Autora: Gisele Castro || Beta-reader: Brille e Abby (cap. 32 em diante)



Capítulo 20

- Quem é ela? - Perguntei fazendo careta.
- Lorelai - disse meio ofendida. - Lorelai Cohen.
- Gata - falou rindo e eu dei um tapa em seu ombro. - Que foi? Não sou seu macho pra apanhar.
- Não importa, tenho ciúme do mesmo jeito – bufei. - Ela é gata, mas não fala perto de mim pro meu próprio bem.
- O que ela faz? - perguntou novamente. Nós estávamos muito incomodadas.
- Não sei, mas ela vai ser minha futura namorada - riu. - Ah, tão achando ruim vão pra lá!
- Homem é tudo igual mesmo - reclamei.

Manhã de segunda-feira e lá estávamos eu e trabalhando para a One Direction. Não, eu não estou equivocada, nós REALMENTE estávamos trabalhando com os meninos. Antes do meeting que eles teriam com os empresários, eles dariam uma entrevista na rádio local e depois partiriam para uma sessão de autógrafos em um shopping, cem fãs sortudas ganharam a promoção da rádio e elas estariam lá para receber os meninos. Claro que, no shopping, teria muito mais do que cem fãs, mas eles só poderiam atender aquelas escolhidas. Depois, partiriam para uma reunião, e nesse percurso todo eu e estaríamos junto, não como namoradas, mas como fotógrafas. EXATO: FOTÓGRAFAS! Estamos ganhando um extra com esse trabalho e o prazer de não ir pro curso hoje; óbvio que esse trabalho ia contar no nosso currículo, mas está meio difícil levar tudo isso a sério quando se tem um te beijando a cada cinco minutos.

Na noite anterior, disse que me amava e eu, bom, eu entrei em estado de choque. Me senti muito igual ao Ryan de The OC quando a Marissa fala que o ama, mas pelo menos eu não soltei um ‘obrigada’, porque isso sim seria constragedor. Fiquei encarando por um tempão até conseguir sorrir, e ele gargalhou. Ele sabia que talvez eu não fosse falar o mesmo, mas não é porque eu não o amor, é pelo fato de eu ser estranha. Fãs de todos os lados gritam dizendo que os amam, e eu, que sou a tal garota especial escolhida, não consigo fazer isso. E eu digo que amo o Tom Fletcher. E eu não consigo dizer que amo , meu namorado. Vai entender. Mas, ao contrário do que eu podia imaginar, não ficou triste e achou a situação bem engraçada. Nas palavras dele “eu já sabia que te amava antes mesmo de você saber meu nome” e isso daí quebrou minhas pernas. faz muito o estilo romântico, daquele que dá flores em dias especiais, que se lembra das datas, que prepara jantares românticos. Eu não sou nada assim, eu não sei ser romântica e não gosto de coisas melosinhas. Porém, essa é uma característica que eu vou precisar mudar, sei disso. E agora, cada vez que o está perto de mim, eu sinto a necessidade tremenda de falar que eu o amo, porque eu sinto isso, eu o amo! Eu estou aqui em Londres há exatos cinco meses – completos hoje – e nesse tempo acho que dá pra falar que você já ama uma pessoa, certo? Se eu sinto isso, por que não consegui falar ontem? POR QUÊ?

- Babe? – me abraçou por trás dando um beijo de leve em meu pescoço, de repente meus pensamentos sumiram. – Tá quieta.
- Pensando – respondi rindo. – ficou a fim daquela tal de Lorelai.
- Cohen? – E agora ele me abraçou de frente. – fica a fim de qualquer coisa que possua DNA – riu. – Ficou com ciúme?
- Não, ela realmente é muito bonita – respondi. – Digo, o que ela faz?
- Assistente técnica da rádio. Não é a primeira vez que a vemos, no começo da banda ela já trabalhou conosco. ficou a fim dela, mas não rolou nada porque ela faz o tipo difícil, e isso na linguagem masculina significa correr ainda mais atrás da garota.
- Hm, legal – eu respondi, riu e depositou um beijo em minha testa.
- Talvez seja por isso que eu tenha insistido tanto com você. Não que no começo você tenha sido difícil, é que eu realmente tive que te conquistar por quem eu sou, já que seu conhecimento sobre One Direction era praticamente nulo.
- Continua sendo praticamente nulo – eu ri. – Quer dizer então que você gosta de meninas que se fazem de difícil?
- Mais ou menos – ele encostou o nariz no meu, me abraçando pela cintura enquanto eu fazia o mesmo com ele. – Não curto muito quem faz doce, você, ao contrário, tem personalidade forte e isso eu gosto em uma garota.
- Entendi agora – respondi ficando na ponta dos pés e dando um beijo em seus lábios, mordendo de leve logo em seguida.
- Casal, dez minutos – apareceu atrás de com aquele seu típico jeito brincalhão. Nós nos soltamos do abraço meio sem graça, eu ainda não estava acostumada com os meninos ao redor, especialmente quando eles nos pegavam em situações assim.
- Escuta, – comecei a dizer, puxando meu cabelo pra trás e fazendo um coque frouxo. – Sobre ontem, eu queria dizer...
- E quem disse que você tem que falar alguma coisa? – Ele me respondeu. parou com as mãos nos bolsos e me encarou sorrindo. – , eu amo você, mas eu te amava primeiro – ele suspirou. – Você não tem a obrigação de me falar só porque eu te disse, ok?
- Mas eu também – soltei e fiz careta. – Ai, você sabe... Digo, como me sinto.
- Eu sei, amor – ainda com as mãos nos bolsos ele veio até mim e me beijou na bochecha de uma maneira carinhosa. – Sei o que você sente e não é o fato de você proferir essas três palavras que vai fazer diferença pra mim. O que eu precisava era te dizer, e isso já foi feito – ele suspirou. – Desencana, tudo bem?
- Eu vou falar, você sabe que eu vou.
- Confio em você – sorriu. – Agora vai pro estúdio, preciso me reunir com os meninos antes – e com um selinho, ele saiu.

Nós estávamos nos estúdios da Radio 1 em Londres. e eu estávamos ali para fotografar os meninos durante a entrevista, por isso nós duas já fomos entrando ao estúdio acústico para ver o material com que iríamos trabalhar naquela manhã. A “linda” da Lorelai nos acompanhou. Ela, de verdade, era muito bonita. Magra, um cabelo liso castanho escuro liso até o meio das costas e, tinha curvas. E belas curvas. Vestia uma calça jeans lavagem clara, escarpin de salto alto - muito alto - blusa preta colada no corpo com as costas de nadadora. Podia-se ver uma tattoo de estrela parecida com a de Tom Fletcher e uma frase do outro lado que eu achava ser de uma música do McFly. Seu sorriso era encantador e todos os meninos no estúdio babavam por ela. Ela era mais velha que eu, e isso a fazia mais velha que os meninos. Não que eu seja grilada com essa coisa de idade, mas na minha cabeça tá gritando uma voz irritante que diz ‘garotos gostam de mulheres mais velhas’. Lorelai tinha uns 22 anos, eu acho. Eu tenho 18, não é muita diferença, mas na cabeça de meninos, sim, é uma grande diferença.

- Primeira vez que vocês fotografam em uma rádio? – Ela nos perguntou, dando uma câmera Panasonic profissional para nós duas. – Não tem muito segredo.
- Você também é fotógrafa? – Perguntei colocando a câmera ao redor do meu pescoço e ajustando o foco, bela câmera!
- Não, sou assistente da rádio, mas meu contato com os fotógrafos acabou me influenciando um pouco – ela sorriu. – Me chamo Lorelai, e vocês?
- .
- disse estendendo a mão. – Sou namorada do . .
- Eu sei – Lorelai riu e eu quis enfiar minha cabeça no chão. – Desde que os meninos chegaram já fomos avisados que as fotógrafas de hoje seriam as namoradas de e – ela suspirou. – Você deve ser a de , certo?
- Eu mesma – respondi. – Mas, não pense que estamos aqui porque namoramos ele, digo, não conseguimos isso...
- Nós vimos o portfólio de vocês duas umas semanas atrás. Ficamos apaixonados pela foto da SugarScape e alguns professores nos recomendaram vocês como melhores fotógrafas amadoras – Lorelai disse antes mesmo de eu conseguir terminar meu raciocínio. – Não se preocupe, , sabemos do bom trabalho de vocês.
- Obrigada – respondi um pouco mais tranquila.
- Bom, os meninos vão entrar em alguns minutos. Preciso ver se está tudo ok com o som e áudio, se precisarem de alguma coisa podem me chamar. Não gosto muito de Lorelai, prefiro Lary – a “Lary” falou de um jeitinho meigo. Tá bom.
- Ok, Lary – respondeu meio sarcástica e eu quis rir, mulher é um bicho muito ruim.
- Qual seu problema? – Perguntei quando Lary deixou o recinto. – Ela estava querendo ser legal, não precisa ser sarcástica pra menina.
- Você viu o jeito que todo mundo olha pra ela? Você deu uma olhada naquele corpo? Naquele cabelo? Naquela mulher? – A cada palavra, ia aumentando um pouco mais o tom de voz. – Não vou dar bobeira com meu macho.
- Pelo que eu vi e pelo que foi dito, ela teve rolo com o e não com o .
- Mesmo assim, não fui com a cara dela – fez careta.
- Babaca – eu ri. – O que achou da câmera?
- Muito boa – ela me respondeu já em outro tom de voz. – Se nós duas formos usar o flash vai ficar horrível pros meninos, sem falar que uma pode queimar a outra.
- E tem como isso acontecer?
- Claro que sim, se eu bater uma foto com flash na mesma direção que você, vai sair um borrão branco – disse batendo uma foto da parede, testando a câmera. – Nós podemos trabalhar juntas, eu uso a própria iluminação do estúdio. Tô mudando o modo da câmera para modo interno, automaticamente já fica mais claro.
- Eu uso o flash, então? – Coloquei o flash e bati uma foto. – Caralho, é forte.
- Eles não vão olhar diretamente pra câmera, o que é bom – ela disse. – Coloca no modo silencioso, o ‘clic clic’ é irritante pra caramba.
- Ok – ajustei a câmera, o foco, o flash e o modo silencioso. Agora era só esperar os meninos chegarem.

- Bom dia, queridos ouvintes da Rádio One – quinze minutos depois, lá estavam os meninos todos bonitinhos sentados em seus lugares, Lary um pouco atrás, eu e concentradas desde então já batendo algumas fotos. – Hoje, como vocês já devem saber, temos uma... Epa, cinco participações especiais no nosso programa. One Direction está aqui.
- Whohooooooo – todos gritaram.
- Bom dia, meninos, bem vindos novamente ao nosso estúdio.
- Bom dia, Alan, é um prazer estar aqui novamente – disse com sua tão habitual educação.
- Eu sei que depois de todo esse tempo vocês já devem estar acostumados com as fãs, mas hoje especialmente elas estão bem agitadas – Alan apontou para a janela, dezenas de fãs estavam do lado de fora cantando as músicas dos meninos. Eu fui até lá e bati uma foto para depois mostrar para a banda como as fãs eram dedicadas e no mínimo loucas. – Como vocês estão levando a fama?
- É muito legal ver esse apoio todo das fãs, pra onde vamos elas sempre nos tratam com muito carinho. Acho que é o resultado de um bom trabalho, só podemos agradecer por tamanha dedicação – respondeu.
- De vez em quando nos assustamos, mas é bacana poder acordar de manhã e saber que mil garotas sonharam com você na noite anterior, é bom pro ego – disse e todos começaram a rir, eu e também.
- Alguma fã já foi mais atirada? Qual o presente mais inusitado que já ganharam?
- Tem umas muito loucas, se jogam na frente do carro, tiram a camiseta nos shows, é bem doido – disse coçando a nuca e eu vi ele ficando meio tímido, tive que bater uma foto desse momento. – Mas a maioria nos respeita e são sempre adoráveis.
- Estamos ganhando muitas calcinhas, mas não sabemos o que fazer com elas, porque, acho que ninguém aqui usa calcinha – novamente, o palhaço, fez piada.
- Depois da música ‘Call me, Maybe?’ recebemos muitos bilhetes e cartazes com esse tipo de cantada, é bem engraçado – respondeu. E isso eu não sabia, ele me esconde essas coisas. Cretino!
- Vocês agora são a sensação do momento – Alan disse. – E deu pra perceber que o que não falta na vida de vocês é mulher. E tempo pra namorar, vocês arranjam? - Bom... – começou a dizer, mas todos riram ao mesmo tempo. Eu e nos entreolhamos e continuamos nosso serviço. Bati uma foto de escondendo o rosto com as mãos, assim que ele me viu me mostrou a língua e eu ri.
- Damos o nosso jeito – concluiu.
- Já ficaram com alguma fã? – Odeio esse tipo de pergunta.
- Algumas – disse, eu arregalei meus olhos. Até tu, ? – Fã é uma garota, se for gente boa e ter um papo legal, por que não?
- Acho que acabam estigmatizando as fãs, o fato de gostarem da nossa música é um bônus – respondeu. Olhei pra ele meio ressabiada, pela cara do infeliz eu sabia que ele tinha falado aquilo pra me deixar enciumada. Parabéns, conseguiu. – Como o disse, se a garota for legal, não tem porque não rolar alguma coisa.
- Agora eu sinto todas as meninas que estão nos ouvindo gritarem até não poderem mais. Ouviram, meninas, vocês possuem chances com o One Direction – Alan falou em um tom brincalhão. e nos olharam e começaram a rir, eu acho que tanto eu quanto estávamos com as piores caretas do mundo.
- Mas não estamos todos disponíveis – disse me olhando sorrindo. – e aqui já estão com os corações ocupados – ele deu um tapinha nas costas de cada um.
- Opa, notícia em primeira mão. Isso eu ainda não estou sabendo – Alan fez cara de espanto.

Até agora, nem nem haviam se pronunciado publicamente sobre o namoro. Sim, já havíamos sido flagrados juntos, mas ele não falou em nenhum momento que estava de verdade namorando. E agora, depois desse comentário do , viria a pergunta que todo mundo ADORA fazer, seja você famoso ou não: “E aí, tá namorando?”

- Vocês estão namorando? – Alan perguntou fazendo aquele tom de voz malicioso. e riram e nos olharam. – Quem são as sortudas?
- As duas lindas garotas que estão atrás de você – respondeu apontando para nós. sorriu meio sem graça e eu fiz o mesmo quando Alan se virou para nos encarar. – Falem “oi”, meninas.
- Ora essa, as duas princesas o tempo todo aqui no estúdio e ninguém me fala nada? Como assim? – Alan disse brincalhão. – Venham aqui, meninas, se apresentem. Em primeira mão aqui na Rádio One, vocês vão poder conhecer as namoradas de e da One Direction – Lary veio até nós e disse que estava tudo bem, nós podíamos falar alguma coisa no microfone, o problema era que eu não queria fazer isso.
- Vão lá – ela incentivou. – Só falem oi.
- Elas são tímidas – disse brincalhão. – Se quiserem eu posso imitar a voz delas, sem problemas.
- Oi, gente, meu nome é fez uma voz fina me imitando e caímos na gargalhada.
- Galeraaaa, eu sou a , mas podem me chamar de – e agora foi a vez de . bufou meio brincalhona dizendo ‘eu não falo assim’.
- A voz dela é bem mais irritante que isso – falou.
- Meninas, venham se defender – Alan pediu. – Ou a reputação de vocês vai ficar em baixa.
- Veeeenham, meninas – e falaram juntos, ai que saco! Fui caminhando até o lado de , que já sorria de orelha a orelha. Ele empurrou o microfone na minha direção enquanto murmurava ‘vai amor’ bem baixinho pra ninguém ouvir.
- Oi, pessoal – eu falei com a voz meio trêmula, os meninos todos soltaram um ‘aeee’ coletivo.
- Bom dia, eu sou a – ela disse do outro lado um pouco mais sorridente que eu.
- e , muito bem vindas – Alan falou com uma voz mais macia e típica de locutor de rádio – Pra quem ainda não sabe, as duas meninas são fotógrafas e estão aqui no estúdio realizando um excelente trabalho. As fotos serão postadas no fim da tarde no nosso site.
- A ganhou um editorial especial na SugarScape umas semanas atrás – comentou e eu dei um beliscão nele de leve, não gosto de propaganda.
- Uau, , minha querida, você é quase uma profissional – Alan olhou pra mim bem brincalhão, me apertou na cintura de leve enquanto não tirava o sorriso do rosto.
- As duas são as melhores da sala, orgulho da escola – falou e deu uma corada de leve.
- Ouvintes, vocês não imaginam quanto amor está rolando nesse estúdio agora! Parabéns aos meninos, as suas escolhidas são lindas – Alan falou acenando para e eu. – Vamos dar uma olhada nas nossas redes sociais e ver o que está rolando. Se quiserem mandar uma pergunta...
- Viu? – levantou da cadeira onde estava sentado e me deu um beijo demorado no rosto. – Não foi tão ruim assim.
- Deixa eu voltar pro meu trabalho – eu ri e me afastei, novamente indo com para o fundo, pegando as câmeras e continuando com as fotos.
- Temos aqui algumas perguntas, podemos começar?
- Opa – falou.
- A primeira é da Katherine de Liverpool. Ela diz ‘eu aaaaaamo One Direction, vocês são lindos, gatos e fofos. Quando vocês vão voltar pra cá?’
- Oi, Katherine – falou. – Ahm, não temos previsão de quando vamos voltar para Liverpool. Nós temos uma turnê pela frente nos Estados Unidos e talvez vamos esticar para Nova Zelândia e Austrália, então... Não temos previsão de shows por aqui.
- Há uma diferença entre os nossos fãs e em outros países?
- Eu acho que nossas fãs são bem ciumentas – disse rindo e os meninos concordaram. Nesse momento eu sem querer bati uma foto dele com o flash ligado e foi bem na cara. – E, ouch! – Ele fez careta e eu pedi desculpa, tadinho. – Continuando, tem sempre uma pequena competição entre os países de quem talvez seja “mais fã” da One Direction, mas, se vermos como um todo, as meninas são sempre muito apaixonadas e dedicadas. Amamos todas por igual.
- Bela resposta, – Alan falou e os meninos também concordaram. – Ainda com respeito às fãs, elas estão levando de boa o fato de vocês estarem namorando?
- Ai... – riu e coçou a cabeça. Todos eles se entreolharam, olhou pra mim e suspirou assim como eu, esse não era o nosso assunto favorito. – Eu acho que sentir ciúme do ídolo é algo natural, o problema é quando isso acaba tomando proporções maiores e perdemos o controle.
- As nossas fãs são adoráveis, mas há algumas que conseguem ser assustadoras – começou a dizer. – Eu acho que, como o acabou de dizer, sentir ciúme é bem normal, o problema é quando começa a ficar um pouco abusivo.
- Insultar a namorada ou qualquer pessoa que fique ao nosso redor, esse é um grande problema – disse, pela primeira vez sendo sério na entrevista. – Amamos nossas fãs, mas há momentos que ficamos muito tristes com algumas atitudes.
- , você se pronunciou a respeito disso no Twitter uns dias atrás.
- Foi, nós estávamos em um dia de folga e eu resolvi dar um passeio com a . Foi meio desagradável, porque algumas meninas foram estúpidas, não apenas com a minha namorada, mas comigo também. Eu tive que falar alguma coisa pra isso não tomar uma proporção gigantesca – disse sério. Eu nem consegui bater foto nesse momento, até eu fiquei tensa. Odiava lembrar daquele dia.
- Não acho que ninguém ia gostar se começasse a pegar no pé da pessoa que você namora, é sempre muito chato – disse. – Garotas, nós amamos vocês, mas só nos deem um pouquinho de privacidade – ele riu e os meninos também.

A conversa na rádio demorou, no total, uns vinte e cinco minutos. Por fim, acabaram falando de tudo um pouco: dos futuros planos, das colaborações no CD, das futuras parcerias, do Simon, da fama, das fãs e um pouco ainda sobre as namoradas. Quando eu percebi que havia tirado quase 200 fotos, eu decidi parar, ia ter muita coisa pra editar à noite. Entrei no Twitter enquanto os meninos terminavam a entrevista apenas para me torturar um pouco, mas eu queria saber qual tinha sido a reação das fãs após a confirmação por parte de e de que sim, eles estavam namorando. E como já era de se esperar, a coisa estava feia. Muito feia.

Alguém tem foto de corpo inteiro da ou da ?
É impressão minha ou ela é meio gordinha?
Eu odeio a , eu a odeio com todo o meu coração! Garota ridícula.
Essa é a puta que tá namorando o ? QUE RIDÍCULA!
Aposto que esse namoro é falso e só pra dar mais ibope pra banda e pra ela. A garota trabalha com eles, é um namoro falso.
e estão apaixonados #tellmealie –n
A tem cara de fresca, a é esquisita. Decepção :(
QUE VOZ IRRITANTE! MINHA NOSSA SENHORA!
Ela deve ser boa de cama, porque bonita ela não é, não.
A foto da SugarScape nem é tão boa assim, já vi melhores #fail
A perna dela dá duas da minha, credo Oo’
Mal gosto define #bad

É, o dia ia ser longo.

- Milkshake City, o melhor lugar para tomar um milkshake em Londres – dizia enquanto levantava um copo lotado de marshmallows e Nutella. – Eu podia sobreviver só me alimentando disso, todo dia – e ele sorriu de um jeito tão infantil que foi até engraçado de se ver.
- ? – Lary me chamou, eu tava meio perdida vendo os meninos se divertirem. – Você quer editar as fotos ou prefere que um de nós as edite pra você?
- O que for mais fácil – respondi. – Tem mais de duzentas fotos, não sei se seria trabalhoso demais.
- A deixou a câmera com a rádio, se você quiser fazer o mesmo – ela sorriu.
- Por mim tudo bem – eu suspirei. – Ela ficou naquele armário logo na saída, sabe?
- Sei sim – Lary respondeu. – Vocês fizeram um ótimo trabalho, obrigada.
- Nós que temos que agradecer – sorri. – E desculpa pelas brincadeiras do , ele fica muito besta ao seu lado – eu disse. depois da entrevista não parava de jogar cantadas baratas pra cima dela, até eu estava ficando com vergonha.
- Não se preocupe, já estou acostumada – ela riu. – Eu até tenho mesmo uma queda por ele, mas acho que pode comprometer meu trabalho.
- Entendi, mas se quiser dar uma chance eu super apóio. Quem sabe assim aquele garoto sossega um pouco, tá parecendo um adolescente no cio.
- Ele não deixa de ser adolescente – nós duas rimos.
- Com licença? – apareceu atrás de mim, me abraçando de lado. – Posso roubar a por meio segundo?
- Ela é toda sua – Lary falou. – Obrigada mais uma vez.
- De nada – me virei pra . – Fala, meu querido.
- Milkshake? – Ele me ofereceu o copo que estava em sua outra mão.

Meu estômago deu uma pequena volta e minha boca salivou. Aquele copo estava cheio de chocolate, morango, cobertura e marshmallows. Cremoso, lindo, saboroso, delicioso e calórico. Muito calórico. Sem querer acabei me lembrando dos comentários das fãs alguns minutos atrás, me lembrei de cada fã que já abraçou os meninos. Sem perceber coloquei a mão em cima da minha barriga, ela ainda precisava diminuir uns centímetros, e se eu fosse tomar esse milkshake eles nunca iam sumir. Eu amava doces, amava comer! Desde quando me preocupo tanto com o que os outros pensam? Que desespero.

- ?
- Oi?
- Milkshake?
- Não – falei rápido. – Não, obrigada, – sorri.
- Tem certeza? – Ele riu. – Tá tão bom, docinho...
- Tenho certeza absoluta – respondi.
- , pega... Pega! – Ele veio com o copo na minha direção, o canudinho encostando na minha bochecha, nariz e boca. Ai, garoto chato. – Eu sei que você vai gostar, todo mundo ama milkshake.
- Mas eu sou fresca pra experimentar coisas novas – eu ri enquanto me afastava de , mas ele ainda estava abraçado comigo e era mais forte. – Saaaaaaai.
- Que tá acontecendo aqui? – apareceu todo brincalhão, também com um copo de milkshake na mão. – O que você está fazendo com a minha namorada?
- Ela não quer milkshake, e não come nada desde cedo – falou. – Segura ela, !
- Ah que frescura é essa, experimenta, amor – sorriu. – É MUITO bom!
- Amores, eu não quero, depois eu tomo, pode ser? – Respondi conseguindo sair do abraço de , mas sem parecer brava nem nada. – Quando eu trabalho desse jeito leva um tempo até a fome aparecer.
- Posso tomar o seu, então? – perguntou e eu ri. – Juro que te pago dois depois, mas eu tô com muita fome.
- Claro que pode, – eu sorri. – Vou cobrar meu milkshake depois.
- Ah, amo você – ele me deu um beijo melado no rosto e foi se juntar aos outros meninos. me encarava com o canudinho na boca, é estranho eu falar que tô achando ele sexy?
- Que foi?
- Que foi, o quê?
- Você está me encarando – eu ri.
- Você é linda – ele respondeu. – E esse milkshake tá muito bom – nós dois rimos.
- Besta – respondi. – Do que é o seu?
- Hmmm – ele deu mais um gole e lambeu os lábios. – Manteiga de amendoim. Tem certeza de que não quer experimentar?
- Tenho – falei, mas se eu ficasse mais um tempo perto dessa tentação eu ia acabar tomando um copo inteiro. – Eu vou ao banheiro, preciso jogar um pouco de água em meu rosto.
- Hey, espera – se aproximou me abraçando pela cintura e me dando um beijo gelado e doce nos lábios. – Tá tudo bem?
- Tá sim – sorri. – Eu ainda não estou acostumada com dias cheios e hoje vai demorar muito pra eu conseguir ter cinco minutos de descanso – ri. – É só isso, eu juro.
- O que falaram no Twitter? – Ele me encarava com uma expressão muito séria, me assusto com o fato dele me conhecer tão bem. – , eu sei que você leu alguma coisa.
- Só os comentários de sempre, , nada demais – dei de ombros, por dentro eu queria morrer. – Estou me acostumando com isso.
- Ninguém se acostuma com coisa ruim – ele suspirou, colocou o milkshake em uma mesinha ao nosso lado e me abraçou com os dois braços. – Você não precisa se fazer de forte, sabe disso.
- Eu só prefiro ignorar o que eu li, me faz bem – sorri e encostei minha cabeça no seu ombro. – Estou cansada, bem cansada.
- Amanhã você não precisa nos acompanhar – ele me abraçou e beijou meus cabelos em um ato muito carinhoso. – Você vai ter que editar as fotos?
- Não sei ainda, acho que não. Mas mesmo assim tem muito trabalho pela frente, as fotos do curso estão atrasadas, não acredito que me perdi nos prazos – lamentei, a cabeça andava meio cheia.
- Você pode se prejudicar de alguma forma?
- Ainda não, mas eu estou acostumada a ter tudo sob controle e eu ando meio bagunçada – ri sem humor. – Mas se eu ficar dois dias trancada no apartamento eu coloco tudo em ordem, sem problemas.
- Dois dias sem te ver? – me olhou com os olhos arregalados. – Posso te ajudar?
- Se você prometer não quebrar nada, da última vez o danificou um pouco minha câmera – eu ri. – Mas eu ia adorar ter você me ajudando.
- Então está combinado – ele sorriu e selou meus lábios. – Fica bem.
- Eu vou ficar – sorri e encostei novamente meus lábios nos dele.

Nos abraçamos e depois vi ir se jogar em cima do colo de e começar aquele tipo de palhaçada que eles adoram fazer. Me dirigi até o banheiro do lado de fora do camarim, precisava ficar um pouco sozinha com as minhas ideias sem ter ninguém se preocupando comigo. Passei a língua sobre meus lábios e eles ainda estavam doces e um pouco gelados por culpa dos beijos de . O gosto doce do milkshake pareceu acordar todas as minhas lombrigas diabéticas e eu apertei novamente meu estômago a fim de abafar o possível ronco que ele soltaria. Apressei meus passos e entrei no banheiro. Primeira coisa que fiz foi ver meu reflexo no espelho. Levantei minha camiseta e passei a mão na barriga, ela não estava tão grande, mas não estava do jeito que eu queria. Por que eu não nasci com o corpo perfeito? Me virei de lado e parecia uma grávida, não, eu não parecia uma grávida, mas perto das outras meninas eu estava imensa de gorda. Respirei fundo tentando controlar meu desespero, era só comer direito e não ficar me dando ao luxo de colocar pra dentro essas porcarias que os garotos comem. O que eu tomei de café da manhã mesmo? Ah sim, dois pedaços de bolo de chocolate e um copo de leite com chocolate, desse jeito fica difícil emagrecer, certo, ? Será que ainda dava tempo de tirar aquilo do meu estômago? Eu tinha comigo há três horas, deve ter alguma coisa dentro de mim ainda, é por isso que minha barriga parece tão alta. Sim, é por isso. Fui até o vaso sanitário e me abaixei ali. Eu nunca tinha induzido o meu próprio vômito porque eu odeio vomitar. Mas nesse caso é por um bem maior, eu ainda vou passar o dia inteiro com os meninos, e vai saber se vão tirar fotos nossas. Não posso ficar parecendo uma baleia e totalmente desproporcional ao lado do , de jeito nenhum. Será que ainda estão falando merda no Twitter? E por que eu tô tão curiosa pra ler essas coisas que só me fazem mal?

Gorda
Biscate
ODEIO VOCÊ!
Não vai demorar muito pra ele achar alguém que seja melhor que essa brasileira
Ela é feia, precisa fazer uma cirurgia no corpo INTEIRO
mudou por culpa dessa garota, ele está se comportando igual um idiota
EU ODEIO VOCÊ!
EU TE ODEIO, VADIA, VOCÊ É UMA VACA! HORRÍVEL!


Quando eu dei por mim, um líquido amargo e fino já estava se formando em minha garganta e eu precisei apenas abrir a boca para ele sair. Foi pouco, e não era nada comparado à quantidade de comida que eu havia ingerido pela manhã. Meu estômago reclamou alto porque, como se já não bastasse eu estar com fome, eu estava colocando a última coisa que eu tinha comido pra fora, óbvio que não era bom. Respirei fundo e puxei meu cabelo todo pra trás, mas novamente veio uma ânsia muito grande e dessa vez eu coloquei um pouco mais pra fora. Uma, duas, três vezes. Ao final da quarta eu já estava suando frio e sentindo meu estômago doer; eu não forcei nada, parece que eu sem querer abri uma porta e eu não conseguia fechá-la. Acabei gritando, era de dor e de desespero; que merda eu estava fazendo comigo mesma? Apoiei minhas mãos no chão frio do banheiro e me levantei meio tonta e enjoada, mas era do próprio cheiro do banheiro. Dei descarga e saí daquele cubículo; assim que abri a porta o meu suor frio só piorou um pouco mais. estava ali.

- O que foi isso? – Ele estava sério, muito sério. – , eu perguntei o que foi isso.
- Não foi nada, – falei meio brusca. Não era do meu perfil ser estúpida, ainda mais com , que é a fofura em pessoa, mas agora não era o momento legal pra sermão. – O que você tá fazendo aqui?
- começou a ficar preocupado porque você estava demorando demais pra voltar, e como eu não queria que ele te pegasse no flagra, decidi vir atrás de você.
- Como assim “me pegar no flagra”?
- , você não aceitou o milkshake sendo que eu ouvi claramente seu estômago roncar, você não come direito há alguns dias e sempre está passando mal. E o pior de tudo, eu não sou um alienado, e caso você não tenha percebido, eu também estou no Twitter – ele suspirou. – Por que você está fazendo isso?
- Ai – tentei segurar, mas acabei desmoronando ali mesmo. Coloquei as duas mãos em meu rosto e chorei de soluçar, sentindo a dor em meu estômago e em meu peito aumentarem. – Me desculpa.
- Hey – senti seus braços ao meu redor me apertando forte e um beijo ser colocado em meus cabelos. – Não quero saber de desculpas, eu quero saber de razões. O que está acontecendo com você?
- Pressão – respondi em meio aos soluços, levantei minha cabeça limpando meus olhos molhados. – Meu Deus, , por que essas pessoas se acham no direito de falar esse tipo de coisa? Quem elas pensam que são? Não me conhecem.
- Eu sei disso, , eu sei – ele segurou meu rosto com as duas mãos. – Minha linda, você desmoronar é uma coisa. Ninguém aguenta tanta pressão assim e, acredite, pensou mil vezes antes de oficialmente pedir você em namoro. Ele tinha medo disso, medo de você não aguentar.
- Não queria ser esse peso pra ele – funguei.
- Você não é peso pra ninguém, ok? – Ele beijou meu rosto. – Nós te amamos e estamos muito felizes em você ser a escolhida do . Nunca duvide disso, , nem por um segundo – suspirou. – Mas você precisa se sentir confortável pra contar conosco, se tem medo de falar alguma coisa pro fala pra mim. Eu sempre te vi como uma irmã e eu amo você – ele sorriu de forma tão linda que eu comecei a chorar de novo. – E o que mais me dá raiva é que eu tenho certeza de que o é tão tonto que ele não faz a mínima ideia do que está acontecendo com você.
- Eu não quero que ele se preocupe com isso, já chega – suspirei. – Ele estava ficando tenso com a gravação do CD e com a turnê fora do Reino Unido. Se ele for ficar preocupado comigo, o coitadinho...
- Coitadinho? – riu. – , o não é uma criança.
- É meu jeito de falar – mordi os lábios.
- Você realmente é doida por ele – sorriu e me apertou novamente no abraço, fiz o mesmo. – Não se machuque, , faça isso por nós.
- O que eu faço? Como eu lido com esses comentários? – Funguei.
- Se você ler alguma coisa ruim e não souber como responder, fala comigo. Me liga, manda mensagem, manda sinal de fumaça, mas não se machuque.
- Farei isso – eu sorri meio sem graça. – Obrigada.
- Amo você, gênio – ele riu e eu acabei rindo junto. – Sim, eu já ouvi te chamando assim.
- Ele é um besta – respondi. – , posso te perguntar uma coisa?
- Meu contrato de “melhor amigo” já entrou em vigor?
- Já – sorri. – Olha, bom... O disse que me amava.
- Tô sabendo – ele cruzou os braços e me encarou. – E... ?
- Eu não falei nada, aí ele riu. Bom, na verdade nós dois acabamos rindo.
- Vocês riram? – gargalhou.
- É, mais ou menos do jeitinho que você está fazendo agora – ri junto. – Ele ficou bravo? Falou alguma coisa?
- Vai precisar de muito mais que um silêncio por você não falar que o ama pra fazer ele ficar bravo com você, assegurou. – Quando nós falamos que ele é doido por você, é porque ele, de verdade, está de quatro pela sua pessoa.
- Jura? – Meu coração deu um pulo. – Mesmo?
- Mesmo – ele deu um peteleco no meu nariz. – Rainha da insegurança.
- Tenho meus motivos.
- Engraçado que, quando o assunto é fotografia, você é esnobe até demais.
- Não fale da minha área, isso eu entendo – sorri. – Mas, só pra terminar, o de verdade não está bravo comigo?
- Eu vou ficar se ninguém me explicar o que está acontecendo aqui.
E a pessoa apareceu do nada no banheiro. Sério, esses meninos precisam parar de ficar aparecendo assim, meu coração não aguenta não; e caso ninguém tenha reparado, o que eu espero que eles de verdade não tenham reparado, é que eu acabei de vomitar aqui.

- ! – Exclamei. – O que você tá fazendo aqui?
- Vim ver porque vocês dois estão demorando tanto – ele suspirou. – ?
- Tô saindo – ele se retirou meio sério, que foi?
- O que tá acontecendo, ?
- Como assim?
- Você sai do nada de perto de mim, vem pro banheiro e então eu fico preocupado, mas o acha melhor que ele venha até você. Tá acontecendo alguma coisa entre vocês dois que eu não tô sabendo? É por isso que você não conseguiu dizer que me ama...
- Hey, hey, hey... – fui até ele e o abracei forte. – Não é nada disso que você está pensando, , e não alimenta mais essa sua imaginação fértil.
- Mas eu não entendo – vi soltar todo ar de seus pulmões e se afastar de mim, me olhando da cabeça aos pés. – Você tá legal?
- Eu tô bem – bufei. – Eu passei mal, me senti muito enjoada e acabei vindo colocar tudo pra fora. Eu sou um pouco mais próxima ao , talvez por isso que ele tenha falado pra deixar ele vir, eu sei que você ia ficar preocupado comigo, igual a como você está agora – sorri.
- Não estou preocupado, estou enciumado, o que é bem diferente – bufou. – Mas agora fiquei preocupado, você tá enjoada?
- Deve ter sido o cheiro doce dos milkshakes que vocês estavam tomando – dei de ombros. – Nada sério.
- Então – ele fez um bico e apontou para mim e para a porta do banheiro, onde tinha passado para ir embora segundos atrás. – Nada aconteceu?
- Nada vai acontecer. Nunca – sorri. – Eu nunca imaginei nos meus sonhos mais doentes que alguém de verdade sentiria ciúme de mim.
- Por que não? – Ele arregalou os olhos e esboçou um pequeno sorriso. – Qual seu problema, garota?
- De acordo com , sou a “Rainha da Insegurança”. Não é um título que eu gosto, mas eu infelizmente tenho que concordar com ele – fiz uma cara meio de desdém e vi sorrir. – Acho que já passamos tempo demais nesse banheiro.
- Também acho – ele disse segurando minha mão. – Não me assusta mais assim, combinado?
- Combinado – suspirei. – Espera um pouco – soltei sua mão e fui até a pia. Joguei um pouco de água no rosto, fiz um bochecho rápido e prendi meus cabelos novamente um coque. Até que a cara tava um pouco melhor. – Pronto, estou com cara de doente?
- Não – vi relaxar os ombros. – , se tivesse alguma coisa séria acontecendo com você eu ia ficar sabendo, certo?
- Por que tá me perguntando isso?
- Só quero saber até que ponto vai sua confiança em mim – seu olhar não estava tão bonito quanto antes. – Você confia em mim?
- Claro que sim, , isso tudo é porque eu ainda não respondi aquilo pra você?
- Não, de jeito nenhum – ele negou tão rápido. – É só, é estranho pensar que você pode confiar mais em outra pessoa e não tanto em mim.
- Hey – fui até ele e dei um beijo em sua bochecha. – Eu confio em você, . Mas, nunca viu Titanic não? O coração de uma mulher é um oceano de segredos.
- Nunca vou te decifrar por completo, vou?
- Aos poucos você pega o jeito – respondi meio brincalhona enquanto o puxava pra fora daquele banheiro.

Capítulo 21

I want, I want, I want
And that’s crazyyyy
I want, I want, I want
To be loved by you…

Não sei quantas mil garotas no andar de baixo se matavam de gritar, berrar enquanto eu via os cinco garotos da minha vida no palco vestidos de roupa de gala e mais felizes do que eu já tinha visto em todos esses meses que passamos juntos. Os cinco agradeceram ao público maluco, se abraçaram e se curvaram diante daquelas garotas. O sorriso no rosto dos cinco era algo indescritível, eles amavam estar ali no palco diante daquela multidão.

Era sábado, nove horas da noite. Passei a semana editando as fotos dos meninos na rádio e me preparando para atividades extra curriculares que teríamos a partir de semana que vem, isso incluía algumas viagens pela Inglaterra. Nós sairíamos de Londres para outras cidades vizinhas, o que incluía Bolton. Dá pra imaginar a felicidade de e a minha própria. Sam e Lucas também estavam mais animados do que nunca, porém a preocupação deles era de quando saíria o resultado do photoshoot feito com Tyra Banks. Disso eu não tinha a mínima noção, já que a data para revelar o resultado fora adiada, pelo menos, umas cinco vezes. CINCO VEZES! Isso para dois gays que querem muito ir para Paris é uma tragédia grega, mas confesso que para mim também é.

O fato é que, com toda essa correria semanal eu mal consegui ficar com ou com algum dos meninos. Os cinco tiveram reuniões a semana inteira – isso incluía uma reunião básica na casa do Tom Fletcher a fim de decidir que tipo de música eles teriam em seu próximo CD – decidiram se vão ou não para a América e Nova Zelândia e marcaram alguns encontros esporádicos em shoppings para atender as fãs britânicas. Enquanto isso, o quarteto fantástico de fotógrafos amadores passava o dia todo na escola estudando, eu babando em cima dos livros e, à noite, só pensava na minha cama. Três noites eu fui dormir às quatro da manhã para acordar às oito e meia. Meu relógio biológico está todo desconfigurado e eu nem vou começar a falar da minha alimentação, essa sim está uma tragédia. Não que tenha desistido de pegar no meu pé, mas ela também anda com a cabeça cheia de coisas e não tem mais tempo de ficar me vigiando pra saber se eu comi direito ou não, quem faz isso agora é . Sim, fica me ligando todo dia ou mandando mensagem perguntando se eu comi, o que eu comi e que horas vou comer de novo. Eu minto praticamente toda vez. Nesse ritmo acelerado eu às vezes passo o dia com uma banana e uma maçã que eu como de manhã, muita água e muito café; com essa brincadeira eu perdi cinco quilos em duas semanas e minhas calças e blusas estão mais largas. Bem mais largas.

Hoje, enquanto nos arrumávamos para o show dos meninos, percebeu que minha calça jeans, que antes costumava ficar bem mais apertada nas pernas, está larguinha e caindo da minha cintura. Ao invés dela ficar feliz por mim, ela fez cara feia e ignorou, apenas apertando de leve meu quadril e falando que “meus ossos estão mais protuberantes do que antes”, dei de ombros. Hoje a banda iria se apresentar em uma arena de shows aqui em Londres a fim de angariar fundos para uma instituição de caridadade, ou seja, o dinheiro dos ingressos seria doado para essa instituição. estava quase parindo um pequeno de tanta felicidade, eu estava em êxtase porque esse seria meu primeiro oficial show da One Direction. Havia passado os últimos dias ouvindo CD dos meninos, mas desisti de tentar aprender as músicas, e a única que eu de verdade adorei, me disse que não fazia parte do repertório. Qual o problema de cantar “Another World”? Poxa, essa é uma música tão boa! Mas não, eles vão cantar “Stand Up”, e essa eu não sei de cor, digo... Eles já cantaram Stand Up e eu só balancei a cabeça a música toda. Mas, falando do show, foi realmente uma gracinha. Eu nunca tinha ido em show de boyband, já sabia que não ia ver muita guitarra, explosões, fogos e solos magníficos, mas quando eles cantaram “Use Somebody”, eu confesso que me arrepiei. Primeiro que eu amo Kings of Leon, segundo que a voz do meu namorado é maravilhosa. O momento em que eles param o show para ler os tweets foi o meu favorito, cada coisa que essas fãs perguntam! E ah, foi bem legal ver um sutiã sendo arremessado bem na cara do ; novamente eu me pergunto qual o problema dessas meninas de hoje.

O show demorou um pouco mais de uma hora e meia e foi bem agitado. Eles eram cinco garotos ridiculamente charmosos e deixavam as meninas suspirando a cada palavra, música e sorriso que davam. , ao meu lado, gritou todas as músicas e ao final estava rouca, me lembrei que aquele era o primeiro show da One Direction que ela ia. Quem estava conosco também era Lary – para o total desgosto de , que insistia em dizer que era ciumenta, que eu deveria ser mais amiga dela do que da Lary e pra eu ter cuidado com essa menina. Lary foi apenas como companhia, perguntou se podia ir junto conosco e, por que não? ficou todo abobalhado e eu percebia que durante o show ele ficava de vez em quando nos procurando com o olhar. Nós estávamos no camarote superior esquerdo, um pouco acima do palco; de onde nós estávamos dava pra ter uma visão perfeita de tudo, isso incluía das fãs. de vez em quando olhava para nós e sorria, eu podia ver as fãs acompanhando o seu olhar a fim de saber pra onde ele tanto olhava, e quando nos avistavam corriam para os celulares e batiam fotos e mais fotos, outras eu tenho certeza de que atualizavam os status no Twitter ou no Tumblr. Por três vezes eu quis pegar meu celular, mas me proibiu de bisbilhotar o que quer que seja que as meninas estavam falando de mim, ou do show ou qualquer outra coisa. “Hoje a noite é de diversão” ela repetia pra mim, e, assim sendo, eu decidi aproveitar o show do meu namorado.

- Como foi ver os meninos pela primeira vez? – Lary me perguntou assim que as luzes começaram acender. – Já perdi as contas de quantas vezes vi One Direction ao vivo.
- Acho que ninguém aqui quer saber quantas vezes você viu os nossos namorados ao vivo – falou e novamente eu quis enfiar minha cabeça em um buraco.
- ! – Olhei-a meio brava e ela deu de ombros, como sempre. – Desculpa, Lary, é o nosso primeiro show – eu ri nervosa. – Gostei bastante.
- Nós já tivemos outras apresentações particulares, perdi as contas de quantas vezes cantou SÓ pra mim – disse com desdém e vi Lary abafar uma risada. - Não foi assim exatamente meu primeiro show.
- Tô vendo, você nem parece em êxtase – Lary apontou para o estado deplorável de . Toda suada, vermelha e descabelada; quem riu dessa vez fui eu.
- O que você...
- Escuta – abracei de lado e apertei um pouco seus ombros. – Como vamos sair daqui? Digo, só tem um jeito, eu acho.
- Vamos ter que passar pelas fãs, mas só esperar elas saírem, não demora muito – Lary me respondeu suspirando e passando as mãos pelos cabelos. Caralho, ela era linda.
- Preciso de água – reclamou. – Vou no bar ali atrás pegar uma garrafa, alguém quer?
- Pega uma pra mim? – Eu tinha certeza absoluta de que Lary disse isso apenas pra irritar minha amiga, afinal, ela deu aquele sorriso travesso no final.
- Sem gás ou com gás? – ainda perguntou de forma educada, dava pra sentir a tensão no ar. – Fiquei sabendo que com gás tem mais calorias.
- Acho que não preciso me preocupar com isso – ela passou a mão pela cintura e pelos quadris, podia pular no pescoço dela a qualquer momento.
- Com gás, então – minha amiga bufou e saiu em passos firmes. era bem branquinha e ficava vermelha fácil, no momento ela estava roxa.
- Eu geralmente não sou tão chata assim – Lary se desculpou. – Mas é bem engraçado deixar sua amiga brava.
- é um amor de pessoa, mas ela pode ser bem ciumenta de vez em quando. Na verdade, eu nunca a vi assim – olhei pra trás e percebi que ela ficava o tempo todo olhando para mim com aquele bico enorme. – E é muito estranho eu afirmar que no momento ela está com ciúme da minha pessoa e não do .
- Ela está sendo uma boa amiga, só isso – Lary riu. – Escuta, eu queria te perguntar uma coisa, posso?
- Claro que sim.
- Você está, se cuidando? – Seus olhos tinham um certo brilho de preocupação, senti meu estômago endurecer. – Digo, você emagreceu bem da última vez que nos vimos.
- Nos vimos uns dias atrás, Lary – desconversei. – Essa foi uma semana difícil, eu acabei não me alimentando bem.
- percebeu?
- Quase não nos vimos, acho que ele nem notou – dei de ombros.
- Ele é muito detalhista, acho estranho ele não ter comentado nada – ela suspirou e sorriu. – Só gostaria que você se cuidasse, os meninos são muito apaixonados por você e absurdamente preocupados.
- Os meninos? No plural?
- é o único que pode te beijar nos lábios, mas não é o único que sente uma atração por você – ela sorriu. – Acredite.
- Mas, o que...
- CHEGUEI – entregou a garrafa de qualquer jeito pra Lary e já veio pro meu lado sorridente. – Que horas vamos sair daqui?
- Acho que já podemos – Lary deu uma olhada no andar debaixo. – Já está bem vazio e se andarmos rápido ninguém vai notar nossa presença.
- E por onde vamos? – Perguntei já sentindo me puxar pelo braço. – Tipo, pelas escadas mesmo?
- Vamos descer por essa lateral esquerda, andar pelo corredor e depois entramos no camarim. Na verdade, vocês vão entrar no camarim, eu preciso fazer umas ligações antes – Lary sorriu. – Vou deixar vocês sozinhas com os meninos primeiro.
- Obrigada – falou bebericando sua água.

Saímos de cabeças baixas pelas escadas laterais, chegamos no térreo e fomos mais ou menos correndo pelo corredor principal entre as cadeiras até o palco. Quando chegamos lá, Lary abriu uma porta lateral e nos deu passagem; era meio escuro e ela disse para seguirmos reto, teria uma porta grande de madeira e era só abrir, já daria para um grande corredor dos camarins. E assim o fizemos. Assim que abrimos essa tal ‘grande porta de madeira’, demos de cara com um corredor enorme e cheios de portas para todos os lados, porém era só seguir a gritaria de vozes que encontraríamos nossos garotos. Um, dois, terceira porta que estava aberta, e ali dentro: One Direction. e estavam com as camisas brancas sociais abertas e riram de alguma besteira falada aparentemente por . encontrava-se sem camisa e brincava de ficar jogando água em , que, diferente dos outros, estava apenas de cueca. Só os cinco estavam ali, eu vi algumas mulheres com crachás passarem de um lado pro outro olhando os meninos dentro do camarim e soltarem risadinhas, apesar de serem mais velhas era impossível resistir ao charme desses cinco palhaços lindos. e eu paramos em frente a porta e ficamos assistindo o espetáculo, uma olhou pra cara da outra e abafamos o riso, sério que nenhum deles iria notar nossa presença ali? Depois de mais ou menos um minuto, nós cansamos de esperar, limpou a garganta bem alto e eu gargalhei, porque os cinco pararam de fazer quaisquer coisa que estivessem fazendo e nos olharam assustados. Pelo menos nós estávamos sozinhos no camarim, seria bem engraçado se algum empresário ou outra pessoa mais influente estivesse presente. Se bem que eu acho que o pessoal que trabalha com a banda já está um pouco mais acostumado com esse tipo de brincadeira dos meninos.

- Oi, crianças – falei rindo quando o olhar de susto passou. – Divertindo-se muito?
- Oi, meu amor – veio até mim com os braços abertos e me abraçou de forma apertada e demorada, e todo suado. – Você tá limpinha.
- Eu não fiquei pulando por mais uma hora e meia em cima de um palco – respondi rindo dando um selinho demorado nele. – Diferente de você.
- Por isso o é magro, pensa se ele não perdesse as calorias que come durante o dia? Nunca vi um cara comer tanto – falou ao fundo vindo até nós e dando um beijo estalado em minha bochecha. – Gostou do show, ?
- Adorei – sorri. – Vocês são muito, muito bons! Me surpreendi – abracei de lado, apesar do seu corpo suado, e recebi um beijo em meus cabelos como resposta.
- Eu percebi que não parava de pular e cantar todas as músicas – , que agora estava deitado sozinho no sofá, disse ao fundo com uma voz bem preguiçosa e cansada. – Até os covers.
- Quando vocês vão entender que eu, de verdade, sou a fã número um de vocês? Depois desse tempo todo, francamente – ela riu bem brincalhona e nós rimos juntos.
- Minha bebê é a garota mais linda – veio caminhando até e já se derretendo todo. – Mais charmosa, mais perfeita desse mundo – e finalizou sua melação romântica com um beijo demorado.
- Eca! – riu. – Arrumem um quarto.
- Primeiro um banho, meu amor – disse empurrando de leve pelo peitoral.
- Pra que tomar banho se o que eu quero fazer com você agora vai me deixar suado de qualquer jeito? – sorriu fazendo uma cara de mil e uma intenções deixando vermelha. – Fica vermelha não que eu sei que você gosta.
- Meu Deus, que fogo no rabo! – Falei.
- Quando você e o começarem a acasalar, você vai entender – ele apontou o dedo pra mim e para . Na mesma hora quem ficou vermelha fui eu, contou pros meninos sobre o fato de nós dois nunca... Bom, isso aí?
- Espera um minutinho aí – e agora apareceu na conversa. – Vocês dois nunca? Sério? Qual teu problema, ?
- O problema não é com ele – falei baixinho. – Digo, eu sou meio difícil...
- Virgem? – falou tão natural e tão fácil que eu até me assustei. – Você é virgem?
- ! – E agora, finalmente, foi a vez de falar alguma coisa. – Cala a boca.
- Qual o problema da ser virgem? – E de novo abriu a boca. Eu enterrei meu rosto no peitoral de e ele me abraçou, senti os meninos atrás de mim rirem bem baixinho e isso incluía minha melhor amiga, Chata .
- Eu sei que talvez não seja da minha conta, mas, por quê? – coçou a nuca, a cabeça e fez careta. Não muito discretamente ele me olhou de cima a baixo.
- HEY – berrou. - Não precisa ficar encarando minha namorada desse jeito, precisa?
- Só to tentando entender o motivo da nunca ter, bom, você sabe...
- Ai – eu ri. – Sei lá, não apareceu a pessoa certa ainda.
- E o ? – perguntou. – Ele não é a pessoa certa?
- Gente, não tô querendo ser chata nem nada...
- Você é sempre chata, brincou.
- Continuando minha linha de raciocínio, – ela bufou. – Por que estamos falando de algo tão pessoal assim? A é virgem sim, e qual o problema?
- Problema nenhum – disse. – Eu só acho um desperdício, porque ela é gata.
- Olha – respirei fundo. – Não que o nunca tentado, e já vou falando isso antes de vocês começarem a fazer piadinhas sobre a masculinidade do meu namorado.
- Eu ia mesmo – riu baixinho.
- É complicado – mordi os lábios. – Eu só, sei lá, quero esperar o momento onde eu não tenha que “pensar” que estou transando, que venha de maneira natural. A possibilidade de começar a tirar a roupa e...
- Ok, veio por trás de mim e tapou minha boca com a mão. – Acho que ninguém aqui vai querer saber dos detalhes que passam na sua cabeça.
- Eu até que estava começando a me interessar pelo assunto – brincou.
- Enfim – eu tirei a mão de de cima da minha boca, ele continuou me abraçando por trás deixando seu braço um pouco abaixo do meu pescoço. – É isso, gente, eu sou virgem e acho que vai dar literalmente na cara quando eu perder a minha “flor”.
- AI QUE BROXANTE! – gargalhou assim como todo mundo. – Flor?
- Queria que eu falasse o quê?
- Não queria que você falasse nada – ele fez careta.

Ainda ficamos nessa conversinha por mais uma meia hora esperando o pessoal da casa de shows liberar a nossa saída. Lary tinha ido embora alegando que tinha um compromisso inadiável, e estranhamente também foi embora antes de nós. Eles iam se encontrar, estava bem claro. Na saída, agarrou minha mão e me puxou para frente dele, de forma que ele me abraçava por trás. A mesma coisa fez com . e vinham atrás com cabeças baixas e bebericando uma garrafa de água. Quando saímos, fomos na direção de uma van que estava estacionada na garagem dos fundos, tinha uma cerca ao redor da garagem deixando as fãs longe, e quando colocamos os pés pra fora, eu particularmente fiquei meio surda. Todas as fãs gritavam e choravam e batiam nas grandes berrando ‘ONE DIRECTION, ONE DIRECTION, ONE DIRECTION’. Eu levantei a cabeça um pouco e vi meninas quase desmaiando só por uma chance de ver os cinco – na verdade os quatro, já que deu uma escapadinha com a Lary – me soltou um pouco e fez um ‘oi’ geral para as fãs, que gritaram mais ainda. Logo atrás também sorria e acenava, e ainda foram até as grades fazer uma graça com as meninas. Muitos flashes vinham de todos os lados, eu vi ursinhos, cartas e presentes serem jogados na direção deles, Paul e mais outros seguranças pegaram um a um.

- Entra, amor – falou abrindo a porta da van pra mim. – Vou falar com algumas fãs, mas não deve demorar.
- Sem problemas – sorri. veio na minha direção me dar um beijo, mas eu virei o rosto e pegou na bochecha. – Não na frente das fãs.
- Bem pensado – ele riu. – Já volto.

e eu ficamos na van sozinhas esperando nossos meninos voltarem. Pelas janelas nós víamos o quão excitadas as meninas estavam e o quão CANSADOS eles estavam. abraçava uma fã, sorria e tirava a foto; logo em seguida, abaixava a cabeça, apertava as têmporas e respirava fundo indo na direção de uma outra fã, e isso acontecia com os outros também. começou a dar apenas ‘high fives’ nas meninas, não parava mais para as fotos, ficou de longe acenando e relando de leve nos dedos das fãs que tentavam ultrapassar aqueles buraquinhos de ferro na grade, sentou no chão e ficou ali sorrindo e fazendo pose para as fotos, depois de um tempo foi até ele.

- Como você está, ? – veio até mim e me abraçou de lado. – Já está amiguinha da Lary?
- Como você é idiota – eu ri encostando minha cabeça em seu ombro. – E, respondendo sua primeira pergunta, eu estou muito bem, ok?
- Parou com a crise? – Ela beijou meus cabelos. – Tô falando sério – segurou minha mão esquerda.
- Que crise você está falando dessa vez?
- A crise de querer parar de comer porque tá noiada com as coisas que você anda lendo a seu respeito? – me olhou de relance. – Tenho cara de babaca, mas não sou não. E acho que ficou na cara aquele dia da rádio...
- Eu estava passando mal, – bufei e me afastei. – Que coisa. Você e o precisam parar de ficar tanto tempo preocupados comigo. Eu estou bem, ando cansada e estressada com as coisas da escola, mas eu estou bem.
- Se você estivesse bem por que iria ficar tão nervosa quando eu perguntasse sobre isso? – Ela me olhou brava. – , eu não nasci ontem e sei muito bem que você tá passando por uma crise, e das feias.
- , você não me conhece – dessa vez quem olhou brava foi eu, vai tomar conta da sua vida cacete. – Você me conheceu esse ano! Você não sabe nada da minha vida, você não sabe o que passa na minha cabeça, você não sabe o motivo pelo qual eu to fazendo isso, então para de me julgar, . Para de me julgar! – E, logo em seguida, me arrependi de ter falado desse jeito com ela. – ...
- Tudo bem – ela me olhava com os olhos vidrados e claramente segurando as lágrimas. – Eu não vou mais te perguntar nada.
- ...
- MENINAS – entrou na van todo sorridente, virou de lado e eu a vi limpar o canto do olho e olhar de novo para com um sorriso no rosto. – Aconteceu alguma coisa?
- Cisco – ela respondeu suspirando e agora, nem olhando na minha cara. – Como foi com as fãs?
- Elas são insanas – ele riu se jogando em um banco ao lado de . Eu tinha pulado para dois bancos ao fundo. – Acabaram de sair do show e ainda tem pulmão pra ficar gritando, não sei como conseguem.
- É o amor – disse meio rindo, mas sua voz não estava tão animada. – Me empresta seu ombro pra eu dormir? Diferente delas, eu tô bem cansada.
- Tá tudo bem, amor? – A voz de tinha claramente um tom de preocupação. – Na verdade, vocês estão bem?
- Tá tudo ótimo, , só cansaço – dei de ombros. – Cadê o resto dos meninos?
- Serve eu? – A cabeça de apareceu, suas bochechas levemente vermelhas e o seu tão lindo sorriso brincalhão nos lábios. – Dá espaço, caralho!
- Tô dando – levantou as pernas para passar e ir até mim. – Que pressa.
- Pronto – sentou-se ao meu lado me abraçando pelos ombros. – Sou todo seu, princesa – ele riu e eu também, senti logo em seguida um beijo ser depositado em meus lábios.
- Oi, oi, oi – e entravam na van também, segundos depois nós já estávamos todos lá dentro, acomodados, e a van já dando a partida.

Encostei minha cabeça na janela e vi as meninas do lado de fora gritarem a acompanharem a van, e colocaram as mãos pra fora e davam tchau enquanto ouvíamos a gritaria. encostou a cabeça em meu ombro e me abraçou pela cintura, soltando o peso do corpo em mim, eu o abracei e fiquei fazendo carinho em seus cabelos, que ainda estavam um pouco molhados devido ao show. estava na mesma posição com , porém era ela quem estava deitada. Olhei pra os dois e engoli o choro, suspirando três vezes e mordendo os lábios; eu fui grossa com ela e sabia disso. Mas esse assunto de ficar no meu pé me vigiando estava me dando nos nervos e eu não aguentava mais! Era , era e eu dou graças a Deus que o não sabe do que está acontecendo. Seria mais um na minha vida.

No caminho de volta, os meninos passaram para pegar hambúrgueres, mas nem eu nem comemos. Eu não queria comer na frente deles, e ou fez isso pra pirraçar comigo ou não estava de verdade com fome, infelizmente eu fico com a primeira opção porque a vive com fome. e me ofereceram várias vezes, mas todas eu neguei, encarou de boa, mas fez aquela cara do tipo ‘eu sei porque você está fazendo isso’, a mesma cara que ele fez no banheiro e a mesma cara que fazia quando me olhava. Finalmente, depois de mais ou menos meia hora, chegamos ao complexo onde os meninos moravam, hoje passaríamos a noite ali. Agora eu não sei se todo mundo vai dormir junto na mesma casa ou se vamos dormir em casas separadas. Digo, cada um na sua, ou seja... Eu com o . Sozinhos? Ah, não.

- Tem cinco minutos? – me chamou assim que descemos no complexo. – Rapidão.
- Claro – olhei pra , que ajudava os meninos a pegarem algumas coisas da van, e fui com até perto da porta de sua casa. – Que foi?
- Você não comeu e você brigou com a – ele cruzou os braços na altura do peitoral e me encarou. – , nem vem torcer o nariz pro meu lado.
- , eu de verdade não quero brigar com você e nem ser grossa...
- Assim como você foi com a ?
- Como você sabe que eu fui grossa com a ?
- Tá estampado na sua cara e na cara dela que vocês duas brigaram, e que foi pelo mesmo motivo que eu estou conversando com você agora – ele suspirou. – , eu só quero seu bem.
- E eu só quero que todo mundo pare de pegar no meu pé – falei com a voz um pouco esganiçada. – Eu não to fazendo nada de mal, não estou fazendo nada pra ninguém.
- Está fazendo pra si mesma! Tem noção de como o vai ficar se souber que você não come direito porque as fãs ficam exigindo demais de você? Porque você se abala com os comentários?
- Tem noção de como é namorar ? – Solucei alto. – De quantas meninas lindas pagam pau pra ele todo santo dia, toda hora e todo segundo! E você acha que eu não tenho espelho? Eu não sei porque ele me escolheu, mas agora que eu estou com ele preciso fazer merecer essa escolha, e se pra isso eu tiver que sacrificar um prato de comida pra uma roupa entrar em mim, eu vou fazer isso.
- Essa é a coisa mais patética que eu já ouvi em minha vida – ele riu de forma sarcástica.
- Isso é amor, . Eu o amo – e agora eu não tinha mais controle das minhas emoções, quando dei por mim já estava chorando. E mal percebi que admiti pela primeira vez em voz alta que eu amava .
- Se você o ama, assim como diz, por que faz isso com você? – Ele enxugou as lágrimas que molhavam meu rosto. – Se ame primeiro antes de dar seu amor para outra pessoa. Você é linda, não precisa mudar absolutamente nada em você, ! NADA!

E, dizendo isso, beijou minha testa e saiu com as mãos no bolso da calça e com passos largos. Me abracei passando as mãos com força pelos meus braços, fungando baixinho e fui para a casa de , que já estava aberta. Ele já estava lá dentro na cozinha, bebericando uma garrafa de água que eu aposto estava na geladeira. Me apoiei na bancada e o encarei, sorri quando ele finalmente me viu.

- Fechei a porta da sala, não sei se vamos ficar sozinhos hoje.
- Claro que vamos – ele riu. – O que o queria com você?
- Perguntar se eu estava bem, ele anda meio preocupado com o jeito que algumas fãs me tratam – suspirei, se for olhar por cima eu não menti. – Mas eu disse que tá tudo bem – eu sei, isso é uma mentira.
- O é preocupado com todo mundo – sorriu e veio até mim.

Colocou a garrafa em cima da bancada, deu a volta e me puxou pela mão para um abraço de frente. Coloquei meus braços em volta de seu pescoço enquanto sentia seu nariz passar de leve sobre os meus, e minha bochecha, meu pescoço...

- Podemos não falar sobre isso hoje? – Falei baixinho respondendo aos carinhos que recebia.
- Só porque eu estava pensando em finalmente te apresentar ao mundo – ele disse no pé do meu ouvido. – Twitcam.
- Aaahhhhh, – segurei seu rosto e o beijei bem lentamente. – Sério?
- Uhum – ele me respondeu com os lábios colados aos meus. – Não vai ser nada demais, na verdade eu sou péssimo em Twitcams. Mas só, sei lá, queria passar um tempo com as fãs e com você hoje.
- Eu vou ter mesmo que aparecer? – Mordi os lábios.
- Vai sim – ele sorriu e me beijou. – Por favor?
- Ai te odeio! – Dei um tapa em sua bunda e me afastei, ouvindo claramente rir alto na cozinha.
- Falar que me ama ninguém quer, agora que me odeia.
- CALA A BOCA, PORRA! – Falei alto e ele gargalhou mais ainda.

E meia hora depois, banho tomado – nós dois, porém em banheiros diferentes – e uma roupa quase pijama, eu e estávamos na cama com o Mac no colo. Na verdade, o Mac estava no colo de e eu estava em uma posição onde não era possível me ver na Twitcam, disse que ia aparecer só mais tarde, não logo no comecinho. avisou no Twitter que ia fazer uma Twitcam e, logo nos primeiros minutos, o número de pessoas que estavam assistindo era absurdo, estava perto do um milhão de viewers. Eu não ia aparecer pra um milhão de pessoas, ia? Fiquei do lado dele mexendo no meu celular e postando algumas coisas no Twitter enquanto ouvia ele ao lado interagir com todas as fãs, ler algumas perguntas, fazer gracinhas, falar oi para alguns países e agradecer pelo carinho, apoio e essas coisas de sempre. De repente comecei a receber várias mentions perguntando onde eu estava, se eu estava com e se eu podia aparecer na Twitcam junto com ele. Eu comecei a rir, isso estava mesmo acontecendo?

- “Onde está a ?” – Ele leu uma pergunta e olhou pra mim sorrindo. – Ela está aqui do meu lado, mas está com vergonha de aparecer.
- Fica quieto – falei baixo.
- E ela acabou de mandar eu ficar quieto – e mais uma risada. – “, por favor, coloca ela aí com você” – ele leu. – Estão pedindo sua participação, amor.
- Ah não – resmunguei. – Fala que eu tô com sono.
- Fale você mesma. Vocês estão conseguindo ouvir a voz dela? – Ele perguntou e uma chuva de ‘siiiiiim’ apareceu. – Estão todos ouvindo sua voz, só precisa mostrar seu rostinho aqui.
- Ai Deus – ri nervosa, estiquei meu braço e fiz um ‘oi’ pra câmera. Olhei pro computador e pude ler uns surtos doidos de meninas pedindo por mais, começou a gargalhar.
- Aparece direito – virou o computador pra mim e lá estava eu, com minha linda cara cansada, para um milhão de fãs da One Direction. – Hey pessoal, essa é a .
- Oi, gente – falei sem graça. Li muitos tweets que mandavam me chamando de linda, pedindo oi, falando que eu sou fofa e vários – VÁRIOS – elogios. Sorri. – Oi, Catherine, oi, Barcelona. Espanha, Argentina, Estados Unidos e, hey, tem brasileiras aqui também. Oi, Brasil – acenei e sorri. – Tudo bem com vocês?
- Agora tá interagindo – ele colocou o computador de uma maneira que nós dois aparecêssemos juntos, me abraçou pelos ombros e começou a ler o que era mandado para nós. – Sim eu sei que fazemos um belo casal.
- Besta – respondi. – Camilah do Brasil pergunta quando os meninos vão pra lá. ?
- Queremos muito ir pro Brasil logo, mantenham a fé – ele respondeu. – E o mesmo para a América do Sul, mal podemos esperar para fazer um show pra vocês.
- “Se você vier pra Paris, traga a com você” – eu li e comecei a rir. – Morro de vontade de conhecer Paris, quem sabe dá certo.
- Canta alguma coisa? – leu. – Acabamos de fazer um show, minha voz não está boa agora.
- Qualquer coisa – eu falei olhando pra ele. – Canta McFly.
- Ah, McFly – ele riu e as fãs começaram a pedir McFly junto. – Eu sei que isso é muito feio, mas eu não sei quase nenhuma música dos caras.
- Sim, isso é muito feio – eu disse. – Que música vocês querem? – Perguntei e um monte de música pipocou na nossa tela. – Hm, Shine a Light?
- Essa eu conheço – ele respondeu. – Hm, ‘she took the light and left me in the dark, yeah. She left with a broken heart, yeah. Now I-I-I on my own’, tô cantando certo?
- Continua – respondi rindo. – Tá bom, não está? – E de novo as fãs responderam que estava tudo ÓTIMO.
- Como continua? – Ele me olhou confuso. – Ah sim, ‘If anybody sees her, e-e-e shine a light on her e-e-e shine a light on her e-e-e shine a light on her e-e-e... If anybody sees her’ terminou de cantar e sorriu todo bobo. Eu, ao seu lado, não conseguia tirar a felicidade de meus lábios, a voz dele assim totalmente crua era mais linda.
- Palmas, palmas – comecei a bater palmas enquanto eu lia as meninas elogiando até não poder mais, o alter ego do garoto devia estar lá em cima no máximo.
- Obrigado – ele colocou a língua pra fora e ficou um pouco vermelho. – Bom, galera, valeu pelo carinho e por curtirem a Twitcam aqui conosco. Nos vemos em breve.
- Tchau, pessoal – acenei sorrindo e vi fechar a página e desligar o Mac. – Até que não foi tão ruim assim.
- Vamos ver depois qual foi a reação do público – ele suspirou. – Mas isso, como eu disse, só depois.

virou-se pra mim com um sorriso muito sacana no rosto e eu tive que controlar uma pequena crise de riso que ia acabar aparecendo, quando ele “pagava de sexy” eu queria morrer de rir, porque no fundo eu acho isso a coisa mais ridícula do mundo. Mas nem deu tempo de eu processar alguma coisa engraçada pra falar, porque os lábios de já estavam nos meus e suas mãos percorriam minha barriga e lateral do corpo por debaixo da camiseta que eu usava. Deixei escapar um gemido abafado por conta do susto quando ele ergueu meu corpo apoiando suas mãos em minhas costas e, quando percebi, já estava sentada com as pernas abertas de frente pra ele, como se estivéssemos encaixados. Esse garoto é habilidoso, só posso dizer isso, e na verdade é o que me resta dizer. Levantei meu rosto procurando um pouco de ar e, nessa escapada, começou a distribuir beijos demorados por toda a extensão do meu pescoço e ia sugando minha pele, a princípio leve e depois com um pouco mais de força; a sensação era deliciosa e eu sentia meu corpo todo formigar e queimar ao mesmo tempo, mordi meus lábios com mais força e fechei meus dedos em seus cabelos, parece que esse carinho o empolgou mais ainda, porque ele soltou uma respiração quente perto do meu pescoço e mordeu um pouco abaixo de minha orelha. Procurei novamente por seus lábios porque era isso o que me restava a fazer, e os encontrei molhados e convidativos aos meus, me beijando quente e ágil. Por debaixo de minha roupa eu já estava transpirando, eu me sentia quente e queria tirar aquela camiseta, tanto a minha quanto a dele. A de era branca e fina e eu via que aos poucos ela ficava mais colada em seu corpo, e olha que estávamos só com uma sessão média de “amassos”. Ele novamente me deitou em sua cama ficando por cima de mim, roçando suas pernas nas minhas, pressionando seu corpo contra o meu e trilhando seus dedos por partes minhas que eu não sabia que ele já conhecia. Nossos beijos se tornaram respirações pesadas que trocávamos de forma cansada e com suspiros longos e pesados. Atrevi-me a beijar seu pescoço, que me parecia tão convidativo, e, quando eu o fiz, descobri ser uma das coisas mais prazerosas que tinha. Seus lábios eram deliciosos, mas seu pescoço tinha aquela mistura do seu perfume com um gosto salgado leve de suor; beijei com carinho e cautela lambendo meus lábios com o gosto que eu sentia a cada beijo. Ele, enquanto isso, apertava minha cintura com um pouco mais de força em seus polegares e soltava ruídos roucos perto de meu ouvido a cada beijo que eu dava. Seu corpo no meu, seus lábios unidos aos meus, sua respiração misturada com a minha, era isso o que eu precisava e foi nesse momento não tão sutil que eu sabia que estava preparada para amar , para me permitir. E de novo eu lembrei de uma música brasileira, cantada por Lulu Santos. Diz mais ou menos assim: “vamos viver tudo o que há pra viver, vamos nos permitir” e nesse momento eu queria me permitir. Mas não assim.

- ...
- Eu vou até onde você deixar eu ir – ele me respondeu, depositando dois beijos no meu maxilar e depois selando meus lábios. – Acredite, estou repetindo pra mim o tempo todo ‘calma, , muita calma’ – nós rimos.
- Eu quero – falei sorrindo e vi seu olhar brilhar. – Mas não hoje.
- ?
- Confia em mim? – Ele confirmou com a cabeça. – Eu só preciso de uma conversinha de garota com a antes – falei e ele caiu na gargalhada.
- Falar da sua melhor amiga agora é muito broxante – ele rolou pro meu lado na cama ainda rindo.
- Eu sei, por isso eu trouxe o nome dela à tona – respondi. – Tudo bem? – Olhei pra ele e procurei sua mão, entrelaçando nossos dedos.
- Eu já disse que por você eu espero o tempo que você julgar necessário. Eu te amo, sorriu. E essa era a última confirmação que eu precisava.

Capítulo 22

- Na boa, por que eu preciso de três pessoas me acompanhando pra ir ao médico?
- MÉDICA! Que caralho, , e quer fazer o favor de falar o nome certo?
- Ginecologista – falei me arrepiando. – Credo, até esse nome me dá medo.
- Você nunca foi a um ginecologista?
- Não, Sam, nunca fui! E se não fosse pela insistência idiota da , eu continuaria minha vida inteira sem ir.
- Ah claro – ela parou na minha frente. – Você vai finalmente perder a porra da virgindade e não quer saber se tá tudo bem nos seus países baixos?
- ELA VAI OLHAR LÁ EM BAIXO?
- É óbvio que vai, , ou você acha que ela vai descobrir como anda sua periquita pelo poder da mente?
- Não sabia que ela ia olhar, como que é?
- Você vai deitar na maca com uma camisola aberta na frente, abrir as pernas LITERALMENTE e ela vai olhar, ué? – fez careta. – Não é tão agradável quando eu falo em voz alta.
- NÃO É NADA AGRADÁVEL! – Minha voz estava aguda, alta, nervosa e histérica.
- Chegamos – Lucas riu. – O consultório é aqui.
- Exato, Dra. Violeta – suspirou. – Ela é boa.
- Já veio nela? – Perguntei agarrando Sam pelo braço, ele se controlava ao extremo para não rir. – Ou você simplesmente abriu a lista telefônica e escolheu a primeira médica que você viu?
- Hey sua babaca, eu a conheço. Ela que viu minha “flor”, como você adora chamar, pela primeira vez – sorriu. – E dá pra entrar logo? Ou você tá esperando que um monte de menininha nunca comida apareça aqui e comece a tirar foto?
- Já até imagino a notícia – Lucas falou. – Namorada de vai ao ginecologista. Gravidez?
- Vira essa boca pra lá – bati em Lucas enquanto ele ria. – Vamos entrar logo nessa merda!

foi na frente, Lucas atrás, eu atrás dele e depois Sam. O consultório era todo branquinho e - pasmem – pintado com alguns detalhes na cor ‘violeta’ (agora o nome dela faz todo sentido pra mim). Era como se fosse uma casa meio antiga, o piso era de madeira, o sofá bem branquinho e aparentemente confortável, uns vasos de flores delicadas enfeitavam o local e davam um ar totalmente feminino. Lucas e Sam sentaram-se no sofá e ficaram ali lendo revistas femininas. Por mais que possa parecer estranho, eu tenho certeza de que eles estavam bem confortáveis lendo sobre maquiagem, tendências da moda e coisas do gênero. foi comigo até a senhorinha da recepcionista, que vestia um jaleco rosa com flores brancas, tinha o cabelo vermelho acaju e óculos na ponta do nariz, porém seu rosto era amigável. Me aprumei toda e limpei a garganta com um tossido alto e riu de forma discreta ao meu lado.

- Bo-bom dia – falei. – Eu marquei uma consulta.
- Bom dia, meu bem – a tal senhora com cabelo acaju olhou pra mim, tirou seus óculos então pude ver suas pupilas azuis. – Qual o seu nome?
- .
- falou. – , – olhei meio em dúvida. – Você não está no Brasil, meu amor, aqui falamos primeiro o sobrenome.
- Ah sim, claro – bati com a mão na testa, tinha me esquecido desse detalhe.
- , sua consulta está marcada para agora às dez horas, certo? Com a Doutora Violeta.
- Exato – suspirei. – Ela demora pra atender?
- Na verdade você é a primeira paciente dela, não vai esperar mais que dez minutos.
- Obrigada – merda, eu queria que ela atrasasse, assim teria uma desculpa para sair rápido desse consultório.
- Fique à vontade, vou informar a doutora que você já chegou – e a senhorinha educada nos dispensou.
- Sua mão está gelada – riu segurando minha mão enquanto íamos para o sofá sentar com os meninos. – Tá nervosa?
- Não está sendo nada agradável essa consulta. Ainda mais porque eu sei o motivo pelo qual você me trouxe pra cá.
- Você vai ter sexo com seu namorado? – Lucas me olhou com ar de ‘óbvio’ e eu odeio esse olhar. – Qual o problema? Precisa saber se está tudo certo nos países baixos.
- Quando vocês falam assim é MUITO broxante, só queria deixar isso bem claro. E outra, desde quando minha vida sexual se tornou algo público? – Bufei, cruzando as pernas e os braços.
- Desde que você começou a namorar um dos caras, se não for o cara, mais famoso do planeta – Sam riu. – E dê graças a Deus que as fãs doidinhas dos meninos não sabem que você é virgem.
- Parte delas ainda acha que o é virgem – disse e nós rimos. – Qual é? Tem fã de 12 anos, cara, impossível essa garota saber o que é sexo.
- Se lê fic restrita, sabe o que é sexo sim – Lucas falou.
- Fic restrita?
- Nunca leu não, ? – Sam abraçou Lucas pelo ombro e me olhou. – Site de fiction? Fictions? Ficção? Estórias que pessoas desocupadas inventam para expressar seu desejo de ter uma vida melhor porque a vida que levam não basta? Entretenimento virtual?
- Para de falar grego – eu ri. – O que é isso?
- Qual das partes você não entendeu? – me olhou. – Lucas vomitou mil coisas e, honestamente, eu não entendi algumas coisinhas.
- O que seria uma fiction?
- Geralmente são baseadas em algum fandom, pode ser tanto livro como banda ou filme, o que mais te agradar. Então, uma pessoa desocupada, como eu já disse, começa a tecer uma estória de acordo com esses personagens já existentes.
- Porque a pessoa não tem capacidade mental suficiente de inventar novos personagens – Sam riu.
- E pode ser de caráter romântico, comédia, drama ou, como eu disse, restrito. Ou seja, sexo.
- Sexo?
- Sim – Lucas riu. – E não para por aí, tem a categoria ‘slash’, que, traduzindo, homossexual. E pode ser restrita slash, o que torna tudo mais divertido.
- Eca – eu deixei escapar e os dois me olharam. – Não tô falando que vocês dois é ‘eca’, mas eu não leria nada do gênero.
- Quem é virgem não opina em leitura erótica – Sam rebateu. – Enfim, continuando... Há alguns sites que são voltados exclusivamente para a publicação de fanfics. Então, a pessoa desocupada escreve e manda os capítulos para o site. Geralmente são publicados todo mês, porém há aquele tipo de pessoa mais desocupada AINDA que posta toda semana. Não gosto, prefiro ficar no suspense e esperar mais tempo, meu cérebro se encarrega de acrescentar mais detalhes na trama ao longo dos trinta dias.
- Ok, pergunta – levantei a mão. – Essas fanfics, qualquer pessoa pode escrever? E ler?
- Aham, qualquer pessoa – falou. – Eu já tentei escrever algumas, mas fica tudo uma merda. Gosto mesmo é de fazer sexo, e não escrever sobre sexo.
- É um dom escrever cenas picantes sem ficar tosco ou rápido demais – Lu falou.
- E, já que qualquer pessoa pode ler, quer dizer que meninas com doze anos também acabam lendo fictions restritas?
- Fics – Sam me corrigiu. – Fala assim que é melhor. E, sim, as meninas de doze anos leem esse tipo de ‘literatura pornô virtual’ – ele riu. – E, na verdade, muitas delas já leram com o seu namorado sendo o principal.
- HEIN?
- Como já foi dito – dizia. – Fics são baseadas em fandoms, e há sim muitas meninas que escrevem com os meninos da One Direction. Eu já li várias, algumas são muito boas, mas outras dá para perceber que foram escritas por meninas virgens, BV’s e que nunca saíram de casa pra nada. Lastimável!
- BV? – E lá vai eu de novo com uma pergunta tosca.
- Boca Virgem, nunca beijou – Sam respondeu rápido.
- Ah sim – me fiz de entendida.
- Mais engraçado é ler slash com One Direction, todo mundo acha que eles são gays e viajam nas idéias – Sam gargalhou. – Chega a ser tosco, eu, como um legítimo gay, sei que aqueles lá não gostam de uma pica de maneira alguma.
- Diferente do Dougie Poynter, aquele sim – Lucas se abanou e eu gargalhei.
- Eu quero ler uma fic – falei. – Ai cara, sou muito por fora dessas coisas.
- Não sei se seria uma boa ideia você ler – riu. – Sua cabeça é noiada sem ao menos saber direito o que as meninas pensam do seu namorado, se você for ler o que elas imaginam dele entre quatro paredes...
- O que custa? – Dei de ombros. – Será que eles já viram?
- Com certeza – Lucas falou. – É óbvio que eles já leram alguma coisa, qualquer pessoa tem curiosidade em ler fics – ele sorriu. – Pergunta pro .
- Vou perguntar pro – falei baixo.
- ? – me olhou. – Teu namorado trocou de nome e eu não tô sabendo?
- Quê?
- , – ela continuou. – Na verdade, to querendo falar desse assunto já tem um bom tempo.
- Que assunto?
- Perdi alguma coisa?
- Não estávamos falando de sexo?
- ? – E todo mundo parou de falar. A médica chegou.
- Sou eu – respondi, nunca pensei que ouvir meu nome fosse ser sinônimo de alívio na minha atual condição. Que porra é essa de ficar falando do ?
- Me acompanhe por favor – a médica sorriu.
- Nós ainda vamos conversar sobre isso – bufou. – Ouviu, ?
- Não tenho nada pra falar, tá a fim de brigar de novo? – Respondi.

Segui a médica, que era uma cópia um pouco mais rica da senhorinha de cabelo acaju da recepção, porém os cabelos da doutora Violeta eram loiros acinzentados, seu corpo era rechonchudo, mas ela também tinha um sorriso e olhar simpáticos. Assim que entrei em sua sala vi aquele negócio em forma ‘vaginal’ em cima da mesa, sério que eu sou assim por dentro? Fiz careta e senti um arrepio correr por minha espinha. Ela sentou-se e eu me sentei em seguida de frente para ela. Meus pés batucavam o assoalho de madeira e minhas mãos não sabiam se ficavam cruzadas no colo ou tirava a franja dos meus olhos que caíam o tempo todo. Dei uma geral naquela salinha da tortura, tinha uma cortina branca amarelada do meu lado direito, ali deve ser a pior parte, alguma coisa me dizia isso. Por todos os lados havia quadros com certificados e fotos de mulheres nuas, mas não por um lado pejorativo, pareciam mulheres gregas, aquele tipo de sensualidade subliminar. Não que eu estivesse agora me sentindo totalmente confortável, na verdade essas fotos só me lembravam certas coisas que eu queria esquecer: eu ia ficar pelada hoje, aqui e agora, e eu ia ficar pelada com o . PELADA! Ai, Jesus.

- Bom dia, , como você está querida?
- Nervosa – respondi meio no susto. – Ai, me desculpe.
- Primeira vez que vem a um ginecologista?
- Sim – suspirei. – Primeira e dependendo de como for essa experiência, última.
- Relaxa – ela riu, relaxar é algo que não rola, de jeito algum! – Bom, quantos anos você tem?
- Dezoito.
- Toma algum tipo de medicamento?
- Não.
- É alérgica a alguma coisa?
- Salmão – eu acho que eu era, sempre que como, passo mal.
- Como é o seu ciclo menstrual? – Pronto, começou a putaria.
- Regular? – Perguntei e a doutora riu. – Vem sempre certinho de vinte e oito em vinte e oito dias, mas eu tenho muita cólica.
- TPM?
- Ah sim, sempre.
- Tem a vida sexual ativa? – Que vergonha.
- Não – a resposta saiu mais como um sussurro do que qualquer outro som.
- Tem namorado?
- Tenho.
- Ele tem a mesma idade que você?
- Sim.
- Já tentaram alguma coisa?
- Tentar no sentido, uns amassos?
- Sim.
- Nunca passamos dos limites dos beijos. Mas – limpei a garganta – algumas vezes nós começamos a “namorar” e eu fiquei... Úmida.
- Excitada – ela me corrigiu, assim, na lata!
- Isso, excitada – suspirei.
- E ele também ficou?
- Deve ter ficado – falei meio sem pensar, ela me encarou com um sorrisinho maroto nos lábios. Mas... Ah, aahhhh. – Ahhhhhh, nesse sentido?
- Em que sentido você estava pensando, querida?
- Sentido nenhum – meu rosto esquentou. – E, sim, ele já ficou, hm, animado.
- Ok – ela sorriu. – Você pretende perder sua virgindade logo?
- Logo assim, logo não. Mas pretendo – faz de conta que eu não estou com pressa.
- Já conhece os métodos contraceptivos?
- Camisinha?
- Não apenas a camisinha, mas a pílula também.
- A pílula não pode atrapalhar meus hormônios?
- Pelo contrário, ela vai ajudar a regular seus hormônios. E melhor ainda pra você que já tem um ciclo menstrual regular.
- Ah, claro – suspirei, não entendendo mais nada.
- , pode ir atrás da cortina, por favor? Tire toda a sua roupa e coloque a camisola verde virada para frente.
- Agora?
- Agora, meu bem – ela riu.
- Ok?!

Fui até a cortina e a abri sentindo meu coração vir parar na boca. Eu não fico pelada nem na frente da minha mãe, quanto mais uma senhora que nunca me viu! Assim que vi o ‘lugar’ que tinha atrás da cortina, me senti em Jogos Mortais. Uma cama estranha que era parecida com uma maca ou aquelas cadeiras de dentista, não sei descrever bem ao certo. Era de couro e tinha o apoio das costas inclinado pra frente como se fosse um banco de carro ou, novamente, aquelas cadeiras de dentista. No pé havia duas coisinhas de metal que lembravam aquelas que as manicures usam como apoio, mas eu sabia que ali era onde eu colocaria minhas pernas. E então, pendurada ao lado da cama estava a tão maldita camisola, bem hospitalar. Tirei os sapatos, a calça e a camiseta ficando apenas de calcinha e sutiã, pensei em falar que não me sentia bem em ficar ‘nua na frente de estranhos’, mas ela era médica e devia ver isso o tempo todo. Coisa mais desagradável. Repetindo pra mim mesma um mantra dizendo que tudo ia ficar bem, desci a calcinha até meus pés quase sentindo vontade de chorar, tamanho meu desconforto, e então abri o sutiã e o tirei, novamente com a garganta embargada. Peguei aquela camisola horrorosa e a vesti, deixando a parte aberta que, geralmente fica pra trás, pra frente. Não tinha nenhum espelho por ali, então eu nem podia ao menos saber como que eu estava, sensação de invasão e desconforto tomando conta de todas as minhas células.

- Posso entrar?
- Claro – respondi, eu ainda nem tinha me sentado naquela maca-cama-cadeira.
- Suba na maca, por favor – ok, maca.

Subi totalmente sem jeito, quando eu levantei a perna pra me arrumar percebi que não tinha nada – NADA – ali pra me cobrir, eu estava totalmente vulnerável. E aquele ar-condicionado não estava cooperando também, eu já estava transpirando frio, agora todas as partes do meu corpo, o que incluía LÁ, estavam geladinhas. A doutora pediu pra eu descer mais meu corpo, e mais um pouco, e quase todo meu tronco, coloquei as pernas cada uma naquele apoio de metal e agora eu entendia claramente o que a ‘posição frango assado’ queria dizer; eu estava parecendo um frango. Assando. Só falta colocar o recheio de farofa no meio. Literalmente NO MEIO! Se antes eu não sabia onde colocar as mãos, agora fodeu mais ainda, eu tava totalmente pelada, qualquer lugar que eu colocasse as mãos ia ser estranho. A camisola escorregou pela lateral do meu corpo, então de frente mal dava pra ver que eu estava na verdade vestindo alguma coisa, mas agora eu não vestia era nada. Suspirei nervosa e mordi meus lábios desejando que eu pudesse sair correndo dali logo, mas antes eu precisava de roupas, MINHAS ROUPAS! Decidi por deixar as mãos pousadas do meu lado e cantarolar qualquer coisa em minha cabeça, qualquer coisa mesmo. Então a doutora Violeta veio até mim e disse que ia “apalpar meus seios” e eu nem pude falar ‘ok’, porque ela já estava ‘apalpando meus seios’. Ela era muito delicada, apertava gentilmente com as pontas dos dedos ao redor dos seios e depois o bico, fazia uma cara de que estava tudo bem e parava. Depois fez a mesma coisa em minha barriga e um pouco abaixo do meu umbigo, ali eu senti uma coisinha incômoda, mas ela disse que estava tudo bem e que, provavelmente era porque eu estava tensa. “Relaxa”, ela disse, mas quem disse que eu conseguia relaxar numa situação como essa? E então, quando eu pensei que não tinha como ficar pior, ela avisou que ia dar uma olhada na minha vagina. VAGINA! A palavra é feia em qualquer língua, em inglês acho que soa um pouco pior, ‘vadjaina’, nojento. Falei que tudo bem, mas óbvio que não estava tudo bem, claro que não! Ela colocou uma máscara que cobria o nariz e a boca, sentou-se bem de frente para a coisinha ali em baixo e colocou uns óculos com lentes de aumento. Ela pediu ‘licença’ e de novo falou ‘se relaxar facilita’, colocou as mãos lá dentro e apalpou da mesma forma que tinha feito antes com a parte superior do meu corpo, mas dessa vez a sensação era bem mais estranha e triplamente desconfortável. Senti ela passar alguma coisa pelas paredes do meu órgão, perguntei o que era e a resposta foi ‘cotonete, estou retirando material para o laboratório’ e, de novo, só falei um quase não sonoro ‘ok’. Eu estava com frio e com vontade de fazer xixi, será que ‘no ato’ eu vou ter vontade de fazer xixi também? De repente eu senti uma dor EXCRUCIANTE! Era como se todas as cólicas estivessem vindo juntas no mesmo segundo, só que eu nem consegui gritar porque, assim como veio rápido foi rápido, mas lá pulsava, e pulsava MUITO! E não era pulsação boa, era de dor; a vontade de fazer xixi só aumentou.

- Pode se vestir, – ela me disse sorrindo. COMO QUE ALGUÉM SORRI DEPOIS DE UMA EXPERIÊNCIA DESSAS?

Desci meio tremendo da maca, tirei aquela camisola e procurei pela minha roupa que estava toda no cantinho. Calcinha, sutiã, calça, tênis e camiseta. Um frio passou pela minha espinha e eu senti vergonha, não queria nem encarar a doutora, mas vamos lá! Abri a cortina e a vi sentada escrevendo coisas em um pedaço de papel, olhando para minha ficha e fazendo mais anotações. Sentei-me de frente para ela como antes e aguardei em silêncio, queria fazer tantas perguntas, mas ao mesmo tempo morria de vergonha. Se eu tiver alguma dúvida no futuro, eu procuro no Google.

- Bom, minha querida, aparentemente está tudo bem com você – Dra. Violeta dizia enquanto terminava suas anotações. – Não há sinal de infecção, corrimento normal, sua vagina é bem lubrificada – ai, ai, ai, ai me tirem daqui. – Não há nódulos em seus seios e o corrimento está com cheiro e cor normais.
- Que bom – foi a única coisa que consegui responder.
- Você se sentiu desconfortável em algum momento? – Posso responder TODOS?
- No finalzinho – minha garganta estava seca. – Foi, estranho.
- Sentiu uma dor?
- Uma grande dor.
- Meu bem, quando você pretende perder sua virgindade? – Ela parou de anotar e debruçou um pouco o corpo sobre a mesa, me olhando com quase um olhar materno.
- Em breve, eu acho.
- O que você sentiu, querida, foi um pouco da dor que toda mulher sente na primeira vez – ela sorriu. Mas o quê?
- Dói daquele jeito? – Vontade de chorar. – Mas não é uma coisa boa?
- Tenta ver sua vagina e o seu ‘canal’ como sendo uma caverninha – odeio metáforas com cavernas. – Ela está fechada esse tempo todo e, de repente, um corpo estranho vai querer entrar dentro dela. É claro que vai doer.
- Sangra?
- Sim, não é como um sangue menstrual, mas sangra – ela sorria, que coisa mais horrorosa sorrir enquanto dá essas notícias. – E, sim, o sexo é uma coisa boa. Mas a primeira vez é sempre desconfortável, vai doer. A prática acaba melhorando a dor.
- Vai doer até quando?
- Depende de mulher pra mulher, do tamanho do pênis do seu parceiro – e de novo senti meu rosto queimar. – Não há necessidade de ficar com vergonha, isso é muito natural, ainda mais com meninas da sua idade. Na verdade, a fase normal de acontecer esse tipo de coisa é agora.
- Tá – eu ri. – Como que, como você... Aquela dor...
- Eu não coloquei nada em seu órgão, apenas introduzi meu dedo um pouco para saber se estava tudo bem, se não tinha nenhuma secreção.
- Ah, tá – eu ri nervosa. – Doeu pra caralho.
- Dói mesmo – ela riu. – Eu só vou pedir para você voltar comigo depois da sua primeira relação sexual com seu parceiro. O corpo de uma mulher muda depois da primeira relação.
- Tudo bem, eu volto – respondi. – E com respeito aos métodos...
- Vou te dar duas amostras de pílulas, camisinha você pode comprar em qualquer farmácia. Não espere o seu parceiro comprar, tenha sempre alguma com você.
- Vou carregar camisinhas comigo?
- Sim, não há problema algum. Se ele não tem no momento, você precisa ter.
- Aham – ai.
- Mais uma coisa, você se alimenta direito? – E agora ela colocou os óculos bem na ponta do nariz e me encarou. Sem nem ao menos perceber, já estava abraçando meu próprio corpo e apertando minha barriga.
- Como assim? Se eu como verdura?
- Além disso. É necessário se alimentar de três em três horas, e pelo seu peso não acho que você está se alimentando nesse espaço de tempo. Como é o seu dia-a-dia?
- Eu estudo de manhã e passo muitas vezes a tarde e a noite estudando na escola ou com os amigos.
- E você tem o costume de tomar café, almoçar, jantar?
- Nem sempre – funguei. – Às vezes passo o dia só com o café da manhã.
- Hm... – e mais anotações. – Na idade que você está não é bom ficar tantas horas sem comer, seu corpo ainda está em desenvolvimento. Vou pedir pra você fazer um exame de sangue e receitar algumas vitaminas. Acho que você está um pouco abaixo do seu peso ideal – é agora ela me encarou. – Isso é sério.
- Não me sinto abaixo do meu peso ideal – rebati.
- , o fato de você estar em um relacionamento com uma pessoa famosa não significa que você deva sacrificar seu corpo por isso – arregalei meus olhos, ela sabia com quem eu namorava?
- A senhora conhece meu namorado?
- Tenho uma filha de seis anos – ela sorriu. – Não faça loucuras.
- É... Complicado. Digo, eu não me vejo da maneira que ele me vê, não me acho bonita e sempre tive dificuldade em ficar no peso ideal.
- Você não está no peso ideal, seu peso está abaixo do ideal – seu olhar era um pouco mais severo. – Como anda seu sono?
- Não durmo mais que cinco horas por noite.
- Seu ciclo menstrual está regular, como você me disse, mas com a perda de peso há a possibilidade dele ficar irregular. E você que está para iniciar sua vida sexual, precisa tomar muito cuidado com isso, o peso baixo afeta o sono, pele, cabelo.
- Mas eu não estou doente, estou? Digo, não posso ser qualificada como uma pessoa com distúrbios, eu não paro de comer porque eu quero. Digo, é porque eu quero, mas... Eu tenho controle, se eu quiser comer eu como, não tenho problemas com isso. Nunca tive.
- Querida – Dra. Violeta suspirou. – Não posso diagnosticar nada até ter o resultado dos seus exames, por isso eu peço que você os faça, tudo bem? E em nenhum momento eu dei algum diagnóstico, foi apenas um alerta.
- Tá...
- Estou recomendando uma ótima nutricionista, faça uma visita ao consultório dela, por favor.
- Eu vou – falei sabendo que eu nunca iria. - Obrigada.
- Aqui estão as guias para os seus exames, pode marcar lá na frente o seu retorno.
- Eu retorno depois que os exames ficarem prontos ou depois da minha primeira relação sexual?
- O que acontecer primeiro – ela sorriu. – Mas eu quero te ver de novo.
- Eu volto – eu não ia voltar. – Mais uma vez, obrigada.
- Não há de quê.

Saí daquela salinha segurando os papéis dos exames em minhas mãos, eu tremia. Fui direto pro banheiro e fechei a porta de forma quase silenciosa, não queria que ninguém ouvisse que eu estava lá, esse ‘ninguém’ era Sam, Lucas e . Peguei os papéis dos exames e os rasguei de forma compulsiva, até ficarem minúsculos. Não ia fazer porra de exame nenhum, não ia pra nenhuma nutricionista! Eu não estou doente, eu não sou uma idiota que para de comer pra fazer graça, tem todo um trabalho por trás disso! E QUE ÓTIMO que estou um pouco abaixo do meu peso ideal, pelo menos não estou gorda e feia e não tem vergonha de ficar ao meu lado, e como ela sabe que estou abaixo do peso sendo que ela nem me pesou? Nem eu sei com quantos quilos eu estou, ou seja, não dá pra acreditar nessa médica. Joguei os papéis no vaso sanitário e dei descarga três vezes, a fim de não sobrar nenhum pedacinho pra contar história. Respirei fundo algumas vezes e joguei um pouco de água no rosto, pulsos e nuca. Passei os dedos delicadamente pelos meus ossos do colo, ou como todo mundo costuma chamar, as ‘saboneteiras’ e vi que estavam um pouco mais saltados do que quando eu me mudei para Londres, meu pescoço também estava mais longo e mais fino e minha camiseta não ficava justa em nenhum lugar do meu corpo. Eu estava mais magra, visivelmente mais magra. E por que ainda não parecia o bastante? Isso não é normal, o que eu estou sentindo não pode ser normal. Bati na minha própria testa querendo afastar esses pensamentos doentios e me convencer de que tudo estava bem, porque na verdade, estava tudo bem. Puxei um pouco a pele da minha bochecha e dei uns tapinhas ali para eu ficar com o aspecto mais “corada” e saí do banheiro, indo novamente para a salinha da recepção.

- Então, como foi? – foi a primeira a ficar de pé quando eu apareci. – Traumatizada pra sempre?
- Nem tanto – eu ri. – Vamos?
- Ela não te pediu nenhum exame? – Ela perguntou. – Jura?
- Um ela vai mandar direto pro laboratório, e ela quer me vez depois que eu perder a virgindade – dei de ombros.
- Faz sentido – disse. – Escuta, desculpa por eu...
- Fala nada não, tá tudo bem.
- Mesmo?
- Aham.
- Ok, vocês duas, vamos parar com esse momento lindo e irmos andando? Quem tem mais de 200 fotos pra editar?
- Todos nós – Sam falou abraçando Lucas. – A tarde e a noite serão longaaaaaaaas.
- Preguiça me define nesse momento – bufei.
- Mas antes poderíamos passar no Burguer King, o que acham? – disse já dando pulinhos, meu estômago roncou de leve só ao ouvir essas palavras.
- Eu super topo, meu corpo precisa de alimento.
- Meu também – Lucas adicionou. – Todos concordam?
- Sim! – disse, eu ainda estava quieta. – Eu pago o seu, fiz você passar por uma experiência traumática hoje, é o mínimo que posso fazer.
- Não precisa – falei sorrindo. – Eu não...
- – o olhar de não era nem severo, era quase um pedido. – Por favor.
- Tudo bem – concordei sentindo vontade de chorar. – Vou ligar pro primeiro, não falei com ele hoje ainda.
- Liga no caminho, nós já vamos indo.
- Ok.
Quando peguei meu celular tinha pelo menos três novas mensagens de e uma de... DANNY JONES? Desde quando Danny tem meu número? O QUÊ?

Preparada para uma Saturn V Experience nesse sábado? – Danny Jones O QUÊ? É, eu acabei abrindo primeiro a mensagem do Danny, mas o não precisa saber disso, precisa? E como assim? Danny estava me chamando pra ver AO VIVO ele sendo DJ? SATURN FUCKING V EXPERIENCE? Cara, isso é surreal, no mínimo LOUCO! E ainda tem as mensagens do , eu preciso lê-las.

Cadê você? Por que não atendeu minhas ligações? Tem gente atrás de você e eu juro que não sou eu! – x

Nem você, nem a e nem seus dois amigos atendem os celulares, o que me faz pensar que vocês estão juntos. Assim que ver essa mensagem ME LIGA! – x

Ah, que se dane! Danny Jones nos convidou pra esse fim de semana ir com ele e o McFly todo para ir no Ministry of Sound! Saturn V Experience, diz algo pra você? Eu sei que diz, agora quer fazer o favor de me ligar? – x

Apertei o celular em minhas mãos sorrindo como um idiota! Toda a angústia que estava em meu peito antes foi embora da mesma forma que chegou. Olhei pra frente e vi sendo agarrada por Sam e Lucas, será que eles iam poder ir também? Na verdade, será que eles iam querer ir? Se bem que, se Danny chamou , provavelmente acabou chamando , o que significa que a vai também. E se vai o McFly todo será que isso inclui as namoradas? GEORGIA HORSLEY! A miss, miss Inglaterra e miss corpo perfeito e miss ‘eu tenho o namorado mais lindo do mundo’! O que eu tô fazendo?

- Alô?
- – falei, esqueci de comentar que eu estava ligando pra ele? – Desculpa, não podia falar antes.
- Onde você estava?
- Médico, e antes que você faça alguma pergunta, é médico de mulherzinha então não posso te falar porque eu vim aqui – eu ri.
- Tá bom, não vou perguntar – sua voz era leve. – Então, recebeu as mensagens?
- Recebi três suas e uma do próprio Danny! DO PRÓPRIO DANNY! - Sei disso, babe, como eu achei que você estivesse me ignorando, eu pedi pra ele te mandar uma mensagem – gargalhou. – E aposto que você leu a mensagem dele primeiro que todas as minhas outras três.
- Mais ou menos por aí – respondi sem graça. – Então, nós vamos?
- Claro que sim, eu nem sabia que Danny era DJ.
- Não é minha parte favorita de Danny Jones, mas o cara tem talento pra isso. Vai ser aqui em Londres mesmo?
- Eu de verdade não faço ideia – ele riu de novo. – Bom, você tá voltando pro apartamento?
- Ainda não, vou almoçar com o pessoal e depois voltamos. Tem muita coisa pra fazer hoje, mal sei por onde começar.
- Passo lá mais tarde pra te ver – ele suspirou. – Nós estamos bem, não estamos?
- E por que não estaríamos? – Eu ri. – Deixa eu ir, a vai começar a fazer piadinhas sobre nós dois daqui a pouco.
- Tudo bem, mais tarde nos vemos. Amo você.
- Eu também – e, com um longo suspiro, desliguei o telefone.

Capítulo 23

ficou quase uma hora só no meu cabelo! Hidratação, escova (muita escova) e chapinha (muita chapinha). Ao final, meus cabelos estavam lisos, longos, sedosos e brilhantes, parecendo cabelo de propaganda. Minha franja estava presa para trás formando um pequeno topete, enquanto o restante caía solto pelos meus ombros e costas, nem eu sabia que tinha como deixá-lo desse jeito. Ela me emprestou um vestido justo e curto cor marfim (tinha um ombro só, pequenos cristais bordados na lateral e em especial no ombro, justo desde meu busto até minhas coxas, não sabia como eu ia andar naquilo) e ela me fez jurar que eu ia de salto alto. Eu usava uma meia-calça preta e uma summerboot salto quinze, algumas pulseiras de couro com pedrinhas, minha bússola da sorte no pescoço e maquiagem bem carregada preta no canto dos olhos e um pouco mais clara do meio até o início. Muito rímel e lápis, bochechas coradas e um batom ligeiramente vermelho claro com gloss. Minhas unhas foram pintadas de vermelho e meu corpo passou por uma sessão esfoliante e massagem relaxante; me sentia outra pessoa.

Minha amiga não estava tão diferente, tão linda como sempre. Um short preto tão colado quanto meu vestido, blusa soltinha no corpo com a bandeira da Inglaterra estampada nela, um pouco “fumê”, cabelo preso em um alto rabo-de-cavalo, cachos caíam perfeitamente em uma cascata gigante, sua franja mais curta estava desenhada de forma simétrica em cima dos seus olhos delineados em preto, parecia um olhar felino. Ela usava uma bota de cano alto e também de salto, não usava meia calça, porém estava com o triplo de acessórios. Brincos em forma de argolas gigantes, muitos anéis e muitas pulseiras. Sem falar no perfume, o de puxava para um doce e o meu para um cítrico, e isso porque eu tinha falado pra ela que não queria ir muito chique, já que pretendia pular e dançar a noite toda, mas com esse vestido e com esse salto vai ser meio impossível. A única coisa que ela me pediu foi ‘divirta-se e se esqueça do mundo, pelo menos por hoje’. E, com isso na cabeça, eu a deixei me arrumar. Hoje era tudo sobre diversão, e era nisso que eu iria me concentrar.

- Quer parar de se olhar no espelho? Já disse que você está linda!
- Tem certeza que esse vestido não está marcando demais a minha barriga?
- , você nem tem mais barriga – ela riu. – Não que eu aprove essa sua fase de ‘não vou comer’, mas você emagreceu demais e está parecendo um cabide, não que isso seja uma coisa ruim, mas como agora você está bem mais magra, não tem mais barriga, tá lisinha.
- Estou magra demais? – Passei a mão por cima do vestido em meu corpo.
- Você está perfeita – ela veio atrás de mim e me abraçou. – Eu juro que se fosse macho te pegava, mas pra isso você tem o .
- Graças a Deus – eu ri. – Ele vai gostar?
- Ele te ama, é claro que vai gostar – ela sorriu. – Agora vamos logo, os meninos estão nos esperando lá fora.

Esqueci de comentar, nós estamos nos arrumando na casa do . Como ia chamar a atenção demais se eles fossem nos buscar no alojamento, decidimos ir até lá. Eles ficaram loucos porque, eu e estamos trancadas no quarto há pelo menos três horas, enquanto eles estão prontos a mais ou menos uma hora. Eles juraram que não iam entrar no quarto e nem espiar pelas janelas, mas por via das dúvidas trancamos tudo, e, na verdade, ainda bem que fizemos isso, e tentaram entrar pela janela. Passei mais uma vez a mão pelos cabelos, pelo vestido e pela lateral do meu corpo, então respirei fundo e fui até , que já estava com a mão na maçaneta me esperando para sairmos. Assim que ela abriu a porta, estava ali e, quando nos viu, eu tenho certeza de que parou de respirar por alguns segundos. Seu olhar passou rápido por , que pareceu nem notar a presença dele ali, e depois foi direto para mim; desde meu salto, minhas pernas, cintura, busto e rosto; vi que ele ficou um pouco rubro e mordeu os lábios de forma discreta quando passou o olhar por meus olhos e minha boca, até eu fiquei um pouco sem graça e senti um formigamento esquisito no meu estômago. Seu olhar, porém, parou em cima da bússola prata que pendia em minha clavícula e no mesmo instante ele desviou o olhar, coloquei a mão em cima da pequena peça que havia me dado e sorri.

- Desculpa a demora, foi difícil a me convencer a usar saltos – apontei para o meio metro de salto e riu. – Não sei se vou aguentar até o final da noite.
- Você está linda – ele disse suspirando e colocando as mãos dentro do bolso da calça jeans. – Deslumbrante seria a palavra certa.
- , você me ouviu falando dos saltos? – Fiz careta e ele gargalhou. – Sério, eu to morrendo de dor.
- Qualquer coisa o te leva no colo, ele vive fazendo isso com o deu de ombros e coçou a nuca. – Ele é um cara de sorte de te ter ao lado, não poderia estar mais feliz por... Ele.
- Só espero que faça valer a pena – respirei fundo. – Não quero...
- Hey – ele segurou meu queixo. – Ele te ama – sorriu, parecia tanto uma afirmação para mim e estranhamente para ele também. – Só sorria e aproveite a noite.
- Ok – soltei o ar dos meus pulmões e tentei sorrir. Olhei de relance para , que já estava abraçada com , ela me olhava de uma forma curiosa e parecia fazer uma careta, decidi ignorar essa feição. Sorri pra e fui andando na direção da sala, estava sentado no sofá vendo TV.

Cheguei a sala e pedi para e não falarem nada, embora os dois estivessem com queixos caídos ao me verem nessa roupa, mas eu pedi silêncio; queria que me notasse primeiro. Ele delicadamente passou a mão no cabelo deslizando os dedos pela franja e, quando virou o rosto para a esquerda, finalmente me viu. Ele olhou uma vez e depois olhou de novo, esboçando o maior sorriso que eu já tinha visto desde que começamos a namorar. Na mesma hora, levantou-se e veio até mim, com a boca aberta e o tempo todo falando ‘uau, wow, uau’, eu só sabia rir e morder meus lábios a cada cinco segundos. O olhar de passou por todo meu corpo, mas tinha uma certa lascividade, como se pudesse ver por debaixo do vestido que eu usava, muito diferente do tipo de olhar carinhoso que tinha dado segundos atrás. Sem esperar eu falar nada ou nem ao menos agradecer por tamanho lisonjeio de tê-lo me secando dessa maneira, inclinou seu rosto sobre o meu quando estava mais próximo, cheirou a pele do meu pescoço e do meu rosto beijando-se nos lábios de forma leve em seguida. Eu ri igual uma criança, meu corpo inteiro formigando e eu podia jurar que sentia choques por todas as minhas extremidades. colocou a mão em cima da bússola e sorriu com os lábios fechando, encarando-me nos olhos. Seu olhar era tão límpido e espelhado, talvez os olhos mais lindos que eu já vi em minha vida. Diferente da forma clichê de falar, eu não via minha alma em seus olhos, eu via meu futuro. Um futuro ao seu lado, pra sempre. Oh não!

- Pensei que você não gostasse de nada te direcionando, que você “fizesse o seu próprio caminho” – ele disse entre aspas meio rindo.
- Eu não gosto, mas eu já sei qual o meu caminho – peguei a bússola e apontei para . – Só há uma direção pra mim agora, eu tenho certeza.
- Tem certeza? – aproximou-se um pouco mais encostando o nariz no meu.
- Absoluta – suspirei. – Eu queria muito falar aquelas três palavras que estão coçando na minha garganta há um bom tempo, mas não com todo mundo aqui na sala – eu disse rindo percebendo um alvoroço perto de e eu. – Tá todo mundo olhando.
- Bando de urubu – ele riu se afastando. – Sério que eu não posso ter um momento carinhoso com minha namorada?
- Pra isso você tem uma coisa que se chama, como se chama mesmo, ah sim, QUARTO! – , como sempre, falou e nós rimos. – Estamos atrasados.
- Como sempre – completou. – Culpe cem por cento as meninas que ficaram se “emperiquitando”.
- Não quero ser uma estraga momento fofo do casal ternurinha, mas a tá mais interessada em ficar gata pro Tom.
- HEEEY – eu berrei quando disse isso, os meninos gargalharam. – Ah, vá à merda, .
- Liga não, eu tenho uma queda pela Georgia – falou e fez um ‘high five’ com , ele sabe muito bem o quanto eu tenho uma implicância com a miss.
- GEORGIA? – Olhei brava pra ele. – Sério, , a Georgia?
- Ela é gata – ele deu de ombros.
- Cara, me esquece – bufei e fui caminhando em passos firmes até a porta.
- Ah, vá! Você pode ficar babando ovo no Fletcher e eu não posso hipoteticamente pagar pau pra namorada do Danny? – Ele disse rindo. – . ? EI!

saiu atrás de mim quando viu que eu não iria escutá-lo, já estava no jardim perto do carro esperando todo mundo, só conseguia ouvir as gargalhadas altas de e e as piadinhas de e . É claro que eu estava fazendo pirraça, se eu não tenho chance com Thomas, com certeza não tem chances com Georgia. E ai dele se fizer alguma coisa, e ai dela também! E desde quando eu sou ciumenta desse jeito? Odeio, ODEIO estar apaixonada, bela bosta.

Fomos em dois carros, sendo que não estava no mesmo grupo de nós. Pelo que os meninos falaram, ele e Lary estavam saindo com mais frequência, o que me levava a imaginar que não ia conosco porque ia passar a noite com a produtora. Score. e foram com e em um carro, eu fui no outro com .

- Me explica o que seria esse Saturn V Experience – pediu enquanto virava uma esquina. – Danny Jones também é DJ?
- Eu pedi pra você dar uma olhada no Google antes, não pedi? – Respondi rindo e vi fazer uma careta ao meu lado. – Mas, sim, Danny também é DJ.
- Que massa.
- Hey, posso te perguntar uma coisa – suspirei. – É bestinha.
- O que quiser – ele sorriu com o canto dos lábios. – Que foi?
- Eu andei pensando no que, bom, no nosso relacionamento esses dias. Faz tempo que estamos juntos, assim, muito tempo – mordi os lábios, vi ele sorrir. – E tecnicamente falando essa é a primeira vez que estou de verdade em um relacionamento sério.
- – paramos em um sinal vermelho e me encarou. – Não tem um tempo certo pra você dizer que me ama e muito menos um tempo pra você aceitar ir pra cama comigo.
- Sério que você conseguiu entender o que eu estava falando? – Arregalei os olhos.
- Te conheço muito bem, você pode ser foda com uma câmera nas mãos, mas no quesito namoro você é péssima em tentar esconder o que sente – ele riu e deu a partida no carro novamente. – E não que isso seja uma crítica, eu acho fofo.
- Você acha tudo o que eu faço “fofo”.
- Por que eu te amo? – Ele disse como se fosse algo óbvio.
- É porque, depois que você me disse essas palavras, eu me sinto todo dia com um peso em minhas costas, como se eu não merecesse você. Na verdade no Twitter o que eu mais leio são as suas fãs falando que eu não te mereço...
- Hey – parou o carro no farol vermelho e me encarou. – Quem são elas pra saber se você me merece ou não? E outra, eu decidi que te amo e decidi que te quero ao meu lado até dizer chega, e é com isso que você vai ter que conviver.
- Desculpa – suspirei. – Sei como isso te deixa chateado, quando eu começo com as minhas paranoias.
- O que você sente por mim, é real? – Ele suspirou e deu a partida no carro. – Eu só preciso saber disso, as três palavras não fazem a mínima diferença pra mim.

Olhei pela janela vendo os carros passarem rápido ao nosso lado, meu coração se apertava cada vez que tínhamos esse tipo de conversa. Por Deus, como eu amo esse garoto! Só Deus sabe como eu o amo, como eu tenho medo de perder o que temos hoje, como minha pele se arrepia ao ouvir sua voz, ao sentir seus lábios nos meus e em minha pele, como seu sorriso me faz cócegas sendo que nem me toca, como eu fico zonza ao seu lado, como todas esses sintomas patéticos de se estar apaixonado ficam fortes quando estou ao seu lado. Eu te amo, ! Eu te amo porque você é oficialmente o meu primeiro amor, a primeira pessoa que eu confio sem confiar, que eu fecho meus olhos e imagino ao meu lado, que eu choro em silêncio quando você não está comigo. Mas eu não consigo dizer isso, não consigo trazer esse sentimento para meu mundo real porque, pra mim, amar nunca foi algo real! Sempre estava em um plano imaginário, amar era para as outras pessoas e não pra mim. Gosto das coisas no plano do subtendido, de saber que sou amada sem ter a cobrança de ter que falar ‘eu te amo’ o tempo todo, porque isso torna tudo tão mecânico e tão exposto. Quando você diz que ama alguém é algo pra sempre, não volta e muda TUDO, talvez seja por isso que eu tenha tanto medo. Amar não é obrigação, amar é consequência de ações e atos que demonstram esse tal amor.

ainda estava quieto ao meu lado com as mãos firmes ao redor do volante, prestando atenção no trânsito. Cruzei meus dedos no meu colo e suspirei, queria que meu cérebro fosse um pouco mais fácil algumas vezes, cansa isso. Vasculhei em minha mente todas as músicas clichês de amor que eu pude lembrar, mas nenhuma expressava de verdade o que eu queria falar. Será que ninguém nunca escreveu NADA sobre ‘você não precisa dizer que me ama, apenas MOSTRE seu amor’. Epa?

- Saying 'I Love you' – comecei a cantar em um tom baixíssimo, nem eu conhecia essa minha voz, porém More Than Words do Extreme me parecia perfeita para o momento, eu não conseguia encarar , por isso encarei meu colo. - Is not the words I want to hear from you – suspirei. - It's not that I want you not to say but if you only knew...
- ? – Ele me chamou, olhando-me com o canto dos olhos. – O que você...
- Não estraga o momento – falei rápido. – Sério, esse é o máximo que eu estou conseguindo agora e você não imagina o quão difícil está sendo.
- Mas...
- Cala a boca, por favor – eu estava quase chorando, era como se fosse uma dor física admitir o que eu sentia. - How easy, opa... How easy… - eu tinha que cantar, e não declamar a música. - It would be to show me how you feel…
- More than words começou a cantar, causando-me um susto. - Is all you have to do to make it rea,l then you wouldn't have to say that you love me - ele sorriu pra mim, causando aqueles espasmos indiscretos novamente. - 'Cause I'd already know.
- Você conhece a música – respondi quase em um suspiro. – E me deixou pagar esse mico sozinha?
- Eu conheço a versão Westlife, depois de um tempo eu fui saber da versão do Extreme e me senti muito culpado por isso – ele riu. – Sua voz é linda.
- É horrível! Nunca mais me deixe cantar ao seu lado, nunca mais – eu ri.
- Continua a música? – Ele riu. – Qual é? Não é todo dia que a minha namorada canta pra mim, preciso aproveitar.
- Você é ridículo, sabe que eu perdi todo o momento ‘declaração de amor’ agora, não sabe?
- Te ajuda se eu cantar?
- Eu não vou cantar se você cantar comigo – eu ri.
- , por favor! – Ele riu e começou a batucar o ritmo da música no volante. – Vai, eu começo... What would you do...
- If my heart was torn in two? More than words to show you feel that your love for me is real…
- What would you say if I took those words away?
- Then you couldn't make things new just by saying 'I love you' – eu sorri quando terminei de cantar essa parte e vi ouvi ele rir baixo – !
- Que foi? – Seu sorriso era torto e engraçado, ele não podia me olhar, já que o trânsito em Londres estava caótico, mas se pudesse, seus olhos iriam entregar tudo. – Um namorado não pode sonhar que um dia a namorada fale...
- TÁ BOM! – Eu ri. – Essas palavras não são tudo em um relacionamento, você sabe disso.
- Eu sei – ele suspirou. – No fundo eu até gosto de saber que você ainda não falou, outras namoradas acabaram falando isso rápido demais e tudo perdeu a graça.
- Outras namoradas? Plural? – Argh, era o que faltava. – ?
- Você sabe que eu já tive outras meninas.
- E essas “outras” seriam “quantas”?
- Ah , eu não fico te perguntando dos seus ex!
- Hm, eu nunca tive um ‘ex’, ! Você é meu primeiro namorado, pensei que soubesse disso – bufei. – Quantas vezes já falaram ‘eu te amo’ pra você’?
- ...
- É sério – bufei. – Realmente, tirando as fãs, de quantas bocas você já ouviu a frase “Eu Te Amo”!? Quantas vezes uma garota disse isso pra você com tamanha facilidade como se fosse dizer que seu cabelo estava bom? Hein?
- Eu não quero falar disso com você, e pra que começar essa comparação imbecil agora?
- Por que você já teve namoradas demais? Por que eu não sei com quantas garotas você já foi pra cama? Por que com todas essas garotas já citadas você já ouviu a porra da frase e DE MIM, que tecnicamente sou sua namorada...
- Tecnicamente? – Ele riu sem humor. – Como assim “tecnicamente”?
- Eu nunca te falei isso e nunca fui pra cama com você. TECNICAMENTE eu sou sua namorada, mas não fiz tudo o que uma namorada deve fazer.
- ISSO NÃO É UMA OBRIGAÇÃO, SABIA? – O carro freou de forma brusca, paramos um quarteirão antes de onde deveríamos ir. – O que tá acontecendo? – desligou o carro e virou o corpo todo pra mim. – Eu já disse um zilhão de vezes que eu não me importo de você ser virgem, de você não ter dito que me ama EU NÃO ME IMPORTO! Se isso não é importante pra mim, por que deveria ser pra você?

Eu não sabia responder. nunca havia levantado a voz pra mim, seus olhos estavam vermelhos e me atrevo a dizer que queriam chorar, mas como está escuro não consigo dizer isso com clareza. Meu corpo parecia grudado no banco do passageiro e meus olhos vidrados em , eu tremia e queria chorar. Por que ele não se importava? Por que eu era TÃO especial pra ele assim? O celular dele começou a tocar uma música irritante e eu sabia que era , até pelo celular ele era chato!

- Alô? Estamos um quarteirão longe, já estamos indo. Tá tudo bem, cara, fica tranquilo. É claro que ela está aqui, onde você acha que ela ia estar? – Ele me encarou e eu abaixei a cabeça. – Estaremos aí em alguns minutos, o pessoal todo já chegou? Ok.

desligou o telefone e empurro os cabelos pra trás respirando fundo três vezes. Seu rosto estava um pouco mais pálido do que o habitual ‘pálido londrino’ e dava pra ver suas mãos brilhando de suor. Ele apertou o volante entre os dedos e encarou o movimento na nossa frente.

- Pedi pro Danny fazer uma setlist especial hoje – ele começou. – Ele nunca tocou ‘Another World’, mas como eu sei que essa é a sua música favorita da banda, ele disse que faria uma exceção. E como eu sei que é difícil pra você ouvir as nossas canções, eu fico feliz de saber que pelo menos uma te agrada.
- Eu nunca disse que não gostava das suas músicas – falei baixinho. – Só não as conheço direito, mas eu gosto.
- É muito difícil te agradar, sabia? – Ele riu, novamente, sem humor. – Todo dia, todo santo dia eu fico pensando o que posso fazer pra te surpreender. Você é tão complexa nas ideias e o fato de você não ser nossa fã número um complica um pouco as coisas, geralmente quando eu queria ficar com alguém era só sorrir e falar que eu estava na One Direction, se bem que essa última informação eu não precisava dar.
- Desculpa ser um peso – e de novo, eu queria chorar. – Não quero que você fique pensando em como me agradar, nunca gostei disso. E eu nem sou tão difícil assim.
- Jura? – Ele me encarou. – , até hoje eu sinto que não sei nada sobre você! NADA! Aquele dia na Rough Trade você pareceu uma nova pessoa pra mim, uma garota com um conhecimento tão absurdo que me fez sentir o garoto mais estúpido da indústria da música.
- Se suas namoradas não tinham bom gosto musical, a culpa não é minha.
- Elas gostavam da One Direction, isso não é ter bom gosto musical?
- Ok, agora ONDE VOCÊ quer chegar com esse discursinho? – Bati as mãos no colo quando na verdade eu queria era bater no . – Pra que porra você tá falando isso? É difícil me ter por perto? É difícil me ter como namorada?
- Por mais que eu não me importe – ele começou a dizer me encarando – em você ter essas suas nóias, tem coisas que me incomodam. Eu não sei coisas sobre você que eu tenho certeza de que o sabe.
- O QUÊ?
- Vai dizer que você não conta tudo pra ele? Já vi vocês dois aos cochichos e rindo, falando coisas que eu tenho certeza de que nunca vão chegar aos meus ouvidos. Aquele dia na rádio...
- CALA A PORRA DA BOCA! – Berrei, meu corpo inteiro tremia e que se foda a maquiagem, eu já estava chorando. – Quer, pelo amor de Deus, calar a boca?
- Falei algo que não gostou? Falei algo que te incomoda?
- Você tem NOÇÃO do quanto é foda pra mim ser a sua porra de namorada? TEM NOÇÃO? Já se colocou no meu lugar alguma vez? Já saiu desse seu trono de ouro e pensou como que é DIFÍCIL estar aqui, no meu lugar? – Minha voz saía embargada e molhada em lágrimas e desgosto. – Você diz que é difícil ser meu namorado porque não dá pra me decifrar, porque não consegue me entender. Ou seja, você é burro demais pra acompanhar meu cérebro.
- Agora você tá me chamando de burro! – Ele riu, gargalhou pra ser sincera. – Uau.
- Tô sim, BURRO! Eu nunca exigi nada de você, eu nunca pedi pra você gostar das mesmas coisas que eu, ESSA SOU EU! Eu gosto de estudar, eu gosto de ir além do óbvio, eu odeio as coisas de mão beijada e ODEIO que me deem limites, o céu é meu limite, – funguei. – Eu não ganhei um reality show e as pessoas começaram a beijar meus pés, ou tudo cair do céu pra mim.
- NÃO FOI BEM ASSIM!
- FOI ASSIM SIM! OU VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI COM MENOS DE VINTE ANOS COM MUITO SUOR? ECONOMIZANDO CADA CENTAVO, CADA ALMOÇO NA ESCOLA QUE VOCÊ DEIXOU DE PAGAR PORQUE QUERIA REALIZAR UM SONHO? VOCÊ POR ACASO JÁ FOI HUMILHADO PELOS SEUS PRÓPRIOS PAIS PORQUE ELES ACHAVAM O SEU SONHO PATÉTICO? – Os vidros do carro estavam ficando embaçados e eu estava começando a ficar com calor, muito calor. E um calor ruim. – Não vem querer dar uma de superior pra cima de mim, , não AGORA!
- Eu não estou dando uma de superior pra cima de você, eu nunca fiz isso.
- AH NÃO? – Eu estava histérica – “Ai é muito difícil ser seu namorado, você é complicada demais, você me faz sentir um idiota na música” ENTÃO ESTUDA, PORRA! Então vê se para de ouvir esse lixo musical que você ouve todo dia porque você está no mundo POP e passa a ouvir COISA BOA! Porque você, meu lindo, acima de tudo é um exemplo pra MILHÕES de adolescentes ao redor do mundo. Elas respiram o que você respira, elas comem o que você come, elas ouvem o que você ouve!
- ...
- Tá achando que é difícil me acompanhar? Então tá, vamos ver se você consegue se colocar no meu lugar por UM SEGUNDO! – Supirei fundo e engoli todo o choro. Se ele acha que tá ‘sofrendo’ porque eu sou difícil demais, vou mostrar pra ele o que é DIFÍCIL aqui. – Eu não recebo uma, nem duas, mas mais de cem ameaças todo santo dia no Twitter. Todo dia vem uma fã idiota da sua banda falar que eu sou gorda, feia e não boa o bastante pra você; mas claro eu tenho que sorrir e mandar ela se foder. MAS EU FAÇO ISSO? Não, não faço, caso contrário eu vou aparecer como matéria do dia na SugarScape ‘garota do é mal educada no Twitter’ e isso pode fazer mal pra SUA carreira. Não apenas isso, na escola eu sou empurrada quando as suas fãs, novamente, passam por mim. Grudam coisas nas minhas costas, rabiscam meu caderno, me jogam suco, me jogam comida nos intervalos e já destruíram um filme meu com 340 fotos tiradas em Londres. Mas eu faço alguma coisa? NÃO EU NÃO FAÇO! – Solucei alto, a respiração começava a faltar. – Tem noção de quantas vezes eu já li ‘vadia gorda’ no meu caderno? De quantas páginas eu tive que arrancar? De quantas vezes eu fiquei trancada no banheiro chorando porque não queria sair e encarar ninguém? De quantas vezes eu vomitei meu almoço pra ver se a barriga diminuía um pouco e elas pararem com isso de me acharem gorda!
- Eu nunca... Eu não...
- É claro que não – agora quem riu sem humor foi eu, enxuguei meus olhos sentindo toda a maquiagem ir embora. – Você precisa se concentrar na turnê, nos fãs, no CD novo, na entrevista, no grupo, nas músicas. Não precisa se concentrar em uma namorada problemática que, na prática, nem sua namorada é de verdade.
- ...
- Sabe quantas vezes eu deixei de comer por culpa? Por que as fãs que posam ao seu lado são magérrimas e LINDAS, ridiculamente lindas! E cada vez que eu me olho no espelho eu grito, porque não sou daquele jeito. O MUNDO NÃO ME VÊ DESSE JEITO! Como que eu posso falar que te amo sendo que eu não consigo nem me amar? Não me amo nesse corpo, com esse cabelo, com esse ROSTO! A única coisa que eu tenho ainda comigo é a minha experiência como fotógrafa, minha cultura na música, meus livros que eu li e estão em algum lugar do meu cérebro. Isso elas ainda não podem tirar, podem destruir os objetos físicos, mas o conhecimento que eu construí ao longo dos meus anos de vida ninguém me tira – o encarei com raiva, muita raiva. – Então, , não venha me falar que é DIFÍCIL me namorar, quando na verdade, quem passa por uma provação todo santo dia pra permanecer de pé ao seu lado, sou eu! – Abri a porta do carro e, antes de sair, tomei fôlego pra dizer mais uma coisa, o que talvez fosse a que ele queria ouvir. – E sabe por que eu sempre conto tudo pro ? Porque meu coração não se quebra em mil pedaços se eu vê-lo chorar, porque ele não vai me olhar com a cara de surpresa e ao mesmo tempo nojo que você está me olhando agora. Eu não tenho medo de decepcionar o porque eu não o amo da mesma forma que eu amo VOCÊ! – E, dizendo isso, saí do carro.

Tirei a porra do salto que havia insistido em me fazer usar – não nasci pra ficar mais que sete centímetros acima do chão, e ainda acho muito – e pisei com muita dor no pé no chão úmido e frio de Londres. Nem ao mesmo olhei pra trás pra saber se tinha saído do carro ou não, com base no seu jeito eu acho que ele ia ficar lá engolindo e assimilando cada palavra que eu falei. Era pra hoje ser uma noite inesquecível! Pela primeira vez eu ia ver Danny Jones sendo DJ, ia ter que posar de legal ao lado da Georgia, ia passar uma balada inteira ao lado do McFly! Mas, óbvio, alguma coisa tinha que dar errado. Quer saber? No fundo há males na vida que vem paro bem, se tava esse tempo achando difícil me namorar porque eu sou mais inteligente que ele – porque EU SOU – então vá pra puta que te pariu e coma essas garotinhas sem cérebro. Sentia minha meia calça ficar molhada e começar a desfiar sob meus pés, eu andava tão devagar porque tinha medo de pisar em algum objeto não identificado no chão, qualquer coisa me assustava. Foi então que eu me dei conta de que TUDO estava no carro! Minha carteira, meu celular... Minha dignidade. Primeiro falando da carteira e celular: não ia ter como eu chamar um táxi e não ia ter como eu pagar o táxi, já que todo o meu dinheiro está na carteira e a chave do apartamento está com a . Vou voltar a pé? Cenas dramáticas só funcionam em filmes quando o diretor corta a cena e a próxima já é a mocinha de pijamas na cama, nunca mostra na verdade como ela voltou pra cama. E, falando da dignidade: eu disse que amava ele, eu FINALMENTE disse que o amava! Da forma mais suja, bagunçada e grotesca do mundo eu disse que eu o amava. Ai minha cabeça.

- Aquela é a namorada do ?
- ? ?
- O que ela tá fazendo descalça?
- Tira a foto, tira a foto, tira a foto.
- , olha pra cá, por favor?
- , você brigou com o ?
- Estão separados?
- Pra onde você está indo?
- Tá drogada?
- Cadê seu sapato?
- Por favor, uma palavrinha aqui, só uma.
- Você estava chorando?
- Anota aí, ela e o terminaram.
- Cadê o ?
- Você está vindo pra festa particular do McFly?
- OLHA PRA CÁ, GAROTA.
- SAI DE PERTO DELA!

Eu só conseguia enxergar pontos luminosos, e flashes. MUITOS flashes. Quando dei por mim, uns sete fotógrafos estavam ao meu redor, vomitando perguntas e batendo fotos com flashes no último grau. Porra, não precisa desse flash todo! Alguns chegavam mais perto rindo e tentavam encostar em mim, outros murmuravam coisas entre si mesmos enquanto apontavam na minha direção e batiam mais fotos. Aos poucos um aglomerado de pessoas começou a juntar e eu estava cercada. Queria me ajoelhar no chão, mas não seria muito apropriado e isso só daria margem para mais fotos e fofocas, tudo o que eu não queria. Fechei meus olhos e tentei passar no meio deles, mas fui barrada no meio do caminho por dois corpos. me abraçou de um lado e me abraçou do outro, empurrando os fotógrafos pra longe e me guiando entre as pessoas. Vi dar um empurrão em um deles e o cara ainda ter a pachorra de reclamar e ameaçar: ‘VOU PUBLICAR ISSO AMANHÃ, GAROTO’. Por Deus, eu queria sumir logo dali, sumir pra sempre. Os dois correram mais um pouco e eu corri junto com eles, vi uma porta aberta, algo que parecia ser o fundo da boate, e ali me esperando já quase tendo um infarto. Passamos pela porta e a primeira coisa que fiz foi desabar no chão e chorar, chorar como uma criança de três anos que perdeu a boneca favorita. O chão era sujo e o ambiente escuro, mas eu não estava nem aí pra nada, só queria tirar logo todo o peso do meu coração e afastar as pessoas de perto de mim, porém quanto mais eu chorava, mais eu sentia braços e corpos próximos. E nessa muvuca de pensamentos eu só conseguia pensar nele, só nele.

- Cadê o ? – Levantei o rosto e me deparei com me encarando. – , cadê ele?
- Foi pra casa – ele me respondeu. – Uns cinco minutos atrás.
- Ah... Ai meu Deus – era como se uma faca estivesse me cortando. – Meu Deus, Meu Deus!
- , fala comigo – suplicou. – Por favor, fala comigo! O que aconteceu? Por que você está assim? Por que o está do mesmo jeito que você?
- Eu disse tudo, eu contei tudo – agarrei o braço de e ele me ajudou a levantar, ainda estava meio tonta. – Eu disse que o amo, mas ao mesmo tempo eu disse que, meu Deus, ele me odeia! – Joguei-me nos braços de e ele me apertou firme num abraço quase paterno, enterrei minha cabeça no seu ombro e deixei meus soluços virem de forma espontânea junto com meu choro e quase gritos. – Eu não sou a garota pra ele, eu nunca fui! Eu não sou disso, eu não sou desse mundo, eu não pertenço a esse mundo!
- Hey, hey... – ele me apertou mais. – Ele disse alguma coisa? Ele insinuou alguma coisa?
- Como assim? – Solucei alto e afastei meu corpo um pouco a fim de encará-lo. – Do que você tá falando?
- De mim – disse ao fundo. – acha que você está gostando de mim, ou vice versa.
- Não – neguei veemente. – Não, nunca! , você... Você sabe que eu eu nunca faria isso com o ! E, por favor, eu te vejo como um irmão!
- Eu sei, – ele suspirou. Ah não porra!
- ? – Afastei-me de , agora eu via que todo mundo estava aqui. Todo mundo incluía McFly e namoradas. Nem me atentei a isso, caminhei na direção de , que estava encostado na parede com as mãos nos bolsos sem me encarar ou encarar outra pessoa, eu não estava acreditando. – , você... Você gosta... De mim?
- Eu não queria, eu JURO! – enfim ele me encarou. – me ouviu falando isso ontem com o e acabou perdendo a cabeça, nós dois brigamos e, ai caramba!
- Fala, por favor, fala!
- Você tinha dito uma vez que me amava, tá lembrada?
- Eu falo que te amo o tempo inteiro – respondi como se fosse a coisa mais óbvia do mundo e então, só depois, me liguei. – PUTA QUE PARIU!
- associou uma coisa com a outra e...
- MAS EU NUNCA DE MOTIVOS PRA ELE DESCONFIAR! NUNCA!
- Não precisa dar motivos pro disse ao fundo. – Ele morre de ciúme de você, , MORRE!
- Mas – eu olhava pra todos os lados, nada nessa noite estava fazendo mais sentido, absolutamente nada. – Meu Deus, preciso sentar.
- ... – veio até mim, mas eu me afastei.
- Por favor, agora não, ! Você... Você não – eu ia chorar de novo. – Tudo o que ele falou pra mim, tudo o que eu falei pra ele...
- O que você disse pra ele? – perguntou ao fundo. – Na verdade, o que aconteceu?
- Começou como uma discussão besta e, no final, se tornou algo mais sério – me apoiei na parede onde estava antes, agora ele encontrava-se perto do McFly. – Ele veio falar do e de como é difícil ser meu namorado porque eu tenho uns gostos diferentes e não gosto de One Direction, o que não é verdade – já acrescentei antes de ouvir alguma merda. – E eu, por fim, falei mais coisas em cima – passei as mãos nos cabelos empurrando pra trás. – Meu Deus!
- veio até mim como uma fada, segurou minhas mãos em um gesto cúmplice de carinho. – Tá tudo bem.
- Eu disse tudo pra ele – meus lábios tremiam assim como todo meu corpo, as lágrimas começaram a rolar de novo em meu rosto. – Tudo, tudo, tudo! De como eu me sinto, das ameaças, da escola, da... Da comida... Ai ...
- Shhh, eu tô aqui – eu sabia que ela também estava chorando. – Você fez bem em falar, , você tá certa.
- Eu não fui forte o suficiente, eu nunca sou forte o suficiente!
- Você é a garota mais forte que eu já conheci na vida – ela me apertou. – Problema do se ele nunca prestou atenção em você e outra pessoa passou a prestar! Nesse caso, o .
- Mas eu não gosto do – eu disse baixinho. – Claro que eu gosto, mas...
- O maior erro do homem é ver outro homem fazer sua garota sorrir – disse com um meio sorriso. – te fez sorrir e isso incomodou . Simples assim.
- Mas o também me fazia sorrir.
- O problema foi que ele teve que dividir a sua atenção com outro macho – ela limpou meus olhos. – O ego dele tá tão alto, mas tão alto, que ele não vê seus esforços, sua dor! Ele só te vê como ‘a namorada’, e se você sabe mais que ele em alguma coisa, isso o incomoda, isso se torna um obstáculo.
- Mas eu o amo – voltei a chorar. – Eu o amo e eu disse isso hoje.
- Então se você o ama e ele também te ama como diz, as coisas vão se acertar e vocês vão aprender a conviver um com o defeito do outro. Amar é isso, é viver com as qualidades e as falhas.
- Eu vou atrás dele – disse puxando a chave do carro. – O trânsito tá terrível e eu não sei do que ele seria capaz de fazer.
- Ele não vai sair por aí e bater o carro no poste, vai? – perguntou.
- Não, mas eu tô preocupado mesmo assim – suspirou. – Tem como você ir pra casa, ?
- Acho que sim – olhei pra e . – Vou com vocês?
- Claro – balançou a cabeça de forma afirmativa.
- Danny – ai Deus, que vergonha. – Meu Deus, me desculpe! - Pelo quê? – Ele perguntou meio brincalhão. – Faz o seguinte? Vai atrás do seu namorado e depois nos falamos, eu ainda vou fazer muitas outras apresentações nesse mês.
- Desculpa, desculpa – eu só conseguia repetir isso, mas então ele me abraçou e eu esqueci até o que estava falando. – Oi vocês aí no fundo.
- Oi, – Lara, Georgia, Izzy e Giovanna me responderam, odeio admitir que Georgia parecia uma boneca de marfim.
- Quer ir embora agora? – me perguntou baixinho.
- Sim, por favor – respondi.

Dei um abraço muito rápido em Tom, Dougie, Judd e de novo em Danny, falei rápido com as meninas e saí logo dali. Era, de longe, a pior noite que eu vivi em Londres! Pensei em ligar para Jeff, meu taxista amigo, mas e insistiram que eu deveria ir com eles para a casa deles, não ia passar a noite de hoje sozinha lá na república. foi embora com . Eu mal conseguia encarar , ainda não consegui engolir o fato de que ele gosta de mim, COMO ASSIM? Meus pensamentos estão histéricos! gosta de mim, GOSTA DE MIM! Mas eu não gosto dele, digo... Claro que eu o amo, mas não do jeito que eu amo . E como que na cabeça do eu podia gostar do e ter alguma coisa com ele? Ele é doido ou o quê?

- Nunca tive tantas perguntas em minha mente ao mesmo tempo, sinto que posso explodir – coloquei as mãos nas têmporas enquanto me abraçava. – Puta que pariu!
- Você fez a coisa certa em se abrir – ela passava as mãos nos meus ombros, cabelo, rosto. – , quem sabe assim ele passa a encarar esse relacionamento com mais seriedade.
- Que relacionamento? – Olhei pra e funguei. – Amiga, eu nem sei se sobrou algum relacionamento entre nós. Depois de tudo o que eu falei...
- Quer parar de se culpar? – Ela suspirou. – , está acostumado a ter tudo de mão beijada! Todos os meninos falam isso, ele pode ser um fofo, mas a imagem que ele passa pras fãs não é a mesma que ele passa na vida real. Então, ou você se coloca nesse relacionamento e coloca o na linha, ou ele que vá procurar menininhas babacas que só querem ‘a fama’ dele e não tem nada a acrescentar. Sem falar que vão ser fracas e não vão aguentar um dia de pressão, não aguentam metade do que você aguenta.
- Eu não aguento a pressão, olha... – mostrei meu pulso, nem eu sabia o quanto estava magra até hoje à noite. – Olha o que eu fiz comigo, olha isso...
- Vamos dar um jeito – ela me abraçou forte, abafando meu choro que começou a sair sem eu nem ao menos perceber. – Nós vamos dar um jeito nisso. Confia em mim.

Capítulo 24

Uma batida na porta. Duas batidas na porta. Três batidas na porta.

- ? – Perguntei com uma voz quase inexistente.

Olhei ao meu redor e vi um quarto azul escuro com muitas roupas espalhadas por todos os lados, presumi que estava no quarto do . Mexi minhas pernas e constatei que estava sem calças e vestindo uma camiseta grande de mangas compridas. Cocei meus olhos ainda ouvindo as batidas do lado de fora e me joguei pra fora da cama, caindo no chão de joelhos. Que dor! Meu cabelo estava preso em um rabo de cavalo bagunçado e meus olhos grudentos, já que a maquiagem estava misturada com o meu choro da noite passada, passei a noite toda chorando com e . Novamente mais batidas na porta e eu pensei em gritar com o filho da mãe do lado de fora, mas como minha garganta doía, tive a sensação que estava rouca, ou seja, não ia conseguir gritar. Uma última batida e então, finalmente, eu abri a porra da porta do quarto. Meu coração parou quando eu vi a imagem de ali.

Usava a mesma roupa da noite anterior, os olhos inchados e vermelhos e os lábios tão vermelhos quanto. As bochechas coradas como quem acabou de correr uns bons quilômetros, porém seu rosto ainda estava branco e meio sem vida, como na noite passada. Grandes sombras escuras pousavam abaixo dos seus olhos, seus cabelos bagunçados como eu nunca tinha visto, não de uma forma charmosa, mas como se ele tivesse puxado os fios para todas as direções na noite anterior em sinal de desespero. Em sua mão pousavam papéis, muitos papéis. Eu mal conseguia abrir a boca pra perguntar o que ele estava fazendo ali, ou como ele estava, ou o que ele tinha feito na noite passada. Eu pensei que ia demorar muito para eu vê-lo novamente, que iríamos cair naquela situação clichê onde os namorados brigados ficam sem se ver, ele vai procurar consolo nos braços de fãs e eu fico choramingando em casa sobre o quão estúpida eu fui na noite passada, por mais que todo mundo esteja falando que eu estou certa. Mas, claro, nada na minha vida parece pré-determinado, tudo acontece na surpresa. Por exemplo, desde quando eu ia imaginar que ia estar agora parado na minha frente desse jeito?

- Isso aqui é verdade? – Ele levantou os papéis. – Me responde, isso aqui é verdade?
- Se eu soubesse o que é isso, ficaria bem mais fácil eu te responder se é verdade ou não – respondi.
- “Você é a garota mais horrorosa que eu já vi na vida”, “O que levou a querer uma brasileira de merda?”, “Ele merece coisa melhor, essa porra de namoro tá demorando demais pra acabar”, “Ela deve ser muito boa de cama, a única coisa que prende o com uma mulher é sexo”, e eu nem vou terminar de ler os outros porque – ele suspirou – eu não consigo.
- Onde você pegou isso? – Minha voz saiu em um sussurro quase inaudível. – , onde você conseguiu isso?
- Pedi pra me dar sua senha do Twitter – ele me encarou. – Como que você lê isso todo dia e NUNCA disse nada pra mim? Todo esse tempo e você, você guardou como se fosse...
- Um segredo? Uma coisa ruim? – Ri sem humor. – É um segredo, é uma coisa ruim. Só que se você prestasse um pouco mais de atenção em mim ou no que acontece ao meu redor você iria saber...
- Desculpa – ele largou os papéis no chão e me abraçou. Me assustei quando ele fez isso. Seu corpo tremia e nunca havia me abraçado tão forte e com tanta dor como ele fazia agora. – Por favor, me desculpa.
- , o que você...?
- Eu devia ter visto antes, eu deveria saber antes e... – ele afastou o rosto e me encarou, seus olhos entregavam tudo. Ele chorava. – Não sabia, eu nunca soube! Sempre achei que fosse implicância ou que fosse uma coisa passageira, que com o passar do tempo as fãs fossem entender que eu te amo e que o temos é verdadeiro.
- Não é assim que funciona a mente de uma adolescente apaixonada pelo ídolo – eu disse. – Não é culpa sua...
- A culpa é toda minha, é completamente minha! – segurava meu rosto com as duas mãos, ele estava tão perto que eu podia claramente sentir sua respiração quente e ver suas pupilas vermelhas. – Eu não culpo por ter criado um sentimento por você! Não estava presente como um namorado deve estar, eu só... – ele abaixou a cabeça e vi as lágrimas caírem em cima do seu tênis.
- Você perguntou pra mim várias vezes se eu estava bem, perguntou se eu confiava em você e todas as vezes eu disse que tudo estava bem. Eu menti – levantei seu rosto e o fiz me encarar. – , a culpa não é totalmente sua.
- Tudo o que você disse ontem é verdade, tudo – ele encostou a testa na minha. – É claro que você ia mentir, , óbvio que sim! Eu preferia acreditar que você estava bem quando eu sabia que nada estava bem, e na minha ausência o veio!
- Mas eu nunca gostei dele, eu não o amo – agora eu que segurava seu rosto. – Não como eu amo você.

A respiração de diminuiu e seus olhos vermelhos me encararam. Dizer alto e em bom som que eu o amava estava ficando um pouco fácil, falei ontem no meio da discussão e acabei falando agora de novo, escapuliu como se fosse... Normal?

- Você...
- Você possui mil defeitos, , MIL defeitos! Mas eu te amo e estou disposta a aguentar fãs, a me cuidar, a saber lidar com essa pressão, tudo porque eu não estou pronta pra te perder! Eu não estou pronta pra perder meu primeiro amor, o primeiro cara que eu de verdade me apaixonei em minha vida. Mas não consigo fazer isso sozinha, , eu não estou conseguindo lutar sozinha.
- Eu tô aqui – ele segurou minhas duas mãos e beijou dedo por dedo. – Eu sempre estive aqui, mas agora é diferente. Eu vou ficar presente na sua vida, eu vou me dedicar ao nosso namoro, a você, e nunca, NUNCA mais vou duvidar do que você sente por mim ou... Eu não quero brigar.
- Nem eu.
- Eu te amo – ele sorriu, um sorriso misturado com mágoa e alívio. – E no que eu puder ajudar pra deixar esse namoro mais leve eu vou fazer. A última coisa que eu quero é te ver sofrer, é você passar por tudo isso o que você está passando, todo dia!
- Obrigada – suspirei e selei meus lábios nos dele. – Obrigada.

Eu passei o resto da manhã lendo tweet por tweet que me era enviado. Puxei o histórico desde o começo do nosso namoro, eu sentia segurar a respiração a cada palavra lida, a cada ofensa, a cada ameaça que me era feita. Tweetei por acaso ‘hoje não está sendo um bom dia’ e no segundo seguinte recebi 600 replies desejando que eu morresse e ‘graças a Deus, espero que não passe de hoje’. As minhas fotos na noite passada estavam em todos os lugares, as fãs tinham feito photosets com dizeres absurdos embaixo, ‘lonely bitch’ era o mais comum. Fofocas dizendo que havia me deixado sozinha na noie anterior brotavam em todos os sites, recebia replies nojentos das meninas parabenizando-o por ‘finalmente ter largado aquela vadia’ ou então ‘graças a Deus você percebeu que ela não é boa o bastante pra você’. Sentei na posição ‘índio’ na poltrona e deixei ler tudo o que estava na web, tenho uma impressão de que ele nunca parou mesmo pra ler o que as pessoas falavam da banda, dele e de mim. Era absurdo e doentio, como que essas pessoas se sentem bem consigo mesmas? Como conseguem dormir à noite? entrou em um site que se chamava ‘diebitch.com’ e nele havia fotos de várias namoradas de pessoas famosas, eu estava ali também. Foto minha em um corpo gordo, foto minha no corpo da menina do Exorcista, foto minha em posições pornográficas. não estava nervoso, ele estava triste; o tempo todo ele segurava minha mão e a cada foto nova ou palavra deferida a mim, ele apertava meus dedos com força, suspirava três vezes e fungava. Eu via que ele podia chorar a qualquer instante, minha vontade foi de fechar todos esses sites, mas eu sentia que ele precisava ver e ler tudo. Essa era a minha realidade, um pouco diferente daquilo que ele tinha em mente.

Me levantei e fiquei atrás de , massageando seus ombros e ocasionalmente beijando seus cabelos e pescoço. Ele estava rígido e soltando o ar pelo nariz com muita raiva, sua mão segurava o mouse com força e a outra estava pousada na testa, massageando-a. Eu o abracei por trás e fechei meus olhos, querendo passar um pouco da minha calma para ele, mas era difícil porque a cada nova linha que lia, a única coisa que saia de seus lábios era ‘Meu Deus’, e então eu via que não tinha como deixá-lo mais calmo. Desisti e, por fim, fiquei ali o abraçando, sem dizer nada, sem fazer nada.

- Como você aguentava isso? – Ele disse fechando as páginas abertas. – Todo dia?
- Desde o primeiro dia, na verdade desde ‘a garota especial’ – respondi.
- Vem aqui – ele me puxou pela mão e eu sentei-me em seu colo. – Isso acontece com a , também? – me abraçava forte e beijava meu ombro.
- Com ela não tanto como comigo, eu acho que as fãs tem uma implicância maior pelo fato de eu ser brasileira. Isso é algo que sempre acaba aparecendo em um tweet ou outro, aquela ‘vaca’ brasileira – suspirei. – Mas falar da minha nacionalidade é o que menos me incomoda.
- Você acha que eu devo falar alguma coisa?
- De jeito nenhum – eu o encarei. – A última coisa que você precisa agora é de colocar mais fogo nessa fogueira. Deixa tudo ficar subtendido, . Ninguém precisa saber do que se passa na sua vida pessoal, na nossa vida pessoal. O mundo hoje está achando que eu e você terminamos, deixe assim – falei sentindo um peso sair das minhas costas. – A última coisa que preciso é de mais falatório.
- Escuta – ele encostou os lábios em meus ombros e me olhou de cima pra baixo, passando a mão discretamente na minha cintura. – Quando que – ele tossiu – quando você começou com, com esse problema? – Senti seus dedos contornarem os ossos de minha cintura. – Você não estava tão magra assim quando eu te conheci.
- Eu sei – suspirei e delicadamente tirei sua mão da minha cintura e entrelacei meus dedos nos dele. – Uns três meses atrás.
- Por quê?
- Não me sinto boa... Quero dizer, não me sentia boa e bonita o suficiente pra você.
- – ele soltou o ar pelos lábios. – Não faz isso com você, por favor.
- Não é tão fácil quanto parece – eu ri. – E pensar que logo no nosso primeiro encontro, Paul me ofereceu hambúrgueres e eu comi igual uma doida.
- Promete que não vai ficar brava comigo? – Ele perguntou, óbvio que eu não ia ficar, não agora. – A primeira coisa que me fez ficar gamado por você foi o jeito que você devorou o hambúrguer – ele riu como uma criança e eu tive que rir também. – E depois na casa do Fletcher, aquele brilho em seu olhar e como você devorou a pizza com ele.
- Eu não me importava com isso porque ninguém se importava comigo – ele me olhou assustado. – Não que você não se importasse, eu sei que você sempre...
- Entendi – ele disse. – Como o namoro ainda não estava oficial ou, no caso, no nosso primeiro encontro ninguém sabia da sua existência, não tinha porque você se importar com comida, certo?
- Certo – suspirei. – Nunca fui de ficar me importando com o que as pessoas pensam de mim, do meu corpo, do jeito que eu me visto. Sempre vivi tendo Corduroy do Pearl Jam sendo minha trilha sonora – ele fez cara de dúvida. – E eu acho que você não conhece essa música.
- Nunca nem ouvi falar – ele riu. – Tenho que parar de ouvir “lixo”, não é?
- Não disse isso ontem por mal, eu estava no calor do momento – suspirei. – Mas sim, você pode começar a melhorar sua tracklist do Iphone. Não te culpo por ouvir as músicas pop, mas sempre há espaço para um bom som dos anos 80 e 90.
- Sim – e ele beijou meus ombros. – Sim – e subiu um pouco o beijo. – E sim – selou meus lábios. – Como é essa tal música?
- Corduroy? – Perguntei e ele afirmou. – Na verdade, a história é a seguinte. Eddie Vedder, no início dos anos noventa, só usava a mesma jaqueta corduroy para todos os eventos, clipes e shows do Pearl Jam, ficou meio que a marca registrada dos caras, sabe? Na verdade, do cara. Então todo mundo na época começou a usar a mesma jaqueta e imitar o jeito que o Eddie se mexia, falava e cantava, até o corte de cabelo, e não tinha corte algum porque Eddie Vedder usava cabelão, época grunge mesmo.
- Hm... – ele fez de novo aquela cara de interessado, eu sorri.
- Continuando... Eddie Vedder pagou mais ou menos vinte dólares na jaqueta, porém começaram a fabricar jaquetas do mesmo modelo e cobraram o dobro, triplo, quádruplo do preço original. Eddie Vedder ficou tão puto com isso que fez Corduroy, que é meio uma revolta pra todo mundo que começa a copiar o estilo dele só porque curte a música dele ou o vê como um ídolo. Curta a música, mas não o ídolo, viva sua vida, tenha sua própria personalidade, não perca seu tempo vivendo a vida de outra pessoa só porque ela ‘está na moda’ ou só porque ela ‘é legal’.
- Uau, o cara era foda – ele riu. – Tem como baixar essa música?
- Tem sim – sorri. – Está no CD Vitology, e por sinal eles foram indicados ao Grammy por esse álbum e ganharam. Claro que o Eddie Vedder tinha que dar uma de revoltado com o mundo e, quando ele aceitou o prêmio, ele disse ‘eu não faço ideia de que diferença isso vai fazer na minha vida’ – eu ri, Eddie era muito babaca às vezes, mas eu o amava, então.
- Caralho, que cara tosco!
- Não fala assim do Eddie Vedder, ele pode falar isso. Por isso que eu gosto de Pearl Jam, eles falam mesmo o que pensam e foda-se quem não gosta. Por exemplo, em Corduroy tem uma parte da música onde ele fala “Segure minha mão e não minha imagem”, ou seja, o prazer que eles têm na música não é o fato deles terem ficado ricos com o sucesso, eles não fazem questão de tirar uma foto com fãs porque ‘é legal’, eles preferem um aperto de mão, um olhar, um sorriso, um contato mais íntimo. ISSO é ser ídolo, isso é se importar com as pessoas, isso é mágico!
- Tô tentando compreender ainda como que você usa essa música como sua trilha sonora, eu ainda não entendi.
- O refrão termina dizendo ‘parece que vou acabar sozinho assim como comecei’ e essa na verdade é a vida. Pessoas vão aparecer, vão fazer minha vida feliz, vão me criticar, me derrubar, mas ao final eu vou estar sozinha. Nenhuma ficará comigo até o final, assim é a vida, você nasce sozinho e morre sozinho.
- Você não precisa terminar sua vida sozinha, . É tudo uma questão de escolha, de quem você quer na sua vida até o final, ou não – me encarou.
- Eu sei – sorri. – Mas é que eu não estava acostumada a dividir minha vida com alguém, então... Sempre achei que no final eu fosse acabar sozinha, como eu comecei.
- Hold me til I die meet you on the other side... (Abrace-me até eu morrer, encontro-te do outro lado) – ele declamou e os pelos do meu pescoço se arrepiaram.
- ?
- Fiz a lição de casa ontem – ele riu. – Just Breath é de verdade uma música muito linda, Eddie Vedder mandou bem.
- Você ouviu Pearl Jam? – Acomodei-me um pouco mais no seu colo passando os braços pelo seu pescoço. – Sério?
- Precisava de uma música que me ajudasse a te entender, quem me passou essa foi o – ele riu e me encarou. – O te conhece muito bem.
- Já devo ter falado pra ele em algum momento que essa é uma das minhas favoritas, ele lembrou, só isso – encostei minha testa na dele. – , nós nunca...
- Sei que não – ele beijou a ponta do meu nariz. – Ele cuidou de você quando eu não pude cuidar, se apaixonar foi apenas consequência – riu. – Mas é bom saber que tinha alguém ao seu lado quando eu estava ausente.
- Você nunca esteve ausente em minha vida – sorri. – Só um pouco preocupado demais em me levar pra cama ao invés de se preocupar com o motivo pelo qual eu não queria pra cama com você – falei e dei um peteleco em seu nariz. – Eu juro que vou melhorar.
- Não precisa mudar nada em você – ele me apertou em seus braços e me beijou com os lábios fechados. – Só quero minha namorada com um pouco mais de curvas, tá muito magra.
- ...?
- Vem, vamos comer alguma coisa – ele bateu na minha perna indicando que queria que eu me levantasse de seu colo. – Deve ter alguma coisa na casa do que seja comestível.
- Amor, eu não sei se eu quero – suspirei e quando vi virar e olhar pra mim com cara de espantado e com um sorriso trêmulo nos lábios foi que eu me toquei do que tinha acabado de dizer. Eu, de verdade, chamei ele de AMOR? A-M-O-R?
- Do que você acabou de me chamar? – Agora ele ria e andava na minha direção. Pensa rápido, pensa rápido...
- NADA! – Isso é pensar rápido?
- , você me chamou de amor?
- Não – bufei. – Ai caralho, chamei!
- Nem eu te chamo de amor e eu fui o primeiro nessa relação a admitir que estava apaixonado, na verdade ainda nem tivemos a chance de conversar sobre o fato de você ter admitido que me ama, porém, com base no que você acabou de me chamar, acho que nem precisamos – ele sorria, o filho da puta sorria.
- , não abusa porque eu ainda não estou totalmente recuperada do que aconteceu ontem e muito menos do que está acontecendo nessa manhã. NÃO ABUSA!
- Posso te chamar de ‘amor’ em público? – Ele me agarrou pela cintura e ria, praticamente gargalhava! Eu queria sumir. – Ou devo achar um apelidinho mais carinhoso?
- Cala a porra da boca? – Fiz careta. – Odeio apelidos, odeio até mesmo ser chamada ou chamar outra pessoa de ‘amor’, é ridículo! Pior ainda minha mãe que fica chamando meu pai de ‘benhê’ e eu de ‘bebê’, ódio mortal!
- Então, sem apelidos? – Ele fez bico. – Nenhum?
- Sem apelidos – o empurrei. – No máximo você me chama de , e isso é o máximo.
- E eu? Como você vai me chamar?
- Continuo te chamando de , ora! Seu nome é pequeno demais e estranho demais pra ter um apelido.
- HEEEEY!
- Ah, tô falando sério. Por exemplo, pega o Tom Fletcher. O nome dele é Thomas, mas o apelido Tom é praticamente implícito! Agora pegamos o seu nome: , que sílaba que eu posso tirar do seu primeiro nome a fim de ter um apelido bonitinho e sem ser brega? IMPOSSÍVEL!
- Você realmente está falando mal do meu nome? Do meu primeiro nome?
- Babe – eu disse e depois comecei a rir. – É, acho que posso te chamar de babe, ou baby – dei risada e quem fez careta agora foi ele. – É horrível.
- Vou mudar meu nome – ele bufou. – E se eu me chamasse Chandler?
- Friends?
- Aham.
- Eu teria que me chamar Monica Geller porque Chandler só combina com Monica.
- Chandler – ele disse fazendo pose e eu caí na risada. – Chandler da One Direction, e aí?
- RIDÍCULO! – Fui até ele e fui o empurrando pelas costas até a porta do quarto. – Vai Chan, vai pra cozinha.
- Tá vendo, tem como dar apelido – riu me abraçando pela frente e me guiando pra cozinha junto com ele.

e apareceram um pouco depois. Conversa vai e conversa vem, me disse de uma certa ‘aposta’ que ela e fizeram, aposta essa que era ‘quanto tempo e conseguem ficar brigados’. Eu só consegui rir. Quando eles chegaram, o papo sério foi colocado de lado, eu precisava me desligar um pouco dessa tensão em volta da briga de ontem, das revelações dessa manhã e do fato de eu ter finalmente falado ‘eu te amo’ para . Ficamos brincando na cozinha, inventamos comidas com as coisas que tinha – teve de tudo, panqueca com requeijão e frango, acho que foi a coisa mais deliciosa que eu comi desde que cheguei aqui – depois fomos para a sala e ficamos zapeando nos canais, de forma divertida acabamos parando em “Friends”, decidiu discutir as teorias que estavam passando pela cabeça dele em ‘Por que devo mudar meu nome para Chandler?’. sabia muito bem que eu queria conversar com ela em particular, por isso depois de uns dois episódios, fui com ela para a varanda aos fundos. A casa dos meninos era bem parecida, todas tinham uma grande varanda que dava para um belo jardim e quintal, e, como era de se esperar, o quintal de era o mais bagunçado de todos. Eu e ela sentamos na grama gelada e começamos a conversar, nem e nem iriam aparecer tão cedo por ali.

- Então? – Ela começou, puxando a grama e espalhando pedacinhos de folhas. – Como que foi?
- Estranho? – Falei rindo. – Ele ficou bem assustado com as coisas que leu na internet e com tudo o que eu contei – suspirei. – Acho que demorou um certo tempo pra ele assimilar tudo o que estava acontecendo e tudo o que vem acontecendo comigo. No final eu sei que ele sentiu culpa, muita culpa.
- Queria ficar com pena dele, mas não consigo – riu. – Eu acho que você fez muito bem em ter surtado com ele ontem, e melhor ainda porque finalmente abriu os olhos para uma realidade que ele negava ver.
- Acho que ele tinha medo de admitir pra si mesmo que tudo não estava tão perfeito como ele imaginava, a vida dele vem sendo um turbilhão de coisas boas, aparecer um obstáculo no meio pode ser meio desagradável – falei. – E eu estava sendo essa coisa desagradável.
- Você não estava sendo desagradável, não se coloque mais nessa posição – ela veio até mim e me abraçou de lado. – Desde o começo você sempre pensou mais nele do que ele pensava em você. Não disse nada porque não queria atrapalhar a carreira dele, a imagem dele, isso sempre foi a maior demonstração de amor que você podia ter feito, o fato dele falar ‘eu te amo’ antes não quer dizer nada.
- Ele demonstrava que me amava de outros jeitos, – dei de ombros. – Sabe, às vezes eu tenho uma impressão que você tem implicância com .
- Eu sempre vou ter implicância com os namorados das minhas amigas – ela sorriu e me deu um beijo no rosto. – , você é boa demais, inteligente demais e desmiolada demais. Precisa ser muito homem pra aguentar ficar com você, já dissemos várias vezes o quão esperta você é, chega a ser assustador. precisa aprender a valorizar seu cérebro, porque aguentar o que você aguenta todo dia e ainda se dar bem nas aulas e ser foda em tudo o que faz é MUITO difícil. É mais difícil que subir no palco, cantar e sorrir.
- Agora ele tem noção disso, perdi as contas de quantas vezes ele pediu desculpas hoje, meu coração cortou quando ele começou a chorar. Eu nunca vi o chorar.
- Que chore – bufou e eu a olhei assustada. – Tá, me desculpe – nós rimos.
- A conclusão do assunto foi a seguinte – respirei fundo. – vai começar a prestar mais atenção em mim e no que acontece fora do mundinho perfeito ‘One Direction’, acho que é um grande passo no nosso namoro. É meio que a vez dele aguentar a pressão, sabe? Até quanto ele aguenta – falei. – E também tem o fato de que eu finalmente falei que o amo...
- HEIN? – Eu sabia que não estava cem por cento prestando atenção no que eu estava falando, então quando eu disse isso a vi claramente arregalar os olhos. – Espera, depois de tudo o que aconteceu ontem, a briga e de você jogando na cara do todas as coisas babacas que ele fez e o que você passa com as fãs, você diz QUE O AMA?
- Ando aguentando tudo isso exatamente pelo fato de eu o amar – sorri. – Eu consigo me ver brigando com ele e fazendo as pazes pelo resto da minha vida, não acho que vamos brigar com coisas mais sérias...
- Isso que aconteceu entre vocês não foi uma coisa séria?
- achava que eu gostava do também, já que ele tá meio que apaixonado por mim no momento. E como eu tava de saco cheio ontem, eu meio que vomitei tudo o que eu to sentindo desde o começo do namoro – respondi. – Vejo isso como uma evolução, está tudo às claras agora no nosso relacionamento, sem dúvidas, sem segredos.
- Ok, – ela me abraçou. – Mas o sabendo tudo o que está acontecendo com você não me tira a preocupação, e, de qualquer, forma eu vou ficar no seu pé. É meu papel de melhor amiga – ela riu e eu também. – E acho que vai continuar cuidando de você mesmo assim.
- Ai Jesus, – bati a mão na testa. – Eu devo desculpas pra ele, ontem fui meio grossa.
- Com o ? – arregalou os olhos. – É praticamente impossível ser grossa com , o cara é a personificação da fofura!
- É eu sei, mas ontem eu estava em um momento meio delicado e acabei descontando nele – suspirei. – Preciso falar com ele mais tarde.
- Acho que não precisa ser mais tarde – ela sorriu e apontou pra porta, estava lá.

Seu olhar era tímido, mas seu sorriso de lado passava um ar de tranquilidade. Na mesma hora eu me levantei e fui até ele, antes que eu pudesse falar qualquer coisa, levantou a mão pedindo pra que eu esperasse. Assim o fiz.

- Tá tudo bem – ele disse. – Sério.
- Posso falar agora? – Perguntei rindo. – , não está tudo bem! Ontem eu acabei sendo mal educada com você sendo que, eu nunca quis falar daquele jeito! Eu estava tão nervosa e tão abalada com o que tinha acontecido...
- Eu sei disso, , tanto que eu nem levei em consideração – ele deu de ombros. – E na verdade eu também queria pedir pra que você não levasse em consideração aquilo que você descobriu ontem – vi suas bochechas ficarem um pouco vermelhas, tadinho.
- O fato de... – cocei a nuca – Que você gosta de mim?
- Isso – ele riu e olhou pros pés. – Não queria que nada mudasse entre nós, sabe? Você é uma garota maravilhosa e de verdade merece um namorado igual o , eu nunca quis nada com você, na verdade eu quis, mas não que eu vá prejudicar seu namoro com meu amigo.
- Eu sei disso, , claro que eu sei! Você nem precisa se desculpar, na verdade eu tô tentando entender como que isso – apontei pra ele e pra mim – aconteceu.
- Nem eu - ele sorriu. – E eu não quero nem pensar mais no assunto. Você é a namorada do , você o ama, ele te ama e eu amo vocês dois! É apenas um lapso, eu sei que vai passar. É como, sei lá, Joey e Rachel namorando, sabe? Você é a Rachel, eu sou o Joey e com certeza o é o Ross.
- Na verdade hoje ele estava querendo mudar o nome dele pra Chandler – fiz careta, lembrando da babaquice de mais cedo. – E eu não sou muito fã da Rachel?
- , estou tentando apenas fazer uma comparação – ele riu. – E sério que ele quis mudar o nome dele pra Chandler?
- Eu não consegui achar um apelido pra ele, na verdade tudo começou porque eu acidentalmente chamei ele de amor e aí começamos um papo babaca de ‘dar apelidinhos carinhoso’ – bufei.
- Você chamou o de ‘amor’? – cruzou os braços e suspirou, soltando um sorriso meio triste em seguida. – Nossa, tá sério assim?
- Eu acho que está – sorri. – Hey, descruza os braços – puxei seus braços pra baixo e o forcei a me dar um abraço. – , sabe o quanto eu amo você? Sabe o quanto você é especial pra mim? E sabia que se o for um babaca você é minha opção número um?
- Sempre achei que fosse o – ele respondeu me apertando um pouco mais.
- é a opção do , a minha é você – eu ri e o apertei mais, alguma coisa não queria me fazer largar o abraço. – Eu te amo tanto, mas tanto! Desde o começo você e o foram tão legais comigo que nada nesse mundo pode tirar o que eu sinto por vocês. Mas, de verdade, eu sinto muito que esse meu amor não seja o mesmo amor que você sente.
- Não fique se achando culpada de alguma coisa – ele beijou meus cabelos. – Os meninos sempre brincavam em ‘quem vai ser o primeiro a se apaixonar pela namorada do outro’, e acabou calhando que fui eu – ele riu e aos poucos soltou o abraço. – Mas eu nunca faria nada pra prejudicar você ou ele.
- Tenho certeza que não – eu sorri e me inclinei pra dar um beijo em seu rosto. – Isso tudo o que você me disse, já falou pro ?
- Acabei de conversar com ele – suspirou. – Ficou tudo bem, ele é meu irmão e não tem motivo pra ficar um clima ruim entre nós dois.
- Fico feliz em saber que tudo está resolvido – respondi. – Bom, eu vou entrar porque tá começando a ficar frio aqui fora e a tá começando a me irritar, como sempre.
- Na verdade – apareceu atrás de mim me abraçando, assustei. – E eu vou ignorar o que acabei de ouvir por último.
- Desculpa – eu ri e também.
- acabou de me mandar uma mensagem pedindo pra irmos até a casa dele, parece que seu homem preparou uma surpresa pra você.
- Ah, claro! – bateu na própria testa. – Eu vim aqui te chamar pra ir à casa do , acabei me perdendo no assunto – ele riu.
- Surpresa?
- É o jeito que o achou para pedir ‘desculpas’ – disse com um sorriso maroto. – Ficou muito bom.
- E aí, vamos? – estava já pulando ao meu lado de curiosidade.
- Vai, vamos logo – eu ri.

Claro que a casa de era praticamente colada com a casa de , os meninos moravam todos juntos nesse complexo. Caminhamos um ao lado do outro com ao meu lado me abraçando e segurando minha mão. Assim que chegamos, vimos logo no quintal da frente um palco improvisado com cinco cadeiras e microfones. Todos estavam lá, e me deu um beijo no rosto e foi se juntar ao meninos. A iluminação improvisada com lâmpadas e velas estava tão fofinha que eu chegava até a duvidar que havia sido os próprios meninos que fizeram aquilo, e tudo em tão pouco tempo. Duas almofadas estavam jogadas na frente do palco, presumi que eram para e eu, sendo assim fomos pra lá. estava no centro do palco em pé, sorriu quando me viu e soltou um longo suspiro. Os outros meninos também sorriam e pareciam até um pouco nervosos, eu achava tudo uma gracinha.

- Que é tudo isso? – Perguntei de forma idiota.
- Show particular – me respondeu. – Eu já vi você ouvindo essa música algumas vezes e sei quão grande é o significado dela pra você. Na verdade já estava nos meus planos a um certo tempo cantá-la pra você, mas acho que hoje é o momento apropriado.
- Só não começa a chorar, nenhuma das duas – disse. – Não trouxe lencinhos pra todo mundo.
- Ok, disse rindo.
- Vamos? – olhou pros meninos e eles concordaram. – Vai ser a capela, então só aproveita.
- Aham – sorri.

Regrets collect like old friends
Remorsos se acumulam como velhos amigos
Here to relive your darkest moments

Aqui para reviver seus momentos mais sombrios
I can see no way, I can see no way
Não vejo nenhuma saida, não vejo nenhuma saída
And all of the ghouls come out to play

E todos os monstrous saem para brincar

começou cantando a música. Logo na primeira frase eu já me arrepiei toda e reconheci a música. Florence and the Machine, Shake it Off. Eu disse para uma vez que essa música me trazia boas lembranças, me dava forças quando eu achava que não podia mais ficar de pé. Quando cantou, eu mirei e nossos olhares se encontraram, ele sorriu. Eu parecia estar catatônica, porque em questão de segundos era como se eu estivesse sozinha apenas com os cinco, ou que eu estivesse em um plano superior flutuante e essa música fosse a única coisa que me deixasse acordada ou apercebida do mundo. Quis chorar, mas quis sorrir. Ai , dessa vez você acertou em cheio.

And every demon wants his pound of flesh
E todo demônio quer o seu pedaço de carne
But I like to keep some things to myself
Mas eu gosto de manter algumas coisas para mim mesma
I like to keep my issues drawn

Gosto de manter meus problemas escondidos
It's always darkest before the dawn

É sempre mais escuro antes do amanhecer

cantava com tanta emoção a segunda estrofe que sem querer acabei derrubando algumas lágrimas. Senti ao meu lado apertar minha mão e encostar a cabeça em meu ombro. Mordi meus lábios pra não chorar mais ainda, aquele não era o momento. Encarei no momento em que ele cantou ‘mas eu gosto de manter algumas coisas para mim mesmo’ e percebi que houve uma troca de sentimentos entre nós dois. Talvez seja melhor ele manter os seus sentimentos para si mesmo. Na verdade, eu tenho certeza de que era exatamente isso o que ele estava pensando.

And I've been a fool and I've been blind
E eu tenho sido tolo, tenho sido cego
I can never leave the past behind

Não consigo nunca deixar o passado pra trás
I can see no way, I can see no way
Não vejo caminho algum, não vejo caminho algum
I'm always dragging that horse around

Estou sempre carregando esse peso nas costas

foi o próximo e devo dizer que, desde o começo, eu sempre fui apaixonada por sua voz. Acho que eu me apaixonei pelo seu timbre antes de me apaixonar pela pessoa. Quando eu fiquei por vários dias ouvindo One Direction, lembro-me de voltar por diversas vezes as partes que cantava, e hoje o sentimento não foi diferente. Quando ele começou eu me arrepiei toda, e se antes eu já estava com um indício fraco de que ia começar a chorar, agora as lágrimas escorriam livremente por meu rosto. Ele cantou com tanta dor ‘e eu tenho sido tolo, tenho sido cego’ que eu consegui sentir sua dor, era como se ele estivesse se punindo por todo esse tempo não ter percebido o que estava acontecendo comigo.

All of his questions, such a mournful sound
Todas as perguntas dele, um ruído de sofrimento
Tonight I'm gonna bury that horse in the ground
Hoje eu vou enterrar esse peso no chão
So I like to keep my issues drawn

Então eu gusto de deixar minhas dores escondidas
But it's always darkest before the dawn
Mas é sempre mais escuro antes do amanhecer

e sincronizaram as vozes e fizeram um dueto maravilhoso nessa estrofe. Agora eu e estávamos com nossas mãos entrelaçadas e uma encostando a cabeça na outra, só prestando atenção. Durante essa parte, novamente meu olhar se cruzou com o de e eu o vi murmurar ‘não chora’, e em seguida esboçar um sorriso. Sem eu nem perceber, já estava com um sorriso singelo no rosto e ele disse ‘isso aí’ e piscou pra mim. percebeu e me deu um beliscão de leve, o que fez com que meu sorriso se abrisse mais ainda.

Shake it out, shake it out
Liberte-se, liberte-se
Shake it out, shake it out, oh woah
Liberte-se, liberte-se
Shake it out, shake it out

Liberte-se, liberte-se
Shake it out, shake it out, oh woah
Liberte-se, liberte-se

It's hard to dance with a devil on your back
É difícil dançar quando o diabo está nas suas costas
So shake him off, oh woah
Então liberte-se dele

No refrão, as vozes dos cinco garotos na minha frente combinadas resultavam em uma harmonia praticamente perfeita. Percebi que eu estava cantando junto com eles, essa era uma das minhas músicas favoritas e meu hino em meus dias baixos, quase como Alive do Pearl Jam. Sabia muito bem que, contando com a última noite, eu estava me libertando de todos os meus demônios, e agora eu tinha ciente de tudo o acontecia, ele era meu anjo, meu protetor. Desde o princípio eu nunca estive nessa batalha contra mim mesma e contra o mundo sozinha, mas agora eu tinha a pessoa que mais me importava ao meu lado. E o tinha comigo.

And I am done with my graceless heart
E eu estou cansada do meu coração sem graça
So tonight I'm gonna cut it out and then restart
Então hoje a noite eu vou parar com isso e recomeçar
'Cause I like to keep my issues drawn
Porque eu gosto de manter meus problemas escondidos
It's always darkest before the dawn

É sempre mais escuro antes do amanhecer

cantou ‘então hoje a noite eu vou parar com isso e recomeçar’ e apontou pra mim, quase obrigando-me a concordar com ele. Eu fiz um ‘joia’ para ele e os meninos riram. Eu sabia que estava recomeçando, e com ele cantando assim pra mim e ajudando-me seria muito mais fácil dar a volta por cima.

It's hard to dance with a devil on your back
É difícil dançar quando o diabo está nas suas costas
So shake him off, oh woah
Então liberte-se dele

Nesse momento os cinco pegaram os microfones que usavam e os tiraram da base. Saíram do palco e vieram caminhando em nossa direção, ainda cantando e sem perder contato visual conosco. Sentaram-se de frente pra nós, praticamente sentou no colo de , mas preferiu sentar na minha frente. , e ficaram ajoelhados e mais ou menos abraçados enquanto cantavam. Tudo estava tão lindo e tão perfeito que no fundo eu desejei ter uma câmera agora comigo pra registrar esse momento. Era isso o que eu queria guardar pra minha vida inteira.

And it's hard to dance with a devil on your back
E é difícil dançar quando o diabo está nas suas costas
And given half the chance
E se fosse dada metade da chance
Would I take any of it back?
Eu tomaria alguma coisa de volta?
It's a final mess but it's left me so empty
É uma bagunça final que me deixou tão vazia
It's always darkest before the dawn

É sempre mais escuro antes do amanhecer

Oh woah, oh woah

And I'm damned if I do
E eu estou condenada se eu fizer
And I'm damned if I don't
E eu estou condenada se eu não fizer
So here's to drinks in the dark
Então aqui estou para brindar no escuro
At the end of my rope
No final da minha jornada
And I'm ready to suffer

E eu estou preparada para sofrer
And I'm ready to hope
E eu estou preparada para ter esperanças
It's a shot in the dark aimed right at my throat
É um tiro no escuro mirando exatamente na minha garganta

agora estava ajoelhado de frente pra mim segurando com mais força minha mão direita, e quando cantou ‘e eu estou preparada para sofrer e preparada para ter esperanças’, seu olhar me passou mais confiança, porque eu sabia que agora era isso o que ele queria que eu tivesse. Esperança! Apesar de eu estar mais forte e talvez agora eu fosse encarar o sofrimento com outros olhos, o essencial era ter esperança, não desistir nunca, não me entregar nunca. A minha batalha comigo mesma já estava quase ganha, faltava muito pouco.

'Cause looking for heaven, found the devil in me
Porque procurando pelo Céu eu achei o diabo em mim
Looking for heaven, found the devil in me

Procurando pelo Céu, achei o diabo em mim
But what the hell

Mas que inferno
I'm gonna let it happen to me

Eu deixarei acontecer comigo

Os meninos terminaram e cantar e a única coisa que eu consegui fazer foi me jogar nos braços de e terminar o pouco do meu choro entalado ali nos ombros do meu namorado. Ele me abraçou com força deixando o microfone de lado, em seguida senti mais abraços e, quando abri meus olhos, vi que todos estavam em cima de mim, também me abraçando, e isso incluía , por mais que ela não fosse fã de chorar, eu sabia que ela também estava chorando. Aquele era nosso recomeço, era o meu recomeço. Estou me libertando de todos os meus demônios essa noite, e com as sete pessoas mais maravilhosas do mundo ao meu lado.

Capítulo 25

Paris, Paris, Paris, Paris! Eu ficava repetindo isso pra mim a cada segundo enquanto Olívia e Tyra detalhavam sobre as fotos tiradas no anterior photoshoot.

Duas semanas se passaram desde o ocorrido no Saturn V, as fotos divulgadas nos jornais, principais tablóides, Tumblr, Facebook, Twitter e qualquer outro meio de comunicação. Como já era de se esperar, o furor do fandom com as fotos durou mais de três dias e acho que o pior mesmo foi a reação feminina quando admitiu em um programa na TV que nós dois ainda estávamos namorando. Nesse dia eu acho que meu Twitter bombou de coisas boas, mas também de coisas ruins. twittou ‘fico feliz de poder contar com a minha irmã, bem vinda a família – de novo @stargirl’ e as garotas foram a loucura! Primeiro porque me chamou de irmã, segundo porque ele disse que eu faço parte de família, terceiro porque... Bom, eu sou uma garota que sou amiga dos meninos e de quebra namoro um deles. Quer mais motivo pra um surto adolescente virtual, ou não?

As semanas passaram-se de forma tranquila, como fomos avisados que Tyra iria dar os resultados na data de hoje, então minha cabeça ficou lotada, pensativa, preocupada, nervosa e todos esses sentimentos que te deixam com vontade de vomitar e tiram o seu sono. Por falar em vomitar, está cuidando de mim como se estivesse cuidando de um bebê. Até mesmo citou minha frase favorita de um dos meus filmes favoritos, “Ps: I love you”, no primeiro dia de aula depois dos bafos do fim de semana. me segurou nos braços e disse que era pra eu encarar tudo de cabeça erguida e eu que eu era muito mais do que todo mundo achava, eu era a coisa mais preciosa na vida dele, e foi aí que ele disse ‘eu sei exatamente tudo o que eu quero pra mim, porque eu a tenho agora em meus braços’, então eu comecei a chorar e eu juro que ele também quis chorar, mas se segurou, caso contrário ia pegar mal pra pose de machão que ele estava no momento. O que importa é que agora, tanto quanto os outros meninos estão tomando conta de mim, o que me deixa mas tranquila e confiante, e de novo parafraseando minha cantora favorita, Kelly Clarkson, ‘what doesn’t kill you makes you stronger’, ou seja, o que não te mata te fortalece! Se até hoje eu não morri por conta desse abuso infernal eu não vou morrer agora, pelo contrário, ficarei mais forte. E, de novo, tenho o apoio da pessoa que mais importa pra mim: !

Tentando tirar esses pensamentos da cabeça e me concentrando na aula, eu, , Sam e Lucas estávamos aflitos, e bem aflitos pra ser sincera. estava quase destruindo meus dedos tamanha era a força com a qual ela os apertava, mas eu estava de um jeito que não sentia mais dor, acho que já estavam anestesiados. Tyra começou a mostrar foto por foto que foi tirada aquele dia e fazia suas críticas construtivas – menos luz, mais luz, fora de foco, embaçada, preto e branco... – e dizia como podíamos melhorar nossa qualidade de foto, o que fazer para nossas fotos ficarem com um aspecto mais profissional e não tão amadoras. Poderíamos usar a câmera mais foda do mundo, mas se não tivéssemos técnica, a foto ficaria uma merda de qualquer jeito, ou poderíamos usar uma câmera de celular e, com a técnica perfeita, a foto estaria pronta para um editorial Vogue. A cada crítica eu sentia meu estômago descer mais um pouco e mais um pouco até chegar quase nos meus pés, quando um profissional está te julgando, você acaba se sentindo como um lixo e acha que todo o seu trabalho é o pior do mundo. E sentindo isso, eu via meu ticket para Paris ir cada vez mais longe, e mais longe.

E o resultado? Já saiu? – x

Peguei meu celular e dei de cara com essa mensagem. e os meninos estavam tentando me acalmar desde ontem à noite, mas tudo estava sendo em vão, mal consegui dormir e perdi as contas de quantas xícaras de leite morno fiz para mim mesma a fim de tentar ficar sonolenta. Óbvio, todas em vão, e, ao final, fiquei enjoada e com muita vontade de fazer xixi.

Ainda não, elas estão discutindo a qualidade das fotos. Estou a ponto de ter um piripaque – x

Você vai se dar bem, gênio, e se não for pra ir com a escola para Paris, te levo lá um dia – x

Ah claro, Paris com você parece bem atraente – x

Obrigado por não recusar meu pedido, lol. Agora presta atenção na aula e me liga assim que sair o resultado. Te amo – x

Pode deixar, amo você – x

- ? – me cutucou e eu guardei o celular. – Os resultados.
- Agora?
- Agora minha amiga, AGORA!
- Sam? Lucas? – Olhei para os dois garotos ao meu lado que mal piscavam, deviam ter entrado em um tipo de estado de choque ou coisa do tipo.
- Sem condições de falar agora, , sem condições – Sam levantou a mão pra mim e arregalou aqueles olhos azuis, fiquei até com medo.
- Ok...
- Como era de se esperar em uma sala de alunos tão espetaculares, foi um decisão muito difícil, mas depois de todas essas semanas, finalmente chegamos a uma conclusão que nos pareceu justa – Tyra olhou para Olívia que sorriu, e depois encarou a sala. – Vocês já devem saber do prêmio, certo? Os quatro vencedores passarão, comigo, uma semana em Paris acompanhando o dia a dia das modelos e, o principal, por três dias vocês vão estar sentados na primeira fileira vendo todos os desfiles das principais marcas, e nos outros dias vão fotografar Paris e as modelos. Todos de acordo?
- SIM! – Óbvio, todo mundo concordou.
- Bom – Tyra sorriu para Olívia. – Há com certeza, nessa sala, pessoas com uma grande capacidade, outras que precisar ficar um pouco mais refinadas, outras que precisam aprender a confiar no próprio taco. Porém há um grupo que foi absurdamente RIDÍCULO de tão bom, acrescento até dizer que no grupo parecia haver um gênio – ela sorriu e me encarou, oh não! – Um gênio que pode não ser exatamente reconhecido como tal, que para muitas pessoas não passa apenas de mais uma na multidão, porém eu tenho certeza de que esse gênio sabe da capacidade que tem, e o principal, esse gênio tem o apoio de amigos, professores e da pessoa que ama.
- Ela tá falando de você – Lucas disse baixinho. – , a Tyra está falando de você.
- Impossível!
- O te chama de gênio o tempo todo, quem é o outro gênio da sala?
- Não sei, Sam, não sei, mas não pode ser...
- Parabéns, , , Samuel e Lucas. Vocês vão para PARIS!

BLECAUTE! TÔ CEGA! E SURDA!
Não sei o que está sendo pior ou melhor! Eu só sei que as cadeiras que estava na minha frente tombaram pro lado, Sam e Lucas lascaram um beijão ali mesmo na sala na frente de todo mundo, levantou pra cair de joelhos logo em seguida chorando copiosamente e eu fiquei lá pulando e berrando em círculos parecendo uma idiota. NÓS ÍAMOS PRA PARIS, NÓS VAMOS PRA PARIS, PORRA! Quando eu consegui parar de gritar e conseguiu ficar de pé, vimos que a sala toda nos olhava e nos aplaudia, todos os alunos ficaram felizes. E quando eu digo todos eu de verdade quero dizer TODOS! Não havia uma pessoa sentada, todos sorriam e batiam palmas dizendo ‘vocês merecem’ e ‘parabéns’, até mesmo as meninas que um dia me olharam de cara feia, que grudaram coisas nas minhas costas, que rabiscaram meu caderno, essas meninas meninas estavam – talvez com um sorriso falso, mas não deixava de ser um sorriso – me encarando e não paravam de bater palmas. Olívia e Tyra estavam ainda na frente esperando por algum movimento nosso, mas eu só conseguia pular e abraçar e depois abraçar Sam e depois Lucas e gritar mais um pouco. Os alunos foram se aproximando e nos empurrando para a frente, gritavam e pulavam conosco, Sam e Lucas pegaram no colo e a levaram suspensa nos ombros, eu ainda estava sendo arrastada no chão por aquelas mesmas garotas que, meses atrás, pisaram em cima de mim no photoshoot da Surgascape.

A primeira coisa que fiz foi dar um abraço apertado e choroso em Olívia. Quem pode ter me escolhido pode ter sido a Tyra, mas toda a técnica que eu desenvolvi foi por culpa dessa fadinha loira de paciência eterna. Ela me abraçou de volta tão forte que minha costela estralou, nós duas começamos a rir. Olívia olhou pra mim com aquele sorriso encantador e limpou minhas lágrimas, sussurrando ‘eu sempre confiei em você, sempre’, dito isso me deu um beijo no rosto e mais um abraço. Deus, eu podia ficar ali pra sempre! Quando me soltei de Olívia fui até Tyra, que me esperava de braços abertos e com aquela cara de mamãe orgulhosa.

- Eu sempre soube que você ia conseguir – ela sorriu enquanto me abraçava. – Por Deus, garota, você praticamente entrou debaixo das minhas pernas pra tirar uma foto! Isso é ter coragem!
- Quantos homens não queriam estar no meu lugar – gargalhei no meio dos meus prantos. – Tyra, obrigada!
- Obrigada? , quem fez um bom trabalho aqui foi você, meu papel foi apenas escolher uma foto boa, que, vamos combinar, a sua tava dando de mil a zero em cima de muita foto – ela sorriu. – Já pensou nas roupas que vai levar?
- Tyra! – passei as mãos nos cabelos. – Eu mal tô conseguindo controlar meus batimentos cardíacos, como que você acha que eu vou pensar em roupas?
- , você está indo para Paris – ela sorriu. – Me prometa que você vai comprar roupas novas e estilosas! Além de você ser a namorada do , que por sinal precisa ser informado disso, você precisa se vestir como uma fotógrafa moderna profissional que está indo para Paris.
- Ai meu Deus – eu ri. – Eu não, eu não tenho dinheiro pra gastar com roupas.
- Por que você não checa sua conta bancária mais tarde? – Ela piscou pra mim e eu arregalei meus olhos. – Digamos que esse seria o seu primeiro salário.
- Tyra?
- Agora vai ligar pro seu namorado, tenho certeza de que ele deve estar louco de curiosidade – ela riu. – Vai, vai...
- Eu não... Tyra, me diz que você não fez nada louco! Por favor, isso seria...
- Merecido – ela segurou minha mão. – Mais que merecido! Você é uma garota de ouro, , merece mais do que ninguém uma oportunidade dessas e uma recompensa como essa! Agora vai e avisa seu homem.
- Ok – suspirei quase querendo chorar de novo!

Olhei para Sam, e Lucas, que se abraçavam freneticamente, e saí de fininho da sala já pegando meu celular. Procurei os últimos números discados e logo achei o de . Não demorou muito para ele atender o telefone, foi logo no segundo toque.

- CONSEGUIU?
- CONSEGUI, BABE!
- EU SABIA, CARAMBA!!!! – Ele berrou e berrou com força. – CARAS, ELA CONSEGUIU, ELA CONSEGUIU!
- Aeeeeeeeeee. Parabéns, !
- Sabia que você ia conseguir.
- ME TRAZ UM PRESENTE DE PARIS!
- Como você está? Tá tremendo?
- Eu quero sentar na calçada e chorar de emoção, posso?
- Vem chorar então na calçada da minha casa, porque eu to doido pra te dar um abraço de parabéns! Na verdade eu quero te dar um beijo como você merece – a última fala disse em um tom mais baixo e malicioso, eu mordi os lábios e dei três pulinhos de excitação.
- Vai demorar ainda pra eu ir até a sua calçada, mas acho que vou comemorar indo no Starbucks com o pessoal, tudo bem?
- Pode, sem problema – ele riu. – Espera, você está me pedindo permissão?
- Não é exatamente permissão, é... – cocei a cabeça. – Ok, eu pedi permissão.
- , você pode ir onde quiser e quando quiser sem falar pra mim falou bem calmo. – Só quero que você se alimente, se cuide, apenas isso.
- Sei disso, babe – eu sorri. – Mas olha, só vamos comemorar agora e depois eu juro que sou toda sua, quero planejar minha super viagem com você e os meninos.
- Tudo bem, mas já vai se preparando pra trazer mil presentes para os meninos, eles só sabem pedir.
- Vocês nunca foram para a França?
- Bem no começo da carreira, mas ficamos pouco tempo. Quem sabe eu não vou junto com você?
- SÉRIO?
- Você deixa?
- Tá me pedindo permissão, ? – Eu ri e ele também. – , você pode ir onde quiser e quando quiser sem falar pra mim.
- Cala a boca, – ele disse meio bravo meio rindo, eu só gargalhei.
- Bom, seria um prazer ter você ao meu lado em Paris, mas será que sua agenda não vai estar lotada na época?
- Não sei, você vai quando?
- Acho que daqui duas semanas, é o tempo que eu preciso pra arrumar meus documentos e o pessoal também.
- Vocês quatro vão? , Sam e Lucas também?
- Sim, todos nós. Acho que dá pra imaginar como os meninos estão.
- Dando mais pulinhos que você – nós rimos.
- Mais ou menos por aí.
- Vamos conversar quando você voltar, ok? Que horas mais ou menos você chega em casa?
- No fim da tarde – sorri. – Eu te ligo.
- Vou ficar esperando – ele suspirou. – Novamente, parabéns gênio.
- Obrigada, .
- Amo você, vem pra casa logo!
, Lucas, Sam e minha pessoa fomos almoçar em um Starbucks próximo da escola, não conseguíamos parar de sorrir em nenhum momento, era emoção demais, felicidade demais, alegria demais, medo demais. Postei no Twitter:

‘Indo para Paris em algumas semanas. Obrigada por acreditar em mim, Tyra’

E esperei para ver qual seria a reação. Bom, primeiro que a Izzy – a noiva do baterista mais lindo do mundo, Judd do McFly – foi a primeira a me responder:

‘Parabéns, ! Já sabia da notícia há uma semana, mas não podia te contar. Estou muito contente por você, aproveite Paris’

E depois veio a Giovanna:

‘Parabéns, fofura! A Izzy já havia me contado, mas agora é oficial! Divirta-se na França, se precisar de alguma ajuda só me pedir, mwaack’

E depois vieram os tweets de Tom e Dougie:

‘Queria deixar meus parabéns para a nossa star girl por conquistar mais um degrau em sua vida profissional. Não poderia estar mais orgulhoso – Tom x’

‘Deixo aqui meus parabéns para a ’ – e Dougie postou uma foto de um alien sorrindo, coisa mais bizarra!

E, claro, meu amorzinho não ia ficar fora dessa:

‘Parabéns, time Sam, Lucas, e minha princesa @stargirl. Acreditei em você desde o primeiro momento que te vi, te amo, babe’

Óbvio que não ia deixar de comentar:

‘Parabéns, sis, me traz presente!’

deixou dois tweets fofinhos para e o mesmo fez . Leishman deixou um tweet parabenizando o meu trabalho e o de , e o mesmo fez Dave. Ou seja, eu ganhei meu dia! Algumas fãs também nos parabenizaram e os tweets maldosos falando que nós duas conseguimos o prêmio porque namorávamos os meninos eu simplesmente ignorei, eu estava numa vibe tão feliz que mal me importava com o que elas estavam falando. Eu ia para Paris e eu namorava , fodam-se todos!

- ROUPAS! EU PRECISO DE ROUPAS!
- Eu preciso de dinheiro pra comprar as roupas! Não tenho um puto no bolso!
- é o seu namorado, você tem dinheiro até de sobra.
- Eu não vou pedir pro comprar roupas pra mim, é abuso demais.
- Tô nem aí, eu vou pedir pro comprar minhas roupas, ele gosta de me mimar.
- Mas você é abusada, .
- Sou mesmo, tô nem aí!
- , se você pedir o cartão do , pergunta se ele não pode aproveitar e emprestar pros seus dois amigos gays e falidos, por favor?
- Sam, eu já disse que não vou fazer isso.
- Se eu abrir a boca e falar que você precisa de roupas para Paris, é capaz de ir com você em cada loja de Londres a fim de comprar roupas pra você.
- E eu acho muito bom você não fazer isso comigo, , a última coisa que eu quero é comprando roupas pra mim.
- É PRA PARIS! – Sam e Lucas berraram. – , eu não vou deixar você ir igual uma mendiga pra Paris, não vou permitir! – Lucas completou.
- Eu já pedi pro ir fazer compras comigo, então a essa altura eu acho que o já deve estar sabendo que você também precisa de roupas – sorriu.
- Eu odeio você, sabia disso?
- Eu sei que você me ama em segredo, então isso eu mantenho em meu coração.
- Babaca! – Bufei. Quando ia completar meu pensamento, ouvi meu celular começar a tocar, pelo toque não era .
- Seu boyfriend? – Sam piscou os olhos ficando mais gay ainda.
- Não, quando ele liga toca All About You do McFly – eu ri pegando o celular. – Na verdade não sei quem é.
- Atende! – disse dando um gole no seu frapuccino.
- Alô?
- ?
- É ela, quem é?
- É a Lorelai, Lorelai Cohen.
- Oh! Hey, Cohen – eu disse olhando pra com cara de dúvida. Óbvio que minha amiga torceu o nariz e tomou mais um gole do seu frapuccino de chocolate. – Tudo bem?
- Sim, sim. Desculpa te ligar assim, consegui seu número com o .
- Eu suspeitei – eu ri. – Tá tudo bem?
- Está sim, na verdade estou ligando pra te dar os parabéns por Paris, na verdade parabéns pro grupo todo, eu vi as fotos e vocês mandaram muito bem.
- Você viu as fotos? – Arregalei os olhos e os três olharam pra mim.
- Lary Cohen viu nossas fotos da Tyra? – Lucas perguntou. – Essa menina é diva demais.
- DIVA? – berrou. – Nunca mais fale isso na minha presença, Lucas!
- Ai desculpa, mas ela merece meu respeito. Ela tá pegando e tem uma boa reputação com os famosos, ela merece meu respeito!
- Tá, tá, tá... – bufou novamente.
- Ehr, desculpa, Lary, me perdi aqui com os comentários dos meus amigos. Todos mandaram beijos – falei rindo da careta da .
- É, eu imagino – ela respondeu. – Bom, estou te ligando porque na verdade eu gostaria de saber se você está livre no próximo sábado.
- Sábado? Nunca tenho nada sábado, claro que estou livre.
- Excelente! Então, por favor, assim que você sair da Starbucks vai direto ao encontro do , planejamos uma surpresa pra você e para seus amigos em virtude da viagem para Paris – sua voz era muito alegre, fiquei mais curiosa ainda.
- Surpresa? Para todos nós?
- Claro que sim, não esquecemos de ninguém, até mesmo da .
- Ah sim, eu sabia que você ia se lembrar com muito carinho da – eu comecei a rir junto com Lary.
- Querem parar de falar de mim? Tô ficando incomodada! GARÇOM, TRAZ UM MUFFIN!
- Não desconta sua raiva no muffin! – Sam disse. – , você tá ficando gordinha.
- Quer fazer o favor de calar a porra da boca? E pega meu muffin!
- Lary, posso te ligar mais tarde? Estou no meio de uma crise comestível aqui – falei baixinho.
- Claro, na verdade nem precisa me ligar. Liga direto pro , se não me engano é pra todo mundo ir pra casa dele, fechado?
- Fechado, obrigada por ligar.
- De nada, até daqui a pouco.
- , a menina planejou uma surpresa com os meninos e você fica aí pagando de mal humorada, dá uma moral pra ela – disse guardando meu telefone na bolsa e vendo dois muffins enormes de chocolate chegarem até nossa mesa. – Sério?
- , não me peça pra ser amiga dessa garota, algo nela não me cheira bem.
- Ela tem cheiro de Carolina Herrera – Sam disse. – Cheiro de riqueza.
- Ah, pff... – resmungou e mordeu o muffin com raiva.
- Que história é essa de surpresa? – Lucas me cutucou, seus olhos azuis brilhando como nunca. – Podemos ir também?
- Pelo que ela me disse, a surpresa é para todos nós. Acho que vocês podem ir também, só terminar nosso café e vamos todos para a casa do .
- Surpresa de Lorelai Cohen – Lucas suspirou. – Se eu fosse hétero, eu pegava!
- LUCAS! – bati em seu ombro. – Menos, né?
- Fão queru fafar mais dessa faroga falou com a boca cheia de muffin e espalhando farelos de chocolate pela mesa toda.
- Que nojinho, – Sam fez careta. – Que porra foi essa?
- Não quero falar mais dessa garota – eu traduzi. – Depois de um certo tempo morando com a Miss Porquinha você aprende a decifrar esse linguajar peculiar.
- BOLTON! – Ela berrou depois de engolir. – Linguajar de Bolton, você deveria estar acostumada, Senhora sou-doida-por-McFly.
- Meu favorito não nasceu em Bolton, – eu ri. – Nasceu em...
- Não quero saber onde Tom Fletcher nasceu – ela suspirou. – Enfim, eu terminei aqui, querem ir agora? – Todos nós olhamos para e ela estava com a boca cheia de farelos e suja de chocolate.
- Me diz que por favor você vai ao banheiro antes dar uma limpada nesse rosto e na roupa, tá muito feio – eu disse rindo assim como os outros meninos.
- Merda – ela passou as costas da mão sobre a boca. – Volto em cinco minutos.

E pisando em passos fortes, deixando eu, Sam e Lucas rindo na mesa, foi para o banheiro se limpar.

Pegamos um ônibus e fomos direto para a casa de . As luzes estavam acesas e eu conseguia ouvir as risadas dos cinco meninos ali dentro, e via a sombra esguia de Lary ali também, pelo que pude ver, ela estava o tempo todo abraçada com . Lucas e Sam se controlavam para não gritar como duas menininhas cheias de hormônios; só agora que eu percebi que era a primeira vez dos meninos na casa dos nossos namorados, agora estava tudo explicado.

- Você tem a chave? – perguntou.
- Claro que não, ainda não estamos nesse nível de intimidade – eu ri.
- O nível de intimidade ainda está “com roupas” – Sam disse fazendo aspas e rindo loucamente. – Ainda tá virgem, né, amiga?
- Tô, caralho – eu ri e dei um soco no ombro dele.
- Dá pra alguém bater na porta? – Lucas falou. – Eu vou bater, eu vou bater.
- Não precisa – apareceu abrindo a porta. – Oi, galera.
- – Lucas sorriu de orelha a orelha parando bem em frente ao e claramente o cheirando. – Exatamente como eu imaginava.
- Hm... Oi?
- Esse é o Lucas, Lucas esse é – eu falei rápido. – E aqui atrás está Sam, mas acho que dele você se lembra, do dia da SugarScape.
- Ah, oi – acenou e riu. – Vocês são...
- Namorados, aham – completou e escondeu o riso. – Como eu e o .
- Até na parte do sexo – Sam disse e eu vi ficar vermelho; Lucas ainda estava ali parado cheirando .
- Informação demais – eu ri. – Podemos entrar?
- Claro, a casa é sua, disse. – Bom... Lucas?
- Você é absolutamente perfeito!
- Lucas... ANDA! – eu o empurrei pelas costas rindo muito e vendo ficar com aquela carinha de vergonha, tadinho!

Fomos recebidos com aplausos e uma energia ótima vinda dos meninos. Eles estavam em círculo na sala, sorrindo de orelha a orelha e berrando nossos nomes. Eu e nos abraçamos e vimos Lucas e Sam agarrarem todos os meninos – TODOS! – demorando pelo menos uns 30 segundos em cada abraço. Eu só consegui olhar pra cara do , eu sei que ele ficava muito tímido quando algum menino o abraçava, ainda mais sabendo que eles eram gays. Na verdade eu acho que todos os meninos ficavam meio sem graças com o agarramento de Lucas e Sam, confesso que eu estava achando tudo muito engraçado.

- Posso agarrar meu namorado, agora? – Perguntei para Sam quando ele largou pela terceira vez o .
- Estraga MUITO prazeres – ele disse meio rindo, olhei para a cara de , ele estava muito sem graça.
- Own, babe, não tá acostumando com tanto homem te agarrando, não? – Eu ri enquanto jogava meus braços ao redor do seu pescoço. – Que foi?
- Sério, ! Nada contra seus amigos, mas se eles apertarem a minha bunda de novo eu vou ficar muito puto – ele olhava por cima dos meus ombros para Sam e Lucas, tenho certeza de que os dois estavam falando alguma coisa. – Eles não são um casal?
- São sim, mas convenhamos... É a primeira vez deles aqui na sua casa e eles pagam pau pra todos – dei de ombros. – Hey, não vou deixar nenhum gay malvado te bulinar.
- Fica quieta – ele riu e me deu um selinho. – Parabéns, gatinha.
- Obrigada – eu sorri de forma espontânea. – Meu Deus, Paris! Tem noção de há quantos anos eu sonho de ir pra Paris?
- Não sei, mas sei que parte do seu sonho é se dar bem na sua área, e, porra! Você vai trabalhar com a Tyra Banks em Paris, acho que isso já é uma grande evolução, não acha?
- Estou a mil passos na frente do que eu esperava da minha vida – eu ri. – Aos poucos eu estou conseguindo definir qual rumo da fotografia eu quero tomar. Vou saber agora como é trabalhar com modelos e, bom, já trabalhei com uma banda – sorri. – Vocês.
- E ainda tem o McFly, se não me engano eles querem que você faça uma sessão com eles, não quer?
- Ah, isso foi falado no dia da palestra do Leishman, não sei se foi o calor do momento ou se alguma coisa de verdade vai acontecer – suspirei. – Só de já ter um contato com eles eu me sinto muito feliz.
- Então se prepara para ficar mais feliz – sorriu e se afastou. – Hey caras, hora de dar a notícia.
- Opaaaaa – pulou em cima do sofá com e lá eles ficaram.
- Oi, – Lary apareceu do meu lado, deslumbrante como sempre, e me deu um beijo rápido no rosto. – Parabéns, você mereceu. As fotos ficaram lindas.
- Como você viu? – Perguntei de forma idiota.
- Tenho meus contatos – ela sorriu.
- seria um deles? – apareceu do meu lado me agarrando pelo braço e provocando Lary. Tá saindo faísca dos olhos da , eu vejo isso.
- Agência Hot British Girls, a maior agência de modelo da Inglaterra – ela olhou com desdém para . – Não sei se você já ouviu falar.
- Não – quase miou ao meu lado. – Nunca ouvi.
- Ok, chega por hoje – apertei o braço da minha amiga e repreendi Lary com olhar. Não tô aguentando essas duas.
- Bom, quarteto fantástico – subiu na mesinha do centro do sofá junto com , os outros se sentaram no sofá e, não tô surpresa, Sam e Lucas foram sentar quase no colo dos meninos. – Primeiro, gostaríamos de parabenizar o excelente trabalho de vocês! Claro, um parabéns especial para minha linda namorada, .
- Obrigada, lindinho – ela sorriu e olhou pra Lary que só revirou os olhos. – Te amo.
- Também te amo, pumpkin – ele disse e todo mundo começou a rir.
- PUMPKIN? – quase se engasgou – Mate, isso pega mal até pra nós!
- Deixa eu chamar minha do que eu quiser – fez bico. – Enfim, parabéns pra minha princesa e também para os outros três. Porém, eu acho que devo dar um parabéns especial para a fotógrafa mais foda que eu já conheci. , você merece esse prêmio mais que todo mundo.
- Ai cara, não é bem assim – eu respondi.
- Sem falsa modéstia, ! – Sam disse. – Nós nunca iríamos conseguir o prêmio se não fosse por você, fomos apenas atores coadjuvantes, você com certeza era a atração principal.
- Sua estrela brilha e ofusca todas as outras – Lucas disse. – Eu sinto muito orgulho em ser seu amigo, parceiro e de poder dividir agora a viagem da minha vida com você.
- I’m glad I share this with yooouuuuuu cantou No Worries e eu senti minhas pernas ficarem fracas, bem fracas. – Tá vendo, eu sei McFly.
- “Mwack”, te amo – mandei beijo pra ele e comecei a rir.
- E já que trouxe a tona o assunto McFly, podemos finalmente falar da surpresa.
- Como é que é? – Olhei de forma estatelada para . – A surpresa envolve McFly?
- Claro que ia envolver McFly – riu. – Fala logo!
- Bom – começou. – Infelizmente, a surpresa que eu havia preparado para o Saturn V não deu certo e eu quero apagar aquele dia da minha mente – ele suspirou. – Então, conversei com os meninos para saber quando eles fariam um novo show aqui em Londres, e calhou de ser bem nesse fim de semana.
- Ai meu coração, ai meu coração...
- , nós vamos te levar a um show do McFly – ele sorriu e tirou do bolso duas entradas para o show. DUAS ENTRADAS PARA VER MCFLY!

Eu comecei a gritar, não tava nem aí que todo mundo tava rindo da minha cara! Eu gritei, agarrei a , agarrei a Lary, agarrei os meninos no sofá – e esse tempo todo eu ainda estava gritando – subi na mesinha e agarrei e de uma vez só. Peguei as entradas do show e vi “VIP AREA” escrito em dourado, aí sim eu comecei a gritar mais ainda. Eu sentia meu corpo todo tremer, as lágrimas caindo do meu rosto, eu estava mais empolgada com o show do McFly do que ir pra Paris! EU IA VER MEUS MENINOS EM LONDRES! E pela primeira vez em minha vida, porque eu nunca tinha ido a um show do McFly no Brasil, NUNCA!

- Obrigada – eu disse chorosa para e recebi um beijo como resposta. – Sério, eu não... Não estava esperando por isso.
- Tudo pra te ver feliz, sempre – ele sorriu e me beijou novamente.
- Eu te amo, eu te amo – eu dizia enquanto uma chuva de risos e gritaria nos rondava.

Capítulo 26

- Beleza, Tom, é pra esperar o meet acabar então? E quanto tempo mais ou menos falta? Ok, eu aviso aqui pra ela – balbuciava do lado de fora da arena, pelo que percebi ele falava com Tom, FLETCHER!
- Gente, essa arena é enorme demais, demais! – olhava. – Queria fazer um show aqui.
- Vocês vão fazer um show aqui, tenho certeza – eu disse. – E, olha, metade das fãs do McFly conheciam vocês, acho digno rolar uma turnê com vocês dois juntos.
- Pensa uma turnê com os caras, cantar “I Want” com o Fletcher na guitarra! Porra, ia ser muito massa – os olhos claros de até brilharam, eu comecei a rir.
- Se isso acontecer, será obrigação minha conhecer as músicas do McFly – riu.
- Eu já trabalhei com eles uma vez, mas foi bem no começo da minha carreira, Tom ainda era chamado de fat Tom pelas fãs – Lary disse. Ok, eu confesso que nessa hora até eu fiquei com inveja. – Mas faz muito tempo, aposto que eles nem se lembram mais de mim.
- Eles se lembram da , na verdade ela é praticamente amiga dos meninos agora – me abraçou de lado e sorriu. – Não é?
- Não sou bem amiga deles, sou mais uma conhecida – eu disse dando de ombros.
- Podemos entrar, cambada – apareceu sorridente. – Acabei de falar com um tal de Tommy, quem é ele, ?
- Ai – eu comecei a rir. – Ele é...
- Psiu, não precisamos saber quem ele é, a informação que eu quero saber é se podemos entrar ou não – falou meio ansiosa. – Ainda não acredito que o Sam e o Lucas não vieram, bando de viados egoístas.
- Bem vinda ao mundo dos gays, eles podem ser seus melhores amigos, porém, se aparece alguma coisa mais interessante pra fazer, não pensam duas vezes antes de nos abandonar – falei meio magoada. Os dois acharam uma balada TOP e trocaram McFly por uma noitada de bebidas e flertes com os outros gays londrinos.
- O que importa, meus amores – chegou e abraçou eu e por trás – é que estamos liberados para uma entrada exclusiva no camarim dos meninos. Bom, a tá liberada pro camarim, nós vamos direto pra área vip.
- Como assim? – Perguntei virando todo o meu corpo para . – Eu, eu vou no camarim do McFly? Eu vou ver os meninos antes de entrarem no show?
- Na verdade – ele sorriu e tirou uma câmera digital no bolso – você vai fotografar os meninos antes de entrarem no show – ele sorria e eu quase chorava. – Conversei com o David e o próprio Tom, os dois aprovaram a ideia e suas fotos serão divulgadas na Super City.
- AI MEU DEUS! – Eu não conseguia respirar, eu não conseguia respirar. Olhei ao meu redor e vi que todos estavam me olhando e sorrindo, eles já sabiam? – Vocês... ?
- Todo mundo sabia, , soubemos essa manhã – respondeu. – Foi meio difícil controlar a língua da .
- Você sabia? – Olhei perplexa pra minha amiga ao meu lado. – Como que você conseguiu guardar essa bomba o dia todo?
- Cara, sua pessoa estava tão empolgada com McFly pra lá e McFly pra cá, foi até meio fácil, já que você não calou a boca por nem um segundo! – Ela riu. – Mas eu tive que ficar mandando mensagem pro a cada cinco minutos, porque eu estava com medo de te matar e você não ver McFly hoje à noite.
- Ai – eu fui até ela e a abracei forte. – Obrigada por não me matar nem estragar a surpresa da noite – eu ri e ela também.
- Hey, quem armou tudo fui eu aqui! – levantou as mãos e as abanava para cima e para baixo. – Eu tô merecendo um abraço e um beijo.
- Oh, – larguei de e fui até ele, lançando-me em seus braços e dando dois beijos em cada bochecha, sorri e vi por cima de seus ombros desviando o olhar. Larguei na hora. – Obrigada, amor, e eu achando que não tinha como você me surpreender mais. Pelo visto estou errada.
- Tem muito mais de onde veio – ele riu e me deu um peteleco no nariz. – Eu sei que o está atrás de mim, você disfarça muito mal, .
- Desculpa, eu só não queria que nós dois...
- Relaxa, tá tudo bem – sorriu. – Eu e já conversamos, está tudo tranquilo entre nós e entre vocês também.
- Não quero falar disso agora, o foi muito fofo comigo expondo todos os sentimentos, acho que agora é só questão de tempo pra esse furor passar! Ainda não sei direito como isso foi acontecer – dei de ombros.
- Você é irresistível, – ele beijou a ponta do meu nariz. – Sexy, inteligente, bonita, engraçada, sarcástica.
- A última também foi um elogio?
- Tudo o que eu falo de você é sempre um elogio – acabei sorrindo.
- POMBINHOS! – e Lary gritaram. – Escutem, tá ficando frio aqui do lado de fora da arena e eu quero entrar para garantir um bom lugar pra mim e pra Lary.
- Vocês dois vão ficar na área vip conosco? – emburrou. – Sério?
- Claro que sim, por que não ficariam? – disse com sua costumeira naturalidade.
- Você vai adorar isso, né, ? – bufou.
- ...
- Sério? – Olhei pra . – Escuta, eu vou fotografar o McFly minutos antes deles entrarem no palco, eu tô realizando dois sonhos da minha vida, e SIM, estou sendo absurdamente egoísta no momento, então, por favor, DÁ PRA PARAR DE FICAR COM CIÚME DA LARY POR UM MINUTO? Ela tá namorando o , ou isso ainda não deu pra perceber?

Todo mundo parou pra me olhar. Eu sentia minhas bochechas ficarem vermelhas, e dessa vez era de raiva da . Enquanto eu falava com eu a via andando de um lado pro outro, cercando Lary e brigando com cada vez que ele abria a boca para falar alguma coisa com ela. , por outro lado, estava de boa conversando com os outros meninos, Lary não estava nem aí para e estava me irritando como nunca! Tudo bem ter ciúme, mas o dela estava sendo descomunal, e dessa vez eu perdi a cabeça, chega, pelo amor de Deus!

- Que foi isso? – parou com as mãos na cintura me olhando. Na verdade, estavam todos me olhando.
- Olha, eu estou a ponto de ter a experiência mais maravilhosa da minha vida!
- Como que você pode ser tão egoísta?
- EGOÍSTA? VOCÊ TÁ NAMORANDO A PORRA DO SEU ÍDOLO POR MINHA CAUSA! VOCÊ TÁ FELIZ COM SEU NAMORADO PORQUE EU O CONHECI PRIMEIRO!
- Amor... – me puxou pelo braço, mas eu delicadamente me soltei.
- Não, espera aí! Porra, por que sempre que eu vou ter uma experiência maravilhosa com McFly eu preciso acabar brigando? – Bufei. – , se controla, e, por favor, para de ficar com ciúme a cada passo que o dá! A egoísta aqui está sendo você, porque você está vivendo o maior momento da sua vida desde que você começou a namorar o ! Meus momentos estão vindo em prestações: primeiro Londres, depois a fotografia, depois o e agora o McFly! Pra você ser feliz só bastou uma coisa, pra mim não. Então, para de ficar se estressando com isso, porque, se você ainda não percebeu, é doido por você e ele não está nem aí pra Lary! – Respirei fundo e olhei pra Lary. – E por tudo o que é mais sagrado, para de provocar a minha amiga porque se não quem vai começar a brigar aqui com você será EU!
- ? – Ouvi me chamar e apontar pra trás.
- Que foi? – E então me virei. – Ai porra! – Judd estava parado atrás de mim.
- Interrompo alguma coisa? – Ele disse com sua voz grave, sotaque forte e espremendo aqueles olhinhos pequenos azuis, LINDO! – Se eu cheguei em má hora posso voltar mais tarde, ou esperar a se acalmar.
- Puta merda, Judd! – Eu ri e fui até ele o abraçando, tava nem aí. – Não está interrompendo nada não, essa conversa já estava chegando ao fim.
- Por que sempre que vocês se encontram, precisa acontecer esse tipo de abraço? – caminhou até nos dois sorrindo e cumprimentou Judd. – E aí, cara?
- Tudo certo – ele sorriu. – Vim chamá-los para os bastidores, a área vip já está limpa, porém estamos precisando da nossa fotógrafa oficial.
- Que seria eu? – Sorri igual uma retardada.
- Com certeza, podemos ir?
- Podemos sim – respondi. – Amor, vai indo com o Judd, por favor?
- Claro – me deu um selinho e os dois passaram pela porta a caminho dos bastidores. Eu me virei e olhei para as seis pessoas que nem se mexeram direito quando o baterista apareceu.
- Essa conversa ainda não acabou, porém eu quero curtir o show dos meus meninos em paz, sem estresse e sem ter que ficar me preocupando se a Lary vai se atracar com a ou vice versa. E o pior de tudo, se o vai se atracar com o .
- É claro que isso não vai acontecer – pareceu ofendido. – Tá doida?
- Prometa pra mim que vocês não vão fazer isso – ninguém respondeu. – ANDA!
- Prometo.
- Prometo!
- Tá bom, prometo.
- Ok.
- Obrigada – olhei para , Lary, e . – e , conto com vocês para acalmar os ânimos desses quatro caso alguma coisa aconteça durante o show, tudo bem?
- Deixa com a gente, . Ninguém vai sair da linha – bateu continência e eu sorri.
- Entendido, capitã – fez o mesmo, os dois sorrindo.
- Ok, eu estou indo. Vejo vocês depois do show.

E virando as costas para uma emburrada, entrei para os bastidores do melhor show da minha vida.

Tom e Danny estavam em frente ao espelho do camarim arrumando ou bagunçando o cabelo e cantando ‘Everybody’ dos Backstreet Boys e fazendo a coreografia. Devo acrescentar que estavam sem camisa, então eu não conseguia parar de olhar para a estrela tatuada no peito do Fletcher, ela era tão mais linda ao vivo e a cores e perto de mim. Judd e Dougie estavam deitados no sofá conversando com o meu namorado, percebia que estava querendo aprender um pouco sobre bateria, então Judd estava dando umas dicas. Alguém pode comentar dos braços desse baterista? E o perfume que está nesse camarim? McFly é a banda mais cheirosa DO MUNDO!

- Olha, essa câmera captura movimento, então se vocês dois não pararem de se mexer eu não vou conseguir uma foto bacana – eu brigava brincando com Tom e Danny em frente ao espelho, sempre que eu ia tirar uma foto os dois se mexiam, pareciam duas crianças de vinte e seis e vinte e sete anos. – TOM FLETCHER!
- Am I the only one? – Tom começou a cantar e eu comecei a rir. – Am I sexuaaaaall??
- Tom, de verdade, meu amigo, quero uma foto sua gatona pra Super City!
- , olha pra mim – Danny fez uma careta e eu aproveitei pra tirar uma foto, até fazendo careta esse homem fica lindo. – Pegou?
- Valeu, Dan – eu sorri. – Tom, sua vez.
- Vem aqui então – Tom abriu os braços e eu fui até ele. – Vou contar até três então você e eu vamos gritar, fechado?
- Fechado – eu ri, Tom me abraçou e eu estiquei meu braço pra frente já preparando pra foto.
- Um, dois, três – e lá vamos gritar – AAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHH!
- PORRA! – Eu comecei a rir quando vi o resultado da foto, tinha ficado perfeito, Tom como sempre lindo, eu uma aberração. – Cara, isso vai ficar foda demais! Posso usar como foto de perfil?
- Não pode não – apareceu atrás de mim sorrindo. – Ela não tem nem foto assim comigo, palhaçada!
- Você ainda tem muito o que aprender sobre as mulheres, – Tom disse sorrindo de forma brincalhona, eu tô repetindo pra mim mesma que ele é casado e a esposa dele é uma fofa! Tom Fletcher é casado, Tom Fletcher é casado, Tom Fletcher podia não ser casado. Ai porra!
- Agora o Senhor Fletcher, só porque casou, acha que pode ficar dando conselhos amorosos? – Dougie apareceu do nada já rindo. – Que é isso, cara? O era o maior pegador do Reino Unido antes de se enrolar com a , acho que ele sabe como conquistar uma garota.
- Esse é o problema, Dougie – me abraçou. – não é como qualquer outra garota, todas as minhas armas de conquista falharam até esse momento – ele me beijou no rosto e os meninos soltaram um ‘awwnnn’ muito gay.
- Quem disse que esse cara não sabe conquistar as mulheres? – Judd disse. – Tá todo mundo vendo a vermelha, ou é só eu?
- tá vermelhinha – Danny falou rindo daquele jeito escandaloso.
- Cara, você sente que ela é a número um? – Tom perguntou. – Você sente que pode tudo com ao seu lado?
- Soube disso desde a primeira vez que a vi – respondeu me abraçando mais apertado e sorrindo pra mim. Meu Deus, isso tudo é um sonho?
- Então esquece, meu amigo, porque tudo o que você fizer nunca vai ser o bastante pra ela. Porque ela merece o melhor, e você nunca vai conseguir dar o melhor pra ela, é sério – Tom respondeu, meio risonho. – Toda mulher que é a nossa “star girl” nos deixa com os joelhos fracos, raciocínio lento, boca seca, batimentos rápidos, deixa cego, surdo, mudo! Ou seja, perdemos o sentido, perdemos a razão, nunca somos bons o bastante, por mais que elas falem que nós somos.
- Ai Fletcher – Danny disse. – Que coisa linda, cara!
- Vou chorar – Dougie falou fazendo biquinho.
- Neném da mamãe – Judd foi até ele e bagunçou seu cabelo, os meninos riram. Eu ainda estava ali, parada e arrepiada; confessa seu amor por mim assim na cara dura e Tom diz todas essas palavras lindas, meu coração não aguenta. – ?
- Eu ainda tô assimilando tudo isso – ri meio sem humor. – Eu sabia que fiz a escolha certa quando escolhi McFly como sendo minha banda favorita – comecei a gargalhar e os meninos também.
- Vem, vamos logo bater umas fotos bacanas, temos um show pra fazer! – Dougie rebolou para o lado e saiu andando.
- Vem cá – Danny entrou no meio entre e eu, batendo uma foto com o seu Iphone. – Direto pro twitter.
- Hm... – pegou o Iphone e já viu a foto postada. “Preparados pro show de hoje?” e nossa foto. Ele virou o Iphone para mim, eu sorri.
- Tô mais que preparada – bati palmas como uma foca e Danny sorriu. – Mas antes ainda tenho um trabalho para terminar, vamos fazer as fotos, McFly?
- Opa!
- E, por favor, Tom e Danny, coloquem logo a camisa, não consigo me concentrar com vocês desse jeito – eu ri e ao meu lado gargalhou.
- Essa é minha garota – ele disse, me dando um beijo nos cabelos e voltando novamente para o sofá onde ele estava antes com e Dougie.

No espaço de vinte minutos, eu acho que bati umas sessenta fotos, e uma pior e mais engraçada que a outra. McFly parecia um bando de adolescentes gays no cio, o que era muito patético e lindo de se ver, acho que ninguém nunca vai entender essa minha paixão por essa banda, só mesmo quem é fã consegue entender o que esses quatro idiotas representam para alguém. Em cada foto, me ajudava, guiava os meninos, ajudava nas poses, começava a cantar alguma música, começava a rir e desconcentrava os quatro; acho que o pior foi quando todos eles começaram a cantar What Makes You Beautiful e fizeram uns passos de dança horríveis, nessa hora eu queria estar filmando e não fotografando.

Teve foto minha com o Dougie, Tom, Danny, Judd e até mesmo com o . Teve foto nossa, teve foto com McFly todo mostrando a bunda, com o no meio mostrando a bunda, selinho Pudd, selinho Flones, um quase selinho no meu namorado, com camisa, sem camisa! Só sei de uma coisa, quem é fã de McFly não vai ter do que reclamar, porque essas fotos estão maravilhosas! Já as imagino postadas no Tumblr, eu até tenho um favorito com fotos perfeitas. Não sei como a dona se chama, mas o Tumblr é o back-to-transylvania e, pelo nome, dá pra perceber que a menina é Poynter! Ah, eu sei que essa garota vai adorar as fotos, e como eu já vi posts da One Direction no blog, porra, tenho certeza de que ela vai surtar. Tenho que ver com o David quem vai postar as fotos no site. Imagina se sou eu. Meu Deus, IMAGINA SE SOU EU!

- Hora do show – me abraçou pela cintura quando eu terminei de guardar o equipamento. – E aí, gostou de tudo até agora?
- Só queria pedir uma coisa – eu disse meio molenga.
- O que quiser.
- Queria ficar no backstage do próximo show da One Direction – pedi sorrindo. – Sabe, acompanhar como que meu namorado fica com os outros amigos antes do show.
- Isso é sério? – Ele sorriu de orelha a orelha. – De verdade, você tá brincando?
- Claro que não – eu ri e dei um selinho rápido em seus lábios. – Por que brincaria? - Bom, você é mais fã de McFly e quando o assunto é One Direc...
- – coloquei minhas duas mãos em seu rosto e o beijei. – Meu amor, eu tenho tanto orgulho de estar ao seu lado, de saber que essa vida que você tem hoje é a vida que você sempre sonhou! Por que eu não iria gostar de registrar os momentos mais felizes de sua carreira? Que tipo de namorada eu seria?
- Você é perfeita – ele não sorria com os lábios, mas com seus olhos. – Tudo, tudo em você é perfeito.
- Clichê – rolei os olhos.
- Verdadeiro – ele rebateu.
- Sabe – passei a mão por seus braços. – Aquele dia da briga, no carro – engoli seco porque não gostava de falar do assunto. – Você foi muito sincero quando disse as coisas pra mim, por mais que tenham sido dolorosas, foram sinceras.
- Hmm...
- Parece que, quando sentimos dor, quando sofremos, as palavras se tornam mais verdadeiras – ri sem humor. – Macabro, eu sei.
- Hmm...
- Eu amo o que você fala pra mim, eu amo as músicas que você canta. Mas há muito mais em seu coração, muito mais do que frases prontas – eu encarei seus olhos que me fitavam com uma curiosidade que eu não conhecia até hoje. – Descubra meios de falar e mostrar que me ama, , mas meios mais originais. Eu sei que não sou perfeita, não existe perfeição.
- É um jeito de dizer, .
- Sei disso, meu amor, e não estou brava nem nada, acho fofo – sorri e beijei seu rosto, sabia que essas coisinhas o deixavam chateado. – Mas eu quero que você me ame por eu ser imperfeita, por eu ter defeitos, por eu ser chata, irritante, teimosa e todas essas coisas. Ame meu defeitos e não apenas minhas qualidades.
- Você é tão esquisita – ele riu. – Muito, muito esquisita.
- Então – falei com voz manhosa e melada. – É por eu ser esquisita que eu sou diferente, especial! Não sou perfeita, me ame e me elogie pela minha imperfeição!
- Ok – ele abaixou a cabeça e encostou a testa na minha. – Já te vi roncando, você tem uma péssima mania de deixar louça suja na pia depois que come, nunca lembra de fechar direito a garrafa de refrigerante e eu sempre derrubo tudo no chão, a única unha que você acaba roendo é a do dedinho e eu não sei o motivo disso, sua risada às vezes é igual da Miss Simpatia...
- TÁ BOM! – Eu gritei e comecei a rir. – Cara, por que você nunca me disse isso?
- Porque mesmo com essas imperfeições chatinhas, eu continuo te achando perfeita, embora você ache clichê! – Ele gargalhou. – , aquela coisinha a mais que ninguém tem, você tem! E é por isso que eu te amo, por isso que eu nem vejo essas baboseiras que você chama de imperfeições, porque o conjunto é muito superior e melhor que isso.
- Oh meu Deus – eu suspirei e acabei ficando sem graça. – Tá vendo, é com coisas assim meio fora dos padrões que você me pega – ri.
- Eu sempre vou tentar te surpreender – riu e encostou o nariz no meu. – Você merece o melhor, sempre! Por mais que talvez essa sua cabecinha de minhoca ache que não merece, eu tô aqui pra dizer que você é a garota que mais tem direito a ser feliz do mundo, e eu farei isso por você.
- Te amo – coloquei minhas mãos em seus cabelos e o puxei pra mais perto. – Te amo muito, seu apaixonado babão!
- Você me disse uma vez que não gostava dessas coisinhas melosas – ele sorriu e me deu um selinho.
- Acabei mudando de opinião. Na verdade, fui forçada a isso.
- Ah é? E quem fez isso com você? – Agora suas mãos já estavam em minha cintura e eu mal encostava os pés no chão porque havia me levantado poucos centímetros.
- Não lembro, mas se eu achar, acabo com a raça desse infeliz – eu ria.
- Coitado desse bastardo, vai aguentar a fúria de .
- Ai, ! – Acabei soltando um gritinho quando ele me beliscou por debaixo da camiseta que eu usava, fazendo me encolher um pouco em seu colo.

Paramos com esse momento bonitinho – que são poucos, já que, de verdade eu não curto coisas fofas – porque o McFly em peso entrou no camarim. Tom e Danny já começaram a fazer aqueles sons gays, acho que foi uma das poucas vezes que vi ficar tímido. Judd e Poynter me pegaram, cada um em um braço, me ergueram e foram me carregando para fora do camarim, com a desculpa de que eu estava sozinha com meu namorado há muito tempo e já estava precisando de férias. “Hoje é tudo sobre McFly”, Dougie falou, e eu gargalhei; alguém lembra que eu falei que estou sendo carregada por dois integrantes da minha banda favorita? Ah, tá.
- Bom show, mate.
- Bom show, mate.

Eles falavam isso enquanto davam aqueles ‘soquinhos’ com as mãos desejando boa sorte. fez o mesmo com eles e eu também – eu estava desejando “Boa Sorte” para o McFly minutos antes do show, como assim? – estava me sentindo parte de um time que eu passei minha vida toda querendo entrar, eu era uma McGirl, embora não estivesse em um relacionamento amoroso com nenhum deles, infelizmente. Eles ainda ficaram brincando um com o outro, Tom ajeitava seu cabelo – que pra mim não precisava ser arrumado – Danny aquecia a voz e o acompanhava, Judd brincava com as baquetas e Dougie bebia a água e jogava em quase todo mundo que passava pelo corredor. LINDO de se ver.

- Hey, star girl, vem aqui – Tom disse meu username e sem querer acabei tropeçando indo até ele, esse é o momento onde devo esconder meu amor de fã. – Cadê meu beijo de boa sorte?
- Tá aqui – eu ri, fiquei na ponta do pé e dei um beijo em sua bochecha. – Vai lá e arrasa, Fletcher.
- Não, que na bochecha! Minha mulher não está aqui, e não estou nem um pouco a fim de dar um beijo nesses marmanjos de novo – ele riu. – Beijo de boa sorte é na boca.
- O QUÊ? – berrou e todo mundo começou a gargalhar. – Eu sabia que não era uma boa ideia te trazer pra esse show, .
- Tá brincando que o Fletcher tá pedindo beijo? Que é isso, rapaz? – Danny brincou chegando mais perto. – Essa eu quero ver.
- E aí, ? O que vai ser? – Poynter abraçou , que, eu sei, estava espumando.
- Só acho que deveria rolar um selinho, só acho – Judd levantou os braços como quem não tem culpa de estar falando aquilo. Eu começava a sentir minhas bochechas ficarem vermelhas e um calor desprovido de fonte tomava conta de mim, eu ia dar um beijo no Fletcher. NA BOCA?
- , não faça isso comigo – tapou os olhos e fez uma cara de dor. – Pelo amor de Deus, não faça isso comigo.
- Qual o problema? Você dormiu com uma fã nos Estados Unidos, eu só vou dar um beijinho no meu ídolo – respondi colocando a mão na cintura e todos os meninos, com exceção de , soltaram um ‘whooooooooooooo’.
- Vingança? – Ele me olhou ressabiado. – Sério?
- Ah não, babe. Pra rolar uma vingança tinha que rolar uma suruba McFly – gargalhei.
- Eu topo – Dougie levantou o braço e recebeu um tapa no estômago do meu lindo e ciumento namorado.
- Relaxa aí, cara! – me encarou. – E então?
- Ei, quem tem que fazer pressão aqui sou eu! Eu tô pedindo beijo – Tom começou a pular. – Vai, , tenho menos de um minuto.
- Ah, um minuto de prazer com Thomas Fletcher – Judd colocou a mão no coração e suspirou. – Que delícia.
- Ha Ha – Tom riu sem graça e mostrou-lhe o dedo.
- Vá, eu topo! Óbvio que sim – respondi rindo e controlando pra não ser meio histérica, enquanto o restante do McFly aplaudia e fazia careta. – Vem aqui, Fletcher!

Fui até ele e o puxei pela camiseta rasgada que usava. Foi rápido, engraçado, desastrado e eu juro que senti minhas pernas bambearem. Segurei Tom pela gola meio rasgada, enquanto ele – depois do susto – colocou as mãos de forma rápida em minha cintura. Acho que o selinho – ou choque entre o meu rosto e o do Fletcher, porque parecia isso – demorou sete segundos, exatos sete segundos. Eu ouvia os meninos gritarem, aplaudirem, gemerem, tudo em sete segundos. ao fundo só falava ‘LARGA, LARGA’, e foi aí que nós dois começamos a rir e nos soltamos. Agora, pausa para o momento onde meu cérebro está ainda processando o fato de que meus lábios foram tocados pelos de Tom Fletcher, e ISSO foi de verdade, e não uma dessas fanfics! EU, DE VERDADE, BEIJEI TOM FLETCHER!

- Isso foi de verdade? Tipo... – eu ria, e dessa vez de forma histérica. – Eu e você, nós dois...
- É, é! Vocês se beijaram, supera isso e vamos pro show – bufava, mas eu não estava nem aí pra crise de ciume. Tom era casado e muito bem casado, mas, PORRA!
- Foi o melhor beijo de boa sorte que eu já tive, depois dos da Giovanna, é claro.
- Eu nunca ia poder competir com a Mrs. Fletcher – eu ri. – Mas, de nada?
- É, isso o que você fala depois de beijar uma pessoa – Danny gargalhou. – “De nada”.
- Essa cena foi muito perturbadora, muito – fechava os olhos com força. – Demais pra minha cabeça. DEMAIS.
- Ah, ...

Foi tudo tão rápido que eu acabei me engasgando no próprio riso. Todo mundo começou a gritar ‘hey, how, o quê?’, pois, no segundo em que começou a reclamar da vida, Dougie virou seu rosto e lhe tascou um beijaço na boca. E quando eu chamo de ‘beijaço’ é porque durou mais e foi mais quente que o selinho desastrado meu e do Fletcher; Dougie segurou o rosto de com as duas mãos, o beijou e ainda deu uma lambida caprichada nos seus lábios. Eu juro que estava com vontade de fazer xixi na calça do TANTO que eu estava rindo no momento, mas gargalhando como se eu nunca tivesse rido antes na vida! Foi a cena mais sexy e gay que eu já havia presenciado, e olha que dois dos meus melhores amigos são cem por cento boiolas, mas DOUGIE POYNTER NOS SURPREENDE NOVAMENTE!

- QUE NOJO DA PORRA!!! – passava os dois braços e mãos de uma só vez em cima da boca e esfregava com força, deixando os lábios mais vermelhos. – Que porra, Poynter!
- Ai neném, vai dizer que não gostou? – Dougie, ainda com uma voz afetada, falava e ria de forma histérica. – Cara, foi o único jeito que eu vi pra fazer você calar a boca.
- ME BEIJANDO?
- Ué, foi sexy e você também beijou alguém do McFly, eu – ele sorriu, eu ainda estava rindo muito, tive que me apoiar em Tom pra parar de rir, mas ele também estava no mesmo estado que eu.
- Que eu tivesse beijado sua namorada então, aí sim estaríamos quites.
- Lara não está no recinto – ele sorriu.
- Meu amor, tem muita menina que ia adorar estar no seu lugar, MUITA! – Eu falei indo até (que estava com um bico vermelho enorme) e o abracei. – Considere-se um garoto de muita sorte.
- Eu devia ter tirado uma foto, como fui burro! – Danny batia a mão na testa e pegava o Iphone do bolso. – Dá pra eu tirar agora?
- Depois do beijo? Só não nos comprometa – eu respondi. – Na verdade, posso eu bater a foto?
- Claro – Danny veio até mim e me entregou o Iphone.
- Dougie beija bem, não beija? – Judd abraçou o meu de lado e riu.
- Não sei como você aguenta – respondeu.
- One Direction também tem fama de ser uma banda homossexual, então você nem pode reclamar muito não, – Danny disse. – Já te vi em umas fotos bem comprometidas com .
- Ah, vá! – olhou pra Danny e começou a rir. – Ah, vá! Quer falar de foto comprometedora, parceiro?
- Gente, por favor – eu os chamei. – Sorriam para a foto – eu sorri e esperei os cinco fazerem uma pose.

Um, dois, três... Foto tirada e postada no Twitter com a legenda ‘aproveitando boa companhia minutos antes do show’. McFly estava atrasado pro show, dez minutos, devo dizer isso.

- Estamos indo pra área VIP – eu disse enquanto seguíamos um dos seguranças dos meninos até a área do show. – Nos vemos mais tarde.
- Ok, aproveitem o show – Tom nos disse correndo pro outro lado com os meninos.
- Então, como está até agora pra você? – me abraçou e me deu um beijo nos cabelos. – Aproveitando?
- Acabei de ver meu namorado beijando Dougie Poynter e eu dei um selinho em Tom Fletcher – olhei pra ele e o beijei rápido nos lábios. – Há! Acabei de beijar e Dougie Poynter de tabela – gargalhei.
- Isso quer dizer que até o momento tá tudo perfeito, é isso? – Ele riu. – Idiota.
- Awn, é a primeira vez que você não me chama de algo fofinho como ‘linda, princesa, neném, boneca...’, gostei mais disso.
- Quer que eu te chame de idiota até quando? Se a noite continuar assim, outros apelidos vão aparecer.
- Por mim, não me chamando de vaca pode me chamar de qualquer apelidinho medíocre que você quiser.
- Espera aí, então podemos dar apelidos? E toda aquela conversa outro dia de que você não gosta dessas coisas e blá blá blá?
- Apelidinhos fofos? Nem pensar, , nem pensar – eu sorri. – Apelidos babacas? Sempre é um prazer.
- Doida, você é doida! – Ele me apertou mais ao seu corpo enquanto ria.
- Pensei que você tivesse lido o contrato de namoro até o final, babe. Ser doida é apenas uma de minhas qualidades bizarras que você vai descobrir com o passar do tempo – gargalhei, o abraçando mais e, finalmente, chegando na área VIP onde todos os nossos amigos estavam.

e estavam longe um do outro, o que eu achei estranho demais. Os dois não se desgrudavam, como que então bem hoje eles estavam cada um em uma mesa diferente? Lary e estavam mais ou menos juntos, mas não juntos demais, e encontravam-se encostados na grade conversando e bebericando alguma coisa. A área VIP era bem grande, fotógrafos da SugarScape, HeatWorld, The Sun e o próprio Leishman encontravam-se ali. Queria que as namoradas também estivessem lá, ia ser interessante assistir um show do McFly com as trocentas fãs ao fundo e as quatro princesas na frente, será que elas também sofriam algum tipo de pressão ou era tudo sempre em perfeita ordem? Tá que minha namorada favorita está longe de ser a Georgia, mas eu não me imagino falando merda pra ela bem no dia do show; primeiro que seria idiotice, segundo que se o Danny ouve uma coisa dessas é capaz de dar um fora épico! Hm, será que as fãs inglesas de McFly são mais educadas que as fãs de One Direction? Eu sei que as brasileiras são barraqueiras quando o assunto é McFly, e bem no estilo barraco novela das nove da Globo.

- LEISHMAN! – Eu gritei assim que o avistei mais de perto. – OI!
- Enciclopédia – ele sorriu, largando o copo de cerveja. – Finalmente nos reencontramos, como está? – Leishman me abraçou, dando um beijo em cada bochecha.
- Ótima, excelente – respondi empolgada. – Acho que já deve conhecer meu namorado, .
- Claro que sim, porém pessoalmente é a primeira vez – Leishman e se cumprimentaram daquele jeito moleque. – Prazer, cara!
- Prazer é meu, a é fã do seu trabalho – disse dando um tapinha nas costas de Leishman e voltando a ficar ao meu lado. – Ela se espelha bastante em suas fotos.
- Orra, que legal – ele sorriu. – Você namora uma pequena enciclopédia, um gênio! Sabia disso?
- Sempre soube, mas ela sabe que ela é tudo isso? – olhou pra mim com um olhar tão apaixonado que eu senti meu corpo todo derreter. – É bom de vez em quando falar isso em voz alta, ela esquece.
- Gênios nunca assumem que são gênios – Leishman deu um peteleco carinhoso no meu nariz. – Escuta, quer me ajudar nos próximos dias com as fotos desse show? Vou editá-las para publicar no site e também dar uma mão extra pro David...
- CLARO! – Eu berrei. – Digo, não tem problema, certo?
- Eu estou te chamando, , claro que não tem problema. E eu disse que queria um dia trabalhar com você, seria uma honra. Você tem um grande talento pra fotografia, quem sabe eu consigo achar alguma coisa pra você nesse ramo.
- Meu Deus, Leishman – eu coloquei a mão na boca e olhei pra , que sorria sem parar. – Cara, isso seria uma grande honra, eu mal sei... Eu não sei... Como que eu...
- Não precisa agradecer, é minha obrigação dar uma chance para novos talentos, e você está longe de ser um novo talento! Você é uma peça rara que aparece em poucas gerações...
- Vou chorar – falei querendo rir e sendo mais apertada por , eu via sua expressão e era de grande orgulho.
- Chore depois do show do McFly, que eu acho vai começar agora – ele apontou para o palco, as luzes já tinham se apagado. – Eu até te chamaria pra me ajudar nas fotos, mas acho que você não vai querer isso hoje.
- HOJE NÃO – eu berrei, o logo McFly já estava aparecendo ao fundo no palco, o show estava pra começar. – OBRIGADA, LEISHMAN.
- DE NADA – sorriu.
- , vamos pra lá? – Apontei para o pessoal. – Quero curtir o show ao lado deles.
- Com certeza – me puxou pela cintura e fomos ao lado do pessoal.
- E aí, ? – falou com um sorriso torto. – ACHO QUE AGORA NÃO VAI DAR MAIS PRA FALAR COM VOCÊ.
- NÃO – respondi rápido meio rindo.

Fiquei colada na grade e atrás de mim me abraçando pela cintura. Infelizmente e de uma maneira muito egoísta, não me dei ao trabalho de ver onde e estavam, só sabia que ao meu lado , e bebericavam cervejas e balbuciavam palavras incompreensíveis. Não vi Lary ao lado de , o que me deixou um pouco incomodada também, onde esses três haviam se metido? Merda!

me apertou um pouco mais quando a sombra dos quatro integrantes do McFly entraram no palco, eu acho que comecei a tremer, por isso recebi o apertão. Danny parou logo na nossa frente com os braços abertos pedindo o grito da galera, e como resposta ele teve um hino de gritos, o meu incluso. Tom ao lado esquerdo do palco fazia caretas segurando a guitarra e também agitava a galera, Judd ao fundo já estava na bateria se alongando e Dougie balançava a bunda para os seguranças e fazia caras e bocas baitolas demais até mesmo para Dougie Lee Poynter (eu amo falar o nome completo deles, parece que estou dando uma bronca, só parece). O palco escureceu e depois voltou com uma luz forte vermelha e laranja, os acordes iniciais de Party Girl começavam e, por mais que essa não fosse nem de longe minha música favorita do McFly, o fato de ouvi-la ao vivo deixava meu corpo todo vulnerável, me fazia tremer, pular, cantar, chorar e fazer tudo isso ao mesmo tempo. Essa seria uma noite memorável. Meus ídolos, meus amigos e o principal: meu amor.

O setlist era diferente de todo e qualquer outro show do McFly. acabou me contando que pediu para os meninos fazerem uma apresentação especial, já que esse era o meu primeiro show deles. Com a ajuda de – e da minha MÃE no Brasil, o que me deixou mais chocada – conseguiu coletar as minhas vinte músicas favoritas da banda, dentre elas: Down Goes Another One, Too Close for Comfort, No Worries, The End, I wanna hold you, Don’t know why, Not Alone, Sorry is not good enough e por aí vai. Além das básicas de todo show McFly: Five Colours, Lies, All About You, Obviously, Everybody Knows, One for the radio, Transylvania e outros clássicos. Antes deles cantarem Star Girl, Tom fez questão de dizer que essa música ele estava dedicando pra mim, eu havia me tornado a Star Girl Oficial do McFly e era a Star Girl de um integrante do One Direction; morri de orgulho de mim mesma, e pela primeira vez não senti vergonha e nem medo. Vi os olhares carinhosos dos meninos ao meu lado, coçava a nuca querendo disfarçar uma ponta de ciúme – eu sei que ele ainda gosta de mim, ele diz meu nome enquanto dorme, de acordo com e o próprio – mas, o mais importante, senti o beijo quente de na minha nuca dizendo o quanto me amava e como ele era sortudo em me ter em sua vida. Alguém mudou de papéis e não me avisou? A sortuda aqui sou, EU sempre fui a loser e olha onde cheguei! Acho que é por isso que me identifico tanto com McFly, de losers a popstars internacionais, ainda não estou nesse patamar, mas um dia chego lá.

Após o término de The Heart Never Lies, eu sabia que o show estava por um fio de terminar. Meu coração doeu, eu sei que agora eu podia ser chamada de ‘amiga’ pela própria banda, mas shows são experiências únicas e eu não queria que essa minha experiência terminasse NUNCA! Enxuguei minhas lágrimas quando Danny terminou de cantar a última frase da música – quem nunca chora com ‘It’s not always easy, but McFly’s here forever’, por favor, né? – e estava quase me preparando para Shine a Light, mas novamente fomos surpreendidos por um Tom Fletcher que começou a fazer um discurso e olhar na minha direção e na de . Fiquei sem entender nada por alguns segundos, mas e os meninos já estavam rindo, eu precisava saber o que Tom falava! Me concentrei em tentar fazer uma leitura labial, mas nem foi preciso, o público diminui a gritaria e eu finalmente entendi ‘ ’ e ‘One Direction’ e o pior ‘especialmente para sua namorada’. Hein?

- e eu passamos um bom tempo juntos no último fim de semana pensando em como mudar a letra de What Makes You Beautiful de uma maneira que ficasse legal e todo mundo entendesse, certo, ? – Tom olhou pro meu namorado, que disse sim e começou a rir. Que porra é essa? – Então, como convidado especial, eu queria chamar com uma salva de palmas da One Direction!

E o público foi à loucura, os meninos em cima do palco foram à loucura, os meninos ao meu lado foram à loucura! Eu fiquei ali parada em estado de choque, sentindo passar por trás de mim, passar pela grade e parar na minha frente.

- O que tá acontecendo? – Perguntei meio tonta, mais.
- Surpresa – ele sorriu e me deu um selinho. Oh não!
- Batam palmas para – Danny disse recebendo no palco e dando aquele tipo de abraço que os moleques/homens dão.

foi até Tom, Judd e Poynter, deu um abraço em cada um e depois pegou um microfone. Se antes a gritaria estava demais, agora eu só ouvia um zumbido em meus ouvidos, era ensurdecedor! , e apoiavam ao meu lado, mas eu não estava entendendo nada! Que versão era essa de What Makes You Beautiful? E com certeza os outros estavam sabendo muito bem dessa tal surpresa, e como sempre eu estava sendo a última a saber!

- Hey, será que dá pra alguém me explicar? – Puxei pela camiseta querendo chamar sua atenção. – Que tá acontecendo?
- Apenas sorria e preste atenção, eu sei que você vai adorar – ele sorriu daquele jeito lindo. – Só pra constar, a ideia foi minha.
- IDEIA DO QUÊ? – Eu berrei, os acordes de What Makes You Beautiful começaram.

You’re insecure
(Você é insegura)
Don’t know what for
(Não sei o motive)
You turn my head when you walk through the door
(Você faz com que eu gire a cabeça quando entra pela porta)
Don’t need make up
(Não precisa de maquiagem)
To cover up
(Para cobrir)
Because the way that you are
(Porque o jeito que você é)
It’s enough
(É o bastante)

A letra tinha algumas mudanças, mas bem poucas. veio e me abraçou de lado, veio do outro e ficou atrás de mim batucando em minha cabeça o ritmo da música. Eu o mandaria parar se não estivesse tão hipnotizada. Não foi quem começou a cantar, foi Danny. Danny Jones cantava uma versão levemente diferente de What Makes You Beautiful com – o meu namorado – ao seu lado. Não entendia mais nada, mas da forma que apertava minha mão, eu sentia que algo grande estava para acontecer, bem grande.

Everyone else in this room can see it
(Todo mundo nessa sala consegue ver isso)
Everyone else but you… oh…
(Todo mundo, menos você)

E dessa vez foi o que cantou pra mim. Oh, Deus!

Baby you light up my world like nobody else
(Baby você ilumina meu mundo como ninguém)
The way that you take your pics get me overwhelmed
(A maneira como você tira suas fotos me deixa “boquiaberto”)
And when you smile at the ground
(E quando você sorri pro chão)
Baby ain’t hard to tell
(Não é tão difícil dizer)
You don’t know-oh oh
(Você não sabe)
You don’t know you’re beautiful
(Você não sabe que é linda)
If only you saw what everyone can see
(Se você pudesse ver o que todo mundo vê)
You’ll understand why I love you so desperately
(Você iria entender porque eu te amo tão desesperadamente)
And now that I am with you
(E agora que estou com você)
Baby I can’t resist
(Baby eu não posso resistir)
You don’t know-oh-oh
(Você não sabe)
You don’t know you’re beautiful
(Você não sabe que é linda)
And that’s what makes you beautiful
(E isso é o que te faz linda)

Era cantando, era McFly cantando com ! Era uma arena inteira londrina cantando a música que, tecnicamente, modificou pra mim! E ele disse mesmo que ama nas entrelinhas da música? Na verdade, não foi entrelinhado, foi bem claro, todo mundo ouviu, EU OUVI! Eles foram direto para o ‘na na na na na’ e eu agarrei ali do meu lado, encostando minha cabeça na curvatura do seu pescoço e me controlando ao máximo para não desabafar em lágrimas ali mesmo. Eu não fazia questão de uma serenata na minha janela, nem de declarações de amor exageradas, mas essa estava sendo fora de série! Era a minha banda, com o meu namorado, cantando uma versão de uma música foda pra mim! Tô me sentindo meio Giovanna com All About You, eu tenho o direito de me sentir assim, certo?

- Eu vou matar todos vocês, sabia disso? – Soltei e olhei para os outros dois, secando as lágrimas com meu antebraço. – Por que ninguém me disse nada a respeito disso?
- Surpresa? – concluiu de uma maneira óbvia. – Ai, – ele deu dois tapinhas no topo da minha cabeça e começou a rir.
- teve isso muito bem planejado, então apenas curta seu namorado e sua banda favorita com os seus amigos favoritos – disse fazendo um ‘joinha’ com o dedo polegar. – Já que você é do time ‘não curto coisinhas melosas’ – ele imitou muito mal a minha voz e os meninos riram. – Essa é uma demonstração de amor que não tinha como você fugir.
- Não tem mesmo como eu fugir – eu ri e funguei, olhando pro palco e vendo Dougie Poynter ajoelhado cantando o solo da música para , ! – Eu sabia que os dois gamaram no beijo.
- BEIJO? – Falei alto demais?
- Que beijo?
- Seu namorado e o Poynter se beijaram?
- HEIN? – me virou pra ele e me chacoalhou pelos ombros. – Fala, mulher!
- Ah, nada demais, rolou um selinho meio gay entre os dois - eu ri. – Por falar em gay...
- Nenhuma ligação e nem sinal dos seus dois melhores amigos purpurinados, conhecidos como Sam e Lucas – deu de ombros. – Alguma coisa aconteceu entre o e a , os dois começaram a brigar, aí o casal purpurina não aguentou e foi embora.
- Poxinha – fiz bico.
- YOU DON’T KNOW-OH-OH pulou bem na nossa frente com o microfone em mãos cantando a todo pulmões. – YOU DON’T KNOW YOU’RE BEAUTIFUL-OH-OH!
- ... – eu falei baixo, óbvio que ele não me ouviu.
- YOU DON’T KNOW YOU’RE BEAUTIFUL-OH-OH – ele continuou cantando sem ao menos dar atenção para o que eu talvez possa ter falado. – LONDRES, ME AJUDA!

E um coro de ‘THAT’S WHAT MAKES YOU BEAUTIFUL’ surgiu, bem como uma salva de palmas vindas dos meninos ao meu lado e do próprio McFly. Eu não conseguia parar de sorrir, só sabia sorrir, e tremer! Sorrir e tremer, não necessariamente nessa mesma ordem, mas era com bastante frequência.

- Me ajuda, ! – pediu, entregando o microfone para o segurança que estava ao lado, e os outros meninos puxaram pelos ombros e pernas até ele passar da grade e voltar para onde estávamos. – Aeee!
- Que doidera foi essa, seu retardado? – Eu perguntei quase gargalhando, vendo-o arrumar sua camiseta que estava meio pra cima quase no meio do peitoral. Hm.
- Espera – ele terminou de arrumar, me abraçou e olhou pro palco agradecendo aos meninos, que também sorriram e começaram logo a tocar Shine a Light. – Pronto, o que dizia?
- Eu te amo – falei ouvindo ‘tell me are you feeling strong’ na voz do Fletcher. As palavras simplesmente escorregaram da minha boca como se eu dissesse ‘estou com sede’ ou coisa do tipo. O sorriso de foi, talvez, o sorriso mais lindo que eu já tinha visto. Eu falo isso demais, não falo?
- Parabéns – ele sorriu, eu fiquei sem entender.
- Hã?
- Sete meses – ele se aproximou mais e me puxou pela cintura. – Sete meses que te vi pela primeira vez igual uma tonta tirando foto do chão perto do London Eye, que te fiz abaixar a cabeça envergonhada porque falei que você era linda, que deixei você escapar daquela van sem um beijo. Parabéns – mordeu os lábios.

Sete meses, aproximadamente duzentos e quarenta dias. Dos meus quinhentos, tinha-se passado quase metade, e metade eu passei ao lado do . Sete meses, duzentos e quarenta dias.

- Vem aqui – puxei pelo pescoço e ‘shine a light on her eh eh eh’ berrava ao fundo. – Isso merece uma comemoração.
- Já não estamos comemorando? Esse foi meu jeito de...
- Não, – eu ri nervosa, muito nervosa. Nem acreditava que finalmente ia dizer isso, ia dar voz para meus pensamentos. – Uma comemoração só nossa, eu e você.
- Oi? – Ele me olhou de forma engraçada. – ...
- Eu estou pronta – encostei de leve meus lábios nos seus tentando fazê-lo de uma forma sensual, sem chance. – Estou pronta pra ser sua.
- Tem certeza? – Ele riu passando os dedos por meus cabelos e beijando-me de leve.
- Nunca tive tanta certeza em toda a minha vida – suspirei e, ficando na ponta dos pés, o beijei da forma que todos os nossos beijos deveriam ser.

Capítulo 27

Flashback

- Kama Sutra? – Peguei o livro e olhei desconfiada para . – Sério?
- Você é virgem e sua mãe não está aqui pra ter “A conversa” com você, e como eu não vou fazer isso também, achei melhor te mostrar o guia do sexo para as virgens, até pra quem nem é virgem – ela riu e ficou vermelha. – Que foi? O gosta.
- Ok, ! – eu ri.

Eu e estávamos em um Sex Shop, em um legítimo Sex Shop britânico! Vim com roupa preta e capuz, ela também; a última coisa que precisamos agora é de fã ou fotógrafos babacas tirando fotos nossas nesse lugar. E agora, se descobre que estou aqui, as piadas não iam acabar nunca. Eu decidi que queria perder minha virgindade com ele há alguns dias, e por abrir a boca e falar isso para , acabamos aqui. É sério que tem gente que compra esse tipo de coisa? Medonho.

- Esse é um guia para ter um sexo mais prazeroso na primeira vez. Vai doer, é óbvio, e por isso você precisa estar relaxada e, o mais importante, lubrificada – estava com dois saquinhos que me lembravam camisinhas em uma mão, e um livro de capa vermelha com um casal pelado na outra. – Isso é um lubrificante. Tudo bem que a camisinha também é assim, mas é sempre bom prevenir.
- Você sabe que eu to apavorada, não sabe? – Meu coração batia na boca, eu só queria sumir e ser virgem pra sempre. – , no fundo eu imagino que você possa estar achando que está sendo útil, mas isso tudo está servindo pra me deixar mais agoniada e nada confiante.
- É por isso que eu estou aqui, meu papel é te deixar confiante – ela riu. – E vou apagar todas essas babaquices que você disse aí nas entrelinhas – bufou e abriu o livro. – Lê aqui.
- NEM PENSAR! – Tapei meus olhos com as mãos, a página aberta era de uma posição bem explícita.
- Deixa de ser puritana, por favor? É o , você vai fazer amor com o .
- Eu sei, meu bem – disse ainda com os olhos fechados. – Isso é o que mais está me deixando louca, e não é louca de tesão não! É paranoia.
- Hey – ela puxou minhas mãos e me encarou com um sorriso no rosto; – Ele te ama, você o ama, o que pode dar errado? Na verdade, não tem como sexo dar errado! Ainda mais entre duas pessoas que já possuem uma afinidade do jeito que vocês têm. Não tem fórmula pro sexo, é instinto; e isso minha amiga, todos nós temos – ela riu.
- Mas eu...
- Agora, vamos aprender umas coisinhas legais. Você não vai usar isso na sua primeira vez porque o principal vai ser “retirar seu hímen” – ela fez aspas e começou a gargalhar, eu tive que lhe dar um beliscão pra diminuir o tom da voz. – Ai caralho, desculpa. Mas enfim, continuando, depois da primeira vez, as outras ficam mais fáceis e é aí que você pode começar a inventar umas gracinhas.
- Hmm... – murmurei baixo – Vai, continua.
- Aí sim, não mandou eu parar!
- E adianta?
- Não – ela sorriu. – Vem, senta do meu lado – nos sentamos no chão na parte literária do sex shop, pra todos os lados que eu virava meu rosto só via livros de capas vermelhas ou pretas, vibradores, algemas e coisas do tipo. – Como eu dizia muito antes, por favor, olha aqui.
- Hm... – olhei pra página que estava aberta. Havia uma mulher seminua deitada em uma cama, ela tinha o corpo envergado e a cabeça pendia pra trás com a boca semiaberta, imaginei que ela estava gemendo. Também havia um homem (pelado) em cima dela, beijando sua barriga e acariciando seus seios; eu fiz careta. – Tô vendo isso aqui pra quê?
- Não é pra você ficar olhando pra foto, leia os tópicos ABAIXO da foto – riu.
- Tá – então comecei a ler.

• O balanço
• Posição envolvente lateral
• Posição de mulher de indra
• Sexta postura
• Posição muito aberta
• Postura do elefante

Ai caralho. Não quis virar a outra página, ou ver as outras fotos ou ler que raios era ‘Postura do Elefante’, puta que o pariu! começou a rir ao meu lado porque, no mínimo, eu deveria estar com uma cara apavorada; não era nojo nem nada, era MEDO! Mas, claro, a curiosidade humana é algo bizarro, e não me controlei virando a página e me deparando com um casal em uma posição que eu pensava ser possível apenas em circos – mas de preferência no circo eles estariam vestidos, e não completamente nus.

“Na posição do balanço, a mulher faz praticamente tudo, mas ambos aproveitam. O diferencial é que ela fica com o controle da situação. Sente-se de costas para o parceiro sobre o pênis e apoie o corpo nas coxas dele, que devem estar dobradas.”

- Isso é possível? – Perguntei mostrando a figura para minha amiga ao meu lado, que se divertia vendo alguma pornografia.
- Não tá vendo a foto? É claro que é possível – ela sorriu.
- Você... Já...?
- NÃO, essa não – ela mordeu os lábios. – Mas se você for da página 89 até a 112, bom... Acho que já fizemos todas.
- “Fizemos”, você e o ?
- Claro, quem mais?
- Podia ter feito com algum outro namorado, não sei.
- é mais safado do que você pensa, e aposto que o está na mesma vibe que ele – vi ficar vermelha e tentar disfarçar. – Mas estamos no momento falando de você, o que achou?
- Estranho – eu ri, e dessa vez ri mesmo, com gosto. – Não me imagino fazendo isso, mas estranhamente imagino fazendo.
- Então aí entra a outra parte do sexo – sentou-se de frente pra mim na posição índio. – Sexo com prazer é quando os dois têm a mesma intensidade de prazer. Os homens são egoístas, se bem que acho que, na intensidade que o é apaixonado por você, ele não vai fazer o tipo ‘eu, eu, eu, eu’ o tempo todo.
- Que tipo é esse?
- “Cala a boca que o meu prazer vem primeiro que o seu, vadia” – tentou dizer em um tom de voz mais grave, mas ficou parecendo que ela estava constipada.
- Bom, definitivamente não é esse tipo de cara – falei, não estava totalmente certa disso, mas minha voz interior falava isso.
- A primeira vez tem que ser algo cem por cento prazeroso PRA VOCÊ, e SÓ pra você! É claro que o vai amar, mas você precisa saber que o seu prazer está sendo lembrado. Vai doer? Óbvio que vai! Um objeto estranho vai estar entrando na sua “caverninha”, que tá fechada a um bom tempo...
- Desenvolve, , desenvolve...
- Então – ela riu. – Tenta relaxar, e tenta lembrar dos seus momentos de pegação com o . Onde que ele te tocou e te beijou que você gostou mais.
- Hm, acho que...
- Não quero saber – ela riu. – Isso é pra você e pra ele. Esses são os seus pontos de prazer, é aí que ele tem que se concentrar pra fazer você curtir o momento, caso contrário fica uma coisa meio mecânica – ela fez careta. – Estamos entendidas?
- Ai, – eu ri. – O que eu faria sem você?
- Ficaria virgem pra sempre – ela gargalhou. – Vai, vamos continuar com sua aula de educação sexual, tenho que te mostrar os novos brinquedinhos.
- Brinquedinhos?
- Vem, , só me segue...

Flashback off

me deitava aos poucos na cama de casal do seu quarto e, estranhamente, para mim o quarto estava pequeno e abafado, ou eu que estava morrendo de calor? MUITO calor?

Seus beijos agora eram distribuídos por meu pescoço e sua mão levantava de leve a blusa fina que eu estava usando, causando arrepios longos e deliciosos em minha pele. Eu não sabia a hora que eu deveria me atrever a tentar tirar sua camiseta, mas devo dizer que esse pedaço de pano estava me atrapalhando, alguma coisa dentro de mim queria um contato mais físico com ele, talvez fosse o fato de que eu estava com muito calor, e também estava, já que suas bochechas estavam um pouco mais rosadas. Aos poucos eu fui me acomodando na cama, levando meu corpo mais pra cima a ponto de querer ficar mais confortável. Conforme meus movimentos mudavam, mudavam também os beijos e os toques de , que, por sinal, eram gentis o tempo inteiro. Seus beijos desceram do meu pescoço para meu colo, pularam a parte dos meus seios e foram para minha barriga – que agora encontrava-se totalmente exposta, já que ele tinha levantado toda a minha blusa. Encolhi-a quando senti os lábios de roçarem perto do meu umbigo, e encolhi de novo quando senti sua língua fazer um desenho hipotético na mesma região; era um tipo de arrepio e sensação que até então eu não conhecia e nem fazia ideia que nosso corpo podia sentir algo assim. Senti vontade de chorar, e senti meus batimentos aumentarem, e aumentar lá em baixo. Era o sonho voltando, mas dessa vez eu estava acordada, não era sonho e estava em cima de mim, de verdade.

Ele subiu novamente o corpo e levou consigo minha blusa. Sorrimos quando nossos rostos ficaram no mesmo nível, e eu levantei meus braços a fim de ajudá-lo a retirar minha peça de roupa. Foi então que me dei conta que eu estava de sutiã, com todo o meu corpo exposto para . Mordi os lábios e dei graças a Deus que a única coisa que iluminava o quarto era a luz fraca do abajur. Suspirei umas três vezes enquanto parava para me encarar de cima a baixo, isso estava me deixando mais nervosa ainda. Inconscientemente acabei cobrindo minha barriga com minhas mãos, mas percebeu e, no segundo seguinte, de forma carinhosa puxou minhas mãos para a lateral do meu corpo. Ele ergueu o corpo sentando-se na cama e me puxou junto. Não conseguia encará-lo, não conseguia encarar meu corpo e, agora sentada, não queria nem imaginar como a minha barriga estava. Cada vez que eu tentava cobrir, ia e puxava minha mão; e eu fiz isso umas três vezes. De forma infantil, ergueu as mãos pra cima e me olhou sorrindo como uma criancinha, mas era muito sexy! Eu comecei a rir e entendi o que ele queria que eu fizesse, era pra eu tirar sua camiseta. Comecei a puxar desde a barra inferior e fui empurrando pra cima, sentindo meus dedos roçarem em sua pele e uma sensação quente espalhar em meu corpo; cheguei mais perto tirando a camiseta por sua cabeça e a joguei para algum lugar no quarto, assim como eu sempre via em filmes. Clichê, eu sei.

- Agora estamos quites – ele disse em uma voz baixa, apontando para nossos corpos que estavam iguais. Sentados, sem a roupa superior. – Você é linda.
- ... – tombei a cabeça pro lado e comecei a rir. – Por favor...
- Eu estou falando a verdade, o que eu vejo – ele mordeu o lábio inferior e me olhou de uma maneira que nunca tinha o feito. – Você é a menina mais linda que eu já vi.
- Aham – ri sem humor.
- Eu te amo – mordiscou meu lábio. – E isso faz uma puta diferença!
- Tô nervosa – falei com a voz trêmula. – Eu tô muito nervosa! Eu te amo, te amo demais, e acho que isso está me deixando mais louca ainda.
- – ele roçou seu nariz no meu, beijou o canto dos meus lábios e minha clavícula; sem querer soltei um gemido baixo que o fez rir. – Deixa a parte do nervosismo comigo, eu te acalmo.
- U-hum... – foi a única coisa que consegui soltar.

me beijou e eu senti meu mudo girar. Nossos lábios se abriram devagar e aos poucos eu sentia sua língua entrando dentro de minha boca, roçando meu lábio superior e depois o meu inferior; eu fazia os mesmos movimentos e nossas línguas se encontravam no meio do caminho, dando um gosto molhado e doce ao beijo. Era devagar, era íntimo, sexy e eu não queria que terminasse nunca. Coloquei minhas mãos em seus cabelos, abrindo e fechando meus dedos e dando mais velocidade ao beijo, dessa vez travando uma guerra deliciosa de quem estava comandando os movimentos, e, felizmente, era eu. Senti-o me segurar pela cintura e me levantar um pouco, empurrando meu corpo pra cima e nos fazendo ficar deitados novamente na cama, na posição em que estávamos antes. Ele, com carinho, abriu minhas pernas, colocando uma das mãos entre minhas coxas e as separando, encaixando-se no meio do meu corpo e fazendo uma pressão leve de sua pélvis contra a minha. Claramente ele tinha experiência no assunto, porque eu suspirei e me assustei com esse simples movimento. Deslizei minhas mãos trêmulas e inexperientes pelas costas dele, sentindo cada ondulação perfeita, e o juntando mais com o meu corpo; era uma sensação maravilhosa e totalmente nova. Paramos de nos beijar e nos encaramos, agora estava com a mão no botão da minha calça jeans e, era como se ele estivesse pedindo autorização para continuar. Sorri.

- Você já está... – ele brincava com a barra da minha calcinha com a respiração um pouco ofegante.
- Eu sei, percebi – ri quando entendi do que o comentário se tratava. – Não me obrigue a fazer algum comentário e acabar com o clima.
- Não vou – ele riu com os lábios encostados aos meus. – Eu vou pegar a camisinha.
- Ok – suspirei. permaneceu com o corpo em cima do meu e apenas esticou o braço para chegar até a gaveta e dali tirar um preservativo. – Você quer...?
- Hoje não – mordi os lábios. – Não vou conseguir.
- Tá bom – ele se ergueu. – Dois segundos.
- Aham – eu ri e tapei meus olhos com as mãos, começou a gargalhar. – Foi mal.
- Foi engraçado – ele riu. Ouvi o plástico ser rasgado e depois uns barulhos não conhecidos, acho que ele já tinha colocado a camisinha. Ele voltou a se deitar por cima de mim e, pela primeira vez, senti que estava ali, presente.– Posso, continuar?
- Hm – eu ri e encostei minha cabeça no ombro dele. – U-hum.
- Você prefere tirar ou...
- Você – suspirei. – Prefiro, você.

Seus dedos entraram dentro da costura de minha calcinha e bem devagar, senti-a deslizar por minhas coxas e depois pararem no meu pé. desceu acompanhando o movimento e depois voltou, ficando por cima de mim novamente. Ele me beijou bem devagar e pousou suas mãos em meus quadris, levantando meu corpo apenas alguns centímetros da cama; eu coloquei minhas mãos em seus ombros e apertei meus olhos com força, já imaginando o que estava por vir.
Senti uma dor muito forte e ardida, como se eu estivesse sendo rasgada ao meio. Contraí meu corpo todo, e isso incluía minhas pernas, que acabaram sendo flexionadas de forma rápida e assustaram . Ele perguntou se estava tudo bem, se podia continuar, eu disse que sim apesar da dor. E novamente, senti a dor, dessa vez um pouco mais forte, ardida e seca, muito seca. Sem querer acabei puxando meu corpo pra trás, o que resultou em uma dor mais forte, porque alguma coisa deve entrado em alguma outra coisa de forma errada. Novamente, se assustou e parou de fazer o que estava fazendo. Meu coração parecia pular em minha garganta de tanto pavor, sério que doía desse jeito? Mas não era PRA SER BOM? Ele encostou sua testa na minha e eu gemia e sentia meu corpo todo tremer, sem falar que lá estava dolorido e eu sentia vontade de chorar; na verdade eu já estava chorando porque meu rosto estava molhado.

- Desculpa – falei fungando e fazendo careta. – Desculpa, desculpa.
- Hey – ele me apertou e me beijou. – Há outros jeitos de se fazer isso, sabia?
- Outros jeitos? – Soltei em meio a um soluço que foi interrompido. – Como?
- Se eu pedir pra você relaxar e confiar em mim, você faria isso?
- Cla-claro.
- De verdade? Confia em mim? – Seu olhar era mais sexy e sério, seus dedos apertavam meus braços como quem quer passar segurança, de alguém que sabe muito bem o que está prestes a fazer.
- Confio – falei ao fim, suspirando e cortando meu choro.

Ele me beijou mais uma vez, dessa vez com um pouco mais de paixão, deixando meus lábios molhados e pedindo por mais. Me assustei com essa demonstração inesperada de paixão e me entreguei, voltando a ficar relaxada. Enquanto nos beijávamos, percebi que ele estava tocando ali, de forma carinhosa e devagar. Era um toque gostoso, diferente do de antes, era uma... Massagem? Parecia que havia achado um ponto e ali ficou, não interrompendo o beijo, porém eu tive que separar nossas bocas, pois um gemido manhoso acabou escapando de meus lábios, um barulho que eu nunca tinha feito antes. Ele intensificou mais os movimentos, agora com a boca apenas em cima da minha, ele tinha os olhos abertos e parecia gostar do que via, porque cada vez que eu grunhia ele sorria e os movimentos tornavam-se mais intensos, mais gostosos. Ergui meu corpo e procurei sedenta pelos lábios dele, porém mal conseguia mexer meus braços ou meu corpo, parecia que eu estava totalmente entorpecida, até minha cabeça parecia zunir e minha visão ficava turva. Ele parou o que fazia e eu arregalei meu olhar pra ele em quase uma situação de desespero, como que ele faz isso agora? Sério, ele desceu o corpo, beijando meu colo, seios, barriga e começando a beijar onde antes sua mão estava. AQUILO era novo, e AQUILO era muito, muito melhor que os dedos. Eu podia sentir os lábios de , as mãos dele apertando minhas coxas e ele parecia dominar muito bem o que fazia, bem até demais. Puxei os meus cabelos para trás e, de novo, arqueei meu corpo, como quem pede por mais. Eu pedia por mais sensações, embora eu tivesse a impressão de que melhor do que estava, não tinha como ficar. Não era mais dor, não era incômodo, era ótimo. E, de novo, quando eu estava perto de ter um colapso, parou o que fazia e subiu o corpo, beijando cada parte de mim e chegando finalmente até minha boca. Eu mal conseguia respirar e cada célula minha pulsava, especialmente lá! Sem dizer nenhuma palavra, ele voltou a me beijar, e quando eu estava totalmente entregue e relaxada, ele novamente tentou. Dessa vez foi mais fácil, apesar de estar dolorido, foi menos seco e menos ardente, parece que “entrou” com mais facilidade. Gritei, mas foi impulso. Meu grito depois se transformou em um gemido alto, dessa vez eu estava conseguindo sentir mais prazer, ficar mais a vontade com a situação. foi uma, duas, três vezes... Cada vez era melhor, mais rápido e mais quente. Meu corpo já estava suado, bem como o corpo dele... Nós dois estávamos quentes e barulhos desconhecidos escapuliam de nossos lábios. Quando eu estava sentindo que ia perder os sentidos, cravei minhas unhas curtas nas costas dele e mordi seu ombro, soltando ali um grito de quem parecia ter chego a um ápice jamais conhecido. Minhas pernas ficaram bambas e meu corpo todo parecia uma gelatina, minha visão escureceu, eu via estrelas e pontinhos brilhantes. Não sentia mais dor, não sentia mais em cima de mim, era só uma sensação de prazer que estava se espalhando em meu corpo.

Quando abri os olhos, vi deitado ao meu lado, apoiado em um dos braços me olhando e sorrindo com os lábios fechados. Suspirei e então me dei conta de que estava nua deitada de frente com ele me observando. Meu rosto corou e eu procurei o lençol para me embrulhar, e assim que o puxei, vi duas marcas de sangue ali na cama. A vergonha só piorou. Sentei-me puxando o lençol pra mim e me cobrindo, olhando para aquelas manchas que me envergonhavam tanto! me abraçou por trás e encostou a cabeça em meu ombro, depositando um beijo ali.

- Oficialmente você não é mais virgem – ele disse rindo rouco ao pé do meu ouvido.
- Você poderia, pelo menos, ter colocado um lençol escuro, pelo menos não ia sofrer com tanta vergonha agora – resmunguei quase chorando. – Não sabia que ia sangrar tanto.
- É normal, babe – mais beijos no meu ombro. – Não tem problema nenhum, alguma hora isso ia ter que acontecer, certo?
- Sim, mas... – funguei. – Me incomoda – ri sem humor.
- Tá dolorido? – Ele fez carinho no meu rosto virando-me para eu poder melhor olhar em seus olhos. – Como você tá?
- Não vou negar que está doendo – eu ri. – Mas valeu a pena – mordi os lábios sentindo um frio na barriga. – Pelo menos pra mim.
- Como assim? – Ele me perguntou confuso.
- Digo – brincava com seus cabelos enquanto falava. – Não posso reclamar, foi muito bom – suspirei. – E pra você?
- ... – ele rolou os olhos.
- Desculpa, eu não deveria estar perguntando isso.
- Foi perfeito – selou meus lábios. – Tá vendo isso aqui? – Ele me mostrou seu ombro e havia ali uma marca roxa. – Se tem marcas depois do sexo, quer dizer que foi bom.
- Ai, meu Deus! – coloquei a mão na boca e toquei o pequeno espaço onde eu era a culpada por estar machucado. – Desculpa, eu acho que nem me lembro disso, digo, como que eu fui fazer isso.
- Melhor ainda – ele riu. – Tá tudo bem, meu amor, tudo bem. Já se olhou?
- Por quê? – Arregalei os olhos. – Tô com algum roxo? - Aqui – ele apertou minha perna e eu senti doer. – E umas no pescoço, mas eu te passo um creme ótimo pra isso depois – gargalhou.
- Não lembro disso também – respondi envergonhada. – Escuta, eu vou... Tem que tirar seu lençol daqui.
- – ele riu. – Quer parar de se preocupar com isso? Por favor? – Ele se encostou na cama e me chamou, pelo menos ele vestia a cueca. Fui até ele e me sentei no seu colo, tendo meu corpo envolvido apenas pelo lençol branco. – Eu não sei você, mas eu estava esperando por isso há um bom tempo.
- Sei disso – ri e me aninhei mais ao seu corpo. Ele passava a ponta dos dedos por minhas costas enquanto eu tinha a cabeça encostada na curvatura do seu pescoço, respirando a mistura de suor e perfume. Estranho, mas gostoso. – Também queria, parte de mim queria e a outra estava morrendo de medo. - Sabia que a prática leva à perfeição? – Ele disse brincando e nós dois gargalhamos como duas crianças. – Eu tô falando sério! Não vejo a hora de fazer isso o que nós fizemos, de novo.
- Eu também não – suspirei. – Mas me dá um tempo, porque eu vou ter que assimilar o que acabou de acontecer.
- Seu tempo, babe, seu tempo – ele beijou o topo de minha cabeça. – Mas eu aposto que não vai demorar muito.
- ! – Eu ri e ele também.
- Na boa, , é bom demais! E comigo ainda, você não vai conseguir ficar sem.
- HÁ! Pretensiosa ao extremo – dei um tapa em sua barriga e ele berrou, mas depois sorriu. – Acho bom você não me estragar para futuros namorados, mas algumas coisas eu posso aprender com você.
- Futuros... Oi? – Ele me encarou e eu mordi os lábios querendo rir. – Tá querendo dizer o quê? Aprende as coisas comigo e depois vai treinar com outros?
- Não posso ser mulher de um homem só – fiz bico e ele me olhou totalmente indignado.
- , retire o que disse – ele me olhava sério, mas eu via o canto dos seus lábios tremendo querendo rir. – ...
- Não – saí de seu colo e me levantei da cama. – Não retiro.
- ...
- ... – ele já tinha levantado também e caminhava na minha direção.
- Para, ! – Eu gargalhava. – Para com isso.
- Retira o que você disse, ou vai pagar as consequências – ele agora não aguentava mais e já sorria.
- Whooo, medo – eu zombei e me arrependi.

correu até mim e me pegou no colo, o lençol escorreu um pouco na lateral do meu corpo, e, por fim, ele já estava todo no chão. Novamente nós dois estávamos na cama e, concordando com ele, a prática pode levar à perfeição, porque nós decidimos praticar um pouco mais.

When I see your face…

Abri meus olhos com uma pequena dificuldade, meu celular brilhava e marcava quatro e meia da manhã. Ainda sentia meu corpo dolorido, mas eu tinha uma vaga lembrança de que a última vez havia sido bem melhor. Massageei meus ombros e meus braços e me coloquei para fora da cama, vendo que, novamente, eu estava nua. Ri comigo mesma, eu deveria ficar com vergonha, mas pela primeira vez eu não me sentia assim; havia me desejado e feito amor comigo com este corpo, este rosto, cabelo. Parecia que eu tinha tomado um chá de segurança e eu estava me sentindo mais linda e desejável do que nunca, isso pra mim é uma completa novidade. Procurei pelo chão minha roupa íntima e a encontrei colocada em cima da poltrona, junto com – clichê de todo namorado – uma camiseta de . Havia junto um bilhete:

“Tome um banho, estou te esperando na sala. Espero que não demore muito para acordar. Amo você – x”

Como não amar? Rindo do meu momento de insegurança em querer colocar o lençol ao meu redor, fui nua até o banheiro, me achando o máximo! Parei em frente ao espelho e encarei meu reflexo; eu estava feliz, parecia feliz e completamente satisfeita. Parece que o corpo pede por uma situação assim, e quando fazemos, a plena satisfação que você tanto procurava, finalmente você acha. Sexo é isso, é complemento na vida, é necessidade! Tá, eu fiz duas vezes, mas já estou filosofando. Suspirei e entrei no chuveiro, me permitindo ter um momento particular, sentindo meu corpo mudando sob meus dedos, percebendo que poucas coisas haviam mudado em mim, deve ser a disposição hormonal. Ainda estava doendo e estava achando uma dificuldade em conseguir encostar uma perna na outra, e eu juro que não é porque “ é bem dotado”, eu não posso nem comparar, nunca vi outro. Mas o dele é bom... Enfim, eu tava com dor, e tava com dor lá, não sei quando vai passar, mas se eu falar isso pro sei que ele vai ficar se achando a criatura mais gostosa e foda do planeta, por isso guardo esses comentários apenas para mim.

Passei a mão por meus seios, barriga, pernas, coxas bunda... fechei meus olhos imaginando o que possa ter sentido quando suas mãos deslizavam sobre mim, será que ele gostou? Apertei a lateral da minha barriga e fiz careta, havia ali algumas coisas que eu não gostava e que custavam a sair; apertei com mais força a ponto de sentir uma dor aguda... Por mais que eu tentasse, por mais que eu tivesse prometido para meus amigos que eu ia parar com isso, prometido para , eu não conseguia. Não era satisfeita com meu corpo, ele agora está melhor do que antes, mas pode melhorar, sempre pode melhorar! Desliguei o chuveiro e, ainda molhada, corri para o espelho grande que havia no banheiro. Me encarei. Em um momento eu consigo me achar a pessoa mais linda, e depois acho que não sou merecedora de tanto amor, ou até acho que pode estar me fazendo um favor. Que tipo de favor?

Ali, nua em frente ao espelho, pude ver meu corpo. Eu tinha manchas na pele, cicatrizes, minhas coxas eram grossas e estranhas demais, minha barriga poderia desaparecer e ser substituída por uma tábua! Sorri e fechei o sorriso, sorri e fechei de novo, não gostava do que vi. Me virei de costas, nada salvava! Alisei meu corpo e pensei que pode ter se decepcionado, que ele não gostou e que pode ter tentado uma segunda vez para ver se podia melhorar de alguma maneira, mas acho que a decepção foi maior. Talvez seja por isso que ele tenha me deixado sozinha na cama e tenha ido pra sala, para pensar... Ou pensar em um jeito de terminar comigo, porque eu não era boa. havia me visto apenas de roupa, e hoje ele me viu como vim ao mundo, será que a decepção foi tão grande assim? Só de pensar eu sentia meu corpo vibrar de medo e vontade de chorar, de novo. Engoli o choro, se ele ia terminar comigo ou ia falar alguma coisa, tinha que me fazer de forte e encarar isso com a cabeça erguida, sempre com a cabeça erguida. Sequei-me, saí do banheiro e coloquei a roupa que havia separado. Vamos lá!

- SMILE! Ouch! – brincava no sofá, apenas de cueca com uma câmera... ESPERA! O QUE É AQUILO? – Heey, aí está você.
- ... Isso na sua mão, isso...
- Sim, meu amor, comprei pra você – ele se levantou e veio na minha direção com um sorriso bobo no rosto. – Sorria.
- – eu não conseguia respirar. – , isso é uma polaroid!
- Eu sei, amor – ele riu. – Tá que eu demorei um pouco pra aprender a usar, mas o cara da loja disse que essa é uma das melhores.
- Meu Deus – quase comecei a chorar, ele tem IDEIA do que essa câmera faz? Do que é uma Polaroid na mão de um fotógrafo?
- Gostou? É sua... – ele sorriu e me entregou. – Não consegui achar um outro presente pra te dar em comemoração aos nossos sete meses então, já te vi falando que gostaria de uma Polaroid, e sempre reclamava que não tinha dinheiro pra comprar.
- – meus olhos estavam começando a ficar cheios de lágrima. – Isso é, isso é demais! Até mesmo pra você, não precisava de tanto, eu nunca...
- Eu te amo, não amo? – Ele beijou a ponta do meu nariz. – É o que as pessoas apaixonadas fazem quando amam, dão presentes.
- Eu te amo e acho que nunca te dei um presente decente. Acho que não tenho condições de me comprar um presente – ri sem graça enquanto deslizava meus dedos pela câmera Polaroid que encontrava-se agora em minhas mãos.
- Você me deu de presente você mesma – ele suspirou. – Me deu uma felicidade que eu nunca tinha vivido, que eu não conhecia, que até então eu via em outras pessoas.
- Para com isso – mordi os lábios. – Você sabe que eu não consigo gostar dessas coisas, e eu tenho um sério problema em acreditar que isso é pra mim, que você de verdade gosta de mim.
- Por que você tem tanto problema com isso? – Ele me abraçou por trás, passando as mãos de forma mais ou menos forte pelos meus braços. – Tá tremendo?
- Não gosto de falar desse assunto – ri sem humor, me aninhando ao seu corpo e me sentindo um pouco protegida, de uma maneira deliciosa. – Eu só acho que não mereço tudo isso.
- E por que não deveria merecer? – Ele sorriu e beijou meu pescoço. – Me empresta a câmera.
- Pra que você quer meu novo brinquedo? – Eu ri e senti sua respiração quente na minha nuca.
- Pensei que eu fosse o seu “novo brinquedo” – ele me apertou um pouco mais e pegou a Polaroid de minhas mãos.
- Acabei de te usar duas vezes, você não é mais meu novo brinquedo, mas continua sendo o meu favorito – respondi e ouvi gargalhar atrás de mim.
- Obrigado – juntou mais seu corpo ao meu e posicionou a Polaroid na nossa frente, como quem vai bater uma foto. Ele ia bater uma foto. – Posso?
- Promete que essa foto vai ficar apenas entre nós?
- Prometo – ele beijou meu rosto e eu devo ter feito uma cara de boba apaixonada, aninhada aos braços do meu namorado. – E agora? Que faço?
- Espera, – eu ri, pegando a câmera da mão dele e vendo a foto sair de maneira instantânea. Peguei, mexi sentindo um cheirinho conhecido de álcool que a câmera soltava e vi a foto sair do negativo e criar cores bem na minha frente, era praticamente mágica. – Agora sim, tá pronta – olhei a foto e fiz careta, como sempre eu me achava detestável.
- Linda, na verdade lindos, porque somos um casal perfeito – ele riu pegando a foto de minhas mãos. – Gostei.
- Você sempre gosta das fotos, eu sempre as odeio – ri sem humor algum. – Obrigada pelo presente, você acertou em cheio dessa vez.
- Conheço minha namorada muito bem – ele beijou meu nariz. – Embora ela tenha um sério problema em aceitar esse fato.
- Desculpa – fiz careta e tirei uma foto dele enquanto o via me encarar, gargalhou e eu também. – Escuta, você tava cantando alguma coisa antes de eu acordar?
- Hm... Belos ouvidos – ele riu e apontou pro sofá, vi ali um violão preto encostado; – É do Fletcher – ele coçou a cabeça e eu fiz um ‘awwnnn’, agora eles estão dividindo instrumentos musicais. – Eu estava treinando semana passada umas músicas e, bom, consegui tirar uma do Bruno Mars.
- Legal – fiz joinha. – Eu curto Bruno Mars.
- Percebi sua empolgação – começou a rir. – Mas, vem cá, tem outra música que eu quero mostrar pra você.
- Você quem escreveu?
- Nhá – ele fez careta e deu de ombros. – É de um amigo nosso, Ed Sheeran? – Ele começou a rir. – Pela sua cara, acho que você não tem ideia de quem ele é.
- Vai me matar se eu falar que não? – Fiz careta. – ESPERA, ele é ruivo, certo? Tipo, Ronald Wesley?
- Isso é melhor que nada – sorriu. – Vem aqui no sofá, aprendi a tocar essa música com ele no violão do Fletcher.
- Awn bebe – sentei-me ao seu lado e fiz carinho nos seus cabelos. – Você precisa comprar um violão seu e compor as suas músicas – eu disse rindo e ele me olhou bravo, fingindo na verdade. – Eu tô brincaaaando!
- Eu sei, babaca – mordeu meu nariz e eu ri. – O dia que eu fizer uma música pra você no estilo All About You, quero ver você beijando meus pés.
- All About You? É tão amorzinho – fiz coração com as mãos e gargalhou. – Mas, enfim, me mostra essa música.
- Bom, o Ed me mostrou essa música uns dias atrás e eu perguntei se poderia usá-la no nosso próximo CD porque – ele tossiu – me lembrou, você.
- Eu?
- Às vezes eu acho que – e de novo ele coçou a nuca – mesmo eu falando mil vezes que te amo e que não mudaria absolutamente nada em você, sinto que fica um resquício de dúvida.
- ...
- Não a culpo, claro que não! Me incomoda porque parece que não sou o cara certo pra você porque eu não te faço feliz cem por cento – ele deu de ombros e sorriu de forma meio triste.
- Por Deus – segurei seu rosto com uma de minhas mãos. – Nunca, nunca mais repita isso! Eu sou... Eu estou doida por você e a culpa é sua! Você fez com que eu me apaixonasse.
- Obrigado – sorriu com os lábios fechados. – Mesmo assim – ele apontou para o violão. – Posso tocar?
- Claro – dei um selinho rápido em seus lábios e o abracei de lado enquanto ele começava a dedilhar sobre as cordas do violão.

Your hand fits in mine like it's made just for me
but bear this mind it was meant to be
and i'm joining up the dots with the freckles on your cheeks
and it all makes sense to me

A voz de era clara, baixa e leve. O som doce do violão combinado com sua voz me dava a sensação de que eu estava flutuando. Senti meu coração diminuir o batimento e uma onda de choro tomar conta de mim; se for pra comparar, é como se eu estivesse ouvindo No Worries pela primeira vez em minha vida, ou seja, arrepiante. Não estava ainda acostumada a ter ao meu lado cantando, ele mal deixava eu ouvir One Direction quando tocava no rádio, ouvi-lo assim, tão cru sem a ajuda dos amigos, de uma banda... Apenas ele e um violão, era lindo. E essa letra...

I know you've never loved the crinkles by your eyes when you smile,
you've never loved your stomach or your thighs
the dimples in your back at the bottom of your spine
But i'll love them endlessly

Me afastei. não parou de cantar e muito menos me encarou, mas sei que ele percebeu que eu havia me afastado. Não consegui controlar meu choro e muito menos o meu soluço, eles estavam baixos, mas estavam ali. Não for a quem escrevera a música, mas se ele a ouviu e lembrou-se de mim, é porque ele me conhecia tão bem como ele havia falado minutos atrás. Apertei meu estômago por cima da camiseta que eu usava e deitei do outro lado do sofá, alguma coisa me impedia de ficar ao seu lado agora. Era vergonha, talvez porque ele sabia de todos os meus medos e pela primeira vez eles estavam sendo exibidos. Por meio de uma letra musical, mas mesmo assim. Não consegui ignorar a frase final: “Eu vou te amar eternamente”.

I won't let this little things slip out of my mouth
But if i do, it's you, oh it's you, they add up to
i'm in love with you and all these little things

me olhou de canto sem sorrir e sem um olhar preocupado. Apenas acenou com a cabeça como quem sabe o que essas palavras estavam fazendo comigo. Abracei o travesseiro e enterrei metade do meu rosto ali, deixando meu choro ficar abafado e não atrapalhar a concentração dele. Meu corpo tremia de maneira involuntária e eu só conseguia me perguntar: como, COMO ele pode me amar? Como que essas ‘pequenas coisas’ não fazem uma bela diferença na maneira que ele me vê? Que ele me ama?

You can't go to bed without a cup of tea
maybe that's the reason that you talk in your sleep
and all those conversations are the secrets that i keep
though it makes no sense to me

Eu falo dormindo? Primeiro que eu não bebo chá de maneira alguma, eu sou brasileira e nós tomamos CAFÉ e não chá, por mais que já tenha feito chá algumas vezes pra mim, não desce. Ainda mais com leite, é quase que humanamente impossível beber chá com leite. E voltando a falar do assunto de ‘eu falar enquanto durmo’, o que eu falo, como eu falo, e que segredos são esses que não fazem sentido pra ele? A Polaroid! Eu sonhei com Polaroid semana passada... Será? Ele ouviu?

i know you've never loved the sound of your voice on tape
you never want to know how much you weigh
you still have to squeeze into your jeans
but you're perfect to me

Gravei uma fita para a faculdade quando pleiteei pela bolsa, e acidentalmente a ouviu. Lembro que fiquei reclamando de como minha voz era patética e lembrava um travesti gripado, óbvio, não concordou. Mas o ponto não foi esse, o ponto crucial foi o peso. A coisa que mais me atormentava desde que começamos a namorar, minha eterna obsessão em parecer magra, bonita, digna de estar ao seu lado. Mordi a almofada que segurava e apertei meus olhos, lembrando de todas as vezes em que induzi meu vômito, que pedi a Deus que me ajudasse e que eu acordasse mais magra, que o jeans diminuísse quarto números, que simplesmente eu fosse outra pessoa. Percebi, da pior maneira possível, que isso o incomodava. Era fácil lidar com ou com as ligações preocupadas de minha mãe, mas com eu não conseguia, eu o amava mais do que qualquer pessoa que eu já conheci, e duvido que eu possa me apaixonar assim de novo. Eu o feria, eu sei disso... E mesmo assim ele não saía do meu lado, continuava me amando. Apesar das minhas imperfeições. Do ponto de vista dele, pequenas imperfeições.

I won't let this little things slips out of my mouth
But if it's true, it's you, it's you, they add up to
I'm in love with you and all these little things

Pela primeira vez ele me encarou, me passando segurança. Sorriu e cantou abertamente o quanto ele me amava, junto com todas essas pequenas coisas que faziam parte da minha personalidade. Seus olhos sorriam junto com seus lábios; meus olhos eram embaçados pelas lágrimas, mas eu conseguia vê-lo claramente. Aquele garoto na minha frente estava me amando com todo o pacote problemas que vêm junto comigo.

you never love yourself half as much as i love you
you'll never treat yourself right darling but i want you to
if i let you know, i'm here for you
maybe you'll love yourself like i love you oh

parou de cantar e colocou o violão de lado. Eu não conseguia parar de chorar, não parava de soluçar e uma dor no meu peito só crescia ao passo que ele se aproximava de mim. tirou a almofada que eu segurava, passou as mãos por minhas pernas, e depois um pouco em minha barriga. Na mesma hora eu a contraí e olhei assustada para ele, ele me repreendeu com o olhar. Aos poucos seu corpo foi subindo em cima do meu, fazendo carinho por todas as partes que sua mão alcançava, deixando claro em movimentos que ele gostava do que sentia, que eu era a quem ele queria. Finalmente seus lábios encontraram-se com os meus em um beijo doce, sem língua, apenas o toque de nossos lábios quentes, os meus, no caso, trêmulos.

i've just let these little things slips out of my mouth
because it's you, oh it's you, it's you they add up to
and i'm in love with you (all these little things)

Ele não cantou, ele declamou as últimas estrofes.

- Você não se vê do jeito que eu te vejo, você não se ama da maneira que eu te amo, mas estou aqui pra fazer você se lembrar que eu te amo! Com tudo isso, com tudo isso que tenho em meus braços agora. Eu amo você, inteira! – Ele não sorria, seu semblante era sério. Me senti pequena, frágil e exposta.
- ...
- Me deixa te fazer feliz, pra sempre. Porque é esse meu papel, é por isso que nos encontramos, é por isso que alguma força no universo me colocou no seu caminho. Foi pra te fazer feliz, foi pra te amar, foi pra ser seu companheiro.
- Por favor, para...
- Eu não vou parar, porque não é do meu feitio desistir do que eu mais quero no mundo. E a única coisa que eu ainda não conquistei por completo foi você. Se permita, por mim.

E então, eu apaguei.

Capítulo 28

- Babe... Babe?

Só podia ser . Abri meus olhos com muita dificuldade e fiz careta quando vi que o quarto já estava claro e ele estava parado na minha frente vestindo uma camiseta branca. Digo, ele já é bem branquinho e, com o sol refletindo em sua pele, não dá muito certo.

- Bom dia? – Perguntei com muita preguiça. – Quando eu apaguei?
- Não sei, mas tem uma menina aí fora de procurando totalmente louca. Acho que você deve conhecê-la, seu nome é – ele riu.
- A tá aqui? – Sentei na cama. – Aconteceu alguma coisa?
- Também não sei, mas tem alguma coisa com o ter desaparecido ontem e ela estar bem puta com ele – coçou a nuca, não parecia preocupado – Eu acho que ele só quis fugir dela por uma noite.
- Não fala assim – me ergui na cama. – Fala pra ela esperar um pouco.
- Uhum – me deu a mão e em um instante eu estava de pé. – Você tá linda com a minha camiseta, fica com ela.
- Não estava mesmo com a intenção de tirá-la – eu ri e fui ao banheiro.

vestia a mesma roupa de ontem do show, estava com a maquiagem toda borrada e bem – BEM – puta e desolada. Andava de um lado pro outro na sala e parecia inquieta e ansiosa, alguma coisa não estava bem. Quando me viu, saiu correndo na minha direção e me deu um abraço apertado no pescoço, senti seu corpo relaxar e uns soluços começarem, ela chorava. Não é do feitio de começar a chorar assim do nada, então alguma coisa estava acontecendo, coisa que me preocupava. era minha melhor amiga desde que cheguei em Londres, vê-la assim não me fazia bem.

- Você tem um chupão no seu pescoço – ela disse se afastando e com a voz molenga.
- É... – coloquei a mão de forma inconsciente onde ela havia apontado. – Deixa pra lá, que aconteceu?
- Foi ontem, não foi? – apesar do seu choro e clara preocupação, ela sorria. – Tô tão feliz por você – ela riu. – E você ainda está usando as roupas do , meu Deus!
- Acabou acontecendo – eu ri.
- Tá tudo bem? Você parece tensa.
- Digamos que terminou a noite com uma canção que, eu sei que no fundo ele queria me passar segurança, mas parece que eu acabei entrando em uma paranOia sem fim, sinto como se eu tivesse desmaiado e acordado agora com ele me chamando pra te ver.
- Que música?
- Não sei o nome, acho que nem tem nome – suspirei. – Mas não estamos aqui pra falar de mim, e sim de você. Que cara é essa?
- – ela fungou. – Brigamos ontem durante o show, coisa que eu sei que você não viu, já que estava toda empolgada, o que me deixa muito feliz – ela riu. – Porém, eu acabei falando merdas demais e ele foi embora mais cedo, o que resultou em eu ir embora mais cedo, mas eu voltei pro nosso apartamento na escola, e, o , eu não sei onde ele está.
- Hm – sacudi a cabeça, falou tudo rápido demais. – Você já tentou ligar?
- Liguei a madrugada toda e nada, nenhuma resposta.
- Foi na casa dele?
- Claro que não, vai que eu acho o corpo dele lá todo ensanguentado! Não dou conta disso, , não dou conta – ela começou a se abanar.
- Tá, tá – eu ri. – Faz o seguinte, fica aqui com o que eu vou na casa do , se ele estiver por lá eu te ligo, tudo bem?
- E se você achar o corpo dele?
- Ligo pra polícia – eu ri. – , não vai ter corpo algum! Relaxa e faça companhia pro meu namorado.
- Tá bom, tá bom – ela bufou. – Volta logo.

Era estranho, o clima matinal hoje estava morno. Nem gelado demais, apesar do vento incômodo, nem quente, coisa que nunca se está aqui em Londres. Eu usava um bermudão de e sua camiseta, nos pés um chinelo qualquer que, eu acho, era de , já que ele tinha o menor dos pés dos meninos. Caminhei até a casa ao lado, que era de , já na intenção de acabar com a raça desse infeliz! Essa manhã era para ser linda, eu e falando da noite anterior, ele falando que me ama e mandando minha insegurança pra puta que pariu do espaço sideral, nós dois o dia todo no sofá vendo filmes babacas, porque é isso que casais apaixonados fazem, e voltando pra cama depois, porque eu gostei de fazer isso. Mas NÃO, o tem que estragar tudo, meus planos românticos de querer ser amada depois de um show do McFly, precisa... Opa!

Lary estava saindo da casa de . Lorelai Cohen, Lary Cohen! Eu tô vendo demais ou ela está usando a mesma roupa de ontem? Meio amassada, mas está! O que ela está fazendo aqui, ela... NÃO!

- LORELAI! – Gritei seu nome, tava nem aí! Ela e me viram e arregalaram os olhos, a essa altura eu já estava na porta da casa dele.
- ... Eu...
- Falo com você depois, – ergui a mão pra ele. – Na boa, entra e cala a boca.
- Mas...
- , se a não te bater quem vai te bater sou eu! Isso se o não fizer primeiro, e isso se o que eu tô pensando de verdade aconteceu, o que, pela sua cara de bosta, eu acho que aconteceu – encarei os dois. – ENTRA, PORRA! – E ele entrou.
- – Lary suspirou e passou a mão no cabelo, este que, no momento, eu não estava mais achando tão bonito. – Me desculpe.
- O que aconteceu? – Eu estava quase chorando, imagina a . – Lary, pelo amor de Deus, não me diz que você passou a noite com o – eu esperava um não, mas minha resposta foi um silêncio e ela balançando a cabeça afirmando. Senti meu chão se abrir. – PUTA MERDA! – Dei um empurrão nela, e mais outro, e um tapa no ombro, e mais outro! Alguém me segura. – PUTA MERDA LARY, PUTA MERDA!
- Eu sinto muito, eu não...
- Sente muito? – Eu ri. – Como que você tem a pachorra de falar que você sente muito? Você dormiu com o namorado da minha melhor amiga, tem noção do quão puta isso te faz? E outra, ele é amigo do seu pseudonamorado, ou o não é nada seu além de passes livres para empregos e shows? E, quem sabe, meia hora no banheiro?
- NÃO FALA ASSIM!
- NÃO GRITA COMIGO – rebati. – Pelo amor de Deus, some da minha frente e some da nossa vida pelos próximos trinta anos, de verdade.
- Eu não fiz isso sozinha, sabia?
- Não me interessa, você fez! – Senti meu corpo tremer e começar a chorar. – Tem noção do quão louca pelo a minha amiga é? Ela respira o ar dele, ela daria a vida por ele! Não quero saber se ele tava louco de raiva ou resolveu afogar as mágoas e chorar com você, teu papel era ter um pouco de bom senso e lembrá-lo o tanto que a o ama e como que tudo ia ficar bem no dia seguinte, porque é isso o que pessoas sensatas fazem!
- Ele a ama – a voz de Lary ficou baixa. – E eu amo o...
- Não fala o nome dele – respondi entre os dentes. – Ele não merece uma pessoa como você. é muito, MUITO bom! – Supirei. – Some daqui, agora.

Quando Lary passou por mim e eu me virei para acompanhar seus passos, vi e parados logo atrás. tinha os olhos vidrados e lágrimas grossas já caíam deles, mantinha as mãos nos bolsos do pijama e olhava para mim e para Lary com cara de decepção, balançando a cabeça negativamente o tempo todo. Quando Lary os viu, parou por meio segundo, depois abaixou a cabeça e foi na direção do carro, este que estava estacionado na maior cara de pau em frente à casa de . Pensei por um momento que fosse ficar quieta, mas claro que não.

estava em cima de Lary dando tapas em seu rosto, puxando seu cabelo, gritando e chorando ao mesmo tempo. Lary não se defendia, ficava apenas ali parada, parecendo um saco de pancadas enquanto descarregava sua raiva em todas as partes do corpo dela que conseguia atingir. Olhei pra que parecia pensar a mesma coisa que eu, deixa a fazer isso um pouco, com vai ser bem pior e nós sabíamos disso. Ela berrava, gritava, chorava... Não demorou para , e aparecerem. Tão chocados e tão perdidos como todos nós estávamos; em especial, .

- SUA VACA, COMO... COMO VOCÊ... COMO VOCÊ PODE! – E mais tapas, Lary agora só levantava os braços para tentar se defender. – EU TE ODEIO, EU TE ODEIO, EU TE ODEIO!
- Vai lá – disse pra , já estava bom.
- , vem aqui... – tentou a segurar por trás, mas ela estava forte e descontrolada, acabou dando uns tapas sem querer em . – Por favor, , por favor.
- Me solta, ME SOLTA! – dizia, foi até o ajudar enquanto e foram afastar Lary. De repente, tudo fez sentido quando apareceu ficando ao meu lado e vendo a cena escrota na nossa frente. olhou para o amigo e a ficha pareceu cair, assim como a dos outros meninos. – MORRA! EU ESPERO QUE VOCÊ MORRA!
- Eu vou lá – disse ao meu lado.
- Juro que se você mexer um músculo quem vai te encher de porrada sou eu – olhei-o pela tangente. – Fica aqui, o que é seu tá te esperando.
- O quão encrencado eu estou?
- Só me diz uma coisa, – me virei pra ele. – Por quê?
- Não sei.
- Hm... – ri sem humor. – Acho melhor você pensar em uma resposta melhor que essa se quiser minha amiga de volta – dei um tapa em suas costas. – Vamos entrar, eu te ajudo a pensar em algo melhor.

me explicou o que havia acontecido na noite anterior. ficou o tempo todo reclamando de que ele estava olhando demais pra bunda da Lary, de como ela ficava se provocando e de como ela usava para se dar bem na vida. tentava explicar de todas as maneiras possíveis que nada estava acontecendo, que ele só tinha olhos pra ela, que Lary estava feliz com – apesar de não ter nada oficializado – mas parecia que nada convencia . Eu sei bem disso, quando minha amiga coloca uma coisa na cabeça, é difícil tirar. Em determinado ponto do show, foi pra frente ficar comigo e com os outros meninos, e Lary foi junto de e . Infelizmente os dois começaram a brincar de forma maliciosa, apenas para provocar minha amiga, e isso resultou numa briga gigante, tudo isso no show. foi embora e também... Porém com Lary. Os dois foram para um bar falar mal de namorados, Lary dizia que era bonitinho, mas não pra namorar, falava o quanto era doido por , mas de vez em quando o ciúme passava do limite. Conversa vai e vem, mão na perna, no cabelo, boca com boca, os dois beberam e transaram. Fim da história.

- Eu não sei o que pergunto primeiro – passei as mãos nos cabelos e os prendi em um coque mal feito. – Você não pensou em nenhum momento na ? No ?
- Pensei, pensei... É claro que pensei! – ele socou o ar e fez careta. – Mas pensei hoje de manhã quando vi a Lary ao meu lado, e não a .
- Ai, porra! – Cobri meu rosto com as mãos. – , pelo amor de Deus, o que você estava pensando?
- Não sei! Eu já estava cansado desse ciúme todo e de como a fica paranoica...
- paranoica? Ela te ama, seu imbecil, é isso o que nós fazemos quando amamos! Ficamos babacas – dei um soco em seu ombro. – Caralho, !
- Quer parar de falar palavrão? Tá parecendo ela.
- Tá com medo dos meus palavrões? Você viu o que a tava fazendo com a tal assistente lá fora? Cara, ela vai te matar, te matar!
- E você acha que eu não sei disso? É claro que ela vai me matar.
- Quer um capacete? – Perguntei rindo só pra tentar amenizar a situação, arranquei dele um barulho estranho pelo nariz, parecia uma risada. – Ai, !
- Sinto muito – ele suspirou e abaixou a cabeça. Foi impulso, mas eu tive que fazer carinho em seus cabelos e sua nuca, algo me dizia que ele estava muito arrependido. Não sei o que eu faria se isso acontecesse comigo, mas me deu dó.
- Se cuida, – beijei sua nuca e me levantei. – Eles estão vindo – olhei pra trás e vi os cinco passando pela porta.
- TODO MUNDO PRO QUARTO, AGORA! – gritou. Espera, quarto?
- Eu tô com fome – ouvi a voz de e quis rir. – Por que vocês não vão discutir no quarto e nós ficamos perto da comida?
- ESCUTA AQUI... – ia começar a chegar mais perto de , mas todo mundo a segurou.
- Vamos pro quarto – eu disse chegando perto deles. – , quer que eu fique?
- Não – ela suspirou, estava mais bagunçada e destruída do que antes, pensei em como Lary estaria. – Só, leva esses babacas pro quarto e fique por lá até eu liberar todo mundo.
- Tem como passar comida pela janela? – Perguntei rindo e a vi sorrir com os lábios fechados. – Fica bem, se controla – nos abraçamos e eu disse baixinho que a amava, ela tremeu novamente em meus braços e eu queria apenas que ela ficasse ali.
- Eu queria pedir pra você ficar, mas não posso – já estava chorando. – Eu não, eu não...
- Hey – eu sorri e beijei seu rosto. – Vai ficar tudo bem, não vai? – Segurei suas mãos e dei um beijo em cada. – Estamos aqui e eu vou estar aqui. Bom, no quarto, mas eu vou.
- Ok... – ela fungou. – Ok.

e haviam pegado um grande estoque de comida e já estavam no quarto de . , e eu também fomos depois que deixei ali sozinha, a última coisa que escutamos antes de fecharmos a porta foi ‘agora é com você’ e essa era minha amiga falando. estava ferrado.

- Então, alguém vai poder me falar o que aconteceu? – disse sentando-se na cama e abrindo um pacote de bolacha. – Eu só abri a janela e vi a descendo o pau na Lorelai, o que não foi exatamente a minha visão matinal favorita. Briga de mulher só é boa se elas estão peladas e numa banheira.
- Que nojo, , que nojo – fiz careta enquanto os outros meninos riam.
- Não sei bem o que aconteceu, mas parece que os dois passaram a noite juntos. Pelo menos é o que parece – coçou a nuca e olhou meio ressabiado para , que estava se afastando um pouco de nós e indo até a sacada. – Mas ninguém confirmou nada.
- A Lary disse que sim – respondi. – Pode não ter falado abertamente, mas quem cala, concorda – bufei. – Eu nunca tive nada contra ela, na verdade eu nem entendia por que a implicava tanto com a menina, mas agora vou ter que dar razão pra minha amiga.
- Tá, mudando de assunto – engoliu as duas bolachas que ele tinha na boca e sorriu de uma forma estranha para e eu. – Que aconteceu ontem?
- Hein? – Nós dois falamos juntos.
- , você está com um puta de um chupão no seu pescoço e com as roupas velhas do . , você tá com cara de quem se deu bem ontem... Então...
- Ai, cara – rolou os olhos e foi pra perto do , eu fiz careta.
- Eu acho que já deixei bem claro que quero minha vida sexual em segredo, não falei, ?
- E daí? Tem um casal lá fora brigando porque a vida sexual deles não foi mantida em segredo; aproveita o clima e coloca tudo pra fora – ele sorriu. – Transaram ou não?
- Que tosco – riu. – Vai, aconteceu porra! Agora vê se cala a tua boca.
- AEEEEE – gargalhou. – Perdeu o cabaço, puta merda! – Ele veio até mim rindo e me abraçou, eu só queria enfiar minha cara em um buraco. – Foi bom?
- HEY! – Berrei e saí do abraço dele. – Não vou falar sobre isso com você, é patético.
- Qual o problema, das outras eu sempre sou... – parou a frase no meio quando viu que estava falando demais, lançou um olhar repreendedor pra ele e eu cruzei os braços. – Falei demais.
- Quantas foram? – Perguntei.
- Algumas – disse e mandou um ‘cala a boca, porra’ bem baixo, mas eu ouvi. – Ok, vou mudar de assunto.
- Eu vou deixar vocês dois aí falando sozinhos. Vou ver como o está – olhei pra e apontei o dedo pra ele. – Vê se cala a boca, .
- Sim senhora – ele bateu continência e começou a rir, assim como eu e o .

Vi parado na sacada olhando pro nada e respirando de forma calma, mas também vi sentado na cama vasculhando alguma coisa no celular, o que eu acho realmente que era uma maneira de disfarçar. Cocei a nuca e caminhei até primeiro, ele nem ao menos percebeu que eu estava me aproximando. Quando cheguei bem perto passei minha mão por seus cabelos de uma forma carinhosa e ele quase caiu da cama, tamanho susto que levou. Eu ri.

- Desculpa?
- Tá tudo bem – ele riu sem graça e guardou o celular no bolso, vi suas bochechas ficarem coradas. – É realmente incômodo ver esse roxo no seu pescoço.
- Olha pro outro lado, oras – eu ri e dei um soquinho em seu ombro. – Sinto muito, por isso.
- Uau, você sente muito porque você transou com seu namorado – ele sorriu olhando pra baixo. – Corta essa, .
- Eu sei que não deveria estar pedindo desculpas pra você, na verdade nos últimos dias eu tenho pedido desculpas demais.
- Você pediu desculpas pelo QUÊ?
- Eu sujei o lençol do ontem – respondi tapando meu rosto com as mãos, ouvi dar uma gargalhada ao meu lado. – Ai, para com isso.
- Você é uma linda – o ouvi dizer. – De verdade.
- Obrigada – suspirei e o encarei. – Eu só queria que não ficasse nenhum clima estranho entre nós dois. Sou muito apaixonada pelo , mas eu também amo você e não quero que nada mude entre nós dois.
- Não vai mudar – ele suspirou e me abraçou de lado. – É triste saber que uns tempos atrás nós escrevemos uma música com o McFly e a única pessoa que eu conseguia pensar era você.
- Ah, não! – Eu ri. – Vocês escreveram uma música pra mim?
- Não exatamente pra você, mas as partes que eu escrevi foram pra você, e sabe disso – e de novo, baixou a cabeça. – Ele está sendo um cara muito legal, não querendo me matar por isso e tal.
- Acho que ele te ama quase o mesmo tanto que ele me ama – sorri. – Você é o irmão dele, como que ele podia ficar bravo com você?
- Não sei, eu estou a fim da namorada dele, esse é um grande motivo pra ficar bravo com alguém.
- Aconteceu, ! O problema seria se eu também estivesse apaixonada por você.
- Coisa que eu espero que você não esteja – ele me repreendeu com olhar. – Eu, olha... Eu gosto muito de você, mas não te imagino com outra pessoa que não seja o .
- Jura? – Senti que perguntei em um tom agudo. – Digo, sério.
- Ninguém nesse mundo pode aguentar mais o do que você – riu. – Vocês foram feitos um pro outro, a dinâmica que rola entre vocês dois é algo surreal. Brigam, se matam, você chama ele de burro, o cara fica puto e, olha só, estão juntos de novo.
- Eu chamo isso de estranho.
- Chamo isso de amor – me abraçou um pouco mais apertado. – Por isso não dá pra competir com ele, porque vocês dois são... Intocáveis, inseparáveis.
- Colocou isso em alguma música?
- Não com essas palavras – ele riu. – Mas é mais ou menos essa ideia.
- Estou ficando com mais curiosidade ainda de ouvir as músicas novas. Por sinal, quando vocês vão liberar alguma pra mim? Até o Tom já deu as novas músicas e vocês nada!
- Em breve, acho que vamos pegar a semana que vocês vão estar em Paris pra nos focarmos mais no trabalho, funciona um pouco melhor sem você por perto, mas não de um jeito ruim.
- Entendi – sorri. – Vai ser bom dar esse espaço pra nós, depois de tudo o que aconteceu, acho que a banda precisa também de um tempo sozinhos.
- Não sei como vai ser pro e pro coçou a cabeça meio triste e ansioso pelos próximos dias. – Vai ser foda.
- Eu imagino – suspirei e olhei pra sacada, ainda estava lá parecendo uma estátua de mármore. – Vou falar com ele.
- Tem certeza?
- Que custa? – Sorri. – Amo você, .
- Também te amo, pequena – e com um beijo no rosto, me levantei e fui até o outro membro da boyband.

parecia nem respirar e, assim como , ele não percebeu quando me aproximei. Desde o dia na SugarScape, (junto com ) havia se tornado meu melhor amigo. Eu via como aquele irmão calado que fica no canto só esperando o momento certo pra me defender, com ele as coisas sempre foram assim. Ele tinha o melhor abraço do mundo, o melhor cheiro do mundo e a casa mais arrumada dos meninos. Algumas vezes eu simplesmente saía das aulas e, ao invés de ir para a casa de , ia para a de assistir filmes antigos e desabafar sobre a vida, conseguia ser filosófico de vez em quando; de um jeito bem estranho e peculiar, muitas vezes eu não o entendia, mas assim era ele. Podíamos não estar todo o momento juntos, na verdade acho que passo mais tempo com o do que com o resto da banda, mas... Não precisamos falar um pro outro que somos amigos. é parecido comigo, não preciso lembrar todo dia que amo alguém, a pessoa simplesmente sabe.

- I used to think that I was better alone... cantarolou ao meu lado, senti que agora ele sabia que eu estava lá. Assim era ele, não falava seus pensamentos e sentimentos como outra pessoa, ele colocava em forma de arte, no seu caso a música, sempre ela. – Why did I ever want to let you go, under the moonlight as we stared the see – o ouvi fungar. – The words you whispered I will always believe...
- ? – Passei a mão por suas costas e ele me olhou, seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar. Meu Deus, eu ia matar essa Lary. – Ai, poxa – puxei-o pra mim e o abracei. chorou em meu ombro, sentia seu corpo todo tremer e seus braços me apertarem mais.
- Não... Passa! – Ele disse entre o pranto. – Dói, simplesmente, dói!
- Eu sei, bom, eu não sei e nem quero saber, mas eu imagino.
- Não é ela, o problema não é a Lorelai, é o ! ! – Ele me soltou, porém me segurou nos ombros enquanto me encarava. – Cara, como ele pode? Como ele pode fazer isso comigo?
- Não pensa assim, , por favor – fiz carinho em seu rosto. – Eu sei que, bom eu vou parecer bem fria! Mas vocês são uma banda, o que aconteceu não pode afetar relacionamento, e acredite em mim, a uma hora dessas deve estar matando o . Se tá doendo em você, pensa nela.
- Só de imaginar como a está me dá mais nojo dele, simplesmente nojo – ele fez careta e voltou a chorar. – Ele é meu irmão, ! Nós passamos por tudo isso juntos, chegamos aqui juntos! Como que ele... Como que...?
- Chega, para de se torturar – o abracei de novo. – Estamos falando do ! Do pequeno lindo ...
- Filho da puta, .
- ! – Repreendi-o. – Se você quer surtar com alguma pessoa, você surte com a Lorelai, não transou sozinho na noite passada.
- Eu sei – ele suspirou.
- Olha – passava as mãos pelos seus braços a fim de lhe deixar um pouco mais tranquilo, tremia de nervoso. – Dias atrás eu tive minha primeira briga com e eu pensei que nunca mais fosse vê-lo. Eu disse coisas horríveis, ele disse coisas horríveis e aquele foi o primeiro momento em que eu tive medo de perder tudo o que tínhamos até agora. Mas ele me surpreendeu, batendo na porta do quarto na manhã seguinte e disposto a me escutar, me ouvir. Faça isso pela Lary, e, claro, por você também. E acima de tudo, faça isso com , não do jeito porque ela vai matá-lo, com ela é meio ‘pancada primeiro, conversa depois’ – fiz soltar um riso anasalado, ufa! – Por favor, não banque o machão agora e fique bravo com o mundo todo, dê uma chance para as explicações. Tudo tem uma explicação.
- Não sei se estou pronto pra ouvir uma explicação dela, ou dele.
- Claro que está – sorri e dei um beijo em seu rosto. – Você está com medo porque, se você ouvir o que eles têm pra falar, capaz de perdoá-los. E nós gostamos de sofrer um pouco, mas acredite em mim, não vale a pena.
- Você é a mãe da banda – ele riu e enxugou as lágrimas. – De verdade, – ele de novo me abraçou, mas agora menos desesperado. – Obrigado.
- Eu te amo, bobão – sorri. – Agora, você quer ficar sozinho um pouco pra saber quando vai falar com os dois?
- Como você sabe?
- Porque eu infelizmente conheço você muito bem – eu ri. – Vou voltar pros meninos, acho que já deu tempo da terminar de conversar com o .
- Ou matá-lo.
- Ai caramba – nós rimos.
- É verdade que a lutava box?
- Ela sempre quis, eu acho que fez uma aulas quando morava em Bolton.
- tá encrencado.
- Ah sim, e muuuuuuito – falei com exagero e nós rimos de novo. – Eu tô ali dentro, qualquer coisa você grita.
- Pode deixar – deu um beijo demorado no meu rosto e eu entrei.

Ok, já falei com e ! ainda vai me zoar pela minha noite com e eu ainda tenho que falar com o próprio sobre a noite de ontem. Sério que o tinha que escolher hoje pra trair a ? Ou, bem, no caso, ontem? Droga!

e estavam encostados na porta e claramente tentavam ouvir a conversa. Não acreditei na cena que vi! estava deitado na cama só rindo olhando pros dois, eu não sabia quem eu matava primeiro. estava com uma cara branca e assustada de quem não estava gostando nada do que estava ouvindo, por outro lado, parecia gostar, porque eu nunca vi um moleque tão barraqueiro quanto .

- Sério? – Eu disse parada com as mãos na cintura, os dois se assustaram e caíram pra trás. PATÉTICOS. – Ok, quantos anos vocês tem?
- Amor, sério... – parecia eufórico. – Essa está sendo a briga mais épica que eu já vi, nem a nossa no carro foi tão boa assim.
- BOA? , nenhuma briga nunca é boa – disse chateada. – Saiam daí, agora.
- Nem pensar – falou. – Vem aqui escutar.
- Eu não vou ouvir a brigando com o .
- Vai dizer que você não está nem um pouquinho curiosa pra saber o que eles estão falando! Eu estava quase indo até a sacada pra ouvir você e o sorriu naquele estilo sapeca. – Vem, !
- Eu vou ficar com o , não estou confortável com essa situação.
- só está lá porque não tem espaço pra ele na porta – falou.
- SÉRIO? – Olhei desapontada para . – Esperava mais de você, .
- Que posso fazer? Me rendi ao lado negro da fofoca – ele riu de forma infantil.
- Veeeeem, amor, enquanto estamos aqui falando com você estou perdendo grande parte da briga.
- Ela acabou de perguntar se foi bom pra ele – falou enfiando um biscoito de chocolate na boca. – Dude, nunca faça essa pergunta, NUNCA!
- E ele? – se empolgou. Esquece aquela impressão que eu estava de que ele parecia preocupado. – Porra, que silêncio.
- Ai, que seja – fui até eles, não que eu estava curiosa... Tá eu estava. – Alguma coisa?
- Não, está gaguejando – respondeu, sentando no chão enquanto eu sentava em seu colo e ficávamos juntos com as orelhas encostadas na porta.
- Foi... Foi... começou a dizer, ah não!
- HORRÍVEL.
- PÉSSIMO.
- NADA SE COMPARA A VOCÊ.
- NUNCA MAIS QUERO FAZER ISSO.
- VOCÊ É MIL VEZES MELHOR.
- Diferente...
- NÃÃÃÃÃÃÃOOOOOO!!!!!!!!

Os meninos entraram em desespero com a resposta de , até eu entrei! Isso ia deixar em parafusos! Apertei os braços de quase enterrando minhas unhas em sua pele, eu sabia que não tinha que ouvir essa conversa, eu sabia!

- Diferente? Um BOM diferente?
- Ninguém gosta de mudanças...
- UGH! AI, EU TE MATO!
- é péssimo com respostas, péssimo.
- Lembra do que eu fiquei falando quando dormi com aquela fã em US? – comentou com esse assunto como se fosse a coisa mais simples, olhei pra ele repreendo-o. – Que foi? Já não é um assunto superado?
- Pra que trazê-lo de novo à tona?
- Ai – ele me beijou no rosto. – Enfim, como eu dizia.
- Vai continuar? – Ele tapou minha boca, filho da puta.
- Você ficou se martirizando a noite toda, falando que foi péssimo, que ela era ruim de cama e essas coisas – respondeu. Arregalei os olhos, eles iam mesmo falar disso.
- Então, cara, custava o aprender dos meus erros? Ou, se for cometê-los, dá uma justificativa melhor, pelo amor de Deus! – Ele soltou minha boca. – Pronto, amor.
- Nunca mais faça isso – dei um tapa na sua cabeça e na de .

E lá ficamos nós ouvindo a conversa de e , por um bom tempo.

- De todos os meus relacionamentos, você era o único que eu tinha esperanças de que nunca ia me magoar, . E você assim o fez, da pior maneira possível.
- Não faz isso comigo, , por favor.
- Eu... Não... Consigo – ouvi-a chorar. – Por favor, me entenda aqui.
- Como que eu vou viver sem você? – E agora chorava. – Sem seu cheiro, seu corpo, seus beijos...
- Para, PARA!
- , somos nós.
- Eu não construí um relacionamento pra você me trocar por outra na primeira oportunidade.
- Não foi na primeira... Eu NUNCA quis te trocar, , NUNCA!
- Mas assim você o fez
– ela soluçava.
- Eu não vou aguentar ficar aqui – eu disse me aninhando ao peito de . – Não acredito que eles estão terminando.
- Nem eu – me abraçou e encostou a cabeça na curva do meu pescoço. - Acabou a comida? – olhou ao redor procurando por mais algum pacote de bolacha ou alguma outra porcaria.

Estávamos no quarto a pelo menos umas cinco horas. Já tinha passado a hora do café da manhã, do almoço e se aproximava a hora do café da tarde. Às vezes acho que os meninos possuem um estômago de hobbit, porque o tempo todo eles precisam comer, e precisa ser uma refeição grande. Embora tivesse atacado a dispensa minutos antes de virmos pra cá, não trouxe comida suficiente para todos nós e, agora, todo mundo estava com fome.

- Se pedirmos pizza, será que tem como entregar pela janela? – perguntou. – Eu também tô com fome.
- E você, ? – me olhou. – Quer comer.
- Eu comeria – dei de ombros, os quatro me olharam. – Que foi?
- Você tá com fome, você quer comer ou vai comer porque todo mundo tá pedindo pra você comer? – , confuso, me perguntou.
- Vão com calma, ok – pedi baixinho. – É um longo caminho até essa paranoia sair da minha cabeça, então, calminha.
- Quantos quilos você perdeu nos últimos meses?
- Hey! – repreendeu . – Cara.
- Que foi? Queria saber.
- Nem eu sei, . Nunca me pesei, pegava minhas roupas como medidas.
- Perdeu muito?
- Quatro números das minhas calças – suspirei, agora não era um motivo de orgulho, parecia mais vergonha.
- Se você entrar nas calças do , teremos um problema – brincou e eu comecei a rir. – As calças dele são mais apertadas que Joe Jonas.
- Mentira – ele se defendeu.
- Eles estão falando de novo – nos cortou. – Baixinho demais, mas acho que agora estão acabando.
- Acabando o namoro ou acabando a conversa? – Perguntei.
- Os dois.
- Droga!
Novamente encostamos as cabeças na porta e ficamos ouvindo. só gritava com e ele estava começando a gritar de volta, a briga ficava cada vez mais séria. Eu nunca pensei que, de todos nós, e fossem um dia se separar. Levantei-me porque não estava mais conseguindo ouvir nada, as acusações de e as desculpas de (infantilmente a culpando pela traição) começaram a me fazer chorar. me encarou, mas não disse nada, apenas me seguiu com o olhar quando eu sentei-me na cama e coloquei minhas mãos em meu rosto, massageando minhas têmporas e pedindo para que eu acordasse amanhã e isso tudo não passasse de um sonho absurdo. Assustamos quando gritou COVARDE com todas as forças e foi aí que eu comecei a chorar mais. veio ao meu lado e me abraçou de forma carinhosa, passando a mão em meus cabelos e tentando me acalmar. Eu não precisava estar triste assim, na verdade eu precisava! Aquela na sala era minha melhor amiga, e ela estava terminando um namoro com o – sim, ele é – amor da vida dela. Funguei quando vi que os meninos também tinham se afastado da porta. colocou a mão em cima dos ombros de e parecia tomar fôlego... Pra quê?

You and me
(Você e eu)
We used to be together
(Costumávamos ficar juntos)
Every day together always

(Todo dua juntos, sempre)

cantou com a voz bem baixinha e rouca, só mesmo nós do quarto que conseguíamos ouvir. se levantou, assim como eu. Era como se ele estivesse nos chamando para “orar” por e , mas como não fazemos isso com frequência, o que eles sabiam fazer era cantar, e foi assim que o fez. Terminado a primeira parte, olhou pra , que entendeu o recado.

I really feel
(Eu realmente sinto)
That I'm losing my best friend
(Que estou perdendo meu melhor amigo)
I can't believe
(Eu não consigo acreditar)
This could be the end
(Que isso possa ser o fim)

encarava a porta. Ele estava em parte perdendo o melhor amigo, afinal, também fez parte da traição, mas eu sei que, no fundo, estava tão arrasado com o término de e quanto todos nós.

It looks as though you're letting go
(E parece que é como se você estivesse deixando ir)
And if it's real,
(E se isso for real)
Well I don't want to know
(Bem, eu não quero saber)

e Lous cantaram juntos e então, saiu de perto e foi pra sacada. Vi que ele estava com o nariz vermelho e se controlando para, de novo, não chorar. Sentamos-nos no chão, encarando a porta na nossa frente, como que esperando por um milagre que talvez nunca fosse acontecer. estava ao meu lado, entrelaçou seus dedos aos meus e eu encostei a cabeça em seu ombro. O clima lá fora parecia silencioso e eu pensava que: ou matou , ou matou a ou eles se acertaram, e o mais triste é saber que nenhuma das opções anteriores é a verdadeira.

Don’t speak
(Não fale)

começou e olhou pros meninos que estavam ali. Os dois, e , começaram a cantar juntos. Eu enterrei mais meu rosto no pescoço de e, como , me segurei para não chorar.

I know just what you're saying
(Eu sei o que você está dizendo)
So please stop explaining
(Então pare de se explicar)
Don't tell me 'cause it hurts
(Não me diga porque isso machuca)
Don't speak
(Não fale)
I know what you're thinking
(Eu sei o que você está pensando)
I don't need your reasons
(E eu não preciso das suas razões)
Don't tell me 'cause it hurts
(Não me diga porque isso machuca)

- Acabou, .

E isso foi a única coisa que nós ouvimos dos dois.

- Melou os planos de irmos para Brighton Beach – disse ao fundo. Todos nós olhamos pra ele, que planos eram esses? – Ah tá, vocês não se lembram que temos uma entrevista lá perto daqui dois dias e que nós iríamos pra praia depois, sério?
- Porra! – bateu na própria testa. – Me esqueci completamente disso.
- Entrevista? – perguntei.
- Falando do novo CD, da nova tour e dos planos futuros. Na verdade o Simon disse que essa entrevista vai mudar nosso fim de ano e nossa vida, poxa, como eu pude me esquecer disso? – parecia se lamentar, a coisa era séria.
- E por que “melou os planos”? – Olhei pra .
- A gente ia passar o dia na praia depois da entrevista, mas com esse clima todo, acho que não temos mais motivos pra isso – ele parecia bem triste.
- Acho que podemos ir de qualquer jeito, qual o problema? – Eu disse. – A sabe se comportar em público, ela tá doida desse jeito porque não tem ninguém vendo.
- A Lorelai vai.
- Ouch – fiz careta. – Tá, então temos que pensar em algo.
- Ela vai estar na entrevista? – perguntou.
- Vai, é parceria com a Radio One, então, como ela é o braço direito do pessoal de lá, é praticamente obrigatória a presença dela.
- A mídia sabe de vocês dois?
- Não, coçou a nuca. – E nunca vai saber, não tem mais o que saber agora.
- É...
- Gente – nos chamou a atenção. – Eu ouvi a porta da frente bater.
- Será que algum deles foi embora? – Meu coração pulou na boca. – Será que foi a ?
- Podemos abrir a porta?
- Podemos agora pedir pizza?
- !
- Tá, desculpa.

Nós abrimos a porta juntos e não vimos ninguém, estava tudo escuro do lado de fora. Então, como se fôssemos um bando de hobbits com medo de algum orc na Sociedade do Anel, fomos juntos até a sala, com medo de quem pudesse estar lá e, o pior, a condição que essa pessoa estaria.

Deparamo-nos com um deitado em posição fetal no sofá. Ele mal parecia respirar e eu tenho certeza de que ele tremia, mas era de forma involuntária. Não sei se ele estava dormindo e eu estava com medo de chegar nele e o garoto acabar gritando ou algo do tipo; bom, se era ali, deve ter ido pra algum lugar. Mas, onde?

- Deixa ele com a gente – disse batendo no ombro de , que concordou. – Sabemos como cuidar do pequeno.
- Eu não vou conseguir falar com ele agora – mantinha o rosto rígido e mal olhava para . – Desculpa, galera.
- Tudo bem, – falei passando as mãos por seus braços. – Eu vou procurar a , quer me acompanhar?
- , você não vai?
- Nem sabia que você ia procurar a – ele me olhou e riu baixo. – Quer que eu vá?
- Eu não sei o que vou encontrar ao achá-la, eu queria companhia – dei de ombros.
- Vão vocês dois, se não se importam, eu vou pra casa ficar sozinho – todos olhamos para . – Calma, galera, não vou me matar ou nada do tipo. Só quero pensar e tomar uma boa chuveirada.
- Vai pedir pizza mais tarde? – perguntou e nós rimos.
- Vou sim.
- Passo na sua casa mais tarde, mate.
- Todos passamos – riu.

Não fazia ideia de onde começar a procurar pela minha amiga, mas eu tinha certeza de que antes tinha que tirar a roupa de , não podia sair por Londres vestindo isso. Antes de mais nada, voltamos para sua casa e eu vesti uma camiseta – que era dele, mas era mais bonitinha – e uma calça jeans que uma das peguetes de havia esquecido na casa de (não me perguntem como isso aconteceu, de verdade, não faço ideia e eu não quero saber), os meus próprios sapatos e pronto. estava parado no batente da porta do seu quarto me olhando enquanto terminava de arrumar minhas coisas que estavam ali desde a noite passada. Olhei a cama e a vi bagunçada, lembrando do que tinha acontecido, e depois da música... O dia foi tão lotado que nem pudemos conversar a respeito e muito menos falar do meu “apagão” após a música que eu nunca tinha ouvido na vida.

- I’m in love with you and all your little things cantou baixo e quando eu o olhei, ele sorria. Parecia memorizar cada movimento que eu estava fazendo.
- Eu adorei a música – suspirei; – Foi demais pra mim... Digo, depois de tudo o que já tinha acontecido.
- Você, de verdade, desmaiou? – Ele riu. – Porque eu tentei te acordar depois e não consegui de jeito nenhum, mas alguma coisa me dizia pra não ficar preocupado.
- Foi como uma descarga emocional grande demais, sabe? – Fui até ele, largando a sacola com minhas coisas no chão. – Você me ama mais do que eu nunca imaginei que pudesse ser amada – sorri. – Não estou acostumada com isso.
- Acostume-se – ele me beijou de leve.
- Posso perguntar que música foi aquela?
- Se chama Little Things – ele passou a mão pelos meus cabelos. – É você em cada linha, cada palavra.
- Me identifiquei com tudo, talvez seja por isso que eu tenha desmaiado.
- , eu queria...
- – suspirei. – Sabe o que acabou de acontecer com a e o ?
- Hm.
- Promete que, se um dia nós terminarmos...
- Ah, por favor!
- Não, só me escuta – suspirei e coloquei minhas mãos ao redor do seu pescoço. – Se isso um dia acontecer, que vai ser por um motivo muito grande, gigante, imensurável! E não porque você ficou com outra pessoa ou porque eu fiquei com outra pessoa. Vai ser algo que não vamos ter forças pra lutar contra, vai ser o destino, vai ter que ser desse jeito.
- Eu não gosto de pensar que um dia vamos terminar, isso não vai acontecer.
- Nunca se sabe – dei de ombros. – Vai saber o que o universo tem planejado para nós? Eu nunca esperava ver e terminando, eles são feitos um pro outro.
- Os dois vão superar, assim como nós também vamos superar qualquer coisa para ficarmos juntos – ele juntou mais nossos corpos. – Entendeu?
- Eu gosto de pensar em todas as possibilidades.
- Só iria terminar com você se surgisse uma oportunidade de ouro em sua vida e você tivesse que escolher entre eu e sua carreira. Eu não ia suportar ver você me colocando em primeiro lugar – ele estava sério.
- Minha vida está agora em Londres, isso nunca vai acontecer.
- Gosto de pensar em todas as possibilidades – ele disse rindo, parafraseando o que eu tinha acabado de falar.
- Tá bom – suspirei. – Vamos logo, acho que a deve ter pegado o primeiro metrô e ido direto ao nosso apartamento, ela pode ser bem previsível.
- Ok – ele me beijou novamente e puxou pelas mãos. – Você ainda vai voltar pra cá hoje ou vai ficar com a ?
- Acho que preciso de um tempo sozinha com a minha amiga, . Eu tô bem preocupada com ela, não sei como ela vai reagir a esse término.
- Ok, então eu te deixo no seu apê e depois volto pra cá, tudo bem?
- Aham.
- Me liga se precisar de alguma coisa – ele abriu a porta da casa pra mim. – Não vou dormir tão cedo hoje, vamos ter que ficar de olho em e .
- Tô com tanta pena dos dois – eu disse esperando trancar a porta. – Me dá até um negócio no peito.
- Vê se não desmaia de novo, – ele disse rindo.
- Deixa de ser besta – bati em seu ombros.
- Será que depois de toda transa você vai desmaiar? – E agora ele gargalhava.
- Ha Ha Ha, babaca – respondi de um jeito infantil enquanto íamos para o carro. Hunf.

Capítulo 29
Ideia do capítulo desenvolvido por Ana Elisa Pessoa. Parabéns!

passou os outros três dias cantando todas as trilhas sonoras depressivas POSSÍVEIS! Ela assaltou meu computador e roubou minha discografia da Kelly Clarkson, a vi pegar minha escova de cabelo e cantar Behind These Hazel Eyes de novo e de novo e mais uma vez, de novo. O refrão parece que grudou em meu cérebro e eu, de vez em quando, me vejo cantando a música.

Here I am, once again
I’m torn into pieces
Can’t deny it, can’t pretend
Just thought you were the one
Broken uo, deep inside
But you won’t get to see the tears I crt
Behind these hazel eys

É, agora pensa nisso praticamente vinte e quatro horas. Se começava a tocar One Direction, ela só faltava quebrar o rádio, se eles apareciam na TV ela ia quebrar a TV, se o me ligava ela ameaçava quebrar meu celular. E como desgraça pouca é bobagem, apareceu acabado no centro de Londres, o que gerou fofocas. E as fofocas dos piores tipos, ainda mais porque ele estava com o corpo arranhado e machucado – tinha batido nele – e as fãs não gostaram nada de ver ‘o bebê delas machucado’. E quando um paparazzi perguntou se ele ainda estava namorando e sua resposta foi ‘não quero falar sobre isso’, o fandom explodiu. foi sempre a adorada pelo fandom, ela é como se fosse a Izzy do McFly – eu estou mais pra Giovanna – e agora, depois disso, passou a ser a Falcone da vez. Meu Twitter estava até calmo, dava pra contar nos dedos quantas fãs gostavam de fazer o meu dia um inferno, e geralmente eram as mesmas, aprendi a ignorá-las, ainda mais agora com sabendo de tudo e monitorando minha conta junto comigo. Agora isso com era novo e ela não sabia como contornar essa situação.

@onedirectioninfection Eu não acredito que você teve CORAGEM de terminar com meu bebê! Pensei que fosse diferente, .

@cupcakesforlife Você é igual a todas, TODAS, TODAS! PEGA SUA AMIGUINHA E PULA DE UM PENHASCO!

@irishturtles ESPERO QUE VOCÊ MORRA, DESGRAÇADA, VOCÊ ACABOU COM MEU NENÉM!

@1D_my_life está destruído e a culpa sua, vadia! MORRE, MORRE!

@AmericanDirectioners Queria que você pensasse um pouco mais nas suas ações. O fandom te ADORAVA, agora você é odiada por todos. PARABÉNS, BABACA

@xilik_lovers MORRE, MORRE! MORRE, VADIA!

Não era muito, mas era um começo. Não era sobre a , mas era para a , o que a afeta praticamente do mesmo jeito. As fãs não sabiam de nada e era sempre muito mais fácil culpar a namorada do que o ‘astro pop’, porque na cabecinha delas eles são sempre perfeitos, príncipes e não fazem nada de errado. Eles são os caras das músicas, porém eles não são sempre assim. E isso estava deixando arrasada, porque ela acreditava com todas as forças que fosse seu príncipe, o seu cara da música, o garoto perfeito. Mas ele não era, assim como tantos outros.

E amanhã, em especial, seria um dia complicado pra ela. Iríamos para Brighton Beach com os meninos – que eu saiba apenas para acompanhá-los – e a Lary estaria lá. Lary, , e no mesmo metro quadrado. Ia dar merda!

"Nothing goes to plan, it's all a game of chance they say in Wonderland, there's magic in the air, a tragic love affair that I don't understand"

Tom Fletcher cantava no som do meu computador fazendo a trilha sonora para o momento. Estava sentada no sofá com o notebook no colo, absorta em meus devaneios sem fundamento pensando em como as coisas tinham mudado. Eu estava sozinha no apartamento, já que tinha saído pra algum lugar sem me avisar pra onde, então isso me deixava com o cérebro pensando, fazendo barulho, e eu entrava em uma autoanálise de como a vida é uma caixinha de surpresas. Passava pelas fotos que eu havia tirado desde que cheguei aqui e vi tanta coisa: o jantar na casa do Tom, minhas primeiras fotos como aluna, as primeiras fotos com o , com os meninos, as minhas com , ela com - e isso me magoava -, Londres, algumas cidades que eu tinha tido o prazer de conhecer... Ainda não me superei no quesito "como ser fã de One Direction" e nem sei como foi que isso tudo aconteceu, mas como diz a letra de Ultraviolet, uma das minhas músicas favoritas do McFly, it's all a game of chance they say in Wonderland, não sei se por sorte ou azar eu encontrei o meu verdadeiro "Wonderland", mas com isso encontrei uma porrada de coisas que eu não consigo entender, tipo, porque o fato de namorar me torna alvo de bullying de todas as formas possíveis e porque as pessoas estão tão acostumadas a abominar a felicidade alheia. E não importa quem você seja, o alvo agora é a , mas qual o propósito em se acabar com a felicidade das pessoas? Isso te faz uma pessoa melhor? Faz você se sentir bem?

Complicações me irritam e eu não estou disposta a perder um dia de sol como o que está fazendo hoje, qualquer pessoa com um mínimo de senso sabe que existe um breve abismo entre Sol e Londres e eu realmente acho que a minha vida no momento está mais do que maravilhosa, aliás, acho que ainda não existe uma palavra que defina bem a minha vida. Então, me levantei e fui procurar algo para vestir, eu sabia que não demoraria muito para a me ligar pra que a gente combinasse algo, então já queria estar pronta. Coloquei um shorts, meu par preferido de All Star, uma camiseta e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo meio solto. Conforme eu já previa, ouvi meu celular vibrar. Andei em direção a ele, ciente de que seria uma mensagem da me chamando pra sair, mas não era. Quer dizer, mais ou menos.

", só pra te deixar informada, nós vamos para Brighton hoje, você deve saber da praia maravilhosa que tem lá. Antes que você conteste, a já está na van com a gente, o Paul vai nos levar, mas como não cabe todo mundo aqui e só falta você, o deve passar aí na sua casa a qualquer momento pra te levar no carro dele. Te vejo logo. Beijos. xx"

A estava na van COM OS MENINOS? DESDE QUANDO? Pensei que ficar no mesmo quadrilátero que fosse causar uma quarta guerra mundial – porque a terceira foi no dia em que eles terminaram – e agora ela está na van com eles? Será que ele está lá? Ou que eles estão sendo maduros suficientes para se comportarem como pessoas civilizadas e não brigarem na companhia um do outro? Porra, ela podia ter sido um pouco mais legal e me avisado que estava com os meninos, pensei que fôssemos todos juntos. Que saco! Enfim, pensando sobre a praia... Há apenas alguns grupos de pessoas que podem me ver de biquíni: minha família, e . Eu sabia que nós íamos para a praia – e que fique sendo segredo que eu não comi direito nos últimos dias porque eu, bom, o de sempre – mas agora nós vamos pra praia com a banda toda, os meninos nunca me viram assim, e, se depender de mim nem vão ver! Será que seria muito estranho se eu fosse de All Star pra praia? Até que não, ouvi dizer que na Brighton Beach, não existe areia, e sim, pedras. Então, suponho que algumas pessoas devem ir de tênis normalmente. Mas o fato de ir ou não de tênis não é o meu verdadeiro problema. Eu não quero que as pessoas fiquem olhando pra mim e pro meu corpo. Aposto que as inglesas devem ficar perfeitas de biquíni. Mas eu não sou uma inglesa, só sou uma brasileira com sorte.

Abri meu guarda roupa, em algum lugar ali devia existir algum biquíni. Eu nem me lembro da última vez que usei um, quase tirei todas as roupas e coloquei pra fora e não achei NENHUMA roupa que possa se assemelhar a um biquíni. Perfeito. O lado bom é que eu não teria que me esforçar muito pra dar uma desculpa melhor pra não colocar roupa de banho quando a gente já estivesse na praia, e nem vou ser obrigada a nadar. Não estou a fim de pagar nenhum mico hoje. O que posso inventar pros meninos pra falar que não vou poder nadar? Porque eles VÃO perguntar isso pra mim, pelo menos o vai. Olhei no relógio... Tenho pouco tempo pra pensar em alguma desculpa boa. Ultraviolet ainda estava tocando no meu computador. Eu e minha mania de colocar músicas que eu gosto no replay e esquecer da vida depois. Já devia ser a quarta ou quinta vez que ela reprisava, estava justamente tocando o meu trecho preferido da música.

"She's looking good tonight I love the way she glows in ultraviolet light. Intoxicate my mind. I know that love is blind and I'm not seeing right. I'm not alright."

Tudo bem. Talvez, repito, talvez depois de ouvir Tom “cantar isso pra mim” eu poderia até pensar em arranjar alguma roupa de banho e usar na frente de todo mundo. Pelo menos um maiô, posso mesmo pensar na ideia. Desliguei o notebook. Ouvi ao longe o som de uma buzina, deve ser o , pensei. Aproximei-me da janela e o vi, ele estava lindo de óculos de sol sorrindo e acenando pra mim. Decidi que iria pra praia do jeito que eu estava mesmo, qualquer coisa eu comprava algum biquíni em uma daquelas feirinhas que existem, pelo menos no Brasil sempre tem. Só peguei minha bolsa e joguei nela meu protetor solar, chinelo, celular, chaves e minha carteira. Enquanto descia as escadas, algumas pessoas me cumprimentavam, algumas garotas ficavam cochichando coisas maldosas e pude ouvir algumas se perguntando onde a namorada de estava indo. Respirei fundo e caminhei até o carro dele. Hoje você não vai se irritar, , hoje você não vai se irritar, repeti pra mim mesma mentalmente. Abri a porta do carro e meus problemas sumiram.

- Oi, lindo. – Eu disse me sentando no banco do passageiro, ao lado de , que me cumprimentou com um selinho.
- Voltamos com os apelidos carinhosos? – Ele disse.
- Tá, acabou o momento ternurinha – arrumei meu cabelo e comecei a mexer na minha bolsa. Ele revirou os olhos e ignorou o meu comentário
–Tem certeza de que tem toalha e biquíni nessa sua bolsa? – Ele perguntou. - Porque se você vier com graça dizendo que se acha horrorosa e que não vai nadar hoje, eu vou ficar muito bravo.

Droga, minha toalha. Eu sabia que estava esquecendo alguma coisa. A parte do biquíni eu daria um jeito mais tarde, mas a toalha não. ainda olhava pra mim, esperando pra dar a partida no carro, esperando por uma resposta para o comentário ‘você vai nadar hoje’. Fiquei tão ocupada arrumando a bolsa e o apartamento que não pensei em nada inteligente, e agora, de novo, estou naqueles momentos de pânico. E me encarando, pânico... Tô com praticamente uma dor de barriga de nervoso. Isso dor de barriga, dor... CÓLICA!

- Não posso mesmo nadar hoje, – eu disse gesticulando para que ele continuasse me ouvindo, ele já estava até abrindo a boca pra retrucar algo. – Eu estou naqueles dias e não posso nadar, sério, seria a coisa mais nojenta de todas se eu fizesse isso – menti lindamente. Ele pareceu me observar um pouco procurando sinais que eu estava mentindo. Fiz o meu melhor pra parecer que estava mesmo falando sério.
- Promete pra mim que é verdade? – Ele perguntou ainda com ar de desconfiado.
- E-e-eu prometo.
- Então tudo bem.

Ele deu partida no carro e nós ficamos algum tempo em silêncio.

- Você já esteve em Brighton? – Ele perguntou, concentrado no trânsito.
- Não, mas já ouvi falar. A sempre me fala muito sobre Brighton Beach, estou muito curiosa para conhecer. Fica a quantas horas de Londres? – Perguntei
- Umas duas horas – ele respondeu. – Nós, britânicos, apreciamos muito Brighton. Principalmente quem mora em Londres, como nós, porque é bem perto e não é uma cidade tão tumultuada como aqui, é bem tranquilo até.
- É verdade a parte que não existe areia lá? Sempre fiquei em dúvida quanto a isso –perguntei.
- Sim, é verdade. No lugar de areia, há pedras – ele riu. – Acho que você vai gostar de lá. O te lembrou da entrevista no recado que ele mandou, não é?
- Na verdade não, acho que ele está mais empolgado com a praia – eu ri.
- Bem, nós temos essa entrevista marcada. A imprensa de lá já faz algum tempo que está atrás de nós. Parece que tem a ver com alguma revista adolescente de lá cujo nome me fugiu da memória agora – ele respondeu. – E também com o lance que o Simon disse pra nós uns tempos atrás, coisa que eu também sei do que se trata, vai ser uma surpresa – riu sozinho. Era sobre a banda, o futuro dele, e ele não sabia o que era; me mata de orgulho! - Lorelai irá nos acompanhar, para representar a Radio 1, não sei exatamente o que tem a ver uma coisa com a outra, mas parece que essa revista é tipo uma “filial” da rádio. Eu sei que você deve estar se perguntando o que uma revista e rádio têm em comum, nem pergunte pra mim, porque eu sou a pessoa menos informada no momento – ele riu
- , que você é desinformado, isso está bem óbvio – sorri e ele me olhou com a língua de fora fazendo careta. - Com quem a Lary está indo? – Perguntei.
- Acho que ela já está lá. Ela foi no próprio carro porque precisa voltar mais cedo.
- Ah, sim. Você sabe se o foi com ela? – Perguntei meio curiosa, preocupada, tudo junto.
- Isso eu já não sei, a Lary falou mais comigo e com o do que com o ou outro dos meninos – ele suspirou. – Ah, e como eu estava esquecendo?! Ela disse algo sobre levar a câmera dela pra você tirar as fotos da revista e...
- O QUÊ?

O QUÊ?

- Que fotos? – gargalhou. – Não estávamos falando do seu trabalho até cinco minutos atrás? Que história é essa de fotos? Como assim?
- Não é nada demais, sua atacada idiota – ele ria, eu bufava! ODEIO fazer as coisas em cima da hora. - É que, você sabe, você tem um namorado incrível que às vezes consegue essas coisas e, enfim – ele olhou pra mim e deu uma piscadinha.
- , eu nem sei com que câmera nós vamos trabalhar, eu não sei lidar assim sob pressão e fazer uma coisa em cima da hora!
- Você é a número um no que faz, será que tem como se dar um pouco de crédito uma vez na vida? Eu fiz isso porque sei que você vai se sair bem, então se quiser falar ‘obrigada, , eu te amo, , você é o melhor namorado do mundo, eu ia ficar muito mais feliz – ele imitou minha voz de um jeito ridículo que foi impossível ficar brava ou irritadinha com ele.
- Hm, ? – Perguntei tentando parecer mais contida em minha insegurança e deixando o lado ‘amo fotografia’ falar mais alto. – Você sabe se a tal câmera é a mesma que usamos pra fazer as fotos na rádio?
- Deve ser, por quê?
- Sou apaixonada por ela –eu disse com uma expressão sonhadora. – E se eu ainda não te disse que você é o melhor namorado do mundo, isso foi até hoje: você é o melhor namorado do mundo! – Eu disse sorrindo mais do que qualquer outra coisa.
- Assim é bem melhor – ele sorriu de lado e nesses momentos eu via que nas pequenas coisas, era perfeito.
- Te amo.
- Não me faça querer parar o carro pra te beijar, dona , não faça isso – ele respondeu e nós dois sorrimos.

Fomos o restante do caminho conversando sobre coisas alheias até chegarmos à Brighton. No caminho ouvi quatro músicas que estariam no novo CD, além de Little Things que eu tive um apresentação especial. I would foi escrita pelo McFly, e essa foi a primeira que colocou pra eu ouvir. Digo que ela parece uma versão boyband de Obviously, mas foi impossível não tirar uma com a cara de quando eu ouvi ‘I walk alone in the rain’, comecei a gargalhar igual uma doida. One Direction são um bando de mauricinhos, desde quando eles iam caminhar na chuva? Capaz de ter um jato esperando por eles para levá-los até a esquina, os losers sempre foram o McFly, One Direction não combina com isso. E eu disse isso pro , que começou a gargalhar, eu sabia que estava certa. EU ESTAVA DENTRO DE UMA MERCEDES, óbvio que eu estava certa sobre serem ‘mauricinhos’. Também ouvi o primeiro single Live While We’re Young e eu ADOREI com todas as minhas forças, ela é toda perfeita e tem tudo a ver com eles e com a vibe do fandom, vai fazer sucesso nas festinhas. Bom, depois teve Over Again que eu pedi pra parar no meio porque não estava com cabeça pra ouvir esse tipo de música, e ele concordou, e a última foi Magic. Magic é magia pura, fofa do começo ao fim. Ele ficou tagarelando o tempo todo sobre a escolha das músicas pro CD, como foi trabalhar com um outro time diferente do Up All Night. A empolgação dele me contagiava, a música era sua paixão, sua vida, e essa felicidade genuína só me fazia ficar mais doidinha por ele. Eu entendia que parte de sua vida era a música, assim como ele entendia que parte da minha era fotografia.

- Então, Brighton-, -Brighton – ele esticou seu braço fazendo uma reverência como nos filmes enquanto descia do carro.
- Estou lisonjeada –respondi. – E cadê todo mundo?
- Logo ali – ele apontou para a van estacionando, quase tive um colapso ao constatar que realmente tinha vindo com a Lary, pois eles estavam juntos um pouco atrás da van de Paul.
também estava ali, abraçada com e fofocando com . encontrava-se em um canto da van falando com Paul e mal olhando para os cantos, as coisas estavam estranhas e eu não gostava disso. Fui caminhando de mãos dadas com até eles e, quando nos viu, largou e veio correndo até nós, empurrando de lado e me abraçando. Super delicada, bem o jeitinho de ser.

- , me ligou hoje de manhã e ele mandou eu não avisar nada porque era pra você vir com o pra vocês terem esse momento ternurinha e... – ela parou de falar um pouco e respirou. – Desculpa, amiga.
- Tá tudo bem – retribuí o abraço.
- Foi o quem planejou isso tudo. Ele tentou, de todas as formas, conseguir fazer com que você ficasse responsável pelas fotos, e, claro, conseguiu. Parece que eles te encaixaram como estagiária ou algo assim – disse.
- Mas eles já não tinham essa entrevista marcada?
- Sim, mas ir pra praia e ter você como fotógrafa do dia foi um bônus – ela sorriu. – É tanto amor vocês dois que acho que vou vomitar.
- Ah, você é tão meiga – eu ri. – Escuta, e como que...
- Não sei, não falei com ele e nem com a Lorelai desde que chegamos. até que está falando com ela, afinal ela que vai ficar cuidando dos meninos hoje. Já cuidou do uma vez, acho que não vai ser problema, né?
- ...
- Calma, sou muito superior a isso tudo. E eu amo vocês e amo One Direction e eu ainda amo o – ela sorriu triste e eu quis abraçá-la. – Só é uma sensação estranha, sabe?
- E como você está com as fãs? Você viu o que elas estão falando, não viu?
- Claro que sim – ela jogou os longos cabelos pra trás. – Bate e volta, , bate e volta.
- Não se faça de forte o tempo todo, .
- Não é ser forte, é só ter plena certeza de que o que elas estão falando é mentira, inveja e tudo isso mais os outros pecados capitais – ela riu. – Se preocupa não, eu to de boa.
- Aquela vibe Kelly Clarkson já acabou? – Comecei a rir.
- Já – ela mostrou a língua.
- Hey babe, vamos logo ou iremos nos atrasar. – , que tinha saído do meu lado e eu nem tinha percebido, chegou atrás de , a abraçando.
- sendo fofo comigo, aahhhh – ela riu segurando nos braços dele, enquanto dava um beijo em seu rosto. – , quando não quiser mais.
- Há, vai começar essa conversa de mudar de parceiros de novo? – Eu ri. – Chega desse amor, não acham?
- ciumenta – riu. – Adoro essa .
- Cala a boca – dei um tapa em sua testa enquanto ia caminhando na direção da van, e atrás de mim abraçados.

O lugar em que seria realizada a entrevista não era muito longe de onde estávamos, por isso fomos a pé mesmo. Várias vezes fomos interrompidos por fãs desesperadas querendo uma foto com os meninos. Eles, todas às vezes, eram educados e sorriam como se tivessem todo o tempo do mundo para aquilo. Eu só me perguntava de onde vinha tanta paciência. Mas, mesmo assim, chegamos rápido ao local. Parecia um grande estúdio, entramos lá e várias pessoas vieram nos cumprimentar. Acho que nunca vou me acostumar com a educação desses ingleses, sério. Uma moça gentil nos acompanhou até uma sala, lá havia três enormes sofás. Os meninos se sentaram em um; eu, e Lary em outro, juntamente com o Paul. E, enfim, os entrevistadores ficaram no outro sofá, que ficava bem de frente com o dos meninos.
As perguntas não eram muito diferentes do que costumavam perguntar em qualquer revista comum de adolescente. Eram coisas típicas como “qual é a sensação de estar em uma boyband?”, “qual é a melhor e a pior parte de ser famoso?”, “já ficaram com uma fã?” e por aí vai. Acho que a única pessoa ali que estava prestando atenção na entrevista era a . Ela estava com o cotovelo nos joelhos e o rosto apoiado na palma das mãos. O resto estava ali a trabalho.

Lorelai me entregou a câmera quando foi o momento do meu trabalho começar. Ela veio com uma caixinha, meio sem graça e quase sem me olhar nos olhos, resolvi apelar pro meu lado profissional.

- Lary, pode olhar pra mim se você quiser, eu não mordo.
- Sei disso, só estou sem graça de estar novamente trabalhando com vocês.
- O não está falando com você? Então, se ele está falando com você, quem sou eu pra te ignorar?
- O clima entre os meninos não está bom, fica toda hora fazendo piadinha com o , piadinha sem graça.
- E o que você esperava?
- Na verdade, eu esperava isso – ela suspirou. – Aqui está seu material, infelizmente não é a mesma que você usou na Rádio, mas é tão boa quanto.
- Qual o modelo? – Perguntei abrindo a caixa e dando uma olhada. Não era tão diferente, mas vi que era uma SEMI profissional. Não curti. – Tem flash? O ambiente está escuro demais.
- Deve ter, eu não entendendo dessa parte técnica, – ela riu. – Vou deixar você arrumar as coisas.
- Ok, obrigada – suspirei. E lá vamos nós...

- Sim, nós já começamos a gravação do novo CD, hoje mesmo eu mostrei pra minha namorada algumas músicas – disse sorrindo pra mim enquanto eu batia uma foto exatamente daquele momento.
- E sua namorada seria essa garota adorável que está nos serpenteando com a câmera? – O jornalista whoever perguntou, dessa vez eu nem fiquei sem graça.
- Essa mesma – confirmou.
- Já que estamos falando de namoradas, mais alguém namora?

Ô pergunta cretina em um momento inapropriado.

- Vamos dizer que, não estamos sozinhos – respondeu pelo grupo. – Mas o único oficial é o , aqui – ele deu um tapa nas costas do amigo. Acho que todo mundo pensou a mesma coisa nesse momento: UFA!
- Vocês acham que o seria o primeiro a se casar da banda? Já que é o único com uma namorada oficial? – Mas, HEIN?
- Casar? – Eu falei baixinho focando a cara de espanto do com a pergunta, logo em seguida tirando uma foto dos outros quatro com as mãos na boca escondendo o riso.
- Bom... – coçou a nuca, olhou pra mim, olhou pro grupo. – Tá meio cedo, né?
- É só uma suposição – novamente, o jornalista disse. – Mas, vamos mudar de assunto.

Encarei que estava roxa querendo rir e tirei, de propósito, uma foto dela. Óbvio que ela não gostou e mandou eu apagar, mas nem a pau! Respirei fundo e continuei o trabalho; mas essa câmera semi estava me irritando ao máximo. Saudades da câmera da SugarScape, da Rádio One, da minha própria câmera.
A entrevista durou mais ou menos umas duas horas, depois nós tivemos que sair porque eles iam tratar daquele tal assunto importante que o Simon tinha falado que ia mudar a vida deles pra sempre. Eu de verdade não sei como eles aguentam isso, o tempo todo as mesmas perguntas, pessoas planejando sua vida para os próximos três, cinco anos, tudo o que você faz tem hora, lugar... Eu ia entrar em parafusos! Lembro-me de ver chegar cansado, mal conseguindo falar e simplesmente se jogando no sofá ou qualquer coisa que ele visse pela frente. Quando ele ficava assim, dormia em qualquer lugar, e eu morria de pena.

- Dando uma olhada na hora, acho que nem vamos conseguir ir pra praia – a entrevista chegava ao fim e eu arrumava a câmera para entregar novamente para Lorelai. – Até que eu estava empolgada.
- Como assim, ? Nós ainda vamos á praia. Só que não exatamente na Brighton Beach, nós vamos ao Brighton Píer, o principal ponto turístico da cidade.
- Seis horas da tarde, ? – Perguntei confusa.
- É, ué. Ou você não sabe que o lugar com o pôr-do-sol mais incrível do mundo fica no Brighton Píer? – Ela perguntou como se fosse algo super óbvio. - E, acho bem provável que você não conheça, mas lá mesmo, no Brighton Píer, fica o Honey Club, uma das maiores e melhores boates da Inglaterra. É sério, você é a única de nós que nunca esteve lá, e eu garanto: vai amar. É incrível. – disse animadamente.

Isso só me fazia lembrar que a minha vida social no Brasil era praticamente nula, não me lembro de alguma vez ter ido em alguma boate. Talvez festinhas de aniversário que alguém contratava um DJ conte. Acho que comecei a viver desde que me mudei pra Londres, mas minhas experiências em boate são praticamente nulas; além de dançar, o que mais se faz numa boate?

- E que horas nós vamos embora?
- Cinco.
- Mas já passou da cinco – eu disse confirmando no meu relógio de pulso.
- , cinco horas da manhã de AMANHÃ. Não hoje – ela disse.
- Mas onde nós vamos dormir? Eu não trouxe pijama nem nada, e por que vocês não me avisaram? – Perguntei um pouco irritada, o que custava terem me avisado, poxa?
- Ops, eu acho que me esqueci desse “pequeno grande” detalhe – disse , chegando perto de nós.
- , eu vou te matar – comecei a distribuir tapas no braço dele, em vão, porque ele logo começou a fazer cócegas na minha barriga.
- , essa já tem dono, arruma uma namorada pra você logo – disse, de brincadeira me abraçando. – E aí, como foi o trabalho?
- Tirando a pergunta sem noção de casamento, foi bacana – sorri e dei um selinho nele. – Já estão indo pra van ou carro ou sei lá como vamos embora daqui?
- Aham – olhou em volta e viu que os meninos estavam já preparados.
- Me dá dois minutos então porque preciso entregar a câmera pra Lorelai.
- Posso ir junto? – perguntou.
- Mas claro... QUE NÃO! – Falei na hora. – Sei bem quais são suas intenções.
- Não vou bater nela em público, sei me controlar.
- Nós vimos o seu autocontrole com o , disse e ela fez careta. – Que foi? O menino tá cheio de roxo no corpo e a culpa é sua.
- Pra aprender a deixar o pinto só numa casinha, no caso, na minha casinha.
- Ah, tá, tá! – Cortei o assunto quando e começaram a gargalhar. – Vão indo, daqui a pouco alcanço vocês.

Dei um beijo em e saí procurando Lary. Para minha surpresa, ela conversava com e de uma forma civilizada. Olhei-a de longe e detestei a roupa que eu estava usando... Lary era o tipo ‘executiva foda’, então, sempre com o cabelo arrumado, salto alto, maquiagem na medida certa. Hoje ela estava com um visual um pouco mais rockstar, olhos bem negros, cabelos lisos e com a franja caindo sobre os olhos, blusinha preta colada e calça escura jeans. Bota de cano alto por fora e um salto agulha de uns sessenta centímetros – não eram sessenta, eu sei. mal conseguia encará-la, e ela parecia sentir uma dor física por estar conversando com ele. Dava bem na cara que os dois se gostavam e que ela estava arrependida pelo que fez, nunca vou entender o motivo que pode ter levado ela e a transarem, não entra na minha cabeça.

- Oi gente – cheguei e senti que os dois respiraram aliviados. – Lary, a câmera fica com você ou comigo? Eu vou precisar editar as fotos depois.
- Fica comigo, eu te mando por e-mail, pode ser?
- Sem problema – sorri. – , os meninos já estão indo.
- Eu sei, , só preciso terminar um assunto com a Lorelai.
- Ah, claro – fiquei sem graça. – Até mais tarde.
- Hey, – Lary me chamou. – Antes de você ir, você viu que suas fotos foram publicadas no site do McFly?
- JURA? – Eu não sabia. Depois do show eu nem tive tempo de ver nada, pra ser sincera.
- Leishman e o David me telefonaram, as fotos ficaram excelentes. Te desejaram uma boa semana em Paris e querem conversar com você na volta.
- Porraaa!!! – Soltei sem querer e os dois riram, fazia tempo que não via rir desse jeito. – Desculpem.
- Comemora sua conquista, falou me abraçando de lado – Ainda falta você na nossa tour, você vai como fotógrafa.
- Comentei disso com o depois do show do McFly, eu quero muito fotografar vocês, muito mesmo.
- Então fechou – ele beijou meus cabelos e me abraçou mais forte. Continuo com o pensamento de que ele e Lary foram feitos um pro outro, mas se fosse o chegando em mim no London Eye no lugar do , eu pegava FÁCIL.

Afastando esse pensamento, já que eu tenho um namorado e chega de dramas entre os meninos da banda, me dirigi pra fora de onde estávamos e fui me encontrar com o resto do pessoal. Como já era de se imaginar, estava a uma boa distância de enquanto ela conversava com ; me esperava perto do carro dele já com a porta aberta e rodando a chave do carro entre os dedos. Não sei se ia para praia com a gente ou se ia ficar com Lary, mas sabendo que os dois estavam juntos já era um bom sinal, bons ventos chegavam e a harmonia apareceria de novo. Agora eu só torcia pra tudo ficar bem com meu outro casal favorito.

- ?
- Sim?
- Obrigada por esse dia. Está sendo incrível. Numa escala de zero ao jantar na casa de Tom fucking Fletcher, eu daria nota oito. E acredite em mim: isso é bastante – disse.
- Você sabe que eu sou capaz de fazer qualquer coisa pra te ver sorrir, eu sei que isso soa meio clichê, mas você é muito especial pra mim . Muito mesmo – ele olhou pra mim, sem sorrir, apenas focalizando nos meus olhos.
- Tô superando isso de aceitar você falando coisas bonitinhas pra mim.
- E quando você vai começar a falar coisas fofinhas pra mim?
- Supera, , supera essa – eu ri fazendo carinho no seu cabelo enquanto ele dirigia.

Chegamos bem a tempo do pôr do sol no píer. Era mesmo uma das coisas mais lindas que eu já tinha visto na vida. O lugar era todo iluminado, parecia cenário de filme de romance. , e se preocupavam em brincar perto do mar e pareciam três crianças alegres, ao meu redor haviam vários casais abraçados e se beijando, estava sentado ao fundo vendo o pessoa junto e eu podia ver claramente seu olhar pousando em o tempo todo. Ainda mais porque ela estava começando a ficar molhada e mais cedo ou mais tarde ia acabar tirando a camiseta, ia morrer, eu tenho certeza. apareceu uns cinco minutos mais tarde sem Lary e foi logo passando reto por e indo até os outros. Novamente meu coração ficou pequeno, não sei se estava merecendo esse tratamento, sendo que passou boa parte da tarde conversando com Lorelai, se bem que não sei o que os dois ficaram conversando.

- Não é lindo? – Senti me abraçar por trás enquanto eu via sentado sozinho. - Estou com muita dó do , muita – eu disse juntando meu corpo mais com o de . – Não sei se ele merece esse tipo de tratamento.
- O tá pensando em mil jeitos de ir falar com ele, acredite. Desde aquele dia que ele foi embora, acho que ele não dormiu e nem comeu, está muito chateado, mas ao mesmo tempo está querendo voltar às boas com . Somos muito amigos, ficar com esse clima é bem estranho.
- Eu imagino – virei-me pra ele. – Não briga com o se um dia eu te trair com ele.
- O quê? – Ele riu enquanto me abraçava mais pela cintura. – Tá pensando em me trair com o , é isso?
- Pelo menos eu estou te relatando, caso eu te traia um dia, será com .
- Não é nada reconfortante – ele falou encostando o nariz no meu e apertando minha cintura, enquanto eu sentia cócegas na minha barriga, mas eu sei que era psicológico.
- Se você fizer por merecer e for um namorado bonzinho, não tem porque eu procurar consolo em outras pessoas – eu ri mordendo de leve seu lábio inferior, o vi fechar os olhos e depois abri-los de uma forma sonolenta e sexy.
- Posso te roubar por uma hora? Tem o carro...
- Eu não vou transar com você no carro – comecei a rir. – De jeito nenhum.
- Daqui uns dias você está indo pra Paris e eu vou ficar um bom tempo sem você, como vou satisfazer meus desejos sexuais?
- .
- ? – Ele começou a rir.
- Brincadeirinha, brincadeirinha – o puxei pra mim e o beijei daquele nosso jeito.

Nós ficamos abraçados nos beijando por um tempo. Eu nunca me enjoava dos beijos de , acho que nunca na minha vida tinha sentido algo semelhante ao que ele me fazia sentir. Ele era muito melhor que qualquer expectativa, que qualquer sonho. Eu sei que devia dizer isso com mais frequência pra ele, sou muito contida nos meus relacionamentos, na verdade no meu relacionamento com ele. Parei o beijo para respirar e me dei conta de que a praia estava vazia, apenas com casais perdidos e nosso pessoal brincando na água. Me toquei que nenhuma fã chegou para conversar com os meninos e nem nenhum fotógrafo apareceu, essa praia era tão deserta assim? Pensando que alguma fã podia de repente pular de trás de um arbusto e me matar ou vai saber o que elas podiam fazer, resolvi perguntar pra onde elas podiam estar pra eu me preparar fisicamente caso alguma aparecesse.
- Nenhuma fã veio pra cá? – Perguntei.
- A cidade é pequena, todas as fãs já nos abraçaram quando estávamos indo para a entrevista e quando saímos de lá. Não sei se acho isso bom ou ruim, mas não temos tantas fãs assim enlouquecidas por nós por aqui – ele sorriu. – O bom é que agora você terá minha total atenção e eu só abraçarei você o resto da noite.
- Uau, total atenção de ! O que será que eu fiz pra merecer isso?
- Nasceu – ele riu. – Vem, vamos dar um mergulho.
- , nem pensar! – Avisei. – Esqueceu que eu estou... Sabe?
- Ah, claro – ele suspirou. – Bom, eu vou pro mar, você vai ficar onde?
- Sentar com o , estou com muita dó dele.
- Vai lá – ele me beijou. – Se mudar de ideia, estou com o pessoal ali – arrancou a camisa e foi correndo pro mar.

Queria que fosse fácil pra mim assim, apenas tirar a camisa e ficar ainda mais linda. Por mais que eu estivesse trabalhando meu cérebro pra parar de pensar essas coisas, tanto tempo pensando nisso não é assim de uma hora pra outra que passa. Levantei por duas vezes minha camiseta querendo tirá-la, mas parei na metade do caminho. Suspirei e quase tive vontade de começar a chorar, era uma coisa idiota, por que tinha que me incomodar tanto? Eu não sou gorda, não estou gorda... Olhei pros lados e vi me encarando e sorrindo. Ele tirou a camiseta também e veio na minha direção, caminhando com a camiseta jogada por cima dos ombros. Sorri nervosa e segurei a barra da minha camiseta pra baixo.

- Vai ficar aí? Parada e com roupa?
- .
- Faz o seguinte, só tira a camiseta por cinco segundos, se de verdade você se sentir mal eu mesmo te dou a minha camiseta, caso contrário você ficará sem a camiseta.
- , eu estou sem biquíni por baixo – falei sem graça. – Não deu tempo de procurar nada, então eu só estou de sutiã.
- E só tem seus amigos aqui, qual o problema?
- Tenho vergonha de vocês – suspirei. – Muita!
- Hey – ele me abraçou de um jeitinho tão gostoso. – Faz isso por você e por nós, , por favor.
- Não é tão fácil assim – suspirei e o abracei mais.
- Você é linda – ele sorriu quando separou o abraço. – E você não é linda no óbvio, é muito mais que isso, e precisa acreditar nessa beleza. Eu não digo que é chato, mas de vez em quando cansa você ficar com essa insegurança toda sendo que a imagem que você acha que vê no espelho não é a que nós vemos.
- Sei que cansa, me cansa – fiz careta. – Eu não gosto de ser assim, acredite.
- Então para de ser assim, tá, você vai falar que é complicado, mas nós estamos aqui pra te ajudar. Mas, pra isso, você precisa acreditar na nossa ajuda.
- U-hum.
- Combinado? – Ele riu e fez um high five comigo. – Acabar com essas inseguranças, fechado?
- Fechado – eu ri e o abracei de novo. – Obrigada, .

Nós dois ficamos lá sentados vendo o pessoal se divertir no mar. já estava todo molhado junto com os meninos, e veio correndo até nós com roupa, nem se importou quando viu ali comigo, na verdade eu percebi que ela até gostou de encará-lo pela primeira vez no dia. Ela ali com o corpo molhado, as bochechas vermelhas e a boca meio roxa – estava frio, eu tenho certeza de que a água devia estar congelando – deixava mais doido. Ele começou a se mexer e cutucar a unha, impaciente. percebeu e começou a rir, fazendo mais graça.

- Eim , vai ficar aí mesmo? – perguntou soltando o cabelo que estava preso em um rabo de cavalo e tirando a blusa. parou de respirar ao meu lado, disso eu tenho certeza. Pra provocar um pouco mais, ela colocou as mãos na cintura e ficou ali mexendo o corpo e os cabelos, eu queria rir do sofrimento de , mas seria sacanagem demais. – A água não está tão gelada assim.
- , sua boca tá roxa! – Eu ri. – Como assim “não está tão gelada assim”?
- Eu sempre fico com a boca roxa quando estou nadando.
- Nem sempre – disse ao meu lado e nós duas olhamos pra ele. – Digo, no dia em que nadamos em casa você não ficou... Roxa.
- Isso porque eu não parava de te beijar, então não deu tempo – ela suspirou e virou o rosto pro outro lado.
- Escuta, você fica aqui com o – levantei-me e fui em direção a – que eu vou lá pra frente com os meninos, combinado?
- Eu não quero...
- MAS VOCÊ VAI! – Empurrei para o lugar onde eu estava sentada. – E dessa vez sem bater e sem brigar, simplesmente conversem!
- Não tenho nada pra conversar com ele.
- Mas eu ainda tenho pra falar com você – finalmente falou.
- Viu? – Eu sorri. – Ele tem coisas pra falar, então cala a boca e escuta.

Saí deixando com uma bela cara de bosta e com um sorriso de lado, podia ouvir seus pensamentos falando ‘obrigado’ pra mim. Os dois se adoram, não gosto de ver gente que se gosta separado. Tá que o foi um babaca e que ele mereceu tudo o que a fez, mas acho que tá bom... Não, eu sei que não tá bom. Que fiquem civilizados, pelo menos.

- Resolveu entrar? – me disse quando eu cheguei perto dele e de , que acabavam de sair da água.
- Nem pensar – sorri. – Deixei o casal conversando, alguma coisa boa tem que acontecer com esses dois.
- Cupido – riu. – Já não basta cuidar da sua própria vida amorosa, tem que cuidar das dos amigos também?
- Minha vida amorosa, que eu saiba, está tranquila. Ou está acontecendo alguma coisa que eu deveria saber?
- Bom, agora não está acontecendo nada – ele mordeu os lábios e olhou por cima dos meus ombros. – Mas vai acontecer já, já.
- ? – Mas eu nem consegui falar nada, só senti duas pessoas me pegando pela lateral do meu corpo e me levando pro mar. Eram e . – O QUÊ? – E CABUM, eu estava na água.
- Desculpa, amor – surgiu ao meu lado no mar, sacudindo os cabelos e rindo da minha cara de assustada. - Mas eu vou me sentir culpado pro resto dos meus dias se não fizer isso. E, me desculpe outra vez, mas eu não acreditei nem um pouco nessa sua história de “naqueles dias”, e se você tiver falado sério mesmo, me desculpe pela terceira vez – ele me segurou pela cintura e me empurrou para um mergulho, caindo junto comigo.
- ODEIO VOCÊ! – Eu disse me soltando dele e correndo pra fora. – EU ODEIO TODOS VOCÊS! – E dessa vez apontei para , e , que estavam do lado de fora rindo da minha cara. – Eu só tenho essa roupa, seus retardados, como vou fazer pra ir embora agora?
Eu só pensava que eu não tinha outra roupa pra colocar, eu estava DE TÊNIS no mar, a água estava congelando e ainda bem que eu não estou mesmo naqueles dias, senão o estrago seria FEIO.

- , você não fez isso – em vão comecei a correr atrás dele pela areia, mas ele era mais rápido, e, com toda essa roupa pesada, eu praticamente ficava no mesmo lugar. – Se eu ficar gripada a culpa é sua! E nós ainda íamos naquela boate, como vou na boate molhada?
- Eu não quero ir na boate – ele riu voltando a fazer cócegas em mim. – E você não entra na boate com essa roupa, e nem eu trouxe outra roupa, amor.
- Ótimo, vamos ficar assim até amanhã. Perfeito!
- Pra isso que vamos ficar na praia, resmungona – apareceu me abraçando por trás. – Vamos fazer um luau, fogueira, cerveja, e trouxemos uns cobertores na van, ninguém vai passar frio.
- Ah, menos mal – eu disse aliviada bagunçando o cabelo molhado de .
- Essa é sua despedida – falou e olhou pra ele o repreendendo. – Que foi, não era pra falar?
- Não agora!
- Despedida? Tô indo embora e não tô sabendo?
- Pra Paris – falou suspirando. – Eu sei que você vai ser foda por lá e que é uma grande oportunidade na sua vida, mas não queria ver você indo sem uma despedida bacana, então meio que tudo calhou pra dar certo. A entrevista, a praia, o luau.
- Awn, – eu sorri e os meninos atrás de mim começaram a fazer barulhinhos irritantes, imitando o meu momento ternurinha. – Olha, se eu tenho o melhor namorado do mundo o problema é meu, tá!
- está sendo fofa – disse. – Aproveita, .
- Pode deixar – ele riu e me puxou para um abraço molhado e gelado. – Tá tremendo.
- Eu disse que estou com friiiiiiiiiiiiiiio!
- Vamos logo pra van pegar um cobertor, mas você vai ter que tirar essa roupa molhada.
- Nem pensar! – Arregalei os olhos. Novamente, , e gargalhavam.
- Trouxemos umas camisetas, , ninguém vai ficar pelado não.
- Infelizmente – disse concordando com o que havia falado.
- Vocês são todos, TODOS, idiotas! – E, dizendo isso, saí de mãos dadas com em direção a van.

Conforme o prometido, ficamos na praia até altas horas da noite. Era realmente muito tranquilo e foi interessante passar o dia junto com eles. e conseguiram uma fogueira – elétrica, porque nenhum deles teve a capacidade de conseguir fazer fogo sozinhos –, forramos o chão com os cobertores e tapetes e ficamos juntos em um grande amontoado de mantas, edredons, travesseiros e cobertores. Quem visse de longe ia achar que éramos mendigos, nunca iam achar que ali estava a banda mais conhecida atualmente: One Direction! ficou ao meu lado o tempo todo, mas eu via os olhares que ela trocava com . também não ficou perto dele, mas pelo menos conversavam paralelamente. Eu e dividíamos o mesmo edredom e eu estava absurdamente confortável com a minha situação: em seus braços recebendo deliciosos carinhos em meus cabelos, pescoços e ocasionais beijos. Maneira perfeita pra terminar o dia, pensei; estava abraçado comigo, mexendo no meu cabelo e sussurrando coisas fofas no meu ouvido.

- Só tem uma coisa me agoniando – disse. – Eu realmente queria ter visto a dançando pra valer na boate.
- Não acho engraçado – falei quando os meninos começaram a rir.
- Nós podemos voltar alguma outra vez, o que não faltará serão oportunidades – disse.
- Da próxima vez ensaiamos alguma coisa para não fazer feio – ouvi dizer e concordar com ele. – As nossas danças são sempre as melhores.
- Acho que teve uma vez que vocês foram para a França e fizeram uma dancinha ridícula em algum programa...
- LA BOITE! – Todos falaram juntos respondendo a minha pergunta.
- Isso, como é mesmo a dancinha? – Eu provoquei cutucando a barriga de , mas eles se recusaram a dançar. – Ah, poxa vida!
- Coloca no youtube depois – respondeu. – Odeio dançar.
- Percebi pelo clipe ‘One Thing’ – eu ri.
- Espera – me encarou. – está comentando coisas sobre a banda, pausa pra eu assimilar essas informações.
- Cala a boca! – Bati nele, – Eu já posso ser chamada fã da banda, ok?
- Fã? – riu. – Me fala a ordem das músicas do primeiro CD.
- O normal ou o Yearbook Edition?
- WHOOOOOOO – os meninos começaram a rir.
- Ela sabe que tem um Yearbook Edition – disse. – Ganhou moral, ganhou moral.
- Minha garota – beijou meu rosto e, novamente várias piadinhas começaram a aparecer. Odiava ser o centro das atenções, especialmente desses cinco bestas.

Depois de mais algum tempo ali, fomos para o hotel. Eu e a ficamos em um quarto, apesar de ter reclamado que queria ficar em um quarto sozinho comigo, mas eu queria fofocar com minha amiga, saber o que ela tinha falado com quando os dois ficaram sozinhos, coisas de meninas. O máximo que conseguiu foi me dar um beijo de boa noite na porta do quarto do hotel, já que o puxava do lado de fora e me puxava pra dentro; todos estão reclamando que eu e estamos em um momento paixão demais, é bom separar. Mas acho que se esqueceram que vamos ficar separados por duas semanas, e eu nunca pensei que fosse chegar em um ponto no relacionamento que eu ia sentir saudades de alguém, saudades do cheiro, do toque. Bosta ficar apaixonada, bela bosta!

Acordamos cedo. Os meninos tinham compromissos em Londres e já iam se programar para viajarem para Suécia e Alemanha – a gravação do novo CD ia ser feita nesses dois países –, sem falar que iam começar a estabelecer as datas para a nova tour, quando iam voltar para os Estados Unidos, a atenção que tinham que dar para as fãs no Reino Unido... E eu e minha trupe íamos arrumar nossas malas para Paris. Partiríamos em alguns dias, e eu não tinha nada pronto. Absolutamente nada! Duas semanas, eu levo o quê?

- Obrigada por esse fim de semana – eu disse quando estacionou em frente ao apartamento na escola. - Mais tarde eu te ligo.
- Ok – ele disse sorrindo. – Foi meu jeito de desejar boa sorte em Paris, só não consegui ficar sozinho com você do jeito que eu queria.
- Ainda tenho uns dias pela frente – eu sorri e senti minhas bochechas arderem. – Para de me olhar desse jeito, .
- Gostou, né?
- Cala a boca, não tá mais aqui quem falou.
- Passo aqui mais tarde – ele me beijou. – Pra sua despedida.
- ...
- Fique pronta – e com um pulo eu desci do carro. Sorrindo igual uma besta.

Capítulo 30
Capítulo dedicado para as minha essência Fletcher, Jess. Obrigada pela cena tão perfeita, I love you.

– Eu só não acredito que você fez isso comigo, ! – Eu resmungava com pelo celular. A palavra que resumia o meu dia era: Entediante. Eu estava deitada na cama, ainda de pijamas, observando as pequenas ranhuras do teto branco do quarto. Era fim de semana e eu me sentia abandonada por todos. Os garotos estavam viajando desde o começo da semana para fazerem alguns shows nos países vizinhos e agora também tinha me abandonado.
Deixa disso, drama Queen. É só um fim de semana! Minha mãe morreria se eu não viesse visitá-la de uma vez – escutei o barulho da respiração forte de pela linha telefônica. Ela odiava se sentir a garotinha da mamãe, mas quem gosta?
– Tá legal, eu sei disso – cruzei as pernas, sentando na cama. – Mas o que eu vou fazer o fim de semana inteiro aqui sozinha? – Fiz um bico com os lábios como se ela pudesse ver do outro lado do aparelho.
Ah, e eu que sei? Usa a criatividade, sei lá... Faz um meet com as fãs do One Direction – pude ouvir a risada abafada dela e franzi o cenho.
– O quê? , você já está bêbada a essa hora da manhã? Não quero ser linchada agora, quero pelo menos terminar a faculdade – rolei os olhos nas órbitas enquanto levantava da cama e ligava o notebook. só fazia essas piadas só porque estava a horas de distância e não podia sentir a almofada que eu teria jogado nela se estivesse aqui.
Eu já disse que não vou fazer isso! – A voz dela soou longe.
? – Resmunguei sem entender nada o que ela estava falando. A capa de Motion in The Ocean apareceu no desktop do computador e eu já abri o navegador. Acreditem ou não, o Twitter tornou-se a minha página inicial. Apesar de não gostar de olhar as mentions, a minha timeline era a minha principal fonte de notícias, principalmente sobre . Não que eu fosse uma stalker ou uma daquelas namoradas paranoicas, se bem que ele já havia me dado motivos pra ser. Eu só gostava de saber notícias dele. – ?
Ah! Oi ! – A voz dela tornou-se mais nítida, provavelmente porque voltava a atenção para o celular novamente. – Eu preciso ir, a minha mãe quer que eu arrume meu antigo quarto, você acredita nisso? Eu venho visitá-la e ela me coloca pra fazer trabalhos domésticos – eu ri sonoramente. Mães, sempre sendo mães acima de tudo.
– Tá legal, vai lá. Me abandona mesmo... – falei manhosa enquanto rolava a barra da timeline do Twitter.
Deixa de doce fez uma pausa e gritou um “Já Vou!” antes de continuar. – Preciso ir, ela ameaçou confiscar o meu celular. Espero que você sobreviva! Te ligo depois, beijo!

Mal deu tempo de eu responder alguma coisa e a linha já ficou muda. Coloquei o celular em cima da mesa pensando no que eu faria o fim de semana inteiro. Comecei a ler com mais atenção os tweets que carregavam na tela. Nada de One Direction, nada de McFly. A única coisa conhecida que eu li por ali era reclamando dos afazeres domésticos. Vendo que não tinha nada de interessante, comecei a zapear pela internet. Olhei algumas postagens no Facebook e acompanhei alguns sites de fotografia que eu costumava visitar frequentemente. Depois de uma hora e meia acabei parando no Youtube, como eu estava logada na minha conta a página inicial se encheu de conteúdo de McFly e fotografia. Um vídeo em especial me chamou a atenção. Nele Carrie, irmã do Tom, passava um dia sozinha com Marvin na casa do irmão. Eu ri muito daquilo tudo, ela era muito carismática e espontânea. Talento é uma coisa que se tem de sobra na família Fletcher. Voltei para o Twitter e postei sem pretensão nenhuma:

“Passando o tempo ocioso assistindo os vídeos da @CarrieHFletcher. Queria ter um pouquinho do talento dela.”

Minutos depois, atualizei minha timeline e quase cai da cadeira:

@CarrieHFletcher “@stargirl Obrigada, mas ouvi dizer que você já tem talento de sobra! Parabéns pela Sugar Scape.”

A Carrie me respondeu? Tá certo que eu já tinha sido apresentada a ela uma das vezes que fui à casa do Tom, mas tinha sido tão rápido! E ela conhecia até o meu user do Twitter! Nem consegui responder e ela havia mandado outro tweet:

@CarrieHFletcher “@stargirl falando em tempo ocioso, eu também estou nessa. Vamos combinar alguma coisa? Xxx”

Quando dei por mim eu estava na frente da casa dos Fletchers. Eu mal acreditava que horas antes reclamava do tédio. Ali era lindo, pouco diferente da casa do Tom, apenas era um tanto maior e mais branca. Identifiquei-me no portão principal e comecei a caminhar até a porta da casa. Depois das mentions trocadas com a pequena Fletcher, não fiquei muito mais no computador. Como já era rotina, recebi muita coisa negativa. As garotas começaram a falar coisas como: “Quem ela pensa que é?”, “Quando vai terminar com essa garota?”, “Arg, ela é tão ridícula!” e “Já não chega o 1D e o McFly, agora ela quer tirar até a Carrie de nós. Quem será o próximo, Ed Sheeran?”
Eu estava tão casada disso, porque eu não podia simplesmente viver? Dei conta que essas críticas me atingiam mais quando eu estava desamparada como hoje. É fácil pensar que estava tudo bem com me abraçando forte e dizendo que me adora, mas em situações como essas em que nenhum deles estava por perto, esses tweets pareciam tão verdadeiros que eu mesma começava a me questionar se eu não era mesmo a vilã da história. Eu pertencia aquele lugar, afinal? Eu não era linda e não tinha a confiança da para ser a namorada de um integrante do One Direction. Cheguei na porta ainda com esses pensamentos me incomodando e bati três vezes aguardando que alguém a abrisse. Não demorou muito para Carrie aparecer sorridente na minha frente e me abraçar apertado. Ela era maravilhosa, seus cabelos cacheados caiam por além dos ombros e a pele branca fazia par com os olhos castanhos amendoados. Era impossível ver o sorriso de Carrie e não sorrir de volta.

– Que bom que você veio, , odeio ficar sozinha em casa. – Ela me soltou do abraço e eu notei que ela vestia um short jeans e uma camiseta cinza com uma frase do The Big Bang Theory. Ela estava vestida simples e mesmo assim estava linda, já eu tinha passado horas me arrumando para ficar “apresentável” pra poder sair de casa.
– Acho que sofremos do mesmo mal. Todos me abandonaram nesse fim de semana – resmunguei enquanto entrava na casa. Se o imóvel parecia grande do lado de fora, ali dentro a sensação era multiplacada por duas. Aquilo era imenso! – É sério que não tem ninguém em casa, Carrie?
– Agora temos nós – ela riu se jogando no sofá da sala e colocando uma almofada sobre o colo. – Mas me diz, , como é namorar um cara do One Direction?
– E como é ser a irmã de Thomas Fletcher? – Eu ri e imitei Carrie, sentando-me ao seu lado. Ela era tão natural que eu me sentia como se fossemos amigas há anos.
– Ah, é normal. Acredite ou não, sou irmã dele desde que nasci – Carrie fez graça e rolou os olhos, não acreditando que tinha falado uma coisa daquelas. Nós duas rimos juntas. – Mas me diz, não esconde nada. namorando, e ainda uma garota de conteúdo como você.

Senti minhas bochechas corarem. Não era todo dia que a recebemos um elogio da pequena Fletcher.

– Bem – eu passei a observar a almofada sobre meu colo, passando os dedos na borda da fronha enquanto eu pensava o que dizer. – É difícil a maior parte do tempo, sabe? As fãs não gostam de mim, vivem me dizendo coisas terríveis. Às vezes paro pra pensar se elas não têm razão. – Acabei a frase e senti a mão de Carrie sobre a minha. Levantei os olhos em sua direção e ela sorria. Como eu disse antes, era inevitável sorrir de volta.
– Isso quem tem que julgar é o . – Carrie simplesmente disse. – E pelo pouco que eu tenho acompanhado, eu nunca vi aquele garoto tão feliz.

Nós duas conversamos mais um pouco e depois Carrie teve a ideia de fazermos um vídeo para o seu canal. A princípio eu relutei bastante imaginando que as fãs pensariam mais uma vez que eu era uma oportunista, mas os olhos castanhos daquela Fletcher pedindo por favor me lembraram muito o gato de botas. Não se diz não ao olhar do gatinho do Shrek. Decidimos fazer mais um da série “Queen of Procrastination”, porque éramos realmente boas em não fazer nada. Passamos horas rindo e bolando cenas engraçadas. Estávamos dançando Pimball Wizard em cima do sofá quando a porta da sala foi aberta. Congelamos a cena quando vimos Tom entrando na casa com uma mala em um ombro, Marvin no outro e uma feição emburrada no rosto. Carrie correu para desligar a câmera e eu só fiquei ali parada sobre o sofá uns segundos tentando processar o que havia acontecido.

– Tommy, o que foi? – Ela correu de encontro ao irmão que deixava a mala e o gato laranja no chão.
– Eu e Gio brigamos – Tom forçou-se dar um sorriso amarelo, mas que mesmo assim fazia sua covinha saltar no rosto. – Acho que vou passar a noite aqui.
– Claro, Tom! Afinal essa é sua casa também – Carrie o abraçou apertado e eu me senti um pouco intrusa na cena familiar e enquanto os dois se abraçavam Tom me notou, ainda de pé no sofá.
– Hey! Tudo bem, ? – Ele falou se aproximando animado e então eu acordei do transe, finalmente descendo do sofá. Carrie pegou Marvin no colo e falava com ele em uma língua estranha que provavelmente só eles entendiam.
– Tudo bem... e você? – Tom me deu um beijo no rosto e eu perguntei realmente preocupada. Ele não parecia muito bem.
– Eu tô legal – ele sorriu e desta vez parecia sincero. – O que vocês estavam fazendo?
– Estávamos gravando um vídeo pro meu canal – Carrie quem respondeu, sentando-se no sofá junto de nós com Marvin no colo. Eu me surpreendi quando o gato caminhou devagar até o meu colo pedindo por carinho. Embrenhei meus dedos em seu pelo sedoso e Marvin soltou um miado agradecido. Ficamos em silêncio por alguns minutos. Eu encarava Marvin no meu colo e tinha a sensação de que os dois me encaravam.
– Vamos beber – Tom quebrou o silêncio fazendo com que nós nos entreolhássemos sérios e começássemos a rir no instante seguinte.

Tempo depois estávamos jogados no tapete da sala com algumas garrafas de cerveja nas mãos e mais outras vazias em volta. Estávamos contando situações engraçadas, mas a maioria era tão absurda que eu acreditava que eram inventadas. Nossas risadas ecoavam na grande sala vazia. Acredito que Marvin se incomodou com o nosso barulho e sumiu dali fazia certo tempo.

– E então Dougie chorava tanto que saímos pra procurar a palheta de estimação dele por todo o estádio. Faltavam cinco minutos pra entrarmos, mas ele disse que não tocava se não fosse com ela – Tom falou meio embaralhado e eu e Carrie já riamos somente por rir. Perdi a conta de quantas cervejas já tinha tomado. A minha cabeça rodava.
– Pra mim já deu – Carrie deixou a garrafa no chão e levantou tropeçando nos próprios pés. Eu e Tom nos sentamos com dificuldade apoiando as costas no sofá.
– Heeeeey, aonde você vai, Carrie? – Perguntei enquanto levantava a garrafa acima da cabeça. Ela já estava subindo as escadas, agarrada no corrimão.
– Vou tomar um banho. Ser a rainha da procrastinação não é fácil – ouvimos a risada dela e em seguida Carrie tinha sumido da nossa visão.
– Eu. Estou. Bêbada – falei pausadamente, confessando séria. Senti o olhar de Tom sobre mim e sorri abertamente.
– Está mesmo. Desculpe falar, mas esse é o típico sorriso de alguém bêbado – Tom riu e eu o acompanhei.
– Sabe, – ele começou encarando a própria cerveja. Seus dedos tamborilavam pelo bocal da garrafa – estamos prestes a lançar um novo single.
– O QUÊ? – Falei mais alto do que eu esperava fazendo-o rir. – Como assim? Quando? Qual é o nome? – Disparei as perguntas uma atrás da outra e Tom sorria enquanto balançava a cabeça em negativa. Eu já era uma fangirl desesperada quando estava sóbria, bêbada então eu era uma fangil alucinada.
– É isso que eu gosto de você, – sua voz era séria, e Tom virou a cabeça em minha direção fazendo nossos olhares se encontraram. De repente, eu não me sentia mais bêbada. A sobriedade me entorpeceu da mesma forma do que aqueles olhos castanhos tão próximos. Proximidade. Eu não tinha percebido antes que estávamos tão perto assim. – Você consegue ser tão nossa fã e ao mesmo tempo simplesmente nossa amiga.

A voz de Tom saiu um pouco rouca e eu só conseguia prestar atenção no movimento dos lábios dele enquanto falava. Pensei em dizer alguma coisa, mas era como se o meu cérebro não conseguisse passar o comando para o restante do corpo. Senti que o olhar dele também caiu sobre meus lábios, uma lenta aproximação foi dada e eu não conseguia me mover. Isso estava mesmo acontecendo? Os lábios de Tom tocaram-se nos meus por uma fração de segundos e o nosso hálito de álcool se misturou. Nada mais foi do que isso, um simples tocar de lábios que durou alguns segundos. Tão rápido quanto nos aproximamos, nos separamos e nos encaramos sérios pra depois começarmos a rir incontrolavelmente. Durante anos eu esperava que algo assim acontecesse. Beijar Thomas Fletcher foi algo que eu cultivei comigo durante muito tempo e agora que isso aconteceu, eu só conseguia rir. Não houve frio na barriga, não houve aquele calor no coração, nem aquela felicidade súbita me arrebatando por dentro. Porque isso só acontecia quando eu beijava .

– Isso foi estranho – eu falei, me jogando novamente no tapete da sala.
– Foi como se eu tivesse beijado o Jones! – Tom puxou o ar de forma rápida, tentando recobrar o juízo.
– Eu me ofenderia se fosse qualquer outra pessoa, mas como foi o Danny eu até aceito a comparação – respondi subitamente. Eu não me ofenderia de forma alguma. Tom não era somente meu ídolo agora, ele era meu amigo.
– Acredite ou não, isso foi um elogio – Tom se levantou, e me lançou um sorriso. – Danny é parte de mim.
– Eu sei – sorri de volta e acariciei Marvin, que havia reaparecido por ali e se aconchegado ao meu lado no tapete.
– Marvin te faz companhia, eu vou tomar um banho também – ele se aproximou da grande escada que Carrie havia sumido há pouco.
– Eu acho que já vou embora, está ficando tarde – sentei-me cruzando as pernas sobre o tapete.
– Nah, espere a gente voltar e pedimos umas pizzas. O que você vai fazer sozinha por lá? – Tom gritou já do andar de cima e eu assenti concordando.

Devolvi Marvin no chão e tirei meu celular do bolso, encarando o visor por um tempo. Eu só conseguia pensar em e no que ele estava fazendo agora. Mal fazia uma semana e eu já sentia sua falta. De repente uma certeza me invadiu de forma arrebatadora e eu comecei a digitar uma mensagem pra ele.

“Sinto sua falta. Te amo xx”

Apertei o send, largando o aparelho no tapete e encostei a cabeça no sofá atrás de mim. Eu precisei beijar Thomas Fletcher pra perceber que amava . , meu Deus, como eu sinto saudades dele...

- ?

E eu acho que estou muito bêbada, o chão tá tremendo ou coisa do tipo?

- ?

Resmunguei alguma coisa, mas não era nem a voz de Carrie e muito menos a de Tom que estava me chamando. Tem mais alguém aqui que eu não vi entrar? Giovanna? Será?

- Na moral, acordam porra!

?

- ? – Abri o olhos. Oops.

Eu estava no avião. Claro que eu estava no avião, indo pra Paris! Sim, Paris! Foi um sonho, eu estava de novo sonhando com coisas impossíveis, e dessa vez no avião. Há quanto tempo estamos viajando mesmo? Olhei pra e vi que ela me encarava de forma engraçada como quem quer rir, presumi que eu devia estar falando durante meu sono ou sem querer soltei alguma coisa comprometedora. Estava com medo de perguntar, cocei meus olhos e a encarei de volta, não demorou muito pra ela abrir um sorriso e começar a rir. Tá, eu tinha falado alguma merda.

- Então, a Giovanna brigou com o Tom? – Ela disse rindo. – E vocês se beijaram?
- Eu falei alto demais?
- O “falar” não foi o problema, foi ‘’ que saiu engraçado. Você beija o Tom e pensa no ?
- É meu sonho dizendo que, por mais que ame Tom Fletcher, meu coração pertence ao .
- Sabia que você não deveria ter o beijado no show.
- O que eu podia fazer? Recusar? De jeito nenhum – respondi sonolenta, me espreguiçando e bocejando ao mesmo tempo.
- Quem é Carrie?
- Irmão do Tom – suspirei. – Eu falei o nome dela também?
- Falou – riu .– Na sua outra vida eu acho que você queria ter nascido irmã do Tom, to certa?
- Irmã? Queria ter nascido a Falcone!
- Foca no .
- To focando... – gargalhei e me acomodei de novo. Tínhamos ainda boas horas até chegar em Paris e eu não estava com vontade de ficar acordada. – Me chama na hora do lanche.
- Tá pedindo pra acordar por comida, você não tá normal.
- Cala a boca, – chutei ela de um jeito desengonçado e ela riu, me empurrando nas costas.

Depois que voltamos da praia naquele dia fatídico, ficamos ainda três dias em Londres, e nesses três dias me deu a melhor despedida do mundo. Ok, não saímos da cama – parece que depois que você faz a primeira vez fica muito mais fácil fazer uma segunda, terceira, quinta... – só que eu consegui conhecê-lo mais. Essa coisa de ficar conversando até de madrugada coisas idiotas, brincando pelos lençóis (coisa que eu sempre achei tosca quando lia nos livros, mas quando se está namorando é a coisa mais gostosa do mundo), simplesmente ficar de mãos dadas vendo um filme, todos os pequenos momentos com nesses dias foram inesquecíveis, e o jeito perfeito de dizer tchau para a minha temporada em Paris e para os meninos que iam pra Suécia – ou é Suíça? Eu me esqueci – e mais alguns outros países europeus. Sei que eles iam se focar no trabalho do novo álbum enquanto eu ia me focar no trabalho fotográfico. Só estou torcendo pra eu não ter tempo de sentir saudades, porque, se isso acontecer, vai ficar bem difícil o trabalho aqui.

Enquanto ficamos em Londres – e eu arrumava a mala, colocava as câmeras, livros, e tudo o que eu achasse necessário – só conseguia pensar na minha conversa com .

- Você é linda – ele sorriu quando separou o abraço. – E você não é linda no óbvio, é muito mais que isso, e precisa acreditar nessa beleza. Eu não digo que é chato, mas de vez em quando cansa você ficar com essa insegurança toda sendo que a imagem que você acha que vê no espelho não é a que nós vemos.
- Sei que cansa, me cansa – fiz careta .– Eu não gosto de ser assim, acredite.
- Então para de ser assim, tá, você vai falar que é complicado, mas nós estamos aqui pra te ajudar. Mas pra isso, você precisa acreditar na nossa ajuda.

Eu sabia que era chato e que toda essa minha implicância deixava os meninos mal humorados. nunca me disse isso porque, bom, ele é o ! Mas foi meu amigo o suficiente para ser sincero comigo e falar a verdade, o que me fez pensar que eu de verdade preciso mudar o meu jeito de ser, essas nóias e tudo mais. Antes de eu viajar, liguei para a Dra. Violeta e marquei uma nova consulta. Sei que disse que não ia voltar, mas se eu preciso me cuidar, preciso de todos os ângulos; e fui sincera, porque eu disse que joguei fora o encaminhamento para a nutricionista. Óbvio que a Dra. Violeta já sabia ou suspeitava, ficou feliz com minha sinceridade e disse que não vê a hora de eu voltar. Lá vamos nós para o consultório da tortura mais uma vez.

Os meninos foram conosco para o aeroporto, porque enquanto pegávamos o nosso voo eles pegaram o deles, e toda essa muvuca foi bem engraçada. Não sei como as fãs ficam sabendo que eles vão viajar, mas elas sabiam e já estavam todas no aeroporto esperando por eles, enquanto eu, , Sam e Lucas ficávamos sentados num banquinho porque não queríamos nos misturar com as meninas. ficou ao meu lado boa parte do tempo e nem se importou com os fotógrafos, que tentavam ser discretos, mas não eram. Abraçou-me, beijou-me, fez carinho, sentou no meu colo, brincou com minha câmera, ficou tirando fotos nossa e dos meninos, tirou foto dos papz e ainda deu atenção para as fãs. O Twitter começou a borbulhar com as fotos do e dizia o quanto ele parecia estar feliz comigo, que o sorriso dele era o mais lindo apaixonado e coisas que eu não costumava ler. Agora, com , a coisa estava um pouco feia, já que ela e mal se falavam ou se olhavam, até estava conversando com ele – pelo que me disse, os dois foram chamados pelos produtores e meio que obrigados a se tratarem bem, pelo menos na frente da mídia, então eu sei que eles vão se falar – mas as fãs não perdoavam o comportamento da minha amiga, e agora ela estava sendo o alvo do abuso cibernético. Sério que essas crianças não tem nada melhor pra fazer, não?

- Você vai gostar de ver isso – me chamou apontando pra pequena TV embutida na poltrona do avião. – Os meninos no Alan Carr.
- Hein?
- Acorda, caralho, não aguento você ficar dormindo o trajeto todo! Os bichas estão dormindo, todo mundo dorme, eu tô sem sono e quero você sem sono comigo!
- Toma Rivotril, .
- Isso é coisa pra velho – ela emburrou. – Se arruma aí, vou pegar alguma coisa pra gente comer lá atrás, você assiste esse pedacinho de entrevista. Dez minutos.
- Cadê o foninho?
- Aqui – ela apontou pra TV. – Já até deixei aberto, só clicar play.
- Ok – bocejei e me acomodei na poltrona de enquanto ela levantava pra buscar algo pra comer ou beber. Peguei o edredom que eu estava usando e apertei o play. One Direction estava no Alan Carr. Mas não era a entrevista completa, era só um pequeno trecho, acho que linhas aéreas não podem passar os programas completos.

Essa entrevista foi de ontem, antes de eles irem viajar. Lembro do se arrumando todo e falando que ir ao Alan Carr é sempre uma comédia, mas também ele consegue ficar bem sem graça quando ele faz umas perguntas de vida pessoal. As vezes o Alan se esquece que eles mal tem 20 anos e que o público deles é composto de muitas crianças e que os pais também assistem a entrevista, então algumas perguntas podem ser comprometedoras até demais. Enfim... Liguei o play e, depois de um resumo de como seria a entrevista, finalmente começou o programa. As perguntas iniciais eram as mesmas de sempre, as piadinhas também, até que caiu no tema relacionamentos. Por que todo mundo gosta de perguntar isso? Todo mundo sabe que o namora, não sabe?

- E qual o nome da coitada?
- . respondeu sorrindo e olhando pros meninos da banda, que também sorriam.
- Há quanto tempo vocês já estão juntos?
- Mais ou menos uns... – ele mordeu os lábios e de novo olhou pros meninos. – Uns sete meses?
- Juntos como namorados ou que se conhecem? – perguntou para .
- Bom, eu a conheço há uns sete meses, mas estamos juntos a uns cinco, ou quatro? Nunca sei – ele começou a rir, assim como Alan e a platéia.
- Desisto de você, e sinto dó da sua namorada – Alan falou e todos riram. – E, por sinal, é ela na foto? – Uma foto nossa de mãos dadas andando por Londres apareceu no telão.
- É ela mesma – suspirou. – Nem lembro onde foi essa foto.
- Ela é linda – Alan disse. – De novo, o que ela está fazendo com você? – Todos os meninos riram. – Sinceramente, ela é linda demais pra estar com você.
- Eu não sei! – riu e fez uma cara de desespero. – Não foi fácil ficar com ela, então acho que eu tenho alguma coisa que valha a pena – ele bateu no próprio peito rindo e os meninos começaram a soltar piadinhas.
- Alguém aqui teve um crush pela namorada dele? Qual o nome dela mesmo?
- – os cinco responderam.
- , vou chamá-la assim – eles riram. – Então, alguém?
- Eu tive uma queda por ela, mas agora tá tranquilo – respondeu com a maior facilidade, o público foi à loucura. – Tipo, não tem como não se apaixonar pela .
- Ela é o tipo de garota que é o tipo de qualquer garoto – falou meio confuso e eles começaram a rir. – Deu pra entender?
- Não, – Alan falou rindo.
- Quando começou a namorá-la todo mundo meio que já sabia que isso ia acontecer. A primeira vez que nos conhecemos dava pra perceber que estava rolando um clima entre os dois – explicou. – Foi como, se lá, tinha que acontecer.
- E como vocês se conheceram?
- Invadimos o quarto dela na faculdade – disse mordendo o dedo mindinho como quem fez algo bem errado e todo mundo começou a gargalhar, inclusive o Alan que parecia se divertir com a história.
- Vocês o quê?
- Eu conheci a no London Eye, acho que todo mundo sabe que ela é fotógrafa – ele perguntou pra plateia e todo mundo concordou. – Então depois eu a chamei para um encontro que saiu totalmente fora do planejado – ele riu assim como os meninos e Alan parecia interessado no assunto.
- O que tem a ver ela ser fotógrafa com você tê-la chamado pra um encontro? – Alan perguntou e começou a rir. – Me perdi nessa parte.
- Ah sim – ele ainda ria. – A estava fotografando nesse dia e eu meio que atrapalhei as fotos – ele fez uma cara de culpa e apertou suas bochechas.
- E foi assim que você a conquistou?
- Não, tava longe ainda – gargalhou.
- faz tudo errado quando ele gosta de alguém, e com a não foi diferente – completou.
- Ela o deixou nervoso – disse.
- E nos deixou nervoso porque ele – apontou pra – não parava de falar nela, e tudo era a menina do London Eye e começamos a achar que era invenção da parte dele.
- Enfim – olhou pros meninos, que não paravam de dar comentários e rir do nervosismo dele. – Eu a chamei pra ir a um show nosso, mas ela passou mal e a noite acabou com eu e esses caras aqui invadindo o apartamento dela e da amiga nela no fim da noite.
- Ah claro, porque quando alguém não vai ao show do One Direction vocês simplesmente invadem o quarto dessa pessoa. – Alan falou de forma sarcástica e todo mundo, de novo, começou a gargalhar.
- Mais ou menos isso – mostrou a língua de um jeito sapeca. Lindo!
- E a amiga? Quem pegou?
- – todos falaram apontando pra , que na mesma hora ficou vermelho.
- , seu pequeno travesso – Alan brincou e os meninos riram. – Estão namorando?
- Estávamos – ele fez uma cara de dó. – Não estamos juntos agora, mas a é uma menina incrível.
- Ela é outra que não tem como não amar – falou. – Bem mais doida que a , mas também um amor.
- Alguém aqui teve uma queda pela ?
- Eu tive – levantou a mão e todos os meninos gargalharam, menos , que o olhou meio contrariado. – Agora ela está livre, quem sabe?
- MAS EPAAA! – Alan gargalhou daquele jeito escandaloso dele. – Fura olhos, !
- Que nada – riu meio sem graça e encarou . Sabia que não podia ir muito longe com essa brincadeira, mas queria só dar uma provocada de leve. – Não pegamos as mulheres dos outros.
- Quê? – Alan perguntou. – Sério, nunca aconteceu?
- Já aconteceu e deu merda – respondeu. – É o tipo de coisa que tem que tomar cuidado, sempre dá errado no final.
- Sempre – concluiu olhando de novo pra .

Ai meu Deus!

- E onde estão as meninas agora? – Alan perguntou, mudando um pouco a direção do assunto.
- As duas estão indo pra Paris, vão participar da Semana de Moda por duas semanas, legal pra caramba. – respondeu parecendo bem empolgado.
- Paris, uau! – Alan respondeu. – A cara de orgulhoso do é uma coisa de louco, olhem essas bochechas vermelhas!
- Não é uma graça? – riu e apertou as bochechas de , que estava ficando bem vermelho com essa atenção toda. – Tá pra nascer uma cara mais babaca apaixonado.
- , faz um favor? – Alan perguntou? – Fica com ela até quando der. Te conheço desde que saiu do XFactor, desde que você era um girino – ele riu. – Nunca te vi tão feliz.
- Eu sei – ele olhava pra baixo e depois olhava para os meninos. – Ela é incrível.
- Sei disso, e, por favor, da próxima vez, traga ela com você.
- Certeza, ela vai adorar! – Ele sorriu. Sim, , eu ia adorar.

A entrevista termina com eles falando mais do novo álbum e de futuras turnês – reunião essa que está acontecendo agora – e eles cantando One Thing acústico no programa. Tirei os fones e vi parada de pé ao meu lado com duas xícaras de plástico – essas de avião – e alguma coisa saindo fumaça de dentro delas. Os olhos de estavam vermelhos e, a conhecendo, acho que ela chorou quando viu falando dela.

- Senta aqui, amiga – pulei pra minha poltrona e deixei sentar na dela. – O que é isso?
- Chocolate quente – ela me entregou a xícara. – Você viu ele falando de mim?
- Claro que sim – sorri. – Você viu o falando que te pega? – Provoquei e ela começou a rir.
- Eu pego – ela riu. – Mas, piadas a parte, eu queria poder esquecer o que fez, eu ainda o amo e sinto raiva desse sentimento. Maldita Lorelai, maldito show do McFly...
- Heeeeey, não coloca meus meninos no meio!
- Desculpa – ela suspirou. – Mas tudo aconteceu no show.
- – me virei pra ela. – Nós estamos indo pra Paris! Duas semanas pra esquecer esse assunto, pra vivermos um sonho... Bom, na verdade, um segundo sonho. Vê se volta de cabeça fresca pra Londres e senta pra conversar direito com o , e não igual aquele dia na casa dele.
- Como conversamos na praia?
- É um bom começo – respondi. – Vocês falaram de...
- De qualquer coisa que não fosse nós dois. Eu disse que queria manter minha amizade com ele, mas ainda estava machucada demais com tudo o que aconteceu, especialmente com as coisas que ele falou pra mim no dia da briga.
- Você também não foi nada boazinha com ele, nós ouvimos.
- Ah, que seja! – Ela bufou. – Eu prometi pra ele que não ia ficar com ninguém em Paris por vingança e que – ela suspirou – que ainda o amava.
- Awn, ! – Eu sorri. – Que coisa linda!
- Ainda amo ele mesmo, ué! Mas ele me traiu, e não foi com qualquer uma! E traiu o amigo dele também, a porra foi séria.
- já o perdoou.
- Porque os empresários mandaram – ela bufou. – Sabe, de qualquer forma, acho bom passar esse tempo solteiro, as fãs gostam mais dele assim.
- É, mas você viu o que elas estão falando de você no Twitter, não é nada agradável.
- Como eu disse aquele dia na praia, bate e volta – ela rolou os olhos. – Eu e somos tipo... Ross e Rachel! Vamos brigar pra sempre, mas vamos acabar juntos. É o destino.
- E eu, seria quem? – Perguntei rindo.
- Com certeza absoluta Monica e Chandler!
- Há! – Comecei a rir mais ainda. – Sabia que o queria mudar o nome dele pra Chandler? Foi a conversa mais ridícula que eu tive com ele.
- é muito tonto de vez em quando – ela sorriu. – Mas, falando sério, tá pra nascer um casal mais fofinho igual vocês.
- Não tem outro adjetivo não?
- FODA, casal FODA! Melhorou.
- Bem melhor – gargalhei.
- Calem a boca aí na frente! – Sam chutou minha poltrona por trás e eu quase derramei meu chocolate quente na roupa. – Tô tentando dormir.
- Você tá dormindo desde que saímos de Londres! Vai chegar em Paris cheio de olheiras, horrível – eu falei.
- Pra isso eu trouxe corretivo na bolsa, coisa que você, meu amor, podia pensar em começar a usar.
- Minha pele é perfeita – respondi e riu.
- Quem diz isso? Seu namorado? Aquele é outro que se não começar a cuidar da pele vai ficar velho antes da hora.
- Mas, heeeey – eu ri. – Volta a dormir, Samuel!
- EU TÔ TENTANDO! – Ele bufou. – Façam o mesmo e durmam. Vou passar duas semanas com vocês, não quero ouvir suas vozes agora.
- Tá precisando de uma comparecida do namorado, anda tããããão mal humorado – falei rindo e gargalhou alto.
- Achando que porque fodeu uma vez com o já pode dar conselhos sexuais? Se situa, , se situa! – Ele disse ao fim rindo e se embolando de novo no travesseiro e cobertor. – Agora, boa noite, ex-virgem.
- Shhhhhh – eu ri.
- Não vou aguentar passar duas semanas com eles – disse se acomodando também em sua poltrona. – Hey, olha o mapa.
- Que mapa? – Ela apontou para um pequeno mapa digital que brilhava em nossa TV embutida. – Dá pra ver onde estamos no Oceano!
- Aham – ela riu. – De acordo com os cálculos, estamos a quarenta e cinco minutos de Paris. QUARENTA E CINCO MINUTOS!
- Paris, Paris, Paris – repeti pra mim mesma. – Sabe alguma coisa em francês?
- Voulez vous coucher avec moi ce soir – ela disse com seu melhor sotaque e com toda uma sensualidade na voz, eu gargalhei alto de novo.
- !!!
- Frase de puta! – Ouvi Sam ao fundo e nós gargalhamos.
- Calem a boca todos vocês – ela respondeu colocando seus fones de ouvindo e aumentando o som do Ipod. Em uma última espiada, eu vi o que ela ouvia: 1D.

Capítulo 31
Em homenagem a fotógrafa por trás da história, Beatriz Glória

- Qual o nome dela mesmo?
- Jill – digitei no Google. – Jill McCormik – suspirei. – Ela é exatamente tudo o que o Eddie sempre detestou em uma mulher! O cara escreve Satan’s Bed e se casa com uma “skinny little bitch”, ugh que ódio.
- ? - Que foi, ?
- Você fica muito engraçada com ciúme de um cara que tem idade pra ser seu pai.
- Eu não me casaria com Eddie Vedder, mas é... – de novo, suspirei. – Deixa quieto.
- A propósito, por que estou te ajudando a pesquisar sobre ela, mesmo?
- Porque ela já foi modelo, inclusive ela é amiga da Bündchen, o que torna minha vida muito mais difícil.
- Ela vai estar aí?
- Qual das duas?
- A Bündchen?
- Não sei, acho que não. Embora seja a semana de moda parisiense, não é a principal semana. Daqui a poucos dias vai acontecer o desfile da Victoria, então, as modelos mais tops estão focadas naquele desfile, e não nesse.
- Entendi – ele suspirou do outro lado da linha.
- Hey, tá cansado?
- Um pouco. Esqueci como que essa rotina de estúdio e entrevistas e fãs e sair correndo pro carro por ser um pouco exaustivo – ele riu sem humor. – Se passaram quatro dias e eu tô morrendo de saudades suas.
- Ah, que bonitinho – eu ri – Também sinto sua falta, mas eu não queria você aqui.
- Uau, que coisa linda de se dizer pro namorado, !
- , aqui é um covil de mulheres perfeitas. Magras, andando de um lado pro outro de sutiã e calcinha, você acha mesmo que eu ia querer você aqui?
- Bom, pensando por esse lado...
- Tá vendo!
- Eu tô brincando! – Ele gargalhou. – Faz de conta que não tem nenhum modelo gatão Calvin Klein por aí.
- Na verdade tem, mas eu nem tenho coragem de encará-los. Se eu encarar um deles por muito tempo, capaz de eu tropeçar ou falar alguma merda.
- Você é uma idiota – ele riu.
- Também te amo, – ri junto. – Preciso ir. Vou me reunir com o pessoal no anfiteatro, vamos dar uma olhada no nosso portfólio e esperar a Tyra e a Olivia aparecerem. Só falamos com elas umas duas vezes desde que chegamos.
- Tá dando pra aproveitar Paris? - Bem pouco, os franceses podem ser bem rudes quando querem – dei de ombros, embora ele não pudesse ver. – Passamos mais tempo nas galerias e estudando do que passeando, temos mil coisas pra ler, assimilar até o desfile. Sinto que vou ficar doida a qualquer momento.
- Gênio – ele me chamou pelo único apelido que eu permitia. – Você pode fazer isso. Esvazia sua mente e se concentra apenas no seu trabalho, vai dar tudo certo.
- Obrigada – sorri e apertei o telefone mais perto de minha orelha. – Faça isso aí também, e grave um CD perfeito pra mim.
- Pode deixar – ele sorriu. – Me liga mais tarde?
- Com certeza – não queria desligar o telefone. – Te amo, manda beijo pros meninos.
- Aham – ouvi-o respirar fundo. – Te amo também. Se cuida.

Eu conseguia falar com desde que cheguei, sempre pelo celular e uma vez pelo Skype, mas a conexão caiu logo, já que Sam e Lucas estavam baixando todos os episódios possíveis de Sex and the City pra aprender alguma coisa de moda, sem falar nos editoriais Vogue. O que foi até bom, se eu começo a falar com eu não paro, e nós precisamos estudar, e muito!

No momento encontro-me no nosso quarto de hotel, com todos os nossos portfólios abertos mais os portfólios das modelos e da última semana de moda. Todo mundo saiu, o que significa que eu fico agoniada porque não sei estudar sozinha, pra esses momentos eu ligo pro meu namorado. pode não saber nada sobre moda e não entender muito o meu mundo – o que é bem divertido, já que eu não entendo nada do mundo dele – então o que ele sabe fazer melhor é me distrair. Ainda mais quando a modelo em questão que estou estudando é Jill McCormik, esposa do Eddie Vedder, aka vocalista do Pearl Jam, aka uma das minhas bandas favoritas. E Eddie Vedder cai no velho clichê de um vocalista de rock se casar com uma modelo perfeita, sério? Então, acabo descontando todas as minhas frustrações em cima do , que só sabe dar risada da minha cara, já que na maioria das vezes ela não faz ideia do que eu estou falando, fazendo ou reclamando. Relacionamento perfeito.

Depois de desligar o telefone, comecei a me focar novamente nos nossos objetos de estudo, daqui a pouco ia ter que descer pra me encontrar com Tyra, Olivia e mais uma pessoa que eu não sei quem é. Pelo que elas me falaram, ela também é uma fotógrafa e tem nossa idade, praticamente passando pela mesma experiência que nós, o que no mínimo vai ser bem interessante. Se ela foi escolhida pela Olivia, é porque ela é boa, e se ela é boa, significa concorrência, o que eu não gosto nada. Não que eu tenha que me preocupar com isso, quando o assunto é meu trabalho tenho total confiança no que faço e sei que sou a melhor, mas se surge alguém que pode saber tanto quanto eu e vai querer começar a mostrar o “bom trabalho”, isso pode ser complicado, chato e desnecessário. Afinal, pra que trouxeram essa menina?

As 7 realidades da fotografia de moda
Escrito por Eliane Terrataca
Toda peça de vestuário que for fotografada é fotografia de moda, certo? Errado! Esta área é muito mais complexa do que muita gente imagina. A fotografia de moda envolve produção, pesquisa e conhecimentos muito mais amplos que simplesmente usar uma câmera. Não que os outros estilos não precisem de conhecimentos específicos, mas muitas pessoas pensam que a moda é fútil e qualquer um consegue trabalhar com ela, bastando ter um bom equipamento.

E lá vamos nós, concentração no trabalho, nos estudos! Esquece essa menina, .

Para trabalhar nesta área, é preciso, acima de tudo compreender o que está na moda, mesmo que você trabalhe com uma equipe completa de produtores, estilistas, maquiadores e cabeleireiros. Há casos em que a modelo encana que quem deve decidir tudo é apenas o fotógrafo, imagine uma pessoa desinformada tendo que combinar roupas e escolher as melhores cores para a maquiagem ou até o melhor penteado. Mas, se formos parar para pensar, é assim mesmo que deve ser feito, afinal, o resultado final levará o nome do fotógrafo, portanto ele deve sempre dar opiniões e mudar o que achar necessário. Entretanto, não é o que vemos por aí. Fotógrafos mergulham no mundo da fotografia de moda, mas esquecem destes detalhes. São poucos os que procuram estudar maquiagem e estilo, e são exatamente estes que ganham destaque no mercado, porque embora o fotógrafo de moda fique de fora da passarela, para se destacar, precisa desfilar muita qualidade e conhecimento. Portanto, se você deseja migrar para esta área, fique antenado em todas as novidades fashion e explore todas as suas possibilidades – anúncios, books, editoriais, catálogos etc.

Então é essa parte que me fodo! Tá, não vou dizer que sou uma ameba quando o assunto é moda ou maquiagem ou combinar roupas. Dando uma olhadas nas minhas roupas atuais, acho que tenho um gosto bom, mas eu também não quero “migrar pra essa área” como o texto que estou lendo sugere, isso aqui está sendo apenas uma experiência pra eu ver se pode dar certo. Eu nem gosto de moda! Acho que tem muita gente que acha que virar fotógrafo é virar rato de passarela, fotografar modelos e nada mais, mas há muito mais por trás disso, e esse ‘por trás’ é que eu amo! E se puder juntar o que eu amo com a moda, bom, isso só seria uma consequência.

Para quem está começando ou para quem gosta de listas que inspirem reflexão, seguem as sete realidades da fotografia de moda…
1. Misturar prazer carnal com trabalho é inaceitável, o fotógrafo nunca deve cobiçar a modelo – o que também vale para as fotógrafas.
2. Desfile é bom, mas também é cansativo. Se você deseja trabalhar nas passarelas, esteja preparado para correr, se espremer e tomar algumas cotoveladas, principalmente se a ideia for encarar grandes semanas de moda pelo mundo. Eu fotografei o São Paulo Fashion Week e sei bem o que estou dizendo, todos os fotógrafos se respeitam, mas a luta pelo melhor ângulo é inevitável e a sequência de desfiles faz você perder alguns quilinhos para trocar de sala às pressas.
3. É preciso ter simpatia e saber dirigir modelos. Muitas modelos não sabem como devem agir, qual posição fazer, se devem ou não sorrir, por isso é necessário estar preparado para situações como esta. Isso você só conquista com a prática, não é o tipo de coisa que se aprende em cursos – apesar de alguns tentarem.
4. É preciso ter iniciativa, criatividade e conceitos diferenciados para produzir imagens que tenham estilo próprio. Raramente o fotógrafo participa das reuniões de pauta de editoriais de revistas, ele é contratado, recebe uma breve explicação do produtor e tem que se virar com o que aparecer para ser registrado. Portanto, esteja preparado!
5. Estude sempre. Como já mencionei anteriormente, o fotógrafo deve manter-se atualizado sobre o mundo fashion, dedicar alguns momentos à pesquisa de maquiagem e moda, assistir desfiles, fotografar desfiles simplesmente para praticar, envolver-se com produções de roupas e buscar inspirações na arte e na literatura.
6. Fama e dinheiro é muito difícil de conquistar. Muitos fotógrafos trabalham de graça fotografando uma supermodelo apenas para ver seu nome sendo divulgado em algum veículo conceituado, mas isso vai de cada um decidir. Só ganha dinheiro nesta área quem consegue construir um bom nome, não precisa ser famoso, mas precisa ser reconhecido.
7. Nem tudo são flores. Existem desfiles muito demorados, modelos muito chatas, estilistas insuportáveis, maquiadores e cabeleireiros que se julgam mais importantes que o fotógrafo. Quando mais você crescer no mundo fashion, mais você encontrará pessoas de egos inflados, esteja preparado para isso também.
Gostou? Então dedique-se ao máximo e faça tudo da melhor maneira possível, não há como errar assim. Se você estiver precisando de inspiração para começar, seguem alguns nomes importantes da fotografia de moda:


Eu acho que, desses fotógrafos citados, eu conheço praticamente todos, mas tudo por culpa dos estudos. Quanto mais eu leio, mais eu percebo que não vou me dar bem no mundo da moda, não é exatamente um lugar onde me sinto confortável. Eu gosto da foto independente, da foto que você capta um momento. Assim como Leishman, ele não fica esperando o McFly posar (com exceção do calendário, mas McFly não sabe nem posar direito), ele faz fotos de shows! Shows são repletos de segundos magníficos, onde em uma simples “clicada” você tem uma imagem histórica. Apelando um pouco mais, se Nick Ut (o famoso fotógrafo da menina nua de Hiroshima, Kim Phuc) tivesse visto a menina e pedido “por favor, para de correr só por um momento que eu quero tirar uma foto sua” a foto nunca teria o impacto que teve a ainda tem hoje em dia. Foi um segundo, um momento. Nick corria e quando olhou pra trás viu Kim correndo com o corpo queimado pela bomba; ele não pensou, apenas registrou tudo em um clique. De verdade, não sei se vou dar certo nesse ramo...

Um desfile de beleza, autoestima e de luta pela vida. Assim é a “Festa da Primavera – Passarela da Vida”, evento promovido pelo hospital estadual Pérola Byington

Enquanto eu terminava de ler o livro que eu de verdade deveria estar estudando sobre fotografia na moda, um pequeno portfólio roxo me chamou a atenção, com esses dizeres que eu acabei de ler. Modelos com câncer.

Na verdade era apenas um pequeno folder com oito lindas modelos na frente, todas sem cabelo, porém seus sorrisos mostravam uma felicidade que eu não conseguia ver nem nas modelos saudáveis. Elas tinham câncer, cada uma com um tipo raro e diferente, e elas eram modelos. Com uma grande dose de autoconfiança, as oito lindas belas garotas posaram apenas de biquíni. Seus corpos não eram os magros de passarela, e podia-se ver claramente algumas áreas arroxeadas, as veias um pouco mais saltadas, mas nem por isso elas pareciam intimidadas, muito pelo contrário, elas pareciam nem ligar para isso. Fechei o outro artigo que eu estava lendo e me concentrei apenas nesse, achei a ideia fascinante e inspiradora, triste no fundo, mas olhando para esses oito sorrisos, elas não pareciam tristes de jeito nenhum.

A leucemia é uma doença maligna dos glóbulos brancos (leucócitos), geralmente, de origem desconhecida. Tem como principal característica o acúmulo de células jovens anormais na medula óssea, que substituem as células sanguíneas normais. A medula é o local de formação das células sanguíneas e ocupa a cavidade dos ossos, sendo popularmente conhecida por tutano. Nela são encontradas as células que dão origem aos glóbulos brancos, aos glóbulos vermelhos (hemácias ou eritrócitos) e às plaquetas.

Josephina tem 19 anos. Não achou compatibilidade com nenhuma medula desde os 15 anos, e apenas lida com a quimioterapia desde então. Ela é linda, muito mais linda que qualquer outra modelo que eu já vi. Ruiva, com os olhos verdes esmeralda, sardas laranjinhas pelo rosto e pelos ombros, ela quase não possui sobrancelha e não tem cabelo, mas em parte de suas fotos, ela usa peruca vermelha, azul, rosa. Seu sorriso é lindo e percebe-se que ela é frágil, magra e branca como uma boneca rara de porcelana. Ela não merecia essa doença, ninguém merece essa doença.


- ?

Assustei-me um pouco quando vi parada na soleira da porta do quarto, me olhando de uma estranha maneira curiosa.

- Oi?
- Não ouviu antes não? Tô te chamando a uns cinco minutos.
- Sério?
- Aham – ela riu. – Na verdade eu primeiro bati na porta, então, como você não respondeu eu abri a porta e te chamei por mais um tempo, mas você estava tão concentrada estudando que acho que nem percebeu que eu estava aqui.
- Desculpa, eu... – suspirei. – Você sabia disso aqui? – Mostrei pra o folder com as modelos com câncer.
- Que é isso? – Ela veio até mim e pegou. – Oito modelos lutam contra o câncer e desfilam na semana de moda... Isso é aqui em Paris?
- Não faço ideia – respondi. – Estava junto com os portfólios que devemos estudar, mas não sei se faz parte do nosso trabalho ou está aqui apenas pra mostrar que há outros tipos de modelos – suspirei. – Olha essa aqui: Josephina, 19 anos.
- Uau, ela é linda!
- Sim, ela é perfeita. Leucemia, terceiro estágio – falei com uma certa tristeza. – O quão injusta e demoníaca é essa doença? Essa menina deveria estar vivendo uma vida saudável, livre de qualquer ida ao hospital, quimios e essas coisas.
- Ela é mais bonita que modelos saudáveis, isso é inacreditável.
- Foi exatamente o que eu pensei – disse.
- Mocinhas? – E agora era Sam na soleira da porta. – Olivia, Tyra, uma menina e um bofe lindo de morrer nos esperam no saguão.
- Esse bofe seria o Lucas? – Perguntei rindo.
- Não, bee, esse bofe responde pelo nome Aidan.
- Aidan? Não me parece muito francês.
- É importado da irlanda – Sam bateu palmas como uma foca. – Vem logo, vem logo.
- Ok, ok – eu e pegamos os portfólios em cima da mesa e as pastas, fizemos uma pilha com os documentos e corremos pra fora do quarto, Sam estava dando piripaques no corredor.

Olivia, Tyra, uma menina e esse tal de Aidan – que, por sinal, Sam não havia exagerado em absolutamente NADA – nos esperavam no anfiteatro menor do hotel. Sam, , Lucas e eu parecíamos quatro patetas deslumbrados com tudo o que nos era proporcionado, e eu não conseguia parar de sorrir, ainda mais no momento em que chegamos e Olivia se levantou e veio até mim para me dar um abraço. A garota ao lado de Tyra era muito bonita e parecia ter a nossa idade. Corpo escultural até demais pro meu gosto, cabelos longos, lisos e negros, um sorriso cativante e um olhar delineado de lápis preto que a deixava mais sexy ainda. Sua roupa também não ajudava muito: calça jeans de lavagem escura colada no corpo, blusa vermelha colada e sem manga com um decote em “V”, um colete de couro preto e botas de salto. Pelo que eu ouvi de Tyra, o nome dessa beldade era Bells. A outra beldade ao seu lado respondia pelo nome de Aidan. Cabelos cacheados em um castanho escuro e completamente revoltados, como aqueles loucos que ficam puxando os cabelos pra cima e para os lados quando estão pensando ou criando alguma coisa, olhos pequenos e também castanhos, barba por fazer e um sorriso encantador. O corpo era troncudo e um pouco forte, como um belo camponês irlandês. Usava calça jeans de lavagem normal, camiseta preta e uma xadrez jogada por cima, e eu juro que se ele continuar me encarando desse jeito, eu vou acabar desmaiando. Esse cara é lindo demais, LINDO!

- Bom dia, pessoal – Tyra falou nos recebendo de forma mais formal. – Estão aproveitando Paris?
- Se você diz ficar nas bibliotecas estudando quase todos os dias de “aproveitando”, bom, então “yay” – disse meio sarcástica, mas todos riram.
- Na verdade eu passei essa tarefa pra vocês apenas para vocês entenderem que a realidade da moda não é tudo glamour e beleza como muitas pessoas pensam, há muito mais por trás de uma bela foto, e vocês, como futuros fotógrafos precisam também ter experiência nessa área.
- Meu conhecimento em moda é praticamente nulo – Olivia riu.
- Mas você já fez belos photoshoots para capas de CDs e revistas – eu disse me lembrando mais das capas do Motion in the Ocean e do Radio Active.
- Sim, mas é bem diferente, – ela sorriu. – O clima para um photoshoot musical é completamente diferente do mundo sério da moda.
- Entendi – suspirei.
- Então, nós vamos fotografar as modelos ou não? – Sam perguntou e Tyra riu. – É que eu fiz a maior preparação psicológica pra esse momento.
- É claro que vocês vão, mas não do jeito que imaginam – ela sorriu e nos entreolhamos, acho que teríamos que encarar um desafio. – Mas antes de continuarmos, permita-me lhes apresentar essas duas pessoas ao meu lado. Queridos, esses são Aidan e Bellatrix, também conhecida como Bells – as duas pessoas quase perto da perfeição nos encararam pela primeira vez e sorriram. Meus joelhos ficaram fracos com Aidan e meu ego ficou pequeno com “Bellatrix”.
- Muito prazer – ele nos disse em um sotaque forte que me lembrava o sotaque dos meninos, parecia um pouco irlandês.
- Ravi de vous rencontrer – Bellatrix disse em um perfeito francês e o pouco do meu ego foi embora. Vi as duas bichas loucas ao meu lado se derreterem e controlar o riso, já que ela estava me encarando. – Ou, perdão. Prazer em conhecê-los.
- Bells tem 20 anos e já trabalha na indústria da fotografia há uns quatro anos. Estou certa, Bia? – Tyra perguntou a abraçando de lado e eu senti uma bela ponta de inveja.
- Sim, mais ou menos isso – ela respondeu com uma certa dificuldade no inglês. Quem se importa? A menina é fluente em francês, a língua mais sexy do mundo! Será que esse Aidan é namorado dela? – Eu entrei na escola de fotografia francesa quando eu ainda estava terminando o colegial, mais ou menos com quinze anos, se não me engano.
- Começou cedo – ouvi Sam dizer com a voz derretida. -Vous êtes merveilleux.
- Merci – ela respondeu ficando um pouco vermelha e Sam um pouco másculo. Que porra é essa?
- O que você disse pra ela? – Perguntei, totalmente enciumada.
- Eu apenas disse que ela é maravilhosa. Vou ter que traduzir o ‘merci’ também?
- Controla sua pica, você é gay!
- E ela é uma gata – ele respondeu como sendo algo óbvio. – Nem vou me atrever a olhar pra esse outro pedaço de mal caminho do lado dela, já que ele não tira os olhos de você desde que chegamos.
- Que mentira – respondi meio nervosa, não era verdade, ou era?
- Começa a encarar o bofe por mais de dez segundos e você vai ver claramente Aidan, o irlandês, te encarando.
- Ele é irlandês?
- Sim – Sam riu e me empurrou pelos ombros pra frente, Olivia já estava falando a algum tempo e eu não estava prestando atenção.
- Vocês chegaram a ver o portfólio especial? – Olly olhou para nós. – ?
- Po-portfólio? – Que portfólio? – O roxo?
- Exato – eu a vi suspirar de alívio. – Chegaram a ler.
- Na verdade eu o vi de manhã, não é exatamente um portfólio, mais parece um folder.
- Que é isso? – perguntou, se eu vi de manhã isso significa que nem ao menos sabia do que estávamos falando.
- Quando eu disse que vocês vão participar de uma experiência única e especial aqui em Paris, eu realmente disse com veracidade – ela sorriu. – Vamos nos sentar – e assim, um a um, nos sentamos na mesa redonda grande e cheia de papéis. Ironicamente, Aidan sentou-se ao meu lado. – Aidan, você quer começar, por favor?
- Claro – ele sorriu e nos encarou. Lucas parecia que ia pular no pescoço dele a qualquer momento de tão vidrado que ele estava, cômico de se ver. E eu, ao seu lado, estava zonza com seu perfume, seus cabelos cacheados penteados pra trás, seu sorriso, sua barba por fazer... FOCO! – Bom, nós temos hoje um convênio com o Hospital Association Gombault Darnaud, aqui em Paris. É um hospital especializado em pacientes com câncer, e, bom, minha irmã ficou lá por mais ou menos um ano esperando um transplante de medula, que nunca aconteceu – ele suspirou e minha vontade foi de dar um abraço nele. – Porém, durante esse ano que passei no hospital cuidando da minha irmã, acabei conhecendo pessoas ótimas e, inclusive, meninas lindas entre dezesseis e vinte anos, que também sofriam com câncer, mas queriam uma chance de fazer algo na vida, de se sentirem vivas.
- O projeto de modelos – eu disse e Aidan sorriu pra mim. – É sobre isso que fala o portfólio, Festa da Primavera.
- Então você leu? – Tyra sorriu.
- É – eu arregalei os olhos, todo mundo olhava pra mim. – Digo, estava junto com os nossos outros livros.
- Sim, nós colocamos lá de propósito pra ver se ia chamar a atenção de alguém, e, pelo visto, chamou – Olivia sorriu.
- O que você achou? – Aidan me perguntou, senti meu rosto queimar. Já disse isso uma vez, eu não sei me comportar perto de pessoas bonitas.
- Achei muito interessante – me forcei a dizer. – Tem que ter uma grande força de vontade e confiança pra fazer o que essas meninas fazem, achei incrível.
- Vocês topariam nos ajudar com as modelos? – Bells perguntou. – Na verdade, esse é o nosso propósito.
- Como assim? – Lucas disse.
- Bom – Bells olhou pra Olivia e Tyra e elas sorriram. – No começo nós tínhamos um propósito com a semana de moda parisiense, mas pensamos em um outro projeto alternativo que seria bem mais interessante e poderia contribuir com um grande conhecimento pra vocês. Agora, queremos saber se vocês têm interesse.
- Tô começando a ficar apavorada – riu.
- Queremos que vocês nos acompanhem ao Hospital de Câncer de Paris. As pacientes encontram-se muito debilitadas e o sonho de muitas é querer participar de um desfile.
- Pensamos em construir um desfile pra elas no próprio hospital, e fazer a sessão de fotos por lá – Bellatrix disse, terminando o que Aidan havia começado. – Sabemos que é um grande desafio, e vocês, bom, eu não sei se vocês estão acostumados com esse tipo de tratamento.
- Vamos entender se não quiserem participar, o desgaste físico e emocional é grande e vocês não estão acostumados com tanto – Aidan falou. – Mas é algo a se pensar.
- Olivia? – Eu a olhei quase em desespero, fui a única do quarteto que conseguiu falar alguma coisa.
- Desculpe-nos por esconder isso de vocês, mas pensamos: por que não? – Ela nos olhava meio que com pena. – Querem um minuto pra pensar?
- Sim – falamos em uníssono.

Tyra, Bellatrix, Aidan e Olivia deixaram-nos sozinhos por alguns minutos. já estava com a cabeça debruçada em cima da mesa, Sam e Lucas olhavam pro nada e eu estava com meu coração batendo mais forte do que nunca. Parte de mim queria participar desse projeto, porque eu estaria me sentindo como se fosse o Patch Adams, mas minha segunda parte melancólica e nada empática sabia que eu ia ficar mal e não ia conseguir me comportar perto dos pacientes. Sou péssima com pessoas doentes, e pessoas com câncer...

- Preciso do – eu falei meio catatônica. – Eu preciso falar com ele.
- Vai ligar?
- Vou – suspirei, respondendo a Sam. – Não acho que ele vai me atender, mas não custa nada tentar.
- – Sam colocou a mão em cima da minha quando eu já estava pegando o celular para ligar pro meu namorado. – Pra que ligar pra ele? Essa é uma decisão que precisa ser tomada por nós quatro.
- Eu não estou conseguindo pensar agora – falei meio áspera. – Sam, tem noção de como esse trabalho vai ser desgastante?
- Tem noção de como vai ser lindo? – Ele sorriu. – Essas são pessoas como nós, que não mereciam estar passando por essa fase na vida, mas estão. E se pudermos oferecer a elas um pouco de alegria, em um dia que seja, eu acho que esse deve ser o nosso papel.
- Você já tomou sua decisão? – Lucas perguntou, olhando pro namorado.
- Minha decisão já estava tomada desde que a Bells começou a explicar o plano. Não vejo nenhum motivo para negarmos essa chance.
- ? – Eu a chamei, mas ela continuava com a cabeça baixa. – ? – Ouvi um gemido e não gostei. – , você tá chorando?
- Eu não sei lidar com esse tipo de situação – ela levantou a cabeça e seus olhos estavam vermelhos. – E se eu der um fora? E se eu perguntar “hey, vai demorar muito pro seu cabelo crescer?” – Ela bufou e nós rimos baixo.
- Desde agora você já sabe que esse tipo de pergunta está proibida – Lucas a abraçou de lado e riu. – , meu amor, você vai dar um fora! Mas você não acha que essas pessoas já estão acostumadas?
- Eu acho que vai ser bom – disse ao fim e Sam sorriu em alívio. – Não vamos aprender apenas uma arte diferente de fotografar, mas é uma lição de vida.
- E pensa como que elas vão ficar felizes, qual a chance dessas meninas um dia pisarem na passarela? – Lucas falou. – Nós vamos levar a passarela até elas.
- Fechado? – Perguntei, sentindo meu estômago virar, mas eu sabia que era em parte de felicidade.
- Certeza – Sam sorriu. – E vocês?
- Por mim, tudo excelente – Lucas falou. – ?
- Eu odeio vocês, eu odeio vocês – nós rimos. – Tô dentro.
- Yaaaaay!

Estamos indo para Suécia hoje à tarde. De lá vamos para Alemanha e, pelo que eu ouvi, parece que vamos esticar pra Austrália. Acho que você vai voltar primeiro que nós. Como estão as coisas aí? – x

me mandou essa mensagem no início da noite, ou pelo menos eu fui ver a mensagem esse horário. Essa hora eu acho que ele já deveria estar no voo. Bellatrix, , Sam e Lucas caminhavam na minha frente enquanto eu ouvia ela os ensinando algumas palavras em francês, devo confessar que achava engraçado o jeito nada elegante deles falarem francês, não levam jeito pra coisa, mas eu nem falo nada porque eu não levo jeito pra isso também. Andava um pouco mais devagar com o celular na mão pensando se o respondia ou não, achei melhor responder, porque uma hora ou outra ele ia acabar vendo e, se eu ficasse muito tempo sem dar notícias, ele ia começar a ter piripaques. Conheço bem meu namorado.

Suécia? Parece legal, ouvi dizer que as fãs são bem atrevidas. E Alemanha? Austrália? Pensei que sua agenda estivesse diferente, mas divirta-se. Me liga quando puder, tenho algumas coisas pra te contar. Aqui tá tudo bem, mas teremos um desafio bem chocante pela frente, preciso de você ao meu lado. Manda beijo pros meninos, incrivelmente estou com muitas saudades. Te amo, se cuida e boa viagem – x

E não aguentei, mandei mais uma:

Tem como você acessar seus e-mails? Não vou conseguir ficar muito tempo sem dar notícias, acho que por e-mail fica mais fácil. É isso, tô ansiosa. Amo você.

- Namorado?

Assustei-me quando vi Aidan caminhando ao meu lado e dando uma bisbilhotada no meu celular. Ele sorria com os lábios fechados e parecia bem interessado no que eu estava fazendo. Sorri meio tímida e mostrei o celular pra ele, o nome ‘ ’ brilhava no visor.

- Conhece One Direction? – Perguntei meio sem jeito.

Aidan tinha mais ou menos 25 anos, era HOMEM. Partindo dessa ideia, pensa a minha vergonha ao perguntar se ele conhecia uma boyband. Como resposta, ele começou a rir, e eu não sabia se aquilo era bom ou ruim.

- É meio impossível não os conhecer, quem hoje não conhece One Direction?
- Ufa – foi minha vez de começar a rir. – Sabe o nome deles?
- Aí já é pedir demais – ele sorriu. – Mas, então, você é namorada de um deles?
- Sim – suspirei e senti meu rosto queimar. – É engraçado, porque eu não o vejo como o popstar da mídia, ele é, tipo, só meu. Meu – sorri.
- Uau, você o chama de ‘meu’ – ele colocou as mãos nos bolsos e me olhou de lado; se é possível, esse homem ficou mais lindo. – Vocês dois têm sorte.
- Muita gente fala isso, que nós temos sorte. Estou começando a concordar com isso, nunca me considerei com sorte nessa vida.
- Mas você tem. Não é qualquer pessoa que tem a sorte de achar uma pessoa no mundo pra chamar de ‘meu’ ou se apaixonar da maneira que você está apaixonada agora, e eu garanto que ele te ama o mesmo tanto – ele chutou uma pedrinha no chão.
- Gosto de acreditar que sim – eu ri. – Mas e você, tem namorada?
- Nhá – ele fez uma careta gostosa e começou a rir, assim como eu. – Não me prendo a ninguém, não gosto de fincar raízes em um lugar ou com pessoas. Sou livre. Em um dia eu estava na Irlanda e hoje estou aqui em Paris em boa companhia e com a namorada de um popstar ao meu lado – Aidan me empurrou de lado e nós começamos a rir.
- Estilo Jack Dawnson? – Perguntei rindo e torcendo pra que ele entendesse minha piada.
- Exatamente – ele concordou. – Mas, diferente dele, não pretendo achar minha Rose.
- Não acha que deve ou pode se apaixonar?
- Acho que todo mundo na vida tem um propósito. Você tem um papel a cumprir na terra; o meu, eu estou cumprindo, não sei se parte do plano seria eu encontrar alguém.
- Você falando desse jeito – eu ri. – Parece eu há um tempo atrás, até encontrar o .
- Eu vou terminar sozinho da mesma maneira que comecei – ele soltou esse quote e eu até parei de caminhar. – Conhece?
- Pearl Jam? – Sorri e ele sorriu mais ainda ao ver que eu sabia do que ele estava falando.
- Quantos anos você tem?
- Suficiente pra conhecer Eddie Vedder – sorri. – Você citou Corduroy, uma das minhas músicas favoritas. Eu citei ela outro dia pro , expliquei a história toda pra ele e de como essa música surgiu.
- E ele conhece Pearl Jam?
- Por minha causa – eu ri. – Aos poucos ele vai conhecendo, mas devo dizer que mudei muito meu conceito musical por causa dele.
- Seu namorado está em uma boyband, é claro que você tinha que mudar. Todo mundo acaba se moldando em um relacionamento, é assim que funciona.
- Quando você fala desse jeito, eu tenho a impressão de que você já esteve em um relacionamento sério – olhei-o de lado e vi Aidan esconder um sorriso. – Meu Deus, o que essa mulher fez com você?
- Que foi? – Ele riu. – Qual é.
- Dá pra te ler muito fácil, Aidan. Quanto mais você se esconde por trás dessa forma de ‘sou livre e não me prendo a ninguém’, mais dá pra ver sua personalidade e sua história.
- Dizem mesmo que os fotógrafos costumam capturar a essência da alma, isso já está acontecendo com você?
- Acho que sim – sorri assim como ele abriu aquilo sorriso torto cativante.

Ficamos andando um ao lado do outro em silêncio enquanto eu via meus amigos na minha frente rindo e Sam, de um jeito estranho, pagando pau para Bells. Ri comigo mesma e senti de leve os dedos de Aidan roçarem aos meus enquanto caminhávamos. Pensei que fosse coisa só da minha cabeça, por isso resolvi ignorar. Novamente senti e quando pensei que ele fosse juntar suas mãos nas minhas, cruzei meus braços em um gesto involuntário, fingindo que estava com frio. Na verdade, esse pequeno toque causou um frio em minha espinha, coisa que eu não sentia com mais ninguém além de . Ninguém “dava em cima” de mim, ninguém me bajulava, então esse tipo de atenção era sempre algo novo.

- Tá com frio?
- Um pouco – ri sem humor.
- Você mora em Londres, como pode sentir frio na França?
- O vento é diferente – falei pensando a primeira coisa e ele sorriu.
- Casal? – olhou pra trás com aquela cara de arteira e eu fiz careta. – Acho que chegamos.
- Onde?
- The Green Linnet – Aidan disse. – Pub irlandês, em Paris – ele piscou. – Minha escolha.
- Claro, vindo de um irlandês – eu ri. – É caro?
- Quem disse que você vai pagar alguma coisa? – Ele rolou os olhos e indicou a minha frente, querendo dizer que era pra eu caminhar logo e ir pro pub. Ok.

Como não era de se esperar menos, o tal ‘The Green Linnet’ era lindo. Perfeitamente aconchegante, com um toque irlandês em cada detalhe. Como Bells fez questão de descrever “Este pub é diferente dos outros pubs irlandeses na capital, oferecendo uma atmosfera mais moderna. Você não encontrará um balcão e as paredes de madeiras, por exemplo. No entanto, o proprietário e um verdadeiro irlandês. Porém, como na Irlanda, você vai encontrará lá uma televisão, um piano, sofás macios, e, é claro, jogos (dardos e billard ). A pinte custa 4,50 euros todos os dias e a qualquer hora!” E como ela mesma havia descrito, o lugar era muito irlandês pra estar na França, por isso Aidan estava se sentindo tão confortável. Eu acho que, ao passo que fomos entrando no lugar, ele foi cumprimentando absolutamente todo mundo, homens e mulheres, e todo mundo arrastava uma asa pra ele – sim, homens e mulheres novamente. Achamos uma mesa um pouco mais ao fundo e na mesma hora dois garçons nos deram uma caneca gelada de cerveja Guiness, a tão tradicional cerveja. Sam e Lucas olharam boquiabertos o jeito que Aidan falava com as pessoas e como todos ali o tratavam bem. Bells também não passava despercebida, ainda mais com aquele vestido vermelho colado no corpo, mas ela não era nada vulgar, era apenas linda demais, sem fazer esforço.

- S'il vous plaît crevettes avec beaucoup de glace et une bouteille de champagne. Que pensez-vous, Aidan?
- Champagne?
- Oui, nous devons célébrer. Que pensez-vous d'une bouteille de champagne, le meilleur des crevettes et un verre avec de la crème glacée à la fraise?
- Qu'est-ce que vous avez à l'esprit, Bells?
- Seulement le meilleur pour nous.
- Eu juro que vou começar a falar português – falei rindo quando Aidan e Bells pararam de falar. Achei sexy demais e tava começando a ficar com calor.
- Bellatrix, vous parlez plus sexy françaises – Sam arrastou num francês com sotaque inglês e deu uma piscada sensual pra ela. Eu e começamos a rir como loucas na mesa, o que tava acontecendo com essas bichas? – Eu não vou traduzir o que falei.
- Nem precisa, seu olhar já fala tudo – comecei a rir. – Escuta, eu vou só fazer uma ligação rapidinho, já volto.
- ?
- Claro – sorri pra . – Algum recado pro ?
- Sim, manda ele se foder, por favor?
- ...
- Ai, vai logo, vai!

Aidan me encarou desde a hora em que levantei da mesa até quando me coloquei pra fora do pub, o que, confesso, me deixou um pouco desconfortável. Não que ele fosse uma pessoa desconfortável, era só estranho. Suspirei, apertando mais meu casaco sobre meu corpo e peguei o telefone, torcendo pro fuso horário de estar bom e ele me atender. Eu não ia conversar nada de sério com ele, era só aquela saudade incômoda que estava começando a aparecer.

- ?
- Amor! – Ele riu. – Espera, desculpa – mais uma risada. Ele tava bêbado? – !
- Bebeu?
- Mais ou menos – e agora eu ouvia a risada dos meninos atrás. – Estamos bebendo há umas três horas e protelando os ensaios. Queria você aquiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...
- Eu também – apertei o celular contra minha orelha. – Saudades.
- And if you-u-u / You want me too-o-o / Let's make a mo-o-ove / Yeah / So tell me girl if everytime we…
- MENINOS!
- , onde você tá?
- Tá bebendo demais em Paris?
- Por que nós estamos bebendo aqui.
- Vou continuar cantando...
- , que música é essa? – Perguntei rindo, na verdade com vontade de chorar. Saudades desses anormais.
- É uma das novas. Sente a honra, tá ouvindo primeiro que todo mundo.
- De um One Direction bêbado, ah que lindo – nós rimos. – Não queria atrapalhar vocês, pensei que não estivessem se divertindo tanto.
- Hey hey – ouvi as vozes dos meninos se afastarem. – , tá tudo bem?
- Tá sim – suspirei. – Eu te ligo amanhã pra conversar melhor, só to precisando de cinco minutos com você.
- Cinco minutos? Você sabe que eu aguento mais que isso – ele riu. – Tá, a porra parece séria, sem brincadeiras.
- Obrigada.
- Tá tudo bem? Alguma coisa com fãs ou...
- Não, nada de fãs, é o trabalho mesmo. Vamos passar por um belo desafio e eu só queria contar pra você.
- Desafio?
- É... Não tem como eu explicar agora, é complexo.
- ? – E esse não era o . Era Aidan. – Tudo bem?
- Quem tá aí?
- Oi? – Respondi para .
- Ouvi alguém te chamando.
- É o Aidan – tossi. – Um dos fotógrafos da equipe da Tyra e da Olivia – olhei pra ele e ele parecia surpreso.
- Tem um homem com vocês?
- Uau, – eu ri. – Tem um homem fotógrafo trabalhando conosco, quer que eu comece a falas das mulheres que trabalham com vocês? Ou devo falar das fãs?
- É diferente.
- Por quê?
- !
- Te ligo amanhã, pode ser?
- Pode – ele suspirou. Eu queria começar a rir, desde quando ele tem ciúme?
- ?
- Que foi?
- Amo você – eu ri. – Volta pros meninos, tá tudo bem por aqui.
- Qualquer coisa você me liga, qualquer coisa mesmo!
- Tá, tá – e sorrindo, desliguei o telefone.

Olhei pra Aidan, que no momento estava com o cigarro na boca e lançava a fumaça pra longe. Desliguei o celular e o coloquei no bolso, indo até ele e achando toda aquela situação engraçada demais, vai saber por quê!

- Você nem mentiu pra ele – Aidan me disse.
- Como assim?
- Geralmente as namoradas mentem para namorados quando tem algum garoto por perto, e você não fez isso.
- Te disse que meu relacionamento com é estranho – sorri. – Não sinto necessidade de ocultar nada dele.
- Vocês são estranhos – ele riu novamente jogando a fumaça longe.
- Somos apaixonados, coisa que você podia experimentar de vez em quando, faz bem sabe? – Eu sorri, dando um tapa nas costas dele e voltando pro pub.

Essa era a explicação que eu tinha pro nosso namoro, paixão.

Os capítulos abaixo foram corrigidos por Abby.


Capítulo 32
Para Lorelai Cohen, ou simplesmente Lary

O dia no hospital na França foi um dos melhores dias da minha vida. Não sei ao menos descrever como eu me senti quando conhecemos as modelos que estavam internadas lá, muito menos colocar em palavras o sorriso delas nos primeiros shoots do dia. Eu acho que nunca conheci pessoas tão lindas e tão estranhamente cheias de vida como aquelas garotas. Esqueci-me do mundo e o nervosismo que eu senti antes passou como se fosse mágica. Até mesmo o que aconteceu depois do shoot, quando fomos embora e eu e voltamos pra casa não doeu tanto... Ou não doeu como eu imaginava que ia doer.

Flashback

Cheguei em nosso quarto e joguei a bolsa na poltrona com força. Eu estava tão cheia daquilo!

- ? – vinha atrás de mim. Na raiva, eu havia a deixado para trás meio sem querer... Eu só queria sair de perto de todo mundo logo.

Eu não queria que meu cérebro ficasse pensando naquilo, eu juro que não queria... Mas sempre surgia uma voz irritante perguntando “Por que é sempre mais difícil pra mim?” “Por que elas sempre pegam mais pesado comigo?” “É porque eu sou brasileira?” “É porque eu não sou tão bonita quanto a ?” Me deitei na cama de barriga pra cima e coloquei as mãos sobre os olhos.

- ? – me chamou, receosa. – Você tá bem? - senti que ela se sentou na cama.
- Não aguento mais, ! Que merda! – desabafei, sendo um pouco mais agressiva do que pretendia e ela se encolheu.

Eu não podia descontar nela! Não na minha melhor amiga, a pessoa que tinha me ajudado tanto nos últimos meses e umas das participantes mais importantes dos momentos mais felizes da minha vida nesse tempo todo em Londres. Tirei a mão dos olhos e a olhei.

- Sabe, eu até tava começando a achar que aqui em Paris seria diferente, que as fãs não iam nem me reconhecer ou que iam pegar mais leve. Mas pelo visto eu estava enganada, DE NOVO! É sempre a mesma coisa, parece que elas possuem um prazer doentio em me xingar, me fazer sentir como se fosse merda!
- E você não percebe que é isso que elas querem? Que elas precisam te deixar mal, porque você “tem” uma coisa que elas querem muito? – se deitou ao meu lado – Não fica assim... Você e o estão tão bem... Não deixa essas meninas te botarem pra baixo!
- É o que eu to tentando fazer desde que esse tumulto todo começou! Não pensar nisso, não me importar...
- Sabe o que você precisa? Enfrentar essas meninas! – se levantou e sorriu abertamente, como se tivesse acabado de ter a ideia mais brilhante de todas. Eu me sentia meio como o Cascão ao perceber que o Cebolinha bolava mais um plano (in)falível! – Depois do que passamos hoje no hospital, acho que mais do que nunca você precisa colocar um ponto final nesse bullying idiota.
- E como eu faço isso? Vou bater nelas? Bom, mesmo que eu pudesse bater em uma, ainda sobrariam milhões... E o me mataria!
- Que bater nelas? Quem falou em bater? – ria da minha cara. – Tava pensando em uma twitcam pra você...
- UMA O QUÊ? VOCÊ TÁ DOIDA, ? – acho que a ideia de bater nelas me parecia mais razoável.
- Mas pensa só, ! Me escuta: Essas meninas tem falado de você e te xingado por meses e o que elas realmente sabem de você? Elas sabem o que tá escrito na sua bio do twitter, que você é brasileira, que estuda em Londres e que namora o ... A maioria delas nunca ouviu sua voz, nunca viu você rindo, conversando, falando de fotografia... Como elas podem mudar de opinião sobre você assim?

Que raiva... Fazia todo o sentido! Odeio quando a tem razão, o que anda acontecendo na maior parte do tempo.

- Elas vão me massacrar, ! – falei, colocando em palavras o maior medo em me expor tanto.
- Só se você deixar... Por que você acha que sofre mais com isso, ? Porque você SE DEIXA atingir!

Fazia sentido... De novo. Meu estoque de desculpas estava se esgotando! Fiquei um tempo em silêncio digerindo a ideia de ficar falando sobre mim para um monte de fãs que provavelmente só assistiriam esperando um deslize mínimo pra me crucificar. Em compensação, eu teria tempo para provar a elas que eu era mais que simplesmente “a namorada de ”.

- Ok, vai... – me dei por vencida – Vamos fazer esse negócio então!
- Vamos? – riu – Vamos nada, mocinha! VOCÊ vai.
- Você tá brincando, né, ? Não vou fazer isso sozinha!
- Calma! Eu vou estar aqui com você... Mas acho que você devia ir sozinha primeiro. Enfrentar seus medos... Ser maior que eles!
- E desde quando você ficou filósofa desse jeito? – falei e ela me mostrou a língua.
- Vai se arrumando aí, vou buscar um chocolate pra mim. ALGUÉM saiu correndo e eu não pude comprar a sobremesa!

Joguei uma almofada em sua direção e saiu gargalhando pela porta. Respirei fundo e me levantei, pensando o que eu precisava fazer antes. Lavar o rosto, passar pelo menos um básico de maquiagem, trocar de roupa... Estava quase desistindo quando me lembrei que provavelmente me mataria se voltasse e eu estivesse do mesmo jeito. Peguei minha bolsa, puxei o notebook e o liguei. Deixei-o em cima da cama enquanto me arrumava e me peguei ensaiando o que ia dizer no começo. Nunca ficava tão bom quanto eu queria. Era uma merda ser perfeccionista, mas eu teria que me virar com o que saísse! Olhei-me no espelho e me achei... Ok. Porque eu não podia ser a Bünchen? Mas “ok” era bom, certo? De qualquer forma, ia ter que servir. Peter Jackson achou ao final das gravações de Senhor dos Anéis que o filme estava ‘ok’ e olha no que deu! Não que eu vá me comparar ao nível do Peter... Ok. Quando me senti pronta, respirei fundo mais uma vez e tweetei:

“Hey,, alguém aí? Estou pensando em fazer uma twitcam!”

Pensei se olhava ou não as mentions, mas eu me conhecia bem demais. Se tivesse UM tweet falando que eu só queria aparecer, eu iria desistir. Entrei no site da twitcam, ajustei a webcam e escrevi “Alguém mais entediado? Que tal um Q&A?” Com um “Vou te matar, !” na cabeça, apertei o “Broadcast and tweet”. Agora já era!
Fiquei um tempo quieta e nervosa observando o número de viewers subir. Primeiro devagar e, depois, vertiginosamente. Na barra ao lado, onde ficava o chat, os muitos tweets de RT iam sendo rapidamente substituídos por perguntas, elogios e, lógico, xingamentos.

@1DGirlFriends Oi, ! Você é linda!
@_My_BooBear_ Era só o que faltava mesmo!
@Larry_X_Stylinson Nossa, você é mais feia do que eu imaginava!
@1DstalkerBulgaria Oi, , me segue!
@NoJimmyProtested Quanto tempo você mora em Londres?
@LollaHoran Fala alguma coisa!

Ah, é... Eu precisava falar, né?

- Hmm... Oi, gente! Eu... Hmm... Resolvi fazer essa twitcam pra responder umas perguntas e interagir um pouco com vocês. Por isso, perguntem o que vocês têm curiosidade de saber sobre mim! Vou tentar responder o máximo de perguntas possíveis, mas não vou tolerar grosserias, ok? – não consegui me controlar ao ler uns comentários ridículos subindo no chat. – Quem não estiver interessado, pode fechar a página e voltar a fazer o que tava fazendo!

Aquilo soou MUITO como uma professora, me segurei para não rir! Voltei meus olhos para o chat a procura da primeira pergunta.

@BeMineHarry Perguntas? O é bom de cama?
@LiamsLostKidney A única pergunta que me vem a cabeça é: COMO tá namorando com você?
@MaryMcFLYE1D Qual a melhor parte de namorar um integrante do 1D?

Passei por essa pergunta enquanto lia as outras, já me arrependendo de estar fazendo aquilo. Por que mesmo eu estava dando minha cara a tapa numa twitcam? abriu a porta do quarto comendo um chocolate e se jogou na poltrona em frente à cama, onde eu e o notebook estávamos. Ah sim, era ela o motivo do meu suor frio e o sentimento estranho no estômago. E dessa vez não era fome! Eu tinha que estudar, revelar minhas fotos, ligar pra minha mãe no Brasil... Mas tinha tido aquela ideia genial de que eu deveria “enfrentar meus medos sendo maior que eles” e, para isso, interagir com as fãs de One Direction. Na minha concepção, isso significava ser jogada aos leões.

- Fala alguma coisa! – ela sussurou, fazendo sinal para que eu prosseguisse. Pisquei e percebi que estava há alguns minutos encarando a tela do notebook sem dizer nada. Aí sim as fãs iam achar que eu era retardada! Tossi e decidi responder aquela pergunta.
- Hum... qual a melhor parte de namorar um integrante do 1D? – repeti em voz alta a pergunta que tinha lido – Bom... Acho que é quando eu estou namorando o garoto por quem sou apaixonada e o trabalho dele não importa muito... – respondi dando de ombros, meio tímida.

abriu um sorrisão e fez um sinal de positivo e eu sorri também. Mas falar do “garoto por quem eu sou apaixonada” me deixou um pouco preocupada sobre o que ia achar disso tudo. Se ele ia pensar que eu estava nos expondo ou algo assim. Por isso resolvi que ia evitar o máximo possível as perguntas relacionadas a ele e ao 1D, se é que isso seria possível. Passei os olhos mais uma vez a procura de uma pergunta que eu ficasse a vontade para responder e senti um sorriso se formar em meu rosto.

@Lary_Cohen E aí, garota? Twitcam? Hahahaha... Deve estar sendo um martírio pra você. Gostei da camiseta ;)

- Oi, Lary! – falei e evitei olhar para onde estava, mas conseguia imaginar sua expressão de raiva. Olhei então para minha camiseta. – Minha camiseta é linda mesmo! É da minha banda preferida, o Pearl Jam...

Se tem uma coisa que eu aprendi é que ninguém pode me parar quando eu estou falando de um assunto que domino. Já que estava nervosa, me segurei no “Pearl Jam” por um tempo, contando como eu havia conhecido a banda, minha música favorita e coisas desse tipo. Logo comecei a ler perguntas relacionadas a música e passei a me sentir mais a vontade. Já nem parava pra ler os comentários ruins, porque estava focada em achar perguntas que dessem continuidade ao assunto.

@1Love1Direction E o que você faz em Londres? Faculdade?

Sorri de novo ao encontrar a oportunidade para falar da minha paixão. E aí eu tive certeza de que estaria bem. De algum modo eu entendia como aquelas garotas conseguiam se sentir tão superiores quando iam falar mal de mim. Sentada ali sozinha, na frente do meu note e falando sobre o que eu amava, eu me sentia invencível. A diferença é que eu usava essa minha coragem para algo bom... ria às vezes das coisas que eu respondia ou contava e me olhava com certo orgulho. Eu tinha conseguido, certo?

- Oi, Michelle! Oi, Suria! – me peguei falando, mandando “shout outs” individuais para algumas garotas. Não queria confessar, mas estava me divertindo – Eu já estou na França, não sei se andaram lendo meus últimos tweets. Fico aqui mais uma semana, o que vocês me recomendam, além de visitar a Torre Eiffel?

@xXLouisCarrotsXx Fala alguma coisa em português!

- Eu sinto saudades do Brasil! – falei em português e me olhou estranho. Ela só me via falando português com meus pais, então não era como se ela pudesse entender o que eu estava falando. Traduzi para ela que sorriu mais uma vez.

@IsaLovers1D A TA AÍÍÍÍÍ?? CHAMA ELA!!

Lovers! A já tinha até Fan Clube!

- , tão te chamando aqui! – Falei e ela pulou do sofá como se só estivesse esperando pra ser chamada.
- Oi, galera! E aí? – ela disse animada, se sentando na cama atrás de mim e colocando a cabeça por cima do meu pescoço.

Enquanto ela tagarelava, não pude deixar de notar alguns xingamentos para ela também “Feia”, “Gorda”, “Vaca”, “Tira as mãos do !”... Nada muito original. Nada que eu já não tivesse lido uma porção de vezes... Peguei-me pensando que todo aquele dilúvio de nomes feios e xingamentos não eram pessoais. Não era eu, , que elas odiavam. Elas odiavam a namorada do , a namorada do , e olha que a nem estava mais com ele. Olhei para se divertindo ao tentar falar o que quer que fosse em francês e não pude deixar de me sentir grata por ela ter me obrigado a fazer aquilo. Não tinha sido em vão, afinal. Não sei quanto às fãs de 1D, mas eu tinha aprendido muito naquela tarde. Pra finalizar com chave de ouro, meu celular vibrou e eu vi a carinha sorridente de .

“E quando é que você quer encontrar seu namorado, por quem você é apaixonada, pra gente NÃO falar do meu trabalho?” – x

“O mais rápido possível!” x

Flashback off

Como era de se esperar, o fato de ter me exposto desse jeito me fez muito bem, também sentiu um grande orgulho de mim, ficou falando dessa twitcam por algum tempo com as fãs no twitter e isso tirou aquele peso de ‘sou apenas sua namorada’. Estávamos agindo como um casal que está junto há anos, e eu nem tinha parado para pensar que, de verdade, fazia muito tempo mesmo que esse relacionamento estava durando. Era uma coisa especial, só nossa. E fico muito feliz em saber que ninguém entende e que na verdade muita gente se incomoda com isso. Lembro uma vez que eu li alguém falando que eu e não passamos mais que 48 horas brigados. Pergunto-me como que essa pessoa sabe disso, mas enfim, é a mais pura verdade. Brigamos feio apenas uma vez e no dia seguinte já ficou tudo resolvido. Qual o problema? Tenho mais é que agradecer por não sermos o casal problema, com clichês namorísticos onde ele ia sair pra turnê e me trair ou eu fosse ficar me achando a última garota do mundo por ter sido a escolhida dele, ou ficarmos na melequinha de amor que todo mundo acha bonito. Somos um CASAL que se ama, gostaria que as pessoas entendessem isso e nos deixassem em paz.

Diferente de qualquer outra fã francesa que eu possa ter conhecido, as meninas do hospital eram adoráveis e nos trataram como popstars, sendo que as divas do dia eram elas.

Tudo começou cedo. Às seis horas já estávamos de pé esperando por Bellatrix, Aidan, Tyra e Olivia no saguão do hotel onde estávamos. Sam estava sentado em cima da nossa mala com equipamentos, dormindo parecendo um suricate, mas dormia. Lucas encostado no ombro de e ela o abraçando, ambos também dormindo em pé, e eu com o celular na mão agoniada porque não conseguia falar nem com nem com minha mãe desde ontem. Eu precisava de uma palavra de conforto, só uma! Mas ele estava viajando por algum lugar – a agenda dele estava uma loucura, uma hora era Suécia, depois Alemanha, aí já foi parar na Nova Zelândia em questão de dois dias. Próxima parada seria o Japão – e eu não ia conseguir falar com ele pelos próximos dias, o que me deixava pior. Quando eu quase estava ficando mais desesperada, vi os quatro aparecendo. Bells parecia uma modelo da revista Vogue, como que essa criatura ficava linda desse jeito as seis horas da manhã? SÃO SEIS HORAS DA MANHÃ! Não posso falar muito porque, Aidan também não está de todo ruim. Barba por fazer, cabelo todo bagunçado e cheirando a colônia pós-banho, tava bonito.

- Bom dia, equipe – Tyra nos cumprimentou – Como estão?
- Com muito sono – Lucas sonolento respondeu, arrancando risadas matinais e roucas de todos nós – Preciso de cafeína.
- Passaremos pelas melhores cafeteiras parisienses no caminho, Lucas – Olivia falou indo até nós – Fique tranquilo.
- Bom, antes de irmos preciso dar as coordenadas para vocês – Tyra falou – Bells, tome a dianteira.
- Merci – ah, ótimo! Mais francês! – Bonjour.
- Bonjour – respondemos em uníssono, eu com toda má vontade do mundo.
- Bom, até chegarmos ao hospital demora mais ou menos uma hora e meia, depende do trânsito. Por esta razão resolvemos sair bem mais cedo do que o horário comercial parisiense, a possibilidade de chegarmos em uma hora é bem grande – eu podia claramente sentir Lucas babar ao meu lado. A bicha tá virando hétero – Vamos tratar das pacientes de forma normal, a única coisa que vamos usar é a máscara no rosto. Elas não estão com a imunidade muito boa, então todo cuidado ainda é pouco.
- Vamos precisar de luvas ou essas coisas? – perguntei.
- Conversamos com os médicos responsáveis – Aidan começou – Explicamos que nosso trabalho é praticamente todo manual, o uso de luvas pode tirar nossa sensibilidade com as câmeras.
- Entendi – falei. Senti alívio, não gosto de trabalhar com luvas.
- É como se fosse um trabalho normal como outro, a diferença é que as meninas estão carecas vamos fazer os shoots no hospital – ele sorriu.
- Elas podem passar mal durante o ensaio? – ouvi Sam perguntar – Eu já, bom, na minha família eu passei por alguma situações envolvendo câncer, sei que a pessoa fica bem frágil.
- Pode acontecer, Sam – Tyra falou – Mas todo trabalho de vocês será acompanhado por enfermeiras e paramédicos, então qualquer coisa vocês podem e devem pedir a ajuda deles.
- Vocês vão? – perguntei.
- Infelizmente não, mas sei que Aidan e Bells vão ser ótimos professores pra vocês.
- Olivia! – eu pestanejei – Fomos escolhidos por vocês para esse ensaio. Na verdade era pra ser a Semana de Moda, mas enfim... É um trabalho que vai exigir observação de vocês, pelo menos de você que é nossa professora.
- ? – me cutucou – Quer parar?
- Não entendo porque vamos confiar em duas pessoas que não conhecemos quando você e a Tyra estão na mesma cidade que nós – bufei.

Eu não ia querer MESMO que essa tal de Bells começasse a me ensinar como fotografar, tá doida? E mesmo o Aidan sendo um lindo cavalheiro irlandês, se ele começasse a dirigir minhas fotos ia ter briga. Olivia e Tyra conhecem o meu trabalho e o do pessoal, por que elas não vão com a gente? Tem como alguém concordar comigo, por favor?

- ? – Olivia me chamou – Posso conversar com você a sós?
- Se ferrou, tagarela! – disse – Se você sair da equipe, eu te mato por falar demais.
- Cala a boca, – respirei fundo e fui com Olivia pro lado de fora do hotel, sentindo meus amigos e os dois que não fazem parte da equipe me encararem.
- Ok, eu acho que posso falar que te conheço muito bem pra saber que você não está bem – Olivia começou a falar, cruzando os braços e me encarando – Que foi?
- Como assim? – eu to meio cansada de todo mundo falar que eu sou estranha ou que eu ando estranha, e eu JURO que to me alimentando bem.
- Você anda nervosa, ansiosa, sendo um pouco rude comigo e com os nossos convidados...
- Que eu não entendo o motivo de eles terem sido convidados.
- !
- Olivia, é sério! Você nos prometeu uma coisa e quando chegamos aqui nos deparamos com outra, tem noção de como anda meu psicológico? Eu to num país que eu não conheço ninguém, vou fazer um trabalho que eu to cagando de medo com duas pessoas que eu não conheço e uma delas adora se exibir.
- Tá com ciúme?
- Eu não gosto de concorrência.
- Você namora o ! – ela riu de forma sarcástica – Concorrência é algo que você deveria estar familiar.
- No meu campo de trabalho, eu quis dizer – supirei fundo – Eu não gosto de concorrência, ainda mais uma garota que você coloca na dianteira como...
- Como o que? – ela desafiou – , eu te coloco na dianteira de praticamente tudo em sala de aula. Você é nossa melhor aluna e já fui questionada muitas vezes sobre os outros alunos. Existem alunos excelentes, mas eu não vi neles a mesma paixão que eu vi em você a partir do primeiro dia. Todos estão lá porque assumem que fotografia é uma diversão, e não uma arte. Eles não possuem o mesmo brilho que você, e eu generalizo incluindo os seus amigos – engoli a seco – Confio cem por cento em você, quase de forma cega, porque eu vejo muito de mim na sua pessoa. E você deveria confiar mais em mim e nas minhas escolhas, acima de tudo baixar esse seu ego.
- Mas eu...
- Ainda estou falando.

Era a primeira vez que eu recebia uma bronca de Olivia. Tive uma conversa séria com ela e a Tyra uma vez apenas na sala, mas nada se comparava a isso. Eu queria chorar. A única certeza que eu tenho é que sou uma boa profissional, essa conversa com a Olivia está acabando com ela.

- Você é uma excelente profissional – tá, mudei de ideia – Mas você está entrando na fase onde nada pode te derrubar, onde o seu trabalho é sua zona de conforto, como se você não pudesse aprender mais nada de novo.
- Eu nunca pensei isso!
- Claro que já pensou, . Não mente pra mim, eu tenho anos de fotografia na sua frente.
- Não é bem isso – eu já estava chorando – Eu...

Eu nem conseguia colocar em palavras o que eu de verdade tava pensando. Se eu assumir pra mim mesma que essa Bellatrix não é concorrência apenas em fotografia, mas em beleza vai soar estranho? Essa menina é maravilhosa, e pelo que eu vi excelente no que faz, como não me sentir ameaçada? Mas... Ameaçada em que?

- Tudo bem – Olivia parecia se dar por vencida – Se você não quer conversar comigo não tem problema, eu só estou fazendo aqui o meu papel de professora e sua orientadora. Mas eu vou te pedir uma coisa – ela se aproximou e encostou o dedo indicador no meu peitoral – Confia em você e no seu trabalho, mas diminui seu ego, se não o tombo vai ser grande. Você ainda tem uma vida pela frente, , mas ainda tem muito pra aprender. E pode se aprender com qualquer pessoa, seja ela uma professora como eu, ou uma aluna muito parecida com você, porém francesa – ela suspirou – Não me decepcione.

Assim que me sentei na van fiquei na mesma posição até chegarmos ao hospital. Eu não respirava e muito menos conseguia falar com alguém. estava bufando ao meu lado, mas eu passei a ignorá-la, colocando meus fones e fingindo que ouvia alguma música, quando na verdade eu só queria abafar o barulho exterior. Encostei minha cabeça na janela e fiquei ali pensando em tudo o que Olivi havia me falado. Então é essa imagem que as pessoas têm de mim? Que sou metida? Suspirei e peguei o celular, mandando a terceira mensagem pro nesse dia. Ele não me respondeu... Nenhuma.

“O que você pensou de mim quando me viu aquele dia no London Eye? E na verdade, o que você estava fazendo lá?” – x

Só torci pro celular vibrar.
E ele não vibrou.

- Chegamos – Sam me cutucou na perna, percebendo que minha mente estava bem longe dali – Vai conseguir fazer as fotos?
- Claro que sim, Sam – respondi, tirando os fones – Vamos logo com isso.
- – ele parou na minha frente quando eu me pus de pé e ia sair da van – Eu amo você, e confio que essa equipe não seria nada sem seu talento.
- Sam...
- Eu não sei o que a Olivia te falou, e na verdade não sei quero saber. E sei que você tá meio magoado com o Lucas e comigo porque estamos pagando pau pra Bells, mas você continua sendo nossa número um – ele me deu um selinho rápido – Melhora essa carinha, por nós.
- Sinto saudades do – soltei sem querer – Mandei três mensagens pra ele e até agora nada.
- E desde quando você é tão dependente do seu namorado assim? – ele me respondeu daquela forma afetada – Relaxa, mulher. tá com a banda e você tá aqui com a “sua banda”. Ele vai fazer o trabalho dele e você o seu.
- Prontos, pessoal? – Aidan apareceu na porta da van – Só falta vocês dois.
- Sério? – olhei ao meu redor, como que todo mundo saiu sem eu ver? – Caraca.
- Vamos – Sam de uma de borboleta e pulou pra fora da van, fazendo eu e Aidan rirmos de sua homossexualidade tão aparente.
- Ajuda pra descer? – Aidan estendeu a mão pra mim, sorri e aceitei – Se eu perguntar se está tudo bem você vai ficar brava comigo?
- Vamos combinar que essa pergunta não pode ser feita pra mim nos próximos três dias, tudo bem?
- Combinado – fizemos um high five e rimos – Se prepara pra ter o melhor dia da sua vida.
- Promete?
- Claro – Aidan sorriu.

Os médicos, paramédicos e enfermeiros do Hospital Association Gombault Darnaud já nos esperavam na porta, com toda a educação possível. Olivia e Tyra se despediram do grupo naquele momento e voltaram para a van. Aidan, Sam e Lucas levavam os equipamentos, Bells, eu e ficávamos na dianteira.

Caminhamos pelo hospital, passando por salas, pegando elevadores e vendo todo tipo de pessoa do mundo. Meu coração só doía e eu apertava o celular dentro do meu casaco, torcendo pra vibrar e receber uma mensagem do . Aposto que ele estava de ressaca – de novo – e devia estar dormindo. Mas ele não deveria estar trabalhando? Droga de namorado. ao meu lado parecia ler meus pensamentos, percebi isso quando ela me abraçou pelos ombros e sorriu, dando um beijo de leve em meu rosto. Se fosse outra ocasião eu acho que ia brincar de como ela estava ficando gay, mas nesse momento eu senti como se fosse a prova de carinho que eu precisava. A olhei e sorri de volta, em sinal de agradecimento. Murmurei um ‘obrigada, amiga’ e foi o que nós duas precisávamos. Vi Bells nos encarar pela tangente e sorrir, talvez ela não fosse tão ruim assim.

- Essa é a lista de pacientes – Aidan nos entregou uma lista com cinco nomes – Cada uma possui um tipo de câncer diferente. Deem uma lida antes de entrarmos, fica mais fácil se familiarizar.
- Ok – respondemos.

E agora vem a pior parte. Pelo menos pra mim.

Nome: Angelique Petit
Idade: 19 anos
Tipo: Linfoma

Nome: Marié Dubblet
Idade: 21 anos
Tipo: Leucemia

Nome: Clair Laboité
Idade: 16 anos
Tipo: Astrocitoma

Nome: Danielle Kebec
Idade: 18 anos
Tipo: Sarcoma

Nome: Hellen George
Idade: 17 anos
Tipo: Carcinoma

- Não conheço nenhum desses, a não ser leucemia – falei com a voz embargada – Meu Deus, elas são muito novas.
- São, sim – Bells respondeu – Não é necessário saber que tipo de câncer que é ou qual a diferença entre um e outro.
- Eu sei que isso vai parecer uma pergunta horrorosa – começou – Me desculpem desde agora, mas alguma delas está em estado terminal?
- Quase todas – Aidan respondeu sério. Sam e Lucas engoliram o choro atrás de mim, fiz o mesmo – É por isso que nosso trabalho hoje é muito importante.
- Elas sabem que estamos aqui ou será uma surpresa?
- Sabem, sim, Lucas – Aidan deu um tapinha em seu ombro – E então, preparados?
- Sim – respiramos fundo.

Colocamos as máscaras e engolimos o choro. Pra mim elas ainda eram cinco garotas que estavam com seus nomes em prontuários médicos, cada uma diagnosticada com um tipo de doença, a mais maldita de todas. Eu só conseguia culpar o universo por estar fazendo isso com meninas que nem chegaram aos vinte e um anos. Não fazia ideia de como elas seriam, se estariam nos esperando de braços abertos ou como se fosse mais uma obrigação da parte delas. Fossem modelos ou não, sei que é complicado, ainda mais em suas condições.

Mas novamente, eu estava completamente errada.
Abrimos a porta e vimos as cinco já vestidas com as melhores roupas que elas tinham. Rindo, os sorrisos mais lindos e as risadas mais gostosas. Brincavam consigo mesmas de quem ia ficar com a peruca de quem, ou quem ia ficar com o cabelo ‘Katy Perry’. Estavam maquiadas, eu ainda não sabiam quem era quem, mas qualquer pessoa que entrasse naquele quarto ia ter certeza que ali estavam cinco garotas saudáveis. Elas não aparentavam ter a doença que tinham, confesso que eu me achei mais doente ainda.

Bells passou por nós e foi a cada uma dar um abraço e um beijo, e em uma delas demorou um tempo a mais. Quando se soltaram do abraço percebi que Bells chorava, mas a menina que a abraçava sorria e murmurava alguma coisa que eu não sei o que era, parecia ser francês e soava como se fosse um conforto. Bells sorriu e depois foi falar com as outras. Aidan fez o mesmo, e também parou um tempo a mais com essa menina, supôs que ela devia ser conhecida há mais tempo. Lembrei-me que Aidan tinha uma irmã que estava internada aqui, essa menina deve ser da mesma época. Eu ACHO. Enquanto eles terminavam de falar com as meninas, fomos arrumando os nossos equipamentos, colocando as lentes certas, as câmeras que iríamos usar. Tinha certa dificuldade em respirar com aquela máscara, tinha certa fobia e passava a impressão que as pessoas não fossem ouvir minha voz. Prendi meu cabelo em um coque alto e torci pra ele que não soltasse, nunca fui boa em prender meu cabelo sozinha, sem o auxílio de alguma coisa.

Não demorou muito para que o equipamento estivesse perfeito, com as luzes nos lugares certos e nossas câmeras preparadas. Finalmente, Aidan e Bells chegaram até nós – tudo bem que por dentro eu tava querendo mandar os dois se FODEREM porque não ajudaram em NADA e nós montamos TUDO, espero que eles não queiram se dar ao luxo de usar o que montamos e ainda sairem no lucro – trazendo com eles a menina que eles passaram mais tempo conversando. A menina era branquinha e miúda; usava uma peruca vermelha e amarela que me lembrava do cabelo da Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo (e eu nem posso fazer esse comentário porque eu tenho certeza que eles não conhecem Monteiro Lobato). Na verdade, a menina por si só parecia uma boneca, até vestido amarelo ela usava, igual à Emília.

- Essa é a Clair – Bells disse com a voz embargada – Minha irmã.

Agora tudo fazia sentido. Paulada no meu cérebro por ter julgado a Bells antes de saber do assunto. Idiota, idiota!

- Prazer – foi a única coisa que eu consegui responder. Aidan me encarou sorriu com os olhos, como que dizendo “Viu? Ela tem razões pra ser do jeito que é.”
- Prazer é todo e absolutamente meu – Clair respondeu – Você é a namorada do , não é? Cara, eu amo One Direction.
- Jura?
- Sim, eu estava ansiosa pra te conhecer, a também – ela apontou pra , que parecia imóvel – Namorada do , estou certa?
- A-ham – acho que ela nem ia ter coragem de falar pra Clair que os dois estavam separados.
- Eu fiz uma coisa pra eles, será que vocês podiam entregar?
- Clair, o que nós conversamos sobre isso? – Bells a repreendeu.
- Não, tudo bem – eu falei – O que você fez pra eles?
- Bom – ela parecia animada – Não tem como sairmos do hospital, então eu tive que me virar por aqui mesmo. É bem simples, eu que fiz – ela saltitou pelo quarto, indo até uma gaveta e tirando uma pasta marrom – São desenhos.
- Desenhos? – nosso quarteto falou junto.
- Não ficaram bons como eu queria, eu só... Sei lá, fiz meu melhor – ela entregou a pasta pra mim.
- Vou entregar, pode ficar tranquila – sorri enquanto abria a pasta. Eram os meninos e ela, e os desenhos perfeitos – Meu Deus, Clair!
- Gostou? Acha que eles vão gostar também? – ela parecia apreensiva.
- Eles vão adorar – sorri sentindo meus olhos se encherem de lágrimas – Essa é você com o ?
- Sim, ele é meu favorito – ela parecia envergonhada. Era um desenho dela sentada no colo de com a letra de ‘I wish’ escrita ao lado – Sei que isso nunca vai acontecer, então achei a música apropriada.
- vai surtar quando ver esse desenho – falou – Capaz de pegar o primeiro voo e vir pra cá.
- Você acha que ele faria isso mesmo?
- Estamos falando de , tudo é possível – respondeu.

Conversamos com as outras meninas, que também eram fãs de One Direction. Todas lindas, atenciosas e cada uma com uma experiência de vida diferente. Nós as ajudamos a se arrumar, colocar as perucas – o que eu pensei que fosse ser algo traumático e se transformou em uma situação cômica – passar maquiagem e escolher as roupas. As fotos seriam depois colocadas em uma exposição no hospital, então teríamos que fazer nosso melhor. Mas com elas, não era nada difícil.

- Podemos colocar uma música do One Direction pra tocar? – Angelique perguntou com uma certa dificuldade em falar inglês – Ficamos mais soltas com música.
- Mas é claro que sim – Aidan respondeu por nós – Meninas, o que sugerem?
- ANOTHER WORLD!
- Hm, posso dar uma outra opção? – me arrisquei a dizer.

Eu tinha em meu celular a versão demo de Live While We’re Young, música que nem tinha sido lançada ainda, mas me passou no meu primeiro dia aqui na França. Não sei, mas essa música parecia combinar mais com o momento.

- me passou a demo de uma música que nem foi lançada ainda.
- O QUEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE? – Aidan fez careta quando as meninas gritaram, eu ri porque de certa forma já estava acostumada.
- Não sei se vocês vão querer ouvir, já que é só a demo...
- CLARO QUE SIM!
- ÓBVIO!
- COLOCA LOOOOGO! – Clair estava quase chorando.
- Por que com o fandom de One Direction tem que ser TUDO ao extremo? – Sam disse atrás de mim rindo – Meu Deus, é uma demo.
- Nem queira imaginar se eles, de verdade estivessem aqui – eu sorri – Tem alguma caixa de som para eu ligar meu celular?
- Tem sim, tem sim, tem sim.
- TEM QUE TER!
- Clair, respira – Bells parecia preocupada – Se controla, pelo amor de Deus.
- Bells...
- Aidan, você sabe que ela não pode ficar desse jeito – ela suspirou – Clair, eu to falando com você!
- E eu to falando que tô bem – Clair retrucou – Ne vous inquiétez pas, je ne vais pas mourir maintenant – ela deu um sorriso maroto e Bellatrix ficou pálida. O que foi que ela falou?
- Ni joue avec ce genre de chose, Claire!
- O que elas estão falando? – cutuquei Aidan.
- Clair disse que não ia morrer hoje e Bells falou pra ela nem brincar com isso – ele disse meio rindo – Clair gosta de ameaçar a irmã falando que vai morrer, e Bells retruca dizendo que com essas coisas não se brinca.
- Acho que ela já se acostumou com essa situação, embora eu ache que não há jeito de se acostumar.
- Você aprende a lidar, o que é diferente.
- Achamos a caixa – Danielle apareceu – Cadê o celular?
- Aqui – o tirei de dentro do meu casaco.

No meio da muvuca eu nem percebi que ele tinha vibrado e ali piscava duas mensagens novas. E no visor aparecia uma foto minha e de . Danielle ficou mais branca do que ela já é e começou a tremer e chorar. Ótimo, vou causar um piripaque nessas meninas!

- É o , é o ! , é o !
- Pode ler a mensagem, se você quiser – me arrisquei a dizer, sabia que não ia ter nada de comprometedor.
- QUOI?
- Inglês, Dani, inglês – eu ri.
- Ela perguntou “O QUE?” – Sam traduziu, e eu queria saber desde quando essa biba sabia falar francês.
- Ah sim, é... Pode ler a mensagem.
- E se for pra você? – Clair apareceu abraçando Dani.
- Clair, se está no celular da , é porque a mensagem é pra ela – Bells a corrigiu rolando os olhos. Coisa de irmã mais velha.
- Cala a boca, Bellatrix! – Clair disse brava – Pode mesmo, ?
- Sim, por favor! Eu to curiosa pra ler a mensagem – sorri.
- Então... – Dani apertou visualizar – “Amor”... AI MEU DEUS ELE TE CHAMA DE AMOR!!!!!
- E eu odeio isso – respondi rindo.
- COMO ASSIM?
- É coisa nossa – dei de ombros.
- CONTINUA COM ESSA MENSAGEM, DANIELLE! – Clair berrou, as outras meninas também se aproximaram.
- Tá, tá... – Dani limpou a garganta – “Amor” ah gente, que fofinho – ela riu – “Me desculpe por não ter respondido antes, as coisas aqui na Alemanhã andam meio loucas”. ELES ESTÃO NA ALEMANHÃ?
- Danielle... – agora foi a vez de Aidan falar alguma coisa, eu achei engraçado.
- Je suis désolé – supus que era “me desculpe” – “Tá tudo bem com você? Suas mensagens andam me assustando. Enfim, me liguei quando o shoot acabar no hospital, prefiro falar com você pelo telefone do que por mensagem. Te amo, gênio.”

Um coro de ‘AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHH’ da parte das meninas encheu o quarto. Novamente, Aidan fez careta, nós começamos a rir.

- Eles sabem que vocês estão aqui?
- Sabem, sim – foi a vez de responder – Falamos com os meninos sempre que podemos, não é tão fácil como vocês puderam ver pela mensagem, mas fazemos um esforço – suspirou. Ela sentia falta de falar com .
- Tem mais uma mensagem, não tem? – perguntei.
- Que vocês não vão ler porque isso é uma tremenda falta de educação – Bells falou e as meninas fizeram aquele famoso “bico” quando está manhosa.
- BELLLLSSS!
- , a mensagem é sua.
- Podem ler, eu de verdade não me importo – sorri. Nem eu sei o que estava acontecendo comigo.

“Quando voltar, vai pra minha casa. Parece que nossas agendas bateram e eu vou voltar quase junto com você. Conversamos por lá. Me deixe orgulhoso. – x”

- Je vais mourir!
- Laissez-moi mourir en paix, s'il vous plaît.
- Où me trouver un ?
- Pensez-vous retourner à Londres et attendre?
- Emmenez-moi!
- Je ne peux pas m'arrêter de pleurer tellement d'amour pour toi.

Uma explosão de comentários em francês e eu perdida no meio dando risada. Sam, Lucas e Aidan traduziam, as meninas falavam que queriam um , que iam morrer de amor, essas coisas de fãs. Senti que minha parte com elas estava paga, e olha que elas nem falaram diretamente com ele. Teria que dar um jeito nisso mais tarde.

- Bom, vamos pras fotos? – Aidan falou, pegando a câmera e tirando uma de Clair, que sorria e chorava ao mesmo tempo.
- Aidaaaaan!
- Ficou linda, princesse – ele sorriu.
- Merci.
- , pode colocar a música? – Bells me perguntou.
- Ah, claro – eu sorri pegando minha câmera também. Hora do show.

Hey, girl I'm waiting on you
I'm waiting on you
C'mon and let me sneak you out

And have a celebration, a celebration
The music up the windows down

As meninas fizeram uma fila, como se fossem desfilar em uma passarela. Assim que a música começou, de um jeito cru porque não estava finalizada, elas tremeram e controlaram a emoção. A primeira foi Clair, que pelo que percebi, gostava de se exibir do jeitinho dela. Aidan pediu para fotografá-la, já que ele tinha mais intimidade com ela. Ficamos do lado esquerdo da “passarela imaginária” enquanto Clair desfilava como uma gatinha e Aidan pegava seus melhores ângulos. Bells, pelo que eu podia perceber, não ia participar de nada. Ficou ali na espreita, vendo a irmã e controlando-se para não chorar, mas eu pude ver as lágrimas caindo. Sem ela perceber, bati uma foto sua de um momento vulnerável, que por sinal, ficou linda.

Yeah, we'll be doing what we do
Just pretending that we're cool
And we know it too
Yeah, we'll keep doing what we do
Just pretending that we're cool, so tonight

O próximo foi Sam, que fotografou duas meninas ao mesmo tempo. Angelique e Danielle, mas Clair ainda não tinha saído da passarela por completo e ficou ali fazendo uma graça de forma adorável.

- Sorriam – ele disse, e elas deram o melhor sorriso da vida delas.

Eu nunca tinha parado pra ver Sam em ação, ele ficava “machinho” como fotógrafo, e ainda mais com os seus lindos olhos azuis mirando as meninas, era bem capaz de ele sair dali com menininhas aos seus pés. Eu ficaria... Na verdade, eu fiquei, né? Até saber que ele era gay.

Let's go crazy crazy crazy till we see the sun
I know we only met but let's pretend it's love
And never never never stop for anyone
Tonight let's get some
And live while we're young

Oh oh oh oh oh oh oh
Oh oh oh oh oh oh oh
And live while we're young

Oh oh oh oh oh oh oh
Tonight let's get some
And live while we're young


Marié foi a próxima, que foi fotografada por e Lucas. Eu sabia que Lucas gostava de trabalhar em duplas, e dessa vez quis fazer par com . Cada um pegava ângulos diferentes, e Lucas tinha a característica de fotografar em preto e branco. Marié usava uma peruca rosa pink de deixar todo mundo cego, então nas fotos P&B o cabelo saía brilhando, e eu não faço ideia de como o Lucas fazia isso. Era flash? Cara, ele era bom!

Sem falar na que brincava e conversava com Marié o tempo inteiro, a deixando a vontade durante os shoots. Posa pra cá, posa pra lá, faz coração, biquinho, sorria, séria, roda, vira, frente, trás. Como eu nunca tinha visto o trabalho deles, eu estava aprendendo demais, novas posições e novos jeitos de trabalhar com modelos. Me lembrei do que Olivia havia me falado... Ainda tinha muito o que aprender.

Hey, girl it's now or never, it's now or never
Don't over a thing, just let it go
And if we get together, yeah get together
Don't let the pictures leave the phone oh oh oh

Yeah, we'll keep doing what we do
Just pretending that we're cool, so tonight

Eu era a próxima, com Hellen. Senti que Aidan me encarou, desde o momento em que peguei a câmera até quando me dirigi até Hellen. Era como se ele quisesse saber por que eu tinha sido escolhida, como se quisesse ver o que eu tinha de especial. Não me senti pressionada nem nada, depois de passar esse tempo com as meninas eu me sentia uma outra pessoa, como se aquela tivesse ficado pra trás.

Hellen era divina na passarela, jogava os cabelos da peruca de um lado pro outro e tinha uma grande expressão facial, era muito fácil fotografá-la, ela mandava em cada shoot, como se fosse algo natural. Em três cliques diretos, consegui uma foto que era digna de estar na exposição. E tudo isso em menos de dois minutos, não sei como isso era possível. Gostei do que vi, e parece que não fui a única.

Let's go crazy crazy crazy till we see the sun
I know we only met but let's pretend it's love
And never never never stop for anyone
Tonight let's get some
And live while we're young

Oh oh oh oh oh oh oh
And live while we're young

Oh oh oh oh oh oh oh
Tonight let's get some
And live while we're young

- Essa música foi feita pra nós – Clair falou, tirando a peruca amarela e colocando em cima da cama – Live while we’re young, é o que nos resta.
- Clair...
- Tá tudo bem, – eu ia fazer algum comentário, mas não fiz – Obrigada.
- Nós não fizemos nada, foi tudo coreografado por vocês – Lucas respondeu – Foi um enorme prazer conhecê-las.
- Gente, um minuto... – Danielle saiu correndo na direção do banheiro.

Ouvimos uns barulhos estranhos, os enfermeiros ficaram atentos, mas não demorou pra ela sair dali limpando os lábios e um pouco sem graça.

- Quimio – ela deu de ombros – Uma bosta.
- Você tem isso sempre? – Lucas perguntou.
- Todas temos – Dani suspirou – É um vômito totalmente involuntário.
- Eu nuuuuuuunca teria bulimia, vomitar é um PORRE! – Clair disse. me encarou discretamente nessa hora.

Eu induzindo meu vômito e essas meninas passando por isso. Mais uma lição de moral.

- Com licença – uma enfermeira chegou até nós – Me desculpem, mas as meninas precisam descansar.
- Já sei, Irene – Angelique sorriu – Radio para duas e quimio para três.
- Exato – Irene, a enfermeira, concordou – Dez minutos?
- Sim, sim.
- Eu adorei conhecer vocês – falei – Obrigada.
- Você nos agradecendo? – Hellen riu – De maneira alguma, nós é que temos que agradecer, a todos vocês.
- Foram os melhores momentos da minha vida!
- To doida pra ver as fotos.
- Em uma semana ficam prontas – Aidan falou, fechando o zíper das nossas sacolas e sorrindo para elas – Enviamos por e-mail.
- Aidan, meu lindo – Clair sorriu – Sabe, às vezes nós não temos uma semana.
- CLAIR! – Bellatrix gritou – Para com isso, garota.
- Mas é verdade – ela deu de ombros.
- Três dias, pode ser? – Aidan riu – Por você, Clair.
- Merciiiiiiiiiiiiiiiiiiii – ela afinou a voz e deu um beijo estalado em seu rosto.

Saímos primeiro do quarto, após nos despedirmos de cada menina. Bellatrix e Aidan ainda ficaram por lá, nós entendemos isso.

Foi um alívio tirar a máscara e poder respirar com mais facilidade, aquilo estava me matando. E esse foi o comentário mais BABACA que eu já fiz, “uma máscara me matando”, pelo amor de Deus, ! Depois de passar um pouco mais de uma hora com essas meninas, percebi o quão PEQUENO nós somos e como coisas simples podem fazer uma grande diferença na nossa vida.

Cada uma carregava uma história diferente, uma dor, uma paixão. Conversamos muito sobre isso, absorvi praticamente tudo. E me dava certo desespero em saber que elas tinham pouco tempo de vida, apesar do sorriso delas, eu sei que ali no fundo havia a tristeza em saber que, em poucos meses, elas podiam dormir e nunca mais acordar. Elas nem podia do hospital... Era como viver em uma prisão. E mesmo assim, essas cinco meninas ainda achavam motivos para sorrir.

- Vai ligar pro ?
- Vou esperar chegar no hotel – respondi a Sam.
- Preciso de um banho, tipo, URGENTE! – Lucas falou, sacudindo a própria roupa e a cheirando – Nada contra, mas... Hospitais fedem.
- Babaca – riu – Escuta, vai parecer estranho se eu admitir em voz alta que eu to morrendo de saudade do ?
- Vai parecer óbvio, eu diria – Lucas respondeu – To me perguntando por que você ainda não falou com ele.
- Lorelaaaaaaaai... – cantarolei e me olhou feio, eu ri.
- Depois que conheci essas meninas eu não me imagino perdendo meu tempo guardando um rancor tão pequeno. Meu amor por ele é maior que tudo isso.
- Ai gente, vou chorar.
- , você tá bem?
- Aproveitem meu momento ternura e me abracem, eu to precisando de um abraço.
- ?
- ABRAÇO!

Nós rimos e agarramos ali mesmo no corredor do hospital. Ninguém estava entendendo nada e nós claramente ouvimos uns comentários em francês que fizemos questão de ignorar. Essa visita só nos fez bem, vamos sair daqui outras pessoas.

Antes de partir, peguei minha câmera e dei uma olhada nos shoots que havia tirado. Não tinha apenas da Hellen, mas das outras meninas também; tão cheias de vida, sorriso, alegria. Senti uma dor em meu estômago e me permiti chorar baixinho. Era assim que eu ia me lembrar desses cinco anjos. Alegres, e vivas.

Capítulo 33

O cachecol que havia me dado no nosso primeiro encontro perto do London Eye pousava delicadamente em cima da minha cama. Eu tinha colocado todo o meu “não tão grande” guarda roupa em cima da cama, a única certeza que eu tinha era que hoje eu iria usar o seu cachecol. Estávamos nos aproximando de novembro, e o tempo começava a mudar, não que aqui fizesse muito calor – passei pelo verão europeu um pouco de boa, pra quem mora no Brasil, um calor de quarenta graus não é assim TÃO ruim – mas quando aqui caprichava no frio, era bem frio. Abri a minha janela de leve e vi as folhas balançando de forma violenta lá fora, o que significava que estava congelando. Não era só o tempo, era o vento.

Desde que voltamos de Paris, as coisas estão mais “maduras” entre todos nós. e ainda não voltaram, mas sei que estão caminhando pra isso. Contamos para eles tudo o que aconteceu e tudo o que aprendemos, e acho que nem eles nunca passaram por uma situação parecida com essa. chorou por um bom tempo com os desenhos de Clair, e como era de se esperar, ele pensou desesperadamente em ir até a França conhecer essa menina; mas com uma agenda lotada e apertada como a deles era quase que impossível. Eles iam ter agora pouco tempo de folga, no meio de novembro já iam sair pelo Reino Unido, Estados Unidos e uma visita de leve no México para divulgação do novo CD. Não sei agora quando teria um tempo livre com .

Hoje fazia três dias que nós tínhamos voltado, e mesclando o horário de leve, os meninos conseguiram uma folga, começando a partir de hoje até sexta feira – dois dias a mais. Lorelai e iam sair pra algum lugar que eu não sei, havia chamado para assistir um filme em sua casa, mas ela disse que só iria com a presença dos outros meninos, então e tiveram que ir também. Em contrapartida, me chamou para um programa super londrino: tomar um famoso chá da tarde, e depois passaríamos o resto do dia nesse lugar. Ah claro, não era simplesmente “um lugar”, era O RITZ! Acho que agora dá pra entender o meu questionamento com minhas roupas, porque eu não tenho nada de bom, e acho que o cachecol do é mais caro que metade do que eu tenho aqui.

Peguei duas ou três peças de roupa que eu até achava que fossem boas o bastante para o Ritz quando ouvi três pancadas em minha porta. Não era porque ela já estava na casa dos meninos, e não podia ser nenhum deles já que eles estavam com a . Só me restou uma pessoa.

- – abri a porta sorrindo quando dei de cara com dentro de um paletó, cabelos arrumados e sorriso apaixonante – Uau!
- É o Ritz – ele deu de ombros e começou a rir – Babe, eu sei que você não curte muito essas coisas, mas eu espero que você não vá com essa roupa – ela apontou para o meu camisetão do Bob Esponja, fiz careta.
- Claro que não, o problema é que eu não sei o que vestir – abri a porta dando espaço pra ele entrar – E nem me olha com essa cara de ‘você tem um monte de roupa, ’, porque você sabe que é mentira.
- Mas você tem um monte de roupa – ele riu – Quer ajuda?
- Você já foi ao Ritz alguma vez?
- Algumas – ele suspirou, tirando o paletó e colocando em cima da minha poltrona. Meu Deus, ele parecia um príncipe – Não é tão fresco como todo mundo pinta, na verdade só não pode chegar lá de calça jeans.
- Vestidos são aceitáveis? – perguntei, pegando uns dois que estavam em cima da cama.
- Aham – ele deu uma olhada no relógio.
- Tá, eu sei! Pontualidade britânica – eu ri – Que horas está marcado?
- , chá da tarde em Londres...
- Cinco horas?
- Exato.
- E agora são...?
- Três e meia.
- Puta merda!

Ele gargalhou e começou a mexer nas minhas coisas. Entrei no banheiro e coloquei o primeiro vestido – eu já havia tomado banho, o que era meio caminho andado. O primeiro vestido era formal demais e não era exatamente o que eu estava procurando. Tirei-o e passei pra próxima peça, que eu achava ser um vestido, mas era na verdade uma saia e uma blusinha. A saia era um palmo abaixo do joelho, branca com bordados florais em preto e relevo apenas na barra, cintura alta e um pouco esvoaçante, mas nada em exagero. A blusa era preta com manga “três quartos” e ficava melhor quando colocada pra dentro da saia. Nos pés uma sapatilha preta que parecia aqueles sapatos de bailarina, a correntinha de bússola caindo delicadamente sobre a blusa, e os cabelos soltos e levemente ondulados – já que depois que eu tinha feito uma escova, os prendi em um coque. Base, pó, blush, rímel, gloss e pronto... Será que iam me deixar no Ritz assim? Depois que coloquei a roupa lembrei... TÁ FRIO! Ah, bosta.

- ? – abri a porta do banheiro e o vi no meu computador. Assim que ele me viu, fechou-o e sorriu, daquele jeitinho que eu to me acostumando a ver sem ficar completamente sem graça – Tá bom?
- Tá ótimo – ele se levantou, pegando o seu cachecol – Isso vai também?
- Não sei se com essa roupa vai combinar, mas eu queria ir com ele – sorri.
- Vem cá – fui até ele. colocou o cachecol ao redor do meu pescoço e me deu um selinho rápido, lambendo sua boca depois porque ela estava com um pouco de gloss – Achei que ficou bom.
- Sério? – passei a mão pelo cachecol – Então vou com ele.
- Vamos – ele me puxou pela mão e saímos do apartamento.

deixou o seu carro com o motorista do Ritz e, desde o momento em que descemos até a porta, vários fotógrafos vieram até nós e tiraram fotos de cada passo nosso. Caminhávamos de mãos dadas e era só sorrisos para todos, ele estava de bom humor e eu achava tudo uma gracinha. Uns três chegaram perto demais de mim, e me abraçou pelo ombro, me protegendo de vai saber o que podia acontecer. Eu ainda não me acostumava com esse tipo de atenção, e como eu sempre gosto de enfatizar, gosto de ficar atrás das câmeras e não na frente delas.

Quando entramos, dois garçons vieram até nós e nos cumprimentaram com toda educação londrina que podiam. Vê-los chamando de ‘Sr. ’ era a coisa mais engraçada, porque eu começava a imaginar com uns quarenta anos. Ele estava muito bonito com todo aquele ar inglês, paletó e gravata e muito perfume; não estava acostumada a vê-lo assim, e acho que meu psicológico não estava totalmente preparado. Cada dia com ele era uma surpresa, porque eu descobria novas formas de me apaixonar e de amá-lo cada vez mais.

Fomos acompanhados até uma das mesas centrais. Ritz lembrava o salão de jantar da primeira classe do Titanic, e na verdade faz todo o sentido já que grande parte da burguesia britânica estava a bordo. Talheres de prata – vários talheres – pratos detalhados em dourado, estátuas lustres enormes que ficavam acima das mesas e um tilintar gostoso e delicado de xícaras e pires. Não nos encararam quando entramos, então eu fiquei um pouco mais a vontade, ia ser meio complicado se eu visse vários pares de olhos olhando o que eu estava vestindo ou me julgando como se eu devesse mesmo estar lá. Uma mesa tinha lugar para seis pessoas, mas havia feito uma reserva especial e a nossa tinha duas cadeiras – e tinha nosso nome em cima “Reservado para e , eu quis até tirar uma foto disso, mas me controlei. Ele, como um bom cavalheiro, puxou a cadeira pra eu sentar e selou meus lábios de forma delicada; eu estava me sentindo como uma princesa.

- Babe? – o chamei quando abri o cardápio – Sério, dezessete tipos de chá?
- Eu te ajudo com alguns – ele riu – Por exemplo, alguns você de verdade precisa experimentar, agora outros eu peço, por favor, ignore a presença deles no menu.
- Ok – eu ri.

O menu era lindo, escrito em azul marinho e dourado. Eu podia passar horas ali, só apreciando cada palavra e cada detalhe, mas eu infelizmente estava com fome e curiosa pra provar todos os quitutes. E como isso funcionava?

- ?
- Oi, amor – ele baixou o cardápio e me olhou – Já sabe o que pedir?
- Na verdade, não, eu nem sei como funciona isso aqui.
- Bom, eu fiz a reserva como sendo o Champagne Afternoon Tea, então a qualquer momento alguém vai aparecer com uma taça para cada um e trazendo em outra bandeja os tipos de chá. Você escolhe qual quer, e eles te servem. Então depois vêm alguns garçons com as bailarinas, sabe?
- Bailarinas?
- Bandejas de três andares – ele riu – Cada andar tem uma comida diferente, salgado ou doce. Pode comer a vontade, já que está tudo incluído na reserva.
- Uau. E que mal lhe pergunte, quanto custou a reserva?
- Nada que eu não possa pagar – ele riu de forma pretensiosa, tive que me controlar pra não gargalhar ali mesmo.
- Bom, eu sei que isso está sendo fantástico e que é algo que eu nunca pensei que fosse passar na minha estadia em Londres, mas tem algum motivo especial pra você ter me trazido pra cá?
- Primeiro – ele estendeu sua mão segurando a minha – Te senti muito estranha no tempo em que você ficou em Paris, queria fazer algo especial. Tá melhor agora?
- Estou sim – sorri – Te falei que depois da bronca da Olivia e da fotografia com as meninas eu pensei muito sobre como eu tenho me comportado e meus problemas. Isso tudo foi um wake up call, demorou, mas eu acho que acordei pra realidade.
- E eu estou nessa realidade?
- Sempre.
- O Aidan não está nessa realidade, não é?
- Ai , por favor – eu ri – Eu nem falo mais com ele desde que voltei, ele é um puta dum fotógrafo, só queria deixar isso bem claro.
- Hm, e quantos anos ele tem mesmo?
- Suficientes pra te dar um chute no traseiro se continuar com essas perguntas – dei um beliscão de leve na sua mão e ele sorriu – Mudando de assunto.
- Tá, tá – ele respirou – Eu preciso conversar três coisas com você.
- Ai...
- Que foi?
- Quando as pessoas falam que precisam conversar comigo eu geralmente falo ‘ai’ porque fico tensa.
- Calma, não é nada demais, se bem que tem uma que você vai ficar meio ressabiada.
- Desembucha, .
- Bom – ele tossiu – A primeira é que finalmente nosso CD está pronto.
- Sééérioooooo? – ele sorria de forma tão orgulhosa de si mesmo e dos meninos que foi impossível eu não sorrir junto – Cadê, cadê?
- Tá aqui – ele abriu o paletó e me entregou – É só um protótipo de foto, ainda não tiramos as internas... E nesse aspecto eu chego no segundo ponto que é dividido em duas partes.
- Vocês estão tão inglesinhos nessa capa – eu ri vendo eles arrumados e pomposos em uma cabine telefônica – Nossa, tem Little Things aqui.
- Lembrou o nome da música?
- Claro – sorri – Hm, e Live While We’re Young, Kiss you é aquela bêbada?
- Bêbada?
- Você e os meninos estavam bêbados quando eu liguei lá de Paris, lembra? Aí vocês estavam cantando uma música que depois eu fui saber que era Kiss You, pelo menos eu acho que sim.
- Ah tá! – ele fez careta e começou a rir – Lembro desse dia, é essa mesma.
- Legal – sorri – Esse CD fica pra mim?
- Claro – ele sorriu – Bom, junto com o CD vem outra coisa, que na verdade são duas em uma.
- Eita.
- Nós queríamos que você desse umas ideias pras fotos do encarte – ele mordeu os lábios e fez careta – Tipo, sendo nossa fotógrafa.
- HEIN? – falei meio alto e algumas senhoras inglesas me olharam estranho. Pedi desculpas e voltei minha atenção novamente pra – Como assim?
- Bom – ele estralou os dedos – Eu estava olhando uns encartes do McFly e descobri que o Danny já namorou a Olivia.
- Uau, novidade!
- Pra mim foi, não sou fã deles – ele fez cara de deboche – O negócio é o seguinte. A Olivia tirou as fotos de dois CD’s, não foi?
- Sim, sim.
- E foi assim que o Danny a conheceu, certo?
- Aham.
- Então, já que você é tão fã da Olivia, por que não tira as fotos do nosso CD?
- Porque eu ainda sou uma fotógrafa em formação.
- Que teve suas fotos publicadas em uma edição da SugarScape.
- Aquilo foi sorte.
- Talento!
- Que seja – bufei – , não.
- Dá pra pensar um pouco no assunto? Você mesma disse que queria um dia nos fotografar, como banda.
- Em show, como aconteceu com o McFly. E pra isso eu ia precisar de aulas especiais tanto com a Olivia como umas dicas com o Leishman.
- E você é aluna da Olivia e amiga do Leishman, não vejo nenhum empecilho.
- ...
- , é mais uma experiência pro seu currículo.
- Ah claro, e vão falar o que? Que eu consegui esse trabalho porque sou sua namorada, é isso?
- Não! O entregou um dos seus portfólios para o Simon que ficou bem interessado no seu trabalho.
- SIMON?
- Aham – ele riu – Pra que surpresa? O Simon te conhece, não pessoalmente, mas conhece.
- Caraca – eu sorri de forma involuntária – E o que ele achou?
- Gostou bastante, tanto que te quis como fotógrafa. E na verdade ele nem te viu como minha namorada, mas sim como um talento. Ser minha namorada foi só um bônus na conversa – riu meio sapeca – E hey, nem partiu de mim, foi o quem entregou.
- ! – eu ri – E como funcionaria isso?
- Você ia ser contratada nossa, ia receber um pagamento por isso e futuras indicações no seu trabalho. Pelo que eu vi no seu currículo...
- Você viu meu currículo?
- Claro, precisava mostrar alguma coisa pro Simon – fez uma cara meio óbvia. Quanto tempo eu fiquei fora mesmo? – Enfim, você vai assinar um contrato com o logo da banda, não sei quantos dias que são. Na verdade você vai analisar quantos dias acha necessário porque, sei lá onde vamos fazer as fotos.
- Ah, tá – sorri – Que mais?
- Pra cada dia de trabalho eu acho que são cem euros que eles pagam, mais vale refeição e vale transporte.
- Meu Deus! – é muita grana.
- Parte de você fazer uma lista com os equipamentos que vai precisar e, caso seja necessário, contratar uma outra pessoa.
- .
- Nhé... Não sei se seria uma boa ideia. Ela e o ainda andam meio estranhos.
- A sabe ser profissional, e é uma ótima fotógrafa – falei meio séria – E ela é minha melhor amiga e conhece como eu trabalho, não vejo melhor pessoa pra me ajudar.
- Ok então – ele disse – E então você topa?
- Preciso falar com a primeiro, mas com todos esse benefícios e sabendo que não estou sendo contratada por ser sua namorada, não vejo por que negar.
- Isso! – ele comemorou – E agora vem a outra parte.
- A terceira?
- A segunda parte da segunda.
- Vixi.
- Nos chamaram para uma sessão de fotos na Vogue.
- VOGUE? – de novo um berro, preciso parar com isso.

Antes de continuar, um garçom apareceu ao nosso lado com duas taças de champagne e ao lado mesa prata de rodinhas contendo uns dez tipos de chá. O cheiro quentinho era delicioso, mas a essa altura do campeonato eu nem sabia o que ia pedir.

- Senhorita, seu champagne – ele colocou a taça na minha frente, agradeci e vi rindo com minha formalidade – Como gostaria do seu chá?
- Co-como? – olhei pra pedindo ajuda – Meu chá?
- Água ou leite – ele me informou.
- Ah, sim. Hm... Leite? – pedi meio perguntando, fez ‘joinha’ com a mão indicando que havia feito uma boa escolha.
- E qual o tipo de chá? – novamente o garçom educado com aquele sotaque inglês super carregado. Eu me acostumei ao sotaque dos meninos e das pessoas da escola, não dessas coisas mais elegantes. Devia ter assistido mais filmes ingleses.
- É...
- Maracujá com hortelã e cidra – falou por mim – Pode servir nas duas xícaras, por favor.
- Como quiserem.

A xícara era baixa e pequena, porém parecia funda por ser larga. Ele primeiro despejou uma quantidade boa de leite ao fundo, parecia que tinham colocado algodão de tão perfeito e branquinho que ficou. Fez o mesmo com na xícara de e, depois, veio com o bule quente e prata com o desenho da Rainha do lado e colocou o chá laranja e fumegante primeiro para mim e depois pra . Estendeu uma das colheres de prata para mim e pediu para eu mexer e depois provar, para ver se precisaria de mais açúcar ou não. Falando sério, ERA MUITA FRESCURA!

- Desculpa perguntar – falei depois de experimentar meu chá e constatar que estava delicioso – Mas por que o leite? Eu sei que tem as duas opções, água ou leite, mas é que é costume tomar com leite, estou certa?
- Sim, está – o garçom sorriu – A senhorita não é britânica, não é?
- Brasileira.
- Claro, claro – ele riu – Nos tempos da Rainha Vitória, era costumeiro tomar chá com leite porque o leite, além de quebrar a citricidade dos chás de outrora, também protegia a porcelana do líquido quente... – socorro, que termos são esses?

Ele falou e explicou por uns cinco minutos. bebericava o chá e ria pra mim, chutando minha perna por debaixo da mesa; ai, éramos tão maduros.

- Mais alguma dúvida?
- Não, muito obrigada pela explicação tão cheia de detalhes – respondi, me forçando para não começar a rir ali mesmo – Se me permite perguntar, qual seu nome?
- Smith – claro, tinha outro nome pra ser? – Precisam de mais alguma coisa?
- As bailarinas com a comida demoram pra chegar? – perguntou.
- Vou providenciar imediatamente.
- Obrigada – e assim, “Smith” saiu. Não me importei, caí na gargalhada ali mesmo.
- Nunca, nunca mais você vai me trazer pra cá, estamos combinados?
- Você tinha que conhecer o famoso chá da tarde inglês! Estou te fazendo um favor.
- Me chamasse pra sua casa e se vestisse de garçom, .
- Uau, fantasia?
- Não imbecil, informalidade – eu ri.
- Com as coisas que eu tenho pra te falar, eu precisava te trazer em um lugar onde você não gritasse, coisa que pelo visto não tá dando certo.
- Gritei uma vez!
- Três – ele riu e terminou de tomar o chá. Nem tinha tocado no meu – Posso continuar falando?
- Vai, fala – dispensei o chá, eu precisava de champagne.
- Vogue – ele riu – Vamos fazer um edital na Vogue.
- Bacana – virei quase a taça de champagne toda de uma vez – Querem que eu fotografe também?
- Não, amorzinho – ele disse usando termos no diminutivo, legal – Nós, quando eu digo, não sou eu e os meninos. Sou eu e – ele tossiu – Você.

Dei graças a Deus que já tinha terminado de tomar o champagne, caso contrário eu ia babar e colocar tudo pra fora ali mesmo. Acabei tossindo e tendo que virar o rosto pra não passar tanta vergonha assim na frente do . Meu estômago embrulhou e eu fiquei com a visão turva e não era por culpa do álcool. Me virei pra ele e o encontrei sorrindo como se não tivesse falado nada demais. Filho da puta! Filho da puta!

- Você recusou, é ÓBVIO! – eu disse, limpando a boca e pedindo mais champagne ao garçom – Porque você me conhece e sabe que eu nunca faria um photoshoot...
- E entrevista.
- QUÊ?
- O tom, olha o tom.
- , tá doido? Chapado?
- , quer se acalmar? Pensei que te trazendo ao Ritz eu ia ficar meio livre dos seus ataques – ele riu e tomou um pouco de champagne – Qual o problema?
- Preciso de ar, preciso de ar. VOGUE?
- Teen Vogue, esqueci-me de falar o Teen na frente.
- Bela diferença.
- Hey, Demi Lovato e Joe Jonas já fotografaram juntos pra Teen Vogue.
- Os dois são do show business, e eram namorados na época.
- Hello? – ele apontou pra nós dois – E eu e você somos o que?
- Namorados – respondi – Você famoso, eu não.
- E lá vamos nós com essa conversa chata de novo!
- Ei, não é chata – suspirei – Olha, eu sei que você pode estar querendo fazer isso pra, sei lá, me ajudar, mas eu não gosto! O fato de eu ser sua namorada não muda o fato que eu odeio me aparecer, odeio. Talvez esse seja o motivo de eu ter escolhido uma profissão onde eu fico atrás, no making off.
- E mesmo você não aparecendo, você é motivo de fofoca por todo o fandom da minha banda, será que você não gostaria de mostrar a verdadeira pra elas? Como podem falar de alguém que não conhecem? E nem adianta me olhar desse jeito ‘eu não me importo’, porque eu sei que você se importa.
- Nunca disse que não me importava – bufei.
- É uma entrevista e algumas fotos. Quero mostrar pra todo mundo que escolhi a menina certa pra mim e que você é linda, absurdamente linda.
- Pra que provar isso? Você saber já não é bom o bastante?
- Nem você admite isso pra si mesma, – ele parecia cansado – Olha, só pensa no assunto, ok?
- Ok – por dentro eu gritava pra mim mesma que não ia pensar em nada, tinha minha ideia bem formada. Eu não ia e ponto final.

As bailarinas com os quitutes chegaram bem rápido conforme o previsto, e pra minha surpresa, nem queria comer. Não sei o que ele tinha na cabeça quando pensou que eu ia aceitar essa entrevista pra Teen Vogue, será que ele não me conhece bem? Lembro-se de uma entrevista que a Dani Jonas disse a respeito do seu casamento com Kevin; algo do tipo ‘o fato de ele ser famoso não implica em eu ser famosa com ele’, o que eu acho que todos esses artistas que namoram ‘pessoas comuns’ deveriam aceitar. Não é drama, é só, sei lá o que. Nem eu consigo colocar em palavras o que eu to sentindo agora, eu não quero e pronto.

Terminamos de comer em silêncio, saímos do Ritz em silêncio até chegarmos à porta. Quinze meninas estavam ali e os seguranças tentavam controlá-las, e não estavam sendo felizes com isso. As meninas gritavam, choravam e tremiam – tava frio pra caramba – e mesmo assim não saiam de lá por nada. Não me assustei, já estava me acostumando com isso. Junto com elas, alguns fotógrafos e jornalistas também estavam ali. Percebi ficar tenso ao meu lado e colocar as duas mãos nos bolsos do paletó... Sério que agora ele vai sair sem me dar as mãos? Na frente delas e desse povo todo? Tudo o que eu queria, tudo!

- Vai falar com elas? – perguntei apertando o cachecol dele ao redor do meu pescoço enquanto esperávamos o carro – Elas estão aqui vai saber a quanto tempo esperando por você.
- Não estou no clima – ele disse entre dentes enquanto sorria e acenava de longe.
- , vai lá. São poucas.
- Agora as fãs não são um problema?
- Eu nunca disse que elas eram um problema – me senti ofendida – Quer saber, se quiser ficar aqui com essa cara de bosta, o problema é seu – cruzei os braços e engoli a seco. Elas ainda estavam lá, olhando meio perdidas para mim e ; eu estava me segurando para não empurrá-lo logo e acabar com essa gritaria.
- Seu carro está chegando, Sr .
- Obrigado – ele agradeceu e voltou a encarar o chão – Eu não vou lá sozinho.
- Ok, quer que eu vá junto? – eu não queria ir, nunca gosto muito de me interagir com elas, mas... – Eu posso tirar as fotos.
- Você sabe que elas gostam de você, não sabem? – ele sorriu com os lábios fechados e tirou uma das mãos do bolso – Que elas não são tão ruins assim?
- Eu sei – sorri – Vamos logo – peguei sua mão e lá fomos ao encontro das fãs.

As meninas aumentaram o furor quando chegamos, e os seguranças tiveram mesmo que mostrar serviço. foi de uma a uma conversando, sorrindo, tirando fotos e dando autógrafos. Eu fiquei de longe com os braços cruzados – juro que era por culpa do frio – só observando. Uma menina pequena e com uns catorze anos acenou pra mim com o celular, percebi que ela estava gravando. Sorri e acenei de volta, fazendo com que ela e sua amiga soltassem gritinhos e começassem a chamar meu nome. Não estava no clima de ir lá, ia parecer antipatia se eu ficasse aqui quietinha?

- , ! Por favor, vem aqui! – ela me chamava. se virou pra mim sorrindo e também me chamou – Uma foto, por favor.
- Ai Deus... – cocei a cabeça e fui até as meninas – Oi, tudo bem?
- CARA, VOCÊ É MUITO LINDA! – elas berraram. Mas poxa, eu tava na frente delas, precisava gritar? Eu ri – Posso tirar uma foto com você?
- Tem certeza? – eu fiz careta e vi se prostrar ao meu lado.
- Quer que eu tire, meninas? – ele perguntou. Falando daquele jeito, quer matar as menininhas, coitadas – Posso ser o fotógrafo hoje.
- AI MEU DEUS, ELE VAI PEGAR NO MEU CELULAR!
- DÁ LOGO PRA ELE, DÁ LOGO PRA ELE!
- Posso pegar? – perguntei pedindo o celular, a menina me entregou tremendo e um pouco chorosa – ?
- Ok – ele pegou o Ipod e, primeiro bateu uma foto de si mesmo fazendo as meninas gritarem ainda mais, depois virou pra nós e bateu nossa foto – Prontinho.
- Deus, Deus do céu, vocês são perfeitos – ela pegou a celular – EU TO HORRÍVEL!
- Não está, não – respondi, sorrindo.

foi falar com outras fãs e eu me afastei, depois que eu vi que as meninas ficaram muito contentes com esse pouco contato. Quando me virei pra ir falar com , avisar que o carro tinha chego, vi uma coisinha transparente de plástico vindo na minha direção. Aquilo era uma garrafa?

- ABAIXAAA!!!
Sim, era uma garrafa.

- Você tá bem?
- QUEM FEZ ISSO?
- QUEM JOGOU?
- Machucou?
- ? ! – era a voz de , a única que eu consegui distinguir – Babe, você tá legal? Te acertou?
- Não, não – estava de boca aberta olhando pra garrafinha de plástico no chão – Não pegou em mim, alguém gritou pra eu abaixar e eu abaixei.
- Sério que tentaram de acertar? – ele me abraçou pelos ombros e olhou pra fãs, procurando alguma que se entregasse – Vamos embora.
- Tá tudo bem, .
- Não está, não – ele parecia bravo – Tentaram jogar uma garrafa de água em você, pra que?
- FOI ELA, FOI ELA, FOI ELA! – algumas meninas da frente gritavam, apontando pra uma ruiva lá no fundo que parecia bem sem graça – FOI ELA, GENTE!
- Tá conseguindo ver quem foi?
- Eu não quero ver quem foi – o puxei pela manga do paletó – O carro chegou, vamos logo pra casa, por favor.
- Mas, ...
- Por favor! – implorei.
- Ok – ele respirou pesado, me abraçou e foi embora, falando um tchau geral pras meninas que estava ali e, procurando novamente algum culpado.

Passei de cabeça baixa perto dos fotógrafos que me bombardearam de perguntas querendo saber se eu estava bem e se isso era algo que acontecia todo dia. Só enterrei minha cabeça no pescoço como uma tartaruga e fui até o carro, nem esperei abrir a porta pra mim. E ainda fui pro lado errado, EU NUNCA VOU APRENDER A ENTRAR NO LADO CERTO!

Assim que entramos e deu a partida, tirei com força o cachecol e o joguei no banco de trás. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo alto e comecei a me abanar como doida, aumentando o ar condicionado. E de novo, repito que estava frio pra caralho. me olhou de lado sem entender, só foi perceber o que estava acontecendo quando eu, em uma crise de doida, comecei a rir. Mas rir de forma histérica, daquele tipo de risada que você tem em uma roda de amigos quando alguém conta uma coisa tonta e bem engraçada, algo como “homem bonito pra mim, caiu na água e fez ‘TIBUM’ eu to pegando”, uma amiga minha soltou isso um dia. Não consegui parar de rir por uns cinco minutos. Mas é, é isso mesmo que estava acontecendo. Eu, , em um ataque de risos.

- ?
- Oi, – falei parando de rir aos poucos e respirando fundo – Ai, ai! Olha como a vida é irônica, , assim como aquela música Ironic, da Alanis, conhece?
- A-ham...?
- Você me diz “Você sabe que elas gostam de você, não sabem? Que elas não são tão ruins assim?” e PIMBA, eu levo uma quase garrafada na cabeça; a vida é muito doida mesmo.
- Tá achando tudo isso engraçado? – ele parecia bravo, era hora de parar de rir? – Você podia ter se machucado, e feio.
- , eu vou em show desde que me entendo por gente, sabe quantas garrafas eu já levei na cabeça? VÁRIAS!
- De propósito?
- Claro que sim, eu geralmente subo no ombro dos meus amigos pra ver o show, e tem um Zé Mané que não curte e me taca uma garrafa, mas de boa – dei de ombros.
- Você, oficialmente, não é normal – ele riu, mas foi um riso nervoso.
- Olha – respirei fundo – Não vou falar que super feliz com isso, porque não estou. Isso só provou que tem muita fã pirada por aí que pode fazer qualquer coisa pelo ídolo, e qualquer coisa mesmo. Eu me assustei, óbvio que sim, mas com tanta coisa que já me aprontaram, uma garrafa a mais ou a menos na cabeça não vai fazer tanta diferença, é só mais uma experiência pra contar – eu sorri – E quer saber? Seria uma ótima coisa pra falar na nossa entrevista – eu sorri – Você sabe? Pra Teen Vogue.
- Qu-quê? – não sabia se olhava pra mim ou pro trânsito – Tá falando sério?
- Estou – sorri e estiquei minha mão a fim de pegar a dele – Se você acha que precisam me conhecer melhor, por que não?
- Nossa, isso... – ele sorriu lindamente – Obrigado, .
- De nada – peguei sua mão e a beijei – Mas tipo, a entrevista vai ser com nós dois juntos? E eu vou poder dar meus palpites nas fotos?
- Isso eu não sei, mas amanhã eu vou pedir pra alguém ligar lá e nos passar as informações. E sim, você pode dar palpites nas fotos.
- Agora sim – eu ri.

Eu ia perguntar mais alguma coisa, mas meu celular começou a vibrar. Uma, duas... Ok, não era mensagem, era alguém me ligando. Peguei com a maior preguiça, a única pessoa que costumava me ligar era o , e isso é o primeiro indício que mostra que você está em um relacionamento dependente demais. Enfim, era .

- ?
- VOCÊ TÁ BEM? TEM VÍDEO E GIF PRA TUDO QUE É LADO DESSE TUMBLR!
- A garrafinha?
- NÃO BRINCA COM COISA SÉRIA.
- Não me acertou, sua desesperada. Alguém mandou eu me abaixar e deu certo, fez só ventinho no meu cabelo – respondi meio rindo, fez careta.
- , onde vocês estavam? Como assim? Não tinha segurança não? O Paul não para de ligar pros meninos querendo falar com o , ele não pode simplesmente sair assim e não dizer onde vai.
- Nós fomos ao Ritz e tinha segurança lá fora, mas quem vai controlar uma garrafinha voadora? Meio impossível, né?
- Cara, se tivesse te acertado...
- ELA TÁ BEM?
- CADÊ A DESGRAÇA QUE ELA CHAMA DE NAMORADO?
- ? ? – perguntei ouvindo claramente a voz dos dois, me olhou intrigado – Acho que estou no viva-voz.
- Quem tá aí?
- Ao todo , e .
- E .
- Ok, e o – respondi ao ouvir a voz dele – Gente, estamos chegando em casa e conversamos em breve. Tá tudo bem, eu to viva e sem maiores danos.
- Danos seu namorado vai ter quando chegar aqui. O Paul tá querendo arrebentar a cara do por sair sem falar nada.
- E o que o Paul ia fazer? Dar um mortal no ar e pegar a garrafa? Por favor, né?
- O fato de ele estar lá já é uma proteção, .
- Ai, tá bom, – bufei – Até daqui a pouco – e desliguei o telefone.

Ia abrir a boca pra falar alguma coisa pra , mas novamente meu celular tocou.

- Caraca! – ele comentou rindo – Tem muita gente preocupada com você.
- É – olhei no visor – Agora ferrou, é minha mãe.
- Eita – riu – Manda beijo.
- Tá, tá – atendi – Mãe? – perguntei em portugês, fez de novo uma careta porque sabia que não ia entender a conversa.
- Graças a Deus, to tentando ligar no seu celular o dia todo, onde você estava?
- Ehr... Com o – respondi meio tímida. Era estranho falar dele pra minha mãe.
- Imaginei – ela suspirou – Escuta, encaminhei hoje pra você uma correspondência que chegou aqui em casa, parecia urgente.
- Da bolsa? – fiquei preocupada.
- Não, não. A papelada da bolsa chegou também o que faltava e já encaminhamos direto pra escola, não te falaram nada não?
- Não – dei de ombros – Que correspondência urgente é essa?
- Acho que é de uma escola de fotografia aqui do Brasil – ouvi barulhos de papéis sendo rasgados ou amassados – Miriam alguma coisa.
- Miriam? – vasculhei no meu cérebro esse nome – É professora de alguma escola ou alguém que eu conheço?
- Acho difícil, você nunca trabalhou aqui no Brasil.
- Isso é verdade – mordi os lábios – Você leu o que era essa correspondência ou só me enviou.
- Bom...
- MÃE!
- Eu abri, oras! Você sabe que eu abro suas coisas, ainda mais que você está em outro país, vai que era algo importante.
- E era algo importante?
- Sim, senhora.
- O QUÊ?
- Eu. Não. Lembro. – ela disse bem pausada, sabia que estava mentindo.
- Para de mentir pra mim, mãe. O que foi?
- Quão bem conhecida você é no seu ramo?
- Aqui no Reino Unido? Sei lá, tenho umas fotos em uma revista e no site do McFly, mas não tenho um nome ainda, se é isso o que a senhora quer saber.
- Acho que você andou chamando a atenção por aqui, filha – ela parecia gostar de falar isso.
- O que tinha nessa carta, mãe? – agora eu estava preocupada – Alguma proposta?
- A carta chega em mais ou menos uma semana. Abra-a, leia-a com... Como você fala mesmo? Coração aberto e...
- Coração e mente abertos – bufei – Pelo visto eu não vou gostar da notícia.
- Não tem que gostar – agora ela voltou com seu tom de mamãe – Tenho que desligar, porque a ligação fica cara, tem como entrar no skype mais tarde?
- Tem, sim – suspirei – Mãe, só me responde uma coisa.
- O quê?
- Vai atrapalhar meu futuro?
- Depende do que você interpreta como ‘atrapalhar’ – e sendo assim desligamos.

Fiquei batucando o celular nas mãos pensando nessas palavras. Pesquisei em meu cérebro por esse nome, mas nada aparecia. Até que... Ah não! MIRIAM, MIRIAM REZENDE! Puta que pariu!

Capítulo 34

Cada palavra daquela maldita cara da Miriam Rezende estava bem marcada em minha mente, era meio impossível esquecer as palavras “proposta” e “uma ótima experiência”. Só que eu não queria aceitar essa proposta porque eu já estava em uma ótima experiência. E a aula de hoje com a Olivia não estava ajudando em nada; aprender em doze passos como é lidar com crianças em um estúdio fotográfico era o ápice da minha tortura, já que a Miriam Rezende é conhecida pelo seu ótimo trabalho como fotógrafa infantil. Merda.

- A arte de fotografar crianças é totalmente inspiradora, um desafio gostoso e divertido de brincar enquanto trabalha. Afinal, é impossível não se contagiar com a alegria dessas criaturinhas maravilhosas. Mas também vamos concordar: não é nada fácil fotografar uma criança! E por não ser uma tarefa assim tão fácil, montei uma lista com 12 dicas práticas para fotografar os pequenos. Formulei essas dicas por experiência própria, já que entre tantas áreas da fotografia, fotografar a criançada tem sido uma das minhas preferidas – Olivia parecia animada, que bom pra ela.

Eu não comia direito há três dias, e já estava me olhando torto. Não era, dessa vez, por minha culpa, mas com tudo isso eu não estava sentindo a mínima fome. Estávamos entrando na terceira semana de novembro, as provas se aproximavam, eu tive que agradecer ao Simon pelo telefone pela chance de fazer o photoshoot dos meninos, porém dizer que não ia poder fazer, já que a escola não me liberou por quatro dias. Tinha a entrevista pra Teen Vogue e a sessão de fotos – coisa que eu não gostava de pensar – ia fotografar os meninos no fim de semana para os outdoors da turnê Take Me Home e divulgação do CD, tinha essa carta e ainda eu precisava lidar com minha mãe em outro continente. Sério, qualquer coisa que eu lesse sobre mim mesma eu não ia dar a mínima essa semana.

- ? ?
- Mmmmm.... – murmurei, me dei conta que estava de olhos fechados – ?
- Você tá dormindo? – ela meio que ria – Tá que eu também não curto aulas com slides e esse escurinho tá me dando sono, mas você dormindo?
- Qual o problema? – limpei uma pequena babinha que ameaçava descer da minha boca – Eu to cansada.
- Eu percebi que você não está dormindo direito e fala demais enquanto dorme. Tá acontecendo alguma coisa?
- Está! – ia adiantar alguma coisa eu falar “não, não está?” – Mas não quero falar sobre isso, especialmente com você.
- Por que especialmente comigo?
- Você é mais surtada que eu, a última coisa que eu preciso agora é alguém dando piriri mais do que a minha própria pessoa – eu ri. Senti minha barriga roncar. Ai, caceta.
- Comida pra que, não é? – ela parecia brava – Se você está assim, sem comer, por culpa do photoshoot na Vogue, olha...
- Não é por isso, – se bem que, olhando por esse lado... – Eu só estou com muita coisa na cabeça e não sinto fome.
- Não sei o que é pior – ela se virou, procurando alguma coisa na mochila – Quando você come e coloca pra fora ou quando não come.
- Eu parei com isso, sabia? Fui ao nutricionista, como você e a Dra. Violeta pediram, voltei nela umas três vezes e tô me cuidando.
- Mas está sem comer – ela apareceu com um cupcake dentro de uma caixinha plástica rosa – Pra você.
- Não quero.
- E eu perguntei se você quer? Estou te dando, e é pra comer – ela deu uma olhada rápida no relógio – Quinze minutos e a aula termina, vamos direto pra alguma padaria comprar algo decente pra colocar no seu estômago. Enquanto isso, coma esse cupcake.
- Já disse que não quero, .
- Deixa de ser teimosa? – ela abriu a caixinha, arrancou um pedaço do cupcake com as mãos e apontou pra minha boca – Vai abrir por bem ou por mal?
- Você vai me enfiar esse pedaço goela abaixo, a força?
- Se for preciso...
- Maluca! Você é maluca! – e nessa minha abertura enquanto eu falava, enfiou esse pedaço de cupcake na minha boca e a fechou, esperando eu mastigar e engolir. Me senti uma criança de cinco anos.
- Melhor assim – ela lambeu os dedos – Se não quiser que eu faça isso com ele todo, coma por conta própria.
- Puta merda – peguei o cupcake e o fechei de novo na caixinha, ela me olhou brava – Hã? É pra eu comer agora?
- Óbvio.
- Estamos no meio da aula.
- Você estava dormindo cinco minutos atrás – ela sorriu vitoriosa – Come, antes que eu ligue pro e fale que você não está se cuidando, de novo.
- Saco, saco, que saco! – peguei um pequeno pedaço do cupcake e coloquei na boca. Estava delicioso, e meu estômago agradeceu, mas eu não estava com fome.
- Dica número quatro: Bokeh – Olivia sorriu, ela estava empolgadinha demais hoje. Ou eu que estava mal humorada? - Eu costumo chamar o efeito bokeh de "estrelinhas". Trata-se do efeito que ocorre nas áreas desfocadas da fotografia, produzido por lentes de com grandes aberturas. Escolha lentes claras para fotografar crianças. Além desse tipo de lente tornar a focagem mais fácil (no AF), elas produzem lindos bokehs. Recomendo duas lentes em especial: a de 85mm e a 50mm.
E lá vamos nós discutir a dica cinco, seis, sete... Será que Olivia conhecia Miriam Rezende? Ela podia me dar uma luz a respeito do assunto.
- Dica número nove: Fotografar em preto e branco – ai, Deus! Eu tô começando a ver tudo em preto e branco, Olivia - Apesar de ser uma grande defensora da fotografia colorida para crianças, não posso negar que um belo retrato preto e branco envolve uma expressividade maior. E juntando com os olhos carregados de sentimentos, o preto e branco é uma grande cartada para um retrato de impacto.
- Alguém me explica o motivo pra essa mulher estar tão empolgada hoje? Dormiu com alguém importante?
- Danny Jones que não foi... – falei, rindo com uma piada muito infame. Lambi os dedos, terminando de comer o cupcake e olhei rindo pra – Acabei, mamãe.
- Começa a brincar com coisa séria... – ela riu – Ótimo, saindo daqui vamos passar em uma padaria.
- O fato de eu ter acabado de comer um cupcake já não está bom?
- Pra mim que não está – ela riu – Olha, acabou! – ela apontou para Olivia, que desligava os slides e falava as suas considerações finais – Pronta pra ir embora? As bichas também acabaram de acordar – ela apontou para Sam e Lucas que limpavam as babas e sorriam com culpa para Olivia.
- Pelo menos eles dormiram – suspirei.
- Hey, te acordei porque te amo e ainda te dei comida – riu – Vamos?
- Escuta, eu preciso trocar umas duas palavrinhas com a professora antes de irmos, pode me esperar lá embaixo.
- Vai dar uma de espertinha pra não querer ir na padaria?
- Claro que não – me levantei e guardei meus livros e cadernos na mochila – Eu juro que tenho que conversar uma coisa séria com ela, mas é rápido.
- Ok – suspirou, óbvio não acreditava em mim – Te espero na portaria com o Lucas e o Sam.
- Obrigada – sorri e dei um beijo em seu rosto – E sim, obrigada pelo cupcake.
- Não há de quê.

Esperei todo mundo sair da aula, alguns alunos também foram até Olivia tirar algumas dúvidas, então a espera foi um pouco mais longa do que o previsto. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para , perguntando a que horas iríamos nos encontrar hoje para falarmos do photoshoot e da entrevista. Eu sentia que essas últimas três semanas de novembro seriam para acabar com qualquer resquício de sanidade que eu ainda possuía. Aproveitando que estava com o celular em mãos, dei uma olhada em minha agenda para os próximos vinte e um dias. Nada agradável, nada fácil.

- Entrevista Teen Vogue com .
- Sessão de fotos Teen Vogue com .
- Primeira semana com apresentação dos Seminários (, Sam e Lucas).
- Fim de semana para os shoots da turnê.
- Pocket show no Hyde Park (eu vou?).
- Início das duas semanas de provas.
- Estudar os atrasos.
- Meninos embarcam para NYC.
- Madison Square Garden (e você estudando).


Isso porque eu não adicionei a carta, minha conversa com – porque eu vou ter que falar com ele sobre isso – nem com e nem com minha mãe. E eu tinha me esquecido do pocket no Hyde Park... Meu Deus! Eu nem sei se vai dar pra eu ir nesse show, e eu esqueci que dia vai ser. É sexta ou sábado? Olhei novamente pra agenda e risquei de leve as duas últimas anotações, odiava a sensação deles indo novamente para os Estados Unidos e eu não estando lá. Madison Square Garden, e eu não ia ver absolutamente nada.

- ? – ouvi a voz de Olivia – Está querendo falar comigo?
- Ah, sim – pulei da cadeira – Eu sei que você deve estar querendo ir embora, mas eu juro que não vou demorar.
- Sem problemas, a classe de vocês foi a última de hoje – ela sorriu – Então?
- Bom...
- Ai, não sei como começar isso.
- Pelo começo?! – ela parecia irônica. Sério, quem comeu essa mulher ontem?
- É, boa ideia – eu ri, sarcástica – Eu recebi uma proposta, no Brasil. Minha mãe me ligou avisando que a fotógrafa Miriam Rezende, que eu não sei se você está familiarizada com o trabalho dela, gostou do que eu ando fazendo por aqui e me ofereceu uma oportunidade de trabalhar diretamente com ela.
- Miriam Rezende, infantil?
- Aham.
- Já ouvi falar, não conheço muito o trabalho dela, mas sei que é boa – ela sorriu – E então, o que você está pensando?
- Eu não sei, estou completamente perdida. É uma chance e tanta, mas pra isso eu preciso trancar o curso, voltar pro Brasil, abandonar tudo o que eu já conquistei por aqui...
- E isso inclui um rapaz que está em uma boyband... – ela sorriu – Está pensando no , não está?
- Também – suspirei – Na verdade, ele é o motivo pra eu estar toda insegura desse jeito.
- É claro que é, e nem precisava me dizer – ela sorriu – Bom, vamos falar primeiro do seu lado profissional – Olivia sentou-se em cima da mesa e me olhou – Suas conquistas esse ano aqui em Londres.
- Na verdade tudo começou com a bolsa – eu sorri – Então veio: a bolsa, aquela primeira sessão com a banda One Direction, eu venci o desafio, então as fotos foram pra SugarScape – respirei, foi aí que tudo começou – As fotos com a Tyra, conhecer o Leishman, as fotos do McFly, as fotos do show do McFly que foram parar no site oficial deles, Paris... Sem falar das fotos em rádios com os meninos.
- Muita coisa pra um tempo tão curto – Olivia parecia orgulhosa.
- É, e eu ouço muita merda por isso.
- Como assim?
- Tem gente que fala que eu sempre ganho tudo, que nada dá errado pra mim e que chega até ser chato querer saber da minha vida.
- Uau, que argumento mais babaca – ela gargalhou – Se você é boa no que faz e as pessoas te admiram e te chamam pra participar de novos trabalhos, isso é um problema? Você estuda, se dedica, é claro que as coisas dão certo pra você. E se dessem errado? Iam te falar que você não é boa o bastante – ela suspirou – Não liga pra isso, a única definição que eu vejo pra isso é inveja e medo dessas pessoas não conseguirem construir uma história tão boa como a sua.
- É, pode ser... – dei de ombros – Mas enfim, foi isso o que eu consegui em menos de trezentos e sessenta e cinco dias.
- O curso tem quinhentos dias, ainda tem muita coisa pra acontecer.
- Eu sei, mas se eu aceitar essa proposta eu não vou curtir o que me resta aqui em Londres – suspirei – Não sei o que fazer.
- Que tal começar conversando com ou sobre isso?
- Que tal eu pensar sobre o assunto e falar com eles só depois que eu tiver tomado uma decisão? – perguntei querendo parecer legal, Olivia me olhou sério.
- , eu acho que eles, acima de qualquer outra pessoa, poderiam te ajudar a tomar uma decisão.
- Minha mãe já está querendo fazer isso por mim – bufei – E eu já sei o que eles vão falar.
- E o que seria?
- Os dois vão me mandar de volta ao Brasil, eu tenho certeza.
- Hm... – ela pareceu surpresa – Você acha isso?
- Acho, ainda mais o , que tem toda essa coisa de ‘vai fazer o que você ama’ e tal.
- Ele é mais maduro do que eu imaginei.
- Ele é ótimo, Olivia – suspirei – Demais.
- Se ele é ótimo e tudo isso que você está me falando, ele vai entender e vai te dar todo o apoio que precisa. E tenho certeza que você vai tomar a decisão certa, como sempre – ela sorriu – Vai ser uma pena perder você.
- E quem disse que eu vou embora?
- É uma hipótese – ela ria enquanto pegava sua bolsa e seus livros – Tem alguém te esperando na porta.
- Hã? – perdida, olhei onde Olivia apontava. Era Sam, Lucas e, claro, – Me esqueci deles.
- Vai lá, me deixe atualizada de suas decisões, tudo bem?
- Sim.
- E não se esqueça das provas. Você ainda não terminou o trimestre.
- Eu seeeeeeei... – emburrada, coloquei minha mochila nas costas e fui até meu trio favorito de pessoas comuns na Inglaterra.

Como previsto, me levou até uma padaria perto da escola e me fez comer pelo menos dois pedaços de pães com muita manteiga e geleia. Não nego que estava gostoso, mas precisava desse exagero todo? E eu me sentia uma criança sendo forçada a comer, porque enquanto eu não engolia, ela e os meninos não paravam de me olhar, o que me fez perder mais ainda o apetite.

Saímos de lá e voltamos direto pro nosso apartamento, onde, para minha total surpresa, meu namorado e o ex de – também conhecido como e que, eu sei, não era mais “tão ex”, estavam lá. dava atenção para algumas meninas e tirava foto com três fãs ao mesmo tempo. Elas sabiam que nós morávamos lá e que eles iam nos visitar de vez em quando, o que se tornou normal com o passar dos meses. Assim que as meninas nos viram, chamaram a atenção dos dois, que sorriram ao nos ver. Elas terminaram de bater as fotos, pegar autógrafos e foram embora, apenas nos dando um educado “tchau” e depois já olhando para as câmeras, checando se as fotos haviam ficado boas. Eu sabia que ia chegar em e lhe dar um beijo nos lábios, mas e a garota ao meu lado com o garoto ao lado do meu namorado, iam fazer o que?

- – sorri, indo até ele e o beijando – Café?
- Fiquei sabendo que teve gente que não comeu, hoje de manhã – ele sorriu e deu uma piscada pra – Quer?
- Que eu saiba, eu fui forçada a comer um cupcake e dois pães em uma padaria, como assim “não comi”? – olhei pra enquanto pegava o café das mãos de , ela era só sorrisos – Amiga do inferno.
- Nunca prometi que não ia ligar pro seu namorado – ela deu de ombros.
- Enfim... – abracei e olhei para os outros dois – Sério, pombinhos. Já deu essa coisa de vocês ficarem separados, né?
- Quê? Que foi? – se fez de perdido – Não fiz nada.
- Esse é o problema – falou – Não estão fazendo nada.
- Ah, me desculpa se eu fico mais que 48h brigada com meu namorado, diferente de vocês que brigam e se amam quase no mesmo dia – bufou, mas acho que ela nem se deu conta do que tinha acabado de falar.
- É impressão minha ou você acabou de chamar o de “namorado”? – perguntou, eu já estava rindo – E com respeito ao limite de 48h, qual o problema?
- Muda de assunto não, – eu falei – Vamos nos focar na parte onde a chama o de namorado de novo.
- Eu nem lembro de ter falado isso – ela parecia envergonhada.
- Pois eu lembro – riu – ...
- Ele vai se declarar, né? Agora?
- Vai – riu – Cara, vamos lá pra cima, vai chamar muita atenção aqui.
- Você não tá entendendo, ergueu a mão pro amigo, pedindo educadamente que ele parasse de falar – Eu quero chegar ao andar de cima como namorado da , só depende dela.
- Como assim? – eu e perguntamos juntas.
- Eu to te pedindo de volta em namoro – disse. Eu vou chorar – Só depende de você aceitar.
- Ela vai aceitar! – falei e ela me olhou, brava – Ah, claro! Eu posso ser forçada a comer um cupcake, mas não posso te “forçar” a voltar com seu namorado.
- O cupcake te fez bem.
- E o , não? – cruzei os braços e beberiquei o café, que já estava meio frio.
- Quer parar de dar opinião no meu namoro? – me pediu – Ou sei lá o que é isso que nós temos agora.
- Quem traiu, cala a boca – eu falei e vi ficar vermelho. me abraçou e riu abafado nas minhas costas – , você vai voltar com o .
- Não vou, não! – ela parecia ofendida, , então...
- Vai, sim, porque se eu ouvir mais uma vez Kelly Clarkson, e olha que eu AMO aquela mulher, mas se eu acordar de novo com Never Again, eu acho que jogo seu celular pela janela e nem vou me arrepender disso.
- Quando você e o brigam e ficam cheios de “mimimi”, eu não fico ameaçando jogar seu celular pela janela cada vez que você ouve Too Close for Comfort.
- Essa é sua música quando brigamos? – me encarou – Nossa.
- Cala a boca, eu também ouço Moments.
- Ah, Moments! – suspirou.
- Pelo menos o aparece no dia seguinte com muffins e café quente me pedindo desculpas, e eu aceito de bom grado.
- BOM GRADO? Eu tenho que te puxar pelos pés pra você atender a porta.
- Sério? – agora e davam risada.

Vale falar, de novo, que estamos tendo essa conversa toda na entrada do apartamento, com alunos entrando e saindo. Com FÃS aparecendo, virou um circo.

- E olha – apontou pro – Da última vez ela só abriu a porta mais rápido porque ela sabia que a vadia da porta da frente ia aparecer de sutiã e calcinha na porta.
- HEEEEEEEEEEEEEEY!
- To mentindo, ?
- Não... – abaixei a cabeça. e só gargalhavam.
- Calem a boca, vocês! O assunto era a e o , como que de repente virou pra mim?
- O assunto sempre sobra pra você, paixão – me beijou no rosto – Então, você não abre a porta de bom grado?
- Já mandei você pra merda hoje? – bufei.
- Lindiiiiiinha – ele mordeu minha bochecha e gargalhou.
- Vamos voltar ao assunto principal – saí de perto do e fui até – Vai, se declara, caralho.
- Oi, educação.
- Não, me chamo – sorri, sarcástica – Vai logo, senão eu me declaro pra no seu nome.
- Tá, tá... – ele suspirou, tava até bonitinho todo vermelho – .
- Puta que PARIU! – ela suspirou, passando as mãos nos cabelos.
- Eu te amo, eu sempre te amei – se ajoelhou, ALI na frente de todo mundo.
- Tem gente tirando foto – apontei pra umas seis meninas ali perto – Vamos deixar?
- Deixa, deixa – riu.
- O que eu fiz foi imperdoável, mas você estava me deixando doido com toda sua crise de ciúme e essa sua loucura de achar que eu tô olhando pra toda menina que passa na minha frente.
- Não é pra toda – ela rolou os olhos – Era só pra Lorelai, e ACHO que, em vista do que aconteceu, eu estou certa.
- Estava! – ele disse – A Lary tá com o de novo e eu tô aqui sem você.
- Awwwnnn! – eu suspirei, olhou pra mim e fez careta.
- Por favor, por favor, me aceita de volta.
- Eu tô quase aceitando no seu nome – falou – Não é todo mundo que se humilha desse jeito, não.
- Eu fui um burro, um idiota e aceitei meu tempo como punição. Mas agora não dá mais! Eu quero você na minha vida de novo, fazendo carinho no meu cabelo até você dormir, porque é sempre você quem dorme primeiro – ele riu, também sorriu e estava querendo chorar, o nariz dela estava ficando vermelho na pontinha – Me dando uns tapas quando eu preciso, mandando eu ficar quieto. Até acho que parte da sua falta de educação você aprendeu com a .
- HEY!
- Mas eu não me importo – continuou. Vou ignorar só porque estou achando tudo muito fofo – Você sempre diz que me amava primeiro porque era nossa fã, mas eu aprendi a amar com você, então acho que estamos juntos nessa – ele sorriu de um jeito tão meigo, tão simples. Até minhas pernas ficaram bambas – Me aceita de volta, por favor.
- ACEITAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA! – ouvimos as meninas que tiravam as fotos gritarem ao fundo, começamos a rir.
- Ai, ... – fungou e foi até ele – Levanta daí, homem!
- Não, só levanto quando você me responder – ele suspirou – E então?
- !
- , falar meu nome completo não quer dizer sim ou não!
- Tá bom – ela bufou, mas depois sorriu – É claro que eu te aceito, seu babaca que adora chamar uma atenção desnecessária – ela ria.

olhou pra nós, depois olhou pra e se levantou, a pegou no colo e a beijou. Limpei as lágrimas e encostei minha cabeça no ombro de , que beijou meus cabelos e começou a gritar uns ‘uhuuuul’ e ‘aeeeeee’. Me deu um certo alívio no coração, finalmente tudo tinha voltado ao normal. Enquanto eu via e se beijando bem ali na nossa frente, percebi que não ia conseguir ficar longe deles. Em quase um ano conquistei amigos que vou levar pra vida inteira, bônus eles serem da boyband mais foda atualmente, e mais um bônus estrelinha um deles ser meu namorado. Como que eu ia poder jogar tudo isso pro alto por uma promoção no trabalho? Aproveitei que já estava chorando e me permiti chorar por essas duas coisas: a volta de e e a carta da Miriam.



Passei a noite com , ensaiando algumas possíveis perguntas que poderiam me fazer na entrevista da Teen Vogue. Os outros meninos saíram para comemorar que e tinham voltado, mas eu e ficamos em casa. Ele me mostrou algumas entrevistas que ele já havia feito no passado – confesso que nunca presto muita atenção em suas entrevistas, geralmente as perguntas são as mesmas – e o que seria diferente nessa específica, amanhã. Me debrucei em sua cama, vestindo uma de suas camisas, acho que era a que ele usava em I Want – sim, nós transamos, virou rotina e agora era meio difícil passar a noite com ele e não rolar nada – e dei novamente uma olhada nas útlimas revistas. Heat, SugarScape, The Sun, BOP, OK Magazine... Ah!

- Por que os jornalistas sempre perguntam as mesmas coisas? – me virei pra cima, encostando os pés na parede atrás da cama – Se sabem que você tá namorando, pra que perguntar de novo? E sempre perguntam da mesma forma “As fãs querem saber, quem está solteiro na banda?”, ah, chega a ser irritante. As suas meninas sempre sabem quem está solteiro e quem está namorando.
- Você acabou de chamar as fãs de “suas meninas”? – apareceu de cueca na porta do banheiro – Olha, que evolução.
- Às vezes, , você duvida da minha capacidade de ser legal – respondi, o vendo de ponta-cabeça, já que eu estava assim. Pé pra cima encostado na parede e o tronco deitado na cama.
- Só é bom ouvir isso – ele sorriu, e eu o vi se aproximar de mim.
- Apesar de quase ter levado...
- Uma garrafada na cabeça! – falamos juntos e começamos a rir.
- Sim, apesar disso, eu gosto muito das suas meninas – sorri – Mas vamos ao que interessa.
- Segundo round? – ele se jogou ao meu lado na cama e começou a beijar meus ombros, puxando de leve sua camisa pra baixo – Já tem uns vinte minutos, .
- Nã-ão! – puxei de volta a camisa e lhe mostrei a língua – Sério, eu tô bem nervosa com essa entrevista amanhã.
- E, sendo clichê e sacana, eu conheço um jeito ótimo de te ajudar – ele veio se encostando em mim, desabotoando a parte debaixo da camisa e passando os dedos bem de leve na minha barriga. Me contorci de cócegas e com aquele formigamento gostoso que eu já era acostumada – E então?
- – suspirei – Por mais que a oferta seja tentadora – suspirei de novo, ele estava começando a beijar minha barriga – Eu de verdade preciso de ajuda.
- Sei disso – metade da minha barriga estava aparecendo, e ele a beijava. Peguei a revista em mãos e comecei a me abanar – Mas não tem como eu te ajudar daqui a pouco?
- Daqui a pouco? Vai ser tão rápido assim? – não resisti em fazer uma piadinha. Senti ele gargalhar com os lábios um pouco acima do meu umbigo – , quer parar? Eles não vão perguntar qual a frequência que nós dois vamos pra cama!
- É uma possibilidade – ele parou de me beijar e colocou a cabeça em meu tronco, sorrindo com os lábios fechados – Nunca viu Sr. & Sra. Smith? O terapeuta pergunta qual a quantidade de sexo.
- Qual a qualidade, o que é diferente – falei enquanto fazia carinho em seus cabelos e o via abrir e fechar os olhos como um gatinho ronronando – E nós não vamos pra uma terapia, nós vamos a uma entrevista! E mesmo se perguntarem, eu não vou responder.
- Eu vou! – ele sorriu, sapeca, arregalei meus olhos – Estou brincando.
- Não coloco minha mão no fogo por você, .
- E em outro lugar, você coloca? – ele mexeu as sobrancelhas pra cima e para baixo enquanto ria.
- Por Deus, garoto! Se controla!
- Nega fogo agora, vai! Vou passar um bom tempo em Nova Iorque, quero ver como vai se virar sem mim.
- Masturbação – respondi de forma calma e controlada. Me lembrei de quando o Blaine dá a mesma resposta para Kurt em Glee, comecei a rir igual uma besta.
- O QUÊ? – e agora estava em cima de mim – , você anda lendo algum livro pornô ou vendo coisas que eu não estou sabendo?
- Que horror, ! – eu batia em seus ombros, mas ele segurou meus braços acima de minha cabeça – Tá doido, moleque?
- Desde quando você sabe dessas coisas?
- Desde que um carinha aí resolveu me ensinar essas coisas... Não a parte da masturbação, claro, eu digo... Outras... – mordi os lábios – Coisas.
- Odeio quando você morde os lábios e faz essa cara de que não sabe do que eu tô falando – ele riu enquanto se aproximava de mim.
- Por quê? – perguntei. Meu corpo já dava sinais de que não ia mais poder sair de cima de mim tão cedo – Te deixo bravo?
- Muito... – ele se abaixou até mim e encostou os lábios nos meus – Bravo.

É, segundo round.

Quando Love is Easy, do McFly, começou a tocar ao meu lado, sabia que era hora de acordar. Olhei pro visor do meu celular e constatei que estava muito cedo! Seis horas não é um bom horário, ainda mais em um sábado. Mas as fotos na Vogue começavam às nove, e eu nem sabia onde íamos fotografar e nem que horas ia ser nossa entrevista.

Olhei ao meu lado e vi dormindo de bruços, com a cara enfiada no travesseiro, nada romântico. Aquela cena fofa de eu ficar vendo ele dormir porque ele “dorme igual um anjo” não existe entre nós dois. dorme com a cara enfiada ou no colchão, ou no travesseiro, ou no lençol, e RONCA! E eu... durmo de bruços, o máximo que acontece é entrelaçarmos nossos pés a noite, e só. Mas quando ele resolve dormir de barriga pra cima e de ladinho, é fofo, não posso negar. Sabendo que ele não ia acordar tão cedo – embora ele devesse acordar cedo – me levantei e fui ao banheiro fazer o que todo mundo faz de manhã. Como estava na casa de , não me importei em ir pra cozinha com a camisa dele, era a única coisa que consegui achar no chão, nem me dei ao trabalho de procurar um short. Eu só dei graças a Deus que me lembrei de tampar os países baixos, porque nós não estávamos sozinhos. CLARO que tinha que ter alguém na cozinha, e CLARO que tinha que ser . Seis da manhã de uma porra de sábado e esse menino acordado.

- Bom dia, ! – ele falou rindo e com uma voz bem arrastada, enquanto metade do seu rosto sumia atrás da xícara – Bela roupa.
- Que mal lhe pergunte, o que você está fazendo aqui? – cocei os olhos pra ter certeza que não estava alucinando.
- Desde que você começou a vir pra cá com mais regularidade, guarda uma boa dose de comida pro café da manhã – aquele olhar desgraçado sacana, TODOS os meninos da banda possuem esse mesmo olhar – Então eu venho aqui tomar café da manhã.
- Todo dia você faz isso?
- Aham – ele riu – Mas hoje, em especial, algo me chamou a atenção – lambeu os lábios e colocou a xícara sobre a pia – Sabe, eu gosto de acordar, tomar um café, colocar na VH1 e assistir os clipes matinais, são sempre os melhores.
- Anda logo, – eu puxava a camisa pra baixo, não estava bem acostumada a ficar assim na frente de nenhum outro garoto.
- Então – ele riu, tenho certeza que se divertia com essa torturinha maldita – Eu fiz meu café, peguei as torradas e fui pro sofá. Quando, de repente...
- O QUE?
- Aqui, ó – ele tirou do bolso do seu roupão meu sutiã. MEU SUTIÃ! Na mão do , na mão de Fucking ! Alguém me ajuda – Seus peitos são tão grandes assim? – ele colocou o sutiã nele mesmo. Cavem um buraco pra mim.
- ME DÁ ISSO AQUI! – eu fui até ele, mas era mais alto e ergueu o braço, SEGURANDO AINDA o treco – , me devolve.
- Cara, você e o se pegam em todo lugar, é isso mesmo? – ele gargalhava.
- Isso não é da sua conta – e eu pulava tentando pegar meu sutiã – !
- Bom dia? – apareceu na cozinha. O fato de ele estar de cueca não ajudava muita coisa – Heeeey, é seu sutiã! Você estava procurando ele ontem.
- Dá pra ajudar, ? – perguntei, mais envergonhada do que brava.
- Vai, ! – ele ria, pior que o – Devolve pra ela.
- Eu ia brincar – fez bico. Mas... O QUÊ?
- ! – gritei – Me dá a porra do sutiã.
- Ah, tá bom, tá bom – ele me entregou – Sem graça.
- Babaca, você é um babaca! – comecei a bater nele, mas nem adiantava porque tanto meu namorado como esse moleque estava rindo da minha cara – Quer saber, eu vou tomar um banho e me arrumar.
- É o hoje que vocês vão lá pagar de casal legal pra Teen Vogue? – sorriu abertamente – Boa sorte.
- Vou me lembrar de falar que você brincou com meu sutiã pela manhã – mostrei o dedo pra ele e os dois começaram a rir.
- APROVEITA E FALA QUE O SUTIÃ ERA DO SEU NAMORADO! – o ouvi gritar, mas fechei a porta do quarto.

QUE VERGONHA!

ficou me mandando mensagens a manhã toda até chegarmos na Vogue, e isso também inclui , e – junto com a amiga da onça, . nem se importava, quanto mais eu reclamava, mais ele se divertia.

Pelo que nos foi passado, hoje pela manhã faríamos a entrevista no próprio escritório da Vogue no centro de Londres e, no período da tarde e noite, iríamos tirar as fotos em alguma mansão localizada por aqui perto também. Com respeito às fotos eu posso falar que não estava tão nervosa, o que mais me incomodava no momento era a entrevista. O que iam perguntar? Porque, querendo ou não, eu não estava muito na mídia e sei lá, toda essa coisa de aparecer não é comigo.

Enquanto esperávamos no saguão da Vogue, eu folheava as últimas edições. As modelos magérrimas com suas poses maravilhosas me davam calafrios. Eu nunca ia ficar bem em qualquer roupa que me colocassem, ainda mais agora que “estou no peso ideal”. Essas meninas aqui não estão no peso ideal, devem estar uns dez quilos mais magra do que devem. Será que ainda dava tempo pra eu fazer alguma coisa? Suspirei, olhei ao meu redor e constatei que lá perto havia pelo menos uns três banheiros... Se eu corresse, eu ia conseguir. Mas o que eu ia dizer pro ? Ele estava no telefone, falando com um dos empresários, anotando algumas coisas na agenda e escrevendo rápido demais. Ele nem ia perceber minha ausência. Olhei para os lados e vi que não tinha ninguém por ali, a não ser pela moça linda – e magra – da recepção... Eu tinha minha chance. Era por uma boa causa, claro que sim. Dei mais uma olhada pra , que nem notava minha presença ali, respirei fundo e me levantei.

Dez passos, doze passos... Vinte passos. A porta do banheiro já estava perto, e eu apertava meu estômago com o intuito de ficar um pouco mais enjoada e facilitar o meu serviço. Prendia a respiração o máximo que podia, porque isso também sempre me ajudou. Escutei um barulho em minha barriga, era fome! Eu não havia comido nada desde aquela manhã, a conversa com também não foi de grande ajuda já que, quanto com mais vergonha fico, menos fome me dá. Já ia prendendo meu cabelo em um rabo de cavalo alto e apertando minha garganta quando dei de topa com alguém. Era uma mulher, mais velha, mas muito bem conservada. Sorri apenas para ser educada e respirei fundo, querendo que ela desaparecesse de vista, mas ela não o fez. Sorriu de volta e puxou assunto; caralho!
- Olá, querida, tudo bem?
- Aham – respondi meio rápido, acho que pareci meio mal educada – Digo, tudo bem, sim.
- Você deve ser a namorada do mocinho que vai tirar as fotos hoje? One Direction?
- Sou a namorada dele – ok, agora eu ia ter que pagar de simpática – Me chamo e meu namorado, .
- Ah, sim! e – ela deu uma olhada em seu celular – Estudante de fotografia, acertei?
- Sim – eu sorri.
- Vi suas fotos de Paris com as meninas da clínica. Excelente trabalho, !
- Você viu? – fiquei assustada – Sério? Pensei que as fotos fossem ficar apenas com o hospital.
- Como Tyra Banks era uma das pessoas envolvidas, tivemos acesso ao portofólio dos fotógrafos. Aidan e Bellatrix são velhos conhecidos nossos da Vogue, então já sabíamos que eles fariam um excelente trabalho. Nos animou saber que quatro estudantes do primeiro período da escola de Londres fizeram um trabalho tão bom quanto os veteranos – ela sorria, foi impossível eu não sorrir também.
- Obrigada – foi a única coisa que me veio em mente – Me desculpe perguntar, mas qual o seu nome?
- Oh, me desculpe! Sou Kirsty Williamson – ela me estendeu a mão – Redação Chefe da revista – puta merda!
- Nossa – acabei rindo de nervoso e apertando sua mão – É um prazer enorme te conhecer.
- O prazer é todo meu, acredite – ela agradeceu – Escuta, eu acho que te interrompi de estar indo a algum lugar, estou errada?
- Estava indo ao banheiro – respondi, mas agora não tinha vontade de fazer mais nada.
- Hm... – ela suspirou. Olhou pra mim e olhou para o banheiro – Sabe uma das coisas que eu mais reclamo com as modelos aqui? – Kirsty me perguntou e eu neguei com a cabeça – Curvas! Por Deus, o que uma mulher precisa fazer para ter curvas? Cintura, busto, quadril – ela ria – Adoro as brasileiras, elas possuem curvas. Você é brasileira, não é?
- So-sou – limpei a garganta. Eu estava dando na cara, assim? – Sou, sim.
- Percebi – ela riu – Nenhuma modelo de Vogue Britânica tem esse quadril. NENHUMA! Já sabe o que vai vestir no ensaio de hoje?
- Ainda não, eu nem sei da entrevista – sorri – Na verdade, eu... – cocei a cabeça. Por que eu deveria me abrir com ela? – A senhora não acha que eu estou um pouco cheinha para as roupas de hoje?
- Cheinha? – ela parecia ofendida – Querida, que manequim você usa? Trinta e oito?
- Quarenta – lamentei – Quadris largos – bati de leve nos meus quadris.
- Lindos, você quer dizer? Qual a graça de ser reta? Uma tábua?
- Eu entraria em qualquer roupa...
- E você não está vestindo uma roupa agora? – ela me olhou de cima a baixo – Por Deus, querida! Não se prenda a esses esteriótipos. Pensei que seu trabalho em Paris com as meninas do hospital seria de algum auxílio...
- E foi! – respondi – É que, chegando aqui e vendo as fotos nas revistas, eu... Como posso me explicar?
- É muito mais fácil vestir um cabide do que um corpo humano – Kirsty me respondeu, cruzando os braços – Como desenhar e desenvolver designs para corpos variados femininos? Com cada uma tendo um tamanho diferente? Tom de pele, quadril, coxa, nem vou começar a falar do tamanho dos bustos – ela sorriu – Desenha uma roupa que caiba em uma menina que não come nada, por mais que elas falem que comem de tudo, elas não comem, que não tem uma curvinha se quer no corpo e pronto! Modelos são como telas em branco, aceitam qualquer coisa porque são iguais a qualquer coisa. Mulheres de verdade, do dia a dia, não são assim, e nem precisam ser assim! – eu mantinha minha respiração pesada – Você é linda, desse jeitinho.
- Tá... – empurrei minha camiseta pra baixo, de alguma forma eu queria esconder o meu corpo.
- E pare de puxar essa camiseta – ela riu – Tem alguém entrando nesse corredor.

Não entendi o que ela disse, até olhar pra trás e ver com uma cara um pouco brava, mas ao mesmo tempo aliviada. Eu fiz careta e depois me lembrei... Não tinha falado pra ele que ia ao banheiro. E, na verdade, nem era pra eu estar demorando tanto assim, meu tempo fora saiu um pouco do controle. Sorri pra ele meio com culpa e ouvi Kirsty ao meu lado soltar uma risadinha. Ia receber bronca dele na frente dela? Pelo amor de Deus, se controla, .

- Interrompo? – ele perguntou, parando na minha frente com os braços cruzados e mordendo o lábio inferior.
- Não – respondi quase que num soluço – Eu estava, bom, eu ia...
- Por que não me avisou que ia sair? Na verdade, onde você tava indo ou onde você já foi?
- Me desculpe – Kirsty cortou o interrogatório, tendo agora a atenção de e também a minha – Permita me apresentar, sou Kirsty Williamson, Redação Chefe da Revista Vogue – ela estendeu a mão para ele.
- – ele a cumprimentou de volta.
- É um grande prazer finalmente conhecê-lo – ela respondeu, e antes mesmo de abrir a boca, Kirsty continuou – Perdoe-me por ter roubado a atenção de sua namorada por tanto tempo, é, de verdade, uma menina encantadora.
- Hã... É sim, sim – ele coçou a nunca e me encarou – Vocês já se conheciam?
- Não, não. Ela me ajudou a sair do banheiro, eu estava gritando por ajuda há um bom tempo e ninguém ouvia, até que ela apareceu e simplesmente girou o trinco para o outro lado. O que não acontece numa hora de desespero? – ela sorriu para mim... O que estava acontecendo?
- Pedindo ajuda? Não ouvi nada.
- Você estava no telefone, lembra? – eu falei e concordou.
- Se não fosse por ela, acho que ia estar trancada até agora. Mas, bom, foi um prazer finalmente conhecê-lo, . Grande parte da nossa conversa foi sobre você.
- É mesmo? – ele sorriu de ladinho, agora ele parecia acreditar na conversa.
- Você tem uma namorada encantadora, parabéns.
- Obrigado – ele suspirou e sorriu – Na verdade, eu vim chamar a minha namorada encantadora para a entrevista, estão nos esperando.
- Já?
- Pois então, vão logo. Nos falamos depois, tudo bem? – ela me encarou.
- Claro, claro – preciso dizer que estava atordoada com essa conversa?

Me despedi de Kirsty e me pegou pela cintura e fomos andando por um outro corredor. Antes de abrirmos a porta de vidro da Vogue que dava entrada aos escritórios, ele me parou e me deu um olhar meio suspeito. Percebi que ia falar alguma coisa, mas parece que se arrependeu do que tinha pensado e resolveu parar o pensamento no meio do caminho e não falar nada. Respirou fundo e se virou, aí foi a minha vez de puxá-lo.

- Hey!
- Eu ia te fazer uma pergunta, mas deixa quieto.
- , sem essa! Que foi?
- Não foi nada, sério.
- Sem esse papo pra cima de mim, que você tá pensando?
- ... – ele colocou a mão em meus ombros – Você foi mesmo ajudar essa tal de Kirsty no banheiro? – SABIA!
- Como assim?
- Eu vi você dando uma olhada nas revistas e eu vi a sua cara – ele fez carinho em meu rosto – Não mente pra mim, você não levantou pra ir ajudar aquela senhora, levantou?
- ... – gemi e fiz careta, ele sorriu – Eu só, é que eu não ia... Na verdade, eu ia...
- Ok! – sorriu e me beijou de leve – Mas você... Fez?
- NÃO! – eu gritei sem querer – Não fiz, na verdade eu encontrei a Kirsty no meio do caminho e acabei não fazendo.
- E se você não a encontrasse?
- Provavelmente eu ia – suspirei – Me desculpa.
- Não tem motivo pra você se desculpar, ok? – ele me abraçou e depois encostou a testa na minha – É difícil, ainda?
- Sempre é... – suspirei, roçando meu nariz no seu – Ainda mais nesse tipo de situação.
- Tá com fome?
- Sim, mas não quero comer – consegui dizer. Eu estava com fome – Eu não quero ficar estranha nas fotos.
- Então vamos fazer o seguinte? – ele me beijou de novo – Tem uma mesa cheia de frutas lá dentro que eu sei. Antes da entrevista vamos lá, te faço um prato com frutas leves e você come, pode ser? – me olhou com tanta ternura e carinho que às vezes eu questionava se ele era real.
- Pode ser – respondi – Não tem problema comer durante a entrevista?
- Ah, se tiver, elas esperam você terminar – ele sorriu – O que importa é minha namorada não passando mal. Aí, sim, eles teriam um sério problema.
- Eu amo você – eu sorri.
- Também te amo – piscou pra mim – Bem pouco, mas amo.
- Sei disso – e assim, nós atravessamos a porta de vidro da Teen Vogue Magazine.

colocou em um prato uma porção de uvas, maçãs, morangos, dois pedaços de melão, um de mamão, não colocou bananas, kiwi, cereja, frutas secas e me trouxe um copo de suco de laranja sem açúcar. Eu já estava sentada de frente para duas jornalistas batendo um papo leve, esperando-o voltar. Quando ele voltou com tudo isso, as meninas ficaram boquiabertas. Primeiro que ele entrou sorrindo e piscando pra metade das meninas da sala e modelos, todas ficaram de queixo caído; segundo porque todo aquele mimo era pra mim, e quando ele se sentou ao meu lado e me beijou – ali na frente de todo mundo – as modelos ficaram mais abismadas ainda. era, de verdade, o típico namorado fofo que todo mundo gostaria de ter. Só de ver a cara das jornalistas, eu já podia sentir que a entrevista seria, no mínimo, interessante.

- Bom – uma delas tossiu – Podemos começar, então?
- Claro – nós dois respondemos.
- Então vamos lá...

O prato com as frutas estava em cima da mesa, e eu não conseguia pensar em comê-las. Peguei a mão de e a coloquei em meu colo, entrelaçando com força nossos dedos. Que a tortura comece... Nossa primeira entrevista como casal.

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