho. A postura em que ele se colocava o escondia da vergonha que sentia.
— Tudo bem estar vulnerável, foi uma perda grande e dolorosa. — A morena o acalmou e ele acenou com a cabeça. Então, ela começou as suas anotações. — Você voltou a falar com ela após o dia do seu desaparecimento?
— Sim, eu enviei algumas mensagens, mas logo depois as respostas pararam.
— Você poderia nos dizer onde estava entre o dia de anteontem e ontem? — Mais uma vez, a indelicadeza em pessoa havia se pronunciado.
— Anteontem, eu estava com o irmão dela. Ele chegou recentemente ao país devido a... ao desaparecimento de Silvia. Ontem eu estive em casa, tenho câmeras para confirmar minha versão.
— Qual o nome do seu cunhado?
— Simon. Simon Brown. — anotou o nome, utilizando duas linhas sublinhadas abaixo do nome.
— Gostaríamos de trazer a equipe local para examinar a sua casa, se o senhor não se importar.
— Aqueles malditos ignoram o desaparecimento da minha mulher pela porra de um mês inteiro e querem revistar minha casa? Chega! Foda-se tudo isso. Vocês só entrarão aqui de novo com a merda de um mandato.


Capítulo 12

— Ele estava solícito! Você não podia se esforçar pra ser simpático pelo menos uma vez na vida?
— Ele estava agindo como qualquer homem sob suspeita agiria.
— Ele não estava sob suspeita. Você sabe disso, não condiz com o perfil que você criou. Ele é casado com ela, tem um bom álibi e...
— Ele não ia nos levar a lugar algum. Nas fotos, ele está sempre distante da mulher, com algo no meio deles. Seja uma pessoa, um objeto ou um animal. Eles não estavam bem e ele mentiu sobre não estar traindo-a. Pelo estado empoeirado que a casa estava, duvido muito que ele tenha passado o último mês lá.
— Acha que a cena que ele relatou não aconteceu? Ou que ele tem algo a ver com isso? — O tom de voz de agora era ameno, reconhecia as habilidades de e, por algum motivo, era mais fácil acreditar dele do que em um estranho que estava sofrendo o luto de uma esposa morta.
— Aconteceu, mas não com ela. Ele só está tentando vender a imagem de um marido bom e presente. A maioria faz isso.
A jornalista ficou quieta por alguns minutos. Era nova no ramo do jornalismo criminal e a sua inocência não a ajudaria em casos assim, ela precisava desligar seus sentimentos, mas como poderia? Alguém precisava ser o oposto de .
— Zyon me enviou o endereço do tal Simon — o maior sussurrou, guardando o celular de volta no bolso e estendendo a mão para , que a rejeitou, erguendo-se sozinha.


(...)


— Agente , senhorita . — O cumprimento formal foi arrastado pelo sotaque formal de quem havia acabado de chegar a um país desconhecido, o que confirmava a versão de William Brown.
— Você nos conhece? — A pergunta saiu antes mesmo que a mulher pudesse pensar, o que a fez encolher os ombros sobre a visão do homem alto e forte à sua frente.
— Não, meu cunhado me falou que iriam me procurar. — A mulher então balançou a cabeça de forma positiva, era realmente mais lógico. Mais uma vez, ela atacava: a sua inocência. — Entrem, per favor.
Os dois entraram no apartamento do homem. Era nítido que vinham de uma família rica, os tons metálicos combinavam bem com o preto e traziam uma masculinidade forte para o espaço.
— Sentimos muito pela perda da sua irmã.
— Eu também, não a vejo há sete anos e quando volto... — A frase foi interrompida pelo tom de voz embargado que o homem apresentava. Ele limpou o sentimento com um pigarreio em formato de tosse, buscando se recuperar. — Em que posso ajudá-los?
— No momento, queremos confirmar o álibi do seu cunhado e saber do seu.
— Bom, anteontem meu cunhado veio para cá, compartilhamos preocupações sobre minha irmã. Ontem eu... contratei um detetive particular para localizá-la, já que a polícia não se moveu. Durante o dia, fiquei no apartamento, não sou desta cidade. Não conheço muitos... espaces. — O olhar direcionou-se para a mulher no cômodo. — , correto? — Os olhos azul-cinza frios encararam a mulher, que logo balançou com a cabeça em concordância. — Você poderia me levar para ver minha irmã?
A surpresa veio quase que de imediato, mas ela concordou com a solicitação. Devia isso àquela mulher pela forma que ela morreu e não causava nenhuma estranheza o tal Simon à sua frente por não ter pedido isso para . A falta de simpatia do agente não abria espaço para nenhuma solicitação.
— Não, ela não pode.
— Claro que posso, eu te espero lá fora. — A morena sorriu, de forma gentil, ignorando a resposta do seu chefe.
— Tudo bem. Obrigado. Vou apenas trocar a minha roupe.
O sotaque engraçado que invadiu os seus ouvidos não pareceu ser o mesmo que invadiu os ouvidos de , já que ele estava aparentemente irritado demais com toda a situação.
— Qual o seu problema? — ela perguntou, incrédula com a rispidez costumeira de seu parceiro. — Qual a porcaria do seu problema, ? — ela repetiu, elevando um pouco a voz assim que saíram do apartamento para o corredor.
— Minha audição é ótima, eu consigo ouvir sem que alguém grite, . — A menor revirou os olhos, ainda irritada pela forma que o loiro havia falado. — Eu apenas não acho correto que você ande por aí com um desconhecido que acabou de conhecer. É antiético e eu não vou ser a porra da sua babá, caralho. Prometi ao seu pai que cuidaria de você, mas é impossível obter qualquer tipo de ajuda de sua parte para isso.
— A forma que você demonstra se importar é preocupante, . — O tom de voz sarcástico arrastou toda paciência do homem.
— Apenas pare de se meter em encrencas. Pare de ser teimosa! Você não é uma agente treinada, você não tem experiência e não pode se colocar em risco dessa forma!
— Por que você não para de ser um babaca? Foi você quem me colocou na sua equipe. Você me trouxe pra isso. Quer me proteger? Então me escolte até o necrotério, mas eu não vou negar apoio a alguém que acabou de perder um ente querido da família.
— Para toda e qualquer indagação futura: meu problema é sempre você, .


Capítulo 13

Por algum motivo, o sotaque arrastado, que o fazia errar na pronúncia de algumas palavras, fazia com que achasse o homem estranhamente atraente. Claro que não era apenas a forma que ele falava algo, mas tudo em si parecia ser demasiadamente mais bonito. Desde a forma que ele franzia a sobrancelha para falar uma frase, até a maneira que seu cabelo loiro escuro era curto nas laterais e jogado para trás. A roupa social deixava o corpo musculoso do homem delimitado de uma forma propícia à loucura. Era estranho porque ela não se sentia assim facilmente, exceto por e agora pela figura em sua frente.
Para a mulher, seria impossível deixar o homem atraente sozinho porque, de alguma forma, ela se sentiu responsabilizada por ele. Talvez fosse a ausência de alguém que a acompanhasse para se despedir de sua mãe, ou a coragem que lhe faltou de ir sozinha quando a mulher faleceu. Talvez ela apenas não quisesse deixar alguém passar pelo que ela tanto odiou ter vivido.
Ao contrário do que pensava, ela estava ciente que ainda estava a trabalho, por isso aproveitou o momento para coletar o máximo de informações que poderia e que, com certeza, não conseguiriam mais do marido da vítima.
Seus olhos passaram pelo carro de Simon, procurando algum resquício que mostrasse que ele não era confiável e que a rigidez de era justificável, mas não tinha nada ali que a levasse para essa direção. Havia uma foto dele com a irmã, estavam abraçados e pareciam felizes.
— Sinto pela sua perda também. — o olhou confusa, buscando algum motivo para a frase repentina do homem à sua frente. — Só quem perdeu alguém que amava muito consegue entender um igual.
O olhar da morena caiu em suas mãos e ela mordeu a parte inferior de sua bochecha. Quando precisava parecer forte, sua carne era a fonte principal de todo o seu controle.
— Por que você foi embora? — A pergunta direta arrancou um sorriso do homem e voltou a se concentrar na rua, dirigindo o automóvel dele.
— Não sei. Sempre senti que pudesse ser mais do que este cidade tinha a ofertar. Aqui sou um Brown, carrego comigo o nome dos meus pais e a responsabilidade dos seus negócios. Fora daqui, sou apenas Simon e, acredite, ser apenas quem você é oferece muito mais possibilidades.
abaixou a cabeça, concordando de forma pensativa. Sentia isso às vezes. Era ótimo ser filha do seu pai, ele era incrível, mas às vezes ele também a impedia de descobrir quem ela era. Foi custoso começar a faculdade de jornalismo porque não era o que ele queria, era difícil se relacionar sem que ele investigasse todo o passado do pretendente e ela não teve a escolha de optar pela área policial, mesmo amando. Ela entendia que era uma forma de protegê-la, sabia que ele tinha medo de a perder assim como perdeu Ellie, sua mãe, mas a proteção e a prisão também se misturavam em uma linha tênue.
— Seu cunhado usa o sobrenome da sua família e não ao contrário?
Simon deu de ombros, sorrindo de lado. Gostava da companhia e da curiosidade direta da mulher.
— Siv tinha um gênio forte. Ela não queria abrir mão do sobrenome da família e Will queria que eles compartilhassem o mesmo sobrenome, então...
Foi a vez dela de sorrir, conseguia facilmente imaginar a cena, porque não se via abrindo mão do que seu pai lhe dera.
— Chegamos. — O tom de voz saiu baixo, carregado de melancolia. Ela desceu do carro do homem, sendo seguida por ele, e entraram no necrotério. A morena conseguiu ver estacionado a alguns metros de distância antes de procurarem alguém que os levassem ao corpo, e um formigamento tomou conta de sua barriga. Algo gelado que ela não sabia descrever se era pelo lugar e a sensação de não ter conseguido salvar alguém, ou pelo cuidado de seu companheiro em escoltá-la.
O olhar dela acompanhou Simon e todas as suas reações, mas ela ainda se sentia uma completa invasora naquele momento.
— Estou lá fora, caso precise.
Em passos lentos, ela saiu da sala, entrando em um dos corredores do prédio. Seu olhar encontrou o de e o olhou de relance. Era inegável a forma que a presença dele intimidava todo e qualquer medo, insegurança ou incapacidade que surgisse dentro dela. Como se os 1,92 de teimosia que ele tinha, esmagassem cada sensação ou sentimento ruim, ainda que trouxesse uma certa implicância consigo. Mesmo sendo um pouco de caos, ele ainda era sossego para sua alma.
— Você me escoltou — sussurrou, com um tom de voz divertido, se acomodando ao seu lado.
— Eu não te deixaria sozinha. — Por algum motivo, o corpo dela estremeceu com a frase. Ela esperou que ele corrigisse, mas ele não o fez.
— Não precisava ter feito isso apenas pra não se sujar com o meu pai. — A frase saiu de forma involuntária, embora ela soubesse o porquê. Queria que ele negasse que tinha sido pelo pai dela porque ainda sentia o gosto dele em sua boca, ainda sentia sua pele sendo tocada pelas mãos dele.
olhou para os lados, não encontrando ninguém, e se aproximou dela, deixando uma das mãos apoiadas sobre a parede enquanto a outra permanecia em seu bolso, fechada em um punho. Ele apenas não podia deixar sua mão sair dali, não depois que percebeu que a cintura dela tinha o formato perfeito para que ele encaixasse os dedos.
— Às vezes um simples obrigado é o suficiente, .
O olhar dele desviou-se da boca para os olhos e dos olhos para a boca, mais uma vez. Ela não se moveu, porque sabia que, se fizesse isso, não conseguiria se afastar.
— Obrigada, .
Simon saiu da sala, causando o afastamento dos dois e o encarou, tossindo para limpar a garganta e recuperar a voz que ele sequer percebeu ter perdido. Indo contra cada pedido do seu corpo, ele foi para a parede distinta da mulher.
— Obrigado por ter vindo aqui comigo. Eu... acho que vou sozinho para minha casa, já que o seu amigo está aqui.
— Tudo bem. O que você está sentindo vai doer menos com o tempo.
— Eu posso... pegar o seu telefone? Caso eu descubre algo ou, sei lá, precise de alguém pra conversar.
olhou a cena, controlando-se para não intervir e repetiu mentalmente que não podia a impedir de fazer isso. era adulta, ela fazia parte da comunicação e teria contato com vítimas, familiares e imprensa, então por que ele estava com o maxilar cerrado como se fosse quebrar todos os seus dentes?


Capítulo 14

— O álibi dele confere. As passagens foram debitadas em sua conta um dia depois do sumiço da irmã — Zyon falava, irritando ainda mais o dia de .
— Tem certeza? Ele pode ter comprado de outra forma. Não sei, não confio nele.
— Não, olhei todos os cartões e contas dele, tudo bate. O voo não foi só comprado, como foi utilizado. Ele realmente usou o bilhete e fez a viagem depois do sumiço dela. — O silêncio pareceu incomodar ambos. — Cara, tá tudo bem?
— Não tá nada bem. Porra. Eu tô cansado das pistas esfriando, é uma merda não conseguir pegar esse filho da puta.
Novamente silêncio. Zyon não costumava ver tão puto, mesmo eles trabalhando diversas vezes juntos, e conseguia apostar que o caso não era o único culpado, principalmente pela forma que o amigo olhava a filha do detetive pela parede de vidro do local.
— Acho que ele cometeu um erro. Talvez esteja ficando mais desesperado. — A voz de Helene chamou atenção, enquanto ela entrava na sala. Minutos depois, Bastien a seguiu e, por último, entrou junto de seu pai. — Ele a deixou viva. Não faz parte do ritual, ela foi diferente.
— Acham que foi um imitador? — a voz de Billy ecoou preocupada.
— Não, é ele. A roupa tem o mesmo tecido, mesmo corte, mesma costura. Tem que ser ele. Só não consigo entender a mudança, parece que ele quis que ela sofresse mais.
pensou um pouco, fechando os olhos. Seu pensamento voltou para o local que encontraram o corpo, a mulher com vestido rosa deitada na grama de um parque, os joelhos levemente dobrados e posicionados, os olhos abertos para que, mesmo vendo quem pudesse ajudá-la, ela não pudesse pedir ajuda. Tinha um parque lá, mas ela não estava posicionada. Ela estava de costas para toda a parte movimentada.
— Sabe o que isso quer dizer, né? — Os olhares confusos se voltaram para Bastien, aos poucos o raciocínio ia se espalhando entre todos como uma linha que os conectava.
— Ele a conhecia. — Foi quem disse em voz alta. — Ele não queria só machucar ela, ele queria que ela sentisse tudo. Que ela olhasse tudo, mas não pudesse fazer nada. Ele a silenciou com vida.
Helene concordou, umedecendo os lábios.
— Ele tê-lo colocado de costas poderia demonstrar um certo arrependimento, mas duvido que ele sinta isso — Bastien apontou, sendo seguido por Helene.
— Ou talvez ele não tenha querido expor ela para o mundo, ele quis expor o mundo para ela. Como se... ela fosse testemunha dos próximos atos dele. — A mensagem foi digerida no ar e ela logo completou. — Ele contou a ela o que ia fazer ou onde ia fazer.
Desespero percorreu a espinha de , causando-lhe desconforto. Em seu corpo, como uma rede elétrica, o loiro sentiu uma onda de pânico porque, agora, tudo tinha ficado dolorosamente translúcido.
— Ou quem.
Ele sussurrou, direcionando o olhar para e dando-se conta de que eles tinham feito exatamente tudo que o maldito queria. Não foi um erro colocar o tecido raro nas últimas vítimas, não houve erro ao deixar marcas distintas e não foi um descontrole matar a mulher do lado do quarto que ele alugou. Ele tinha planejado tudo para ver e saber a importância dela para .
— Merda — Zyon murmurou, pela primeira vez depois que todos se reuniram, entendendo a reação do amigo.
— Eu quero ficar sozinho.
A equipe já conhecia a personalidade tempestuosa do líder. Sabia que quando algo o afetava demais, ele se isolava de todos porque assim conseguia concentrar todos os sentimentos confusos em um só alvo, por isso, todos obedeceram. Exceto ela.
continuou onde estava. Olhava ele como se ele precisasse dar uma satisfação, como se esperasse algo dele. O loiro respirou fundo, engolindo todo o amargor que surgiu na sua boca com ideia de ter cometido o maior de seus erros e encarou a menor.
— O que foi, ? O que você quer agora? — O tom grosseiro fez com que a mulher assumisse a postura defensiva novamente.
— Eu não entendo você. Primeiro você é um escroto do caramba, depois você passa a assumir uma postura repentinamente protetora e agora volta a ser o grande babaca que é desde que o conheci.
— Caralho! Por que é tão difícil pra você focar na sua vida? Por que você não consegue ficar quieta e não se meter em problemas que são maiores que você?
A morena ergueu a cabeça, era comum que ela usasse botas pretas com saltos na maioria de seus trajes, ou coturnos que também a deixassem maior, mas, mesmo assim, continuava mais baixa que ele, precisando erguer o rosto para encará-lo com uma frequência maior do que a gostaria.
— Isso é culpa sua, . Foi você que me trouxe pra sua equipe, lembra?
— Minha culpa? — ele refutou, incrédulo, mas contentou-se com o fato de que ela estava certa. Ela não pediu para estar ali, apenas aceitou o pedido que veio dele. — Tem razão. É a porra da minha culpa e agora eu não posso mais voltar atrás.
O tom irritado, frustrado e cansado que ele tinha a tirou da zona de ataque. Ela respirou, deixando os ombros caírem e o viu se sentar sobre a mesa. A morena abaixou as persianas e se aproximou do loiro, ainda incerta se deveria fazer isso.
— Desculpe. Você não me obrigou a estar aqui, eu vim porque eu quis também. Eu tive escolha, então, no máximo, somos os dois culpados.
O tom de voz já não era mais exaltado ou acusatório, na verdade parecia macio. Era um detalhe que ela gostava nas pequenas brigas que eles tinham, quando era necessário, os dois sabiam reconhecer os erros cometidos.
— Não me deixa assim. — A confusão ocupou o rosto arredondado da mulher. — Desde o primeiro dia você tenta me desestabilizar e consegue isso com uma magnitude incrível. — O sorriso estampou o rosto dela, lembrando-se exatamente da primeira vez que viu o loiro alto e perguntou que tipo de policial, entre os piores, ele era. — Eu... Me desculpa por agir como um idiota, às vezes.
— Às vezes? — O timbre de voz provocante ocupou a sua boca com diversão e ele a puxou para si, fazendo seu coração disparar.
As mãos dele voltaram a se encaixar em sua cintura e ele a puxou, posicionando-a entre suas pernas, apoiando-se mais ainda na mesa. Ela pousou as mãos sobre o braço dele, sem o afastar. Os olhos se mantiveram fixos um no outro. De repente, eles não estavam mais no departamento de polícia, eles estavam em uma caixa escura onde cabiam perfeitamente bem e não queriam mais sair de lá.
— Eu não quis ser um idiota com você. — A afirmação fez todo o corpo da menor arrepiar, mas ela não soube identificar de onde surgiam as ondas elétricas que assombravam seu corpo. Eram as palavras? Os braços que lhe apertavam o quadril ou pela respiração quente dele que se misturava com a sua, trazendo à tona o cheiro de menta no hálito dele?
— É, mas você foi.
— Eu perdi pessoas na minha equipe, pessoas que significavam muito pra mim e eu não quero que isso se repita. Você não pode se machucar por minha culpa. Eu tô tentando pegar esse filho duma puta tem anos. Eu quero que ele seja preso, que pegue prisão perpétua ou pena de morte, se for necessário. — O tom na voz de agora era sombrio, assim como as mãos dele, que a espremiam mais contra si, tornando-se tão dolorosas quanto ouvir o homem falar que a sua preocupação com ela era enquanto subordinada. — Eu juro que estou tentando fazer tudo dentro da lei, mas se ele machucar você... Se ele se aproximar ou ousar te ameaçar, eu mesmo irei matá-lo. Eu perco meu cargo, mas eu mesmo acabo com a vida dele se um fio de cabelo teu sair do lugar.


Capítulo 15

Em frações de segundos, a mulher esqueceu como respirava. Ele estava perto demais dela, próximo demais do seu corpo. O seu hálito estava se mesclando com o dela de uma forma que não era saudável, como uma droga que se impregnava em todo o seu sistema nervoso. Os arrepios eram frios, passavam pela sua corrente sanguínea, arrastando-se por dentro de sua pele e ela fechou os olhos, numa tentava de controlar um pouco mais o seu corpo.
Péssima ideia.
Quanto mais ela escondia o sentido da sua visão, mais a sua pele reagia e seu coração palpitava. Se suas pálpebras fechassem com força, o cheiro dele a invadia com o triplo.
As mãos dela se enlaçaram ao redor do pescoço do homem. Apesar do coturno alto que ela usava, ainda ficava muitos centímetros abaixo dele. apertou seu quadril com força, até seus dedos ficarem brancos, e cerrou os olhos, sem os fechar, acompanhando a reação da morena. Ele estava em uma luta interna, o cheiro de baunilha em seu shampoo se misturava com o floral suave de sua colônia e atacavam de forma direta a sua invulnerabilidade. Em anos, nunca tinha se sentido tão imponente por alguém. Ele não era reativo, não era impulsivo e o profissionalismo sempre fora o seu grande destaque, no entanto, lá estava ele, apoiado em sua mesa cheia de arquivos, com uma jovem que ele contratou por impulso, apertando a sua cintura como se tentasse averiguar que todo o calor que subia em seu corpo não era uma mentira.
A mão direita do homem subiu para a lateral do rosto da morena e ele acariciou com o polegar, abrindo os olhos de forma lenta. A visão dela ali, centímetros abaixo dele, com os olhos fechados e a boca entreaberta o nocauteou.
— Sua boca é tão perfeita, porra. — O comentário saiu de forma involuntária, comprovando mais uma vez o fato de que, perto dela, ele era puro descontrole. A mão posicionada no rosto delicado arrastou-se para o lado e o seu polegar contornou a linha de seus lábios. Ele sentiu a carne macia da boca dela em seus dedos e isso foi o suficiente para quase o levar à loucura.
puxou o ar com certa dificuldade. De alguma forma, ela parecia ter esquecido como se respirava pela segunda vez no dia. Os lábios da mulher se entreabriram, permitindo que o polegar dele invadisse parte da sua boca e, ao fazer isso, ela direcionou os olhos grandes e castanhos na direção do homem. Seus dentes roçaram pela região e, após isso, a sua língua umedeceu a pele do maior. Céus! Era certo que, mesmo com tão pouco, sua calcinha deveria estar molhada por ele.
A morena esperou o beijo que não vinha, os pensamentos dela visitavam a noite onde eles se beijaram. O sabor do gosto dele, os lábios dele, a forma que se encaixavam tão bem nos seus a trouxeram um desejo inevitável. se aproximou, retirando o polegar de sua boca e usando ambas as mãos para colar o corpo dela ao dele, quase os tornando um só.
... — ela gemeu baixo, sem saber ao certo o que queria dizer.
— Shhh — ele sussurrou, com medo de que o gemido fosse acompanhar um “isso é errado”, porque ele sabia o quanto era errado e não conseguia parar. Ele a queria.
O homem deixou seu corpo deslizar um pouco mais, alinhando-se para que ficasse o mais próximo da altura dela. Ele não estar sentado na mesa e apenas a usar como apoio tornava os movimentos mais rápidos e urgentes, assim como ele precisava antes do arrependimento vir. Rapidamente ele deixou os dedos longos alcançarem a nuca dela, mas não os parou ali. enfiou os dedos abertos no cabelo escuro dela e quando teve uma quantidade de fios o suficiente entre seus dedos, fechou em um punho, puxando-os.
O rosto dela se ergueu com o puxar de cabelo e ela abriu os olhos para encará-lo. Eles não estavam fazendo nada com rapidez, mas ela sentia seu corpo tremer como se ele tivesse a engolindo com pressa.
As mangas brancas da blusa social estavam dobradas até o seu cotovelo e a pressão para as manter ali destacava os músculos do homem, o que não passava despercebido pela menor. Na verdade, cada vez que a blusa se apertava mais no corpo dele, ela apenas queria removê-la.
Sem aviso, ele roçou os seus lábios pelos dela, experimentando a sensação antes do beijo. A forma que eles não se queriam e demonstravam tanto duvidar um do outro se perdia assim que os lábios se encontravam. Ele não pediu espaço, apenas invadiu a sua boca com força e ela agradeceu mentalmente por isso. As mãos dela rapidamente foram até os braços torneados dele, arranhando-os enquanto subia até sua nuca. Talvez não pudesse retribuir o puxão de cabelo, mas suas unhas fariam um bom serviço para o troco quase ideal. O cheiro de menta agora era transformado em gosto e ela conseguia sentir a força que ele tinha sobre ela conforme as salivas se misturavam. Ele ainda a provocava de forma lenta, quase dolorosa, seus dedos ainda puxavam o seu cabelo, guiando seu rosto para a direção que ele quisesse dentro do beijo.
A morena quase não conseguia corresponder, em partes porque ele a apertava o corpo, mas definitivamente porque sua mente não conseguia reagir de forma rápida quando a boca dele estava misturando-se a dela. O beijo se intensificou aos poucos, deixando os dois sem fôlego e ela se afastou. Sabia desde o momento que pôs os olhos nele que ele era autoritário, arrogante e talvez egocêntrico, mas em momento algum conseguiu imaginar que ele possuía mãos tão dominadoras. Era assim que ela se sentia, dominada.
... — ele chamou, afastando-se dela e lhe dando alguns segundos para voltar a respirar. — Você precisa estar ciente de que a partir do momento que isso acontecer, não terá volta. — As mãos saíam da cintura fina e subiam pela lateral de sua barriga, encaixando-se nas curvas laterais de seu corpo. — Toda pessoa que pensar em te tocar, vai se conformar com a insatisfação de nunca conseguir. — As mãos dele então desciam pelo seu quadril novamente e passavam pela lateral das coxas dela. — Qualquer um que estiver com desejo de te comer vai se sentir amargurado porque o único que vai encostar em você, serei eu. — Os dedos se tornam mais ágeis, indo para a parte de frente de suas coxas e finalmente alcançando a região interna. subiu os dedos, arranhando de forma lenta a virilha dela, ainda por cima do jeans colado que ela vestia. — Quando eu foder você, vou te reivindicar como a porra da minha propriedade e a única coisa que você vai conseguir falar é: mais rápido, .
O gemido que ela soltou foi o suficiente para arrancar um sorriso satisfeito dele. Ele puxou seu cabelo mais uma vez, depositando alguns beijos pelo pescoço da mulher antes de deixar que suas mãos entrassem por dentro da blusa preta que ela usava.
— Todo mundo já foi embora? — perguntou ela, aproveitando o espaço de tempo em que seus lábios ficaram separados. Ele murmurou algo, que logo foi abafado pelo pescoço da morena em meio aos seus beijos, e ela apenas mordeu os lábios com força quando ele acenou a cabeça. — Ótimo.
se afastou o suficiente para que suas mãos descessem dos ombros dele e passou a desabotoar os botões da camisa social branca do loiro. Ela fazia de forma lenta, quase numa tortura, e ele reclamava, puxando-a mais pra perto. Um sorriso ocupou os lábios da morena e ela empurrou a peça para trás, o vendo desnudo. A mulher tomou um espaço para admirar os músculos que ficavam escondidos pela peça e mordeu o lábio com ainda mais força. Ele era um Deus.
— Um pouco injusto — ele murmurou, assim que as mãos abriram o zíper da sua calça, mas não a parou, em vez disso, apenas puxou a blusa preta dela pra cima, com a ajuda da mulher. As mãos alcançaram de forma ágil o fecho do sutiã e ele abriu com facilidade.
— Você fala demais — ela devolveu, ainda que o seu corpo inteiro reagisse em resposta à voz dele.
O sorriso sagaz nos lábios dele afirmava que as implicâncias conseguiam a tornar mais atraente. As mãos largas do maior alcançaram o cós da calça dela e desceram de forma lenta, aproveitando para se afastar da mesa e deixar que seu rosto acompanhasse a peça enquanto ela caía. se abaixou, beijando as coxas dela e ela mordeu o lábio inferior com ainda mais força, no entanto, ela voltou a puxá-lo para cima, alternando o controle.
Os lábios dela estavam úmidos, assim como ela sentia sua calcinha, mas tinha algo que ela precisava fazer antes. Retribuindo a nudez, puxou a calça do loiro até o joelho, se abaixando junto com suas mãos. A morena o olhou com certa perversão e ajoelhou-se ali, em sua frente. Deixando as mãos espalmadas em sua barriga e voltando a fazer com que o homem se apoiasse na mesa num empurrão leve.
Um gemido rouco saiu da garganta dele quando ela desceu uma das mãos até as coxas dele e envolveu a outra pela extensão do seu caralho, puxando-o para trás em um vai e vem lento.
... — ele chamou, em uma recriminação, mas, sem permitir que ele terminasse o raciocínio, a mulher abocanhou centímetro por centímetro de forma lenta, queria sentir na boca o quão duro ele estava por ela. O engasgo surgiu de forma involuntária e ela se afastou, o encarando para que ele tivesse a visão do fio de saliva que conectava a boca da menor ao seu pau. — Filha da puta.
O xingamento a divertiu.
Ele não cabia em sua boca por completo e voltou a fazer com que ela se engasgasse quando o pau bateu desajeitado no fim do céu da sua boca. Ela se ajeitou, segurando as coxas do maior e tentou engolir mais, mas não conseguiu. Uma das mãos dele foi para a região de trás de sua cabeça e ele forçou ainda mais do caralho duro em sua boca, mas ela tossiu, apertando com força a sua coxa e cravando as unhas ali para o afastar. Ele obedeceu.
— O que foi? Não aguenta tudo?
A provocação fez com ela o olhasse com raiva, mas a mulher logo passou a língua pela glande rosada que o homem tinha, apoiando a mão direita pela base do pau duro feito aço, brincando como se fosse o doce mais gostoso do mundo e foi quando ela sentiu o leve salgado em sua boca. A excitação foi tamanha que passou a escorrer com o pré gozo de , lubrificando toda a cabecinha rosada do seu caralho.
As mãos do loiro envolveram o cabelo castanho da mulher e ele a puxou pra cima com força, a arrancando um gemido de dor. Sua boca buscou a dela com mais urgência, precisando sentir a língua dela o mais rápido que podia. Ele precisava dela como pessoas precisavam de ar para respirar. não se afastou, apenas a soltou por segundos, utilizando uma das mãos para jogar todos os papéis e materiais da mesa no chão. Ele a segurou com uma das mãos e a deitou sobre a mesa, encaixando-se entre suas coxas. Seu pau roçou pela virilha da morena, esfregando a umidade do tesão que ele sentia. A mão direita do homem deslizou pela barriga desnuda dela e encontrou sua calcinha preta, mas ele não a removeu. Seus dedos foram enfiados por dentro da peça, deslizando pelos lábios maiores de sua boceta, os abrindo em um jogo. O polegar então passeou pelo clitóris da jovem e ele massageou, apertando lentamente em círculos. Ela gemeu, jogando mais do corpo para trás.
— O que você quer? — ele perguntou, esfregando mais dos seus dedos na região encharcada da morena.
— Você sabe o que eu quero. — A resposta saiu em um suspiro e ele negou com a cabeça, fazendo um estalo rouco com a boca.
— Você precisa dizer.
O dedo médio dele passou a contornar os lábios menores de sua boceta e ele brincou com a entrada dela, dedilhando de forma calma. Observando cada expressão que ela deixava escapar em seu rosto. Vendo a expressão de prazer que ela fazia e os gemidos baixos que ela soltava.
— Eu quero você, .
— E onde você me quer, ?
A mulher se segurou, não queria dar o braço a torcer para ele, mas seu corpo falhou em segui-la, já que os mamilos rijos foram sugados para dentro da boca do loiro com uma fugacidade impressionante.
— Eu quero você dentro de mim, . — A resposta veio desesperada, irritada e de uma forma quase humilhada, assim como ele queria, e ele enfiou dois de seus dedos dentro dela, afastando a calcinha de renda para o lado, apenas para sentir o quão quente ela era.
— Implore — ele disse, curvando os dedos dentro dela e aumentando a intensidade de sua mão enquanto abafava a voz no mamilo da mulher.
— Por favor.
A ouvir suplicar tinha sido o alívio da noite inteira. Seus dedos entravam e saíam de forma lenta enquanto ela se contorcia e ele se esforçava para não parar os círculos com o polegar.
Não aguentando mais, o loiro se afastou dela. Sua mão abriu a gaveta e ele tirou de dentro um pacote de camisinha, rasgando-o para abrir. aproveitou para retirar a última peça de roupa íntima que lhe restava. O maior desenrolou o preservativo pelo comprimento do seu pau e, assim que a menor voltou a se posicionar na mesa, ele levou as mãos até a parte interna de suas coxas, abrindo as pernas dela para o acomodar ali. se acomodou, encostando as coxas na madeira da mesa e, com o auxílio da mão, posicionou o pau na entrada dela, enfiando-se por completo de uma única vez.
— Porra. — Foi a vez dela de xingar, gritando com a dor de o ter por inteiro dentro de si. A mão dele rapidamente abafou os lábios da morena, evitando que algum intruso entendesse o que estava acontecendo ali.
Os movimentos iniciaram lentos, mas profundos, e a cada vez que ele entrava por completo dentro dela, ela gemia contra sua boca. A mulher apoiou-se pelos cotovelos, a fim de alcançar a boca do maior e mordeu com força seu lábio inferior assim que as estocadas ficaram mais rápidos. Seu corpo subia um centímetro cada vez que ele metia com força e as mãos largas do homem a faziam voltar dois, sempre que ele puxava o quadril dela em encontro ao dele, entrando mais e mais dentro dela.
As mãos dela buscavam as costas dele e as unhas se cravavam ali com a mesma força que ele a prendia na mesa com as mãos, entrando e saindo de dentro dela com força, causando-lhe a melhor dor que já sentiu na vida.
era grande e chegava até o fim com dificuldade, a causando dor, mas, acima disso, era a sua grossura que parecia lhe rasgar um pouco mais a cada vez que o mais velho metia. As mãos do homem alcançaram então os seios dela e ele os espremeu entre as mãos, apertando os bicos enrijecidos com força e os puxando. gemeu alto, mordendo o lábio numa tentativa falha de abafar os sons que escapavam de sua boca.
... — ela choramingou em um tom baixo, mas ele não quis ouvir.
— É pra doer mesmo — resmungou, saindo de dentro dela quase por completo apenas para enfiar o pau inteiro mais uma vez. A mão esquerda alcançou o pescoço delicado e ele apertou, reduzindo o ar que ela soltava e voltando a encostar seus lábios nos dela.
A resposta da menor foi uma mordida, forte o suficiente para fazer com que ele sentisse o gosto de sangue.
— Merda de sala escura — ele resmungou, desejando vê-la exposta assim no claro que a sala não trazia com eficácia.
O homem voltou a buscar os lábios da mulher, dessa vez de forma mais bruta, firme e quase alucinada. A urgência que tinham evitado dava claros sinais de que não podia mais ser adiada. Ele não só a queria, ele precisava dela e quanto mais a ficha caía, pior ele ficava.
As mãos dele apertaram a carne do quadril dela com força e ela gemeu alto quando ele entrou de uma única vez. Ia à loucura cada vez que ele saía e voltava a se enfiar dentro dela com força. O barulho dos corpos ecoava pelo lugar, a boca dela se abriu em busca de ar e os movimentos rápidos do homem se tornaram cada vez mais frenéticos. Ele acomodou o rosto na curva do pescoço dela e aproveitando a altura dos seus rostos, a mulher mordeu com força o ombro do loiro, deixando marcada a parte branca da pele como uma forma de se auto aliviar da dor prazerosa que sentia. Em resposta ao ato dela, o homem voltou a descer sua boca para um de seus seios, chupando, mordendo, sugando e lambendo. Marcando a pele de enquanto ele continuava o vai e vem dentro dela.
— ela choramingou e, entendendo aquilo, o homem continuou a velocidade dos movimentos, brincando ainda mais com a boca em volta do seu mamilo. Ele levou uma das mãos e diminuiu a velocidade para vê-la se contorcendo abaixo dele, gozando ali, com o seu pau ainda dentro dela.
A visão foi o suficiente para o homem e, assim que ela terminou, ele voltou ao ritmo anterior, gozando ao som dos gemidos cansados dela. Ele demorou alguns segundos dentro dela, dando uma última investida com o quadril e a largou, tentando recuperar o seu ar.
A sala cheirava a sexo, ao sexo deles, e naquele instante ele entendeu que ele não tinha fodido ela e sim ao contrário. Porque ela era seu novo vício.


Capítulo 16

— Bom dia. — O tom de voz rouco dela ao entrar na sala do agente era o suficiente para deixar explícito que a morena ainda não havia se acostumado com a situação entre eles.
a encarou, prendendo o riso assim que viu um roxo causado por ele no pescoço da mais jovem. A maquiagem podia passar despercebida para alguns, mas não para quem tinha causado o hematoma.
— Bom dia, . — A resposta de todos os demais que já se encontravam ali tinha sido um tanto quanto reconfortante. Ultimamente ela estava gostando mais de ver quando tinham pessoas perto dos dois, era mais fácil resistir ao ímã que a puxava para ele de maneira embaraçosa.
— Temos um suspeito. — A voz de Bastien, informando-a do ponto em que estavam, a tranquilizou. — Robert algumacoisa. Ele é médico aposentado, está com cinquenta anos e possui um hospital desativado. Para mim, é o suficiente para começarmos a investigar.
A morena concordou, eram realmente boas pistas. Embora ele não se encaixasse na idade definida pela equipe, ele podia facilmente ser alguém que fornecia acesso aos medicamentos ou até mesmo ao espaço abandonado do seu trabalho anterior. , que parecia mais mal humorado que o normal, apenas concordou com a cabeça.
— Zyon, você pode hackear tudo. Conta bancária, sistema do hospital, câmeras ao redor da casa dele para ver quem entrou ou saiu no último mês e cruze com crimes no nosso sistema de dados. — O moreno concordou com a cabeça, girando na cadeira de forma divertida e quase infantil. — Helene, você pode ir atrás de funcionários antigos? Ver se ele tem filhos ou fornecedor ativo que possa nos dar alguma direção? Bastien vai com você. — A última frase não parecia o pedido, mas o moreno concordou de forma sorridente. Era inegável a queda que tinha pela ruiva. — , você fica comigo. Precisa falar com imprensa sobre o último vídeo.
O amaldiçoando com a cabeça, a menor concordou, encolhendo os ombros e cruzando os braços. Ela até tentava resistir a ele algumas vezes durante o dia, mas a proximidade dele a impedia de fazer isso. Por sorte, ela não tinha que lidar com Kyle, que estava de licença remunerada por problemas familiares. Por mais que não fossem namorados, ela ainda sentia que precisava dar algumas explicações ao amigo assim que ele voltasse.
— Você tá bem? — A pergunta veio assim que ficaram a sós na sala. Ela concordou com a cabeça, mordendo o lábio inferior enquanto ele se aproximava, após fechar a janela.
— Sim. E você? — Sem responder, as mãos dele se espalmaram por volta da bunda dela, apertando vagarosamente enquanto a puxava para perto de si. mordeu o lábio inferior do homem, puxando-o entre os dentes e selando seus lábios. — Achei que você fosse um pouquinho mais profissional.
Ele sorriu, embora a alfinetada o atingisse exatamente onde doía.
— Sinceramente, ... — O loiro começou, passando uma mecha do cabelo castanho dela para a parte de trás de sua orelha. — Desde que você chegou à minha vida, eu nem sei mais o que eu sou, mas tenho muitas ideias do que quero fazer.
Após transarem em cima da mesa, os dois perceberam que não existia a menor possibilidade de evitar a repetição. Tinha sido bom demais para ser uma vez só. Apesar de ainda não manterem uma relação boa, quando se tocavam todas as diferenças iam embora. Cada vez que o desejo surgia, o sentimento de desconfiança fugia.
Como se caísse na realidade, o loiro se afastou dela. Novamente tinha se esquecido do seu trabalho e de onde estavam. Dessa vez, o prédio não estava com poucas pessoas, todos estavam ali, prestes a ver onde suas mãos e sua cabeça estava se metendo.
— Desculpa — ele pediu, se afastando. — Isso não pode mesmo acontecer. — A forma desesperada que ele praguejava baixo ou tentava se afastar era uma diversão para a mulher. Ela não gostava que ele se afastasse, mas era uma diversão sem tamanho saber que ela estava o confundindo. Principalmente pela reciprocidade que aquilo era.
Os sentimentos confusos ocuparam a sala. Um era atraído pelo outro como dois polos de diferentes forças gravitacionais que se puxavam e ela não entendia bem como isso funcionaria a partir dali. Em um momento, queria distância e, um minuto depois, precisava dele próximo.
— Foda-se. — Ela se aproximou mais, praguejando e se conformando em vencer a luta interna que travava. Os lábios dela se aproximaram dos dele, iniciando um beijo lento e, antes que pudesse evitar, a língua dele buscou a sua sem pudor. A morena não permitiu que o beijo continuasse, se afastando tão rápido quanto o desejo a invadiu.
Antes que ele pudesse reagir, foram bruscamente separados por batidas na porta. A respiração ofegante os entregava, o desejo podia ser praticamente palpável e qualquer pessoa com o mínimo de inteligência conectaria os dados. então começou a falar, utilizando-se da tática mais antiga do mundo: se não quer que as pessoas pensem, então não as deixe ter tempo para tal.
— O vídeo... — voltou o foco ao trabalho enquanto regulava a sensação. — Zyon conseguiu encontrar de onde veio?
— Não. Foi gravado de uma máquina antiga e não tem a codificação que os aparelhos deixam da fita.
O desejo deu espaço à frustração do homem. Mais uma vez ele sentia que estava andando em círculos. Na última semana sido havia vazado um vídeo onde a ruiva sumida estava presa por correntes, o lugar era irreconhecível e por isso precisavam tanto investigar o médico aposentado. O lugar parecia abandonado e em cidades pequenas não era tão comum ter prédios assim, menos ainda do tipo que tinha espaço para correntes de metal.
Da mesma forma que foram interrompidos, foram deixados a sós. Billy entrou rápido, deixando-lhes outro envelope. Mais uma provocação direta ao agente. De forma inevitável, o semblante do maior mudou, voltando a ficar frio e sombrio como de costume.
— Sinto muito que o caso não está indo da forma que você queria. — Os lábios do homem se comprimiram em uma linha fina, ouvindo o timbre receoso da mulher e ele deu de ombros. Voltando a olhar os papéis dentro de uma das pastas amarelas da mesa de reunião redonda na sala dele. Quando ele não estava em desespero por ela, ele estava inteira e completamente indiferente, e isso a matava lentamente.
— Eu comprei uma casa aqui. — Ouvir a frase fez o coração da mulher palpitar, a troca repentina de assunto havia deixado-a confusa. O que comprar uma casa queria dizer? Ele pretendia ter moradia lá, no fim das contas? A mulher engoliu as dúvidas, vendo o rosto neutro do homem em relação à confusão dela.
— Você... Quê? Quando? — A garganta tentava não se fechar para que a pergunta saísse coerente. Apesar da relação confusa que esquentava e esfriava em uma velocidade assustadora, mesmo que ambos negassem, eles tinham um certo sentimento surgindo aos poucos, embriagando-os de confusão.
— Dois dias atrás. — A voz era implacável e fria como sempre, e mesmo ela sendo uma ótima jornalista, não conseguia ver o suficiente por baixo daquele timbre. — , falando sério... — A voz voltou a ser séria e ela cruzou os braços, mordendo o lábio inferior de forma leve. — Isso que está acontecendo... Por favor, não crie esperanças comigo.
— Claro, porque você é o grande fodão que todas se apaixonam — murmurou de forma debochada em resposta a ele. O maior arfou, deixando o ar sair pela boca e se aproximou dela, ficando em sua frente, a mão dele passou pela cintura dela e ela manteve os braços cruzados.
— Não é isso que quero dizer. — A menor revirou os olhos e ele abaixou a cabeça, encostando a testa na dela. — Você é incrível e é impossível que eu não fique de quatro a cada sorriso teu, mas eu não vou entrar em um relacionamento. Eu não sou bom controlando sentimentos ou protegendo pessoas, então, para a nossa saúde mental, física e emocional, apenas não espere nada de mim. E eu não esperarei nada de você. Transar com você me deu a melhor sensação que eu já tive em anos e eu gosto de você, mas mesmo que eu fique completamente apaixonado, eu não vou conseguir te amar e você merece alguém que ame cada pedaço da pele perfeita que você tem.
Ela engoliu a seco, sabendo que ele seria sua ruína, muito além do seu histórico de sempre fazer as escolhas erradas quando se tratava de um relacionamento, ela já sentia seu coração palpitando quando a tocava. Sentir as mãos dele a fazia se arrepiar e toda a área sensível de sua carne conhecia quando eram os toques dele ou quando eram os de outra pessoa. Ela também não queria se apaixonar, mas como controlaria isso?
— Eu não me apaixonaria por você nem que você fosse o último homem da face da terra, . Não ache que porque fodemos bem, isso representaria algo. — A voz dela saiu firme, mas todo o seu corpo gritou em dúvida: mentirosa.


Capítulo 17

— Pai, por favor — a morena resmungava em um tom de voz baixo, tentando ignorar a mentira que estava entalada em sua garganta. — Eu já falei. Nós não temos nada.
O jeito preocupado de Billy, no entanto, não diminuiu com a negação da filha. Ela mordiscou o lábio inferior com certa força, o que era comum quando estava nervosa e quando estava mentindo e ele soprou o ar exaurido.
— Eu não quero que você se machuque, filha. — O coração da pequena mulher apertou levemente. Ela sabia o medo que o pai tinha de perdê-la porque ela era, simplesmente, a única pessoa viva da família dele. — Prometa que não vai se relacionar com o e eu fico calmo.
— Você sabe que isso é um absurdo, não sabe? — A pergunta saiu revoltada, mas a verdadeira insatisfação vinha dela com ela mesma. Ela não conseguia prometer isso porque, de alguma forma, não sabia diferenciar o que o tremor em seu corpo significava quando estava perto dela, a tocando.
— Eu também já fui jovem e eu sei o que acontece quando duas pessoas passam a compartilhar muito tempo juntos. Eu vejo a forma que vocês se olham. O Kyle é um cara legal, você devia namorar ele e não um estranho com passado duvidoso.
Billy normalmente não se envolvia na vida da filha e muito menos no lado amoroso dela, mas a sua intuição gritava que ela estava se metendo em encrenca desde o dia que a trouxe para fazer parte da equipe do FBI. O sentimento era que ela escaparia de seus dedos sem que ele pudesse fazer nada e ele não tinha sequer argumentos pra isso. Sabia que não era um louco psicopata, mas ele frequentemente estava rodeado de gente assim.
— Eu não sou uma adolescente, pai. — A voz cansada dela demonstrou que não estava mais afim de conversarem e o homem aproximou-se da filha, deixando um abraço rápido e um beijo em sua testa. — Eu vou ficar bem, eu prometo.
Apesar da promessa, o que realmente havia chamado sua atenção era o passado duvidoso mencionado por seu pai. Se Billy soubesse de algo, não lidaria como uma dúvida e por alguns segundos sua intuição gritou que tinha algo mais ali. Algo que ninguém a contaria. Algo que não estava correto, havia uma peça que ela não estava enxergando e a simples sensação disso a incomodou.
— Pessoal? — Helene chamou, do lado de fora da sala do detetive local e, acompanhado de , ele foi para o círculo comum onde todos estavam. — Temos mais uma boneca.
A morena desviou o olho para , do outro lado da sala. Sabia o quanto aquele caso mexia com ele, conseguia perceber de longe o ódio que sentia quando ele travava o maxilar o suficiente para marcar cada curva de seu rosto, embora a expressão ainda fosse neutra.
Cada corpo que aparecia era uma mensagem dele para .
Cada boneca significava um “ganhei”.
— Algo novo? — A voz dele ocupou a sala.
— Não, o mesmo de sempre.
Não perdendo tempo, todos foram até o lugar que o corpo havia sido descoberto, mais uma vez a vítima tinha sido posicionada de forma estratégica em um lugar que remetia a infância. Dessa vez, o ponto de atração tinha sido uma loja de roupa infantil, as cores do lugar eram harmônicas em meio aos tons pasteis do espaço e chegavam a combinar com a roupa verde suave que a boneca trajava. Os cabelos estavam arrumados com uma franja e havia um chapéu em sua cabeça, a maquiagem típica dos anos 70. Os agentes colocavam as luvas feitas de látex e Bastien foi o primeiro a se aproximar do cadáver, tirando o chapéu com curiosidade.
se aproximou do amigo, os lábios espremidos com uma raiva latente. Tinham sido quatro vítimas ao total desde que ele chegou e, mesmo assim, as pistas não davam em lugar nenhum. Os suspeitos tinham álibis, não possuíam motivação ou não se encaixavam no perfil. Tudo se tornava absurdamente mais difícil com as críticas da mídia, que apesar de tentar contornar, ainda chegavam até o loiro.
— Merda. — Bastien chamou atenção para si e, ao se aproximar, entendeu o motivo da surpresa. — Se liga nisso. — Ao contrário das outras, essa tinha uma coisa diferente. Seus cabelos tinham sido arrancados e implantados depois. Na cabeça dela, os fios estavam colados em buracos pequenos. As feridas em algumas áreas da cabeça demonstravam que os ferimentos tinham sido feitos com a mulher ainda viva. — O que acha que foi?
olhou um pouco mais de perto, abaixando-se e erguendo os fios ruivos a fim de analisar com maior precisão.
— Parece trabalho de furadeira.
A náusea tomou conta do corpo de , embora ela se segurasse ali. Seu contato não era direto com as cenas de crime, mas ela gostava de entrar antes para olhar o lugar e não ter nenhuma informação imprecisa quando falasse de forma coletiva com a população. A cada vítima, a crueldade aumentava e ela se perguntava se isso era normal, embora soubesse que sim.
Novamente, não havia janela quebrada, porta arrombada ou digitais no espaço. Ele tinha conseguido entrar e sair da loja sem deixar rastros, com um corpo de aproximadamente 1,65.
— Ele passou mais tempo com ela, contando do sequestro para cá. Talvez a perícia consiga achar algo. — O loiro usou a pouca esperança que ainda tinha, liberando a cena para os peritos. Eles precisavam de um DNA ou de alguma pista quente e cada dia isso parecia ficar mais distante da realidade.


Capítulo 18

— Acho que sou do tipo incompetente. — olhou o homem confusa, puxando os lençóis para cobrir o corpo.
— Do que você tá falando? — Ele sorriu com a confusão dela, a puxando para seu corpo e a aninhando entre seus braços.
— Quando nos conhecemos, você perguntou que tipo de policial eu era. Acho que sou o tipo incompetente.
Entendendo do que se tratava, ela apoiou a cabeça no peito do loiro, sentindo o coração dele bater. sabia o quão compulsivo podia ser nesse caso e entendia que era o maior de sua carreira, mas, acima disso, era o único que ele não conseguia solucionar. A sensação de incapacidade que o invadia era perceptível a cada olhar frustrado, revirar de olhos e cerrar no maxilar. Ela conseguia o ler tão bem que quase não precisava de um manual.
— Você não é incompetente. — A vontade de chamá-lo de amor surgiu e ela a prendeu no meio de sua garganta. Por mais que fosse a primeira vez dele demonstrando vulnerabilidade, isso não era um sinal de que agora eles seriam um casal. — É um caso difícil e você está lidando com um filho da puta esperto e, ao meu ver, acho que está indo muito bem. Você estuda todas as variáveis, pensa em cada passo que ele pode ter dado ou como pode ter dado. Ele pode ser esperto, mas você é brilhante. Você vai pegar ele. — Ao concluir, o homem se encolheu. Apreciava as palavras dela, no entanto, não acreditava tanto assim. — Posso te perguntar algo? — Um silêncio ocupou o espaço e não respondeu, fazendo com que a mulher tomasse a resposta que queria. — Por que você saiu do caso três anos atrás?
A pergunta o pegou de surpresa e ele à soltou, se levantando da cama. As mãos pousaram nas pernas e ele voltou a se fechar no mundo dele.
— Você tem tornado esse caso mais leve. Acho que não desmoronei ou surtei ainda porque você está comigo, mas sabemos que não vai durar pra sempre, então não insista em respostas passageiras do que houve porque isso não vai nos levar a lugar nenhum.
O coração de ambos doeu com a resposta, a realidade das palavras era cortante e por mais que não fosse um romance proibido, ainda assim parecia errado desde o primeiro dia. Algo entre eles não estava certo, alguma coisa pequena e silenciosa que estava oculta no escuro dos segredos do homem, mas ainda assim era sentida.
— E aí está o babaca mais uma vez — ela reclamou, indo para o lado oposto da cama procurar as suas peças de roupa.
fechou os olhos com força, voltando para a cama e a puxando para cima dele, não permitindo que ela achasse ou vestisse as suas roupas. Ele não percebia quando mudava de humor e não entendia o quanto conseguia ser duro em alguns momentos, mas sentia uma culpa sufocante quando ela o acusava de ser babaca. Metade de si odiava o fato de machucar ela com as palavras e a outra metade sabia que ele realmente era um babaca e que quanto mais cedo ela percebesse isso, melhor seria para os dois.
— Desculpa.
Apesar do pedido ser sincero, o lado defensivo da morena entrava em cena agora, tentando retribuir a dor que ele tinha feito-a sentir com a resposta curta.
— O caralho. — A morena tentava se debater nos braços do homem, o empurrando, mas ele a segurou com mais força. — Você é um babaca! Acha que é só ser a porra de um escroto e depois pedir desculpa? Eu não sou a sua inimiga, cacete. Eu não tô aqui pra aguentar as suas mudanças de humor e nem a sua indecisão. O que de tão ruim você esconde que muda sempre que um assunto delicado é tocado, hein? Você pode não ser incompetente, , mas você é um covarde.
O tom de voz bravo dela o batia de forma certeira e as palavras o estremeciam. Aos poucos, a morena parou de se debater, sendo acalmada pelo perfume dele. Ela jurava que não podia gostar e odiar alguém ao mesmo tempo, mas era o seu karma. Ela atiraria nele se tivesse a chance, mas também morreria para salvá-lo se fosse necessário.
— Eu não gosto de falar do passado. Não ajuda no presente.
O tom de voz agora era suave, calmo, como quem sabia que tinha sido uma péssima companhia. Ele segurou a mulher pelas coxas, a puxando para cima de si e ela montou nele com facilidade. As mãos do homem passaram a explorar o corpo menor dela de forma possessiva, como ele sempre fazia, explorando cada curva, cada região. A morena não ficou atrás, envolvendo as mãos menores pela barriga dele. Ela parou o dedo do lado esquerdo, dedilhando uma cicatriz do que parecia ser de uma facada.
— Com quantos anos foi? — A pergunta o fez sorrir e ela apenas arqueou uma das sobrancelhas. Quando ele era explosivo sem motivo aparente, ela ganhava a chance de fazer e perguntar o que ela quisesse pelos vinte minutos que a culpa dele durava.
— Dezessete.
Antes que as mãos dela descessem, o homem a virou na cama, invertendo as posições. Ele agora estava por cima dela. Os lábios dele começaram em sua boca, beijando-a, em seguida, trilharam um caminho por seu pescoço e parou a boca em um dos peitos dela, enquanto apertava com força o outro. O chupão que deixou a região roxa causou um gemido na mulher e, não se dando por satisfeito, ele desceu os lábios, arrastando-os pela pele dela em direção à barriga e descendo mais, até deixar o rosto no meio das pernas da morena, próximo o suficiente da boceta dela.
abriu as pernas o suficiente apenas para ter a visão dele ali, entre suas coxas. Os lábios do loiro sorriram admirando o corpo da morena, os seios cheios e perfeitos da pele bronzeada. De maneira urgente, o loiro passou uma das pernas dela por seu ombro e tomou a boceta em sua boca.
Em gestos lentos, os dentes roçam pela região, devolvendo o que a mulher fazia com o seu pau, mas sua língua se encaixou no clitóris da morena. Ele esfregou a língua na pele sensível, mergulhando-se cada vez mais entre as pernas dela. Faminto.
A menor rapidamente segurou um punhado de seus cabelos ralos com a mão, puxando e o forçando mais para si enquanto jogava a cabeça para trás, contorcendo-se no colchão.
... Merda — ela gemia o nome dele, exatamente como ele gostava que ela fizesse.
Ele expirou com força, buscando não apenas ar, mas o cheiro dela. Aquele aroma que o deixava fodido, alucinado. O homem mordiscava com suavidade, ele lambia e chupava em círculos, sugando de forma suave. Sua mão direita posicionou-se acima da perna dela, passando pela barriga de forma que conseguisse abrir mais da boceta da mulher para ele e a esquerda preencheu-a com dois de seus dedos.
O loiro começou um vai e vem com os dedos, sem deixar de fazer com que sua boca a reivindicasse.
— Você tem uma boceta tão gostosa.
A voz abafada dele a causava os mais intensos arrepios e ela ofegava, gemendo, observando-o lamber e devorar cada centímetro, com o olhar fixo ao dele.
Os músculos de começavam a falhar de forma lenta, formigando em cada região de seu corpo e aumentando a dificuldade que ela sentia em respirar, mostrando o orgasmo próximo. Observando o prazer crescente dela, o homem aumentou a velocidade de seus dedos e ele a abocanhou com ainda mais vontade. Em minutos, ela estava gritando o nome dele, tremendo na cama e se contorcendo. Ela quase fechou as pernas com o orgasmo, mas ele abriu mais, aproveitando a situação para lamber todo o líquido que a umedecia com o orgasmo.
Quando ela gritou uma última vez, demonstrando todo o cansaço, ele subiu o corpo e voltou a ficar em cima dela, beijando-a para que ela sentisse o próprio gosto.
— Nada se compara ao teu gosto em minha boca.
Ela sorriu, se aninhando nos braços dele e tentou se controlar para que seu coração não confundisse a calmaria do peitoral dele com a sua casa. No fim, ela sabia que, por melhor que fosse o sexo dos dois, a relação de amor e ódio jamais seria suficiente para dar algum espaço para si no coração do homem.


Capítulo 19

— A gente usou proteção? — Ela o olhou confusa, demorando a entender.
— Acho que até a segunda vez sim. — O sorriso que o desnorteava era liberado da boca dela como se fosse nicotina. Viciante e destruindo sua saúde. — Eu tomo anticoncepcional desde os catorze anos.
O alívio fez-se presente nos lábios do homem e ela sorriu enquanto o chamava para a cama novamente. Por mais que ainda tentassem manter a relação em segredo, já não se importavam tanto em demonstrar uma ou outra demonstração de afeto. Ela conseguia ver diariamente a luta dele quando ele tentava não chegar perto dela, ou não pegar sua mão, ou até não deixar um beijo em sua testa como costumava fazer. E ela também conseguia ver a derrota constante. ainda era uma muralha, mas, dia após dia, os tijolos iam caindo aos pés de . E eles ainda brigavam, bastante. Além da muralha que envolvia os sentimentos dele, possuía uma passagem obscura coberta de neblina que a assustava. Ela confiava em seus toques, confiava em seus beijos, confiava em sua boca, mas era impossível confiar nele. O que quer que ele escondia, ainda a assustava.
— Você é tão deliciosa que chega a ser irritante.
Ela gargalhou com o elogio, acariciando os fios de cabelo loiros do homem e desenhando formas aleatórias em seu ombro desnudo.
— Você ainda me odeia? — A pergunta carregava um tom inocente na voz e a apertou mais em seus braços. Gostava dessa versão dela. Quando ela não era a jornalista petulante que precisava arrancar verdades com dor. Quando ela era apenas ela.
— Eu nunca te odiei, . — A resposta foi sincera, fazendo-a fechar os olhos conforme ele distribuía beijos pelo seu rosto. — Eu só te acho incrivelmente fastidiosa.
A mulher segurou o riso, deixando um tapa no mesmo lugar que desenhava anteriormente e ele riu, deslizando a ponta dos dedos pelo braço dela. não lembrava quando eles tinham começado a trocar carícias. No começo era só sexo, o sexo se tornou frequente e agora estavam juntos, o que era comum em boa parte das noites. Eles ainda brigavam e conseguiam se alfinetar o tempo inteiro, mas agora também tinham conforto um nos braços do outro e isso era surpreendentemente bom. Ela não sabia se o amava e ele não sabia se correspondia ao que quer que ela sentia, mas eles se gostavam muito para acabar o que tinham começado.
— Quando a gente se tornou isso?
— Eu te avisei que no momento que deixasse eu te foder, você seria minha. — O tom de malícia na voz dele se misturou com verdade e ela engoliu o desejo de falar que era dele bem antes dele a foder, porque ele ocupava seus pensamentos antes de tê-la jogado naquela mesa. Talvez a raiva que ela sentia sempre tivesse sido a atração que ela não conseguia negar nem mesmo a si mesma.
— Você se arrepende?
— De forma alguma. Você?
Ela nega, o fazendo liberar um sorriso presunçoso.
— Acha que deveríamos contar?
O interrogatório continua, vindo por parte dela e ele sorri. Demorou a se acostumar com as perguntas que ela fazia. No início achava que era para o provocar, mas com o tempo em que se conheciam mais, pôde perceber que isso vinha como uma forma de não manter neblina nos seus pensamentos. não gostava de deduzir, ao invés disso ela queria respostas claras e coerentes. Parte dele era grato a isso, ele tinha muita dificuldade em se expressar e ela trazia a comunicação à tona sem receio algum.
O maior deu de ombros, ajustando um pouco mais do lençol branco pelo corpo desnudo da mais nova.
— Eles já sabem. — arregalou os olhos e ele beijou a sua bochecha, bocejando com o sono que começava a surgir. — É humanamente impossível alguém não notar a forma que eu te olho, .


Capítulo 20

Após muita insistência do homem, eles acordaram que iriam juntos para o escritório. Não tinha mais como negar o que quer que acontecia entre eles e possuía uma opinião muito definitiva quando se tratava sobre segurança. Quanto mais se envolviam, mais paranoico ele ficava.
foi a primeira a acordar e parou alguns segundos, observando a expressão serena que o maior fazia enquanto dormia. Ele era realmente lindo, a barba por fazer expunha o cansaço do caso que, após quase dois meses, continuava sem relação e sem novas vítimas, ao menos. Com o tempo, passou a entender que, para o FBI, não ter mais vítimas tinha o lado bom e o ruim. Por um lado, ninguém estava declaradamente morto. Por outro, era impossível avançar no caso sem mais mortes.
A mulher vestiu uma das camisas do loiro e decidiu conhecer um pouco mais a casa, fazendo-lhe um belo café da manhã. Não apenas por ele, mas porque ela própria estava faminta.
A casa era grande, tinha um certo modernismo embora por fora tivesse uma fachada mais tradicional. Ela foi ao banheiro, cuidando de toda sua higiene matinal e então saiu do quarto, andando pelo corredor. Como se fosse puxada para o lugar, ela parou em frente a uma porta grande de madeira. Os olhos pararam sobre o formato, era diferente das outras e ela se perguntava como nunca tinha notado antes, ou pelo menos como nunca foi tão curiosa em relação àquele cômodo. Eles tinham decidido não se negarem o prazer que sentiam e isso os fez ter encontros contínuos por, pelo menos, quinze dias. Em quinze dias ela não havia percebido aquela porta, mas era puxada para ela de uma forma tão repentina que seu corpo estremecia a cada passo. Os lábios se formaram em um sorriso porque, de alguma forma assustadora, sentia que descobriria um segredo de ali e o seu lado sagaz logo tentou abrir a porta.
Fechada.
Era raro que as portas estivessem fechadas, tinha um certo problema com isso e odiava ficar trancado em lugares pequenos dentro de casa. Ouvindo sua intuição palpitar a cada batida de seu coração, ela se abaixou, verificando se havia alguma chave próxima. A frustração tomou conta de si quando ela não encontrou nada, então ela forçou mais um pouco a maçaneta.
— Que porra você tá fazendo aqui? — A mulher foi surpreendida com um susto quando apareceu atrás de si, bravo e com olhos sombrios. O azul dos seus olhos estavam quase que completamente negros e ela engoliu a seco quando ele apertou sua mão, removendo da maçaneta.
— Você está me machucando. — A voz saiu baixa e quando ele percebeu a força que empunhava sobre o pulso dela, o homem retirou a sua mão. A menor levou o punho em direção ao peito. Ele não havia a machucado, a força colocada não era tão grande, no entanto, ela não conseguia fingir que a áurea sombria dele a amedrontava.
De repente, ele não era mais apenas , era apenas alguém sombrio que a assustava. Ela se encolheu com o pensamento, ignorando o alerta que surgia em sua mente. Certa vez, em um livro que ela leu, havia memorizado um trecho onde a mulher repetia para si mesma “a barba dele nem é tão azul assim”. Na história, ela tinha se envolvido com o barba azul e, conforme se relacionava, a presença nebulosa do vilão se tornava menor, e menor, e menor. E se ela estivesse trilhando o mesmo caminho? E se tivesse uma barba azul?
Em minutos, ele controlou a respiração dele, afastando-se dela. Seus olhos se fecharam e ele fazia um exercício estranho de respiração.
— Eu... eu sinto muito. — A voz era sincera, mas nem mesmo o tom doce conseguia afastar o alerta que piscava em luz neon na cabeça da mais nova. — É o meu escritório e nele tem uns casos pesados. Confidenciais. Eu não quero você envolvida nisso.
A mulher concordou com a cabeça, sem saber o que falar. Estranhava a proteção dele, às vezes, mas aquilo? Tinha sido demais. Ela tinha visto bonecas humanas, costuradas, rasgadas, perfuradas, montadas e vivas. O que mais ele tinha medo que ela olhasse? O que mais ele trancava até de si próprio?
Ainda amedrontada, a morena permitiu que o homem se aproximasse e ele a envolveu pelos braços. O nariz dele se afundou nos fios de cabelo castanhos da mulher e ele exalou o seu aroma de baunilha.
— Eu não sei o que eu faria se te perdesse. Você é meu ponto de paz.
Apesar de ainda não estar calma, as palavras dele a confortaram com maestria e ela se permitiu fechar os olhos novamente. Não era como em um filme de terror onde precisava lidar com o que estava atrás na porta para ser uma heroína, era a realidade e ela entendia o quanto a realidade podia ser pior. Certo?
— Se você encostar em mim de novo, da forma quase agressiva que fez, eu vou matar você.
Ele riu, mas sabia que ela estava sendo sincera e ele não tinha a menor intenção de machucá-la de maneira alguma. O desespero tinha sido apenas uma sensação rápida e momentânea que ocupou as fibras de seu corpo a fim de protegê-la de uma verdade que nenhum dos dois podia lidar agora.
— Você quer tomar café no caminho? — ele perguntou, enquanto eles voltavam para o quarto de mãos dadas e ela deu de ombros, negando com a cabeça.
— Não mais, eu tô enjoada. — Ele tinha a deixado assim quando apareceu de repente, com os olhos tão sombrios quanto um pesadelo.


Capítulo 21

— Você já conheceu um lado de que não gostaria?
Helene encarou a morena, umedecendo os lábios, e deixou uma risada torta escapar. não reconheceu sua própria voz, ficando tão surpresa quanto a ruiva.
— Não faça isso com você mesma.
O alerta era sincero e a morena apenas se encolheu, bebendo mais do café em sua mão. Ela tinha se aproximado bastante de Helene desde o último caso e, assim como todos, ela também alertava para que não se envolvesse com . Ela entendia isso, é claro. Não tinha como dar certo, quando o caso fosse encerrado, ele iria para longe, ele já deixou claro que não teriam um futuro, no entanto, ela ainda imaginava um. Às vezes. Bem raramente.
— Há quanto tempo vocês se conhecem?
— Oito anos.
— Ele entrou com vinte e cinco?
A ruiva deu de ombros, concordando com a cabeça. tentava montar em sua cabeça uma justificativa plausível para não ceder e apenas se entregar a ele, como já vinha fazendo. Dez anos de diferença não era sequer uma hipótese plausível. Os lábios dela se comprimiram quando percebeu o que estava fazendo. As perguntas que não conseguia responder com ele, ela pegava com um dos amigos e isso a fazia se sentir mal.
Eles não estavam juntos e ela sabia disso, mas tinham um envolvimento. Eles estavam transando e o acesso à casa dele já tinha se tornado de sua habitualidade, então por que droga ele ainda escondia detalhes da vida dele? Ele não confiava nela o suficiente? Sua mente voltou para o período da manhã, quando ele a assombrou. A raiva que ele tinha em seus olhos era assustadora e sua mente não conseguia sair daquele momento. Ela repetia como em um looping. Entendia que era proteção, mas era só uma porta. Ele não devia ter reagido daquela forma se fossem apenas casos. Não fazia sentido.
? — A voz da mulher parecia insegura, mas ela continuou assim mesmo. — Eu não quero ser uma desgraçada, mas não acho justo com você. Ele te contou que... se o caso não tiver atualizações, nós iremos embora no próximo mês?
O peito da morena pesou com dor, aguda e dilacerante. Partes do seu corpo se desmontaram com a notícia e ela percebeu pela primeira vez os próprios sentimentos. Sua mente passeou pela regra e a relembrou, como a porcaria de um gravador. Não se apaixonar era uma ova. Ele iria embora e não contaria para ela? O enjoo voltou a ocupar o seu estômago, subindo pela sua garganta.
As sensações a sufocaram e o pensamento a bombardeou, perguntando-se porque ela se sentia assim, tão mais vulnerável. Suas mãos ficaram frias e ela levantou de forma rápida. Precisando sair dali o mais rápido possível com o que pairou em sua mente. Porra.
O seu telefone tocou, a despertando dos pensamentos e ela atendeu o número desconhecido, sentindo o seu coração palpitar.
?” A voz não era desconhecida, mas ainda assim ela não conseguia associar o tom a um rosto. “Desculpe te ligar tão cedo, você está bem? Merde, eu descobri uma coisa e... eu preciso te ver.”
O sotaque, com os erros das palavras, logo a recordou de Simon e ela respirou fundo, sentindo toda a curiosidade que tinha aguçar os seus sentidos. O loiro que compartilhava a cama com ela à noite a chamaria de irresponsável se ela aceitasse o encontro com um desconhecido, por isso, sua mente achou que não era sensato informar a alguém sobre a sua saída. Se aquilo fosse uma pista, ela precisava descobrir qual era sem a exagerada proteção de ou de Billy.
— Lene, eu vou à farmácia, estou com dor de cabeça. Se o meu pai ou o perguntarem, você pode falar que volto logo para rever o caso? — Não questionando, a ruiva acenou.


[...]


Obrigade por ter vindo. — O tom de voz dele era suave, tal como ela se lembrava. A mulher arrumou o cachecol ao redor de seu pescoço e caminhou pelo corredor da farmácia.
— Você pareceu nervoso na ligação. — O maior acompanhava a jovem, com um envelope em mãos.
— Eu... acho que estou. Eu disse a vocês que contratei um detetive particular pra descobrir pistes da minha irmã, não disse? — A morena balançou a cabeça de forma positiva, lembrando que a conversa realmente aconteceu quando se conheceram. — Eu investiguei o seu detetive também. E você. E toda a equipe. — A confissão saía de forma tímida, possivelmente reconhecendo a invasão de privacidade que aquilo podia ser.
Entendendo aonde ele queria chegar, a morena engoliu a seco. Sua intuição lhe dizia que não tinha algo positivo vindo e ela sentiu seu estômago se revirar tão forte quanto a sua intuição lhe alertava.
— Ele não é quem vocês pensam, . — Um golpe lhe atingiu por completo e ela pensou no homem. Não precisava de muito para saber quem era o ‘ele’. — Ele mentiu várias vezes. Você sabia que ele é médico, sei que ele deve ter dito que iniciou e não concluiu, mas ele se formou nisso. Ele é médico, assim como o suspeito. Ele te contou que ele morou um tempo na França? Que os pais dele possuem uma rede de hospitais por tode o mundo?
o olhou assustava, sendo incendiada a cada pergunta. Os lábios dela se comprimiram e ela se esforçou para não chorar, ainda que o nó em sua garganta se tornasse cada vez mais forte, desesperador e sufocante.
— Como... como você tem essas informações, Simon? — O desespero tomou conta de si. Eles não tinham divulgado características à imprensa. Sua mente tentava raciocinar de forma rápida e nada parecia encaixar. As mentiras de , o segredo que ele insistia em esconder... A riqueza de detalhes de Simon... O que caralhos estava acontecendo?
— Kyle é um amigo. — sentiu outra parte do seu coração quebrar. Kyle estava divulgando coisas? Por isso se afastou? A mente voltou para o vídeo vazado. Aquele vídeo nunca deveria ter chegado à mídia, ele foi vendido e não entregue. Por isso a mulher morreu quase que no dia seguinte. Era uma punição. — , o que eu quero dizer é que... eu acho que o pode ser o criador de bonecas.
A risada agora escapou dos lábios da mulher, se misturando às lágrimas que evitava deixar cair. Não, ele não era. Ela entendia o receio por todas as mentiras e semelhanças, mas ele não era capaz de fazer aquelas coisas com alguém. Ele não era um monstro. Mesmo não se abrindo com ela, ele era bom. Ele precisava ser.
— Você está ficando louco — defendeu, sentindo o seu corpo se inflar com raiva, substituindo aos poucos a dor de diversas traições. — Ele não é, é impossível.
— Eu não tenho como provar, é apenas uma dúvida. Você o conhece mais que eu, monte as peças. Apenas... preciso te entregar isso. Você decide o que vai fazer. Ele não chegou aqui no dia que disse, . Ele veio dois dias antes da primeira morte. Como ele saberia que alguém iria morrer dois dias antes? — As palavras do homem eram frias, cortantes e o pior de tudo: coerentes. — Me desculpe por ser eu a te abrir os olhos para isso, mas se foi ele que matou a minha irmã, eu mereço que a justiça seja feita. E você merece saber com quem está se envolvendo porque isso vai mudar a sua vida. — se esforçou para continuar em pé, não conseguia respirar. Seu estômago parecia menor que o normal. — Eu te vejo em seis. — Apesar da pouca intimidade ele se aproximou da menor, deixando um beijo no topo de sua cabeça e lhe entregou o envelope amarelo. No momento, nem o erro na linguagem iria fazê-la rir. Tudo em si era confusão e dúvidas e ela não sabia se estaria pronta para ver Simon às seis. Não daquele dia. Era informação demais.


Capítulo 22

chegou em casa determinada a não acreditar em Simon. Ele estava magoado pela morte de sua irmã não ter sido solucionada, tinha raiva de porque o culpava pela impunibilidade do criminoso. Ele estava louco. A mulher então guardou o envelope no seu quarto, dentro de um dos quadros que ela gostava. Ela não iria ver e não se importava com o que tinha ali dentro porque ele não era culpado. Ele não brincaria com ela e tampouco machucaria pessoas. Ela via nos olhos dele a raiva que ele sentia do maldito criador de bonecas.
Então o que tem no escritório dele? Sua mente questionava, a fazendo engolir seco. não machucaria ninguém, mas e aquela versão sombria dele? Do que seria capaz?
A mulher encarou o quadro mais uma vez, cogitando abrir o envelope, mas não faria isso. Seus olhos percorrem pelo quarto, que mesclava a cor branca e a cor azul bebê com alguns tons em prata. Tinha algo de errado e ela não conseguia identificar o que era. Alguma coisa não estava se encaixando. Por alguns instantes, pensou que fosse o nervosismo da situação, mas observou os itens ao seu redor.
O quadro estava no mesmo lugar, mas havia três objetos que não estavam onde ela tinha deixado. Sua pequena caixa de remédios, um dos seus coturnos e seu guarda-roupas também parecia ter sido mexido. Merda. Ela estava tão nervosa que tinha começado a ver coisas. Tinha sido ela quem trocou tudo de lugar antes de sair, tinha quase certeza. Eram itens sem importância, ninguém entraria em seu quarto para mexer em coisas tão insignificantes.
Ela rapidamente se afastou da área de seu quarto, saindo pelo corredor e indo em direção à casa dele. Precisava esclarecer todas as informações confusas que tinha recebido. Ele iria embora e tinha ocultado muito dela para ela simplesmente deixar passar. Ele podia não ser um assassino, mas tudo indicava que era um belo mentiroso.
Ela conseguia sentir o seu coração batendo dentro do peito, o som dos carros parecia estar sufocado e sua visão estava turva. Os lábios secos e trêmulos. As palavras de Helene rondavam em sua mente e se misturavam ao que Simon tinha dito.
E se realmente não fosse confiável?
As dúvidas se instauravam em sua cabeça e apesar de tudo em si dizer que ela precisava investigar cada versão, ela ainda não conseguia fazer isso. Se tinha aprendido uma coisa com a sua falecida mãe, era a não procurar respostas que ela não estava pronta para lidar. O caminho até o prédio da polícia foi rápido, embora parecesse lento para ela. Não era tão perto, mas ela não pegou nenhum carro para chegar, não queria o silêncio ensurdecedor de sua mente. Queria o barulho do trânsito porque assim, talvez, ela conseguisse ter algo mais alto que seus pensamentos.
A morena entrou, pegando o elevador e subiu até o andar do prédio dele. Quando entrou no espaço, viu, pela janela, que eles estavam todos reunidos. Incluindo o seu pai.
Raiva cresceu em sua garganta e ela entrou na sala.
— Quando vocês vão embora? — A pergunta era simples, mas carregava tantas emoções que todos ficaram sem reação.
? Você tá bem? Você tá um pouco pálida... — A pergunta de Zyon foi interrompida pela voz grave do chefe de departamento.
— Em dez dias, no máximo.
Ela o olhou, mais uma vez tentando engolir o nó que surgiu em sua garganta. A forma fria que ele falou ali, na frente de todos, era dolorosa. Ela sorriu de maneira irônica, desviando o olhar para o teto afim de segurar as lágrimas. Helene saiu da sala, Zyon começou a mexer na caneta e Bastien apenas desviou o olhar, sabendo que aquela conversa não era exatamente sobre eles ou sobre o fato de todos irem embora.
— E ninguém planejou me dizer? — A pergunta escondia as lágrimas amarguradas, mesmo perguntando a todos o questionamento era muito bem direcionado.
— Isso não tem nada a ver com você — disse, sentia seu peito doer conforme assistia ela desmoronar em olhares atravessados, mas precisava fazer isso. Era doer agora, para não doer mais tarde. — Você não é da equipe. Era apenas um caso e esse caso acabou, durou mais do que deveria durar.
conseguiu sentir o seu peito quebrando, era tão alto que se tornou audível. “Era apenas um caso” repetiu, para si mesma, sabendo que não era sobre a investigação que ele falava. Ali, na frente de todos, ela percebeu porque ele não tinha contado nada a ela. Não era apenas para recordá-la que o que eles tinham era apenas uma diversão, era para deixar nítido e desenhado: ele não se importava.
Ela balançou a cabeça, saindo da sala e Billy foi atrás dela.
Zyon permaneceu quieto, ainda rodando de um lado para outro na cadeira. Ele estava pensativo e Bastien conseguia sentir uma raiva pequena se inflamar em seu peito, sem saber de onde ela surgia.
— Precisava falar assim com ela? — A pergunta do moreno fez se encolher. Bastien era um dos poucos que o encarava sem receio algum.
— Vai ser o melhor pra ela. Quantas vezes a gente não se machucou só por ter escolhido esse trabalho? Ou quantas vezes alguém que a gente gostava se machucou? — Zyon, o mais novo, respondeu, encarando os dois à sua frente com certa frieza. Era por isso que ele estava na equipe. Por mais que parecesse o mais profissional, era o hacker que realmente merecia o título. Para ele, envolvimento e trabalho significavam morte. Por isso, ele nunca tinha se envolvido com ninguém, ou apresentado alguém à equipe. Era apenas ele e seus códigos. Ninguém sabia quase nada do homem com olhos levemente puxados. Sabiam que ele tinha origem asiática, não entrou no FBI porque quis e que sua mãe era uma Brasileira apelidada de Thay. Antes disso, ele era ghost.
— Ele não fez isso porque foi melhor pra ela. Ele fez isso porque foi melhor pra ele. — A resposta do homem massacrou o peito de e ele se encolheu. — Porque ele não sabe lidar com a remota possibilidade de ser amado por alguém. Ele se esconde porque isso é melhor do que admitir que ele está apaixonado pela mulher que ele implica desde o primeiro dia. Ele não tá nem aí se vai proteger ela ou não, ele está pensando em se proteger de se dar conta que ele não é a merda de um monstro, ghost. — cerrou os punhos, segurando-se para não esmurrar o moreno à sua frente. — Ele está sendo egoísta, incapaz, covarde e hipócrita. — O homem de pele mais escura se aproximou, empurrando o loiro a cada palavra. — E sabe o mais engraçado? Nesse jogo doentio dele, foi ela que ganhou. Porque amanhã ela vai esquecer ele, mas ele vai lembrar dela todos os dias da vida fodida dele, sabendo que estragou tudo mais uma vez.


Capítulo 23

O loiro segurou Bastien pelo colarinho, que riu com diversão e raiva. A vontade do loiro era de bater nele, de socar a cara debochada que ele tinha, mas não podia. Além de ser seu amigo, ele estava certo para um santo caralho. Ele se afastou, fazendo o moreno cambalear.
— Foda-se. — saiu da sua sala, passando por todas as outras, indo de porta em porta e abrindo cada uma delas. Só pararia quando a encontrasse, ainda que não soubesse o que diria a ela.
Alguns andares depois e lá estava ela. No terraço do prédio, sozinha. Apoiando-se no parapeito enquanto olhava para baixo perdida nos pensamentos. Com cuidado, o maior caminhou até a mulher. Ela percebeu a aproximação e deixou que ele a alcançasse. Os dois ficaram olhando para baixo em silêncio.
As palavras de Bastien ainda martelavam sobre a cabeça dele, mas ele sabia que estava fazendo a coisa certa. Ainda que ninguém entendesse, ele tinha a plena convicção de que o lugar dele não era com .
— O que foi? Quer mais alguma informação do seu casinho? — O duplo sentido na frase fez o peito dele doer, dando-se conta do que ele mesmo tinha feito. A voz dela tentava ser irritada, mas ele percebia a tristeza esmagadora em seu timbre.
... Eu disse para não esperar nada de mim. — A mão dele se apoiou em sua cintura, mas em vez de permitir, ela se afastou com repulsa.
— Não venha me jogar essa de que você avisou, , não seja dissimulado a esse ponto. E todos os sinais errados que você dava de propósito? Você comprou a merda de uma casa nessa cidade. Você não escondeu de ninguém que estávamos juntos. Você falou que eu seria sua a partir do momento que transasse comigo e eu juro que me controlei para não ser, . E eu fui fraca, tola e idiota, mas fui sua. — O choro já não era mais contido em sua garganta e ela se aproximava dele, empurrando-o a cada rachadura que sentia no próprio peito. Ela sequer sabia quando se apaixonara por ele, mas não ia conseguir esquecer o minuto que ele estragou tudo.
— Eu não posso te dar o que você merece. Por que você não entende que eu estou fazendo isso pelo seu bem, caralho? — A voz dele começava a ficar mais alta a cada palavra. — NÓS SOMOS A DROGA DE UM MALDITO ERRO! Eu não devia estar distraído, meu foco tem que ser esse caso, minha carreira. Eu não preciso de uma distração me tirando do rumo e você é exatamente isso. — A voz era tão amarga quanto a dela. riu, com desdém. O peito dela ardeu tanto quanto sua garganta. Era isso que ela era para ele então? Uma distração? Um erro? — Eu poderia me esforçar para te amar, mas ainda assim seria insuficiente. Você precisa de alguém que seja inteiro e eu nunca vou ser. Essa é a verdade. Era sinceridade que você queria? Aí está. Eu estou sendo sincero. Eu não posso te amar e em parte é porque eu não quero isso.
O tom de voz dele era baixo, rouco e levemente acentuado pelo embargar que surgia aos poucos. Ela riu com descrença as lágrimas caíam por sua bochecha sem parar, sua boca tinha o sabor amargo da dor. Ela sempre achou que a dor congelasse as pessoas, mas ali, naquele momento, percebeu que queimava.
— Já que você está sendo sincero, então me diz. — Seu corpo girou, ficando de frente pra o dele. Os olhos embargados agora encarando-o com raiva. — Há quanto tempo você transa com a Helene?
A surpresa no rosto de a faz sentir o seu estômago se contrair. Ele ficou em silêncio e não negou, confirmando o que ela já sabia.
Minutos depois de sair da sala, ela ligou para Simon, avisando-o que não podia encontrá-lo no horário marcado. Ele não atendeu, em vez disso, deixou uma mensagem: ele também dorme com a outra.
Não demorou tanto até que entendesse que a outra era Helene, eram as duas únicas mulheres que passavam mais tempo com ele.
... — O tom foi de súplica, como quem pedisse para que ela não tocasse no assunto e ela riu, mais uma vez.
— Você é patético. — A raiva agora a dominava. — Há quanto tempo você dorme com ela? O que foi? Tem coragem de ser um filho da puta, mas não consegue me responder como a porra de homem, ? — repetiu pausadamente, de olhos fechados. Não conseguia olhar para ele. Não conseguia ficar de olhos abertos enquanto ela se partia em pedaços por alguém que estava inteiro, bem na sua frente.
— Um ano.
A dor que a invadiu queimava mais uma vez, deixando-a em carne viva.
A confirmação de tudo que Simon disse estava ali. Se aquilo era verdade, todo o resto podia ser também.
— O preservativo que estava na sua gaveta quando... — O peito dela tremia inquieto, incrédulo. Por alguns longos dias, ela realmente chegou a pensar que era especial, que era a única que conseguia entrar no resistente casulo que o homem tinha. — Era para ela, não era?
Ele não negou ou assentiu, mas isso era o suficiente.
Talvez fosse algo pequeno quando isolado, mas o fato se tornava gigante quando era misturado a todas as outras mentiras dele. Ele tinha a deixado ficar amiga da ruiva. Ela desabafou com Helene mais de uma vez, céus! Como ela tinha sido ridicularizada por tanto tempo bem embaixo do seu nariz? Falando sobre sentimentos com a mulher que também dormia com o homem que ela estava apaixonada.
— Bom, . Você ganhou. — Ele a olhou confuso e ela se aproximou, ficando a centímetros do rosto dele. — Agora vai realmente ser impossível eu te amar, porque eu te odeio. Eu desprezo você com cada espaço minúsculo e vazio da minha alma.
— Eu não dormi com ela enquanto estive com você, eu juro. — A voz cada vez mais falha murmurou e ela se segurou para não cair.
tentava se manter sóbria, mas era impossível quando o cheiro dele entrava em suas narinas, a embriagando.
O homem se apoiou na parede que os impedia de caírem do prédio e desceu deslizando até o chão, ele a puxou para o colo dele. Os olhares marcados em um peso dilacerante.
Ele pôs os braços ao redor das costas dela e apoiou o rosto em sua testa, como costumava fazer. Os lábios da menor se comprimiram. O nariz dele roçou pelo seu pescoço e ele afundou o rosto nos peitos dela. A respiração dos dois se tornou difícil, tão confusa quanto os sentimentos. Ele a beijou com dificuldade e ela correspondeu da mesma forma.
Tinha amor. Tinha raiva. Tinha tristeza.
Mas o pior... Tinha despedida no sabor do beijo deles.
encarou o homem mais velho, nem mesmo a maior armadura que ele tinha era capaz de esconder a dor em seus olhos hoje. Por alguns minutos, ela quis tirar o que disse, quis voltar atrás e mostrar que tudo bem, mas não estava tudo bem. Ele tinha a machucado e ela não permitiria que ele fizesse isso quantas vezes quisesse.
As mãos grandes moveram-se até a parte de trás da cabeça dela e ele a puxa pra si, pressionando a boca dele contra a dela mais uma vez, com força, de forma dura e dolorosa. Ela gemeu entre o beijo, um gemido de culpa, de alívio e lágrimas surgiram em seus olhos. sentiu o sabor salgado do choro dela e a segurou, permitindo-a chorar. Ele queria engolir cada dor que tinha causado nela com as mentiras que ela descobria e com as que ela sequer imaginava.
— Desconte em mim — ele sussurrou. Ela obedeceu quase que de imediato, mordendo fortemente o lábio inferior dele até sentir o gosto metálico do sangue se misturar em sua boca, junto às suas lágrimas.
O loiro se inclinou para frente, a fazendo deitar sobre o chão e retirou as roupas dela com pressa, enquanto ela o ajudava. Ele envolveu as mãos pela calcinha dela, puxando com força até ouvir o tecido ser rasgado e ela levou os polegares ao quadril dele, puxando sua calça social para baixo. De forma rápida, ela inverteu as posições, fazendo-o se deitar no chão enquanto ela ficava por cima, as mãos se apoiaram jogando todo o seu peso sobre o peitoral dele e ele gemeu quando ela senta sobre o seu pau, já tão duro. movimentou o quadril para frente e para trás, se esfregando nele, deixando-o babado da mesma forma que sua boceta estava.
não perdeu tempo, precisava da boceta dela apertando o seu pau. Ele movimentou o quadril dela para cima, o suficiente para que conseguisse encaixar a cabecinha do seu caralho na entrada dela e a agarrou com toda força pelos quadris, fazendo-a sentar de uma só vez. Ela gritou com a dor de tê-lo se forçando inteiro para dentro de si.
Controlando os movimentos, ela subiu o quadril mais uma vez, vendo os peitos pularem enquanto apertava mais o torso dele contra o chão duro e mal acabado de cimento. Sabia que ele sentiria dor, mas eles precisavam daquilo. Precisavam sentir aquela dor.
As unhas dela rasgaram o peitoral e desceram em cada gomo de sua barriga até que ele sangrasse com os arranhões e ele saiu de dentro dela, a penetrando com toda a sua força.
Doeu.
Uma dor compartilhada por ambos.
Pela primeira vez, ele se permitiu chorar e as lágrimas deles se misturam. Toda a sua invulnerabilidade caiu por terra. Ele a olhou com desespero, implorando-a para que fique silenciosamente, em uma promessa que nenhum deles poderia cumprir.
— Termine — ela murmurou, com a voz embargada. O seu rosto se desviou do dele e ela olhou para o lado, para qualquer lado que a impedisse de encarar o sofrimento dele. Não tinha mais volta. A insuficiência a atingia com força.
levou a mão até a cabeça dele, puxando com desespero para que encontrasse a sua e ele apoiou as mãos contra a bunda da jovem, abrindo-a e forçando os movimentos dela, suspendendo o corpo pequeno da mulher e a fazendo descer em seu pau com rapidez. Ele controlava a intensidade do sexo porque ali, naquele momento, era a única coisa que podia controlar.
As lágrimas se misturavam quando as bochechas deles se juntam.
— Por favor — ela implorou, ainda que não soubesse o que estava pedindo. — Por favor, termine.
Gemeu uma última vez. Ele não perguntou, apenas fez mais força. Seu corpo girou e, sem sair de dentro dela, ele a colocou deitada no chão, se afastou apenas para enfiar-se no meio das pernas dela confortavelmente, voltando a penetrá-la.
— Mais rápido, — ela pediu e ele se moveu com mais rapidez. Seu estômago doía cada vez que ele entrava duro em sua boceta, alcançando o seu limite e ainda assim se forçava mais pra dentro de forma que até seu clitóris se esfregava na pele do homem.
Os dois ofegantes, um contra o outro. Ofegantes pelo sexo, pela força que faziam e pelo choro, mas principalmente pela dor. Talvez, se ele a machucasse fisicamente, o emocional destruído dela seria anestesiado.
Ela começou a rebolar contra ele e ele levou a boca até a altura dos seus peitos, seus dentes agarraram o mamilo esquerdo e ele puxou, mordendo. Ela gritou.
Retribuindo a dor, ela levou as mãos às costas dele, arranhando-o para que ele sentisse a ardência. Sua boca alcançou o ombro e ela mordeu com a mesma força que ele tinha aplicado no bico do seu peito. Os braços do homem passaram por volta do quadril dela, agora a abraçando com ternura, mas não parou de sair e entrar em movimentos longos, fortes e profundos. Ele se enterrava nela cada vez mais.
A frequência dos movimentos diminuiu com um urro vindo da boca dele e ele se enfiou até o talo, parando no fundo da boceta dela para gozar. A morena conseguiu sentir o pau ainda duro pulsando dentro dela. Sua mão correu até o seu clitóris porque não queria mais prolongar aquilo. Ela começou a se masturbar com a ponta dos dedos enquanto ele jogava toda a sua porra dentro dela.
Minutos depois, os dois estavam imóveis e, após mais algumas estocadas, ela o empurrou pelos ombros. Ele se equilibrou para não cair e ela se sentou em cima da sua roupa, jogada sobre o chão, sentindo escorrer de si entre suas coxas.
— Eu me demito.
Ele se aproximou sentindo seu coração doer, mas ela se afastou dele como se ele fosse uma ameaça. Porque talvez ele fosse.
engoliu a seco, procurando as suas próprias peças e deixou que a dor inundasse todo o castelo de pedra que ele criou em volta do seu coração. Ele morreria afogado no próprio sofrimento. Suas costas ardiam, seu peitoral e barriga pulsavam, mas nada se comparava com a dor que ele sentiu quando ela virou o rosto para não o olhar mais.
Percebendo o que tinha feito, ele terminou de se vestir e a deixou só.
Sabendo que, mais uma vez, ele estragou tudo.


Capítulo 24

O corpo estava debruçado sobre o vaso do banheiro, o cabelo preso em um nó e o conteúdo do seu estômago descendo descarga abaixo. Sua garganta doía, mas era seu peito que latejava.
Ele tinha ido embora.
, você não acha que já está na hora de encarar a realidade? — A voz dura do seu pai a fez suspirar. Ele estava no quarto dela e ela caminhou até a pia do banheiro para escovar os dentes. Ele se aproximou, parando na porta e a encarou enquanto ela colocava a pasta de dente na sua escova.
— Eu não sei do que você está falando, pai.
Billy revirou os olhos e se aproximou dela, jogando a sacola sobre a pia. Ela olhou de lado enquanto enfiava a escova na boca, fazendo círculos em volta dos dentes. Esfregando o gosto ácido do vômito para longe.
— Pelo amor de Deus, você tem vinte e quatro anos, é uma mulher, uma adulta. Não é mais uma criança, então pare de agir como uma. — Ela engoliu o choro, mas não conseguiu impedir as lágrimas que desceram do seu rosto. — Quanto mais rápido você aceitar que está gravida, melhor vai ser para essa criança e para você própria.
Ele saiu, deixando-a sozinha e, após enxaguar a boca, ela pegou a sacola preta, encarando o teste de gravidez. Sabia que seria apenas uma confirmação, ela estava atrasada, enjoava de absolutamente tudo, sentia desejos estranhos e seus seios doíam como se os mamilos estivessem sendo mastigados de dentro para fora. Além disso, estava ignorando todos os sinais há um mês, não era algo passageiro e no fundo de sua mente ela sabia.
Ele tinha ido embora há dois meses, mas não sem deixar uma parte dele.
E era isso que ela não estava pronta pra encarar. Ela se esforçava para superar o loiro, se esforçava para não pensar nos toques dele ou na respiração ofegante na sua, fazia força para não lembrar do cheiro amadeirado do seu perfume ou do sabor de menta de sua boca, mas nunca mais teria como esquecer que gerava um filho dele dentro de si.
No início, ela não percebeu os sintomas, nunca tinha deixado de tomar os remédios e, embora tivesse uma chance mínima de falharem, era incoerente que isso acontecesse tão rápido. Fechando a porta, ela se sentou sobre o vaso, descendo a calcinha até metade das coxas e fez o teste.
Dez minutos depois e não havia surpresa alguma, ela estava grávida.
Ela não tinha sido irresponsável, não tinha bebido ou se colocado em risco por saber da possibilidade, mas ainda se sentia mal. Precisava marcar exames, decidir se ficaria com a criança e, caso ficasse, marcar o pré-natal. Não sabia de quanto tempo estava porque não sabia quando a pílula falhou, mas chutava que estivesse entre dois ou três.
A morena ergueu um pouco a blusa grande que vestia, procurando algum vestígio, mas o pouco volume que tinha ali era imperceptível.
Desconfiada, ela foi de encontro ao pai, que estava na sala assistindo futebol. As lágrimas se acumularam na parte inferior de seus olhos e ela respirou fundo, tomando fôlego para conseguir falar.
— Eu estou grávida.
Billy já sabia, não era informar a ele que ela buscava. Era apenas o colo de pai e ele entendeu isso muito bem, puxando-a para o colo e a deitando sobre si.
— O que você quer fazer? — Ela afundou mais a cabeça no colo do pai e ele a abraçou com mais força. — Vai contar pra ele?
— Não sei. — A confusão crescia em seu peito, sufocando-a. — Sim. — Os lábios dela tremeram. Como ela faria isso? “Volte, estou esperando um filho seu”? — Não agora.
Billy assentiu. Não sabia como aconselhá-la porque não sabia como ela se sentiu. Não tivera essas conversas com seus pais e não tinha mais sua esposa para o ajudar com isso. já era adulta, mas passou toda a sua adolescência controlando o crescimento simplesmente porque não tinha uma figura feminina para conversar.
— Sinto muito que a sua mãe não esteja aqui com você. Ela saberia o que dizer.
sorriu, imaginando que a mãe ficaria surtada, mas logo iria a abraçar e comemorar a vinda do neto. Ela sentia falta da mãe.
— Você está aqui e isso é o suficiente pra mim — ela respondeu, sentindo-se agradecida pelo pai incrível que tinha. Se seu filho pudesse ter metade do pai que ela tinha, ele já seria uma criança sortuda. Seus pensamentos foram até .
Ela já não morava no seu apartamento há algum tempo. Em vez disso, tinha se mudado de maneira definitiva para a casa do pai desde que Silvia Brown foi encontrada. Os olhos dela ainda estavam na mente de , como um aviso de que apesar de não haver mais vítimas, o caso ainda existia. A pessoa ainda estava solta por aí.


Capítulo 25

estava de volta à sua rotina. Tinha voltado para a sua cidade, sua casa e sua vida, mas ainda sentia o cheiro dela em todos os lugares. A saudade o acompanhava a cada lugar que ele fosse. Ele não mandou nenhuma mensagem, não queria invadir o espaço dela, mas esperou todos os dias por uma.
— O que é isso? — ele perguntou, entrando em sua sala. Uma caixa média estava em sua mesa. A mulher que estava passando apenas deu de ombros. Seu peito doeu, imaginando que tinha algo errado e ele se aproximou do papelão. O homem abriu a caixa com a pequena faca que carregava para segurança, os olhos cresceram em puro pânico quando ele viu uma blusa branca com sangue em volta dela.
Não era apenas uma blusa branca, era a blusa dela.
Seu corpo adormeceu quase que de imediato e ele rezou para que não fosse o sangue dela ali também. Sabia que era uma ameaça e sabia de quem era. Dentro da caixa, um bilhete:

“Você a deixou. Posso pegá-la para mim agora.”

Destruído, ele reuniu os integrantes da sua equipe na mesa grande de madeira. A caixa bem no centro do móvel. Quando todos se sentaram ele tirou a peça e o bilhete, colocando-os ali.
— Ele vai atrás de .
Todos automaticamente sentiram o nervosismo subir, exceto Zyon, que permaneceu inquieto e inexpressivo. Quase como se soubesse disso.
— Foi você que deixou a caixa aqui? — A pergunta de foi dura e ele fechou os olhos, tentando não partir para cima do hacker.
— Não, claro que não, caralho. — O resmungo saía irritado, mas ele girava a cadeira de forma leve, de um lado para o outro, e jogava as costas para trás.
— Mas você sabia disso. Você sabia que ele iria atrás dela quando se envolvesse com ela. O que dói é o medo de perdê-la ou saber que você vai ser o culpado? Porque perdidos por perdidos, ela já não é mais sua.
O tom frio dele fez todos os outros se encolherem. Zyon tinha um jeito quase infantil, mas era letalmente perigoso quando queria. Para ele, existia linhas que não poderiam ser cruzadas e tinha cruzado algumas delas. Algumas vezes.
O loiro tentou lembrar por que tinha membros tão incontroláveis em sua equipe. Primeiro Bastien tinha lhe jogado tudo aquilo na cara, meses atrás, e agora era o hacker que vinha lhe falar o que o homem sentia?
— Só falta a Helene agora.
Resmungou com desdém e irritação.
— Ela não precisa falar nada, afinal, ela já tomou um tiro por sua causa.
Bastien soltou com acidez e a ruiva se encolheu, levando a mão até a cicatriz em sua coxa. Por pouco, não tinha ficado paraplégica. Ele sentia a raiva dos membros da equipe e sabia que, embora tivessem tomando as dores de , eles também eram incríveis. Talvez por isso estivessem na equipe, no fim das contas.
— Já chega, vocês dois — a ruiva murmurou e, com apenas um olhar, eles saíram da sala. — Sinto muito por isso, eles estão sendo imaturos para um cacete. Todos vocês são.
Ele sorriu com o jeito grosseiro que ela tinha, dando de ombros. Fingindo não se importar.
— Eles estão assim por conta da .
Helene pensa um pouco, sentando um pouco mais perto do detetive.
— Também, mas não é ela a causadora dos problemas, . — Ele engoliu a seco. Helene era a mais dócil e justamente por isso suas palavras tendiam a ser as mais cruéis. — Eles estão assim porque estão cansados de perder pessoas. — Rasgando o seu peito, ele a ouviu. — Tivemos cinco membros da equipe mortos em ataques. Ghost está abrindo mão da sua vida por um emprego que ele nem queria. A mãe dele está doente, muito doente, e ele não pode a ver porque tem medo que algum dos caras que a gente persegue encontrem ela. Ele a vê se deteriorando dia após dia, através de uma câmera hackeada de um centro psiquiátrico.
engoliu a seco, sentindo sua garganta arranhar como se as palavras de Helene fossem cacos de vidro.
— E, além disso, ele só tem vinte e três anos — tentou brincar, mas sabia que não era o momento. — Bastien já passou por muita coisa e nós sabemos disso. Sabemos que as brincadeiras e o jeito sarcástico e divertido é pra esconder a dor de ter enterrado o melhor amigo. Hernandez morreu nos braços dele e ele não pôde fazer nada além de largar o corpo e fugir pra salvar a própria vida antes de ser morto também. Ele sequer pôde ir ao enterro porque não tinha corpo pra enterrar. A bomba, implantada por um lunático, destruiu tudo. — abaixou a cabeça, sentindo o peso das informações se misturar ao próprio fardo que ele carregava. Ele sabia de tudo aquilo, não eram informações recentes, mas ainda assim não tinha visto isso do ponto de vista que Helene tinha colocado. Eles pareciam estar bem, então ele apenas deduziu que estivessem, mas as coisas não funcionavam assim. Fingir que não doía, não acabava com a dor e ele sabia disso mais que qualquer um. — E tem a gente. — A voz dela morreu ali, mas ela não precisava detalhar o que tinha acontecido com eles, porque ele sabia bem. — Então não é só a . Ela é só uma gota em um copo que já está cheio há muito tempo.
— Eu amo você — ele sussurrou, de forma sincera, e ela sorriu, pegando as mãos do loiro nas suas e deixando alguns beijos rápidos ali.
— Eu sei. Eu também te amo, .


Capítulo 26

— O DNA encontrado não é dela. — O loiro suspirou, jogando-se na cadeira de forma aliviada.
— De quem é?
— Alessandra Rodriguez. Pelo histórico, é uma mexicana de vinte e três anos. Ela se mudou do Grande México para West há cerca de dois anos. Ela tem um boletim de ocorrência por porte de drogas, mas a queixa não foi registrada e ela foi liberada por falta de provas.
Zyon murmurou as informações que tinha conseguido. Ele era eficientemente rápido e não esperava ter uma pergunta para procurar respostas.
— O endereço está nos tablets. Só mais uma coisa.
Os olhares se voltaram para o mais novo e ele desviou, não gostava muito de chamar atenção para si.
— Pessoal, até agora não temos nenhuma outra vítima desaparecida que se enquadre no perfil, mas alguns documentos foram adicionados na pasta da última.
ficou em silêncio por alguns minutos. Parte de si aliviado porque poderia monitorar de perto a segurança de e a outra parte congelada, sem saber se estava preparado para encarar a mulher novamente.
— A gente não só pode invadir distritos policiais quando somos mandados? — Bastien falou, parecendo lembrar o óbvio e Zyon sorriu de maneira convencida.
— Não, o caso já era nosso antes e podemos apenas pegar de novo. Não é um crime local, a gente não precisa de permissão.
— Vai ser divertido ver o invadir o espaço do sogro depois de ter quebrado o coração da filha dele.
Os dois riam de maneira divertida da situação e o loiro ignorou o comentário, acessando o tablet para checar o endereço e para disfarçar a forma que ele tinha ficado nervoso com a ideia. Billy ia matá-lo.
— O que sabemos sobre esses documentos?
— Não muito, na verdade, mas é algo que vale a pena verificar pessoalmente.
Os olhos de Ghost brilhavam. Por mais que esse não fosse o emprego dos seus sonhos, ele gostava da permissão que tinha para invadir a vida das pessoas e se sentia bem em fazer parte de uma equipe que colocava criminosos na prisão. Ele se sentia como um justiceiro das redes.
Ele havia entrado no FBI há pouco mais de nove meses. Ao contrário dos demais, não teve opção pra isso. Quando você é muito bom em algo e resolve se utilizar disso para brincar com o governo, você tem duas opções: ser preso ou se juntar ao Estado.
Ele foi pego hackeando o site do FBI, roubando dados criptografados e conseguindo os abrir com uma facilidade tão grande que dois dias depois vários carros estavam em sua porta. Pela idade jovem ele, o governo simplesmente achou que seria mais fácil manter ele perto. Se ele fazia isso contra o FBI, o que não faria a favor? Em menos de um mês, ele recebeu treinamento intensivo e parou de ser o hacker Ghost, se tornando Zyon.
Apesar da pouca idade, ele viu coisas que muitos outros não aguentariam ver. Era o peso de ter que viver no submundo da internet. As coisas que encontrava e que assistia, muitas vezes as coisas que era pago para liberar para outras pessoas... Isso tinham o congelado. Quando chegou à equipe e conheceu cada um dos outros, ele ficou ainda mais bloqueado. Todos tinha perdido algo ou alguém.
Apesar do grande fardo e da grande responsabilidade que tinha em seus ombros, a juventude não era escondida. Todos viam que ele era jovem assim que pusessem os olhos nele, mas ninguém era capaz de duvidar da sua capacidade. Ele era invencível no computador.
— Obrigado. — A voz de passou pela sala e os membros do time balançaram a cabeça. Sabiam o motivo do agradecimento. Ele não tinha coragem de ir atrás dela, por isso todos lhe ajudavam dando um empurrão de cada vez. — Não podemos ir até que um corpo apareça, não pode ter conflito de interesses. O caso seria comprometido e... — Ele buscou se controlar por meio da respiração. Queria vê-la, mas não podia ainda. Iria fazer tudo certo dessa vez porque agora ele tinha algo muito grande a perder. Ele a amava e a protegeria com a própria vida se fosse necessário, só não podia arrastar toda a sua equipe junto. Pelo menos eles precisavam de uma segurança caso comprometesse todo o caso.


Capítulo 27

sentia uma mistura de emoções enquanto esperava ser chamada para o seu primeiro ultrassom. A ansiedade para ver seu filho pela primeira vez se misturava à saudade que sentia de e a culpa que, de alguma forma, a atormentava por não ter dito sobre a gravidez para o homem. Ela compreendia a importância que ele teria na vida da criança e não iria esconder dele de forma alguma, no entanto, ainda não tinha localizado forças suficientes para entrar em contato. A sua própria ficha sequer havia caído.
Finalmente, seu nome foi chamado e entrou na sala de ultrassom, carregando consigo a esperança de que não demorasse a aceitar tanto quanto ela e que, embora inesperado, ele gostasse da ideia de terem um filho. Ela se deitou na maca, olhando para o monitor com expectativa. A médica, notando sua expressão mista de alegria e tristeza, a cumprimentou com um aperto de mãos leve e reconfortante.
Com gentileza, a médica explicou o procedimento, mostrou a sala e o vestiário que tinha para as pacientes. se preparou, voltando para a maca logo em seguida. A doutora começou a deslizar o transdutor suavemente sobre a barriga de . A cada movimento, uma imagem embaçada do bebê começava a se formar na tela. prendeu a respiração, seus olhos fixos no monitor, ansiando pelo som do coraçãozinho batendo, como se só as imagens dos rabiscos cinzas não fossem tão reais quanto seria o som.
E então a médica aumentou o volume e um som suave preencheu a sala. Era um som mágico e reconfortante. Lágrimas de emoção escorreram pelo rosto de enquanto ela ouvia aquele ritmo único e sagrado. Enquanto o som do coraçãozinho do bebê continuava a ecoar na sala, sentiu-se grata por ter esse momento especial em sua vida.
— Pelo que eu vejo aqui, você tem um bebê muito saudável e forte — a médica constatou, de forma meiga. O jaleco branco dela passava confiança, mas as paredes rosas a deixavam levemente nervosa. Nunca gostara de rosa, sempre amou azul e cores mais tranquilizantes, porém, ela tinha certeza de que não era a cor que estava lhe incomodando e sim a notícia de que em breve teria um filho.
— Olha, esse grão bem pequeno é onde ele ou ela está crescendo. O espaço em preto, sem ruídos, é o seu útero. Você está com um pouco mais de 13 semanas, que em tempo de verdade quer dizer que você tem quase três meses e meio. — A doutora divertiu a mais nova. Nunca fora de boa de matemática e, embora a divisão fosse fácil, o nervosismo que sentia jamais permitiria que ela calculasse mentalmente, mesmo a conta sendo tão boba. — O coração do pequeno é bem forte, o que comprova minha teoria de que ele é saudável. — Os risos eram compartilhados. A mais nova olhou a tela e novamente chorou. — Eu vou gravar um vídeo e tirar algumas fotos pra você.
Ao sair da consulta, animada com o primeiro contato da gravidez, rapidamente se arrumou, decidida a espalhar para seu pai todas as fotos e sensações que sentiu.
O escritório de Billy era um lugar conhecido para . Ela adentrava o prédio e subia as escadas, cheia de antecipação e um sorriso nos lábios. Ao chegar à porta do escritório, ela bateu levemente antes de entrar.
— Pai? — chamou , com a voz repleta de entusiasmo.
Billy, um homem de meia-idade com uma expressão séria, levantou os olhos de sua mesa cheia de papéis e sorriu ao ver a filha entrar. O olhar preocupado o invadiu assim que ela cruzou a porta. não estava mais frequentando o distrito policial que o pai chefiava. Após a saída do FBI e a ausência de , a mulher escolheu se manter longe, como deveria ter feito desde o início, principalmente após descobrir a gravidez.
— Filha, aconteceu alguma coisa? — o homem disse, levantando-se e caminhando em sua direção.
negou com a cabeça. Eles sempre foram próximos, mas nos últimos dois meses estavam o dia inteiro juntos, o que a fez repensar a pequena irritação que sentia quando ele era extremamente protetor. A morena abriu o envelope e tirou as fotos do ultrassom com cuidado, segurando-as como tesouros preciosos. Ela entregou-as ao pai, que as pegou com curiosidade.
— Eu vim te mostrar o seu neto — murmurou, com os olhos brilhando de emoção.
Billy olhou para as fotos com fascinação, estudando cada detalhe. Seus olhos se encheram de ternura ao ver a imagem do pequeno ser em formação.
— Uh, ele é a sua cara. — A mulher gargalhou com a brincadeira, voltando a pegar as fotos do filho, mas fez questão de deixar uma ali, para que seu pai sempre tivesse acesso.
Ela olhou o pai com cuidado e afeto, sentindo-se grata por tê-lo ao seu lado durante aquele momento especial. Ela sabia que, mesmo com toda a seriedade do trabalho de detetive que Billy desempenhava, ele sempre tinha se esforçado ao máximo para ser um pai amoroso e presente. Um nó se formou em sua garganta por não saber o que esperar de . Ele seria tão bom quanto o seu pai era? Ou, pelo menos, se esforçaria para isso? Talvez ele realmente tentasse pelo filho, já que ela não era motivo suficiente para ele ficar ou se despedir.


Capítulo 28

estava incansável em sua busca implacável por pistas que levassem à resolução do caso das bonecas de porcelana. Desde que percebeu o quão estava sendo ameaçada, uma inquietude o dominava, impulsionando-o a trabalhar ainda mais arduamente, o fazendo ir até o fundo de si mesmo para buscar o raciocínio mais ágil que já tivera em toda a sua vida. A preocupação e o medo pela segurança dela eram combustíveis para sua determinação.
observava as fotos e os documentos relacionados ao caso espalhados diante dele. Sua mente estava inquieta, buscando conexões, padrões e qualquer detalhe que pudesse levar ao assassino em série. Ele sabia que o tempo era precioso, e cada minuto contava quando se tratava de salvar vidas.
O pensamento do homem viajou para a caixa que recebeu e ele fechou os olhos, tentando se guiar como um telespectador da cena, buscando lembrar dos cheiros. Tudo era importante. A blusa branca com marcas de sangue o fizeram voltar a si com ainda mais raiva. Se algum filho da puta encostasse em , ele iria até o inferno, mas acabaria com o maldito. Apenas aquela ameaça pequena, vedada e sutil era capaz de fazer o homem tremer de ódio. Ele lutava muito para controlar o seu lado sombrio porque sabia que não tinha voltas quando o fazia, mas, nesse caso, ele não via a hora de poder destruir o porcelanista.
O especialista forense do departamento adentrou a sala, trazendo consigo uma expressão de frustração. Ele se aproximou de , cujo olhar preocupado se encontrou com o dele. O homem de pele escura passou a mão pelos cabelos desgrenhados.
— O resultado saiu, mas não foi nada bom. Infelizmente, , ainda não conseguimos encontrar nenhum DNA na caixa que foi entregue a você. Parece que o assassino foi cuidadoso ao não deixar vestígios. O único material que temos é o sangue da vítima.
cerrou os punhos, sentindo raiva crescer dentro de si.
— Porra! — ele resmungou, segurando-se no profissionalismo que ainda precisava manter. — Essa falta de evidências está me deixando louco. Precisamos de algo que nos leve diretamente até ele. Mais uma vítima desapareceu e o tempo está se esgotando.
— Estamos fazendo tudo o que podemos. Mas é como se o assassino fosse um fantasma. Ele sabe como escapar das nossas armadilhas e não deixa rastros óbvios.
se levantou, andando de um lado para o outro na sala, sua mente trabalhando em uma velocidade frenética, avassaladora e dolorosa. O loiro saiu da sala, passando pelo forense, e chamou todos os membros da sua equipe para recapitularem todo o caso pela sétima vez no dia.
— Lily Adlam foi a primeira vítima declarada dele — relembrou, andando inquieto de um lado para o outro na sala de reuniões. Zyon, de forma rápida, colocou a foto na tela a mesma medida que ele foi falando sobre a primeira boneca. — Lábios grandes, olhos rasos, bochecha redonda... Tinha acabado de formar. Verificamos cada ponta solta, todos os detalhes, externos e não físicos. Investigamos o lugar onde ela foi encontrada, os relacionamentos, a família, os círculos de amizade. Tudo. — O ódio aos poucos ia subindo por toda sua garganta. Era impossível que ele fosse tão bom.
— Espera... — Helene pediu, abrindo o arquivo e revirando as várias páginas que tinham na pasta branca, ela retirou dali as fotos que foram tiradas do corpo e espalhou-as pela mesa. — O lugar que ela foi encontrada. — Apontou, pegando três onde o espaço havia sido capturado. — Ela não foi colocada em lugares infantis, ela foi deixada ao lado de uma obra abandonada.
Apesar de não ser muito, já era algo.
Bastien pegou uma das fotos, olhando bem o rosto e as marcas que ela tinha. Algumas informações vinham à sua mente aos poucos. Foi o primeiro caso declarado do homem, embora tivesse ficado óbvio que ele tinha treinado antes, eles foram chamados depois que a policia desmontou o corpo e, por isso, contentaram-se apenas com as fotos e uma visita ao local após o enterro da vítima.
— Zyon, você consegue acessar o primeiro laudo dela?
Com um riso, o mais jovem apenas revirou os olhos, em um sorriso convencido. Ele era jovem e tinha noção do talento que possuía com os dedos e, principalmente, com a mente. Conseguindo, ele jogou na tela com um zoom, para que todos pudessem ver.
— Ali. — Bastien apontou, começando a ler um pouco do que estava escrito. — A vítima não estava sob uso de entorpecentes, no entanto, possuía uma fraqueza incomum no pós morte. Os exames não apontam nenhum uso de drogas, mas há uma pequena quantidade de botulismo. Agora coloca a ficha médica, antes dela ser morta. — Em segundos, o pedido era atendido. — Saudável.
— O laudo foi desconsiderado porque não condizia com o estado dela antes de sua morte, mas e se o perito estivesse certo? E se a doença tivesse sido causada durante o período em que ela foi raptada?
— Qual a forma mais rápida de transmissão da bactéria? — Zyon fechou os olhos, como se buscasse lembrar da resposta, e então falou:
— Alimentos enlatados mal conservados, eu acho.
— Ela tinha resíduos de alguma coisa no estômago?
Ghost olhou com rapidez os arquivos no computador e encarou os demais membros da equipe.
— Pêssego. — Algo ainda não se encaixava. — O cara tem dinheiro, ele pode viajar e sempre traja as vítimas com coisas raras. Por que ia dar pêssego estragado pra mulher?
— Porque não ia ser acusado como uma droga nos laudos. Não iríamos ver, assim como não vimos. — A ficha de caiu, aos poucos. Porra, como ele tinha deixado um detalhe tão importante passar? — Ele utiliza substâncias naturais nas vítimas. Zyon...
O menor girou na cabeça, murmurando um entendido antes mesmo que a frase fosse finalizada e passou a procurar todas as plantas raras, os efeitos, onde conseguir e quem as tinha conseguido no último ano. O descontrole dele também seria algo benéfico para a equipe, a compulsão estava maior e o número de vítimas tinha aumentado em meses. Quando o desejo por sangue crescia tanto, era difícil se manter parado. Ele sabia disso.
— Eu posso falar com você? — O loiro se afastou, sendo seguido pela ruiva com quem trabalhava. — Eu... Eu vou atrás da . Eu preciso fazer isso, a preocupação e não saber como ela está ou como conseguiram a roupa dela está me matando e...
— Shh. Você não precisa se explicar, vá atrás dela. Nós chegamos em um ou dois dias. — Ele a abraçou, agradecendo silenciosamente pela compreensão e se afastou, mas ela o chamou quando ele parou sobre a porta. — ? Ela ia gostar que você seguisse em frente.


Capítulo 29

Ele tinha chegado quase tão rápido quanto tinha partido. Era pouco tempo longe, tinha ficado apenas dois meses afastado pela falta de pistas e pela covardia que o impediu de lutar por , mas ele estava ali agora e nem mesmo ela conseguiria impedir que ele a protegesse. O tempo distante o fez ver que ele morria lentamente sem o cheiro de baunilha do cabelo da mais jovem.
Ele iria procurá-la, mas primeiro tinha que conversar com Billy sobre tudo. Ele provavelmente expulsaria o loiro a socos assim que ele entrasse em sua sala. Enquanto caminhava pelos corredores da delegacia, sentia uma mistura de familiaridade e estranheza. Indo até a sala do chefe local, ele bateu duas vezes e entrou quando ninguém abriu. Na mesa do escritório tinha apenas umas fotos e sentiu seu coração estremecer quando olhou um quadro com o que parecia ser um ultrassom, rezando para que não fosse da sua e sim de alguma mulher que Billy começou a se relacionar após sua ida.
Sentindo que estava invadindo o espaço que não lhe pertencia, o maior apenas saiu em busca do mais velho. Tinham muito a conversar, de forma pessoal e profissional. Ele estava focado em sua tarefa quando, de repente, seus olhos encontraram no final do corredor. Seu coração pulsou, mas ele se esforçou para controlar as emoções que o invadiram.
estava concentrada em uma papelada, sua expressão séria enquanto conversava com outros policiais. observou-a por um momento, o turbilhão de sentimentos dentro de si tornando-se quase insuportável.
Ele decidiu se aproximar, seu coração batendo descompassado. sabia que precisava enfrentar o que estava por vir e encarar as consequências de suas ações. Ele tinha ido embora e agora precisaria aceitar se ela não aceitasse a sua volta.
— disse ele suavemente, seu tom carregado de arrependimento.
A morena ergueu a cabeça, surpresa ao ver diante dela. Seus olhos se encontraram e, por um momento, o tempo pareceu parar. Ele analisou o corpo dela, percebendo algumas mudanças, embora ela ainda estivesse linda. A mulher também não deixou de notar o homem, sentindo a vontade que tinha de matá-lo surgir aos poucos, junto ao sentimento que sufocou em sua garganta durante sessenta dias.
— ela cumprimentou, seus lábios formando seu nome com uma mistura de choque e confusão.
engoliu em seco, seu olhar se desviando para o ventre de . Ele notou o volume ali e uma onda de incerteza o invadiu. Talvez fosse tarde demais e ele realmente tinha estragado tudo. Ele procurou Kyle com o olhar e não achar o policial o fez sentir um pequeno e fino fio de esperança de que ela não estivesse grávida. Não dele, pelo menos.
— Eu não sabia que você estava aqui — disse ele, lutando para encontrar as palavras certas.
Ela franziu a testa, sem entender completamente o que ele queria dizer. Sua expressão era uma mistura de curiosidade e desconfiança.
— O que você quer, ? Por que você está aqui? — perguntou , sua voz carregada de cautela, mágoa e raiva. Ela não era nenhum brinquedo que quando ele enjoava de brincar deixava no canto e quando voltava, pegava de volta.
respirou fundo, reunindo coragem para enfrentar o que estava por vir. Ele precisava ser sincero com , mesmo que isso significasse enfrentar suas próprias falhas.
— Eu voltei porque... porque o caso ainda está ativo. Temos uma vítima desaparecida e... — admitiu ele, seus olhos fixos nos dela. — Não só por isso. Podemos conversar em um lugar mais reservado?
Os olhos azuis do loiro imploraram para que ela aceitasse sair do meio de todos aqueles policiais que os olhavam como se fossem uma novela das nove nos capítulos finais. o encarou, uma mistura de emoções passando por seus olhos. Ela sentia a dor da traição, o amargo das mentiras e não conseguia mais confiar nele, no entanto, também não queria sua vida exposta daquela forma.
— Okay, .
Em um passeio silencioso eles foram até o elevador, subindo para o terraço do prédio. Ali eles tinham se despedido, ali tinha sido encerrado tudo dois meses atrás, então também seria ali que ele teria que se contentar em falar com ela. Em um lugar que tinha espaço suficiente para que ela ficasse longe do perigo iminente que ele era.
se aproximou lentamente, seu olhar fixo no ventre de . Era pequeno, praticamente imperceptível, mas a blusa que ela estava hoje, sem a jaqueta preta que costumava usar, se colava tanto em seu corpo que no fim de sua barriga ele notou a pequena protuberância.
, eu só preciso saber... o que está acontecendo com você? — indagou ele, sua voz repleta de ansiedade. Ela entendia o que a pergunta dele dizia, mas manteve-se quieta simplesmente porque não sabia como responder. — Você... está grávida? — perguntou, com a voz falha e arrastada.
assentiu, suas emoções à flor da pele.
— Sim. Eu descobri tem pouco tempo. — Ele se apoiou no parapeito, assim como ela. — É seu filho.
— Você ia me contar? — A pergunta saiu tão dolorosa quanto a resposta dela, que ficou presa em sua garganta, embaçada pela vontade de chorar.
— Sim. Eu só não estava pronta ainda, mas não esconderia de você. — Ele assentiu. não era tão sensível, normalmente não costumava chorar, mas a gravidez tinha mudado tudo nela nos últimos meses.
— Quanto tempo?
— Três meses e meio. Quase quatro. — A dor se alastrou no peito do maior, o fazendo perceber que quando partiu o coração dela, o filho deles já estava ali. — Eu não sei como aconteceu, quer dizer... eu tomei todos os remédios, verifiquei data de validade.
— Seu pai sabe?
Ela sorriu de forma divertida, balançando a cabeça positivamente.
— Ele se conformou antes mesmo de mim. Eu demorei um pouco a aceitar, com tudo que aconteceu. Todas as mentiras, você indo embora... — A voz foi ficando mais baixa. Ela não queria brigar e não era momento de o culpar, o clima já estava suficientemente denso sem um saber o que falar para o outro.
— Ele vai me matar, não vai?
— É provável que eu mate antes.


Capítulo 30

Após mais alguns minutos de conversa, os dois desceram à procura de Billy. O homem grisalho encarou e caminhou até ele com um sorriso quase bom demais para ser verdade, quando chegou próximo o suficiente, Billy atingiu o nariz do loiro com força, de forma inesperada, o fazendo cair antes mesmo que pudesse reagir. se assustou em uma primeira reação, mas logo depois a vontade de rir da situação subiu, preenchendo todos os seus pulmões.
— Eu mereço.
— É, você merece — o homem murmurou, oferecendo a mão para tirar o agente do chão.
O clima entre Billy e era tenso e repleto de desconfiança. Billy lutava para superar o receio e o sentimento de proteção que tinha em relação à sua filha, . Ele sabia que tinha ferido profundamente ao partir sem dar explicações adequadas, e agora, diante do fato onde o loiro era o pai do seu neto, seus sentimentos contraditórios o deixavam em conflito. Por mais adulta, bem criada e forte que fosse, Billy ainda era seu pai e se portava como tal. Não importava se ela tinha vinte e quatro ou quarenta e dois.
entendia a preocupação de Billy, era mais do que compreensível porque ele próprio tinha acabado de descobrir que seria pai e já chegava a pensar que faria exatamente o mesmo. Por saber do seu erro e querer assumir isso, ele não rebateu ou reclamou do soco recebido.
Após a recuperação do loiro, os três se reuniram na sala do detetive local. O grisalho tentava colocar seus sentimentos de lado enquanto falava com sobre o andamento do caso. Eles precisavam discutir informações, compartilhar teorias e trabalharem juntos para desvendar os mistérios que cercavam o serial killer. Era isso ou mais uma família perderia a filha e mais uma pessoa jovem teria sua vida roubada. No entanto, por trás das conversas profissionais, havia uma tensão palpável. As palavras eram escolhidas cuidadosamente e os olhares carregavam resquícios de desconfiança.
— Pelo que Zyon conseguiu ver, uma jovem foi dada como desaparecida pelo namorado. Ela não mora aqui, mas estudou na mesma escola que Alessandra. — Os olhares confusos interromperam o raciocínio de , o lembrando que ele não tinha contado sobre a parte principal da sua visita. — Uns dias atrás, eu recebi uma caixa no meu escritório. Não sei quem enviou, foi bem embalada e bem cuidada para que não revelasse nomes — ele explicou, antes que surgissem as dúvidas comuns. — Tinha uma blusa branca. Com sangue.
— Então ele fez mais uma vítima durante esses dois meses?
concordou. A informação não tinha sido confirmada, já que não havia um corpo, no entanto, duvidava que ela estivesse viva.
— O problema é que a blusa era de . Eu reconheci porque... — O olhar do loiro pairou sobre Billy e ele optou por não concluir a explicação de como conhecia as roupas da menor. — Você sabe como alguém pode ter conseguido?
A pergunta dele se direcionou para ela, que mordeu os lábios com um pouco de força. Em sua mente, a noite pouco antes de ele viajar era reproduzida em câmera lenta. A caixa de remédio fora de lugar, o guarda roupas aberto. A janela de uma forma que ela não costumava fechar. Ele tinha estado no quarto dela? Tão perto assim? Sua pressão sofreu uma queda, suas mãos ficaram geladas e ela se segurou, sentando-se ao ser apoiada pelo loiro.
— Uma... Uma vez, entrei em meu quarto e encontrei a minha caixa de remédios fora do lugar e o guarda-roupas aberto. Pensei que fosse meu pai, mas agora... — compartilhou ela, com a voz vacilante.
Os olhos de se estreitaram, um sentimento de inquietação foi tomando conta dele. As peças começavam a se encaixar em sua mente, formando um quadro sombrio e ameaçador.
— Meus remédios — ela sussurrou tão baixo que os homens quase não puderam ouvir. — Merda! , não foi a primeira vez que eu entrei e a caixa de remédios estava fora de lugar. Por isso achei que tinha sido meu pai, já tinha acontecido outra vez.
O medo os dominou. O homem não tinha tido acesso apenas à intimidade da mulher, ele tinha ido muito além. Tentando não entrar em pânico e sentindo cada gota de sangue ferver em seu corpo, ele se ajoelhou no chão, ficando à altura da mulher.
— Você sentiu algo diferente? Você tomou alguma coisa? — Ela negou com a cabeça, tentando pensar se da primeira vez algo tinha acontecido, mas tudo parecia normal. Não tinha nada faltando ou sobrando além do que era de costume: remédio para dores de cabeça, para cólica e seus anticoncepcionais.
Como em um filme, sua ficha pareceu cair aos poucos e ela sentiu o seu âmago doer com a sensação de ter sido usada assim.
— Existe... Existe a possibilidade de alguém ter trocado meus anticoncepcionais e por isso eu ter engravidado? — Seu útero se revirou com a possibilidade de alguém ter planejado aquilo. Ela sabia que se alguém tivesse feito, teria um plano muito, muito doentio por trás. pareceu acompanhar o raciocínio rápido da jornalista, já que seu rosto se transformou em pânico junto ao dela.
sentia uma angústia crescente enquanto pensava no perigo iminente que enfrentava. O conhecimento de que havia alguém lá fora determinado a prejudicá-la, especialmente enquanto ela carregava o filho deles, era um peso insuportável em seu coração. Ele sabia que precisava tomar medidas para garantir a segurança de e do bebê.
Todo o choro que se acumulava em sua garganta o fizeram perder o ar e ele se abaixou por alguns segundos. Não podia perdê-la. Não podia correr o risco de que algum maldito qualquer tirasse a vida da mulher que ele tinha aprendido a amar. Depois de tanto tempo prometendo não se entregar ao amor, ele caiu. Caiu porque tudo que sentiu foi dor. A ameaça era forte demais para ser ignorada.
Billy saiu, deixando os dois a sós. A dor no rosto de era tão compreensível para si que ele não suportaria ficar para observar. Ele então buscou confirmar a possibilidade de os remédios terem sido modificados, buscando-os para os levar até um laboratório e fazendo uma varredura na casa onde morava.
Quando o loiro se recuperou, ele se aproximou da morena, ainda com lágrimas pela bochecha.
— Eu sei que você não vai gostar do que vou dizer, tá? Mas você vai ter que ir morar comigo. Quero que você e o bebê estejam sob minha proteção, onde eu possa cuidar de vocês e garantir que nada de mal aconteça — disse ele, sua voz firme e determinada.
ficou em silêncio por alguns minutos. Entendia que não tinha a menor possibilidade de arriscar o filho onde já tinham mexido no íntimo de sua rotina, também não era uma alternativa voltar a morar sozinha em seu apartamento, mas não se sentia segura. Ainda tinha dúvidas não solucionadas por , dúvidas que Simon tinha implantado e algumas já haviam sido comprovadas.
— Eu acho que não tenho outra escolha.
— Eu sinto muito — ele respondeu. Sentia que estava obrigando-a a fazer aquilo, mas não podia lidar com a possibilidade de perdê-la. Ele achava que era quebrado quando a conheceu, mas nada o quebraria mais do que ficar sem ela, sem eles, agora.


Capítulo 31

Billy lutava internamente com suas emoções conflitantes em relação a , mas quando confrontado com a realidade assustadora de que a segurança de e do bebê estava em jogo, ele percebeu que precisava deixar de lado suas reservas pessoais. O amor de pai falava mais alto e ele só queria o melhor para sua filha e para a criança que ela carregava em seu ventre.
Após conversas sérias e reflexões profundas, Billy finalmente concordou que deveria morar com . Ele entendia que o perigo era real e que estava disposto a protegê-los com todas as suas forças. Billy sabia que, como pai, sua função era apoiar e cuidar de sua filha da melhor maneira possível e ele tinha feito isso, ainda faria em cada dia singular da sua vida, mas também seria pai e ele precisava deixar que o homem tivesse a sua própria medida protetiva para sua criança.
Com uma mistura de apreensão e esperança, Billy ajudou a fazer a mudança para a casa de . Ele estava ciente de que essa era uma nova fase em suas vidas, uma fase que trazia consigo tanto riscos quanto oportunidades.
Enquanto ajudava a se instalar, Billy observava atentamente a interação entre ela e . Ele notava o cuidado e a ternura que demonstrava, e sua preocupação começava a se transformar em esperança. O mais velho, de fato, queria muito acreditar que havia aprendido com seus erros passados e que estava genuinamente comprometido em proteger e amar e o bebê.
À medida que os dias se transformavam em semanas, Billy testemunhava a dedicação incansável de em garantir a segurança de sua filha. instalou sistemas de segurança adicionais, tomou precauções extras e trabalhou incansavelmente para desvendar a origem das ameaças que pairavam sobre eles. Ele estava agindo como um homem determinado a proteger sua família a qualquer custo.
Billy tinha aprendido a reconhecer a devoção que tinha pela sua filha. Embora ainda houvessem momentos de tensão, a preocupação comum pela segurança de e do bebê unia-os em um objetivo comum.
Enquanto a investigação continuava, o perigo permanecia.
Billy percebia que sua decisão de permitir que morasse com era a melhor escolha que poderia ter feito. Ele via o quanto estava voltando a ficar feliz e segura ao lado de e isso lhe trazia um senso de paz e satisfação. Aos poucos, o homem de cabelos grisalhos entendeu que o amor de pai não se limitava a proteger fisicamente seus filhos, mas também a apoiá-los em suas escolhas e a aceitar o amor e a dedicação de outra pessoa. Ele começava a ver como um aliado na luta para manter sua família segura, e isso lhe trazia uma sensação de alívio e gratidão.
— Onde eu posso deixar isso? — O loiro a encarou, vendo-a pegar o que imaginou ser o material do trabalho da mais nova e apenas deu de ombros, se aproximando dela.
A morena estava sentada no chão, arrumando algumas últimas pequenas coisas. Apesar de a mudança ter sido quase imediata, ela não quis mexer em todas as caixas até que sentisse que aquela realmente seria sua casa.
, a casa também é sua agora.
Ela acenou com a cabeça, ainda não tinham feito as pazes e em partes a culpa era dela, que não permitira que ele se aproximasse pelo receio que tinha de que ele fosse embora novamente. sentia uma mistura de emoções enquanto se instalava na nova casa com . Agora com cinco meses e meio de gravidez, ela carregava o pequeno ser em seu ventre, um lembrete constante de seu amor por e do perigo que ainda pairava sobre eles.
. Cacete, ! — ela chamou nervosa e, apesar de ele estar ali em sua frente, ele correu, colocando a mão em sua barriga e a olhando de forma terna.
— O que houve? Tá com dor?
apenas negou com a cabeça, sorrindo, e posicionou a mão dele um pouco mais abaixo da barriga dela.
— Tá sentindo isso? — O homem sorriu, experimentando da melhor sensação que já teve em toda sua vida. Era o bebê deles que se mexia de forma preguiçosa dentro da mãe. Era estranho que ele estivesse mexendo tão pouco, mas, em consulta médica, foram orientados que o bebê apenas era um pouco preguiçoso.
— Eu amo vocês. — A frase a pegou de surpresa. Mesmo compartilhando o crescimento de uma vida e morando juntos há algumas semanas, ainda mantinha a personalidade fechada. Ele nunca tinha dito que a amava e pareceu não ter percebido o que falou. O homem tirou os objetos que estavam na mão de , afastou os demais que estavam ao seu redor e se aproximou dela com cuidado. Uma mão em sua barriga e a outra no rosto da mulher. — Me desculpa por ter ido embora, pela forma que falei sobre você ter ficado apenas para um caso. Você nunca foi só um caso. — Ele se aproximava, a mão descia até a barriga da mulher e ela suspirava. Os hormônios da gravidez já a deixavam naturalmente louca, o cheiro dele em junção a isso tirariam sua sanidade. — Eu amei a forma que você não teve medo de dizer que eu estava sendo um babaca, quando eu estava. — O homem então passou a distribuir beijos pelo queixo dela, acima da pele parda. — Eu amei a forma que você sempre foi tão astuciosa, corajosa e decidida. — O beijo então subia pela ponta do nariz da mais nova. — Amei tudo em você, . Desde a forma que você apareceu na minha vida até a maneira que se manteve nela. E eu não sei se eu sou bom amando, porque tiveram poucas coisas na vida que eu amei mais do que você. Eu costumo destruir o que amo, mas com você tudo que quero é construir.
As palavras do maior caíram sobre ela com um tom de súplica, mas não foi isso que a despertou gatilhos e suspeitas. De repente, a voz de Simon voltou ao seu ouvido, falando em alto e bom som para suspeitar de . Céus, ela teria um filho com ele e estava ali, duvidando dele, de suas palavras ou da bondade que tinha passado a enxergar no homem pelo tempo que tiveram juntos, mas sabia como acabar com isso.
Havia duas formas de descobrir se Simon estava obcecado com a ideia de arrumar um culpado para a morte da sua irmã, uma fácil e outra um pouco mais complicada. Todas exigiam uma proximidade não apenas com ele, mas com também. Ela agora estava morando com o agente especial, não seria tão difícil explorar áreas de sua casa, principalmente as que ele não queria que fossem exploradas. Agora não estava se preocupando apenas com a sua saúde, em meio a algum plano sinistro do destino. Ela agora esperava o seu filho e foi por essa criança que seus instintos aumentaram, diminuindo toda a confiança que tinha em .


Capítulo 32

Numa visita rápida à sua casa, sob pretexto de buscar algumas coisas que havia esquecido na mudança, a mulher parou sobre sua antiga cama, se deparando com o quadro que escondia o envelope catalizador para seus próximos passos. A dúvida se instaurou em si, não apenas pela desconfiança, mas por tudo que havia falado. Ele a amava e se a amava tanto assim, não teria segredos a esconder.
O instinto aguçado que a tornou jornalista rapidamente percorreu pelos seus poros, fazendo-a levantar e caminhar até o quadro. Vagarosamente, ela desencaixou a peça, abrindo a moldura de madeira e tirando dali o envelope que Simon havia a entregue. Antes de abrir, o silêncio a alcançou forte e rápido, o medo presente não apenas pelo arrepio em seu corpo, mas pela estranha sensação de que algo naquele envelope mudaria sua percepção de .
Os dedos foram lentos e trêmulos até a parte superior do papel, rasgando-o lentamente. As fotos, por sua vez, não eram tão assustadoras. estava chegando à cidade, ele visitava alguns pontos vestido com o sobretudo escuro que tanto amava. Em algumas fotos, ele estava próximo do lugar onde se conheceram. Em outra, ele entrava em um hotel. O que surpreendia, no entanto, era a data das fotos.
Dois dias antes do primeiro assassinato.
A mentira desceu em sua garganta, rasgando-a. Ele não veio após o assassinato de Amber, ele veio antes. Dois dias antes.
Sua mão rapidamente desceu até o ventre levemente avantajado, a pontada de haver uma possibilidade, ainda que pequena, de estar grávida de um maldito psicopata havia a tirado de todos os rumos e foi somente nesse momento que ela lembrou de uma situação específica, meses atrás. Rapidamente a mulher se levantou, caminhando até o seu guarda roupas, a lembrança veio inundando a sua mente. As mãos procuraram a pequena caixa de anticoncepcionais, a mesma que esteve fora de lugar e passou despercebida por ela. Segurando-as com tremor, abriu a caixa, levando um dos comprimidos até a boca e permitindo que eles se dissolvessem até que o sabor de menta ocupasse sua boca. A constatação do inesperado era o que a mantinha estática enquanto o remédio continuava a se dissolver.
havia mentido.
Seu filho não era um acidente.
O sabor amargo veio à sua garganta, formando um nó difícil de engolir. Alguém tinha planejado tudo aquilo e tudo apontava para a única pessoa com motivos de fazer aquilo. Seus remédios haviam sido trocados, manipulados, e isso resultou em sua gravidez. As pílulas não tinham falhado, elas simplesmente nunca chegaram a ser tomadas. E se a gravidez tivesse sido causada por ? E se, por algum motivo, ele a quisesse morando com ele e essa era a forma mais fácil de conseguir? Ele não teria por que mentir sobre a sua chegada à cidade, não teria como fingir que não conhecia um restaurante apenas por diversão. Então por que ele faria isso?
Novamente as palavras de Simon a preenchem. Ele não é quem você pensa.
Largando tudo que tinha pegado até então, a morena discou o número conhecido em seu celular e foi quando ouviu a voz carregada de sotaque que ela respirou, mas não era exatamente alívio que tinha em seus suspiros.
— O que mais você sabe sobre ? — A pergunta foi direta, fazendo a outra pessoa da linha suspirar. — Por favor, Simon. — O silêncio continuou do outro lado e o choro que a mulher engolia aos poucos aparecia de forma embargada em sua voz. — Eu preciso saber. Eu estou grávida.
— Porra. — O xingamento veio de forma inesperada e ela conseguiu sentir a respiração ofegante do outro lado da linha. — Me escuta. Você precisa se afaster dele. Eu não sei muito, mas... — Alguns segundos de silêncio se formaram e ela percebeu a confusão em sua voz. — Tem algo suspeito no afastamento dele. Não consigo saber o quê, mas ele esconde mais coisas. Fique longe, .
Como se essa fosse a peça que ela precisava, sua lembrança a levou em um caminho lento até a porta trancada. A reação dele no dia em que ela tentou abrir, o sombrio de seus olhos...
— Eu... Preciso fazer algo.
Sem esperar resposta, a morena desligou o telefone. A visão turva devido à confusão de seus pensamentos não deixaram que a clareza ocupasse sua mente no momento. Ela precisava abrir aquela maldita porta, havia algo ali, algo que ela sentiu desde o início. Algo que ela sabia que estava errado, desde o início soube.
Recuperando toda a sensatez que seria necessária para tirar a dúvida que ela tinha, se recompôs, guardando a caixa de medicamentos e voltando a devolver o envelope e o quadro ao seu lugar. Após sair de casa, o caminho que ela trilhou até o departamento de polícia foi lento, mas distante o suficiente para que ela conseguisse alinhar tudo que se passava em sua mente. As informações se ligavam como a droga de um mapa mental: a sua origem, sua profissão inicial, as mentiras e tudo que ele escondia.
Parando em frente ao prédio e alguns minutos antes de entrar, ela escondeu as chaves na sua bolsa. O caminho já era conhecido, então ela apenas passou pelo prédio com o acesso livre de quem tinha o pai e um relacionamento no lugar. Ao entrar na sala, sentiu um frio estranho percorrer seu corpo. Talvez pelo que ela escondia ou talvez apenas porque todos a olharam com uma expectativa que ela não conseguiria corresponder. os enganava também?
— Parabéns pelo bebê. — A voz de Bastien era doce e ela apenas sorriu em resposta, lembrando que agora ela tinha bem mais a perder caso desse um passo em falso.
— Alguém andou dando as notícias. — Seu olhar percorreu na direção de , que deu de ombros. Billy então se entregou.
— Não é sempre que você descobre que vai ser avô.
Helene não estava na sala e Zyon a olhava com uma expressão que não saberia decifrar nem mesmo se me esforçasse muito para isso. A morena caminhou até , tentando soar convincente o sucificiente para a cena que faria a seguir. O clima entre os dois estava estranho desde que ele se confessou e algo nela a impediu de fazer o mesmo. A mulher não confiava nele, não tinha certeza se ele não iria embora de novo e a mágoa do abandono estava presente junto às mil emoções que a gravidez trazia.
— Eu acho que perdi a chave da sua casa, você poderia me entregar a sua? — O olhar desconfiado pairou sobre a menor e ela se encolheu, sem saber se aquele era o olhar de ou o olhar do psicopata que já havia matado várias mulheres. — Eu estou me sentindo desconfortável, a gravidez está mexendo comigo. — Ela deu de ombros, tentando parecer menos suspeita. A carta da gravidez era algo que tinha aprendido muito bem a usar para manipular o loiro.
A desculpa era perfeita. O cuidado incomum que ele tinha na gravidez demonstrava que ele desejava aquilo talvez mais do que ela. O loiro entregou a chave nas mãos dela, ainda carregando uma expressão confusa em seu rosto e, para desviar a atenção dele, a morena apenas se aproximou selando os lábios do homem em um selinho rápido.
Após ter conseguido desviar sua atenção, ainda podia ver a confusão em seus olhos. Mordeu levemente o lábio inferior, sentindo o rubor nas bochechas porque embora todos soubessem que estava grávida, nunca havia demonstrado estar em algo com . Isso o atingia também.
Não ficou tempo suficiente ali para esperar que ele se arrependesse ou tirasse alguma chave do seu chaveiro. Em vez disso saiu rápido do prédio, pegando um táxi e dando a direção da casa de . Havia chegado a hora. Precisava saber quem era o pai do filho que estava esperando.


Capítulo 33

As mãos da mulher estavam trêmulas, a verdade cada vez mais próxima fazia seu coração disparar ligeiramente. Ela estava assustada, amedontrada por inteiro, com a possibilidade de estar não apenas morando com um serial killer, mas gerando o filho de um. Não que sua filha tivesse culpa, afinal ela conseguia sentir que era uma menina, mas se a gravidez tinha sido causada pela alteração de seus anticoncepcionais, alguém tinha uma ideia muito perturbadora para essa criança. E lhe doía o peito pensar que era quem estava por trás disso.
Após abrir a porta com dificuldade, a morena entrou em casa, trancando-a por dentro. Não queria que chegasse e, se ele viesse, queria que ela soubesse isso antes. Precisava saber, ele já tinha a surpreendido demais com as últimas informações.
O caminho foi direto até a porta secreta, o escritório com casos pesados do qual ele falava continuava trancado, desde meses atrás. Estava intacto, soubera por Helene que quando foi embora, não levou nada e isso despertou ainda mais a sua curiosidade acerca do cômodo.
As chaves em sua mão começaram a ser testadas uma a uma, até chegar à última de tamanho mais arredondado. O encaixe na fechadura a fez tremer, mas quando a porta abriu, ela sabia que não podia mais voltar atrás. A verdade estava ali e o motivo para a descoberta estava em seu ventre. Ela devia isso a si mesma, mas principalmente à sua filha. Se tinha feito tudo que ela suspeitava, ele não mereceria sequer ser pai.
Ao entrar, a sala não mostrou ter nada demais. Havia uma mesa grande de madeira, uma cadeira de couro e estantes de livros. Sua mente rapidamente recapitulou os passos, como se fosse . Se ele fosse um detetive, onde esconderia algo? Estantes seriam óbvias demais, as caixas no chão estavam entregues a quem quer que chegasse. Seus olhos então foram até a cadeira. Ninguém procura nada em uma cadeira.
Esgueirando-se ao chão, ela se deitou prontamente abaixo do móvel. As suspeitas apontando-se como certas mostraram um corte no estofado e ela se esforçou para rasgar mais a parte debaixo de cadeira, utilizando para isto uma das chaves em sua mão.
Ela enfiou a mão na espuma, localizando uma caixa pequena o suficiente para estar ali. Retirando o pouco da espuma, foi perceptível uma caixinha de veludo. Com medo, mas impossibilitada de voltar atrás, a mulher abriu lentamente o objeto, deparando-se com duas alianças. Uma delas completamente ensanguentada. Junto havia também um colar, as iniciais C.J. brilhavam como pedras de diamantes, mas não havia nenhuma foto. Nada que a ajudasse a identificar o que era aquilo ou o porquê de esconder isso.
De forma intuitiva, os olhos percorreram para a mesa de madeira, grande o suficiente para não precisar de nenhum compartimento, no entanto, havia uma protuberância estranha sobre a madeira. Curiosa, com a adrenalina a mil em seu corpo e a vontade indescritível de descobrir de uma vez por todas as mentiras do amado, ela se esforçou para alcançar a região.
Não demora até que conseguisse abrir a madeira falsa e, assim que conseguiu, uma pasta caiu sobre o chão, fazendo um barulho estrondoso, mas não tão alto quando a dor que ela sentiu.
As mãos agora acompanharam a visão embaçada que caminhava para a pasta amarela, abrindo-a lentamente. Era um dos casos pesados que ele falava? A pergunta tentava justificar, mas foi abrindo a pasta que ela se deparou com a verdade seca, que cortava sua garganta.
Na pasta havia fotos de uma vítima, os olhos abertos como os de Silvia, o vestido da mesma cor que o de Amber, a maquiagem tão bem feita quanto das outras. rapidamente desviou os olhos para a aliança na mão da mulher, a mesma aliança que estava ensanguentada, escondida dentro da cadeira de couro. Abaixo o nome Catarina Jones. A vontade de vomitar veio à sua garganta, mas ela prendeu, passando as páginas e as fotos. Havia fotos dela viva, fotos tiradas sem que ela soubesse. Havia também fotos durante a morte. O corpo jogado sobre um chão frio e sujo, correntes por volta dos seus pés, o cabelo desgrenhado de quem havia passado tempo demais sobre tortura. Ao contrário das outras, essa tinha hematomas por todo o rosto, que desciam pelos seios e barrigas e só paravam após as suas coxas.
O choro a impediu de pensar, mas assim que as fotos vinham claras e torturantes em sua mente, ela parou para pensar sobre o nome da vítima. Catarina Jones não estava em nenhum arquivo, não estava em nenhuma pista das investigações, não estava citada sequer como um hipótese do porcelanista, no entanto, ela estava ali escondida sobre o escritório de como um troféu que ele mantinha fora do alcance de qualquer um.
Na quinta foto, foi possível ver um volume na barriga da mulher, um volume exatamente igual ao que ela tinha agora. Um volume específico, que demonstrava uma gravidez iminente. Sua mão rapidamente foi até o próprio ventre e seus pensamentos tentaram, desajeitadamente, montar uma solução para aquilo. Tudo tinha uma explicação, precisava ter.
O lógico, no entanto, era a possibilidade mais inevitável. E se ela fosse uma substituta para Catarina Jones? Se grávidas fossem um hobby estranhamente perturbador do porcelanista?
“Ele não mexe com crianças.”
A voz de ecoou em sua mente. A frase sobre o porcelanista tinha a acalmado meses antes, mas agora... E se estivesse apenas tirando a suspeita de si mesmo? Aquilo era perfeito para que ninguém procurasse por crianças, ou por mulheres que gerassem uma.
— Eu posso explicar. — A voz de saiu desesperada enquanto ele se aproximava e, a cada passo, se afastava mais. O choro molhou o rosto da mulher e ela engoliu a seco assim que ele se aproximou lentamente do outro lado da mesa. Vendo o medo no rosto dela, ele parou, mudando a expressão de desespero tão rápido como um bom ator. — Você não deveria ter visto isso, . — Os olhos dele foram até o arquivo e, assim que ele se aproximou dela, a mulher empurrou a mesa, fazendo-o se desequilibrar por alguns segundos.
Segundos suficientes para que ela corresse, fugindo daquele lugar, das cenas da mulher em sua mente e de um fim que ela sabia que estava próximo.


Capítulo 34

O sol abrasador parecia lançar faíscas de fogo sobre enquanto ela corria pelas ruas movimentadas da cidade. Cada passo era um martelar frenético de pânico e o suor escorria por seu rosto em correntes quentes, mesclando-se às lágrimas de medo. Fugir não era sua intenção, mas ela não tinha mais nada a fazer. Ela sentia os passos vindo atrás de si, sabia que não teria parado ali e que tinha vindo atrás dela, podia sentir isso.
Seus olhos estavam arregalados, fixos em sua frente. A metros de distância e distorcido pelo medo, conseguiu ver uma figura loira e alta a olhar com os olhos brilhando com uma determinação que gelava todo o seu sangue.
O coração de martelava dentro de seu peito, como um tambor que anunciava a aproximação do perigo. Cada inspiração parecia queimar seus pulmões, mas ela não poderia parar. A cidade ao seu redor parecia ter perdido todas as cores e tudo que ela podia sentir era como se fosse uma presa fugindo em uma perseguição que ela não sabia se podia controlar.
então virou em uma rua estreira e deserta, com becos laterais que pareciam esconder os segredos mais sombrios. Seu corpo estava à beira de um colapso e a preocupação com o bebê que esperava a impedia de desistir. Não era mais apenas a sua vida que estava em jogo. A esperança queimava em si, com uma chama frágil. Buscando se ausentar cada vez mais, a mulher se deparou em um beco sem saída. Ela sabia que precisava encontrar ajuda, mas agora estava sozinha em uma rua deserta. Seus olhos varreram freneticamente o cenário, em busca de uma saída, uma única maneira de escapar.
Finalmente ela avistou uma porta entreaberta em uma casa antiga, como uma tábua de salvação em um oceano de desespero. Sem hesitar, ela se lançou para dentro, ouvindo a porta fechar atrás de si em um baque surdo.
A cara era desconhecida e ela se encontrou em uma sala escura e silenciosa, com o coração martelando em uma trilha sonora do pesadelo que estava vivenciando. O perigo não tinha passado, ela conseguia sentir isso, mas pelo menos agora havia um breve respiro enquanto tentava descobrir onde estava e o que fazer em seguida. As paredes de madeira pareciam fechar-se ao seu redor. Sua respiração era ofegante, um breve respiro saiu entre seus lábios e de forma lenta a mulher tentou explorar mais da casa, buscando se assegurar de que ali não iria encontrá-la.
Ela podia sentir a presença do passado naquela casa, os móveis eram antigos e haviam objetos que pareciam esquecidos pelo tempo. Com cuidado, ela começou a explorar o local, esperando achar uma saída ou, no mínimo, um bom esconderijo até que fosse seguro sair dali.
Os minutos se arrastavam como horas enquanto ela vasculhava a casa em busca de uma rota de fuga, as portas pareciam estar trancadas e as janelas seladas há muito tempo. Ela havia ido de uma prisão a outra e o pensamento de que o homem a encontraria, a atormentava.
O silêncio ao seu redor era quase ensurdecedor. Cada rangido do assoalho e sussurro do vento pareciam um eco ameaçador. Ela começou a sentir a opressão do lugar, como se a casa tivesse uma presença própria, observando-a.
Seu desespero aumentava com o passar do tempo, ela sabia que precisava encontrar uma solução antes que fosse tarde demais. Cada canto escuro escondia segredos desconhecidos e cada sombra era uma potencial ameaça. Havia uma áurea sombria no lugar. Observando as luzes diminuírem, ela então percebeu que a noite havia caído sobre a cidade. estava exausta e com medo, por isso escondeu-se em um canto da casa, esperando em silêncio enquanto o tempo passava.
O tempo parecia ter perdido seu significado e cada minuto se arrastava como uma eternidade. O relógio velho, mas ainda funcional, emitia batidas intermináveis sendo uma constante lembrança que o perigo se aproximava.
Tique.
Taque.
Quase pegando no sono, foi desperta com o som de passos se aproximando. Tudo em seu corpo a fez tremer de terror. A porta da sala de abriu lentamente e embora sua respitação estivesse descontrolada, ela tentou manter-se escondida. Não podia ser um morador, a casa estava abandonada o suficiente para não ter alguém que vivesse ali.
Os passos se aproximavam lentamente do guarda-roupas que ela estava escondida. O olhar dela se mantinha na porta entreaberta, ouvindo o assoalho ranger de forma sinistra a cada passo do homem. O cheiro da sujeira antiga que permeava o lugar trazia uma mistura de mofo e decadência que se misturavam ainda mais ao medo que ela sentia pela sua vida e pela vida que carregava.
Ela conseguia sentir a confiança dele emanar pela sala, como se já soubesse que tinha encurralada. Como se já soubesse onde ela estava. Seus dedos estavam curvados como garras, prontos para agarrá-la. Ela se forçou a não tremer, sabia que se fizesse qualquer som, seu esconderijo seria descoberto. Seus pensamentos estavam em um turbilhão, procurando desesperadamente uma saída. Os olhares percorreram a janela. Seria possível mover-se silenciosamente para escapar por ali?
O homem estava a metros de distância, tão próximo que ela podia sentir o calor de sua presença maligna. Ela fechou os olhos, por um instante, tentando encontrar coragem em meio ao pânico que a envolvia.
Com um movimento subido e controlado, o loiro abriu a porta do guarda-roupa e a luz fraca da lâmpada revelou o rosto frio e determinado. Os olhos dele encontraram os dela e sentiu um calafrio percorrer sua espinha com a familiaridade que aquele rosto trazia para si.
— Você não pode escapar, — disse ele, carregando malícia em sua voz. O tom vitorioso de quem tinha ganhado a sufocava. — É inútil tentar.
O pânico se apoderou de quando ele a agarrou pelo braço, arrastando-a para fora do guarda-roupa. Ela lutou com desespero, mas suas tentativas se tornaram cada vez mais fracas contra a força implacável dele. As mãos dele levaram um pano até sua boca, afastando a visão que ela sentia ir embora a cada segundo.
agora não era mais a jornalista petulante que havia sido desde que conheceu , ela era uma presa encurralada, totalmente à mercê do seu captor.
— Era você... o tempo todo. — A voz feminina saiu fraca e rouca, segundos antes de tudo ao seu redor se consumir em escuridão.


Capítulo 35

Observo os seus olhos se abrirem de forma desnorteada e paro para observar os traços da morena à minha frente. Os lábios bem contornados, a figura pequena, mas com curvas estonteantes, o cabelo cortado na altura do ombro, trazendo ainda mais suavidade ao seu rosto delicado… E, claro, a barriga perfeitamente arredondada, ainda que não fosse tão grande e estivesse bem disfarçada em roupas largas. Não era minha culpa que eu estivesse perdendo parte do meu estado mental, fazendo coisas que eu normalmente não faria, seria uma perdição para qualquer homem.
Continuo observando-a atentamente. Ela está amarrada a uma cadeira, com cordas firmes que cortam seus pulsos e tornozelos. A escuridão do quarto a envolve, iluminada apenas por uma lâmpada fraca pendurada no teto. Minha máscara esconde o meu rosto, embora ela já saiba quem eu sou. Mantenho meu silêncio, esperando que ela entenda a gravidade da situação, esperando sua mente a relembrar de onde ela está, de com quem ela está.
O suspense é meu aliado, o medo é a minha arma.
— Oh, ma petite. Você acordou. — Seu olhar pisca algumas vezes, talvez se acostumando com a claridade ou tentando fazer o cérebro agir mais rápido. Quando ela finalmente me enxerga, ela tenta mover-se com rapidez para o lado oposto da cama, se afastando, um movimento em vão.
Um medo prazeroso de assistir.
— Onde eu estou? — sussurra, com a voz trêmula e fraca. Ela procura respostas que não a dou, mas continuo olhando-a com satisfação.
— Você está no meu mundo, cherie — respondo, mantendo a minha voz gélida.
Caminho em direção ao claro, minhas mãos enluvadas seguram um objeto afiado e meus olhos brilham com antecipação. Eu sinto o poder que tenho sobre ela. me olha com os olhos cheios de coragem, é disto que gosto nela. Ela não está completamente indefesa; sua mente é afiada como uma lâmina.
— Por quê? — Sua voz se mantém trêmula, mas é suavemente firme. — O que ganha com isso?
Mantenho a expressão séria, mas, de certa forma, as perguntas dela me surpreendem. Ela está presa, completamente vulnerável. Ela já sabe do que fiz, mas não está suplicando por sua vida. A maioria das mulheres que já estiveram na mesma situação costumavam implorar por misericórdia ou chorar de terror. Não .
— Você é a primeira que me pergunta isso — admito, deixando o tom de curiosidade em minha voz.
— Nós sabemos o que você é. Eu sei que não vou sair daqui viva, então apenas me dê um por quê. Você me deve isso. — A raiva em sua voz é tão audível que se torna divertida.
Há algo desconcertante em sua coragem.
— Você fala como se houvesse uma razão — confesso, com a voz mais baixa. — Mas a verdade, , é que eu não sei por que faço o que faço. Não tive uma infância triste e traumática. Eu só… tenho um impulso.
— É assim que você define transformar mulheres em bonecas doentias? Um impulso?
— Talvez seja uma tentativa de resgatar a beleza que foi perdida. Quero dizer, quem poderia negar que há beleza nas bonecas que eu crio? Elas são perfeitas, intocáveis, imunes às imperfeições do mundo. — permanece imóvel, absorvendo minhas palavras com uma expressão que beira a inquietação.
— Não foi esse lugar que imaginei para você. — Sua voz sai fraca, expondo as horas que ela passou sem o uso do seu timbre naturalmente suave.
— Eu sei. Você imaginava algo mais sombrio, com correntes, ferrugem e mofo. Devo admitir que sua imaginação é um pouco animalesca. — Minha risada sai baixa e me sento ao lado da morena. — Embora aqui haja correntes também, é claro. — Meu olhar desce até as pequenas mãos presas dela. — Eu até tenho um lugar assim, mas você é especial, merece um pouco mais de conforto.
— Para que conforto se vai me matar da mesma forma? Você me enganou, mentiu para mim. — Há arrogância em sua voz, um tom de descaso que me incomoda, mas ao mesmo tempo me diverte.
Aproximo um pouco mais nossos rostos, sentindo a respiração quente dela em minha pele e sorrio quando seus olhos se fixam aos meus.
— Você ainda não entendeu? — Seu maxilar trava e por alguns segundos consigo sentir a raiva que emana ao redor dela, mesmo percebendo que ela insiste em manter a calma. — Você é diferente, . Meus planos pra você são outros, eu não quero matar você… Eu quero manter vocês.
Seu olhar estremece, fazendo-a se afastar de forma brusca quando percebe a ênfase no plural da última palavra. Seus olhos, de forma inconsciente, descem até a sua barriga e demoram ali. Se eu me aproximasse mais, tenho certeza que conseguiria ouvir os seus pensamentos.
Te vejo em seis — a voz rouca repete suavemente, encaixando as peças que ela não tinha conseguido antes. Sua inteligência me fornece uma empolgação ainda maior. — Nunca foi sobre o horário, era sobre a minha gestação. Não era te vejo em seis horas, era te vejo em seis meses.
Aceno de forma suave, me levantando e caminhando até a cômoda do quarto. Paro para observar os detalhes dourados do quarto, com grandes móveis de madeira e estofados de couro, em sua maioria. Sirvo-me com uma bebida quente e, no primeiro gole, sinto-a rasgar a minha garganta. Paro em frente à cômoda de roupas e observo a mulher sentada de forma desajeitada, que tenta fugir do meu olhar rapidamente.
— Como você soube?
Cherie… Fui eu que coloquei essa criança aí dentro, para início de conversa. ajudou, obviamente, mas eu tive boa responsabilidade mesmo sem tocar em você, tocando apenas nos seus medicamentos.
— Eu ainda não estou com seis meses. — Sua resposta foi dura, demonstrando mais da raiva que eu consigo ver. Um sorriso esboça meu rosto porque, de alguma forma, eu tenho fascínio por ela quando ela está irritada assim. Algo em sua beleza cresce quando sua ira dá sinais.
— Infelizmente, não. Você se antecipou em alguns passos, não esperava que caísse tão rapidamente nas pistas sobre , mas algo em você estava desesperadamente tentando acreditar na culpa dele.
— Talvez seja porque um doente de merda me fez engravidar.
— Não seja dura comigo, petite. Posso ter sido radical, mas precisei fazer isso. Além disso… Eu sempre quis ser pai, serei um padrasto incrível. — Não consigo esconder o tom de desdém em minha voz, bebendo um pouco mais do líquido no copo em minhas mãos quando ela me encara assustada.
— Por quê?
— Se você quer fazer um homem sofrer verdadeiramente, não o mate, deixe-o sem sua família. — Percebo-a engolir a seco antes de continuar. — se meteu em muitos assuntos que não deveria, ele precisa aprender uma lição. Sua ex mulher não foi o suficiente, talvez uma nova mulher e um filho sejam.
Sua expressão muda sob meus olhos, uma compreensão divertida de quem está começando a perceber tudo.
— Catarina Jones.
— Viu? É disso que gosto em você, petite. Você é esperta quando quer ser. — Não me aproximo, mantenho distância da raiva que cresce consigo na cama porque é mais divertido observá-la de longe. — Eu o fiz escolher entre a esposa ou o caso. Bom, ele está no caso hoje e ela está morta. Então você sabe que escolha ele fez. — Dou de ombros, uma expressão de vazio ocupa as linhas suaves do rosto da morena. — Acha que um filho é o suficiente para fazê-lo esquecer o caso agora? — me encara com nojo, o que me incomoda demasiadamente.
Ela deveria enojar-se dele, não de mim.
— Sylvia era sua irmã. Como você pôde?
Dou de ombros com a pergunta, embora os sentimentos direcionados a mim fossem, em sua grande maioria, negativos… eu queria ter essa conversa com há meses.
— Eu não podia ir até vocês… Seria suspeito demais. Eu precisava trazê-los até mim. Um meio para um fim.
— Nós investigamos você, suas passagens, verificamos. Eu tenho certeza.
— Eu tenho alguns truques. Por exemplo, vocês sempre procuram o número de identificação pessoal, o nome, os documentos… Mas esquecem de procurar os dos familiares, principalmente os não sanguíneos, ou que acham não ser. Meu irmão biológico viajou no meu lugar, as passagens foram compradas no meu nome. Somos bem parecidos, mas com sobrenomes completamente opostos e nada que nos ligue documentalmente falando. Minha adoção nunca foi divulgada, meus pais me registraram como se eu realmente fosse filho deles, ninguém nunca soube. Além disso, que tipo de monstro eu seria se tivesse matado a minha própria irmã? Você é sensível demais para acreditar no lado ruim das pessoas.
— Eu estou acreditando no seu lado ruim agora.
— É… só é um pouco tarde demais pra isso, petite.


Capítulo 36

Billy rapidamente avançou sobre , com raiva e em completo desespero.
— Eu sabia, eu sabia que você seria a ruína dela, seu maldito desgraçado. Se algo acontecer com a minha filha, eu juro por Deus que eu vou te matar. — O nervosismo do homem fez com que suspeitasse que algo estava errado.
— O que houve com ela, Billy? — A voz de saiu rouca e entrecortada pelo medo. Ele não precisava perguntar quem estava por trás disso; ele sabia muito bem. O assassino que ele caçava havia declarado guerra contra ele e pagaria por isso, assim como Catarina.
— Levaram ela, . Ele levou a minha filha. — Os olhos de Billy eram carregados de desespero.
A notícia atingiu como um soco no estômago. Ele estava há algumas horas longe de casa, mas não deveria ter deixado sozinha. Sua mente girou em um turbilhão de pensamentos, e o medo o dominou. Por anos, ele havia evitado que aquilo acontecesse novamente. Por anos, ele evitou se envolver com alguém ou ser próximo de qualquer pessoa que lhe despertasse sentimentos. Perder alguém que ama sempre seria a dor mais insuportável de sua vida e por mais que ele não quisesse passar por aquilo de novo, seu peito se apertava, contorcendo-se numa premissa de que tudo poderia acontecer de novo, duas vezes pior, agora que carregava seu filho no ventre.
Anos atrás, quando fora afastado do caso, ele entendeu que a maior das dores era causada não por algo que fizessem contra você, mas por algo que fizessem contra quem você ama. Quando o porcelanista sequestrou Catarina, parte do seu mundo rompeu-se com a ideia de que ele tinha causado aquilo.
A lembrança daquele período sombrio voltou com força quando desapareceu. A sensação de impotência, a culpa que o assombrava, tudo parecia ecoar novamente em seu peito com o dobro de força. Ele sabia que a busca pelo porcelanista estava longe de ser encerrada, mas agora o inimigo tinha se revelado de uma maneira mais cruel, atingindo o coração de , despertando nele uma urgência ainda maior.
Enquanto liderava a equipe na busca por , uma voz sussurrava em sua mente, relembrando os momentos em que Catarina também foi uma vítima. Ele tinha jurado proteger aqueles que amava, mas o passado insistia em reavivar as cicatrizes que ele tentava esconder. As dores não curadas.
Quando ele se casou com Catarina, havia lhe prometido segurança, estabilidade afetiva, um amor incondicional, e poucos anos depois do casamento teve cada uma de suas promessas quebradas. A sua obsessão o levou a uma escolha tardia, a forma que ele buscava desesperadamente a captura do assassino que tanto lhe mexia a mente fez com que ele aceitasse arriscar a sua própria esposa nisso. Quando questionado se ele preferia desvendar ou salvar Catarina, sua mente o enganou achando que ele podia conseguir as duas coisas.
A lembrança daquela fatídica noite ecoava na mente de como um eco doloroso do passado. Catarina, sua esposa, tinha sido uma vítima do monstro que ele perseguia incansavelmente. As promessas de segurança e amor incondicional foram dilaceradas naquela noite escura, quando o porcelanista cruzou o caminho deles. Sua morte, no entanto, nunca veio a público. Ele não quis que a mulher que amou e a escolha que fez estivessem estampadas nos jornais, demonstrando sua incompetência em proteger qualquer pessoa que amasse.
se recordava vividamente da escolha impossível que teve que fazer. A pressão da busca pelo assassino e sua obsessão insaciável o levaram a um ponto de ruptura entre o que ele deveria fazer e o que ele fez. Ele se viu dividido entre desvendar o mistério que assombrava sua vida e salvar a mulher que amava. Sua mente, enredada na teia complexa da busca pela verdade, enganou-o ao sugerir que ele poderia ter ambos.
No entanto, as escolhas na vida raramente são tão simples. Na ânsia de capturar o porcelanista, inadvertidamente colocou Catarina em perigo. A verdade foi revelada da maneira mais cruel possível, quando ela se tornou mais uma vítima do assassino que ele perseguia. O momento de anos atrás lhe era semelhante ao de hoje, quando ele estava no escritório em meio a caixas e caixas do caso e Bastien chegou com a notícia: ele a pegou. O suspense instalou-se na consciência de , pois ele relembrou os momentos que precederam a tragédia. As palavras não ditas, as promessas quebradas e o fardo de uma escolha que o assombraria para sempre.
— Billy, posso falar com você? — A voz rouca e distante fez o mais velho concordar. Por mais que Billy culpasse pelo ocorrido, sabia que a relação entre eles precisava se fortalecer agora, na busca por . — Sei que estou em sua cidade, mas não busco seguir suas regras. Não busquei no início e não vou buscar agora. Ele tirou muito de mim e eu não quero justiça, é vingança o que procuro. Agora que ele também a levou… Estou informando por educação ao avô do meu filho, se eu o vir, se eu chegar perto dele, eu não vou prendê-lo. Eu vou matá-lo.
Billy encarou , seus olhos refletindo a intensidade das palavras. Ele sabia que, mesmo em meio à dor e à raiva, as circunstâncias os forçavam a uma aliança temporária.
— Encontre minha filha. — Foi a resposta firme e sombria de Billy.
Quando o mais velho saiu da sala, apenas alguns minutos depois, a figura ruiva de Helene se aproximou, buscando-o para um abraço de uma dor compartilhada. Helene conhecia quem ele era mais do que qualquer outro membro da equipe.
Quando foi afastado do caso, algo dentro dele aos poucos foi ficando preciso e conciso. Antes, a raiva o dominava, deixando-o cego, mas com o tempo as peças se encaixavam com mais facilidade, os pensamentos se tornavam mais claros e menos abruptos. Foi quando ele se aprofundou em sua relação com Helene. não quis seguir em frente, menos ainda com a irmã de sua falecida mulher, mas ela estava ali como um consolo de uma dor que ambos compartilhavam e, por um bom tempo, pareceu ser o único elo que ele teria com Catarina.
O suspense pairava sobre a vida de , pois cada passo que ele dava na investigação o aproximava de uma verdade sombria. Enquanto Helene representava uma conexão com o passado, ela também era uma âncora que o impedia de se perder completamente nas sombras da vingança.
A relação entre e Helene era complexa, uma dança delicada entre a dor compartilhada e os limites que ambos tentavam manter. O passado de , marcado pela perda de Catarina misturava-se ao presente tumultuado pela busca incessante de . A raiva imatura que antes o cegava começou a dar lugar a uma determinação fria e calculada. aprendeu a canalizar sua dor na busca pela verdade, e Helene, de certa forma, se tornou sua confidente nesse processo. Entre sombras e consolos, eles iniciaram uma amizade onde um acobertaria o outro no que fosse necessário, e por mais que ele soubesse dos sentimentos dela, Helene também sabia do amor que ele tinha aprendido a sentir por .
— Nós vamos encontrá-la.
— Ele vai matá-la também.
, me ouça. Ele não vai. Nós vamos chegar a ele antes. — As palavras de Helene ecoavam na sala, tentando dissipar as nuvens de desespero que pairavam sobre . — Ele não vai levá-la, . Não desta vez. Nós vamos encontrá-la antes que ele tenha a chance.
A determinação nas palavras de Helene era como um eco da promessa que fizera a si mesmo anos atrás, quando Catarina fora levada. Ele a abraçou, seu abraço apertado buscando conforto em meio à tormenta que os envolvia. A atmosfera estava impregnada de tensão, mas também de uma compreensão mútua que transcendia o amor romântico.
— Me desculpe, Helene. Você não merecia passar por isso novamente — murmurou , a voz carregada de pesar. — Ver-me apaixonando por outra mulher que não é você...
Helene, com gentileza e firmeza, afastou-se o suficiente para olhá-lo nos olhos. Sua expressão era um misto de tristeza e aceitação.
— Você merece ser feliz. E nós nunca daríamos verdadeiramente certo. — Ela sorriu, mas era um sorriso melancólico. — Sempre serei sua amiga. Sempre vou estar aqui para você.
As palavras de Helene eram como uma brisa suave, acalmando a tempestade emocional que envolvia . Ele sabia que, de alguma forma, ela entendia a complexidade dos sentimentos que o consumiam.
— Vamos encontrar , . E vamos trazer seu filho para casa. Confie em mim, eu vou ser uma tia incrível. — Helene colocou a mão sobre o rosto de , transmitindo apoio e solidariedade. — Você só precisa manter a calma. não é Catarina, elas não vão ter o mesmo final infeliz. Não se afunde no sombrio de novo, ela e o seu filho precisam de você.


Capítulo 37

Cinco dias haviam se passado desde que desaparecera, mergulhando em um abismo de angústia e desespero. A cada minuto que se esvaía, a pressão sobre ele aumentava, seu coração diminuía em batidas dolorosas dentro de seu peito e sua mente era um frenesi de ansiedade. Cada batida era um eco dos dias que ele havia vivido antes, quando Catarina fora tirada de sua vida. Tudo de novo, mas ainda mais forte, como se a dor da primeira perda não tivesse sido suficiente.
O escritório de havia se tornado em um redemoinho de papéis, fotografias e mapas. A parede estava coberta por anotações e linhas conectando possíveis pistas. Ele estudava cada detalhe, cada pedaço de informação, mas a resposta continuava escapando de suas mãos. Mesmo que sua mente trabalhasse em sua máxima capacidade de exaustão, ainda era insuficiente.
Fúria tomava conta de seus olhos injetados de cansaço enquanto percorria as páginas de relatórios e registros. A cada imagem de , seu estômago se retorcia de aflição. Ele sentia o peso de suas escolhas do presente se misturarem às do passado. sentia o peso não apenas da responsabilidade, mas do medo. Não era apenas que estava em jogo; era o futuro deles, o filho que carregava e a vida que construíam juntos. Não saber se a veria de novo não era apenas cortante, mas fatal. Ele sentia pedaços de si morrendo a cada dia que passava longe da morena.
— Vamos recapitular. Ele fica dias com a vítima, ele as alimenta, as leva para um lugar com correntes que precisa ser um hospital abandonado ou algo do tipo porque ele tem fácil acesso a medicamentos e plantas — Helene começou, buscando de alguma forma trazer as informações à tona para clarear a mente de todos.
— Não faz sentido — Ghost falou, girando na cadeira enquanto a mente parecia não parar junto a ele. — Não podemos tratar como se fosse igual porque não é. Isso é pessoal. Ele não quer uma boneca, ele quer afetar o .
— Então mesmo que passe uma semana, ele não vai entregá-la. A pergunta é: quanto tempo irá mantê-la? — Os olhares foram curiosos a quando a informação chegou dolorosa.
— Até o bebê nascer — murmurou o que todos pensaram, mas ninguém quis falar. — Ele não a sequestrou apenas por ser ela, ele a pegou porque ela está grávida.
— Isso nos dá pouco menos de dois meses. Desde que voltou à ativa, não ficou tanto tempo sem matar antes. Isso indica duas coisas: ou ele vai matar de novo, ou ele não vai aguentar tanto tempo com a .
— Se conseguirmos entender o que o faz agir, podemos antecipar seus movimentos.
— Ele quer nos provocar, mexer comigo. Isso significa que ele vai deixar pistas, mensagens — falou, mantendo sua voz firme, mas carregada de angústia.
— Isso me lembrou algo que vi. Merda! Como deixei isso passar? — Bastien falou aflito, abrindo sua mochila e tirando dali o jornal velho que nunca lia, mas especialmente naquele dia percebeu algo diferente.
— Aqui, na seção de classificados. Parece um anúncio comum, mas vejam isso. Eu não achei estranho porque ele nunca se comunicou por jornal, sempre teve uma forma mais direta de chegar até nós. — Ele apontou para uma série de letras e números aparentemente aleatórios.
Helene, e Ghost se inclinaram para analisar mais de perto. O código estava ali, escondido em meio à aparente banalidade do jornal.
Ghost, com sua habilidade analítica, estudava os números e letras que compunham o código no anúncio do jornal.
— Acho que posso ter algo aqui. — Ghost apontou para as letras que correspondiam a números em telefones antigos com teclados numéricos de três letras por tecla. — Podemos ter um número de telefone cifrado aqui.
Os olhares convergiram para o código enquanto Ghost começava a decifrar os números associados às letras. A sala agora era uma extensão da mente analítica de Ghost, onde cada cálculo poderia levar a uma pista crucial para encontrar .
— Aqui está — ele anunciou finalmente um conjunto de números. — Se minha interpretação estiver correta, isso pode ser um número de telefone.
pegou um celular, discando os números decifrados com urgência.
Após alguns toques, uma voz desconhecida atendeu.
— Quem é? — perguntou a voz, carregada de mistério.
— Você sabe quem sou.
A pausa do outro lado da linha foi como uma nota de suspense prolongada. Finalmente, a voz respondeu:
— Como se sente? Já consegue sentir o arrepio ao imaginá-la gritando pela ajuda que não virá? Consegue sentir a morte te rondando na viuvez novamente?
— Já perdi uma esposa antes, sobrevivi.
A resposta, embora aparentemente inabalável, fez com que o homem do outro lado da linha sorrisse em desdém. Ele lia nas entrelinhas, compreendendo a dor que tentava esconder. Sobreviver não significava não sentir o peso do passado.
— E um filho, você já perdeu? Você tem 48h para encontrá-la antes que o jogo mude completamente. Boa sorte, agente.
A linha muda após o desligar do porcelanista reverberou na sala, lançando em uma agonia crescente. Seu olhar ansioso se fixou no telefone como se pudesse extrair respostas dele. A contagem regressiva iniciada, mas era a sensação de impotência que o consumia.
Sem pensar, começou a andar de um lado para o outro na sala, suas mãos tremendo enquanto agarrava papéis e procurava freneticamente por mais informações.
— Temos que agir! Temos que encontrá-la agora! — exclamou, sua voz carregada de desespero.
Helene, tentando manter a calma, interveio.
, precisamos traçar um plano. Não podemos agir impulsivamente.
A resposta provocou uma explosão de emoções em , cuja paciência estava desgastada pelo medo e pela incerteza.
— Não me venha com planos! está em perigo, e eu não posso ficar aqui esperando enquanto aquele maldito filho da puta brinca comigo!
A tensão cresceu na sala enquanto as emoções transbordavam. Helene, conhecendo a angústia de , tentou acalmá-lo.
— Eu sei que está difícil, mas precisamos manter a cabeça fria. Agir sem pensar pode ser mais perigoso. Você não é um adolescente, pare de agir como um!
— EU NÃO POSSO PERDÊ-LA.
— E nós não podemos perder você, por favor, . Ela precisa de você, mas nós também.


Capítulo 38

— Era ? — A voz de , já rouca por ter se recusado a tomar qualquer líquido que eu a dava, se mostrou no ambiente. Dei de ombros, fechando os olhos para ouvir mais da música clássica, mas ela sempre me atrapalhava nisto. — Eu te fiz uma pergunta. O acordo é responder quando o outro perguntar.
— Sim, cherrie. Era o seu namoradinho. Queria ouvir a voz dele? — Na pergunta, embora houvesse um tom de desdém, havia certa curiosidade.
Será que sentiria mais dor ao escutar a voz do homem que amava? Eu me perguntava se ele manteria a postura de bom policial ao ouvir os gemidos dela, se curvaria sob o peso da impotência enquanto ela sofria por minha causa.
Enquanto mantinha meus olhos fechados, imaginava a expressão dela. Será que seu rosto mostrava desespero, raiva ou continuaria com a máscara impenetrável de coragem? Cada reação dela alimentava meu desejo de controle de uma forma que nunca aconteceu.
— O que ele queria? — Fingi que não percebi a pergunta estúpida que ela fez, achando que me arrancaria alguma informação.
— Te salvar. É isso que os heróis fazem, e ele se sente um herói. Já se perguntou o que ele veio fazer nessa cidade ridícula um dia antes da morte da ruiva? — Ela não me respondeu, mas vi seus olhos brilhando em curiosidade assim que abri os meus. — Eu a enterrei aqui, mas ele nunca soube onde. Uma vez por mês ele visita uma loja, um espaço que foi construído depois…, mas ela está junto a você, abaixo de você. — Os olhos escuros da morena foram rapidamente ao chão do quarto em que estava e a ânsia de vômito se fez presente em sua expressão de desespero. — Imagina que poético, as duas mulheres, cujo único erro foi , juntas em morte.
— Você é doente — ela resmungou, meus olhos foram para a sua barriga e rapidamente ela tentou cobrir a gestação.
— Você também será, em breve.
O sorriso sádico dançou em meus lábios enquanto eu encarava a mulher que se recusava a ceder ao terror que eu tanto me esforçava para cultivar.
— De quantos meses você está? Sete? Confesso que perdi a conta quando me ocupei com… outras coisas.
— Deixe o meu filho em paz.
— Já escolheram o nome? — O semblante de endureceu, seus olhos faiscaram de determinação, mas dessa vez ela não pôde esconder o medo.
— Ele não vai errar. Quanto mais mensagens ou amostras ele receber, mais combustível terá.
— Não subestime o poder do desespero, cherrie.
Com um gesto casual, me aproximei dela, cortando algumas mexas de cabelo antes que ela pudesse reagir. Ela se afastou, sua respiração irregular ecoando no quarto. O olhar de desafio nos seus olhos era inegável, mas eu sabia que por dentro ela estava se despedaçando.
Caminhei pelo quarto, observando-a com interesse enquanto ela tentava se recompor, apesar do medo evidente em seu rosto. Era fascinante ver como ela lutava contra mim, mesmo quando sabia que estava em desvantagem. Eu sorri para mim mesmo, apreciando o desafio que ela representava. Afinal, onde estaria a diversão se a caça fosse fácil?
— Você vai pagar por tudo isso. vai te encontrar, e quando ele fizer isso, você vai se arrepender de cada momento que passou perto de mim.
— É tão mais divertido quando a presa oferece resistência — murmurei, sorrindo. Eu me aproximei dela, passando a mão pelo seu rosto, dessa vez ela não se afastou como sempre fazia. De alguma forma, ela estava desistindo, eu conseguia ver isso no brilho de seus olhos que sumia dia após dia. Cinco dias logo se tornaria cinco semanas.
Minha resposta pareceu atingi-la em cheio e eu vi a faísca de desespero se acender em seus olhos. Era exatamente o que eu queria. Quanto mais ela lutasse, mais doce seria sua rendição.
— Você não vai quebrar o . Ele é mais forte do que você pensa. — A voz de era um sussurro frágil. Eu me aproximei dela novamente, permitindo que meu olhar a envolvesse em uma aura de ameaça silenciosa.
— Você não entendeu ainda, não é? vai fazer tudo o que for preciso para te encontrar. E quando ele fizer isso, será tarde demais para você. E para ele.
Com um gesto rápido, me afastei dela, deixando-a sozinha com seus próprios pensamentos. Eu sabia que ela estava lutando para se manter forte, mas isso só tornaria a queda dela ainda mais prazerosa. Eu não tinha pressa. Eu sabia que, no final, seria minha. E não havia nada que ela pudesse fazer para mudar isso.
Retornei ao meu escritório improvisado, onde as paredes eram adornadas com recortes de jornais e fotografias das minhas obras-primas. Cada uma delas era um testemunho do meu poder, da minha habilidade de moldar a realidade de acordo com a minha vontade.
Enquanto eu me sentava à minha mesa, o zumbido incessante das minhas ideias ecoava na minha mente. Eu precisava ser estratégico, preciso em cada movimento que faria a partir de agora. Sabia que ele encontraria algumas pontas soltas, havia as deixado lá para que ele encontrasse.
Queria que ele me achasse porque, quando isso acontecesse, chegaria ao seu ponto de ruptura. Eu precisava encontrar uma maneira de atingi-lo onde mais doía, de fazê-lo questionar tudo o que acreditava. No momento em que encerrei meu trabalho no laptop, uma ideia surgiu em minha mente, tão brilhante e sedutora que mal pude conter o sorriso que se formou em meus lábios.
Levantei-me da cadeira com uma energia renovada, movido pela promessa de um golpe final devastador. Eu não apenas enfrentaria , eu o destruiria, deixando-o em ruínas, incapaz de se recuperar do golpe que eu estava prestes a desferir.
Com passos firmes, eu me dirigi à janela do meu escritório, observando as luzes da cidade cintilando abaixo. O mundo estava prestes a testemunhar o meu triunfo, e eu não podia esperar para ver a expressão de desespero nos olhos de quando ele percebesse que tinha sido derrotado. De novo. Com um último olhar para a noite escura lá fora, eu senti uma onda de antecipação crescer dentro de mim.
E assim, com o coração batendo com a excitação do que estava por vir, eu me preparei para o confronto que mudaria tudo. Este seria o momento que definiria o destino de todos os envolvidos, e eu estava determinado a emergir como o vencedor.
Com um sorriso nos lábios, eu sussurrei para mim mesmo, saboreando cada palavra:
— Que os jogos comecem.
Deslizei a porta do armário com um movimento suave e revelei as fileiras ordenadas de frascos de vidro. Cada um deles era rotulado com precisão, indicando a sua composição e os efeitos devastadores que poderia causar.

Vidro branco, letra N.
Nerium Oleander.


Meus dedos encontraram um frasco em particular, contendo uma essência extraída de uma flor rara que crescia apenas nas profundezas da floresta. Era uma substância poderosa, capaz de induzir um estado de paralisia temporária em quem a consumia. Eu segurei o frasco com uma animação evidente, sentindo o peso do meu poder em minhas mãos.
Com o frasco seguro em minhas mãos, retornei ao cativeiro onde permanecia presa, uma prisioneira de meu plano meticulosamente arquitetado. Ela me observou com olhos cheios de temor, sua respiração acelerada revelando o pânico que se apoderava dela na minha presença. Com um movimento preciso, retirei a seringa do bolso do meu casaco, observando o líquido dentro do pequeno pote de vidro. Eu me aproximei dela lentamente, cada passo deliberado, cada movimento calculado para aumentar o seu medo.
, cherrie. — Minha voz era suave, quase reconfortante, mas carregava uma ameaça oculta. — Eu quero testar algo. Apenas relaxe, isso não vai doer... muito.
Seus olhos se arregalaram de terror quando ela percebeu o que estava prestes a fazer. Ela tentou recuar, mas estava pronto para ela. Com uma habilidade cirúrgica, segurei seu braço com firmeza e injetei o líquido na sua corrente sanguínea.
Um grito estrangulado escapou dos lábios dela enquanto a substância se espalhava por suas veias, enviando ondas de paralisia por todo o seu corpo. Ela tentou lutar contra o efeito, mas foi em vão. Em poucos momentos, ela estava imóvel, cativa da minha vontade.
Com paralisada diante de mim, aproveitei o momento para me aproximar dela, encarando-a. Minhas palavras foram sussurradas em seu ouvido, cada sílaba carregada de um tom inteiramente planejado para arrepiá-la até os ossos.
— Agora você está completamente à minha mercê. Para ser minha. — Minha voz era baixa, mas carregava um tom de ameaça que ecoou pelo cativeiro. — Você é minha prisioneira, minha boneca de porcelana, para fazer o que eu quiser. Entende isso? — Meus dedos passearam pela lateral de seu corpo, marcando o vestido antigo que ela usava. Meus dedos brincaram com seu rosto, mas foi quando toquei sua barriga que senti o medo se manifestar em seus olhos imóveis, uma expressão de horror congelada em seu rosto. Eu me inclinei mais perto, deixando que ela sentisse o calor da minha respiração próxima do seu ouvido enquanto continuava a sussurrar. — Mas não se preocupe, cherrie. Eu não sou tão cruel quanto você pode temer. Não... Eu sou muito, muito pior.


Capítulo 39

— A linha é do Simon Brown, o irmão da segunda vítima — Ghost sussurrou, sua voz carregada de culpa, como se cada sílaba fosse um peso insuportável. Ele verificou o álibi, as passagens, observou o avião, e o homem não era um suspeito. Então o que diabos ele havia deixado passar?
— Simon? Você disse que ele não era um suspeito. — A ira de desabou sobre o membro mais novo da equipe, uma tempestade que não podia ser contida. Ele apenas esperou o golpe, um golpe que ecoava a frustração e o desespero.
— Eu não sei, eu juro que verifiquei. Verifiquei os bilhetes de avião e a hora de saída e retorno. Não sei o que porra aconteceu.
— Verificou as câmeras?
A realidade os atingiu com impacto quando Ghost caminhou até o comando, puxando todas as imagens que conseguiam. Ao achar o dia e horário, ficou tudo mais claro; era alguém muito parecido, mas não era Simon.
, perdido entre a ira e a frustração, encarava as imagens como se buscasse nelas uma explicação para o pesadelo que se desdobrava diante de seus olhos.
— Eu quero um mandado para todas as propriedades que esse desgraçado tiver. Procure o cara das filmagens, quero mandado pra ele também. Descubra o vínculo, torture-o se for preciso, mas descubra cadê .
— Acha que o juiz vai nos dar aval assim? Tão simples?
— Foda-se o juiz. É a minha mulher, meu filho. Se eu precisar matar o juiz pra conseguir ela de volta, eu vou.
A sala de controle ecoava com o som constante dos teclados e murmúrios intensos enquanto , impulsionado por uma mistura de raiva, determinação e medo, mergulhava nas profundezas da investigação. Seus dedos ágeis dançavam sobre o teclado do computador, desenterrando os registros que conectavam Simon Brown ao seu passado, à sua vida, mas não havia nada relevante. Não dava pra perceber quando se tornou uma obsessão na vida do homem. Era como procurar uma agulha no palheiro e ele estava sem tempo.
Ao analisar os documentos digitais, identificou duas propriedades que despertaram sua atenção: uma perdida nas entranhas de uma densa floresta e outra, mais próxima, numa cidade vizinha.
Decidido a expor Simon, mas sem desencadear o pânico na população, concebeu um plano engenhoso. Ele escolheu um crime menor, suficientemente sério para manter Simon sob a mira pública, mas sem revelar a gravidade real de suas ações.
— Emitam um alerta de pedofilia no nome dele — ele murmurou, em completo desespero, enquanto as mãos passeavam pelo cabelo loiro. Era um único tiro no escuro, um último ato de desespero.
— Pedofilia? Você tá maluco?
— Estou, Bastien. Eu estou maluco, caralho! — A voz irritadiça foi enviada quase como um grito, mas, ao perceber os olhares de fora da sala, se conteve. — Ele não vai conseguir sair em uma rua sem que alguém o reconheça. É o meio mais eficaz, se acharem que ele está com uma criança, vão se voltar contra ele. — A ideia, por mais arriscada que fosse, não deixava de ter um certo ponto de verdade. No fim, ele estava com uma criança, o filho do agente, e , por mais jovem que fosse, estava na profissão por tempo suficiente a ponto de saber que nada de bom viria para o bebê.
— Você vai perder seu emprego. — A constatação do amigo, por mais sincera que fosse, não era amedrontadora. sabia disso.
— Ele matou Catarina, eu perderia meu emprego nesse caso de qualquer jeito.
O agente tinha certeza disso, ele não ligava para o emprego. Desde o dia que recebeu uma caixa com os itens ensanguentados de Catarina, tudo que ele queria era matar o porcelanista. Agora, com na mesma situação, esse desejo conseguia triplicar.
Ghost se aproximou dos homens, seu rosto estava pálido e sua expressão tensa denunciavam uma agitação incomum. Nada deixava ele dessa forma. Zyon era acostumado às maiores atrocidades, ele não ficaria nervoso ou desconfortável, a não ser que fosse algo muito ruim.
... — Sua voz saiu em um sussurro rouco, cheia de nervosismo e ansiedade. Ele parecia desconfortável em seu próprio corpo. — Eu... Preciso te mostrar algo.
franziu a testa, um calafrio de apreensão percorrendo sua espinha. Ele conhecia Ghost o suficiente para reconhecer quando algo estava realmente errado, e essa era uma daquelas vezes.
— Fale logo, Ghost. O que aconteceu? — A urgência em sua voz era palpável, sua mente já se preparando para o pior cenário possível.
O jovem agente engoliu em seco antes de finalmente encontrar coragem para falar.
— Recebemos um vídeo. — Sua voz vacilou. — É sobre .
O coração de parou por um instante.
.
Sua mente girava com possibilidades terríveis, seu medo se transformou em uma sensação de terror sufocante.
— O que há no vídeo? — exigiu, sua voz subindo em pânico.
Ghost hesitou por um momento antes de responder. Bastien também parecia preocupado e prestes a acompanhar o amigo, mas Ghost sabia o quão desesperador o vídeo parecia.
— É melhor você assistir sozinho.
assistiu ao vídeo com um nó na garganta e um sentimento de horror crescente em seu peito. As mãos de Simon agarrando como se ela fosse uma propriedade, deslizando pelo corpo dela, pela pele dela, pela curva da barriga onde ela gerava o filho deles. Os olhos dela abertos, lacrimejando, mas incapazes de se mover, tudo isso desencadeou fúria e impotência dentro dele. Ele queria gritar, queria correr para salvá-la, mas estava preso à tela, testemunhando o terror impotente. O estômago de se revirou com a visão e uma sensação de náusea avassaladora ameaçou dominá-lo. Ele se agarrou à borda da mesa com força, lutando para manter sua compostura diante da cena. O loiro do outro lado da tela selou os lábios da mulher e caminhou até a câmera, pegando-a nas mãos e mostrando o corpo da morena uma última vez.
Quando a tela ficou preta, sentiu seu coração disparar, pesado, audível, quebrado. Um silêncio opressivo pairava no ar, e ele sabia, no fundo de sua mente, que algo terrível estava para acontecer. E então, quando a imagem retornou, ele viu o que temia mais do que tudo.
Sangue. Muito sangue.
A cama estava manchada com o líquido vermelho-escuro, uma cena que fez o estômago de revirar, mesmo que ele já tivesse visto muito sangue na vida. Ele sabia o que isso significava, mesmo que não quisesse admitir. estava ferida, talvez até mesmo morta, e ele não tinha ideia de como ajudá-la.
Com as mãos tremendo, desligou o vídeo, sentindo a sensação de desespero crescer dentro dele. Ele sabia que precisava agir rápido, mas suas emoções estavam tão tumultuadas que mal conseguia pensar. Com um último olhar para a tela escura, ele se levantou, determinado a encontrar , não importava o custo. Ele faria qualquer coisa, pagaria qualquer preço, para trazer de volta para casa sã e salva.


Capítulo 40

passou horas reproduzindo o mesmo vídeo, em uma tortura contínua. Todos se foram, mas ele continuou ali, sentindo como se estivesse se afogando em ondas de emoções, sufocando na correnteza dos próprios sentimentos. A visão do sangue na cama de e a ausência dela era como um golpe no estômago, uma confirmação angustiante de seus piores medos. Ele mal conseguia respirar, seu coração batia tão forte que parecia prestes a sair do peito.
Com as mãos trêmulas, pegou seu celular e discou freneticamente para Bastien. Ele precisava de ajuda, precisava da equipe, de recursos, de qualquer coisa que pudesse levá-lo até . O telefone tocou várias vezes antes de Bastien atender, sua voz ecoando do outro lado da linha com preocupação contida.
, o que houve? Você parece... — Bastien começou, mas o interrompeu com urgência.
— Preciso que você reúna a equipe. Temos que encontrar agora. — A voz de soava áspera, urgente.
Bastien não hesitou, sua voz assumindo uma seriedade instantânea enquanto concordava em coordenar os esforços de busca. desligou o telefone e se levantou, sentindo uma determinação feroz queimando dentro dele. Ele não descansaria até encontrar , até trazê-la de volta para casa em segurança. O sangue na cama de era um lembrete do perigo que ela enfrentava, mas também era uma promessa de que ele não descansaria até que ela estivesse a salvo em seus braços novamente.
Seu coração pesava de ansiedade e preocupação, mas, antes que pudesse alcançar seu carro, uma figura familiar se aproximou dele.
, o que está acontecendo? Eu ouvi falar de um vídeo... Por favor, me diz que ela está viva. Por favor, me diz que minha filha está bem — Billy perguntou firme, desesperado, mas sua voz tremia em angústia.
hesitou por um momento, olhando nos olhos de Billy com uma mistura de tristeza e incerteza.
— Eu não sei, Billy. Eu não sei se ela está viva. — A confissão de foi como um golpe no estômago de Billy, que engoliu em seco, lutando para conter suas emoções.
— Eu quero ver o vídeo. — A voz de Billy era firme, determinada, e sabia que não havia nada que pudesse fazer para impedi-lo.
— Billy, talvez seja melhor você não ver. É... não é fácil de assistir.
— Nada vai me impedir. é minha filha, e aquele bebê que ela carrega... ele é meu neto. — A voz de Billy tremia com emoção, mas havia uma determinação feroz em seus olhos.
suspirou, resignado. Ele sabia que não poderia impedir Billy de ver o vídeo, e talvez fosse melhor assim. Juntos, eles voltaram para a delegacia, onde acessou o arquivo do vídeo e o reproduziu para Billy.
O rosto de Billy se contorceu de dor enquanto assistia à angustiante gravação. A visão do sangue na cama de era torturante, mas, mesmo assim, ele assistiu até o fim, sem desviar o olhar. Quando o vídeo chegou ao fim, Billy olhou para com os olhos cheios de lágrimas.
— O que vamos fazer agora? — ele perguntou, sua voz carregada de desespero.
engoliu em seco, sentindo o peso do mundo sobre seus ombros.
— Vou colocar abaixo cada casa, cada construção, cada centímetro dessa floresta se for preciso. Se ele está escondido lá, não vai escapar. E se tiver alguém o protegendo, que esteja avisado: não vou mais esperar. Vou causar um incêndio se necessário, mas não vou mais esperar. está lá fora, em algum lugar, e não posso mais suportar a ideia de não fazer tudo que está ao meu alcance para encontrá-la. Eu juro por tudo que é sagrado, não importa o que eu tenha que fazer, não importa quantos infernos eu tenha que enfrentar, eu vou trazer de volta para casa.


[...]


lutava contra a escuridão que ameaçava engolfá-la, cada respiração tornando-se mais difícil à medida que o sangue escapava de seu corpo. Ela estava imóvel, presa em seu próprio tormento, enquanto tentava desesperadamente manter-se consciente.
Seus sentidos começaram a retornar gradualmente, como se emergisse de um sono profundo. Sentia seu corpo dolorido, cada músculo tenso e cada respiração agonizante. Seus lábios tremiam involuntariamente, um sinal de sua crescente fraqueza, enquanto seu coração martelava descompassado em seu peito.
Uma tontura avassaladora a envolveu, fazendo com que sua cabeça girasse como se estivesse em um turbilhão. Ela lutava para manter os olhos abertos, mas o peso em suas pálpebras era quase insuportável.
— O que você fez comigo? — Sua voz soava fraca, quase desmoronando sob o peso da terrível suspeita que começava a se formar em sua mente.
O porcelanista, diante da pergunta, não pôde conter um sorriso sinistro, seus olhos brilhando com uma satisfação doentia. Ele não se apressou em responder, saboreando o momento de agonia que estava causando em .
— Apenas dei início ao processo, cherrie. Logo você sentirá as dores do parto. — Sua resposta veio suavemente, como se estivesse compartilhando uma revelação inocente. Mas, para , as palavras foram como um golpe brutal, lançando-a num abismo de desespero e terror indescritíveis. — Está na hora de darmos as boas-vindas à nossa pequena visitante.
As palavras dele foram como uma sentença de morte para . O terror tomou conta dela, paralisando-a momentaneamente. A ideia de dar à luz naquele ambiente horrível, à mercê do seu captor, era mais do que ela podia suportar.
— Por favor, não faça isso.
— Tarde demais. causou isso. Ele antecipou tudo! Maldito ! É tudo culpa dele o que te fiz.
A descoberta de que havia emitido um alerta relacionado a rapto de crianças deixou Simon furioso. Ele sabia que aquilo podia atrapalhar seus planos e colocar em risco toda a equação que ele havia cuidadosamente elaborado. Com o tempo se esgotando e a pressão aumentando, Simon sentiu a necessidade de acelerar as coisas. Seus passos eram firmes e decididos. Cada segundo que passava era crucial, e ele não podia mais se dar ao luxo de esperar.
O rosto de Simon estava contorcido em uma expressão de fúria enquanto ele se aproximava dela, pronto para agir com ainda mais brutalidade do que antes. Seu objetivo era claro: fazer sofrer ainda mais, antes que pudesse intervir e arruinar seus planos de uma vez por todas.


Continua...



Nota da autora: Sem nota.





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