- De todos os meus relacionamentos, você era o único que eu tinha esperanças de que nunca ia me magoar, null. E você assim o fez, da pior maneira possível.
- Não faz isso comigo, null, por favor.
- Eu... Não... Consigo – ouvi-a chorar. – Por favor, me entenda aqui.
- Como que eu vou viver sem você? – E agora null chorava. – Sem seu cheiro, seu corpo, seus beijos...
- Para, PARA!
- null, somos nós.
- Eu não construí um relacionamento pra você me trocar por outra na primeira oportunidade.
- Não foi na primeira... Eu NUNCA quis te trocar, null, NUNCA!
- Mas assim você o fez – ela soluçava.
- Eu não vou aguentar ficar aqui – eu disse me aninhando ao peito de null. – Não acredito que eles estão terminando.
- Nem eu – null me abraçou e encostou a cabeça na curva do meu pescoço.
- Acabou a comida? – null olhou ao redor procurando por mais algum pacote de bolacha ou alguma outra porcaria.
Estávamos no quarto a pelo menos umas cinco horas. Já tinha passado a hora do café da manhã, do almoço e se aproximava a hora do café da tarde. Às vezes acho que os meninos possuem um estômago de hobbit, porque o tempo todo eles precisam comer, e precisa ser uma refeição grande. Embora null tivesse atacado a dispensa minutos antes de virmos pra cá, não trouxe comida suficiente para todos nós e, agora, todo mundo estava com fome.
- Se pedirmos pizza, será que tem como entregar pela janela? – null perguntou. – Eu também tô com fome.
- E você, null? – null me olhou. – Quer comer.
- Eu comeria – dei de ombros, os quatro me olharam. – Que foi?
- Você tá com fome, você quer comer ou vai comer porque todo mundo tá pedindo pra você comer? – null, confuso, me perguntou.
- Vão com calma, ok – pedi baixinho. – É um longo caminho até essa paranoia sair da minha cabeça, então, calminha.
- Quantos quilos você perdeu nos últimos meses?
- Hey! – null repreendeu null. – Cara.
- Que foi? Queria saber.
- Nem eu sei, null. Nunca me pesei, pegava minhas roupas como medidas.
- Perdeu muito?
- Quatro números das minhas calças – suspirei, agora não era um motivo de orgulho, parecia mais vergonha.
- Se você entrar nas calças do null, teremos um problema – null brincou e eu comecei a rir. – As calças dele são mais apertadas que Joe Jonas.
- Mentira – ele se defendeu.
- Eles estão falando de novo – null nos cortou. – Baixinho demais, mas acho que agora estão acabando.
- Acabando o namoro ou acabando a conversa? – Perguntei.
- Os dois.
- Droga!
Novamente encostamos as cabeças na porta e ficamos ouvindo. null só gritava com null e ele estava começando a gritar de volta, a briga ficava cada vez mais séria. Eu nunca pensei que, de todos nós, null e null fossem um dia se separar. Levantei-me porque não estava mais conseguindo ouvir nada, as acusações de null e as desculpas de null (infantilmente a culpando pela traição) começaram a me fazer chorar. null me encarou, mas não disse nada, apenas me seguiu com o olhar quando eu sentei-me na cama e coloquei minhas mãos em meu rosto, massageando minhas têmporas e pedindo para que eu acordasse amanhã e isso tudo não passasse de um sonho absurdo. Assustamos quando null gritou COVARDE com todas as forças e foi aí que eu comecei a chorar mais. null veio ao meu lado e me abraçou de forma carinhosa, passando a mão em meus cabelos e tentando me acalmar. Eu não precisava estar triste assim, na verdade eu precisava! Aquela na sala era minha melhor amiga, e ela estava terminando um namoro com o – sim, ele é – amor da vida dela. Funguei quando vi que os meninos também tinham se afastado da porta. null colocou a mão em cima dos ombros de null e parecia tomar fôlego... Pra quê?
You and me
(Você e eu)
We used to be together
(Costumávamos ficar juntos)
Every day together always
(Todo dua juntos, sempre)
null cantou com a voz bem baixinha e rouca, só mesmo nós do quarto que conseguíamos ouvir. null se levantou, assim como eu. Era como se ele estivesse nos chamando para “orar” por null e null, mas como não fazemos isso com frequência, o que eles sabiam fazer era cantar, e foi assim que null o fez. Terminado a primeira parte, olhou pra null, que entendeu o recado.
I really feel
(Eu realmente sinto)
That I'm losing my best friend
(Que estou perdendo meu melhor amigo)
I can't believe
(Eu não consigo acreditar)
This could be the end
(Que isso possa ser o fim)
null encarava a porta. Ele estava em parte perdendo o melhor amigo, afinal, null também fez parte da traição, mas eu sei que, no fundo, null estava tão arrasado com o término de null e null quanto todos nós.
It looks as though you're letting go
(E parece que é como se você estivesse deixando ir)
And if it's real,
(E se isso for real)
Well I don't want to know
(Bem, eu não quero saber)
null e Lous cantaram juntos e então, null saiu de perto e foi pra sacada. Vi que ele estava com o nariz vermelho e se controlando para, de novo, não chorar. Sentamos-nos no chão, encarando a porta na nossa frente, como que esperando por um milagre que talvez nunca fosse acontecer. null estava ao meu lado, entrelaçou seus dedos aos meus e eu encostei a cabeça em seu ombro. O clima lá fora parecia silencioso e eu pensava que: ou null matou null, ou null matou a null ou eles se acertaram, e o mais triste é saber que nenhuma das opções anteriores é a verdadeira.
Don’t speak
(Não fale)
null começou e olhou pros meninos que estavam ali. Os dois, null e null, começaram a cantar juntos. Eu enterrei mais meu rosto no pescoço de null e, como null, me segurei para não chorar.
I know just what you're saying
(Eu sei o que você está dizendo)
So please stop explaining
(Então pare de se explicar)
Don't tell me 'cause it hurts
(Não me diga porque isso machuca)
Don't speak
(Não fale)
I know what you're thinking
(Eu sei o que você está pensando)
I don't need your reasons
(E eu não preciso das suas razões)
Don't tell me 'cause it hurts
(Não me diga porque isso machuca)
- Acabou, null.
E isso foi a única coisa que nós ouvimos dos dois.
- Melou os planos de irmos para Brighton Beach – null disse ao fundo. Todos nós olhamos pra ele, que planos eram esses? – Ah tá, vocês não se lembram que temos uma entrevista lá perto daqui dois dias e que nós iríamos pra praia depois, sério?
- Porra! – null bateu na própria testa. – Me esqueci completamente disso.
- Entrevista? – perguntei.
- Falando do novo CD, da nova tour e dos planos futuros. Na verdade o Simon disse que essa entrevista vai mudar nosso fim de ano e nossa vida, poxa, como eu pude me esquecer disso? – null parecia se lamentar, a coisa era séria.
- E por que “melou os planos”? – Olhei pra null.
- A gente ia passar o dia na praia depois da entrevista, mas com esse clima todo, acho que não temos mais motivos pra isso – ele parecia bem triste.
- Acho que podemos ir de qualquer jeito, qual o problema? – Eu disse. – A null sabe se comportar em público, ela tá doida desse jeito porque não tem ninguém vendo.
- A Lorelai vai.
- Ouch – fiz careta. – Tá, então temos que pensar em algo.
- Ela vai estar na entrevista? – null perguntou.
- Vai, é parceria com a Radio One, então, como ela é o braço direito do pessoal de lá, é praticamente obrigatória a presença dela.
- A mídia sabe de vocês dois?
- Não, null – null coçou a nuca. – E nunca vai saber, não tem mais o que saber agora.
- É...
- Gente – null nos chamou a atenção. – Eu ouvi a porta da frente bater.
- Será que algum deles foi embora? – Meu coração pulou na boca. – Será que foi a null?
- Podemos abrir a porta?
- Podemos agora pedir pizza?
- null!
- Tá, desculpa.
Nós abrimos a porta juntos e não vimos ninguém, estava tudo escuro do lado de fora. Então, como se fôssemos um bando de hobbits com medo de algum orc na Sociedade do Anel, fomos juntos até a sala, com medo de quem pudesse estar lá e, o pior, a condição que essa pessoa estaria.
Deparamo-nos com um null deitado em posição fetal no sofá. Ele mal parecia respirar e eu tenho certeza de que ele tremia, mas era de forma involuntária. Não sei se ele estava dormindo e eu estava com medo de chegar nele e o garoto acabar gritando ou algo do tipo; bom, se era null ali, null deve ter ido pra algum lugar. Mas, onde?
- Deixa ele com a gente – null disse batendo no ombro de null, que concordou. – Sabemos como cuidar do pequeno.
- Eu não vou conseguir falar com ele agora – null mantinha o rosto rígido e mal olhava para null. – Desculpa, galera.
- Tudo bem, null – falei passando as mãos por seus braços. – Eu vou procurar a null, quer me acompanhar?
- null, você não vai?
- Nem sabia que você ia procurar a null – ele me olhou e riu baixo. – Quer que eu vá?
- Eu não sei o que vou encontrar ao achá-la, eu queria companhia – dei de ombros.
- Vão vocês dois, se não se importam, eu vou pra casa ficar sozinho – todos olhamos para null. – Calma, galera, não vou me matar ou nada do tipo. Só quero pensar e tomar uma boa chuveirada.
- Vai pedir pizza mais tarde? – null perguntou e nós rimos.
- Vou sim.
- Passo na sua casa mais tarde, mate.
- Todos passamos – null riu.
Não fazia ideia de onde começar a procurar pela minha amiga, mas eu tinha certeza de que antes tinha que tirar a roupa de null, não podia sair por Londres vestindo isso. Antes de mais nada, voltamos para sua casa e eu vesti uma camiseta – que era dele, mas era mais bonitinha – e uma calça jeans que uma das peguetes de null havia esquecido na casa de null (não me perguntem como isso aconteceu, de verdade, não faço ideia e eu não quero saber), os meus próprios sapatos e pronto. null estava parado no batente da porta do seu quarto me olhando enquanto terminava de arrumar minhas coisas que estavam ali desde a noite passada. Olhei a cama e a vi bagunçada, lembrando do que tinha acontecido, e depois da música... O dia foi tão lotado que nem pudemos conversar a respeito e muito menos falar do meu “apagão” após a música que eu nunca tinha ouvido na vida.
- I’m in love with you and all your little things – null cantou baixo e quando eu o olhei, ele sorria. Parecia memorizar cada movimento que eu estava fazendo.
- Eu adorei a música – suspirei; – Foi demais pra mim... Digo, depois de tudo o que já tinha acontecido.
- Você, de verdade, desmaiou? – Ele riu. – Porque eu tentei te acordar depois e não consegui de jeito nenhum, mas alguma coisa me dizia pra não ficar preocupado.
- Foi como uma descarga emocional grande demais, sabe? – Fui até ele, largando a sacola com minhas coisas no chão. – Você me ama mais do que eu nunca imaginei que pudesse ser amada – sorri. – Não estou acostumada com isso.
- Acostume-se – ele me beijou de leve.
- Posso perguntar que música foi aquela?
- Se chama Little Things – ele passou a mão pelos meus cabelos. – É você em cada linha, cada palavra.
- Me identifiquei com tudo, talvez seja por isso que eu tenha desmaiado.
- null, eu queria...
- null – suspirei. – Sabe o que acabou de acontecer com a null e o null?
- Hm.
- Promete que, se um dia nós terminarmos...
- Ah, por favor!
- Não, só me escuta – suspirei e coloquei minhas mãos ao redor do seu pescoço. – Se isso um dia acontecer, que vai ser por um motivo muito grande, gigante, imensurável! E não porque você ficou com outra pessoa ou porque eu fiquei com outra pessoa. Vai ser algo que não vamos ter forças pra lutar contra, vai ser o destino, vai ter que ser desse jeito.
- Eu não gosto de pensar que um dia vamos terminar, isso não vai acontecer.
- Nunca se sabe – dei de ombros. – Vai saber o que o universo tem planejado para nós? Eu nunca esperava ver null e null terminando, eles são feitos um pro outro.
- Os dois vão superar, assim como nós também vamos superar qualquer coisa para ficarmos juntos – ele juntou mais nossos corpos. – Entendeu?
- Eu gosto de pensar em todas as possibilidades.
- Só iria terminar com você se surgisse uma oportunidade de ouro em sua vida e você tivesse que escolher entre eu e sua carreira. Eu não ia suportar ver você me colocando em primeiro lugar – ele estava sério.
- Minha vida está agora em Londres, isso nunca vai acontecer.
- Gosto de pensar em todas as possibilidades – ele disse rindo, parafraseando o que eu tinha acabado de falar.
- Tá bom – suspirei. – Vamos logo, acho que a null deve ter pegado o primeiro metrô e ido direto ao nosso apartamento, ela pode ser bem previsível.
- Ok – ele me beijou novamente e puxou pelas mãos. – Você ainda vai voltar pra cá hoje ou vai ficar com a null?
- Acho que preciso de um tempo sozinha com a minha amiga, null. Eu tô bem preocupada com ela, não sei como ela vai reagir a esse término.
- Ok, então eu te deixo no seu apê e depois volto pra cá, tudo bem?
- Aham.
- Me liga se precisar de alguma coisa – ele abriu a porta da casa pra mim. – Não vou dormir tão cedo hoje, vamos ter que ficar de olho em null e null.
- Tô com tanta pena dos dois – eu disse esperando null trancar a porta. – Me dá até um negócio no peito.
- Vê se não desmaia de novo, null – ele disse rindo.
- Deixa de ser besta – bati em seu ombros.
- Será que depois de toda transa você vai desmaiar? – E agora ele gargalhava.
- Ha Ha Ha, babaca – respondi de um jeito infantil enquanto íamos para o carro. Hunf.
Capítulo 29
Ideia do capítulo desenvolvido por Ana Elisa Pessoa. Parabéns!
null passou os outros três dias cantando todas as trilhas sonoras depressivas POSSÍVEIS! Ela assaltou meu computador e roubou minha discografia da Kelly Clarkson, a vi pegar minha escova de cabelo e cantar Behind These Hazel Eyes de novo e de novo e mais uma vez, de novo. O refrão parece que grudou em meu cérebro e eu, de vez em quando, me vejo cantando a música.
Here I am, once again
I’m torn into pieces
Can’t deny it, can’t pretend
Just thought you were the one
Broken uo, deep inside
But you won’t get to see the tears I crt
Behind these hazel eys
É, agora pensa nisso praticamente vinte e quatro horas. Se começava a tocar One Direction, ela só faltava quebrar o rádio, se eles apareciam na TV ela ia quebrar a TV, se o null me ligava ela ameaçava quebrar meu celular. E como desgraça pouca é bobagem, null apareceu acabado no centro de Londres, o que gerou fofocas. E as fofocas dos piores tipos, ainda mais porque ele estava com o corpo arranhado e machucado – null tinha batido nele – e as fãs não gostaram nada de ver ‘o bebê delas machucado’. E quando um paparazzi perguntou se ele ainda estava namorando e sua resposta foi ‘não quero falar sobre isso’, o fandom explodiu. null foi sempre a adorada pelo fandom, ela é como se fosse a Izzy do McFly – eu estou mais pra Giovanna – e agora, depois disso, null passou a ser a Falcone da vez. Meu Twitter estava até calmo, dava pra contar nos dedos quantas fãs gostavam de fazer o meu dia um inferno, e geralmente eram as mesmas, aprendi a ignorá-las, ainda mais agora com null sabendo de tudo e monitorando minha conta junto comigo. Agora isso com null era novo e ela não sabia como contornar essa situação.
@onedirectioninfection Eu não acredito que você teve CORAGEM de terminar com meu bebê! Pensei que fosse diferente, null.
@cupcakesforlife Você é igual a todas, TODAS, TODAS! PEGA SUA AMIGUINHA E PULA DE UM PENHASCO!
@irishturtles ESPERO QUE VOCÊ MORRA, DESGRAÇADA, VOCÊ ACABOU COM MEU NENÉM!
@1D_my_life null está destruído e a culpa sua, vadia! MORRE, MORRE!
@AmericanDirectioners Queria que você pensasse um pouco mais nas suas ações. O fandom te ADORAVA, agora você é odiada por todos. PARABÉNS, BABACA
@xilik_lovers MORRE, MORRE! MORRE, VADIA!
Não era muito, mas era um começo. Não era sobre a null, mas era para a null, o que a afeta praticamente do mesmo jeito. As fãs não sabiam de nada e era sempre muito mais fácil culpar a namorada do que o ‘astro pop’, porque na cabecinha delas eles são sempre perfeitos, príncipes e não fazem nada de errado. Eles são os caras das músicas, porém eles não são sempre assim. E isso estava deixando null null arrasada, porque ela acreditava com todas as forças que null fosse seu príncipe, o seu cara da música, o garoto perfeito. Mas ele não era, assim como tantos outros.
E amanhã, em especial, seria um dia complicado pra ela. Iríamos para Brighton Beach com os meninos – que eu saiba apenas para acompanhá-los – e a Lary estaria lá. Lary, null, null e null no mesmo metro quadrado. Ia dar merda!
"Nothing goes to plan, it's all a game of chance they say in Wonderland, there's magic in the air, a tragic love affair that I don't understand"
Tom Fletcher cantava no som do meu computador fazendo a trilha sonora para o momento. Estava sentada no sofá com o notebook no colo, absorta em meus devaneios sem fundamento pensando em como as coisas tinham mudado. Eu estava sozinha no apartamento, já que null tinha saído pra algum lugar sem me avisar pra onde, então isso me deixava com o cérebro pensando, fazendo barulho, e eu entrava em uma autoanálise de como a vida é uma caixinha de surpresas. Passava pelas fotos que eu havia tirado desde que cheguei aqui e vi tanta coisa: o jantar na casa do Tom, minhas primeiras fotos como aluna, as primeiras fotos com o null, com os meninos, as minhas com null, ela com null - e isso me magoava -, Londres, algumas cidades que eu tinha tido o prazer de conhecer... Ainda não me superei no quesito "como ser fã de One Direction" e nem sei como foi que isso tudo aconteceu, mas como diz a letra de Ultraviolet, uma das minhas músicas favoritas do McFly, it's all a game of chance they say in Wonderland, não sei se por sorte ou azar eu encontrei o meu verdadeiro "Wonderland", mas com isso encontrei uma porrada de coisas que eu não consigo entender, tipo, porque o fato de namorar null null me torna alvo de bullying de todas as formas possíveis e porque as pessoas estão tão acostumadas a abominar a felicidade alheia. E não importa quem você seja, o alvo agora é a null, mas qual o propósito em se acabar com a felicidade das pessoas? Isso te faz uma pessoa melhor? Faz você se sentir bem?
Complicações me irritam e eu não estou disposta a perder um dia de sol como o que está fazendo hoje, qualquer pessoa com um mínimo de senso sabe que existe um breve abismo entre Sol e Londres e eu realmente acho que a minha vida no momento está mais do que maravilhosa, aliás, acho que ainda não existe uma palavra que defina bem a minha vida. Então, me levantei e fui procurar algo para vestir, eu sabia que não demoraria muito para a null me ligar pra que a gente combinasse algo, então já queria estar pronta. Coloquei um shorts, meu par preferido de All Star, uma camiseta e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo meio solto. Conforme eu já previa, ouvi meu celular vibrar. Andei em direção a ele, ciente de que seria uma mensagem da null me chamando pra sair, mas não era. Quer dizer, mais ou menos.
"null, só pra te deixar informada, nós vamos para Brighton hoje, você deve saber da praia maravilhosa que tem lá. Antes que você conteste, a null já está na van com a gente, o Paul vai nos levar, mas como não cabe todo mundo aqui e só falta você, o null deve passar aí na sua casa a qualquer momento pra te levar no carro dele. Te vejo logo. Beijos. null xx"
A null estava na van COM OS MENINOS? DESDE QUANDO? Pensei que ficar no mesmo quadrilátero que null fosse causar uma quarta guerra mundial – porque a terceira foi no dia em que eles terminaram – e agora ela está na van com eles? Será que ele está lá? Ou que eles estão sendo maduros suficientes para se comportarem como pessoas civilizadas e não brigarem na companhia um do outro? Porra, ela podia ter sido um pouco mais legal e me avisado que estava com os meninos, pensei que fôssemos todos juntos. Que saco! Enfim, pensando sobre a praia... Há apenas alguns grupos de pessoas que podem me ver de biquíni: minha família, null e null. Eu sabia que nós íamos para a praia – e que fique sendo segredo que eu não comi direito nos últimos dias porque eu, bom, o de sempre – mas agora nós vamos pra praia com a banda toda, os meninos nunca me viram assim, e, se depender de mim nem vão ver! Será que seria muito estranho se eu fosse de All Star pra praia? Até que não, ouvi dizer que na Brighton Beach, não existe areia, e sim, pedras. Então, suponho que algumas pessoas devem ir de tênis normalmente. Mas o fato de ir ou não de tênis não é o meu verdadeiro problema. Eu não quero que as pessoas fiquem olhando pra mim e pro meu corpo. Aposto que as inglesas devem ficar perfeitas de biquíni. Mas eu não sou uma inglesa, só sou uma brasileira com sorte.
Abri meu guarda roupa, em algum lugar ali devia existir algum biquíni. Eu nem me lembro da última vez que usei um, quase tirei todas as roupas e coloquei pra fora e não achei NENHUMA roupa que possa se assemelhar a um biquíni. Perfeito. O lado bom é que eu não teria que me esforçar muito pra dar uma desculpa melhor pra não colocar roupa de banho quando a gente já estivesse na praia, e nem vou ser obrigada a nadar. Não estou a fim de pagar nenhum mico hoje. O que posso inventar pros meninos pra falar que não vou poder nadar? Porque eles VÃO perguntar isso pra mim, pelo menos o null vai. Olhei no relógio... Tenho pouco tempo pra pensar em alguma desculpa boa. Ultraviolet ainda estava tocando no meu computador. Eu e minha mania de colocar músicas que eu gosto no replay e esquecer da vida depois. Já devia ser a quarta ou quinta vez que ela reprisava, estava justamente tocando o meu trecho preferido da música.
"She's looking good tonight I love the way she glows in ultraviolet light. Intoxicate my mind. I know that love is blind and I'm not seeing right. I'm not alright."
Tudo bem. Talvez, repito, talvez depois de ouvir Tom “cantar isso pra mim” eu poderia até pensar em arranjar alguma roupa de banho e usar na frente de todo mundo. Pelo menos um maiô, posso mesmo pensar na ideia. Desliguei o notebook. Ouvi ao longe o som de uma buzina, deve ser o null, pensei. Aproximei-me da janela e o vi, ele estava lindo de óculos de sol sorrindo e acenando pra mim. Decidi que iria pra praia do jeito que eu estava mesmo, qualquer coisa eu comprava algum biquíni em uma daquelas feirinhas que existem, pelo menos no Brasil sempre tem. Só peguei minha bolsa e joguei nela meu protetor solar, chinelo, celular, chaves e minha carteira. Enquanto descia as escadas, algumas pessoas me cumprimentavam, algumas garotas ficavam cochichando coisas maldosas e pude ouvir algumas se perguntando onde a namorada de null estava indo. Respirei fundo e caminhei até o carro dele. Hoje você não vai se irritar, null, hoje você não vai se irritar, repeti pra mim mesma mentalmente. Abri a porta do carro e meus problemas sumiram.
- Oi, lindo. – Eu disse me sentando no banco do passageiro, ao lado de null, que me cumprimentou com um selinho.
- Voltamos com os apelidos carinhosos? – Ele disse.
- Tá, acabou o momento ternurinha – arrumei meu cabelo e comecei a mexer na minha bolsa. Ele revirou os olhos e ignorou o meu comentário
–Tem certeza de que tem toalha e biquíni nessa sua bolsa? – Ele perguntou. - Porque se você vier com graça dizendo que se acha horrorosa e que não vai nadar hoje, eu vou ficar muito bravo.
Droga, minha toalha. Eu sabia que estava esquecendo alguma coisa. A parte do biquíni eu daria um jeito mais tarde, mas a toalha não. null ainda olhava pra mim, esperando pra dar a partida no carro, esperando por uma resposta para o comentário ‘você vai nadar hoje’. Fiquei tão ocupada arrumando a bolsa e o apartamento que não pensei em nada inteligente, e agora, de novo, estou naqueles momentos de pânico. E null me encarando, pânico... Tô com praticamente uma dor de barriga de nervoso. Isso dor de barriga, dor... CÓLICA!
- Não posso mesmo nadar hoje, null – eu disse gesticulando para que ele continuasse me ouvindo, ele já estava até abrindo a boca pra retrucar algo. – Eu estou naqueles dias e não posso nadar, sério, seria a coisa mais nojenta de todas se eu fizesse isso – menti lindamente. Ele pareceu me observar um pouco procurando sinais que eu estava mentindo. Fiz o meu melhor pra parecer que estava mesmo falando sério.
- Promete pra mim que é verdade? – Ele perguntou ainda com ar de desconfiado.
- E-e-eu prometo.
- Então tudo bem.
Ele deu partida no carro e nós ficamos algum tempo em silêncio.
- Você já esteve em Brighton? – Ele perguntou, concentrado no trânsito.
- Não, mas já ouvi falar. A null sempre me fala muito sobre Brighton Beach, estou muito curiosa para conhecer. Fica a quantas horas de Londres? – Perguntei
- Umas duas horas – ele respondeu. – Nós, britânicos, apreciamos muito Brighton. Principalmente quem mora em Londres, como nós, porque é bem perto e não é uma cidade tão tumultuada como aqui, é bem tranquilo até.
- É verdade a parte que não existe areia lá? Sempre fiquei em dúvida quanto a isso –perguntei.
- Sim, é verdade. No lugar de areia, há pedras – ele riu. – Acho que você vai gostar de lá. O null te lembrou da entrevista no recado que ele mandou, não é?
- Na verdade não, acho que ele está mais empolgado com a praia – eu ri.
- Bem, nós temos essa entrevista marcada. A imprensa de lá já faz algum tempo que está atrás de nós. Parece que tem a ver com alguma revista adolescente de lá cujo nome me fugiu da memória agora – ele respondeu. – E também com o lance que o Simon disse pra nós uns tempos atrás, coisa que eu também sei do que se trata, vai ser uma surpresa – null riu sozinho. Era sobre a banda, o futuro dele, e ele não sabia o que era; me mata de orgulho! - Lorelai irá nos acompanhar, para representar a Radio 1, não sei exatamente o que tem a ver uma coisa com a outra, mas parece que essa revista é tipo uma “filial” da rádio. Eu sei que você deve estar se perguntando o que uma revista e rádio têm em comum, nem pergunte pra mim, porque eu sou a pessoa menos informada no momento – ele riu
- null, que você é desinformado, isso está bem óbvio – sorri e ele me olhou com a língua de fora fazendo careta. - Com quem a Lary está indo? – Perguntei.
- Acho que ela já está lá. Ela foi no próprio carro porque precisa voltar mais cedo.
- Ah, sim. Você sabe se o null foi com ela? – Perguntei meio curiosa, preocupada, tudo junto.
- Isso eu já não sei, a Lary falou mais comigo e com o null do que com o null ou outro dos meninos – ele suspirou. – Ah, e como eu estava esquecendo?! Ela disse algo sobre levar a câmera dela pra você tirar as fotos da revista e...
- O QUÊ?
O QUÊ?
- Que fotos? – null gargalhou. – Não estávamos falando do seu trabalho até cinco minutos atrás? Que história é essa de fotos? Como assim?
- Não é nada demais, sua atacada idiota – ele ria, eu bufava! ODEIO fazer as coisas em cima da hora. - É que, você sabe, você tem um namorado incrível que às vezes consegue essas coisas e, enfim – ele olhou pra mim e deu uma piscadinha.
- null, eu nem sei com que câmera nós vamos trabalhar, eu não sei lidar assim sob pressão e fazer uma coisa em cima da hora!
- Você é a número um no que faz, será que tem como se dar um pouco de crédito uma vez na vida? Eu fiz isso porque sei que você vai se sair bem, então se quiser falar ‘obrigada, null, eu te amo, null, você é o melhor namorado do mundo, null’ eu ia ficar muito mais feliz – ele imitou minha voz de um jeito ridículo que foi impossível ficar brava ou irritadinha com ele.
- Hm, null? – Perguntei tentando parecer mais contida em minha insegurança e deixando o lado ‘amo fotografia’ falar mais alto. – Você sabe se a tal câmera é a mesma que usamos pra fazer as fotos na rádio?
- Deve ser, por quê?
- Sou apaixonada por ela –eu disse com uma expressão sonhadora. – E se eu ainda não te disse que você é o melhor namorado do mundo, isso foi até hoje: você é o melhor namorado do mundo! – Eu disse sorrindo mais do que qualquer outra coisa.
- Assim é bem melhor – ele sorriu de lado e nesses momentos eu via que nas pequenas coisas, null era perfeito.
- Te amo.
- Não me faça querer parar o carro pra te beijar, dona null, não faça isso – ele respondeu e nós dois sorrimos.
Fomos o restante do caminho conversando sobre coisas alheias até chegarmos à Brighton. No caminho ouvi quatro músicas que estariam no novo CD, além de Little Things que eu tive um apresentação especial. I would foi escrita pelo McFly, e essa foi a primeira que null colocou pra eu ouvir. Digo que ela parece uma versão boyband de Obviously, mas foi impossível não tirar uma com a cara de null quando eu ouvi ‘I walk alone in the rain’, comecei a gargalhar igual uma doida. One Direction são um bando de mauricinhos, desde quando eles iam caminhar na chuva? Capaz de ter um jato esperando por eles para levá-los até a esquina, os losers sempre foram o McFly, One Direction não combina com isso. E eu disse isso pro null, que começou a gargalhar, eu sabia que estava certa. EU ESTAVA DENTRO DE UMA MERCEDES, óbvio que eu estava certa sobre serem ‘mauricinhos’. Também ouvi o primeiro single Live While We’re Young e eu ADOREI com todas as minhas forças, ela é toda perfeita e tem tudo a ver com eles e com a vibe do fandom, vai fazer sucesso nas festinhas. Bom, depois teve Over Again que eu pedi pra parar no meio porque não estava com cabeça pra ouvir esse tipo de música, e ele concordou, e a última foi Magic. Magic é magia pura, fofa do começo ao fim. Ele ficou tagarelando o tempo todo sobre a escolha das músicas pro CD, como foi trabalhar com um outro time diferente do Up All Night. A empolgação dele me contagiava, a música era sua paixão, sua vida, e essa felicidade genuína só me fazia ficar mais doidinha por ele. Eu entendia que parte de sua vida era a música, assim como ele entendia que parte da minha era fotografia.
- Então, Brighton-null, null-Brighton – ele esticou seu braço fazendo uma reverência como nos filmes enquanto descia do carro.
- Estou lisonjeada –respondi. – E cadê todo mundo?
- Logo ali – ele apontou para a van estacionando, quase tive um colapso ao constatar que realmente null tinha vindo com a Lary, pois eles estavam juntos um pouco atrás da van de Paul.
null também estava ali, abraçada com null e fofocando com null. null encontrava-se em um canto da van falando com Paul e mal olhando para os cantos, as coisas estavam estranhas e eu não gostava disso. Fui caminhando de mãos dadas com null até eles e, quando null nos viu, largou null e veio correndo até nós, empurrando null de lado e me abraçando. Super delicada, bem o jeitinho null de ser.
- null, null me ligou hoje de manhã e ele mandou eu não avisar nada porque era pra você vir com o null pra vocês terem esse momento ternurinha e... – ela parou de falar um pouco e respirou. – Desculpa, amiga.
- Tá tudo bem – retribuí o abraço.
- Foi o null quem planejou isso tudo. Ele tentou, de todas as formas, conseguir fazer com que você ficasse responsável pelas fotos, e, claro, conseguiu. Parece que eles te encaixaram como estagiária ou algo assim – null disse.
- Mas eles já não tinham essa entrevista marcada?
- Sim, mas ir pra praia e ter você como fotógrafa do dia foi um bônus – ela sorriu. – É tanto amor vocês dois que acho que vou vomitar.
- Ah, você é tão meiga – eu ri. – Escuta, e como que...
- Não sei, não falei com ele e nem com a Lorelai desde que chegamos. null até que está falando com ela, afinal ela que vai ficar cuidando dos meninos hoje. Já cuidou do null uma vez, acho que não vai ser problema, né?
- null...
- Calma, sou muito superior a isso tudo. E eu amo vocês e amo One Direction e eu ainda amo o null – ela sorriu triste e eu quis abraçá-la. – Só é uma sensação estranha, sabe?
- E como você está com as fãs? Você viu o que elas estão falando, não viu?
- Claro que sim – ela jogou os longos cabelos pra trás. – Bate e volta, null, bate e volta.
- Não se faça de forte o tempo todo, null.
- Não é ser forte, é só ter plena certeza de que o que elas estão falando é mentira, inveja e tudo isso mais os outros pecados capitais – ela riu. – Se preocupa não, eu to de boa.
- Aquela vibe Kelly Clarkson já acabou? – Comecei a rir.
- Já – ela mostrou a língua.
- Hey babe, vamos logo ou iremos nos atrasar. – null, que tinha saído do meu lado e eu nem tinha percebido, chegou atrás de null, a abraçando.
- null sendo fofo comigo, aahhhh – ela riu segurando nos braços dele, enquanto null dava um beijo em seu rosto. – null, quando não quiser mais.
- Há, vai começar essa conversa de mudar de parceiros de novo? – Eu ri. – Chega desse amor, não acham?
- null ciumenta – null riu. – Adoro essa null.
- Cala a boca – dei um tapa em sua testa enquanto ia caminhando na direção da van, null e null atrás de mim abraçados.
O lugar em que seria realizada a entrevista não era muito longe de onde estávamos, por isso fomos a pé mesmo. Várias vezes fomos interrompidos por fãs desesperadas querendo uma foto com os meninos. Eles, todas às vezes, eram educados e sorriam como se tivessem todo o tempo do mundo para aquilo. Eu só me perguntava de onde vinha tanta paciência. Mas, mesmo assim, chegamos rápido ao local. Parecia um grande estúdio, entramos lá e várias pessoas vieram nos cumprimentar. Acho que nunca vou me acostumar com a educação desses ingleses, sério. Uma moça gentil nos acompanhou até uma sala, lá havia três enormes sofás. Os meninos se sentaram em um; eu, null e Lary em outro, juntamente com o Paul. E, enfim, os entrevistadores ficaram no outro sofá, que ficava bem de frente com o dos meninos.
As perguntas não eram muito diferentes do que costumavam perguntar em qualquer revista comum de adolescente. Eram coisas típicas como “qual é a sensação de estar em uma boyband?”, “qual é a melhor e a pior parte de ser famoso?”, “já ficaram com uma fã?” e por aí vai. Acho que a única pessoa ali que estava prestando atenção na entrevista era a null. Ela estava com o cotovelo nos joelhos e o rosto apoiado na palma das mãos. O resto estava ali a trabalho.
Lorelai me entregou a câmera quando foi o momento do meu trabalho começar. Ela veio com uma caixinha, meio sem graça e quase sem me olhar nos olhos, resolvi apelar pro meu lado profissional.
- Lary, pode olhar pra mim se você quiser, eu não mordo.
- Sei disso, só estou sem graça de estar novamente trabalhando com vocês.
- O null não está falando com você? Então, se ele está falando com você, quem sou eu pra te ignorar?
- O clima entre os meninos não está bom, null fica toda hora fazendo piadinha com o null, piadinha sem graça.
- E o que você esperava?
- Na verdade, eu esperava isso – ela suspirou. – Aqui está seu material, infelizmente não é a mesma que você usou na Rádio, mas é tão boa quanto.
- Qual o modelo? – Perguntei abrindo a caixa e dando uma olhada. Não era tão diferente, mas vi que era uma SEMI profissional. Não curti. – Tem flash? O ambiente está escuro demais.
- Deve ter, eu não entendendo dessa parte técnica, null – ela riu. – Vou deixar você arrumar as coisas.
- Ok, obrigada – suspirei. E lá vamos nós...
- Sim, nós já começamos a gravação do novo CD, hoje mesmo eu mostrei pra minha namorada algumas músicas – null disse sorrindo pra mim enquanto eu batia uma foto exatamente daquele momento.
- E sua namorada seria essa garota adorável que está nos serpenteando com a câmera? – O jornalista whoever perguntou, dessa vez eu nem fiquei sem graça.
- Essa mesma – null confirmou.
- Já que estamos falando de namoradas, mais alguém namora?
Ô pergunta cretina em um momento inapropriado.
- Vamos dizer que, não estamos sozinhos – null respondeu pelo grupo. – Mas o único oficial é o null, aqui – ele deu um tapa nas costas do amigo. Acho que todo mundo pensou a mesma coisa nesse momento: UFA!
- Vocês acham que o null seria o primeiro a se casar da banda? Já que é o único com uma namorada oficial? – Mas, HEIN?
- Casar? – Eu falei baixinho focando a cara de espanto do null com a pergunta, logo em seguida tirando uma foto dos outros quatro com as mãos na boca escondendo o riso.
- Bom... – null coçou a nuca, olhou pra mim, olhou pro grupo. – Tá meio cedo, né?
- É só uma suposição – novamente, o jornalista disse. – Mas, vamos mudar de assunto.
Encarei null que estava roxa querendo rir e tirei, de propósito, uma foto dela. Óbvio que ela não gostou e mandou eu apagar, mas nem a pau! Respirei fundo e continuei o trabalho; mas essa câmera semi estava me irritando ao máximo. Saudades da câmera da SugarScape, da Rádio One, da minha própria câmera.
A entrevista durou mais ou menos umas duas horas, depois nós tivemos que sair porque eles iam tratar daquele tal assunto importante que o Simon tinha falado que ia mudar a vida deles pra sempre. Eu de verdade não sei como eles aguentam isso, o tempo todo as mesmas perguntas, pessoas planejando sua vida para os próximos três, cinco anos, tudo o que você faz tem hora, lugar... Eu ia entrar em parafusos! Lembro-me de ver null chegar cansado, mal conseguindo falar e simplesmente se jogando no sofá ou qualquer coisa que ele visse pela frente. Quando ele ficava assim, dormia em qualquer lugar, e eu morria de pena.
- Dando uma olhada na hora, acho que nem vamos conseguir ir pra praia – a entrevista chegava ao fim e eu arrumava a câmera para entregar novamente para Lorelai. – Até que eu estava empolgada.
- Como assim, null? Nós ainda vamos á praia. Só que não exatamente na Brighton Beach, nós vamos ao Brighton Píer, o principal ponto turístico da cidade.
- Seis horas da tarde, null? – Perguntei confusa.
- É, ué. Ou você não sabe que o lugar com o pôr-do-sol mais incrível do mundo fica no Brighton Píer? – Ela perguntou como se fosse algo super óbvio. - E, acho bem provável que você não conheça, mas lá mesmo, no Brighton Píer, fica o Honey Club, uma das maiores e melhores boates da Inglaterra. É sério, você é a única de nós que nunca esteve lá, e eu garanto: vai amar. É incrível. – null disse animadamente.
Isso só me fazia lembrar que a minha vida social no Brasil era praticamente nula, não me lembro de alguma vez ter ido em alguma boate. Talvez festinhas de aniversário que alguém contratava um DJ conte. Acho que comecei a viver desde que me mudei pra Londres, mas minhas experiências em boate são praticamente nulas; além de dançar, o que mais se faz numa boate?
- E que horas nós vamos embora?
- Cinco.
- Mas já passou da cinco – eu disse confirmando no meu relógio de pulso.
- null, cinco horas da manhã de AMANHÃ. Não hoje – ela disse.
- Mas onde nós vamos dormir? Eu não trouxe pijama nem nada, e por que vocês não me avisaram? – Perguntei um pouco irritada, o que custava terem me avisado, poxa?
- Ops, eu acho que me esqueci desse “pequeno grande” detalhe – disse null, chegando perto de nós.
- null, eu vou te matar – comecei a distribuir tapas no braço dele, em vão, porque ele logo começou a fazer cócegas na minha barriga.
- null, essa já tem dono, arruma uma namorada pra você logo – null disse, de brincadeira me abraçando. – E aí, como foi o trabalho?
- Tirando a pergunta sem noção de casamento, foi bacana – sorri e dei um selinho nele. – Já estão indo pra van ou carro ou sei lá como vamos embora daqui?
- Aham – null olhou em volta e viu que os meninos estavam já preparados.
- Me dá dois minutos então porque preciso entregar a câmera pra Lorelai.
- Posso ir junto? – null perguntou.
- Mas claro... QUE NÃO! – Falei na hora. – Sei bem quais são suas intenções.
- Não vou bater nela em público, sei me controlar.
- Nós vimos o seu autocontrole com o null, null – null disse e ela fez careta. – Que foi? O menino tá cheio de roxo no corpo e a culpa é sua.
- Pra aprender a deixar o pinto só numa casinha, no caso, na minha casinha.
- Ah, tá, tá! – Cortei o assunto quando null e null começaram a gargalhar. – Vão indo, daqui a pouco alcanço vocês.
Dei um beijo em null e saí procurando Lary. Para minha surpresa, ela conversava com null e de uma forma civilizada. Olhei-a de longe e detestei a roupa que eu estava usando... Lary era o tipo ‘executiva foda’, então, sempre com o cabelo arrumado, salto alto, maquiagem na medida certa. Hoje ela estava com um visual um pouco mais rockstar, olhos bem negros, cabelos lisos e com a franja caindo sobre os olhos, blusinha preta colada e calça escura jeans. Bota de cano alto por fora e um salto agulha de uns sessenta centímetros – não eram sessenta, eu sei. null mal conseguia encará-la, e ela parecia sentir uma dor física por estar conversando com ele. Dava bem na cara que os dois se gostavam e que ela estava arrependida pelo que fez, nunca vou entender o motivo que pode ter levado ela e null a transarem, não entra na minha cabeça.
- Oi gente – cheguei e senti que os dois respiraram aliviados. – Lary, a câmera fica com você ou comigo? Eu vou precisar editar as fotos depois.
- Fica comigo, eu te mando por e-mail, pode ser?
- Sem problema – sorri. – null, os meninos já estão indo.
- Eu sei, null, só preciso terminar um assunto com a Lorelai.
- Ah, claro – fiquei sem graça. – Até mais tarde.
- Hey, null – Lary me chamou. – Antes de você ir, você viu que suas fotos foram publicadas no site do McFly?
- JURA? – Eu não sabia. Depois do show eu nem tive tempo de ver nada, pra ser sincera.
- Leishman e o David me telefonaram, as fotos ficaram excelentes. Te desejaram uma boa semana em Paris e querem conversar com você na volta.
- Porraaa!!! – Soltei sem querer e os dois riram, fazia tempo que não via null rir desse jeito. – Desculpem.
- Comemora sua conquista, null – null falou me abraçando de lado – Ainda falta você na nossa tour, você vai como fotógrafa.
- Comentei disso com o null depois do show do McFly, eu quero muito fotografar vocês, muito mesmo.
- Então fechou – ele beijou meus cabelos e me abraçou mais forte. Continuo com o pensamento de que ele e Lary foram feitos um pro outro, mas se fosse o null chegando em mim no London Eye no lugar do null, eu pegava FÁCIL.
Afastando esse pensamento, já que eu tenho um namorado e chega de dramas entre os meninos da banda, me dirigi pra fora de onde estávamos e fui me encontrar com o resto do pessoal. Como já era de se imaginar, null estava a uma boa distância de null enquanto ela conversava com null; null me esperava perto do carro dele já com a porta aberta e rodando a chave do carro entre os dedos. Não sei se null ia para praia com a gente ou se ia ficar com Lary, mas sabendo que os dois estavam juntos já era um bom sinal, bons ventos chegavam e a harmonia apareceria de novo. Agora eu só torcia pra tudo ficar bem com meu outro casal favorito.
- null?
- Sim?
- Obrigada por esse dia. Está sendo incrível. Numa escala de zero ao jantar na casa de Tom fucking Fletcher, eu daria nota oito. E acredite em mim: isso é bastante – disse.
- Você sabe que eu sou capaz de fazer qualquer coisa pra te ver sorrir, eu sei que isso soa meio clichê, mas você é muito especial pra mim null. Muito mesmo – ele olhou pra mim, sem sorrir, apenas focalizando nos meus olhos.
- Tô superando isso de aceitar você falando coisas bonitinhas pra mim.
- E quando você vai começar a falar coisas fofinhas pra mim?
- Supera, null, supera essa – eu ri fazendo carinho no seu cabelo enquanto ele dirigia.
Chegamos bem a tempo do pôr do sol no píer. Era mesmo uma das coisas mais lindas que eu já tinha visto na vida. O lugar era todo iluminado, parecia cenário de filme de romance. null, null e null se preocupavam em brincar perto do mar e pareciam três crianças alegres, ao meu redor haviam vários casais abraçados e se beijando, null estava sentado ao fundo vendo o pessoa junto e eu podia ver claramente seu olhar pousando em null o tempo todo. Ainda mais porque ela estava começando a ficar molhada e mais cedo ou mais tarde ia acabar tirando a camiseta, null ia morrer, eu tenho certeza. null apareceu uns cinco minutos mais tarde sem Lary e foi logo passando reto por null e indo até os outros. Novamente meu coração ficou pequeno, não sei se null estava merecendo esse tratamento, sendo que null passou boa parte da tarde conversando com Lorelai, se bem que não sei o que os dois ficaram conversando.
- Não é lindo? – Senti null me abraçar por trás enquanto eu via null sentado sozinho. - Estou com muita dó do null, muita – eu disse juntando meu corpo mais com o de null. – Não sei se ele merece esse tipo de tratamento.
- O null tá pensando em mil jeitos de ir falar com ele, acredite. Desde aquele dia que ele foi embora, acho que ele não dormiu e nem comeu, está muito chateado, mas ao mesmo tempo está querendo voltar às boas com null. Somos muito amigos, ficar com esse clima é bem estranho.
- Eu imagino – virei-me pra ele. – Não briga com o null se um dia eu te trair com ele.
- O quê? – Ele riu enquanto me abraçava mais pela cintura. – Tá pensando em me trair com o null, é isso?
- Pelo menos eu estou te relatando, caso eu te traia um dia, será com null null.
- Não é nada reconfortante – ele falou encostando o nariz no meu e apertando minha cintura, enquanto eu sentia cócegas na minha barriga, mas eu sei que era psicológico.
- Se você fizer por merecer e for um namorado bonzinho, não tem porque eu procurar consolo em outras pessoas – eu ri mordendo de leve seu lábio inferior, o vi fechar os olhos e depois abri-los de uma forma sonolenta e sexy.
- Posso te roubar por uma hora? Tem o carro...
- Eu não vou transar com você no carro – comecei a rir. – De jeito nenhum.
- Daqui uns dias você está indo pra Paris e eu vou ficar um bom tempo sem você, como vou satisfazer meus desejos sexuais?
- null null.
- null? – Ele começou a rir.
- Brincadeirinha, brincadeirinha – o puxei pra mim e o beijei daquele nosso jeito.
Nós ficamos abraçados nos beijando por um tempo. Eu nunca me enjoava dos beijos de null, acho que nunca na minha vida tinha sentido algo semelhante ao que ele me fazia sentir. Ele era muito melhor que qualquer expectativa, que qualquer sonho. Eu sei que devia dizer isso com mais frequência pra ele, sou muito contida nos meus relacionamentos, na verdade no meu relacionamento com ele. Parei o beijo para respirar e me dei conta de que a praia estava vazia, apenas com casais perdidos e nosso pessoal brincando na água. Me toquei que nenhuma fã chegou para conversar com os meninos e nem nenhum fotógrafo apareceu, essa praia era tão deserta assim? Pensando que alguma fã podia de repente pular de trás de um arbusto e me matar ou vai saber o que elas podiam fazer, resolvi perguntar pra null onde elas podiam estar pra eu me preparar fisicamente caso alguma aparecesse.
- Nenhuma fã veio pra cá? – Perguntei.
- A cidade é pequena, todas as fãs já nos abraçaram quando estávamos indo para a entrevista e quando saímos de lá. Não sei se acho isso bom ou ruim, mas não temos tantas fãs assim enlouquecidas por nós por aqui – ele sorriu. – O bom é que agora você terá minha total atenção e eu só abraçarei você o resto da noite.
- Uau, total atenção de null null! O que será que eu fiz pra merecer isso?
- Nasceu – ele riu. – Vem, vamos dar um mergulho.
- null, nem pensar! – Avisei. – Esqueceu que eu estou... Sabe?
- Ah, claro – ele suspirou. – Bom, eu vou pro mar, você vai ficar onde?
- Sentar com o null, estou com muita dó dele.
- Vai lá – ele me beijou. – Se mudar de ideia, estou com o pessoal ali – null arrancou a camisa e foi correndo pro mar.
Queria que fosse fácil pra mim assim, apenas tirar a camisa e ficar ainda mais linda. Por mais que eu estivesse trabalhando meu cérebro pra parar de pensar essas coisas, tanto tempo pensando nisso não é assim de uma hora pra outra que passa. Levantei por duas vezes minha camiseta querendo tirá-la, mas parei na metade do caminho. Suspirei e quase tive vontade de começar a chorar, era uma coisa idiota, por que tinha que me incomodar tanto? Eu não sou gorda, não estou gorda... Olhei pros lados e vi null me encarando e sorrindo. Ele tirou a camiseta também e veio na minha direção, caminhando com a camiseta jogada por cima dos ombros. Sorri nervosa e segurei a barra da minha camiseta pra baixo.
- Vai ficar aí? Parada e com roupa?
- null.
- Faz o seguinte, só tira a camiseta por cinco segundos, se de verdade você se sentir mal eu mesmo te dou a minha camiseta, caso contrário você ficará sem a camiseta.
- null, eu estou sem biquíni por baixo – falei sem graça. – Não deu tempo de procurar nada, então eu só estou de sutiã.
- E só tem seus amigos aqui, qual o problema?
- Tenho vergonha de vocês – suspirei. – Muita!
- Hey – ele me abraçou de um jeitinho tão gostoso. – Faz isso por você e por nós, null, por favor.
- Não é tão fácil assim – suspirei e o abracei mais.
- Você é linda – ele sorriu quando separou o abraço. – E você não é linda no óbvio, é muito mais que isso, e precisa acreditar nessa beleza. Eu não digo que é chato, mas de vez em quando cansa você ficar com essa insegurança toda sendo que a imagem que você acha que vê no espelho não é a que nós vemos.
- Sei que cansa, me cansa – fiz careta. – Eu não gosto de ser assim, acredite.
- Então para de ser assim, tá, você vai falar que é complicado, mas nós estamos aqui pra te ajudar. Mas, pra isso, você precisa acreditar na nossa ajuda.
- U-hum.
- Combinado? – Ele riu e fez um high five comigo. – Acabar com essas inseguranças, fechado?
- Fechado – eu ri e o abracei de novo. – Obrigada, null.
Nós dois ficamos lá sentados vendo o pessoal se divertir no mar. null já estava todo molhado junto com os meninos, e null veio correndo até nós com roupa, nem se importou quando viu null ali comigo, na verdade eu percebi que ela até gostou de encará-lo pela primeira vez no dia. Ela ali com o corpo molhado, as bochechas vermelhas e a boca meio roxa – estava frio, eu tenho certeza de que a água devia estar congelando – deixava null mais doido. Ele começou a se mexer e cutucar a unha, impaciente. null percebeu e começou a rir, fazendo mais graça.
- Eim null, vai ficar aí mesmo? – null perguntou soltando o cabelo que estava preso em um rabo de cavalo e tirando a blusa. null parou de respirar ao meu lado, disso eu tenho certeza. Pra provocar um pouco mais, ela colocou as mãos na cintura e ficou ali mexendo o corpo e os cabelos, eu queria rir do sofrimento de null, mas seria sacanagem demais. – A água não está tão gelada assim.
- null, sua boca tá roxa! – Eu ri. – Como assim “não está tão gelada assim”?
- Eu sempre fico com a boca roxa quando estou nadando.
- Nem sempre – null disse ao meu lado e nós duas olhamos pra ele. – Digo, no dia em que nadamos em casa você não ficou... Roxa.
- Isso porque eu não parava de te beijar, então não deu tempo – ela suspirou e virou o rosto pro outro lado.
- Escuta, você fica aqui com o null – levantei-me e fui em direção a null – que eu vou lá pra frente com os meninos, combinado?
- Eu não quero...
- MAS VOCÊ VAI! – Empurrei null para o lugar onde eu estava sentada. – E dessa vez sem bater e sem brigar, simplesmente conversem!
- Não tenho nada pra conversar com ele.
- Mas eu ainda tenho pra falar com você – null finalmente falou.
- Viu? – Eu sorri. – Ele tem coisas pra falar, então cala a boca e escuta.
Saí deixando null com uma bela cara de bosta e null com um sorriso de lado, podia ouvir seus pensamentos falando ‘obrigado’ pra mim. Os dois se adoram, não gosto de ver gente que se gosta separado. Tá que o null foi um babaca e que ele mereceu tudo o que a null fez, mas acho que tá bom... Não, eu sei que não tá bom. Que fiquem civilizados, pelo menos.
- Resolveu entrar? – null me disse quando eu cheguei perto dele e de null, que acabavam de sair da água.
- Nem pensar – sorri. – Deixei o casal conversando, alguma coisa boa tem que acontecer com esses dois.
- null Cupido – null riu. – Já não basta cuidar da sua própria vida amorosa, tem que cuidar das dos amigos também?
- Minha vida amorosa, que eu saiba, está tranquila. Ou está acontecendo alguma coisa que eu deveria saber?
- Bom, agora não está acontecendo nada – ele mordeu os lábios e olhou por cima dos meus ombros. – Mas vai acontecer já, já.
- null? – Mas eu nem consegui falar nada, só senti duas pessoas me pegando pela lateral do meu corpo e me levando pro mar. Eram null e null. – O QUÊ? – E CABUM, eu estava na água.
- Desculpa, amor – null surgiu ao meu lado no mar, sacudindo os cabelos e rindo da minha cara de assustada. - Mas eu vou me sentir culpado pro resto dos meus dias se não fizer isso. E, me desculpe outra vez, mas eu não acreditei nem um pouco nessa sua história de “naqueles dias”, e se você tiver falado sério mesmo, me desculpe pela terceira vez – ele me segurou pela cintura e me empurrou para um mergulho, caindo junto comigo.
- ODEIO VOCÊ! – Eu disse me soltando dele e correndo pra fora. – EU ODEIO TODOS VOCÊS! – E dessa vez apontei para null, null e null, que estavam do lado de fora rindo da minha cara. – Eu só tenho essa roupa, seus retardados, como vou fazer pra ir embora agora?
Eu só pensava que eu não tinha outra roupa pra colocar, eu estava DE TÊNIS no mar, a água estava congelando e ainda bem que eu não estou mesmo naqueles dias, senão o estrago seria FEIO.
- null null, você não fez isso – em vão comecei a correr atrás dele pela areia, mas ele era mais rápido, e, com toda essa roupa pesada, eu praticamente ficava no mesmo lugar. – Se eu ficar gripada a culpa é sua! E nós ainda íamos naquela boate, como vou na boate molhada?
- Eu não quero ir na boate – ele riu voltando a fazer cócegas em mim. – E você não entra na boate com essa roupa, e nem eu trouxe outra roupa, amor.
- Ótimo, vamos ficar assim até amanhã. Perfeito!
- Pra isso que vamos ficar na praia, resmungona – null apareceu me abraçando por trás. – Vamos fazer um luau, fogueira, cerveja, e trouxemos uns cobertores na van, ninguém vai passar frio.
- Ah, menos mal – eu disse aliviada bagunçando o cabelo molhado de null.
- Essa é sua despedida – null falou e null olhou pra ele o repreendendo. – Que foi, não era pra falar?
- Não agora!
- Despedida? Tô indo embora e não tô sabendo?
- Pra Paris – null falou suspirando. – Eu sei que você vai ser foda por lá e que é uma grande oportunidade na sua vida, mas não queria ver você indo sem uma despedida bacana, então meio que tudo calhou pra dar certo. A entrevista, a praia, o luau.
- Awn, null – eu sorri e os meninos atrás de mim começaram a fazer barulhinhos irritantes, imitando o meu momento ternurinha. – Olha, se eu tenho o melhor namorado do mundo o problema é meu, tá!
- null está sendo fofa – null disse. – Aproveita, null.
- Pode deixar – ele riu e me puxou para um abraço molhado e gelado. – Tá tremendo.
- Eu disse que estou com friiiiiiiiiiiiiiio!
- Vamos logo pra van pegar um cobertor, mas você vai ter que tirar essa roupa molhada.
- Nem pensar! – Arregalei os olhos. Novamente, null, null e null gargalhavam.
- Trouxemos umas camisetas, null, ninguém vai ficar pelado não.
- Infelizmente – null disse concordando com o que null havia falado.
- Vocês são todos, TODOS, idiotas! – E, dizendo isso, saí de mãos dadas com null em direção a van.
Conforme o prometido, ficamos na praia até altas horas da noite. Era realmente muito tranquilo e foi interessante passar o dia junto com eles. null e null conseguiram uma fogueira – elétrica, porque nenhum deles teve a capacidade de conseguir fazer fogo sozinhos –, forramos o chão com os cobertores e tapetes e ficamos juntos em um grande amontoado de mantas, edredons, travesseiros e cobertores. Quem visse de longe ia achar que éramos mendigos, nunca iam achar que ali estava a banda mais conhecida atualmente: One Direction! null ficou ao meu lado o tempo todo, mas eu via os olhares que ela trocava com null. null também não ficou perto dele, mas pelo menos conversavam paralelamente. Eu e null dividíamos o mesmo edredom e eu estava absurdamente confortável com a minha situação: em seus braços recebendo deliciosos carinhos em meus cabelos, pescoços e ocasionais beijos. Maneira perfeita pra terminar o dia, pensei; null estava abraçado comigo, mexendo no meu cabelo e sussurrando coisas fofas no meu ouvido.
- Só tem uma coisa me agoniando – null disse. – Eu realmente queria ter visto a null dançando pra valer na boate.
- Não acho engraçado – falei quando os meninos começaram a rir.
- Nós podemos voltar alguma outra vez, o que não faltará serão oportunidades – null disse.
- Da próxima vez ensaiamos alguma coisa para não fazer feio – ouvi null dizer e null concordar com ele. – As nossas danças são sempre as melhores.
- Acho que teve uma vez que vocês foram para a França e fizeram uma dancinha ridícula em algum programa...
- LA BOITE! – Todos falaram juntos respondendo a minha pergunta.
- Isso, como é mesmo a dancinha? – Eu provoquei cutucando a barriga de null, mas eles se recusaram a dançar. – Ah, poxa vida!
- Coloca no youtube depois – null respondeu. – Odeio dançar.
- Percebi pelo clipe ‘One Thing’ – eu ri.
- Espera – null me encarou. – null está comentando coisas sobre a banda, pausa pra eu assimilar essas informações.
- Cala a boca! – Bati nele, – Eu já posso ser chamada fã da banda, ok?
- Fã? – null riu. – Me fala a ordem das músicas do primeiro CD.
- O normal ou o Yearbook Edition?
- WHOOOOOOO – os meninos começaram a rir.
- Ela sabe que tem um Yearbook Edition – null disse. – Ganhou moral, ganhou moral.
- Minha garota – null beijou meu rosto e, novamente várias piadinhas começaram a aparecer. Odiava ser o centro das atenções, especialmente desses cinco bestas.
Depois de mais algum tempo ali, fomos para o hotel. Eu e a null ficamos em um quarto, apesar de null ter reclamado que queria ficar em um quarto sozinho comigo, mas eu queria fofocar com minha amiga, saber o que ela tinha falado com null quando os dois ficaram sozinhos, coisas de meninas. O máximo que null conseguiu foi me dar um beijo de boa noite na porta do quarto do hotel, já que null o puxava do lado de fora e null me puxava pra dentro; todos estão reclamando que eu e null estamos em um momento paixão demais, é bom separar. Mas acho que se esqueceram que vamos ficar separados por duas semanas, e eu nunca pensei que fosse chegar em um ponto no relacionamento que eu ia sentir saudades de alguém, saudades do cheiro, do toque. Bosta ficar apaixonada, bela bosta!
Acordamos cedo. Os meninos tinham compromissos em Londres e já iam se programar para viajarem para Suécia e Alemanha – a gravação do novo CD ia ser feita nesses dois países –, sem falar que iam começar a estabelecer as datas para a nova tour, quando iam voltar para os Estados Unidos, a atenção que tinham que dar para as fãs no Reino Unido... E eu e minha trupe íamos arrumar nossas malas para Paris. Partiríamos em alguns dias, e eu não tinha nada pronto. Absolutamente nada! Duas semanas, eu levo o quê?
- Obrigada por esse fim de semana – eu disse quando null estacionou em frente ao apartamento na escola. - Mais tarde eu te ligo.
- Ok – ele disse sorrindo. – Foi meu jeito de desejar boa sorte em Paris, só não consegui ficar sozinho com você do jeito que eu queria.
- Ainda tenho uns dias pela frente – eu sorri e senti minhas bochechas arderem. – Para de me olhar desse jeito, null.
- Gostou, né?
- Cala a boca, não tá mais aqui quem falou.
- Passo aqui mais tarde – ele me beijou. – Pra sua despedida.
- null...
- Fique pronta – e com um pulo eu desci do carro. Sorrindo igual uma besta.
Capítulo 30
Capítulo dedicado para as minha essência Fletcher, Jess. Obrigada pela cena tão perfeita, I love you.
– Eu só não acredito que você fez isso comigo, null null! – Eu resmungava com null pelo celular. A palavra que resumia o meu dia era: Entediante. Eu estava deitada na cama, ainda de pijamas, observando as pequenas ranhuras do teto branco do quarto. Era fim de semana e eu me sentia abandonada por todos. Os garotos estavam viajando desde o começo da semana para fazerem alguns shows nos países vizinhos e agora null também tinha me abandonado.
– Deixa disso, drama Queen. É só um fim de semana! Minha mãe morreria se eu não viesse visitá-la de uma vez – escutei o barulho da respiração forte de null pela linha telefônica. Ela odiava se sentir a garotinha da mamãe, mas quem gosta?
– Tá legal, eu sei disso – cruzei as pernas, sentando na cama. – Mas o que eu vou fazer o fim de semana inteiro aqui sozinha? – Fiz um bico com os lábios como se ela pudesse ver do outro lado do aparelho.
– Ah, e eu que sei? Usa a criatividade, sei lá... Faz um meet com as fãs do One Direction – pude ouvir a risada abafada dela e franzi o cenho.
– O quê? null, você já está bêbada a essa hora da manhã? Não quero ser linchada agora, quero pelo menos terminar a faculdade – rolei os olhos nas órbitas enquanto levantava da cama e ligava o notebook. null só fazia essas piadas só porque estava a horas de distância e não podia sentir a almofada que eu teria jogado nela se estivesse aqui.
– Eu já disse que não vou fazer isso! – A voz dela soou longe.
– null? – Resmunguei sem entender nada o que ela estava falando. A capa de Motion in The Ocean apareceu no desktop do computador e eu já abri o navegador. Acreditem ou não, o Twitter tornou-se a minha página inicial. Apesar de não gostar de olhar as mentions, a minha timeline era a minha principal fonte de notícias, principalmente sobre null. Não que eu fosse uma stalker ou uma daquelas namoradas paranoicas, se bem que ele já havia me dado motivos pra ser. Eu só gostava de saber notícias dele. – null?
– Ah! Oi null! – A voz dela tornou-se mais nítida, provavelmente porque voltava a atenção para o celular novamente. – Eu preciso ir, a minha mãe quer que eu arrume meu antigo quarto, você acredita nisso? Eu venho visitá-la e ela me coloca pra fazer trabalhos domésticos – eu ri sonoramente. Mães, sempre sendo mães acima de tudo.
– Tá legal, vai lá. Me abandona mesmo... – falei manhosa enquanto rolava a barra da timeline do Twitter.
– Deixa de doce – null fez uma pausa e gritou um “Já Vou!” antes de continuar. – Preciso ir, ela ameaçou confiscar o meu celular. Espero que você sobreviva! Te ligo depois, beijo!
Mal deu tempo de eu responder alguma coisa e a linha já ficou muda. Coloquei o celular em cima da mesa pensando no que eu faria o fim de semana inteiro. Comecei a ler com mais atenção os tweets que carregavam na tela. Nada de One Direction, nada de McFly. A única coisa conhecida que eu li por ali era null reclamando dos afazeres domésticos. Vendo que não tinha nada de interessante, comecei a zapear pela internet. Olhei algumas postagens no Facebook e acompanhei alguns sites de fotografia que eu costumava visitar frequentemente. Depois de uma hora e meia acabei parando no Youtube, como eu estava logada na minha conta a página inicial se encheu de conteúdo de McFly e fotografia. Um vídeo em especial me chamou a atenção. Nele Carrie, irmã do Tom, passava um dia sozinha com Marvin na casa do irmão. Eu ri muito daquilo tudo, ela era muito carismática e espontânea. Talento é uma coisa que se tem de sobra na família Fletcher. Voltei para o Twitter e postei sem pretensão nenhuma:
“Passando o tempo ocioso assistindo os vídeos da @CarrieHFletcher. Queria ter um pouquinho do talento dela.”
Minutos depois, atualizei minha timeline e quase cai da cadeira:
@CarrieHFletcher “@stargirl Obrigada, mas ouvi dizer que você já tem talento de sobra! Parabéns pela Sugar Scape.”
A Carrie me respondeu? Tá certo que eu já tinha sido apresentada a ela uma das vezes que fui à casa do Tom, mas tinha sido tão rápido! E ela conhecia até o meu user do Twitter! Nem consegui responder e ela havia mandado outro tweet:
@CarrieHFletcher “@stargirl falando em tempo ocioso, eu também estou nessa. Vamos combinar alguma coisa? Xxx”
Quando dei por mim eu estava na frente da casa dos Fletchers. Eu mal acreditava que horas antes reclamava do tédio. Ali era lindo, pouco diferente da casa do Tom, apenas era um tanto maior e mais branca. Identifiquei-me no portão principal e comecei a caminhar até a porta da casa. Depois das mentions trocadas com a pequena Fletcher, não fiquei muito mais no computador. Como já era rotina, recebi muita coisa negativa. As garotas começaram a falar coisas como: “Quem ela pensa que é?”, “Quando null vai terminar com essa garota?”, “Arg, ela é tão ridícula!” e “Já não chega o 1D e o McFly, agora ela quer tirar até a Carrie de nós. Quem será o próximo, Ed Sheeran?”
Eu estava tão casada disso, porque eu não podia simplesmente viver? Dei conta que essas críticas me atingiam mais quando eu estava desamparada como hoje. É fácil pensar que estava tudo bem com null me abraçando forte e null dizendo que me adora, mas em situações como essas em que nenhum deles estava por perto, esses tweets pareciam tão verdadeiros que eu mesma começava a me questionar se eu não era mesmo a vilã da história. Eu pertencia aquele lugar, afinal? Eu não era linda e não tinha a confiança da null para ser a namorada de um integrante do One Direction.
Cheguei na porta ainda com esses pensamentos me incomodando e bati três vezes aguardando que alguém a abrisse. Não demorou muito para Carrie aparecer sorridente na minha frente e me abraçar apertado. Ela era maravilhosa, seus cabelos cacheados caiam por além dos ombros e a pele branca fazia par com os olhos castanhos amendoados. Era impossível ver o sorriso de Carrie e não sorrir de volta.
– Que bom que você veio, null, odeio ficar sozinha em casa. – Ela me soltou do abraço e eu notei que ela vestia um short jeans e uma camiseta cinza com uma frase do The Big Bang Theory. Ela estava vestida simples e mesmo assim estava linda, já eu tinha passado horas me arrumando para ficar “apresentável” pra poder sair de casa.
– Acho que sofremos do mesmo mal. Todos me abandonaram nesse fim de semana – resmunguei enquanto entrava na casa. Se o imóvel parecia grande do lado de fora, ali dentro a sensação era multiplacada por duas. Aquilo era imenso! – É sério que não tem ninguém em casa, Carrie?
– Agora temos nós – ela riu se jogando no sofá da sala e colocando uma almofada sobre o colo. – Mas me diz, null, como é namorar um cara do One Direction?
– E como é ser a irmã de Thomas Fletcher? – Eu ri e imitei Carrie, sentando-me ao seu lado. Ela era tão natural que eu me sentia como se fossemos amigas há anos.
– Ah, é normal. Acredite ou não, sou irmã dele desde que nasci – Carrie fez graça e rolou os olhos, não acreditando que tinha falado uma coisa daquelas. Nós duas rimos juntas. – Mas me diz, não esconde nada. null null namorando, e ainda uma garota de conteúdo como você.
Senti minhas bochechas corarem. Não era todo dia que a recebemos um elogio da pequena Fletcher.
– Bem – eu passei a observar a almofada sobre meu colo, passando os dedos na borda da fronha enquanto eu pensava o que dizer. – É difícil a maior parte do tempo, sabe? As fãs não gostam de mim, vivem me dizendo coisas terríveis. Às vezes paro pra pensar se elas não têm razão. – Acabei a frase e senti a mão de Carrie sobre a minha. Levantei os olhos em sua direção e ela sorria. Como eu disse antes, era inevitável sorrir de volta.
– Isso quem tem que julgar é o null. – Carrie simplesmente disse. – E pelo pouco que eu tenho acompanhado, eu nunca vi aquele garoto tão feliz.
Nós duas conversamos mais um pouco e depois Carrie teve a ideia de fazermos um vídeo para o seu canal. A princípio eu relutei bastante imaginando que as fãs pensariam mais uma vez que eu era uma oportunista, mas os olhos castanhos daquela Fletcher pedindo por favor me lembraram muito o gato de botas. Não se diz não ao olhar do gatinho do Shrek. Decidimos fazer mais um da série “Queen of Procrastination”, porque éramos realmente boas em não fazer nada. Passamos horas rindo e bolando cenas engraçadas. Estávamos dançando Pimball Wizard em cima do sofá quando a porta da sala foi aberta. Congelamos a cena quando vimos Tom entrando na casa com uma mala em um ombro, Marvin no outro e uma feição emburrada no rosto. Carrie correu para desligar a câmera e eu só fiquei ali parada sobre o sofá uns segundos tentando processar o que havia acontecido.
– Tommy, o que foi? – Ela correu de encontro ao irmão que deixava a mala e o gato laranja no chão.
– Eu e Gio brigamos – Tom forçou-se dar um sorriso amarelo, mas que mesmo assim fazia sua covinha saltar no rosto. – Acho que vou passar a noite aqui.
– Claro, Tom! Afinal essa é sua casa também – Carrie o abraçou apertado e eu me senti um pouco intrusa na cena familiar e enquanto os dois se abraçavam Tom me notou, ainda de pé no sofá.
– Hey! Tudo bem, null? – Ele falou se aproximando animado e então eu acordei do transe, finalmente descendo do sofá. Carrie pegou Marvin no colo e falava com ele em uma língua estranha que provavelmente só eles entendiam.
– Tudo bem... e você? – Tom me deu um beijo no rosto e eu perguntei realmente preocupada. Ele não parecia muito bem.
– Eu tô legal – ele sorriu e desta vez parecia sincero. – O que vocês estavam fazendo?
– Estávamos gravando um vídeo pro meu canal – Carrie quem respondeu, sentando-se no sofá junto de nós com Marvin no colo. Eu me surpreendi quando o gato caminhou devagar até o meu colo pedindo por carinho. Embrenhei meus dedos em seu pelo sedoso e Marvin soltou um miado agradecido. Ficamos em silêncio por alguns minutos. Eu encarava Marvin no meu colo e tinha a sensação de que os dois me encaravam.
– Vamos beber – Tom quebrou o silêncio fazendo com que nós nos entreolhássemos sérios e começássemos a rir no instante seguinte.
Tempo depois estávamos jogados no tapete da sala com algumas garrafas de cerveja nas mãos e mais outras vazias em volta. Estávamos contando situações engraçadas, mas a maioria era tão absurda que eu acreditava que eram inventadas. Nossas risadas ecoavam na grande sala vazia. Acredito que Marvin se incomodou com o nosso barulho e sumiu dali fazia certo tempo.
– E então Dougie chorava tanto que saímos pra procurar a palheta de estimação dele por todo o estádio. Faltavam cinco minutos pra entrarmos, mas ele disse que não tocava se não fosse com ela – Tom falou meio embaralhado e eu e Carrie já riamos somente por rir. Perdi a conta de quantas cervejas já tinha tomado. A minha cabeça rodava.
– Pra mim já deu – Carrie deixou a garrafa no chão e levantou tropeçando nos próprios pés. Eu e Tom nos sentamos com dificuldade apoiando as costas no sofá.
– Heeeeey, aonde você vai, Carrie? – Perguntei enquanto levantava a garrafa acima da cabeça. Ela já estava subindo as escadas, agarrada no corrimão.
– Vou tomar um banho. Ser a rainha da procrastinação não é fácil – ouvimos a risada dela e em seguida Carrie tinha sumido da nossa visão.
– Eu. Estou. Bêbada – falei pausadamente, confessando séria. Senti o olhar de Tom sobre mim e sorri abertamente.
– Está mesmo. Desculpe falar, mas esse é o típico sorriso de alguém bêbado – Tom riu e eu o acompanhei.
– Sabe, – ele começou encarando a própria cerveja. Seus dedos tamborilavam pelo bocal da garrafa – estamos prestes a lançar um novo single.
– O QUÊ? – Falei mais alto do que eu esperava fazendo-o rir. – Como assim? Quando? Qual é o nome? – Disparei as perguntas uma atrás da outra e Tom sorria enquanto balançava a cabeça em negativa. Eu já era uma fangirl desesperada quando estava sóbria, bêbada então eu era uma fangil alucinada.
– É isso que eu gosto de você, null – sua voz era séria, e Tom virou a cabeça em minha direção fazendo nossos olhares se encontraram. De repente, eu não me sentia mais bêbada. A sobriedade me entorpeceu da mesma forma do que aqueles olhos castanhos tão próximos. Proximidade. Eu não tinha percebido antes que estávamos tão perto assim. – Você consegue ser tão nossa fã e ao mesmo tempo simplesmente nossa amiga.
A voz de Tom saiu um pouco rouca e eu só conseguia prestar atenção no movimento dos lábios dele enquanto falava. Pensei em dizer alguma coisa, mas era como se o meu cérebro não conseguisse passar o comando para o restante do corpo. Senti que o olhar dele também caiu sobre meus lábios, uma lenta aproximação foi dada e eu não conseguia me mover. Isso estava mesmo acontecendo? Os lábios de Tom tocaram-se nos meus por uma fração de segundos e o nosso hálito de álcool se misturou. Nada mais foi do que isso, um simples tocar de lábios que durou alguns segundos. Tão rápido quanto nos aproximamos, nos separamos e nos encaramos sérios pra depois começarmos a rir incontrolavelmente. Durante anos eu esperava que algo assim acontecesse. Beijar Thomas Fletcher foi algo que eu cultivei comigo durante muito tempo e agora que isso aconteceu, eu só conseguia rir. Não houve frio na barriga, não houve aquele calor no coração, nem aquela felicidade súbita me arrebatando por dentro. Porque isso só acontecia quando eu beijava null.
– Isso foi estranho – eu falei, me jogando novamente no tapete da sala.
– Foi como se eu tivesse beijado o Jones! – Tom puxou o ar de forma rápida, tentando recobrar o juízo.
– Eu me ofenderia se fosse qualquer outra pessoa, mas como foi o Danny eu até aceito a comparação – respondi subitamente. Eu não me ofenderia de forma alguma. Tom não era somente meu ídolo agora, ele era meu amigo.
– Acredite ou não, isso foi um elogio – Tom se levantou, e me lançou um sorriso. – Danny é parte de mim.
– Eu sei – sorri de volta e acariciei Marvin, que havia reaparecido por ali e se aconchegado ao meu lado no tapete.
– Marvin te faz companhia, eu vou tomar um banho também – ele se aproximou da grande escada que Carrie havia sumido há pouco.
– Eu acho que já vou embora, está ficando tarde – sentei-me cruzando as pernas sobre o tapete.
– Nah, espere a gente voltar e pedimos umas pizzas. O que você vai fazer sozinha por lá? – Tom gritou já do andar de cima e eu assenti concordando.
Devolvi Marvin no chão e tirei meu celular do bolso, encarando o visor por um tempo. Eu só conseguia pensar em null e no que ele estava fazendo agora. Mal fazia uma semana e eu já sentia sua falta. De repente uma certeza me invadiu de forma arrebatadora e eu comecei a digitar uma mensagem pra ele.
“Sinto sua falta. Te amo xx”
Apertei o send, largando o aparelho no tapete e encostei a cabeça no sofá atrás de mim. Eu precisei beijar Thomas Fletcher pra perceber que amava null. null, meu Deus, como eu sinto saudades dele...
- null?
E eu acho que estou muito bêbada, o chão tá tremendo ou coisa do tipo?
- null null?
Resmunguei alguma coisa, mas não era nem a voz de Carrie e muito menos a de Tom que estava me chamando. Tem mais alguém aqui que eu não vi entrar? Giovanna? Será?
- Na moral, acordam porra!
null?
- null? – Abri o olhos. Oops.
Eu estava no avião. Claro que eu estava no avião, indo pra Paris! Sim, Paris! Foi um sonho, eu estava de novo sonhando com coisas impossíveis, e dessa vez no avião. Há quanto tempo estamos viajando mesmo? Olhei pra null e vi que ela me encarava de forma engraçada como quem quer rir, presumi que eu devia estar falando durante meu sono ou sem querer soltei alguma coisa comprometedora. Estava com medo de perguntar, cocei meus olhos e a encarei de volta, não demorou muito pra ela abrir um sorriso e começar a rir. Tá, eu tinha falado alguma merda.
- Então, a Giovanna brigou com o Tom? – Ela disse rindo. – E vocês se beijaram?
- Eu falei alto demais?
- O “falar” não foi o problema, foi ‘null’ que saiu engraçado. Você beija o Tom e pensa no null?
- É meu sonho dizendo que, por mais que ame Tom Fletcher, meu coração pertence ao null.
- Sabia que você não deveria ter o beijado no show.
- O que eu podia fazer? Recusar? De jeito nenhum – respondi sonolenta, me espreguiçando e bocejando ao mesmo tempo.
- Quem é Carrie?
- Irmão do Tom – suspirei. – Eu falei o nome dela também?
- Falou – null riu .– Na sua outra vida eu acho que você queria ter nascido irmã do Tom, to certa?
- Irmã? Queria ter nascido a Falcone!
- Foca no null.
- To focando... – gargalhei e me acomodei de novo. Tínhamos ainda boas horas até chegar em Paris e eu não estava com vontade de ficar acordada. – Me chama na hora do lanche.
- Tá pedindo pra acordar por comida, você não tá normal.
- Cala a boca, null – chutei ela de um jeito desengonçado e ela riu, me empurrando nas costas.
Depois que voltamos da praia naquele dia fatídico, ficamos ainda três dias em Londres, e nesses três dias null me deu a melhor despedida do mundo. Ok, não saímos da cama – parece que depois que você faz a primeira vez fica muito mais fácil fazer uma segunda, terceira, quinta... – só que eu consegui conhecê-lo mais. Essa coisa de ficar conversando até de madrugada coisas idiotas, brincando pelos lençóis (coisa que eu sempre achei tosca quando lia nos livros, mas quando se está namorando é a coisa mais gostosa do mundo), simplesmente ficar de mãos dadas vendo um filme, todos os pequenos momentos com null nesses dias foram inesquecíveis, e o jeito perfeito de dizer tchau para a minha temporada em Paris e para os meninos que iam pra Suécia – ou é Suíça? Eu me esqueci – e mais alguns outros países europeus. Sei que eles iam se focar no trabalho do novo álbum enquanto eu ia me focar no trabalho fotográfico. Só estou torcendo pra eu não ter tempo de sentir saudades, porque, se isso acontecer, vai ficar bem difícil o trabalho aqui.
Enquanto ficamos em Londres – e eu arrumava a mala, colocava as câmeras, livros, e tudo o que eu achasse necessário – só conseguia pensar na minha conversa com null.
- Você é linda – ele sorriu quando separou o abraço. – E você não é linda no óbvio, é muito mais que isso, e precisa acreditar nessa beleza. Eu não digo que é chato, mas de vez em quando cansa você ficar com essa insegurança toda sendo que a imagem que você acha que vê no espelho não é a que nós vemos.
- Sei que cansa, me cansa – fiz careta .– Eu não gosto de ser assim, acredite.
- Então para de ser assim, tá, você vai falar que é complicado, mas nós estamos aqui pra te ajudar. Mas pra isso, você precisa acreditar na nossa ajuda.
Eu sabia que era chato e que toda essa minha implicância deixava os meninos mal humorados. null nunca me disse isso porque, bom, ele é o null! Mas null foi meu amigo o suficiente para ser sincero comigo e falar a verdade, o que me fez pensar que eu de verdade preciso mudar o meu jeito de ser, essas nóias e tudo mais. Antes de eu viajar, liguei para a Dra. Violeta e marquei uma nova consulta. Sei que disse que não ia voltar, mas se eu preciso me cuidar, preciso de todos os ângulos; e fui sincera, porque eu disse que joguei fora o encaminhamento para a nutricionista. Óbvio que a Dra. Violeta já sabia ou suspeitava, ficou feliz com minha sinceridade e disse que não vê a hora de eu voltar. Lá vamos nós para o consultório da tortura mais uma vez.
Os meninos foram conosco para o aeroporto, porque enquanto pegávamos o nosso voo eles pegaram o deles, e toda essa muvuca foi bem engraçada. Não sei como as fãs ficam sabendo que eles vão viajar, mas elas sabiam e já estavam todas no aeroporto esperando por eles, enquanto eu, null, Sam e Lucas ficávamos sentados num banquinho porque não queríamos nos misturar com as meninas. null ficou ao meu lado boa parte do tempo e nem se importou com os fotógrafos, que tentavam ser discretos, mas não eram. Abraçou-me, beijou-me, fez carinho, sentou no meu colo, brincou com minha câmera, ficou tirando fotos nossa e dos meninos, tirou foto dos papz e ainda deu atenção para as fãs. O Twitter começou a borbulhar com as fotos do null e dizia o quanto ele parecia estar feliz comigo, que o sorriso dele era o mais lindo apaixonado e coisas que eu não costumava ler. Agora, com null, a coisa estava um pouco feia, já que ela e null mal se falavam ou se olhavam, até null estava conversando com ele – pelo que null me disse, os dois foram chamados pelos produtores e meio que obrigados a se tratarem bem, pelo menos na frente da mídia, então eu sei que eles vão se falar – mas as fãs não perdoavam o comportamento da minha amiga, e agora ela estava sendo o alvo do abuso cibernético. Sério que essas crianças não tem nada melhor pra fazer, não?
- Você vai gostar de ver isso – null me chamou apontando pra pequena TV embutida na poltrona do avião. – Os meninos no Alan Carr.
- Hein?
- Acorda, caralho, não aguento você ficar dormindo o trajeto todo! Os bichas estão dormindo, todo mundo dorme, eu tô sem sono e quero você sem sono comigo!
- Toma Rivotril, null.
- Isso é coisa pra velho – ela emburrou. – Se arruma aí, vou pegar alguma coisa pra gente comer lá atrás, você assiste esse pedacinho de entrevista. Dez minutos.
- Cadê o foninho?
- Aqui – ela apontou pra TV. – Já até deixei aberto, só clicar play.
- Ok – bocejei e me acomodei na poltrona de null enquanto ela levantava pra buscar algo pra comer ou beber. Peguei o edredom que eu estava usando e apertei o play. One Direction estava no Alan Carr. Mas não era a entrevista completa, era só um pequeno trecho, acho que linhas aéreas não podem passar os programas completos.
Essa entrevista foi de ontem, antes de eles irem viajar. Lembro do null se arrumando todo e falando que ir ao Alan Carr é sempre uma comédia, mas também ele consegue ficar bem sem graça quando ele faz umas perguntas de vida pessoal. As vezes o Alan se esquece que eles mal tem 20 anos e que o público deles é composto de muitas crianças e que os pais também assistem a entrevista, então algumas perguntas podem ser comprometedoras até demais. Enfim... Liguei o play e, depois de um resumo de como seria a entrevista, finalmente começou o programa. As perguntas iniciais eram as mesmas de sempre, as piadinhas também, até que caiu no tema relacionamentos. Por que todo mundo gosta de perguntar isso? Todo mundo sabe que o null namora, não sabe?
- E qual o nome da coitada?
- null. null null – null respondeu sorrindo e olhando pros meninos da banda, que também sorriam.
- Há quanto tempo vocês já estão juntos?
- Mais ou menos uns... – ele mordeu os lábios e de novo olhou pros meninos. – Uns sete meses?
- Juntos como namorados ou que se conhecem? – null perguntou para null.
- Bom, eu a conheço há uns sete meses, mas estamos juntos a uns cinco, ou quatro? Nunca sei – ele começou a rir, assim como Alan e a platéia.
- Desisto de você, null e sinto dó da sua namorada – Alan falou e todos riram. – E, por sinal, é ela na foto? – Uma foto nossa de mãos dadas andando por Londres apareceu no telão.
- É ela mesma – null suspirou. – Nem lembro onde foi essa foto.
- Ela é linda – Alan disse. – De novo, o que ela está fazendo com você? – Todos os meninos riram. – Sinceramente, ela é linda demais pra estar com você.
- Eu não sei! – null riu e fez uma cara de desespero. – Não foi fácil ficar com ela, então acho que eu tenho alguma coisa que valha a pena – ele bateu no próprio peito rindo e os meninos começaram a soltar piadinhas.
- Alguém aqui teve um crush pela namorada dele? Qual o nome dela mesmo?
- null – os cinco responderam.
- null, vou chamá-la assim – eles riram. – Então, alguém?
- Eu tive uma queda por ela, mas agora tá tranquilo – null respondeu com a maior facilidade, o público foi à loucura. – Tipo, não tem como não se apaixonar pela null.
- Ela é o tipo de garota que é o tipo de qualquer garoto – null falou meio confuso e eles começaram a rir. – Deu pra entender?
- Não, null – Alan falou rindo.
- Quando null começou a namorá-la todo mundo meio que já sabia que isso ia acontecer. A primeira vez que nos conhecemos dava pra perceber que estava rolando um clima entre os dois – null explicou. – Foi como, se lá, tinha que acontecer.
- E como vocês se conheceram?
- Invadimos o quarto dela na faculdade – null disse mordendo o dedo mindinho como quem fez algo bem errado e todo mundo começou a gargalhar, inclusive o Alan que parecia se divertir com a história.
- Vocês o quê?
- Eu conheci a null no London Eye, acho que todo mundo sabe que ela é fotógrafa – ele perguntou pra plateia e todo mundo concordou. – Então depois eu a chamei para um encontro que saiu totalmente fora do planejado – ele riu assim como os meninos e Alan parecia interessado no assunto.
- O que tem a ver ela ser fotógrafa com você tê-la chamado pra um encontro? – Alan perguntou e null começou a rir. – Me perdi nessa parte.
- Ah sim – ele ainda ria. – A null estava fotografando nesse dia e eu meio que atrapalhei as fotos – ele fez uma cara de culpa e null apertou suas bochechas.
- E foi assim que você a conquistou?
- Não, tava longe ainda – null gargalhou.
- null faz tudo errado quando ele gosta de alguém, e com a null não foi diferente – null completou.
- Ela o deixou nervoso – null disse.
- E nos deixou nervoso porque ele – null apontou pra null – não parava de falar nela, e tudo era a menina do London Eye e começamos a achar que era invenção da parte dele.
- Enfim – null olhou pros meninos, que não paravam de dar comentários e rir do nervosismo dele. – Eu a chamei pra ir a um show nosso, mas ela passou mal e a noite acabou com eu e esses caras aqui invadindo o apartamento dela e da amiga nela no fim da noite.
- Ah claro, porque quando alguém não vai ao show do One Direction vocês simplesmente invadem o quarto dessa pessoa. – Alan falou de forma sarcástica e todo mundo, de novo, começou a gargalhar.
- Mais ou menos isso – null mostrou a língua de um jeito sapeca. Lindo!
- E a amiga? Quem pegou?
- null – todos falaram apontando pra null, que na mesma hora ficou vermelho.
- null, seu pequeno travesso – Alan brincou e os meninos riram. – Estão namorando?
- Estávamos – ele fez uma cara de dó. – Não estamos juntos agora, mas a null é uma menina incrível.
- Ela é outra que não tem como não amar – null falou. – Bem mais doida que a null, mas também um amor.
- Alguém aqui teve uma queda pela null?
- Eu tive – null levantou a mão e todos os meninos gargalharam, menos null, que o olhou meio contrariado. – Agora ela está livre, quem sabe?
- MAS EPAAA! – Alan gargalhou daquele jeito escandaloso dele. – Fura olhos, null null!
- Que nada – null riu meio sem graça e encarou null. Sabia que não podia ir muito longe com essa brincadeira, mas queria só dar uma provocada de leve. – Não pegamos as mulheres dos outros.
- Quê? – Alan perguntou. – Sério, nunca aconteceu?
- Já aconteceu e deu merda – null respondeu. – É o tipo de coisa que tem que tomar cuidado, sempre dá errado no final.
- Sempre – null concluiu olhando de novo pra null.
Ai meu Deus!
- E onde estão as meninas agora? – Alan perguntou, mudando um pouco a direção do assunto.
- As duas estão indo pra Paris, vão participar da Semana de Moda por duas semanas, legal pra caramba. – null respondeu parecendo bem empolgado.
- Paris, uau! – Alan respondeu. – A cara de orgulhoso do null é uma coisa de louco, olhem essas bochechas vermelhas!
- Não é uma graça? – null riu e apertou as bochechas de null, que estava ficando bem vermelho com essa atenção toda. – Tá pra nascer uma cara mais babaca apaixonado.
- null, faz um favor? – Alan perguntou? – Fica com ela até quando der. Te conheço desde que saiu do XFactor, desde que você era um girino – ele riu. – Nunca te vi tão feliz.
- Eu sei – ele olhava pra baixo e depois olhava para os meninos. – Ela é incrível.
- Sei disso, e, por favor, da próxima vez, traga ela com você.
- Certeza, ela vai adorar! – Ele sorriu. Sim, null, eu ia adorar.
A entrevista termina com eles falando mais do novo álbum e de futuras turnês – reunião essa que está acontecendo agora – e eles cantando One Thing acústico no programa. Tirei os fones e vi null parada de pé ao meu lado com duas xícaras de plástico – essas de avião – e alguma coisa saindo fumaça de dentro delas. Os olhos de null estavam vermelhos e, a conhecendo, acho que ela chorou quando viu null falando dela.
- Senta aqui, amiga – pulei pra minha poltrona e deixei null sentar na dela. – O que é isso?
- Chocolate quente – ela me entregou a xícara. – Você viu ele falando de mim?
- Claro que sim – sorri. – Você viu o null falando que te pega? – Provoquei e ela começou a rir.
- Eu pego – ela riu. – Mas, piadas a parte, eu queria poder esquecer o que null fez, eu ainda o amo e sinto raiva desse sentimento. Maldita Lorelai, maldito show do McFly...
- Heeeeey, não coloca meus meninos no meio!
- Desculpa – ela suspirou. – Mas tudo aconteceu no show.
- null – me virei pra ela. – Nós estamos indo pra Paris! Duas semanas pra esquecer esse assunto, pra vivermos um sonho... Bom, na verdade, um segundo sonho. Vê se volta de cabeça fresca pra Londres e senta pra conversar direito com o null, e não igual aquele dia na casa dele.
- Como conversamos na praia?
- É um bom começo – respondi. – Vocês falaram de...
- De qualquer coisa que não fosse nós dois. Eu disse que queria manter minha amizade com ele, mas ainda estava machucada demais com tudo o que aconteceu, especialmente com as coisas que ele falou pra mim no dia da briga.
- Você também não foi nada boazinha com ele, nós ouvimos.
- Ah, que seja! – Ela bufou. – Eu prometi pra ele que não ia ficar com ninguém em Paris por vingança e que – ela suspirou – que ainda o amava.
- Awn, null! – Eu sorri. – Que coisa linda!
- Ainda amo ele mesmo, ué! Mas ele me traiu, e não foi com qualquer uma! E traiu o amigo dele também, a porra foi séria.
- null já o perdoou.
- Porque os empresários mandaram – ela bufou. – Sabe, de qualquer forma, acho bom null passar esse tempo solteiro, as fãs gostam mais dele assim.
- É, mas você viu o que elas estão falando de você no Twitter, não é nada agradável.
- Como eu disse aquele dia na praia, bate e volta – ela rolou os olhos. – Eu e null somos tipo... Ross e Rachel! Vamos brigar pra sempre, mas vamos acabar juntos. É o destino.
- E eu, seria quem? – Perguntei rindo.
- Com certeza absoluta Monica e Chandler!
- Há! – Comecei a rir mais ainda. – Sabia que o null queria mudar o nome dele pra Chandler? Foi a conversa mais ridícula que eu tive com ele.
- null é muito tonto de vez em quando – ela sorriu. – Mas, falando sério, tá pra nascer um casal mais fofinho igual vocês.
- Não tem outro adjetivo não?
- FODA, casal FODA! Melhorou.
- Bem melhor – gargalhei.
- Calem a boca aí na frente! – Sam chutou minha poltrona por trás e eu quase derramei meu chocolate quente na roupa. – Tô tentando dormir.
- Você tá dormindo desde que saímos de Londres! Vai chegar em Paris cheio de olheiras, horrível – eu falei.
- Pra isso eu trouxe corretivo na bolsa, coisa que você, meu amor, podia pensar em começar a usar.
- Minha pele é perfeita – respondi e null riu.
- Quem diz isso? Seu namorado? Aquele é outro que se não começar a cuidar da pele vai ficar velho antes da hora.
- Mas, heeeey – eu ri. – Volta a dormir, Samuel!
- EU TÔ TENTANDO! – Ele bufou. – Façam o mesmo e durmam. Vou passar duas semanas com vocês, não quero ouvir suas vozes agora.
- Tá precisando de uma comparecida do namorado, anda tããããão mal humorado – falei rindo e null gargalhou alto.
- Achando que porque fodeu uma vez com o null já pode dar conselhos sexuais? Se situa, null, se situa! – Ele disse ao fim rindo e se embolando de novo no travesseiro e cobertor. – Agora, boa noite, ex-virgem.
- Shhhhhh – eu ri.
- Não vou aguentar passar duas semanas com eles – null disse se acomodando também em sua poltrona. – Hey, olha o mapa.
- Que mapa? – Ela apontou para um pequeno mapa digital que brilhava em nossa TV embutida. – Dá pra ver onde estamos no Oceano!
- Aham – ela riu. – De acordo com os cálculos, estamos a quarenta e cinco minutos de Paris. QUARENTA E CINCO MINUTOS!
- Paris, Paris, Paris – repeti pra mim mesma. – Sabe alguma coisa em francês?
- Voulez vous coucher avec moi ce soir – ela disse com seu melhor sotaque e com toda uma sensualidade na voz, eu gargalhei alto de novo.
- null!!!
- Frase de puta! – Ouvi Sam ao fundo e nós gargalhamos.
- Calem a boca todos vocês – ela respondeu colocando seus fones de ouvindo e aumentando o som do Ipod. Em uma última espiada, eu vi o que ela ouvia: 1D.
Capítulo 31
Em homenagem a fotógrafa por trás da história, Beatriz Glória
- Qual o nome dela mesmo?
- Jill – digitei no Google. – Jill McCormik – suspirei. – Ela é exatamente tudo o que o Eddie sempre detestou em uma mulher! O cara escreve Satan’s Bed e se casa com uma “skinny little bitch”, ugh que ódio.
- null?
- Que foi, null?
- Você fica muito engraçada com ciúme de um cara que tem idade pra ser seu pai.
- Eu não me casaria com Eddie Vedder, mas é... – de novo, suspirei. – Deixa quieto.
- A propósito, por que estou te ajudando a pesquisar sobre ela, mesmo?
- Porque ela já foi modelo, inclusive ela é amiga da Bündchen, o que torna minha vida muito mais difícil.
- Ela vai estar aí?
- Qual das duas?
- A Bündchen?
- Não sei, acho que não. Embora seja a semana de moda parisiense, não é a principal semana. Daqui a poucos dias vai acontecer o desfile da Victoria, então, as modelos mais tops estão focadas naquele desfile, e não nesse.
- Entendi – ele suspirou do outro lado da linha.
- Hey, tá cansado?
- Um pouco. Esqueci como que essa rotina de estúdio e entrevistas e fãs e sair correndo pro carro por ser um pouco exaustivo – ele riu sem humor. – Se passaram quatro dias e eu tô morrendo de saudades suas.
- Ah, que bonitinho – eu ri – Também sinto sua falta, mas eu não queria você aqui.
- Uau, que coisa linda de se dizer pro namorado, null!
- null, aqui é um covil de mulheres perfeitas. Magras, andando de um lado pro outro de sutiã e calcinha, você acha mesmo que eu ia querer você aqui?
- Bom, pensando por esse lado...
- Tá vendo!
- Eu tô brincando! – Ele gargalhou. – Faz de conta que não tem nenhum modelo gatão Calvin Klein por aí.
- Na verdade tem, mas eu nem tenho coragem de encará-los. Se eu encarar um deles por muito tempo, capaz de eu tropeçar ou falar alguma merda.
- Você é uma idiota – ele riu.
- Também te amo, null – ri junto. – Preciso ir. Vou me reunir com o pessoal no anfiteatro, vamos dar uma olhada no nosso portfólio e esperar a Tyra e a Olivia aparecerem. Só falamos com elas umas duas vezes desde que chegamos.
- Tá dando pra aproveitar Paris?
- Bem pouco, os franceses podem ser bem rudes quando querem – dei de ombros, embora ele não pudesse ver. – Passamos mais tempo nas galerias e estudando do que passeando, temos mil coisas pra ler, assimilar até o desfile. Sinto que vou ficar doida a qualquer momento.
- Gênio – ele me chamou pelo único apelido que eu permitia. – Você pode fazer isso. Esvazia sua mente e se concentra apenas no seu trabalho, vai dar tudo certo.
- Obrigada – sorri e apertei o telefone mais perto de minha orelha. – Faça isso aí também, e grave um CD perfeito pra mim.
- Pode deixar – ele sorriu. – Me liga mais tarde?
- Com certeza – não queria desligar o telefone. – Te amo, manda beijo pros meninos.
- Aham – ouvi-o respirar fundo. – Te amo também. Se cuida.
Eu conseguia falar com null desde que cheguei, sempre pelo celular e uma vez pelo Skype, mas a conexão caiu logo, já que Sam e Lucas estavam baixando todos os episódios possíveis de Sex and the City pra aprender alguma coisa de moda, sem falar nos editoriais Vogue. O que foi até bom, se eu começo a falar com null eu não paro, e nós precisamos estudar, e muito!
No momento encontro-me no nosso quarto de hotel, com todos os nossos portfólios abertos mais os portfólios das modelos e da última semana de moda. Todo mundo saiu, o que significa que eu fico agoniada porque não sei estudar sozinha, pra esses momentos eu ligo pro meu namorado. null pode não saber nada sobre moda e não entender muito o meu mundo – o que é bem divertido, já que eu não entendo nada do mundo dele – então o que ele sabe fazer melhor é me distrair. Ainda mais quando a modelo em questão que estou estudando é Jill McCormik, esposa do Eddie Vedder, aka vocalista do Pearl Jam, aka uma das minhas bandas favoritas. E Eddie Vedder cai no velho clichê de um vocalista de rock se casar com uma modelo perfeita, sério? Então, acabo descontando todas as minhas frustrações em cima do null, que só sabe dar risada da minha cara, já que na maioria das vezes ela não faz ideia do que eu estou falando, fazendo ou reclamando. Relacionamento perfeito.
Depois de desligar o telefone, comecei a me focar novamente nos nossos objetos de estudo, daqui a pouco ia ter que descer pra me encontrar com Tyra, Olivia e mais uma pessoa que eu não sei quem é. Pelo que elas me falaram, ela também é uma fotógrafa e tem nossa idade, praticamente passando pela mesma experiência que nós, o que no mínimo vai ser bem interessante. Se ela foi escolhida pela Olivia, é porque ela é boa, e se ela é boa, significa concorrência, o que eu não gosto nada. Não que eu tenha que me preocupar com isso, quando o assunto é meu trabalho tenho total confiança no que faço e sei que sou a melhor, mas se surge alguém que pode saber tanto quanto eu e vai querer começar a mostrar o “bom trabalho”, isso pode ser complicado, chato e desnecessário. Afinal, pra que trouxeram essa menina?
As 7 realidades da fotografia de moda
Escrito por Eliane Terrataca
Toda peça de vestuário que for fotografada é fotografia de moda, certo? Errado! Esta área é muito mais complexa do que muita gente imagina. A fotografia de moda envolve produção, pesquisa e conhecimentos muito mais amplos que simplesmente usar uma câmera. Não que os outros estilos não precisem de conhecimentos específicos, mas muitas pessoas pensam que a moda é fútil e qualquer um consegue trabalhar com ela, bastando ter um bom equipamento.
E lá vamos nós, concentração no trabalho, nos estudos! Esquece essa menina, null.
Para trabalhar nesta área, é preciso, acima de tudo compreender o que está na moda, mesmo que você trabalhe com uma equipe completa de produtores, estilistas, maquiadores e cabeleireiros. Há casos em que a modelo encana que quem deve decidir tudo é apenas o fotógrafo, imagine uma pessoa desinformada tendo que combinar roupas e escolher as melhores cores para a maquiagem ou até o melhor penteado. Mas, se formos parar para pensar, é assim mesmo que deve ser feito, afinal, o resultado final levará o nome do fotógrafo, portanto ele deve sempre dar opiniões e mudar o que achar necessário. Entretanto, não é o que vemos por aí. Fotógrafos mergulham no mundo da fotografia de moda, mas esquecem destes detalhes. São poucos os que procuram estudar maquiagem e estilo, e são exatamente estes que ganham destaque no mercado, porque embora o fotógrafo de moda fique de fora da passarela, para se destacar, precisa desfilar muita qualidade e conhecimento. Portanto, se você deseja migrar para esta área, fique antenado em todas as novidades fashion e explore todas as suas possibilidades – anúncios, books, editoriais, catálogos etc.
Então é essa parte que me fodo! Tá, não vou dizer que sou uma ameba quando o assunto é moda ou maquiagem ou combinar roupas. Dando uma olhadas nas minhas roupas atuais, acho que tenho um gosto bom, mas eu também não quero “migrar pra essa área” como o texto que estou lendo sugere, isso aqui está sendo apenas uma experiência pra eu ver se pode dar certo. Eu nem gosto de moda! Acho que tem muita gente que acha que virar fotógrafo é virar rato de passarela, fotografar modelos e nada mais, mas há muito mais por trás disso, e esse ‘por trás’ é que eu amo! E se puder juntar o que eu amo com a moda, bom, isso só seria uma consequência.
Para quem está começando ou para quem gosta de listas que inspirem reflexão, seguem as sete realidades da fotografia de moda…
1. Misturar prazer carnal com trabalho é inaceitável, o fotógrafo nunca deve cobiçar a modelo – o que também vale para as fotógrafas.
2. Desfile é bom, mas também é cansativo. Se você deseja trabalhar nas passarelas, esteja preparado para correr, se espremer e tomar algumas cotoveladas, principalmente se a ideia for encarar grandes semanas de moda pelo mundo. Eu fotografei o São Paulo Fashion Week e sei bem o que estou dizendo, todos os fotógrafos se respeitam, mas a luta pelo melhor ângulo é inevitável e a sequência de desfiles faz você perder alguns quilinhos para trocar de sala às pressas.
3. É preciso ter simpatia e saber dirigir modelos. Muitas modelos não sabem como devem agir, qual posição fazer, se devem ou não sorrir, por isso é necessário estar preparado para situações como esta. Isso você só conquista com a prática, não é o tipo de coisa que se aprende em cursos – apesar de alguns tentarem.
4. É preciso ter iniciativa, criatividade e conceitos diferenciados para produzir imagens que tenham estilo próprio. Raramente o fotógrafo participa das reuniões de pauta de editoriais de revistas, ele é contratado, recebe uma breve explicação do produtor e tem que se virar com o que aparecer para ser registrado. Portanto, esteja preparado!
5. Estude sempre. Como já mencionei anteriormente, o fotógrafo deve manter-se atualizado sobre o mundo fashion, dedicar alguns momentos à pesquisa de maquiagem e moda, assistir desfiles, fotografar desfiles simplesmente para praticar, envolver-se com produções de roupas e buscar inspirações na arte e na literatura.
6. Fama e dinheiro é muito difícil de conquistar. Muitos fotógrafos trabalham de graça fotografando uma supermodelo apenas para ver seu nome sendo divulgado em algum veículo conceituado, mas isso vai de cada um decidir. Só ganha dinheiro nesta área quem consegue construir um bom nome, não precisa ser famoso, mas precisa ser reconhecido.
7. Nem tudo são flores. Existem desfiles muito demorados, modelos muito chatas, estilistas insuportáveis, maquiadores e cabeleireiros que se julgam mais importantes que o fotógrafo. Quando mais você crescer no mundo fashion, mais você encontrará pessoas de egos inflados, esteja preparado para isso também.
Gostou? Então dedique-se ao máximo e faça tudo da melhor maneira possível, não há como errar assim. Se você estiver precisando de inspiração para começar, seguem alguns nomes importantes da fotografia de moda:
Eu acho que, desses fotógrafos citados, eu conheço praticamente todos, mas tudo por culpa dos estudos. Quanto mais eu leio, mais eu percebo que não vou me dar bem no mundo da moda, não é exatamente um lugar onde me sinto confortável. Eu gosto da foto independente, da foto que você capta um momento. Assim como Leishman, ele não fica esperando o McFly posar (com exceção do calendário, mas McFly não sabe nem posar direito), ele faz fotos de shows! Shows são repletos de segundos magníficos, onde em uma simples “clicada” você tem uma imagem histórica. Apelando um pouco mais, se Nick Ut (o famoso fotógrafo da menina nua de Hiroshima, Kim Phuc) tivesse visto a menina e pedido “por favor, para de correr só por um momento que eu quero tirar uma foto sua” a foto nunca teria o impacto que teve a ainda tem hoje em dia. Foi um segundo, um momento. Nick corria e quando olhou pra trás viu Kim correndo com o corpo queimado pela bomba; ele não pensou, apenas registrou tudo em um clique. De verdade, não sei se vou dar certo nesse ramo...
Um desfile de beleza, autoestima e de luta pela vida. Assim é a “Festa da Primavera – Passarela da Vida”, evento promovido pelo hospital estadual Pérola Byington
Enquanto eu terminava de ler o livro que eu de verdade deveria estar estudando sobre fotografia na moda, um pequeno portfólio roxo me chamou a atenção, com esses dizeres que eu acabei de ler. Modelos com câncer.
Na verdade era apenas um pequeno folder com oito lindas modelos na frente, todas sem cabelo, porém seus sorrisos mostravam uma felicidade que eu não conseguia ver nem nas modelos saudáveis. Elas tinham câncer, cada uma com um tipo raro e diferente, e elas eram modelos. Com uma grande dose de autoconfiança, as oito lindas belas garotas posaram apenas de biquíni. Seus corpos não eram os magros de passarela, e podia-se ver claramente algumas áreas arroxeadas, as veias um pouco mais saltadas, mas nem por isso elas pareciam intimidadas, muito pelo contrário, elas pareciam nem ligar para isso. Fechei o outro artigo que eu estava lendo e me concentrei apenas nesse, achei a ideia fascinante e inspiradora, triste no fundo, mas olhando para esses oito sorrisos, elas não pareciam tristes de jeito nenhum.
A leucemia é uma doença maligna dos glóbulos brancos (leucócitos), geralmente, de origem desconhecida. Tem como principal característica o acúmulo de células jovens anormais na medula óssea, que substituem as células sanguíneas normais. A medula é o local de formação das células sanguíneas e ocupa a cavidade dos ossos, sendo popularmente conhecida por tutano. Nela são encontradas as células que dão origem aos glóbulos brancos, aos glóbulos vermelhos (hemácias ou eritrócitos) e às plaquetas.
Josephina tem 19 anos. Não achou compatibilidade com nenhuma medula desde os 15 anos, e apenas lida com a quimioterapia desde então. Ela é linda, muito mais linda que qualquer outra modelo que eu já vi. Ruiva, com os olhos verdes esmeralda, sardas laranjinhas pelo rosto e pelos ombros, ela quase não possui sobrancelha e não tem cabelo, mas em parte de suas fotos, ela usa peruca vermelha, azul, rosa. Seu sorriso é lindo e percebe-se que ela é frágil, magra e branca como uma boneca rara de porcelana. Ela não merecia essa doença, ninguém merece essa doença.
- null?
Assustei-me um pouco quando vi null parada na soleira da porta do quarto, me olhando de uma estranha maneira curiosa.
- Oi?
- Não ouviu antes não? Tô te chamando a uns cinco minutos.
- Sério?
- Aham – ela riu. – Na verdade eu primeiro bati na porta, então, como você não respondeu eu abri a porta e te chamei por mais um tempo, mas você estava tão concentrada estudando que acho que nem percebeu que eu estava aqui.
- Desculpa, eu... – suspirei. – Você sabia disso aqui? – Mostrei pra null o folder com as modelos com câncer.
- Que é isso? – Ela veio até mim e pegou. – Oito modelos lutam contra o câncer e desfilam na semana de moda... Isso é aqui em Paris?
- Não faço ideia – respondi. – Estava junto com os portfólios que devemos estudar, mas não sei se faz parte do nosso trabalho ou está aqui apenas pra mostrar que há outros tipos de modelos – suspirei. – Olha essa aqui: Josephina, 19 anos.
- Uau, ela é linda!
- Sim, ela é perfeita. Leucemia, terceiro estágio – falei com uma certa tristeza. – O quão injusta e demoníaca é essa doença? Essa menina deveria estar vivendo uma vida saudável, livre de qualquer ida ao hospital, quimios e essas coisas.
- Ela é mais bonita que modelos saudáveis, isso é inacreditável.
- Foi exatamente o que eu pensei – disse.
- Mocinhas? – E agora era Sam na soleira da porta. – Olivia, Tyra, uma menina e um bofe lindo de morrer nos esperam no saguão.
- Esse bofe seria o Lucas? – Perguntei rindo.
- Não, bee, esse bofe responde pelo nome Aidan.
- Aidan? Não me parece muito francês.
- É importado da irlanda – Sam bateu palmas como uma foca. – Vem logo, vem logo.
- Ok, ok – eu e null pegamos os portfólios em cima da mesa e as pastas, fizemos uma pilha com os documentos e corremos pra fora do quarto, Sam estava dando piripaques no corredor.
Olivia, Tyra, uma menina e esse tal de Aidan – que, por sinal, Sam não havia exagerado em absolutamente NADA – nos esperavam no anfiteatro menor do hotel. Sam, null, Lucas e eu parecíamos quatro patetas deslumbrados com tudo o que nos era proporcionado, e eu não conseguia parar de sorrir, ainda mais no momento em que chegamos e Olivia se levantou e veio até mim para me dar um abraço. A garota ao lado de Tyra era muito bonita e parecia ter a nossa idade. Corpo escultural até demais pro meu gosto, cabelos longos, lisos e negros, um sorriso cativante e um olhar delineado de lápis preto que a deixava mais sexy ainda. Sua roupa também não ajudava muito: calça jeans de lavagem escura colada no corpo, blusa vermelha colada e sem manga com um decote em “V”, um colete de couro preto e botas de salto. Pelo que eu ouvi de Tyra, o nome dessa beldade era Bells. A outra beldade ao seu lado respondia pelo nome de Aidan. Cabelos cacheados em um castanho escuro e completamente revoltados, como aqueles loucos que ficam puxando os cabelos pra cima e para os lados quando estão pensando ou criando alguma coisa, olhos pequenos e também castanhos, barba por fazer e um sorriso encantador. O corpo era troncudo e um pouco forte, como um belo camponês irlandês. Usava calça jeans de lavagem normal, camiseta preta e uma xadrez jogada por cima, e eu juro que se ele continuar me encarando desse jeito, eu vou acabar desmaiando. Esse cara é lindo demais, LINDO!
- Bom dia, pessoal – Tyra falou nos recebendo de forma mais formal. – Estão aproveitando Paris?
- Se você diz ficar nas bibliotecas estudando quase todos os dias de “aproveitando”, bom, então “yay” – null disse meio sarcástica, mas todos riram.
- Na verdade eu passei essa tarefa pra vocês apenas para vocês entenderem que a realidade da moda não é tudo glamour e beleza como muitas pessoas pensam, há muito mais por trás de uma bela foto, e vocês, como futuros fotógrafos precisam também ter experiência nessa área.
- Meu conhecimento em moda é praticamente nulo – Olivia riu.
- Mas você já fez belos photoshoots para capas de CDs e revistas – eu disse me lembrando mais das capas do Motion in the Ocean e do Radio Active.
- Sim, mas é bem diferente, null – ela sorriu. – O clima para um photoshoot musical é completamente diferente do mundo sério da moda.
- Entendi – suspirei.
- Então, nós vamos fotografar as modelos ou não? – Sam perguntou e Tyra riu. – É que eu fiz a maior preparação psicológica pra esse momento.
- É claro que vocês vão, mas não do jeito que imaginam – ela sorriu e nos entreolhamos, acho que teríamos que encarar um desafio. – Mas antes de continuarmos, permita-me lhes apresentar essas duas pessoas ao meu lado. Queridos, esses são Aidan e Bellatrix, também conhecida como Bells – as duas pessoas quase perto da perfeição nos encararam pela primeira vez e sorriram. Meus joelhos ficaram fracos com Aidan e meu ego ficou pequeno com “Bellatrix”.
- Muito prazer – ele nos disse em um sotaque forte que me lembrava o sotaque dos meninos, parecia um pouco irlandês.
- Ravi de vous rencontrer – Bellatrix disse em um perfeito francês e o pouco do meu ego foi embora. Vi as duas bichas loucas ao meu lado se derreterem e null controlar o riso, já que ela estava me encarando. – Ou, perdão. Prazer em conhecê-los.
- Bells tem 20 anos e já trabalha na indústria da fotografia há uns quatro anos. Estou certa, Bia? – Tyra perguntou a abraçando de lado e eu senti uma bela ponta de inveja.
- Sim, mais ou menos isso – ela respondeu com uma certa dificuldade no inglês. Quem se importa? A menina é fluente em francês, a língua mais sexy do mundo! Será que esse Aidan é namorado dela? – Eu entrei na escola de fotografia francesa quando eu ainda estava terminando o colegial, mais ou menos com quinze anos, se não me engano.
- Começou cedo – ouvi Sam dizer com a voz derretida. -Vous êtes merveilleux.
- Merci – ela respondeu ficando um pouco vermelha e Sam um pouco másculo. Que porra é essa?
- O que você disse pra ela? – Perguntei, totalmente enciumada.
- Eu apenas disse que ela é maravilhosa. Vou ter que traduzir o ‘merci’ também?
- Controla sua pica, você é gay!
- E ela é uma gata – ele respondeu como sendo algo óbvio. – Nem vou me atrever a olhar pra esse outro pedaço de mal caminho do lado dela, já que ele não tira os olhos de você desde que chegamos.
- Que mentira – respondi meio nervosa, não era verdade, ou era?
- Começa a encarar o bofe por mais de dez segundos e você vai ver claramente Aidan, o irlandês, te encarando.
- Ele é irlandês?
- Sim – Sam riu e me empurrou pelos ombros pra frente, Olivia já estava falando a algum tempo e eu não estava prestando atenção.
- Vocês chegaram a ver o portfólio especial? – Olly olhou para nós. – null?
- Po-portfólio? – Que portfólio? – O roxo?
- Exato – eu a vi suspirar de alívio. – Chegaram a ler.
- Na verdade eu o vi de manhã, não é exatamente um portfólio, mais parece um folder.
- Que é isso? – null perguntou, se eu vi de manhã isso significa que null nem ao menos sabia do que estávamos falando.
- Quando eu disse que vocês vão participar de uma experiência única e especial aqui em Paris, eu realmente disse com veracidade – ela sorriu. – Vamos nos sentar – e assim, um a um, nos sentamos na mesa redonda grande e cheia de papéis. Ironicamente, Aidan sentou-se ao meu lado. – Aidan, você quer começar, por favor?
- Claro – ele sorriu e nos encarou. Lucas parecia que ia pular no pescoço dele a qualquer momento de tão vidrado que ele estava, cômico de se ver. E eu, ao seu lado, estava zonza com seu perfume, seus cabelos cacheados penteados pra trás, seu sorriso, sua barba por fazer... FOCO! – Bom, nós temos hoje um convênio com o Hospital Association Gombault Darnaud, aqui em Paris. É um hospital especializado em pacientes com câncer, e, bom, minha irmã ficou lá por mais ou menos um ano esperando um transplante de medula, que nunca aconteceu – ele suspirou e minha vontade foi de dar um abraço nele. – Porém, durante esse ano que passei no hospital cuidando da minha irmã, acabei conhecendo pessoas ótimas e, inclusive, meninas lindas entre dezesseis e vinte anos, que também sofriam com câncer, mas queriam uma chance de fazer algo na vida, de se sentirem vivas.
- O projeto de modelos – eu disse e Aidan sorriu pra mim. – É sobre isso que fala o portfólio, Festa da Primavera.
- Então você leu? – Tyra sorriu.
- É – eu arregalei os olhos, todo mundo olhava pra mim. – Digo, estava junto com os nossos outros livros.
- Sim, nós colocamos lá de propósito pra ver se ia chamar a atenção de alguém, e, pelo visto, chamou – Olivia sorriu.
- O que você achou? – Aidan me perguntou, senti meu rosto queimar. Já disse isso uma vez, eu não sei me comportar perto de pessoas bonitas.
- Achei muito interessante – me forcei a dizer. – Tem que ter uma grande força de vontade e confiança pra fazer o que essas meninas fazem, achei incrível.
- Vocês topariam nos ajudar com as modelos? – Bells perguntou. – Na verdade, esse é o nosso propósito.
- Como assim? – Lucas disse.
- Bom – Bells olhou pra Olivia e Tyra e elas sorriram. – No começo nós tínhamos um propósito com a semana de moda parisiense, mas pensamos em um outro projeto alternativo que seria bem mais interessante e poderia contribuir com um grande conhecimento pra vocês. Agora, queremos saber se vocês têm interesse.
- Tô começando a ficar apavorada – null riu.
- Queremos que vocês nos acompanhem ao Hospital de Câncer de Paris. As pacientes encontram-se muito debilitadas e o sonho de muitas é querer participar de um desfile.
- Pensamos em construir um desfile pra elas no próprio hospital, e fazer a sessão de fotos por lá – Bellatrix disse, terminando o que Aidan havia começado. – Sabemos que é um grande desafio, e vocês, bom, eu não sei se vocês estão acostumados com esse tipo de tratamento.
- Vamos entender se não quiserem participar, o desgaste físico e emocional é grande e vocês não estão acostumados com tanto – Aidan falou. – Mas é algo a se pensar.
- Olivia? – Eu a olhei quase em desespero, fui a única do quarteto que conseguiu falar alguma coisa.
- Desculpe-nos por esconder isso de vocês, mas pensamos: por que não? – Ela nos olhava meio que com pena. – Querem um minuto pra pensar?
- Sim – falamos em uníssono.
Tyra, Bellatrix, Aidan e Olivia deixaram-nos sozinhos por alguns minutos. null já estava com a cabeça debruçada em cima da mesa, Sam e Lucas olhavam pro nada e eu estava com meu coração batendo mais forte do que nunca. Parte de mim queria participar desse projeto, porque eu estaria me sentindo como se fosse o Patch Adams, mas minha segunda parte melancólica e nada empática sabia que eu ia ficar mal e não ia conseguir me comportar perto dos pacientes. Sou péssima com pessoas doentes, e pessoas com câncer...
- Preciso do null – eu falei meio catatônica. – Eu preciso falar com ele.
- Vai ligar?
- Vou – suspirei, respondendo a Sam. – Não acho que ele vai me atender, mas não custa nada tentar.
- null – Sam colocou a mão em cima da minha quando eu já estava pegando o celular para ligar pro meu namorado. – Pra que ligar pra ele? Essa é uma decisão que precisa ser tomada por nós quatro.
- Eu não estou conseguindo pensar agora – falei meio áspera. – Sam, tem noção de como esse trabalho vai ser desgastante?
- Tem noção de como vai ser lindo? – Ele sorriu. – Essas são pessoas como nós, que não mereciam estar passando por essa fase na vida, mas estão. E se pudermos oferecer a elas um pouco de alegria, em um dia que seja, eu acho que esse deve ser o nosso papel.
- Você já tomou sua decisão? – Lucas perguntou, olhando pro namorado.
- Minha decisão já estava tomada desde que a Bells começou a explicar o plano. Não vejo nenhum motivo para negarmos essa chance.
- null? – Eu a chamei, mas ela continuava com a cabeça baixa. – null? – Ouvi um gemido e não gostei. – null, você tá chorando?
- Eu não sei lidar com esse tipo de situação – ela levantou a cabeça e seus olhos estavam vermelhos. – E se eu der um fora? E se eu perguntar “hey, vai demorar muito pro seu cabelo crescer?” – Ela bufou e nós rimos baixo.
- Desde agora você já sabe que esse tipo de pergunta está proibida – Lucas a abraçou de lado e riu. – null, meu amor, você vai dar um fora! Mas você não acha que essas pessoas já estão acostumadas?
- Eu acho que vai ser bom – disse ao fim e Sam sorriu em alívio. – Não vamos aprender apenas uma arte diferente de fotografar, mas é uma lição de vida.
- E pensa como que elas vão ficar felizes, qual a chance dessas meninas um dia pisarem na passarela? – Lucas falou. – Nós vamos levar a passarela até elas.
- Fechado? – Perguntei, sentindo meu estômago virar, mas eu sabia que era em parte de felicidade.
- Certeza – Sam sorriu. – E vocês?
- Por mim, tudo excelente – Lucas falou. – null?
- Eu odeio vocês, eu odeio vocês – nós rimos. – Tô dentro.
- Yaaaaay!
Estamos indo para Suécia hoje à tarde. De lá vamos para Alemanha e, pelo que eu ouvi, parece que vamos esticar pra Austrália. Acho que você vai voltar primeiro que nós. Como estão as coisas aí? – null x
null me mandou essa mensagem no início da noite, ou pelo menos eu fui ver a mensagem esse horário. Essa hora eu acho que ele já deveria estar no voo. Bellatrix, null, Sam e Lucas caminhavam na minha frente enquanto eu ouvia ela os ensinando algumas palavras em francês, devo confessar que achava engraçado o jeito nada elegante deles falarem francês, não levam jeito pra coisa, mas eu nem falo nada porque eu não levo jeito pra isso também. Andava um pouco mais devagar com o celular na mão pensando se o respondia ou não, achei melhor responder, porque uma hora ou outra ele ia acabar vendo e, se eu ficasse muito tempo sem dar notícias, ele ia começar a ter piripaques. Conheço bem meu namorado.
Suécia? Parece legal, ouvi dizer que as fãs são bem atrevidas. E Alemanha? Austrália? Pensei que sua agenda estivesse diferente, mas divirta-se. Me liga quando puder, tenho algumas coisas pra te contar. Aqui tá tudo bem, mas teremos um desafio bem chocante pela frente, preciso de você ao meu lado. Manda beijo pros meninos, incrivelmente estou com muitas saudades. Te amo, se cuida e boa viagem – null x
E não aguentei, mandei mais uma:
Tem como você acessar seus e-mails? Não vou conseguir ficar muito tempo sem dar notícias, acho que por e-mail fica mais fácil. É isso, tô ansiosa. Amo você.
- Namorado?
Assustei-me quando vi Aidan caminhando ao meu lado e dando uma bisbilhotada no meu celular. Ele sorria com os lábios fechados e parecia bem interessado no que eu estava fazendo. Sorri meio tímida e mostrei o celular pra ele, o nome ‘null null’ brilhava no visor.
- Conhece One Direction? – Perguntei meio sem jeito.
Aidan tinha mais ou menos 25 anos, era HOMEM. Partindo dessa ideia, pensa a minha vergonha ao perguntar se ele conhecia uma boyband. Como resposta, ele começou a rir, e eu não sabia se aquilo era bom ou ruim.
- É meio impossível não os conhecer, quem hoje não conhece One Direction?
- Ufa – foi minha vez de começar a rir. – Sabe o nome deles?
- Aí já é pedir demais – ele sorriu. – Mas, então, você é namorada de um deles?
- Sim – suspirei e senti meu rosto queimar. – É engraçado, porque eu não o vejo como o popstar da mídia, ele é, tipo, só meu. Meu null – sorri.
- Uau, você o chama de ‘meu’ – ele colocou as mãos nos bolsos e me olhou de lado; se é possível, esse homem ficou mais lindo. – Vocês dois têm sorte.
- Muita gente fala isso, que nós temos sorte. Estou começando a concordar com isso, nunca me considerei com sorte nessa vida.
- Mas você tem. Não é qualquer pessoa que tem a sorte de achar uma pessoa no mundo pra chamar de ‘meu’ ou se apaixonar da maneira que você está apaixonada agora, e eu garanto que ele te ama o mesmo tanto – ele chutou uma pedrinha no chão.
- Gosto de acreditar que sim – eu ri. – Mas e você, tem namorada?
- Nhá – ele fez uma careta gostosa e começou a rir, assim como eu. – Não me prendo a ninguém, não gosto de fincar raízes em um lugar ou com pessoas. Sou livre. Em um dia eu estava na Irlanda e hoje estou aqui em Paris em boa companhia e com a namorada de um popstar ao meu lado – Aidan me empurrou de lado e nós começamos a rir.
- Estilo Jack Dawnson? – Perguntei rindo e torcendo pra que ele entendesse minha piada.
- Exatamente – ele concordou. – Mas, diferente dele, não pretendo achar minha Rose.
- Não acha que deve ou pode se apaixonar?
- Acho que todo mundo na vida tem um propósito. Você tem um papel a cumprir na terra; o meu, eu estou cumprindo, não sei se parte do plano seria eu encontrar alguém.
- Você falando desse jeito – eu ri. – Parece eu há um tempo atrás, até encontrar o null.
- Eu vou terminar sozinho da mesma maneira que comecei – ele soltou esse quote e eu até parei de caminhar. – Conhece?
- Pearl Jam? – Sorri e ele sorriu mais ainda ao ver que eu sabia do que ele estava falando.
- Quantos anos você tem?
- Suficiente pra conhecer Eddie Vedder – sorri. – Você citou Corduroy, uma das minhas músicas favoritas. Eu citei ela outro dia pro null, expliquei a história toda pra ele e de como essa música surgiu.
- E ele conhece Pearl Jam?
- Por minha causa – eu ri. – Aos poucos ele vai conhecendo, mas devo dizer que mudei muito meu conceito musical por causa dele.
- Seu namorado está em uma boyband, é claro que você tinha que mudar. Todo mundo acaba se moldando em um relacionamento, é assim que funciona.
- Quando você fala desse jeito, eu tenho a impressão de que você já esteve em um relacionamento sério – olhei-o de lado e vi Aidan esconder um sorriso. – Meu Deus, o que essa mulher fez com você?
- Que foi? – Ele riu. – Qual é.
- Dá pra te ler muito fácil, Aidan. Quanto mais você se esconde por trás dessa forma de ‘sou livre e não me prendo a ninguém’, mais dá pra ver sua personalidade e sua história.
- Dizem mesmo que os fotógrafos costumam capturar a essência da alma, isso já está acontecendo com você?
- Acho que sim – sorri assim como ele abriu aquilo sorriso torto cativante.
Ficamos andando um ao lado do outro em silêncio enquanto eu via meus amigos na minha frente rindo e Sam, de um jeito estranho, pagando pau para Bells. Ri comigo mesma e senti de leve os dedos de Aidan roçarem aos meus enquanto caminhávamos. Pensei que fosse coisa só da minha cabeça, por isso resolvi ignorar. Novamente senti e quando pensei que ele fosse juntar suas mãos nas minhas, cruzei meus braços em um gesto involuntário, fingindo que estava com frio. Na verdade, esse pequeno toque causou um frio em minha espinha, coisa que eu não sentia com mais ninguém além de null. Ninguém “dava em cima” de mim, ninguém me bajulava, então esse tipo de atenção era sempre algo novo.
- Tá com frio?
- Um pouco – ri sem humor.
- Você mora em Londres, como pode sentir frio na França?
- O vento é diferente – falei pensando a primeira coisa e ele sorriu.
- Casal? – null olhou pra trás com aquela cara de arteira e eu fiz careta. – Acho que chegamos.
- Onde?
- The Green Linnet – Aidan disse. – Pub irlandês, em Paris – ele piscou. – Minha escolha.
- Claro, vindo de um irlandês – eu ri. – É caro?
- Quem disse que você vai pagar alguma coisa? – Ele rolou os olhos e indicou a minha frente, querendo dizer que era pra eu caminhar logo e ir pro pub. Ok.
Como não era de se esperar menos, o tal ‘The Green Linnet’ era lindo. Perfeitamente aconchegante, com um toque irlandês em cada detalhe. Como Bells fez questão de descrever “Este pub é diferente dos outros pubs irlandeses na capital, oferecendo uma atmosfera mais moderna. Você não encontrará um balcão e as paredes de madeiras, por exemplo. No entanto, o proprietário e um verdadeiro irlandês. Porém, como na Irlanda, você vai encontrará lá uma televisão, um piano, sofás macios, e, é claro, jogos (dardos e billard ). A pinte custa 4,50 euros todos os dias e a qualquer hora!” E como ela mesma havia descrito, o lugar era muito irlandês pra estar na França, por isso Aidan estava se sentindo tão confortável. Eu acho que, ao passo que fomos entrando no lugar, ele foi cumprimentando absolutamente todo mundo, homens e mulheres, e todo mundo arrastava uma asa pra ele – sim, homens e mulheres novamente. Achamos uma mesa um pouco mais ao fundo e na mesma hora dois garçons nos deram uma caneca gelada de cerveja Guiness, a tão tradicional cerveja. Sam e Lucas olharam boquiabertos o jeito que Aidan falava com as pessoas e como todos ali o tratavam bem. Bells também não passava despercebida, ainda mais com aquele vestido vermelho colado no corpo, mas ela não era nada vulgar, era apenas linda demais, sem fazer esforço.
- S'il vous plaît crevettes avec beaucoup de glace et une bouteille de champagne. Que pensez-vous, Aidan?
- Champagne?
- Oui, nous devons célébrer. Que pensez-vous d'une bouteille de champagne, le meilleur des crevettes et un verre avec de la crème glacée à la fraise?
- Qu'est-ce que vous avez à l'esprit, Bells?
- Seulement le meilleur pour nous.
- Eu juro que vou começar a falar português – falei rindo quando Aidan e Bells pararam de falar. Achei sexy demais e tava começando a ficar com calor.
- Bellatrix, vous parlez plus sexy françaises – Sam arrastou num francês com sotaque inglês e deu uma piscada sensual pra ela. Eu e null começamos a rir como loucas na mesa, o que tava acontecendo com essas bichas? – Eu não vou traduzir o que falei.
- Nem precisa, seu olhar já fala tudo – comecei a rir. – Escuta, eu vou só fazer uma ligação rapidinho, já volto.
- null?
- Claro – sorri pra null. – Algum recado pro null?
- Sim, manda ele se foder, por favor?
- null...
- Ai, vai logo, vai!
Aidan me encarou desde a hora em que levantei da mesa até quando me coloquei pra fora do pub, o que, confesso, me deixou um pouco desconfortável. Não que ele fosse uma pessoa desconfortável, era só estranho. Suspirei, apertando mais meu casaco sobre meu corpo e peguei o telefone, torcendo pro fuso horário de null estar bom e ele me atender. Eu não ia conversar nada de sério com ele, era só aquela saudade incômoda que estava começando a aparecer.
- null?
- Amor! – Ele riu. – Espera, desculpa – mais uma risada. Ele tava bêbado? – null!
- Bebeu?
- Mais ou menos – e agora eu ouvia a risada dos meninos atrás. – Estamos bebendo há umas três horas e protelando os ensaios. Queria você aquiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...
- Eu também – apertei o celular contra minha orelha. – Saudades.
- And if you-u-u / You want me too-o-o / Let's make a mo-o-ove / Yeah / So tell me girl if everytime we…
- MENINOS!
- null, onde você tá?
- Tá bebendo demais em Paris?
- Por que nós estamos bebendo aqui.
- Vou continuar cantando...
- null, que música é essa? – Perguntei rindo, na verdade com vontade de chorar. Saudades desses anormais.
- É uma das novas. Sente a honra, tá ouvindo primeiro que todo mundo.
- De um One Direction bêbado, ah que lindo – nós rimos. – Não queria atrapalhar vocês, pensei que não estivessem se divertindo tanto.
- Hey hey – ouvi as vozes dos meninos se afastarem. – null, tá tudo bem?
- Tá sim – suspirei. – Eu te ligo amanhã pra conversar melhor, só to precisando de cinco minutos com você.
- Cinco minutos? Você sabe que eu aguento mais que isso – ele riu. – Tá, a porra parece séria, sem brincadeiras.
- Obrigada.
- Tá tudo bem? Alguma coisa com fãs ou...
- Não, nada de fãs, é o trabalho mesmo. Vamos passar por um belo desafio e eu só queria contar pra você.
- Desafio?
- É... Não tem como eu explicar agora, é complexo.
- null? – E esse não era o null. Era Aidan. – Tudo bem?
- Quem tá aí?
- Oi? – Respondi para null.
- Ouvi alguém te chamando.
- É o Aidan – tossi. – Um dos fotógrafos da equipe da Tyra e da Olivia – olhei pra ele e ele parecia surpreso.
- Tem um homem com vocês?
- Uau, null – eu ri. – Tem um homem fotógrafo trabalhando conosco, quer que eu comece a falas das mulheres que trabalham com vocês? Ou devo falar das fãs?
- É diferente.
- Por quê?
- null!
- Te ligo amanhã, pode ser?
- Pode – ele suspirou. Eu queria começar a rir, desde quando ele tem ciúme?
- null?
- Que foi?
- Amo você – eu ri. – Volta pros meninos, tá tudo bem por aqui.
- Qualquer coisa você me liga, qualquer coisa mesmo!
- Tá, tá – e sorrindo, desliguei o telefone.
Olhei pra Aidan, que no momento estava com o cigarro na boca e lançava a fumaça pra longe. Desliguei o celular e o coloquei no bolso, indo até ele e achando toda aquela situação engraçada demais, vai saber por quê!
- Você nem mentiu pra ele – Aidan me disse.
- Como assim?
- Geralmente as namoradas mentem para namorados quando tem algum garoto por perto, e você não fez isso.
- Te disse que meu relacionamento com null é estranho – sorri. – Não sinto necessidade de ocultar nada dele.
- Vocês são estranhos – ele riu novamente jogando a fumaça longe.
- Somos apaixonados, coisa que você podia experimentar de vez em quando, faz bem sabe? – Eu sorri, dando um tapa nas costas dele e voltando pro pub.
Essa era a explicação que eu tinha pro nosso namoro, paixão.
Os capítulos abaixo foram corrigidos por Abby.
Capítulo 32
Para Lorelai Cohen, ou simplesmente Lary
O dia no hospital na França foi um dos melhores dias da minha vida. Não sei ao menos descrever como eu me senti quando conhecemos as modelos que estavam internadas lá, muito menos colocar em palavras o sorriso delas nos primeiros shoots do dia. Eu acho que nunca conheci pessoas tão lindas e tão estranhamente cheias de vida como aquelas garotas. Esqueci-me do mundo e o nervosismo que eu senti antes passou como se fosse mágica. Até mesmo o que aconteceu depois do shoot, quando fomos embora e eu e null voltamos pra casa não doeu tanto... Ou não doeu como eu imaginava que ia doer.
Flashback
Cheguei em nosso quarto e joguei a bolsa na poltrona com força. Eu estava tão cheia daquilo!
- null? – null vinha atrás de mim. Na raiva, eu havia a deixado para trás meio sem querer... Eu só queria sair de perto de todo mundo logo.
Eu não queria que meu cérebro ficasse pensando naquilo, eu juro que não queria... Mas sempre surgia uma voz irritante perguntando “Por que é sempre mais difícil pra mim?” “Por que elas sempre pegam mais pesado comigo?” “É porque eu sou brasileira?” “É porque eu não sou tão bonita quanto a null?” Me deitei na cama de barriga pra cima e coloquei as mãos sobre os olhos.
- null? – null me chamou, receosa. – Você tá bem? - senti que ela se sentou na cama.
- Não aguento mais, null! Que merda! – desabafei, sendo um pouco mais agressiva do que pretendia e ela se encolheu.
Eu não podia descontar nela! Não na minha melhor amiga, a pessoa que tinha me ajudado tanto nos últimos meses e umas das participantes mais importantes dos momentos mais felizes da minha vida nesse tempo todo em Londres. Tirei a mão dos olhos e a olhei.
- Sabe, eu até tava começando a achar que aqui em Paris seria diferente, que as fãs não iam nem me reconhecer ou que iam pegar mais leve. Mas pelo visto eu estava enganada, DE NOVO! É sempre a mesma coisa, parece que elas possuem um prazer doentio em me xingar, me fazer sentir como se fosse merda!
- E você não percebe que é isso que elas querem? Que elas precisam te deixar mal, porque você “tem” uma coisa que elas querem muito? – null se deitou ao meu lado – Não fica assim... Você e o null estão tão bem... Não deixa essas meninas te botarem pra baixo!
- É o que eu to tentando fazer desde que esse tumulto todo começou! Não pensar nisso, não me importar...
- Sabe o que você precisa? Enfrentar essas meninas! – null se levantou e sorriu abertamente, como se tivesse acabado de ter a ideia mais brilhante de todas. Eu me sentia meio como o Cascão ao perceber que o Cebolinha bolava mais um plano (in)falível! – Depois do que passamos hoje no hospital, acho que mais do que nunca você precisa colocar um ponto final nesse bullying idiota.
- E como eu faço isso? Vou bater nelas? Bom, mesmo que eu pudesse bater em uma, ainda sobrariam milhões... E o null me mataria!
- Que bater nelas? Quem falou em bater? – null ria da minha cara. – Tava pensando em uma twitcam pra você...
- UMA O QUÊ? VOCÊ TÁ DOIDA, ? – acho que a ideia de bater nelas me parecia mais razoável.
- Mas pensa só, null! Me escuta: Essas meninas tem falado de você e te xingado por meses e o que elas realmente sabem de você? Elas sabem o que tá escrito na sua bio do twitter, que você é brasileira, que estuda em Londres e que namora o null... A maioria delas nunca ouviu sua voz, nunca viu você rindo, conversando, falando de fotografia... Como elas podem mudar de opinião sobre você assim?
Que raiva... Fazia todo o sentido! Odeio quando a null tem razão, o que anda acontecendo na maior parte do tempo.
- Elas vão me massacrar, null! – falei, colocando em palavras o maior medo em me expor tanto.
- Só se você deixar... Por que você acha que sofre mais com isso, null? Porque você SE DEIXA atingir!
Fazia sentido... De novo. Meu estoque de desculpas estava se esgotando! Fiquei um tempo em silêncio digerindo a ideia de ficar falando sobre mim para um monte de fãs que provavelmente só assistiriam esperando um deslize mínimo pra me crucificar. Em compensação, eu teria tempo para provar a elas que eu era mais que simplesmente “a namorada de null null”.
- Ok, vai... – me dei por vencida – Vamos fazer esse negócio então!
- Vamos? – null riu – Vamos nada, mocinha! VOCÊ vai.
- Você tá brincando, né, null? Não vou fazer isso sozinha!
- Calma! Eu vou estar aqui com você... Mas acho que você devia ir sozinha primeiro. Enfrentar seus medos... Ser maior que eles!
- E desde quando você ficou filósofa desse jeito? – falei e ela me mostrou a língua.
- Vai se arrumando aí, vou buscar um chocolate pra mim. ALGUÉM saiu correndo e eu não pude comprar a sobremesa!
Joguei uma almofada em sua direção e null saiu gargalhando pela porta. Respirei fundo e me levantei, pensando o que eu precisava fazer antes. Lavar o rosto, passar pelo menos um básico de maquiagem, trocar de roupa... Estava quase desistindo quando me lembrei que null provavelmente me mataria se voltasse e eu estivesse do mesmo jeito. Peguei minha bolsa, puxei o notebook e o liguei. Deixei-o em cima da cama enquanto me arrumava e me peguei ensaiando o que ia dizer no começo. Nunca ficava tão bom quanto eu queria. Era uma merda ser perfeccionista, mas eu teria que me virar com o que saísse! Olhei-me no espelho e me achei... Ok. Porque eu não podia ser a Bünchen? Mas “ok” era bom, certo? De qualquer forma, ia ter que servir. Peter Jackson achou ao final das gravações de Senhor dos Anéis que o filme estava ‘ok’ e olha no que deu! Não que eu vá me comparar ao nível do Peter... Ok. Quando me senti pronta, respirei fundo mais uma vez e tweetei:
“Hey,, alguém aí? Estou pensando em fazer uma twitcam!”
Pensei se olhava ou não as mentions, mas eu me conhecia bem demais. Se tivesse UM tweet falando que eu só queria aparecer, eu iria desistir. Entrei no site da twitcam, ajustei a webcam e escrevi “Alguém mais entediado? Que tal um Q&A?” Com um “Vou te matar, null!” na cabeça, apertei o “Broadcast and tweet”. Agora já era!
Fiquei um tempo quieta e nervosa observando o número de viewers subir. Primeiro devagar e, depois, vertiginosamente. Na barra ao lado, onde ficava o chat, os muitos tweets de RT iam sendo rapidamente substituídos por perguntas, elogios e, lógico, xingamentos.
@1DGirlFriends Oi, null! Você é linda!
@_My_BooBear_ Era só o que faltava mesmo!
@Larry_X_Stylinson Nossa, você é mais feia do que eu imaginava!
@1DstalkerBulgaria Oi, null, me segue!
@NoJimmyProtested Quanto tempo você mora em Londres?
@LollaHoran Fala alguma coisa!
Ah, é... Eu precisava falar, né?
- Hmm... Oi, gente! Eu... Hmm... Resolvi fazer essa twitcam pra responder umas perguntas e interagir um pouco com vocês. Por isso, perguntem o que vocês têm curiosidade de saber sobre mim! Vou tentar responder o máximo de perguntas possíveis, mas não vou tolerar grosserias, ok? – não consegui me controlar ao ler uns comentários ridículos subindo no chat. – Quem não estiver interessado, pode fechar a página e voltar a fazer o que tava fazendo!
Aquilo soou MUITO como uma professora, me segurei para não rir! Voltei meus olhos para o chat a procura da primeira pergunta.
@BeMineHarry Perguntas? O null é bom de cama?
@LiamsLostKidney A única pergunta que me vem a cabeça é: COMO null null tá namorando com você?
@MaryMcFLYE1D Qual a melhor parte de namorar um integrante do 1D?
Passei por essa pergunta enquanto lia as outras, já me arrependendo de estar fazendo aquilo. Por que mesmo eu estava dando minha cara a tapa numa twitcam? null abriu a porta do quarto comendo um chocolate e se jogou na poltrona em frente à cama, onde eu e o notebook estávamos. Ah sim, era ela o motivo do meu suor frio e o sentimento estranho no estômago. E dessa vez não era fome! Eu tinha que estudar, revelar minhas fotos, ligar pra minha mãe no Brasil... Mas null tinha tido aquela ideia genial de que eu deveria “enfrentar meus medos sendo maior que eles” e, para isso, interagir com as fãs de One Direction. Na minha concepção, isso significava ser jogada aos leões.
- Fala alguma coisa! – ela sussurou, fazendo sinal para que eu prosseguisse. Pisquei e percebi que estava há alguns minutos encarando a tela do notebook sem dizer nada. Aí sim as fãs iam achar que eu era retardada! Tossi e decidi responder aquela pergunta.
- Hum... qual a melhor parte de namorar um integrante do 1D? – repeti em voz alta a pergunta que tinha lido – Bom... Acho que é quando eu estou namorando o garoto por quem sou apaixonada e o trabalho dele não importa muito... – respondi dando de ombros, meio tímida.
null abriu um sorrisão e fez um sinal de positivo e eu sorri também. Mas falar do “garoto por quem eu sou apaixonada” me deixou um pouco preocupada sobre o que null ia achar disso tudo. Se ele ia pensar que eu estava nos expondo ou algo assim. Por isso resolvi que ia evitar o máximo possível as perguntas relacionadas a ele e ao 1D, se é que isso seria possível. Passei os olhos mais uma vez a procura de uma pergunta que eu ficasse a vontade para responder e senti um sorriso se formar em meu rosto.
@Lary_Cohen E aí, garota? Twitcam? Hahahaha... Deve estar sendo um martírio pra você. Gostei da camiseta ;)
- Oi, Lary! – falei e evitei olhar para onde null estava, mas conseguia imaginar sua expressão de raiva. Olhei então para minha camiseta. – Minha camiseta é linda mesmo! É da minha banda preferida, o Pearl Jam...
Se tem uma coisa que eu aprendi é que ninguém pode me parar quando eu estou falando de um assunto que domino. Já que estava nervosa, me segurei no “Pearl Jam” por um tempo, contando como eu havia conhecido a banda, minha música favorita e coisas desse tipo. Logo comecei a ler perguntas relacionadas a música e passei a me sentir mais a vontade. Já nem parava pra ler os comentários ruins, porque estava focada em achar perguntas que dessem continuidade ao assunto.
@1Love1Direction E o que você faz em Londres? Faculdade?
Sorri de novo ao encontrar a oportunidade para falar da minha paixão. E aí eu tive certeza de que estaria bem. De algum modo eu entendia como aquelas garotas conseguiam se sentir tão superiores quando iam falar mal de mim. Sentada ali sozinha, na frente do meu note e falando sobre o que eu amava, eu me sentia invencível. A diferença é que eu usava essa minha coragem para algo bom... null ria às vezes das coisas que eu respondia ou contava e me olhava com certo orgulho. Eu tinha conseguido, certo?
- Oi, Michelle! Oi, Suria! – me peguei falando, mandando “shout outs” individuais para algumas garotas. Não queria confessar, mas estava me divertindo – Eu já estou na França, não sei se andaram lendo meus últimos tweets. Fico aqui mais uma semana, o que vocês me recomendam, além de visitar a Torre Eiffel?
@xXLouisCarrotsXx Fala alguma coisa em português!
- Eu sinto saudades do Brasil! – falei em português e null me olhou estranho. Ela só me via falando português com meus pais, então não era como se ela pudesse entender o que eu estava falando. Traduzi para ela que sorriu mais uma vez.
@IsaLovers1D A TA AÍÍÍÍÍ?? CHAMA ELA!!
null Lovers! A null já tinha até Fan Clube!
- null, tão te chamando aqui! – Falei e ela pulou do sofá como se só estivesse esperando pra ser chamada.
- Oi, galera! E aí? – ela disse animada, se sentando na cama atrás de mim e colocando a cabeça por cima do meu pescoço.
Enquanto ela tagarelava, não pude deixar de notar alguns xingamentos para ela também “Feia”, “Gorda”, “Vaca”, “Tira as mãos do null!”... Nada muito original. Nada que eu já não tivesse lido uma porção de vezes... Peguei-me pensando que todo aquele dilúvio de nomes feios e xingamentos não eram pessoais. Não era eu, null null, que elas odiavam. Elas odiavam a namorada do null, a namorada do null, e olha que a null nem estava mais com ele. Olhei para null se divertindo ao tentar falar o que quer que fosse em francês e não pude deixar de me sentir grata por ela ter me obrigado a fazer aquilo. Não tinha sido em vão, afinal. Não sei quanto às fãs de 1D, mas eu tinha aprendido muito naquela tarde. Pra finalizar com chave de ouro, meu celular vibrou e eu vi a carinha sorridente de null.
“E quando é que você quer encontrar seu namorado, por quem você é apaixonada, pra gente NÃO falar do meu trabalho?” – null x
“O mais rápido possível!” null x
Flashback off
Como era de se esperar, o fato de ter me exposto desse jeito me fez muito bem, null também sentiu um grande orgulho de mim, ficou falando dessa twitcam por algum tempo com as fãs no twitter e isso tirou aquele peso de ‘sou apenas sua namorada’. Estávamos agindo como um casal que está junto há anos, e eu nem tinha parado para pensar que, de verdade, fazia muito tempo mesmo que esse relacionamento estava durando. Era uma coisa especial, só nossa. E fico muito feliz em saber que ninguém entende e que na verdade muita gente se incomoda com isso. Lembro uma vez que eu li alguém falando que eu e null não passamos mais que 48 horas brigados. Pergunto-me como que essa pessoa sabe disso, mas enfim, é a mais pura verdade. Brigamos feio apenas uma vez e no dia seguinte já ficou tudo resolvido. Qual o problema? Tenho mais é que agradecer por não sermos o casal problema, com clichês namorísticos onde ele ia sair pra turnê e me trair ou eu fosse ficar me achando a última garota do mundo por ter sido a escolhida dele, ou ficarmos na melequinha de amor que todo mundo acha bonito. Somos um CASAL que se ama, gostaria que as pessoas entendessem isso e nos deixassem em paz.
Diferente de qualquer outra fã francesa que eu possa ter conhecido, as meninas do hospital eram adoráveis e nos trataram como popstars, sendo que as divas do dia eram elas.
Tudo começou cedo. Às seis horas já estávamos de pé esperando por Bellatrix, Aidan, Tyra e Olivia no saguão do hotel onde estávamos. Sam estava sentado em cima da nossa mala com equipamentos, dormindo parecendo um suricate, mas dormia. Lucas encostado no ombro de null e ela o abraçando, ambos também dormindo em pé, e eu com o celular na mão agoniada porque não conseguia falar nem com null nem com minha mãe desde ontem. Eu precisava de uma palavra de conforto, só uma! Mas ele estava viajando por algum lugar – a agenda dele estava uma loucura, uma hora era Suécia, depois Alemanha, aí já foi parar na Nova Zelândia em questão de dois dias. Próxima parada seria o Japão – e eu não ia conseguir falar com ele pelos próximos dias, o que me deixava pior. Quando eu quase estava ficando mais desesperada, vi os quatro aparecendo. Bells parecia uma modelo da revista Vogue, como que essa criatura ficava linda desse jeito as seis horas da manhã? SÃO SEIS HORAS DA MANHÃ! Não posso falar muito porque, Aidan também não está de todo ruim. Barba por fazer, cabelo todo bagunçado e cheirando a colônia pós-banho, tava bonito.
- Bom dia, equipe – Tyra nos cumprimentou – Como estão?
- Com muito sono – Lucas sonolento respondeu, arrancando risadas matinais e roucas de todos nós – Preciso de cafeína.
- Passaremos pelas melhores cafeteiras parisienses no caminho, Lucas – Olivia falou indo até nós – Fique tranquilo.
- Bom, antes de irmos preciso dar as coordenadas para vocês – Tyra falou – Bells, tome a dianteira.
- Merci – ah, ótimo! Mais francês! – Bonjour.
- Bonjour – respondemos em uníssono, eu com toda má vontade do mundo.
- Bom, até chegarmos ao hospital demora mais ou menos uma hora e meia, depende do trânsito. Por esta razão resolvemos sair bem mais cedo do que o horário comercial parisiense, a possibilidade de chegarmos em uma hora é bem grande – eu podia claramente sentir Lucas babar ao meu lado. A bicha tá virando hétero – Vamos tratar das pacientes de forma normal, a única coisa que vamos usar é a máscara no rosto. Elas não estão com a imunidade muito boa, então todo cuidado ainda é pouco.
- Vamos precisar de luvas ou essas coisas? – perguntei.
- Conversamos com os médicos responsáveis – Aidan começou – Explicamos que nosso trabalho é praticamente todo manual, o uso de luvas pode tirar nossa sensibilidade com as câmeras.
- Entendi – falei. Senti alívio, não gosto de trabalhar com luvas.
- É como se fosse um trabalho normal como outro, a diferença é que as meninas estão carecas vamos fazer os shoots no hospital – ele sorriu.
- Elas podem passar mal durante o ensaio? – ouvi Sam perguntar – Eu já, bom, na minha família eu passei por alguma situações envolvendo câncer, sei que a pessoa fica bem frágil.
- Pode acontecer, Sam – Tyra falou – Mas todo trabalho de vocês será acompanhado por enfermeiras e paramédicos, então qualquer coisa vocês podem e devem pedir a ajuda deles.
- Vocês vão? – perguntei.
- Infelizmente não, mas sei que Aidan e Bells vão ser ótimos professores pra vocês.
- Olivia! – eu pestanejei – Fomos escolhidos por vocês para esse ensaio. Na verdade era pra ser a Semana de Moda, mas enfim... É um trabalho que vai exigir observação de vocês, pelo menos de você que é nossa professora.
- null? – null me cutucou – Quer parar?
- Não entendo porque vamos confiar em duas pessoas que não conhecemos quando você e a Tyra estão na mesma cidade que nós – bufei.
Eu não ia querer MESMO que essa tal de Bells começasse a me ensinar como fotografar, tá doida? E mesmo o Aidan sendo um lindo cavalheiro irlandês, se ele começasse a dirigir minhas fotos ia ter briga. Olivia e Tyra conhecem o meu trabalho e o do pessoal, por que elas não vão com a gente? Tem como alguém concordar comigo, por favor?
- null? – Olivia me chamou – Posso conversar com você a sós?
- Se ferrou, tagarela! – null disse – Se você sair da equipe, eu te mato por falar demais.
- Cala a boca, null – respirei fundo e fui com Olivia pro lado de fora do hotel, sentindo meus amigos e os dois que não fazem parte da equipe me encararem.
- Ok, eu acho que posso falar que te conheço muito bem pra saber que você não está bem – Olivia começou a falar, cruzando os braços e me encarando – Que foi?
- Como assim? – eu to meio cansada de todo mundo falar que eu sou estranha ou que eu ando estranha, e eu JURO que to me alimentando bem.
- Você anda nervosa, ansiosa, sendo um pouco rude comigo e com os nossos convidados...
- Que eu não entendo o motivo de eles terem sido convidados.
- null!
- Olivia, é sério! Você nos prometeu uma coisa e quando chegamos aqui nos deparamos com outra, tem noção de como anda meu psicológico? Eu to num país que eu não conheço ninguém, vou fazer um trabalho que eu to cagando de medo com duas pessoas que eu não conheço e uma delas adora se exibir.
- Tá com ciúme?
- Eu não gosto de concorrência.
- Você namora o null null! – ela riu de forma sarcástica – Concorrência é algo que você deveria estar familiar.
- No meu campo de trabalho, eu quis dizer – supirei fundo – Eu não gosto de concorrência, ainda mais uma garota que você coloca na dianteira como...
- Como o que? – ela desafiou – null, eu te coloco na dianteira de praticamente tudo em sala de aula. Você é nossa melhor aluna e já fui questionada muitas vezes sobre os outros alunos. Existem alunos excelentes, mas eu não vi neles a mesma paixão que eu vi em você a partir do primeiro dia. Todos estão lá porque assumem que fotografia é uma diversão, e não uma arte. Eles não possuem o mesmo brilho que você, e eu generalizo incluindo os seus amigos – engoli a seco – Confio cem por cento em você, quase de forma cega, porque eu vejo muito de mim na sua pessoa. E você deveria confiar mais em mim e nas minhas escolhas, acima de tudo baixar esse seu ego.
- Mas eu...
- Ainda estou falando.
Era a primeira vez que eu recebia uma bronca de Olivia. Tive uma conversa séria com ela e a Tyra uma vez apenas na sala, mas nada se comparava a isso. Eu queria chorar. A única certeza que eu tenho é que sou uma boa profissional, essa conversa com a Olivia está acabando com ela.
- Você é uma excelente profissional – tá, mudei de ideia – Mas você está entrando na fase onde nada pode te derrubar, onde o seu trabalho é sua zona de conforto, como se você não pudesse aprender mais nada de novo.
- Eu nunca pensei isso!
- Claro que já pensou, null. Não mente pra mim, eu tenho anos de fotografia na sua frente.
- Não é bem isso – eu já estava chorando – Eu...
Eu nem conseguia colocar em palavras o que eu de verdade tava pensando. Se eu assumir pra mim mesma que essa Bellatrix não é concorrência apenas em fotografia, mas em beleza vai soar estranho? Essa menina é maravilhosa, e pelo que eu vi excelente no que faz, como não me sentir ameaçada? Mas... Ameaçada em que?
- Tudo bem – Olivia parecia se dar por vencida – Se você não quer conversar comigo não tem problema, eu só estou fazendo aqui o meu papel de professora e sua orientadora. Mas eu vou te pedir uma coisa – ela se aproximou e encostou o dedo indicador no meu peitoral – Confia em você e no seu trabalho, mas diminui seu ego, se não o tombo vai ser grande. Você ainda tem uma vida pela frente, null, mas ainda tem muito pra aprender. E pode se aprender com qualquer pessoa, seja ela uma professora como eu, ou uma aluna muito parecida com você, porém francesa – ela suspirou – Não me decepcione.
Assim que me sentei na van fiquei na mesma posição até chegarmos ao hospital. Eu não respirava e muito menos conseguia falar com alguém. null estava bufando ao meu lado, mas eu passei a ignorá-la, colocando meus fones e fingindo que ouvia alguma música, quando na verdade eu só queria abafar o barulho exterior. Encostei minha cabeça na janela e fiquei ali pensando em tudo o que Olivi havia me falado. Então é essa imagem que as pessoas têm de mim? Que sou metida? Suspirei e peguei o celular, mandando a terceira mensagem pro null nesse dia. Ele não me respondeu... Nenhuma.
“O que você pensou de mim quando me viu aquele dia no London Eye? E na verdade, o que você estava fazendo lá?” – null x
Só torci pro celular vibrar.
E ele não vibrou.
- Chegamos – Sam me cutucou na perna, percebendo que minha mente estava bem longe dali – Vai conseguir fazer as fotos?
- Claro que sim, Sam – respondi, tirando os fones – Vamos logo com isso.
- null – ele parou na minha frente quando eu me pus de pé e ia sair da van – Eu amo você, e confio que essa equipe não seria nada sem seu talento.
- Sam...
- Eu não sei o que a Olivia te falou, e na verdade não sei quero saber. E sei que você tá meio magoado com o Lucas e comigo porque estamos pagando pau pra Bells, mas você continua sendo nossa número um – ele me deu um selinho rápido – Melhora essa carinha, por nós.
- Sinto saudades do null – soltei sem querer – Mandei três mensagens pra ele e até agora nada.
- E desde quando você é tão dependente do seu namorado assim? – ele me respondeu daquela forma afetada – Relaxa, mulher. null tá com a banda e você tá aqui com a “sua banda”. Ele vai fazer o trabalho dele e você o seu.
- Prontos, pessoal? – Aidan apareceu na porta da van – Só falta vocês dois.
- Sério? – olhei ao meu redor, como que todo mundo saiu sem eu ver? – Caraca.
- Vamos – Sam de uma de borboleta e pulou pra fora da van, fazendo eu e Aidan rirmos de sua homossexualidade tão aparente.
- Ajuda pra descer? – Aidan estendeu a mão pra mim, sorri e aceitei – Se eu perguntar se está tudo bem você vai ficar brava comigo?
- Vamos combinar que essa pergunta não pode ser feita pra mim nos próximos três dias, tudo bem?
- Combinado – fizemos um high five e rimos – Se prepara pra ter o melhor dia da sua vida.
- Promete?
- Claro – Aidan sorriu.
Os médicos, paramédicos e enfermeiros do Hospital Association Gombault Darnaud já nos esperavam na porta, com toda a educação possível. Olivia e Tyra se despediram do grupo naquele momento e voltaram para a van. Aidan, Sam e Lucas levavam os equipamentos, Bells, eu e null ficávamos na dianteira.
Caminhamos pelo hospital, passando por salas, pegando elevadores e vendo todo tipo de pessoa do mundo. Meu coração só doía e eu apertava o celular dentro do meu casaco, torcendo pra vibrar e receber uma mensagem do null. Aposto que ele estava de ressaca – de novo – e devia estar dormindo. Mas ele não deveria estar trabalhando? Droga de namorado. null ao meu lado parecia ler meus pensamentos, percebi isso quando ela me abraçou pelos ombros e sorriu, dando um beijo de leve em meu rosto. Se fosse outra ocasião eu acho que ia brincar de como ela estava ficando gay, mas nesse momento eu senti como se fosse a prova de carinho que eu precisava. A olhei e sorri de volta, em sinal de agradecimento. Murmurei um ‘obrigada, amiga’ e foi o que nós duas precisávamos. Vi Bells nos encarar pela tangente e sorrir, talvez ela não fosse tão ruim assim.
- Essa é a lista de pacientes – Aidan nos entregou uma lista com cinco nomes – Cada uma possui um tipo de câncer diferente. Deem uma lida antes de entrarmos, fica mais fácil se familiarizar.
- Ok – respondemos.
E agora vem a pior parte. Pelo menos pra mim.
Nome: Angelique Petit
Idade: 19 anos
Tipo: Linfoma
Nome: Marié Dubblet
Idade: 21 anos
Tipo: Leucemia
Nome: Clair Laboité
Idade: 16 anos
Tipo: Astrocitoma
Nome: Danielle Kebec
Idade: 18 anos
Tipo: Sarcoma
Nome: Hellen George
Idade: 17 anos
Tipo: Carcinoma
- Não conheço nenhum desses, a não ser leucemia – falei com a voz embargada – Meu Deus, elas são muito novas.
- São, sim – Bells respondeu – Não é necessário saber que tipo de câncer que é ou qual a diferença entre um e outro.
- Eu sei que isso vai parecer uma pergunta horrorosa – null começou – Me desculpem desde agora, mas alguma delas está em estado terminal?
- Quase todas – Aidan respondeu sério. Sam e Lucas engoliram o choro atrás de mim, fiz o mesmo – É por isso que nosso trabalho hoje é muito importante.
- Elas sabem que estamos aqui ou será uma surpresa?
- Sabem, sim, Lucas – Aidan deu um tapinha em seu ombro – E então, preparados?
- Sim – respiramos fundo.
Colocamos as máscaras e engolimos o choro. Pra mim elas ainda eram cinco garotas que estavam com seus nomes em prontuários médicos, cada uma diagnosticada com um tipo de doença, a mais maldita de todas. Eu só conseguia culpar o universo por estar fazendo isso com meninas que nem chegaram aos vinte e um anos. Não fazia ideia de como elas seriam, se estariam nos esperando de braços abertos ou como se fosse mais uma obrigação da parte delas. Fossem modelos ou não, sei que é complicado, ainda mais em suas condições.
Mas novamente, eu estava completamente errada.
Abrimos a porta e vimos as cinco já vestidas com as melhores roupas que elas tinham. Rindo, os sorrisos mais lindos e as risadas mais gostosas. Brincavam consigo mesmas de quem ia ficar com a peruca de quem, ou quem ia ficar com o cabelo ‘Katy Perry’. Estavam maquiadas, eu ainda não sabiam quem era quem, mas qualquer pessoa que entrasse naquele quarto ia ter certeza que ali estavam cinco garotas saudáveis. Elas não aparentavam ter a doença que tinham, confesso que eu me achei mais doente ainda.
Bells passou por nós e foi a cada uma dar um abraço e um beijo, e em uma delas demorou um tempo a mais. Quando se soltaram do abraço percebi que Bells chorava, mas a menina que a abraçava sorria e murmurava alguma coisa que eu não sei o que era, parecia ser francês e soava como se fosse um conforto. Bells sorriu e depois foi falar com as outras. Aidan fez o mesmo, e também parou um tempo a mais com essa menina, supôs que ela devia ser conhecida há mais tempo. Lembrei-me que Aidan tinha uma irmã que estava internada aqui, essa menina deve ser da mesma época. Eu ACHO. Enquanto eles terminavam de falar com as meninas, fomos arrumando os nossos equipamentos, colocando as lentes certas, as câmeras que iríamos usar. Tinha certa dificuldade em respirar com aquela máscara, tinha certa fobia e passava a impressão que as pessoas não fossem ouvir minha voz. Prendi meu cabelo em um coque alto e torci pra ele que não soltasse, nunca fui boa em prender meu cabelo sozinha, sem o auxílio de alguma coisa.
Não demorou muito para que o equipamento estivesse perfeito, com as luzes nos lugares certos e nossas câmeras preparadas. Finalmente, Aidan e Bells chegaram até nós – tudo bem que por dentro eu tava querendo mandar os dois se FODEREM porque não ajudaram em NADA e nós montamos TUDO, espero que eles não queiram se dar ao luxo de usar o que montamos e ainda sairem no lucro – trazendo com eles a menina que eles passaram mais tempo conversando. A menina era branquinha e miúda; usava uma peruca vermelha e amarela que me lembrava do cabelo da Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo (e eu nem posso fazer esse comentário porque eu tenho certeza que eles não conhecem Monteiro Lobato). Na verdade, a menina por si só parecia uma boneca, até vestido amarelo ela usava, igual à Emília.
- Essa é a Clair – Bells disse com a voz embargada – Minha irmã.
Agora tudo fazia sentido. Paulada no meu cérebro por ter julgado a Bells antes de saber do assunto. Idiota, idiota!
- Prazer – foi a única coisa que eu consegui responder. Aidan me encarou sorriu com os olhos, como que dizendo “Viu? Ela tem razões pra ser do jeito que é.”
- Prazer é todo e absolutamente meu – Clair respondeu – Você é a namorada do null null, não é? Cara, eu amo One Direction.
- Jura?
- Sim, eu estava ansiosa pra te conhecer, a null também – ela apontou pra null, que parecia imóvel – Namorada do null, estou certa?
- A-ham – acho que ela nem ia ter coragem de falar pra Clair que os dois estavam separados.
- Eu fiz uma coisa pra eles, será que vocês podiam entregar?
- Clair, o que nós conversamos sobre isso? – Bells a repreendeu.
- Não, tudo bem – eu falei – O que você fez pra eles?
- Bom – ela parecia animada – Não tem como sairmos do hospital, então eu tive que me virar por aqui mesmo. É bem simples, eu que fiz – ela saltitou pelo quarto, indo até uma gaveta e tirando uma pasta marrom – São desenhos.
- Desenhos? – nosso quarteto falou junto.
- Não ficaram bons como eu queria, eu só... Sei lá, fiz meu melhor – ela entregou a pasta pra mim.
- Vou entregar, pode ficar tranquila – sorri enquanto abria a pasta. Eram os meninos e ela, e os desenhos perfeitos – Meu Deus, Clair!
- Gostou? Acha que eles vão gostar também? – ela parecia apreensiva.
- Eles vão adorar – sorri sentindo meus olhos se encherem de lágrimas – Essa é você com o null?
- Sim, ele é meu favorito – ela parecia envergonhada. Era um desenho dela sentada no colo de null com a letra de ‘I wish’ escrita ao lado – Sei que isso nunca vai acontecer, então achei a música apropriada.
- null vai surtar quando ver esse desenho – null falou – Capaz de pegar o primeiro voo e vir pra cá.
- Você acha que ele faria isso mesmo?
- Estamos falando de null null, tudo é possível – null respondeu.
Conversamos com as outras meninas, que também eram fãs de One Direction. Todas lindas, atenciosas e cada uma com uma experiência de vida diferente. Nós as ajudamos a se arrumar, colocar as perucas – o que eu pensei que fosse ser algo traumático e se transformou em uma situação cômica – passar maquiagem e escolher as roupas. As fotos seriam depois colocadas em uma exposição no hospital, então teríamos que fazer nosso melhor. Mas com elas, não era nada difícil.
- Podemos colocar uma música do One Direction pra tocar? – Angelique perguntou com uma certa dificuldade em falar inglês – Ficamos mais soltas com música.
- Mas é claro que sim – Aidan respondeu por nós – Meninas, o que sugerem?
- ANOTHER WORLD!
- Hm, posso dar uma outra opção? – me arrisquei a dizer.
Eu tinha em meu celular a versão demo de Live While We’re Young, música que nem tinha sido lançada ainda, mas null me passou no meu primeiro dia aqui na França. Não sei, mas essa música parecia combinar mais com o momento.
- null me passou a demo de uma música que nem foi lançada ainda.
- O QUEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE? – Aidan fez careta quando as meninas gritaram, eu ri porque de certa forma já estava acostumada.
- Não sei se vocês vão querer ouvir, já que é só a demo...
- CLARO QUE SIM!
- ÓBVIO!
- COLOCA LOOOOGO! – Clair estava quase chorando.
- Por que com o fandom de One Direction tem que ser TUDO ao extremo? – Sam disse atrás de mim rindo – Meu Deus, é uma demo.
- Nem queira imaginar se eles, de verdade estivessem aqui – eu sorri – Tem alguma caixa de som para eu ligar meu celular?
- Tem sim, tem sim, tem sim.
- TEM QUE TER!
- Clair, respira – Bells parecia preocupada – Se controla, pelo amor de Deus.
- Bells...
- Aidan, você sabe que ela não pode ficar desse jeito – ela suspirou – Clair, eu to falando com você!
- E eu to falando que tô bem – Clair retrucou – Ne vous inquiétez pas, je ne vais pas mourir maintenant – ela deu um sorriso maroto e Bellatrix ficou pálida. O que foi que ela falou?
- Ni joue avec ce genre de chose, Claire!
- O que elas estão falando? – cutuquei Aidan.
- Clair disse que não ia morrer hoje e Bells falou pra ela nem brincar com isso – ele disse meio rindo – Clair gosta de ameaçar a irmã falando que vai morrer, e Bells retruca dizendo que com essas coisas não se brinca.
- Acho que ela já se acostumou com essa situação, embora eu ache que não há jeito de se acostumar.
- Você aprende a lidar, o que é diferente.
- Achamos a caixa – Danielle apareceu – Cadê o celular?
- Aqui – o tirei de dentro do meu casaco.
No meio da muvuca eu nem percebi que ele tinha vibrado e ali piscava duas mensagens novas. E no visor aparecia uma foto minha e de null. Danielle ficou mais branca do que ela já é e começou a tremer e chorar. Ótimo, vou causar um piripaque nessas meninas!
- É o null, é o null! null, é o null!
- Pode ler a mensagem, se você quiser – me arrisquei a dizer, sabia que não ia ter nada de comprometedor.
- QUOI?
- Inglês, Dani, inglês – eu ri.
- Ela perguntou “O QUE?” – Sam traduziu, e eu queria saber desde quando essa biba sabia falar francês.
- Ah sim, é... Pode ler a mensagem.
- E se for pra você? – Clair apareceu abraçando Dani.
- Clair, se está no celular da null, é porque a mensagem é pra ela – Bells a corrigiu rolando os olhos. Coisa de irmã mais velha.
- Cala a boca, Bellatrix! – Clair disse brava – Pode mesmo, null?
- Sim, por favor! Eu to curiosa pra ler a mensagem – sorri.
- Então... – Dani apertou visualizar – “Amor”... AI MEU DEUS ELE TE CHAMA DE AMOR!!!!!
- E eu odeio isso – respondi rindo.
- COMO ASSIM?
- É coisa nossa – dei de ombros.
- CONTINUA COM ESSA MENSAGEM, DANIELLE! – Clair berrou, as outras meninas também se aproximaram.
- Tá, tá... – Dani limpou a garganta – “Amor” ah gente, que fofinho – ela riu – “Me desculpe por não ter respondido antes, as coisas aqui na Alemanhã andam meio loucas”. ELES ESTÃO NA ALEMANHÃ?
- Danielle... – agora foi a vez de Aidan falar alguma coisa, eu achei engraçado.
- Je suis désolé – supus que era “me desculpe” – “Tá tudo bem com você? Suas mensagens andam me assustando. Enfim, me liguei quando o shoot acabar no hospital, prefiro falar com você pelo telefone do que por mensagem. Te amo, gênio.”
Um coro de ‘AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHH’ da parte das meninas encheu o quarto. Novamente, Aidan fez careta, nós começamos a rir.
- Eles sabem que vocês estão aqui?
- Sabem, sim – foi a vez de null responder – Falamos com os meninos sempre que podemos, não é tão fácil como vocês puderam ver pela mensagem, mas fazemos um esforço – null suspirou. Ela sentia falta de falar com null.
- Tem mais uma mensagem, não tem? – perguntei.
- Que vocês não vão ler porque isso é uma tremenda falta de educação – Bells falou e as meninas fizeram aquele famoso “bico” quando está manhosa.
- BELLLLSSS!
- null, a mensagem é sua.
- Podem ler, eu de verdade não me importo – sorri. Nem eu sei o que estava acontecendo comigo.
“Quando voltar, vai pra minha casa. Parece que nossas agendas bateram e eu vou voltar quase junto com você. Conversamos por lá. Me deixe orgulhoso. – null x”
- Je vais mourir!
- Laissez-moi mourir en paix, s'il vous plaît.
- Où me trouver un null null?
- Pensez-vous retourner à Londres et null attendre?
- Emmenez-moi!
- Je ne peux pas m'arrêter de pleurer tellement d'amour pour toi.
Uma explosão de comentários em francês e eu perdida no meio dando risada. Sam, Lucas e Aidan traduziam, as meninas falavam que queriam um null, que iam morrer de amor, essas coisas de fãs. Senti que minha parte com elas estava paga, e olha que elas nem falaram diretamente com ele. Teria que dar um jeito nisso mais tarde.
- Bom, vamos pras fotos? – Aidan falou, pegando a câmera e tirando uma de Clair, que sorria e chorava ao mesmo tempo.
- Aidaaaaan!
- Ficou linda, princesse – ele sorriu.
- Merci.
- null, pode colocar a música? – Bells me perguntou.
- Ah, claro – eu sorri pegando minha câmera também. Hora do show.
Hey, girl I'm waiting on you
I'm waiting on you
C'mon and let me sneak you out
And have a celebration, a celebration
The music up the windows down
As meninas fizeram uma fila, como se fossem desfilar em uma passarela. Assim que a música começou, de um jeito cru porque não estava finalizada, elas tremeram e controlaram a emoção. A primeira foi Clair, que pelo que percebi, gostava de se exibir do jeitinho dela. Aidan pediu para fotografá-la, já que ele tinha mais intimidade com ela. Ficamos do lado esquerdo da “passarela imaginária” enquanto Clair desfilava como uma gatinha e Aidan pegava seus melhores ângulos. Bells, pelo que eu podia perceber, não ia participar de nada. Ficou ali na espreita, vendo a irmã e controlando-se para não chorar, mas eu pude ver as lágrimas caindo. Sem ela perceber, bati uma foto sua de um momento vulnerável, que por sinal, ficou linda.
Yeah, we'll be doing what we do
Just pretending that we're cool
And we know it too
Yeah, we'll keep doing what we do
Just pretending that we're cool, so tonight
O próximo foi Sam, que fotografou duas meninas ao mesmo tempo. Angelique e Danielle, mas Clair ainda não tinha saído da passarela por completo e ficou ali fazendo uma graça de forma adorável.
- Sorriam – ele disse, e elas deram o melhor sorriso da vida delas.
Eu nunca tinha parado pra ver Sam em ação, ele ficava “machinho” como fotógrafo, e ainda mais com os seus lindos olhos azuis mirando as meninas, era bem capaz de ele sair dali com menininhas aos seus pés. Eu ficaria... Na verdade, eu fiquei, né? Até saber que ele era gay.
Let's go crazy crazy crazy till we see the sun
I know we only met but let's pretend it's love
And never never never stop for anyone
Tonight let's get some
And live while we're young
Oh oh oh oh oh oh oh
Oh oh oh oh oh oh oh
And live while we're young
Oh oh oh oh oh oh oh
Tonight let's get some
And live while we're young
Marié foi a próxima, que foi fotografada por null e Lucas. Eu sabia que Lucas gostava de trabalhar em duplas, e dessa vez quis fazer par com null. Cada um pegava ângulos diferentes, e Lucas tinha a característica de fotografar em preto e branco. Marié usava uma peruca rosa pink de deixar todo mundo cego, então nas fotos P&B o cabelo saía brilhando, e eu não faço ideia de como o Lucas fazia isso. Era flash? Cara, ele era bom!
Sem falar na null que brincava e conversava com Marié o tempo inteiro, a deixando a vontade durante os shoots. Posa pra cá, posa pra lá, faz coração, biquinho, sorria, séria, roda, vira, frente, trás. Como eu nunca tinha visto o trabalho deles, eu estava aprendendo demais, novas posições e novos jeitos de trabalhar com modelos. Me lembrei do que Olivia havia me falado... Ainda tinha muito o que aprender.
Hey, girl it's now or never, it's now or never
Don't over a thing, just let it go
And if we get together, yeah get together
Don't let the pictures leave the phone oh oh oh
Yeah, we'll keep doing what we do
Just pretending that we're cool, so tonight
Eu era a próxima, com Hellen. Senti que Aidan me encarou, desde o momento em que peguei a câmera até quando me dirigi até Hellen. Era como se ele quisesse saber por que eu tinha sido escolhida, como se quisesse ver o que eu tinha de especial. Não me senti pressionada nem nada, depois de passar esse tempo com as meninas eu me sentia uma outra pessoa, como se aquela null tivesse ficado pra trás.
Hellen era divina na passarela, jogava os cabelos da peruca de um lado pro outro e tinha uma grande expressão facial, era muito fácil fotografá-la, ela mandava em cada shoot, como se fosse algo natural. Em três cliques diretos, consegui uma foto que era digna de estar na exposição. E tudo isso em menos de dois minutos, não sei como isso era possível. Gostei do que vi, e parece que não fui a única.
Let's go crazy crazy crazy till we see the sun
I know we only met but let's pretend it's love
And never never never stop for anyone
Tonight let's get some
And live while we're young
Oh oh oh oh oh oh oh
And live while we're young
Oh oh oh oh oh oh oh
Tonight let's get some
And live while we're young
- Essa música foi feita pra nós – Clair falou, tirando a peruca amarela e colocando em cima da cama – Live while we’re young, é o que nos resta.
- Clair...
- Tá tudo bem, null – eu ia fazer algum comentário, mas não fiz – Obrigada.
- Nós não fizemos nada, foi tudo coreografado por vocês – Lucas respondeu – Foi um enorme prazer conhecê-las.
- Gente, um minuto... – Danielle saiu correndo na direção do banheiro.
Ouvimos uns barulhos estranhos, os enfermeiros ficaram atentos, mas não demorou pra ela sair dali limpando os lábios e um pouco sem graça.
- Quimio – ela deu de ombros – Uma bosta.
- Você tem isso sempre? – Lucas perguntou.
- Todas temos – Dani suspirou – É um vômito totalmente involuntário.
- Eu nuuuuuuunca teria bulimia, vomitar é um PORRE! – Clair disse. null me encarou discretamente nessa hora.
Eu induzindo meu vômito e essas meninas passando por isso. Mais uma lição de moral.
- Com licença – uma enfermeira chegou até nós – Me desculpem, mas as meninas precisam descansar.
- Já sei, Irene – Angelique sorriu – Radio para duas e quimio para três.
- Exato – Irene, a enfermeira, concordou – Dez minutos?
- Sim, sim.
- Eu adorei conhecer vocês – falei – Obrigada.
- Você nos agradecendo? – Hellen riu – De maneira alguma, nós é que temos que agradecer, a todos vocês.
- Foram os melhores momentos da minha vida!
- To doida pra ver as fotos.
- Em uma semana ficam prontas – Aidan falou, fechando o zíper das nossas sacolas e sorrindo para elas – Enviamos por e-mail.
- Aidan, meu lindo – Clair sorriu – Sabe, às vezes nós não temos uma semana.
- CLAIR! – Bellatrix gritou – Para com isso, garota.
- Mas é verdade – ela deu de ombros.
- Três dias, pode ser? – Aidan riu – Por você, Clair.
- Merciiiiiiiiiiiiiiiiiiii – ela afinou a voz e deu um beijo estalado em seu rosto.
Saímos primeiro do quarto, após nos despedirmos de cada menina. Bellatrix e Aidan ainda ficaram por lá, nós entendemos isso.
Foi um alívio tirar a máscara e poder respirar com mais facilidade, aquilo estava me matando. E esse foi o comentário mais BABACA que eu já fiz, “uma máscara me matando”, pelo amor de Deus, null! Depois de passar um pouco mais de uma hora com essas meninas, percebi o quão PEQUENO nós somos e como coisas simples podem fazer uma grande diferença na nossa vida.
Cada uma carregava uma história diferente, uma dor, uma paixão. Conversamos muito sobre isso, absorvi praticamente tudo. E me dava certo desespero em saber que elas tinham pouco tempo de vida, apesar do sorriso delas, eu sei que ali no fundo havia a tristeza em saber que, em poucos meses, elas podiam dormir e nunca mais acordar. Elas nem podia do hospital... Era como viver em uma prisão. E mesmo assim, essas cinco meninas ainda achavam motivos para sorrir.
- Vai ligar pro null?
- Vou esperar chegar no hotel – respondi a Sam.
- Preciso de um banho, tipo, URGENTE! – Lucas falou, sacudindo a própria roupa e a cheirando – Nada contra, mas... Hospitais fedem.
- Babaca – null riu – Escuta, vai parecer estranho se eu admitir em voz alta que eu to morrendo de saudade do null?
- Vai parecer óbvio, eu diria – Lucas respondeu – To me perguntando por que você ainda não falou com ele.
- Lorelaaaaaaaai... – cantarolei e null me olhou feio, eu ri.
- Depois que conheci essas meninas eu não me imagino perdendo meu tempo guardando um rancor tão pequeno. Meu amor por ele é maior que tudo isso.
- Ai gente, vou chorar.
- null null, você tá bem?
- Aproveitem meu momento ternura e me abracem, eu to precisando de um abraço.
- null?
- ABRAÇO!
Nós rimos e agarramos null ali mesmo no corredor do hospital. Ninguém estava entendendo nada e nós claramente ouvimos uns comentários em francês que fizemos questão de ignorar. Essa visita só nos fez bem, vamos sair daqui outras pessoas.
Antes de partir, peguei minha câmera e dei uma olhada nos shoots que havia tirado. Não tinha apenas da Hellen, mas das outras meninas também; tão cheias de vida, sorriso, alegria. Senti uma dor em meu estômago e me permiti chorar baixinho. Era assim que eu ia me lembrar desses cinco anjos. Alegres, e vivas.
Capítulo 33
O cachecol que null havia me dado no nosso primeiro encontro perto do London Eye pousava delicadamente em cima da minha cama. Eu tinha colocado todo o meu “não tão grande” guarda roupa em cima da cama, a única certeza que eu tinha era que hoje eu iria usar o seu cachecol. Estávamos nos aproximando de novembro, e o tempo começava a mudar, não que aqui fizesse muito calor – passei pelo verão europeu um pouco de boa, pra quem mora no Brasil, um calor de quarenta graus não é assim TÃO ruim – mas quando aqui caprichava no frio, era bem frio. Abri a minha janela de leve e vi as folhas balançando de forma violenta lá fora, o que significava que estava congelando. Não era só o tempo, era o vento.
Desde que voltamos de Paris, as coisas estão mais “maduras” entre todos nós. null e null ainda não voltaram, mas sei que estão caminhando pra isso. Contamos para eles tudo o que aconteceu e tudo o que aprendemos, e acho que nem eles nunca passaram por uma situação parecida com essa. null chorou por um bom tempo com os desenhos de Clair, e como era de se esperar, ele pensou desesperadamente em ir até a França conhecer essa menina; mas com uma agenda lotada e apertada como a deles era quase que impossível. Eles iam ter agora pouco tempo de folga, no meio de novembro já iam sair pelo Reino Unido, Estados Unidos e uma visita de leve no México para divulgação do novo CD. Não sei agora quando teria um tempo livre com null.
Hoje fazia três dias que nós tínhamos voltado, e mesclando o horário de leve, os meninos conseguiram uma folga, começando a partir de hoje até sexta feira – dois dias a mais. Lorelai e null iam sair pra algum lugar que eu não sei, null havia chamado null para assistir um filme em sua casa, mas ela disse que só iria com a presença dos outros meninos, então null e null tiveram que ir também. Em contrapartida, null me chamou para um programa super londrino: tomar um famoso chá da tarde, e depois passaríamos o resto do dia nesse lugar. Ah claro, não era simplesmente “um lugar”, era O RITZ! Acho que agora dá pra entender o meu questionamento com minhas roupas, porque eu não tenho nada de bom, e acho que o cachecol do null é mais caro que metade do que eu tenho aqui.
Peguei duas ou três peças de roupa que eu até achava que fossem boas o bastante para o Ritz quando ouvi três pancadas em minha porta. Não era null porque ela já estava na casa dos meninos, e não podia ser nenhum deles já que eles estavam com a null. Só me restou uma pessoa.
- null null – abri a porta sorrindo quando dei de cara com null dentro de um paletó, cabelos arrumados e sorriso apaixonante – Uau!
- É o Ritz – ele deu de ombros e começou a rir – Babe, eu sei que você não curte muito essas coisas, mas eu espero que você não vá com essa roupa – ela apontou para o meu camisetão do Bob Esponja, fiz careta.
- Claro que não, o problema é que eu não sei o que vestir – abri a porta dando espaço pra ele entrar – E nem me olha com essa cara de ‘você tem um monte de roupa, null’, porque você sabe que é mentira.
- Mas você tem um monte de roupa – ele riu – Quer ajuda?
- Você já foi ao Ritz alguma vez?
- Algumas – ele suspirou, tirando o paletó e colocando em cima da minha poltrona. Meu Deus, ele parecia um príncipe – Não é tão fresco como todo mundo pinta, na verdade só não pode chegar lá de calça jeans.
- Vestidos são aceitáveis? – perguntei, pegando uns dois que estavam em cima da cama.
- Aham – ele deu uma olhada no relógio.
- Tá, eu sei! Pontualidade britânica – eu ri – Que horas está marcado?
- null, chá da tarde em Londres...
- Cinco horas?
- Exato.
- E agora são...?
- Três e meia.
- Puta merda!
Ele gargalhou e começou a mexer nas minhas coisas. Entrei no banheiro e coloquei o primeiro vestido – eu já havia tomado banho, o que era meio caminho andado. O primeiro vestido era formal demais e não era exatamente o que eu estava procurando. Tirei-o e passei pra próxima peça, que eu achava ser um vestido, mas era na verdade uma saia e uma blusinha. A saia era um palmo abaixo do joelho, branca com bordados florais em preto e relevo apenas na barra, cintura alta e um pouco esvoaçante, mas nada em exagero. A blusa era preta com manga “três quartos” e ficava melhor quando colocada pra dentro da saia. Nos pés uma sapatilha preta que parecia aqueles sapatos de bailarina, a correntinha de bússola caindo delicadamente sobre a blusa, e os cabelos soltos e levemente ondulados – já que depois que eu tinha feito uma escova, os prendi em um coque. Base, pó, blush, rímel, gloss e pronto... Será que iam me deixar no Ritz assim? Depois que coloquei a roupa lembrei... TÁ FRIO! Ah, bosta.
- null? – abri a porta do banheiro e o vi no meu computador. Assim que ele me viu, fechou-o e sorriu, daquele jeitinho que eu to me acostumando a ver sem ficar completamente sem graça – Tá bom?
- Tá ótimo – ele se levantou, pegando o seu cachecol – Isso vai também?
- Não sei se com essa roupa vai combinar, mas eu queria ir com ele – sorri.
- Vem cá – fui até ele. null colocou o cachecol ao redor do meu pescoço e me deu um selinho rápido, lambendo sua boca depois porque ela estava com um pouco de gloss – Achei que ficou bom.
- Sério? – passei a mão pelo cachecol – Então vou com ele.
- Vamos – ele me puxou pela mão e saímos do apartamento.
null deixou o seu carro com o motorista do Ritz e, desde o momento em que descemos até a porta, vários fotógrafos vieram até nós e tiraram fotos de cada passo nosso. Caminhávamos de mãos dadas e null era só sorrisos para todos, ele estava de bom humor e eu achava tudo uma gracinha. Uns três chegaram perto demais de mim, e null me abraçou pelo ombro, me protegendo de vai saber o que podia acontecer. Eu ainda não me acostumava com esse tipo de atenção, e como eu sempre gosto de enfatizar, gosto de ficar atrás das câmeras e não na frente delas.
Quando entramos, dois garçons vieram até nós e nos cumprimentaram com toda educação londrina que podiam. Vê-los chamando de ‘Sr. null’ era a coisa mais engraçada, porque eu começava a imaginar null com uns quarenta anos. Ele estava muito bonito com todo aquele ar inglês, paletó e gravata e muito perfume; não estava acostumada a vê-lo assim, e acho que meu psicológico não estava totalmente preparado. Cada dia com ele era uma surpresa, porque eu descobria novas formas de me apaixonar e de amá-lo cada vez mais.
Fomos acompanhados até uma das mesas centrais. Ritz lembrava o salão de jantar da primeira classe do Titanic, e na verdade faz todo o sentido já que grande parte da burguesia britânica estava a bordo. Talheres de prata – vários talheres – pratos detalhados em dourado, estátuas lustres enormes que ficavam acima das mesas e um tilintar gostoso e delicado de xícaras e pires. Não nos encararam quando entramos, então eu fiquei um pouco mais a vontade, ia ser meio complicado se eu visse vários pares de olhos olhando o que eu estava vestindo ou me julgando como se eu devesse mesmo estar lá. Uma mesa tinha lugar para seis pessoas, mas null havia feito uma reserva especial e a nossa tinha duas cadeiras – e tinha nosso nome em cima “Reservado para null null e null null”, eu quis até tirar uma foto disso, mas me controlei. Ele, como um bom cavalheiro, puxou a cadeira pra eu sentar e selou meus lábios de forma delicada; eu estava me sentindo como uma princesa.
- Babe? – o chamei quando abri o cardápio – Sério, dezessete tipos de chá?
- Eu te ajudo com alguns – ele riu – Por exemplo, alguns você de verdade precisa experimentar, agora outros eu peço, por favor, ignore a presença deles no menu.
- Ok – eu ri.
O menu era lindo, escrito em azul marinho e dourado. Eu podia passar horas ali, só apreciando cada palavra e cada detalhe, mas eu infelizmente estava com fome e curiosa pra provar todos os quitutes. E como isso funcionava?
- null?
- Oi, amor – ele baixou o cardápio e me olhou – Já sabe o que pedir?
- Na verdade, não, eu nem sei como funciona isso aqui.
- Bom, eu fiz a reserva como sendo o Champagne Afternoon Tea, então a qualquer momento alguém vai aparecer com uma taça para cada um e trazendo em outra bandeja os tipos de chá. Você escolhe qual quer, e eles te servem. Então depois vêm alguns garçons com as bailarinas, sabe?
- Bailarinas?
- Bandejas de três andares – ele riu – Cada andar tem uma comida diferente, salgado ou doce. Pode comer a vontade, já que está tudo incluído na reserva.
- Uau. E que mal lhe pergunte, quanto custou a reserva?
- Nada que eu não possa pagar – ele riu de forma pretensiosa, tive que me controlar pra não gargalhar ali mesmo.
- Bom, eu sei que isso está sendo fantástico e que é algo que eu nunca pensei que fosse passar na minha estadia em Londres, mas tem algum motivo especial pra você ter me trazido pra cá?
- Primeiro – ele estendeu sua mão segurando a minha – Te senti muito estranha no tempo em que você ficou em Paris, queria fazer algo especial. Tá melhor agora?
- Estou sim – sorri – Te falei que depois da bronca da Olivia e da fotografia com as meninas eu pensei muito sobre como eu tenho me comportado e meus problemas. Isso tudo foi um wake up call, demorou, mas eu acho que acordei pra realidade.
- E eu estou nessa realidade?
- Sempre.
- O Aidan não está nessa realidade, não é?
- Ai null, por favor – eu ri – Eu nem falo mais com ele desde que voltei, ele é um puta dum fotógrafo, só queria deixar isso bem claro.
- Hm, e quantos anos ele tem mesmo?
- Suficientes pra te dar um chute no traseiro se continuar com essas perguntas – dei um beliscão de leve na sua mão e ele sorriu – Mudando de assunto.
- Tá, tá – ele respirou – Eu preciso conversar três coisas com você.
- Ai...
- Que foi?
- Quando as pessoas falam que precisam conversar comigo eu geralmente falo ‘ai’ porque fico tensa.
- Calma, não é nada demais, se bem que tem uma que você vai ficar meio ressabiada.
- Desembucha, null.
- Bom – ele tossiu – A primeira é que finalmente nosso CD está pronto.
- Sééérioooooo? – ele sorria de forma tão orgulhosa de si mesmo e dos meninos que foi impossível eu não sorrir junto – Cadê, cadê?
- Tá aqui – ele abriu o paletó e me entregou – É só um protótipo de foto, ainda não tiramos as internas... E nesse aspecto eu chego no segundo ponto que é dividido em duas partes.
- Vocês estão tão inglesinhos nessa capa – eu ri vendo eles arrumados e pomposos em uma cabine telefônica – Nossa, tem Little Things aqui.
- Lembrou o nome da música?
- Claro – sorri – Hm, e Live While We’re Young, Kiss you é aquela bêbada?
- Bêbada?
- Você e os meninos estavam bêbados quando eu liguei lá de Paris, lembra? Aí vocês estavam cantando uma música que depois eu fui saber que era Kiss You, pelo menos eu acho que sim.
- Ah tá! – ele fez careta e começou a rir – Lembro desse dia, é essa mesma.
- Legal – sorri – Esse CD fica pra mim?
- Claro – ele sorriu – Bom, junto com o CD vem outra coisa, que na verdade são duas em uma.
- Eita.
- Nós queríamos que você desse umas ideias pras fotos do encarte – ele mordeu os lábios e fez careta – Tipo, sendo nossa fotógrafa.
- HEIN? – falei meio alto e algumas senhoras inglesas me olharam estranho. Pedi desculpas e voltei minha atenção novamente pra null – Como assim?
- Bom – ele estralou os dedos – Eu estava olhando uns encartes do McFly e descobri que o Danny já namorou a Olivia.
- Uau, novidade!
- Pra mim foi, não sou fã deles – ele fez cara de deboche – O negócio é o seguinte. A Olivia tirou as fotos de dois CD’s, não foi?
- Sim, sim.
- E foi assim que o Danny a conheceu, certo?
- Aham.
- Então, já que você é tão fã da Olivia, por que não tira as fotos do nosso CD?
- Porque eu ainda sou uma fotógrafa em formação.
- Que teve suas fotos publicadas em uma edição da SugarScape.
- Aquilo foi sorte.
- Talento!
- Que seja – bufei – null, não.
- Dá pra pensar um pouco no assunto? Você mesma disse que queria um dia nos fotografar, como banda.
- Em show, como aconteceu com o McFly. E pra isso eu ia precisar de aulas especiais tanto com a Olivia como umas dicas com o Leishman.
- E você é aluna da Olivia e amiga do Leishman, não vejo nenhum empecilho.
- null...
- null, é mais uma experiência pro seu currículo.
- Ah claro, e vão falar o que? Que eu consegui esse trabalho porque sou sua namorada, é isso?
- Não! O null entregou um dos seus portfólios para o Simon que ficou bem interessado no seu trabalho.
- SIMON?
- Aham – ele riu – Pra que surpresa? O Simon te conhece, não pessoalmente, mas conhece.
- Caraca – eu sorri de forma involuntária – E o que ele achou?
- Gostou bastante, tanto que te quis como fotógrafa. E na verdade ele nem te viu como minha namorada, mas sim como um talento. Ser minha namorada foi só um bônus na conversa – null riu meio sapeca – E hey, nem partiu de mim, foi o null quem entregou.
- null! – eu ri – E como funcionaria isso?
- Você ia ser contratada nossa, ia receber um pagamento por isso e futuras indicações no seu trabalho. Pelo que eu vi no seu currículo...
- Você viu meu currículo?
- Claro, precisava mostrar alguma coisa pro Simon – null fez uma cara meio óbvia. Quanto tempo eu fiquei fora mesmo? – Enfim, você vai assinar um contrato com o logo da banda, não sei quantos dias que são. Na verdade você vai analisar quantos dias acha necessário porque, sei lá onde vamos fazer as fotos.
- Ah, tá – sorri – Que mais?
- Pra cada dia de trabalho eu acho que são cem euros que eles pagam, mais vale refeição e vale transporte.
- Meu Deus! – é muita grana.
- Parte de você fazer uma lista com os equipamentos que vai precisar e, caso seja necessário, contratar uma outra pessoa.
- null.
- Nhé... Não sei se seria uma boa ideia. Ela e o null ainda andam meio estranhos.
- A null sabe ser profissional, e é uma ótima fotógrafa – falei meio séria – E ela é minha melhor amiga e conhece como eu trabalho, não vejo melhor pessoa pra me ajudar.
- Ok então – ele disse – E então você topa?
- Preciso falar com a null primeiro, mas com todos esse benefícios e sabendo que não estou sendo contratada por ser sua namorada, não vejo por que negar.
- Isso! – ele comemorou – E agora vem a outra parte.
- A terceira?
- A segunda parte da segunda.
- Vixi.
- Nos chamaram para uma sessão de fotos na Vogue.
- VOGUE? – de novo um berro, preciso parar com isso.
Antes de null continuar, um garçom apareceu ao nosso lado com duas taças de champagne e ao lado mesa prata de rodinhas contendo uns dez tipos de chá. O cheiro quentinho era delicioso, mas a essa altura do campeonato eu nem sabia o que ia pedir.
- Senhorita, seu champagne – ele colocou a taça na minha frente, agradeci e vi null rindo com minha formalidade – Como gostaria do seu chá?
- Co-como? – olhei pra null pedindo ajuda – Meu chá?
- Água ou leite – ele me informou.
- Ah, sim. Hm... Leite? – pedi meio perguntando, null fez ‘joinha’ com a mão indicando que havia feito uma boa escolha.
- E qual o tipo de chá? – novamente o garçom educado com aquele sotaque inglês super carregado. Eu me acostumei ao sotaque dos meninos e das pessoas da escola, não dessas coisas mais elegantes. Devia ter assistido mais filmes ingleses.
- É...
- Maracujá com hortelã e cidra – null falou por mim – Pode servir nas duas xícaras, por favor.
- Como quiserem.
A xícara era baixa e pequena, porém parecia funda por ser larga. Ele primeiro despejou uma quantidade boa de leite ao fundo, parecia que tinham colocado algodão de tão perfeito e branquinho que ficou. Fez o mesmo com na xícara de null e, depois, veio com o bule quente e prata com o desenho da Rainha do lado e colocou o chá laranja e fumegante primeiro para mim e depois pra null. Estendeu uma das colheres de prata para mim e pediu para eu mexer e depois provar, para ver se precisaria de mais açúcar ou não. Falando sério, ERA MUITA FRESCURA!
- Desculpa perguntar – falei depois de experimentar meu chá e constatar que estava delicioso – Mas por que o leite? Eu sei que tem as duas opções, água ou leite, mas é que é costume tomar com leite, estou certa?
- Sim, está – o garçom sorriu – A senhorita não é britânica, não é?
- Brasileira.
- Claro, claro – ele riu – Nos tempos da Rainha Vitória, era costumeiro tomar chá com leite porque o leite, além de quebrar a citricidade dos chás de outrora, também protegia a porcelana do líquido quente... – socorro, que termos são esses?
Ele falou e explicou por uns cinco minutos. null bebericava o chá e ria pra mim, chutando minha perna por debaixo da mesa; ai, éramos tão maduros.
- Mais alguma dúvida?
- Não, muito obrigada pela explicação tão cheia de detalhes – respondi, me forçando para não começar a rir ali mesmo – Se me permite perguntar, qual seu nome?
- Smith – claro, tinha outro nome pra ser? – Precisam de mais alguma coisa?
- As bailarinas com a comida demoram pra chegar? – null perguntou.
- Vou providenciar imediatamente.
- Obrigada – e assim, “Smith” saiu. Não me importei, caí na gargalhada ali mesmo.
- Nunca, nunca mais você vai me trazer pra cá, estamos combinados?
- Você tinha que conhecer o famoso chá da tarde inglês! Estou te fazendo um favor.
- Me chamasse pra sua casa e se vestisse de garçom, null.
- Uau, fantasia?
- Não imbecil, informalidade – eu ri.
- Com as coisas que eu tenho pra te falar, eu precisava te trazer em um lugar onde você não gritasse, coisa que pelo visto não tá dando certo.
- Gritei uma vez!
- Três – ele riu e terminou de tomar o chá. Nem tinha tocado no meu – Posso continuar falando?
- Vai, fala – dispensei o chá, eu precisava de champagne.
- Vogue – ele riu – Vamos fazer um edital na Vogue.
- Bacana – virei quase a taça de champagne toda de uma vez – Querem que eu fotografe também?
- Não, amorzinho – ele disse usando termos no diminutivo, legal – Nós, quando eu digo, não sou eu e os meninos. Sou eu e – ele tossiu – Você.
Dei graças a Deus que já tinha terminado de tomar o champagne, caso contrário eu ia babar e colocar tudo pra fora ali mesmo. Acabei tossindo e tendo que virar o rosto pra não passar tanta vergonha assim na frente do null. Meu estômago embrulhou e eu fiquei com a visão turva e não era por culpa do álcool. Me virei pra ele e o encontrei sorrindo como se não tivesse falado nada demais. Filho da puta! Filho da puta!
- Você recusou, é ÓBVIO! – eu disse, limpando a boca e pedindo mais champagne ao garçom – Porque você me conhece e sabe que eu nunca faria um photoshoot...
- E entrevista.
- QUÊ?
- O tom, olha o tom.
- null, tá doido? Chapado?
- null, quer se acalmar? Pensei que te trazendo ao Ritz eu ia ficar meio livre dos seus ataques – ele riu e tomou um pouco de champagne – Qual o problema?
- Preciso de ar, preciso de ar. VOGUE?
- Teen Vogue, esqueci-me de falar o Teen na frente.
- Bela diferença.
- Hey, Demi Lovato e Joe Jonas já fotografaram juntos pra Teen Vogue.
- Os dois são do show business, e eram namorados na época.
- Hello? – ele apontou pra nós dois – E eu e você somos o que?
- Namorados – respondi – Você famoso, eu não.
- E lá vamos nós com essa conversa chata de novo!
- Ei, não é chata – suspirei – Olha, eu sei que você pode estar querendo fazer isso pra, sei lá, me ajudar, mas eu não gosto! O fato de eu ser sua namorada não muda o fato que eu odeio me aparecer, odeio. Talvez esse seja o motivo de eu ter escolhido uma profissão onde eu fico atrás, no making off.
- E mesmo você não aparecendo, você é motivo de fofoca por todo o fandom da minha banda, será que você não gostaria de mostrar a verdadeira null pra elas? Como podem falar de alguém que não conhecem? E nem adianta me olhar desse jeito ‘eu não me importo’, porque eu sei que você se importa.
- Nunca disse que não me importava – bufei.
- É uma entrevista e algumas fotos. Quero mostrar pra todo mundo que escolhi a menina certa pra mim e que você é linda, absurdamente linda.
- Pra que provar isso? Você saber já não é bom o bastante?
- Nem você admite isso pra si mesma, null – ele parecia cansado – Olha, só pensa no assunto, ok?
- Ok – por dentro eu gritava pra mim mesma que não ia pensar em nada, tinha minha ideia bem formada. Eu não ia e ponto final.
As bailarinas com os quitutes chegaram bem rápido conforme o previsto, e pra minha surpresa, nem null queria comer. Não sei o que ele tinha na cabeça quando pensou que eu ia aceitar essa entrevista pra Teen Vogue, será que ele não me conhece bem? Lembro-se de uma entrevista que a Dani Jonas disse a respeito do seu casamento com Kevin; algo do tipo ‘o fato de ele ser famoso não implica em eu ser famosa com ele’, o que eu acho que todos esses artistas que namoram ‘pessoas comuns’ deveriam aceitar. Não é drama, é só, sei lá o que. Nem eu consigo colocar em palavras o que eu to sentindo agora, eu não quero e pronto.
Terminamos de comer em silêncio, saímos do Ritz em silêncio até chegarmos à porta. Quinze meninas estavam ali e os seguranças tentavam controlá-las, e não estavam sendo felizes com isso. As meninas gritavam, choravam e tremiam – tava frio pra caramba – e mesmo assim não saiam de lá por nada. Não me assustei, já estava me acostumando com isso. Junto com elas, alguns fotógrafos e jornalistas também estavam ali. Percebi null ficar tenso ao meu lado e colocar as duas mãos nos bolsos do paletó... Sério que agora ele vai sair sem me dar as mãos? Na frente delas e desse povo todo? Tudo o que eu queria, tudo!
- Vai falar com elas? – perguntei apertando o cachecol dele ao redor do meu pescoço enquanto esperávamos o carro – Elas estão aqui vai saber a quanto tempo esperando por você.
- Não estou no clima – ele disse entre dentes enquanto sorria e acenava de longe.
- null, vai lá. São poucas.
- Agora as fãs não são um problema?
- Eu nunca disse que elas eram um problema – me senti ofendida – Quer saber, se quiser ficar aqui com essa cara de bosta, o problema é seu – cruzei os braços e engoli a seco. Elas ainda estavam lá, olhando meio perdidas para mim e null; eu estava me segurando para não empurrá-lo logo e acabar com essa gritaria.
- Seu carro está chegando, Sr null.
- Obrigado – ele agradeceu e voltou a encarar o chão – Eu não vou lá sozinho.
- Ok, quer que eu vá junto? – eu não queria ir, nunca gosto muito de me interagir com elas, mas... – Eu posso tirar as fotos.
- Você sabe que elas gostam de você, não sabem? – ele sorriu com os lábios fechados e tirou uma das mãos do bolso – Que elas não são tão ruins assim?
- Eu sei – sorri – Vamos logo – peguei sua mão e lá fomos ao encontro das fãs.
As meninas aumentaram o furor quando chegamos, e os seguranças tiveram mesmo que mostrar serviço. null foi de uma a uma conversando, sorrindo, tirando fotos e dando autógrafos. Eu fiquei de longe com os braços cruzados – juro que era por culpa do frio – só observando. Uma menina pequena e com uns catorze anos acenou pra mim com o celular, percebi que ela estava gravando. Sorri e acenei de volta, fazendo com que ela e sua amiga soltassem gritinhos e começassem a chamar meu nome. Não estava no clima de ir lá, ia parecer antipatia se eu ficasse aqui quietinha?
- null, null! Por favor, vem aqui! – ela me chamava. null se virou pra mim sorrindo e também me chamou – Uma foto, por favor.
- Ai Deus... – cocei a cabeça e fui até as meninas – Oi, tudo bem?
- CARA, VOCÊ É MUITO LINDA! – elas berraram. Mas poxa, eu tava na frente delas, precisava gritar? Eu ri – Posso tirar uma foto com você?
- Tem certeza? – eu fiz careta e vi null se prostrar ao meu lado.
- Quer que eu tire, meninas? – ele perguntou. Falando daquele jeito, quer matar as menininhas, coitadas – Posso ser o fotógrafo hoje.
- AI MEU DEUS, ELE VAI PEGAR NO MEU CELULAR!
- DÁ LOGO PRA ELE, DÁ LOGO PRA ELE!
- Posso pegar? – perguntei pedindo o celular, a menina me entregou tremendo e um pouco chorosa – null?
- Ok – ele pegou o Ipod e, primeiro bateu uma foto de si mesmo fazendo as meninas gritarem ainda mais, depois virou pra nós e bateu nossa foto – Prontinho.
- Deus, Deus do céu, vocês são perfeitos – ela pegou a celular – EU TO HORRÍVEL!
- Não está, não – respondi, sorrindo.
null foi falar com outras fãs e eu me afastei, depois que eu vi que as meninas ficaram muito contentes com esse pouco contato. Quando me virei pra ir falar com null, avisar que o carro tinha chego, vi uma coisinha transparente de plástico vindo na minha direção. Aquilo era uma garrafa?
- ABAIXAAA!!!
Sim, era uma garrafa.
- Você tá bem?
- QUEM FEZ ISSO?
- QUEM JOGOU?
- Machucou?
- null? null! – era a voz de null, a única que eu consegui distinguir – Babe, você tá legal? Te acertou?
- Não, não – estava de boca aberta olhando pra garrafinha de plástico no chão – Não pegou em mim, alguém gritou pra eu abaixar e eu abaixei.
- Sério que tentaram de acertar? – ele me abraçou pelos ombros e olhou pra fãs, procurando alguma que se entregasse – Vamos embora.
- Tá tudo bem, null.
- Não está, não – ele parecia bravo – Tentaram jogar uma garrafa de água em você, pra que?
- FOI ELA, FOI ELA, FOI ELA! – algumas meninas da frente gritavam, apontando pra uma ruiva lá no fundo que parecia bem sem graça – FOI ELA, GENTE!
- Tá conseguindo ver quem foi?
- Eu não quero ver quem foi – o puxei pela manga do paletó – O carro chegou, vamos logo pra casa, por favor.
- Mas, null...
- Por favor! – implorei.
- Ok – ele respirou pesado, me abraçou e foi embora, falando um tchau geral pras meninas que estava ali e, procurando novamente algum culpado.
Passei de cabeça baixa perto dos fotógrafos que me bombardearam de perguntas querendo saber se eu estava bem e se isso era algo que acontecia todo dia. Só enterrei minha cabeça no pescoço como uma tartaruga e fui até o carro, nem esperei null abrir a porta pra mim. E ainda fui pro lado errado, EU NUNCA VOU APRENDER A ENTRAR NO LADO CERTO!
Assim que entramos e null deu a partida, tirei com força o cachecol e o joguei no banco de trás. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo alto e comecei a me abanar como doida, aumentando o ar condicionado. E de novo, repito que estava frio pra caralho. null me olhou de lado sem entender, só foi perceber o que estava acontecendo quando eu, em uma crise de doida, comecei a rir. Mas rir de forma histérica, daquele tipo de risada que você tem em uma roda de amigos quando alguém conta uma coisa tonta e bem engraçada, algo como “homem bonito pra mim, caiu na água e fez ‘TIBUM’ eu to pegando”, uma amiga minha soltou isso um dia. Não consegui parar de rir por uns cinco minutos. Mas é, é isso mesmo que estava acontecendo. Eu, null null, em um ataque de risos.
- null?
- Oi, – falei parando de rir aos poucos e respirando fundo – Ai, ai! Olha como a vida é irônica, null, assim como aquela música Ironic, da Alanis, conhece?
- A-ham...?
- Você me diz “Você sabe que elas gostam de você, não sabem? Que elas não são tão ruins assim?” e PIMBA, eu levo uma quase garrafada na cabeça; a vida é muito doida mesmo.
- Tá achando tudo isso engraçado? – ele parecia bravo, era hora de parar de rir? – Você podia ter se machucado, e feio.
- null, eu vou em show desde que me entendo por gente, sabe quantas garrafas eu já levei na cabeça? VÁRIAS!
- De propósito?
- Claro que sim, eu geralmente subo no ombro dos meus amigos pra ver o show, e tem um Zé Mané que não curte e me taca uma garrafa, mas de boa – dei de ombros.
- Você, oficialmente, não é normal – ele riu, mas foi um riso nervoso.
- Olha – respirei fundo – Não vou falar que super feliz com isso, porque não estou. Isso só provou que tem muita fã pirada por aí que pode fazer qualquer coisa pelo ídolo, e qualquer coisa mesmo. Eu me assustei, óbvio que sim, mas com tanta coisa que já me aprontaram, uma garrafa a mais ou a menos na cabeça não vai fazer tanta diferença, é só mais uma experiência pra contar – eu sorri – E quer saber? Seria uma ótima coisa pra falar na nossa entrevista – eu sorri – Você sabe? Pra Teen Vogue.
- Qu-quê? – null não sabia se olhava pra mim ou pro trânsito – Tá falando sério?
- Estou – sorri e estiquei minha mão a fim de pegar a dele – Se você acha que precisam me conhecer melhor, por que não?
- Nossa, isso... – ele sorriu lindamente – Obrigado, null.
- De nada – peguei sua mão e a beijei – Mas tipo, a entrevista vai ser com nós dois juntos? E eu vou poder dar meus palpites nas fotos?
- Isso eu não sei, mas amanhã eu vou pedir pra alguém ligar lá e nos passar as informações. E sim, você pode dar palpites nas fotos.
- Agora sim – eu ri.
Eu ia perguntar mais alguma coisa, mas meu celular começou a vibrar. Uma, duas... Ok, não era mensagem, era alguém me ligando. Peguei com a maior preguiça, a única pessoa que costumava me ligar era o null, e isso é o primeiro indício que mostra que você está em um relacionamento dependente demais. Enfim, era null.
- null?
- VOCÊ TÁ BEM? TEM VÍDEO E GIF PRA TUDO QUE É LADO DESSE TUMBLR!
- A garrafinha?
- NÃO BRINCA COM COISA SÉRIA.
- Não me acertou, sua desesperada. Alguém mandou eu me abaixar e deu certo, fez só ventinho no meu cabelo – respondi meio rindo, null fez careta.
- null, onde vocês estavam? Como assim? Não tinha segurança não? O Paul não para de ligar pros meninos querendo falar com o null, ele não pode simplesmente sair assim e não dizer onde vai.
- Nós fomos ao Ritz e tinha segurança lá fora, mas quem vai controlar uma garrafinha voadora? Meio impossível, né?
- Cara, se tivesse te acertado...
- ELA TÁ BEM?
- CADÊ A DESGRAÇA QUE ELA CHAMA DE NAMORADO?
- null? null? – perguntei ouvindo claramente a voz dos dois, null me olhou intrigado – Acho que estou no viva-voz.
- Quem tá aí?
- Ao todo null, null e null.
- E null null.
- Ok, e o null – respondi ao ouvir a voz dele – Gente, estamos chegando em casa e conversamos em breve. Tá tudo bem, eu to viva e sem maiores danos.
- Danos seu namorado vai ter quando chegar aqui. O Paul tá querendo arrebentar a cara do null por sair sem falar nada.
- E o que o Paul ia fazer? Dar um mortal no ar e pegar a garrafa? Por favor, né?
- O fato de ele estar lá já é uma proteção, null.
- Ai, tá bom, null – bufei – Até daqui a pouco – e desliguei o telefone.
Ia abrir a boca pra falar alguma coisa pra null, mas novamente meu celular tocou.
- Caraca! – ele comentou rindo – Tem muita gente preocupada com você.
- É – olhei no visor – Agora ferrou, é minha mãe.
- Eita – null riu – Manda beijo.
- Tá, tá – atendi – Mãe? – perguntei em portugês, null fez de novo uma careta porque sabia que não ia entender a conversa.
- Graças a Deus, to tentando ligar no seu celular o dia todo, onde você estava?
- Ehr... Com o null – respondi meio tímida. Era estranho falar dele pra minha mãe.
- Imaginei – ela suspirou – Escuta, encaminhei hoje pra você uma correspondência que chegou aqui em casa, parecia urgente.
- Da bolsa? – fiquei preocupada.
- Não, não. A papelada da bolsa chegou também o que faltava e já encaminhamos direto pra escola, não te falaram nada não?
- Não – dei de ombros – Que correspondência urgente é essa?
- Acho que é de uma escola de fotografia aqui do Brasil – ouvi barulhos de papéis sendo rasgados ou amassados – Miriam alguma coisa.
- Miriam? – vasculhei no meu cérebro esse nome – É professora de alguma escola ou alguém que eu conheço?
- Acho difícil, você nunca trabalhou aqui no Brasil.
- Isso é verdade – mordi os lábios – Você leu o que era essa correspondência ou só me enviou.
- Bom...
- MÃE!
- Eu abri, oras! Você sabe que eu abro suas coisas, ainda mais que você está em outro país, vai que era algo importante.
- E era algo importante?
- Sim, senhora.
- O QUÊ?
- Eu. Não. Lembro. – ela disse bem pausada, sabia que estava mentindo.
- Para de mentir pra mim, mãe. O que foi?
- Quão bem conhecida você é no seu ramo?
- Aqui no Reino Unido? Sei lá, tenho umas fotos em uma revista e no site do McFly, mas não tenho um nome ainda, se é isso o que a senhora quer saber.
- Acho que você andou chamando a atenção por aqui, filha – ela parecia gostar de falar isso.
- O que tinha nessa carta, mãe? – agora eu estava preocupada – Alguma proposta?
- A carta chega em mais ou menos uma semana. Abra-a, leia-a com... Como você fala mesmo? Coração aberto e...
- Coração e mente abertos – bufei – Pelo visto eu não vou gostar da notícia.
- Não tem que gostar – agora ela voltou com seu tom de mamãe – Tenho que desligar, porque a ligação fica cara, tem como entrar no skype mais tarde?
- Tem, sim – suspirei – Mãe, só me responde uma coisa.
- O quê?
- Vai atrapalhar meu futuro?
- Depende do que você interpreta como ‘atrapalhar’ – e sendo assim desligamos.
Fiquei batucando o celular nas mãos pensando nessas palavras. Pesquisei em meu cérebro por esse nome, mas nada aparecia. Até que... Ah não! MIRIAM, MIRIAM REZENDE! Puta que pariu!
Capítulo 34
Cada palavra daquela maldita cara da Miriam Rezende estava bem marcada em minha mente, era meio impossível esquecer as palavras “proposta” e “uma ótima experiência”. Só que eu não queria aceitar essa proposta porque eu já estava em uma ótima experiência. E a aula de hoje com a Olivia não estava ajudando em nada; aprender em doze passos como é lidar com crianças em um estúdio fotográfico era o ápice da minha tortura, já que a Miriam Rezende é conhecida pelo seu ótimo trabalho como fotógrafa infantil. Merda.
- A arte de fotografar crianças é totalmente inspiradora, um desafio gostoso e divertido de brincar enquanto trabalha. Afinal, é impossível não se contagiar com a alegria dessas criaturinhas maravilhosas. Mas também vamos concordar: não é nada fácil fotografar uma criança! E por não ser uma tarefa assim tão fácil, montei uma lista com 12 dicas práticas para fotografar os pequenos. Formulei essas dicas por experiência própria, já que entre tantas áreas da fotografia, fotografar a criançada tem sido uma das minhas preferidas – Olivia parecia animada, que bom pra ela.
Eu não comia direito há três dias, e null já estava me olhando torto. Não era, dessa vez, por minha culpa, mas com tudo isso eu não estava sentindo a mínima fome. Estávamos entrando na terceira semana de novembro, as provas se aproximavam, eu tive que agradecer ao Simon pelo telefone pela chance de fazer o photoshoot dos meninos, porém dizer que não ia poder fazer, já que a escola não me liberou por quatro dias. Tinha a entrevista pra Teen Vogue e a sessão de fotos – coisa que eu não gostava de pensar – ia fotografar os meninos no fim de semana para os outdoors da turnê Take Me Home e divulgação do CD, tinha essa carta e ainda eu precisava lidar com minha mãe em outro continente. Sério, qualquer coisa que eu lesse sobre mim mesma eu não ia dar a mínima essa semana.
- null? null null?
- Mmmmm.... – murmurei, me dei conta que estava de olhos fechados – null?
- Você tá dormindo? – ela meio que ria – Tá que eu também não curto aulas com slides e esse escurinho tá me dando sono, mas você dormindo?
- Qual o problema? – limpei uma pequena babinha que ameaçava descer da minha boca – Eu to cansada.
- Eu percebi que você não está dormindo direito e fala demais enquanto dorme. Tá acontecendo alguma coisa?
- Está! – ia adiantar alguma coisa eu falar “não, não está?” – Mas não quero falar sobre isso, especialmente com você.
- Por que especialmente comigo?
- Você é mais surtada que eu, a última coisa que eu preciso agora é alguém dando piriri mais do que a minha própria pessoa – eu ri. Senti minha barriga roncar. Ai, caceta.
- Comida pra que, não é? – ela parecia brava – Se você está assim, sem comer, por culpa do photoshoot na Vogue, olha...
- Não é por isso, null – se bem que, olhando por esse lado... – Eu só estou com muita coisa na cabeça e não sinto fome.
- Não sei o que é pior – ela se virou, procurando alguma coisa na mochila – Quando você come e coloca pra fora ou quando não come.
- Eu parei com isso, sabia? Fui ao nutricionista, como você e a Dra. Violeta pediram, voltei nela umas três vezes e tô me cuidando.
- Mas está sem comer – ela apareceu com um cupcake dentro de uma caixinha plástica rosa – Pra você.
- Não quero.
- E eu perguntei se você quer? Estou te dando, e é pra comer – ela deu uma olhada rápida no relógio – Quinze minutos e a aula termina, vamos direto pra alguma padaria comprar algo decente pra colocar no seu estômago. Enquanto isso, coma esse cupcake.
- Já disse que não quero, null.
- Deixa de ser teimosa? – ela abriu a caixinha, arrancou um pedaço do cupcake com as mãos e apontou pra minha boca – Vai abrir por bem ou por mal?
- Você vai me enfiar esse pedaço goela abaixo, a força?
- Se for preciso...
- Maluca! Você é maluca! – e nessa minha abertura enquanto eu falava, null enfiou esse pedaço de cupcake na minha boca e a fechou, esperando eu mastigar e engolir. Me senti uma criança de cinco anos.
- Melhor assim – ela lambeu os dedos – Se não quiser que eu faça isso com ele todo, coma por conta própria.
- Puta merda – peguei o cupcake e o fechei de novo na caixinha, ela me olhou brava – Hã? É pra eu comer agora?
- Óbvio.
- Estamos no meio da aula.
- Você estava dormindo cinco minutos atrás – ela sorriu vitoriosa – Come, antes que eu ligue pro null e fale que você não está se cuidando, de novo.
- Saco, saco, que saco! – peguei um pequeno pedaço do cupcake e coloquei na boca. Estava delicioso, e meu estômago agradeceu, mas eu não estava com fome.
- Dica número quatro: Bokeh – Olivia sorriu, ela estava empolgadinha demais hoje. Ou eu que estava mal humorada? - Eu costumo chamar o efeito bokeh de "estrelinhas". Trata-se do efeito que ocorre nas áreas desfocadas da fotografia, produzido por lentes de com grandes aberturas. Escolha lentes claras para fotografar crianças. Além desse tipo de lente tornar a focagem mais fácil (no AF), elas produzem lindos bokehs. Recomendo duas lentes em especial: a de 85mm e a 50mm.
E lá vamos nós discutir a dica cinco, seis, sete... Será que Olivia conhecia Miriam Rezende? Ela podia me dar uma luz a respeito do assunto.
- Dica número nove: Fotografar em preto e branco – ai, Deus! Eu tô começando a ver tudo em preto e branco, Olivia - Apesar de ser uma grande defensora da fotografia colorida para crianças, não posso negar que um belo retrato preto e branco envolve uma expressividade maior. E juntando com os olhos carregados de sentimentos, o preto e branco é uma grande cartada para um retrato de impacto.
- Alguém me explica o motivo pra essa mulher estar tão empolgada hoje? Dormiu com alguém importante?
- Danny Jones que não foi... – falei, rindo com uma piada muito infame. Lambi os dedos, terminando de comer o cupcake e olhei rindo pra null – Acabei, mamãe.
- Começa a brincar com coisa séria... – ela riu – Ótimo, saindo daqui vamos passar em uma padaria.
- O fato de eu ter acabado de comer um cupcake já não está bom?
- Pra mim que não está – ela riu – Olha, acabou! – ela apontou para Olivia, que desligava os slides e falava as suas considerações finais – Pronta pra ir embora? As bichas também acabaram de acordar – ela apontou para Sam e Lucas que limpavam as babas e sorriam com culpa para Olivia.
- Pelo menos eles dormiram – suspirei.
- Hey, te acordei porque te amo e ainda te dei comida – null riu – Vamos?
- Escuta, eu preciso trocar umas duas palavrinhas com a professora antes de irmos, pode me esperar lá embaixo.
- Vai dar uma de espertinha pra não querer ir na padaria?
- Claro que não – me levantei e guardei meus livros e cadernos na mochila – Eu juro que tenho que conversar uma coisa séria com ela, mas é rápido.
- Ok – null suspirou, óbvio não acreditava em mim – Te espero na portaria com o Lucas e o Sam.
- Obrigada – sorri e dei um beijo em seu rosto – E sim, obrigada pelo cupcake.
- Não há de quê.
Esperei todo mundo sair da aula, alguns alunos também foram até Olivia tirar algumas dúvidas, então a espera foi um pouco mais longa do que o previsto. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para null, perguntando a que horas iríamos nos encontrar hoje para falarmos do photoshoot e da entrevista. Eu sentia que essas últimas três semanas de novembro seriam para acabar com qualquer resquício de sanidade que eu ainda possuía. Aproveitando que estava com o celular em mãos, dei uma olhada em minha agenda para os próximos vinte e um dias. Nada agradável, nada fácil.
- Entrevista Teen Vogue com null.
- Sessão de fotos Teen Vogue com null.
- Primeira semana com apresentação dos Seminários (null, Sam e Lucas).
- Fim de semana para os shoots da turnê.
- Pocket show no Hyde Park (eu vou?).
- Início das duas semanas de provas.
- Estudar os atrasos.
- Meninos embarcam para NYC.
- Madison Square Garden (e você estudando).
Isso porque eu não adicionei a carta, minha conversa com null – porque eu vou ter que falar com ele sobre isso – nem com null e nem com minha mãe. E eu tinha me esquecido do pocket no Hyde Park... Meu Deus! Eu nem sei se vai dar pra eu ir nesse show, e eu esqueci que dia vai ser. É sexta ou sábado? Olhei novamente pra agenda e risquei de leve as duas últimas anotações, odiava a sensação deles indo novamente para os Estados Unidos e eu não estando lá. Madison Square Garden, e eu não ia ver absolutamente nada.
- null? – ouvi a voz de Olivia – Está querendo falar comigo?
- Ah, sim – pulei da cadeira – Eu sei que você deve estar querendo ir embora, mas eu juro que não vou demorar.
- Sem problemas, a classe de vocês foi a última de hoje – ela sorriu – Então?
- Bom...
- Ai, não sei como começar isso.
- Pelo começo?! – ela parecia irônica. Sério, quem comeu essa mulher ontem?
- É, boa ideia – eu ri, sarcástica – Eu recebi uma proposta, no Brasil. Minha mãe me ligou avisando que a fotógrafa Miriam Rezende, que eu não sei se você está familiarizada com o trabalho dela, gostou do que eu ando fazendo por aqui e me ofereceu uma oportunidade de trabalhar diretamente com ela.
- Miriam Rezende, infantil?
- Aham.
- Já ouvi falar, não conheço muito o trabalho dela, mas sei que é boa – ela sorriu – E então, o que você está pensando?
- Eu não sei, estou completamente perdida. É uma chance e tanta, mas pra isso eu preciso trancar o curso, voltar pro Brasil, abandonar tudo o que eu já conquistei por aqui...
- E isso inclui um rapaz que está em uma boyband... – ela sorriu – Está pensando no null, não está?
- Também – suspirei – Na verdade, ele é o motivo pra eu estar toda insegura desse jeito.
- É claro que é, e nem precisava me dizer – ela sorriu – Bom, vamos falar primeiro do seu lado profissional – Olivia sentou-se em cima da mesa e me olhou – Suas conquistas esse ano aqui em Londres.
- Na verdade tudo começou com a bolsa – eu sorri – Então veio: a bolsa, aquela primeira sessão com a banda One Direction, eu venci o desafio, então as fotos foram pra SugarScape – respirei, foi aí que tudo começou – As fotos com a Tyra, conhecer o Leishman, as fotos do McFly, as fotos do show do McFly que foram parar no site oficial deles, Paris... Sem falar das fotos em rádios com os meninos.
- Muita coisa pra um tempo tão curto – Olivia parecia orgulhosa.
- É, e eu ouço muita merda por isso.
- Como assim?
- Tem gente que fala que eu sempre ganho tudo, que nada dá errado pra mim e que chega até ser chato querer saber da minha vida.
- Uau, que argumento mais babaca – ela gargalhou – Se você é boa no que faz e as pessoas te admiram e te chamam pra participar de novos trabalhos, isso é um problema? Você estuda, se dedica, é claro que as coisas dão certo pra você. E se dessem errado? Iam te falar que você não é boa o bastante – ela suspirou – Não liga pra isso, a única definição que eu vejo pra isso é inveja e medo dessas pessoas não conseguirem construir uma história tão boa como a sua.
- É, pode ser... – dei de ombros – Mas enfim, foi isso o que eu consegui em menos de trezentos e sessenta e cinco dias.
- O curso tem quinhentos dias, ainda tem muita coisa pra acontecer.
- Eu sei, mas se eu aceitar essa proposta eu não vou curtir o que me resta aqui em Londres – suspirei – Não sei o que fazer.
- Que tal começar conversando com null ou null sobre isso?
- Que tal eu pensar sobre o assunto e falar com eles só depois que eu tiver tomado uma decisão? – perguntei querendo parecer legal, Olivia me olhou sério.
- null, eu acho que eles, acima de qualquer outra pessoa, poderiam te ajudar a tomar uma decisão.
- Minha mãe já está querendo fazer isso por mim – bufei – E eu já sei o que eles vão falar.
- E o que seria?
- Os dois vão me mandar de volta ao Brasil, eu tenho certeza.
- Hm... – ela pareceu surpresa – Você acha isso?
- Acho, ainda mais o null, que tem toda essa coisa de ‘vai fazer o que você ama’ e tal.
- Ele é mais maduro do que eu imaginei.
- Ele é ótimo, Olivia – suspirei – Demais.
- Se ele é ótimo e tudo isso que você está me falando, ele vai entender e vai te dar todo o apoio que precisa. E tenho certeza que você vai tomar a decisão certa, como sempre – ela sorriu – Vai ser uma pena perder você.
- E quem disse que eu vou embora?
- É uma hipótese – ela ria enquanto pegava sua bolsa e seus livros – Tem alguém te esperando na porta.
- Hã? – perdida, olhei onde Olivia apontava. Era Sam, Lucas e, claro, null – Me esqueci deles.
- Vai lá, me deixe atualizada de suas decisões, tudo bem?
- Sim.
- E não se esqueça das provas. Você ainda não terminou o trimestre.
- Eu seeeeeeei... – emburrada, coloquei minha mochila nas costas e fui até meu trio favorito de pessoas comuns na Inglaterra.
Como previsto, null me levou até uma padaria perto da escola e me fez comer pelo menos dois pedaços de pães com muita manteiga e geleia. Não nego que estava gostoso, mas precisava desse exagero todo? E eu me sentia uma criança sendo forçada a comer, porque enquanto eu não engolia, ela e os meninos não paravam de me olhar, o que me fez perder mais ainda o apetite.
Saímos de lá e voltamos direto pro nosso apartamento, onde, para minha total surpresa, meu namorado e o ex de null – também conhecido como null e que, eu sei, não era mais “tão ex”, estavam lá. null dava atenção para algumas meninas e null tirava foto com três fãs ao mesmo tempo. Elas sabiam que nós morávamos lá e que eles iam nos visitar de vez em quando, o que se tornou normal com o passar dos meses. Assim que as meninas nos viram, chamaram a atenção dos dois, que sorriram ao nos ver. Elas terminaram de bater as fotos, pegar autógrafos e foram embora, apenas nos dando um educado “tchau” e depois já olhando para as câmeras, checando se as fotos haviam ficado boas. Eu sabia que ia chegar em null e lhe dar um beijo nos lábios, mas e a garota ao meu lado com o garoto ao lado do meu namorado, iam fazer o que?
- null null – sorri, indo até ele e o beijando – Café?
- Fiquei sabendo que teve gente que não comeu, hoje de manhã – ele sorriu e deu uma piscada pra null – Quer?
- Que eu saiba, eu fui forçada a comer um cupcake e dois pães em uma padaria, como assim “não comi”? – olhei pra null enquanto pegava o café das mãos de null, ela era só sorrisos – Amiga do inferno.
- Nunca prometi que não ia ligar pro seu namorado – ela deu de ombros.
- Enfim... – abracei null e olhei para os outros dois – Sério, pombinhos. Já deu essa coisa de vocês ficarem separados, né?
- Quê? Que foi? – null se fez de perdido – Não fiz nada.
- Esse é o problema – null falou – Não estão fazendo nada.
- Ah, me desculpa se eu fico mais que 48h brigada com meu namorado, diferente de vocês que brigam e se amam quase no mesmo dia – null bufou, mas acho que ela nem se deu conta do que tinha acabado de falar.
- É impressão minha ou você acabou de chamar o null de “namorado”? – null perguntou, eu já estava rindo – E com respeito ao limite de 48h, qual o problema?
- Muda de assunto não, null – eu falei – Vamos nos focar na parte onde a null chama o null de namorado de novo.
- Eu nem lembro de ter falado isso – ela parecia envergonhada.
- Pois eu lembro – null riu – null null...
- Ele vai se declarar, né? Agora?
- Vai – null riu – Cara, vamos lá pra cima, vai chamar muita atenção aqui.
- Você não tá entendendo, null – null ergueu a mão pro amigo, pedindo educadamente que ele parasse de falar – Eu quero chegar ao andar de cima como namorado da null, só depende dela.
- Como assim? – eu e null perguntamos juntas.
- Eu to te pedindo de volta em namoro – null disse. Eu vou chorar – Só depende de você aceitar.
- Ela vai aceitar! – falei e ela me olhou, brava – Ah, claro! Eu posso ser forçada a comer um cupcake, mas não posso te “forçar” a voltar com seu namorado.
- O cupcake te fez bem.
- E o null, não? – cruzei os braços e beberiquei o café, que já estava meio frio.
- Quer parar de dar opinião no meu namoro? – null me pediu – Ou sei lá o que é isso que nós temos agora.
- Quem traiu, cala a boca – eu falei e vi null ficar vermelho. null me abraçou e riu abafado nas minhas costas – null, você vai voltar com o null.
- Não vou, não! – ela parecia ofendida, null, então...
- Vai, sim, porque se eu ouvir mais uma vez Kelly Clarkson, e olha que eu AMO aquela mulher, mas se eu acordar de novo com Never Again, eu acho que jogo seu celular pela janela e nem vou me arrepender disso.
- Quando você e o null brigam e ficam cheios de “mimimi”, eu não fico ameaçando jogar seu celular pela janela cada vez que você ouve Too Close for Comfort.
- Essa é sua música quando brigamos? – null me encarou – Nossa.
- Cala a boca, eu também ouço Moments.
- Ah, Moments! – null suspirou.
- Pelo menos o null aparece no dia seguinte com muffins e café quente me pedindo desculpas, e eu aceito de bom grado.
- BOM GRADO? Eu tenho que te puxar pelos pés pra você atender a porta.
- Sério? – agora null e null davam risada.
Vale falar, de novo, que estamos tendo essa conversa toda na entrada do apartamento, com alunos entrando e saindo. Com FÃS aparecendo, virou um circo.
- E olha – null apontou pro null – Da última vez ela só abriu a porta mais rápido porque ela sabia que a vadia da porta da frente ia aparecer de sutiã e calcinha na porta.
- HEEEEEEEEEEEEEEY!
- To mentindo, null null?
- Não... – abaixei a cabeça. null e null só gargalhavam.
- Calem a boca, vocês! O assunto era a null e o null, como que de repente virou pra mim?
- O assunto sempre sobra pra você, paixão – null me beijou no rosto – Então, você não abre a porta de bom grado?
- Já mandei você pra merda hoje? – bufei.
- Lindiiiiiinha – ele mordeu minha bochecha e gargalhou.
- Vamos voltar ao assunto principal – saí de perto do null e fui até null – Vai, se declara, caralho.
- Oi, educação.
- Não, me chamo null – sorri, sarcástica – Vai logo, senão eu me declaro pra null no seu nome.
- Tá, tá... – ele suspirou, tava até bonitinho todo vermelho – null null.
- Puta que PARIU! – ela suspirou, passando as mãos nos cabelos.
- Eu te amo, eu sempre te amei – null se ajoelhou, ALI na frente de todo mundo.
- Tem gente tirando foto – apontei pra umas seis meninas ali perto – Vamos deixar?
- Deixa, deixa – null riu.
- O que eu fiz foi imperdoável, mas você estava me deixando doido com toda sua crise de ciúme e essa sua loucura de achar que eu tô olhando pra toda menina que passa na minha frente.
- Não é pra toda – ela rolou os olhos – Era só pra Lorelai, e ACHO que, em vista do que aconteceu, eu estou certa.
- Estava! – ele disse – A Lary tá com o null de novo e eu tô aqui sem você.
- Awwwnnn! – eu suspirei, null olhou pra mim e fez careta.
- Por favor, por favor, me aceita de volta.
- Eu tô quase aceitando no seu nome – null falou – Não é todo mundo que se humilha desse jeito, não.
- Eu fui um burro, um idiota e aceitei meu tempo como punição. Mas agora não dá mais! Eu quero você na minha vida de novo, fazendo carinho no meu cabelo até você dormir, porque é sempre você quem dorme primeiro – ele riu, null também sorriu e estava querendo chorar, o nariz dela estava ficando vermelho na pontinha – Me dando uns tapas quando eu preciso, mandando eu ficar quieto. Até acho que parte da sua falta de educação você aprendeu com a null.
- HEY!
- Mas eu não me importo – null continuou. Vou ignorar só porque estou achando tudo muito fofo – Você sempre diz que me amava primeiro porque era nossa fã, mas eu aprendi a amar com você, então acho que estamos juntos nessa – ele sorriu de um jeito tão meigo, tão simples. Até minhas pernas ficaram bambas – Me aceita de volta, por favor.
- ACEITAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA! – ouvimos as meninas que tiravam as fotos gritarem ao fundo, começamos a rir.
- Ai, null... – null fungou e foi até ele – Levanta daí, homem!
- Não, só levanto quando você me responder – ele suspirou – E então?
- null null!
- null null, falar meu nome completo não quer dizer sim ou não!
- Tá bom – ela bufou, mas depois sorriu – É claro que eu te aceito, seu babaca que adora chamar uma atenção desnecessária – ela ria.
null olhou pra nós, depois olhou pra null e se levantou, a pegou no colo e a beijou. Limpei as lágrimas e encostei minha cabeça no ombro de null, que beijou meus cabelos e começou a gritar uns ‘uhuuuul’ e ‘aeeeeee’. Me deu um certo alívio no coração, finalmente tudo tinha voltado ao normal. Enquanto eu via null e null se beijando bem ali na nossa frente, percebi que não ia conseguir ficar longe deles. Em quase um ano conquistei amigos que vou levar pra vida inteira, bônus eles serem da boyband mais foda atualmente, e mais um bônus estrelinha um deles ser meu namorado. Como que eu ia poder jogar tudo isso pro alto por uma promoção no trabalho? Aproveitei que já estava chorando e me permiti chorar por essas duas coisas: a volta de null e null e a carta da Miriam.
Passei a noite com null, ensaiando algumas possíveis perguntas que poderiam me fazer na entrevista da Teen Vogue. Os outros meninos saíram para comemorar que null e null tinham voltado, mas eu e null ficamos em casa. Ele me mostrou algumas entrevistas que ele já havia feito no passado – confesso que nunca presto muita atenção em suas entrevistas, geralmente as perguntas são as mesmas – e o que seria diferente nessa específica, amanhã. Me debrucei em sua cama, vestindo uma de suas camisas, acho que era a que ele usava em I Want – sim, nós transamos, virou rotina e agora era meio difícil passar a noite com ele e não rolar nada – e dei novamente uma olhada nas útlimas revistas. Heat, SugarScape, The Sun, BOP, OK Magazine... Ah!
- Por que os jornalistas sempre perguntam as mesmas coisas? – me virei pra cima, encostando os pés na parede atrás da cama – Se sabem que você tá namorando, pra que perguntar de novo? E sempre perguntam da mesma forma “As fãs querem saber, quem está solteiro na banda?”, ah, chega a ser irritante. As suas meninas sempre sabem quem está solteiro e quem está namorando.
- Você acabou de chamar as fãs de “suas meninas”? – null apareceu de cueca na porta do banheiro – Olha, que evolução.
- Às vezes, null, você duvida da minha capacidade de ser legal – respondi, o vendo de ponta-cabeça, já que eu estava assim. Pé pra cima encostado na parede e o tronco deitado na cama.
- Só é bom ouvir isso – ele sorriu, e eu o vi se aproximar de mim.
- Apesar de quase ter levado...
- Uma garrafada na cabeça! – falamos juntos e começamos a rir.
- Sim, apesar disso, eu gosto muito das suas meninas – sorri – Mas vamos ao que interessa.
- Segundo round? – ele se jogou ao meu lado na cama e começou a beijar meus ombros, puxando de leve sua camisa pra baixo – Já tem uns vinte minutos, null.
- Nã-ão! – puxei de volta a camisa e lhe mostrei a língua – Sério, eu tô bem nervosa com essa entrevista amanhã.
- E, sendo clichê e sacana, eu conheço um jeito ótimo de te ajudar – ele veio se encostando em mim, desabotoando a parte debaixo da camisa e passando os dedos bem de leve na minha barriga. Me contorci de cócegas e com aquele formigamento gostoso que eu já era acostumada – E então?
- null – suspirei – Por mais que a oferta seja tentadora – suspirei de novo, ele estava começando a beijar minha barriga – Eu de verdade preciso de ajuda.
- Sei disso – metade da minha barriga estava aparecendo, e ele a beijava. Peguei a revista em mãos e comecei a me abanar – Mas não tem como eu te ajudar daqui a pouco?
- Daqui a pouco? Vai ser tão rápido assim? – não resisti em fazer uma piadinha. Senti ele gargalhar com os lábios um pouco acima do meu umbigo – null null, quer parar? Eles não vão perguntar qual a frequência que nós dois vamos pra cama!
- É uma possibilidade – ele parou de me beijar e colocou a cabeça em meu tronco, sorrindo com os lábios fechados – Nunca viu Sr. & Sra. Smith? O terapeuta pergunta qual a quantidade de sexo.
- Qual a qualidade, o que é diferente – falei enquanto fazia carinho em seus cabelos e o via abrir e fechar os olhos como um gatinho ronronando – E nós não vamos pra uma terapia, nós vamos a uma entrevista! E mesmo se perguntarem, eu não vou responder.
- Eu vou! – ele sorriu, sapeca, arregalei meus olhos – Estou brincando.
- Não coloco minha mão no fogo por você, null.
- E em outro lugar, você coloca? – ele mexeu as sobrancelhas pra cima e para baixo enquanto ria.
- Por Deus, garoto! Se controla!
- Nega fogo agora, vai! Vou passar um bom tempo em Nova Iorque, quero ver como vai se virar sem mim.
- Masturbação – respondi de forma calma e controlada. Me lembrei de quando o Blaine dá a mesma resposta para Kurt em Glee, comecei a rir igual uma besta.
- O QUÊ? – e agora null estava em cima de mim – null, você anda lendo algum livro pornô ou vendo coisas que eu não estou sabendo?
- Que horror, null! – eu batia em seus ombros, mas ele segurou meus braços acima de minha cabeça – Tá doido, moleque?
- Desde quando você sabe dessas coisas?
- Desde que um carinha aí resolveu me ensinar essas coisas... Não a parte da masturbação, claro, eu digo... Outras... – mordi os lábios – Coisas.
- Odeio quando você morde os lábios e faz essa cara de que não sabe do que eu tô falando – ele riu enquanto se aproximava de mim.
- Por quê? – perguntei. Meu corpo já dava sinais de que null não ia mais poder sair de cima de mim tão cedo – Te deixo bravo?
- Muito... – ele se abaixou até mim e encostou os lábios nos meus – Bravo.
É, segundo round.
Quando Love is Easy, do McFly, começou a tocar ao meu lado, sabia que era hora de acordar. Olhei pro visor do meu celular e constatei que estava muito cedo! Seis horas não é um bom horário, ainda mais em um sábado. Mas as fotos na Vogue começavam às nove, e eu nem sabia onde íamos fotografar e nem que horas ia ser nossa entrevista.
Olhei ao meu lado e vi null dormindo de bruços, com a cara enfiada no travesseiro, nada romântico. Aquela cena fofa de eu ficar vendo ele dormir porque ele “dorme igual um anjo” não existe entre nós dois. null dorme com a cara enfiada ou no colchão, ou no travesseiro, ou no lençol, e RONCA! E eu... durmo de bruços, o máximo que acontece é entrelaçarmos nossos pés a noite, e só. Mas quando ele resolve dormir de barriga pra cima e de ladinho, é fofo, não posso negar. Sabendo que ele não ia acordar tão cedo – embora ele devesse acordar cedo – me levantei e fui ao banheiro fazer o que todo mundo faz de manhã. Como estava na casa de null, não me importei em ir pra cozinha com a camisa dele, era a única coisa que consegui achar no chão, nem me dei ao trabalho de procurar um short. Eu só dei graças a Deus que me lembrei de tampar os países baixos, porque nós não estávamos sozinhos. CLARO que tinha que ter alguém na cozinha, e CLARO que tinha que ser null null. Seis da manhã de uma porra de sábado e esse menino acordado.
- Bom dia, null! – ele falou rindo e com uma voz bem arrastada, enquanto metade do seu rosto sumia atrás da xícara – Bela roupa.
- Que mal lhe pergunte, o que você está fazendo aqui? – cocei os olhos pra ter certeza que não estava alucinando.
- Desde que você começou a vir pra cá com mais regularidade, null guarda uma boa dose de comida pro café da manhã – aquele olhar desgraçado sacana, TODOS os meninos da banda possuem esse mesmo olhar – Então eu venho aqui tomar café da manhã.
- Todo dia você faz isso?
- Aham – ele riu – Mas hoje, em especial, algo me chamou a atenção – null lambeu os lábios e colocou a xícara sobre a pia – Sabe, eu gosto de acordar, tomar um café, colocar na VH1 e assistir os clipes matinais, são sempre os melhores.
- Anda logo, null – eu puxava a camisa pra baixo, não estava bem acostumada a ficar assim na frente de nenhum outro garoto.
- Então – ele riu, tenho certeza que se divertia com essa torturinha maldita – Eu fiz meu café, peguei as torradas e fui pro sofá. Quando, de repente...
- O QUE?
- Aqui, ó – ele tirou do bolso do seu roupão meu sutiã. MEU SUTIÃ! Na mão do null, na mão de null Fucking null! Alguém me ajuda – Seus peitos são tão grandes assim? – ele colocou o sutiã nele mesmo. Cavem um buraco pra mim.
- ME DÁ ISSO AQUI! – eu fui até ele, mas null era mais alto e ergueu o braço, SEGURANDO AINDA o treco – null, me devolve.
- Cara, você e o null se pegam em todo lugar, é isso mesmo? – ele gargalhava.
- Isso não é da sua conta – e eu pulava tentando pegar meu sutiã – null!
- Bom dia? – null apareceu na cozinha. O fato de ele estar de cueca não ajudava muita coisa – Heeeey, é seu sutiã! Você estava procurando ele ontem.
- Dá pra ajudar, null? – perguntei, mais envergonhada do que brava.
- Vai, null! – ele ria, pior que o null – Devolve pra ela.
- Eu ia brincar – null fez bico. Mas... O QUÊ?
- null! – gritei – Me dá a porra do sutiã.
- Ah, tá bom, tá bom – ele me entregou – Sem graça.
- Babaca, você é um babaca! – comecei a bater nele, mas nem adiantava porque tanto meu namorado como esse moleque estava rindo da minha cara – Quer saber, eu vou tomar um banho e me arrumar.
- É o hoje que vocês vão lá pagar de casal legal pra Teen Vogue? – null sorriu abertamente – Boa sorte.
- Vou me lembrar de falar que você brincou com meu sutiã pela manhã – mostrei o dedo pra ele e os dois começaram a rir.
- APROVEITA E FALA QUE O SUTIÃ ERA DO SEU NAMORADO! – o ouvi gritar, mas fechei a porta do quarto.
QUE VERGONHA!
null ficou me mandando mensagens a manhã toda até chegarmos na Vogue, e isso também inclui null, null e null – junto com a amiga da onça, null. null nem se importava, quanto mais eu reclamava, mais ele se divertia.
Pelo que nos foi passado, hoje pela manhã faríamos a entrevista no próprio escritório da Vogue no centro de Londres e, no período da tarde e noite, iríamos tirar as fotos em alguma mansão localizada por aqui perto também. Com respeito às fotos eu posso falar que não estava tão nervosa, o que mais me incomodava no momento era a entrevista. O que iam perguntar? Porque, querendo ou não, eu não estava muito na mídia e sei lá, toda essa coisa de aparecer não é comigo.
Enquanto esperávamos no saguão da Vogue, eu folheava as últimas edições. As modelos magérrimas com suas poses maravilhosas me davam calafrios. Eu nunca ia ficar bem em qualquer roupa que me colocassem, ainda mais agora que “estou no peso ideal”. Essas meninas aqui não estão no peso ideal, devem estar uns dez quilos mais magra do que devem. Será que ainda dava tempo pra eu fazer alguma coisa? Suspirei, olhei ao meu redor e constatei que lá perto havia pelo menos uns três banheiros... Se eu corresse, eu ia conseguir. Mas o que eu ia dizer pro null? Ele estava no telefone, falando com um dos empresários, anotando algumas coisas na agenda e escrevendo rápido demais. Ele nem ia perceber minha ausência. Olhei para os lados e vi que não tinha ninguém por ali, a não ser pela moça linda – e magra – da recepção... Eu tinha minha chance. Era por uma boa causa, claro que sim. Dei mais uma olhada pra null, que nem notava minha presença ali, respirei fundo e me levantei.
Dez passos, doze passos... Vinte passos. A porta do banheiro já estava perto, e eu apertava meu estômago com o intuito de ficar um pouco mais enjoada e facilitar o meu serviço. Prendia a respiração o máximo que podia, porque isso também sempre me ajudou. Escutei um barulho em minha barriga, era fome! Eu não havia comido nada desde aquela manhã, a conversa com null também não foi de grande ajuda já que, quanto com mais vergonha fico, menos fome me dá. Já ia prendendo meu cabelo em um rabo de cavalo alto e apertando minha garganta quando dei de topa com alguém. Era uma mulher, mais velha, mas muito bem conservada. Sorri apenas para ser educada e respirei fundo, querendo que ela desaparecesse de vista, mas ela não o fez. Sorriu de volta e puxou assunto; caralho!
- Olá, querida, tudo bem?
- Aham – respondi meio rápido, acho que pareci meio mal educada – Digo, tudo bem, sim.
- Você deve ser a namorada do mocinho que vai tirar as fotos hoje? One Direction?
- Sou a namorada dele – ok, agora eu ia ter que pagar de simpática – Me chamo null e meu namorado, null.
- Ah, sim! null null e null null – ela deu uma olhada em seu celular – Estudante de fotografia, acertei?
- Sim – eu sorri.
- Vi suas fotos de Paris com as meninas da clínica. Excelente trabalho, null!
- Você viu? – fiquei assustada – Sério? Pensei que as fotos fossem ficar apenas com o hospital.
- Como Tyra Banks era uma das pessoas envolvidas, tivemos acesso ao portofólio dos fotógrafos. Aidan e Bellatrix são velhos conhecidos nossos da Vogue, então já sabíamos que eles fariam um excelente trabalho. Nos animou saber que quatro estudantes do primeiro período da escola de Londres fizeram um trabalho tão bom quanto os veteranos – ela sorria, foi impossível eu não sorrir também.
- Obrigada – foi a única coisa que me veio em mente – Me desculpe perguntar, mas qual o seu nome?
- Oh, me desculpe! Sou Kirsty Williamson – ela me estendeu a mão – Redação Chefe da revista – puta merda!
- Nossa – acabei rindo de nervoso e apertando sua mão – É um prazer enorme te conhecer.
- O prazer é todo meu, acredite – ela agradeceu – Escuta, eu acho que te interrompi de estar indo a algum lugar, estou errada?
- Estava indo ao banheiro – respondi, mas agora não tinha vontade de fazer mais nada.
- Hm... – ela suspirou. Olhou pra mim e olhou para o banheiro – Sabe uma das coisas que eu mais reclamo com as modelos aqui? – Kirsty me perguntou e eu neguei com a cabeça – Curvas! Por Deus, o que uma mulher precisa fazer para ter curvas? Cintura, busto, quadril – ela ria – Adoro as brasileiras, elas possuem curvas. Você é brasileira, não é?
- So-sou – limpei a garganta. Eu estava dando na cara, assim? – Sou, sim.
- Percebi – ela riu – Nenhuma modelo de Vogue Britânica tem esse quadril. NENHUMA! Já sabe o que vai vestir no ensaio de hoje?
- Ainda não, eu nem sei da entrevista – sorri – Na verdade, eu... – cocei a cabeça. Por que eu deveria me abrir com ela? – A senhora não acha que eu estou um pouco cheinha para as roupas de hoje?
- Cheinha? – ela parecia ofendida – Querida, que manequim você usa? Trinta e oito?
- Quarenta – lamentei – Quadris largos – bati de leve nos meus quadris.
- Lindos, você quer dizer? Qual a graça de ser reta? Uma tábua?
- Eu entraria em qualquer roupa...
- E você não está vestindo uma roupa agora? – ela me olhou de cima a baixo – Por Deus, querida! Não se prenda a esses esteriótipos. Pensei que seu trabalho em Paris com as meninas do hospital seria de algum auxílio...
- E foi! – respondi – É que, chegando aqui e vendo as fotos nas revistas, eu... Como posso me explicar?
- É muito mais fácil vestir um cabide do que um corpo humano – Kirsty me respondeu, cruzando os braços – Como desenhar e desenvolver designs para corpos variados femininos? Com cada uma tendo um tamanho diferente? Tom de pele, quadril, coxa, nem vou começar a falar do tamanho dos bustos – ela sorriu – Desenha uma roupa que caiba em uma menina que não come nada, por mais que elas falem que comem de tudo, elas não comem, que não tem uma curvinha se quer no corpo e pronto! Modelos são como telas em branco, aceitam qualquer coisa porque são iguais a qualquer coisa. Mulheres de verdade, do dia a dia, não são assim, e nem precisam ser assim! – eu mantinha minha respiração pesada – Você é linda, desse jeitinho.
- Tá... – empurrei minha camiseta pra baixo, de alguma forma eu queria esconder o meu corpo.
- E pare de puxar essa camiseta – ela riu – Tem alguém entrando nesse corredor.
Não entendi o que ela disse, até olhar pra trás e ver null com uma cara um pouco brava, mas ao mesmo tempo aliviada. Eu fiz careta e depois me lembrei... Não tinha falado pra ele que ia ao banheiro. E, na verdade, nem era pra eu estar demorando tanto assim, meu tempo fora saiu um pouco do controle. Sorri pra ele meio com culpa e ouvi Kirsty ao meu lado soltar uma risadinha. Ia receber bronca dele na frente dela? Pelo amor de Deus, se controla, null.
- Interrompo? – ele perguntou, parando na minha frente com os braços cruzados e mordendo o lábio inferior.
- Não – respondi quase que num soluço – Eu estava, bom, eu ia...
- Por que não me avisou que ia sair? Na verdade, onde você tava indo ou onde você já foi?
- Me desculpe – Kirsty cortou o interrogatório, tendo agora a atenção de null e também a minha – Permita me apresentar, sou Kirsty Williamson, Redação Chefe da Revista Vogue – ela estendeu a mão para ele.
- null null – ele a cumprimentou de volta.
- É um grande prazer finalmente conhecê-lo – ela respondeu, e antes mesmo de null abrir a boca, Kirsty continuou – Perdoe-me por ter roubado a atenção de sua namorada por tanto tempo, null é, de verdade, uma menina encantadora.
- Hã... É sim, sim – ele coçou a nunca e me encarou – Vocês já se conheciam?
- Não, não. Ela me ajudou a sair do banheiro, eu estava gritando por ajuda há um bom tempo e ninguém ouvia, até que ela apareceu e simplesmente girou o trinco para o outro lado. O que não acontece numa hora de desespero? – ela sorriu para mim... O que estava acontecendo?
- Pedindo ajuda? Não ouvi nada.
- Você estava no telefone, lembra? – eu falei e null concordou.
- Se não fosse por ela, acho que ia estar trancada até agora. Mas, bom, foi um prazer finalmente conhecê-lo, null. Grande parte da nossa conversa foi sobre você.
- É mesmo? – ele sorriu de ladinho, agora ele parecia acreditar na conversa.
- Você tem uma namorada encantadora, parabéns.
- Obrigado – ele suspirou e sorriu – Na verdade, eu vim chamar a minha namorada encantadora para a entrevista, estão nos esperando.
- Já?
- Pois então, vão logo. Nos falamos depois, tudo bem? – ela me encarou.
- Claro, claro – preciso dizer que estava atordoada com essa conversa?
Me despedi de Kirsty e null me pegou pela cintura e fomos andando por um outro corredor. Antes de abrirmos a porta de vidro da Vogue que dava entrada aos escritórios, ele me parou e me deu um olhar meio suspeito. Percebi que ia falar alguma coisa, mas parece que se arrependeu do que tinha pensado e resolveu parar o pensamento no meio do caminho e não falar nada. Respirou fundo e se virou, aí foi a minha vez de puxá-lo.
- Hey!
- Eu ia te fazer uma pergunta, mas deixa quieto.
- null, sem essa! Que foi?
- Não foi nada, sério.
- Sem esse papo pra cima de mim, que você tá pensando?
- null... – ele colocou a mão em meus ombros – Você foi mesmo ajudar essa tal de Kirsty no banheiro? – SABIA!
- Como assim?
- Eu vi você dando uma olhada nas revistas e eu vi a sua cara – ele fez carinho em meu rosto – Não mente pra mim, você não levantou pra ir ajudar aquela senhora, levantou?
- null... – gemi e fiz careta, ele sorriu – Eu só, é que eu não ia... Na verdade, eu ia...
- Ok! – null sorriu e me beijou de leve – Mas você... Fez?
- NÃO! – eu gritei sem querer – Não fiz, na verdade eu encontrei a Kirsty no meio do caminho e acabei não fazendo.
- E se você não a encontrasse?
- Provavelmente eu ia – suspirei – Me desculpa.
- Não tem motivo pra você se desculpar, ok? – ele me abraçou e depois encostou a testa na minha – É difícil, ainda?
- Sempre é... – suspirei, roçando meu nariz no seu – Ainda mais nesse tipo de situação.
- Tá com fome?
- Sim, mas não quero comer – consegui dizer. Eu estava com fome – Eu não quero ficar estranha nas fotos.
- Então vamos fazer o seguinte? – ele me beijou de novo – Tem uma mesa cheia de frutas lá dentro que eu sei. Antes da entrevista vamos lá, te faço um prato com frutas leves e você come, pode ser? – null me olhou com tanta ternura e carinho que às vezes eu questionava se ele era real.
- Pode ser – respondi – Não tem problema comer durante a entrevista?
- Ah, se tiver, elas esperam você terminar – ele sorriu – O que importa é minha namorada não passando mal. Aí, sim, eles teriam um sério problema.
- Eu amo você – eu sorri.
- Também te amo – null piscou pra mim – Bem pouco, mas amo.
- Sei disso – e assim, nós atravessamos a porta de vidro da Teen Vogue Magazine.
null colocou em um prato uma porção de uvas, maçãs, morangos, dois pedaços de melão, um de mamão, não colocou bananas, kiwi, cereja, frutas secas e me trouxe um copo de suco de laranja sem açúcar. Eu já estava sentada de frente para duas jornalistas batendo um papo leve, esperando-o voltar. Quando ele voltou com tudo isso, as meninas ficaram boquiabertas. Primeiro que ele entrou sorrindo e piscando pra metade das meninas da sala e modelos, todas ficaram de queixo caído; segundo porque todo aquele mimo era pra mim, e quando ele se sentou ao meu lado e me beijou – ali na frente de todo mundo – as modelos ficaram mais abismadas ainda. null era, de verdade, o típico namorado fofo que todo mundo gostaria de ter. Só de ver a cara das jornalistas, eu já podia sentir que a entrevista seria, no mínimo, interessante.
- Bom – uma delas tossiu – Podemos começar, então?
- Claro – nós dois respondemos.
- Então vamos lá...
O prato com as frutas estava em cima da mesa, e eu não conseguia pensar em comê-las. Peguei a mão de null e a coloquei em meu colo, entrelaçando com força nossos dedos. Que a tortura comece... Nossa primeira entrevista como casal.
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Nota da Beta: NÃO SOU A AUTORA DA FIC, mas em caso de erros, falem comigo pelo @mimdeixa ou por email. Não usem a caixa de comentários, por favor. xx Abby
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