Dangerous
Fic por:
Thamih Jones
Beta-Reader: Abby
Prólogo

Aquilo estava muito estranho. A primeira coisa que vi foi a claridade do céu cinzento; senti o ar frio bater em minha pele descoberta, mas o que realmente fez um arrepio avassalador correr por minha espinha foi a imagem de um garoto de costas.
Não, por favor, não.
- Estava te esperando, amor – sua voz cortou o vento.
Eu paralisei enquanto ele se virava para mim, revelando a única face que eu não queria ver nunca mais nesse mundo.
- Você não vai me dar um abraço de boas vindas? – Ele deu um passo em minha direção, me fazendo instintivamente dar um passo para trás. – Por que está com essa cara? Você não está feliz em me ver?
Eu soube a partir dali que minha vida voltaria a ser o mesmo inferno de antes; era como um pesadelo do qual eu não conseguia acordar – e não sabia se um dia conseguiria novamente. Mas seria eu capaz de lidar com tudo aquilo novamente? Eu teria de ser, e isso ia além de minha própria proteção, pois agora eu não estava mais sozinha.

Capítulo 1
Drive


Ótimo, está todo mundo me olhando. Aproveitem e tirem uma foto de uma vez. Escola nova, casa nova, cidade nova, país novo, continente novo! Mas não acaba aí. Vida nova, família nova.
Sempre gostei de me mudar de lugar e de escola, mas precisava exagerar? Mudar três vezes de estado não bastava, não? Eu tinha que mudar de continente? Certo, eu admito, eu estou amando esse lugar. Apesar de ser tudo muito diferente do Brasil, eu sempre fui apaixonada por Londres.
Continuei caminhando, nervosa e com a cabeça abaixada pelo estacionamento, com Lauren ao meu lado. Era na casa dela que eu estava hospedada por causa do intercâmbio. Eu não daria muito trabalho a família, eu acho, afinal passaríamos todos os dias da semana naquele colégio, e somente os fins de semana em casa, o que era opcional. O termo de responsabilidade que cada responsável assinava determinava quantas vezes por semana podíamos sair fora do horário de aula. O meu determinava quatro.
- Onde vai ser o meu quarto? – eu perguntei ansiosa a Lauren. As malas que eu carregava estavam pesadas, e todo mundo ainda me olhava como se eu fosse uma alienígena.
- Fica naquele prédio – ela respondeu e fez sinal com a cabeça, já que também carregava malas, apontando a frente.
Eu olhei e lá estavam quatro prédios de três andares cada, todos com acabamentos em tijolos. Ao nosso lado ficava a escola.
Entramos no segundo prédio, e finalmente eu senti o calor dos aquecedores fazendo carinho em minha pele. Esse frio de Londres me mata.
- Terceiro andar, quarto 209 – ela leu no papelzinho todo amassado.
- Quem será que vai dividir o quarto comigo? – eu perguntei ansiosa enquanto subíamos a escada. – E por que todo mundo fica me olhando desse jeito? – Que saco!
- Com alguma garota do terceiro ano, assim como você – ela respondeu. – E o que você esperava quando colocou cinco cores no seu cabelo, não chamar a atenção?
Eu não tinha pensado em chamar a atenção exatamente, como não consegui decidir qual cor colocar no cabelo, resolvi colocar as cinco mais legais.
- Tomará que ela seja legal – eu desejei levemente ofegante por causa daquelas escadas que pareciam não acabar nunca.
- Se não for a Brooklie, você sobrevive – ela disse tentando jogar os cabelos que caiam na cara para trás mexendo a cabeça. – Mas não espere grande coisa.
Uhul, como você é positiva, amiga.
Finalmente, terceiro andar. As paredes do corredor eram vermelhas, quase vinho. As garotas por todos os lados se arrumavam, conversavam aos cochichos ou simplesmente passavam me encarando. Eu vou começar a ficar paranóica daqui a pouco desse jeito.
As aulas já haviam começado fazia uma semana, mas eu havia recebido minha aceitação em cima da hora, e meu visto demorou a sair. Fora que no Brasil eu estava no meio do bimestre, e agora eu teria que fazer ele de novo. Pelo menos a matéria seria diferente aqui. Mas que foi sacanagem me fazer ir seis meses para uma escola à toa, foi. Tinha chegado sábado, e passei o fim de semana na casa de Lauren. Lá até que era legal. E grande. Tomara que eles me adotem. Tá, parei. Ainda tenho mãe – graças a Deus, a um oceano e mais alguns quilômetros de distância, longe o bastante pra não me importunar. Pena que minha amigas tenham ficado por lá também.
- – Lauren me chamou. Eu me virei e notei que ela havia ficado para trás. – É aqui.
Voltei até onde ela estava e observei a porta com o número 209 gravado nela.
- Ela não vai abrir com a força do seu pensamento – disse Lauren, impaciente. – E suas malas de chumbo estão pesadas.
Respirei fundo, deixando uma das malas no chão e abrindo a porta.
Não era exatamente isso o que eu esperava. O quarto era rosa, havia um frigobar branquinho, duas camas de solteiro separadas pelo espaço do criado-mudo entre elas, um guarda-roupa, uma estante com uma TV, uma porta que só poderia dar para o banheiro, e a parede de frente para a porta tinha uma janela com uma escrivaninha embaixo.
Na cama mais próxima à porta, uma bonita garota de cabelos curtos castanho-dourados estava sentada, calçando as meias três quartos pretas. Ela ergueu os olhos para mim e me estudou por um momento. Sabe, as pessoas por aqui podiam disfarçar um pouco, seria legal.
- Oi – ela me cumprimentou, simpática.
- Oi – eu cumprimentei de volta e larguei minhas malas ao pé da cama de madeira clara coberta por um edredom roxo. Me larguei naquela cama sentindo meu corpo afundar confortavelmente.
- O que você acha que está fazendo? – perguntou Lauren, largando as malas que carregava junto das minhas. – O sinal vai bater em cinco minutos! Coloca seu uniforme logo.
Eu olhei para ela de olhos arregalados e depois para as malas.
- Mas eu não tenho ideia de onde esteja! – eu disse, desesperada, sentando na cama de uma vez.
- Eu te ajudo a procurar – minha nova companheira de quarto ofereceu.
- Ótimo, ainda tenho que passar no meu quarto, que fica no segundo andar, ok? – E dizendo isso, Lauren saiu.
Eu peguei uma mala e comecei a vasculhar enquanto a garota vasculhava em outra. Como eu sempre, deixo tudo pra última hora, minha mala estava uma completa bagunça. Mas, peraí, se a Lauren tinha pego o uniforme pra mim, ele tinha que estar por cima. Saí abrindo as malas restantes até finalmente encontrar.
- Encontrei! – eu comuniquei à garota. – Valeu.
Entrei no banheiro e me troquei de qualquer jeito, passando uma escova no cabelo, e em seguida ouvi o sinal tocar. Provavelmente o sinal ficava por perto, porque o som era consideravelmente alto. Enfiei todo o material que vi pela frente na mochila, coloquei-a sobre os ombros e disparei para a porta. Fiquei confusa ao ver as garotas caminhando calmamente. Encontrei com Lauren no final da escadaria.
- Quais são seus horários? – ela perguntou, e eu a olhei, confusa. Tinha me esquecido disso; no Brasil as aulas eram por turma, não por matéria. Merda.
- Acho que você tem que pegar na secretaria, então – ela explicou, ao notar minha cara. – Se formos rápido eu te mostro onde é.
Apressamos o passo, atravessamos o caminho que levava até a escola, subimos uma escadinha e entramos na escola. Logo perto da porta havia um escrito de “secretaria”, em cima de uma janela que dava para outro cômodo. Nossa, Lauren, eu nunca teria achado esse lugar sozinha!
- Você é a aluna nova, certo? – uma mulher com cabelos brancos misturados aos castanhos me olhou por cima dos óculos quadrados.
Não, sou um pavão disfarçado, querida. Eu assenti silenciosamente com a cabeça.
- Antes de entregar seus livros e papéis - ela continuou -, o diretor gostaria de conhecê-la.
Uh, legal. Sala do diretor no primeiro dia, que animador.
Ela saiu da secretaria e eu a acompanhei por um corredor até a diretoria. Lauren me cutucou e me passou a boina que usava e um elástico de cabelo que tinha no pulso. “Acho melhor esconder as mechas” ela sussurrou pra mim. Enquanto a secretária avisava o diretor foi o que eu fiz. Prendi meu cabelo pra cima e o escondi inteiro dentro da boina. Nossa, devo ter ficado gata, viu.
- Tchau – ela sussurrou ao soar do sino. Era por isso que havia um sinal perto os dormitórios: um para nos avisar que era hora de sair de lá e o daqui para avisar que as aulas começariam imediatamente. Faz sentido.
A secretária me deu espaço e eu entrei na sala, sentindo a porta se fechar atrás de mim. Tenso. O diretor fez sinal para que eu me sentasse na cadeira defronte a ele na mesa. Ele aparentava uns quarenta e poucos anos, com feições duras.
- Boa tarde, senhorita ) – ele me cumprimentou formalmente. – Então, o que você achou das nossas instalações?
- Bom, eu acabei de chegar – eu disse, mexendo minhas mãos no colo. – Mas realmente gostei daqui. Obrigada pela vaga.
- É sempre bom termos a oportunidade de conviver com pessoas estrangeiras – ele disse. Valeu aí por me chamar de experimento - e diferentes de nós. – Então agora é ET? – Quer dizer que está se adaptando bem?
Qual parte do “eu acabei de chegar” esse cara não entendeu? E parece que todo mundo acha que o Brasil é puro mato, que somos todos Tarzan e Jane, ou mulatas que sambam.
Eu assenti com a cabeça e sorri, reprimindo meus pensamentos.
- Bom, eu não sei se você pretende fazer faculdade por aqui mesmo, mas acho que isso serve para qualquer universidade – ele continuou. – Temos atividades extracurriculares aqui, o que geralmente conta muito na aceitação das pessoas nas universidades. Dê uma olhada nas opções que temos aqui – ele me estendeu um papel. – Se você se interessar por alguma...
Eu comecei a ler as opções. Balé, futebol, basquete... Líderes de torcida. Gostei. Continuei a procurar algo mais que me interessasse. Conselho estudantil, parece importante.
- Acho que me interesso por duas – eu disse, devolvendo o papel. – O grupo de líderes de torcida e do conselho estudantil.
- Ótimo! – ele exclamou animado. – Converse com a chefe das líderes de torcida, , e se informe dos horários. Para a próxima reunião do conselho, você será avisada. Preencha e depois deixe na secretaria. Boa aula!
- Obrigada – eu agradeci, peguei os formulários e fui embora. Passei na secretaria para pegar meus livros, horários e chaves.
Primeira aula, biologia. A secretária me levou até lá para justificar meu atraso. Respirei fundo e entrei. Havia uma carteira vazia próxima à janela, onde um garoto loiro estava ao lado. Todo mundo me encarava enquanto eu sentava. Isso tá começando a me irritar. Comecei a preencher os formulários vagarosamente, pra me distrair. Eu não entendia nada que o professor falava mesmo. As regras eram basicamente as mesmas de qualquer escola, fora que os prédios eram trancados às onze horas automaticamente e garotos pegos nos dormitórios femininos e vice-versa estavam sujeitos a expulsão.
O sinal soou antes do que eu esperava. A segunda e terceira aula seriam de matemática. Liguei para Lauren e ela me falou onde ficava a sala. Os dois períodos foram consideravelmente rápidos também, e eu conseguia entender tudo; números eram mais fáceis que biologia, pelo menos. Hora do intervalo.
- Você devia deixar alguns livros no armário – sugeriu o professor de matemática antes que eu deixasse a sala. – Sua mochila parece cheia.
Eu agradeci e sai da sala. Armários... não tinha pensado nisso. Fui seguindo a multidão até achar os armários cinzas. O meu armário ficava no meio. Coloquei os livros ali empilhados e larguei a mochila junto. Voltei a seguir a multidão até achar Lauren. Já tínhamos tomado café-da-manhã, então depois de entregar os formulários na secretaria, ela me mostrou a escola. Tínhamos uma quadra coberta no lado de trás da escola, e atrás da quadra um longo gramado, de um dos lados havia uma cantina que ficava aberta praticamente o dia todo, no terceiro andar do prédio da escola só haviam mais armários e classes, e a biblioteca ficava no primeiro andar.
A aula depois do intervalo foi de biologia de novo. Comecei a acompanhar pelo livro e até que entendi umas coisas. Depois, geografia. Eu já disse que eu odeio geografia? Pois é, odeio. Eu até decoro na marra e no tédio, mas eu nunca consigo lembrar muita coisa depois de uma semana. Se eu já era péssima na geografia do país em que eu vivi e estudei sobre desde pequena, imagina aqui. Aquela aula se arrastou horrores, e quando eu estava quase dormindo, o sinal tocou.
Finalmente, almoço. Já estava parecendo que o Aslam estava rugindo dentro do meu estômago. Tá, às vezes eu sou dramática. Liguei para Lauren e ela me encontrou perto dos armários. Fomos para cantina, e eu não sabia exatamente o que fazer. Eu tenho uma certa insegurança com coisas novas, medo de errar, sei lá. Fui pegando mais ou menos o que ela pegava pra comer... nenhum segredo. Algumas comidas daqui eram um pouquinho diferentes, e eu fiz uma careta me perguntando se aquilo era bom. Com certeza, pelo menos o brownie deveria ser bom. Sentamos na mesa onde o grupo de amigas da Lauren estava. Eu comi em silêncio, me sentindo totalmente deslocada com o assunto delas. Enquanto mordiscava meu brownie comecei a observar as outras mesas do refeitório. As mesas pareciam conter cada uma um tipo de grupo, como as patricinhas, os nerds, os veteranos, as calouras, os skatistas, os noiados...
Fiquei observando as pessoas por ali até achar um rosto conhecido: a garota com quem eu dormiria essa noite. Tá, ficou estranho. A garota com quem eu dividiria o dormitório. A monotonia das conversas de Lauren com as amigas já estava me irritando, então eu murmurei um “te vejo mais tarde” e saí em direção à garota.
Ao lado dela na mesa estava sentada uma garota branquinha com sardas fraquinhas e cabelos pretos e dois garotos inegavelmente lindos, eu tenho que admitir, estavam sentados em frente a elas.
- Se importa? – eu interrompi a conversa animada deles.
- Claro que não - a garota de cabelos curtos me deu espaço ao seu lado -, senta aí.
- Esse é o – ela apontou para o garoto a sua frente, que sorriu -, essa é a – ela apontou para a garota a seu lado –, e esse é o – ela apontou para o garoto de frente à . – Ah! E eu sou a .
- – eu me apresentei sorrindo.
- E aí, tá gostando daqui? – me perguntou.
- É, aqui é legal, mas ainda tá difícil acompanhar as aulas.
- Ah, com isso não precisa se preocupar, eu até hoje não consigo acompanhar – disse , e a gente caiu na risada.
- Você deve acostumar com o tempo, relaxa – incentivou .
- Gostei do cabelo – me elogiou.
- É maneiro – disse . – Quantas cores?
- Valeu. São cinco. – eu murmurei sem graça.
- Suas mechas são muito fofas – disse e passou a mão pelo meu cabelo. concordou com a cabeça. – Vamos, povo?
- Vejo vocês em vinte minutos! – disse aos garotos antes de entrarmos no prédio feminino.
- Preciso de um banho – eu disse mexendo nas minhas roupas espalhadas em cima da cama. Eu tenho talento pra bagunçar roupas.
- Toma banho rápido então, se quiser descer com a gente – avisou .
Legal, eles querem minha companhia.
- Ok – peguei um uniforme limpo, minha nécessaire e fui para o banheiro. Espaçoso o bastante e de azulejos brancos. Prendi meu cabelo em um coque alto e coloquei a touca por cima, tirei a roupa e entrei no boxe de vidro quase fumê. Aquela água quente parecia tirar a tensão que passei durante a manhã.
Já praticamente pronta me analisei no espelho de corpo inteiro ao lado da janela. Aquela saia xadrez preto e branca parecia ligeiramente curta demais pra quem passa o dia todo sentada; sapato de boneca um pouco altos e meias pretas até os joelhos; camiseta social branca três quartos com uma gravata preta e o colete cinza com gola em “v” por cima com o símbolo da escola. O uniforme era legal, apesar de eu ter que usar um shortinho preto por baixo da saia, só pra garantir. Eu penteei mais uma vez o cabelo, arrumando minha franja.
- Pronta? – perguntou, me fazendo desviar a atenção do espelho.
- Quase – eu disse passando meu gloss ligeiramente vermelho nos lábios. – Agora sim.
Eu estava saindo do quarto quando dois vultos cortaram na minha frente. Observei o cabelo ruivo e liso – liso-chapinha, tava na cara – da garota mais alta e os cabelos negros e compridos da garota ao lado dela se distanciarem.
- Aff – reclamou revirando os olhos. Eu olhei para ela sem entender. – Na boa, nunca se meta com essas duas putas. São a Brooklie Patterson e a . Elas acham que mandam na escola.
- É pelo jeito você não curte muito elas – eu disse rindo. – Mas está anotado.
Pelo menos agora eu sabia quem era a , ou pelo menos conhecia as costas dela. Melhor nem ir falar com ela agora, se não acho que a vai ter um troço.
- Gente, eu tenho um horário livre agora – eu informei enquanto caminhávamos até a escola. – Algum de vocês também tem?
Eles negaram com a cabeça. Legal, o que eu vou fazer um período inteira sozinha? Alguns raios de sol atravessavam as nuvens, talvez eu fique em algum lugar aqui fora, tomando um ar. Fomos até os armários e, quando o sinal bateu, eu desci com o livro que estava lendo e o celular. Fiquei andando até chegar no gramado que ficava atrás quadra, onde achei um banco de madeira. Sentei ali e coloquei os fones de ouvido. Olhei em volta e tudo estava quieto. De repente aquela gravata apertada começou a me incomodar, então puxei o nó para baixo e abri dois botões da minha camiseta. Abri meu livro e mergulhei na história de “A Mediadora”

Capítulo 2
Can't take my eyes of you


Eu senti uma forte pancada na cabeça e instintivamente levei a mão até ali, reclamando de dor. Olhei para o lado, procurando a origem do objeto e vi uma bola de futebol caída no gramado. Tirei os fones de ouvido me sentindo meio tonta por ter sido arrancada de perto de Jesse tão subitamente e ainda ter sido acertada por uma bola de futebol. Olha o tamanho desse lugar, e foram acertar logo a minha cabeça.
- Desculpa – ouvi uma voz que me fez estremecer, olhei em direção à voz e me deparei com aquele ser vindo na minha direção. Eu fiquei sem reação com aquele par de olhos me encarando. Acho que a bola bateu com muita força na minha cabeça e agora estou tendo uma alucinação. Ele se abaixou e pegou a bola. – Você é aquela garota nova brasileira? – assenti com a cabeça, ainda meio perdida. – Prazer, eu sou . Mas pode me chamar de .
Ele sorriu e eu fiquei sem ar por alguns segundos.
- – murmurei, tentando não gaguejar.
- Era só pegar a bola, não precisa prestar primeiros socorros – um garoto alto e tão bonito quanto o primeiro veio correndo em nossa direção. Ok, minhas alucinações estão indo longe demais. Acho que eu morri, fui pro paraíso e esqueceram de me avisar. Não sabia que anjos eram tão gostosos. Calei.
- Esse é o apresentou.
Perfeição acaba de trocar de nome: e .
- Vem logo jogar – reclamou, puxando .
- A gente se vê – gritou enquanto corriam e sorriu.
Eles começaram a jogar futebol ali junto com outros garotos. Há quanto tempo eles estavam ali? Eu nem tinha percebido eles chegarem. Eu nem tenho ideia de quanto tempo fiquei ali babando neles, fingindo ler meu livro quando alguém olhava. Deveriam ser todos terceiranistas, pelo que pareceu. Os outros garotos jogando com eles eram bonitos, mas aquele garoto, , parecia tão...
O sinal tocou e eu quase pulei com o susto, saindo do meu transe. Fui apressada para os armários, com aquele garoto me deixando meio alienada ao que estava fazendo. Só percebi que estava andando sem rumo pelo corredor com a mochila nas costas quando vi aquele pecado em carne e osso e olhos surgir na minha frente.
- Perdida? – ele perguntou sorrindo, provavelmente se divertindo com a cara de babaca que eu deveria estar. Eu balancei afirmativamente a cabeça, mexendo nos cabelos nervosamente.
- Deixa eu ver seus horários – ele pediu, e eu estendi o papel que estava no meu bolso para ele. – Ah, inglês. Por aqui – ele começou a andar, e eu tive que me esforçar para fazer minhas pernas me obedecerem. Caminhamos em silêncio e ele me deixou na porta da sala de inglês, depois saiu andando pelo corredor quase vazio agora sem dizer mais nada.
estava sentada próxima a janela, e eu sentei na carteira atrás dela.
- E aí? Conseguiu achar alguma coisa pra fazer durante o horário vago? – ela cochichou, e eu confirmei com a cabeça, sorrindo bobamente. – O que você andou aprontando pra estar desse jeito?
- Ahn? – eu balancei a cabeça, espantando da minha mente. – Nada. Tava lendo.
Ela me estudou por um instante, até o professor chamar a atenção da classe e ela virou para frente. Durante a aula ela me ajudou sobre algumas coisas que eu não conseguia entender, mas pareceu esquecer sobre o horário vago. Somente quando estava saindo da sala eu percebi que aquele amigo de , , estava na mesma aula que eu. Putz, ainda bem que eu não falei nada sobre eles!
- A sala de história é aqui – eu ouvi alguém falar, e vi parado ao lado da porta de uma classe.
- Ah, valeu – eu disse entrando na sala e sendo seguida por ele. Ele sentou no fundo da classe, e eu, em uma das primeiras carteiras. Quando a professora começou a escrever no quadro eu derrubei meu lápis. Peguei ele e notei que a ponta havia quebrado, e não encontrei nenhum apontador no meu estojo.
- Ahn, pode me emprestar o apontador? – eu perguntei me virando para o garoto sentado atrás de mim. Involuntariamente olhei para o fundo da classe, e sorriu para mim.
- Aqui – o garoto estendeu o apontador para mim. Eu sorri timidamente para antes de me virar de volta para frente.

- ? – eu chamei. Ficar deitada na cama assistindo TV estava começando a me entediar profundamente. Ainda mais numa quarta-feira. E mais ainda numa quarta-feira em que eu vejo atracado com uma garota em uma sala vazia. Durante a aula inteira de história eu preferi fingir que ele não existia, afinal, ele era só um garoto incrivelmente lindo que eu tinha conhecido há dois dias, não é?
- Fala logo – murmurou, parecendo impaciente. Eu devo ter deixado ela no vácuo sem perceber.
- Vamos fazer alguma coisa, pelo amor de Deus – eu supliquei.
- Vamos – ela concordou, desligando a TV e pulando da cama. Vesti meu casaco branco por cima do uniforme, pegamos dinheiro, celular e descemos depois de chamar no quarto dela.
- – ela vociferou no celular –, desce agora! Precisamos de você para sair! – ela deve ter recebido outro “não” no telefone, por que ficou mais nervosa ainda. – Não, eu não posso simplesmente sair com elas! Já está ficando tarde para três garotas saírem sozinhas! – ela mordeu o lábio enquanto escutava. – Então tá! – ela desligou o celular com raiva. – Garotas, vamos subir. – Ela comunicou convicta. Eu arregalei os olhos pra ela.
- Tá louca? – eu perguntei assustada. – Eu não posso me arriscar a ser expulsa por invadir o prédio dos garotos na primeira semana!
- Ah, qual é – ela disse, rolando os olhos. – Vamos lá, garotas. A Brooklie e a – ela fez uma voz afetada ao dizer o nome das duas – vivem aí em cima e nunca foram expulsas. Vamos logo, ninguém vai ver.
Eu olhei em volta e só havia alguns alunos por ali, sem sinal de adultos. Achei que essa escola era rígida, que falta de vigilância, meu Deus.
- Eu não vou – disse, séria.
- Eu não vou buscar o pra você – disse se virando e indo em direção ao prédio deles.
- Tá, é só fingir que não estamos fazendo nada de errado e entrar de uma vez – eu disse, indo atrás de . Aquele fio de adrenalina no meu sangue por estar quebrando alguma regra era bom. hesitou por um momento, mas acabou nos seguindo.
O primeiro andar do prédio era igual ao nosso, com as portas que davam para a cozinha, o salão de balé, a sala de academia, essas coisas. Subimos as escadas e atravessamos o corredor azul escuro, olhando rapidamente de porta em porta, até entrar em uma delas gritando:
- Se formos expulsas por estarmos aqui vou falar que você me chantageou e vou implantar maconha no seu quarto!
- E eu acabei de perder minha inocência vendo aqueles dois garotos semi-nus no outro quarto! – declarou nos fazendo rir e desmanchar sua cara de brava.
e nos encaravam de olhos arregalados, eu notei que eles estavam segurando violões.
- O que vocês estão esperando? – reclamou cruzando os braços. – Vamos logo!
- Já disse que não tô a fim de sair – disse .
Ela olhou sugestiva para .
- Desculpa, , também tô sem saco – ele disse encarando o teto.
- Toca pra gente? – eu pedi animada. Sentei no chão defronte às camas onde eles estavam sentados. fez uma careta. – Ah, garotos, por favor? – eu pedi imitando o gato de botas. Isso sempre convencia.
Ele rolou os olhos e cochichou alguma coisa com , que concordou com ele. Eles começaram a tocar e cantar “Help”, dos Beatles.
- Êêê – comemorei. As meninas sentaram ao meu lado, e em pouco tempo estávamos acompanhando a música baixinho. Eles não somente tocavam e cantavam bem, eles eram incríveis.
- Já são dez horas, melhor irmos – informou .

Capítulo 3
Say ok


Voltamos aos nossos dormitórios e eu aproveitei para fazer minha lição de química. Quando terminei de fazer, me espreguicei e procurei meu celular para ver as horas. Eu não o encontrei em lugar nenhum, e lembrei de ter filmado e cantando com ele.
- Que horas são, ? – eu perguntei levantando e colocando de novo o casaco por cima do uniforme.
- Quinze para as onze – ela informou. – E aonde você pensa que vai?
- Buscar meu celular – eu disse indo em direção à porta. – Minha mãe ficou de me ligar hoje.
Eu saí do quarto e me apressei pelo corredor antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa. Quinze minutos era tempo suficiente.
- O que você tá fazendo aqui? – perguntou assustado por me ver ali quando abriu a porta do quarto.
- Não consegui ficar tanto tempo longe de você – eu brinquei e ele me deu passagem para entrar. estava deitado embalado em um cobertor felpudo. – , você tá parecendo uma bala. – eu o zoei, que acompanhou meus passos com a testa franzida. Eu peguei o celular e mostrei a eles. – Melhor me apressar, faltam oito minutos. Até amanhã, dudes. – Eu mandei beijos no ar e saí do quarto, mexendo distraidamente no celular.
Eu esbarrei em alguém, e antes que pudesse sequer respirar, me senti puxada e meu corpo bateu com força contra a parede do corredor.
- Oi, boneca – a pessoa que me segurava sussurrou em meu ouvido e segurou meus pulsos. – Se estiver perdida, meu quarto é logo ali.
- Me solta – eu disse, tentando manter a voz firme, mas ela já estava falhando, eu já era puro desespero.
- Ah, vamos lá, boneca – ele prensou os lábios contra os meus, e eu comecei a chorar. – Vamos nos divertir.
- SO... – eu tentei gritar com todo o fôlego que eu ainda tinha, mas ele tapou minha boca antes que eu pudesse continuar. Foi então que eu consegui ver o rosto dele. Ele estava furioso, tinha as feições encovadas e olhos extremamente pretos.
- Vai ficar de gracinha? – ele disse e em seguida me arrastou até um dos quartos ali por perto, ainda tapando minha boca. Ele fechou a porta e começou a me agarrar e eu tentava me debater e gritar, mas não tinha mais ar em meus pulmões. Eu comecei a sufocar e a me sentir tonta. Minhas mãos, braços, rosto, tudo formigava. Eu não raciocinava mais direito, só tentava a qualquer custo gritar, sem muito sucesso. Eu senti as mãos dele percorrerem meu corpo e irem para debaixo da minha saia enquanto ele me beijava forçadamente. Eu mordi a língua dele e aproveitei quando ele se afastou o bastante para eu conseguir gritar antes dele voltar a tapar minha boca.
Foi tudo rápido em seguida. Eu ouvi um estrondo e ele me soltou, deixando meu corpo cair no chão.
- Tira ela daqui – eu ouvi uma voz furiosa, e que eu sabia que conhecia, gritar. Em seguida alguém me pegou no colo e me levou para outro lugar.
- Não sai daqui – quem me carregava disse me deixando sentada no chão, e em seguida saiu dali. Eu abracei minhas pernas e continuei chorando sem parar, vendo tudo embaçado, tentando respirar a qualquer custo. Eu não sei quanto tempo havia se passado até alguém acender a luz e me abraçar.
- Hey, hey, calma – eu ouvi aquela voz que conhecia dizer calmamente. Eu abracei ele forte e escondi meu rosto na curva de seu pescoço. – Respira, isso. Eu estou aqui.
Foi então que eu reconheci a voz. Era .
- Life is getting harder day by day – ele começou a cantar baixinho, fazendo carinho em meu cabelo. - And I don't know what to do or what to say, yeah

And my mind is growing weak, every step I take
It's uncontrollable, now they think I'm fake, yeah
'Cos I'm not alone
But I'm not alone
I'm not alone
And you’re not alone…

- Estou aqui com você, pequena – ele sussurrou, parando de cantar.
Eu já conseguia respirar e chorava menos agora. Tudo estava calmo novamente. Ele se afastou e me encarou com aqueles olhos , me dando toda a paz que eu precisava. Passou a mão por minhas bochechas, limpando as lágrimas que ainda estavam ali.
- Vem, vamos limpar esse rosto lindo – ele sorriu e eu sorri de volta, cessando meu choro. Passei a mão por meu olhos e foi então que percebi que um filete de sangue escorria do canto de sua boca.
- Meu Deus! – eu disse desesperada. – Você está machucado!
- Hey, pequena – ele se levantou e estendeu a mão para me ajudar a levantar. – Calma, isso não é nada.
- Não mesmo – e só então eu percebi que estava deitado em uma das camas, e que nós estávamos em um dos dormitórios. – simplesmente desmontou aquele cara!
Eu estremeci por lembrar dele. me guiou até o banheiro e eu joguei água no meu rosto.
- Quer um calmante? – ele ofereceu enquanto eu encarava minha imagem no espelho. Eu neguei com a cabeça e comecei a vasculhar as gavetas. Gel pra cabelo, sabonetes, camisinhas...
- O que você tá procurando? – ele perguntou intrigado.
Eu não respondi, finalmente achando algodão.
- Tem mertiolate, água oxigenada, alguma coisa do tipo? – eu perguntei e ele pegou em uma das gavetas água oxigenada e me entregou.
Eu olhei a embalagem. “Volume 10”, serve. Molhei o algodão com aquilo e me aproximei dele.
- O que você vai fazer? – ele perguntou olhando o algodão em minha mão.
- Cuidar de você – eu disse limpando o filete de sangue do rosto dele.
- Não precisa se preocupar comigo – ele disse com uma careta.
Ignorei e peguei mais um punhado de algodão e molhei com água oxigenada novamente. Passei em cima do corte no canto da boca dele e ele se afastou um pouco reclamando baixinho de dor.
- Fica quieto, – eu disse passando o algodão de leve novamente. Eu comecei a me sentir culpada pela dor dele. Era como se doesse em mim. – Obrigada por me salvar – eu agradeci sorrindo e tentando distrair ele.
- Por falar nisso – ele de repente fechou a cara. – O que você estava fazendo a essa hora aqui e com aquele cara?
- É verdade! – eu me lembrei da hora e saí do banheiro rápido, indo em direção a porta.
- Aonde você pensa que vai? – perguntou, segurando meu pulso, e eu senti uma dor latejante.
- Embora. E , tá doendo!
Ele soltou meu pulso rapidamente e olhou-os. Eles estavam roxos. De repente, eu fiquei com medo da cara que ele fez.
- Todas as portas já foram trancadas a essa hora – informou .
- E agora? – eu perguntei tentando pensar em como voltar ao meu dormitório.
- Você dorme aqui – disse com as sobrancelhas erguidas como se aquilo fosse óbvio.
- Pirou?
- Você não tem muitas opções – informou .
Ouvi uma batida na porta. me empurrou para trás dela antes de abrir.
- Cadê a ? – eu ouvi a voz preocupada de , e saí de trás da porta. – Você está bem? O que aconteceu? Desculpa, a gente devia ter te levado até lá embaixo...
- É, deviam – o cortou grossamente. Eu olhei torto para ele.
- Tá tudo bem, – eu murmurei olhando para o chão.
- Vem, você pode dormir lá com a gente – ofereceu .
- Ela vai dormir aqui – sibilou , a cara fechada para eles. abriu a boca para protestar, mas eu o impedi.
- Eu vou dormir aqui – eu disse meio sem pensar, tentando evitar outra briga. olhou confuso para mim, franzindo a testa. – Tá tudo ok.
- Certeza? – perguntou.
- Tenho – eu afirmei e bateu a porta na cara deles em seguida. – Não precisava ser tão grosso com os meus amigos! – Eu disse brava com . Esvaziei uma sacola plástica que encontrei e fui em direção ao frigobar.
- Você tem noção do perigo que correu hoje? – ele perguntou igualmente bravo.
- Mais do que você pensa – eu lancei um olhar furioso para ele. Ele ficou em silêncio e eu coloquei alguns cubos de gelo na sacola. Depois enrolei a sacola em um pano e voltei para perto dele.
- E o que você estava fazendo aqui? – ele perguntou em um tom ainda um pouco bravo.
- Vim buscar meu celular no quarto do e do – eu respondi já impaciente com aquele assunto. – Eu e as meninas passamos a tarde lá. Aí quando eu tava indo embora, aquele maluco me atacou.
- Você não deveria...
- Não enche o saco, – eu o interrompi e coloquei o gelo em cima do inchaço que estava se formando na lateral da boca dele. Ele me encarou e então sua expressão relaxou. Colocou uma de suas mãos por cima da minha que segurava o gelo.
- Obrigado – ele agradeceu e aqueles olhos me hipnotizaram. Dei um beijo leve em sua outra bochecha e me afastei. Meu celular começou a tocar e só então eu percebi que não estava com ele. , deitado na cama próxima a porta com um travesseiro na cabeça, levantou a mão com o celular nela.
- Oi, mãe – eu atendi e fui para o banheiro fechando a porta para ter mais privacidade.
A conversa durou apenas dez minutos, já que ligar do Brasil para Londres saía meio caro. Eu me animei quando ela disse que mandaria o dinheiro para eu comprar o laptop que eu tanto queria. Assim que ela desligou, eu liguei para e contei por cima o que tinha acontecido.
Saí do banheiro e estava deitado no chão assistindo TV, apenas com um cobertor e um travesseiro. Tadinho, eu estava dando trabalho a ele. A cama próxima a janela estava feita, esperando por mim.
- Eu posso dormir no chão – eu ofereci. Ele negou com a cabeça.
- Quer uma roupa pra dormir? – ele ofereceu tirando o gelo da boca e indo até o guarda-roupa. É, dormir com o uniforme não seria exatamente confortável. – Que saco, acho que não devo ter nada do seu tamanho – ele reclamou vasculhando o guarda-roupa.
- – eu chamei e ele me olhou, parando de vasculhar. – Tira a camisa? – eu pedi e ele me olhou com uma expressão confusa. Eu encarei ele de volta e ele tirou a camisa. – Valeu – eu agradeci arrancando a camisa da mão dele e voltando para o banheiro.
Troquei meu uniforme pela blusa dele, apenas permanecendo com o shortinho por baixo da camisa, que cobria metade da minha coxa. Voltei ao quarto e ele me acompanhou com o olhar até eu me deitar e cobrir. Desligou a TV e a luz, deixando a escuridão tomar conta dali. Eu fechei os olhos e as lembranças do meu dia voltaram a minha mente. A imagem daquele garoto era vívida, fazendo com que eu me encolhesse e agarrasse o cobertor.
- ? – eu chamei com a voz embargada. Senti uma lágrima escorrer até o travesseiro. Aquela sensação de pavor me dominando novamente.
- Calma – estava agachado ao lado da cama e começou a fazer carinho em meu cabelo. Eu comecei a chorar e ele se juntou a mim debaixo dos cobertores, me abraçando carinhosamente. – Eu estou aqui, e nada vai te acontecer mais. Eu te protejo – ele sussurrou em meu ouvido. – Eu prometo – ele deu um beijo em minha testa. Eu continuei chorando baixinho, mas seus braços me davam sensação de segurança, me acalmavam, até que eu adormeci.

Capítulo 4
Don't talk


Eu acordei com uma luz branca batendo na minha cara e sumindo em seguida. Abri os olhos vagarosamente e estava rindo com uma câmera na mão.
- Que gracinha – ele zoou e eu mostrei a língua.
ainda dormia profundamente e mantinha os braços me envolvendo.
- Melhor acordar o – continuou . – Ele gosta de acordar mais cedo pra tomar café fora. Aproveita e pede pra ele trazer alguma coisa pra mim. – E, dizendo isso, saiu do quarto.
Eu fiz carinho no cabelo de enquanto ele dormia. Ele parecia tão tranquilo, tão lindo. Eu sorri ao ver um leve sorriso se formar no rosto dele. Dei um beijo em sua bochecha. “Hora de acordar, ”, eu sussurrei.
- Bom dia, pequena – ele disse, abrindo os olhos preguiçosamente.
Eu me espreguicei, sentando na cama. me puxou, me fazendo deitar de novo, e passou uma de suas pernas por cima das minhas.
- Vai tomar café comigo? – ele pediu, manhoso.
- Hum... não sei... – eu fiz cara de pensativa. Ele mordeu minha bochecha. – Ai, – eu disse rindo. – Seu violento. Eu vou.
Ele mordeu minha bochecha de novo.
- E por que me mordeu agora? – eu perguntei, esfregando a mão na bochecha.
Ele simplesmente sorriu e se levantou. Garoto doido.

- Ahn, você não se importa de manter segredo sobre ontem, importa? – ele perguntou um pouco inseguro enquanto tomávamos café-da-manhã em uma Starbucks próxima a escola.
- Não – eu respondi dando de ombros. – Algum motivo especial? – eu perguntei, tentando parecer casual. Se ele disser que tem uma namorada, eu juro que me afogo nesse cappuccino. Ou me jogo da ponte de Londres e me afogo no Tâmisa.
- Não, eu não tenho nenhuma namorada, se é o que você está pensando – ele disse, me deixando aliviada. Eu fui tão óbvia assim?
- Então...? – eu perguntei, tentando fazer com que ele continuasse.
- Só não fala, por favor – ele pediu. – Um dia eu te explico.
- Nem pros meus amigos?
- Já tem amigos, é? – ele perguntou e eu rolei os olhos. – Aquele tal do e do ? De preferência não.
- ? – eu perguntei e ele fez cara de dúvida. – A garota de cabelos curtos, minha amiga. Do meu dormitório.
- O menos possível – e deu de ombros.
Eu hein, quanto suspense.
- De quem é aquela música que você cantou pra mim? – eu resolvi mudar de assunto. – Eu não conhecia.
- É minha – ele disse olhando para algum ponto distante. Eu o olhei espantada. – Eu sei, ainda não é exatamente uma música, não está nem pronta...
- Ela é linda! – eu o interrompi sorrindo. – Fora que você canta tão bem quanto o .
- Não sabia que aquele loser sabia cantar – ele disse, franzindo a testa.
- , para de implicar com o – eu ralhei com ele.
Ele ficou quieto, provavelmente me poupando dos pensamentos dele sobre e evitando uma discussão.
- – eu chamei baixinho olhando para meu copo, mas sabia que ele me encarava. – Você acha... e se, eu, ahn, ver aquele garoto de novo, sabe?
- Hey, pequena – ele me chamou, mas eu continuei olhando meu copo, até ele colocar a mão em meu queixo e levantar minha cabeça para que eu o olhasse. – Não precisa se preocupar, você não vai mais vê-lo.
- Como você pode ter tanta certeza? – eu perguntei encarando aqueles olhos .
- Eu cuido dele – disse, sério. – E não quero mais que você pense nisso, ok? – eu assenti silenciosamente com a cabeça. Uma lágrima teimosa desceu por minha bochecha, mas eu logo me recompus. – E também não quero mais saber de você andando sozinha por aí, muito menos nos dormitórios masculinos. Hora de ir.

Tínhamos a primeira aula juntos, mas ele simplesmente me ignorou desde o momento em que voltamos pra escola. Ele sentou com outro garoto na aula de química no laboratório e eu vi me chamando e apontando para a cadeira vazia ao seu lado.
- E aí, Five Colours? – me cumprimentou alegre. Pelo jeito ele está tentando ser bonzinho e me fazer esquecer certas coisas.
- E aí, – eu sorri me sentando ao seu lado.
- Dormiu bem? – ele perguntou e dessa vez eu notei que ele estava tentando ser casual, mas se saindo não tão bem. Não, eu não dei pro , se é isso que você quer saber, palhaço.
- Dormi – respondi anotando o que o professor começava a passar no quadro. – O é que deve estar todo quebrado, tadinho, dormiu no chão.
Pelo jeito dessa vez eu fui convincente, porque ele mudou de assunto.

Quando a terceira aula daquele dia acabou, matemática, eu finalmente consegui falar com a . Os treinos começariam terça que vem. Ela não era tão ruim quanto havia dito. Quero dizer, ela não me analisou nem mais nem menos do que o resto da escola ainda fazia. Passei o intervalo com Lauren, tentando adiar meu encontro com e .
Mas a hora do almoço chegou, e eu resolvi sentar com eles, já que a próxima aula seria com .
- Será que a senhorita pode me explicar o que aconteceu ontem? – ela exigiu assim que eu coloquei minha bandeja em cima da mesa.
- Será que a gente pode esquecer sobre ontem? – eu pedi sentando.
Eles ficaram em silêncio até puxar uma conversa. Ufa, mais fácil do que pensei.
Depois do almoço passei no meu quarto e encontrei um embrulho em cima da minha cama. Estranho. Eu abri o embrulho e haviam duas munhequeiras pretas e uma pomada. Eu peguei as munhequeiras e um bilhete caiu.
“Isso vai ajudar a sumir com o roxo. Se precisar de mim me liga”
Escrevi a mensagem “Obrigada?” e enviei para o número escrito no bilhete.
Estava realmente começando a esquentar, então eu finalmente pude tirar o casaco que vestia desde ontem, e, depois de tomar banho, passei a pomada e coloquei as munhequeiras. Por que ele se preocupava assim comigo?
Na aula de química, não falou nada sobre a última noite, mas eu podia sentir que ela estava louca pra saber de tudo.
Aula de educação física. Eu troquei o uniforme pela roupa de ginástica da escola, mas fui barrada por uma garota ruiva e maquiada. E bonita, eu admito.
- Por que você tá vestindo o uniforme comum de ginástica, ô Five Colours? – eu encarei ela sem entender. Era a Brooklie, e agora eu tinha um novo apelido, é?
- E não é o que eu deveria estar vestindo?
- Você não está querendo entrar para o grupo de líderes de torcida? – ela tinha uma voz enjoada. Isso me lembrou imitando ela.
- É.
- Então cadê seu uniforme de líder? Nós não vestimos a mesma coisa que elas – ela apontou para algumas meninas que passavam vestindo o uniforme de ginástica.
- Foi o que me deram – eu disse dando de ombros.
- Eu só vou entregar os uniformes semana que vem, Brooklie – apareceu atrás dela.
- Você já não deveria ter entregado? – ela perguntou um tanto desdenhosa.
- Não – ela respondeu ríspida.
Eu deixei as duas discutindo e saí de fininho. A professora nos fez ficar correndo em volta da quadra até eu quase morrer.
- Não se preocupe – disse sentando ofegante ao meu lado na arquibancada -, costumamos usar a aula de educação física – ela fez uma pausa para respirar um instante – para treinar.
- Tomara que essa vaca quebre a perna e morra – praguejou Brooklie se largando ao lado de .
- O que é que vocês três acham que estão fazendo sentadas? – a professora se esganiçou. Ela era grande e musculosa. Ela me assustava.
- Discutindo sobre nosso passos – mentiu Brooklie.
- Pois arranjem outro horário para discutir – ela esbravejou, e eu juro que vi cuspe voando. Eca. – QUERO TODO MUNDO CORRENDO.
- Não podemos treinar? – tentou .
- Aaah, então as mocinhas estão achando que vão poder ficar treinando passinhos na minha aula, não é? – ela esganiçou.
- Sempre fizemos isso – disse Brooklie.
- Mas não vão fazer mais! – ela exclamou fazendo uma cara furiosa. – E tratem de voltar a correr agora mesmo se não quiserem ser expulsas de novo!
Eu bufei e voltamos a correr.
- Mulher grossa – reclamou indignada. – Até parece que não vamos mais treinar na educação física! Isso é totalmente absurdo!
- Vamos discutir melhor aquele lance da perna quebrada? – sugeriu Brooklie.
- Com certeza – respondeu convicta. – E nosso próximo professor terá que ser um homem, são bem mais fáceis de convencer.
- Se quiserem ajuda pra se livrar da mal-comida, é só falar – eu ofereci e voltamos a correr em silêncio. Todo o oxigênio era precioso para não desmaiarmos.

- Puta que pariu, tô acabada – eu reclamei pra depois de sair do meu segundo banho em uma tarde.
- É, aquela professora de educação física é um saco. A última aula que tive com ela foi um inferno.
Eu deitei na cama e fiquei lá estirada durante algum tempo.
- Five Colours? – me chamou na porta do quarto. lançou um olhar mortal para ela, que apenas ignorou. Eu fui para fora do quarto ver o que ela queria. – Você quer mesmo nos ajudar a expulsar aquela mulher-macho da escola?
- Quero – eu respondi. – Mas eu não quero arranjar problemas na escola, entende...
- Ok, então, nós vamos te explicando no caminho o que você tem que fazer.
Encontramos com Brooklie na escadaria da escola esperando por nós agarrada a . Ele me olhou torto, não sei por quê, quando saímos dali. Entramos na sala do diretor e fiz cara de triste.
- Ah, Srtª , vejo que você encontrou boas companhias – ele disse sorrindo, então percebeu minha tristeza. – Mas por que vocês estão aqui? Algum problema?
- Sr. Philips – começou Brooklie -, ela não queria vir aqui porque não queria problemas logo na primeira semana, mas nós a convencemos que seria o melhor a fazer.
- Por favor, sentem-se, queridas – ele pediu apontando para as cadeiras à sua frente.
- Obrigada – agradeceu .
- Continuem, por favor.
- Acho melhor ela mesma contar – disse Brooklie fingindo estar apreensiva.
- Eu estava na aula de educação física – eu comecei a mentir e deixei que meus olhos começassem a lacrimejar -, e então aquela professora começou a implicar comigo.
Eu fiz uma pausa fingindo tomar coragem.
- Calma, querida – incentivou . – Conte a ele.
- Eu era a última no vestiário, e ela simplesmente chegou gritando comigo – eu comecei a chorar. – Disse que eu estava fazendo corpo mole a aula inteira, e quando eu tentei sair do vestiário, ela agarrou meus pulsos e começou a me sacudir!
- Nós ouvimos os gritos e voltamos para ver o que estava acontecendo – disse enquanto eu me esforçava para aumentar o choro, e Brooklie me abraçou de lado.
- A professora começou a xingá-la de coisas horríveis – disse Brooklie. – E disse que brasileiras eram imprestáveis e burras, e foi piorando.
- E então nos viu e soltou – continuou . – Saiu dali como se nada tivesse acontecido.
- Meu Deus – disse o diretor de olhos arregalados. – Espero que você esteja bem, querida!
Nessa hora eu usei o elemento surpresa com que nem as meninas contavam. Tirei as munhequeiras dos pulsos e mostrei ao diretor. Todos me olharam assustados.
- Monstra! – exclamou Brooklie.
- Eu vou tomar providências agora mesmo! – o diretor bateu as mãos na mesa e se levantou. – Senhoritas, sugiro que voltem para seus dormitórios por enquanto. E Srtª , peço desculpas pelos atos terríveis dessa professora. Eu lhe garanto que ela estará fora do corpo docente dessa escola ainda hoje. Espero que isso não a faça julgar mal os outros professores, nem a escola, e que continue conosco.
Eu assenti silenciosamente com a cabeça, controlando o choro.
- Você é melhor do que eu pensava, garota! – elogiou Brooklie quando já estávamos no pátio.
- É, você foi incrível! – disse . – Mas aonde você arranjou esse roxos nos pulsos?
Ferrou. O que eu falo agora?
- Foi em uma brincadeira que eu estava fazendo com meus amigos – eu comecei a falar o que vinha na cabeça. – Era um truque de mágica que eu aprendi no Brasil. Mas não deu muito certo, eu fiquei com a mão presa na caixa. – Eu dei de ombros.
- Então era essa a causa dessas munhequeiras – concluiu Brooklie. Nossa, como você é inteligente. – Engraçado, o tem umas iguais – ela disse, pensativa.
Eu olhei para meus pulsos, eram munhequeiras pretas, comuns o bastante pra que eu simplesmente tivesse iguais. Mas peraí, como ela sabe o que o tem ou deixa de ter?
- ? – eu perguntei.
- Ah, você nem deve conhecer ele – disse ela dando de ombros. – Ele é amigo do meu namorado, aquele cara que tava comigo na escadaria.
Ela entendeu a pergunta de modo errado. Ainda bem.

- Aonde você foi com aquela vaca? – perguntou , ríspida, assim que eu entrei no quarto.
- Ajudá-las para termos mais tempo para treinar – eu respondi indo para o banheiro lavar o meu rosto.
- Treinar o quê? – ela perguntou confusa. – Se você me disser que entrou para o grupo de líderes de torcida eu juro que te deserdo!
- Qual é o problema? – eu perguntei voltando pro quarto.
- Qual o problema? – ela perguntou com a voz esganiçada. – Todos as líderes de torcida são metidas, são fáceis e...
- Não me interessa o que elas são ou deixam de ser – eu cortei ela. – Eu não vou mudar só porque seguro pompons.
- Veremos – ela disse brava.
- Ah, qual é, , você também odiou a professora de educação física – eu disparei.
- O que isso tem a ver? O que vocês fizeram?
- Já disse, arranjamos mais tempo para treinar agora – eu coloquei meus fones de ouvido, impedindo de continuar a me encher o saco.
Foi aquela vaca da professora que gritou comigo primeiro, eu só estava dando o troco a ela.

Capítulo 5
S.O.S.


Depois daquilo, ficou a sexta-feira inteira de cara virada pra mim. Assim que Lauren saiu da última aula, nós fomos para a casa dela e passamos o sábado todo procurando um laptop pra mim, e domingo foi um tédio: filme, comida e lição de casa. Mas tudo era um tédio por um único motivo: não saía da minha mente. Isso estava me irritando, eu simplesmente não parava de pensar nele. Por que isso agora?

Nas duas aulas de matemática, resolveu sentar ao meu lado, expulsando a garota que estava ali antes. Eu tentava explicar as coisas pra ela, mas na maioria das vezes ela acabava por copiar minhas respostas.
- Aonde você vai? – me perguntou, quando eu estava indo em direção a mesa onde e os outros estavam no refeitório.
- Ahn, sentar com o , a , o ...
- Aff – ela me cortou. – Você senta com a gente hoje, ok?
Eu fiquei totalmente sem graça quando passei e acenei para eles, e em seguida sentei na mesma mesa que ela com a bandeja do almoço. Acho que agora a nunca mais olha na minha cara.
Eu olhei para o meu lado e ali estava Brooklie e uma outra garota loirinha. Olhei à minha frente e lá estava um garoto moreno forte, ao seu lado, e... . Meu estômago deu um solavanco quando meu olhar encontrou com o dele. Acho que eu vou ver meu café-da-manhã de novo.
- Five Colours, essa é Claire - ela começou a apresentar -, Diego, e .
Eles sorriram e eu acenei. me fuzilava com o olhar, apesar de sorrir.
- Já está tudo arranjado – comentou Brooklie animada. – Conseguimos um professor para substituir aquela mulher-macho.
- Graças a Deus – eu disse baixinho.
- Garotos, vocês tinham que ver essa garota atuando, ela é perfeita – continuou Brooklie animada.
- O que vocês andaram aprontando dessa vez? – perguntou , olhando para Brooklie.
- A professora de educação física estava tentando nos matar, aí nós cuidamos para que ela fosse expulsa.
- A Five Colours fingiu que a professora tinha agredido ela – contou .
- É, mas o melhor foi o improviso – continuou Brooklie. – Vocês têm que ver os roxos que ela arranjou nos pulsos, foi demais.
Será que alguém pode calar a boca dessas duas?
- E como você arranjou esses roxos? – perguntou . Eu juro que a qualquer momento iria sair laser dos olhos dele. Medo.
- Ela disse que tava fazendo um truque de mágica ou qualquer coisa assim – disse -, e as mãos dela ficaram presas numa caixa.
- Foi horrível – eu comentei olhando pra ela. – Nunca mais tento fazer mágica de novo na vida.
relaxou um pouco e parou de tentar me matar com o olhar.
- Mas sabe, já está até sarando – eu disse olhando para o meu próprio braço. – Não dói mais, e a pomada que eu tô passando tá tirando o roxo.
Eu sorri silenciosamente para o meu prato enquanto elas começavam outro assunto e ergui meus olhos para , vendo que ele sorria silenciosamente também.
- Eu nunca vou entender essas garotas – comentou baixinho para . – Só porque elas são loucas, tentam nos enlouquecer junto.
riu.
- Talvez não loucas – eu disse olhando para . – Só confusas – olhei para , que riu de novo.
Olhei em direção à mesa onde meus amigos estavam. Se não estivesse aqui, eu iria para lá agora mesmo.

Eu paguei meu fichário e meu livro de geografia e caminhei para a biblioteca, pra fazer um pequeno trabalho que o professor havia passado. Pequeno porque não era ele que iria ter que fazer. Alguém me puxou para dentro de uma sala vazia.
- ! – eu dei um tapa no braço dele. Garoto estúpido, quase morri do coração. Meus olhos encontraram os seus e então eu percebi que o susto não foi nada comparado ao que os olhos dele faziam ao meu coraçãozinho.
- Posso saber o que a senhorita está fazendo junto com a Brooklie e a ? – ele perguntou me encarando.
- Eu entrei pro grupo de líderes de torcida, e elas fazem parte – eu disse. – Aliás, é a chefe das líderes. Nós nos demos bem, eu acho.
- E isso justifica você ser responsável pela expulsão de uma professora? – ele perguntou, ligeiramente bravo.
- Acho que ela prefere ser chamada de professor, viu – eu comentei, tentando escapar da pergunta. Ele segurou o riso.
- Eu estudo com elas faz tempo – ele disse sério. – Quero que você tome cuidado com elas. Elas ferram até uma a outra se deixar, além de ter nos arrastado junto no terceiro ano.
- Terceiro ano? – eu perguntei confusa. – Mas vocês estão no terceiro ano agora.
- Repetimos – ele disse rolando os olhos. – Aliás, elas repetiram e, como não conseguiram fazer nada para passar, fizeram que eu e o bombássemos também.
- Uou – eu disse baixinho.
- E os pulsos, melhoraram? – ele desviou o assunto e pegou cuidadosamente meus braços, tirando a munhequeira deles.
Agora o roxo estava bem mais claro em alguns pontos, e em outros já começava a amarelar.
Ele soltou meu braço e foi se sentar em cima da mesa do professor. Ficamos em silêncio por alguns minutos, até eu me aproximar dele devagar. Apoiei minhas mãos nas pernas abertas dele e sustentei seu olhar antes de encostar nossos lábios. Ele colocou a mão em minha nuca me fazendo arrepiar e pressionou nossos lábios. Ficamos assim durante alguns segundos, antes dele afastar nossos rostos. Ele pulou da mesa, e antes de abrir a porta, abriu a boca para falar alguma coisa, mas a fechou de novo e saiu dali me deixando totalmente confusa. Qual é o problema desse garoto?
Eu fui para a biblioteca começar meu trabalho de geografia, mas estava sendo difícil. A cada dois parágrafos que eu lia, eu tinha que reler um, porque no último eu estava distraída pensando em .
Na aula de inglês, eu sentei na carteira ao lado de . Ela virou a cara, ainda brava comigo. Eu passei a aula inteira tentando puxar conversa, até finalmente conseguir fazer com que ela falasse comigo direito.
Aula de história. Eu sentei na última carteira no canto da sala, abaixei a cabeça e fiquei assim até que eu ouvi falar comigo.
- Ahn, me desculpa, eu... – ele começou, mas eu o cortei.
- Vê se não me enche o saco, – eu disse exasperada pra ele, e abaixei a cabeça de novo.
Eu não iria deixar ele me dar um fora assim, ou dizer “somos apenas amigos”, ou seja lá o que ele fosse dizer, eu não queria escutar.
- Você tá bem? – ele perguntou.
- Não preciso de ninguém se preocupando comigo – eu murmurei.
- O professor vai te chamar a atenção se você continuar assim – ele avisou.
- Problema é meu.
- Só estou tentando te ajudar.
- Você me ajudaria se sumisse da minha vida.
- Não tem mais carteiras vazias, vai ter que me suportar.
- Não dá, você é insuportável.
- Senhorita ), quer fazer o favor de acordar? – o professor me chamou, e eu levantei a cabeça, sentindo meu rosto queimar ao perceber todos me olhando.
- Eu avisei – disse .
- Blá, blá, blá... – eu fiz uma voz afetada.
- Você é tão estúpida.
- Você é tão idiota.
- Formamos um belo casal, então – ele disse e eu o olhei sem entender, rindo em seguida.
- De onde eu vim, se um cara fugisse de uma garota quando fosse beijado, seria gay, sabia? – eu comentei irônica.
- Aqui também seria – ele disse rindo.
- Ai, meu Deus! Você é gay! – eu gritei e todo mundo me olhou de novo, eu abaixei minha cabeça morrendo de vergonha.
- Eu juro que te mato, garota! – ele sussurrou pra mim.
Depois de alguns minutos eu levantei a cabeça, ainda impressionada.
- Por que não me contou antes que era gay? – eu perguntei para ele.
- Porque eu não sou – ele murmurou bravo, me fuzilando novamente com os olhos.
- Não? – eu perguntei ainda em dúvida. Bem que ele era perfeito demais para ser de verdade.
- Não – ele afirmou.
- Certeza?
Ele bufou e começou a copiar a matéria, me deixando totalmente no vácuo. Odeio esse garoto.
O sinal bateu, enquanto todos saíram da sala nós dois simplesmente tivemos que ficar ali pra terminar de copiar a matéria.
- É culpa sua que eu estou perdendo meu tempo aqui – eu disse observando o professor sair da sala.
- Eu não segurei suas mãos para você não escrever – ele disse ainda sem me olhar.
- , vai embora.
- Não posso, tô copiando a matéria.
Eu bufei e fechei meu caderno.
- Depois eu arranjo a matéria com alguém – eu disse irritada. – Melhor do que ter que ficar aqui.
Ele fechou o caderno e saiu na minha frente, fechando a porta antes que eu pudesse passar.
- Qual é o seu problema garota? – ele perguntou me encarando encostado na porta.
- Você – eu disse sustentando o olhar.
Eu não sei como aconteceu, mas no segundo seguinte era eu quem estava encostada – leia-se: pressionada – contra aquela porta. me beijava intensamente com as mãos em minha cintura e eu tentava eliminar qualquer espaço possível entre nós o puxando pela camisa e apertando sua nuca. Era como se uma corrente elétrica passasse por minhas veias ao invés de sangue. Ele mordeu meu lábio inferior me fazendo soltar um gemido baixo e puxar seus cabelos. Ele desceu os beijos pelo meu pescoço, me fazendo ficar ofegante, enquanto tentava me concentrar em abrir os botões da camisa dele. Ele percebeu minhas intenções e começou a fazer o mesmo com minha blusa. Foi então que eu comecei a lembrar de quando fui agarrada, de quando aquele garoto me tocava... Aquilo me fez respirar acelerado, me deixando tonta. Eu o empurrei e saí daquela classe correndo para meu dormitório.

Eu não saí do meu quarto até que o sinal batesse às sete e meia da manhã me mandando ir para a classe. Eu dei graças a Deus de não ter aula com durante a terça-feira, crente que não teria que vê-lo. Eu já estava até sentada almoçando na mesa conversando animada com , quando me cutucou nas costas.
- Vem sentar com a gente quando terminar aí, ok? – ela disse e foi para a mesa dela. Alguém lá em cima deveria estar rindo muito da minha cara, não é possível.
Eu terminei de almoçar e fui para a mesa onde e os outros ainda estavam almoçando.
- E aí, Five Colours – cumprimentou Brooklie. Eu me lembrei do que tinha dito sobre ela. E falando nele, lá estava o motivo de eu não ter dormido direito durante todos estes dias, o motivo das minhas distrações.
- Senta aí – disse me dando espaço ao seu lado.
Eu sentei, sentindo meu coração acelerar ao ver aqueles olhos bem na minha frente, me olhando.
- Nós já acertamos os horários pra usar a quadra – informou Brooklie. – Os treinos começam hoje, querida, às cinco horas. A propósito, você combinou muito bem com o uniforme.
Eu ainda estava com o uniforme que elas me entregaram na aula de educação física. Era um short preto curto e uma blusa babylook branca com traços pretos que deixava uma faixa da barriga aparecendo.
Eu olhei para , que assentiu disfarçadamente com a cabeça, me fazendo sorrir envergonhada.
- Mas esse é o uniforme de educação física, sabe, do horário normal – explicou . – Nós podemos ficar com ele pela escola em vez do outro uniforme. Usamos um uniforme parecido nos treinos.
- E é claro que temos um modelo especial para os jogos – disse Brooklie, com um sorriso convencido.
- Então tá, né – eu disse baixinho.
- Garotas, vocês viram o que aquela garota estranha do segundo ano fez com o cabelo? – perguntou Brooklie. E com isso começou a sessão fofoca. Realmente, elas tinham uma língua afiada para falar mal dos outros, mas até que era engraçado.
Alguém passou a mão por meus cabelos e bagunçou-os. Eu olhei para trás e piscou pra mim enquanto caminhava. Eu ri, arrumando meu cabelo.
- Galerê, tenho que ir – eu disse e saí correndo atrás de e os outros.
Eu pulei nas costas de , e ele segurou minhas pernas e me levou de cavalinho até a porta do nosso prédio.
- , seu preguiçoso – reclamou . – Até daqui a pouco.
Ele tinha se recusado a levar de cavalinho, disse que ela era muito pesada. Pesada eu não sei onde, mas tudo bem, acho que se pedíssemos pra ele levar um gato, ele iria reclamar que era pesado também.

Eu aproveitei nosso tempo livre para entrar na internet um pouco, já que agora eu tinha meu laptop.

: SOS, amigas! Tô ficando louquinha nesse lugar!
Mari: Achei que tivesse morrido já! Você não deu noticias!
Liz: Amiiiiiiiiiga, que saudadeee!!! Conta tudo!
: É sério, eu tô pirando aqui! Me ajudeeem!!!
Mari: O que aconteceu?
Liz: Conheceu muitos gatinhos?
: Um garoto. Ele tá me atormentando!
Liz: Ele é bonito?
Mari: Te atormentando?
: Bonito? ELE É PERFEITO!
Liz: Então qual o problema? Já deu uns pegas nele?
: Eu não sei... Eu chego perto dele e... Parece que vou ter um ataque do coração, meu estômago embrulha, eu começo a tremer... Ele quase me mata, galerê, é sério!
Mari: ELA TÁÁ APAIXONADA!!!!!
Liz: Awn!
: Não tô, não! Eu só me pego pensando nele às vezes... Mas ele é bipolar, é sério!
Mari: Às vezes? Certeza, amiga?
Liz: Bipolar? Boiei.

- Não consigo entender nada! – reclamou , me fazendo pular na cadeira. – É português?
- Sua curiosa! – eu reclamei fechando o laptop na mesma hora. – É, tava falando com minhas duas melhores amigas, lá do Brasil.
E de quem eu morro de saudades. deu de ombros e se largou na cama.

Nós voltamos para escola e eu aproveitei os minutos restantes para copiar algumas coisas do trabalho dela de geografia, já que eu havia sido mentalmente impedida de conseguir fazê-lo inteiro. Pelo menos agora eu estava conseguindo entender melhor os professores. Quando estava mexendo na minha mochila pra pegar o material de química, um bilhete caiu do meu caderno.
“Filosofia, depois do seu treino”
- O que é isso? – perguntou tentando pegar o bilhete da minha mão.
- Nada – eu respondi amassando e jogando o bilhete de volta na mochila.
A dupla de química terminou, e eu voltei correndo para o dormitório para tomar um banho rápido, mas não resisti a ligar o computador um pouco.

Mari: O que aconteceu, você saiu sem avisar! Mal educada!
Liz: Vai, amiga, fala mais sobre o gatinho!
: Calma aí! Eu tenho treino agora, tenho cinco minutos!
Mari: Treino de quê?
Liz: Então conta logo!
: Líder de torcida. Alguém me deixou um bilhete hoje escrito “Filosofia, depois do seu treino” Eu não saquei muito bem...
Mari: Aula particular com alguém?
Liz: Líder de torcida??! Que massa!
: Não, não tenho aula com ninguém. É, parece ser legal, Liz!
Mari: Vocês aí não têm aula divida por salas e talz?
: Aham.
Mari: Então é “sala de filosofia”, não é?
: Não tinha pensado nisso... Vou dar uma checada!
Mari: Tá ficando lerda que nem a Liz!
Liz: Hey! Ainda tô aqui.
: Te amo, lerdinha!
Mari: É, também te amo, lerdinha!
Liz: Awn! Amo vocês!
: Porra, já tô atrasada! Fui!

Fechei o laptop e saí em disparada para o ginásio. Entrei no vestiário e lá estavam as garotas se trocando.
- Aqui – jogou o uniforme pra mim e eu me troquei. A blusa era preta com listras brancas, a saia rodada preta com as pregas brancas por dentro e o short preto. Amarrei meu cabelo e fomos para a quadra.
Aquilo era diferente do que eu estava acostumada. Talvez porque eu não estivesse acostumada com nada disso de qualquer jeito. Fora que minha elasticidade não era das melhores. Mas até que não estava tão complicado assim. Era divertido.
O treino durou uma hora, depois peguei minha roupa e já estava saindo quando Brooklie me chamou.
- Nós vamos sair e beber daqui a pouco. Nada demorado, mas precisamos relaxar um pouco, sabe... Quer vir?
- Desculpa, Brooklie, talvez numa próxima – eu disse, fazendo cara de cansada. – Eu estou muito cansada.
- Ok – disse ela, sorrindo fraco.
Eu saí apressada pelos corredores, tentando me lembrar onde ficava a sala de filosofia. Mas peraí, eu nem sei quem me mandou aquele bilhete. E se for um assassino? Do jeito que eu sou curiosa, eu nunca mais dormiria direito se não descobrisse. Fora que era só uma teoria que eu tivesse que ir na sala de filosofia. Eu finalmente encontrei a bendita sala, era a única com a porta encostada ao invés de fechada e trancada. Eu olhei para os dois lados desertos do corredor antes de entrar, já me preparando para gritar ou sair correndo. Ou os dois juntos. Empurrei a porta e nada aconteceu, me deixando mais tensa ainda, mas assim que entrei a porta bateu atrás de mim, me fazendo dar um pulo e soltar um gritinho.
Eu olhei para a porta e lá estava atrás dela, rindo da minha cara.
- Você adora me assustar, não é, ? – eu reclamei emburrada. Mania chata desse garoto.
- É – ele afirmou ainda rindo. – Você fica tão engraçadinha quando leva um susto.
- Ha-ha – eu ironizei e dei língua.
- Suas munhequeiras combinaram com o uniforme – ele disse se aproximando.
- Eu sabia que você era gay mesmo! – eu disse, levando as mãos a boca. Geralmente ou mulheres, ou garotos afeminados, sabiam combinar roupas.
Ele rolou os olhos. “Vai insistir nisso?”
- Talvez – eu disse mordendo o lábio e olhando para os dele, que agora me pareciam extremamente convidativos. Ele se aproximou até juntar nossos corpos e passou os lábios pelos meus, me provocando.
- E sabia que esse uniforme – ele sussurrou em meu ouvido, me fazendo arrepiar - fica muito bem em você?
Ele passou as pontas dos dedos aonde terminava a minha saia. Passou os lábios novamente pelos meus, enquanto brincava com a barra da minha saia. Eu puxei seu lábio inferior de leve com meus dentes e deslizei minhas unhas por suas costas. Ele pediu passagem com a língua e eu abri minha boca, me permitindo sentir o gosto dele. segurou minhas pernas e colocou-as envolta de sua cintura, me carregando até a superfície de alguma coisa que eu suspeitei ser a mesa do professor. Ele acariciou a lateral do meu corpo, deixando suas mãos em minha cintura, depois descendo-as devagar. Eu distribuía beijos em seu pescoço enquanto arranhava levemente suas costas. Ele voltou a me beijar e começou a levantar minha camisa. Eu me separei dele apenas para tirá-la e quando voltamos a nos beijar sentia quase que uma ferocidade em seus beijos. De repente, eu não conseguia respirar mais direito. Ele percebeu que eu não estava correspondendo mais e me olhou preocupado.
- Você está bem? – ele perguntou, e eu coloquei a mão em sua boca, pedindo silêncio. A pior coisa quando se passa mal é que sempre tem um idiota perguntando se você está bem.
Eu tentava puxar o ar, já me sentindo tonta pela falta de oxigênio. Ele levantou levemente minha cabeça pelo queixo, com uma das mãos, e com a outra segurou uma de minhas mãos, fazendo carinho nela. Aos poucos eu fui me acalmando e voltando a respirar novamente. Ele me deu um selinho e me abraçou.
- Dorme comigo hoje? – ele pediu e eu me afastei para olhá-lo. – Relaxa, estou pedindo para você dormir comigo, só isso.
- Dormir, tipo, dormir? – eu perguntei.
- É – ele disse e então um sorriso malicioso apareceu em seu rosto. – A não ser que você queira fazer alguma outra coisa também.
- Não seria perigoso eu dormir em um quarto com dois homens? – eu perguntei. E diga-se de passagem, dois homens tão gostosos como ele e o .
- vai passar a noite com a Brooklie hoje – ele disse enquanto eu olhava para aqueles olhos tão intensos mesmo no escuro. – E você não confia em mim?
- Confio – eu disse sorrindo timidamente. – Mas hoje não.
- Que pena – ele disse e me deu um selinho.
Eu saí da sala e adentrei o corredor, sentindo um calafrio. Como a noite os aquecedores da escola eram desligados, aquele lugar estava gelado.
- Onde você estava até agora? – perguntou enquanto eu atravessava o caminho até os dormitórios.
Eu abri a boca para inventar alguma coisa, mas Brooklie perguntou antes “Com quem você estava?”
- Eu tava na biblioteca – eu disse rápido.
- – eu ouvi alguém me chamar, eu olhei para trás e me abraçou pela cintura. – Você deve estar congelando, vem.
- A gente se vê – eu disse sem graça e saí abraçada com , deixando as duas de boca aberta atrás de mim.
- Vai, troca de roupa rápido – disse me deixando na porta do meu prédio. – Vamos comer alguma coisa.
É, parecia ser uma boa ideia. Eu me troquei, e em dez minutos já estava lá embaixo de novo.
- Aonde vamos? – eu perguntei, enquanto caminhávamos portão afora.
- Algum fast-food ou restaurante – ele disse. – O que você prefere?
- Hoje eu quero fast-food – eu disse sorrindo igual a uma criança.
- Então tá – ele disse e beijou minha bochecha.

Capítulo 6
No Worries


- Dude, para de olhar pra trás e me ajuda aqui! – eu exigi, vendo virar a cabeça para trás pela milésima vez naquela aula. Ela sempre fazia isso, era irritante.
- Oi? – ela perguntou, meio confusa. Em que mundo essa garota vive?
- Eu não entendi isso aqui – eu apontei para o meu caderno. Enquanto ela me explicava, a peguei olhando rapidamente para trás novamente. Eu olhei para trás e me deparei com . Certo, haviam várias outras pessoas ali, mas era bem mais notável, fato.
- Eu acho o bonito – eu disse, distraída.
- Engraçadinha – reclamou , e eu a olhei sem entender.
- Qual o problema com ele?
- Além de que a Brooklie tomou posse e de que ele é um idiota, nenhum – ela disse com raiva.
- Eles são namorados – eu disse, rolando os olhos. – E ele não me parece tão idiota.
- Namorados? Qual é! – ela respondeu, copiando a matéria do quadro, enquanto a ponta de sua lapiseira quebrava algumas vezes. – Eles pegam geral, eles nem são namorados de verdade. É totalmente ridículo.
- Como assim? – eu perguntei, franzindo a testa. - É um relacionamento aberto?
- Deve ser – ela bufou. – Quer dizer, ela é ex-namorada do melhor amigo dele, isso já é bem estranho pra mim.
- Quem? – eu perguntei apertando uma de minhas mãos.
- Dã – ela zombou. – O . Vai me dizer que sua amiguinha nunca contou?
- Namoraram? E o que aconteceu? Há quanto tempo? – eu disparei sem conseguir me controlar.
- Ano passado – ela disse, apertando novamente a lapiseira, cuja ponta tinha quebrado. – Mas eu não sei muita coisa, eu comecei esse ano aqui também, lembra?
- Ahn, ok – eu murmurei voltando a copiar a matéria silenciosamente.
Quer dizer que e Brooklie namoravam, e agora ela “namorava”, ou seja lá o que fosse, o ? E ela havia feito os dois repetirem de ano. Isso é estranho. As pessoas daqui são estranhas de qualquer jeito, mas eles superam. Será que era por isso que me escondia, porque ele não queria que ela soubesse? Porque ele ainda gostava dela, mas ela estava com o melhor amigo dele?
Durante o almoço eu passei rapidamente pela mesa de Brooklie, preferi ficar com e os outros. Eles me faziam sentir como se estivesse em casa.
- – eu disse, irritada. – Se você tacar mais alguma coisa em mim, juro que vou te fazer engolir!
Ele não parava de jogar mini bolinhas de papel em mim, e aquilo estava ficando chato. Ele esperou até que eu estivesse distraída e tacou mais uma, me desafiando. Eu peguei três bolinhas do chão e me levantei, dando a volta na mesa e comecei tentar enfiar a bolinha na boca dele, enquanto ele segurava meu braço.
- Eu não joguei! – ele se defendia. – Foi o , eu juro!
Eu fiz mais força tentando enfiar a bolinha na boca dele, e ele teve que segurar meu pulso com mais força, me fazendo gritar de dor, e me soltando na mesma.
- ! – ele exclamou desesperado e se levantou, me abraçando. – Foi sem querer, desculpa!
- Não foi sua culpa – eu disse baixinho. – Já tava machucado.
Ele se afastou e me encarou, com a testa franzida. Eu me aproximei e cochichei em seu ouvido: “Sabe, daquele dia lá no dormitório.” Ele me olhou, fechando a cara. Eu levei um dedo a boca em pedido de silêncio. “Depois”, eu murmurei, voltando ao meu lugar na mesa.
- E você tá marcado, viu, – eu avisei, apontando para a cara dele.

- As meninas estavam hoje falando na hora do almoço sobre você e o disse, olhando sério para o quadro. Eu fiquei em silêncio para que ele continuasse. – Parece que vocês estavam juntos ontem à noite – ele continuou, e eu percebi que ele estava tentando não rir.
- Que mais elas disseram? – eu ri de leve.
- Que vocês eram um casal estranho, e que a cena na hora do almoço provou que vocês estavam juntos. - De repente sua expressão estava séria. – não pareceu muito feliz em perder o admirador.
- Não sabia que tinha alguma coisa com – eu murmurei. Pelo jeito eu estava totalmente por fora dos romances do colégio.
- Não tem – ele respondeu. – Mas o vive correndo atrás dela. É de dar dó um homem se comportar assim.
O sinal bateu e eu esperei até que todos saíssem, enrolando para guardar meu material. fez menção de levantar e eu o puxei pela calça, fazendo-o sentar novamente. Eu me levantei e saí da sala, já que o professor ficaria ali, eu precisava de outro lugar para falar com ele.
- A sala de filosofia tá vazia hoje? – eu perguntei indo para o andar de cima. Ele assentiu com a cabeça, me acompanhando silenciosamente. Para minha surpresa a sala estava trancada, mas pelo jeito não para ele. Ele tomou minha frente, e em dois minutos a porta estava aberta.
- Você arrombou a porta? – eu perguntei, fechando a porta atrás de nós.
- Na verdade eu tenho a cópia das chaves de algumas salas – ele disse dando de ombros. Eu franzi a testa. – Tá, eu roubei e copiei, satisfeita? Mas a chave dessa ficou no meu quarto, então, sim, eu arrombei. O que tem de errado nisso?
Eu rolei os olhos e me sentei na mesa do professor. Ele se aproximou de mim e tentou me beijar, mas eu virei o rosto.
- O que foi? – ele perguntou, afastando o próprio rosto.
- Eu não entendo por que temos que ficar sussurrando, por que você me esconde, por que não posso contar sobre nós para ninguém. – Ele continuou me olhando, como se pedisse para que eu continuasse. – Tudo bem, não temos nada, eu sei. Mas por que tanto segredo? O que tem de errado comigo?
- Não tem nada de errado com você – ele disse com a expressão séria. – Mas é melhor assim. Eu não sei se posso te contar ainda.
- É a Brooklie, não é? – eu perguntei, olhando em seus olhos.
- O que a Brooklie tem a ver? – ele perguntou surpreso.
- Me diz você, – eu disse, ríspida.
- Ela é só minha ex-namorada, o que isso teria a ver? – ele perguntou, me encarando com a mesma intensidade.
Ficamos um momento em silêncio, até eu quebrá-lo: “Você ainda gosta dela.”
- De onde você tirou esse absurdo?
- Do fato de que tudo que envolve eu e você ter que ser um segredo.
- Certo, ela até tem a ver com isso – ele desabafou. – Mas eu não gosto dela, de maneira alguma. Ela é que ainda gosta de mim, ou melhor, pelo que tenho visto, ela é praticamente obcecada por mim. E ela é uma das pessoas que eu tenho medo que te façam mal por isso.
- Mas pelo jeito vocês dois ainda andam juntos, não é meio estranho? – eu perguntei, ponderando se acreditava nele ou não.
- Ela pega o – ele disse rolando os olhos. – Ela é que não desgruda da gente, não é minha culpa.
- Certo, porque a sua ex é maluca, nós somos um segredo, então se resume a isso?
- Não – ele suspirou. – Não é só isso. Apesar da Brooklie ser perigosa, não é dela que eu tenha mais medo.
- Você não confia em mim o bastante pra me contar, não é mesmo? – eu o olhei de um modo triste.
- Eu confio – ele disse. – Mas não quero te preocupar com isso agora. Só preciso que você confie em mim.
- Certo – eu disse finalmente e pulei da mesa. – Mas eu estou de olho em você, mocinho – eu coloquei dois dedos em frente a meus olhos e depois os apontei para ele, sorrindo, e saí da sala.
- – ele me chamou antes que eu chegasse na metade do corredor. Eu parei e esperei que ele me alcançasse. – Quer dar uma volta? – ele sussurrou em meu ouvido, me fazendo arrepiar.
Os corredores estavam desertos, pois no terceiro andar haviam poucas salas, e todos os alunos estavam nelas. Eu pensei por um instante, e então o segui pela escola. Passamos despercebidos por todos, já que podíamos estar simplesmente em um horário vago. Matar a terceira aula de física que teria em um dia não me parecia uma má idéia, já que tinha perdido metade dela mesmo. Quando dei por mim, já estávamos no estacionamento. Eu observei a moto vermelha em minha frente.
- É sua? – ele assentiu com a cabeça. – Mas você já pode dirigir?
- É claro – ele respondeu e eu montei na moto depois dele. Eu havia me esquecido que lá se podia tirar carteira mais cedo, e ele pelo jeito já tinha idade suficiente para isso. – Segura firme – ele avisou e eu o abracei pela cintura.
Ele acelerou a moto de uma vez me fazendo segurar mais forte em sua cintura. O porteiro mal teve tempo de falar qualquer coisa e já estávamos longe. O vento fazia barulho e tudo passava rápido demais para que eu conseguisse distinguir muita coisa. Eu fechei meus olhos com um pouco de medo. Devem ter se passado uns quinze minutos ou uma vida ali, até que ele diminuiu e parou. Se eu não tivesse prendido tão bem minha saia, Londres inteira teria visto meu short durante o trajeto. Eu desci da moto me sentindo meio tonta.
- Você é um perigo na direção – eu disse vendo ele desmontar da moto. – E você por acaso não esqueceu os capacetes?
- É mesmo – ele levou uma mão à testa. – Mas agora já era – e então deu de ombros.
- Onde vamos? – eu perguntei olhando em volta. Estávamos no estacionamento aberto de algum outro lugar, e parecia ter bastante mato em volta.
- Dar uma volta no parque – ele disse com um sorriso infantil no rosto, que me fez sorrir também.
Ele segurou uma de minhas mãos enquanto caminhávamos em direção ao parque e entrelaçou-as, me fazendo corar ligeiramente. Seguimos por um caminho de asfalto, onde pedestres e ciclistas tinham seus lugares demarcados. O caminho era ladeado por arvores, uma brisa batia em meu rosto, apesar de minha roupa curta demais para um lugar sem aquecedores me dar frio, aquela brisa era gostosa. À nossa direita, além de um longo gramado onde pessoas estavam sentadas ou até deitadas e crianças corriam, havia um grande lago.
Uma coisa vermelha a minha frente me assustou, até perceber que estendia uma flor vermelha para mim. Eu sorri e a peguei, dando um beijo em sua bochecha.
- Aqui não há ninguém que nos vigie – ele disse sorrindo. – Eu posso mostrar a todos o quanto a minha garota é linda.
Eu senti meu rosto esquentar e meu coração disparar ainda mais, além do que a presença dele já me causava. Eu fiquei nas pontas dos pés para beijá-lo, que correspondeu. Era um beijo calmo, carinhoso, mas que ainda assim disparava mais meu coração e fazia com que correntes elétricas tomassem o lugar do sangue no meu corpo. Ele parou de me beijar e mordeu forte minha bochecha. Eu reclamei de dor e ele saiu correndo, olhando pra trás e sorrindo. Eu saí correndo atrás dele, que foi em direção ao gramado. Por mais que eu fosse rápida na corrida, ele conseguia se desviar de mim, sempre por um triz. Em alguns minutos já estávamos cansados, não somente pela corrida, mas também porque ríamos que nem dois babacas. Ele finalmente deixou que eu o alcançasse, e eu pulei em cima dele, o derrubando no chão. Mas o espertinho não podia cair sem levar junto para o gramado, claro. Eu já estava pronta para revidar a mordida, mas, antes que conseguisse, ele me beijou, me fazendo esquecer qualquer outra coisa no mundo.
- Sabia que você é a garota mais linda desse mundo? – ele disse, colocando uma mecha de cabelos atrás da minha orelha.
- Sabia que é feio mentir? – eu respondi, sentindo meu rosto queimar, e dei um selinho nele.
- Mas eu não estou mentindo – ele rebateu, e aqueles olhos me faziam sentir como se nada de ruim poderia acontecer no mundo. – Você é a garota mais linda do mundo.
Eu sorri sem graça, sentindo meu rosto queimar mais ainda.
- E fica uma gracinha assim, toda vermelhinha. – Ele sorriu abertamente.
- Eu não tô vermelha – eu protestei, cobrindo meu rosto com as mãos.
Eu escutei ele rir, e então afastou minhas mãos do meu rosto e me beijou. O beijo começou calmo, então foi aumentando a intensidade. Ele rolou na grama trocando de lugar comigo e ficando por cima de mim.
- , estamos no meio de um parque – eu disse, ainda sem parar de beijá-lo, quando me dei conta de que minhas pernas involuntariamente levantavam enquanto ele estava deitado entre elas. – E sabe, eu tô de saia.
Só então ele considerou que estávamos em público.
- Quer comer alguma coisa? – ele perguntou se apoiando nos cotovelos e me observando.
Será que se eu responder “você” fica muito feio? Ok, se controla.
- Aham – eu respondi, passando a mão por seus cabelos.
Nós nos levantamos e limpamos a grama. Fomos até uma barraquinha de cachorro quente ali perto e só quando eu dei a primeira mordida foi que percebi que realmente estava com fome. pegou o ketchup e desenhou uma carinha feliz no cachorro-quente dele, me fazendo rir. Eu desenhei um coração torto no meu que fez até o dono da barraquinha rir. Depois de termos comido e estarmos satisfeitos... já sei, eu tenho a mente maliciosa e sei que ficou estranho, então, depois de termos comido, voltamos para a parte gramada e sentamos ali. Eu me recostei em e ficamos ali observando o lago e as pessoas. Eu e rimos alto quando uma criança caiu logo à frente, e uma outra tropeçou nela e caiu também.
- Para de rir, não seja malvado com as criancinhas – eu censurei, tentando conter minha próprias risadas.
- Nem vem, você também riu dela – ele reclamou. – E eles nem se machucaram, já estão até correndo de novo.
Ficamos ali conversando e observando o pôr-do-sol. Aquele parque era simplesmente encantador, e as pessoas ali pareciam sempre felizes. O mesmo garoto que caiu correu para perto de nós e tocou em enquanto gritava “Tá com ele!” e então saiu correndo de novo. Antes que eu entendesse, saiu correndo atrás do grupo de crianças, não correndo tão rápido, apenas o suficiente para assustá-las. Eu ria enquanto ele corria atrás de uma menininha, e então a levantou no ar, a fazendo rir alto. “Tá com ela agora!”, ele gritou e colocou-a no chão de volta.
- Se você não fosse tão grande, nunca conseguiria te distinguir entre as outras crianças – eu disse rindo, enquanto ele voltava a se sentar encostado na árvore.
Em pouco tempo as crianças já estavam indo embora com seus respectivos pais, enquanto o dia ia se tornando noite.
- Vocês formam um casal lindo – a garotinha que havia erguido no ar parou de mãos dadas com a mãe ao seu lado. Ela era loirinha, com cabelos compridinhos e uma franjinha. Eu tive vontade de apertar as bochechas dela e a encher de carinho.
- Pode falar, minha namorada é perfeita – eu olhei para trás e estava com um sorriso convencido no rosto. – Só não sei se é mais bonita que você.
A menina deu uma risadinha e ficou vermelhinha, o que só me deu mais vontade ainda de brincar com ela.
- Pá você – ela disse e me entregou uma flor amarelinha. – Presente de casamento.
- Obrigada, fofinha – eu agradeci pegando a flor e a cheirando.
A menina e a mãe se afastaram.
- Não sabia que eu era sua namorada – eu disse observando a flor em minhas mãos.
- Quer dizer que você está precisando aprender mais – ele disse e eu boiei por um instante. – Eu só traria uma pessoa muito especial até aqui. Você pode não ser minha namorada, ainda, mas temos algo mais especial que isso.
Então tá, né.
- Agora vamos embora, já está ficando tarde, e já devem estar dando por nossa falta na escola – ele disse, depois de alguns momentos de silêncio.

Capítulo 7
Daydream


- ! – eu ouvi alguém me chamar quando estava saindo da escola, após passar no meu armário e pegar meu fichário. Eu olhei para o lado e corria em minha direção.
- O que foi, criatura? – eu perguntei, preocupada com a ansiedade dele.
- O que foi? Você simplesmente desapareceu, sua louca! – ele disse bravo. – Em um horário você estava lá e no outro não! Te procurei na enfermaria, te procurei em todos os lugares, e ninguém sabia de você!
- Calma aí, nem minha mãe se preocupa tanto comigo – eu reclamei, franzindo a testa. – Sabia que eu tenho celular, querido?
- Sabia, mas você pareceu esquecer, porque não atendia! – eu pensei por um instante nisso. Verdade, no caminho até o estacionamento havíamos largado nossas coisas nos armários, eu nem me toquei de pegar o celular. Era incrível sequer que eu me lembrasse de respirar com perto de mim.
estalou os dedos em frente ao meu rosto me tirando de minhas lembranças felizes.
- Em que mundo você vive, garota? – ele me perguntou.
Eu ri. “Foi a mesma coisa que perguntei a hoje.” É, espera um pouco. tá apaixonadinha! É isso!
- Daqui a pouco eu passo no seu quarto! – eu disse, e saí correndo para meu dormitório.
- , você está apaixonada! – eu disparei assim que entrei no quarto.
Ela enxugava os cabelos com uma toalha branca e arregalou os olhos para mim. Eu fechei a porta.
- Onde você estava, mocinha? – ela perguntou.
- Não adianta tentar mudar de assunto – eu a cortei. – Agora me conta, por quem você tá apaixonada?
- Sai dessa – ela disse, rolando os olhos e ligando a TV.
Eu tirei a TV da tomada, a fazendo reclamar.
- Pode desembuchar! – eu intimei, balançando a tomada na minha mão.
- Você não me conta absolutamente nada de interessante que acontece com você, por que eu teria de ser diferente? – ela perguntou brava.
É, isso era verdade. Não é que eu não confiasse nela. Analisando bem, ela e a eram as únicas garotas em quem eu confiava nesse continente.
- – ela disse baixinho. Eu a olhei de olhos arregalados, enquanto ela encarava o chão, parecendo totalmente desarmada.
Eu considerei várias coisas para dizer, mas ver ela assim era de cortar o coração. Peguei um pente e sentei ao seu lado na cama.
- Sabe, na verdade nem importa – ela disse enquanto eu passava o pente por seus cabelos. – Ele nem olha pra mim – ela deu de ombros, parecendo angustiada.
- Eu conheço alguém que poderia persuadi-lo – eu disse, e ela se virou para me encarar. – Ele não te vê porque você não o fez vê-la.
- Eu não quero ficar com ele, ser só mais uma, entende?
- Não estou dizendo que esse alguém vá fazer a cabeça dele, só estou dizendo que possa dar um toque nele – eu disse a ela, passando o pente por sua franja. – Você é linda, isso é um fato. Fora que você é carinhosa, confiável, sabe conversar e é super inteligente. Qualquer homem ficaria caidinho por você se pudesse te conhecer melhor.
- Nossa, quer ser minha empresária? – ela brincou sorrindo. – Mas entre eu e a Brooklie, duvido que ele iria preferir a mim. Quero dizer, olha só pra ela!
É nessas horas que eu tenho vontade de socar minhas melhores amigas.
- A Brooklie pode ser o que for, mas ela cansa – eu disse, a encarando. – O sabe que ela não presta. Ela é ex-namorada do melhor amigo dele, e tem uma voz enjoada. Até o sabe que o só está com ela pra passar o tempo e...
- Quando foi que o apareceu na conversa? – ela perguntou, me olhando, e eu percebi que havia falado demais, sentindo meu rosto esquentar. – Sabe, parando pra pensar agora, eu também não vi o hoje desde o último horário.
Ela estava de sobrancelhas erguidas para mim, com aquela expressão de “estou esperando você contar o que eu já sei”. Eu congelei por um instante, tentando buscar uma saída.
- Nossa, olha a hora! – eu exclamei, me levantando de um pulo e pegando meu fichário. – Fiquei de passar no quarto do . – E saí do quarto correndo.
Eu já estava na metade da escada do prédio dos garotos quando encontrei com .
- Achei que tivesse deixado claro que não queria a senhorita por aqui, muito menos sozinha – ela sussurrou. Dois garotos passaram por nós e ele esperou que se afastassem para continuar. – Então, o que você está fazendo aqui? – ele exigiu cruzando os braços.
Eu o observei, e percebi o quanto ele parecia extremamente sexy daquele jeito.
- Vim pegar a matéria de física com o – eu disse, mostrando o fichário a ele.
- Vocês não podiam fazer isso na biblioteca? – ele perguntou, franzindo o cenho.
- Ele também queria falar comigo – eu expliquei. – Ficou preocupado porque eu desapareci.
- Vocês não podiam fazer isso na biblioteca? – ele repetiu a pergunta.
- No quarto dele temos mais liberdade e podemos conversar.
- Por isso mesmo – ele disse e eu o observei por um instante.
- Ha, tá com ciúme do ! – eu brinquei e ele pareceu desconsertado.
- E daí que eu não goste da idéia de você trancada em um quarto com ele? – ele disse olhando para um ponto qualquer. – Você também não gostaria se fosse a Brooklie, não é?
Eu fechei a cara para ele. Isso já era trapaça.
- É diferente, é meu amigo – eu disse emburrada. – E provavelmente o vai estar lá. Agora eu tenho que ir.
Eu olhei em volta e a escadaria estava vazia, apenas com barulhos e vozes ao longe. Dei um selinho nele e passei, continuando a subir as escadas.
Eu bati na porta e antes que a abrisse, olhei para o corredor, e vi que estava no topo das escadas. Esperando que eu entrasse, claro. Mandei um beijo no ar pra ele e abriu a porta e me abraçou.
- O não tá aqui? – eu perguntei adentrando o quarto.
- Deve tá jantando no refeitório – ele disse dando de ombros.
- Me passa a matéria de física? – eu pedi abrindo meu fichário e colocando-o em cima da escrivaninha.
- Sabia que você ia pedir - ele pegou seu caderno dentro da mochila e me entregou. – E então, vai me contar sobre o fato de seus pulsos estarem machucados?
- Foi aquele garoto que me atacou – eu disse copiando a matéria de seu caderno.
- Por que você não deu queixa dele?
- Porque eu poderia ser expulsa na primeira semana só por estar no prédio masculino.
- Mas se você não deu queixa, por que ele foi expulso? – perguntou , e eu me virei para encará-lo.
- Expulso? – eu perguntei sem entender.
- É o que parece, porque ele não está mais na escola, já tem até um garoto novo no lugar dele.
- Ainda bem que se livraram dele – eu disse, voltando a escrever.
disse que daria um jeito, então ele devia ter armado para expulsar o cara. Espero.
- É – concordou . Ficamos algum tempo em silêncio, até ele perguntar: - Agora me fala, onde você esteve?
- Três aulas de física em um dia é estressante demais pra mim – eu disse, soltando um suspiro. – Fui dar uma volta.
Eu sorri com a minha explicação. Eu realmente tinha ido dar uma volta, só não preciso ficar dando detalhes do que faço ou deixo de fazer. Ele pareceu respeitar meu estresse com aulas de física, porque começamos a conversar sobre livros.

Cheguei no meu quarto e fui logo ligando o computador. Se aqui eram quase dez horas, no Brasil deveriam ser umas sete. Mal conectei e elas já vieram me atormentar. Tá, eu adoro elas me atormentando, segredo.

Mari: Hey amiga, vai ter uma festa aqui nesse fim de semana, vai bombar! Queria que você pudesse vir.
Liz: Eu já até despistei meu peguete, só pra poder curtir!
: Saudade de festaaa!!! Liz, sua biscate.
Liz: Nossa.
: Zoeira, amiga! Queria ir!
Mari: Você ainda não disse como se chama o garoto! Desembucha, mulher!
: .
Liz: Que nome fofo!
: Tira o olho! É MEEEU!!!
Mari: Mal aí, então.
Liz: Ok, só disse que o nome é fofo, cara, que maldade comigo!
: Eu sei, amor.
Mari: Ciúmes = ela tá mais apaixonada do que eu pensava.
Liz: E aí, o que você fez hoje?
Mari: Por aí não tem umas festas, não, amiga?
: Hoje... Fui para um parque com ele. Fomos de moto, e passamos a tarde lá, matei a aula de física. Festas por aqui? Nem tinha pensado nisso.
Liz: Quer dizer que vocês têm um romance! Ai, que tudo!!
Mari: Não tinha pensado nisso? Garota, acorda, VOCÊ TÁ EM LONDRES, SUA ANTA! E você nem tá aproveitando! Ah, se eu tivesse aí...!
: Verdade, né! Podem deixar, amigas, vou aproveitar esse fim de semana e vou pra alguma festa. Vamos nos divertir ao mesmo tempo.
Mari: Se o fuso horário nos permitir.
Liz: Não estraga o momento, Mari!
Mari: Tá, calei.
: Gente, melhor eu ir... Tô cansada e tenho que acordar cedo. E só pra eu saber, se aí era de manhã quando aqui era hora do almoço, como vocês estavam on?
Liz: Matamos aula!
Mari: Uns garotos muito lindinhos nos chamaram e nós ficamos até tarde na rua, aí estávamos cansadas demais pra aula. Depois que você desconectou, a Liz veio aqui em casa.
: Marginais! Bom, beijos e boa noite.
Liz: Beeijo!
Mari: Até amanhã.

Eu fechei o laptop e me troquei, me atirando na cama em seguida. Quando a porta do dormitório abriu e entrou, eu fingi já estar dormindo, pra não ter que tocar no assunto “” de novo. Ela deitou e se cobriu, e quando eu pensei que ela já tivesse pego no sono, ouvi sua voz invadir o silêncio e a escuridão: “Você e o estão ficando?” Eu continuei em silêncio, na esperança de convencê-la do meu sono profundo.
- Eu sei que você tá acordada – ela disse e me jogou um travesseiro na cara.
- Ai! – eu reclamei, tacando o travesseiro de volta. – E se eu estivesse dormindo, você teria me acordado!
- E então, me fala sobre vocês dois – ela pediu e eu pude ver sua silhueta sentando na cama, e eu desisti e fiz o mesmo.
- Eu não sei explicar – eu comecei a contar. – Quer dizer, ele é super fofo quando está sozinho comigo... Mas ele não quer que eu conte sobre nós para ninguém. Quando você me falou da Brooklie, eu pensei que era por que ele ainda gostasse dela. Mas não é isso, e eu não consigo entender o porquê.
Ela ficou um momento em silêncio. “Eu vou te ajudar a descobrir, pode deixar.”
Eu sorri, porque sabia que ela também sorria. “E eu vou te ajudar com o .” Um silêncio esperançoso se instalou entre nós, e eu sentia a ansiedade crescendo dentro de mim. “Que acha de irmos a alguma festa esse fim de semana?”
- Bem que eu queria poder – ela suspirou. – Mas minha mãe é meio... controladora.
Eu fiz uma careta. “E se você fingir que você vai dormir na casa de alguém?”
- Você não entendeu – ela respondeu, e eu senti a tristeza em sua voz. – Quando eu digo controladora, eu quero dizer realmente controladora. Eu tive que falsificar minha autorização pra poder sair quando eu quisesse, porque, se fosse por ela, eu sairia um dia por semana.
Isso sempre me assustava, o quanto as mães podem tentar prender seus filhos.

Acordei no dia seguinte com o som do meu despertador. já estava se vestindo e, depois de lutar contra meu sono, foi o que fiz também. Eu ainda era obrigada a usar as munhequeiras, apesar de a mancha estar quase inteira amarela nos meus pulsos. Mas tudo bem, apesar de parecer ridículo, eu podia jurar que o perfume do estava ali.
Eu fechei o armário com logo atrás de mim, o corredor lotado de alunos, mas eu só consegui ver uma pessoa passando. vinha com o uniforme masculino – calça preta, camisa social, gravata quadriculada como minha saia, o suéter cinza e o casaco com o emblema da escola – caminhando sonolento. Eu não saberia como explicar, mas aquele uniforme ficava diferente nele, de um jeito totalmente sexy. Ele me fitou por um instante e sorriu de lado, me fazendo corar e olhar pra baixo sorrindo.
- Se isso é um segredo, porque você baba nele tão descaradamente? – perguntou enquanto caminhávamos pelo corredor. Eu já tinha perdido de vista, mas ainda o via em minha mente.
- Como assim? – eu perguntei distraída, até começar a raciocinar de novo. – Hey, eu não faço isso!
- Só estou te avisando que sim, você faz – ela se virou de repente e entrou na sala pela qual passávamos. Eu me encaminhei até o laboratório de química, no terceiro andar, onde já me esperava.
- Fala aí, Five Colours! – ele me cumprimentou, animado como sempre.
Eu sentei na cadeira a seu lado e esquadrinhei a sala com o olhar até achar , com o queixo apoiado na mão, quase dormindo.
- E aí? – eu respondi, me voltando para frente.
- Bom dia, classe – o professor cumprimentou a todos. – Hoje nós vamos dissecar animaizinhos como sapos. Geralmente eu deixo isso para o final, mas esse ano...
- Prefiro dissecar um ser humano – eu reclamei baixo.
- Vamos dissecar a mãe dele pra ver se ele gosta – disse com raiva, me fazendo rir.
- Mas se vocês tiverem outra sugestão – disse o professor, parecendo nervoso com a reclamação da classe. – É só falar.
- Nós podíamos ir até algum parque e estudar as plantas – eu sugeri alto fazendo todos me olharem.
- Muito esperto da sua parte, mas... – o professor disse.
- Ela está certa – defendeu uma garota na primeira carteira. – Nós estamos estudando sobre as plantas em química teórica, seria bom se pudéssemos fazer isso.
O professor pareceu considerar por um instante.
- Está certo então – disse ele finalmente. – Eu vou conversar com o outro professor e semana que vem nós vemos isso. Podemos ir estudando o que temos por aqui por hoje então.
Ele foi até o armário e nos entregou folhas secas e depois foi buscar folhas novas, nos mandando verificar uma série de coisas através do microscópio. pareceu tão feliz com isso que se esforçou em me ajudar, se mostrando inteligente o suficiente para tirarmos uma alta nota.

Esperei até que as duas estivessem juntas na aula de educação física para falar sobre o fim de semana. Elas haviam conseguido remanejar todas as líderes de torcida para terem aula de educação física no mesmo horário, para podermos realmente treinar nesse horário, então o vestiário estava cheio de garotas que pareceram adorar a idéia de festa no fim de semana tanto quanto elas.
- Mas para onde nós vamos? – perguntou .
- Aí, garotas – uma garota morena de cabelos até os ombros nos chamou. – Meu tio é dono de uma boate, ou seja lá o que for aquilo. Podemos ir para lá, não vamos precisar falsificar documento nem nada. Posso descolar entrada vip pra gente.
- Mas seus pais não ligam? – eu perguntei um tanto preocupada.
- Não se eu for lá, porque eles pensam que meu tio me vigia – ela disse sorrindo.
- Ótimo, nós vamos – disse Brooklie, levantando um pompom com a mão.
- Yeah – eu e concordamos, e levantamos os pompons juntas.
- Quem mais vai com a gente? – perguntou Brooklie. Três garotas levantaram os pompons. – Então tá, coloca a gente na lista e passa o endereço – ela disse à garota com um sorriso convencido. – , você vai dormir lá em casa? – fez que sim com a cabeça. – Five Colours, quer dormir lá também?
- Quero – eu respondi sorrindo. Aquilo prometia ser divertido.
me explicou que era quase uma tradição inglesa de que os filhos pudessem ter contato com o álcool desde cedo, bebendo o quanto quisessem, contanto que não envergonhassem a família ou vomitassem na frente de alguém, acreditando-se que assim não teriam porque beber escondido ou ser alcoólatras no futuro. Isso quer dizer que tínhamos sinal verde para o fim de semana.
Eu não me demorei a mandar uma mensagem para minha mãe avisando e a ligar para os pais de Lauren. Falando em Lauren, eu quase não a vi durante a semana.

Na sexta o tempo passou voando. Eu mal vi o , porque passei a maior parte do tempo livre na biblioteca, tentando adiantar todas as minhas lições e trabalhos. Eu estava voltando para a biblioteca, com apenas a conclusão de um dos meus trabalhos faltando, quando meu celular começou a tocar, o identificar de chamadas me avisando que era .
- Oi – eu disse parando no corredor.
- Horário livre agora, certo? – ele perguntou do outro lado da linha com aquela voz grossa, aveludada, me fazendo sorrir.
- Certo – eu confirmei.
- Vamos fazer alguma coisa – ele pediu.
- Ok – eu concordei, alegre. – Onde te encontro?
- Passa no meu quarto, tô perto dele já.
- Ok – eu repeti e ele desligou o celular.
Eu deixei minhas coisas no armário e fui para o quarto dele. Por incrível que pareça, eu não sentia medo de ir para lá. Acho que os únicos caras de que eu não tinha medo de estar em um quarto trancada com eles era ele, , e talvez . Talvez eu estivesse começando a superar certas coisas, isso é bom.
me esperava na porta, tomando conta do corredor. Ele me deu espaço e eu entrei, com ele fechando a porta atrás de mim. Ele se jogou na cama próxima a janela cruzando os braços atrás da cabeça.
- E então, o que você sugere? – ele perguntou me olhando. – Quer ir a algum lugar perto?
Eu não tinha mais raciocínio lógico. Seu perfume estava impregnado no quarto, atacando meus pulmões como um veneno. Eu olhei para ele, simplesmente despreocupado ali na cama, sem gravata, apenas com a camisa social com os primeiros botões abertos, colada ao corpo por causa dos braços esticados para trás da cabeça, com a parte da cueca aparecendo. Por que ele precisava me provocar desse jeito?
- Precisamos mesmo sair daqui? – eu perguntei sem me dar muita conta do que estava fazendo.
Não existia mais nada no mundo, nada que importasse. Eu deitei de bruços ao seu lado e me apoiei em seu peito para poder alcançar sua boca.
- Não – ele disse levantando o rosto e me beijando.
Ele abaixou os braços para minha cintura, e o beijo foi se tornando mais intenso. Eu sentia meu coração acelerado tentando rasgar minha pele e sair. Respirar não era mais importante do que beijá-lo, com certeza não. Ele se apoiou nos cotovelos nos levantando calmamente, e quando me dei conta ele estava com o corpo por cima do meu. Suas mãos passeavam por minha cintura e subia pelas laterais. Eu comecei a desabotoar sua camisa sem parar de beijá-lo.
- – ele disse se contendo e afastando minhas mãos de sua camisa. – Se você for começar a ter falta de ar outra vez, é melhor não exagerar.
- Desculpa – eu disse tentando voltar a beijá-lo.
- Você bem que podia me contar o porquê disso – ele disse, me impedindo de beijá-lo. Não me tortura, !
- Não gosto de falar sobre isso – eu disse tentando encerrar o assunto. – Só tenha um pouco de paciência comigo.
- É que não é tão fácil quanto parece simplesmente me segurar, entende – seus olhos observavam minhas reações, então eu tentei conter uma careta. – Quero que você esqueça tudo de ruim que já te aconteceu, mas não comece o que não pode terminar.
Nossa, , assim você estraga, sabia? Ele percebeu minha cara emburrada.
- Minha pequena – ele disse carinhosamente passando acariciando meus cabelos. Ele me deu um selinho, mas eu o impedi que se afastasse, segurando seu em sua nuca.
O beijo voltar a ficar intenso rapidamente, quase com desespero. Eu envolvi uma de minhas pernas em torno de sua cintura, e ele passou a mão por ela. Eu voltei minha atenção novamente para os botões da camisa dele, conseguindo abrir todos e jogar a camisa dele longe. Eu deslizei minha mão por toda a extensão agora descoberta. Como ele conseguia ser tão gostoso, meu Deus? Eu mordi seu lábio inferior, voltando a beijá-lo em seguida. Ele começou a abrir os botões da minha camisa, e de repente ele não estava mais lá. A falta de seu corpo quente sobre o meu me fez sentir um pouco de frio e um certo vazio. Olhei para o lado e estava na porta.
- Sabe, dude, você podia bater – reclamou enfezado, colocando a camisa de volta.
- Foi mal – ele passou a mão pelo cabelo, constrangido. – Quer que eu volte depois?
me olhou questionando.
- Não, tudo bem – eu disse fechando minha blusa, com o rosto queimando e totalmente envergonhada. – Eu tenho que arrumar minha mochila mesmo. Tchau, .
Eu dei um selinho nele, mas ele me segurou, pedindo passagem com a língua, concedida rapidamente. Eu estava lá feliz beijando quando ouvi uma tosse forçada atrás de mim, me lembrando que ainda estava ali. Se eu já não tivesse dito pra ele ficar, eu o expulsaria do próprio quarto. Finalizei o beijo com um selinho e me afastei rápido, saindo do quarto totalmente desconcertada.
- O que você tava fazendo aí? – eu encontrei assim que saía do prédio masculino.
- Ahn... – eu disse tentando pensar em uma boa desculpa. – Vim te procurar antes de ir, só pra dizer tchau, sabe?
Ele sorriu. Deve ter pensado que a embolação era pela timidez. Tadinho, era tão inocente. E isso era fofo nele.
- Tchau, arco-íris do meu céu – ele disse me abraçando e rodando no ar.
Era nessas horas que eu ficava feliz de ter um short por baixo da saia, ou todo mundo teria conhecido minha calcinha naquele momento.
- Tchau, bebê – eu fiz uma voz infantil e dei um beijo em sua bochecha assim que ele me colocou no chão.

Capítulo 8
Party up!


- Pronta? – eu perguntei, parando a porta do quarto de Lauren com a mochila nas costas.
- Acho que sim – ela pegou uma mochila e colocou nas costas também.
Despediu de sua companheira de quarto e fomos para o estacionamento esperar os pais dela. Eu estava de calça jeans, das quais eu já estava sentindo falta nos últimos dias, então pude sentar no chão e cruzar as pernas.
Um conversível vermelho parou e Brooklie passou em minha frente, indo em direção a ele com em sua cola.
- Por incrível que pareça, aquele é o pai dela – disse Lauren, que estava sentada ao meu lado com cara de tédio.
Eu olhei para o motorista. Ele era consideravelmente jovem e bonito. Parecia mais o irmão dela, e não o pai.
- Toma cuidado quando estiver na casa dela – ela avisou. – O pai dela não é o cara mais confiável do mundo.
- Tal pai, tal filha, entendi – eu disse, tentando não apresentar a surpresa em minha voz.

O resto daquele dia foi tranqüilo. Saímos para comer pizza em “família”, eu terminei meu dever com a ajuda de Lauren, tive tempo de continuar lendo “A Mediadora” e fiquei até tarde na internet falando com Mari e Liz.
No sábado, eu fui para a casa de Brooklie depois das cinco horas, e Rachel, a mãe de Lauren, fez questão de me levar até lá. Apesar de eu estar omitindo sobre a festa, ela bem que podia confiar mais em mim, né! Mas tudo bem, antes de carro que de busão.
A casa era branca e enorme. Também, depois daquele carro lindo e reluzente que vi na escola o que eu podia esperar?
Rachel tocou a buzina e Brooklie apareceu, seguida pelo pai, na porta principal. Eu me despedi dela agradecendo a carona e fui ao encontro deles. Assim que o pai de Brooklie acenou, ela deu partida no carro e foi embora.
- Prazer em conhecê-lo, senhor Patterson – eu o cumprimentei com a mão estendida.
- O prazer é todo meu – ele disse pegando minha mão e a beijando. – Mas pode me chamar de John.
- John – eu repeti, com um sorriso simpático e a voz que eu sempre fazia quando falava com os pais de alguma amiga.
- Vamos – Brooklie me puxou pela mão e me levou para dentro da casa.
- Oh! Você deve ser a nova amiga da Broo! – uma mulher jovem, loira e bonita apareceu quando passamos pela sala. É, antes amiga do que inimiga pra ela. – Prazer, eu sou Christine.
- Muito prazer – eu dei um sorriso e acenei, ainda com minha voz de santinha.
- Mãe, leva alguma coisa pra gente comer lá em cima? – Brooklie pediu a Christine. Cara, os pais dela eram realmente jovens, medo.
Brooklie me puxou pela mão escada a cima. Passamos por um corredor e no meio dele entramos em um quarto grande e luxuoso como o resto da casa. estava lá dentro com um laptop no colo.
- Oi! – ela sorriu, simpática, e eu fiz o mesmo.
Brooklie nos deixou lá e foi para algum outro lugar da casa.
- Como os pais dela são tão jovens? – eu sussurrei sentando ao lado de na cama.
- Na verdade, eles são mais velhos do que parecem – ela sussurrou em resposta sem tirar os olhos da tela do laptop. – Mas sabe como é, plásticas e cosméticos fazem milagres hoje em dia.
Eu ri e ouvi passos no corredor. Brooklie apareceu em seguida na porta do quarto.
- E então, você podia nos contar mais sobre esse namoro com o – pediu Brooklie, se largando no pufe do mesmo tom rosa que a colcha de sua cama. - Eu ainda não acredito que você esteja com aquele loser.
- Eu não entendo essa implicância de vocês com ele – eu disse, levantando as sobrancelhas.
- Ah, ele é bonito, vai, Brooklie – defendeu , mas eu via que ela tinha reunido coragem para isso.
- Mas continua sendo um loser – ela deu de ombros.
- Se você me dissesse que aquele garoto lá da escola cheio de espinhas na cara e que fala que nem um retardado é um loser, eu entenderia – eu disse séria. – Mas eu simplesmente não entendo por que vocês implicam com .
- Pensando bem, eu também não – disse deixando o computador de lado e encarando Brooklie.
- Ah, qual é, garotas – ela disse depois de um instante. – Ele nem tem dinheiro direito, está naquela escola com uma meia bolsa de estudos.
- E eu estou com uma bolsa de setenta por cento de desconto – eu disse, a encarando duramente. – E como você deve imaginar, o dinheiro que minha mãe me manda acaba virando metade do valor com a troca de moeda.
- Então foi por isso que você fez tanta questão de eu não me aproximar dele? – perguntou indignada. – Quero dizer, o não tinha tanta grana antes do pai dele morrer, e vocês namoravam.
Brooklie ficou calada.
- pediu pra ficar com você? – eu perguntei interessada.
- Ah, é... – ela parecia constrangida.
- Relaxa, ele é só meu amigo – eu a encorajei.
- Bem... pediu – ela disse ainda apreensiva. - Umas três vezes, eu acho.
Christine entrou no quarto trazendo uma bandeja com lanches, o que cortou nosso assunto.
- Vai querer que John leve vocês para a festa ou alguém vem buscá-las? – perguntou ela simpática, e eu notei que ela tinha o mesmo tom de verde que Brooklie nos olhos.
- Papai – disse Brooklie simplesmente.
A mãe saiu do quarto e um silêncio inquietante tomou conta da atmosfera.

- Esse lugar parece legal – eu disse alto, tentando me sobrepor à música alta quando entramos na espaçosa danceteria.
- Já estive em melhores – disse Brooklie seguindo na frente.
A batida da música ficava cada vez mais alta conforme nos aproximávamos da pista. As quatro garotas do vestiário, incluindo a sobrinha do dono do lugar, vieram ao nosso encontro.
- E aí garotas, se divertindo? – a sobrinha do dono perguntou entusiasmada.
- Ah, acabamos de chegar, Anne – disse alto.
- Então o que estão esperando? Vamos comigo ali na bancada pra eu apresentar vocês ao Ricky, pra ele liberar bebidas pra vocês – Anne tomou a frente e fomos até lá.
Uma das outras três garotas que estavam conosco, a mais baixinha começou a dar em cima dele, deixando-o todo atrapalhado. Ele devia ter uns dezenove ou vinte anos no máximo, mas com certeza não fazia meu tipo.
Bebidas na mão, fomos para a pista. Definitivamente o som estava ensurdecedor, com sua batida ressoando dentro de meu peito. Metade da bebida em minha mão já dentro de mim e eu estava menos tímida e dançando tão ousada quanto as meninas que estavam junto.
Fui mais uma vez até o bar com a menina que estava louca para voltar lá e quando voltamos só havia sobrado uma garota do vestiário e do nosso grupo.
- Cadê as outras? – eu perguntei, me aproximando para que ela pudesse me ouvir e entregando uma das bebidas a ela.
Ela deu de ombros e apontou para trás de mim. Eu olhei e lá estava Brooklie se acabando com um garoto. Eu ri e dei de ombros também, entendendo o que as outras também deveriam estar fazendo.
Cinco minutos depois, lá estava Brooklie limpando a boca com as costas da mão e dançando junto com a gente de novo.
- Oi, gatinhas – um garoto loiro de olhos castanhos com um rosto lindo e um corpo sedutor se aproximou de nós.
Brooklie deu um largo sorriso para ele e o olhou nem um pouco discreta.
- Eu já não te vi antes? – ele perguntou se aproximando de mim para que eu escutasse.
- Não que eu lembre – eu respondi, tentando não manter mais proximidade do que a necessária.
- Ah, lembrei – ele disse e então seu tom se tornou diferente: - Nos meus sonhos.
Eu ri alto e balancei a cabeça em negação, ele não pode ter me dado essa cantada, oh, God!
- Se você quiser realizar meu sonho – ele se aproximou ousadamente de mim -, eu prometo realizar todos os seus desejos, boneca.
Aquela última palavra despertou lembranças desesperadoras em mim, e de repente a mão dele em minha cintura parecia me queimar como se fosse o fogo do inferno.
- Se você não cair fora agora mesmo eu juro que me torno seu pior pesadelo – eu disse nervosa empurrando a mão dele para longe de mim.
Ele se aproximou na tentativa de um beijo e eu escorreguei para o outro lado do círculo, ao lado de . Ele pareceu se dar por vencido e se afastou, sumindo entre as pessoas.
- Por que você deu um fora em um cara tão gostoso? – perguntou indignada.
Brooklie parecia impassível sem motivo aparente.
- Não me agrada o bastante – eu disse dando de ombros e tomando um longo gole daquela bebida rosa. – Cadê a Brooklie? – eu perguntei, percebendo que ela não estava mais ali.
- Foi tentar seduzir o cara em quem você deu fora – divertiu-se . Eu a olhei sem entender. – Despeito. Ela odeia não ser a que mais chama a atenção. Mas relaxa, eu sempre passo por isso.
- Não te incomoda?
Ela deu de ombros. Eu pensei por um instante se aquilo me incomodava, e cheguei à conclusão que não até certo ponto. Quero dizer, isso era ridículo.
Duas garotas voltaram para junto de nós, e agora éramos cinco.
Todas, incluindo e a garota baixinha, que já havia conseguido dar uns beijos rápidos no cara que servia as bebidas, iam e voltavam com algum garoto, mas eu só saia dali para me embebedar mais. Os garotos se aproximavam e eu simplesmente os afastava, sem motivo aparente.
Lá pelas três da manhã, ou seja lá que horas fossem, a bebida estava me deixando tonta, e eu fui em direção ao banheiro para jogar um pouco de água no rosto, mas alguém me barrou no caminho. Eu não podia reclamar, afinal esse alguém era alto, bonito e tinha uma ótima voz.
- Como uma garota tão linda pode estar tão sozinha? – ele perguntou e eu me encostei na parede atrás de mim, porque minhas pernas não estavam colaborando muito com minha tentativa de andar.
Olhei para o lado e a porta do banheiro estava próxima, mas a preguiça de ir até lá me dominava. E afinal, uma conversa com um garoto desses não me faria mal.
- Eu não sei – eu disse me sentindo muito confusa para conseguir formular uma resposta melhor.
Ele chegou mais perto, esticando os braços e apoiando as mãos na parede dos meus lados. Ele não disse mais nada, apenas se aproximou e me beijou. Para minha surpresa, eu estava correspondendo aos seus beijos com a mesma intensidade que ele me beijava, deixando seu corpo me prensar cada vez mais contra a parede. O calor que eu já sentia antes pareceu aumentar, e eu deixava minhas mãos passearem por debaixo de sua camisa.
- ? – uma voz feminina enjoada chamou meu nome, e eu tentei empurrar o garoto até que ele parece de me beijar.
Eu olhei e lá estava aquela garota ruiva, Brooklie. Eu senti meu estômago revirar fortemente e levei as mãos à boca. Saí correndo do jeito que pude e entrei no banheiro mais próximo. Um cheiro fétido entrou em minhas narinas, me fazendo vomitar no primeiro vaso sanitário que achei em minha frente.
- , sua louca! – se esganiçou atrás de mim.
Ela me puxou pelo braços e me tirou dali, e quando me dei conta estávamos em um banheiro quase idêntico, mas sem aquele cheiro tão forte. Mesmo assim, provavelmente pelos movimentos bruscos, eu senti meu estômago revirar perigosamente, e entrei na primeira cabine que vi, me ajoelhando em frente ao vaso e vomitando novamente. Aquela queimação na minha garganta era horrível, e toda aquela tontura me fazia quase cair. Eu me larguei encostada na parede da cabine. Eu senti mãos puxando meu cabelo para trás e o prendendo de algum modo. Me virei e vi ali.
- Pega água pra ela – eu a ouvi pedir para alguém. – Você tá legal? – ela perguntou se virando para mim.
Eu balancei a cabeça afirmativamente, sem me tocar realmente do que estava fazendo. Ela me ajudou a levantar e me levou até a pia pra que eu lavasse meu rosto. Alguns minutos e uma menina que eu sabia que conhecia voltou com uma garrafinha de água, da qual eu bebi até onde pude.
- Vocês não precisam ir embora – a menina disse. – Podemos deixá-la em uma sala que tem lá em cima, onde ela pode descansar um pouco.
- Na verdade, papai já está vindo nos buscar – eu ouvi Brooklie dizer. Olhei em volta, e ela estava parada próxima a porta.
- É, já está na nossa hora – disse . – Você acha que pode caminhar até lá? – ela perguntou se voltando para mim preocupada.
Eu afirmei com a cabeça.
- Então vamos, papai odeia esperar.

Capítulo 9
Your love is a lie

- Como foi o fim de semana? – perguntou abertamente para mim, Brooklie e .
Eu dei de ombros. Não lembrava muita coisa dele, a não ser que a minha terrível dor de cabeça só durou duas horas no domingo, e que os pais de Brooklie pareceram nem ligar para o fato de que eu tivesse bebido tanto naquela festa. Mas também não perguntei nada a elas, com medo de ter passado algum vexame.
- Divertido – respondeu , feliz.
- Muito – concordou Brooklie.
- Eu não me lembro de muita coisa, na verdade – eu confessei, vendo que me olhava curiosa.
- Qual é, você não lembra daquele gato? – perguntou Brooklie indignada.
Eu a olhei sem entender. Tudo o que eu lembrava eram em flashes, algum tempo depois que aquele garoto loiro havia me cantado.
- Ha! Eu achei que você não estivesse a fim de pegar ninguém, dava fora em todo mundo – contou . Eu olhei para minha frente, onde estava sentado, totalmente em silêncio.
- Mas parece que você descontou todos os pegas que você não deu nos outros naquele pedaço de mal-caminho – continuou Brooklie.
Eu abaixei meu olhar, envergonhada, começando a lembrar de alguns flashes.
- A bebida não afetou seu bom gosto pelo menos – disse com um sorriso.
- Mas afetou meu estômago com certeza – eu disse. - E acho que eu não tô muito a fim de lembrar – eu sussurrei no ouvido de , mas Brooklie continuou:
- , se você não estivesse tão mal, acho que vocês teriam se conhecido melhor ainda.
Ela riu de seu próprio comentário malicioso. Eu não sabia onde enfiar a cara.
- Você não ficou muito atrás, não é? – eu disse em tom de brincadeira, mas com alguma coisa ruim fervendo dentro de mim. Ela se fez de desentendida. – Ah, qual é, Broo, vai me dizer que não lembra dos, quantos mesmo, ?
- Parei de contar depois do décimo – ela respondeu baixinho.
- É, por aí – eu continuei e ela estava de olhos arregalados para mim. – Vai me dizer que se esqueceu de todos eles?
Ela ficou sem graça e eu vi de canto de olho a expressão furiosa de , mas não me atrevia a olhar para .
Comi metade do meu almoço contra a vontade, mas sabia que iria morrer de fome depois se não comesse. Ainda sem olhar para , fui para a mesa onde e os outros estavam.
- Oi! – um sorridente me cumprimentou.
- Oi! – eu cumprimentei de volta, me sentando entre e .
Pelo menos meus amigos me mantinham calma, mas eu sentia a ansiedade e o medo crescendo em mim durante a aula de inglês, enquanto contava aos cochichos tudo para .
- Cobra! – sussurrou indignada. – Você acha que a Brooklie sabe sobre você e o...?
- Não – eu respondi. – Mas ela falava como se fosse uma santa, como se não tivesse sequer olhado para alguém. não pareceu nada feliz ao saber que o relacionamento estava tão aberto assim.
- Você acha que ele gosta dela? – perguntou insegura.
- Não – eu respondi com firmeza. – Ele gosta dela assim – eu fiz gestos desenhando as voltas do corpo de uma mulher no ar. Ela deu uma risadinha. – Mas você acha que o tá bravo comigo? – eu perguntei, sentindo a angústia dentro de mim.
- Bom, se ele gosta realmente de você... sim – ela respondeu, e eu senti a angústia aumentar. – Você devia conversar com ele, explicar. Você estava tão bêbada que mal lembrava antes da Brooklie mencionar.
- Na verdade eu ainda lembro pouco – eu sussurrei. – Mas eu sempre disse que bebida não justificava, entende?
- Bom, agora você viu que não é exatamente assim – ela disse e piscou para mim. – Você vai ver que...
- Será que eu posso ajudá-las? – perguntou o professor rispidamente, nos assustando e cortando a conversa.
Por sorte, nós estávamos sentadas a uma boa distância de hoje, ou então ele teria nos escutado.

Eu entrei na sala de história olhando para o chão, depois procurando qualquer lugar longe de , mas o único lugar disponível era a cadeira ao lado dele. Isso só pode ser uma conspiração, não é possível. Eu não tive coragem de olhar diretamente para ele nem quando sentei ao seu lado, sentindo meu coração bombeando sangue duas vezes mais que o necessário e meu estômago revirando de nervosismo.
Ou minha lapiseira quebrava a ponta do grafite ou eu escrevia alguma coisa errada e tinha que corrigir, resultado: última da sala. Mas parecia que alguém lá em cima não se satisfazia apenas me deixando por última da sala, tinham que me deixar com .
- Sabe, achei que você fosse diferente – eu ouvi ele me dizer, assim que o professor nos deixou lá sozinhos.
Pelo canto do olho vi que ele já havia guardado o material dele. Então era isso, ele estava ali pra jogar na minha cara o quanto eu sou idiota e imprestável.
- , eu não lembrava nem meu nome de tão bêbada – eu disse, passando corretivo sobre outra rasura na folha.
- Isso não é desculpa, – ele disse, e eu o olhei, surpresa pelo uso do meu sobrenome.
- Eu nunca bebi tanto na minha vida – eu disse, desviando do olhar duro que ele me dava. – E eu sei que isso não é desculpa, mas eu juro que não sabia o que estava fazendo. Você nunca bebeu na vida? – Eu o olhei e ele ficou em silêncio. – Só... me desculpe, – eu disse sinceramente.
Guardei meu material sentindo algumas lágrimas passeando por meu rosto.
- Sabe, nós não temos, assim, oficialmente, nada – ele disse quando eu me levantei. – Mas você podia respeitar assim mesmo, seria bom.
Eu me virei para ele, que se assustou ao me ver chorando.
- Eu nunca deixaria outro homem encostar em mim se eu soubesse o que estava fazendo – eu disse, sentindo uma dor rasgar meu peito.
- Já estava na hora mesmo de acabar com isso – ele disse dando de ombros. – Nós nunca poderíamos ficar juntos.
Aqueles olhos só me transmitiam dor.
- Eu... Ah! Não interessa! – eu gritei e saí correndo dali.

Eu passei as horas seguintes daquele dia na minha cama fazendo o que podia pra me distrair, mas a tristeza era mais forte. Meu celular tocou enquanto eu via um programa entediante de auditório, e eu atendi sem ver quem era.
- Oi – eu disse, engolindo a vontade de chorar.
- , o que você tem? – a voz preocupada de perguntou.
- Nada – eu respondi sem emoção.
- Aham – ele concordou ironicamente. – E eu sou Papai Noel.
- Então o senhor pode desembuchando por que eu não ganhei o presente que eu queria quando tinha sete anos, ainda estou brava.
Ele riu do outro lado da linha.
- Nossa, você é rancorosa, mocinha – ele disse, me fazendo rir. – Mas então, bebê, eu estou com preguiça de ir até a biblioteca sozinho, vai comigo? – ele pediu em uma voz meiga.
- O que você tem que fazer lá? – eu perguntei, antes de aceitar. Passar horas dentro de uma biblioteca agora não era uma ideia atraente.
- Só entregar uns dois livros e pegar outro – ele disse, e eu sabia que ele sorria.
- Tá, eu vou.
- Te encontro em cinco minutos aí na frente então – ele disse e desligou.
- Eu achei que você não tava bem – disse, me abraçando assim que sai do prédio feminino. – Mas pela sua cara de enterro eu tenho certeza.
- Eu tô bem, – eu disse baixo, forçando um sorriso.
- Aham – ele concordou ironicamente de novo. – Agora me conta: o que houve?
- Não quero falar sobre isso, por favor – eu supliquei a ele, me mantendo abraçada.
Ele suspirou e me abraçou de lado, caminhando em direção à escola.
- Você sabe que eu estou aqui, não importa o que aconteça, não sabe? – ele perguntou e eu vi sinceridade naqueles olhos.
- Obrigada, – eu disse carinhosa, e dei um beijo em sua bochecha.
- Quer assistir a algum filme? – ele perguntou, com um sorriso maroto.
- Contanto que tenha muito sangue e nenhum romance, quero.
- Tá, eu vou ligar pro e pedir pra ele trazer o filme – ele pegou o celular do bolso enquanto subíamos a pequena escadaria para entrar na escola. – Hey, dude, pega um filme pra gente antes de voltar – eu observava o corredor e em seguida a escada dentro da escola, praticamente deserta aquela hora. – Mas você ainda vai demorar? Não, então tudo bem. , a tá com ele, pode ser no seu quarto? O meu tá uma bagunça... ?
Mas eu não estava mais prestando atenção. Estávamos no terceiro andar, já próximos a porta da biblioteca, mas mais além eu conseguia ver uma porta encostada ao invés de fechada, onde vozes e risadinhas chamaram minha atenção. E era a sala de filosofia. Meu coração disparou e eu prendi a respiração, me aproximando silenciosamente daquela sala. Empurrei a porta lentamente, torcendo para que não fizesse barulho. Consegui abrir o bastante para reconhecer o dono de uma das vozes. Pelo feixe de luz que vinha do corredor eu conseguia reconhecer aquele cabelo, aquele corpo. Eu não consegui sair dali, parecia que o mundo estava explodindo e eu estava congelada no lugar, incapaz de fazer qualquer coisa para impedir. As lágrimas desciam e minha garganta queimava junto com todo o resto do meu corpo, enquanto eu observava e aquela garota praticamente se comendo ali.
Alguém me puxou pelo pulso para me tirar dali, e eu gritei de dor.
- Caramba, , ainda tá doendo! – eu reclamei alto demais, me virando para ele.
Percebendo meu erro, saí andando rápido dali, querendo correr, mas sem forças para isso. Eu ouvi o som de uma porta batendo logo atrás de mim, mas continuei andando rápido. Eu peguei as duas munhequeiras em meus pulsos e as arranquei, jogando-as no chão, com repulsa a elas e a qualquer coisa que me ligasse a ele.
- Você machucou ela? – eu pude ouvir a voz daquele canalha, e sabia que estava falando com .
Eu me virei sentindo cada célula minha arder em ódio.
- NINGUÉM ME MACHUCA MAIS QUE VOCÊ, IDIOTA! – eu gritei me virando para eles, agora vendo o rosto da garota que estava com ele, apesar da minha vista embaçada.
Me virei para meu caminho novamente e corri. Me dei conta na escada de que haviam passos atrás de mim, mas eu não ligava. Nada mais importa, só quero sair daqui.
- ! – ele gritava, mas sua voz parecia me machucar mais ainda.
Eu corri pelo pátio o mais rápido que pude, sentindo minhas pernas fracas conforme o ar começava a me faltar. Eu adentrei o prédio feminino, mas antes que conseguisse alcançar as escadas, me segurou pelo braço. Eu tentei me soltar, mas ele me puxou para a sala de dança vazia.
- – ele me chamou novamente, preocupado.
- Sai de perto de mim! – eu exigi, mas ele não se moveu.
- Para com isso – ele pediu, mas eu só conseguia sentir raiva dele.
- Eu te odeio, me solta! – eu exigi, com as lágrimas cada vez mais rápidas percorrendo meu rosto.
- Não sei do que você está reclamando, agora você sabe como eu me senti! – seu tom de voz mudou, de repente nervoso.
- O quê? – eu perguntei, incrédula. – Você, você tá descontando, se vingando, é isso? – Ele ficou em silêncio, e eu observei sua cara fechada, sentindo nojo dele. – Você não presta mesmo. Você e a Brooklie se merecem.
Ele soltou meu braço e eu saí dali, indo o mais rápido que pude para meu quarto, sem olhar para trás, porque eu nunca mais queria ver ele em minha vida.

- ? – eu ouvi alguém me chamar no quarto.
Eu havia me trancado no banheiro, eliminando toda a porcentagem de água de qual meu corpo era feito pelos olhos.
- Vai embora! – eu gritei, com a voz totalmente chorosa.
- – eu percebi que a voz pertencia ao . Ele forçou a maçaneta, mas a porta continuou fechada. – Abre a porta, vai.
- Não – eu disse, sentindo um vazio enorme em mim. – Vai embora.
- Eu não vou embora – ele disse firmemente. – Se você não quiser abrir, tudo bem, mas eu vou te esperar aqui fora.
Eu senti a porta em que estava encostada balançar, indicando que ele tinha sentado com as costas contra ela também.
Depois do que me pareceu uma eternidade, eu consegui controlar meu choro, mas a dor dentro de mim só parecia crescer. E ficou no quarto conversando comigo, me distraindo e me fazendo carinho até que eu adormecesse.

Durante o resto da semana eu o ignorei. Na hora do almoço eu inventava o que podia para não sentar com e Brooklie, nas aulas que tinha com ele sentava longe, e quando não tinha jeito, me mantinha quase na ponta da cadeira pra ficar o mais longe dele possível, como se o ar que ele respirasse se tornasse infectado. Aquilo estava me corroendo por dentro, mas não havia o que fazer. Era simples, eu tinha que esquecer, acabou, pronto. Ele me odeia, eu o odeio, nós nos odiamos. Me lembrei daquele dia no parque, peguei meu livro “A Mediadora” no criado-mudo ao lado da cama onde eu estava estirada agora, e dentro do livro estavam as duas flores que ganhei naquele dia.
- Você parece uma morta-viva – reclamou , me assustando. Eu fechei o livro e o coloquei de volta no criado-mudo. – Por que vocês não tentam se acertar, amiga? Você só tá piorando. E ele também, pelo que tenho visto.
Ela sentou na beira da minha cama e passou a mão por minha perna carinhosamente.
- Eu já disse que não quero saber dele – eu disse, colocando o travesseiro sobre a cabeça.
Uma pontada de preocupação bateu em meu peito, me deixando inquieta.
- , vamos? – Lauren me chamou e eu tirei o travesseiro da cabeça, criando coragem para levantar.
Eu peguei silenciosamente minha mochila e saí dali, louca pra ter um pouco de sossego mental, sem ninguém me olhando com dó. levou um pontapé por baixo da mesa quando perguntou o que eu tinha, mas eu fingi não ver. parecia o mais preocupado comigo, mas não se atrevia a tocar no assunto, apenas ficava perto de mim, fazendo tudo o que ele podia.
Eu estava na cola de Lauren, atravessando o estacionamento, quando vi aquela moto veloz cortou a nossa frente. Eu olhei rápido o suficiente para perceber quem estava na moto vermelha.
- Meu Deus, aquele maluco quase atropelou vocês duas! – disse Rachel, saindo do carro toda alvoroçada.
Sério, titia? Nem notei.
Entramos no carro sem responder. Lauren também não parecia estar com o humor muito bom. Rachel entrou em seguida, ligando o carro e saindo do colégio. Graças a Deus, longe dele finalmente.
Lauren, que estava sentada no banco da frente, ligou o rádio, como sempre fazia. Alguma música estava no finalzinho e logo começou a tocar outra, e ela aumentou o volume.

“Coming out of my cage
And I've been doin' just fine
Gotta gotta be down
Because I want it all
It started out with a kiss
How did it end up like this?
It was only a kiss
It was only a kiss”


Eu prestei atenção na letra e engoli em seco.
- Lauren, troca a rádio – eu pedi sentindo a tristeza me invadir de novo.
- Tá de sacanagem, né? – ela perguntou se virando pra mim. – Eu amo essa música!
Ela começou a cantar junto. Mesmo sua voz desafinada não aliviava o impacto daquilo em mim.

“Now they're going to bed
And my stomach is sick
And it's all in my head
But she's touching his chest now
He takes off her dress now
Let me go

And I just can't look
It's killing me
And taking control…”


É, agora eu tenho certeza que ou alguém lá em cima me odeia ou que alguém lá embaixo invocou comigo. Sério, isso só pode ser perseguição. Por que não jogam logo um raio na minha cabeça e param de me atormentar de uma vez, hein?
Ao longe, eu ouvi um barulho forte e olhei assustada para o céu cinzento e carregado.
- É, parece que a previsão para o fim de semana é de chuva – disse Rachel, distraída com o trânsito.
Tá, esqueçam a ideia do raio, eu já entendi.
Lauren pareceu cansar da rádio, conectando seu Ipod ao som do carro.
- Pode ser Simple Plan? – ela perguntou enquanto escolhia a música.
- Pode – eu concordei e me arrependi em seguida quando começou a tocar “Welcome to my life” – Passa – eu pedi, tentando parecer indiferente. – Melhor, coloca meu celular aí, tem Paramore. – Eu passei meu celular a ela e me senti melhor com aquelas músicas, apesar do vazio dentro de mim tentar me lembrar das coisas que as músicas anteriores me lembravam.

Capítulo 10
A little less sixteen candles a little more touch me

Aquele fim de semana foi chuvoso e tedioso, como previsto. Pelo menos os céus compartilhavam de minha dor. Tá, isso me lembrou aqueles poemas góticos e depressivos.
Na segunda-feira, disse que não aguentava mais me ver assim e ameaçou que, se eu não melhorasse, ele iria me socar. E eles tinham razão, sabe, pelo que me disse, parecia ter aproveitado bem o fim de semana. A vantagem de se falar da vida alheia de metade da escola com elas era que eu podia saber do sem que elas percebessem grande interesse. Não que eu estivesse interessada no que ele fazia ou deixava de fazer. Eu ia fazer o que meus amigos, que realmente se importavam comigo, queriam.
- Hoje é oficialmente um dia feliz – eu disse a , enquanto colocava as meias pretas até o joelho.
Era terça-feira e não havia sinais de chuva, apesar de que ainda eram sete e alguma coisa da manhã e não dava para enxergar o céu muito bem. Ainda estava frio, mas pelo menos não molharia mais meus sapatos hoje.
- Foi beber ontem e não me chamou? – ela perguntou, fingindo estar séria e colocando as mãos na cintura.
- Nem – eu respondi sorrindo.
- Então algum motivo especial para ser um dia feliz? – ela perguntou esperançosa.
- Sim. Porque eu quero que seja, então vai ser.
E só pra ajudar, eu não tenho nenhuma aula com o .
Minha manhã foi tranquila e o almoço, alegre. Tudo como planejado. Os horários depois do almoço também foram assim. Consegui até terminar todos os exercícios a tempo. Tá, me ajudou um pouco, mas isso não vem ao caso.
- E aí meu Arco-Íris, ocupada hoje à tarde? – perguntou bagunçando meu cabelo.
- Seu chato! – eu reclamei, arrumando meu cabelo. – Tenho treino, mas se você quiser, depois tô livre.
- Certo, passa lá no nosso quarto – ele disse e saiu dali acenando.
Eu, e entramos no prédio feminino.
- , você fica meio sumida depois do horário – eu comentei subindo as escadas.
- Ah, é que eu prefiro ficar no meu quarto – ela disse, dando de ombros.
- Uma garota caseira? Uau! – eu zuei ela.
Ela assentiu com a cabeça fazendo cara de santa.
- Caseira? Ha-ha! – disse , parando na escada. – O vive lá com ela, por isso que ela não sai.
Eu a olhei de olhos arregalados.
- , achei que você era tão inocente – eu disse sinceramente chocada.
- Mas ele é só meu amigo – ela disse, corando fortemente e olhando para o chão.
- A amizade de vocês é tão colorida quanto o cabelo da – disse ironicamente. – Vai me dizer que vocês nunca ficaram.
- Meu cabelo virou festa hoje? – eu perguntei, fazendo uma voz irritada.
- Às vezes – respondeu . Eu a olhei sem entender. – O – ela explicou. – Dormir no mesmo quarto que a tá te deixando lerda que nem ela.
- Hey! – ela reclamou fazendo bico.
- Vamos logo, ainda tenho que tomar banho – eu disse, empurrando escada acima e vindo atrás.

- Como foi o treino? – perguntou , abrindo a porta do quarto.
- Aprendi um dos saltos – eu disse com um sorriso de criança.
- O sumiu de novo – ele disse e eu ri, imaginando onde ele devia estar.
continuou falando, mas uma garota saindo de um dos quartos me chamou a atenção. Era o quarto de , e aquele na porta olhando pra bunda dela era . A garota sorridente e com cara de piranha não era a mesma que eu havia visto há uma semana, mas o ódio que senti foi o mesmo. Sem pensar muito, enlacei meus braços em volta do pescoço de , que não entendeu muito bem o que eu estava fazendo, até encostar nossos lábios. Ele demorou um segundo, então aprofundou o beijo, passando as mãos em volta da minha cintura. Esperei até que o beijo esquentasse um pouco e o empurrei para dentro do quarto. Ele fechou a porta com violência, ainda sem parar de me beijar. Eu sorri pensando na cara de idiota com a qual deveria estar agora. Parei de beijar , que me olhou sem entender.
- O que foi? – ele perguntou. Pelo jeito ele não tinha se dado conta de que eu só queria provocar o . – Alguma coisa errada?
era fofo, nós éramos descompromissados e estava comendo metade da escola enquanto eu ficava chorando no meu quarto. Eu o empurrei fazendo-o cair na cama, e deitei junto com ele, voltando a beijá-lo.
Eu nunca havia pensado no desse jeito, mas isso mudava enquanto ele passeava as mãos por minhas costas e parecia tentando a descê-las até minha bunda.
Como Mari e Liz haviam me dito outro dia pela internet, “Nada melhor do que um amor para esquecer o outro”.
Eu passeei com minhas mãos por seu corpo, mas não conseguia ter coragem para fazer passar daquilo. E ele parecia respeitar isso, apesar de estar claro o quanto ele me queria.
Alguém bateu na porta, mas nós ignoramos. Eu mordi o lábio inferior dele o fazendo soltar um gemido e voltei a beijá-lo.
Os batidas na porta dessa vez foram mais fortes. fez menção de se levantar para atender, mas eu arranhei suas costas, como se fossem um castigo, e ele rolou na cama ficando por cima de mim, me beijando com mais firmeza que antes. Eu puxei a camisa dele pra cima em um pedido para que a tirasse, e ele parou de me beijar e a tirou, deixando-a cair ao lado da cama.
Novamente as batidas na porta. Antes que eu pudesse impedir, se levantou e foi até abrir a porta. Um garoto magrela e de faces encovadas olhou assustado para o estado de sem camisa, com os cabelos bagunçados e ofegante.
- Ahn, eu queria falar com a garota – ele disse envergonhado.
- Tem que ser agora? – perguntou com a voz em tom de decepção.
- Ahn – eu vi o garoto dando uma olhadela para o lado. – Tem.
Eu me levantei e fui até a porta arrumando meu cabelo com as mãos.
- Pode me acompanhar? – ele me perguntou indicando o corredor.
- Não sozinha – eu disse com medo. – , vai comigo? – eu pedi fazendo carinha de criança. - Pelo menos até sair do prédio.
Ele entrou no quarto e voltou vestindo a camisa. Caminhamos em silêncio, mas eu podia sentir a irritação de , mas tentei não deixar transparecer meu alívio com achegada do garoto. Dei um selinho e sai do prédio masculino rápido, com o garoto ao meu lado.
- Queria te convidar para entrar no grupo de teatro – ele disse olhando para o nada.
- Por quê? – eu perguntei sem entender.
- Me indicaram você – ele parecia um pouco nervoso, provavelmente encabulado.
- Parece divertido – eu disse sorrindo. – Quando?
Ele pareceu surpreso com a minha resposta, mas logo suas feições estavam neutras.
- Os ensaios são segunda e quarta, no auditório da escola, às cinco da tarde.
- Nem sabia que tínhamos um auditório.
- É no primeiro andar – ele explicou.
- Certo, te vejo lá – eu disse acenando e fui para o prédio feminino.
Tudo bem que eu não sabia de onde o garoto tinha surgido, mas pelo menos eu tive uma desculpa pra sair do quarto do . Eu estava delirando, achando que podia ser alguém como o , ou o , sei lá. Tudo bem, sempre fui meio alienada mesmo.

Minha primeira aula tinha que ser de física, só pra me encorajar mais ainda a ir pra sala. Eu fui até a carteira vazia ao lado de olhando para o chão, na esperança de achar algum buraco para enfiar minha cara no caminho. Queria ter a opção de sentar o mais longe dele possível, mas ele iria ficar chateado. Queria que o Harry Potter fosse real, só pra que eu pudesse roubar a capa da invisibilidade dele.
- Bom dia, Arco-Íris – ele deu um beijo estalado na minha bochecha assim que eu me sentei.
- Bom dia, bebê – eu disse carinhosamente. – Mas são cinco cores, não sete.
- Eu estou contando com o rosado do seu rosto também.
- Mas ainda ficou faltando uma cor – eu murmurei, percebendo que eu deveria estar mesmo rosada.
- E então, o que aquele cara queria ontem? – ele mudou de assunto.
- Me convidar para entrar no grupo de teatro – eu contei sorrindo.
Ele me analisou por um instante: “É, até que é a sua cara.”
- O que você quer dizer com isso? – eu perguntei confusa.
olhou para a porta onde entrava um garoto com uma jaqueta preta com as mangas e costuras brancas, com dois grandes “W” em cada lado do zíper, na altura do peito.
- Ótimo, o time de futebol vai começar – ele disse rolando os olhos.
- Futebol? Tipo, futebol mesmo? – eu perguntei empolgada.
- Você é uma líder de torcida e não sabe nem que jogos vai animar?
- Ah, nem prestei atenção nisso – eu disse, fazendo um gesto banal com a mão. – Mas eles jogam futebol que nem no Brasil?
Ele assentiu com a cabeça, e eu sabia que meus olhos brilhavam. Finalmente alguma coisa que me lembre do Brasil.

Durante as aulas de inglês eu contei à o que estava acontecendo, e ela me disse que eu devia levar o que fosse com adiante se eu gostasse dele.
- Aí está o problema, – eu disse enquanto íamos para o refeitório. – Isso foi inesperado pra mim, não sei se eu gosto dele desse jeito.
- Bom, vocês podem tentar pelo menos – ela disse sorrindo. – Ou talvez ele deixe passar e pronto.
Durante o almoço até que foi bem normal. Quer dizer, nós andávamos abraçados como sempre, fizemos nada de novo.
A sétima aula chegou e senti o olhar de sobre mim, com uma raiva inexplicável naqueles olhos que me prenderam por um segundo, até eu me tocar e sentar longe dele. Olhei para trás e percebi que ele estava com o mesmo casaco que o garoto que eu havia visto nas aulas de física, e igual a outros que vi na hora do intervalo. A voz do professor me assustou quando ele começou a explicar a matéria, e eu me virei para frente, percebendo o quão rápido meu coração batia. Tomara que ele quebre a perna enquanto joga futebol.
Na terceira aula de física daquele dia, eu me senti mal ao sentar do lado de , como se eu fosse culpada por alguma coisa. Mas apesar disso, ainda era divertido e fofo. Como eu não percebi antes o quanto ele era bonito?

Fiquei conversando com e no quarto até darem cinco horas, e eu fui para o auditório da escola. Até que não foi tão difícil assim achar.
Lá estava o garoto magricela e algumas pessoas que eu lembrava já ter visto pela escola. Todos pareceram surpresos em me ver ali.
- Posso ajudar? – perguntou uma garota de cabelos castanhos com luzes vermelhas.
- Ele me chamou – eu disse apontando para o garoto-caniço.
Ela o olhou, parecendo brava.
- Cheryl, eu... ah... – ele não conseguia se desenrolar.
- Se tem algum problema comigo é só falar – eu disse, com as sobrancelhas erguidas e as mãos na cintura.
- Claro que não – um garoto alto com cabelos muito pretos se manifestou. – Nós só não estávamos a esperando.
Cheryl respirou fundo: “Você quer entrar para o grupo, então?”
- É por isso que estou aqui – eu respondi.
- Que seja, então – ela disse, com um tom um pouco azedo. – Vamos apresentar uma peça no Natal, e estávamos discutindo sobre qual história usar.
- Talvez um musical? – perguntou uma garota com cabelo loiro-escuro.
- Alguém aqui sabe cantar? – Cheryl perguntou e somente a garota loira levantou a mão. – Ok, então, além da Mattie, alguém? - ninguém se manifestou, muito menos eu que tinha voz de taquara-rachada. - Alguém aqui sabe dançar pelo menos? – só uma garota alta levantou a mão. – Então não rola. Mais idéias?
- Comédia – sugeriu um garoto baixinho.
Deveria haver umas trinta pessoas ali, e todos estavam sentados em roda em cima do palco. Eu aproveitei que a distração para subir e me sentar ao lado do garoto que havia me defendido.
- É uma opção – Cheryl disse. – Mais alguma sugestão?
- Conto de fadas – eu sugeri.
- Que tipo de conto de fadas? – ela perguntou me olhando torto. Ela invocou comigo e eu ainda não saquei por que.
- Branca de Neve! – disse a garota alta disse empolgada.
- Não temos sete anões disponíveis – cortou Cheryl.
- Não esse tipo, talvez alguma coisa mais inusitada – eu continuei. – Alguma história que a maioria não conheça ainda.
- Eu conheço uma – disse uma garota de cabelos loiro-brancos do outro lado da roda. – Fala sobre a princesa do inverno...
Ela nos contou a história sobre uma princesa que controlava o inverno, toda a sua neve, gelo e ventos. Durante todas as outras épocas do ano ela ficava isolada e solitária em seu castelo de gelo, esperando para reinar de novo quando sua época voltasse. Em um desses invernos, um lindo príncipe se apaixonou por ela e eles viveram um lindo romance. Ele ficou desesperado quando o inverno acabou e ela mais uma vez foi trancada no castelo. Ele esperou durante todo as outras estações, até que ela voltasse. Ele tentou de tudo para não deixá-la ir quando o inverno acabou novamente, mas ela não podia fazer nada, eram leis vindas do universo. Ele correu o mundo inteiro, até encontrar uma forma de quebrar o feitiço. Mas para que ela saísse, ele teria que colocar outra princesa em seu lugar. Foi o que ele fez, superou todos seus medos, invadiu um castelo e sequestrou outra princesa. Quando o primeiro dia de inverno chegou, ele quebrou o feitiço sobre sua amada, colocando a outra em seu lugar, apesar de se sentir sujo ao fazer isso. Os dois viveram felizes para sempre, mas a princesa colocada no lugar de sua amada, ficou lá, a espera de seu destino entre seus invernos.
- E como vamos arranjar gelo e neve? – perguntou Cheryl. Essa menina tá me deixando nervosa já.
- Algodão, espuma, essas paradas – disse o garoto ao meu lado.
- E vidro – sugeriu alguém.
- Ótimo – Cheryl sorriu, aprovando finalmente a idéia. – Vamos começar os testes na semana que vem. Será que você consegue essa história por escrito?
- Consigo – a garota de cabelos loiro-brancos respondeu.
Uma mulher de cabelos castanhos com aparência de uns trinta e poucos anos chegou.
- Acho que já decidimos – disse Cheryl feliz à mulher.
A mulher era nossa professora de teatro, e pareceu gostar de mim. O tempo ali passou rápido, e todas as coisas ruins deram um tempo da minha cabeça, até nosso horário acabar e quando saímos o time de futebol saía ao mesmo tempo. Lá estava e entre eles, todos suados e conversando alto. Eles nem pareceram notar minha presença ali. Melhor assim, só de olhar para ele eu sentia repulsa.
Cheguei ao meu quarto e estava ali conversando com . Ela deu uma desculpa qualquer e saiu dali, nos deixando sozinhos.
- Ahn, você se importa se eu te deixar aqui um pouco? Preciso tomar banho.
- Tá, eu espero – respondeu com um sorriso.
Tomei banho e, ao mesmo tempo que queria enrolar, não queria deixá-lo sozinho lá.
- Tá cheirosa – disse com um sorriso infantil me observando pentear o cabelo na frente do espelho do quarto.
Eu larguei o pente na escrivaninha e me encostei no peitoril da janela com o vidro fechado, observando o céu. desligou a TV e chegou atrás de mim, colocando as mãos em minha cintura. Ele afastou meus cabelos molhados do pescoço e começou a dar beijinhos nele. Eu senti meu corpo arrepiar, mas algum tipo de tristeza me incomodava enquanto eu observava o céu ao crepúsculo.
- – eu disse baixinho. Me virei para falar alguma coisa, mas ele me beijou delicadamente antes que eu pudesse.
Após um instante permiti o beijo, levando minhas mãos a sua nuca e cabelo. Ele envolveu minha cintura, nos aproximando. Ele me abaixou lentamente até a cama, deitando junto, mas mantendo o beijo calmo. Ele se deitou ao meu lado, partindo o beijo, e me observando. Ele pegou minha mãos e as entrelaçou. Eu dei um selinho nele, e ele sorriu.
Uma música repentina encheu o quarto, e eu me levantei procurando meu celular. Olhei no visor que indicava o nome de . Mas por que ele estaria me ligando? Minha vontade de atender era quase palpável de tão forte, mas eu olhei para , tranquilo deitado em minha cama, e coloquei a chamado no silencioso. O celular apagou a luzinha em pouco tempo, e depois voltou a tocar.
- Peraí – eu disse entrando no banheiro e fechando a porta.
Respirei fundo e atendi.
- ? – a voz de disse com um tom de nervosismo, mas não agressivo. A sensação de ele falando meu nome me causou um choque estranho.
- Oi – eu disse baixinho, sentindo tristeza. Parecia que ele estava longe de mim, como se eu nunca mais fosse vê-lo. Todo o ódio que eu sentia por ele não era mais forte que esse horrível sentimento.
- Será que dá pra você parar de fazer isso na minha frente? – seu tom se tornou agressivo.
- Pirou? Não sei do que você tá falando – eu disse de repente nervosa.
- Olha, não me interessa o que você faz ou deixa de fazer, mas que não seja na minha frente.
- Ainda não entendi.
- Não se faça de sonsa. Você precisa ficar se expondo na janela com aquele otário?
- Você está me espionando, ? – eu perguntei brava.
- Sua janela é de frente à minha, vai me dizer que você nunca notou?
Eu saí do banheiro quase arrancando a porta e assustando . Olhei pela janela e lá estava , em uma das janelas do prédio da frente praticamente de frente a minha. Isso não é possível, como eu não notei isso antes? Apesar de estar a uma boa distância, eu conseguia discernir o nervoso em seu rosto.
- Não, nunca notei – eu respondi quase gritando. – E eu não estou te forçando a me olhar. Para de tomar conta da minha vida, foi você quem quis sair dela. Eu te odeio, e espero que da próxima vez que eu te encontrar você esteja morto. Agora me deixa em paz! - Eu desliguei o celular com violência.
- , calma – me olhava assustado, se levantando da cama.
- Preciso ficar sozinha – eu disse atravessando o quarto e saindo, sentindo cada nervo do meu corpo pulsar com ódio pelo .
Eu sai dali e fui para a escola praticamente vazia aquela hora. O único lugar aberto era a quadra, então me entrei ali e deitei na arquibancada, aproveitando o silêncio e a escuridão para chorar e pensar melhor.

Capítulo 11
The heart never lies


Ouvi passos ecoando pela quadra, e permaneci em silêncio, na esperança de que quem quer que fosse, fosse embora.
- Eu sei que você tá aqui – eu ouvi a voz do , me fazendo quase pular.
- Não, eu não estou – eu murmurei, sentindo meu coração acelerar e meu estômago revirar.
- Você só sabe fugir – ele continuou me importunando.
- Vai embora – eu disse, tentando parecer firme.
- Por que você ficou com aquele garoto? – ele perguntou, e eu percebi que ele estava próximo.
- Porque você é broxa e eu te odeio – eu disse, encarando a escuridão.
Ele sentou perto de onde meus pés estavam.
- É sério, , por que estamos fazendo isso? – seu tom dessa vez estava diferente, parecia frágil.
- Vai embora – eu implorei, sentindo uma lágrima teimosa escorrer por meu rosto.
- Eu não vou a nenhum lugar onde você não esteja – ele disse carinhoso.
- Eu não acredito no seu amor – eu disse, sentindo como se meu coração estivesse sendo rasgado violentamente. – Pra mim tudo é uma mentira.
- Você não devia dizer uma coisa dessas – ele disse magoado.
- Quantas você comeu na última semana, ?
Ele ficou quieto.
- Eu não posso mais confiar em você porque você nunca confiou totalmente em mim.
- Eu confiava e você ficou com aquele cara do mesmo jeito.
- Eu estava bêbeda, que saco! Mas você parecia bem com aquelas garotas.
- Se eu confiasse em você de novo, o que você faria?
- Nunca mais beberia na vida pra começar – eu respondi me sentando. – Mas eu não sei como confiar em você de novo.
- E como eu faço você confiar?
- Me conta por que você tem medo de nos assumir em público.
Ele respirou fundo.
- Eu não quero te preocupar.
Eu me levantei, mas ele me segurou.
- Espera, não vai. - Eu me sentei de novo. – Se eu te contar, você pode ficar com medo, e não querer me ver nunca mais...
Eu me aproximei e pressionei nossos lábios.
- Ou você pode não me contar e eu não vou querer te ver nunca mais também.
Ele respirou fundo mais uma vez.
- Ano passado, mataram meu pai – eu segurei em sua mão, e as entrelacei. – Meu pai estava envolvido com uns caras muito “barra-pesada”, mas o pior foi que ele traiu minha mãe. Traiu ela com a mulher de um desses caras – ele fez uma pausa. – Esses caras agora estão atrás de mim e da minha família. Minha mãe se mudou de cidade e levou minha irmã, mas eu me recusei a sair daqui. Eu tenho medo de que eles peguem alguém de quem eu goste e façam alguma coisa. Eu não tenho certeza de até onde esse caras possam estar me vigiando, só sei que eu não quero arriscar você por nada nesse mundo. – Eu apenas escutei e tentei assimilar em silêncio. Pensei em todas as possibilidades para mim, mas me afastar dele não era uma opção.
- Eu estou com você – eu disse firmemente.
- , se eles souberem de você...
- Eu sei me cuidar, .
Ele riu de leve.
- Você tem certeza disso? De que quer ficar comigo?
- Absoluta.
Eu me aproximei, encostando nossos lábios.
- Mas você também tem que me contar algumas coisas, sabia?
Eu me senti confusa. “Tipo?”
- Tipo por que você tem esses ataques.
Eu compreendi. Ele estava falando de quando eu começava com a falta de ar e todo resto. Dessa vez fui eu quem respirou fundo.
- Aquela noite – eu comecei. – Não... Não foi a primeira vez que um garoto... Ai, , eu não quero falar disso! – eu implorei, o abraçando e sentindo calafrios.
- Tudo bem, calma – ele disse carinhoso e passou a mão por meus cabelos. – Mas , você realmente tem certeza de que quer estar comigo, no meio dessa confusão? Esses caras são capazes de tudo.
Eu me afastei um pouco e puxei seu rosto pelo queixo para que ele me olhasse. Meus olhos haviam acostumado o suficiente com a escuridão para que eu o enxergasse seus olhos.
- Eu não vou fugir – eu disse, firme. – E vou estar do seu lado pra tudo.
- Eu amo você – ele disse, e eu senti meus olhos se molharem, meu coração tentando rasgar minha pele.
Ele pegou minha mão e a guiou até seu peito. Eu senti seu coração bater tão rápido quanto o meu. Eu não tinha palavras para dizer o que estava sentindo. Nada me afastaria dele novamente, nunca.
Eu juntei nossos lábios, e ele pediu passagem com a língua. Ninguém que nunca beijou por amor saberia o que eu sentia, como era ter lava em vez de sangue nas veias, sentir cada pedaço do seu corpo implorando pelo dele. Nossas línguas se encontraram, me permitindo sentir o gosto dele, me permitindo senti-lo. Ele me puxou e eu sentei no seu colo, com uma perna de cada lado do seu corpo. Suas mãos passeavam por minhas costas e me puxavam desesperadamente, como se ainda houvesse algum espaço entre nós para ser eliminado. Eu puxava seu cabelo com vontade, e o beijava com mais ainda.
Ele começou a abrir o zíper do meu casaco - exclusivo para as líderes de torcidas, mas que eu preferia usar depois das aulas – mas eu, contra minha própria vontade, segurei sua mão.
Ele interrompeu o beijo e deixou nossas testas coladas, me deixando sentir sua respiração forte em meu rosto. “Eu vou ter que ter paciência com você, né, pequena?”
- Vai – eu respondi, com um suspiro de infelicidade.
Ele me deu um selinho. “Tudo bem, eu aguento.” Ele riu e me deu outro selinho.

Até a hora do almoço, eu tive duas aulas com , e como eu já nem estava rindo à toa, nós quase fossemos expulsos por causa das gracinhas que ele fazia. Tá, minha risada alta também teve alguma culpa.
Eu estava caminhando com ele ao meu lado em direção ao refeitório quando meu celular tocou o alerta de mensagem.
“Hey, quer almoçar comigo? Vou estar te esperando com a moto ligada em dois minutos.”
Eu sorri. Guardei rapidamente o celular, notando que o curioso do tentava ler a mensagem.
- Cadê a minha privacidade? – eu reclamei. – Você tá invadindo o meu espaço.
Eu dei um empurrãozinho nele.
- Eu não fiz nada! – ele se defendeu inutilmente.
Agora estávamos na frente da porta do refeitório, com um fluxo de alunos quase se empurrando.
- Nossa, o que tá acontecendo ali na frente? – eu perguntei fingindo grande curiosidade e apontando para frente.
- Onde? – eu ouvi ele perguntar, quando eu já tinha me enfiado entre os alunos no fluxo contrário.
Sai apressada da escola e encontrei já sentado na reluzente moto vermelha, segurando um capacete para mim. Eu o coloquei sem dizer nada e montei na moto.
- Esconde o cabelo – ele pediu.
Eu escondi meu cabelo dentro do capacete, prendi minha saia sob as pernas e, assim que o abracei, ele arrancou com a moto. Eu o abracei com mais força, gostando da sensação do vento e de tudo passando rápido, sem sentir medo, pelo simples fato de ele estar ali. Em cinco minutos, ele diminuiu até parar dentro de um estacionamento. Eu tirei o capacete e o entreguei ao sair da moto.
Ele parou do lado da moto e me puxou pela cintura, me dando um beijo inesperado. Ele passou a língua por meus lábios, e eu os abri para poder sentir seu gosto, junto com a sensação de que meu coração queria rasgar minha pele. Ele mordeu meu lábio inferior de um modo delicado, me dando um selinho em seguida.
- É aqui na frente – ele disse saindo do estacionamento e entrelaçando nossas mãos.
Assim que saímos do estacionamento, eu vi o restaurante. Grande e sutil, com pessoas conversando alegres enquanto comiam ou homens de terno discutindo alguma coisa.
- Quer sentar aqui fora ou lá dentro? – ele perguntou.
- Aqui fora – eu respondi sorrindo.
Apesar de estarmos ao ar livre, todas as mesas tinham uma espécie de guarda-sol, nos deixando na sombra. Eu pedi para que escolhesse, já que minha indecisão sempre era um ponto cruel para mim.
- Não é perigoso nos verem aqui? – eu perguntei olhando em volta.
- Eu espero que não – ele disse parecendo relaxado. – Tenho a impressão de ser seguido durante a noite, não a essa hora. E também eu corro demais para que alguém conseguisse nos seguir – ele sorriu convencido.
- É sério, você não tem medo de bater? – eu desaprovei.
- Nem, já acostumei, querida – ele disse de um modo carinhoso.
- Ah! Lembrei de uma coisa! – eu disse de repente, ansiosa e me sentando totalmente ereta. – Me ajuda em uma coisa, ? – eu o olhei em expectativa.
- O que eu não faço por você – ele disse rolando os olhos.
- Sabe a minha amiga, a ?
- A ? Aquela do seu dormitório?
- Ela mesma – eu disse, sorrindo animada. – Quero juntar ela e o .
- Você tá de brincadeira, né? – ele perguntou, me olhando assustado.
- Ai, , qual o problema? – eu fiz bico.
- O problema se chama Brooklie – ele disse sério. – E o tá usando o que você disse na mesa até hoje pra tentar afastar ela. Ela não está muito bem com você, não, viu?
- Aff – eu reclamei. – Eu cuido da Brooklie e você cuida do . E não me olhe desse jeito, se vocês têm medo dela, problema de vocês. Eu não tenho. – Ele riu e eu o olhei feio. – Pra mim a única graça são dois marmanjos com medo de uma garota mimada.
- Você é tão inocente – ele disse sorrindo. – Você é linda.
- Como? – eu perguntei cruzando os braços, confusa.
- Você não vê maldade nos outros – ele disse com aqueles olhos em mim. – Você é doce, apesar de ser um pouco estressada.
O garçom nos serviu e se afastou em seguida.
- Eu não sou inocente desse jeito! – eu murmurei irritada. Depois de tudo o que eu passei, um ser desse vem me dizer que eu sou inocente, há!, eu mereço!
- Apesar de tudo, você é – ele disse, com um sorriso encantador. – Me diga, até onde você acha que ela iria pra conseguir o que quer?
- Ela é só uma garota mimada que acha que é dona do mundo - eu disse rolando os olhos.
- Bombar eu e o ou expulsar um professor usando você não é o máximo que ela sabe fazer – ele disse sério. – Não a subestime. Ela é tão suja quanto os caras que mataram meu pai – eu vi a dor em seus olhos por um instante.
Nós comíamos distraidamente enquanto conversávamos.
- Mesmo assim, já estar na hora de alguém enfrentar aquela garota – eu disse determinada.
- , você não vai mexer com ela. Estou falando sério. Quer arriscar ser mandada de volta para o Brasil? – Eu quase engasguei. – Então não se meta com ela.
- E se ela se cansasse do ? Ou achasse outra pessoa? – eu tentei depois de um minuto de silêncio.
- O é a pessoa mais próxima de mim a quem ela pode tentar fazer os ciuminhos inúteis dela – ele disse entediado.
- Então ela tem que se cansar de você – eu disse achando a solução. – Será que isso é possível? – eu pensei em voz alta.
Ele riu.
- Na verdade eu acho que é mais por despeito do que por gostar de mim - ele deu de ombros.
- Eu gosto de você – eu disse, distraída e absorta em seus movimentos.
- Eu também gosto de você, pequena – ele disse sorrindo, me despertando. – Por isso não quero te ver se metendo mais do que você já está nisso tudo.
Eu sorri. Certo, , mas não custa tentar.
- Mas e a , ela é ruim desse jeito também? – eu perguntei, me lembrando da participação dela.
- Mais ou menos – ele disse, mais tranquilo. – Brooklie faz por maldade, faz por diversão. Digamos que seja o cérebro e Brooklie o coração das coisas que elas fazem. Mas não é igual a Brooklie, eu chego a achar que ela ainda tem uma alma, mas esconde ela. Antes de eu começar a sair com a Brooklie, era minha amiga e do . Ela não precisava de nada disso, estava sempre feliz e de bem com todo mundo.
- Brooklie deve ser descendente de um demônio – eu murmurei.
- Provável – ele disse rindo. – Mas eu não aguento mais falar dela. E então, o que você achou do teatro? – ele disse se divertindo.
- Como você sabe? – eu perguntei desconfiada.
- me contou – ele disse apressadamente.
- Mas eu não contei a . Eu não contei a ninguém ainda além do .
Ele se concentrou na comida, desviando o olhar para um ponto qualquer.
- – eu sibilei. – Confesse.
- Hum? – ele se fez de desentendido.
- Você mandou aquele garoto para o quarto do só pra nos atrapalhar? – eu disse irritada. – Isso foi ridículo, !
- Só estava protegendo o que é meu – ele disse como se fosse inocente.
- E desde quando eu virei sua propriedade?
- Desde que meu coração virou a sua – ele disse. Isso foi ligeiramente gay, mas muito fofo.
- Você não parecia se lembrar disso enquanto pegava outras garotas – eu disse, resistindo a me render.
- Só pra me frustrar, porque nenhuma delas se compara a você.
- Você é... – eu olhei para aqueles ofuscantes olhos .
- Seu – ele disse sorrindo vitorioso.
Eu parei de tentar protestar.
- Isso, só meu, e ninguém mais toca – eu disse decidida, e encerrando o assunto.

- Onde você foi parar na hora do almoço? – perguntou , sentando ao meu lado.
- Fui almoçar fora – eu disse, pegando meu material dentro da mochila.
- Arruma seu cabelo, tá uma bagunça – ela alertou. Coloquei meu material sobre a mesa e penteei meu cabelo com os dedos. – Almoçou onde? Eu odiaria comer sozinha, por que não nos chamou?
- Eu não estava sozinha – eu dei de ombros.
Ela me analisou por um instante. “?”
- Ahn... foi – eu tentei não sorrir, mas foi inevitável.
- Aaah! – ela exclamou empolgada, chamando a atenção da classe inteira. Suas bochechas rosaram. – Vocês voltaram e nem me contou nada! – ela sussurrou indignada, assim quando as pessoas pararam de olhar.
- Você estava dormindo quando eu voltei ontem – eu dei um sorriso triste de lado.

- Hey, querida, vamos para outra festa esse fim de semana, tá a fim? – Brooklie me convidou enquanto trocava de blusa. O vestiário estava cheio.
- Ah, não sei – eu disse com um sorriso triste de lado, enquanto prendia o cabelo. – Os pais da Lauren não iriam gostar muito, eu dormi na sua casa há duas semanas, entende?
Ir a outra festa não parecia uma opção muito legal quando eu ainda estava tentando esquecer as burradas da última.
- Você pode falar para eles que vai dormir aqui na escola – sugeriu .
- Não, de boa – eu disse. Peguei meus pompons e sai do vestiário

Peguei meu celular no armário do vestiário e havia uma mensagem nele.

“Literatura.”

Eu sorri e fechei o armário. Minhas aulas já haviam acabado por hoje, e ele parecia saber disso. Não me dei ao trabalho de trocar de roupa, só saí antes que ou Brooklie me notassem. Subi as escadas com o som do sinal ecoando pelas paredes. Por que ele sempre escolhia as salas do terceiro andar? Acho que porque o corredor nunca estava cheio. Eu entrei na única sala sem luz e com a porta encostada, encontrando distraído olhando para a janela. Fechei a porta atrás de mim e ele me percebeu pelo barulho.
Caminhei até ele silenciosamente, e ele me deu um selinho e me abraçou.
- As meninas estavam planejando outra festa para esse fim de semana – ele disse calmo. – Elas te chamaram?
- Chamaram – eu disse sentindo aquele perfume me intoxicando. – Mas eu não vou.
- Tem alguma outra coisa mais importante pra fazer?
- Não – eu respondi sentindo as mãos passando por meus cabelos.
- Eu estava pensando em viajar para algum lugar... Passear de barco, mergulhar – eu seria capaz de dormir ali, em pé mesmo, com aquela voz deliciosamente calma e aquele carinho. – Faz tempo que não vejo o mar.
- Verdade – eu disse me lembrando de que não ia a uma praia há realmente muito tempo.
- Quer vir comigo? – ele perguntou, e eu me afastei para olhá-lo.
- Seria maravilhoso – eu respondi com um sorriso tímido. – Mas não sei...
- Por favor, – ele pediu com aqueles olhos me namorando. – Vem comigo?
Os pais de Lauren seriam o menos importante, pois eu poderia dizer que iria ficar na escola para estudar no fim de semana. A imagem de nós dois em um barco, olhando o horizonte, ou dentro da água, me pareceu irresistivelmente romântica.
- Só nós dois? – ele assentiu com a cabeça. – Ok.
Ele sorriu largamente e, segurando meu rosto com as duas mãos, me beijou.
- Que bom – ele disse, parando de me beijar e encostando nossas testas. – Eu iria ficar chateado se você não quisesse ir.
Eu sorri. “, você tem que ir pra aula”, eu alertei. “Você mata aula demais, não quero te ver repetindo de novo.”
Ele riu. “Mas aqui tá melhor.” Ele passou as mãos por minha cintura me puxando para mais perto, e voltando a me beijar quase agressivamente. Eu respondi ao beijo com a mesma intensidade, deixando minhas mãos passearem por suas costas e nuca.

- , arco-íris da minha vida! – um saltitante pulou na minha frente, me pegou pela cintura me rodando no ar. Eu soltei um gritinho de susto.
- Que foi, ? – eu perguntei quando ele me colocou no chão.
- Eu me inscrevi para um teste com uma nova banda! – ele sorriu como uma criança feliz.
- Aêe! – eu comemorei batendo palminhas.
- Eu tô super nervoso. Vai comigo? – ele pediu esperançoso.
- Claro, querido! Quando?
- Amanhã. - O sorriso em meu rosto se desfez, seguido pelo dele. – O que foi?
- Ai, bebê, eu não posso – eu disse, com o coração apertado.
- Ah, ahn, ok – ele gaguejou, tristonho.
- Mas a deve poder – eu sugeri. – Ou a , ou o .
- Talvez a – ele disse com um sorriso de lado.
- Agora eu tenho que ir arrumar minhas coisas – eu disse, me despedindo. – Mas prometo que te ligo, ok?
Ele concordou, e eu fui para o meu dormitório. Arrumei minha mochila, dessa vez com roupas e mais coisas do que eu precisaria colocar se fosse um fim de semana normal. Guardei a mochila dentro do meu armário da escola e esperei até que Lauren terminasse a aula para avisá-la que “ficaria na escola” Acompanhei-a até o estacionamento para falar com Rachel.
- Que pena, tinha feito lasanha – ela disse pela janela aberta do carro. - Se você tivesse me ligado, eu teria trazido para você um pedaço.
- Tudo bem, Rachel – eu disse, com um sorriso grato. – Qualquer coisa eu ligo pra algum restaurante e peço alguma coisa. De qualquer jeito, a cantina funciona no fim de semana. E quando minha mãe ligar, pode avisar que eu vou mandar um e-mail pra ela, por favor?
- Claro – ela concordou com um sorriso materno que me fez sentir culpada por estar mentindo para ela. – Juízo, querida.
- Sempre – eu disse, tentando ignorar minha consciência. – Tchau – eu me despedi dela e Lauren.
Rachel ligou o carro e partiu. Meu celular apitou no bolso detrás da calça, e eu li a mensagem nele contida:
“Cinco minutos para você pegar suas coisas. Coloque um casaco, não quero que pegue essa friagem da moto.”
Eu corri para meu armário, pegando minha mochila, e depois corri para o meu quarto, para pegar um casaco, já que o agasalho que eu vestia era fininho. Sete minutos, e eu estava no estacionamento, procurando silenciosamente por ele.
estava montado na moto vermelha, e estendeu um capacete para mim assim que eu me aproximei. Montei na moto e antes que ele partisse olhei para o lado e vi me encarando de longe. Me agarrei mais forte a assim que a moto entrou em movimento, sentindo um frio percorrer minha espinha.

Capítulo 12
Walk in the sun

Em meia hora estávamos dentro de um avião, não me pergunte como. Só sei que ele deixou a moto no estacionamento do aeroporto e saímos correndo para pegar a última chamada do vôo, para o qual ele já havia arranjado as passagens. Aviões podem ser divertidos quando não se está atravessando um oceano inteiro, principalmente se você pode ficar olhando sem nenhuma restrição pro cara mais gostoso que você já conheceu na vida e que ainda usava uma blusa justa, sentado no banco ao seu lado, com uma mão entrelaçada frouxamente na sua e dormindo profundamente.
O mais divertido foi ver a cara da aeromoça quando eu perguntei pra onde o avião ia. Geralmente as pessoas sabem pra onde o ônibus que pegaram vão, mas eu não sabia nem pra onde ia o avião em que estava, além de ter deduzido que seria algum lugar na costa.
Quando pousamos ainda era dia, mas – com a cara amassada – disse que iríamos para algum hotel até amanhã de manhã.
- Você vai querer um quarto só pra você? – ele perguntou gentilmente para mim enquanto atravessávamos o saguão do hotel que, mesmo não sendo temporada, estava bastante movimentado.
Eu sorri, e tirei os óculos escuros quando chegamos ao balcão da recepção. Uma bonita mulher loira nos perguntou se eram dois quartos, e eu percebi que ela olhava de um certo jeito para . Sabe aquele jeito de “me come”? Então, era esse mesmo.
- Um quarto de casal – eu disse antes que abrisse a boca.
- Identidades? – ela pediu com uma cara um tanto amarga, mas mantendo a voz gentil.
- Já tenho reservas se não me engano – disse , passando um braço por meus ombros. – .
Ela mexeu no computador por alguns instantes. pegou seus documentos na mochila e colocou-os sobre o balcão. Ela conferiu com alguma coisa no computador.
- Preciso da sua identidade – ela me pediu com a voz um tanto afiada.
Eu remexi no bolso da frente da minha mochila e entreguei meus documentos a ela. A cara azeda que ela fez quase me fez rir.
- Emancipada – disse ela, devolvendo meus documentos. Ela pegou uma chave em algum lugar e entregou-as a . – Boa estada – disse ela, apesar de não desejar aquilo.
- Não sabia que você era realmente emancipada – disse , passando novamente seu braço por meus ombros.
- Minha mãe achou mais fácil me emancipar pra facilitar minhas coisas por aqui – eu disse. Ele apertou o botão do elevador e ficamos esperando. – Como você conseguiu um quarto se ainda é menor de idade?
Ele deu uma risadinha.
- Primeiro que dinheiro compra tudo, segundo que não sou mais menor de idade – ele disse entrando comigo no elevador. – Sou mais velho que você, esqueceu, mocinha?
Eu achei que o hotel era grande, mas percebi que era mais sofisticado do que eu esperava quando entramos em nosso quarto. Grande, limpo e com uma decoração esplêndida.
Eu deixei minha mochila no chão pelo caminho até a cama e me joguei nos lençóis brancos e macios, cheirando a amaciante. Eu senti o efeito da poltrona do avião na minha coluna então. riu.
- Tá com sono? – ele perguntou.
- Não, apenas um pouco cansada – eu respondi preguiçosamente.
- Que pena, ia te chamar pra conhecer um pouco da cidade…
Eu levantei animada. Adoro lugares novos, isso era sempre estimulante.
- Vou tomar banho – eu corri para o banheiro.
Tomei um banho rápido e me sequei com a toalha branquinha felpuda, só então me tocando que minha mochila com roupas limpas havia ficado no quarto. Me enrolei na toalha e entreabri a porta. “?”, eu chamei, mas não houve resposta. Eu saí do banheiro pra pegar minha mochila jogada no meio do quarto, percebendo que estava na cama, escutando música tão alta com os fones de ouvido que eu podia ouvir o chiado de onde estava. Ele me olhou pior do que a forma como a recepcionista tinha o olhado. Sentindo meu rosto esquentar e tratei de voltar rapidinho para o banheiro, só saindo de lá completamente vestida.
- Aah! – lamentou-se . – De toalha tava mais legal!
Eu tive que rir dessa. “Vai tomar banho”, eu pedi. “E não demore.”
Ele deu aquele sorrisinho malicioso. “Vem comigo?”
Eu ri alto. “Não”, eu cortei a alegria da criatura. Ele fez carinha de cachorrinho sem dono. “Vai, fedor!”, eu o zoei. Ele arrancou a camisa no caminho até o banheiro, me deixando ver aquelas trabalhadas costas. Eu quase me arrependi de não ter aceitado o convite dele. O tempo de ele tomar banho foi praticamente sincronizado ao meu de pentear o cabelo e passar uma maquiagem básica.
Saímos do hotel e fomos para a praia, que ficava a menos de cinco minutos do hotel, nos dando chance de ver o pôr-do-sol, sentados na areia branquinha e fina – diferente da amarelada e grossa da maioria das praias as quais eu costumava ir no Brasil.
Aqui o sol parecia um pouco mais pálido também, mas isso não me incomodava nem um pouco. Nunca fui muito fã de dias de sol escaldante. Eu estava com um short branco e meu adorado agasalho verde de linho, por isso a brisa fraca e gelada vinda do mar não me incomodava. Meus tênis descansavam lado a lado aos de , então eu podia sentir aquela areia gostosa em meus pés. Eu abracei meus joelhos, apoiando a cabeça neles, e observando o sol ser engolido calmamente pelo mar, misturando no céu tons lindos de rosa, laranja e azul. passou o braço por meus ombros, me encostando a seu corpo. As religiões falam de um paraíso na terra e que os verdadeiros devotos estariam nele. Bem, eu não me lembro de ter feito coisas o bastante para merecer isso. Talvez eu tivesse sido uma boa samaritana nas outras vidas, vai saber. O fato era que eu estava conhecendo o paraíso naquele exato momento, com aquela brisa deliciosa e carregada do cheiro do mar, a sensação da areia em meus pés, o barulho das ondas quebrando sem violência, o sentimento de pura paz, aquela paisagem maravilhosa e quem eu mais desejava nesse mundo bem ao meu lado, me abraçando e fazendo carinho em meu braço. Apenas sentindo a presença um do outro, isso era o bastante.
O sol sumiu totalmente no horizonte, mas a luz de seus raios ainda cobria um pouco da imensa escuridão da noite que avançava pacientemente pelo céu. se levantou, limpando um pouco da areia em sua bermuda e me estendeu a mão para me ajudar a levantar em seguida. Com o par de tênis em uma mão e a outra entrelaçada a dele, seguimos caminhando devagar pela praia, nos aproximando aos poucos do mar. Chegamos a uma parte em que a areia estava molhada e fofinha, e a água gelada alcançou meus pés, me fazendo pular soltando um gritinho. riu e se abaixou, pegando alguma coisa na areia.
- Que lindinha! – eu disse pegando a conchinha colorida que ele me estendia, e tirando a areia dela com o dedão, já que a outra mão estava ocupada. – Guarda pra mim? – eu pedi e ele a guardou no bolso da bermuda.
Entrelaçamos nossas mãos novamente e ele me puxou novamente para onde a água alcançava. Dessa vez eu não me assustei com a temperatura da água, apenas dei um chutinho nela, espalhando-a no ar a minha frente. me levou até a parte em que o mar chegava à metade da minha perna. Ele soltou minha mão e jogou um pouco de água em minha direção, e eu instintivamente tentei me proteger com as mãos, o que não foi muito eficiente. Rindo, eu revidei água nele, com um pouco mais de força do que devia, e a água acertou seu moletom, rosto e cabelo.
- Ah não! – reclamou ele. – Meu cabelo, dude, sacanagem - eu ri da careta dele. – Vai rir mesmo? Você vai ver também! Agora eu te afogo!
Ele se precipitou em minha direção e eu saí correndo, espalhando água ao meu redor.
- Não, ! – eu gritei quando ele me alcançou. Ele me pegou no colo e eu me agarrei forte ao seu pescoço, com medo de que ele me jogasse naquela água gelada. – Por favor!
Ele me rodou no ar. “E por que eu não deveria?” Ele meio que me deixou cair por meio segundo, me firmando novamente logo em seguida, apenas como ameaça. Eu me agarrei mais forte ao seu pescoço.
- Nãão! – eu implorei, começando a rir. Era bom ficar ali, em seus braços. – Porque eu sou muito boazinha, ganhei presente no natal. Papai Noel vai ficar bravo com você se você me jogar. - Ele gargalhou alto e eu ri junto. – Por favor!
- Está bem. Mas pra sair daqui também, vai ter que pagar pedágio – e lá estava aquele sorriso infantil e feliz dele, me fazendo quase suspirar.
Eu não me importaria de ficar em seus braços pra sempre. Ele aproximou o rosto até que nossos narizes estivessem encostados, com aqueles olhos me hipnotizando. Ele juntou nossos lábios e deixei que sua língua passasse por eles, sentindo seu gosto quente em contraste com a brisa fria e salgada. Eu só percebi que ele havia andado quando me abaixou, até me deitar na areia sequinha. Agora o céu estava escuro e as pessoas passeavam tranquilamente pela areia a longa distância. sabia até onde podia ir, principalmente em público. Ele afastou meu cabelo do rosto e eu me virei, deparando novamente com aqueles perfeitos olhos . Eu dei um selinho nele e, não me sentindo satisfeita, dei outro, e outro, até que estávamos em um beijo profundo novamente.
Após tirar a areia dos pés e calçar os tênis, caminhamos até um sofisticado e calmo restaurante, de onde podíamos ver a praia pela janela. Na verdade, tudo naquela praia parecia ser calmo e sofisticado. Ninguém aqui andava rápido, todos pareciam felizes e, apesar de ser bastante movimentada, não havia tumultos. O que jantamos? Frutos do mar, claro.
Voltamos ao hotel caminhando também, e parecia conhecer aquela cidade. Quando perguntei, ele respondeu que costumava passar alguns feriados em família por aqui antigamente.
Fomos pegar a chave na recepção e lá foi a loira-água-de-privada com suas asinhas pra cima dele. Eu esperava a típica reação masculina, ainda mais de alguém como , que ele começasse a jogar charme pra cima dela também. Mas não, até meu desejo de ter um bastão em chamas pra acertar aquela vaca passou quando ele simplesmente não deu atenção a ela. Apenas pegou a chave e passou a mão por meus ombros novamente, deixando que toda a água oxigenada escorresse de dentro do couro cabeludo dela e escorresse por sua boca. Ele a deixou babando sozinha, e eu postei um sorriso vitorioso em meu rosto enquanto nos encaminhávamos para o elevador. Ele me deu passagem após abrir a porta e eu fui direto sentar na cama e tirar meus tênis. Eu estava cheia de areia e com cheiro da água do mar. Com certeza precisava de mais um banho. Me levantei e fui para o banheiro mas, antes de fechar a porta, senti meu braço ser puxado e em milésimos de segundos estava correspondendo animadamente a um beijo de . Devagar ele foi me empurrando para trás, até que eu estava com as costas pressionadas contra o vidro do Box. Ele tirou meu agasalho de linho, dando chance as suas mãos de passearem por minhas costas, por baixo da blusa branca que eu ainda vestia. Eu me livrei do casaco dele também, sentindo meu corpo esquentar em cada parte em que nossas peles se encontravam. Eu mordi seu lábio com um pouco de vontade demais.
- Ai, – reclamou ele, parando de me beijar. – Não precisa ser tão violenta também.
Eu fiquei sem graça enquanto ele passava a mão por dentro da boca para verificar se não havia sangue.
- Desculpa – eu murmurei, sentindo meu rosto esquentar.
Ele deu um sorrisinho. “Eu sobrevivo” - e me deu um selinho, saindo do banheiro para que eu pudesse tomar banho.
Minha mochila por sorte ainda estava no banheiro, porque eu havia me esquecido dela novamente. Vesti a baby look e o shortinho de pijama, e voltei ao quarto. entrou no banheiro cheio de vapor e, antes que eu terminasse de escutar uma música que havia colocado para tocar no celular, ele estava saindo do banheiro com uma bermuda de algum tecido aparentemente confortável e… a toalha que ele esfregava nos cabelos conta? Eu fiquei lá, que nem idiota babando nele. Afinal, por que um cara gostoso daquele estava com uma garota como eu? Não que eu fosse feia, mas, cara, olha só pra aquele corpo totalmente trabalhado, aquele rosto perfeito, aquele jeito…
Eu poderia ficar ali a noite toda pensando em tudo sobre ele, mas ele tinha que estragar meu interessante devaneio:
- Avril Lavigne? – meu celular estava em sua mão.
Eu chacoalhei a cabeça para voltar a realidade. “É.”
Ele jogou o celular de volta na cama. Do nada, tudo ficou branco e úmido.
- ! – eu reclamei, brava, arrancando a toalha da cabeça com violência, me arrependendo logo em seguida, pois meu cabelo havia virado uma bagunça. Para irritar uma garota basta bagunçar o cabelo dela, dica. - Eu te enforco com essa mesma toalha, ! – ameacei e fui pra cima dele, que se encontrava sentado ao lado do meu celular na cama.
Bom, é um fato que sempre foi mais ágil do que eu. Ele segurou meus braços e me jogou de costas contra a cama, fazendo meu celular voar no chão. Ele prendeu minhas pernas com as deles e me encarou. Por que eu estava querendo enforcar ele mesmo? Como eu poderia querer fazer qualquer coisa contra ele? Essa ideia só não era mais absurda do que a intensidade de nossos olhares, praticamente tocável. Era como se ele tentasse me dizer alguma coisa, e eu finalmente estivesse começando a pegar a mensagem. Eu enxergava um aviso de que tudo isso era perigoso, mas havia algo ainda mais forte do que isso, e ele me disse antes que eu pudesse conseguir decifrar por completo:
- Eu amo você – aquela voz parecia atravessar minha pele, e eu não conseguia ter reação, a não ser a de corresponder aos beijos que se seguiram.
Apesar de eu estar em quarto de hotel, em um lugar desconhecido e paradisíaco com o cara mais perfeito do mundo, eu tinha meus limites. Alguns pais matariam seus filhos, minha mãe não fazia nem ideia. E eu não estava nem ligando. Eu confiava nele, realmente confiava. Tudo parecia simplesmente certo. Mas eu não estava mentalmente realmente preparada para seguir adiante, precisava de mais tempo. E ele sabia disso.

Uma noite tranquila com sonhos felizes e os braços de a minha volta. Minha mãe sempre disse que eu gritava à noite, que meus sonhos sempre eram perturbados. Hoje eu acordei sorrindo.
- O Arco-Íris resolveu despertar? – sussurrou .
Eu senti um arrepio percorrer minha espinha. Preguiçosamente me virei na cama, ficando com o rosto a centímetros do de . Ele me deu um selinho.
– Bom dia, linda.
Eu sorri. “Bom dia, amore.” Passei a mão por seu cabelo, sem conseguir bagunçá-lo mais do que já estava.
Ele deu um beijo em minha testa. Sentou na cama, se espreguiçando, e pegou o telefone que ficava na cabeceira. Enquanto ele pedia nosso café da manhã eu me ajoelhei na cama e abracei-o por trás, dando um beijo em seu pescoço. Ele desligou e passou a mão por cima dos meus braços em volta de seu pescoço. Eu me assustei quando ele segurou firme meus braços e se levantou, me puxando com ele.
- ! – eu gritei quando ele começou a me arrastar para fora da cama. – Eu vou cair! Me solta!
Ele me soltou. Eu desequilibrei, quase caí de cara no chão, se não fosse por minhas mãos na frente.
- Wow! – ele correu para mim assustado, me ajudando a levantar.
Assim que eu estava novamente segura sentada na cama, aproveitei que ele estava perto e dei um belo e estalado tapa em seu braço. Ele reclamou de dor.
- Como você ousa me largar desse jeito no chão! – eu ralhei, apontando o dedo na cara dele.
Ele fingiu que ia morder meu dedo, e eu recolhi minha mão.
- Você falou pra eu te largar e eu larguei! – ele se defendeu.
Eu o fuzilei com o olhar. “, era pra você me largar em segurança!
- Aah, vem cá, amor – ele se aproximou, passando os braços a minha volta.
Há, depois dessa ele não vai me bajular tão fácil. Eu afastei seus braços e me levantei, indo para o banheiro para uma rápida higiene. Quando abri a porta o café-da-manhã estava sendo colocado em cima de uma cômoda por um funcionário – jovem, mas que não fazia meu tipo – e estava parado, segurando a porta aberta.
Eu tive que respirar fundo com a imagem daquele peitoral descoberto ali. Peguei meu laptop dentro da mochila e sentei na cama com ele no colo. Eu quase o derrubei com o barulho da porta batendo com força. de repente parecia bravo.
- Que foi? – perguntei inocentemente.
Foi a vez dele de me fuzilar com o olhar. “Você podia esperar aquele cara sair, em vez de ficar desfilando com essas roupas indecentes pelo quarto.”
Eu pisquei duas vezes antes de assimilar, depois olhei para minhas roupas. “, é só um pijama, você pirou?”
Do jeito que ele falava parecia que eu estava pelada, meu Deus.
- Curto o bastante pra aquele cara ficar olhando suas pernas e... - Eu dei de ombros e ele me olhou indignado. – Você nem liga?
- O cara passa por isso o dia todo, você acha realmente que alguém vai perder o tempo olhando pras minhas pernas? Qual é, já vi meninas no Brasil usando coisas bem mais curtas – ele me olhou um tanto confuso. – Lá é muito calor em alguns lugares.
- Quer dizer que você usava roupas assim lá? – ele sibilou ficando um tanto vermelho.
Nossa, amor, desestressa.
- Não exatamente. Mas, ah, , saí dessa. Você fica tão exagerado quando está com ciúmes! – ele abriu a boca para retrucar, mas o cortei: - Respire fundo, querido, temos um fim de semana maravilhoso pela frente.
Achei melhor não mencionar a recepcionista que tinha água oxigenada nas veias em vez de sangue, para nos poupar de outra discussão à toa.
Ele se virou e foi pegar a bandeja do café-da-manhã, colocando-a em cima da cama. Eu observei bem aquela bandeja farta e fechei o laptop que mal havia acabado de ligar.
Nós comemos em silêncio, e aquilo estava começando a me incomodar.
- ? – eu chamei, manhosa. Ele ergueu o olhar pra mim. – Você tá bravo comigo?
Eu não consegui decifrar sua expressão, que mudou de repente.
- Claro que não, meu amor – ele fez carinho em minha bochecha com o polegar. Nós ficamos ali nos olhando durante alguns segundos. – Agora vamos, pequena, se arruma logo – e me deu um selinho.
Eu sorri timidamente, e ele fez o mesmo, se levantando em seguida. Devo ter ficado um minuto ou mais ali, simplesmente observando mexer na mochila, andar daqui para lá no quarto, até que ele entrou no banheiro e fechou a porta. Eu suspirei e me levantei para me arrumar.
Felizmente, a vaca que deveria mamar água oxigenada todo dia de manhã não estava lá quando fomos fazer o check-out. Com as mochilas nas costas, caminhamos pela praia. queria almoçar antes de pegar um barco, e seria um pecado não aproveitar um pouco daquela praia com um sol tão radiante no céu. Estava calor o suficiente para meu short branco e uma camiseta regata serem usados.
estendeu um pano leve na areia e nós sentamos nela. Dali a um tempo, um grupo de amigos apareceu, sentando um tanto próximos a nós. Três deles estavam com pranchas nas mãos, outros dois de bermuda e com a camisa jogada por cima dos ombros. Havia também três garotas, todas de biquínis e cangas. Eu as invejei por poderem estar usando aquilo, enquanto eu fiquei receosa de colocar qualquer coisa mais curta do que meus shorts brancos com por perto, depois de seu showzinho mais cedo. Notei que um dos garotos de bermuda carregava um violão, e depois das garotas estenderem suas cangas na areia, ele o largou ali.
- O último a chegar na água paga o meu almoço! – gritou o mais garoto mais alto, disparando para a água e carregando sua prancha.
- O meu também! – gritou outro também com uma prancha e seguiu o primeiro.
Todos os outros dispararam atrás dos dois primeiros, fazendo algazarra pelo caminho. As meninas riram e deitaram em cima das cangas.
Eu observava os garotos nadando na água e os surfistas sendo engolidos pelas ondas. Apenas o mais alto parecia estar lidando bem com a água hoje. se levantou e eu o observei confusa, enquanto ele se aproximou das garotas estiradas. O que ele achava que estava fazendo? Será que vou ter que fazer uma plaquinha escrita “Oi, , ainda estou aqui, seu desgraçado” e assobiar pra ele me notar?
Uma das garotas levantou os óculos escuros e o olhou de cima abaixo, enquanto ele falava algo que eu não conseguia ouvir. Eu estava prestes a me levantar e afogar aquela garota na areia e depois matar com um pedaço de pau, quando ela consentiu alguma coisa com a cabeça e ele pegou o violão encapado em uma capa preta e voltou para mim.
Sentando ao meu lado com as pernas cruzadas em estilo índio, ele desencapou o violão de madeira clara e o apoiou na perna direita.
- , você... – ele levantou o dedo indicador pedindo um minuto, e eu me calei, voltando a olhar para os garotos no mar.
Primeiro ele tentou algumas notas, e murmurou coisas tão baixinho que eu não conseguia ouvir. Aquela brisa calma e salgada batia em minha pele descoberta, e eu comecei a brincar com a areia ao meu lado. Então a melodia tomou forma, abafando todos os outros sons quando sua voz se juntou aos acordes. Eu me virei para contemplar aquele rosto perfeito.

- I wonder what it's like to be loved by you
I wonder what is like to be home
And I don't walk when there're stones in my shoe
All I know that in time I'll be fine

Ele se virou para mim, deixando que nossos olhos formassem algum tipo de conexão, e eu podia novamente ver através deles.

I wonder what it's like to fly so high
Or to breathe under the sea
I wonder if someday I'll be good with goodbyes
But I'll be ok if you come along with me

Ele respirou fundo e eu senti meu coração acelerar de um modo que deveria ser até perigoso.

It's such a long long way to go
Where I'm going, I don't know
Yeah, I'm just following the road
Through a walk in the sun
Through a walk in the sun

I wonder how they put a man on the moon
I wonder what is like up there
I wonder if you'll ever sing this tune
All I know is the answer is in the air

Um sorriso totalmente puro se formou em seu rosto. Não havia mais dúvida, eu estava onde queria.

It's such a long long way to go
Where I'm going, I don't know
I'm just following the road
Through a walk in the sun
Through a walk in the sun

Eu olhei para o sol por um milésimo de segundo, e parou por esse instante, procurando a nota correta, para então prosseguir.

Sitting and watching the world going by
Is it true when we die, we go up to the sky oooh
so many things that I don't understand
Put my feet in the sand when I'm walking in the sun oooooh
Walking in the sun

Sua voz tomava conta não somente de minha mente, mas de todo o meu ser, de toda a minha alma.

It's such a long long way to go
Where I'm going, I don't know
I'm just following the road
Through a walk in the sun
Through a walk in the sun
yeah...
ohhhhh

Ele deu uma última batida lenta no violão e só então eu percebi que eu estava sorrindo largamente.
- , é linda – eu disse finalmente. – Foi você quem compôs?
Ele sorriu todo feliz. “Foi. Ela meio que apareceu em partes na minha cabeça hoje de manhã, enquanto eu te observava dormir.” Eu franzi a testa. Ele tinha me observado dormir? “Mas aqui, com você, eu consegui entendê-la.” Eu tive que suspirar com essa. “Mas então, que você estava escrevendo aí?”, ele perguntou, curioso, se esgueirando para ver.
Sem perceber, antes de ele começar a cantar, eu havia escrito nossos nomes na areia, dentro de um largo coração. Olhei para nossos nomes ali e depois olhei eu seus olhos, dando graças a Deus por estar sentada, pois minhas pernas bambeavam.
- – ele ergueu o olhar dos nomes para mim. – Eu... – aquilo parecia absurdo depois de tantas coisas pelas quais havia passado, depois de tantas decepções com as pessoas, depois de tanto sofrimento e promessas de nunca mais gostar de um homem. Mas eu não gostava de , isso era superficial demais. era mais do que tudo que eu já havia conhecido, o que eu sentia era simplesmente inevitável. – Eu... – a conexão entre nós estava mais uma vez ali, em nossos olhos. Eu estava segura com ele, sabia disso. – Eu amo você.
Eu vi um brilho em seus olhos, e segundos depois, ele estava me beijando como nunca antes.

Eu não entendia nada de barco, por isso não me atrevi a opinar em qualquer escolha dele além de um “aham” quando ele apontava para algum barco e dizia alguma coisa sobre o motor dele. Depois de uns dez barcos rejeitados naquele deck, ele escolheu um que eu particularmente gostei por dentro. Madeira era o que definitivamente definia aquele barco por dentro. Desde as paredes à cama, era tudo em madeira envernizada. Até tinha um nome! “Saint Louis” estava escrito em marrom no lado de fora.
- – eu chamei, manhosa.
Ele tirou os olhos do oceano a nossa frente, esperando por nós e me olhou achando graça na minha voz. “Quê?”
- Tá calor e eu quero sorvete.
Ele riu.
- Está bem, pequena, temos que comprar mantimentos para hoje à noite mesmo – ele concordou, dando de ombros, já me guiando para fora do barco. – Mas eu escolho o sabor.
- Nem pensar! – eu protestei, pulando para fora do barco com sua ajuda.
- Vamos ver então.
Eu cruzei os braços e fiz cara de brava.
- Eu vou ficar com esse até amanhã antes do almoço – disse ele, se dirigindo ao dono do barco. – Nós já voltamos.
A primeira coisa que eu fiz ao chegar ao mercado foi correr para a geladeira dos sorvetes; sem perder tempo, achei o meu preferido, e me agarrei a ele.
- Hey, eu escolho! – protestou , aparecendo atrás de mim.
- Mas eu quero esse – eu fiz manha novamente.
- Garota mimada – reclamou ele, levando um tapa meu como castigo. – Eu quero de gelo azul, beijo azul... Não lembro o nome.
- É céu azul, criatura – eu disse rindo. – E foi esse que eu peguei.
Ele me olhou desconfiado e tirou o pote de sorvete da minha mão para checar, depois começou a olhar em volta, como se procurasse alguma coisa.
- O que foi? – eu perguntei confusa.
- Cadê as câmeras? É pegadinha?
- Você é maluco?
- Qual é, a garota que eu amo gosta do meu sorvete preferido? Sem chance. Alguém deve estar tirando uma com a minha cara.
Eu ri alto.
- Você é tão bobo – disse rindo dele, que me abraçou, largando o sorvete em uma estante próxima, e me beijando em seguida.
Amortentia¹ para mim provavelmente só teria um cheiro, e não três como para a maioria das pessoas. Teria o cheiro dele. E se tivesse nosso gosto preferido, não seria de sorvete sabor céu azul, mas teria o gosto dos beijos dele.

Capítulo 13
Corrupted


Estiquei uma toalha branca no chão do convés e, com meus óculos escuros de hastes coloridas, shortinho e a parte de cima do biquíni pretos, me deitei sobre ela.
Cinco minutos sendo aquecida pelo sol e algo tampou a luz de meu rosto. Abri os olhos e levantei os óculos.
- , vocês está tampando o sol – eu reclamei. Então percebi seu olhar, e meu rosto esquentou, mas não por causa do sol. – Para, ! – eu pedi cheia de vergonha.
Ele sacudiu a cabeça como se desperta-se de algum devaneio. “Melhor passar protetor, querida.”
- Verdade – murmurei, pensando no assunto. – Pega pra mim? – pedi com carinha de criança.
Ele revirou os olhos e desceu as escadas. Quando voltou a tampar meu sol novamente estava com um tubo de protetor na mão.
- Quer ajuda? – ele se agachou ao meu lado com um sorriso malicioso.
- Ha-ha – tomei o tubo de sua mão.
Ele se afastou, enfezado.
Joguei protetor nas mãos e me lambuzei com ele – até chegar nas costas e ter um sério problema para alcançar todas as partes.
- ! – chamei com a voz fina.
- Quê? – dessa vez eu não me importei por ele estar tampando o sol. A visão de seu peitoral – agora descoberto – era bem melhor.
- Me ajuda? – eu pedi, fazendo carinha de criança novamente.
Ele ergueu as sobrancelhas:
- E por que eu deveria? Você não acabou de me rejeitar?
- Por favor? – eu insisti.
Ele soltou o ar, se dando por derrotado e pegando o tubo da minha mão.
- O que eu não faço por você? – ele disse enquanto eu me virava de bruços para que ele pudesse passar o protetor em minhas costas.
Eu sorri, mesmo ele não vendo. A sensação de suas mãos passeando por minhas costas era deliciosa.
- Quer sorvete? – ele ofereceu quando terminou.
- Aham – eu confirmei feliz.
Ele foi buscar enquanto eu prendia meu cabelo em um rabo de cavalo, para que não grudasse nas costas. Sentou ao meu lado e me entregou uma colher, abrindo o pote em seguida. Eu não demorei a atacar o conteúdo azul, adorando a sensação do sorvete gelado descendo em minha garganta naquele calor. me deu um beijo na bochecha, me fazendo encolher ao choque de seus lábios gelados em minha bochecha quente. Mais uma colherada de sorvete goela abaixo, e aproveitei sua afobação em pegar mais sorvete para tascar-lhe uma lambida na bochecha.
- Há, é guerra? – ele perguntou passando as costas da mão pela bochecha lambida, me fazendo rir.
- É, e o que o senhor vai fazer? – coloquei as mãos na cintura.
- Isso – ele passou a colher com sorvete na ponta do meu nariz, e em seguida me deu um selinho.
Só que eu gostei de seus lábios gelados nos meus, então tratei de aprofundar o beijo rapidinho, esquecendo do sorvete derretendo sob o sol.
- Nós vamos mergulhar amanhã depois que o sol subir, tá? – ele disse parando de me beijar.
Eu peguei mais uma colherada do sorvete e coloquei na boca, concordando com a cabeça. Ele afastou a colher de mim, voltando a me beijar.


Estava escuro agora. Eu não conseguia diferenciar o mar do céu, de tão negros que os dois estavam. Só aparecia um fiapo da lua à minha frente, e ela não iluminava grande coisa. Estava frio, e meu casaco estava lá dentro. Depois de levar um belo susto com alguma coisa que deu rasante na água, eu venci a preguiça e descia as escadas do barco. Com toda a minha distração, levei um susto ao me deparar com saindo do banheiro. Meu coração quase rasgou meu peito e eu senti minha respiração falhar com aquela visão maravilhosa. Os cabelos molhados grudados e totalmente bagunçados e a boxer preta. Por que diabos ele tinha que ficar daquele jeito? Aquilo não era saudável pra mim.
- Vista-se – eu disse entre dentes. Ele pareceu surpreso com a minha suposta agressividade.
- Estou vestido – ele disse, olhando para a própria boxer.
Eu tentei me fazer sair dali, para demonstrar que havia ficado brava, mas meus pés se recusaram. Meu corpo inteiro recusava qualquer movimento contrário.
- Muito engraçado. Agora dá pra colocar uma roupa?
- Tenho uma proposta melhor – ele disse maroto, se aproximando perigosamente de mim. – Por que você não tira a sua? – ele sussurrou as últimas palavras em meu ouvido, enquanto passava uma das mãos pela minha cintura, por debaixo da minha blusa. Eu estremeci.
- Sabia que você é um idiota? – eu disparei, como se ele me houvesse ofendido. Por que ele tinha que me tentar tanto? Empurrei-o, tentando o afastar.
Ele franziu a testa e tirou a mão de minha cintura.
- Você é muito estranha.
- Você é um idiota – eu retruquei.
- Qual é o seu problema? Uma hora diz que me ama e outra hora parece que me odeia.
- Eu sempre te odeio.
Pra começar, por você estar me provocando desse jeito. Isso não era justo.
- Você é maluca – agora sua voz estava alterada.
- Você é um pervertido – eu percebi que havia começado a gritar.
- Que tal tomar um banho pra esfriar a cabeça? Se você quiser, eu mesmo te jogo no mar, aposto que a água esta bem gelada.
- Eu posso te processar por ameaça de morte agora, sabia?
- Cala boca, pirralha, você é muito chata.
- Você é metido.
- Enjoada.
- Só fico enjoada quando estou perto de você.
Por outro sentido, isso chegava a ser verdade.
- Pelo amor de Deus, se afoga e me deixa em paz!
- Estúpido!
Nós gritávamos tão forte um com o outro que quando dei por mim estávamos próximos. Próximos demais.
- Como você consegue se aguentar?
- Se eu consigo te aguentar, eu aguento qualquer coisa.
Certo, eu não estava falando as coisas mais com tanto sentido.
- Eu odeio você – ele disse com ferocidade.
Sua boca parecia chamativa demais para mim. Involuntariamente, eu cheguei mais próxima a ele.
- Eu te odeio mais ainda – eu retruquei no que gradualmente foi se tornando um sussurro.
Ficamos em silencio por um minuto, sentindo a respiração próxima um do outro. As mãos de foram vagarosamente entrando por baixo de minha roupa, e quando nossos lábios se encostaram, ele me empurrou com força para trás, enquanto me beijava ferozmente. Me senti pressionada contra a parede e soltei um gemido quando ele mordeu meu lábio. Eu podia sentir o volume em sua boxer aumentando, e eu não ligava mais para nada enquanto o empurrava para trás com as duas mãos espalmadas em seu peito. Foda-se se eu havia tido problemas. Foda-se se eu havia sido machucada. Isso não iria me afetar. Não mais.
me puxou com ele para o chão. O contato que as minhas costas fizeram com o chão frio não me incomodou, pois eu me sentia queimando viva. Ele estava tirando meu sutiã? Aonde havia ido para minha blusa? Eu nem havia notado que ele já a havia tirado. Eu arranhei suas costas enquanto ele ia descendo seus beijos, deixando que sua língua passear por minha pele. Eu queria que ele abusasse de mim tanto quanto eu estava abusando dele. Já que eu estava perdida mesmo, não ligava para mais nada. Seus beijos continuaram descendo, fazendo uma longa parada em meus seios, enquanto abria minha calça e a descia. Assim que se livrou dela, foi subindo os beijos novamente, me fazendo soltar o ar pesadamente antes de voltar a me beijar com vontade.
Só havia uma coisa que me incomodava. Eu não sabia como havíamos chegado a tal ponto, mas aquilo me incomodava profundamente. Era sua boxer. Eu me livrei dela e a joguei longe, odiando-a. parecia sentir o mesmo ódio por minha calcinha, pois me lançou um olhar determinado e carregado de desejo antes de arrancá-la.
Ele aproveitou a posição em que suas mãos estavam e puxou minhas pernas para cima, e eu as envolvi em sua cintura.
Eu senti a dor me invadir forte por um segundo, e então passar tão rápida quanto havia chegado.
- Desculpe – ele sussurrou.
Mas eu não ligava. Arranhei suas costas como um pedido, e ele pareceu entender. Dessa vez eu senti ele me penetrar com um pouco menos de força. A dor dessa vez foi menor e, na quinta vez, eu não a senti mais. Dei graças a Deus por estarmos em alto-mar, assim ninguém podia ouvir meus gemidos, tão altos quanto os dele. Ele aumentava cada vez mais a intensidade por debaixo da minha pele, me fazendo revirar a cabeça para trás às vezes. Parecia que ele iria me rasgar por dentro a cada vez, e não havia um centímetro de meu corpo que não queimasse em puro prazer, até que isso foi tão forte que não aguentamos mais. caiu ao meu lado, arfante, e eu precisei de um minuto para me recuperar o bastante pra me virar para ele.
- Me odeie pelo resto da vida, se for desse jeito – foi a primeira frase que ele disse quando nossos olhos se encontraram.
Eu ri. Ele passou a mão por meus cabelos e me puxou para mais perto dele. Eu deitei minha cabeça em seu peito, sentindo-o subir e descer ainda muito rápido.
- O que seria de mim sem você, pequena? – ele perguntou seguido de um suspiro.
Eu sorri e dei um beijinho em sua pele.
- Te amo, – e adormeci.

Eu abri os olhos, e tudo continuava escuro. Não deviam ter passado nem quatro horas desde que adormeci, pois o cansaço ainda tinha um grande efeito sobre mim. Mas de repente eu estava ansiosa e alerta, o que cortava todas as minhas chances de adormecer tão cedo novamente. Me virei e percebi que não estava mais no chão, mas na cama, com esparramado ao meu lado, dormindo como um cavalo sedado. Mas um cavalo bonitinho. Eu sorri ao perceber meus pensamentos idiotas, e me levantei vagarosamente da cama. Com as chances de achar minhas roupas naquela escuridão, fui direto para um banheiro. Decididamente eu precisava do banho. Não ficava suada assim desde que aquele monstro lésbico que haviam colocado para ser nossa antiga professora de educação física havia me mandado correr voltas e mais voltas seguidas pela quadra.
Mas tudo em que o banho me ajudou – além de ficar linda e cheirosa novamente – foi a ficar mais desperta. Pelo menos minha mochila eu consegui achar em meio à escuridão. Na verdade, acho que foi ela meio que me achou, já que eu acabei tropeçando nela pelo caminho. Na cozinha, acendi a luz e me vesti, depois sai à procura do meu laptop dentro de minha mochila. Mas ele decididamente não estava ali. Isso me deu um desespero danado. Agora, com a luz da mini-cozinha acesa iluminando o quarto, foi fácil achar a mochila de . Coloquei-a em cima da bancada da cozinha, achando cuecas limpas, uma calça, algumas blusas e... não, não. Decididamente não. É claro que aquilo era de brinquedo. Quero dizer, por que motivo teria uma arma de verdade na mochila? Certo, uns caras mataram o pai dele e havia algumas possibilidades de estarem atrás dele... Mas ele não tinha certeza de nada, não é mesmo?
Toquei a arma. Fria e pesada, como uma de verdade.
Eu peguei aquilo e fui para o quarto, acendendo a luz na cara dele e chacoalhando seus pés violentamente.
- O que foi? – ele perguntou, grogue de sono.
- Por que você tem uma arma? – gritei sacudindo a dita cuja em minha mão.
Seus olhos se arregalaram.
- Larga isso, .
- Responde à minha pergunta! Por que você tem uma arma?
Bom, avaliando minha situação, isso era uma coisa que eu tinha o direito de saber. Eu estava no meio do mar com um cara e ninguém além de um ser que havia nos alugado o barco sabia onde estávamos agora. E o cara com quem eu estava tinha uma arma.
- Pra me proteger – ele disse, se sentando na cama. – Agora larga isso.
E por que eu deveria acreditar naquele cara com quem eu estava totalmente sozinha no meio do mar e que portava uma arma sem meu conhecimento? Ah, é, porque eu amava aquele cara. E confiaria minha vida a ele.
Só então me dei conta de que a arma ainda estava em minhas mãos.
- , me dá isso – ele pediu cuidadosamente.
- Não me trate como se eu estivesse pronta para atirar em você – eu reclamei, dando a arma em suas mãos.
Ele demonstrou grande alivio com esse meu ato, seguido de culpa.
- Desculpa, amor, só não quero te ver mexendo nisso, ok? – e então ele quem ficou bravo. – Você estava mexendo na minha mochila?
- Ahn... – meu rosto esquentou. – Eu estava procurando meu laptop.
Ele se levantou e foi até a cozinha, vestindo a boxer pelo caminho e deu uma olhada na própria mochila.
- Decididamente não está aqui – ele disse, guardando a arma novamente na mochila. – Será que não deixou lá em cima?
- Não, não mexo nele desde antes de sairmos do hotel.
- Então deve ter ficado lá – ele deu de ombros.
- Você só pode estar brincando – eu disse, desesperada. – O que eu vou fazer agora? Minha mãe vai me matar...
- Calma, pequena – ele me tranquilizou, me abraçando. – Eles com certeza devem ter guardado para você. Eu vou ligar para eles e amanhã nós passamos lá e pegamos ele, ok?
- Uhum – eu murmurei encostando minha cabeça em seu peito nu e sentindo o sono tomar conta de mim novamente.
- Vem, vamos deitar antes que você durma em pé – ele disse, me arrastando para a cama e apagando as luzes pelo caminho.
- Que horas são? – eu perguntei enquanto ele me cobria com o edredom.
- Quase meia-noite – ele informou. – Vou fazer chocolate quente, você quer?
- Quero – eu disse, mas antes que ele voltasse, eu já havia adormecido profundamente novamente.
E dessa vez fui eu quem acordou sacudida e assustada. A luz da cozinha iluminava de modo aconchegante o quarto, mas eu estava totalmente assustada, porque não parava de gritar.
- Temos que sair daqui! – ele gritava desesperado. – , acorda! Temos que sair agora!
- Você ficou maluco, garoto? – eu perguntei, incrédula.
Percebendo que eu havia acordado, ele me puxou pelo braço, me fazendo tropeçar pelo caminho.
- O que está acontecendo? – eu perguntei, totalmente confusa.
- Confia em mim, precisamos sair daqui! – ele gritou, me arrastando da cozinha escada acima. O pior é que ele estava falando sério.
Eu desejei mais que tudo que aquilo fosse uma piada de mau gosto ou um pesadelo, ainda mais quando ele parou em frente às grades do barco e olhou para o mar ali em baixo.
- Espera aqui! – ele saiu correndo e voltou como um raio com dois coletes salva-vidas nas mãos, me fazendo desajeitadamente vestir um deles.
- Por quê? – eu perguntei, confusa. – O que você acha que... – e então eu percebi o porquê dos coletes. – Não, nem pensar, eu não vou...
- Confie em mim! – ele gritou e me pegou no colo.
E então, eu estava caindo. Achei que a coisa estava bastante ruim quando estava caindo, e percebi que estava totalmente enganada sobre isso quando a água bateu com força em minhas costas e tomou conta do meu ser. Água gelada, mais gelada do que aquela que eu pegava na geladeira, mais gelada do que o sorvete de céu azul recém-saído do congelador.
O corpo de caiu ao lado do meu, espirrando ainda mais água em mim.
- , se-seu... – eu comecei, batendo os dentes.
- Vem, precisamos nadar para longe! – e começou a nadar para longe do barco.
- VOCÊ FICOU MALUCO? – eu gritei, incrédula. – , EU QUE-QUERO VOLTAR PRO BARCO IMEDI-DIATAMENTE!
- CALA BOCA E NADA – ele gritou de volta.
Eu me assustei com a ferocidade com a qual ele havia gritado de volta. E claro, eu nadei atrás dele. Nadamos durante uns cinco minutos, até que um grande clarão iluminou tudo, até o céu.
- SE ABAIXA! – ele gritou.
Eu só tive tempo de puxar um pouco de ar antes de afundar na água, sentindo cada músculo em meu corpo sendo congelado.
E então o clarão passou por cima de nós. Trinta segundos depois, sem resistir à falta de ar e fôlego que o nado havia me proporcionado, me levantei à superfície, seguida por .
- Você está bem? – ele perguntou, preocupado.
Eu me virei e olhei para a direção de onde o clarão havia vindo, e que continuava a iluminar a noite. Não muito longe dali, estava o barco. Ou o que havia restado dele, que agora estava pegando fogo. Eu entrei em choque.
- Eu consegui avisar a guarda costeira, estão vindo nos pegar – ele disse e segurou uma de minha mãos embaixo da água.
Eu não conseguia emitir som algum. Só conseguia observar os restos do “Saint Louis” pegando fogo. Não consegui ter ideia de quanto tempo se passou até que o resgate chegasse, só sei que ficava tentando inutilmente falar comigo enquanto isso, mas eu estava chocada demais para responder qualquer coisa. E quando finalmente enxerguei algum pedaço de terra firme, com o barco em chamas sendo deixado para trás e o ronco do motor do barco da guarda costeira me enlouquecendo, eu apaguei.

Eu pisquei algumas vezes antes de conseguir focar minha visão direito. O quarto estava iluminado por uma meia luz e um bipe contínuo me incomodou. Procurei a origem do barulho, e só quando vi a linha verde de meus batimentos cardíacos subindo e descendo me dei conta de que estava em um quarto de hospital. Acompanhando a tinta verde, quase azul, das paredes, e as janelas com cortinas brancas que davam para o corredor, vi sentado em um sofá próximo a minha cama, com a cabeça abaixada e apoiada nos braços, me impedindo de ver seu rosto.
- Você está bem? – eu perguntei, preocupada.
Ele levantou a cabeça, seus olhos levemente inchados e vermelhos.
- Depende. Você está bem? – ele me perguntou, sério.
Eu mexi minhas pernas por debaixo do lençol, depois meus braços e pescoço.
- Acho que sim – respondi.
- Então eu também estou – ele disse com um sorriso triste.
- Mas por que estou aqui?
- Você desmaiou.
- Por quanto tempo?
- Umas cinco horas pelo menos – ele respondeu.
- É, acho que eu estava precisando dormir direito.
Ele riu. “Vou avisar ao médico que você acordou.” Deu um beijo em minha testa e depois foi para a porta. “Já volto, pequena.”
Eu sorri em resposta e ele saiu.
O médico testou meus sentidos e, mesmo confirmando que tudo estava bem, tive de ficar mais duas horas no hospital em observação. aproveitou esse tempo para ir às docas resolver com o dono do barco a situação e pegar meu laptop no hotel.
Eu havia ficado brava comigo mesma por ter esquecido o laptop no hotel antes, mas agora eu estava feliz pela minha burrice. Apesar do barco em que estive há poucas horas ter explodido, me achei com sorte.
- E o que o cara do barco disse? – eu perguntei enquanto almoçávamos lagostim.
- Que o seguro iria cobrir tudo.
- E a polícia?
- Eles não sabem ainda a causa do incêndio.
- Mas você sabe – eu disse séria.
Ele soltou um suspiro, mexendo com o garfo na comida, parecendo desconfortável. “Sei.”
Esperei pelo resto da resposta, mas não aconteceu.
- Então, o que foi?
- Foram os caras que mataram meu pai, tenho certeza.
- Mas... mas como? – eu perguntei confusa.
- Perguntei para alguns dos donos dos outros barcos. Um deles viu dois homens entrando no barco ontem, enquanto fomos ao mercado. Não foi acidental.
- Eles... eles estão tentando nos matar? – perguntei incrédula.
- Me matar – ele corrigiu. – Você, se estiver por perto – ele soltou um suspiro cansado.

Durante toda a viagem de volta eu fiquei pensando sobre isso. dormia desconfortável ao meu lado durante o vôo. Como alguém poderia estar atrás dele? Ele parecia tão inofensivo para mim. Ele era tudo o que importava para mim. Se alguém sequer o ferisse eu não sei o que faria. Ele disse que me matariam se eu estivesse por perto... Mas como eu conseguiria ficar longe dele? Eu estremeci só de pensar nessa possibilidade. A de ficar longe dele. Não, não importa o que poderia vir a acontecer, eu estaria sempre ao seu lado.
Isso era pelo menos o que eu queria.

- ? – ele me chamou enquanto eu arrumava minha roupa de cama limpa.
- O quê? – eu perguntei, ainda dando atenção aos lençóis.
- Nós... nós não podemos mais ficar juntos – ele disse pesarosamente.
Eu demorei um segundo para entender o que ele estava falando. Minha respiração falhou.
- Hã? – eu perguntei meio zonza, me virando para ele.
- Nós não podemos mais nos ver – ele disse, encarando o chão.
- E por quê? – eu perguntei, cruzando os braços.
- Porque é melhor assim.
- Melhor pra quem?
- Pra você – ele levantou a cabeça.
- Eu sei o que é melhor pra mim – eu disse indo até ele, sentado na beira da cama de . – E você não vai se livrar de mim assim tão fácil.
Eu coloquei uma perna de cada lado das suas, me sentando em seu colo e passando a mão em volta de seu pescoço. Agora eu podia claramente ver a dor em seus olhos.
- , eu não posso suportar nem a possibilidade de algo acontecer a você – ele disse, me abraçando forte pela cintura. – Você só vai estar segura se não tiver nada a ver comigo. Eu achava que talvez eles não estivessem realmente atrás de mim, mas agora eu tenho certeza de que eles estão. Você precisa ficar longe de mim.
- – eu disse passando um dedo por seus lábios. – Não adianta, tudo em mim tem a ver com você. Eu vou estar com você independentemente do que aconteça. Eu te amo.
Pressionei meus lábios contra os seus. Por um instante, ele resistiu, mas não durou muito. Deixei que nossas línguas brincassem durante algum tempo, apenas sentindo seu gosto e seu calor. Mas então o calor foi aumentando, assim como nossas atentadas mãos exploravam mais e mais o corpo um do outro, arrancando as roupas encontradas pelo caminho.

- Bom dia! – , sorridente, me cumprimentou. Eu franzi a testa devido à claridade.
- Bom dia – eu respondi com a voz um pouco rouca, observando-a transferir as roupas da mochila de volta para o guarda-roupa.
Ela me olhou sugestiva.
- Quê? – eu perguntei sem entender.
- O acabou de sair daqui – ela disse erguendo as sobrancelhas. – Não tem algo que você queira me contar?
Eu senti minhas bochechas esquentarem.
- Ah, ele dormiu aqui – eu disse, desviando meu olhar do dela.
- Só dormiu? – ela não iria desistir até arrancar isso de mim.
- Talvez – eu disse com um sorriso maroto.
- Eu sabia! – ela exclamou, sorrindo vitoriosa.
- Como? – perguntei tirando o edredom de cima de mim.
- Pelo sorriso com o qual ele saiu desse quarto – ela comentou. – Apesar da cara amassada de sono.
- Pedimos comida ontem e ficamos conversando até tarde ontem – eu contei, e então vi sua expressão. – É, além disso.
- Se troca logo, o sinal vai bater daqui a pouco – ela alertou.
Eu peguei meu uniforme no guarda-roupa e fui para o banheiro me trocar.
- , como o foi na audição? – ela perguntou casualmente.
Puta merda, o . Eu havia esquecido completamente dele!
Notando minha falta de resposta ela enfiou a cabeça dentro do banheiro.
- Você não falou com ele? – ela franziu a testa, brava.
- Ahn... – eu enrolei.
- Ai, meu Deus, ele deve estar puto – ela balançou a cabeça em desaprovação e saindo do banheiro. – Nós já não fomos com ele...
- Mas e a ? – eu perguntei meio desesperada. - Ela não foi?
- Não faço ideia.
Bom, no intervalo, a caminho da lanchonete para tomar café-da-manhã, obtive minha resposta. E só para constar, não era das melhores, já que me viu no corredor e, ao invés de me receber calorosamente como sempre, fechou a cara e passou reto.
Sorte dele que eu estava de muito bom humor hoje.

Capítulo 14
Bleed It Out


- – eu chamei manhosa, me virando e seguindo ele pelo corredor. Ele ignorou. – – insisti, continuando sem resposta. Apressei-me e passei à sua frente, parando e fazendo-o parar. Ele me olhou, impaciente. – Qual é, eu tive problemas no fim de semana – me defendi, mesmo ele continuando calado. – Me desculpa.
- Que tipo de problemas? – ele levantou as sobrancelhas, falando alto o suficiente para que somente eu escutasse, enquanto os alunos nos empurravam às vezes, no corredor lotado. – Estava muito ocupada na cama daquele idiota? Pensei que você era diferente, mas vejo que estava enganado. Você é igual a qualquer outra vadia dessa escola.
Na maioria das vezes meus impulsos são mais rápidos do que meu raciocínio. E essa foi uma das vezes, quando meti minha mão aberta na cara dele com força, olhando tempo suficiente para ver as marcas dos meus cinco dedos ficando vermelhas em seu rosto. Me virei, sentindo meus olhos arderem, e segui cegamente alguns passos pelo corredor.
- Hey, hey, pequena – ouvi aquela voz rouca próxima a mim, e então senti seus braços ao meu redor. – O que houve?
Me encostei em seu peito sentindo as lágrimas molharem sua camisa.
- Vocês se merecem – eu ouvi dizer ao passar, me fazendo começar a soluçar.
- Já entendi – disse, com os dentes trincados.
Passei a mão por meu rosto, enxugando as lágrimas e sentindo-me desprotegida pela repentina falta de seus braços ao meu redor. Quando abri novamente os olhos foi em tempo de ver puxando a mochila nas costas de , socando-o em seguida. O corredor, que até então estava barulhento, se silenciou no mesmo segundo.
Eu entrei em desespero. Sai correndo até eles, enquanto o empurrava, gritando “O que você fez a ela?”
- O que eu fiz a ela? – respondeu com desprezo, e cuspiu sangue no chão. Senti meu coração congelar completamente. – O que você está fazendo com ela?!
- Seu loser idiota – os estudantes haviam formado uma roda em volta dos dois, e eu tive que dar mais alguns passos e empurrar pessoas do meu caminho para continuar a enxergá-los. partiu para cima dele, mas alguém segurou seus braços.
- Loser? repetiu com desdém. – Eu a trataria bem melhor do que você. Mas é claro, você a está iludindo. Eu conheço o seu tipo. – fazia força para se desvencilhar do cara que o segurava, mas não conseguia. Mas por que ninguém estava segurando , sendo que ele estava chegando mais perto do ? Foi então que percebi: era quem segurava . – Você a enche de mentiras, leva para cama e depois vai a dispensar. Fique longe dela! – e com isso ele deu um soco na barriga de .
Senti como se o soco fosse em mim, tirando meu fôlego. Era como se meu mundo estivesse sendo destruído. Corri para eles, tentando segurar o braço de , mas ele se desvencilhava de mim com facilidade.
- Deixa de ser idiota, – eu gritei, chorando. – Solta ele!
Ele levantou o braço para socá-lo e, antes que eu pudesse gritar de novo, foi atirado longe. Demorei alguns instantes para localizá-lo com montado sobre ele, socando-o.
Percebi tarde demais que não estava respirando direito. Vi se soltando e batendo em antes que eu caísse de joelhos, minhas pernas fracas demais para me sustentar e sentindo-me totalmente tonta.
me percebeu e largou , vindo para mim desesperado.
- O que foi? – ele perguntou me sacudindo.
- Larga o – eu choraminguei com o resto de oxigênio que ainda tinha.
- , larga ele – gritou , autoritário.
saiu de cima de na mesma hora, olhando confuso para .
- Se acalma, , por favor – ele pediu todo desesperado.
me viu e seus olhos se arregalaram. Ele se levantou com dificuldade e veio até mim, o rosto coberto de sangue.
- Eu vou te levar pra enfermaria – ele disse me puxando para cima, mas minhas pernas estavam bambas demais para que eu conseguisse me levantar.
- Tira a mão dela – eu ouvi esbravejar.
- PAREM! – eu gritei de modo histérico.
Minha mente estava cada vez mais turva e meu corpo mais mole ainda, sustentado apenas por me segurando pelos braços.
- – eu ouvi a voz de anormalmente estridente.
- Ai, meu Deus! – exclamou , vendo o meu estado.
- Você, tira ela daqui – eu a ouvi dizer pra alguém.
Em seguida senti braços me erguerem no ar e me deslocarem dali. Meus pés bateram em algumas pessoas pelo caminho. Não devíamos ter chegado longe e eu senti minha garganta queimar fechar. Bati no peito do cara que me carregava.
- Ai, meu Deus, solta ela – ouvi dizer com a voz ainda estridente. – Rápido, coloca ela no chão!
- Tá bom, tá bom – percebi pela voz que era que me carregava.
- Vem cá – me segurou de um lado e continuou a segurar do outro. Entramos no banheiro e eu comecei a hiperventilar, os dois tiveram que me encostar na parede sentada, pois minhas pernas não me aguentavam.
- , o que você tem? – Danny perguntou, com a voz estranha, ao entrar ali.
Eu tentei puxar o ar pra conseguir respondê-lo, mas não consegui, o que só me desesperou ainda mais.
- Vamos logo pra enfermaria – ouvi a voz de .
Eu balancei negativamente a cabeça com força.
- Você tem que ir – insistiu.
Eu balancei a cabeça, negando. Danny passou mão pelo meu rosto.
- Hey, pequena, eu estou aqui – ele disse tentando me acalmar, mas eu via as lágrimas escorrendo por seus olhos. – Nada vai te acontecer. – Então ele virou para os outros que nos cercavam - Será que vocês podem dar espaço?
Eu vi alguns deles saindo, mas isso não me fez voltar a respirar, apesar de me fazer sentir menos pesada. Eu continuava a tentar puxar o ar, minhas extremidades começando a formigar, quando ele segurou meu rosto com ambas as mãos e me fez olhar dentro daqueles olhos azuis.

- I wonder what it's like to be loved by you – ele começou a cantar baixinho, enquanto eu fungava e soluçava. - I wonder what is like to be home.
And I don't walk when there're stones in my shoe.
All I know that in time I'll be fine.

Ele passava a mão por meus cabelos, sem soltar meu rosto. Comecei a me acalmar e minha respiração começou a melhorar. Minhas mãos diminuíram o formigamento.
- Por favor, – ele disse, me dando um selinho e limpando minhas lágrimas. – Se alguma coisa acontecer a você eu... – percebi que seus olhos estavam vermelhos. Ele estava chorando. Isso cortou meu coração.
Passei um dedo por seus lábios, impedindo-o de continuar.
- Continua cantando – eu consegui sussurrar com esforço.

- I wonder what it's like to fly so high – ele continuou, me deixando perder dentro de seus olhos enquanto acariciava meu cabelo. - Or to breathe under the sea.
I wonder if someday I'll be good with goodbyes,
But I'll be ok if you come along with me.

- Eu te amo – disse, me encolhendo contra seu peito por alguns minutos, para depois voltar a encará-lo. – Seus olhos me trazem de volta a vida de tantas formas que isso me assusta.
Ele sorriu timidamente.
- Vou te levar pro seu quarto, vem – ele me levantou e então ameaçou me pegar no colo.
- Não, você e o vão para a enfermaria – eu disse séria, respirando fundo. – A me leva.
- Mas... – ele protestou preocupado.
- Tudo bem, eu já consigo andar – eu disse com um sorriso torto. – Vai lá. , vamos?
Ela assentiu silenciosamente com a cabeça e saímos do banheiro com em nossa cola.
- Tem certeza de que está melhor? – perguntou , preocupada.
- Tenho – respondi, mesmo sem tanta certeza.
- Dude, o que foi aquilo?! – disse , sentada em sua cama com ao seu lado.
- São dois idiotas – reclamei, cruzando as pernas e abraçando-as.
- Dá um desconto, o tava meio estressado – tentou defendê-lo.
- E por isso ele precisava falar daquele jeito comigo? – questionei indignada.
- Ele não passou nos testes – prosseguiu, tentando amenizar minha raiva. – E o cara que foi escolhido pra vocalista nem cantava tão bem.
soltou o ar pesadamente, balançando a cabeça em desgosto. “Tadinho, achei realmente que ele ia conseguir.”
- Eu também – continuou . – Ele estava super nervoso. O cara era gato, mas não melhor do que o .
- Injusto – concordou .
- É – eu concordei. – Mas ele não precisava pegar pesado desse jeito comigo.
- Você sabe que ele morre de ciúmes do , – disse tranquilamente.
Ergui as sobrancelhas, surpresa. “Por quê?”
Ela e se entreolharam.
- O gosta de você – explicou . – E todos na escola conhecem o .
- O me ama, será que ele não pode aceitar isso? – eu disse, indignada. – Certo, eu gosto muito do . Muito mesmo. Mas, com o tudo é tão... – eu suspirei com um sorriso.
- Os olhos dela até brilham – disse sorrindo.
Eu ri, sem graça.
- Mesmo assim, todos conhecem o histórico de ignorou minha felicidade. – E você sabe, não é dos melhores.
- Isso é passado – eu disse séria. – Não me importa como ele era antes. O que me interessa é o que nós dois temos agora.
- E o que é exatamente? – questionou . Eu a encarei sem entender. – O que vocês têm agora, exatamente? Vocês namoram? Porque eu não ouvi nada sobre isso nos últimos dias. continua como solteiro para as piranhas da escola.
- Eu vou deixar bem claro pra todos que ele é só meu – eu disse brava.
- Isso inclui a Brooklie? – perguntou preocupada.
- Com certeza – confirmei, séria.
Ouvimos batidas na porta.
- Quem é? – gritou.
- É a Brooklie – a voz enjoada da mesma respondeu do outro lado da porta. – E a . , abre aí.
Eu abanei a cabeça negativamente para e . Puxei a colcha da cama e me enfiei embaixo dela.
- Quanta coragem – ironizou baixinho.
Antes de abrir a porta, fechei os olhos e fingi estar dormindo profundamente.
- Ela está dormindo – ouvi avisar.
A porta rangeu.
- Ah, certo – ouvi a voz de Brooklie dizer. – Na hora do almoço eu falo com ela.
Assim que fechou a porta, eu abri os olhos.
- Tem certeza que isso inclui a Brooklie? – perguntou divertida.
- Não duvide de mim – desafiei, voltando a me sentar.
- Temos que voltar pra aula – avisou se colocando de pé. – Você vem?
Fiz uma careta. Já tínhamos perdido uma aula mesmo.
- Meu próximo horário é de geografia. Acho que vou ficar por aqui mesmo.
As duas riram.
- Vai ficar bem? – perguntou preocupada, já na porta. Assenti com a cabeça. – Então, até o almoço – as duas deixaram o dormitório.
Aproveitei o tempo livre para ficar lendo meu livro da Mediadora. Finalmente, quando meu estômago já se acabava de roncar, o sinal tocou, anunciando o almoço.
Fui tranquilamente até o refeitório, pois todo o caminho se encontrava praticamente vazio.
Me assustei com o número de pessoas que viravam a cabeça quando eu passava e até apontavam, aos cochichos nada discretos, no refeitório. Antes que eu pudesse escapar, Brooklie e estavam ao meu lado enquanto eu colocava comida em meu prato.
- E aí, desembucha o que aconteceu – disse Brooklie, ansiosa.
Garota fútil, pensei. Só quer fofoca.
- Você está melhor? – perguntou , preocupada. - Fiquei sabendo que passou mal.
- Estou melhor – murmurei, pegando uma lata de refrigerante diet.
- Vai, conta – insistiu Brooklie enquanto caminhávamos até a mesa.
Tentei desviar para minha mesa, onde e sentavam, mas então vi e , ambos com o rosto machucado. A raiva borbulhou dentro de mim e segui para mesa onde já estava sentado com e mais dois garotos grandes ao seu lado.
Respirei fundo. Brooklie queria uma resposta? Ela iria ter.
Coloquei minha bandeja na mesa, mas não no lado onde costumava, e sim ao lado da de . Ele me olhou surpreso, enquanto eu me sentava.
- Tá melhor, amor? – perguntei de um jeito meloso, dando um selinho nele.
- Ahn, tô – disse ele desconsertado. – E você?
- Aham – concordei com um sorrisinho.
Ouvi um estrondo. Olhei para frente e Brooklie havia jogado sua bandeja no chão.
- O que é isso? – ela perguntou, praticamente gritando.
O refeitório ficou totalmente em silêncio.
Ah, não, já havia tido confusão o bastante por um dia, pensei, mas a raiva foi mais forte que o cansaço.
- O quê? – eu perguntei cinicamente.
O canto da boca dela tremeu enquanto ela apertava as mãos em punho.
- Isso – ela apontou para nós dois.
- Ah! Isso sou eu – eu apontei para mim mesma. – E isso é o meu namorado – apontei para . – Por que o interesse?
Algumas pessoas fizeram barulhos e ovacionaram como “uuu”
- Eu mato você! – ela ameaçou vir para cima de mim, mas a segurou.
- Qual é, Brooklie, tá na hora de superar, não acha? – provoquei.
- Vamos sair daqui, já está ficando ridículo – tentou a tirar dali, mas ela resistiu.
- Está mesmo – concordei, mantendo o sorriso cínico. – Sua popularidade está caindo, querida.
Se não fossem as mãos de em seus braços ela teria voado em mim por cima da mesa mesmo.
- Vamos – esbravejou a arrastando para longe dali até saírem do refeitório.
- Você pirou? – finalmente se manifestou, e jogou o garfo em sua mão de volta na mesa. – Qual é o seu problema, garota?
- Não gosto do jeito que ela te olha e não gosto do jeito que ela te ronda – eu disse mexendo tranquilamente em seus cabelos. – Já estava na hora de ela se tocar que vocês não têm mais nada.
- Ah, ótimo – ele esbravejou, ainda que em voz baixa. – Nos exponha ao extremo.
Dei de ombros. “Se os caras que tentaram nos matar já sabem, que diferença vai fazer?”
- Mas a Brooklie é...
- Uma piranha que quer meu namorado – eu o cortei. – Se você pode bater no meu melhor amigo, eu posso dar esse recadinho pra ela.
Ele bufou irritado.
- – dei um beijinho em sua bochecha. – Eu sei o que estou fazendo, ok? Posso dar conta dela.
- Vocês já estão ferrados mesmo – se intrometeu. – Mais cedo ou mais tarde ela descobriria.
Eu sorri vitoriosa para .
- , tá a fim de um novo amor? – eu perguntei displicente, mudando de assunto.
- Se esse amor tiver belas curvas, por que não? – ele respondeu divertido.
- Acho que você devia chamar minha amiga para sair – eu continuei, torcendo para que desse certo. – Acho que vocês dois se dariam certo.
- Que amiga? – ele perguntou dando uma garfada na comida.
- A – eu respondi.
Ele engasgou. deu um tapa em suas costas - que eu diria desnecessariamente forte.
- Aquela da aula de inglês? – ele perguntou depois de se recuperar.
- Essa mesma.
Ele deu um sorriso tarado, do qual eu tive medo.
- É, acho que eu me daria bem com as curvas dela.
- Respeite minha amiga, mocinho – avisei. – Ela é uma moça de família.
Ele recompôs a expressão.
- Certo, vou tentar me lembrar disso – ele disse pensativo.
Balancei a cabeça em desaprovação, voltando minha atenção em seguida para a comida.

- Amor, você não acha que tá na hora de ir no médico? – perguntou , enquanto caminhávamos pelo gramado nos fundos da escola. Eu o olhei sem entender. – Você sabe, por causa dessas suas crises, falta de ar, essas coisas.
Ele me olhava preocupado e eu sabia que ele estava escolhendo as palavras para falar.
- O que te leva a pensar que eu já não fui? – perguntei displicente.
Ele me olhou confuso. “E não resolveu nada?”
Dei de ombros.
- Por enquanto ainda não. Mas ele disse que vai melhorar. - Olhei para as nuvens cinzentas lá em cima que indicavam a chegada de uma forte chuva.
- Talvez você devesse ir ao médico novamente – ele sugeriu.
- Talvez – respondi, mas não iria fazer isso. Estava cansada de médicos. Eles nunca resolviam nada direito. – Tenho um teste hoje no teatro – comentei, desviando o assunto.
- Nervosa? – ele perguntou com um meio sorriso.
- Um pouco – confessei.
- Você vai se sair bem – ele me encorajou. – Só não vou lá te dar uma força porque tenho futebol.
- Se você fosse, eu iria ficar ainda mais nervosa.
Ele deu um beijo em minha bochecha “Te amo, pequena.”
- Te amo, meu anjo – eu disse sorrindo.
Algumas gotas de chuva começaram a cair, nos fazendo voltar para dentro da escola.
me levou até a porta da sala de inglês, onde me esperava, já sentada na carteira. Eu diria que havia sido uma aula normal, se não fosse pelo fato de espalmar as duas mãos em cima da carteira de assim que o sinal de fim da aula soou.
Ela olhou para cima sem entender, até se deparar com os olhos dele e ficar com cara de idiota.
- O que você vai fazer hoje à noite? – ele perguntou casualmente, como se os dois conversassem todos os dias.
Ela ficou muda. Eu chutei sua perna e ela pareceu acordar. “E-eu vou estudar”, ela gaguejou.
- Que pena – ele disse balançando a cabeça. – Achei que poderíamos sair para jantar – ele tirou as mãos de cima da carteira.
quase surtou. “Eu posso estudar outro dia!”, ela disse, desesperada.
Ele se virou para nós novamente.
- Te pego às oito então - piscou e saiu da sala.
Ela me olhou boquiaberta, enquanto eu começava a rir da cara dela.
A única coisa boa de ter uma próxima aula é que estava nela. Sentado ao meu lado, conversando comigo. E agora não precisávamos disfarçar, todos já sabiam que estávamos juntos. O que só serviu para que aquelas olhadas nada discretas me perseguissem o dia todo. Inclusive no teatro.
Mas nem isso, nem meu nervosismo, impediram que eu me saísse bem ao ponto de conseguir o papel principal.
E um garoto muito, muito bonito iria fazer para romântico comigo. Loiro, alto, olhos cinzentos e um corpo extremamente convidativo.
É, talvez essas coisa tenham me incentivado a atuar bem para conseguir o papel.

- Sabe, garota, você devia parar de ficar se escondendo atrás dos remédios – estava na porta do meu quarto me olhando.
- O que você esta fazendo aqui? – perguntei assustada, escondendo o frasco em minhas mãos.
- Vim buscar a – ele disse descontraído. - Ele adentrou o quarto sem ser convidado e sentou na cama vazia de . - Você tem gel ai? Preciso arrumar meu cabelo.
Eu rolei os olhos e fui até o banheiro procurar. “ está no quarto da se arrumando”, eu avisei. O máximo que achei foi um spray fixador.
- Serve spray? – perguntei voltando ao quarto com o tubo na mão e me deparei com ele segurando o meu frasco de remédios. Puta merda.
- Por que você toma anti-depressivos? – ele perguntou, balançando o frasco.
- Isso não é da sua conta – peguei o frasco da mão dele e joguei dentro da primeira gaveta do guarda-roupa que vi.
- Por que você precisa tomar anti-depressivos? – ele insistiu, me deixando nervosa.
- Vou chamar a – eu disse com raiva, largando o spray na cama e saí do quarto batendo o pé.
- – chamei batendo na porta do quarto de .
- Entra – ouvi a voz de .
- Uau! – exclamei, aprovando .
- Gostou? – perguntou feliz.
- Eu que fiz! – brincou .
Eu ri. “Está linda”, confirmei. “ já está te esperando lá no quarto.”
- Ai, Deus – ela disse nervosa. – E se der alguma coisa errada?
- Relaxa, – me diverti com seu nervosismo. – Tudo vai sair bem.
Ela respirou fundo. “Obrigada, ”, ela agradeceu.
- Boa sorte – eu e desejamos juntas antes de ela deixar o quarto com seu lindo vestido curto e a maquiagem impecável.

Durante as aulas do dia seguinte, fiquei impaciente, pensando no que poderia fazer. E se ele contasse para a escola inteira? Não, ele não faria isso. Mas e se ele contasse ao ? Isso iria me trazer problemas, explicações que eu não queria dar. Coisas que eu não queria lembrar.
Por sorte, meu uniforme de líder de torcida estava no armário do vestiário, pois lá fora caia uma chuva desgraçada e a ultima coisa que eu queria era ter que atravessá-la para trocar de roupa quando as aulas acabaram.
Pelo menos o treino me distraía, apesar de a Brooklie amarrar a cara para mim e tentar me sabotar. Mas eu não iria sossegar enquanto não soubesse se tinha contado ou não.
- Vem comigo – me chamou enquanto eu saía da quadra para a chuva. Corri com ele até o prédio dele e ele me puxou pra dentro de uma das salas do primeiro andar. – Espera aí, já volto - e saiu da sala.
Me sentei no chão. Estávamos na sala de espelhos, o que deveria ser uma sala de balé, mas até onde eu sabia, ninguém a usava. logo voltou carregando duas luvas aparentemente de textura fofa e jogou-as em um canto. Trancou a porta, guardando as chaves no bolso. Ele tirou o casaco da escola e jogou junto com as luvas. Abriu três botões da camisa, abriu os botões nos pulsos e enrolou a manga.
- Levanta – ele mandou. Eu continuei o encarando.
- Ficou louco? – eu ralhei com ele. - Nem minha mãe fala comigo desse jeito!
- Deve ser por isso que você é tão mimada – ele retrucou.
- Eu não sou mimada! – reclamei, indignada.
- É claro que é – ele continuou. – Mimada e indisciplinada.
- Olha só quem fala – me levantei. – O que você quer afinal?
- Você quer ficar com o , certo? – ele perguntou calmo.
- É claro – respondi firmemente.
- E você está disposta a qualquer coisa por isso, de verdade? – ele perguntou me encarando.
- Estou – respondi, convicta.
- Então você vai ter que aprender algumas coisas – ele disse. – Vai ter que aprender a cuidar de si mesma. tem que saber que você é capaz disso, ele não vai estar sempre lá pra te proteger e você sabe disso. Você já teve sorte muitas vezes, mas em outras não conseguiu escapar. Eu vou te ensinar a se defender.
- Como assim, ? – perguntei, confusa. – Como você pretende me ensinar?
- Do meu jeito – ele respondeu simplesmente. – Quero ver o que você sabe fazer. Me bate.
- O quê? – perguntei, incrédula. Ele só podia estar brincando.
- Me bate – repetiu, ainda me encarando.
- Não – respondi firmemente.
- Por que não? Não tem coragem? – ele provocou.
- Não adianta, não vou te bater.
- Medrosa. Mimada. Indisciplinada. – ele disparou.
- Eu não sou nada disso.
- É claro que é, você não é capaz de defender a si mesma. Seus pompons não vão te ajudar em nada. Você é só uma perdedora de quem o ficou com dó.
- Cala boca, .
- Você afronta os outros porque tem medo de ser você mesma.
- Não enche o saco.
- Você tem medo de tudo, de todos. É uma paranóica, é por isso que toma anti-depressivos, porque não se suporta, não consegue superar. O que foi que te aconteceu, hein, garotinha?
- Me deixa em paz – comecei a sentir meus olhos molharem e as lembranças começaram a passar pela minha mente.
- Me fala o que aconteceu com você – ele disse, grosso. – Vai garota, você só sabe chorar, nunca vai conseguir superar, você não é forte o bastante.
As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto.
- Pare, ! – eu implorei chorando.
- Eu não vou parar. Por que o te esconde tanto? Ele não quer te mostrar a ninguém, ele tem vergonha de você.
- Ele gosta de mim! – gritei pra ele com raiva.
- Não, ele tem pena de você. É isso que você provoca nas pessoas, pena. Me fala o que aconteceu!
Eu só conseguia chorar, as lágrimas como se me sufocassem, tapando meu ar.
- Reage, , enfrente isso!
Eu não conseguia puxar o ar para os pulmões mais.
- VAI, REVIDA – ele gritou próximo a mim e segurou meus pulsos, me sacudindo. – REAGE!
Eu tentei soltar meus pulsos, mas ele os apertava.
- VAI GAROTA, VIRA MULHER!
- FILHO DA PUTA, ME SOLTA! – eu gritei em resposta.
- Se solte sozinha! – ele instigou, e eu tentei puxar meus pulsos com força. – Você tem que soltar girando os pulsos, não usando a força, idiota!
Eu gritei de raiva e girei os pulsos, conseguindo me soltar das mãos deles. Corri para a porta forçando a maçaneta, mas ela não abria de jeito nenhum.
- Não tem como escapar! – ele disse vindo atrás de mim.
- Abre isso, !!! – pedi, desesperada para sair dali e apagar tudo aquilo da minha mente.
- Me enfrenta, vadia! Me diz o que aconteceu!
- CALA BOCA! – eu urrei de raiva.
- Não vou calar, e você também não pode me fazer, porque você é fraca, estúpida, frágil. Eu posso fazer o que eu quiser.
- Não, não pode!
A raiva estava esquentando o meu sangue, meu coração pulsava acelerado.
- Você não conta porque tem medo. Já passou, mas você continua aí, sempre com medo. Você vai ser uma eterna covarde, admita.
Eu gritei de raiva de novo.
- Gritar não vai adiantar de nada! Isso vai se repetir, porque você vai deixar!
- Não!
- não vai estar lá. vai ter se cansado da garota fraca e dependente. Você vai perdê-lo e tudo vai acontecer de novo.
Ele estava próximo de mim e eu comecei a estapear ele.
- Ele não vai me deixar!
- Vai, e tudo vai se repetir.
- NINGUÉM VAI ENCOSTAR EM MIM DE NOVO!
- Vão sim. Pare de me estapear, me bate de verdade!
Eu gritei de raiva e comecei a socá-lo sem dó. Chutei-o e ele bloqueou.
- ME BATE DE VERDADE OU VÃO FAZER TUDO DE NOVO!
Eu bati com mais força nele, agora socando.
- Pare de gritar e use o fôlego pra bater! Deixa os braços na altura do peito garota! Fecha essas mãos direito. ME BATE COM VONTADE!
Eu estava começando a voltar a chorar.
- BATE NELE PRA ELE NUNCA MAIS ENCOSTAR EM VOCÊ.
Eu usei todas as forças que eu tinha e saí socando ele de tudo quanto era jeito, tentando achar algum ponto que ele não estivesse cobrindo. Chutei-o e consegui acertar suas pernas, ele se curvou levemente com dor e eu consegui socá-lo algumas vezes. Bati nele até não ter mais forças e cair no chão, cansada. Ele deitou ao meu lado ofegante. Depois que me acalmei, ele me estendeu a chave da porta. Peguei-a e saí dali o mais rápido que meu corpo permitiu.

Capítulo 15
Ignorance


Mas é claro que eu não iria contar a ninguém, e sabia disso. Afinal, eu não queria que ficasse sabendo que eu tomava remédios. estava certo, eu era fraca, e saber que eu era fraca ao ponto de ter que tomar anti-depressivos não ia me ajudar em nada.
Após uma noite de sono pesado, minha primeira aula era de Física. Eu estava ignorando com todos os meus esforços, mas percebia seus olhares pra mim.
- Me desculpa, – ele insistiu.
Me arrependi de ter chegado cinco minutos mais cedo na sala, vazia exceto por , que havia me seguido desde os armários.
Eu o ignorei, olhando firmemente para o quadro negro. Ele me cutucou.
Outro problema dessa aula é que era minha dupla, então ele estava próximo o bastante pra me encher o saco o quanto quisesse. Meus pedidos para troca de lugar não haviam surtido efeitos, pois os professores não entendiam meu motivo repentino, já que a diretoria não havia tomado conhecimento da briga. A escola inteira ainda comentava da briga, mas a diretoria parecia nem sonhar com ela. E se sabiam, não fizeram nada quanto a isso, o que eu achei um absurdo, apesar de estar feliz por não ter se ferrado.
- – ele me cutucou novamente. – Por favor, meu Arco-íris. Eu só estava tentando te proteger.
Olhei-o irritada. “Proteger?”
- É, – ele disse, aproveitando a brecha. – Eu só queria que você enxergasse o que estava fazendo.
- Ele gosta de mim, – eu disse devagar, olhando o quadro novamente.
- Eu sei disso – ele disse e olhei-o totalmente confusa. – Agora eu sei disso. Andamos conversando.
- Ah, que coisa linda – ironizei.
Ótimo saber que andaram conversando pelas minhas costas, zinho.
- Ele parece ser legal.
- Ele é.
- Desculpa mesmo por aquele dia. Eu não devia ter pegado tão pesado. Não deveria ter me metido – eu vi seus olhos marejarem por um instante.
- Tudo bem – eu disse, me encostando em seu ombro. – Você só estava tomando conta de mim. Como um irmão mais velho.
- Você é nojenta – ele reclamou.
- Por quê? – perguntei, me afastando um pouco.
- Você agarra seu próprio irmão? Isso é doentio – ele disse, fazendo cara séria.
Soquei seu braço.
- Cala boca – eu disse rindo.
- Você sabe que eu não posso viver sem você, não sabe? – ele perguntou e eu repousei minha cabeça em seu ombro novamente, sorrindo.
O sinal bateu e aos poucos a classe foi se enchendo.
Na aula de história, eu não encarei . Nem por um segundo. Mas ele não podia simplesmente me deixar em paz. Assim que o sinal de término bateu, ele largou um papel dobrado em cima de minha carteira a caminho da porta.
“Se você tiver coragem, mesmo horário e lugar hoje.”
Se eu tiver coragem. Ha, quem ele estava pensando que era?
Aproveitei meu horário vago para dar uma passada no texto da peça de teatro e fazer os trabalhos de química e aritmética.
Como Brooklie havia mudado de mesa desde segunda-feira – para a das patricinhas, o que era de se esperar - e eu não tinha mais problemas com , convidei e para se sentarem em nossa mesa. Quero dizer, aquela que dividia com , , e .
Achei que alguém iria protestar, mas logo roubou meu lugar ao lado de , me fazendo sentar entre e . E para minha maior surpresa, os dois estavam se dando bem. Quero dizer, e . Até cheguei a me sentir meio excluída.
E quando reclamei disso, os dois me confortaram. bagunçou meu cabelo – mas eu sei que a intenção foi boa – enquanto mordeu minha bochecha.
E claro, tudo isso só serviu para atiçar as más línguas no colégio. Mas eu não me deixei levar pelos comentários sobre como Brooklie estava acabada: sabia que ela só estava esperando, como um jacaré espera para dar o bote. E eu estaria pronta quando ela quisesse. Ou pelo menos eu esperava que sim.

Reuni toda a coragem que tinha, pois estava indo para aquela droga de sala de dança por puro despeito, e rodei a maçaneta, sentindo um leve tremor com o estalo que a porta ao ser aberta.
Fiquei aliviada ao me deparar com a escuridão que dominava a sala de espelhos vazia.
- E aí, Five Colours? – perguntou em meu ouvido. Eu gritei de susto. – Pronta pra mais uma?
Ele entrou atrás de mim e acendeu a luz.
- Escuta, eu tive um ensaio duro agora, e tenho muita lição de casa – me apressei a dizer. – Então, se você puder falar de uma vez o que você quer pra que eu possa ir embora...
- Corta essa – trancou a porta, guardando a chave no bolso.
Engoli em seco. Sabia que a tortura iria começar.
Então, por que mesmo eu estava ali? – Ah, é, eu não estava a fim de contar ao meu namorado sobre os remédios que tomava. Pra não ter que aprofundar mais alguns assuntos dos quais eu tentava fugir.
- Bom, vou perguntar só uma vez – ele disse, vestindo as mesmas luvas fofas que vi no dia anterior. – Você vai colaborar comigo ou vai ser na marra?
Soltei o ar pesadamente. “O que você quer afinal?”
- Vai colaborar? – ele insistiu.
- Que seja – respondi, mal-criada.
- Vai?
- Vou! – gritei irritada.
- Ótimo – ele disse com um sorrisinho. – Vamos começar pelo lado mais difícil. Vem cá – me puxando pela mão me colocou em frente ao espelho, permanecendo atrás de mim. – Olhe para si mesma. – Encarei meu reflexo, com suas mãos em meus ombros. – O que você vê?
- Eu... – me analisei. – Ah, dou pro gasto – brinquei.
Ele riu baixinho. “Sério, o que você realmente vê?”
- Uma garota bonitinha e problemática – confessei.
- Estamos evoluindo. Então, vamos pular as preliminares de psicólogo e ir direto ao que interessa. Quais são seus problemas?
- São meus – respondi mal-humorada.
- Você disse que ia colaborar, e tudo o que disser...
- Pode e será usado contra você – eu cortei, sarcasticamente.
- Não, vai ficar entre nós. Prometo.
- Mas por que exatamente precisamos falar disso? – questionei cansada.
- Porque você precisa desabafar com alguém, e eu sei que por mais que confie nos seus amigos, não vai contar nada a eles. Só quero te ajudar.
- E o que te leva a pensar que vou contar logo a você? – me encostei a ele, observando sua imagem refletida no espelho. Ele me encarou de volta através do mesmo.
- Porque estou disposto a ouvir – respondeu sério. – Estou tentando evitar que termine com você, porque ele realmente gosta de você. Talvez, se você for capaz de se virar sozinha, ele mude de idéia.
Respirei fundo. “Ótimo, por onde quer que eu comece?”
- Olhe para si mesma, somente para si – ele disse em um tom ameno. – Relaxe. No que você pensa quando começa a passar mal?
Minha imagem, eu podia dizer, não era das mais agradáveis ao pensar nisso. Senti um calafrio percorrer meu corpo e me encolhi.
- Fique calma – ele disse passando as mãos por meus braços, esquentando-os.
- Certo – encarei meu próprio rosto. – Eu... sinto um desespero... não sei explicar... É horrível.
- E quando você fica desesperada, o que você sente, com o corpo?
- Bem – isso era mais fácil. – Meu coração fica acelerado e começa a me faltar ar. E junto com a tontura vem o formigamento nas mãos. Conforme vai piorando o formigamento passa pelo meu rosto e eu começo a não sentir minhas pernas mais.
- Lembre-se de que o ar nunca falta. Ele sempre está ali, você só tem que se esforçar em puxá-lo.
- Mas é difícil – eu disse aflita.
- Mas o ar está ali, você nunca fica sem ele nos pulmões. Ele está ali, é sua cabeça que te faz pensar que não está. Você só precisa pensar nisso, que há bastante ar, ok? – eu concordei com a cabeça. – Agora vamos voltar mais um pouco. Você tem isso desde que aquele garoto te agarrou lá no dormitório?
Eu achei graça. “Não.”
Ele franziu a testa. “Então, há quanto tempo?”
- Desde quando morava no Brasil.
- E por que você tem isso? O que houve? – ele perguntou e eu senti uma certa preocupação em sua voz, o que incrivelmente me fez sentir grata por ele estar ali.
Agressão, assédio sexual, tentativa de estupro, seja lá o que eles colocaram naquelas drogas de fixas. Mas eu não contaria a ele. Cheguei a abrir a boca para tentar soltar essas palavras, mas a sensação daquele homem me tocando de novo me travou. Meus olhos marejaram e de repente estava difícil raciocinar. Difícil afastar aquelas malditas lembranças.
- Ok, se acalma – ele pediu, observando minha expressão atordoada.
- Por favor, eu não quero falar disso – choraminguei, me virando e me encolhendo contra seu peito.
Ele me abraçou forte. “Tudo bem, não vamos falar disso então”, ele concordou. “Que tal brigar?”, ele sugeriu após um minuto, se afastando de mim. “Venha, desconte sua raiva em mim.”
Eu ri com a sua tentativa de me fazer sentir melhor.
Eu podia estar longe das minha melhores amigas de anos – com as quais ultimamente eu não andara falando muito -, longe da minha família e do estilo de vida com o qual cresci, mas podia ter certeza de uma coisa: algumas pessoas por aqui se importavam comigo. Não só Lauren e a família. E logo , eu acabava de descobrir, também.
Me aproximei dele, que estava com as duas mãos erguidas em posição de defesa, e o abracei.
- Te adoro, – eu disse sorrindo.
Ele, que fora pego de surpresa, demorou um instante para me abraçar de volta. “Também te adoro, .”
- Agora, eu quero aprender a nocautear uma pessoa – eu disse me afastando e batendo palminhas empolgada. – Vamos, lá, professor, se prepare para apanhar.
- Você deve ser bipolar, dude – ele disse rindo.
- Não me chame de dude – eu reclamei, mesmo não achando realmente ruim. – Eu sou uma dama.
E soquei a mão dele.
- A Rainha Elizabeth sabe bater melhor do que você – ele provocou, arrumando a posição das minhas mãos. – Uma dama tem que ter postura. Corrija a sua. – Coloquei os ombros pra trás, sentindo uma leve dorzinha ao fazer isso. – Observe minhas pernas e faça o mesmo – arrumei minhas pernas conforme as dele. – Isso, agora você soca nas minhas mãos conforme eu contar até o três, ok? – assenti com a cabeça. – E um, dois...

- Caraca, foi no inferno e nem me chamou pra ir junto? – perguntou com sarcasmo quando apareci na porta do quarto.
Eu dei uma risadinha sem sal, ainda sentindo meu coração acelerado e estando levemente ofegante. E só porque além disso meu cabelo estava molhado de suor, não queria dizer que ela podia ficar tirando sarro de mim de graça. Quero dizer, se eu falasse que tinha sido o quem me deixou naquele estado ela não ia gostar nem um pouco.
- É sério que eles pegam tão pesado assim no teatro? – ela insistiu. – Porque esteve te procurando agora pouco, então ele não foi o culpado. Você não traiu ele, né?
Eu rolei os olhos.
- Estava na academia, sua besta – entrei no banheiro e fechei a porta.
Nada melhor do que tomar um banho quente depois de tudo isso e cair na cama. Capotar soa mais apropriado, eu acho.
Acordei tremendo de frio. Tudo à minha volta pareceu meio embaçado, até que eu me acostumasse com luz que entrava pela janela e meus pensamentos parassem de rodar assustadoramente. Um pesadelo terrível foi o que eu ganhei por dormir tão profundamente.
Minha mente voltou a rodar e meu estômago acompanhou de um modo insuportável. Com um impulso pulei da cama e corri a tempo de chegar à privada, abrindo seu tampo e despejando toda as minhas ex-refeições de ontem. Respirei fundo sentindo minha garganta queimar e me encostei à parede de azulejos. Alguma coisa estava errada comigo, isso era certo. Quero dizer, quantas vezes eu vomitei antes desde os meus dez anos pelo menos sem que o motivo fosse bebida alcoólica? Alguma coisa estava errada, eu podia sentir isso dentro de mim. Pensei que pudesse ser pelos meus “ataques”, mas agora eu estava bem. Um pouquinho zonza, é verdade, mas nada de falta de ar ou formigamentos.
- Você está bem? – apareceu a porta do banheiro esfregando os olhos.
- Preciso de um analgésico – eu disse com um sorriso de lado.
- Tem aí no armário, pode pegar – e saiu do banheiro.
Me levantei com um pouco de dificuldade e lavei minha boca. Peguei a cartela de analgésicos que achei coloquei em minha mochila no quarto, para se precisasse mais tarde, pois sabia que agora provavelmente não me adiantaria. Tontura não é dor de cabeça, mas não precisava saber disso.
Os únicos fatos incomuns naquela manhã foram chegar fazendo um toquinho divertido com quando entraram na sala e voltar a sentar ao meu lado na aula de matemática.
Ela deveria estar brava comigo, pois era amiga de Brooklie, certo? Pelo jeito não. Ela sentou ao meu lado e tentou puxar conversa como se nada tivesse acontecido. Mas eu não engoli tão fácil, principalmente quando ela me disse que estava cansada de Brooklie, que agora definitivamente havia se tornado insuportável. E que eu deveria tomar cuidado com ela.
Por que todo mundo fica dizendo isso pra mim? Brooklie era só uma adolescente metida e mimada. Eu não tinha medo dela.
E , eu não iria confiar tão fácil nela.
Certo, eu ia. Na verdade, eu já estava confiando. Tenho a péssima mania de na hora acreditar no que as pessoas falam, e só depois, quando repasso o assunto mentalmente, percebo se era mentira. Às vezes percebo.
Mas era mais astuto do que eu, fato.
Assim que na hora do intervalo sentei colocando minha bandeja sobre nossa mesa e dei um selinho nele, apareceu com um sorriso amarelo perguntado se podia sentar conosco. Todos – além de , que a olhava com brilho nos olhos e um sorriso – a encararam, pasmos.
“Pode”, respondi tranquila ao mesmo tempo em que dizia o contrario.
O olhei torto.
- Qual é, , você está falando sério? – ele perguntou, incrédulo.
- Qual o problema, ? – retruquei indignada. parecia a ponto de enterrar a cabeça no chão de tanta vergonha.
- Você não pensa? Ela é a melhor amiga da Patterson – ele me encarava duramente enquanto falava. Não sei por quê, mas gostei do fato de ele se referir a Brooklie agora pelo sobrenome. – Ela só pode estar querendo alguma coisa ruim.
- , eu sei que você pensa coisas ruins de mim – disse sem graça, com a cabeça baixa -, mas estou tão cansada dela quanto você. Por favor, não me faça sentar com as segundanistas de novo, lá é tão sem graça.
Isso era verdade. Não havia prestado muita atenção, mas era verdade que ela havia sentado na mesa onde Lauren costumava sentar ontem. Como eu pude não prestar atenção a isso? E se com Lauren sentanda naquela mesa – o que não estava essa semana, pois estava gripada e de molho em casa – imagine sem ela.
- Senta aí – eu disse a ela.
chegou para o lado dando espaço para que ela se sentasse entre mim e ele. Ele não era tão bobo quando queria.
bufou em contradição e durante o resto da refeição as coisas foram meio tensas.
- As pessoas merecem uma segunda chance – sussurrei para ele, aproveitando que distraía .
- Segunda chances nunca importam, as pessoas nunca mudam – sussurrou , sentada em frente a mim e com a cara amarrada.
Por sorte não escutou. Ou pelo menos fingiu que não.
Eu conhecia o trecho da música do Paramore que acabara de citar, mas tudo o que fiz foi lhe lançar um olhar de repreensão.
Passando pelo corredor com minha mochila nas costas e segurando minha mão, tudo que eu podia fazer era sorrir. Mas sorrir parecia ser a última coisa em que Brooklie estava pensando quando passou por nós, esbarrando em mim.
Já estava até me virando para puxar aqueles cabelos ruivos e arrancá-los sem piedade quando me deu um puxão, me abraçando pela cintura firmemente.
- Ignora – ele sussurrou em meu ouvido, me dando um beijo na bochecha em seguida.
Mesmo com a raiva borbulhando em meu corpo, não pude deixar de sentir um arrepio com aquilo.
Bom, eu fiz o que pediu. Ignorei Brooklie durante toda a aula de Educação Física. Descobri que ela havia se jogado pra cima do professor – musculoso, só pra constar – e tentou convencê-lo a me tirar da equipe. Mas o professor negou seu pedido. Segundo , ele simplesmente gostava de me ver com aquele shortinho e aquela saia, fazendo as acrobacias. Brooklie estava perdendo a posição de garota mais popular e desejada da escola e sabia disso.
Sua seguinte providência me fez esquecer o pedido de para que a ignorasse. Durante o almoço não cheguei a voltar para o quarto, o que estava me rendendo uma bela surpresa agora.
Se bem que bela certamente não descrevia aquela enorme pichação em vermelho vivo na porta do meu dormitório. “Vadia” era o que ela havia escrito.
Eu já estava na metade do caminho de volta a escola, pronta para achá-la na droga de aula que ela estivesse para sentar um bom murro na cara dela, quando me barrou.
- Onde você vai? – perguntou, me segurando pelos braços.
Estava tão furiosa que provavelmente havia sido minha expressão que me entregara.
- Matar a Brooklie – sibilei com as mãos fechadas em punho.
- Por que dessa vez? – ele perguntou tranquilamente.
- Ela pichou minha porta, com um enorme “vadia” escrito nela.
- E bater vai resolver? – ele ergueu as sobrancelhas.
- Se vai resolver, não sei, mas com certeza vai me fazer sentir melhor – então o olhei confusa. – E afinal, você me ensina a bater, não é?
- Pra se defender, é diferente – ele disse me puxando pelo braço de volta ao prédio feminino, sem se dar ao trabalho de verificar se algum funcionário poderia estar vendo. – E se você quer vingança, eu posso te ajudar.
- Como? – me interessei. Já que ele não me deixaria bater nela, pelo menos haveria justiça.
- Se você prometer me esperar quietinha no seu quarto, eu trago o necessário.
- Certo – concordei.
Ele me deixou na escada e saiu do prédio.
Aguardei ansiosamente sua volta, mal conseguindo me concentrar em meu livro, até a parte em que Suzannah começava a bater em outra pessoa.
Meus olhos brilharam quando adentrou o quarto tirando uma lata de spray da sacola que carregava, uma lata de tinta e verniz.
- Eu te adoro – agradeci com um sorriso maligno.
- Vamos fazer o seguinte então – ele disse, colocando as latas no chão. – Eu restauro a sua porta enquanto você decora o quarto dela. Mas temos que ser rápidos, falta pouquíssimo tempo até que esse corredor volte a ficar lotado.
Assenti com a cabeça, sentindo a adrenalina ganhar vida em minhas veias. Ele jogou a lata de spray na minha mão, mas antes que eu atravessasse a porta, ele me chamou.
- Não conte nada ao , não esqueça – e piscou para mim, me arrancando uma risadinha baixa.
Uma lata de spray que eu descobri ser preto ao testá-lo na porta de Brooklie. “lésbica” foi o que tratei de escrever ali. Eu sabia que ela não iria ficar só puta, mas sua fama iria se espalhar como fogo em palha. Além disso, ela tinha nojo; repugnância, como ela mesma descreveu uma vez. Eu nem ligaria, mas ela sim.
Mas as enormes letras em sua porta não me satisfizeram o bastante. Precisa de mais. Abri sua porta e sacudi a lata enquanto pensava no que escrever. Como minha mãe sempre me disse, eu era muito criativa, e não demorou muito para que suas paredes rosa tivessem as palavras “Invejosa, psicopata, demente, puta e lésbica. Essa sou eu” gravadas nelas. Talvez ela pudesse fazer uma música com isto. Me direcionei à porta ouvindo o soar do sino vindo lá de fora, alto como se fosse se viesse do corredor e apertei o spray direcionado para o carpete, só para um toque final antes de deixar aquele quarto. Com um último sorriso satisfeito fechei delicadamente a porta, voltando para a do meu quarto. , passava rápidas pinceladas por ela, tendo quase finalizado. Não havia mais sinais da vandalização que a coitada havia sofrido mais cedo.
- Obrigada – agradeci passando por ele e adentrando o quarto.
- Se divertiu? – ele perguntou. Assenti com a cabeça, o sorriso ainda em meu rosto. – Viu, dar vida à sua expressão artística é melhor do que partir para a violência.
Eu tive que rir alto dessa.
– Opa, começou – ele tirou a lata de tinta de frente da porta e entrou rápido, fechando a porta em seguida.
Ouvi os passos e as vozes começarem a dominar o corredor. levou a lata e o pincel para meu banheiro.
- Estou louca para ver a cara dela – eu disse ansiosa, me largando em minha cama macia.
- Amanhã eu envernizo a porta – ele disse voltando para o quarto.
Muitas risadas foram ouvidas pelo corredor.
- Acho que minha arte está sendo reconhecida – eu disse feliz.
Mais um minuto e um grito agudo me assustou. Alguns segundos depois, a porta do meu quarto estava sendo escancarada, revelando Brooklie e um bando de garotas se amarrotando pelo corredor. Com seu cabelo ruivo ligeiramente armado agora e a expressão furiosa, ela parecia mais do que nunca com um leão.
- Ao que devo esse incomodo? – perguntei cinicamente, levantando as sobrancelhas. Cruzei os braços atrás da cabeça, totalmente relaxada por ter conseguido o que queria.
- Como você ousou fazer isso? – ela gritou ensandecida.
- Estranho como os criminosos amadores sempre se confessam, não? – eu disse olhando para o teto. – Achei que seria falta de educação minha deixar de responder a seus recados.
Ela gruniu alguma coisa ininteligível, e correu para cima de mim. , que estivera parado próximo a porta do banheiro, a segurou na metade do caminho.
- Alguém tem um sedativo aí? – gritei para as meninas no corredor. – Encontrei o tal leão que fugiu do zoológico. Ou era do circo? – perguntei me virando para ela.
Brooklie se debatia nos braços de , tentado se soltar de qualquer forma.
- Ah, em falar nisso, amei a nova decoração do seu quarto – eu disse, dando uma piscadinha.
Ela ficou branca, literalmente. Por alguns segundos, parou de se debater nos braços de , para então voltar com toda força. O que não pareceu ter afetado , que a segurava sem hesitar.
apareceu na porta e entrou com dificuldade para passar pelas garotas apinhadas ali.
- O que está havendo? – ela perguntou com as mãos na cintura e a voz esganiçada. – Que porra é aquela dentro do nosso quarto?
- FOI ELA – Brooklie apontou para mim. Ela berrava, e eu estava começando a me assustar. Seu rosto estava vermelho de raiva. – , ELA ACABOU COM O NOSSO QUARTO!
- Você? – olhou para mim, franzindo a testa. – Valeu, eu também durmo lá, sabia?
- É só você trocar de quarto – eu disse dando de ombros. – Quero dizer, você com certeza estará em melhor companhia.
- , ACABA COM ELA, PELO AMOR DE DEUS – Brooklie continuava surtando nos braços de . Ele parecia estar começando a ter dificuldades em contê-la.
parou e analisou a situação por um instante.
- Certo, mantenha a calma, Broo. - Então se virou para a porta, onde as garotas curiosas disputavam lugar para assistir. - Quem aí tem uma cama sobrando no quarto?
Brooklie parou de respirar, isso era visível. Uma garota gritou lá nos fundos confirmando que tinha uma.
- Ok, vou pegar minhas coisas – se virou para Brooklie, que continuava sem respirar. A única indicação de que continuava viva eram as lágrimas de ódio escorrendo de seus olhos. – Tchauzinho, Broo – disse, dando um sorriso cínico para a garota e saindo do quarto em seguida.
- Gente, alguém chamou o diretor, ele está vindo! – uma garota gritou ao fundo.
Seguiu-se uma confusão em seguida, na qual conseguiu tirar Brooklie de meu quarto, enquanto ela continuava a se debater e as meninas se espalhavam, cada uma correndo para seu próprio quarto.
- , você pode se esconder aqui – eu gritei para ele.
entrou no quarto às pressas, ofegante.
- Meu Deus, o que houve? – ela perguntou desesperada.
voltou ao quarto e trancou a porta, se encostando ofegante a ela em seguida.
- Vai pro banheiro – eu disse, rindo da situação.
Os gritos escandalosos de Brooklie do outro lado da porta e as batidas fortes que ela dava me assustaram um pouco, mas não mais do que o grito de uma voz grossa que veio em seguida.
- O que está havendo aqui? – reconheci a voz do diretor esbravejando no corredor. – Senhorita Patterson, o que acha que está fazendo?
- AQUELA VACA ACABOU COM O MEU QUARTO – ela gritou.
Eu arregalei os olhos para , que me encarava boquiaberta.
- Já para a minha sala! – ele disse firme.
Prendi a respiração.
- Mas ela... – ouvi sua voz desesperada.
- Não me faça repetir, senhorita! Para minha sala agora.
Ouvi ela grunir de ódio antes de sair batendo o pé pelo corredor.
Alguns segundos depois novas batidas foram ouvidas na porta.
- Senhoritas, podem abrir a porta? – pediu a voz do diretor.
Okay, respire.
- O que eu faço? – sibilou desesperada.
Respirei fundo e esfreguei as mãos em meus olhos, provando lágrimas e adquiri uma expressão chorosa.
- Abre – sibilei de volta.
Arranhei de leve minhas bochechas antes que ela abrisse a porta. Essa é a vantagem de se ficar vermelha fácil. Baixei a cabeça e apoiei os braços no joelho.
- , está tudo bem? – o diretor perguntou preocupado, adentrando o quarto.
Balancei a cabeça negativamente, forçando os olhos até que as lágrimas começassem a cair.
- O que houve? – ele perguntou, provavelmente para .
- Aquela maluca da Brooklie veio aqui e começou a gritar com ela – disse .
- Por quê?
Levantei a cabeça, mostrando meu rosto choroso.
- Ela chegou aqui gritando e me acusando de ser a responsável pelo que fizeram no quarto dela – eu disse, dando um belo soluço em seguida. – Eu não entendo, nós éramos amigas, mas ela tem me tratado tão mal nos últimos dias! E agora – outro soluço - isso. Não entendo o que houve!
- Certo, se acalme – ele pediu, se aproximando de mim e sentando ao meu lado na cama. – Vou fazer o possível por você, querida.
- Eu, eu estou ficando com medo dela – eu disse, deixando novas lágrimas escorrerem por meu rosto. – Não consigo entender tudo isso, é confuso demais pra mim. As pessoas no Brasil não eram assim.
- Ok, moça, se acalme – ele tornou a pedir. – Vou dar a ela uma suspensão. Se isso não resolver, quero que me procure imediatamente, entendido?
Assenti com a cabeça. “Obrigada, senhor”, disse com a voz chorosa, dando um sorrisinho triste. “É muito bom ter o apoio de alguém por aqui.”
Ele passou a mão por meu rosto, enxugando uma lágrima.
- Certo – ele disse, ligeiramente desconfortável. – Melhor eu ir logo – se dirigiu a : – Cuide dela, por favor.
- Claro – ela concordou, tomando seu lugar ao meu lado na cama.
Só bastou que ouvisse o som da porta se fechando para aparecer na porta do banheiro.
- Será que alguém agora me explicar alguma coisa, porra! – exigiu , estressada.
Eu ri, desmanchando totalmente minha cara de choro.

Capítulo 16
Misery Business


- Bom, só para comunicar, Brooklie está expulsa do nosso grupo, ela não é mais uma líder de torcida – comunicou com um sorriso presunçoso no vestiário, enquanto arrumávamos o uniforme.
- Foi expulsa? – perguntei, quando a maioria das meninas já tinha se retirado do vestiário.
- É, parece que o diretor quer cortar qualquer tipo de contato que vocês possam ter – ela contou, e eu passei pela porta logo atrás dela. – E me perguntou quem eu preferia na equipe. Chegou a ficar surpreso quando te escolhi.
- Ela é melhor do que eu nos movimentos, não entendo por que fez isso – eu disse, confusa.
- Mas você se dá melhor no trabalho em equipe, pra começar – ela puxou o rabo de cavalo, apertando-o. – Ela roubou meu posto de chefe das líderes de torcida no meio do ano passado, é claro que não iria deixar isso acontecer de novo.
Ergui as sobrancelhas, surpresa “Vocês não eram melhores amigas?”
- Brooklie só é amiga de si mesma – ela disse, então se dirigiu a todas que tagarelavam no meio da quadra: – Ok garotas, alongando!

Mesmo toda suada e sentindo meus músculos começarem a reclamar, fui até a sala de espelhos do prédio masculino, sabendo que precisaria sair de lá em uma cadeira de rodas.
- está puto com você – me avisou assim que fechei a porta.
- Ah, legal, ele já está sabendo – respondi, infeliz.
- E tem alguém na escola que não está? – ele ergueu as sobrancelhas. Eu ri, sem-graça. – Por onde quer começar hoje?
- Não podemos sair e tomar um refresco? – pedi com carinha de cachorro sem dono. – Tive um dia difícil.
Ele sorriu. “Está bem”, concordou, se levantando do espelho onde estava encostado e vindo em direção à porta.
Mal pude acreditar quando ele segurou a porta para que eu passasse, mas não me atrevi a questionar.
E minha felicidade durou pouco, pois a cara de ao parar na minha frente quando já estávamos próximos ao portão me assustou.
- Onde você pensa que vai? – ele questionou, autoritário.
Eu franzi a testa. “Por que você está falando comigo desse jeito?”
- Você chegou a pensar em me procurar? – ele continuou, ignorando meu protesto. – Isso chegou a passar pela sua cabeça, ou você estava ocupada demais com seus lindos movimentos na quadra? – ele ironizou na última parte.
- Quando eu voltasse...
- Ah, claro, eu aqui, o otário aqui se matando de preocupação e você ia me procurar quando voltasse? – ele estava realmente bravo, e meu orgulho estava começando a afetar meu humor. – Por que não me ligou pelo menos?
- , eu não tenho celular – me justifiquei, com a voz um pouco alterada.
- Podia ter pego o do – ele sugeriu.
- Não gosto de ficar pedindo nada – cruzei os braços na frente do corpo.
Ele me observou um minuto, até que sua cara de bravo se desfez.
- Pode ir, – ele disse, então voltou a mim. – Vem cá, pequena.
E me abraçou. Fiquei confusa por um instante, mas o efeito de seu perfume e o calor de seu corpo tão próximo a mim me derreteu, me fazendo envolver os braços a sua volta também.
- Desculpe – ele sussurrou contra meu cabelo.
- Tudo bem – eu disse, sentindo seu peito firme contra minha bochecha. – Te amo.
- Também te amo, pequena – ele segurou as laterais de meu rosto e me deu um beijo na testa. – Aonde você quer ir? – dei de ombros. – Quer aproveitar e jantar comigo? – ele pediu com um sorrisinho, segurando minhas mãos.
- Humm – fiz uma cara de pensativa. – Quero – respondi, sorrindo.
Ele abriu mais o sorriso e me deu um selinho.
- Vou pegar a moto, troque de roupa enquanto isso.
Assenti e fiz o que ele pediu. Afinal, minha saia de líder de torcida não era a coisa mais recomendada para ir jantar, ainda mais se o transporte for uma moto que me dá a impressão de estar a ponto de voar.
Dentro de quinze minutos, estávamos adentrando uma ampla e fria garagem.
- Shopping? – perguntei, confusa, quando as portas do elevador em que entramos se abriu novamente para o grande complexo de lojas.
- Que foi? Achei que você gostasse disso – ele passou as mãos por cima de meus ombros, caminhando ao meu lado.
Ele ainda não devia ter percebido o brilho nos meus olhos, mas eu sabia que eles estava lá. O brilho, quero dizer. Aquilo não era um shopping, ah não, aquilo era uma insanidade. Se isso era um shopping, o que era aqueles lugares por onde eu tanto andava no Brasil? Galerias?
Eram tantas lojas que me senti zonza por um instante. Por dois, por três... segurou firmemente meu corpo.
- , o que foi? – ele perguntou.
Respirei fundo, voltando a sustentar meu próprio peso aos poucos.
- Nada, só uma tontura – dei um sorrisinho triste. – Já estou bem.
Ele me observou pelo canto dos olhos, suspeitando, enquanto eu o puxava em direção a loja mais próxima que vi.
- Vai me dizer que você gostou disso? – questionou com uma careta, observando a mesma vitrine que eu.
Um vestido de estampa florida bege e verde estava exposto em uma das manequins.
- O dia que eu vestir uma coisa dessas vai ser o mesmo em que darei um tiro na minha testa – sentenciei puxando ele para prosseguir pelo corredor. – Mas por que afinal viemos para cá?
- Bom, ainda está um pouco cedo para jantar, então por que não dar uma volta com a minha linda namorada? – ele ergueu as sobrancelhas, me deixando sem graça. – E acho que estou te devendo roupas novas.
- , odeio que paguem as coisas para mim – eu disse com uma careta.
- Encare como um reembolso.
- Sério, , isso realmente me incomoda – segurei suas duas mãos ficando de frente para ele, e de costas para o caminho que seguíamos enquanto andávamos. – Você não devia se preocupar com isso.
- Quero ver minha namorada bem vestida pra poder exibir ela, pode ser então? – podia ver naqueles olhos que ele não desistiria tão fácil. – Você não pode negar que seu guarda-roupa deve estar meio escasso para o inverno que está chegando.
- Tá bom – concordei a contra gosto. – Mas não se acostume a gastar comigo! Odeio isso.
- Bom, dinheiro é uma coisa que não vai me fazer falta tão cedo, então, relaxe – ele me deu um selinho.
Me virei novamente para nosso caminho, mantendo apenas uma mão entrelaçada a dele.
Achei que iria se encher disso rapidinho, mas até que ele aguentou bem. Por sorte, na maioria das lojas que passamos até que eu fui bem rápida, considerando o tempo que geralmente levo para escolher uma peça de roupa. Digamos que o interesse das vendedoras em serem úteis ajudou bastante nisso.
- Ok, , já são nove horas, podemos comer agora? Estou faminta – pedi, andando ao seu lado com mais uma sacola na mão.
- Ainda falta uma coisa – ele disse com um sorriso que eu não entendi.
- , já cheguei a comprar sapatos, você tá pior do que um amigo gay! – protestei, sentindo o cansaço me incomodar novamente. Eu amo fazer compras, certo, mas já estava bom por hoje. – O que mais você quer? - ele indicou com a cabeça, e eu olhei na direção. – Ha, nem pensar! – protestei totalmente incrédula. – Não vou entrar aí! Garotas não compram lingeries junto com os namorados!
- Eu sei – respondeu tranquilo. - Por isso eu espero aqui fora.
Ele sentou no banco pelo qual passávamos.
- Você está falando sério?
- Aham, pode deixar isso aqui – ele tirou a sacola que eu levava de minha mão. – Quando terminar, é só me chamar. Pode demorar o quanto quiser aí – eu o fuzilei com o olhar. – Se você não for lá escolher, eu compro e depois te entrego, você decide.
Bati o pé e me virei para a loja, respirando fundo para tomar coragem. “Certo”, disse para mim mesma, “eu posso fazer isso.”
- Amor – me chamou. Eu estava crente que ele iria dizer que era brincadeira, que eu não teria que comprar nada, mas ele logo cortou minha alegria: - Não tenha vergonha de ousar.
Minha boca deve ter ido parar no chão, de tão absurdo que era aquilo. Demorei um instante para me recuperar novamente. Dei uma bela fuzilada em antes de voltar a caminhar em direção a loja. “Te amo”, ouvi-o dizer antes de entrar, me fazendo dar um sorrisinho involuntário.
Parei para observar alguns dos sutiãs ali pendurados e uma jovem vendedora não perdeu tempo em vir me rondar.
- Precisa de ajuda? – ela ofereceu com aquele sorrisinho simpático que é paga para dar.
- Ahn, meu namorado me obrigou a vir aqui – eu disse, louca para me livrar disso logo. – Será que tem alguma coisa do meu tamanho? Não sei direito o que escolher...
- Deixe ela comigo, Megan – uma outra vendedora me cortou. Eu nem tinha me dado conta de que alguém mais estava me escutando. – Pode ir – insistiu ela para a vendedora mais jovem, que fechou a cara ao se afastar.
Com um cabelo até os ombros e só um pouco gordinha na barriga, a mulher aparentava menos de quarenta e até era atraente. Mas não entendi o porquê da repentina intromissão.
- Eu sei do que você precisa, querida – ela disse com um sorriso carinhoso. – Por aqui – ela me guiou pela loja, parando em alguns pontos e pegando algumas peças. – Primeira vez que você faz isso sozinha? – ela perguntou inocentemente.
- Aham - me senti extremamente desconfortável, como se fosse uma criança.
- E onde está o seu namorado? – ela colocou outro par de lingeries em meus braços.
- Lá fora – respondi olhando para o chão.
- Espere um instante – ela se afastou até a porta da loja, dando meia-volta e passando por mim, fazendo sinal para que a seguisse mais fundo na loja. – O que você acha desse? – ela perguntou me mostrando um conjunto de espartilho, calcinha e uma rendinha para a perna. Arregalei meus olhos para ela. – É, algumas fazem isso quando eu mostro, mas todas sempre voltam para comprar outro. O seu namorado é aquele sentado no banco, não é? – assenti com a cabeça, observando os detalhes em fita no espartilho preto e vermelho. – E o que ele diria disso?
Minhas bochechas esquentaram. “Acho que uou” disse, pensando em sua reação.
Ela colocou na frente do meu corpo, medindo. Olhei para os lados, querendo me enfiar dentro de um buraco negro.
- Relaxe querida, não tem ninguém olhando – ela parou de medir o espartilho e o colocou na pilha em minhas mãos. – Ele serve. Acho que está bom por hoje, não é? – assenti silenciosamente com a cabeça. – Espere, não esqueça os assessórios – ela deu um sorrisinho e o resto em cima da pilha.
- Na verdade, eu não preciso disso – apontei para a rendinha no topo da pilha. Ela franziu a testa. – Sério, eu já tenho – murmurei baixinho.
- Certo – me arrependi logo em seguida, quando ela trocou a rendinha por algo longo, fino e preto. Meus olhos se arregalaram. – Ah, esse é melhor do que o outro – ela levantou as sobrancelhas. Claro, por que eu tinha que ter aberto minha boca grande? Agora eu tinha um logo chicote na mãos, que lindo. – Pode me dar isso aqui agora, querida, vou mandar embalar pra você.
- Ok, vou chamar meu namorado – sai de lá com a cabeça baixa, e meus olhos arderam de ódio assim que os pus em . – Será que podemos ir embora?
- Você escolheu alguma coisa? – ele perguntou com um sorrisinho.
- A vendedora escolheu pra mim – eu disse cruzando os braços. – E estou com medo daquilo.
- Vamos, , não pode ser tão ruim.
- Ah, pode sim.
- Então quer dizer que provavelmente eu vou gostar, certo? – ele perguntou com aquele sorrisinho safado no rosto. – Me espere aqui – ele se levantou e me deu um selinho e, sem nem me dar tempo para protestar, entrou na loja, só saindo de lá novamente com uma sacola nas mãos.
- Só me diz que pelo menos você não olhou – perguntei, suplicando por dentro.
- Não, não olhei amor – ele pegou as outras sacolas no banco. – Agora sim, vamos comer.
- Finalmente! – comemorei, caminhando ao seu lado.
Jantamos tranquilamente em um dos restaurantes da praça de alimentação, e que não deixou absolutamente nada a desejar.
- Quer algum doce? – ele perguntou enquanto atravessávamos a praça de alimentação.
- Ah, não sei... – olhei a minha volta, dando uma rápida olhada nas opções. Um forte cheiro de cappuccino ou alguma coisa parecida chegou em meu nariz, vinda provavelmente da Starbucks. Aquilo embrulhou meu estômago violentamente. – Deus, vamos sair daqui, que terrível! – puxei apressada para longe dali, tentando com todas as minhas forças não vomitar.
- O que foi? – ele perguntou confuso.
Mas já era tarde, aquele cheiro havia me detonado. Uma placa logo a frente indicava um banheiro há alguns metros. Corri pelo corredor deixando para trás, e entrei apressada no banheiro, empurrando umas duas mulheres que ficaram em meu caminho. Novamente aquela sensação de queimação tomou conta de minha garganta, e eu vomitei pela segunda vez naquele dia.
- Meu Deus, o que houve, ? – perguntou desesperado, me atacando assim que sai do banheiro feminino.
- Um cheiro horrível de cappuccino – eu disse com uma careta.
Ele me olhou, suspeito. “Você adora cappuccino.”
O estranho é que isso era verdade. “Mesmo assim... fiquei um pouco enjoada.”
- Vou marcar uma consulta pra você – ele sentenciou.
- , eu estou bem – protestei.
- Não, você não está – ele me olhou sério e eu não conseguia acompanhar direito o que ele dizia, pois já havia me perdido naqueles olhos .
- Acho que é só o cansaço – cortei-o no que quer que ele ainda estivesse falando. – Podemos voltar para escola? Tô morrendo de sono.
Ele bufou. “Vamos.”

- me chamou na porta do meu quarto.
- Acho que já está tudo pronto – disse a mim, fechando sua mochila. – Até segunda, – ela acenou e saiu do quarto.
- Entra, – eu convidei tacando o resto de roupa embolada dentro da mochila, já que eu sempre deixava para arrumar tudo no último minuto nas sextas nunca dava tempo de dobrar. – Você viu se Rachel já chegou? – ele franziu a testa. – A mãe da Lauren.
- Ah, acho que não – ele disse entrando no quarto e me abraçando pelas costas. – É... pra você – ele estendeu um celular a minha frente.
- Ah, – me virei para ele emburrada. – Obrigada, mas você sabe que não posso aceitar.
- Qual é, – ele reclamou me abraçando de frente agora. – Você precisa de um e sabe disso.
- Já não bastaram as roupas ontem? – reclamei incomodada. – Pagar um jantar é uma coisa, , isto já está passando dos limites.
- Prometo que é a última coisa – ele tentou me dar um selinho e eu virei o rosto. Mesmo assim ele me deu um beijo na bochecha. – Por favor, preciso ter contato com você. E além disso, o fato de seu celular ter se explodido foi culpa minha, assim como suas roupas.
- Eu posso muito bem pedir um novo para minha mãe, não sou tão pobre quanto você pensa – é, aquilo me irritava.
- Eu sei que não é – ele me olhou sério. – Mas gosto de manter contato com você, saber que está bem, e até sua mãe te mandar o dinheiro e você comprar um novo...
Bufei impaciente. “Me dá isso aqui, vai.” Arranquei o celular de sua mão e o liguei. Tela grande e ricamente colorida, mostrando uma foto que me derreteu por dentro. O idiota tinha me vencido. Era uma foto nossa. Mas não qualquer uma: era aquela que tinha tirado quando nos conhecemos, quando dormimos – literalmente – juntos. No papel de parede ele estava em um sono profundo ao meu lado, com uma expressão tranquila, quase como feliz. Muito parecida comigo, na verdade.
- Awn, te amo, ! – dei um selinho nele, e isso logo virou um beijo.

Capítulo 17
We’re broken


E naquele fim de semana, quando finalmente achei que iria ter um pouco de descanso e poderia passar um tempo de qualidade com a minha “família britânica”, meu celular tocou pela terceira vez naquele sábado. Não era ou , como mais cedo. Em plena cinco horas da tarde de um nublado sábado, descobri ser quem me ligava.
- Coloca uma camiseta e um casaco por cima, vou passar aí em vinte minutos – ele disse e eu demorei uns segundos para assimilar.
Abaixei a TV e empurrei a cabeça de Lauren de meu colo para poder me levantar.
- Você não consegue me deixar em paz nem no fim de semana? – perguntei irritada. – Qual é, , segunda-feira a gente...
- É mais casual irmos no fim de semana – ele me cortou. Eu bufei. – Vou passar aí, não me faça tocar a campainha quando chegar.
- Eu não vou... – mas ele já havia desligado. –... sair – completei para o nada.
- Vamos sair para jantar hoje – avisou Lauren, se sentando no sofá. – Se for sair, não demore. Vamos sair oito horas.
- Tá bom, maninha - murmurei subindo vagarosamente as escadas.
- Aproveita e traz um lenço pra mim quando descer – ela pediu.
Eu começara a chamar Lauren assim desde que ela me abraçara ontem, dizendo que estava morrendo de saudades da irmã – no caso, eu era a irmã. Definitivamente pessoas doentes ficavam mais carentes. E nojentas, pois, apesar de ela já estar melhorando, ainda não parava de assuar o nariz.
Já eu, não vomitava desde quinta, e isso era realmente bom.
Peguei uma babylook qualquer preta e um dos meus novos agasalhos. Calça jeans e os cabelos presos em um rabo de cavalo alto que deixava algumas mechas aparecendo nas laterais da cabeça. Ouvi uma buzina e olhei rápido pela janela, vendo que me esperava lá embaixo em um carro prata. Sai pelos corredores pulando em um pé só tentando calçar os All Star pelo caminho e jogando o lenço que Lauren tinha pedido ao seu lado no sofá.
- Casual o bastante para você? – perguntei abrindo a porta do carona e entrando.
- Entra logo – ele me apressou.
deve sentir certo prazer em me irritar, não é possível.
- Que foi, a te deixou na mão e você veio descontar em mim? – retruquei, batendo a porta.
Bater a porta do impecável carro dele pareceu ter surtido efeito quanto a irritá-lo.
- Não, vamos sair mais tarde – ele arrancou o carro de uma vez na ruazinha tranquila.
- Onde afinal estamos indo? – perguntei depois de alguns minutos.
- Você vai ver – ele disse com um sorrisinho de lado.
Isso me assustou um pouco, admito.
- Qual é o problema que as pessoas têm em me dizer onde estamos indo? – reclamei em voz alta cruzando os braços e afundando no banco.
Ele ligou o rádio, passando as estações até parar em “Misery”, do Good Charlotte. Paramos em um sinal fechado e ele cantarolava e batucava no volante conforme a música. Mas não como eu, ou a maioria das pessoas fazia, eu reparei. Ele tinha ritmo na batucadas.
- Você toca bateria? – perguntei quando o sinal abriu e ele fez o carro voltar a andar.
- Toco – ele respondeu olhando para os carros à frente. – Por quê?
- Nada – murmurei me virando para a janela.
O resto do caminho foi acompanhado apenas pelas músicas que continuavam a tocar na rádio. Ele estacionou o carro e eu o segui pela calçada até ele parar em frente a um lugar mal cuidado de paredes cinzentas manchadas e portas de ferro.
- Segure minha mão – ele pediu, eu o olhei confusa. – Anda, segura – eu fiz o que ele pediu e ele entrelaçou nossos dedos. – Pra qualquer efeito você é minha namorada. E ignore se mexerem com você, certo?
Concordei com a cabeça.
Ele adentrou o lugar e uma barulheira vinda de algum lugar lá dentro era alta devido aos ecos nas paredes. Eu conseguia discernir alguns xingamentos e frases conforme nos aproximávamos mais do balcão, mas havia algum som que eu não conseguia identificar. As paredes estavam lotadas de armas, me fazendo encolher ligeiramente.
- Namorada? – um homem com a barba branco-acinzentada malfeita e uma barriga estufada para frente nada bonito perguntou ao .
- Pois é – ele disse parecendo descontraído, passando o braço por cima de meus ombros. – Achei que estava na hora dela aprender algumas coisas.
- Ela parece meio jovem para entrar aqui – ele lustrava uma arma com um pano e eu tentei não parecer assustada com o tamanho dela. – Está com os documentos aí?
Claro, todo mundo sempre me achava com cara de pré-adolescente. Realmente ter cara de mais jovem ajuda, mas quando você é mais velha... Nesses casos só me causava o constrangimento de sempre ter que mostrar a porra dos documentos. E é por isso que, como sempre, eu estava com eles em meu bolso.
- Ah, qual é – disse persuasivo para o homem me fazendo parar com a mão na metade do caminho para o bolso – desde quando você pede documentos?
O cara respirou fundo, largando a arma em cima do balcão de vidro. “Certo, podem entrar” ele disse parecendo de repente de bom humor.
- Duas horas – o disse fazendo sinal de dois com os dedos e me puxando para os fundos da loja. Uma porta estava aberta ali, entre algumas estantes – É por isso que está essa barulheira, algum idiota deixou a porta aberta – ele comentou.
Ele fechou a porta atrás de nós e passamos por um corredor mal iluminado, os barulhos se tornando cada vez mais altos. Somente quando adentramos um amplo espaço eu descobri o que era aquele som que não tinha conseguido identificar. Tiros.
Ali estava lotado de gente – a maioria homens – gritando para serem ouvidos devido aos grandes tampões nos ouvidos ou simplesmente xingando alto para descontar a raiva. Alguns poucos estavam encostados nas paredes esperando sua vez, eu acho; todos os outros estavam posicionados em suas cabines, atirando nos alvos no lado oposto na parede.
logo providenciou tampões para nós com um dos caras que estavam encostados na parede, me aliviando consideravelmente daquele barulho. me passou um par de luvas pretas de couro, enquanto ele mesmo vestia as suas. Ele me levou até mais adiante e uma das últimas cabines estava vazia. Ele pegou uma arma e dispensou o cara que nos acompanhava.
Eu cruzei os braços e fiquei encarando , esperando uma resposta.
Ele se aproximou e puxou um dos meus tampões, para que pudesse escutá-lo direito. “Atirar é mais eficiente do que bater.”
Eu puxei um dos lados do seu tampão para que ele também pudesse me escutar. “Isso é mesmo necessário?”
Ele assentiu com a cabeça. “Você vai acabar achando divertido.”


Eu estava em meu tranquilo e preguiçoso sono de domingo, sonhando que caminhava com ao meu lado, que carregava uma linda criança em cima dos ombros, que ria de felicidade.
Mas claro, a sociedade de hoje em dia não dá mais valor a pequenos momentos felizes como esses, mesmo que fosse um sonho. E nem respeitam coisas sagradas como meu sono de domingo.
Despertei contra minha vontade com o irritante toque do meu celular, o qual eu ainda não havia conseguido trocar, e que parecia furar meus tímpanos de tão estridente.
Estiquei minha mão e tateei pela cabeceira a procura do celular.
- Alô – atendi grogue.
- Vou te buscar mais cedo hoje – eu demorei para assimilar o que a voz falava.
- , eu tô dormindo – eu disse tolamente.
- Que horas você prefere? Depois do almoço, claro – ele ignorou o fato de que eu estava dormindo.
- Qualquer hora depois que eu acordar – respondi mal-humorada.
- Ótimo, duas horas eu passo aí – ele não se deixou abalar por estar me ligando tão cedo de jeito nenhum.
- Sério, , eu te odeio – reclamei.
- Duas horas, não esquece, ou te arrasto da cama porta afora – ele ameaçou e desligou.
- Vai se ferrar – retruquei para a linha muda.
Deixei o celular ao meu lado mesmo e me ajeitei na cama.
E eu já estava quase caindo no sono de novo quando meu celular voltou a tocar. Aquela maldita musiquinha me enlouquecendo novamente.
- Que droga, me dá um descanso! – reclamei praticamente gritando assim que atendi, deixando a raiva por estar sendo acordada de novo fluir.
- Foi mal, não achei que estivesse sendo tão pegajoso – a voz de do outro lado da linha me fez sentir como se uma faca estivesse me cortando por tê-lo deixado tão sem jeito sem motivo.
- Não, amor – me apressei a desculpar –, achei que fosse outra pessoa, desculpe.
- Ah... devo ter te acordado né? – ele ainda estava sem jeito. - Desculpa, eu...
- Não, não, tudo bem querido – eu o cortei. – Você não me acordou, ainda não tinha voltado a dormir, pode falar.
- Ah... estava pensando em fazer alguma coisa... Sabe, domingos podem ser extremamente entediantes sem você.
Eu dei uma risadinha, sorrindo.
- Tudo bem, o que você quer fazer? – afastei as cobertas e me sentei na cama. A cama de Lauren estava vazia, mas ainda bagunçada. Eu não me acostumava com a ideia de outra adolescente acordar antes das onze em um domingo.
- Não sei... Podemos assistir a um filme, passear, ir ao cinema, patinar... Você decide.
- Patinar – vibrei animada. – Que horas?
- Posso passar umas cinco horas pra te pegar.
- Sete horas – corrigi, lembrando-me de .
- Ok... O que vai fazer à tarde? – perguntou descontraído.
- Passar algum tempo com Lauren – menti descaradamente. Como eu poderia falar: Ah , vou sair com o seu melhor amigo, atirar um pouco... Sabe como é, já que estamos sob ameaça de morte repentina, é bom me prevenir como puder.
- Eba! – Lauren entrou no quarto com o cabelo bagunçado e seu pijama de moletom.
- Eba o quê? – perguntei tampando o celular.
- Você vai ficar um pouco comigo – ela disse com um sorrisinho feliz.
Ah, ótimo. Eu precisava de mais uma para enrolar agora.
- Ela já melhorou? – perguntou.
- Ah, é, está quase boa – respondi fazendo sinal para que Lauren saísse do quarto. Ela emburrou a cara e saiu. – Como está indo no futebol? – mudei de assunto.

- Para onde vamos mana? – Lauren perguntou animada quando desci para a cozinha, desistindo de dormir até o meio-dia.
- Lugar nenhum – respondi enchendo um copo de leite.
- Mas você disse a que ia sair comigo – me virei para ela que estava encostada na bancada fazendo uma carinha de cachorro sem dono. – Estou enfiada em casa há uma semana!
- Primeiro: Essa carinha de coitada você aprendeu comigo, não venha usar contra mim – alertei e ela emburrou a cara, toda bravinha. – Segundo: Nós saímos para jantar ontem.
- Mas sair com a família não conta!- ela reclamou parecendo indignada.
- Ahá! – apontei para ela. – Se eu sou irmã, sou da família, então você se ferrou.
- Mas ...
- Hoje não dá amore – peguei biscoitos dentro do pote em cima da bancada onde estava comendo. – Outro dia, pode ser?
Ela revirou os olhos. “Pode né. Mas por que não dá? Você não vai sair com o e pelo jeito está mentindo para ele” Ela me observou atenta.
Engasguei um pouco com o leite. “Não estou mentindo pra ninguém” me apressei a dizer.
Ela me olhou desconfiada. “Você está, sim.”
- Não estou – insisti mesmo sabendo que era inútil.
- Ah, você está – ela veio para perto de mim, apoiando as mãos na bancada e me olhando de um modo penetrante. – Pode ir contando.
- Bom dia, querida – para meu alívio Lauren se afastou assim que a mãe entrou na cozinha. – Caiu da cama?
- Não mãe, agora ela é pop – respondeu Lauren antes de mim. Eu fiz cara feia pra ela. – Recebe ligações logo pela manhã.
- Estranho, nem ouvi o telefone da sala tocar – ela abriu a geladeira e começou a vasculhá-la.
- Foi meu celular – respondi sem pensar.
- Achei que ele tivesse sido roubado semana passada – Rachel espiou por cima da porta da geladeira. – Conseguiu recuperá-lo?
É claro que ela sabia que eu não tinha dinheiro para comprar um, pois em geral era ela quem pegava o dinheiro que minha mãe depositava no banco – mesmo sendo a minha conta. Mas Lauren foi mais rápida do que a minha capacidade de inventar uma desculpa.
- Foi presente do namorado dela.
Sorri sem graça, desviando o olhar para meu copo de leite, mesmo sabendo que Rachel ainda me observava.
- Namorado? – ela perguntou. – Você já tem um namorado e nem me contou?
- É que não faz muito tempo – eu disse sem graça olhando timidamente para ela.
Rachel fechou a porta da geladeira e me encarou com uma mão na cintura. “Não faz muito tempo, mas ele já te deu um celular?”
Isso porque ela não viu as roupas, pensei.
- Nós nos apegamos meio rápido – eu disse com um meio sorriso.
- Sei – ela respondeu desconfiada voltando a abrir a geladeira. Mas meu alivio não durou. – Quero conhecê-lo.
Olhei feio para Lauren e sinalizei um corte em meu pescoço, transmitindo a mensagem de que iria matá-la assim que pudesse.
Ela deu de ombros para mim. “Da próxima vez você sai comigo” ela deu um sorrisinho saindo da cozinha, me deixando pasma.

Às duas horas estava esperando , já posicionada atrás do sofá da sala para ficar mais próxima da porta assim que ouvisse a buzina. Se eu fosse rápida pouparia explicações e mentiras desastrosas sobre onde ia e com quem. Eu ri ao comparar a situação com alguém que tem um amante, isso era ridículo.
Logo ouvi a buzina soar lá fora e sai rápido para a porta, mandando beijos no ar para a agora indignada Lauren perguntando aos gritos onde eu estava indo. Minha resposta foi o cantar de pneus do carro de assim que adentrei o veículo. Qual é, Lauren não podia só ter calado a boca hoje? Malditas segundanistas.
Quando adentramos novamente aquele lugar malcuidado e cheio de armas nas paredes, disse que não sabia quanto tempo passaríamos ali e o cara apenas assentiu com a cabeça. Mais uma vez, ele me ensinou os melhores jeitos para atirar. Conforme eu ia pegando o jeito, ia conseguindo acertar com mais frequência o alvo que queria.
- Dá próxima vez, vamos ao paintball, para você tentar fazer isso em movimento – ele avisou, passando o braço por meus ombros enquanto saíamos dali. Eu sorri com a ideia.
- Vai ser divertido – eu disse entrando no carro e observando ele dar ré para sair da vaga.

Já eram seis horas quando cheguei em casa e eu precisava urgentemente de um banho antes de começar a me arrumar.
Mas assim que saí do meu relaxante banho quente para o quarto lá estava Lauren no computador e começou a disparar por cima da música que o computador reproduzia perguntas como: “Quem veio te buscar? O vidro era muito escuro. Onde você foi? Por que eu não podia simplesmente ir com você? Por que demorou tanto?”
- Agora eu entendo por que as pessoas costumam odiar os irmãos – foi minha resposta.
Ela continuou tagarelando, mas minha mente foi para longe quando comecei a escolher o que vestir para sair com . Com certeza uma calça jeans era o mais apropriado. Escolhi uma de lavagem escura. Mas que camisa? Vasculhei o guarda-roupa até achar uma das novas, vermelha estilo polo, cheia de escritos brancos. Como o vermelho era forte seria mais apropriado um casaco escuro ou...
- Uma tal de “Mari” está perguntando por você – Lauren finalmente chamou minha atenção pelo nome que mencionou. – Por que ela tem meu e-mail?
- Eu passei para caso de emergência – disse indo até o computador para espiar. – Será que dá pra abaixar essa música?
- Belanova é legal, vai – ela reclamou mas mesmo assim abaixou o volume.
- Manda uma resposta avisando que mais tarde falo com ela – pedi me apoiando no encosto da cadeira dela. – E avisa que estou bem e viva.
Voltei para o armário e coloquei um colete de lavagem escura para combinar com a calça. Eu podia colocar o mesmo casaco que havia usado a tarde e que estava pendurado perto da porta da sala.
As sete e cinco meu celular tocou, o nome de constando no visor.
- Oi amor – atendi carinhosa.
- Estou te esperando aqui fora – ele avisou. – E o que você está querendo?
- Ahn... como assim? – perguntei desconcertada.
- Sempre que você faz essa voz e eu sei que carinha você deve estar usando, é porque quer alguma coisa – ele respondeu em tom normal.
É, talvez eu tivesse sido carinhosa demais ao atender.
- Não é que eu queira alguma coisa – me defendi dando os últimos retoques da maquiagem na frente do espelho. – Na verdade é a Rachel.
- Quem? perguntou.
- Rachel – repeti impaciente. – A mãe da Lauren. Te disse isso na sexta.
- Ah, é – ele respondeu. Eu rolei os olhos para minha própria imagem. – O que ela quer, que você volte cedo?
- Ahn... é um pouco pior – fiz uma careta.
- Fala logo, – agora ele quem estava impaciente.
- Ela quer conhecer você – eu avisei. – E o pai de Lauren já deve ter chegado da viagem de trabalho do fim de semana, então...
Houve um minuto de silêncio, no qual eu esperei ouvir os pneus de seu carro cantarem como os de , anunciando que ele estava positivamente desistindo de mim. Como eu consegui adicionar a palavra “positivamente” nesta frase eu não entendi, mas vamos à parte importante.
Houve um suspiro do outro lado da linha.
- Foi culpa da Lauren, não minha – me antecipei a defender.
O ruim daquele quarto é que a janela era virada para os fundos da casa, e não para a entrada, então eu não tinha como saber se ele já estava indo embora silenciosamente.
- Ok – ele disse e desligou o telefone.
- , – chamei inutilmente para a linha muda.
Corri escada abaixo desesperada pela possibilidade de ele realmente ter ido embora. Mas antes que chegasse ao primeiro degrau, a campainha tocou. Meu alivio enfraqueceu minhas pernas por um instante, me fazendo desequilibrar por um segundo no corredor. Me recompus rapidamente e fui para a sala atender a porta. Mas Rachel foi mais rápida do que eu.
Eric, o pai de Lauren, que estava sentado no sofá, virou a cabeça para olhar quem estava cumprimentando tão educadamente sua esposa.
- Ah, você está ai – Eric disse se virando para mim. – Já estava começando a achar que tinha voltado para o Brasil – ele brincou.
Eu dei uma risadinha.
- Entre, entre – Rachel convidava fervorosamente .
Lauren apareceu pelo corredor.
- Veio assistir ao show? – sussurrei brava.
- Hey, maninha, relaxa – ela colocou a mão nos meus ombros e me balançou de leve.
- Boa noite, senhor – estendeu a mão para Eric que a apertou.
- Esse é o seu namorado? – Eric perguntou-me. Estremeci com seu olhar profundo, eu não estava acostumada com autoridade de pai em casa. Assenti com a cabeça, engolindo em seco. – Vão lá pra cima, gostaria de ter uma conversinha com ele.
- Vamos, meninas – Rachel me deu um sorrisinho e foi nos empurrando pelo corredor.
Lancei um olhar nervoso para antes de continuar e subir as escadas.
Tudo que eu pude ouvir foi ele pedindo a para sentar-se. Achei que iria ser ruim, mas nem tanto. Rachel nos deixou no quarto e voltou a descer para juntar-se ao marido. Comecei a roer minhas unhas e descascar o esmalte azul nelas.
- , aproveita para falar com suas amigas – ofereceu Lauren nervosamente apontando para o computador.
- Ser boazinha agora não vai concertar as coisas – murmurei brava para ela.
Certo, eu estava estressada, mas também não era para menos. Mas eles também não podiam achar que eu iria ficar ali deitada na cama pensando na vida enquanto eles interrogavam ou sei-lá-o-que meu namorado, não é?
Girei cuidadosamente a maçaneta da porta, puxando-a vagarosamente. Ela deu um rangido curto, e fechei os olhos com medo. Mas os murmúrios lá embaixo continuaram, então concluí que não tinham me ouvido. Soltei o ar aliviada, puxando um pouco mais a porta para que pudesse passar. Dessa vez ela não rangeu, e eu passei me encolhendo por ela e seguindo na ponta dos pés pelo corredor até a ponta das escadas.
Lauren me seguiu e eu fiz sinal para que ela voltasse, mas ela ignorou. Desci três degraus, sentando encolhida ali e finalmente podendo escutar parte da conversa, mesmo com o maldito comentarista do jogo que passava na TV me atrapalhando.
iria ficar furioso com aquilo. Mesmo que eu soubesse que ele era educado o bastante para não demonstrar isso na frente deles, eu sabia que ele devia estar mais que desconfortável tendo que falar sobre sua vida para Eric e Rachel, que não paravam de lhe fazer perguntas. Se já era difícil para ele falar comigo, imagina com eles? Tomara que ele ainda olhe na minha cara quando sairmos. Quer dizer, se ele ainda quiser sair comigo.
- E o que você faz além de estudar? – perguntou Eric.
Eu quase ri ao pensar em uma resposta atrevida: como sua filha.
- Sou do time de futebol da escola, toco música e estou na equipe do decatlo acadêmico – ouvi a voz rouca de contar.
Ha, ha. Decatlo acadêmico? Eric não iria cair nessa nunca.
- Muito bem, meu jovem – ele parabenizou. – Atividades extracurriculares como essas são importantes. Deve ser difícil fazer tudo isso e ainda estudar, afinal as provas de lá não são nada fáceis.
- Mas se ele faz parte do decatlo quer dizer que ele consegue dar conta do resto – Rachel se manifestou.
Não acredito, alguém me explica como eles caíram nessa, pelo amor de Deus? Por acaso tinha cara de nerd? Qual é, ele colava de quem estivesse mais perto, fora que ele era repetente, então já conhecia a matéria. Ou pelo menos um pouco dela. E espera aí, eu tenho cara de quem namoraria um nerd? Diziam às vezes que eu era estranha, mas isso já era demais.
- Há quanto tempo vocês estão juntos? – Rachel perguntou.
- Um mês – ele respondeu com facilidade.
Eu me assustei. Estávamos juntos há tanto tempo assim? Eu nem tinha percebido o tempo passar... Ainda podia lembrar perfeitamente do nosso primeiro beijo, com todos os detalhes. De repente eu me senti com um calor que não batia com a temperatura fria daquele corredor e escada.
- E como é a relação de vocês? – Rachel perguntou e eu prendi o ar. Onde ele estava tentando chegar? Isso era invasão de privacidade!
Mas nessa hora o comentarista do jogo começou a falar mais alto, e eu não conseguia mais ouvir direito o que eles falavam. Desci cuidadosamente mais um degrau, tentando escutar o que pudesse, com Lauren em minha cola. Mas Lauren não foi tão cuidadosa quanto eu, pois escorregou e fez um barulho. E por mínimo que tivesse sido, pude escutar Eric pedir a Rachel que nos verificasse. Olhei com urgência para Lauren, fazendo sinais desesperados para que ela subisse rápido. Ela parecia não estar entendendo meus sinais, então passei por ela e corri o mais silenciosamente que pude para o quarto, tendo que esperar que ela entrasse para fechar a porta.
Corri para o computador, mexendo desesperadamente no mouse, abrindo o primeiro joguinho que vi. Lauren se largou na cama, olhando para o teto, como se estivesse fazendo isso há horas.
Alguns segundos depois, ouvi passos no corredor seguidos pelo rangido da porta se abrindo. Olhei para trás como se estivesse surpresa.
- Pronto, já podemos descer? – perguntei a Rachel.
A expressão em seu rosto não era brava, mas também não era feliz.
- Não – ela respondeu. – E esperem aqui até eu vir chamar ou teremos problemas, mocinhas – e fechou a porta novamente.
Esperei até que os passos no corredor sumissem para poder voltar à porta e girar cuidadosamente a maçaneta de novo.
- Está maluca? – perguntou Lauren se sentando na cama. – Não ouviu a mamãe?
- Ouvi – eu disse dando de ombros. – E você ouviu as perguntas que estão fazendo a ele, eu tenho que saber o que está acontecendo lá!
- Você não vai querer ver a mamãe brava – avisou Lauren. – Os castigos dela não são nada agradáveis, é sério.
- E que você quer que eu faça, espere sentada? – perguntei, minha voz começando a ficar alterada devido ao meu nervosismo.
- É sua única opção – Lauren levantou as sobrancelhas.
Eu estava desesperada, mas talvez ela estivesse certa. Ficar de castigo por aqui não seria legal. Voltei ao computador para poder falar com minhas amigas.

Mari: Finalmente! Achei que você tinha morrido!
Mari, a exagerada.
: Mas você recebeu um e-mail avisando que eu estava viva.
Mari: Mas isso só faz alguns minutos! E talvez estivessem só tentando me consolar.
: ¬¬
Liz: Oi, oi, oi!
Era isso que amava na Liz, seu jeito alegre e despreocupado.
: Oi! Saudades!
Liz: Hey, achei que tivesse nos esquecido :(
: Desculpa, estou realmente sem tempo. Quando entro na internet é só pra fazer trabalho.
Mari: Imagino, aí deve ser difícil.
Liz: Aposto que deve ser divertido.
: Divertido? Meu namorado está lá embaixo sendo interrogado, como isso poderia ser divertido?
Elas demoraram a responder.
Liz: Se ferrou.
: Valeu aí pela força.
Mari: Que bom, pelo menos ele vai te respeitar como deve.
: Falando nisso... ahn, vocês têm visto aquela pessoa por aí?
Mais um silêncio, dessa vez tão longo que achei que elas haviam desconectado.
Liz: Você quer realmente saber disso? Eu não acho uma boa ideia tocar no assunto...
: Fala aí.
Era desconfortável, mas eu queria saber. Eu era curiosa demais para não querer.
Mari: ... pelo jeito você não tem visto minha página, né...
: Como assim?
Liz: Você não deve ficar chateada com isso, quero dizer... Nós... nós não pudemos evitar... ele foi se aproximando de nós... e, ele é tão sincero e carinhoso com ela...
Mari: , eu sinto muito. Mas ele não é tão ruim quanto parece, sabe... só precisava de uma chance para...
: Vocês entenderam de quem estou falando? Estou falando do Jack.
O nome dele não tinha nada a ver com o apelido, mas todos insistiam que meu ex-namorado tinha a cara do Leonardo DiCaprio, por isso colocaram o apelido do personagem mais famoso que ele havia interpretado. As imagens de nós dois juntos voltaram à minha mente, mas elas eram automaticamente manchadas de sangue. Senti como se a cicatriz em minha perna formigasse.
Mari: Nós entendemos.
Levei um choque, relendo nossa conversa. Se aproximando? Do que elas estavam falando? Como assim?
Abri mais uma pagina na internet, procurando pelo site pessoal da Mari. Mariana Queiroz, a página foi se abrindo vagarosamente, carregando as fotos mais chocantes que eu nunca poderia ter imaginado ver novamente. Eles estavam juntos.
Mari, Jack e Liz. Constava na legenda da primeira foto, onde Jack estava com os braços em cima dos ombros das duas, e todos sorriam.
Meu ar sumiu, mas continuei a rolar a página para baixo.
Liz e Rafael. Eles não são um casal lindo?
A foto era dos dois juntos, dando um selinho em meio a um sorriso.
Rafael? O cara que tinha nos emprestado a casa e que encobriu tudo o que o amigo havia feito, e que mesmo sabendo o que havia acontecido, tinha ficado calado? Não pode ser, eu devo estar em um pesadelo.
Mari e Jack. Estava escrito na legenda de outra foto, em que os dois estavam se beijando, quase se engolindo. Senti o nó que havia se formado em minha garganta piorar ao continuar a ler a legenda. Eu te amo.
Voltei à janela em que conversava com as duas.
: Por que vocês estão fazendo isso? O que são aquelas fotos?
Mari: , me desculpa! Ele tentou de todo o jeito ter contato com você e... bom, nós acabamos juntos, foi inevitável. Entenda, nós nos amamos.
Liz: , eu sei que vocês não se deram bem, mas eles estão felizes juntos.
Eu funguei, desesperada. Aquilo era um pesadelo, tinha que ser. Minhas melhores amigas me traindo? Não, não podia ser.
Mais uma vez as imagens com as quais eu lutava há tanto tempo para desaparecerem de minha mente estavam lá, vividas e dolorosas.
: Vocês duas estão malucas? Eu tive que mudar de país por causa dele, porque ele me perseguia, porque ele...
Mari: , pare de exagerar. Nós entendemos que tenha aparecido essa oportunidade maravilhosa para você sair do país e que coisas horríveis haviam acontecido entre vocês... mas você estava alcoolizada naquele dia, pode ter misturado um pouco as coisas.
: O quê? Eu tinha bebida uma lata de cerveja, e você sabe que eu não fico bêbada fácil. Eu sei muito bem o que aconteceu, e vocês também. Mari, se toca, ele é perigoso!
Mari: Não, ele não é. Sabemos que você tinha usado coisas naquele dia , não adianta fingir que não. Ele gostava realmente de você, você sabe disso, ele seria incapaz de te fazer mal.
Liz: Mari, para.
: Que tipo de coisas? Do que você está falando.
Mari: Drogas , é disso que estou falando.
Liz: Mari, chega.
Mari: Não Liz. Ele nos contou. , nós somos suas amigas, não deveria esconder essas coisas da gente.
: Mari, você está vendo o que está dizendo? Ele está fazendo isso com vocês, a mesma coisa que fez comigo. Ele está te cegando. Isso não é certo, não entendo por que estão fazendo isso comigo! Você sabe que ele só está perto de vocês para me achar! Pelo amor de Deus, você tem que ficar longe dele.
Mari: Não, . Durante quase um ano eu fiquei quieta, assistindo a felicidade de vocês dois. Estou cansada disso, de ainda ter que ouvir ele chamar seu nome quando dorme. Será que você não pode parar com isso e nos deixar ser feliz? Você devia ter vergonha de si mesma, inventando tudo aquilo.
Liz: Por favor, parem com isso!
: Mariana, você viu como eu fiquei machucada, como ele acabou comigo! Por que isso agora? Não estou te entendendo, você não é mais a amiga que eu conheci.
Liz: Mari, é verdade, você viu como ela ficou.
Mari: Liz, você está tão próxima dele quanto eu, então nem venha. E ele disse que ela se cortou quando caiu.
: Nossa, meu rosto ficou com aquele hematoma por que eu caí também? Eu imaginei tudo aquilo, então? Você não sabe pelo que eu passei, sua cretina.
Mari: Não me importa. O que quer que tenha sido, passou, é passado. Ele mudou, ele nunca foi violento comigo. Pare de tentar estragar a minha felicidade.
Liz: , me desculpa.
: Vão se ferrar. Vocês duas estão merecendo a companhia que tem. Só não me entreguem, por favor. Quero viver minha vida aqui em paz e, pelo jeito, não tenho mais motivos para voltar ao Brasil se puder evitar. E não venham chorar mais tarde, quando acontecer alguma coisa ruim, pois eu não vou querer escutar. Vocês merecem o inferno em que logo estarão.

Desconectei antes que pudesse ouvir mais, pois não podia suportar. Lauren correu até mim, quando comecei a soluçar alto, com dificuldade para respirar e minha visão totalmente embaçada. Ela me abraçou desesperada com um braço e mexeu no computador com o outro.
- É ele, não é? – ela sussurrou para mim, vendo a página ainda aberta com as fotos. Assenti com a cabeça, o choro se intensificando. – E quem é ela?
- Minha – solucei. – Minha melhor – solucei novamente. – A-amiga.
Eu não conseguia respirar direito, tudo parecia sufocante.
O ar sempre está ali, lembrei das palavras de , você só tem que puxá-lo.
Eu tentei sugar o ar com todas as minhas forças para dentro dos pulmões.
Lauren se desesperou e correu para fora do quarto, gritando no corredor que eu estava passando mal e que precisava de ajuda.
Ótimo, agora eu iria ser expulsa por ser uma maluca.
Eu ainda não conseguia puxar o ar para dentro dos pulmões e tudo a minha volta só ficava mais e mais turvo. Houve barulho de passos rápidos e fortes pelo corredor.
- O que houve? – perguntou colocando seus braços a minha volta, e de repente eu senti como se um escudo me protegesse, me senti em segurança.
- Aquele cara do Brasil, o que atacou ela – Lauren falava rápido e eu não tinha forças para mandá-la calar a boca. – Ele está com a melhor amiga dela.
Ele olhou para a tela do computador, suas feições de repente assustadoramente duras, mas eu me aconcheguei em seu peito sem medo. Eu sabia que ele era a última pessoa na Terra que me faria mal.
Ele passou as mãos por meus cabelos, acariciando-os.
- Estou aqui meu amor – ele sussurrou em meu ouvido. – Estou aqui com você. Só respire.
Eu fiz força para puxar o ar, e dessa vez estava dando certo. Minhas mãos e rosto formigavam, mas eu estava voltando a conseguir respirar.
- Ela está bem? – ouvi a voz preocupada de Rachel, mas continuei de olhos fechados, encostada no peito largo e confortável de . – O que aconteceu?
Lauren repetiu a explicação, mas eu não dei atenção. Tudo o que me importava era que estava ali para me proteger.
Fiquei assim até me acalmar totalmente, só então levantando a cabeça e secando as lágrimas.
- Viva a maquiagem a prova d’água – brinquei, admirando o rosto lindo de , apesar da dor disfarçada nele.
- Você já está realmente bem? – ele perguntou me encarando sério e preocupado.
Assenti com a cabeça, dando um sorriso franco. “Preciso de um pouco de ar fresco, vamos sair logo”, pedi.
- Certeza? – ele ainda estava preocupado comigo.
- Tenho – confirmei e ele dei um beijo em minha testa.
- Não acho uma boa ideia você sair – protestou Rachel cruzando os braços.
- Com certeza não – Eric apoiou.
- Eu só quero esquecer tudo isso – pedi a Rachel, usando minha carinha de cachorrinho sem dono. – Por favor? – insisti com uma vozinha persuasiva.
- Não sei... – ela refletiu, mordendo o lábio inferior.
- Prometo tomar conta dela – disse , continuando a me abraçar enquanto eu levantava.
- Podem ir – Eric foi quem se manifestou, para minha surpresa.
Eu sorri, e Rachel não protestou dessa vez. Puxei para fora do quarto antes que eles desistissem de deixar.

Capítulo 18
The Only Exception


[n/a: Baixem We’ll be together – Ashley Tisdale]

Colocamos nossos patins e entramos no ringue de gelo, segurando minha mão. Eu mal conseguia me manter de pé sozinha e não queria largar de jeito nenhum a barra que ficava nas laterais, por mais que ele insistisse.
- Você nunca vai aprender, se não soltar da barra – ele insistiu mais uma vez, enquanto eu tentava deslizar desajeitada adiante, ainda segurando a barra como se minha vida dependesse daquilo. – Vamos, baby, eu te ajudo.
- Não, , estou acostumada com praias, mesmo que não goste delas – reclamei, escorregando um pouco e me agarrando ainda mais firmemente ao ferro. – Isso daqui é perigoso demais, eu posso cair e quebrar alguma coisa.
- É por isso que falei pra você continuar de casaco – ele deslizou com facilidade à minha frente e me prendeu, colocando um braço de cada lado meu na barra. – Vem, , você tem que tentar. Eu te ensino, é super fácil.
- Fácil pra quem está acostumado – reclamei com a respiração falhando. Isso estava acontecendo com maior frequência cada vez que chegava muito perto de mim. – Eu nunca vou conseguir fazer isso.
Ele bufou irritado e tirou seus braços do meu redor, me virando as costas e patinando para longe. Eu continuei a observá-lo, fascinada pela facilidade com a qual ele deslizava pelo gelo, por entre as outras pessoas. Ele voltou a se aproximar espirrando um pouco de gelo em mim e voltando a me trancar com seus braços.
- Você não confia em mim? – ele penetrou minha alma com aquele par de olhos , fazendo meu coração dar solavancos. Ele segurou minhas duas mãos, me puxando devagar com ele. – Deslize um pé de cada vez, fazendo uma pequena abertura para fora – eu continuava hipnotizada por seus olhos, fazendo o que ele orientava. – Viu, amor, não é tão difícil – ele sorriu.
Eu não pude conter um sorriso de volta, e essa distração me rendeu um belo escorregão, no qual eu podia dizer que o casaco que ainda estava vestindo, por insistência de , me salvou de qualquer arranhão. Ele riu de mim, me ajudando a levantar, depois continuou me puxando pela pista de gelo por mais uma meia hora, como se estivéssemos dançando. Não que eu já não conseguisse patinar sozinha, mas agora simplesmente não queria. Ele deu uma mordida forte em minha bochecha, e de repente me deixou xingando sozinha enquanto deslizava para longe. Eu fiquei estática no lugar, com medo de continuar sozinha.
- Que foi, tá com medo de cair? – ele provocou de um modo infantil.
- Não! – retruquei mais infantilmente ainda, começando a deslizar para ele, mesmo sem muita velocidade.
Ele mostrou a língua para mim e continuou a deslizar, enquanto eu o seguia. Ele não acelerou tanto quanto eu sabia que conseguia, apenas o bastante para me fazer continuar a persegui-lo. Quando finalmente cheguei até ele, pronta para revidar a mordida de alguma forma, ele me levantou no ar e me beijou, encostando um pouco na barra logo atrás dele como apoio. Sem demora, permiti a passagem de sua língua para encontrar com a minha, sentindo o calor predominar sobre o frio, como se fosse capaz de derreter o gelo abaixo de nós.
Ele quebrou o beijo, me deixando desesperada por mais, mas eu me controlei.
- Tenho uma coisa pra você – ele disse com um sorriso carinhoso, afastando uma mecha de cabelo minha do rosto.
Eu franzi a testa, brava. “Achei que você tinha prometido que não ia comprar mais nada pra mim.”
- Eu já tinha quando te prometi, então não estou quebrando a promessa – ele deu um sorriso maroto. – E é especial, pelo menos pra mim – continuei com a testa franzida, o encarando. – Vem aqui – ele me puxou pela mão novamente para a pista, sem quebrar o contato visual. [n/a: Coloquem pra tocar!] Eu reconheci a música que tocava nos alto-falantes espalhando pela pista “We’ll be together”, da Ashley Tisdale. Eu amava aquela música, e ela fez com que minha raiva diminuísse. Quando chegamos ao meio da pista, ele se abaixou, se apoiando com apenas um joelho no chão. Fiquei sem reação enquanto ele tirava do bolso uma caixinha aveludada e a levantava. – Mesmo que já estejamos namorando – ele abriu a caixinha, revelando duas alianças pratas –, achei isso uma coisa importante.
Eu o olhei estática, e abrir a boca foi minha única reação. Ele voltou a se levantar, sorrindo, e eu sorri derretida para ele.
- Mas eu achei que – ele pegou minha mão e eu levantei os dedos, para que ele pudesse colocar a aliança, que se encaixou perfeitamente – com aquela coisa toda de estarem atrás de você, e do barco, você me mandaria embora.
Meu coração doía insuportavelmente só de pensar nisso.
- Eu tentei – ele confessou com um suspiro. Eu peguei a outra aliança na caixinha e coloquei em seu dedo devagar. – Passei noites pensando em como fazer isso. Mas descobri que nunca iria conseguir. Eu não entendo como pode doer tanto só pensar nisso. Sabe, eu não tinha muitos motivos para sorrir antes de te conhecer – ele me deu um selinho. – Agora eu descobri que não teria motivos para viver se ficasse longe de você. – Só percebi que uma lágrima havia escapado de meus olhos quando passou as costas da mão em minha bochecha, secando-a. – Eu te amo.
- Eu também te... – mas antes que pudesse terminar, seus lábios calaram os meus em um beijo árduo.
O som da música foi transposta por outro barulho: palmas. Eu tentei me separar dele para que pudesse ver o que estava havendo. Estavam nos assistindo e eu nem percebi? Mas ele não deixou, apenas me segurou forte pela cintura, me fazendo esquecer o que quer que pudesse estar acontecendo em volta. Nós continuaríamos juntos, acontecesse o que fosse, e isso era tudo o que eu poderia desejar.

Eu não sabia se considerava que minha semana havia começado bem ou se havia começado mal. Se eu considerasse que ela começou no domingo, isso me deixava mais confusa ainda, pois aquele dia havia sido terrível, e ao mesmo tempo lindo e inesquecível. Se eu considerasse que ela havia começado na segunda, eu diria que não seria a semana dos meus sonhos, pois Brooklie simplesmente estava de volta à escola. Que tipo de suspensão dura um dia? Isso era ridículo. Ela merecia passar o resto do ano suspensa, se pedissem minha opinião.
continuava a sugar o pouco de energia que eu ainda tinha depois dos treinos e dos ensaios, mas eu já estava notando uma grande melhora de minha parte. Quando eu fosse realmente boa nesse negócio de bater nos outros, a primeira pessoa que eu iria acertar seria ele. Depois eu o agradeceria. Agradeceria porque tudo aquilo era o escape perfeito para tudo o que havia acontecido de ruim no fim de semana. Eu deixava que aquelas imagens malditas viessem à minha cabeça, e isso me dava mais determinação para aprender.
Eu só queria ficar perto de , mas cada vez que isso acontecia, tínhamos livros e cadernos em mãos para fazer algum trabalho estúpido que algum professor mais estúpido ainda havia nos passado.
De quarta para quinta, troquei de quarto com para poder pelo menos dormir. Bom, sinceramente, eu achei realmente que iríamos apenas dormir, de tão cansada que eu estava. Meus olhos já estavam se fechando pesadamente quando saiu do banho e deitou ao meu lado, balançando os cabelos e espirrando água na minha cara. Saí de baixo das cobertas para reclamar, e quando o fiz, parei no meio de alguma palavra impossível de ser recordada, notando que ele estava somente com uma toalha branca enrolada na cintura; foi a oportunidade perfeita que ele aproveitou para me beijar e depois partir para meu pescoço. Cansaço nenhum seria suficiente para me fazer pedi-lo para que parasse.
Isso era uma coisa que eu não entendia, pensei ao acordar na quinta-feira e passar uma mão pelos cabelos de , observando-o dormir tão profundamente quanto uma criança. Como eu queria sexo tanto quanto ele, como eu havia cedido tão fácil, tão rápido. Olhando sua face tranquila, eu sabia que seria impossível tentar resistir a ele, mesmo que eu quisesse. Mas não era só pela beleza, afinal, meu ex-namorado não era nada feio. Se eu fui tão aos poucos com Jack, se eu não realmente desejava transar com ele mesmo antes de ele ter me machucado daquela maneira, como é que não conseguia ter medo de ?
Jack me tratava de maneira romântica e tudo mais, mas talvez eu já soubesse como ele realmente era, no fundo. Talvez eu soubesse por tamanha convivência que nós tínhamos, talvez eu pudesse apenas ter sentido o que estava por vir. Ou talvez eu só não estivesse pronta, talvez ele não fosse o cara para mim, de qualquer jeito. Ele tinha um jeito estranho de demonstrar seu amor, às vezes.
Com uma lágrima solitária escapando de meus olhos, me lembrei daquela noite, encarando o rosto de , mas não o vendo mais, realmente. Aquilo não havia sido tão repentino quanto eu achei que havia sido. Jack estava me tratando de um modo autoritário já havia algumas semanas, mas eu achei que era simplesmente estresse...
- ? – me chamou, e eu levei um susto ao ser arrancada de minhas lembranças. Ele me observava com a testa franzida, e limpou as lágrimas de meu rosto com as costas das mãos. – Hey, pequena, não chora. Não te faz bem pensar nisso.
- Como você sabe no que estava pensando? – dei um sorrisinho para ele, feliz por me concentrar em seu rosto novamente.
Seus olhos se aprofundaram nos meus.
- Está através de seus olhos – ele disse me puxando para mais perto e me dando um beijo na testa.
- Eu ainda vou descobrir o que você me esconde, – eu disse, me aconchegando em seu peito.
- Como assim? – eu podia ouvir sua voz rouca reverberava dentro de seu peito.
- Você não me pressionar a te contar nada – me apoiei nos cotovelos e virando para enxergar seu rosto confuso. – Você não me pressiona nem um pouco, e eu gosto disso. Sua paciência comigo é tão... não sei, confortadora. Mas eu sei que por trás dela tem alguma coisa que você não quer me contar.
Ele se mexeu desconfortavelmente na cama e me encarou por um longo minuto.
- Não é que eu não queira – eu podia ver um resquício de dor em sua expressão.
- Desculpe, eu formulei a frase errada – dei um sorrisinho triste. – Não estamos prontos para detalhes, pois nós dois sabemos do que se trata.
Ele assentiu lentamente com a cabeça, olhando para algum ponto além de mim.
- Hey – um sorriso pervertido insistia em meu rosto enquanto passava a mão por seu tórax descoberto por baixo da coberta. Ele me observou com uma expressão indistinta. – O que você acha de matarmos a primeira aula? – minhas unhas fizeram um leve contato com sua pele e eu o senti contrair a região e seus olhos fecharam por breve segundo. Antes que fosse possível contar o tempo, ele já estava em cima de mim, me beijando arduamente.

O resto dos dias passou tão rápido que me assustei quando surtou porque eu ainda não tinha uma fantasia. Pra que eu iria querer uma fantasia? Pra uma maldita festa de Halloween para a qual havia nos convidado. É claro que eu estava ouvindo comentários sobre festa e as discussões sobre as fantasias fazia umas duas semanas, mas não tinha levado realmente a sério. Qual é, quem iria a uma festa a fantasia? Bom, pelo jeito, todos os meus melhores amigos. E eu só estava me dando conta disso agora.
- Você pode ir de brasileira – se intrometeu. não se manifestava para me ajudar, apenas enfiava mais comida na boca, como se estivesse tentando tapá-la de propósito. Voltei minha atenção para , sem entender a sugestão. – É só você pegar uma bandeira do Brasil e fazer um vestido com ela.
- Perfeito! – exclamei, ironizando em seguida: – Você pode pegar a cortina da sua casa e fazer um vestido com ela.
Ela deu língua. “Só estava tentando ajudar.”
- Ninguém vai vestida de cortina ou bandeira nessa festa! – reclamou .
- Mas eu nem conheço o dono da festa! – protestei. – Seria praticamente entrar de penetra.
- Eu nunca entraria de penetra em uma festa! – indignou-se .
- Você não é considerada penetra porque pega um dos convidados – ela abriu a boca para me responder, mas não saiu nenhuma palavra. Ela balançou o cabelo e espetou a comida com raiva.
Aproveitei para dar mais uma boa garfada na comida também, eles sempre me atrapalhavam quando estava comendo.
- Vocês não são penetras – parecia de saco cheio. – Ele me mandou convidar vocês. Eu disse quantos eram e ele respondeu que quanto mais, melhor.
Engoli a comida antes de falar. “E se o James não gostar de mim? Ele pode me expulsar da festa.”
rolou os olhos. “O James é legal, você vai ver. Mesmo sabendo que não tem como não gostar de você, vocês dois se dariam bem.”
- E o que importa o que ele vai achar de você? – parecia zangado, me pegando de surpresa.
- Ahn, ele é o dono da festa – respondi.
- Nós vamos à festa, mas você que não desgrude de mim – ele falava sério.
Ergui as sobrancelhas, indignada. soltou um “ui”.
- Isso aqui é uma aliança – mostrei minha mão a ele, enfezada. – Não uma coleira.
Me levantei da mesa com o nariz em pé. Ele não iria mandar em mim. Eu sabia por que isso me deixava nervosa, mas não quis pensar nisso. Comecei a me afastar da mesa. Olhei em volta e todos comiam em meio ao barulho de conversa. Eu não tinha chegado nem na metade do meu prato ainda, e eu pude sentir a fome falar mais alto que meu orgulho, até eu não aguentar mais e me virar de volta para mesa.
Todos me encaravam surpresos na mesa, enquanto eu voltava a me sentar.
- , você não acha que tem comido um pouco demais, não? – perguntou , totalmente indiscreta enquanto eu enchia minha boca de comida, me sentindo feliz novamente.
Mastiguei com dificuldade, sentindo minhas bochechas esquentarem. Finalmente engoli, todos eles ainda me observando, em silêncio.
- Eu tenho fome, qual o problema?
- É que... – ela parecia estar sendo cuidadosa agora – bem, você não está exatamente engordando.
- Que bom, né – eu disse, feliz em saber que ainda era considerada magra.
- Acho que é pelos treinos – todos olharam para e eu prendi o ar. – De líder de torcida – ele completou.
A comida ficou presa na garganta e corri para o suco em caixinha na minha frente.
- Não acho que seja só isso – disse. – Eu também sou líder de torcida e não como desse jeito.
- Elas acham que você está vomitando – todos olharam para . Eu engasguei com o suco. – Que é? – as meninas olhavam feio para ele agora. – Eu ouvi vocês falando – e voltou para mim: – Elas acham que você tem bulimia.
Nas últimas semanas eu havia vomitado umas três, quatro vezes no máximo. Mas eu não tinha forçado nada. Eu não tinha isso. Todos me encaravam, um silêncio incômodo tomou conta da mesa.
- Vocês não estão falando sério? – retruquei. – O também come assim! – apontei para o mesmo, que parou com o garfo na metade do caminho para boca.
- Mas ele é homem – disse .
- Eu não tenho bulimia – cruzei os braços, emburrada.
- Você diz que vai à academia lá do prédio, mas eu nunca te acho lá – disse, e eu a olhei sem acreditar.
agora me encarava friamente, esperando uma resposta. Fingi não notá-lo.
- Você tem tonturas – disse .
- Isso é um complô contra mim? – perguntei incrédula. – Parem com isso, eu não tenho nada – voltei à minha comida, mas ainda sentia os olhares sobre mim. – E parem de me olhar!
Após mais ou menos um minuto em que concentrei minha atenção somente na comida, eles voltaram a conversar.
Não era como se eu não tivesse notado o quanto eu comia, mas vamos lá, eu não parava quieta o dia todo. E é claro que os treinos de deveriam ser tão responsáveis quanto os de líder de torcida em relação à queimação das minhas calorias. Mas é claro que eles não sabiam disso, então, a preocupação deles era quase justificável.
Eu já havia até me esquecido de que precisava inventar alguma coisa quando encontrei fora do ginásio, me esperando. Sorte minha ter tido tempo para uma chuveirada no vestiário antes que a aula acabasse.
Sorri e fiquei na ponta do pé para dar um selinho nele, mas ele virou a cara, me deixando dar um beijo apenas em sua bochecha.
- O que foi? – coloquei as mãos na cintura.
Em um movimento rápido ele me colocou contra a parede que antes estava, uma das mãos na parede ao lado de meu ombro esquerdo. Minha respiração falhou quando ele se aproximou.
- Será que você pode me explicar o que está acontecendo? – ele exigiu.
Encarei duramente seu olhar de volta, mas sentindo meu estômago embrulhar.
- Não sei do que você está falando – tentei transmitir o máximo de segurança possível em minha voz.
- Você sabe muito bem.
O sinal soou estridente. A porta do ginásio se abriu, e minha turma de educação física saiu fazendo estardalhaço ao passar pelo corredor, inclusive Brooklie.
Sim, mesmo ela não sendo mais líder de torcida, eu era obrigada a aguentá-la nas aulas de educação física. Ela passou atrás de e ele deu um passo para mais próximo de mim, com uma feição raivosa. Eu não precisava ver pra saber o que ela tinha feito: passado a mão na bunda dele. Senti meu sangue entrar em combustão dentro de mim quando ela virou, andando de costas agora, e mandou um beijo para ele.
Meus instintos me empurravam direto para cima dela, mas o braço de ao lado de meu ombro desceu e me segurou firmemente.
- Vamos para outro lugar – ele me puxou em direção às portas que davam para os fundos do colégio, a expressão nada amigável em seu rosto.
- Pira... – eu gritei com raiva para Brooklie, mas tapou minha boca antes que eu terminasse.
Tentei morder sua mão, mas ele apenas riu, fazendo conchinha com ela para que meus dentes não a alcançassem. Chutei sua canela, e, aproveitando que ele havia sido pego pela surpresa e pela dor e soltado destapado minha boca, continuei a xingá-la aos berros.
se recuperou e voltou a tapar minha boca, me arrastando para fora da escola. Ele voltou a me socar contra a parede, e eu senti minha coluna reclamar.
- Qual é o seu problema, ? – ele perguntou sério. Abri a boca para responder, mas ele me cortou antes que eu começasse a me defender. – Você sabe que quanto mais você der atenção, mais ela vai provocar. Uma das coisas que ela mais ama é atenção.
- Desculpe, se eu não quero que ela fique passando a mão no meu namorado! – ironizei ainda irritada.
Ele revirou os olhos. “Como se ela nunca tivesse encostado em mim antes” ele murmurou.
Eu o olhei de boca aberta, totalmente ofendida. Me virei para sair, mas lá estavam seus braços à minha volta novamente, me impedindo.
- Desculpe, desculpe – ele se apressou a dizer. – Prometo que não vou mais deixar isso acontecer, ok?
- Já não devia acontecer – o encarei séria.
- E desde quando você perde o controle desse jeito? – ele perguntou, me pressionando contra a parede. – Você está se irritando fácil demais, ultimamente – ergui as sobrancelhas para ele. – Não, não quero dizer agora, exatamente. Estou falando no geral. E ainda tem esse negócio de você estar comendo tanto e não engordar.
- Algumas pessoas simplesmente comem e comem, e não engordam! – me defendi, sentindo uma tristeza estranha tomando o lugar da raiva. – Está relacionado ao metabolismo e...
- Você costumava controlar o que comia quando te conheci – ele me cortou. Por que ele adora tanto me cortar? – E ficava desesperada quando começava a engordar. O metabolismo de ninguém muda desse jeito se não houver uma razão. Você tem que me contar o que está havendo.
- Eu tenho teatro, sou líder de torcida, a cada cinquenta e cinco minutos tenho que trocar de sala, estudo que nem uma condenada, e depois de tudo isso ainda sou obrigada a... – me calei, sentindo meu escorregão. Eu quase contei sobre . estava aguardando minha conclusão, engoli em seco antes de terminar. – Malhar.
- E aí vem a pior parte – ele disse. – Porque você não está malhando. deixou isso bem claro. Você está mentindo para ela, e eu não esperava por isso, para mim. – Certo, eu também não esperava por essa. – Eu quero saber exatamente o que está acontecendo.
Seus olhos pareciam tentar penetrar nos meus novamente, mas desviei meu olhar do seu, com medo que ele enxergasse a verdade neles.
- , assim não dá – ele continuou. – Só vejo duas possibilidades: Ou você não confia em mim o suficiente, ou você está escondendo alguma coisa realmente ruim de mim.
- Talvez eu só queira um pouco de espaço – me esquivei instintivamente.
- Espaço? – ele perguntou incrédulo. – Você tem o seu espaço. Você tem o seu tempo com suas amigas e pra tudo que você quer. É tão difícil assim, pra você, me contar o que há de errado? Estou tentando te ajudar. Aliás, não só eu. Desculpe, se eu gosto de saber que você está segura quando não posso estar lá para te proteger.
- Mas que saco, – de repente notei que estava gritando, lágrimas haviam tomado conta de meus olhos, mas eu não fazia ideia de onde toda essa raiva vinha. – Eu não preciso ser vigiada vinte e quatro horas. Não preciso da proteção de ninguém, eu já sei me defender sozinha. Não preciso de ninguém me rondando. Vocês estão me sufocando!
- Então é isso que você quer? – seus olhos estavam tão enraivecidos quanto os meus. – Espaço? Ok – ele apontou para minha face –, é isso que você vai ter – virou as costas e andou apressado para longe de mim.
Deixei meu corpo escorregar pela parede atrás de mim, chorando.

Achei que aquilo era só mais uma briga, como todo casal tem. Eu já havia passado por isso antes. Mas era diferente, e agia diferente do que eu esperava. Na aula de história, ele não apareceu e, na hora do almoço, ele não olhou diretamente para mim sequer uma vez.
Quando terminamos de comer, nosso grupo, como em geral, se deslocou para os dormitórios. Aproveitei para me aproximar de , que caminhava lentamente atrás de nós com as mãos no bolso.
- Desculpa, eu estava meio estressada, ontem – eu disse, andando ao seu lado.
Ele continuou sem me olhar. “Não me importo por você se irritar, por você gritar, por você se debater ou o que for, só quero que você me conte.”
- , não há o que contar – observei-o, e sua feição se fechou.
- Então acho que você precisa de mais espaço – ele apressou o passo, se distanciando de mim e juntando-se aos amigos.

Capítulo 19
You Belong With Me
‘Especial: Brooklie Patterson POV’


Um belo copo de suco era tudo no que eu conseguia pensar enquanto caminhava pelos corredores escuros da escola. Já tivera meu tempo de paz para refletir em uma sala vazia e, mesmo com a garoa fina caindo do lado de fora daqueles muros, a imagem de um copo de suco gelado não parava de rondar a minha mente. Passei pelas grandes portas do ginásio enquanto decidia se tomaria suco de maça ou de laranja quando vozes me chamaram a atenção. Minha curiosidade me dominou ao perceber a quem pertenciam: meu e seu novo mascote de luxo. E o melhor de tudo, era que pareciam estar discutindo.
É, querida, nem tudo são flores, pensei ao me esgueirar próxima a porta, olhando para os lados no corredor para ter certeza de que ninguém me pegaria bisbilhotando. Para minha sorte as portas não estavam fechadas e, como a quadra produzia ecos até do menor ruído, eu conseguia discernir o que eles falavam com facilidade só me encostando próxima a abertura.
- , eu não quero falar sobre isso! – a voz da pirralha da estava esganiçada.
- , os pais de Lauren me contaram – ouvi a voz aveludada de , como se fosse um vento a me acarinhar. Pela voz, ele não estava muito feliz. – Você veio para cá porque ele estava te perseguindo, não era?
Ouve um minuto de silêncio.
- Eu tenho medo dele me achar – a voz dela estava chorosa, um pouco abafada. Rolei os olhos.
Menina fraca.
- Você não está sob proteção judicial ou algo assim? – perguntou.
- Não. Ele não pode chegar perto de mim, mas a policia achou exagerada a idéia de me mudar de país, então eu não tenho proteção nenhuma aqui.
- Calma, pequena, esse cara não vai te achar por aqui – ele a confortou, me deixando enjoada. – Mas você ainda me deve explicações de outra coisa.
- O quê? – ela perguntou.
Patética.
- O que você anda fazendo se não está na academia ou com nenhum de nossos amigos? – sua voz tinha um tom cansado, como se não fosse a primeira vez que perguntasse aquilo.
- Aí , esquece isso.
- Mas qual é o problema em me dizer? – sua voz estava ficando alterada.
- Daqui a um tempo eu falo – ela disse, tentando encerrar o assunto.
Mas eu conheço meu , ele não ia deixar assim. Quando ele realmente queria saber uma coisa, ele arrancava aquilo de você a qualquer preço.
- Então daqui a um tempo você me procura – ouvi passos ecoando pela quadra, cada vez mais próximos, fazendo justiça aos meus conhecimentos quando se tratava dele.
Corri para a pilastra mais perto que tinha, escondendo meu corpo atrás dela. Em meio a escuridão, passou por mim sem me perceber. Fiquei o observando se afastar, analisando quais seriam as possibilidades de agarrá-lo, até que a senhorita-cabelo-colorido passou por mim, também sem me perceber. Ela caminhava olhando os próprios pés, e um sorrisinho se instalou em meu rosto ao perceber sua tristeza.
Ela e nunca dariam certo, ela tinha que entender isso.
E eu a iria fazer entender o mais rápido que eu pudesse.

Ajeitei meu cabelo e fui para o refeitório, buscar o meu tão ansiado suco, juntamente com um jantar básico. Hoje tínhamos filé de frango, então eu poderia colocar mais molho na salada. Com minha bandeja prontinha e meu lindo sorrisinho no rosto – que escondia as chamas que crepitavam dentro de mim pedindo algum tipo de atitude quanto a minha situação – desfilei em direção a minha mesa, mas percebi que havia se isolado em uma mesa à parte da habitual. Eu conhecia esse tipo de atitude dele: ele queria pensar, refrescar a mente, ter um espaço para respirar.
Mas não entendia. E por isso ela tentou se juntar a ele na mesa, usando uma voz melosa, tentando acalmá-lo. E fracassou. Ele a mandou pastar – não com essas palavras, mas entrelinhas – e ela voltou a mesa onde alguns de seus amigos estavam. Todos almoçavam juntos, mas isso era raro no jantar.
Desviei meu caminho propositalmente, sentando na mesma mesa que ele, mas afastada o bastante para que ele ainda sentisse que podia respirar. Quero dizer, sem ninguém enchendo o saco.
Ele me olhou torto.
- Você não devia estar aqui – murmurou em um tom mal educado.
- Nem você – retruquei erguendo as sobrancelhas.
- Cheguei primeiro – , por mais que crescesse, sempre mantinha algo de infantil.
- Desculpe, eu dou uma pausa nas competições enquanto como – eu sabia que ele estava querendo discutir, extravasar de alguma forma. Eu lhe daria o que precisasse.
- Você precisa parar de provocar a - ele meio que pediu.
Ele não costumava pedir as coisas, então, por que se humilhar por uma garotinha de quinta? Não importa, eu não iria ceder.
- Se ela parar, eu paro – mantive meu ar superior. O que era fácil, ainda mais quando se tratava dela.
- Ela não te provoca – ele respondeu com um pouco de comida mastigada na boca.
Isso me fez rir, apesar de ser nojento.
- Ela te beija na minha frente, então ela provoca.
Ele se manteve em silêncio, e eu aproveitei para comer tranquilamente. Eu sabia que olhares de ódio pairavam sobre mim, mas eu nem ligava. Até gostava. Era eu quem estava mantendo calmo agora. Ih, acho que me enganei quanto a pausa na competitividade enquanto comia.
Terminamos nossas refeições em silencio, e, mesmo tendo colocado o dobro de comida em seu prato, ele baixou seus talheres quase ao mesmo tempo que eu. Dei umas três belas goladas em meu suco de maçã, aquilo era minha sobremesa.
Senti que o olhar de pairava sobre mim, e aproveitei para passar a língua pelos lábios de um modo sexy.
- Quer? – ofereci sorrindo.
Ele refletiu por um instante, um tanto distraído. Eu sabia que ele queria. O lado criança dele queria doce. E meu lado adolescente estava querendo outra coisa...
Estendi meu copo gentilmente para ele, que hesitou, mas pegou.
Antes que a bebida chegasse em seus lábios, o copo foi tirado de sua mão. Eu não havia percebido e sua amiguinha do jardim – – chegarem.
Mas elas estavam ali: com os braços cruzados, os olhos em fúria e ao seu lado, com o meu copo de suco na mão. A olhei irritada. Era o meu suco, pelo qual eu tanto ansiara, e tirado das mãos do meu . Os pais tirando o doce da criança como se fosse dar cárie. Eu mereço.
- , você não deveria pegar isso, tem veneno de cobra – desdenhou, e minha irritação cresceu.
- Que tal vocês devolverem meu suco, darem meia volta e voltarem a turminha de retardados a qual pertencem? – sugeri em um tom que sempre estressava os outros.
continuava em silêncio. Aquilo estava o estressando tanto que ele sofria calado. Ou simplesmente estava entediado.
fez menção de avançar em mim, mas colocou o braço livre em sua frente, a impedindo.
- Claro – a idiota de cabelos curtos murmurou. – Com todo prazer.
Antes que eu pudesse reagir, ela virou o copo de suco na minha cabeça, e eu senti aquele liquido gelado e um pouco denso escorrer por meus cabelos. Soltei um gritinho indignado, sem conseguir ter outra reação.
arregalou os olhos, assustado. Nós não esperávamos tanta rebeldia. Em seguida o puxou dali, mas eu vi ele se desvencilhar dela antes de atravessarem as portas para fora do refeitório.
Eu sabia que todos me olhavam, e a primeira coisa que fiz foi sair o mais rápido possível, mas sem correr. Correr seria uma atitude medíocre; andar rápido mostrava que eu não havia sido atingida por aquilo por certo ângulo.
Encontrei com Ashley, uma de minhas amigas – leia-se companhia a tira colo e pau-mandado -, quando subia as escadas para meu dormitório, e mandei-a buscar outro suco para mim. Dessa vez de uva.

Acordei de um pulo na manhã seguinte, já sabendo exatamente o que teria de fazer. É claro que – aquela traidora – não havia resistido a espalhar sobre a festa em que ela e aqueles idiotas iam. Como não pensei nisso antes?
Joguei o cobertor para longe, pouco me preocupando com a bagunça que faria. Era extremamente confortável ter um quarto só para si, isso era inegável. Peguei meu uniforme no guarda-roupa e comecei a trocar meu pijama de seda por ele. Fiz isso rapidamente, pois uma animação começava a queimar dentro de mim. Tudo voltaria a estar certo. Eu faria com que voltasse.
Fui até a janela e observei o céu. Cinzento, que novidade. Mesmo assim, aquele dia seria tão perfeito quanto amanhã.
Eu já sabia onde estaria, então me apressei a sair do colégio. Eu odiava ter que usar aqueles casacos, mas, graças a Deus, ainda usávamos saias – mesmo que só até hoje. A partir de semana que vem nós trocaríamos nossa lindas saias curtas por malditas calças. Tudo por causa do estúpido frio.
Para meu grande contentamento, ainda era burro o bastante para sair e tomar seu café da manhã na Starbucks. Se eu estivesse sob ameaça de morte, eu me entocaria quietinha até o dia do julgamento.
Bom, é claro, ele estava sozinho. Isso queria dizer que eles ainda estavam brigados.
franziu a testa e eu acenei alegre para ele, indo até o balcão para fazer meu pedido e me juntando rapidamente a ele.
- Café com o que hoje? – perguntei apoiando minha cabeça em uma das mãos e fitando seus olhos.
- Na verdade, é cappuccino – ele respondeu dando mais um gole no copo em sua mão.
Um dos sinais do humor de era o café que pedia. Mas era sempre café, então eu não entendi.
- Achei que você não gostasse – tentei disfarçar minha surpresa.
Ele desviou o olhar para fora da janela. “A não vai gostar de te ver aqui”
- Qual é , você precisa parar com isso – ele me olhou sem entender. – Você sabe, ela ainda é muito nova... – por baixo da mesa passei minha perna descoberta pela calça dele, como um carinho. - Imatura.
Ele riu sem humor, balançando a cabeça negativamente enquanto afastava sua perna da minha.
- O que foi? – dei um gole em meu café, agora em uma temperatura boa o bastante para que não queimasse minha língua.
- Você tem uma idéia totalmente errada sobre ela.
- , eu vejo como ela age. Ela ainda é muito criança pra você – dei um sorrisinho sexy para ele.
- Talvez, mas quer saber – ele devolveu meu olhar, mas não havia fogo nele -, eu gosto disso nela, dessa alegria. Ela é impulsiva, e anda meio estressada, só isso.
Passei a mão pelo cabelo dele. Coitado, era um iludido. Mas isso ia passar amanhã à noite.
Ele desviou o olhar lá pra fora, totalmente indiferente a meu carinho, e seus olhos se arregalaram. Olhei na mesma direção e vi . A idiota parecia não ter muita reação, então aproveitei para me aproximar de e dar um beijinho em sua bochecha.
Ele pareceu acordar e me empurrou, levantando rapidamente com seu copo na mão e correndo para fora da Starbucks.
Soltei o ar pesadamente, de saco cheio, observando se distanciar dele conforme ele tentava se aproximar. Ela estava gritando ou era só impressão minha?
Me assustei quando ele se aproximou muito dela e ela colocou a mão na boca, como se estivesse prestes a vomitar. jogou o copo que segurava longe e, assim que ela se recuperou o bastante, eles voltaram a brigar.
Estúpida, pensei.
Assim que eles sumiram de vista voltei à atenção ao copo em minha mão. Só quando faltava pouco para o sinal da escola bater me levantei elegantemente e sai dali, ainda tomando meu café.
O resto da manhã daquela sexta pareceu passar vagarosamente, e tudo em que eu conseguia me concentrar era sobre a noite de sábado. Mas, é claro, para tudo dar certo, eu teria que começar a agir... agora.
A hora do almoço chegou e eu me apressei para o dormitório das meninas antes que as outras chegassem. Por sorte o corredor estava vazio, e eu pude entrar no quarto do Arco-Íris ambulante sem problema. Fucei rapidamente e achei com facilidade a fantasia dela em uma caixa dentro de uma sacola. Estiquei-a sobre a cama, procurando em seguida uma tesoura que eu sabia que estava em minha própria mochila. Antes de começar meus estragos fiquei com um pouco de dó. Não dela, mas da fantasia. Era realmente bonita – uma fantasia daquelas garotas que trabalham em bares boêmios. Mas todos têm que pagar algum preço. Logo comecei a correr a tesoura pelas costuras, trabalhando cuidadosamente para que ela não percebesse tão cedo o que eu havia feito.
Assim que terminei voltei a embrulhar tudo cuidadosamente e sai do quarto despercebida.
Corri de volta a refeitório e almocei com a consciência tão limpa quanto a de uma freira. ainda iria me agradecer por tudo isso. Provavelmente a não, mas com certeza.

Já eram nove horas e eu já havia chamado meu táxi. Observei minha imagem refletida no espelho a minha frente mais uma vez, só para checar o quanto eu estava realmente esplendorosa hoje. Quero dizer, mais do que normalmente. Minha fantasia de princesa em um tecido rosa claro que praticamente reluzia com uma parte de rendinha entre os seios que fechava com uma fitinha transpassada e as pluminhas na borda da saia tinham perfeita harmonia com a pequena coroa que descansava em minha cabeça e minha meia arrastão branca. Assim que ouvi a buzina do táxi em frente ao meu portão fiz cafuné em Holly – minha gatinha persa felpuda – e caminhei até a porta em meu mais novo e lindo salto prateado – como a minha coroinha. O vento gelado me atingiu assim que abri a porta, mas eu sabia que frio não seria problema naquela festa.
- Tem certeza que não prefere que te leve, Broo? – meu pai apareceu na porta quando eu já estava próxima ao portão.
- Tenho sim – sorri para ele.
Ninguém merece o pai te levando em uma festa.
- Qualquer coisa me liga – ele disse pela milésima vez naquela noite.
- Certo. Tchau, papai! – mandei beijos para ele no ar.
Entrei no táxi e enquanto nos afastávamos observei ele fechar a porta.
- Para onde, senhorita? – o taxista perguntou.
Estendi um pedaço de papel para ele com o endereço da festa, que Ashley havia conseguido para mim.
Eu já podia sentir a ansiedade dar sinais de vida durante a viagem de carro – viagem mesmo, aquilo parecia não chegar nunca. Minha concentração se focava em só uma coisa assim que pisei fora do carro e a música pode ser ouvida: . Eu precisava achá-lo logo. Quanto mais cedo o achasse, mais rápido poderia agir. Estremeci com uma rajada de vento, me fazendo apressar o passo até começar a passar pelas pessoas. Antes mesmo de chegar a porta daquela grande casa as pessoas já estavam dificultando meu caminho, me fazendo desviar toda hora. Deixei essa irritação de lado e adentrei o lugar, enquanto a música parecia estar me ensurdecendo gradativamente. Eu sabia que essa festa teria muita gente, mas isso era absurdo. O lugar estava lotado, e eu tive sérios problemas para atravessar o que me parecia ser a sala. Assim que uma porta com um espaço que me parecia agradavelmente menos lotado me chamou a atenção, desviei meu caminho para ele, descobrindo ser a cozinha.
- Quer uma? – um garoto me ofereceu educadamente.
Educação era uma coisa que eu já estava começando a sentir falta antes de chegar ali, então aceitei de bom grado a latinha fechada de cerveja que ele me oferecia. Seus cabelos pretos mesclados com loiro caiam sobre a máscara que ele usava estilo zorro, só que laranja, e uma roupa preta.
O primeiro gole da cerveja desceu deliciosamente por minha garganta, me fazendo sorrir.
- Não lembro de ter te convidado pessoalmente, você é amiga de quem? – ele me perguntou.
O segundo gole de cerveja que eu estava tomando pareceu travar em minha garganta, mas eu me esforcei para não engasgar.
- Sou amiga do – disse alto com um sorriso, depois de finalmente ter engolido a cerveja.
- , amigo do ? – ele perguntou animado. Confirmei com a cabeça. Alguém conhece o ? Desde quando ele era uma referencia quando se tratava do ? – Estou procurando eles já faz meia hora! Onde eles estão?
- Também estava procurando eles. Marcamos de nos encontramos aqui na festa – sim, meu bem, eu sou rápida quando se trata de mentir.
- Bom, então o que acha de continuarmos nossa busca juntos? – ele ofereceu indo em direção a porta.
Eu não queria ter que me enfiar no meio de todo mundo de novo, mas sabia que era preciso.
- Claro – respondi segurando com minha mão livre sua mão para que não nos perdêssemos.
Eu não sabia por que, mas alguma coisa no rosto dele me lembrava . Isso atiçou ainda mais minha vontade de encontrá-lo rápido.
Depois de três músicas tocarem em sequencia, finalmente os achamos em um sofá. Poynter, com em seu colo e .
- Finalmente! – o garoto soltou minha mão e os cumprimentou. – E olhem só quem eu achei pra vocês! – ele apontou para mim.
Todos me encararam boquiabertos. Eu sei sweets, estou linda.
- ! – andei até ele e sentei em seu colo. Que culpa tenho se não havia mais espaço no sofá?
- O que você está fazendo aqui? – ele perguntou estreitando os olhos para mim.
- Ora , o que se faz em uma festa? – sorri para ele.
Todos os três garotos pareciam estar com o mesmo tipo de fantasia, mas eu não conseguia decifrar o do que exatamente eles estavam fantasiados. Mas foi o que me deixou mais confusa, pois tinha orelhas verdes e pontudas.
- Vocês vieram de roupão ou isso é algum tipo de guerreiro japonês?
Ele rolou os olhos e ignorou minha pergunta. “Desde quando você conhece o James?”
- O que você está fazendo aqui? – repetiu a pergunta de , provavelmente eles não estavam nos ouvindo por causa da música alta.
Eu a ignorei.
- Quem? – perguntei a , sem entender.
- O dono da festa com quem você estava – ele rolou os olhos. – Brooklie, acho melhor você ir embora.
- , você tem que reaprender a aproveitar o momento – sorri sedutoramente.
- A não iria gostar de saber que você está no meu colo.
- Cadê ela, afinal? Vocês terminaram ou quê?
- Isso não é da sua conta – de repente ele ficou extremamente bravo.
Então eles brigaram mesmo, talvez até tivessem terminado. Isso queria dizer que eu o teria a noite inteira só para mim? Perfeito.
- , estou com saudade – me aproximei de seu ouvido, para que a conversa se tornasse ainda mais íntima. – Muita saudade – passei a mão por seu cabelo.
- Brooklie, vai embora – sua voz estava dura.
- Você sente tanta saudade quanto eu, e sabe disso – deixei que meus lábios tocassem levemente seu pescoço.
Ele afastou o pescoço de mim.
- Me deixa em paz.
- , você não pode ser tão duro comigo – eu disse, fazendo manha. – Você está sendo injusto. Me trocou por aquela garotinha que nem ao menos dá conta de você e ainda fica me afastando desse jeito.
- Eu não te troquei, até onde eu saiba, nós já havíamos terminado antes dela aparecer – ele respondeu, mas ignorei essa parte. Se não fosse por ela, ele teria voltado pra mim rapidinho. – E eu não vou discutir sobre ela com você. Só nos deixe em paz.
- Eu deixo, com uma condição. – Ele me olhou desconfiado. – Eu quero um beijo.
- Não – ele respondeu.
- Vamos lá, – fiz carinho em sua bochecha. – Um beijo e prometo deixar vocês em paz.
É claro que eu estava blefando, mas sabia que se ele cedesse a um beijo, o resto se tornaria mais fácil.
- Não.
- A paz de vocês não vale isso?
- Brooklie, vá embora - ele repetiu cansado.
- – aproximei meu rosto do dele –, é só um beijo – ergui as sobrancelhas e deixei meu sorriso sedutor tomar meu rosto novamente.
- Promete?
Ele estava cedendo? E o que ele estava esperando que eu respondesse?
- Prometo.
Aproximei-me mais ainda dele, que recuou. Passei a mão para sua nuca, puxando-o para mim.
Nossos lábios se encontraram e deixei que nossas línguas começassem a festa sem demora. Ele não me envolveu com seus braços, mas respondia ao beijo. Eu estava tendo o que eu queria, e isso me excitou.
Antes que me desse conta, ele estava rompendo o beijo.
- Você pertence a mim, e sabe disso – disse antes de ele afastar nossos rostos totalmente.
- Não, Brooklie – ele respondeu, e eu fiquei confusa. – Agora é hora de você ir embora.
Ele me empurrou de seu colo, e eu levantei antes que caísse.

Capítulo 20
Five Colours In Her Hair


Aquilo só podia ser um pesadelo. A música ensurdecedora, os garotos que haviam mexido comigo em meio à multidão que me estressava e o fato de minha linda fantasia ter sido destruída não pareciam nada comparados ao que eu estava vendo agora. Por favor, me acordem, nesse sonho eu não quero estar.
De repente, seus olhos encontraram os meus se enchendo de desespero. Senti uma gota escorrer por minha bochecha. Só agora ele percebeu que eu cheguei? Era assim, nós brigávamos e ele corria para ela?
Balancei a cabeça com força e saí empurrando todos, criando passagem de qualquer jeito. Eu só queria sair dali. Eu só queria minha cama, meu travesseiro e meu ursinho para chorar abertamente.
Assim que finalmente encontrei ar livre para encher meus pulmões, que já falhavam, senti uma mão me puxar. Eu não precisava ter me virado para saber quem era, mas mesmo assim o fiz.
- Não é nada disso que você está pensando – ele disse.
Eu ri ironicamente. Ele tinha que escolher uma frase tão clichê?
- Eu não estou pensando, eu vi – disse, sentindo meu coração se apertar ao fitar aqueles olhos .
- Eu te juro, . Foi só um beijo. Só queria que ela nos deixasse em paz.
- Nos deixasse em paz, ? Isso foi algum tipo de negociação, uma troca, então? – as lágrimas que insistiam em escorrer por meu rosto agora pareciam refletir nos olhos dele. – Por que, pra mim, sabe o que pareceu? Você beijando a sua ex-namorada após termos terminado.
- Nós não tínhamos terminado – ele disse firme.
- Ah, não? – ergui as sobrancelhas. – Então estamos terminando agora!
Soltei meu braço de sua mão em um movimento rápido e caminhei apressada, tentando me afastar daquela casa o mais rápido possível.
- Não! – ele gritou. Eu não olhei pra trás, mas ele apareceu em minha frente. Tentei desviar meu caminho, mas ele me segurou pelos dois braços. – Você não pode fazer isso comigo – ele me sacudiu.
- ME SOLTA, – Minha raiva era tanta que eu não podia controlar os gritos. – Você não presta, eu nunca devia ter confiado em você.
- Desculpe. – para minha surpresa, ele me soltou. – É melhor você ficar longe de mim mesmo. Vá embora.
Eu comecei a me afastar com raiva, sentindo todos meus músculos gritarem de ódio. Sem me dar conta, eu estava olhando para trás e ele estava abaixado, chorando. Chorando como uma criança. Meu coração que já havia sido partido pareceu ter sido pulverizado agora.
Brooklie se aproximou dele, falando alguma coisa e pedindo para que ele se levantasse. “Vá embora logo, droga!” pude ouvir gritar para ela. “Você já teve o que queria!”
Eu já estava longe demais para entender o que eles falavam, quando olhei para trás e o encontrei sozinho novamente, agora sentado na grama. Parecia ainda estar chorando.
Parei de andar. Como seria minha vida sem ? Eu não sabia responder. De repente, senti como se não pudesse mais respirar. Sem ele ao meu lado, sem sua alegria, suas brincadeiras bobas, seus mal-humores, seus carinhos.
Estremeci. Minhas pernas não pareciam mais capazes de me sustentar, então me sentei ali mesmo na calçada, antes que caísse.
O que seria de mim sem meu herói pra me proteger? Meu anjo da guarda sempre ali para me vigiar, para me confortar?
Ele era o único no mundo que me entendia. Nem mesmo meus amigos me entendiam tanto quanto ele. Eu confiava nele.
Ele ergueu a cabeça e seu olhar parou sobre mim, imóvel. Foi como se uma luz iluminasse minha mente. Eu confiava nele. Por que não acreditaria nele, afinal? Quero dizer, quantas vezes Brooklie já havia tentado me sabotar? Não dava pra contar.
E eu tinha que considerar que podia ter terminado comigo quando aquela cria do demônio contou que eu havia ficado com outro garoto em uma festa. Nós não tínhamos nada oficialmente sério, mas já sentíamos que era sério e, mesmo eu realmente tendo ficado com outra pessoa – lembrando que estava bêbada – ele reconsiderou. Ele me perdoou, porque gostava de mim e sabia que eu gostava tanto quanto.
Continuei o encarando. Eu tinha certeza de nosso amor, então, por que teria que fugir dele? Por que teria que transformar isso em um final?
Não era só por mim, pela minha necessidade dele, mas por nós que estava levantando, sentindo a coragem me dominar. nunca havia mentido para mim, não seria agora que ele seria estúpido de fazê-lo.
Minhas pernas não estavam exatamente firmes, mas corri em sua direção o mais rápido que pude. Ele se levantou, me recebendo em seus braços. Foi então que eu percebi que ele estava chorando mais do que antes.
- Pequena, eu juro – ele disse entre o choro –, e-eu não tenho nada com a...
Eu o interrompi com um beijo. Deixei que sua língua acarinhasse a minha. Era como se fosse a primeira vez que nos beijávamos. Só pareceu que voltei realmente a respirar quando seus braços me envolveram com vontade novamente. Ele precisava de mim tanto quanto eu precisava dele, ele nunca mentiria para mim.
Ele interrompeu nosso beijo, fazendo uma trilha de beijos até minha orelha.
- Eu te amo – ele sussurrou. – Nunca duvide disso – eu sorri enquanto ele fazia o caminho inverso de seus beijos até voltar a minha boca.
Nós ficamos ali fora até que nos chamou para entrarmos novamente. Assim que o fizemos, ele nos guiou até a frente de um palco, no meio da sala. Eu nem o havia notado antes ali.
Todos nossos amigos estavam ali, na primeira fila. estava fantasiada de policial, de boneca e de pirata. Ao lado delas, , e estavam fantasiado de jedi, assim como . Mas tinha um diferencial, orelhas postiças verdes e pontudas.
- não está fantasiado do que eu estou pensando, está? – perguntei a .
- Nós tentamos fantasiá-lo de Princesa Léia, mas ele preferiu vir de Mestre Yoda. – nós rimos. – E você, amor? Detetive?
Eu vestia um sobretudo creme, uma bota de salto até os joelhos e um chapéu que havia arrumado de última hora. Afinal, minha fantasia havia sido destruída, e eu tinha uma ideia de quem havia feito o estrago.
- É – respondi com um sorrisinho. Pelo menos eu estava fantasiada de alguma coisa. – Aquele no palco é o James? Do que ele tá vestido?
- Depois eu pergunto pra ele.
- Eles vão fazer um show? – perguntei curiosa.
- É, um show curtinho – ele deu um beijo em meu cabelo. – Sabe, eu e o estamos começando a compor juntos, e está dando certo!
A banda em cima do palco começou a tocar, e é claro que eu conhecia a música. já havia a cantado para nós. Não só nós, como muita gente ali acompanhou a música animadamente, mesmo alguns arriscando a letra errada.
- Espera aqui, amor – pediu e antes que eu pudesse responder ele se aproximou mais ainda do palquinho, chamando James, que havia acabado de terminar a música. James se abaixou e ele sussurrou alguma coisa em seu ouvido, que concordou positivamente.
subiu no palco e pegou o microfone.
- Eu gostaria de tocar uma música para minha linda namorada ali na frente – ele começou a dizer, e eu senti minhas bochechas arderem. – Aquela com cinco cores no cabelo. Bom, essa música se chama “Not Alone”, espero que gostem.
Um dos garotos que estava no palco entregou um violão para ele, e desceu em seguida, junto com os outros.
deu os primeiros acordes e somente quando começou a cantar a melodia fez sentido para mim.

Life is getting harder day by day
And I don't know what to do or what to say, yeah
And my mind is growing weak, every step I take
It's uncontrolable, now they think I'm fake, yeah


Senti uma lágrima escapar de meus olhos, meu coração parecia incendiar novamente.

'Cos I'm not alone
But I'm not alone
I'm not alone


Ele tinha razão, eu não estava sozinha. Ele estava comigo, sempre estaria.

And I, I get on the train on my own
Yeah, my tired radio, keeps playing tired songs


Ele havia conseguido terminar a música? Eu sorri para ele, que me retribuiu com o mesmo calor.

And I know that there's not long to go
Oh, when all I wanna do, is just go home
Yeah yeah
But I'm not alone
But I'm not alone
People rip me from the clothes, I wear, yeah
Everyday seems to be the same, they just swear, yeah
They just don't care
They just don't care
They just don't care
'Cos I'm not alone
But I'm not alone
Na na na na na na na na na na
Na na na na na na na na na na no, no no
Na na na na na na na na na na
Na na na na na na na na na na no no
But I'm not alone
La la la la
I'm not alone


Ele terminou de cantar e deu o último acorde, arrancando aplausos e gritos de todos ali, o que me deu um susto. Eu tinha sido simplesmente hipnotizada.
- Gostou? – ele perguntou esperançoso.
- Amei – respondi com um largo sorriso. Ele sorriu da mesma forma. – Você é perfeito.
- Te amo, pequena – ele disse e me deu um selinho.
- Também te amo – deixei nossas testas juntas, podendo olhar em seus olhos.
Os garotos voltaram ao palquinho e tocaram mais duas músicas antes de voltar com os sons da eletrônica. As pessoas se dispersaram um pouco mais, e começou a me fazer dançar. Quando reconheci as batidas de “Good Girls Go Bad”, me lembrei do motivo pelo qual esse sobretudo havia sido tão conveniente.
- Tem quartos aqui? – perguntei ao ouvido de , alto o bastante para que somente ele ouvisse.
Um sorriso pervertido brincou em seu rosto. E ele não me respondeu, apenas me puxou e guiou por entre a multidão, até começarmos a subir as escadas e irmos para um corredor onde a música parecia não ter abaixado praticamente em nada o volume. Havia muito casais se pegando por ali, ou pessoas bêbadas passando e ele me guiou até achar um quarto livre, me puxando para dentro dele.
Antes que o barulho da porta sendo fechada chegasse aos meus ouvidos, os lábios de já estavam grudados nos meus.
Meu sangue de repente parecia lava, e tudo o que eu queria era beijá-lo mais e mais. Minhas mãos atrapalhavam seus cabelos enquanto as dele passeavam livremente por meu corpo. Onde quer que elas tocassem, era como se choques me atingissem.
Desci minhas mãos de seu cabelo e comecei a procurar a abertura da roupa dele. Estava calor demais para continuar com elas, mas parecia não haver jeito. Ele riu do meu desespero e se livrou da roupa com facilidade, e eu adorei ajudá-lo como pude.
“She was so shy” ele cantarolou junto com a música. “'til I drove her wild”
- Cala boca – reclamei rindo e o empurrando na cama, atrás dele.
Ter a imagem dele ali, de boxer branca na minha frente, me animou, digamos... muito.
Comecei a desabotoar meu sobretudo.
- Quer ajuda? – ele ofereceu com um sorriso nada católico.
Neguei com a cabeça, me movimentando conforme a música. Continuei a desabotoar vagarosamente meu sobretudo. Agora era eu quem ria por causa do desespero dele.
Quando finalmente cheguei ao último botão, a boca dele praticamente caiu. Deixei que o sobretudo caísse aos meus pés e coloquei as mãos na cintura.
- Uou! – foi a única coisa que ele conseguiu balbuciar.
Eu gargalhei. Era exatamente isso que eu disse que ele diria quando me visse com aquele espartilho. Convenientemente, o espartilho preto e vermelho que eu usava combinava perfeitamente com a tatuagem de frufru em minha coxa.
Sem conseguir mais esperar, me aproximei dele, sentando em seu colo.
“I make them good girls go bad” ele cantou junto com a música, convencido, e me puxou até que nossos corpos estivessem colados.
“I know your type, boy you're dangerous, yeah you're that guy” cantei para ele, junto com a garota que agora cantava. Antes que eu pudesse continuar, ele me beijou com urgência, deslizando suas mãos sem pudor por meu corpo.

A consciência voltava e eu observei uma imagem não muito clara se mexendo a minha frente. Esfreguei meus olhos e soltei um bocejo enquanto me espreguiçava. Ao abrir os olhos percebi que o que se movia era , colocando de volta a fantasia da noite passada.
- Desculpe, te acordei, amor? – ele subiu na cama e me deu um selinho.
- Não acredito que dormimos aqui – me sentei na cama, e as imagens e sensações da noite passada vieram a minha mente. Estremeci.
sorriu. “Não se preocupe, querida, James não se importou.”
Senti meu estomago reclamar. “Tô com fome.” Fiz biquinho.
Ele recolheu minhas roupas que estavam jogadas no chão, jogou-as em cima da cama. Comecei a me vestir.
- Onde você conseguiu esse espartilho? – ele perguntou enquanto eu o ajustava no corpo.
Senti minhas bochechas esquentarem. “Você comprou ele.” Ele fez cara de indagação. “Naquela loja do shopping.”
Ele sorriu pervertido. “Acho que vou explodir suas roupas de novo.”
Fiz sinal com a mão para que ele se aproximasse. “Estamos juntos no lado bom da força novamente?” perguntei e ele riu.
- Estamos – ele respondeu e me deu um selinho. – Acho que te devo muita confiança depois de ontem – fiz uma careta. Ele me puxou pelas mãos e me levantou da cama, esticando o sobretudo para que eu vestisse. – Vem, vamos comer alguma coisa.
Nós descemos as escadas e aquela casa se encontrava em estado de calamidade. Com algum esforço chegamos à cozinha, onde encontramos nossos amigos ali, além de mais três que eu não conhecia.
- Aí está a garota com cinco cores no cabelo! – James disse me recepcionando. Eu sorri sem graça. – Todo mundo ficou me perguntando quem diabos era aquela estranha com cinco cores no cabelo.
- Estranha, valeu aí – eu desviei o olhar para o teto.
- Todos falavam de você, mas ninguém sabia seu nome – disse e roubou alguma coisa do prato de enquanto ela estava distraída.
- Meu Deus, o que eu fiz de errado? – perguntei preocupada.
- Você tem cinco cores no seu cabelo e é diferente, isso foi o bastante – disse James.
chegou perto me abraçou e rodou no ar, me fazendo dar um gritinho.
- Meu Arco-Íris é oficialmente popular – ele disse ainda sem me soltar.
Eu dei um beijo na bochecha dele, ligeiramente tonta. “Vejo que alguém acordou de bom humor.” Dei uma olhadela para , que parecia ter dormido menos que eu naquela noite.
- Ok, me declaro culpada – ela ergueu as mãos no ar, arrancando risadas de todos. – E espero que você tenha tomado cuidado com meu sobretudo.
- Nem encostei nele – já foi logo se defendendo.
- Seu sobretudo está impecável – garanti. – A única diferença é que fica mais bonito em mim.
- Sem graça – mostrou a língua.
- Prefiro o que tá por baixo – sussurrou em meu ouvido e senti minhas bochechas arderem em conjunto com um arrepio.
apareceu na porta da cozinha parecendo um zumbi, seus cabelos curtos bagunçados. Ela esfregou os olhos, só então se dando conta de que todos a observavam.
- Parem com isso! – ela reclamou, mas sua voz saiu ligeiramente rouca.
- Ressaca? – perguntou , com um tom de compreensão.
- Ahn? – ela piscou algumas vezes. – Ah, é. Muita ressaca.
Mas toda a sua credibilidade foi tirada assim que adentrou a cozinha, bocejando, sem camisa.
- Vocês chegaram a dormir? – a pergunta saiu antes que eu me desse conta.
- Não – ele respondeu, e arregalou os olhos, se encolhendo atrás do balcão, o rosto vermelho.
- Ressaca, né, espertinha? – disse, segurando o riso. – Que coisa feia mentir.
- Nem vem, foi você que enganou minha mãe pra eu poder vir – ela retrucou, se recuperando da vergonha enquanto se aproximava e lhe dava um beijo na bochecha.
- Mentir para os pais é diferente – disse . – Pra nós não pode.
- Tem suco, James? – perguntou, ainda muito aéreo para prestar atenção na conversa.
- Perto da pia – James respondeu.
voltou a se aproximar de no caminho, aproveitando para dar-lhe uma mordida no braço, a fazendo gritar e ganhando um tapa – que ele pareceu nem sentir – e foi até a pia pegar o suco.
- Se a menina chegar roxa em casa, vai ficar difícil a mãe dela acreditar que era uma festa do pijama – ralhou com , que ainda parecia não a estar ouvindo.
- Contanto que ninguém tenha quebrado nenhuma das camas, o resto a gente arruma – James disse distraído.
cuspiu o suco na pia e começou a engasgar, e todos congelaram, o observando. Ele continuou a tossir e parecia que iria conseguir realmente abrir um buraco embaixo dela de tanta vergonha que seu rosto voltava a transparecer.
E o que todos nós podíamos fazer agora além de rir da cara deles?



Continue lendo >>


Nota da Beta: Erros? Envie diretamente para mim pelo email awfulhurricano@gmail.com ou através de um tweet para @mimdeixa (lembrando que eu NÃO sou a autora). Não use a caixinha de comentários, por favor. xx Abby