Segredos e mentiras fazem parte do nosso dia-a-dia, em alguns momentos, simplesmente mentir ou ocultar fatos é necessário. Mas se sua vida for apenas segredos e mentiras? Aí você é a filha única de Tony Stark. Ela tinha tudo o que pessoas comuns poderiam querer, mas preferiu jogar tudo pela janela de um avião e deixar E.U.A. para viver em Oxford, onde escolheu sua profissão bem tradicional. Ela deveria se sentir culpada por enganar o pai, mas remorso para Avril é como a sensação de um espirro: se esperar um pouco, passa.
Aquele dia havia sido perfeitamente calmo. Sem reuniões ou nada do gênero. Apenas passar o dia aproveitando a companhia um do outro. Com os últimos raios de sol iluminando a sala, Tony Stark e Pepper Potts analisavam juntos os projetos da Torre Stark, deitados confortavelmente em um sofá. Se tudo saísse como eles planejavam, em no máximo uma semana a torre seria a novidade de New York.
– Tony... – sussurrou Pepper, vendo o homem apenas murmurar um simples “sim” enquanto deixava seus olhos viajarem pelos desenhos e pelas linhas dos documentos que ele analisava na sua tela 3D. Com um movimento simples, a ruiva afastou todas as imagens.
– Ei, eu estava tentando trabalhar – disse Tony cínico.
– Eu estava pensando... – começou Pepper, sendo interrompida em seguida.
– Excelente ideia, Srtª Potts! – exclamou Tony, pondo-se de pé – Eu realmente trabalhei demais e preciso de uma massagem para relaxar.
– Eu estava pensando, Sr Stark – repetiu a ruiva, agora com mais firmeza – Que você deveria chamar sua filha para passar uns dias com você.
Tony parou. Não morreria se passasse mais alguns dias sem ver sua filha.
– Não, minha ideia foi melhor.
Pepper se levantou e foi procurar seu celular. Se não fosse por ela, a mulher acreditava que Tony sequer se lembraria de que tinha uma filha. Filha que também não ajudava muito no quesito “manter contato”.
– Tony, vocês não se veem há muito tempo!
– Você está exagerando! – desdenhou o homem – Eu levei no aeroporto quando ela foi para Oxford.
– Tony, isso faz quase cinco anos! – exclamou Pepper – J.A.R.V.I.S., mostre a foto que mandou mês passado.
– Sim, Srtª Potts – respondeu o sistema, carregando uma foto onde três jovens sorriam. Todas tinham a mesma altura e usavam vestidos longos. A garota da direita tinha meigos olhos claros e cabelos ruivos, que combinavam com seu vestido vermelho. A garota do meio tinha longos cabelos castanhos ondulados do mesmo tom de seus olhos, usava um vestido azul. A garota da esquerda tinha curtos cabelos claros e olhos escuros, usava um vestido preto.
– Cinco anos? Você está contando os meses como idade de cachorro?
– Qual delas é sua filha, Tony? – perguntou Pepper.
– Pelo amor de Deus, Pepper! – riu Tony – Acha que eu não sei reconhecer a minha própria filha? é a garota do meio.
– J.A.R.V.I.S., centralize a foto do rosto de – pediu a ruiva inconformada. A foto centralizou na garota da esquerda. Tony riu alto. Ela realmente acreditava que ele iria cair naquela brincadeirinha?
– Minha filha não é loira! – disse ele convencido.
– Hoje em dia existe uma substância de alta tecnologia chamada creme descolorante – informou a ruiva. E assim se foram os argumentos de Tony.
– “Formatura da turma de 2010” – Tony leu a faixa no fundo da foto - Essa foto foi tirada há dois anos?
– Sim, na formatura da sua filha que você se esqueceu de ir.
Pepper pediu para que J.A.R.V.I.S. tirasse a foto de vista e ligasse para a garota. Tony não entendia o que acontecera. Sua namorada devia estar errada. Não fazia cinco anos que ele vira pela última vez. Ele não era um pai tão distante assim. Ela só estava em outro continente, com quilômetros de água entre eles. Mas isso não era muita coisa, ele tinha uma armadura com velocidade supersônica. Tony simplesmente não podia ter tirado sua filha de... Céus, se havia se passado cinco anos, já tinha vinte e três anos? A imagem de uma mulher com cabelos loiros e óculos redondos apareceu no ar.
– Olá, você ligou para Stark, que está ocupada no momento. Você está falando com a forma de vida artificial projetada pela adorável cientista – disse a mulher com um sorriso educado, em um tom profissional – Assim que ela estiver disponível, ela retornará sua ligação.
Tony riu. Usaria a desculpa da filha com o próximo que o ligasse. Pepper também riu. A ruiva queria saber quanto havia pagado para Sam atender seu telefone e quanto a loira receberia a mais pelo elogio.
– Muito engraçado, filha – disse Tony, fazendo a Sam rir. Pepper passou a mão na testa inconformada. Ele realmente não sabia mais como sua filha era.
– Sammy, pode chamar , por favor? – pediu a mulher – Diga que é urgente.
– Claro, Pepper – disse Sam, levantando-se, colocando os óculos da amiga de volta na mesa e gritando algo como “, mamãe no computador, seu pai pensou que eu era você e quero um aumento por ter te elogiado”.Tony fechou os olhos antes de ver Pepper lhe lançar um olhar não muito feliz. Dificilmente chamava de filha e quando o fazia, não era ela.
– Perfeito, não era a – foi a única coisa que Tony conseguiu pronunciar antes de sua filha aparecer na tela. Agora com os cabelos mais longos, na cor natural e com um sorriso no rosto, se sentou na frente do computador.
– Olá, Pepper. Tony... Nossa – exclamou a garota colocando seus óculos redondos – Você parece velho. Quase morrer com esse troço no peito não te fez muito bem. E me confundir com a Samatha? Sério mesmo? Pepper, você mostrou a foto da formatura para ele e não disse a data?
Pepper esperou que Tony dissesse alguma coisa, mas ele só abria e fechava a boca. Ele estava surpreso. A amiga de tinha traços mais infantis, já parecia uma perfeita mulher. Talvez ele pensasse que deixara a filha no aeroporto a menos de um ano.
– Está muito ocupada nos próximos dias, querida? – perguntou Pepper.
disse que sim, mas uma voz longe gritou que não.
– Sam, assuntos familiares, não se mete! – gritou – Por sorte, eu consegui adiantar bastantes coisas aqui. Acho que a diretoria não vai se importar se eu tirar alguns dias de folga. E Sam pode me cobrir. Não é, Sammy?
A voz longe passou a gritar alguns palavrões.
– Quanto tempo você acha que precisa para arrumar as coisas para vir para cá?
– Cinco minutos! – Sam tornou a gritar. Revirando os olhos colocou a mão no microfone e gritou de volta o que Sam gritara para ela.
– Tony está morrendo de novo? – perguntou receosa, escrevendo algo em um pequeno caderno – Essa é uma das poucas razões que eu consegui pensar para vocês estarem me chamando. Ou é algum problema com as Indústrias Stark?
– Minha saúde está perfeita, a empresa também, e você não precisa se referir a mim em terceira pessoa quando eu estou presente – murmurou Tony começando a se irritar.
– Gosto de ver Tony rolar os olhos quando me refiro a ele em terceira pessoa.
Tony mais uma vez revirou os olhos, fazendo as mulheres rirem.
– Só queremos ter ver, – disse Pepper docemente.
Certo, naqueles olhos claros conseguia ver saudade, mas porque seu pai queria vê-la?
– Você me viu há uns três meses, Srtª Potts – lembrou .
– Seu p...
– Eu quero te ver, – disse Tony. soltou sua caneta e voltou a encarar seu monitor com uma sobrancelha erguida. O homem ficara extremamente sem jeito – E tenho um projeto que talvez você goste. Você está trabalhando com energia e seria útil ter mais uma especialista em física na equipe.
sorriu. Aquele realmente era seu pai.
– Não deveria aceitar a proposta – começou ela – Você sequer se lembrou de mim para ajudar com o reator da armadura.
– Encare isso como um pedido de desculpas.
Pepper sorriu. Era estranho vê-los se acertarem, mas ainda assim era bonito.
– Tudo bem. Vou arrumar minhas coisas e vou para o aeroporto... J.A.R.V.I.S., você pode me ouvir? – perguntou com uma careta de expectativa. Nunca tentara se comunicar com o sistema de seu pai pelo telefone.
– Perfeitamente, Srtª Stark.
– Acha que consegue reservar para mim minha passagem?
– Claro, Srtª.
– Ótimo, vejo vocês amanhã.
desligou seu monitor e bateu sua testa na mesa várias vezes seguidas. Teria que parar suas pesquisas por algo em torno de uma semana para Pepper desgrudar um pouco de seu pé. Não estava salvando apenas sua pele, estava salvando a de seu pai também. Mas mesmo assim ela continuava gostando da ruiva, que além de cuidar da empresa e de Tony, também cuidou dela por vários anos. E ainda cuidava.
– Vai passar uma semana com a família, gastar o dinheiro do seu pai, ir toda noite para alguma festa de celebridades e fica com essa cara de enterro? – brincou Sam, voltando da cozinha com uma xícara na mão.
– Eu não planejava voltar para NY tão cedo...
Com o comentário da amiga, Sam teve que cuspir a bebida de volta à xícara. – Você teria voltado cedo se você estivesse há um mês aqui, não cinco anos, – resmungou Sam, desistindo de seu café – Não entendo você. Seu pai é ninguém menos que o milionário Tony Stark, a secretária/namorada dele é um amor e quase sua mãe, você pode ter tudo o que quiser nesse mundo e até de outros, se bobear, e prefere se trancar nesse campus.
Rindo, se levantou para ir para seu quarto. Simplesmente adorava quando as pessoas perguntavam qual era o seu problema. Pelo menos Sam fora sutil.
– Talvez minha resposta esteja na sua própria pergunta – explicou ela, se apoiando no batente da porta – Eu sou filha de Tony Stark, eu não sou Tony Stark. Somos pessoas completamente diferentes. E não deixe Tony ouvir que você o chamou de milionário. Regra número um de convivência com o Sr. Stark: ele é bilionário.
XX
trancou a porta de seu quarto e discou uma sequência de números em seu celular. Tinha que avisar que sairia da Inglaterra.
– Selvig?
– Agente Stark, algum problema? – perguntou o homem do outro lado da linha.
– Nenhum. Só queria avisar que estou voltando para NY hoje, mas vou ficar alguns dias longe das pesquisas – suspirou a morena, sorrindo em seguida – Vai ser só o Tesseract e você, querido.
Selvig riu.
– Acho que posso prosseguir sem sua inspeção, agente. Posso perguntar o porquê de você voltar e não se juntar a mim?
– Tony Stark.
– Seu pai?
– Creio que felizmente só exista um – debochou – O mundo não têm paciência o suficiente para aturar dois.
– Então você está vindo apenas para fazer um passeio? – perguntou Selvig – Devo avisar Fury?
– Por favor – pediu ela, olhando para seu relógio no pulso – Se eu conseguir, passo na base para acompanhar as coisas mais de perto.
Concordando, Selvig desligou. Não tinha tempo para conversar com sua parceira de pesquisa no momento, estava fazendo anotações sobre o Tesseract.
terminou de arrumar suas malas, deixando qualquer documento ou objeto relacionado a S.H.I.E.L.D. guardado. Passaria alguns dias na companhia do Homem de Ferro, não precisava de armas ou qualquer outra coisa de defesa.
Quando Sam disse que em cinco minutos conseguia arrumar suas coisas, ela estava falando a verdade. Tudo que a garota precisava estava a fácil acesso, o que agilizou na hora de fazer suas malas.
Quanto mais rápido ela chegasse, mais rápido ela voltaria. J.A.R.V.I.S. continuava o mesmo, pensou ela. Sua passagem de primeira classe para NY tinha sido reservada às 17h36, dois minutos depois de ter desligado. Era nessas horas que ela tentava lembrar porque não criara um sistema igual ao do pai. “Porque J.A.R.V.I.S. é simplesmente único e insubstituível”.
Antes de adormecer repassou várias fases de sua vida mentalmente. Ainda um bebê perdera a mãe, mas ganhara Pepper, a pessoa que ela tinha mais contato até ser maior de idade. Seu pai não era o mais presente, mas não podia ser considerado ausente. Ele apenas era sem jeito. Tinha sérios problemas para se expressar, exatamente como a filha. Sua infância havia sido cercada de máquinas e livros, que com a mente privilegiada de família, ela aprendeu desde cedo a lidar. Coisa da família Stark. Adolescência isolada até o ponto em que ela passa a agir muito como o pai: sair escondido, festa seguida de festa, bebidas... E a ida para Oxford. O ato de liberdade que durara cinco anos. Nem quando seu pai foi sequestrado durante o período que ela estava na Inglaterra a fez voltar. Pepper quase surtara, mas entendia o lado da garota. O que ela poderia fazer naquela situação? No máximo, assumir a empresa, o que ela não queria fazer. Uma criança comandando as Indústrias Stark não daria muito certo. O reinado de Tony nas Indústrias já era o suficiente.
Quando ele foi resgatado devia ter voltado, mas o lado Stark falou mais alto. O que ela faria quando o visse? O abraçaria? Choraria? Ter mandado uma mensagem escrita “O passeio foi divertido? Bem vindo de volta, Sr. Stark” foi o máximo que ela conseguiu fazer. Depois veio toda a história do Homem de Ferro e se sentiu tentada a ir analisar a armadura pessoalmente, mas ela estava apenas começando suas pesquisas, não podia abandonar Oxford.
E agora ela estava mais uma vez em NY, sentindo seus olhos arderem com todo aquele excesso de luz solar ao sair do avião. Verão. Como ela amava essa época do ano. Suor e cansaço devia ser o nome da estação.
Enquanto esperava pacientemente suas malas na esteira, ouviu Happy a chamar de algum lugar.
– Meu Deus, é você mesmo? – riu o homem – Tony vai ficar bem ocupado tendo que te vigiar nesses dias que você vai ficar aqui... Vem, vou te levar para a torre.
– Torre? – perguntou a garota confusa, enquanto Happy pegava sua mala – Você não vai me levar para a mansão?
– Não vou estragar a surpresa.
XX
Happy estacionou o carro na frente da torre, vendo uma completamente surpresa descer do carro. Ela mal conseguia contar quantos andares aquele prédio devia ter.
– Isso é tão... – começou ela, mas mal sabia como descrever aquilo.
– Alto? – sugeriu Happy, entrando no prédio. Rindo, o seguiu.
– A cara do meu pai.
Happy guiou até o elevador, onde ele disse que ali ela teria um guia mais adequado. Sem entender, apenas apertou o botão para chamar o elevador e entrou, ouvindo logo em seguida uma voz conhecida dizer “bom dia, Srtª Stark”.
– J.A.R.V.I.S.! Querido, senti sua falta! – exclamou ela rindo.
– Não sei o que devo dizer sobre isso, Srtª.
– Tony tirou a modificação que eu tinha feito no seu sistema, não é? Você tinha aprendido a me chamar de – resmungou a garota – Vai ter que ser do jeito clássico mesmo. Não me chame de Srtª Stark e diga que também sentiu minha falta.
– Também senti sua falta, Srtª Stark.
– J.A.R.V.I.S., é ! – insistiu ela – . Não é um nome difícil.
– Seu nome não é difícil, Srtª Stark.
Antes que pudesse continuar sua pequena discussão com J.A.R.V.I.S., a porta do elevador se abriu revelando uma mulher ruiva com roupas impecáveis, com uma prancheta nos braços e olhos claros.
Não fazia tanto tempo que vira Pepper, mas quando seus olhos escuros se encontraram com os dela, foi como se os anos que ela passara longe de Tony ela também tivesse passado longe da ruiva.
– Oi, mamãe – sussurrou , sentindo o ar lhe fugir quando Pepper a abraçou – Você me chamou aqui para me matar sufocada com um abraço?
Pepper riu enquanto se afastava. Aquela garota não mudaria nunca.
– Estou abraçando o que seu pai não vai abraçar – explicou a ruiva, fazendo a garota revirar os olhos – Vem, ele está te esperando.
A sala em que Tony estava era ampla, quase toda aberta com vidros, dando uma visão privilegiada do centro de NY. poderia passar o resto da sua vida ali, observando as estrelas à noite.Tony estava em pé perto da janela, com seu já comum copo com alguma bebida em mãos. Ele não se assustara muito quando vira . Já havia se acostumado com a ideia de que sua filha estava crescida.
– Olá, – disse o homem simplesmente, acenando para a filha – Aceita um drink?
– Talvez mais tarde – disse ela – Tem certeza que Tony não está mesmo morrendo, Pepper?
Tony revirou os olhos.
– Bom, a viagem foi longa. Depois conversamos mais – murmurou ela.
– Nós conversaremos ou você falará comigo pela Pepper? – perguntou Tony, ouvindo a filha dizer “talvez”.
XX
J.A.R.V.I.S. arrumara um quarto na Torre Stark para , bem parecido com o antigo quarto da garota na mansão e uma cópia do projeto da torre para a garota analisar. A garota simplesmente adorava seu pai. Ele podia ter falado daquele projeto quando ele teve a ideia. Uma torre autossustentável em energia por um período consideravelmente longo era o sonho de qualquer físico recém-formado.
Quando ela finalmente arrumara as coisas e se preparava para abrir o projeto em 3D, seu celular começou a tocar. Conhecia aquele toque.
– J.A.R.V.I.S., impeça qualquer um de entrar nesse quarto, até mesmo a Pepper, diga que eu estou trocando de roupa – ordenou , ficando de pé – Não fale nada a partir de agora.
– Sim, Srtª Stark - concordou o sistema.
– Bela vista a da torre, não? – disse a voz do outro lado da linha – Adorei saber que você saiu de sua casa e foi para outro país sem me avisar.
- Eu avisei o Selvig, pedi para ele te avisar.
– Ele avisou. Quero você na base junto com ele para acelerar as pesquisas – ordenou Fury.
– Eu estou de férias – lembrou ela – Passei quatro anos inteiros em Oxford sendo treinada, em missões e fazendo pesquisas. Acho que mereço uns dias de férias. E não se atreva a descontar isso do meu salário. E ele desligou. Acho que eu perdi o emprego. J.A.R.V.I.S, pode voltar.
– Problemas, senhorita? - perguntou J.A.R.V.I.S, inocentemente.
– Nada que eu não possa resolver. Vou dormir um pouco, querido. Boa noite - disse ela, deixando sua mente livre, caindo no sono.
XX
acabara de deixar a sala de aula. A matéria estava incrivelmente atrasada para um curso superior de uma universidade do grau de Oxford. A garota aprendera aquilo quando tinha uns dez anos. Não havia motivos para prestar atenção naquilo. O tempo estava consideravelmente frio para final de verão, o que deixava os arredores dos prédios desertos.
– Senhorita Stark? – chamou um homem ao longe, correndo para alcançar a garota – Você estaria ocupada? Sou o Agent Phill Coulson da S.H.I.E.L.D.
– No que eu poderia ajudá-lo? – perguntou a garota, abraçando seu corpo para se proteger do vento insistente.
– Gostaria de lhe fazer uma proposta de trabalho.
– Desculpe, acho que você abordou a pessoa errada – disse , fazendo o caminho de volta para a sala de aula. Lá parecia ser mais seguro.
– Você é Maria Stark, tem dezoito anos, nasceu na Califórnia em quinze de agosto de 1989, seu pai é Anthony Stark, dono das Indústrias Stark, sua mãe é Lauren Smith, que morreu depois de você nascer. Sua mente é mais rápida do que a da maioria das pessoas, talvez por isso você está fora da sala em horário de aula e provavelmente vai tirar a nota mais alta sobre a matéria que você está perdendo – o agente despejou todas as informações que tinha da garota, a deixando assustada.
– Como você...?
– Queremos tê-la na nossa equipe, Stark – disse o homem – Você teria grande utilidade para nós e você aproveitaria muito trabalhar conosco.
– E por que eu iria quer trabalhar com pessoas que investigaram minha vida inteira? - indagou ela, cruzando os braços.
– Trabalhamos com pessoas qualificadas, Stark - explicou Phill - Acreditamos que você seja mais do que qualificada para qualquer coisa que queria fazer.
Phill estava ganhando-a. Sabia que elogios deixariam a garota mais calma, mas não seria o suficiente. era esperta, não se deixaria levar com meros elogios, ela primeiro se certificaria que estaria em segurança junto ao homem.
– Se você quiser, posso te levar a base da S.H.I.E.L.D da Inglaterra - disse o homem - Não é longe, podemos até ir andando.
– Como vou saber que você não pretende me sequestrar, senhor Coulson? - perguntou ela desconfiada - Você mesmo disse que sou filha de Tony Stark. Poderia conseguir uma boa quantia fazendo chantagem com o meu pai.
Phill riu um pouco. Ser filha do gênio era o sonho de muitas garotas da idade da : ter tudo o que quisesse, fama... Mas a garota citava o nome de pai com rancor, ou algo parecido.
– Acreditamos que você seja mais útil na nossa equipe. Você é muito mais do que a filha de um fabricante de armas.
– Você ainda não me disse com o que trabalham.
– Nós asseguramos a paz e bem-estar mundial.
riu.
– Então estão fazendo um péssimo trabalho.
– Você não faz ideia de como seria o mundo sem nós. Aceita a visita?
XX
acordou com o som da voz de J.A.R.V.I.S anunciando que já eram 7hs e "abrindo" as janelas, permitindo que a luz forte do sol inundasse o quarto. Ela achou estranho o sonho. Fazia anos que Phill a recrutara.
– Senhorita Stark, a senhorita Potts se aproxima.
– Obrigada, J - resmungou ela, se virando na cama.
Pepper abriu a porta do quarto sem muitas cerimônias. tinha amor a vida e não reclamaria por tal ato que sempre acontecia de manhã, sem exceções.
– Bom dia, - desejou a mulher, ajeitando sua prancheta em suas mãos - Não sei o que você pretende fazer nesses dias, mas seria interessante se você ajudasse seu pai com o projeto da Torre. Vocês precisam passar algum tempo juntos, mesmo que seja trabalhando.
– Como você quiser, senhorita Potts - suspirou a morena, se arrastando para o banheiro - Mais alguma coisa?
– Creio que não, senhorita Stark. Olhou o projeto ontem?
– Não, adormeci antes de conseguir abrir o arquivo - contou ela, saindo do banheiro perfeitamente vestida - Depois do café eu me atualizo.
Pepper deixou o quarto sorrindo. Era bom ter de volta, embora fosse cansativo. Aturar dois Stark juntos não era tarefa fácil, e talvez por isso a ruiva vivesse preocupada: ela tinha três crianças para cuidar, três crianças instáveis e que precisavam de muita atenção. As Indústrias Stark, Tony e , as crianças de sua vida.
– Senhorita Stark, seu pai te espera para tomar café.
XX
– J.A.R.V.I.S., por tudo que é mais sagrado! Deleta essa parte e me deixe começar do zero! - pediu , quase arrancando alguns fios de se cabelo ao passar as mãos por ele.
- J.A.R.V.I.S., não se atreva! - gritou Tony do outro lado da grande mesa.
– Mas isso está quase irrecuperável! - insistiu a garota - Esse estabilizador não vai suportar mais de dez minutos quando o reator for ligado. Isso porque eu estou sendo boazinha. Se eu for analisar mais a fundo, não vai suportar dois segundos antes de queimar.
Tony empurrou sua cadeira até chegar perto da filha. Ela continuava a usar o mesmo modelo de óculos desde que tinha sete anos, até a cor escura ela não mudara. Era estranho ver seus traços no rosto de , era como olhar em um espelho que mostra sua versão feminina e que te rejuvenesce alguns anos.
– E o que você sugere? - perguntou ele calmamente.
– Sinceramente? - perguntou ela, vendo-o assistir - Se isso estivesse no papel, eu diria que a única opção é queimar tudo, mas como são arquivos, a solução é deletar e começar de novo.
– Sabe quanto tempo eu demorei para projetar esse estabilizador? - disse Tony, inconformado.
– Duas horas?
– Três, na verdade. Não sou tão devagar - corrigiu o homem, fazendo com que a garota risse - Quanto tempo você precisa para terminar? Tenho que ter o estabilizador entregue aqui amanhã cedo.
pegou o celular para checar as horas. Não gastaria muito tempo projetando o estabilizador, mas o protejo teria que ser testado virtualmente e depois ser revisado por Tony, o que gastaria mais de três horas. Uma mensagem a distraiu quando foi olhar para o relógio.
"Você é uma cretina, sabia? Bonito isso. Da próxima vez que eu te ver, vou te acertar com uma flecha. Caso queria continuar vivendo, trate de vir nessa porcaria de base me dizer oi. De: Agente Clint Barton".
– Que horas são, ? - perguntou Tony, quando a filha demorou em responder - Mensagem do seu namorado?
– Como? - disse ela confusa, vendo Tony com um olhar sugestivo – Não! Não, é um amigo. Um... Colega de pesquisa.
– Ah, claro... - disse o moreno simplesmente, voltando para o seu lado da mesa enquanto sua filha começava a desenhar o novo estabilizador de energia.
Depois do jantar ela teria que reservar alguns minutos para ligar para o Barton antes que ele realmente resolvesse lhe acertar com uma flecha.
Tony desligara a energia da torre e pediu para que as mulheres ligassem o reator, fazendo a Torre Stark se iluminar.
– Bom trabalho, Sr. Stark – disseram e Pepper juntas.
– Vocês duas também podem se dar um pouco de créditos – lembrou Tony, enquanto pousava na plataforma para retirar a armadura – Doze por cento para a Pepper e cinco para a .
O capacete da armadura foi retirado a tempo de Tony ver as expressões indignadas das mulheres de sua vida.
– Doze por cento do meu projeto? – reclamou Pepper.
– Cinco por cento por ter corrigido todos os erros do seu projeto? – disse , inconformada.
– Eu vou pagar sutilmente pelos por centos, não é?
Quando as mulheres iam abrir a boca para continuar a pequena discussão, o elevador se abriu, revelando o Agente Phill Coulson.
– Quebra da segurança – ofegou Tony.
– Phill? – estranhou .
– Phill! – festejou Pepper, se levantando – Entre!
– Phill? – resmungou Tony, também se aproximando do homem – O primeiro nome dele é Agente.
O agente Coulson continuou com a expressão inalterada, se aproximando do grupo.
– Preciso da ajuda de vocês dois – disse o homem – A sua também, .
– “”? – repetiu Tony – Posso saber que intimidade é essa?
Phill entregou uma pasta para Pepper, que passou para um Tony emburrado. continuava a encarar o agente. Com silêncio, Tony foi checar o conteúdo da pasta.
– O que aconteceu? – perguntou a garota, sem receber resposta.
– Pepper, ... Venham aqui – pediu Tony, vendo-as se aproximar enquanto J.A.R.V.I.S. copiava as informações - Posso saber que história é essa de Phill e desde quando minha filha conhece um agente da S.H.I.E.L.D.?
– Sobre o que é isso? – perguntou Pepper, quando todas as informações começaram a “voar” pela sala. conhecia todas as pessoas que apareceram. Aqueles eram os arquivos da Iniciativa Vingadores, as anotações de Selvig e algumas informações alteradas sobre o projeto Tesseract – Acho que vocês estarão bem ocupados. Vou ir fazer a divulgação da Torre.
viu Pepper deixar a sala na companhia de Coulson. Tinha algo muito errado. Ela sequer precisara olhar para as informações para saber disso.
– Pai, eu... Eu preciso ir ao banheiro – ofegou a garota, saindo correndo.
- Pausa! Espera aí, você me chamou de "PAI"? – repetiu o homem, não sabendo se ficava contente ou chocado, vendo a garota sumindo pela porta.
se trancou no banheiro e pegou seu celular. As informações que Tony recebera eram insuficientes para ela.
– Phill? – disse a garota quando o homem atendeu – Não fale meu nome e se livre de Pepper por alguns minutos.
– O que foi? – perguntou Phill depois de dizer para a ruiva esperar um pouco.
– O que aconteceu?
– Você por acaso chegou a ler o que eu entreguei?
– Lá falava que o Tesseract foi roubado, só que não falava da Fase 2. Vocês podem ter alterado inúmeras coisas naquele relatório – disse – J.A.R.V.I.S., impeça que Tony possa ouvir o que eu estou falando. O que aconteceu, Phill?
– Lembra-se de Thor? O Asgardiano que teve um probleminha em Novo México ano passado? – suspirou o homem – O irmão dele, Loki, roubou o Tesseract e levou alguns agentes de bônus.
– Quem Loki levou que eu conheço?
– O Gavião Arqueiro e o Selvig.
– O Clint? Como ele conseguiu levar o Clint? – gritou a garota inconformada – Eles estão bem? Já chamaram a Romanoff?
– Deixe que nós cuidamos dessa parte – pediu Phill – Foque-se em trabalhar com seu pai.
– Mas... - antes de perguntar mais alguma coisa, Phil desligou o aparelho, voltando para a companhia de Pepper e conversando animadamente, enquanto voltou para a companhia do pai, sussurrando mentalmente todos os xingamentos que conhecia para Phill. Como ele ousara deixá-la sem informações? Ela devia ter sido convocada para uma base para trabalhar não só na procura pelo cubo, mas também na procura de Clint e Selvig. Era o certo a se fazer.
– Ah, ! - exclamou Tony quando a filha apareceu na sala - Tenho algumas perguntas para te fazer!
"Droga", a informação a pegara tão de surpresa que se esquecera de que seu pai não podia saber demais, nem sobre o Tesseract e nem sobre ela como agente.
– Perguntas sobre o quê? - desconversou ela, se sentando perto dele, analisando as informações que Phill trouxera. Chegava a ser ridículo ler aquilo. S.H.I.E.L.D. trabalhando com energia? Quem acreditaria nisso? Que tipo de idiota eles pensavam que Tony era?
– Perguntas como "De onde você conhece o agente Coulson?" e "Desde quando você me chama de pai?".
Das duas perguntas, a segunda desconsertou a garota.
– Conheci Phill na faculdade - explicou , começando a bolar uma das suas típicas mentiras - Ele tinha acabado de se formar em Psicologia e estava fazendo algumas pesquisas quando eu cheguei. Apenas o conheci de vista, se falei com ele duas vezes, tirando hoje, já foi muito.
Tony desviou os olhos das anotações de Selvig para fitá-la. Sua filha não tinha razões para mentir, mas a história de Phill ter estado em uma faculdade na Inglaterra na época que sua filha começou seu curso era estranho. Eles teriam tido topete o suficiente para tentar recrutar a sua filha?
– Então... - continuou ele, observando as mínimas mudanças na expressão de - Você não tem nenhum envolvimento com a S.H.I.E.L.D.? Sabe que organização é essa?
sequer precisou analisar mais a fundo seu pai: a desconfiança estava estampada em seus olhos.
– Não, se me perguntasse sobre essa coisa há meia hora eu diria que nunca tinha ouvido falar - mentiu ela, vendo no rosto de seu pai que ele estava começando a acreditar - Apenas vi esse nome umas duas vezes nas informações que Phill te entregou.
Tony esboçou um sorriso torto, se aproximando de . Não importava se sua filha tinha vinte e três anos, ele não deixaria sua garota se envolver com esse tipo de gente.
– Nem procure se informar sobre eles – brincou Tony, voltando sua atenção para as anotações – Soube que o salário deles é horrível.
– O salário de presidente das Indústrias Stark não está pagando suas contas? – disse a morena risonha.
– Pois é, agora eu sei o que alguns pais passam. Criar filhos no exterior custa caro.
– Ninguém mandou me acostumar com luxo. Agora aguenta.
– Você por acaso tem alergia a emprego?
Durante a conversa ambos analisavam as informações concedidas. Eram tantos absurdos que não sabia se maior era a vontade de rir ou a vontade de matar quem modificara seu tão precioso trabalho.
– Sou física com foco em pesquisas – explicou ela – Serei uma eterna vagabunda que precisa de financiamento.
– Boa profissão para a filha de um bilionário, não? – riu Tony.
– Acho que você descobriu o que eu levei em consideração na hora de escolher minha profissão.
XX
Horas se passaram enquanto os dois Stark analisavam atentamente o material que receberam e até começaram a montar um rascunho de programa para rastrear o cubo. Ambos estavam focados no trabalho, embora Tony ainda soltasse uma piada ou outra. Mas ele não sabia como agir perto da filha. Ela não era mais um bebê que riria até chorar de suas caretas, ou uma criancinha que ri quando escuta palavras estranhas aos seus ouvidos. já era uma mulher feita e séria. Não era a mesma coisa que conversar com Pepper.
– Opa... Você estava rastreando o Loki? – estranhou . Tony correu da sala.
– Onde ele está?
– Na Alemanha – respondeu ela – O que você vai fazer?
– J.A.R.V.I.S., prepare a armadura.
arregalou os olhos, levantando com um pulo se sua cadeira.
– O que você vai fazer? – perguntou ela novamente. Tony não deu resposta, apenas apareceu na sala novamente usando o traje Homem de Ferro. Evitando transparecer como estava encantada com a tecnologia, viu seu pai deixar a Torre e voar em direção ao território germânico.
ficou parada olhando para o horizonte onde seu pai sumira. Exatamente o que ela faria agora? Phill devia ter lhe dado um roteiro “caso seu pai a abandone”, seria mais útil. Antes que pudesse pensar em o que faria, o celular de trabalho da garota começou a tocar. Bom, pelo menos a S.H.I.E.L.D. estava bem informada.
- Agente Stark, preciso de você na base aérea – disse Fury sem rodeios.
- Stark errado. Eu não sei voar, lembra?
- Um agente irá lhe buscar em uma hora – continuou o diretor, ignorando o comentário da morena – Não se atrase.
Se atrasar... Como todo mundo, Fury sabia que dificilmente se atrasava, apenas se quisesse e naquele momento ela não queria. Ela apenas queria chegar à base e se informar devidamente sobre a situação. Por isso, em vinte minutos ela já estava no elevador com sua mochila nas costas e dando ordens a J.A.R.V.I.S.
- Não importa o que aconteça, nada de comentar para Tony sobre meu envolvimento com a S.H.I.E.L.D.
- É claro, srtª .
No final das contas fora extremamente útil ter mudado as configurações de J.A.R.V.I.S. para que suas ordens tivessem mais valor do que as ordens de seu pai. Ele nunca desconfiaria, Tony no máximo saberia que seu sistema chamava sua filha pelo primeiro nome.
No térreo da torre, algumas pessoas estranhavam a presença da jovem Stark. Em uma semana de estadia na Torre e eles apenas a viram quando ela chegara e agora ela estava saindo sem a companhia do pai, com uma mochila nas costas.
- Senhorita Stark – chamou-a uma das atendentes da recepção mais curiosa –, algo em que possamos ajudar?
- Não, obrigada – suspirou com um sorriso educado, saindo pela porta antes que alguém ousasse se pronunciar.
A calmaria da Torre contrastava com a agitada movimentação de pessoas no lado de fora. Para quem estava acostumada a ver poucas pessoas por dia, estava consideravelmente tonta. Muitas pessoas juntas não lhe faziam bem. Sua mente não conseguia acompanhar as informações que se afastavam e se aproximavam constantemente, não adiantava tentar se adaptar. Era como tentar assistir varias televisões ligadas ao mesmo tempo.
Sem paciência, colocou seu comunicador no ouvido e chamou seu chefe.
- Onde está minha carona? – perguntou ela impaciente. Sua cabeça começava a doer com o excesso de informações e ela precisava de um lugar menos movimentado, como seu amado apartamento perto da universidade, mas como isso não era possível no momento, a única opção era apressar o infeliz agente que teria que suportá-la pela próxima hora.
- Então sorte sua que eu fui o enviado para te buscar, Stark – suspirou um homem a alguns passos atrás de .
nunca desconfiaria que aquele homem trabalhasse no mesmo lugar que ela. Era óbvio que ele era um espião, mesmo com toda a confusão que a cercava poderia muito bem perceber se alguém fosse se direcionar a ela ou a alguém próximo dela.
O homem não usava nenhuma peça do uniforme escuro da S.H.I.E.L.D., pelo contrário, até usava uma camiseta de cor mais viva. Aquela postura despreocupada provavelmente não era conhecida pelo o diretor Fury, ou aquele sorriso debochado que todos esboçavam ao conhecê-la.
- Sou o agente James William, Stark – apresentou-se o moreno lhe estendendo a mão. Então aquela era a famosa agente A.S., da qual tantos falavam sem ao menos conhecer. Aparentemente a garota não parecia ser grande coisa, ninguém diria que aqueles braços finos pudessem fazer algum estrago, ou que aquele rosto delicado pudesse carregar toda a frieza do mundo.
- Pelo menos me arrumaram uma babá competente – comentou , sorrindo – Vai ficar aí parado ou vai me levar para a base?
- Estou esperando a sua boa vontade para entrar no carro – disse James, apontando para o carro estacionado ao lado dos dois – Quer que eu te coloque lá dentro também?
lançou um olhar raivoso em direção ao homem antes de entrar no automóvel, cruzando os braços enquanto James ocupava seu lugar no banco do motorista. Talvez Natasha tivesse escolhido aquela criatura para ir buscá-la. Talvez isso fosse um tipo de vingança por ela ter praticamente roubado sua missão no sul da França.
- Vamos para o aeroporto, onde uma nave está nos esperando – informou James sem olhá-la, esperando que a garota dissesse algo.
E foi assim que o silêncio prevaleceu.
A confusão das pessoas na rua estava nublando sua mente e não conseguia racionar, estava impossibilitada de tentar prever o plano de Loki. Era essa uma das muitas razões pela qual ela deixara NY. Não dava para aproveitar suas habilidades com sua mente tão cheia.
- Sabe, as informações que eu recebi sobre você me diziam que você nunca cala a boca... – brincou o homem ao parar o carro no estacionamento do aeroporto. não o esperou para pegar sua mochila e deixar o carro enquanto James tirava o cinto de segurança.
- Quem é sua fonte? – perguntou ela, se apoiando na porta do automóvel quando o homem a abriu – Se é a agente Watson, saiba que as informações que ela lhe der sobre mim a vida inteira serão baseadas em como eu deixei o humor dela na última vez que nos vimos.
- Acha que eu seria idiota o suficiente para ouvir a Sam? Você praticamente é dona dela, ela faz tudo o que você quiser – lembrou James, puxando a mochila de sem se importar com ela reclamando e andando mais a frente – E foi a Romanoff que me avisou sobre você.
- Maravilha, quantas idiotices ela disse que eu já fiz?
- Nenhuma que nós já não soubéssemos... - riu James, vendo o fuzilar com os olhos. Desde quando rumores das missões dela chegavam aos ouvidos dos novatos ela não sabia, mas tinha certeza que tomaria uma providência sobre isso quando chegasse à base.
Nenhum dos dois se pronunciou durante o voo. estava desacostumada a ser copiloto, a última vez que ocupara aquela posição fora durante seu treinamento com o agente Barton, há mais de três anos. Ninguém da base os informava, ou não queriam os assustá-los com a situação ou estava tão carente de novidades quanto eles.
não sabia como seria o esquema para ficar no porta-aviões trabalhando com seu pai por perto. Se referir a agente A.S. quando fosse se referir a ela talvez fosse útil, mas ela teria limitações, não poderia fazer o que Fury queria fingindo ser apenas uma física recém-formada.
- Algo errado, senhorita Stark? – perguntou James com um sorriso maldoso, pousando a nave no porta-avões. A alegria de todo agente era ser reconhecido como agente – Fury está te esperando na central. Coloque seu comunicador antes de descer.
Mostrando-lhe um sorriso cínico, desceu na nave e viu outro agente pegar sua mochila, sumir pelos muitos corredores e ela sentiu uma imensa vontade de segui-lo. Fazia muito tempo em que ela tinha estado na base aérea e não fazia ideia de onde ficava o que ali. Era um verdadeiro labirinto. Fora com o rosto vermelho de vergonha que ela parara uma mulher no corredor para perguntar o bendito caminho.
- Senhorita Stark! – exclamou Fury forçando uma risada – Por que sempre que te vejo problemas aparecem?
A central da base continuava enorme e aquilo ainda a surpreendia. Eram dezenas de pessoas trabalhando ao mesmo tempo, algumas em seus computadores e outras andando de um lado para o outro.
- O que eu posso fazer se você não sabe resolver seus problemas sem mim... – brincou , cruzando os braços – O que eu vou fazer?
- Direto ao ponto? Sem preliminares? – perguntou Fury, vendo a expressão de continuar inalterada – William é um incompetente. Ordenei que ele trouxesse a Stark e ele me trás alguém parecido fisicamente com ela.
Quando abriu a boca para responder, Maria Hill se pôs ao lado de Nick. Maria nunca mudava, estava sempre séria e nunca a vira sorrir. Até Natasha Romanoff já rira na companhia da garota e isso não é lá uma das tarefas mais fáceis.
- Diretor, Stark e Rogers capturaram Loki – informou a morena de olhos azuis – Eles estão voltando.
- “Rogers”? – repetiu começando a hiperventilar – Como “Capitão Rogers”? Aquele cara que foi encontrado no gelo depois de anos? Aquele loiro enorme também conhecido como Capitão América?
- Se você continuar a falar desse jeito vou pensar que anda passando muito tempo com o agente Coulson – disse Hill, deixando os dois conversando.
- Eu não estou tão... Tão... Coulson? Sério? Pode me dizer o que eu vou fazer aqui antes que eu me jogue do convés?
- Você vai trabalhar como agente/não agente na busca do Tesseract – explicou Fury, voltando a analisar suas duas telas e dando as costas a garota – Você era a segunda responsável pela Fase 2, seria idiotice te deixar fora, mas você não está escalada na ação e seu acesso a algumas áreas da base não será permitido, assim como o do resto dos “visitantes”.
iria responder, mas parou para pensar mais na palavra “visitantes”.
- Quem vai estar aqui? – perguntou ela por fim.
- Seu pai e Capitão Rogers – disse Fury a olhando de lado – E tem uma pessoa que já está aqui e seria útil se você trabalhasse com ele. Siga-me.
Curiosa, seguiu seu chefe pelos corredores até os setores de pesquisas, pensando em todos os nomes possíveis de cientistas que poderiam estar na base e quase teve um troço ao ver um dos seus exemplos digitando agilmente em uma tela touch screen.
- Dr. Banner, – chamou Fury, entrando no laboratório primeiro que a garota que travara na porta – queria te apresentar Stark, ela fará parte das pesquisas ao seu lado.
Bruce Banner tirou seus óculos para fitar melhor a jovem mulher de olhos castanhos arregalados que parecia não respirar. Duas coisas se passaram pela mente do homem: ou ela era uma fã de ciência ou ela estava assustada por estar vendo o homem que também era o... Outro cara.
- Coulson... – sussurrou Fury, fazendo com que voltasse a si.
- Dr. Banner... – disse a morena com um grande sorriso quase correndo em direção ao homem, lhe estendendo a mão direita – Você não sabe como sou fã de seu trabalho! Você provavelmente foi uma das pessoas que eu me espelhei para fazer física!
Bruce mostrou um sorriso tímido: ele não estava acostumado com tanta atenção para o cara não verde.
- É bom saber que o que eu levei anos fazendo está incentivando outros a se juntarem a ciência – disse ele, feliz.
- Estou começando que a achar que Coulson aprendeu a ser um fã quase descontrolado contigo – sussurrou Fury para , depois voltando ao tom normal – Vou deixar vocês se entenderem.
“Quero que seja gentil e amigável como todos os visitantes, Stark”, disse Fury pelo comunicador. “É claro que seu pai você trata como bem entender”.
sorriu, ignorando os comentários de seu chefe. Quem se importava com imagem naquele momento? E Fury achava necessário dizer que ela tinha que ser agradável?
- Então, o que quer que eu faça? – perguntou uma que não conseguia parar de sorrir.
- Estou montando o programa que vai rastrear o cubo... – disse Bruce – Você leu as anotações de Selvig?
“Lindo, ninguém lembra que eu também faço parte desse bendito projeto”, pensou ela.
- Posso dizer que sei tanto sobre esse projeto como os pesquisadores responsáveis – brincou , rindo internamente.
- Ótimo! Tem outra tela ali – disse Bruce, apontando para o outro lado da sala. até começou a analisar a criação de Banner, mas Fury a chamou pelo comunicador novamente, a distraindo.
“Quero que você deixe o laboratório com uma desculpa qualquer e vá para o seu quarto e limpe sua mente”, ordenou o homem. “Romanoff acabou de me informar que Loki não quer abrir a boca e você acabou de ser escalada para interrogá-lo”.
Suspirando, afastou sua tela e começou a caminhar até a saída do laboratório. Era pedir demais ser feliz por algumas horas trabalhando animadamente com um incrível cientista?
- Bruce, querido, – começou ela – eu não estou me sentindo muito bem, não me dou muito bem com alturas. Acha que consegue se virar sem mim por algumas poucas horas?
- Vai ser difícil continuar sem a minha assistente, mas acho que eu sobrevivo – brincou ele, vendo-a sorrir e deixar o laboratório.
“Senhor, chegaremos aí em algo cerca de duas horas”, informou Natasha pelo comunicador. não pode se segurar para não apertar o botão de seu comunicador.
- Dona Aranha! – exclamou a morena rindo – Tecendo muita teia?
Natasha revirou os olhos e olhou para trás. Tony Stark não estava perto o suficiente para ouvi-la, mas era melhor não arriscar.
“Não muito, estou ocupada”, suspirou a ruiva. “E você, cria de Coulson e Barton, surtando muito com a presença do grandão?”
parou no corredor e fez bico: aquilo era considerado maldade da parte da russa. Ela não tinha sentimentos?
Verdade! Ela não tinha...
- Não sabe brincar, não brinque, Tasha – resmungou a morena – Só por isso vou te privar de ouvir a minha linda voz pelas próximas horas.
“Você é a encarregada de interrogar o cara, não é?”
- Sou, por isso vou desligar para fazer uma faxina na minha mente – disse a morena, finalmente encontrando a porta de seu quarto temporário. Dessa vez ela não precisara pedir ajuda, era uma evolução – Boa viagem, Nat, e cuidado com a chuva forte.
Sem ouvir a resposta da ruiva, jogou seu comunicador na mesa de cabeceira e se jogou na cama. Odiava ter que fazer interrogatórios e odiava ter que se preparar para eles. Era quase uma missão impossível pensar em nada, mas ela teria que conseguir.
Não era necessário abrir os olhos para sentir a leve brisa ou o agradável calor que os raios solares proporcionavam ao entrar em contato com a clara pele de . Ela sequer sabia onde estava, mas sentia-se em mais segurança do que se sentira a vida inteira. Mesmo de olhos fechados, a garota podia afirmar que naquele lugar ela não precisava das comuns armas de defesa que ela sempre usava. Não sentia mais a necessidade de se esconder atrás de uma expressão fechada. A comparação mais infantil era a mais verdadeira: parecia que mais uma vez ela era aquela garotinha de dez anos que assustada com algo, se escondia nos acolhedores braços de Pepper.
Se concentrando mais, mesmo sem querer, se deu conta que abraços realmente a envolviam, mas não os braços finos e delicados como os de sua segunda mãe: eram braços fortes. Braços desconhecidos. E essa não era a parte estranha.
O estranho era ela continuar se sentindo protegida.
Enquanto sorria com esse pensamento em mente, o dono dos braços a abraçou mais forte, como se concordasse com o inocente pensamento da garota. Ele estava atingindo seu objetivo.
- O que acha de tomarmos um sorvete? - perguntou o estranho, com a voz carregada de um sotaque que não conhecia. Na tentativa de ver o rosto do estranho, abriu os olhos, se vendo cega por alguns instantes enquanto seus olhos se acostumavam com a claridade. Quando sua visão já estava normal, o estranho já tinha levantado e se distanciado. As únicas coisas que viu do homem, antes de se focar na paisagem que a cercava, foi a roupa que usava: uma calça social preta e uma camisa branca; e, em contraste com sua pele clara, cabelos escuros como a noite que caíam sobre seus ombros. Ela o conhecia. Sentia que já o vira antes.
Durante o tempo que o homem conversava com o sorveteiro mais próximo, se ocupou em descobrir onde estava. Em poucos segundos ela identificou o local que por algumas vezes ela passeou. O Central Park continuava o mesmo desde que ela tinha algo em torno de cinco anos, até os bancos continuavam os mesmo, como aquele em que ela estava confortavelmente sentada.
- Não perguntei que sabor você queria, então trouxe de chocolate - disse o homem estranho, quando voltou a se aproximar da garota, com um picolé em mãos. Assim que os olhos castanhos da garota se focaram no rosto do homem, teve certeza de uma coisa: A beleza daquele homem não podia ser humana.
O sorriso discreto e meigo dele apenas a deixava contente e seus olhos incrivelmente azuis a hipnotizavam. Simplesmente não era possível desviar seu olhar do dele.
- Está tudo bem, ? - perguntou o homem, sentando-se novamente no banco ao lado da garota - Não gostou do sabor do sorvete ou está assim porque te acordei?
riu ao perceber a preocupação em sua voz e abaixou a cabeça, percebendo que não usava uma típica camiseta preta e uma calça jeans e sim um simples e delicado vestido branco.
- Todo mundo gosta de chocolate - lembrou ela, quase obrigando o homem a provar seu sorvete - Desculpe por ter dormido.
- Sem problemas, - sussurrou ele docemente, puxando-a para um abraço de lado - Você precisa descansar... Isso tudo que está acontecendo, o que vai acontecer, você não devia estar envolvida e a maior parte da culpa é minha.
abriu a boca para contradizer e travou na hora de chamar o homem pelo nome. Era esquisito, mas ela percebera que sabia seu nome o tempo todo.
- Loki, você sabe que não há tempo para descansar...
- Então nós arrumaremos! - ele a interrompeu, fazendo com que ela o encarasse - Você é preciosa demais para se matar por algo tão fútil como o que está por vir. Não há pelo que lutar aqui.
- Você sabe que é minha obrigação. Sou igual a eles - sussurrou depois de terminar seu sorvete - Esse é meu dever: ficar e lutar.
Loki a soltou, se mostrando irritado com o rumo da conversa. Como ela podia ser tão inocente?
- Quem lhe designou esse dever? - indagou ele, apontando depois para um pequeno avião que passava por cima do parque - Eles? Eles apenas querem te usar. Eles te tratam como se fosse uma arma, não como uma mulher bela e poderosa, o que você é. Aos olhos deles você é uma garotinha irresponsável.
se levantou rapidamente ao ouvir aquelas palavras, ignorando o gentil elogio que Loki fizera. Ela não gostara de como aquelas palavras soaram. Parecia maldade alguém pronunciá-las. Aquelas palavras machucavam. Talvez tivesse passado tanto tempo com a mentira que não conseguia mais conviver com a verdade.
- Não diga isso... - choramingou ela, se afastando lentamente.
Loki em seguida se pôs de pé, a segurando pelos ombros.
- Quem eles pensam que são? Eles são nada comparados a você! - rosnou o homem, amolecendo a voz no decorrer da frase, a finalizando com um sussurro - Você é grandiosa, eles são insignificantes. Você é incrível e eles são desprezíveis. Você não deveria desperdiçar seu tempo com criaturas tão inúteis. Suas habilidades deviam ser gastas com coisas que realmente importam.
- Ninguém é melhor que ninguém, Loki - murmurou , afastando as mãos do homem - Você e eu não somos exceções.
Antes que ela pudesse correr para longe, Loki a puxou pela mão, forçando-a a se aproximar novamente, colando o corpo dela no seu, deixando meros centímetros separando seus rostos.
Embora demonstrasse que estava consideravelmente alterado, Loki ainda agia gentilmente em relação a . No final das contas, a última coisa que ele queria era machucá-la.
- Pode não querer aceitar, mas somos superiores a essa sua raça imunda em todos os quesitos existentes - continuou ele, vendo-a fechar os olhos.
Ela simplesmente não entendia. Em uma situação normal, mesmo que não demonstrasse, ela estaria morrendo de medo. Mas ela não conseguia.
queria sentir medo, mas parecia que isso não existia. As únicas coisas que existiam eram ela, Loki e algo que estava o deixando nervoso.
Apenas.
O que ela havia feito antes de ir se encontrar com Loki naquele parque, o que ela havia pensado, o que ela iria fazer quando voltasse para casa, sua casa, o mundo. Nada disso existia.
Loki viu os olhos castanhos da garota se abrirem e a confusão se espalhar por seus traços delicados, ao mesmo tempo em que sua respiração começou a acelerar. parecia que estava entrando em pânico. Parecia que alguém havia lhe dado um susto muito grande.
Não demorou muito para que lágrimas escorressem por seu rosto pálido.
Loki estava a perdendo.
- Não vamos mais falar sobre isso, tudo bem? - sugeriu o homem, levando suas mãos ao rosto de , colando suas testas. Assim que voltou a fitar os intensos olhos de Loki, a garota voltou a se acalmar. - ?
- Sim? - respondeu ela, sorrindo novamente. Parecia que os instantes passados não tinham acontecido.
- O que acha de darmos uma volta? - perguntou o homem, sorrindo.
Por alguma razão desconhecida, todas as pessoas do parque sumiram, deixando os dois completamente sozinhos.
- O que aconteceu aqui? - perguntou inocentemente, preferindo não comentar sobre a mão forte de Loki que segurava sua cintura. Ele riu.
- Você demonstra não querer tocar no assunto, mas continua a cutucá-lo - suspirou ele - Isso é simplesmente encantador.
- Você me acha encantadora? - disse ela, brincando com a barra do vestido.
- Você não faz ideia de seu potencial, querida - murmurou Loki, parando na sombra de uma grande árvore. A temperatura estava começando a abaixar - E seu potencial teria muito mais valor ao meu lado.
Um arrepio percorreu o corpo de ao ouvir a voz profunda do deus e ele percebeu isso. Calmamente, ele retirou seu terno e o depositou sobre os ombros da garota, a abraçando por trás e apoiando seu queixo na curva do pescoço desprotegido de .
- Eu não teria utilidade para você – contou ela, parecendo um pouco decepcionada. Odiava não ser boa o suficiente – O que eu posso fazer? Prever acontecimentos de curto espaço de tempo e às vezes durante o acontecimento. Você é um deus.
Loki sorriu sozinho. Adorava saber de coisas que não devia saber.
- É só isso que você pode fazer? – perguntou ele – Prever acontecimentos? Só isso que sua mente evoluída permite que você faça?
- Você sabe que não é só isso e sabe que isso não é útil para você.
- E se eu não quiser apenas suas habilidades? – questionou o homem – Já pensou que sua companhia seja bem mais que isso? Sabe que eu posso te ajudar a evoluir ainda mais?
- Eu não posso aceitar - sussurrou ela, fechando os olhos com força ao sentir os lábios quentes do asgardiano entrar em contato com sua pele.
- Essa é a S.H.I.E.L.D. respondendo, não você... Você quer vir comigo... Eu posso sentir em sua voz...
tentou se soltar do homem, mas ele a impediu. Loki não estava mais com tanta paciência como no começo. O tempo estava passando e o sono da garota era muito instável.
não estava com sono, ela estava sendo obrigada a descansar e isso estava dificultando entrar em sua mente. Logo ele estaria na nave da S.H.I.E.L.D. e ele perderia a conexão.
- A única coisa que eles fazem é te reprimir... - continuou Loki, vendo a expressão assustada da garota voltar - Acha que as pessoas te amam pelo que você é? Eles te amam pelo o que você pode fazer!
- Eu sou o que eu posso fazer - retrucou nervosa, prevendo o movimento que Loki faria e arrumando um jeito de se soltar. Até aquele momento ela não conseguira raciocinar e aos poucos ela estava sendo ela novamente - Acredita que eu me importo com o que as pessoas sentem por mim? Não preciso de fúteis sentimentos para sobreviver.
Loki mostrou seu típico sorriso maldoso: talvez ele pudesse ter começado a conversa assim.
- Então por que não pode se juntar a mim? - questionou ele, a fazendo rir.
- Porque eu não quero - rosnou , colocando as mãos na cintura. Por alguma razão ela se sentia ameaçada. Mas Loki não faria mal a ela, faria?
- Por que está sendo tão hostil comigo? - choramingou ele, levando uma mão até o, agora frio, rosto de , feliz ao não vê-la recuar - , eu só quero seu bem... Quero te ver viva... Apenas quero te ver sem essas barreiras. Quero ver seu verdadeiro lado.
- Então me deixe ir! - gritou e o mundo que Loki construíra começou a cair. Literalmente.
A ilusão estava se desfazendo. Ele não conseguiria manter a conexão por muito tempo.
- Se você não vir comigo, morrerá - informou Loki sério, oferecendo sua mão para ela.
- Acho então que não preciso te mandar o convite do meu enterro - suspirou ela. Tinha que arrumar um meio de voltar para casa.
Loki foi obrigado a usar sua última opção: com um movimento ágil, ele a puxou e a segurou de uma maneira que ela não pudesse se soltar.
estava tão perto do deus que podia descrever seu rosto nos mínimos detalhes. Era incrível como ele conseguia ser tão belo. Dava vontade de prendê-lo e passar o resto de sua vida o observando.
- O que eu vou fazer é apenas porque essa é uma batalha que você não deve participar - sussurrando, Loki roçou seus lábios no dela.
- O que você irá fazer? - perguntou ela, sem medir suas palavras. Nada mais importava.
- Te proteger - sussurrou Loki, finalmente selando seus lábios.
acordou com a sensação de que estava caindo e sem perceber, levou uma mão aos lábios. Não se lembrava de nada.
O que diabos acontecera?
Normalmente ela se lembraria facilmente de seus sonhos, não precisava se esforçar tanto.
Tinha algo errado. Era como se uma neblina a envolvesse, a impedindo de ver as coisas mais longes com mais definição. Não era uma sensação comum ou agradável. não estava gostando disso.
- Agente Stark! - exclamou uma mulher loira, abrindo a porta do quarto da garota sem cerimônias - Reunião estranha na Central e você não está convidada.
- Você me acordou só para isso, Sam? - bufou a morena, se revirando em sua miniatura de cama. Samantha colocou uma mecha atrás da orelha e encostou no batente da porta. Sua amiga não parecia estar muito bem.
- A Agente não foi convidada, mas a senhorita Stark foi - explicou Sam. - Você está bem?
- Perfeitamente - suspirou a morena, deixando o quarto e sendo seguida pela amiga - Quem está lá?
- Seu pai, Capitão América, agente Hill, agente Romanoff e o irmão do senhor confusão, Thor.
- Onde está Fury?
- Interrogando Loki.
Loki.
Aquele nome se tornara incrivelmente familiar aos seus ouvidos.
Como em um passe de mágica, as imagens de seu último sonho inundaram sua mente. Loki tinha habilidades mágicas, qual era a chance dele ter invadido sua mente e ter feito uma grande bagunça?
- Sam, onde eles colocaram Loki? - perguntou com um fio de voz. Ela estava com medo. Tinha algo muito errado com ela. A garota sentia dificuldades para raciocinar sobre o que acontecia, para analisar as informações que a cercavam. Parecia que tinham lhe dado um livro do último ano de faculdade e ela estava apenas na primeira série do ensino fundamental. Ela tinha medo que ela tivesse o inutilizado.
- Ele está trancado no quarto encomendado do Dr. Banner - informou a loira, confusa.
- Vá para a reunião e diga que estou dormindo - ordenou - Se Tony disser que quer me ver, diga para ele se focar na busca do cubo. Depois me encontre no corredor perto da prisão improvisada. Não é uma boa ideia me deixar sozinha.
- , o q...? - Sam nem terminara a frase. já tinha sumido pelos corredores.
- Diretor Fury, ainda está com o asgardiano? - perguntou a morena, apertando o botão de seu comunicador.
"O que você quer, Stark?", respondeu Fury.
- Preciso falar com Loki, a sós - disse ela, prevendo o surto de seu chefe.
"E por que eu te deixaria sozinha com o assassino intermundial?"
- Tenho boas razões para acreditar que Loki esteja... - não havia uma palavra que não soasse estranha para a situação - Me bloqueando. Acredito que ele esteja bagunçando minha mente.
O silêncio seguiu suas palavras. Parecia que Nick estava considerando seu pedido.
"Hill, bloqueie o som e a imagem que os Vingadores têm de Loki", ordenou Fury. "Stark , você tem cinco minutos".
Sentindo que o oxigênio não queria ficar em seus pulmões, correu para o local.
Fury a esperava do lado de fora do local que fora feito para caso o Dr. Banner saísse de controle. O homem não estava lhe dando permissão porque era legal: ele apenas queria respostas que a morena não tinha. Não era aceitável se dar ao luxo de perder mais uma agente, já bastava o Barton.
- Cinco minutos para você entender o que está acontecendo e me fazer um relatório completo sobre o que está acontecendo - disse Fury simplesmente, com a voz autoritária. apenar murmurou "Sim, senhor" antes de entrar no local.
Por um momento, não acreditou que aquele fosse o homem que aparecera em seus sonhos, mas foi quando Loki lhe lançou seu olhar penetrante que não teve dúvidas:
Não existiam olhos como aqueles.
- Senhorita Stark! - disse Loki se fingindo de surpreso, aproximando-se do vidro que a impedia de fugir - Eu realmente esperava que viesse me fazer uma visita. Fico contente. Não há boas companhias nessa nave.
subiu os poucos degraus a sua frente, ficando cara-a-cara com o deus novamente. Era difícil acreditar que tudo não passara de um sonho.
- Foi bem real, não? - riu Loki, assustando-a - Sem seu dom você se torna extremamente transparente. Claro que meus níveis de análise não se comparam aos seus, mas está fácil saber o que se passa em sua mente.
- O que você fez? - perguntou ela receosa, vendo o homem mostrar seu habitual sorriso trapaceiro.
- Estou apenas te protegendo - suspirou ele calmamente - As coisas que irão acontecer iriam te matar se você continuasse com seus poderes.
- Você me inutilizou! - grunhiu ela - Não passo de uma civil assim!
- Primeiro: não é permanente. Mesmo que você tivesse escolhido ficar ao meu lado, eu teria que te bloquear. Digamos que é parte da sua evolução e eu estou apenas a adiantando - contou Loki, sorrindo cada vez mais - Você será tão grandiosa quando isso tudo acabar. É realmente uma pena você não me acompanhar, ...
socou o vidro em sua frente. Sua vontade era estapear o deus, mas como o bendito vidro os separava, ia ele mesmo.
Loki abriu a boca em indignação.
- Você não ficou irritada assim quando eu te beijei.
“Agente Stark, seu tempo acabou", informou Fury, enquanto continuava a socar o vidro.
- Você não passa de um cínico, um cretino de primeira classe! - rosnou a garota, colocando sua testa onde Loki também colocara a dele no vidro - Você realmente acredita que sabe algo sobre mim? Você não deve saber algo nem sobre você!
- Que interessante! - exclamou Loki fingido - Temos muitas coisas em comum!
- Acha mesmo que eu sou idiota o suficiente de acreditar que você quer o meu bem? Que quer me proteger?! - continuou ela, ignorando seu chefe - Você quer desfalcar o time adversário. Comigo, nossa vitória é garantida.
- Eu me importo com você, ... - insistiu o homem, lhe lançando um olhar meigo - Você é boa demais para eles. Nick Fury, Tony Stark, Steve Rogers, Clint Barton... Nenhum deles chega aos seus pés.
- Eu chego aos seus pés? - perguntou com uma expressão inocente. Loki sorriu satisfeito.
- Embora fisicamente eu seja mais alto, somos da mesma altura.
- Nos tempos vagos de trabalho de deus você é comediante?
A expressão de Loki se endureceu. A garota estava dando nos nervos. Agora ele entendia o porquê dela ser tão isolada, tinha a mesma personalidade do pai. Era difícil de aturar.
- Vai fazer piada para se defender, querida? - suspirou Loki - Eu vi seus maiores temores esta noite, adentrei nos lugares mais profundos de sua mente.
Por alguma razão, podia ver a verdade nos olhos azuis do deus. Ele sabia. Como ela podia argumentar com ele sendo que ele a conhecia por completo?
- É agradável saber que seus esforços para se esconder são inúteis, não? - riu o homem. Beirava o divertimento vê-la demonstrar tamanho desespero.
- Cale a boca... – grunhiu ela, se afastando do vidro.
- Seus temores são reais, - exclamou Loki, sorrindo maldoso - As pessoas que te cercam não veem a . Eles apenas veem a filha de Tony Stark ou a agente que pode quase prever o futuro. Você não passa de uma arma ou de um rosto bonito para a maior parte do mundo. Quantas pessoas, tirando eu, realmente te conhecem, ?
não respondeu, apenas correu para fora do local sem olhar para trás, quase trombando com Nick Fury na saída.
- Algo errado, agente Stark? - perguntou Fury confuso. negou com a cabeça, se recompondo - Pode me explicar o que aconteceu?
As palavras de Loki ecoavam em sua cabeça. A pergunta de Fury não estava relacionada ao seu bem estar físico ou emocional, e sim ao mental, mas não por se preocupar com ela, por se preocupar com sua arma particular.
O deus estava certo. Ele tirara a única coisa de útil que ela podia fazer.
- Loki tem habilidades mágicas... - começou ela - Ele possuiu Clint com aquele Tridente com pisca-pisca azul...
- Aquilo é um cetro - corrigiu o diretor. apenas o ignorou.
- Ele tem habilidades mágicas, não podemos negar - continuou a garota – Loki invadiu minha mente no caminho até aqui e me privou das habilidades que chamaram sua atenção.
O homem estranhou o tom que a morena usara. Stark era muitas vezes considerada fria e calculista, mas sua voz beirava a petulância. Era como se ela quisesse deixar claro que não tinha o que fazer naquele lugar.
Fury continuou fitando-a enquanto ela esperava uma reação de seu chefe.
- O que ele fez? Te deixou retardada? - repetiu Fury.
- Meu nível de raciocínio e de análise está se igualando ao de uma pessoa normal - finalizou - Eu testei. Em dez minutos meu raciocínio diminuiu algo em torno de sessenta por cento e continua.
Fury continuou em silêncio, digerindo a informação. Em período de guerra e ele perdera dois de seus melhores agentes: Barton e Stark. Quem seria o próximo? Romanoff? Coulson?
- Vá se juntar a seu pai e ao Banner - ordenou o homem - Tente se libertar e fique longe desse local. Não sabemos o que mais Loki pode fazer.
assentiu e se virou para voltar para o laboratório. Pelo menos se distrairia dando uma de fã com Bruce.
- Senhorita Stark? - chamou-a Fury novamente - Tente não criar confusão.
XX
Quando chegou à central, todos à mesa estavam se levantando, indo fazer coisas diversas.
- Está atrasada, Stark - brincou Bruce, ao ver a garota de braços cruzados. Tirando os agentes, que já não aguentavam mais ver a garota, todos se viraram para . Seus olhos pararam em um rosto que ela apenas vira por fotos. Não tinha como não se encantar ao ver Steve Rogers pessoalmente. O cara era o Capitão América. Ela teria que perguntar para Phill o que ele falara ao ver o loiro.
- Senhorita Stark, sou a agente Romanoff - apresentou-se Natasha, com a expressão vazia, mas rindo por dentro. Sabia que estava adorando todo o teatrinho. Depois de apertar a mão da colega de trabalho, a ruiva direcionou para a única pessoa que ela não conhecia formalmente - Esse é o Capitão Steve Rogers. Cap, essa é Stark, filha de Tony.
- É um prazer conhecê-la, senhorita - disse Steve, lhe oferecendo a mão. riu internamente ao ver o olhar mal-humorado que seu pai lançava aos dois - Se me permite dizer, você parece um pouco com seu avô, Howard.
- Vocês trabalharam juntos, não foi? - lembrou ela, sorrindo. Uma das primeiras coisas que Nick Fury ordenara é que ela fosse gentil e educada com os “convidados”, mesmo que o projeto nunca entrasse em ação. Mas isso, em relação ao Rogers, ele não precisava pedir. Steve realmente era um herói, já tinha alguns pontos com ela por sua reputação.
- , temos muito que fazer agora - resmungou Tony, praticamente puxando-a pelos corredores.
Alguns agentes apenas viraram o rosto para evitar rir. mataria sem pensar duas vezes quem ousasse comentar o fato dela estar sendo arrastada pelo pai como uma criancinha pirracenta.
- Desde quando você é toda meiguinha com desconhecidos? - grunhiu Tony, antes de entrar no laboratório, onde Bruce trabalhava sozinho.
- Desde quando a Pepper me deu educação - resmungou , chamando a atenção de Bruce - Olá de novo, querido.
Bruce arrumou seus óculos em seu rosto.
- Olá, - respondeu o homem, voltando a analisar sua tela - Senti sua falta na reuniãozinha improvisada.
- Desculpe, estava cansada. Mas agora você tem sua assistente de volta - brincou ela. Tony fechou mais a cara - No que posso ajudar?
Tony cruzou os braços um pouco enciumado: sua filha não o tratava assim, com toda essa alegria e gentileza. Teria uma séria conversa com sobre isso.
- Estou fazendo o programa que eu te contei mais cedo - explicou Bruce, rindo da careta emburrada que Tony fazia - Esse programa irá rastrear liberações de radiação gama em todo o planeta.
- Quer ajuda? - se ofereceu a garota, já tomando a outra tela do laboratório - O que quer que eu faça?
- Uma Stark sem saber o que fazer? - brincou Bruce, olhando de um para outro.
- O expert desse laboratório é você, Bruce - lembrou - Você manda e nós obedecemos.
- Prefiro dizer que ele nos implora por ajuda e nós pensamos no caso - disse Tony, se colocando ao lado da filha - Assim é mais agradável aos meus ouvidos.
abaixou a cabeça rindo e depois olhou para o pai. Tinha que admitir que Tony estava completamente certo.
- Eu humildemente peço que vocês procurem algum detalhe que eu deixei passar - disse Bruce com seu sorriso discreto de lado. Estava achando graça nos dois. - É trabalho de um, vocês podem revisar.
- Deixe que os experientes trabalhem, - alfinetou Tony, empurrando de leve para o lado. A garota ficou indignada.
- Desde quando você é experiente em física?
Ao ouvir a frase da garota, Tony e Bruce começaram a rir.
ficou confusa, o que ela perdera?
- Desculpe, querida - suspirou Tony ainda rindo - Tony Stark não repete piada.
- Obrigada pela consideração, pai - resmungou rindo, indo sentar em cima de uma mesa vazia. A mesa no final das contas servira de apoio. Por um instante, a mente de deu pane, a forçando a se segurar na primeira coisa mais próxima.
Foram milésimos de segundos sem nenhum pensamento, nem nenhuma informação entrando ou saindo. Era apenas o vazio.
Não era uma sensação muito agradável.
- Mente cem por cento bloqueada - sussurrou para si mesma. Em segundos, Tony e Bruce a ajudavam a levantar, perguntando o que acontecera - Acho que não estou me dando muito bem com a altitude... Melhor eu voltar para meu quarto - respondeu a garota já saindo do laboratório, indo atrás de Fury.
- Bruce - sussurrou Tony.
- Sim?
- Ela me chamou de "pai".
XX
correu até o corredor mais distante possível do laboratório. Ela odiava admitir, mas estava com medo. Desde seus seis anos era praticamente impossível pegá-la de surpresa e agora ela estava vulnerável.
estava desarmada no meio de uma guerra.
- Senhorita Stark? - uma voz conhecida chegou aos exaustos ouvidos da garota. Seu raciocínio estava tão ruim que não conseguiria dizer sequer de onde a voz vinha.
Mas isso não foi necessário: o dono da voz se prontificou em se por a sua frente. Steve Rogers a fitava preocupado.
- Você está se sentindo bem? - perguntou o loiro, analisando bem o rosto delicado da neta de seu grande amigo. Seus traços doces demonstravam desespero, seus olhos castanhos quase transbordavam lágrimas misturadas com medo.
Sob os olhos azuis do homem, se sentiu pior: parecia que até o soldado conseguia analisar informações melhor que ela no momento. tinha a impressão que Steve tinha o mesmo dom que ela: o homem a olhava como se quisesse ler a sua alma, como se ela fosse um livro aberto e ele tivesse acabado de aprender a ler.
Isso a deixava incrivelmente desconfortável.
- Estou bem, Cap. - sussurrou com a voz rouca, passando as mãos pelos cabelos nervosa. Steve era apenas o Capitão América, ele não tinha uma mente superdotada - Apenas uma dor de cabeça. Logo passa.
- Há algo que eu possa fazer? - perguntou Steve. estava confusa, ele estava ou não estava acreditando nela? Como as pessoas normais analisavam os outros sem dados básicos como batimentos cardíacos entre outros?
- Só se nesse cinto de utilidades você tiver guardado uma aspirina - brincou , fazendo-o rir.
- Quem o projetou não imaginou que eu pudesse encarar uma dor de cabeça. Desculpe. - disse ele.
- Sem problemas, Cap. Vou ir para o meu quarto - informou , acenando para Steve enquanto se afastava.
- Tem algum problema se eu for com você? - perguntou o loiro, depois pensando no que falou e ficando sem jeito - Digo, não ir para o seu quarto! Isso seria desrespeitoso. Eu não quis dizer isso...
Rogers passava as mãos pelo rosto e cabelo. Estava indo tão bem em sua conversa com , sem engasgar, sem dizer nada errado e ele solta uma dessa. Não tinha motivos para ficar nervoso perto da garota. Claro que via que possuía uma grande beleza, era educada e inteligente. era neta de Howard, isso quase a tornara uma amiga, um elo com o seu passado, alguém que o lembraria de seu tempo.
Sem querer, Steve pensou em Peggy e com o rosto da mulher em mente, ele se acalmou, corrigindo sua frase:
- Posso te acompanhar até seu quarto? - perguntou o loiro - Diferente de seu pai, sou útil apenas na ação.
não aguentou e riu. Não queria deixar o homem mais sem jeito.
- Aqui não tem muita opção de divertimento, não é? - riu ela - Não tem problema em você me acompanhar.
Com um sorriso tímido, Steve seguiu pelos corredores. Não sabia como ela decorara o caminho tão rápido. Ele não admitiria em voz alta, mas estava perdido quando encontrara a garota.
- Então, onde você estava antes de te trazerem para cá? - perguntou quando o silêncio começava a incomodá-la.
- No meu apartamento, no Brooklin - disse Steve - A S.H.I.E.L.D. que o providenciou. Estou lá desde quando fui... Encontrado.
- Não deve estar sendo fácil...
- No começo foi pior - riu o loiro - Pensei que forças inimigas tinham me capturado e fugi do prédio da S.H.I.E.L.D. em NY... Acho que ainda estou na fase de aceitação.
- Você não tem nenhum parente vivo?
- Não, meus pais morreram antes mesmo do projeto Super Soldado... Eu tinha um amigo, Bucky, mas ele morreu em batalha.
se sentiu um pouco mal com isso. A dor de Steve era quase palpável de tão intensa. Logo ela, que decidira se isolar de sua família, estava comovida. Ao analisar esse pensamento ela balançou a cabeça, o afastando de sua mente. Sofrer a dor dos outros não era muito sua cara.
- Sinto muito - sussurrou sem jeito. Agora ela estava desconfortável – Bom, esse é meu quarto.
Steve sorriu, se despedindo da garota. Talvez a amizade de Howard tivesse passado para .
, por sua vez, fechou a porta de seu quarto e se apoiou nela. Queria sua mente inteira de volta e não fazia ideia de como fazer isso.
se jogou em sua cama exausta. Nunca pensara que seu pai seria obrigado a ficar em seu ambiente de trabalho, ainda mais trabalhar com ele. Era só uma questão de tempo algum retardado esquecer e chamá-la por agente.
– Senhorita Stark? Sou eu, Phill.
Depois de a garota murmurar um "entre", o homem abriu a porta. O quarto da jovem agente estava uma completa bagunça, assim com seus pensamentos.
– Você não deveria estar com seu pai e o grandão? - perguntou Phill, sentando-se ao lado da garota.
– Sabe, chega ser maldade chamar o Bruce de grandão - resmungou , com uma careta - Ele parece uma criança assustada. Dr. Banner pode achar o Tesseract sozinho. Ele não precisa da ajuda do meu pai, muito menos de mim.
– Para você achar o cubo só precisa se concentrar. - riu o homem - Mas Fury disse que você está bloqueada.
– Esse cara, Loki - desdenhou a garota. perdera o controle sobre sua mente e não gostava nem um pouco disso. Não saber o que poderia acontecer a deixava assustada.
Phill se levantou para deixar o quarto.
– Você precisa se distrair, agente Stark. - aconselhou o homem - Ficar tentando furar o bloqueio só vai te deixar mais desprotegida... Capitão Rogers.
pulou de sua cama e correu para a porta, ainda em tempo de ver Steve com uma expressão confusa. Ele não ouvira. Ele não ouvira... Steve segurava um comprimido.
– Espero que você melhore, senhorita Stark - disse Phill antes de sumir pelos corredores da nave. Ele não ouviu. Ele não ouviu.
Steve continuou com a mesma expressão confusa, abrindo a boca várias vezes seguidas sem emitir som algum.
– Desculpe, senhorita, mas... - murmurou o loiro - Você... Você é uma agente?
O desespero tomou posse da garota, que fez a primeira coisa que lhe veio a cabeça: puxou Steve para seu quarto e trancou a porta.
– Capitão Rogers - suspirou - Ocorreu um mal entendido. Não trabalho para a S.H.I.E.L.D.
– Então por que você está tão nervosa é... - o homem corara - e por que me trancou no seu quarto?
fechou os olhos. Ele ouviu.
– Você poderia, por favor, não comentar esse mal entendido com meu pai? - pediu ela, sorrindo docemente.
– Por que seu pai não pode saber que você trabalha aqui? - perguntou Steve inocentemente. estava começando a perder a paciência. Sem muita delicadeza, ela empurrou o homem para fazê-lo sentar-se em sua cama, enquanto ela puxava a cadeira de sua escrivaninha para se sentar.
– Steve... - começou ela, teria que ganhar a confiança do soldado de algum jeito - Tenho sua palavra de que não vai contar ao meu pai?
O loiro concordou com a cabeça.
– Eu, tecnicamente, não sou uma agente - explicou ela - Sou apenas da equipe de pesquisa de Selvig. Me chamam de agente porque convivo com agentes. Só por isso.
se sentia cega. Não conseguia prever o que o homem iria fazer ou falar. Ser normal era um saco, ela não sabia como as pessoas conseguiam viver sem isso.
– Se você faz parte da equipe do homem que Loki sequestrou, por que você estava na Inglaterra quando o cubo foi roubado? - perguntou Steve, fazendo arregalar os olhos.
– E você é um espião, Capitão? - rosnou a morena - Como sabia que estive na Inglaterra? E sua informação está errada, eu estava em NY.
– Quando eu acordei - disse o loiro um pouco constrangido - Foram-me entregues relatórios sobre as pessoas que eu convivi antes do acidente. Uma dessas pessoas foi Howard Stark, seu avô. Por isso lá tinha informações sobre seu pai e você.
– A S.H.I.E.L.D. disponibilizou informações minhas para você de graça? - resmungou - Não cobraram nem a impressão? Minha autoestima acabou de diminuir. Vou ter que conversar com Nick sobre isso.
Steve se levantou, aproximando-se de , que continuava na defensiva.
Como as pessoas normais sabiam que outras pessoas estavam acreditando nelas?
– Então você é apenas uma cientista? - perguntou Steve, olhando-a nos olhos.
– Uma incrível cientista - corrigiu ela, sorrindo. Ele parecia ter acreditado, mas ela não podia ter certeza. Tentava analisar desde a respiração do homem até a postura, mas era como tentar ler em braile: ela sabia que a informação estava ali, mas ela não conseguia entender.
– A incrível cientista permite que eu deixe o quarto? - perguntou Steve, abaixando o rosto, aproximando-se mais do rosto delicado da morena. Por que ela tinha a impressão de que ele estava a desafiando?
– Claro, Capitão - murmurou ela, indo destrancar a porta. Steve saiu como um raio, quase atropelando Tony no corredor, que não ficou muito feliz. E a felicidade diminui mais quando reparou que o loiro havia saído do quarto de sua filha.
– Posso saber o que o capicolé estava fazendo em seus aposentos, ? - questionou o homem, apoiando-se na parede e fuzilando sua filha com os olhos.
– Há quantas horas você está acordado? Ele não estava aqui - disse a garota - Só vi Steve quando estava junto com você.
Tony por alguns instantes pareceu mais aliviado, só depois ele percebeu um detalhe:
– "Steve"? Todo mundo agora é íntimo nesse mundo?
– Deu pra ficar procurando chifre na cabeça de piolho agora? - rosnou - Está vendo? Você me fez até usar expressões mais velhas que eu!
– Por que você está tão nervosa? - perguntou Tony confuso. Ele não se lembrava de ter visto alguma vez sem paciência. Era estranho. Sua filha quando criança era um poço de calma.
– Por causa do Loki – resmungou ela, fechando os olhos, não se tocando da besteira que tinha dito.
– Loki? - perguntou Tony confuso - O irmão da Barbie? Por que aquele cara está te deixando nervosa?
sentiu uma imensa vontade de bater sua cabeça na parede.
– Essa situação que ele criou - murmurou ela. Não era tão mentira - Isso tudo está bagunçando a minha mente.
viu o pai esboçar um sorriso torto, meio sem jeito.
Tony prendeu a respiração por um tempo e depois soltou todo o ar de uma vez. Sentia-se péssimo por ter envolvido sua filha naquela situação.
– Isso vai terminar logo e você poderá voltar para sua vida normal - disse Tony - Eu prometo.
Sem falas, começou a sentir um remorso crescendo por já ter mentido e enganado o pai várias vezes. No final das contas, ele estava se preocupando com ela, do modo dele. Mas foi como a sensação de um espirro: logo passou.
– Você não devia estar com o Dr. Banner trabalhando no rastreamento do Tesseract? - perguntou .
– Banner pediu para te chamar - disse Tony, guiando-os de volta para o laboratório - Acredita que ele realmente tem um ótimo controle? Não vi nem um flash verde nele nas últimas horas que passamos juntos.
gaguejou algumas vezes.
– Tony, você não está tentando fazer Bruce se transformar, está?
– Eu estou curioso! - defendeu-se o homem - É mais forte do que eu!
– É maldade! - disse a garota - Ele fala e age como uma criança assustada... Tentar irritá-lo não é considerado legal!
– Você está me dizendo que não está curiosa?
– Não distorça minhas palavras.
XX
No laboratório os três conversavam enquanto Tony ainda insistia em levar Banner para a Torre Stark.
– Nisso eu tenho que concordar com o Sr. Stark, aquele lugar é um paraíso.
– Sabe como é difícil fazer essa garota concordar em algo comigo? - riu Tony.
Steve entrou no laboratório, sentando-se mais afastado do grupo do projeto de ciências. Seu olhar não desviava de . Como ela conseguia agir tão normalmente na frente do pai? Nenhuma das suas ações deixava transparecer algo que não fosse segurança.
– Bruce? - chamou-o a garota - Foi você que colocou esse número aqui?
Dr. Banner se aproximou da tela que a garota analisava.
– Hm, não. Foi o seu pai - disse o homem, chamando a atenção de Tony - Por quê? Está no lugar errado?
– O lugar está certo, o que está errado é o valor - murmurou , arrumando o valor - Se a intenção era colocar aqui a quantia de radiação que o cubo libera, era isso que estava travando a busca. Foi?
Bruce voltou para sua tela e confirmou a afirmativa da morena.
– De onde você tirou esse número, Tony?
– Das anotações de Selvig - disse o homem desconfiado - Como você sabia que estava errado?
"Três vezes. Três vezes eu falei para aquele cabeça que o valor era menor", pensou , revirando os olhos.
– Você deve ter olhado errado, pai.
Duas vezes em dois dias que a garota o chamava de pai. Mais que na sua vida inteira. Nas duas vezes a S.H.I.E.L.D. estava envolvida. Tony tinha certeza de que o valor nas anotações de Selvig não era aquele.
– Obrigado, - disse Bruce sorrindo, rapidamente fazendo com que os Starks parassem de se encarar. Ele também achara estranho, aquele não era o valor que Selvig registrara - Rapidamente vamos achar o cubo.
"Agente Stark, se você estiver perto de alguém não seja da S.H.I.E.L.D., se afaste. Preciso da sua mente livre", ouviu a voz de Fury pelo comunicador e deu uma desculpa qualquer para deixar o laboratório. Uns quatro corredores mais longe, parou para falar com seu chefe:
– Estou sozinha, senhor.
"Desbloqueie sua mente", ordenou o homem.
– Não é tão fácil. Eu não escolhi bloquear minha mente, diretor.
"Então escolha desbloqueá-la".
bufou, vendo o Capitão Rogers passar pelo corredor da frente, tomando cuidado para não ser visto. Curiosa, a agente passou a segui-lo.
– Não é tão simples. Meu raciocínio está consideravelmente lento.
Fury bufou. Uma das suas melhores agentes estava parcialmente incapacitada enquanto uma guerra começava.
"Tente mais uma vez ou vou ser obrigado a mandar Romanoff interrogar o cara".
se concentrou mais uma vez, se encostando na parede. Se estivesse em seu estado normal ela poderia vigiar a nave inteira. Agora ela mal conseguia prever o que ela faria.
– Desculpe, Tasha - suspirou , voltando a fazer o caminho que Steve fizera - Acho que você está sozinha.
Seguir alguém sem ver a pessoa e sem conseguir analisar o espaço parecia impossível. A garota só conseguira achar o homem porque achara uma porta arrancada.
encarou a porta fora do lugar. Um agente normal não conseguiria fazer aquele estrago, o que diminuía a lista de suspeitos. Naquela nave só havia quatro pessoas com força o suficiente para aquilo: o asgardiano, Thor; Dr. Bruce; Capitão Rogers; e seu pai. Se Bruce tivesse se transformado, ela já teria ouvido os gritos, então não. Seu pai não estava de armadura, ela teria visto. Sobrou Rogers e Thor e como não vira o martelinho naquele lado da nave, Steve era o principal suspeito. A não ser que a nave tivesse sido invadida.
Era simplesmente horrível ficar sem seus poderes.
Por questão de segurança, empunhou a arma que escondera no cinto de sua calça. Se fosse Rogers que estivesse ali, que ele estivesse com o escudo.
Só depois que ela entrara na sala é que percebera onde ela estava: arsenal de armas. Droga. Os protótipos das armas da fase 2 estavam ali. Os visitantes não podiam de jeito nenhum entrar naquele lugar.
- Alguém na escuta? - sussurrou a agente desesperada - Quebra de segurança. Repito: quebra de segurança.
Um barulho de passos fez a garota ficar mais atenta. Dois segundos depois ela deu de cara com um Rogers nervoso.
- Agente Stark - murmurou Steve com os olhos faiscando. A maneira que ele pronunciara seu sobrenome parecia mais um xingamento. Ele não ficou muito feliz ao ver a arma da garota apontada para ele. Tinha pena de quem tentasse acalmá-lo naquele momento e esperava imensamente que não fosse idiota o suficiente para tentar pará-lo.
- O que está fazendo aqui, Rogers? - perguntou ela, ignorando o fato daquele homem parecer estar querendo socar alguém.
- Pode me explicar o que essas coisas estão fazendo aqui? - perguntou ele - Essas armas eram da H.I.D.R.A.!
- Olhe, eu não sei - explicou ela calmamente, começando mais uma mentira - Sou apenas uma agente, não sou do projeto Tesseract.
Steve riu com raiva. Quão idiota aquela garota achava que ele era? Primeiro ela diz que era da equipe de pesquisa e depois diz que apenas trabalhava na S.H.I.E.L.D.?
- Você é uma pessoa do pior tipo que existe, Stark - grunhiu o homem, olhando-a de cima a baixo - Você mente em cima de suas mentiras. Poucas palavras que você diz são verdadeiras. E ainda acredita que as pessoas a sua volta são estúpidas o bastante para acreditar.
Rogers deixou a sala com passos duros. Ela estava completamente ferrada se o homem resolvesse abrir a boca perto de seu pai. Embora essa não fosse sua real preocupação. Como ela pudera cometer um erro tão ridículo? Logo ela, uma das melhores espiãs?
- Quão retardada eu sou? - perguntou em voz alta, depois de perceber a besteira que havia dito – Melhor: quão retardada esse cara me deixou?
“Apenas estou te mostrando o seu lado verdadeiro", sussurrou uma voz próxima. Tão próxima que parecia estar na mente da garota. Seus olhos arregalaram-se.
- Fury... Hill... Tony! - ofegou - Acho que Loki está em minha mente...
", poderia vir no laboratório, por favor?", disse a voz de Fury no comunicador, levemente alterada.
Correndo o mais rápido que conseguia, a garota chegou ao laboratório, onde todos estavam reunidos e tensos. Na mesa onde Bruce e Tony trabalhavam estava a arma que Steve encontrara e nas telas estavam detalhes da Fase 2. Todos pareciam prestes a pular no pescoço um dos outros e isso assustou a morena. O que acontecera com o “manter a paz entre os visitantes”?
De todos os olhares raivosos, o de Tony a chamou mais atenção. só vira tanta raiva nos olhos do pai quando ela desmontara “sem querer” Dummy e não conseguira montá-lo corretamente de novo.
- Alguém pode me apresentar à agente A.S.? - pediu Tony, olhando diretamente para a filha - Porque ela tem ótimo conhecimento de armas, conhecimentos parecidos com os meus!
- Agente Stark, posso saber o que você estava fazendo no arsenal? - perguntou Fury, ignorando o “problema familiar” que se iniciava na sua presença - Capitão Rogers achou o caminho sozinho ou você entregou para ele um mapa?
- Ninguém me ouviu? - exclamou a garota visivelmente assustada, sem saber para quem ela deveria dar atenção. Pela gravidade da situação, Fury primeiro. Depois ela se arrumaria com Tony - Eu estava enfartando naquele lugar! Eu avisei que teve quebra de segurança! Ninguém me ouviu?
Depois de alguns poucos segundos de silêncio, Steve se manifestou.
- me encontrou depois – confessou o loiro – Ela sequer sabia que eu estava andando pelos corredores.
- Certo, mas qual o motivo da intimidade com minha filha, Capicolé? - Tony se alterou um pouco mais – Até onde eu me lembre, é senhorita Stark para você.
- Agente Stark, por favor, se retire com o Dr. Banner. - ordenou o diretor Fury, mal reparando que mal respirava.
- Eu não tenho muita certeza se Bruce vai querer me acompanhar, Fury - ofegou a garota, começando a sentir sua cabeça latejar. Suas pernas amoleceram e ela teve que se apoiar na parede mais próxima: Steve.
Seus sentidos estavam rápidos demais para que sua mente anteriormente devagar conseguisse acompanhar. Era basicamente como se ela estivesse tentando correr antes de aprender a andar. Mais uma vez sua mente estava na frente das ações, até os passos daquele que praticamente a tampara os olhos ela já sabia.
- O truquezinho de "estou tonta" não funciona mais, - debochou Tony, que passou a demonstrar preocupação quando o nariz da filha começou a jorrar sangue. Segundos depois saía sangue de seus ouvidos. Ela mal conseguia respirar.
- Romanoff, tire-a daqui! - ordenou Fury. Natasha rapidamente ajudou a ficar de pé.
- Prioridades! - gemeu a morena, deixando todo o seu peso para a ruiva e Steve – Loki, ele está...
- Já sabemos o plano dele, Stark - suspirou Natasha - Você precisa ir para a enfermaria.
- Ele desbloqueou sua mente? - estranhou Fury - Loki te travou até agora, por que te soltar nesse instante?
- Para nos confundir! - gemeu , levantando as mãos à cabeça. Já tivera crises assim, em que sua mente sofria um surto de velocidade. Nesses casos ela tinha que parar; ou ser dopada, mas eles não tinham tempo - Muita informação nova difícil de adaptar. Ele está nos dispersando. Loki... Loki está fugindo...
O silêncio se seguiu depois das palavras da morena. Parte das pessoas da sala estavam assustadas demais com a informação para formular uma frase, não muito diferente da outra, que não sabia se acreditava na morena.
- Mais mentiras? - sugeriu Steve, fazendo com que Tony o usasse como uma válvula de escape. Não podia liberar aquela raiva em sua filha, ela estava sangrando. Já Steve estava até que inteiro para um velho.
- Cuidado como se refere a minha filha, Rogers. - grunhiu Tony - Ela pode ser uma cretina mentirosa, mas é minha filha.
O computador começou a apitar, fazendo Bruce correr até ele. O homem tinha rastreado o Tesseract.
- Vocês são tão patéticos... - desdenhou Thor rindo - Não escutaram o que a bruxa disse?
- Eu não sou uma... - resmungou sentida, só depois percebeu que estava mais uma vez fazendo o que Loki queria - Ei, nós sabemos que estamos sendo atacados, certo?
Uma grande explosão aconteceu na nave. Natasha e Bruce caíram junto com o piso que cedeu, os outros foram arremessados para longe.
- Hill? - gritou ao mesmo tempo em que Fury - O que aconteceu?
"Explosão externa, os motores 3 parou", explicou Maria Hill entre gritos. "Há pessoa do lado de fora".
- Nós... - começou Steve, enquanto ajudava e Tony a se levantarem.
- Armadura? - sugeriu a morena, ouvindo seu pai concordar.
Os três correram pelos corredores. Sequer sabiam o que estavam fazendo, só sabiam que não podiam ficar parados.
"Stark, preciso que concerte o motor lá fora", pediu Fury gentilmente. “Agente Stark, vá para a enfermaria e não saia de lá."
Tony parou um pouco perdido, não pela repetição de seu sobrenome e sim porque Fury mandara cada um para um lado.
- Vá por a armadura, Stark - disse Steve, vendo que o homem não queria abandonar a filha - Eu a levo e te encontro daqui a pouco.
Ainda mostrando um pouco de resistência, Tony correu para o lado oposto ao caminho da enfermaria. não sangrava mais, embora ainda tivesse marcas vermelhas perto da orelha. Sua cabeça ainda latejava, talvez uma pessoa normal não suportasse, mas ela já estava acostumada. O problema é que ela precisava de calma e ela não queria se acalmar. Autocontrole era para poucos em momentos como aquele.
Steve corria enquanto segurava , ainda acreditando que ela apenas queria distraí-lo. Todas as palavras que saíram de sua boca direcionadas a ele eram mentiras. Por que mudaria?
- Rogers, eu estou com dor de cabeça. Eu ainda posso andar - grunhiu ela, empurrando o homem - Vá encontrar com meu pai que eu vou para a enfermaria.
O homem lhe lançou um olhar desconfiado, com uma sobrancelha erguida. Ótimo, Steve acha que ela está mentindo. Como ele sabia que ela estava mentindo?
- Não discuta, Capitão. Apenas vai!
continuou o caminho que faria para a enfermaria e quando confirmou que Steve não a seguia, parou para tirar suas roupas normais, revelando o típico uniforme de agentes da S.H.I.E.L.D. Para o inferno com sua saúde. Se ela podia atirar e correr, ela estava bem.
XX
Os que estavam invadindo a nave se dividiram em dois grupos: um ia para a central e outro ia para os motores. Eles queriam ver a fortaleza cair, mas teriam trabalho.
tentava avançar em direção ao motor parado, onde a segurança era menor, mas um grupo de invasores estava determinado a impedi-la.
- Diretor, preciso de reforços perto do motor parado - disse , atirando em mais um.
"O que você está fazendo, Stark?", gritou Fury.
- Meu trabalho - ofegou ela, quando sua arma fez um barulho oco. Como ela não percebera que estava ficando sem munição? Mas seu inimigo estava bem armado e parecia um pouco confuso: o homem não sabia se atirava no cara fantasiado de Capitão América ou na morena idiota desarmada. Por prioridade, Capitão América ia primeiro, o que não demorou muito. Com apenas alguns tiros o homem de azul já havia caído da nave. Agora só faltava a morena. O que ele não esperava era que ela estivesse com sua mão tão próxima de seu rosto.
deixou o homem inconsciente no chão e se aproximou da cratera que a explosão causara. Não tinha ninguém ali, no que ele atirava?
"Capitão, a alavanca", ela ouviu a voz de seu pai. Onde ele estava?
"Estou com problemas aqui", ofegou Steve. Ela podia ouvir sua voz.
- Rogers? - arriscou ela, ouvindo-o gritar por ajudar. Steve estava fora da nave, segurando-se em um simples fio. se abaixou e esticou sua mão para Steve, que rapidamente aceitou, quando som de tiros começou de novo.
- Mas que peste! Cara chato! - resmungou , puxando o homem de volta para a nave - Você estava inconsciente, demônio!
Assim que mais uma vez Steve sentiu o chão abaixo de seus pés, ele correu para puxar a bendita alavanca vermelha, enquanto atirava nos dois homens na porta. Um ela derrubou, o outro foi derrubado por seu pai, ou melhor, pelo Homem de Ferro.
- Acredito que aqui não seja a enfermaria, Agente Stark - resmungou Steve, se jogando no chão. apenas sentou no chão e começou a rir. Sua cabeça estava explodindo e sequer sabia o que era tão engraçado. Apenas sentira vontade de rir. Sim, ela estava enlouquecendo.
Steve sorriu ao ouvi-la rir. Aquele som era suave, acalmava, fazia o mundo parecer mais... Inocente. No momento o homem sequer pensou se aquilo não era apenas mais uma das armas de . Ele apenas sorriu.
- Obrigado - agradeceu Steve, quando a garota começou a se controlar.
- De nada - suspirou ela se levantando - Tony, tudo bem aí dentro?
- Estou super - gemeu o moreno.
"O agente Coulson foi atingido", informou Fury, fazendo todos pararem.
"Os paramédicos estão a caminho", disse outro agente.
"Eles já chegaram", respondeu o diretor. Tinha algo de errado em sua voz. "Eles acabaram de declarar óbito".
Óbito.
Tony se surpreendeu ao ver sua filha sair correndo.
Fury acabara de contar a verdade a Tony e Steve e usara os cards de Phill para lhes dar um incentivo. O diretor também sentia a morte do agente. Ele perdera seu único olho bom, mas tinha que manter a postura e continuar com seu trabalho.
Tony não estava mais suportando aquilo tudo. A morte de Coulson também pesava sobre seus ombros e pesava ainda mais pela reação de sua filha. Ele não estava acostumado a ver tão frágil e vulnerável. No máximo ele presenciara uma cena assim quando ela tinha menos de cinco anos.
- O agente Coulson morreu acreditando em heróis.
- Onde está minha filha? - perguntou Tony, levantando bruscamente. Fury fez um gesto e a imagem de deitada no chão na sala onde estava a jaula apareceu na tela do homem. Mesmo a imagem estando longe, Tony conhecia a filha suficientemente bem para saber que ela estava chorando.
Tony não sabia o que falaria para a garota, mas não importava. Talvez apenas ficar em silêncio já ajudaria.
estava deitada de barriga para cima, com um braço atrás da cabeça e lágrimas rolando por seu rosto. Mesmo sem querer pensar, ela continuava analisando o plano de fuga de Loki. Ele fora baixo o bastante para desbloquear sua mente no momento de mais confusão. O asgardiano a deixara sentir as mortes que lhe causara, ele a deixara sentir todos em risco sem que ela pudesse tomar alguma providência.
Mas não era isso que mais intrigava a morena. se sentia estranha, mexida. Fury dissera que fora sua imaginação, mas ela havia ouvido perfeitamente a voz de Loki em sua cabeça. Não fora um sussurro perto de seu ouvido, fora como um de seus pensamentos. Loki invadira sua mente tanto dormindo como acordada.
O difícil era conseguir encaixar todas as peças enquanto algo em seu peito diminuía. A morte de Phill a pegara de surpresa. Tanto quanto a aparição de seu pai do seu lado.
- Nunca em todos esses anos consegui te surpreender - riu Tony, se sentando próximo de sua filha. Ele imaginara que assim que ela o visse, entraria na defensiva novamente, mas ela estava tão cansada... Cansada de tudo: da S.H.I.E.L.D., das mentiras, de confusão. estava física e mentalmente destruída.
- Acho que se eu olhar no calendário, hoje deve ser o dia do inesperado - choramingou a garota - Você deve estar querendo me matar pelo o que descobriu hoje, certo?
- Matar, não - suspirou o homem - Talvez apenas te trancar na Torre e passar o resto da minha vida te vigiando, com um dragão protegendo a saída. Sinto que não te conheço mais.
- Você nunca me conheceu de verdade - resmungou a menina, se virando para o pai. Tony a olhou, estranhando a sinceridade repentina.
- Pode ser que eu fui um pai muito ausente até seus vinte e três anos, mas ainda assim quero te trancar na Torre - disse o homem, fazendo a menina rir - Somos parecidos demais para podermos ter um relacionamento pai e filha decente. Perdi minha confiança em você.
- Não confia mais em mim por que conheceu meu verdadeiro lado?
- Esse não é seu verdadeiro lado, - disse Tony, sério - Talvez você nem mesmo o conheça.
- O que você vai fazer a respeito disso? - perguntou ela e seu pai fez uma careta pensativa - Ou acha que ainda é "tarde"? Foi isso que você falou para a Pepper antes de me levar para o aeroporto, não foi?
- , não! - suspirou o homem cansado - Era tarde para aquele Tony Stark tentar recuperar o relacionamento com a filha. Nós crescemos muito nesses cinco anos. Aprendemos algumas coisinhas também... Você trabalhando para a S.H.I.E.L.D., eu saindo por aí como o Homem de Ferro... Falando nisso, pode me explicar essa coisa de mente?
- Eu sou uma pessoa com alto nível de raciocínio e alto grau de analisação - disse , repetindo a explicação que o Professor X dissera anos atrás - Posso juntar informações desde velocidade do vento, pressão atmosférica e até como a pessoa se comporta para prever o que vai acontecer, o que a pessoa vai fazer ou até mesmo como ela está se sentindo emocionalmente.
- Isso te torna uma espiã perfeita - comentou Tony, sorrindo forçado. Não lhe era agradável pensar em sua filha como uma espiã - E explica muita coisa. Você sempre soube o que fazer para se livrar de problemas.
- Mas a S.H.I.E.L.D. não sabia disso, me recrutaram primeiro pelo meu nome e pela inteligência de família. Foi Phill que reparou que... - parou no meio da frase, fechando os olhos com força. Perdera completamente o raciocínio - Phill.
- Acho que o agente Coulson queria se tornar amigo dos Stark - resmungou Tony - Você e Pepper e essa mania de chamá-lo de Phill.
- Conheço... Conhecia Phill muito antes da história do Homem de Ferro - contou ela - Eu que devia ter ido te interrogar depois que você voltou, mas como eu disse que não iria me sentir confortável, eles decidiram mandar o Coulson.
- Ele era... Legal - mentiu Tony, querendo deixar a filha confortável. riu com gosto.
- Ele era um chato insuportável - corrigiu a garota - Phill nunca me deixava com os brinquedos mais legais, assim como a Natasha, que a propósito, fui eu que escolhi para ficar te vigiando no meu lugar. O agente Barton que é legal. Quase morri por causa dele, mas foi divertido.
Tony ficou analisando o sorriso triste da filha. Quanta coisa ele perdera da vida da filha para ir a festas ou se trancar na oficina. Coisas tão fúteis.
- O que você está pensando? - perguntou curiosa. O olhar de seu pai estava tão perdido em seu rosto que a deixava envergonhada.
- Que mesmo com isso tudo você continua minha garotinha - sussurrou Tony, a abraçando apertado - Minha mais incrível e perfeita criação.
- Eu não sou perfeita e muito menos uma garotinha - reclamou , se levantando junto com o homem. Agora ela não podia negar: precisava de um médico - Sua talvez, mas não uma garotinha.
- Não me importo. Com cinco ou sessenta anos, ainda quero te trancar na Torre e não deixar você sair sem minha companhia.
Steve chegou no momento em que Tony puxava para mais um abraço. Sentia-se mal por ter que interromper aquela cena, sabia que eles tinham muito que conversar. Chegava a ser maldade atrapalhá-los.
- Agente Stark - chamou-a o loiro - Fury quer que você vá para a enfermaria. Agora. Ele disse que Hill estará te vigiando para ter certeza de que fará o caminho correto dessa vez.
Resmungando baixo, se soltou de seu pai passando por Steve e murmurando um "obrigada, Capitão Rogers".
Na enfermaria, parou para falar com Clint Barton. Sabia que ele fora recuperado durante a invasão e estava se recuperando sob o olhar cuidadoso da Agente Romanoff. Nem um "oi" a garota conseguira dizer antes de Natasha começar a gritar para que ela fosse logo checar se estava tudo bem.
No final das contas, ela só precisava de um analgésico, duas garrafas de água e repouso. Muito repouso.
Seu comunicador fora confiscado para que ela realmente se desligasse da situação. O difícil era ter força de vontade o suficiente para tentar não pensar mais em Loki, no maldito plano que ele impedira que ela descobrisse. Se ela arriscasse tentar saber, poderia ter outra crise e isso a assustava. Nunca em vinte e três anos seus ouvidos sangraram. Isso mostrava que seu cérebro estava sobrecarregado, então não podia se dar ao luxo de pensar. teria que passar por aquilo como uma pessoa normal. Uma movimentação estranha chamou a atenção do médico que parou de observar para abrir a porta. Enquanto vigiava a agente perdera a noção do tempo. Os batimentos cardíacos da garota indicavam que ela estava em repouso, que estava calma, mas se havia algo de útil que aquele homem sabia era que Stark adorava fazer coisas inesperadas, como fugir daquele quarto e ir para NY participar da guerra. Por isso o médico estava atento.
acordou quando ouviu a porta abrir, desejando que estivesse melhor, e estava. Nunca mais a garota duvidaria de alguns minutos de sono.
Tentando se concentrar, ela passou a prestar atenção no que o médico conversava. Três palavras foram o suficiente para ela realmente acordar: guerra, Vingadores e New York.
O pulo que ela dera, que deveria ser discreto, chamara a atenção do médico e do agente que conversava com ele e ambos se adiantaram em direção a garota.
- Stark, você precisa descansar - lembrou o médico, tentando fazê-la deitar novamente na maca.
- Só me deixe ir falar com Fury - pediu ela - Prometo que não saio da nave até me darem autorização.
O homem sabia que não era muito inteligente confiar em uma das melhores espiãs da S.H.I.E.L.D., mas não havia muito que fazer. Ela realmente aparentava estar com a saúde perfeita.
Soltando uma grande quantia de ar de uma vez, o médico tirou o comunicador da garota da gaveta e entregou a ela.
- Diretor Fury, aqui é a Agente Stark - disse , depois de colocar o comunicador de volta no ouvido.
"Olá, filha", suspirou Tony.
"Tony, foco", pediu Natasha.
"Vocês não deviam, eu não sei, estar matando inimigos?", perguntou Steve.
"Vocês ouviram o homem", disse Clint. pode ouvir o barulho de uma explosão. "Oi, ."
"Eu ouvi, agente Barton, estou perto de um freezer", brincou Tony. "O que você tem para mim?".
"Thor está enfrentando um pelotão na Nona Avenida", informou Clint.
"E ele não me convidou", resmungou Tony.
- O que está fazendo com o comunicador, Agente Stark? Você deveria estar descansando - rosnou Fury.
- Estou bem - disse , entrando na central. Ela quebrara seu recorde de velocidade - Por que não me mandaram junto? Eu podia estar sendo mais útil!
- Você não está apta para combate, agente - disse Fury, sem sequer olhá-la - E mais, uma pessoa não permitiu.
"Você estava sangrando, ", ofegou Tony. "J.A.R.V.I.S., força máxima nos repulsores".
- Sua cabeça estava e provavelmente ainda está bagunçada - acrescentou o diretor.
- Clint Barton está com a cabeça mais bagunçada que a minha - insistiu a garota.
"Fedelha, eu posso te ouvir".
"Clint não estava sangrando", continuou Tony.
Quando começou abrir a boca, o conselho chamou Nick Fury, que passou a gritar com eles. chamou Maria Hill.
- O que está acontecendo. Hill?
- O Conselho quer destruir toda a cidade - explicou a mulher. arregalou os olhos. A coisa estava tão feia assim?
Todos os agentes da nave estavam reunidos, todos torcendo para que a equipe de resposta tivesse sucesso. Não era apenas NY que estava em risco, era o mundo inteiro.
não conseguia mais pensar, não sabia se a sensação ruim que sentia era raiva ou medo. Raiva de Loki, de como ela a manipulara na cara dura, raiva por se sentir diferente depois de seu contado com o deus. Medo de tudo, medo de perder todos: Natasha, Clint e, principalmente, seu pai. Agora ela sabia por que Pepper era tão nervosa, ficar ali sem poder fazer algo estava a matando por dentro. Sem perceber, ela já começava a se direcionar para a saída.
- Agente Stark, não ouse dar mais um passo! - gritou Fury, mas outra coisa o distraiu.
- Decolagem não autorizada! - informou a agente Hill - Permissão para abate concedida. Repito: decolagem não autorizada!
Nick Fury deixou a central correndo. Não importava como, ele simplesmente não podia deixar que destruíssem toda a ilha de Manhattan.
Todos estavam apreensivos. O próprio conselho queria destruir uma cidade inteira, o que eles podiam fazer?
O som de uma explosão externa foi ouvido, mas uma nave cortou os céus em direção a cidade. Fury falhara.
"Stark, tem um míssil indo em direção a cidade", informou Fury pelo comunicador e tinha a impressão que o diretor não estava falando com ela.
"Quanto tempo?", perguntou um Tony ofegante. Algo no peito de se encolheu ao ouvir a voz de seu pai tão frágil.
"Três minutos".
- O que ele pode fazer, Fury? Não dá pra desarmar aquele míssil! - lembrou a garota nervosa. Naquele momento ela desejou ser normal, ou ser incrivelmente retardada. entendera o plano de Tony no mesmo tempo que o homem o planejava. Os agentes da central ficaram estupefatos ao ver o rosto de uma das mais frias agentes assumir uma expressão de tristeza profunda e tímidas lágrimas começarem a rolar por seu rosto.
Mais uma vez ela se sentiu inútil e impotente. Havia absolutamente nada que a morena pudesse fazer. Agora ela sabia exatamente o que Pepper passava.
- Tony... - choramingou , apertando o comunicador com mais força que o necessário. Fury voltou para a central ofegante - Tony, por favor...
"Oh! Ei, ", disse Tony sorrindo por estar ouvindo a voz da filha mais uma vez. "Assistindo algo interessante? Estou vendo um filme de guerra com uma imagem tão boa que parece que estou no meio lutando...".
riu, fechando seus olhos com força, escorregando pela parede que se apoiava e terminando sentada no chão.
- Não gostei muito da programação de hoje.
"Depois Pepper e você poderiam ir ao cinema, assistir alguma comédia romântica como faziam. Um programa bem mãe e filha", suspirou Tony, se esforçando para alcançar o míssil. "Pepper sentiu muito a sua falta, e eu também senti".
- Pepper não vai se importar se você for junto - disse , não se importando mais com os olhares curiosos de seus colegas de trabalho.
"Acho que eu vou me atrasar um pouco...", informou o homem, sentindo seus olhos arderem. ", me desculpe por todos os meus erros. Acho que não vou ter tempo de corrigi-los...”
- Cala a boca... - ordenou a garota soluçando - Você vai vir me buscar nessa maldita nave ainda hoje. Você não tem permissão de me deixar.
"Você não faz ideia de como eu sinto falta de te abraçar, ", confessou Tony quando conseguiu fazer o míssil desviar da Torre Stark e subir em direção ao portal. " querida, Pepper não está atendendo, se importa de dizer para ela que eu a amo e eu seria nada sem ela?"
- Você vai falar pra ela pessoalmente, certo? - disse - Ela vai amar ouvir você dizer isso.
"...", suspirou Tony. Ele estava bem próximo do portal. "Minha garotinha..."
- Pai... - se desesperou mais . A dor que ela sentira horas atrás não se comparava a agonia que a consumia. No fundo de sua alma ela queria acreditar que tudo não passava de um truque de Loki, que estava apenas acontecendo em sua mente. Mas era real. Ela estava chorando como uma criança e não estava se importando se alguém estava assistindo. A única coisa que importava era a voz de seu pai e cada segundo que ele passava em silêncio era como se o vazio a consumisse.
"Pelo menos você escapou das broncas mais pesadas que eu ia te dar quando tud...", a voz de Tony foi cortada por um chiado e em seguida vários agentes festejaram.
Tony Stark conseguira, ele salvara o dia. O homem que preferia cortar o arame farpado havia mergulhado nos braços da morte para que todos pudessem viver.
- Pai? - chamou-o , sentindo uma nova onda de lágrimas escapar pelos olhos - Pai?
Sam sentiu um aperto ao ver sua amiga fechar os olhos com força, provavelmente dizendo para si que tudo não passava de um sonho ruim.
Era admirável a frieza de todos naquela base: eram pessoas que mal se cumprimentavam se abraçando, mas ninguém tomara a iniciativa de se aproximar de . Apenas ela.
- Por favor, alguém me diga que Tony está bem - pediu , sentindo uma mão quente em seu ombro. Não precisava abrir os olhos para saber que era Sam - Tasha? Clint? Por favor?
Todos os Vingadores olhavam com expectativa para o portal, esperando ver Tony voltando, mas nada. Ele realmente se fora. Ele não podia fazer algo.
"Desculpa, ", respondeu Steve, olhando para Thor rapidamente, "Romanoff, feche o portal".
Apertando ainda mais os olhos, aceitou o abraço de Sam. Não podia ser verdade. Era possível Tony Stark ter morrido? Depois de todos aqueles anos Tony realmente tinha morrido?
Com isso ela percebera o valor que seu pai tinha em sua vida. Por mais ausente e frio que fosse, Tony era, junto com Pepper, alguém que ela podia procurar quando precisasse. Por qualquer merda que fosse, não conseguia ver seu pai lhe dando as costas. Tony era mais importante do que o deixara saber, e essa importância não era o nome famoso, dinheiro ou a inteligência. Tony era muito mais que qualquer uma dessas coisas e ela nunca dissera isso.
E então toda dor se transformou em ódio e esse ódio tinha dono: Loki.
Não importava se ele era um deus, o mataria, o procuraria até nos escombros de NY se fosse preciso.
Sam se assustou ao ver a morena se levantar bruscamente e marchar até a saída. Aquela postura não traria boa coisa.
- Aonde pensa que vai, Stark? - perguntou Fury, que analisava discretamente a garota.
- Para NY - informou - Não acabou ainda.
Mas uma voz fez com que ela parasse.
"Stark", chamou-a Steve. "Seu pai é um filho da puta, com o perdão da palavra".
- O que aconteceu, cap? - perguntaram Fury e ao mesmo tempo.
"Tony conseguiu voltar instantes antes do portal se fechar", contou Natasha no terraço da Torre Stark. "Bruce o pegou".
- Por que eu não estou ouvindo a voz dele? - perguntou , que não sabia se acreditava, embora fosse a cara de Tony se safar no último instante.
"A armadura dele pifou por completo, ", informou Steve, vendo Tony levantar a cabeça ao ouvir o nome da filha. "Sem armadura, sem comunicação para o Stark".
Alguns instantes se passaram onde não conseguia assimilar a informação. Então seu pai estava vivo? Ótimo, ela o mataria por tê-la assustado.
- Agentes Stark, Watson e William - chamou Fury fazendo com que , Sam e James, o agente que buscara na Torre, o fitassem - Vocês reunirão uma equipe para ir a NY. Os Vingadores cercaram Loki e vocês irão trazê-lo para cá. Depois você está liberada, Stark.
sequer esperou para ouvir o resto de suas ordens para correr até o convés. Uniria o útil ao necessário: primeiro bateria em Tony, depois acabaria com a raça de um deus.
XX
James pousou a nave no terraço da Torre Stark. Todos estavam simplesmente abismados com o grau de destruição da cidade e eles tiveram que correr porque os seis heróis os apressavam, reclamando que tinham um compromisso.
- Agente Romanoff, estamos aqui - anunciou James.
os guiava pelos corredores da Torre para evitar as áreas mais destruídas. Seu pai teria muito trabalho para reconstruir tudo aquilo.
Sua mente estava mais aguçada que nunca, ela podia vigiar a cidade inteira se quisesse, mas não era isso que ocupava seus pensamentos.
- De verdade - ouviu a voz de seu pai um pouco distante, o que fez ela aumentar a velocidade - Vocês da S.H.I.E.L.D. sabem um caminho mais longo e demorado para chegar aqui? Ou eles também pararam para fazer um lanchinho?
Todos se silenciaram ao ouvir passos ligeiros dos agentes se aproximando.
Tony nunca se acostumaria em ver a filha com aquele uniforme colado.
Na ampla sala destruída, Loki estada ajoelhado com as mãos nas costas, na mira de Natasha que empunhava o cetro dourado; Clint alisava uma flecha sentado no chão ao lado de um Bruce não-verde; Thor estava apoiado na parede ao lado da porta, lançando um olhar feio ao irmão e balançando seu martelo de um jeito ameaçador; Steve analisava a destruição pela janela; e Tony bebia algo direto da garrafa:
Seu amado copo havia quebrado.
Tony estava apreensivo. tendo um ataque de Pepper não seria muito agradável.
Assim que o grupo de agentes colocou os pés na sala, todos os olhos se viraram para a morena que não hesitou em correr para os braços de seu pai. Quem se importava com pessoas olhando ou com uma armadura quase completamente destruída?
não era a única que voltara no tempo, Tony sentia que sua filha não crescera. Foi uma surpresa quando ele viu que lágrimas escaparam por seus olhos castanhos e não estranhou ao sentir que lágrimas também rolavam por seu rosto.
- Seu idiota, cretino - resmungou entre soluços - Desta vez eu realmente achei que tinha te perdido!
Tony sussurrou um "shh", beijando o topo da cabeça da filha. De repente, o homem não sabia como permitira que tivesse passado tanto tempo longe. A energia que vinha da garota era suficiente para fazer o reator em seu peito funcionar por umas três vidas. Como ele fora idiota o suficiente por ficar sem ela por cinco anos inteiros?
- Está tudo bem agora, meu anjo - suspirou Tony, a apertando mais forte.
- Momento familiar - riu Loki - Que... Comovente!
se soltou dos braços de seu pai para fitar o deus. Quase gritou ao vê-lo tão machucado. Ela queria o Loki de seus sonhos de novo.
E ela nunca diria isso em voz alta.
- Não precisa dizer isso em palavras, - disse Loki ainda rindo - Seu desejo está claro em seus olhos.
Sem pensar, pulou em cima do deus, o acertando com golpes aleatórios. Loki estava fraco, mal conseguia se defender. A única coisa que ele poderia fazer era esperar alguém segurá-la ou seu ataque de fúria passar, e talvez ambos fossem demorar.
- Ninguém vai pará-la? - perguntou Clint curioso. Só faltava a pipoca naquele momento.
- Minha armadura está danificada - defendeu-se Tony - Não tenho força contra ela.
- Eu não vou - disse Thor na defensiva - A ira da bruxa pode se virar contra mim.
, que continuava a socar Loki, gritou irritada que não era mágica.
- Vocês estão de brincadeira, certo? - desdenhou James apontando para cada um dos Vingadores - Um cara com uma armadura de ferro, um deus e um super soldado com medo de uma garotinha? Clint, eu não comento porque ele está acabado...
- Por que você não a para? - perguntou Tony.
- E fazer essa fera se virar contra mim?
Steve começou a ficar irritado com a enrolação. era forte, mas ele era o Super Soldado, não tinha comparação. Com um movimento rápido e preciso, o loiro prendeu em seus braços de um modo que ela não pudesse se soltar. Por alguns instantes a morena se focara em achar um ponto fraco no homem e apenas depois se lembrara.
- É claro... - suspirou ela - Super Soldado com ponto fraco... Isso magoa, sabia?
Loki se sentava, passando a mão no rosto para tirar o sangue dos ferimentos que a garota causara. Ele devia ter matado a garota impertinente ao invés de bloqueá-la. O homem fizera um favor e ela agradecia o socando.
- Seus esforços falharam, não? - desdenhou , rindo como uma psicopata - Me tirou da ação, mas juntou os maiores heróis da Terra.
"Eu fiz muito mais que te tirar da ação", ouviu a voz profunda do deus como um de seus pensamentos. "Você devia me agradecer".
- Agradeço por ter se voluntariado como saco de pancada - rosnou , antes de parar de forçar todo o seu corpo em direção a Loki. Ela estava exausta e não tinha sentido. Como na enfermaria, mais uma vez desejou estar perfeitamente bem e assim ficou. Seus olhos se arregalaram no mesmo tempo que Loki voltava a mostrar seu sorriso maldoso.
- Steve... Pode me soltar - pediu ela calmamente. Os braços do homem lentamente se afastaram de seu corpo - Agente Watson e William, o algemem e coloquem a mordaça. Nada de palavras para ele.
Sam concordou, saindo do lugar. Tony levou a mão a boca ao reconhecê-la.
- Ainda vamos ter uma longa conversa - lembrou Tony. sorriu e voltou para os braços do pai.
- Você quer dizer que Pepper e eu iremos conversar e você apenas vai concordar com o que ela disser, certo?
- Não dá mais para enganar as crianças de hoje... - resmungou Tony, fazendo bufar.
A morena se sentou no chão, o sofá daquele andar fora feito em pedaços. Ela até poderia continuar a espancar o deus se não tivesse tão intrigada. Aquele momento não era o mais perfeito para fazer testes, mas todos estavam tão concentrados em vigiar Loki, que mal notariam se ela se desligasse por algum momento.
Calmamente, relaxou, deixou o controle de lado, deixando seu corpo e sua mente seguirem sem sua interferência.
A dor aguda que a dominou a fez retomar as rédeas. Seu corpo estava no limite e ela conseguia escolher não sentir a exaustão. Mentalmente ela estava surpresa, mas não queria demonstrar e não demonstrou, continuando com sua expressão concentrada.
Loki a fitava, curioso. Qual era a probabilidade dele realmente saber o que ela estava fazendo? Por alguns instantes, desejou que seus pensamentos não pudessem ser lidos e viu que tivera sucesso ao ver a expressão do deus moreno endurecer: ele estava impossibilitado de invadir sua mente.
Agora o poder estava a seu favor e estava adorando.
- Agente William, posso saber por que ainda não imobilizou o prisioneiro? - perguntou a morena com um tom casual em sua voz.
James se espantou com a ordem em um tom mais gentil, soava quase como um pedido, embora houvesse pirraça na fala da garota. Os agentes com menos poder o fitavam, curiosos.
- Watson não chegou com os equipamentos - resmungou ele - E não acredito que ele tentará fugir.
Tony viu sua filha e o deus da trapaça darem o mesmo sorriso maldoso e, se ele não tivesse a par da história, poderia jurar que eles tramavam algo juntos. O homem se virara para os companheiros para ver se alguém mais perceber isso e notou a mesma confusão nos olhos de Steve. O loiro reparara que os agentes Barton e Romanoff também esboçavam o mesmo sorriso.
- Regra número um - suspirou Natasha jogando a cabeça para trás. Ela não tinha muita paciência com novatos não tão novos.
Sam voltou à sala e se sentiu completamente alheia à conversa. A postura séria e ao mesmo tempo de sua colega e amiga deixava claro que alguém fizera merda e estava levando uma bronca.
- Nunca em hipótese alguma tente entender a mente de alguém - sussurrou ela bem próxima ao agente menos experiente - Principalmente a mente de um maníaco psicopata. Agora faça o que eu mandei, agente.
James pegou as algemas e a mordaça das mão de Sam e emburrado foi em direção ao deus mal-humorado.
- Quem morreu para você virar a chefe? - indagou Clint sentido. A última vez que ele vira a garota junto com outro agentes, mal tinha coragem de se pronunciar.
- Você quase fez - riu , sentando entre o arqueiro e Bruce - Esqueceu que eu sou sua herdeira?
- Fury foi idiota o suficiente para deixar me substituir? - rosnou Clint se direcionando a ruiva - Não esperaram sequer me matarem para isso? E minha autoestima? Fica onde?
- Falando em autoestima, quem disponibilizou informações minhas e do Tony para o Rogers? - indagou irritada, ela não tinha engolido essa história.
- Eu revisei os relatórios do Coulson. A única coisa certa sobre você era seu nome... - contou Clint, ouvindo Steve soltar um sonoro "ei" - Desculpe, cap. Prefiro encará-la assim do que nervosa, é bem mais agradável.
Tony sorriu tentando disfarçar. Assassinos e mentirosos conheciam sua filha melhor que ele próprio. Por alguns instantes ele pensou que seu "coração" havia parado de funcionar, um aperto no peito estava o deixando incomodado. Discretamente ele olhou para baixo, vendo que o reator ainda brilhava intensamente.
Aquele aperto não era dor física e ele bem sabia, mas não queria admitir. Tony estava sentindo como Steve: a única coisa que ele sabia sobre era o nome.
Ele não sabia o tipo de música que a morena ouvia, ou a comida que ela mais gostava. Não sabia coisas simples como seu filme e livro favoritos. Tony era um estranho na vida de , um colega de classe que você é obrigado a conviver todos os dias, mas mal sabe o sobrenome.
parou de rir de algo que Clint dissera e analisou Tony. Não precisa ter suas habilidades para ver que tinha algo errado com o moreno.
- Agente Stark - chamou-a um dos agentes que a acompanhavam - Estamos prontos. Selvig já foi atendido pela equipe médica e levado ao aeroporta-aviões.
- Estou me sentindo ofendido por estar sendo ignorado - reclamou Clint, colocando as mãos na cintura - Eu não morri e ainda sou superior desse recinto. Tirando você, Tasha, desculpe. Vocês voltam para o porta-aviões com escolta da Stark.
- Eu estou de folga, Barton - informou a garota se levantando para se colocar ao lado de seu pai - Se quiser, você os escolte.
- Eu estava no meio de uma guerra! - lembrou Clint, ofendido.
- Se você lutou em uma guerra pode muito bem dar uma de segurança por alguns minutos...
- Okay, chega vocês dois - disse Natasha, pondo um fim na discussão - , pare de puxar briga como se não tivesse se preocupado com ele; Clint, pare de cutucá-la como se você não se importasse com ela; e vocês, levem ele daqui antes que eu faça vocês irem.
Todos ficaram em choque quando a ruiva parou de falar, assimilando a informação. Com passos leves e lentos, Sam junto com James e os outros agentes levaram Loki para a base aérea, temendo que o deus resolvesse aprontar mais uma. Os Vingadores e continuaram na sala da Torre em silêncio, toda vez que alguém abria a boca para tentar puxar assunto, olhava para o resto dos outros e desistia.
- Então... - começou Tony - Ainda topam uma rodada de Shwarma?
- Comida árabe? - riu - Sério mesmo?
- Você sabe o que é? - perguntou Tony e quando percebeu que sua filha iria responder, a cortou - Não conta, quero ser surpreendido.
XX
- Quero outro! - pediu Thor animado, fazendo com que eles rissem - Essa comida... É digna dos deuses!
Thor era o único que realmente estava gostando do lanche: Natasha e lutavam para não fazer sujeira; Tony não gostara muito de sua ideia; Steve e Clint pareciam ter outras coisas em mente; e Bruce apenas comia quieto.
observava Steve sem se aprofundar. Por alguma razão ela não queria o loiro magoado com ela por causa de suas mentiras. Talvez aquela situação tivesse a amolecido. Em silêncio, a morena pegou sua cadeira ao lado de seu pai para sentar ao lado de Rogers.
- Cap, eu queria me desculpar pelas mentiras que eu disse - sussurrou sabendo que alguém (todos) tentaria ouvir sua conversa - Não foi minha intenção.
- E qual foi sua intenção, Stark? - perguntou Steve a fitando. Os olhos castanhos da garota estavam consideravelmente mais claros do que horas atrás, combinando com sua expressão mais leve e risonha.
- Salvar minha pele - contou ela em um tom mais baixo ainda - Tony não é o meu maior problema, Pepper é que irá tentar me matar.
- Pepper é sua mãe? - perguntou o loiro inocentemente, a fazendo rir.
- Sim, ela é. E vai me matar.
- Mentiu para ela também?
sentiu uma mágoa na voz do homem.
- Eu não menti para ela... Só omiti alguns fatos...
- Como você fez comigo?
- Não, para você eu realmente menti. Desculpe.
- Não se desculpe - pediu Steve com um sorriso de canto - Afinal, esse é o seu trabalho, mas... Você enrolou comigo, se perdeu na própria história... Isso foi um erro grave para uma espiã.
- Você não me viu nos meus melhores dias - suspirou a morena, sorrindo. Não havia motivo para os dois estarem se provocando, era algo que beirava a naturalidade.
Era impossível um Rogers e um Stark conviverem em paz.
- Ô da calça legging! - chamou Tony o loiro que sorria para - Que tal terminar de comer e parar de sorrir para crianças? Isso pode ser considerado pedofilia.
tinha uma audição boa o suficiente para ouvir um comentário maldoso, "ele devia se preocupar com o bem estar do Steve", vindo de Natasha.
O silêncio entre os Vingadores era constrangedor, até a morena estava sem jeito para puxar conversa. No final das coisas eles não tinham algo em comum.
O som de um celular foi abafado pelo barulho da dona do estabelecimento que juntava os entulhos da loja. Todos se viraram para a fonte do som: a mais nova do grupo, que não tinha uma expressão muito feliz.
- Selvig! Conseguiu controlar o rio de sangue que estava saindo de sua testa? - perguntou .
"Stark, preciso de você na base", disse Selvig sem rodeios. "Fury pediu para arrumarmos um jeito de mandarmos Thor e Loki para o planeta deles usando o Tesseract. Você é mais capaz de fazer isso do que eu".
- Como vocês querem que eu chegue aí?
"Há grupos de patrulha da S.H.I.E.L.D. na cidade. Procure uma e explique a situação".
concordou já se levantando quando uma voz muito familiar a chamou pelo comunicador.
- Pepper?! - estranhou a morena - O que você está fazendo na frequência da S.H.I.E.L.D.?
Tony praticamente pulou de sua cadeira para pegar o comunicador da filha.
"Eu pousei há alguns minutos e tinham agentes aqui me esperando", explicou a ruiva que tinha voz rouca. "Eles falaram que você e seu pai estão trabalhando com o Tesseract".
- Sim, nós estamos trabalhando com o cubo - concordou a morena, fazendo um sinal de silêncio para seu pai - Você está na base? Nos vemos daqui a pouco.
- Você mentiu para Pepper?! - exclamou Tony indignado.
- Eu que iria ouvi-la gritar se eu desmentisse, então não há o que dizer - bufou a morena - Tony e eu vamos para o aeroporta-aviões. Se alguém quiser voltar...
não precisou terminar a frase para que todos se levantassem apressados. Talvez na S.H.I.E.L.D. aquele clima estranho não reinasse.
Selvig não desgrudava os olhos de sua tela enquanto tirava o Tesseract da maleta. Bruce e Tony estavam completamente perdidos no modo silencioso que os dois trabalhavam. Apenas um olhar do homem e a morena já mudava o que estava fazendo. Pelo menos parecia que eles estavam em completa sincronia.
Eles não eram necessários naquele laboratório e isso estava os incomodando.
- Stark, o que você quer fazer, exatamente? - perguntou Selvig confuso. Não entendera as intenções da garota.
deixou o cubo em seu lugar para explicar o seu projeto.
- Fury nos pediu para desenvolver um dispositivo para que Thor volte para Asgard - comentou ela, quando o esboço de um cilindro apareceu na tela - Esse dispositivo vai concentrar a energia do cubo, a liberando quando essa alavanca for acionada.
- E o que acontece quando essa energia for liberada? - perguntou Tony, sem saber exatamente quando sua filha montara aquele exemplo.
- Uma mini Bifrost particular - concluiu , sorrindo, vendo as expressões confusas de Tony e Bruce - Ponte do Arco-íris? Nada de mitologia nórdica?
A garota suspirou desanimada.
- Vocês precisam ler mais - disse ela por fim, voltando sua atenção para a sua tela.
- Agente Stark - chamou-a Selvig - Honestamente, você precisa de mim aqui?
sorriu para o homem.
- Precisar eu preciso - confessou a morena - Você passou mais tempo com o cubinho de gelo do que eu. Mas eu ainda tenho o Tico e o Teco - apontou para Bruce e Tony.
- Desde quando eu recebo ordens de você? - questionou Tony, no mesmo instante que Nick Fury entrou no laboratório.
- Desde quando eu dei a ela esse poder e desde quando você se voluntariou para nos ajudar, Stark - rosnou o homem, depois se dirigindo a Selvig - Como Stark te dispensou, acredito que não irá se importar em ir descansar. Suas acomodações temporárias já foram providenciadas.
Concordando com a cabeça, Selvig se retirou do laboratório, não antes de ouvir dizer que "tentaria não explodir o mundo sem ele".
- O projeto teórico está pronto? - perguntou Fury.
- Sim, diretor - afirmou , sentindo uma pulsação nervosa vindo de seu pai. Oh, ela estava ferrada. Se fosse mais nova ela ficaria de castigo. Agora, talvez, ele cortasse sua mesada.
- Quando você montou isso? - perguntou Bruce, que já não se aguentava mais de curiosidade. Eles não estavam há mais de meia hora na base e ela já tinha o projeto praticamente completo.
- Durante o voo até aqui - contou ela, sentando-se em cima da mesa, arrumando sua postura e fazendo com que seu uniforme parecesse mais apertado, o que atraiu o olhar irritado de seu pai.
- Se você vai usar esse uniforme o tempo inteiro - começou Tony sorrindo - Pode, pelo menos, subir um pouco mais o zíper? Não acha que seu decote está um pouquinho exagerado?
Nick deixou o laboratório revirando os olhos. Uma guerra ele podia encarar, agora pedir que ele aturasse briguinha de pai e filha já era demais.
"Stark?", chamou a voz de Hill no comunicador. "Sim, estou falando com os dois. Cinco segundos para a visita de vocês entrar no laboratório".
sequer teve tempo de xingar a mulher antes de Pepper entrar no laboratório correndo para os braços de Tony. Mesmo tendo passado rápido, foi possível ver o vulto vermelho que eram seus olhos inchados.
A ruiva se tornara a confusão em pessoa: intervia entre abraços apertados e tapas doloridos, entre palavras carinhosas e palavras ásperas.
- Pepper, as duas maneiras que você está agindo estão me machucando! - resmungou Tony, fazendo sua filha rir, chamando a atenção de Pepper.
Os olhos azuis da mulher se arregalaram ao reconhecer a roupa escura que sua quase filha usava: uma espécie de macacão preto e colado que ela vira algumas mulheres da S.H.I.E.L.D. usando.
- Agora o buraco é mais em baixo, - riu Tony, cruzando os braços.
Pepper colocou as mãos na cintura e lançou um olhar severo a morena, sussurrando um simples "explique-se".
- É meio óbvio, não é? - disse - Se eu estou usando o uniforme daqui, eu trabalho aqui.
- Amoleça esse tom de voz, - ordenou a ruiva.
Bruce se mexeu um pouco incomodado, tentando pensar em alguma desculpa para deixar o laboratório, quase implorando ajuda com os olhos.
- Bruce, você pode ir...? - começou a garota, pensando em algo que o homem pudesse buscar.
- "Ir"? - sugeriu ele sorrindo, deixando o laboratório logo em seguida.
- Há quanto tempo você trabalha aqui? - indagou Pepper, vendo revirar os olhos - Quando pretendia nos contar?!
- Honestamente? - rosnou , se colocando de pé. Estava tão cansada daquela maldita situação que estava sem paciência para lidar com a ruiva - Eu ia passar o resto da minha vida aqui e vocês nunca saberiam.
- Mentiras atrás de mentiras, não é? - comentou Tony.
- Nós já conversamos mais cedo, Tony. Agora é Pepper e eu.
Ambos Stark se olhavam com raiva e Pepper já se preparava para apaziguar a futura briga entre pai e filha.
- Naquela hora estávamos sentindo o peso de uma perda - argumentou o homem - Achou mesmo que aquilo era tudo o que eu queria dizer? Você mentiu! Disse que estava em Oxford, mas estava em uma base da S.H.I.E.L.D.
- Eu estava em Oxford. Não menti sobre isso.
- Uma boa ação não cobre centenas de ruins - rosnou Tony - Acreditávamos que você estava na Inglaterra estudando, mas estava sendo treinada para ser uma espiã!
- Tony - pediu Pepper, colocando a mão em seu ombro - Menos.
- Não tem menos, Pepper! - continuou ele, afastando a mão da mulher - Você sabe com quem você está se metendo, ? Assassinos e mentirosos. É isso que você é?
- Quem você pensa que é para insinuar o que eu sou? - grunhiu a morena, adiantando-se até o pai - O que você acha que sabe sobre mim? Por favor, nada que você pode achar em tabloides.
- Abaixe o tom, garota - ordenou Tony em sussurro.
- Você não tem autoridade para isso - lembrou ela - A vida é minha e eu escolho a profissão que eu quiser.
- Escolher profissão é uma coisa, enganar seus pais é outra!
- Vocês nunca perguntaram o que eu fazia fora da universidade. Eu me formei em Oxford e fui treinada lá – contou - Se tivessem me perguntado e eu não tivesse falado a verdade, aí vocês teriam o direito de me julgar.
- Acha isso um bom argumento, ? - gritou Tony - Você mentiu para nós! Eu sou seu pai!
- E você por acaso sabe o que significa esse título, Tony? - retrucou a centímetros do rosto do homem - Pai de sangue qualquer um pode ser. Pai não é só quem sustenta, Sr. Stark. Você julga tanto Howard e nunca reparou que faz a mesma coisa comigo!
- ... - tentou intervir Pepper.
- Não se mete, Potts - rosnou a morena - Você não tem direito de querer me cobrar qualquer coisa, Tony. Pepper é mais minha mãe do que você é meu pai! Consegue entender isso? Cuidar de mim nunca foi função dela, e, se era, ela não encarou como uma obrigação. Ela, diferente de você, mesmo sabendo que estava tudo certo, olhava minha lição de casa. Ela não tentava me comprar com presentes caros, mas me presenteava com carinho. Ela conseguia me decifrar mesmo quando a mais forte das minhas barreiras estava montada. E o que você fez por mim, Tony? Em que momento da minha vida você foi meu pai? Eu tenho alguma importância na sua vida?
Tony parecia uma estátua. Eram verdades demais vindas de uma única pessoa para ele aceitar. Ele estava quebrando por dentro e não queria demonstrar. Ele não podia reclamar de , ela aprendera a ser fria com ele, não foi? E era isso que ele estava mostrando. estava quebrando por dentro e por fora e já não se importava mais em quem iria ver.
- Por favor - pediu Pepper com os olhos vermelhos - Vocês estão de cabeça quente...
- O engraçado... É que Howard pelo menos te deu o exemplo de trabalhador - continuou , ignorando a ruiva - Olha o exemplo que você me deu! Por um milagre divino eu não sou alcoólatra. Mas tem coisa que é óbvio que veio de você. No final das contas somos opostos e iguais, não?
Com passos duros deixou o laboratório, sem saber exatamente para onde ir. Tony que se virasse com aquela porcaria de dispositivo. Ela estava cansada, física e mentalmente. Por pura ironia do destino, seus pés a levaram à área de treinamento, que para a sua alegria estava vazia.
Bom, não faria mal ela quebrar uma mão socando um saco de areia. Ele estava quase a chamando!
Antes que ela começasse sua sessão, sentia a presença de mais uma pessoa no local.
- Eu estava tentando calcular quanto tempo ia demorar a Fury te mandar aqui - resmungou , atingindo o saco de areia com uma série de golpes.
Clint sorriu se aproximando.
- Se Fury sabe do que aconteceu, ele acreditou que não fora algo que se deve receber atenção - disse o arqueiro - Vim porque encontrei um Stark com a maior cara de velório que eu já vi na minha vida, com uma ruiva insistindo em dizer que você só estava de cabeça quente, que não pensava em tudo o que dissera.
A morena acertou um último golpe forte antes de se virar para o seu superior.
- O que veio fazer aqui? Tentar aliviar para o lado do meu pai? - grunhiu ela, vendo o homem negar.
- Quero saber por que agiu daquela maneira - disse Clint por fim, se sentando em um dos bancos mais próximos - Pensei que você tinha me dito que não tinha nenhum rancor do seu pai.
- Mentir não é o que eu sei fazer melhor? Então por que a surpresa?
Sentada ao lado do arqueiro, se sentiu com dezenove anos novamente, começando seu treinamento. Os dois no mesmo lugar, conversando sobre o mesmo assunto, em espaços de tempo tão diferentes, mas continuava a mesma coisa.
- Não é tão simples simplesmente não guardar rancor... Embora eu ache que essa palavra não se encaixe muito bem - continuou ela, sem fazer questão de olhá-lo nos olhos, não importava se ele acreditaria ou não - Podia passar o resto da minha vida deixando Tony acreditar que ele era o pai do ano, mas ele foi hipócrita. Portou-se como o pai de todos os anos. Não deu para deixar passar.
- Não acha que pegou pesado? - perguntou o loiro, a fazendo rir.
- Até Tony estranha verdades que saem da minha boca. Foram vinte e três anos falados em cinco minutos, fui até boazinha.
- Não acha que deveria falar com a sua mãe, no mínimo? - perguntou o homem - Ela está sofrendo com os dois lados.
- Pepper precisa parar de querer juntar nós dois - suspirou ela se levantando - Ela sai duplamente machucada.
Clint sorriu ao vê-la caminhar devagar até a saída, vendo algo de diferente na postura da garota, mas preferiu não comentar ou perguntar: mesmo se ele tivesse certo, ela não contaria o que acontecera. Naquele momento não seria muito bom forçá-la a mentir.
Àquela hora a movimentação na base era menor, aos poucos todos estavam se controlando diante do recente ataque mundial, e parecia que ninguém mais estava sobre os efeitos de Loki, mas ainda temiam a presença do deus no aeroporta-aviões. No laboratório, apenas Bruce e Tony permaneciam trabalhando. ficou sem jeito ao entrar no recinto, sentindo-se pressionada assim que eles a fitaram.
- Por um momento, pensei que você fosse ficar verde - comentou Bruce, a fazendo perder a seriedade.
Tony não gostara muito da brincadeira e sua expressão continuou inalterável.
- Você não é o único com crises de raiva... - suspirou a morena, sentando-se mais uma vez na mesa - Onde está Pepper?
- Dormindo - disse Tony friamente, desligando a sua tela - Assim como nós. Fury pediu gentilmente para que terminássemos isso amanhã. Acredito que saiba onde é seu quarto.
Tony marchou para fora do laboratório como um raio, deixando Bruce e sozinhos no local, um mais confuso que o outro.
realmente pegara pesado, cutucara uma ferida aberta de seu pai. Mas não fora por maldade. Claro que a maior parte do que disse foi por raiva, mas aquilo talvez abrisse os olhos de seu pai. Ele poderia melhorar com isso. Ou nunca mais olhar na cara dela.
Provavelmente ele nunca mais olharia na cara dela.
- Vai falar com ele, - aconselhou Bruce, tirando seus amados óculos. De uma maneira bem estranha ele tinha adquirido uma afeição pela garota - Ele vai entender, ele te ama, você sendo agente ou não.
- Para alguém que as pessoas têm medo de chegar perto, você é o tipo de pessoa que se mantêm próxima - comentou , vendo Bruce esboçar um sorriso triste - Tenho pena de quem te julga por boatos.
- As pessoas não me julgam por boatos, - disse ele - Elas me julgam pelo monstro que vive em mim.
- Você não é um monstro - contradisse a morena - O Hulk pode até ser um pouco... Surpreendente quando se vê, mas você está longe de ser um monstro, Bruce. Você precisa rever as suas definições de monstro.
caminhou com passos leves até o cientista, colocando sua mão no ombro do homem.
- Tivemos um longo dia - suspirou ela - Melhor irmos dormir. Não acredito que Thor vá ficar nervoso por passar mais uma noite na Terra.
Bruce concordou e disse que desligaria os computadores, saindo do laboratório alguns minutos depois da garota.
por sua vez decidiu seguir o conselho de Bruce pela manhã. Tony também deveria estar exausto e merecia um descanso, assim como a sua filha. Parecia que ela estava há dias sem dormir, por isso não hesitou em se jogar na sua cama. Só havia um problema: não conseguia dormir.
XX
Eles deviam achar que dormir era uma tarefa fácil para terem a designado, mas parecia ser algo impossível para ficar inconsciente. Tinha algo muito errado com ela desde que voltara a dominar sua mente, parecia que havia mais informação no ar do que ela conhecia, era como se ela tivesse inventando dados para trabalhar.
Ela tinha a faca e o queijo na mão e queria fazer panqueca. Era confuso.
Agoniada, esticou a mão para pegar seu celular na mesa ao lado de sua cama: 3h00 da manhã e ela ainda lutava com seu cérebro. Assim não dava para continuar.
Bufando, ela levantou da cama de deixou seu quarto, tomando o cuidado de não fazer barulho no corredor já que nas portas ao lado dormia todos os Vingadores, sem exceções. A última coisa que ela queria era alguém perguntando o porquê dela estar acordada e o porquê de estar indo falar com Loki.
O ruim do aeroporta-aviões é que aquele lugar nunca estava vazio, sempre tinha alguém andando pelos corredores trabalhando, diferente da morena que parara de frente a uma grande porta de aço guardada por dois armários-agentes.
- Ninguém tem permissão para ver o prisioneiro, Stark - informou um dos agentes sem realmente olhá-la.
- Perderam a noção do perigo? Tudo voltou ao normal e eu continuo trabalhando aqui. Podem e devem voltar a me chamar de agente - resmungou , passando as mãos no rosto e fechando os olhos - Olha, eu não vou demorar, só preciso de cinco minutos com ele.
- Diretor Fury proibiu visitas ao prisioneiro - insistiu o homem.
- Eu preciso falar com ele para continuar meu trabalho - mentiu a garota - Loki conhece o Tesseract tão bem, ou melhor, que eu e esse conhecimento foi requisitado pelo Selvig, pode ligar para ele se quiser, mas ele não vai ficar muito feliz em ser interrompido...
O homem fitou desconfiado. Sabia que provavelmente ela estava mentindo, mas o que ele poderia fazer?
- Cinco minutos contados - informou o agente, assustando o seu parceiro. Eles estariam incrivelmente ferrados se Fury descobrisse aquilo.
Loki estava sentado no chão no canto da sala, ainda com a mordaça e as algemas, sua expressão era de extrema tristeza, algo que não esperava ver vindo dele. Por mais estranho que fosse ela esperava as mesmas frases perigosas que ele dissera antes, o mesmo sorriso trapaceiro que não parecia sumir de seu rosto.
- Uau! - exclamou - Dizem que ir para uma guerra muda as pessoas, será que perder uma também causa o mesmo efeito?
O olhar de Loki se tornou mais frio e por um instante pode ver o gigante de gelo em sua frente. Mais uma vez ela não sentia medo na presença do homem, mas pela primeira vez ela se sentia intimidada, mesmo sem ele poder lhe fazer mal algum. Pelo menos não físico. O problema era o mental.
- O que aconteceu? Hulk comeu sua língua? - riu ela - Você não precisa do dom da fala, você pode invadir minha mente, dessa vez eu deixo. Ou você está tão fraco que não consegue penetrar em uma mente tão frágil como a minha?
Embora estivesse feliz, sentia-se mal por não ouvir a outra voz da conversa. Sem temer que talvez ele pudesse despejar mais informação que ela pudesse suportar, agachou na frente do homem, tirando com uma delicadeza que ele não merecia o objeto que impedia sua fala.
- Viu como eu não guardo ressentimentos? Podia te deixar aí com a língua presa, mas sou legal o suficiente para te dar a liberdade de conversar. Não vai precisar se matar para invadir minha mente.
Loki continuava com a expressão inalterada.
- Então você vai continuar em silêncio? - rosnou a morena se levantando - Você vem como um vírus na minha mente e agora não tem a decência de me explicar o que fez?
Pela primeira vez Loki sorriu. Algo então ele fizera certo.
- Só uma resposta e eu te deixo em paz – pediu a garota nervosa – Apenas uma resposta completa: o que você fez comigo?
O silêncio foi o que Loki deu como resposta. Para que perderia mais tempo com aquela humana? Mesmo que tudo tivesse dado errado, ele tinha atingindo seu objetivo com , mas isso não mudava as coisas. Ela que se entendesse com ela mesma, seu auxílio a morena não teria mais.
- Sabe - começou ela nervosa, andando de um lado para o outro - Eu devia ter imaginado que isso ia acontecer... Você não sabe o que é ajudar os outros, não é? Você disse que queria me proteger, mas queria uma arma ao seu lado e eu quero saber em que arma você me transformou!
Mais uma vez e Loki estavam a centímetros de distância: ele, sentado em um chão sujo e com as mãos presas, mantinha sua calma inabalável; já ela estava a ponto de cuspir fogo. Olhos azuis e castanhos se fuzilavam sem dó.
- Quanta dor uma pessoa pode suportar? - questionou ela o surpreendendo - Quanta dor um olhar pode expressar, Loki? Chega perto da que você está sentindo?
A risada descontraída de irritou Loki de um jeito incrível. Aquela mortal idiotamente acreditava que poderia ler suas expressões para tirar suas conclusões próprias? Era ignorância demais para uma única pessoa. Aquela conversa já cansava o asgardiano, que pensou em um jeito fácil e simples de tirá-la de seu "quarto". Sorrindo mais uma vez, Loki começou a gritar, chamando a atenção dos guardas que logo invadiram a sala, afastando dele sem muita delicadeza. Não importou se disse que ele não estava a atacando e que mesmo sem a mordaça Loki era inofensivo, foi tirada a força da sala por um dos agentes enquanto o outro recolocava o objeto que impedia que Loki falasse.
- Espero que tenha conseguido as informações necessárias para o seu trabalho, agente Stark - grunhiu o segundo agente, fechando a porta de aço que se travou sozinha.
Bufando, se afastou daquele corredor com passos largos e pesados, não se importando se acordaria uma ou todas as pessoas da base. A morena não sabia se fora o barulho que fizera ou se Thor estava tão sem sono quanto ela.
- O que esta fazendo acordada, bruxa? - perguntou o loiro, corrigindo a frase antes que a garota o enfeitiçasse - Algo perturba sua mente, Stark?
- Acho que o sono não gosta mais de mim... - brincou a morena, ignorando o fato de o loiro continuar a chamá-la de bruxa.
Thor sorriu. Não entendia o porquê de todos falarem aquelas coisas maldosas sobre , até que ela era simpática.
- Sua postura mudou depois que teve sua mente de volta - comentou o deus - E não foi o peso da morte do filho de Coul que a fez mudar.
olhou o homem assustada. Agora todos eram peritos em observar expressões?
- Sei o poder que meu irmão tem, agente - continuou ele ao ver que não se pronunciaria - Posso ver em seus olhos que Loki mudou alguma coisa em você. Poderei voltar para casa com a garantia que a mudança que ele fez não a fez mal?
Mais uma vez ela estava exposta, e por estar no limite, não se importou em contar a verdade.
- Não tenho completa certeza se o que deu irmão fez me causou bem ou mal. Magia não é a minha área - confessou .
- Magia e ciência são a mesma coisa de onde eu vim – comentou o loiro sorrindo – Você apenas não está acostumada.
- Anda acontecendo muita coisa que eu não estou acostumada – riu , se apoiando na parede.
- Isso tem a ver com seu pai? – perguntou Thor inocentemente.
- É difícil explicar... Ou é muito fácil e nós que complicamos – disse ela por fim, depois de uma considerável pausa – Mas não se preocupe. Não sei o que mudou em mim, mas pode ter certeza que isso não vai criar problemas. Não o suficiente para você ter que voltar.
- Não sei se devo ficar feliz com isso, mas agradeço a sinceridade, - disse Thor, fitando-a firmemente - Agora, acredito que mesmo que nós não consigamos dormir, pelo menos descansar devemos.
- Boa sorte tentando - suspirou vendo Thor sumir pelos corredores.
não perderia seu tempo tentando dormir, iria terminar a porcaria de seu trabalho primeiro.
XX
"Vingadores, reunir no laboratório" foi a primeira coisa que algumas pessoas ouviram pela manhã, e alguns até acordaram com essa voz. pensara que teria os heróis em sua presença em espaço de tempo bem menor. Como eles conseguiram dormir depois de tudo que acontecera na noite passada?
Os primeiros a pisar no laboratório foram Thor e Steve, ambos com detalhes que deixavam claro que não haviam dormido bem, ou até mesmo não dormiram. No final das contas não fora a única que brigara com a cama. Bruce, Natasha e Clint foram o segundo grupo a aparecer.
- Acredito que você não deixou trabalho para mim - disse Bruce, assim que viu um cilindro transparente com um metal dourado nas extremidades, muito parecido com o desenho que mostrara na noite passada.
Tony chegou por último, com fortes olheiras embaixo de seus olhos castanhos e com seu sorriso cínico inseparável. O olhar que lançara a filha era mesmo que ela sempre via, sem tirar nem por. Nada mudara na relação dos dois.
- Você por acaso sabe o que é dormir? - perguntou Tony, surpreso ao ver o dispositivo pronto - Isso faz bem às vezes.
- Você nos acordou a essa hora para apresentar esse cone mágico? - resmungou Clint bufando - Sabe quanto tempo eu demorei a pegar no sono?
- Prometo que não vou demorar mais que cinco minutos, aí você vai poder voltar para seu ninho e vigiar seus ovos - disse - Fury deixou bem claro que era para reunir vocês quando tudo estivesse pronto, não é minha culpa. Thor, você pode me ajudar?
Estranhando ser chamado, Thor se pôs ao lado da morena.
- Fury pediu a Selvig e a mim duas coisas: o dispositivo tinha que trabalhar com a energia do Tesseract; e teria que levar duas pessoas na viagem.
pegou o dispositivo, que era bem maior do que Bruce e Tony imaginavam, segurando uma extremidade do dispositivo e pedindo que Thor segurasse a outra.
- Não tinha como instalar um acionamento por voz - continuou ela a explicar, revirando os olhos por sua ideia ter sido desconsiderada - Demoraria muito para fazer. Por isso fomos forçados a utilizar uma tecnologia um pouco mais antiga, mas do mesmo jeito eficaz. Thor gire a sua alça para a direita.
Assim que Thor a obedeceu, o dispositivo fez um estalo oco.
- Se o Tesseract estivesse aí dentro, agora, teoricamente, estaríamos em Asgard.
- "Teoricamente"? - repetiu o loiro confuso.
- É claro que existe a mínima chance do aparelho falhar, mas aí voltamos para o fato de que fui eu que o planejei e montei então essas possibilidades passam a ser inexistentes - disse , colocando o dispositivo em uma mesa - Não posso afirmar que será completamente seguro ou eficaz, pois eu não pude testar. Não há um segundo Tesseract, então não pudemos ter cobaias. Você terá que confiar na minha palavra e na minha capacidade, Thor.
Assustando a todos, o loiro concordou, demonstrando que confiava na garota. Só um extraterrestre para confiar em Stark tão facilmente.
- , já passou cinco minutos e um segundo! - reclamou Clint.
- Está dispensado, agente Barton - disse e não demorou para que o arqueiro deixasse o laboratório - Só não vá dormir demais e perder a hora para migrar para o sul!
- Sabe que ele vai te infernizar por meses, não sabe? - perguntou Natasha.
- Graças a Deus ele fica aqui e eu na Europa.
- Sabe que Fury pode designá-los para a mesma missão, não é? - disse a ruiva, sorrindo maldosamente, vendo o terror se espalhar pelo rosto da colega.
- Não dê ideia, Romanoff! - grunhiu , antes de Natasha deixar o local. A morena não queria missões por pelo menos um mês. Estava completamente exausta e tinha coisas um pouco pessoais para estudar.
Enquanto guardava os materiais que utilizara, os homens na sala evitavam trocar olhares, mais uma vez estavam completamente desconfortáveis com a situação, e fazia parte do grupo, pensava várias vezes antes de falar e acabava decidindo por não fazê-lo.
- Quando vamos deportar os visitantes? - perguntou Tony à filha, que escondeu um sorriso ao ver Thor mostrar uma expressão confusa.
- Não sei exatamente que horas vai ser, mas sei que vai ser hoje - disse a morena, sentando-se em cima da mesa - Diretor Fury ainda está se resolvendo com o conselho, então pode demorar um pouco.
- Conselho? - repetiu Steve.
- Aqueles intrometidos que mandaram aquela porcaria de míssil - comentou Tony, fazendo Steve concordar depois de ter lembrado.
- Digamos que mesmo você terem se unido por conta própria e sem o nosso consentimento, a culpa caiu toda sobre nós - continuou - Aos olhos deles, devíamos tê-los impedido.
- A pergunta-chave é "como?". Como vocês parariam nós seis juntos? - perguntou Tony rindo, apontando para Bruce em seguida - Nem o Grandão em tamanho econômico vocês controlam.
Bruce não pareceu muito feliz com a piada.
- Exatamente por isso não é muito inteligente fazer gracinhas perto do Fury hoje.
- O que tem eu, Stark? - rosnou Fury, aparecendo na porta e pegando todos de surpresa - , assim que Barton e Romanoff terminarem seus depoimentos, é a sua vez.
- Depoimento? - estranhou a garota - Para o conselho? Clint e Natasha eu entendo, mas por que eu? Eu não fiz parte dessa vez.
- Preciso enumerar em quantas partes disso a sua mão está? - ironizou o homem – Filha de um dos integrantes, nossa responsável pela Fase 2, uma das que foi atacada diretamente pelo invasor... Esqueci-me de dizer alguma coisa?
- O senhor não comentou da minha incrível competência no que foi me ordenado a fazer e podia ter feito comentários mais gentis. Nosso relacionamento está desandando, você nem reparou que estou usando brincos, diretor.
- Está querendo receber outra advertência, Stark?
- Não, senhor – respondeu , pegando uma garrafa de água de sua mesa – A última que eu recebi ainda está consideravelmente nova.
- Então se prepare para seu depoimento, os conselheiros não são tão amigáveis quanto eu – rosnou o diretor, já se retirando do recinto - Depois me procure, tenho que passar as instruções da sua nova missão.
teve sérios problemas para engolir a água que estava na sua boca. Nem vinte quatro horas haviam se passado desde que o exército de Loki fora derrotado e Fury já tinha outro trabalho para ela? Ela receberia outra advertência, mas faria com que ele no mínimo adiasse essa missão.
saiu correndo atrás de seu chefe sem se importar se atropelaria pessoas no caminho.
No laboratório, Tony soltou uma risada forçada assim que sua filha deixou o local, saindo logo em seguida. Por mais que tentasse, a história toda não descia pela sua garganta. Era quase impossível aceitar que sua filha se tornara o tipo de pessoa que ele mais detestava.
Pepper que era a compreensiva, não ele. A ruiva aceitara sem resistência o trabalho da garota, não argumentou ou disse que não gostara. Apenas ficou do lado dela.
Pepper girava na cama tentando dormir novamente, mas sem obter sucesso. Estava nervosa sobre tudo o que acontecia, tudo que ela se envolvera tão intimamente.
- Pepps? - chamou-a Tony abrindo um pouco a porta. A ruiva tentou falar, mas apenas saiu um som incompreensivo - Perdeu o dom da fala?
- O que aconteceu com o Senhor Mau-Humor de ontem? - perguntou a mulher, sorrindo. Tony sentou-se ao lado dela, mas ficou fitando o teto do quarto.
- Do que adianta bater na mesma tecla? - suspirou o homem - é adulta e deve saber o que faz da vida. A única coisa que posso fazer é não afastá-la mais do que ela já está.
Pepper sorriu. Afinal, por menor que fosse, era uma evolução.
- Se vocês se empenhassem em conviver bem, tudo seria mais fácil.
- Acha que ela perderia seu tempo para se aproximar de mim?
- pode pensar várias coisas, mas ela não acha que você é perda de tempo - sussurrou Pepper perto de seu ouvido.
Tony desviou seus olhos do teto para fitar a ruiva, procurando qualquer vestígio de incerteza nos traços delicados da mulher.
- Como você pode ter tanta certeza? – perguntou ele por fim.
Pepper riu, afastando sua franja dos olhos.
- Sou a mãe dela, não sou? – sussurrou ela, vendo algo se quebrar novamente nos olhos de Tony – E você é o pai dela, só precisa se sentir e agir assim.
XX
- Diretor! - implorava, andando atrás de Fury pelos corredores - Só mais um dia de folga!
- Você teve uma semana, Stark.
- Isso não conta! Estava tentando recuperar um relacionamento.
- Isso não diz respeito ao meu trabalho, agente - continuou Fury - Por isso você fará exatamente o que eu mandar. Você ainda é submissa aqui.
- Quantos anos eu passei sem pedir folga?
- Isso foi levado em conta quando você pediu a sua última folga. Vai querer outra advertência?
Contrariada, cruzou os braços em frente ao peito, bufando alto.
– Pode pelo menos adiantar qual é a minha missão?
- Você podia desfazer essa trompa, agente – resmungou Fury, assim que eles chegaram a central – Fui incrivelmente bonzinho com você.
- Sinto que vou sofrer.
A movimentação na central estava bem menor do que costumava ver, o que permitia que eles conversassem mais alto, e chamassem mais atenção.
- A pergunta certa não é “o que” é a sua missão, mas “quem”. Lembra-se de sua missão na Espanha?
parou por alguns segundos vasculhando em sua mente qualquer coisa relacionada àquele país e logo se lembrou com um susto: em Madrid ela tivera que vigiar de longe uma pessoa suspeita.
- Pensei que eu tinha deixado bem claro que não queria mais esse tipo de trabalho – resmungou ela – Vigiar pessoas é cansativo e chato. Ou você me coloca na ação ou me tranca em um laboratório, simples.
- Você é a mais qualificada dessa vez, Stark.
- Eu sempre sou a mais qualificada! – disse , e Fury não sabia dizer se ela estava reclamando ou se achando. Pelo sorriso discreto de canto, ela estava fazendo os dois. Ele merecia um prêmio por paciência inabalável.
- De todos os agentes que eu poderia mandar, você é a que precisará de menos recursos – explicou ele, se virando para olhar as suas telas – Você apenas precisará de sua mente, suas habilidades de espionagem e, se quiser descansar, um computador.
- Elogios não vão mudar minha opinião. Ainda não gosto desse tipo de missão e ponto. Dá para dizer logo quem é o infeliz que eu vou ter que servir de babá?
Fury olhou a morena por cima do ombro, tentando não sorrir. O sol começava a nascer e algumas luzes do aeroporta-aviões estavam sendo apagadas.
- Acredito que Capitão Rogers esteja consideravelmente feliz.
Uma crise de tosse inesperada atingiu , fazendo-a se apoiar nas grades ao seu lado para se recuperar. Ela entendera certo?
- Quer cinco minutos para amenizar sua expressão idiota? – perguntou Fury, voltando a trabalhar em suas telas.
- Com todo respeito, senhor, mas o que diabos há de errado com você? – gritou a garota – Ele é o Capitão América! Capitão América não precisa de proteção, porque ele é o Capitão América!
- Pare e pense – pediu o homem, sendo ignorado.
- Ele usa um escudo de vibranium, isso é mais que proteção! – continuou – Não tem o que pensar.
Fury revirou o olho, se virando para a garota histérica que ele dizia ser de sua equipe.
- Não duvido da capacidade de Rogers se proteger fisicamente...
- Acha que alguém vai atacá-lo mentalmente? – estranhou ela.
- Posso terminar a frase? – exclamou ele, fazendo com que mais pessoas do que ele queria parassem de falar – É a mesma situação que passamos com Banner. Lembra-se dessa?
- Você não colocou agentes na cola de Banner apenas para protegê-lo, você queria que pessoas mal intencionadas se aproximassem dele.
- Rogers não está completamente adaptado a nossa realidade – continuou Fury – Ele foi reconhecido em NY, isso vai atrair muitas pessoas mal intencionadas e ele terá dois problemas: terá que se esconder da mídia e se esconder dessas outras pessoas. Entendeu por que esse é o seu trabalho? Não existe outra pessoa nessa agência qualificada para isso.
- Ele sabe isso? – perguntou , começando a aceitar o trabalho.
- É melhor que não.
Bom, ele estava certo. Sairia muito mais caro colocar outro agente na cola de Rogers, que ainda correria o risco de ser descoberto nas primeiras semanas, provavelmente com um binóculo ou algo do tipo.
Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Clint, que acabara seu depoimento, saía do local reservado. Como Natasha estava do outro lado da nave, foi na sua frente. Pelo menos seria uma coisa a menos para fazer naquele dia.
XX
Esgotada, deixou a sala onde dera seu depoimento sobre tudo que acontecera nos últimos dias, ouvindo Natasha resmungar um “ligeira” quando a ruiva entrou no local. Com passos arrastados a morena fez o caminho até seu quarto, tomando o cuidado de trancar a porta assim que entrou.
Seu corpo implorava por algumas horas de sono, mas ele mesmo estava negando essa regalia. Ou melhor, sua mente estava negando. Ficar inconsciente simplesmente não era uma tarefa tão fácil.
Respirando fundo e tentando não bocejar, se jogou em sua cama completamente bagunçada. Ela tinha que tomar uma providência sobre o que estava acontecendo, mas para isso ela precisava saber o que estava acontecendo.
Por isso sanaria todas as dúvidas que tinha ali, começando por “o que ela podia fazer”.
Fora óbvio que na Torre Stark ela tivera controle sobre algo que não devia ser controlado, e agora ela testaria.
Acreditando que estava enlouquecendo, ela levantou e se jogou na beirada da cama, deixando que sua coxa colidisse com a nada mole madeira do móvel. No mesmo instante, o choque da bancada a dominou, forçando-a a morder o lábio inferior para evitar que um gemido dolorido escapasse por sua garganta. Ainda no chão ela respirou fundo e fechou os olhos, tentando fazer a mesma coisa que fizera na Torre: do mesmo jeito que lá ela não queria se sentir exausta, no quarto ela não queria sentir dor.
Fazendo com que uma expressão de surpresa tomasse conta de sua face, a dor passou na mesma velocidade que chegara.
Aquilo não era possível.
Sem querer, parou de se concentrar em “anestesiar” sua coxa e a dor voltou, assustando-a mais uma vez.
Aquele teste não era o suficiente para ter completa certeza.
passou os olhos pelo quarto em busca de algo que pudesse servir como uma arma mais “inofensiva”. Não precisava se matar naquele dia.
De repente parecia que tudo era inofensivo demais naquele lugar.
Ao respirar fundo mais uma vez a morena percebeu que podia fazer um teste sem “dor”. O problema é que ela poderia manipular aquele teste mais do que queria.
Mentalmente ela contou até três, fechou sua garganta sem auxílio de qualquer objeto, e foi ao chão como se alguém estivesse tentando asfixiá-la. Por reflexo ela tentava respirar, mas o ar nem entrava e nem saía. Se não tivesse parado de se concentrar depois de quase um minuto, teria ficado inconsciente. Quando o ar voltou a habitar seus pulmões, alguém resolveu bater na porta.
- ? – estranhou Pepper ao ouvir uma respiração forçada e algumas tosses – , tudo bem aí dentro?
Sentindo-se contrariada pela segunda vez naquele dia, levantou do chão, destrancando a porta e assustando a ruiva. No mínimo seu rosto deveria estar com uma coloração muito forte.
- Me engasguei com um pouco de água – explicou ela, prevendo a pergunta tão óbvia – Entre.
Pepper apenas forçou uma risada e sentou-se na beirada da cama bagunçada da garota. Enquanto tornava a fechar a porta, a ruiva analisou rapidamente o uniforme que ela usava.
- Tony nunca vai admitir isso em voz alta – comentou a ruiva, sorrindo sapeca – Mas essa roupa fica ótima em você. Pena que não dá para você sair com ela na rua.
- Um dia você vai ter que me ensinar a ver sempre o lado bom das coisas primeiro – disse rindo, se jogando ao lado da mulher – Dormiu bem?
- Na medida do possível, sim – concordou ela – Mas digamos que um certo assunto me tirou um pouco do sono...
- Lá vem... – bufou .
- Você e seu pai já estão bem grandinhos, não acha? – começou a mulher – Vocês estão passando do limite. Não precisam ser um exemplo de família, apenas não precisam se matar.
- Você não precisa exagerar...
- Não é exagero, vocês estão se matando! Do mesmo jeito que eu sei que você saiu machucada ontem, Tony também saiu, e eu mais ainda.
lançou um olhar pedinte à mulher, como dissesse com os olhos que não queria tocar no assunto.
- Vocês se dão tão bem juntos, por que não pode ser assim o tempo todo?
A morena não respondeu, apenas passou a fitar o chão.
- Pode tentar conviver com seu pai? Sem simplesmente sumir como da última vez?
- Posso tentar – suspirou depois de longos segundos em que Pepper alisava seus longos cabelos – Vou manter contato com papai também.
- Gostei – riu a ruiva – Esse “papai” saiu um pouco forçado, mas valeu a intenção. Bem, vou ir procurar Tony.
Com um beijo na bochecha Pepper se despediu da garota, deixando-a sozinha no quarto com seus pensamentos. Agora tinha mais uma tarefa: se acertar com Tony.
Seu estômago pediu por comida e se deu conta que já se aproximava da hora do almoço. Provavelmente depois eles partiriam do aeroporta-aviões como havia sido planejado mais cedo, e com cada Vingador seguindo seu caminho, sua missão começaria. O difícil era seguir alguém morrendo de sono.
Um banho frio a ajudaria a despertar.
Depois de deixar sua roupa separada em cima da cama, entrou no banheiro, ligando o chuveiro na mais baixa temperatura que o aparelho suportava.
- Agente Stark? – a voz de Sam a chamou do quarto – Está atrasada, sabia?
- Só mais cinco minutos – pediu , indo enrolada em sua toalha buscar a roupa que separara e voltando para o banheiro.
- Vamos almoçar com o resto do pessoal, não precisa de produção, criatura! – resmungou Sam.
- Então por que sua maquiagem está perfeita e passou babyliss no cabelo?
- Vai te ferrar – suspirou a loira, se jogando na cama bagunçada da amiga – Mas acho que você não estar tentando impressionar o nosso pessoal, e sim o seu pessoal. Você devia ter feito parte do grupo. Uma Vingadora.
- Fale qualquer coisa relacionada a “impressionar” perto do meu pai e eu juro que te mato antes dele me matar – gritou do banheiro, terminando de se vestir. Certo, ela caprichara um pouco no visual daquele dia. Afinal, além de que passaria um bom tempo sem voltar à base aérea, ela sentia falta de um pouco de produção.
- Ah, já saquei quem você quer impressionar! – exclamou Sam feliz – Mas temo que você não tenha permissão para se aproximar do Rogers de nenhuma maneira.
A risada de pareceu ter sido ouvida por todos nos arredores de tão alta.
- Uma garota não pode nem se arrumar sem que esse tipo de comentário maldoso já começa – reclamou a morena, voltando para o quarto perfeitamente vestida e maquiada. Sua calça jeans de lavagem escura lembrava o uniforme da S.H.I.E.L.D. de tão apertada, o regatão branco que usava estava parcialmente escondido pela jaqueta de couro preta que se modelava perfeitamente ao seu corpo, e seu sapato de saltos pretos a deixara vários centímetros mais alta. Sua maquiagem destacara bem seus olhos com uma sombra escura e seus lábios e bochechas estavam levemente rosados.
- Não quer deixar essa roupa comigo antes de partir? – brincou Sam, se levantando – Vamos antes que Clint resolva vir no buscar. Lembra-se disso?
- Dele nos arrastando pelos corredores por termos demorados a acordar? Difícil esquecer.
XX
O refeitório, como de costume, estava cheio, e Sam e precisaram se esforçar para encontrar alguém “conhecido”. A morena pediu para que Sam procurasse pelos seus pais e estranhou: não era todo dia que escolhia se aproximar da família. E muitos agentes ali sabiam disso e compartilharam a mesma sensação que a loira.
Os boatos estavam certos: Loki fizera uma lavagem cerebral em e colocara uma garota dócil no lugar.
As duas agentes passaram por várias fileiras de mesas equilibrando suas bandejas até acharem a mesa mais vigiada do dia.
- Se antes eles já estavam olhando para cá – começou Clint – Agora tem mais dois motivos. Qual a dificuldade que vocês duas tem em não chamar atenção?
- É uma coisa natural – explicou , rindo, sentando-se ao lado de Tony e de Thor, do lado da mesa onde Pepper também estava sentada. Sam sentou-se ao lado de Clint e Bruce, do outro lado da mesa.
- Oi, mãe-Pepper - disse Sam sorridente à ruiva. Pepper por sua vez não achou grande surpresa ver a amiga de trabalhando no mesmo lugar que ela. Já Tony era outra história.
- Essas duas causam todo último dia aqui – contou Clint como quem não quer nada.
- Você está me dedurando para meus superiores? – disse , fingindo estar indignada.
- É verdade, Sam? – perguntou Pepper, achando graça.
- Ela é má influência, é um fato.
- Não acredite em uma palavra que venha dela – disse a Tony.
- Mas ela é minha filha – lembrou Tony, se referindo ao pequeno incidente em que ele confundira a loira com , causando risos nas mulheres da mesa.
tentou parar de rir “sozinha”, sem interferência, e para ajudar olhou para as expressões confusas dos homens da mesa e sentiu falta de uma.
- Onde está o Rogers?
- Ele disse que estava sem fome, que ia arrumar suas coisas – disse Bruce, lançando um olhar sugestivo a . Ele mesmo percebera que o loiro não quisera se juntar ao grupo.
Em um dia normal, não daria importância à ausência do homem, mas o fato de um soldado dar a desculpa de que não estava com fome e de que o vigiaria a fez fazer algo diferente do que ela faria.
- Aonde você vai? – perguntou Tony ao vê-la levantar com sua bandeja em mãos.
- Preciso confirmar uma coisa – disse ela antes de virar as costas e deixar o refeitório.
XX
Steve estava deitado na cama de seu quarto, esperando a boa vontade do tempo de passar logo para poder finalmente deixar toda aquela maluquice para trás, mesmo que isso fizesse parte dele.
O loiro apenas queria um pouco de paz. Nada de olhares surpresos ou assustados ao vê-lo, apenas a boa e velha indiferença que você olha para uma pessoa estranha na rua. Nada mais.
- Capitão Rogers? – a já familiar voz de o chamou depois de dar leves batidas na porta. Mesmo não estando a fim de visitas, Steve levantou para abrir a porta. Não sabia por que a garota estava o procurando, podia ser algo sério.
O bizarro era que sequer estava uniformizada e segurava uma bandeja com um sorriso inocente no rosto.
- Sei que quer ficar sozinho, mas... – disse ela calmamente – Dizer que não estava com fome foi difícil de aceitar.
Steve se apoiou no batente da porta, com um sorriso de canto um tanto quanto desafiador.
- Por quê?
- Quer a resposta técnica ou a minha? – o loiro pedira as duas – Seu metabolismo é quatro vezes mais rápido do que o de um homem normal, o que aumenta seu apetite, e você é um soldado, isso ignorando o “Super”. Soldados sempre estão com fome. E só existe uma maneira aceitável de você não estar com fome: você ter assaltado a cozinha da base, coisa que não consigo imaginar você fazendo.
Ainda sorrindo, empurrou gentilmente a bandeia para as mãos de Steve, que aceitou e fez um gesto para que ela entrasse no quarto.
- Agradeço a gentileza, senhorita – disse Steve sentando em sua cama perfeitamente arrumada – Mas por que se preocupou comigo?
- Por favor, não me chame de senhorita – pediu a garota – Parece que estou sendo repreendida. No máximo me chame de Stark, mas não reclame se eu fizer careta.
- E você não precisa me chamar de Capitão o tempo todo – lembrou o loiro, fazendo-a alargar ainda mais o sorriso.
- Digamos que eu sei como é evitar o refeitório – contou ela – Prefiro assaltar a cozinha nos tempos livres.
- Está evitando alguém que está almoçando agora? – perguntou Steve inocentemente.
- Não dessa vez – concluiu ela depois de um tempo – Isso é um fato histórico, eu sempre evito alguém quando venho para cá.
Enquanto Steve comia, deixou seus olhos percorrem o quarto que deveria parecer com o seu. Não havia um traço de falta de organização naquele lugar, enquanto o dela parecia ter sido atingido por uma bomba.
- Você dormiu? – perguntou ela, depois complementando, pois pegara o homem de surpresa – Esse é o quarto mais arrumado que eu já vi na minha vida, e eu morei com uma das pessoas mais organizadas desse mundo.
- O seu está muito bagunçado?
- Digamos que eu não me dê muito bem com essas caixinhas que eles chamam de quarto – resmungou a garota, aceitando o pacote de balas que Steve lhe oferecera, que viera na bandeja.
- Deixe-me adivinhar: também não conseguiu dormir - disse o homem, a fazendo rir – Acho que hoje de madrugada Thor, você e eu éramos as únicas pessoas acordadas aqui. Eu tenho desculpas, já dormi demais nessa vida, mas e você?
A pergunta de Steve a deixara incomodada, mas não o suficiente para que conseguir ver. Era difícil saber o que tirara seu sono na noite passada. Tantas mudanças que aconteceram ao mesmo tempo que ela ainda estava perdida.
- Acho que não consegui acompanhar em tempo real tudo que aconteceu – deduziu ela, tanto para si quanto para Steve – Minha mente deve ter resolvido fazer hora extra para processar tudo e não pediu minha autorização.
- Acho que sofremos do mesmo problema, então – confessou Steve com um sorriso triste, mastigando sem vontade.
- Desculpe fazê-lo tocar nesse assunto de novo – murmurou , abaixando a cabeça – Mas, sabe, esse tempo não é tão ruim assim.
- Não? – perguntou ele. A situação deveria realmente estar péssima para que ela estivesse tentando animá-lo.
- É claro que entre o seu tempo e o meu há uma enorme diferença de costumes, a violência é gigantesca, tanto nas ruas como dentro das casas, doenças até o momento incuráveis, pessoas tentando se aproveitar de outras, ganância... – enquanto listava, o olhar divertido do homem a fez perceber que se desviara de seu objetivo – Mas ainda existem boas coisas.
- Se são tantas por que você não comentou nenhuma?
Nesse momento já se xingava internamente por ter ido até aquele quarto e mais ainda por estar se sentindo exposta com perguntas tão simples. E se aquilo fosse um interrogatório real? Ela estava praticamente se entregando.
Rogers seria muito útil na S.H.I.E.L.D.
- Talvez eu não esteja acostumada a olhar o mundo por esse lado.
Steve afastou a bandeja para o lado e apoiou suas mãos no colchão, olhando diretamente para a garota. Agora ele achava que não era ela a mentirosa, e sim quem falara para ele que ela mentia. Pelo que falaram de para ele, a garota nunca teria aparecido em seu quarto, muito menos estaria se expondo daquela maneira. Fury tinha que rever seus conceitos de melhores agentes.
O loiro podia ver nos olhos castanhos de o desconforto pela recente exposição, mas sua curiosidade estava ocupando o lugar do bom senso, explorando mais e mais a jovem que fora tão gentil em lhe trazer comida.
- Se você não está acostumada, por que está tentando ver agora?
“Agente Stark”, disse a voz de Sam pelo comunicador. “Sabe onde está Rogers?”
estranhou.
- Você está usando seu comunicador, Steve? – perguntou ela ao homem, ignorando Sam que gritava em seu ouvido. O loiro apenas sorriu concordando, e só aí apertou o botão para responder a amiga – Estou com ele, mala. Por que não o chamou sem utilizar intermediários?
“Ops, era o que eu imaginava. Cortei o clima aí, né?”, riu a loira. “Eu o chamei, só que ele não respondeu, e como pareceu que você foi atrás dele, imaginei que fosse por isso que ele não estava respondendo. Mas não se preocupe, vocês podem continuar na nav...”
retirou o aparelho do ouvido e o deixou bem longe de seu rosto, lançando um olhar sugestivo para Steve.
- Agente Watson me chamou enquanto você estava falando, achei que seria um pouco rude responder – explicou Steve, depois apontando para o comunicador da garota – Você não devia estar ouvindo o que ela está falando?
- Com você ela é a agente Watson, comigo ela é Sam - disse , colocando o aparelho no bolso de sua jaqueta – Isso quer dizer que 99% das coisas que ela disser para mim não tem a menor utilidade. Pronto?
- Hora de irmos? – perguntou Steve se levantando.
concordou, vendo Steve pegar sua mochila e a seguir pelos corredores até o convés.
Com certa velocidade, e Steve passaram pelos vários corredores que levavam ao convés do aero-porta-aviões, onde a movimentação era maior do que a garota estava acostumada a ver. Os Vingadores e Cia não eram os únicos que deixavam a base naquela tarde: outras dezenas de agentes estavam sendo enviados para diversas localidades para amenizar os problemas da situação, que mesmo vencida, ainda causava alvoroço na população. Parte de NY estava destruída e muitos – principalmente o governo – queriam culpar o grupo de pessoas que salvaram o mundo. A confusão espirrava em todos.
De todos os grupos de pessoas que corriam de um lado para o outro, um chamava mais atenção, pois: eram os únicos que estavam parados; e apenas uma garota estava uniformizada. Quando e Steve estavam próximos do grupo, Sam, a única de uniforme, lançou em direção ao rosto da morena a pesada mochila preta que carregava. Por reflexo, Steve esticou eu braço, prevendo que não conseguiria parar aquele peso e acabaria caindo.
Quem não gostou muito foi Sam, afinal, ela tinha se esforçado para acertar seu alvo e não se preocupou em esconder sua irritação com o loiro.
- Foi um reflexo – se desculpou Steve, entregando a mochila a – Você não me avisou.
- Não peça desculpas – ralhou com o loiro, dirigindo-se à amiga em seguida – Você podia ter me matado com esse chumbo!
- Eu ia te fazer um favor! – desdenhou Sam – Sem cabeça você não levaria bronca por tirar a porcaria do comunicador no bolso.
correu os olhos pelas pessoas do grupo e sentiu falta de duas que lhe ajudariam, ou não, em sua defesa, o que a desconcentrou.
- Onde estão Tony e Pepper?
- Voltaram primeiro – disse Clint, parando na frente da garota – Alguma coisa para tentar arrumar na Torre. Mas você saberia disso se estivesse com o maldito comunicador.
- Ela tenta me matar e você briga comigo – reclamou a morena cruzando os braços – Isso é abuso de poder. E eu só tirei esse troço do ouvido porque alguém estava pensando que o comunicador é o telefone de casa e estava fofocando na linha.
- Será possível que vou ter que dar outra advertência para as duas? – suspirou Clint, colocando as mãos na cintura – Watson, conversamos quando eu voltar. Stark, você tem dois segundos para entrar naquela nave. E o restante está gentilmente convidado a embarcar.
se afastou de Steve para se jogar em cima de Sam e, embora no primeiro momento ele tivesse pensado que a garota estava atacando a loira, depois ele percebeu que ela estava apenas se despedindo com um abraço mais forte que o necessário.
- Você vai voltar para Oxford ou vai continuar aqui? – perguntou quase em um sussurro, temendo que um certo herói a ouvisse.
- Vou ficar – disse a loira – De acordo com Fury, “sua constante convivência com a agente Stark pode fazê-la esquecer de que existem regras a serem seguidas nessa agência”, ou algo assim.
- Quando eu voltar, eu faço você desandar de novo – riu , dando de ombros.
- E quanto tempo você acha que vai ficar “fora”?
- Tempo o suficiente para confirmar que ele não corre nenhum “risco” e que está aceitavelmente adaptado a nossa realidade.
- E quanto tempo acha que isso vai demorar?
- Pouco. Rogers está sendo subestimado. Esqueceram que o cara é um soldado. Ele só não vai se adaptar se não quiser.
se sentiu extremamente idiota por só ter entendido tudo junto com Sam.
- E se for esse o problema que Fury está vendo? – sussurrou a loira – E se ele não quiser aceitar isso tudo?
Não teria o que ela pudesse fazer caso isso fosse verdade. Ia além de seu dever.
- Então estarei desperdiçando o meu tempo – refletiu a morena – Fury deixou bem claro que não posso me aproximar e sequer deixar que ele me reconheça.
Sam riu cruzando os braços.
- Alguém vai voltar a ser loira, não vai?
- Cala a boca.
Clint gritou alguma coisa da nave, ameaçando com algo caso ela não embarcasse naquele exato momento. A morena olhou para a amiga preocupada, sem conseguir desviar seus pensamentos das novas possibilidades que lhe foram mostradas. Como se já não bastasse a sobrecarga que estava passando.
- Não vá a alguma festa sem mim – disseram as duas ao mesmo tempo, rindo e seguindo suas direções opostas.
Na nave todos estavam sentados e dois agentes que a garota não lembrava o nome eram responsáveis por pilotá-la. As esperanças de pilotar um pouco foram por água a baixo.
Tirando os pilotos, ninguém conversava. Cada um tinha o olhar fixo em um lugar distinto do local, evitando ao máximo cruzarem olhares. Parecia que aquele grupo até consideravelmente alegre do refeitório não existia. O peso da despedida pesava no ombro de todos.
Com um gesto, Clint pediu que se sentasse entre ele e Natasha, e a garota nem precisava perguntar o porquê: ainda faltava suas malditas instruções para começar sua missão oficialmente.
- Nessa mochila tem tudo o que você precisa – sussurrou Clint, certificando-se que ninguém aparentava estar tentando ouvir a conversa – Você não vai precisar de muita coisa, apenas trocas consideráveis de roupas, de veículos, se for utilizar, e discrição.
- Deixe-me adivinhar: cartão de crédito sem limite?
Natasha esboçou um quase imperceptível sorriso, inclinando a cabeça para o lado da morena.
- Sabe que se você comprar algo desnecessário com o dinheiro da S.H.I.E.L.D. de novo Fury vai fazer você construir à mão todas as armas do arsenal.
- Foi só um teste! – reclamou rindo – Eu não sabia que realmente dava para comprar aquela ilha. E eu devolvi tanto o dinheiro como a ilha.
- Não sei como você conseguiu isso, mas você tem três horas contadas para deixar NY a partir de... – disse o homem, tentando voltar ao assunto sério e checando seu relógio de pulso – Dez minutos atrás.
- Dois agentes estão preparados para segui-lo enquanto você não chega – continuou a ruiva – Assim que você estiver perto o suficiente, eles voltarão para uma base temporária mais próxima e você continuará sozinha, como planejado.
- Tempo estipulado de duração de missão?
- Não determinado – disse Clint – Isso vai depender da adaptação do seu protegido e de seus relatórios.
- Escritos ou verbais?
- Como você preferir – disse a mulher, revirando os olhos. Adorava quando parava de fazer gracinhas e assumia seu lado profissional, mas tinha que admitir que aquele tom sério e robótico da morena a dava nos nervos.
- Frequência de relatórios?
- Por pelo menos uma semana eles terão que ser diários, no horário que você preferir ou no horário que seus superiores ordenarem – explicou Clint – Se a movimentação for pouca depois desse tempo, os relatórios poderão ser semanais. Se um mês depois a missão ainda estiver aberta, os relatórios passam a ser mensais.
- Se você disser que depois serão bimestrais, trimestrais, semestrais e anuais, juro que vou te jogar dessa nave para ver se você sabe voar, Gavião – rosnou , escondendo o rosto com as mãos. Clint não escondeu seu largo sorriso.
- A evolução seria essa, mas não acho que você vai passar mais de um ano nisso.
- Espero - resmungou , deixando os dois e andando pela nave. Seu olhar passara longe de todos, principalmente de Steve, e passou o resto da longa viagem (até o aeroporto eram dez minutos, no máximo) fitando o céu sem nuvens.
XX
No aeroporto, dois sedãs esperavam o grupo, e de lá eles foram para o local combinado, onde Tony já devia estar os esperando. Pela primeira vez, viu Loki desde a madrugada daquele dia, e não estranhou o olhar frio do deus estar inalterado, afinal, ele ainda estava algemado e amordaçado. Não era uma situação muito agradável. Thor tinha a mesma expressão que seu irmão, mas a dele era mais dolorosa, doía nele estar tendo que levar o irmão para casa daquela maneira, como um prisioneiro.
Thor, Loki, Selvig e Bruce foram com primeiro carro, na companhia de outros dois agentes que os esperaram no aeroporto. Clint, Natasha e foram com outro carro.
Demorou alguns minutos até que um conversa se iniciasse, e não foi com a melhor frase.
- Ainda estou com fome - reclamou , colocando seus pés em cima do banco traseiro do carro. Não fora uma ideia muito boa ter dado seu almoço para Steve e não ter pegado outro para ela.
- Filhote, tire os pés do banco antes que a tia Dona Aranha arranque-os a mordidas – aconselhou Clint, fazendo com que sua parceira revirasse os olhos.
- Vocês se merecem, sabiam? – resmungou a ruiva, sorrindo maldosa – Feliz com a sua missão, ?
No mesmo instante o sorriso divertido da garota sumiu.
- Dois anos inteiros sendo treinada por essa galinha sem penas, mestrado e doutorado em Oxford e Fury me designa para ser babá de um cara que conheceu meu avô nos dias de glória! – exclamou a morena afundando em seu lugar – Estou muito feliz!
- Pelo menos ele é gostoso – comentou Natasha, assustando as outras duas pessoas – Que foi?
- Tem um homem no carro!
- Vou vigiá-lo de longe, Tasha – lembrou – Nada de aproximações.
- Ainda tem um homem nesse carro! – gritou Clint indignado.
- Pelo menos você irá vigiar uma paisagem agradável – continuou a ruiva – Já eu tenho que vigiar esse Angry Bird que não voa.
- Além de ter que ouvir essa conversa, eu ainda vou ser insultado? – questionou Clint nervoso, ao som da alta risada de .
- Roupa suja se lava em casa, queridos. Não se discute na frente da filhote.
- Posso contar essa conversa para o seu pai, sabia? – ameaçou o loiro – Ele vai ficar muito feliz com isso.
- Não ouse! – grunhiu a morena, apanhando-se nos bancos da frente – Digamos que eu prevejo um ligeiro surto de Tony se ele souber dessa minha missão. Eu não contei que vou continuar nos EUA.
- O que aconteceu com a filha perfeita de hoje cedo?
ficou em silêncio, fitando a paisagem pela janela. Não tinha outra opção. Era isso ou ser atingida pelos repulsores de seu pai.
- Loki continua em silêncio – comentou Natasha, depois de ouvir o agente que dirigia o outro carro – Isso é estranho.
- Isso é ótimo! – corrigiu a morena, olhando-a feio – Não precisamos dele fazendo mais bagunça com os nossos pensamentos. A palavra é a arma mais poderosa do mundo e esse cara já abusou de seu uso.
Natasha e Clint trocaram olhares assustados, dizendo um simples “ok” em uníssono. Nenhum dos dois tinha coragem de perguntar se tinha mais alguma razão para ela ter adquirido aquele ódio pelo deus.
- Chegamos – avisou Clint, puxando o freio de mão – , pega o dispositivo?
Todos chegaram ao mesmo tempo – menos Tony que já estava lá. Alguns olhares curiosos observavam o grupo nada comum se ajeitarem. deixou que Selvig preparasse o dispositivo e se aproximou do restante do grupo a tempo de ouvir Clint alfinetar seu orgulho.
- Ainda está confiante que esse troço vai funcionar? – perguntou Clint debochando para Thor, mas alto o suficiente para que a garota ouvisse e revirasse os olhos.
- No próximo ataque extraterrestre você vai construir as máquinas, certo? – recrutou a morena, depois se direcionando a Thor. Do grupo, o deus era o único que não mudara o comportamento em relação a ela, continuava a ser educado e estava preocupado com o que aconteceria com a jovem. Tudo isso estava tão claro em seus movimentos e em seu olhar que assustava quem via, até mesmo , que por sua vez o abraçou – Boa viagem.
- Tome cuidado – sussurrou Thor, tentando assoprar os fios de cabelo de que eram influenciados pelo vento e atingindo seu rosto – Vou pedir para que Heimdall te vigie para mim. Para saber se o que você me disse era verdade.
sorriu com aquele gesto. Se um extraterrestre que a conhecia a menos de dois dias podia se preocupar tanto com ela, por que ela não podia atender o pedido de Pepper e ser um pouco mais presente?
- Só me prometa que nenhum raio vai cair na minha cabeça – pediu ela, não aguentando ficar mais nas pontas dos pés e se sentindo extremamente baixa e frágil perto do deus.
Thor apenas riu e deixou o pedido no ar.
- Eu sei que ser irresistível é uma coisa que está no sangue dos Stark – sussurrou Tony, quando o amontoado de pessoas de afastou de sua filha – Mas será que você poderia se controlar? Estou vendo muita testosterona ao seu redor.
- Começando por você - disse , passando seu braço direito ao redor dos ombros do pai – Não me lembro de tê-lo visto ciumento comigo.
- Não são ciúmes, é proteger o que é meu. Minha filha, minhas regras de aproximação.
O riso alto dos Stark chamou a atenção do “grupo mais normal do mundo” e até de pessoas desconhecidas. Alguns deles, como Clint, sorriram com a cena. Embora nunca tivesse conversado com Pepper, o arqueiro sabia que aquele era o tipo de cena que ela se esforçava para que acontecesse.
- Não está mais com aquela ideia de me prender na torre, certo? – perguntou ela.
- Se eu ver mais alguém com calça colada, eu vou – ameaçou o homem. Tony serviu de apoio para , que teve dificuldades para respirar enquanto ria.
Loki foi retirado do segundo carro e o silêncio passou a fazer companhia ao grupo. Com passos lentos, todos formaram um círculo envolta dos deuses assim Selvig entregou o dispositivo já com o Tesseract. Antes de segurar a outra alça do dispositivo, Loki voltou a fitar com aqueles olhos frios e que agora ela considerava serem tão expressivos. Parecia que ele lutava contra a mordaça que envolvia seu rosto, tentando forçar as palavras a atravessar o objeto.
“Aprenda mais para que da próxima seja mais interessante”, aquela voz chegara aos ouvidos de de uma maneira muito familiar, como uma corrente elétrica que se apossou de seu corpo. A morena não teve tempo de tentar responder da mesma maneira – sequer sabia o que responder –, pois Thor girara a alça como ela ensinara e uma forte luz azul em direção ao céu cegou a todos, e quando sumiu, Thor e Loki já tinham partido.
- Pela sua expressão, , você não estava botando fé na sua geringonça – debochou Clint, depois que Tony saiu dizendo que ia falar com Bruce – Certo, parece que você viu um fantasma. O que foi?
- Nada – mentiu ela, passando a mão no rosto – Não aconteceu nada.
- Tem certeza? – insistiu o loiro, recebendo um olhar nada feliz. Por isso ele não costumava ser gentil com colegas de trabalho, eles não sabiam retribuir – Vem pegar sua moto.
Steve se despediu de Bruce e se direcionou para o carro onde estava sua moto. Queria sair dali o mais rápido, redescobrir o mundo.
- Moto do Rogers – ofegou Clint, depois de conseguir descer a moto mais pesada – Moto e capacete da Stark!
- Eu sei pilotar, Barton! – gritou ofendida, correndo até seu novo veículo – Piloto melhor que você.
- Você pilota como uma louca – argumentou o arqueiro, recusando o capacete que a loira tentara devolver.
- Mas eu piloto! – resmungou ela, subindo na moto – Pai, vai para a Torre?
Tony fez um sinal positivo, pulando para seu banco de motorista em seu conversível, onde Bruce já o esperava.
colocou o capacete emburrada. A verdade é que não era a melhor piloto do país e, com seu considerável talento de cair, era melhor não arriscar. Precisava ser discreta e sair atrás de Rogers com um troço enrolado na cabeça não ajudaria muito.
Com um único aceno, se despediu de Selvig, Natasha e Clint, se virando em seguida para o último vingador, que estava parado próximo a ela, também já em cima de sua moto.
Steve era um bom piloto e ninguém tentara lhe empurrar um capacete e isso fez com que a garota se emburrasse mais um pouco.
- Srta. Stark – disse Steve em um tom formal, estendendo a mão para que a loira apertasse.
- Sr. Rogers – suspirou ela, aceitando o cumprimento e dando a partida sem se preocupar em não chamar atenção.
Primeiro momento: parar na Torre Stark para se despedir de Pepper e Tony. Depois começar sua mais nova missão: ser babá de um soldado da Segunda Guerra Mundial.
Em menos de cinco minutos, já estacionava sua moto no estacionamento da Torre Stark, ignorando a bagunça que estava aquilo tudo e deixando apenas um pensamento em mente: “eu tenho que sair daqui o mais rápido possível”. Não importava se ela ainda tinha um pouco menos que duas horas para estar oficialmente vigiando Rogers. O máximo de tempo que ela conseguisse ficar sozinha e sem qualquer tipo de obrigação seria muito bem-vinda.
Os acontecimentos dos últimos dias estavam pesando em sua mente e aos poucos seu próprio corpo estava começando a refletir sua bagunça mental, embora ninguém tivesse reparado nisso. Ainda.
A limpeza/reforma da Torre Stark já havia sido iniciada e algumas áreas foram interditadas pelo risco que apresentavam, como o quarto de . Foi sorte que não havia algo que ela realmente quisesse guardar de lá, ou seu ódio por Loki apenas aumentaria, coisa que estava acontecendo com frequência nas últimas 24 horas. Por coincidência ou não, tudo que ela poderia considerar um problema tinha alguma relação com o asgardiano, por isso não se sentia nem um pouco culpada em colocar toda a culpa nele, mesmo se ele não tivesse relação nenhuma com a sua unha que quebrara.
Se você não quer levar a culpa por algo que não fez, não irrite um Stark.
Felizmente, o elevador da Torre ainda estava utilizável. “Pelo menos algo Loki não destruiu”, pensou ela irritada, apertando o botão de subir sem muita delicadeza.
- Srta. Stark, a Srta. Potts se encontra na sala – avisou J.A.R.V.I.S. quando ela entrara no elevador – E seu pedido já foi realizado.
sorriu. Na manhã daquele dia, a garota pedira que J.A.R.V.I.S. se instalasse em um celular – sem o consentimento de Tony –, afinal, era a ela que pertencia o maior controle sobre o sistema. Nada menos justo do ela ter acesso a ele quando e onde quisesse. Sem contar que seria bem menos trabalhoso toda vigiar Steve com J.A.R.V.I.S. informando com mais precisão onde ele se encontrava, se havia alguma ameaça detectada próxima... Seria como férias com obrigações.
Só que sem diversão.
- Pepps? – ela arriscou chamá-la ao meio de toda aquelas coisas de construção/reforma, sem obter resposta – J., tem certeza de que ela está aqui?
- Você e seu pai são incapazes de procurar qualquer coisa sem ajuda! – riu a ruiva, aparecendo magicamente na sua frente, a puxando pela mão – Vem, vou te mostrar o projeto de reforma.
- E isso é calúnia! Eu sempre acho minhas coisas quando eu quero – resmungou a garota, sentando no restos do sofá empoeirado – Isso aqui está pior do que ontem!
- Para arrumar temos que bagunçar primeiro – riu Pepper – Isso se encaixa no caso da família Stark...
- Ainda com isso na cabeça? – resmungou irritada, brincando com uma pedra que encontrara – Eu já não disse que vou me esforçar? Tony e eu estávamos parecendo pessoas civilizadas hoje, principalmente de tarde.
- Espera que eu acredite nisso? – riu a ruiva – Não te conheci ontem, querida. Gosto de provas.
- Aqui – a morena jogou seu celular para a mulher – Liga para a agente Romanoff. Ela mesma estava perguntando o que tinha acontecido para um clima tão... amigável.
Pepper segurou o aparelho, lançando um olhar desconfiado à quase filha, que apenas riu.
- Adoro ver como você acredita no que eu digo! Fico emocionada! – resmungou a morena, levantando em um pulo – Mas eu tenho que ir. Dever chama.
Pepper desviou os olhos da planta 3D para fitar a morena, assustada. Pensava que pelo menos o resto da noite a jovem fosse passar com eles, até já havia planejado algo para que os três fizessem juntos.
- Não faça essa cara de cachorrinho que caiu do caminhão de mudança porque não vai mudar o fato de eu ter que ir trabalhar... – suspirou – Fury não gosta de dar folga. Não sei que milagre divino aconteceu para ter permitido que eu passasse aqui antes de voltar! De verdade, se Fury não tivesse sido grosso comigo hoje cedo, eu poderia afirmar que Loki tinha colocado outro cara no lugar, ou estava se passando por ele.
- Você trabalhando para a S.H.I.E.L.D... – repetiu Pepper, soando preocupada e distante – Isso ainda soa estranho.
- Depois de três anos você se acostuma – desconversou a garota, antes que se iniciasse a conversa problemática de “você está trabalhando para assassinos, , garotas boazinhas não trabalham para assassinos”, dando um rápido abraço na mulher e pegando seu celular de volta – Fala para o Tony que eu mandei um beijo bem babado para ele.
correu para o elevador, ignorando as tentativas de Pepper de prendê-la um pouco mais ali, mas tudo que a garota queria era deixar NY o mais rápido possível. Ela se sentia exposta demais naquelas últimas horas e, isolada de todos enquanto seguia Rogers, não teria mais ninguém a olhando torto, ninguém tentando deixá-la mais confortável ou tentando entender o que se passava em sua cabeça.
Seria como nos velhos tempos, e ela mal podia esperar por isso.
Tony estava na recepção da Torre, apenas observando a movimentação. Graças a J.A.R.V.I.S., ele já sabia que em segundos sairia do elevador e correria para fora do prédio, o que não demorou muito a acontecer. Ele não iria interferir no caminho que sua filha escolhesse fazer. Demorara muito, mas ele entendera que não conseguia mais obrigá-la fazer o que não era de sua vontade, ou muito menos ser contra algo que ela queria. Se decidisse partir sem se despedir dele, Tony não faria nada a respeito.
vira, enquanto corria para a saída, seu pai apoiado em uma parede distante e pensou seriamente em passar reto, dando a desculpa depois de que não o vira, mas a promessa que fizera a Pepper mais cedo e voltou alguns muitos passos, parando na frente do homem confuso. Afinal, não havia nada melhor do que surpreender Tony.
- Podia apostar uma armadura que você só ia parar de correr quando chegasse na Inglaterra – debochou Tony, dando curtos passos até a filha.
- Gosto de mostrar que você está errado –lembrou , sorrindo de leve – Mas eu estou atrasada.
- Me diga algo que eu não saiba.
Ambos Stark evitavam olhar um para o outro, completamente sem jeito com a situação. Da última vez que ouve uma despedida, eles não se viram realmente, Pepper mais uma vez interviu entre eles. Agora, a ruiva estava vários andares acima deles e nem se eles implorassem ela desceria para tornar a situação menos constrangedora. Na verdade, não era muito improvável que Pepper estivesse os vigiando com as câmeras de segurança, apenas para saber por meios confiáveis – também não conhecidos como as palavras de ambos Stark – se eles haviam ou não mudado em relação aos dois.
Aquele mero raciocínio foi o suficiente para que ambos sorrissem.
- Te vejo por aí? – arriscou Tony, cruzando os braços.
- Não aparecendo de armadura no campus, por mim tudo bem – riu , voltando a correr e só parando quando encontrou sua moto.
XX
Por mais simples que fossem as instruções daquela missão, ela em si não era tão simples. Bom, na teoria, ela era. Garantir a segurança de Rogers sem que ele soubesse.
Seria muito mais simples se Rogers fosse apenas uma pessoa comum, e não o Capitão América – que com toda certeza sentiria que estava sendo seguido, principalmente por ser alguém que ele já estava familiarizado.
Toda a precaução que teria que tomar apenas para que Steve não a descobrisse já era imensa. Agora se adicionar os tipos de pessoas que poderiam ser consideradas ameaças em potencial... É claro, os tipos de pessoas poderiam se resumir em todas.
Até mesmo os mais ingênuos civis poderiam ser uma ameaça, já que se reconhecessem Steve, toda a privacidade dele seria perdida.
Isso sem contar que Steve não estava por completo adaptado à realidade atual.
Fury havia entregado uma bomba armada para ela e a obrigara a amarrar na cabeça.
Então, para não endoidar de vez, começou a lidar com o que poderia fazer por hora. Assim que ela tivesse completa certeza de que o homem estivesse em perfeita segurança era parar em um salão e dar um jeito de mudar sua aparência. Sam estava certa sobre talvez ela voltar a ficar loira: um corte de cabelo diferente – até mesmo a cor – já era algo que impediria Rogers de reconhecê-la de primeira, caso ela acabasse ficando na vista dele.
Steve não fora até muito longe em seu primeiro dia livre, acabara parando em uma cidade consideravelmente perto de NY para passar a noite e, por coincidência, também parou naquela cidade. O homem estava cansado pelos acontecimentos dos dias anteriores, então nem se preocupou em vasculhar a cidade. Ele estava bem confortável na cama do hotel se acostumando com notebook que ganhara. Conseguir descobrir o maior número de informações naquela máquina já era mais que o suficiente por aquela noite.
Assim que reservara seu quarto em um hotel próximo, foi à busca de um salão de beleza, vagando por diversas ruas até achar uma que ainda estivesse aberto àquela hora – e atendendo.
- Desculpe - disse a recepcionista do último estabelecimento que ela encontrava aberto - Já estamos terminando.
- O que eu quero é um pouco urgente... – insistiu a garota, fazendo a melhor cara de dó que conseguia.
- Não tem como você voltar amanhã? – continuou a mulher, se rendendo aos poucos – Posso conseguir o primeiro horário para você.
- Tem certeza de que não tem como eu ser atendida hoje? - choramingou - Posso pagar o dobro, se for necessário.
Nesse momento, uma das cabelereiras do local se despedia de um cliente e ficou curiosa sobre a moça que tanto queria ser atendida naquele dia.
- Não quer esperar por uma mudança no visual? - brincou a mulher, cumprimentando - Sou Katherine.
- Sou Maredith – mentiu , aceitando o aperto de mão da mulher – Eu tenho muitas coisas para resolver amanhã e acho muito difícil eu conseguir voltar aqui.
- Posso te atender agora, se quiser – anunciou Katherine – Ninguém deve ficar esperando para fazer mudanças.
abriu um largo sorriso para a mulher: ela acabara de ganhar muitos pontos com ela.
Com uma conversa animada, Katherine guiou até o interior do salão, a apontando uma cadeira confortável em frente a um grande espelho. dissera que queria mudar a cor e o comprimento de seu cabelo, passando do castanho escuro para o loiro claro e dos fios retos e no meio das costas para fios acima do ombro e repicados.
- Sabe, só homem faz uma mulher fazer uma mudança dessas...
- De um certo modo, foi um - riu , sabendo que o que a mulher imaginava não chegava nem perto da realidade e passando a mão pelos fios modificados. Se não fossem os olhos escuros, ela pareceria uma albina agora que voltara a ter os fios claros.
- Homem de sorte, hein?
Bom, nem tanto.
Ainda com um sorriso educado deixou o salão e foi procurar por Rogers, que estava em uma lanchonete jantando sozinho, com o olhar perdido na rua. estava tentada a entrar no estabelecimento, mas mesmo sentando-se à mesa mais longe do loiro ainda havia o risco de acabar atraindo a sua atenção e ele a reconhecer, e não dava para simplesmente ignorar esse fato.
Passando em um mercado qualquer quando Steve saiu da lanchonete, comprou vários tipos de comida não saudável para passar os próximos dias. Já no quarto de um hotel mais distante, começou seu trabalho teórico: sem ajuda de sua mente – em algumas partes – ela checou toda a área em um raio de 3 km a procura de possíveis ameaças.
Ou Steve era muito sortudo ou ele buscou um dos lugares mais calmos do país para passar sua primeira noite sem supervisão. Afinal das contas, essa missão não seria tão difícil. Pela manhã bolaria os planos para seguir Steve, agora ela iria para a pior parte do dia: tentar dormir.
Tentar e não conseguir.
Ela devia ter espancado Loki quando teve a oportunidade.
Por mais que pudesse controlar quase todas as ações de seu corpo, ainda estava tendo problemas com o desligar. E enquanto tentava pegar no sono seu celular "comum" começou a tocar, só podia ser a Pepper.
Por mais que amasse a ruiva, no momento, ela queria que Pepper tropeçasse no salto e esquecesse-se da existência de sua quase filha.
- Oi, Pepps - suspirou a garota, iniciando uma conversa que durara mais de uma hora.
XX
Depois de algumas horas, decidiu que já tentara dormir por tempo demais e resolveu comer alguma coisa antes de fazer seu relatório diário. Não estava muito animada com essa parte do dia, mas teria que fazer caso quisesse deixar essa missão mais fácil.
- Agente Stark - apresentou-se ela à voz automática que a atendeu sua ligação - Relatório sobre vigilância de Steven Rogers. Localização disponível pelo GPS. Segurança sem falhas. Anonimato da missão completo.
- Algo a acrescentar, agente A.S? - perguntou a voz e, quando ela negou, simplesmente encerrou a ligação. Sem um "tchau", um "bom trabalho" ou algo do gênero. Ela teria que conversar com Fury sobre incentivos.
Assim se passou um mês: Steve redescobrindo o mundo, e o seguindo.
Nos tempos vagos, ela voltou a trabalhar com J.A.R.V.I.S., o usando para monitorar Rogers sem o próprio e nem o seu pai saberem. Ter alterado a hierarquia do sistema estava lhe sendo muito útil, pois assim também podia vigiar a empresa e Tony com maior facilidade.
O único problema é que ela ainda não conseguira dormir de verdade.
chegara a apelar para remédios que não surtiam efeitos, que em alguns momentos a deixava mais sonolenta, mas ainda assim não conseguia dormir. Ela passava horas encarando o mesmo ponto físico da parede, na esperança que ao menos o tédio fosse o suficiente para fazê-la adormecer, mas não era.
Parecia que seu corpo estava disposto a ver até onde ela conseguia ir sem repor energias, e a cada hora ela se odiava por cada vez que disse “eu não preciso dormir” enquanto trabalhava em alguma coisa importante. Logo, a falta de uma noite de sono conseguiria deixá-la distraída o suficiente para impedi-la de cumprir suas tarefas como devia.
E isso a preocupava.
Não que ela duvidasse da capacidade de Steve de se defender, mas Fury nunca mais a confiaria uma missão caso ela falhasse nessa por falta de horas de sono. Seu destino era voltar para laboratórios de pesquisa e projetar armas caso Fury desconfiasse que ela não tinha mais capacidade para trabalhar em campo.
Por isso ela estava quase considerando a possibilidade de se auto-nocautear para ver se ao menos conseguia ficar alguns instantes inconsciente.
A cada minuto ficava mais difícil para a garota lembrar qual era o objetivo da missão.
Não importava se outro ataque alienígena acontecesse ou se meio mundo fosse atacar Steve aquela madrugada: teria que tomar um sedativo ou qualquer outra coisa do gênero, mas dormiria aquela noite inteira e sem interrupções, como a natureza mandava. Se ter ingerido quase uma farmácia tinha piorado a situação ou se era ela mesmo que estava drenando toda sua energia para se concentrar em sua missão deixara de importar no dia anterior, quando ela basicamente passou a noite inteira esperando que seu notebook apitasse, já que com alguma anormalidade ela teria um pouco de ação e conseguiria se distrair daquele tédio infernal que muitos chamavam de “hora de dormir”.
Então, por questões de Segurança Nacional, Steve teria que ficar sozinho por algumas horas.
Com essa decisão tomada, fechou seu notebook depois de terminar a varredura na região e poder tirar um grande peso da consciência: naquele lugar Steve só encontraria problemas se procurasse por eles, e com muita dedicação. Deixando o dinheiro da conta na mesa, deixou a lanchonete sem chamar atenção, se deparando com ruas pouco movimentadas na noite de Cleveland, começando sua busca por um hotel – tarefa que poderia ter sido evitada se ela tivesse se dado ao trabalho de ter ao menos visto em que hotel Rogers estava.
Não importava se as chances deles se encontrarem eram maiores se os dois estivessem no mesmo prédio. Ela passaria o tempo inteiro dentro do quarto, certo? Não existia nenhum risco.
Só que o estado de era tão deplorável que não sentira que alguém a seguia.
Ela só percebeu algo estranho quando uma mão desconhecida puxou seu braço com agressividade.
- Passe a mochila, querida – sussurrou uma voz áspera perto do ouvido da garota, que sentia cada pelo de seu corpo arrepiar. Com movimentos que deveriam ser rápidos, tentou se soltar do homem, mas, além dele ser muito mais forte, ela não tinha forças para isso e seus movimentos eram lentos e desajeitados. Nunca, em sua vida inteira, ela havia passado por isso, e parecia que alguém fizera questão de avisar o assaltante mais próximo de que aquela era a oportunidade: Stark seria roubada durante horário de expediente.
- Ei, cidadão! - gritou uma voz conhecida, assustando o assaltante, que saiu correndo ao ver o dono da voz.
Uma mochilinha barata como aquela não valia a surra que ele levaria daquele armário loiro que se aproximava rápido e ameaçador.
Assim que percebeu que a moça já não corria perigo, o homem desacelerou um pouco, mas, assim que ela tentou arrumar a alça da mochila no ombro e pareceu se desequilibrar, Steve se adiantou para impedir que ela caísse, dando apoio até que ela estivesse perto do chão o suficiente para se sentar em segurança.
- Está tudo bem com você, senhorita? – perguntou ele, com uma mão no ombro desprotegido da garota, enquanto ela passava uma mão pelos cabelos claros, respirando devagar. O estranho foi quando ele a viu franzir o cenho, ainda olhando para o chão, e subindo lentamente.
Os olhos de se arregalaram ao mesmo tempo em que os de Steve.
- Stark?
O fato estranho não era encontrar em um lugar qualquer. O estranho era a garota estar sendo atacada por um marginal qualquer.
- Desde quando você é loira? – e a cor diferente de cabelo também não podia ser ignorada.
quis rir, mas o máximo que conseguiu foi fazer com que sua respiração entrasse em um ritmo alterado, fazendo com que ela soasse nervosa. Não que ela não estivesse. Ela devia ser uma pessoa incrivelmente sortuda: de todas as pessoas daquela cidade que poderiam aparecer para ajudá-la, aparecera logo uma das poucas que não podia vê-la.
- Eu... Eu... – gaguejou a loira, se sentindo um pouco tonta, tanto pelos recentes acontecimentos como pela exaustão, o que não ajudou na formulação de boas perguntas – O que você está fazendo aqui?!
Steve a olhou desconfiado: não era o tipo de pessoa que se encontra na rua, muito menos o tipo de pessoa que sofre um assalto e que não reage, o que o deixava imaginar que tinha algo muito mais errado do que a ter encontrado, coisa que estava claro nos mínimos gestos da garota.
- Vem, vamos para um lugar mais calmo – Steve deu-se por vencido, ajudando-a a levantar e colocando a mochila da garota nas costas.
Sem ainda saber o que devia pensar do acontecido, Steve guiou a garota até o hotel em que estava hospedado, que por sorte não era longe dali. Durante o caminho uma pessoa ou outra olhava torto para os dois, talvez imaginando que ambos voltavam de alguma festa. Então, Steve percebeu que julgava incomum ser visto com em algum lugar que não tivesse ligação com a S.H.I.E.L.D, e quase começou a rir ao imaginar a reação de Tony diante daquela cena.
E em seguida veio o momento de reflexão, que o manteve ocupado por todo o percurso: no seu ponto de vista, não era o tipo de pessoa que aparecia em uma cidade sem um motivo. Ele acreditava que tivesse voltado para Oxford, para fazer o que fosse que ela fazia lá antes, então por que ela estava em Cleveland, exatamente no dia que ele chegara à cidade?
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Assim que chegaram ao quarto, Steve fez questão de que a loira dormisse um pouco, não precisava ser um especialista para ver que fazia dias que ela não dormia direito. Se a insônia era pela mesma razão da última vez, o loiro não sabia, talvez perguntasse quando ela acordasse. O que demorou muito mais do que ele esperava.
Sentado em uma poltrona, Steve não sabia se vigiava a garota ou se ficava encarando sua mochila, sentindo-se tentado a vasculhá-la, mas receoso por invadir a privacidade da garota. Só que já havia provado ser mentirosa uma vez, e se aquele fosse um de “seus melhores dias”? Fury podia tê-la enviado para vigiá-lo. Não dava apenas para confiar nela, como se ela fosse uma pessoa normal, por isso Steve se rendeu a sua curiosidade e revirou a mochila da garota.
Um mapa, um caderno com dezenas de contas, algumas peças de roupa, uma carteira e um aparelho eletrônico que lembrava um celular, que Steve já tinha visto nas mãos de Tony. No final das contas, não havia nada de incriminador na mochila. Mais aliviado, Steve deixou a mochila aos seus pés e fechou os olhos. Então não passara de uma coincidência muito estranha?
XX
se revirou naquela cama estranha, se espreguiçando e se encolhendo logo em seguida, se aconchegando mais naquelas cobertas de aroma suave, com um sorriso satisfeito no rosto. Ela não fazia a menor ideia de onde estava e não estava dando à mínima.
Ela havia dormido uma noite inteira, não tinha? O mundo era cor de rosa de novo.
Mas aos poucos a curiosidade e a precaução iam a dominando, e não demorou muito para que ela se rendesse para descobrir sua localização. Sonolenta, ela abriu um dos olhos e analisou o quarto, o fechando logo em seguida pelo excesso de luz que entrava no local pela janela aberta. E aí ela ficou preocupada. não fazia a menor ideia de que acontecera antes de apagar. Parecia ser a tanto tempo, a realidade e seus sonhos conturbados se misturavam em sua mente. Receosa, ela levantou da cama e, com passos lentos e leves, deixou o quarto, encontrando um homem loiro quase adormecido no sofá com uma TV ligada a sua frente. Steve estava com a cabeça inclinada em um ângulo estranho. Não demorou muito para que ele sentisse a presença da garota e abrisse os olhos.
- Você acordou... Afinal - festejou o loiro, sem muito ânimo - Você tomou algum remédio para dormir antes de me encontrar?
- Sim... Por quê? - perguntou confusa, apoiando-se na parede.
- Que dia foi ontem? – perguntou ele, sorrindo estranho, algo que não passou despercebido pelo olhar desconfiado da garota. Que diabos de pergunta era aquela?
- Vinte e nove de junho – respondeu ela em um sussurro.
- Hoje é dia dois de julho, .
A garota arregalou os olhos para o homem, completamente surpresa com o que ele dissera e tentando assimilar a informação. Ela havia passado três dias dormindo? Bom, uma hora todos aqueles remédio teriam que fazer efeito, afinal.
- Quantos dias você ficou sem dormir? - perguntou Steve, fazendo um gesto para que ela se sentasse ao seu lado.
- Cinco semanas... Eu acho.
Dessa vez Steve que arregalou os olhos. Até onde se lembrava, o máximo que uma pessoa normal conseguia ficar sem dormir era algo como seis dias. passara mais de um mês acordada e parecia extremamente normal. E com fome, a julgar pela cara dela.
O loiro se ofereceu para lhe arrumar algo para comer e se virou para a cozinha, e foi ai que começou a "funcionar".
- Não estamos em um hotel - deduziu ela.
- Eu já estava planejando ficar mais um tempo aqui - contou Steve - E quando percebi que você não ia acordar tão cedo, aluguei um apartamento. Assim sai mais barato.
- E como você me trouxe para cá? - perguntou a loira, inocentemente, quando Steve voltou à sala trazendo um generoso sanduíche.
- Te puxei pelo pé escadaria acima - brincou ele rindo, vendo-a parar de mastigar - Logicamente eu te carreguei, Stark. Dormiu demais e seu raciocínio pifou?
resmungou ofendida, terminando de engolir o que estava mastigando e se preparando para responder a pergunta que o loiro começava a formular.
- Você não estava na Europa? – perguntou ele logo, exatamente no espaço de tempo que acreditava que ele tocaria no assunto.
- Eu estava - respondeu ela, parando para outra mordida e continuando de boca cheia - Estou de férias.
- Em Cleveland?
- Algum problema com isso? Não posso ter curiosidade de conhecer Cleveland? Tem bastante cultura aqui também.
- Por que você está na defensiva? – retrucou Steve, cruzando os braços.
- Você está me interrogando, Rogers - riu ela sem vontade - É natural que eu esteja na defensiva.
O olhar de Steve voltou a ficar frio, como se ela estivesse bolando algo cruel na sua presença e ele precisasse descobrir o que era. sabia que ele pensava isso e teria que tirar alguma vantagem disso.
- Desculpe - pediu ele - Estou sendo grosso.
Steve a deixou terminar o sanduíche em silêncio, e aos poucos ele também começou a sentir fome. O problema é que depois de quatro dias, a dispensa já estava vazia e lhe restavam duas opções: sair para repor o estoque e deixar sozinha no apartamento – o que não era inteligente, já que não confiava nela; ou levá-la para comer fora, mas não é seguro andar na rua com uma pessoa como . Não existia uma melhor opção.
, por sua vez, apenas levantou-se quando terminou sua refeição improvisada e lavou o prato que usara, tudo sob o olhar atento do loiro. Aquilo não estava indo nada bem e ela sequer sabia o que tinha que fazer. Fury não havia lhe passado nenhum protocolo de “o que fazer caso Rogers te veja”, então ela estava praticamente às cegas.
Bom, não totalmente, já que ela ainda estava alguns passos à frente do soldado.
- Tudo bem, faça seu interrogatório - suspirou ela, sem saber direito que diabos de estratégia era a que ela estava usando, mas fazendo um tremendo esforço para parecer o mais natural possível, algo próximo à conversa dos dois no aero porta-aviões – Não vou me importar. Mas agradeceria se você demonstrasse um pouco de confiança em mim.
- Você lê mentes? – arriscou ele, mas no fundo aquela era uma pergunta séria.
- Não preciso ler sua mente para saber o que você está pensando.
- Como?
sorriu: adorava ver a expressão descrente de pessoas quando ela tentava explicar o que fazia. Parecia ser impossível acreditar que tudo de especial que ela fazia era tão simples.
- Se coloque no lugar da pessoa - começou ela, sorrindo – Tenha o mínimo de conhecimento sobre ela, imagine pelo que ela já passou, como talvez ela iria reagir com algo. Isso é mais eficaz do que essa habilidade sem graça de ler mentes.
- Como você pode usar isso em mim? – continuou Steve, tão interessado e desconfiado que poderia apertar suas bochechas.
- Eu sei o básico da sua história. Você é um soldado e não vai acreditar em nada do que eu digo por que você não me julga confiável. Sua postura está na defensiva, mas não porque eu sou algum tipo de ameaça em potencial no momento, mas porque você está tentando entender aonde eu quero chegar nessa conversa... Você quer saber se eu estou de algum modo manipulando o rumo do assunto. E sua postura séria não passa de um aviso de que eu devo tomar cuidado e responder suas perguntas com sinceridade, ou senão eu estarei com problemas, teoricamente – sussurrou , ela mesma assustada por ter ido tão longe no quesito “sinceridade”. Só porque havia sido parcialmente descoberta, ela iria chutar o balde? Era necessário colocar Steve em um teste como aquele?
Por um momento não pode mais analisá-lo, havia perdido a imparcialidade. Ela havia exposto demais e queria saber como ele iria reagir, e aquele “querer” se confundia com o que ela via de verdade e não era possível ter uma resposta com 100% de certeza.
- Você é estranha – comentou Steve convencido disso, deixando que ela respirasse mais aliviada. Afinal, não havia o perdido – Não de um jeito estranho. Mas não normal... E estranho.
- Eu ouvi isso a minha vida inteira, não se preocupe – contou , com um olhar diferente que o loiro não tinha certeza de já ter visto antes, um olhar que pareceu amolecê-lo e querer deixar a garota em paz. E essa sensação que o trouxe de volta. “Lembre-se de com quem você está lidando, Rogers”.
Steve teve que se controlar para não voltar a interrogá-la, pois ela saberia muito bem como passar por esse problema, como já havia provado. Ela era uma mentirosa e assassina, era uma espiã muito bem treinada e com certeza estava o manipulando, mesmo sem ele saber exatamente no que. Ele teria que ser mais paciente e descobrir as coisas aos poucos.
- Troque-se - pediu ele - Não tem mais comida aqui e já está perto da hora do almoço.
concordou, pegando sua mochila no canto da sala e se virando para o banheiro. Ela não reparara, mas seu cabelo estava uns três níveis acima do conhecido "ninho de rato", e demorou alguns longos minutos para deixar seus fios arrumados. Depois de quatro dias dormindo – e sem um pingo de higiene –, foi forçada a tomar um banho, deixando Steve esperando por mais alguns minutos. Ela chegou a se questionar se era melhor contatar Fury logo, mas não julgou seguro fazer isso com Rogers tão próximo. Talvez conseguisse se afastar dele durante o almoço e conseguiria suas novas ordens. Quando ela finalmente saíra do banheiro, o loiro mais uma vez quase adormecera no sofá.
- Dormir setenta anos não foi o suficiente? - debochou ela, se arrependendo depois ao ver a expressão nada feliz do soldado com a piada - É mais forte que eu.
- Sangue Stark... Já devia ter me acostumado com isso - resmungou o loiro, levantando e guiando a garota para fora do apartamento.
- Eu devia considerar isso um elogio?
XX
Steve a levou para um restaurante próximo ao prédio, ao ar livre, aproveitando o sol agradável daquela tarde.
, por mais incrível que pudesse ser, estava tranquila. Não estava preocupada com o fato de o loiro ter a descoberto. Pelo contrário, chegava a estar mais confortável com isso. Steve, em alguns, momentos podia ser facilmente manipulável, se ela fosse esperta e, bem, ela era.
Talvez assim sua missão até ficasse mais fácil.
Até aquele momento ela havia se saído muito bem. Steve estava desconfiado? Claro, e era inevitável, mas ela já havia conseguido um pouquinho da confiança do loiro ao ter falado demais, mesmo sem que ele mesmo soubesse.
- O que desejam? – perguntou uma garçonete, depois de alguns longos segundos de fingindo estar interessada no cardápio e de Steve parecendo estar tentando desvendar o céu.
- O prato de hoje, por favor – pediu Steve, e acabou por pedir o mesmo. A garçonete sorriu e deu às costas, indo em direção ao interior do estabelecimento enquanto anotava o pedido dos dois – Então, o que te traz a Cleveland, ?
“Se eu responder “você”, não estarei mentindo”, pensou ela, entretanto desconsiderou a resposta já que ia contra o seu plano.
- Eu sempre estava em Malibu ou em New York – disse ela por fim – Nunca tive a oportunidade de conhecer melhor outros lugares. Se eu saísse um passo da minha rota, eu poderia ser perseguida por paparazzi e, na pior das alternativas, ser sequestrada.
- Vida difícil, não é? – debochou o loiro, mas a piada não foi compartilhada.
- Em menos de um dia você e meu pai estavam quase se batendo. Imagine o que é passar uma vida inteira ao lado dele – resmungou , e logo a garçonete retornou com seus pedidos – E eu não era uma garota mimada. Não o tempo todo.
- Toda tecnologia que você pudesse querer? – arriscou Steve.
- Esse ponto quase cancela toda a chatice do Tony – contou a garota, sorrindo de leve e checando as horas em seu celular, deixando-o em cima da mesa e pegando seus talheres em seguida – E o que você faz aqui, Steve?
- Achei melhor me afastar um pouco dos grandes centros urbanos por um tempo – disse Steve, olhando para qualquer canto, menos para a loira a sua frente. Se era desconforto ou uma jogada para que ela pensasse que ele estava se expondo, não sabia dizer, e tentava a qualquer custo não decidir o que ela queria que fosse verdade – Fui muito exposto na Batalha de NY, julguei melhor esperar as coisas acalmarem.
Entre uma garfada e outra – ainda estava com fome mesmo depois do sanduíche –, a garota não deixou de notar que Steve não estava realmente comendo – se ele tivesse encostado na comida duas vezes já era muito. Talvez fosse mais difícil contornar a situação do que ela pensava, mas só em pensar que teria que entregar a missão para a Agente 13 caso ela desistisse foi o suficiente para que uma determinação a dominasse.
Se Steve queria respostas sinceras, ele as teria.
- Terminou o interrogatório? – perguntou ela quando já se sentia satisfeita e o prato do loiro continuava quase intacto – Eu consigo pensar em uma infinidade de variáveis de perguntas que você poderia me fazer.
Em um movimento brusco, Steve apoiou as mãos na mesa, fazendo um barulho alto que atraiu a atenção das pessoas a volta.
- Pessoas normalmente fogem de interrogatórios. Isso as deixa desconfortáveis – sussurrou ele, em um tom baixo e ameaçador – Mas você não. Você está me incentivando a continuar, relembrando disso o tempo todo, em alguns momentos de forma sutil, outras extremamente explícitas, como agora. Por quê? O que você quer eu saiba que você não pode me contar sem que eu pergunte?
Treze segundos.
Esse foi o tempo que precisou para assimilar o que o loiro havia dito, se decidir como se sentia em relação a isso, e aceitar que aquilo era um caso perdido e que valia mais a pena conviver com o ego inflado da Agente 13 por assumir uma missão que a espiã perfeita não conseguiu suportar.
Havia algo muito errado com ela e não dava mais para diferenciar se era influência de Loki em sua mente ou não. Era improvável demais que o asgardiano tivesse a tornado mais humana, mas era isso que ela sentia. Uma necessidade de ser um ser sociável, na verdade. De ter alguém que a entendesse. Ela havia sentido isso perto de Pepper e de Tony, mas não conseguia colocar isso em prática porque não acreditava que a reação dos dois seria boa. Mas Steve? Ele era ligeiramente parecido com ela, era ainda um pouco deslocado na realidade, e tinha alguns problemas para dormir.
Cada momento sozinha era uma brecha para ela própria se julgar sobre algo que não tinha controle, e a falta de ação havia apenas prejudicado seu estado. Mas nos últimos minutos? Mesmo com a desconfiança óbvia de Steve, ela havia sentido tudo aquilo com menos intensidade, e isso não parecia tão ruim.
Mais uma vez ela estava se envolvendo com a missão em um nível proibido.
Desistir realmente era a opção mais sensata.
Treze segundos.
Foi o tempo que Steve demorou para perceber que talvez havia sido grosso demais até para o que era permitido com , com a confirmação ao assistir a garota se levantar e a seguindo para onde quer que ela estivesse indo, mesmo sabendo que era um decisão idiota.
Steve já tinha tentado confiar na garota, e em nenhum momento ela provou ser digna dessa confiança. Mas então por que ele se sentia tão mal por vê-la partir daquela maneira? Ele sabia muito bem que o potencial de para ser uma “boa pessoa” era muito grande, mas não era sua culpa se ela decidia ignorar esse seu lado. O que ela estava fazendo era tentar parecer confiável para manipulá-lo, não sendo realmente verdadeira.
E foi essa possibilidade que o fez levantar e impedir a garota de se afastar ainda mais.
Por mais idiota que soasse, Steve não queria se recusar a olhar a garota sem piedade. Ele havia visto uma pessoa quebrada e se recusava a acreditar que aquilo era fingimento, porque ele havia se sensibilizado. Ele tinha tido contato com uma garota perdida e assustada nas últimas semanas, Steve havia simpatizado com ela, e não era tão fácil entender que aquela garota não era real.
Não foi difícil alcança-la, mesmo com a boa distância entre eles. Segurando seu braço sem colocar tanta força, Steve a impediu de prosseguir em seu caminho ainda não definido, forçando-a a fita-lo, mesmo sem querer.
- Por que você está afastada da S.H.I.E.L.D? – perguntou ele, causando certa indignação na garota – Você queria que eu te interrogasse, não era? Então eu irei continuar.
- Não acha que eu vou manipulá-lo? – debochou a loira, puxando seu braço com mais força que o necessário, já que Steve não estava realmente mais o segurando. Foi mais para mostrar sua irritação.
- Não sei se eu me importo com isso agora – confessou Steve, e, antes que qualquer um pudesse dizer mais algo, o dono do restaurante apareceu, irado pelos dois terem saído sem pagar a conta.
Envergonhados, ambos inventaram desculpas esfarrapas e Steve insistiu que pagaria a refeição sozinho.
- Eu não fui afastada – disse , alguns passos mais longe do restaurante – Eu me afastei. Não me sinto em condições de trabalhar.
A sinceridade naquela frase assustou em um novo nível, porque era absolutamente verdade. Sua principal ferramenta de trabalho estava comprometida. O único motivo de Fury ter lhe designado àquela missão estava fora de seu controle. Ela devia realmente ter se afastado do trabalho por segurança – não só dela, mas como de Steve também.
- Tem algo relacionado com Loki?
Por alguns segundos acreditou que Steve sabia mais do que devia, e não fez questão – e nem conseguiria – esconder sua surpresa.
- Todos notamos sua mudança de comportamento, . Principalmente depois da captura do asgardiano – explicou o loiro, colocando as mãos nos bolsos de suas calças. Não sabia se era bom confessar que todos a observaram por um período de tempo, mas talvez demonstrasse de que alguma maneira ele se preocupava com ela – Claro que havia também o tópico “meu pai quase morreu”, que podia estar te influenciando, mas a invasão mental parecia ser o seu maior problema. É por isso que você não estava conseguindo dormir?
Mais uma vez, trezes segundos de silêncio onde nenhuma resposta parecia ser boa o suficiente para a garota.
- Eu realmente não sei – foi a melhor resposta que conseguiu, soando cansada e sem esperanças – Eu não sei mais nada de muitas coisas ultimamente.
A incerteza por trás da resposta, a hesitação em verbalizá-la... Aquilo era o mais perto de um pedido de ajuda que já havia chegado. Naquele momento, ela própria se enganara, fantasiando que tudo o que dizia era apenas para conquistar definitivamente a confiança de Rogers, mas era mais do que isso. No fundo ela enxergava no soldado alguém que ela poderia confiar e contar, caso fosse necessário.
O leve desespero na voz da Stark em contraste com sua expressão determinada deixou Steve em um dilema: a garota precisava de ajuda e talvez ele fosse o único a chegar tão perto para ouvir aquele discreto pedido de socorro. Conhecendo-a como conhecia, ele tinha certeza que algo mais explícito que isso nunca sairia da boca da garota. Aquilo era mais do que uma tentativa de conquistar sua confiança, e foi o que motivo Steve a tomar uma decisão.
Ele poderia ter gasto todos os segundos do mundo para decidir como se posicionar em relação àquele momento, mas não foi isso o que ele fez. Não foi muito tempo, talvez até menos que treze segundos para determinar algo que ele tentaria se convencer ao máximo:
até podia estar tentando manipulá-lo, mas, naquele momento, ela havia sido sincera, mesmo que ela não soubesse disso ainda.
A última coisa que aceitaria era um “ombro amigo”, por isso Steve tomou todo o cuidado para não soar nada como isso. Qualquer tentativa mais explícita e a garota regrediria para a defensiva. Com cuidado ele havia se afastado do assunto “Loki”, também havia feito os dois começarem a andar pelas ruas de Cleveland, já que até ele se sentia agoniado quando muito tempo parado, e, quando começou a notar alguns sinais de cansaço na garota, sugeriu que voltassem ao apartamento.
A volta para o apartamento alugado foi muito mais animada do que a ida ao restaurante e o leve desentendimento entre ambos ficava cada vez mais – aparentemente – esquecido quando surgia um assunto de qualquer coisa que Steve tivesse conhecimento – fosse algo da época dele ou algo que ele já havia “descoberto”. Uma conversa simples que pessoas normais tinham sobre assuntos normais, algo bem diferente do que ambos estavam acostumados. Até aquele dia todas as conversas haviam sido de assuntos estranhos: o primeiro contato fora por causa de um ataque de um extraterrestre, e eles só tiveram assunto porque Steve trabalhara com o avô da garota quando Howard era jovem. Esse exemplo já era o suficiente para demonstrar a não normalidade, por isso pode ser considerado uma evolução eles terem conversado sobre Star Wars por mais de duas horas.
planejava voltar para o hotel onde Steve estava anteriormente hospedado, mas esse não permitiu a saída da loira, que como estava com sono – e pelos vários dias sem dormir, não era muito inteligente lutar contra ele – acabou aceitando dormir novamente no apartamento. Mesmo com muita discussão, Steve conseguiu que dormisse na cama, enquanto ele ficou no sofá, zapeando canais até que caísse no sono.
A garota acordou algumas horas mais cedo que o super soldado e decidiu fazer algo legal em retorno – afinal, Steve estava realmente se esforçando para ser uma pessoa agradável e não julgá-la por tudo que ele sabia que ela já havia feito. Não algo exatamente grande, apenas organizou a cozinha e colocou J.A.R.V.I.S. para ajudá-la a pesquisar coisas que valiam a pena Steve saber do que ele havia perdido.
- Devo adicionar O Senhor dos Anéis à lista, ? – perguntou o sistema, enquanto ela guardava o último prato recém-lavado.
- Você já me fez perguntas melhores, J – riu a garota, prendendo seu cabelo no topo da cabeça com um elástico – Coloque os clássicos. Coisas que as crianças cresceram assistindo.
- Harry Potter? – sugeriu J.A.R.V.I.S.
- E filmes da Disney – lembrou ela, enrolando o pano de prato na mão – Quero saber como uma pessoa reage de verdade à morte do Mufasa.
- Como quiser, – respondeu ele, voltando a executar sua tarefa em silêncio.
Mais cedo havia feito relatório atrasado informando do imprevisto ocorrido, que agora Capitão Rogers tinha conhecimento de sua proximidade, mas que isso não seria um problema. Steve, por alguma razão desconhecida queria confiar na agente disfarçada, e isso lhe seria muito útil. Claro que Fury não ficou nem um pouco contente, mas aceitou a situação melhor do que ela esperava. - Eu te dei apenas uma restrição, Stark – grunhiu o diretor – Você só não podia ser descoberta.
- Ele não está desconfiando de mim – explicou ela, pela milésima vez durante aquela conversa – Rogers quer confiar em mim, Fury. Isso é melhor do que ter conquistado a confiança dele.
- Espero que seja, agente Stark – esbravejou ele, antes de cortar a comunicação – Porque se Capitão Rogers se virar contra nós no futuro, parcela da culpa vai ser sua.
- Adiciono Coldplay à lista, ? – perguntou J, a tirando de seus pensamentos.
- Eu já conheço essa banda, J.A.R.V.I.S. – Steve respondeu, surpreendendo a garota, que se virou para a entrada da cozinha – Não sabia que esse sistema era algo compartilhado pelos Starks.
- Tony também não sabe disso, então vamos manter segredo, por favor – pediu a garota, pegando seu celular e o colocando no bolso antes de murmurar um “continue trabalhando, J.” – Você realmente acorda cedo.
Steve apontou para a cozinha limpa, se apoiando no batente do portal.
- E pelo visto você acordou muito mais cedo que eu – retrucou ele.
- Nunca fui de dormir muito, na verdade.
- Problemas de insônia resolvidos, então?
- É uma grande evolução – lembrou , pegando uma xícara, a enchendo com café e entregando-a ao homem.
- E uma grande evolução merece comemoração – brincou Steve, erguendo sua xícara como se fizesse um brinde e provando a bebida em seguida – Isso realmente está muito bom.
- Comprei na cafeteria na esquina – confessou – Culinária não é exatamente a minha área.
-Você só pode estar brincando – estranhou o loiro, colocando a xícara na mesa e se adiantando alguns poucos passos para a garota - Deve existir algo que você saiba fazer nesse espaço.
- Talvez uma bomba caseira – confessou ela, olhando intensivamente para a gaveta de talheres antes de voltar sua atenção para o loiro a sua frente – Mas não acho que temos colheres o suficiente para isso.
Os mesmos passos que Steve havia dado em frente, ele regressou, causando riso na jovem.
- Estou brincando – sorriu ela, apoiando os cotovelos na mesa e o queixo em suas mãos – Todo mundo sabe que colheres são armas muito melhores sozinhas.
Outro regresso e um riso mais alto e animado.
- Eu sou uma Stark! Piadas desnecessárias em momentos ruins é a minha especialidade, Rogers. Você poderia se acostumar com isso, sabe – resmungou , assistindo Steve abrir e fechar a boca seguidas vezes.
- Eu devia receber algum tipo de prêmio por isso – lembrou ele, perdendo o olhar pela cozinha. Steve havia conhecido três gerações da mesma família e todos tinham a mesma lembrança dele. Era perturbador.
- E com certeza isso deve ser algum tipo de recorde... Não passei muito tempo com meu avô, então não tenho muita base, mas Stark é Stark – riu ela, voltando sua atenção para a pouca louça que estava na pia.
- Você ficaria surpresa em como são parecidos... Tony e Howard, principalmente – disse Steve, colocando sua xícara agora vazia junto com a louça suja e se sentando em uma cadeira próxima em seguida – Você ainda parece um pouco mais reservada comparada a eles.
- É que você não me viu na adolescência... – riu a garota, com um sorriso travesso – Pepper quis morrer de desgosto por me ver tão parecida com Tony.
As lembranças de sua época rebelde inundaram sua mente, e não conseguiu esconder um sorriso divertido. Até chegara a gostar um pouco daquele mundo de festas de Malibu, onde não precisava provar nada a ninguém... Seu nome era tudo o que ela precisava para ir onde quisesse. E claro, a mídia adorava. Apenas Pepper tentava algo para mudar a situação, já que além de ser responsável pela imagem dos Starks, ela também se preocupava com a garota.
- Ela parece ser uma boa mulher...
- Ela é louca! – riu , se virando para o homem – E é culpa nossa, na verdade.
Steve apenas riu, vendo o sorriso fácil no rosto da garota que apenas o olhava de volta. Não esperava uma tão solta logo de começo, mas estava feliz com isso. Ela parecia cada vez mais distante da “agente” que ele conhecera, parecia mais comum mesmo não sendo. Afinal, ela ainda era uma Stark e isso nunca mudaria.
O sorriso de Steve foi diminuindo até seus lábios estarem comprimidos, e estranhou. Ela havia dito algo errado? A conversa estava fluindo bem – até demais – do ponto de vista dela. Então por que de repente ele ficara sério? “Lembranças, ”. Claro, ela era uma conexão com seu passado, e aquela conversa nostálgica com certeza havia o feito voltar no tempo, relembrar de coisas que deviam ficar esquecidas.
- Então, o que pretende fazer hoje? – perguntou ela, sentindo que o homem não sairia daquele estado sozinho. Steve sacudiu a cabeça rapidamente, tentando afastar pensamentos e se focar na garota a sua frente. A neta de seu grande amigo.
- Você conhece a cidade? – perguntou ele, se levantando - Podemos fazer um tour, o que acha?
- De super soldado a guia turístico... O que Steve Rogers não faz? – brincou ela, saindo da cozinha para se trocar.
- Bombas com colheres – respondeu o homem, ouvindo o riso alto e distante da mulher que entrara no quarto.
Não demorou muito para que os dois já estivessem do lado de fora do prédio, caminhando lado a lado na calçada naquela manhã em que o sol fizera questão de se fazer ser notado, embora não estivesse quente o suficiente para que pudessem reclamar de suas calças jeans.
mostrou toda a pesquisa que J.A.R.V.I.S. havia realizado nas últimas horas e, enquanto Steve analisava a lista e dizia o que já conhecia ou não, ela tentou arquitetar alguma estratégia para que conseguisse cumprir o que havia prometido ao Fury: cuidaria do soldado estando perto. O problema seria continuar perto dele por mais tempo sem parecer suspeito.
- Certo, o que vamos fazer? – perguntou finalmente, depois de que havia ficado decidido que assistiriam alguns filmes da lista quando voltassem ao apartamento.
- Que tal irmos ao zoológico? – sugeriu Steve, escondendo as mãos nos bolsos. o olhou desconfiada.
- Não estamos um pouco velhos demais para ir ao zoológico sem uma criança?
- Você não cansa de implicar com a minha idade?
- Não! Quer dizer...Não foi isso que eu quis dizer! – a garota tentou se explicar, e quanto mais se enrolava, mais ela ria – Eu me inclui naquela frase, não foi uma alfinetada. Foi apenas a realidade.
- A cidade tem ótimos museus e teatros, mas não acho que podemos conversar abertamente nesse tipo de local – explicou o loiro, ainda com um sorriso brincando em seu rosto - Por isso o zoológico foi minha sugestão.
- Concordo com apenas uma condição – suspirou a garota, parando de andar e erguendo a cabeça para olhar diretamente em seus olhos – Só vou se o tio prometer me comprar um sorv...
Steve não a esperou terminar: deu-lhe as costas e continuou andando ao som das risadas altas de , que logo o alcançou, murmurando um “essa foi a última de hoje”.
Pelo menos relacionada à idade.
Xx
Não demorou muito para que eles chegassem ao Metroparks Zoo que, pelo horário e por ser um dia da semana, não estava cheio, permitindo que ambos pudessem circular e conversar livremente.
- ? – perguntou Steve, depois de alguns momentos em silêncio, enquanto passavam pela área de felinos.
- Sim?
- No terceiro dia que você ainda estava dormindo, seu cabelo estava parecido com a juba daquele leão ali...
- Que ousadia é essa, Rogers?! – esbravejou ela, mas acabou rindo logo em seguida – Que tal procurarmos um urso? Você pode dar algumas dicas para ele sobre como hibernar.
- Não vou te comprar sorvete depois dessa – brincou o loiro, e ela o acompanhou, levando as duas mãos a boca como se ele tivesse dito a pior coisa do mundo.
- Seu sem coração! – acusou , e rindo eles continuaram o percurso.
Steve não pode deixar de notar como a loira parecia estar tentando se conter a cada animal diferente que via, fazendo piadas infantis e rindo de quando ele também fazia graça. Não dava para saber se ela estava fingindo, mas ele queria acreditar que as reações eram verdadeiras. Chegava a ser engraçado ver uma agente animada por ver um hipopótamo.
- Tudo bem, talvez zoológico tenha sido uma boa ideia – confessou , se apoiando na cerca que a separava dos elefantes. Ela não podia evitar. Até que gostava de animais.
Além do mais, agir daquela forma faria com que o soldado perguntasse sobre sua infância, o que facilitaria muito a tarefa de fazê-lo se preocupar ainda mais com ela.
- Parece que você não foi o tipo de criança que ia sempre ao zoológico.
- Isso talvez seja porque eu fui o tipo de criança que nunca foi ao zoológico – ela sorriu satisfeita, estranhando a expressão de Steve ficar séria de repente – Que foi? Viu alguém suspeito?
- Por que você nunca foi? Tony te proibia ou algo do tipo?
- Bom, depois do meu sequestro quando eu tinha quatro anos, a segurança a minha volta foi alterada para nível CIA – contou ela – Era escoltada de casa para a escola e vice-versa. Se eu quisesse ir para um lugar como esse, talvez Tony até permitisse. Porém ele teria que ser fechado apenas para mim, e cercado com alguns tanques...
Steve apenas ficou olhando para a garota e imaginando como seria ter uma infância como aquela. Ele podia não ter sido a criança mais saudável do mundo quando pequeno, mas ao menos tivera liberdade.
Aquela não era a primeira vez que a loira contava isso a alguém, e até conseguia entender a surpresa de quem teve uma infância normal, mas não podia dizer que fora completamente infeliz. Foi nessa época que ela montara o maior número de robôs em sua vida.
- Não olhe desse jeito para mim – reclamou a garota, cruzando os braços - Eu não achava ruim. Provavelmente eu recusaria uma oferta dessas para continuar o dia no laboratório desmontando alguma coisa.
- Como você conseguia ter amigos?
- Quem disse que eu tinha? – riu ela – Você está me ouvindo, já percebeu que era realmente uma criança difícil de lidar.
- Deixe-me adivinhar... Tony não ajudava muito.
- No quesito socialização, não. Mas ele costumava parar uma vez por semana para ver que tipo de experiências eu estava fazendo – continuou ela, sorrindo nostálgica. Aquelas deviam ser as únicas ações em relação ela que Tony não se arrependia. Apenas naqueles momentos ele dava atenção à filha - Tudo bem que teve uma dica dele que me fez incendiar parte da casa, mas eram nesses momentos que ele me levava a sério. Ciência sempre foi a única língua em comum entre nós.
- Mas ninguém mesmo conseguia te suportar? – estranhou Steve, tentando não rir para não magoá-la – Com o tempo de convivência obrigada acaba fazendo com que crianças se tornem amigas.
- Eu mudava constantemente de escola – comentou ela, lembrando de todo trabalho que Pepper tinha quando ela precisava ser transferida - Os professores não aguentavam. Eu questionava o conhecimento falho deles, eles encaravam isso como desacato, e eu acabava com advertências que se acumulavam até resultar na minha expulsão. Passei por todas as escolas da região, e, quando tinha uns catorze anos, me aceitaram na faculdade.
- Passar por todas as escolas era um pré-requesito? – brincou o loiro.
- Pepper queria que eu fosse uma garota normal, só que, mesmo se quisesse colaborar, ninguém conseguia ver além do “pequeno irritante gênio” ou do “pote de ouro Stark”.
- Mas isso mudou, não é? – perguntou Steve, tendo dificuldades de lembrar o nome da amiga da loira - A garota da S.H.I.E.L.D. não parecia se importar com isso.
- Eu aprendi a ser sociável, okay? Se não tivesse, nunca estaria tendo essa conversa.
- E mesmo sendo tão sociável, está viajando sozinha – debochou ele, ouvindo um “ei” em reclamação.
- Queria um pouco de liberdade. Na Europa eu fazia o que eu bem entendia, mas aqui eu sempre fiquei aprisionada – ela esclareceu, quase pulando pela conversa estar tomando o rumo perfeito. Ela apenas precisava tomar cuidado para não soltar informações demais – Se estou sozinha é porque não tenho ninguém que possa me acompanhar, ou entender o motivo de eu estar afastada.
Uma luz vermelha começou a piscar na mente de .
Trazer o assunto de seu afastamento era algo delicado demais, por isso ela parou. Steve precisava saber apenas o necessário para acreditar que a garota precisava de ajuda, não o suficiente para ser seu diário ambulante.
- Desculpe... Não quero falar sobre isso – suspirou ela, se virando para a cerca que a separava dos animais que ela não fez questão de localizar. Não queria tocar naquele assunto e sequer queria mentir – Olha, eu... Steve?
Ele não estava em seu campo de vista.
Steve tinha sumido.
Ela já conseguia ouvir a voz de Fury a condenando a pena de morte.
- Voltei – sorriu o loiro, ignorando a expressão assustada que mostrava, lhe entregando um picolé – Acho que ambos estamos errados.
- Primeiro você some e depois me volta falando coisas sem sentido! – grunhiu a loira, realmente nervosa – Pode explicar.
- O que aconteceu com o “poder de analisação e...”.
- Eu estou desligada. Sou quase normal no momento – cortou-o ela – Se explique, Rogers.
- Eu estava dizendo... Que talvez você não seja a única fazendo as coisas do modo errado – retomou ele, se apoiando na cerca e voltando a ficar sério.
Aquela parecia ser a coisa certa a fazer, mas ele temia utilizar as palavras erradas e a garota rejeitar sua proposta. Ela recusaria qualquer tipo de ajuda que ele oferecesse, mas será que ela recusaria a ajudá-lo?
– Estar sozinho apenas nos deixa mais vulneráveis a antigos fantasmas – disse ele por fim.
A verdade era essa: ele estava cansado de estar sozinho. Havia viajado por algumas cidades próximas de New York na tentativa de se conectar ao novo mundo, mas isso apenas fizera com que ele se sentisse mais solitário. Claro que a companhia de não era a mais recomendável, mas, enquanto ele ficasse alerta a qualquer atitude suspeita vinda dela, não seria nenhum problema tê-la por perto.
Talvez fosse até divertido.
- Que tal voltarmos para almoçar e começar a diminuir sua lista de filmes para assistir? – sugeriu , provando seu picolé – Está começando a ficar cheio de crianças aqui.
Algumas turmas de crianças pareciam ter escolhido aquele dia para excursão e logo eles sofriam para sair do local sem esbarrar em alguma criança correndo, ignorando o adulto que tentava controlar a turma. No caminho de volta, Steve a obrigara fazer um resumo de cada filme da lista sem a ajuda de J.A.R.V.I.S., o que a manteve ocupada por todo o trajeto.
podia explicar passo a passo de como quebrar a segurança de qualquer computador sem muitos esforços, mas ter que lembrar sobre o que era um filme que ela vira quando tinha seis anos era uma tarefa um pouco mais complicada, porém, ela fez com um sorriso no rosto.
E esperava aquele tipo de oferta de Steve até o fim da semana, embora não imaginasse que seria daquela forma, com Steve se mostrando tão vulnerável quanto ela.
Xx
Uma semana depois
Era fim de tarde e a única distração que tinha era Steve trocando de canal de três em três segundos, quase quebrando o controle toda vez que apertava seus botões.
- Você não está contente – concluiu a loira, escorregando do sofá para se sentar ao seu lado no chão.
- Esse fato não é verídico, – respondeu ele simplesmente, sem olhá-la, deixando a TV sintonizada em um filme que ele não sabia o nome.
- É sim. Tem algo que você não está me contando.
- Você está falando besteira...
- Você está mais tenso do que a Romanoff e o Barton quando alguém pergunta sobre o que aconteceu em Budapeste! – disse a garota séria, mas desatando a rir ao ver a expressão confusa do loiro - Sério, faça isso um dia. É muito engraçada a reação dos dois.
- Você continua estando enganada – ele desconversou, apenas vendo em seguida a garota jogar a cabeça para trás e respirar fundo apenas para gritar:
- STEVEN!
- OKAY – gritou o loiro, respirando algumas vezes mais que o necessário apenas para irritar a garota – Eu só estou sentindo um pouco de falta da ação, só isso.
- Então... Você está querendo que alguém nos ataque? – deduziu incerta, fazendo o homem bufar – O que foi?
- Pelo amor de Deus, ! Quem em sã consciência desejaria ser atacado?
- Desculpe, mas você não parece estar em seu melhor estado mental, Cap.
Mesmo contra a vontade, Steve se flagrou rindo. Era tão difícil explicar algo àquela garota, mas era tão divertido vê-la se confundindo em suas próprias conclusões.
- Eu quis dizer que sinto falta do movimento, – ele disse calmamente, fitando o chão e apenas voltando a olhá-la para concluir: - Em NY, eu passava a maior parte do meu dia com um saco de areia.
- Por todo tempo que Thor gasta para passar chapinha naquela cabeleira, Steve! Por que você não me disse isso antes?! – vociferou , se ajoelhando e agarrando uma almofada do sofá com as duas mãos – Você tem noção de quantas dessas eu já destruí nessa semana? Nós poderíamos estar nos socando ao invés de estarmos jogados aqui assistindo... EU NEM SEI O NOME DO FILME!
- Eu não vou lutar com você, Stark! – debochou Steve – Posso te quebrar ao meio com um tapa.
- Okay, não vou argumentar. Eu não vou me humilhar e tentar comparar a minha força com a sua, eu gosto do meu mundinho de negação, Rogers. Mas se não fosse esse soro, eu podia muito bem te arrebentar, okay?
- O vento podia arrebentar o “eu-antes-do-soro”, Stark – comentou Steve, e foi necessário mais tempo do que o loiro gostou para que a garota se recuperasse – Seu riso prolongado feriu meus sentimentos.
- Você tinha até asma, Rogers. Era bem capaz do vento te arrebentar se você não saísse bem agasalhado – comentou ela, se recuperando – Certo, chega de enrolação! Afasta essa poltrona e eu arrasto o sofá.
- Eu não vou lutar com você, – repetiu Steve, entretanto a seriedade o acompanhou – Eu vou acabar te machucando. De verdade.
- Primeiro, eu sou uma excelente lutadora. Sei me defender muito bem. Segundo, tenho quase certeza que há um escudo bem útil nesse recinto – retrucou ela, pisando na lateral do escudo e fazendo que ele subisse até seu braço, de uma maneira menos perfeita do que Steve fazia – E terceiro, é apenas algo para nos distrair. Não é um combate real, onde eu sou sua inimiga. Você só precisa usar uma parcela da sua força. Algo como... 2%, se você for legal.
Steve apenas balançou a cabeça, descrente.
- Isso só lhe irá ser útil caso eu decida te alvejar.
- Isso quer dizer que eu posso deixar o escudo de lado ou que eu tenho que segurá-lo pelo resto da minha vida?
Steve não aguentou e curvou o corpo de tanto que ria.
jogou o escudo perto da porta e se pôs em posição de defesa, esperando que Steve se aproveitasse de sua crise de riso para pegá-la de surpresa. Coisa que não aconteceu, já que ele apenas se recompôs e se virou para o sofá, murmurando um “não vou lutar com você, ”.
Sem lhe dar ouvidos, ela se adiantou para um chute que teria acertado a orelha direita de Steve, se ele não tivesse abaixado no último momento, virando-se para a garota em seguida com uma expressão nada feliz.
- Não quer lutar comigo? Tudo bem. Eu luto com você sozinha, se quiser defender, seja feliz... – disse ela, iniciando outra sequência de chutes que o loiro facilmente bloqueou – Gostando de ter adrenalina de volta em seu sangue?
- Está me analisando, Stark? – riu ele, segurou o punho da loira quando ela terminou uma sequência de golpes – Assim eu fico em desvantagem.
- A única coisa que eu estou analisando é seu sorriso satisfeito, Rogers – sussurrou ela, antes de pegar impulso para envolver o pescoço do soldado com suas pernas, em um movimento que o levou ao chão – E sim, isso eu aprendi com a Romanoff. Agora vai brincar comigo ou eu vou continuar me divertindo sozinha?
Steve apenas deixou que um sorriso maldoso brotasse em seu rosto enquanto ele se levantava. Não faria mal nenhum ele entrar na brincadeira, certo? Não podia negar que seria uma atividade no mínimo interessante. podia não ser tão forte quanto ele, mas ela podia facilmente prever seus movimentos, bloqueando-os antes que fosse realmente uma ameaça. Seria um bom exercício de estratégia.
Rindo com esse pensamento, ele iniciou sua primeira sequência de golpes, que bloqueou enquanto recuava.
- Droga, você é mais rápido do que eu pensava – resmungou ela, se abaixando para tentar lhe dar uma rasteira.
- Mas já quer desistir? – brincou ele, segurando a perna que ela erguera para chutá-lo e a jogando em direção ao sofá. A garota, que esperava o impacto bruto do chão, se curvou de rir após sentir o estofado macio do sofá amortecer sua queda – Nunca em uma luta te jogaram em um sofá, não é?
não conseguiu responder, apenas rindo ainda mais ao tentar falar. Sua “habilidade” estava desligada e realmente fora pega de surpresa pelo sofá, algo que não era exatamente comum de acontecer. O ataque de risos teria durado mais tempo se o ataque de Steve não tivesse voltado, já que não era muito fácil rir e se defender ao mesmo tempo, e um soco do loiro – mesmo que não usando toda força – não devia ser muito agradável.
Logo se passaram horas, mais móveis haviam sido arrastados, alguns vasos quebrados e uma camiseta rasgada, e ambos se encontravam cada um apoiado em uma parede da sala, ofegantes e suados, em um acordo de paz silencioso. Não que não pudessem continuar na brincadeira, mas todos os movimentos mais “inofensivos” já haviam sido utilizados repetidas vezes e, para começarem a inovar, teriam que mudar para um local mais amplo.
A campainha tocou, tirando-os da conversa de olhares que eles mantinham. Steve, por estar mais perto da porta, se adiantou para atender, e se inclinou para conseguir ver quem que estava na porta.
A surpresa dos dois foi ver o síndico do prédio.
O homem, que não devia ter mais que 50 cinquenta anos, pigarreou constrangido ao ser atendido por um Steve suado e sem camiseta – que havia sido rasgada acidentalmente durante a luta –, e por ver a tal amiga jogada no chão da sala, usando o que parecia ser uma roupa de ginástica.
- Hm, Sr. Rogers... – começou o homem, visivelmente sem jeito pela situação – Recebi algumas reclamações dos moradores do andar inferior... Sobre sons de... Hm, coisas caindo e batendo no chão sucessivamente.
naquele momento quebrou a promessa que havia feito: usou sua “habilidade” para se manter séria enquanto sua mente ria livremente. Ela só não sabia ao certo se estava rindo mais do síndico ou de Steve que ainda não havia entendido a interpretação errada do homem.
- Nos perdoe, senhor – disse Steve, colocando as mãos no bolso da calça – Não planejávamos fazer isso, e acabamos saindo um pouco do controle.
O homem se engasgou com o ar e pensou que perderia o controle. Queria pedir para Steve calar a boca, mas, se fizesse isso, começaria a rir e não pararia tão cedo.
- Hm, sei que é difícil manter o controle na sua idade, mas a garota é uma jovem delicada...
- Também costumava pensar isso, mas ela aguenta mais o tranco do que... – brincou Steve e foi ali que perdeu o controle, gargalhando mais alto do que na vida inteira, se curvando em cima de seus joelhos - ...muitos soldados. , está tudo bem?
- Tudo ótimo – soltou ela entre risadas, aos poucos se controlando, mas com a mão na boca por precaução – Senhor, eu só queria esclarecer que nós estáv...
- NÃO! Hm... Não precisa se explicar, minha jovem – pediu o homem, um tanto desesperado – Vocês são jovens, fazem o que quiser com a vida de vocês e não há nenhuma regra que impeça esse tipo de ato, que, afinal é algo natural. Senão, não havia raça humana, certo?
Uma luz acendeu na mente de Steve.
- Nós... Não... Eu e ela... – o soldado se enrolou com as próprias palavras, fazendo com que risse um pouco mais no fundo.
- Apenas não façam com tanto barulho, tudo bem? – pediu o síndico, dando uma risada sem graça e sumindo no corredor.
Steve fechou a porta, mas não se moveu. Continuou parado, agora com as mãos na cintura, repassando toda a conversa que tivera no último momento. O homem achava que ele e tinham algum relacionamento... Amoroso? A ideia desnorteou o loiro. era neta de seu amigo, era de uma época diferente da dele, era alguém que ele sequer sabia se realmente confiava ainda. Não era quem ele amava.
- Que tal nós continuarmos conhecendo o país... Em outra cidade? – sugeriu ele, finalmente se virando para a garota, que voltou a rir com mais vontade enquanto concordava com ele. Estavam ali há muito tempo, não era seguro.
Claro que ficar em um lugar onde pensavam que ela tinha algo com Steve não era de seu agrado, mas não seria o suficiente para que ela escolhesse continuar viagem, embora fosse uma ótima desculpa para começarem a se mover.
Demorou mais tempo para que eles reorganizassem a sala do que para guardar seus pertences, e no meio da noite todo o apartamento já estava em ordem e eles prontos para partirem, mas como não queriam levantar suspeitas – só Deus sabia como Steve não queria ter que encarar o síndico depois do mal-entendido –, ficou decidido que partiriam pela manhã. Afinal, sequer tinham escolhido o próximo destino. Assim pelo menos teriam mais tempo para decidir.
O problema era que o silêncio reinava soberano no apartamento.
Steve negaria até a morte que estava desconfortável com a situação, porém podia ver isso em seus olhos, e realmente tentava não rir.
Até que a coisa desandou.
Steve pegou seu escudo jogado no canto da sala para deixá-lo junto de sua mochila e, por algum motivo desconhecido por ele, voltou a rir abertamente, se sentando no chão e escondendo o rosto com as mãos.
- Do que você está rindo agora? – perguntou ele depois de respirar fundo. Era pedir muito que aquilo fosse esquecido tão rápido.
- Você não quer saber, de verdade – disse ela entre risos, sob o olhar nada amigável do soldado – Você vai desistir de mim e me expulsar se eu falar.
- Só fala, Stark – suspirou ele, sabendo que sua curiosidade acabaria ganhando de qualquer forma. A garota negou mais algumas vezes, mas o soldado estava determinado a sofrer um pouco mais.
- J.A.R.V.I.S. é testemunha de que eu te avisei – puxou todo o ar que conseguia e o soltou de uma vez, tentando ficar séria enquanto apontava para o escudo que o loiro acabara de soltar – Eu ainda sugeri usar proteção e você recusou.
O que fez a mulher voltar gargalhar não foi sua piada horrível, mas sim a expressão incrédula de Steve, que lhe deu as costas enquanto ria abertamente.
- Você não vai me abandonar aqui, não é, Rogers?
- Deveria – respondeu Steve, olhando-a de canto de olho antes de se jogar no sofá – Se troque. Vamos sair para comer alguma coisa.
até chegou a se levantar, mas parou no meio do caminho quando percebeu uma brecha na fala do loiro para constrangê-lo ainda mais.
- Precisamos repor energia, não é mesmo? – comentou Steve antes que ela pudesse dizer aquilo, virando o rosto para , com uma sobrancelha erguida e um sorriso e olhar sugestivos.
Os olhos de chegaram até a brilhar de emoção.
Capitão América estava fazendo um trocadilho malicioso.
- Esse é o dia mais insano da minha vida... – disse ela rindo, caminhando até o sofá com uma mão erguida – E vou te ensinar hoje o que é um High Five.
Depois do estalo de suas mãos colidindo, correu para o banheiro para tirar todo o suor que seu corpo produzira nas últimas horas. Ela não perdia a forma com tanta velocidade, mas não podia negar que aquele mini treino com o super soldado havia a cansado. Tinha completa noção de que Rogers estava se contendo, mas ainda assim era difícil acompanhar o ritmo do loiro, já que ele não se cansava tão fácil.
- Você já tem algum lugar em mente ou vai ser o de sempre? Andar até encontrar algum lugar agradável? – gritou ela do banheiro, surpresa com a bagunça que se encontrava seu cabelo.
- Estava pensando em comer hambúrguer, o que acha? – sugeriu ele, enquanto levantava para pegar seu caderno de desenho. Talvez desse tempo de esboçar algum rabisco enquanto a loira se arrumava.
- Comida não saudável depois desse dia agitado? – riu ela – Eu topo. Com certeza eu topo.
Distraído com seus desenhos antigos, Steve não percebeu que passeava pelo apartamento já praticamente pronta, apenas a procura de seu tênis, que parecia ter desaparecido do ambiente.
- Você não o chutou para debaixo da cama de novo? – suspirou ele, guardando o caderno e pegando sua carteira.
- Você que tem esse costume, soldado – resmungou ela, deitando em cima da cama arrumada para olhar embaixo, os encontrando sem dificuldades. Depois de ter sofrido com o calor nas últimas noites, havia se lembrado de comprar um vestido, o mais simples que havia encontrado na loja: tecido leve, sem estampa, alças finas, de um tom escuro de azul e um pouco acima do joelho. Fazia tanto tempo que ela não usava uma roupa daquele estilo que até já se sentia como uma adolescente novamente, quando mais da metade de seu guarda-roupa era composto por vestidos. Influência de Pepper, claro.
Ao voltar para sala, Steve sorriu para ela, fingindo que fazia nada até aquele momento e sabia exatamente o motivo: ele havia escondido aquele maldito caderno novamente.
Qualquer dia ela não aguentaria mais de curiosidade e perguntaria a maldita razão de ele sempre sumir com o caderno quando ela se aproximava.
- Vamos? – ela forçou um sorriso, afastando a dúvida da cabeça. Afinal, a fome era mais importante.
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O garçom da lanchonete começava a ficar preocupado com o bem-estar de seus clientes da noite, pela quantidade absurda de lanches que cada um já havia comido. Sem contar as boas porções de batata frita que também já tinham acabado.
Era difícil entender como os dois podiam estar em tão boa forma.
O fato era que a comida não tinha a completa atenção dos loiros, mas sim o celular de , que mostrava os possíveis futuros destinos.
- Boston, então? – suspirou ela, entregando o celular para que o loiro guardasse no bolso de sua calça – Claro que vamos ter outras paradas antes, já que é meio longe daqui.
- Mais lugares para conhecer – sorriu Steve, mas logo seu rosto ficou sério, o que deixou confusa – Acho que tem uma garota me encarando no balcão.
Ela discretamente se virou para a direção que o loiro indicara, encontrando uma garota que não devia chegar aos vintes anos, que ficou desconcertada quando seus olhos se encontraram com os dela, desviando logo o olhar para outro lugar da lanchonete. Pela postura da garota, ela não havia reconhecido o homem à sua frente como Capitão América, mas, apenas por garantia, achou melhor analisar mais a fundo.
Como suspeitava, tudo na garota estava normal. Se ela tivesse reconhecido Steve, estaria no mínimo exaltada – afinal, o cara tinha sumido no final da Segunda Guerra –, mas até seus batimentos cardíacos estavam na média. No final, ela apenas estava secando a companhia de , o que a fez rolar os olhos mentalmente.
A loira até já tinha alguma fala pronta para deixar o homem ainda mais constrangido, mas sentiu dificuldades em se desligar. Como havia muitas pessoas ao seu redor, o excesso de informações atrapalhava sua concentração, por isso estava confiando apenas em J.A.R.V.I.S. para cuidar da segurança naquela noite. Porém ela não conseguia diminuir a captação de informações, o que a deixou intrigada: apenas tivera problemas de controle quando era criança, e um pouco quando essas habilidades começaram a ser treinadas na S.H.I.E.L.D., e mesmo assim a sensação parecia diferente.
O que a trouxe de volta foi algo tocando sua mão.
Os olhos preocupados de Steve acompanharam cada movimentação mínima de , a procura de um sinal de que ela ainda estava consciente: fazia um bom tempo que ela fitava a garota no balcão – que até havia saído de lá, provavelmente constrangida pelo olhar insistente da loira – mas não dava sinais de que realmente estava focando em algo naquele lugar; parecia perdida em pensamentos, sem ouvir seus chamados.
Quando seus dedos tocaram a mão dela que estava sob a mesa, no mesmo instante ela se virou para ele, com os olhos levemente arregalados.
- Você está bem, ? – perguntou Steve, vendo-a franzir o cenho e levar a mão à testa, que ela massageou por alguns segundos.
- Ela não te reconheceu – disse ela por fim, e, ao ver a confusão do loiro, continuou: - A garota no balcão. Ela estava só te secando mesmo.
Steve chegou a abrir a boca para responder, mas desistiu ao ver que sua acompanhante continuava intrigada.
- Você não respondeu se está bem – disse ele, se curvando sob a mesa para se aproximarem – Você ficou um bom tempo olhando para o nada.
- Estou bem, só... – começou ela, suspirando antes de forçar um sorriso – Só me perdi em pensamentos. Devo estar mais cansada do que pensei.
- Quer voltar para o apartamento? – sugeriu ele e concordou sem pensar muito.
Não sabia o que havia acontecido, mas era melhor não ficar em público.
Enquanto Steve chamava o garçom para pagar a conta, ela pediu seu celular, digitando sua pergunta para J.A.R.V.I.S., já que começar a conversar com ele em público chamaria muita atenção. “Alguma alteração? ”
“Nenhuma alteração, Srtª . Não consigo encontrar uma explicação lógica para seu desconforto”, respondeu J.A.R.V.I.S. “Acredito que seja uma boa ideia comunicar esses acontecimentos ao Diretor Fury”.
- Não mesmo – suspirou ela, deixando o aparelho na mesa e sorrindo para o garçom, que parecia ter dito algo simpático para ela.
Mal a primeira brisa mais fria os atingiu, sentiu a jaqueta do loiro ser colocada em seus ombros. Como de costume, ela apenas rolou os olhos e aceitou a gentileza em silêncio: Steve parecia incapaz de perder aquele hábito, e bem no fundo ela não queria que ele perdesse.
- O que você estava discutindo com J.A.R.V.I.S.? – perguntou Steve, depois de um bom tempo de caminhada.
Já era bem tarde da noite e as ruas já se encontravam mais desertas, o que permitia os dois conversarem sem se preocuparem com alguém os ouvindo.
- Nada de importante – disse ela simplesmente, lhe lançando um sorriso.
- Engraçado... Tive a impressão que algo te incomodou – comentou o homem, escondendo as mãos nos bolsos da calça e fingindo prestar atenção no horizonte – Depois de ter notado a garota no balcão.
Um sorriso travesso apareceu no rosto de .
- Ai, meu Deus! Você estava pedindo permissão para ir falar com ela?! – ofegou a loira, levando as mãos à boca – Você devia ter ido porque ela estava totalmente na sua!
Steve apenas pode rir, admirando a habilidade da mulher em mudar os rumos da conversa. E de deixá-lo sem graça, claro.
- Você travou enquanto a analisava, não foi? – continuou ele, ignorando os comentários anteriores e vendo o sorriso sumir do rosto de , silenciosamente o questionando sobre como ele havia chegada àquela conclusão – Sua postura muda quando você está usando sua habilidade. É uma diferença bem sutil, e, como fazia tempo que eu não te via a usando, deu para notar.
- Como eu já disse: é apenas cansaço – suspirou , fazendo questão de olhá-lo nos olhos para que o loiro não pensasse que ela estava mentindo – Esse tipo de coisa acontece quando estou cansada, ou se ficar desligada por muito tempo.
Era mentira.
sabia e temia que Steve também soubesse, mas, como ele apenas assentiu e não tocou mais no assunto, ela acreditou que havia sido convincente.
- Srtª – a voz levemente exaltada de J.A.R.V.I.S. sai de um dos bolsos da jaqueta de Steve – Acredito que seja bom a Srtª e o Cap. Rogers deixarem essa região.
- O que foi J.? – perguntou ela, estranhando a urgência na voz do sistema.
- Há agentes da S.H.I.E.L.D. na área e estão em perseguição.
A sincronia foi perfeita: mal os olhos de e Steve se encontraram e ambos já corriam de volta para o apartamento.
Aquilo não era nada bom. Aquela área era muito movimentada para agentes estarem em perseguição, ou seja, era algo sério. Ninguém havia a comunicado nada, o que apenas a deixava mais confusa. Havia sido combinado que ela seria alertada de qualquer movimentação da S.H.I.E.L.D próxima a ela, então por que não fizeram isso?
- Sabe o que eles estão fazendo, J.? – perguntou ela, quando já estavam poucas quadras do prédio. Quando o sistema respondeu que era “confidencial”, ela continuou: - Me conecte com Fury. Agora!
- Por que todo esse alarde, ? – perguntou Steve, desconfiado de todo o desespero da mulher.
- Estamos perto demais. Isso pode causar problemas. O governo ainda está engasgado com a história d’Os Vingadores e não é bom você aparecer de novo na mídia – contou ela, se arrependendo em seguida ao analisar o loiro ao seu lado: sua reação junto com sua resposta fora suspeita demais. Estaria ele desconfiando de que talvez ela não estivesse afastada? O soldado não era idiota, e disso ela sabia. A dúvida estava clara em seus olhos – Sequer eu posso me envolver, Rogers. O Conselho também está no meu pé e minha vida vai virar um inferno se eu der um passo errado.
- Por que o Conselho estaria no seu pé? – estranhou ele e quis atirar na própria cabeça. “Ótimo, ganhar a confiança dele entregando todos os meus problemas. Excelente escolha”.
- Se você olhar da perspectiva deles, eu sou uma das culpadas do ataque de Loki – explicou ela, depois de terem passado pela entrada do prédio e seguirem para as escadas – Eu era o primeiro nome da Fase 2 e ainda fui atacada diretamente por ele. Não é difícil entender o porquê da confiança em mim estar tão baixa. “O que foi, Stark?”, ambos ouviram a voz de Fury e logo a loira puxou o celular, tirando do viva voz, temendo que ele disse coisas que Steve não devia ouvir.
- O que está acontecendo aqui?! – ela praticamente gritou, deixando Steve ir mais a frente para destrancar a porta. “Aqui onde, criatura? Não sou adivinho”, suspirou Fury, sem muita paciência para lidar com sua agente.
- J.A.R.V.I.S me avisou que há agentes em ação aqui perto, Fury! – ambos já estavam dentro do apartamento, a procura de suas armas. Enquanto Steve encaixava seu braço no escudo, checava a munição de sua pistola – O que está acontecendo? “Esqueci que você estava em Cleveland... A equipe que está aí está recuperando armas chitauri que civis acharam que era brinquedo. Não é nada muito preocupante, mas saia daí o mais rápido possível. Não é bom você se envolver nesses assuntos”.
- Essas coisas são perigosas, Fury – lembrou ela, em dúvida se queria ou não entrar em ação no momento – Não é melhor eu ir lá dar assistência? “A situação está sob controle e não quero o Conselho enchendo meu saco por você estar se envolvendo com problemas relacionados a Fase 2. As coisas ainda estão muito recentes, lembra? Quero você fora disso, Stark”
- Sim, senhor – bufou ela – Vou partir imediatamente.
Steve devolveu o escudo ao canto da sala quando percebeu a mudança na postura da loira: a urgência em seus movimentos havia sumido, sua arma carregada foi jogada na cama arrumada e sua mão livre foi a seus cabelos soltos, em um gesto que deixava clara toda sua frustração.
- Vamos ter que partir agora, Steve – suspirou ela, vendo o soldado se aproximar em passos lentos até parar a sua frente – Alguns civis estão com armas do exército de Loki e eu não posso estar por perto. Por causa daquele problema com o Conselho, que eu te contei mais cedo.
- Vou avisar o síndico que estamos saindo, tudo bem? – sorriu o homem, afagando os cabelos de e deixando a mão em sua nuca – Enquanto isso, você troca de roupa e descansa um pouco, certo?
- Certo – concordou ela, contrariada.
só percebeu que estava realmente cansada quando deitou na cama para esperar o loiro voltar, e seus olhos pesaram e ela não se opôs a deixar que eles se fechassem, aproveitando aqueles poucos minutos para tirar um cochilo.
Havia sido uma sequência de acontecimentos tão inusitada que parecia que tinha apenas aumentado seu cansaço – tanto físico como mental. Afinal, a distância que eles haviam corrido para voltar para o apartamento não foi pouca. Sem contar o susto que havia tomado por ter agentes perto e...
Ah, Fury iria matá-la.
Ele havia a designado para aquela missão exatamente por conseguir informações com mais facilidade do que qualquer outra pessoa e ela tinha ligado para ele completamente desesperada por não saber o que estava acontecendo. Até havia dito que J.A.R.V.I.S. que lhe avisara sobre os agentes, não que ela havia sentido a presença da equipe.
Agora Fury tinha certeza de que havia algo de errado.
- ? – ela ouviu a voz distante de Steve, seguida de uma risada leve sua quando ela resmungou algo em resposta – Acha que vai conseguir não cair da moto mesmo com todo esse sono?
- Eu não estou com sono – resmungou ela, sendo traída por si própria ao não conseguir conter um bocejo.
- É, estou vendo – riu ele, pegando sua mochila e a dele e saindo do apartamento com a loira em seu encalço – Sabe dizer para que lado a equipe está?
- Na direção oposta à que vocês vão seguir, Cap. Rogers – J.A.R.V.I.S. respondeu, com sua voz saindo da jaqueta de Steve que voltara a ser usada pelo dono, já que colocara uma blusa sua – Uma reserva em um hotel da cidade vizinha também já foi realizada para que vocês passem a noite.
- Obrigado, J – agradeceu ele, tirando o aparelho do bolso e erguendo uma sobrancelha quando foi entregá-lo à mulher – Você realmente deve estar com a cabeça longe para ter esquecido isso comigo.
- Shiu, Rogers – resmungou ela, forçando um sorriso para o síndico quando deixaram o prédio – Como foi se despedir do Sr. “seja-mais-delicado-com-a-moça”?
Steve riu alto antes de subir na moto.
- Acho que ele até tentou perguntar se era por isso que estávamos indo embora, só que ele ficou vermelho e não disse mais nada depois – contou ele, atento para caso caísse ao se sentar às suas costas. Ele não estava acreditando muito em suas afirmações de que estava tudo bem, e, como ela que tinha que se segurar para não cair no caminho, sua atenção estava redobrada.
Sem mais delongas, envolveu o tronco do loiro com seus braços, apoiando seu rosto em suas costas largas. Céus, ia ser difícil não dormir ali, pensou ela.
Até Rogers acelerar e ela mudar de ideia.
--
O farol fechou à frente de Steve, mas ele não achou que era uma boa ideia parar. Já era bem tarde da noite e as ruas estavam desertas, e, mesmo ambos sendo capazes de se defender, não era bom criarem problemas. Fazia poucos minutos que eles haviam saído da autoestrada e loiro tentava se lembrar das instruções que J.A.R.V.I.S. passara sobre onde eles passariam a noite.
- É esse o hotel, não é? – perguntou Steve mais alto que o normal por causa do vento, sem obter resposta – ? Está me ouvindo?
Por continuar sem resposta, ele freou a moto, vendo que a mulher parecia entretida em algo do outro lado da rua.
- O que foi?! – gritou ela, depois que Steve berrar seu nome algumas vezes – Quando nós paramos?
- Enquanto você dormia – respondeu ele, descendo da moto e a ajudando a descer em seguida – É esse hotel mesmo, certo?
- Sim, e eu não estava dormindo – resmungou , abraçando o próprio corpo enquanto Steve estacionava a moto. Esfriara consideravelmente naquelas últimas horas.
- Minhas costas devem ser muito confortáveis para você ter simplesmente dormido!
- Está bem saidinho hoje, hein, Rogers?
Depois de fazer o check-in e subirem para o quarto, decidiu tomar outro banho antes de dormir, o que obrigou o loiro a esperar que o banheiro fosse desocupado.
- Ei, o que você está fazendo? – perguntou , saindo do banheiro com uma toalha na cabeça. Steve, ao perceber que não estava mais sozinho, se apressou em fechar o caderno e guardá-lo em uma mochila, respondendo um simples “nada” para a mulher – O que tem nesse caderno que eu não posso ver? Não é a primeira vez que você o esconde quando eu chego.
- Você tem seus segredos, eu tenho os meus – retrucou ele, se levantando para tomar seu banho – Você não mexe nas minhas coisas e eu não mexo nas suas. Ótimo acordo, certo?
- Não acho que eu concordo com isso – suspirou , agradecendo pelo loiro não ter a ouvido. Ela estava incrivelmente tentada a pegar o caderno naquele momento, mesmo com Steve tão perto ao ponto de ser idiotice tentar, mas foi seu celular tocando que a fez mudar de ideia.
- É seu pai, srtª – avisou-a J.A.R.V.I.S.
- Que horas são em Oxford?
- 4:30AM – respondeu J.A.R.V.I.S., e Steve se colocou na porta para ver o que estava acontecendo.
- Pai, você já ouviu falar de algo mágico chamado “fuso horário”? – suspirou a mulher, se jogando em sua cama com o celular na orelha – É algo que explica que não são as mesmas horas em todos os lugares do globo.
- Até onde eu me lembre, você não tinha o costume de dormir cedo – comentou Tony, terminando sua bebida.
- Pessoas mudam, hábitos noturnos também – disse ela, tentando ignorar o homem apoiado no batente da porta do quarto. Precisaria conversar com Steve sobre privacidade mais tarde – Como estão as coisas por aí?
- Cansei de revisar os projetos da Torre dos Vingadores e resolvi te ligar, pensei que talvez voc...
- “Quisesse entrar oficialmente para o time?” Preciso assinar alguma coisa? – cortou-o ela, ouvindo o riso alto do pai em seguida – Não foi piada! É só falar que eu aceito.
- Pensei que talvez você quisesse revisar ou alterar alguns detalhes do projeto – continuou Tony – Se você tiver algum tempo livre, claro.
- Claro, pode me mandar. Não estou exatamente muito atarefada ultimamente. Por incrível que pareça, Fury até que está pegando leve comigo.
- Uh, então a conversa que eu tive com ele surgiu efeito? – brincou Tony, continuando antes que sua filha pudesse perguntar se ele havia ameaçado seu chefe – Vou te deixar dormir e voltar a trabalhar. Boa noite, .
- Noite, pai.
- Tony não sabe que você está afastada – constatou Steve, cruzando os braços e olhando para a mulher que encarava o celular em suas mãos.
- Os únicos que sabem do meu estado são você e Fury. Os outros acham que eu estou em missão – contou ela, olhando de relance para o loiro antes de fingir interesse no teto – Não quero preocupá-lo.
- Só acredito que ele ficaria feliz se você contasse para ele, mesmo que isso signifique triplicar o número de cabelos brancos dele – insistiu Steve – Afinal, não deve ser nada fácil te ter como filha. Ele já deve ter se acostumado.
- Você começou bem, mas me perdeu no final – sorriu ela, assistindo o loiro entrar de vez no banheiro e fechar a porta - Boa noite, Steve.
- Noite, .
--
A maior parte daquele dia havia passado analisando os arquivos que seu pai lhe mandara, em alguns momentos até explicando alguns detalhes para Steve, sem acreditar que aquilo seria um problema. Se a torre seria d’Os Vingadores, não tinha motivos para esconder aquilo do líder da equipe, certo?
Era um bom argumento, caso precisasse futuramente.
- Stark! – chamou-a Steve, cansado de ser ignorado, então apelou para o objeto mais próximo, que foi lançado na direção do rosto da loira.
- Por que eu fui atacada por uma almofada? – perguntou ela, arrumando a tela do notebook que fora atingida no processo.
- Você não estava me respondendo – explicou ele, fazendo cara de inocente, o que a fez rir. Chegava ser um pouco irônico, mas Steve parecia uma criança em alguns momentos – Que horas partimos amanhã?
- Você que escolhe, querido. Você é o piloto.
- Pensei que você soubesse pilotar.
- Você vai me deixar pilotar sua moto?
- Não nessa vida.
ergueu os braços e deixou que eles caíssem ao seu lado na cama, pedindo que o loiro fosse fazer algo mais útil, como arrumar algo para que eles jantassem.
Apenas depois de vários minutos após a partida de Steve que ela percebeu exatamente o que estava acontecendo: Rogers não estava perto, demoraria um tempo considerável para retornar e sua mochila estava ao lado da porta, encarando-a como se perguntasse quanto tempo mais ela precisava para entender que aquele era o momento perfeito para matar sua curiosidade sobre o maldito caderno.
não pensara até aquele momento no que poderia ter naquele caderno que fosse tão importante, e só assim ela percebeu que era realmente uma incógnita. Ela não levantara nenhuma hipótese sobre o que teria ali. Por isso sua surpresa foi enorme ao constatar que aquelas páginas estavam repletas de desenhos.
Não o tipo de desenhos que ela fazia, esboços de protótipos de máquinas e derivados. Sequer se comparava às suas tentativas de desenhar qualquer outra coisa. Eram desenhos dos mais diversos, com uma riqueza de detalhes e capricho que a deixou estupefata. Traços tão perfeitos e delicados que era difícil acreditar que foram feitos por um soldado.
Steve entrou no quarto com a refeição de ambos em uma sacola, encontrando não mais com seu notebook no colo, mas sim um caderno muito semelhante ao seu, folheando-o sem pressa, passeando os dedos pelas imagens com cuidado.
- Acredito que eu tenha dito que eu não queria você mexendo nas minhas coisas - rosnou o loiro, deixando a sacola no chão e fechando a porta do quarto.
chegou a fechar o caderno no susto, tentando escondê-lo com o corpo, mas era inútil: ela já havia sido flagrada.
- Você não entendeu ou sentiu falta de espionar pessoas?
- Eu... – não havia desculpas para inventar, não tinha como ela simplesmente ter esbarrado com caderno, que estava sempre bem guardado. Ótimo, ela estragara a porcaria da missão por causa de curiosidade idiota.
Nervoso, Steve marchou até a mulher e arrancou o caderno de suas mãos, guardando-o novamente na mochila enquanto ela continuava paralisada. Fazia tanto tempo que não via o soldado alterado que ela sequer sabia o que fazer.
- Você tem talento, Rogers – disse , incerta, tentando mudar o rumo da conversa. Steve não gostou: mais uma vez ele via que a loira tentava enrolá-lo. Não dava para simplesmente confiar nela cegamente. Era idiotice.
- O que você queria mexendo nas minhas coisas, Stark?
- Você anda com esse caderno para cima e para baixo. Toda vez que eu chego perto, você o esconde. Eu estava apenas curiosa - explicou , que parecia estar falando a verdade. Mas como acreditar em uma espiã?
Essa desconfiança estava tão estampada nos olhos azuis do soldado que era impossível ignorar. Ela tinha completa noção de que Steve estava sempre atento a qualquer deslize seu, especialmente depois do incidente de Cleveland, que sequer completara um dia, mas por que aquele olhar frio estava a incomodando tanto?
- Você realmente não confia em mim, certo? – constatou ela, tentando sorrir, mas tudo o que conseguiu esboçar foi uma careta frustrada.
- Não, não confio - respondeu Steve sem rodeios.
- Então por que continua me mantendo perto?
Steve não sabia, mas aquele poderia ser considerado o primeiro momento em que a sua frente estava apenas , não a agente Stark. Não havia mais o que se salvar ali, não dava para reconquistar a confiança do loiro – que na verdade sequer existia. A missão em si não era mais importante.
Ali ela apenas queria respostas.
- Sei que seus ideais te impediam de me deixar ser assaltada ou sei lá o que aquele cara queria fazer comigo quando você me encontrou, mas nenhum de seus atos depois disso era algum tipo de obrigação. Você não tinha nenhuma obrigação de me fazer companhia, ou cuidar de mim durante essas últimas semanas. Então por que você fez isso tudo se não confia?
- Porque eu quero confiar em você - disse o loiro finalmente - Você... Você não ajuda, sabia?
- Não, você não quer. Estamos discutindo porque eu peguei um caderno de desenhos seu sem permissão. Eu só queria ver o que você tanto fazia com ele quando eu não estava perto. É por causa dessa ação minha que você não confia em mim? – ela respirou fundo, se entregando a curiosidade de analisar o homem: batimentos cardíacos levemente acelerados, mas estabilizando; e músculos aos poucos relaxando. Ela estava o ganhando. Ponto para a loira – Você quer ver a espiã. Você quer algum motivo para não conf...
não conseguiu terminar a frase porque não estava absorvendo a informação antes de entregá-la ao loiro e isso a assustou. Esse tipo de ação não era comum em qualquer tipo de pessoa e mesmo assim ela via essas ações no homem à sua frente, que parecia tão surpreso quanto ela.
Ela conseguia interpretá-lo, mas não conseguia entender o que isso significava.
Steve percorreu com seus olhos os traços leves da garota sem nenhuma pressa. Aquilo de fato era assustador: era como se ela pudesse vasculhar sua mente em segundos e entender seus pensamentos antes que ele próprio. Aqueles pensamentos o atormentavam há dias e ela os traduzira em palavras com tanta facilidade...
- Como você faz isso? As interpretações - perguntou Steve, se rendendo a curiosidade, sentando-se em sua cama de frente para – Você usou isso em mim. Eu percebi.
riu incrédula. Aquilo era realmente Steve cedendo às suas dúvidas e a aceitando mais uma vez.
- Não é necessário ler mentes para entender as pessoas - explicou ela, sem tentar esconder como estava desconfortável - Seus gestos e expressões te denunciam. É só saber interpretar.
- Você foi treinada para isso?
- Se eu disser que não, estarei mentindo. Claro que é quase impossível encontrar outra pessoa que faça isso tão bem quanto eu, mas eu não seria tão boa sem treinamento.
- Me analise - pediu Steve de repente, a deixando confusa com a pergunta - Diga se eu confio em você.
Steve realmente conseguira pegá-la de surpresa.
Demorou alguns segundos para conseguir se concentrar na expressão vazia do homem, que sequer entendia o que planejava com aquele ato repentino. Mesmo sendo ela, quando uma pessoa sabe que vai ser analisada, fica mais difícil a tarefa. E tinha fatores externos que interferiam a ação. Fato e desejo estavam se misturando intimamente, de uma maneira inseparável em sua mente.
estava vendo o que queria.
Nenhuma pessoa até aquele dia confiara completamente nela, com exceção de Pepper, e Steve pelo menos se esforçava em tentar confiar, de uma forma que chegava a deixá-la desconcertada. Ele não sabia tudo sobre sua vida, mas sabia de coisas o suficiente para querer mantê-la longe – exatamente o contrário do que ele fazia. Steve sabia que não eram coisas boas que ela omitia, e mesmo assim ele insistia saber. Mesmo sabendo que pessoas evitavam se aproximar dela, ele se aproximava mais. queria acreditar que Steve queria confiar nela.
Porque se ele não pudesse confiar, parecia que mais ninguém seria capaz.
Não tinha algo a ver com a missão: era um desejo seu. Por mais estranho que parecesse, queria alguém que confiasse nela sem que ela precisasse mentir, alguém que mesmo sabendo que ela tinha consideráveis habilidades para enganar, continuasse se arriscando ao permanecer ao seu lado.
Steve estava fazendo isso, por mais absurdo que parecesse.
- Não sei se posso responder isso - disse , por fim, desviando seu olhar para o chão. De repente parecia difícil manter sua expressão vazia até mesmo usando a segunda habilidade que tanto ela queria esquecer.
- Por quê? – perguntou Steve confuso. Ela havia passado tanto tempo o estudando, com tanta determinação e dúvidas em seus olhos, que não conseguia acreditar que aquela resposta era verdadeira.
voltou a encarar aqueles olhos azuis, sabendo que era uma péssima ideia. Ela morreria se admitisse isso em voz alta, mas sentia que estava se envolvendo mais do que devia.
- Está tarde, Steve - desconversou , passando as mãos pelos cabelos - Melhor nós irmos dormir.
não voltou a fitar Steve até a manhã seguinte. Apenas desejara boa noite antes de se deitar. Ele não fizera questão também: Steve vira algo de diferente nos olhos castanho da garota, como se ela finalmente tivesse chegado a uma conclusão importante. Por isso ele a deixara se isolar.
Steve sabia muito bem o que era ficar confuso consigo e sabia que não havia nada que pudesse fazer aquela noite.
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De manhã, os dois acordaram ao mesmo tempo. Tiveram um sono leve demais para terem dormindo completamente bem e isso era claro no rosto de ambos.
Steve se sentia cansado, física e mentalmente. Mais uma vez ele queria estar em casa, só que sua casa estava longe, em outra época. queria estar trancada em seu laboratório, não importava se fosse em NY ou UK, apenas longe já era o bastante.
- Bom dia - desejou o loiro, sem receber resposta. Em silêncio, ele assistiu a mulher caminhar até o banheiro e fechar a porta, e o único som que ele ouviu pelos próximos minutos foi o do chuveiro ligado. Ele não podia dizer que não esperava aquele tipo de reação, afinal, ele não fora a melhor pessoa do mundo na noite anterior. Claro que também não dava todos os motivos para ser tratada melhor, mas ela estava se esforçando nos últimos dias. Isso ele não podia negar.
A mulher que ele conhecera no porta-aviões da S.H.I.E.L.D. e aquela trancada no banheiro sequer pareciam ser a mesma pessoa.
- Quando vamos embora? – ele ouviu a voz de próxima, denunciando que ela saíra do banheiro. A expressão em seu rosto era a mesma que ele vira poucas horas antes, mas não foi isso que atraiu sua atenção, mas sim a postura da mulher: sua habilidade estava ligada.
estava na defensiva e a culpa era toda dele.
- Que tal depois do almoço? – sugeriu ele, antes de entrar no banheiro para sua higiene matinal.
Quando saiu, alguns minutos depois, o loiro a encontrou sentada em sua cama, discutindo algum detalhe dos projetos de Tony com J.A.R.V.I.S.
- Desculpe por ter mexido nas suas coisas – disse ela, sem desviar os olhos do notebook – Não ia gostar se você mexesse nas minhas, então eu deveria ter previsto a sua reação.
- Um erro não justifica o outro – suspirou Steve, apoiando as coisas na parede ao lado da porta do banheiro – Minha reação foi exagerada. Também peço desculpas.
pareceu surpresa, mas não deixou de esboçar um sorriso ao loiro, voltando sua atenção os projetos mais uma vez e o loiro passou o resto da manhã assistindo algum programa aleatório na TV.
Próximo ao horário de almoço, eles deixaram o hotel para comer, rondando os arredores do prédio para escolherem um local. Mesmo que tivesse melhorado, o clima entre os dois ainda estava pesado. Haviam trocados poucas palavras depois das pazes de manhã, conversando apenas o necessário.
- Algum lugar que te interessou? – perguntou Steve depois de passarem pelo quinto restaurante, estranhando não obter resposta. Ao checar a garota, a viu alguns passos atrás, com o olhar desfocado e uma expressão assustada – ?
A mulher continuou sem reação e, apenas por garantia, ele checou os arredores, pensando que talvez ela tivesse identificado alguma ameaça, mas tudo parecia normal. Tentando atrair sua atenção, ele apertou de leve seus ombros, mas não adiantou. continuava estática, como se de algum jeito tivesse desligado naquela posição.
- Está tudo bem, cara? – perguntou um dos garçons do restaurante ao lado, que assistia a cena de longe até o momento – Quer entrar com ela? Ela não parece estar muito bem...
- Pode me arrumar um copo d’água, por favor? – pediu Steve, pegando a mulher no colo, acompanhado pelo olhar das pessoas ao redor que tentavam entender a cena – Acho que a pressão dela pode ter caído ou algo do tipo.
O garoto o guiou até o corredor dos banheiros, onde Steve sentou a loira no chão, que ainda tinha os olhos fora de foco e a expressão mais contorcida, assim como sua respiração parecia estar acelerando. só reagiu quando sentiu o vidro gelado do copo encostando em seus lábios e a água fresca invadiu sua boca, afastando a mão de Steve antes de identificar quem estava a sua frente, tentando recuar, mas impedida pela parede às suas costas.
- Ei, calma – pediu Steve, colocando o copo de qualquer jeito no chão e segurando o rosto dela em suas mãos, tentando fazer com que a mulher focasse nele – Está tudo bem, ... Já passou.
Não demorou para que os olhos agitados de travassem nos azuis de Steve, e em segundos ela já parecia mais calma, tentando normalizar sua respiração. Só que não demorou muito para que um grunhido escapasse por sua garganta, ao mesmo tempo que suas mãos subiram para sua cabeça, como se pudessem tirar aquela dor de lá a força.
- ... O que foi? – perguntou Steve, segurando-a mais forte em seus braços, mas se afastou da mulher quando seus olhos voltaram a se encontrar: eles não eram mais de um castanho escuro, mas de um azul claro e límpido – O que d...?
Antes que pudesse conseguir alguma resposta da mulher, ficou inconsciente, deixando-o completamente confuso.
Agradecendo o garçom – agora consideravelmente assustado – Steve deixou o restaurante e voltou para o hotel com em seus braços, sem saber ao certo que protocolo seguir.
Era como se ele tivesse voltado no tempo: a loira aparentemente adormecida e ele sem saber o que fazer.
- J.A.R.V.I.S., você sabe me dizer o que há de errado com ela? – perguntou ele, depois de dar várias voltas no quarto.
- Temo não saber se tenho permissão para lhe passar esse tipo de informação, Cap. Rogers – começou o sistema, mas antes que o homem argumentasse, ele continuou – Mas o Diretor Fury da S.H.I.E.L.D. deve ter algumas teorias interessantes sobre o caso.
- E você espera que eu simplesmente ligu...? – antes que terminasse a frase, seu celular apitou, avisando que recebera uma mensagem. “Me encontre no terraço”.
- Não consigo acreditar que esse sincronismo de acontecimentos seja uma mera coincidência – resmungou Steve, marchando para a porta, mas hesitou ao perceber que teria que deixar sozinha.
- Creio que seja uma ótima oportunidade para lhe avisar que a Srtª instalou uma extensão minha em seu celular – comunicou J.A.R.V.I.S. – Serei capaz de lhe informar caso algo no estado da Srtª mude.
Um pouco mais tranquilo – mas nem de perto o suficiente para que ele ficasse tranquilo – ele rumou para o elevador, apertando com mais força que o necessário o botão para o andar que precisava ir.
Pelo horário, o sol brilhava com força total no céu, fazendo com que Steve estranhasse a quantidade excessiva de luz, levando a mão aos olhos para se acostumar. Depois disso, foi fácil localizar o homem de longa capa preta.
- Capitão Rogers – suspirou Fury, assim que ouviu a porta do terraço sendo aberta, sem desviar seu olhar da rua lá embaixo – Como tem passado?
- Você não veio aqui para saber como tenho passado – retrucou o loiro, parando ao seu lado. Fury apenas sorriu de lado, se virando levemente para o homem.
- Não, vim porque estou prestes a perder minha melhor agente. E isso me preocupa.
O desconforto de Steve foi tão evidente que fez com que Fury desconfiasse que talvez o loiro estivesse mais bem informado com ele. Afinal, tudo o que ele tinha eram teorias, já que parecia querer cuidar de tudo sozinha, embora não estivesse tendo sucesso.
- Você sabe o que está acontecendo com ela?
- Sei tanto quanto você, Rogers. Apenas a causa: Loki – suspirou o homem, erguendo os olhos para o seu, se questionando se aquela era uma boa escolha – Tenho uma missão para você, Rogers.
Mesmo tendo a sensação de que estava deitada há mais tempo que o recomendado, se sentia cansada quando despertou, sabe-se lá quanto tempo depois de suas últimas memórias, que não passavam de flashes confusos: lembrava de estar com Steve em Berwick, de terem saído para almoçar e de ela estar avoada, sem motivos aparentes. Sua cabeça doía e tudo a sua volta parecia um pouco distorcido, sem contar que nada lhe era familiar.
Se um cheiro conhecido não estivesse impregnado em todo o local, talvez ela tivesse entrado em desespero.
podia não saber onde estava, mas sabia que Steve estava por perto. Não só pelo seu cheiro, mas também podia ouvir sua voz ao longe, parecendo conversar com J.A.R.V.I.S., o que a fez sorrir. Era no mínimo agradável ver o soldado se adaptando ao mundo atual e um tanto engraçado ver J.A.R.V.I.S. adequar sua fala para que o loiro o entendesse.
- Srtª já recobrou a consciência, Cap. Rogers – avisou o sistema, e logo Steve já estava na porta do quarto, apoiado no batente enquanto assistia a garota se sentar na cama, passear as mãos pelo rosto e cabelos, até cravar seus olhos castanhos em seus azuis.
- Não estamos mais em Berwick – constatou ela, com a voz falha – Estamos... New York? Eu não consigo... Não consigo organizar as informações...
- Meu apartamento no Brooklin, para ser mais preciso – suspirou ele, caminhando com passos lentos até a beirada da cama e se sentando – Você me deu um baita susto.
- O que aconteceu? – a pergunta demorou a ser feita, e no fundo não queria saber a resposta. Pessoas viviam toda sua vida com incógnitas que nunca eram respondidas, então por que ela não podia ter esse privilégio também?
Seu desconforto era tão evidente que ela podia ver como isso estava afetando a postura de Steve, e sequer estava ousando a ligar suas habilidades.
- Por que você não come alguma coisa antes de começarmos essa conversa? – sugeriu o loiro, depois de respirar fundo, se levantando para incentivar a mulher a fazer o mesmo, coisa que não aconteceu.
- Rogers... Fala logo – suspirou ela cansada, deixando seus braços caírem aos seus lados – Ficar enrolando não vai nos levar a lugar nenhum.
- Você confia em mim? – perguntou ele subitamente, a surpreendendo em um nível que sequer pôde disfarçar – Já discutimos muito sobre minha confiança em você, mas e o contrário?
- Eu realmente não consigo ver por que precisamos falar disso agora – desconversou ela, depois de longos segundos, dirigindo toda sua atenção para encontrar seu celular. Se Rogers não queria contar, J.A.R.V.I.S. faria com todo o prazer.
- Porque você vai ter que confiar em mim e esquecer o que aconteceu, pelo menos por hora. “Ele realmente está tentando me manipular?”, foi o pensamento que tomou conta de sua mente e, antes que ela pudesse raciocinar sobre seus atos, a loira já estava de pé, a poucos passos de distância do soldado, que buscava manter a expressão indiferente. No fundo não era o questionamento de Steve que estava a incomodando, mas a necessidade dele.
Steve nunca entraria naquele assunto caso as coisas não tivessem saindo do controle.
- Mas o que foi que aconteceu, inferno?! Como eu posso esquecer algo que eu não sei?
- Você desmaiou. Uns cinco dias atrás.
Aquilo foi o suficiente para que ela se calasse, absorvendo a informação da melhor maneira que podia.
Não era algo completamente absurdo, certo? Na primeira vez que “esbarrara” com o loiro ela também havia apagado por um tempo considerável, embora não pudesse ser classificado como normal. Porém naquele momento ela tinha mais sonífero nas veias do que sangue, então por que aquilo estava se repetindo?
O que a mais atormentava era ter uma possível boa teoria.
- Você confia em mim, ? – repetiu Steve, vendo como a mulher estava perdida em pensamentos – É tudo que eu preciso saber. Não dá para eu me envolver nisso se você não confiar em mim.
Era uma pergunta simples, que pedia uma resposta com apenas duas variações: uma positiva e outra negativa. Acima de tudo, ela ainda podia mentir e descobrir o que o loiro planejava sem ter que utilizar de outras estratégias. Então por que sua voz não funcionava? Por que era tão difícil fazer aquela confissão em voz alta?
Não. Rogers era muito ligado com a S.H.I.E.L.D. e não hesitaria em contatá-los caso sentisse que ela estava fora de controle. Ele faria o que era correto, coisa que ela não tinha coragem de fazer. Mesmo se ele se importasse com seu bem-estar – o que ela talvez estivesse começando a acreditar que era verdade – não mudaria a escolha do soldado. Ele a entregaria pelo seu bem, não iria?
- Eu confio – disse ela lentamente, tentando sair o mais convincente possível, buscando nos olhos azuis de Steve algo que acusasse se ele tinha acreditado ou não. “Mentira”, foi o primeiro pensamento do homem assim que aquelas palavras saíram da boca da loira. Talvez ela até confiasse, mas estava relutante em aceitar. Era difícil admitir confiança. Era perigoso. Não era impossível que um dia ele pudesse usar essa confiança em seu favor, e Steve tinha completa noção de que isso passava pela mente perturbada de , por isso ele não acreditou. No máximo estava mentindo para descobrir o que ele iria dizer, porém isso não o desanimou.
não era o tipo de pessoa que demonstrava fraqueza perto de quem ela não confiava, e aquele era um daqueles momentos.
- Você quer que eu te ajude?
- Por que você está fazendo isso? – perguntou ela, com a voz arrastada, cansada da enrolação do soldado. Custava apenas ir direto ao ponto?
- Você quer ou não a minha ajuda?
- Quero.
- Então preciso saber o que Loki fez com você.
Foi como em algum daqueles momentos de “quase morte”, em que as pessoas dizem ver sua vida passar diante de seus olhos.
pode não ter visto todos os momentos que viveu até aquele dia, entretanto algumas sequências interessantes se projetaram em sua mente: aquela sensação ruim que sentia quando criança, que chegava muito perto do medo, quando conseguia dizer o que ia acontecer com antecedência, sendo que nenhuma outra criança conseguia; os diversos testes feitos pelos mais variados especialistas da S.H.I.E.L.D. para que se fossem classificadas suas habilidades; o pouco – mas traumatizante – tempo em que o asgardiano a inutilizara; o desespero ao sentir que alguma coisa em si havia mudado apenas por auxílio de um terceiro, sem saber qual era seu objetivo com isso; e Steve Rogers descobrindo o seu mais novo e perigoso segredo.
Não era seu corpo que estava paralisado, era sua mente. não sabia o que dizer, ou fazer. Em nenhum momento pensou que alguém voltaria àquele tópico, ou que ela própria acabaria por acusar algo de errado, que alguém conseguisse ligar os pontos. Aquilo devia ser informação confidencial, restrita apenas a ela. Se havia passado a maior parte da sua vida descobrindo e aprendendo a controlar seus antigos poderes, ela podia muito bem repetir com os novos. Nada de terceiros fazendo perguntas, testes e suposições.
Então apenas só havia uma coisa a se fazer.
Quão difícil seria matar Steve Rogers?
- , por favor, se acalme – pediu a voz calma do loiro, a deixando confusa. apenas ficou ciente de sua movimentação ao sentir algo duro contra suas costas, a parede oposta ao homem, que se aproximava com passos lentos e hesitantes.
Se sentindo encurralada, ela tentou uma série de socos, que foram facilmente bloqueados pelo loiro, que segurou seus braços contra a parede.
- Quando eu te encontrei você me respondeu que não sabia o que ele tinha feito com você, mas isso foi mentira – continuou ele, sentindo que a mulher não arriscaria dizer mais nada – Ou você pode até não saber por completo, mas tem uma boa noção, não é?
- Se você está realmente preocupado, vai esquecer que me fez essa pergunta. Vai esquecer qualquer conclusão ou suposição que você fez a respeito disso – murmurou ela em tom baixo, sabendo que seu rosto não estava permitindo que ela passasse confiança, ou pudesse transmitir alguma ameaça – Apenas esqueça.
- , seja lá o controle que você acha que tinha sob a situação, você não tem mais. Me deixe ajudar.
- Você começou essa conversa pedindo para eu esquecer o que aconteceu antes de eu apagar, lembra? Que tal todos esquecermos isso tudo? Fico bem mais confortável.
- Esse conforto pode acabar te matando, Stark – disse o loiro por fim, rumando para a porta, parando no batente apenas para completar: - Ou acabar matando quem fica ao seu redor.
queria pará-lo e insistir para que ele contasse o que aconteceu, mas não o chamou. Até aquele dia não havia pensado que mais alguém pudesse sair machucado – exceto em um cenário em que Loki voltava e a usava como uma arma. Antes não passava de um medo seu, de descobrir algo sobre si que não pudesse aceitar.
Não havia se considerado uma ameaça coletiva até aquele momento.
- Steve... – chamou-o , voltando a se sentar na cama e abraçando os joelhos – Só me diz o que aconteceu.
O loiro voltou ao portal, com as mãos escondidas nos bolsos e uma expressão cansada.
- Estávamos indo almoçar e você entrou em choque – contou ele – Você não respondia a nenhum estímulo... E quando respondeu... seus olhos estavam azuis. Não azuis normais. Azuis “sob controle de Loki”.
olhou para o soldado como se uma segunda cabeça estivesse nascendo em seu pescoço, principalmente porque ele parecia extremamente calmo. Ele não deveria estar gritando, ou chamando por ajuda? Pessoas normais não manteriam a calma, fossem elas o Capitão América ou não.
- Você acha que ele está me controlando – concluiu ela depois de um tempo, forçando uma risada leve – Estamos em planetas diferentes, é impossível. Sem contar que eu saberia dizer se há alguma interferência em minha mente, já que passei por isso antes.
- Não acredito que você conseguiria me dizer se está sendo controlada ou não.
- Eu posso dizer porque sei o que ele fez – confessou ela, abaixando o olhar para os lençóis - Ou melhor, acredito que sei.
Steve respirou fundo, avançando com passos lentos até a beirada da cama, onde ele se sentou para ouvir a explicação da loira, que parecia estar em um conflito interno sobre contar ou não. Ele sabia que as chances de ela contar tudo ou ser sincera em tudo o que dissesse eram mínimas, mas apenas o mero fato de ela estar considerando essa possibilidade já era o suficiente para que ele fizesse sua escolha.
Não importava tudo o que Fury tinha lhe dito.
Ele ficaria ao lado de .
- Parece que ele fez uma espécie de... upgrade nas minhas habilidades – disse ela por fim, voltando a olhar para o loiro em busca de alguma reação.
- Você pode explicar melhor?
- Às minhas habilidades de análise... Ele adicionou habilidades de manipulação.
- Manipulação como telecinese?
- Manipulação como controlar meus batimentos cardíacos, ou aumentar a adrenalina no meu sangue para aumentar minha força, até ignorar estímulos nervosos para não sentir dor... Esse tipo de manipulação.
Se até aquele momento de sua vida tinha uma pequena lâmpada de emergência que acendia sempre que ela começava a revelar informações perigosas, foi naquele dia que a lâmpada queimou. Havia demorado tanto tempo para revelar a alguém a primeira versão de seus poderes e agora explicara os novos quase que sem precaução. Afinal, Steve podia levantar em qualquer momento e dizer “obrigado, era isso que Fury queria saber” e sair.
Poder estar fazendo uma escolha errada era o que mais estava a deixando tensa. A incerteza de como as coisas se desenrolariam nunca havia feito parte de sua vida, mas não podia ser mais considerada “uma novidade”, já que ela convivia com aquilo desde o fim da Guerra de NY. E o exercício de confiança? Quando fora a última vez que ela colocara em prática?
- Quando você descobriu isso? – perguntou Steve depois de um longo silêncio, onde cada um estava preso em seu próprio debate interno.
- Antes da Batalha de NY acabar. Eu só estava em pé porque estava bloqueando qualquer estímulo de dor.
- Por que não contou a alguém? Estávamos cercados de cientistas. Eles podiam ter ajudado.
Assim que terminou de falar, Steve viu nos olhos escuros da garota que havia chegado a um ponto importante, em um assunto que talvez ela estivesse torcendo para que ele esquecesse ou ignorasse.
- Steve...? – começou ela, respirando fundo antes, tentando focar o olhar em algum objeto inanimado do quarto, evitando o máximo que podia os olhos do loiro. Eram anos daquele mesmo sentimento sendo expresso em palavras pela primeira vez, não queria acabar parando por reconhecer algum tipo de julgamento do homem – Você lembra de quando entrou no projeto Super Soldado? Que, quando o exército prometido se resumiu a você, eles queriam te trancar em um laboratório para entrar e recuperar a fórmula? Você recusou, não foi? Não quis ser um brinquedinho de cientista. “Tudo que você tem saiu de um tubo de ensaio”. As palavras de Tony voltaram à mente do soldado, se sentindo mais parecido com a jovem Stark do que com qualquer outra pessoa que já viveu.
- Eu sou um dos brinquedinhos da S.H.I.E.L.D. praticamente desde que eu comecei.
A sensação de se sentir importante não por si próprio, mas sim por algo a parte, algo diferente. Claro que o “diferente” de ser naturalmente dela era bem diferente do “diferente-feito-em-laboratório” de Steve, mas não mudava o fato de que ambos eram vistos como objetos a serem estudados e armas a serem usadas quando se fosse necessário.
Ele podia não entender tudo o que ela era capaz de fazer, mas conhecia muito bem aquela sensação.
- Tenho que passar por uma bateria de exames quase uma vez por mês para eles tentarem entender como meu organismo funciona, se eles podem ativar essas habilidades em outras pessoas – continuou , sem realmente esperar alguma reação dele, apenas focada em colocar todos seus medos em palavras. Ela só percebeu que estava indo longe demais quando sentiu que seus olhos começavam a arder – Você tem ideia do que eles fariam comigo se eu tivesse contado quando percebi? Se eles tiverem a menor suspeita de que Loki alterou minhas habilidades, eu vou ser trancada em um laboratório pelo resto da minha vida, principalmente porque eu não consigo controlar.
- Você está com medo – disse Steve, simplesmente – Desde o começo você só estava assustada.
- É... - suspirou ela, passando as mãos pelo rosto antes de começar a rir de nervoso – Isso soa ainda mais patético quando outra pessoa que está falando.
- Isso quer dizer que você é humana – sussurrou Steve, arriscando um sorriso e colocando uma mão no ombro trêmulo da loira – É nisso que você tem que se apegar. Você não é um brinquedo da S.H.I.E.L.D., não é uma arma do Loki... Você é muito mais do que isso. Não se esqueça.
poderia ter tentado se controlar, mas queria que sua reação fosse a mais genuína possível. Steve merecia.
Sem cerimônias, ela lançou seus braços ao redor do pescoço do soldado, apoiando o queixo em seu ombro enquanto ouvia sua risada leve, antes de sentir braços envolverem sua cintura.
- Fury me mandou para ficar de olho em você – sussurrou ela contra a pele exposta do loiro, que ficou momentaneamente tenso pela revelação.
- Por que está me contando isso agora?
- Senti que era certo contar – suspirou ela, apertando mais seu abraço – Vamos dizer que pode ser peso na consciência.
- Ou você apenas está criando uma situação para eu dizer que Fury também me mandou ficar de olho em você?
A reação foi instantânea: seus braços soltaram o homem e ela se afastou alguns muitos centímetros para poder fitar seu rosto.
- Mas já?! – exclamou ela.
- Cinco dias, .
- O que você disse a ele?
- Que não vi nada de estranho em você nesse tempo que estamos juntos – suspirou Steve, se levantando e oferecendo a mão a garota para que ela também se levantasse – Que você passou mal por causa de alguma coisa que comeu e que estava apenas descansando. Não acho que ele acreditou, mas não é como se eu tivesse realmente visto alguma coisa que te incriminasse. Tirando os olhos azuis, claro.
- Se algo der errado, Fury vai te culpar por ter mentido – alertou-o ela, aceitando a mão e o acompanhando para a cozinha, sem se opor já que seu estômago estava pedindo por comida há algum tempo.
- Eu não iria te entregar sem entender o que estava acontecendo primeiro. Você pode ter mentido para mim desde o começo, mas...
- Está bravo comigo? – ela o interrompeu, assistindo a expressão do loiro mudar enquanto ele respirava fundo.
- Agora nem tanto. Depois que resolvermos o que vamos fazer, talvez aumente – disse Steve, vendo-a fazer uma careta e sussurrar “justo” – E isso me lembra... Por que você aceitou a missão de me proteger se estava com problemas com suas habilidades? Foi perigoso para nós dois.
- Trabalho solo, sem monitoramento de superiores, protegido consideravelmente capaz de se cuidar sozinho, tempo livre o suficiente para tentar entender o que estava acontecendo – numerou ela – E o ponto muito importante de que eu fui obrigada a aceitar. Fury está tendo que reduzir o número de agentes por missão e o lado financeiro também está passando por um racionamento pelo número alto de gastos por causa da guerra de NY. Fury me largou nessa missão sem nenhum tipo de auxílio, seja financeiro, material ou de colegas.
Talvez por estar com a mente menos ocupada e um pouco mais leve por ter mais alguém carregando aquele problema, estranhou a explicação que dera. Fury era muito mais engenhoso do que ela descrevera. Tinha alguma coisa que ela havia deixado passar batido.
- Isso ou ele pensou que você pudesse me parar caso fosse necessário – suspirou ela por fim, se virando para o soldado – Ele comentou algo assim?
- Se esse era o objetivo dele, ele teria me dito desde o começo que você estava na minha cola – retrucou Steve, um pouco rápido demais para o gosto da loira, mexendo nos armários da cozinha em busca de algo comestível enquanto ela analisava a reação suspeita do homem – Vou sair para comprar alguma coisa para comer. Tome um banho e descanse enquanto isso.
assentiu e logo o soldado deixou o apartamento.
- J?
- Sim, srtª ?
- Me informe se Rogers entrar em contato com alguém da S.H.I.E.L.D., pelo celular ou pessoalmente.
- Farei isso, srtª, mas... – J.A.R.V.I.S. hesitou – Não acha que deveria confiar um pouco mais no Cap. Rogers? Ele passou os últimos dias preocupado com seu bem-estar.
- Exatamente por isso preciso saber se ele está nessa comigo de verdade ou apenas sendo usado pelo Fury – suspirou ela, voltando para o quarto e procurando sua mochila – Quero acreditar nele tanto quando você, mas o mundo não é perfeito... Meu pai tentou falar comigo nesse meio tempo?
- Apenas me perguntou da sua localização e atividades recentes – respondeu ele – Como sempre, disse que você estava no campus fazendo testes.
- Mande uma mensagem para ele e para Pepper – pediu ela, caminhando para o banheiro com roupas limpas – Diga que eu vou ficar mais um tempo fora do ar. Trabalho na faculdade.
- Devo bloquear as futuras ligações deles?
- Por favor.
Mesmo se sentindo um pouco melhor depois de uma ducha, sentiu certa dificuldade em se olhar no espelho. Ela sabia que seria bem difícil ver as tais íris azuis que Steve relatara, mas apenas imaginar a imagem já lhe causava um sentimento ruim.
O que ela era agora?
- ...? – ela ouviu Steve, segundos depois da porta do apartamento bater – Comida chegou.
Sabendo que não encontraria a resposta daquela pergunta no banheiro e de barriga vazia, amarrou o cabelo no topo da cabeça, respirou fundo antes de sair, e teve o cuidado de esboçar um leve sorriso para o loiro quando o avistou arrumando a mesa para os dois. Não que precisasse fingir alguma coisa para ele – afinal, se fosse avaliar seus segredos por peso, Steve estava a par da maior parte deles.
Era uma forma de tentar o agradecer.
- O que você vai fazer? – perguntou Steve, enquanto se sentavam e, ao ver a expressão confusa da loira, completou – Sobre isso tudo.
- Você disse que quer me ajudar. Com o que você quer ajudar?
- Com que você precisar.
- Você consegue me arrumar uma máquina do tempo e impedir que Loki chegue perto de mim? Isso seria bem legal – brincou ela, mexendo em sua comida com o garfo, sem se dar o trabalho de comê-la – Me fazer esquecer isso tudo também seria bem interessante.
- Não faria bem simplesmente fingir que nada mudou. Esconder isso talvez acabe sendo pior – repreendeu-a o loiro, soltando os talheres e cruzando os braços – Se você não aprender a controlar, isso vai acabar saindo de controle, ou vai aprender a controlar você.
chegou a abrir a boca para retrucar, mas parou no meio do caminho, lançando para o soldado um olhar curioso que aos poucos foi se estreitando.
Aquelas palavras não lhe eram estranhas.
- Você está tentando me dar conselhos com base em Frozen, não está? – disse ela por fim, rindo inconformada enquanto Steve gargalhava alto.
- Foi tão óbvio assim?
- Só faltou você começar a cantar Let It Go... – murmurou ela, com um sorriso maldoso no final – Por essa sua escolha excelente de fonte de sabedoria, vou te chamar de Elsa agora, princesa da neve.
- Rainha – corrigiu Steve, mesmo sabendo que aquilo apenas colocaria mais lenha na fogueira, mas satisfeito ao ver a jovem Stark abandonando toda aquela postura séria e controlada para se debruçar na mesa e rir. Fazia tempo que ele não ouvia aquela risada e ele não tinha notado até aquele momento como sentira falta dela.
Alguma parte de sua consciência continuava a gritar que a que convivera com ele nos últimos dias era uma farsa, mas era difícil lhe dar atenção quando seus ouvidos eram preenchidos com o som da risada fácil da loira.
- Certo, mas aonde nós vamos... “Let it go”? – suspirou ela, depois de conseguir se recompor, embora ainda mostrasse um vestígio de sorriso – Precisamos de um lugar seguro e sem muitas pessoas por perto, já que pode ficar perigoso.
- Tem uma academia perto daqui, onde eu passava um tempo antes da guerra. Podemos usá-la.
- E ela continua lá? Isso faz o que, quase uns 70 anos? – estranhou , fazendo com que o loiro rolasse os olhos.
- Guerra de NY, Stark.
- Você precisa começar a nomear as guerras caso não queira me ver confusa! – resmungou ela, rindo em seguida antes de voltar a ficar séria – Acha que realmente é uma boa ideia? Não fazemos ideia do que pode acontecer se eu perder o controle de v...
- Se algo der errado, o problema vai ser meu, não seu.
- E se você não conseguir me parar e eu acabar machucando alguém?
- Eu não vou deixar.
- E se eu machucar você? – ralhou ela, começando a ficar irritada com a postura otimista demais de Steve – Minha força ainda não se compara a sua, mas não sab-
- Ninguém vai se machucar – garantiu Steve – Nem eu, nem você ou qualquer outra pessoa. Confie em mim.
- Fury vai te matar se isso sair de controle.
- Ainda bem que não vai, não é?
Ainda incomodada, apertava seu fino casaco contra o corpo, tentando esvaziar sua mente de todas as dúvidas que a perseguiam, enquanto Steve conversava no andar inferior com o dono da academia, e no fundo ela desejava que o homem recusasse o pedido do soldado. Se eles não tivessem um espaço adequado, seria muito irresponsável testá-la.
Para sua infelicidade, o loiro não demorou muito para aparecer em seu campo de visão, lhe lançando um sorriso encorajador, mas tudo o que a garota queria fazer era sumir.
Steve tinha completa noção da objeção da loira a sua proposta, e sequer ele próprio conseguia dizer com certeza se aquilo era ou não uma boa ideia. Não ter conhecimento das habilidades de um inimigo era algo que ele já estava habituado, mas não era sua inimiga e ele temia que alguém pudesse sair de lá machucado, e que consequências isso teria na jovem.
Mas ela não precisava saber de nada disso.
- Ainda não me sinto confortável com essa ideia, Steve... – resmungou ela, assistindo o homem se alongar e não conseguindo tirar de sua mente como deveria ser difícil levar um soco bem dado daquele braço musculoso – É melhor nós voltarmos para seu apartamento...
- Desistir não é uma opção, – lembrou ele, sorrindo maldoso, sabendo exatamente como motivá-la – Isso não soa muito com uma Stark...
- Nós também temos esses momentos de questionamento, Rogers – retrucou ela mal-humorada, embora tivesse fisgado a isca e finalmente tirado seu casaco, começando a se alongar em seguida – Pode ser uma surpresa para você, mas nós também somos humanos.
Rindo de leve, Steve apenas fez um gesto para que ela se aproximasse para poder explicar como as coisas funcionariam: naquele primeiro momento, o soldado apenas queria que ela se soltasse, então queria um combate bastante semelhante ao que tiveram em Cleveland. Ele só percebeu que a garota estava realmente tensa quando a menção àquele episódio não resultou em piadas maldosas vindas dela. Sequer um olhar sugestivo. Apenas assentiu com o olhar baixo.
E o contraste entre aquela versão de com as outras que ele já vira foi o que deixou surpreso. Eram tantas camadas que parecia que ele nunca conseguiria alcançar a última. Naqueles poucos meses eram tantas variações que ele poderia simplesmente considerá-las pessoas diferentes. A agente A.S. nunca se portaria de forma tão insegura diante de alguém, ou riria tão abertamente como na semana anterior, e isso o fazia pensar em que tipo de pessoa a S.H.I.E.L.D. pretendia fazer com que ela se tornasse.
Havia tanto potencial naquela garota e Fury parecia querer desenvolver apenas aspectos negativos.
- Certo, round 2 – anunciou o loiro, assim que se sentiu satisfeito com o nível de comprometimento de na luta. Sua postura já estava bem mais relaxada e, embora não estivesse sendo sua melhor performance, suas preocupações pareciam estar aos poucos saindo de seu foco – Mas dessa vez vai ligar sua analisação. Apenas a analisação. Vamos deixar a manipulação para outro dia.
- Com medo do quanto de força eu consigo usar? – debochou ela, deixando que sua mente interpretasse os dados que a cercavam.
- Sendo bem sincero, sim.
No primeiro ataque Steve já percebeu a diferença: os movimentos da garota se tornaram mais precisos, mais ágeis, o que influenciava demais na confiança que a loira transmitia. Ela já sabia como aquela luta terminaria, assim como ele.
Derrotar na estratégia era uma missão com poucas chances de sucesso e era por isso que a S.H.I.E.L.D. queria tanto ela em sua equipe.
Pela quantidade de coisas que a loira havia omitido, junto com a pressão por ter sido envolvida na Guerra de NY, qualquer outro agente teria sido desligado da organização. Mesmo se ela tivesse informações perigosas, ela nunca seria mantida depois de demonstrações tão explícitas de falta de responsabilidade. Esconder as novas habilidades da S.H.I.E.L.D. resultantes da interferência de Loki poderia ser considerado como um ato de traição, já que eles nunca aceitariam os motivos pessoais da garota como válidos. Porém, aquilo tudo poderia ser colocado em segundo plano porque a S.H.I.E.L.D. não poderia apenas a demitir. Mesmo que não a colocassem mais no campo, não poderia permitir que algum inimigo a usassem contra eles.
A jovem Stark era uma arma que não podia cair em mãos erradas.
--
Algumas horas mais tardes, ambos entraram em um acordo de paz e rumaram de volta para o apartamento, em um silêncio um tanto desconfortável. Steve estava um pouco receoso pelas coisas que deduzira enquanto lutava com a garota, e isso não passou despercebido por ela, que não conseguia entender o que havia acontecido que pudesse justificar a mudança de postura do soldado.
- Está tudo bem, Steve? – perguntou ela por fim, depois de acenar para o porteiro e o seguir escada acima. A expressão confusa a incentivou a continuar – Você ficou um pouco quieto no caminho de volta.
- Acho que não pensei que ia me cansar tanto – riu ele, mas não conseguiu convencer nem a si mesmo – Como você está se sentindo?
- Como se eu estivesse fora de forma – suspirou a garota, sentindo que o corredor do prédio não era o melhor lugar para questionar o loiro – Um pouco de dor de cabeça também. Fiquei muito tempo travando a habilidade que eu costumava usar vinte e quatro horas por dia, então acho que seja normal. Você observou algo estranho?
- Como seus olhos mudando de cor novamente? – soltou ele, destrancando a porta e abrindo passagem para que ela entrasse primeiro – Só vi seus olhos mudarem de “eu não quero mesmo fazer isso” para “eu vou matar esse cara se ele tentar me corrigir mais uma vez”.
- Você é pior que o Barton – disse ela, se jogando no tapete da sala – E eu pensei que nunca diria essa frase na vida porque o Barton é triste.
- Obrigado pela parte que me toca – resmungou ele, rumando para seu quarto – Vai querer tomar banho primeiro ou posso ir na frente?
- Pode ir – suspirou ela, puxando uma almofada e a abraçando enquanto se encolhia no chão – Vou morrer um pouco aqui antes.
- Só coloque essa almofada para lavar depois – brincou o loiro – Não precisamos sentir o cheiro do seu suor o tempo todo.
- Meu perfume natural, Rogers – riu ela, já de olhos fechados – Todo mundo gosta.
Quando voltou à sala depois de pegar sua troca de roupa, Steve encontrou a garota já adormecida. Com cuidado, ele apenas ergueu sua cabeça para lhe deixar uma almofada de apoio, movimentação que não ofendeu seu sono. No final das contas, ela realmente estava muito cansada.
Ali ele encontrava outra , que transmitia nada mais do que tranquilidade em seu rosto, como se nada que acontecesse ao seu redor pudesse lhe abalar. Ao mesmo tempo também parecia tão frágil e vulnerável que o instinto de ficar ao seu lado e protegê-la praticamente o dominava, como se essa fosse sua única função.
Como se ele tivesse voltado do gelo exatamente para isso.
Balançando a cabeça para afastar tais pensamentos, Steve rumou para o banheiro, já que ele também precisava de um banho. Quando terminou, a garota continuava na mesma posição, em um sono pesado muito semelhante com os que ela entrava quando algo de errado acontecia com seus poderes. Agora preocupado, ele não viu outra alternativa senão acordá-la.
- ... – ele a chamou inúmeras vezes, até conseguir que ela reagisse.
-... TV... – resmungou ela, abraçando a almofada com mais entusiasmo – O que você... quer,... Tevie?
- Você está me chamando de “Tevie” agora? – riu ele, principalmente quando ela soltou um nada amigável “cala a boca e me deixa dormir” – Depois de um banho e comer você dorme.
Mesmo reclamando muito, acabou por concordar, cambaleando até o banheiro. Quando estivesse definitivamente acordada ela pegaria suas roupas, esperando que o soldado não se importasse por ver alguém enrolado em uma toalha correndo pelo apartamento. Antes de ligar o chuveiro, aquilo lhe pareceu uma ideia bem inteligente. O difícil seria continuar achando que fora uma boa ideia quando já estivesse acordada.
estava quase adormecendo em pé com a água quente percorrendo seu corpo, até que um estalo ecoou pelo banheiro e a tão querida água quente ficou gelada.
- Mas q...?! – gritou ela no susto, batendo as costas na porta do box quando tentou se afastar da água. O barulho junto com seu grito com certeza havia atraído a atenção de Steve, então ela puxou uma toalha para se enrolar.
- ? – perguntou o loiro assim que abriu a porta, com a interrogação em seus olhos azuis.
- O chuveiro queimou.
- Pensei que você tivesse caído ou algo do tipo – disse ele, tentando ignorar a falta de roupa da garota – Não pensei que você fosse do tipo que tem problema com água fria.
- Primeiro que essa água parece ter saído do Ártico – resmungou ela, tentando fechar o registro sem encostar no líquido gelado – Segundo que eu estava quase dormindo e o choque térmico me assustou.
- Vou sair para comprar outro – avisou o loiro, sem tirar o sorriso divertido do rosto.
- Provavelmente foi só o resistor que queimou, não precisa comprar um novo – cortou-o ela, saindo o box e puxando outra toalha para impedir que a água escorresse de seus cabelos para suas costas – Depois que eu superar a hipotermia eu troco.
- Você conserta chuveiros?
- Você já devia estar no ponto onde se pergunta “o que eu não posso fazer?”, querido – sorriu ela – Agora agradeceria se você fosse logo para eu poder me secar.
Como se sem saber do que se tratava, os olhos deixaram o rosto da garota, percorrendo rapidamente seu corpo antes de ouvir a risada descrente da loira.
- Olhos aqui em cima, soldado – provocou , achando graça no rosto corado do homem – Não esquece de comprar alguma coisa para gente comer também.
- O que você quer comer? – perguntou Steve, agradecendo a mudança de assunto.
- Hm... Que tal lasanha? Faz eras que não como lasanha.
- Certo, e o que precisamos para fazer lasanha?
o encarou como se uma segunda cabeça estivesse saindo de seu pescoço.
- O que você quer dizer com “o que precisamos”? Precisamos da lasanha e um micro-ondas.
- Pelo amor de Deus, Stark! – ofegou ele, jogando a cabeça para trás – Que tal tentarmos hoje preparar algo que já não esteja pronto, só para variar?
- Não me responsabilizo pelos futuros danos causados na cozinha – avisou ela, caminhando em direção ao homem para expulsá-lo do banheiro – Você pergunta para o J.A.R.V.I.S. os ingredientes e me deixa terminar de me secar!
Rindo, Steve concordou e deixou o banheiro, procurando sua carteira e o celular e logo saindo para o mercado mais próximo. Quando voltou, pensou ter voltado no tempo, já que estava apagada no tapete na mesma posição de mais cedo.
- Não está não hora de dormir, Stark – disse ele, jogando a embalagem da massa de lasanha da garota, que acordou no susto – Está parecendo gente velha.
- Eu definitivamente não te entendo Rogers – resmungou ela, se levantando e jogando a embalagem de volta nele – Você começa o dia todo ranzinza corrigindo até o jeito que meu cabelo estava amarrado na academia e agora de noite está mais engraçadinho do que eu em festa da empresa.
- S.H.I.E.L.D. ou Indústrias Stark? – perguntou Steve, já rumando para a cozinha.
- As festas da S.H.I.E.L.D. são horríveis. Se um dia te chamarem para uma, recuse sem pensar duas vezes – avisou a garota, se sentando na pia – Mas as das Indústrias Stark também são bem chatas. Para mim. Todo mundo quer agradar a princesinha do império e ela só querendo que uma bomba explodisse no salão.
- Você deve ter sido uma criança incrível – brincou ele, tirando inúmeras coisas das sacolas que trouxera, tudo sob o olhar abismado da loira, que aparentemente não sabia quantas coisas iam no prato. Com receio, ela puxou uma lata de leite condensado, que Steve logo tirou de sua mão – É para outro momento, .
- Você sabe cozinhar...? – a afirmação da garota se transformou em uma pergunta, o que o fez rir.
- Não, J.A.R.V.I.S. vai nos dar as instruções, não é? – disse o homem, colocando seu celular em cima do micro-ondas.
- Mas é claro, Cap. Rogers.
- Ainda não acho isso uma boa ideia, Cap. Rogers – disse ela, tentando imitar a voz do sistema.
- Só desce daí e me ajuda – ordenou o homem, e apenas ergueu as mãos antes de tomar seu posto como ajudante.
- Naquela panela você coloca o molho de tomate – disse o loiro, apontando para o utensílio. despejou o molho ali, fazendo uma careta enquanto o mexia com a colher.
- Eu não sou especialista nisso, mas isso devia estar tão grosso?
- Não acha que deva colocar água nisso, ?
- Eu pareço saber o que estou fazendo? – resmungou a garota, se dirigindo para a torneira. Quando foi voltar para o fogão com um copo cheio, ela esbarrou no homem, derrubando boa parte do líquido na pia – Já está bem difícil sem você me atrapalhando, Rogers.
- Chega, vamos trocar – disse Steve, tirando o copo da mão da loira e lhe entregando o pano de prato – Você arruma a forma e eu me viro com a carne e o molho.
- Você está duvidando das minhas habilidades? – acusou-o ela, mirando o pano agora molhado em seu rosto, que Steve facilmente pegou.
- É só para deixar as coisas mais ágeis, ... – suspirou ele, mexendo o molho – E eu posso ter quebrado quase metade da massa, sei lá como.
- Nem vou tentar entender essa – riu ela, organizando os pedaços de massa na forma antes de procurar os frios na sacola que não havia sido mexida – J., coloque alguma música, por favor.
Uma batida animada logo ecoou pela cozinha e olhou de relance para o soldado, que de olhos fechados tentava reconhecer a melodia.
- É aquela garota britânica que eu esqueci o nome, não é? – arriscou ele, encontrando a afirmação no sorriso animado da loira.
- Você já é quase um contemporâneo da cultura atual – brincou ela – E o nome é Amy, antes que eu me esqueça.
- Está me chamando de velho, Stark?
- Estou te chamando de desatualizado – se apressou ela em dizer – Embora velho também se encaixe bem nesse contexto.
- Pelo menos eu sei cozinhar...
- Você apenas está fazendo o que o J.A.R.V.I.S. manda! – debochou a garota, gesticulando para o armário – Você sem dúvidas colocaria o leite condensado no molho caso ele dissesse que estava na receita!
- Agora você está inventando coisas, mocinha... – repreendeu-a Steve, embora risse – Apenas pedi socorro para caso a receita tivesse mudado drasticamente desde os sei lá quantos anos da última vez que eu vi uma lasanha sendo feita.
- Naquela época já exist...?
- Termine essa frase e hoje você não janta – ameaçou Steve, mas a garota não riu. Seu cenho estava franzido, como se ela estivesse tentando lembrar-se de algo, e essa expressão também tomou o rosto do loiro, principalmente quando ele sentiu um cheiro estranho – Mas o q...?
Parte do pano de prato já havia virado cinzas, enquanto outra boa parte ainda estava em chamas. Steve tentou pegar o pano por uma parte que não estivesse incendiada para jogá-lo na pia, enquanto tentava juntar água o suficiente para apagar o incêndio, sendo que nenhuma dessas medidas surtiu efeito. Acabou que com a movimentação descuidada dos dois, a panela acabou por tombar e o molho encerrou o acidente.
- Esse pano era o quê? Volátil? – ofegou , olhando para o estrago que haviam feito na cozinha.
- Dá para fazer uma piada disso, não é? – comentou Steve, com as mãos na cintura e um sorriso discreto. Ao ver a confusão da loira, ele continuou: - “É assim: dois heróis entram na cozinha, e lá tinha uma panela e um pano e...” Esse tipo de piada ainda existe, não é?
teve que se apoiar na pia para não ir ao chão, definitivamente pega despreparada pelo comentário do soldado, que ria contente por ela ter entendido a referência.
- Depois dessa tentativa horrível de piada, eu devia deixar você limpando a cozinha sozinho! – soltou ela entre risos – Rogers, essa foi triste!
- Mas você está rindo! – se defendeu ele, tirando a panela de cima do fogão e a colocando dentro da pia, junto com os restos mortais do pano.
- De pena! – esclareceu , balançando a cabeça em seguida – J.A.R.V.I.S., peça duas pizzas porque, pelo visto, dessa cozinha só sai desastre.
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largou o controle do chão, e deixou sua cabeça tombar para trás, a apoiando no sofá as suas costas. Aquela amanhã, assim como a anterior, ela e Steve haviam passado na academia, dando continuidade aos testes das habilidades da garota, que poderia abrir mão de toda sua fortuna por alguns bons minutos de sono. O que provisoriamente chamava de “manipulação” não era uma habilidade automática: diferente da analisação, ela precisava pensar muito no que iria fazer, o que lhe exigia muito esforço e as vezes sequer funcionava. Pelo menos duas vezes ela quase quebrara o braço ao tentar aumentar sua força querendo parar um ataque de Steve e não funcionara.
Virando a cabeça de leve, ela pôde checar a pesquisa do loiro sentado ao seu lado, que havia aberto mais guias no navegador do que ela podia contar. Rindo, ela deixou que seu queixo se apoiasse em seu ombro, atraindo a atenção do homem.
- Não achou nada bom? – perguntou , olhando de relance para ele antes de voltar sua atenção para a tela do notebook.
- Nada que seja seguro e não resulte em nós colocando fogo na cozinha novamente – respondeu, recebendo um tapa de leve no braço – O apartamento é alugado, . Não podemos simplesmente por fogo nele.
- Você que deixou o pano muito perto do fogão – resmungou ela, embora risse.
- Lembro-me de você ter sido a última a pegar o pano.
- Só se for quando ele já estava em chamas! – continuou ela, o fazendo rir – Se você partir desse princípio, a única coisa segura para nós fazermos vai ser cubos de gelo.
Steve não retrucou, esperando que a garota continuasse a piada, mas ao perceber que ela esperava sua resposta, ele não pode deixar de parecer intrigado.
- Não vai ter piadas sobre eu ter sido congelado?
- Você tem que deixar as pessoas esquecerem um pouco disso para não perder a graça por completo – explicou ela – Não podemos deixar que um clássico seja desvalorizado.
O loiro até chegou a abrir a boca para responder, mas a campainha do apartamento soando fez com que os dois parassem.
- Você chamou alguém para jantar com a gente? – estranhou , segurando o notebook quando Steve se levantou para atender a porta.
- Fury? – estranhou o soldado ao ver o homem no corredor.
- Diretor? – ofegou , se pondo de pé. Seus batimentos cardíacos haviam aumentado consideravelmente com a aparição do homem, sabendo que nada de bom poderia vir com sua visita.
- Você estar aqui facilita muito minha vida, Stark – suspirou Fury, adentrando no apartamento quando Steve lhe cedeu passagem – Quero os dois na Torre dos Vingadores. De preferência sem comentar o que fizeram nos últimos dois meses para não criar confusão.
- No que precisam de nós? – perguntou Steve.
- E o que diabos é “Torre dos Vingadores”? – emendou a loira.
- É a antiga Torre Stark. Seu pai achou uma boa ideia e eu achei bem útil – contou o homem, ignorando o “por que informações sempre chegam por último em mim?” que soltou.
- Todos vão ser reunidos? – estranhou Steve, cruzando os braços, sem ver que empalidecera às suas costas. Ela não via nenhum outro vingador desde a Guerra de NY, e tinha certeza de que cada um tinha uma ideia diferente do que ela esteve fazendo nesse meio tempo. A última vez que algo desse gênero acontecera, durante a ameaça de Loki, as coisas não haviam terminado bem para suas mentiras – O que está acontecendo?
- Todos com exceção de Thor – disse Fury, já rumando para a porta – Vocês vão receber instruções quando chegarem. Quero os dois em no máximo uma hora lá.
Steve se virou procurando respostas nos olhos de , assim como ela também procurava nos seus.
- Não tenho um bom pressentimento sobre isso – confessou o loiro e apenas pôde concordar. Em qualquer possibilidade que ela considerava como motivo da convocação, ou algo ruim tinha acontecido ou iria acontecer, e ela não conseguia definir o que era pior.
Na pior das hipóteses, o problema mais uma vez seria ela.
Em um acordo silencioso, os dois organizaram minimamente a sala antes de partirem. O percurso até a Torre não era muito longo, e mesmo assim seria difícil precisar de algo de lá quando se podia achar de tudo na Torre. O máximo de pertences que eles portavam quando desciam para a garagem era seus celulares e o escudo de Steve, já que o último item era essencial, principalmente por não saberem ainda o motivo da convocação.
- Steve...? – suspirou ela, parada ao lado da moto quando o loiro já havia montado e a esperava – Acredito que seja melhor não comentar desse tempo que eu estive com você perto do meu pai... Ele não sabe que eu me afastei da S.H.I.E.L.D.
- Isso é só entre nós, não se preocupe – garantiu o homem, lhe oferecendo a mão para ajudá-la a subir no veículo. Em um passado próximo, Steve teria começado um belo discurso sobre como a garota era inacreditável – em um mal sentido. Porém ele se viu apenas sorrindo para ela, tomando parte de seus problemas e se sentindo extremamente bem por isso.
Era uma sensação estranha e alguma parte do loiro tentava se rebelar para fazê-lo entender que, se ele não começasse a agir direito, se igualaria àquela que ele conhecera meses atrás, que ele próprio estava se tornando aos poucos aquela versão desprezível da garota, que ela própria queria se afastar. Sua vontade era de contar ali mesmo todos os detalhes que omitira, de iluminar um pouco a sala escura que se encontrava, mas a mera possibilidade de ela não lidar bem com tudo aquilo e o afastar quando tudo o que ele queria era poder ajudar, o fazia hesitar e desistir.
Steve precisava pelo menos saber o que Fury planejava e algo o dizia que logo ele descobriria seus planos.
Mesmo já sendo um pouco tarde, o prazo que Fury dera não foi cumprido graças ao trânsito até a Torre não estar dos melhores. Afinal, aquela era a cidade que nunca dormia.
Com os braços fortemente travados ao redor do soldado, estava com todo o tronco colado às suas costas, inconscientemente acompanhando o ritmo calmo de sua respiração. Era surreal perceber o quanto ela estava dependendo do homem nos últimos dias, e quanto dependeria até que essa tal reunião fosse encerrada. Parecia mais uma piada de mau gosto: o protegido, na verdade, era o protetor.
Ela estaria muito demitida se Fury descobrisse.
Com o tempo, a Torre deixou de ser uma imagem ao horizonte e logo eles entravam no estacionamento. não pode deixar de perceber que o “Stark” do projeto original havia sido substituído por um “A” dentro de um círculo, símbolo que agora representava a equipe. Em algum momento das últimas semanas ela se lembrava de Tony comentar algo sobre as mudanças na Torre, talvez até mandado alguma imagem que ilustrava algumas reformas, mas não conseguia se lembrar como as coisas funcionavam no prédio. Bruce Banner estava passando uma temporada lá, disso ela tinha certeza, mas não sabia no que eles trabalhavam.
A falta de certezas estava começando a irritar.
- Respira, Stark – riu Steve, virando a cabeça levemente para trás para lançar um olhar calmo à garota, vendo a garota soltar todo o ar de uma vez – Vou estar por perto o tempo todo, nada vai acontecer.
não respondeu, apenas fechou os olhos quando o soldado deixou sua mão quente sobre as suas frias que ainda estavam travadas na boca de seu estômago. Se não fosse a atmosfera pesada, a loira teria admitido que as costas de Steve realmente eram confortáveis.
- Estou aproveitando meus últimos momentos de criança chorona – suspirou ela, se desatando de Steve e descendo da moto primeiro – Assim que pisarmos naquele elevador eu tenho que pelo menos tentar agir como a “agente”.
- Você se refere à postura ou o número absurdo de mentiras por segundo? – resmungou Steve, não querendo soar tão incomodado, mas falhando absurdamente.
- Se você realmente vai entrar nessa comigo, vai ter que me acompanhar, Rogers – disse ela, com os braços cruzados e cenho franzido. Sua voz era para ter sido bem mais firme, mas a verdade era que ela não queria ter que arrastar o homem consigo nessa. Ele podia ser o Capitão América, mas estaria em sérios problemas caso a S.H.I.E.L.D. soubesse que ele estava a acobertando. A última coisa que queria era prejudicar alguém que só a ajudara sem pedir nada em troca – Vou entender se quiser dar para trás. Ainda dá tempo.
Steve mostrou um dos sorrisos mais doces que a loira vira em toda vida, permanecendo em silêncio até estar devidamente em pé a sua frente, com os olhos travados nos dela. O receio que a garota demonstrava era quase palpável de tão intenso, e o homem quase se sentiu mal por demorar tanto para dizer qual era sua escolha, mas era inevitável: cada vez com mais frequência ele se via mais intrigado por aquela garota peculiar que parecia prestes a ter uma parada cardíaca caso ele passasse mais tempo em silêncio. Aquele último gesto de preocupação dela a seu respeito havia o pegado desprevenido. Além de apenas ter aumentado ainda mais seus motivos para não desistir da garota.
- Estou contigo até o final, – sussurrou ele, passando uma mão pelos cabelos claros da garota, parando em seu ombro, o apertando de leve para transmitir mais segurança – Não vou sair do seu lado. Não importa o que aconteça.
apenas sorriu e assentiu.
- Boa noite, Cap. Rogers! – exclamou um dos seguranças do prédio ao longe, que há alguns instantes assistia a cena – Apenas a sua entrada é permitida, senhor. Importa-se em dizer quem é sua amiga?
- A dona do prédio? – grunhiu , lançando um olhar nada amigável ao homem – Se você procurar bem na sua memória, vai lembrar que meu nome costumava ficar do lado de fora do prédio.
- M-me desculpe, Srtª Stark... S-seja bem-vinda – se apressou o segurança em dizer, assim que reconheceu a expressão indiferente da garota, que mostrou um sorriso falso enquanto rumava para o elevador com Steve em seu encalço.
- Agente A. S. está de volta, então? – brincou ele, assim que a porta se fechou.
- Ainda não... Aquela era apenas a filha do Stark – ela sorriu de lado – J., para o andar onde está todo mundo, o mais rápido possível antes que eu desista. Meus instintos estão gritando para que eu saia correndo.
- Não vai ser muito normal se você começar a correr dentro do elevador, .
- Você está bem engraçadinho hoje – comentou ela, cruzando os braços – É o que? Você gosta de me ver encrencada?
- Você não está fazendo o seu papel, tenho que ser engraçadinho por nós dois – retrucou ele, tendo que desfazer seu sorriso quando J.A.R.V.I.S. anunciava o andar onde eles estavam.
Assim que a porta se abriu, não foi difícil localizar um Banner tenso sentado em um dos espaçosos sofás da sala. Ambos pararam à frente do elevador, silenciosamente questionando Bruce sobre a localização dos outros. Afinal, o prazo de duas horas já havia sido ultrapassado fazia um bom tempo.
- Quem é a loira com o Cap? – a voz de Tony veio de trás do bar, voltando de lá com uma garrafa e dois copos, sem se dar o trabalho de olhar para a dupla.
- Sua filha, Stark – respondeu Bruce, com um sorriso divertido nos lábios. Enquanto Tony tentava assimilar a nova informação, o moreno se dirigiu à garota – Essa cor te caiu bem, .
- Bom te ver também, Doc.
- Você faz essas coisas de propósito, não é? – resmungou Tony, deixando os copos e a garrafa na mesa de centro e se adiantando para sua filha com os braços abertos – Da próxima vez que eu te ver, você vai estar morena e eu vou te confundir com outra loira, é assim que funciona?
- Basicamente, sim – riu ela, abraçando o homem – Mas não foi exatamente planejado. Precisava despistar um pouco a mídia, e como eles nunca conheceram a Stark loira...
- Nós estamos bem atrasados... – observou Steve, escondendo as mãos nos bolsos da calça – Onde estão Romanoff e Barton?
- Você veio com o Cap? – estranhou Tony sem se dar o trabalho de respondê-lo, principalmente quando o loiro se mexeu visivelmente desconfortável – Desde quando você cuida de fósseis?
- Fury pediu que eu fosse buscá-lo no Brooklin – respondeu ela simplesmente, sem hesitações, lançando um discreto olhar irritado para o soldado no processo – Vocês fazem alguma ideia do porquê de ele ter chamado todo mundo?
- Tirando o fato de ele não ter dito que você estava inclusa... – contou Tony, indo se sentar perto de Bruce – Ele disse que estava reunindo Os Vingadores para sei lá o que.
- Então estão todos oficialmente de acordo que eu faço parte da equipe? – começou ela, sorrindo de lado, se virando junto com Steve quando ouviu as portas às suas costas se abrindo.
- Não tão rápido, Stark... – disse Fury, saindo do elevador junto de Natasha e Clint, que carregavam uma caixa – Por hora você é apenas uma agregada ao grupo.
- Injusto – disse ela, intrigada apontando para a caixa – Muito injusto. O que tem na caixa?
- Vocês não mataram alguém e a gente vai ter que desovar o corpo, não é? – brincou Tony, embora no fundo não descartasse aquela possibilidade.
Fury fez um gesto simples para que Clint abrisse a caixa e tirou o objeto guardado em seu interior. A cena pareceu ocorrer em câmera lenta: informações que não estava se dando o trabalho coletar adentraram em sua mente de uma vez, mas pareceu que cada interpretação durou uma eternidade. O que mais a surpreendeu não foram as informações que recebera, mas o fato de sua habilidade ter sido ativada sozinha, quase como que uma defesa automática por ter localizado uma ameaça em potencial.
O brilho azul que o cetro emitia se intensificou assim que saiu da caixa, e instintivamente recuou vários passos.
- Por que isso está aqui? – indagou ela com a voz baixa, sentindo em seguida um braço de Steve passar por suas costas e sua mão acariciar seu braço.
- Qual o motivo dessa reação exagerada, Stark? – estranhou Fury, mas seus olhos o entregavam. Ele sabia de alguma coisa. Aquele cenário havia sido planejado.
- Foi com esse troço que Loki bloqueou minha mente – lembrou ela, genuinamente irritada por estar tendo que tocar naquele assunto novamente – Não dá para dizer que isso me traga boas lembranças.
- Barton também foi controlado pelo cetro e não está criando uma cena – insistiu Fury, e ela ficou em silêncio por alguns segundos, debatendo se bater de frente com o Diretor era realmente uma boa ideia.
- Da última vez que chequei, eu não sou o Barton – disse ela por fim. A imagem de na S.H.I.E.L.D. não era de “não respondona”, então se ela planejava passar a impressão de que tudo estava bem, seria melhor agir como sempre agira.
O clima na sala ficou pesado, e tinha dificuldades em dizer o motivo de cada um presente estar tenso. Ela e Steve eram os mais fáceis de explicar. Os outros ela não sabia dizer se era por estarem sendo obrigados a relembrar o ataque de Loki ou por não saberem o que estava acontecendo, o motivo de terem sido convocados e por que diabos Fury estava sendo tão ofensivo com ela.
- Nós ainda estamos tendo alguns probleminhas com relação à Guerra de NY – contou Fury, vendo que todos queriam respostas, mas não queriam fazer as perguntas – Muitas armas chitauri não foram localizadas e alguns civis estão fazendo uso delas. O último incidente foi em Berwick, duas semanas atrás. Berwick.
Duas semanas atrás.
Provavelmente durante a rápida estadia de e Steve na cidade. Sem perceberem, a dupla olhou rapidamente um para o outro, mostrando que haviam chegado à mesma conclusão. Primeiro o incidente em Cleveland, onde ela tivera problemas para desligar a habilidade. Depois Berwick, onde ela praticamente apagara.
Não podia ser coincidência.
- Como o Tesseract está em Asgard, nossa única forma de localizar essas armas é tentando usar o cetro – continuou Fury, sem tirar os olhos de , que não esboçava uma reação. Controlando o suficiente para usar a habilidade ela estava.
- Por isso fomos chamados? – estranhou , cruzando os braços – Tony e Banner é compreensível, mas o que os restante de nós contribui aqui? Ficar olhando?
- Até a última vez que chequei, você era uma cientista.
- Com Tony e Banner eu sou quase que dispensável.
- Pegue – ordenou Fury, esticando o braço na direção da loira e todos se mostraram surpresos. – Você não é mais criança, Stark. Não dá para manter esses medos irracionais.
- Não é um medo, muito menos irracional – resmungou ela.
Steve quase levou sua mão livre para o outro ombro da garota, querendo afastá-la da arma, mas parou ao ver o olhar de Romanoff. Eles haviam sido chamados para aquilo e ele não devia interferir.
entendeu o recado assim que parou de sentir o toque do soldado em seu braço.
Se ela recusasse pegar a arma seria como assinar sua sentença.
Assim que seus dedos se fecharam contra o metal frio, prendeu a respiração, sem deixar que seu olhar fugisse da luz azul que o cetro emitia. No mesmo instante ela percebeu que os dados que a cercavam estavam bem mais claros, o que só podia significar que a habilidade estava ligada ao máximo. Todos na sala estavam tensos, até mesmo seu pai e Bruce, que ela queria muito que não fizessem ideia do que estava acontecendo. Steve era o mais óbvio. De alguma forma ele sabia dizer quando ela estava usando, e somada às experiências que ele adquirira durante os treinos na última semana, ele sabia identificar a intensidade que a habilidade era usada. Com absoluta certeza aquilo não havia passado despercebido pelo soldado.
Por seu tempo em silêncio perdida em pensamentos, não seria uma boa ideia apenas fingir que nada estava acontecendo, já que Fury obviamente estava desconfiado de algo.
Então seu lado Stark inconveniente decidiu entrar em ação.
Em um movimento rápido, girou seu corpo para conseguir movimentar o cetro com mais liberdade em sua mão, parando com um joelho apoiado no chão, a extensão do cetro alinhada com seus ombros e a ponta apontada para Fury. Como esperado, os três agentes puxaram suas armas.
- Solte o cetro, Stark – ordenou Natasha com tanta seriedade que não conseguiu se controlar e apenas riu.
- O que vocês estão escondendo de mim? – perguntou , soltando o cetro sem delicadeza ao seu lado, ficando séria em seguida – Eu sequer sei como essa coisa funciona. Duvido que eu saiba ativá-la. Foi uma brincadeira idiota, mas os três ameaçando atirar em mim foi um pouco de exagero.
- Nada que envolva essa arma é brincadeira, Stark – rosnou Fury, tendo dificuldades para controlar sua vontade de espancar sua agente.
- Eu sei muito bem disso, diretor. Não preciso de lembretes – retrucou ela, iniciando uma competição de encarar que durou até Bruce decidir interferir.
- Algo para rastrear as armas – suspirou o moreno, se levantando do sofá – É só isso que você quer?
- Por hora, sim – assentiu o Diretor, desviando o olhar da jovem agente para Bruce – Romanoff e Barton vão ficar no prédio caso vocês precisem de alguma coisa e para comunicar o andamento.
Sem mais delongas, Fury se despediu e deixou o andar, mas o clima não melhorou. Toda a tensão parecia estar sendo irradiada pelo cetro, e foi Steve que tomou a iniciativa de colocá-lo de volta na caixa.
- Melhor vocês começarem isso amanhã – sugeriu o soldado, apoiando as mãos no cinto da calça – Já está tarde e veio de longe.
- Fuso horário. Não é exatamente como se eu fosse conseguir dormir agora – lembrou ela, olhando feio para o loiro – Podemos começar agora sem problemas.
- Acho que concordo com o Rogers, e isso não acontece com muita frequência – disse Tony, se curvando sobre a mesa de centro para encher seu copo – Bruce e eu também passamos o dia inteiro no laboratório, então também não estamos muito a fim de virar a noite trabalhando.
- O quarto de todos já foram providenciados – anunciou J.A.R.V.I.S e aproveitou a deixa para rumar para seu quarto, fazendo um sinal discreto para que Steve a acompanhasse. Assim que a porta do elevador se fechou e mais uma vez eles estavam sozinhos, Steve deixou que seus ombros caíssem, suspirando alto antes de se virar para garota, que permanecia com a mesma postura de momentos antes.
- ...
- J.A.R.V.I.S., altere as imagens do elevador – pediu a garota, deixando suas costas escorregarem pela parede assim que o sistema informou que estava rodando imagens antigas para a segurança. Assim que atingiu o chão, percebeu como estava abalada: suas mãos estavam geladas e não paravam de tremer, não importando quanto esforço ela fizesse para que elas parassem. Sua respiração estava completamente fora de controle e seus olhos marejados. A tentação de ligar sua habilidade nunca fora tão forte, mas ela resistiu.
Algo lhe dizia que não seria inteligente usar suas habilidades enquanto estivesse tão perto do cetro.
E apenas Steve estava com ela. O homem já estava acostumado com aquele tipo de cena.
- O que aconteceu mais cedo? – perguntou ele, sentando no canto oposto ao que a loira estava.
- Sabia que coisa boa não ia acontecer... – suspirou ela, prendendo suas mãos entre os joelhos. Já estava começando a ficar irritada com toda aquela falta de controle – Estou muito, mais muito ferrada.
- Você sentiu alguma coisa diferente – deduziu Steve, e ela passou um bom tempo estudando o rosto do homem, enquanto mordia o lábio e tomava coragem para colocar aquilo em palavras.
Admitir aquilo em voz alta faria parecer o problema muito mais real.
- Eu posso talvez conseguir ou não escolher se quero usar meus poderes – disse ela de uma vez, com a voz baixa, mesmo sabendo que mais ninguém além do loiro a ouviria.
- Isso não soa como algo bom.
- Nem um pouco.
- Estou com medo do que pode acontecer quando eles ativarem o cetro – confessou ela – Aparentemente eu sou uma das coisas que ele pode controlar.
- Ei, vai ficar tudo bem – sussurrou Steve, engatinhando até a garota, afagando seus cabelos e a puxando para um abraço.
- Quero muito acreditar nisso, mas eles sabem que algo está errado, Stevie. Você viu como eles estavam agindo comigo, o jeito que eles estavam me olhando – retrucou ela, apoiando a lateral do rosto no peito do loiro – Eu não fui chamada para ajudar na construção do rastreador, nem você, ou Romanoff ou Clint. Vocês estão aqui para me parar.
Steve chegou a abrir a boca para dizer que aquilo não era verdade, mas parou no meio do caminho, apenas a apertando com mais vontade em seus braços. Era uma linha muito fina e maleável que o separava do “esconder algo” e “mentir sobre algo”, e o soldado não queria ter que mentir para garota, então teria que conviver com o omitir. Fingir que não sabia o que estava acontecendo, mesmo com já ciente da situação delicada em que estava envolvida. O homem teria que ouvir calado qualquer suspeita e acusação que ela lhe lançasse nos próximos dias, porque, se caso ele tentar dizer o contrário, estará mentindo para alguém que ele quer apenas proteger. Se lhe contar a verdade, perde a confiança de Fury e a chance de poder intervir pela garota caso a situação fique mais séria.
Era um maldito beco sem saída.
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Na manhã seguinte, foi a primeira a aparecer na cozinha, pegando o primeiro pacote de bolacha que achou no armário, quase se deitando em cima da mesa. Sequer havia dormido àquela noite. Mais uma vez seu sono parecia estar fora de seu alcance. A garota passara toda a noite apenas com os olhos fechados, teorizando se havia alguma energia que aquele maldito cetro emitia que pudesse lhe causar insônia.
- Rogers parece um pouco preocupado demais com você – comentou Natasha, sugestiva, assim que entrou na cozinha, assustando a garota distraída.
- É assim que as pessoas falam “bom dia” agora? Quanto tempo eu passei fora? – resmungou ela, apoiando o queixo nas mãos - E nem comece. Existe uma coisa chamada limite e nesse momento as piadinhas envolvendo o Rogers ficam do outro lado.
- Hoje você está um amor de pessoa, não? – suspirou a ruiva, puxando a cadeira oposta à da garota.
- Culpa do Fury, como de costume.
- Foi tão ruim assim ficar na cola do Rogers?
- Eu estava falando dessa coisa do cetro...! – riu a garota, jogando uma bolacha na direção da mulher e errando, como se era esperado – Por que você está cismada com o Rogers?!
- O que tem o Rogers? – perguntou Clint, se sentando ao lado da ruiva, fechando o rosto em seguida – Você não está se envolvendo com ele, não é, ? O cara deve ter umas quatro vezes a sua idade.
- Quer saber, vocês dois não prestam – resmungou , embora um sorriso discreto não deixasse seu rosto – Amo vocês por isso, mas não tem como negar.
- Mas você tem que admitir que suas ações são um pouco suspeitas... – comentou Clint, arrancando o pacote de suas mãos, dando de ombros antes de também aceitar aquilo como café-da-manhã – Da última vez que eu chequei, você estava morando com o cara.
- Improviso. Da última vez que eu chequei eu ainda era humana, ou seja, ainda tinha tendências a fazer merda. E não gosto de perder essas oportunidades, você me conhece.
Depois que as risadas morreram, o silêncio apenas não reinou no ambiente graças ao barulho da embalagem da bolacha sendo mexida e passada de mão em mão.
- Vocês sabem o motivo do Fury ter agido comigo daquela forma ontem – disse depois de um tempo, sem se preocupar em tornar sua fala uma pergunta.
- Ele está te testando, – suspirou Clint, a surpreendendo – Acha mesmo que essa missão de vigiar o Rogers é algo sério? Ele poderia ter colocado qualquer outro agente, ou até mesmo uma equipe.
- Então você está dizendo que Fury está me enrolando?
- Não, ele está dizendo que Fury te afastou da bagunça que a S.H.I.E.L.D. ficou – continuou Natasha – Você estava instável, comprometida, ligada demais. Ele estava te poupando quando te mandou atrás do Capitão.
- Então basicamente aquele momento estranho ontem de noite foi para testar meu emocional? Ver como eu reagi ao chegar perto de algo que quase me destruiu? – a garota arriscou uma interpretação, buscando confirmação em seus treinadores – Soa como um bom plano. E que eu falhei com estilo, claro.
- Tudo ainda é muito recente, – lembrou Clint, largando o pacote e tomando uma das mãos da loira – Não seja tão dura consigo mesma. Esse tipo de recuperação leva tempo. Um bom tempo.
- Srtª , Sr. Stark se aproxima da cozinha, caso queira mudar de assunto – avisou J.A.R.V.I.S., quebrando o clima.
- Obrigada, J – suspirou ela, tirando sua mão do aperto de Clint e se levantando. No caminho para a geladeira, Tony entrou na cozinha, sendo recebido com um beijo no rosto – Bom dia, pai.
- Bom dia, – respondeu o moreno, com uma leve surpresa em sua voz, que a fez rir – Alguém dormiu bem hoje.
- Claro. Super – resmungou ela, pegando a primeira garrafa que parecia conter um líquido inofensivo e apropriado para o horário - Cadê a Pepps?
- Trabalhando, como sempre – respondeu ele em meio a um bocejo, se sentando no lugar que antes sua filha ocupava, completamente desprezando o pacote de bolachas pela metade que ainda estava na mesa.
- Vamos reformular: onde?
A falta de resposta fez com que os três agentes se virassem para o homem.
- Você não sabe onde a sua namorada e CEO da sua empresa está – debochou Clint, o mais rápido a se pronunciar.
- Eu estava tentando descobrir o porquê do Fury querer reunir a equipe novamente, posso não ter prestado atenção no que ela me disse ontem de manhã – se defendeu Tony, mas nenhum dos três se convenceu.
deixou a cozinha sob o pretexto de ir buscar seu celular em seu quarto, mesmo ele estando seguramente guardado em seu bolso. Precisava de um tempo para assimilar sua conversa com a dupla de agentes, por isso evitou até Steve, que J.A.R.V.I.S. avisou estar em seu caminho de volta para o quarto, esperando pacientemente escondida em uma sala que o soldado passasse. De todas as pessoas daquele prédio, as últimas que ela precisava ver no momento eram Natasha, Clint e Steve.
Um sentimento ruim no peito a atingia toda vez que percebia que tinha que incluir o soldado naquela lista. Não que acreditasse que ele estivesse mentindo – nenhum dos três estava –, mas eles estavam omitindo. Eles sabiam mais do que falavam e seus motivos no momento não importavam. Nenhum deles estava lhe confiando toda a informação e aquilo a incomodava mais do que devia.
Mentalmente cansada, apenas se jogou em sua cama quando chegou ao quarto. Sentindo como se pudesse dormir o resto da vida, ela apenas estranhou quando aos poucos sua consciência foi se esvaindo.
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Steve foi o último Vingador a sair do quarto, já não encontrando mais ninguém na cozinha quando chegou. Não havia sido sua melhor noite, mas ele ficara um pouco mais aliviado quando J.A.R.V.I.S. o avisou que tinha conseguido dormir um pouco agora no começo da manhã e que não havia acordado ainda. Depois das semanas de insônia de antes deles se encontrarem, o soldado temia que a garota voltasse àquele estado, e não teria muito que ele pudesse fazer. Ele queria ajudar, poder fazer mais, porém parecia que sua única opção era apenas observar. - Cap. Rogers, o restante da equipe está no laboratório à sua espera.
- Obrigado, J. – agradeceu ele, sem deixar de estranhar sua presença ter sido requisitada. Não havia muito que ele pudesse fazer naquele ambiente.
Chegando lá, a primeira conclusão que Steve tirou foi que eles não tinham começado a trabalhar naquela manhã: o cetro estava preso em um suporte, conectado com vários fios que terminavam em uma máquina. Tony girava em uma cadeira, assistindo Bruce trabalhar na máquina, assim como Clint e Natasha. Assim que ele entrou no local, todos se viraram para ele.
- Realmente parece que vocês não precisavam da – comentou ele.
- fez todo o trabalho da última vez que nos colocaram para trabalhar juntos... Achei que seria uma boa forma de retribuir – explicou Bruce, parando para ajustar seus óculos antes de voltar sua atenção para a máquina – E Clint e Natasha acharam melhor ela descansar um pouco mais. Parece que a garota não tem conseguido missões fáceis. - Mas é claro que não – suspirou o soldado, puxando uma cadeira e também se sentando.
- Sei que a dupla dinâmica ali sabe de alguma coisa, mas a única resposta que eu consigo deles é “não sei”, ou “confidencial” se insistir um pouco mais – resmungou Tony – Mas você, Rogers, também parece saber de alguma coisa.
- Devo saber menos que você – respondeu o soldado, cruzando os braços. Você passou um mês com ela. Deve ter aprendido a mentir pelo menos por osmose. – Se os dois que trabalham com ela não sabem o que está acontecendo, como eu, que não a via há dois meses, saberia?
- Você é um péssimo mentiroso, Capitão – disse Tony, se levantando para ajudar Bruce – E quero que vocês três saibam que se alguma coisa ruim acontecer com a minha filha porque eu não pude ajudar por vocês não terem me contato, as coisas vão ficar bem tensas.
Steve arriscou olhar para a dupla de agentes, que continuavam com as expressões indiferentes, como se não tivessem sido ameaçados, mas não era esse tipo de receio que o loiro esperava ver nos dois. Não fora a ameaça que incomodara o soldado, mas sim a possibilidade de acontecer algo ruim à garota.
- Podem avisar Fury que o rastreador está pronto – anunciou Bruce, querendo mudar o assunto antes que tivesse que separar alguma briga – Vamos ligar para ver se funciona mesmo.
- Vocês não deviam esperar para ligar a máquina? – questionou Steve, visivelmente apreensivo.
- Ela não parece muito contente em participar disso, Cap – comentou Bruce, desviando seu olhar da tela para o soldado. Assim como Tony, ele também desconfiava que o soldado soubesse de alguma coisa, talvez até mais que a dupla de agentes – Talvez até seja melhor nós fazermos o trabalho e ela só o ver pronto.
Steve não se opôs, assim como Natasha e Clint, embora a tensão emitida pelo trio fosse nítida. Se o cetro já parecia ter algum poder sobre ela sem ser usado, o que aconteceria quando ele estivesse em funcionamento.
Uma tela mostrava o processo do rastreamento, com pontos vermelhos indicando onde armas alienígenas estavam, focalizando primeiro nas mais próximas da Torre.
- O rastreador achou alguma coisa na Torre...! – estranhou Bruce, avançando para a tela com certo desespero.
- Se alguém na Torre estivesse com alguma arma chitauri, eu saberia. – Tony tentou se defender – Deve ter algo errado.
- Está se mexendo... – avisou Bruce, se virando para os agentes – É possível que tenha alguém infiltrado? Isso é um ataque?
- Em que andar está? – perguntou Natasha, se adiantando para o grupo enquanto Clint preparava seu arco.
- Capitão Rogers... – chamou-o J.A.R.V.I.S., atraindo atenção do grupo, que parou de assistir as informações na tela para procurarem resposta no rosto apreensivo de Steve – Acredito que a Srtª esteja precisando de seu auxílio no momento.
- Para que ela precisa da ajuda dele, J.A.R.V.I.S.? – estranhou Tony, olhando feio para o loiro – E desde quando você a chama pelo primeiro nome?
- Temo que não tenha permissão para lhe dar essas informações, Sr. Stark.
- A filha da mãe hackeou meu sistema de novo...! – rosnou dele, chutando uma mesa.
- Está no elevador... – continuou Bruce, se virando para Clint, o mais distante de todos – Parece que está vindo para cá.
- Desliguem essa coisa– ordenou Steve, atraindo atenção do grupo.
- O que você sabe que não está nos contando, Rogers?
- Se desligarmos a máquina não vamos saber a localização da ameaça, Cap.
- Deslig...!
- Ah, ! Nós começamos sem você... – avisou Tony, assim que viu a silhueta da filha para a porta – E eu tenho algumas boas perguntas para te faz... ?
Steve engoliu em seco, se virando para a porta com os olhos fechados, temendo a pessoa que ele avistaria. Com os punhos cerrados e olhos azuis incandescentes, a garota parecia mais ameaçadora do que nunca.
- Se afastem do cetro – rosnou a loira com a voz rouca, deixando seu olhar cair sob cada pessoa da sala – Não vou dizer duas vezes.
- Desliguem a máquina – pediu Steve mais uma vez – Isso provavelmente deve parar se desligarmos a máquina.
- E o que seria exatamente isso, Cap? – perguntou Bruce, de prontidão para correr até a máquina caso fosse necessário desligá-la.
- Não faço ideia, mas não me parece nada bom – murmurou ele em resposta, se direcionando para a garota em seguida – Nós vamos desligar a máquina, ... Se acalme...
Seu olhar frio travou no do soldado, e Steve não teve dificuldades para entender que a garota não o reconhecia. Ou era outra consciência no lugar de ou ela estava vendo outra pessoa em seu lugar. De alguma forma o cetro estava interferindo na mente da garota e era melhor ser algo temporário, ou eles teriam sérios problemas.
Se ela já era perigosa naturalmente, naquele momento poderia ser mortal.
Bruce tentou se adiantar para desligar a máquina, mas a garota não aceitou bem a movimentação – ele estava indo em direção ao cetro, não se afastando, como ela ordenara –, o que resultou em avançando em direção ao homem e o caos se instalou.
Natasha foi a primeira a atirar enquanto Tony escoltava Bruce para uma área mais afastada do laboratório, e a loira desviou dos disparos com facilidade, entrando em seguida no combate físico. Com dois golpes – a ruiva não sabia que a força física da garota era maior –, Natasha estava inconsciente no chão e a garota continuou a avançar em direção ao cetro.
Clint disparou uma flecha em sua direção, e apenas a pegou no ar, jogando-a de volta para o loiro, que por pouco não conseguiu desviar. Agora ela só tinha um obstáculo.
- Essa é a sua mente, – começou Steve, avançando de mãos vazias e passos lentos até a garota – Se concentre e a conquiste de volta.
Steve não obteve resposta, mas teve que desviar de vários golpes.
Desviou do primeiro soco e segurou seu o pé quando ela tentou o chutar, mas não esperava que fosse tentar um chute lateral sem ter a perna de apoio, mas conseguindo colocar seu braço na frente para receber a maior parte do impacto, indo para o chão junto com a garota, com a diferença de que ela caíra com equilíbrio, pronta para atacá-lo, sendo impedida por Clint, que voltou a disparar contra ela.
Com cada vez mais perto e sem realmente conseguir acertá-la, Clint teve que usar seu arco para atingir a garota, sentindo que algo tinha mudado nela em cada golpe que passava por sua defesa: ela estava mais forte, mais forte do que qualquer outro humano que ele já lutara antes. Assombrado com essa constatação, o arqueiro vacilou e deixou que ela prendesse seu braço, deslocando seu ombro com muita facilidade e o chutando para longe.
Mesmo sabendo que não era possível pegá-la de surpresa, Steve tentou acertá-la pelas costas, mas ela não só desviou como ainda girou o corpo para lhe dar uma joelhada no estômago, o que o fez voltar ao chão. Tentando tirar vantagem, ela tentou lhe acertar um soco no peito que no mínimo quebraria muitas costelas, mas Steve foi mais rápido: ergueu sua perna e o quadril para manter uma distância segura entre eles, segurando seu punho quando ela tentou o atingir, a impulsionando para cima de sua cabeça para que ela também fosse ao chão, usando seu próprio peso para imobilizá-la e segurando seus braços ao lado de sua cabeça.
- Qual é, ...! – resmungou o soldado, assistindo ela tentar se soltar – Essa não é você...!
parou por alguns segundos, de olhos fechados e respirando fundo várias vezes. Ali Steve acreditou que havia conseguido fazer com que a garota recuperasse pelo menos uma parte de sua consciência, mas percebeu como tinha sido ingênuo ao sentir o quadril da garota se erguendo com força em um movimento rápido, o que o desestabilizou. Mais uma vez suas costas estavam no chão e sem possibilidade de tentar desviar ou se proteger do punho da loira que afundou em seu estômago. Todo o ar escapou de seus pulmões, mas ele ainda tentou aplicar uma rasteira na garota, que apenas pulou, como se nada tivesse acontecido. Antes de conseguir finalizar o loiro caído, Clint pulou nas costas da loira, tentando a estrangular. Ela apenas pulou e se jogou de costas no chão, deixando que ele sofresse todo o impacto, mas mesmo assim ele não soltou. Sabendo que logo perderia a consciência caso não tomasse uma providência, tentou lhe dar uma cabeçada no queixo, já que o homem deixara seu rosto muito perto depois da queda. O aperto em seu pescoço diminuiu em seguida, e foi necessária apenas uma cotovelada no abdômen para que ele a soltasse de vez.
Tony arriscou um passo em direção à garota, que parou ao visualizar mais um obstáculo entre ela e o cetro.
- Não faço ideia do que está acontecendo, – pediu o homem com a voz baixa e falha – Mas eu sou seu pai. Pare.
- “Meu... pai”? – repetiu a loira, forçando uma risada baixa incrédula antes de avançar em direção ao homem, parando apenas quando Steve tentou acertá-la novamente e ela teve que desviar, segurando seu pulso no meio do processo e torcendo seu braço, colocando seu pé em cima de seu ombro, pronta para deslocá-lo – Você realmente está começando a me irritar, cara...
- Tente lembrar quem você é, ... – gemeu o soldado, sentindo que seu ombro estava prestes a sair do lugar – Você não é um brinquedo da S.H.I.E.L.D., não é uma arma do Loki... Você é muito mais do que isso. Pegue seu controle de volta...!
A força que aplicava em seu braço parou no mesmo instante, e logo seu pulso foi solto. Não era a primeira vez que a loira ouvia aquelas palavras e a confusão estava óbvia em seu rosto.
- Steve...? – ofegou ela, recuando um passo. Clint preparou sua flecha, à espera do menor movimento suspeito da garota – Mas o q...?
Steve a assistiu deixar seu olhar percorrer todo o ambiente, com sua respiração acelerando a cada pessoa que ela avistava, principalmente as caídas – Natasha e Steve. Quando seus olhares se encontraram o soldado soube que ela não fazia ideia do que estava acontecendo. A confusão e medo estavam mesclados em seus olhos – seus olhos castanhos, não os azuis. O que quer que fosse que tivesse acontecido naquela sala, ela era a culpada.
E então a cena mudou.
Seus olhos voltaram para o azul claro e seu rosto de contorceu de raiva enquanto ela bruscamente avançou para o cetro, mas não conseguiu alcançá-lo. A flecha elétrica de Clint estava cravada em suas costas, e logo ela caiu, inconsciente.
Uma das sensações mais estranhas que uma pessoa pode ter, é a de acordar depois de um longo período de sono sem sonhos, sem saber ao certo onde se encontra e sem se lembrar dos últimos momentos antes de adormecer. É um sentimento confuso, agonizante, que parece ainda pior quando toda parte de seu corpo está anestesiada, como se tivesse sentido dor por tanto tempo que chegara ao ponto de não sentir mais nada.
Foi algo parecido que experimentou, apenas somado ao medo ao se ver em um lugar estranho, embora no fundo lhe fosse um pouco familiar: em algum momento de sua vida ela vira paredes de vidro como aquelas.
A prisão do Hulk.
A garota tentou se levantar em um pulo, apenas para descobrir que todas as articulações de seu corpo latejavam, terminando com o rosto no chão, buscando com os olhos e certo desespero alguma figura conhecida para lhe explicar o que estava acontecendo.
- Eu não tentaria me levantar se fosse você – disse uma voz às suas costas, e com certo sacrifício ela se virou em direção da voz, encontrando um Fury mais sério do que o era de costume.
- Onde... estou? – teve dificuldades para usar sua voz, estranhando o som fraco e grave que produziu. Sua garganta estava seca e dolorida, como se tivesse passado horas gritando sem descanso, mas essa imagem não lhe despertava memória nenhuma.
- Ainda está na Torre dos Vingadores – contou o homem, andando ao redor da pequena prisão – E isso aqui... Foi construído especialmente para você.
Com vários gemidos de protesto, se colocou de pé, arrastando os pés sem pressa na direção do homem, parando apenas quando estava centímetros da parede. Enquanto tentava encontrar motivos para ter sido presa e ter uma cela especialmente para ela, aos poucos alguns flashes passavam por sua mente: ela entrando em um sono estranho, acordar com o aviso no ar de um ataque inesperado, alguém querendo roubar o cetro, e aquela estranha conexão com a arma.
Todas aquelas memórias só fizeram sentindo quando ela se lembrou de um Steve caído por ela o ter derrubado.
Steve.
Ela havia machucado Steve?
- Por que eu estou presa aqui? – perguntou a garota em um sussurro, implorando com os olhos para que o homem à sua frente mentisse, que dissesse algo que a fizesse se sentir melhor. Qualquer coisa menos a verdade.
- Porque você foi comprometida – disse ele apenas – Você atacou Os Vingadores.
- Eu ataquei o cetro! – rosnou a garota abruptamente, avançando contra o vidro que os separavam, o socando algumas vezes, mesmo sabendo que ele não cederia. Fury não demonstrou nenhuma reação, apenas continuou a fuzilá-la com os olhos, assistindo aos poucos sua agente quebrar – Você ligou aquela desgraça e aquilo não parava de confundir a minha mente...! Eu só queria que aquilo parasse! E-eu perdi a noção da realidade... Eu não sabia o que estava acontecendo...
- Você se colocou nessa situação, Stark.
abriu a boca para se defender, mas tudo que escapou por seus lábios foi um gemido sofrido. Não era apenas a dor física que a incomodava, mas talvez ter que admitir que aquela situação era toda culpa sua. Não era isso que Fury estava insinuando? Se ela tivesse logo no começo comunicado as alterações em suas habilidades, se tivesse informado os efeitos colaterais da interferência de Loki, aquilo talvez sequer tivesse se tornado um problema.
O problema foi ela tentar agir sozinha.
- E-eu... Eu estava com m... – não importava quanto ela tentasse, a confissão não saia. estava presa, completamente vulnerável, exposta, porém a maldita palavra não saia. Era medo. Medo de algo que ela não conseguia e talvez não fosse ser um dia capaz de controlar. Admitir aquilo em voz alta era o mesmo de admitir derrota para algo que fazia parte dela. Por isso a garota apenas engoliu em seco, tentando se concentrar para que suas palavras saíssem o mais confiante possível, embora tivesse ciência de quão patética pareceria – Eu estou bem agora. É só esquecer que aquele cetro existe e nunca mais tentar usá-lo.
Fury não conseguiu esconder um sorriso descrente. Mesmo sendo boa a sensação de saber que estava certo, no fundo Fury desejava que a loira não seguisse suas expectativas e ao menos concordasse que estava comprometida, que aquele era um problema que ela era incapaz de lidar. Se ela fizesse o pedido de ajuda, talvez ainda houvesse alguma esperança de recuperá-la.
Mas mesmo quebrada, a jovem Stark não admitia derrota.
- Na verdade, seu pai vai ligá-lo mais uma vez.
Com os olhos travados em seus pés, por um bom tempo tentou fantasiar que seus ouvidos estavam lhe pregando uma peça, que Fury não havia lhe respondido, que ambos estavam agora em um silêncio desconfortável, porém a resposta de seu corpo àquela notícia não deixava dúvidas. Seus músculos estavam todos tensos, o vestígio de um arrepio frio ainda podia ser sentido em sua pele, seus olhos suplicantes permitiam que grossas lágrimas escorressem por seu rosto. Quando ergueu o olhar para o homem, ele permanecia estático, como que imune à cena.
Ele apenas girou os calcanhares e caminhou para saída da sala.
- N-não faz isso! – sua voz saiu falha e fraca, e então o medo tomou conta de si, e a garota passou a gritar como nunca antes em sua vida – Não ligue de novo, por favor! Diretor! NICK!
Fury chegou a parar em frente à porta, arriscando um olhar por cima do ombro para a figura desesperada da jovem agente, saindo da sala em seguida, embora o último chamado da garota por seu nome ainda ecoasse em seus ouvidos.
Mesmo sabendo que fracassaria, a garota tentou procurar uma saída naquela cela, mas seu desespero era tamanho que sequer conseguia analisar seus arredores. Diferente de quando Loki estava interferindo em suas habilidades, a incapacitando de utilizá-las, agora sabia muito bem que elas estavam prontas para serem usadas, mas ela não conseguia. Estava tudo fora do controle e sequer lhe seria útil no momento. Sem poder ampliar sua força, nenhum de seus golpes comprometiam o vidro, ainda mais por aquele tipo de cela ter sido feito para conter algo muito mais poderoso. Por isso a única coisa que ela fazia era chorar.
E pedir que alguém fizesse com que aquilo parasse.
- PAI...! – gritava ela seguidas vezes, já com as costas apoiadas na parede de vidro, deslizando lentamente até o chão – J.A.R.V.I.S.! Desligue a Torre. Qualquer coisa. Por favor...!
- Temo que sua posição na hierarquia de poder tenha sido alterada, Srtª Stark – respondeu o sistema – Não posso atender seu pedido.
- Argh...! Isso não está acontecendo... Isso não está acontecendo... E-eu não... – ela murmurava repetidas vezes, abraçando suas pernas e escondendo a cabeça entre os joelhos, se balançado para frente e para trás, tentando inutilmente se controlar – Eu nã...! Não liguem de novo! Por favor! PAI...!
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O ar na sala continuava pesado, mesmo depois de Steve e Tony serem separados.
Embora tivesse também ameaçado a dupla de agente, o homem apenas conseguia culpar o soldado pelo estado de sua filha.
Logo após o corpo inconsciente de atingir o chão, Fury entrou na sala, deixando claro que estava observando de fora e não dando tempo para que alguém esboçasse alguma reação. Cinco outros agentes o acompanhavam, sendo que apenas um estava ali para verificar possíveis ferimentos nos Vingadores, enquanto os outros se adiantaram para a jovem caída. Tony instintivamente se colocou no caminho.
- Não faça a situação mais difícil do que já é, Stark – rosnou Fury, do fundo da sala – Você acabou de ver do que sua filha é capaz. Eles vão levá-la para uma cela onde ela não vai criar mais problemas.
- Vocês não vão encostar um dedo nela se não me explicarem o que está acontecendo – retrucou Tony, com a voz baixa e lenta.
- Quer fazer as honras, Rogers? – alfinetou Fury, se virando para o loiro, que ainda estava jogado no chão – Por um tempo eu pensei que você seria uma adição importante para esse caso, mas a garota claramente tem algum poder sobre você.
- Eu estava ajudando – resmungou Steve, se levantando com dificuldade, tentando ignorar o olhar irritado e traído que Tony lhe lançava – Estávamos fazendo progresso até você decidir jogar tudo para o alto, Diretor.
- Ah, todos nós vimos o progresso, Cap. Rogers... Está de parabéns! – debochou o homem, se virando para seus agentes em seguida – Imobilizem a garota logo antes que ela recobre a consciência. Nem sabemos se vai ser a Stark que vai estar aí quando ela acordar.
- E o que fazemos a respeito do Sr. Stark, Diretor? – perguntou um dos agentes – Ele ainda não parece muito disposto a colaborar.
- Ele vai colaborar – disse Fury, se adiantando em sua direção – Ou ele vai acabar inconsciente como a filha e só vai acordar depois que toda a situação for resolvida, já que não tenho paciência para lidar com dois Stark ao mesmo tempo.
Tony não se mexeu, mesmo quando os agentes se aproximaram da garota, primeiro prendendo uma algema grossa e larga de metal em volta de seus pulsos que foram colocados às suas costas, prendendo seus pés com algo parecido, e ainda colocando uma espécie de trava em seus braços, para diminuir o movimento desses membros caso ela acordasse durante o deslocamento até a cela. Seu olhar ficou travado em Fury, esperando por explicações.
- Loki fez muito mais do que incapacitá-la durante seu ataque – anunciou ele, assim que foi retirada da sala. Natasha acordara no meio do processo, mas permanecia sentada no chão, logo dispensando o agente-médico porque apenas sentia uma leve dor de cabeça. Mesmo que não fosse mais necessária ali, ela também estava interessada nas respostas que Tony iria receber – E sua filha achou conveniente não contar a ninguém.
- O que o bastardo fez?
- É um bom momento para fazer seu relatório de missão, Rogers – suspirou o Fury, se virando para o soldado – O verdadeiro dessa vez. Se mentir dessa vez vai estar apenas prejudicando a garota. A responsabilidade agora é toda sua.
Com todos os olhares da sala em si, Steve pôde apenas encarar o chão com o cenho franzido, debatendo internamente que ações tomar. Era óbvio que teria que contar o que havia aprendido nas últimas semanas, mas não era tão simples apenas abrir a boca: mesmo não tendo escolha, estaria traindo a tão rara confiança que demonstrava ter nele.
- Ela pode... Controlar algumas coisas que naturalmente ela não deveria... - começou o loiro, cruzando os braços e olhando para o longe - Coisas como batimentos cardíacos, quantidade de adrenalina no sangue, ignorar estímulos nervosos para não sentir dor... Ela ainda estava aprendendo a controlar, descobrindo as possibilidades.
Clint foi o primeiro a demonstrar alguma reação: simplesmente começou a rir. Um riso descrente que ecoou por toda a sala. Era tão a cara da garota que sequer tinha como tentar defendê-la. O mesmo comportamento egoísta e individualista que ela demonstrava não só na S.H.I.E.L.D., mas também durante toda sua vida. Aquele era o maldito maior problema da garota, nada do que ele fizera conseguira mudar isso, e dessa vez parecia que aquele não era um simples empecilho que poderia ser contornado com certo esforço.
Aquele era o fim de .
- Seu desgraçado...! - rosnou Tony, antes de partir em direção ao soldado com os punhos já fechados. Steve, por remorso, quase permitiu que o golpe o acertasse, mas além de ter desviado instintivamente, Clint e Bruce logo os separaram - Isso não é o tipo de coisa que se esconder, Rogers! Olha no que resultou!
- Eu não sei o motivo, mas parece confiar em mim. Entregar essa informaç... - começou o loiro, parando assim que Tony quase conseguiu alcançá-lo novamente.
- Diretor Fury - chamou-o J.A.R.V.I.S. - A Srtª já está na cela e está quase recobrando a consciência.
- Eu vou descer para conversar com ela, e você, Stark, vai consertar o que quer que seja que ela fez em seu sistema enquanto isso - resmungou ele, rumando para a porta.
O grupo assistiu toda a conversa dos dois em silêncio, se sentindo consideravelmente tentados a desligar o som assim que Fury a deixou sozinha e os gritos começaram. Ela havia cometido erros bem difíceis de corrigir, mas aquilo parecia cruel demais. Tony era o mais sentido, não apenas por ser sua filha, mas por ouvi-la o chamar seguidas vezes com tanto desespero, e não pelo seu nome.
Havia demorado tanto para que ela voltasse a chamá-lo de pai e agora ele se sentia inútil.
- Não tem como pelo menos dopá-la? – perguntou Clint, visivelmente incomodado com a situação. Ele que cuidava de desde que garota ingressara na S.H.I.E.L.D, ele que levava bronca sempre que ela cometia algum erro, que aturava suas brincadeiras e piadas estúpidas e que no fundo ele tinha que se controlar para não rir, apenas para não lhe dar corda. Presenciar aquela cena era como ver sua filha sofrendo.
- Quer responder essa, Rogers? – resmungou Fury, que assistia o grupo de longe.
- Sedativos não funcionam mais nela – disse ele simplesmente, ainda de costas para a tela. Ouvir já era ruim o suficiente e seria bem difícil tirar aqueles gritos de sua mente. Agora ver... A imagem da garota quebrada talvez ele não fosse capaz de suportar.
- Por que você quer ligar o cetro novamente? - perguntou Bruce, com a voz baixa e com cautela. Se havia a chance de fazer Fury mudar de ideia, aquele era o momento – Você não precisa fazer a garota passar por isso de novo... Ela é só uma criança.
- Precisamos aumentar o raio de buscas de armas perdidas, e saber o limite de - explicou o homem. Vendo a reação agressiva no grupo começar a se formar, ele logo emendou – Nesse exato momento, quem está naquela cela não é filha, pupila, ou amiga de nenhum de vocês. Ela é alguém deixado para trás por um inimigo. Ela é uma ameaça e vai ser tratada como tal. Ou a memória de vocês é tão curta e seletiva que já esqueceram que ela praticamente derrotou vocês sozinha?
Embora fosse esse seu objetivo, a ausência de respostas o irritou. Fury também não estava exatamente confortável com a situação. Ele estava perdendo uma de suas melhores agentes por um erro bobo, um deslize. Nunca havia cogitado a possibilidade de que o ponto fraco de pudesse coincidir com seu ponto forte. Sua mente também era sua fraqueza e ele não tomara nenhuma medida preventiva para evitar aquele cenário.
Ele culparia muito e Steve por aquela situação, mas uma pequena parcela da responsabilidade também poderia ser dele.
- Ela é o ponto fraco da maior parte de vocês - suspirou o homem, deixando seus ombros caírem - Se não tomarmos uma atitude agora, isso pode ser um problema ainda maior no futuro.
- STEVE...! – o grito longo e alto da garota depois de um grande espaço de tempo fez com que todos se virassem para a tela, onde eles podiam vê-la no canto da sala, com a cabeça enterrada em suas pernas, produzindo soluços cada vez mais altos – Stevie... P-por favor...! Você prometeu!
O soldado fechou os olhos com força, respirou fundo algumas vezes, e tentou fingir que nada daquilo estava acontecendo. Porém os gritos não paravam. Nem o choro. Sequer parecia a mesma pessoa: não havia nenhum traço da agente Stark ou da confiante herdeira de um império. Aquelas duas versões haviam desaparecido, restava apenas a garota perdida.
- Nem pense nisso, Rogers – avisou Fury, assim que o homem se adiantou para a porta - Você fica aqui. Não tem como você ajudá-la agora.
- Não vou fazer você mudar de ideia sobre ligar a máquina novamente, mas você não pode me impedir de pelo menos fazer companhia a ela – retrucou Steve, virando o rosto minimamente para fitar o homem - Não vou interferir.
- Já tivemos uma amostra do que a garota é capaz quando o cetro está em uso. Vamos resumir a perda de pessoal da S.H.I.E.L.D. hoje apenas à Stark. Não posso te arriscar nessa.
- Você ainda não entendeu, não é? – grunhiu ele, chutando uma cadeira em frustração – Vocês não ligaram o cetro ainda e ela está quase sem voz de tanto gritar! Preste atenção! Ela está amedrontada! Loki pode ser responsável por todos esses problemas nas habilidades dela, mas os mentais são resultado de toda a pressão que você vem fazendo na garota. E é disso que Loki tirou vantagem. não passa de uma criança morrendo de medo de algo que ela não sabe controlar e você apenas a jogou em uma cela!
- Você acha que eu não tinha ciência desses problemas, não é? Acha que eu não conhecia minha agente? – riu Fury. O homem sabia muito bem que não seria capaz de fazer o soldado se voltar contra , mas talvez contar que a garota só estava com ele porque recebera uma ordem pudesse deixá-lo no mínimo confuso. Mostrar que ambos estavam sendo manipulados era sua última chance de tirá-lo da jogada – Acha que a garota simplesmente esbarrou com você em Cleveland? Desde o momento que Os Vingadores se separaram, estava te monitorando. Designei a ela essa missão porque sabia que ela cometeria algum deslize e seria descoberta, e que o grande Capitão América conseguiria adentrar nas defesas da garota com mais facilidade do que qualquer um.
Steve ficou parado por um tempo. Sua vontade era contar que ele já sabia da missão porque ela havia contado, mas parecia que isso apenas colocaria em mais problemas. Porém no fundo nada disso importava. Seria apenas uma postura infantil em resposta à estratégia infantil de Fury para fazê-lo se virar contra a garota. A questão era que estar em missão ou não era um mero detalhe que naquele momento não fazia a menor diferença.
- Eu não me importo com as mentiras que ela já me contou - disse ele por fim, ligeiramente surpreso por perceber que estava sendo verdadeiro - Sequer me importo se ela vai continuar mentindo para mim depois disso tudo. Só sei que ela está me chamando. E você não vai me impedir de ir até lá.
Nem mesmo Fury se opôs ao loiro deixando a sala. Se ele queria passar por aquilo, quem seria ele para impedir?
Com passos apressados, Steve seguiu as instruções de J.A.R.V.I.S., logo alcançando a sala onde a garota estava presa. Antes que pudesse mudar de ideia, ele entrou, um pouco surpreso pelo ambiente em silêncio.
estava encolhida em um dos cantos da cela, sendo o único som que emitia a sua respiração falhava e desregulada. Sem gritos, sem soluços.
Ela já estava esgotada.
- ... – ele a chamou com a voz baixa, parando ao lado da pequena mesa de controle da cela, o que fez com que a garota erguesse a cabeça, e com que seus olhos avermelhados encontrassem os seus angustiados. Steve apenas esboçou um sorriso – Acho que você me chamou.
A garota queria rir, porém acabou que ela produziu um som estranho que fez com que seu choro se intensificasse, principalmente por saber o motivo de o soldado estar ali: Fury não havia desistindo de usar o cetro na busca de objetos alienígenas perdidos. Steve estava ali apenas para lhe fazer companhia. Apenas a presença do soldado ali, mesmo com um resistente vidro os separando, já era algum conforto, mas nunca em toda vida ela quisera tanto sumir no abraço de alguém. Só que não era nem um pouco seguro e a última coisa que precisava era saber que o machucara novamente.
Por isso a surpresa tomou o rosto da loira quando ela viu Steve abrir a porta e ela se fechar assim que entrou na sala.
- Você não pode estar aqui dentro quando eles ativarem o cetro, Steve! – se apressou ela em dizer, sentindo suas cordas vocais implorarem por descanso – Não quero te machucar!
- Você não vai, lembra?
- Só que eu já te machuquei, Stevie - insistiu ela, com o desespero se manifestando com mais intensidade a cada passo que o homem dava em sua direção - Não faça isso, por favor...
- Que pena que eu quero fazer isso, não é? - suspirou ele, se agachando a sua frente.
- Eu estou com medo. Dessa vez não faço ideia do que está acontecendo - confessou ela em um sussurro, levando as mãos aos cabelos e os puxando com vontade enquanto seu rosto voltava a se esconder entre suas pernas - Estava tudo confuso... Não quero passar por aquilo de novo...
- , olhe para mim – pediu Steve, puxando o queixo da garota com cuidado – Você estava me ouvindo da última vez, conseguiu distinguir realidade da ilusão. Vou ficar do seu lado do começo ao fim. Não vou te soltar sequer por um instante, tudo bem? Ignore tudo que estiver ao seu redor e se concentre apenas na minha presença.
assentiu de leve. Mesmo que no fundo soubesse que não era nada seguro que ele ficasse, ela não queria que ele fosse. Sentir o toque de sua mão em sua pele era uma boa forma de saber que aquilo era real.
Quando Steve se sentou ao seu lado e abriu os braços, lentamente se ajeitou contra ele, deixando sua cabeça apoiada em seu peito, com suas mãos aliviando a tensão ao fincar as unhas no tecido da camiseta que o loiro usava, como se agarrando-se ao material fosse resolver todos os seus problemas.
- Liguem – suspirou o loiro, e ele pode facilmente dizer o momento que começou: as unhas de se agarraram à sua camiseta com mais desespero, um gemido baixo passou por seus lábios antes de ela prender o inferior entre os dentes - Foco, . Você precisa de foco.
- Eu te disse que para eles você não passa de uma garotinha irresponsável... – murmurou uma voz próxima ao ouvido de , mas não era Steve. Era alguém às suas costas - Fica difícil te proteger quando você não colabora, ...
- Argh, minha mente me odeia – resmungou ela, se agarrando mais ao homem quando finalmente reconheceu a voz – Isso com certeza é o pior pesadelo de todos os tempos.
- Nós dois sabemos muito bem que você apenas sonhava comigo voltando para te buscar... – continuou Loki, com um vestígio de riso em sua voz. Dedos gelados se enlaçaram em seus cabelos e ela teve que controlar a vontade de se afastar da pessoa. Algo lhe dizia que seria pior fugir, ou que fugir não adiantaria nada – Só que eu nunca parti. Estava esse tempo todo em sua mente...
- Tente manter o controle – disse uma voz calma, completamente diferente da voz do asgardiano. A voz transmitia uma tranquilidade tão instantânea que, junto com sua proximidade, parecia perigoso deixar ser dominada por ela. estava lutando contra alguma coisa, talvez tivesse achado a ameaça - Estou aqui com você... Olhe para mim, .
- Olhe para mim, – repetiu outra voz, e ela já não sabia mais distinguir quem falava. Só queria fugir. por alguns segundos tentou se livrar do aperto de quem quer que fosse que a segurava, mas uma voz no fundo da sua mente fez com que ela desistisse.
Era Steve quem estava do seu lado. Ela que era a ameaça.
Abrindo os olhos pela primeira vez desde que o cetro fora ligado, se focou no olhar do soldado que também estava travado no dela, tentando manter uma expressão neutra para não assustá-la, embora fosse difícil não reagir àqueles estranhos olhos azuis. Porém não era Steve que ela via a sua frente, e também não era Loki: A imagem da pessoa estava instável, se alterando a cada vez que ela tentava se focar com mais empenho. Mas era Steve que lhe fazia companhia, embora tivesse a falsa sensação de que havia outras pessoas com eles na cela.
Sua mente apenas a enganaria se ela permitisse.
Se na última vez ela havia perdido todos os sentidos, pelo menos a ciência da situação já havia sido recuperada.
Agora era partir para o próximo da lista.
- Você é Steven Grant Rogers. Você nasceu em algum dia que faz tempo para cacete... – começou ela, tentando se concentrar no homem que ela devia ver em sua frente, ganhando um pouco mais de confiança ao ouvir uma risada profunda do soldado, uma risada que ela não confundiria nem em outra vida – Você tem uma mão excelente para desenhos como eu nunca vi. Apesar da sua idade, você se adapta muito fácil quando quer, e mesmo sendo tão certinho ainda é um velho safado, vide incidente em Cleveland.
- Eu já estava quase que com saudades de você comentar sobre isso – soltou o loiro, entre risos, e aos poucos ela conseguia visualizar o sorriso meigo do homem – Seu pai deve estar ouvindo isso tudo, então vamos tentar manter o foco em quem você é, tudo bem? Se concentre em quem você é. “Hm, isso sim vai dar trabalho...”, pensou ela, respirando fundo.
- Sou Maria Stark, nasci em 15 de agosto de 1989. Minha mãe morreu quando eu nasci. Ela trabalhou por um tempo nas Indústrias Stark – ela começou com o básico, deixando que as memórias aleatórias aos poucos fossem relembradas, se esforçando para ignorar toda a confusão de informações que a cercava – Sou ótima com tecnologia e uma negação com pessoas, mas disso todo mundo sabe.
Steve não conseguiu esconder certa surpresa ao ouvir aquilo, quase agradecendo pela garota ter fechado os olhos novamente e ter escondido o rosto em seu peito. tinha uma visão crítica de si, sabia de seus erros e defeitos, diferente do que todos pensavam. Só não a incentivavam a melhorar.
- Você não é uma negação com pessoas, ... – murmurou ele contra seu cabelo, a apertando mais em seus braços – Você apenas não percebeu isso ainda.
não conseguiu conter um sorriso contente, não se importando porque não teria como Steve o ver. Respirando fundo, ela voltou para sua tarefa.
- Entrei na S.H.I.E.L.D. no meio de 2007. Coulson foi meu recrutador, mas Barton é meu chefe, e ele me mata se eu te entregar os segredos dele, então vou mudar de tópico... Eu tive umas vinte e cinco babás até os sete anos porque elas morriam de medo de eu explodir alguma coisa, ou porque meu pai não colaborava, mas na maioria das vezes era por minha causa... Eu mal me lembro dos meus avós, mas lembro que nevou por dias depois do acidente e ninguém aparecia no meu quarto.
- ... – sussurrou ele, um pouco sentindo pela revelação, e a garota automaticamente ergueu o resto, soltou um “o que?” confuso, arregalando os olhos em seguida, como se visse algo estranho no rosto do homem.
- Voltei a te ver – comentou ela, com um sorriso tímido nos cantos dos lábios – Continua tudo uma bagunça, mas eu voltei a te ver.
- Agora tente ver tudo normal novamente. Você lembra como era a sala. Estamos sozinhos aqui. Tome as arredias da sua mente – ordenou Steve, e ela apenas assentiu. Querendo ter uma melhor visão da sala, se virou, deixando suas costas alinhadas com o tronco do soldado, que se sentara com a postura mais reta para poder lhe dar algum suporte caso fosse necessário. As mãos de garota estavam sob as suas, mas não mantinham o mesmo aperto desesperado do começo: ela estava bem mais calma, confiante.
Dessa vez ficou em silêncio o tempo todo, sendo o único som que produzia sua respiração acelerando em alguns momentos e se acalmando em outros.
- ...? – estranhou Steve, quando os ombros da loira relaxaram e ela se debruçou sobre suas pernas - Tudo bem?
- Acabou, não é? – murmurou ela, com a voz rouca e de olhos fechados. Nem mesmo quando passara pelos testes de resistência da S.H.I.E.L.D. ela se sentira tão exausta. Ao não receber resposta, ela arriscou olhar para o soldado às suas costas, que permanecia estático – O que foi, Steve?
- Vocês desligaram o cetro e não me avisaram? – resmungou o loiro, levando a mão ao comunicador.
- Ainda estamos usando o rastreador, Cap. – a voz de Bruce ecoou pela cela – Acho que alguém se livrou do controle do cetro. Muito bem, Stark.
Soltando o ar todo de uma vez, deixou que seu corpo tombasse para o lado, caindo sobre a perna de Steve, que riu de leve. Enquanto ele assistia a garota se encolhendo no chão, Fury lhe passou novas ordens, e não teve dificuldades em notar o homem adquirindo uma postura mais tensa.
- Fury quer que eu te escolte para seu quarto – anunciou ele – Quando você acordar ele vai conversar contigo.
- Não, vamos conversar agora – resmungou ela, sentindo seus músculos protestarem quando ela tentou se levantar – Eu já estou no chão, levar mais um chute ou dois não vai fazer diferença.
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Embora não estivesse sendo a tarefa mais fácil do mundo, estava com a manipulação ligada. Caso contrário ela estaria inconsciente e sendo carregada por Steve, embora no fundo fosse ele, com seu braço por trás de suas costas, que estivesse a guiando pelos familiares corredores que agora pareciam todos iguais.
Quando retornaram à sala, Bruce parecia ser o único que estava trabalhando, com os olhos acompanhando os menores movimentos na tela a sua frente, que devia ser a que mostrava a movimentação das armas chitauri, o motivo do cetro ainda estar ligado. O restante do grupo estava espalhado pela sala em suas cadeiras giratórias, todos parecendo incrivelmente cansados. Natasha estava com um belo roxo no queixo e um corte na testa, o que permitiu a identificar como a primeira pessoa que atacara, sentindo a culpa de seus atos voltarem com força.
- Começar a fazer essa cara de cachorro sem dono não vai mudar o que você fez, Stark – murmurou Fury, às costas da dupla dos loiros, entrando na sala depois deles. Até mesmo Bruce que estava entretido em seu trabalho parou assim que notou a volta dos dois – Acho que deixei bem claro que queria ela descansando, Cap. A escolte para o quarto dela.
- Vou ter que me opor a isso, Diretor – suspirou , afastando discretamente o braço de Steve que lhe servia de apoio – Eu não vou começar a me recompor para você me derrubar no meio do processo. No momento eu estou incapacitada de usar qualquer tipo de analisação porque toda minha energia está sendo gasta para eu continuar de pé. Então você vai se aproveitar disso para conseguir as respostas mais honestas que eu posso dar.
Fury riu, incrédulo.
- Você não faz ideia de como eu queria voltar no tempo e não mandar Coulson te recrutar... – resmungou ele, parando em frente à garota, que manteve a expressão neutra – Você colocou todos a sua volta em perigo.
- Fui descuidada e não percebi que não conseguiria lidar com o problema sozinha.
- Ah, você percebeu... Rogers não estava te ajudando?
- Rogers estava me ajudando com o que nós já sabíamos – retrucou ela logo – As mudanças que eu tinha percebido quando a Batalha de NY começou. Perder a noção da realidade? Isso não tinha acontecido antes. Apenas dificuldade para desligar e alguns momentos de inconsciência.
- Está tentando defender o Rogers, Stark?
- A responsabilidade é minha, não dele – respondeu ela de imediato, o que apenas irritou o homem.
- Ele tinha ordens explícitas de me informar sobre suas condições.
- Fiz com que ele acreditasse que eu podia lidar com isso sozinha.
- Excelente trabalho você fez...! – exclamou ele, erguendo os braços e apontando para seus agentes em seguida – Romanoff com uma concussão e Barton com duas costelas quebradas. Se você não tivesse sido parada, teria matado Os Vingadores.
chegou a abrir a boca para retrucar, mas desistiu no meio do caminho: não tinha e nem queria ter argumento para isso.
- Você está sendo permanentemente desconectada da S.H.I.E.L.D., Stark – anunciou Fury, lhe dando as costas e se encaminhando para a direção de Bruce – Parabéns por jogar no lixo a carreira brilhante que você poderia vir a ter.
- Você não pode me desligar da S.H.I.E.L.D. – disse ela apenas, fechando os olhos com força quando suas mãos começaram a tremer. Seu controle estava tão instável que apenas uma mão a obedecera, enquanto a outra ignorava seus comandos, continuando a tremer mesmo depois de ela fechar o punho com força.
- Se importa de dizer por que eu faria a idiotice de manter você na S.H.I.E.L.D.?
- Porque eu sou uma ameaça em potencial – contou ela em um sussurro, se odiando por sentir seus olhos ardendo quando os abriu. Se admitir que estava com medo havia sido difícil, finalmente contar aquilo sequer tinha classificação. No momento que as palavras saíssem da sua boca a visão de que qualquer um tivesse dela seria alterada. Ela deixaria de ser vista como uma pessoa e passaria apenas a ser uma arma – Não por eu não saber controlar minhas novas habilidades, mas porque Loki disse que iria voltar por mim.
não desviou seu olhar de Fury, sabendo que doeria muito mais ver aquele temor nos olhos dos outros, que eram pessoas muito mais próximas a ela. Sua vontade era de rir (de desespero), mas a garota permaneceu imóvel, descarregando toda aquela agonia na mão que não conseguia controlar, deixando suas unhas cravarem em sua pele sem nenhuma piedade.
- Você tem cinco segundos para dizer que está mentindo, Stark – avisou Fury, em um tom baixo e ameaçador.
- Eu disse antes que você ia conseguir as respostas mais honestas – choramingou ela, se xingando pela voz falha e pelas lágrimas idiotas que lhe escaparam dos olhos – Sem mentiras hoje.
- Por que você não contou isso antes? – questionou Clint, atraindo a atenção da loira. A expressão traída do homem atormentaria sua mente por muito tempo – Isso é de longe a coisa mais irresponsável que você fez até hoje, .
- Se eu tivesse contado, o que vocês iriam fazer? Me enfiar em um laboratório e ser cobaia para testes pelo resto da minha vida? – rosnou ela, desistindo de focalizar em alguém. Não precisava analisar ninguém para saber o quanto havia os decepcionados – Toda essa situação seria evitada? Claro que seria, mas eu acabaria trancada em alguma base isolada, sem saber da minha capacidade, no escuro, com toda a segurança do mundo me cercando. E isso seria uma diversão sem igual para o babaca asgardiano, não seria? Ele adora nos fazer de idiotas. Trancafiar a arma vulnerável dele para dificultar seu resgate? Ele deve sonhar com esse cenário!
A tensão no ar quase não permitia que a garota respirasse, mas ela não parou. Havia guardado aquilo por semanas e faria com que eles se arrependessem de querer saber a verdade. Aquilo iria os atormentar também.
- Se eu escondi isso por que estava com medo? Eu continuo com medo, para ser bem sincera – continuou ela, com a voz carregada de desgosto e raiva, que refletia em seu rosto – Mas principalmente porque achei que seria melhor lidar com isso sozinha, ter controle sob minhas habilidades para que ele não possa me manipular caso ele tente cumprir a ameaça.
Fury arriscou alguns passos até a garota, parando a centímetros do seu rosto, parecendo imune a toda dor e medo que ela transmitia. Ele não era pago para ser bonzinho. Ele estava ali para tomar as decisões difíceis.
- Você está temporariamente afastada como agente da S.H.I.E.L.D. – anunciou ele, vendo o espanto e a incredulidade tomar o olhar de , que estava pronta para retrucar – Mas está permanentemente sob nossa custódia, independente do que eu for decidir nas próximas horas.
- Você já tomou a decis...
- Quero fazer algumas perguntas ao Rogers primeiro.
se virou para o soldado a tempo de vê-lo murmurar um simples “sim, senhor”. Talvez a falta de atenção nos detalhes ao seu redor a tivesse deixando retardada, já que aquilo não fazia o menor sentindo. Por que Steve teria alguma relevância para aquele assunto? Ele estava próximo em alguns momentos críticos, havia sido uma figura importante em toda essa confusão, mas não o suficiente para poder opinar em algo desse porte. Sequer ele devia ser considerado uma pessoa confiável para julgar o caso graças ao seu claro envolvimento com a acusada. Obviamente ele se colocaria a seu favor. Ele não iria querer que ela fosse presa. Ou ele acreditava que aquilo seria o melhor para ela? Ou ele achava que ela poderia voltar a agir em campo como antes?
Qual era o posicionamento do soldado?
Com os olhos arregalados ela se virou de volta para Fury, encontrando um sorriso satisfeito em seu rosto. Dessa vez o homem havia sido bem mais rápido do que ela na leitura dos dados.
- Você está me dando mais dor de cabeça do que nunca, mas ver sua cara idiota de realização realmente melhora meu dia – contou ele, quase rindo do desespero da garota. Ela balançou a cabeça algumas vezes em negação antes de ligar a analisação e se virar para o loiro, claramente desconfortável por ver suas íris tomadas pelo azul novamente e olhos arregalados. Antes que o Steve pudesse questionar o que estava acontecendo, Fury continuou – Consegue lê-lo?
- Rogers virou um ponto cego – ofegou ela, recuando alguns passos até alcançar uma cadeira desocupada, em que ela se sentou com certa dificuldade. Como agora não precisava se concentrar em ficar em pé, toda sua energia foi redirecionada para ela poder gesticular nervosa o quanto quisesse – É bem conveniente, não é? O cara que você escolheu para potencialmente decidir meu futuro é a porcaria de um ponto cego e eu não consigo saber o que ele vai fazer! Quer dizer, qual é o objetivo disso? É um exercício de confiança? Quer saber se eu confio o suficiente no cara para praticamente confiar minha vida a ele?
- O buraco é um pouco mais embaixo... Rogers tem vantagem sob você, e não é apenas o ponto cego.
Por alguns segundos, não soube dizer sobre o que diabos Fury estava se referindo. Aquela era a única vantagem que Steve tinha sob ela, e já era suficientemente problemática, não precisava de mais. Então algumas conversas antigas com o loiro voltaram a sua mente e tudo ficou mais claro: Steve sabia dizer quando ela estava usando suas habilidades, então tinha uma pequena chance de se defender de suas estratégias. Ela não era um ponto cego para ele e com certeza o soldado tinha contado isso.
- Isso é algo que eu realmente precisava de uma explicação – começou ela, sem se dar o trabalho de explicar, já que Fury sabia muito bem do que ela estava falando – Como que isso é possível? Ele é praticamente um Anti- agora!
- Quer trocar de advogado?
- Claro que não! – respondeu logo, parecendo quase que ofendida, e isso até ela percebera. E os olhares das outras pessoas na sala deixaram claro que eles também tinham percebido: a resposta havia sido natural e rápida demais. Grunhindo irritada antes, ela continuou – Nossa, grande coisa. Maior reviravolta da vida. Eu confio no Rogers. Fim do mundo. Eu estou exausta.
Ilustrando seu cansaço, ela escorregou na cadeira, levando as mãos ao rosto. Era muita informação para um dia só e ele nem havia acabado ainda.
- Dr. Banner... – chamou-o Fury, vendo que não conseguiria mais arrancar nada da loira – Já que a Stark está emitindo uma pequena quantidade de radiação gama, acho que você é a pessoa mais indicada para liderar essa operação. Quero relatórios detalhados de tudo que foi alterado: comportamento cerebral, estruturação do DNA, capacidade física e mental... Você vai ter acesso a todos os outros testes da Stark para poder comparar. Outra pessoa vai coordenar o rastreamento das armas. Stark pode colaborar também, se não se sentir desconfortável. Romanoff e Barton ficam por perto para caso a situação saía do controle novamente. E Rogers vem comigo.
Os Vingadores apenas assentiram enquanto apenas tirou uma mão do rosto e a ergueu.
- Eu não vou poder tentar dormir um pouco antes, não é? – perguntou ela.
- Não. Quero saber seu potencial na exaustão primeiro.
A garota apenas emitiu um grunhido baixo, sem se opor à decisão. Mesmo querendo, ela sabia que não conseguiria dormir pelos próximos dias. Sua mente não desligaria tão cedo.
Em seguida Fury deixou a sala com Steve em seu encalço, e o silêncio perdurou por um bom tempo, mas isso não a surpreendeu: a última vez que eles ficaram sozinhos com ela naquela sala não havia sido uma reunião exatamente agradável.
- Me desculpem pelo ataque. De verdade – suspirou ela, girando a cadeira para a direção do grupo, que estudava seus movimentos com atenção – Eu nunca atacaria vocês se eu tivesse entendido o que estava acontecendo.
- Estou tentando decidir se estou mais irritada contigo pelo ataque ou por não ter contado para a gente o que estava acontecendo – resmungou Natasha, cruzando os braços.
- Mereço nos dois quesitos – ponderou ela, dando de ombros – Pai...?
- Não estou falando contigo – resmungou Tony, voltando sua atenção para uma das telas ligadas.
- Justo. Vai contar para a Pepper, não é?
- Claro que vou. Seu cúmplice é o Rogers, não vou levar culpa nessa – continuou o homem, depois de mandar esvaziar o andar da academia, já que testes físicos de foram pedidos, e pedir material para coleta e análise de sangue – Falando do Rogers, quer explicar essa história de “Anti-”?
- Momentaneamente eu não consigo prever as ações dele, por isso ele é um ponto cego – suspirou ela, tentando se ajeitar na cadeira e quase caindo no processo – Mas antes disso ele já conseguia dizer quando eu estava usando minhas habilidades, e isso tira a “pureza” dos dados que eu absorvo... Então na teoria ele pode manipular as conclusões que eu chego.
A risada abafada de Clint chegou aos seus ouvidos, e ela se virou lentamente para ele, que mantinha um sorriso maldoso.
- Essa é definitivamente a melhor parte dessa história toda – disse o loiro – Quando você expandiu suas habilidades você também encontrou limitações para ela.
- Sim, e eu estou bem feliz com isso tudo, como você pode ver na minha cara – acrescentou ela, forçando um sorriso – Bruce, podemos começar logo?
O homem apenas concordou, já que o agente que acompanharia o rastreamento das armas tinha chegado e os equipamentos necessários para os testes já estavam prontos. Com a voz calma, ele pediu que o grupo o acompanhasse para o novo local onde eles ficariam, e em silêncio eles o seguiram. Ainda havia algumas perguntas que a dupla de agentes queria fazer à garota, mas era óbvio seu desconforto, talvez não só pelos acontecimentos serem tão recentes, mas pela presença de Bruce e Tony – principalmente a de Tony. Seus desentendimentos com o Capitão América não estavam tão esquecidos e aquela considerável cega confiança que sua filha adquirira por ele não estava o deixando muito contente, e ele não estava fazendo questão de esconder. Se o relacionamento com seu pai já vinha sendo desastroso, agora estava prestes a virar catastrófico.
O andar da academia – que sequer sabia que existia até aquele momento – havia sido levemente modificado para a ocasião: algumas bicicletas ergométricas haviam sido amontoadas em um canto mais afastado, criando espaço o suficiente para a larga mesa com todo material possível que Bruce e Tony viessem a precisar. Havia no mínimo quatro telas diferentes e todo aparato para realizar os testes de laboratório e de capacidade física, o que a fazia ter a falsa sensação de estar na S.H.I.E.L.D. apenas realizando a habitual bateria de exames que todos os agentes eram submetidos mensalmente, embora seus exames sempre fossem diferentes. Assim como esses também seriam.
Vestimentas adequadas estavam separadas para ela em cima da mesa, que se resumiam a um conjunto de top e calças de tecido semelhante e cor escura, identificados com o símbolo da agência, como de costume. Sem esperar por instruções, ela apenas pegou a muda de roupa e se direcionou para o que parecia ser um dos banheiros do andar, sem se dar o trabalho de trancar a porta às suas costas, já que Natasha provavelmente logo a seguiria. Enquanto se trocava, ela notou a ausência de hematomas em seu corpo, o que apenas a deixou ainda mais apreensiva. Ela havia entrado em combate com a Viúva Negra, o Gavião Arqueiro e Capitão América, mas seu corpo não denunciava o acontecimento. Claro que eles não tinham utilizado todo seu potencial para pará-la, mas aquele era um indício de que seu nível agora era outro. Dois meses atrás ela deixaria Natasha inconsciente apenas se a ruiva permitisse. Chegar perto o suficiente de Clint para conseguir quebrar uma costela? Impensável mesmo quando eles passavam a maior parte do dia treinando combate direto, onde as chances de conseguir machucá-lo eram maiores. Ser uma adversária a altura para Rogers então era algo fora de cogitação.
Se antes ela já tinha a sensação de ser algo além de humana, agora ela se sentia ainda mais distante da humanidade.
Tentando se afastar desses pensamentos, a garota passou a se concentrar em amarrar o cordão das calças para que não caíssem quando os testes físicos começassem, gastando mais tempo que o necessário observando o material apenas porque sabia que seu olhar cairia no espelho a sua frente no momento que erguesse os olhos. Não estava com a menor vontade de se ver e até temia um pouco seu reflexo, embora soubesse que fosse impossível para aquele simples objeto refletir tudo de ruim em si que ela tanto se esforçava para encobrir.
- Mas q...? Natasha! – ofegou ela, quando finalmente ergueu os olhos para o espelho e avistou a ruiva às suas costas, se virando para ela com impaciência – Estou desligada, então bater na porta, fazer algum barulho quando pisar no chão, ou qualquer coisa que indique sua presença é bem-vindo.
- Sabe muito bem que agora vai ser vigilância 24hs por dia – murmurou a mulher, assistindo assentir e se apoiar na pia às suas costas – Rogers não vai complicar mais sua vida, não precisa ficar tão apreensiva.
- No momento, a decisão do Rogers é o menor dos meus problemas, Nat, e você sabe. É desses testes que eu não gosto – admitiu ela de uma vez, cruzando os braços e deixando seu olhar passear pelo ambiente. Mesmo tendo uma relação bem próxima com a ruiva, aquele tipo de assunto era sempre complicado – E dessa vez eu tenho mais motivos para não gostar. Se eu já não sabia o que acontecia antes, agora parece... Eu sei menos ainda. O que é meu e o que veio do cetro? Eu estou bem perto de chegar ao questionamento supremo de “quem eu sou?” e eu nunca fui muito do lado humanas da Força.
Natasha apenas sorriu, o que fez com que ela resmungasse um sentido “não tem graça, Nat”.
- É bom te ver assim – comentou a mulher, rindo de leve ao ver expressão ofendida da loira, emendando logo antes que tivesse a chance de começar a reclamar – Você está se questionando. Está consciente. Você não faz ideia de como o problema seria muito maior caso estivesse sendo mais passiva nessa história, apenas aceitando tudo que acontece e o que te dizem, como você aceitou quando identificamos suas habilidades. Se você agir como agiu na primeira vez, vai se tornar extremamente limitada e manipulável, não apenas para a S.H.I.E.L.D., mas para quem controlar o cetro.
Com cuidado, a ruiva parou a poucos centímetros da garota, estudando sua expressão cansada, que com certeza não fazia jus à confusão que devia estar sua mente no momento. Natasha não era a pessoa mais conhecida por demonstrar compaixão por alguém, mas aquele caso era especial.
- Se você quer ter a menor chance de ainda ter uma vida depois disso tudo, vai viver em constante questionamento, bem no nível filosófico de “quem eu sou?” – concluiu ela, colocando uma mecha do cabelo claro de atrás da orelha e deixando a mão descansar em seu ombro – E temo que seja uma tarefa que Clint e eu não vamos ter a chance de ajudar muito.
respirou fundo e segurou a respiração antes de assentir, assimilando com cuidado as palavras da mulher, já que sentia que precisaria relembrá-las no futuro. Quando estava prestes a agradecer verbalmente, a porta do banheiro foi aberta de supetão e as duas se viraram para um Clint incomodado.
- Esse é o banheiro feminino, Barton – resmungou Natasha, o olhando feio. Não era a primeira vez que o arqueiro invadia um ambiente que ele não devia.
- E as senhoritas estavam demorando demais – retrucou ele, segurando a porta com um braço e sinalizando com o outro para que elas saíssem – Temos trabalho a fazer, não temos tempo para jogar conversa fora.
- Eu podia estar me trocando ainda – a garota, assim como a ruiva, manteve sua expressão fechada, claramente irritada com a ação do arqueiro.
- Não veria nada que eu já não tenha visto antes, querida.
- Espera, o quê?!
- Mas tem muita coisa que esses dois nunca viram – continuou ela apontando para a dupla de cientistas e ignorando a reação exasperada de Tony, que abria e fechava a boca várias vezes, sem produzir mais nenhum som – Acredito que meu pai não tenha visto minha bunda nem quando eu era bebê e pretendo manter as coisas desse jeito. Então colabore.
- St...
- Nem toda missão nós temos o luxo de ter um lugar reservado para trocar de roupa, pai – bufou ela impaciente, caminhando até a cadeira que Bruce apontava – Acho que consigo contar nos dedos de uma mão em quantas missões nós tivemos um espaço para isso. Então sem neura, por favor.
- E eu não faço o tipo da sua filha – acrescentou o loiro achando graça, tirando seu arco das costas e o encostando na parede ao seu lado antes de puxar uma cadeira e se sentar.
- Estamos falando da minha filha. Todo tipo de homem é o tipo dela.
- Certo! Vamos voltar para o assunto sério, por favor? Testes, que tal? – sugeriu a garota, já que a última coisa que precisava era seu pai e seu tutor discutindo sua vida amorosa – Bruce, você é o chefe aqui, controle a situação.
Bruce apenas ergueu as mãos em sinal de derrota, adotando em seguida uma postura séria para começar a trabalhar: primeiro prendera uma espécie de elástico no braço da garota para localizar suas veias, higienizando a área com um algodão embebido de álcool e em seguida pegando um dos muitos tubos de coleta que estavam na mesa e o acoplando ao adaptador com agulha.
- Vou precisar tirar um pouco mais de sangue que o normal, tudo bem? – avisou ele, arriscando um olhar rápido para o rosto sereno de antes de furar seu braço. Sem se importar com a picada, ela olhou para a mesa, contando seis tubos considerando o que estava nas mãos do moreno. Nem um a mais ou a menos do que o habitual.
- Na verdade, você vai coletar a quantidade padrão, Dr. Banner – contou ela, e o homem não conseguiu esconder a surpresa – Você vai ver a quantidade absurda de teste que vai ter que fazer com meu sangue... Pode esquecer qualquer coisa legal que você e meu pai estavam trabalhando: isso vai levar um bom tempo.
- Você sempre passa por isso? Todos esses testes? – perguntou o doutor depois de um tempo, quando o segundo tubo já estava quase cheio.
- Os testes de laboratório, sim. Os testes físicos e mentais específicos, como acho que Fury pediu para você, são bem menos frequentes.
Com o cenho franzido, era óbvio que o cientista tinha alguma coisa em mente o perturbando, por isso permitiu que o silêncio se instalasse, assim como os outros três Vingadores.
Bruce estava realmente incomodado com a informação que a garota lhe dera. Era completamente compreensível manter uma certa regularidade nos exames laboratoriais de seus agentes, mas para que a S.H.I.E.L.D. recolhia uma quantidade tão absurda de sangue de ? A garota não era doente, então para que tantos testes?
- Eles querem descobrir uma forma de criar mais de você, não é? – murmurou ele a contragosto, conectando o último tubo ao adaptador. Ao voltar sua atenção para a garota, seus olhos já não transmitiam tanta seriedade: era quase pena pela realização que só agora lhe ocorrera, de como ela era vista pela agência – Por isso eles coletam tanto sangue seu.
- Esse é o motivo implícito – concordou ela, não surpresa pela reação do homem – Mas a resposta que você vai conseguir do Barton ou do Fury é “entender como meu organismo funciona para aprimorar minhas habilidades”. Ou alguma porcaria nesse gênero.
- Sinto muito por isso – sussurrou Bruce, de forma tão genuína que não conseguiu esconder um sorriso singelo. Nunca entenderia como o mundo não via o homem incrível que Bruce Banner era.
- Tudo bem. Ingressei por livre e espontânea vontade, não é? – continuou ela, dando de ombros – Já estava aceitando a possibilidade de ficar presa em um laboratório desde que entrei nesse prédio. Os testes continuarem não é surpresa nenhuma.
- Fury não disse nada sobr...
- É o que significa “sob nossa tutela”, Doutor. Monitoração 24hs por dia, sete dias por semana, em algum lugar bem afastado – explicou ela, vendo certo desconcerto nos olhos do homem, que não havia encarado a decisão de Fury daquela forma – Eu não entrei nessa agência ontem, Bruce. Sei muito bem como ela funciona e a gravidade do que eu fiz. A única coisa que não previ foi o Capitão ganhando tanto destaque.
- Que graça teria se você já soubesse de tudo, não é? – brincou o moreno, tirando a agulha de seu braço e colocando um curativo adesivo para estancar o sangramento – Nada como alguns imprevistos para deixar as coisas mais interessantes.
- Você está passando muito tempo com meu pai, isso é perigoso... – avisou ela em tom sério, mas seu sorriso a entregava.
- Esteira, Stark – ordenou Bruce rindo, apontando para o aparelho – Maior velocidade que conseguir o máximo de tempo possível. Vamos ver seu novo limite.
Natasha a ajudou com todo o aparato, colocando os eletrodos em seu abdômen, assim como a máscara presa ao seu rosto. Enquanto era preparada, a garota observou o arqueiro no fundo da sala, esparramado em sua cadeira com os braços e pernas cruzados, olhando-a de volta. Alguma coisa também perturbava sua mente, ela podia afirmar. Clint sempre preferia ficar mais distante para ter uma melhor visão das coisas, principalmente quando não encontrava a resposta para suas dúvidas. Seus olhos podiam estar estudando seus menores movimentos, mas sua mente estava longe, imersa em pensamentos e interrogações, e demoraria mais do que desejava para ter a chance de perguntar o que o aborrecia.
- Qual a velocidade máxima dessa coisa? – perguntou a garota quando Natasha se afastou para tomar seu lugar próxima dos dois cientistas.
- A velocidade que quisermos.
- Ótimo, começo com 30km/h.
- Tem certeza disso, ? – Bruce riu nervoso – Você está um pouco debilitada por causa do incidente...
- É o antigo limite dela, Dr. Banner – explicou Natasha – Provavelmente não vai ser difícil ela manter esse ritmo ou até ir mais rápido.
O homem não parecia ainda muito certo daquilo, mas preferiu não se opor.
Só esperava não ter uma Stark completamente quebrada depois que os testes terminassem.
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Embora estivesse ligada, o visor da esteira não mostrava para nem a velocidade nem o tempo que estava ali, embora ela pudesse afirmar que não estava a 30km/h há muito tempo apenas pelos olhares incrédulos que os quatro Vingadores lhe lançavam constantemente. Devido para se manter em uma velocidade constante, suas habilidades estavam levemente fora de controle: ao mesmo tempo em que aumentava os níveis de adrenalina em seu sangue, as informações ao seu redor aos poucos iam ficando mais claras, um sinal de que mais uma vez a analisação estava sendo ativada inconscientemente.
Bruce avisar que seus olhos estavam ficando azuis novamente foi apenas a confirmação de sua falta de controle.
Não demorou muito para que precisasse ignorar os sinais de exaustão que suas pernas começaram a apresentar, tentando permanecer focada tanto em manter a velocidade constante para não cair da esteira, desconsiderar os dados cada vez mais claros do ambiente, e expulsar aquele maldito azul de seus olhos. Quando estava quase retomando o controle, conseguiu distinguir a presença de Steve entrando no andar, esperando que ninguém tivesse percebido a oscilação em suas passadas assim que o soldado chegara.
Quando percebeu que suas pernas não aguentariam mais aquela velocidade por muito tempo, ela finalmente deixou que sua mão socasse aquele lindo e grande botão vermelho que pararia a tortura, apenas para descobrir que ele não estava funcionando.
- Fury quer saber o seu limite, não o quanto você acha que aguenta, Stark – suspirou Bruce, olhando-a por cima dos óculos antes de voltar a digitar algo. Desesperada, ela continuou a socar o botão. Sua respiração estava comprometida demais para gritar com o homem, e ela ainda precisava pensar em como sair do aparelho com vida.
- Steve, pensa rápid...! – seu pé vacilou no meio de um passo, e ela sequer teve a chance de terminar a sua fala, sendo violentamente jogada para trás pela esteira. Felizmente, o soldado havia entendido a mensagem e a alcançara antes de atingir a parede mais próxima. Graças a falta de tecido e o excesso suor, quase escapara de suas mãos, tendo que travar um braço com força em sua cintura para que seu corpo não continuasse em movimento. Ciente de que não se recuperaria daquela corrida tão cedo, a loira fez menção de se soltar do homem, já tendo em vista se jogar naquele chão claro que agora parecia tão confortável. O problema que Steve não entendera seus planos, a puxando para cima – Não, não, não! Se me coloca em pé a minha perna não v...
Com a voz baixa e enrolada, Steve não conseguiu entender o que a garota queria. Ele a soltou para que ficasse em pé conta própria, se assustando ao vê-la despencar em direção ao chão com um estrondo.
- ...suportar meu peso – suspirou ela, deixando suas costas tocarem o chão gelado. Respirou fundo várias vezes antes de deixar seu rosto se contorcer e se apoiar em seus braços para fuzilar o cientista responsável pelos testes – Banner...!
Bruce apenas ajeitou os óculos em seu rosto. Ele quase podia ver a garota arrancando o próprio braço e o lançando em sua direção apenas para conseguir socá-lo àquela distância.
- Clint acabou de perder o posto de pior avaliador para você – resmungou ela por fim, voltando a atenção para o soldado ao seu lado, só então percebendo alguns detalhes que deixara passar – Ei... Novo uniforme!
Steve sorriu com a reação animada da garota. O seu uniforme havia passado por séries de modificações: o azul agora era mais escuro, um tom mais fechado; os detalhes em branco e vermelho no abdômen foram retirados; a estrela continuava em seu peito, mas agora faixas acompanhavam o desenho e terminavam em seus ombros. O homem não trajava o capacete, e, por não ver sinais dele às costas do loiro, suspeitou que nessa versão o capacete não era conectado ao traje.
- É com certeza bem mais “sombrio” do que os últimos... – comentou ela, incomodada por ver que o escudo estava nas costas do loiro – Já recebeu uma missão? Cadê o Fury?
- Ele teve alguns assuntos para tratar na Central e me deixou encarregado de te explicar como as coisas vão funcionar – contou Steve, se abaixando para também se sentar no chão, já que parecia que não se levantaria tão cedo e ficar olhando-a de cima lhe dava uma sensação ruim. Já não era o transmissor de boas notícias, não precisava passar também aquela aparência de superioridade.
respirou fundo antes de assentir. Não estava mais com dificuldades para controlar a analisação e sequer precisava dela para ver a perturbação nos olhos do homem.
- Você foi oficialmente desligada da S.H.I.E.L.D. como agente de campo e pesquisadora. Todos seus privilégios e regalias na agência foram extintos – contou ele de uma vez, vendo uma surpresa controlada tomar o rosto da garota, amolecendo a expressão e a voz em seguida – O Conselho descobriu o que estava acontecendo e isso era o mínimo que eles esperavam que Fury fizesse. Nós tentamos reverter, m...
- Steve, não – cortou-o ela, com a expressão dura. A última coisa que precisava era do homem se culpando pelos erros dela – Isso já estava previsto, esqueceu? O que acontece comigo?
- Não é permanente, ... O próprio Conselho admitiu que essa decisão é idiota a longo prazo – insistiu ele – É algo provisório. Se você conseguir ter controle total sob seus poderes e melhorar esse quesito de confiança com a agência, você volta.
- Então eu vou enviada de volta para a Inglaterra? – arriscou . A Central de Treinamento inglesa era bem afastada, um bom local para isolá-la, além de lá estarem alguns dos agentes-cientistas que estavam familiarizados com seu caso.
- Assim que terminar os testes e o Banner entregar os resultados, você vai para Manchester com Barton. Vai começar do zero.
- Por que eu não estou surpreso? – bufou o arqueiro, atraindo a atenção do grupo – Não falei? Ela que joga merda no ventilador e cai tudo em mim...
- Você praticamente está ganhando férias, não reclama – retrucou Natasha.
- Você não faz ideia de como é exaustivo treinar essa garota. É castigo, não férias.
- É um bom acordo, ... – continuou Steve, quando a discussão independente dos dois agentes se tornou ainda mais distante do assunto principal – Você não vai ser presa. Os exames que você passa continuam iguais... Só vai precisar passar por treinamento intensivo novamente. Como se tivesse acabado de ingressar. Para o nível de erro que você cometeu, é como se nada tivesse acontecido.
- É, realmente... – suspirou ela sarcástica, arriscando olhar para o grupo que assistia a conversa sem nenhuma discrição. Até mesmo Steve podia ver a desconfiança nos olhos de cada um. O clima entre eles estava bem mais leve, mas nem todas hemorragias são visíveis – Parece que nada aconteceu.
- Você está tendo uma segunda chance, , e não é só na S.H.I.E.L.D. – murmurou o loiro, sério – E na minha experiência, isso não é algo muito recorrente. Não a desperdice.
- Não vou – garantiu ela, mostrando ao soldado o mesmo sorriso discreto que ele a mostrava. Quando ouviu Clint pigarrear ao fundo, percebeu que eles se encaravam fazia muito tempo. Um pouco constrangida, ela mudou para o primeiro assunto que lhe veio à mente – O uniforme novo. Você não explicou ainda.
- Fury acha que eu já descansei demais, que é melhor eu voltar para a ação...
- “Agente Rogers”? – brincou ela, erguendo uma sobrancelha. Steve no mesmo instante ficar sério, apontando o dedo para ela.
- “Capitão Rogers”, mais respeito, for favor.
- Coitado de quem for ser respons... – começou a garota, parando quando a realização a atingiu – Você não vai começar como agente nível 1, seria ridículo... Qual seu rank?
- Agente nível 8 – contou Steve, rindo quando a loira arregalou os olhos – Posso ter pulado alguns níveis.
- A-alguns níveis?! – repetiu ela, com a voz esganiçada. Inconformada, ela se virou para os outros agentes da sala – Isso sim é favoritismo!
- Você pulou quatro níveis na sua primeira promoção, Stark – lembrou Clint – Rogers tirou seu título de “agente com ascensão relâmpago”, mas seu caso continua sendo o único de favoritismo.
- Ele era amigo de dois dos fundadores.
- E desses mesmos dois fundadores, um é seu avô e a outra você chama de “tia” – contra argumentou o arqueiro, e a garota fechou a cara em sinal de derrota.
- Pelo menos se eu ainda fosse agente, você não teria poder o suficiente para me dar ordens e isso já me deixa feliz – resmungou , cruzando os braços – Você já recebeu uma missão, não é? Por isso está de uniforme.
- Estou sendo remanejado para Washington – contou Steve, seu sorriso divertido aos poucos se transformando em uma linha reta – Ah, Romanoff? Você vem comigo.
- Ah, cara! Não quer trocar? O Barton só é um porre comigo, tenho certeza que contigo ele vai ser mais legal... – choramingou , encolhendo os ombros – Me deixa ficar com a Romanoff.
- Fury me avisou que você faria isso... – confessou ele, levando uma mão à nuca enquanto ria sem graça – E a resposta é: sem chance. Romanoff vai comigo exatamente porque é parte do meu “castigo” por ter te acobertado. Não tenho permissão para receber notícias suas por um período que ainda não foi determinado e Romanoff vai ser meu filtro.
- Viu? – disse a ruiva no fundo para seu parceiro – Também respingou em mim.
- Nossa, o que vai ser da sua vida sem mim...? – brincou , embora no fundo estivesse um pouco sentida com aquela ordem. Nos períodos de treinamento intensivo não se tinha permissão de se comunicar com o mundo exterior, porém até aquele momento ela não havia pensado que aquele isolamento significava ser afastada do soldado também. Apesar dos problemas, não podia reclamar do tempo que passaram juntos e isso faria mais falta do que a garota queria admitir.
- Qual a chance de eu conseguir permissão para conversar com ela a sós? – perguntou Steve, se virando para o arqueiro, que abriu um sorriso maldoso – Prometo que não vou demorar.
- Sinto muito, Capitão. Essa garota não sai do meu campo de visão pelos próximos muitos meses.
- Não ri. Ele não está brincando. Ele invadiu o banheiro feminino porque eu e Nat estávamos demorando um pouco.
- De novo, Barton? – queixou-se o soldado, o que fez Clint olhar feio para sua pupila, fazendo Steve achar ainda mais graça – Você tinha prometido que ia parar com isso.
- Você está com problemas agora, mocinha – resmungou o arqueiro – Tenho certeza que coisas ruins a seu respeito você não contou para ele.
- Tive bastante tempo para descobrir sozinho – murmurou Steve, e mais uma vez viu seus olhos travados nos dele. Embora estivesse claramente debochando da garota, o tom de voz carinhoso o contradizia. A verdade é que ele tinha que se esforçar para destacar os pontos negativos de mesmo quando ela tinha atingido o fundo do poço – Você vai ficar bem, não é? Pode mentir se achar que vai me deixar mais calmo, mesmo que não vá.
- Eu vou ficar bem – disse ela entre risos, e Steve não pode deixar de sorrir ao ver que ela não estava mentindo – Prometo.
Era difícil explicar como, mas ele simplesmente sabia. Seu tom de voz e o sorriso podiam estar inalteráveis, mas Steve ainda sabia dizer em que momento ela estava mentindo, e agora com um pouco mais de certeza do que antes. Talvez fosse pela impossibilidade da garota o ler que estivesse a deixando mais desleixada, mas ele conseguia afirmar que estava usando suas habilidades, mas não estava mentindo. Fury havia comentado com ele sobre como aquela era uma vantagem estratégica sob a garota, porém eles não concordavam com aquele ponto de vista. Era uma vantagem desnecessária porque ele confiava em mesmo sem ela.
- Essa história de ponto cego até que está me agradando agora... – confessou ele, com uma mão no chão para usar de apoio para se levantar com um sorriso brincalhão nos lábios. Ele não precisava saber quando ela estava mentindo, mas saber que a garota não conseguia prever suas ações era algo que ele podia se acostumar – Espero ainda saber tirar vantagem disso quando nos vermos novamente.
- É algo momentâneo, Rogers – se apressou ela em explicar – Não é como se você fosse imune às minhas leituras. Vai passar com o tempo. Nem adianta ir se animando.
- Posso sonhar – ele arriscou um sorriso de lado, dando alguns passos até a loira e lhe estendendo a mão. Em um primeiro momento ela pensou que ele estava se oferecendo para a ajudar a se levantar, só depois percebendo que ele estava se despedindo. A única coisa estranha foi que, quando ela estendeu a mão para ele, o loiro afastou sua mão.
manteve um sorriso descrente no rosto quando percebeu que Steve não planejava apertar sua mão, mas sim fazer um fist bump.
- Se cuida, Stark – murmurou ele, com os nós de seus dedos ainda pressionados contra os dela.
- Você também, Rogers.
Com um aceno de cabeça ele se despediu do restante do grupo e rumou para a porta. Natasha logo tratou de segui-lo, se despedindo de Clint e com um beijo no rosto e com um aceno para os dois cientistas.
Os testes seguiram pelo resto do dia e pelas primeiras horas do dia seguinte, bem mais silenciosos do que quando se iniciaram. Quem mais falava era Bruce, quando precisava passar alguma instrução para a garota, e em alguns raros momentos Clint se pronunciava para tirar alguma dúvida. Tony permaneceu quieto, respondendo apenas J.A.R.V.I.S. quando ele o avisava de futuros compromissos ou simplesmente lhe avisava dos passos de Pepper. No restante do tempo ele apenas observava. não fazia ideia do que se passava na mente inquieta de seu pai, mas sabia que teria de dar um jeito de fazê-lo conversar com ela. Com ou sem o consentimento de Barton, que estava determinado a seguir estritamente suas ordens.
- Acho que já tenho material o suficiente para trabalhar – ofegou Bruce, deixando seus óculos na mesa para passar as mãos pelo rosto, só agora percebendo como estava cansado – Acredito que o agente Barton saiba como prosseguir.
- Quarto. Comer alguma coisa. Tentar dormir – listou o loiro, se alongando – De preferência nessa ordem porque você precisa de um banho urgente, .
- Posso convers... – disseram ela e Tony juntos, se virando um para o outro assim que perceberam a sincronia de ambos.
- Dez minutos sozinhos é o máximo que posso permitir – avisou o arqueiro, se adiantando até a mesa para ajudar Bruce a organizar seus materiais para que ambos pudessem deixar logo o espaço.
Tony assistiu sua filha caminhar até a décima garrafa de água que consumia naquele dia, acompanhando com os olhos a movimentação de Clint e Bruce, até que ela e seu pai estivessem sozinhos no andar.
- Eu realmente pensei que nós estivéssemos melhorando, ... – confessou Tony, sem sentir a necessidade de dar muitas voltas para abordar o assunto – Mas parece que nós estamos no mesmo ponto de quando você voltou da Inglaterra.
- Certo, não fique mais irritado com a pergunta... Mas com o que você está bravo?
Tony a olhou como se outra cabeça estivesse saindo de seu pescoço.
- Como q...?! As mentiras, !
- Quais delas?! – insistiu ela, se sentindo pior por ter que admitir aquilo em voz alta – Porque algumas são necessárias! Eu não posso simplesmente parar de mentir para você e... Não me olhe desse jeito.
- Você quer que eu te olhe como, então? Admiração? – ironizou o homem, quase recuando quando ela se adiantou em sua direção, mas se controlou – Preste atenção nos absurdos que você está falando, !
- Eu sei que você está empenhado até demais nessa de ser um pai preocupado, mas algumas coisas como o que eu estou fazendo, ou onde estou, e com quem estou... Eu não vou poder contar – suspirou ela, tomando as mãos dele nas suas – Eu sou uma... Eu era uma agente do alto escalão. Esse tipo de informação é confidencial. Dependendo do que estou fazendo, nem o Barton tem acesso à minha localização. Você vai ter que se acostumar com esse tipo de coisa.
Um pouco mais calmo, mas não mais feliz, Tony apenas abaixou o olhar, fitando as mãos frias de sua filha. Ele havia perdido a época que podia ser mais controlador em relação a ela, e agora não tinha como voltar atrás. Mesmo sentindo toda aquela necessidade de ajudar e protegê-la, ele estava incapacitado, principalmente depois do incidente com o cetro. O homem não fazia ideia do que teria feito se Rogers não tivesse a impedido quando ela avançara em sua direção no dia anterior, quando estava sendo confundida pelo cetro. Se mal conseguia brigar com sua versão criança quando fazia algo errado, como ele seria capaz de parar a versão adulta, que parecia ser tão mais frágil?
- Ligações em horários inapropriados por causa do fuso horário? Se eu puder atender, eu vou. Não vou mentir, gostei de ter mais contato com você. Sei que já ganhei sem concorrência o título de “filha mais complicada do mundo”, mas... – ela respirou fundo, sem tentar camuflar toda a insegurança que iria verbalizar – Não desiste de mim. Por favor.
- “Desistir de você”? – repetiu ele incerto, depois de um longo tempo fitando a garota, se questionando se havia escutado certo – Você ainda deve ter uma imagem bem ruim de mim para achar que eu posso simplesmente desistir de você.
- Tenho uma imagem ruim minha – corrigiu a garota, com um sorriso triste – Não acho que valho todos esses problemas que causo.
Antes que pudesse entender o que estava fazendo, Tony já tinha os braços envolvendo os ombros da filha, a apertando em um abraço desengonçado.
- Você vale todos os problemas do mundo, – sussurrou ele contra seu ouvido e ela apenas sorriu, retribuindo abraço.
- Você continua não sendo muito de abraços, não é? – constatou a loira. O desconforto de Tony era claro e ele sequer tentava disfarçar.
- Estou me esforçando, me dê algum crédito – resmungou Tony, se afastando para ver o sorriso largo da garota enquanto ela ria – É melhor você ir para seu quarto antes que o Gavião volte. E é bom você tomar um banho. Você está um nojo.
revirou os olhos, embora concordasse com tudo que seu pai dissera. Principalmente com a parte do banho.
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Quando entrou em seu quarto, a primeira coisa que notou foi um colchão extra ao lado de sua cama, quase mandando J.A.R.V.I.S. perguntar para Clint se aquilo tudo era mesmo necessário. O fato era que ela não podia questionar as ordens de Fury por um bom tempo e tentar ser a versão sua mais obediente possível, pelo menos até que tudo fosse normalizado – se é que seria.
Só então percebendo como estava cansada física e mentalmente, a garota apenas rumou para seu banheiro, se sentindo tentada a incinerar o uniforme que usara durante os testes pelo cheiro forte de suor que impregnara o tecido. Passara bem mais tempo que o recomendado debaixo do chuveiro, com a água quente e em abundância a deixando cada vez mais sonolenta, algo que ela não esperava sentir tão cedo: durante a primeira interferência do cetro fora mais de um mês e uma quantidade absurda de remédios até que conseguisse pegar no sono, e esperava que dessa vez fosse ser semelhante. Entretanto a sensação de que dormiria ali mesmo caso não voltasse a se mexer não concordava com ela.
Quando saiu do banheiro, Clint já estava confortavelmente acomodado em sua cama improvisada, fitando o teto com mais interesse do que devia.
- Você que escolheu a decoração do quarto? – perguntou ele assim que sentiu a sua presença, apontando em seguida para a bandeja com o que seria sua última refeição do dia em cima de sua cama bagunçada – É bem... Nem um pouco a sua cara.
- Esse quarto é uma cópia do meu quarto em Malibu, minha avó que planejou e Pepper foi alterando alguns detalhes ao longo dos anos – contou ela, sentada em frente à bandeja e mexendo em seu prato com o garfo sem muito interesse – Eu até que gosto. Dá uma falsa sensação de estar em casa.
- De qual quarto você está falando?
- Dos dois – confessou a garota rindo – Nunca gostei muito de Malibu, mas foi onde eu cresci, por isso a falsa sensação de estar em casa.
- Você está bem falante hoje, não acha? – comentou o homem, resmungando enquanto se sentava para olhar melhor para ela. não soube o que responder de imediato, então cortou um bom pedaço de carne e colocou na boca para ganhar tempo – Não costumava ser tão fácil arrancar declarações tão profundas suas.
- Acho que cheguei a um ponto em que estou cansada demais para desconversar... – disse por fim – Se fosse você, aproveitaria esse momento antes que ele acabe.
O largo sorriso de Clint fez com que a garota se arrependesse de suas palavras em tempo recorde.
- Você estava pegando o Rogers ou não?
- CLINTON FRANCIS BARTON! – berrou a garota, inconformada, tampando a boca em seguida. Seu quarto não tinha isolamento acústico e não queria seu pai aparecendo ali nos próximos minutos perguntando o que diabos estava acontecendo – Você é inacreditável, sabia?
- É que você não viu a coisa toda do lado de fora... – argumentou ele – O cara comprou sua briga, passou por cima de ordens do Fury, e você de algum jeito sabia que ele ia fazer isso, não é? Você o chamou por último exatamente por isso.
Ainda mexendo em sua comida, apenas mordeu o lábio e assentiu.
- Vai me contar o que aconteceu entre vocês? – incentivou ele, achando graça no constrangimento de sua protegida – Prometo que não vou fazer fofoca para a Nat depois.
- Você não vai ouvir a história de como eu peguei o Capitão América, se é isso que você está esperando – brincou a loira, com um sorriso travesso nos lábios – Não aconteceu nada nesse gênero. Classificação indicatória mais livre o possível.
- Desapontado, admito. Muito desapontado – resmungou Clint, com os braços apoiado na cama da garota e de cabeça baixa – Você está ficando mole...
- É complicado, Clint... – suspirou ela – Toda vez que eu paro para pensar nisso... Esse mês juntos. Não sei se posso falar em amizade, mas... Foi bizarro porque em alguns momentos parecia que ele era a pessoa certa para me dar suporte. Como se nós dois nos ajudando fosse apenas certo.
Sob o olhar atento do arqueiro, largou o talher na bandeja e deixou seu olhar passear pelo quarto. Aquele era um tópico que a incomodava há algumas semanas. Não sabia ao certo se era apenas aquele sentimento de ter tido a chance de fingir ser apenas uma cidadã comum outra vez, se era a presença de Steve, ou uma mistura confusa das duas coisas. A única certeza era que durante aquele tempo com a presença do soldado, ela sentira algo completamente novo.
- Posso ver em que quesitos Rogers te ajudou, mas no que ele precisava de você? – indagou o homem, ajeitando sua postura. Clint já havia montado uma pequena teoria em sua mente, mas não adiantaria em nada se não chegasse àquelas conclusões sozinha, só assim ele confirmaria suas suspeitas. Como de costume, seu dever era apenas direcioná-la.
- Adaptação, basicamente – respondeu ela de imediato, sem perceber o olhar mais sério que o homem lhe lançava – Ele é da década de 40, esqueceu? E companhia também, acho. Ele estava bem solitário até eu ser forçada a acompanhá-lo.
- Você também teria algumas tendências solitárias caso todas as pessoas que você conheceu já tivessem partido e não tivesse conexão com a época contemporânea.
- Nem todo mundo que ele conheceu já morreu – retrucou ela, um pouco irritada – Tia Peggy está viva. A mente dela não está no melhor estado, mas ainda tem alguns momentos de lucidez... E ele tem algumas conexões com o nosso tempo. Algumas bem superficiais, mas conexões: S.H.I.E.L.D., Tony e eu. Quero dizer, boa parte do que conversávamos era troca de histórias q...
parou bruscamente e se virou para o loiro, que permaneceu indiferente.
Ele havia manipulado a conversa e só agora ela percebera porque tinha chegado ao ponto que o homem queria.
- Eu sou a conexão do Rogers com nosso tempo – ofegou ela. Mesmo sem voltar a apresentar as íris azuladas, sua mente passou a analisar a situação com empenho – Fury me não me mandou vigiá-lo. Quero dizer, não foi apenas para vigiá-lo. Se eu tivesse recusado, ele teria mandado...
- Agente 13 – completou Clint, com certeza demais para estar fazendo uma suposição – Falei com Fury enquanto você conversava com seu pai. Sharon é a responsável pela segurança do Capitão enquanto ele não estiver em missão. Outra pessoa com forte conexão com o passado dele.
- Era nisso que você estava pensando mais cedo? – perguntou ela, finalmente – Durante os testes você estava bem distante.
Clint não conseguiu não rir. Mesmo sem usar suas habilidades, nada passava batido pela garota.
- O empenho que Rogers teve para te defender me surpreendeu – confessou o loiro – Mesmo que tivesse algum rolo entre vocês, tinha que ter algo mais profundo.
- Fury tentou resolver dois problemas de uma vez só...
- Quando Rogers estava batendo de frente com Fury, ele disse que tinha te colocado para vigiá-lo exatamente porque, caso você perdesse o controle, ele seria capaz de te conter.
- E caso eu cometesse algum deslize e ele me descobrisse, tudo bem porque eu seria a pessoa que ele precisava para o estabilizar no nosso tempo – continuou ela, abismada. Nunca subestimara do Diretor desde que se conheceram, mas tinha que admitir que aquela ação ela não esperava do homem. Normalmente os objetivos de suas missões eram muito bem definidos e esclarecidos, mas dessa vez Fury havia a deixado às escuras, na esperança de que as coisas fossem sair da maneira que planejava – Rogers ter uma conexão concreta com nosso tempo era algum tipo de prioridade, não era? Afinal, como que um soldado luta sem motivação?
Mais incomodada do que esperava por ter sido manipulada, deixou que suas costas fossem de encontro ao colchão, fechando os olhos com força. Encarar todos os momentos ao lado de Steve como uma missão planejada lhe trazia um sentimento ruim.
- Por isso que a ligação entre vocês é tão forte – concluiu Clint, fazendo com que ela voltasse a abrir os olhos e se virasse para ele, silenciosamente o incentivando a continuar – Você era a pessoa que precisava estar do lado dele, e ele quem você precisava. Mesmo se a agente 13 tivesse ido em seu lugar... Não teria funcionado. Foi uma via de duas mãos.
- Não é isso – contradisse a loira logo em seguida, surpreendendo o arqueiro – Do jeito que você colocou, é como se eu tivesse o ajudado porque ele estava me ajudando. Algo como necessidade em retribuir, e nunca foi isso. Eu ajudava Rogers porque eu simplesmente queria. E mesmo com ele tendo virado a desgraça de um ponto cego, não acho que ele tenha comprado a minha briga como forma de agradecimento. Desde o começo eu sempre tive a sensação que era simples e espontânea vontade. Por isso que a conexão é tão forte.
Um silêncio agradável seguiu a declaração de . Agradável para Clint, que tinha uma ligeira noção do motivo da garota não conseguir ver a situação com clareza. Porém mesmo assim ele não daria nenhuma dica. Aquela seria outra tarefa para a jovem Stark concluir sozinha.
- Bom, acho que você vai ter um bom tempo para classificar essa conexão, não é? – suspirou ele, apoiando o queixo em suas mãos – Vocês vão passar um bom tempo sem se ver.
- Já estou sentindo falta dele – choramingou a garota, jogando a cabeça para trás e levando as mãos ao rosto, rindo de leve – Pode me zoar sobre isso só amanhã?
- Você já tem muito em sua mente... Posso guardar as piadas para outro dia – disse ele. Se levantando com certo sacrifício, Clint pegou a bandeja com o prato que a garota quase não mexera e nem parecia muito com vontade de terminar – Vou levar isso aqui para a cozinha e quero te ver dormindo quando voltar, entendeu?
- Sim, Sr. Gavião – respondeu séria, mas logo rindo em seguida enquanto puxava a coberta que estava no pé da cama para se cobrir – Boa noite, Clint.
- Boa noite, filhote.
Assim que fechou os olhos, a garota tentou limpar sua mente. Parecia que o que sobrava de suas energias havia sido gasto com aquela conversa com seu tutor, e não adiantaria em nada continuar buscando por respostas, mesmo que mudasse as perguntas. Seus problemas com a S.H.I.E.L.D., suas desavenças com seu pai, as incógnitas relacionadas a Steve... Estava tudo fora de suas mãos, e não adiantava tentar resolver tudo ao mesmo tempo. A principal coisa que teria que exercitar nesse tempo de reclusão seria a paciência para não tentar dar um passo maior que a perna.
Para sua surpresa, não demorou muito para que adormecesse, adentrando com facilidade naquele já tão habitual sono sem sonhos.