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Capítulo 23


Uma luz agradável batia em seu rosto, a voz de J.A.R.V.I.S. insistia em lhe informar as horas, mas apenas virou para o outro lado, escondendo sua cabeça debaixo de suas cobertas. Algumas boas horas já haviam sido dormidas, só que seu corpo parecia não concordar com aquele fato: talvez mais alguns dias em sono pesado fosse o suficiente para que a garota voltasse a se sentir bem.
Porém, Clint não concordava com aquele plano.
O arqueiro acordara um pouco antes do sol nascer. Com tanta coisa acontecendo, era difícil – e perigoso – desperdiçar tanto tempo com coisas dispensáveis, como dormir. Embora facilmente pudesse ver que sua pupila precisava de mais algumas horas de sono. Sem muitas opções, pediu que J.A.R.V.I.S. monitorasse a garota por hora, já que precisava conversar com Bruce, ver os resultados parciais dos testes, e começar a ajeitar as coisas em Manchester para que nenhuma surpresa acontecesse.
As reviravoltas daqueles poucos dias na Torre dos Vingadores já fora o suficiente para o resto do ano.
Algumas horas mais tarde, o loiro retornou ao quarto da jovem apenas para descobrir que ela praticamente estava do mesmo jeito que a deixara. Não se lembrava de dormir tanto e ter um sono tão pesado, mas no fundo aquilo fazia um certo sentido. Ela devia estar exausta.
- , acorda – repetiu Clint, pela terceira vez, só então ganhando um resmungo como resposta – Estamos partindo.
- Estamos o que?! – repetiu ela, assustada. Seu rosto amassado estava escondido por trás de uma cortina de fios claros bagunçados, barrando parte da luz agora mais forte que passava pelas janelas recém-abertas.
- Fury não pediu resultados tão detalhados assim para o Banner. Ele já tem o veredito – contou o homem, e se sentou tão rápido em meio sua bagunça de cobertas e lençóis que chegou a ficar tonta.
- E o veredito é...?
- Os Science Bros estão esperando lá embaixo para nos contar – anunciou Clint, lhe dando as costas e rumando para a porta com um sorriso maldoso nos lábios – Você tem cinco minutos para ficar apresentável. Eu correria.

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Apenas para aumentar a agonia que dominava seu peito, o trio de Vingadores a esperava em uma das salas de reuniões do prédio. Bruce e Tony estavam de um lado da mesa, com expressões não muito felizes, enquanto Clint estava do outro, apontando para uma cadeira ao seu lado que ela deveria ocupar.
- Você demorou dez minutos a mais e continua parecendo um zumbi – comentou Clint, depois dela ter se sentado ao seu lado – Você voltou a dormir, não é?
- Minhas cobertas me seguraram, juro – sorriu ela, antes de ficar séria mais uma vez. Não era muito comum ela receber os resultados dos testes daquela maneira tão formal, sequer costumava ter acesso aos resultados. Não estava demonstrando, mas temia que ali seus medos seriam confirmados como realidade – Então, Bruce?
- Não houve nenhuma alteração em seu sangue, pelo menos não apareceu nesses testes – começou o doutor, ajeitando seus óculos no rosto em um movimento nervoso, sem tirar os olhos dos papéis a sua frente – Seu cérebro no geral está apresentando mais atividade do que é considerado normal, até mesmo para seus padrões diferenciados. Os lóbulos frontal e parietal, o sistema límbico e o tronco cerebral são as partes que mais apresentaram mudanças.
- É um reflexo do aprimoramento das habilidades antigas e o surgimento das novas, então? – arriscou ela.
- Basicamente, sim – concordou o homem – E sobre sua capacidade física... Praticamente tudo que uma pessoa normal em boa forma faz, você consegue fazer duas vezes melhor.
- Você está brincando – disse ela apenas, com os olhos arregalados. Clint ao seu lado também não escondia a surpresa. Suas capacidades sempre foram no mínimo acima da média, mas conseguir fazer duas vezes melhor que isso?
- Você estava correndo a 40km/h ontem por um bom espaço de tempo, e tenho a impressão que se você já não estivesse cansada, teria conseguido ir ainda mais longe – continuou Bruce, com um sorriso discreto – Em quesitos de força é a mesma coisa. Com mais controle sob as ações do seu corpo, você consegue economizar e ampliar sua energia. Claro que ainda há limites físicos, como quebrar o braço caso tente parar um carro em alta velocidade com a mão.
- Conselho anotado – brincou ela, embora sua mente estivesse longe. Uma coisa era saber que poderia aumentar sua força, ou sua velocidade. Outra bem diferente era ter esses dados à sua frente, dados que deixavam bem claro que algo nela havia mudado, e talvez aquela mudança não fosse tão boa.
Bruce continuou a explicar detalhes do resultado, chegando até em um momento a entregar os papeis a Clint, que vagava os olhos pelos números e em alguns momentos concordava com o cientista. sequer sabia mais do que estavam falando, seu olhar travado na expressão compenetrada de seu treinador.
- Barton? – murmurou ela depois de um tempo, interrompendo a conversa que acontecia na mesa. Tinha algo a mais perturbando o loiro e consequentemente começava a perturbar também – O que te incomoda?
- Você tentando entender o que se passa em minha mente – respondeu o arqueiro, em uma mescla de brincadeira e sinceridade – Quando eu tiver minhas respostas, talvez você seja uma das primeiras a saber.
- Não dormiu bem?
- Você ronca – continuou ele – Vá buscar suas coisas. Partimos em dez minutos.
Sem muitas escolhas, apenas se levantou e rumou para o elevador. Não podia questionar nem as ordens que recebia nem a resposta vaga de Clint. Meses difíceis estavam chegando e seria difícil manter a sanidade se as coisas continuassem daquela maneira.
- Eu apreciaria muito se você tentasse me manter informado sobre minha filha, Gavião – suspirou Tony, quando o arqueiro apoiou as mãos na mesa para se levantar. Clint estudou a expressão aparentemente neutra do homem, debatendo internamente o que faria em relação ao Stark mais velho. Desde o começo era óbvia a vontade do moreno de querer cuidar da filha, e isso até o surpreendia, já conhecia muito bem o histórico desastroso de Tony como pai – Não precisa me dizer onde estão. Só quero saber como ela está, nada mais.
- Vou fazer o possível – respondeu ele por fim – Mas se Fury sonhar com isso, vou reservar uma flecha com seu nome.
Tony riu de leve, e assentiu. Aquilo era melhor que nada.
Não demorou muito para que retornasse, com uma mochila que aparentava estar vazia em suas costas. Não tinha muita coisa que precisava levar consigo, apenas seus cadernos de anotações supriam suas necessidades básicas. Qualquer outra coisa que viesse a precisar lhe seria providenciada assim que voltassem para a base. Clint a deixou com os dois homens para se despedir enquanto ele preparava a nave para que partissem.
- Pepper vai querer te matar quando descobrir isso tudo – comentou Tony, incomodado com o silêncio que se estabelecera no ambiente.
- Boa sorte contando para ela.
- Odeio você – retrucou ele sério, a fazendo rir. Logo a acompanhando, Tony se adiantou para abraçá-la – Tente não me dar motivos para ter uma parada cardíaca, tudo bem?
- O mesmo vale para você... Vocês, na verdade – corrigiu ela rápido, olhando para Bruce, que arregalara levemente os olhos em confusão – Não confio em vocês dois sozinhos em um laboratório... Não façam nada legal sem mim, por favor.
- Não sonharíamos com isso – sorriu o homem, não estranhando vê-la se adiantar em sua direção com os braços abertos – Espero te ver logo.
- A vida de vocês não faz sentindo sem mim, eu sei – suspirou , ajeitando a alça da mochila em seu ombro enquanto se afastava da dupla – Até qualquer dia.
Assim que as portas do elevador se fecharam, deixou que seus ombros caíssem, soltando todo o ar que segurava de uma vez. Era estranho como parecia que despedidas estavam ficando cada vez mais frequentes e mais difíceis, quando sempre imaginara que a evolução seria o contrário. Porém, no fundo, talvez aquilo fosse um bom sinal.
Seu relacionamento com seu pai parecia estar melhorando, por mais surreal que pudesse soar.
Clint já estava confortavelmente acomodado em sua cadeira na nave, batucando os dedos no painel enquanto sua protegida não chegava. Sem trocar palavras, apenas tomou a cadeira de copiloto, até mesmo colocando o headset sem que fosse pedido, o que surpreendeu o arqueiro. Esperava que a garota se jogasse em algum canto da nave e dormisse a viagem inteira.
- ? Tudo bem? – perguntou ele, minutos depois de terem decolado da Torre dos Vingadores.
- Por que a pergunta?
- Você parece incomodada com algo.
- É, você tentando entender o que se passa em minha mente... – ela devolveu a resposta malcriada que recebera mais cedo, com um sorriso divertido nos lábios, que logo desapareceu quando ela resolveu adentrar no assunto que a perturbava – Você acha mesmo que eu consigo? Recuperar minha “boa imagem”? Ou vou apenas desperdiçar meu tempo?
- Você quer? – retrucou Clint, olhando-a pelo canto do olho enquanto apertava vários botões do painel – Quer ter uma boa reputação novamente? Se sim, não vai ser desperdício de tempo mesmo que você falhe.
- Então você acha que não é possível.
- Acho que vai ser difícil e cansativo – continuou ele – E como Nat te disse ontem, vai depender apenas de você.
- Estava ouvindo nossa conversa ou ela te contou?
- Vou te deixar com essa dúvida por um tempo – sorriu o homem, tirando momentaneamente uma de suas mãos do controle da nave para socar de leve seu braço – Agora me faça um favor e tire um cochilo. Não te quero me distraindo.
até tentou, mas passou toda a viagem acordada, embora mais nenhuma palavra tivesse sido trocada com o homem, que apenas se pronunciava para se comunicar com a base para qual rumavam. Abraçando as próprias pernas, a garota apenas apreciou o céu claro, a única paisagem que se tinha ali.

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NOVE MESES DEPOIS
Contrai, empurra. Bloqueia, segura, gira, lança.
estava naquele exercício por tanto tempo que já começava a perder o controle de sua respiração, que a cada golpe ficava mais pesada, denunciando seu cansaço. Havia entrado naquela sala um pouco depois do café da manhã e, pelo desconforto de seu estômago – o desconforto causado não por ter levado alguns socos – era um forte indício de que já se aproximava da hora do almoço, e o número de robôs que a atacavam parecia apenas aumentar.
Grunhindo de irritação, ela afundou o punho em mais um robô, conseguindo atingir a placa mãe. Aproveitando a carcaça da máquina, girou o corpo para lançá-la na direção de um outro robô que se aproximava, podendo assim gastar mais tempo com a máquina que lhe golpeava as costas. Antes que pudesse impedir, seus braços foram segurados por trás e outro robô corria em sua direção, pronto para lhe acertar o rosto. Sem muitas opções, ela levantou os pés para próximo de seu corpo, esticando as pernas quando a máquina estava perto o suficiente para ser atingida. Com o impulso, o robô que a segurava foi ao chão, levando-a junto. Mesmo sabendo que se arrependeria mais tarde, ela arriscou uma cabeçada e a máquina ficou momentaneamente desnorteada, o suficiente para que ela se livrasse de seu aperto e a finalizasse antes do próximo oponente se apresentar.
Enquanto girava seu corpo para aplicar uma rasteira, a voz de Sam ecoou pelo ambiente.
- Desligando simulação de combate – anunciou a mulher e automaticamente todos os robôs, os que ainda estavam inteiros, piscaram antes de retornarem para o local onde eram guardados.
- Essa simulação parece que foi mais fácil – comentou , jogando algumas peças soltas para o lado enquanto se levantava.
- Nossos robôs não se comparam a sua força, – resmungou Sam, saindo da sala de controle para se juntar à amiga – Se soubéssemos que seu pai planejava destruir todas as armaduras que tinha construído, nós teríamos pedido doação de algumas para essas simulações serem algum desafio para você, para variar.
- Não toque nesse assunto. Ainda não acredito que vocês não me contaram o que estava acontecendo.
- Se tivéssemos te contado, você teria se distraído de suas tarefas... – bugou Sam, já que aquela era a milésima vez que precisava explicar aquele episódio – Além do mais, você não poderia ajudar, nem ir consolar a fofa da Pepper.
Concordando mesmo sem concordar com a colocação da loira, avisou que voltaria para seu quarto, já que um banho e alguns curativos eram necessários. A vantagem de lutar com robôs era que ela não precisava se preocupar em machucar ninguém, já que agora ela podia facilmente superar qualquer colega daquela base no quesito força. A desvantagem era que se você tentar destruir alguns robôs com as mãos, você acaba com alguns cortes. Uma luva sem dedos havia sido projetada especialmente para ela, feita de um tecido resistente que deveria resolver o problema dos cortes, mas no fundo a luva apenas amenizava o problema, embora ela não pudesse reclamar.
Havia muitas outras coisas que ela podia reclamar, entre elas o fato de o Conselho não deliberar sua volta como agente.
Desde o começo, sabia que seria difícil e demorado o processo para voltar às suas atividades, mas o fato era que a S.H.I.E.L.D. estava gastando uma fortuna desnecessária com simulações de combate que ela podia concluir de olhos fechados. Como não conseguiam superá-la em força, as simulações eram alongadas por longos períodos para que o cansaço se tornasse um problema, mas era uma medida desnecessária para mantê-la ocupada.
Ao entrar em seu quarto, a primeira coisa que percebeu foi seu pequeno calendário jogado em cima de sua mesa. Um dia especial daquele mês estava destacado, e a ela não se surpreendeu ao perceber que se tratava do dia seguinte.
Com um sorriso satisfeito, rumou para o banheiro. No fim da noite ela colocaria seu plano em ação.

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Como de costume, não havia sido um desafio roubar uma das naves da base, conseguindo até decolar sem que ninguém a percebesse. Manter a descrição no aeroporto foi um pouco mais complicado, mas nada que fosse realmente a atrapalhar.
Antes de sair à procura de um táxi, parara em uma loja de roupa próxima, mais contente do que esperava por finalmente poder tirar o uniforme da S.H.I.E.L.D. Em razão do calor absurdo que fazia, ela escolhera a camiseta mais leve que encontrara, um par de sapatilhas simples e shorts jeans um pouco mais curto do que Pepper optaria. No caminho para o caixa se lembrara que precisava de algo com largos bolsos e, invés de pegar uma bolsa, acabara pegando um sobretudo bege e um par de óculos escuros para completar o look “estou-tentando-passar-despercebida-mas-na-verdade-não-quero”. Um dos pontos altos daquele dia era causar com os médicos da cada de repouso, e naquele ano não seria diferente.
Algumas horas mais tarde, saia do táxi e entrava no prédio, até cumprimentando alguns funcionários que já a conheciam. Estava extremamente contente quando entrou no corredor da paciente que viera visitar quando Doutor Johnson a abordou e ela bufou alto.
- Você não tem poder para me revistar, Doutor... – argumentava ela, sem parar para dar atenção ao homem, que se controlava para não puxá-la pelo braço e acabar com aquela palhaçada – Parece mais uma desculpa para encostar em mim, e você não faz muito o meu tipo...
- Srtª Stark, eu sei muito bem que você está tentando contrabandear c... – insistia o homem, mas nunca permitia que ele terminasse a sentença.
- Eu apenas vim visitar minha tia! Todo ano você fica me acusando... – começou ela, com um sorriso insistente aparecendo em seus lábios enquanto ela parava em frente à porta do quarto – Está começando a magoar meus sentimentos. Pensei que tínhamos algo especial.
- Hoje está sendo o dia mais quente na primavera nos últimos dez anos, Stark – bufou o médico – Você está usando esse casaco gigante para esconder algo, como faz todos os anos.
- Eu acabei de chegar da Europa, o frio ainda não me abandonou – riu a garota, abrindo a porta do quarto e entrando de costas – Agora se me permite, graças a sua intromissão, eu só tenho mais dez minutos de visita e não quero gastar mais nenhum segundo olhando para sua cara. Até o ano que vem, Doutor!
fechou a porta de uma vez e começou a rir, parando apenas ao avistar um Steve surpreso do outro lado da cama de uma Peggy Carter sorridente.
Talvez ela tivesse calculado bem mal o horário de sua visita.
- A cada ano fica mais difícil trazer doces para cá...! – suspirou ela, tirando uma caixa de plástico do largo bolso do casaco – Da próxima vez ele realmente vai arrumar um policial para me revistar... Já vou começar a montar as estratégias.
Steve continuou estático mesmo quando a garota se adiantou para os dois, deixando a embalagem na beirada da cama antes de tirar seu casaco e o pendurar na parede. Fazia quase um ano que ele não a via e a diferença era gritante: não apenas seu cabelo havia crescido um bom palmo como havia retornado para a cor original, um castanho escuro; os traços de seu rosto estavam mais adultos e seus músculos mais evidentes. A postura descontraída também era algo que o surpreendia, já que sempre conseguia sentir um pouco de tensão por trás do jeito mais despreocupado da garota.
Dessa vez Steve não sentia.
Ao contornar a cama para cumprimentar a aniversariante, Steve também se levantou para cumprimentá-la, e não pode deixar de notar seu rosto levemente corado. Rindo internamente, a garota ficou na ponta dos pés para lhe beijar o rosto, gesto que ele retribuiu. Antes de se afastarem, ela aproveitou a proximidade para perguntar em um sussurro o quão sã Peggy estava no momento, alargando seu sorriso ao ele responder que “completamente”.
- Feliz aniversário, tia Peggy – sussurrou ela, sentando na beirada da cama para abraçar a mulher com vontade – Desculpe invadir no meio de outra visita. Esse ano foi bem mais difícil escapar...
- Obrigada, meu anjo – sorriu Peggy, acariciando o cabelo da garota – E tenho certeza que Steve também não se importa em termos mais uma companhia.
- A miniatura de bolo que eu trouxe dá para ser dividida entre nós três, mas eu só trouxe dois garfos e se eu pedir para alguém mais um vai ser o mesmo que admitir culpa, então espero que você não se importe de dividir, Steve – avisou ela, entregando um dos garfos para Peggy e ofereceu o outro para o soldado, que a encarava com o cenho franzido.
- Ela não tem permissão para comer isso, não é? – deduziu ele, aceitando o talher.
- Tem a minha permissão e isso é o que conta.
- Pensei que dessa vez você não fosse conseguir vir – comentou Peggy, depois da primeira garfada – Steve me contou que você se meteu em problemas novamente.
- Obrigada, Steve ¬– resmungou ela, rindo – Bom, tecnicamente, eu ainda estou em Manchester. Nos próximos momentos vão perceber que não estou, vocês vão perceber quando a S.H.I.E.L.D. aparecer para me levar de volta. Então pareçam surpresos.
- E os problemas com seus poderes? – perguntou a mulher e se virou lentamente para o loiro, murmurando um simples “o super soldado também é dedo duro, hein?” antes de responder.
- Praticamente zerados. Estou mais forte, mais rápida. Não há nenhum teste que eu tenha falhado. Continuo de castigo só por causa da burocracia mesmo... – resmungou ela, deixando seu olhar passear pelo jardim que podia ver pela janela – Barton já passou o relatório para eles onde ele explicita que eu estou apta a retomar minhas funções, mas o Conselho vai me deixar de molho por mais um tempo. Sharon já apareceu?
- Ela ligou mais cedo. Está trabalhando e não vai poder vir hoje – contou a mulher, balançando a cabeça em descrença quando ergueu as mãos e suspirou um “valeu, cara” – Vocês já são bem grandinhas para continuar desse jeito, sabia?
- Já faz um bom tempo que isso deixou de ser uma briguinha de criança, tia Peggy... Nós genuinamente não gostamos uma da outra, não dá para mudar isso – disse a morena, aceitando o garfo que Steve lhe devolvera – Se a gente se atura, é por sua causa, então fique bem feliz. Nós te amamos o suficiente para não nos matarmos.
- Sei muito bem o jeito que vocês se aturam...
- Sharon leva essas broncas também, ou é só comigo? – indagou , levando as mãos à cintura – Se for só comigo, é muito favoritismo da sua parte, sabia? Ela pode ser sua parente de sangue, mas eu sou bem mais legal.
- Sharon escuta bem mais do que você porque ela, diferente de certo alguém, não é tão cabeça dura e escuta as pessoas – alfinetou a mulher, rindo ao conseguir a reação que desejava da garota.
A mão que ia pegar o garfo da posse de Steve ela levou ao peito, fingindo estar ofendida.
- Devolve meu bolo – ordenou ela – Não quero saber se já foi parcialmente digerido. Essa ofensa eu não posso toler... Certo, é verdade. Mas estou magoada.
Peggy riu e até abriu a boca para repreendê-la, mas uma batida na porta atraiu a atenção do grupo, que se virou para descobrir quem agora entrava no quarto. até já sabia quem era, só não esperava o ver tão cedo.
- Senhora – cumprimentou-a Clint, fechando a porta a suas costas – Capitão. .
- O que você está fazendo aqui? – indagou a garota, checando o relógio em seu pulso – Era para você chegar daqui cinco minutos!
- Eu não estou aqui – disse ele, sorrindo ao ver a confusão de sua pupila – Já avisei para o Diretor que você não precisa mais de treinamento, então estou de folga, posso fazer o que eu quiser. E você se comportou bem até demais para seus padrões nesses últimos meses, então já que você já fugiu e eu não tenho nada para fazer...
- “Viagem de carro”? – deduziu ela, rindo. Fazia um bom tempo que não visitava o refúgio do arqueiro.
- Temos três minutos para deixar o prédio.
- Tchau, tia Peggy! – exclamou ela, de joelhos no colchão para abraçá-la. Depois se virou para o soldado à sua esquerda, quase caindo quando se inclinou para abraçá-lo, sendo salva pelo braço do homem que envolveu sua cintura e por ele ter se levantado para que ela recobrasse seu equilíbrio. Rindo mais, ela aproveitou a posição para depositar um beijo na bochecha do loiro – Tchau, Stevie.
Com um aceno de cabeça, Clint se despediu dos veteranos da Segunda Guerra, oferecendo a mão à garota quando ela correu para a porta, a guiando pelos corredores na tentativa fazer um percurso onde eles não fossem abordados.
Steve e Peggy continuaram a encarar a porta aberta por mais alguns segundos, rindo ao ouvirem algum agente gritar ao longe para que Barton parasse e ainda conseguirem escutar o arqueiro gritando um exasperado “Corre. , corre!”.
- Ela está diferente... – suspirou Peggy, levando mais uma garfada de bolo à boca – Fazia tempo que eu não a ouvia rir tão fácil.
- Acho que me preocupei demais – confessou Steve, escondendo as mãos nos bolsos, um pouco sem graça – Ela está se saindo muito bem nessa história toda.
- Ela não estava representando? – perguntou a mulher, curiosa. Steve havia lhe feito um breve resumo das habilidades da garota, e se lembrava vagamente de ele ter comentado poder dizer quando ela estava as usando ou não. Para ela aquilo não fazia muito sentido: apenas se lembrava de criança, e ela sempre agia daquele mesmo jeito quando ia a visitar. Não tinha parâmetros para comparar. Aquela era a única Stark que conhecia.
Steve apenas sorriu, balançando a cabeça em negação. Não fazia ideia do que a S.H.I.E.L.D. fizera com ela naqueles últimos meses, mas a garota aparentava estar bem, tanto física como mentalmente, e não ter achado necessário utilizar suas habilidades durante a visita era um sinal de que estava conseguindo derrotar seus próprios fantasmas, e aquela era a melhor notícia que o soldado poderia receber.

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- Você pediu permissão para o Fury, não é? Às vezes você faz algumas doideiras, mas isso seria facilmente visto como sequestro e te deixaria com muitos problemas – murmurou , assistindo o homem entretido com os comandos da nave que ela pegara emprestada mais cedo.
- Fury que liberou nossa folga, na verdade. Ele já sabia que você ia arrumar um jeito de visitar a Carter e como nós dois trabalhamos muito mesmo nesses últimos meses, ele achou que merecíamos um descanso.
- Fury está ficando bonzinho ou eu que estou endoidando?
- Você tem obedecido tudo o que mandamos – lembrou Clint, e podia ver em seus olhos como ele estava satisfeito – Treino todo dia. Testes todo dia. Você pode ser uma aprimorada agora, mas ainda é humana. Merece uma folga.
- “Uma folga”, ele diz... – resmungou , imitando a voz do arqueiro – “Uma folga para mim enquanto você vigia meus filhos”, ele quis dizer.
- Você adora os pirralhos, não adianta fingir.
- Claro que adoro! Eles puxaram a mãe, felizmente.
Um tempo depois eles pousavam no campo aberto da fazenda. Como sabia que estaria frio do lado de fora da nave, pegara uma jaqueta que estava jogada em um canto da nave, tentando se manter aquecida até finalmente estarem na proteção quentinha da casa.
- ! – comemorou Laura, se adiantando para a morena com os braços apertos assim que a porta foi aberta – Olha como você cresceu! Nossa! Você deve estar mais forte que o Clint agora!
- Não é um desafio muito difícil, Laura – riu ela, principalmente depois do tapa que o homem lhe dera na cabeça – Tia, ele me bateu.
- Menos barulho, vocês dois. As crianças já estão dormindo – repreendeu-os ela, segurando pelos ombros e a guiando para a cozinha – Vem, você deve estar morrendo de fome.
Enquanto a garota se satisfazia com o lanche improvisado que Laura fizera, a mulher terminava de arrumar cozinha, contando algumas histórias sobre como havia sido aquele um pouco mais de um ano que não se viam.
- Clint disse que vocês iam fazer uma parada antes de vir para cá... – comentou Laura, guardando o último prato no armário.
- Hoje é aniversário da tia Peggy, passei lá para causar a confusão anual com os médicos dela...
- E ela não vai contar que o Rogers estava lá! – Clint gritou da sala, fazendo a morena mais jovem resmungar e bater a cabeça na mesa – Ela quase agarrou o cara quando foi se despedir!
- Você está o que? Na sexta série? Cresce, Barton! – retrucou , rindo do olhar contente e questionador que a mulher à sua frente a lançava – Sabe quem também estava lá? Steve! Nós três ficamos conversando até seu marido idiota chegar.
- Também te adoro, Stark! – resmungou Clint, aparecendo na porta da cozinha apenas para isso e retornando para a sala.
- Fazia um bom tempo que vocês não se viam, não é? – continuou Laura, se sentando à frente da garota, que sorria para prato - Como foi?
- Se Fury descobrir que a gente se viu, essa vai ser minha última folga na vida... – desconversou, respirando fundo antes de erguer os olhos para a mulher – Acho que ele não gostou de eu ter feito o soldado perfeito quebrar as regras para me proteger.
- Acho que ele devia deixar vocês trabalharem juntos – comentou ela, e a garota ergueu uma sobrancelha.
- Se importaria me explicar por que acha isso?
- Você cresceu muito no pouco tempo que ficou na companhia dele, – disse Laura, tomando as mãos da jovem que descansavam em cima da bancada entre as suas – E vocês formariam uma equipe do caramba.
- Eu só o coloquei em problemas – suspirou a garota, retribuindo o leve aperto que Laura fazia em suas mãos.
- Não, ele aceitou os problemas para te ajudar – insistiu ela, se levantando para colocar o prato de na pia e o lavar – Fica mais bonito assim.
- Nem sempre o que é mais bonito é a realidade, cara Laura – retrucou , indo até a mulher lhe dar um beijo no rosto – Vou subir para dormir. Amanhã você continua com o interrogatório, agente Barton 2.
Laura jogou a cabeça para trás e riu com gosto, se arrependendo logo em seguida por ouvir o som de passos no andar superior.
- Não faço ideia de quando você vai embora, mas pode ter certeza que você só vai sair dessa casa depois que admitir que tem mais coisa nessa história entre você e o Capitão.
revirou os olhos e concordou ironicamente, passando na sala para desejar boa noite a Clint antes de rumar para as escadas, não se surpreendendo ao avistar um par de grandes olhos curiosos pela fresta da porta aberta de um quarto escuro. Lila soltou uma risada baixa ao identificar a garota no corredor, abrindo a porta de vez e correndo em sua direção.
- Starkie...! – festejou a criança, antes de ser pega no colo, travando seus pequenos braços ao redor do pescoço de – Papai veio com você?
- Ele veio, mas você não deveria estar dormindo? – sussurrou ela, quase não conseguindo controlar a urgência de apertar as gordas bochechas da criança, que se entregou ao desviar os olhos para qualquer lugar que não fosse o rosto da garota – Vamos estar com sérios problemas se eles te virem acordada a essa hora, não é?
- Vai dormir no meu quarto hoje? – desconversou Lila, soltando a garota para levar as mãos ao rosto, pressionando suas bochechas enquanto fazia uma das melhores caras de cachorro sem dono que conhecia – Por favorzinho.
- Vou tomar um banho e vou para lá, tudo bem? – prometeu ela, e logo a criança já desceu de seu colo e correu de volta para o quarto.
Provavelmente antes mesmo de entrar no banho Lila já teria voltado a dormir, mas a criança reclamaria por muitos dias se ela acordasse na manhã seguinte sem a companhia de , então mesmo assim ela trocara a cama espaçosa e confortável de visitantes – que se resumia a ela e Natasha – pelo pequeno sofá na janela do quarto de Lila, onde ficara observando o céu estrelado até adormecer.

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Clint e haviam passado quase três semanas na fazenda até receberem um chamado nada contente de Fury, que exigia a presença deles na base em um espaço de tempo humanamente impossível de cumprir. Naturalmente, eles deixaram para partir apenas no dia seguinte.
A dupla se separou assim que a nave pousou na base, cada um correndo para seu dormitório para colocar seus respectivos uniformes – o Diretor já estaria uma fera por estarem massivamente atrasados, era capaz de cada um levar uma advertência caso ainda ousassem aparecer com roupas tão casuais.
acelerou o passo ao virar no corredor de seu quarto, parando bruscamente ao reconhecer a figura parada em frente à sua porta.
- Stark...!
- Diretor Fury...! – ela imitou seu tom de voz, dando cada passo com cautela, sem saber o que esperar do homem – Veio pessoalmente entregar minha advertência, senhor?
Fury lhe lançou um olhar difícil de decifrar, levando uma mão para a parte dentro de sua capa. Sem conseguir se conter, se questionou se havia atingindo sua cota de infrações e agora teria que correr para não levar um tiro.
- Espero que compreenda a importância da minha visita, e a valorize – disse o homem, lhe entregando uma grossa pasta. Em cima da pasta, estava seu antigo crachá – Bem-vinda de volta, agente Stark.
apenas pegara a pasta porque sua mão decidira agir por contra própria. Sua mente havia simplesmente parado. Há poucos dias o Conselho havia sido bem claro que não tinha previsão de quando ela voltaria à ativa e agora Fury simplesmente estava a colocando de volta na equipe?
- Hoje não é 1º de abril, senhor – murmurou ela, ainda estática.
- Acha que eu tenho senso de humor?
- Mas é claro que acho, e dos bem cruéis ainda.
- O Conselho entendeu que é perda de tempo e dinheiro continuar com seus treinos intensivos – explicou o homem, cruzando os braços – Mas você ainda está com a corda no pescoço. Só digamos que a corda esteja um pouco mais comprida agora.
- Vou ser rebaixada? – perguntou desconfiada. Aquela história estava fácil demais, tinha alguma coisa que o homem não estava lhe contando.
- Deveria, mas não. Você continua sendo agente Nível 8, mas não vai ter todas suas regalias de volta nesse momento – explicou ele – Digamos que vamos passar por alguns testes antes disso.
- Missões meia boca... Pesquisas desnecessárias... – listou ela, revirando os olhos – Não estou nem um pouco surpresa.
- Se for te animar um pouco, você tem permissão para terminar seu PhD – contou Fury e automaticamente os olhos da garota se arregalaram – Parte dos documentos na pasta dizem a respeito do seu regresso de atividades acadêmicas em Oxford.
- Agora fiquei interessada – murmurou ela, abrindo a pasta em seguida – Barton vai comigo? Agente Watson?
- Naturalmente – riu Fury – Você ainda está sob custódia. Acha que eu vou te soltar em Oxford sozinha logo de cara?
- Posso sonhar – brincou ela, abraçando a pasta contra seu corpo – Obrigada, Diretor. De verdade.
- Quer me agradecer? Mostre que não é um erro confiar em você, Stark – resmungou Fury – Agora, com licença. Preciso explicar para o agente Barton que não é inteligente me deixar esperando.
apenas murmurou um “claro, senhor” tentando afastar o máximo que podia o riso de sua voz, se permitindo rir apenas quando Fury sumira do corredor. Sua imagem no crachá a encarava e apenas sorria de volta. Nunca usara aquela desgraça de identificação – a segurança da S.H.I.EL.D. identificava todos nos prédios da agência automaticamente desde que ela ingressara –, mas era bom tê-la em suas mãos novamente. Mesmo que não fosse uma medida completa e definitiva, era o primeiro sinal que recebia de que estava fazendo as coisas da maneira certa dessa vez. Não era a melhor coisa do mundo ter que obedecer todas as ordens que recebia, mas era uma sensação boa demais reconquistar um pouco do que perdera.
Até que dava para tentar seguir as regras por mais um tempo.

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UM ANO DEPOIS
Suas pesquisas estavam concluídas, sua defesa de tese aprovada, e missões na região cumpridas. praticamente estava de férias novamente.
Sam e Clint estavam com o resto da equipe em algum lugar na Ásia, designados para alguma missão de nível alto que não tinha permissão para participar, o que a deixava sozinha no apartamento, sem muita coisa útil para fazer. Já havia circulado por inúmeras páginas na internet, checara notícias de seu pai e as empresas, e até tentara descobrir alguma sobre como Steve estava – que ninguém sonhasse com isso. Os últimos lançamentos de filmes importantes já estavam em dia, e com muito pesar a garota estava quase partindo para séries, até que seu celular começou a tocar e ela se viu confusa encarando a aparelho. Não era muito comum aquele aparelho receber ligações – o comunicador que quase fazia parte de seu ouvido era muito mais utilizado –, e, quando recebia, não era de números restritos.
- Alô...? – perguntou ela, receosa.
- ? – retrucou a voz do outro lado da linha, e seus ombros automaticamente relaxaram.
- Sim, Diretor? – suspirou a mulher, voltando a se deitar no pequeno sofá – Por que não usou o comunicador? Sequer sabia que você tinha conhecimento desse número.
- Tenho um trabalho para você – disse Fury simplesmente, ignorando-a por completo. Normalmente já não tinha muita paciência para o dom da jovem de falar demais, naquele momento então era impensável desperdiçar tempo.
- Tudo bem...? – murmurou ela, incerta. Algo na voz do homem a indicava que algo estava errado – Devo pegar instruções com Barton?
- Não, você não vai falar com ninguém.
não respondeu de imediato. Pensou que seu silêncio seria questionador o suficiente, mas como Fury não deu mais informações, ela continuou.
- Algo de errado, Fury?
- Espero que não.
- No que precisa de mim, senhor?
- Quero que tente encontrar alguma anomalia na S.H.I.E.L.D.
- Na S.H.I.E.L.D.?! – praticamente gritou a morena, se arrependendo em seguida. Para Fury fazer aquele pedido de maneira tão informal e usando um número que ela não podia rastrear, talvez não fosse uma missão que contaria no seu histórico – Pode ser um pouco mais específico?
- Quero que você hackeie a S.H.I.E.L.D. Procure por qualquer coisa que pareça estranha, até mesmo ordens que pareçam terem partido de mim. Qualquer coisa suspeita. Principalmente se estiver relacionada ao Projeto Insight.
- Proj... Senhor, você está me assustando. O que está acontecendo?
Fury não respondeu de imediato. Ele estava hesitante, não queria acreditar em suas próprias teorias. Tinha algo muito errado e ele queria acreditar com todas as suas forças que não era tarde demais.
- , você é a única pessoa que eu posso colocar nisso... – murmurou o homem simplesmente – Não me desaponte.
Aquilo não a acalmou. Na verdade, apenas fez com que ficasse mais angustiada. Nos sete anos que estava na S.H.I.E.L.D., Fury apenas se dirigira a ela pelo primeiro nome duas vezes, e ambas ocorreram naquela ligação. Algo estava muito errado e o homem não fazia questão de mascarar esse fato. Ele não estava dando ordens para sua subordinada. Fury estava pedindo ajuda para quem ele julgava capaz.
- Não vou, senhor – disse ela por fim, e a ligação se encerrou.
Com certo desespero, pulou do sofá em busca de seu notebook, jogando para o lado qualquer tipo de material de sua mesa que não lhe fosse ser útil pelas próximas horas. Felizmente, seu celular continuou em silêncio, assim como seu comunicador, que apenas apitara uma vez para avisar que Clint e a equipe estavam voltando para a base, local que ela deveria se direcionar o mais rápido possível. Porém ela não ousou sair do lugar até começar a ter problemas com seus avanços.
Havia seguido as instruções de Fury e procurado pelo Projeto Insight, e um certo desconforto lhe atingiu – aquilo definitivamente não era uma boa ideia. Normalmente esse tipo de medida preventiva sempre acabava de forma desastrosa, e aquele projeto não parecia que tomaria outros rumos, já que o próprio Fury suspeitava de algo. Analisando-o mais a fundo, encontrou o nome de seu pai envolvido na parte mecânica dos helicarriers e quase pegou o celular para gritar com ele, mas desistiu porque dificilmente o homem saberia no que tinha ajudado. Seus avanços travaram em alguns arquivos bloqueados, todos por ordem de Nicholas J. Fury, e um arrepio frio subiu por sua espinha ao se lembrar das palavras do Diretor – aquelas ordens não eram dele. O que diabos estava acontecendo na agência?
Com certo esforço, ela conseguira ter acesso à área bloqueada, mas se encontrou em um beco sem saída: as informações importantes não estavam no banco de dados da S.H.I.E.L.D., estavam isoladas em algum dispositivo externo e ela temia o que aconteceria quando a lacuna fosse preenchida, e algo lhe dizia que seria quando o Projeto Insight fosse lançado. Sequer conseguia localizar o dispositivo externo, precisava de mais pistas para isso.
Olhando para a janela pela primeira vez em horas, não se surpreendeu em ver os primeiros raios de sol darem o ar da graça, levando a mão ao comunicador enquanto saia em busca de uma boa caneca de café para ficar mais desperta. O problema era que a linha de Fury estava silenciosa. Pensou em ligar para Triskelion, mas lembrou que Fury a contatara por uma linha particular, e que sua ação poderia chamar mais atenção do que o aconselhável. Se dando por vencida, a mulher pegou suas chaves e deixou o apartamento, esperando com todas as suas forças que tivesse uma nave à sua disposição. Era melhor não usar seu comunicador – ela estava parcialmente afastada de suas funções na agência, seria suspeito repentinamente pedir que alguém a colocasse na linha do Diretor, por isso ela precisava de alguém que não levantasse suspeitas, alguém que, coincidentemente, estava retornando de uma missão nesse exato momento.
Seus passos pelos corredores movimentados da base de Manchester tentavam ser os mais discretos possíveis, embora sua vontade fosse de correr até encontrar o arqueiro. Aquela angústia de não saber o que estava acontecendo começava a lhe deixar paranoica.
- Clint! – gritou ela, quando o avistou em frente a uma das salas de reuniões, provavelmente depois de fazer o relatório verbal da missão – Tem um minuto?
O homem apenas franziu o cenho. Nenhum “você está bem”, “como foi a missão”, ou qualquer outra demonstração de preocupação que se era esperada. esboçava um sorriso discreto, mas estava levemente tensa, detalhe que dificilmente ele poderia notar caso a mulher não quisesse. Com um aceno, ele se despediu dos outros agentes que olhavam para os dois com curiosidade, a guiando para uma sala vazia, onde poderiam conversar à vontade.
- O que você fez dessa v..? – começou ele, assim que entraram na sala, mas não lhe deu ouvidos, iniciando logo o assunto que tanto se atormentava.
- Você está conseguindo falar com Fury? – perguntou ela logo de cara, e Clint ficou estático – A linha dele está muda.
- Por que quer falar com ele? – perguntou ele depois de um tempo, com os braços cruzados e olhar desconfiado, rumando para uma das cadeiras da sala, dando as costas à morena.
- Acredito que seja confidencial – disse ela rápido e o homem se virou para ela mais rápido ainda. Cinco minutos sem supervisão e ela já arrumara problemas – Fury pediu minha ajuda e eu não podia ter te contado, então você pode continuar sendo a pessoa incrível que sempre foi, contatar a Central e descobrir o que aconteceu sem envolver meu nome, não é?
- Você acabou de ser liberada do castigo e Fury já te envolveu em algum projeto? – estranhou o loiro, embora tivesse se conectando a linha do Triskelion.
- Ele não me contatou como agente Stark. Ele pediu minha ajuda como .
- Estranho. Muito estranho.
- Mais estranho ainda é a linha dele estar muda. Tente descobrir o que está acontecendo, por favor – pediu ela mais uma vez, e Clint não pode deixar de estranhar a angústia que a morena demonstrava. Ele não podia pedir por detalhes, mas claramente era algum assunto muito sério que Fury a envolvera.
- Trabalhando nisso – suspirou ele, finalmente se jogando na cadeira, sob o olhar atento da morena, que o assistia conversar com algum agente da Central, inventando alguma história para explicar a necessidade de falar com o Diretor – ?
- Hm?
- Fury morreu.
Seus pulmões expulsaram todo o ar que continham, e ela sequer se deu ao trabalho de mascarar sua reação. Fury estava desconfiado de algo na S.H.I.E.L.D. e agora estava morto. Sequer se dera o trabalho de perguntar as causas da morte, com certeza estava tudo conectado.
- Estou indo para Triskelion – foi a única coisa que ela disse antes de se virar para porta.
- ... – chamou-a ele, se adiantando para segurar seu braço – Você n...
- Você vai ter que confiar em mim nessa, Clint – murmurou ela, tirando a mão do homem de seu braço e levando as mãos para seus ombros tensos – Tem algo muito errado nessa história e estou com medo das coisas piorarem se eu não for.
- Eu vou com você.
- Melhor você ficar aqui. Nós dois saindo daqui agora vai parecer muito suspeito – disse ela, a contragosto – Vou pegar um voo comercial, você finge que não sabe onde estou.
- ... O que está acont...?
- Não sei, mas vou descobrir – cortou-a a morena, jogando seus braços ao redor do pescoço do homem, que a abraçou pela cintura – Segure as pontas por aqui, tudo bem? E fique atento. Não sinto que vem coisa boa pela frente.
Clint bufou enquanto concordava. Pensara que teria alguns momentos de paz depois de uma missão estressante, mas aparentemente ele estava muito errado.
- Me mantenha informado – pediu ele, quando a morena estava prestes a deixar a sala – Por favor, .
- A Linha do Papai é a comunicação mais segura que temos agora – lembrou ela. Apenas eles e Natasha tinham acesso àquela linha, seria melhor usá-la do que os comunicadores intermediados pela S.H.I.E.L.D. – O que eu descobrir conto por lá.
Assim que o arqueiro assentiu, correu para fora da sala, soltando desculpas aleatórias cada vez que um colega lhe indagava sobre o motivo da pressa. Ao se aproximar de uma das saídas ela diminuiu o passo, pegando a chave de um dos sedans sem que alguém da segurança visse e rumando para o estacionamento. Durante todo o trajeto até o aeroporto ela batucava o volante com certa violência, tendo que se controlar em alguns momentos para não quebrar nada no veículo. Havia passado tanto tempo afastada de suas funções que sua única vontade era ligar para alguém e pedir ajuda, mas depois de respirar fundos algumas vezes desistia da ideia.
Fury, que sempre fazia questão de colocar sua confiança em jogo, parecia ter apostado suas últimas fichas exatamente nela.
Descobrir o que estava acontecendo agora era sua missão.

Capítulo 24


Olhares acompanhavam a mulher pelos corredores, cada um mais surpreso que o anterior. Da última vez que o nome da agente Stark virara notícia na agência, ela havia sido afastada por mau comportamento, e inúmeras teorias circulavam sobre o que isso deveria significar. Por isso a surpresa de todos ao verem-na entrando no prédio, aparentemente sem permissão, já que não era de conhecimento de ninguém que ela havia retomado seu posto.
Para tentar chamar menos atenção, estava respeitando as regras de vestimenta do prédio, um pouco desconfortável por usar roupa social depois de tanto tempo. O que mais incomodava eram os sapatos de salto excessivamente altos, no estilo que Pepper sempre tentava a obrigar a usar em eventos da empresa. As calças escuras apresentavam a mesma coloração do blazer aberto que vestia por cima da camisa branca bem abotoada. Seus cabelos estavam presos na altura da nuca, e toda vez que passava em frente a algum vidro se surpreendia com a aparência profissional que estava mostrando.
Se Pepper a visse daquele jeito iria arrumar reuniões na empresa para que ela participasse toda semana.
- Agente Stark...! – cantarolou uma voz grave, com seu dono adentrando no elevador logo depois da morena, que observava o horizonte pela parede transparente – Você foi chamada ou está invadindo o prédio? Não me lembro de ter ouvido dizer que você estava de volta.
- Notícias importantes só chegam para pessoas importantes, Rumlow – retrucou ela, com um sorriso educado no rosto enquanto se virava para ele.
- Um amor de pessoa como sempre, pelo visto.
- Com você? Sempre, querido... – sorriu ela antes de ficar séria – Alguma chance de saber me explicar que merda está acontecendo aqui?
- Notícias importantes só chegam para pessoas importantes, não é? – devolveu o homem, lhe mostrando o sorriso mais sacana que possuía.
- Brock – repreendeu-o , com os braços cruzados para mostrar que aquele não era um bom momento – Estou falando sério. O que você sabe?
- Só sei que Pierce colocou a S.T.R.I.K.E. atrás do Sr. América – contou ele, já se preparando para a reação da mulher, que ele já sabia que não seria nada silenciosa.
- Ele o que?!
- Não notou a bagunça que estava lá embaixo? – riu Rumlow, achando graça na expressão assustada de sua companhia, que parecia perdida em pensamentos – O estacionamento? O cara fugiu faz poucas horas.
- Por que Rogers fugiria? – indagou ela, pensando alto. A cada segundo a história ficava ainda mais confusa – Pierce vai ter que falar comigo agora.
- Foi por isso que você veio?
- As outras bases estão no escuro – mentiu ela, embora respostas fosse um dos motivos de estar ali – Sabíamos que alguma merda tinha acontecido, mas não que o Diretor tinha sofrido um atentado e que estávamos caçando o Capitão América.
- Aparentemente não dá para confiar em ninguém hoje – suspirou o homem, escondendo as mãos no bolso – Bom te ver de volta, .
- Concordo – ela sorriu de lado, antes de saírem do elevador – Te vejo por aí.
Talvez fosse paranoia, mas vira algo estranho nos olhos do moreno quando se separaram. Ele repetir uma versão parecida do discurso de Fury havia lhe trazido uma sensação estranha, principalmente por ele estar se referindo a uma das poucas pessoas que ela confiava.
Se não podia confiar em Steve Rogers, em quem confiaria?

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parou do outro lado da parede de vidro, assistindo o homem andar de um lado para o outro, discutindo algo com o Conselho. Não parecia certo interromper porque: um, ela sequer devia estar ali; e dois, não tinha a melhor das experiências com o Conselho.
- Stark! – festejou Pierce assim que avistou a mulher, depois de desligar com a conferência, e ela tomou como a deixa para entrar na sala – Há eras que não nos encontramos! Fico feliz em saber que superou os problemas que estava tendo com seus poderes. Você é uma agente única, não podemos nos dar o luxo de perde-la.
- Não é tão fácil assim me derrubar, senhor – respondeu ela com um sorriso educado, apertando a mão que o homem lhe oferecera.
- Se fosse você, não teria chegado tão longe nessa agência, minha querida... – retrucou Pierce, enigmático. teve que controlar a sensação desconfiada que começara a dar sinais no elevador – Soube que o Conselho deliberou sua volta para seus afazeres... Você quer discutir alguma coisa sobre isso?
- Não foi para isso que eu vim aqui, senhor – disse ela simplesmente, escolhendo cada palavra com cuidado.
- Bom, e na verdade não foi para isso que eu te chamei também – suspirou Pierce, se adiantando para a sua mesa e organizando alguns papeis. acompanhou seus movimentos com o cenho franzido, sem conseguir pensar em algum motivo para ser convocada.
- Não fui chamada, senhor.
- Você já estava vindo para cá, então deixei o chamado de lado – explicou o homem e seu olhar causou um arrepio frio em sua espinha – Você já deve estar ciente da situação.
- Os boatos que ocorrem é que Fury foi morto.
- Não são apenas boatos.
- Algo não parece certo, senhor – disse ela, depois de um longo período em silêncio – Principalmente porque você colocou toda a S.H.I.E.L.D. atrás do Capitão América.
Pierce fechou os olhos por alguns instantes, quase que apreciando o tom de voz protetor da mulher. Havia alguns indícios de para que lado sua confiança pendia e, naquele momento, nunca fora mais claro.
- Rogers sabe de alguma coisa, Stark. Ele sabe de alguma coisa e não nos contou – explicou o homem, com a expressão fechada – Isso é o suficiente o caracterizar como inimigo.
- Não parece que estamos falando do mesmo homem – insistiu , deixando seus lábios se curvarem em um sorriso nervoso – Se Rogers está escondendo alguma coisa, acredito que tenha um bom motivo.
- E desde quando você é do tipo que confia em outros agentes? – questionou Pierce, arriscando alguns passos em sua direção, diminuindo bruscamente a distância entre eles – Você sempre fez mais o tipo desconfiada desde que foi recrutada.
- Passei muito tempo com Rogers, senhor – respondeu ela de imediato, sem se abalar pela postura mais autoritária do secretário – Conheço seu modus operandi. O que está me dizendo não bate com o histórico dele.
- Isso é verdade: você é a agente que melhor conhece Rogers, por isso a chamei – contou o homem, diminuindo a altura da voz e sem demonstrar sinais de que pretendia se afastar – Quero que você o rastreie. A S.T.R.I.K.E também está atrás dele, mas acredito que você possa fazer um trabalho mais ágil e limpo. Até mesmo conseguir as informações que ele esconde. Com um bom motivo ou não, precisamos dele aqui. Rogers é importante para S.H.I.E.L.D. Ele simplesmente ter fugido torna toda a situação mais complicada.
- Irei encontrá-lo, senhor – respondeu com firmeza, embora mentalmente já tivesse xingado até a terceira geração do secretário. Ele estava escondendo alguma coisa, mesmo sem conseguir captar sinais de que estava mentindo, tinha alguma coisa que Pierce não estava contando.
Quando percebeu que o homem não pretendia lhe dar mais ordens, recuou um passo e abaixou levemente a cabeça antes de girar os calcanhares e se direcionar para a porta com os passos mais calmos que podia dar naquele momento. Na verdade, no fundo ela até estava um pouco aliviada. Se Steve estava sendo caçado era porque ele tinha informações perigosas, e não seria absurdo acreditar que seriam as informações que ela precisava.
Ela encontraria o soldado, mas não pelos motivos do secretário.
- Acredito que Romanoff possa estar com ele também – acrescentou Pierce no momento que seus dedos se fecharam ao redor da maçaneta – Você a conhece muito bem, deve ser capaz de lidar com os dois sem muitos problemas.
Com apenas mais um aceno de cabeça a jovem Stark deixara a sala, mas o secretário continuou o mesmo lugar por um bom tempo. Suas suspeitas haviam se confirmado naquele pequeno espaço de tempo que passara na companhia da agente: sabia de alguma, provavelmente tinha sido ela que Fury havia contatado. A convocação para uma missão emergencial havia sido uma manobra para explicar o sumiço repentino da mulher na Inglaterra e seu aparecimento importuno no Triskelion. O problema era que ele não poderia mandar a S.T.R.I.K.E cuidar dela também – causaria mais um alvoroço na S.H.I.E.L.D. por se tratar de mais uma agente de nível alto, além de ainda acarretar na intromissão do Homem de Ferro na história, e mais problemas era a última coisa que o homem precisava.
Sem conseguir pensar em outra saída, Pierce tirou seu celular do bolso, digitando uma sequência de números já decorada rapidamente antes de levar o aparelho à orelha.
- Mande o Soldado atrás da agente Stark – ordenou o Pierce – Não vamos deixar a garota se tornar um problema.
- Mas, senhor... A garota Stark na verdade é... – a pessoa do outro lado da linha tentou argumentar, mas o secretário a cortou bruscamente.
- Descartável – rosnou o homem, inconscientemente apertando o aparelho em suas mãos – Não vamos precisar da garota e ela é perigosa demais, não a quero atrapalhando nossos planos. Se Ivanov achar ruim, mande o Soldado atrás dele também.

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saiu do prédio como um fantasma. Por um milagre conseguira passar pelo saguão em raros momentos de pouca movimentação, o que reduzira consideravelmente o número de olhares surpresos que colegas lhe lançavam.
Já na rua, não demorou muito para que um táxi encostasse e ela entrasse no veículo, bufando alto assim que suas costas tocaram o estofado macio.
- St...! – exclamou o motorista, assim que conseguiu ligar o rosto familiar a um nome.
- É. Sim, sou eu – cortou-o ela, impaciente - Para o hotel mais próximo, por favor.
A viagem não duraria muito tempo, então não ousou pegar seu celular. O taxista não parecia ser uma ameaça, mas ela precisava do ambiente mais seguro possível para gravar sua mensagem. Agora não era mais apenas uma questão de manter Clint informado: ela precisava contatar Natasha tanto para saber o que estava acontecendo como para conseguir localizá-la.
- J., ligue para o papai, por favor – pediu a mulher, com a aparelho na orelha e caminhando com aparente calma até o saguão do hotel.
Se não envolvesse J.A.R.V.I.S., apenas seus tutores teriam acesso à mensagem, por isso mudara de ideia no último instante. Aquela desconfiança ainda não saíra de sua mente. Era como se soubesse que mais alguma coisa estava errada, só não sabia o que exatamente. Por isso não faria mal incluir Tony na lista de destinatários. Afinal, Tony e ela tinham seus códigos para situações de perigo desde que ela tinha dez anos, não seria difícil para ele entender o que acontecia.
- Oi, papai. Eu acabei de sair de Triskelion e as coisas estão meio que uma bagunça. Fury realmente foi morto, e parece que Steve está envolvido... Eu sei, nada disso cheira bem. Pierce me colocou para rastreá-lo. Espera um pouco... – ela afastou o aparelho do ouvido e o guardou no bolso para falar com o recepcionista do hotel, que parecia estar tendo uma parada cardíaca – Um quarto, por favor. Qualquer um que tiver uma cama, na verdade.
O recepcionista assentiu mais vezes que o necessário, sentindo dificuldades para digitar com suas mãos trêmulas. Não demorou muito para que ele lhe entregasse a chave de seu quarto e ela rumou para o elevador. Ali ela pretendia terminar a mensagem, mas um rapaz conseguiu entrar no elevador mesmo com ela apertando o botão que fechava as portas repetidas vezes.
Bufando mentalmente, a mulher sequer ousara ameaçar levar a mão para o bolso onde seu celular se encontrava. Não podia confiar em ninguém.
Não muito surpresa, percebeu que estava pagando por uma suíte até que luxuosa. Era um quarto espaçoso, tendo até uma pequena mesa de jantar do centro. Batendo a porta às suas costas, ela se perguntava se o recepcionista havia escolhido o quarto propositalmente ou o taxista que a deixara em um hotel caro. Algum dia o mundo entenderia que quem era bilionário era o mais velho dos Stark.
Andando de um lado para o outro, ela pegou o aparelho no bolso, o levando ao ouvido para terminar a mensagem.
- Onde que eu parei? Rastrear o Rogers...! Não estou muito confortável com isso, mas é ele que tem respostas e preciso entender o que está acontecendo – terminou de explicar, jogando sua bolsa em direção à cama, vendo-a acabar caindo no chão em seguida. Quando estava prestes a finalizar a ligação, sentiu a necessidade de ter algo específico para Tony e Clint – Não, não precisa vir para cá. Posso lidar com isso sozinha. Sem contar que outro vingador envolvido pode atrair muita atenção e você não é muito discr...
parou no meio da sentença quando sentiu uma movimentação estranha e distante: alguém armado no terraço do prédio a frente.
Antes que pudesse fazer alguma, tiros invadiram o quarto e nem de todos ela conseguiu desviar. Um tiro atravessara sua coxa esquerda e outro atravessara seu abdômen.
- Mas que p...?! – ofegou ela, vendo seu celular longe de seu alcance, embora ele não lhe fosse ser muito útil no momento, já que não conseguiria contatar apoio com ele. Enquanto tentava encontrar o atirador, ela colocou seu comunicador no ouvido – Agente Stark sob ataque. Inimigo desconhecido e sem contato visual. Contei apenas um, mas não sei se há outros. Fui comprometida.
- Estamos mandando reforços, Stark – a voz desconhecida de algum agente respondeu, enquanto ela xingava baixo e tentava parar o sangramento – Tente se proteger.
- Não acho que seja uma opção... – cantarolou ela, ainda sentindo a dor dos ferimentos. Havia treinado várias vezes como ignorar aqueles estímulos e amenizar ferimentos graves para caso estivesse sozinha em uma situação como aquela. Mas claro que era mais difícil se concentrar quando não se estava em uma simulação – Cadê você, desgraçado?
Respirando fundo várias vezes e ciente de que era uma péssima ideia, rolou pelo carpete para alcançar a bolsa que carregava seu armamento. Algo em sua mente lhe dizia que devia sair daquele quarto o mais rápido possível, mesmo que fosse desarmada, mas ela simplesmente ignorou aquele aviso. O atentado de Fury, a perseguição de Steve, e agora ela sofrendo um ataque... Não existia aquele tipo de coincidência.
Chutando seus saltos para longe e com sua pistola posicionada em mãos, ela foi se aproximando da janela com um passo de cada vez, temendo uma aparição repentina do atirador, embora não sentisse sua presença. Quando estava prestes a alcançar a janela, os tiros recomeçaram, e ela teve que pular para trás da mesa e derrubá-la para servir como proteção primária.
O atirador estava do outro lado da janela e logo invadira o quarto.
Enquanto atirava de volta, conseguiu reparar em alguns poucos detalhes: o atirador era um homem um pouco mais alto que ela, com cabelos escuros e compridos, trajando o que parecia ser um uniforme todo a base de couro. Pela movimentação e sua cabeça baixa, não conseguira ter uma boa visão de seu rosto, então não conseguia identifica-lo.
Não demorou para que a munição do atirador acabasse, e no momento que largou a arma, o ar escapou dos pulmões de .
- O Soldado Invernal – ofegou a morena, tendo agora uma boa visão de sua mão metálica, mesmo estando coberta por uma leva. Esse cara atirou em alguém com a Romanoff no meio. Tentando controlar seus instintos que gritavam para que ela saísse dali o mais rápido possível, ela segurou sua arma com mais vontade, deixando a cabeça no homem em sua mira – Quem que mandou, hein?! Quem te mandou atrás de mim?
Como já esperava, não obteve resposta.
O Soldado Invernal se adiantou em sua direção, ignorando os inúmeros tiros da mulher, jogando para longe a mesa que ela usava como proteção. teve que abandonar a arma quando acabou a munição e se preparar para um combate mais próximo. O Soldado tentara acertar o primeiro soco e o confronto se iniciou.
Por alguns breves momentos, a vantagem era dela. O homem era muito mais forte que o natural, porém não esperava que ela também fosse. Mesmo assim, precisava tomar cuidado com o braço de metal, já que não adiantava golpear aquele membro e ele ainda apresentava muito mais perigo do que o braço natural do soldado, embora esse fosse tão rápido quanto o artificial. Eram claros os objetivos do Soldado a cada golpe que conseguia bloquear: qualquer um daqueles socos poderia facilmente a matar se atingisse o ponto certo.
Não demorou muito para que a mulher encontrasse uma brecha em sua defesa, deixando que ele agarrasse seu pulso apenas com a mão natural. Antes que ele pudesse entender o que acontecia, a mulher estava às suas costas, pegando impulso na parede para derrubá-lo. Ao atingir o chão, a mulher estava ajoelhada em suas costas, com um pé mantendo seu pulso metálico prensado contra o carpete. Uma mão forçava seu ombro direito para baixo, enquanto a outra segurava seu braço para trás, deixando claro que estava pronta para deslocar o osso caso fosse necessário.
- Você responde minhas perguntas... – murmurou , com a voz ofegante, aproximando o rosto de seu ouvido – E eu prometo não fazer nenhum estrago no seu rosto bonitinho, o que acha?
Não a surpreendendo muito, o Soldado conseguira escapar braço metálico, agarrando sua perna e a jogando para o lado. conseguiu no último segundo desviar do punho fechado do homem, que afundou alguns bons centímetros no chão, mas não teve tempo o suficiente para criar uma boa distância entre eles, ou ficar devidamente de pé. O homem tentara puxá-la pelo pé no intuito de ficar por cima de seu corpo, mas não conseguira impedir o chute potente que a mulher lhe acertara no rosto com o pé livre, o deixando desnorteado. Jogando as pernas para cima para se pôr de pé, pegou o primeiro objeto que suas mãos tocaram – uma cadeira que tombara quando o ataque começara. Juntando toda força possível, ela mirara novamente a cabeça do homem, mas ele nunca chegou a ser atingindo. Ele não apenas segurara a cadeira como também a puxara para trás, consequentemente trazendo a mulher para mais perto, já que era óbvio seus esforços para se manter distante dele, pela distância ser sua maior aliada no momento. Sem muitas opções, pegara impulso para jogar suas pernas ao redor do pescoço do soldado, usando seu próprio peso para derrubá-lo. Só não esperava que ele fosse conseguir sair da chave com tanta facilidade, ainda mais inverter o jogo.
acabou de costas no chão, sem ter tempo de erguer suas pernas antes das mãos do homem se fecharem ao redor de seu pescoço. O soldado não imobilizara suas mãos, e, mesmo com os braços livres, nenhum dos seus esforços parecia desestabilizar o oponente. Tentara elevar o quadril para desequilibrá-lo, mas além de estar ficando sendo forças, o soldado já parecia estar ciente daquela manobra, forçando ainda mais seu corpo para baixo. Não existia escapatória.
Antes que fosse tarde, teve que tomar uma decisão ousada. Nunca tentara fazer isso antes e, se desse errado, seria seu fim.
Depois de tentar acertar o rosto do soldado mais uma vez, ela relaxou os braços e eles caíram lentamente. Não demonstrou mais sinais de resistência, seu corpo não produzia mais nenhum sinal de vida.
estava causando uma parada cardíaca.
Pensando que havia a finalizado, o soldado chegou a se levantar, mas logo foi de encontro ao chão quando girou a perna entre eles para lhe aplicar uma rasteira, na esperança de ganhar tempo para se recuperar. Talvez pela parada brusca, seu corpo não estava obedecendo-a: a respiração não se regularizava, os batimentos cardíacos continuavam acelerados, sua visão estava turva e sua cabeça doía. Se sobrevivesse aquilo, nunca mais usaria aquele truque na vida. Com a respiração fora de controle, ela avistou sua bolsa, que guardava mais algumas armas, bem próxima e tentou se esticar para alcançá-la, sendo puxada quando seus dedos estavam a centímetros do objeto. Dentro de suas possibilidades, o chutava com a perna livre, tentando se livrar do aperto do homem em seu tornozelo. A mulher vira um flash mais intenso de irritação passar pelos olhos gélidos do soldado no mesmo instante que ele depositou mais força em sua mão metálica e a virou em um movimento brusco, quebrando os ossos da região com um estalo alto. Involuntariamente se desconcentrara, desorientada pelos estímulos intensos que a região lesionada produzia. Quando finalmente conseguira ignorar parcialmente a dor, antes que pudesse entender o que acontecia e se defender, a mão metálica do soldado voltou a se fechar ao redor de seu pescoço. Porém dessa vez ele a erguera, assistindo com seus olhos raivosos o temor se apossar dos castanhos da mulher.
Embora se esforçasse, sua perna direita não lhe obedecia – os nervos daquele membro deveriam estar comprometidos –, e a esquerda sequer parecia estar causando algum incômodo ao soldado, que tinha seu olhar travados no dela. Cada soco que tentava lhe acertar era facilmente bloqueado com sua mão livre. Em um último ato de tentar escapar, as mãos de seguiram para seu pescoço, tentando diminuir o aperto dos dedos metálicos, como se pudesse superá-lo em força.
O Soldado Invernal sabia que aquela luta estava encerrada. Seu alvo não tinha chances de escapar, e aos poucos começava a perder a consciência: seus dedos que tentavam com tanto desespero tirar o aperto da mão metálica de seu pescoço já não trabalhavam com tanto empenho, seu corpo já não se batia tanto, e seus olhos perdiam o foco. Não era a primeira vez que finalizava um alvo daquela maneira, mas uma sensação estranha de repetição invadiu sua mente. Tanto repetição do método como repetição do alvo.
- Valerik...? – mesmo quase inconsciente, não conseguiu esconder a surpresa ao ouvir a voz rouca e profunda do homem, carregada de um forte sotaque russo, chamando-a por um nome que ela não conhecia. Uma confusão se apossara dos olhos do soldado, que de repente parecia não saber onde estava ou o que estava fazendo, pela movimentação excessiva de seus olhos tanto pelo rosto da mulher como pelo quarto e a respiração descompassada, embora permanecesse estático. Ele a fitava com algo que parecia remorso, e, por um breve instante, seus dedos metálicos relaxaram e o som da respiração dificultada da morena preencheu o quarto.
Aquele som o trouxe de volta para a realidade, e aquele rápido devaneio foi esquecido.
Antes que pudesse reagir, o soldado balançou a cabeça e seu olhar voltou a ficar frio, fechando seus dedos com mais empenho ao redor do pescoço da mulher, e a jogando pela janela em seguida.
nunca fora muito fã de grandes altitudes, e naquele momento aquele sentimento se tornou mais forte do que nunca. Foram poucos segundos antes que ela atingisse o chão depois de cair por quatro andares, e aquela sensação horrível foi a única coisa que ocupou sua mente. Nenhum clichê de ver momentos de sua vida passarem por seus olhos. Apenas a ciência de que logo ela atingiria o solo e seria apenas aquilo.
O Soldado Invernal respirou fundo algumas vezes antes de se aproximar da janela agora completamente destruída, facilmente encontrando seu alvo caído no meio da rua, quase na calçada oposta ao prédio onde estava. Vários carros estavam próximos a ela, provavelmente por terem freado no susto e tentado desviar do que quer que fosse que havia sido jogado na rua. Não demorou muito para que os gritos começassem.
Daquela distância não podia afirmar que a mulher estava morta, mas mesmo que não tivesse, seria difícil ela sobreviver àqueles ferimentos. No mínimo dois tiros, o estrangulamento e mais a queda. Ele não precisava arriscar ser flagrado.
Aquela missão estava concluída.

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“Agente Stark sob ataque. Inimigo desconhecido e sem contato visual. Contei apenas um, mas não sei se há outros. Fui comprometida”.
“O Soldado Invernal”.
“Quem que mandou, hein?! Quem te mandou atrás de mim?”.

Natasha já estava bem ciente de que o número de pessoas confiáveis naquele momento era baixo, mas um pressentimento ruim lhe dominava desde que chegara à casa do tal Sam Wilson, e a vontade de contatar Clint e apenas aumentava com o passar das horas. Não tinha certeza se podia confiar em ambos, só que aquela sensação de que algo de ruim havia acontecido não saia de sua mente e começava a atrapalhar seus pensamentos.
Minutos depois de sair do chuveiro ela se lembrara da linha secreta que a jovem Stark possuía, exatamente para momentos críticos como aquele. Não era possível rastrear ninguém por aquela linha, então não haveria nenhum problema checá-la, mesmo que quem a administrasse estivesse do lado inimigo.
Steve tentara pará-la ao vê-la pegar o celular e digitar uma grande sequência de números, rapidamente a repreendendo, já que eles não sabiam em quem podiam confiar. A ruiva facilmente percebeu que o soldado desistira de se opor no momento que citara o nome de sua pupila, mas prosseguiu em sua explicação da mesma forma.
Assim que estabelecera uma conexão estável com a linha, Natasha colocara a ligação no viva-voz para que ambos escutassem juntos. As reações da dupla eram praticamente idênticas e simultâneas, como relaxarem os ombros ao perceberem que estava do lado deles, disposta e próxima para auxiliar no que fosse necessário. Porém ambos também congelaram quando o ataque começou.
- Steve... – arriscou Natasha com a voz baixa, se sentindo tentada a pausar a mensagem. Mesmo sendo consideravelmente irritante na maior parte do tempo, era sua amiga, sua pupila, uma das poucas pessoas nesse mundo por quem a ruiva faria o possível e o impossível para proteger. Pausar aquela mensagem seria como deixar aberta aquela questão, não ouvir a confirmação do pior.
- Deixe terminar – ordenou o soldado, com o maxilar travado. O mais agonizante era apenas ter um registro auditivo. Não poder ver o que estava acontecendo, embora Steve acreditasse que poder assistir aquela cena e não poder interferir seria algo desumano. Os ruídos da mensagem denunciavam a movimentação dos combatentes, assim como algum de seus golpes que entravam, mas principalmente os gemidos sofridos de que pareciam inundar todo o quarto. Pela falta de ruídos na mensagem e pelos sons que a mulher emitia, quase no final eles podiam deduzir que ela estava sendo estrangulada. Algo que parecia um nome foi dito e um silêncio intenso se estendeu.
O som de vidros quebrando e o barulho alto de algo caindo ao fundo fez com que Natasha pulasse em seu lugar. Os gritos sucessores deixaram clara a gravidade da situação, assim como o som de carros freando e colidindo. Com berros de pedido de ajuda a ruiva largou o celular na cama e se levantou, com ambas as mãos na boca.
era durona, mas era improvável ter sobrevivido a essa.
Passos foram ouvidos na gravação, o Soldado Invernal deixando o quarto, e provavelmente pisando no celular de , já que a mensagem acabou com um ruído de algo quebrando. O silêncio perdurou no quarto até Sam chegar. O moreno até chegou a abrir a boca para avisar que o café da manhã estava pronto, mas algo no clima do cômodo fez com que ele desistisse.
- Ela não... – disse Steve, encarando seus pés com as sobrancelhas unidas – Ela sequer estava envolvida nessa história. Não tinha nenhum motivo para mandarem alguém atrás dela.
- Ela estava, Steve. A mensagem era para nós – sussurrou a ruiva, com a voz falha e fraca – percebeu que algo nessa história não estava certo. HYDRA sabia que ela ficaria do seu lado. Você sabe muito bem como ela era.
- Não diga “ela era” como se ela tives...! – grunhiu o soldado, se pondo de pé. Seus punhos estavam cerrados e seus ombros tensos, e Natasha até chegou a recuar. Percebendo como estava sendo irracional, o homem parou – Até onde nós sabemos, ela pode estar viva.
- Steve...
- Olhe na internet – insistiu o loiro, cansado – Se ela realmente tiver morrido, vai ter algum tipo de comoção nacional.
- As Indústrias Stark e a S.H.I.E.L.D. devem estar abafando a história. era uma pessoa importante e foi um caso claro de atentando contra ela. Imagina o problema que isso causaria.
- Vocês estão falando de como em “ Stark”? Filha de Tony Stark? – se intrometeu Sam, atraindo o olhar dos dois, sem conseguir controlar sua recente curiosidade e incredulidade – A gênia patricinha? Ela é uma de vocês?
Steve apenas assentiu com a cabeça e Sam arregalou os olhos, surpreso. A garota podia ter sumido da mídia há um bom tempo, mas ele não conseguia a ver envolvida com aquilo tudo.
- Se ela tinha uma forma de te contatar, existe a possibilidade de você conseguir contatar Tony? Ele deve ter mais informações.
- Não era você que tinha uma extensão do J.A.R.V.I.S. no celular?
- Esqueceu que eu não tinha permissão de me comunicar com ela? A extensão foi desinstalada.
Natasha suspirou. A agonia do soldado era tão visível que até parecia que ele estava sofrendo mais do que ela, por isso acabou se sensibilizando. Rogers se preocupava demais por sua protegida e aquela notícia não estava sendo fácil para nenhum dos dois, embora a espiã estivesse sabendo bem melhor do que o loiro.
- Steve... Eu sei que é importante para você, assim como ela é para mim – disse ela, se agachando em frente ao loiro, tentando passar algum conforto ao apertar de leve seus joelhos – Mas agora nós temos outros problemas para lidar. No meio disso tudo talvez consigamos descobrir se ela sobreviveu. Só que agora precisamos agir. Ela vai ficar irada com a gente se ficarmos aqui choramingando ao invés de trabalhar, certo?
Steve se viu obrigada a concordar, embora aquele sentimento ruim o corroesse por dentro. A imagem da garota na última vez que se encontraram, há quase um ano, não saia de sua mente. O riso fácil, o brilho nos olhos, a voz mansa... parecia outra pessoa, completamente diferente da garota assustada que não sabia controlar seus poderes. Se ela realmente estivesse... Ele nunca teria a chance de conviver com aquela versão nova da garota, de ouvi-la reclamar de algo que Clint fizera, ou simplesmente admirar sua expressão concentrada enquanto ela trabalhava em algo. Não dava para aceitar esse cenário.
Ele iria se concentrar no que precisava ser feito, mas não aceitaria que não estava mais viva.

Capítulo 25


Pessoas a sua volta mantinham uma discussão tensa. Não que conseguisse entender o que eles falavam – conseguia chegar àquela conclusão por ser evidente o esforço que faziam para manter a conversa a mais silenciosa possível, só que uma vez ou outra acabavam por alterar demais a voz. Os batimentos cardíacos também denunciavam o nervosismo que sentiam, embora ela não soubesse dizer ao certo o que os afligia, mas isso não a surpreendia. sequer sabia o que a afligia.
Seus batimentos cardíacos aumentavam em uma velocidade absurda, sua respiração acelerada causava um incômodo toda vez que inspirava com vontade, embora não conseguisse dizer o que causava tal incômodo. Na verdade, ela não conseguia encontrar motivo nenhum nem para as pessoas aflitas que a cercavam, nem para estar ali, onde quer que fosse. Seus olhos se abriram com dificuldade, agradecendo pela iluminação mais escura do ambiente, e nesse momento sua confusão apenas aumentou. Ela deveria estar reclamando da luz florescente e do teto claro, ela deveria estar em outro lugar, em um hospital.
Agora o porquê de sentir a necessidade de precisar estar em um hospital era outra história.
- Se acalme, Stark... – murmurou uma voz calma e logo uma mão pousou em seu ombro, em um aperto gentil para lhe passar alguma segurança. Seus olhos demoraram mais do que o normal para lhe obedecer, se demorando sem motivos no teto escuro acima antes de se direcionar para o dono da mão. Sua visão estava embaçada, entretanto conseguia afirmar que era alguém conhecido, tanto por sua silhueta como pela voz familiar – Algum de vocês pode me explicar por que os olhos dela continuam azuis? Está começando a me preocupar.
- Alguém pode me explicar como ela sobreviveu à queda? – retrucou alguém ao fundo, e uma breve discussão se iniciou novamente – Aparentemente ela não gosta de seguir as Leis do Universo.
- Cala a boca, Adams – rosnou uma voz feminina e um estalo de tapa ecoou pelo ambiente – Ela acabou de passar por uma situação horrível, não precisa ouvir seus comentários desnecessários.
- Quero os dois lá fora – ordenou o dono da mão com a voz firme, começando a perder a paciência com sua equipe – Chamo se precisar de alguma coisa.
- Como quiser, agente William – resmungou o vulto que acreditava ser o tal de Adams, embora o som do nome não a fizesse ligá-lo a um rosto. Entretanto, “agente William” lhe soava bastante familiar, e ela se pôs a tentar focalizar o homem enquanto o ambiente era esvaziado.
- James William – ofegou a mulher depois de muito tempo, se arrependendo assim que sua garganta seca e machucada se irritou com o esforço. James William era um dos agentes com quem tivera contato durante os acontecimentos da Guerra de NY, dois anos atrás. Mesmo sem saber como havia parado ali, agora sabia que estava em um local seguro.
- Devo ter causado uma boa impressão para você lembrar meu nome – brincou ele, forçando o ombro da morena para baixo quando ela tentou se levantar – Você não pode se mover, Stark. Mal acabamos de arrumar suas costelas, não queremos ter que consertar novamente.
Ela havia quebrado alguma costela? Explicava o incômodo que sentia ao respirar, mas não explicava como havia conseguido os ferimentos, que ela podia afirmar com certeza que não se resumia a algumas costelas quebradas. Embora não sentisse dor, havia vários pontos por seu corpo que pareciam estar piscando, tentando atrair sua atenção. Se não sentia e seus olhos estavam mais uma vez azuis era porque estava bloqueando a dor, então seus poderes haviam se ligado inconscientemente, algo comum de se acontecer quando ultrapassava alguns limites físicos. Ou seja, dessa vez ela tinha se metido em problemas bem sérios.
- Onde estamos?
- Escondidos – respondeu James, inseguro se devia ou não disponibilizar aquelas informações à morena. Se tinha uma coisa que toda agência havia aprendido nos últimos anos era que aquela garota era imprevisível, e, como se tratava de uma aprimorada, as chances de sua pequena equipe a controlar não eram das melhores. Se Stark perdesse a cabeça, ela causaria um bom estrago antes de ser controlada – Estamos passando por alguns probleminhas... Mas você precisa descansar agora, tudo bem? Você já fez bastante.
- O a-ataque... – ofegou , levando uma mão a boca. Imagens aleatórias de um combate invadiam sua mente, mas ela ainda sentia dificuldades em juntar os pontos. Havia sofrido um ataque, por quê? Por que estava escondida? – O Soldado Invernal...
O Soldado Invernal era uma lenda, não devia existir de verdade. Ainda assim, ela havia se tornado um de seus alvos, e o fato de não conseguir pensar em um bom motivo para isso apenas a deixava mais assustada. Sendo filha de quem era, receber uma ameaça ou outra não era a maior das novidades, mas aquilo era outro nível. Alguém havia encomendado sua morte. James conseguia ver a confusão nos olhos escuros de sua colega, se perguntando quanto ela já havia se lembrado. Suas ordens eram para manter ali a qualquer custo – mas existia um pequeno contratempo chamado “ela é imune a sedativos” que tornava toda a situação mais caótica. Não era como se eles tivessem tentando esconder o que acontecia da mulher, mas ela se recusaria a ficar em repouso caso soubesse de tudo que estava acontecendo, e naquele momento descansar era tudo que o corpo fragilizado de precisava, embora a mente não concordasse. Ela estava determinada a encontrar um bom motivo para terem mandado o Soldado Invernal atrás dela, e não demorou muito para que se lembrasse dos acontecimentos que antecederam o ataque: a conversa tensa com Alexander Pierce, a ida para Triskelion para encontrar respostas, a morte de Fury e o pedido estranho que lhe fizera um dia antes. O ataque. S.H.I.E.L.D. comprometida. Aquilo tudo estava conectado.
Em um movimento brusco, arrancou os eletrodos que estavam conectados a seu corpo, já direcionando a mão à agulha ligada a uma de suas veias quando seu colega decidiu interferir, usando uma quantidade considerável de força para manter seu braço pressionado contra a maca. S.H.I.E.L.D. comprometida. Por alguns segundos ela considerou que o homem à sua frente não pudesse ser um aliado, mas da mesma forma que aquela dúvida aparecera, ela também se fora. Se havia encomendado sua morte, não fazia o menor sentindo mostrar tanto empenho em salvá-la depois.
- , preciso que você se acalme – pediu James, sem conseguir achar suspeito conseguir mantê-la deitada usando sua força. Ela estava tramando alguma coisa e ninguém conseguiria o convencer do contrário – Você não é exatamente a pessoa mais fácil de parar nesse mundo, e não dá nem para usar sedativos em você, então me poupe dor de cabeça e se acalm... Droga, Adams, me ajuda!
Ignorando o pedido de James, ela tirara a agulha do braço e já jogava as pernas para fora da maca, tendo pela primeira vez ciência de seu estado. O incômodo no tórax aumentava cada vez que ela insistia em um movimento, assim como sua coxa esquerda também começava a queimar. Não foi difícil localizar seu tornozelo quebrado, imobilizado da melhor forma que podia com tecidos, quando na realidade o ideal era gesso ou uma bota ortopédica. Apoiar aquele pé no chão estava fora de cogitação, por isso ela quase agradeceu ao avistar um par de muletas encostadas na parede ao longe.
- Como assim a S.T.R.I.K.E. pegou eles?! – ela ouviu alguém gritar do outro lado da porta improvisada, quando aos poucos a ajuda para James entrava. Ele tentava segurá-la pelos ombros, visivelmente receoso em acabar machucando-a mais, enquanto outros dois agentes se colocaram em seu caminho, imitando James e pedindo que ela se acalmasse.
- Hill interceptou o pacote. O Capitão e a Viúva estão conversando com Fury ag...
parou o movimento na metade, mas não soltou o pulso de James. Sua mente parara por alguns instantes, assim como seus pulmões, que expulsaram todo o ar que comportavam, como se tivesse legado outro soco na boca do estômago.
Fury estava vivo?

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“Galera, temos um pequeno problema”, uma voz apreensiva ecoou pelo quarto, saindo do pequeno comunicador que Hill levava à cintura, interrompendo a frase de Fury, que terminava de responder as perguntas de Steve e Natasha. O ar antes já tenso do quarto ficou mais difícil de respirar. Eles já tinham problemas demais. “Stark acordou, está puta e correndo na direção do Diretor. Estejam prontos para derrubá-la, se necessário”.
- “Stark”? – repetiu Steve com os olhos arregalados, procurando alguma confirmação em Fury e Hill – est...?
O soldado nunca chegou a terminar a frase, porque os sons de uma discussão distante atraíram a atenção de todos.
- Stark, você vai se quebrar toda de novo, caramba! Pare de correr! – resmungava a voz familiar de James, que conhecera alguns anos atrás, com dificuldade para acompanhar a velocidade da louca de muletas – Não precisa fazer esse drama todo!
- É claro que eu preciso! – retrucou a mulher, praticamente cuspindo as palavras – Vocês não me contam nada aqui dentro!
- Você acordou faz dez minutos! Não deu tempo de te atualizar!
- Ah, não?! – bufou , finalmente parando, apenas para puxar o braço do homem e cronometrar o tempo no relógio preso a seu pulso – “Fury está vivo, o quase-homem-de-lata também atacou Rogers e Romanoff, e a maldita HYDRA ainda existe e estava na sombra da S.H.I.E.L.D. esse tempo todo”. Eu contei sete segundos, William! Olha quanto tempo você desperdiçou desde que eu acordei!
Enquanto James revirava os olhos e praguejava alto, reposicionou aquelas malditas muletas embaixo dos braços e continuou rumando para a sala onde sentia a presença de Natasha. O único ferimento que era realmente um problema era seu tornozelo fraturado, que simplesmente vacilava toda vez que tentava apoiá-lo no chão, o que a deixava apenas com a opção das muletas – ou uma cadeira de rodas, embora talvez facilitasse muito a vida de James em pará-la caso tivesse optado por ela.
Antes que pudesse alcançar a entrada da sala, Steve apareceu em sua frente e sua mente se esvaziou.
Esquecera-se das muletas que a permitiam se locomover, vacilando no primeiro passo que tentara dar antes mesmo elas atingissem o chão, mas aquilo não chegara a se tornar um problema: o soldado estava bem mais adiantado e ágil do que ela, e em segundos seus braços envolviam sua cintura, a apertando com força sem se lembrar dos inúmeros ferimentos. também não se importara: seus braços se fecharam ao redor do pescoço do loiro, suas unhas cravaram no tecido de sua jaqueta, retribuindo o abraço com o máximo de intensidade que conseguia.
- Me diz que eu não estou alucinando... – murmurou contra a pele exposta do pescoço do soldado e ele a abraçou com mais vontade, deixando um braço travado em sua cintura e levando a mão a seus cabelos, quase como se temesse que ela tentasse se afastar. Mal sabia ele que aquela ideia sequer passava por sua mente. Havia sentido tanta falta daquele abraço e só agora percebia isso.
- Tive que me esforçar tanto para acreditar que você não tinha morrido – sussurrou Steve contra o ouvido da mulher. fechou os olhos com força, deixando sua cabeça apoiada na do soldado, finalmente respirando com mais calma, e aos poucos seus braços foram relaxando, até que ela não se segurava mais o homem, mas sim ele que a mantinha em pé. A mulher chegou a abrir a boca para se desculpar pela mensagem, mas logo outro ponto importante lhe veio à mente: Steve não era um dos destinatários.
- Nat... Cadê a Natasha? – ofegou ela, se afastando minimamente para fitá-lo nos olhos. Colocando-a no chão com cuidado e substituindo as muletas que agora jaziam no chão, Steve a guiou para dentro do quarto improvisado de Fury, sob o olhar atento de todos no ambiente. Ao identificar todos pelo menos vivos, suspirou aliviada, apoiando a cabeça no ombro do soldado que a segurava.
- Tenho a impressão que você fez o que eu pedi, caso contrário não estaria aqui – brincou Fury, se ajeitando em sua maca.
- Você só me coloca em furada – resmungou ela, percebendo que havia uma pessoa na sala que ela não conhecia: Sam – Você eu não conheço... Você parece estar bem. Você está bem?
- Hm... Sim? – respondeu o moreno, incerto. Satisfeita com a resposta, apenas assentiu.
- Não queria ser o cara chato e estragar o belo momento, mas preciso que você me devolva a Stark, Capitão – resmungou James, entrando na sala – Tenho leves suspeitas que os pontos nas costas dela estouraram e preciso refazê-los.
- Você não devia estar cuidando da garota, William? – bufou Hill, com os braços cruzados – Ela sequer deveria estar andando.
- Você sabe que ela é impossível, não é? – argumentou o homem, cansado – Ela derrubou a equipe toda e eu tive que correr atrás dela. E ela está andando com muletas. E eu tive que correr para alcançá-la.
- Eu vou sobreviver, parem de frescura – se intrometeu , bufando – Agora alguém pode me explicar a merda que está acontecendo? Eu só peguei comentários nos corredores e minha mente ficou uma bagunça. HYDRA? É sério isso?
- Você teve uma pequena amostra ontem – disse Fury apenas, e ela sequer tentou controlar sua expressão abismada.
- Você só pode estar brinc... Pierce – ofegou ela, levando uma mão à boca. Aquela história de convocação ainda lhe soava suspeita demais – Ele não acobertou meus passos por ser bonzinho, não é?
- Ele sabia que o Diretor tinha contatado alguém – explicou Hill – Você aparecer no Triskelion deve ter sido a confirmação que ele precisava.
- Eu devia ter sido mais cautelosa, desculpe – murmurou ela, fechando os olhos com força. O erro tinha sido todo seu e, se toda esperança tivesse sido depositada apenas nela, eles teriam perdido tudo ali – Não pensei que iria levantar suspeitas, e-eu...
- Eu que não fui cauteloso, Stark – corrigiu-a Fury, a surpreendendo – Você agiu corretamente dessa vez, e quase não sobreviveu a essa porque eu compliquei as coisas.
- Não que eu não esteja feliz em você estar bem, mas... – começou Natasha, parando quando seu médico apertou seu ferimento com mais força – Como você pode ter sobrevivido? Sua mensagem gravou o ataque inteiro e não soava nada bom para o seu lado.
- Minha teoria é que... – se intrometeu James antes que alguém pudesse tentar responder àquela pergunta, atraindo o olhar curioso de todos – Ela não precisa estar acordada para a mente dela protegê-la. No hospital, os médicos estavam todos pasmos porque perdeu uma quantidade mínima de sangue para um número absurdo de ferimentos. Mesmo inconsciente ela poderia estar tentando diminuir hemorragias, tentando prolongar seu tempo de vida o máximo possível. Seus olhos agora apenas ficam azuis quando você está muito cansada, não é? Quando abusa das suas habilidades. Seus olhos estão azuis desde que te sequestramos no hospital.
Um silêncio seguiu a teoria de James, onde cada um – com exceção de Sam, que não fazia ideia do que eles estavam falando – repassava suas palavras mentalmente com cuidado na tentativa de achar possíveis falhas, mas todos acabaram por concordar.
- Está aí uma coisa que nunca pensamos antes – confessou Hill, estudando a expressão intrigada da morena – Você nunca chegou em um momento extremo como esse nos últimos anos.
- Ainda bem, não é? – acrescentou a morena, levemente alterada – Uma vez já foi mais que o suficiente, já aprendi a lição.
- O que você aprendeu nessa? – perguntou Fury, curioso.
- Que se você ver o Soldado Invernal você corre. Se você for o alvo dele você corre mais ainda.
- E essa é a grande agente Stark...! – debochou James. Aquela declaração não fazia muito o estilo da mulher e ninguém ali esperava por aquilo.
- Você não me julgue, entendeu? Ele atirou através da Romanoff uma vez para matar alguém, e dessa vez ele estava querendo muito atirar através de mim para... Bem, me matar tentava se justificar, logo percebendo que o que falava não fazia tanto sentido – Você entendeu, não é?
- Estresse pós-traumático – explicou James, arriscando alguns passos em sua direção – Você precisa descansar.
- Eu preciso de uma bebida bem forte – corrigiu ela, colocando seu corpo mais contra Steve, que instintivamente a segurou com mais empenho – E de um sistema de reconhecimento facial.
- Para que?
- Eu... Eu conhecia o cara – contou , receosa. Ela sabia muito bem que seria difícil que acreditassem nela pelo ataque ser recente – O Soldado Invernal.
- Você viu o rosto dele? – estranhou Fury – Ele não estava de máscara?
- Tinha muito cabelo e barba atrapalhando, mas sim, eu consegui ver o rosto dele – respondeu ela, ignorando o aperto um pouco mais forte do que o recomendado de Steve em sua cintura. O soldado ficara consideravelmente mais tenso assim que ela citara seu quase assassino, mas decidiu que não era momento para perguntar. Outra coisa perturbava sua mente – Eu o conheço de algum lugar. Se a HYDRA estava infiltrada na S.H.I.E.L.D.... Eu sei que estou soando paranoica, mas...
- Ele não estava infiltrado na S.H.I.E.L.D., e você nunca o tinha visto antes. Você tem essa sensação porque ele é James Barnes – explicou Hill, vendo o claro desconforto de Steve e que ele não iria contar para a morena sobre seu antigo amigo de infância – Por isso ele parece familiar.
continuou na mesma.
- O nome acendeu uma luz, mas sinto que vocês estão esperando outra reação de mim, então vocês vão ter que me ajudar nessa.
- É o Bucky, – resumiu Steve, com o maxilar travado – Bucky Barnes é o Soldado Invernal.
- Bucky Barnes? – repetiu ela, dando tempo para que alguém o desmentisse, mas quando ninguém se opôs, ela apenas ficou mais confusa – O seu...? Certo, ainda posso aceitar aquela ideia de descansar um pouco? Vocês conseguiram atingir o limite de informações que eu consigo assimilar por dia em cinco minutos, e eu nem sabia que essa cota existia.
- Se você não está conseguindo processar tudo, imagine nós, meros mortais – murmurou James, com as mãos escondidas nos bolsos. Eles estavam ali nem há dois dias e já tiveram reviravoltas o suficiente para uma vida inteira.
- Certo, nós precisamos decidir como vamos agir – começou Fury, reconquistando a atenção de todos, que voltaram a ficar sérios – Romanoff e Stark precisam de cuidados médicos. Continuamos em vinte minutos.
O agente que cuidava do ferimento de Natasha foi o primeiro a se mexer, guiando a ruiva e pedindo que Sam os seguisse, caso precisasse de auxílio. Em seguida foi James, que se adiantou para uma cadeira de rodas que estava fechada no canto da sala.
- Pode deixar – se apressou Steve em dizer, fazendo um gesto para que ele parasse – Eu levo dela. Já estou acostumado a carregá-la. Não tem problema.
pensou em esboçar um sorriso irônico em resposta à brincadeira do soldado, mas sua expressão permaneceu fechada, embora não tivesse mostrado resistência a Steve a erguendo em seus braços, em movimentos bem mais cuidadosos do que mais cedo, como se só agora tivesse percebido como ela estava debilitada. Claro que o loiro não estava cego: havia notado o hematoma escuro próximo ao olho e no queixo, assim como os vários cortes avermelhados por todo o rosto, mas, quando seus olhos avistaram , a única coisa que conseguira pensar era que ela estava viva. O resto era apenas detalhe.
- Estou te machucando? – perguntou ele em um sussurro, quando já estavam bem próximo do local onde ela tinha sido deixada. apenas negou balançando a cabeça levemente antes de descansá-la na curva do pescoço do soldado.
- A pergunta é um pouco idiota, mas... Você está bem? – perguntou , incerta. O cenho de Steve franziu assim que entendeu ao que ela se referia, negando com a cabeça em seguida – C-como é possível...? Como ele teria ido p...? Lavagem cerebral?
O suspiro alto de Steve serviu como afirmação, e ela permaneceu em silêncio pelo resto do trajeto. Não havia o que pudesse falar para que ele pudesse se sentir melhor, sequer havia digerido a história devidamente para poder sugerir uma solução, e iniciar um interrogatório seria algo insensível demais, até para os seus padrões.
- Coloque-a na maca – pediu James, assim que chegaram em seu “quarto”, enquanto juntava o material necessário para a sutura – Stark, tire a camiseta.
Sentindo que não seria uma boa ideia erguer seus braços acima da cabeça para se livrar do tecido, puxou a gola da camiseta por trás, sentindo algo estranho na base de seu pescoço. Quando foi levar a mão à região, alguém a parou.
- Eu não encostaria aí... – suspirou Steve, soltando seu pulso em seguida – Pelo tamanho do curativo, deve ser um machucado bem grande.
- Você escutou o Capitão... – riu James, que sabia que ela não contrariaria o loiro – Você atingiu um carro quando foi jogada. Fez um corte bem feio.
- Mas alguém saiu machucado?
- Machucado, não. Assustado? Vários – contou James, puxando uma cadeira e se sentando próximo à maca, depois colocando as luvas de látex – A S.H.I.E.L.D. está abafando a história, mas algumas pessoas continuam comentando. Ninguém ligou seu nome à história, se está se perguntando isso. Vai adiantar alguma coisa se eu te der anestesia?
negou e logo sentiu a agulha perfurar sua carne, no que ela identificou como o ferimento de saída do tiro que levara no abdômen. Steve se sentara ao seu lado, embora observasse o trabalho de James, evitando o máximo olhar diretamente para ela. Fosse o excesso de informações que recebera ou a mania do soldado de se transformar em um ponto cego, o fato era que mais uma vez estava com dificuldades em entender o que se passava com o soldado.
- William, não é só porque eu não sinto dor que você pode pesar a mão desse jeito – reclamou ela, arqueando as costas inconscientemente – Você está costurando um tecido vivo, dá para ser mais delicado?
- Como você pode estar sentindo? – questionou James, exasperado – Ou você está sentindo ou não! Decide!
- Já levou uma anestesia local? Você não sente dor, mas continua sentindo a porcaria da agulha – explicou ela, irritada. O agente resmungou alguma coisa em resposta, prometendo que seria mais delicado.
James terminou de remendar os pontos da morena um pouco antes de Hill aparecer para reunir todos para discutirem a frente de resistência da S.H.I.E.L.D. Naquele meio tempo os três permaneceram em silêncio, cada um mais perdido em pensamentos que o outro. repassara todo o ataque do dia anterior mentalmente, tentando se convencer que aquele homem era Bucky Barnes, um dos heróis da Segunda Guerra. H.Y.D.R.A. não tinha apenas destruído a vida do homem, tinha diminuído o peso de seu legado. Até mesmo ela, se lhe perguntassem naquele momento qual a primeira coisa que lhe vinha à mente ao ouvir o nome do homem, não seria sua imagem junto com os outros Howling Commandos, mais sim seu olhar animalesco travado no dela, quase como que um aviso de que seu fim se aproximava. Sua voz rouca e profunda continuava a ecoar em seus ouvidos, repetidas vezes até que começasse a encontrar certo sentido nos sons que ele produzira. Pelo que se lembrava, naquele momento estava quase perdendo a consciência, então não podia confiar completamente na fonte que tinha, mas se recordava do que o Soldado dissera.
Ele havia dito um nome: Valerik.
só não fazia ideia de quem Valerik poderia ser.

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O ar ficara absurdamente pesado depois de Steve ponderar que a S.H.I.E.L.D. não poderia ser salva, que deveria cair junto com a HYDRA. Assim como Fury, também estava relutante em concordar com a ideia, embora não conseguisse pensar em outra opção viável. A agência era um legado de seu avô e, mesmo esse legado tendo sido corrompido no meio do caminho, era mais difícil do que esperava admitir que mais nada pudesse ser feito. Sentia que a falha era sua mesmo com as coisas terem desandado muito antes de seu nascimento.
- Stark? – chamou-a Fury, depois da resposta espirituosa de Sam. A mulher tinha o polegar preso entre os dentes, e o olhar travado no meio da mesa, perdida em pensamentos – ?
ergueu os olhos para o Diretor, encontrando nele a mesma agonia que imaginava que ela também transmitia. Todos os presentes esperavam seu posicionamento e isso apenas serviu para deixá-la mais agoniada. Chegara a abrir a boca, mas nada saíra. Acabou que apenas suspirou alto e imitou Natasha, se afastando da mesa e afundando em sua cadeira, prendendo o polegar entre os dentes novamente, sem desviar o olhar de Fury, na tentativa de no mínimo se desculpar por não ficar ao seu lado. Depois de tudo que passara, sentia que aquele ato beirava quase à traição.
- Bem... – suspirou Fury, também afundando em sua cadeira – Parece que é você quem dá as ordens agora, Capitão.
Steve manteve a expressão neutra por um longo tempo, até finalmente voltarem a planejar os últimos detalhes da operação.
- Acho que estamos nos esquecendo de um fator importante, senhor... Ou Capitão – alertou , um pouco confusa por não saber a quem se direcionar. Era estranho não ter que responder a Fury e mais estranho ainda se direcionar a Steve com aquela seriedade, já que nunca haviam trabalhado juntos até aquele momento, pelo menos não com aquela proximidade – Estamos considerando ações apenas no Triskelion, mas duvido que todos os agentes da HYDRA estejam reunidos no prédio, eles devem estar escondidos em todos os lugares possíveis.
- Seja objetiva, Stark – repreendeu Fury, sem paciência para os rodeios da morena – E espero que não esteja planejando apontar um problema sem ter uma solução em mente.
- No momento que tentarmos derrubar o Insight, a HYDRA vai se revelar, mas não vai ser só aqui. Vai ser em todos os lugares – concluiu ela, não muito surpresa em ver o Diretor revirar os olhos. sabia muito bem aquilo era bem mais do que eles podiam cobrir, mas não podiam simplesmente ignorar a existência do resto da agência.
- É humanamente impossível conseguirmos dar assistência em todas as bases, .
- Mas podemos tentar organizar uma resposta ofensiva – James se pronunciou – Acho que esse é o ponto que Stark quer chegar. Podemos tentar dar uma vantagem de tempo para quem está do nosso lado, até ter certo controle do que está acontecendo em outras bases.
- Acha que consegue reestabelecer conexão com todas as bases, Stark? – perguntou Fury, e a morena gelou. Hackear a S.H.I.E.L.D. não era a tarefa mais fácil do mundo e, além disso, não fazia ideia de como se comportavam os códigos da HYDRA – Coordenar uma operação desse tamanho estando nesse buraco? Você não vai sair daqui. Está fora dessa.
- Consigo – respondeu ela, soando bem mais confiante do que realmente estava. Sentia que estava pegando muito mais responsabilidade do que podia lidar, mas não tinha muitas opções. Ela era a única ali qualificada para a tarefa, teria ser o suficiente.
- Eu fico para trás com ela – avisou James, atraindo seu olhar curioso – Sei que você gosta de um desafio, mas isso não é trabalho para apenas um.
- É trabalho para uma equipe imensa, na verdade – corrigiu ela – Se você for ficar, vai ter que aceitar que eu vou gritar muito contigo, às vezes sem motivo.
- Sempre duvidei da sua sanidade mesmo.

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Steve já saia para buscar seu antigo uniforme quando viu por cima do ombro de Sam, uns bons metros os separando, no começo da ponte. Sua expressão era cansada, talvez não só pelos ferimentos recentes, mas também pela necessidade de se locomover com muletas, já que era inviável apoiar seu pé direito no chão. Sam estranhara a mudança da postura do soldado: toda a determinação que o loiro transmitia sumiu assim que seus olhos travaram em algo as suas costas, seus ombros relaxando enquanto deixava o ar fugir de seus pulmões. Intrigado com a mudança repentina, o moreno se virou, encontrando sem dificuldades a explicação que procurava.
Sam sequer tentara esconder o sorriso.
- Sei que estamos todos ocupados, mas... – suspirou , diminuindo a distância entre eles com passos ágeis para alguém lesionada – Podemos conversar por um minuto?
- Sozinhos, acredito – acrescentou Sam, já se afastando – Te vejo lá dentro, Party Hard.
revirou os olhos, mas sorriu para o moreno quando ele passou por ela.
- Estou começando a achar que essa ousadia é característica obrigatória de qualquer “Sam”... – brincou ela, alto o suficiente para que o homem escutasse – Tenho medo do que pode acontecer se juntar a minha Sam e o seu Sam em uma sala.
Steve não deu atenção à brincadeira da morena. Sabia muito bem o porquê de ela estar ali e não estava nem um pouco a fim de ter aquela conversa.
- Se vai fazer o discurso de “ele não é mais o seu amigo”, Sam já fez, então não precisa se dar ao trabalho – já adiantou Steve, se virando para o horizonte. apenas balançou a cabeça em descrença, mordendo o lábio antes de parar ao seu lado. Imitando o soldado, ela também se virou para a paisagem, deixando seu par de muletas apoiado na grade de proteção, se debruçando sobre a mesma em seguida.
- Te conheço há tempo o suficiente para saber que não iria mudar em nada tentar te provar ao contrário – confessou ela, embora sua vida ficaria consideravelmente mais fácil se o loiro não fosse tão teimoso – E também não seria você se eu conseguisse te fazer mudar de ideia.
- Você deveria estar repousando, – lembrou Steve, arriscando um rápido olhar para a morena, que parecia interessada nas árvores que cercavam a ponte – As próximas horas também não vão ser fáceis para você. Deveria estar se preparando.
- Eu deveria é estar indo para essa luta contigo, só que mais uma vez eu fui tirada do jogo antes dele realmente começar – resmungou a mulher, até erguendo a mão para golpear as muletas ao seu lado, mas desistiu. Não mudaria nada, só ficaria mais frustrada por ainda ter que agachar para recolhê-las. A única diferença entre aquele cenário e 2012, era que ela seria capaz de mostrar alguma utilidade invés de ficar em um canto chorando – Mas eu não vim aqui para reclamar desse Universo que me odeia...
Steve se virou para ela, curioso. estava estranha, mais receosa e inquieta do que ele jamais vira até o momento. O recente ataque que sofrera ainda influenciava suas ações, mas ele podia afirmar com certeza que era algo além disso. Algo a perturbava e o soldado não conseguia dizer exatamente qual dos problemas atuais era, ou se eram outros que ele desconhecia.
- Sei muito bem o quanto Bucky significa para você, Stevie – começou e ele bufou, cansado de todos insistirem naquele assunto, mas isso não a fez parar, pelo contrário. Quando ele ameaçou se afastar, a mulher o puxou pelo braço com uma mão, levando outra à gola de sua jaqueta e a segurando com empenho. Ela havia passado os últimos vinte minutos se torturando para planejar o que ia dizer. E ele iria ouvir – Sei que você vai fazer o possível e o impossível para trazê-lo de volta, e você não faz ideia de como está me matando não poder ir contigo, porque sei quão inconsequente você vai ficar quando o enfrentar.
- ... – começou Steve, mas não conseguiu palavras para continuar, principalmente porque estava certa. Ele tinha completa ciência que aquela missão estava basicamente em suas costas, mas era Bucky seu principal objetivo. Nada mais importava para o soldado e a mulher sabia, por isso não queria contrariá-lo. Existia uma enorme possibilidade de nunca mais o ver depois daquele momento, definitivamente ela não queria que aquilo se transformasse em uma discussão. sabia o quanto o homem precisaria de suporte durante a operação e ela não estaria lá.
- Não acontece muito, Steve, mas esse era para ser um dos momentos na vida em que eu sou a pessoa menos ligada emocionalmente ao problema, e a responsabilidade de sair todo mundo inteiro tinha que ser minha – sua voz falhara no final e teve que respirar fundo para ter condições de continuar. Não era apenas o seu estado físico que estava com problemas: o mental também passava por um momento difícil. S.H.I.E.L.D. comprometida, a problemática do Soldado Invernal, HYDRA sendo uma ameaça talvez maior do que nunca, Steve. Tudo isso parecia brigar dentro de sua mente para decidir quem lhe causava mais angústia. Porém no fundo ela sabia quem era o vencedor, e nunca fora tão difícil encarar aqueles olhos azuis – Por isso quero que você minta para mim e prometa que vai voltar vivo. Deixando bem claro que eu nem disse “voltar inteiro”. Só volte vivo e tudo fica bem, entendeu?
não o olhava nos olhos. Seu olhar estava baixo, focado em sua própria mão que segurava o tecido da jaqueta do soldado com mais força que o necessário enquanto a outra apertava sua manga na altura do antebraço, embora não estivesse o puxando. Estava apenas tentando aliviar a tensão que sentia. Steve não precisava ver seu rosto para ver a preocupação que dominava a morena. Suas mãos cobriram a fria de , que aos poucos afrouxou seu aperto. Com o toque, ela arriscou olhar para o soldado, quase se arrependendo por encontrar nele a mesma incerteza e medo que a dominavam no momento.
Mesmo quando no período que se tornara um ponto cego, era extremamente fácil ler Steve. Talvez não conseguisse prever suas ações, mas podia ao menos classificar os sentimentos que o dominavam no momento. Ali, Steve era praticamente um reflexo seu: a mesma angústia, a mesma preocupação, o mesmo medo, as mesmas incertezas. Há poucos dias Steve estava se perguntando se queria continuar daquela profissão, se seria capaz de ter uma vida normal como apenas um civil, encontrar alguém especial e construir algo juntos, e ali estava ele, mais uma vez tão incapacitado de conquistar o que desejava, com a garota dos seus sonhos a sua frente e ao mesmo tempo inalcançável.
Com determinação, embora ainda inseguro, sua mão abandonou a da morena para seguir em direção a seu rosto, alisando um dos ferimentos na pele pálida antes de parar seus dedos em sua nuca, inclinando seu rosto em direção ao dela. O primeiro toque de seus lábios pareceu mais um fruto de sua imaginação, tanto pela leveza como pelo curto tempo que durou. Ele queira beijá-la, mas o receio de piorar ainda mais seus ferimentos o impedia. Aquele singelo roçar de lábios nem chegava perto do que sua mente queria, e mesmo de olhos fechados podia ver o conflito interno por qual o homem passava. Por isso ela decidiu tornar sua vida mais fácil.
Suas mãos finalmente abandonaram o tecido da jaqueta do soldado em um movimento perfeitamente sincronizado: enquanto uma seguiu para o rosto frio do homem, a outra o puxou pela cintura, eliminando de vez a distância que separava seus lábios, que logo começaram a se mover em sincronia. Quando finalmente entendera o recado da mulher, Steve passou um braço por suas costas, em um toque tão delicado e cauteloso que quase não parecia existir, finalmente aprofundando o beijo. Era uma quantidade de sentimentos misturados que sequer precisou ignorar o incômodo que suas costelas estavam lhe causando: as dores, problemas antigos e os futuros... Todos ficaram em segundo plano, esquecidos. Nunca antes tinha percebido que ansiava por aquele momento e parecia errado permitir que ele acabasse, principalmente porque só existiriam incertezas assim que se separassem.
Ao se separarem, era o soldado que a mantinha em pé, observando os menores detalhes de seu rosto enquanto ela não abria os olhos. manteve sua testa apoiada na dele, deixando que sua respiração se normalizasse sem nenhuma interferência.
- Viu? Pessoa menos ligada emocionalmente à situação – sussurrou ela, arriscando um sorriso brincalhão que acabou parecendo mais com uma careta. Seus olhos permaneciam fechados, mas a respiração mais forte de Steve batendo em seu rosto lhe indicava que ria de leve – Você devia parar de beijar pessoas antes de sair para situações onde existe a possibilidade de você não voltar. Isso é bem cruel.
- Prometo que vou tentar não ser congelado novamente – brincou ele, não querendo partir com um clima tão tenso. apenas apoiou a testa no ombro do homem, aceitando o abraço leve que ele lhe dava.
- Acho que é a primeira vez que não acho graça nesse tipo de piada – murmurou ela contra a pele exposta de seu pescoço, vendo os pelos daquela região se arrepiarem. Steve levou uma mão até seus cabelos, afundando seus dedos no emaranhado de fios que não viam uma escova há mais de um dia, perdido em seus próprios questionamentos. Havia tanta coisa que queria dizer, só que aquele não era o momento. Seria crueldade não apenas com ele, mas principalmente com . Quando a ação começasse, talvez até conseguisse esquecer por alguns breves momentos tudo o que perturbava seus pensamentos, mas a morena não teria esse luxo. Precisava do máximo de concentração que pudesse reunir, e ele estaria praticamente a sabotando se fizesse uma escolha de palavras erradas.
- Quer que eu te acompanhe até lá dentro? – perguntou o soldado por fim, depois de suspirar alto – Você visivelmente não está confortável com essas muletas.
- Se fosse apenas por questão de conforto, eu não estaria as usando, pode ter certeza... – respondeu a morena, com um vestígio de riso em sua voz. Relutante, ela posicionou as mãos no peito de Steve, o empurrando levemente para se separarem por fim – Você ainda precisa arrumar o uniforme, não temos tanto tempo assim. Não se preocupe comigo. Acho que Sam está parado atrás da parede ali no fundo para me fazer companhia, não é, Sam?
O final da frase dissera propositalmente mais alto, como deixa para que o moreno se apresentasse. Sam saiu de trás da parede com a expressão mais confusa que vira na vida, tanto pela mulher saber o que ele planejava como por saber de sua presença.
- Tem algumas coisas bem importantes que você não sabe sobre mim ainda, Wilson – suspirou a morena, antes que o homem pudesse formular a perguntar – Mas podemos resumir brevemente com “eu tenho ciência de tudo que acontece a minha volta”.
- Em um raio pequeno ou grande? – perguntou Sam, cruzando os braços e com o cenho franzido.
- Em um raio bem grande.
mostrou um sorriso animado para o homem, mas sentiu que até ele via que era falso. Sua mente estava perturbada demais para tentar realizar demonstrações verdadeiras. Afinal, Steve não tinha feito a promessa que ela pedira e não tocaria mais no assunto. Se repetisse o pedido, ele prometeria apenas por obrigação e isso parecia errado. Steve era incapaz de mentir, ainda mais para ela.
- Vá se preparar – disse Steve, beijando sua testa antes de se afastar definitivamente – Precisam de você lá dentro.
não queria, tinha noção de que era uma péssima ideia, mas o assistira caminhar para longe. Aquela maldita cena atormentaria sua mente pelas próximas horas, mas seus olhos simplesmente se recusaram a abandonar sua figura, se voltando para o chão apenas quando ele sumiu de seu campo de visão.
- Você sabe que eu não estava espionando, não é? – esclareceu Sam, parando ao seu lado, ainda constrangido por ter sido descoberto. Pega de surpresa, ela apenas riu enquanto confirmava – Pode me contar quais são suas habilidades especiais ou vai continuar assim: cada momento, uma surpresa?
- Acha que é fácil assim? Chega em cima da hora e quer sentar na janelinha? – brincou a mulher, aceitando as muletas que ele a entregara – Você vai descobrir como todo mundo, Wilson: na prática. Qual seria a graça em te contar tudo de uma vez?
- Ah, então sou sua diversão dia?
- Pois é... Deve ser seu dia de sorte, não acha?
- Realmente espero que seja.

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James e estavam do mesmo lado da mesa, assim tornando mais fácil a tarefa de um olhar a tela do outro, caso fosse necessário, ou até mesmo trocar de máquinas em uma situação extrema. O som de seus dedos freneticamente apertando teclas parecia inundar toda a base improvisada agora quase deserta, já que a maior parte da equipe havia saído para a operação. Assim que retornara com uma réplica fiel de seu primeiro uniforme sério como Capitão América – se ele usasse a fantasia dos filmes provavelmente todos os inimigos se jogariam no chão de rir e a operação iria ficar fácil demais –, a equipe se dividiu: Natasha tomaria o lugar de uma das conselheiras que estava a caminho do prédio para o lançamento do Projeto Insight; Fury entraria de helicóptero no prédio apenas para habilitar a publicação dos arquivos tanto da S.H.I.E.L.D. como da HYDRA, já que a ação requisitava dois membros Alfa; e Hill, Sam e Steve invadiriam o prédio da forma mais discreta o possível. O último grupo já estava no Triskelion, e isso apenas causava mais pressão para dupla que ficara para trás, já que hackear a comunicação de outras bases não estava sendo uma atividade tão animada como pensavam.
- Mas que droga! – praguejou James, socando a mesa em frustração – O código deles continua mudando! Não consigo estabelecer conexão.
- Pare de reclamar e trabalhe, William – suspirou , prendendo os cabelos no alto da cabeça para que não atrapalhasse mais – O que você não conseguir, passe para mim. Se eu não conseguir, aí a gente reclama.
- Seu otimismo me comove.
- Está bem longe de ser otimismo – retrucou ela – Nunca vi um firewall tão f...
- Stark, estamos prontos aqui – anunciou Hill – Já te mandei a linha que vamos usar. Conecte com as outras bases.
- Mas q...! Não estamos nem perto de recuperar comunicação com metade das bases... – resmungou ela, desistindo da base de Toronto para fazer o que Hill pedira – Certo, estamos prontos para o discurso, Capitão.
- Atenção todos os agentes da S.H.I.E.L.D., aqui é Steve Rogers ¬– começou ele, e, assim como , James acabou deixando seu teclado de lado quando a voz do soldado ecoou em seu ouvido – Vocês ouviram muito de mim nos últimos dias. Alguns de vocês receberam ordens para me perseguir. Mas chegou a hora de saberem a verdade... S.H.I.E.L.D. não é o que pensamos que ser. Ela foi tomada pela HYDRA. Alexander Pierce é o líder. S.T.R.I.K.E. e o Insight também são da HYDRA.
Mesmo ciente da situação, um arrepio frio percorreu seu corpo, e não ficou muito surpresa ao ouvir James respirando fundo. Não importava quantas vezes ouvisse aquilo, no fundo eles esperavam que alguém desmentisse. Não só para não terem que derrubar a agência a qual juraram lealdade, mas por todos os problemas que isso iria causar. Mesmo sendo otimistas, todas as bases da S.H.I.E.L.D. estavam prestes a se transformarem em zona de guerra.
- Não sei quantos eles são, sei que estão no prédio. Podem estar ao seu lado. Quase têm o que querem: controle absoluto. Atiraram em Nick Fury, e não vão parar por aí. Se lançarem essa expedição hoje, HYDRA será capaz de matar qualquer um que esteja em seu caminho, a menos que vocês o detenham... Sei que estou pedindo muito, mas o preço da liberdade é alto, sempre foi. E é um preço que eu estou disposto a pagar. Se eu for o único, então que assim seja. Mas eu sou posso apostar que eu não sou.
Em seguida a dupla ainda ouviu alguma piada de Sam, que tentara aliviar o clima tenso, mas James e continuaram estáticos, em silêncio. Quando se virara para o homem, ele já a olhava.
- Pronta? – perguntou James. Sua postura havia mudado: nada de ombros encolhidos ou mãos tremendo. O discurso havia causado exatamente o que pretendia: motivar.
- Pronta – e assim eles voltaram suas atenções para suas respectivas máquinas, digitando com mais empenho do que antes – A cada base que recuperarmos, rode o discurso do Capitão. Ou fala um breve resumo do que está acont... Merda.
James sequer precisou perguntar o que acontecera. Por terem hackeado a comunicação de algumas bases, também tinham acesso ao que passava pelas linhas. Em todas elas se repetia a mensagem “Hail HYDRA” sem parar. Era o aviso para os inimigos de que chegara a hora de sair das sombras, de se desvincularem da S.H.I.E.L.D. e revelarem finalmente a quem pertencia sua lealdade. A guerra estava começando e não teria poucos estragos.
Enquanto a equipe no Triskelion começava a operação para derrubar os helicarriers que acabaram sendo lançados, a dupla continuava a recuperar a comunicação com as bases, passando instruções e se mantendo atualizada sobre o que acontecia em geral. Era uma sensação tão ruim estar afastada daquele jeito que não sabia dizer como agente de cargos mais importantes como Fury e Hill conseguiam passar anos coordenando aquele tipo de operação sem se deixarem abalar pela distância. Não era simples dar uma ordem sem presenciar o que acontecia, o ponto de vista real e presente da situação era um fator importante que influenciava uma decisão. Era complicado tanto para quem dava a ordem como para quem a acataria. Era necessário um tipo de frieza que ela tinha.
- Charlie impedido – avisou a voz exausta de Steve, e teve que ignorar sua vontade de perguntar se ele estava bem e continuar sua parte da operação.
- Capitão, saia daí – pediu Hill, e a demora na resposta do soldado fez com que entendesse seus planos, mesmo não querendo. Barnes estava no helicarrier. Ele não o deixaria sozinho.
- Disparar agora.
empurrou sua cadeira, levando ambas as mãos à boca e abaixando a cabeça.
- Mas, Steve...
- Disparar agora!

- Hill! – repreendeu-a , com os olhos fechados com mais força do que o necessário – Disparar agora! Quer que eu desenhe?
James ali se via tendo que coordenar o resto operação sozinho, já que a outra integrante da dupla estava abalada demais para prosseguir, e ele sequer conseguia julgá-la. Em qualquer outro cenário, nunca seria colocada de volta na ação depois de ter sofrido um atentado quase bem-sucedido, estando assim fragilizada física e mentalmente. Fury estava exigindo demais da mulher e todos tinham ciência disso, esperando o momento em que ela não fosse mais suportar. Só que, para sua surpresa, logo arrumou sua postura, aproximou sua cadeira da mesa novamente e voltou a trabalhar na invasão do sistema de outra base.
A linha compartilhada com a equipe no Triskelion permanecia em silêncio e foi necessária uma força de vontade sobre-humana para que continuasse a quebrar os códigos confusos da HYDRA. Sua mente viajava sem seu consentimento para a última conversa com o soldado, onde ele não prometera voltar, onde ele se recusara a mentir. Ela recuperava a conexão de base atrás de base, explicava a situação sem parar de quebrar os códigos, até que a confirmação da primeira parte da operação no Triskelion chegou aos seus ouvidos.
O Projeto Insight havia caído.
- Alguém está com Rogers? – perguntou ela, sem mais conseguir se conter - Alguém pelo menos está vendo-o?
- O hellicarrier caiu na água, – disse Fury – Rogers não saiu.
James assistiu a morena levantar de sua cadeira, tirando seu comunicador do ouvido e o atirando contra a parede.
- Organize equipes para lidar com os agentes da HIDRA que ainda estão no prédio. Precisamos de pessoas para lidar com os feridos também, aquilo se tornou um inferno na terra. Assistência médica precisa chegar lá o mais rápido possível. – ordenou ela, com ambas as mãos em seus cabelos, tentando ao máximo manter o mínimo de controle – E preste atenção na comunicação com as outras bases. Quero saber o que está acontecendo com os outros em tempo real. Somos o centro de informações, entendeu?
- Eles estão perguntando se você está bem – comentou James, incerto se devia ou não passar aquela pergunta para ela naquele momento.
Bufando, a mulher se agachou com dificuldade para pegar o aparelho e o enfiou no ouvido novamente sem muita delicadeza.
- Eu preciso ir ao banheiro, então a não ser que vocês queiram me ouvir fazendo xixi, eu estou tirando meu comunicador. E eu já deixei instruções para o James para esses cinco minutos que vou ficar fora. Não é exatamente como se eu tivesse deixando a criança no comando.
- Ei! – resmungou ele, mais para distrair sua colega do que por estar ofendido.
marchou até o banheiro mais próximo sem o auxílio de muletas, apoiando as costas na porta que fechara com cuidado, sem fazer qualquer ruído que acusasse seu descontrole. A dor que sentia de seu tornozelo fraturado estava lhe sendo muito útil, quase como que a trazendo de volta para a realidade, sem permitir que viajasse muito em pensamentos. Respirara fundo duas ou três vezes antes de se desencostar da porta e rumar para a pia, molhando rosto com a água gelada na esperança de se acalmar, mas não adiantou. Ele não havia prometido. Não havia nenhuma falsa esperança em que pudesse se agarrar.
- Você não tem o direito de se abalar... Agora é tudo contigo. Sem mais oportunidades para erros, sem segundas chances – murmurava ela, se sentindo patética por estar falando sozinha, mas precisava daquilo. Seu reflexo não transmitia muita firmeza, mas era tudo o que tinha. Precisava que alguém a colocasse de volta nos trilhos e ela era a única capaz – Deixar alguém se arrepender por ter acreditado em você apenas não é uma opção.

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- Aqui é a Agente Stark. Se vocês estão me escutando, é porque consegui reestabelecer uma comunicação segura com sua base – suspirou ela, sem saber exatamente o que dizer. Havia voltado para seu posto ao lado de James e precisavam transmitir uma espécie de boletim para todos. Por ser de rank mais alto, a tarefa acabara sobrando para ela – Usem essa linha para informar suas condições atuais. O Projeto Insight foi derrubado, mas isso apenas significa que temos uma base a menos para recuperar. A HIDRA está bem mais organizada que nós e não podemos permitir que continue assim. Se organizem, derrubem qualquer inimigo que virem, e esperem por instruções.
Assim que terminou a mensagem, se virou para o colega, pronta para perguntar quantas bases ainda faltavam quando alguém entrou na linha.
- Manchester está limpa, agente Stark – uma voz conhecida ecoou pela sala, e não conseguiu se conter, deixando sua testa bater na mesa enquanto resmungava alguns palavrões, aliviada.
- Bom trabalho, agente Barton – murmurou ela, respirando fundo algumas vezes para voltar ao tom de voz profissional. Ela estava falando com o agente Barton, não com Clint, tinha um protocolo a seguir – Quero saber em quantos vocês estão, poder de fogo e condições da base. Estou com dificuldades de conectar com as bases de Londres e Glasgow, acho que a situação não está favorável por lá.
- Quer que eu mande equipes para lá?
¬- Veja quem você tem aí que trabalhava com comunicações e tente estabelecer conexões com as bases primeiro – ordenou ela, depois de um bom tempo mordendo o lábio. As decisões difíceis continuavam a surgir cada vez com mais frequência – Não podemos arriscar pessoal em lugares que sequer sabemos se foram tomados ou não. Se tiver uma frente resistindo, você decide se mande alguém ou não.
- Entendido – respondeu Clint – Ei, Stark?
¬- Sim, Barton?
- Não me envie mais aquele tipo de mensagem se você não tiver morrido de verdade.
- Vou tentar – respondeu ela rindo – Desculpe não ter avisado antes, mas eu também estava fora do ar. Te conto tudo mais tarde, certo?

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- Conseguiu recuperar a comunicação com NY? – perguntou James. Aquela era a última base que faltava no país e nenhum dos dois estava conseguindo passar pelo firewall.
- Estava querendo evitar essa opção, mas acho que não tenho escolha – suspirou ela, abrindo uma janela separada e digitando uma sequência de comandos que ele não conseguia acompanhar – Pai?
- Eu vou tão te trancar nessa Torre, ! – resmungou Tony em resposta, lhe arrancando um sorriso – Eu tive uma parada cardíaca, sabia? E ainda tive que esconder da Pepper porque eu não fazia ideia do que tinha acontecido com você!
- Quer comparar com quantas você quase me causou? – retrucou ela, em seguida se lembrando que o motivo da ligação não era aquele – Meio que vou precisar da ajuda do Homem de Ferro agora.
- Aproveite que hoje acho que posso fazer qualquer coisa que você pedir... Fazer eu pensar que você tinha morrido parece que me faz ter dificuldades em te negar algo.
- Dê assistência na base da S.H.I.E.L.D. de NY. Aumente a segurança da Torre, e veja no que consegue ajudar por aí. HYDRA est...
- Eu já estou no traje. Eu já estou organizando a casa. E você está me distraindo.
- Consegue quebrar o código da HYDRA dessa base? – pediu ela, rindo – Eu cometi um deslize em algum lugar que eu não sei e não consegui comunicação com eles. Eu não consigo passar ordens assim e acho que você não vai querer servir de pombo-correio. Sua proximidade deve pode tornar o processo mais fácil, além de ter o J.A.R.V.I.S. ou a Sexta-Feira, sei lá.
“CONEXÃO ESTABELECIDA”
- Obrigada, pai.
- “Obrigada, pai”... Isso só entrou na sua lista.

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- Equipe médica chegou.
- Status do local – pediu ela, se esticando para checar a tela de James, que saíra para ir ao banheiro.
- Tirando a destruição em massa, parece que conseguimos¬ – contou Fury – Triskelion seguro.
- Quero uma equipe de busca para auxiliar os bombeiros nos destroços do prédio. E outra nas margens do rio – acrescentou ela, se questionando se deveria dar mais explicações mesmo com todos cientes do motivo de pedir buscas mais afastadas do prédio – Se alguém nos helicarriers sobreviveu à queda, as margens é o único lugar que pode ter alguém vivo.
- Entendido.
- Sentiu minha falta? – brincou James quando voltou, recebendo um sorriso forçado da mulher – Como é bom ser querido, não é?
- Para de enrolar e volta para o trabalho – resmungou ela, voltando sua atenção para sua tela – Triskelion foi recuperado, mas falta o resto do mundo.
- As bases da Europa? – perguntou James, com a seriedade voltando a seu rosto. Muitas bases não estavam respondendo os pedidos de reporte – Esse silêncio não é nada bom.
- Santiago, Granada, Barcelona, Berlim, Monique e todas do leste europeu não estão respondendo – listou , dando uma rápida olhada no mapa antes de continuar – Manchester e Roma são as únicas limpas até agora. O restante ainda está em disputa.
James deixou que suas costas colidissem com o encosto da cadeira, afundando na mesma enquanto passava as mãos pelos cabelos. A situação poderia estar bem pior, mas do mesmo jeito aquilo não era nada bom.
- E o restante das Américas? Ásia? África?
chegou a abrir a boca para terminar de explicar a situação para o homem, mas um chamado pelo comunicador a vez esquecer de tudo.
- Achamos o Cap. Rogers, agente Stark – avisou um dos agentes da equipe de buscas, Martin. Como se tivesse combinado, James e seguraram a respiração ao mesmo tempo, à espera de uma confirmação que não veio.
¬- Ele e-está...? – arriscou ela, parando ao sentir sua garganta apertar.
- Vivo, Stark – contou o homem, com um vestígio de riso na voz que denunciava seu alívio – Não faço ideia de como conseguiu sair da água no estado que está. Vamos levá-lo para o hospital.
“Não faço ideia de como conseguiu sair da água no estado que ele está”.
Isso só podia significar que...
- Ele está sozinho? – perguntou ela, sequer dando tempo do agente responder antes de continuar – Olhe direito, Martin. Isso é muito mais importante do que parece: Rogers saiu da água sozinho ou foi tirado?
- S-stark... Ele foi arrastado para fora d’água
– ofegou o homem – Há pegadas de alguém saindo da água...
- Ele conseguiu? – murmurou a mulher, pensando em voz alta. Apenas Barnes deveria estar lá em cima com ele. Teria o homem decidido no último instante salvar seu antigo amigo? Steve tinha conseguido trazer um pouco do antigo Bucky Barnes de volta?
- Quem conseguiu o que, Stark? – perguntou Martin, já demonstrando na voz seu desespero – Isso é uma armadilha?
¬¬- Não fala merda, cara! Eu não estava falando com você e nada que te diz respeito. Só tire Rogers daí logo e eu lido com o resto – resmungou ela, respirando fundo em seguida e se virando para seu parceiro – James, preciso dos nomes e condição atual dos médicos da S.H.I.E.L.D. que cuidaram do Rogers quando ele foi encontrado no gelo.
- Ele não está congelado, Stark. Para que isso?
- Você acha que os médicos do hospital sabem como cuidar de um super-soldado? Precisamos de uma equipe da S.H.I.E.L.D. lá.
- Trabalhando nisso – resmungou ele.

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- Parece que a situação está se acalmando... – constatou , horas mais tarde, quase deitando em sua cadeira. Graças a rápida recuperação de seu corpo, aos poucos ela ia dependendo menos de suas habilidades. O ruim disso era que o modo anestésico também ia aos poucos se desligando, e agora além de seus ferimentos, dores por posições desconfortáveis também davam o ar da graça – Vamos frisar o “parece”, já que o problema está só começando.
- Quão grande foi o dano? – questionou James, tão fisicamente cansado quanto ela.
- Bom, as informações estão na internet, então nesse quesito não temos perda, só quebra de sigilo.
- Nem um pouco ruim – debochou ele.
- Nem um pouco ruim – repetiu – Agora perda material...
- Sabe nossos armazéns de objetos classificados como perigosos? – começou ele, fingindo uma expressão intrigada, com uma mão no queixo – Por que tenho a sensação que a maior parte deve estar sob o poder da HYDRA?
- Repasse para cada base estável fazer um levantando desses materiais – ordenou a mulher. Definitivamente não queria mais ver tecnologia pelo resto do dia – Algumas coisas não podem ficar nas mãos da HYDRA de jeito nenhum.
- Cetro do Loki?
- Também conhecido como meu pesadelo pessoal – resmungou ela, deslizando mais pela cadeira e parando quando sentiu uma de suas costelas quebradas reclamarem da posição – Esse dia só fica melhor, não é?
- Acho que podemos decretar a operação finalizada, não acha? – suspirou James cansado, empurrando sua cadeira para longe da mesa e se espreguiçando – As coisas já estão bem mais calmas e não tem mais exatamente o que nós podemos fazer daqui. As bases têm que se organizar sozinha.
- Pode fazer as honras – lhe mostrou um sorriso, apontando para as máquinas sobre a mesa. O homem também havia feito um bom trabalho, merecia um pouco de reconhecimento.
James apenas riu antes de fazer o último comunicado para as bases, fazendo um breve resumo do que havia acontecido e suas consequências, com a mulher o corrigindo e até pedindo que acrescentasse informações à mensagem. Enquanto ele organizava os equipamentos, se permitiu fechar os olhos por alguns instantes, surpreendentemente com a mente vazia. Pelo segundo dia seguido ela tinha desrespeitado seus limites e agora parecia que sua mente estava cansada demais até para se preocupar. A morena tinha consciência de tudo que a atormentava, mas naqueles breves momentos de olhos fechados ela não pensou em nada.
- Vamos, vou te levar para o hospital – disse James, cutucando seu braço para trazê-la de volta à realidade.
- Eu já fui atendida aqui, não preciso passar por mais médicos – resmungou ela, embora aquilo passasse longe da verdade. precisava de cuidados médicos descentes, mas apenas queria alguns segundos de paz, sem ninguém perguntando onde doía, como havia conseguido os ferimentos e todo aquele questionário idiota que os hospitais insistiam em manter.
- Não quer ver seu Capitão? – brincou o homem. Só não esperava que aquilo realmente fosse atrair seu interesse – E você precisa ser internada, Stark. Seu estado continua sendo delicado. Nós só te deixamos ajudar porque, vamos ser sinceros, não dá para colocar outra pessoa no seu lugar e esperar os mesmos resultados. Só que o tumulto já passou e você precisa de cuidados.
o encarou por um longo tempo, com uma sobrancelha levemente erguida. Do pouco que convivera com James, não sentira que ele era do tipo de pessoa que distribuía elogios, sequer tinham se dado bem quando se conheceram. Aquela era uma atitude definitivamente não se encaixava com sua personalidade e ele próprio tinha noção disso, já que seu rosto corando em um tom leve de rosa denunciava seu desconforto.
- Nossa, grande coisa – resmungou ele – Eu sei reconhecer a importância das pessoas. O mundo vai acabar.
- Você também atuou muito bem hoje – admitiu, com um sorriso sincero nos lábios – Foi um bom sidekick... Eu não teria conseguido segurar as pontas sem você.
- Olha só! Parece que lutar com a HYDRA nos torna pessoas mais civilizadas – debochou James, ouvindo um discreto “ai” entre as risadas da mulher – Vem, eu te carrego até o carro. Não vou te deixar de castigo com as muletas.
Pelo estado que se encontrava, não se opôs, afinal, sua vontade era incinerar aquelas malditas muletas. Durante o pequeno trajeto, aos poucos sua mente foi voltando para a realidade, acompanhada de todas as incertezas que a mulher queria esquecer. A única que parecia acalmá-la era pensar que logo veria Steve, porém ele também era a fonte da maior parte de sua inquietação. Não fazia ideia do que acontecera durante aquela operação, não sabia o que havia acontecido entre o loiro e o que restava de seu amigo de infância. tinha medo de como aquilo podia afetar Steve, porque ele não pararia até recuperar Barnes. Mas e se ele não tivesse salvação? Embora a fonte de seu poder fosse sua mente, ela não era nenhuma especialista na área, não sabia se lavagem cerebral podia ser revertida, se se comportava ou não como algum tipo de amnésia. Isso somado mais todo o caos da queda da S.H.I.E.L.D. e ameaça da HYDRA era mais que o suficiente para que lhe causasse uma bela dor de cabeça, para se juntar às dores do resto do corpo que começavam a se mostrar mais intensas do que imaginava. Mesmo assim, manteve as habilidades desligadas. Um pouco de dor às vezes podia vir a ser útil, a impedia de ignorar alguns problemas e dúvidas.
Só que bem no fundo, estava com medo das respostas que a esperavam.

Capítulo 26


Assim que James dera partida no carro, perguntara se ele estava com algum aparelho celular, e, sem perguntar o motivo, ele apenas tirara seu aparelho do bolso e entregara à mulher, que passou todo o trajeto até o hospital fazendo algumas pesquisas rápidas. Seu descontentamento era evidente, mas James optou por não questionar. Ouvira tanto a voz da morena naquele dia que um pouco de paz e silêncio era tudo que desejava, ainda mais sabendo que o hospital para onde seguiam deveria estar caótico, já que a maior parte dos feridos do Triskelion seria atendida lá.
também não se opôs ao silêncio, na verdade, até agradeceu por seu companheiro não insistir em manter algum diálogo desnecessário, principalmente porque facilmente iria começar a gritar com ele apenas por ser a única pessoa próxima. Desde o começo, quando decidiram expor as duas agências, sabia que seu nome também seria exposto e que causaria um pequeno alvoroço, mas não esperava que isso começaria tão rápido: diversos sites já comentavam seu envolvimento com a S.H.I.EL.D., expunham detalhes de missões que envolviam problemas políticos internacionais, assim como descrições minuciosas de seus poderes e capacidades, além de longos parágrafos a acusando de ser uma das responsáveis pela Guerra de NY pelo seu envolvimento com a Fase 2. A mídia não largaria de seu pé por no mínimo algumas eternidades.
Para saber se já precisava se preparar mentalmente pelo assédio dos jornalistas, a mulher mudou o foco de sua pesquisa para o hospital, não muito surpresa em descobrir que jornalistas já se encontravam em massa no local, principalmente por ter sido vazada a informação de que o Capitão América estava internado e em estado delicado, e a notável presença de militares de segurança apenas confirmava que ele realmente estava ali. Sem muitas escolhas, abandonou as pesquisas e digitou o número do hospital, informando que estava a caminho e precisaria de uma escolta até o prédio, assim como saber qual entrada era mais adequada. Querendo poupar o trabalho de ter que repassar as informações para James depois, ela colocou a ligação no viva-voz, surpresa ao perceber que a administração do hospital não só já esperava sua chegada, como estava incrivelmente bem organizados.
- Você vai ter que ser a pessoa que repete “ela não vai responder nenhuma pergunta” incansáveis vezes até entrarmos no prédio – avisou ela, quando se aproximavam do hospital - Eu não posso dizer uma palavra ou vou ter mais problemas.
- Você não pode simplesmente escolher as palavras certas? – resmungou ele, cansado. Já tinha avistado um pequeno grupo de militares armados e alguns médicos se aproximando da calçada, com uma quantidade absurda de jornalistas os cercando – Eles não vão embora depois de terem o que querem?
- Acha que eu comecei nessa vida hoje? Eu cresci com esses caras caindo matando em cima de mim. E dessa vez eles têm algo grande nas mãos – ela ergueu o celular – Conhecimento de tudo que eu fiz na S.H.I.E.L.D.
- Você está ferrada.
- Muito ferrada.
Mesmo com os vidros do carro escurecidos com filme, a luminosidade dos incessantes flashes adentrava no veículo, principalmente depois que a porta do passageiro foi aberta por um dos enfermeiros, que lhe entregou um cobertor para que ela pudesse ao menos cobrir o rosto. Enquanto era movida para uma cadeira de rodas, os jornalistas tentavam furar a barreira de qualquer forma, na tentativa de descobrir quem era o paciente importante e qual era seu grau de envolvimento com a S.H.I.E.L.D. Quando finalmente conseguiram identificar a jovem, o alvoroço tomou proporções ainda maiores.
- É Stark ali?! Srtª Stark! ! – em um primeiro momento, a única coisa que ela conseguia identificar era seu nome repetido inúmeras vezes, com diferentes entonações. Outra boa parte gritava de forma desorganizada suas perguntas na esperança de que ela respondesse. cobriu o rosto com mais vontade quando os gritos deixaram de ser sons aleatórios e passou a identificar algum significado, se mostrando perguntas bem genéricas, mas que tinham como objetivo incomodá-la.
- Você realmente faz parte da S.H.I.E.L.D.?
- Seu pai tem conhecimento de suas ações nos últimos anos?
- Os arquivos da S.H.I.E.L.D. citam seu nome várias vezes ligado à espionagem internacional e atos de terrorismo, como isso afeta as Indústrias Stark?
- Como a princesa de um império de tornou uma assassina?
- Você é realmente culpada pela Batalha de NY, dois anos atrás?
- Desde quando você tem poderes?
Depois do que pareceu uma eternidade, o grupo entrou no prédio e as vozes dos jornalistas ficaram distantes, abafadas pelas portas bem guardadas por militares, embora as perguntas continuassem se repetindo em seus ouvidos, deixando-a levemente atordoada. Havia desacostumado a lidar com a mídia daquela maneira, e pelo jeito ela teria que reaprender o mais rápido possível.
- Leve a Srtª Stark para a sala de exam... – ordenou um dos enfermeiros para o que empurrava sua cadeira.
- Não, não... Eu quero ver o Cap. Rogers – cortou-o ela, chegando até a segurar as rodas para deixar clara sua vontade – Estou fora de risco, não precisa pressa.
- Cap. Rogers ainda está em cirurgia, enquanto isso nós v...
- Não tem “enquanto isso”, querido. Eu quero ver o Rogers – insistiu – A sala de cirurgia tem vidro para assistir que eu sei como as coisas funcionam, então...
- – a voz de Natasha ecoou pelo corredor, mas ela só parou porque estava feliz em ver a colega bem, na medida do possível – Só obedece ao médico.
até tentara argumentar, mas acabou sendo levada – e a todo momento expressando sua insatisfação por isso – para realizar uma rápida bateria de exames, que no fundo não foi nada rápida. Foram diversos raio-X para localizar todas suas fraturas e ressonância magnética para diagnosticar possíveis danos cerebrais. Depois disso, ela foi medicada e teve o tornozelo devidamente imobilizado com uma bota ortopédica, que tornava sua locomoção muito mais fácil do que se engessassem a região, e teve os outros ferimentos checados e limpos. Quando todo esse processo foi finalizado, eles já haviam adentrado na madrugada e, mesmo exausta, insistia em ver Steve. Talvez aquela inquietação que sentia finalmente encontrasse um fim assim que seus olhos encontrassem o soldado, como que para realmente aceitar que ele havia sobrevivido.
Como sabiam que ela não desistiria, seus médicos acabaram por liberá-la para visitar o loiro, antes que a morena acabasse fugindo. Natasha se encontrava do lado de fora de seu quarto e se ofereceu para levá-la. A ruiva pensou em alertá-la sobre o estado de Steve, mas desistiu. não lhe daria ouvidos. Ela estava insistindo tanto em ver o soldado exatamente porque não conseguia acreditar nas palavras que lhe eram ditas, ela queria ver com seus próprios olhos.
Assim que abriu a porta do quarto de Steve, Natasha avançou com a cadeira apenas alguns poucos centímetros e parou. demoraria um pouco para aceitar o que via, assim como própria ruiva mais cedo. Ver Steve naquele estado era algo que ninguém estava habituado, e aquela reação era mais do que compreensível. Mesmo com os protestos da ruiva, se levantou da cadeira e deu cada passo em direção à cama com cuidado – não por causa de seu tornozelo, que sequer a incomodava no momento, mas porque a cada passo que dava ficava mais nítida toda a fragilidade de Steve. Todos os cortes e hematomas em seu rosto que, mesmo dormindo, não parecia transmitir serenidade. Toda a angústia permanecia ali.
Se apoiando na beirada da cama, deixou que seus dedos deslizassem pela mão do soldado que estava descoberta, recolhendo sua própria mão ao perceber como seus dedos estavam frios em comparação à mão quente do loiro. Sequer sabia se ele estava dopado ou não, mas não queria correr o risco de perturbá-lo quando era tão nítido que ele precisava de descanso.
- Não preciso te conhecer para saber que você está exausta, – suspirou Natasha ao seu lado, passando um braço por detrás de seu ombro – Você precisa descansar tanto quando ele.
- Quem vai ser o homem que vai acordar, Nat? – perguntou a morena em um sussurro, sem tirar os olhos do rosto adormecido do soldado – Não sabemos o que aconteceu lá em cima. Barnes pode... Ele pode ter recuperado alguma memória importante, ou apenas ter dado ouvidos ao instinto de não querer matar um amigo, mas... Quanto dano ele pode ter causado, Nat? Steve aceitou morrer lá...
- Quero que preste atenção no que eu vou dizer porque é a primeira vez que você vai ouvir isso – pediu Natasha, parando na frente da morena e segurando seu rosto com as duas mãos – Pare de tentar prever o que vai acontecer, só dessa vez. Só vai te fazer mal continuar desse jeito... Não vai adiantar em nada você ter endoidado com as possibilidades quando ele acordar.
Natasha tinha razão, mas não era tão fácil apenas parar porque ela não estava realmente tentando prever acontecimentos – tudo não passava de simples questionamentos, sem nenhum tipo de análise que pudesse lhe dar uma resposta confiável. Sequer tinha informações o suficiente para isso. Suas habilidades podiam ser ligadas e desligadas, mas não seus pensamentos. Com relutância, acabou assentindo, um pouco surpresa ao perceber que a ruiva lhe puxava para um abraço. Natasha não era exatamente a pessoa mais carinhosa do mundo, mas a morena preferiu não comentar nada a respeito. Poucas vezes em sua vida admitira que precisava de algum conforto, e aquela era uma delas.

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Sam apenas percebeu que Steve havia acordado quando o ouviu murmurar aquele tão irritante “a sua esquerda”, contente ao encontrar um sorriso discreto no rosto ainda machucado de seu amigo. Por ainda estar muito debilitado, Steve teve que reduzir o número de perguntas e se apegar às informações que julgava mais importantes.
- Como está ? – perguntou ele, depois de um tempo.
- A sua esquerda – devolveu Sam, rindo de leve. Steve direcionou o olhar para o outro lado, encontrando com facilidade o corpo inconsciente de em outra poltrona para visitas, em uma posição que não parecia muito confortável graças a bota que ela usava pelo tornozelo – Teoricamente ela ainda está internada, mas não há o que a faça ficar no quarto dela. Ela sempre escapa para o seu.
- Pelo menos ela está dormindo um pouco - suspirou Steve, sem tirar seus olhos do rosto sereno da mulher - Não é fácil fazê-la dormir nesses momentos caóticos.
- Ela foi sedada – contou Sam – Os médicos começaram a ficar preocupados quando souberam que ela estava a mais de um dia acordada.
- Sedativos, hm... - suspirou o loiro, sorrindo de lado – Bom dia, .
Ainda de olhos fechados, a mulher riu de leve.
- Para minha defesa, eu tirei um bom cochilo quase agora... – respondeu bocejando – Oi, Sam.
- Sedativos não funcionam no organismo dela - explicou o soldado, vendo a confusão no rosto do amigo – Se ela "dormir" depois de um sedativo pode ter certeza que ela está fingindo para pararem de atormentá-la.
- Ela não falou disso no resumo... Me sinto ludibriado – reclamou Sam.
- Adoro quando falam como se eu não tivesse presente – resmungou ela, se alongando e parando quando um estalo ecoou pelo quarto – Ai.
- Vou avisar os médicos que você acordou e deixar vocês conversarem pouco – avisou Sam, deixando o quarto.
voltou a se encolher a poltrona, abraçando seus joelhos enquanto devolvia o olhar concentrado que Steve lhe lançava. Ela havia passado o último dia inteiro no canto do quarto repassando mentalmente possíveis diálogos para quando ele acordasse, mas sua mente mais uma vez estava vazia. Estavam se encarando por uma eternidade, mas nenhum dos dois se importava. O silêncio era confortável. Nos últimos dias por duas vezes houve a possiblidade de não poderem mais ter o olhar de um travado no outro, aquele breve momento de calma fora muito bem-vindo.
- Como está sua perna? – perguntou Steve em um sussurro.
- Me irritando – suspirou ela, apoiando o queixo nos joelhos antes de rir de leve – Não quero ter que ler toda a sua lista de ferimentos novamente, então vou apenas perguntas como você está.
- Eu cumpri minha promessa – desconversou Steve e ela riu, descrente. O soldado estava ali, praticamente todo quebrado física e mentalmente, mas não iria admitir. Ele tentava manter a imagem que todos tinham de si, mas se esquecera na companhia de quem estava. Era humanamente impossível enganá-la.
- Você não prometeu – corrigiu , um pouco surpresa por perceber que sua voz começava a ficar embargada – Mas você fez questão de não voltar inteiro.
- Sequer sei como que eu voltei - confessou o loiro, e usou seus poderes para se controlar. Estava tudo nos olhos de Steve, toda a dor que tentava esconder e que agora não estava disposta a permanecer quieta. nunca havia visto o soldado tão quebrado. Com cuidado, ela se levantou da poltrona, se arrastando com paciência até a beirada da cama e se sentando na beirada do colchão, tomando as mãos do homem nas suas sob seu olhar atento.
- O que importa é que você está bem. Não vai mudar nada ficarmos nos preocupando com isso agora – sussurrou a morena, com o polegar acariciando o dorso de sua mão – Quando você receber alta nós damos jeito em tudo, certo?
Steve sorriu para as mãos quentes da morena, que estudava com cuidado seu rosto machucado. Uma visível inversão de papéis havia acontecido entre os dois: não era ela que dependia de seu suporte, agora era sua vez. também não estava no melhor de seus momentos, mas o soldado via que a mulher estava ciente de que ele precisava dela, utilizando de suas trapaças para esconder algo que talvez fosse melhor ele não saber.
- Vou deixar você descansar – anunciou , descendo da cama – Qualquer coisa eu estou na poltrona do lado.
- Não... Fica aqui – pediu Steve, segurando sua mão quando a mulher tentou se afastar – Por favor.
Antes que pudesse dizer alguma coisa, eles já não estavam mais sozinhos no quarto.
- Que ótima notícia para começar o dia! – festejou um médico, com Sam em seu encalço – Sou Dr. Joseph. É muito bom vê-lo acordado, Cap. Rogers.
Joseph iniciou então a habitual conversa médico-paciente, com algumas intromissões de e Sam, que ocupavam cada um a sua poltrona. Depois de checar tudo o que podia, Joseph voltou sua atenção para a ficha de Steve, só então dando atenção para os acompanhantes.
- Daqui parece que seus ferimentos estão muito bons, Wilson.
- Acha que é tão fácil marcar esse rosto lindo, Doutor?
- E seus pontos, Stark? – perguntou Joseph rindo, desistindo de manter a conversa com o moreno.
- Vão remover hoje mais tarde.
- E seu tornozelo?
- Pedi que removessem junto com os pontos, mas ninguém está me levando a sério – suspirou ela, revirando os olhos quando o médico começou a rir – Não falei?
- Posso dizer que você está muito bem acompanhado, Capitão – disse Joseph ao soldado, devolvendo a prancheta à cama – E que logo receberá alta. Está se recuperando bem e rápido. Só precisa de mais alguns dias em observação, apenas por precaução.
- Srtª Stark? – chamou-a um homem que aparecera a porta, trajando o uniforme de polícia da cidade – Você precisa nos acompanhar.
- Desculpe, querido, mas não é tão fácil assim me chamar para sair... – brincou a morena, embora estivesse séria. No fundo ela já sabia do que se tratava e não era pouco problema – Você vai precisar de um mandato, no mínimo.
O policial sorriu maldoso, tirando o mandato do bolso.
- O Congresso te convocou para depor e você não apareceu, Stark – explicou o homem – Estamos apenas seguindo o protocolo.
- A Srtª Stark está em processo de recuperação, não pode deixar o hospital – se intrometeu Joseph, sem mais o vestígio de riso na voz – Pensei que tinha deixado isso bem claro quando trouxeram a intimação.
- Nesse meio tempo ela recebeu alta, não há o que a impeça de comparecer à audiência.
- Stark é minha paciente e eu não autorizei alta nenhuma.
- Você não pode passar por cima de uma decisão da justiça.
- Posso porque vocês não vão se responsabilizar caso o estado dela piore – retrucou o médico – Agora gostaria que deixasse o quarto. Está perturbando meus pacientes e me impedindo de fazer meu trabalho.
O policial olhou do médico para a morena que ele devia escoltar para a delegacia e suspirou alto. Causaria ainda mais confusão se tentasse leva-la a força, mesmo com o mandato, e suas ordens eram para ser o mais discreto possível, já que a imprensa estava se matando para conseguir algo digno de manchete. Se o nome da jovem Stark se envolvesse em mais um escândalo por causa de suas ações, provavelmente sua vida se tornaria um verdadeiro inferno.
Sem muitas escolhas, ele apenas deixou o quarto.
- Eu estaria em sérios problemas se socasse uma paciente, então, Wilson, pode fazer isso por mim? – resmungou Joseph, se virando para a morena de olhos arregalados em seguida – Você não disse que ia chamar seus advogados dois dias atrás?!
- E-eu esqueci! – se explicou ela, puxando um celular novo do bolso antes de se levantar da poltrona para retornar ao seu quarto. Teria que pedir que Pepper colocasse alguns advogados das empresas no caso e com certeza não seria uma conversa calma, então era melhor ficar em um ambiente mais reservado – Me arrume o máximo de tempo que conseguir, por favor.
Depois que o médio assentiu, deixou o quarto com seus já comuns passos arrastados, apenas cumprimentando o militar que fazia a guarda do quarto antes de iniciar sua tão agradável conversa com Pepper, que, a essa altura do campeonato, já deveria ter descoberto do atentado que sofrera alguns dias atrás, o que possivelmente deveria refletir em seu humor.
- Por que ela está sendo intimada? – perguntou Steve, vendo os outros dois homens suspirarem alto assim que ela deixou o quarto – Ela não pode ter conseguido fazer alguma besteira no tempo que eu estava apagado, não é?
- É por causa dos arquivos da S.H.I.E.L.D. que nós colocamos na internet – explicou Sam – Aparentemente, ela e Romanoff estiveram envolvidas em algumas missões... Delicadas, politicamente falando. Stark não está com tantos problemas como a ruivinha, mas como uma figura pública, a situação também não está nada boa para ela.
- Isso está sendo mais uma manobra para tentar mostrar à população que eles têm algum controle sobre o caso do que realmente condenar alguém – acrescentou Joseph, com as mãos escondidas nos bolsos de seu jaleco e o olhar passeando pela janela, como se nada estivesse acontecendo – Eles não vão prendê-las porque precisam delas soltas, mas também não podem simplesmente deixá-las andando por aí como se nada tivesse acontecido. É apenas para manter as aparências.
- Você parece ter pensado muito no assunto, Doutor – comentou Steve e ele sorriu.
- Stark gosta de expor suas ideias e nem sempre Romanoff estava perto... Estou apenas reproduzindo suas conclusões, não precisam se assustar – brincou o homem, já caminhando para a porta – Preciso checar outros pacientes. Vou deixar vocês à vontade.

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deixou a sala com passos delicados mesmo com sua vontade sendo descontar toda sua frustação no piso limpo do prédio. Ela odiava interrogatórios, um sentimento desenvolvido durante seus primeiros anos como agente, tendo que se reportar a seus superiores com certa frequência, principalmente quando cometia deslizes. O lado bom dos interrogatórios dessa época de sua vida era que normalmente as únicas pessoas envolvidas eram ela e alguém de nível hierárquico mais alto que o seu, variando entre Clint, Coulson e Fury, com o grau de sua infração sendo um fator importante. O único caso mais inusitado que tivera até o dia anterior fora depois da Guerra de NY, quando teve que se reportar ao Conselho. Apenas todos os outros casos respeitavam o protocolo infratora-responsável. Porém aquele caso era diferente: a audiência era pública, o que significava que na mesma sala que ela estaria a maior quantidade de jornalistas por metro quadrado que ela vira na vida. Cada palavra sua tinha que ser escolhida cuidadosamente para evitar uma catástrofe maior que o que já acontecia, principalmente porque ela não seria a única atingida: qualquer erro seu se transformaria em dor de cabeça para Pepper, já que ter o sobrenome que identificava as Indústrias tornava ligeiramente complicado desvincular seu nome. Não era exatamente como se aquilo tivesse realmente prejudicando as empresas – da última vez que checara as ações estavam até subindo – mas não deixava de ser má repercussão, e em algum momento os acionistas iriam se irritar com aquela história.
Como suspeitava, eles não tinham nenhuma acusação concreta contra ela, e nem podiam fazer ameaças mais abertas como fizeram com Natasha por se tratar de uma cidadã americana. Não dava simplesmente para acusa-la de traição com o material que tinham em mãos, embora tivessem tentado algumas vezes trazer à tona seu envolvimento com a Fase 2, o que com certeza já devia estar sendo assunto para vários artigos na internet. Aquele projeto era sua cruz e, toda vez que pensava que havia se livrado de seu peso, ele caía de volta em suas costas. não podia ser julgada por aquilo, principalmente por ter sido uma das vítimas do incidente, mas eles haviam abordado o assunto na tentativa de desestabilizá-la, coisa em que não obtiveram sucesso.
Aquele assunto perturbava sua mente desde que constatara o sumiço do cetro, não dava para desestabilizar o que já estava desestabilizado.
- Stark... – Fury a chamou do final do corredor, quando ela já seguia o caminho para deixar o prédio depois da longa e exaustiva audiência. Era no mínimo inusitado ver o Diretor com roupas civis, e fazia uma nota mentalmente para começar a se acostumar com isso – Vem comigo.
- Vai demorar muito? – perguntou ela, visivelmente cansada – Nat, Stevie e Sam vão se encontrar em algum lugar que eu já esqueci e querem que eu esteja lá.
- Eles estão indo para o cemitério, e é para lá que nós vamos – o homem riu, passando um braço por de trás do ombro de sua antiga agente a guiando em direção ao estacionamento – Queria conversar com você no caminho.
- Estou tentando me lembrar de possíveis merdas que eu possa ter feito nas últimas horas, mas não consigo pensar em nada – brincou , embora tivesse um pouco de seriedade em sua constatação. O tom de voz de Fury praticamente anunciava que ela estava com problemas.
- Só ande, garota – disse ele entre leves risadas. Tinha um teor cômico toda vez que fazia alguma análise errada e era difícil não se divertir com isso.
Não demorou para que chegasse no estacionamento e Fury apontasse o carro. Dentro do veículo, esperou que o homem retomasse o assunto quando ele bem desejasse. Estava curiosa, mas tinha um certo receio sobre que assunto ele queria abordar.
- Sabe, Stark... A decisão de te recrutar sempre foi uma coisa um pouco incerta – começou Fury, arriscando um olhar de lado para a mulher no banco do passageiro enquanto virava em uma esquina – Ninguém tinha coragem de colocar a mão no fogo por completo por você.
- Eu estou corando ou...? – debochou ela, apenas recebendo um olhar feio do homem – Tudo bem, continue.
- Sempre soubemos que você era qualificada para a parte científica, você sempre foi uma criança prodígio... Mas sua adolescência conturbada te tornou um investimento perigoso. Ninguém na S.H.I.E.L.D. precisava de uma versão mais nova do seu pai.
- Mas vocês me recrutaram do mesmo jeito – lembrou ela, um pouco confusa com aquele dado. Algo na postura de Fury estava diferente, e ela não estava exatamente sabendo classificar o que era. Talvez fosse o tom nostálgico em sua fala que estivesse a incomodando, junto com a incerteza do que ele planejava com aquela conversa – Eu ainda era consideravelmente rebelde quando ingressei. Para falar bem a verdade, eu só realmente evoluí, o que? Nos últimos dois anos?
- Te recrutei porque julguei que as futuras dores de cabeça que você me causaria valiam a pena... E eu tive que me esforçar para lembrar disso várias vezes durante esses anos – suspirou ele, balançando a cabeça em descrença ao ouvi-la murmurar um “não posso argumentar contra isso” – Sabe, inicialmente, eu nunca achei que você se tornaria uma agente de campo. Não por não ter capacidades físicas para isso, mas porque sempre te julguei imatura demais para puxar o gatilho, ou ver alguém puxar o gatilho.
permaneceu em silêncio. Ela ingressara na S.H.I.E.L.D. como cientista e todos haviam sido bem claros que aquela seria sua única função na agência, e sequer sua versão mais jovem se opusera à decisão naquele momento. Apenas meses mais tarde, durante os treinamentos padrões de todos os agentes que eles mudaram de ideia, mas não podia dizer que ficara contente com a ideia. Ser agente de campo soava bem badass, ainda mais portando habilidades especiais, só que aquela não se via sabendo como agir em um momento crítico, como tendo que tomar decisões do tipo “sucesso da missão versus bem-estar de seus parceiros”. Ela ter se tornado uma boa agente de campo fora um verdadeiro milagre.
- Essa era um pouco da imagem que eu tinha de você até a semana passada, Stark – continuou Fury, vendo que sua acompanhante estava perdida em pensamentos, com o olhar vagando a frente sem um ponto fixo – Você ter escondido seus poderes de mim fez com que sua imagem caísse muito comigo. Você se mostrou mais emocionalmente instável do que eu podia imaginar.
- Eu entendo isso. Eu aceitei as consequências das minhas escolhas – retrucou ela rápido, com a voz baixa e séria – Aquele ano inteiro de treinamento foi exatamente para isso, e eu sabia que as coisas não iriam voltar a ser como antes. Então por que você disse que tinha essa imagem até semana passada? O que mudou?
- Quando eu percebi que outra batalha aconteceria e você ficaria de fora, eu esperei uma reação igual ou pior do que a que você teve em NY, quase dois anos atrás. Esperei te ver choramingando em um canto, tentando escapar de qualquer forma mesmo sabendo que iria atrapalhar ao invés de ajudar, principalmente porque há alguma coisa forte entre você e o Rogers, forte o suficiente até para que eu perceba. Mas você não fez nada do que eu esperava – confessou o homem sem tirar o olho da rua, mas sentindo os olhos surpresos de em si – Posso até arriscar em dizer que o Rogers só conseguiu lidar com isso tudo com o mínimo de bom senso porque você estava no fundo sendo o pilar que o sustentava. Você foi o pilar que manteve toda a operação em andamento. Você trabalhou mais do lado de fora do que se tivesse integrado à equipe no campo.
Quase como que tivesse sido cronometrado, eles chegaram ao estacionamento do cemitério, podendo Fury assim finalmente poder se virar para sua agente sem infringir nenhuma lei de trânsito.
- Isso... Essa postura, essa iniciativa... Eu genuinamente nunca esperei de você, – disse Fury, quase que com carinho na voz, o que fez ela duvidar se aquilo era real ou sua imaginação – Agora todos os problemas e noites mal dormidas que você me causou parecem empecilhos pequenos perto da agente essencial que você tornou. Eu passaria por tudo isso novamente com um sorriso no rosto.
Não era imaginação. Depois de anos de reclamações e advertências, Nick Fury estava reconhecendo seu valor, a parabenizando por algo que ela fizera sem nenhum pingo de ironia na voz.
O mundo devia estar acabando e ninguém a avisara.
- O-brigada, Diretor – murmurou ela, pigarreando em seguida para recuperar sua voz – E-eu... Obrigada.
- Sem mais “diretor”, Stark... – lembrou ele, descendo do carro.
- Quer que eu te chame de “Nick”?
- Também não precisa forçar, não é?

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Sam e Steve encaravam a suposta lápide de Fury quando eles chegaram. Não fazia muito tempo que havia recebido alta, mas o loiro parecia muito mais saudável que , que ainda tinha um corte ou outro sem ter cicatrizado por completo, assim como a perna imobilizada. O estado de ambos havia sido delicado, só que ter o soro em seu organismo tornava a recuperação muito mais rápida. ficou mais ao fundo enquanto seu antigo chefe conversava com a dupla, sem realmente prestar atenção sobre o que falavam, ainda um pouco mexida pelo que Fury lhe dissera no caminho até ali. Até aquele momento a morena não tinha se visto como uma figura importante naquele episódio, e não ficaria nem um pouco surpresa se tivesse na verdade atrapalhado a operação, já que em vários momentos ela sequer tentara esconder sua instabilidade. Talvez fosse a insegurança por ter ficado muito tempo afastada dos assuntos sérios da agência, mas não se via uma agente melhor do que fora antes do incidente com o cetro, embora parecesse que tivesse evoluído muito nesse meio tempo.
Apenas uma coisa era certa: melhor que suas antigas versões ou não, agora mais do que nunca teria que provar para si que Fury estava certo, que havia se tornado uma agente essencial. S.H.I.E.L.D. e HYDRA eram sua responsabilidade, não apenas porque devia proteger o que seu avô começara, ou pela HYDRA estar com a posse do cetro, mas por simplesmente ter tomado a tarefa como sua. Era uma sensação estranha, mas pela primeira vez sentia que estava no lugar certo, fazendo a coisa certa. Havia escolhido entrar naquela confusão e ela integraria a equipe de pessoas que colocariam ordem na casa, embora ainda não soubesse exatamente como as coisas iriam funcionar. Ainda tinha um bom número de agentes da S.H.I.E.L.D. e alguns super-heróis, só precisavam se organizar.
Enquanto estava perdida em pensamentos, Fury se despedia da dupla de soldados, já se virando para deixar o local.
- – murmurou o homem ao passar ao seu lado, se despedindo. Não faria o convite que fizera a Sam a ela. Embora o notório desempenho nos últimos dias, Fury tinha que admitir que talvez fosse ser mais bem aproveitada com os Vingadores. Eles seriam a linha de frente contra a HYDRA, a jovem Stark poderia ser uma boa adição ao time.
- Nick – respondeu ela, olhando para frente com um sorriso discreto nos lábios. Fury parou alguns passos às suas costas, nem um pouco feliz com ela continuar o chamando pelo primeiro nome. Rindo, se virou para ele – Relaxa, quando perder a graça eu paro.
- Esse é o problema.
Nesse breve espaço de tempo Natasha se juntou ao grupo, embora estivesse conversando mais especificamente com Steve, deixando ela e Sam apenas observando. não chegou a prestar atenção por muito tempo na conversa dos dois já que seu novo celular vibrara em seu bolso, avisando que recebera uma nova mensagem de seu pai. Tony pedia que ela se direcionasse imediatamente para a Torre dos Vingadores, de preferência na companhia de Steve e Natasha, já que todos se encontravam em Washington. Levando em consideração apenas as pessoas que estavam no planeta, eles eram os únicos que faltavam para a reunião estar completa.
- Onde pensa que vai, Nat? – se apressou em em dizer, assim que percebeu que a ruiva se despedia, rapidamente guardando seu aparelho no bolso.
- Tem alguma coisa planejada, Stark? – estranhou ela, cruzando os braços – Com esse problema dos interrogatórios resolvido, nós temos algum tempo livre agora.
- Fomos convocados – contou ela, e o ar ficou tenso. A apreensão era tão nítida nos olhos da dupla que não deixou que o suspense se estendesse por muito tempo, emendando em seguida mais detalhes – Reunião de emergência da Torre dos Vingadores. Só falta a gente. E Thor, mas isso vai ser mais problemática para resolver...
- Por quê? – foi a vez do soldado questionar, e a morena respirou fundo. sabia que Sam e Steve pretendiam começar a procurar Barnes o mais rápido possível, e ela concordava com a decisão, já que era perigoso deixar um assassino mentalmente bagunçado sem supervisão, mas, com tudo o que estava acontecendo, eles precisavam do Capitão América na Torre, ele era o líder da equipe, e sabia que o loiro não iria concordar logo de cara.
- Acho que vamos ter que deixar o projeto "Procurando Bucky" de lado momentaneamente – começou a morena com cuidado, mas mesmo assim Steve instantaneamente entrou na defensiva.
- Bucky está perdido e confuso, Stark. Encontrá-lo é nossa prioridade.
- Ei, não me chame pelo sobrenome nesse tom – alertou , colocando as mãos na cintura, ofendida pelo tom de voz do soldado – Sei muito bem o quanto o cara significa para você, e já deixei bem claro que estou à disposição para te ajudar a procurá-lo. Só que se formos compará-lo com a HYDRA, no momento ele parece um unicórnio cheio de glitter. Temos problemas maiores, Steve.
- HYDRA está com a maior parte dos objetos perigosos que a S.H.I.E.L.D. protegia, incluindo... – lembrou Natasha, que ouvira parte da conversa de e James nos dias anteriores. Poucas coisas conseguiam tirar a morena do sério daquela maneira, e boa parte não era de origem midgardiana.
- O cetro do Loki – concluiu Steve assustado, se virando para a morena – Se eles tentarem usar o cetro, você...
- O cetro não me afeta mais, Steve. Só que isso não o torna menos perigoso – suspirou ela, quase sentindo falta da falsa sensação de segurança de quando acreditava que a arma estava sob os cuidados da S.H.I.EL.D., não sob a posse da irmã malvada da agência – A localização do cetro está perdida há meses, eu já chequei. Não sabemos a quanto tempo eles estão com o cetro e isso não é nada bom. Precisamos recuperá-lo. E derrubar a HYDRA. Não necessariamente nessa ordem.
O silêncio dos dois Vingadores deixou claro que ninguém tinha mais objeções.
- Certo, tem uma nave nos esperando – avisou , sorrindo ao ver a expressão constrangida de Sam que não sabia o que fazer – Você foi convocado também, Wilson. Estava envolvido nessa bagunça e pode vir a nos ser útil. E até onde me lembro, suas asas foram cortadas. Posso construir outras, se você quiser.
- Você consegue?
- Eu posso ser bem fria às vezes, mas eu tenho sentimentos, Wilson. Eu sou uma Stark. Construir máquinas é meu segundo nome.

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Como Fury havia a levado até o cemitério mais cedo, foi de carona com Natasha, assim como a dupla de soldados. Por causa da perna imobilizada, a morena voluntariamente abriu mão do banco da frente e Steve a acompanhou, deixando Sam como copiloto.
- Posso dar uma olhada? – perguntou na metade do caminho para o aeroporto, apontando para o arquivo que Natasha conseguira sobre Barnes, que Steve lhe entregou em seguida.
Havia algumas fotos do homem tanto em sua época de Soldado Invernal como de Bucky Barnes, com longas descrições de suas habilidades e assassinatos que eram atribuídos a ele. Mas nada disso atraiu sua atenção, e ela apenas passava os olhos pelas informações, até encontrar um nome conhecido.

“Líderes do Programa Soldado Invernal:
Arnim Zola (1943-1972)
Anton Tchehov (1972-1974)
Valerik Ivanova (1974-1989)
Vasily Karpov (1989-1998)
Mikhail Gagarin (1998-????)”


Valerik Ivanova.
A mente de entrou em pane por alguns momentos, tentando assimilar a informação: Barnes havia a confundido com um dos monstros que ajudara a destruir qualquer vestígio do homem que ele fora um dia. Aquilo era bastante estranho, até para os padrões surreais da situação, principalmente porque ele devia ter passado por inúmeras lavagens cerebrais desde a última vez que vira a tal Valerik, assumindo que ela sumira depois que fora desconectada do programa. Quão importante era aquela mulher para que Barnes se lembrasse dela quando fora tão difícil despertar uma mera lembrança Steve?
Steve a observava pelo canto do olho, mas preferiu não perguntar quando percebeu que ela se alterara um pouco: a postura mais apreensiva, os ombros tensos, e cenho franzido. Algo lhe perturbara e o soldado sentia que era melhor não tocar no assunto, e que, mesmo se insistisse, arrumaria um jeito de trocar de assunto, principalmente porque não estavam sozinhos no carro, embora tivesse a impressão que ela desconversaria mesmo que estivesse sozinhos.
A postura que havia assumido ele não via desde o helicarrier, alguns anos atrás.

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- Com essa perna é melhor você não pilotar hoje – avisou Natasha, já tomando seu posto na nave. Antes que a morena pudesse argumentar, Sam ocupara a cadeira de copiloto, deixando claro que ela não chegaria nem perto dos controles. Natasha sorriu com o ato, fazendo um gesto com a mão para que ela deixasse o ambiente – Vá descansar.
- , por favor - pediu Steve ao fundo, indicando uma área mais afastada da nave com a cabeça antes que ela pudesse iniciar alguma discussão com Natasha. Tanto no rosto como na voz do soldado estava claro seu desconforto, o que não passou despercebido pelos olhos atentos da ruiva, que apenas ergueu a sobrancelha para a Stark.
- Só não pergunte – avisou a morena, seguindo o soldado com o som da risada baixa da mulher ao fundo.
Mesmo não tendo sua fratura completamente recuperada, já conseguia andar com certa agilidade, mas escolheu diminuir a velocidade de seus passos tanto porque tinha uma ligeira noção do assunto que Steve iria abordar, e porque não queria exatamente tocar naquele assunto. Lidar com sentimentos não era exatamente uma especialidade dos Stark, e ela não fugia à regra. Mesmo não estando tão afastados dos outros dois, ali o ambiente era mais silencioso, e, embora a iluminação estivesse mais suave pelas lâmpadas estarem apagadas, o espaço não transmitia aconchego, talvez se aproximasse mais de insegurança. Não por ali ser o local de embarque e desembarque, e até saltos quando a invasão era por cima. A apreensão de ambos era tão intensa que se refletia no ar, e aos poucos suas respirações ficavam mais pesadas.
- Eu tenho uma leve ideia do que você vai falar, mas quero te ver sem graça, então fale – brincou , quando Steve parou de costas para ela, com alguns bons passos os separando. Antes que percebesse, ela já se sentava em um dos bancos de metal destinados para equipe, deixando ambas as mãos sobre seus joelhos enquanto estudava a expressão cansada do soldado. Se precisasse, mentiria pelo resto da vida dizendo que ela que colocara o loiro contra a parede e direcionara aquela conversa como bem queria, mas a verdade é que estava tão agoniada como Steve, ou até mais. Aquela definitivamente não era sua área, e o homem a sua frente já tinha passado por uma situação quase bem-sucedida. Ele e Peggy não tinham terminados juntos, mas teriam se Steve não tivesse sido congelado, não havia nada os impedindo, eles gostavam um do outro. Se aquilo fosse uma competição, Steve estaria um quase bem-sucedido relacionamento a sua frente.
teve que ter muito autocontrole para não se perder naquele devaneio e esquecer do que realmente importava.
Mas Steve ter mais experiência em relacionamentos normais provavelmente era a observação mais surreal que faria naquele dia.
- Eu não devia ter te beijado – murmurou Steve, sem rodeios. Desde que acordara no hospital que aquele assunto perturbava sua mente, e parecia que quanto mais ele enrolava para abordar o assunto, menos coragem ele tinha para começar. O cenário havia mudado demais em tão pouco espaço de tempo. Ele próprio havia mudado demais. Seus anseios, o futuro distante e até imaginário demais em que o homem se apegava... Tudo aqui cairia para terceiro, quarto plano. Contra sua vontade, HYDRA era a prioridade, e encontrar Bucky ficava em segundo plano, mas não era sim que ele se sentia. Ele havia dado um passo decisivo quando tomou a decisão de não lutar contra seu amigo, e isso o assustava. Não por não estar disposto a fazer o impossível para recuperar Bucky, porque ele estava, mas porque muita coisa seria sacrificada no processo, como qualquer tipo de coisa que ele pudesse vier a ter com a mulher a sua frente.
Steve aceitara que ia morrer no helicarrier e no fundo sabia que não evitaria um cenário semelhante se fosse necessário, e aquilo não apenas não parecia certo com . Ela vinha logo atrás de Bucky na hierarquia “eu faço o que for necessário para te manter seguro”.
- Okay – disse ela devagar, sorrindo de leve ao notar a insegurança do herói a sua frente. Salvar o mundo várias vezes e enfrentar vilões? Fácil. Encarar a garota que ele poderia estar começando a gostar? Isso sim era um desafio.
- Não é que eu não goste de você, pelo contrário. Quero dizer... – suspirou ele, deixando seus ombros caírem. Aquela não era a conversa que Steve queria ter, estava tudo errado e não parecia ter nada que ele pudesse fazer para mudar isso. Se ao menos tivessem nascido na mesma época, as coisas poderiam ser mais fáceis... Se não passassem de dois civis, não haveria força no mundo que pudesse o manter longe de . Steve só queria que as coisas fossem diferentes e isso o fazia se sentir ainda mais impotente – Olhe o que nós estamos vivendo...! HYDRA nunca foi derrotada, S.H.I.E.L.D. caiu... Estamos bem no meio dessa loucura! Você é filha de um amigo e neta de outro. Não posso fazer isso.
- Espera, é isso que eu sou para você? A filha do Tony?! - estranhou , surpresa tanto pela revelação do soldado como por sua própria reação a tal comentário. Havia um pouco de mágoa em sua voz e ela sequer tentou disfarçar. Mesmo se ignorasse a última semana e a confusão de sentimentos que antecederam e sucederam o beijo, considerava Steve seu amigo, não um antigo conhecido da família. Claro que ela havia passado quase que férias com ele porque havia lhe sido ordenado vigiar o soldado, mas isso não conseguira apagar a boa convivência nem a forte conexão que existia entre eles, pelo menos não para ela. Em antigas conversas com Clint havia deixado bem claro que não havia senso de obrigação entre eles, e agora parecia que ela estava errada desde o começo. Havia um teor de obrigação nas ações de Steve e talvez fosse muito maior do que imaginara. Não, não aceitaria isso como verdade. Tinha que ter algo a mais ali e, antes que percebesse, a mulher já cruzava os braços para analisar o soldado, que apenas soltou um "sem trapaça, " quando percebeu que não existia mais a possibilidade de enganar a morena. Mal sabia ele que naquele momento a última coisa que podia confiar era em suas análises: mais uma vez ela perdera a imparcialidade, e com a mesma pessoa – É tão difícil assim admitir que você gosta de mim?
- Claro que eu gosto, – suspirou Steve, levando uma mão à testa e massageando a região – Mas tudo é complicado! Olhe quem nós somos.
- O mundo sempre é complicado, mas você está fugindo de alguma coisa que eu não consigo ver o que é! – insistiu ela, um pouco irritada. Steve não havia voltado ainda a ser um ponto cego, apenas não conseguia justificar suas ações, o que era ainda pior. Isso a fazia se sentir ainda mais perdida – Não é a diferença de idade, certo? Porque, tecnicamente, se contarmos os anos que você passou respirando, nós temos quas...
- Não tem nada a ver com isso... – resmungou Steve, sendo logo interrompido por mais teorias da morena.
- Medo de acontecer algo parecido do que aconteceu entre você e Peggy? – arriscou ela. A ideia lhe parecia um pouco idiota, mas não poderia julgá-lo se fosse realmente aquilo. Considerando quem eles eram, como o próprio soldado havia colocado antes, algo ruim acontecer com algum deles não seria exatamente uma surpresa – É isso que está te segurando?
- Por que você está tão determinada nesse assunto?! – antes que pudesse perceber, Steve perdera a cabeça, elevando a voz da forma que não queria, vendo os olhos assustado de se arregalarem com a mudança abrupta de sua postura. Ela estava insistindo em um assunto que o loiro queria deixar quieto, mas não era tão fácil assim tirar Steve do sério, mesmo ela sendo expert no quesito “irritar pessoas”. E então a compreensão a atingiu.
Não era apenas desconforto que Steve transmitia, tinha algo mais. Era algo tão simples que quase se xingou por não ter pensado nisso logo de princípio. Os pontos mais característicos de suas personalidades eram muito contrastantes: ele costumava ser um garoto inseguro e introvertido do Brooklin, enquanto ela costumava ser a garota rica de Malibu que tinha como principal hobby aparecer em notícias de tabloides. Era a mais cliché das combinações e o impasse ali era o mais tradicional de todos.
- Você acha que não é recíproco – deduziu , pela primeira vez em muito tempo assustada por não saber o que fazer, e sabia que seu rosto estava falhando excepcionalmente em disfarçar isso – Você acha que eu não gosto de você. Acha que eu me deixei levar pelo momento?
A falta de resposta de Steve foi o suficiente para ela confirmar suas dúvidas.
- Essa é nova – confessou mulher, rindo nervosa e se levantando enquanto passava a mão pelo cabelo, puxando alguns fios no processo – Normalmente os caras assumem que eu gosto deles, não o oposto. A situação realmente é inusitada em todos os sentidos.
- O que você quer dizer com isso? – Steve se flagrou curioso, sem entender sobre o que ela falava.
- Que esse cenário me é familiar demais. Já passei por isso antes – continuou a morena, com sua voz de alterando a cada palavra sem seu consentimento. Rogers estava a afastando quando deveria estar fazendo o contrário, e ainda se sentia no direito que a repreender com um olhar mal-humorado enquanto cada vez mais ela ia se descontrolando – Só que você não é um garotinho mimado que está mais interessado nas Indústrias Stark do que em mim. E ao invés de estar tentando forçar algum tipo de relacionamento, você está é tentando me afastar!
- Por que você está se exaltando?
- Porque aparentemente eu estou apaixonada por você, idiota! – as palavras apenas saiam de sua boca, uma puxando outra até que não tivesse mais controle do que falava, apenas verbalizando da melhor maneira que podia toda aquela confusão que sentia – Até o Fury percebeu isso e eu, sendo outra idiota também, estava tentando fantasiar que tudo não passava de preocupação por um amigo que tem o dom de arriscar sua vida a cada três segundos e...!
desistiu da sentença, respirando fundo e apoiando todo seu peso na parede as suas costas. Aquela sensação era nova: exaustão emocional. Sua mente também estava cansada, mas daquela vez era diferente. Ela poderia dormir até a próxima terça e talvez ainda não fosse ser o suficiente. Afinal, seus problemas ainda não tinham aprendido a se revolver sozinhos.
Steve estava quieto, observando seus movimentos com cuidado, tão perdido em pensamentos que sequer ela podia resumir o que ele pensava. Era um nível de concentração que a mulher não podia analisar. Se estivesse certa, aquela teria sido uma revelação no mínimo inesperada para o soldado, e isso não a ajudava a entender o que se passava em sua mente.
- Se você quiser dizer algo para deixar o clima menos pesado, eu não vou me opor – suspirou ela, depois do que pareceu uma eternidade sob o olhar intenso do soldado.
- Não acredito que ser um sentimento recíproco mude alguma coisa, . Acho que no fundo só complica mais – confessou Steve, embora as palavras apresentassem certa resistência para saírem – Nós estamos em situações de risco o tempo todo. Podemos acabar distraindo um ao outro.
“Passo errado, Rogers”, pensou o soldado assim que notou uma alteração significante na postura da mulher a sua frente, ele sabia muito bem o que era. Ele havia a ofendido. Sua fala havia deixado a possibilidade de estar duvidando de suas capacidades.
Foi com certa surpresa que o soldado a viu cerrar os punhos com força por alguns segundos e os relaxar em seguida.
- É uma visão sua, não posso te obrigar a concordar comigo – retrucou ela, controlando precariamente sua vontade de socar o loiro – Mas não há questões pessoais quando se coloca o uniforme, Steve. Do mesmo jeito que eu luto ao lado da Romanoff ou do Barton, eu lutaria ao lado do meu pai, ou do seu. Eu fui treinada para suportar momentos de pressão emocional. Claro que a Batalha de NY não conta, já que eu era um alvo e não teve como eu me proteger... Mas Triskelion? – sua voz voltara a ficar embargada e pela primeira vez em muito tempo seus olhos começaram a arder. podia facilmente manter as aparências e retomar o controle do tipo de emoção seu corpo expressava, mas não quis interferir. Acontecia em raras ocasiões, mas tanto ela como Steve mereciam aquela honestidade – Eu tive que passar por tudo aquilo sabendo que as chances de você voltar seriam mínimas. Tive que ter maturidade o suficiente para conseguir te ajudar mesmo estando no refúgio, quando eu deveria estar no prédio te dando cobertura. E eu não parei quando você desistiu. Eu sei muito bem separar as coisas e espero que você não tenha suposto que eu não saberia. Que você ache que você não conseguiria separar as coisas. Porque se for o contrário, eu vou ficar muito p...
- Se eu tivesse ficado de fora e você ido... – interrompeu-a Steve, a surpreendendo. Tão concentrada em não agredir o homem, ela não tinha percebido as alterações em sua postura. O estado do soldado não estava muito diferente dela: a voz baixa e falha, o rosto avermelhado, e os olhos que começavam a ficar marejados. Ouvir toda a agonia que ela passara naquele dia ser verbalizada não era algo que ele pudesse suportar. Era exatamente um dos motivos por querer manter distância: tomar uma decisão que a machucaria apenas não dava, e as previsões não eram nada boas sobre o que os esperavam. Steve precisava poupá-la, algum dos dois tinha que sair inteiro – Não acredito que teria conseguido fazer metade do que você fez. E isso me assusta. Sei que você é capaz, mas eu não estou acostumado em te ver em ação, e ainda sinto a urgência de te proteger, ainda mais depois do Bucky... Eu quase te perdi, ... Passei mais de doze horas tentando me convencer de que você tinha sobrevivido, mas no fundo eu sabia que estava apenas me iludindo.
Barnes.
havia esquecido de considerar Barnes na equação, e agora se via usando métodos errados para um cálculo que ela sequer sabia fazer. Steve havia virado uma versão humana de campo minado e ela era a pessoa que nunca aprendera como o jogo funcionava. Só que ali entender os macetes do jogo era bem mais do que poder se vangloriar por compreender algo que a maior parte da população não conseguia, era algo muito mais essencial que isso. Não saber como ajudar e correr o risco de acabar o piorando ainda mais a situação estava a matando aos poucos.
- Na minha defesa – desconversou a mulher, passando as mãos no rosto com violência, limpando algumas lágrimas que estavam prestes a escapar de seus olhos –, essa foi a minha primeira experiência real de quase morte. Se for comparar com meu pai, é quase nada! Se bem que eu comecei bem mais nova que ele, então tenho fortes chances de bater o recorde dele de... Quatro vezes? Meu Deus, como a Peper consegue...?! O que eu estava querendo dizer é que... A escolha é a sua. Se acha que melhor não, eu sou muito boa em esconder coisas e fingir, então ficaria praticamente tudo na mesma.
Por poucos segundos Steve considerou aquela opção, e a descartou mais rápido ainda. Manter as coisas do jeito que estava parecia ainda pior. As chances de não integrar os Vingadores agora com a revelação da HYDRA eram nulas, só não faria parte da equipe caso recusasse o convite, e Steve a conhecia bem o bastante para saber que essa possibilidade sequer passava por sua cabeça. Eles fariam parte da mesma equipe, quantas vezes por dia ele se flagraria admirando a expressão compenetrada da morena enquanto trabalhava em algo que estava sendo mais complexo do que ela esperava? Ou quantas vezes ele perderia para ela durante simulações de lutas por se distrair com seu sorriso convencido? Quanto ele se arrependeria se algo acontecesse com um dos dois e tivessem desperdiçado inúmeras chances de terem boas memórias juntos? Deveria existir um limite de quanto arrependimento uma pessoa podia suportar e Steve não queria conhecer o seu, ainda mais se fossem em relação à mulher a sua frente.
- Mas eu não sou – a voz de Steve saíra baixa, mas foi o suficiente para que revirasse os olhos, ignorando por completo a mudança de postura do soldado enquanto se deixava irritar pela constante hesitação do homem.
- Cara...! – ofegou ela, deixando os ombros caírem. Aquela discussão estava lhe saindo mais exaustiva do que espera, embora no fundo não conseguisse culpar o loiro, já que até poderia concordar com ele em alguns pontos. estava amedrontada com tudo aquilo e não tinha como negar, mas pelo menos tinha feito uma escolha, diferente do loiro que parecia incapaz de manter seu posicionamento por mais de um argumento – Será que dá para você simplesmente decid..?!
Antes que pudesse entender o que acontecia, Steve avançara em sua direção e extinguira a distância que os separava, tomando o rosto da mulher com uma mão antes de selar seus lábios. apenas pode sorrir quando compreendeu o que aquilo deveria significar, envolvendo o pescoço do soldado com ambos os braços em seguida. Não demorou muito para que Steve se afastasse um pouco apenas para verificar algum indício de que a morena mudara de ideia, contente ao já encontrar o olhar dela travado no seu, sem encontrar qualquer vestígio de dúvidas. Aquele momento era tão essencialmente diferente do primeiro beijo que até parecia ser em outra vida, outras pessoas.
A viagem até NY não era muito longa, mas eles ainda tinham alguns minutos antes de chegar à Torre, e mais um pouco de tempo até que a ausência dos dois começasse a parecer suspeita, por isso logo seus lábios estavam sobre os da morena mais uma vez. Aquele seria o máximo de paz que teria pelos próximos sabe-se lá quantos meses.

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- Eles realmente estão se beijando e eu não tenho uma câmera... – cantarolou Natasha, fazendo Sam rir.
- Acabei de chegar, mas tinha a sensação de que isso não era algo recente – confessou o homem, afundando em sua cadeira.
- E não é. Só que os dois estavam ocupados demais para perceber – explicou a ruiva, ainda com um sorriso discreto nos lábios. Diferente de Clint, ela não acreditava muito naquela história de que e Steve realmente pudessem ter algum envolvimento mais sério, e não estranharia em descobrir que a jovem Stark tivesse aumentado a lista de affairs durante seu tempo de reclusão, e que o soldado apenas era o próximo da lista. O que a surpreendera foi notar a visível mudança de comportamento dos dois quando estavam perto um do outro, e aos poucos a ruiva começava a aceitar que talvez Clint estivesse certo – Só vou te dar um conselho, Wilson... Você sabe quem é o pai dela.
- Obviamente.
- Se eles não falarem nada disso quando chegarmos à Torre, você também não fala – continuou ela, apontando para trás para ilustrar o que não devia ser comentado – O Stark pode não gostar muito dessa ideia.
- Sério? – riu Sam, descrente – O Homem de Ferro tem ciúmes da Stark Party Girl?
- Por acaso é fã da garota?
- Ela vivia nas notícias – se explicou ele rápido, rindo mais em seguida – E não vou mentir: ela também não agride os olhos.
Natasha apenas ignorou o comentário.
- Stark está ficando um pouco protetor demais em relação à filha, e ele e Rogers têm um velho costume de bater muito de frente... – contou a ruiva, arriscando um rápido olhar para o seu copiloto – Ele não vai aceitar tudo isso com um sorriso no rosto.
- Já podemos preparar os baldes de pipoca?

Capítulo 27


A viagem até NY não era muito demorada, então logo o grupo pousava na Torre dos Vingadores. Assim que se juntaram aos outros antes de desembarcarem, e Steve passaram a agir como se nada tivesse acontecido, embora a morena quisesse rir do olhar sugestivo que Sam e Natasha direcionavam a eles. Ela não tinha nenhum problema com comentários, só que não fazia ideia de como Steve reagiria aquilo tudo. Pior: não sabia como seu pai reagiria àquela história. Tony não tivera uma boa convivência com seus últimos namorados e fazia muito tempo que ele não precisava se importar com esses assuntos pelo convívio entre os dois ter diminuído drasticamente.
Com certeza aquela seria uma estadia memorável.
Steve permaneceu ao seu lado o tempo todo, com uma mão quase tocando sua lombar caso viesse a perder o equilíbrio, já que insistia em não utilizar muletas. Sam e Natasha os seguiam logo atrás, tentando ao máximo se controlarem para não fazer comentários sobre todo o cuidado do soldado apenas por implicância, já que sabiam que ele estaria sendo atencioso com qualquer outra pessoa debilitada.
Logo eles encontraram a outra parte do grupo na ampla sala da Torre, local escolhido para a reunião especialmente por comportar o bar do prédio, onde Tony já se encontrava. Os três vingadores mantinham uma conversa descontraída que se encerrou assim que os recém-chegados entraram no ambiente. Graças ao considerável tempo internados e os dias a mais que tiveram que passar na capital, nenhum dos três envolvidos na batalha em Triskelion mostrava algum ferimento aparente, com exceção de e sua bota ortopédica, então a aparência do trio não causou nenhuma surpresa, embora o alívio em vê-los fosse evidente.
- Os rumores eram que você e o Rogers tinham quase morrido, mas me parecem muito bem daqui – comentou Clint, virando o resto do líquido de seu copo antes de se levantar para cumprimentar o grupo.
- Nos curamos rápido – responderam os dois ao mesmo tempo, sorrindo um para o outro em seguida.
Tony assistiu todos se cumprimentaram atrás do balcão, esperando o momento que sua filha resolvesse lhe dar atenção, o que demorou muito mais do que devia. já sabia que seu pai faria cena por causa dos últimos acontecimentos, então não estava exatamente com pressa de ir falar com ele.
- Você realmente não vai falar comigo, Tony? – suspirou ela, apoiada no balcão do bar. Ele apenas virou o rosto – Sabe que se eu resolver fazer a mesma coisa, contando o número de vezes que você quase morreu, eu só volto a falar contigo daqui umas três vidas, não é?
- Não é um bom argumento, mas não consigo derrubá-lo – resmungou Tony, se debruçando na bancada para beijar o rosto da morena que não escondeu um sorriso satisfeito – Só tente não seguir meus passos, tudo bem? Não é legal quando se está do outro lado.
se sentou em um dos bancos do bar enquanto a conversa despretensiosa entre o grupo continuava, comentando superficialmente os acontecimentos dos últimos dias sem entrar em discussões muito complexas, todos se poupando para as decisões da equipe mais tarde, que levaria um bom tempo e muita discussão para serem tomadas.
- Você deve ser Sam Wilson – sorriu Bruce para o novato no grupo que estava mais ao fundo, um pouco deslocado por apenas conhecer três pessoas naquela sala, lhe estendendo a mão em seguida – Bruce Banner.
- Doutor.
- Falcão, não é? – murmurou Clint, com os braços cruzados e os lábios franzidos – Nome legal.
- Vocês estão querendo o que? Reunir pessoas com codinome de pássaro? – resmungou Tony, saindo de trás do balcão e sinalizando para que sua filha o acompanhasse até o conjunto de sofá, e todos imitaram o gesto – Onde vocês encontram essas pessoas?
- Você pediu para trazer o Wilson e eu preciso da ajuda dele para construir outro traje para ele – lembrou ela, lhe lançando um olhar mal-humorado quando Tony ofereceu um dos copos com uma bebida escura que segurava – Quer o que? Me matar de overdose? Sabe que eu estou sendo medicada, não é?
- Você vai construir um traje? – estranhou Tony, apenas passando o copo para o arqueiro que se sentou ao seu lado.
- O traje dele foi danificado em Triskelion.
- E você vai construir um novo para ele? – Tony riu descrente, se virando para Sam em seguida – Vamos, Águia, me conte mais sobre o traje! Vamos ver o que eu posso fazer.
- Nem comece, Tony! – se intrometeu , já na defensiva – Você não vai chegar nem perto desse projeto.
- Por que não?! - resmungou o homem, sob o olhar duro da filha que permanecia de braços cruzados – Eu sou o especialista em trajes dessa família!
- Você sequer me deixar chegar perto das suas armaduras, e é teimoso demais para trabalhar em equipe – começou a mulher, enumerando nos dedos. O restante do grupo observava a discussão com um sorriso de canto, cientes de que aquela era a primeira vez que viam os Stark em seu habitat natural. As outras brigas que presenciaram nos últimos anos foram sempre carregadas de ressentimentos por decisões equivocadas de ambas as partes, só que aquele era um momento diferente. Não passava de pai e filha discutindo sobre algo de paixão em comum. O tema poderia ser esportes, ou cinema, mas como se tratava dos Stark, tinha que ter tecnologia envolvida – Ou acha que eu esqueci quando eu salvei a Torre Stark do fracasso e a única coisa que você fez aquele dia inteiro foi insistir que estava certo e gritar comigo? Essa Torre continua aqui por minha causa e eu não recebo crédito por isso! Prefiro trabalhar com o Dummy...! Na verdade, eu realmente preciso do Dummy. Pode providenciar isso?
- Agora magoou meus sentimentos – insistiu Tony, tentando de qualquer maneira amolecer o semblante da mulher, embora não soubesse que ela estava rindo por dentro. Steve sequer estava tentando disfarçar que sabia que ela estava apenas provocando o moreno, e isso a fazia ter que se controlar ainda mais para não amolecer sua postura. Se ela não intervisse, eles provavelmente enrolariam para discutir o que precisava ser discutido até o outro dia – Qual é, ...! Vou me comportar, juro!
- Podemos começar logo o assunto sério? – pediu , com a voz arrastada e um silêncio desconfortável seguiu seu pedido – Oh desculpe, vocês pretendiam continuar jogando conversa fora?
- Acordou de mau humor hoje, ? – arriscou Clint, deixando que suas costas encontrassem o encosto do sofá.
- A pergunta certa seria “você dormir hoje, ?” – corrigiu ela, olhando feio para o seu treinador – Capaz de eu andar na linha pelo resto da minha vida só para não correr o risco de ter que participar de outra audiência.
Natasha concordou ironicamente com um resmungo. Evitar audiências também se tornara um de seus objetivos de vida.
- Bem, você é nossa fonte de informações, – lembrou Bruce, quando o silêncio voltou a se instalar no ambiente – Para falar a verdade, todo mundo que chegou agora sabe bem mais do que nós que já estávamos aqui.
Com os olhos discretamente arregalados, arriscou um olhar tanto para Steve como para Natasha, em busca de instruções. Quando ambos se afundaram no sofá, ela tomou como deixa para contar tudo o que já sabiam.
- Temos uma lista de bases que não conseguimos notícias – começou ela com um suspiro, deixando o olhar focado no chão. queria poder relatar um cenário mais vantajoso para eles, só que a situação a cada dia parecia estar mais complicada – Todas estão na posse da HYDRA.
- Como pode ter certeza? Pode ter pessoal nosso lá ainda – contestou o arqueiro, com o claro tom de ordem em sua voz – Tente estabelecer comunicação.
- Aí é que está, Clint... Eu estabeleci comunicação – continuou a morena, fitando o loiro com o rosto contorcido em uma expressão desanimada – A linha continua muda.
- Acha que tínhamos bases inteiramente com agentes inimigos? – estranhou Clint, um pouco surpreso pela mulher estar apresentando uma visão tão extrema da situação, o que era completamente incomum para seus costumes. Só que era o arqueiro que estava tendo uma visão equivocada das coisas.
- De positivo eu só tenho o sangue, Barton... Otimismo nunca foi o meu estilo – lembrou ela, soltando o ar todo de uma vez. No melhor dos cenários, quem fosse aliado havia sido morto antes de conseguir pedir socorro. Fazia menos mal à saúde mental de todos acreditarem naquela primeira opção do que imaginar seus colegas mantidos como prisioneiros, servindo de cobaia para os testes desumanos da HYDRA.
- E o Thor? - lembrou Natasha, sentindo a necessidade de desviar o foco da conversa. Aquela constatação havia abalado todo o grupo – Com o cetro desaparecido, isso se torna problema dele também.
- Não temos como avisá-lo – ofegou Tony e a morena ao seu lado se mexeu desconfortável.
- Na verdade, nós meio que temos - contou , com uma mão na nuca – Mas eu realmente não queria fazer isso.
- Como diabos você tem um meio de contatar alguém em Asgard? – indagou Bruce, logo atraindo o olhar exasperado da mais jovem da sala – Não me lembro de roaming por lá.
- Eu não tenho certeza se foi isso que ele disse para eu fazer, mas... – murmurou a morena, respirando fundo antes que desistisse - HEIMDALL! É STARK! NÓS PRECISAMOS QUE THOR VOLTE PAR... Certo, isso foi ridículo.
- Essa era sua ideia de contatar Thor? – debochou Clint. O arqueiro estava falhando em controlar a risada descrente e no fundo nem queria.
- Ele que disse p...
Um barulho alto ao longe atraiu a atenção de todos, que pararam a conversa com expressões confusas.
- J.A.R.V.I.S., o que diabos foi isso? – perguntou Tony.
- Acredito que o Sr. Thor esteja no telhado, senhor.
Todos os olhares se voltaram para , que devolvia o olhar para o arqueiro com a expressão mais satisfeita possível. Estar certa era uma sensação sem igual principalmente quando seu treinador estava errado, o que em seu convívio não acontecia com muita frequência. Certo tempo depois, as portas do elevador no fundo da sala se abriram, revelando o deus asgardiano que o grupo não via há um pouco mais de dois anos. Seus cabelos estavam ainda mais longos e ele parecia ainda mais musculoso, assim como estava mais sério.
- Acho que você me chamou, milady - resmungou Thor, se direcionando para . A mulher, que ria por sua ideia ter funcionado, logo foi ao chão depois do tapa na cabeça que o deus lhe dera, caindo da ponta do sofá com um barulho alto. permaneceu caída por longos segundos, silenciosamente questionando as ações do homem.
- Algum motivo em especial para essa agressão gratuita? - indagou ela quando percebeu que o deus não estava disposto a iniciar a conversa, apenas devolvendo seu olhar irritado. Não se lembrava de ter dado nenhum motivo para Thor estar bravo com ela, mas como a última vez que se viram fora em 2012 e aquela não era sua melhor versão, sequer podia julgar o homem.
- Você mentiu para mim, Stark! - grunhiu o loiro, apontando ameaçadoramente para ela, que riu descrente.
- Oh me desculpe, eu te disse que te ligaria no dia seguinte? – debochou , levando uma mão ao peito e fingindo uma expressão tocada antes – NÃO ME LEMBRO DE VOCÊ TER ME DADO SEU NÚMERO!
- Você conseguiu me contatar hoje, não? Heimdall é meu número!
Ao som de risadas ao fundo, revirou os olhos. Thor tinha um bom argumento, embora aquela tivesse sido a ligação mais estranha que realizara na vida. Respirando fundo – algo lhe dizia que discutir com um deus irritado quando estava em recuperação não era a melhor ideia da vida –, a mulher tentou se controlar, embora a irritação ainda estivesse presente em sua voz. Thor não era exatamente fraco, aquele maldito tapa havia doído.
- Agora você quer refrescar minha memória e ser mais específico sobre o que eu menti? – pediu ela, com a voz falsamente controlada – De preferência informando hora e local para facilitar a busca.
- Você disse que meu irmão não tinha te colocado em problemas! – contou Thor e grunhiu alto, deixando os braços caírem ao lado do corpo em um movimento exasperado.
- Eu não menti! Eu só não sabia que estava errada! – se defendeu ela – Eu fui sincera naquele momento. Tem noção de como isso era raro? Se eu voltar a ser uma mentirosa crônica eu vou totalmente te culpar por causa dessa tapa, entendeu?
Thor abriu a boca para responder, mas acabou a fechando em seguida. Então a bruxa Stark não havia tentado o enganar em seu último encontro? Ele não esperava por aquela revelação, e não sabia como esconder sua surpresa. Aos poucos sua postura foi se alterando, os ombros relaxando enquanto ele abandonava o semblante ameaçador, e adquirindo um ar mais constrangido, balançando o braço várias vezes antes de decidir que era melhor ajudar a jovem a se levantar antes que ela resolvesse o enfeitiçar, lhe oferecendo uma mão que aceitou com um olhar descrente e um pouco divertido. Não havia percebido até aquele momento, mas sentira saudades da falta de jeito do asgardiano, e, embora não fosse pela melhor das circunstâncias, estava feliz em revê-lo.
- Como estão as coisas no paraíso? – perguntou depois de já estar recolocada em seu lugar no sofá, com a ajuda do loiro. Thor franziu o cenho, confuso.
- Lá nã...
- Modo de dizer, cara. Só responde – riu a morena, ficando um pouco mais séria quando Thor respondeu um não muito convincente “... bem”. Ninguém na sala havia gostado daquela resposta, mas ela foi a única a verbalizar a dúvida – Loki está bem preso, não é? Eu ia adorar socar a cara dele mais algumas vezes, mas nós meio que já atingimos a cota de probl...
A hesitação de Thor deixou o ar mais tenso na sala, mas o deus sabia que aquilo acabaria rapidamente assim que contasse o que acontecera, e sequer podia os culpar. Seu irmão causara apenas destruição em Midgard, atacara pessoalmente todas as pessoas naquela sala – com exceção de um homem moreno que ele não fazia ideia de quem era –, e até podia compreender o alívio que sentiriam quando finalmente soubessem, já que saber que existia uma ameaça a menos no universo sempre era uma notícia boa.
- Loki está morto – contou ele por fim – Já faz um tempo.
Todos que prenderam a respiração na expectativa soltaram o ar de uma vez, aliviados. Com exceção de , e isso não passou despercebido pelo asgardiano, que por poucos segundos chegou a cogitar que talvez a jovem bruxa tivesse envolvimento nos planos de seu irmão, mas logo percebeu como estava sendo equivocado. Nos olhos da mulher tinha apenas compaixão, não por seu irmão morto, mas por ele. Desde o começo era claro o empenho de Thor para salvar seu irmão, e com certeza sua perda ainda devia estar sendo sentida.
- Thor... Eu sinto muito – murmurou , um pouco incerta. Primeiro que ela não era a pessoa mais sensível do mundo, segundo que não sabia até que ponto seria estranho se simpatizar pela dor do homem quando quem havia morrido era aquele que tentara a usar como uma arma. Era uma linha bem fácil de ultrapassar sem querer.
- Você é definitivamente uma pessoa cheia de surpresas, Lady – murmurou Thor, deixando uma mão no topo da cabeça da jovem, o máximo de gesto carinhoso que poderia ter sem deixar a situação mais estranha, sem saber ao certo como agir perto da jovem. em contrapartida riu com gosto.
- Vai me chamar de Lady agora...? Pior que eu até que gostei, melhor que bruxa.
Concordando com um sorriso forçado – ele havia esquecido que ela não gostava de ser chamada de bruxa –, Thor adentrou mais na sala para cumprimentar o restante do grupo, se sentando ao lado de Steve na outra ponta do sofá, ouvindo atentamente os relatos do que havia acontecido nos últimos dois anos e o motivo de ter sido convocado. Thor tivera que se controlar para não culpar seus amigos pela perda do cetro, já que estava claro no rosto de todos que eles sabiam que haviam sido descuidados, e retomar aquele assunto apenas faria com que eles se sentissem piores, por isso o homem desistiu. A única coisa que resolveria aquela situação era encontrar a maldita arma.
- Como vamos fazer isso? – perguntou Bruce, assim que o silêncio ameaçou se instalar depois de terem atualizado o recém-chegado. agora já estava com o pé imobilizado em cima do estofado, abraçando aquela perna. Aquilo estava sendo tão cansativo quanto a audiência de mais cedo, e tudo que ela queria era um pouco de paz, o que provavelmente não teria até tudo ser resolvido.
- Eles devem ter mais bases que desconhecemos, mas deve ficar mais fácil se começarmos com as que já conhecemos.
- E como entramos? – incentivou Clint.
- Temos eu, você, Nat, Tony e... Bruce? – arriscou ela, incerta – Você tem familiaridade com invadir firewalls da HYDRA?
- Bem menos do que você espera.
- Nada que algumas aulinhas não resolvam... – brincou a morena – Mas até que temos uma equipe razoável de hackers.
- Você chamou uma equipe que eu faço parte de razoável, ? Cadê o respeito?!
- Podemos colocar James William para trabalhar nisso também. Ele foi bem útil em D.C. – continuou , ignorando seu pai – J., por favor. Diga para ele que não é tão fácil se livrar de mim.
- Pelo que parece, a coisa está concentrada na Europa, então devemos começar por lá – comentou Steve, enquanto a morena passava instruções para o sistema da Torre.
- É onde a situação está mais crítica – continuou Natasha – Eles estão realizando testes com o cetro e é em algum lugar na Europa.
- Península Ibérica então? – suspirou , atraindo os olhares confusos do soldado e da espiã. A região que ela sugerira era oposta a onde eles precisavam ir – Não podemos começar de cara com o leste europeu, é suicídio. Vamos ter que começar com as bases mais isoladas e que têm mais dificuldade em receber apoio. As bases da Espanha e Portugal.
- Vocês estão familiarizados com essas bases? – perguntou Steve aos três antigos agentes.
- Levemente – responderam os dois mais velhos em uníssono, enquanto apenas fingiu que a pergunta não era para ela. Como era consideravelmente nova na agência em comparação com outros agentes de nível mais alto, não tinha tido tempo de fazer tour pelas bases.
- Certo, reúnam toda informação útil sobre o prédio e arredores, montamos a estratégia no caminho – ordenou Steve, tomando seu posto como líder da equipe. Seu olhar passeou pelos rostos das pessoas na sala antes de continuar – Dr. Banner? Você vai junto?
- Aparentemente.
- Sam?
- Sem asas, parceiro – lembrou ele, apontando para com a cabeça enquanto cruzava os braços – E acho que a Party Hard não faz milagres.
- Você definitivamente não me conhece... – começou com uma postura convencida que logo desapareceu – Mas dessa vez ele está certo, não dá para fazer isso em tão pouco tempo.
- Stark?
- Sim? - respondeu Tony, mas o soldado não se virou. Ele continuou olhando para a mais jovem do grupo, que revirava os olhos.
- Pode dizer que eu continuo fora do jogo, Cap – suspirou a morena, sem quebrar o contato visual, tentando passar o máximo de autocontrole que possuía. Claro que não estava nem um pouco feliz em mais uma vez ficar de fora da ação, ainda mais duas vezes em tão pouco espaço de tempo, só que não faria bem para sua imagem demonstrar aquela insatisfação. Teria que passar por toda sua recuperação sem um resmungo – Sei que não é pessoal. Ainda.
não planejara aquele tom sugestivo em sua brincadeira para descontrair o clima, e Steve sabia disso, mas não conseguiu controlar um sorriso ao cogitar a possibilidade. Mesmo se as coisas entre eles dessem certo, nem em outra vida ele conseguiria convencer a morena a não participar das missões, e, sem querer, estava mais uma vez deixando aquilo claro.
- Eu ia perguntar se você quer coordenar a missão daqui – explicou o loiro e ela arregalou os olhos, surpresa. Steve ainda não tinha lhe dado o devido crédito por suas ações na capital e o momento parecia perfeito para isso – Você fez um bom trabalho em Washington, principalmente quando eu não estava vendo. Você está se tornando uma boa líder também, e sempre teve um lugar na equipe te esperando. Enquanto não puder se juntar a nós no campo, vou ficar feliz se quiser dividir um pouco das funções comigo.
Era em momentos ímpares como aquele que agradecia pela evolução de seus poderes. Poder aumentar sua força era realmente muito útil e já a salvara da morte certa nos últimos dias, mas impedir todo seu sangue de subir para seu rosto era sem dúvidas uma habilidade que ela passava a adorar cada dia mais. Talvez se olhasse no calendário, descobriria que aquele era o dia de “Deixe Desconfortável Com Elogios”. Primeiro Fury mais cedo, deixando-a completamente desconsertada com seu discurso carregado de alto teor emocional – algo surreal de se esperar do antigo Diretor da S.H.I.E.L.D. –, e agora Steve. Não, ele não estava a elogiando como Steve Rogers. Ali o homem estava mais como Capitão América, o primeiro Vingador e líder da equipe, dando publicamente o reconhecimento por seu desempenho em uma missão importante.
Fazia muito tempo que não acontecia, mas seu lado Coulson estava quase saindo do controle.
- Obrigada - respondeu ela com um sorriso discreto depois de um longo período em silêncio.
- Vocês vão continuar com a competição de encarar ou...? - estranhou Clint, e ambos abaixaram a cabeça, constrangidos. Suspeito, para dizer o mínimo, mas não era um bom momento para abordar aquele assunto – Bom, parece que você dá as ordens agora, pirralha.
- “O Troco, Parte 1”... Isso vai ser interessante – confessou ela, se levantando sem pressa – Vou reunir as informações sobre a base que vamos atacar e vocês vão se preparar.
- Mais alguma coisa, Drª Stark? – murmurou Bruce com um sorriso contente, conseguindo arrancar uma risada alta de antes de se adiantar em direção ao homem para abraçá-lo. Com toda a confusão da HYDRA sequer tivera tempo de se vangloriar pelo título recém-adquirido.
- É por isso que você é meu Vingador favorito!
- Ele é o seu o que? – repetiu Tony, ofendido – Que traição é essa?
- Ele se lembrou da minha defesa de tese, diferente de você que não apareceu! – resmungou a morena, fuzilando seu pai com os olhos por cima do ombro de Bruce.
- Você não me avisou!
- Claro que avisei! A diretoria te mandou o convite e Pepper confirmou o recebimento.
- Merda, ela comentou algo sobre isso... – suspirou Tony, levando uma mão à nuca enquanto a jovem intensificava o olhar irritado em sua direção, com um braço ainda nas costas do cientista na sala que prestava atenção nas mensagens que ela enviava – Não me olhe assim. Você parece a Pepper quando me olha assim e é bizarro.
- Vou te olhar assim pelo resto do dia – avisou ela, se virando para o restante do grupo que continuava sentado – Vocês estão esperando convite para irem se preparar? Essa discussão ainda vai demorar um pouco.
- Isso quer dizer que dá tempo de pedir que tragam pipoca? – perguntou Sam, sendo ignorado pela mulher em seguida.
- Sabe de uma coisa? – continuou ela, se virando para Tony – Você sempre fez isso em qualquer momento da minha vida acadêmica quando deveria estar presente.
- Isso não é verdade – se defendeu o homem, caminhando calmamente até o balcão do bar para encher seu copo, além de ser uma medida inteligente manter certa distância de sua filha – Eu aparecia nos eventos.
- Me ilumine, nomeie um!
- O dia que toda sua escola parou por causa de alguma coisa relacionada a você...? – começou ele, incerto. Lembrava vagamente de uma considerável multidão de jornalistas e curiosos ao redor de uma das escolas que frequentara quando criança, só não conseguia se lembrar qual era a ocasião – Não lembro o que era, mas foi importante.
Por alguns instantes tentou se lembrar de algum cenário escolar onde seu pai tivesse aparecido, mas só conseguia se recordar de um ocorrido e, julgando Tony como o “pai do ano”, claro que era àquele dia que se referia.
- Se você estiver falando do meu quase sequestro, vou socar sua cara.
Os olhos de Tony automaticamente se arregalaram. Tinha uma vaga lembrança de demorando para chegar no prédio naquele dia.
- Então...! Drª Stark, hein? – Tony tentou desconversar, rindo nervoso – Não te dei nenhum presente ainda, não é? O que você quer? Um andar de laboratório na Torre só para você?
- Eu não tenho um ainda?! – resmungou , com a voz mais aguda que o normal – A voz de garota mimada! Não sabia que ainda tinha isso.
- Escolha o andar e avise J.A.R.V.I.S. – avisou Tony, antes de sumir atrás do balcão atrás de alguma bebida mais forte. continuou a olhar naquela direção e a balançar a cabeça em descrença. Não estava realmente brava com o homem, mas precisava ter algo a seu favor caso Tony resolvesse trazer à tona a história do atentado mais uma vez, ou caso precisasse pedir algo futuramente. Era melhor estar preparada.
- Vocês querem parar de me olhar assim? Eu realmente preciso de um laboratório – bufou ela ao perceber que os olhos de todos continuavam a encarar – Mais do que eu preciso de um quarto. Meu quarto é meu laboratório.
- Droga, a pipoca não chegou a tempo – queixou-se Clint ao se levantar do sofá – Fica para a próxima.
- Não vai ter pipoca? – perguntou Thor, que levara a brincadeira mais a sério do que deveria – Estou meio que com fome.
- J.A.R.V.I.S., guie Thor para a cozinha e Sam para um quarto, por favor – pediu , já caminhando para o elevador – Vou pegar os comunicadores e o restante vá se trocar.
Ela sequer dera um passo para longe antes de todos ouvirem Steve praguejar baixo.
- Que cara é essa, Rogers? – estranhou Natasha, parando ao lado do soldado.
- Não tenho mais um uniforme – suspirou ele, levando uma mão à testa e massageando a região – Perdi os dois. Tinha me esquecido disso.
- Certo, antes que alguém a me zoar, nós estávamos entediados... – começou Tony devagar, tentando encontrar uma maneira de contar aquilo sem que aquele assunto virasse a piada da semana. Mas era inevitável.
- Não acredito que você fez um unif...! – a frase de foi interrompida por sua própria risada – Eu pensando que vocês estavam fazendo ciência e na verdade vocês estavam brincando de costura!
- Nós começamos com dispositivos e uma coisa levou a outr... Barton já pegou o dele, leve Rogers e Romanoff para ver os novos brinquedos – pediu Tony à filha – Há algumas coisas para você lá também, porque o uniforme da S.H.I.E.L.D. não é legal o suficiente. J.A.R.V.I.S. vai te guiar. Na verdade, pode até ficar com aquele andar. É um bom laboratório, você vai gostar.
- Passo – murmurou Natasha, seguindo Thor – Essa história de parada na cozinha me soou bem legal. Pego o novo uniforme depois.
- Vamos lá, Rogers... Vamos ver o que a Stark & Banner Linha e Costura fez para nós – caçou ela, sinalizando para que o loiro a seguisse. Seu pai ao fundo a olhava feio – Vou para com o tempo, juro.
Aos poucos o grupo se dispersou: Bruce, Tony e Clint, que já conheciam suas acomodações no prédio, saíram para se preparar; Natasha e Thor seguiram para a cozinha – se sentiu tentada a segui-los, mas faria uma visita àquele andar logo –; com as instruções de J.A.R.V.I.S., Sam seguiu para um quarto provisório, com a tarefa de lembrar o máximo possível de especificações de seu antigo traje; e Steve e acabaram sozinhos no elevador, cada um apoiado em uma parede oposta.
- “Drª Stark”, hm? – comentou Steve, assim que as portas se fecharam depois da saída Sam – Fico feliz por você.
- É apenas um título acadêmico e não dá exatamente para coordenar lutar com a HYDRA e dar aula – lembrou ela – Lecionar parece bem mais assustador.
- Concordo plenamente – sorriu o homem – Tenho que te comprar um presente?
- O que eu tenho em mente você pode me dar agora e ainda fica tão feliz quanto eu... – murmurou ela, acabando com a distância entre eles enquanto Steve corava em um tom forte de rosa, tentando lidar com seu constrangimento. não conseguiu manter a expressão séria e se flagrou rindo, tomando o rosto do soldado em suas mãos e o puxando para perto – Você é a coisa mais adorável do mundo.
- Acho que não concordamos nesse ponto... – retrucou ele, contra os lábios da morena que se esticaram em um sorriso – Mas podemos entrar em um acordo depois.
- Vamos ter muito tempo para discutir isso... – acrescentou ela, extinguindo de vez a distância entre eles. Por estarem em um elevador que poderia abrir as portas a qualquer momento, além de ter câmeras – que Tony não estivesse monitorando seus passos na Torre –, o beijo não passara de um encostar inocente de lábios.
Steve se afastou em seguida, colocando seu cabelo escuro com cuidado para trás do ombro da morena, estudando com cuidado seu rosto, quase como se quisesse memorizar seus menores traços.
- Parece que eu te deixei sem graça lá em cima, não? – murmurou ele depois de um certo tempo, com um sorriso travesso nos lábios. Nem se quisesse adiantaria de alguma coisa mentir, então apenas riu e entrou na brincadeira.
- Como você conhece muito bem minha reputação, sabe que não é muito comum eu receber elogios... E Fury quase chorou meu parabenizando antes de irmos para o cemitério, aquilo mexeu muito comigo.
- Nick Fury quase chorou? – repetiu Steve, tentando manter a descrença longe de sua expressão para que contasse a maior mentira do dia sem se opor, mas seu tom de voz cético o denunciara.
- Ele é bom em esconder emoções, também não sabia que ele se importava tanto comigo.
- Com certeza é isso...
- Seu laboratório, Srtª Stark – anunciou J.A.R.V.I.S., o que fez com que os dois encerrassem o assunto – É a última porta.
nunca tinha estado naquele andar, e se perguntava o que tinha atrás daquelas portas do longo corredor. Se fosse um andar movimentado ela simplesmente mataria Tony. O problema sequer era barulho, já que nada que um bom isolamento acústico não resolvesse, mas sim qualquer grupo com mais de duas pessoas entrando e saindo de seu laboratório constantemente, fazendo perguntas, ou apenas tentando manter algum contato social que ela não desejava. No mínimo três vezes recebera advertência em Oxford por “falta de delicadeza para pedir que alguém se retirasse” de seu laboratório, e ela sequer passava tanto tempo por lá. Se os cientistas da Torre já tivessem certo tempo nas Indústrias Stark, eles já tinham certa noção de que a jovem Stark não era exatamente um amor de pessoa, mas novatos sempre saiam dos bueiros para lhe atormentar.
Ela definitivamente precisava ter uma conversa muito séria com Steve a respeito disso.
Balançando a cabeça para afastar tais pensamentos, abriu a porta de seu laboratório, com as luzes se acendendo automaticamente em seguida. Com certeza havia espaços muitos maiores e com mais materiais na Torre, mas sem dúvida aquilo era bem mais do que ela precisava. Aquele era um local obviamente preparado para física mecânica, embora talvez até pudesse desenvolver algo de química ali, se fosse necessário. Tony havia lhe oferecido aquela sala exatamente por isso, ainda mais que já tinha deixado claro que trabalharia no traje de Sam, e ali se encontrava quase tudo que precisava. A única coisa que lhe incomodava era que aquele não era exatamente o ambiente mais organizado que vira na vida.
- Mas é claro que Tony me deu o andar bagunçado... – resmungou , com o som da porta de fechando às suas costas – Por que estou surpresa?
Steve riu em concordância, mas sua atenção já não era mais da morena. O soldado se direcionava para uma das mesas mais organizadas, com três caixas sobre o vidro levemente empoeirado, identificadas na lateral pelo sobrenome de seus donos: o recém-formado casal e Natasha. Em um movimento sincronizado, cada um abriu sua própria caixa. Embora não tivesse visto as alterações feitas em seu uniforme depois do incidente com o cetro, Tony havia se aproximado consideravelmente do novo traje de : a calça justa de cor escura trazia proteção nos joelhos, e não era mais conectada à parte de cima, que fora dividida em duas partes; uma malha resistente de manga comprida, e um colete grosso no mesmo tom que a calça e alguns detalhes em azul apagado, que chegava até a metade de suas coxas e fechava até a base de seu pescoço. Havia algumas armas e coldres no fundo da caixa, um par de luvas sem dedo de couro escuro, assim como alguns objetos que pareciam explosivos e que era mais aconselhável perguntar a seu pai antes de mexer.
- Por que não estou surpresa em perceber que Tony tirou o decote do meu traje? E cobriu minha bunda – resmungou ela, com o colete sobre o corpo – Sério, para o tipo de pessoa que ele é, Tony é um pouco conservador demais comigo.
- Tem um zíper no colete, . Você não precisa subir tudo – murmurou Steve, embora estivesse observando seu próprio novo uniforme, e a morena o acompanhou: a calça era basicamente igual a sua, diferenciando apenas no tamanho e na cor, o azul do traje era um pouco mais vivo que o anterior, assim como também retomava as clássicas listras e os detalhes em vermelho e branco. Pessoalmente, preferia o último uniforme do soldado, apenas em azul escuro e alguns detalhes em branco, mas sua opinião mudou ao notar uma pequena peculiaridade que não existia nos trajes anteriores.
Steve se virara assustado para a porta ao ouvir o som estranho que a mulher produzira, só depois notando que ela apontava freneticamente para o uniforme que ele segurava.
- , que diab...?
- Tem um “A” no ombro do seu uniforme! TEM UM “A” DE AVENGERS NO SEU UNIFORME! – ria , mais animada do que esperava – Não estou acreditando nisso!
- O seu... não tem? – perguntou Steve, um pouco constrangido, e ela apenas riu mais.
- Primeiro meu pai e Bruce planejando uniformes, depois... Que amor! – continuou a morena, com uma mão de cada lado do rosto, apertando levemente as próprias bochechas – O seu é o único com identificação da equipe!
- Tem certeza que você está bem? – perguntou Steve preocupado, embora ainda risse um pouco. Ele devolveu o uniforme à caixa para ter as mãos livres para segurar os ombros da mulher ao seu lado.
- Eu preciso dormir! – confessou ela, passando as mãos pelo rosto em um movimento nervoso e depois passando para os cabelos – Mas não diminui meu surto porque você carregar o símbolo da equipe. Isso vai ser assunto por muito temp...
- Vá descansar, – cortou-a o soldado, apertando seus ombros de leve – Você não precisa começar hoje... Posso lidar sozinho com a equipe. O importante é você estar bem.
- Você sabe muito bem que vai ser um inferno para me fazer dormir... – resmungou ela, contrariada – E tem muita coisa para eu arrumar ainda... Pepper vai chegar logo. Dizer que preciso dormir não vai funcionar com ela, dizer que eu estou coordenando a missão daqui vai funcionar perfeitamente.
- Vou para o meu quarto me preparar.
- Leva as coisas da Romanoff para ela? – pediu ela, apontando para a caixa da ruiva – Vou arrumar umas coisas aqui primeiro e encontro vocês lá em cima.
Steve se inclinou para beijar sua têmpora, deixando-a sozinha no laboratório em seguida. Respirando fundo para tentar disfarçar o cansaço que começava a demonstrar, puxou uma das cadeiras com rodinhas da sala e saiu a arrastando até uma das mesas com computadores, sorrindo pelo cumprimento que o sistema lhe dera ao ligar o monitor. Depois que os Vingadores partissem em missão, ela teria bastante tempo sozinha, mas temia que talvez Sam ou Pepper ficassem próximos demais pelas próximas horas, e ninguém poderia sonhar com o que ela estava pretendendo fazer. Primeiro precisava voltar a ser a voz suprema do prédio, e só então entregar a J.A.R.V.I.S. a tarefa que ela não poderia cumprir sem levantar suspeitas, e precisava de resultados logo antes que perdesse de vez o pouco de sanidade que ainda lhe restava.
- J.A.R.V.I.S.? – arriscou a mulher, depois de terminar a sequência de códigos e confirmar a ação. Se tivesse cometido algum deslize, seria agora que Tony apareceria em sua porta exigindo explicações.
- Hierarquia de poder alterada – informou o sistema e ela respirou aliviada – Deseja reestabelecer as modificações feitas na última invasão, Srtª Stark? Um back-up sobreviveu às limpezas do Sr. Stark e está em boas condições.
- Não, querido. Vamos começar do zero – suspirou ela, encontrando uma caneta perdida na mesa e a batucando no vidro – Se eu usar qualquer coisa antiga Tony pode desconfiar e não quero ele pensando que eu baguncei suas configurações novamente. Na verdade, crie alguns arquivos falsos para caso ele suspeite.
- Trabalhando nisso, Srtª Stark.
- J., depois disso quero que você faça uma pesquisa e ninguém pode saber disso – avisou , girando a caneta nos dedos nervosamente – Quero que descubra tudo o que for possível sobre Valerik Ivanova.
- Algum motivo para isso, senhorita?
- Curiosidade – respondeu a mulher, e no fundo não estava mentindo. Era um pouco de curiosidade que estava a fazendo tomar aquela decisão, além de que informações sobre a tal Valerik poderiam lhe ser uteis quando encontrasse Barnes novamente. Iriam precisar de qualquer dado que pudesse conquistar a atenção do soldado, e talvez ele próprio tivesse dado uma pista importante – E J.? Peça para arrumarem um colchão para cá, por favor. Isso aqui vai totalmente virar meu quarto por um bom tempo.

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voltou para a sala alguns minutos depois, encontrando apenas Bruce e aproveitou para o ensinar o básico para conseguir passar pelo firewall da HYDRA. Não dava para torná-lo um expert no assunto ainda mais por ele não ter tanta experiência na área, mas a mulher ficara mais aliviada quando o moreno a contou que Natasha estava disposta a ensiná-lo no caminho até a base. Assim teria mais uma pessoa trabalhando na parte técnica, pelo menos enquanto não achassem necessário Banner dar espaço para o outro cara.
- Não precisamos planejar isso por mais tempo? – questionou Bruce, jogando seus óculos sobre a mesa esfregar os olhos – Desculpe, mas parece que estamos indo para um local onde nos querem mortos e sem preparação nenhuma.
Se fosse qualquer outra pessoa, a morena teria ficado no mínimo ofendida com a falta de confiança, mas era compreensível o receio de Bruce: de todos ali, ele era o que tinha menos experiência naquele tipo de operação e ninguém estava levando aquilo em consideração.
- Temos umas cinco horas até vocês chegarem, e quem tem conhecimento do local são Nat e Clint, e eles já devem estar passando detalhes para Steve montar a estratégia – explicou com tanta calma e boa vontade que até ela se surpreendeu – Eu vou tentar auxiliar da melhor forma possível daqui, monitorar os corredores e arredores, e essas coisas. Sei que parece que está tudo fora de controle, demorei muito para me acostumar com isso também, mas a verdade é que estamos trabalhando até com mais informações do que de costume. Vocês vão entrar em um lugar que nós já conhecemos, nem toda missão temos essa vantagem
- Você está bastante calma – constatou Bruce – Calma até demais.
- Não é a primeira vez que sou deixada para trás, nem a primeira que tenho que organizar o pessoal no campo – riu ela, voltando sua atenção para o monitor – Depois de uma operação em nível mundial, coordenar uma equipe de seis pessoas parece até brincadeira.
A dupla estava tão imersa em sua conversa que não notou o retorno de Steve, que os assistia ao longe, produzindo um som que expressava sua surpresa, o que atraiu primeiramente a atenção de . Se não estivessem com um pouco de tarefas demais para executar, a mulher teria passado mais tempo apreciando o soldado em seu novo uniforme. O anterior poderia ser o seu favorito, mas aquele também não ficava muito atrás.
- O que foi agora, Rogers? – perguntou ela, antes que se perdesse ainda mais em pensamentos inapropriados para o momento.
- Você realmente está calma.
- Esperava que eu estivesse surtando? – o tom levemente ofendido da mulher fez com que Steve risse, arriscando alguns passos até a mesa em que a dupla trabalhava com as mãos apoiadas em seu cinto de utilidades. O rumo que a discussão dos dois havia tomado mais cedo, com a morena achando que ele duvidava de suas capacidades, ainda atormentava um pouco a mente do soldado, que agora temia mais uma vez fazer uma escolha ruim e reviver aquele assunto.
- Um pouco – Steve acabou por confessar. Se mentisse seria ainda pior porque, aparentemente, ele era um péssimo mentiroso, e a mulher a sua frente era uma especialista – Você não tinha exatamente gostado da experiência.
- É, mas dessa vez é diferente. É uma operação menor, com um grupo menor, e eu não estou no topo da hierarquia do poder. Você que tem um “A” no braço, se eu der uma ordem que você ache equivocada, você vai tomar providências na hora – explicou ela, girando sua cadeira para ficar de frente com Steve – Durante a queda da S.H.I.E.L.D. a última palavra era minha, e não é assim que as coisas vão funcionar hoje. Claro que boa parte da responsabilidade de todo mundo voltar inteiro vai ser minha porque esse é o propósito de ter alguém monitorando, mas do mesmo jeito eu não preciso surtar... tanto. Dar ordens para o Tony vai ser um desafio, mas espero que ele me leve a sério.
- Já está falando mal de mim? – debochou Tony ao sair do elevador com o resto da equipe as suas costas.
- Estou me preparando para falar mal de você, depende muito ainda do que você vai fazer nas próximas horas, então não adianta me olhar assim – brincou , voltando sua atenção para seu monitor – A nave está pronta, estudando a firewall das bases... Para qual vão primeiro?
- Granada – respondeu Tony – , J.A.R.V.I.S. já abriu o canal que vamos usar. Fique com o comunicador também.
Ela apontou para a orelha, onde se podia ver parte do aparelho.
- Vamos partir, então – anunciou Steve, mas diferente do resto da equipe que se direcionou para a plataforma, o soldado se aproximou mais da mesa da integrante que ficaria no prédio, que já digitava algo agilmente em seu teclado. Ele se agachou ao seu lado, esperando pacientemente a mulher lhe dar atenção. Quando lhe lançou um olhar curioso com a sobrancelha erguida, ele sorriu, continuando com a voz baixa – Se quiser, pode só hackear a base e ir descansar. A gente se vira depois.
- Você é mais teimoso do que eu lembrava – suspirou ela, parando de digitar para deixar seus braços caíram ao lado de seu corpo – Pela milésima vez, não é tanta coisa assim.
- Você não tem moral para falar da teimosia de ninguém, sabia? – lembrou Steve rindo, voltando a ficar sério em seguida – Se ficar pesado, coloque o Sam para te ajudar. Não precisa se esforçar tanto logo de cara.
- James vai chegar em algumas horas, qualquer coisa ele me socorre – resmungou , ciente de que não adiantaria em nada insistir naquele assunto porque o soldado simplesmente não iria mudar de ideia – Adoro o Sam, mas transformar ele em um hacker requer um certo tempo que hoje nós não temos. E vai logo! O pessoal já está encarando...
Steve virou o pescoço apenas o suficiente para ver a equipe embarcando, obviamente observando os dois conversarem. Como antes de ser mandada de volta para a Europa eles estavam consideravelmente próximos, o loiro não acreditava que alguém tivesse suspeitando dos dois – com exceção de Natasha, que não tirava o sorriso maldoso dos lábios e não abandonava o olhar sugestivo que sempre lançava aos dois.
- Não dou uma semana para a Romanoff entregar a gente – sussurrou ele depois de um tempo.
- Ela não vai. Não vai ter nenhuma diversão se nos entregar – garantiu a morena, voltando a sua atenção para o monitor depois de ouvir o som de uma notificação – Você trabalhou com ela por dois anos, Steve. Sabe que ela é cruel.
O soldado se levantou enquanto concordava. A ruiva tinha assumido como missão especial lhe arrumar um encontro nos últimos meses, ela definitivamente não largaria de seu pé por semanas.
- Continuamos isso depois.
- Capitão – suspirou , prestando uma rápida continência.
- Agent... – devolveu o loiro, só então a realização o atingindo – Você não é mais uma agente, assim não tem graça.
- Ah, cala a boca, Rogers! Você não é um capitão de verdade – retrucou ela, com o braço esticado em direção a nave que já deveria ter decolado – Nós continuamos isso depois. Missão. Importante. Vai.
- Sim, senhora.

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Um incomum silêncio dominava a sala, principalmente por ter desligado a transmissão da equipe na nave por já ter esgotado a paciência do dia com as conversas entre eles, que apenas a distraiam. Sua tarefa dessa vez era tecnicamente um pouco mais complicada do que da última vez, já que agora importava se o inimigo soubesse da invasão de seu sistema. Precisava fazer um trabalho impecável e ficava um pouco difícil com Tony fazendo gracinhas em seu ouvido.
- Party Hard? – chamou-a Sam, entrando na sala com um tablet erguido no ar – Anotação de tudo que eu lembro.
- Você lembra pouca coisa, hein? – riu ela, aceitando o dispositivo e passando os olhos pelas anotações rapidamente – Chegamos faz o que? Quatro horas? E você ainda passou duas na cozinha.
- Eu fiquei meia hora na cozinha. O resto do tempo foi ouvindo vocês – se defendeu o moreno, puxando uma cadeira para se sentar ao seu lado – Eles já chegaram?
- Nem na metade do caminho ainda... – suspirou ela mulher, deixando o dispositivo de lado e voltando a digitar algo – J., faça upload das anotações, por favor.
- Com que destino, senhorita?
- Hm... Novo projeto. Falcão. Bloqueie o acesso do Tony também, por favor.
- Você realmente não vai deixar ele ajudar? – perguntou Sam, dessa vez mais curioso pela mulher continuar negando a participação de seu pai do que animado com a ideia de ter dois Stark trabalhando em seu traje.
- Passe uma semana aqui e você vai entender o que estou falando...
- Ainda não contou sobre você e Steve, não é?
- O que tem você e Steve, ? – a voz de Pepper ecoou pelo ambiente, fazendo com que os dois se virassem para a entrada. congelou por alguns segundos, se perguntando quanto Steve ficaria bravo por ela matar seu novo amigo – Você deve ser Sam Wilson.
- Essa é Pepper Potts, CEO das...
- Não sei se acho engraçado ou ofensivo vocês acharem que eu não conheço as pessoas só porque não sou conhecido – cortou-a Sam, apertando a mão da ruiva – É um prazer.
- Sabe, a minha Sam é mais amigável que você – resmungou a morena, torcendo para que Pepper esquecesse de voltar para o assunto anterior. A última coisa que precisava era ficar na mão de duas ruivas.
- Como Sam está? – perguntou Pepper e respirou aliviada antes de responder.
- Ajudando em Manchester. Barton a deixou no comando. Parece que ela também mandou bem no incidente com a HYDRA.
- Que nem você? Que quase foi morta no aquecimento?
Certo, aquilo não tinha previsto.
- Okay... – começou ela, com cuidado – Foi uma combinação infeliz de deslizes, meus e de terceiros, que resultou naquela infelicidade.
- “Infelicidade” é um eufemismo bem forçado, – retrucou a ruiva, com a expressão falsamente controlada – Você foi atacada por um... Pelo o que parece ser o maior assassino da história e você quase não sobreviveu.
- Peps, sei que você está ainda está abalada com essa história, mas seria muito bom se você não comentasse esse episódio de forma tão negativa, principalmente perto do Cap. Rogers – Pepper ficou levemente desorientada com a mudança de postura da morena. Sua voz também adquiria um tom mais sombrio, mas não chegava perto do contraste que seus olhos apresentavam. Pepper nunca tinha visto não séria antes, nem em suas últimas brigas com Tony antes de ir para Oxford – Não é culpa do Barnes, e quanto antes nós conseguirmos parar de associar a crimes da HYDRA vai ser melhor.
- Está dizendo isso apenas para escapar do sermão?
- Também – confessou ela com uma careta – Mas Steve está bem mal com isso tudo, ele demonstrando ou não. E mesmo assim é um bom exercício porque vamos precisar de muito cuidado e paciência quando encontrarmos o Barnes, e ele não merece menos do que isso.
- ... – suspirou Pepper, passando a mão na testa em um movimento cansado – Ele quase te matou.
- A HYDRA quase me matou, não ele. Olhe as atrocidades que eles fizeram com o cara, Pepper! – os gestos amplos denunciavam o leve descontrole de . Nos últimos dias, quase sempre que tinha um momento de paz, aquele assunto ocupava sua mente. Não iria mentir e dizer que não precisava fazer um esforço tremendo para não visualizar mentalmente a silhueta ameaçadora de Barnes toda vez que alguém trazia aquele assunto de volta à tona, e não era um símbolo de HYDRA que perturbava seu sono, mas seu olhar frio – Se não consegue compreender com isso, apenas tente imaginar se Loki tivesse tido sucesso comigo: ele já estava preso em outro planeta, e mesmo assim eu quase matei os Vingadores. E ainda assim é uma comparação ridícula porque eu tive culpa naquele episódio, e Barnes não tem culpa nenhuma. Então sim, eu vou ficar um pouco chateada se vocês não conseguirem criar pelo menos um pouco de empatia por ele. É levemente pessoal para mim.
Um severo silêncio teria se instalado se Sam não tivesse pegado um detalhe peculiar no relato da morena, se intrometendo na conversa sem pensar que seria no mínimo inapropriado.
- Espera, você quase o que? – repetiu Sam – Você quase matou os Vingadores?!
se virou para o homem lentamente, sentindo certa dificuldade em entender como ele chegara naquele tópico e como diabos ele achou que era um bom momento para abordá-lo. Embora tivessem mudado para outro assunto também delicado, Pepper agradeceu mentalmente por Sam ter desviado a atenção dela. Não gostava nem um pouco de falar sobre aquele dia e não se sentia nem um pouco confortável para fazer isso agora.
- Você é esperto, fica sempre quieto para pegar essas informações no ar, não? – resmungou para o moreno – Estou começando a entender sua tática.
- Você quase mat...?!
- Te explico mais tarde, feliz?
- Tipo todos os Vingadores? Sério?
-Thor já tinha voltado para Asgard, e, tecnicamente, Tony e Bruce não entraram na briga de verdade – contou ela, tentando relembrar o relato que estava em sua ficha. Até aquele dia tinha certa dificuldade em montar com sucesso o quebra-cabeça que era aquele espaço de horas em que ficou sobre o controle do cetro, não conseguia algo concreto o suficiente em suas memórias para contar o que acontecera – E eu retomei o controle antes que algo ruim acontecesse, então não passou de um ataque.
- A história parecia mais legal antes de você explicar – confessou Sam e, ao ver o olhar horrorizado que a mulher lhe lançava, percebeu que havia sido um pouco indelicado – Dramática, claro! Perder o controle de sua mente para outra pessoa, horrível, concordo. Mas eu posso atacar os caras, posso não causar um arranhão na armadura do seu pai, mas continua um ataque.
- Só para acabar com essa conversa: Romanoff e Rogers perderam para mim naquele dia, eu só não finalizei o Barton porque o Sr. América não deixou, mas dos três ele saiu mais machucado. Tony não seria nenhum desafio, e Banner teria sido algo no mínimo inusitado de enfrentar, e provavelmente ia morrer tentando – o sorriso discreto de canto que mostrava enquanto apontava o dedo para Sam deixou claro que ela levara na esportiva, automaticamente aliviando a tensão no ar – Então podemos dizer que eu quase derrotei 4/6 dos Vingadores. Tirando Banner, nenhum deles conseguiria me conter, e você não vai tirar isso de mim.
- Você consegue derrotar o Steve? – perguntou Sam cético.
- Sim. Eu ganho dele em agilidade, só teria problemas se tentasse estender o tempo de luta aos extremos, aí ele ganharia de mim em resistência e força – explicou , visivelmente ofendida – E eu conheço o estilo de luta dele, mas ele não sabe o meu porque faz quase dois anos que ele não me enfrenta, então se quando eu ter minha revanche você estiver aqui e tiver rolando apostas, que eu sei que vai estar, colocar dinheiro no Sr. América não é uma boa escolha. Não que ele vá pegar leve comigo, porq... Ele com certeza vai querer pegar leve comigo, não vai? É a cara dele.
- Eu estou tentando imaginar vocês dois lutando, mas minha mente continua dando tela azul – riu Sam – Sabe aquela história de que primeiras impressões são as que ficam? Não consigo imaginar vocês brigando.
- Ai meu Deus, Pepper! – ofegou a morena, se virando para a mais velha com um largo sorriso no rosto – Sam pegou só a minha fase de pessoa agradável, isso nunca aconteceu antes! Ele acha que Steve sempre foi um amor comigo!
- Primeiro que eu te conheci semana passada, então é um pouco cedo para poder dizer que você é uma pessoa agradável – se intrometeu Sam, recebendo um olhar mal-humorado da jovem em seguida – E eu já tinha nascido quando você estava nos holofotes, então tenho uma leve ideia de como você era antes.
- Sabe de uma coisa? Natasha me avisou que você poderia usar esse argumento da mídia.
- Antes que vocês continuem se conhecendo, pode me contar o que está acontecendo entre você e o Cap. Rogers, ? – perguntou Pepper com os braços cruzados e um olhar sério que deixava claro que ela estava com problemas.
abriu a boca várias vezes, mas a desculpa não saia.
- Está vendo, não é? – bufou ela, se virando para Sam – Por causa da mídia eu nunca conseguia esconder meus rolos, e agora eu não tenho experiência nem um bom repertório de desculpas desse gênero, e só agora eu percebi que estou muito ferrada.
Pepper momentaneamente esqueceu tudo o que estava pensando de positivo da morena a sua frente, tirou de sua mente aquela expressão séria e determinada de quem estava tentando defender alguém inocente de uma injustiça. Tony havia dito a ela que mudara muito nos últimos anos, mas a verdade era que ela continua a mesma garota irresponsável que sempre fora, e mais uma vez Pepper que teria que arrumar sua bagunça. Só estava encontrando uma bagunça a mais do que esperava.
- Ah, pelo amor, ... Rogers?! – rosnou a ruiva – O que você tem na cabeça? Ele trabalha com seu pai!
- Por que todo mundo traz o Tony para história como se fosse impossível nós convivermos sem a interferência de um terceiro? – indagou , começando a ver um certo padrão nos argumentos que lhe era apresentados – Não preciso de terceiros para ter alguma ligação com Rogers, antes de qualquer coisa eu sou amiga dele, mas todo mundo adora esquecer isso.
- Eu não estou dizendo que é impossível você ser amiga dele, mas isso não muda o fato de que ele trabalha com seu pai – retrucou Pepper – Ele é o Capitão América, você não pode simplesmente brincar com ele como faz com os outros. Sei que você odeia isso, mas existe uma coisa chamada limites, .
- Antes de ser o Capitão América ele é um cara normal – lembrou a morena, com o maxilar travado. Aquela era a segunda discussão tensa que tinha naquele dia e ela não conseguia ver Pepper a beijando para encerrá-la – E não fale comigo como se eu fosse uma pirralha irresponsável. Sei muito bem o que estou fazendo.
- Sabe? Porque para mim parece que você está querendo brincar de ter dezesseis anos novamente e tentar endoidar todo mundo.
respirou fundo e fechou os olhos, controlando todas as respostas malcriadas que poderia dar à ruiva, mas que não melhoraria em nada sua situação. Sequer podia julgar muito a mulher: ela havia passado por uns bons bocados para controlar sua imagem quando começara a seguir demais os passos de Tony, e adicionar o lendário Capitão América a sua lista seria seu auge.
- Não é como você está pensando – disse ela por fim, soltando todo o ar de uma vez – Não estou brincando com ninguém.
- Então é algo sério?
- Não! Sim! Quero dizer, n... É e não é. Nós não conversamos sobre isso, mas ficou implícit... – bufou alto, jogando a cabeça para trás e batendo os pés no chão algumas vezes, como uma criança contrariada – Essa é uma pergunta muito difícil, Pepper.
- As perguntas difíceis ainda nem chegaram, .
- É que é complicado... Estamos em um cenário nem um pouco favorável – o olhar que sua quase enteada lhe lançava era tão cansado que Pepper começou a pensar que talvez, lá no fundo, a morena estivesse lhe dizendo a verdade – Foram muitas tentativas de assassinato em poucos dias e ainda está tudo uma bagunça.
- E você acha que esse tipo de envolvimento vai fazer o cenário melh...?
- Você não está entendendo, Peps...! – choramingou . Fosse o cansaço físico e mental daquele dia que parecia não terminar ou seu desconforto com o assunto, mas estava sendo mais difícil do que deveria formular uma frase com sentido – Vou tentar simplificar: tem eu, aí tem o Steve. Até aí está tudo bem, mas só que também o Barnes no meio e tem a HY...
Pepper arregalou os olhos instantaneamente e só então entendera uma outra interpretação que se poderia tirar de sua fala, e se desesperou mais.
- Não no meio desse jeito, Pepper! – choramingou ela entre risos nervosos, escondendo o rosto entre as mãos em seguida – Céus, Thor podia mandar um raio na minha cabeça agora.
- Eu estou tão feliz por estar ouvindo essa conversa – confessou Sam com um largo sorriso, esticando uma mão para dar algumas batidinhas no ombro da morena – Você está absolutamente detonando.
- Para de rir e me ajuda, Wilson!
- Só respire fundo e diga a ela o que você disse para o Rogers quando estávamos vindo para cá – aconselhou ele, aproximando sua cadeira para passar um braço por trás de seus ombros, só não esperava que a mulher mudaria de tão rápido de humor.
- Vocês estavam ouvindo?!
- Estávamos tentando ouvir, é diferente – o moreno tentou se defender, se afastando da mais jovem antes que ela resolvesse o atacar – Vou deixar vocês conversarem e aproveitar a deixa para voltar para a capital.
- Você vai o que? – repetiu ela, lançando um olhar confuso para o homem já de pé – Por quê?
- Você e Steve têm muito que fazer, mas eu não sou necessário aqui – explicou Sam, escondendo as mãos nos bolsos e dando de ombros – Nem na construção do meu traje eu posso auxiliar. Melhor me focar em achar nosso adorável amiguinho.
- Sozinho?!
- Vou fingir que seu tom de voz não me machucou – disse ele, sorrindo irônico.
- Gostaria de poder dizer outra coisa, mas o mundo não é perfeito e Barnes é perigoso – lembrou , voltando sua atenção para seu monitor e minimizando tudo que envolvia a missão atual – Se ele ainda estiver instável, você não tem chances contra ele.
- Fala a garota que ele quase matou – retrucou Sam e logo o som da testa da morena colidindo com o vidro da mesa ecoou pelo ambiente.
- Eu tinha acabado de conseguir mudar de assunto, Wilson...! – reclamou ela, lançando um olhar nada humorado para o homem antes de voltar a sua nova tarefa. Não demorou muito para que ela configurasse um canal particular para os dois, tirando um comunicador da caixa que ainda estava na mesa depois de providenciar uma passagem de última hora para Washington e entregar o aparelho a ele – Fique sempre de comunicador. Se você encontrar alguma pista do Barnes, não ouse ir atrás deles antes de eu chegar. Ele deve estar instável. Você é bom, mas até para mim ele é um adversário complicado, vide minha quase morte.
- Sim, senhora – concordou Sam, rindo ao vê-la revirar os olhos com o tratamento enquanto ele encaixava o aparelho no ouvido, logo ouvindo J.A.R.V.I.S. o cumprimentar pelo canal – Funcionando.
- Com essa coisa de organizar tudo por aqui meu tempo para trabalhar no seu traje foi drasticamente reduzido, mas vou te manter informado – continuou , e Sam podia ver em seu rosto como ela queria focar em seu traje embora não tivesse tempo para isso – Tem certeza que quer ir? Esperar o pessoal voltar da missão?
- Eu mando um oi depois – disse ele, se adiantando para beijar seu rosto em despedida, apenas acenando para a ruiva já que agora ela parecia ainda menos amigável – Srtª Potts.
As duas mulheres assistiram Sam entrar no elevador, e permaneceram em silêncio quando as portas se fecharam e elas estavam sozinhas no cômodo. já estava cansada de ter que argumentar e discutir, mas a ruiva não desistiria daquilo tão cedo, e, mesmo não planejando contar para Tony em um futuro próximo, era bom ter logo a mulher do seu lado.
- Vamos lá, se explique – incentivou Pepper, depois de ter dado tempo o suficiente para a morena se preparar.
- Eu não sei como você pode ter coragem de me chamar de irresponsável depois do que aconteceu em Washington – murmurou logo de cara, sem rodeios. Claro que a visão de responsabilidade que Pepper tinha era bem diferente dos conceitos de Fury, ou até mesmo de Steve, e ela sabia disso, mas não conseguiu se sentir menos ofendida. não tinha passado por aquele inferno para ser chamada de irresponsável depois.
- Você quer dizer depois de você quase ser assassinada?
- Sim, principalmente depois disso – retrucou ela, respirando fundo para tentar se acalmar antes que começasse a gritar com a ruiva e perdesse o resto de moral que tinha com ela, se é que algum dia teve – Com o estresse pós-traumático, ninguém me julgaria se eu ficasse de fora da operação, mas eu sabia que eles precisavam de mim do jeito que fosse. Se eu não podia lutar, eu poderia pelo menos... Sei muito bem que devo ter cometido dezenas de erros e esses erros resultaram em mortes de colegas, e que as coisas poderiam ter sido diferentes se eu fosse um pouco mais forte emocionalmente.
Mesmo com suas longas pausas, Pepper não ousou a interromper. Aquela não era a primeira vez que era obrigada a colocar a jovem contra a parede, e provavelmente não seria a última, mas tinha algo diferente nela, e não era algo positivo. Era um cansaço misturado com culpa que não era saudável, uma manifestação diferente do transtorno de estresse pós-traumático que Tony apresentava. precisava de ajuda e só agora Pepper percebia que estava fazendo tudo, menos ajudar.
- E quando tudo acabou eu ainda fiquei três noites ao lado da cama do Rogers no hospital, e a única coisa que eu conseguia pensar era que aquilo era minha culpa, que teria sido diferente se eu tivesse feito o que eu deveria ter feito, que era estar no lado dele – continuou , com a expressão neutra – Não faço ideia de como vão ser as coisas entre mim e ele porque com certeza esse é o pior momento para começar algo, nós dois temos mais problemas e responsabilidades para lidar do que é humanamente possível. Mas nós vamos encontrar um jeito, ou criar um, se necessário.
- Você gosta dele – suspirou Pepper quando a mais jovem apenas concordou com a cabeça – De verdade.
- Tipo isso.
- Já falou com seu pai? – perguntou a ruiva e suspirou alto.
- Nós nos acertamos faz cinco horas, Peps. No caminho para cá – contou ela, com os ombros caídos – Não deu tempo de fazer muita coisa, e eles iam sair em missão logo. A última coisa que precisávamos era de uma bomba como essa sendo solta.
- Você fala como se fosse uma coisa ruim – estranhou Pepper, puxando a cadeira antes ocupada por Sam e se sentando ao lado da morena.
- Não conhece meu pai? Ele vai encarar como uma coisa ruim – corrigiu ela – Imagina a cena que ele vai fazer! Vou ter que pensar muito bem em como e quando contar. Mas alerta de spoiler: não vai ser tão cedo.
- Na verdade, quanto mais cedo você tornar isso público talvez menos problemas você tenha.
estava com as mãos suspensas sobre seu teclado, pronta para voltar às suas tarefas, mas parou ao não conseguir entender exatamente o que Pepper estava dizendo. Não parecia que ela estava se referindo apenas a Tony, mas sim público em seu sentido mais amplo. Quanto mais tempo passava encarando a mulher, mais certeza tinha que estava sugerindo sem sentido.
- Espera, público mudou de significado ou você realmente quiser dizer público? – perguntou ela por fim – Estampado em jornais, esse tipo de público?
- Sua imagem está completamente fora do controle – começou a ruiva com cuidado. Desde a queda da S.H.I.E.L.D. que havia perdido por completo o controle da jovem, e isso era ruim tanto para ela quanto para das Indústrias – Eu já estava pensando em meios de consertar isso, e se você estiver namorando o Capitão Amér...
- Virginia Potts, você ouviu o que acabou de dizer?! – grunhiu a morena, batendo as mãos com força no tampo de vidro da mesa e logo checando se não havia quebrado o material – Deve ser a pior coisa que eu já te ouvi dizer até hoje!
- A única forma de reverter o que está acontecendo é mostrar uma mais responsável, já que aparentemente você se tornou uma – insistiu Pepper – Rogers é uma figura responsável, e eu estava pensand...
- Já começou errado – cortou-a , gesticulando rápido – A mídia odeia a responsável, eles gostam da Party Hard.
- Pessoas estão acreditando que você ingressou no grupo de super-heróis, – bufou Pepper, séria – Está tudo errado.
- Só que eu ingressei no grupo, Pepper, e... – parou sua frase no meio, pensando em algo que até aquele momento nunca havia se preocupado – Espera, eu já tenho um nome?! Se não, eu posso fazer sugestões?
- , é um assunto sério – a repreendeu a ruiva.
- Eu sei que é sério! – retrucou , ofendida pela mulher achar que ela estava brincando – Ou você acha que eu quero ser conhecida por um nome bosta tipo Gavião Arqueiro? Preciso de alguma coisa que não tenha nome de bicho...
- Qualquer dia eu te jogo para fora do ninho, Stark. Abre o olho – murmurou a voz de Clint em seu ouvido, e todo o ar de seu corpo resolver a abandonar.
- Eu fechei minha transmissão...! – ofegou ela, voltando sua atenção para o monitor e tentando entender o que acontecera – Como diabos vocês abriram daí? Há quanto tempo vocês estão ouvindo?!
- Claro, porque isso é uma coisa super impossível de se fazer... – debochou Tony.
- Por que o desespero, Stark? – provocou o arqueiro – Algo que não deveríamos ouvir?
- Eu realmente estou um desastre hoje, não é? – choramingou , se virando para Pepper – Em cinco minutos eu já cometi dois deslizes idiotas.
- Sempre bom ouvir isso da pessoa que vai nos monitorar... – comentou Natasha, fazendo o resto da equipe rir em concordância.
- Um problema de cada vez! – resmungou a morena, pronta para fechar a transmissão mais uma vez – Precisam de mim? Não? Me chamem apenas quando precisarem.
Assim que clicou para bloquear a comunicação com a nave, deixou sua testa apoiada na mesa enquanto respirava um pouco mais aliviada: se eles tivessem escutando a conversa por muito tempo, a transmissão teria se tornado um caos com as perguntas sobre seu envolvimento com Steve, então aquela havia passado apenas bem perto.
- Se vai ser assim todo dia, eu realmente vou dar adeus à minha sanidade – suspirou ela, se ajeitando em sua cadeira – Eu devia ter lido o contrato antes de concordar com isso.
Quando arriscou olhar para Pepper a expressão da ruiva era uma forma visual de dizer “eu te avisei”
- Você não é uma deles, .
- Eu não sou uma heroína, Pepper, mas sou parte disso – contradisse ela, girando sua cadeira para a mulher – Derrubar a HYDRA é minha responsabilidade também, e não vou parar apenas porque você não concorda. Só estou fora da ação por causa do meu tornozelo idiota. No momento que ele não for mais um empecilho, eu passo a integrar as missões, entendeu?
Pepper não respondeu nem concordou, mas a morena já esperava por aquilo. Fazia muito tempo que ela não precisava da permissão da ruiva para fazer algo e aqueles tempos não voltariam.
- Se quer que eu participe das reuniões na Torre uma vez ou outra para acalmar a mídia? Tudo bem, mas você não vai arrastar Steve para essa doideira – bufou , a contragosto. Já estava considerando aquela opção há alguns dias, embora não estivesse gostando mais dela desde então – Só que você não vai me trancar em um escritório para brincar de executiva. Não é o meu lugar.
Pepper respirou fundo e segurou por alguns segundos, soltando apenas quando esticou os braços para tocar os joelhos de , estudando seus traços e vendo quanto ela tinha mudado desde a primeira vez que se viram. Ela era tão cabeça dura quanto o pai, e ainda mais difícil de convencer.
- Eu me preocupo com você, , como se realmente fosse minha filha – suspirou a ruiva, apertando o joelho de com carinho – Sequer sei como consegui sobreviver a todas as vezes que seu pai se meteu em problemas, mas você é diferente, é capaz de se virar sem uma armadura, só que também é muito mais exposta do que ele. Nos últimos dois anos você passou por três momentos críticos onde tudo poderia ter dado errado, um a mais que Tony, e isso não vai parar se você insistir em continuar, só vai piorar. Agora pode ser sua chance de deixar tudo isso para trás e viver uma vida normal, , e talvez você não tenha outras.
não respondeu logo de cara, aceitando as palavras da ruiva e permitindo certo silêncio em respeito a ela, mas nada daquilo mudava o que pensava.
- Eu tenho uma equipe esperando pelo meu suporte, Pepper – disse ela por fim, voltando a ficar de frente para sua tela – E eles não começam até eu terminar a minha parte.
Pepper se levantou com um sorriso conformado, beijando sua testa antes de deixar a sala para ir descansar, por já ter tarde da noite e ela ter reuniões pela manhã. apenas lhe desejou boa noite, passando as mãos nervosamente pelos cabelos antes de voltar a sua tarefa de hackear a base que invadiriam. Não demorou muito para que J.A.R.V.I.S. lhe avisasse que seu pai estava tentando reestabelecer a conexão, mas que isso só era possível se ela permitisse.
- A discussão com Pepper pareceu um pouco tensa... – foi a primeira coisa que Tony disse, assim que percebeu que a linha voltara a funcionar – Está tudo bem?
- Ela vai se acostumar com o tempo, espero... – suspirou ela, fechando aquele canal apenas para eles – Você está lidando com essa história muito melhor que ela, a propósito.
- Ela nunca te viu lutando, coração – suspirou ele, jogado em um dos bancos na nave, sinalizando para que Clint o deixasse em paz – Pepper às vezes esquece que você cresceu e não precisa da proteção dela.
- Quero apenas deixar claro que estou gravando essa conversa para usar em futuros momentos oportunos, Sr. Stark – brincou , embora realmente estivesse registrando a transmissão. Seu passatempo preferido era irritar Tony e aquilo ainda lhe seria muito útil no futuro.
- Há uma diferença bem grande entre querer estar perto para te proteger e querer te colocar em plástico bolha como se você fosse feita de vidro.
- Você já me ameaçou trancar na Torre duas vezes, Tony.
- Instinto natural de pai se manifestando, não tenho culpa – se defendeu ele, suspirando alto em seguida – Olha, não vou mentir, ter você na equipe vai ser o maior desafio da minha vida porque vou estar perto o suficiente para te proteger e mesmo assim muitas vezes não vou poder. Não faço ideia se tenho autocontrole para isso, mas vou ter que me esforçar porque precisamos de você nessa, vai tornar as coisas muito mais fáceis. Se eu posso lidar com isso, Pepper também vai se acostumar com a ideia de você como uma de nós.
¬Avril parou de digitar, levemente perplexa. Eram poucos momentos em que Tony parava de fazer brincadeiras e falava sério, e ela não esperava que aquele se tornasse um daqueles momentos.
- Obrigada, pai.
- Perdoado por não ter ido na sua defesa de tese?
- Sabia que você não estaria sendo legal sem motivo...! – resmungou ela, não aguentando e rindo em seguida – Agora precisa me concentrar, por favor. Me chamem só se for extremamente necessário.
- Sim, senhora.

Capítulo 28


Já era tarde da noite quando os Vingadores retornaram da missão, dois dias depois, cada um mais cansado que o outro, todos em um acordo silencioso de não manter mais conversas e apenas seguirem para seus quartos. Maria Hill pacientemente esperava o retorno da equipe batucando suas unhas bem feitas no tampo de vidro da mesa. Sua antiga subordinada, também conhecida como Stark, havia deixado-a encarregada de ficar de prontidão para quando eles chegassem com todas as informações novas que havia conseguido em mãos, e pronta para atender qualquer pedido que fizessem, já que ela se sentia indisposta – havia passado praticamente o dia inteiro apenas supervisionando o seu trabalho – e precisava descansar.
praticamente estava se vingando de todas as vezes que a morena pegara em seu pé.
- Cadê a ? – perguntou Steve, depois de a mulher ter feito um breve resumo do que haviam obtido naquela missão.
- A Srtª Stark já se recolheu, senhor – respondeu Hill, abraçando seu tablete contra o peito. A seriedade em sua voz adquiriu um tom diferente e o arqueiro, que seguia Steve com alguns passos de distância, começou a rir discretamente, cutucando Natasha para que ela parasse de reclamar e prestasse atenção no que acontecia.
- No quarto dela ou no laboratório?
- No laboratório, senhor.
- Como está sendo receber ordens da pirralha, Hill? – perguntou Clint quando todos pararam para esperar as portas do elevador se abrirem, cruzando os braços com um sorriso divertido nos lábios.
- Havia uma razão para eu sempre discordar do Fury toda vez que ele resolvia dar mais poder para a garota... – começou a mulher, evitando o olhar de Tony antes de continuar – Ela vira uma cretina quando pode mandar em alguém.
- Essa é minha filha...! – riu o bilionário satisfeito, dando leves batidas no ombro da morena – E sua chefe, Hill. Deixei isso bem claro quando você começou aqui.
- O aviso não a torna mais amigável.
- Hill, ela já separou a próxima missão? – perguntou Steve antes que a discussão se estendesse mais. O grupo não tinha as vozes mais calmas e baixas do mundo, mas ele estava lutando tanto para manter os olhos abertos e prestar atenção no que acontecia à sua volta que poderia encostar em uma parede e dormir ali mesmo.
- Sim, Capitão. Ela pediu que você a fosse até o laboratório quando chegasse.
- J.A.R.V.I.S., ela já está dormindo?
- Acredito que não seja possível dormir e estar no Twitter ao mesmo tempo, senhor.
- Vou ver o que ela quer, vejo vocês amanhã – avisou Steve, se apressando para apertar o botão do andar do laboratório de antes que o elevador em alta velocidade passasse de onde ele queria parar, com as portas se abrindo segundos depois.
- “Vejo vocês daqui uns três dias”, você quis dizer... – resmungou Clint quando o soldado passou ao seu lado – Tenho muito sono atrasado para colocar em dia.
Assim que as portas do elevador se fecharam, o silêncio absoluto voltou ao corredor. Aquele andar era apenas de laboratórios e, como o expediente já havia acabado, quem trabalhava ali já estava confortavelmente em suas casas. Como o prédio era a casa de , aquilo não deixava se ser mentira.
Por ter transformado parte do ambiente em seu quarto, a segurança do laboratório havia sido aumentada e a entrada restrita, com as portas se abrindo apenas depois da identificação como um dos Vingadores. Não demorou muito para que J.A.R.V.I.S. liberasse sua entrada, e Steve teve que ficar um tempo parado no portal para se acostumar com a falta de iluminação do laboratório em contraste com o corredor claro demais que tinha acabado de sair. O ambiente estava quase todo tomado pela escuridão, com poucos pontos iluminados pelas luzes de aparelhos e monitores que continuavam ligados, rodando programas e simulações que ele até se esforçava para entender e na maior parte das vezes até entendia, embora sua mente deletasse toda a informação nas próximas horas. Um aparelho em especial denunciava a localização de , já que o celular que ela mexia estava próximo ao seu rosto, com o brilho baixo refletindo a luz azulada em sua pele.
- Por que você está no Twitter? - perguntou Steve ao entrar de vez no laboratório, tirando o escudo das costas e o deixando próximo à porta. Mesmo por entre as mesas ele conseguiu ver a morena tentando esconder o celular por debaixo das cobertas, erguendo a cabeça para tentar ver quem era, como uma criança que era flagrada acordada depois de ter passado da hora de dormir.
- Porque o Tumblr nesse horário é um lugar perigoso quando se está tentando deixar sua mente pura... – bocejou ela, e logo o soldado estava sentado na beirada de seu colchão. Seu semblante era puramente cansaço, e a mulher sequer tentava disfarçar. Se iludira em pensar que o tempo afastada por sua lesão seria mais calmo, esquecendo-se de levar em conta todo tipo de função extra que acabaria exercendo na Torre – Sabe aquelas mães corujas que não dormem enquanto os filhos não chegam em casa? Aparentemente eu não durmo enquanto vocês não chegam.
- Todos já estão em casa e inteiros, você já pode dormir um pouco - murmurou Steve, se inclinando para beijar a testa da mulher, deixando uma mão em seus cabelos esparramados no travesseiro e se encolheu com um sorriso. Carinho no cabelo era golpe baixo – Vou deixar você descansar.
- O que? Não! – choramingou ela, puxando o homem pelo braço e fazendo com que ele se deitasse de qualquer jeito – Você não veio para discutir a próxima missão? Não preciso dos meus olhos abertos para falar...
- Foi só uma desculpa para termos um tempo sozinhos – confessou ele, virando o rosto minimamente para encarar a morena que descansava o queixo em seu ombro. soltou uma risada baixa e rouca antes de se deitar parcialmente em cima do soldado, com uma mão em seu ombro e a outra inocentemente descansando próxima à base de seu pescoço.
- Querido, ninguém vai aparecer aqui pelas próximas cinco horas – sussurrou ela, como se contasse um segredo – É o máximo de tempo sozinhos que podemos ter nesse prédio.
- Eu avisei a todos que vinha falar contigo, eles vão estranhar se eu não voltar – argumentou Steve, envolvendo a mão da morena próxima ao seu pescoço com a sua, em um aperto carinhoso. A verdade era que ele queria ficar ali, aproveitar o pouco tempo livre que tinha em sua companhia, e logo ele percebeu que talvez já tivesse tomado algum tipo de providência sobre isso, já que o olhar sugestivo que ela o lançava o incentivava a pedir explicações – O que você fez?
- J.? Onde está o Capitão Rogers? – perguntou ela, sem quebrar o intenso contato visual e alargando seu sorriso convencido.
- O Cap. Rogers se recolheu para seus aposentos, Srtª Stark. Pediu para que não fosse perturbado.
- Ele vai responder algo menos educado se você perguntar onde eu estou – acrescentou ela enquanto o soldado ria descrente. – Seus ouvidos educados vão ficar traumatizados se você perguntar.
- E se seu pai insistir? – continuou ele, voltando a ficar sério – Pensei que você não estava no clima para lidar com ele sobre isso.
- Acha que Tony que comanda a Torre? Querido... – começou , com a voz suave como se estivesse consolando alguém que havia sido enganado – Você já me conhece há um certo tempo, e já me viu fazer isso antes.
- Você alterou a ordem de poder de novo?
- Segredo de Estado, Rogers – avisou ela, soltando sua mão da dele apenas para apontar o dedo perto de seu rosto – Você não diz nenhuma palavra sobre isso.
- Tudo bem, eu fico aqui... – Steve se deu por vencido, aproveitando a mão livre para tirar suas botas mesmo sem levantar.
- Mas com uma condição... – avisou , lhe mostrando um largo sorriso – Toma um banho primeiro, por favor.
- Está tão ruim assim? – brincou o soldado, se pondo de pé com um resmungo baixo. Talvez Clint estivesse certo, eles precisavam muito dormir até recuperar todas as horas de sono atrasado.
- Está vendo aquele armário lá no fundo? Tem algumas peças de roupa no fundo – se apoiara em um dos cotovelos, erguendo o outro braço para indicar as direções para o loiro – Camiseta é certeza que não serve em você, mas calça pode ser que sim. Acho meio impossível você ter mais bunda do que eu...
- Olhos para cima, soldado – provocou Steve, quando percebeu que o silêncio da morena era por estar ocupada olhando para outra coisa.
- A vista é boa tanto em cima como embaixo, então... – ela sorriu de lado, e Steve virou o rosto, constrangido – Pode me prometer uma coisa?
- Eu não sou louco de falar sim antes de saber o que você quer.
- Nunca pare de corar – pediu , tombando a cabeça para o lado e fechando os olhos enquanto sorria para ele – Faz com que fazer esse tipo de comentários seja ainda mais legal.
- Você é uma pessoa horrível, Stark.
- Me esforço para isso... – concordou ela, apontando em seguida para uma área mais afastada do ambiente – O banheiro fica para lá. Tem algumas toalhas embaixo da pia. Seja feliz.
- Espero que você já esteja dormindo quando eu voltar – avisou Steve, se afastando da cama e se direcionando para os armários.
- E perder a chance de te ver sem camisa? – riu a mulher, se enrolando mais uma vez em seus lençóis e ligando a tela de seu celular – Não vou morrer se ficar mais um pouco acordada.
- Vai desobedecer uma ordem direta de seu capitão, Stark? – repreendeu-a o loiro, com um sorriso discreto enquanto rumava para o banheiro.
- Não é justo! Não sei se você está brincando ou falando sério – reclamou , rindo baixo em seguida e voltando sua atenção para o aparelho em suas mãos – Isso vai ser divertido.
Não demorou muito para que Steve retornasse do banheiro, com os cabelos recém-secos e ainda um pouco bagunçados, trajando a maior calça de moletom que encontrara no armário, que até lhe servira bem. Sem a tela do celular de ligada, foi um pouco mais difícil do que imaginara andar pelos corredores de mesas sem esbarrar em nada, receoso por não saber que tipo de material estava guardando naquele ambiente, mas logo ele estava seguramente sentado na beirada da cama com a cabeça entre os próprios joelhos, se questionando se aquela era realmente uma boa ideia. Não estava exatamente acostumado com aquele tipo de contato.
- Você pode deitar, sabia? Não vou abusar de você – a voz rouca da mulher chegou a seus ouvidos depois de um bom tempo, fazendo com que ele se virasse para fitar seu rosto parcialmente escondido por trás de seus cabelos – A não ser que você queira, é claro.
Balançando a cabeça em descrença, Steve ergueu o lençol para cobrir suas pernas, se ajeitando no colchão e parando virado para a morena, que assistia seus movimentos com os olhos quase fechados. Antes que pudesse entender o que estava fazendo, uma de suas mãos se adiantou para seu rosto, colocando para trás da orelha da morena alguns fios de cabelo que escorregavam por sua pele e caindo em frente de seus olhos. Era estranho, mas ele sentia sua falta. Nos últimos dois dias ele havia ouvido mais sua voz do que no último ano, mas era de sua presença que ele sentia falta. havia participado ativamente daquela missão, só que não corporalmente: várias vezes ela lhe dissera qual corredor virar como se estivesse em seu encalço, embora estivesse apenas monitorando-o pelas câmeras da base, o que lhe dava a falsa sensação de tê-la por perto. Por um bom tempo pensara que seria um problema trabalhar com a morena, que poderia ser algum tipo de distração, mas agora se via com um pensamento completamente contrário em mente: era uma integrante essencial, do tipo que transmite confiança mesmo sem querer. Sua presença era quase uma garantia de sucesso, um conforto.
- O que você está pensando? – perguntou em um sussurro, fechando os olhos ao sentir o polegar do loiro cariciar seu rosto.
- Que senti sua falta – confessou ele, puxando seu rosto para perto do dele, unindo seus lábios em um beijo calmo.
- Eu vou ter que me acostumar com esses clichês recorrentes, não é? – murmurou ela, se afastando minimamente. Steve apenas concordou com a cabeça antes de puxá-la mais uma vez.
As mãos de automaticamente seguiram para sua nuca, seus dedos passeando pelos cabelos bem cortados, suas unhas agora um pouco mais compridas do que de costume o arranhando de leve. Steve por sua vez tinha um braço envolvendo o corpo da morena que parecia tão pequeno comparado ao seu, enquanto a outra mão deixava seus dedos se perderem em meio os fios longos e escuros, bagunçando ainda mais os cabelos que já estavam amassados quando ele chegara. Não demorou muito para que uma das mãos de abandonasse sua nuca, aproveitando a sua falta de camiseta para deslizar as pontas de seus dedos por sua pele exposta, sentindo seus músculos com seu toque delicado, ocasionalmente deixando que suas unhas roçassem seu abdômen apenas para vê-lo se contrair, sorrindo entre beijos. Quando seus dedos rumaram para as amplas costas do soldado, Steve retirou a mão que estava em seus cabelos para usá-la de apoio para que seu peso não ficasse completamente sobre a morena, mas voltando à posição anterior assim que sua perna tocou a proteção que envolvia a perna direita de .
- ... – pigarreou Steve, se obrigando a se afastar da morena quando ela tentou se aproximar novamente – Você ainda está com a bota.
- Você consegue invadir um prédio da S.H.I.E.L.D., mas não consegue tirar uma bota? – brincou a mulher, se apoiando em seu cotovelo, virada para ele – Não quero te assustar, mas imagina quão mais difícil vai ser abrir meu s...
- Eu quis dizer que você ainda está em recuperação, idiota – resmungou ele em resposta, sem conseguir não rir, ouvindo soltar um baixo “oh” quando a realização a atingiu – Não é um bom momento... Não quero te machucar.
- Eu só não vou discutir porque o problema na verdade são as costelas quebradas – suspirou ela, deixando que suas costas voltassem a descansar no colchão.
- Ainda está doendo? – perguntou o loiro, passando com cuidado um braço por sua cintura, puxando-a para se ajeitar mais perto dele, deitando-a em seu ombro.
- Se eu respiro muito fundo, sim – contou , sorrindo ao sentir a respiração do soldado no topo de sua cabeça – Ainda preciso de um dia ou dois para recuperar isso por completo.
- Dormir ajuda – murmurou Steve, antes de depositar um beijo em sua testa e lhe desejar boa noite.
- Tenho outra coisa em mente que também ajudaria... – começou a morena, apoiando uma mão no peito de Steve para se erguer minimamente para fita-lo com um sorriso travesso nos lábios.
- Pelo amor de Deus, mulher – ele a repreendeu, forçando seu braço para que ela voltasse a deitar, que sorriu ao sentir seu peito vibrar com a risada que o loiro tentava conter – Só dorme, por favor.

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O som do solado de sua sapatilha, que Pepper criticara pelo quinto dia consecutivo, em contato com o piso ecoava pelo corredor vazio, abafando a conversa distante e agitada que acontecia na cozinha particular dos Vingadores. A equipe havia voltado da última missão no começo daquela manhã, mas ainda não os tinha visto por ter passado as últimas horas trancada em uma sala de reuniões, tendo que fingir que estava interessada no assunto que era discutido, apenas abrindo a boca quando alguém pedia sua opinião – e sempre era Pepper. Aparentemente, os diretores estavam intimidados com sua presença, desacostumados a verem um dos Stark participando ativamente das decisões. Ou talvez apenas estavam receosos de acabar presenciando seu lado agente da S.H.I.E.L.D., que sua presença pudesse atrair possíveis ameaças e colocá-los em perigo. Talvez Pepper tivesse certa em se preocupar com sua imagem, mas ainda não iria admitir aquilo à ruiva.
Quanto mais se aproximava da cozinha, mais alta a conversa estava. Checando o relógio em seu pulso, a mulher constatou que se aproximava das sete horas, o que explicava a reunião na equipe naquele andar, embora pudesse apostar que aquela refeição na verdade era o almoço deles, que provavelmente todos haviam dormido o dia inteiro.
- Ei, filhote...! – comemorou Clint, vendo a morena entrar na cozinha com os olhos fechados. O arqueiro estava em frente ao fogão com um avental que tinha estampado o escudo de Steve, e uma colher em mãos. O largo sorriso do homem sumiu ao notar os ombros caídos de sua protegida – O que aconteceu?
O restante da equipe estava distribuído pela grande mesa do cômodo, e, antes de pensar no que estava fazendo, se sentou na cadeira vaga próxima a Steve, que ocupava a ponta da mesa. Só não pareceu estranho apenas porque aquele era o lugar mais próximo da porta. Tony, Bruce e Thor estavam do lado oposto da mesa, e Natasha na outra ponta, o que deixava todos os lugares do lado esquerdo da mesa vagos.
- Eu odeio executivos – resmungou a morena, deixando sua testa bater na madeira da mesa com um barulho alto.
- Isso explica a roupa formal – comentou Natasha – Castigo?
- De princípio pensei que não, mas agora estou achando que sim – choramingou ela, erguendo a cabeça para lançar o melhor olhar de cachorro sem dono que tinha para Tony – Pai, ajuda.
- Você disse para Pepper que iria fazer isso – lembrou ele, se levantando para tirar das mãos de Thor a garrafa de vinho recém-esvaziada antes que ele a quebrasse novamente só para irritá-lo, aproveitando para buscar outra – Se vira, .
- Diz que vocês precisam de mim – insistiu ela, pegando a taça que estava em frente a Steve, que ele sequer tinha tocado, que ergueu uma sobrancelha e foi ignorado. – Ela não acredita quando sou eu que digo isso.
- Estamos nos saindo muito bem sem você – murmurou Natasha antes de bebericar de sua bebida, sorrindo para a morena quando ela passou a fuzilá-la com os olhos.
- Eu vou me lembrar disso quando você precisar que eu salve sua pele de novo, Tia Dona Aranha.
- Olhou as informações que conseguimos ontem, ? – se intrometeu Clint, antes que as duas começassem a discutir de verdade e ele não pudesse fazer nada, já que o jantar era sua responsabilidade naquela noite e não estava nem um pouco com vontade de estragar tudo e ter que explicar para um grupo de super-heróis esfomeados que teriam que esperar mais um pouco e ainda se contentar com pizza pela terceira noite seguida.
- Não, me desculpem. Eu estava trabalhando nas asas do Sam e quando J.A.R.V.I.S. me avisou dos dados para estudar, Pepper apareceu no laboratório e praticamente me enforcou com essa camisa e me levou para a reunião – explicou ela – Depois que comer alguma coisa eu vou olhar, prometo.
- Não precisa ter tanta pressa... – suspirou Bruce, jogando seus óculos na mesa e esfregando os olhos – Essa última teve algumas complicações, vamos precisar de um tempo a mais para nos recuperar.
- Hill me contou... O que aconteceu?
- Os idiotas resolveram nos atacar com armas alienígenas... Não deu muito certo – contou Tony, com uma garrafa cheia e uma taça para sua filha, só então notando que ela já tinha uma taça em mãos. Tony apenas deu de ombros e entregou a taça a Steve, que a deixou bem longe do alcance da morena.
- Bom, vou assumir que não teve nenhum ferimento grave já que está todo mundo aqui olhando para a minha cara e ninguém parece estar morrendo – arriscou a mais jovem, depois de analisar cada um dos integrantes na cozinha, conseguindo apenas identificar cansaço e fome em todos.
- Bem, a Dr. Cho ajuda muito nesses casos – lembrou Bruce.
- Ah, ela é um amor.
- Já pediu para ela olhar seu tornozelo, Lady ? – perguntou Thor, depois de esvaziar sua taça por sabe-se lá quantas vezes
- Ela disse que é besteira me colocar na máquina, já que eu estou quase zerada.
- Mas já?! – exclamou Clint, principalmente por ter pegado a tampa de uma panela que não pensava que estaria tão quente – Você conseguiu curar uma fratura em duas semanas?
- Ela quer que eu fique com a bota por mais uma semana apenas para garantir.
- Novas bruxarias? – arriscou o asgardiano, atraindo a atenção da morena.
- Thor, você prometeu que ia parar com isso...! – resmungou ela, cruzando os braços e afundando alguns centímetros em sua cadeira, emburrada principalmente por não conseguir pensar em uma explicação melhor – E sim, tipo isso.
- Quem se recupera mais rápido: você ou Steve? – indagou Clint, agora com os dedos queimados enrolados em um pano de prato.
- Quem dos dois está saindo em missões?
- Eu não tive fraturas – lembrou o soldado – O restante você se recuperou praticamente no mesmo tempo que eu.
- Ela sempre se recuperou rápido – comentou Tony, sem perceber que o arqueiro havia aberto a boca para fazer o mesmo comentário. Clint apenas deu de ombros e voltou sua atenção para o molho – Desde criança. Lembra da médica que perguntou o que diabos eu tinha feito para você se recuperar de uma queimadura de segundo grau em uma semana e meia?
- A que te acusou de estar me usando para experimentar drogas novas, e que você demorou um mês para se recuperar e eu tive que te ouvir reclamando? Difícil esquecer – debochou ela, revirando os olhos – Bebê chorão.
- O que a diabos aconteceu? – perguntou Bruce com um sorriso de canto, olhando de um Stark para o outro.
- Problemas técnicos com um protótipo... – explicou , como se não tivesse sido nada sério – Pode ter explodido o laboratório com nós dentro.
- Ossos do ofício – completou Tony.
- Não foi nem a primeira nem a última vez que nós explodimos alguma coisa.
- Não vou me importar nem um pouco se você quiser explodir alguns inimigos em um futuro próximo – acrescentou Steve, erguendo sua taça em direção à morena antes de levá-la aos lábios.
- Pode contar comigo.
- Ei, faz tempo que não trabalhamos juntas, não é? – comentou Natasha, e até chegou a abrir a boca para discordar, só então percebendo que realmente era verdade.
- Uns três an... Uh, Barcelona.
- Certo, se vocês vão começar a falar de homens de novo, vou ser obrigado a mandar vocês comerem lá na sala – resmungou Clint, se virando para as duas em um movimento rápido, espirrando molho de tomate para todo lado no processo. Natasha reclamou por já ter lavado o cabelo mais cedo, e o arqueiro apenas deu de ombros resmungando um “é tudo vermelho mesmo”, que não melhorou em nada seu humor.
- Não vamos ter missões legais como Barcelona enquanto perseguimos a HYDRA, não é? – se apressou em mudar o assunto, antes que seus antigos treinadores resolvessem acertar as diferenças ali mesmo.
- Ele nem era tão bonito, .
- Eu estava falando de missões com disfarces, nomes falsos... Ou até as de infiltração mais rápida... Sabe, espionagem mesmo, não “invadir-quebrar-sair” como estamos fazendo agora – resmungou ela, apoiando o braço do encosto da cadeira para olhar feio para o arqueiro – Barcelona foi a última vez que eu trabalhei como espiã, o resto foi tudo como cientista ou como soldado. Sinto falta do desafio de ter que conquistar a confiança de alguém, ou apenas conquistar alguém.
- É, porque isso sempre era extremamente difícil para você – debochou o loiro, pegando a panela com macarrão para virá-la no escorredor.
- Posso saber o que está insinuando, Barton?
- Você sorri e a maioria das pessoas já faz o que você quer, . Até eu caio nessa – suspirou ele, soltando a panela agora vazia dentro da pia e se virando para a jovem com uma mão na cintura – Você faz isso todo santo dia, não tem como sentir falta disso.
- Como assim? E aquela missão de aquisição de informações em Milão? Aquele cara praticamente desconfiava de tudo o que eu dizia, levou uma vida até ele confiar em mim! Aquele foi um desafio, e sinto falta disso – argumentou ela, parando por alguns segundos antes de continuar – Sinto falta daquele cara também, ele era um amor.
- Ele era um assassino, Stark – lembrou Natasha.
- Eu não disse que ele era uma boa pessoa.
- Você não está saindo da Torre e tem muita gente aqui, escolha um e vá na fé – continuou Clint, agora de costas para todos. Assim ninguém conseguia ver seu sorriso maldoso enquanto assistia o restante de água escorrer do macarrão já cozido.
- Me pareceu um desafio, e eu aceito – comemorou , ficando de joelhos no estofado da cadeira e abraçando o encosto – Diga o nome.
- Zack, do seu andar.
- Casado. E o marido dele consegue ser ainda mais gostoso que ele.
- Rogers.
riu descrente antes de olhar para o soldado assustado e voltar a encarar o arqueiro.
- Eu pedi um desafio e você me fala Rogers? – debochou , olhando para o arqueiro como se outra cabeça tivesse saído de seu pescoço – Está me zoando?
- Ei!
- Stevie, você sabe que eu te adoro, mas você já fica sem graça só de eu sorrir para você – disse ela, se virando para o soldado, que manteve sua expressão ofendida.
- Isso não é verdade – se defendeu Steve, só então percebendo que cometera um erro perigoso. voltara a sentar corretamente em sua cadeira, apoiando um cotovelo na mesa para apoiar a lateral do rosto em sua mão, mordendo de leve os lábios antes de esboçar um sorriso discreto. Antes mesmo de ela ter sorrido, ele já tinha perdido – Merda.
- Você já tem coisa demais em seu prato no momento, não acha, querida? – a repreendeu Tony, assistindo a filha rir abertamente do constrangimento do soldado, cobrindo a mão livre do loiro com a sua.
- Deixe a garota, Stark... – se intrometeu Natasha, que tinha os olhos brilhando de diversão. Aqueles dois não estavam exatamente tentando esconder algo e ela estava adorando. Tornava tudo muito mais divertido – É a primeira vez em dois anos que ela não tem que dar explicações para o Barton. Ela merece diversão de vez em quando.
- Viu? Por isso eu gosto mais da Nat do que de vocês – murmurou sorrindo para a ruiva, embora seus olhos lhe mandassem um silencioso “cala a boca”. Natasha não era doida de contar o que estava acontecendo embaixo do nariz de todos, mas com certeza iria acabar criando uma situação em que eles não teriam outra escolha senão contar, e a morena não queria isso ainda.
- Mas aqui ela tem a Pepper para acabar com a diversão – insistiu Tony, e bufou.
- Não tenho argumento para isso – resmungou ela, antes de se virar novamente para Clint – Essa comida vai sair hoje ou não? Eu estou morrendo aqui.
- Me apresse de novo e você vai almoçar alpiste.
- Isso ainda é por causa do meu comentário sobre nome de heróis? – arriscou a mulher, se levantando para auxiliar o arqueiro no que ele precisasse – Já disse que eu estava brincando, desencana.
- Não era, mas agora é – suspirou o loiro, apontando para o forno ligada com a cabeça, lembrando em seguida de pedir que ela colocasse as luvas para não se queimar.
- Ótima ideia irritar quem está preparando sua comida – comentou Natasha enquanto se levantava para ajeitar a mesa, buscando nos armários um suporte para a forma quente que ficaria sobre a mesa para que cada um se servisse. abriu a boca para retrucar, mas percebeu que era melhor continuar calada. Clint conseguia ser bem cruel em alguns momentos e ela estava morrendo de fome, era melhor não arriscar – Um dos dois me diz onde tem alguma travessa grande o suficiente para o macarrão.
- Última porta em cima – responderam os dois em uníssono, ganhando alguns olhares curiosos as suas costas.
- Acho que você está passando muito tempo na cozinha, Gavião... – brincou a ruiva, ficando na ponta dos pés para alcançar a travessa – Consigo entender como a sabia, agora você não tem desculpa.
- Desculpe, não sabia que era crime saber onde as coisas ficam na cozinha – resmungou ele em resposta – E vocês sempre se recusam a cozinhar, se não fosse por mim, nós morreríamos de fome durante as missões.
- E se fosse por nós, nós teríamos morrido de intoxicação alimentar – retrucou , depositando a forma quente sobre suporte que Natasha acabara de colocar na mesa, e seguindo para a pia auxiliar o arqueiro. Steve ameaçou abrir a boca para comentar um certo episódio que quase precisaram chamar os bombeiros em seu antigo apartamento no Brooklin, mas desistiu assim que viu o olhar da morena que deixava claro que era uma péssima ideia.
- Ela provavelmente explodiria a cozinha, Barton, então agradeça – Tony entrou na brincadeira, arrancando alguns risos. Steve era o que tinha o sorriso mais divertido, ciente de que, se contasse o episódio catastrófico dos dois em preparar o jantar, ninguém acreditaria que ela não fora a culpada.
- Posso saber o motivo dessa perseguição com a minha pessoa logo cedo? – indagou , retornando ao seu lugar à mesa assim como os dois ex-agentes. Travessas com macarrão, carne e arroz estavam distribuídas entre eles, que não demoraram a começar a se servir.
- Está de noite, – estranhou Bruce, enrolando com cuidado um pouco de macarrão em seu garfo.
- Vocês acabaram de acordar que eu sei, então está cedo.
- Não podemos perseguir o Thor o tempo todo – explicou Tony, e automaticamente ela já se virava para o asgardiano, pronto para sair em sua defesa, se necessário.
- O que aconteceu dessa vez?
- Não entendo o conceito de esporte de vocês – contou Thor, colocando um pedaço de carne um pouco grande demais na boca – Praticamente não vemos sangue.
- Alguém nunca assistiu um jogo de rugby.
- O objetivo desse é tirar a maior quantidade de sangue possível do oponente?
- Acho que você tem um conceito de espírito esportivo bem esquisito... – disse , levemente surpresa, com o restante da mesa concordando logo em seguida – J., separa para mim todo o material das últimas olimpíadas. Vamos educar Lorde Thor nos moldes de esportes midgardianos.
- Ah, não. J.A.R.V.I.S, não – resmungou Clint.
- Uh, J.A.R.V.I.S., sim – Natasha se juntou à morena.
- Por que está reclamando, Barton? – estranhou Bruce – Pensei que gostasse de esportes e, se não me engano, 2012 foram bons jogos.
- Foram, só que muito perto – explicou o arqueiro – Passei o mês inteiro tendo que tomar cuidado redobrado para que alguém não fugisse como fez em 2008.
- Eu não ia fugir – se defendeu a morena – Nós voltamos para Manchester quase que na abertura dos Jogos. Eu ainda estava em isolamento.
- Deveria ter fugido – riu Natasha, com certa maldade no olhar. Em 2008 a ruiva estava na companhia da garota quando acidentalmente mudaram a rota para Pequim, e elas tinham planos de repetir o feito em Londres – Foram ótimos jogos.
- Você também não foi que eu sei que você estava em missão – resmungou , emburrada – Mas pelo menos deve ter acompanhado alguma coisa pela TV ou internet enquanto eu estava desconectada do mundo.
- Queria ter visto o que?
- As modalidades de lutas, especialmente judô, além de ginástica, e tiro com arco – respondeu à pergunta de Bruce, e um silêncio estranho se instalou – Que foi? Barton é meu mentor, não é como seu eu tivesse tido escolha.
- Então você também sabe usar arco e flecha? – continuou o moreno, assim como os outros achando graça da declaração da jovem.
- Esqueci de te avisar que seu pai atualizou meu arco junto com nossos uniformes, então se quiser ficar com o meu antigo... – comentou Clint ao seu lado, entre uma garfada e outra. cogitou a ideia por alguns segundos, se virando para o arqueiro com a expressão neutra em seguida.
- Você vai me deixar brincar com as flechas explosivas? Se não, nem quero.
- Não atirando nenhuma em mim, está tudo certo.
- Perdeu toda a graça – resmungou , e o restante da mesa riu.
- Você realmente está querendo jantar alpiste hoje, não é?
- Está sensível hoje, hein? O que aconteceu? – indagou a morena, percebendo o erro que cometera ao receber um olhar irritado do loiro. Rindo nervosa, ela se virou para os outros – Alguém mude de assunto antes que eu seja assassinada e meu sangue vire molho para o macarrão, por favor.
- Esse ano é de que? Copa do Mundo? - perguntou Bruce e a morena lançou um beijo em sua direção.
- Onde vai ser? Eu posso fugir para lá? – brincou , embora estivesse se esforçando para buscar em sua memória a localidade da competição naquele ano.
- Você gosta de soccer? – perguntou Steve. Haviam conversado muito pouco sobre esportes desde que se conheceram, aquela modalidade nunca havia se tornado assunto.
- Você vai querer me expulsar da cozinha por falta de patriotismo, mas o nome é futebol – corrigiu mulher, e Natasha começou a bater palmas agradecendo, enquanto o restante do grupo, com exceção de Thor que não fazia ideia do que era discutido, parecia levar a questão como ofensa pessoal – Oito anos na Inglaterra, para mim só existe futebol e futebol americano. Podem me julgar o quanto quiserem.
- Que desonra!
- Sério, gente: onde vai ser esse ano?
- Brasil, acho – arriscou Natasha, que se lembrava do nome do país em alguma notícia relacionada à competição.
- Eles ganharam a das Confederações ano passado, não foi? – perguntou a Clint, incerta. O último ano havia sido um pouco conturbado, e ela mal tivera tempo para respirar em alguns momentos.
- Até que fizeram uma boa campanha.
- Você estava treinando ou acompanhando esportes nos últimos dois anos? – debochou Tony.
- Sou multitarefas.
- Não é a seleção brasileira que tem um jogador chamado Hulk? – comentou Clint, com um sorriso maldoso direcionado a Bruce, que se engasgou – Era essa reação que eu queria.
- Vocês estão brincando – disse apenas o cientista ao se recuperar, mortalmente sério.
- Não estamos – riram os três ex-agentes, principalmente quando Bruce levou uma mão à testa e soltou um baixo “oh céus”.
- Agora trocamos de alvo! Vamos atormentar o Banner! – festejou Tony, recebendo um olhar nada animado – Certo, vamos continuar com a então.
- Mas Thor era o alvo!
- E voltou para você, como sempre.
- Que injusto! – resmungou a morena, afundando em sua cadeira e bebendo um gole generoso de sua bebida.
- Quando não é você, sou eu então, por favor, fique – brincou Steve, e ela se fingiu ofendida.
- E eu pensando que você apenas gostava da minha companhia! Não esperava isso de você, Rogers.
- O casal injustiçado dos Vingadores... – debochou Natasha, atraindo um olhar curioso do arqueiro por sua peculiar escolha de palavras.
- Está mais para trio já que vocês também não largam do pé do Thor – corrigiu , antes que mais alguém pudesse estranhar a fala da ruiva.
- Devíamos nos unir contra eles – sugeriu o soldado, e os outros dois gostaram da ideia.
- Que tal jogarmos esse tal jogo sangrento, nós contra eles?
- Eu não pratico esportes! – se apressou Tony em dizer – Ainda mais contra vocês. A força física ficou toda concentrada com vocês.
- Nós temos o Hulk – lembrou Natasha, e o trio trocou alguns olhares apreensivos.
- Eu não pensei nisso – murmurou Thor, incerto.
- Que foi? – começou Bruce, rindo divertido – Os três não acham que podem me parar?
- Eu estou com o pé machucado – murmurou , com um sorriso largo e falso.
- Vai correr na cara dura, Stark? – acusou Steve.
- Mas é claro! Não fiquei louca ainda – se defendeu a morena – Não sou idiota de ficar em um time diferente do Banner.
- Mas tudo bem ficar num time contra mim e o Thor?
- Se Thor não tiver com o martelo, sem problemas.
- Perdão? – se intrometeu o asgardiano, levemente ofendido.
- Agora ficou interessante... – murmurou Tony para o outro moreno, que assentiu várias vezes e pediu silêncio, não querendo perder nada do desenrolar daquela conversa.
- Meu poder não vem só do Mjolnir...!
- Eu não disse isso... – se explicou , fechando os olhos e com a voz arrastada – Só que se torna algo mais complicado te derrubar quando você está com o martelo. Assim como é mais chato derrubar o Steve quando ele está com o escudo.
- Você nunca lutou comigo com o escudo.
- Eu sugeri.
Steve abriu a boca para recrutar, mas acabou tendo que engolir a gargalhada que ameaçou soltar quando sua mente resolveu lhe trair e se lembrar dos momentos posteriores ao episódio que se referia, onde ela fazia um trocadilho sobre as funções de seu escudo e o mal-entendido com o síndico do prédio. Definitivamente não era o tipo de coisa para se lembrar durante o jantar.
O restante da equipe assistiu em silêncio o soldado tentar se recompor, à espera de explicações. Até mesmo demorou mais do que se orgulhava para entender o que acontecia, mas acabou rindo junto, principalmente porque não deixaria aquilo passar em branco.
- Que mente poluída, Roger – repreendeu a morena, cruzando os braços e balançando a cabeça em descrença – Esperava mais de você.
- Do que diabos vocês estão falando? – estranhou Clint.
- Uma piada imprópria que alguém fez alguns anos atrás – resumiu o soldado da melhor maneira que conseguiu sem que ficasse mais suspeito.
- Que piada?
- Não vamos contar – disseram a dupla em perfeita sincronia, e a curiosidade do restante da equipe apenas aumentou.
- Por que não?
- Porque para fazer sentido teríamos que contar o que estava acontecendo e não vamos fazer isso.
- O que você aprontou? – questionou Clint, se virando para a mulher ao seu lado, que arregalou os olhos em descrença.
- Como assim “eu”? – esbravejou – Por que está assumindo que eu fiz alguma coisa? Steve teve tanta culpa quanto eu!
- Mas é claro que não!
- Vai se fazer de santo?
- Rogers fica tão chocado com piadas sujas que a memória dele deve até apagar os registros, – Clint saiu em defesa do soldado, que sorriu em agradecimento – Temos que ser realistas e admitir que a chance de você ter sido inapropriada é muito mais real do que a do Rogers.
- Sabe de uma coisa? Vai ser bom todo mundo na Torre por um tempo – resmungou a jovem, voltando a atenção para seu prato – Vai fazer vocês perderem essa imagem de inocente que fizeram dele.
- E você sabe como, exatamente? – Natasha entrou na conversa, se direcionando para embora seu olhar estivesse travado no soldado, e seu sorriso discreto deixava claro que estava planejando algo. Steve queria avisar a morena que era melhor mudar de assunto, mas não tinha como fazer aquilo sem levantar suspeitas.
- Eu praticamente morei com ele por um mês, lembra?
- E eu passei dois anos com ele – retrucou a ruiva.
- não insistia em tentar me arrumar um encontro, ela ouvia as piadas sujas – as palavras escaparam dos lábios de Steve antes que pudesse fazer alguma coisa, sem perceber que talvez fosse naquele tópico que a espiã quisesse chegar. Enquanto se virava para ele com os olhos arregalados, Steve tentou disfarçar bebendo um pouco mais de vinho, mas todos o encarando não estava ajudando muito.
- Vou ignorar por um momento que eu acabei de ganhar a discussão porque ele confessou e focar nessa história de arrumar encontros – disse a morena lentamente, se virando para sua antiga treinadora em seguida – Detalhes, por favor.
- Romanoff estava determinada a me fazer sair com alguma garota da S.H.I.E.L.D. – se apressou ele em explicar, temendo que Natasha piorasse ainda mais as coisas para o seu lado.
- Se você tentou jogar ele para cima da Sharon... – começou , com a voz baixa e séria. Clint era o único homem na mesa que não estranhou a postura da jovem, ciente até demais da antiga rivalidade entre a Stark e a Carter, isso sem envolver o Rogers. Mesmo que suas suspeitas estivessem erradas, a garota faria um show caso Steve tivesse saído com Sharon.
O sorriso travesso da ruiva foi a única resposta que obteve, o suficiente para que ela voltasse sua atenção para o soldado a sua direita, que já parecia saber o que estava por vir, o que apenas a deixou mais irritada.
- Se você beijou a Sharon, vai ter que lavar a boca com detergente fervendo para falar comigo, Rogers – ameaçou ela, e em segundos Steve já erguera as mãos em sinal de inocência.
- Não beijei, juro.
- Mas deveria – disse Natasha para o soldado, se direcionando para em seguida – Já parou para pensar que talvez ele quisesse?
- Sharon? Prefiro pensar que não. Não é, Steve? – quando a concordância do loiro não chegou aos seus ouvidos, lentamente começou a se virar em sua direção, tentando manter sua expressão o mais neutra possível, mas falhando já que o resto da mesa poderia jurar que ela tentaria um assassinato no meio da refeição. Em um movimento discreto, ela puxou uma colher larga que descansava em uma das travessas – Steven?
- Eu a chamei para sair uma vez. Ela estava disfarçada, eu não sabia quem ela era – confessou ele rápido, logo emendando a explicação – Abaixa a colher, , não confio em você com colheres.
Clint ao seu lado ria abertamente, dando seguidas batidas em seu ombro.
- Cinco minutos na equipe e você já causou discórdia duas vezes, – dizia o arqueiro – Meus parabéns.
- Estamos falando da mesma equipe? – resmungou a morena, se virando para ele ainda com a colher na mão – Lembro de um helicarrier parcialmente destruído e muita discussão quando os Vingadores foram reunidos.
- Pode explicar esse acesso de ciúmes, ? – indagou Tony, visivelmente incomodado – Desde quando você controla o Rogers?
- Está reclamando de mim, Tony? Vai lá adotar a Sharon então! – retrucou ela, largando a colher de volta na travessa e afundando em sua cadeira enquanto cruzava os braços. Os olhos do Stark mais velho se arregalaram ao entender qual na verdade era o tópico da conversa.
- Sharon como em Sharon Carter? Sharon estava na S.H.I.E.L.D. também? – praticamente gritou o homem, inconformado ao ver a antiga dupla de agentes concordar – Como Fury conseguia aturar as duas? Eu não conseguia nem quando eram crianças, agora deve ser mais insuportável ainda.
- O mais perto que eu cheguei da criatura foi quando fui para o Triskelion falar com Pierce, e eu só a vi de longe. Tínhamos ordens bem claras para ficarmos longe uma da outra – resmungou , pegando seus talheres e voltando a mexer em sua comida, ainda com a expressão fechada. Ela não estava brava com ninguém e o importante era que Steve sabia, já que estava abusando mais um pouco de suas habilidades para não começar a rir e se entregar. Ele havia até se lembrado de uma piada idiota que fizera com colheres, anos atrás. Não dava para levar aquela conversa a sério – Mais alguma coisa que quer compartilhar com o grupo, Steve?
- Romanoff me beijou.
As reações foram todas essencialmente parecidas: talheres sendo largados de qualquer jeito em seus pratos, com um coro de “como é que é?” em diferentes entonações preenchendo a cozinha. Todos os olhares da mesa se viraram para a ruiva, que mostrava um sorriso forçado.
- Demonstrações de afeto deixam as pessoas muito desconfortáveis – disse Natasha com cuidado, temendo que movimentos bruscos fossem deixá-los ainda mais agitados – Salvou nossa pele.
- Quando você diz “pessoas”, você está se referindo ao Rogers, não é? Você é meu exemplo de vida, Nat – riu , e, antes que pudesse dizer mais alguma coisa, a pessoa a sua direita a chutou por debaixo da mesa, e ela pulou em sua cadeira, surpresa – Chuta meu tornozelo mesmo, Rogers. Quebra ele de novo.
- Eu chutei o outro – resmungou Steve, e era verdade. Só que seu pé esquerdo estava bem longe do soldado, no que ela imaginava ser fora de seu alcance.
- Quão longa é sua perna? – riu ela, se virando para Natasha em seguia, com seus olhos brilhando de divertimento – Mas foi bom?
- Por que não vem aqui e descobre por conta própria?
Dessa vez as reações foram dessincronizadas: Bruce se engasgara com sua bebida, passando um tempo considerável tentando parar de tossir; Thor jogou sua cabeça para trás enquanto gargalhava, parabenizando o soldado pela iniciativa ousada; Clint soltara um sonoro “oh meu Deus”, quase virando seu prato quando foi apoiar as mãos na mesa; Tony parecia que tinha levado um tapa na cara, olhando para o loiro completamente abismado; e Natasha o fitava completamente surpresa por ele praticamente não ter precisado de sua ajuda para se afundar. Tudo isso era plano de fundo enquanto levava as mãos ao rosto e não conseguia fazer outra coisa a não se engasgar para segurar a própria risada.
- Cara, existe uma coisa chamada limite e esse limite é a minha filha – ameaçou-o Tony, mas até Steve já ria.
- Viu? Eles não estão preparados para esse meu lado ainda – comentou o soldado para a morena, só então notando que ela não estava apenas tampando a boca para não rir, mas sim tampava o rosto inteiro, afundando cada vez mais em sua cadeira, quase sumindo debaixo da mesa – ? Você está corando?
- Não!

¬- Stark, desligue seus poderes e olhe para mim – exigiu Steve, e ela sabia que não tinha mais como esconder. Maldito Rogers e sua ótima percepção – Pode dar meu dinheiro, Stark!
- Não! Eu não sabia que essa aposta ainda estava valendo! – choramingou ela, finalmente tirando as mãos de seu rosto ainda levemente rosado – Eu estaria preparada para isso se eu soubesse, não valeu.
- Que aposta? – perguntou Clint, tossindo algumas vezes para se recompor.
- Quando ainda estávamos em Cleveland, ela disse que eu não ia conseguir ela fazer corar um dia – contou Steve, e o arqueiro voltou a rir com mais vontade.
- , só paga o cara – murmurou o loiro, batendo de leve em seu braço – Ele deve ter passado os últimos dois anos pensando em como fazer isso.
- Argh, vou transferir o dinheiro para sua conta – se deu por vencida, puxando sua taça na esperança de que um pouco de vinho fosse ajudá-la a se recompor.
- Quanto você apostou?! – indagou Tony, exasperado. Até onde sabia o soldado podia estar tentando enriquecer em cima de sua filha.
- Dez ou cem? – perguntou ela ao homem.
- Mil?! – arriscou Clint, agora também exasperado. Estava até que acostumado com as apostas altas da jovem, mas aquele deveria ser um novo recorde pessoal.
- Dez dólares – corrigiu Steve, que olhava para o arqueiro confuso.
- Então para que diabos você vai transferir essa merreca para a conta dele?
- Olha bem para a minha cara de quem carrega dinheiro vivo – resmungou ela para o arqueiro – Eu uso cartão de crédito.
- Aqui, pelo jantar em Viena que você pagou umas três vidas atrás – disse Clint, tirando uma nota de dez do bolso de sua calça e lhe entregando, explicando o motivo do gesto em seguida.
- Sabe que aquele jantar não me custou só dez dólares, não é? E não estou considerando nem a inflação desse espaço de tempo.
– Eu só quero estar presente quando você entregar para ele. É um momento histórico.
fuzilou o arqueiro mais um pouco antes de pegar a nota, passando então a fuzilar Steve, que ria divertido. Havia sido um erro confiar no soldado, não esperava que ele fosse se lembrar de algo tão antigo.
- Babaca – resmungou ela, lhe entregando a nota.
- Qual é, ! – riu ele – Cadê o espírito esportivo? Não sabe perder?
- Não, porque eu não perco.
Um silêncio ameaçou se instalar, com cada um voltando sua atenção para seu prato, até que Clint explodiu em risadas novamente.
- O Capitão América te fez corar!
- Só cala a boca, Barton!
A discussão teria se estendido mais que um barulho alto e distante não tivesse ecoado pelo prédio, fazendo com que todos parassem, confusos. Ninguém seria idiota o suficiente para atacar a Torre, certo?
- Que barulho foi esse? – Tony verbalizou a dúvida de todos – J.A.R.V.I.S.?
- Seus protótipos acabaram de explodir, Srtª Stark.
- Finalmente! – comemorou a morena, se levantando em um pulo, parando apenas para beber o resto de vinho que estava em sua taça.
- Você explodiu seu laboratório de propósito? – estranhou Bruce.
- Meus cálculos diziam que estava tudo certo, mas minha experiência dizia que não, então eu fiz um protótipo mais simples para descobrir onde estava o erro. E gosto de explodir coisas. Podem me chamar de Simas Finnigan... – contou ela, como se fosse a coisa mais normal do mundo, com um largo sorriso no rosto que foi desaparecendo quando percebeu que ninguém rira de sua piada – Não pegaram a referência? Harry Potter? Não? Nossa, nunca tinha reparado que só ando com gente velha.
- Essa gente velha pode te colocar de castigo, coração – lembrou Tony, e ela riu.
- Eu já estou de castigo. Ou esqueceram que eu estou com a parte chata das missões? – retrucou ela, se adiantando para a porta – Se precisarem de mim, sabem onde estou.

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estava entretida com suas anotações e resultados, agora com certeza de que conseguiria produzir o traje sem correr risco de que ele explodisse ou tivesse algum curto-circuito – até o começo da próxima semana poderia pedir que Sam voltasse para aprovar seu trabalho. Não fazia muito tempo que deixara a equipe terminando a refeição e descera, mas não se surpreendeu ao ouvir o som dos passos característicos de Natasha entrarem em seu laboratório, se demorando na entrada enquanto analisava o ambiente, já que aquela era a primeira que vez que entrava ali. E também à procura de algum foco de incêndio, para ter certeza se era seguro ou não entrar.
- Eu queria ter feito alguma insinuação de vocês estarem de rolo, mas Rogers fez isso sozinho e foi bem melhor do que eu imaginei – comentou a ruiva, passando pelos corredores de mesas até chegar até a jovem.
- Deixar o coitado constrangido é seu novo passatempo? Coitado, assim são duas contra ele – riu , ajeitando seus óculos de lentes redondas no rosto, sem tirar os olhos de seu monitor – Eu ficaria com dó dele se eu não fosse uma pessoa horrível.
- Rogers realmente é mais soltinho perto de você – admitiu Natasha, buscando uma cadeira próxima para estudar o trabalho de sua antiga pupila – Bem mais do que eu imaginava.
- Sempre foi, vocês que não percebiam – suspirou ela, dando um tapa na mão da ruiva quando seus dedos chegaram perto de alguns restos carbonizados do último protótipo – Quantas vezes já te falei para não sair tocando nas coisas, Romanoff?
- Você devia ter aproveitado e contado logo – desconversou a ruiva, já que não adiantaria em nada deixar que ela começasse seu sermão de “tem coisas aqui que podem te matar”.
- E acabar com a sua diversão? Que graça teria?
- Como se você não estivesse se divertindo também.
- Claro que estou! Steve estava flertando comigo na cozinha e eles acham que ele estava brincando – riu, girando a cadeira para ficar de frente com a espiã – Mesmo se ele estivesse brincando, eu estou bem feliz depois disso. Essa imagem de garoto inocente e puro do Rogers me irrita um pouco porque é quase tudo mentira.
- Quer ajuda? – se ofereceu a ruiva, a fazendo rir mais – Vou ajudar mesmo que você não queira.
voltou a digitar as novas especificações do traje, murmurando um “mas é claro que vai” entre risos baixos. Até que Natasha estava se comportando na presença dos dois. Estavam na Torre há um pouco mais de duas semanas e o que não faltara fora oportunidade para a russa entregá-los, coisa que não tinha feito até o momento, e agora começava a descartar essa possibilidade, embora isso não significasse que eles podiam dar mole perto dela. Natasha conseguia ser bem cruel quando queria.
- Vou subir para a academia... Quer vir? – suspirou a ruiva, se levantando em um pulo e colocando a cadeira onde a encontrara – Você deveria, pode muito bem recomeçar seus treinos... Sua capacidade pulmonar deve estar bem comprometida.
- Preciso terminar os ajustes nas asas, depois eu subo para a academia – respondeu , gesticulando com a mão para que ela deixasse seu laboratório. Quando percebeu que a mulher sequer se mexera, a morena arriscou um olhar para ela, não se surpreendendo ao encontrar sua expressão fechada – Sei que você vai voltar para me levar pelos cabelos se eu não for, Viúva. Me dê umas duas horas.
- Contando.

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considerou seriamente deitar no chão do elevador e ficar ali até que alguém tivesse a decência de levar seus restos mortais para o seu quarto, mas acabou ficando apenas encostada contra a parede fria de metal. Ela não estava fora de forma, pelo contrário – de todas as vezes em que tivera que ser afastada para se recuperar de ferimentos, nunca ela voltara em tão boas condições –, mas o que a fazia querer morrer foi ter sido idiota o suficiente para aceitar a proposta de série de Natasha. Seus braços estavam prestes a se desgrudar de seu corpo em sinal de protesto e ela sequer poderia argumentar, já que a quantidade de exercícios que a ruiva lhe passara fora absurda. J.A.R.V.I.S. praticamente teve que gritar com a mulher para conseguir sua atenção, avisando pela terceira vez que estavam no andar de seu quarto. Arrastando os pés, saiu do elevador sem abrir os olhos, pedindo para que o sistema avisasse quando sua porta estivesse próxima, querendo evitar que o excesso de luz do corredor irritasse ainda mais seus olhos, piorando sua dor de cabeça, que não passava de um amigável aviso de seu cérebro de que virar a noite acordada não era exatamente algo aconselhável de se fazer, por isso ela se sentiu tentada em se jogar em sua cama e deixar o banho para a manhã seguinte, mas acabou rumando para o banheiro, sabendo que um pouco de água quente não lhe faria mal nenhum.
Sem que ela soubesse como, terminou quase dormindo dentro de sua banheira, sentindo todos os músculos relaxados com a água quente que a envolvia. A morena só voltara para a realidade quando ouviu uma batida na porta, quase ficando submersa ao escorregar no susto, não demorando muito para que a porta fosse aberta e Steve colocasse a cabeça para dentro, embora estivesse de olhos fechados e o rosto levemente rosado. Apenas depois de ouvir a risada alta da mulher junto com o aviso de que era seguro abrir os olhos que ele os abriu.
- Te procurei em seu laboratório e J.A.R.V.I.S. disse que você estava treinando – pigarreou o homem, cruzando os braços em frente ao peito e se apoiando no batente da porta, tentando focar em algo no banheiro que não fizesse seu rosto esquentar, com as risadas abafadas de sendo um constante aviso de que ele não estava obtendo sucesso – Você já tem permissão para isso?
- Se não for exercício que use os pés, sim. E descobri que a Romanoff é bem criativa com exercícios, a propósito – resmungou ela, afundando mais uma vez na água por alguns segundos para ilustrar seu cansaço.
- Será que não foi vingança pela conversa na cozinha? – arriscou Steve – Embora eu tivesse a impressão de que ela ficou bem feliz por ver a gente se afundando sem a ajuda dela.
- Não foi só impressão, querido. Ela está bem feliz por isso... – riu de leve, checando as pontas dos dedos para saber se estava na água há muito tempo – Stevie, pega a toalha para mim?
O soldado de princípio teve como única reação erguer a sobrancelha, a espera de algum aviso de que aquela era mais uma das brincadeiras da morena para deixá-lo constrangido, mas não encontrou nenhum vestígio de riso em seus lábios, e seus olhos silenciosamente cobravam pelo pedido que fizera.
- Eu posso levantar para pegar, mas acho que você vai ficar ainda mais constrangido desse jeito – suspirou a mulher, apoiando as mãos nas bordas da banheira para se levantar, mas Steve já murmurara um “deixa que eu pego” antes que ela pudesse cumprir a ameaça. Apenas quando o loiro estava com a toalha esticada de comprido a sua frente e olhando casualmente para cima que se levantou, se enrolando no tecido macio ao som do soldado pigarreando – Você sabe que uma hora ou outra vai me ver sem roupa, não é?
- Sim, mas não imaginava que a primeira vez poderia ser assim... – confessou Steve em um sussurro, oferecendo uma mão à morena para assegurar que ela não cairia ao sair da banheira, só então percebendo que havia usado uma combinação de palavras que ele vinha evitando nos últimos dias, fechando os olhos e se xingando mentalmente – Não primeira vez nesse sentindo, mas... Quer saber, eu só vou parar de falar.
mordeu os lábios para tentar segurar a risada enquanto pegava outra toalha para secar seus cabelos, evitando olhar para Steve antes de se controlar. O problema era que o homem sempre estava fitando-a quando voltava a olhar para ele, claramente repreendendo-a por achar graça de seu constrangimento. Ficando na ponta dos pés por alguns momentos, a mulher segurou seu queixo e lhe beijou a bochecha, rumando em seguida para a pia do banheiro, onde ela jogou a toalha que antes estava em sua cabeça e pegou o secador que ficava ao lado do espelho. Enquanto desenrolava o fio, percebeu que não estava nem um pouco com vontade de realizar aquela atividade, embora soubesse que dormir com o cabelo molhado seria uma experiência traumática e não facilitaria em nada sua vida pela manhã, porém não estava com vontade de maltratar ainda mais seus braços com a posição desconfortável de segurar o secador acima de sua cabeça. Por alguns segundos a morena apenas fitou o aparelho com os lábios franzidos, até que uma ideia lhe ocorreu, se virando para Steve com o melhor olhar de cachorro sem dono que tinha.
- Quer secar meu cabelo? – pediu ela com a voz suave, chegando até a inclinar a cabeça para deixar mais difícil a tarefa de Steve negar o pedido.
- Natasha judiou tanto assim de você? – perguntou o loiro em um suspiro, pegando o aparelho de suas mãos e indicando para ela se sentar na tampa do vaso sanitário abaixada.
- Na verdade, eu já tenho energia para fazer três vezes o treino de hoje, então estou pedindo só por preguiça mesmo – confessou ela, rindo ao se encolher quando os dedos do soldado começaram a passear pelos seus cabelos com o som do secador ao fundo.
- Então... Os rumores dizem que o Capitão América te deixou sem graça hoje mais cedo – provocou Steve depois de longos minutos em silêncio, afastando o secador no exato momento que a mulher virou a cabeça para ele em um movimento brusco, o fuzilando com os olhos.
- E ainda arrancou dinheiro de mim – acrescentou ela, mal-humorada – Não acho que ele percebeu ainda, mas ele está bem encrencado.
- Será que vocês não ficam quites se você tirar a curiosidade daquele beijo?
- Vai ter que ser um beijo muito bom... – sussurrou , sentindo um arrepio subir por sua espinha quando Steve passou a colocar todos os fios para um lado, expondo a lateral de seu pescoço – Já te falei que você tem uma mão muito leve? Eu vou acabar dormindo aqui.
- Já te falei que já sei que você gosta que eu mexa no seu cabelo? – murmurou o homem em seu ouvido, aproveitando da proximidade para deixar que seus lábios tocassem de leve a região abaixo de sua orelha, onde o maxilar e o pescoço se encontravam.
- Vai usar isso contra mim no futuro? – perguntou ela, virando o rosto para Steve, que colocou o secador, agora desligado, dentro da pia. Quando voltou sua atenção para a mulher, um sorriso travesso brincava em seus lábios antes de capturar os dela.
- Pode apostar... – murmurou ele em resposta, sorrindo ao sentir as mãos quentes da mulher em seu rosto, uma se direcionando logo para sua nuca enquanto a outra deslizara por seu pescoço até parar em seu ombro. Quando um de seus braços a envolveu para puxá-la para mais perto, deslocara minimamente a toalha que cobria o corpo da morena, sendo ele a única coisa que impedia o material de cair ao chão. Por não ter certeza se Steve tinha noção do cenário, decidiu por quebrar o beijo, afastando seu rosto minimamente para estudar a expressão do soldado, se surpreendendo ao encontrar uma determinação e confiança que ele não matinha vinte e quatro horas por dia – E não, eu não trouxe meu escudo.

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acordou depois que o braço de um Steve adormecido se fechou com mais empenho ao seu redor, rindo de leve antes de abrir os olhos com cuidado pela luz do dia que já inundava seu quarto. Havia pedido que J.A.R.V.I.S. não os incomodasse na noite anterior a não ser que não tivesse outro jeito, e ele ainda estava levando aquilo a sério, já que descera a proteção das janelas ao invés de avisar que eles precisavam levantar. Uma maneira alternativa de acordá-los sem descumprir suas ordens.
Embora não fosse alguém que costumava ter sono pesado, Steve não dera indícios de ter acordado quando a morena com cuidado se desvinculou de seus braços, deixando a cama em seguida com um sorriso duplamente satisfeito: havia concluído da missão de levantar sem acordar o loiro; e ainda havia descoberto na noite anterior uma face do soldado no mínimo inesperada. Embora sua vontade fosse passar o resto da manhã assistindo o homem adormecido, pegou um robe e o vestiu antes de se direcionar para o banheiro, com certa dificuldade de focar no que precisava fazer naquele dia. Testar as asas do Sam, voltar para a academia – de preferência em um horário que Natasha não estivesse lá –, e definitivamente não passar o resto do dia sorrindo para Steve. Aquele seria um dia bem difícil, pelo visto. Talvez um banho ajudasse a organizar seus pensamentos. Quando tirou o robe e estava prestes a entrar na área do chuveiro que notou algo estranho: uma macha azul claro na parte externa de sua coxa, algo que não estava ali na última vez que olhara.
teve que levar a mão à boca para abafar o som de surpresa quando a realização a atingiu: em frente ao espelho ela pode ter uma visão melhor dos hematomas, localizados principalmente em seu quadril, embora tivesse um em sua cintura que praticamente dava para ver o contorno dos dedos de Steve. Santo Deus, aquilo realmente havia sido intenso. Nada que uma camiseta não cobrisse, e nada que não fosse sumir até a manhã seguinte, mas sabia muito bem que o soldado ainda adormecido não lidaria muito com aquela história, e já começava a se preparar mentalmente para isso.
Quando saiu do banheiro, Steve já estava sentado em sua cama e vestido com sua calça de moletom, com o rosto levemente amassado e os cabelos fora de ordem, se virando para ela assim que ouviu a porta se abrindo.
- Oi... - murmurou ele, com a voz rouca de sono. sorriu para ele, parando para lhe dar um rápido beijo de bom dia antes de entrar em seu closet – Tem muita coisa para fazer hoje?
- Você quer me dar mais coisa para fazer, não é? – resmungou ela, se afastando das prateleiras por alguns segundos quando já vestia um conjunto simples de roupa íntima para fitar o loiro – Eu conheço muito bem esse tom de voz, Rogers.
Diferente do que esperava, a mulher não ouviu a risada divertida do loiro, mas sim seus passos apressados para dentro do closet, parando às suas costas com sua respiração denunciando sua exaltação. Certo, se planejava esconder os hematomas, talvez tivesse cometido um pequeno deslize.
- Eu fiz isso com você?! - ofegou Steve, passando com cuidado os dedos pelos hematomas em sua cintura - E você está rindo? , você deveria...!
- Ei, se acalma, Rogers - murmurou ela, jogando os braços ao redor do pescoço do loiro, colando seus corpos mais uma vez e deixando que Steve se virasse com o peso dos dois - Primeiro, todos os hematomas estão entre roxo/azul e verde, o que classifica que a lesão está próxima dos sete dias ou até mais, não feitos ontem. Ou seja, é um jeito de te lembrar que eu me curo rápido. E sinto lhe informar, mas você também tem alguns hematomas, bem menores e mais discretos que os meus. E o que acho que foram arranhões.
- Por isso minhas costas estão estranhas? – murmurou ele, tirando uma das mãos da cintura da mulher para apontar por cima de seus ombros, fazendo-a rir – Do mesmo jeito, ... Eu não deveria te machucar. Você realmente está bem com isso?
Como resposta, se adiantou para mais um beijo e o loiro não ousou retrucar.
- Srtª Stark, seu pai está a sua procura – a voz de J.A.R.V.I.S. ecoou pelo quarto, fazendo com que os dois se separasse em sobressalto.
- Merda, você disse que eu estava no meu quarto? – perguntou a morena alto, saindo do closet com Steve em seu encalço, escaneando rapidamente seu quarto à procura do conjunto de moletom da S.H.I.EL.D. que havia voltado da lavanderia – Quanto tempo até ele chegar aqui?
- Três minutos, senhorita.
- Certo, eu vou ver o que Tony quer – murmurou ela, beijando o homem mais uma vez antes de se afastar por ter encontrado as peças de roupa que buscava, que estavam penduradas no encosto da cadeira de sua mesa – Pode ficar o tempo que quiser aqui, mas logo alguém vai te procurar, como sempre.
Depois de vestir a calça foi que percebeu que a camiseta que tinha em mãos talvez não fosse uma escolha adequada de vestuário: a calça não tinha a cintura tão alta, e a barra da camiseta passava de seu umbigo caso levantasse os braços, uma combinação nada propícia para quem estava tentando manter o abdômen coberto. Suspirando alto, a mulher visualizou um amontoado de tecido que deveria ser a camiseta de Steve e se adiantou para ela.
- Hm... , essa é a minha camiseta – avisou o soldado, confuso ao vê-la vestindo a peça.
- Eu sei, mas é a única camiseta comprida nesse quarto, e se eu colocar alguma coisa curta corro o risco de alguém ver as marcas que você deixou em mim – lembrou ela, lançando os braços ao redor de seu pescoço pela última vez pelas próximas horas. Steve revirou os olhos, mas acabou rindo, beijando a morena mais uma vez antes de ela correr para a porta quando J.A.R.V.I.S. avisou que seu pai já estava no corredor.
Tony recuou alguns passos quando sua filha apareceu subitamente a sua frente, mostrando um sorriso largo ao avistá-lo.
- J.A.R.V.I.S. disse que você estava me procurando - disse , fechando a porta do quarto antes que Tony conseguisse ter uma boa visão de seu anterior. Tony abriu a boca para contar no que estava trabalhando, mas parou ao um detalhe curioso no vestuário da filha: a camiseta era ridiculamente grande demais para ela.
- Essa camiseta não é sua - constatou o homem, ainda apontando para a peça de roupa. Apenas duas pessoas naquele prédio usariam uma camiseta daquele tamanho e Thor não tinha nada da S.H.I.E.L.D. – Essa camiseta é do Rogers.
Aquele momento poderia entrar para a lista quase infinita de “eu definitivamente poderia ter contado ali”, só que mais uma vez sentiu que não era uma boa ideia. Afinal, era o começo da manhã, Steve estava completamente despreparado em seu quarto, e Tony iria começar a gritar... Aquele dia tinha tudo para ser um dia de paz na Torre dos Vingadores, não queria estragar suas chances logo cedo.
- Temos quatro ex-agentes da S.H.I.E.L.D. no prédio que continuam a usar os antigos uniformes, alguém na lavanderia deve ter se confundido e misturado as camisetas dele com as minhas – mentiu a mulher, escondendo as mãos nos bolsos de sua calça.
- E você não tinha percebido que cabe umas três de você aí dentro?
- Eu nem acordei direito ainda, Tony – resmungou ela, já caminhando para o elevador e esperando que o homem a acompanhasse – Eu poderia ter colocado uma de suas armaduras e não notaria a diferença.

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As imagens da base que os Vingadores estavam invadindo cercavam , que tinha que tomar cuidado para não deixar passar nenhum detalhe despercebido, já que isso podia resultar em alguém da equipe se machucando. Enquanto avisava Natasha que havia perdido as câmeras do setor que ela e Thor estavam, a morena com um movimento de mão ignorou a notificação de Hill que piscava a sua frente – havia sido bem clara que não deveria ser perturbada pelas próximas horas, e não conseguiria pensar em nenhum problema que a mulher não pudesse resolver sem o seu auxílio. A não ser que fosse algum ataque.
Mas ninguém seria idiota o suficiente de atacar a Torre. Certo?
- J.A.R.V.I.S., descobre o que a Hill quer, por favor – rosnou ela, voltando a digitar códigos na maior velocidade que conseguia, liberando a porta para que Clint entrasse na sala e pegasse os dados que estavam naquela base.
- Srtª Stark, temo que alguns jornalistas tenham invadido o prédio¬ – informou o sistema, e a mulher ficou alguns segundos em silêncio, absorvendo a informação e dando brecha para que ele avisasse que era brincadeira – Tivemos uma quebra na segurança.
- Nós tivemos uma o que?!
– berrou Tony em seu ouvido, atirando no último agente da HYDRA em pé antes de voltar a gritar com sua filha – Como você deixou algo assim acontecer, ?!
- Como diabos isso pode ser considerado minha culpa? – grunhiu ela, apoiando as mãos no tampo da mesa para afastar sua cadeira e se levantar – Gavião, tem um grupo indo na sua direção. Capitão e Viúva, vocês são os mais próximos, deem assistência. Pai, Thor está começando a ter problemas na ala oeste, faça alguma coisa. Eu vou ver o que está acontecendo aqui e não sei se volto antes de vocês terminarem, ent...
- Vai logo, ! – a apressou Tony, soando estranhamente irritado – Quero voltar e encontrar minha Torre do mesmo jeito que eu deixe.
Bufando em concordância marchou para o elevador, não se surpreendendo ao encontrar Hill quando as portas se abriram, logo respondendo à pergunta que estava clara em seus olhos.
- Não faço ideia de como eles entraram, – contou Hill, lhe esticando seu tablete para mostrar as imagens da segurança do prédio: em um momento estava tudo normal, de repente as imagens congelavam, e, quando voltavam ao normal, o saguão já estava cheio de jornalistas, com alguns conseguindo adentrar mais no prédio, provavelmente à procura de algum Vingador – A segurança simplesmente caiu.
- Como...? J.A.R.V.I.S.?!
- Temo que também não tenha respostas, Srtª Stark.
- Você cochilou por acaso? – grunhiu , revirando os olhos – Para a central de processamento de dados, J. Vamos descobrir o que aconteceu.
passou quase uma hora dentro da sala, com todos os técnicos tensos ao seu redor, imaginando quão agradável ela seria se a queda de segurança fosse culpa de um deles. Naquele longo espaço de tempo a mulher pode checar tudo possível três vezes, sem encontrar nada errado ou fora do lugar. Não parecia existir explicação para o ocorrido, e isso estava começando a irritar. Como que alguém poderia quebrar a segurança da Torre? Era Tecnologia Stark. Pior: Tecnologia Stark privada. Mais ninguém além de ela e Tony tinha acesso àquilo.
Porém existia uma pessoa que tivera certo contato com J.A.R.V.I.S. quando estava em sua companhia. A partir daquele momento desejou que aquilo tivesse sido um ataque, pelo menos assim o homicídio que cometeria nos próximos minutos seria mais facilmente justificável.
Murmurando um irritado “já resolvi o problema” enquanto se levantava, deixou a sala e rumou de volta para o elevador ignorando os pedidos de Hill por explicações. Não dava para discutir com mais ninguém até voltar para seu posto, precisava guardar toda aquela raiva para direcioná-la para a pessoa que não só a fizera de idiota por mais tempo que de costume, mas por também tê-la feito abandonar a equipe nos últimos momentos de missão. Se realmente fosse Andrew, era melhor ele começar a correr. estava possessa e estava considerando apenas as ações atuais do homem, não queria nem imaginar como ficaria quando sua memória começasse a lhe trazer detalhes importantes de sua convivência com ele.
já conseguia ver as manchetes contando como ela matara Andrew Baker com suas próprias mãos e não podia negar que aquilo lhe soava muito bem.
Confirmando suas suspeitas, seus olhos não tiveram dificuldades em identificar Andrew sentado em sua cadeira, estudando as informações da base da HYDRA que os Vingadores já deveriam ter conquistado, com ambos os cotovelos apoiados na mesa e o queixo em suas mãos, parecendo incrivelmente entediado.
- Demorou a entender, amor – suspirou ele, virando o rosto para lhe mostrar um sorriso travesso. não respondeu de imediato, estava mudando mentalmente a imagem ainda infantil que tinha de Andrew: talvez ele não estivesse mais alto do que da última vez que se viram, mas estava definitivamente mais musculoso, o que parecia dar uma falsa sensação de ele estar mais alto; seu cabelo escuro agora era um pouco mais longo do que costumava ser, comprido o suficiente para talvez até conseguir amarrá-lo de todo em sua cabeça; seu rosto ainda apresentava alguns traços infantis, mas a barba por fazer neutralizava aquele ar imaturo, quase fazendo com que ele parecesse um adulto responsável – Assumi que minha entrada em qualquer prédio das Industrias Stark tivesse proibida, então tive que arrumar outro jeito de entrar.
- E eu estou pensando em várias formas de fazer você ir embora – bufou , arriscando alguns passos para dentro da sala com os braços cruzados e a expressão nada amigável – Some daqui, Andrew.
Andrew alargou o sorriso, erguendo os braços para se espreguiçar por mais tempo que o necessário apenas para irritar a mulher a sua frente, que não via há um tempo. Como a mídia havia redescoberto o gosto pelo nome da mais jovem Stark, não podia dizer que não estava familiarizado com sua versão adulta, mesmo não sendo essa que sua memória se recordava. Se aquela fosse a versão de com que ele convivera, nunca que ela estaria usando aquele conjunto comportado de moletom da S.H.I.E.L.D. dentro de casa, sendo essa casa um local movimentado ou não. Talvez uma de suas camisetas de times que ela roubava e nem se dava ao trabalho de saber de qual esporte era, que na maioria das vezes mal chegavam às suas coxas, e acabava por obrigá-lo a ficar ou sem camiseta ou pegar alguma de Tony emprestado – embora duvidasse que o homem soubesse disso até os dias atuais. Na verdade, para sua sorte aquela não era a versão de que ele conhecia. A mulher a sua frente era mais perigosa, mas pelo menos não era tão impulsiva e inconsequente como costumava ser quase dez anos atrás, e essa era sua vantagem.
- Um amor de pessoa, como sempre – murmurou ele por fim, avançando na direção da mulher, mas parou quando chegou no limite da distância segura.
- Você vai ver o amor do meu pé na sua cara se não deixar esse prédio agora – retrucou , falhando em controlar sua irritação por mais uma vez estar na frente de Baker mais uma vez.
- Para que tudo isso, ? – sorriu ele, abrindo os braços – Cadê o carinho pelos velhos tempos?
- Você está drogado, não é? Ódio entre nós é um sentimento mútuo – estranhou a mulher, puxando seu celular do bolso para perguntar a Hill se os advogados que estavam cuidando dos jornalistas ainda estavam no prédio, já que tinha um intruso a sua frente. Andrew não precisava conhecê-la para saber que ela estava chamando alguém, por isso não conseguiu esconder a frustração que sentia, suspirando alto e deixando os ombros caírem.
- Então você sabe como está me incomodando ter que vir te pedir ajuda.
A quase confissão funcionou, já que deixou de encarar a tela de seu aparelho para lhe lançar um olhar confuso, que aos poucos foi se aproximando da diversão.
- O playboy está encrencado? – provocou ela – Por isso derrubou a segurança da Torre? Deixar os jornalistas entrarem foi o que? Uma distração para você subir?
- O que posso dizer...? Queria te fazer uma surpresa, mas não descobri onde fica seu quarto...
- Nem jantei ainda, mas já fiquei enjoada.
- , é sério – suspirou Andrew, e sua voz abandonou o tom de brincadeira, o que ela não se lembrava de acontecer com muita frequência, embora aquilo não fosse fazer com que ela se sensibilizasse por homem – Preciso de ajuda.
- Ah, por favor! – riu a mulher, juntando as mãos em frente do rosto – Me diga que você se enfiou numa merda bem grande! Me deixe ser feliz!
- , será que dá para você crescer por dois min...?
- Não, não dá! – o interrompeu abruptamente, apontando para o elevador – Some desse prédio antes que eu chame a segurança.
- Não vai me tirar pessoalmente? – provocou o moreno – Virou secretária dos Vingadores e não faz mais o trabalhinho sujo?
- Eu não vou arriscar meu tornozelo por você – rosnou , marchando em direção a sua mesa. Como suspeitava, a equipe já tinha finalizado a missão e estava a caminho de casa, com chegada prevista para as próximas horas, espaço de tempo mais que suficiente para fazer com que Andrew deixasse o prédio. Se ele e Tony se encontrassem, seria catastrófico. Havia demorado muito mais do que ela desejava, porém o mais velho dos Stark havia aprendido a detestar o mais novo dos Baker, e, agora que Andrew não era mais um pirralho, Tony não se sentiria nem um pouco culpado em socá-lo até a semana que vinha.
- Ou é medo de não resistir a mim novamente? – sussurrou Andrew, próximo demais, deslizando suas mãos dos ombros para os braços da morena, que girou a cadeira em um movimento rápido e encaixou o pé esquerdo em seu peito, chutando-o pra longe.
- Seu ego consegue ser maior do que o meu e do meu pai juntos, isso não deveria ser possível – bufou , assistindo o homem no chão ter dificuldades para estabilizar sua respiração. Embora fosse sua vontade, ela não havia colocado muita força no chute, apenas o suficiente para fazê-lo se afastar o suficiente.
- HYDRA está atrás de mim, – gemeu ele, ficando de bruços por mais tempo do que seu orgulho queria, tentando ignorar a dor que agora sentia em sua cabeça, peito e costas. Claro que ele entrara no prédio preparado para ser alvo de agressões, mas isso não tornava as coisas mais fáceis. sempre fora forte, e agora ela parecia estar em seu auge. Se não tomasse cuidado acabaria deixando a Torre em uma maca – Eu não viria até você se não tivesse outra escolha.
- Eles estão atrás de todo mundo, querido. Se vira – resmungou ela, tendo a atenção roubada quando J.A.R.V.I.S. avisou que seu pai pedia explicações sobre o que tinha acontecido na torre. Ela teria que inventar alguma coisa bem rápido antes que Tony começasse a desconfiar.
- Só que as chances de eles conseguirem pegar quem fica nesse prédio praticamente não existem – lembrou Andrew, depois de um longo e sofrido suspiro.
- Quer ser contratado? Já posso começar a rir?
- Eu sou acionista das Indústrias, não vejo porque seria um problema trabalhar aqui – argumentou ele, se pondo de pé ainda com certa dificuldade. A postura da mulher havia relaxado minimamente, e era disso que ele tinha que se aproveitar. Mesmo com o passado perturbado que tinham, não era tão cruel a ponto de deixá-lo sem proteção, a qual ela podia a conceder e sem muitos esforços, além de saber que ele podia sim acabar sendo uma boa adição à equipe da Torre, já que também fora um bom agente. Ela estava começando a considerar a ideia, e agora Andrew apenas precisava escolher as palavras certas.
- A HYDRA fez lavagem cerebral em você também? – debochou a morena, olhando rapidamente para ele antes de voltar sua atenção para seu teclado – Nem em outra vida Tony vai te aceitar na folha de pagamento.
- Eu trabalho de graça! Não preciso ser pago – insistiu ele, parando às suas costas e estudando com cuidado o que fazia, temendo que alguma ação a seu respeito fosse tomada e ele não tivesse tempo de correr – Vocês me pagam com segurança, já está ótimo.
- Tony não vai concordar com isso, e, sinceramente, eu fico feliz com isso.
- Qual é, – choramingou Andrew, segurando as laterais da cadeira e a girando para que a mulher ficasse de frente para ele – Ficar no mesmo prédio que você é a última coisa que eu queria, mas respirar o mesmo ar que você ainda é melhor do que ser capturado.
- Você não encosta em mim...! – avisou baixo, afastando as mãos do homem de perto dela – Tenho muita coisa para fazer e não dá para encaixar “tomar banho em detergente fervendo” na minha agenda.
- Estou magoado, você costumava gost... – Andrew nunca chegou a terminar a sentença já que o punho fechado da mulher atingiu a lateral de seu rosto, em um soco forte o suficiente para lhe causar um pequeno corte na pele e cair no chão, alguns passos de distância. O homem apenas forçou um sorriso, levando uma mão ao corte e deixando que um pouco do sangue molhasse seus dedos, os mostrando para a morena em seguida – Eu sou uma pessoa horrível, mas você está sendo bem pior do que eu.
- Mesmo? – riu , pulando quando Andrew chutou sua cadeira, na esperança de conseguir derrubá-la – Você me conhece melhor do que isso, Andy. Sabe que é uma péssima ideia tentar me enfrentar.
- Para você ver como eu estou desesperado.
Andrew respirou fundo antes de se adiantar para a mulher com a guarda fechada, mesmo sabendo que todo o treinamento básico que recebera na S.H.I.E.L.D. não seria o suficiente para ao menos conseguir acertar um golpe. Na verdade, ele só conseguira acertar um bom soco no queixo da mulher porque hesitara em chutá-lo com a perna direita, tentando parar o movimento quando a bota entrou em seu campo de visão, resultando em sua guarda aberta que não deixou de ser aproveitada por Andrew, que não conseguiu esconder a surpresa ao vê-la cambalear para o lado, ciente de que agora estava realmente correndo perigo. Apenas com mais uma ou duas sequências de movimentos e ele já estava de bruços no chão, sentindo o joelho de pressionar sua coluna enquanto uma mão não deixava que seu rosto se afastasse do piso claro.
- Já percebeu que não vai conseguir o que quer, não é? – rosnou a mulher, próxima de seu ouvido – Eu vou sair dessa sala e quando eu voltar quero que você esteja bem longe, fora dessa cidade, entendeu? Seus problemas com a HYDRA são seus problemas. O que não falta é agência nesse mundo, e, se está tão desesperado assim, então continue na S.H.I.E.L.D. Sei muito bem que um novo Diretor já foi escolhido, então você ainda tem um emprego.
- S.H.I.E.L.D. não é mais a S.H.I.E.L.D., amor – resmungou ele, gemendo ao sentir sua coluna ser mais pressionada – Eles estão quebrados.
- Não é meu problema. Agora some daqui, Baker – rosnou , se levantando contente ao ver o homem sequer tentar se mexer – Não vou ser tão amigável se te ver mais uma vez nessa vida, então aproveita a chance de continuar respirando.

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Tony foi o primeiro a deixar a nave, pisando forte por ainda não ter recebido nenhuma explicação de sua filha. Sendo bem sincero, ele também tinha um superpoder: sabia dizer quando a mulher estava lhe escondendo algo, e seu sensor problema estava apitando. Nenhum de seus colegas conseguiu acalmá-lo ou fazê-lo mudar de ideia, e por fim eles acabaram o deixando quieto, esperando que as suspeitas de Tony estivessem erradas, já que, caso o contrário, teriam que aturar um dos muitos dramas daquela família quando tudo o que eles desejavam era descansar depois daquela longa missão.
Quando chegaram à Torre, a primeira coisa que Tony fez ao descer na nave foi perguntar da localização de sua filha, e sua confirmação de algo errado ter acontecido foi quando J.A.R.V.I.S. hesitou em responder, dizendo depois que ela estava em seu quarto e que já estava indo se unir ao resto da equipe. Tony quase chegou a brigar com seu próprio sistema, mas sua mente entrou em pane assim que o grupo chegou à área de convivência onde costumava fazer a monitoração, avistando uma figura um tanto familiar ocupar o lugar de sua filha, estudando informações que passeavam a sua frente com tédio óbvio em seu semblante. Assim como o bilionário, Natasha e Clint também pararam no lugar assim que avistaram o tal intruso, deixando o resto da equipe se perguntando o que diabos acontecia.
- Bem-vindos de volta, Vingadores – festejou o homem, girando a cadeira com um sorriso largo e convencido – Fizeram boa viagem de volta?

Capítulo 29


- Bem-vindos de volta, Vingadores – festejou um homem que Steve não conhecia, girando a cadeira que antes ocupava – Fizeram uma boa viagem de volta?
O homem parecia ter acabado de sair de uma luta que não tinha ganhado, e o mais estranho é que metade da equipe – os dois ex-agentes da S.H.I.E.L.D. e Tony – não estavam confusos com sua aparição, mas sim irritados. Steve não podia negar que o homem lhe parecia familiar, só que não passava disso. Eles não tinham sido apresentados e talvez existisse um motivo para isso.
- Eu vou matar a – soltou Tony, marchando na direção do homem, parando apenas quando Clint o segurou, ignorando por completo o arqueiro e se direcionando ao estranho – Eu não quero nem saber porque diabos te deixou entrar, Andrew. Some antes que eu coloque minha armadura de novo.
- Você sabia que esse dia ia chegar mais cedo ou mais tarde... – começou o tal Andrew, com um sorriso largo que apenas fez com que Steve se irritasse – Sua filha não me esqueceu.
- Vamos parar com a historinha, Baker? – cortou-o Clint, interrompendo os pensamentos confusos que passaram a ocupar a mente do soldado – Ela não te suporta, e o sentimento a mútuo.
Antes que Steve pudesse formular a dúvida que começava o dominar e antes que Andrew soltasse a resposta que, pelo brilho maldoso em seus olhos, ele planejava muito dar, as portas do elevador se abriram, revelando a mais jovem dos Stark, que tinha um leve hematoma no queixo, o único indício que ela que entrara em combate com o intruso. O soldado a conhecia e sabia que ela estava escondendo algo, tentando disfarçar alguma coisa, e isso logo ficou claro para todos quando ela adentrou na sala, com um sorriso forçado que nunca conseguiria convencê-lo que estava tudo bem.
- Desculpe, eu tive um probleminh... Sai da minha cadeira - rosnou assim que avistou que Andrew ainda não havia partido, tirando sua arma do cós da calça e o colocando em sua mira.
- Você voltou armada! – exclamou o homem entre risadas, se levantando com as mãos erguidas – Pensei que já tínhamos passado dessa fase, .
- Pensei que eu tinha dito para você sumir desse prédio.
- Antigamente quando você me pedia para parar, voc... – Andrew foi interrompido por um disparo, a bala cravada no chão próxima aos seus pés. Instintivamente, ele se encolheu, se aproximando mais dos Vingadores em busca de algum tipo de proteção, com Tony logo se afastando, tanto por não defender aquele pirralho por nada nesse mundo como para não acabar sendo atingido por engano.
- Termine essa sentença – ameaçou ela, travando a arma e a jogando de qualquer jeito em cima de sua mesa – Termine a sentença e você vai ter que correr de alguns Vingadores.
- Eu não compro suas brigas, filhote – Clint se apressou em dizer, e Natasha concordou – Principalmente as suas brigas da sua época de Party Hard.
olhou para a dupla, completamente inconformada. Aquele não era o melhor momento para que os dois se virassem contra ela, embora também não pudesse os julgar. Os únicos ali que poderiam sair em sua defesa eram Steve, Thor e Bruce. Seu pai não podia ser incluso porque ele com certeza tentaria matar o garoto caso ela pedisse, e apenas queria assustá-lo. Bruce não era muito bom nisso, e envolver Steve naquela história não lhe parecia uma boa ideia, então apenas lhe restava o asgardiano, que a olhava sério, como que esperando ser escolhido.
- Esse homem não é digno, Thor – disse ela em voz baixa, tentando manter a melhor expressão de vítima que tinha mesmo com um sorriso satisfeito insistente tentando se formar em seus lábios – Ele é desleal. Manipulador. Ele tentou me usar quando eu era mais jovem.
Thor ficou tenso no mesmo instante, girando o martelo em sua mão sem tirar os olhos de Andrew.
- Você está pegando o Thor agora? – resmungou o homem, vendo o sorriso maldoso da morena se alargar – Agora sim posso chamar isso de competição desleal.
- Eu sou protegida dele, idiota. Mas não me surpreende: sua mentezinha egoísta nunca iria conseguir compreender um sentimento tão complexo como preocupação pelo outro.
- Se você não o chamou aqui, o que diabos esse demônio faz aqui, ? – Tony exigiu explicações, apenas mais irritado pela cena que a dupla estava fazendo.
- Na verdade, primeiro eu pensei em falar com a , já que ela que está mandando em tudo agora – explicou Andrew, antes que morena pudesse dar sua versão destorcida da história – Só que alguém é rancorosa demais para me ouvir, então achei melhor esperar os Vingadores voltarem e falar diretamente com você, Tony.
- É Sr. Stark para você, pirralho. E não.
- Eu sequer expliquei por que estou aqui.
- Não dou a mínima – debochou Tony – Você não fica perto da minha filha. Se considere com sorte de ainda estar respirando.
- Rancor é algo da família, pelo jeito.
- Você não faz ideia – responderam os dois Stark.
- Natasha, ajuda, por favor – pediu Andrew à ruiva, vendo sem dificuldades que sua estratégia até aquele momento não chegaria a lugar nenhum.
- Se eu não vou pôr a minha mão no fogo pela Stark, por que acha que eu colocaria por você?
Andrew bufou alto, física e mentalmente cansado de toda aquela palhaçada. Sabia que não seria fácil conseguir que os dois concordassem com sua presença no prédio, por isso tinha algumas cartas na manga, embora existisse a possibilidade de isso piorar ainda mais a sua situação.
Bem, ele não tinha muita coisa a perder mesmo.
- ... – começou Andrew, depois de um longo suspiro e de repensar muito bem suas ações – Você me deve uma.
- Te devo uma? – repetiu a mulher, incrédula. Talvez tivesse batido forte demais na cabeça daquele projeto de ser humano, porque definitivamente ele não estava mais falando coisa com coisa – Em que universo paralelo caótico eu estou te devendo algo?
- Eu que tive a ideia.
Em segundos a expressão raivosa de passou para levemente assustada, o que surpreendeu a equipe, já que a mulher não costumava ser tão transparente. Mentalmente ela se xingava por não ter cogitado aquela possibilidade, por ter pensando que Andrew não seria tão idiota ao ponto de trazer aquele assunto à tona depois de tantos anos. Seu desespero deveria ser muito grande para ele tomar um passo tão arriscado, onde conseguir o que queria poderia ficar ainda mais difícil. O homem teria que saber manipular Tony muito bem, e o pior é que tinha material para isso.
- Ideia que beneficiou nós dois, que nunca teria funcionado se eu não tivesse concordo – retrucou , tentando avançar ameaçadoramente na direção do homem e sendo impedida pelos braços de Steve que a seguraram pelas laterais – Eu não te devo nada.
- Do que vocês estão falando?
- Nada – se apressou em responder o pai, e Andrew sorriu com isso. Exigia muito esforço, mas finalmente tinha conseguido ter alguma vantagem sobre a mulher.
- Se você não colaborar comigo, eu conto tudo para ele.
- Você está me ameaçando, Baker? Perdeu o juízo? Se me derrubar você vai junto, e você sabe muito bem que o buraco é muito mais embaixo para você.
- Não, é aí que você se engana... – retrucou Andrew, contente por a conversa ter seguido aquele rumo. A corda sempre estourava para o lado mais fraco, e a vida inteira o lado mais fraco sempre fora o seu. Só que agora o cenário era bem diferente – Pela primeira vez desde que nos conhecemos que você é a que está em uma posição mais delicada. Você que está querendo brincar de herói, você que está tentando recuperar o relacionamento com seu pai... Como ele vai se sentir sabendo que a primeira vez que ele genuinamente se preocupou com você, você estava mentindo descaradamente na cara dele?
- Baixo, Baker. Baixo demais até para você, e não sei por que estou surpresa – riu , se desvinculando das mãos de Steve em um movimento brusco – Você não cresceu nada nos últimos anos.
- Eu cresci, . Só que você está vendo um homem que não sabe mais para onde correr – replicou o homem, de repente parecendo extremamente cansado – Eu tentei do jeito legal, e não funcionou. Ter que aturar seus olhares tortos ainda é mais agradável do que aturar a HYDRA. Não estou brincando quando digo que eles estão na minha cola.
- É bom os dois começarem a se explicar – avisou Tony, cruzando os braços e fuzilando hora a filha, hora o intruso.
Não tinha mais jeito. Mesmo que Andrew voltasse atrás agora, já era tarde. Tony não deixaria aquele assunto quieto, como deveria ficar pelo resto da eternidade. evitava ao máximo pensar naquilo, principalmente por vergonha. Ela e Andrew haviam sido tão mimados e imaturos que a mulher evitava pensar naquilo simplesmente para proteger sua saúde mental. Se estivessem na mesma situação com a maturidade que tinha agora, os problemas teriam se resolvido antes de se formarem e ela teria mandado metade dos envolvidos para o inferno.
Agora ela só queria mandar Andrew para o inferno.
- Lembra de quando estava em processo a fusão Stark-Baker, alguns anos atrás? - começou ela, apertando as próprias mãos para tentar aliviar a tensão que sentia – Era uma aliança que estava praticamente confirmada, e apoiada com unanimidade pela mídia, mas alguns escândalos fizeram com que voltássemos atrás, e que as Indústrias Baker fechassem... Nós estávamos por trás dos escândalos, arquitetando a coisa toda.
Como esperava, todos permanecessem em silêncio. Os únicos do grupo que não faziam ideia ao que ela se referia eram Thor e Steve, o restante dos presentes, mesmo os que não estavam diretamente ligados ao acontecido, se recordavam ligeiramente do caso, que estampara capas de jornais por inúmeras semanas, e logo de cara não dava para entender a motivação da dupla. Até Andrew admitiria que precisava fazer um esforço imenso para se convencer de que começaram aqui por um bom motivo.
- Não todos, na verdade – corrigiu Andrew, pigarreando para tentar soar um pouco mais firme, embora não obtendo muito sucesso. A verdade era que ele começava a se questionar se aquela era realmente uma boa ideia, afinal, qualquer uma das pessoas ao seu redor poderia facilmente matá-lo, e não hesitariam caso desse um passo em falso – Teve alguns podres que nós achamos muito sem querer e nos aproveitamos disso: o financiamento de guerras e essas coisas. Mas certas coisas menores que estavam no meio daquela bola de neve fomos nós. Nós alteramos detalhes importantes dos contratos de fusão, sabotamos os principais programas de ambas as empresas, mexemos no caixa, expomos os podres...
- E pagamos um número absurdo de pessoas para criar aqueles escândalos tanto sobre nós, e deixar a situação sob nosso controle – completou , finalmente arriscando olhar para o pai. O último tópico havia criado uma situação quase insuportável entre os dois, que acabou indiretamente resultando em sua ida para uma universidade estrangeira semanas depois. Era claro que Tony não deixaria aquilo passar em branco, ainda mais agora sabendo que ela causara a situação e não tivera a decência de lhe contar até ser chantageada.
- Eu vou perguntar só uma vez... – avisou Tony, que tinha os olhos fechados com força, e ambas as mãos na testa – O que?
- Nós dois sabemos que não foi exatamente a coisa mais responsável que fizemos na vida, mas foi necessário – se explicou a morena, embora nem ela acreditasse completamente em suas palavras – Foi por motivos pessoais e levemente infantis, mas impedimos uma catástrofe de acontecer.
- Quantos crimes vocês cometeram? – questionou Tony, sentindo uma imensa vontade de quebrar algo. Talvez o pescoço da filha.
- Na época achamos melhor não fazer uma contabilização – suspirou , com o rosto contorcido em uma careta apreensiva – Mas não foram poucos.
- Olha, Stark... Sei que você está irritado com a sua filha, e você tem um pouco de razão, já que ela teve um bom tempo para contar isso tudo – Andrew se intrometeu na discussão, arriscando um passo em direção ao homem, que não ameaçou pular em seu pescoço ou nada do tipo. por sua vez revirara os olhos, resmungando um baixo “não acredito que cheguei ao ponto de ter que ouvir lição de moral desse estrupício” enquanto se afastava de Steve e rumava para sua mesa, ocupando sua cadeira – Mas todo mundo saiu ganhando nessa história. Sem nossa intervenção, claro que você talvez estaria levemente mais rico se a fusão tivesse acontecido, mas eu teria sido morto pela minha esposa maluca, ou com vinte e três mil restrições de aproximação dela por eu ter tentado matá-la. Isso só te custou alguns milhões e um pouco de dor de cabeça, mas todo mundo ficou feliz.
- Espera, em ambos os cenários eu estou viva? – estranhou , se virando para o homem com um sorriso debochado – Isso é amor, Andy?
- Você sobreviveu ao Soldado Invernal, já perdi as esperanças de conseguir te matar – bufou Andrew irritado, fazendo-a concordar enquanto ria – Sério, como você sobreviveu?
- Ah, os parceiros no crime querem colocar o papo em dia? – alfinetou Tony, e ambos voltaram a ficar sérios.
- Olha, você não gosta de mim, eu te entendo, de verdade. Também não gosto de você – Andrew recuou um passo assim que Tony se adiantou para ele, com os braços cruzados em frente ao peito. Com a visão periférica ele tentava ficar atento a movimentações estranhas, como uma armadura surgindo para matá-lo – Dei graças a Deus quando toda aquela palhaçada de fusão terminou porque meu pai e aquele doido do Obadiah iriam me obrigar a casar com a sua filha, e de quebra ainda me afastou dessa área de negócios que eu nunca quis. Só que a HYDRA agora está na minha cola e vocês estão aceitando ex-agentes, até a Hill está aqui. Seria infantil demais até para vocês me deixarem de fora apenas por algumas intrigas passadas.
- E eu ainda não entendi por que diabos a HYDRA estaria atrás de você – comentou o mais velho dos Stark, só agora percebendo que era a segunda vez que o garoto falava aquilo –Você não passa de um zero à esquerda.
- Eu era da equipe de desenvolvimento de armas da S.H.I.EL.D. O chefe do setor, na verdade.
- Fury achou que era uma boa ideia contratar o Trio Problema? – debochou Tony, se virando para os ex-agentes, que concordavam ironicamente – Por que não soltar uma bomba atômica no meio da rua?! Ia causar bem menos confusão.
Por mais bizarro que pudesse parecer, Tony até que estava considerando aceitar o imbecil do Baker na Torre. Talvez fosse porque sua fúria estava concentrada em sua filha, mas de repente o garoto não parecia tão ruim. Se havia sido convocado por Fury, talvez ele tivesse alguma habilidade no que fazia, e não faria tão mal assim o integrar na equipe. Se ele planejava algo que não estava contando, aquela era a sua Torre, teria tanto Andrew como sob constante vigilância pelo tempo que fosse necessário.
- Dois andares de distância da minha filha, não importa o que você esteja fazendo. J.A.R.V.I.S. vai te avisar caso você esteja quebrando essa regra – decretou Tony, e automaticamente os ombros de caíram em sinal da batalha perdida – Se ela se aproximar, você vaza. Você que tem limitações aqui, não ela. Se eu sonhar que vocês ocuparam o mesmo ambiente, eu te entrego para a HYDRA pessoalmente. Hill vai cuidar de você.
- Eu tinha quase a mesma restrição na SHIELD, então não vou reclamar – comentou Andrew, já se direcionando para o elevador antes que Tony mudasse de ideia – Bom, foi bom conhecer vocês... Rever rostos não tão amigos assim... E, ? Se quiser me fazer uma visitinha mais tarde...
- Vinte e seis, Baker – suspirou ela, com os olhos já passeando pelas informações adquiridas naquela missão – Já pensei em vinte e seis maneiras de te matar e fazer parecer um acidente.
- Só isso? – estranhou ele – Está ficando mole, amor?
- Só estou considerando as opções que envolvem um grau alto de dor e sofrimento – explicou a mulher, e Andrew sorriu satisfeito.
- Se alguma delas envolver uma cama, certeza que eu topo...
Quando Andrew deixou o local, o único som no ambiente era da voz baixa de J.A.R.V.I.S. que fazia algumas suposições sobre o material recém-adquirido a pedido de , que se esforçava para fingir que realmente estava fazendo alguma coisa. Nas últimas semanas havia hesitado tantas vezes falar com seu pai sobre seu envolvimento com Steve exatamente para evitar discussões, e de repente não parecia haver outra saída. Se fosse por esse tema, talvez ela não estivesse tão apreensiva, mas o tópico que Tony iria querer abordar não era nada bom. Nenhum dos dois naquela época era um bom exemplo de pessoa, mas ela ainda conseguia ser um pouco pior do que ele.
- Estou seriamente desapontado contigo – começou Tony quando percebeu que ela continuaria a fingir que nada estava acontecendo, se irritando mais ao ver a filha bufar.
- Não faz diferença, o sermão que você quer passar está quase dez anos atrasado – disse ela devagar, girando a cadeira para fitar o pai – Qualquer coisa que você esteja pensando em me dizer, eu provavelmente já pensei sozinha, então...
- Não faz diferenç...! Depois desse tempo todo você ainda não entendeu a gravidade do que vocês fizeram? – rosnou o homem. Parecia que realmente tinha regredido no tempo: não via mais a mulher que estava prestes a integrar uma equipe de super-heróis, via apenas sua filha adolescente que não parecia ter noção do peso de suas ações – Foi por isso que você fugiu para Oxford? Medo de que eu descobrisse? Medo de ter que arcar com as consequências?
- Olha, sei que você está bravo comigo. Totalmente te entendo, e meio que mereço – suspirou alto. Havia adquirido o péssimo costume de deixar seus poderes desligados a não ser que fosse entrar em ação, por isso aos poucos também começava a se descontrolar, assim como seu pai. Desde o dia de sua partida, eles nunca voltaram a tocar naquele assunto, nem mesmo quando Tony descobrira que a filha trabalhava para a S.H.I.EL.D. Nem ela sabia o que esperar caso aquela discussão realmente se iniciasse – Só que Oxford é uma discussão completamente diferente que você não quer trazer à tona, entendeu? Não quer mesmo.
- Ah, não quero? Agora você que diz o que eu quero ou não?
- Você tem noção que estamos regredindo no mínimo dez anos no tempo, não é?
- Aparentemente precisamos voltar no tempo já que tem certas coisas que você se esqueceu de me contar – retrucou Tony. Thor e Bruce mais atrás pareciam querer interferir, mas não sabiam como e nem se deviam. Natasha tinha a ligeira impressão de que alguém precisava tomar uma iniciativa, e, como de costume, deixou Clint encarregado da tarefa, que balançava a cabeça em descrença – Responde minha pergunta, : foi por isso que você fugiu para a Europa?
- Certo... Melhor a gente parar por aqui antes que vocês comessem a ganhar gosto pela discussão, não é? – interferiu o arqueiro, se colocando entre os dois Stark, deixando uma mão pousar sobre o ombro da mais jovem – Conseguimos bastante material e você tem muito trabalho para fazer, ... Vai para seu laboratório, por favor.
- Posso saber o porquê de você estar se intrometendo nisso, Barton? – grunhiu Tony – Isso é entre eu e minha filha.
- Sem querer ofender, Tony... Mas isso vai sobrar para mim de alguma maneira e eu só quero dormir um pouco – retrucou o loiro, lhe lançando um olhar cansado – Se amanhã cedo vocês quiserem continuar, prometo que até supervisiono vocês se matando. , vai.
Como realmente queria sair dali, não se opôs à ordem, resmungando algo em concordância enquanto se levantava. Quando foi pedir que Steve a acompanhasse para que discutissem os próximos passos, ela finalmente percebeu que faltava uma pessoa no espaço.
- Cadê o Rogers? Quando ele saiu que eu não notei? – estranhou , dando falta do soldado. Suas boas maneiras impediam Steve de simplesmente deixar um ambiente sem se despedir, e talvez fosse a coisa mais bizarra do dia, mesmo com a concorrência forte.
- Ele saiu um pouco depois que o Baker – avisou Natasha, com um sorriso sugestivo que incomodou a morena.
- Não estou gostando do seu sorriso, Romanoff. Steve n... Não! – ofegou ela, levando as mãos a boca. Mais surreal do que o soldado deixar o ambiente sem se despedir, era imaginar que ele tinha ido atrás de Andrew – Ele não... Iria? Ele pode quebrar o Baker no meio com um sopro, ele n... J., para onde o Cap. Rogers foi?
- Para o quarto, senhorita – avisou J.A.R.V.I.S. e até chegou a respirar mais aliviada até o momento que o sistema terminou de passar a mensagem – E ordenou que sua entrada não fosse permitida.
- Ele o que?! – berrou ela com a voz esganiçada, com toda sua irritação voltando de uma vez – Rogers perdeu a noção?
- Acredito que não tenho fontes para responder sua pergunta, senhorita.
- ? ? – chamou-a Clint, quase que entendendo o que acontecia. Na verdade, não era muito difícil juntar os pontos, mas não seria nada ruim ouvir a confirmação pela própria mulher.
Só que assim como o soldado, saiu da sala sem cerimônias, pisando duro.
- Eu não queria estar na pele do Capitão... – riu Clint, se jogando no sofá mais próximo, sabendo que agora iniciariam uma das melhores conversas de sua vida onde planejariam maneiras para deixar o recém-formado casal constrangido. Como era dura na queda, era um verdadeiro desafio – Não tem escudo que vai protegê-lo daquela louca.
- Alguém quer tentar me explicar o que aconteceu? – pediu Tony, mas não teve uma resposta rápida. Primeiro o restante da equipe trocou alguns olhares, silenciosamente se questionando sobre como contar da maneira mais gentil possível, já que o bilionário parecia estar se esforçando para não ver o que acontecia debaixo do seu nariz.
- Acho que a situação se explica por si só, Stark – Clint tomou a dianteira, temendo que Natasha optasse por alguma combinação de palavras que fizesse o homem ter uma parada cardíaca – Você só não quer admitir.
- Admitir o que?!
- Rogers zela muito por Lady , Stark – Thor também interveio – Não é de se estranhar que isso acontecesse.
- Acontecesse o que?!
- Acho que o que Thor está tentando te dizer... – começou Bruce, com cautela – É que talvez Steve e ... Eles podem estar tendo alguma coisa... Que eles podem est...
- "Estar juntos"? – concluiu Tony, com os olhos arregalados - C-como um casal? É piada, não é? A peça de museu com a minha filha? Vocês não estão negando e estou começando a acreditar que é sério isso.
- É sério – murmurou Natasha, se jogando no sofá ao lado de seu antigo parceiro – Eles estão de rolo desde a confusão na capital.
- E você só fala agora?!
- Ninguém perguntou.
- Eu perguntei! – reclamou Clint, acertando as costelas da ruiva de leve com seu cotovelo – Você mentiu porque perdeu a aposta, Romanoff.
- Eu nem me lembrava dessa aposta.
- Que aposta?
- Que isso ia acontecer – respondeu o arqueiro, ainda julgando a mulher, sacudindo a cabeça em seguida e se voltando para o bilionário – Qual é, Tony. Você não chegou nessa história agora, lá no fundo sabe que isso era possível.
- Acho que estou tendo outra parada cardíaca – ofegou o homem, rumando para a cadeira da filha com uma mão no peito.
- Sem drama, Tony – repreendeu-o o loiro – Vamos ser sinceros, ainda mais com o toda a cena que vimos do ex, Rogers é a melhor escolha dela até hoje.
- Eu sou o único vendo como isso é errado? – Tony apenas ficou mais inconformado quando mais ninguém pareceu estar ao seu lado – Ele é uns setenta anos mais velho que ela!
- Todo mundo adora essas piadas de idade, Tony, mas temos que admitir que Steve deve ter uns trinta anos, no máximo – argumentou Bruce, e pelo olhar que recebera do homem parecia que ele tinha o traído.
- Vou parar de ouvir vocês. Minha filha não está dormindo com Rogers – resmungou Tony, se levantando para voltar para seu quarto.
- Ela já está? – perguntou Clint baixo para Natasha, que confirmou com a cabeça – Mas é claro que ela está.

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J.A.R.V.I.S. ainda repetiu mais duas vezes que “o Cap. Rogers pediu para não ser perturbado” no espaço de tempo que ficara a frente da porta de seu quarto, tanto tentando se acalmar como pensando no que diria para o soldado. Não era como se ela ainda tivesse algo com Andrew, mas não fazia ideia de como lidar com um namorado ciumento. Qual era o protocolo para aquela situação? Ninguém lhe dera o maldito manual. Quando já estava prestes a ligar para Pepper e pedir instruções, a porta do quarto foi aberta de supetão por Steve, que fora avisado por J.A.R.V.I.S. que a mulher estava a um tempo considerável no corredor, parecendo incerta sobre que fazer. Ainda um pouco emburrado, o loiro voltou a sentar na beirada de sua cama depois de abrir a porta, sem arriscar sequer um olhar para , que não tentava disfarçar seu desconforto.
- Quer se explicar? – disse ela por fim, fechando a porta quando entrou no quarto e ficou com as costas apoiadas na superfície lisa. Não tinha certeza se aproximação era uma boa ideia, e manter a distância talvez a ajudasse a fingir alguma firmeza – Eu nem te vi saindo.
- Vocês vão reatar? – perguntou Steve depois de respirar fundo algumas vezes, mas ainda com o maxilar travado. Tanto antes como depois de sua mudança para a Torre que já estava acostumado com pessoas se insinuando para a morena, assim como o contrário, porém sabia que não passava daquilo. O que presenciara minutos atrás não lhe parecia nenhuma brincadeira. E isso que o incomodava.
- Você estava na mesma sala que todo mundo, não estava? – começou , cruzando os braços em frente ao peito enquanto uma expressão resultante de indignação e diversão tomava seu rosto – Como diabos você conseguiu chegar a essa conclusão? Em um ponto nós estávamos abertamente confessando que mataríamos um ao outro.
- Não parecia exatamente que era matar o que ele queria fazer com você... – lembrou Steve, com um sorriso irritado e irônico aparecendo em seus lábios – Até eu consegui ver isso.
- Porque ele é um babaca e gosta de me irritar, e porque ele sabia que quanto mais eu me descontrolasse, mais Tony acabaria pendendo para o lado dele. E ele obteve sucesso, já que conseguiu entrar na folha de pagamento da Torre – grunhiu ela, com os braços caindo ao lado do corpo em sinal de cansaço – Não vou dizer que estou irritada contigo por confiar tão pouco em mim porque hipocrisia não me agrada muito. Mas me chateia um pouco, não vou mentir.
Steve relaxou um pouco sob o olhar ressentido da mulher. Claro que ela tinha dado alguns motivos para desconfiança – estava tentando esconder algo quando eles chegaram, e de alguma forma era seu antigo namorado. Só que reconhecia o erro em ter tirado algumas conclusões precipitadas, em mais uma vez ter julgado a morena sem antes deixá-la se explicar. Claro que a primeira vez fora há uns bons anos, de volta ao helicarrier onde se conheceram, mas era uma situação completamente diferente: nenhum dos dois era a mesma pessoa daquele dia, sendo a própria a que mais mudara nesse espaço de tempo. Talvez sua desconfiança que demonstrava fosse um claro sinal de que ele é o que menos mudara.
- Desculpe, parecia que você estava tentando esconder alguma coisa. Eu... – suspirou ele, se perdendo no final da frase.
- Se eu fosse esconder alguma coisa, seria o corpo morto daquele cara.
- Vocês dois...?
- Andrew é o que pode ser considerado como meu ex-namorado... Único ex-namorado, oficialmente – explicou ela, claramente desconfortável, arriscando alguns passos lentos e curtos até o loiro, se sentando ao seu lado na beirada da cama – Ele é filho de Matthew Baker, também da indústria bélica. Nós crescemos juntos e, quando a história de fusão das empresas começou, a mídia começou a romantizar ainda mais nossa proximidade, e o departamento de marketing adorou, principalmente porque isso tirava dos holofotes qualquer escândalo que pudesse vazar.
- Ele não é seu ex-namorado, – corrigiu Steve, voltando a ficar tenso – Ele foi seu noivo.
- Eram boatos da mídia, e nunca foi algo realmente confirmado – retrucou ela – Andrew e eu nunca nos demos bem, mas crescemos juntos e todo mundo adora esse tipo de história. Até hoje se nós dois formos vistos no mesmo lugar isso vira assunto de primeira página. Por uns três anos.
- Você gostava dele?
deixou que a pergunta pairasse no ar por um tempo, estudando a expressão indiferente de Steve, com um pouco de dificuldade de entendê-lo.
- Isso mudaria alguma coisa? – perguntou ela por fim, séria – Não é com ele que eu estou agora, é?
- Não mudaria, só estou tentando entender como você era – a resposta com a voz calma surpreendeu , que esperava alguma resposta malcriada, já que Steve não estava se comportando como de costume até aquele momento. Ali ele voltara a ser o homem compreensivo de sempre, o que a fez respirar um pouco mais tranquila.
- Eu diria que você viu muito bem como nós estávamos nos tratando lá em cima, mas você parece que viu tudo distorcido... – brincou ela, não sendo tão bem recepcionada como esperava, o que a fez a voltar para um tom mais sério – Não acho que em algum momento eu cheguei realmente a gostar dele. No máximo nos aturávamos, já que não tinha nada que pudéssemos fazer para mudar aquilo tudo. O espaço de tempo em que nos demos melhor foi quando estávamos planejando algo para nos manter separados.
- Tony não parecia muito feliz com a presença do garoto aqui – comentou Steve, lembrando-se da reação exagerada do mais velho dos Stark ao avistar o intruso.
- Andrew tinha uma fama um pouco mais pesada que a minha quando essa bagunça toda começou. Eu era rotulada como rebelde, mas era um rebelde dentro dos limites. Ele já estava envolvido com coisas mais pesadas... – contou , enquanto sua mente desenterrava as memórias do dia quem que tudo começou a desandar, exatamente como planejavam – E tiramos vantagem disso. Precisávamos que Tony se opusesse a toda essa história de fusão, então eu tive que fingir passar um pouquinho dos limites.
- Era disso que o Baker estava falando?
- Ele ficou possesso. Se Andrew fosse um pouquinho mais velho, Tony teria o espancado ou algo do tipo. Ambos ficamos surpresos.
- Do jeito que você fala realmente não parece que ele era o pai do ano.
- Eu prefiro não explicar como Tony era naquela época para não mudar a quase imagem positiva que você tem dele hoje – ela riu, sem humor – Mas eu também nunca fui nenhuma filha perfeita, não dá para jogar tudo para o lado dele.
- E a Pepper?
- Ela era apenas a assistente dele, não tinha poder nenhum. Obadiah já não era o presidente nessa época, mas Tony não ia contra o que ele dizia, principalmente se não fosse de seu interesse... – continuou , parando ao relembrar do Stane. Ele manipulara muito bem as coisas. Assim como Matthew Baker estava envolvido com financiamento de guerras, Stane também estava, e conseguiu escapar ileso do escândalo envolvendo a outra empresa. Talvez se ela tivesse ido um pouco mais a fundo, tivesse descoberto isso muito mais cedo, e toda aquela história do sequestro de seu pai tivesse sido evitada – Parando para pensar agora, Andrew e eu fomos muito infantis. Eles não podiam nos obrigar a casar, mas lá parecia que sim. No fundo acho que a gente apenas queria sentir que era possível ir contra eles.
- Me desculpe, ... Eu só... Acho que o nome disso é ciúmes, não é? – Steve riu, passando as mãos pelo cabelo em um movimento nervoso. O sorriso sem graça que mostrava apenas fazia com que sorrisse de volta – As insinuações que ele estava fazendo... Bagunçou minha mente. A imagem de você com ele...
- Nem me fale. Só de lembrar fico enojada – resmungou ela, fechando os olhos rapidamente – Mas isso já faz anos. Não é muito justo me comparar com aquela garota. Somos quase pessoas diferentes.
- Me desculpe, eu... Eu só fiquei com ciúmes. Sei muito bem que você flerta com todo mundo por natureza, só que aquele cara estava realmente insinuando coisas e me irritou mais do que eu esperava. Não vai se repetir – garantiu o soldado, com a voz firme. Ele só não entendera o motivo de começar a rir e balançar a cabeça em sinal de descrença, o que o deixou confuso – O que foi?
- Apenas pensando como é no mínimo inusitado eu realmente estar em um relacionamento adulto – contou ela, sorrindo divertida – Por um bom tempo achei que esse tipo de coisa não era para mim.
- Talvez você só tivesse esperando pelo cara certo... – Steve entrara na brincadeira, a puxando lentamente pela cintura.
- Bem, demorou um pouquinho para ele chegar aqui, não é?
- Ele deve ter pegado um pouco de trânsito no caminho... – nenhum dos dois aguentara, rindo mais livremente – Dorme aqui hoje?
- Me magoa você achar que precisa pedir.

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Por poucos segundos, estranhou ter algo pesado em sua cintura, só depois associando o peso ao braço de Steve que a envolvia e mantinha suas costas coladas contra o corpo dele. Não demorou muito para que se lembrasse da quantidade absurda de afazeres que deixara de lado na noite anterior, e agora estando ainda mais atarefada do que de costume. Olhando para o criado mudo ao lado da cama do soldado, um relógio digital marcava 9:13, o que significava que provavelmente Sam já estava chegando e ela não tinha terminado os últimos ajustes que pretendia fazer no traje, e que no mínimo três cientistas da Torre já teriam passado em seu laboratório para lhe pedir ajuda ou opiniões sobre o que trabalhavam.
- Não... Fica mais um pouco... – resmungou Steve com a voz baixa e rouca assim que ela tentou se desvincular de seus braços, a apertando contra ele com mais empenho – Ainda está cedo...
- Não para mim, que deixei um monte de trabalho de lado ontem de noite... – retrucou ela entre risos – Sam deve chegar logo e eu quero estar perto quando ele testar o traje, poder fazer as alterações que ele quiser. Só que preciso terminar minhas obrigações de estagiária dos Vingadores.
- Você não é uma estagiária... – disse ele, assistindo a mulher se levantar e vestir a camiseta que usara noite passada – Só está em fase de testes.
- “Fase de test..?” – repetiu , fazendo uma careta – Agora faz parecer que eu estou dormindo com meu chefe para conseguir o emprego.
- Você nunca fez isso, não é? – perguntou Steve sério – Porque se você me falar que sim, vou começar a ficar com ciúmes do Fury...
- Por favor, tira essa imagem da minha cabeça agora! – resmungou a morena, mas logo um sorriso travesso apareceu em seu rosto – E Barton era meu chefe mais próximo.
Steve automaticamente arregalou os olhos e se queixo se aproximou um pouco mais do chão. Antes que pudesse conseguir formular alguma frase inteligível, explodiu em risadas, buscando apoio da porta fechada do armário do soldado.
- Você cai nessa toda vez! E eu não preciso dormir com ninguém do trabalho para conseguir as coisas – completou ela sorrindo convencida enquanto amarrava o cabelo no topo da cabeça – Em último caso eu uso o nome da família e fechou.
- Estou começando a ver como você escolhe onde trabalha... – riu o loiro, deitando de bruços no local que até poucos minutos eram ocupado pela mulher, sentindo seu perfume que impregnara o travesseiro, quase tirando sua atenção – Você vai mesmo descer?
- Além de ter coisas para eu terminar, ainda existe a ligeira possibilidade de Tony querer continuar a discussão de ontem – contou ela, se agachando próxima à cama, deixando que as pontas dos dedos passeassem pelos fios curtos do soldado, que fechou os olhos enquanto apreciava o carinho – Clint tentou amenizar a coisa, mas acho que ele acabou piorando.
- Por que acha isso?
- Acho que você não seja única pessoa que estava com ciúmes ontem.
- Clint? – estranhou Steve, com a imagem dos dois juntos parecendo incrivelmente errada – Está brincando de novo, não é? Barton é parece mais seu p... Oh! Tony?
- Barton me conhece bem até demais, nós convivemos perto demais desde o começo – contou ela – Já vi em alguns momentos Tony ficar incomodado com isso.
- E deixa eu adivinhar... – suspirou Steve, se apoiando no cotovelo para fitar a mulher – Você não conversou com ele ainda e nem pretende até que a situação fique crítica?
- Parece que Barton não é o único que me conhece bem – brincou , pensando em talvez desconversar, mas algo no semblante do loiro lhe dizia que não escaparia daquela conversa.
- Olha, sei que não tenho direito em opinar nisso porque não sei o que você passou com Tony, mas sei que ele se importa muito com você agora. Talvez te ver tão próxima do Barton faça ele se lembrar do que perdeu nos últimos anos, e não deve ser uma sensação boa – disse Steve, tomando as mãos dela nas suas – Se você deixar isso se prolongar, vão acabar brigando de novo e ambos vão sair magoados.
- Você não podia simplesmente me deixar sair sem essa, não é? – resmungou ela baixo, se adiantando para um beijo rápido – Vai dormir mais um pouco... J.A.R.V.I.S. te avisa se precisarmos de você.
Steve concordou e voltou a se ajeitar em meio as suas cobertas, não demorando muito para que adormecesse novamente.
fez todo o percurso até a cozinha em silêncio, sem pedir para J.A.R.V.I.S. fazer um resumo do que precisava fazer no dia, tanto por saber de cor como por ter muita coisa em sua mente. Por mais que não quisesse admitir, Rogers estava certo. Precisava abrir o jogo com seu pai, de todas as maneiras possíveis: concluir a discussão Stark-Baker, resolver o problema daquele quase triângulo amoroso fraternal de uma vez, e talvez, talvez, comentar algo sobre seu envolvimento com Steve.
Pensando melhor, parecia muita informação para apenas um dia. Era melhor abordar apenas o primeiro assunto.
- Bom dia, família – desejou sem animação ao entrar na cozinha de cabeça baixa. A conversa agitada que o grupo mantinha morreu com sua chegada, o que a incomodou um pouco. Seu pai mexia em algo na pia, enquanto o restante da equipe estava à mesa, embora não dessem muita atenção para os pratos e tigelas a frente de cada um. Quando ia perguntar o que acontecia, notou a presença de mais alguém no ambiente – Sam! Você já chegou. É bom te ver.
- Sabe onde está o Rogers, ? – perguntou Tony, que tinha ambas as mãos apoiadas na bancada da pia e a cabeça baixa, antes que alguma conversa desimportante pudesse ser iniciada. Com exceção de , todos adquiriram semblantes apreensivos, olhando de um Stark para o outro, tanto sem saber como fazer como na expectativa do nível de discussão que presenciariam.
- Dormindo – respondeu naturalmente, sem notar o desconforto do pai em um primeiro momento – No quarto dele.
- E como sabe disso?
- Perguntei para o J.A.R.V.IS.? – estranhou a garota, cruzando os braços em frente ao peito e se apoiando no armário ao seu lado – Aconteceu alguma coisa?
- Quer me contar o motivo de ter passado a noite no quarto do Rogers, ? – perguntou Tony, imitando a postura da filha, que deixou seus olhos se arregalarem em surpresa e o queixo cair um pouco. Talvez o assunto que não planejava abordar aquele dia que seria o primeiro.
- Como que v...? Mas c...? – balbuciava a morena, chegando até a fechar os olhos na tentativa de clarear seus pensamentos. Não fazia o menor sentindo. J.A.R.V.I.S. a teria avisado se seu pai tivesse a procurando pela manhã, ajudaria com alguma desculpa por não estar nem em seu quarto nem no laboratório. A não ser que... – Natasha?!
- Você se entrega e a culpa é minha? – resmungou a ruiva, embora um sorriso divertido não deixasse seus lábios – Rogers saiu se mordendo de ciúmes do Baker e você sequer tentou disfarçar.
- Um aviso teria sido bem-vindo, Romanoff – replicou a morena a contragosto. Realmente não tinha pensado antes de ir atrás do soldado na noite anterior. E agora tudo tinha ido para os ares. Tony não se mexera um milímetro, continuava no mesmo lugar e estático, mantendo o contato visual intenso. Ele parecia tão ou mais irritado que na noite anterior. Provavelmente mais, já que se tratava de um assunto atual, não de alguma besteira que ela fizera anos atrás. Não importava com quanto cuidado ela tratasse aquela situação, não parecia que Tony estava disposto a levar numa boa – Pai... Não surta.
- Não surt...! – explodiu o homem, parando em seguida para respirar fundo e tentar se controlar, falhando miseravelmente – Stark.
- Você está surtando, Tony. Apenas pare – avisou a mais nova dos Stark, até recuando alguns passos para sair da cozinha na primeira oportunidade – Respira um pouco e depois a gente conversa, pode ser?
- Eu não consigo acreditar que você... Com o Rogers... ! - resmungava o homem sem parar, sem conseguir concluir uma ideia. Desde a noite anterior que ficara imaginando como abordaria aquele assunto, e mesmo assim parecia que acabara de conhecimento do caso – Ele...!
- Vou me arrepender de perguntar... – interrompeu-o a mulher, revirando os olhos – Mas ele o que?
- Ele podia ser seu avô, ! – ralhou Tony, exasperado – O que diabos você está pensando?!
- Só que ele não é meu avô, e, tecnicamente, ele é apenas um pouco mais velho do que eu – lembrou , visivelmente descontente com o rumo da conversa. Sabia que Tony usaria aquele tipo de argumento, mas isso não deixava de irritá-la um pouco – E eu não me importo.
- Mas eu me importo!
- Só que até onde eu me lembre, eu que estou com Rogers, não você.
- Ah, está tentando me deixar mais irritado? – debochou Tony – Está conseguindo.
- Viu? – resmungou , levando as mãos aos cabelos e puxando alguns fios de leve, já mentalmente cansada de tudo aquilo – Por isso eu não te contei logo de cara, você não está sabendo lidar com isso.
- Desde Washington, não é?
respirou fundo antes de se virar para o grupo que assistia atentamente a discussão, resmungando um raivoso “Natasha!” por não ser possível seu pai ter conhecimento daquilo sem auxílio de terceiros.
- Certo, isso fui eu que contei – confessou a russa, forçando um sorriso falso, o que fez com que a morena bufasse alto. Natasha definitivamente não estava colaborando naquele dia.
- E sim, pai – continuou , com a voz arrastada e os ombros caídos em derrota – Desde Washington.
- Então enquanto eu estava pensando que você estava morta, você estava enfiando a língua na garganta do Rogers? – acusou Tony – É isso mesmo?
- Isso foi um jeito bem cruel de organizar os fatos – reclamou a morena, depois de alguns segundos em silêncio, sem saber como responder – Até para os seus padrões.
- E você não está desmentindo.
- Eu realmente não me sinto confortável em ter que falar desse episódio assim do nada, principalmente na frente da equipe toda, mesmo os que já sabem como tudo aconteceu – desconversou , já se adiantando para a porta – Se quer continuar a gritar comigo, que pelo menos seja no meu laboratório.
- “Os”? – repetiu o homem, ignorando todo o resto que a filha falara, ligeiramente incomodado com aquele detalhe – Plural? Quem mais já sabia?
- Eu meio que também já sabia – explicou Sam timidamente, até erguendo a mão devagar, sem saber que tipo de reação esperar do mais velho dos Stark. Tony apontou irritado para ele, silenciosamente a questionando como o novato sabia e ele não.
- Eu não sei como ele faz isso, mas ele sempre está perto quando eu tenho que ter essa conversa com alguém – contou , fuzilando o moreno rapidamente antes de voltar sua atenção para o pai – É a terceira vez que ele me escuta tendo que explicar isso, e, se tiver uma quarta, eu simplesmente vou colocar ele para explicar porque nesse ponto ele já sabe tudo o que eu tenho que falar.
- O que você quer dizer com três vezes? – continuou Tony, colocando as mãos na cintura – Quem mais sabia, ?
- Quando Steve e eu estávamos discutindo no caminho para cá e... – a morena começara a enumerar, só então percebendo o erro que cometera. Para quem se dizia ser uma das melhores espiãs da S.H.I.E.L.D., ocasionalmente ela conseguia dar alguns deslizes difíceis de defender –... e agora! São três, não são? Não sou muito boa com números, sabe...
- Stark... – cortou-a Tony, com a voz baixa e séria – Com quem foi a segunda pessoa que você discutiu isso?
- Natasha?
- Ela não estava com o Wilson na nave na primeira discussão? – retrucou o homem, assistindo a filha jogar a cabeça para trás e soltar um discreto “a Pepper” – Pepper já sabe e não me contou?!
- Não era para ela saber, mas o Sam é boca aberta e eu tive que contar...! – se defendeu a morena logo – E a fiz prometer que não iria te contar porque, viu? Você está surtando exatamente como eu previa.
- Então seu plano perfeito era esse? Esconder isso de mim pelo resto da vida? Ia me contar quando, então? Quando estivessem se casando ou algo do tipo? Quando começarem a ter filhos e essas coisas? – a postura de Tony mudou rapidamente de irritada para mortalmente séria, se dando conta do que acabara de dizer e dar chances daquilo acontecer – Eu te mato se isso acontecer.
- Eu não estou respirando...! – avisou entre risos nervosos, depois de recuar um largo passo para longe de seu pai – Isso não é o tipo de coisa para se falar para alguém que acabou de começar um relacionamento! Eu já sou estragada e você ainda fala essas coisas!
- Literalmente ontem era o Baker, e agora o Rogers? – continuou Tony, querendo aproveitar a baixa na guarda da morena – Deve existir um limite de paradas cardíacas que você pode me causar por ano, e acho que você está usando a cota da vida nessa semana.
- Ainda estamos falando disso? – reclamou – Baker não tem nada a ver com isso!
- Quem é Baker? – perguntou Sam em um sussurro para Natasha, falhando no quesito ser discreto, já que todos na cozinha se viraram para ele, confusos.
- Sério que você não sabe quem é Andrew Baker? – foi a primeira a se pronunciar, estranhando ele não conhecer aquele nome.
- Andrew Baker tipo seu antigo namorado? Ele esteve aqui? – ofegou o moreno, parecendo estranhamente ofendido – Sabe que se você trocar o Rogers pelo Baker, eu abandono seu fã-clube, Stark. Te adoro, mas sou amigo dele antes.
- Você quase quebrou as Indústrias quando quis terminar com o garoto, o que acha que vai destruir quando enjoar do Rogers? – continuou Tony, mesmo com a filha rindo abertamente do comentário de Sam.
- Você acha que é assim tão simples? – perguntou , com um vestígio de sorriso nos lábios, que permaneceu mesmo quando seu significado mudou. Não era mais um sorriso divertido, estava mais para compreensão de algo que ela não queria acreditar ser possível, uma mistura de descrença com a satisfação de estar certa – Acha que eu vou simplesmente enjoar do Steve?
- Qual é, ! Acha mesmo que isso vai durar? – debochou Tony, avançando passos lentos em direção à filha a cada sentença que dizia – Provavelmente durou esse tempo todo porque era segredo, era excitante... Você e Rogers? Não soa certo.
mordeu o lábio enquanto apenas assentia com o que seu pai dissera. Não podia mentir e dizer que não esperava aquilo.
- Eu gosto do Steve. E eu não faço ideia de como, mas ele também gosta de mim – contou ela, escondendo as mãos nos bolsos de sua calça de moletom folgada e respirando fundo antes de continuar – E você vai ter que aceitar isso, já que além de fazer parte da equipe, todo mundo está morando aqui. Então o quanto mais rápido você parar de dar chilique, eu agradeço. Já tenho coisa demais para fazer e ter que te aturar não é uma das minhas prioridades.
- Você gosta dele? – repetiu Tony, desconfiado – Você não apostou com ninguém que conseguia pegar o Capitão América? Tem certeza?
- Existiu uma aposta, e não estava envolvida – lembrou Clint, apontando para a ruiva ao seu lado em seguida – Embora Nat tenha perdido cem pratas para mim.
- Se não fosse algo sério, eu não me importaria com sua reação – continuou , antes de virar para sua antiga dupla de instrutores – E estou bem irritada por não ter sido informada dessa aposta. Desde quando?
- Desde que você começou sua reabilitação.
- Parabéns, Nat. Você foi enrolada – avisou a morena – Clint já sabia que eu gostava dele bem antes da rehab.
- E eu tinha que fazer algum dinheiro com isso – completou o arqueiro, dando uma tapa no ombro da ruiva que tinha a expressão fechada – Natasha que foi idiota o suficiente para apostar contra.
- Eu não apostei contra, eu disse que não passaria de um affair – se explicou a mulher – Eu concordava com Tony até umas semanas atrás, só que tinha muita tensão entre eles para não acontecer nada.
- Você tem noção de quantas horas eu tive que ouvir essa garota falando de quão incrível o Rogers era? – lembrou Clint, revirando os olhos – Eu devo ter socado ela duas ou três vezes sem necessidade apenas para ela voltar a focar no exercício.
- Eu nunca fiz isso! – se defendeu , falhando em manter a expressão séria.
- Mesmo isso não te soa familiar? “Ai ele...”, “Sério, Steve simplesmente...” – Clint afinara a voz, não terminando nenhuma das frases tanto por imitar uma risada que deveria parecer com a da mulher, como por ele mesmo não aguentar e começar a rir.
- Eu odeio você, Barton – foi a única coisa que dissera, já que não tinha muito meios de defesa no momento.
- Ah! É tão bom finalmente poder falar disso! – festejou o arqueiro, se espreguiçando antes de apoiar os cotovelos na mesa e apoiar o queixo nas mãos – Cadê o Rogers para ele também ficar constrangido?
Quase como que estivesse esperando a deixa para sua entrada, a porta da cozinha foi aberta pelo soldado com o rosto ainda amassado, desejando um baixo “bom dia” assim que todos os olhares se voltaram para sua direção. Facilmente ele percebeu o ar pesado na cozinha que piorara com sua presença. Seus olhos ainda estavam parcialmente caídos de sono, e a barba que começava a dominar eu rosto deixava claro que ele havia descido às pressas.
- Ei... Pensei que você ia demorar mais para descer – disse , sem saber mais o que esperar daquela manhã. Se alguém decidisse explodir a Torre talvez não conseguisse causar tanto alvoroço como aquele.
- J.A.R.V.I.S. me avisou que as coisas tinham desandado aqui e achei melhor resolver isso logo... – contou Steve, sem demonstrar nenhuma insegurança – Tony, tem um minuto?
- Steve... – disse , com seu tom de voz o avisando que aquele era um passo arriscado.
- Queria dizer que não esperava menos de você, Rogers, mas isso seria antes de você começar a dormir com a minha filha.
- Anthony!
- Eu não planejei me apaixonar pela sua filha, mas eu deveria ter falado com você primeiro, foi errado – continuou Steve, sem se abalar – Quero fazer certo, mas esse não é o melhor ambiente para discutirmos isso.
- Vocês vão continuar me ignorando na cara dura mesmo?
- Vamos para meu escritório – anunciou Tony, já rumando para a porta, o que apenas deixou mais irritada.
- Eu não estou acreditando q...!
- Não é apenas sobre nós dois, ... – disse Steve a ela, parando bem a sua frente e acariciando seu braço – É sobre eu e seu pai também. Somos amigos e eu cruzei uma linha perigosa. Do mesmo jeito que ele está chateado contigo, ele também está comigo. Isso é entre mim e ele.
não respondeu de imediato, considerando as palavras do loiro e não conseguindo encontrar um bom motivo para se opor.
- Se eu tiver que subir para apartar alguma briga, eu acabo com a raça dos dois – disse ela por fim, cruzando os braços em frente ao peito. Steve apenas sorriu, se adiantando para lhe beijar a testa antes de sair do cômodo junto com Tony, mas não antes de murmurar um divertido “sim, senhora”.
continuou encarando a porta mesmo depois de eles saírem, sabendo que o restante da equipe não lhe deixaria em paz por um bom tempo.
- Se eles não se matarem, eu posso, não é? – disse ela por fim, se virando para a mesa, apenas para encontrar todos com sorrisos sugestivos, o que a fez rir mesmo estando irritada – Parem de me olhar desse jeito!
- Ah, nossa garotinha tem sentimentos! – debochou Natasha, se levantando para colocar seu prato na pia. No meio do percurso ela esticara a mão para bagunçar os cabelos soltos da mais nova, que se esquivou com facilidade.
- Sua garotinha ainda soca bem forte – lembrou ela, rumando para o armário em busca de alguma coisa que pudesse comer rapidamente. Com um pacote de bolachas em mãos, ela seguiu para a porta e sinalizou para que Sam a seguisse.

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- Vá em frente – incentivou Tony, assim que ele fechou a porta do laboratório – Se explique.
Steve coçou momentaneamente a barba que começava a aparecer, incerto de como começar. Momentos atrás, quando deixara seu quarto com objetivo em mente de se acertar com o homem, esquecera-se de pensar no que diria a ele. Parecia uma boa ideia deixar para pensar nisso no caminho até a cozinha, e não tinha pensando em nada.
E agora estava em um laboratório que deveria esconder mais armas do que ele podia imaginar.
Desde o começo Steve sabia que aquela garota apenas lhe causaria problemas.
- Sei que está chateado... – começou o soldado, agradecendo mentalmente por ter sido brutalmente interrompido por Tony porque não fazia ideia do que diria em seguida.
- Chateado?! Eu estou puto da vida contigo, Rogers – riu Tony, sem humor algum. Se estivesse com sua armadura, provavelmente já teria voado no pescoço do loiro. Talvez fizesse aquilo mais tarde. Agora queria apenas gritar com ele um pouco – Aquela com que você está dormindo é minha filha. Você está no meu prédio, e dormindo com a minha filha. Onde estão seus modos?
- E ela é a coisa mais importante que tenho, Tony – cortou-o Steve, com o cenho franzido. Esperava algumas ofensas do homem, e teria que se controlar o máximo possível para não se deixar irritar, caso contrário ele teria que lidar com uma muito irritada mais tarde por ele ter brigado com seu pai. Aquele era um incentivo muito bom – Eu não planejei me apaixonar por ela, mas aconteceu e não me arrependendo. Não ter falado com você logo de cara foi um erro, mas concordei com em não contar. Nós... Nós estávamos exaustos. Tudo que aconteceu em Washington foi intenso para nós dois, a última coisa que queríamos era chegar aqui e ter mais discussão.
- Está tentando me sensibilizar? – debochou Tony, cruzando os braços e se apoiando em um armário de vidro ao seu lado.
- Meio que sim... – choramingou o loiro, os dedos nervosos bagunçando os cabelos já fora de ordem. Se quando adolescente ficava amedrontado em cogitar a possibilidade de falar com uma mulher, agora percebia que falar com o pai também não era a mais fácil das tarefas. Deveria ser um sentimento curioso, certo? Ter uma parte de você autônoma, que nem sempre dá atenção para seus conselhos e ordens, e que mesmo assim você não mediria esforços para proteger do que fosse. Naquele momento, Steve era uma ameaça em potencial, além de já ter começado com o pé esquerdo – Mas eu amo sua filha. Sei que soa um pouco estranho por quem eu sou, mas... Eu realmente a amo. Não é algo que eu descobri mês passado, já tinha percebido isso bem antes. E eu acreditei que tinha perdido-a, assim como você também acreditou. A mensagem que você recebeu também foi para a Romanoff. Por horas eu pensei que tinha perdido-a, e eu... Foi algo tão horrível como ser congelado de novo.
Tony manteve o olhar intenso na direção do soldado, mesmo com suas palavras ecoando em sua mente, criando um pouco que fosse de compaixão. Ele tinha que entender o cara, no mínimo: a cada esquina que passava havia uma ameaça diferente para a garota, era trabalho demais se preocupar com ela. Talvez devesse ter vindo com um aviso: “se quer ter paz, mantenha distância”. O empenho dos dois em tentar uma conversa civilizada e fazê-lo aceitar aquilo tudo já era um sinal de que talvez não fosse um simples caso, como suspeitara de início. Tony só não conseguia se decidir se isso era bom ou ruim.
- Ela parece gostar de você também – resmungou ele, tentando que fazer um esforço tremendo para soar verdadeiro. Steve apenas sorriu.
- Gosto de acreditar que sim.
- Você conheceu o ex-namorado dela ontem – continuou Tony, e instantaneamente a postura do loiro se alterou. Não precisava estudar sua linguagem corporal, dava para ver o desconforto já em seus olhos.
- Sim, tive esse desprazer.
- Você ainda parece incomodado com ele – constatou o moreno, achando graça. O Garoto de Ouro da América estava com ciúmes e não conseguia disfarçar, era no mínimo algo inusitado – Não confia no que ela diz sentir por você?
- Aquele garoto é tudo o que eu fui ensinado a não ser – respondeu o soldado – Ele e terem um passado não é o que mais me incomoda.
- Mas incomoda – insistiu Tony, de repente entendendo que o que queria ali não era apenas gritar com o loiro. Irritá-lo também fazia com que ele se sentisse muito melhor. Definitivamente ficaria na provocação por mais um tempo, era uma boa sensação.
- Mas é claro que me incomoda. Ele é desrespeitoso. Você o ouviu – lembrou Steve, apontando rapidamente para o homem – Você também estava incomodado.
- Claro que estava, aquela é minha filha – bufou Tony – E até onde eu saiba, você pode não ser bom para ela.
- E eu não sou – concordou o loiro, surpreendendo o homem – Mas quero ser.
Tony voltou a bufar. Estava demorando para ele começar a soltar aquele tipo de clichê. Ele era a porcaria do Capitão América, todos acreditavam que ele era a integridade em pessoa, seu pai sempre quis que ele fosse pelo menos um pouco como o soldado. E agora ele estava namorando sua filha. O pior de tudo era que, se Howard tivesse vivo, ainda era capaz de aprovar aquela palhaçada toda. Provavelmente daria uma festa, ou algo do tipo.
- Olha, Rogers... – começou Tony, andando pelo ambiente. Batendo palmas, os equipamentos do laboratório de ligaram, e o homem se pôs a trabalhar em qualquer coisa, apenas se manter distraído e ocupado. Já tinha cansado daquele assunto – Se você está esperando algum tipo de aprovação aqui, você não vai ter.
- Não posso dizer que estou surpreso – riu Steve, sem humor nenhum, se jogando na cadeira mais próxima. Desde o começo que considerava aquele cenário, onde Tony não facilitaria em nada a sua vida. Agora o que os esperava era incerto: a convivência na Torre até o momento era a melhor possível, mas isso não se manteria caso o dono do prédio não quisesse.
- Então você vai passar por cima da minha autoridade de pai? – questionou Tony, desistindo das informações que passavam rápido em um de seus monitores, voltando a se virar para o loiro.
- Nem eu nem ela somos crianças, Tony.
- Você está bem longe de ser criança... – debochou o moreno, espalmando ambas as mãos na mesa entre eles – Você tem noção de que se não tivesse sido congelado, tanto eu como a provavelmente te chamaríamos de Tio Steve? Não consegue perceber o quanto isso é errado?
- Só que eu fui congelado, Tony – lembrou Steve, com a voz fria assim como seus olhos. O soldado estava se esforçando para manter a compostura, ouvindo tudo que o moreno quisesse lhe dizer, só que fazer menção a uma vida que ele perdera ultrapassava alguns limites – Não me importo que você fique bravo comigo, embora não seja o que eu quero. Mas principalmente não quero você bravo com a . Pode não parecer, mas ela está tentando recuperar o que vocês nunca tiveram.
- Nunca tivemos? – repetiu Tony, incrédulo com a ousadia do soldado. Algumas semanas de convivência e ele já se achava expert em seus problemas familiares? – Agora você sabe o que nós nunca tivemos?
- Eu só sei a versão dela da história, Tony – suspirou Steve, já arrependido de sua escolha de palavras. Fora um gesto infantil. Tony trouxera um assunto que o incomodava, e ele respondera trazendo um que incomodava o moreno. Precisava sair daquele lugar logo antes que realmente precisasse subir para separar alguma briga – Mas ela sente que você não se importava com ela.
- Eu não sou bom em demonstrar, ela não é boa em notar demonstrações – resumiu Tony, girando os calcanhares para voltar aos seus monitores – É um beco sem saída. Agora quero que saia do meu laboratório.
- Tony... – começou Steve, até se levantando, mas rumando para perto do homem, não para a saída – Temos que resolver isso.
- Completamente certo, Capitão – murmurou uma voz à porta, fazendo com que os dois homens se virasse para aquela direção, ligeiramente surpresos – Vamos resolver isso agora.

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- Preciso perguntar – avisou Sam, assim que adentraram no laboratório da morena. O ambiente estava bem mais desorganizado do que da última vez que estivera ali, sendo a maior parte dos objetos fora do lugar coisas que não pareciam pertencer ao local: peças de roupa descansando em encostos de cadeiras, travesseiros sobre mesas, e recipientes que pareciam guardar alimentos, mas que ele não arriscaria mexer, já que poderia ser alguma arma disfarçada – As coisas são sempre agitadas assim por aqui ou é só quando eu estou presente?
- Você escolhe momentos muito bons para aparecer... Ou você que atrai, não decidi ainda – brincou , passando rapidamente pelos corredores de mesas até alcançar a que queria, onde o novo traje do moreno estava. Ela havia ido naturalmente um pouco a mais do que Sam esperava: a única semelhança entre aquele traje e o original era que ambos possuíam asas. Se fosse definir em poucas palavras, o traje passara de uma mochila para uma mochila com colete. Era mais fechado, mais protegido, e bem mais confortável que o antigo que se segurava ao corpo apenas por largas alças. Como em razão do vento eram necessários óculos de proteção, acabara se aproveitando de alguns princípios básicos da armadura de seu pai, aproveitando as lentes para adicionar telas ao traje, permitindo assim melhor integração do usuário à situação por poder ter mais acesso a informações ao redor e análises, assim como também deixava a possibilidade de ferramentas independentes ao traje que poderiam ser controladas remotamente. Mas isso era coisa para um futuro próximo – Eu fiz vários testes antes de te chamar... Posso até ter pulado do terraço da Torre. Pior experiência da vida, mas eu ainda estou aqui então as asas estão funcionando.
Sam não estava exatamente prestando atenção no que a mulher lhe explicava, estava encantado com o trabalho da jovem. Ele estava esperando ser surpreendido, mas aquilo era muito melhor do que imaginara.
- Desculpe, você disse que pulou do prédio? – perguntou ele de repente, depois de conseguir extrair algum sentido das palavras aleatórias que captara da fala da morena. apenas riu, se jogando na cadeira mais próxima enquanto Sam admirava seu trabalho.
- Você sabe, tem um paraquedas de emergência no traje... E meu pai tem uma armadura que voa, então não foi exatamente algo arriscado de se fazer – desconversou , o que atraiu por completo a atenção do homem.
- Você realmente pulou do prédio?!
- Achou que eu ia te entregar o traje sem testar? Sou uma cientista, nós temos alguns protocolos a seguir... Seria muita falta de ética te entregar o traje sem testar. E foi bom para eu ter certeza de que mesmo se eu conseguir um dia acesso aos arquivos do Tony para construir um traje Homem de Ferro, eu não vou querer um – contou a mulher, com os olhos ocupados nas informações que passavam rapidamente pela tela de seu celular, em resumo lhe dizendo que as condições para o teste não podiam ser melhores – Voar? Não é minha praia.
Facilmente notando que a animação do homem estava atrapalhando sua capacidade de manter uma conversa, o ajudou a vestir o traje enquanto explicava mais alguns detalhes, logo o dispensando para testá-lo, com ele deixando o laboratório sem que ela precisasse dizer duas vezes.
Mal Sam tinha deixado a sala e a voz de J.A.R.V.I.S. ecoou pelo ambiente, como se apenas esperasse a saída do homem.
E esperava.
- Srtª Stark, tenho os resultados da pesquisa que pediu para que eu fizesse¬ – anunciou J.A.R.V.I.S., e, mesmo sem dar detalhes, a mulher sabia exatamente a o que ele se referia.
- Iniciar protocolo de segurança – ordenou sem hesitar, forçando os pés no chão para arrastar sua cadeira até o monitor da mesa oposta. Nesse meio tempo, os vidros das janelas escureceram, dando um ar sombrio à sala mesmo com a iluminação forte que fora ligada em seguida.
- Laboratório trancado e sem comunicação com o lado de fora.
- Pode falar, J. – pediu ela, e as informações começaram a aparecer em sua tela, com o sistema narrando simultaneamente.
- Valerik Dariovna Ivanova, 13 de novembro de 1959, Sibéria, ex-União Soviética. Cientista e agente da HYDRA, integrante do Programa Soldado Invernal de 1974 a 1989, criadora e integrante do Programa Presságio de 1983 a 1989.
- O que é Programa Presságio? – perguntou devagar. Nunca ouvira o nome antes, mas lhe causara uma sensação estranha. Talvez fosse a força negativa que a palavra “presságio” trazia, ainda mais sendo algo vindo da HYDRA. O fator HYDRA deixava qualquer coisa mais bizarra.
- Não há informações sobre isso, Srtª Stark.
- Por que ela deixou os programas em 1989?
- Valerik Ivanova faleceu em 31 de julho de 1989 – ano em que nascera, mas várias pessoas morreram naquele ano e ela não podia fazer nenhuma conexão, ainda mais por ela ter morrido antes de seu nascimento, embora bem próximo da data. Não dava para trabalhar com base naquilo.
- Causa da morte?
- Acidente de trabalho.
- Não consegue ser mais específico?
- Acredito que não, senhorita – disse J.A.R.V.I.S. com cuidado, sabendo exatamente como a morena reagia a não conseguir as informações que queria. “Acidente de trabalho” era algo muito vago, poderia ser qualquer coisa, ainda mais ela sendo cientista. Cientistas podem morrer de maneiras bem inusitadas.
- O que mais descobriu?
- Isso é tudo que se encontra nos arquivos da HYDRA, senhorita.
- Então continuamos sabendo nada relevante? Com essas informações não dá nem para fazer o mapa astral dela, J. – resmungou ela, batendo a cabeça de leve na mesa – Continuamos no mesmo lugar? É isso?
- Temo que sim, senhorita.
controlou a vontade de bufar, respirando fundo. Aqueles eram os primeiros resultados que conseguiam, em um espaço de tempo consideravelmente curto. Não estavam tão mal. Na verdade, até tinham bastante material para trabalhar. Agora, o que a mulher esperava daquilo tudo era outra história. Uma pista para encontrar Bucky? Aquela seria sua resposta caso alguém da equipe descobrisse suas pesquisas. Barnes era a principal motivação, o ponto de partida daquilo tudo. Só que sentia que ia além – o soldado não dissera aquele nome por acaso, e isso já estava bem claro. só precisava entender o porquê.
- Amplie a foto que temos da Ivanova, J. – pediu rápido, ajeitando sua postura na cadeira. A mulher não tinha nada que chamasse atenção: cabelos escuros assim como os grandes olhos, a pele pálida de quem não saía muito ao sol, lábios rosados bem desenhados, e um semblante sério, mas não intimidador – De quando é essa foto, J.? Consegue estimar a idade dela?
- Creio que entre 20-30 anos, senhorita.
- Crie uma imagem 3D do rosto dela... – pediu ela, e afastando um pouco da mesa para ter mais espaço, mordendo uma de suas unhas nervosamente enquanto o sistema atendia seu pedido – Faça a mesma coisa com o meu.
- O que pretende fazer, senhorita?
- Comparar... – disse apenas, movimentando as mãos para manipular os hologramas que J.A.R.V.I.S. criara a sua frente: colocara um sobre o outro, procurando semelhanças e diferenças; depois separava as imagens, estudando cada uma separadamente para depois se virar para a outra – Bem, a estrutura do maxilar parece ser a mesma... E o nariz. O cabelo e os olhos dela são mais escuros, mas não tinha muita luz no ambiente... Ela morreu um pouco mais velha do que eu sou agora... J.A.R.V.I.S., quão surreal seria alguém me confundir com ela?
- Temo não ter entendido, senhorita.
- Deixe quieto. Piração minha – desconversou , rindo sem humor – Nós estamos constantemente conseguindo informações novas da HYDRA, e tem bastante coisa que ainda não foi descriptografada, então continue rodando a pesquisa. Tente achar algo relacionando a esse tal Programa Presságio, não me soa nada bem. Se descobrir mais alguma coisa sobre ela, me avise.
- Srtª Stark, acredito que seu pai e o Cap. Rogers estejam do lado de fora do laboratório pedindo para entrar.
- Desligue o modo de segurança – ordenou ela, girando a cadeira para a entrada do laboratório, a tempo de ver a dupla entrando.
Um espelhava a postura concentrada do outro, com as mãos escondidas nos bolsos da calça e ombros tensos. Até mesmo os passos estavam sincronizados, o que faria rir se ela também não estivesse apreensiva. Sabia muito bem como seu pai conseguia ser teimoso e inapropriado quando lhe convinha, e, mesmo sendo centrado na maior parte do tempo, Tony conseguia escolher as palavras certas para tirar Steve do sério. Agora começava a questionar se fora uma boa ideia ter deixado os dois se resolverem sem supervisão. O que eles poderiam ter concordado? Não dava para prever.
- Vocês vão ficar apenas olhando para a minha cara ou pretendem dizer alguma coisa? – perguntou ela, depois do que pareceu uma eternidade. Tony e Steve estavam a uns bons dois metros de distância de sua mesa, parecendo tão incertos como ela. O soldado tinha o olhar baixo e o cenho franzido, claramente dizendo que não viriam dele as primeiras palavras. O turno era do mais velho dos Stark. Ele só não sabia exatamente o que dizer.
Eram poucos momentos onde ele conseguia ver com clareza como sua filha crescera. Não era mais a garotinha com medo do escuro, ou a criança que não conseguia ficar mais de um mês em uma escola sem ser expulsa. Claro que nem sempre ela abandonava seu lado mais infantil, mas Tony tinha que admitir que em alguns momentos ela conseguia ser até um pouco mais madura que ele. Uma coisa era saber quão responsável ela estava se tornando, outra era aceitar aquilo. Agora sua filha não estava apenas prestes a integrar uma equipe de super-humanos, ela também estava no que parecia ser um relacionamento sério, e Tony não sabia dizer se era aquilo ou com quem ela estava envolvida que o surpreendia mais. Tinha dias que nem ele acreditava que estava em um relacionamento sério com Pepper, quem diria sua filha.
- Rogers e eu conversamos – disse Tony por fim, depois de abrir e fechar a boca várias vezes, sentindo dificuldades em encontrar palavras boas.
- Sem punhos, pelo que posso notar – constatou a mulher, um pouco surpresa – Bem melhor do que eu previa.
- Me fez perceber algumas coisas.
- Que seriam? – incentivou ela, assim que percebeu que Tony esperava que ela dissesse algo.
- Que eu não tenho que gostar das suas escolhas, mas aceitar – contou Tony, claramente a contragosto. As palavras pareciam, e estavam sendo forçadas para fora de sua boca. Ele nunca diria aquilo por livre e espontânea vontade – Você não é nenhuma criança e eu não posso dizer com quem você pode brincar ou não.
instintivamente uniu as sobrancelhas. Não fora a leve brincadeira no final que a incomodara, mas sim o conjunto todo.
Aquele discurso não soava muito com Tony Stark.
- Steve? O que diabos você fez com meu pai? – tinha um teor de brincadeira na voz da mulher, mas no fundo ela estava séria.
- Esperava que eu fosse continuar fazendo drama? – retrucou Tony, recuperando um pouco do ar teimoso natural – É isso que você quer? Podemos facilmente voltar para a discussão da cozinha.
- Está brincando, não é? Eu já tinha três zilhões de planos envolvendo manipulações para vocês não se matarem desde o começo – confessou ela – E agora estou começando a acreditar que vocês estão tramando alguma coisa. Mesmo sem conseguir pensar em uma boa razão.
Quase como se tivessem combinado, Steve se virou para o moreno assim como Tony se virara para ele.
- Eu percebi que essa troca de olhares foi para me confundir. Não insultem minhas habilidades analíticas, por favor – resmungou rindo – Está realmente tudo bem? Eu não estou acreditando nisso. Tudo que eu me envolvo sempre dá merda. O Universo vai implodir se tudo se resolver assim tão fácil.
- Como eu disse antes, : eu não tenho que gostar das suas escolhas. Isso? – Tony apontara para ela e depois para o soldado, balançando a cabeça em seguida – Eu não aprovo, mas sei que vai ser bem pior se eu continuar a me opor tão abertamente. Só quero deixar bem claro o tamanho do problema que você está me metendo. Esse cara é enorme, vai me dar um trabalho desgraçado acabar com a raça dele quando ele for um babaca com você.
Por dois segundos achou fofa a preocupação, mas logo voltou a ficar desconfiada. Tinha alguma coisa que eles não estavam contando.
- Alguém avisou a Pepper do que estava acontecendo, não é? – perguntou ela de repetente, com um sorriso largo que mostrava que ela já sabia que estava certa antes mesmo que eles confirmassem. Depois de todos aqueles anos, ela conseguia identificar quando alguém estava seguindo ordens de Pepper Potts.
- Ela pode ter trocado algumas palavras com a gente – confessou Steve, e bateu a mão na mesa ao seu lado, produzindo um estalo alto, mas não o suficiente para camuflar sua risada alta.
- Eu sabia que vocês não iriam evoluir tanto em tão pouco tempo!
- Estamos tocados por sua consideração conosco, coração – emendou Tony, e apenas não retrucou porque a porta do laboratório voltou a ser aberta, com um animado Sam correndo para dentro, ainda vestindo seu novo traje e com um sorriso largo no rosto.
- Party Hard, eu tenho que admitir… Você constrói coisas tão bem quanto posa para fotos! – ofegou ele, apenas percebendo que talvez estivesse atrapalhando uma conversa quando Tony e Steve se viraram para ele com olhares interrogadores – Ih, momento ruim?
- Vou assumir que você gostou muito do traje – riu , fazendo um gesto com a mão para que ele ignorasse os dois homens.
- “Gostou”? Esse é melhor que o original! Mais potente e ao mesmo tempo mais suave! – Sam falava sem parar, ainda mais quando a mulher se levantou para ajudá-lo a tirar o traje – Você acabou de se tornar minha pessoa preferida nesse mundo.
- Sempre que quiser um brinquedo novo, você tem meu número – brincou ela, e seu pai pigarreou, como se a repreendesse. Quando se virou para ele, silenciosamente o questionando, Tony disse um cínico “seu namorado está aqui, se comporte” – Se eu fosse uma pessoa melhor, esse tipo de coisa não aconteceria comigo, iria?
- Enquanto você se questiona sobre isso, eu vou ir atormentar a Romanoff um pouco – anunciou Sam, devolvendo o traje para a mesa onde o encontrara mais cedo. Mais tarde voltaria para buscá-lo, de preferência quando questões familiares não estivessem sendo discutidas. Sem oposições, ele praticamente correu para fora do cômodo.
- Podemos continuar isso mais tarde? – pediu , se ajeitando em frente a um monitor – Agora eu estou um pouco atolada.
- Na verdade, vamos estar ocupados mais tarde – avisou Tony, já rumando para a porta enquanto Avril puxava uma cadeira.
- Vocês voltaram de missão ontem, que tipo de compromisso já pode estar pronto para hoje? – estranhou , tirando os olhos da tela para fitar seu pai.
- Jantar. Eu, você, Pepper, e Steve – explicou o moreno, com seu sorriso se alargando ao ver a filha arregalar os olhos – Alguém tem que apresentar o novo namorado para a família.
- Você está brincando.
- Ele não está nem um pouco brincando – interveio Steve – Acredite ou não, isso não foi ideia dele.
- Eu vou matar a Potts – resmungou a morena, olhando de um homem para o outro – Para que isso?
- Preciso saber as intenções dele com você, ora – acrescentou Tony, mandando um beijo em direção à mulher, que reclamava alto – Você deveria ter mantido segredo, . Você está muito ferrada agora.
- Estou começando a questionar se você vale todos esses problemas, Rogers – resmungou ela, voltando a dar atenção ao seu trabalho enquanto o soldado ria de sua expressão emburrada.

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Tony estava acostumado a trabalhar por horas seguidas sem reclamar, principalmente porque gostava do que fazia, mas naquele dia ele estava agradecendo pela equipe ter perguntado se não estava a fim de assistir um filme com eles. Sairiam pela manhã para a próxima missão, e alguém tivera a ideia genial de eles fazerem algo normal, para variar um pouco, como assistir um filme qualquer para passar o tempo. As regras para a escolha do filme foram aprovadas por todos: nada que envolvesse espionagem, heróis, alienígenas, ou qualquer outra coisa que pudesse ser associada com trabalho. Quando o moreno chegara à sala de convivência, De Repente 30 já estava quase na metade.
No sofá de três lugares estavam localizados Clint, Natasha, e Bruce – o arqueiro tinha as pernas sobre o braço do móvel, deitado parcialmente sobre a ruiva, que por sua vez se apoiava no cientista. Thor estava esparramado no local que costumava ficar a mesa de centro, com a cabeça apoiada no que parecia ser monopolização de todas as almofadas da sala, até roncando baixo, enquanto e Steve estavam mais na beirada do tapete fofo, a mulher parcialmente deitada sobre o corpo do soldado, que tinha ambos braços a envolvendo.
- Argh, fala sério! – bufou Tony, apontando para a dupla adormecida ao se sentar no braço do sofá ao lado de Bruce – Sou obrigado a ver esse tipo de coisa no meu próprio prédio!
- Eles estavam assistindo o filme com a gente, Tony – defendeu Clint – Até o Thor dormiu. Os dois estão se comportando bem até demais em público por sua causa.
- Mas olha isso! – insistiu Tony – Eles ainda fazem um casal bonitinho e isso só me irrita mais.
- PS: eu meio que não estou dormindo – murmurou , virando a cabeça minimamente para cima para receber o olhar mal-humorado de seu pai.
- Eu pensei que ia ficar estranho avisar, mas eu também meio que não – acrescentou Steve e a morena começou a rir, tanto porque não sabia que ele estava acordado como pela expressão irritada de Tony, que se levantou e foi procurar algo para beber enquanto murmurava um “odeio vocês”.
Com a maior parte da equipe adormecendo logo, o filme passou sem maiores interrupções, apenas com algum comentário ocasional de Natasha e os dois cientistas, que não estavam aproveitando a ocasião para colocar o sono em dia. Apenas quando os créditos começaram a subir que o trio ouviu um pigarreio tímido.
- Dra. Cho! – festejou Tony – Chegou um pouco tarde para o filme.
- Na verdade, precisava falar com sua filha, senhor – explicou a mulher, abraçando com mais força a prancheta que segurava. Tony apenas assentiu, puxou uma das almofadas do monte de Thor e a jogou em direção ao rosto da filha, fazendo tanto que ela acordasse, assim como Steve e Clint também, já que o soldado recuara um pouco ao acordar com a movimentação brusca da morena, empurrando o sofá onde se apoiava uns bons centímetros para trás.
- Ainda bem que você não tinha que me acordar de manhã... Eu provavelmente teria te matado acidentalmente – resmungou , pegando a almofada para devolver ao pai, usando força o suficiente para derrubá-lo do braço do sofá. Thor acordara tanto com o barulho da queda como do riso de todos e as reclamações de Tony – Algum motivo para essa demonstração de afeto?
- Oi... Srtª Stark? Está ocupada? – perguntou a Dr. Cho, se aproximando mais do grupo para que todos entendessem o que acontecia.
- Depende do que você quer.
- Quero que você faça os testes físicos – anunciou ela, entregando sua prancheta para Natasha, que passou os olhos rapidamente pelos dados da evolução de sua antiga protegida – Todos seus ferimentos já cicatrizaram e você está andando sem a bota há dias, não vejo porque adiar.
- Não estou ocupada! – se apressou a mulher em dizer, rapidamente se sentando no tapete macio – Se tem uma coisa que eu não estou no momento, é ocupada.
- Ótimo, vai vestir seu uniforme.
- Você já vai me colocar em simulação?! – ofegou , surpresa. De todas as vezes que se machucara sério em missões, sempre tinha uma burocracia imensa até ela poder voltar a ação.
- Não acha que esteja preparada para isso? – estranhou a mulher.
- Por que nós não a tínhamos na S.H.I.E.L.D.? – perguntou para os antigos agentes da agência – De preferência cuidando de mim? Ela está jogando o protocolo pela janela e eu estou simplesmente adorando!
Clint, que estava mal-humorado por ter sido acordado bruscamente, resmungou um “é, tanto faz”, enquanto Natasha balançava a cabeça em descrença. Não havia se preparado psicologicamente para voltar a trabalhar com a morena, e já começava a sentir a dor de cabeça que ela lhe daria.
- Gostaria que, se possível, o Cap. Rogers e o Sr. Thor também se preparassem e seguissem para a academia o mais rápido possível – pediu a Drª Cho, ficando sem graça ao ter todos os olhos em sua direção, curiosos – Preciso passar algumas instruções para vocês antes de começarmos.
- Pode explicar por que quer os dois lá só para eu ter certeza que não estou me iludindo? – pediu , sorrindo meigamente para a mulher. Ela era sua nova pessoa favorita no prédio, sem a menor sombra de dúvida.
- Eles são os únicos que podem te superar em força, e enfrentá-los simultaneamente também vai exigir mais de sua agilidade – explicou a mulher – Basicamente a mesma coisa que era esperada de você nas simulações com robôs na S.H.I.E.L.D.
- Está sentindo isso, Rogers? – provocou , sorrindo maldosa – A revanche chegando?
- Você está definitivamente se iludindo se acha que consegue ganhar de mim – retrucou o soldado, se levantando sem pressa. continuou sentada no chão, fingindo estar ofendida.
- Primeiro, eu consigo – resmungou ela, enumerando nos dedos – Segundo que eu posso usar a desculpa de terem colocado o Thor junto na simulação caso não consiga. Posso viver muito bem com essa.
Thor, que ainda estava sonolento, começara a compreender o que acontecia ao seu redor.
- Então você quer que eu e o Capitão lutemos com ela? – perguntou ele à Drª Cho, que se sobressaltou quando a voz potente e rouca do deus ecoou pelo ambiente – Essa mulher perdeu a cabeça?
- Venha cá e descubra se ela perdeu a cabeça – provocou , engatinhando até a mesa de centro que havia sido afastada para fora do tapete para que eles deitassem, apoiando o cotovelo em cima dela, deixando claro que estava desafiando o deus para uma queda de braço – A não ser que esteja com medo de perder para mim, Lorde Thor.
- Não desejo te machucar, Lady – avisou o loiro, tomando seu lugar oposto à morena.
- Pode ter certeza que não vai.
De princípio Thor quase não colocou força, esperando que seu braço fosse ceder facilmente. Quando percebeu que não estava obtendo resultados, ele começou a aumentar a força, até conseguir fazer com que seu braço inclinasse minimamente. não conseguiria o superar em força, mas estar resistindo já era algo de se espantar.
- Com que tipo de magia você está se metendo agora, bruxa? – soltou ele sem querer, percebendo seu erro quando derrubou seu braço com apenas um movimento, se aproveitando de sua surpresa e desatenção.
- O que nós já conversamos sobre esse apelido, Thor? – rosnou ela, puxando o deus pela gola da camiseta.
- Você não tem que ir se preparar? – desconversou o loiro, calmamente cobrindo as mãos da mulher com as suas, as tirando de perto de suas roupas.
concordou rindo, sem demorar para se levantar e rumar para seu quarto, onde guardava o uniforme novo que seu pai e Bruce haviam projetado. Depois de Thor ter lentamente se espreguiçado – não que Cho tivesse ficado observando os músculos do deus visíveis pela camiseta justa – e se levantado que a cientista lembrou que ainda tinha mais algumas coisas para informar ao grupo, e que era importante não estar por perto.
- Barton, vá se preparar também – pediu a mulher, e o arqueiro assentiu, sem precisar de mais explicações – O material foi deixado em seu quarto hoje mais cedo.
- Barton vai participar também? – estranhou Tony, rindo em deboche – Se aqueles dois não conseguirem derrubar a garota, não acho que ele vá conseguir, querida.
- Teste psicológico, Stark – explicou o próprio arqueiro, que não pegara ofensa em sua fala. Afinal, já fazia um certo tempo que ele não era mais páreo para sua protegida – Ela pode não ter passado por nenhuma ajuda profissional nas últimas semanas, mas não podemos esquecer que passou por um episódio traumático, e sequer sabemos se ela tem preparo psicológico para voltar ao campo.
Um silêncio desconfortável se instalou no ambiente. Na maior parte do tempo eles estavam considerando apenas a capacidade física da mulher para que ela voltasse ao campo, raramente lembrando que isso sozinho não era o suficiente. Ali, protegida dentro da Torre, estava mais do que bem. Não sabiam como ela reagiria no meio de um tiroteio, ou caso voltasse a enfrentar seu quase assassino.
- O que estão planejando? – perguntou Tony, o mais desconfortável de todos. Ele sabia muito bem como era fácil e simples desencadear um ataque de pânico, e a última coisa que queria era sua filha sofrendo com aquilo. parecia ter um psicológico muito bom e ter superado muito bem o acontecido. Ali Tony desejava mais do que tudo que a mulher não estivesse fingindo.
- Recriar o episódio – respondeu Cho, e o ar da sala ficou ainda mais difícil de respirar.
- é durona – lembrou Clint, sentindo a insegurança de todos em respeito àquilo – Os testes depois do incidente com o cetro foram os mais extremos possíveis porque ela é boa demais em fingir, e ela não desaba com qualquer besteira, mas é necessário testá-la. Ainda mais quando ainda existe a possibilidade de enfrentar o Soldad... Desculpe, Barnes. Precisamos da , mas ela em perfeitas condições mentais, qualquer coisa diferente disso pode ser desastroso para todos.
- Steve...? – chamou-o Natasha, percebendo como o soldado estava aéreo – Você que dorme ao lado dela. Você percebeu alguma perturbação no sono dela? Pesadelos?
- Não – respondeu ele de imediato e firme, parecendo um pouco incerto ao continuar. Estava se sentindo mal por não ter abordado aquele assunto com a mulher antes. Era esse o seu papel, não era? Cuidar dela. As únicas vezes que Bucky surgia como tópico em suas conversas era quando pensavam em formas de encontrá-lo, nunca citavam o atentado. Steve fora ingênuo o suficiente para ignorar algo que poderia estar matando a mulher por dentro – Não que eu me lembre, pelo menos.
- Ela parece estar lidando muito bem com esse caso, ela vai passar no teste – garantiu Clint, já rumando para o elevador – Podem desfazer essa cara de enterro. Ou acham que ela seria irresponsável o bastante para querer voltar ao campo sem estar preparada?
- Estamos falando da mesma garota que escondeu toda uma ligação com o cetro, não estamos? – retrucou Tony, a contragosto.
- Ela é orgulhosa demais para cometer o mesmo erro duas vezes, Stark – lembrou o arqueiro, segundos antes que as portas se fechassem – E a última coisa que ela quer é colocar mais pessoas em perigo. Tenha um pouco de fé nela.

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Steve e Thor esperavam pacientemente a chegada de no espaço academia. Por questões de segurança, eles eram os únicos no andar, como mandava o protocolo. Aquela primeira parte dificilmente sairia de controle, mas a segunda era uma bomba instável, era difícil prever como seria. A dupla tinha pouca informação sobre como a simulação fora arquitetada – apenas tinham que sair de lá o mais rápido possível, tanto para a sua segurança como para garantir que tudo fosse sair como planejado. O sinal para eles deixarem o local era bem óbvio, não teriam como errar.
Alguns minutos mais tarde, aparecera no campo de visão dos dois. O uniforme lhe dava um ar sério e sombrio, ainda mais que seu antigo uniforme da S.H.I.E.L.D. O novo era completamente fechado, sem decote, e tinha como principal objetivo proteger, não apenas não atrapalhar os movimentos. Mesmo assim, o traje quase não prejudicava os movimentos que exigiam mais flexibilidade, e tinha a vantagem de produzir bem menos ruído do que qualquer outro tecido que ela vira até aquele dia.
Seu pai estava ferrado: teriam que refazer todo seu guarda-roupa com aquele tecido porque não ter uma distração sonora a mais era algo bom demais.
- Acredito que vocês já sabem como vai funcionar – começou ela, parando em frente à dupla. Ambos também vestiam seus trajes, mas sem suas armas. Aquela já seria uma luta injusta, se eles ainda estivessem armados, era certeza que terminaria o dia na enfermaria.
Não a surpreendendo, Steve iniciou o combate sem aviso prévio, tentando um gancho de direita ridiculamente fácil demais para evitar. Se deslocando um pouco para direita e se abaixando, o agarrou pelo pescoço e o jogou por cima de seus ombros, com seu corpo girando no ar antes de cair de costas no chão. Ele obviamente estava começando no nível iniciante, talvez desobedecendo as instruções da Drª Cho e de Clint, já que aquele tipo de simulação costumava se iniciar no nível vamos ver se você sobrevive a isso. O curioso era que aquilo perigoso: Steve já lutara com ela uma vez, e, mesmo seu estilo de luta tendo mudado muito nesse espaço de tempo – agora força era sua principal vantagem, não mais agilidade –, isso significava que o soldado estaria mais à vontade no combate, diferente de Thor, onde o receio estava impresso em todos seus movimentos quando se adiantou em sua direção.
Os dois socos que o asgadiano escolhera para começar foram facilmente bloqueados, e ele teria ido ao chão assim como se parceiro se o mesmo não tivesse voltado logo para o combate. arriscou um chute de costas na altura do queixo para afastar Steve, mas ele já previra aquele movimento, segurando seu tornozelo recém-recuperado com força, girando sua perna de uma vez, o que fez com que todo seu corpo girasse junto, e ela se desequilibrasse. aproveitara o impulso da queda e jogara os braços para trás, deixando que suas mãos se apoiassem no chão, chutando o abdômen de Steve com a perna livre com força necessária apenas para que ele se afastasse o suficiente para ter que soltar seu pé. Aquela fora uma escolha arriscada porque, quando finalizou o semi-backflip que iniciara, a mulher estava de costas e muito próxima de Thor, que não hesitou em fechar os braços ao redor de seu pescoço. Como ele estava com a cabeça muito próxima, não foi difícil travar suas mãos na nuca do deus, usando o quadril para desequilibrá-lo, fazendo com que ele voasse por cima dela e caísse de costas no chão.
- Trapaceira – resmungou Steve, ao se levantar ainda um pouco tonto depois da morena ter lhe acertado uma cabeçada no queixo. Até dois segundos atrás ela estava presa em seus braços, mas ele fizera a burrada de soltá-la quando percebeu que ela começava a ficar inconsciente. Ele só não sabia daquele novo truque ainda. Na verdade, naquela última hora ele descobrira vários truques novos.
- Você insiste em confiar em uma Stark e a culp... Ah! – ofegou ela, quando Thor a segurou pela cintura, a jogando para trás. caíra de costas, dando uma cambalhota ao chegar no chão para amenizar o impacto.
- Você fala demais – resmungou o asgardiano. Não ia mentir e dizer que não estava se divertindo, mas eles tinham uma missão na manhã seguinte, e estava definitivamente dando trabalho.
- Ai – ofegou ela, assim que tentou se levantar, levando ambas as mãos o joelho esquerdo e voltando a se sentar no chão. Sem pensar direito, Steve, que estava mais próximo, correu até ela, se agachando ao seu lado. Thor tentou lhe avisar que era uma péssima ideia, mas já era tarde.
- O que f...? – Steve não chegou a terminar a pergunta. puxara o braço que ele esticara em sua direção, fazendo com que ele se desequilibrasse e se juntasse a ela no chão, deitado de bruços contra o piso claro. Seu braço que fora puxado estava perigosamente forçado em um ângulo extrema às suas costas, onde agora estava sentada.
- Você precisa parar de cair com essa – riu baixo, depois de lhe beijar próximo ao ouvido.
- Acho que já vimos o suficiente por hoje – anunciou a voz da Drª Cho, que ecoara pelo ambiente. deixara seu corpo cair ao lado do já caído de Steve, rindo dos resmungos dele por ter apenas caído em todos aqueles truques por se preocupar com ela.
Quando ia abrir a boca para retrucar, foram tantos acontecimentos simultâneos que ficara perdida: o som alto de uma explosão não muito longe, já que o prédio estremecera; o ambiente se enchera de um gás que ela não conseguia reconhecer, mas que estava dificultando, e muito, sua respiração; as luzes se apagaram, e as emergenciais não estavam fazendo um bom trabalho, principalmente por causa do gás espesso; e tiros foram disparados para dentro do local, com dois lhe acertando em locais muito específicos, a coxa esquerda e seu abdômen, onde estariam as cicatrizes de seu encontro com o Soldado Invernal, se seu corpo não se curasse sem deixar marcas.
Aquela lembrança vez com que ela estremece, principalmente quando a voz distante de Steve gritou ordens para que ela seguisse com ele e Thor para descobrir o que acontecia e proteger a Torre, e, ao tentar localizá-lo naquela zona de pouca luz e fumaça, ela avistou uma figura uniformizada em couro atrás da dupla, que deixou a academia mesmo sem ela estar os seguindo.
O que mais a assustou não foi o Soldado Invernal estar ali, mas sim não sentir a sua presença.
Era como se ele realmente fosse um maldito fantasma.
As luzes do andar piscaram com mais intensidade do que deviam, cegando por alguns segundos, tempo o suficiente para que perdesse o homem de vista. Sua respiração não estava mais difícil, estava travada em sua garganta. Mais uma vez aquele instinto de sair correndo estava gritando ao seu ouvido, e ao mesmo tempo tentava lhe explicar algo, só que não tinha tempo para prestar atenção. Sentia a presença de alguém às suas costas.
No último momento desviara da mão que empunhava uma pequena adaga, puxando o braço do homem para que ele caísse a sua frente. Assim que ele atingiu o chão, percebeu que não se tratava do Soldado Invernal: aquele gemido de dor era de Clint. Tudo aquilo era o maldito teste psicológico, e mais uma vez ela sequer questionara a sequência de acontecimentos no mínimo suspeita – claro que aquele era o objetivo da simulação, mas não fazia com que ela se irritasse menos consigo mesma.
Clint se levantou rapidamente e partiu em sua direção mais uma vez. podia se recusar a continuar naquele momento, mas colocaria em risco sua aprovação. Lutar contra o arqueiro exigia um controle preciso de sua força para que não acabasse o machucando, e, no seu atual estado, controle não era a coisa mais fácil de colocar em prática.
Só que não tinha muitas escolhas, e falhas não eram permitidas.
Respirando fundo, silenciou qualquer coisa a mais que seus instintos tentavam lhe avisar, se concentrando no homem a sua frente e como derrubá-lo da forma mais amigável possível. Dois movimentos precisos, era tudo o que precisava, e, conhecendo Clint, ele deixaria a brecha no próximo ataque.
Assim que ele se adiantou, deu as costas para o homem, agarrando seu ombro por trás dos dois, girando-o para jogá-lo no chão, de onde o arqueiro não saiu dessa vez, silenciosamente a avisando que a simulação estava encerrada.
se direcionou para a parede mais próxima assim que a iluminação do espaço voltou ao normal. Fizera a burrada de relaxar por um milésimo de segundo e agora todas as dúvidas voltaram a sua mente. Clint se sentou no chão e tirou a máscara e a peruca, e não demorou muito para que a equipe também aparecesse, só que a mulher não lhes deu atenção.
Um pouco mais de empenho e ela entraria em estado de choque.
Embora fosse um ataque falso, aquela era a terceira vez que tinha dificuldade em confirmar a presença de alguém, e, embora a equipe tivesse tentado recriar o ambiente da segunda, eles fizeram com que ela se lembrasse da primeira – o acidente de carro no final de 1991, onde seus avós morreram. era muito nova na época, e sequer se lembrava do ocorrido em si com muitos detalhes, apenas da sensação agonizante de ver alguém do lado de fora do veículo, e mesmo assim não sentir sua presença, habilidade de qual ela já tinha consciência na época, embora não soubesse explicá-la ou controlá-la adequadamente. Durante o atentado do Soldado Invernal semanas atrás, ela tinha tido ligeiramente a mesma sensação no começo, embora tivesse conseguido em alguns momentos constatar sua localização quando se esforçava, ou quando os ruídos de sua movimentação o entregavam.
O estado de choque de não era por medo, era pela possível compreensão.
Tinha mais coisa naquela história do que ela tinha conhecimento, e isso estava a apavorando.
- ?! – Clint a chamou mais uma vez, puxando-a com violência pelo braço, percebendo que apenas chamar seu nome não estava surgindo efeito. O arqueiro estava visivelmente controlado, mas no fundo ele estava entrando em desespero. A mulher tinha se saído excepcionalmente bem na simulação inteira, mas se tivesse fingindo aquilo tudo não valeria de nada. Nunca a forçaria de volta ao campo se existisse a possibilidade de ela ficar naquele estado em toda missão – Droga...! Natasha, ajuda aqui.
- Para de fazer drama, Barton! – resmungou , estapeando a mão do arqueiro até que ela a soltasse, só então percebendo o erro que cometera ao parar de prestar atenção no que acontecia ao seu redor. Agora seria um inferno fazê-los acreditar que estava tudo bem – Eu não estou em choque. Para com isso.
- Você está tremendo... – constatou o loiro em voz baixa e calma. arriscou um olhar rápido para o grupo que se concentrava a alguns passos deles, todos com expressões preocupadas. Steve era o pior deles: aquela provavelmente seria a reação que a mulher teria toda vez que visse Bucky, e isso o machucava. Os dois eram as pessoas que mais amava no mundo, e talvez alguns traumas nunca fossem superados – Está tudo bem, .
bufou, se afastando do arqueiro para mostrar suas mãos esticadas, completamente estáveis.
- Me senti desconfortável e desliguei os poderes depois de te derrubar – contou ela, respirando fundo mais algumas vezes antes de retornar ao ritmo normal – Você sabe muito bem que isso acontece quando eu desligo depois de um combate intenso. Não é nada para se preocupar.
- Você não está dizendo isso apenas para não te reprovarmos, certo? – murmurou o arqueiro, desconfiado.
- Não sou tão irresponsável.
Clint se virou para o grupo, esperando a confirmação. Embora agora estivesse com um pé atrás, estava disposto acreditar nela, assim como deixara bem claro para a equipe mais cedo. Natasha também compartilhava daquela mesma visão: a morena conhecia seus limites e o que acontecia quando não os respeitava, talvez aquela fosse uma das poucas regras que ela aprendera a não quebrar nos últimos anos. Thor vinha logo atrás da dupla no quesito confiança, embora fosse concordar em ficar de olho nela por um tempo, até terem certeza que ela estava realmente pronta. Tony tinha agora os dois pés para trás. Podia contar nos dedos quantas vezes vira a filha tão assustada, e ela estava escondendo algo, mesmo que não confirmasse. Deixá-la ingressar a equipe não parecia mais uma ideia tão boa assim, ele tinha que dar o braço a torcer para Pepper. A mulher podia ter tudo o que precisava para fazer parte do grupo, mas Tony estava receoso em expô-la a tantos riscos. O pior de tudo era que ela não lhe daria ouvidos caso ele votasse contra, ainda mais por ter certeza que Rogers não lhe negaria a permissão. Talvez até se Rogers se opusesse ela não lhe daria ouvidos. Tony realmente não sabia o que fazer.
- Você tem realmente certeza? – perguntou Steve, fazendo todos rirem enquanto ele era fuzilado pela mulher. Embora estivesse ligeiramente preocupado, o soldado não deixou de esboçar um sorriso orgulhoso – Bem-vinda aos Vingadores, Stark.

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