História por: RaphaellaR. || Beta-Reader: Celine (até o capítulo 4) e Gabriella
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1. Dos sete pecados capitais
22 de outubro, quinta-feira 10h46min.
Lá estava eu, mais uma vez, na detenção, como sempre. Por quê? O idiota do me perturbou na aula de física, então quebrei seu nariz. Simples assim. Sabe não foi nada demais, apenas um murro em cheio para que ele calasse aquela maldita boca. Idiota! Aquele garoto se achava o burguês da escola. Tudo bem que o Joseph Finnigan Institute é uma das melhores escolas da cidade, e que para conseguir uma vaga é difícil, mas não precisa estar aqui, sua família tem dinheiro para pagar uma escola cheia de burgueses idiotas como ele, aquele imbecil só estava tirando a vaga de quem precisava, assim como seus amigos! O problema é que ele sempre esteve e inferniza minha vida desde sempre dentro desse colégio. Dani-se ele e o resto do mundo! Que raiva que me dava isso! O pior era que tinha que aturá-lo todos os dias, como se não já bastasse às aulas juntos, ainda tinha que olhar para a cara dele nos corredores da escola. Levantei da cadeira, quase a deixando cair pra trás, olhei para os lados, me certificando de que não tinha ninguém por perto, então coloquei minha mochila em meu ombro e caminhei até a janela pulando do primeiro andar, ao atingir o chão rolei por ele para que não machucasse minhas pernas. O inspetor que estava me vigiando havia saído para ir ao banheiro, portando aproveitei a deixa. Fui direto pra casa, pegando o metrô, assim que cheguei, minha mãe estava saindo para trabalhar.
– O que faz há essa hora em casa? – perguntou assim que me viu.
– Quebrei o nariz de um babaca lá no colégio, fui mandada para detenção e fugi. Devem te ligar para você ir lá. – falei, jogando minha mochila no pé do sofá e me deitando nele. Ela já estava acostumada com minhas brigas.
– Não acredito! Já estou ficando cansada de ir àquela escola escutar o diretor reclamando de você! Olha, esse é o meu último aviso. Apronte mais uma e estará fora dessa casa. – disse irritada, apontando o dedo em minha direção. A para. Aquela mulher estava ficando cada vez mais caduca, até parece que eu a obedecia e ela sabia muito bem disso, não adiantava me dar sermões... – ! Estou falando contigo, pelo menos está me escutando?!
– Tá! Tanto faz, se preferir, vou morar com o meu pai. Sabe como é, um bêbado sempre precisa de uma companhia para acompanhá-lo na cachaça. – dei uma piscadinha marota junto de um sorrisinho.
Minha mãe veio até mim e me deu um tapa no rosto. Ao mesmo tempo em que fiquei com raiva, me deu vontade de rir. E foi exatamente o que fiz, comecei a rir da cara dela. Essas coisas não adiantavam comigo e só fazia com que eu ficasse mais revoltada. Ela já deveria saber muito bem disso, mas é claro, minha mãe passava a maior parte do tempo trabalhando, não sei pra que, já que nós nunca víamos a cor do dinheiro dela. Não era por mais que eu tinha que me virar pra conseguir colocar as coisas dentro dessa pocilga de apartamento. Não estou reclamando, só dizendo que ela não faz nada por nós, e acho que não tem o direito de falar besteiras comigo.
– Te dou casa, comida e roupa lavada. – está vendo o que acabei de falar. Minha mãe joga na cara o que ela não faz, e isso me deixa irritada. – Tudo o que recebo são piadinhas ridículas suas e reclamações. – esbravejou. Por um momento, pensei que ficaria surda com toda aquela gritaria.
Não respondi, apenas fiquei olhando pra ela com uma cara de tédio extremo. Sério que você vai ficar jogando essa porcaria na minha cara? Não torra minha paciência que já é pouca.
– Quando chegar em casa, quero ver tudo limpo, seu irmão de banho tomado e dormindo. – ordenou, ainda parada à minha frente segurando sua pequena bolsinha bege já encardia pelo tempo de uso.
– Já foi? – perguntei com raiva, louca para que ela fosse embora logo e me deixasse sozinha.
Minha mãe bufou e foi embora...
Eu morava em um “apertamento” que ficava no subsolo de um prédio. Ao olhar pela janela, podiam-se ver os pés das pessoas passando na calçada. Não era incrível?! Porcaria de apartamento. Parecia mais um bueiro ou qualquer coisa semelhante. Ele tinha três quartos minúsculos, um banheiro micro e a sala era um conjugado com a cozinha. Mal conseguia andar ali dentro de tão apertado que era. Fiquei olhando pro teto enquanto escutava o arrastar de cadeiras do andar de cima. Minha vontade era de pegar a vassoura e socar o teto, parecia que estavam brincando de dança das cadeiras de tanto barulho que faziam. Nem preciso mencionar que sou uma vizinha chata, né? Por fim, revolvi não brigar com o vizinho, me obriguei a levantar do sofá e fui fazer algo pra comer. Peguei um pacote de macarrão no armário e coloquei para cozinhar. Enquanto isso fui arrumando a casa como me foi ordenado. Só obedeço para que não aja mais confusão do que já tem.
Após o almoço, fiquei jogando vídeo game, já que não tinha nada melhor para fazer. Quando deu cinco da tarde, fui buscar meu irmãzinho na escola.
– ! – gritou o pequeno assim que me viu. Ele veio correndo em minha direção e me abraçou.
– Josh. – retribui o abraço e o peguei no colo.
Josh, meu irmãzinho caçula, tinha apenas cinco anos. Lindo e adorável, era a criança mais doce que já tinha visto. Voltamos para casa, fiz um jantar gostoso para ele, lhe dei um banho quentinho e o coloquei para ver TV. Acabou que ele caiu no sono deitado no sofá, peguei-o e o levei para seu quarto. Agora estava tudo um silêncio absoluto, acho que o vizinho cansou de arrastar as coisas. Resolvi fazer minha lição, peguei meus livros e os coloquei em cima da mesa de jantar. Por mais estranho que pareça, eu gostava de fazer aqueles exercícios de matemática, já resolvia as contas de cabeça. Quando terminei de fazê-los, minha mãe chegou.
– Pelo menos está fazendo algo que preste. – disse ao me ver guardando o livro e o caderno na mochila. – Seu diretor ligou para meu trabalho e disse que você estava suspensa por ter fugido da detenção. – falou colocando suas chaves e bolsa sobre de mesa.
– Que bom. Pelo menos assim não preciso olhar na cara daqueles fracassados. – desdenhei levantando.
– É, mas falei para ele que seria isso o que mais queria. Então ele disse que você vai ter que ajudar os alunos que estão precisando de nota em matemática, e isso será após a aula. – ela foi até a geladeira, pegou o vidro de leite e encheu um copo.
Comecei a rir. Isso só podia ser piada. Tudo bem que minha nota em matemática era a melhor da sala, mas isso não justifica nada. Eles não poderiam fazer isso comigo.
– Está brincando, né? Só pode. – balancei a cabeça em afirmação esperando que minha mãe fizesse o mesmo.
– É isso mesmo que ouviu. Amanhã você vai pra aula e depois dela, irá ajudar os alunos na detenção. – mamãe deu um sorriso, ela gostava de ver minha desgraça, não é possível. – Vejo que arrumou tudo direitinho, posso até te dar um doce se quiser.
– Enfia o doce no... – falei alto, indo para o meu quarto e batendo a porta antes de terminar a frase.
Peguei meu pijama e fui tomar um banho. Já estava cansada e queria dormir. Tirei minha roupa e me encarei nua no espelho. Para ser mais exata, fiquei olhando minha tatuagem que tinha nas costelas com o desenho de uma roseira com sete rosas de diversos tamanhos sendo três botões, era enorme, vinha da minha cintura, pegando um pequeno pedaço de minha barriga e subia até a altura de meus seios, seu caule era em um estilo tribal, toda preta. Minha mãe nem sabia da existência dela, exceto o tatuador e Jared. Por fim, entrei no box, mas assim que liguei o chuveiro, ele queimou.
– Não é possível que isso está acontecendo comigo?! – xinguei. Peguei o vidro de shampoo e dei umas batidas com ele no chuveiro. – Funciona, merda! – até parecia que aquilo ia adiantar.
Tive que tomar banho com a água gelada. Minha vida estava indo de vento em popa. Eu deveria mesmo merecer isso.
23 de outubro, sexta-feira.
Meu rádio-relógio berrou em meu ouvido, anunciado que eram seis da manhã. Soquei-o para que parasse de fazer escândalo, não sei como o coitado aguenta tantos murros todos os dias. Levantei da cama parecendo um zumbi, e peguei uma calça jeans preta que achei jogada no chão perto da cama, vasculhei meu armário e vesti uma blusa listrada preta e branca de mandas compridas. Sai do quanto e passei no de Josh para acordá-lo também, fui para a cozinha comer algo, no caminho achei um casaco preto, então o coloquei. A única coisa que encontrei para comer foi o cereal de Josh, coloquei um pouco em uma tigela e mandei para dentro puro mesmo. Logo meu irmãozinho já estava de pé ao meu lado esperando que eu fizesse o mesmo para ele, peguei outra tigela azul e coloquei cereal com leite. Enquanto ele comia voltei até meu quarto, calcei meu all star preto surrado e coloquei minha touca preta de linha. Depois escovei meus dentes e esperei na sala até que Josh estivesse completamente pronto, ele já sabia se vestir sozinho mesmo e não precisava da minha ajuda. Quando ele chegou na sala já arrumado, fomos embora, o deixei na escola dele, depois fui para a minha. Mas assim quando cheguei lá tive a infelicidade de encontrar .
– Olha só, a apareceu. – passou por mim, fazendo questão de me esbarrar. O sangue já havia subido em minha cabeça, e era praticamente impossível de me controlar.
– Menino, não me irrita, a não ser que queira que eu quebre seus dentes dessa vez. – falei fechando minha mão com força e parando de andar. Tinha que manter o controle, caso contrário ficaria mais prejudicada do que já estava.
Ele soltou uma risada debochada.
– Morro de medo de você. – mexeu com as mãos, fingindo tremer. – Olha só como estou tremendo. – falou e seus amigos riram. gostava de ter um público, típico de animais feito ele.
– Hum... O que é isso no seu nariz? Ah, sim, um curativo, porque EU o quebrei ontem. – apontei pra cara dele bem de perto. – Se toca, . Te quebro em dois tempos. – saí andando.
Escutei os meninos gritando zombando dele.
– Vai deixar, ? – alguém perguntou.
– Não bato em meninas. – falou se achando o rei da cocada preta.
Pra quê ele foi falar isso? Voltei e o empurrei contra os armários com força, segurei em seu casaco pela gola e fiquei na ponta dos pés para que o encarasse frente a frente. Embora fosse bem mais alto e forte do que eu, ele nunca reagia.
– Então me considere um homem e vem pra cima. – disse perto de seu rosto.
– Já falei que não bato em menina. – se aproximou mais ainda, então pude sentir seu hálito de chiclete de menta, já que seus lábios estavam próximos demais.
Dei um soco em seu rosto. Abri e fechei meus dedos, socar a cara dele doía, mas me satisfazia.
– Então reconsidere. – saí andando dali sem olhar pra trás.
Garoto ridículo! Quem ele pensa que é? Babaca! Fui até meu armário, dei uma olhada na porta dele, vendo uma fotografia minha e de Josh, o que me fez sorrir. Peguei o material que ia precisar e assim que o fechei a pequena porta de ferro, dei de cara com .
– O que quer? – perguntei, entediada, me encostando ao armário.
– O que temos pra hoje? – se encostou no armário ao lado.
– Pra você, nada. – fiquei olhando os alunos que passavam por nós.
– Qual é? – ele se virou para mim e passou a mão em meu rosto. – Sei que tem algo para mim.
– Tire suas mãos de mim. Já falei que não tenho nada. – tirei sua mão de minha face. – Dá o fora.
– Hey, não seja tão durona, sei que tem algo aí. – continuava atrás de mim.
– Ah, não me faça rir da sua cara, . Quando me pagar o que deve, nós conversamos, ok? – saí andando, mas parei e me virei quando vi que ele vinha atrás de mim. – Olha só pra você, fica aí se arrastando atrás dos outros por orégano. – debochei. – Vai procurar a sua turma, menino.
– , espera. – segurou meu braço.
– Não me chama assim, não te dou essa intimidade. Agora me solta antes que arrebente sua cara também. – ameacei, não tinha a menor paciência com esses meninos.
me soltou. Caminhei para a sala. Aula de biologia, que troço chato. Me sentei na ultima carteira, peguei meu iPod, coloquei qualquer música para tocar e fiquei olhando pela janela, pensando na minha vida.
Bateu o sinal do termino da primeira aula, arrumei meu material na mochila e fui para a sala de física “de novo”. Quando cheguei, o professor estava escrevendo alguma coisa no quadro, mas não fiz questão de parar para ler, só me sentei no meu típico lugar de sempre, próximo à janela. Quando a turma acabou de chegar, o professor começou a explicar algo sobre um trabalho em dupla. Bem, eu não estava prestando muita atenção, até que ele chamou meu nome e disse que eu seria par de . ÓTIMO, NÃO? Olhei para a cara do dito cujo e revirei os olhos. Me diz por que ainda não mudei de turma? Também não sei. O infeliz veio e sentou do meu lado a uma distância razoável. começou a copiar o que estava no quadro. Enquanto isso, achei melhor olhar pela janela e ver o dia nublado que seria melhor negócio.
– . – escutei o indigente chamar e me virei para ver o que era. – Responde essas perguntas logo para acabarmos com isso rápido. – claro, a parte mais difícil fica pra mim.
Bufei e arranquei a folha do caderno dele, colocando-a sobre o meu. Respondi tudo, não fazia questão de que me ajudasse. Coloquei meu nome no topo do papel e passei pra ele de volta, que fez o mesmo. Levantei pra entregá-la ao professor, que passou o olho na folha e disse que estávamos liberados. Peguei minhas coisas e saí da sala. Dei uma volta pelo campus para passar o tempo. O vento gelado batia em meu rosto, meus cabelos estavam para dentro do casaco e por baixo da touca, como de costume. Resolvi tirá-los um pouco e senti o vento bagunçá-los, balancei a cabeça e dei um sorriso quando o cheiro de flores dominou o ar. Por um instante, me senti feliz apenas por estar ali sozinha. Estava muito silencioso, os alunos deveriam estar em suas aulas chatas e o lugar estava vazio só para mim, um gramado enorme para correr. Foi isso que fiz, joguei minha mochila no chão, iPod, celular e saí correndo pelo gramado dando estrelas e pulos. Estava rindo feito uma criança, me joguei em cima de minha mochila e deitei a cabeça nela, fiquei olhando somente para o céu nublado. Como sou idiota! Ri sozinha. Não sei por que estava fazendo aquilo, apenas fiz.
– Nossa! Nunca pensei que veria você assim. – escutei uma voz um tanto quanto familiar; .
Enrolei meu cabelo, coloquei-o para dentro do casaco e pus minha touca, me pondo de pé com minha mochila já em mãos.
– O que você está fazendo aqui? – perguntei com raiva.
– Sabe, faz pouco tempo que saí da aula de física. – disse com cara de pensador. – Aí estava andando pelo colégio, e vi uma menina toda de preto com os cabelos longos, que vinham assim até a cintura, e ela estava correndo pelo gramado...
– Cale a boca, . – o interrompi. – Seu ridículo! Não acredito que estava me vigiando! – que raiva! Eu não devia ter feito isso. Por que fiz isso mesmo? Ah, sim, porque sou uma debiloide completa!
– Não…
– Que não o quê, garoto?! – falei exaltada. – Claro que estava! – balancei a cabeça em negação e olhei para ele, que se divertia com o meu aborrecimento, minha mão se fechou em um punho.
O sinal tocou.
– Vamos indo. – foi andando para o prédio da escola.
Animal! Poxa, não posso xingá-lo assim, é um insulto aos animais. Peguei meu iPod e o celular que continuavam no gramado, coloquei-os no bolso de meu casaco e fui andando para o prédio. Assim que passava pelo corredor, escutei alguém me chamar.
– Hey, . – olhei para trás e vi .
– Fala, . – parei de andar para esperá-lo.
– Hoje vai ter uma festa lá em casa. Você vai, né? – convidou.
– Sexta-feira não posso, tenho que ficar com Josh. – falei, ajeitando a mochila em meu ombro.
– Queria que você fosse. – ficou chateado e depois fez uma cara de coitado. – Você nunca vai às minhas festas.
– , olha pra você. É um dos meninos mais populares da escola. Andando comigo? Não sou boa influência. Vão achar que está comprando alguma droga comigo. – soltei um sorrisinho de deboche. – Não sou fã de festas. – agora essa foi à mentira mais deslavada que já contei! Nós conversávamos caminhando pelo corredor em direção à sala de aula.
– Não me importo com o que pensam de mim. Te acho uma menina maneira. – ele parou na porta da sala.
– Só por que te ajudei algumas vezes com a matéria não quer dizer que sou legal. – ergui uma sobrancelha, e não, não sou nada legal.
– Você tem algo especial além das outras meninas. – tentou me convencer com um argumento clichê.
– Sim, tenho cabeça. – fiz uma cara de “tanto faz”. – Aula de matemática agora. Vai matar? – apontei com o polegar para a porta da sala que estava aberta.
– Sim, você sabe que não sou muito compatível com ela. – torceu o nariz. – Vamos matar?
– Não, obrigado. Hoje tem teste. – ri da cara que ele fez. – Você não sabia, não é?
– Não. Você vai me dar cola? – estendeu um sorriso. – Por favor. – agora fez cara de cachorrinho pidão.
– Está bem, , faço o teste pra você. – puxei-o pela manga do casaco. – Mas quero algo em troca. – pedi.
– O que você quiser. – entramos na sala e sentamos nas últimas carteiras.
– Pare de me encher o saco com essas festinhas. – dei língua pra ele.
– Só quero que você vá uma vez. Se não gostar prometo que nunca mais te perturbo. – disse puxando meu casaco.
– O que eu não faço por você com essa cara de cachorrinho pidão? Está bem! Eu vou, mas só depois que a minha mãe chegar. E isso vai ser tarde. – me virei para frente e coloquei minha mochila no chão.
– Sabia que você iria. – me abraçou. – E não tenho cara de cachorrinho pidão.
– Ah, tem sim. Agora fica quieto, senão o professor vai te mudar de lugar. – o empurrei.
Após as aulas terminarem, fui para a detenção dar as ajudar os fracassados com a matéria.
– Olha quem está em minhas mãos hoje. . – falei debochando quando vi o sentando em uma das cadeiras junto com meia dúzia de alunos. – O que você fez? Tacou papel higiênico no teto?
– Não, tirei nota baixa no teste de hoje. – ele estava de cabeça baixa.
Dei uma gargalhada alta.
– Ah, fala sério! Seu burro. Cadê o teste? – caminhei em sua direção.
Ele pegou em sua mochila e me entregou. Dei uma olhada rápida.
– Você nem tentou resolver os cálculos, como queria tirar alguma nota nesse lixo? – coloquei i teste sobre sua mesa.
não respondeu. Peguei meu caderno e entreguei a ele.
– Tente refazer o teste, tenho a matéria toda aí. Vou ver o que os outros precisam. – até que fui gentil com ele, embora não merecesse.
Fui falar com os outros alunos, ajudando-os com o que tinham dificuldade. Às vezes, perdia a paciência e acabava xingando um de burro ou asno, também podia ser qualquer outra palavra semelhante. Essa cambada de gente que não estuda! Aí agora só dá eu na cabeça para ajudá-los.
– . – me chamou.
– O que foi, abestado? – aproximei-me dele. – É tão difícil de entender que esse aqui é para multiplicar? Como que você conseguiu chegar até aqui?
– Se for pra me tratar com grosseria, deixa que me viro sozinho. – disse, todo irritado, então dei-lhe um tapa bem dado na cabeça. – Dá pra parar?
– Não. Burro! Presta atenção no que você está fazendo. JÁ FALEI QUE É PARA MULTIPLICAR! – dei uns pulinhos de raiva, balançando os braços. – Me dá isso aqui! – peguei a lapiseira de sua mão e resolvi o cálculo. – É assim, viu? Esse você multiplica por esse! – indiquei os números.
– Tá. – pegou a lapiseira de minha mão e me empurrou. – Assim você me sufoca.
– Uhum, seu cérebro precisa de bastante espaço para respirar. Aí dentro só deve ter minhocas. Não faz muita diferença. – dei de ombro enquanto ele me fuzilava com os olhos.
O sinal que indicava o final da detenção tocou. Finalmente! Arranquei meu caderno das mãos do e saí da sala. Mais uma semana com aquele indigente e eu teria um ataque de nervos. Fui direto para a escola de Josh buscá–lo.
– Hey, , vamos comer no McDonalds? – Josh abraçou meu pescoço e uniu nossas cabeças.
– Meu amor, a maninha está sem dinheiro, mas posso pagar um McLanche Feliz pra você. – sorri e dei um beijo em sua bochecha.
– Eba! – coloquei-o no chão e fomos até o McDonalds.
Chegando lá, vi , e sentados em um banco conversando e rindo. Fingi não ter visto eles. Caminhamos até o balcão e fiz o meu pedido.
– Posso te pagar um lanche? – escutei perguntar bem perto de meu ouvido.
– Não, valeu, hoje é só pro Josh. – sorri. – Josh, esse aqui é o , meu amigo. – abaixei para ficar na altura dele.
– Oi, . – estendeu a mão para , que a pegou. – Prazer, sou Josh.
– Prazer. – sorriu. – O que você pediu? – também abaixou para ficar na mesma altura de meu irmão.
– Pedi um McLanche Feliz. Vai vir uma coca-cola bem grande junto com a batata grande, um hambúrguer grande e um brinquedo. – Josh abria os braços sempre quando falava a palavra “grande”.
– Sério? Que legal! E você vai me deixar brincar com o seu brinquedo novo? – Josh me olhou quando fez a pergunta. Eu ri.
– Só se você brincar comigo também. – respondeu dando um pulo.
– Claro que brinco. Quantos anos você também? – não sabia dessa simpatia toda que tinha por crianças.
– Cinco. – abriu a mão.
Meu irmão era um fofo! Agarrei-o e mordi sua bochecha.
– Ai, , assim você me machuca. – reclamou e eu o peguei no colo.
– , esse menino não é um chato? Olha só, eu o aperto e ele ainda reclama. – falei, apertando Josh em meus braços.
– Ai, . – reclamou de novo. – Pode apertar, mas tem que ser devagar. – disse me empurrando.
e eu caímos na risada.
– , o seu irmão é um sarro. – deu um pequeno belisco na bochecha de Josh.
– Com licença, o seu lanche, senhorita. – a garçonete falou me entregando a caixinha.
– Obrigada. – agradeci e entreguei para Josh. – Vamos, meu bebê?
– Eu não sou mais um bebê. – ele fez cara de zangado.
– Ah, não? É o quê, então? – perguntei sorrindo.
– Sou um homem. – agora meu irmão cruzou os braços e fez cara de sério. Ele era cômico demais.
– É isso aí, cara! Fala pra sua irmã que somos homens. – sorriu.
– Bem, eu sei que sou homem, agora você... Já não sei. – Josh respondeu como se fosse gente grande.
– , esse seu irmão não é humano. Onde já se viu uma criança dessa idade responder isso?! – exclamou surpreso.
– Josh, fala com quem você aprendeu? – pedi.
– Com a irmã mais linda do mundo. – abraçou meu pescoço.
– Viu? – sorri. Eu amava muito esse menininho, era meu anjo, meu doce... Minha pequena vida. – , vou indo, ainda tenho que arrumar a casa e dar banho nele.
– Está bem. Depois nos vemos. – tocou meu ombro.
– Ok. Tchau. – acenei.
– Tchau, . – Josh também acenou para ele.
– Tchau, garotão. – bagunçou os cabelos do meu anjinho que riu.
Fomos pra casa, coloquei Josh para comer na sala enquanto via TV. Arrumei tudo, lavei a louça que estava na pia e esquentei uma água para dar banho nele.
Quando deu meia noite, minha mãe chegou.
– Mãe, vou sair. – falei, pegando um casaco.
– Vai aonde? – quis saber.
– Na casa de um amigo. – respondi, pegando minhas chaves.
– Não acha perigoso você andar sozinha a essa hora da noite? – se sentou no sofá. Como se eu nunca andasse à noite por ai.
– Vou pegar o metrô. Chego rapidinho. – dei de ombros, não iria fazer diferença mesmo.
– Tome cuidado e juízo. – pediu.
– Esses aí eu perdi faz tempo. Se encontrá-lo por, diz para voltar pra casa. – saí e fechei a porta rindo.
Coloquei os fones de ouvido, o gorro do casaco e as mãos dentro do bolso dele. Andei escutando música até chegar ao metrô, desci as escadas e o peguei. Tinhas uns bêbados sentados no fundo do vagão, mas nem me importei, contanto que não mexessem comigo, estava bom. Depois de dez minutos, cheguei ao bairro onde morava. Saí do vagão e dei um toque para o celular dele. Afinal, eu nunca tinha ido a sua casa e não sabia onde ficava exatamente.
– . Estou aqui perto do metrô, vem me buscar. – falei assim que atendeu a ligação.
– Aguenta aí. Não demoro. – encerrou a ligação logo em seguida.
Sentei-me no corrimão da entrada do metrô e fiquei esperando o garoto. Logo uma BMW branca apareceu, encostando-se rente ao meio fio e o vidro se abaixou.
– Aí, gatinha, quer uma carona? – perguntou, dando uma piscadinha para mim.
Desci do corrimão e me debrucei na janela.
– Depende para onde for, garotão. – entrei na brincadeira.
– É pra uma festa que está bombando a três quarteirões daqui, está afim de curtir? – deu um sorriso.
– Estou. – falei, abrindo a porta do carro e entrando. – Vamos, gatinho. – dei um beijinho em sua bochecha.
Chegamos rapidamente na casa dele. Se bem que eu não poderia chamar aquilo de casa, estava mais para uma mansão. Realmente, a festa estava “bombando”, a escola inteira deveria estar lá. estacionou o carro na frente de casa e entregou as chaves para um homem de terno que ficou me olhando estranho, no mínimo deveria ter achado que eu era uma bandida ou algo do tipo. Não me importei. Entramos na residência.
– Quer algo para beber? – ofereceu.
– Quero. – sorri o seguindo.
– Vamos até a cozinha pegar. – pegou minha mão e saiu me puxando pelo meio das pessoas.
Chegamos na tal cozinha, que era enorme. foi até a geladeira, pegou uma cerveja e jogou para mim.
– , está doido? Podia ter caído. – falei ao segurar a garrafa por reflexo.
– Sabia que você não deixaria cair. – deu um sorriso maroto.
– Está bem. Vamos para a festa que você tanto falou. – sai andando na frente.
Fomos para a sala onde o som dominava o ambiente, ficou dançando comigo, até que escutamos um barulho estranho, como se fosse de algo quebrando, tinha vindo da parte de trás da casa. Fomos correndo até lá. Passando entre as pessoas, vi Nick agarrando pelo casaco e o empurrando. Nick deu um soco que parecia ter pego no supercílio de , que não pensou duas vezes e revidou. Começaram a se bater e a rolar no chão feito dois cachorros brigando. O povo, em vez de separar ou fazer algo, apenas ficava olhando e gritando “Briga, briga, briga!”. Quando falo que são um bando de fracassados, ninguém acredita. e eu tivemos que empurrar as pessoas para separar aqueles dois cachorros que se engalfinhavam. Segurei , que parecia mais um búfalo. Parei a sua frente com minhas mãos em seu peito que subia e descia de forma pesada, ele nem se quer que olhava, apenas encarava Nick com raiva.
– Me solta, eu vou arrebentar esse maluco. – falou, se desviar de mim.
Permaneci a sua frente o empurrando de leve para trás, pra que se afastasse do outro garoto. Nunca tinha o visto irritado daquela maneira, nem nas vezes que brigamos. estava fora de si.
– Pode soltar esse palhaço, ele não é páreo pra mim. – Nick falou, debochando da cara de .
segurou meus braços e me atirou no chão, pra que eu saísse de sua frente, conseguindo se libertar de mim. Levantei de pressa, mas não deu tempo deu segurá-lo novamente, pois ele agarrou Nick pela cintura o levantou do chão, como em um jogo de futebol americano, os dois caíram por cima do peitoril da varanda, voando no gramado. levantou e começou a chutar o garoto ainda caído no chão. Não satisfeito, puxou-o pelo colarinho da camisa e começou a socar a cara de Nick. e eu pulamos por cima do peitoril e seguramos .
– Pare com isso, cara. – falou, puxando o amigo.
Nick estava se levantando da grama com a ajuda de seus amigos.
– Você ainda me paga, . – ameaçou.
– Não me faça rir. – tentou se soltar de nós, mas não conseguiu. – Você merecia mais do que isso. Me solta! – esbravejou para nós.
Olhei para e vi seu rosto sujo de sangue. Nós o soltamos, saiu andando e fui atrás dele. Quando ele ia fechar a porta do banheiro na minha cara, eu a segurei.
– Me deixe ajudar. – pedi entrando.
– Tá. – ele se afastou me dando passagem.
Entrei e fechei a porta. Abri o armário, procurando qualquer coisa que pudesse ajudar com seu machucado e achei uma caixa de primeiros socorros.
– Senta no banco para que eu possa limpar esse sangue. – apontei para um banco atrás de si.
Ele se sentou e fechou os olhos, comecei a limpar o sangue de seu rosto. Passava o algodão umedecido com cuidado para que não machucasse ainda mais. estava com as pernas abertas e eu entre elas, meus peitos estavam praticamente em sua cara, mas o banheiro era social, então não tinha muito espaço ali. E aquela proximidade toda me dava nervoso.
– O que te deu para começar a brigar com o Nick? – perguntei tentando quebrar o clima tenso que tinha em minha mente.
– Não é do seu interesse, se veio atrás de mim só para saber o motivo da briga, perdeu o seu tempo. – murmurou irritado.
– Você é um grosso mesmo, moleque. – disse com raiva, ainda limpando seu machucado e o forcei só por isso.
– Vai com calma aí, isso dói. – reclamou.
– Você merecia ter levado uma surra. Nem pra isso o Nick serve. Olha você, só com uma sobrancelha cortada enquanto o outro teve de ser levantado por dois caras. Você é um cavalo... – me interrompeu.
– Se for para ficar falando merda na minha orelha, pode ir embora. Além do mais, você não tira o uniforme? – perguntou com sarcasmo, dando uma pequena puxada em meu casaco preto.
Forcei mais uma vez seu machucado só para descontar.
– Ai! – reclamou novamente.
– Seu ridículo! Não sei nem o que vim fazer atrás de você. Acho que foi pena por te ver sangrando. E para de ser fresco. Na hora de bater é macho, mas na hora de cuidar é uma fruta. – rebati com tom de deboche.
– Vou te mostrar a fruta daqui a pouco. – falou com rispidez.
– Não vou nem te responder. Tente e perca os dentes. – retruquei travando minha mandíbula tentando me controlar para não socar com a cabeça dele na parede de azulejos brancos.
Terminei de limpá-lo e fiz um curativo discreto.
– Acabei. – fui até a pia lavar minhas mãos.
se levantou e veio por trás de mim para se olhar no espelho. Senti seu peito esbarrar contra minhas costas, me inclinei para frente, para que nosso contato fosse nulo.
– Obrigado. Como posso fazer para compensá-la? – perguntou com um sorriso malicioso.
– Calar essa sua boca e parar de falar tanta merda. – virei, mas ele estava perto demais, levantei o olhar e o encontrei me encarando. – Seus olhos são . – falei sem perceber como se aquilo fosse incrível. Por quê estou agindo como uma idiota hoje?
– Você nunca percebeu? – perguntou se aproximando ainda mais. Tentei me afastar, mas a pia me impedia disso.
– Não. Além do mais, para que eu iria olhar para você? – ergui uma sobrancelha e torci o lábio. – , se afasta, está me sufocando com esse bafo de cerveja. – empurrei-o pelo peito devagar.
– Fala sério, eu sei que está caidinha por mim. – disse, encostando-se à parede de azulejos brancos e soltando um sorriso singelo.
– . – fiz um beicinho de menina que pensava. – É, sinto informar, mas não sou uma das líderes de torcida com quem transa. Então... Não. Não sou caidinha por você. – me virei para a porta, mas ele segurou meu braço. – Tira a mão de mim. – falei entre dentes.
Ele não falou nada, apenas me puxou para si e a primeira coisa que fiz foi dar um soco em sua cara. Quando ele se abaixou, dei uma joelhada em sua testa e logo finalizei, batendo com meus antebraços em suas costas e fazendo-o cair no chão.
– Sua louca! – grunhiu deitado no chão. Virei seu corpo com o pé e pisei em sua garganta.
Sua boca estava sangrando.
– Fica longe de mim, moleque! Não estou de brincadeira contigo, isso foi um aviso. Da próxima vez, não serei responsável por meus atos. – forcei meu pé um pouco em seu pescoço. – Me entendeu ou quer que eu repita?
– Entendi. – respondeu.
Saí do banheiro, batendo a porta atrás de mim.
Voltei ao foco da festinha e peguei a garrafa de um paspalho que passava por mim. Dei um gole na cerveja e entreguei a qualquer outra pessoa que passava, andei pela casa toda e vi com alguns garotos fumando, me aproximei dele, peguei o cigarro de sua mão e dei uma tragada.
– , se eu não te vendo da boa, você compra essas porcarias? – devolvi o baseado pra ele.
– Fazer o quê? Você bichou a parada comigo. – riu, ele estava muito chapado.
– E vai continuar bichado até você pagar o que me deve. – dei um tapa no cigarro, que voou ao chão. – Não demore. – disse, apertando suas bochechas com uma só mão, e dei um selinho nele.
– Aê, . – gritaram.
Bando de primatas.
Voltei a adentrar a casa, subi para os quartos e entrei no primeiro que achei, que por acaso, tinha um casal se pegando.
– Fora! – ordenei.
Eles me olharam meio assustados, mas saíram. Joguei-me na cama e olhei pra cabeceira. Tinha uma foto de junto com mais dois meninos. Peguei o retrato e vi que eram e quando mais novos. Sorri ao ver como aqueles meninos eram amigos. Coloquei o porta-retratos de volta no lugar e levantei. Caminhei até a janela e vi uma luz vermelha e azul piscando a dois quarteirões.
– Merda. – saí do quarto correndo e localizei rapidamente no meio do pessoal. – ! Tem polícia na rua. – falei pegando o menino pelo braço.
– Sério? – perguntou com cara de abestalhado.
– Não, só estou falando isso para estragar a festa. É claro que é sério! – escutamos o barulho de sirene na porta. – Estou metendo o pé. – falei e saí correndo, assim como todo o resto do pessoal.
Fui pelo jardim de trás, teve gente caindo na piscina e tudo mais. Que povo atrapalhado. Pulei a cerca de madeira com agilidade, já estava acostumada a fazer isso mesmo. Passei por dentro do terreno de uma casa. Assim que cheguei à rua, vi outro carro de polícia chegando. Merda! estava correndo de volta.
– Tem polícia na rua de baixo. – disse quando se aproximou.
– Vem. – puxei-o pelo casaco e atravessamos a rua correndo.
Invadimos o terreno de outra casa e pulamos a cerca de madeira. Fomos passando por dentro dos terrenos das casas até que chegamos à rua do metrô. Descemos as escadas correndo. Por sorte, tinha um vagão que estava já fechando a porta, corremos e entramos nele por centímetros. Joguei-me no banco, cansada, e se sentou à minha frente, ofegante também.
– Obrigado de novo. Se não estivesse lá, não saberia para onde correr. – agradeceu dando um sorriso cansado.
– Tanto faz. – dei de ombros unindo as sobrancelhas.
Tirei meu casaco, estava suada e nem o ar condicionado do vagam estava ajudando. Ficamos nos olhando a viagem toda, um reparando no outro, mas não conversamos. Sério, eu tinha muita raiva daquele moleque. Sempre se achando só porque tinha uma situação financeira boa. Não vou nem falar que ele se sentia o tal por ser o melhor jogador de futebol da escola, e pelo fato do time ter ganhado o campeonato por causa dele. Alguém me explica o que as meninas veem nele? Fala sério, ele nem é tão lindo assim. Virei o rosto e fiquei encarando a porta. Vai que o pensa que eu estou a fim dele, aí sim seria meu fim, mas bem que ele já acha isso, então confirmaria suas dúvidas. Quando chegou ao meu bairro, desci do vagão, nem olhei para trás.
Capítulo betado por Amy Wonder
2. Eu não sei qual eu gosto mais
30 de Outubro, sexta-feira, véspera do Halloween.
Em plena sexta à noite, aqui estava eu, em casa, jogada no sofá, assistindo TV com Josh, ou melhor, vendo desenho animado. Na escola, estava tendo uma festinha idiota, na qual com certeza não vou nem comparecer, afinal, para que ir ver um bando de idiotas fantasiados das coisas mais retardadas possíveis, se achando o máximo. Halloween não tem sentido algum! É apenas uma data festiva na qual as crianças saem para pegar doces. Não vejo a menor graça nisso. Mas tinha que participar, pelo Josh, já que ele se importava tanto com isso. Ajudei meu irmão a cortar as abóboras e as colocar na porta do prédio, assim como outros moradores fizeram em suas janelas, eu faria o mesmo, se pelo menos tivesse uma! Era tão entediante ficar deitada sem fazer nada, queria dar uma volta pela cidade com um Corvette roubado, poderia até mesmo ser uma Ducati Monster 1100 que não me importaria. Mas a única coisa que me restava agora, era jogar Resident Evil 6. Levantei e fui pro quarto de Josh jogar um pouco. Fiquei deitada na cama de cabeça para baixo enquanto jogava. Tédio. Por milagre, hoje minha mãe chegou cedo em casa. Escutei o barulho de suas chaves caindo sobre a mesinha de vidro no centro da sala. Dei pause e fui até lá, ver o que tinha acontecido pra ela ter chegado àquela hora.
– Mãe! – Josh se levantou e foi até ela. – Você trouxe a minha fantasia para o halloween?
– Claro, amor. Uma para você e outra para a sua irmã. – olhou pra mim com um sorrisinho nos lábios.
– O quê? Você está louca, né? – cruzei os braços. Ela só podia estar brincando. Semicerrei os olhos e bufei. – Não vou sair por aí pegando doces com Josh. – falei, já virando de costa pra voltar pro quarto.
– Claro que vai. Tome. – mamãe estendeu o braço para que eu pegasse a sacola. Apenas olhei por cima do meu ombro com cara de nojo para a sacola.
Dei um leve e longo suspiro, virei e peguei-a de sua mão. Abri a sacola e a primeira coisa que vi foi uma caixa. Olhei meio desconfiada para minha mãe, boa coisa não deveria ser. Peguei a caixa, a abri e me deparei com um sapato vermelho, de verniz e salto fino. Com as pontas dos dedos, tirei o sapato da caixa e fiz uma careta.
– Não! Você não vai me fazer usar isso! – disse, o colocando de volta na caixa e fechando-a. – Nem pensar. – uni as sobrancelhas e neguei com a cabeça.
– Você vai usar sim. – falou com calma cruzando os braços, com ar de superioridade.
– Não vou! – retruquei e bati o pé, emburrada. – Não vou nem sair para pegar doces! – fui para o meu quarto e bati a porta.
– ! – escutei minha mãe gritar e vir até meu quarto. – Acabe de ver as coisas que comprei para depois falar!
Eu a olhei com raiva e peguei a outra sacola de sua mão. Tinha algo vermelho e que parecia de veludo. Puxei e vi que era uma capa vermelha enorme, mas linda, que pelo tamanho, chegaria até o chão. Peguei a próxima peça que tinha ali dentro, um vestido de chapeuzinho vermelho, mas ele era extremamente curto, e tinha um decote gigante, no qual deveria aparecer quase o peito inteiro.
– Mãe, cadê o resto do vestido? – perguntei, vendo o comprimento da peça, aquilo não tamparia nem a polpa da minha bunda.
– Larga de ser palhaça, menina. Nem é tão curto assim. – deu uma risadinha.
– Imagina. Olhando por um ponto de vista alternativo, ele ficaria grande se fosse uma camisa. – debochei dando um sorriso.
Olhei no fundo da sacola e vi que tinha uma meia arrastão preta, era o que faltava para completar o look de vadia. Joguei tudo em cima da minha cama.
– Mãe. – falei como se explicasse algo pra uma criança. – Te avisaram que é noite de Halloween e não uma festa de putaria? Olha pra isso! Vou parecer uma vadia, ou sei lá o que!
– Não seja exagerada. É só uma fantasia. – claro, para minha mãe aquilo era extremamente normal, já que ela se vestia com roupas mais curtas para sair a noite.
– De puta! Nem pensar que vou usar isso. – falei apontando para a roupa em cima de minha cama como se fosse um monstro abominável.
– Estamos entendidas então. Amanhã você vai sair com Josh para pegar doces com essa roupa. Boa noite, filha. – deu um beijo na minha testa.
– Ah, mãe! Não acredito que você vai fazer isso comigo! – reclamei com raiva.
– Já fiz. – disse, fechando a porta.
– Mãe, mãe, mãe… – corri atrás dela já com uma ideia em mente. – Então me deixe ir à loja trocar. – seria a única escapatória.
– Só se eu for com você. – agora ela parecia feliz, por eu finalmente ter cedido.
– Ok! Que horas são? – perguntei, pois estava sem relógio.
– Sete e vinte. – disse olhando em seu relógio de pulso.
– A loja fecha às oito. Vou pegar um casaco pro Josh e vamos. Ok?
– Está bem, menina. Ande logo. – me apressou.
Peguei um casaquinho e um All Star no quarto de Josh, joguei para que minha mãe o vestisse e corri em meu quarto, achei uma touca no armário, vesti um casaco e calcei minhas botas de couro, as primeiras que encontrei pelo caminho, deixando seu cano longo para fora da boca da calça, me dando um ar largado.
– Vamos? – perguntei, voltando para sala.
– Vamos. – disse minha mãe, dando um sorriso.
Dei a mão para Josh e fomos. Fomos a pé conversando e se distraindo. Em dez minutos de caminhada, chegamos à loja de fantasias. Ela não era muito longe da nossa casa.
– Senhora , o que aconteceu? A fantasia não serviu? – perguntou o velho alvo que veio nos atender.
Ele vestia um avental branco, por cima de sua calça marrom, que combinava com seus sapatos da mesma cor, mal engraxados. Uma camisa de botões branca e velha compunha seu visual de tiozinho que morava sozinho e tomava conta de gatos, assim como seus óculos dourado que caía até o meio de seu nariz.
– Simplesmente não gostei dele. Também, como que o senhor me vende um vestido daquele tamanho pra minha mãe? – dei um sorriso e o velho me olhou estranho. Típico das pessoas me olharem desse jeito. – O que você tem de mais coberto aí? – assim que perguntei, mamãe deu uma bufada e rolou os olhos de uma forma negativa.
– Venha comigo. – soltei a mão de Josh e fui atrás do velho.
– Tenho esta. – disse, me mostrando uma fantasia de bruxa, que também era curta.
– Acho que o senhor não me entendeu, quero algo que não mostre as pernas! – fiz referência para minhas coxas com o indicador.
– Bem… – falou remexendo nos cabides. – Tenho essa aqui. – mostrando um vestido preto, que reconheci sendo a roupa da Morgana, da A Família Adams.
– Morticia Adams. Adorei. – peguei a peça de sua mão. – Vou experimentar. Deem uma olhada por aí e se acharem algo de legal, me passem por cima da porta.
Fui para o provador, e me troquei. Gostei do vestido, apesar de longo, marcava minhas curvas, suas mangas eram bem compridas e o decote era razoável.
– Olha, mãe. – chamei abrindo a porta.
– Está horrível, menina! Experimenta esse. – empurrou um cabide contra meus peitos com uma peça rosa nele, na qual nem ousei tocar.
– Acho que essa aqui vai combinar mais com você. – o vendedor veio com uma roupa em mãos, peguei-a e voltei ao provador.
Vesti a roupa, que também era um vestido, porém curto. Ele tinha uma barra vermelha e era todo preto com a estampa da mascara do Jason no meio dele, uma meia preta fazia parte da fantasia. Sai do provador, já decidida que queria aquele.
– Gostei, mãe. – sorri passando a mão no vestido.
– Que é isso!? Tira essa roupa! Está horrível! Tome essa. – jogou outro vestido na minha cabeça.
Torci o nariz e peguei, bufando logo em seguida. Troquei de vestido. Esse era listado, com as cores da camisa do Fred Gruger, tinha um chapéu igual ao dele, e uma luva idêntica as suas garras. Até que gostei, se não fosse pelo fato dele ter deixado minhas coxas muita a mostra.
– É bonito, mas é curto. – dei uma volta, olhando o comprimento no espelho. Saí para que minha mãe visse.
– Não sei o que você tem contra roupas curtas. – mamãe falou, cruzando os braços. – Suas pernas são lindas. – claro, pálidas e sem vida. Realmente eram muito lindas, só não sei aonde.
– Acho vulgar! – mentira! Só não queria ficar vestindo roupas curtas para que os outros ficassem me olhando. Podem achar o que quiser, mas tenho vergonha de ficar mostrando meu corpo.
– , olha esse. – Josh veio até mim e me entregou uma roupa azul, na qual não identifiquei o que era.
Troquei de roupa e comecei a rir descontroladamente dentro do provador. Era a roupa de Avatar, com direito a peruca e tudo.
– O que foi agora? – minha mãe perguntou, já se irritando com as minhas bobeiras.
– Olha. – abri a porta rindo.
– Ficou maneiro, . – Josh riu e pulou animado.
– Está perfeito! Vou levar! – falei apenas para provocar.
– Pelo amor de Deus, tire isso agora! – mamãe me entregou outro vestido.
– Tá. – peguei rindo.
Coloquei o vestido e dei um pulo para fora fazendo uma pose muito idiota. Era óbvio que não iria levar aquilo! Era curto demais.
– Estou de Lilah do Jonah Hex. – fiz uma carinha de safada.
– Agora sim você está parecendo uma prostituta. Tira isso. – minha mãe me deu outra roupa. – Já estamos ficando sem opções! Se decida logo!
Peguei de sua mão, voltei para o provador, já cansada daquilo. Não tinha nada que me agradasse. Vesti o vestido, ele era longo, mas vinha com um rasgo até o meio da coxa. Sem condições de levar ele. Era uma roupa de vampira, com um espartilho vermelho e branco, com sua saia prata, continha também um par de luvas que ia até o meio do braço. Saí do provador correndo atrás de Josh.
– Venha cá menino, vou sugar todo o seu sangue. – Josh ria enquanto corria.
– Não! – gritava divertido.
Parei de correr pela loja quando vi um vestido e fui até ele. Ele era bem bonito, diferente dos outros que tinha experimentando.
– Mãe. Quero esse. – falei quando o peguei.
Minha mãe olhou a peça em minha mão.
– Está bem, mas arranje uma meia pra colocar com ele, não vou devolver a capa, assim você poderá usá-la com essa roupa que vai combinar. – comentou, dando um sorriso no final.
– Certo. – saí correndo para o provador e vesti minhas roupas. – Hey moço, o senhor tem aquelas lentes de contato coloridas? – perguntei já vestida adequadamente.
– Claro. Venha aqui, que irei te mostrar. – gesticulou com a mão.
Fui atrás do velho, que me mostrou várias lentes das mais diversas variedades. Era até meio difícil de escolher uma.
– Quero essa. – apontei para a lente desejada. – Me vê também uma daquelas canetas de pintar o rosto, na cor preta? – pedi já imaginando o que faria.
– Está bem. – disse, e entrou por uma cortina de bambu que fez um barulho engraçado ao passar.
Minha mãe devolveu o vestido de chapeuzinho vermelho. Voltamos para casa em silêncio. Apenas deu detestar o halloween teria que sair para pegar doces, e isso não era uma coisa nem um pouco legal.
– Filha, o que você vai fazer com a caneta? – perguntou quando chegamos.
– Amanhã você vai ver. – dei um sorrisinho sapeca.
31 de outubro, sábado, Halloween.
– Hey, . Acorda! Estou com fome. – escutei Josh me chamar enquanto puxava meu edredom.
– Que foi, amor? – perguntei, levantando a cabeça e olhando o relógio. Já eram três da tarde. – Dormi demais. – levantei da cama em um pulo e fui correndo para a cozinha para fazer algo para comer.
Fiz um macarrão ao molho branco com salsicha, que ficou mais parecido com uma papa vomitada.
– Amor, vai almoçando aí que a maninha vai tomar um banho. – coloquei o prato na mesa e dei-lhe um beijo em sua cabeça.
Josh olhou pra comida com uma cara esquisita.
– , o que aconteceu com o macarrão? – perguntou me olhando meio que apavorado.
– Sei não, pode comer que tá bom. – acho que sou uma péssima irmã. Passei a mão em seus cabelos dourados e sorri, afirmando que aquilo, que se chamava macarrão, estava realmente gostoso.
Corri para o banheiro rindo da pergunta de Josh. Tomei um banho rápido. Assim, quando terminei, procurei uma tesoura que minha mãe costumava guardar em cima do armário do banheiro para que meu irmão não pudesse pegar. A encontrei, então comecei a fazer minha arte. Cortei minha franja e dei uma repicada em uns fios da frente do cabelo, a sorte que fui abençoada com cabelos lisos e castanhos claro. Sequei-o e fiz um rabo de cavalo alto, passei um laquê que era da minha mãe, para que o penteado não desmontasse. Olhei-me no espelho e vi o que tinha ficado dela, havia deixado a franja recém cortada, na altura dos olhos, com duas pequenas mechas de cabelo soltas nas laterais de meu rosto. Saí do banheiro apenas de roupão.
– Josh, já acabou de almoçar? – perguntei indo até a cozinha.
– Sim. Aquilo não tinha um gosto muito bom. – reclamou colocando o prato sobre a pia.
– Desculpe, amor, foi o que consegui fazer de última hora. – ri daquilo. – Venha, que vou te dar um banho. – chamei voltando já para o banheiro.
– Ok. – Josh veio andando atrás de mim. – Você cortou o cabelo, ficou bonita.
– Obrigada, amor. Venha logo, senão não vai dar tempo de arrumar você e me arrumar para sairmos. – estendi a mão.
Dei um banho em Josh, tomando cuidado para não me molhar. Depois arrumei meu pequenino. Quando olhei no relógio, eram quinze para as seis. Muito bom. Comi um pouco de macarrão, diz-se gororoba, ou melhor, engoli, escovei os dentes e fui para o meu quarto me arrumar, assim que terminei, corri pra sala, onde meu irmão já me esperava sentado no sofá. Ele estava fantasiado de Jack, de O Estranho mundo de Jack. Parecia a miniatura do personagem.
– Nossa! – Josh falou assim que me viu. – Estou com medo de você.
– Obrigada, lindo. A sua fantasia também está show. Cadê o Max? – Por um momento esqueci do meu cachorro, ele era um bull terrier todo branco.– Já colocou a roupa nele? – minha mãe tinha comprado uma roupa de esqueleto para o Max.
– Sim. Max. – Josh chamou e o cachorro veio correndo.
– Venha cá, menino. – chamei, me abaixando e arrumando sua roupinha. – Ficou lindo. – tirei a caneta de meu bolso e desenhei na cara dele, fazendo bolas pretas em volta de seus olhos, e dentes em seu focinho, simulando um crânio. – Josh, pegue a coleira dele. – pedi e ele o fez.
Nós nos olhamos no espelho uma última vez antes de sair de casa. O Max estava muito legal com aquela roupinha, meu visual estava incrível! O meu vestido era da dama de copas. Todo preto, branco e vermelho. Sua saia frufru era com a barra preta e de renda, depois vinha um tecido vermelho que subia até abaixo de meu busto, fazendo peso na saia e a abaixando um pouco seu volume, por cima tinha detalhes brancos com dois corações vermelhos, na frente, nas laterais e atrás da saia. Na parte da barriga, o vestido era como se fosse um espartilho, feito com tecido branco e vermelho, com cordas também vermelhas. O busto era feito de tecido preto enrugado, dando mais volume aos meus peitos, e ele tinha uma manda franzida, que era caída nos ombros, os deixando completamente a mostra. Uma alça vermelha que vinha da parte debaixo do vestido era a única coisa que não deixava meus ombros completamente nus. Uma meia preta de lã, cobriam minhas pernas por inteira. Meus pés calçavam um sapato preto de bico redondo, brilhoso, e seu salto era bem alto e fino. Estava me perguntando como conseguiria andar com aquilo. A capa vermelha de veludo estava amarrada em meu pescoço, e ela ia até o chão, esbarrando um pouco nele. Com a caneta de pintar a pele, fiz traços na boca, testa, pescoço, braços e pulsos, como se fosse uma linha de costura com vários pontos desordenados. Em meus olhos tinham uma maquiagem preta, bem pesada, que distorcia com a lente de contato branca que coloquei nele, deixando apenas um pequeno ponto branco no meio de meu olho. Passei um batom vermelho cor de sangue, da mesma cor que estava o esmalte da minha unha. Coloquei uma pulseira fina de couro, um brinco prata de caveira, um anel preto, também de caveira, outro de coruja e um cordão de fita, que tinha uma argola prata como pingente. Eu simplesmente tinha amado aquela fantasia! Apesar de o vestido ser curto, mas nem tanto como o outro, esse não estava nem um pouco parecendo uma vadia. Olhei no relógio, já passava de sete da noite. Saímos apressados. Coloquei meu celular dentro do decote do vestido junto com as chaves de casa. Pegamos o metrô. Saltamos uns dez minutos depois e subimos as escadas para sair da estação. O bairro que chegamos estava todo decorado. Coloquei o capuz da capa e começamos a andar.
Não sabia por quanto tempo tinha andando. Parei um pouco para descansar.
– Eu odeio salto. – reclamei balançando o pé. – Esse troço está me machucando. – já estávamos andando há duas horas para ser mais específica. – Josh, já está bom de doce! A sua sacola está cheia. – apontei para ela.
– Tenho outra para encher. – disse, me mostrando outra sacola preta, deixei meus ombros caírem.
–Isso vai te dar dor de barriga, menino. Até o Max está cansado. Né, Max? – cutuquei o cachorro com o pé, que rosnou.
– Só mais um pouco. – pediu fazendo uma carinha muito fofa.
– Ok. – eu praticamente me arrastava.
Andamos mais um pouco.
Estava parada na calçada esperando por Josh, que tinha ido pegar doce na casa à minha frente.
– Uau. O que é isso? A chapeuzinho vermelho do mal? – escutei um homem falando, mas não dei atenção, apesar de sua voz ser familiar. Max começou a latir. – , não vai falar comigo? – olhei por cima de meu ombro.
– Jared Leto! – sorri, fui até ele e o abracei com força. – O que faz por aqui? – o cachorro ficou quieto depois de ver que eu conhecia o sujeito.
– É Halloween! As pessoas se distraem, é bom para roubar as casas. – tampei sua boca, alguém podia escutar.
– Dá para falar baixo? Não acredito que vai fazer isso! Ainda mais vestido assim! – ri. Jared vestia uma roupa do Conde Drácula.
– Vou e você vai me ajudar, bonequinha de voodoo. – falou colocando o indicador na ponta de meu nariz. – Está linda. – me deu um selinho.
Dei um sorriso debochado para ele.
– Hoje não. Estou com Josh e Max, não tem como fazer nada. – olhei para meu irmão que estava na fila esperando sua vez para pegar o doce.
– Leva o moleque pra casa e volta. Te espero às dez aqui. – disse, beijando meu pescoço, seus lábios roçavam contra minha pele sensível. Aquilo estava me causando pequenos arrepios.
– Jared, já disse que não. – falei meio mole por causa de seu toque nada sutil.
– Te espero aqui, senão vou te buscar. – ele passou a mão em minha cintura e me puxou para perto de si. – Acho melhor você vir. – sussurrou em meu ouvido com uma voz sexy.
– Seu chato. – dei um sorriso. – Está bem, quero ser bem recompensada depois. – dei um tapinha em seu peito.
– Será do jeito que você quiser. – falou e me beijou, segurando meu pescoço com força.
Nossas línguas se entrelaçavam com vontade, subi a mão de seu peito até seus cabelos da nuca, escuros e lisos, puxando-os de leve para provocá-lo.
– Eca! Que nojo, . – escutei a voz de Josh e soltei uma risada entre o beijo. – Tem crianças aqui. – disse puxando minha capa.
– Ok, Josh. – me afastei. – Tchau, Jared. – pisquei para ele e saí andando.
– Tchau, minha gostosa. – ele tinha o sorriso safados.
– Quem era? – Josh perguntou, pegando minha mão. – Seu namorado?
– É, Josh. Meu namorado. – ri que nem uma idiota.
– Por que você nunca o levou lá em casa? – esse menininho era muito curioso tinha vezes.
– Porque não. Para de falar, vamos pegar mais doce. Nove e meia vamos embora e já são nove horas… Então anda logo. – o apressei.
– Está bem. – falou fazendo biquinho.
Quando deu a hora, voltamos para casa. Assim que entramos demos de cara com mamãe sentada no sofá, assistindo televisão.
– E aí? Pegaram muitos doces? – minha mãe perguntou quando nos viu entrar. – Nossa, minha filha, você saiu assim? Deve ter assustado todas as crianças da rua! – ironizou.
– Não, mãe. – rolei os olhos, impaciente.
– Mãe, olha quantos doces eu peguei. – Josh abriu a sacola.
– Que legal, vamos colocar em um pote, venha. – mamãe se levantou do sofá e viu Max. – O que vocês fizeram com o cachorro, meu Deus?
– Ué, mãe, ele entrou no espírito do Halloween. – falei rindo de uma forma debochada. – Me dá um alcaçuz? – pedi ao Josh, já pegando. – Vou sair com uns amigos, não tenho hora pra voltar. – falei, indo para meu quarto.
– Leva o celular. – disse minha mãe da cozinha.
– Está bem, mãe. – tirei aqueles sapatos de salto que estavam matando meus pés e coloquei uma botinha da All Star vermelha. Agora sim, podia andar normal novamente. Voltei até a sala.
– Você vai de tênis? Estava tão bonita com o sapato. – mamãe perguntou assim que me viu.
– Sim, não gosto muito de saltos, eles deixam meus pés doendo. Tchau, mãe. – fui até a mesa e peguei mais um alcaçuz. – Tchau, meu anjo. – dei um beijinho no meu pedacinho de céu.
– Tchau, filha. Juízo. – ela sorriu.
– Tchau, . – disse Josh.
– Esse eu deixo em casa. – saí e fechei a porta.
Encontrei com Jared no lugar marcado, ele já estava lá me esperando.
– Ah! Estava tão sexy com aquele salto. – falou se aproximando de mim.
– Prefiro meu All Star. Então, para onde vamos, Conde Drácula? – perguntei, estendendo a mão para ele.
– Vamos dar uma voltinha, minha bonequinha de voodoo. – disse pegando minha mão e me girando. – Já sabia que era gostosa, mas não achei que dava pra ficar mais. Estou louco pra arrancar essa sua roupa, peça por peça. – sussurrou em meu ouvido. Apenas dei um sorriso, mas não respondi.
A noite estava bem divertida. Andamos por alguns quarteirões procurando uma casa que fosse boa para ser assaltada e achamos. Entramos sorrateiramente pela janela da sala, que foi facilmente arrombada, estava tudo escuro no lado de dentro, mal dava para enxergar um palmo a frente. Jared, como sempre, já estava com uma lanterna em mãos. Vasculhamos a casa inteira, sem fazer bagunça a procura de algo valioso. Até que encontrei um cofre de roleta atrás de um quadro grande e antigo, que tinha no escritório. Quando olhei aquela roleta, apenas dei um sorriso, era meu tipo favorito para arrombar. Jared sorriu e me olhou, iluminando a porta do cofre. Me aproximei, e depois de umas giradas pra esquerda e outra pra direita, a porta de ferro fez um pequeno estalo, indicando que havia sido destrancada. Virei a pequena maçaneta de aço e o abri, revelando dinheiro e muitas joias. Dei uma gargalhada vitoriosa e olhei pra trás, Leto que continuava iluminava o cofre, soltou um pequeno riso quando viu as coisas. Pegamos tudo, fazendo uma limpa, e deixando tudo como se nem houvesse sido tocado e saímos sem que ninguém notasse. Jared tinha uma mochila por debaixo de sua capa, onde colocou algumas joias e um pouco de dinheiro. Já eu, coloquei o resto delas dentro do sutiã, deixando o decote de meu vestido ainda mais cheio. Me certifiquei de que nada iria cair enquanto andasse, e ali estava bem seguro. Voltamos a andar na rua como se estivéssemos pegando doce e a minha cara de pau para pegar alcaçuz não era nem um pouco grande.
– Menina, você não é mais criança. – Jared ria, me abraçando pela cintura.
– Claro que sou! Olha a minha cara. – fiz uma cara de retardada com a língua de fora, o que fez ele rir e me dar um beijo na bochecha.
– Você é muito boba, sabia? – agora me deu um selinho apertado. – Minha gostosa favorita e que mais amo.
– Também te amo. – dei um sorriso bobo e senti minhas bochechas esquentarem.
Continuamos andando tranquilamente, quando vimos uns garotos fantasiados, correndo. Os reconheci com um pouco de dificuldade. , o que vinha na frente, estava vestido de motoqueiro fantasma, percebi que era ele, pelo jeito de correr. foi o segundo que vi, ele estava enrolado com ataduras, fingindo ser uma múmia, o que combinou bastante com ele. Logo atrás deles, vi fantasiado de Coringa. Eles estavam correndo rápido demais, e estranhei por isso. Certamente teriam aprontando algo. Assim que os meninos estavam chegando perto de nós, vi um carro da polícia.
– Deu merda, boneca, deu merda. – Jared falou segurando minha mão. – Vamos. – ele deu uns passos para trás, me puxando.
Saímos correndo, e logo os meninos nos alcançaram.
– ? – indagou assim quando me reconheceu.
– O que vocês aprontaram? – perguntei correndo ao lado dele.
– Tacamos fogo em uma árvore na casa de uma velha que nos negou doce. – respondeu dando uma risada, rolei os olhos. Idiotas. – Por que está correndo conosco?
– Não interessa. – cerrei os lábios e olhei para o lado. Jared havia desaparecido. – Mas que filho da mãe! – xinguei com raiva, ele tinha me deixado sozinha. Típico!
– O que foi, ? – perguntou, me olhando sério.
Não respondi, e olhei por cima do ombro, vendo o carro de polícia se aproximando ainda mais. Corri para dentro do terreno de uma casa e os três patetas me seguiram. Pulei a cerca de madeira que dava para outra casa e saímos na rua de trás. Avistei um Mustang GT 1967 preto estacionado na calçada. Fui até ele, e por sorte, o vidrinho da frente estava aberto. Passei minha pequena mão por ele, com meu braço fininho e consegui alcançar o trinco, abrindo a porta do motorista.
– O que você vai fazer? – perguntou preocupado olhando de olhos arregalados para mim.
– O que você acha? – falei já entrando do carro. Mexi debaixo do volante, puxando os fios, e os arrebentando. Liguei a luz interna para enxergar melhor, e fiz uma ligação direta. O carro pegou na terceira tentativa. – Entrem logo! – abri a porta do carona apressada.
Os meninos nem questionaram nada e entraram. Acelerei com o carro, cantando pneus para sair logo daquele bairro. A polícia nos viu no final da rua e veio logo atrás. Acho que tinha chamado um pouco a atenção saindo daquela forma. Não me importei. Eles vinham na nossa direção, e iria me fechar, para que não seguisse em frente. Engatei uma ré, e afundei meu pé no acelerador, dei um cavalinho de pau, fazendo os meninos caírem um sobre o outro no banco de trás, e se segurar para não cair em cima de mim. Joguei a primeira e fui embora. O ponteiro do velocímetro ia subindo rapidamente. Dirigi até o centro da cidade na tentativa de despistá-los. Fiz uma curva fechada e entrei em um beco. Desliguei o carro e todos ficaram em silêncio, apenas se ouvia a respiração densa. Os policiais passaram direto com a sirene ligada. Deixei meus ombros caírem e relaxei um pouco.
– Agora me diz como você fez isso?! – perguntou , sentando ao meu lado, ele nem se mexia, supus que estava em estado de choque. – Você roubou um carro! – deu um ataque de repente.
– Dá para falar baixo? – pedi fechando os olhos e encostando minha cabeça no encosto do banco. – Você queria o quê? Se nós continuássemos correndo, eles nos pegariam. E também estava muito longe para conseguirmos chegar até o metrô. – expliquei com calma.
– E por que você correu quando viu a polícia? – questionou de uma forma acusadora. – Está com drogas por acaso? – foi logo jogando na minha cara.
– Não te devo satisfações, . – falei, abrindo a porta e saindo do carro. Tinha ficado irritada pelo modo que ele estava falando comigo.
Os meninos saíram do carro também e ficaram me olhando andar em círculos. Leto tinha me deixado sozinha, mais uma vez! Que raiva dele! Se ele estivesse na minha frente agora, certamente daria um chute em suas bolas.
– Merda. – xinguei, dando um soco na parede do beco. – Merda! Merda! Merda! – passei a mão em meu rosto.
– Hey, , fica calma. – tentou me acalmar, se aproximando.
– Sumam os três da minha vista! – disse alto. – AGORA! – gritei.
Abaixei a cabeça com as duas mãos segurando minhas bochechas e as puxei para baixo. Escutei os três saírem do beco. Peguei meu celular e liguei para Jared.
– Leto, seu maldito! Para onde você foi? – eu estava com um ódio mortal dele. – Onde estava com a cabeça quando me deixou sozinha? Mais uma vez!
– Você queria que eu fizesse o quê? Que fosse atrás de você e seus amiguinhos? Está maluca, garota? – perguntou todo irritadinho, como se ele tivesse a razão.
– Ah, você é ótimo, Jared, ótimo! Olha, estou levando um carro para sua oficina! – avisei olhando para o Mustang.
– Que carro? – agora estava mais calmo. Falar em negócios com ele era assim, ficava calminho rapidinho.
– Um Mustang GT 1967. – encostei na lateral do automóvel, cruzando os braços.
– Ok. Você tem as chaves, então se vira. Tchau. – o babaca desligou na minha cara.
– Grosso. – xinguei guardando meu celular.
Entrei no carro e fiquei um pouco sentada ali, tentando ficar tranquila. Liguei o rádio e achei um maço de cigarros no porta moedas. Peguei um e acendi, soltando a fumaça lentamente entre meus lábios. Fiz mais uma vez o contato, ligando o carro, então saí logo daquele beco. Passei pelos meninos na rua, eles conversavam entre si, um tanto quanto animados.
– Querem carona até o metrô? – perguntei, diminuindo a velocidade e os acompanhando.
– Não! – respondeu P. da vida, nem sequer me olhou.
Não falei nada, só acelerei e sumi ao fim da rua.
Cheguei à oficina de Jared, deixei o carro lá e voltei andando. Meu apartamento ficava do outro lado da cidade. Meus pés doíam e eu não tinha nenhum tostão no bolso para pegar o metrô de volta para casa. Já contava que Leto me traria de volta. Sentei em um banco que tinha ali na rua. Após duas horas de caminhada tinha conseguido chegar no centro. Aquela noite estava meio fria, coloquei o gorro de minha capa, até que ela era bem quentinha. Agradeci à minha mãe por tê-la comprado. Pelo menos serviu para algo. Vi alguém sentar ao meu lado, mas nem olhei para ver quem era. Senti uma mão em meu ombro e levantei na mesma hora.
– Quer morrer, moleque? – perguntei assim que vi . – Você deveria estar em casa com seus amiguinhos agora. – meu coração entrou em disparada. Fiquei na dúvida se era mesmo por causa do susto que tinha ficado daquele jeito.
– Não. Nós brigamos e não estou a fim de ir pra casa agora. Te assustei? – ele encarava suas botas.
– Não. – balancei a cabeça de forma negativa. Por que eu estava tão atordoada daquele jeito? Já havia roubado carros, joalherias, casas e fugido da policia várias vezes, mas por que parecia que estava com medo agora? Não sei se medo seria a palavra certa para definir o que estava sentindo. – Você e seus amigos vão ficar de bico calado, está entendendo? – apontei o dedo para .
– Tudo bem. Não vamos contar nada a ninguém, pode ficar tranquila. – me olhou de lado com aqueles olhos tão claros. Virei o rosto, olhando para o outro lado da rua.
– Assim espero. – falei soltando o ar e passei a mão na testa, estava preocupada. Com o quê, nem eu mesma sei. – Como você me achou aqui? – tentei mudar de assunto.
– Estava andando e vi você, essa sua capa vermelha não é nem um pouco discreta. – apontou para ela dando um sorrisinho.
– Droga. – tirei-a, ficando só de vestido. – Tenho que ir. – me virei para continuar andando, ainda faltava bastante até eu chegar em casa.
– Hey, espera. Posso te acompanhar? – pediu, se levantando do banco.
– Moro um pouco longe e você não vai querer ir comigo. – passei a mão em meus braços sentindo um pouco de frio.
– Vamos de metrô.
– Não. Prefiro ir a pé. – falei já andando e o deixando para trás.
– Então vou te acompanhar. – veio caminhando apressado até me alcançar.
– Já disse que não, . É longe e você não… – parei de falar e andar, o encarando. – Er… Pode ser assaltado, as pessoas de onde moro me conhecem, mas não te conhecem. – estava me preocupando com ele? Hey, isso está errado. Muito errado mesmo! Não me preocupo com as pessoas, ainda mais com .
– Não ligo. Larga de ser chata, e coloca essa capa, porque está frio. – ok, tinha algo de estranho ali. Um estava preocupado com o outro.
– Não. Os policiais podem me reconhecer com ela. – tentei ignorar a forma que ele me olhava.
– Então tome minha jaqueta. – disse, tirando sua jaqueta de couro.
– Não, . – dei um passo para trás e neguei com a mão, voltando a caminhar.
– Se você não vestí-la, vou colocá-la a força. – ameaçou, percebi que também tinha voltado a andar.
– Está me ameaçando agora? Depois de tanto tempo, vai usar a força bruta contra mim? – perguntei dando um sorrisinho irônico.
– Sabe que eu não faria isso contigo, mas põe a jaqueta, por favor. – bufei já ficando irritada com aquela preocupação ridícula.
Me virei e aproximei-me dele, fiquei na ponta dos pés, bem próxima de seu rosto. Embora ainda não tivesse altura o suficiente para ficar na sua altura.
– Se eu não colocar, vai fazer o quê? – serrei os lábios e ergui uma sobrancelha, em forma de desafio.
– Nada, então fique sentindo frio. O problema é seu. – deu de ombros e voltou a vestir sua jaqueta.
– Isso aí. O problema é meu. – falei e saí andando, deixando-o para trás. Menino irritante. Como eu o detestava!
– Dá pra esperar? – perguntou, vindo correndo.
– Não! Não quero que venha atrás de mim. – respondi balançando os braços para que ele fosse embora.
– O que posso fazer pra você parar de me tratar desse jeito? Sou tão irritante assim? – parou no meio da calçada.
– É, , você é a pessoa mais irritante que conheço. – falei, voltando até ele. – E a propósito, eu te odeio. – olhei dentro de seus olhos. – Vê se sai da minha cola. – dei ênfase na ultima palavra.
– Então você me odeia tanto assim por nada? – deu um sorrisinho idiota, o que me fez querer arrancar cada dente certo e branco de sua boca.
– É. Nunca gostei de você mesmo, isso já deve ter dado para perceber. Então, some! – voltei a andar. Ele era muito cínico mesmo, vivia me esculachando e agora quer dar uma de bom samaritano? Cara, isso não rola.
– Só vou sumir se você me contar o motivo de me odiar tanto assim. – veio atrás de mim.
Sério, eu mereço! Não era possível, ele gostava mesmo de me ver irritada.
– Caramba, . Não vou te contar merda nenhuma! Sai daqui. – apontei pro caminho contrário e saí andando.
Bufei irritada, vendo que ele continuava a andar atrás de mim. Ai, que se dane! Se ele quer andar e ser assaltado, o problema é dele! Caminhamos por duas horas sem falar nenhuma palavra até chegar ao meu apartamento. Desci os degraus para entrar no prédio, mas segurou meu braço e me prensou na porta de uma forma que não consegui me mexer. Arregalei os olhos com sua ação completamente inesperada.
– , o que pensa que está fazendo? – grunhi trincando os dentes.
– O que deveria ter feito há muito tempo. – colou sua boca contra a minha em um selinho extremamente apertado.
Que bosta! Não abri espaço para que a sua língua passasse. , vou meter a mão na sua cara na hora que você me soltar! Maldito! Que raiva! Garoto irritante. Ele não desistia nunca de tentar me beijar? Ainda mais à força? O que ele tem na cabeça? O que quis dizer com: “O que deveria ter feito a muito tempo”. Ok, não sou burra, sei que é do beijo, mas o que tem por trás do beijo? Será que aquele menino mauricinho gostava de mim? Não. Isso estava completamente fora de cogitação. não se afastava. Ele vivia me humilhando de todas as formas que conseguia na escola. Não podia ser, isso era o que tinha de errado. Idiota. Ao me lembrar daquilo, me deu uma raiva tão grande que consegui me livrar um de meus braços e o empurrei com brutalidade.
– Qual é a sua, moleque? Vive me esculachando como pode na escola e agora vem me agarrar? Bebeu? Cheirou? Fumou? Qual foi? – o empurrei pelo peito para longe de mim.
– Gosto de te ver irritada, além de ser engraçado, é sexy. – deu um sorrisinho idiota. Ridículo! Não pensei nem duas vezes e minha mão fechada já tinha atingido seu rosto em cheio.
– Já mandei você ficar longe de mim! Seu babaca! – destranquei a porta rapidamente e entrei no prédio.
Fiquei parada atrás da porta, segurando-a de tal forma que parecia que O Predador iria entrar ali a qualquer momento e me engolir viva. Minha respiração estava ofegante, meu peito subia e descia de tal maneira que me assustou. Soltei a porta e passei pelo corredor praticamente correndo, ainda olhava pra trás pra ter certeza de que ninguém iria entrar ali. Entrei em meu apartamento. Max veio até mim, me cheirando, minha mãe estava deitada no sofá com a TV ligada e a mulher até babava de tanto que dormia. Desliguei a TV e caminhei sem fazer barulho até meu quarto. Tirei as joias de meu sutiã junto com o dinheiro e guardei em uma caixinha de madeira que tinha escondida do fundo falso de minha gaveta.
Capítulo betado por Gabriela Ferreira
3. A raiva que eu adoro
2 de novembro, segunda-feira, escola!
Embora eu não tivesse um pingo de vontade de ir para a escola, tive que levantar. Ver aquelas pessoas que nem sequer olhavam direito na minha cara era completamente desprezível, não que me importasse realmente com isso, nunca liguei mesmo e não seria agora que iria esquentar minha cabeça com isso. Por mais que eu seja errada em tudo que faço, gosto desse meu jeito. Nunca liguei pra que roupa vestir, nem o que as pessoas acham de minhas atitudes, sempre fiz o que achava certo, ninguém consegue me controlar, sou cabeça dura demais, está pra nascer o sujeito que vai conseguir me mandar ou coagir meus pensamentos. Vesti-me e fui pro colégio, ou melhor, pro purgatório. Estava caminhando com tédio pelos corredores da escola, mas parei quando vi uns polícias passando à minha frente, indo pra ala norte, cheguei a gelar por um instante. Merda! O que esses vermes estão fazendo aqui? Mudei meu trajeto, indo pra ala sul e dando de cara com os três patetas. Andei em passos largos e firmes até eles.
– Posso saber o que a polícia está fazendo aqui? – perguntei baixinho, fazendo com que eles parassem à minha frente.
– Eu que vou saber? – respondeu com simplicidade, pra ele nunca estava nada ruim. Estava sempre tudo beleza, poderia até jurar que ele tinha acabado de fumar um baseado por estar tão tranquilo.
nem ao menos me olhou e, ainda por cima, saiu andando deixando o B1 e B2 comigo. Rolei os olhos e bufei, ele deveria estar com raiva de mim por causa de sábado. Sim, eu ligava pra isso, mas também não iria dar o braço a torcer. Mesmo que estivesse morrendo de vontade de ir atrás dele, não o faria.
– Espero que nenhum de vocês tenha aberto o bico. – falei em forma de ameaça e os dois bananas ficaram me olhando com cara de idiotas.
Os deixei prá lá e caminhei normalmente até meu armário para pegar meus livros. Vi se aproximando, ele parou na parede de armários ao meu lado. Fingi que não havia percebido sua presença inoportuna ali.
– Desculpa por sábado. – disse olhando pra qualquer lado, menos pra mim. É ASSIM QUE SE PEDE DESCULPAS PRA ALGÉM? FICA OLHANDO PRO ALÉM E NEMSE QUER TEM CORAGEM DE ME ENCARAR!
– Foda-se sábado. Não fala comigo. – coloquei os livros na mochila e bati a porta do armário com força.
– Fala sério, . – veio andando atrás de mim fazendo uma voz manhosa.
– Se está a fim de me ver irritada, já conseguiu apenas com a sua presença. Agora sai fora. – ele me dava nos nervos, só de escutar a voz dele já me irritava.
– Não, . Vamos conversar. – andava ao me lado.
– , não me chame assim! – falei irritada, virando de frente pra ele – Vai arrumar uma puta qualquer e larga do meu pé. – praticamente enfiei o dedo na cara dele.
segurou a manga de meu casaco, me puxou para dentro de uma sala vazia e me prensou contra a porta, fechando-a.
– Não quero nenhuma outra menina, quero você. – disse próximo demais de meu rosto. – Está difícil de entender?
– Eu tenho namorado. – foram as únicas palavras que saíram de minha boca. Tá que ele já tinha tentando me agarrar antes, mas uma ação desse tipo me fez ficar sem reação. Olhei em seus olhos, tão intensos, parecia que iria me afogar neles, mas por ali rodeou surpresa na hora que falei aquilo.
– Por acaso era aquele cara vestido de Drácula?
– Uhum. – isso era ridículo, por que eu não estava conseguindo falar direito?
– Hum. – ele se afastou um pouco de mim. Então soltei a respiração, me sentindo aliviada com isso, mas voltei logo a prendê-la. – Não me importo. – se aproximou de mim novamente, mas dessa vez estava a centímetros de minha boca, praticamente roçando seus lábios nos meus quando falou.
A respiração quente de batia em meu rosto, seu olhar intercalava entre meus olhos e minha boca. O que ele viu em mim? Sou feia, ando vestida que nem uma delinquente juvenil, não que eu não seja uma, mas... E ainda sou grossa com ele, faço de tudo pra afastá-lo. O que tenho de especial pra atrair sua atenção? Não queria isso. Não queria atrair a atenção dele e de mais ninguém, a não ser a de Jared.
– Por quê? – perguntei unindo as sobrancelhas suavemente.
– Por que o quê? – perguntou confuso. !
– Por que você gosta de mim? – agora sustentei o seu olhar.
– Não sei. Você é diferente das outras, vai ver que tenho uma queda por você ser má, queda não, um tombo. – resumindo em outras palavras... Porque sou difícil e não caí no charme dele.
– Isso soou gay, . Muito. Eu gosto de homem. – sussurrei em seu ouvido e ainda passei a língua na ponta de sua orelha. – E você ainda fede a leite. – debochei. Sim, eu gosto de provocar.
– Da próxima vez que você falar isso, não ficará viva para contar o fim da história. – disse um tanto quanto malicioso.
– Está vendo? Muito fraquinho, meu filho. Melhore as cantadas, as atitudes, cresce, toma maturidade e aí eu posso “pensar” se podemos conversar. Falou, meu chapa? – Dei dois tapinhas em seu ombro, esperando que ele se afastasse. – Agora me solta, antes que eu faça isso sozinha.
– É assim que você me vê? Como um moleque? – perguntou indignado. – Verdade. – fez um beicinho engraçado. – Não sou nenhum bandido que fica roubando carros por aí. – desdenhou, me soltando. – Fique com o seu homem e seja feliz na cadeia junto com ele. – se afastou com desprezo. O olhei com raiva agora! Como que ele consegue ser tão, tão, tão... ARGH! EU NÃO TENHO MAIS PALAVRAS PRA DISTINGUIR ESSA CRIATURA DESPREZÍVEL!
– Está vendo, ? Olha a sua atitude. Só porque te neguei, veio tentar me humilhar. Menino, vê se cresce. – abri a porta e saí da sala cuspindo bolas de fogo. – Idiota.
Quem ele pensava que era para falar daquele jeito comigo? Babaca. Dei um murro em uma das portas de armário, amassando-a. Tive vontade de socar outra porta, mas desisti, não valia a pena machucar minha mão por causa daquele verme. Fui para a sala, joguei minha mochila ao lado da cadeira e peguei meu caderno, tirando minha caneta de sua espiral, enfiei os fones de ouvido e coloquei para tocar Wait And Bleed do Slipknot bem alto, no último volume mesmo. Fiquei balançando aquele bastão de plástico entre meus dedos no ritmo da música. Meu pé balançava de nervo. Como aquele moleque consegue me tirar do sério tão facilmente? O professor veio até mim e puxou o meu fone. Olhei para a cara do Sr. Smither com ódio profundo por ter feito aquilo. Qualquer um que visse aquela cena pensaria que eu iria voar em cima daquele careca.
– Sabe muito bem que não gosto de fones de ouvido na minha aula. – me repreendeu.
– Enfia a sua aula onde o sol não bate, seu velho escroto! – falei levantando da carteira de uma forma atrevida. – Não estou te atrapalhando em porra nenhuma e você vem me perturbar. – escutei cochichos na sala.
– Para a diretoria agora. – ordenou.
Peguei minha mochila e a coloquei nas costas, depois passei a mão em meu caderno.
– Sinto muito se a mulher do senhor não abre as pernas. A vida é assim, uns comem e ou outros não. Não é justo implicar comigo porque ela não te dá. – disse saindo da sala e escutei alguns alunos rirem. – Só pra constar, essa aula é um lixo!
– PARA A DIRETORIA AGORA! – o homem gritou, quase tendo um colapso nervoso, além de seu rosto estar vermelho, sua careca também estava ficando.
Não respondi, apenas saí e bati a porta da sala com brutalidade, antes que o homem tivesse um piripaque. Fui andando para a diretoria e assim que cheguei lá, dei de cara com .
– Ah, não. – dei meia volta para ir embora – Deus, o que eu fiz para ser castigada desse jeito?
– Roubou um carro. – comentou ele e parei de andar.
– Vai se fuder, moleque. – me virei para olhá-lo.
– Vai você, garota escrota. – retrucou todo irritadinho.
– Escrota é a sua mãe. – revidei me aproximando.
– Olha como você fala da minha mãe. – disse alterando a voz. – Pelo menos a minha não fica dando para qualquer cara por aí.
– Seu filho da puta, o que você disse? – perguntei, jogando minha mochila no chão. – O teu pai não te deu educação?
– O meu sim, mas acho que o seu não, afinal, ele vive bêbado. – Ah, pra que ele falou aquilo? Meu sangue subiu à cabeça. Agarrei-o pela gola da camisa e lhe dei um soco na cara, seguido de mais três, meus dedos chegaram a estalar, mas nem por isso parei. Caímos os dois no chão, então montei nele pra arrebentar mais ainda sua cara, mas senti alguém me tirar de cima dele. – Me solta! Vou arrebentar esse moleque. – me debatia feito louca, minha mão estava machucada e garanto que a cara de também tinha ficado.
– , quieta. – ordenou o diretor, saindo da sala dele. – O que está acontecendo aqui? – ele nos olhava.
– Essa garota que começou, me ofendendo. – falou, limpando o nariz que escorria sangue.
– Você que me provocou. – continuei tentando me soltar de quem me segurava – , eu vou acabar com a sua raça, seu infeliz! – a raiva me dominava. – VOCÊ VAI VER, EU VOU TE MATAR! EU JURO! – estava completamente descontrolada, estava ciente disso. Eu parecia um cachorro atiçado pra uma rinha.
– Estou cansado das briguinhas de vocês! – o diretor praticamente gritou pra abafar minha voz. – Isso tem que acabar! Ou se resolvam passivamente, ou expulso os dois.
– Essa menina não sabe o significado dessa palavra, senhor. – disse , levantando do chão agora.
– O burro aqui é você e não eu. Me solta, merda! – parei de me debater, puxei meu casaco e a pessoa me soltou. – Está bem. – levantei as mãos, tinha que ficar calma. Bater nele não adiantaria merda nenhuma mesmo, mas a vontade não me faltava.
– A psicóloga da escola vai fazer uma sessão com vocês. – falou o diretor.
Dei um sorrisinho irritante. Psicóloga? Tá de brincadeira.
– Com licença, diretor. – escutei a voz do Sr. Smither atrás de mim. – Já lhe relataram o que essa menina me disse em plena aula?
– Não.
– Pode deixar que eu mesma falo, professor. – o olhei e dei um sorriso, lembrando-me do ataque que ele tinha dado comigo. – Bem… Eu o mandei enfiar a aula onde o sol não bate e também disse que ele não pode descontar sua raiva nos alunos se a mulher dele não lhe abre as pernas. – riu. – Ah, sim, e que a aula dele é um lixo.
– Senhorita , isso é coisa que se diga? – o diretor me repreendeu. – Uma semana de detenção pela briga com e pelo desrespeito com o professor Smither.
– Só não mando o senhor enfiar a detenção no… O senhor sabe onde, porque lhe respeito. – sorri, achando aquela situação muito engraçada. Louca, eu? Sou mesmo! – Agora se vou pegar detenção, o também tem. Ele que me provocou, se tivesse ficado calado, eu não teria enchido a cara dele de porrada.
– Para mim nada! – retrucou.
– Detenção de uma semana para os dois. – disse o diretor, nervoso. – Estão liberados das aulas por essa manhã. , vá esfriar a cabeça um pouco pelo campus, está muito estressadinha. E , vai limpar essa cara, está sujando minha recepção toda. – o diretor voltou pra sala dele.
Peguei minha mochila do chão, passei pelo senhor Smither, o encarando, pra completar ainda, dei língua pra ele e saí andando junto com . Ele empurrou meu braço e eu o empurrei de volta.
– Irritante. – falei, começando a brotar um sorriso em meus lábios. Assim como a raiva que sentia dele vinha do nada, também desaparecia.
– Grossa.
– Idiota.
– Cavala.
– Burro. – retruquei.
– Delinquente.
– Sou a delinquente por quem você é doido. – balancei a cabeça em forma de uma dancinha, mas continuei olhando pra frente.
– Convencida.
– Não. Só estou falando o que vejo. Vamos, vou te acompanhar até a enfermaria. – o puxei pelo casaco.
– Você é engraçada, me bate, xinga e agora está preocupada comigo. – foi contando nos dedos.
– Não estou preocupada. Só que as porradas que te dei podem ter afetado seu censo de direção.
– Corta essa, . Você está preocupada comigo. Admita. – deu um sorriso.
– Nunca vou admitir uma coisa que é mentira. Bom, vou dar uma volta então. – apertei meu passo.
– Tá, . Não precisa admitir, mas você me faz companhia até a enfermeira?
– Tá bom, . – falei e o empurrei de lado.
Eu sei que o odeio, mas não iria deixá-lo ir sozinho pra enfermaria. Fomos até lá um empurrando o outro, o mais estranho era que está vamos rindo daquilo.
- Foi mal ter falado aquilo pra você. – disse ele.
- Tanto faz, é verdade mesmo. Só não gosto que os outros fiquem falando isso por aí.
Assim que chegamos, fiquei esperando até a enfermeira fazer um curativo em sua sobrancelha, o nariz dele já tinha parado de sangrar. Não demorou muito até que Roxy, a enfermeira, terminasse com o curativo.
– Quem foi que te bateu, ?
– Eu. – falei, cruzando os braços e me encostando ao batente da porta.
– Não precisava falar. Eu podia dar a desculpa de que bati com a cabeça na quina da mesa. – torceu o nariz. – É humilhante ficar falando para as pessoas que você me bateu.
– Idiota. – falei.
– Grossa.
– Crianças, vamos parando. , já está pronto. Leve isso aqui para o diretor… – entregou um papel de atestado.
– Não precisa, foi o diretor mesmo que nos mandou aqui. – falei interrompendo a mulher. – Anda, . – saí da enfermaria.
– Obrigado, Roxy.
– De nada, menino, e toma cuidado com a . Qualquer dia, ela corta seu brinquedo fora.
– Gostei da ideia, Roxy. – virei sorrindo. – Cuidado comigo, . – fiz um sinal de arma com minha mão como se lhe desse um tiro. – Sou perigosa. – disse e assoprei a ponta de meu dedo, dando uma piscadinha. Não tinha necessidade de eu ser rude com ele o tempo inteiro.
Ele colocou a mão no peito e encenou como se tivesse levado um tiro.
– Roxy, não dê essas ideias para a , ela é maluca de tentar. – respondeu, se pondo de pé novamente.
– Juízo, meninos, e parem de brigar. – ela riu.
– Esse juízo que tanto vocês falam, o meu já morreu há muito tempo. – falei rindo e ficou me olhando. – O que foi, moleque?
– Deve ter morrido no dia que você começou a namorar aquele cara.
– Vai se danar. – parei de rir e fui andando para fora do prédio, deixando-o pra trás.
Fui até a cantina comprar algo pra forrar meu estômago e depois sentei debaixo de uma árvore que ficava um pouco distante do pátio e pertencia ao jardim do colégio. Muitíssimas poucas pessoas iam ali, por isso que gosto tanto desse lugar, era quase exclusividade minha. Comi meu lanche e comecei a mascar um chiclete de menta, detestava ficar com gosto de comida na boca. Encostei no tronco grosso, coloquei os fones do meu iPod e fiquei escutando Home do Goo Goo Dolls, embora não gostasse muito de músicas lentas, essa até que é agradável e me deixava mais calma. A letra era perfeita e apaixonante, olha meu lado “meigo” sendo revelado. Foi impossível não cantarolar junto com a melodia. Por um tempo, observei o jardim, até que era bonito ali, essa não era a única árvore que tinha, mas era a maior, por fim, fechei os olhos. Uma brisa batia em minha face e junto com o ela veio um cheiro de perfume masculino muito familiar, mas preferi permanecer com os olhos fechados e não olhar a pessoa dona do aroma. Até que senti algo muito próximo ao meu rosto, abri os olhos com urgência para ver quem seria o animal que levaria um murro no meio da fuça. ! Só podia ser mesmo. estava agachado e tão próximo que cheguei a me assustar, parecia que iria me beijar, sua boca estava a milímetros da minha. O segurei pelos ombros e empurrei ele pra trás, deitei sobre seu corpo para que não levantasse. Então tirei os fones do ouvido, quase os arrebentando.
– O que você quer, moleque? – perguntei com raiva, praticamente espumando pela boca.
– Te irritar. – começou a rir.
– Você adora mesmo isso, né? – a risada dele era gostosa, o que me fez querer rir também, mas me contive.
Levantou a cabeça, se apoiando em seus cotovelos e sussurrou em meu ouvido:
– Você não sabe o quanto. – e voltou a se deitar.
As mãos dele foram descendo e se repousaram sobre minha cintura, apertando o moletom de meu casaco com leveza. Eu estava completamente deitada em cima dele com as mãos agarradas no zíper de sua jaqueta e minhas pernas ficaram posicionadas entre as dele. Nós nos olhamos sem pudor, os olhos de eram realmente lindos, era até difícil não se perder neles. Lentamente, fui me aproximando cada vez mais. Meus olhos não se decidiam entre os dele e seus lábios. Uma vontade repentina de provar o gosto da boca de me tomou por completa. Sua respiração era calma, dava pra sentir os batimentos cardíacos fortes dele sendo prensados contra nossos peitos. Até que meus lábios encostaram-se aos dele, um se moldando ao contorno do outro suavemente. Fechei os olhos e minhas mãos foram tomando um novo rumo, a esquerda se espalmou em seu peito, fazendo um carinho ali, e a direita subiu até o pescoço dele. Minhas unhas passaram sutilmente em sua pele, o que lhe causou um pequeno arrepio. Começamos a nos beijar lentamente, até que foi ficando mais intenso a cada segundo que se passava. E, sem perceber, eu havia sucumbido por completo. Os dedos dele se apertaram contra meu casaco com mais força e foram subindo até o meio de minhas costas, a sua mão esquerda subiu mais um pouco até minha nuca, se perdendo em meus cabelos castanhos. Terminei o beijo e abri os olhos. Eu o olhei sem entender bem o que tinha realmente acontecido e me olhava da mesma forma, tão confuso quanto eu. , seu idiota, o que você fez comigo? Minha respiração estava descompassada, meus lábios formigavam e minha cabeça não conseguia assimilar aquela situação. Fiquei lenta. Não nos mexemos, parecíamos estátuas sobre o gramado frio e úmido. Por fim, tentei me levantar, mas ele segurou meus braços, me impedindo.
– , me larga. – falei com calma, por incrível que pareça.
– Não. – sua voz era baixa e um pouco rouca.
– Por favor, me solte. – pedi com mais delicadeza e ele me soltou.
Levantei, peguei minha mochila e saí correndo dali. Não sabia bem pra onde ir, mas fui pra qualquer lugar, desde que fosse longe daquela escola e de . Passei pela portaria sem ser notada. O que eu fiz, gente? Alguém pode me responder? Eu nunca podia ter feito aquilo! Nunca! Nunca! Dei um tapa em minha cabeça, reprovando tudo aquilo. Sua burra, agora sim ele vai ficar se achando e ainda vai me irritar mais por causa disso. Peguei o metrô e fui até a oficina de Jared. A cena de e eu nos beijando não saía da minha cabeça nem sequer por um minuto. Aquilo estava me incomodando. E muito.
–Jared. – chamei assim que entrei.
Estava tudo silêncio demais para uma segunda de manhã. Fui andando entre os carros “roubados”, até que escutei um barulho e me abaixei, encostando-me a um automóvel próximo. Andei lentamente agachada entre os veículos, escutei mais um barulho que veio de algum dos carros. Que merda está acontecendo aqui? Localizei rapidamente de onde vinha o barulho, que era de uma Ferrari prata que tínhamos roubado semana passada. Caminhei até ele e vi Jared nu com uma piranha loira por cima dele.
– Que merda, Leto! – falei alto e eles levaram um susto. – Porra! Me trair logo com uma puta é sacanagem! – dei um chute na lataria do carro, amassando-o.
– Está louca, ? Vai amassar a porra do carro. – disse, tirando a mulher peituda de cima dele e saindo com suas calças nas mãos.
– Louca, Jared? Louca? Você vai ver quem é louca! – subi as escadas de dois em dois degraus que dava para um escritório, fui direto em seu cofre, abrindo-o rapidamente e pegando o dinheiro e joias que tinham lá dentro, depois coloquei-as na minha mochila.
– O que pensa que está fazendo? – perguntou.
Virei e ele estava de pé na porta.
– Pegando o que é meu! Afinal, eu que te ajudei a roubar tudo o que tem!
– Solta isso agora, garota. – Jared veio andando pra cima de mim e eu passei por cima de sua mesa, jogando as coisas que tinha em cima dela no chão.
– Não! – desci as escadas correndo. – Você tem os carros e a puta! Se divirta com ela, seu miserável. – saí da oficina correndo o mais rápido que consegui.
Desci as escadas da estação de metrô pulando os degraus, tinha um vagão que havia acabado de chegar, entrei no meio das pessoas e assim que a porta se fechou, vi Jared parado do lado de fora batendo na porta. Dei um sorrisinho, mandei um beijinho, pisquei um olho e dei um tchau para ele.
– Vadia! Você vai se ver comigo! – gritou do lado de fora. Ele estava com muita raiva.
Saltei do vagão, subi as escadas para sair do metrô, entrei na escola e guardei minha mochila no armário. Andei meio apreensiva, segurando meus próprios braços com força. Olhei em meu celular e já estava quase na hora da saída. Que merda! Leto seu, seu, seu… Panaca. Por que você fez isso comigo? Eu gostava de você, tá? Entrei no banheiro, fui para a última cabine, abaixei a tampa do sanitário, sentei em cima dela e tranquei a porta. Abracei minhas pernas de uma forma que fiquei encolhida ali. Pensando bem... O que um homem de 25 anos iria querer com uma garota de 16? Ele apenas me usava para ajudar a roubar as coisas e, idiota como eu, ia lá e fazia. Raiva! Chutei a porta da cabine. Senti uma lágrima descendo do canto de meu olho. Que droga é essa? Passei a manga do casaco em meu rosto, secando aquela maldita lágrima que caía, mas não adiantou muito, porque logo em seguida desceram outras molhando por completo minha face. Droga. Afundei as mangas de meu casaco em meu rosto. O sinal tocou, esperei um pouco para que a escola se esvaziasse e saí do banheiro. Meus olhos haviam ficado um pouco inchados. Fiquei dando pequenas fungadas, passando a manga do casaco no nariz. Fui para a detenção, estavam lá apenas o e mais uma mulher que não reconheci. Sentei-me no fundo da sala olhando pela janela. Puxei um pouco minha toca pra baixo e coloquei capuz de meu casaco pra tampar meu rosto.
– Você deve ser , certo?
Olhei de rabo de olho para a mulher.
– Não, sou a chapeuzinho vermelho. – dei um sorrisinho cínico. – Olha… Não vou ficar aqui falando da minha vida pra você. Então escreve qualquer merda nesse papel seu aí e me libera.
– Você é uma menina muito nervosa.
– Quer ganhar um biscoito por sua descoberta incrível? – ironizei. Não estava a fim de conversar, bem, eu não era muito uma pessoa de falar.
– Não ligue, Charlotte, ela é assim mesmo, sempre de mau humor com a vida. – falou me cortando. – Cuidado que ela pode te atacar.
– , cale sua boca se não sabe dos meus motivos por ser assim. – cuspi as palavras com arrogância. Aquilo fez desencadear uma série de lembranças em minha mente.
Quando eu tinha uns nove anos, mais ou menos, ainda morava com meu pai. Teve uma festa lá em casa...E me ocorreu uma coisa não muito agradável.
Flashback On
Papai havia pedido para que eu não saísse de meu quarto, então fiquei lá brincando com minhas bonecas, como era de costume. Já era tarde da noite e agora eu estava deitada em minha cama, dormindo abraçada com Fofinho, meu ursinho de pelúcia. Escutei um barulho na porta, olhei pra ver quem era, mas não reconheci, fiquei quieta fingindo que dormia, se mamãe me olhasse acordada ia brigar comigo, e a porta voltou a se fechar. Senti alguém puxar minha coberta e uma mão forte segurar meu braço fino, chegando a me machucar. Gritei apavorada, então tamparam minha boca. Também não iriam me escutar, a música no andar de baixo era alta demais. A mão grossa e bruta puxou a calça de meu pijama de malha, arrancando-a fora. As lágrimas de pavor escorriam de meus olhos, minhas pequenas mãos frágeis eram inúteis na tentativa de me proteger. Escutei o barulho de uma fivela de ferro batendo no assoalho de meu quarto que era feito de madeira, depois de um zíper curto sendo aberto. Eu me debatia tanto que cheguei a me machucar sozinha.
- Me solta. – chorei, pedindo contra a mão que abafava minha boca e minha respiração.
- Fica quietinha. – a voz asquerosa tinha um bafo podre. – Não vai doer nada, gracinha.
Minha calcinha de algodão foi tirada sem jeito e o homem deitou com seu corpo nojento em cima de mim.
Flashback Off
Peguei-me completamente perdida naquela lembrança horrível. Ninguém nunca ficou sabendo do que aconteceu, a não ser minha mãe que, depois de descobrir isso, se separou de meu pai. Não sei quem foi o sujeito que fez isso comigo, também não tenho vontade de saber. Se um dia eu descobrir, sou capaz de matá-lo. Pra eu ter meu primeiro relacionamento foi meio estranho, mas Jared sabia fazer com jeitinho, então perdi o medo e peguei uma segurança enorme nele. JARED! SEU MERDA! VOCÊ ME TRAIU. Segurei as lágrimas que queriam sair novamente, coloquei a mão na boca pra ajudar a segurar meu choro.
– Então por que não nos conta quais são? – a mulher falou, me puxando de meus pensamentos, ela tinha um sorriso no rosto, o que me deu vontade de vomitar.
Que bonitinha, tão agradável e simpática. Essas pessoas são patéticas. Continuei olhando pela janela.
– Já disse que não vou falar da minha vida pra você. Desista. – por que essa conversa toda fez com que meu passado voltasse?
Minha garganta estava doendo de tanto segurar o choro, mas me mantive firme.
– Por que você e o brigam tanto? – Charlotte tentava me fazer falar.
– Porque ela é uma grossa. – respondeu ele.
– , você esqueceu de mencionar que só sou grosa com você. Porque implica comigo primeiro. – retruquei, tentando buscar uma distração.
– Eu? Hoje quem chegou falando besteira na diretoria foi você.
– Claro! Você já tinha me irritado mais cedo. – levantei da cadeira e ele também. – Já cansei de falar pra você ficar longe de mim! – senti meus olhos se enchendo d’água e arderem um pouco.
– Hey, crianças… Vamos nos acalmar, ninguém quer brigar aqui. – a mulher surgiu entre nós.
– Quem disse que ninguém quer brigar? – perguntei debochada, passando a manga de meu casaco em meu olho, o qual havia deixado uma lágrima cair. – Será um prazer descer o braço nesse moleque.
– Calma, . – Charlotte falou um pouco alto.
– Cansei de você! Quer me bater, pode vir. – finalmente me afrontou.
Passei por Charlotte e voei em cima dele, tentei lhe dar um soco, mas segurou meus braços com força, então dei uma cabeçada nele, o que fez ele me soltar, e em seguida dei uma canelada em sua coxa. Senti as mãos de Charlotte me puxarem e escorregarem logo em seguida, pois puxei meus braços de volta. Fui para cima de novamente e o peguei pela jaqueta, fui empurrando-o para trás, eu parecia um búfalo em fúria, mas ele me segurou também pelo meu casaco e me tacou contra a parede com força. Fiquei sem ar por um instante e fechei os olhos tentando puxar todo o oxigênio que conseguia.
– PAREM! – gritou a mulher assim que ia me dar um soco. Ele parou com a mão fechada a uma certa distância de meu rosto, então dei um chute no meio de suas pernas. – Chega! Parem!
ficou meio curvado e olhou com raiva pra mim, assim como eu o olhava. Eu o empurrei pra trás pelos ombros para que ele caísse sentado, porém ele ficou de pé e me prensou na parede com força, olhou em meus olhos, seu antebraço prensava meu pescoço e impulsionava meu queixo pra cima. Posso garantir que meu olhar estava vazio, mas acho que enxergou algo mais e cedeu o braço, me deixando respirar.
– Isso não acabou aqui. – falou bem perto do meu rosto.
– Te aguardo na saída. – respondi sem medo.
– Solte-a, . – Charlotte pediu e ele a obedeceu. – Vocês vão se matar a qualquer hora.
– Não, Charlotte. Já nos acostumamos com isso. – disse sorrindo sem vontade. – Né, ?
Ele me olhou atravessado, se tivesse visão de laser, teria me matado agora. Foi divertido provocá-lo, por um instante esqueci meus problemas. Mas pra falar a verdade, não estava com muito ânimo para briga agora. Estava com raiva e magoada com Jared, descontar em não daria certo. Voltei para meu lugar e me sentei na cadeira, voltando a olhar pela janela.
– Vocês não podem ficar brigando desse jeito. É feio uma moça ficar brigando e um homem bater em mulher. – Charlotte falava. Para ser sincera, entrava em um ouvido e saía pelo outro. – Essa é a ultima chance de vocês. Se isso não acabar aqui, o diretor vai expulsar os dois. Estou aqui para tentar ajudá-los.
– Ninguém pediu a sua ajuda, se ele quer nos expulsar, que faça! Não ligo. – dei de ombros. Eu não estava mais me importando com nada. – Estou falando por mim, não sei pelo .
– Estou a fim de continuar na escola. – aposto que disse isso só pra me contrariar.
– Então vamos chegar a um acordo. Se quiserem brigar, que seja fora da escola. – Charlotte se sentou sobre a mesa. – , você não implicará com a e ela não vai te bater. Pode ser assim? Sem brigas. Esta será a ultima chance de vocês. – repetiu.
– Tá, Charlotte. Agora posso ir? – perguntei impaciente.
– Tá o quê? “Tá, você vai parar de brigar” ou “tá, vai continuar brigando”?
– “Tá, eu vou parar de brigar”. – disse me levantando. – Dentro da escola. – ressaltei.
– Brigue onde você quiser, menos aqui dentro, OK? – ela falava como se estivesse explicando algo para um mongol, estou com cara de retardada por acaso?
– Ok, Charlotte. – falei. não mencionou nenhuma palavra. – , você vai parar de implicar comigo?
– Tá.
– Tá o quê? – perguntei com raiva, balançando os braços.
– Não vou mais implicar com você, agora vá para o inferno e não me irrita.
– Estamos entendidos então? – Charlotte deu um sorriso.
– Sim. – saí da sala.
Fui até meu armário, peguei as chaves de casa e saí da escola.
– Sabia que o único lugar que me restava procurar era aqui. – Leto estava de pé na escada à frente da escola.
3. A raiva que eu adoro – Parte II
Mordi o lábio inferior com receio de dar um passo à frente. Sabe lá Deus o que Jared faria comigo. Assustei-me quando ele subiu os degraus e segurou meu braço com brutalidade, tentando me tirar do lugar.
– Jared, me solte. – falei entre dentes, tentando puxar meu braço de volta, pois estava machucando. – Como sabia que estava aqui? – descemos a pequena escada juntos, pelo menos eu tentei descer, já que ele me puxava com tanta violência que mal consegui andar direito.
– Porque fui ao seu apartamento e não tinha ninguém lá, meu amor. – disse me arrastando calçada afora. – Cadê minhas coisas? – nem se importou com quem passava e ficava nos encarando.
– Já dei cabo em tudo. – tentei me soltar de sua mão, mas isso fez como que ele apertasse ainda mais meu braço fino.
– Então quero o dinheiro! – Leto me tacou contra um carro que estava estacionado rente ao meio fio. – Anda, sua vadia! – deu um soco em meu rosto, senti um gosto de sangue percorrer por minha boca, acho que se usasse mais um pouco de força, meus dentes ficariam moles.
– Vai se ferrar! Não vou te devolver porra nenhuma! Agora pega aquela loira que você estava comendo e mande-a te ajudar a roubar essa merda toda! – falei alto e cuspi sangue na cara dele.
Meu escândalo fez com que algumas pessoas parassem e nos olhasse. Anda, me humilha mais, é tudo o que preciso! Pisoteia, bate, vamos lá! Está esperando o quê? É tudo do que preciso mesmo. Joga fora tudo o meu sentimento por você, seu cachorro!
– Cale a boca, sua vagabunda! Quero o meu dinheiro agora. – Jared começou a me enforcar, minhas mãos percorriam seu braço, tentando me livrar dele. – Onde está? – me chacoalhou feito uma boneca de pano, fazendo com que a minha cabeça batesse no carro.
Era só para isso que ele ligava! O maldito dinheiro. As pessoas não impediam meu estrangulamento, apenas ficaram assistindo. Bando de inúteis!
– Morro, mas você não vai ficar com ele. – minha voz saiu fraca. – Vá se danar, seu miserável. – chutei suas bolas, conseguindo me livrar dele, e saí correndo entre aqueles idiotas que nos olhavam.
Olhei por cima de meu ombro e vi Jared correndo atrás de mim com uma fúria incomparável. Merda, ele vai me matar. Parei de correr, já não tinha mais nada a perder mesmo, não adiantaria em nada ficar fugindo. Leto me pegaria mais cedo ou mais tarde, e aposto que se fosse mais tarde, seria muito pior. Fechei os olhos e respirei fundo, senti um solavanco quando Jared agarrou minha cintura por trás e me carregou para um beco ao meu lado. Ele me tacou no chão e chutou minha barriga. Que dor, senti sangue vir em minha boca. Não fiz nada. Leto tirou meu gorro e minha toca, tacando-os longe, agarrou meus cabelos fazendo com que eu levantasse do chão na marra.
– Cadê o meu dinheiro? – perguntou baixo, bem perto do meu ouvido, dava pra sentir a fúria em sua voz.
– Taquei fogo. – falei rindo, debochando da cara dele, Jared socou meu rosto contra a parede, mais gosto de sangue em minha boca, prensou seu corpo contra o meu, afundando ainda mais minha cabeça no tijolo. Senti algo quente escorrendo na lateral de minha face. – Jared, você pode me bater o quanto quiser, mas não vou te devolver merda nenhuma. Pare de ver o seu lado e veja o meu também!
– Ver o seu lado? Que lado? – prensava meu rosto com força contra a parede, puxou minha cabeça pra trás e bateu com ela novamente no concreto.
– O lado que você me traiu! Eu fazia tudo! Para quê? Para me trair com uma prostituta? – aquilo sim me machucou de verdade. – Eu gostava de você, seu miserável!
– Garota, não sou santo e você sabe muito bem disso! Ela me deu condição e eu fui. Agora devolva minhas coisas! – me jogou no chão novamente e chutou minhas costelas. Rolei, ficando de barriga pra cima.
– Cale a boca, Jared. – falei, colocando a mão em minhas costelas. Nossa, elas estavam doendo. – Sabe o que você faz com suas coisas? Pega e enfia na bunda! Você só se importa consigo mesmo. Não vou te devolver nada! Já falei. – dito isso, Leto chutou novamente minha costela fazendo com que eu rolasse de dor de novo. Fiquei de bruços, tentei me levantar, mas ele pisou em minhas costas, então bati com os peitos contra o chão, aquilo fez com que o ar me faltasse.
– Vadia. – puxou meus cabelos, levantando meu rosto, e abaixou até alcançar meu ouvido. – Você vai me pagar caro por isso. – Leto segurou meus braços, me forçando a levantar. Bem, eu não tinha força pra isso, mas ele fez com que eu ficasse de pé. – Vai ter volta.
Ele me jogou na parede, minhas costas bateram com muita força, fiquei meio tonta com aquilo, já que minha cabeça também bateu. Vi Jared sair do beco, minha visão estava meio embaçada, minhas pernas não tinham mais força para me manter de pé, então fui escorregando pela parede até cair sentada no chão.
– Babaca. – foram as únicas palavras que saíram de minha boca, que sangrava.
Merda, minha barriga estava doendo assim como meu braço, rosto e em todos os outros lugares onde ele tinha batido. Depois de um longo tempo, levantei com dificuldade, peguei minha toca, coloquei-a no bolso, deixei que meus cabelos caíssem sobre meu rosto para que ninguém visse meus machucados. Saí do beco andando lentamente, olhando apenas pra calçada abaixo de meus pés. Pelo menos na escola as joias e o dinheiro estariam a salvos. Voltei pra lá, caminhei até o banheiro, escorando nos armários pelo meio do caminho. Chegando lá, lavei o rosto, tentando estancar o sangue que insistia em sair da ferida em minha testa, a maçã de meu rosto estava arranhada, minha sobrancelha cortada, meus lábios machucados e minha boca toda estourada por dentro. Não consegui dar muito jeito, tive que ir até a enfermaria. Quem sabe Roxy me ajude com isso.
– Roxy. – chamei, me segurando no batente, não estava conseguindo fazer muito esforço.
– Meu Deus, ! O que aconteceu contigo? – perguntou assim que me viu, sua expressão foi de pavor. Por acaso eu estava tão abominável assim pra ficar tão assustada?
Ainda estava meio tonta. Roxy veio até mim e me segurou para que eu não caísse no chão feito uma banana.
– Nada. Você tem algum analgésico bem forte? – pedi, segurando em seus braços que me ajudavam.
– Claro, sente-se aqui. – sentei em uma cadeira.
– Merda. – reclamei quando senti minhas costelas baterem bem devagar no encosto de madeira.
– , tire o casaco. – ela me olhou preocupada. – Deixe-me ver o que aconteceu.
Retribui o olhar, mas sem a menor vontade de tirar meu casaco.
– Fecha a porta. – pedi, olhando pra saída.
Ela foi até lá e a fechou. Levantei e tirei meu moletom com um pouco de dificuldade, ficando apenas de camiseta.
– Minha nossa! Quem fez isso com você? – perguntou ao ver os hematomas em meu braço. – Tire a camiseta, por favor.
– Ninguém. – despi-me, ficando apenas de sutiã. Os olhos de Roxy se arregalaram ao ver meu abdômen roxo. – Não foi nada, pare de me olhar desse jeito. – ela me virou, pegando meu braço com gentileza.
– Como não foi nada?! Você está toda machucada! – levou a mão à boca. – Dói aqui? – senti sua mão gelada tocar minha costela e balancei a cabeça com sinal positivo.
– Não comente isso com ninguém. – falei com calma. – Me arranja um remédio para dor, senão hoje à noite não vou conseguir dormir.
Escutei alguém bater na porta e, logo após, entrar. Merda! Peguei meu casaco e coloquei na frente de meu corpo assim quando vi passar pela porta.
– Moleque, não sabe esperar até que alguém diga que pode entrar? – perguntei nervosa, tentando ao máximo me tampar. Que droga. Eu não sabia se virava de costas pra ele ou se tentava tampar meus machucados e meu rosto.
Ele uniu as sobrancelhas ao me ver.
– O que você… – se interrompeu e depois continuou. – Quem fez isso contigo?
Essa seria a pergunta premiada! Todo mundo iria ficar perguntando a mesma coisa? Merda! Por que tinha que aparecer logo agora? Já não gostava nem quando ele olhava pra minha cara, agora ainda mais desse jeito. Iria me zoar pelo resto da vida.
– Fez o quê? – fingi que não tinha entendido.
– Seu rosto… – veio até mim, mas me afastei, como se ele também fosse me machucar. – , o que aconteceu? – pude perceber que estava aflito por me ver daquele jeito.
– Nada, . Dê licença, estou conversando com a Roxy. – tentei ignorá-lo. Queria aquele cara o mais longe possível de mim.
– , ele só que ajudar.
– Roxy, não preciso da ajudada de ninguém. Já arranjou o que te pedi? – perguntei olhando para ela, quanto mais ignorasse , seria melhor.
– Sim. Tenho uma pomada aqui que você pode passar para diminuir o inchaço e a dor também.
– Inchaço? Dor? Do que ela está falando? – perguntou, olhando pra mulher.
– , larga de ser intrometido. Me dê licença. – falei com arrogância. – Além do mais, está frio. Na hora que sair, fecha a porta! – fui extremamente grossa na tentativa de me livrar dele de uma vez por todas.
Ele não respondeu e saiu. Vesti minha camiseta e meu casaco. Roxy limpou os machucados de meu rosto e deu dois pontos em minha testa.
– Tome. – disse me entregando duas caixinhas. – Esse aqui é para dor e esse é a pomada. – me indicou cada um. – Tem certeza de que não quer me contar o que aconteceu?
– Tenho. Obrigada pela ajuda. – tentei dar pelo menos um meio sorriso, mas aquilo foi dolorido, então deixei pra lá. – Tchau. – saí da enfermaria.
Dei de cara com , que estava sentado na escada que tinha em frente à porta da enfermaria, ele se levantou assim que me viu sair.
– Está tudo bem com você? – perguntou preocupado, caminhando pra perto.
– Tudo, . – respondi desanimada, continuando a andar, puxei o gorro de meu casaco e um pouco de cabelo caiu em meu rosto, aquilo o impediu de me olhar diretamente.
– Me fala o que aconteceu? – veio andando ao meu lado.
– Nada, problema meu. Está preocupado por quê? Não sou sua amiga e nem nada. – respondi enfiando a mão dentro do bolso do casaco e o olhei de rabo de olho.
– Não posso significar nada pra você, mas você significa algo pra mim. – disse passando por mim e parando à minha frente, ficando a centímetros de meu rosto.
– Me deixa. Não estou com ânimo pra discutir contigo agora. Amanhã fazemos isso. – fiquei apenas olhando pro chão e tentei me esquivar dele.
Tudo o que eu queria era ir para casa. Estava completamente derrotada. Jared havia me destruído por dentro, se fosse só a dor física, nem reclamava, mas não era.
– Vou te acompanhar. – insistiu, me cercando.
– Não, valeu. Quero ficar sozinha. – o olhei, a cor dos olhos dele era tão linda, não consegui segurar e dei um sorriso fraco. – Obrigada. – consegui sair dali, deixando-o pra trás.
não me seguiu, pelo menos respeitou minha vontade dessa vez. Bem, pelo mesmo era isso que achei. Por que ele estava se preocupando tanto? Como falei, “Não somos nada. Nem amigos.” Mas pra , eu era algo mais. Não gosto nada dessa ideia de ele me considerar dessa forma. Pra ser honesta, nem gosto dele, também não sei por que o beijei. Estou sentindo nojo de mim mesma por ter feito essa merda. Por outro lado, não posso negar de forma alguma, dizendo que não gostei da forma como os lábios dele se moldaram aos meus, do jeito como nossas línguas se mesclaram uma na outra, o cheiro de seu perfume... Só de lembrar, sinto um arrepio percorrer meu corpo. AH, CHEGA! Balancei a cabeça negativamente. Que coisa absurda, eu gostar de algo que vinha do . Acho que as porradas que Jared me deu estavam afetando seriamente meus pensamentos. Assim que coloquei o pé pra fora da escola, começou a chover, mas não era aquela chuva garoa, e sim uma tempestade. Droga. Olhei pros lados, ainda tinha que buscar Josh na escola e já estava quase na hora de ele sair, não daria pra esperar aquela aguaceira passar. Andei meio apressada, mas aquilo não adiantava muito, já estava completamente encharcada. Vi um carro andando devagar ao meu lado e o vidro se abaixar, mas não olhei pra ver quem era.
– , entra no carro. – escutei a voz de , virei o rosto o suficiente pra negar com a cabeça. – Anda, está chovendo muito. – isso já estava virando perseguição. Eu só queria ficar sozinha, era tão difícil assim?
– Não faz diferença, já estou toda molhada mesmo. – não parei de andar nem por um momento. Já estava me aproximando demais dele, não queria isso.
Não vi mais o carro, suponho que ele tenha desistido. Também não olhei pra trás para ter certeza.
– ! Pare de bobeira. – tive que olhar pra trás agora, pois a voz dele não vinha mais de dentro do carro. estava debaixo de chuva e vinha andando atrás de mim. – Por favor.
– Não quero carona sua! – me virei e tirei o capuz de meu casaco, os cabelos estavam colados em meu rosto, tampando quase toda minha visão, os joguei pra trás de qualquer jeito. – Vai embora! – falei bem alto por causa do barulho da chuva.
– Só se você entrar no carro comigo! – se aproximou, parando só quando estávamos bem próximos, tentei me afastar, mas segurou minha cintura. – Entra no carro agora! – disse sério. – Não me faça usar a força.
– Me larga. – retruquei, o empurrando pelo peito. – Fica longe de mim! – gritei dando uns passos pra trás. Estava começando a ficar com medo disso tudo que estava acontecendo. Era uma coisa estranha que se passava dentro de mim quando estava perto, já não era de hoje que me sentia assim. Não. – Está tudo errado!
– Do que você está falando? – a cada passo que eu dava recuando, ele dava um adiante.
– Você tentando ser meu amigo! Isso é errado! Não podemos ser amigos! EU TE ODEIO! – estava histérica no meio da rua. Agora estava tão encharcado quanto eu.
– Você é louca. O que te fiz agora? – não entendia nada.
– Nasceu, foi isso que você fez! – quando me virei pra sair correndo dali, segurou minha mão e me puxou pra perto, fazendo com que eu desse um rodopio e que meu peito se chocasse contra o dele. – Me solta! Qual é seu problema comigo? – perguntei, tentando me afastar novamente. Estava parecendo uma leoa indomável entre seus braços, que me seguravam.
– O problema é que você não sai da minha cabeça! – segurou minha nuca e colou seus lábios nos meus.
Não. Para com isso! Minhas mãos estavam espalmadas contra seu peito, tentando afastá-lo de qualquer forma. Ao mesmo tempo em que queria empurrá-lo, queria beijá-lo. Mas meu orgulho era grande demais pra colocar dentro de um saco e retribuir aquele beijo. Não vou ceder mais, nunca mais. Foi um erro da primeira vez e será outro na segunda. Por que isso tudo agora? nunca se manifestou e de uns tempos pra cá veio tentando me agarrar. Isso tudo era ridículo. Minhas mãos foram deslizando até o pescoço dele lentamente, depois até o músculo de seu ombro, onde estava bem ressaltado. Enquanto a mão dele se estendia até o meio de minhas costas, unindo ainda mais nossos corpos, apertei com toda minha força o nervo de seu ombro, onde sabia muito bem que o machucaria e o faria me soltar. Sorri quando me soltou e xingou algum palavrão que não entendi. Dei-lhe um tapa na cara e saí correndo. Pisei em poças d’água, fazendo com que espirrasse pra todos os cantos e que molhasse minhas roupas ainda mais, cheguei a escorregar quando virei a esquina de uma quadra, mas caí meio de lado, me apoiando na parede de um prédio e voltando a correr. Tive que olhar pra trás, na certeza de que ele não estava me seguindo. Eu estava correndo feito uma prisioneira que acabara de fugir de um presídio. Era exatamente assim que me sentia. Uma prisioneira fugindo do presídio. E esse presídio era o . Meus pulmões começavam a doer, implorando por oxigênio. Minha cabeça estava no meio de um turbilhão em volta de dois caras. Parecia que tudo estava começando a desmoronar ao meu redor e que era apenas o começo de um túnel escuro onde não se via a luz no fim dele. Atravessei a rua correndo, sem olhar pros lados, um carro freou bruscamente e veio outro, logo atrás dele, batendo em sua traseira. , para! O que eu estava fazendo? Saí do controle por causa de um moleque idiota. Parei um minuto pra pensar em tudo que estava fazendo. Não fazia sentido. Olhei ao meu redor, percebendo a confusão que tinha acabado de armar. Lembrando-me de que tinha que buscar Josh. Olhei no relógio e vi que já estava atrasada. Peguei o metrô mais próximo e fui para a escola de meu pequeno. Encostei minha cabeça no banco, tentando não pensar em mais nada. Assim que cheguei ao meu destino, vi meu príncipe parado no portão de seu colégio, ele estava todo molhado.
– ! – veio correndo até mim e eu me abaixe para abraçá-lo. – Vamos passar no mercado e comprar alguma coisa para o jantar? – ele nem se importava de estar molhado.
– Vamos, meu anjo. – o que mais eu podia fazer? Josh era uma das minhas únicas razoes de ser feliz. – Mas você está todo molhado, vai ficar gripado. – permaneci abaixada com um sorriso estampado no rosto. Ele era meu doce anjo.
– Então vamos ficar juntos, porque você também está. – agarrou meu pescoço e beijou minha bochecha. – O que aconteceu que você está machucada?
– A maninha caiu da escada. – passei a mão em seus cabelos curtos, bagunçando-os.
– Quando chegarmos em casa, vou cuidar de você. – disse ele.
– Está bem. – levantei e estendi a mão pra que ele segurasse.
Fomos andando até o mercadinho perto de casa.
– , por que você está triste? – perguntou, percebendo que não falei muito.
– Não estou triste, meu lindo. – passei a mão em seus cabelos. – O que você quer para jantar? – tentei mudar de assunto.
Falando em comer, eu não havia comido nada desde cedo, meu estômago roncava.
– Quero capelete de frango com molho branco.
– Está bem. – peguei a massa pronta e os ingredientes que faltavam sem rodeios.
Assim que chegamos ao apartamento, a porta estava destrancada. Merda!
– Josh, fica aqui fora que a maninha vai ver o que está acontecendo. – dei um beijo em sua cabeça.
– Tá.
Entrei. Estava tudo revirado. Olhei todos os cantos e não estava faltando nada, fui até meu quarto e minha gaveta de fundo falso estava da mesma forma que deixei. Jared havia entrado aqui. Sorte que não tinha levado nada. Virei para o espelho de meu quarto e estava algo escrito de batom.
“Vai ter volta, vadia!”
A caligrafia sem duvida era dele.
– Josh, entra e fecha a porta. – falei alto para que ele escutasse.
– O que houve aqui? – escutei ele perguntar e o barulho da porta batendo.
– Alguém entrou aqui, mas não levou nada. Vou colocar o capelete no fogo. E você vai tomar um banho enquanto isso. – disse tirando meu casaco molhado, meu tênis e o colocando dentro do cesto de roupa.
Arrumei tudo enquanto o capelete ficava pronto. Limpei meu espelho para que mamãe não visse. Escutei o interfone tocar e fui atender.
– Oi. – falei assim que atendi.
– , sou eu, .
– Entra. – apertei o botão para abrir a porta da entrada e fui até a porta do meu apartamento para abri-la.
Assim que vi , eu o abracei forte e comecei a chorar.
– Me conta o que aconteceu? – pediu, entrando comigo e fechando a porta.
era o único amigo que eu tinha e o que sabia algumas coisas ao meu respeito. Sentamos no sofá.
– O que foi, ? – escutei Josh perguntar.
– Meu lindo, vai para o meu quarto jogar vídeo game, quando o jantar ficar pronto, te chamo. – falei segurando a minha voz horrível de choro.
– Tá. – a criança saiu.
– , ele me traiu. – deitei com a cabeça em suas pernas e ele passou a mão em meus cabelos.
– Você sabia que ele não era de confiança. Eu já esperava isso dele mais cedo ou mais tarde. O me contou que te viu na escola e você não estava nada bem. – ele me confortava. Ah, só isso que o cretino te contou, foi?
– Mesmo assim, eu sempre confiei nele, pensei que ele gostasse de mim. – estava chorava feito uma criança. – Desculpe ter brigado com você sábado.
– Me desculpe também por ter falado daquele jeito contigo. – sentei no sofá, ficando de frente para ele.
– Você é o único amigo que tenho. Não quero que fique com raiva de mim, você sabe que faço muitas coisas erradas, só não quis te envolver nelas. – tirou o cabelo de meu rosto e enrugou a testa.
– Ele te bateu? – perguntou, passando o polegar em minha bochecha, onde tinha um arranhão.
– Sim. Eu roubei umas coisas dele. – passei o olhar pela sala. – Ele entrou aqui para procurar.
– O que você roubou dele, ? – torceu os lábios, achando aquilo errado.
– Já disse que não quero te envolver nas minhas merdas.
– Então para de fazer. Olha pra mim. – segurou meu rosto com as duas mãos. – Você pode contar comigo, tá? Mas tem que confiar em mim. Posso até ficar com raiva e brigar contigo, mas, de qualquer forma, vou estar ao seu lado sempre.
– Não sei o que fiz pra você gostar tanto assim de mim. – sorri fraco. – Obrigada pelo que está fazendo. Só não quero que veja a merda que realmente sou. Não me orgulho dessas coisas, tenho medo que depois que você descubra, se afaste.
– Não vou. Já disse que pode contar comigo. Agora começa a contar. – tirou seu tênis e colocou os pés em cima do sofá. – Hey, sua calça está molhada, estava andando debaixo de chuva? – concordei com a cabeça. – Antes de qualquer coisa, vá tomar um banho quente.
– Ok, pai! – brinquei e fui tomar um banho rápido.
Assim que voltei, falei para todas as merdas que fiz, roubo de carros, assalto a mão armada, tráfico e tudo mais.
– Nossa. – foi a única coisa que o menino falou após escutar tudo.
Abaixei a cabeça, me sentindo um lixo.
– Por que você fez tudo isso? – levantou meu rosto.
– Poxa, a minha mãe trabalha o dia todo de garçonete e ainda fica se vendendo quando pode, mas mesmo assim, nunca tem dinheiro. Meu pai não paga minha pensão e nem a de Josh, esse foi o único jeito de arranjar dinheiro rápido para dar o que comer e vestir ao Josh. Não sei o que minha mãe faz com o que ganha, então tenho que me virar.
– Sua mãe nunca desconfiou de nada?
– Não, ela não repara em muita coisa. Minha mãe é uma boa pessoa, mas é muito avoada com as coisas ao seu redor. – respirei fundo. – Você deve estar achando que sou uma merda.
– Não estou achando nada. Por que você não arruma um trabalho? – sugeriu.
– Não dá. De manhã eu tenho escola, quase sempre fico na detenção e também tenho que buscar Josh às quatro da tarde todos os dias no colégio, não tem como.
– É. Aí fica meio complicado. Se não tem outro jeito, você vai continuar vendendo esses troços seus? – fez uma cara engraçada. – Tirando os assaltos, pois você não vai mais fazer isso.
– Vou. Roubar é o que menos importa. – dei de ombros. – O que me preocupa mesmo é que Jared falou que não vai deixar barato as coisas que roubei dele.
– Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão. – brincou.
– ! Estou falando sério, tenho medo de que ele faça algo com Josh. – dei um tapa em seu braço. – Essa noite, vou falar com ele.
– Nem pensar! Ele vai te matar. – disse apavorado.
– Não vai, ele sabe que se fizer alguma coisa comigo, vai perder tudo que roubei dele. – ri. – Ai, meu Deus! O capelete. – levantei do sofá e pulei por cima dele, correndo para a cozinha.
Minha sorte foi que a água não tinha secado toda. Fiz o molho branco e misturei na massa.
– Josh! – chamei. – , você está convidado a comer minha gororoba e não aceito não como resposta.
– Tá, né... – ele riu, vendo que não tinha escapatória.
Jantamos juntos. me ajudou com a louça enquanto Josh via TV.
– Valeu pela ajuda. – agradeci assim que acabamos de arrumar tudo. – Me espera que vou colocar o Josh para dormir.
– Ok.
Coloquei meu pequeno para dormir e voltei para a sala. estava sentado no sofá. Sentei ao seu lado.
– , vou indo, já está tarde.
– Vou te acompanhar até o metrô. É perigoso aqui essa hora. – falei, me pondo de pé.
– Vim de carro. – ele deu aquele sorriso que eu adorava.
– Rico é foda, não anda de metrô por nada.
– Fazer o quê, né? – disse levantando.
Acompanhei até o seu carro, que estava estacionando no outro lado da rua. Encostei em sua BMW.
– Um dia vou roubar uma dessas. – brinquei.
– Não sendo a minha, tudo bem. – riu.
Quando eu e fomos nos dar um beijo de despedida, sem querer, viramos pro mesmo lado, fazendo com que nossos lábios se encontrassem. O mais estranho foi que não nos separamos na mesma hora, senti sua boca macia e quente contra a minha suavemente. Aquilo deve ter durado uns 15 segundos, no mínimo. Assim que nos separamos, minha bochecha queimava de extrema vergonha e a dele também estava corada.
– Er... Foi mal. – falei meio sem graça. – Acho melhor eu voltar. – levantei o dedinho em direção à porta do prédio.
– É. – ele estava mais sem graça que eu.
Não aguentei e comecei a rir.
– Cara, você sabe que isso vai ficar estranho se não falarmos nada agora, né? – encostei-me ao carro de novo. – Foi sem querer, não houve nada, certo?
soltou o ar, rindo.
– Você não existe, sério mesmo. Claro que foi sem querer e, além do mais, eu não faria nada que você não deixasse.
– Tá, já entendi. – pulei em seu pescoço, dando-lhe um abraço apertado.
– Você é o melhor amigo que alguém pode ter. – dei um beijo bem dado em sua bochecha.
– Essa sua parte carinhosa eu não conhecia. – brincou.
– Já arranjou um namorado novo? – escutei a voz de Jared atrás de mim, cheguei a gelar.
– , vai embora agora. – sussurrei em seu ouvido. – É o Jared, não quero que se envolva nisso.
– Não. Vou ficar aqui com você.
– Agora, . Não estou pedindo. – soltei-o e virei, encarando Jared. – O que quer, Leto?
– . – resmungou.
– Tchau, . – a contragosto, ele entrou no carro e foi embora.
– Quem era? – Jared quis saber.
– Ninguém do seu interesse. O que você quer? – cruzei os braços.
– Pedir desculpas pelo que fiz. – se aproximou de mim e eu semicerrei os olhos. – Falei coisas de cabeça quente, não queria te magoar. – passou a mão em meu rosto.
Como eu adorava seu toque em minha pele, era entorpecente, estava definitivamente apaixonada por aquele homem à minha frente, aquele homem que eu sabia que me enganava e que não valia nada. Sorri sem perceber. Era impossível resistir a ele.
– Uhum. – mordi o lábio inferior. – Não quero nem perguntar por que você fez aquilo, sei que vai mentir.
– Minha gostosa, não diga isso. Sabe que não iria mentir pra você. – Jared se aproximou e me beijou.
Não faz isso comigo, por favor! Você não sabe que quando faz isso, eu me derreto? Nosso beijo foi calmo, não estava com mais raiva dele e nem magoada. Eu era assim, ao mesmo tempo em que sentia uma raiva estrema por qualquer pessoa, pouco tempo depois ela passava. Sou uma idiota mesmo. Mereço tudo o que ele faz comigo. Assim que nos separamos, foquei seus olhos azuis claros.
– Passa a noite comigo? – perguntou sorrindo também.
– Depois que a minha mãe chegar, posso ir. Você vem me buscar aqui na hora que eu te ligar?
– Sim. – me deu um selinho rápido e saiu andando.
Tá, galera, podem me chamar do que vocês quiserem, mas não posso fazer nada contra isso, sou louca por ele. Sei que Jared estava fazendo isso só para conseguir suas coisas de volta, só que não vou devolver, prefiro que faça qualquer coisa comigo a envolver minha família e meus amigos nisso. Voltei para o apartamento, tomei outro banho bem demorado, me vesti e esperei minha mãe chegar.
– Aonde vai? – perguntou ela, assim que me viu, deitada no sofá sala.
– Vou encontrar com uns amigos, não sei que horas vou voltar. – respondi, já levantando e ajustando minha roupa meio amarrotada.
– Você tem aula amanhã. – falou irritada.
– Eu sei, não vou matar aula. Só vou sair. Boa noite. Ah, o Josh já está dormindo. Tem comida no forno. – disse saindo.
– Juízo. – eu ri, já ligando para Jared. – Vem me buscar. – falei quando ele atendeu.
– Já estou aqui fora te esperando. – desligou logo em seguida.
Sai do prédio e vi o Dojão Americano de Leto estacionado no outro lado da rua. Ah, pode falar! Eu não tinha vergonha na cara. Atravessei correndo, entrei no lado do carona e dei um selinho nele, mas Jared segurou minha nuca e aprofundou o beijo. Começamos a nos pegar ali mesmo no carro. Oh, God, cadê a minha sanidade nessas horas? Esse homem me deixa doida. Ele me puxou, fazendo com que me sentasse de pernas abertas em cima dele. Minhas mãos bagunçavam seus cabelos por completo, já as dele estavam por baixo de minha blusa, me alisando, seu toque gelado me fazia arrepiar. Eu mesma desabotoei minha blusa e ele passou a mão em meus ombros, fazendo com que a peça saísse, me deixando apenas de camiseta. Puxei o zíper do casaco dele e o tirei. Estava frio! Os braços de Jared me envolveram e sua boca estava em meu pescoço. Logo já estávamos nus. Leto pegou um preservativo no porta luvas e o colocou.
4. Todas as vezes que eu minto
3 de novembro, terça-feira.
O rádio relógio berrou em meu ouvido. Abri os olhos com muita preguiça, estava morta de sono ainda. Levantei da cama feito uma zumbi. Vesti a mesma roupa de ontem à noite, entrei no quarto de minha mãe sem fazer barulho e peguei sua maquiagem pra tentar disfarçar pelo menos as marcas roxas em meu rosto, bem, consegui arrumar mais ou menos, mas estava melhor do que antes. Peguei minha mochila e o Josh, deixei-o na escola e fui pra minha de metrô. Quase perdi a estação, pois caí no sono. Estava realmente pregada! Porque Jared não me deixou dormir. Sorri ao lembrar do ocorrido na noite passada.
– Hey, . – escutei chamar quando estava caminhando lentamente para meu armário.
– Oi, . – sorri amigavelmente. – Tudo bem?
– Pera aí! Cadê? – perguntou me virando de um lado para o outro.
Comecei a rir.
– Cadê o quê, menino?
– A rabugenta que encontro todas as manhãs. – já falei que o era fofo demais? Ele sempre fazia alguma brincadeira com meu humor.
– Vixe. Sei não, acho que ela ficou dormindo hoje. – lhe dei um abraço forte.
– Como que foi com o Jared? – mudou de assunto, retribuindo o abraço.
– Com o Jared? Er... Nós nos acertamos, digamos assim. – balancei a cabeça positivamente, me soltando dele. – Ah, . A quem estou tentando enganar? Sou louca por ele, nós voltamos. – disse meio triste.
– Não acredito nisso. Depois de tudo o que ele te fez?! – não tinha gostado nada daquilo e me dava um sermão como se fosse meu irmão mais velho.
– ? – escutei a voz de atrás de mim. – Tirou o casaco preto para lavar? – brincou.
– Sim, sabe? Estava sujinho. – sorri.
Ele uniu as sobrancelhas.
– Você está bem? – perguntou , estreitando o olhar e fazendo uma cara de desconfiado.
– Claro que estou. – dei língua para ele feito uma criança de cinco anos.
– Quem dá língua, pede beijo. – retrucou e comecei a rir, não sabia que tinha mesmo achado aquilo engraçado ou se fiquei sem jeito.
– Olha isso! Sabiam que hoje é o fim do mundo? – passou o braço pelo ombro de .
– Por quê? – perguntou.
– Porque a está sociável. – completou , rindo.
– , vai se ferrar! Andem… Circulando os três. – fiz um sinal com a mão para eles saírem de perto de mim. – Já sugaram todo o meu bom humor.
Os meninos riram e saíram andando.
– ! Posso falar com você em particular? – perguntei antes que ele estivesse longe de mais.
– Claro. – voltou até mim. – O que foi?
Abri minha mochila, mostrando disfarçadamente as joias e dinheiro.
– Não posso deixar isso aqui no meu armário. – falei. – Vou arranjar uma bolsa e você guarda no seu? – aquele pedido foi meio insano, mas seria o jeito, se Jared conseguisse entrar aqui.
– Tudo bem. Antes que o sinal do intervalo toque, nos encontramos, já que os corredores irão estar vazios. Te mando um SMS dizendo onde estou. Ok?
– Ok. Valeu. – sorri. – Depois nos falamos. – acenei e fui pra minha aula.
Arranjei uma bolsa preta com a moça da cantina, onde coloquei as joias e o dinheiro. Fiquei prestando atenção em meu celular e assim que recebi o SMS, saí da sala e me encontrei com no lugar marcado. Entreguei a bolsa pra ele, que a escondeu dentro de seu casaco. Não o acompanhei até seu armário, pra que nada fosse suspeito, voltei pra minha sala e esperei até que o sinal finalmente tocasse. Guardei meu material e fui ao encontro de .
– Não sei como te agradecer por tudo que está fazendo por mim. Vou ver se ainda essa semana dou cabo nelas. – falei me referindo às joias. – Sem elas é menos perigoso.
– Já sei como você pode me agradecer. – andava ao meu lado.
– Como?
– Você vai à minha festa sexta.
– Outra festa, ?
– É. – riu. – Você vai, sem desculpas. – praticamente me intimou.
– Por que você insiste tanto pra que eu vá nessas festas?
– Porque sei que você gosta de festa, e não adianta mentir. – ele mordeu a minha bochecha.
– Que intimidade, hein? – falou, se aproximando.
Não respondi. Por mais que tentasse, estava meio constrangida em relação ao , nós nos beijamos e não falamos mais nada sobre o ocorrido. E também, depois de eu ter fugido dele feito uma gata assustada, me admiraria ele querer voltar a esse assunto, foi como se aquilo nunca tivesse acontecido. Talvez para ele não tivesse sido nada, para mim também não foi. É óbvio. Não sei nem por que estou pensando sobre isso. Não foi nada! Então pronto! Não há motivos para me importar.
– É! – riu. – Eu vou à cantina, depois nos falamos.
É, me deixa mesmo aqui sozinha com esse menino. Volte aqui, ! Olhei pra todos os lados, menos pro , que estava parado à minha frente.
– Quer dar uma volta? – perguntou, então o olhei surpresa pelo convite, ele passava a mão nos cabelos de um jeito meio sem graça.
– Bem… Como hoje estou de bom humor, não vou te xingar. Vamos dar uma volta então. – sorri, puxando-o pela manga do casaco.
Não sei por que acabei de fazer isso, sou completamente anti-, e agora estávamos caminhamos pela escola de braços dados. Queria fica daquele jeito com ele. Não vou negar que foi engraçado nós andarmos assim. Até parecíamos velhos amigos. O que nunca fomos. E talvez poderíamos começar a ser.
– , o que você acha de mim? – perguntei do nada.
– Você é bonita, estressada, engraçada, inteligente, beija bem, brigona e acho que é só. – fiquei vermelha quando ele falou aquilo tudo, e em nenhum momento se limitou. – O que você acha de mim?
– Eu? Quer mesmo saber? – mordi o lábio inferior.
– Quero, pode mandar. Acho que não há nada que eu já não saiba.
– Depois eu te conto. Vou comprar alguma coisa para comer. – saí andando e o deixei para trás. Não iria conseguir responder isso.
O que estava acontecendo comigo? Nunca me senti afetada dessa forma por aquele menino. Que droga, que porra é essa? Meu celular tocou, tirando aqueles pensamentos de mim.
– Oi. – atendi, vendo que era Jared.
– Amor. Onde estão as coisas que você pegou? Estou com um cara interessado em comprá-las. Não se preocupa, vou dividir o dinheiro contigo. – Jared disse amigavelmente.
No dia que eu cair na sua desse jeito, você me fala. Ok? Rolei os olhos, ele achava mesmo que sou boba a esse ponto?
– Eu já vendi. – menti. – Nem adianta ir procurar o dinheiro lá em casa e nem nada, me assegurei de que você não vai encontrá-los. Sabia que me deu trabalho para arrumar a bagunça que fez? – ironizei a conversa.
– , pare de brincadeiras comigo, cadê minhas joias? – engrossou a voz.
– Você pode dar uma de machão para cima de mim e o que for, mas não vou te devolver nada, Leto. Se for por isso que se fez de bonzinho ontem à noite, só lamento. Foi ótimo, mas desse jeito você não me compra, querido.
– Garota, estou perdendo a minha paciência contigo! Pare de brincadeiras!
– Pode esbravejar à vontade. Não te devolvo merda nenhuma. Jared, cansei de você ficar me tratando assim! Não sou seu brinquedo! – falei com raiva.
Ele estava pensando o quê? Cansei de ser boba.
– Ah, ! – gritou do outro lado da linha. – Quem cansou fui eu!
– Jared, me esquece, falou?! Nunca mais me procura! Não vou deixar você me tratar dessa forma. – senti algumas lágrimas se libertando de meus olhos.
– Pare de drama. Você não é mais criança para ficar fazendo isso. Me aguarde! Isso não vai ficar barato. – desligou na minha cara.
Fechei os olhos com força e me sentei na escada.
– Maldito! Te odeio. – dei um soco em minha perna, tentando reprimir toda a raiva dentro de mim.
Levantei rapidamente, percebendo que algumas pessoas me olhavam, fui até meu armário, peguei uns “bagulhos” e os pus dentro do bolso. Coloquei o fone do iPod no ouvido, tocava uma música qualquer, puxei o capuz do casaco, cobrindo quase todo o meu rosto com ele. Fui andando até a quadra, onde havia um pessoal jogando vôlei, não parei para olhar o jogo, só continuei andando fitando o chão. Caminhei até uma parte mais afastada da escola que não tinha muita gente, andei, andei e andei, até que cheguei a uma trilha que ficava atrás do campus. Decidi entrar pela mata e ver onde a trilha daria, caminhei muito até chegar a uma casa abandonada. Se bem que nem podia chamar aquilo de casa, estava mais parecendo uma ruína queimada. Só tinha paredes, teto não havia mais, muito menos portas e janelas. Entrei lá, mas só tinha sujeira, tudo queimado, algumas coisas podres pela chuva e sol intensos. Tirei o fone para poder escutar a natureza, até que ali era bem calmo, não se escutava nada além dos passarinhos que cantavam na mata. No fundo da casa tinha uma pequena escadinha de três degraus, decidi me sentar ali. Por incrível que pareça, a casa ficava em um beiral de uma “colina” que tinha uma vista linda pra cidade. Fiquei ali por uma hora, mais ou menos, só admirando a vista e pensando nas coisas. Olhei o relógio e vi que estava quase terminando a aula após o intervalo. Decidi voltar pra escola e assim que entrei no prédio, o sinal tocou. Os alunos saíram das salas, vi uns policias andando pela escola. Que merda! Os segui em meio aos alunos, de uma forma disfarçada. Os caras foram até meu armário e o arrombaram com um pé de cabra, já que os armários eram de senha.
– Posso saber o que está acontecendo aqui? – perguntei com raiva, me aproximando.
– Revistem-na. – falou o cara que revirava meu armário, jogando tudo pra fora.
Puta que pariu. Não pensei em duas vezes antes de sair correndo. Eu estava com droga dentro do bolso do casaco. Com certeza daria merda se eles achassem. Passei entre as pessoas com pressa e saí correndo o mais rápido que consegui, às vezes olhava pra trás e os homens vinham me seguindo com a mesma pressa. Cheguei ao fim do corredor! Tinha duas opções, ir para a direita ou à esquerda, me decidi rapidamente. Droga, assim que fiz a curva para a esquerda, que iria dar acesso à porta de saída, havia mais policiais ali cercando minha passagem. Volta, volta, volta. Voltei e dei de cara com mais três. Agora ferrou! Olhei rapidamente para os lados, procurando outra fuga. O banheiro masculino estava bem à minha frente, entrei nele e tranquei a porta, percebendo que seria minha única saída. Tive sorte que estava vazio. Não podia sair pela janela, senão eles me pegariam do lado de fora, mas fui até elas e quebrei os vidros. Observei que em cima da última cabine havia um duto de ar. Olhei, tentando encontrar algum lugar pra me esconder, os caras batiam na porta, esperando que eu abrisse. Por fim, subi na divisória entre a última e a penúltima cabine, para que me desse altura até o duto de ar. Tirei sua tampa, que era de encaixe, entrei nele e o fechei com cuidado, sem fazer muito barulho. Rastejei-me até que ficasse meio fora de alcance do banheiro. Fiquei parada para que não percebessem minha presença ali dentro. Escutei a porta sendo jogada no chão.
– Ela saiu pela janela. – alguém falou.
Ufa! Dessa escapei por pouco. Respirei aliviada, mas me assustei batendo com a cabeça no teto do duto quando meu celular começou a tocar. Puta merda! O peguei com dificuldade.
– Ela está nos dutos de ar. – outra pessoa disse.
Atendi o aparelho, já sabendo quem era, e voltei a engatinhar pra sair daquele túnel de lata.
– Leto, seu desgraçado, você me paga! – falei irada. Minha vontade era de socá-lo agora.
– Amor, você está fugindo da polícia como te ensinei? Onde está se escondendo para fazer esse barulho todo? – debochou da minha cara.
– Vai se danar, seu desgraçado!
– Se eu não ficar com as joias, você também não vai. – começou a rir.
– É isso que vamos ver. – encerrei a ligação e coloquei o aparelho de volta no bolso da calça.
Fui engatinhando, sabendo mais ou menos pra onde estava indo. Pelo que conhecia da escola, na direção que segui, agora estava no refeitório. Praticamente me contorci dentro do duto pra conseguir chutar a tampa, que se soltou depois da terceira tentativa. Quando ela caiu, fez o maior barulho. Escorreguei lentamente até chegar à ponta, olhei pra baixo, deveria ter uns três metros de altura. Era meio alto, mas como já tinha pulado de lugares mais altos, não me importei. Saltei e quando atingi o chão, rolei por ele, pra não machucar meus joelhos. Levantei rapidamente. O refeitório estava vazio. Olhei para a porta que parecia estar trancada, pois os policiais a esmurravam com força e ela não se abria. Não fiquei ali pra ver se conseguiriam abrir ou não. Entrei na cozinha e saí pela porta de emergência que ficava nos fundos. Corri rapidamente pelo campus até chegar à mata novamente. Corri tanto que pensei que meu pulmão não aguentaria respirar mais. Parei só quando cheguei na casa em ruínas. Finalmente tomei fôlego. Direcionei a atenção pra minha roupa, que estava imunda de poeira. Bati nela, tentando tirar a sujeira. Droga. Isso não ia adiantar em nada! Então deixei pra lá. Sentei-me no mesmo lugar que antes e descansei. Encostei minha cabeça na parede e fechei os olhos. Sou uma pessoa tão ruim assim para merecer isso tudo? Escutei um barulho na mata. Levantei e me escondi atrás de uma árvore. Minha respiração ainda estava alterada, mas tentei controlá-la pra que não chamasse muita atenção. Olhei para ver quem era. Saí de trás do tronco, corri até ele e o abracei com força.
– Como você me achou aqui? – perguntei aliviada.
– Te vi saindo pela porta de emergência e te segui. – respondeu, me abraçando também. – O que está acontecendo? Por que a polícia está atrás de você?
– Porque sou uma burra, idiota, que não sabe fazer nada direito.
– Não diga isso. – afagou meus cabelos. – Vem, sente aqui.
me guiou até os degraus da casa e nos sentamos ali.
– Vai embora, se te pegam aqui junto comigo irá se meter em encrenca. – falei, olhando para ele agora. – Podem te expulsar da escola, assim como devem fazer comigo.
– Não me importo. – passou a mão em meu rosto e deu um sorriso fraco. – Você está bem?
– Não. Estou péssima. Obrigada por estar aqui comigo. – o abracei novamente, afundando a cabeça em seu peito.
– O que você fez?
– Roubei umas coisas do meu namorado. Nós terminamos e ele me denunciou para a polícia porque eu disse que não iria devolver. – disse começando a chorar. – Sabe do que estou com mais raiva? – me soltei dele e o olhei, secando as lágrimas que escorria com a manga de meu casaco.
– Diga.
– É que eu gostava tanto dele, para o miserável ter feito isso comigo.
– Foi ele que te bateu, né?
– Uhum. – balancei a cabeça positivamente, controlando o choro agora.
– Por que você ficava com ele? O cara é um escroto. – falou, indignado.
– Pelo mesmo motivo de você estar aqui comigo agora. Eu gosto dele. – olhei para baixo.
– Tudo bem gostar dele, mas poxa, olha pra você. – gesticulou pra mim. – Você me bate, cara! Por que não revidou quando ele fez isso? – perguntou, levantando o meu rosto para que eu o olhasse. – É a menina mais corajosa que conheço. Não é qualquer uma que foge da polícia como se estivesse em um filme de ação. – sorriu.
Ri com o comentário dele.
– Não fiz nada porque mereço tudo isso. Mereço tudo o que estou passando. – voltei a olhar para baixo.
– Você não merece nada disso, pare de bobeira. – me abraçou.
Retribui o abraço. Sou uma idiota mesmo, todas as vezes que implicou comigo era só para chamar a minha atenção e eu nunca percebi o quanto ele gostava de mim. Sempre irritada com tudo, nunca enxerguei o que realmente era de valioso.
– Me faça mudar, me faça ser outra pessoa, me faça correr atrás de você, me faça implorar, me faça vestir roupas só para chamar a sua atenção, me faça sua. – falei com certa urgência. Não entendi por que estava tendo essa reação, só senti a necessidade de tê-lo.
– Não, não quero que seja outra pessoa, não quero que mude e nem nada. Gosto de você do jeito que é. – segurou meu rosto com uma das mãos.
Aproximei-me do rosto de e mordi seu lábio inferior com um pouco de força, puxando-o. Depois fui até seu ouvido.
– Você gosta de meninas más, né? – sussurrei de uma forma sensual.
– Não, só de você. – disse no mesmo tom de provocação que o meu.
O olhei e ele tinha um sorriso malicioso, dei o mesmo sorriso, se inclinou para me beijar, mas recuei só para provocar.
– Gosta de me ver correr atrás de você?
– Adoro. – dei uma piscadinha sapeca.
impulsionou seu corpo para cima de mim, tendei chegar para trás, mas senti que não havia como, a coluna de tijolos velhos me impedia. Sua respiração forte batia em meu rosto, a boca dele me chamava como uma tentação, praticamente dizia “Me beije”. Engoli seco, fechei os olhos quando ele se aproximou mais e roçou seus lábios nos meus. Senti o cheiro de seu chiclete de menta, fazendo com que minha vontade de beijá-lo crescesse cada vez mais. não avançou, só ficou me provocando.
– Você não vai me beijar? – perguntei, já irritada com aquilo, queria sentir sua boca na minha!
– Não. – se afastou e voltou ao seu lugar anterior.
Maldito! Ah, que raiva. Vontade de dar na cara dele por ter feito isso! Fiquei parada no mesmo lugar, olhando-o, p. da vida. Não sabia se voava em cima dele e o socava ou se voava em cima dele e o agarrava. Es la cuestión! , vai tentar a sua mãe! A mim não! Levantei, me sentei em cima dele e beijei seu pescoço dando um chupão bem dado ali. As mãos dele envolveram minhas costas, me apertando levemente, de sua garganta saiu um gemido gostoso e não vou negar que gostei. É bom provocar os outros, né, ? Fui subindo os beijos até sua boca e mordisquei seus lábios, depois passei a língua por eles. Senti sua mão segurar minha nuca e me puxar para nos beijarmos, mas desviei.
– É bom provocar os outros, né? – sussurrei em seu ouvido e levantei. – Vou ver se essa trilha dá para fora da escola. – mudei completamente de assunto.
– O quê? Que trilha? – perguntou confuso.
Comecei a rir.
– , volte para a escola, se te pegarem comigo vai ser pior. Vou tentar fugir por aqui.
– Tá. – continuou sentado onde estava e me olhava com uma cara engraçada.
Saí andando e quando olhei por cima do ombro, já tinha ido.
4 de novembro, quarta-feira.
Não aconteceu nada, ninguém ligou para a minha mãe e nem apareceram aqui em casa. Levantei e fiz minha rotina costumeira. Assim que cheguei ao colégio, o diretor me chamou, fui ver o que era.
– O senhor me chamou? – perguntei, entrando na sala dele sem bater.
– Sim. O que foi aquilo ontem?
– Eles queriam me pegar e eu corri. – falei como se aquilo tivesse sido normal.
– Por que correu? Tem alguma coisa para esconder?
– Sim e não. Erva serve?
– Você estava com drogas dentro da escola, senhorita ? Sabia que isso é um delito grave?
– Seria grave se eu estivesse vendendo, mas era minha. Sabe, às vezes fumo um para relaxar. – menti descaradamente. – Por que eles arrombaram meu armário?
– Houve uma denúncia contra a senhorita. Falaram que estava escondendo joias roubadas aqui. – disse o diretor, cruzando os braços. – Mas não encontraram nada e acharam que estavam contigo.
– Olha, posso ser o que for, menos ladra. – ah, vá! É mesmo, ? Você não é ladra? Não me diga. – Se eu não estivesse com erva dentro do bolso, não teria fugido.
– Me desculpe.
– Hã? – não entendi o que ele quis dizer com “Me desculpe”.
Escutei um barulho na porta e vi quatro polícias entrando. Que filho da mãe! Os caras vieram para me segurar, tentei sair correndo, mas foi inútil.
– Me soltem! Não fiz nada de errado! – gritei, me debatendo.
– Cale a boca. – disse o cara que me segurava com força. – Você vem com a gente.
– Que merda! Vocês não podem me prender por nada! Me soltem! – continuei me debatendo feito louca.
– Fugiu ontem, era por que estava escondendo algo. Na delegacia você resolve isso. – o homem me algemou.
– Não podem fazer isso, me soltem! É contra lei prender um menor!
– Quieta. – o verme praticamente me empurrou para fora da sala do diretor.
Parei de me debater, passei pelos corredores com os caras segurando meus braços. Ah, que ódio, esses fracassados estavam todos me olhando. Vi , e encostados nos armários. Muito bom! Não precisava disso, olhei para frente como se não os tivesse visto. Assim que cheguei à delegacia, o delegado me atendeu.
– Muito bem, mocinha. Você deu a volta em oito homens meus ontem. Posso saber o motivo? – perguntou, sentando-se à sua mesa.
– Estava com erva no bolso. – respondi seca quando o policial me obrigou a sentar na cadeira de madeira, que ficava na frente do delegado, que fez um sinal pra que o verme saísse.
Permaneci algemada como se fosse um perigo pra sociedade.
– Só? – ele cruzou os braços.
– É.
– Ontem cedo recebi uma ligação anônima dizendo que você estava com joias roubadas, mas não achamos nada.
– Claro que não acharam! Porque não sou ladra. E quem te ligou foi meu namorado. – entreguei. – Nós brigamos e ele disse que se vingaria.
– E quem é seu namorado? – o delegado ficou interessado em saber.
– Um cara aí. Não interessa. – mascava o chiclete em minha boca com desleixo, fazendo o homem ficar ainda mais irritado com o barulho que eu fazia.
– Você ia entregar ele agora, mudou de ideia por quê?
Porque se eu o entregar, vou afundar junto, sabe? Eu o ajudei a roubar carros e tudo mais, só por isso.
– Não ia entregar ninguém, só falei quem ligou. – dei de ombros.
– Por que ele disse que você estava com joias roubadas? – o delegado tentava fazer com que me entregasse de qualquer forma.
– Já disse que nós brigamos e ele queria se vingar. Foi a única forma que arranjou.
– Mas não faz sentido ele fazer isso, sendo que você não tinha nada. Pare de mentir! – o homem deu um murro na mesa. – Não sou idiota, sei que está escondendo algo.
– Não estou escondendo nada! Se quiser vasculhar minha casa e minhas coisas, você vai ver que não tenho porra nenhuma! Que saco. Eu só tenho drogas, quer ver? Pegue minha mochila! – a joguei em cima da mesa sem jeito, aquelas algemas eram realmente desconfortáveis. O delegado abriu e achou dois saquinhos de maconha e um de pó. – Só tenho isso para uso pessoal! Se quiser, pode ficar para o senhor.
– Não entendo por que ele disse das joias. Ninguém inventaria isso só para nos fazer ir atrás de você por nada. – devolveu minha mochila e fuçou com minhas drogas.
– Ele sabe que ando com drogas, com as joias vocês iriam até mim. Agora se ele falasse que eu estava andando com drogas na mochila, vocês nem ligariam, estou errada? – perguntei irritada.
– De certa forma, não. Não iríamos atrás de você apenas por saquinhos de erva. Mas não deveria ter fugido. Nenhuma menina da sua idade fugiria daquele jeito. Agora fica mais calma e me conta a verdade.
– O que mais você quer que eu fale? Posso começar a inventar um monte de coisas aqui, é isso que quer ouvir? – debochei. – Que merda!
Ele pegou o telefone.
– Levem a menina. – disse e colocou o aparelho no gancho.
– Levem a menina para onde? – perguntei exaltada.
– Vai ficar esfriando a cabeça um pouco lá dentro da cela.
– Não pode me prender sem provas.
– Posso de prender por porte de drogas e desacato à autoridade. – disse sorrindo. – Pode levar, vamos ver o que faremos com ela. – fez um sinal com a mão para o cara que entrava.
– Não, eu tenho o direito a um telefonema. – falei assim que o homem segurou meu braço.
– Dê o seu telefonema. Agora, fora da minha sala.
Argh! Jared, você me paga por isso! O homem me levou até o telefone. Disquei o número que não parava de martelar em minha cabeça.
– . – disse assim que ele atendeu.
– , onde você está? – pareceu preocupado, pois tinha urgência na voz.
– Na delegacia. Faz um favor, dá o dinheiro para a minha mãe pagar a minha fiança. – pedi.
– Tá, onde a sua mãe trabalha?
Passei o endereço.
– Valeu cara, fico devendo essa. – agradeci.
– Depois conversamos. – falou rapidamente. – Quanto menos tempo você ficar ai, é melhor.
– Tchau. – ri e desliguei o telefone.
Joguei meu chiclete fora e o policial me levou para a cela, que por sorte estava vazia. Fiquei pensando em quando conheci Jared. Ele era tão doce e fofo comigo, sempre gentil, quase nunca brigávamos e agora olha como terminou. Joguei-me na cama que tinha ali, só descobri que ela era dura, quando minhas costas doeram. Fiz uma careta, já que meus machucados ainda não tinham sarado. Olhei para o teto. Homens são todos iguais, se aproximam de nós por algum interesse e depois ferram conosco. Ah, que raiva. Poderia muito bem ferrar com Jared, mostrar os hematomas, dizer que ele me batia e me forçava a fazer as coisas, mas não, eu podia ser safada, ladra, drogada e o que for, só não dedurava os outros. Depois de umas horas, minha mãe apareceu e pagou minha fiança.
– Não sei de onde vou arrancar dinheiro para pagar seu colega. – resmungou assim que saímos da delegacia.
– O dinheiro era meu, você não precisa pagar nada. Só pedi pra que ele te entregasse, para não envolvê-lo nessa confusão. – falei.
– De onde você arranjou dinheiro? – perguntou assustada.
– Vendo trabalhos e gabaritos na escola. – se fosse mesmo isso, seria menos pior.
– Pelo menos não está se vendendo. Vou voltar para o trabalho, porque a minha hora de almoço está quase terminando. Vá para casa e arrume tudo. – deu um beijo em minha testa e foi embora.
Peguei o metrô e fui até a oficina de Jared acabar com isso de uma vez por todas, não tinha vontade de voltar lá nunca mais, só que era preciso. Os meninos que estavam trabalhando falaram “Oi” quando me viram. Falei com todos, não sendo mal educada. Subi até o escritório e entrei sem bater. Jared estava sentado à sua mesa, contando dinheiro. Ele me olhou e voltou a atenção para as suas preciosas verdinhas. Bufei irritada com isso.
– Precisamos conversar. – falei me jogando no sofá velho de couro.
– Oi, amor. Como que saiu da cadeia? – sorriu, debochando da minha cara, agora sim me olhava.
– Minha mãe pagou a fiança. Sabia que quase te entreguei? – levantei e debrucei-me em cima de sua mesa, olhando-o feito um lince. – Olha as marcas lindas que deixou em mim. – puxei o casaco, mostrando minha barriga. – Está vendo isso? Eu podia ter usado contra você. Mas não fiz!
– É? Por que não fez? Estava com medo de afundar junto comigo? – ele me afrontava.
– Não, Jared! Posso ser muitas coisas, mas ao contrário de você, não deduro ninguém. – joguei na cara. Ele era um cretino mesmo. – Parabéns! Agora os dois perderam as malditas joias. Cara, você é muito burro mesmo. – dei um meio sorriso debochando. – Poderia ter conseguido pegá-las de volta sem isso tudo.
– É? E como? – se levantou e veio até mim. – Você mesmo disse que não iria devolver de forma alguma. – Jared me virou, pegou a ponta de meu queixo e aproximou seu rosto do meu. – O único jeito que achei foi esse. – encostou seus lábios nos meus.
– Tira suas mãos de mim, não quero brigar contigo. – o empurrei. – Só porque gosto de você não quer dizer que tem o direito de fazer o que quiser comigo. Tenho sentimentos, sabia? – por mais que quisesse falar aquilo com sentimento, as palavras saíram de minha boca com rancor.
– Você acha que não tenho? Te amo, minha gostosa. – disse aquilo com o sorriso mais sujo que já vi na vida.
– Quem ama não faz o que você fez comigo. – encostei-me contra a mesa. – Enfim, vim aqui pra terminar com essa palhaçada. – cruzei os braços. – Sabe, não sei o que aconteceu. Você não era nada disso que é hoje. O cara que me apaixonei, para mim, morreu.
– É assim? Você vai me deixar? Me chutar dessa forma depois de tudo o que passamos juntos? Continuo sendo quem sempre fui. Você é quem está mudando. Também não é a mesma garotinha que conheci. – ele estava fazendo um drama barato. – O que foi? Está gostando de outro? Não sou mais o seu homem? Já tem um tempo que percebi que não me olha mais com aquele olhar cheio de sentimentos como antes. Você está vazia.
Fiquei parada escutando com atenção todas as suas palavras.
– Tem razão, mas acho que nunca consegui realmente sentir nada de verdade por você. – estava tentando ser o mais fria possível, tentando demonstrar que era forte o suficiente pra lidar com essa situação. – Afinal, somos iguais. Ladrão que rouba ladrão, não tem sentimento pelo próximo. – passei a mão em seu rosto, querendo dar um tapa bem dado ali. – Nos vemos por aí?
– Uhum. – Jared olhou pra mim feito um cachorro pidão.
Ah, que merda! Não estava conseguindo nem enganar a mim mesma, estava sangrando por dentro. Ser dura machucava. Segurei seu rosto e o beijei com calma, não aguentando mais resistir, as mãos dele passaram por minha cintura, me apertando contra seu corpo como se fôssemos nos tornar um só.
– Não me deixa, gostosa. – sussurrou assim que nos separamos. – Sem você, não sou ninguém.
– Já disse, Leto. Não vou voltar atrás. – o afastei e saí do escritório sem olhar pra trás, com medo de querer voltar pros braços dele.
Segurei minhas lágrimas até onde pude, mas assim que me sentei no vagão, desabei por completo. Nunca tinha sentindo essa sensação tão ruim de perda. Parecia que uma parte de mim estava faltando. Vi alguém me estender um lenço azul, olhei para o lado, vendo o delegado sentado ali.
– Obrigada. – agradeci pegando o paninho e secando minhas lágrimas. – O senhor já sofreu por causa de alguém?
– Sim, minha esposa. – ele sorriu de uma forma amigável. – A peguei na cama com meu melhor amigo.
– Hum, então acho que o senhor me entende. – abaixei o olhar. – Espera, vocês ainda estão juntos?
– Sim. O amor faz com que perdoemos até os piores acontecimentos. Então, seu namorado te traiu?
Afirmei com a cabeça.
– As coisas estavam tão perfeitas e de repente saiu tudo dos eixos. Como é possível? Ele disse que gosta de mim, mas se gostasse mesmo, não teria me traído. – minha voz saiu estranha por causa do choro. – Todos os homens são iguais? Mentem para conseguir o que querem?
– Não. Só os da pior espécie. – o delegado brincou e me fez rir brevemente. – Você é uma garota tão bonita, por que se envolveu com um cara desses?
– Ele não me parecia nada disso quando nos conhecemos. Sou uma idiota mesmo por não ter percebido isso antes. – enxuguei novamente as lágrimas. – Me desculpe por ter sido grossa com o senhor hoje mais cedo.
– Tudo bem, já estou acostumado. Só o que surpreendeu foi ter te visto lá.
Sorri fraco, o meu ponto havia chegado.
– Tenho que ir. Tchau. – fiz um sinal e desci.
– Tchau. – ele acenou de volta.
5. A inveja que eu sinto
[N/A: Coloque pra tocar assim quando a letra começar.]
5 de novembro, quinta-feira, escola...de novo.
Assim quando entrei naquele maldito lugar, aqueles alunos ridículos e depravados ficaram me olhando como se fosse perigo para a sociedade, não que seja verdade, de certa forma eu era. Mas não estava me importando. Está pra chegar o dia que irei me importar com algo que os outros pensem a meu respeito. Sei o que sou, não escondo e não tenho vergonha disso. Apenas tenho meus motivos. Por fim, decidi parar de fazer “merdas”. De qualquer forma devo ser expulsa da escola, então vou procurar um emprego que dê pra sustentar a mim e Josh. Caminhei até meu armário pra pegar minhas coisas, quando vi alguém se aproximar, não dei ideia pro sujeito que parou a poucos metros.
– Hey, . – escutei chamar.
– O que foi? – não o olhei, apenas continuei arrumando meus livros.
– Tudo bem contigo? – ele se aproximou mais. Acho que tinha percebido que eu não arrancaria nenhum órgão seu e venderia pro mercado negro.
– Do que te interessa meu estado? Se é maconha que você quer, não tenho. – meti logo de cara. Não estava com paciência pra conversar. Bem, nunca tive mesmo.
– Não, parei. – como ele disse? Parou de fumar um baseado? Foi isso que entendi? Olhei por cima de meu ombro e o encarei. – Minha mãe achou uns baseados na minha mochila e me tomou tudo junto com minha mesada. – disse olhando pro chão enquanto subia e descia o zíper de seu casaco constantemente, fazendo um barulho irritante.
– Então foi só por causa de dinheiro que parou. – concluí e voltei minha atenção pro armário.
– Não, também estava querendo parar.
– Que bom. Isso faz bem a você. – dei um meio sorriso mesmo ele não vendo, não sei por qual motivo que fiz isso. Ok, não vou negar que fiquei feliz em ver um “colega” parar de se drogar. Tudo bem que sempre vendi, já usei e até, às vezes, ainda uso, mas não curto muito, seria mais pra relaxar mesmo. Drogas acabam com as pessoas, já vi tantos viciados morrerem por causa de um misero saco de pó. É deprimente. Como não queria isso pra mim e também para nenhuma pessoa próxima. Fechei a porta do armário. – Tenho que ir, nos vemos por ai. – disse a que continuava de pé atrás de mim.
- Ok. – ele me pareceu desanimado, sei lá, tive essa impressão.
Tomei meu rumo até na sala do diretor com tudo em mente do que iria dizer a ele. Bati duas vezes na porta e entrei sem esperar que desse permissão.
– Diga, . – olhou por cima da armação de seu óculos de leitura, em sua mãos tinha um jornal.
– Espero que eu não esteja na primeira página. – brinquei e ele riu. – Não vim pra isso. Posso me sentar? – pedi e ele afirmou com a cabeça. Puxei a cadeira velha de madeira e me sentei à frente de sua mesa. – Então, queria perguntar se o Sr. vai me expulsar pela minha última confusão. – o olhava com firmeza, sem medo de sua resposta. – Ainda faltam dois anos até entrar na faculdade, tenho que ficar estudando em algum lugar e queria que esse lugar fosse aqui.
– Ainda não comuniquei ao conselho sobre o ocorrido. Estava esperando você vir se esclarecer para saber a decisão que iria tomar. – ele estava sério. – A tenho aqui nessa instituição desde criança, você sempre foi uma menina muito estudiosa, nunca tirou notas baixas, mas sempre fez besteiras.
– Sei disso. Não sou o melhor exemplo para estar aqui, mas queria continuar. Vou tentar ser menos brigona. – dei um sorriso. Tinha que convencê-lo a me deixar ficar, não gostava das pessoas da escola, mas gostava de estudar ali.
– Amanhã lhe respondo se vai continuar aqui ou não, enquanto isso está suspensa. – voltou sua atenção pro jornal.
– Está bem. Pensei que iria me expulsar, então peguei todo meu material...
– Não tem necessidade de carregar peso hoje, guarde-os novamente, depois veremos isso. – ele não me olhou em nenhum momento.
- Está bem. Obrigada e com licença. – saí da sala.
Não tinha noção do que se passava na cabeça do diretor, mas tinha que tentar ser uma boa pessoa e fazer que acreditasse em mim. Não me arrependo do ocorrido, faria novamente. Só não queria sair da escola, como ele disse, estudo aqui desde criança, me apeguei ao lugar, de certa forma, até mesmo a alguma pessoas. Os corredores estavam desertos, pois o sinal já havia tocado. Escutei um barulho na salinha do faxineiro e abri a porta para ver o que era. Talvez o Sr Wilsson estivesse precisando de ajuda com as vassouras.
– Oi, . – ele estava se agarrando com a Green. – Olá, Green. – dei um sorriso irônico pra eles.
Ela era a vadia mor das líderes de torcida, ou melhor, a capitã delas.
– Pensei que o Sr. Wilsson estivesse precisando de ajuda. – completei. – Desculpem atrapalhar. Tchau, , tchau, Green. – bati a porta com força e tive vontade de trancá-los lá dentro.
Raiva? Não! NÃO ESTOU COM RAIVA! POR QUE ESTARIA COM RAIVA? NÃO É NADA MEU! NÃO PENSE QUE ESTOU COM CIÚMES! NÃO ESTOU! Ignore o que acabei de pensar, foi apenas um surto retardado sem sentindo algum. Coloquei os fones do meu iPod com a música Not Afraid do Eminem no último volume. Fui boba em cogitar que aquele idiota mimado sentia alguma coisa por alguém como eu! Por que estou falando isso? Não somos nada um do outro, nem amigos, ao menos. Então por que estou sentindo uma vontade enorme de descer o braço nele e naquela puta de quinta? Só não faz sentido. Pare com isso, , engoli toda a raiva que sentia e continuei andando depressa. Pensei em que aula estaria agora. Geografia. Lembrei. Fui até sua sala, bati na porta e coloquei a cabeça para dentro.
– Com licença, Srta. Carter. Posso dar uma palavra rápida com o ? – pedi.
– , rápido. – disse ela e continuou a escrever no quarto.
O menino saiu da sala e o abracei forte.
– Obrigada por ter me ajudado. – falei e ele riu retribuindo o abraço.
– Nada. – afagou meus cabelos.
– , você pode ir ao seu armário pegar a bolsa para mim? – perguntei o soltando.
– Tá. Vamos lá antes que a Carter comece a reclamar. O que aconteceu ontem? – andávamos apressados pelos corredores.
– O diretor chamou a polÍcia e eles me pegaram, estavam atrás das coisas.
– Ah, sim. O que você vai fazer com elas? – nos conversávamos baixo pra que ninguém escutasse.
– Dar cabo em tudo. Jared está achando que as perdi. Então o quanto antes sumir com elas, melhor.
– Você e esse cara ai. Aposto que foi ele quem denunciou. – apontou pra mim e fez uma careta.
– E foi. Terminei com ele e acho que dessa vez foi mesmo para valer. – falei triste.
– Não sei ainda por que você gosta tanto desse cara. Tem tanta gente por ai, não podia ter escolhido um melhor? – brincou.
– Eu achei que tinha encontrado, mas fazer o quê? Vocês são todos iguais. – brinquei, empurrando ele com o ombro.
– Ow, todos não, eu sou diferente, o , … – o interrompi.
– E o Nick, Samuel, Brandon e todo o time de futebol. – completei.
– Você é muito besta, sabia? – me abraçou de lado, rindo.
Chegamos ao armário dele, esperei que ele pegasse as coisas e o acompanhei de volta até sua sala.
– Valeu, . Amanhã nos vemos.
– Por que amanhã? – não entendeu muito bem.
– Porque estou suspensa hoje. – ri, como que se aquilo fosse uma piada.
– Depois te ligo então. – deu um beijo na minha cabeça e entrou na sala.
Estava passando pelo corredor e encontrei SOZINHO agora. Nem olhei para a cara dele, continuei andando de cabeça em pé, olhando pra frente, mas parou me cercando, impedindo que eu passasse. Trinquei minha mandíbula de ódio, na tentativa de me controlar para não voar em cima dele e enchê-lo de pancada. Respira, vamos contar...10, 9, 8, 7 vai pro inferno! Isso não deixa a pessoa mais calma.
– Sai da minha frente. – grunhi.
– Já vi que a mal humorada voltou. – brincou e não tive a menor vontade de rir.
– Para você, é . Agora sai da minha frente. – estava me controlando muito para não bater nele.
– Está com raiva de mim? – cruzou os braços e ergueu uma sobrancelha.
– Não, por que estaria? – perguntei debochada.
– Não sei, você é doida. – riu.
– Realmente, acho que nasci te odiando, agora vai se ferrar e sai da minha frente que já estou perdendo minha paciência.
– Para onde você está indo? – perguntou ainda parado na minha frente.
Pro hospício. Sabia que a minha paciência é rara e quando a tenho você a consome toda?
– Estou suspensa até segunda ordem.
– Vou com você. – disse, saindo da minha frente. O quê? Sério, tenho uma grande convicção que falta alguns neurônios na cabeça dele.
– Quem te chamou? – perguntei, parada no mesmo lugar.
– Ninguém precisa me chamar. Eu vou assim mesmo.
– Faça o que quiser. – saí andando. – Ah, sim, da próxima vez que me chamar de doida, você vai ver o que é ser doida de verdade.
Por sorte ele não veio atrás de mim, mas assim que coloquei o pé para fora da escola, caiu um temporal! Ótimo, era tudo que precisava, mais uma chuva na cabeça.
6 de novembro, sexta feira, outro dia “normal”.
Consegui vender todas as jóias por um ótimo preço. Escondi o dinheiro debaixo do assoalho de meu quarto, que ficava abaixo da minha cama de duas gavetas. Me vesti e fui pra escola. Chegando lá, me encaminhei direto para a sala do diretor.
– Licença. – falei ao entrar.
– Sente-se, . – gesticulou para uma cadeira a frente de sua mesa.
Me sentei e esperei que falasse.
– Andei pensando, não vou lhe expulsar, mas tem uma condição.
– Qual? – perguntei empolgada.
– Trabalho comunitário na biblioteca da escola. – respondeu.
– Mas só posso ficar até as 15h30min, tenho que ir buscar meu irmão na escola.
– Sei disso, só vai ficar até as 15h30min mesmo. Você não vai mais arrumar confusão e irá ajudar os alunos que estão com dificuldade em matemática.
– Tá. – concordei. – Posso ir para a aula agora?
– Sim. Estou de olho na senhorita.
Sorri e saí da sala. Vi andando no corredor junto com e . Correi até eles e pulei nas costas de .
– Meu Deus, o que é isso?! – riu quando me viu. – . – deu um sorriso fofo.
– . – ri e desci de cima dele. – Sentiu muito minha falta?
– Nossa, quase morri. – me abraçou. – E ai, está de volta?
– Hum… Tô! – respondi. – Oi, , Oi, . – acenei para os dois que nos olhavam. – Perderam alguma coisa aqui? – semicerrei os olhos.
– Grossa como sempre. – estava de cara fechada. – , espero você na sala. – disse e saiu andando.
– Qual é o problema com vocês dois? – não entendeu nada.
– É que o amor deles é tão forte que não conseguem ficar juntos no mesmo ambiente sem se atracarem. – zombou.
– Claro, , isso é uma paixão aguda! – completei e o sinal bateu. – Aula de biologia. Tenho que ir.
– Tchau. – falou os dois meninos.
O dia se passou rápido, não falei com e estava muito bom! Fiquei esperando minha mãe chegar. já tinha me ligado três vezes querendo saber se eu iria na festa dele.
– Filha, você vai aonde arrumada desse jeito? – minha mãe perguntou assim que entrou e me viu na sala.
– Na festinha do , não sei que horas vou chegar. Josh já está dormindo. – respondi, me levantando do sofá.
– Não vá arrumar encrenca. Juízo.
– Tá. – me olhei no espelho pela última vez, arrumando meus cabelos soltos que caíam sobre meus ombros e íam até minha barriga.
– Filha. – lhe dei atenção e ela sorria.
– Oi.
– Você está linda. – sorriu ainda mais.
– Obrigada. – saí e tranquei a porta.
Peguei o celular e liguei para .
– , estou saindo de casa, vai me buscar no metrô?
– Sim. Te encontro lá. Beijo.
– Beijo. – encerrei a ligação.
Em 10 minutos eu já estava no bairro de , subi as escadas do metrô e logo vi sua BMW estacionada rente a calçada, entrei no carro e ele se assustou comigo.
– Quer me matar do coração, menina? – perguntou se virando para mim. – Uau.
– Pensei que tivesse me visto. Foi mal.
– Não, tudo bem. Você está linda. – sorriu e senti minhas bochechas esquentarem.
– Ah, valeu, mas por que estava tão distraído?
– Pow, contratei uma banda para tocar hoje, mas eles furaram, não sei o que vou fazer. – estava preocupado.
– Você toca violão, não é?
– Sim, não nem pense nisso, não vou cantar.
– Quem disse que você vai cantar? Apenas toque e deixe o resto comigo. – sorri e dei uma piscadinha.
– Tá legal, até parece que você canta.
– Então vamos ver isso na hora que chegar à sua casa.
Chegamos lá rapidamente, ajudei a montar um mini palco apenas com dois amplificadores. Estava tudo pronto, dois banquinhos, o violão dele e dois microfones velhos que achamos.
– , tem certeza que esse troço aqui funciona? – perguntei olhando com medo para o microfone.
– Tenho, era do meu avô. – riu. – Acho que ainda funciona.
– Isso tem cheiro de velho. Vamos ver se funciona mesmo. – conectei o troço que fez um barulho estridente que doeu meu ouvido. – 1, 2, 3 não me matem galera, só estou testando o áudio.
Escutei algumas risadas. É, o troço funcionava, regulamos o áudio e sentei no banco.
– Que música vamos cantar? – perguntei não tendo a menor ideia.
– Escolhe você.
– Muito bom! Vai que você não sabe tocar? Isso não vai dar certo. – ri, começando a achar que aquilo era uma loucura.
– A ideia foi sua, tem que dar. Escolhe uma música aí. – ele estava mais nervoso que eu, isso dava para ver de longe.
– Está bem. – pensei em uma música que tinha certeza que eu saberia cantar e que o pessoal iria gostar. – Já sei. Você sabe tocar E.T. da Katy Perry?
– Sei. Você sabe cantar? – ele me fez a pergunta do mesmo jeito que eu.
– É o que vamos ver. Aí, galera. – chamei a atenção de todos. – Alguém pode diminuir a luz para ficar um ambiente legal? – meu pedido foi atendido. – Valeu. Então, eu e o estamos aqui em cima desse palco improvisado por um bom motivo. A banda que ele contratou furou. Acho que já deu para perceber. – dei uma pausa. – Pois bem, nós vamos tocar para vocês esta noite e espero que gostem.
Deus me ajude. O pessoal gritou como aprovação.
– Essa primeira música em especial é para uma pessoa que tenho certeza que está aqui presente.
começou a tocar e eu a cantar. Vi se aproximando e troquei um olhar intenso com ele. Não me pergunte o que estava fazendo, pois não sei, só fazia, por impulso.
You're so hypnotizing
Você é tão hipnotizante
Could you be the devil,
Poderia você ser o diabo?
Could you bean angel
Poderia você ser um anjo?
Your touch magnetizing
Seu toque magnetiza
Feels like I'm floating,
Parece que estou flutuando,
Leaves my body glowing
Deixa meu corpo brilhando
Dei um meio sorriso, aqueles olhos me secavam como nunca. Por um momento senti vergonha da forma que ele me olhava, tão intenso, cheio de desejo. Que droga, isso tudo estava me confundindo. Um lado de mim dizia, vá, gritava por ele, já o outro lado me dizia pra odiá-lo com todas as minhas forças. Eu mesma não estava entendendo. Não sabia nem que bosta estava sentindo. E ele, o que queria?
They say be afraid
Eles dizem estar com medo
You're not like the others,
Você não é como os outros,
Futuristic lover
Amantes futuristas
Different DNA,
DNA diferente,
They don’t understand you
Eles não te entendem
era um dos únicos que teve coragem de se aproximar de tal forma de mim. Já os outros caras me olhavam como se eu fosse um extraterrestre, sei lá, uma criatura de outro mundo.
You're from a whole 'nother world
Você é de um outro mundo
A different dimension
Uma dimensão diferente
You open my eyes
Você abre meus olhos
And I'm ready to go,
E eu estou pronta para ir,
Lead me into the light
Guie–me para a luz
Fechei os olhos. Dane-se. Não ligo de estar cantando essa música pra ele, era o que estava sentindo no momento. Sou movida por impulsos. Essa é para você . Abri os olhos e mergulhei no olhar dele, me perdendo em um oceano cheio de pecados.
Kiss me, Ki–Ki–Kiss me
Me beije, me B–B–Beije
Infect me with your loving
Me infecte com seu amor,
And fill me with your poison
Me preencha com seu veneno
Take me, Ta–Ta–Take me
Me leve, me L–L–Leve
Wanna be your victim,
Quero ser uma vítima,
Tão errado, tão bom, tão entorpecente. Não sei como, mas a sensação que sinto toda a vez que lembro do nosso beijo me deixa arrepiada. Sinto uma vontade de rir, de gargalhar. Nunca admiti, mas uma euforia enorme corre dentro de minhas veias quando os lábios dele tocam aos meus.
Ready for abduction
Pronto para abdução
Boy, you're an alien,
Garoto, você é um alienígena,
Your touch so foreign
Seu toque é de outro mundo
It's supernatural,
É sobrenatural,
Extra–terrestrial
Extraterrestre
Olhei para , que estava concentrado em seu violão. É isso ai cara, essa noite é nossa. Levantei do banco e puxei o microfone pra mais perto. A adrenalina tomava meu corpo.
You're so supersonic
Você é tão supersônico
Wanna feel your powers,
Quero sentir seus poderes,
Stun me with your lasers
Me atordoe com seus lasers
Your kiss is cosmic,
Seu beijo é cósmico,
Every move is magic
Todo movimento é mágico
Então é isso, eu gosto de você . Parabéns, conseguiu o grande prêmio. Prefiro estar em guerra com ele, do que vê-lo longe. Mesmo achando que isso é uma grande tolice e não querendo admitir realmente o que sinto, nem pra mim mesma, às vezes acho que estou louca, fazendo coisas que nunca foram do meu feitio. A atração é forte, o sangue corre rapidamente por cada canto, o fôlego começa a faltar e as coisas aconteceram rápido demais, me vejo perdida, no meio do nada, apenas com um propósito, encontrá-lo no final dessa confusão.
This is transcendental,
Isso é transcendental,
On another level
em um outro nível
Boy, you're my lucky star
Garoto, você é minha estrela da sorte
I wanna walk on your wavelength
Eu quero andar no seu comprimento de onda
And be there when you vibrate
E estar lá quando você vibrar
For you, I'll risk it all, all
Por você eu arrisco isso tudo, tudo
– Como que é gente?! Vamos lá. Kiss me, K–K–Kiss me. Infect me with your loving. – o pessoal cantou o refrão.
Assim que terminamos, foram só gritos, o pessoal estava eufórico. Olhei para e dei um sorriso enorme, assim como ele para mim. Pode falar, cara, você não tem uma amiga como eu. Tocamos mais músicas, entre elas teve The Maine, Maroon 5, Muse, Colbie Caillat, Foster The People entre outros.
– Espero que tenham gostado. – falei assim quando terminamos nosso repertorio improvisado. – Curtam a festa à vontade galera.
– Valeu pela atenção. – disse com um sorriso, ele tinha vergonha de falar em público.
Descemos do palco improvisado.
– E aí, . Canto bem? – perguntei colocando a mão na cintura e fazendo uma cara de convencida.
– Hum… mais ou menos, deu para o gasto. – ele falou sério. – Tô brincando, salvou minha noite. Salvou minha vida! Você canta bem pra caramba. Não conhecia esse seu lado cantora.
– Nem eu. – gargalhei jogando a cabeça pra trás. – Bem… acho que agora estamos quites.
– Concordo. – nos abraçamos forte.
– Que show, heim. – escutei a voz de .
– E aí, gostou? – perguntei animada.
– Muito. Sabe, vocês poderiam até formar uma banda, eu seria o primeiro fã. – o menino riu para nós.
– Aí, . Já temos um fã. – brinquei dando um tapa em seu braço. Bruta eu? Nem um pouco.
– Se não fosse pela voz, não teria te reconhecido. – se aproximou. – Não sabia que você cantava.
– Você não sabe nada sobre mim. – falei ríspida. O que foi? Poderia ter até cantado uma musica para ele, mas isso não mudava nada entre nós, eu ainda continuava achando que ele era um idiota!
– , vamos dançar. – Green o abraçou por trás.
Vaca, já te chamei de vadia hoje? Tire essas mãos de cima dele! Poderia muito bem voar em cima daquela puta e tirar suas patas nojentas de cima de , mas mantive a postura. Que merda, pare com isso, , não há motivos para você estar assim. Droga. Saí andando e deixando os meninos ali. Senti a raiva queimar dentro de mim, andei praticamente cuspindo fogo pelas ventas. Isso é simplesmente ridículo! Nunca tive empatia pela Green, agora tinha menos ainda. E sim! Era porque ela estava ficando com . O que está dando em mim? Balancei a cabeça em forma negativa, tentando expulsar ao máximo aquilo de lá. Nunca fui de ficar dessa forma por causa de um cara. Estava nervosa. Me irritei com o primeiro idiota que estacionou na minha frente.
– SAI DA FRENTE, MERDA! – gritei com raiva e o menino se assustou.
– Calma, moça. – disse.
– VOCÊ ME PEDE CALMA? TEM CERTEZA QUE É ISSO QUE QUER? – é, eu estava aos berros com o menino e algumas pessoas começaram a nos olhar.
– Ih, garota, está toda irritadinha por quê? Seu namorado te trocou por outra? – debochou. Seu infeliz por que você tinha que falar logo que meu namorado me trocou por outra? Com tanta dificuldade eu tinha me esquecido da traição de Jared e você me fez lembrar!
– Você vai se arrepender por ter dito isso. – falei com calma cada palavra.
– Me arrepender? Ah, fala sério, vaza daqui. – disse se virando de costas para mim.
Você não me conhece mesmo, né menino? AGARREI O MALDITO PELO CASACO E O VIREI! MEUS OLHOS BORBULHAVAM RAIVA. O menino me empurrou, mas assim quando voltei, acertei um soco bem dado em seu nariz. Vi o individuo colocando a mão no local atingido e logo após me olhou com ódio, sua camisa branca tinha algumas gotas de sangue. O cara veio na minha direção que nem um búfalo e me levantou pelas pernas. Caralho! De onde ele saiu? Fui arremessada longe, senti minhas costas e cabeça batendo na parede. Merda! Cai no chão e me levantei cambaleante. Miserável. Fui para cima dele, quando levantei o braço para dar um soco em seu rosto ele segurou minha mão com puro reflexo, com a minha outra mão fui para dar outro soco em seu estômago, mas ele também segurou. Droga! Não pensei muito e lhe dei uma cabeçada, sendo assim me soltando, dei uma canelada em sua coxa e ele se abaixou, com isso, finalizei com uma joelhada em sua testa.
– Pare com isso, . – entrou na minha frente.
O moleque que estava no chão se levantou e veio para cima de nós, o segurou.
– Chega de briga! – disse ele.
– Vou acabar com essa vadia! – rosnou e se soltou de , me acertando um soco em meu supercílio.
Aquilo havia me pegado completamente desprevenida. Fiquei meio tonta, mas peguei a garrafa de cerveja que estava na mão de uma menina e quebrei na cara do imbecil que me socou. Por sua vez, me pegou e me tacou contra a parede de novo. Puta que pariu! Bati com força a cabeça. Me senti mais tonta do que a primeira vez e fechei os olhos na tentativa que aquilo passasse. Duas mãos pegaram meus braços me trazendo para cima. Tentei abrir os olhos, mas não consegui de forma alguma, péssima idéia ter fechado. Minhas mãos seguraram a pessoa que me tirou dali. Conforme fomos andando, minhas pernas foram falhando cada vez mais, até que não sentia mais nada debaixo de meus pés. Eu estava sendo carregada. Braços envolviam minhas pernas e costas, meu rosto repousava sobre um peito quente que subia e descia rapidamente, seu coração estava acelerado. Escutei vozes falando, estava quase inconsciente, um perfume familiar invadia meus pulmões, logo depois tudo foi ficando cada vez mais longe e longe. Finalmente abri os olhos e vi um teto branco sendo iluminado por uma luz fraca. Minha cabeça latejava de tanta dor, olhei para o lado e vi um abajur ligado com bolhas verdes que subiam e desciam. Onde eu estava? Não acredito que desmaiei.
– Que bom que acordou. – reconheci a voz na mesma hora, a voz meio rouca de ecoou pelo quarto. – Está bem?
– Não! O que você acha? – perguntei grossa me sentando a cama. – Bati duas vezes com a cabeça e você acha que estou bem? Ai. – reclamei diante a dor forte.
– Da próxima vez te deixo caída lá no chão. Além de ser grossa é mal agradecida. – ele, que estava sentado em um sofá de dois lugares, se levantou e foi caminhando até a porta.
– , espera. – pedi e tentei me levantar da cama, mas uma tontura horrorosa me atingiu, mesmo assim me mantive de pé, não era isso agora que ia me derrubar. – Desculpe ter falado desse jeito contigo.
– Como você diz: foda-se. – ele saiu do quarto.
Argh. Saí atrás dele, minha tontura foi passando. Vi no final do corredor, corri até lá e segurei seu casaco.
– Me solte. – disse.
– Não. – soltei o ar. – Ah, corta essa, eu nunca pedi desculpas a ninguém. – uni as sobrancelhas. – Facilita.
– Facilitar para você? Estou cansado de sempre receber patadas o tempo inteiro, por mais que eu tente ser legal, você só me esculacha, não sou… – o interrompi selando nossos lábios.
Ele não calava a boca, o que mais poderia fazer? Foi só um selinho demorado e bota demorado nisso. Assim que nos separamos lentamente, abri os olhos e o encarei de uma forma… atordoada?
– Por que você fez isso? – sua voz saiu muito baixa, quase não escutei.
– Quer mesmo a verdade? – sustentei o seu olhar.
– Uhum.
– Não sei, para mim era só para calar sua boca, mas acho que não foi só por isso. – fui completamente sincera, como nunca tinha sido em toda a minha vida.
Ele balançou a cabeça em negação.
– Não. Não vou ser seu brinquedo. – disse e se afastou de mim.
Ponto, ! 10x0 para você. Não ia deixar as coisas assim, não podia, não era isso que ele era para mim, pelo menos era o que achava.
– , você não é nenhum brinquedo. – falei indo atrás dele. – Se fosse um brinquedo eu não estaria me dando o trabalho de vir atrás de ti. Ah, cara, você me conhece, sabe que sou orgulhosa o bastante para nem se quer olhar na cara das pessoas. – não parava de andar e nem se quer me dava atenção. – Porra, , dá para me dar atenção?
O filho da mãe fingiu que eu não existia. Posso saber realmente do que ele estava com raiva?
– Que merda! Do que você está com raiva? Por que te beijei? Argh. Me desculpe se fiz ou disse algo que não te agradou. , ninguém é perfeito! Ainda mais eu.
– Por que você não vai falar essas coisas para o ? Acredito que ele vai te dar mais atenção! – disse se virando para mim e finalmente parando de andar.
– Você está com ciúmes do ?
– Por que teria ciúmes de você? NÃO SOMOS NADA MESMO.
– Seu maldito! Eu não acredito que você vai me fazer falar isso! Que raiva! VOCÊ É ALGO PARA MIM.
– Claro que sou! Sou um capacho, um brinquedo e tudo mais que você quiser que eu seja, não e? – ele tinha arrogância na voz.
– CALA A BOCA, ! – meus olhos começaram a marejar, passei a mão em meus cabelos meio desesperada. , ENGOLE ESSA PORRA DE CHORO AGORA! – VOCÊ NÃO SABE O QUE EU SINTO PARA DIZER ISSO! – gritei.
– E você sente alguma coisa? Só pensa em si mesma. Egoísta, mesquinha e manipuladora, isso é o que você realmente é.
– Tá. Quero que saiba que tudo isso que me falou agora, nunca mais vou esquecer. – praticamente sussurrei. Senhora drama, prazer.
Passei por ele olhando para baixo para que não visse as lágrimas caírem dos meus olhos. “Egoísta, mesquinha e manipuladora, isso é o que você realmente é.” Aquilo já não martelava em minha cabeça e sim no meu peito. Eu era uma pessoa tão ruim assim? Logo me localizei, estava na casa de ainda, agora vazia. Quanto tempo fiquei desmaiada? Olhei no relógio, três e dez da manhã. Ah, sim. Os empregados estavam limpando tudo. Caminhei lentamente até o jardim dos fundos, que era lindo, não havia reparado direito na casa de , mas ela era linda e enorme. Vi um banco de madeira e me sentei nele, a noite estava estrelada, com uma lua cheia iluminando o céu, mas estava meio frio e me arrependi por não ter trago nenhum casaco. Me abracei na tentativa de conter um pouco do frio. se aproximou e sentou-se ao meu lado.
– Não quis falar aquilo para te magoar.
Não respondi e nem queria mais falar com ele, NUNCA mais.
– Você sabe que eu te adoro, né?
Não me diga, é mesmo? Dane-se! Bate e depois quer cuidar? Cínico!
– Não vai falar comigo?
Não, você ainda não percebeu? Idiota. Por que não sai daqui logo e me deixa em paz?
– Ow, , fala comigo cara. Me desculpe, vai.
– , para você. – foi a única coisa que falei.
– Sei que fui um idiota completo, mas me perdoe. Fiquei de cabeça quente.
– é meu melhor amigo, o único que se esforça para tentar me ajudar e entender. Nunca mais quero que você se refira a ele daquela forma. – minha voz saiu tão fria que até eu mesma me surpreendi.
– Se você gosta tanto assim dele, por que não ficam juntos? – como o tinha a capacidade de abrir a boca para falar tanta merda?
– Achei que você poderia mudar. Ou pelo menos entender alguma coisa! – me levantei, mas ele segurou minha mão. – Não quero mais falar com você, . Nunca mais. – entrei na casa e ele veio atrás de mim.
Senti segurar meu braço e o puxei de volta, então ele pegou os dois e me prensou na parede.
– Está me machucando. – falei e olhei para baixo.
– Por que temos sempre que brigar tanto? – perguntou no pé de minha orelha, fazendo-me arrepiar toda.
– Pelo simples fato de nos odiarmos. – respondi seca e fria.
– Não, isso não faz. – me abraçou. – Eu não consigo te odiar nem por um momento, só ter raiva de suas atitudes.
– , me solte. Não tenho obrigação de escutar essas coisas.
– Não vou te deixar ir embora sem resolvermos isso. Não quero que fiquemos brigamos.
– Não ligo. Eu te odeio moleque, me solte. – forcei meus braços tentando me soltar.
– Já disse que não. Pare com isso. Aquela música foi para quem? – gelei quando ele tocou naquele assunto.
– Quem sabe, deve ter sido pro . – ironizei. – Vai ver que eu gosto dele mais do que só um amigo.
– Isso explicaria a intimidade que você dá a ele. – estava com raiva agora.
– Pare com esses ciúmes do . – olhei em seus olhos. Pra que fiz isso? Me perdi ali.
– Não estou com ciúmes de ninguém.
– Se você admitir que está com ciúmes dele, eu admito uma verdade minha. – sugeri. O que eu estava fazendo? Louca! Cale a boca.
Os lábios de tocaram meu pescoço, nunca havia sentido aquilo na minha vida, era como se uma corrente elétrica percorresse todo o meu corpo em questão de segundos. Fechei os olhos e só deixei aquela nova sensação maravilhosa me dominar. O que você estava fazendo comigo? Como consegue me controlar dessa maneira? Definitivamente você é de um outro mundo. Eu estava em êxtase. subiu os beijos até minha boca, mas não me beijou, apenas mordeu meu lábio inferior e passou a língua de leve nele. Você gosta de me provocar né, garoto? Sorri. Queria tanto aquela boca na minha, estava sendo até difícil de me controlar. Li seus lábios quando ele disse: “Me beije”. Tentação, você é tão hipnotizante. Poderia você ser o diabo? Poderia você ser um anjo? Era impossível de saber. Tão errado e certo ao mesmo tempo. Continuei do jeito que estava, por mais que eu quisesse aquela boca, não iria até ela. Sempre vou me esconder atrás dessa minha máscara.
– Morro de ciúmes de qualquer cara que chegue perto de você. – sussurrou. – Agora admita que gosta de mim.
– Eu disse que admitiria uma verdade. – sorri. – E isso não é verdade.
– Pare de negar o que sente por mim. – , pare de fazer isso comigo! Não me pressiona, não consigo pensar direito com você tão perto.
– Não sei o que sinto por você. – de certa forma eu não sabia, ou saiba?
– Então posso fazer que você descubra? – suas mãos estavam em minha cintura. – Não vai se arrepender.
– Já me arrependi de ter chegado perto de você.
– Não se dá por vencida de forma alguma. – falou sério. – Abaixe um pouco sua guarda e me deixe passar.
– Não tem guarda alguma levantada. Eu só não confio em você para me deixar envolver, mas o problema é que já me envolvi. – minhas mãos enlaçaram seu pescoço e o puxou para perto, selando nossos lábios em um beijo ardente. Nossas línguas se tocaram com intensidade e fervor. Estou completamente me contradizendo. Odeio quando isso acontece. Meu celular começou a tocar. Merda! Por que tinha que tocar agora? Paramos de nos beijar. Peguei o aparelho atrás no meu jeans e atendi.
– Oi.
– Minha gostosa, preciso de você. – a voz de Jared estava esganiçada.
– O que aconteceu? – perguntei preocupada.
– Levei um tiro. – quando escutei aquilo fui tomada por um desespero enorme.
Jared precisava de mim e eu iria até o fim do mundo atrás dele se fosse preciso. Sei que me sinto atraída por , mas Leto era o meu homem, mesmo estando separados.
– Onde você está? – eu iria até lá o mais rápido possível.
– Estou aqui na oficina, não demora. – desligou o celular.
– O que aconteceu? – perguntou assim quando viu minha cara de pavor.
– Preciso ir. – sai andando praticamente correndo.
– Não. Aonde você vai? – perguntou segurando meu braço.
– Jared precisa de mim. – falei e ele me soltou.
Saí correndo da casa, sem olhar para trás. Muito bom! A pé demoraria muito tempo para chegar lá, ele podia morrer, afinal eu não sabia onde havia sido o tiro. Vi um Opala 74 estacionado na esquina. Fui até ele e quebrei o vidro com uma pedra que achei, tirei os cacos do banco e fiz uma ligação direta. Cheguei rapidamente na oficina de Jared, a porta de aço estava aberta, entrei com o carro e a fechei. Corri até seu escritório seguindo o rastro de sangue pelo caminho.
– Meu amor. – ele estava deitado no sofá com a mão na barriga junto com uma toalha.
– O que aconteceu? – passei a mão em seus cabelos. Jared estava suando frio.
– Tive um tiroteio com a polícia. – respondeu. – Me ajuda, gostosa. – pediu com súplica.
Voei até o banheiro e peguei uma caixa de primeiros socorros que costumávamos usar nesses casos. Voltei correndo até o sofá, me atirando ao seu lado. Minhas mãos estava trêmulas. Tirei a mão dele de sua barriga.
– Meu Deus, Leto. – peguei uma toalha limpa e um balde com água.
Limpei o sangue, peguei um bisturi e uma pinça.
– Não tem anestesia? – perguntei revirando a caixa, jogando tudo pra fora.
– Acabou. – sua cabeça estava jogada para trás e sua feição era de dor.
Rasguei um pedaço da toalha e a enrolei.
– Toma, morda isso. – coloquei aquele pedaço de pano em sua boca.
Ele o mordeu, abri um pequeno pedacinho de sua pele e puxei a bala com a pinça. Os gemidos de Jared estavam me matando de aflição e agonia. Dei uns pontos e fiz um curativo.
– Pronto, amor, já acabou. – passei a mão em seu rosto gelado. – Você perdeu muito sangue.
– Eu sei. Obrigado por ter vindo. – agora ele olhava para mim. – Onde estava para estar arrumada desse jeito? – ele ergueu uma sobrancelha.
– Em uma festa da escola.
– Quem te bateu? – perguntou passando o polegar sujo de sangue em meu rosto.
– Ninguém. – menti, levantando e arrumando as coisas.
– Pare de mentir, sua sobrancelha está roxa. Quem foi o desgraçado que fez isso com você?
– Já disse que não foi ninguém, eu que bati na quina da minha cabeleira hoje de manhã.
– Se fosse isso, você teria escondido com a maquiagem. Quem foi, ? – ele parecia nervoso.
– Um menino da festa, eu arrumei confusão com ele. Só não pensei que ele ia revidar minha porrada. – olhei para baixo e peguei o resto das coisas.
– Nome. – Jared segurou meu pulso para que eu não levantasse.
– Não sei. Não se preocupe, ele deve ter que levar um ponto na testa e arrumar o nariz que quebrei. – sorri sem graça e ele me soltou.
Coloquei as coisas no banheiro, minhas mãos, braços, calça e camisa estavam sujas de sangue.
– Você vai ficar aqui? – perguntei me limpando, pelo menos tentando.
– Vou.
– Roubei um carro. Pode ficar com ele.
Escutei um barulho estranho do lado de fora.
– AQUI É A POLÍCIA, SAIA COM AS MÃOS NA CABEÇA!
– Merda! Leto, como que a polícia te achou aqui?
– Não sei.
Peguei um pano e desci correndo as escadas. Limpei todas as minhas digitais do Opala.
– É O ÚLTIMO AVISO! SAIA COM AS MÃOS NA CABEÇA.
Olhei para cima e vi Jared se levantando do sofá.
– O que você vai fazer? – estava descendo.
Ele tinha um revólver em mãos. Não, não, não e não!
– Desculpe, gostosa. – ele me pegou pelo pescoço, me dando uma gravata.
– Por favor, Jared não faça isso. – pedi.
– É o único jeito de fugirmos daqui. Abre a porta. – ordenou.
Me abaixei e levantei a porta de aço, eu tinha uma arma apontada na cabeça e tentava ficar tranquila, o que era impossível.
– Ninguém se mexe, se não mato a garota. – disse Jared me dando uma chave de pescoço, senti ele passando o cano da arma em meu rosto.
– Não, por favor, pare com isso. – pedi em súplica. – Eu te amo, Jared.
– Cala a boca. – apertou o meu pescoço com força. – Se você ficar falando demais eu te mato.
– Calma. – um policial se aproximou.
Não consegui enxergar muita coisa, já que os faróis dos carros estavam direcionados para nós.
– Não se aproxime! – Jared me apertou mais.
– Solte a garota, podemos conversar. – aquela voz era familiar.
– Quero um carro! Deem-me e solto a menina.
Eu tinha que fazer alguma coisa, sabia que ele não me soltaria de jeito algum. Sem pensar dei uma cotovelada em seu machucado, o que o fez me soltar, peguei a arma de sua mão com um giro rápido. Algumas lágrimas escorriam de meu rosto.
– Me perdoe. – falei apontando a arma para ele e a destravando. – Sou eu ou você.
Leto avançou para cima de mim que nem um leão atacando sua presa.
– Sua puta. – tentou pegar a arma.
Houve um disparo que fez eu e Jared cairmos no chão. Fechei os olhos com receio de olhar ao meu redor. Estava chorando que nem uma condenada. Reuni minha coragem e olhei para ele que estava desacordado, tinha muito sangue. Afastei um pouco pra analisar melhor a situação. Na minha mão continuava a arma. Meu Deus, o que eu fiz? Me abaixei ao lado dele rapidamente.
– Hey… – o toquei.
Ele segurou meu braço com força e houve outro disparo, mas não foi da minha arma, agora Jared estava todo ensanguentado. Coloquei a mão na boca desesperada e me rastejando para trás segurando um grito histérico que queria sair de minha garganta. Ele tinha levado um tiro... na cabeça. Não, Jared! Meu homem. Não podia ser! Ele estava MORTO.
– Você está bem? – uma voz estava ao meu lado, não olhei para ver quem era.
– Ele… Está morto? – minha voz saiu trêmula, já sabia que estava, mas tinha que ter certeza.
– Sim. – disse o homem.
Não! Ele não podia estar morto. Meu amor, meu Jared. Engatinhei até ele, mas não consegui olhar por muito tempo. Não queria ver aquilo mais. Senti alguém me ajudar a levantar.
– Venha, vamos para a delegacia.
– Não. Não. Eu não fiz nada. – tentei me soltar.
– Calma, não vamos fazer nada com você. – o homem me tranquilizou. – Só precisamos saber o que você estava fazendo aqui. – olhei pro homem e o reconheci, era o delegado.
Eu estava muito ferrada. Muito mesmo! Entrei no carro de polícia. Assim que chegamos à delegacia, fomos para uma sala. Minhas pernas estavam tão trêmulas que não sei como que consegui andar.
– Fique calma. – pediu o delegado. – Quer tomar uma água com açúcar?
Balancei a cabeça em negação. Eu estava em prantos ainda.
– Ele era o seu namorado?
Afirmei com a cabeça.
– O que você estava fazendo lá?
– Ele…eu…estava em…uma…festa…ai… – gaguejei mais do que um gago nervoso. Não riam gente, é sério. – Ele…me…ligou pedindo… para eu ir ajudá–lo….
– Ajudá–lo com o quê? – o delegado andava de um lado para o outro.
– Com o... ferimento. Retirei a bala e… dei uns pontos.
– Só?
– Uhum.
– Você sabia que ele já foi preso por sete homicídios, sequestro, tráfico de drogas e fugiu da cadeia? – como? Sete assassinatos? Sequestro? Fugiu da cadeia? – Pelo jeito não. Ele era um homem muito perigoso, você teve sorte de ainda estar viva.
Eu não pensava, não respirava, não sentia mais nada. Fechei os olhos. Posso desmaiar agora? Posso fazer corpo mole e me fingir de coitada?
– Hey… Hey… Hey… – senti o delegado me balançando. – Ele fez alguma coisa a você?
Balancei a cabeça em negação.
– Você está muito pálida. – avisou. – Tem certeza que ele não fez nada?
– Tenho.
– Você o ajudou em algum roubo? Assalto ou algo do tipo?
– Não. – menti na cara dura, eu não era doida. – Mas sabia de alguns.
– Então aquele dia que ele ligou para cá falando que você roubou as jóias era verdade?
– Sim, roubei dele. Ele estava transando com uma puta dentro do carro, fiquei com raiva, não sabia direito o que estava fazendo. – disparei a falar que nem louca. – Não me prenda por isso. Eu não tenho mais as jóias, as vendi. Mas não as vendi para comprar drogas e nem nada do tipo, e sim para comprar de comer e vestir para meu irmão mais novo. Minha mãe não compra nada para dentro de casa e…
– Fique calma, não vou fazer nada contigo. Bem, andei pesquisando a sua vida. Tirando as suspensões e detenções da escola você é uma menina limpa. Sei de seus pais e de seu irmão. Conversei com sua mãe, ela me disse que você é uma filha maravilhosa. Não vou estragar seu futuro por isso. Tenho uma filha e sei como seria decepcionante vê-la presa.
– Por que está tendo pena de mim? – ergui o olhar até encontrar o dele.
– Para falar a verdade, sei que é uma menina boa. Bem, vou pedir para te levarem para casa. – ele estava indo na direção da porta.
– Qual é o seu nome? – perguntei.
– Harris, tenente David Harris.
– David, obrigada por tudo. – dei um sorriso.
Ele sorriu para mim.
– Nada. Quer um conselho? – perguntou David.
– Diga. – o olhei secando meu rosto.
– Você é uma menina tão bonita e inteligente. Não quero que seja igual aos seus pais, estude e cresça. Quero te ver vencendo na vida. – falou e saiu da sala.
6. E você não sabe da metade
7 de novembro, sábado, alguma hora que não faço menor ideia de qual seja.
Minha mãe me acordou aos berros, completamente histérica. Minha cabeça latejava, mal tinha conseguido dormir depois do ocorrido com Jared. O que essa velha louca estava querendo agora?
– ! Acorda! – gritava já abrindo a pequena cortina.
– Ai! Mãe, que horas são? – perguntei tampando meus olhos dos raios de sol que entravam.
– Nove e meia. Seu pai me ligou, disse que se acidentou e precisa de você lá. – puxou meu edredom me descobrindo.
– Não vou. – respondi virando para o outro lado e me agarrando ao travesseiro.
– Você vai, sim! Anda, arrume suas coisas. Vai passar um mês lá até ele poder tirar o gesso e voltar a andar.
– Você disse um mês? – minha voz saiu abafada pelo travesseiro. Era isso mesmo que escutei; UM MÊS?! – Mãe, a senhora deve estar caducando! Já disse que não vou! Esse é o ultimo mês de aulas e têm provas.
– Não se preocupe, vou conversar com o seu diretor e ele vai entender. Agora levante, antes que te tire daí a base dos tapas. – ela abriu a pequena janela, entrando todo aquele barulho de carros e pessoas andando do lado fora.
– Ah, fecha isso! Eu levanto. – disse sentando na cama e esfregando os olhos.
Arrumei minhas mala muito a contra gosto.
Assim quando terminei de almoçar, vi que ainda faltava um pouco até dar o horário de meu ônibus, então fiquei jogando vídeo game. É isso aí, minha mãe já tinha comprado até minha passagem. Ela deveria estar louca para se livrar de sua filha problemática, embora não soubesse de nada do ocorrido na noite passada. O tenente pediu pra que um policial me trouxesse em casa, e não fez nenhuma ocorrência. Me pergunto o motivo disso, mas prefiro não questionar e pensar que pelo menos uma vez na vida tive sorte.
Contratei uma baba de confiança para tomar conta de Josh esse mês que vou estar fora, e isso foi com MEU dinheiro! Por quê? Minha mãe disse que não ia pagar nada. Já era de se esperar. Tudo porquê o bêbado do meu pai caiu da escada e quebrou a droga da perna! E como ele não tem ninguém além de mim, tenho que ir lá cuidar dele!
Me despedi de minha mãe e Josh, e sai de casa partindo em destino à rodoviária. Quando cheguei, fiquei mais uma hora vegetando lá, pois a porcaria do ônibus tinha atrasado por causa do engarrafamento inesperado. Muito bom! Depois de uma hora de espera consegui embarcar.
Essas estavam sendo as duas horas de viagem mais entediante da minha vidinha miserável, meu iPod acabou a bateria, assim como meu celular, sem contar com meu notebook. Sem comunicação alguma com o mundo, se o ônibus quebrasse e viesse uma criatura voadora e nos atacasse? Tipo “Olhos Famintos”. Seria irônico, né? Mas adoraria, pelo menos assim eu teria uma morte rápida e trágica.
Meu pai morava no fim do mundo, ou onde o Judas perdeu as meias, ou talvez a cueca! Deus, para onde eu estava indo?! Parei no meio da estrada e andei por uma pequena estradinha de terra até avistar a casa. Tipo… Sabe aquele lugar onde só tem mato, mais mato, e mais um pouco de mato, com uma casa no meio? Então era aí que meu pai morava. Carreguei minha mala e mochila pesada por uns dez minutos. Aquilo estava me dando dor nas costas. De longe avistei um cão cinza e marrom, sei lá que cor era aquela porra, o coitado nunca devia ter tomado banho na vida, bem… ele estava deitado na porta impedindo qualquer tipo de passagem. Dei um assovio alto e o animal latiu. Parei de andar, coloquei minha mala e mochila no chão podendo relaxar meus ombros.
– Cale a boca, cachorro. – resmungue enquanto ele ainda latia.
Vi alguém abrir a porta com certa dificuldade. Eu estava parada na frente da casa olhando como aquilo tudo estava arruinado e sujo! Alguém em sã consciência conseguia morar ali? Olhei meu pai: magro, com sua barba grande e grisalha, seus cabelos ainda meio castanhos estavam presos em um rabo de cavalo baixo. Sua roupa era suja e rasgada, em sua mão direita tinha um cigarro e ele se apoiava em duas muletas.
– Sim. – perguntou quando me viu sem sair de dentro da casa.
Ah, fala sério. Ele não estava me reconhecendo?
– Sou sua filha que veio passar o mês nesse fim de mundo. – irônica, eu? Que nada!
– ? É você mesmo, minha filha? – o velho deu um sorriso.
– Não, sou a cópia má dela. – falei grossa pegando minha mala e caminhando em direção a casa.
– Como você está crescida. – ele parecia feliz de me ver, mas por que eu não estava feliz em vê-lo?
– Sim, as pessoas crescem quando novas e diminuem quando velhas. – disse subindo os três degraus da varanda de madeira.
– Venha, entre. – o cachorro não saiu da minha frente. – Rex, saia daí. – ordenou e o animal obedeceu.
Não me surpreenderia em nada se um cara de máscara com uma serra elétrica em mãos saísse dali de dentro e me matasse, estilo “Massacre Da Serra Elétrica”. Tenho que parar de comparar minha vida com os filmes.
Lembrei de quando era pequena: eu, minha mãe e meu pai morávamos ali, costumávamos brincar no campo correndo com Max. Velho Max, cachorro guerreiro. Assim que entrei, observei que tudo estava como me lembrava, todos os detalhes. A casa por dentro, por milagre que seja, estava limpa.
– Você contratou alguém para limpá-la? – perguntei jogando minhas bolsas no sofá.
– Não, antes deu me acidentar, estava dando uma geral, foi nessa geral que cai da escada e quebrei a perna. – pelo menos ele parecia sóbrio. – Como está sua mãe e seu irmão?
– Melhor impossível. – levantei as sobrancelhas e torci os lábios. – Se quer saber se ela está com outro, bem, não sei. Cada dia esta com um diferente. – dei de ombros.
– E você, como está?
– Como eu estaria no meio do nada, acompanhada de um velho e seu cachorro estranho? Bem, se quer saber, estou ótima. O meu quarto continua no mesmo lugar?
– Uhum. – peguei minhas coisas e subi as escadas que rangiam.
Droga de casa velha! Maldita! Ahhh! Vontade de gritar loucamente até não aguentar mais. Bufei. Parei na frente da porta do quarto e girei a maçaneta que estava enterrada, dei um chute na porta para que ela abrisse então finalmente consegui entrar, nem preciso dizer que a porta também rangeu, né? A olhei com um olhar mortal, como se fosse destruí-la apenas com aquilo. Desfiz minha mala. Peguei os carregadores, e fui colocar meu celular e iPod para carregar. Assim que coloquei a parada na tomada, o troço saiu faísca e me deu um choque.
– PUTA QUE PARIU! – xinguei com muita raiva.
– Aconteceu alguma coisa? – escutei a voz de meu pai perguntar do andar de baixo.
– A sua casa está me atacando! Isso serve? – ódio ao extremo! – Se você queimar meu carregador, vai se ver comigo. – sério gente, eu estava discutindo com a tomada velha. Isso já estava virando loucura.
Minha sorte que não queimou nada e dei graças a Deus por isso. Meu quarto era uma pequena suíte. Peguei a toalha e fui tomar um banho para tentar relaxar, assim quando liguei o chuveiro, veio um jato de água com ferrugem na minha cabeça me deixando toda, TODA SUJA! Murphy estava me perseguindo, só pode!
– Merda! Inferno de casa velha! – logo depois a água começou a sai limpa e pude tomar meu banho.
Pelo menos a água do chuveiro estava sempre quente, pois era de um sistema que se conectava ao fogão a lenha da cozinha com a caixa d’água. Coisas de casa velha. Minto, isso é coisa de casa de roça! Assim que saí do banheiro, troquei de roupa e desci para preparar o jantar.
– Como que anda a escola? – meu pai estava sentado à mesa lendo um jornal. Escola não anda, ela não tem pernas pra isso.
– Bem. Falando nela, você vai me fazer perder as provas finais.
– Por que não me disseram? Se soubesse não deixaria você vir. – ele me pareceu preocupado.
– 1º eu já passei, minhas notas são boas por incrível que pareça. 2º minha mãe me forçou a vir. 3º eu estava mesmo precisando sumir daquele lugar e ficar o mais longe possível da cidade. – dei de ombros.
– Fico feliz que seja uma aluna aplicada. – e o papo foi esse.
Jantamos sem conversar. Afinal, que assunto teria com aquele velho? Limpei tudo e subi para o meu quarto.
– ! – escutei meu pai chamar.
– Oi. – respondi sem levantar da cama e relando os olhos.
– Você pode me dar uma ajuda aqui?
Não respondi, apenas desci para ver o que era.
– O que foi? – perguntei ríspida.
– Eu estava dormindo aqui embaixo, por que tenho dificuldade para subir as escadas, mas sofá é muito desconfortável. Você poderia me ajudar a subir?
– Tá. – o ajudei subir e ir até seu quarto.
O quarto dele continuava que nem minha mãe havia deixado: as cortinas floridas, o espelho redondo em cima da penteadeira, a cama, exatamente tudo. Ajudei a se deitar na cama.
– Boa noite. – disse ele assim quando eu estava saindo do quarto.
– Tchau. – apaguei a luz e fechei a porta.
Assim que bati na cama, dormi. Estava muito cansada fisicamente e mentalmente. Precisava relaxar e esquecer o que houve. Às vezes a imagem de Jared morto aparecia em minha mente e aquilo me dava certa agonia. No meio da noite acordei e depois não consegui mais dormir. Tudo o que aconteceu foi realmente assustador.
17 de novembro, terça feira, ainda na casa de roça.
Acordei com a luz do sol entrando pela fresta da cortina. Caraca! Já estava há 10 dias naquele lugar e pareciam 10 anos!
Não vou mentir ou esconder que ainda me sinto mal em relação ao Jared, gostava mesmo dele, mas não tenho muito que fazer, ele se foi e nada vai trazê-lo de volta. Ficar chorando e se lamentando pelos cantos não resolve porcaria nenhuma. Aprendi a ser forte, e assim continuarei.
Eu não via a hora de ir embora do muquifo. A TV pegava muito mal se colocasse batata na ponta da antena, caso contrário nem funcionava. Internet então nem se fale, isso nem existia ali, o celular não tinha sinal e quando tinha era pouco, é claro. Me pergunto como alguém pode conseguir morar em um lugar assim. Ah, já sei, um bêbado que não se importa com a civilização, resumindo: meu pai.
Nesse período não tinha conseguido falar com , e com ninguém do mundo exterior. Muito bom, mesmo! Meu pai só ficava dentro de casa, a comida estava acabando e pelo menos ele não estava bebendo, mas em compensação fumava que nem uma Maria Fumaça. Desci e arrumei o café da manhã, depois subi novamente para ajudar o velho a descer. Que saco! Ser enfermeira era realmente uma chatice.
Depois que acabamos de comer resolvi tomar alguma atitude.
– Pai, me dá a chave do carro que vou até a cidade fazer compras. – pedi. – A dispensa já está vazia. – fiz uma careta qualquer.
– Você sabe dirigir?
– Não, vou empurrando o carro até o asfalto, chegando lá, peço para um caminhoneiro amarrar uma corda na traseira do caminhão e me levar até a cidade. – ironizei. – É claro que sei dirigir. Cadê a chave? – perguntei impaciente.
– Tem habilitação? – bufei com sua pergunta.
Arg! Que raiva! Para que ele queria saber se eu tinha carteira? Ele vivia dirigindo bêbado.
– Tenho. – resmunguei.
– Cadê?
Tá me zuando, né? Só pode. Gruí e subi até meu quarto para pegar minha carteira e celular. Desci já arrumada.
– Tome. – entreguei minha habilitação ao meu pai. – Agora cadê a chave do carro?
– Está no bufê da sala. – disse dando uma olhada no documento e me entregando. – Tem dinheiro dentro daquele vaso. – apontou para um pote de bicoitos velho em cima da dispensa.
Peguei meu documento de volta, o dinheiro e fui para a sala pegar a chave.
Saí de casa e caminhei até a garagem pelo meio do mato. Assim quando abri a grande porta dubla de lata, me deparei com um troço, que podia um dia ter chamado de carro. Abri a porta da caranga velha que fez um barulho horroroso, por um momento pensei que a porta sairia na minha mão. Quando entrei no veículo, levantou uma leve poeira alaranjada, aquilo tinha um cheiro de cachaça misturado com cigarro, mofo e sujeira. Aquele cheio me deu um leve enjoo. Poderia jurar que tinha um bicho morto ali em algum canto. Abri as janelas e uma alavanca saiu na minha mão, abri o porta luvas e a taquei lá dentro. Coloquei a chave na ignição e liguei o carro chegando a me assustar com o barulho do motor.
– Deus! O que é isso? – para mim, aquilo ia explodir assim quando colocasse o pé no acelerador.
Respirei fundo e me arrependi, porquê aquela catinga entrou toda em meu pulmão e me sufocou. Como queria ter respirado o perfume do agora. , cale a boca! Você não queria nada. Engatei a 1º e dei a partida. Olhei o nível de gasolina que estava baixo, praticamente na reserva. Tomara que dê para chegar até a cidade.
Pelo menos consegui sair da estrada de terra, olhei no meu celular, que agora estava com o sinal cheio. Não pensei duas vezes e liguei para que demorou um pouco para atender.
– . – fiquei contente por ter atendido.
– ? – sua voz saiu preocupada. – Pelo amor de Deus, menina, onde você está? me disse que aquele dia você saiu atrás do Jared, depois não apareceu mais e nem deu notícias.
– Calma. Realmente fui atrás do Jared, ele foi baleado e tals. Quando cheguei lá dei uns pontos e fiz um curativo, mas aí a polícia chegou, ele me fez de refém, brigamos e ele acabou levando um tiro na cabeça dos policiais… – fui interrompida.
– Você está presa? Onde você está? Está bem? Ele não te machucou? – me bombardeou de perguntar, ele estava aflito.
– , dá para ficar quieto e me deixar terminar? Então… Fui para a delegacia, os caras me liberaram. – contava a história enquanto dirigia. – No sábado, minha mãe me mandou para a casa do meu pai, ele quebrou a perna e vou ficar aqui até ele tirar o gesso. – por fim, consegui terminar sem mais interrupções.
– Ah sim, podia ter me ligado ou mandado um SMS, pelo menos. – estava mais aliviado agora.
– Se tivesse sinal desse fim de mundo eu teria te ligado. Me desculpe por ter te deixado preocupado, estou bem apesar de tudo. Mentira! Não estou bem coisa nenhuma! Estou quase dando um treco nesse lugar! Aqui não tem nada! Agora estou indo na cidade comprar umas coisas para comer. – rolei os olhos, aqui era realmente um tédio. – Como que vão as coisas por aí?
– Bem, falando nisso, como que você vai fazer com as provas finais?
– Não se preocupe, já passei mesmo, minha mãe também deve ter ido na escola conversar com o diretor. – dei de ombros, afinal não tinha nada com que me preocupar. – Vê se o senhor estuda.
– Isso que é vida boa, nem precisa fazer as prova finais. CDF. – brincou. – Vou tentar estudar, mas você fugiu pro fim do mundo, de quem vou colar?
– Vai à merda, . – ri.
– Você vai à formatura? – mudou de assunto.
– Quando vai ser?
– Dia 4, vai cair em uma sexta-feira.
– Poxa, , acho que nem vai dar. Com quem você e os meninos vão?
– O vai com a Green, com a Perez e eu estava pensando em ir com você.
– Isso é um convite, ? – o ia com a puta da Green? Ridículo! Tomara que o vestido dela rasgue no meio da festa.
– Seria, se você pudesse ir.
– Olha, vou ver o que faço e dou um jeito de avisar se irei ou não. OK? – mordi meu lábio inferior, se iria com a Green, por que não posso ir com o ? Que pensamento mais ridículo! Pouco me importa com que ele vai ou deixa de ir.
– Está bem. – ficou feliz.
– , me arranja o número do ? – pedi.
– O que você quer falar com o ? Vocês não se dão nada bem. – perguntou curioso e com certo interesse na voz.
– Foi ele que te falou que eu fui atrás do Jared, né? Então, vou falar com ele o que aconteceu também, afinal se você estava preocupado, também deve estar. – que bonitinho, eu me preocupando com o que acha.
– Tá bom, , corta essa! Fala logo o que quer falar com ele! Você não se importa com essas coisas. Por que iria ligar pro só para isso?
– , se não quer passar o número, está bem! Pode deixar. – falei já irritada, mas usar essa técnica sempre funcionava.
– Está bem, nervosinha. – me passou o número que anotei no painel do carro, já que a poeira era tanta, ficou a marca certinha dos números.
– Valeu. Depois nos falamos, beijos.
– Beijos. Tchau.
Assim que encerrei a ligação, ligue para que atendeu rápido.
– ?
– ? Você está viva? – perguntou irônico.
– Não, você está falando com a minha alma penada!
– Me ligou para quê? – ele estava muito ríspido.
– Acho que já desisti de falar! A sua ignorância me irritou. – desliguei na cara dele.
Idiota! Para que eu liguei para ele? Para que gente? Me diz?! Sou uma completa palhaça mesmo. Só me falta o nariz vermelho, porque o cabelo ridículo e a cara de besta já tenho.
Fiz as compras e assim quando estava saindo do mini mercado, a merda da gasolina acabou, eu esmurrei o volante com muita raiva. Tinha me esquecido de colocar gasolina! DROGA!
– Maldito carro! Maldita cidade! Maldita casa! Maldita vida! – desci daquele troço e tentei empurrar a lata velha.
– Precisa de ajuda? – escutei uma voz perguntar e me virei para ver quem era.
Nossa, de onde esse Deus grego saiu? Alto, loiro com o cabelo caído até no ombro, bem liso, mas bagunçado. Lembrava o Kurt Cobain, não, definitivamente deveria ser uma cópia dele, reencarnação, clone, ou sei lá, ele era realmente parecido com o vocalista da Nirvana. O cara tinha uma aparência despojada, aqueles dentes brancos formavam um sorriso perfeito, sua camisa xadrez preta com cinza por cima de uma blusa branca, sua calça jeans meio apertada nas coxas e rasgada nos joelhos, junto com um bota marrom. Alguém me abana que estou com calor. Morri, fui para o céu e ninguém me avisou. Aquilo não tinha cara de anjo, e sim de um demônio delicioso, então acho que fui para o inferno.
– Sim, essa porcaria acabou a gasolina antes de chegar ao posto. Se importaria de me ajudar a empurrar? – perguntei.
– Claro que não. Espera aí, vou chamar uns amigos para ajudar. – deu um assovio e logo pareceu mais três garotos do mesmo estilo que o dele, mas não tão bonitos quanto. – Vamos ajudar a garota empurrar a caminhonete até o Collins.
– Até onde? – perguntei erguendo uma sobrancelha.
– Collins, o posto, você não é daqui, né? Tem um sotaque diferente. – o loiro perguntou. – A propósito meu nome é Louis. Qual é o seu?
– . – não ia falar o meu nome para um cara que nem conhecia, ele podia ser o homem mais lindo e gostoso do mundo.
– Você é filha do Peter? – outro menino perguntou.
– Sim. Vocês vão me ajudar a empurrar essa carroça ou vão ficar perguntando da minha vida? – eu já estava começando a ficar irritada e para melhorar a situação o meu celular tocou. – Ow, inferno. Que foi? – falei assim que atendei.
– Grossa! – xingou do outro lado.
– Que merda, ! Se for ligar para me xingar poupe seu trabalho! Não tenho tempo para falar com você. Não me liga. – estava com raiva, e ele não ajudou muito.
– Realmente! Não sei porque estou gastando meu crédito contigo! Sua ingrata! Vai se ferrar. – desligou na minha cara.
– Gay. – xinguei e enfiei o celular no bolso. Os garotos me encaravam. – O posto é muito longe?
– Não. – respondeu Louis.
– Então vamos, estamos esperando o quê? – fiz um gesto pra que começassem a empurrar o veículo.
Os caras me ajudaram a empurrar até o Collins, onde abasteci o carro.
– . – Louis me chamou.
– Oi. – respondi voltando da loja de conveniência, tinha acabado de pagar a gasolina.
– Você está afim de ir em uma festa amanhã à noite? – perguntou com um sorriso atraente.
Espere aí, vou desmaiar e já te respondo.
– Não posso. Estou cuidando do meu pai. – torci o nariz. – Quem sabe na próxima. – não vou mais estar aqui mesmo.
– Seria uma pena você não ir. – disse se aproximando.
– Seria mesmo. Mas sabe como é, o velho se machucou e não posso deixá-lo nenhum momento sozinho. – sorri sem vontade.
Que merda. Por que esse menino não parava de se aproximar? Comecei a andar para trás a cada passo que ele dava para mais perto, até que senti que não tinha mais para onde ir, pois tinha me encostado na lateral do carro sujo.
– Eu adoraria que você fosse. – passou a ponta dos dedos em meu rosto, com aquela proximidade pude sentir um cheiro de cigarro em sua roupa.
– Que pena, né? Só não encosta em mim quando falar, ok, amigo? – pedi tirando sua mão de meu rosto.
– Ah, qual é, gata?!
Esse tipo eu já conheço, quando vem com um “qual é, gata” pode contar que é merda.
– Não sou um animal para você me chamar de gata, tenho nome e sai de perto de mim. – o empurrei devagar pelo ombro. – Por favor. – estava tentando ser educada.
– Sabia que você é muito nervosinha? – agora Louis tinha um sorriso malicioso. Nada bom.
– Sei disso, e por esse motivo que as pessoas não chegam perto de mim com medo do que aconteça. – falei mais seria agora e coloquei uma certa frieza na voz.
– Adoro meninas nervosas. – olhei para os lados e a maldita rua estava vazia.
Para onde tinha ido os amigos dele? Me senti no filme “A Casa De Cera”, tipo a cidade antiga, pequena e vazia, onde tinha um psicopata na minha frente. Ok! Posso ter viajado um pouco, e estar vendo muito filmes de terror, mas pelo menos eles nos ensinam algumas coisas. Uma dela é que se deve fugir das pessoas perigosas. Louis passou o braço brutalmente por minha cintura fazendo nossos corpos baterem com força um conta o outro.
– Se eu fosse você, não faria isso. – alertei.
– Não tenho medo de mulheres nervosas. – sua respiração com cheiro de cigarro batia em meu rosto e aquilo me irritava profundamente.
Só que o caso a pessoa perigosa ali não era ele, e sim EU!
– Está bem, depois não diga que não AVISEI. – dei uma cabeçada nele e um chute no meio de suas pernas o fazendo cair no chão. – Não sou essas putas que você chega agarrando.
– Piranha. – o vi tirando um canivete do bolso. Merda! – Você vai se arrepender por ter feito isso.
Louis partiu para cima de mim na tentativa de furar minha barriga, mas foi em vão, me esquivei e dei uma cotovelada em seu nariz. Começamos a brigar que nem dois moleques, ele não conseguia me acertar nenhuma golpe, por dois motivos: 1º ele era meio lento e 2º meus reflexos estavam meio aguçados devido à raiva. Dei uma rasteira nele o fazendo cair de costas, subi em cima de seu tronco e comecei a socar sua cara feito uma lutadora de UFC. Sem que eu visse de onde surgiu aquilo, levei uma “facada” na barriga, olhei e vi a mão de Louis cheia de sangue assim como minha blusa. MINHA BLUSA FAVORITA! Você a furou! Miserável! Dei mais uns socos na cara dele, até que desmaiasse. Levantei sentindo uma dor horrível. Tirei a blusa dele e fiquei fazendo pressão em minha barriga.
– Droga! – entrei no carro e fui para casa o mais rápido que o veículo aguentou.
Assim quando cheguei, subi para meu quarto correndo. Procurei na minha mochila minha caixa de primeiros socorros e entrei no para o banheiro. Tirei minha roupa ficando apenas de calça e sutiã.
– Merda. – falei ao ver o buraco que tinha em minha barriga.
– ? – escutei meu pai chamando. – O que aconteceu? A escada está suja de sangue.
Ah, que bom. Dei uma risada meio nervosa.
– Nada, pai. – respondi.
Ele não falou nada, peguei um vidro de álcool e joguei em cima do corte.
– Ah? – segurei um grito de dor em minha garganta.
Vi a porta do banheiro abrindo e meu pai surgindo ali. Peguei uma toalha limpa e passei por cima do corte, o secando.
– O que aconteceu? – ele me olhou meio assustado.
– Um cara tentou me agarrar e não deixei. – dei de ombros sem tirar a atenção do que estava fazendo.
– Que cara?
– Um tal de Louis. Loiro, alto… - não dei muitos detalhes.
– Eu sei quem é! O que você estava fazendo com ele? – meu pai estava irritado.
– O carro acabou a gasolina, ele e se seus amigos me ajudaram a empurrar. E para de brigar comigo, eu não fiz nada! – pressionei a toalha contra minha barriga furada.
– Louis e seus amigos são os baderneiros da cidade. Mas o que ele te fez? – agora sua voz soou preocupada.
– Ele veio com um papo de festa para cima de mim, mas logo cortei, depois veio falando “qual é, gata” e tentou me agarrar, então desci o braço no miserável. – falei como que se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo de uma menina se fazer.
– Você fez o que? – se assustou. – Você bateu nele? Como?
– Como? Com a mão, ué. Quer que eu diga como foi? Dei uma cabeçada para me soltar…
– Você deu o que? Está achando que é lutadora de luta livre? Poderia ter se machucado! – o velho voltou a ficar nervoso.
– Aí depois um chute bem dado no meio das pernas. – continuei ignorando seus comentários. – Nessa hora, Louis sacou um canivete, começamos a brigar, mas ele estava meio lento deveria ter fumado uns beck.
– Fumado uns o quê? – perguntou sem entender meu vocabulário.
– Maconha, pai! – revirei os olhos e soltei o ar. – Ele não conseguiu me bater. Dei uma rasteira no animal, subi em cima dele e enchi sua cara de porrada, foi aí que - não sei como - ele me deu uma “facada” na barriga, depois disso finalize o deixando desmaiado.
A cara do meu pai era de horror, pânico, supressa, nervosismo, irritação, indignação e mais outras que não conseguiu identificar.
– Minha filha é uma sanguinária! Como que você bate em um homem desse jeito, ele podia ter te matado. – ele estava pálido.
– Não enche. Me deixe dar uns pontos nisso aqui antes que eu perca mais sangue. – falei me virando para o espelho.
– Você vai para o hospital, não tem a menor ideia do que está fazendo. – meu pai estava todo revoltadinho. – E desde quanto você tem essa tatuagem? Não tem idade para isso!
– Se o Sr. ficar falando no meu ouvido, aí sim eu vou fazer merda. Dá licença. – quem estava com raiva era eu, isso sim! – E isso. – apontei para minhas rosas pretas. – Já faz tempo que as fiz.
Ele não disse mais nada. Saiu do banheiro e bateu a porta.
Terminei de dar os pontos e saí do banheiro. Quando escuto aquela voz de tristeza, mas ao mesmo tempo irritada, não sei explicar, do meu pai.
– Limpe essa sujeira agora! Olha só, você sujou a casa toda de sangue.
– Está nervosinho? Não enche! Eu sei que tenho que limpar essa bosta. – retruquei.
– Quem manda nessa casa aqui sou eu e me respeite que sou seu pai! Agora limpe isso já antes que perca a minha paciência! Estou mandando! – limpei aquela merda do chão todo.
Desci com o balde de água com o pano e os joguei no tanque. Minha vontade era de ir embora agora mesmo!
– Agora vem cá, acho que está na hora da gente ter uma conversa de pai para filha, e nem ouse dizer uma de suas ironias. – velho estava sentado no sofá.
– Seria impossível de não dizer. – debochei. – Não temos nada para conversar. – fiquei de pé na porta da sala.
– Sente aí logo e me escute, anda! – apontou pro sofá de dois lugares, ao lado do de três que ele estava sentado.
– Adoro escutar sermões. – dei um sorrisinho, me jogando no sofá e olhando para a cara dele.
– Quem é você? O quê você fez com a minha filha? – estava triste.
Dei uma gargalhada alta. Agora virei um alien, só faltava meu pai enrolar um papel alumínio na cabeça para evitar que eu lesse sua mente. Estilo aquele filme da época da minha bisavó, “Sinais”, ok, não tão antigo assim.
– A corta essa! Já disse que sou a cópia má dela. – torci a boca e o nariz. – Fala logo o que você quer.
– Cadê aquela menininha meiga, que corria por esse mato, parecia mais um moleque subindo nas árvores?! Cadê ela?
– Ah, caralho, se for para ficar me irritar, estou poupando isso, que saco! Sou assim, sempre fui! Fala logo, merda! O que você quer me dizer?! – exclamei abrindo os braços.
– Me respeite, já disse! Chega da sua falta de educação! – meu pai levantou irritado e deu tomei um tapa na cara bonito, esse valeu por todas as porradas que já dei nas pessoas que mais pareciam animais.
– Anda, vai, bate mais! Faz igual o que você fez com minha MÃE! – minha voz saiu com ódio de meu peito.
– Não sabe o que está dizendo, para de falar do que não sabe! Aliás, você não sabe de nada, não tem o direito de saber de nada! – apontava o dedo em minha direção. – Aposto que aquela mulher que diz ser sua mãe, nunca te contou porcaria nenhuma!
– Você não vai falar assim da minha mãe. Não permito! – falei levantando do sofá o afrontando. – Me xingue de todos o nomes que quiser! Aquela mulher me sustentou depois que fomos embora, sabe por quê? Porque você não mandou porra de dinheiro nenhum! – esbravejei. – Comemos o pão que o diabo amassou! Não tem o direito de falar nada! – engoli em seco, eu estava parecendo uma louca descontrolada. – Estou falando o que vi quando tinha nove anos! Eu escutei toda a briga e vi você dando umas porradas nela! – reprimi a lembrança daquela festa maldita que teve aqui, na qual fui molestada. – Estava bêbado que nem um gambá! Como sempre! – fechei os olhos e voltei a sentar no sofá. – Não venha com essa moral de fodão para cima de mim que essa bosta não cola! – eu estava quase aos gritos com ele. Abri os olhos e o encarei com raiva.
– Dei porrada na sua mãe, sim, e daria de novo! Sabe por quê? – agora ele tem se sentou, mas no outro sofá. – Porque ela preferiu largar o cara que mais a amou para ficar com um velho rico. E tem mais, não a ponha no céu, pois ela não queria te levar! – negou com o dedo indicador. – Só te levou porque eu não tinha condições de cuidar de você. Se ela diz que te ama, teve esse amor obrigado. Sei que não fui um pai presente, e não sou ninguém para estar te dando sermão, mas uma coisa eu sei: ninguém nunca lutou tanto por você como lutei. – fitou o chão, seu olhar era triste. Aquilo me fez sentir pena dele.
– Você quer mesmo que eu acredite nessa ladainha? Só falta falar que o Josh não é seu filho! – ainda falei sem me importar com sua mágoa.
– Sempre desconfiei que não fosse, afinal ele não se parece nem comigo e muito menos com a sua mãe ou qualquer um da família. Mas o amo assim como amo você. E está na hora de entender o que é a vida, porque você só tem tamanho, mas ainda é uma criança. – nos olhamos. Ele não podia estar falando sério.
Desengatei a rir quando ele falou aquilo. Eu era só uma criança? Não, não sou uma criança.
– Eu, criança? Você não sabe de nada do que já fiz. Posso ser tudo, menos criança. – minha voz saiu com desprezo.
– Sabe, você me faz lembrar muito eu quando tinha a sua idade. – se reconfortou no sofá olhando para o nada. – Achava que era o dono do mundo, só porquê tinha tudo o que queria. Virei um cara muito bem sucedido quando tinha 19 anos, meu pai era dono de uma grande empresa. Nesse meio tempo conheci sua mãe, parecia muito com você, era linda. – deu uma pausa e acendeu um de seus cigarros de rolo fedorento. – Me casei com ela e depois de alguns anos o seu avô morreu. Deixou a empresa em minha responsabilidade. Fiquei com desgosto da vida, até que você nasceu. – ele sorriu. – Fiquei muito feliz, foi como se tivesse preenchido aquele lugar que meu pai havia deixado. Mas continuava o mesmo cara arrogante e metido, ainda por desgosto, e por causa disso e coisas a mais. Por fim acabei falindo a empresa. Sua mãe me largou e não queria te levar, implorei por isso. Não quero dizer que não a queria aqui comigo, mas sim, porque não tinha condições nenhuma de te ter morando aqui. – suspirou e continuou. – Lembra quando ficamos muito tempo sem nos falar? E você me mandava cartas e eu nunca respondia?
– O que tem isso? Você nunca me respondeu mesmo e ainda tem a cara de pau de falar que me amava. – cruzei os braços e coloquei os pés em cima do sofá.
– Como você queria que eu tivesse te respondido? Estava entrevado numa cama, sem ninguém, absolutamente ninguém junto comigo? – virei o rosto para o outro lado.
Devo ter demorado um minuto para digerir aquela informação. Isso não podia ser verdade.
– Como? – finalmente abri a boca para perguntar.
– Ao perder a empresa, minha mordomia, ter perdido você, sua mãe e o Josh, que na época estava ainda na barriga dela. Eu me viciei em jogo. Apostei tudo! Até que não tinha mais o que apostar e estava devendo uma fortuna, essa fortuna que era para você e para seu irmão. Mas mesmo assim, mandei o que restava para vocês. – continuei olhando para o lado enquanto escutava sua história. – Se não acredita, tenho as cartas aqui da sua mãe me mandando parar de enviar dinheiro para ela, pois não precisava de esmolas. O que ela fazia com o dinheiro? Boa pergunta, quando souber, me conte. – disse com raiva. – Voltando. Os caras disseram que iam matar vocês se eu não pagasse o que devia. Em troca disso, falei que poderiam me matar, mas matar a minha família, ou melhor, parte dela, eles não iam matar. – meu pai começou a rir. O olhei e aquilo estava começando a me assustar. – Então dei uma facada em um, até que fui pego por um bando de 15 caras, eles me bateram, mas foi muito. Era para me matar mesmo, já não aguentava mais de tanto apanhar, ainda tive forças pra bater em um. Acabei matando, inclusive. No final, me fingi de morto e depois de três dias jogado no mato, fui resgatado. – contou aquilo como se fosse uma piada. Ele era doido. – Fiquei oito meses no hospital, segundo os médicos, nasci de novo. Eles perguntavam se eu tinha parente, falei que tinha uma filha. Só falava em você, até que eles me deram alta e disseram; “Vá em busca da sua felicidade!”. E eu fui, mesmo que tenha demorado alguns anos. – sorriu de lado me olhando com ternura. – Quebrei minha perna de propósito, pra poder ver você novamente, e fico muito triste de saber que está assim, desse jeito, igual a mim. Te dei aquele tapa, para ver que acordasse pra vida, pois não quero que passe pelo que passei. Ainda dá tempo de concertar seus erros, faça isso enquanto há tempo.
– Eu já estava começado a mudar antes de vir para cá. – falei depois de tudo. – Conversei com um amigo e eu já tinha parado de fazer as grandes merdas. Nem mesmo sei por que sou assim. – olhei para o chão. Será mesmo que não sei o verdadeiro motivo? Ou sei e fico escondendo isso de mim mesma? É, talvez eu saiba.
– Agora entende porquê te chamo de criança? Você ainda pode mudar, pense bem nas pessoas que magoa agindo dessa forma, nas que gostam de verdade e de quem você também gosta. – agora meu pai estava calmo e conversávamos como pessoas normais.
– Eu não sou criança. Entendo muito bem o que estou fazendo. Tudo o que fiz foi para arranjar dinheiro para sustentar a mim e ao Josh. – puta que pariu! Cale a sua maldita boca! Daqui a pouco ele descobre tudo sua burra.
– Como assim? O que você fez?
– Eu? Eu não fiz nada demais. – desviei o assunto. – Vou tomar um banho. – disse levantando do sofá.
– Ok! Vai lá, mas depois conversaremos sobre isso, mocinha!
– Não temos mais nada para conversar. – falei subindo as escadas. – Ah, pai, minha formatura vai ser dia 04 de dezembro, mas não poderei ir se o senhor não for também.
– Até lá já devo ter tirado esse gesso, então nós vamos. – falou alegre.
– Você não vai tirar o gesso antes da hora, é um mês com isso e como o senhor está velho deve ser capaz de ter que ficar mais tempo.
– E como vou engessado? – perguntou indignado.
– Ué, tem a muleta para que? Enfeite? – ri. – Quando chegarmos a cidade, compramos um terno para o Sr.
– Então tá, vou pra ver seus olhinhos brilhando de felicidade, minha filhota. – fiquei feliz por ele estar feliz.
Dei uma gargalhada alta.
– Essa foi tensa, meus olhos brilhando de felicidade só no dia que matar o . – comecei a falar alto e fui diminuindo a voz até que ele não escutasse o final da frase.
Entrei em meu quarto, peguei meu celular e desci correndo. Fui andando pela estrada de terra até conseguir sinal, mandei um SMS para falando que iria a formatura com ele.
7. Eu sou o dono da verdade
Passaram-se dias, limpei e consertei o carro do meu pai, com direito a pintura e tudo. Ele ficou surpreso ao me ver fazendo aquilo. Arrumei nossas malas e fomos para minha casa, minha mãe não gostou muito de ver o meu pai lá, mas aceitou, alegando que só estava fazendo aquilo por mim. Aluguei o terno pro meu pai, uma roupa para a minha mãe, um terninho para o Josh e comprei um vestido para mim.
4 de dezembro, sexta–feira, formatura.
nos buscou em casa. Assim que chegamos à solenidade, vi o com a vadia da Green. Você acredita que ele olhou dentro da minha cara e não falou comigo? Ele era um merda, imbecil mesmo! Segurei no braço de com força e entramos no recinto. Tive que passar duas horas sentada escutando o diretor falar um monte de besteiras sobre cada aluno que estava se formando. Aquilo realmente estava me dando sono, tirando que fez questão de se sentar a minha frente e seu perfume vinha todo para cima de mim. Desgraça! Logo depois fomos para a festa (baile) de formatura dos veteranos, que estava sendo na escola também. Mas aquela festa ali só era para nós, porque a verdadeira não estava sendo nem ali. Meus pais ficaram sentados em uma mesa, deixei minhas coisas com eles. Estava tudo bom demais, curti e dancei muito com , e a Perez, até que ela era uma menina legal. Não estava mais aguentando ver ficar esfregando a Green na minha cara, dançando e se agarrando com ela para quem quisesse ver. Não me segurei, larguei o e fui na direção deles. Senti alguém segurando meu braço com muita força e me virei para ver que era o filho da mãe que ousava fazer isso. Engoli em seco quando reconheci Paul – um dos "amigos" de Jared, se assim posso dizer. Ele saiu me puxando para fora do baile sem que desse tempo de eu pensar em algo. A sorte foi que ninguém nos viu. Bem, não sei se posso dizer que foi sorte. Assim que chagamos no corredor bem afastado de todo aquele barulho, ele começou.
– Fiquei sabendo que foi sua culpa o Jared ter morrido. – Paul falou, me jogando para frente.
– Eu não sei de nada. – Falei me virando para ele.
– Como não sabe! Você estava lá! Pelo que fiquei sabendo quem o matou foi você.
– Não sou assassina. – Rebati.
– E você é o quê? Apenas uma ladra, né? Esqueci. Seria muito tapada para conseguir fazer algo desse tipo. – Disse pegando em meu braço.
– Não sou nada disso e tira a sua mão de cima de mim! – O empurrei. – O que você veio fazer aqui?
– Vim dizer que estou na sua cola e na cola do seu papaizinho de perna quebrada. Sei onde ele mora, então se liga! – Paul apontava o dedo na minha cabeça, fazendo um sinal de arma. – Acho que você conheceu meu amigo Louis.
Peguei Paul pelo colarinho e o prensei contra os armários, que fez um barulho alto.
– Fique longe da minha família, se não a mesma coisa que aconteceu com o Jared, com você vai ser muito pior. – Disse, praticamente rosnando. – E manda o seu amigo ir pastar, se não quer que eu arrebente a cara dele novamente.
– Cuidado, não dei o mole de vir sozinho! Anda na linha comigo, se não seu papaizinho e irmãozinho vão dar um passeio para bem longe.
– Não tenho medo das suas ameaças. Bem, você sabe, como o Jared, eu também tenho as minhas costas quentes. Então presta atenção onde está pisando comigo. – Enfiei o dedo na sua cara.
– Vamos voltar pra festa antes que alguém nos veja, e presta atenção, pois estou de olho em você. – Ele se achava o maior.
– Já disse que não tenho medo. – Soltei seu casaco e sai andando.
Quem ele pensava que era para me ameaçar daquele jeito? Se ele tinha seus contatos eu também tinha os meus. Voltei para o baile. O que eu ia fazer mesmo? Ah é. Falar com o . Fui até ele, passando entre as pessoas, quase as empurrando.
– Posso falar contigo? – Perguntei séria, olhando para ele e Green, que estava ao seu lado.
– Não tenho nada para falar com você, garota. – Disse com grosseria, me desprezando completamente.
– Ok. – Saí andando, morrendo de raiva.
Ridículo! Não sei por que tive educação com ele agora. Merecia uma bela de uma bifa no meio da fuça, isso sim. Sentei no bar e pedi um refrigerante, já que aquele troço não me serviria álcool de jeito nenhum. Vi se sentando ao meu lado.
– Posso saber o que aconteceu para você ter me deixado lá sozinho?
– Foi mal, , não estou muito bem. Me desculpe. – Disse o abraçando de lado. – Um amigo de Jared está aqui e veio me ameaçar. – Disse em seu ouvido.
– Onde?
– Ele já foi, deixa isso quieto. – Falei desanimada.
– O que foi, ? Você está estranha. O que ele te falou? – ficou de pé entre minhas pernas.
– Nada demais.
, contato muito perto desse jeito é perigoso! Isso está excitante. Tudo bem que ele é meu amigo, mas não posso negar jamais que não é um baita de um filé e um dos gostosos. Ele com aquela camisa de botão branca, gravata lilás, terno e aquela calça jeans escura, estava simplesmente de matar! E seu cabelo jogado todo para trás? Não vou nem comentar. Acho que babei no meu amigo agora. Pare com esses pensamentos não permitidos, menina. passou a mão em meu rosto.
– Você estava tão feliz, de repente ficou assim, por quê?
– Não é nada, , estou bem. – Dei um sorriso. – Vamos dançar?
– Por que não consigo acreditar no que você está falando? Sei que está escondendo algo de mim. – Eu sempre escondo algo das pessoas.
Menino, te detesto! Quando começou a me conhecer desse jeito? Vi se aproximar junto com Green, sei que vou me arrepender por isso.
– , me desculpe.
– Se desculpar… – Eu o beijei.
Minha língua invadiu a boca de sem pedir licença, mas ele não retribuiu o beijo. Não faça isso comigo na frente do , não me empurra. Senti sua mão tocando minha cintura com delicadeza e depois nos separamos com calma.
– O que está acontecendo? – Perguntou encostando sua testa na minha.
Mordi meu lábio inferior com receio de falar.
– Me desculpe por isso. – Soltei o ar de meus pulmões. – Não fique com raiva de uma idiotice minha.
– Só se você me explicar por que fez isso. – Ele falava tão calm, aquilo me trazia paz.
– Deixa, , eu sou uma burra mesmo. – Levantei e saí dali o mais rápido que pude.
Faça isso mesmo! Estrague a única amizade que você tem por causa de…de… não posso admitir isso. Eu estava morrendo de ciúmes do com a Green, aquilo me corroía de dentro para fora. Fui para o segundo andar do prédio e me sentei na escada. Ainda dava para ouvir a música do baile tocando. Estava muito frio e meu corpo tremia. Desejei estar com meu casaco de moletom e toca agora. Fiquei ali sentada na escada fria por um bom tempo. Escutei passos no corredor, mas como estava meio escuro, acho que ninguém me veria ali, então continuei onde estava.
– Você vai acabar pegando uma gripe sentada nesse chão gelado e ainda mais com essa roupa. – A voz de ecoou pelo corredor, o que me fez levantar a cabeça e encarar aquele ser na minha frente.
– O que isso importa? – Dei de ombros. – Será bom se eu pegasse logo uma pneumonia e morresse de uma vez.
– Você é sempre tão grossa. Depois não sabe por que as pessoas se afastam.
– Nunca pedi para elas se aproximarem. – Retruquei. – Desiste logo, . – Levantei e comecei a subir o restante dos degraus que dava acesso ao terceiro andar.
– Seu sobrenome deveria ser arrogância. – Veio atrás de mim.
Sua mão quente tocou a minha que estava extremamente gelada.
– Nunca vou desistir de você. – Sussurrou.
– O que você quer? Fala logo! – Eu estava começando a me exaltar. – Nem estava olhando para a minha cara direito e agora vem… – me puxou pela cintura e selou nossos lábios.
Nossas línguas se entrelaçaram com fervor. Minhas mãos estavam espalmadas em seu peito e foram subindo até seu pescoço, entrelaçando sua nuca. Meus dedos se mesclaram com seus cabelos, enquanto as mãos dele estavam em minhas costas e cintura, me abraçando, não se decidiam muito bem onde ficar. Fiquei derretida em seus braços. Por fim, nos separamos pela falta de ar. Demos as mãos e subimos para o terceiro andar, correndo e nos agarrando pelo caminho, até que entramos no banheiro feminino no final do corredor. Estava tudo escuro e assim permaneceu. me sentou em cima da pia gelada de mármore, o que me fez tremer e arrepiar todos os pêlos do meu corpo.
– Está com frio? – Perguntou entre o beijo.
– Morrendo. – Disse mordendo seu lábio inferior e puxando devagar.
– Vou te esquentar. – Sussurrou em meu ouvido e meus pêlos da nuca se eriçaram todos.
Soltei um riso safado. começou a beijar meu pescoço. Passei a mão em seus ombros, tirando seu terno e fazendo-o cair no chão. A mão dele foi levantando meu vestido até a altura de minha coxa, a tocando e apertando-a. Sua boca se colou na minha. Logo depois arranquei sua gravata preta e abri os botões de sua camisa, igualmente preta, bem devagar. Agora sim, queria que uma luz estivesse acesa para poder deslumbrar o corpo de . Mesmo não conseguindo enxergar, alisei seus peitos e barriga. Meu comentário: "Para um garoto de 16 anos, ele estava além das expectativas!" Seu peito era bem forte e musculoso, o abdômen era milimetricamente definido, pelo que senti. Fui descendo as mãos até que encontrei duas entradas cavas. Perdi o ar quanto aquilo. Como que não percebi antes o quão gostoso e tesudo era o ? Desabotoei seu cinto e logo depois o botão da calça, deslize meus dedos trêmulos e gelados pelo zíper, os abrindo. As mãos dele apertaram minhas coxas com força quando toquei em seu membro ainda por cima da cueca. Não paramos de nos beijar, era até meio que impossível disso acontecer. Meus dedos percorreram para dentro de sua cueca, abaixando um pouco ela. Então comecei a masturbá-lo, intercalando a velocidade de minha mão; ora muito rápido, ora bem lentamente, feito uma tortura. Escutei um leve gemido sendo preso em seu peito, o que me fez dar um sorriso breve. Ele me puxou para mais perto de seu corpo, sem que percebesse, já havia o aberto o zíper de meu vestido. Tenho que fazer essa nota mental: " tem a mão leve demais". Continuamos a nos beijar, minhas unhas passavam de leve em sua costela, o que o fazia se arrepiar. me colocou de pé e fez com que meu vestido deslizasse pelo meu corpo e atingisse o chão, me deixando com apenas o sutiã meia taça preto e uma calcinha de shortinho cavadinha da mesma cor. Me prensou contra a pia gelada e beijou meu pescoço. Sua boca foi descendo, ele puxou a corrente de meu cordão com os dentes e logo após passou a língua quente em meu peito. Joguei a cabeça para trás, fui surpreendida quando o senti beijando meu seio sem o sutiã. Como que esse menino faz isso? Arrancou mais uma peça minha sem que eu percebesse, isso está começando a ser realmente assustador. Bem, ele é de outro mundo mesmo. me sentou novamente na pia. Um arrepio me percorreu quando seus dedos invadiram minha calcinha e tocaram meu clitóris. Prendi a respiração e segurei seu ombro com força. Seus movimentos eram circulares, não demorou para que ele me penetrasse com dois de seus dedos. Segurei para não soltar um gemido, mas acabou saindo algo de minha garganta, uma espécie de grunhido, sei lá, a única coisa que sei, era que estava ficando louca com seu toque. Meu coração estava acelerado como nunca esteve. Estava começando a ser difícil de respirar, meus braços estavam agarrados ao redor de seus ombros, os apertando. Eu já não sabia se aquilo que eu estava sentindo era real ou não. Estava entorpecida por aquilo que nunca senti na vida. Meus gemidos eram incontroláveis. Precisava de sentir os lábios dele nos meus, rapidamente o fiz. Nos beijamos com intensidade, minha língua brigava com a dele, para ver quem tomava mais espaço um na boca do outro, parecia que íamos nos engolir a qualquer momento. Não sei como que ele fez aquilo, mas tive meu primeiro orgasmo sem ao menos ter me penetrado. Mordi seu lábio inferior com força. Mudei nossas posições e abaixei até a altura de sua virilha, soltei um sorriso pervertido antes de descer sua cueca completamente e envolver minha mão em seu membro enrijecido. De leve passei minha língua por toda sua extensão, fiz questão de provocá-lo todo o momento, então comecei a chupá–lo. Notei que amava escutar seus gemidos, aquilo me excitava cada vez mais. Era delicioso vê-lo aquele jeito, sendo só meu e de mais ninguém. Sua mão repousou sobre meus cabelos, o alisando. Seu membro estava pulsante, me levantou e me encostou contra a parede super gelada. Soltei um gemido quando sua boca encostou-se na minha e depois se afastar. Não sei o que ele estava fazendo, parecia que procurava por algo, e logo percebi o que era pelo barulho. Escutei rasgando um pacotinho de camisinha, tirei minha calcinha. Logo ele agarrou minhas coxas e me levantou fortemente, enlacei minhas pernas em torno de sua cintura então senti sendo invadida com tudo. Uma onda devastadora de prazer tomou conta do meu corpo na mesma hora. Minhas unhas viraram garras em suas costas, nossos gemidos ecoavam pelo banheiro cada vez com mais frequência, a cada minuto que se passava, nossos corpos começavam a suar, o cheiro da pele dele me entorpecia, parecia um veneno. Dei um beijo suave em seu ombro, encostei minha cabeça no azulejo, minha testa estava franzida, meus lábios presos entre meus dentes, impedindo que meu gemido saísse e meus olhos estavam fechados. apertava minha bunda e também prendia um pouco de seus gemidos, meus braços não se largavam de seu corpo quente e suado por nada. Depois de algum tempo, atingi meu clímax, meu corpo completamente mole. ainda investia com tudo e, assim como eu, ele também atingiu seu ponto máximo. Escorremos pela parede lentamente e sentamos no chão gelado, que estava até agradável agora. Deitei minha cabeça sobre seu peito, meu corpo tremia mais do que qualquer coisa, me sentia tonta e leve. O que ele fez comigo, meu Deus? Dei um sorriso débil. me abraçou, era reconfortante aquilo, ele deu um beijo em minha cabeça. Pude escutar seus batimentos cardíacos que, assim como o meu, estavam acelerados; meu coração parecia que iria sair quando menos esperasse. Entrelaçamos nossos dedos e sua mão estava que nem a minha. Tremendo. Dei mais um sorriso. Assim que senti minhas pernas reagirem aos meus comandos novamente, levantei.
– Aonde vai? – A voz rouca de me assustou.
– Me vestir, afinal, não quero pegar uma gripe. – Ri e ele riu junto. – Acho que vai ser meio difícil de achar alguma coisa aqui.
– Por quê?
– Bem, além deu estar meio retardada, não tô vendo nada. Me empresta o seu celular. – Pedi.
– Tá zuando, né? Como que você quer que eu ache ele? Mal achei minha carteira àquela hora. – Soltou uma risada. – Acenda a luz.
– Eu não.
– Está com vergonha? – Aquilo me soou um tanto quanto provocativo.
– , não começa. – Caminhei até a porta do banheiro e achei o interruptor. – Feche os olhos.
– Ah, para de graça, . Está com vergonha agora depois que fez?
– Fecha os olhos! – Repeti meio irritada.
– Tá.
Acendi a luz e o olhei sentado no chão, encostado na parede. Agora minhas pernas começaram a bambear novamente quando vi aquele corpo perfeito estirado ali.
– Já posso abrir? – Perguntou de repente.
– Er... Não! Espera. – Corri até minhas roupas, pegando minha calcinha e meu sutiã e os colocando rapidamente. – Agora pode, mas não olha para mim!
Ele abriu os olhos e me encarou.
– Por que não olharia? Nossa. – Seus olhos repousaram sobre minha tatuagem.
Não dei atenção para o que disse. Peguei meu vestido e o vesti.
– , fecha aqui atrás para mim. – Pedi.
Ele se levantou, vestiu sua cueca boxer e veio até mim. Beijou meu pescoço, passando as mãos em minha cintura e me prensando contra seu corpo. Fechei os olhos e minha mão foi até sua nuca, a alisando; dei um sorriso bobo.
– Você é linda. – Sussurrou em meu ouvido e me arrepiei. – A mais linda que já vi.
– Feche meu vestido, por favor.
– Já fechei. – Ele riu.
Seu ridículo! Como que você faz essas coisas? Por acaso é uma espécie de bruxo ou algo parecido? Me virei para ele e lhe dei um selinho.
– Não vou te deixar ir embora. – Disse sorrindo.
– Quem disse que preciso da sua permissão?
– Não estou falando em permissão, estou falando que você não vai sair daqui. – Me beijou.
, você tem que parar com isso, sério mesmo, assim me deixa louca. Sua boca é viciante demais, é pior do que qualquer droga que já experimentei, melhor do que qualquer bebida que já tomei, melhor do que qualquer coisa que já provei. Peste. Nos separamos e quando olhei nos olhos dele, me perdi.
– Pare de fazer isso comigo. – Falei sem pensar.
– Fazer o quê? – Ergueu uma sobrancelha.
– Tudo isso. Está me deixando confusa. Acho que já conseguiu o que quer, então vou embora. – Saí andando, mas segurou meu braço.
– Você acha que só queria transar com você?
– Mais o que você iria querer de mim? Não tenho nada além disso para te oferecer, garoto. – Me soltou, então saí do banheiro sem olhar para trás.
Desci as escadas correndo, entrei no banheiro do segundo andar e me olhei no espelho. Eu estava meio descabelada e com a maquiagem borrada. Arrumei tudo à medida do possível e voltei para a festa. Precisava de uma bebida. Me debrucei sobre o balcão.
– Justin. – Chamei o garçom.
– Diga, .
– Pelo amor de Deus, você tem alguma bebida que tenha álcool aí? – Pedi.
– Não estamos servindo nenhum tipo de bebida alcoólica.
– Que merda! Valeu. – Saí dali.
Eu tinha que sair daquele lugar, fui até a mesa onde só estava minha mãe e Josh.
– Mãe, vou embora. – Falei pegando meu sobretudo.
– Está bem filha. – Respondeu com um sorriso no rosto.
Não vi meu pai, ele deve ter ido ao banheiro. Então saí andando rapidamente, vestindo meu casaco. Assim quando passei pela porta de saída, vi meu pai encostado em um carro, fumando seu cigarro mediano.
– Aonde vai filha? – Perguntou assim quando me viu.
– Vou embora, já cansei desse lugar. – Respondi ríspida.
– Mas você estava tão animada para vir. O que houve?
– Aff. Um idiota tirou todo o meu ânimo. – Me referi à .
– Será que foi só isso?
Uni as sobrancelhas, sem entender muito bem do que ele estava falando.
– É. – Passei por meu pai.
– Volta aqui, , vamos conversar.
– Hãm? Conversar sobre o quê? – Perguntei me virando para ele, já parando de andar.
O vento frio bateu em minha nuca, fazendo-me arrepiar por inteira e então abracei meus braços com força.
– Você sabe do que eu estou falando, não se faça de besta.
Me aproximei dele, peguei o cigarro de sua mão e dei uma tragada.
– Agora é sério, não sei do que está falando. – Realmente não tinha ideia.
– Ouvi a sua conversa com seu tal amigo Paul, é esse o nome dele, né?
Fiquei assustada quando disse aquilo, mas não deixei transparecer.
– O que tem o Paul? – Perguntei tranquilamente.
– O quê vocês estavam conversando? Não minta pra mim!
– Sobre o Jared. – Dei de ombros.
– Hum, o que houve com ele? Esse tal de Jared. Você parecia com medo.
– O senhor sabe, Jared morreu. O que quer saber?
Meu pai me pegou pelo braço com raiva, confesso que tive medo de apanhar ali mesmo.
– Não se faça de tonta, eu já sei de tudo, sem querer, ouvi a conversa de vocês dois.
Que bom, não teria outra pessoa melhor para ouvir.
– O que quer ouvir? Que a sua filhinha linda era uma ladra? Ah, fala sério. – Puxei meu braço.
Levei um tapa no meio da cara.
– Como é que pode? Não é possível. Sua mãe sabe disso?
– Hey! Isso dói! – Reclamei, botando a mão no rosto.
– Agora vamos para casa e você vai me contar isso direitinho.
– Argh. – Fui andando atrás do velho manco com sua muleta.
Pegamos um táxi e logo chegamos em casa.
– Agora me conta essa história direito. – Disse com muito ódio.
– Tá. – Sentei no sofá. – Eu e Jared, nós roubávamos, assaltávamos a mão armada, mas nunca matamos ninguém e éramos traficantes também.
Levei outro tapa na cara, isso doeu muito. Caí no sofá com isso. Nunca queira levar um na vida.
– Tá maluco? Está me machucando.
– Antes tomar de mim que sou seu pai, do que de outro que não é nada. E aí, será que dá pra me contar direito ou não? E parar de ser criança? Porque pra roubar você não era. O que aquele cara queria?
– Seu grosso! Estou contando direito! Nós fazíamos isso! Você quer que eu fale como? Querido papai nos éramos trombadinhas, vendíamos coisas ilegais e pegávamos objetos valiosos que não eram nossos com armas de fogo em mãos, mas nunca viemos a agredir ninguém. E agora, assim está bom? – Enquanto falava, eu gesticulava de uma forma elegante. Debochei, me levantando do sofá e colocando a mão na cintura. Se meu pai tentasse me dar outro, tapa não conseguiria, agora eu podia correr. – Paul acha que foi eu quem matou Jared.
– Como pode isso? Tua mãe pelo visto não mudou nada. Não te deu educação, não te ensinou o certo e o errado, sua imbecil, vai já pro teu quarto antes que eu perca a minha paciência.
– Você fala isso por que não estava no meu lugar! – Retruquei. – Não era você quem passava fome e frio! Minha mãe não compra merda nenhuma para mim ou para o Josh, você queria que me virasse como?
– Você é uma idiota! Se realmente queria mudar de vida, corresse atrás e não virasse uma bandida.
– Não virei uma bandida, mas estudo e tinha que tomar conta do Josh, não havia tempo para trabalhar e sempre depois da aula eu ia para a detenção. Você fica me julgando ao invés de me entender.
– Maldita hora foi à hora que você nasceu! Jamais imaginava ter uma bandida na família.
Aquilo foi pior do que levar um tapa na cara. Peguei as chaves em cima da mesinha de centro.
– Então esqueça que tem uma filha. – Falei segurando as lágrimas.
– E você, esqueça que tenha família e volte com os seus machos do tráfico.
– Obrigada! Era tudo que eu precisava! Ser renegada pela minha única família. – Senti minhas bochechas ficarem molhadas.
– Você se renegou, é diferente! Vou embora e se precisar de ajuda, sabe onde me achar. Embora tenha dito essas coisas, você continua sendo minha filha. – Uma lágrima correu pelo rosto dele e ele limpou rapidamente. Me deu um beijo na testa e foi andando em direção à porta.
– Você não vai precisar de ajuda para terminar a reforma da casa? – Perguntei antes dele sair. – É meio difícil fazer alguma coisa com a perna quebrada.
– Depois vemos isso.
– Eu não faço mais nada disso. Só queria que soubesse. – Falei olhando para baixo.
– Tchau, . – Disse fechando a porta.
– Merda. – Fui atrás dele. – Pai, me perdoa. Não quero que fique magoado comigo. – Ele parou de andar e me olhou.
– Tudo bem, minha filha, me desculpe pelas coisas que disse também. – Disse voltando e me abraçando. Ele também chorava.
– Você é a única pessoa que gosta e se importa comigo. Sei que sou uma burra estúpida por nunca ter visto isso antes, mas me perdoe. – Agora eu também chorava.
12 de fevereiro, segunda–feira. Primeiro dia de aula.
Após as férias entediantes na casa do meu pai o ajudando a reformá-la, voltei finalmente para meu "apertameneto".
Só faltava dar pulos de alegria quando acordei. Tomei um banho quente e me vesti. Peguei minhas coisas e fui para a escola. Assim quando cheguei, encontrei e sentados na escada conversando.
– Bom dia! – Pulei na frente deles com um sorriso enorme.
– ? – indagou. – É você mesmo, cara?
– Sim, seu bobo. – ri.
– . – levantou e me deu um abraço apertado, me tirando do chão. – Que saudades!
– Também estava com saudades. – Retribui o abraço.
– Eu também quero abraço. – fez um biquinho, ele já estava de pé ao meu lado.
– Ah, seu besta. – Pulei em cima dele, o abraçando. – E aí, meninos, acho que chegamos cedo demais.
– Que nada, olha o ali. – Disse e me virei para olhá-lo.
Ele estava lindo, acho que minhas bochechas coraram, mas logo meu sorriso sumiu quando vi Green ao seu lado, eles estavam de mãos dadas.
– Oi, ! Oi, . – disse rindo para os amigos e depois se virou para mim. – Oi, . – Falou comigo sem empolgação alguma, sua face era séria e sua voz seca.
– Oi, . – Mesmo assim não me deixei abater, dei um sorriso grande. – Oi, Green.
me olhou e riu.
– Olá, . – A menina nojenta disse com indiferença. – Oi, meninos. – Se assanhou toda.
Puta! Mantive minha pose, não iria me rebaixar ao nível daqueles dois. Eles seguiram caminho então me sentei na escada junto com e . Demos boas risadas e rimos bastante contado como foram as férias. Perez chegou e se uniu a nós. Vi uma menina entrar na escola, pelo que percebi, era nova, do jeito que olhava para os lados. O sinal tocou. Coloquei minha mochila no ombro.
– Vamos matar a primeira aula? – Perguntou .
– Estou doida para saber quem são os novatos, eu vou para a minha. – Disse Perez.
– Aí, , ela está te trocando pelos novatos. Hein, Perez, não te tiro a razão, será que entrou muito gatinho esse ano? – Perguntei com um sorriso pervertido no rosto.
– , você está muito assanhada. – me abraçou. – Tenho que tomar cuidado contigo.
Olhei para ele e ameacei avançar em cima dele, o que o fez correr.
– Hey, , volte aqui! – Gritei. – Está com medo de mim?
– Sei lá, você é meio doida, vai que me ataca?
e Perez riram.
– Até parece que você não ia gostar que uma gostosa assim como eu te atacasse. – Brinquei.
– Opa, se ele não quer, eu quero. – Disse , que recebeu um tapa no braço de Perez. – Quero não. – Corrigiu.
– Acho bom mesmo. Anda, vamos para a aula. – A menina saiu arrastando ele pelo casaco.
– , me espera! – Corri atrás do menino.
– Anda, sua lenta. Qual é a sua primeira aula?
– Hum… – Coloquei o indicador em meu queixo, fazendo cara de pensativa. – Acho que é Química, não sei. – Enfiei a mão no bolso as calça e tirei o papel que tinha meus horários. – 1ª Química, 2ª Física, 3ª Literatura, intervalo, 4ª e 5ª Matemática, 6ª Inglês. E os seus?
pegou um papel de dentro do casaco.
– Igual ao seu.
– Tá me zuando, né? – Peguei o papel de sua mão e passei os olhos. – , o que você aprontou? – Ele riu.
– Nada.
– Você subornou quem? – Perguntei incrédula. – Todas as nossas aulas da semana são juntas.
– E do , Perez e também. – O menino tinha um sorriso de orelha a orelha.
– Eu não acredito! Você tinha que meter o no meio? Já não bastava eu ter que olhar para a cara daquele babaca uma aula ou outra e nos intervalos, você ainda me coloca ele juntos conosco em todas as aulas?
– Calma! O é meu amigo também. Não foi minha intenção te deixar com raiva.
– Desculpe por esse meu ataque. – Não sabia como reagir com aquilo. – Como você conseguiu isso?
– Invadi o sistema da escola e mudei nossos horários. – Falou aquilo como se fosse uma coisa simples.
– Depois a nerd sou eu. Anda, vamos. – O peguei pelo braço e saí puxando-o para a sala.
Bati na porta duas vezes antes de entrar.
– Com licença. – Falamos assim que entramos.
– e , no primeiro dia já chegando atrasados. – Repreendeu o Sr. Hill.
– Nos desculpe, não estava achando meus horários e o estava me ajudando.
– Tudo bem, vão se sentar.
Eu e prendemos o riso, nos sentamos no fundo da sala.
– Para de rir. – Falei baixinho, o que fez soltar uma gargalhada e eu abaixei a cabeça segurando a minha.
– Algum problema, Sr. ? – Escutei o professor perguntar.
– Nenhum, senhor. – abaixou a cabeça segurando os risos.
– Pára com isso, menino. – Dei um empurrão nele.
Recebi uma bolinha de papel na cabeça e olhei para ver o que era. Desmanchei e li o recado.
"Precisamos conversar. xx ”
Esperei ele se virar para mim, assim quando me olhou, dei o dedo do meio para ele. Babaca!
– O que foi? – perguntou vendo a cena toda.
– O me irritando, o que podia ser?
– Mas já no primeiro dia?
– Para você ver como é. – Torci os lábios.
Recebi outra bolinha de papel.
"Eu até tento ser sociável com você, mas tá difícil! xx"
Mostrei para . Abri minha mochila, peguei meu caderno e estojo.
– O que você vai escrever?
– Não sei, tô pensando. – Respondi.
Peguei uma caneta preta e fiquei batucando na minha mão, tentando pensar em alguma coisa. Comecei a escrever.
"Sociável? Me poupe, ! Agora pouco você me tratou como se eu fosse um nada, um ninguém, só porque estava junto com a Green. Não sou otária. Se tivesse algo para conversar comigo, já teria me ligado. Não me irrita, mas acho difícil você entender! Já me irritou mesmo só de me olhar com essa sua cara ridícula. xx "
Taquei a bolinha de volta para ele, que leu, escreveu algo e me tacou de volta.
"VOCÊ é muito grossa. Já que não quer escutar o que tenho para falar, foda-se! xx ”
Peguei a caneta e respondi.
"Vindo de você não deve ser bom mesmo, não estou afim de escutar suas besteiras. xx "
Taquei a bolinha nele com força. Ele leu e não respondeu mais. A aula se passou lentamente. Assim quando o sinal tocou, levantei guardando minhas coisas com raiva e caminhei para a porta onde fez questão de me esbarrar com força.
– Olha por onde anda! – Rosnei.
– Ah, desculpe, eu não te vi. – Disse irônico.
– Vai se fuder, .
– Pára de brigar. – falou em meu ouvido, pegou meu braço e saiu me puxando para fora da sala.
Fomos para a sala de física. A aula se passou lentamente. Que saco. Abaixei a cabeça na mesa e fiquei escutando música. 3ª Aula, literatura. Me sentei na última carteira com logo a minha frente.
– Bom dia, classe. Meu nome é Charlotte. Algum de vocês devem me conhecer, sou a psicóloga da escola e agora serei a professora de Literatura de vocês.
Olhei para ela e dei uma risada.
– Que ironia, né? – Não me contive.
– Oi, . Vejo que continua a mesma pessoa agradável de sempre.
Escutei algumas risadas e uma delas foi de .
– Na medida do possível, sabe como é, tenho muitos idiotas para xingar. – Semicerrei os olhos.
riu junto com .
– Bem, hoje vou pedir que escrevam um pequeno texto sobre vocês. Para eu poder conhecê-los melhor.
Houve vários múrmuros na sala. Peguei meu caderno e uma caneta.
– Pode falar palavrão no texto? – Adorava implicar.
– Se isso te faz se expressar melhor, fique à vontade. – Charlotte rebateu.
Não respondi, apenas dei um sorrisinho. Comecei a escrever.
Bem, eu poderia ser bem mal educada e escrever bem grande no meio da folha que não preciso falar nada de mim, porque você já me conhece, mas como decidi ser mais educada com as pessoas, não irei fazer isso. Se quer mesmo saber sobre mim, vou lhe contar.
Sou uma garota de 16 anos e farei 17 esse ano. Graças a Deus, né? Moro com minha mãe e meu irmão, meu pai é um falido que amou a vaca da minha mãe e acha que meu irmão não é filho dele. Tenho um amigo que sempre me ajuda com tudo, , um menino de ouro, eu faria qualquer coisa por ele. Eu tinha um namorado que era um traficante, assassino e ladrão, ele me chifrou com uma puta, mas também não posso reclamar, pois ele me ensinou muitas coisa, entre elas: roubar, tocar violão, consertar carros, falsificar, traficar, transar, retirar balas do corpo, fazer curativos perfeitos, atirar, Le Parkour, bater e, acima de tudo, nunca deixar as pessoas pisarem em mim. Me ensinou a nunca temer por nada, a ser eu mesma por qualquer circunstância que seja, a ser fiel a quem é comigo, nunca confiar em qualquer pessoa e também em saber com quem estou lidando. O que absorvi disso tudo, você deve estar se perguntando. Bem, tudo. Eu sei fazer isso tudo e muito mais que aprendi com amigos dele e sozinha. Agradeço muito a ele por isso! Ele foi tudo para mim. Tudo mesmo. O pior que pensei que o amava, mas não. Não é ele quem eu amei de verdade. Para falar a verdade, não sei nem que bosta é essa, ou talvez sei, só não quero admitir. Amo escutar música, ela faz parte da minha vida. Josh, meu irmão mais novo, um doce de criança, a mais doce que já conheci, meu anjinho e também minha vida, não sei viver sem meu pedacinho de céu. Tem o , meu fofo, sempre tentando se aproximar de mim de alguma forma, ele é uma pessoa boa, eu deveria tratá-lo bem. A Perez tem sorte de estar com ele. Ah, sim, deve estar esperando que eu fale algo sobre o , pois bem, não tenho nada pra falar dele. Acho que da minha vida é só isso mesmo.
Revisei o texto, entreguei a Charlotte e voltei para o meu lugar.
– O que você escreveu? – Perguntou .
– Bem, algo que a faça achar que sou uma louca. – Ri.
– Você não presta.
– Eu não sei de nada. – Fiz cara de sonsa.
Assim quando o sinal bateu, saímos da sala. Guardei minhas coisas no armário e fui andando pelos corredores, até que vi Green empurrar uma menina. Me aproximei para ver o que estava acontecendo.
– Algum problema? – Perguntei ríspida.
Green me olhou e saiu andando.
– Fracassada. – Disse para a menina que estava no chão recolhendo suas coisas.
– Green, por que não bate com a sua cabeça na parede? Você acha que é melhor que todo mundo só por que tem uma situação financeira boa. Mas cara, você não é melhor que ninguém, pare de humilhar as pessoas. – Falei alto para que ela escutasse.
– Olha quem fala. A filha da prostituta e do bêbado. – Ela debochou da minha cara.
– Se você está tentando arrumar confusão comigo, isso não vai dar certo. Pode falar o que quiser, o que vem de você não me atinge. Prefiro ser filha de quem for, mas pelo menos EU não sou uma puta vadiazinha que já deu para o time de futebol inteiro. – Debochei.
– Prefiro ser uma vadia do que uma traficante e ainda fugir da polícia. – Ela tinha toda a sua pose de poderosa.
– Olha, cuidado comigo então, se sou assim como você fala, posso ser muito perigosa, ainda prefiro ser traficante do que uma puta. Falou galinha? – Dei um sorrisinho. – Você está bem? – Perguntei estendendo a mão para a menina que estava ajoelhada ainda recolhendo seu material.
– Estou.
Quando olhei para Green, ela vinha em minha direção, mas a segurou.
– Você está louca em tentar bater nela? – Escutei ele perguntar ao seu ouvido. – A vai te arrebentar.
Fingi que não escutei, já que ele tinha falado baixo. Ajudei a menina a se levantar.
– Não esquenta a cabeça com essas meninas. – Falei. – Precisa de ajuda com livros? – Perguntei já pegando alguns de sua mão. – Vejo que não sabe onde fica seu armário.
– É, ainda não o encontrei. – Respondeu a menina.
Olhei para Green que estava vermelha de ódio.
– , você tem que fechar seu galinheiro direito, se não a Green sai ciscando por ai. – Provoquei.
– Fica na sua, . – Rebateu ele e saiu dali puxando Green junto de si.
– Vamos, vou te ajudar a se organizar. – Falei.
Ajudei a menina a achar seu armário e mostrei onde ficava as salas de suas próximas aulas.
– Você faz aula de Literatura junto comigo. – Falei.
– Sim. Qual é seu nome?
– , mas o pessoal me chama de . E o seu?
– Lais Walker. – Disse e sorriu. – Obrigada pela ajuda.
– Que nada. Bem, acho que você já viu qual é a minha reputação e não é uma das melhores.
– Não ligo para essas coisas, não importa o que as pessoas digam de você, o que importa é o que realmente é. E para mim você é uma pessoa boa. – Lais deu um sorriso.
– Nossa, valeu. – Fiquei meio sem graça depois daquilo.
Charlotte caminhava na nossa direção e parou na minha frente.
– Quero falar com você depois da aula. – Disse.
– Fiz alguma coisa? – Perguntei.
– Não. Depois da aula conversamos. – Charlotte voltou de onde veio.
– Eu, hein. Vamos no refeitório? – Perguntei. – Estou morrendo de fome.
– Vamos.
Fomos para o refeitório, pegamos algumas coisas para comer e nos sentamos junto com e .
– , você não está mais andando com seus "amiguinhos" por quê? – Perguntei assim que me sentei.
– Meus únicos amigos são vocês, para que vou ficar andando com esse bando de gente interesseira? – Deu de ombros dando uma dentada em sua maça.
– Concordo com ele. – Disse . – O que aconteceu lá no corredor?
– A Green estava implicando com a Lais. – Dei de ombros. – Gente, me perdoem, esqueci de apresentar vocês. Essa aqui é a Lais Walker. Lais esses são , e Dominique Perez.
– Oi. – disse , e Perez.
– Oi. – Lais sorriu para todos. – Prazer. Se quiserem podem me chamar de Lali.
– Pode me chamar de . E esse aqui é só você chamá–lo de qualquer animal que ele também atende. – Sorriu passando o braço no ombro de , o abraçando.
– Depende qual foi o animal. Pode ser… – interrompi .
– Pow, que tal bicho preguiça? Combina muito com você. Ou também pode ser… – Perez que me interrompeu.
– Mula, marmota, asno, esses também serve.
– Isso, rebaixa mesmo, esculacha o pobre aqui. – Ele fez cara de coitado e nós demos um "Ahhhhh".
– Larga de ser chato, . – Perez mordeu sua bochecha.
Nós todos rimos.
– Posso me sentar aqui com vocês? – perguntou.
– Senta aí, cara. – falou. – O que foi? A Green te deu um pé na bunda e você veio correndo para nós? – É, o não estava gostando nada do o trocar para ficar lambendo a bunda daquela vaca.
– Cuidado, , o está com ciúmes, é capaz dele até morder. – Brinquei.
– Ninguém te perguntou nada. – Respondeu com raiva.
Peguei minha bandeja e levantei da mesa sem falar nada. Eu não ia brigar com ele. Não mesmo.
– Depois é ela que é a grossa. – Escutei falando. – Hey, , espera.
Olhei para trás e ele estava se levantando.
– , não precisa se incomodar comigo. Quando um não quer, dois não brigam. Prefiro me retirar antes que eu vomite só de olhar para a cara desse infeliz. – Falei.
– Cala a boca, garota. – se levantou. – Já estou cansado das suas ignorâncias. Depois eu que sou a criança.
– Não me mande calar a boca, moleque. – Voltei até a mesa socando a bandeja sobre ela. – Te trato como você me trata.
jogou suco de uva na minha cara.
– Seu filho da mãe! – Peguei meu o copo de coca–cola e taquei na cara dele também.
– Minha blusa! Cola-cola mancha! – disse olhando para a própria camisa branca.
– Suco de uva também mancha! Já que está reclamando tanto. – Peguei um vidro de mostarda que tinha cima da mesa e espirrei em sua blusa.
– Sua vaca! – Exclamou e me tacou uma torta de limão na minha cara.
– ! Maldito! – Peguei o caldo que Lais estava tomando e taquei nele.
– Guerra de comida! – Escutei algum idiota gritando e começou a voar comida para todos os lados.
Tudo o que vi pela frente taquei no , assim como ele também tacou em mim. Argh! Antes que o diretor chegasse, saí do refeitório com muita raiva e fui para o banheiro.
– Merda! Merda! Merda! – Passei a mão em meu cabelo que estava um grude só, minha cara suja de torta e minha roupa imunda de um monte de coisas.
– , você é uma vaca. – entrou no banheiro.
– Esse banheiro é feminino, cai fora.
Ele veio até mim, me virou para ele e me prensou contra a pia.
– Tenho nojo de você. – Grunhi.
– Eu não. – se aproximou de meu rosto e lambeu o canto de minha boca. – Hum… Adoro torta de limão.
– Te odeio moleque. Desencosta. – Eu estava com raiva.
– Duvido. – Me provocou, roçando seus lábios no meu.
Tentação, saia de perto de mim, eu posso ser forte, mas nem tanto. Com ele me provocando assim fica difícil, né? O empurrei para dentro de uma cabine e a fechei com o pé! pegou em minha cintura a apertando. Eu o beijei com vontade e ele retribuiu sem pudor algum. Passei a mão em seus cabelos, que também estavam melados e puxei para trás.
– Eu disse que te odeio, não entendeu ou quer que eu desenhe? Se não acredita, você vai ver então. – Saí do banheiro com raiva e fui para outro tentar me limpar.
O diretor não liberou ninguém, tivemos que passar o resto das aulas todos sujos. Era engraçado, ficava toda hora tentando me fazer rir montando vários penteados com seu cabelo duro de tanta coisa agarrada nele.
– Pára com isso, . – Falei segurando o riso.
– Não estou fazendo nada. – Disse com uma cara de mongol.
Eu tinha prendido meu cabelo em um coque, estava melhor do que solto. Logo após a aula, fui até a sala de Charlotte, bati na porta.
– Pode entrar.
Entrei.
– O que você quer falar comigo? – Perguntei, parando em frente a sua mesa.
– Isso. – Colocou uma folha que logo reconhecia que era minha redação. – Você está de palhaçada com a minha cara ou realmente tem algum problema. Se isso foi uma brincadeira, não teve a menor graça.
– Não é brincadeira, você quis saber a verdade e eu falei. – Dei de ombro. – É só por isso que me chamou?
– Se é verdade, cadê esse seu namorado agora? – Charlotte estava séria.
– Morto.
– Garota, não estou brincando, pare de inventar as coisas. – Ela não acreditava em nenhuma de minhas palavras.
– Depois que souber realmente a verdade, vai querer se interferir na minha vida dizendo que preciso de ajuda. – Como sempre, fui ríspida.
– Se é mesmo verdade, me prove.
Levantei minha blusa.
– Está vendo essa cicatriz aqui? – Apontei para minha barriga, onde havia levado a última facada. – Foi a última, tomei uma facada na barriga quando brigava com um cara. Olha aqui. – Virei um pouco. – Minha tatuagem tampa um tiro que tomei em uma briga de boca de fumo. Quase morri.
– Você pode muito bem ter se machucado em casa.
– Então vamos fazer uma coisa, vou para a minha casa tomar um banho e comer algo, depois nos encontramos e eu te provo tudo que você quiser. – Sugeri.
– Por que quer me provar? Se você faz tudo isso mesmo, eu poderia te entregar para a polícia.
– Não me importo. Sei que posso confiar em você, nem a minha mãe sabe dessas coisas, me sinto sufocada em não falar nada com ninguém, o único que me entendia era o Jared, mas ele morreu e ao não tenho coragem de falar tudo isso, tenho medo de que ele pare de falar comigo.
– Que tal almoçarmos juntas e você me contar um pouco mais?
– Está bem, vou para casa tomar um banho, trocar de roupa e te encontro 13h00min no Marks, ok?
– Ok.
Fui para casa, tomei um banho e me troquei.
Cheguei na hora certa no Marks. Charlotte já me esperava no lado de dentro.
– Está muito tempo me esperando? – Perguntei tirando o protetor de orelha e o deixando cair em meu pescoço.
– Não, sente-se.
Fizemos nossos pedidos.
– Me conte sobre esse seu "namorado".
– Conheci Jared no parque, primeira vez que fugi de casa, eu tinha uns 11 anos. Ele foi legal comigo, disse que eu não podia sair de casa assim e me levou de volta. – Sorri ao lembrar da cena.
– Quantos anos ele tem?
– Quando morreu tinha 25.
– Grande diferença de idade. – Disse meio espantada.
– Isso nunca nos atrapalhou em nada. Depois disso eu sempre me encontrava com ele. Jared fala que era má influência para mim e não queria que eu tivesse a mesma vida que ele. Mas não me importei. Ele me ensinou tudo que sabia, sempre paciente, nunca deixava que eu me machucasse ou que outras pessoas fizessem isso. – Uma lágrima escorreu de meu olho.
– Você gostava muito dele, né?
– Uhum.
– Como que ele morreu?
– Um tiro na cabeça. – Falei como se fosse a coisa mais normal do mundo.
– Briga?
– Não. A culpa foi minha. – Falei.
– O que você fez?
– Ele me ligou a noite precisando de ajuda, fui ver o que era e depois chegou a polícia. Ele me fez de refém, consegui tirar a arma da mão dele, nós brigamos. Jared estava com muita raiva, ele iria me matar, então um policial deu um tiro em sua cabeça. – Eu estava chorando.
– Você não teve culpa. – Charlotte pegou minha mão. – Ele teve o que mereceu. Não se sinta culpada pelo erro dos outros.
– Mas se eu não tivesse reagido, ele estaria vivo agora.
– Talvez tenha sido melhor assim. Você disse que ele te traiu, certo?
– Sim.
Contei a Charlotte toda a minha história com Jared. Ela ficou chocada com tudo. Acabamos de almoçar e fomos dar uma volta. Vi sentado no banco da praça. Desviei o olhar.
– Oi, Charlotte. – Disse ele alto, acenando.
– Olá, . – Respondeu ela. – Vamos lá falar com ele.
Fui atrás dela sem falar nada.
– Tudo bem com você? – Perguntou ele todo se querendo. Babaca. Estava fazendo aquilo só para me provocar. – Oi, .
Não respondi.
– Responda ele, .
– Eu não falo com animais. – Dei um sorriso. – Eu vou ali comprar um café e já volto.
Não demorei, quando voltei os dois estavam aos risos na maior intimidade. Tive vontade de derrubar meu café sem querer em cima daquele panaca.
– Vamos, Charlotte. – Falei séria.
– Vamos. Tchau, .
– Tchau, Charlotte. – Ele deu um sorriso safado.
Me segurei para não falar nenhuma besteira.
– Por que você e o brigam tanto? Ele é um menino adorável.
– Adorável só porque quer te comer. – Joguei logo na cara. – Ele não presta.
– Como se o Jared também prestasse.
– Jared me entendia e não era a metade que esse…esse… – tentava encontrar a palavra para definir o .
– Esse? Você gosta dele. – Indagou ela, o que me fez engasgar com o café na mesma hora. – Como gosta e como está apaixonada por ele.
Senti o café saindo pelo meu nariz, comecei a tossir desesperadamente.
– Calma, tente respirar. – Charlotte dava uns tapinhas nas minhas costas.
– Não dá. – Minha voz saiu esganiçada.
– Meu Deus, menina, você vai morrer afogada com o café. – Ela abriu a bolsa e me deu lencinhos de papel.
Os peguei e me limpei, ainda tossindo.
– Tudo culpa sua. – Falei. – Fica falando esses absurdos sem pé nem cabeça. Até me engasguei.
– Absurdo nenhum. Você que ainda não reparou como olha para ele. E ainda ficou com ciúmes de mim.
– Pare com isso, Charlotte. – Ela estava me assustando. – Não gosto de ninguém.
– Está bem. Vamos naquela loja ali. – Disse apontando para o outro lado da rua onde tinha uma loja de instrumentos musicais.
Atravessamos e entramos nela, fiquei louca com os violões, um mais lindo que o outro. Peguei um azul marinho e me sentei em um banco.
– Toque uma música. – Pediu Charlotte, se aproximando.
– Não toco muito bem.
– Anda. Toca logo.
Pensei em uma música.
– Algo que signifique para você. – Completou.
Comecei a tocar For What It's Worth do Placebo, cantei com vontade. Além de eu adorar aquela música, era isso que eu sentia. Um garoto no balcão começou a sacudir uma paradinha que fazia o barulho de arroz na latinha.
– Got no friends, got no lover.
– Você canta muito bem. – Disse Charlotte.
– Obrigada. – Dei um sorriso fraco.
– Com licença. – Falou o garoto se aproximando.
– Estou incomodando? – Perguntei delicada.
– Não, que isso. Eu estava escutando você cantar… Bem, queria saber se está disposta a tocar em um pub.
– Um pub? Sério? – Não estava acreditando no que havia acabado de escutar.
– Sim. A propósito, meu nome é . – Disse estendendo a mão em minha direção.
– Prazer, sou e essa aqui é Charlotte. – Dei um sorriso cordial.
– Olá. – Falou Charlotte.
– Oi. Você aceita tocar no pub? – Voltou a perguntar.
– Que dia? – Perguntei. OMG eu tocando em um pub, deve ser sonho.
– Nessa sexta–feira. Você escolhe o seu repertório e lá paga por hora.
Olhei para Charlotte que tinha um sorriso no rosto e fez sinal positivo com a cabeça. Mordi o lábio inferior, segurando um sorriso.
– Está bem. – Concordei.
– Que bom. – me passou o endereço, tudo certinho.
Assim que saímos da loja e estávamos longe o suficiente, comecei a pular que nem uma criança no meio da rua.
– Nossa, menina, pára. – Charlotte ria.
– Charlotte, eu vou cantar em um pub. Eu não estou acreditando.
– Mas pode acreditar.
Capítulo betado por Larissa Console
8. Dessa vez você não tá enganada
12 de março, quinta-feira, madrugada chata.
Lá estava eu, em mais uma madrugada em meu quarto olhando para tela do meu notebook pensando em um novo enredo pra minha história da aula de literatura. Já era mais de cindo da manhã e isso estava virando uma obsessão, mas uma noite sem dormir, entre as demais mal dormidas. Estava revoltada comigo mesma por ter chegado a esse ponto. Tudo pelo simples fato de ter que encarar ele amanhã na escola com outra que não era EU! Não sei como fui me apaixonar dessa forma e ainda mais por aquele idiota mimado do ! Tenho repulsa de mim mesma só de pensar nisso. É, ele conseguiu o que queria: me deixar jogada aos seus pés. Bem, jogada seria pouco, estou mesmo é de quadro. Logo eu, uma menina que tinha uma fortaleza praticamente impenetrável. Nem pelo Jared consegui sentir isso. Era realmente tosca essa merda toda! Poderia muito bem ter me apaixonado pelo ou até mesmo pelo , mas não! Tinha que ser ELE!
Travei a mandíbula. Tantos meninos por aí. Tantos, meu Deus!
Tirando isso, está indo tudo muito bem, toda a sexta eu tocava no pub. , o garoto que me ofereceu esse emprego, tinha 18 anos, morava sozinho em um apartamento na cidade, ele era o filho do dono do pub e ajudava seu pai com essas coisas de eventos e tal, também me ajudava a escolher os repertórios. Ele até me ensinou tocar músicas novas. Aquele menino era um doce de pessoa, encantador. A menina que namorasse ele, seria uma garota de sorte, muita sorte mesmo.
Olhei mais uma vez para a tela do notebook, o curso piscava freneticamente pedindo para que começasse a digitar algo, mas nada, sem nenhuma inspiração, nada me passava pela cabeça a não ser . Esse encosto desgraçado que veio do além para atazanar minha vida de todas as formas possíveis.
Desde o mês passado que não nos falávamos e evito ao máximo olhar em sua cara. Também não era por menos, estava com receio de acabar demonstrando o que se passava comigo.
Desliguei o notebook e me deitei com uma tentativa falha de tentar dormir. Virei de um lado para o outro, chegando a deitar de cabeça para baixo, mas a única coisa que consegui foi arrancar o lençol da cama.
Depois de uma eternidade, o meu rádio/relógio gritou anunciando que já era a hora levantar. Arrastei-me até o banheiro feito um zumbi, tomei um banho gelado e me vesti para a escola. Não comi nada, apenas fui direito para aquele purgatório.
Primeira aula: matemática. Lais também fazia esse tempo comigo.
Me sentei na última carteira como de costume, coloquei os fones de ouvido com uma música qualquer, peguei meu caderno e minha caneta. Fiquei batucando nele loucamente esperando uma inspiração, precisava escrever algo. Nada. Nada. Nada. Era irritante a forma como não conseguia escrever. Tinha um bloqueio em minha cabeça.
– ? – A voz de Lais tomou minha mente me tirando completamente de meus pensamentos toscos.
Levantei a cabeça devagar e a olhei parada na minha frente.
– Tudo bem? – Perguntou preocupada.
– Uhum. – Resmunguei e voltei a olhar para a folha em branco implorando para ser escrita.
– Literatura, né?
– É. Não consigo pensar em nada. – Falei colocando as duas mãos de cada lado em minha cabeça. – Conseguiu escrever alguma coisa?
– Apenas um conto bobo que inventei. Nada demais. – Disse se sentando na carteira a minha frente. – Você não dormiu de novo, né?
Não respondi. Ela já sabia a resposta.
– Está com olheiras enormes. Parece até que saiu de um filme de terror. – Brincou e eu dei um sorriso.
– É. – Ânimo? Essa palavra fugiu de meu dicionário.
– Saiba que pode se abrir comigo. Sei que tem algo lhe afligindo. – Não olhei para ela, então Lali pegou minha mão. – Nos conhecemos há pouco tempo, mas te considero uma grande amiga.
– Obrigada. – Falei olhando para ela agora. – Não precisa se preocupar, estou bem. Mesmo. É só insônia, isso passa. – Formei um sorriso torto, sendo o máximo que consegui.
– Nossa! Acho que abriram as portas do cemitério. – disse olhando para mim.
Não rebati, que se foda! Moleque irritante.
– , não enche. – Lali disse. – Não está vendo que a ela não está muito bem? E você ainda vem com essas suas piadinhas ridículas? – O repreendeu.
Ele parou de rir e seu olhar ficou preocupado. Pude ver isso pelo canto de meu olho. Eu não estava mais conseguindo suportar o fato de ele… de ele… de ele ser ele! Por que ficou preocupado de repente? Não! Você não pode fazer isso comigo! Não! Não pode me deixar mais “apaixonada” do que já estou.
Coloquei meu material de volta na mochila, a pus no ombro e saí da sala passando pela Guibs, professora de matemática. Não dei ouvidos ao que ela disse, apenas saí dali sem olhar para trás.
Fui para o banheiro e fiquei escutando música, sentada em cima da pia encostada no enorme espelho que tinha a cima dela. Minhas unhas mal pintadas e com esmaltes descascando ficavam batucando em meu joelho, estava impaciente, nervosa, louca, completamente insana, ainda tentava me controlar, mas isso estava ficando cada vez pior e mais difícil. Tinha vontade de gritar até meus pulmões não aguentarem mais ou esmurrar alguém até minha mão quebrar.
O sinal bateu atraindo minha atenção e me tirando de minha loucura pessoal. Agora era a aula de literatura.
Entrei na sala e sentei no fundo. Todos entregaram os textos, menos eu, Charlotte sempre sorteava números na pauta para irem ler na frente da turma.
– . – Chamou o meu nome.
Eu era mesmo uma menina de sorte ou ela fez de propósito.
– Não tenho texto para ler. – Falei tirando os fones de ouvido.
– Você sempre tem algo novo e diferente para falar, venha.
Revirei os olhos e levantei indo até a frente da sala na maior má vontade.
– Eu não escrevi nada, pode me descontar ponto. – Disse sem ânimo e gesticulando para que ela fizesse logo.
– Improvise.
– Tá me zoando, né? – Dei um sorriso sarcástico.
– Não. Anda. – Charlotte cruzou os braços e se encostou a sua mesa.
Respirei fundo, fechei os olhos e quando abri, olhei para por um breve momento, desviando logo depois e encarando Charlotte.
– “Havia uma menina e um menino. Ela não parava de pensar nele nem por nenhum momento se quer. Sempre quando fechava os olhos lhe vinha sua imagem na mente. Quando escutava a voz dele, seu coração pulsava cada vez mais rápido, parecia que saltaria de sua boca num instante de descuido. Os olhos dele eram de uns tão intensos, que ela se sentia em um oceano onde poderia se afogar. – Fui falando andando de um lado para o outro lentamente, tentando puxar algo de minha mente com o improviso. – Acho que ela o amava, o amava tanto que às vezes não conseguia suportar aquilo. Parecia que iria explodir. O amava tanto que tinha medo de contar a verdade. Ele não sabia de nada. Não sabia como que ela o observava, como que o idolatrava, como ela era louca por ele. – Parei de falar, olhei para Charlotte que deu um sorriso. – Ela ficava louca ao ver ele com outras, ele nunca a olhava e quando lhe dirigia a palavra, sempre a desprezava. Ela estava farta disso, tão farta que então subiu no prédio mais alto da cidade na tentativa de se libertada da dor, a dor de não tê-lo consigo. Pegou um canivete em seu bolso e cravou no tijolo do parapeito: “Eu amo o modo como você ama, mas eu odeio o modo como devo te amar. - Miss You, Love - Silverchair”. Lentamente colocou seus pés sobre o escrito e se atirou lá de cima. A última coisa que passou por sua cabeça foi o rosto dele e, com um último sorriso, atingiu o chão. Ela sentiu que o amava mais do que a própria vida.” – Terminei e fiquei séria.
Aquilo realmente tinha doido em meu peito, mas foi a única coisa que consegui falar.
– Olha, a tem sentimentos. – soltou uma risada no meio do silêncio.
– É, , ao contrário de você que só pisa nas pessoas, que se acha o melhor. Eu tenho alma e coração. Quando for falar de mim, lave a sua boca suja, porque o meu nome não merece estar no lixo! – Cuspi as palavras com repulsa, estava na defensiva automática.
– , por favor. – Charlotte me repreendeu. – , quieto.
Pude ouvir múrmuros na sala.
– Pode se sentar. – Pediu.
Fui para a minha carteira e, quando passei ao lado de , não resisti.
– Babaca. – Resmunguei.
– Emo. – Retrucou.
– Você me dá nos nervos. – O empurrei, ele me empurrou de volta, me fazendo esbarrar na mesa atrás e a derrubá-la.
É isso aí, lá vamos nós… de novo.
Voltei e dei um soco em sua cara. Tanto tempo me controlando para não brigar com ninguém, meses sem isso e agora me descontrolei. veio para cima de mim e me empurrou contra a parede. Escutei barulho das carteiras sendo arrastadas, do pessoal se levantando, de coisas caindo e pessoas falando alto. Ao mesmo tempo em que estava com raiva e doida para começar a brigar, eu também estava querendo ficar quieta no meu canto sem brigar com ninguém.
levantou a mão, fechei os olhos com força esperando o que viria. Eu merecia aquilo. Prefiro a dor física a interna.
– Você acha mesmo que tenho coragem de te bater? – Sua voz me fez abrir os olhos. – Não tenho coragem de te machucar. – Ele falava baixo, ninguém devia estar nos escutando, pois a algazarra era muita.
Só fiquei encarando aqueles olhos, maldito olhos que me hipnotizavam, malditos olhos que me encaravam e me faziam querê-lo. Estou tão descontrolada a esse ponto?
– , se afaste da . – Escutei Charlotte falando nervosa. – AGORA.
– Você está sangrando. – Falei passando o polegar no canto de sua boca. – Me desculpe. – Minha voz saia serena. me olhando daquele jeito, tão perto, me deixou calma.
– Não é nada. Já estou acostumado. – deu um sorriso que me fez rir também.
– ! – Charlotte estava nervosa com aquilo tudo.
Ele se afastou.
– Todos estão liberados! – Disse Charlotte aos alunos.
Todos saíram da sala menos eu.
– Me desculpe. – Pedi. – A culpa foi minha.
– Quero conversar contigo mesmo, ainda bem que ficou. – Charlotte fechou a porta.
– Tá. – Me sentei em uma carteira.
– Olha, estou vendo como tem se esforçado para mudar seu jeito, ainda mais com esse seu gênio forte. Não a culpo, mas tem que dar um jeito de tirar isso de dentro de você. É assustador. – Ela me encarava assustada. – Você e o têm que se resolverem. Olha só o que fizeram.
Olhei para a bagunça de mesas viradas.
– Isso está saindo do controle. Sei que ele provoca, mas você tem que segurar a barra. As coisas não se resolvem assim. Conversa com ele, tenta dizer o que sente.
– Não sinto nada. – Falei com frieza. – Por que insiste em dizer que gosto daquele garoto?
– Porque gosta. Você não conseguiu escrever nada, mas quando mandei se virar, suas palavras saíram de dentro, não foram apenas frases aleias e sim o que realmente sente. Nunca escrevemos ou falamos algo só por falar. – Charlotte se sentou em uma cadeira. – Sei como se sente, quando tinha a sua idade, me apaixonei pelo meu professor de Ed. Física e bem, eu me sentia assim. – Ela riu.
– Legal. Eu disse aquilo porque vi em um filme, então falei só por falar. Não seria louca de me matar por causa de alguém. Tenho amor próprio. – Dei uma piscadinha com um sorrisinho. – Falou? Vou te ajudar com essa bagunça. – Falei levantando.
– Está bem. Vou ir pegar uma água e já volto. – Saiu da sala.
– Ok.
Fui arrumando as mesas, escutei a porta se fechar, presumi que deveria ser Charlotte que tinha voltado.
– Charlotte me mandou vim te ajudar. – Não preciso nem falar quem era, né?
– Me viro sozinha, não preciso da sua ajuda.
– Eu fiz isso também. – me ajudou a desvirar uma mesa.
– Qual é o seu problema? – Perguntei indignada. – Fica me irritando sempre que tem uma deixa. Por que não sai do meu pé? Que droga. Você é insuportável, só de escutar a sua voz irritante me dá nos nervos, te ver então nem me fala, dá vontade vomitar e quando me direciona a palavra eu…
– Perde o controle e enfia a mão na minha cara. Você fala que sou isso que sou aquilo, mas é igual a mim. Se sou tudo isso que falou, por que ficou comigo?
Aquilo que acertou como um murro bem forte no estômago. Juro que não esperava por uma indireta tão direta dessa forma.
– Em? Se me odeia tanto assim, por que agora pouco me pediu desculpas por ter me batido? – Ele vinha andando em minha direção enquanto eu dava uns passos para trás. – Pare de fugir de mim.
– Não estou fugindo. Só quero distância. – Pare de se aproximar! Olhei meio apavorada para os lados, iria sair correndo dali feito rato a qualquer momento.
– Uma vez você disse que não sabia o que sentia por mim, mas que já estava envolvida. O que realmente quis dizer com aquilo? Eu só posso estar ficando louco se entendi errado.
Nossa, como ele tinha uma memória boa. Lembrava-me perfeitamente daquela noite que tinha tudo para dar certo, tudo, mas o Leto atrapalhou tudo me ligando e, se eu não tivesse atendido, talvez ele estivesse vivo.
Tudo veio em minha cabeça como um filme. A culpa me tomou conta, mais um peso. Não precisava daquilo de novo.
– Me responde. – disse a um metro mais ou menos de distância.
– Eu não sabia o que estava falando. Deve ter sido por causa das pancadas na cabeça. – Falei a primeira coisa idiota que veio.
– Pare com isso. Dá para parar de mentir?
– Se minto tenho minhas razões. – Tinha que sair dali, ficar no mesmo ambiente vazio com não me fazia muito bem.
– Você mente porque tem medo. – Por que cargas d’água ele se aproximava cada vez mais? – Medo que eu não sinta a mesma coisa que você.
– , você tomou tequila no lugar de café hoje de manhã? – Indaguei. Não quero escutar essas coisas. – De onde está tirando isso? Você anda vendo muito filme de romance.
– Só digo o que vejo em seus olhos. – Agora ele estava tão perto que sua respiração batia em meu rosto. Merda, como fui deixar ele se aproximar tanto?! Alerta vermelho! Alguém me salva?!
Olhei para o lado ou qualquer outro lugar que não fosse para a cara dele.
– Quero me minta olhando nos meus olhos, minta que me odeia. – segurou meu rosto com firmeza me forçando a olhá-lo.
– Quer que eu diga o que? – Respirei fundo, me concentrando ao máximo para não fazer nenhuma besteira. – Quer que eu fale que te odeio? Está bem, eu falo. , eu te… – Travei! Por que travei? As palavras não conseguiam mais sair de minha boca.
– Amo. – completou.
– Pare com isso. – Uni minhas sobrancelhas. – Pare de… de confundir a minha cabeça. – Tirei suas mãos de meu rosto e sacudi a cabeça tentando colocar minhas ideias nos lugares. – , eu te odeio, pare de me fazer tentar gostar de você. Me esquece! Chega! Fim da linha! – Fiquei fitando o chão, era o lugar mais seguro que podia olhar.
– Não. Não. Não. – me puxou pelo braço e me beijou.
Minha língua se torcia junto com a dele, aquele beijo estava diferente dos outros que já tínhamos dado, tinha algo mais. Algo mais forte do que nós, algo que nos fazia querer um ao outro.
– Eu sinto a sua falta. – Disse assim que paramos de nos beijar. – Eu odeio o modo que devo te amar.
Minha voz sumiu, não conseguiu falar nada.
– Não me ignora. É horrível olhar para você e ver que não está me olhando de volta. – Me abraçou. – Sinto que está cada vez mais longe. Não posso te perder. – Eu estava completamente sem reação diante aquilo, ele só podia estar brincando comigo, e uma brincadeira de muito mau gosto.
– Nunca estive longe de você e muito menos a ponto de me perder. – Sussurrei sem pensar, foi praticamente automático. Era incrível como minha mente e minha boca não entravam em um consenso do que seria dito. Apenas saia! Assim como meu corpo também não me obedecia nem por um decreto.
– Eu te adoro menina. – Sorriu e me beijou.
Retribui o beijo enlaçando os cabelos de sua nuca com meus dedos singelos, estava completamente viciada naquela boca, meu doce veneno mortal. Quando nos separamos, foi inevitável um sorriso não brotar em meus lábios.
– Não consigo te odiar de verdade nem por um momento. – Mais uma ver minha boca falou por só própria!
– Sei disso. – deu uma piscadinha. – Bem, acho que temos uma sala para acabar de arrumar.
– Chato. – O empurrei de leve. Por mais que estivesse negando ao máximo, estava gostando de estar ali com ele.
– Sou o chato que você mais gosta, confesse. – Me puxou pela cintura e me abraçou por trás. – Admita.
– O que vou ganhar em troca?
– Olha, a menina já está querendo barganhar? – Perguntou beijando o meu pescoço, o que causou um leve arrepio em minha espinha.
– Claro, não vou dar nada em vão, tenho que ganhar algo em troca. – Estava começando a me sentir bem, com vontade louca de rir.
– Tudo o que você quiser. – Sua voz era doce.
– Hum… Me deixe pensar... – Coloquei o indicador em meu queixo. – Quero um beijo, bem gostoso. – Resaltei. Talvez Charlotte estivesse certa. Se eu contasse o que realmente sentia, as coisas podiam mudar.
– Só depois de você admitir que sou o seu favorito.
– Não o meu favorito, mas o chato que eu mais gosto. Implicante, irritante… – Seu braço ágil me virou e logo após selou meus lábios novamente.
– E lindo, gostoso e maravilhoso. – Falou entre o beijo.
– Convencido. – Meus braços estavam esticados em seus ombros. – Anda, vamos arrumar isso.
Dei mais um selinho nele e fomos arrumar a bagunça.
– Já terminaram? – Charlotte entrou na sala.
– Quase. – Falei desvirando a última mesa com a ajuda de . – Me deixe adivinhar, o diretor nos quer na sala dele.
– Errou. AINDA não lhe relatei nada sobre o ocorrido.
– E por que não? – perguntou.
– Porque acredito que podemos resolver isso aqui entre nós. – Disse ela apontando para a gente.
Abaixei a cabeça e segurei uma risada.
– Tudo bem com você, ? – Charlotte logo notou. – O que tem de engraçado aqui?
– Nada. – Falei já soltando uma gargalhada. – Só que não temos mais nada para resolver. Temos, ?
– Acho que não. Temos, ? – Ele também ria. Era estranho nos chamarmos pelos apelidos.
– Bobo. – Disse.
– Palhaça. – Completou.
– O que aconteceu aqui? Devolvam meus alunos, seus ET’s. – Charlotte estava se tornando muito nossa amiga, então a intimidade já estava rolando solta.
Eu e riamos como dois idiotas, então ele me abraçou por trás, o que me fez gelar e parar de rir na hora.
– .
– . – Ele ainda tinha um sorriso.
– Bem, essas coisas não podem acontecer dentro da escola, se querem ficar, por favor, que seja do lado de fora. – Charlotte ria. Ria da minha cara!
– Pare de rir, Charlotte, não é nada disso que você está pensando. – Falei.
– É o que então? – me perguntou. – Se não for, então me fala, que também quero saber.
– Não começa, . Além do mais, você tem namorada. Se a Green te vir perto de mim, é capaz de te capar. – Disse me soltando dele e pagando minha mochila. – Já tenho problemas de mais, então quando você se resolver com ela, nós conversamos. – Saí da sala.
Sei que fui idiota em desperdiçar essa chance, mas também não sou mulher de malando, minha gente. Se ele queria mesmo ficar comigo, que terminasse com a vadia da líder de torcida.
Fui até meu armário trocar meu material. Assim que fechei a porta, dei de cara com a Green. Falando no diabo, né?
– O que tem entre você e o ? – Perguntou vindo atrás de mim. – Vocês vivem brigando... Dá pra sair do pé do meu namorado? Já estou farta de você ficar secando ele.
– Bem… Primeiro: eu não te devo satisfações. Segundo: além do mais, quem fica secando quem, é ele a mim. Terceiro: então se não está satisfeita, fale com ele e não comigo. – Entrei no banheiro.
– Olha aqui, garota, não estou de brincadeira contigo! – Green segurou meu braço e me empurrou para a parede enfiando o dedo na minha cara. – Quero você longe do MEU !
– SEU? Agora ele virou propriedade? Não me diga! Se está com tanto medo assim de mim, é por que não confia no seu taco... – falei tirando o dedo dela da minha cara. – Não tenho medo nem de homem, vou ter medo de você? Green, te enxerga garota, não vai querer arrumar confusão comigo.
– Você foi avisada, fiquei longe do MEU ! – Ela saiu do banheiro batendo a porta.
– Babaca. – Falei com vontade de socar a cara daquela garota escrota.
Logo chegou o intervalo. Eu, Lais, , e Perez estávamos andando pelos corredores, tinha muito cochicho, algo estranho, todos nos olhavam. Vi um panaca passando com o Jornal da escola na mão e o peguei.
– Noticia de última hora: e Green brigam por causa de . – Li em voz alta. – Como é que é? Tá de sacanagem comigo. Espera aí que tem mais! – Continuei lendo. – Uma briga hoje mais cedo ocorreu no banheiro. Green alega que está dando em cima de seu namorado.
Eu não estava acreditando que estava lendo.
– , quem que escreve essas fofocas ridículas? – Perguntei indignada.
– Bem, por ser fofoca, nunca informam a fonte. – Relatou. – Olha… Posso tentar descobrir. Mas isso é verdade?
– Não! É claro que não! Eu nunca dei e nem vou dar em cima do . – Estava cuspindo fogo. – Isso só pode ter dedo do ! – Claro, de onde a Green iria arrancar que eu estava olhando para ele? Eu nem estava falando com o há um mês.
Saí andando com raiva pela escola procurando o . Lais, , e Perez me seguiam preocupados e me entupindo de perguntas do tipo: “O que você vai fazer?”, “Onde está indo?”, “O que está acontecendo?”, “Quem você está procurando?”. Encontrei no refeitório com sua vadia MOR sentada em cima dele. Andei até eles a ponto de furar o chão, quase quebrei a mesa com a mão quando coloquei a folha de jornal sobre ela fazendo eles e seus amigos me olharem.
– QUE PALHAÇADA É ESSA?! – Indaguei quase espumando pela boca.
– Do que você está falando? – perguntou confuso. – Sai, Green. – Ele praticamente empurrou a VADIA de cima de si.
– UM DE VOCÊS DOIS PODEM ME EXPLICA? – Estendi a folha do jornal na cara dele.
– Ué, querida, apenas estão dizendo a verdade. – Green deu um sorriso cínico.
– Calma, , mantenha sua racionalidade, não se rebaixe ao nível dela. – Lali tentava me acalmar.
– Verdade? Verdade vai ser o que vou fazer AGORA! – Gritei e voei em cima da Green. Literalmente. Só faltou eu gritar “THIS IS SPARTA”!
Fui pra dar um chute nos peito do primeiro que viesse na minha frente, depois dei um soco com toda a raiva que estava dentro de mim, mas não pegou ela, alguém me puxou bruscamente para trás me fazendo cair em cima da mesa ao lado, com alguém segurando meus braços.
– PARE COM ISSO, ! – gritou. – CHEGA! PAROU AS DUAS! GREEN, ACABOU. – Disse se virando para ela que também estava sendo segurada. – E VOCÊ... – Agora ele se virou para mim. – NÃO SABE SE CONTROLAR EM NENHUM MOMENTO? TUDO TEM QUE SER A BASE A IGNORÂNCIA? – estava em plenos berros comigo no refeitório.
– NÃO GRITE! NÃO SOU SURDA! – Rebati revoltada me levantando de cima da mesa. – Não tem o direito de falar assim comigo. Eu não fiz nada, foi essa piranha aí que começou.
– Piranha é a sua mãe! – Green disse alto.
Fui para cima dela novamente, mas me segurou agora.
– Vamos sair daqui. – Me arrastou para fora do refeitório. – Chega de vexame. – estava nervoso com aquela situação.
– Me solte, ! – Puxei meus braços com força. – Que droga! – Dei um bicudo em uma lixeira a derrubando no chão e fazendo com que o lixo se espalhasse.
– , você está muito nervosinha para o meu gosto! Dá um tempo! – falou alto.
Olhei séria para ele. Você não está me irritando mais, está? Não faça isso cara! Não é uma boa hora! Estou com os nervos à flor da pele.
Não podia brigar com o , então saí andando e o deixei para trás. Estava cega de raiva, não enxergava mais nada na minha frente. Eu era apenas uma bomba, que iria explodir a qualquer segundo.
– ! Na diretoria, agora! – A voz do diretor saiu dos altos falantes um tanto quanto nervosa.
– Merda. – Dei um murro violento na porta de um armário, o amassando.
Assim quando entrei na sala do diretor, estava lá Green e .
– Queira se sentar, . – Disse o diretor.
– Não obrigada, estou bem de pé. – Cruzei os braços.
– Não liga, diretor, a cavala é assim mesmo, não tem educação. – Green se insinuava à boazinha.
– Não adianta bancar a menina boa e inocente, porque você não é! – Exclamei. – Desculpe, Sr. Diretor, mas não vou ir para a detenção e nem ser suspensa por causa dessa menina. Não fiz nada dessa vez.
– Como sempre você nunca faz nada, né . – Falou sério.
– Diretor, tudo se passou como um mal entendido. – tentava apartar a briga.
– Deve ser mesmo, porque até eu mesmo estranhei o que li. Do jeito que você e a se odeiam é quase impossível que ela esteja “dando” como vocês falam, bem, se insinuando para você. – O diretor jogou a jornal em cima da mesa olhando para . – Então, Green, o que você me explica sobre isso? – Agora ele encarava a menina que tinha casa de sonsa.
Ela começou a chorar.
– Que lindo, se toda a vez que o diretor for me fazer uma pergunta, eu começasse a chorar, essa sala já teria virado uma piscina. – Debochei. – Green, pare de chorar e fala logo que é tudo invenção sua. Além do mais, eu nem estou falando com o .
me olhou estranho. O que eu fiz? Filho, eu tinha que dar meus argumentos se não iria me ferrar.
– , quieta, por favor. – Pediu o diretor. – Senhorita Green, se explique.
– É verdade, diretor, a está dando em cima do .
– , é verdade? – Parecíamos que estávamos em um tribunal. E o diretor era o juiz.
– Só fosse para alguém dar em cima de alguém, eu que daria em cima dela e não o contrário. – escancarou. – Olha, não tenho nada a esconder…
– Bem, se já está tudo resolvido. Não dei em cima de ninguém, a Green que inventou tudo, nós já podemos ir? – Interrompi antes que ele falasse demais.
O diretor respirou fundo.
– e , estão liberados.
– E eu? – Green perguntou desesperada.
– Detenção.
– Boa sorte com os caras de lá. Eles não são muito amigáveis com patricinhas. – Dei uma piscadinha para ela e saí da sala junto com .
– Qual é o seu problema? – perguntou revoltado me puxando bruscamente pelo braço.
– Posso falar com você, mas não aqui. OK? E está me machucando. – Falei entre dentes.
– Quero falar agora. – Ele parecia uma criança fazendo pirraça. – , há duas horas estávamos bem, agora você dá um surto! Menina, você tem sérios problemas mentais. Qual é o seu problema? Anda, fala, estou a fim de esclarecer tudo agora. Já disse que não tenho nada a esconder. Tem medo ou vergonha de assumir que temos algo?!
– Eu não acredito no que estou escutado! Você simplesmente não consegue entender nada ao seu redor? Tem algum problema de percepção? Porque só pode ser! – Balancei a cabeça negativamente revoltada.
– Olha, cala a boca! Realmente sou muito idiota para ter caído na sua conversa. E se tivesse mesmo com vontade de assumir que temos algo, a primeira coisa que teria feito era ter terminado com aquela vadia! A única coisa de que tenho vergonha é de falar que gosto de um cara feito você! – Respirei fundo. – Essa conversa termina aqui! – Saí da recepção correndo.
Meu peito estava rasgado, aquilo era pior do que levar um tiro na costela, a bala ficar alojada durante três horas em você e ser removida sem anestesia. Essa dor que eu sentia era muito pior que isso. estava brincando e pelo jeito, devo ser um jogo muito divertido. Se for mesmo verdade tudo o que ele disse, já teria dado um pé na bunda da Green há mais tempo. Não sei por que estou me iludindo com algo surreal que jamais vai acontecer. Não fomos feitos um para o outro.
– Hey, , espera. – Ele vinha atrás de mim.
– Me esquece, ! – Disse segurando a alça de minha mochila com força sobre o meu ombro, corri o mais rápido que conseguia para pátio da escola.
O muro era bem alto com arames farpados, mas seria por ali mesmo que eu iria fugir.
– Espera, , vamos conversar. – continuava correndo atrás de mim.
Em uma análise rápida, esquematizei onde eu pularia. Na parede ao lado do muro tinha barras finas de cano de gás.
Joguei minha mochila para o outro lado, me impulsionei, corri mais rápido, dando três passos subindo pela parede e me agarrando nas barras. Com a força toda em meus braços agora, puxei meu corpo pra cima, me dando altura para subir em cima do muro.
– O que você está fazendo? – Escutei perguntar de longe.
– Fugindo de você e dessa escola. – Falei já pulando para cima do muro e ficando de pé sobre ele feito um gato. – Não tenho mais nada para fazer aqui. – As lágrimas escorriam de meus olhos.
– Eu sei que sou um idiota, mas não faça isso. Por favor, vamos conversar.
– Não tem mais nada a ser dito. – Pulei do muro caindo em cima de um carro e disparando o alarme dele.
Peguei minha mochila e saí correndo antes que o dono chegasse e achasse que eu estava roubando o veículo. Sei que isso tudo podia ser visto como um mero drama barato, mas só eu mesma sei o que estase passando dentro de meu peito. Só não queria mais pensar sobre nada que tivesse relacionado.
Tomei o metrô e fui parar na frente de um prédio. Toquei o interfone do apartamento 304 que demorou um pouco para atender.
– Oi. – Uma voz sonolenta atendeu.
– , me deixa subir? – Minha voz estava destruída pelo choro.
– Tá. – Ele desligou e a porta abriu.
Subi as escadas correndo, não estava querendo entrar no elevador e ver meu reflexo horrível. Caminhei até o final do corredor e bati duas vezes na porta. Demorou um pouco para abrir, mas assim quando a abriu, eu o abracei forte.
– Calma. – Ele passava a mão em meus cabelos. – Venha, vamos tomar um chocolate quente, você está gelada.
Conduziu-me até a cozinha empurrando a porta para que ela fechasse. Eu chorava feito uma criança.
– Você não deveria estar na escola à uma hora dessas?
Afirmei com a cabeça. Sentei à mesa.
– Não quero mais voltar para lá. – Falei.
– Me conte o que aconteceu? – Ele fazia o chocolate quente.
– Eu só não quero mais voltar para lá. – Coloquei meus pés sobre a cadeira e abracei minhas pernas.
Ficamos quietos. me serviu o chocolate quente, olhei para suas roupas que pareciam pijamas; foi aí que me toquei de que devia ter acordado ele.
– Me desculpe vir assim sem avisar, ainda à uma hora dessas.
– Tudo bem. Eu tinha que levantar mesmo. – Sorriu. – Brigou com o ?
Afirmei com a cabeça e lhe contei toda a história.
– Você não pode parar de ir à escola por causa disso. – falou sério. – Olha, eu posso até arranjar outro lugar para você cantar se for o caso, mas parar de estudar, isso não é uma coisa que vou te apoiar.
– Só preciso de um tempo. Esperar me acalmar, não sei, estou confusa. Não era para nada disso ter acontecido, não era para ele saber que eu gostava dele. Que droga! – Passei a mão em meus cabelos desesperada. – O que eu faço, ?
– Não sei. – Disse se despojando em sua cadeira.
– Já sei. Eu vou pedir para a minha mãe falar que estou doente. – Sorri.
– Você vai faltar à escola do mesmo jeito. – Cruzou os braços.
– Eu sei, mas depois eu pego a matéria com o . – Dei de ombros. – Tudo o que quero é ficar longe daquele lugar. – Falei sem ânimo, levantando para colocar as canecas dentro da pia.
De repente, comecei a sentir uma dor muito forte no abdômen e encostei-me a pia.
– , o que foi? – olhou para mim preocupado, escutando o barulho da caneca escorregar de minha mão e cair no chão.
– Ai, não sei. – Fechei os olhos de dor.
– Você… você… está sangrando. – Abri os olhos, olhei para e depois para mim mesma. Minha calça estava começando a ficar encharcada de sangue. – Vamos para o hospital agora. – Ele se levantou e me pegou em seus braços.
Não sei o que estava acontecendo comigo, só sei que sentia muita dor para reivindicar algo.
passou a mão nas chaves de seu Audi e desceu comigo me colocando no banco do carona. Segurei os gemidos de dor aguda. Nossa, que merda é essa? Que dor!
– Você está pálida. – Passou a mão em meu rosto. – E suando frio.
– Ah, valeu pelo toque. – No meio daquilo tudo eu ainda ironizei.
Chegamos ao hospital e me carregou para dentro. A dor estava tanta que mal pude entender o que os médicos falavam.
– A sedem. – Foi a última coisa que escutei antes de apagar.
Abri os olhos ainda sentindo meu corpo dolorido, parecia que tinha rolado ladeira a baixo e um carro me atropelou. Está bem… Nem tanto assim, mas ainda sentia dor.
– Que bom que acordou. – A voz de tomou conta do ambiente silencioso. – Como você está se sentindo?
Sentei-me com um pouco de dificuldade.
– Tirando a dor, ainda estou péssima. – Esbocei um sorriso fraco, o que ele fez rir. – O que aconteceu?
– Acho melhor chamar o médico. – Ele não tinha uma cara boa.
Saiu e logo voltou com um médico.
– Como está se sentindo, mocinha? – Perguntou o médico.
– Dolorida? Sei lá, é estranho. O que aconteceu? – Perguntei.
– Você teve um aborto. – Meu coração disparou.
– O que? Como assim? Um aborto. O senhor está batendo dos pinos? – Disparei.
– Você estava grávida e perdeu a criança. – O médico disso aquilo como se estivesse explicando para uma pessoa mongol.
– Espera ai. Eu grávida? Impossível. Como que eu não percebi isso antes. E também… – Fui interrompida.
– Você não sabia? – O médico me olhava curioso.
– É claro que não! Não é possível. Não tem como. A minha… – Olhei para o .
– Acho melhor eu sair. – Disse ele apontando para a porta e eu ri.
Ele saiu.
– A minha menstruação nunca foi normal, mas também ela veio mês passado e eu não fiquei com ninguém. De quanto tempo eu estava… er… O senhor sabe?
– Uns dois, três meses aproximadamente.
A minha voz não saia mais. Dois, três meses?
– Isso é impossível, eu não tive enjoo e nem essas coisas de… Ah! É impossível! Tem certeza disso? – Não dava para acreditar.
– Absoluta. Cada caso é um caso. No seu caso os sintomas não apareceram, mas você estava grávida. Tome mais cuidado da próxima vez e se previna. – Advertiu.
– Você tá me zoando, né? Eu não consigo acreditar nisso. Continuo achando que é impossível. Mas deixa para lá... Eu já posso ir? – Perguntei.
– Você vai ter que ficar até amanhã. Perdeu muito sangue.
– Minha mãe vai me matar. – Resmunguei. – Não! Eu tenho que ir buscar o meu irmão na escola, não posso ficar aqui!
– Você tem que ficar de repouso. Vou pedir para o seu namorado entrar.
– Ele não é meu namorado. – Retruquei. – Mas pode pedir para ele entrar.
O médico saiu e entrou.
– E aí? – Disse se aproximando da cama.
– Impossível. Você já sabe, né?
– É. – Colocou a mão dentro do bolso de sua calça de moletom. – Pelo seu escândalo nem você mesma sabia, né?
– É. – ri do seu comentário. – , pode ir, você ainda está de pijama e sujo de sangue. Eca. – Coloquei a língua para fora. – Depois você pode trazer minhas coisas que ficaram na sua casa?
– Trago. Só vou lá tomar um banho e trocar de roupa. Não demoro. – Deu um beijo em minha testa.
– Tá. – Sorri com seu gesto de carinho.
se foi. Acabei pegando no sono de novo, afinal, já estava sem dormir há mais de 48 horas, era quase inevitável nem ao menos cochilar. Meu corpo estava em seu esgotado e minha cabeça a mil.
Sonhei com Jared, ele estava lindo como sempre, aquele jeitão dele todo malvado e carinhoso comigo. Eu estava com saudades dele, uma saudade que eu nunca poderia matar.
Acordei sentindo culpa por tudo que aconteceu. Olhei para a janela e estava escuro, meu pai dormia no sofá, sua face era de cansaço. Bem, acho que minha mãe deve ter pedido para ele vir cuidar de mim. Esbocei um sorriso quando o vi ali. Por mais rebelde que eu fosse, por mais idiota, burra, egoísta, mesquinha, qualquer coisa, meu pai ainda me amava do jeito que eu era, meu jeito retardado de ser, o jeito que gostava de ser. Amava meu pai. Meu velho.
Uma lágrima escorreu do canto do meu olho, me peguei chorando, chorando de felicidade por meu pai estar ali comigo, agora na hora que mais precisava ele estava lá. Dei uma fungada de leve e ele acordou.
– Filha. – Se levantou e veio até mim. – Você está bem? Está doendo em algum lugar? – Passou a mão em meu rosto.
– Não. Estou bem. – Sorri.
– Por que está chorando? – Ele estava superpreocupado.
– De felicidade por ter o senhor aqui comigo em uma das horas que mais preciso. Obrigada. – O abracei.
– Eu que agradeço por ser minha filha. Obrigado você, minha princesa, e nunca iria te abandonar. – Retribuiu o abraço.
– Princesa? – Perguntei me afastando e o olhando brevemente.
– Princesa Punk, pode ser assim? – Ele também estava chorando.
– Pode. – Sorri. – Que horas são? – Continuávamos abraçados.
Ele olhou em seu relógio de pulso.
– Cinco. Você dormiu dois dias inteiros.
– Então… Hoje é sábado? – Perguntei abestada. – Nossa, dormi bastante. – Brinquei.
– Dorminhoca. disse que você não andava dormindo. Posso saber por quê? – Meu pai tinha uma voz autoritária.
– Você andou conversando com ? – Fiquei preocupada.
– Claro, ele ficou aqui junto comigo durante esses dias. Só ia para casa a noite. Estava muito preocupado contigo. – Afagou meus cabelos.
– Ah sim, ele é um doce de pessoa. A menina que o tiver vai ter ganhado na loteria. – Me aconcheguei nos peitos de meu pai.
– Então por que você não ganha na loteria? – Meu pai sorriu.
– Pai! – O repreendi. – Não sou para ele, merece coisa melhor.
– E existe alguém melhor do que a minha princesinha punk?
– Pai! – O repreendi de novo, senti minhas bochechas corarem. – Pare com isso. Não quero mais ficar com ninguém, vou virar uma assexuada.
– Hey, quero netos! – Meu pai começou a me fazer cócegas.
– Para, para. Você vai ter, da parte do Josh. A menos que ele vire gay. – Soltei uma gargalhada.
– Quero que sejam filhos seus. Falando nisso, você não acha que está muito nova para me dar um netinho? – Se sentou ao meu lado na cama.
– Pai, isso que aconteceu foi uma coisa impossível. – Cruzei meus braços.
– A então você ia ter um filho da luz? – Cruzou os braços também. – Tudo bem que você transe, mas use camisinha.
Fiquei encarando meu pai meio que: “pasma”. Ele falando sobre sexo comigo, era isso mesmo que eu estava entendendo? Tá, acho que ainda estava dormindo.
– Já disse que isso foi uma coisa impossível. Não faço a menor ideia de como foi acontecer. Pelo que o médico doido aí disse, eu estava de dois a três meses e o Jared morreu há quatro. Então é impossível! – Deduzi dando de ombros.
– Você não ficou com ninguém depois disso?
– Não… Merda! – Bati com a mão em minha cabeça. – queria me falar alguma coisa e não dei atenção.
– Quem? – Me olhou curioso.
– Ninguém, pai. Não fiquei com ninguém. – Respondi olhando para o nada.
Se estava tudo certo, eu ia ter um filho do ? Sem palavras...
Capítulo betado por Tayná M
9. Vim ao mundo com a pá virada
23 de março, segunda-feira, escondida no meu quarto.
Eu tinha desligado meu celular e não atendia ninguém. Queria ficar sozinha. Meu pai passou esses dias cuidando de mim e de Josh. Não fui mais à escola desde então. Embora precisasse mesmo ficar em repouso, estava usando isso como desculpa para ficar escondida debaixo de minhas cobertas, pensando no quanto minha vida era patética, no quanto eu mesmo sou patética por estar fazendo isso. Não saí do meu quarto, era como se aquilo fosse meu covil, onde o único que conseguia entrar era . Por quê? Não sei, ele era legal. Meu pai ficava jogando indiretas para cima de nós, tipo: “Quando vai sair o casamento?” ou “Genro, você vai querer alguma coisa para comer?”. Pode falar, eu mereço. Sei disso. Por mais que quisesse, o não saía da minha cabeça de forma alguma. Miserável. Saia de mim. Alguém tem algum antídoto para veneno do ? Se tiverem, me mande. Estou precisando muito. Escutei uma música agitada começar a tocar, levantei apenas a cabeça e olhei para os lados. A porta de meu quarto continuava fechada, então não me importei nem ao menos em prestar atenção no que tocava, e voltei a colocar a cabeça por debaixo do travesseiro.
– ? – alguém bateu na porta, talvez fosse .
– Morreu. – respondi, cobrindo minha cabeça com a coberta também.
entrou e puxou meu escudo, mas segurei na outra ponta com força.
– Estou cansado de te ver trancada dentro do quarto! Qual foi a última vez que comeu algo? Olha para você, está tão magra que daqui a pouco vai subir, ou melhor, se bater um pé de vento você vai voar. – disse, tentando arrancar a coberta de minhas mãos.
– Me deixa, . Não estou com fome. – ele, por fim, conseguiu me descobrir, quase me jogando no chão.
– Está até fraca. Anda, levanta dessa cama, vá tomar um banho que vamos sair para comer. – praticamente ordenou. Olhei séria para a cara dele e me joguei para trás, agarrando meu travesseiro.
– Não. – tampei meu rosto.
– Agora. Pare de palhaçada. Uma hora vai ter que sair da sua caverna. Olha esse quarto! Está uma bagunça. O Max anda desaparecido. Se bobear, deve estar debaixo dessa pilha de roupa suja. – brincou, mas era verdade, já fazia mais de uma semana que eu não arrumava a casa.
– Está desaparecido coisa nenhuma, ele está dormindo debaixo da cama. Max. – dei um assovio e ele pulou em cima de mim. – Viu. – passei a mão em sua cabeça enquanto o mesmo se deitou ao meu lado.
– Se não levantar agora, vai se ver comigo. Seu pai disse que estou liberado para fazer o que quiser para te tirar dessa cama. Ele até saiu para não te escutar gritar. – deu um sorriso safado, e a única coisa que se passou pela minha mente foi sacanagens de sexo sadomasoquismo.
– Por quê? Você vai me torturar por acaso? – perguntei, rindo.
– Se for preciso, vou. – estava sério. – Então levanta, por bem ou por mal. – é, acho que ele não pensou a mesma coisa que eu.
– Não! – me virei para o lado.
– Está bem. – o senti pegar em minha cintura e me puxar da cama.
Segurei no lençol, mas ele saiu, então me agarrei no colchão. me arrastou com colchão e tudo até a porta do quarto, onde me agarrei no batente.
– Solta a porta, . – disse, nervoso, me puxando.
– Não! – ele começou a me fazer cócegas, o que me fez soltar.
me carregou para o banheiro e ligou a ducha em minha cabeça.
– , me larga! – me debati debaixo da água gelada. – Está frio!
– Isso é para você acordar! – suas mãos seguravam meus braços com força e me sacudiram.
Segurei-o pela camisa e o puxei para debaixo da água, também.
– Sua vaquinha! Olha só, você me molhou todo! – reclamou, olhando para a própria roupa.
– Ninguém mandou me molhar primeiro! A culpa foi sua! – disse, irritada, lhe dando um tapa no peito, que fez um estalo alto.
– Minha? Você que não sai daquela cama, e a culpa é minha?! – estava nervoso.
– Não quero brigar com você. Isso me lembra do . – abaixei a cabeça, travando a mandíbula.
– Esquece esse menino! Olha, eu não o conheço, mas sei que não deve prestar. Para te fazer sofrer desse jeito, ele não é um cara que preste. – estava meio alterado. – Apenas tente esquecê-lo!
– Não dá! Eu já tentei. Você acha que estou feliz por ter meus pensamentos roubados por um cara que eu… que eu… AH! Eu o odeio! Odeio o modo com que ele me deixa, odeio a sensação de quando nos beijamos, odeio o toque dele em minha pele, odeio o jeito que me olha, odeio gostar ele. Isso me consome. – abracei e comecei a chorar. – Odeio chorar por ele, odeio tudo isso. Só queria poder realmente esquecer que ele existe.
– E eu odeio te ver assim. – seu comentário me fez dar um sorriso. – Odeio te ver trancada no quarto, sem comer, sem ver a luz do dia, sem falar com ninguém e sem viver. Seus amigos estão preocupados contigo. vem aqui todos os dias procurar notícias.
– Você não me falou isso. – o encarei.
– E você me escuta? Estou tentando conversar contigo há mais de 10 dias e apenas o que escuto é você me xingando. – parecia meu pai brigando comigo.
– Me desculpe. O que você disse? – aquela água estava me fazendo bater o queixo.
– O que você pediu para falar. Que não estava. perguntou onde tinha ido, eu falava que não sabia.
– Ele sempre se preocupa, sou uma idiota. Ele é um cara por quem eu queria ter me apaixonado. – sorri. – , por que sempre nos apaixonamos pelas pessoas erradas?
– Eu que vou saber? Só tenho 18 anos, ainda nem vivi direito. – nós estávamos abraçados debaixo da água gelada. – Você tem razão, realmente a água está fria.
– Eu te falei!
– Com que roupa vou sair agora?
– Vamos fazer assim, eu tomo um banho QUENTE e vou até seu apartamento pegar roupas secas. O que acha? – sugeri.
– Está bem, mas não demore. – disse, saindo do banheiro.
Tomei um banho rápido e quente. Saí, enrolada na toalha, correndo em direção ao meu quanto, que na verdade foram apenas uns cinco passos até que eu entrasse nele. Cacei uma roupa limpa no meio daquela bagunça e a vesti. Saí de meu quarto e procurei por .
– Meu Deus, você ainda está com essa roupa? Por que não a tirou e se enrolou em alguma coberta? – perguntei ao ver o menino batendo queixo sentado na cadeira da cozinha.
– Nem me lembrei. Nossa, quem você vai matar? – me encarou, sério, depois começou a rir.
– Ninguém, por quê? – coloquei as mãos na cintura.
– Você está vestida para matar alguém… de susto. – gargalhou, e eu balancei a cabeça em negação.
– , vá à merda! Cadê a chaves do carro?
– Está na mesinha perto da porta. – disse, se levantando. – Vou tomar um banho. – me deu um beijo na testa.
– Ok. Tem toalha limpa no armário do banheiro. – falei ao pegar sua chave e sair.
Assim que abri a porta do prédio, me deparei com a BMW de sendo estacionada no outro lado da rua, atrás do carro de . Merda. Eu vou ou volto? Malditos sejam os insulfilmes G5 quem não davam para enxergar nada dentro do carro. Se estiver sozinho, seria mais fácil. Fiquei parada até ver todas as portas do carro se abrirem. OK! Volta, . Me virei para abrir a porta do prédio, seria mais fácil se a chave não tivesse agarrado na fechadura, meu desespero era tão grande para correr de volta para dentro que quase quebrei a porta.
– Abre bosta. – rosnei, a balançando e dando um bicudo nela.
– ? – escutei me chamar, engoli em seco.
– Merda. – resmunguei e me virei para ele. – Oi, … – parei de falar quando vi logo atrás dele. Vamos lá, , não banque a idiota.
Não sabia o que fazer, para onde olhar ou até mesmo o que falar, me encarava. Isso é tortura. No dia que saio de casa, dou de cara com ele. veio até mim, me abraçou com força. Retribuí, mas, mesmo assim, eu e não parávamos de nos olhar.
– Está difícil de te encontrar em casa. – disse com um sorriso no rosto. Por que ele tinha que ter vindo?
, me segura mais forte que vou desmaiar. Desviei o olhar.
– É. – falei, completamente sem jeito, tinha que sair dali. – Tenho que ir, estou com um pouco de pressa, vou ao centro pegar uma coisa. Depois no falamos. – disse, me soltando dos braços de e dando um sorriso sem mostrar os dentes, daquele bem sem vontade.
– Nem pensar que vai fugir de mim desse jeito, mocinha. – segurou meu braço. – Vou com você.
– , estou com pressa, solte meu braço. – falei com grosseria e ele soltou.
– Você anda muito estranha. – rebateu ele, sério, agora.
– Sempre fui estranha. – desarmei o alarme do Audi R8 enquanto atravessava a rua. – Até mais. – falei ao entrar no carro.
Olhei pelo vidro, , Perez, Lais, e ficaram olhando para o carro. Sou uma idiota mesmo. Mas não quero nem saber, não vou falar com ninguém agora. Tenho que tentar voltar a ser eu mesma, é apenas o que desejo no momento. Esquecer tudo o que veio acontecendo e viver como sempre vivi. Louca, independente e insana. Sorri sozinha, não sei como consegui virar essa pessoa patética, eu era tão legal, sendo que a única coisa que me abalava era quando um roubo não dava certo. Coloquei a chave na ignição e saí dali feito uma maluca, cantando pneus. Do jeito que estava dirigindo, consegui chegar mais rápido do que o esperado até o apartamento de . Escolhi uma muda de roupa que achei mais bonita, coloquei dentro de uma sacola, e, assim que passei pela cozinha, me lembrei do que tinha acontecido. Agora isso já era passado, vamos viver o presente e o resto é resto. Abri a porta e saí. Desci pelas escadas, era bom me exercitar um pouco. O porteiro ficou me olhando, deve ter pensado que eu era uma gótica drogada. Fazer o quê, né? Entrei no Audi, que tinha estacionado à frente do prédio, e voltei para casa. ainda estava no banho.
– Hey, sai daí. Se não você vai derreter! Ou acabar com a água de toda a vizinhança. – bati na porta.
– Já voltou? Você foi rápida. – disse, surpreso.
– É, para variar, encontrei o povo ai na porta. – abri a porta do banheiro. – Tampe suas coisas que vou entrar. – avisei.
– Sua tarada! – deu um grito fino, o que me fez rir.
– Gay. Suas roupas estão aqui. – falei, colocando as peças em cima do cesto de roupa.
– Valeu. – agradeceu.
Saí do banheiro e peguei meu celular no quarto, fui para a sala e o liguei. Nossa, comecei a receber milhões de SMS. Não os li, apenas liguei para , que demorou para atender.
– Oi. – sua voz sem emoção falou no outro lado da linha.
– ?! – saiu mais como uma pergunta do que afirmação.
– Diga. – ele estava chateado, dava para perceber.
– Me desculpe por ter te tratado daquele jeito. – falei enquanto fazia desenhos abstratos na minha perna.
– Uhum. Só para isso que você me ligou? – foi completamente indiferente.
– É.
– Então tchau. – desligou na minha cara.
Retornei a ligar.
– Sua mãe não te deu educação? – falei assim que ele atendeu.
– Você vem falar de educação comigo? Viu como me tratou quando fui aí? Eu estava morrendo de preocupação contigo e o que recebo é grosseria. O estava certo. Você é uma grossa mesmo, por isso está sozinha. – ele estourou. Arregalei os olhos, não estava esperando por aquilo.
– Não acredito no que acabei de escutar do meu melhor amigo. – falei, lentamente, unindo minhas sobrancelhas. – Logo de você, ? O único que pensei que nunca falaria isso para mim. Obrigada. – sim, agora eu estava morrendo de raiva, e sim, poderia matar alguém.
Desliguei antes de ele responder qualquer coisa. Levantei do sofá e taquei o celular na parede, fazendo-o quebrar na mesma hora. Arranquei minha touca e meu poncho. Passei a mão em meus cabelos ainda molhados, que estavam ainda colados na cabeça. Fui para meu quarto e saí revirando todas as roupas.
– O que foi esse barulho? – perguntou, entrando no quarto. – ? – se aproximou de mim e me segurou. – O que foi? – eu estava dando um ataque.
– Eu sou tão ruim assim que ninguém consegue mais ficar perto de mim? Porque eu devo ter algo muito grave para fazer todos me odiarem! – praticamente gritei e Max começou a latir. – Também, quem aguentaria ficar perto de uma grossa, estúpida, cavala que nem eu? – quando terminei de falar, já estava chorando.
– Não diga isso. Você não tem nada de errado. – me abraçou. – Pode chorar, estou aqui com você. – respirei fundo. – Olha, seja o que for que tenha acontecido, não ligue. Se falaram alguma coisa que não gostou, finja que não escutou.
– Não. Não vou chorar. – enxuguei minhas lágrimas. – Chega de drama, chega disso tudo. Quer saber? Eu quem não me aguento MAIS! – ele me olhou sem entender nada. – Não sou bipolar. – avisei e ele riu. – Quero sair. – falei mais calma agora. – Não quero mais ficar dentro desse lugar.
– Ok, mas tira essa roupa, porque está horrível. – sorri e caminhei até meu armário.
– Escolha você. – disse, abrindo a porta e depois me sentando na cama.
– Não sei fazer isso. – reclamou. – Coloque só algo que seja menos macabro.
– Se vira! – taquei um travesseiro nele. – Escolha algo que ache legal.
– Ok, depois não reclame. – começou a revirar meu armário.
começou a mexer e logo se virou para mim, e me tacou duas peças de roupa.
– Não demore. – avisou e saiu do quarto.
Olhei para as roupas que ele tinha me entregado. Sério, eu iria parecer uma quenga de boca de fumo com aquilo. Mesmo assim, a vesti. Passei uma maquiagem que combinasse e prendi o cabelo em um rabo de cavalo alto, segurando alguns pedaços da franja e só deixando alguns fios caídos. Peguei um sobretudo, já que com minha barriga de fora e a blusa sendo fina, eu sentiria frio. Abri a porta do quarto e saí com o agasalho na mão. estava estirado no sofá da sala, me esperando.
– Uau. – disse quando me viu.
– Cala a boca, estou parecendo uma puta. – cruzei os braços e rolei os olhos.
– Não, você está linda. – ele me olhava de cima a baixo.
– Me poupe. Anda, vamos logo. – fui andando na frente.
Estávamos dando uma volta de carro já havia um tempo. Minha barriga já estava roncando, e eu não tinha a menor ideia de onde íamos comer, só esperava que não fosse em um lugar muito cheio.
– , onde é esse maldito restaurante? – perguntei por fim.
– Calma, já estamos chegando. – sorriu.
Depois de mais um tempo, estávamos na frente de um portão enorme, o muro era alto e uma cerca viva o envolvia. fez sinal para um homem que estava na guarita e o portão se abriu. Não falei nada, apenas fiquei observando. Ele estacionou o carro na frente da casa, que não era nem um pouco pequena.
– Onde estamos? – olhei em volta.
– Na casa dos meus pais.
– Tá me zuando, né? Por que não me falou? Eu não teria deixado que você me desse essas roupas. Não posso entrar vestida assim, sua mãe vai pensar que sou uma prostituta! – falei, nervosa. – , eu vou te matar!
– Dá para parar de falar? Você está linda, e minha mãe não vai achar nada. – segurou minha mão, que estava gelada.
– Não tem graça. – eu estava séria, não podia entrar na casa dos pais dele daquele jeito.
– Anda, vamos. – disse, saindo do carro.
– Não! – cruzei os braços.
deu a volta e abriu a porta para que eu saísse, mas me neguei a fazer isso.
– Não quer que eu te tire daí à força, quer? – perguntou, esticando sua mão para que eu a pegasse.
– Sério, me lembre de te matar depois que sairmos daqui. – reclamei, pegando sua mão.
Ele pegou meu casaco no banco de trás e segurou para que eu o vestisse. era tão cavalheiro. Não resisti e dei um sorriso.
– Obrigada. – dei um beijo em sua bochecha.
– Não precisa agradecer. Anda, venha. – pegou minha mão e me puxou para dentro da residência. – Chegamos! – gritou e tirou meu casaco, o entregando para um senhor que o pegou.
– Finalmente, pensei até que não viriam. – escutei uma voz feminina falando. – Oi. – acho que a mulher se espantou ao me ver, pois ela deu uma parada e depois voltou a andar.
– Olá. – falei ao ver a mulher entrar. – Você deve ser a Senhora . – sorri.
– Por favor, me chame de Pamela. – disse, vindo até mim e me abraçando. – Meu filho fala muito de você.
– Mãe, não entrega as coisas assim logo de cara. – brincou.
– ! – Jonh, pai de , falou aparecendo por uma porta. – Minha querida, senti sua falta no pub. disse que você teve uns problemas de saúde. Está melhor?
– Ah, sim! Novinha em folha. – alarguei o sorriso. – não me disse que viríamos aqui, se não eu tinha trazido algo.
– Que isso, querida, não se preocupe. – Pamela sorriu. – Vamos, o jantar vai ser servido. – pegou em minha mão e saiu me puxando.
– Mãe, pare de roubar a de mim. – reclamou o menino, vindo andando atrás de nós.
– , para de reclamar, você tem ela todos os dias. – a mãe dele lhe lançou um olhar de censura e eu ri.
O jantar foi maravilho, entre muita conversa e umas boas risadas. Nada de especial, mas realmente a comida estava ótima. Depois que enchemos a barriga, nos mandamos.
– Não esquente para as bobeiras que minha mãe fala. – disse ele.
– Não ligo. Ela é muito simpática. Seu pai também é. Agora sei de onde você saiu assim tão… tão… – não sabia que palavra usar.
– Tão?
– Tão ! – gargalhei. – O jantar foi ótimo, obrigada, estava precisando disso.
– Disponha, madame. Agora que minha mãe te conheceu, vai querer você sempre lá. – conversávamos enquanto dávamos outra volta pela cidade.
– Quem sabe. Se você me convidar, eu até posso ir. – o olhei.
– Você sempre será bem vinda. – sorriu. – Quero que vá à escola amanhã.
– Eu vou. – concordei
– Tá falando sério? – me olhou pasmo.
– Sim. – ri. – Por quê não estaria?
– Sei lá, você gosta de me zuar.
– Nem sempre, seu bobo. – dei língua.
Paramos na frente de uma boate.
– É hora de nos divertimos. – disse e eu sorri.
Há muito tempo eu não saía de casa à noite, ainda mais para ir em uma boate. Saí do carro toda feliz, eu simplesmente amava isso. Me lembro das vezes em que saí com o Jared, e digo, foram as noites mais divertidas.
24 de março, terça-feira, ressaca.
Meu rádio/relógio estava aos berros na minha cabeceira. Bati com a mão nele, o fazendo parar. Minha cabeça estava latejando e eu não tinha a menor vontade de levantar, vou entrar na segunda aula. Virei para o lado e voltei a dormir. Acordei assustada com Josh me gritando e puxando minhas cobertas. Semicerrei os olhos, tentando focar o que estava realmente acontecendo, ele falava que eu tinha que ir para a escola e levá-lo, também. Depois de muitos resmungos, levantei, me arrastando. Fiz minha higiene matinal, me vesti e fui para o colégio, deixando Josh no dele.
– Finalmente você veio para o nosso acerto de contas, vadia. – Green parou na minha frente, de braços cruzados.
Tirei o fone de ouvido. Eu deveria estar com olheiras enormes e com cara de sono, e realmente estava, mas, como minha noite anterior foi tão boa, ela não conseguiria me tirar do sério assim tão fácil.
– Falou comigo? – perguntei, fingindo que não tinha escutado o que ela disse.
– Você é a única vadia que vejo por aqui, então é com você mesmo. – ela tinha toda aquela pose de ser superior.
– Não seja por isso. Se olhe no espelho e vai ver que a única vadia aqui, querida, é você. – dei um tapinha em seu ombro e saí andando. Green ficou vermelha e, antes que ela começasse a gritar na minha cabeça, que já estava explodindo, coloquei meus fones de ouvido.
– Não me deixe falando sozinha! – ainda assim escutei a galinha cacarejar.
– Dá um tempo, Green. Fica na sua e eu fico na minha, acho que vai ser melhor para você. – continuei andando, ela não disse mais nada. – Hey, . – chamei quando o vi mexendo em seu armário.
– O que foi? Decidiu dar as caras? – já esperava mesmo essa reação dele.
– É. Preciso falar com você. – me encostei no armário, desejando que aquilo fosse minha cama.
– Fala, estou escutando. – ele mal me dava atenção.
– Queria saber o que você tinha para me falar no primeiro dia de aula. – cruzei os braços e fechei os olhos. Sono, dormir, cama, travesseiro.
– Você não quis escutar, então não tenho o que falar. – parou de mexer no armário. – Sua noite foi boa, pelo que parece.
– Foi ótima. – dei um sorriso e abri os olhos. – Agora me diga o que você queria falar. Preciso saber.
– Hum. Por que agora esse interesse todo em saber o que tinha para falar? Já passou. – disse, fechando a porta do armário com força.
– Então não tinha nada mesmo para falar, porque, se tivesse, já teria me contado. – dei de ombros.
– Você é muito chata. Anda, vem comigo. – fez um sinal com a cabeça.
O segui até o pátio da escola e nos sentamos debaixo de uma árvore.
– Então, fala. – coloquei a mochila no chão e me sentei em cima para não molhar minha calça na grama úmida.
– Sabe quando ficamos? – ele fez o mesmo.
– Quando? – já tinha sido algumas vezes para que eu soubesse em qual exatamente ele estava falando.
– Na formatura. – me olhou.
– Hum, e o que tem? – encostei a cabeça na copa da árvore.
– Então… er… – ele foi ficando vermelho e coçou a cabeça.
– A camisinha estourou? – perguntei, já sabendo a resposta.
– Como você sabe? – me olhou, curioso.
– Não vou mentir para você. Bem… faltei esses dias por um motivo. – fechei os olhos, não queria ver a reação dele quando eu contasse.
– Que motivo? – sua voz saiu de preocupação.
– No dia em que fugi daqui da escola, fui para a casa do , comecei a sentir muita dor, aí ele me levou para o hospital… – a cena se passava rapidamente em minha mente, e falar sobre aquilo abria uma ferida em meu peito.
– Onde? – odeio essa preocupação dele.
– Calma, me deixe terminar. O médico disse que tive um aborto. – voltei a abrir os olhos e encarei a grama úmida.
– Você estava grávida? E era de mim? – sua voz saiu baixa.
– É. – respirei fundo. – Falei que era impossível, até me lembrar do que aconteceu. Aí deduzi tudo isso. Eu não sabia de nada.
não falava nada. Aquele silêncio todo estava sendo torturante demais para mim, então levantei, peguei minha mochila e saí andando.
Capítulo betado por Taaci
10. Nasci na noite errada
13 de Junho, sexta-feira, shopping.
Não sei quando as coisas se tornaram tão estranhas. Cada dia que passava, eu me sentia pior, em vez de me sentir melhor. não falava mais comigo, me evitava, ele tinha ficado esquisito depois que contei o que aconteceu comigo. Mas agora eu e nos aproximávamos cada vez mais, assim como Lais e Perez não nós descolávamos, sempre estava conosco. Nós estávamos no shopping agora, como o próprio dizia, nós éramos o trio pancada. O mais estranho era que nós três tínhamos estilos completamente diferentes, Lais a nerd e Perez a patricinha, mas nos dávamos super bem. E, pela primeira vez na vida, eu tinha amigas. É isso aí, minha gente, eu no shopping fazendo compras como uma menina normal e ainda falando de meninos. Bizarro, né?
– O é lindo! – Lali suspirou.
Eu e Dominique a olhamos.
– Você está gostando do ! – falei alto e algumas pessoas nos olharam.
– Para de gritar, menina. Eu só disse que ele era lindo. – Lais ficou vermelha.
– Uhum. Sei. O também é lindo! – Dominique debochou. – Tão lindo que é meu namorado. – rimos juntas.
– Gente, pare com isso. Não falo nada da com o . – Lali acusou.
– Onde que o entrou nessa história? – cruzei, indignada, meus braços.
– Desde quando vocês sempre estão juntos, e toda hora você fala: “O me ajudou e escrever uma música”, “ é muito fofo”, “Eu vou para o apartamento do ”, “Espera aí, é o que tá ligando”, “Vou sair com o …” – Lais tentava imitar minha voz.
– Tá, chega. – falei, a interrompendo. – Ele é meu amigo.
– Sei, amigo. – Perez semicerrou os olhos. – Queria ter um amigo que vai me buscar na escola todos os dias.
– Vou fazer o quê? Ele vai lá, me oferece uma carona e eu aceito. – levantei as mãos de uma forma inocente. – Quem dera eu gostar dele como algo mais, estaria dando até pulinhos de felicidade.
– Como assim? Você não gosta dele como algo mais? – Lali me encarava, pasma.
– Daria tudo para ser apaixonada por ele. – falei, deixando os ombros caírem. – Sabe, ele é perfeito, mas não rola.
– E com quem rola? – a voz de me fez gelar.
– Me fala que não é o , e que estão atrás de nós. – disse, balançando a cabeça em negação. Não acredito que os três patetas estavam escutando a nossa conversa.
– Bem. – Dominique olhou para trás. – Você acertou.
– É que hoje é sexta feira 13 e os zumbis levantam do túmulo. – dei uma risada com meu comentário.
– Valeu pela parte que me toca. – passou por mim. – fazendo compras com as meninas. É mesmo assustador. Acho que em uma sexta feira 13 tudo é possível, né?
– Não tão assustador quanto a sua cara feia. – retruquei. – O passeio estava ótimo demais para ser verdade.
– Se estamos atrapalhando tanto assim, vamos embora. – falou com grosseria.
– Não se preocupe. Pode ficar com as meninas. Eu que vou embora. – dei de costas e saí andando.
– , volta aqui! – Lais segurou meu braço. – Já está enchendo o saco essa sua briga com o . Qual é?! Vocês eram tão amigos! – ela olhou para ele.
– É que eu gosto de FICAR SOZINHA! – disse alto, olhando para .
– Ficou ofendida por que eu disse a verdade? – ele veio andando até mim. – Não aguenta escutar as coisas?
– Sabe, , eu esperava mais de você. Acho que nunca esperamos que nossos melhores amigos nos pisassem. A minha decepção com você foi grande. Só isso. E se não falo com você é porque realmente fiquei ofendida com o que me disse. Tudo bem, sou sempre grossa com tudo e com todos, mas você não! – apontei o dedo para o peito dele.
– Hey… Vamos parar de briga. – entrou no meio de nós.
– Não tem ninguém brigando, . – falei. – Obrigado, , por ser outra grande decepção na minha vida. – olhei dentro dos olhos dele e saí andando.
Idiota! Um grande idiota! Eu andava depressa, quase correndo. Não ousei nem a olhar para trás um momento sequer, já estava caçando meu celular na bolsa para ligar para o vir me buscar.
– ! Dá para andar mais devagar?! – olhei para trás e vi correndo em minha direção.
– Vá pro inferno, ! – gritei, já achando meu celular.
não respondeu. Quando olhei para trás, não o vi, mas, quando olhei para frente, dei de cara com ele. Não deu nem para raciocinar, do nada me abraçou.
– Desculpa. – disse ele.
Olhei para o lado e vi o pessoal se aproximando, guardei meu celular no bolso do meu short.
– Precisamos conversar, venha. – saí, o puxando pela mão.
Fomos para o estacionamento do Shopping.
– Você é um idiota! – falei, o empurrando contra a lateral de sua BMW. – É um idiota enorme! Um dos maiores que existe! – o xinguei, enquanto o mesmo ria.
Abracei-o com força e dei um beijo em seu pescoço, já que estava na altura do meu rosto.
– Senti sua falta. – sussurrei, ainda abraçados.
– Posso saber o que significa isso? – perguntou, o que fez eu e nos soltarmos rápido.
Eu cheguei a cair sobre o outro carro, encarei e .
– Pra que esse escândalo todo?! – falei.
– Você está no maior amasso com o e eu chego achando isso o maior absurdo, você pergunta o motivo do escândalo? – ele parecia uma bicha desvairada.
– Amasso? Tá doido ou zarolho?! Você que vive esfregando a Green na minha cara e se agarrando. Eu não falo nada disso! – disse, indo na direção dele.
– Ah, sim! Eu fiquei esfregando a Green na sua cara e em troca você agarra o meu melhor amigo. Tirando que não contei a vez da formatura. – cuspia as palavras.
– Para de me deixar assim, ! Eu não agarrei ninguém, só estávamos nos abraçando! – me defendi, odiava ser acusada por algo que eu não tinha feito.
– , você gosta do ? – , que permanecia quieto até o momento, indagou.
– Hã? Não! – olhei para o chão.
– Uhum, sei. Vou deixar vocês conversarem. Depois nos falamos. – saiu andando vendo que a confusão já estava começando a ser armada.
– Como que você pode agarrar o ? Está a fim de destruir minha amizade com ele ou coisa parecida? – estava furioso e andava de um lado para o outro.
– Eu não agarrei ninguém, era só um abraço. Anda, vai, me odeia por isso também. – passei a mão no rosto, nunca fiquei tão nervosa assim com a presença daquele garoto.
– Mas na formatura vocês se beijaram. E não adianta mentir! Eu vi! Pensei que você fosse diferente. Me enganei. É só mais uma vadia como outra qualquer. – falou isso, me olhando sério.
– Cale a boca. – disse, olhando para ele e lhe dei um tapa na cara. – Não sei por que ainda falo contigo. Acho que é porque tem uma coisa dentro de mim que não se conforma que você é um babaca. Mas posso te falar uma última coisa? Não te perturbo mais com nada, sumo até da cidade, e você nunca mais me vê. – minhas mãos tremiam e eu ia fazer um buraco no chão a qualquer momento de tanto que andava de um lado para o outro.
– Diga. – ele cruzou os braços.
– Você se lembra da primeira vez que nos beijamos? – parei de andar e o encarei.
– Sim, o que tem?
– Depois daquele dia, o que eu sentia por você mudou. Não consigo mais dormir. VOCÊ não me deixa dormir. Acho que gosto de você de verdade. – dei uma pausa. – Era só isso que tenho para falar. – peguei minhas sacolas, que estavam no chão, e saí andando. Estava me sentindo mais leve depois de ter dito aquilo.
– Eu sempre te irritei para chamar a sua atenção. Queria que você me notasse. – falou de longe.
– E conseguiu. Acho que seu plano deu mais do que certo. – falei, me virando para ele e andando de costas. – Eu disse que não ia te perturbar mais, então estou indo nessa. – tentei parecer normal e sã, mas, por dentro, estava completamente surtada apesar de não sentir tanto peso. Queria ficar com ele.
– Você adora me ver correr atrás de você, né? – disse, correndo em minha direção.
– Adoro. – fim um biquinho e pesquei. – Adoro ainda mais quando você me agarra à força. – saí correndo pelo estacionamento.
– Você não presta, menina. – falou e conseguiu me alcançar.
Ele me virou e então nos beijamos. Soltei minhas bolsas. Meus dedos entrelaçaram os cabelos da nuca de . As mãos dele apertavam minha cintura com força. Seu beijo me deixava atordoada. Aquela sensação era maravilhosa. Nos assustamos quando escutamos o barulho de uma frada brusca.
– ! O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? – Green saiu do carro, gritando. – VOCÊ ESTÁ FICANDO COM ESSA VADIA?! EU NÃO ACREDITO NISSO!
– Ela não é vadia! – ele disse, nervoso. – Não te devo satisfações. – ainda estávamos abraçados.
– Claro que deve! Além de ser o pai do filho que estou esperando, você é meu namorado!
– Filho? – indaguei. – Ela disse filho, ?
– É, vadia, você não escutou? Então vou repetir! Estou esperando um Jr. – Green sorriu, vitoriosa. – Então tire essas patas imundas de cima do MEU NAMORADO!
Aquela informação estava sendo demais para minha cabeça confusa. Fiquei parada. Não acredito nisso. Por que sempre quando parece que eu e o vamos nos acertar o universo conspira contra nós? Qual é, Deus?! O que eu fiz para merecer isso. Me soltei dele.
– , espera. – tentou segurar minha mão, mas a puxei.
– , vamos embora. – Green disse.
– Cale a boca, garota! – retrucou, nervoso, vindo atrás de mim. – Hey, , por favor.
– Não fala comigo. – resmunguei, pegando minhas coisas no chão e saí andando entre os carros estacionados.
vinha atrás de mim. Aquilo tinha me acertado como um tiro.
– Agora entendo por que estava tão estranho durante esse tempo. Era porque a Green estava esperando um filho seu e você não tinha coragem de olhar para mim. Obrigada por me poupar desse trabalho. – nossa, eu estava com vontade de chorar, gritar, socar alguma coisa, me atirar na frente de um caminhão, qualquer coisa, menos olhar para a cara dele mais um segundo que fosse.
– Esse filho não é meu. É tudo mentira dela. Acredite em mim. – ele tentava fazer com que eu parasse de andar e o olhasse.
– Acredito no dia que você me mostrar o teste de DNA. Acho que ela não seria tão burra a esse ponto. – parei de andar e me virei para , já que era isso que ele tanto queria. – Pare de mentir. Estou sendo tão verdadeira contigo. – meus olhos começaram a marejar.
– Eu sei, não estou mentindo, esse filho não é meu. Por favor, , acredita em mim. – ele não sabia o que fazer, também.
– Não dá, eu juro que estou tentando, mas não consigo. – as lágrimas escapavam dos meus olhos. – Pegue o que sinto por você e taque no lixo. Porque não quero mais sentir.
– Não. Não. Não. – ele me abraçou forte. – Não me deixa. Fica comigo. Não quero e nem posso te perder.
– Você já me perdeu. – meu peito estava doendo. – Perdeu no dia em que você a engravidou. – minha garganta também doía, estava ao máximo tentando prender meu choro.
– Não. Não faça isso comigo. Gosto demais de você para suportar te perder. – falou, beijando todo meu rosto. – Não me deixa, estou te implorando. – o olhei nos olhos e vi que ele chorava.
– Pare com isso, . Não temos futuro, acho que nunca tivemos nem passado e muito menos presente. Nunca vai dar certo mesmo. – encarei o chão, acreditando que seria mais seguro.
– Não diga isso. Se não for você, não quero mais ninguém. – puxou meu rosto para cima.
– Você já tem alguém. Esse alguém é a Green. Fique com ela. Case com ela e me esquece. – tirei suas mãos de mim e corri muito sem olhar para trás.
Não sei como minhas pernas estavam fazendo isso, mas estavam. Eu nem sabia para onde estava correndo. Peguei meu celular na bolsa e mandei um SMS para vir me buscar. Quando, finalmente, me localizei, fui esperar minha carona na porta do shopping. Já era verão e estava abafado, e isso estava me dando mais nervoso ainda, já que eu estava suando e não tinha nada para prender meu cabelo que caía pelas minhas costas, me deixando com mais calor ainda. não demorou para chegar. Entrei no carro depressa. Agradeci por ele estar com o ar condicionado ligado.
– O que aconteceu agora? – perguntou ao me ver chorando.
– O vai ser pai. – cobri meu rosto com minhas mãos.
– De novo? – brincou. – Tá, parei.
Contei o que aconteceu no caminho para casa.
– É, está difícil de vocês ficarem juntos. – disse, estacionando o carro em frente do seu prédio.
– Não quero mais vê-lo. Agora é serio. Preciso mesmo esquecê-lo. , isso dói demais, vê-lo e saber que não vamos ter nada. – encostei minha cabeça no vidro.
– Venha cá, minha princesa. – disse e me abraçou.
À noite fui para o pub tocar, como já era de costume. Essa era a minha última música quando vi entrar. Fiquei sem saber o que fazer, mas a única coisa que se passou pela minha cabeça era sair dali. Uma coisa que sempre detestei foi ser fraca e era exatamente isso o que estava sendo. Uma hora eu teria que levantar a cabeça e seguir em frente. Respirei fundo e continuei com meu trabalho, o ignorando. Ele me olhava atentamente, o que me deixava nervosa. Sinceramente, queria saber o que ele viu em mim, sou apenas uma menina suburbana qualquer, não tenho nada em especial, muito pelo contrário, sou cheia de defeitos, grossa e arrogante. E ele é o menino popular bonitão que namora a líder de torcida vadia. Não sei quando se passou pela minha cabeça que isso poderia dar certo. Nunca daria, é mais que óbvio. Jared me falava que eu tinha mania de insistir sempre em algo que não daria certo, só pelo motivo de acreditar que era o certo a se fazer, mesmo sabendo das consequências que teria, nunca tive medo de me machucar, e seguia em frente com aquilo. Só que agora tudo mudou, as coisas são diferentes, ele não está mais aqui do meu lado, e eu não sou mais quem costumava ser. De uma traficante trombadinha, virei uma civil que trabalha para pagar suas contas. Assim que terminei, as pessoas levantaram e bateram palmas para mim.
– Obrigada. – agradeci com um sorriso.
Desci do palco e fui para um minicamarim que tinha no pub. Me atirei no sofá, que tinha ali, desejando que tudo fosse mentira, que meu coração fosse arrancado e colocado dentro de uma caixa de madeira. Nunca pensei que um sentimento dessa proporção existisse, nem que eu o sentiria. Acho que foi isso que me fez ficar diferente. Alguém bateu na porta.
– Vai embora! – gritei, irritada.
Por sinal a pessoa não me obedeceu, já que escutei o barulho da porta se abrindo.
– Me desculpe. – pediu.
– Já não chega de tudo? Já falei para você me esquecer. Não aguento mais, some da minha vida! – falei, levantando do sofá e ficando de frente para ele.
– Não posso. É mais forte do que eu. – me abraçou. – Não vou desistir. Vou ficar atrás de você até acreditar em mim. – ele podia até estar tentando nos juntar, mas o caso era que eu não queria mais tentar.
– Não, você não vai fazer isso. De forma alguma. Chega. Acabou. Fim da linha! – o afastei.
– Vou lutar por nós. – se manteve firme, aquilo me pareceu uma promessa.
– Nunca existiu nós. – uni as sobrancelhas em revolta. – Sempre foi só você. Você quem começou com isso tudo e você quem terminou. – falei, engolindo meu choro que queria vir à tona mais uma vez. – Agora vá embora antes que eu chame alguém para te tirar daqui. Ou que eu perca minha paciência e te sente a mão na cara! – apontei para a porta e dei as costas, era mais fácil assim.
– Cadê tudo o que você sente por mim? – me abraçou por trás. Dei uma risada irônica.
– Nunca existiu, acho que foi mera ilusão da minha cabeça. Agora, sai. – minha voz saía com frieza, minha mão estava fechada fortemente em punho na tentativa de me controlar.
– Você vai se arrepender por dizer isso. Vou te provar que não estou mentindo. – disse, me soltando e saindo do camarim.
– SAI! – gritei e taquei um vaso na porta.
Caí de joelhos no chão e dei um murro no mesmo com força. Tinha vontade de gritar! Novamente, escutei alguém bater na porta. Que inferno, me deixa em paz! Precisava ficar sozinha, mas acho que se fizesse isso acabaria fazendo alguma merda.
– Some, ! – esbravejei.
– Não é o , é o . – disse , entrando. – ? – veio até mim correndo. – Você está bem? Ele te machucou?
– Não. – murmurei. – Nem seria louco.
– Certeza? – me examinava.
– Uhum. – fiquei em silêncio por um momento refletindo as coisas. – Eu o odeio.
– Minha princesa. – me abraçou. – Não fiquei assim. As coisas vão se ajeitar. – afundei minha cabeça em seu peito.
– Não vão. Não me iluda com isso. – falei, olhando para o nada enquanto meus braços envolveram seu tronco, o abraçando.
– Tem milhares de caras por aí. – ele tentava de toda a forma me consolar.
Escutamos alguém batendo à porta. me olhou como se pedisse permissão para que abrisse e apenas afirmei com a cabeça, me levantando no chão. Me olhei no espelho para me certificar que estava parecendo uma pessoa normal.
– Sim? – escutei perguntar.
– A Senhorita está? – uma voz grossa e familiar perguntou.
– Pode deixar entrar. – falei, já sabendo quem era. Coloquei água em um copo.
– Com licença. – vi o delegado David entrar pelo reflexo do espelho.
– Vou deixá-los a sós. – saiu, fechando a porta atrás de si.
– O que aconteceu, Sr. Delegado? – perguntei, dando um longo gole na água gelada, retomando um pouco o controle de minha voz. – Aceita? – ofereci e ele negou com a cabeça.
– Sei que não deveria te pedir isso. Mas acho que pode me ajudar. – ele permanecia de pé perto da porta.
– Por favor, sente-se. – gesticulei para um sofá de dois lugares e me sentei em uma cadeira. – Posso ajudar em quê?
– Você é nova e bonita. Sabe lidar com certas situações. Queria perguntar se está disposta a participar de uma operação do FBI. – perguntou assim que se sentou.
– Uma operação? Tá legal. Câmeras podem sair. Isso só pode ser uma pegadinha. – olhei para os lados. – Isso é algum tipo de piada?
– Não, estou falando sério. Me acompanhe até a delegacia que poderei lhe informar mais sobre o caso. – pediu.
– O que ganho com isso? – perguntei, cruzando os braços.
– Posso limpar a sua ficha e você será remunerada. – hum, isso me agradou, e muito.
– Está bem, vou com o Sr. e vejo se posso ajudar. – levantei, pegando minha bolsa.
– Então, vamos. – David também se levantou e me acompanhou.
Saímos pelos fundos do pub para que ninguém visse. Chegamos rapidamente à delegacia, afinal o David estava de carro. Fomos direto para a sala dele, onde me sentei no sofá de couro velho que tinha logo na frente da mesa a cerca de dois metros de distância. O delegado pegou uma pasta e me entregou, depois se encostou na frente de sua mesa velha de madeira.
– Esse cara é suspeito de tráfico de cocaína, lavagem de dinheiro e mercado negro de órgãos. – disse David. Legal.
Abri a pasta e peguei a ficha.
– Jack Armstrong, 27 anos e foi visto pela última vez em New York no cassino Holiday Step. – li em voz alta e peguei uma foto. – Bonito o rapaz. – voltei a ler a ficha. – Cor natural de cabelo: Loiro. Pele: Branca. Olhos: Verdes. Altura: Cerca de 1,85m… David, fala sério, isso aqui é uma ficha do FBI? Está mais parecendo uma daquelas coisas de enquete de revista teen. – perguntei, levantando e jogando a pasta em cima da mesa. – Onde ele reside? Contatos próximos? Mulheres com que ele costuma transar? Bares que frequenta? Pelo amor de Deus! Vocês são o FBI e o máximo que conseguem é isso?
– Esse cara é difícil de achar. Nossos detetives não conseguiram chegar nem perto. – tentou se defender.
– Ele deve ser apenas um laranja. O dono dessa máfia deve ser um velho rico. – debochei. – E se seus caras não estão conseguindo nem chegar perto, deve ser porque são ruins. É simples de chegar perto de um laranja feito esses. – sabia disso, pois Jared andava com muitos desses caras que se achavam o dono de tudo. E era tão simples se aproximar, era só jogar uma meia dúzia de palavras sobre o que lhe interessava que o cara abria o bico lhe passando informações.
– Você vai nos ajudar? – David me cortou. – Ele nunca desconfiaria de uma menina como você.
– Claro, quem vai desconfiar de uma garota de 16 anos. Sinceramente, acho que isso não tem cabimento algum, e você só está me propondo isso com outras intenções, na qual não quero saber. Mas sua oferta foi boa, sei como chegar perto de homens feito ele. Só espero que não seja nenhum conhecido do Jared e que ele não me reconheça. – revirei os olhos.
– Mesmo que ele já tenha te conhecido, não vai se lembrar tão facilmente. Você vai estar disfarçada. – aquilo tudo era tão filme policial.
– Está bem. Semana que vem já devo estar de férias e posso ajudá-los. Mas só teremos 20 dias. – avisei.
– Ok, acho que será o suficiente.
19 de junho, quinta–feira, dia da viagem para NY.
Estava no apartamento de passando o tempo até a hora do meu voo. Nós estávamos na cozinha conversando.
– Quer dizer que você vai viajar e não pode me contar para onde? – perguntou, brincando, me oferecendo um copo de refrigerante.
– Já disse, . Vou para a casa do meu pai. – ri da careta que ele fez.
– E por que não posso ir com você? – estava de bico.
– Por que não. Lá é chato e entediante. – tentei enrolar.
– Mais um motivo para eu ir junto contigo. Seu pai já até me convidou. Não vou te deixar cair no tédio. – sorriu, se sentando na cadeira ao meu lado.
– Meu pai é um enxerido, isso sim. Sério, , deixa para a próxima. Agora já vou indo que ainda tenho que arrumar minhas coisas. – disse, levantando e dando um beijo na testa dele.
– Isso é injustiça comigo. O que vou fazer um mês sem você aqui? – ele ainda permanecia sentado.
– Um mês? Vou amanhã e só volto quando as aulas começarem, nem é um mês! – o lembrei.
– Aí, está vendo! É mais que um mês. Não vou te deixar ir. – abraçou minhas pernas. Ele era muito exagerado.
– ! Me solte, vou acabar caindo assim. – comecei a rir. – Me leva até a porta, anda. – dei um tapinha em seu ombro.
me levou até a porta.
Nem precisei passar em casa. Fui direto para o aeroporto onde David já me aguardava.
– Pensei que não viria. – o delegado falou, se aproximando. – Seu voo é daqui a 20 minutos, ande rápido.
– Calma, David. Descobriu mais alguma coisa? – perguntei enquanto andávamos.
– Sim, ele deve estar nessa boate amanhã à noite. – disse, me entregando uma foto do local com o endereço atrás. – Alguns agentes meus vão estar te esperando lá em New York. Qualquer coisa que precisar, peça a eles. Na sua mala tem uma pasta com todas as informações que precisa.
– Tá, cadê minhas coisas? – lembrei, me esquecendo completamente delas.
– Já estão embarcadas. – ele me apressava.
Logo foi anunciado o meu voo.
– Boa sorte, garota. – David me deu um abraço. – Tome cuidado.
– Está bem, papai. – brinquei. – Sei me cuidar. – sorri e dei uma piscada.
Capítulo betado por Taaci
11. Com o pé na estrada – Parte 1
20 de junho, sexta feira, Pink Elephat.
Assim quando acordei, me levaram direto para o salão. Lá mesmo fiz um bronzeamento artificial com um micro biquíni, ficando com marquinha de puta. Assim que terminei, dois homens e uma mulher praticamente me atacaram. Cortaram meus longos cabelos que caíam até minha bunda, ficando no meio das costas. Nem preciso comentar que quase tive um filho pela boca quando vi o tamanho que ele se encontrava, além de estar todo repicado em camadas, vindo até a altura de minha franja, que estava no meio do rosto. Eles falaram que iria pintar meu cabelo, mas não me disseram para qual cor seria. Depois que terminaram de pintar, fizeram uma escova nele, com cachos nas pontas.
Quando me olhei no espelho, tive um AVC, e comecei a me perguntar onde estava com a cabeça quando tinha aceitado a proposta de Harris. Tive vontade de fazer um escândalo, meu cabelo estava loiro claríssimo e com as pontas rosa pink! Sem dispensar as enormes unhas postiças que colocaram em meus dedos, com um esmalte preto. Lá mesmo me vestiram e me maquiaram, estava me sentindo um fantoche, ou melhor, uma palhaça de circo. Quando eles terminaram, encarei-me no espelho e vendo que nele estava refletida uma vadia de esquina. Não sabia que meu corpo teria tanto realce naquelas roupas, realmente do jeito que eu estava ninguém nunca diria que eu era apenas uma garota de colegial que tinha apenas 16 anos. Cara, quem me olhasse não acreditaria nunca que era eu, para falar a verdade, não estava conseguindo me reconhecer. Quando David disse que ficaria bem diferente, não acreditei que seria tanto.
Olhei no relógio de pulso onde marcava 00h12min. Nossa, fiquei esse tempo todo no salão? Afinal, essas pessoas não dormiam? O local ainda estava cheio. Por mais que não tivesse gostado do que fizeram comigo, agradeci assim mesmo e saí do lugar. Já tinha um táxi na porta me esperando. Adentrei nele, que me levou direto para a boate. Quando o carro finalmente parou, desci dele, deparando-me com um letreiro bem grande escrito “Pink Elephat”. É isso aí, garota, está na hora de atacar. Retoquei meu batom rosa claro de glitter, com a ajuda de um espelhinho, e os guardei de volta da bolsinha.
– Aí vamos nós – falei me encaminhando para dentro da grande boate com um andar sensual, sem dispensar meu rebolado.
Apesar deu ser quem eu sou, uma garota “moleque”, também sei ser uma mulher e, para confessar, Jared adorava me ver desse jeito quando saímos juntos, roupa curta e atraente. A grande verdade é que sempre escondo as coisas, não gosto que saiam por ai dizendo que sou uma puta que nem minha mãe, de prostituta já basta ela. Gosto de seduzir do meu jeito, de conquistar quem eu quero e não de atrair todos os cachorros do mundo apenas porque estou mostrando minhas pernas e peitos. Digamos que tudo o que eu quero, eu consigo.
Passei a mão entre os fios de minha nova franja, a jogando para trás junto com o cabelo, consequentemente atraindo olhares. Rolei os olhos e continuei andando, o lugar estava bem cheio. Peguei um Campari no bar e fui dar uma volta em busca da minha isca. Bingo. Dito e feito. Ele estava lá. Lindo e irresistível, exatamente como nas fotos. Jack Armstreng. Meu novo alvo. Ele estava sentado em um dos sofás junto com uma bela mulher ao seu lado e mais alguns caras que conversavam com ele. Fiquei parada de longe apenas o observando, nada de abordagem por enquanto. Fiquei rodeando até que ele me notasse, o que demorou, e muito. Enquanto isso, tive que escutar algumas cantadas baratas de uns tarados que me secavam. O que me restou foi apenas ficar “filmando” a linda escultura de longe. Assim que a mulher saiu, vi uma brecha, fiz sinal com meu indicador para que ele se aproximasse, enquanto mordicava o canudinho de meu copo quase vazio agora. Saí andando rebolando e olhei por cima de meu ombro para me certificar de que ele tinha mordido a isca. E sim, meu peixão havia mordido. Dei um sorriso safado no qual ele viu e deu outro em troca. Caminhei em direção à pista de dança, entregando meu copo já vazio para o primeiro que cruzou meu caminho. Agora tocava Beautiful People do Chris Brown. Levantei meus braços enquanto entrava no meio das pessoas e começava a dançar no ritmo da música. Pude sentir o toque suave em minha cintura. Sorri e me virei, era Jack. Se eu já havia o achado bonito antes, agora assim mais de perto, ele era lindo demais. Passei a mão em seu pescoço, roçando de leve minhas unhas pelo local.
– Nunca te vi por aqui – comentou ele com uma voz atraente em meu ouvido. Puxei-o lentamente para mais perto, mencionando que ia beijá-lo, mas guiando meus lábios até seu ouvido.
– Acabei de me mudar. Vim da Califórnia. – Pude sentir o cheiro de se perfume amadeirado.
– Logo percebi que suas curvas não eram Nova-iorquinas. – Passou a mão na minha bunda, e eu tive vontade de enfiar um murro no meio da cara dele.
Fechei os olhos e respirei fundo, tinha que agir feito uma vadia. Afinal, homens do estilo dele adoravam isso, mas não mais quando nos fazíamos de difícil. Então me afastei um rouco e fiquei de costas para ele, rebolando só para provocá-lo. Jack segurou minha cintura e me puxou para perto dele. Autocontrole, . Eu sei que sou capaz disso. Precisava beber mais alguma coisa, caso contrário, iria socar esse cara que está ALISANDO TODO O MEU CORPO! Ele me virou bruscamente para sua frente.
– Vamos lá, cara, me pague um drink primeiro. – Sorri escondendo minha raiva. – Estou morrendo de SEDE. – Jack também sorriu.
– Ok. – Pegou em minha mão e foi me guiando até o bar. – O que vai querer beber?
– Algo quente. – Fiz cara de safada.
– Eu posso te dar algo mais quente do que qualquer bebida – rebateu erguendo uma sobrancelha e me olhando de cima embaixo. Lambi meus lábios, aceitando a provocação.
– Vou querer um Martini. – Debrucei-me sobre o balcão, empinando a bunda para chamar algum barman.
Qualquer um que me conhecesse e visse essa cena, não acreditaria se não olhasse com os próprios olhos. Do jeito que aquele vestido era curto, eu apostava um doce que minha calcinha estava a menos de um centímetro para ficar à mostra. Meus peitos quase pulavam do decote, de tão apertado que estava. Depois de um pouco de demora, um barman veio nos atender.
– Ae, cara, me vê um uísque... – Olhei para Jack e ele tinha uma cara de tortura olhando para mim. – Sem gelo, e um Martini para essa deusa que está aqui ao meu lado – fez o pedido. – Qual é o seu nome? – perguntou por fim, voltando a me olhar normal agora.
– Eve, e o seu? – perguntei estendendo a mão para ele.
– Jack. – Pegou minha mão e deu um beijo nela. – Preciso ir mais vezes na Califórnia – comentou.
– Deveria mesmo, lá é lindo. – Dei uma piscadinha. – É um lugar que você nunca deveria deixar de ir.
– Concordo plenamente. – Aproximou-se novamente.
– Aqui – disse o barman com nossos pedidos, Jack lhe entregou seu cartão de pedido, no qual o homem cadastrou nossas bebidas.
Dei um longo gole no meu Martini, o sentindo descer quente por minha garganta. Já Jack, matou sua dose de Uísque em uma só golada.
– Hey – falei em seu ouvido. – Tenho que ir.
– Já? O baile mal começou – reclamou.
– É – disse perto de seus lábios, praticamente roçando os meus nos dele. – Isso é uma triste fatalidade, mas ela não precisa ser tão triste assim.
Jack me beijou. O gosto de Uísque com Martini se misturaram em um toque quente e molhado. Os lábios dele eram macios. Sua mão grande segurava minha nuca, aprofundando o beijo, e me impedindo de sair de seus braços largos; eu parecia uma criança perto dele, já que ele era bem forte e mais alto. Meus dedos agarraram com força sua nuca, puxando-o para mais perto do que já estava. Ele me encostou contra o balcão, prensando seu corpo contra o meu. Senti alguém cutucar meu ombro, o que me assustou. Separei-me dele para ver quem era, e era a mulher que estava sentada com ele quando o vi. Jack a olhou e depois para mim. Senti vontade de rir e pensei que aquela mulher agarraria meus cabelos, e foi exatamente o que ela fez. Eu não sabia como reagir, se lhe socasse, poderia entregar meu disfarce, então agarrei igualmente seus cabelos e começamos a brigar que nem dois bêbados, até que nos separaram e me expulsaram do baile, já que não tinha ninguém para me defender. Gab, um dos agentes que trabalhava na operação, fingiu ser um taxista e me pegou na porta da boate. Entrei no táxi morrendo de rir e completamente descabelada.
– Nunca tive uma briga de mulher desse jeito – comentei.
– Eu disse a Harris que não era uma boa ideia contratar uma criança para fazer esse trabalho – reclamou e eu apenas continuei rindo.
24 de junho, terça feira, Starbucks.
Acho que Jack não se esqueceria de mim tão cedo depois de sexta feira, ou talvez esquecesse, mas se caso isso acontecer, farei questão dele se lembrar de mim da forma mais gostosa possível. Isso que dá quando me deixam na seca. A pessoa fica alvoroçada quando vê um macho gostoso. Não sou santa e disso todo mundo já sabe, bom, mas isso não vem ao caso agora. O assunto é, que depois da minha grande saída da Pink Elephat, conseguiram pegar o rastro de Jack quando ele saiu, já que foi logo em seguida. Certamente devem tê-lo expulsado de lá também. Então não deu para ele se misturar com o povo que sairia na hora que a boate fechasse, e muito menos pelos fundos, pelo fato de ter sido mandando para fora. Senti meu celular vibrar debaixo do travesseiro, peguei o aparelho e vi quem era, caso fosse algum de meus amigos, não poderia atender, mas não, era Gab.
– Sim – falei assim que atendi, com voz de indiferença, já que ele havia me subestimado.
– , Jack está em uma cafeteria. Vá lá e descubra alguma coisa de útil – disse no mesmo tom de indiferença.
– Ok, me passe o endereço – pedi e fui anotando em um bloco pautado que eu havia deixado na cabeceira caso de precisasse, como agora.
Era em uma Starbucks não muito longe do hotel onde estava hospedada. Encerrei a ligação logo em seguida, levantei e me troquei. Antes de sair, me olhei uma última vez no espelho, continuei detestando aqueles cabelos loiros com rosa, cara, isso não combinava comigo! Peguei a chave do quarto e desci.
Quando saí do hotel, olhei para os lados, localizando-me. Parei uma mulher que passava na rua e perguntei onde ficava a Starbucks mais perto. Ela me indicou tudo, então agradeci e parti para lá. Assim que entrei no lugar, percebi que também era uma livraria; vi Jack sentado em uma mesa no canto, sozinho, mas fui até o balcão e comprei um Frappuccino. Depois entrei entre as estantes, pegando um livro e esperei até ele se levantar. Fui ao seu encontro, fingindo estar muito distraída com a literatura em minha mão, e Jack nem se quer olhava por onde andava, seu celular atraía toda a sua atenção. Dei-lhe uma trombada e soltei meu copo de propósito, junto com o livro, que por sorte não molhou.
– Me desculpe – disse ele guardando o celular.
– Não, tudo bem. – Abaixei-me para pegar o livro e olhei para cima tirando meu cabelo do rosto. – Jack, não é? – perguntei me levantando e fingindo uma pequena dúvida de qual seria mesmo o nome dele.
– Sim. Você é a menina da boate. – Ele pareceu tentar lembrar meu nome.
– Eve. – Ri.
– Isso. Eve. Não esperava te encontrar por aqui. – Jack deu um sorriso enorme. – Afinal, New York é enorme.
– É, mas quando as pessoas são destinadas a se encontrar, sabe como é, isso se torna inevitável – joguei um papo para cima dele.
– Destino. – Ele riu e balançou a cabeça. – Hey, acho que estou te devendo um café – disse olhando para o chão, vendo a mulher limpar a bagunça.
– Está mesmo. – Coloquei as mãos na cintura. – Nem pense em fugir sem pagar um novo para mim. – Rimos juntos. – Estou brincando, não foi nada, apenas um café.
– Faço questão. – Ele me puxou pela mão. – Qual que você quer? – perguntou encostando-se ao balcão.
– Hm… um Frappuccino blended beverage à base de Jack – falei colocando a mão no queixo e olhando o painel com as opções.
Ele me olhou e sorriu. Fingi não ver, mas acabei rindo também.
– Esse posso te pagar mais tarde – disse com voz de safado.
– Adoraria. – Dei um sorriso malicioso. – Creme com morango.
– Quê? – Ele não tinha entendido.
– Quero um Frappuccinon à base de creme com morango – expliquei.
– Ah sim.
Ele fez o pedido, que a moça preparou rapidamente e me entregou. Agradeci e fui até o caixa da livraria para pagar o livro que havia pegado, mas Jack fez questão de pagar também, mesmo que eu argumentasse algo, ele me ignorava. Depois de uma pequena discussão, fomos embora. Andávamos lado a lado na rua.
– Você gosta de ler? – perguntou pegando o livro em minha mão. Não, acabei de “comprar” o livro para colocar de enfeite na minha estante. Ok, ele só estava tentando puxar assunto, não iria ser grossa com ele.
– Sim. – Sorri. Nossa, eu estava toda sorriso hoje.
– “Ela Foi Até O Fim, de Meg Cabot”. Parece legal – disse me devolvendo o livro.
– É, muito. Pelo que eu li, além de uma amiga ter recomendado. Quer que te empreste qualquer dia? – ofereci.
– Não, obrigado. Não tenho tempo para ler, apesar deu gostar muito também.
– Que pena, seria legal se pudesse ter um tempo para ler. Você tem er… namorada? Não pense que estou me atirando e nem nada assim – falei rápido.
– Tenho, mas isso não me impede em nada. – Os olhos de Jack tinham malícia pura em cima de mim.
Opa, que beleza. Por um lado achei bom, isso me ajudaria a descobrir mais sobre ele, me aproximar e, quem sabe, conseguir o que David tanto queria, que eram provas contra Jack. Peguei-me por um segundo pensando em e me torturei por isso, não podia deixar que ele me atrapalhasse mesmo estando longe. O problema é que só consigo pensar em seus lábios colados aos meus, de seu toque em minha pele macia... Por que ele tinha que se envolver com aquela vadia da Green? Ok, chega. Isso foi longe demais, e já está tudo resolvido. Ele vai continuar com ela, e eu com a minha vidinha miserável, sem e sem nada.
– Tudo bem com você? Ficou quieta de repente. – Jack me tirou de meus devaneios.
– Não, tudo bem. – Dei um meio sorriso forçado.
Eu tinha que parar de pensar nele. Não podia deixar que as coisas saíssem do controle novamente.
15 de julho, quinta feira, cofre.
Joguei-me de costas na cama, tomando fôlego. Minha testa escorria suor e meus cabelos estavam colados em meu rosto. Fechei os olhos lentamente, tendo nojo de mim mesma por ter transado com ele. Tudo bem que Jack era um cara lindo e tudo mais, mas não era por esse motivo. Eu sentia muita falta de . Miserável! Como que conseguiu mexer comigo desse jeito? Ridículo. E conforme os dias iam passando, a saudade ficava maior e ela me consumia cada vez mais, como se um ácido sulfúrico tivesse sido jogado em meu peito, e ele estivesse se desmanchando lenta e dolorosamente.
– Vou ir tomar um banho – disse Jack levantando da cama, me deixando sozinha e nua naquela enorme king box de lençóis brancos.
Não respondi, esperei que ele ligasse o chuveiro e que o barulho da água cessasse quando ele entrasse debaixo da ducha. Levantei rapidamente e fiz uma vasculha no apartamento, achando somente um cofre escondido no armário. Típico, podia ter procurado aqui antes.
– Merda! Odeio esses cofres digitais. – Se fosse um de roleta seria mão na massa para mim.
Dei um murro em sua porta de aço. Arrumei as roupas do armário como estavam antes e o fechei. Voltei para a cama quando ouvi que Jack tinha desligado o chuveiro.
– Vamos sair para comer algo? – perguntou saindo só enrolado na toalha. Nossa, ele tinha um corpo de tirar o ar de qualquer uma.
– Tanto faz. – Dei de ombros, me levantando enrolada no lençol e indo para o banheiro, pegando minhas roupas caídas no meio do caminho.
– Eve, tudo bem com você? Está estranha. – Não olhei para trás, mas sabia que ele me olhava.
– Uhum. – Dei um sorriso fraco, mesmo ele não vendo.
16 de julho, sexta feira, infiltrada.
Recebi uma ligação de que Jack havia saído, Gab e mais alguns detetives estavam em sua cola enquanto eu invadia seu apartamento com um aparelho decodificador para abrir o maldito cofre. As câmeras do prédio tinham sido hackeadas e eu estava livre para andar entre os andares sem ser percebida pelos seguranças. Foi fácil entrar no apartamento, a fechadura era simples de ser arrombada. A muito contra gosto de Gab, fui sozinha, já que ele ainda duvidava da minha capacidade com certas coisas. Entrei no lugar, que já estava habituada por um pequeno tempo, e fui direto onde o cofre estava escondido. Tratei logo de encaixar o decodificador na fechadura e fiquei esperando, aquele troço demorou mais do que o esperado, afinal, uma senha de nove dígitos não era fácil. Aos poucos os números iam parando de ficar se movendo a mil por hora e do nada pude ouvi um “PI” e a porta de aço se abrir.
– Finalmente. – Peguei as pastas que tinhas ali dentro e fiz uma cópia de tudo com a impressora multifuncional que Jack tinha em seu escritório.
– . Saía daí agora, perdemos ele de vista – Gab falou no comunicador.
– Porra! Como assim vocês perderam o cara de vista? – perguntei guardando tudo rapidamente, pegando as cópias e as guardando dobradas no bolso de meu short.
– Pare de reclamar e saia daí! – respondeu irritado.
Coloquei as pastas de volta no cofre e saí do apartamento. Quando estava no meio do corredor, a porta do elevador se abriu. DROGA! Entrei na primeira porta que vi, que era outro apartamento.
– Quem é você? – perguntou um velho enrolado na toalha me olhando espantado.
Também não é todo dia um que loira com uma micro roupa entra em sua casa.
– Sou a nova diarista do senhor. – Sorri tentando disfarçar.
– Mas eu não pedi diarista. – Ok, legal.
– Claro que sim. Foi esse endereço que me passaram. – Eu estava de pé encostada na porta, praticamente a segurando, como se alguém fosse entrar ali a força. No meu jeito desesperado de sempre. – Toquei a campainha, mas ninguém atendeu. Então resolvi entrar. – Sorri sem graça. David, você me paga por isso.
– Rodrigo, com quem você está falando? – Ouvi uma segunda voz que parecia ser de uma velha. – Oh, quem é você? – perguntou me olhando.
– Martha, você chamou diarista? – O tal Rodrigo perguntou ainda me olhando incrédulo.
– Não – respondeu a senhora que estava de pijama.
– Então, acho que foi engano. – Há essa hora, quem quer que fosse que saiu do elevador, já deve ter entrado em seu respectivo apartamento. – Me desculpem.
Saí dali rapidamente e desci de escadas, mesmo meus saltos não ajudando em nada.
– , onde você está? – Gab perguntou preocupado. – Já era para ter saído daí!
– Dentro do prédio ainda. Encontraram ele? – Parei no meio da escada e tirei meu sapato.
– Não. – Voltei a descer, agora mais rápido.
– Bando de inúteis – resmunguei.
Assim que sai do prédio, olhei para os lados em busca do meu resgate. Mas não vi ninguém, então entrei no primeiro táxi que achei e fiquei encolhida no banco, vi Jack entrando prédio falando ao celular. Abaixei-me mais ainda para que ele não me visse. Dei o endereço do hotel para o taxista e quando cheguei, vi David me esperando na recepção. Entreguei o dinheiro ao homem e não esperei pelo troco.
– O que você está fazendo aqui? – perguntei indo para o elevador enquanto ele me seguia.
– Vim ver como estão as coisas – respondeu, mas eu tinha certeza que ele estava mentindo, pelo jeito que falava.
– Agora, bem – falei entrando no elevador com o delegado. – Seus caras são irresponsáveis e se Jack tivesse me pego em seu apartamento, certamente teria me matado.
– O que você encontrou? – Ficou mais interessado nos documentos do que em minha segurança, já era de se esperar.
– Lá em cima te mostro. – Revirei os olhos e bufei.
Assim que chegamos ao aparte hotel, peguei os papeis de dentro de meu bolso e comecei a ler.
– Transporte de cargas via submarinos vindos da Colômbia e desembarcando em Baytown, Texas. – Destaquei o que achei mais importante. – Eles transportam a cocaína por uma ferrovia velha, desativada, até New Jersey. Lá tem uma mansão velha onde ficam guardados os carregamentos e de lá para os pontos estratégicos. – Entreguei os papeis para David, que leu também. – Tem mais, eles tem aplicações em empresas fantasmas na suíça. – Peguei a cópia de uma conta.
– Bom trabalho. – Sorriu.
– David, olhe isso. – Mostrei umas fotos a e li mais uns documentos. – Pelo que parece, eles têm contatos em hospitais, procuram pessoas que tem menos familiares, dão alta para essas pessoas e logo após as raptam. Também fazem isso com turistas. Dependendo das pessoas eles vendem os órgãos ou para a prostituição. Os órgãos vendidos são sob encomenda para altos poderes na Ásia, Europa e Oceania.
– Mas como que eles estão fazendo o transporte disso? – perguntou pegando o papel de minha mão.
– Aqui, achei. Eles têm uma empresa aérea de aviões fretados. – Entreguei-lhe mais uma folha. Era muito papel. – Acho que isso é tudo que vocês queriam, né?
– Sim, onde você achou isso? – Ficou curioso e até meio desconfiado.
– No cofre do Jack. – Dei e ombros. – Quando vamos invadir o galpão em Baytown? – perguntei achando aquilo a coisa mais legal do mundo, na verdade, eu gostava de invadir lugares.
– Você não vai – David falou sério.
– Ah! Na parte mais divertida você não vai me deixar ir? – brinquei.
– Você já foi de boa utilidade. Está liberada. Era tudo que precisávamos. E além do mais, é perigoso. – Ele foi andando até a porta. – Vou comprar sua passagem e você pode voltar para casa.
– Tá. – Sentei no sofá de braços cruzados. – Hey, só para seu aviso, a parte perigosa já passou. – falei e ele riu.
17 de julho, sábado, de volta para casa.
Não via a hora de chegar logo em casa e rever meu pedacinho de céu, estava morrendo de saudades do meu pequenininho. Assim quando cheguei, estava o maior silêncio, achei estranho, mas logo vi Corinne, a babá, arrumando a cozinha, pelo que parece o café da manhã tinha acabado de ser retirado. Minha mãe não estava em casa, já que a menina estava aqui. Não fiz barulho algum e entrei na cozinha, dando um grito só para assustá-la, a mesma deu um pulo de dois metros de altura.
– ?! – falou com a mão no peito assim que me viu.
– Oi. – Sorri lhe dando um abraço, afinal, nós éramos amiga. – Te assustei?
– Não, imagina, só quase dei um ataque cardíaco, nada demais. – Corinne parou e ficou me olhando. – Seu cabelo. Meu Deus. O que você fez com ele? – Ela colocou a mão na boca. – Está loiro!
Ri do seu comentário e da sua reação.
– Resolvi mudar o visual – brinquei, passando a mão pelos fios. – Gostou?
– Sim, ficou bem diferente. – Sorriu.
– Cadê o meu pequenininho? – perguntei dando falta dele.
– Está tomando banho – falou dando de ombros.
– Você deixou ele tomar banho sozinho? – fiquei preocupada. – Ai meu Deus!
– Não precisa se preocupar, ele sabe se cuidar sozinho – disse despreocupada.
– Corinne, ele só tem 6 anos – repreendi. – Vou ir lá ver. – Corri até o banheiro.
Quando entrei nele, vi Josh tomando banho que nem gente grande. Abri um sorriso largo. Ele era tão fofo, não saberia o que fazer se não o tivesse em minha vida.
– Oi, meu príncipe – falei encostada no batente da porta.
– ! – gritou e mencionou sair do box.
– Nem pense nisso. Acabe seu banho, pois vamos sair para dar uma volta e almoçar depois. – Sai do banheiro.
Fui até minha mala, que estava na sala, e peguei uma muda de roupa que comprei para Josh.
– Corinne, pode ir, vou ficar com meu irmão até minha mãe chegar – avisei, ela tinha uma aparência de cansaço.
– Ela não vai vim dormir em casa hoje – avisou.
– Como assim “Ela não vai dormir em casa hoje”? – indaguei revoltada.
– Ele tem saído à noite e só voltado no dia seguinte. Quando volta. Às vezes ela me ligava apenas avisando que não voltaria para casa. – Senti uma raiva enorme ao escutar isso, minha mãe não tinha um pingo de responsabilidade.
– Com que meu irmão está ficando? – perguntei já nervosa.
– Eu o levo para minha casa ou durmo aqui – explicou.
Fiquei quieta. Não estava gostando nada disso. O que minha mãe estava aprontando? Ou pensando que estava fazendo? Deixar o menino assim não era nada legal, ainda mais comigo longe. Mas fiquei mais tranquila em saber que Corinne tomou conta direitinho de Josh.
– Olha, hoje vou sair à noite, você pode ficar com Josh até eu voltar? – pedi já pensando em fazer uma surpresa para o mais tarde.
– Claro – se prontificou.
– Agora à tarde eu fico com ele, pode ir para casa e descansar, quando eu estiver saindo te ligo. – Coloquei a mão em seu ombro e lhe dei mais um abraço. – Muito obrigada por estar tomando conta do Josh.
– Que isso, , não é nada. Ele nem me dá trabalho, é um anjo. – Sorriu. – Agora vou indo. Até mais tarde.
– Até.– Corinne pegou sua bolsa em cima do sofá e saiu.
Voltei no banheiro. Josh já tinha acabado seu banho então o ajudei a se secar. O vesti e fui trocar de roupa. Peguei minha bolsa e saímos. Fomos de metrô até o centro da cidade para que eu o levasse no parquinho.
– Hey, Josh. – Escutei alguém chamar meu irmão e nos viramos para ver quem era. – Você sabe quando sua irmã volta? – perguntou se aproximando. Ele estava lindo como sempre.
– Já voltei, . – Sorri.
Ele parou na mesma hora e ficou me encarando. não tinha me reconhecido.
– O que foi, menino? – Aproximei-me dele e o abracei com força. – Morri de saudades. – Dei um beijo em sua bochecha.
– , é você mesmo? – Segurou meu rosto. – Você está tão diferente. Como consegue ficar mais linda a cada dia?
– Larga de ser besta. – Dei um tapa em seu peito.
nem se quer me respondeu, apenas me beijou, é isso mesmo, na boca! Fiquei sem saber o que fazer, ele me pegou completamente surpresa e desprevenida. Não esperava nunca que ele me beijaria. Mas correspondi, afinal, eu era livre e desimpedida para ficar com quem quisesse. Minhas mãos deslizaram pelos seus ombros até alcançar seu pescoço, enquanto as dele estavam espalmadas em minhas costas, e a apertava suavemente.
– Isso é muito nojento – disse Josh puxando a camisa de , o que nos fez parar o beijo e começar a rir. – Quero brincar, vamos ao parquinho. – Pegou nossas mãos e saiu nos puxando pela rua. – Às vezes vocês parecem dois adolescentes idiotas.
– Gente, que irmão é esse que eu tenho?! – Abaixei e dei um abraço apertado no meu príncipe. – Meu gostoso. – Mordi sua bochecha.
– Não faça isso. As meninas vão achar que você é minha namorada – reclamou me afastando.
– Olha isso. Está me dispensando. – Eu ria muito, assim como . – Vê se pode uma coisa dessas?
Nossa tarde foi agradável, passou o dia conosco. Além de cismar que tinha que pagar tudo para nós. Chegamos em casa era umas nove da noite.
– Josh, vai tomar um banho – pedi bagunçando seus cabelos.
– Tá. – Ele saiu correndo.
– O que você vai fazer hoje à noite? – perguntou me abraçando pela cintura.
– Não sei, acho que dormir – brinquei dando um beijo na ponta de seu nariz. – Estava pensando em ir ver o .
– Se você quiser, posso te levar. – Assim quando ele falou, o seu celular tocou. – Só um momento – disse e atendeu o celular. – Oi, está bem, pai. Estou indo. Pode ir na frente. Tchau.
– Algum problema? – perguntei vendo a careta que ele tinha feito no final da ligação.
– É que hoje tem uma festa da esposa de um amigo de meu pai. Está a fim de ir comigo? Bem, ela já começou, mas acho que dá tempo se nós nos arrumarmos bem rápido – perguntou coçando os cabelos da nuca.
– Hum. Vou ter que ligar para a Corinne – avisei. – Mas acho que dá tempo. Vou tomar um banho e me arrumar. Acho que 21h45min. dá tempo de você vim me buscar.
– Ok. Mas não passe muito disso. Ah sim, já ia me esquecendo. – Ele me deu um selinho e eu ri. – A roupa tem que ser blacktie.
– Ai meu Deus! , como vou arranjar isso agora? – reclamei.
– Se vira, anda – disse me empurrando para dentro do apartamento e fechando a porta. – Não se atrase – gritou do corredor.
Saí correndo para o banheiro, já tirando a roupa no meio do caminho.
– Josh, meu amor, deixa a maninha tomar um banho – pedi.
– Espera, já to acabando. Fecha a porta! – Jogou um de seus brinquedos em mim.
– Ai meu Deus! Não demora, menino. – Peguei meu celular dentro de minha bolsa e liguei para Corinne. – Corinne, minha querida, venha voando para cá, preciso de você.
– Está bem, chego aí em 10 minutos.
– Obrigada, amor. – Desliguei o telefone e corri até minha mala pegar umas roupas.
Afinal, ir a NY e não comprar nada era sacanagem, né? Sorte que comprei bastante coisa e logo arranjei um vestido perfeito. Assim que Josh saiu do banheiro, entrei já tirando minha roupa íntima e tomei um banho rápido. Corinne chegou e me ajudou secando meu cabelo com secador, enquanto eu passava maquiagem, deixei meu cabelo solto mesmo e fui para o quarto me vestir. Quando terminei, ligou para o meu celular.
– Estou te esperando aqui fora – avisou.
– Está bem, já estou pronta. – Encerrei a ligação e joguei o aparelho em cima da cama.
– Corinne, pode dormir na minha cama. Não sei que horas vou chegar. Cuida do meu irmão direitinho – pedi indo para a porta. – Como estou?
– Linda, agora vai, menina. – Ela me empurrava. – Boa festa.
– Obrigado. Fecha aqui a porta, não vou levar chave.
– Tá, agora vai logo! – Acabou de me empurrar para fora.
– Tchau, amor – gritei para Josh.
– Tchau. – Escutei ele falando do outro lado da porta.
Saí do prédio levantando meu vestido para que eu não pisasse nele, e vi o Audi preto do estacionado rente à calçada.
– Uau. Acho que me enganei de prédio – falou assim quando me viu.
– Nossa, estou tão feia assim? – perguntei me olhando.
– Pelo contrário. Você está perfeitamente linda. – Ele saiu do carro e abriu a porta do carona para mim.
– Obrigada, cavalheiro – falei entrando no veículo.
deu a volta e entrou no lado do motorista. Fomos o percurso inteiro falando besteiras e dando muita risada. Assim que chegamos, deparei-me com um lugar bem familiar.
– , essa casa é do – falei saindo do carro, enquanto ele segurava minha mão.
– Sério? Não sabia, para falar a verdade não conheço esse amigo do meu pai. – Deu de ombros e me seu um selinho.
– Que horror! Estamos de penetras. – Dei um leve tapa em seu braço.
– Não estamos. – Caminhamos até a porta. – Já providenciei isso.
– Ah claro. – Ele me olhou e sorriu, revirei os olhos e ri.
– e – disse à mulher que tinha uma prancheta em mãos.
– Podem entrar – falou e ela, e o segurança tirou a corda para que passássemos.
– Como assim o meu nome estava na lista? – perguntei curiosa.
– Dei meus pulos, gata. – Piscou para mim.
– Só você mesmo. – entrelaçou seus dedos com os meus.
A festa esta lotada. Não tinha uma pessoa que eu pudesse falar: “Está mal vestida”. Todos estavam impecáveis com suas roupas chiques e seus drinques em mãos. Andamos até encontrarmos Pamela e Jonh conversando com um outro casal que aparentava a mesma idade deles.
– , filho – Pamela disse com um sorriso. – Venha cá. – Acenou.
Ele saiu me puxando. Pude sentir o cheio de seu perfume masculino vindo em minha direção, era muito gostoso.
– Oi, Sra. . – Sorri. – Jonh.
– ? – Jonh me olhou assustado. – Menina, como você está… diferente. não tinha me dito que você voltou de viagem. – Deu-me um abraço.
– É, cheguei hoje e o seu filho já me roubou para ele – brinquei.
– Linda como sempre, querida. – Pamela me deu um beijo. – Esses são nossos amigos. Deb e Bob – disse gesticulando para o casal.
– Oi, prazer. – estendeu a mão.
– Esse é meu filho, , e sua namorada, – falou Jonh e senti minhas bochechas esquentarem.
– Pai. – também estava meio vermelho. – Nós não somos namorados.
– Não seja bobo, querido. – Pamela deu um tapinha no ombro do filho. – Não precisa esconder isso de nós. Não é mesmo, ?
Ai meu Deus, que vergonha. Abri a boca algumas vezes para responder, mas não saiu nada dela.
– Sra. , eu e não somos namorados – falei por fim, o mais educadamente que pude. – Prazer. – Apertei a mão de Deb e Bob.
– Esses meninos de hoje em dia só ficam, Pamela – Deb disse com um sorriso engraçado. – , você conhece meu filho? Venha, vou te apresentar.
– é meu amigo, Sra. – eu e permanecíamos parados. – Só me diga onde ele está que iremos até ele, não precisa se incomodar – falei.
– Deve está lá fora com os amigos e a namorada. – Apontou para a porta que dava para o jardim. – No jardim dos fundos, você já deve ter vindo aqui em uma das festinhas dele.
– Ah sim, em algumas. Com licença. – Saí puxando dali para não passarmos mais vergonha.
– Desculpe pela minha mãe. – Ele estava tímido.
– Que nada, essas coisas acontecem – disse andando de costas e olhando para ele. – De uma certa forma, ela não estava mentindo muito.
– Ah é? – Puxou-me pela cintura. – Qual parte que ela não estava mentindo? – perguntou em meu ouvido com uma voz sensual, o que me fez arrepiar por inteira.
– Na parte que estamos ficando. – Passei os braços em volta de seu pescoço.
Ele não falou mais nada, apenas me beijou. Para falar a verdade, eu não sabia por que estava fazendo isso, enganando a mim e também ao . Ambos sabíamos que não iria dar certo. Aqui entre nós, o que eu sentia por ele não chegava nem perto do que eu sentia pelo idiota do . Era o que mais me irritava, queria sentir pelo menos a metade pelo . Mas não! Nada. Zero. O que eu sentia era apenas o amor de uma grande amizade.
– ? – me chamou, me tirando do transe.
Nem tinha reparado que tínhamos parado de nos beijar, ainda continuava de olhos fechados, mas os lábios dele ainda estavam pertos dos meus.
– Sim. – Abri os olhos lentamente, encarando os dele, que me olhavam intensamente. – Vamos ir lá fora.
Capítulo betado por Nati
11. Com o pé na estrada – Parte 2
Caminhamos até o jardim dos fundos, onde pude localizar meu pequeno grupo de amigos. Lais e estavam abraçados, assim como Perez e , e claro que não podia faltar a presença ilustre do casal 20, vinte comer, e a vadia MOR Green, que estava agarrado em seu pescoço feito um colar. Sabe o que mais me indigna dessa história toda? É que o diz que o filho que a Green está esperando não é dele, mas nem por isso ele se separou dela, se esse filho não é dele, quer dizer que esse boi tem chifre, ou melhor, que esse cavalo é unicórnio. Respirei fundo e me contive para não ir embora na mesma hora. Tinha que me controlar para não falar nada e nem olhar para ele. Mas isso era uma tarefa quase impossível. Meus dedos se apertaram com força entre os de , e ele me olhou checando se não havia nada de errado, e certamente havia, eu estava louca para sair correndo em direção de e beijar sua boca. Fechei os olhos e respirei fundo mais uma vez. Sou capaz de seguir sem ele. estava ali para me ajudar, certo? Assim que chegamos perto o suficiente, tampei os olhos de , mas foi inevitável não olhar para , que estava bem a sua frente. Encaramos-nos por um breve momento, ele parecia não me reconhecer, então desviei o olhar.
– Adivinha quem é? – perguntei rindo tentando disfarçar meu nervosismo em ver novamente.
– Não, não e não! ! – Ele se virou e me abraçou, chegando a me levantar do chão.
– Meu Deus, , assim você vai me matar – falei sem ar dando um tapinha de leve em seu ombro.
– Estava com saudades. – Soltou-me. – Nossa, você está loira?! – indagou achando aquilo a coisa mais estranha do mundo e me olhando como se eu fosse um E.T. – O que andou arrumando? Não é possível que pegou esse bronzeado todo na casa de seu pai! – parecia uma bicha falando.
– Não exagere. – Apertei suas bochechas. – E sim, foi na casa do meu pai.
– Não acredito que você foi ao shopping sem nós! – Lais disse empurrando para o lado e me abraçando.
Acho que agora eu estava sendo disputada por abraços.
– Não, fui a uma pequena butique que tinha na cidade, nada demais. – Escutei o celular de tocar, olhei para trás e ele estava se afastando para atender.
Quem será? Ele dificilmente atende o celular se não forem seus pais. E ainda mais nem disse nada que iria atender, apenas se afastou olhando disfarçadamente pros lados. Não sou de me meter na vida de ninguém, mas estava agindo de forma estranha.
– Espere ai – pedi para Lali.
Segui sem que ele percebesse minha presença. Ele foi em direção ao estacionamento onde era mais silencioso, me agachei atrás de uma Lamborghini amarela próximo onde estava, então pude finalmente escutar a conversa.
– Como assim, Jack? – perguntou irritado. – O trem não pode ter sumido desse jeito! Jack, escuta! Cale a boca, porra! É uma tonelada de cocaína! Se vire com isso! O que? Ok. Vou falar com o meu pai e depois te retorno. – Desligou o celular e foi furioso para dentro da festa.
Fui escorregando lentamente até atingir o chão. Não. Não pode ser isso que estou pensando. , não. Seu grande filho da mãe! Voltei para o jardim dos fundos com um sorriso no rosto como se nada tivesse acontecido. Ele voltaria para lá, não me deixaria aqui sozinha, ou deixaria? A essa altura do campeonato já não sei de mais nada. Minha cabeça estava a mil por hora, tinha que fazer alguma coisa. Não podia ficar parada ali. Pegariam , e por mais que ele esteja errado, era meu amigo e estava me escondendo coisas, pensando bem, podia deixar que se ferrasse. Só que não vou deixar, preciso saber de toda a verdade vinda dele.
– Nossa, para chegar ao banheiro foi difícil – falei me aproximando passando a mão em meu vestido para checar se não tinha sujado quando me senti no chão.
Eu estava sendo uma grande mentirosa com meus amigos, na verdade sempre fui, e para uma mentira ser bem contada, basta você acreditar que é a verdade. Não me importo com muitas coisas, mas estava realmente me deixando preocupada. Eu estava me detestando por isso, não sendo quem realmente sou. Olhe pra mim, com um vestido e de saltos. Isso não combina comigo. E essas pessoas ali que se importavam comigo. Isso estava tudo errado.
– Nem me fale. Estou querendo ir, mas do jeito que a casa está cheia, acho que vou me perder. – Perez fez uma careta e eu ri com isso, não foi bem um riso.
– Oi, . – Fui até ele e dei-lhe um abraço apertado, que foi retribuído, afinal, ainda nem tinha falado com ele.
– Você tem que nos levar contigo da próxima vez, a casa do seu pai deve ser legal – comentou.
– Acredite, não é. Não sei como não fiquei louca naquele lugar, não tinha sinal de celular e para todo o lado que eu olhava só havia mato. Deus, não queira ir pra lá. – Passei a mão em meu cabelo o jogando pra trás, tinha que ser convincente para que ninguém desconfiasse de nada.
Acho que ninguém nunca desconfiaria de tal absurdo. Por que onde já se viu uma garota suburbana ser chamada para participar de uma operação do FBI? É, mas aconteceu. Nem eu mesma acreditaria! Olhei para e dei um sorriso, não seria grossa. Ele me olhou de cima a baixo de uma forma disfarçada para que Green não percebesse, mas acho que ela não perceberia mesmo, já que estava mais preocupada com sua roupa do que com o garoto ao seu lado. falou alguma coisa que não prestei a mínima atenção, apenas concordei com a cabeça.
– Oi, . – Acenei sem me aproximar, mas minhas mãos queriam tocá-lo. – Olá, Green.
– O. – respondeu com indiferença.
– Sabia que loiro não combina nada com você? – comentou Green do nada e fez uma cara de nojo.
Sabia que você é uma vadia de quinta? Dei apenas um sorriso. Tive vontade de esmurrar a cara dela. E quando ia fazer isso, Lais passou a minha frente.
– Green, ao contrário de você, a fica linda de qualquer jeito – comentou Lali e saiu me puxando dali junto com Perez. – Você tem muito sangue de barata – disse revoltada. – Podia dar uns tapas na cara dessa garota já há muito tempo. – Revirou os olhos e bufou.
– Não faça isso – Perez falou séria, nós paramos de andar e a encaramos. – Vai que você estraga a sua mão. – Nós três rimos.
– Bem que eu tentei, mas me impediram. – Dei de ombros e dei uma olhada para trás.
nos olhava. Tenho que parar com isso. Voltei a andar e as meninas me seguiram. Entramos dentro da casa, e não vi John com Pamela. Estava ficando angustiada com aquilo. E tinha sumido sem dar explicações. E eu tinha que ir atrás dele.
– Você e o , em. – Lais me cutucou com um sorriso sapeca no rosto, enquanto segurava em meu braço direito.
– Não temos nada – falei séria, olhando para os lados. Onde esse menino estava? Será que já foi?
– Só estava brincando. – Acho que tinha sido grossa com Lali sem perceber.
– Desculpa. É que não estou muito bem. – Dei um meio sorriso.
– Nos conte como foi sua viagem? – Perez segurou meu outro braço. Elas eram tão legais.
– Entediante. Casa de roça é sempre chato, não tem internet e nem pega sinal de telefone, vocês já sabem como é. – Não dei muitos detalhes. – Mas pelo menos lá tem umas lojinhas de roupa arrumadinhas. Comprei lá. – Passei mão em meu vestido.
– É lindo, – falou Lais e Perez juntas.
– É. – Fiz uma vasculha visual pelo salão para ver se via em algum canto, mas nada.
Eu deveria ter seguido ele àquela hora, fui burra. Bufei irritada.
– Meninas, me dêem um segundo, por favor. – Soltei-me delas e sumi pelo meio das pessoas, voltando até o jardim. – – então chamei ele vendo que estava com duas taças de champanhe em mãos, com certeza uma seria para Lais.
– Oi – respondeu quando me viu.
– Me empresta o seu celular? Não trouxe o meu e preciso fazer uma ligação urgente – pedi baixo enquanto os demais nos olhavam.
– Sim. Segure, por favor. – Entregou-me uma taça de champanhe, a qual bebi toda. Ele apalpou sua calça. – Ficou lá no meu quarto. Hey, não era para ter bebido – reclamou e eu ri nervosa.
– Pega outro. – Sorri. – Posso ir lá em cima buscar seu celular? – Entreguei-lhe a taça vazia.
– Sim, quer que eu vá com você? – ofereceu.
– Não, pode deixar. Vou rapidinho. – Saí andando, dando umas corridinhas.
Subi até o quarto de e vi o aparelho em cima da cabeceira. Disquei uns números que estavam em minha mente e torci para que atendesse logo.
– Gab – falei assim quando o homem atendeu. Sei que ele não confiava em mim, mas era o único no qual poderia me ajudar.
– ? De onde está me ligando? – sua voz era de reprovação.
– Do celular de um amigo. Vocês brecaram o trem que levava o carregamento? – perguntei baixo e indo até a janela.
– Como que você sabe? – ficou confuso e desconfiado.
Senti como que minhas pernas fossem seder. Voltei e sentei na cama. Então estava mesmo envolvido com isso tudo. Eu já sabia, mas isso só era a confirmação.
– Vocês vão invadir o galpão ou a casa? – perguntei já planejando o que iria fazer.
– A casa – respondeu cauteloso.
– Quando? – Queria chorar de raiva e desespero.
– Hoje ainda. Mas por que quer saber?
– Olha, Gab, você tem que me ajudar – minha voz saiu tensa.
– Te ajudar? Com o quê? – Ele era o único que podia fazer isso.
– Tem como você me arranjar um equipamento? Vou fazer a invasão junto com vocês – apenas avisei.
– Sabe que se alguém me pegar fazendo isso serei demitido, né? Você não é nem do FBI e ainda é menor de idade. , tem noção do que está me pedindo? Se algo acontecer com você, serei culpado. – Ele não poderia me impedir, eu sabia onde era a casa.
– Por favor, Gab, ninguém vai saber – choraminguei. – Se não vou por conta própria.
– Está bem. Isso é loucura. A invasão será às quatro da manhã. Você tem cinco horas para chegar aqui. Tomara que eu não me arrependa – Gab estava preocupado.
– Ok. Vou ver se arranjo um carro – disse apressada. – Me aguarde. – Encerrei a ligação antes que ele disse mais alguma coisa e apaguei o número.
Coloquei o celular no mesmo lugar que antes. Escutei a porta se abrindo. Deveria ser para saber se eu tinha encontrado o aparelho, me virei para ver quem era. Prendi minha respiração quando o vi. fechou a porta e se encostou nela. Não tenho tempo pra isso agora. Será fácil, irei até ele, vou pedir para que saia da frente e então, com educação, vai me dar passagem, deixando-me ir. Só que em vez disso, fiquei parada o encarando. Aqueles olhos conseguiam tirar de minha mente qualquer outro pensamento que não fosse ele. Engoli em seco. Talvez se eu pulasse pela janela não precisaria que ele me desse licença, ou talvez me indispor com o tal.
– Tem alguém te esperando? – perguntou baixo me obrigando a olhá-lo.
– Sim, meu namorado – falei na tentativa que ele desistisse de fazer qualquer coisa.
– Hum. – Agora seu olhar se guiou até o carpete cinza. – ?
– É. – Preciso sair daqui. – Preciso ir, ele está me esperando. – Caminhei até a porta. – Dê licença – pedi fechando as mãos em punho.
– Não. – Voltou a me encarar, permaneci firme. – Lamento, mas ele vai ter que esperar.
– , não tenho tempo para suas brincadeiras agora. – Eu não podia deixar que ele tomasse o controle.
– Não estou brincando. – Agora ele veio em minha direção. – Você está mentindo, seu jeito mudou.
– Eu... Eu o que? – Uni as sobrancelhas. – Olha, mesmo que eu esteja, isso não é da sua conta. Agora saia da minha frente. – Empurrei-o, mas ele segurou meu braço e me jogou em cima da cama.
Olhei-o com os olhos arregalados. O que ele achava que estava fazendo? subiu na cama me impedindo de levantar com seu corpo. Não sabia se olhava em seus olhos ou sua boca. Sua mão subiu alisando minha coxa, minha respiração estava descompassada, eu não aguentava tanta pressão, não dele. Fechei os olhos, o desejo de tê-lo era maior do que eu. Deixei minha cabeça cair para trás, fazendo com que meu pescoço ficasse exposto, senti os lábios de roçar nele e um arrepio percorreu todo meu corpo. Eu tinha que ir atrás de , não poderia perder tempo agora. Isso poderia ficar para depois, se houvesse um depois, mas a questão é que o tempo estava passando. Empurrei de cima de mim e saí correndo o mais rápido que aqueles saltos me proporcionava. Desci as escadas correndo, segurando no corrimão para que eu não acabasse rolando por elas. Fui até o jardim novamente, onde localizei . Estava ofegante e deveria estar com cara de quem viu um fantasma.
– . Posso te pedir um mega favor? – Fiz menção com a cabeça para que ele se afastasse dos outros para que conversássemos a sós.
– Qualquer um. Mas o que aconteceu? Você está assustada. – Encarou-me com preocupação.
– Nada. Me empresta sua BMW? Juro que não amasso e nem arranho. – Fiz cara de criança.
– Para quê? – quis saber.
– Juro que agora não posso falar nada, mas quando te devolver, conto exatamente tudo em todos os detalhes. – Segurei a mão dele. – Por favor.
– Está bem. Vamos. – foi comigo até o manobrista. – Pegue meu carro para a Srta. , por favor.
– Sim, senhor – O homem saiu andando rapidamente.
– Olha, seja o que for, sei que não é algo bom, mas tome cuidado. – beijou minha testa. – Tenha juízo.
– Obrigada por tudo, fico te devendo mais essa. – O manobrista já estava chegando com o carro. – Valeu, , te devolvo depois.
– Tudo bem. Mas, por favor, tenha cuidado. – Segurou minha mão.
– Pode deixar, não vou arranhar. – Soltei-me dele e entrei no carro.
– Não é com o carro, é com você. – Ele tinha um olhar muito preocupado.
– Sei me cuidar. – Pisquei para ele e dei um sorriso. – Senhor – chamei o manobrista. – Um R8 preto saiu ainda pouco?
– Sim – confirmou minha suspeita.
Era o que imaginava. Mandei um beijo para e saí cantando pneu. não saía da minha cabeça. O que me deixava nervosa. Por que ele tinha que fazer aquilo comigo?
Parei no sinal e dei um murro no volante. Isso tinha que ter um fim. Já não aguentava mais tudo aquilo.
Assim quando cheguei, estacionei o carro na frente da portaria e toquei o interfone excessivamente.
– Corinne, abre logo – falei quando ela atendeu.
– Tá. – A porta se abriu.
Passei correndo pelo corredor e a porta do apartamento já estava aberta. Caminhei apressada direto para meu quarto.
– O que aconteceu, menina? – Corinne me olhava assustada.
– Imprevisto. Me ajuda aqui – pedi para que ela abrisse o vestido, e logo vesti outra roupa. – Não volto hoje, me desculpe. Se quiser levar Josh para sua casa, fique a vontade. Qualquer coisa, estou com o celular. – Saí correndo de casa amarrando o cabelo em um coque justo com a ajuda de um elástico.
Entrei na BMW do e dirigi até New Jersey, mas no caminho liguei para Gab avisando que estava indo. Cheguei até o lugar marcado às três da manhã.
– Demorei muito? – Gab sorriu quando me viu saindo do carro.
– Pensei que você não viria – disse me entregando o equipamento. – Esse comunicador você vai falar com toda a equipe. – Indicou-me qual era. – E esse é comigo. – Indicou outro. – Vou te passando as coordenadas certas. Isso aqui transmuta sua voz para que possa falar com os outros sem que desconfie que seja você. – Ele me entregou um troço que mais parecia uma coleira.
– Está bem. – Peguei as coisas e vesti por cima da minha roupa. – Como estou? – minha voz saiu a coisa mais estranha do mundo, parecia um traveco. – Isso é assim mesmo?
– Não. Venha aqui que vou regular. – Ele ria.
Gab mexeu na “coleira”.
– Veja agora.
– Como está? – minha voz saiu grossa que nem de um homem. – Gente, que isso?! – Comecei a rir.
– Pare de bobeira. Tome. – Ele me entregou um fuzil AN-94. – Sabe usar? – Depois uma pistola P-226 de 9mm.
– Está brincando comigo? – Chequei se estava carregada, o destravei e mirei ao horizonte. – Posso levar de brinde?
– Nem brinque. Tome cuidado. Estou confiando em você. Mesmo não devendo, mas você acabou me surpreendendo. – Colocou a mão em meu ombro. – Qualquer coisa de grave que acontecer, saia de lá imediatamente, não quero que se machuque.
– Pode deixar. – Fiz a posição de sentido.
Gab me explicou tudo até dar a hora da invasão. Coloquei o capacete com óculos de visão noturna e fui junto com os homens. Bem, eu era uma anã perto deles. Era ridículo aquilo, mas todos estavam tensos demais para perceberem. Chegamos ao perímetro da mansão, tinha luzes acesas e alguns carros na frente. Entre eles, o Audi de . Droga, queria tanto estar enganada. David estava comandando a operação. Ele fez sinal com a mão para irmos para a direita quando o outro grupo ia pela a esquerda. Invadimos a mansão pelos fundos, estava indo tudo muito bem até quando alguém viu um dos agentes e começou a atirar. Ótimo mesmo! E ainda dizem que são treinados. Corri para o andar de cima, dando tiro nos caras que encontrava pelo caminho, sem medo de puxar o gatilho e nem de levar um tiro. Vasculhei os quarto em busca de , mas não estava encontrando ele. Quando estava voltando, demos de frente um com o outro. Estávamos a menos de um metro de distância. Nós dois paramos, ele tinha uma pistola em mãos. Minha respiração era tensa, se eu me mexesse, iria atirar. Teria que ser rápida. Abaixei-me e dei um chute em seus peitos, ele atirou, mas não pegou em mim. Dei um gancho de direita, o deixando tonto, então o empurrei para dentro de um quarto e fechei a porta. Ele estava no chão, e sua arma tinha caído também, quando mencionou em pegá-la, a chutei para longe e o peguei pelo colarinho de sua camisa, o fazendo se levantar do chão. Prensei-o contra a parede, desliguei o comunicador e tirei o capacete. Se fosse outro agente não pensaria duas vezes antes de meter um tiro em sua cabeça.
– Não acredito que você está metido nisso – rosnei com vontade de socá-lo novamente.
Ele ficou completamente sem reação quando me viu.
– O que você está fazendo aqui? – ele falava baixo e também gaguejava.
– Vim atrás de você, seu imbecil! – Afastei-me. – Seu pai veio contigo? – Ele afirmou com a cabeça.
– Como entrou? – Olhava-me de cima a baixo. – E por que está vestida desse jeito?
– Não interessa. Venha, vamos achar seu pai e vou te ajudar a sair daqui. – Puxei-o pelo braço.
Sai primeiro dando cobertura para . A casa estava vazia. Escutávamos tiros vindos da mata do lado de fora. Saímos da mansão com cautela.
– Corra para o Norte. – Indiquei com a mão. – Você vai achar uma vila, se esconda lá – falei a ele, eu tinha gravado o mapa da região na minha cabeça.
– E você? – ficou preocupado.
– Vou ver se acho seu pai. – Saí correndo em meio da mata. – Agora vai. – Empurrei ele para que fosse logo.
Vi indo para o lado que falei. Coloquei o capacete e liguei o comunicador.
– , o que aconteceu? Te perdi por um tempo – Gab estava nervoso.
– Sei lá, esse troço não está funcionando direito – menti tentando despistar.
– Onde você está?
– Indo para Oeste, mais ou menos a 500 metros da casa. – Olhei por cima do ombro.
– Está indo para o lado certo, tome cuidado, tem homens deles espalhados pela mata – avisou.
– Ok. – Adentrei mais na mata e andei por um tempo dando tiro nos caras que via.
Passei por Jack caído no chão. Ele estava baleado, mas nem parei para ajudá-lo. Assim que coloquei o fuzil na cabeça de um cara, vi que era o Sr. . Desliguei o comunicador e levantei os óculos.
– Sr. – falei e ele me apontou sua arma. – Calma, sou eu! . Venha, vou ajudar o senhor a sair daqui. – Ele deveria estar estranhando demais minha voz.
O velho tinha levado um tiro na perna. Levei-o para o lado oposto da confusão, quando estávamos afastados o suficiente, encartei John em uma árvore. Olhei a perna dele que estava sangrando muito.
– Me dê sua camisa, Sr. – pedi e ele a tirou.
Rasguei-a em alguns pedaços com o auxilio de uma faca de combate que Gab havia me dado, e fiz uma espécie de atadura para estancar o sangue. Já estava acostumada com essas coisas.
– Tome meu celular. Ligue para , ele foi para o Norte, onde tem uma vila – disse entregando meu aparelho a ele. – Não atenda em ocasião alguma. Entendeu?
John não falava comigo, apenas assentiu. Peguei um galho grande e entreguei a ele para que fizesse de muleta e andasse mais rápido.
– Vá rápido e tome cuidado. – Saí correndo e ligue o comunicador. – Gab… Gab… Droga de comunicador! Gab, está me escutando? – falei como se estivesse irritada.
– Estou te escutando.
– Ok.
O tiroteio era constante ainda. Juntei-me a mais um agente. Ele tomou um tiro, então o ajudei, mas acabei levando um tiro no braço também. Que merda, era tudo que estava precisando.
– Agente ferido – falei no comunicador da dava para David.
– Vá para o Sul, lá tem uma ambulância – alertou.
Ajudei o agente baleado ir para o Sul junto comigo. Meu braço doía. Demoramos bastante até chegar ao local, já que eu praticamente tive que arrastar o cara. Tinha alguns agentes feridos lá também e apenas dois enfermeiros. Legal. Coloquei o homem sentado na ambulância e sai dali. Fui até Gab.
– Você está bem? – Ele saiu do carro e correu até mim.
– Estou legal – falei tirando o capacete e os óculos.
– Você disse que tinha agente baleado. – Olhou-me tentando ver se eu tinha sido baleada, mas estava escuro demais para que ele enxergasse.
– É, o levei até a ambulância. – Saí andando, e fui tirar aquela roupa que estava suada e grudada em meu corpo.
Levei um tiro no ombro, para ser mais exata, na parte de trás. Olhei o reflexo pelo vidro preto do carro de , com a ajuda da lanterna. Droga. A bala estava alojada ali bem no meu osso. Eu tinha que tirá-la, mas não podia falar nada a Gab. Dobrei a roupa e entreguei a ele junto com as armas, munição, comunicador e “coleira”.
– Você está bem mesmo? – Ele me analisava ainda.
Minha sorte era que o tiro era atrás no ombro, ele não viria mesmo.
– Estou. Valeu. – Sorri e estendi a mão.
– De nada. – Pegou minha mão e apertou. – Qualquer coisa que precisar pode me ligar.
– Pode deixar. – Voltei para o carro e sai dali.
Tinha que encontrar e seu pai, mas no caminho parei em um posto de gasolina para abastecer e ligar para eles. Enquanto enchia o tanque, fui até um orelhão, disquei o número do celular do .
– Onde você está? – perguntei assim que ele atendeu.
– Estou onde você falou, na vila – ele estava com uma voz estranha.
– Seu pai está com você? – Encostei-me ao telefone, mas a dor que senti no ombro me fez lembrar que tinha que tirar aquela bala dali.
– Sim – a voz dele era de preocupação.
– Vou passar aí para buscá-los. Então fique em um lugar que seja fácil para encontrar vocês – pedi.
– Ok. – Ele desligou.
Entrei na loja de conveniência, peguei uma garrafa de cachaça e fio dental.
– Você sabe onde posso achar uma farmácia há essa hora? – perguntei ao menino que estava no caixa.
– Se for para o seu ferimento, minha mãe pode te ajudar. – O garoto fumava um cigarro fedorento.
Dei um meio sorriso.
– Não vou querer incomodá-la essa hora da madrugada – falei.
– Acho melhor você ver isso logo, está perdendo muito sangue. – Apontou para o chão que estava todo sujo com meu sangue.
– Me desculpe, não era minha intenção sujar sua loja. – Fiz uma careta.
– Tudo bem. Venha, ela pode te ajudar. – Ele me guiou até os fundos da loja onde tinha uma porta de ferro enferrujada.
Em cima do posto tinha um apartamento, subimos um lance de escadas e entramos no local.
– Mãe! Ajude a moça aqui. – A TV estava liga em um programa de comédia noturna.
O local fedia a cigarros e peixe podre. Uma velha se levantou do sofá e me olhou.
– Em que posso ajudar? – perguntou com seu cigarro entre os dedos.
– Ela foi baleada e está perdendo sangue – o menino falou como que já tivesse visto muito daquilo antes.
– Ah sim. Joseph, acenda a luz. – Apontou para trás de nos. A mão dela era muito trêmula.
– Mãe, vou descer, o posto está sozinho – disse o menino saindo e acendendo a luz.
– Sente-se aqui. – Ela puxou um banco velho de madeira.
Sentei-me com receio de que o banco desmoronasse comigo em cima. A velha saiu andando e logo depois voltou com uma caixa na mão. Não precisei tirar a roupa, a alça de minha camiseta era fina o suficiente para que não atrapalhasse em nada. Não fiquei olhando, pois estava com medo do que sairia de dentro daquela caixa, tirando, claro, que a mão da velha parecia uma metralhadora de tanto que tremia. Senti o cheiro de álcool e até arqueie as costas quando o líquido atingiu meu ferimento. Tirando os xingamentos que saíram de minha boca.
– Fique quieta. – A velha me deu um tapão no braço.
– Hey, vai com calma – reclamei passando a mão onde ela tinha batido.
– Se você não parar de se mexer vai ser difícil! – avisou mal humorada.
Ela limpou tudo e removeu a bala sem anestesia. Tive que morder um pedaço de pano para não gritar e nem quebrar meus dentes. Nota mental que havia me esquecido: “levar tiro e remover a bala sem anestesia é a pior coisa que tem.” Minhas mãos suavam frio, aquilo doía demais. Ela foi rápida. Deu uns pontos e fez um curativo.
– Acabou? – perguntei tirando o pano da boca e sentindo alívio.
– Quase. – Ela colou mais um pedaço de esparadrapo. – Pronto.
– Muito obrigada. – Levantei do banco. – A senhora pode me vender uma agulha e uma pinça?
– Tem mais alguém baleado? – Me olhou limpando suas mãos sujas de sangue.
– Sim, o pai de meu amigo. – Estalei minhas costas, sentindo os pontos se repuxando. Soltei um gemido de dor.
– Se quiser posso ir contigo até onde ele está – se ofereceu.
– Não precisa, já incomodei demais a senhora. – Não seria muito legal envolver uma pessoa nisso.
– Não será incomodo nenhum. Só me deixe levar as mãos e vamos. – Ela entrou em um corredor e logo voltou com uma bolsa na mão. – Vamos.
Saímos do pequeno apartamento podre. Paguei a gasolina e fomos de encontro a . Foi fácil de encontrá-lo, a noite já estava clareando. Sai do carro correndo e fui até ele.
– Cadê seu pai? – perguntei procurando por John.
– Está ali. – Apontou para o velho pálido sentando no chão, encostado na parede.
– Trouxe alguém para ajudar. – A velha já estava atrás de mim.
– Me dê licença. – Ela me empurrou e foi até John.
Caminhei de volta para o carro.
– Você levou um tiro? – me perguntou.
– Não. Isso foi à medalha de honra que ganhei por ter ajudado a tirar você e seu pai de lá. – Sorri irônica.
– Não pedi que fosse atrás de nós – disse grosseiramente. Encarei-o séria.
– Claro, . Se posso te chamar assim, né? Não sei nem quem é você de verdade. – Empurrei-o pelo peito. – Confiei em você. Te levei na minha casa. Te apresentei aos meus amigos e família! – Ele me agarrou. – Tire suas mãos de mim. – Dei-lhe um tabefe bem forte no meio da cara. – Sabe, você era quase, quase mesmo, o cara perfeito. Faltou pouco assim. – Fiz sinal de pequeno com o polegar e o indicador. – O pode fazer todas as besteiras idiotas dele, mas uma coisa ele sempre foi comigo. Ele mesmo. Sei que ele pode mentir em coisas bobas, mas não algo assim, ser frio e calculista. Não mesmo. – Passei a mão em meu rosto, estava cansada. – Me diga o que você queria de mim? – Encostei no capo do carro, cruzando os braços.
respirou fundo e olhou para baixo.
– Bem, no começo eu só precisava de uma menina que pudesse servir como uma namorada. Tínhamos que parecer uma família normal para despistar qualquer suspeita possível. – A cada palavra sua eu tinha vontade de dar um soco na cara dele. – Você é bonita, estuda e tem os problemas típicos de uma adolescente normal – explicou, mas nem olhou para mim.
– Ah sim, a pata perfeita para servir de escudo para você e sua família! – cuspi as palavras em cima dele.
– Não. – olhou para mim. – Não é bem assim.
– Não, ?! Eu acreditei em você! Confiei em você! – Que raiva. Eu tinha tanta sorte com garotos. – Não sei por que vim até aqui. Acho que ainda não estou acreditando nisso tudo. Deve ser um pesadelo e da pior espécie. – Balancei os braços para cima.
– Mas não ocorreu como o planejado. Me deixei envolver contigo. – Aproximou-se novamente.
– Ah, claro. Deixou envolver. Me poupe! Essa eu estou cansada de ouvir, você poderia pelos menos tentar não usar algo tão clichê para tentar me convencer. – Cruzei os braços.
– Sério, , com você fui eu mesmo. Virei uma pessoa diferente. Eu não ia te usar. – Nos encaramos.
– Mas usou. – Olhei para o lado, o sol estava começando a nascer. – Qual é o seu nome verdadeiro?
– . Estou falando a verdade, fui verdadeiro. , por favor. – Ele tentou pegar minha mão, mas e puxei de volta.
– Não, . Chega de mentiras. Estou cansada. – Respirei fundo. – Só vou levar você e seu pai para a cidade, e nunca mais quero ver vocês na minha vida. – Entrei no carro.
Demorou mais meia hora até a velha remover a bala da perna de John. Depois disso, a levei de volta para o apartamento e lhe dei uma gratificação boa, assim como , em pedido que ela não falasse nada a ninguém. Logo depois já estávamos a caminho de casa.
– – John me chamou do banco de trás.
– O que quer? – Olhei apenas pelo retrovisor enquanto dirigia.
– O que você estava fazendo lá? – Quis saber.
– Não devo satisfações – falei ríspida. – Se considere com sorte de eu não ter dado um tiro em sua cabeça.
Não foi dito mais nada o caminho inteiro. Os deixei em casa e levei o carro para um lava-jato. Ele estava todo sujo de terra e sangue por dentro, a sorte que os bancos eram de couro preto e a sujeira sairia mais rápido.
Esperei que limpassem tudo, enquanto isso eu fazia um lanche no Starbucks perto dali.
– Acho que a sua noite não foi uma das melhores. – Olhei para trás. Vi Charlotte com um jornal e um café em mãos. – Posse me sentar?
– À vontade. – Dei uma mordida em meu muffin de chocolate.
– Se meteu em encrenca de novo, não é? – perguntou se sentando.
– É. – Dei um gole em meu expresso.
– O que aconteceu em seu ombro? – Ela tomava seu cappuccino e lia o jornal.
– Digamos que é uma medalha de honra por ajudar a quem não deve – tentei ser breve.
– Tem que saber em quem confiar. – Não me diga, sério? Espere aí que vou anotar essa dica em meu caderninho.
– Nessa altura não confio em mais ninguém. Como estão indo suas férias? – mudei de assunto.
– Agradável e as suas? – Olhou-me por cima do jornal. – Você está com olheiras. – Até parece que eu ligava para isso.
– Muito trabalho. – olhei no relógio que estava pendurado na parede, já estava na hora de pegar o carro. – Tenho que ir. Tenha um bom dia. – Levantei com meu copo de expresso na mão.
– Igualmente. – Ela sorriu.
O carro já estava pronto, então levei ele até a casa de . Já era meio dia, e eu implorava por uma cama macia com lençóis cheirosos e macios. Estacionei a BMW na frente da casa e desci. Toquei a campainha e esperei até que alguém atendesse. A porta se abriu e saiu por ela me dando um abraço. Soltei um gemido quando seu braço encostou em meu ombro, o que fez ele me soltar.
– Você está bem? – perguntou segurando meu rosto.
– Sim, e pare com isso, está parecendo uma mãe preocupada – reclamei puxando suas mãos.
– Você não tem jeito mesmo. – Riu do meu comportamento rabugento.
– Aqui as chaves do seu carro, ele está inteiro. – Entreguei-lhe. olhou para o automóvel.
– Bem que disse que o traria de volta inteiro. – Deu um sorriso. – Agora você, parece que não dormiu.
– E não dormi mesmo. – Sorri. – Obrigada pelo carro. – Dei-lhe um beijo na bochecha. – Está com o tanque cheio e cheirosinho.
– Não precisava. – Bagunçou meus cabelos. – Estou indo hoje com o pessoal para uma ilha no Caribe do meu pai passar essas duas últimas semanas de férias lá. Quer ir? – Ele tinha um sorriso no rosto.
Capítulo betado por Nati
11. Com o pé na estrada – Parte 3
Não resisti e sorri também. Isso sim era uma oferta tentadora, enfim iria relaxar e aproveitar minhas férias. Essa era a oportunidade perfeita e impossível de não aceitar. Apesar de saber que estará lá e não terá o e nem ninguém para que segurar; ou qualquer coisa me impedindo de dar um passo a frente com essa minha insanidade toda, esse meu desejo por tê-lo em mim mais uma vez chegava a ser gritante. Então me pergunto; Será essa será minha prova de fogo e finalmente conseguir super isso tudo? Ter que encarar mais uma vez ao lado de Green e não poder falar absolutamente nada. Ok, vou parar com esses pensamentos doentios, isso não está me fazendo nada bem.
– Vamos de jatinho? – perguntei me encostando na lateral de sua BMW e cruzando os braços. Tinha que me desviar de qualquer pensamento que me guiasse novamente até o maldito garoto que não saia de minha cabeça.
– Uhum. – ele abriu um sorriso maior ainda percebendo que eu havia aceitado o convite.
Ok. Então terei que ir em casa pegar minha mala que, aliás, ainda nem desfiz. – não pense que sou interesseira, apenas pelo fato de irmos ao jatinho particular do pai do . Mas gente, praia, água, sol e sombra, era tudo o que eu queria no momento.
– Vou contigo. – entrou no carro. – Bem que você disse que estava cheiroso. Levou ele no lava-jato? – entrei no lado do carona.
– Sim. Estava meio sujo depois que usei. – disse me reconfortando no banco e relaxando.
Aqueles bancos de couro eram realmente confortáveis. Quando senti meu ombro encostando no encosto, fiz uma careta de dor. Odiava me lembrar de como isso doía, que de forma inevitável, trazia lembranças do meu passado, que no momento rezaria para tê-lo de volta. O que fazia doer em outro ligar. Era tão simples ter o cara que você gosta ao seu lado, ter o que quiser sem gastar um centavo. Sorri ao me lembrar de quando nós assaltávamos lojas de roupas e fazíamos a maior festa. Jared, meu canalha favorito. Já tinha me esquecido da forma terrível como terminamos, agora não fazia mais tanta diferença. Ele estava morto e eu nunca mais poderia ver seu rosto ou seu sorriso. Certo. Tenho que parar de pensar em homem pelo menos uma vez na vida! Nenhum deles me fazia bem. Acho que irei virar assexuada mesmo. Seria o melhor negócio. Então está feito! Nada de cara na minha vida durante alguns meses pelo menos. E isso inclui .
Acho que iria precisar de uns analgésicos, minha cabeça agora começou a latejar.
deu a partida. Fiquei olhando através do vidro preto a paisagem que passava feito vultos do lado de fora. Queria uma cama e dormir no mínimo umas vinte horas, daria qualquer coisa para que isso acontecesse.
Minhas pálpebras foram caindo lentamente. Apaguei completamente, como se tivesse sido puxada pela tomada.
– Hey, . – me sacudiu de forma bruta, me assustando. – Acorda, já chegamos.
– Não faça isso. – reclamei e ele riu.
Saí do carro, caminhei até porta e toquei o interfone.
– Sim? – Corinne atendeu.
– Sou um zumbi, abra a porta, quero comer o seu cérebro. – falei e dei uma risada. – Sou eu, abre aí. – pedi e a porta abriu. Pude escutar uma risadinha da Corinne. – Anda, , venha me ajudar. – fiz sinal para que ele me seguisse.
Ele desceu o pequeno lance de escadas e me acompanhou. Corinne já me esperava com a porta do apartamento aberta. Ela tinha um sorriso no rosto.
– Minha mãe ainda não chegou? – perguntei me aproximando e lhe dando um abraço.
– Não. – respondeu retribuindo o abraço e dando passagem para que nós passássemos.
– Que legal. – revirei os olhos e bufei. – Pode levar Josh para ficar com meu pai? Estou indo viajar e não quero que ele fique aqui. Você também tem que descansar. Vou lhe dar o dinheiro para a passagem. – falei indo para o meu quarto.
– Levo sim. Embora o Josh não dê trabalho. – Corinne vinha andando atrás de mim.
– , leva essa mala para o carro? – pedi apontando para ela.
– Nossa, pensei que você estivesse brincando quando disse que ainda não tinha desfeito as malas. – falou o menino em meu encalço.
Peguei minha bolsa e dei dinheiro a Corinne.
– Isso é para a passagem sua e do Josh. E esse aqui... – peguei mais dinheiro. – é por seus serviços.
– Obrigada, . – agradeceu dando um sorriso e guardando a grana no bolso de seu short sem nem ao menos conferir.
– Nada. Vou ligar para meu pai falando que você vai levar Josh. – disse indo para a sala e pegando o telefone sem fio.
Disquei para ele, enquanto me jogava no sofá, machucando meu ombro novamente. Estava vendo a hora que iria arrebentar esses pontos.
– Pai. – falei assim quando atendeu.
– Filha? Como você está? Como foi de viagem? – disparou empolgado.
– Bem, foi legal. – tenho que parar de mentir o tempo inteiro para as pessoas. – Aqui, estou indo viajar de novo, me chamou para ir passar o final das férias com ele. Não quero deixar Josh nos cuidado de Corinne, ela está exausta e a maluca da minha mãe sumiu. – falei com desprezo quando me referia a minha mãe. – Dei dinheiro para ela levar Josh para ficar com o senhor. Tudo bem? – fechei os olhos e senti que poderia dormir novamente, então voltei a abri-los.
– Está bem. Vou esperá-los aqui. Juízo, minha filha. Depois conversamos melhor. – concordou logo.
– Ok. Te amo. Tchau. – olha, eu sendo uma boa filha dizendo que amo meu pai.
– Também te amo, minha princesa punk. – ri do meu apelido.
– Até. – desliguei. – Corinne, meu pai aguarda vocês. Cadê Josh?
– Está no quarto jogando vídeo game. – apontou para o corredor. Já era de se esperar. Aquele molequinho já deveria estar viciado.
Fui até o quarto dele, o encontrando sentado na cama encarando a pequena televisão que disparava flash de luz. Jogos de tiro. Simplesmente adoro! Parei na porta e fiquei o observando, Josh nem tinha dado atenção a minha presença ali. Normal, afinal, ele estava superconcentrado em sua missão de combate.
– Amor. – falei me abaixando e abrindo os braços.
– Onde você estava? – deu pause no jogo e pulou da cama, vindo correndo em minha direção.
– Em uma festa. – não iria dar muitos detalhes. – Meu príncipe, a Corinne vai te levar para ficar com o papai. A maninha vai viajar e volta daqui a alguns dias para ficar com você. – o abracei com vontade de nunca mais soltá-lo.
– Eu não posso ir com você? – perguntou tristonho.
– Dessa vez não. Quem sabe da próxima? – passei a mão em seus cabelos, enquanto concordava. Dei-lhe um beijo na testa. – Olha, que tal eu te levar na Disney nas férias do final do ano?
– Eba! – ele abraçou meu pescoço. – Está bem. – me beijou forte. – Vou sentir saudades. – ficou passando a mão em meu rosto.
– Também, meu príncipe. Irei sentir muitas saudades. – dei mais um beijo bem apertado nele. – Me leva até na porta? – sorri e segurei sua mãozinha.
– Levo. – saímos do quarto e fomos até a sala.
– Corinne, tome conta dele como se fosse seu filho. Josh é o meu tesouro mais valioso. – pedi olhando para a criança ao meu lado.
– Claro. Boa viagem. – a menina também me acompanhou até a porta do prédio.
– Obrigada. – me despedi deles e parti.
Assim que encostei minha cabeça no banco do carro, dormi novamente. Acordei assustada vendo que tinha dormido novamente. começou a rir de mim. Balancei a cabeça em negação.
– O que foi? – o olhei.
– Você toda assustada. Pode dormir. Quando chegar eu te falo. – se prontificou. Já disse que é um amor de pessoa? Então, pois era!
– Já estamos chegando. E você não fala nada comigo, assim vou acabar mesmo dormindo. – o empurrei e ele riu.
– Está bem. Vamos começar. Onde você foi passar as férias? – me olhava desconfiado. – Sei que não comprou aquela roupa onde seu pai mora.
– Fui para NY. – não tinha nada a esconder dele mesmo.
– O que foi fazer lá? – ele me olhou espantado.
– O delegado me pediu para ajudar em uma coisa. – o problema era falar tudo sem que ele me olhasse com cara de “você surtou de vez”.
– Que coisa? – não tirava os olhos da pista.
– Er… – mordi o lábio inferior. – Não vai contar para ninguém? – fiz uma careta, me sentando de lado no banco.
– Claro que não. Fala logo. – eu já sabia que poderia confiar nele, mas tinha que ter certeza.
– Ele pediu se eu podia investigar o cara. Então, aceitei e consegui achar umas coisas não muito legais. – falei baixo.
– Hum. – me incentivou a continuar falando.
– Então, para isso, eu tive que ficar com o cara e tals. – falei me lembrando de Jack. – Até aí tudo bem. Mas quando voltei, ontem na festa, o celular de tocou e achei estranho, porque ele nunca atende quando não é seus pais, então fui atrás para ver o que era. – dei uma pausa e respirei com pesar. – A família dele estava envolvida.
– Então você pegou meu carro para seguir o ontem? – concluiu logo.
– Não, eu já sabia para onde ele ia. – expliquei.
– Explica melhor isso, está tudo muito vago. – gesticulou com a mão.
– A família de estava envolvida com a máfia. O FBI ia invadir o local onde ficam guardadas as drogas e eu fui junto. Chegando lá, vi o carro de , o ajudei e ao pai dele a fugirem. Levei um tiro no ombro, sujei seu carro todo de sangue. E agora estamos aqui. Eu não quero ver a cara daquele garoto nunca mais na minha vida. – falei rápido que acho que não entendeu quase nada.
– Nossa. Você só se mete em furada. – riu.
– Sim. Queria ter uma vida normal. – cruzei os braços emburrada.
– Cara, escreve um livro sobre as suas aventuras, iria vender que nem água. – sacaneou.
– Ah vá, não quero ter mais aventuras assim. Estou fora. A dor que senti para arrancar essa merda de bala do ombro não é mole não. – uni as sobrancelhas.
– Não quero nunca levar um tiro. – ele fez uma cara de nojo.
– Não queria mesmo. – sorri. – Quem vai à viagem? – eu já sabia, mas queria ter certeza na furada que estava acabando de entrar.
– Você vai ver. – ele me olhou e deu uma piscadinha.
– , seu merda. – dei um tapa em seu ombro.
Chegamos na casa dele, só foi o tempo deu pegar uma muda de roupas em minha mala, me trocar, pegar as malas dele e colocar no carro. Fui tudo bem rápido.
– Anda, , o pessoal já está nos esperando no aeroporto. – esmurrou a porta do banheiro, enquanto eu ainda estava trancada lá dentro, tentando acabar de me arrumar, ou melhor, me limpar.
– Preciso de um banho. – falei olhando no espelho e vendo minhas costas manchadas de sangue.
– Quando chegarmos à ilha, você toma! Vou te espera lá embaixo. – praticamente gritou do outro lado.
– Ok!
Passei um papel úmido no meu braço para limpar o sangue seco, não adiantou muito, precisava mesmo de sabão e uma boa bucha. Vesti por fim uma camisa de manga preta e bati com as mãos em minha calça. Me olhei mais uma vez no espelho, tirando minha cara de cansada e minha calça suja de terra completava meu look de quem havia acabado de voltar da guerra. Não me importei.
Saí do banheiro e me esperava já dentro do carro.
– Estava fazendo o que no banheiro para demorar tanto? – perguntou arrancando com o carro.
– Tentando me limpar, já que não deu tempo nem para eu tomar um banho. – resmunguei, colocando o cinto de segurança e reconstando meu ombro no banco com calma para não doer.
– Na ilha você toma um banho. – repetiu.
– Está bem. Fazer o que, né? – revirei os olhos.
Quando parou o carro na pista do aeroporto, pude ver todos lá. Todos que você já sabe e sim, estava mesmo lá junto com a vadia Mor pendurada em seu braço. Eu poderia matar os dois com apenas um o olhar.
Catei o Ray Ban da cara de e coloquei em meu rosto, tampando minhas olheiras. Estava horrível demais para estar apresentável. Bem que não ligo a mínima para isso, mas mesmo assim, não queria que os outros olhassem minha cara de destruída.
– Se quisesse um era só pedir. – falou ele rindo. – Lá em casa tem uma coleção.
– Meus óculos estão na mala, estou com preguiça de pegar, o seu estava mais perto. – sorri para meu doce de coco.
– Eu mereço. – nos aproximamos. Lais e Perez vieram até mim, me abraçando.
– Você sumiu ontem. – disse Lali se pendurando em meu pescoço.
– Ai. – resmunguei quando ela apertou meu ombro machucado. – Problemas em casa. – disfarcei minha careta.
– Não sabia que você iria vim. – Perez sorriu. – Vai ser legal esse final de férias. – ela já estava no outro lado me abraçando.
– Espero que sim. Vamos, que estou doida para chegar à ilha do . – Lais saiu nos puxando para o avião.
Mostrei meu passaporte à mulher e entrei me sentando na última poltrona perto do banheiro, que ficava ao lado da cozinha. Lugar perfeito.
– Por que você vai sentar aí? – perguntou , se sentando ao meu lado.
– Duas coisas: Fica perto do banheiro e a comida chega primeiro. – pisquei para ele e dei um sorriso.
– Gostei, acho que vou ficar aqui também. – rimos juntos.
– Acho que não. Olha a cara da Perez triste porque você a deixou sozinha. – apontei para a menina que olhava pela janela nem dando importância de estar ali comigo.
– Ela não seria a primeira que tem o namorado roubado por você. – falou Green passando por nós e entrando no banheiro. Por que essa vadia estava prestando a atenção em minha conversa?
– Seria estranho demais se ela não saísse mais desse banheiro? – perguntei baixinho ao , que riu da minha pergunta.
– Não. – ainda negou com a cabeça.
– Estou pensando em entrar lá e afundar a cabeça dela na privada. O que acha? Você me dá cobertura? – olhei para a porta do banheiro fechada.
– Dou. – riu alto. – Mas olhe, coloque algo na boca dela para evitar que os gritos sejam altos. – não sei quem era pior, se era ele ou eu.
– Boa ideia. Quando levantar voo e ela entrar no banheiro novamente, iremos fazer isso. – levantei a mão discretamente e bateu nela. – É isso aí!
– Fechado. – rimos juntos. – Vou lá sentar perto da Perez, senão depois ela fica de bico.
– Vai lá. – ele se levantou e sentou-se ao lado dela.
Vi de pé como se procurasse algo. Eu disse que não queira mais saber de homens e lá estava eu olhando aquele menino mais uma vez, como se fosse um cão olhando a vitrine de frangos.
– , não se preocupe, eu não coloquei nenhuma agulha ou pó de mico na sua poltrona. – ironizei, o que o fez olhar para mim e sorrir. – Bem, se está procurando a sua mulher, tomara que TENHA SE AFOGADO NA PRIVADA. – falei alto para que Green escutasse. Sim, sou implicante e adoro uma briga.
– Não foi dessa vez que você se livrou de mim, biscate. – respondeu a vadia saindo do banheiro e batendo a porta com força.
– Também te amo, vadia. – mandei um beijo para ela. Meu humor estava ótimo. Certo, meu sono já estava tanto que eu estava começando a ficar fora de mim e a falar qualquer merda.
– Vai se foder, garota. – retrucou nervosa, parando ao meu lado.
– Só se for com o . – adoro provocar. – E olha, ele sabe foder muito bem. – falei bem lentamente, lambendo os lábios.
– Sua vaca. – ela pulou em cima de mim. – Fica longe dele! – recapitulando: ela me atacou tentando agarrar meus cabelos.
– Sai de cima de mim, sua maluca. – falei segurando os braços dela para que não me batesse. logo pegou ela pela cintura e a tirou de cima de mim.
– Me solte, . – Green estapeou o menino.
não respondeu nada, apenas agarrou ela, a beijando. Preferi não ter visto a cena. Virei o rosto na mesma hora e olhei pela janela. Fechei minha mão em punho com força para não socar aqueles dois. E olhe só. Estávamos apenas no aeroporto ainda e a festa já tinha começado. Ele fez aquilo para me irritar, só pode. adorava fazer isso. Tudo bem me provocar de outras formas, mas ficar esfregando Green na minha cara era torturante e já estava começando a me arrepender de ter vindo a essa viagem. Queria que esse tiro que levei tivesse sido na cabeça ou até mesmo no coração. Pelo menos não iria ver mais nada disso. Queria que as coisas fossem diferentes. Não queria nunca ter me apaixonado por . Nunca mesmo. Isso foi uma das piores coisas que me aconteceu.
– Sentem-se e coloquem os cintos, o avião vai decolar. – falou a aeromoça.
Todos se sentaram, coloquei o cinto e fiquei olhando pela janela o avião andar pela pista e levantar voo. Logo depois que ele decolou e a turbulência havia terminado, peguei meu iPod e coloquei os fones no ouvido, liguei no aleatório para que tocasse qualquer música, mas a que entrou foi logo Heartbeat do Enrique Iglesias com a Nicole Scherzinger. Não tinha outra música melhor para decifrar essa situação.
– Stop stealing my heart away. – cantei baixinho junto com a música olhando através da janela as nuvens lá embaixo.
Sou uma idiota apaixona. Só eu mesmo para sofrer por um cara como ele. Eu disse sofrer? Estou enganada. Reformulando: só eu mesmo para pensar que estou sofrendo por causa de um idiota que nem o .
Coloquei aquela música para repetir. Devo ser algum tipo de masoquista. Fechei os olhos e pude me concentrar na batida de meu coração. Ele acelerava gradualmente quando estava pensando em .
Um dia sonhei que outro iria tomar seu lugar, mas foi um engano. Era horrível gostar de alguém dessa forma e saber que essa pessoa não sente o mesmo. Que é tudo uma mentira e um jogo de desejo, onde quem cair à tentação, perde. E eu perdi e perdi o que é mais valioso para alguém. Apostei alto e minhas fichas acabaram. Elas eram vermelhas, cor de sangue. Era meu coração. E o pior que só dele chegar perto de mim, posso sentir um calor percorrer por meu corpo, derretendo todo o gelo e me fazendo sangrar.
Levantei da poltrona. Precisava jogar uma água no rosto. Não estava me sentindo bem.
Entrei no banheiro, mas não tranquei a porta. Coloquei os óculos de na cabeça. Liguei a torneira e deixei que a água gelada caísse em meus pulsos. Molhei um pouco minha nuca, depois meu rosto e pescoço. Respirei fundo e me segurei na pia. Nunca imaginei o quão fraca era em relação a essas coisas.
Senti algo quente escorrer pelo meu rosto, então percebi que estava chorando. Minhas mãos se fecharam com força e tive vontade de socar o espelho à minha frente.
Escutei a porta sendo aberta, mas mantive a minha cabeça baixa. Ninguém me veria daquela forma. Controlei minha respiração, mas a pessoa entrou dentro daquele banheiro minúsculo comigo dentro.
– Não está vendo que está ocupado? – perguntei irritada.
– Eu sei. – senti que poderia cair no exato momento, quando escutei a voz de . Fechei os olhos quando as mãos dele encostaram-se em minha cintura.
– Fica longe de mim. – falei baixo. – Não temos mais nada. – minha cabeça continuava baixa.
– Preciso de você. – ele também disse baixo. – Sinto sua falta. – também sinto a sua.
Minha garganta doía segurando toda a emoção que eu sentia, assim como meus músculos que se contraíam com força, tentando me controlar.
– Olhe para mim. – pediu unindo ainda mais seu corpo ao meu.
– Não. – sussurrei. – Não estou aguentando mais. Pare. – supliquei.
– Por favor. – por que ele insistia tanto? Era tão difícil assim me deixar em paz?
Abri os olhos e levantei a cabeça, olhando para nosso reflexo no espelho. Me virei e o olhei. Nossa atração era forte demais do que qualquer outra coisa, era impossível dizer que nenhum de nós dois nos queríamos. A forma como ele me olhava entregava qualquer coisa, a minha então, já dizia que estava entregue.
Nos beijamos. O beijo estava cheio de saudades e sentimentos.
Ele me encostou contra a pia, prensando seu corpo contra o meu. Acho que nosso tesão cresce quando estamos dentro de um banheiro. Desejei que estivéssemos em um avião com desconhecidos agora. Queria sentir seu corpo no meu mais uma vez, mesmo que fosse a última. A excitação crescia e nós tínhamos que parar. O afastei. Engoli em seco, então o puxei para perto, selando nossos lábios novamente em um beijo selvagem. agarrou minhas coxas e me ergueu. Puxei os cabelos da nuca dele e desci meus beijos até seu pescoço, ele levantou a cabeça e soltou um gemido leve. Aquilo era delicioso de se ouvir, melhor do que qualquer música.
– . – alguém me sacudiu violentamente.
– O que?! O Avião caiu? – resmunguei sonolenta abrindo os olhos meio que apavorada. Droga! TINHA SIDO UM SONHO! Malditos sonhos! E olha que mais cedo havia prometido para mim mesma parar de pensar em homens.
– Não! Acorda! – Lais me sacudia que nem uma boneca de pano, ela deveria estar gostando de me chacoalhar. – Estou aqui há meia hora tentando te acordar! – só há meia hora? Queria ter sonhado o resto do dia que estava me pegando com o . Eu disse que iria parar com isso, não é? Tenho que pelo menos me esforçar um pouco para não pensar nele.
– Só isso? Minha mãe me acorda a vassouradas. – brinquei me espreguiçando. – Chegamos à terra do nunca? Onde meus sonhos viraram realidade?
– Sim, basta querer que todos seus sonhos realmente aconteça, isso só depende de você. – sorriu. Lais falava isso de propósito. Só podia ser. – Não sei como conseguiu com esse troço berrando em seu ouvido. – apontou para meus fones de ouvido que se dava para escutar a música alta.
– Prefiro dormir escutando música alta do que com a voz da Green. – levantei fazendo uma careta.
– Concordo contigo. Não sei por que trouxe aquela garota. – fez uma cara mais feia que a minha, então rimos juntas.
– Porque é namorada dele, simples assim. – saímos do jatinho conversando.
– Do que as gansas tanto riem? – Green perguntou mordendo a haste de seus óculos de sol que nem uma puta. Ela já era uma puta, só estava exercendo seu papel.
– Da sua cara de palhaça. – Lais respondeu por mim. É isso aí. Batemos as mãos disfarçadamente.
– Obrigada, amiga. – agradeci a Lali por ter me poupado o trabalho.
– Meninas, peguem leve com ela. – Perez murmurou em nossos ouvidos, nem tinha percebido sua presença. – Aposto que ela não está gostando disso tudo tanto quanto vocês. Então, deem um desconto, são duas contra uma.
– Duas? E você? – perguntei erguendo uma sobrancelha.
– Eu não conto. – ela riu. Perez estava virando a casaco pro lado da Green ou era impressão minha?
– Ela está em cima do muro, . – Lali riu.
– Não, só não quero brigar com ninguém nas férias. – saiu andando na frente, eu e Lais nos entreolhamos.
– Você é a única então. – falei, afinal, de briga eu entendia muito bem e vivia arrumando uma mesmo não querendo. – Anda, vamos, estou doida para tomar um banho. – puxei Lais pela mão.
Pegamos um taxi à frente ao aeroporto até a costa, onde fomos de barco para a ilha dos pais de .
Quando o barco estacionou no pequeno cais, fui a primeira a jogar minha mala gigantesca para fora e sair de lá correndo pela praia. A casa era linda.
– , pega. – olhei para trás e me jogou a chave.
Consegui pegar as chaves meio sem jeito no ar, estava lenta por causa do calor e do sono.
– Qual delas? – o chaveiro estava lotado de chaves.
– É única dourada. – respondeu sorrindo e saindo do barco.
Corri arrastando minha mala que nem uma criança, suas rodinhas travaram por causa da areia, mas não liguei, continuei a puxando mesmo assim. Abri a porta e tirei as minhas bota sujas para entrar, bati com a mão em minha mala para limpá-la, só que não adiantou quase nada.
– Como é que vamos dividir os quartos? – perguntou chegando na varanda e parando ao meu lado, tirando os seus sapatos.
– Ué, não tem quarto para todo mundo? – perguntei me virando para ele.
– Não. Só tem dois quartos para visitas, o do e dos pais dele. – respondeu .
– Que bom. Podia ter me falado, , eu tinha trago uma barraca de camp. – disse nervosa, porque eu sempre fico nervosa por nada.
– Não precisa ficar nervosa, amor. – sorriu. – Eu e podemos dormir no quarto dos meus pais, você e a Lais em um dos de hospedes, Green e Perez no outro e o dorme no meu.
– E por que não posso dormir no mesmo quarto que o ? – Green perguntou cruzando os braços.
– Porque não queremos ouvir os seus mugidos a noite inteira. – respondeu Lais. E eu que pensava que era a menina que mais odiava Green em toda a escola.
– Isso é elogio para ela, Lais. – falei rindo.
– Meninas. – Perez nos repreendeu.
– Pode ficar assim a separação dos quartos? – perguntou , cortando o assunto.
– Tá. Tanto faz, contando que eu tenha um chuveiro e uma cama para mim, está ótimo. Vamos Lali. – peguei o braço dela e saí a puxando para dentro com minha mala debaixo do braço.
Procuramos o quarto, estávamos meio perdidas, mas por fim o achamos. Joguei minha mala em cima da cama e a abri, pegando uma muda de roupa qualquer que encontrei pela frente e deixando sobre o sofá de um lugar que tinha no canto.
– Vou tomar um banho. – avisei a Lali. O quarto era uma suíte.
– Ok. Pena que hoje não deu para aproveitar muito. Passamos o dia naquele jatinho. – reclamou colocando a sua mala ao lado da minha e caçando algo dentro dela.
– Verdade. Amanhã aproveitamos melhor. – entrei no banheiro e tranquei a porta.
Tirei a minha blusa e o curativo em meu ombro. Ele estava com uma cara estranha, poderia jurar que estava inflamando e isso era péssimo! Fiz uma careta de nojo. Não vou poder entrar na água de mar tão cedo, antes que isso cicatrize. Ele ainda sangrava um pouco e estava muito roxo o local. Respirei fundo.
– Droga. Isso que dá ajudar os outros. – resmunguei olhando pelo espelho.
Liguei o chuveiro e entrei debaixo da água morna.
– Ai, ai, ai. – gruiu quando a água bateu nos meus pontos que estava ardendo e doendo. Fiquei dando uns pulinhos.
Demorei bastante no banho. Esfreguei a bucha como se fosse arrancar a minha pele. Eu estava tão suja por dentro e por fora, seria bom se conseguisse lavar a alma também.
Quando terminei, saí enrolada na toalha. O quarto estava vazio. Fui até a porta e a fechei. Me vesti, prendi o cabelo em um rabo de cabalo alto. Estava morrendo de calor. Lais entrou no quarto.
– Onde você vai? – perguntou ao me ver calçar os meus tênis.
– Comer alguma coisa e dar uma volta na praia. – respondi levantando do sofá.
– Por que não vai de chinelo?! – levantou uma sobrancelha.
– Não quero sujar meu pé. – sorri indo até o banheiro e olhando no espelho. – Você e o estão ficando?
– Você notou? – ela foi completamente irônica.
– Não, apenas achei estranho ele andar de mãos dadas contigo e ficar te abraçando em cinco em cinco minutos. – debochei, voltando para o quarto.
– Sua palhaça. Estamos. Foi tão lindo ele me pedindo em namoro. – seus olhos praticamente brilharam.
– Hmm. Boa sorte, pelo menos uma de nós temos que ter sorte com isso, não é? – dei um sorriso meio sem vontade. Estava feliz pelos dois.
– Pelo menos uma. – concordou. – Vou tomar um banho.
– Vai lá. – Saí do quarto.
Fui até a cozinha, arrumei um sanduíche natural com um copo de suco de maracujá e fui me sentar na sala.
– A Maria João chegou. – Green falou, reparando em minha roupa meio larga.
– Prefiro andar que nem Maria João do que uma prostituta com uma placa no pescoço escrito: “Me Coma”. – respondi dando uma dentada em meu sanduba.
– Pelo menos os meninos olham para mim. – ela estava deitada no sofá de dois lugares, então me sentei no de três lugares que ficava logo ao lado.
– Quem precisa me olhar, já olha. – falei vendo o que passava na TV enorme.
– Olha aqui, garota. – Green se ajeitou no sofá. – Faremos uma coisa: você fica longe do e eu não implico contigo.
– Tanto faz. Não faria diferença alguma mesmo. – dei de ombros. – Se você não falar comigo e nem ficar me olhando com essa cara de cu com cãibra, está ótimo.
– E sem apelidinhos ridículos, por favor. – revirei os olhos.
Minha vontade agora era de amarrar uma pedra no pescoço dela e a tacar no mar.
Ignorei a existência daquela pessoa e comi meu lanche, tranquila, assistindo TV. Assim que terminei, fui dar uma volta na praia, não demorei muito para voltar.
Quando cheguei, a casa estava no maior silêncio. Fui para meu quarto, Lais já estava deitava na cama, babando. Troquei de roupa e coloquei meu pijama. Peguei no sono de pressa.
Acordei no meio da noite, morrendo de sede e um calor infernal.
– A Lais não ligou o ar? – falei sozinha, enquanto caçava o interruptor do abajur para acendê-lo.
Finalmente consegui achar, então o liguei. Ótimo. Lais não ligou o ar. Olhei para o lado e a menina estava dormindo feito uma pedra, peguei meu celular e vi que horas eram. Quatro da manhã.
Levantei, liguei o ar e fui até a cozinha beber água. Escutei um barulho na porta de vidro da sala. Quem será? Caminhei lentamente até o outro aposento e vi alguém entrar. Um Ladrão! Mas aqui? Estava escuro demais para ver alguma coisa, então sem demora acendi a luz.
– ? – falei ao reconhecer o menino sujo de areia e molhado.
– Não. É o coelhinho da páscoa. – disse com a língua enrolada e tropeçando em alguma coisa.
– Está bêbado? – cerrei os olhos.
– Eu não fico bêbado. Só estou um pouco tonto. – era só o que faltava. pinguço.
Ele tropeçou em outra coisa e caiu, quase derrubando um vaso de flores que tinha na mesinha de centro.
– Cuidado, você pode quebrar alguma coisa. – fui até ele e o ajudei a se levantar. – Anda vamos, irei te levar para seu quarto. – lhe dei apoio sem me importar se iria me sujar com a areia do corpo dele.
– Por que está me ajudando? – o bafo dele estava tão forte que quase fiquei bêbada junto com o indivíduo. Fomos andando. Apaguei a luz da sala no caminho.
– Para que não quebre nada. Além do mais, você não está em sua casa para fazer essas coisas, . – repreendi seu comportamento.
– Pare, está parecendo a minha mãe. – resmungou quando chegamos ao quarto.
– Antes sua mãe do que outra coisa. – o levei para o banheiro. – Tire essa roupa e tome um banho. – pedi. Coloquei-o sentado sobre o sanitário.
– Não. – jogou seu corpo para trás, encostando-se à parede.
– Não estou pedindo, . – segurei ele para que não caísse de lado.
– Você é muito mandona. – disse tudo enrolando, tirando a camisa.
– Eu sei. – o ajudei a tirar o resto da roupa.
– Não quero que você me veja pelado. – reclamou me empurrando. Segurei seu braço.
– Cala a boca e entra logo aí. – liguei a ducha com água fria e o empurrei para dentro do box.
Mas isso foi uma péssima ideia, já que caiu e quando fui segurá-lo, caí junto, me molhando toda. Fiquei de pé e o puxei para cima. Ele resmungava muito, mas estava tão bêbado, que não consegui entender nem a metade das coisas que dizia.
Segurei a cabeça dele para cima para que a água caísse em seu rosto, ele estava tonto demais, parecia que desmaiaria a qualquer momento. Passei a mão em seus cabelos tirando a areia agarrada. Parecia que eu estava dando banho no Josh, mas era dez vezes mais que meu irmãozinho.
– Tome, vai se ensaboando. – entreguei o sabão na mão dele enquanto estiquei o braço para pegar o xampu.
Era engraçado a forma como estava se ensaboando. O cara não sabia mais o que estava fazendo. Assim que acabei de dar banho no , ele começou a vomitar. Ótimo. Sorte que vomitou no vaso. Fiquei atrás dele segurando o corpo mole. Ele estava gelado.
– Hey, . – sacudi ele. – Fique de olhos abertos, se você desmaiar, não vou conseguir te pegar.
– Hum? – abriu os olhos. – O que foi?
– Fica acordado. – ele vomitou mais um pouco. – Está melhor agora? – passei a mão em sua testa que estava um pouco molhada por causa do cabelo, no qual não tinha secado.
– Sim. – sua voz saiu melhor e finalmente consegui entender o que ele falava.
– Levanta e escova os dentes. – servi de apoio para que levantasse.
Dei descarga enquanto escovava os dentes. Fiquei o obervando, ele estava abatido e praticamente se segurava na pia para não cair. Coloquei-me ao seu lado, o ajudando. Assim quando terminou, o guiei até sua cama. Coloquei-o deitado nela e o cobri com uma manta leve. Seus olhos me olhavam de uma forma estranha. Senti um leve arrepio com isso.
– Fica aqui comigo até eu dormir? – pediu segurando meu punho.
– Está bem. – me deitei ao lado dele um pouco mais para cima, fazendo que sua cabeça apoiasse sobre meu peito, fiquei acariciando seus cabelos agora macios e cheirosos. Minha camiseta estava molhada, mas não liguei.
– Obrigado por estar aqui comigo. – passou seu braço forte pela minha cintura. – Me desculpa por tudo que fiz. – apertou um pouco seu braço ao meu redor.
Adoro papo de bêbados. Sempre tão entediantes. Sorri mesmo assim, meu braço livre envolveu o dele.
– Tente dormir agora. – afaguei seus cabelos dando um beijo neles.
– Te amo. – sussurrou e o meu coração acelerou rapidamente ao escutar aquilo.
Sabia que não era verdade. estava bêbado e não sabia o que falava. Embora eu o amasse, mas não tinha coragem de falar. Seria idiota demais se revelasse isso. E aqui estou, mais perto dele do que já tive todos esses meses. De certa forma, senti que estava bem e relaxada, sem precisar esconder nada. Foi como se nenhum peso mais estivesse sobre os meus ombros e tudo o que estava me separando de havia sumido completamente e ali estávamos novamente. Juntos.
Alguém me lembre de não tentar me afastar dele novamente?
Capítulo betado por Tayná M.
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