CAPÍTULOS: [1][2][3][4][5][6][7][8]


Jimmy e Mary se encontravam naquela garagem empoeirada e repleta de caixas que, sinceramente, dava até medo de estar lá.
Não porque era assustadora. Na verdade, o tanto de caixas que eles tinham para arrumar é que era assustador. A mãe de Jimmy resolvera – por alguma razão obscura e desconhecida – arrumar e limpar a casa. E sobrara para os dois limpar a garagem, aquele protótipo de pandemônio.
Só porque eles tinham achado uma arma no quarto dela e dispararam sem querer contra um abajur. Ninguém saiu machucado, mas não se podia falar o mesmo do abajur.
- Se bem que parece ter umas coisas legais por aqui... – Mary, que era prima de Jimmy, comentou ao puxar uma caixa empoeirada. Quando abriu, soltou uma exclamação impressionada. – Fantasias! A tia nunca mostrou pra gente!
- Acho que era da época que ela dançava na escola... – Jimmy comentou puxando uma saia de flamenco. Mary só o observou, boquiaberta. – Sim, minha mãe dançava, pasme.
- Já sei de onde vou roubar fantasias no Dia das Bruxas! – Mary comentou rindo enquanto Jimmy balançava a saia cheia de panos e babados de um lado para o outro.
- Sabe que eu também achei uma caixa bem legal? – O garoto perguntou e deixou a saia na caixa na qual a acharam.
- Jura? Qual é? – A garota começou a segui-lo logo que ele se pôs a caminho da caixa.
Era um recipiente não muito grande, bem ao fundo da garagem. Parecia estar lá para ser escondido. Quando assopraram a superfície de couro, a palavra Winchester se mostrou em dourado. Os dois se encararam.
- O que você acha que é? – Mary perguntou curiosa. Continuaram a mexer na caixa e acharam um cadeado.
Jimmy puxou um canivete do bolso e arrombou o cadeado sem a menor dificuldade. Ao abrir a caixa, encontraram somente um caderno de couro ferrado, extremamente usado, com algumas páginas amassadas e cortadas, outras começando a ficar amarelas. E novamente o sobrenome escrito em dourado na frente, as letras começando a descascar.
- Um... Diário? – Jimmy tirou o caderno que estava se autodestruindo de dentro da caixa.
- Vamos abrir? – Mary perguntou já começando a abrir a fitinha de couro que fechava o diário.
Abriram na primeira página.

Olha, não me pergunta que dia que é. Contente-se, não gosto de colocar datas. Antes que você se pergunte, meu nome é . Eu e minha irmã, , resolvemos escrever um diário sobre a nossa vida.
Em primeiro lugar: somos caçadoras. Se você não sabe o que isso significa, é perigoso demais ficar com esse diário em mãos. Deixe-o onde o encontrou e nunca mais fale sobre ele. Se você sabe...
Nossa. Que dó de você.
A vida de caçadores não é fácil então resolvemos escrever sobre todas as entidades e coisas que achamos no meio do caminho para facilitar a vida de caçadores mais novos que estão perdidos. Nessas páginas vocês encontrarão todos os nossos casos e nossa vida pessoal também, pois convenhamos, isso é um diário.
Não estamos escrevendo só pelo bem da humanidade. É também um desabafo.
Bom... Essa é a nossa vida e esperamos que seja útil para alguém um dia. Junto com a gente viajam Dean e Sam Winchester (e, por mais que eu tenha lutado com todas as minhas forças contra isso, somos casais. Eu e Dean, e Sam), Cass (um anjo BEM LOUCO, que surge DO NADA e vai embora idem DO NADA) e aparições ocasionais de nosso querido Bobby Singer (o ser mais emburrado da face da terra. Se você já acha que eu sou mal humorada pelo que escrevi, você teria medo do Bobby. MEDO).
Leia por sua conta e risco. E divirta-se.


- Caçadoras?! – Os dois perguntaram juntos, trocando olhares, como se tivessem acabado de descobrir a Austrália.
- O que diabos vocês estão fazendo?! – Pronto. Agora sim estavam mais ferrados que antes.
Mary e Jimmy se viraram só para encontrar Winchester com as mãos na cintura, uma bandana amarrada na cabeça e uma blusa velha do Guns n’ Roses. estava logo atrás dela, também com um olhar de reprovação e uma blusa enorme e velha de Sam. As duas estavam fazendo faxina dentro da casa.
- Desculpa, mãe. Mas achamos o diário de vocês. – Jimmy respondeu mostrando o caderno para .
As irmãs trocaram olhares.
- Vocês leram? – perguntou suspirando.
- Lemos sim, mãe. – Mary respondeu um tanto envergonhada. Mas só um pouquinho. – Mas a gente já sabia.
- O quê? – As duas perguntaram juntas.
- Sobre serem caçadoras. – Jimmy deu de ombros. – Já tinha ouvido você e papai conversando sobre isso. Mary também. Daí resolvemos dar uma pesquisada no que era.
- Eu disse que meu passado me condena... – rolou os olhos. – Ah, se vocês já sabem, não têm motivos pra esconder de vocês.
- Verdade... Vamos lá pra casa, fizemos limonada. – começou a rir da cara de alegria que as crianças fizeram. – Limonada rosa.
- EEEEEEI! Não vão achando que esse assunto termina por aqui! – gritou logo que eles saíram correndo com o diário em mãos até a casa. – Eu disse que essa porcaria ainda ia dar problemas.
- Ah, mas cedo ou tarde eles iam acabar sabendo... – comentou suspirando. – Os dois são inteligentes. E a gente conversa muito disso com o Dean e o Sam, os dois ainda não pararam...
- Quem dera tivessem parado. – suspirou. Observou Jimmy e Mary conversando animadamente sentados à mesa da cozinha. – Eu queria que eles tivessem uma vida diferente, sabe...
- Eles podem ter. Não é só porque sabem a verdade que não têm escolha. – respondeu também observando os dois.
Elas sorriram. Por mais que soubessem que aquela última frase não era verdadeira. Antes de fechar a porta, porém, se virou para a garagem. Jurara que ouvira um barulho estranho... Um barulho que não ouvia há muito tempo. Observou os arbustos mais próximos. Talvez se encarasse o suficiente, ia encontrar o que tinha de estranho por lá... - Mãe! Se você não vier, não vai sobrar limonada pra você! – Jimmy gritou de repente. - Ah, é? Não vai? – Ela perguntou sorrindo e fechou a porta, correndo até o garoto como se fosse atacá-lo. E realmente o atacou. Com cócegas e abraços. Mais tarde naquele dia ela desejou que tivesse continuado a encarar os arbustos.





Fame – David Bowie

Ainda no dia desconhecido. Se você quiser lidar com datas, vai ter que ler a parte da e tentar calcular as minhas, boa sorte.
Enfim... Esse caso que terminamos foi no mínimo... Diferente. E eu tenho que dizer: amo o Texas. Único estado que você pode andar por aí com um rifle gigante e ninguém vai se importar.
Então cá estou eu, no nosso quarto do hotel – finalmente me livrei da lendo tudo por cima do meu ombro e querendo que eu explique cada mísera aparição do nome dela nos meus escritos – enquanto o Dean toma banho e tira o sangue seco do braço.
Você não tem idéia de como sangue seco... É. Chato. Pra. Tirar.
De qualquer maneira, chegamos aqui três dias atrás. Uma cidadezinha pequena do Texas, próxima a Houston. Só viemos para cá, pois tiveram várias ocorrências de corpos sendo achados desmembrados nas estradas e ruas mais desertas da cidade.
Se não fosse trabalho para nós, poderíamos matar um serial killer. E eu estava muito bem com essa idéia.
- Eu acho que o Dean não alcança a gente. – comentou enquanto eu dirigia. Havíamos acabado de sair da casa do Bobby e Poison tocava estridentemente no nosso rádio. Que foi? Eu gosto. O dia que você tiver o cabelo do tamanho do CC e tocar guitarra que nem ele, a gente se fala.
- Eu sei! Mas mesmo assim, obrigada! – Respondi feliz da vida, ainda com o pé no acelerador. Mas fechei a cara na mesma hora que vi a expressão de . – Que foi?
- Que foi?! – perguntou como se fosse completamente óbvio. Desculpa se eu falhava em ver a obviedade. – Que foi?! Você ta quase voando! Quer diminuir a velocidade antes que você mate nós duas?!
- Querer eu não quero, mas vou diminuir antes que você morra de infarto. – E tive que diminuir a droga da velocidade. A que me perdoe, mas ela no volante era uma velhinha medrosa.
E nesse momento, pra alegria da minha vida, Dean emparelhou o Impala com o nosso carro, abaixando o vidro. Se você ainda não percebeu, isso era pra ser sarcástico.
- O que foi, linda? Já cansou? – Ele perguntou com aquele sorriso que sabia que eu gostava e disparou na frente.
Ok. Aquela eu não podia aguentar. Era demais. Eu tinha que correr com ele.
Então, ignorando os gritos de protesto da irmã neurótica ao meu lado, mudei de marcha e saí correndo atrás da criatura que agora chamava de namorado.
*E aqui entra uma nota do Sam, invadindo o diário das irmãs *
Eu tentei parar o Dean. Juro que tentei.
Além disso, sabia que a devia estar surtando ao lado da irmã falando que "não queria morrer cedo e se a quisesse fazer aquilo, podia tentar quando ela não estivesse no carro."
É. Eu decorei.
- Dean, não é uma boa idéia. Deixa as duas em paz. – Sim, meu argumento para o meu irmão desmiolado. O dia que der certo, vai ser algo próximo do Apocalipse. De novo.
- Desculpa, Sammy. Mas a dirigindo devagar na estrada é bom demais pra resistir... – Dean disse com aquele sorriso idiota e engatando outra marcha para emparelhar no carro delas. E ainda me pede desculpas. Eu devia estar com aquela cara de vazio que já tinha virado mestre em fazer.
- Ótimo. A vai morrer de ataque cardíaco.
E quem me disser que não era verdade, por favor, abra esse diário nos relatos de e me entenderá.
- Que foi, linda? Já cansou? – E o carro acelerou.
Só consegui ouvir o motor do Ninety-Eight puxando atrás de nós e acelerando feito um louco.
A única coisa que pensei naquele momento foi: "eu odeio o meu irmão".

- Comida. – Foi a única coisa que eu e a falamos ao sair do carro.
Como era de se esperar, o ignorante do Dean chegara antes e estava nos esperando apoiado no carro com aquele sorriso convencido e besta no rosto.
Que eu queria arrancar com uma mordida. Mas podia fazer isso muito bem à noite, ele que me aguardasse... Nem que eu tivesse que expulsar o Sam do quarto.
- Eu to morrendo de fome... – reclamou apoiando no nosso carro. Achei que ela ia cair no chão, pra falar a verdade.
- A gente vai procurar uma lanchonete enquanto vocês reservam o quarto, ok? – Antes que eu mate o Dean, por favor.
- Como a gente vai achar vocês depois? – Sam perguntou ficando confuso ao ser abandonado por nós.
- A gente não tem um Ninety-Eight pra nada, amor! – respondeu mandando um beijinho para ele e entrando no carro, no banco do motorista.
Nada que eu reclamasse. Estava com tanta fome que deixaria até o Dean dirigir meu carro naquele momento.
- ... Sabe que você parece ter uma tendência a ficar irritada com o Dean. Por qualquer coisa. – comentou enquanto entrávamos na primeira lanchonete simpática que achamos. Sentamos em uma mesa perto da janela, afinal adorávamos as janelas.
- Não é por qualquer coisa. Só não gosto dele me desafiando. – Respondi dando de ombros. Ela começou a rir.
- Ou seja, todos os momentos da relação de vocês. – aproveitou para chamar a garçonete enquanto isso. – Que cara é essa?
- Relação? – Perguntei ainda com a cara... Estranha que eu provavelmente estava fazendo. – É esquisito nos definir assim.
- Quer que eu chame o Dean de "seu namorado"?

Aquilo soou mais esquisito ainda.
- Não... Sei lá, chama de "seu homem". Parece menos esquisito. – E claro, nós duas começamos a rir.
- Querida, cedo ou tarde, você vai ter que aceitar que está numa relação.
- Ah, , fica quieta. Vamos focar. Corpos mutilados na estrada. – Óbvio que a garçonete teve que chegar nesse exato momento e me lançar um olhar muito estranho. – Somos investigadoras, não se preocupe.
- Ah, ainda bem que chegaram pessoas competentes para lidar com o problema! – A mulher suspirou aliviada. De alguma maneira, ela me lembrava a garçonete do Grease. – Não conseguimos nem imaginar um assassino tão sangrento na nossa cidade!
- Não se preocupe, senhora, iremos encontrá-lo. – respondeu com um sorriso reconfortante. Essa era uma grande habilidade invejável dela: além de ser social, minha querida irmã sabe confortar as pessoas sem muitas palavras. – Vamos querer dois pratos especiais e sucos de laranja. Estamos morrendo de fome.
- Imagino! A viagem até aqui deve ter sido muito cansativa!
- E coloca cansativa nisso... Se o Dean aparecer na minha frente, voo no pescoço dele... – Comentei suspirando e fazendo a mulher rir.
- É o namorado dela. – explicou e eu só pude lançar um olhar de morte. Não tinha falado pra não definir o Dean como meu namorado, desgraça?!
* invadindo a parte da , nota de canto*
Problema seu. Você precisa de mais romance na sua vida e mesmo que faça você parecer uma adolescente boba, ele é seu namorado sim. Conviva com isso.
Eu jamais vou chamar o Dean de "seu homem"!

Acho que já vi que não vou conseguir escrever sem interrupções. Mas continuando.
A garçonete.
- Ah, seu namorado está te dando trabalho? – A mulher perguntou com uma expressão compreensiva. Não pude deixar de concordar.
- Não só o meu... O dela também dá trabalho. – Apontei para , que só me lançou um olhar de morte como resposta.
Há. Doce vingança.
- Queridas, não se preocupem. Homens realmente não prestam. – A garçonete completou com um sorriso simpático nos lábios. Gostei dela. – Vou já pedir a comida de vocês, fiquem à vontade.
E foi embora.
- Foi você que inventou essa história de dar trabalho. – Falei antes que pudesse comentar alguma coisa e voar no meu pescoço.
- Sabe que foi difícil achar o carro de vocês? – Sam surgiu sentando ao meu lado. Eu só dei um sorriso enorme e o encarei. – Foi de propósito, não?
- Também te amo, querida. – Dean comentou ironicamente. Só me limitei a lançar um beijinho para ele.
- Então vocês são os namorados delas? – A garçonete surgiu de novo na mesa trazendo nossos sucos. Que eficiente. – Agora me escutem bem. Aposto que as duas trabalham duro prendendo criminosos como os que temos assombrando a nossa cidade, então o mínimo que vocês podem fazer é respeitá-las e dar menos trabalho! Podem ter certeza que vou ficar de olho em vocês!
- Sim, senhora. – Sam e Dean disseram juntos e assustados, observando enquanto a mulher voltava para seu balcão.
E a única coisa que eu e conseguíamos fazer era rir. Já estava até virando mania as garçonetes implicando com os dois, como no caso em que nos conhecemos.

- Agentes Michaels, Dall, Bonham e Ulrich... Certo? – O legista nos chamou na sala de espera.
Na verdade, Sam e Dean tinham chegado antes – já que a nossa amiga garçonete praticamente expulsou os dois a pontapés depois que eu e Dean começamos a discutir – e eu e tivemos que apresentar nossos nomes depois e correr para a sala de espera do necrotério. Alguém deve ter telefonado para falar os nossos nomes.
- Michaels e Dall? – Sam sussurrou para nós enquanto seguíamos o médico.
- Nem vem. Pelo menos somos da mesma banda. – defendeu nossos nomes com todo o orgulho.
- Somos bateristas. Ou vai me dizer que você não tinha percebido? – Dean perguntou com aquele sorrisinho chato que eu fiz questão de arrancar do rosto dele com um soco no braço.
Rindo da cara dele em seguida, óbvio.
Não vá pensando que eu sou uma louca que gosta de bater e odiar a pessoa. Não é isso. É que eu simplesmente não posso dar o braço a torcer. Não quero passar de adolescente boba e apaixonada que fica correndo atrás do cara e rindo de tudo que ele faz. Nope. Se ele zoa a minha irmã, eu bato. Do mesmo jeito que eu faria com qualquer cara que mexesse com a minha irmã. E ponto.
- Bom... Aqui estão os corpos. – O legista disse mostrando vários recipientes em cima de uma das mesas de metal. Nós trocamos olhares. – Tenho que dizer que em todos os meus anos de experiência, nunca vi nada igual.
- Não me leve a mal, mas essa cidade não parece ser um lugar para dar experiência para um legista. – Dean comentou enquanto eu, e Sam praticamente brigávamos em silêncio para ver quem ia abrir as porcarias das caixas.
Sam perdeu depois que falou que não ia dormir junto com ele se ele não abrisse o negócio.
- Eu entendo. – O médico respondeu dando uma breve risada. – Vim de Houston para relaxar aos poucos e me aposentar aqui. Pelo visto não foi uma boa escolha. Alguém quer fazer as honras?
O homem apontou para a mesa com os recipientes. Eu e empurramos Sam discretamente em direção à mesa, sendo recompensadas com aquele olhar de irritado dele. O que retribuiu com um olhar de morte e consegui ler nos lábios dela a frase: "vou dividir o quarto com a ".
Isso foi mais que suficiente para fazer Sam ajeitar sua gravata e se aproximar da mesa. Ficamos observando tudo atentamente, uma de cada lado de Dean e prontas para agarrar o braço dele caso alguma coisa muito além da nossa experiência estivesse lá dentro.
Ok, eu sei o que você está pensando. Eu e podemos ser bem duronas, mas não somos insensíveis. Ver um ser humano dilacerado é bem chocante, quer você queira ou não. Nunca conheci ninguém que não se choca. Quer dizer, existe só uma criatura assim que eu conheço, mas tenho certeza que um dia ele vai dar o ar de sua graça nesse diário.
Só a expressão de Sam ao levantar a tampa de um dos recipientes fez com que eu e quase agarrássemos Dean e fechássemos os olhos. Quando a tampa da caixa foi retirada, vimos só um braço, as pernas... E só.
- Que meigo. – comentou baixinho entre nós. É uma expressão nossa para coisas muito... Agressivas.
- Algumas marcas podem ser definidas como mordidas de coiotes, como é comum na região. – O legista comentou mostrando as bordas das mordidas. – O formato dos dentes é inconfundível. Mas o que matou essa pessoa... Bom, há outro conjunto de mordidas, que concluí como as mordidas que arrancaram os membros do corpo, que não consegui definir nem como animal, nem como humanas.
- O senhor acha que o corpo teve só os membros arrancados ou foi... Devorado pelo que quer que seja que o atacou? – Resolvi perguntar, já que fiquei confusa com aquelas mordidas.
- Creio que o que atacou essa pessoa arrancou o braço em um ataque e após alguma luta, matou-a. O resto do corpo foi devorado pelos coiotes e aves carniceiras, já que foram deixados na beira da estrada. – O médico explicou suspirando. – Portanto, não é possível determinar a causa de morte.
- O senhor se importa se dermos uma olhada nos outros... Corpos... Restos? – Sam perguntou fechando o recipiente analisado.
- De maneira alguma. – O legista limpou os óculos na camisa. – Se precisarem de qualquer coisa, estarei na sala ao lado. Os relatórios estão naquela mesa, se bem que acho que não serão necessários. Com licença.
Dizendo isso, o homem saiu da sala. Nós trocamos olhares.
- Cães do inferno. – Dean declarou com um sorriso imenso no rosto.
- Pelo amor de Deus, Dean. Depois que você morreu, tudo é feito pelos cães do inferno agora! – Sam rolou os olhos e voltou sua atenção para os recipientes. E ele estava certo, Dean havia desenvolvido uma neura.
- É porque você não viu que bichinhos bonitos eles são! – Dean respondeu que nem uma criança começando a brigar.
- Não, mas eu vi coisas piores, ok? E não é por isso que eu fico neurótico com todas elas por aí! – Sam respondeu se virando sem muita paciência.
foi para perto das caixas e eu a segui depois que peguei os relatórios. Começamos a analisar os restos do recipiente anteriormente aberto por Sam.
- Parecem duas crianças, não? – Ela perguntou observando os dois com um sorrisinho no rosto. – Discutem que nem irmãos de sete anos.
- Sete anos é muito. – Comentei folheando os relatórios, porém observando os dois discutindo sobre seus traumas da vida. – Você vai dividir o quarto com o Sam?
- Queria sim... Pode ser? – apoiou em uma caixa e virou para mim. Os dois quase se matavam na nossa frente. Eu fiz que sim com a cabeça. – Se você não matar o Dean...
- Querida, ele não passa dessa noite. – Respondi com um sorriso safado no rosto e começou a rir. – Ele acha que não vai ter revanche da corrida de hoje mais cedo, mas vai.
- Então acho que vocês não vão prestar muita atenção no nosso quarto. – disse pegando uma das fichas na minha mão e observando-a. – Juro que eu te mato se você ficar escutando o que a gente faz ou deixa de fazer lá dentro!
- Eu? Escutar? Desculpa, querida, mas só escutei vocês da última vez, porque acho que o casal aí teve a habilidade de quebrar o quarto todo! – Ok. Que conste que não fui eu que puxei a briga. – E sem contar aquela música alta!
- Ah, não fui só eu que fiquei escutando música alta, ok?! – respondeu colocando a folha na mesa. – Mas que se dane. Não vamos ficar discutindo que nem esses dois... Como você disse antes, corpos mutilados. Foco.
Comecei a rir, fazendo-a rir também. Acho que éramos as únicas que conseguíamos rir numa situação como aquela. Foi o suficiente para fazer Sam e Dean pararem de discutir e olhar para nós.
- Ok. Vocês não são normais. – Sam comentou suspirando.
E aquilo nos fez rir mais ainda.

Lá estava eu, trancada no quarto, lendo quinhentos relatórios do legista. Isso porque o homem tinha falado que não conseguira analisar muita coisa. Pra mim, ele tinha analisado tudo que tinha direito e mais um pouco.
e Sam pareciam estar se divertindo no quarto ao lado. De vez em quando, ouvia risadas deles, a televisão alta... Revoltada, liguei o rádio do meu quarto e voltei a ler.
Bom, você deve estar se perguntando o que aconteceu com Dean e o motivo de só eu estar trabalhando. A parecia tão empolgada para ficar com o Sam no quarto que fiquei com dó de deixar os arquivos com ela. Sabia que ela tinha uma mania meio nipônica de dedicação, portanto se ela ficasse com as pastas, o coitado do Sam acabaria dormindo em uma poltrona. Sozinho.
Sendo assim, trouxe os arquivos para o meu quarto – ou melhor, nosso, já que o Dean faz parte da população do quarto – e comecei a ler, assim poderia fazer um resumo pra todo mundo no dia seguinte. O Dean, quando percebeu que eu estava ficando com aquela cara de que vai desmaiar de fome, saiu e foi comprar comida pra gente.
Amor de homem. Eu sei.
E não, não sou bipolar. Mas quando um homem te observa o suficiente pra perceber que você está com fome e ainda sai pra trazer comida... Digamos que todo o meu ódio matinal/vespertino sumiu e eu estava contente de tê-lo comigo.
Mas, voltando para os meus arquivos... O cara falou que não conseguiu analisar nada, mas escreveu uma saga sobre todos os corpos. Analisou até as bicadas de corvos. E todos eles estavam com a causa de morte listada como mutilação.
Não me diga.
- Alguma sorte com os relatórios? – Dean entrou no quarto, porém a primeira coisa que percebi foi o cheiro da comida.
Que foi? Eu estava realmente quase definhando de fome.
- Só que a causa de morte é mutilação. – Respondi com um sorriso sarcástico.
- Não me diga. – Ele rebateu com o mesmo sorriso.
É. De vez em quando o Dean me assustava com reações parecidas com a minha. Mas eu pretendia relevar, porque tínhamos comida. Ele colocou tudo em cima de uma mesinha na pequena cozinha do quarto e eu larguei os arquivos na cama mesmo.
- Pode trazer pra mim, por favor? – Dean apontou aquele monte de folhas e eu levei a pastinha até ele.
Sentamos e começamos a comer. Dean lia os arquivos enquanto tomava sua cerveja. Eu, por outro lado, só observava. Era uma situação... Estranha. Nunca tinha ficado sem a minha irmã no quarto, a não ser quando caçava sozinha. Mas o mais importante: eu nunca tinha tido uma relação duradoura o suficiente para ter o objeto da minha afeição dormindo comigo. Todo dia. Era aquilo que deixava tudo tão estranho. Era uma coisa que eu ia ter que me acostumar.
- Que foi? – Dean pareceu perceber que eu estava encarando.
Sim, eu sou tão discreta que até a pessoa mais inocente perceberia que eu estava literalmente encarando.
- Nada. – Respondi e olhei para a minha torta, voltando a devorá-la.
- É esquisito pra mim também. – Ele voltou a ler os arquivos. De repente, ouvimos o barulho de alguma coisa se batendo na parede do quarto. – Principalmente esses dois!
Comecei a rir. Depois e Sam não queriam que a gente escutasse nada.

Acordei no dia seguinte com Dean levantando da cama. Só fiquei observando enquanto ele se trancava no banheiro e depois saia, a fim de trocar de roupa. Tenho mania de observar as pessoas. Às vezes você acaba descobrindo algo bonito nelas que outras pessoas não notam.
Eu sei. Estou parecendo uma besta apaixonada.
- Bom dia, linda. – Dean disse sorrindo ao me ver acordada. Sorri de volta e comecei a resmungar.
- A gente precisa sair tão cedo? – Perguntei daquele jeito manhoso que todo ser humano pergunta de manhã.
- Não é tão cedo assim... – Ele se sentou na cama e apoiou cada braço de um lado da minha cabeça, me beijando em seguida. – Já são onze e meia. Hora de caçar.
- Hmmm... Eu consigo pensar em algo melhor pra fazer do que caçar... – Respondi puxando a gola do casaco de Dean, fazendo com que ele caísse em cima de mim.
Teríamos feito alguma coisa, se aqueles dois inconvenientes do quarto ao lado não tivessem batido na porta.
Dean olhou imediatamente para a fonte do barulho. Eu só fechei os olhos e foquei em me controlar para não pegar a arma embaixo do travesseiro e esvaziar o pente naquela porta.
- Eu odeio aqueles dois. – Foi a única coisa que consegui comentar entre dentes.
Dean só concordou com a cabeça e levantou da cama, abrindo a porta. Enquanto isso, eu pegava minhas roupas e me trancava no banheiro para me trocar rapidamente.

- Então... Fez o Dean sofrer? – me perguntou com aquela cara de expectativa alegre dela.
Aquela mania deles de ir pegar comida e me deixar na mesa à mercê da minha irmã estava começando a me irritar.
- Não... – Respondi entediadamente. me olhou boquiaberta. – Ele me trouxe comida. Não merecia sofrer. O que foi exatamente ao contrário com o Sam, não?
só me encarou. Ah, a alegria de vê-la indignada.
- Vocês ficaram escutando a gente... De novo?
- Não tenho culpa que quase derrubaram a parede do quarto.
- Quem derrubou que parede? – Sam, o intruso, resolveu se infiltrar na conversa.
- Vocês. – Dei de ombros enquanto pegava meu prato com Dean.
Sam só me lançou um olhar meio indignado, mas pensando no que ia fazer. Balançou a cabeça e começou a sorrir.
- Ok... Caso. Vocês leram os arquivos?
- Sim, e a única coisa útil que achamos foi... – E Dean limpou a garganta, fazendo pose de pessoa séria logo em seguida. – "Morte por mutilação".
- Sério? – e Sam pareciam indignados com aquilo.
Eu e Dean só concordamos com a cabeça.
- Então temos que pensar que tipos de criaturas mutilariam alguém. – Sam comentou já pensativo.
- Cães do inferno. – Dean disse novamente com seu sorriso enorme no rosto.
Nós três só nos limitamos a rolar os olhos.

- Pode ser tudo... – resmungou depois de horas enfiados no mesmo quarto e mergulhados em computadores, livros, papéis, diários e afins. – Desde vampiros até lendas urbanas! Não me impressionaria nem um pouco se houvesse uma lenda de um lobo que aparece no meio da noite e mutila as pessoas andando pela estrada.
- Criativo... – Comentei de volta e ela só sorriu. Dean e Sam ficaram olhando para nós.
- Então vocês esperam que a gente faça o quê? – Dean perguntou com uma sobrancelha erguida e aquela típica pose de "vocês estão me desafiando e eu não estou feliz com isso".
- Eu tenho uma idéia meio louca... – comentou se sentando na cama e olhando para os dois. sempre tinha ideias loucas... Mas geniais. E eu não podia fazer nada contra isso.
- Qualquer idéia que seja, eu aceito. – Já falei antes que eles pudessem reclamar de qualquer coisa.
- Obrigada. Então a minha idéia é: isca. – E ela deu aquele sorriso imenso de . – Alguém fica como isca na estrada e os outros escondidos em lugares estratégicos e, quando a criatura aparecer, atacamos.
- E como vamos atacar se não sabemos que tipo de arma usar? – Sam perguntou questionando a lógica falha do plano.
- Simples... – Levantei da minha cadeira e peguei a mala embaixo da cama, abrindo-a. – A gente leva tudo.
- Ok. Se a gente for fazer isso mesmo... – Dean comentou já gostando da idéia. – Como vamos escolher a isca?
- Sorteio! – disse toda alegre que a idéia dela foi aceita e já saiu correndo pelo quarto para escrever nomes em pedacinhos de papel. Em seguida, dobrou-os e balançou na mão. – Sam, tira um!
E Sam pegou o fatídico papel.

- Por que eu?! – Dean perguntou pela centésima quinta vez.
Sem brincadeira, ele foi o caminho inteiro perguntando. Tipo o burro do Shrek.
- Porque o papel te escolheu, Dean. – era a única que ainda tinha paciência de discutir com ele. Eu e Sam já estávamos cogitando dar com a mala de armas naquela cabecinha dura do Dean. – É o destino.
Dean simplesmente se emburrou e cruzou os braços, observando enquanto nós pegávamos as armas dentro da mala: pistolas, munição de sal, prata, facas, facas de prata, sangue de homem morto, sal grosso, barras de ferro... Enfim, tudo que conseguimos pensar. Só não me deixaram pegar meu rifle e aquilo me deixou muito triste.
O que foi? É arma de estimação, ok?
- A gente vai se espalhar, mas qualquer coisa a gente te salva, amor. – Porque alguém tinha que tentar tirar o bico de Dean do rosto. Afinal, ele precisava agir casualmente. E eu também estava com dó dele, coitado. Parecia que o destino sempre conspirava contra ele.
- Só tenta chegar antes de me dilacerarem, "amor". – Dean ainda estava com aquele bico.
Acho que o mau humor dele passou quando o beijei. Simplesmente porque quando saí andando, a cara de bobo confuso de Dean era impagável.
Eu, e Sam combinamos onde íamos ficar. Dean não conseguia mais nos ver e começou a fingir que vagava sem rumo pela beira da estrada. Fiquei abaixada em meu lugar, porém como a noite foi passando, cansei e acabei sentando. Tentei ver se enxergava e Sam a fim de checar se eles estavam tão entediados quanto eu, mas não conseguia vê-los.
Bom, pelo menos conseguia ver que Dean também estava entediado. O vento batia em nós, a noite ia ficando cada vez mais escura... E nada. Guardei a faca dentro da bota e fiquei brincando de desenhar na areia, até ver que Dean ficou alarmado.
Mas ele ficava alarmado com tudo, então aquele não era um fato inédito.
Até que eu escutei um barulho também. Podia ser só um lobo nos caçando – e realmente, parecia o barulho de um animal rondando alguma coisa – porém foi ficando mais próximo. Percebi que logo a coisa ia atacar Dean.
Senti o clima ficando tenso. Não só em mim, mas de repente sabia que nós quatro estávamos tensos. Quase podia sentir todo mundo segurando a respiração na esperança que a coisa atacasse Dean e no medo de não agirmos rápido demais para salvá-lo.
Se você acha que se sentir triste dá angústia, tente ter sentimentos tão ambíguos quanto esperança e medo ao mesmo tempo.
De repente, a coisa começou a correr. Esperamos ainda mais um pouco, porém eu já estava abaixada e prestes a correr, com a minha faca em mãos. Foi quando a criatura surgiu, pulando em cima Dean, vinda de uma colina atrás dele.
Não pensei duas vezes. Nem consegui ver direito o que estava atacando, mas quando o vi estatelado no chão e lutando... Não consegui ter outra reação que não fosse correr até eles com um ódio mortal e me jogar em cima daquela coisa, rolando com ela para longe de Dean.
E daí você deve estar pensando "pelo amor de Deus, mulher, por que diabos você se jogou em cima do negócio quando você tinha uma faca de prata na mão"?
Porque enquanto eu me aproximava, vi que era só uma mulher.
Sim, uma mulher em cima do meu Dean tentando desmembrá-lo. Mas isso a gente releva.
Essa mulher, porém, não era normal. Quando vi o que ela estava tentando fazer, duvidei entre vampiro e lobisomem. Ao ver os olhos dela, aquela coisa era um lobisomem. Chequei em volta e nada de ou Sam, que estavam com a droga da arma com bala de prata.
Então a única opção que vi foi me jogar em cima da coisa.
- ! Para de se mexer! – Ah, ok. Bem fácil, .
(Eu não falei por mal, você quer parar de ser crítica? Além disso, já tentou atirar em alguma coisa sem saber se vai acertar o lobisomem ou a sua irmã?)
Tenho que parar de deixar esse diário em qualquer lugar. Mas enfim, bem fácil falar pra parar de se mexer enquanto um lobisomem sanguinário quer arrancar seu coração do seu peito.
E daí a fez a coisa mais incrível da face da Terra. Consegui colocar meu pé na barriga da mulher e distanciá-la de mim, segurando os braços daquela desvairada. Dean a puxou pelos ombros tentando fazê-la me largar e eis que , em uma distância consideravelmente grande e impossível de dar um bom tiro, atirou.
Sinceramente, eu tive medo de morrer, desculpa . Senti uma coisa quente caindo em meu ombro e, quando abri os olhos, notei que tinha sangue caindo na minha blusa. Quando olhei para o lobisomem em cima de mim, tinha acertado o ombro dela.
O ombro. Daí você pensa "Ah, mas não foi o coração". É, mas para acertar o coração ela teria que ser uma coisa do tipo Alan Quatermain do filme A Liga Extraordinária. Só que ela acertou o ombro, o que foi uma coisa quase tão incrível quanto o cara do filme.
O lobisomem gritou e saiu correndo em desespero. Dean me ajudou a sentar no chão e nós dois olhamos para .
- Meu... Como? – Perguntei sinceramente impressionada. só sorria de alegria da própria proeza.
- Bom, já sabemos com o que estamos lidando... – Sam surgiu de algum lugar que não conseguimos ver. – Lobisomens.
- E eu posso saber onde o senhor estava? – Dean perguntou me ajudando a levantar. Que bom, agora eu estava suja de sangue, areia e suor.
- Eu fiquei... Preso... Em um arbusto de espinhos... – Sam disse um pouco envergonhado e com sua expressão de vazio. Só de olhar para a gente, já suspirou e saiu andando para o carro.
E começamos a, literalmente, dar gargalhadas dele.

- Olá, garoto do arbusto de espinhos! – Foi só eu avistar Sam sozinho na lanchonete que não resisti ir perturbá-lo.
Dean tinha ficado tão cansado ontem à noite, que resolvi sair para comer sozinha e fazer algumas pesquisas para tentar descobrir quem era a mulher. E ok, verdade seja dita, eu fiquei com dó de acordá-lo quando o vi dormindo tão serenamente.
O mesmo aconteceu com . Fui até o quarto dela perguntar se a criança queria ver junto, mas fazia tempo que não a via dormindo tão bem. Porém não encontrei Sam por lá e sabia que conseguiria achá-lo na lanchonete.
- Oi. – Ele respondeu rolando os olhos. Sentei em um banquinho ao lado dele.
- Então... O que faz você tão longe da minha irmã numa manhã tão bonita quanto esta?
- Eu te pergunto a mesma coisa.
- Mas eu perguntei antes. – Respondi piscando. Esse argumento de "perguntei antes" sempre vencia.

Que grande discussão para duas pessoas que queriam fazer Direito.

- Pensei em sair pra achar a mulher de ontem... – Sam respondeu terminando de tomar seu café. – E a tava dormindo tão bem que me deu dó de acordar.
- Sam... Nós temos mais em comum do que imaginei. – Disse de olhos semicerrados e ele sorriu de volta. Virei para a moça do balcão. – Café pra viagem, por favor.
- Eu estou com o Impala, quer dar uma volta comigo e ver o que descobrimos? – Sam perguntou e logo que meu café chegou, peguei o copo e entramos no carro.
- Sabe que o Dean vai te matar por pegar o carro dele. – Comentei fuçando as fitas do carro e colocando uma para tocar.
- O Dean não está aqui. – Sam respondeu rindo. – Está dormindo folgadamente enquanto estamos fazendo o nosso trabalho. Esquerda ou direita?
- Esquerda. – Respondi rindo da cara de alegre da pessoa gigante ao meu lado.

*Invasão da na coisa*

Primeiramente eu queria falar que nunca fiquei tão contente com um tiro na minha vida como naquele dia. E pra me comparar com o Quatermain, é porque eu atirei muito bem.
Agora mudando completamente de assunto... Peguei o diário para ver como a estava indo e achei que está justamente na parte em que os dois sumiram. Então estou aproveitando que ela está tomando banho e Dean me deixou entrar no quarto para escrever o nosso ponto de vista da história.
Lá estava eu, feliz da vida na minha caminha (depois de uma noite maravilhosa com o Sam, diga-se de passagem) e comecei a tatear o colchão procurando o meu homem para abraçar. Ele é uma pessoa muito gostosa de abraçar, morram de inveja.
E me dei conta que ele não estava lá. Abri os olhos e não vi sinal de Sam na cama. Sentei e me estiquei para ver se ele estava no banheiro e nada. Achei muito estranho e comecei a colocar minhas roupas, percebendo que as dele não estavam lá. Fiquei pensando se ele e o Dean tinham enlouquecido e ido embora de repente.
Por isso mesmo, fui até o quarto ao lado e bati na porta insistentemente, sabendo que a é uma desgraça para acordar a qualquer hora do dia. Simplesmente aquela criatura tem a habilidade de se encostar em qualquer lugar e hibernar. Sim, ela não dorme, minha querida irmãzinha hiberna que nem um urso polar.
Para a minha surpresa, Dean abriu a porta.
- ...? – Ele perguntou confuso. – Cadê a ?
- Não sei! – Respondi também surpresa. – Pra falar a verdade, esperava encontrá-la aqui e não você!
- Por quê?
- O Sam também ta sumido! – Foi só aí nessa parte da conversa que eu me toquei que Dean estava embrulhado em um lençol.

Ele deve ter percebido, já que eu fiquei encarando com uma sobrancelha erguida.

- Entra e me explica. Eu vou me trocar.
Dizendo isso, entrei no quarto e sentei em uma das cadeiras da sala – me recusava a sentar na cama – e fui contando a minha manhã enquanto Dean escutava tudo trancado no banheiro e se trocava.
- Ok. Provavelmente os dois estão na lanchonete, vamos atrás deles. – Dean saiu do banheiro ajeitando a jaqueta e pegando alguma coisa ao lado da porta.
Ou melhor, pensando pegar alguma coisa.
- Cara... Cadê as chaves do meu carro? – Nem preciso falar que ele ficou estático e completamente aterrorizado, preciso?
- Vamos com o nosso. O Sam provavelmente pegou o Impala. – Resolvi sair vasculhando o quarto pelas chaves. Dean suspirou.
- A levou o Ninety-Eight. Eu tenho certeza.
Era incrível, aquele homem parecia conhecer mais as reações da minha irmã do que eu mesma. Precisava ficar de olho nele, aquilo estava me dando medo.
- Então... Parece que vamos ter que ir a pé! – Comentei já saindo do quarto. Dean trancou a porta e começou a caminhar, emburrado.
- Que alegria. Eu mato o Sam. – E mais incrível ainda, ele parecia ser mais emburrado ainda que a .
E eu achava que aquilo era humanamente impossível.

Que amor. Dean e unidos pra esganar eu e Sam.
Continuando... Sam rodou as ruas durante bastante tempo até, mas não chegamos à conclusão nenhuma. Não vimos ninguém andando pela rua que pudesse ser o lobisomem. Na verdade, vimos uma ou duas mulheres que eram realmente parecidas, mas ao observarmos melhor, vimos que não era ela.
- Eu acho que podíamos parar um pouco. – Suspirei um pouco derrotada. Meu rosto voltou a arder de ontem, pois a mulher deixou três belos arranhões na minha bochecha. É, eu estava uma belezoca.
- Bom... Eu concordo com você. Aquele bar parece ser bom. – Sam comentou e encarei o bar. Sinceramente, a definição dele e de Dean sobre algo bom era muito relativa. Seguia uma simples regra: não estava destruído? Então era bom.
Mas não reclamei. Só chequei o horário para ver se não era cedo demais para beber e arriscar correndo atrás de nós a fim de arrancar nossos fígados a unhadas. Mas já era meio dia e meio, portanto não era tão cedo assim.
Entramos no bar e imediatamente me senti em um mundo além. Não havia muitas pessoas por lá, porém os homens que habitavam aquele local tinham barbas enormes e chapéus de cowboy ou coisas do tema.
- Duas palavras... ZZ Top. – Sam sussurrou para mim e tive que me segurar para não rir. Nunca me senti tanto no Texas quanto naquele momento.
- Olá! O que o casal vai querer?
Já íamos virar e explicar para a moça do bar que não éramos um casal – daquela maneira estranha e sem jeito que só eu e Sam tínhamos a habilidade de fazer – porém quando a vimos, ficamos mais sem jeito ainda, só sorrindo nervosamente.
Tínhamos achado nosso lobisomem.

*Voltando com a invasão da *

Só de vez em quando eu tenho a oportunidade de invadir a parte dela. Então vou ter que interromper relatos importantes de vez em quando.
E minha parte é mais importante.
- Será que eles foram muito longe? – Eu não era muito de reclamar, mas os dois tinham nos deixado sem carro. Aquilo tirava qualquer um do nirvana.
- Espero que não. – Dean comentou suspirando. – Pelo menos estamos em uma cidade pequena.
Não consegui ficar sem encará-lo impressionadamente.
- Que foi?
- É minha impressão ou essa foi a sua primeira frase otimista sem seu carro por perto? – Acho que a minha cara estava tão engraçada que Dean começou a rir de mim. Ele continuou observando o caminho.
- É... Acho que foi sim. – Ele comentou ainda sorrindo. – Um acontecimento de um em um milhão.
Dean era fofo. Ele podia negar ao extremo e tentar parecer o irmão sério e maduro, mas no fundo ele é uma pessoa muito fofa. Sabia que ele era engraçado, mas agora esperava ansiosamente para ver o lado bobão e fofo daquele homem que eu sabia que estava em algum lugar.
Enquanto estava imersa em meus pensamentos, Dean parou de andar de repente. Quando olhei pra criatura, ele estava com lágrimas nos olhos.
- Ah, meu amor... Eu prometo que nunca mais vou te deixar! – Dean disse e saiu andando rapidamente para algum lugar.
E ao invés de ver a minha irmã do outro lado, lá estava o amado Impala de Dean Winchester.

- Jack Daniels. – Foi a única coisa que eu consegui pensar em dizer naquele momento.
Antes de qualquer coisa, agradeço os pensamentos, . Mas não existe coisa que o Dean ame mais nesse mundo que não seja o Impala.
A mulher sorriu para nós e saiu procurando o whisky. Eu e Sam trocamos olhares. Era incrível como podíamos estar com o mesmo sorriso idiota e sem jeito estampados no rosto. Sam imediatamente agarrou a minha mão e nós sentamos nos banquinhos do bar.
- O que a gente faz? – Cheguei perto dele e perguntei um tanto desesperada. – Não vou atirar nela no meio do bar!
- Não vamos atirar nela no meio da cidade também! – Ele respondeu parecendo tão desesperado quanto eu. Sam lançou um olhar nervoso para ela.
- Ta tudo bem?
- Oi...? – Ele voltou os olhos para mim. Só me limitei a levantar uma sobrancelha. – Não, sim, ta tudo bem...
- Não parece. – Se ele achava que ia me convencer com um argumento tão bom quanto aquele...
- Pronto. Querem mais alguma coisa? – Ela perguntou simpaticamente. Fizemos que não com a cabeça e ela se distanciou para atender um dos homens barbudos. Dava até dó de ter que atirar em uma mulher tão simpática quanto ela.
Quando voltei a olhar para Sam, ele estava virando a dose inteira. De Jack Daniels.
Não pude deixar de ficar impressionada.
- Ok... Eu vou fingir que está tudo bem junto com você. – Respondi enquanto ele colocava o copo no balcão. Peguei meu copo e virei a dose tão rapidamente quanto Sam, colocando meu copo ao lado do dele.
- Nossa. – E Sam parecia impressionado que eu tinha virado um copo de whisky. Não é uma coisa tão simples assim de se fazer e acho que agora ele entendia o motivo da minha preocupação. – Ok, eu tive problemas com um lobisomem uma vez... Era uma mulher também e eu... Gostava dela.
- Ah, entendi. – Só de ver a dor estampada no rosto de Sam, percebi que ele teve que matá-la no final da história. – Você não quer criar sentimentos novamente.
- É. – Ele respondeu aliviado e sorrindo para mim.
Então não vimos outra opção que não fosse deixar o dinheiro no balcão e sair correndo de lá antes que a mulher viesse conversar conosco novamente.
E demos de cara com Dean quase abraçado no Impala e de braços cruzados rindo daquela cena no mínimo bizarra.
- E você nunca mais rouba o meu carro! – Dean apontou para o irmão. Sam só levantou a sobrancelha e sacou as chaves do Impala. Nós entramos sem explicar nada.
e Dean trocaram olhares e entraram no carro logo em seguida.
- Estão fugindo de quem? – perguntou se debruçando para frente, a fim de falar melhor com a gente.
- Achamos o lobisomem. – Sam disse e saiu dirigindo para longe.
- E ela atacou? – Dean perguntou curioso. Afinal, não tínhamos motivos muito aparentes para sair correndo daquele jeito.
- Não. – Respondi dando de ombros. – Mas ela era muito legal. Demais até.
Lobisomens não se lembram do que fazem quando estão transformados. Então veja bem, meu querido leitor, aquela mulher do bar não tinha a menor idéia do que estava fazendo. Conscientemente, ela não era um monstro. Se você for um caçador ou não, saiba que encontrar um lobisomem em sua forma humana e saber que você tem que matá-lo – ainda mais quando a pessoa for simpática – é uma coisa para realmente se ter medo. Por isso que estávamos correndo daquela maneira.

* tomando conta do diário*
Só estou tomando conta, pois nessa parte da história a sumiu.

É. Sumiu. E você deve estar se perguntando como. Senta aí que eu te explico, meu amigo, e você vai entender porque eu quis esganar aquela criatura que ainda chamo de irmã.
Lá estávamos nós pacatamente em nossos respectivos quartos. Como o Sam é um fofo, nós nos sentamos na cama e ficamos assistindo seriados e comendo sorvete. Eu nem sei o que a e o Dean estavam fazendo, mas provavelmente deviam estar se matando.
Porque eles não são fofos que nem eu e o Sam.
Enfim. Começou a me bater aquele sono de fim de tarde – estávamos esperando a noite chegar para irmos caçar o lobisomem e terminar isso logo de uma vez – e eu tive a brilhante idéia de deitar com a cabeça no ombro do Sam.
E que ombro. Ainda bem que ele estava meio esparramado na cama, ou não conseguiria alcançar. Há de convir comigo que o homem é meio gigante, mas nada que eu reclame demais. Quando apoiei no ombro dele... Capotei. Foi uma coisa meio mágica até, ele inteiro é mágico.
Sim, eu sou uma pessoa boba apaixonada.

Bom, resumindo: a noite chegou, pegamos nossas coisas, enfiamos nos carros e fomos até a estrada que Dean e mapearam e concluíram que seria a zona de ataque do lobisomem (sim, enquanto a gente estava fofamente comendo sorvete e capotando, os dois estavam analisando mapas e trabalhando. Que romântico).
- E eu vou servir de isca de novo? – Não sei o motivo de Dean odiar tanto a idéia. Da última vez que eu chequei, a tinha dado uma voadora num lobisomem pra salvar a vida dele e eu dei o tiro mais incrível da História da humanidade.
- A gente tirou no papel, Dean. – Respondi compreensivamente, tentando não rir do bico que ele fazia. – Você não pode discutir com o oráculo do papel.
- É o destino. – Sam respondeu claramente rindo da cara do irmão. Bom... Valeu a intenção de me ajudar.
- Se o destino não te prender em um arbusto de novo... – Dean disse rolando os olhos e eu não pude deixar de rir da cara que Sam fez em seguida. – Então vamos repassar... , você vai ficar pra leste, Sam fica com o norte e ...
Como a criatura não deu sinal de vida ao ser chamada, olhamos em volta.
E nada. A tinha sumido.
- ? – Dean perguntou ainda a procurando. Ficamos em silêncio. – Será que o lobisomem...
- Não. – Eu disse imediatamente, nem querendo pensar naquela possibilidade. Poxa, o Dean podia ter mais coração e não cogitar uma coisa daquelas na minha frente! – Não. Se o lobisomem tivesse aparecido, ela teria gritado, atirado, feito o maior escândalo...
- Ele pode ter chegado silenciosamente...
- Não, Sam! Não aconteceu nada! – Será que nem ele tinha entendido?! Quando o Dean sumisse, ia ficar dançando na frente dele também falando que o irmão tinha tido o coração arrancado e devorado por um lobisomem, quero ver se ele ia ficar feliz. – Ela está bem! Vão para os seus cantos fazer alguma coisa de útil!
Carreguei minha arma e saí andando para o meu esconderijo no deserto.
- O que a gente fez dessa vez? – Ouvi um Dean perplexo perguntando enquanto os dois me observavam.
- Eu não faço a menor idéia. – Sam comentou e eu quase podia ver sua cara de bobo e a sobrancelha erguida.
Sentei no meu cantinho – com cuidado para não ficar muito perto dos arbustos com espinhos – e resolvi esperar calmamente. A ia aparecer. Normalmente quando sumia de repente, é porque tinha um plano muito do mal e precisava se focar, além de ficar sozinha, para conseguir colocá-lo em prática.
Vi Sam se escondendo em seu canto, porém sem antes lançar um olhar para onde eu estava, sem conseguir me ver. Sinceramente, me senti um pouco culpada. Não queria ser grossa com ele, mas os dois precisavam entender. Suspirei. Ia demorar muito tempo para aprendermos a conviver juntos. Aquilo ia dar trabalho e requisitar muita paciência de todas as partes.
Dean enfiou as mãos nos bolsos e começou a caminhar sem rumo. Ele não era uma pessoa fácil de lidar. Nem eu. Muito menos . E Sam menos ainda. Percebi que éramos quatro pessoas inconsequentes com passados sofridos tentando confiar nas outras e começar a construir uma vida. Aquilo me pegou tão de repente, que fiquei observando Dean com os olhos arregalados. A gente estava construindo alguma coisa. Uma vida, uma história, o que quer que fosse. Não conseguia nem nos imaginar juntos durante um ano, portanto nos imaginar... Casados era estranho demais.
Balancei a cabeça. Não era hora de pensar nessas coisas. Principalmente depois que ouvi o barulho de alguma coisa espreitando. Era agora, o lobisomem atacaria, nós mataríamos e veríamos o que faríamos da nossa vida depois. O nosso futuro era tão incerto, que simplesmente não dava para ficar imaginando-o.
E por que eu falo que é incerto? Bom, o lobisomem atacou.
O Sam.
- DROGA! – Só quando ouvimos Sam gritar e começar a lutar, eu e Dean tomamos uma atitude. Atirei na direção em que o meu... Hmmm... Namorado estava (agora entendi porque a estava pegando no pé por causa do termo) e o lobisomem se assustou.
E saiu correndo atrás de mim.
- Ok, . Não foi a coisa mais inteligente a se fazer. – Comentei comigo mesma ao ver aquela mulher correndo desvairadamente com o olhar mortal na minha direção. Sai correndo atrás de Dean. – DEAAAAAN! Faz alguma coisa!
- O que você quer que eu faça?! – Dean perguntou irritado. Se ele estava irritado, imagina eu! – Não tenho nenhuma arma! SAAAAM! Sua mulher ta em perigo!
- Eu já vi! – Sam gritou correndo até nós. Eu realmente não sabia o que fazer. Achei que todo mundo ia cair em cima de Dean e virar Mc lanche Feliz de lobisomem. E pela cara dele, a pessoa em questão também percebeu isso. – Não consigo atirar! Essa vadia machucou meu braço!
Foi só Sam falar que virei imediatamente para ele, afinal fiquei preocupada. Infelizmente, a vadia em questão me alcançou no exato momento e se jogou em cima de mim. Pelo menos Dean conseguiu arrancá-la de mim e me ajudou a levantar enquanto Sam lutava contra o lobisomem.
- Cadê sua arma? – Dean me perguntou, segurando-me pelos ombros. Eu estava meio atordoada, mas não sabia o motivo.
Só quando passei a mão pelas minhas costas é que notei o tanto de sangue que estava escorrendo. Dean olhou aterrorizado para a minha mão e depois para mim. O lobisomem conseguiu se desvencilhar de Sam e veio correndo atrás de mim, porém Dean se colocou na frente e teve o braço arranhado. Sam agarrou aquela maluca novamente e a jogou para longe.
Foi quando ouvimos um tiro.

E é aí que eu volto para a minha parte do diário. Eu sumi, pois tinha mandado arrumar o meu rifle mais cedo naquele dia. Como disse anteriormente, Texas era o único estado que você podia andar por aí armado e ninguém dava a mínima.
Quando chegamos à estrada, sabia que ia ficar com o lado sul. Peguei o rifle e me separei do grupo, afinal, como explicou, eu precisava me focar. E ficar discutindo com eles não me adiantaria de nada.
Sentei na areia e deixei o rifle no meu colo, respirando fundo. Não poderia atirar neles, não poderia errar o tiro. Precisava escutar, precisava me acalmar.
Foi no meio dessa calma que comecei a ouvir passos me rondando. Não sei se a mulher se lembrava de mim, mas talvez seu lado lobisomem lembrasse que me joguei nela no dia anterior e do meu cheiro.
Fiquei em alerta. Quando os passos aumentaram a velocidade, levantei imediatamente e peguei o rifle, mas a arma foi jogada longe com um simples tapa. Antes de conseguir pegar minha faca, já senti meu rosto sendo arranhado e caí no chão. Peguei a faca que carregava sempre comigo e, pouco antes de ser atacada novamente, consegui arranhar o lobisomem.
A mulher parou imediatamente e olhou para mim. Talvez tenha se lembrado de quando fui ao bar com Sam mais cedo, mas nunca vou poder ter certeza. Ela me encarou um tanto... Chocada.
- Desculpa. – Eu tinha que falar. Não sei o motivo, mas olhar aqueles olhos arregalados me fez pedir desculpas. Desculpas por ter que tirar a vida dela.
E ela entendeu. Estiquei meu braço para pegar o rifle, mas o lobisomem arranhou minha perna, da coxa até um pouco abaixo do joelho. Me controlei para não gritar de dor e só consegui a ver correndo. Tentei mirar e atirar, mas não conseguia.
Levantei com dificuldade. Ela tinha arranhado a minha perna justamente para não segui-la. Mesmo assim, fez questão de não me matar. Por isso queria que a morte dela fosse rápida, sem dor.
Sentei novamente em meu lugar e esperei.
Achei que ela atacaria Dean, mas não. Quando menos esperava, o berro veio de Sam. E quando menos esperava, a situação toda estava fora de controle. estava correndo e gritando, o lobisomem a pegou e arranhou suas costas, Dean a protegeu, Sam a jogou para trás...
E essa foi a hora perfeita. Como já estava de pé, segurei o rifle e mirei. Quando ela ficou em uma distância decente de todo mundo, não pensei duas vezes. Atirei quando a minha mira atingiu seu coração.
Sai de onde estava para me encontrar com eles. Apoiei o rifle em meu ombro e comecei a andar com um pouco de dificuldade, o sangue ainda escorrendo em meu rosto. Finalmente aquela mulher poderia descansar em paz.
- ! Você está bem?! – perguntou completamente desesperada. Não existe pessoa mais desesperada que ela nesse mundo.
(Ah, obrigada. Você só aparece cheia de sangue no rosto e na perna, mancando e com um rifle nos ombros e é culpa minha ser desesperada.)
Ok. Não vou mentir que fiquei desesperada também quando todo mundo estava sendo atacado. Acho que ninguém conseguiu sair ileso naquele dia.
- Acho que a melhor pergunta é se todo mundo ta bem. – Sam comentou com um pequeno sorriso no rosto e isso nos fez perceber que todos estavam em um estado meio deplorável. Começamos a rir.
- Vamos para o hotel... – Dean comentou ainda rindo e passou o braço pelos meus ombros enquanto Sam ajudava .

Ficamos ainda um tempo sentados na sarjeta, na rua da frente do hotel. Dean resgatara cervejas que ainda sobraram na geladeira, portanto não tinha como terminar aquela noite melhor.
- Ela era legal. – Sam suspirou. Ficamos um tempo pensando naquilo. Pensei em como ela não quis me matar ao ver meu rosto.
- Às vezes é melhor assim. – comentou tomando mais um gole de sua cerveja. – Ela só ia sofrer ao ficar se transformando.
- Pela nossa moça do bar que nem sabíamos o nome. – Dean disse levantando a garrafa e brindamos em nome dela.
- Sabe o que ta faltando? – Perguntei olhando para o céu. – Pizza. Estou morrendo de fome.
- Hmmm, é verdade! – já disse com os olhos brilhantes. É, pelo visto não era só eu a única faminta. – E sorvete!
- E Bon Jovi. – Ok, preciso admitir que essa foi mais pra irritar o Dean do que qualquer outra coisa. E também porque eu sou platonicamente apaixonada pela banda, me processe.
- Bon Jovi? – Dean perguntou indignado. Eu me segurei para não rir. – Tanta coisa no mundo pra ouvir e você quer ouvir... Isso?
- Não desmereça meu Bon Jovi, Dean. É um aviso. – Aí eu já não conseguia me segurar e estava rindo.
- É um caminho que você não vai querer tomar, acredite. – me apoiou, piscando para mim. Pelo jeito, eu não era a única que queria brincar com Dean.
- Você tem que admitir que as músicas são muito boas. – Sam comentou tomando sua cerveja e rindo junto comigo. – O coração de todo mundo tem um lugar reservado para as músicas deles.
Dean só rolou os olhos. Nós trocamos olhares. Ele olhou para nós.
- Não. Não. Não, não, não, nem pensem...
- OOOOOOOOOOOH, We’re half way there… OOOOOOH LIVIN’ ON A PRAYER!
Porque não resistimos ao impulso de gritar na orelha de Dean uma das músicas que mais perturbava a criatura. Ele literalmente saiu correndo e reclamando enquanto nós três alegres ficamos rindo na sarjeta durante uma boa meia hora até voltamos para nossos quartos a fim de tomar banho e dormirmos.

Bom... Esse foi nosso primeiro caso juntos. É esquisito tentar viver em conjunto e mudar uma rotina que estávamos acostumados a ter durante anos. É estranho acordar com Dean ao meu lado e posso dizer que o sentimento é recíproco.
É mais estranho ainda dar de cara com ele saindo do banheiro embrulhado em sua toalha. Não posso deixar de sorrir com essa cena.

Portanto, querido leitor, tenho que tomar um banho e tirar todo esse sangue pra depois agarrar meu homem se ele ainda estiver acordado. E se Dean não estiver acordado, bom... Vai acordar comigo cantando Bon Jovi na orelha dele. De novo.





Black Dog – Led Zeppelin

- Dean! – conseguiu ouvir gritar logo que a irmã entrou em casa com o rifle. – Eu quase atirei em você!
entrou na casa, com Jimmy e Mary em seu encalço. Ainda estava com a arma apontada, mas ao ver a irmã abraçando Dean e contente que ele estava vivo, começou a sorrir e abaixou a arma.
- Desculpa não avisar... – Sam surgiu perto dela e não pensou duas vezes: agarrou-o e o beijou.
Mary e Jimmy só observavam a cena.
- O que vocês estão fazendo aqui? – perguntou, já que a irmã estava mais ocupada.
- Ficamos preocupados. – Dean começou a explicar calmamente, porém checando a janela de dois em dois segundos. Ela se perguntava qual era o problema dele. – A gente estava caçando e nossos telefones foram roubados. Quando encontramos as bruxas, elas disseram que estavam mandando... Coisas atrás de vocês.
- Bom, eu e a estamos aqui. E como deu pra perceber, a criança ainda tem o rifle. – comentou ainda abraçada com Sam e apontando a arma que a irmã ainda carregava. – Conseguimos nos proteger ainda.
- Não foi só isso... – Sam comentou suspirando. Também checava a janela. – Elas falaram que tinham os nomes de vocês... Além dos nomes da Mary e do Jimmy.
As duas ficaram estáticas.
- Elas não iam nem se atrever a encostar um dedo nos nossos filhos. – comentou com um olhar literalmente assustador. Jimmy imaginou como ela devia ser mais assustadora ainda quando estava caçando.
- Mas eram bruxas? – perguntou brava, porém ainda sem entrar em pânico. – Há de convir comigo que existem coisas mais perigosas lá fora.
- Aí é que está o problema... – Dean tentou explicar com calma. – Elas têm amigos. Do tipo lobisomens, vampiros, skinwalkers... Pelo visto, existe um fã clube contra a gente aí fora e elas demoraram todo esse tempo para nos atacarem.
- Calma. Calma... – tentava montar tudo aquilo em sua cabeça para que fizesse sentido. – Quer dizer então que duas bruxas fundaram um fã clube anti Winchester e esperaram esse tempo todo para tirar vocês de casa e atacar nós duas com os nossos filhos?
- Porque elas sabiam que a caçada ia ser uma distração pra vocês e que nós protegeríamos os nossos filhos, ficando vulneráveis e aumentando a probabilidade de nos matar! – concluiu o resto da história. Realmente, aquilo era ainda mais louco do que eles imaginaram.
- Exato. Achamos que ia ser só um caso simples e nem prestamos atenção nas coisas. Roubaram nossos celulares para vocês acharem que estávamos mortos. – Sam comentou tentando explicar o resto. Não conseguia parar de checar a janela.
- Sal grosso nas portas e janelas? – Jimmy se arriscou a perguntar. Os quatro olharam para ele e Mary. Quase esqueceram que os garotos estavam lá.
- Como vocês sabem disso? – Pergunta coordenada e em coro.
- A gente sabe o que vocês são. – Mary respondeu sorrindo e seguindo Jimmy até a cozinha. – Fizemos pesquisas!
- E nenhuma família normal tem um estoque tão grande de sal grosso! – Jimmy completou e os dois começaram a rir.
- Filhos são realmente criaturas surpreendentes... – conseguiu comunicar o que todos estavam pensando.

- Pode colocar bastante, tem sal pra vida toda nessa casa. – disse para Mary que não queria gastar tanto sal assim. – Tem mais até do que na minha casa.
- ... Sem começar o discurso que eu sou neurótica e agressiva... – comentou voltando para a sala com mais um pacote de sal e o rifle apoiado nos ombros. – Porque eu sou mesmo. Jimmy! Reforça a porta!
- Ok, mãe! – Jimmy pegou o pacote e começou a colocar mais sal na porta da frente. – Onde estão o pai e o tio Sam?
- Na cozinha. – respondeu checando o lado de fora para ver se não havia nada espreitando. – Estão arrumando algumas... Coisas. E não é pra vocês entrarem lá.
E teve que segurar Mary pelo colarinho da blusa. Se a garota tivesse entrado na cozinha, teria encontrado seus pais preparando armas, estacas e facas embebidas em sangue. Sabiam que teriam que proteger a casa com todas as forças, pois não tinham para onde ir em tão pouco tempo sem serem atacados no meio do caminho.
- Ah, mãe! Eu já terminei com o sal, quero ajudar o pai também...
- Mary Winchester, sem discussões agora. Você sabe o que a gente...
foi interrompida por um estrondo de madeira quebrando e a irmã dando um grito. Quando as duas olharam para a porta, um homem alto e com marcas que pareciam tatuagens entrou na casa e estava estatelada no chão junto com Jimmy.
- Mãe! Você está bem?! – O garoto se sentou no chão e puxou a mãe junto.
- Vai pro quarto, Jimmy! – se levantou e puxou o garoto, já apontando o rifle para o homem tatuado no meio da sala. – Leva a Mary!
- Agora vocês dois! Sem discutir! – empurrou Mary na direção da escada enquanto fazia o mesmo com o filho. – E não se esqueçam do sal!
- Mas...! – Os dois já iam discutir, mas elas só precisaram olhar para fazer com que eles se calassem e subissem as escadas correndo.
Foi só os dois subirem que entraram mais dois homens, também altos e tatuados. De repente, seus olhos brilharam em um tom forte de azul. Sam só olhou para a sala.
- Djinns, Dean! Onde ta o sangue de cordeiro? – Sam perguntou e Dean já foi tirando mais dois potes de sangue da geladeira. Mergulharam três facas e correram para a sala.
- Eu só vou falar uma vez... – Dean disse brandindo a faca e parando ao lado da esposa. – Aqui não é convenção das coisas bizarras que querem matar os Winchesters. Então saiam da minha casa antes que a gente acabe com vocês.
- Ah, ele se acha tão assustador. – O primeiro Djinn disse como se Dean fosse uma criança que nunca caçara na vida.
- É melhor você sair mesmo, antes que eu arranque a sua cabeça com essa faca! – disse entre os dentes, quase como um rosnado.
Os Djinns pararam de sorrir. Quase que imediatamente, partiram para cima dos quatro.

- Já é a terceira vez que eu escuto meus pais gritarem, Jimmy! – Mary comentou sentada na cama do garoto. A luta já durava há algum tempo e os dois não aguentavam mais ficar naquele segundo andar, trancados em um quarto rodeado de sal e ouvindo seus pais se matando no andar de baixo. – Precisamos fazer alguma coisa!
- Eu to tentando pensar no que fazer, com você falando na minha orelha não me ajuda muito! – O garoto respondeu e ouviu gritar no andar de baixo. – E a minha mãe gritando ajuda menos ainda... Já sei! Quarto dos meus pais!
- Ok... Hã? – Mary perguntou se levantando. – Você me perdeu agora e não ta fazendo o menor sentido!
- Meus pais devem ter pelo menos uma arma no quarto deles, neuróticos do jeito que são!
- Mas a gente não pode sair daqui! – Mary comentou como se ele tivesse esquecido.
- E desde quando a gente não pode?
- Desde que a casa foi atacada e nós estamos trancados em um quarto anti coisas sobrenaturais!
- Ok. Então se você tem medo, pode ficar aí no quarto... – E Jimmy abriu a porta, tomando cuidado para não furar a faixa de sal na frente desta. – Eu vou lá buscar as armas.
Mary bufou. Ela não podia ter tido um primo mais cabeça dura do que Jimmy. Também, com pais que nem Dean e , não esperava menos dele. Mas ela era filha de Sam e e sendo assim, juntou seu casaco e o pacote de sal e em poucos segundos estava de braços grudados com o garoto.
- Não vou deixar você se machucar no meio do caminho, idiota. – O comentário dela o fez sorrir enquanto caminhavam pelo corredor. – É bom acharmos essas porcarias dessas armas.

E a cena que se via na sala era de um Djinn morto no chão, sendo ajudada por Sam e Dean voando para o outro lado da sala, sendo jogado na parede e se estatelando no chão. saiu correndo imediatamente até ele.
- Ei... Ei! Você está bem?! – Ela perguntou pegando o rosto manchado de sangue de Dean nas mãos.
- Estou... Cadê a minha faca?! – Dean se sentou no chão e ela deu a faca de volta para ele. – Não vamos durar muito tempo, linda. Daqui a pouco vai chegar mais coisas e a gente não consegue sair de casa.
Ela não respondeu nada. Só segurou a mão dele.
E ouviram um grito do outro lado da sala.
- ! – Sam saiu correndo para ajudá-la, o que fez Dean e correrem imediatamente para segurar o Djinn que pensou em matar os dois.
- Malditos Djinns... – resmungava enquanto se levantava. – Será que eles pesquisaram as casas ou coisa do tipo? Parece que conhecem tudo por aqui, inferno! E eu perdi a minha faca!
- Então fica pra trás. Por favor, , não vai se meter a tentar lidar com eles na força. – Sam pediu, só que ela não prestou muita atenção. Segurou a mulher pelos ombros. – . Se controla, por favor. Qualquer coisa você vai lá em cima com a Mary e o Jimmy. Ok?
- Ok. – Ela disse depois de suspirar. – Agora vai fazer alguma coisa, nossos irmãos estão se matando aí atrás!
E Sam se virou para ajudar os dois. não ia ficar parada e foi para a cozinha a fim de reaver sua faca embebida em sangue. Aproveitou e pegou a faca que sempre carregava e mesmo após pararem um pouco de caçar, não tirava a faca da calça. Voltou para a sala e deu com Sam em uma parede com o Djinn o segurando pelo pescoço e Dean do outro lado da sala, protegendo que estava machucada.
- Tira a mão do meu homem! – gritou e imediatamente esfaqueou o Djinn que segurava Sam. A criatura nem teve tempo de pensar: em um momento estava matando e no outro estava morta.
O outro Djinn se voltou para eles. Não suportando a idéia de que os Winchesters estavam ganhando novamente, ficou cego de raiva. Dean e nem tiveram tempo para reagir, somente para gritar para e Sam tomarem cuidado. E, enquanto o Djinn atravessava a sala, ouviram tiros.
Olhando para escada, lá estavam Jimmy e Mary, parados um do lado do outro e prontos para atirar na primeira coisa que não fossem seus pais.
- Como se armas pudessem me matar. – O Djinn disse com uma risada e voltou correr na direção de . Mary correu para lá imediatamente, enquanto Jimmy foi ajudar seus pais.
Nesse momento, entrou mais alguém na casa. Nem conseguiram processar direito que criatura que era, mas o vulto alto e negro jogou o Djinn contra uma parede com uma força extraordinária e, usando a faca de que estava com , finalmente matou a criatura.
Mary não sabia quem ele era e muito menos Jimmy. Por esse motivo, quando o vulto começou a caminhar na direção de sua mãe, a garota se pôs na frente dela e apontou a arma – a centímetros do rosto da criatura – enquanto ele segurou o braço dela.
- NÃO! – Ninguém nunca soube se ela gritou para Mary não atirar ou para a criatura não quebrar o braço da garota. – Ele é nosso amigo!
Jimmy e Mary se limitaram a olhar incrédulos para aquele homem e seu sorriso sarcástico nos dentes brancos e pontiagudos.





Still of the Night – Whitesnake

Eu tenho que concordar que esse foi um dos casos mais assustadores das nossas vidas. Pelo menos até agora. Não é a toa que a disse que não ia conseguir dormir durante um mês. Já são dez horas da noite e ela ainda está lá fora com o carro.
Ok. Ela está meio chateada com o Dean, mas até eu estou. Então os dois não estão conversando muito. Na verdade, ela está lá fora enquanto o Dean a observa melancolicamente. Eu estou apoiada no Sam, tentando ignorar Sexta-Feira Treze passando na tela da T.V.
Mas enfim. O Dean. Sinceramente, eu espero que ele sofra. Afinal, ele foi o principal motivo do nosso carro virar uma pilha de destroços e lata velha. Já estamos na casa do Bobby – que deu uma bronca no Dean pelo que aconteceu – e sinceramente espero que dê pra consertar o carro. Se não...

Ok, você não deve estar entendendo nada. Calma que eu vou explicar.

Depois do nosso caso do lobisomem, vimos que numa cidade lá por perto parecia que estavam tendo problemas com aparições. Sendo assim, pegamos nossas coisas, jogamos nos carros e fomos para a cidade.

Só que dessa vez eu fui dirigindo.

- Você dirige que nem uma velha... – comentou quase dormindo ao meu lado. Já era noite e a estrada estava bem calma. E EU NÃO GOSTO DE CORRER.
- Já é a décima vez que você fala isso. – Comentei rolando os olhos. – Dá pra escutar sua música e parar de reclamar?
- Olha lá. Você consegue ver o carro deles? – Ela apontou e se ajeitou no banco, provavelmente pra não acabar dormindo de vez. Não era minha culpa que ela dormia se não estava dirigindo. – Não! Não consegue! E sabe por quê? Eles já devem até ter chegado lá!
- Problema deles! – Respondi dando de ombros. Logo em seguida, ri da criatura. – Você tem medo de montanha russa, mas adora correr com o carro? Essa eu realmente não entendo!
- O carrinho da montanha russa pode soltar e fazer você voar pelo parque inteiro antes que vire uma panqueca estraçalhada no chão!
- Obrigada pela imagem mental.
- De nada. – sorriu de volta. Às vezes eu tenho vontade de esganar aquela criaturinha.
– Mudando de assunto, eu vi que você estava com um bando de papéis aí. O que têm eles?
- Ah, os papéis... – Ela pareceu pega de surpresa. Achei esquisito, afinal, ela não se surpreendia com muita coisa. – Bom... Você sabe que eu comecei a caçar de repente, não é?
- Sei. E o que isso tem a ver com as coisas?
- Calma que eu chego lá, apressadinha. – Ela comentou e eu só sorri de volta. mexia nos papéis. – Então... Na mesma cidade, em regiões diferentes, duas pessoas foram achadas decapitadas.
- Vampiros?! – Ok, eu posso ter me empolgado um pouquinho. Ta, eu me empolguei demais. Não é minha culpa que estou assistindo muito True Blood.
- Esquece, criatura. O Eric não vai estar lá. – Não consegui evitar o biquinho que fiz. começou a rir. – Mas sei quem vai. Quando eu comecei, tinha um amigo... E bom, ele é um vampiro. Pronto. Falei.
- Você tem um amigo vampiro e nunca me contou?! – Eu estava escandalizada e dava altas gargalhadas. – SUA DESNATURADA!

O carro mudou de pista, mas logo fiz com que ele voltasse para o lugar. E aquela palhaça só rindo.

- Ele é diferente. Digamos que é um vampiro clássico. Presas, sarcástico, centenário, não fica muito no sol até a parte que eu sei e é literalmente medonho quando está caçando.
- E como você sabe que é ele?
- O corte das decapitações. Ainda não sabem do que é, mas eu tenho certeza que é uma espada. Que ele carrega desde que se dá por gente. – deu de ombros. Como ela podia dar de ombros? Isso era muito legal! – Só ia te pedir pra você não falar nada pro Sam nem pro Dean. Faz uns três anos que eu não vejo o William e espero encontrar a criatura sem ninguém tentando arrancar a cabeça dele.
- William? Esse é o nome dele?
- Pelo menos foi o que ele me falou. Se é o nome de verdade, aí são outros quinhentos.

E continuamos dirigindo pela noite só com o barulho da música no rádio. Aquilo era realmente empolgante. Além de conhecer um vampiro de verdade, era a primeira vez que íamos fazer alguma coisa “clandestina”, ou seja, ter que esconder do Sam e do Dean.
Eu sei, parece empolgação demais por uma coisa tão boba. Mas aquela idéia fazia com que eu me sentisse ninguém menos que Bond. James Bond. Em uma missão da Rainha da Sucata, . Porque de Rainha da Inglaterra ela não tem nada.

(Ah, obrigada. Adorei meu título de Rainha da Sucata, ô Princesa do Ferro Velho)

De empolgação, acabei até dirigindo mais rápido.


- Viu? Eu disse que eles já tinham chegado! – Foi a primeira coisa que a falou ao sair do carro e ver Dean e Sam nos esperando do lado de fora do motel.
- Filha, eu sobrevivo até espíritos vingativos. Morrer em um acidente de carro não é uma opção! – Quando vi que Dean estava rindo, sabia que ele concordava comigo.

Ponto pra !

- Mas enfim! Sammy, meu lindo, já reservou nosso quarto? – Perguntei com um sorriso imenso no rosto e já fui abraçar meu gigante, beijando-o em seguida. Sam só sorria que nem um bobo.
- Já. Dois quartos de casal, o nosso com a janela para os fundos do motel, sem barulhos e perturbações... – Aquela coisa enorme era tão fofa que já estava me abraçando e era eu que estava sorrindo que nem besta.
- Ah, para de romance barato vocês dois! – rolou os olhos e encarou Dean em seguida. – Do jeito que a gente é, nosso quarto é virado pra rua!
- Bingo. – Dean mostrou as chaves para ela. Eu só conseguia rir da cara dos dois. – Vai, amor. Você sabe que a nossa sorte é tão boa que é provável que caia um asteróide em cima do nosso quarto no meio da noite!
começou a rir junto com Dean. Eu ficava realmente feliz de ver que os dois conseguiam rir juntos, apesar daquela má sorte desgraçada. Abracei meu Sam e comecei a levá-lo em direção ao quarto. Afinal, já era tarde e todo mundo queria dormir.

Porém, antes de entrarmos em nossos quartos, segurei pelo braço.

- Trate de ser legal com o Dean. Se vamos fugir de vez em quando pra cuidar do caso do William, é bom você ser fofa com o seu namorado pra não levantarmos suspeitas. – Cochichei perto dela e só pude ouvi-la suspirando. entrou no quarto e a próxima coisa que ouvi foi “Dean, quer uma massagem?”

Aquela infeliz tinha roubado a minha idéia.

Mas tudo bem. Quem disse que eu não podia fazer o mesmo?

Sendo assim, entrei no meu quarto e vi Sam se preparando para tomar banho.
- ... Você viu meu celular por aí? – E mesmo ele sendo o mais organizado dos dois, ainda era um perdido. Eu só sorri com a visão daquela pessoa só de calças jeans caçando o celular por todo canto.

Sendo que estava na fuça dele, em cima da cama.

Eu sentei na mesma e peguei o celular, mostrando para Sam logo em seguida.
- Esse aqui, por um mero acaso? – Ele só me olhou não conseguindo acreditar e depois sorriu.
- E o que eu faria sem você pra achar coisas óbvias, não é? – Sam se apoiou na cama e me beijou, tentando pegar o celular logo em seguida.
Mas eu não deixei. E ainda aproveitei para puxá-lo e fazê-lo cair em cima da cama, subindo nele logo em seguida. Não era minha culpa que aquela era a única maneira eficaz de fazê-lo ficar no lugar.
- Sabe... Eu tenho que tomar banho. Não tomo desde ontem. – Ele tentava fazer descaso, mas estava sorrindo, todo feliz.
- Ah, mas eu estava pensando em te dar uma massagem... – Eu comentei toda manhosa, fazendo biquinho. Ele sorriu mais ainda e conseguiu trocar as posições, ficando em cima.
- Dá pra fazer durante o banho, não? – Sam me beijou mais uma vez e a próxima coisa que percebi era que estava sendo levantada da cama e sendo carregada até o banheiro, mesmo se eu não quisesse.

Como se eu tivesse capacidade de negar uma coisa daquelas.


E, como sempre, no dia seguinte, fomos parar no nosso QG: a lanchonete mais próxima (e mais barata) ao motel.
Sam já estava com um mapa da cidade aberto na mesa, com bolinhas vermelhas marcando aonde corpos tinham sido achados.

Como aquele garoto era dedicado.

Em uma notinha manchada de whisky, presa com um clipe no canto da página do diário: “ rindo horrores ao ler isso com Sam ao seu lado fazendo cara de poucos amigos para uma que conversa casualmente com Dean no sofá, sem fazer idéia do que se passa do outro lado da sala do Bobby”.

- Foram três mortes até agora. – Ele comentou enquanto apontava para os pontinhos. – Dois homens e uma mulher, a primeira vista com nada em comum.
- E fazendo coisas que não tinham nada em comum também. – Dean respondeu e começou a contar nos dedos, enquanto discretamente roubava pedaços da torta dele. Eu só me segurava para não rir. – O primeiro cara estava consertando a lancha em casa. A moça estava fazendo a corrida noturna diária, ou qualquer coisa do tipo. E o outro cara tava tomando uma cerveja e assistindo um filme em casa.
- Acho que a única coisa em comum é que estavam sozinhos. – deu de ombros, constatando o óbvio.

E ainda assim, Dean não descobriu que ela tinha furtado seu café.

- E como eles morreram? – Eu tinha que perguntar. Os três me lançaram olhares confusos. – Olha, nem todo mundo gosta de ficar vendo imagens de pessoas mortas e dilaceradas antes de dormir, ok?
- Eu achei que você também não gostasse de ver no café da manhã. – Dean lançou um sorriso para mim. Aquele sorriso de gente MALA.
- Não gosto de ver pessoas estraçalhadas. Ponto. – Coloquei meu garfo sobre o prato, finalmente terminando de comer. Só por causa disso estava pronta para as fotos. – Mas se é o trabalho, fazer o quê.
- Bom, as vítimas foram encontradas com lacerações severas nos pescoços. – Sam retirou as fotos de uma pastinha e eu pude ver aquela lindeza sanguinolenta. Às vezes me pergunto o que me levou a ser caçadora.

Não que eu me orgulhe disso, mas você só virou caçadora por causa de mim, sua linda irmã.

Como se eu não soubesse. Mas enfim, o Sam.

- Algumas marcas parecem de mordidas, outras de algum objeto cortante... Nem os legistas sabem ao certo o que cortou o pescoço das vítimas. – Sam analisava as fotos, apontando as lacerações.
- Mordidas? Então estamos lidando com o quê? Crepúsculo de novo?
Dean perguntou e eu engoli em seco. Na hora pensei no William. A tinha falado que ele era medonho quando estava caçando então será que aquilo era trabalho... Dele? E se estivéssemos caçando o Willaim e não uma aparição? Que partido íamos tomar?

Por esse motivo, olhei para um tanto alarmada.

E a criatura estava pacatamente tomando o café do Dean.

- Pode ser que sim. Mordidas no pescoço são bem específicas. – Ela deu de ombros.

Eu queria bater nela.

- Mas e as aparições? Algumas testemunhas disseram que viram uma figura evanescente, com roupas antigas e que causaram um sentimento ruim nelas. – Ah, então era por isso que ela estava tão calma.
Eu não li nem um pouco do caso. Queria ter uma boa noite de sono e se tivesse lido tudo aquilo, dormir era a última coisa que eu conseguiria fazer.
- Então... Um espírito vampiro? – Sam perguntou hesitante.

E não conseguimos ficar sem rir.

- Bom, se é a única opção que temos pra hoje... – Comentei ainda rindo. – Se for realmente isso, acho que vou começar a rir na cara do coitado!
- Como a gente se livra de um espírito vampiro?! – Dean perguntou indignado. Começamos a rir mais ainda.
Nesse momento, a garçonete começou a se aproximar. Portanto, guardamos as fotos, o mapa e fingimos que estávamos conversando sobre outra coisa enquanto ela tirava os pratos da mesa. Em um momento, Dean fez uma pergunta para e ela não respondeu.
- ? Está tudo bem?
- Oi, desculpa. Não escutei a sua pergunta... – Realmente, ela parecia meio abatida. E também parecia que estava suando frio. – Bom, já que você perguntou... Estou morrendo de cólica, Dean. Preciso voltar para o motel urgente e tomar um remédio pra melhorar.
- Ok. Eu te levo. – Dean estava quase levantando da mesa, mas ela o segurou pelo braço.
- Vamos fazer assim: você e o Sam vão para o necrotério falar com o médico legista e a me leva de volta. Quando eu melhorar, a gente liga pra vocês e nos encontramos, ok?
Depois de muito discutir, Dean aceitou com relutância. Mas até eu estava preocupada, porque gente... Cólicas matam.
Sendo assim, peguei as chaves do Ninety-Eight e caminhei com ela vagarosamente até sairmos da lanchonete. Chegando lá fora, ela pegou as chaves e começou a caminhar rapidamente para o carro.
- A gente vai atrás dos outros corpos. Os decapitados.

Ok. Tenho que admitir, aquela foi genial.

- Nossa. Até eu acreditei que você estava passando mal. – E ela começou a rir junto comigo. Estávamos super empolgadas de repente. – Mas e esses assassinatos? Na hora eu achei que tinha sido o William.
- Bom... Se você quer mesmo saber, aquilo parece coisa dele sim. – Ela comentou quase dando de ombros. E eu fiquei chocada. COMO ASSIM? E ela nem estava preocupada?! – Mas é tão estranho... Ele não faria aquilo com um ser humano, a não ser que estivesse com muita raiva. E bota raiva nisso.
- Nossa. Quando você fala assim eu até fico com medo. – Ok. Não consegui ficar sem brincar com ela e falar essa frase na minha melhor voz de Sidney Magal.
- Palhaça. – Mas estava rindo junto comigo.
E assim demos a nossa primeira escapada secreta dos irmãos Winchester.


*Sam invadindo o diário*
- Dean... Você quer parar de se preocupar? – Sério. Eu nunca vi o Dean tão quieto durante tanto tempo na vida dele.

Nem quando ele está pra morrer.

- Eu não to preocupado.
E aquele idiota ainda achava que conseguia me enganar. Ele achava que eu era besta por um mero acaso?

-- > Eu ainda acho.

Enfim. Fiquei encarando a besta com cara de paisagem até ele notar.

- Ah, Sam, quer parar de dar de bicha toda hora que quer discutir sentimentos?! – Pois é. Quando ele fica irritado, normalmente quer dizer que eu tenho razão.
- A gente não vai conseguir fazer nada direito se você ficar todo preocupadinho desse jeito. É só uma cólica, Dean! A garota não ta morrendo! – Depois eu que exagero.
- Ela não estava com cólica. – Dean suspirou como se eu fosse idiota. Só fiquei encarando a criatura, agora com a certeza de que ele tinha enlouquecido. – A quando ta com qualquer tipo de dor agüenta até estar agonizando.
- Dean, as pessoas mudam seus conceitos sobre agüentar dor toda hora. – Rolei os olhos. – Você acha que ela devia ficar sofrendo aqui junto com a gente, por um mero acaso?

- Elas estão escondendo alguma coisa da gente.

Abri a boca para retrucar imediatamente, mas fiquei quieto logo em seguida. Realmente, nenhuma das duas reclamara antes de dores normais (ou seja, quando não estavam morrendo). Aquela era a primeira vez mesmo.
E Dean me lançou aquele olhar de “eu sou o irmão mais velho entendedor de mulheres”.
- É besteira. – Só porque eu não queria dar o braço a torcer. – Você está ficando possessivo e neurótico. Porque isso você sempre foi.
Foi a vez dele de abrir a boca e ficar quieto depois. Achei que ele não ia querer começar a discutir sobre aquilo, pois sabia que eu tinha razão. Mas, na realidade, tínhamos acabado de chegar à delegacia.
- A gente fala sobre isso depois, Grace Kelly. – E falando isso, ele saiu do carro. Eu só pude rolar os olhos e seguir o idiota que se achava o Batman.
Mas, mesmo assim, o que ele falara sobre elas não tinha saído da minha cabeça.


Voltando ao Relato de Sam já invadindo o diário. Você deixa o negócio cinco minutos dentro da sua mala pra tomar um lanchinho (feito especialmente pelo Bobby, porque ele me ama, morram de inveja) e até o Drácula já escreveu nessa desgraça.

Bom... Eu e a fomos até a cidadezinha mais próxima. Não era longe. Você podia dar um passo que já caía lá na cidade. Paramos na delegacia que, segundo a , estavam os corpos decapitados.
Como sempre, entramos como se pertencêssemos. Com as nossas identidades falsas, dessa vez como Agentes Bellamy e Howard (a criatura quase saiu dando pulinhos de alegria quando viu o nome Agente Bellamy na identidade que dei para ela) e logo estávamos conversando com o médico legista.
- Não há nada de muito diferente dos laudos para contar às senhoritas... – O médico comentou, ajeitando os óculos no rosto. – Os corpos foram encontrados com as cabeças ao lado. As lacerações são contínuas. Provavelmente de uma lâmina bem afiada.
Ele apontou para uma das cabeças. Eu e trocamos olhares. Não éramos muito fãs de decapitações.
- E o senhor acha que foi feito por que tipo de lâmina? – Perguntei casualmente, aproximando-me um pouco para fingir que estava analisando o corte.

Sabe. Acho que vou pro céu sem escalas só por causa do trabalho que faço.*

* rindo histericamente da frase. Exagerada...

- Na minha opinião médica, uma espada.
- Não pode ter sido alguma coisa como... Uma guilhotina, por exemplo? – Foi só eu completar essa frase que a me lançou um olhar com uma sobrancelha erguida.
“Guilhotina?” consegui ler nos lábios dela enquanto me segurava para não rir. A cara dela estava impagável.
- Até cheguei a cogitar essa linha de pensamento, mas o ângulo não condiz. – E o médico começou a limpar os óculos. – O mais provável é uma espada mesmo. Vocês me dão licença um minutinho? Vou atender ao telefone.

Quando ele saiu, se debruçou na mesa e pegou uma caneta. Usou-a para abrir a boca de uma das cabeças.

- Ah, que nojo, . Sério. Que nojo. – Comentei rolando os olhos. – Às vezes me pergunto como sou sua irmã...
- Presas retráteis. – Ela comentou e me mostrou, empurrando os dentes com a caneta. – Então todas as vítimas eram vampiros.
- Então... É ele?! – Desculpa, mas eu estava realmente muito empolgada para conhecer um vampiro de verdade.
- Precisam de mais alguma coisa, Srtas. Bellamy e Howard?
- Não. Muito obrigada pelo seu tempo. – sorriu para ele e estendeu a caneta. – E obrigada pela caneta.
O homem se provou bem inteligente: pegou a bendita caneta protegendo a mão com a manga do jaleco.
Voltamos para o carro e ficamos sentadas durante algum tempo em silêncio.

- Você vai me responder?

- É ele. – disse com um pequeno sorriso no rosto. Eu quase dei gritinhos de alegria. – Só queria saber o que ele está fazendo aqui. Quer dizer, ele tem os próprios problemas, séculos de luta e várias mortes suspeitas, coisas do tipo...
- E agora ele está caçando aqueles que o caçaram a vida inteira.
- Sério. Qual é a da voz de Sidney Magal? – começou a rir, perdendo todo o clima de aventura séria.
- Ah, vai. Se a nossa vida fosse narrada por ele, seria muito mais empolgante! – Respondi piscando para ela. Mas falando em empolgante... Chequei meu relógio só para ter certeza. – ! Sai desse banco de motorista! Eu vou aí! Precisamos voltar para o motel e você precisa fingir que está morrendo de cólica!
- AH, DROGA! – Ela bateu na própria testa e mudamos de lugar, com muito esforço, pois não queríamos sair do carro. – Eu tinha esquecido!
- Eu sei! Agora morre de dor aí enquanto eu dirijo!
Acho que foi a primeira vez que ela ficou feliz com a minha pessoa no volante. Voltei quase literalmente voando para a cidade. Tinha acabado de estacionar o carro no motel, quando começamos a ouvir o fatídico som do Impala no fim da rua.
- Corre! – E eu ia empurrando a minha querida irmã à minha frente.
Chegamos que nem duas loucas à porta do meu quarto. E, para a nossa alegria (n/a: sim, foi proposital), eu não conseguia achar as chaves. Agora entendia porque Sam reclamava todo segundo da minha bolsa. Era impossível de se achar algo na pressa.

O Impala se aproximava. Se eles nos pegassem lá, tudo estava perdido. Eu não conseguiria pensar em uma desculpa e, pela cara da , ela também não. Ela entrou correndo assim que eu abri a porta e se jogou na cama. Logo em seguida, o Impala entrou no estacionamento.

Sorri para eles e acenei. Ok, agora que já estava estatelada na cama fingindo que estava dormindo, conseguiria inventar qualquer desculpa. Afinal, eles só tinham me visto... Não?

- Oi, ! E aí? A ta melhor? – Óbvio, só podia ser o Sam todo preocupado vindo me perguntar.
- Ela conseguiu dormir pelo menos. – Respondi sorrindo e dei um beijo nele.
- E você saiu do quarto por quê? – Na hora que Dean perguntou, parecia que o tempo tinha parado.

Eu tenho uma habilidade. Uma grande habilidade. Chame isso de sexto sentido, intuição ou qualquer coisa que quiser. Mas eu sabia que Dean estava desconfiado. Foi só ele perguntar que eu pressenti aquilo com todas as fibras do meu ser.

Por isso, eu sorri.

- Estava tentando ligar pra vocês. – E tirei o celular do bolso da calça. Ainda bem que aquele troço não saía de lá. – Achei que estavam demorando e não queria acordar a . Mas o serviço está péssimo. Essa droga deve estar quebrada, porque não estava nem completando a chamada.
- Eu dou uma olhada pra você mais tarde. – Sam comentou pegando o aparelho. – Podemos entrar?
- Claro. Ela não morde. – E eu pressenti a quase rindo atrás de mim. – Quer dizer, se vocês não a acordarem. Mas enfim. O que descobriram por lá?
Sam se sentou em uma cadeira e um Dean particularmente emburrado se sentou ao lado de . Eu tenho certeza que se ela não estivesse “dormindo”, já estaria em uma fase de altos xingamentos para ele “tirar aquele bico daquela cara linda”.

Sim, porque eu já a tinha escutado falando aquela frase, por incrível que pareça. Mas isso fica para outra ocasião.

- Bom... Para mim, parece mesmo que foi um vampiro. – Sam pegou o próprio celular do bolso da calça e jogou para mim. – Tirei algumas fotos melhores, dá pra ver a marca dos dentes.
- Mas aí é que fica estranho. – Dean comentou enquanto eu procurava as fotos no celular. – A conformação de dentes não parece de um vampiro.
- Como assim? – Perguntei, achando a primeira foto logo em seguida.
- Assim... Todos os vampiros têm todos os dentes afiados, não é? Sem exceções. – Quando analisei melhor as fotos, consegui entender o que Dean estava tentando explicar. – Esse parece que só tem dois. Como vampiros clássicos, sei lá. Tipo o Drácula.

E o quarto mergulhou em silêncio logo em seguida.

Acho que teríamos ficado um tempão lá se a não tivesse resmungado alguma coisa ininteligível, abraçando Dean logo em seguida, ainda dormindo. Dean não conseguiu conter um pequeno sorriso.

Aqueles dois também sabiam como ser fofos de vez em quando.
- Será que estamos caçando... O Drácula? – Sam verbalizou o que todos estavam pensando.

Eu sabia o que estávamos caçando. Mas não podia falar. Pelo menos não ainda.

Porque eu simplesmente não queria o Sam correndo atrás do vampiro mais legal do mundo com uma foice na mão. O que a falara era verdade: precisávamos encontrá-lo sozinhas antes e depois apresentar aos dois.
- Não seja bobo, Sammy... – resmungou com voz de quem tinha acabado de acordar, ainda abraçada em Dean. – Até parece que o Lorde Drácula, Príncipe dos Vampiros, viria até aqui pra atazanar a nossa vida.

E não deu. Começamos a rir. Realmente, até parece.

Sendo assim, fomos salvas pelo dia. Não falaríamos mais naquilo, uma vez que só sairíamos para caçar à noite. Por esse motivo, todos foram expulsos do meu quarto. Menos o meu Sammy.

Notinha escrita no topo da folha, em caneta vermelha, na caligrafia do Dean: E vocês ainda acham que eu e a vamos perder a chance de perturbar o Sam com “Meu Sammy” pelo resto da vida? HAHAHAHA Sam que nos aguarde!”


Nós analisamos um pouco o caso antes de decidir o que faríamos à noite. As poucas testemunhas que existiam falaram que viram uma figura evanescendo. Podia muito bem ser um vampiro muito rápido que saíra correndo, ou um espírito. Então finalmente achamos o denominador em comum. Todas as mortes ocorreram por volta de meia noite e cinco.

Pelo menos já sabíamos o horário de ataque.

- Mas onde vamos procurar por um provável ataque? – Eu estava deitada na cama, com os pés no travesseiro e várias folhas de papel espalhadas ao meu lado. Sam estava sentado em um espaço vago, com seu laptop no colo. – Quer dizer... Vampiros podem atacar em qualquer lugar.
- Mas também pode ser um espírito.
- E se for um espírito, o que está conectando-o às pessoas? – Peguei as fotos de todos que tinham sido atacados. – Eles não têm nada em comum! Desde professores até empresários milionários. Também não freqüentavam nenhum lugar em comum, não há nada que consiga ligá-los.
- Pode ser um objeto. – Sam ponderou. E realmente, aquilo soava bem plausível. – Pensa. Pode estar na sua casa. Qualquer um pode herdar, vender... Se bem que as pessoas estavam em lugares diferentes da cidade.
- E se você levar o objeto no bolso? Daí o espírito pode te seguir e te achar em qualquer lugar. Se você estiver com a má sorte de estar em posse dele a meia noite e cinco...
- Pode ser... – Sam fez cara de impressionado. – Não tinha pensado nisso.
- Você está vivendo com um gênio, baby. Vai se acostumando.
Ok, nem preciso dizer que nessa hora ele praticamente se jogou em cima de mim para me fazer cócegas perguntando “Ah, só você é um gênio, é? A gente nem pensou nisso juntos”!

E nosso momento foi atrapalhado por uma batida na porta. Bem insistente. Obviamente do Dean.

- Eu odeio quando ele faz isso. – Suspirei enquanto rolava para fora da cama. – Atrapalhando nossos momentos fofos e lindos.
Sam só começou a rir, pegando sua jaqueta em cima da cadeira. Coloquei minhas botas e saímos do apartamento.
- E aí? Animados? – Dean perguntou e demos de cara com ele e , com facões apoiado nos ombros e sorrisos enormes no rosto.
- Vocês não são normais. – Sam comentou categoricamente, praticamente fugindo dos dois.
- Ah, que foi? Estamos animados, só isso! – foi correndo atrás dele, praticamente dando pulinhos. – Afinal, quantas vezes você já caçou um provável Drácula? Imagina se conhecermos o Príncipe dos Vampiros em vampiresidade!

Dean só observava com um sorriso no rosto.

- Vampiresidade? – Tive que perguntar. Nós começamos a caminhar atrás dos dois.

Uma visão engraçada até. A parecia uma criança feliz pulando em volta do Sam.

- Bom, segundo ela, não dá pra falar “pessoalmente” no caso de um vampiro. – Dean explicou e, realmente, aquilo fazia sentido. – Só não entendo porque ela chama o Drácula de “Príncipe dos Vampiros”. Todo mundo sabe que o título de verdade é “Príncipe das Trevas”. E ela já deve ter lido aquele livro umas trezentas vezes.
Sabe que eu também estava me perguntando aquilo. Mas devia ter alguma coisa a ver com o William.

E se o William fosse o Príncipe das Trevas?

Eu surtei por dentro. Comecei a correr em círculos e gritar a plenos pulmões que eu, , ia conhecer o Príncipe das Trevas. Estava quase chorando de emoção até.

Para o Dean, eu só caminhava pacatamente ao seu lado.

- Então... – Tentai puxar assunto antes que eu começasse, de fato, a surtar loucamente. – Eu e o Sam chegamos a conclusão que, se for um espírito, ele está seguindo as pessoas a partir de um objeto que elas carregam.
- Hmmm, é uma idéia boa. Não tínhamos pensado nisso. – E eu achei estranho. Normalmente os dois mais trabalhavam do que qualquer outra coisa. Se não chegaram a mesma conclusão que nós, o que estavam fazendo? – Eu e a cogitamos a idéia de ser uma perseguição de família ou amigos, se for um vampiro pelo menos.
- E chegaram a alguma conclusão?
- A gente conseguiu delimitar uma parte do mapa da cidade com probabilidade de aparecer corpos. – Dean comentou com um sorriso.
- Gente, vocês nunca pensam em parar de trabalhar, não?
Ele já estava para responder que não, quando alcançamos o Impala e encontramos Sam e rabiscando em alguma folha apoiada no capô do carro. Já vi que Dean ia começar a reclamar horrores dos dois, mas eles viraram tão rápido e com sorrisos tão enormes no rosto que nem falamos nada.
- Aqui! – Sam apontou uma região circulada de vermelho no mapa, dentro de um círculo maior feito em caneta azul. – Eu falei da nossa idéia e conseguimos limitar ainda mais a provável área do ataque de hoje à noite!
- Como? – Eu e Dean perguntamos ao mesmo tempo. Já tinha até começado a sincronizar com ele.
- Pensamos nos possíveis amigos próximos e familiares que possam ter pegado o objeto, vimos onde moram, aumentamos o raio de ação para um quilometro. Fácil. – respondeu, ela e Sam sorrindo animadamente.
- Ah, ok. Chega de explicações vocês. Todo mundo no carro, vamos caçar essa coisa!
Comecei a rir. Dean sempre se irritava com muitos detalhes técnicos.


A noite estava relativamente quente para falar a verdade.
Por isso, tínhamos certeza que saberíamos exatamente quando o espírito aparecesse. Isso é, se a coisa fosse um espírito.

Nossa. E eu estava esperando tanto você escrever uma coisa do tipo “Porque do lado do Sam, sempre é quente”. Estou desapontadíssima.

Eu sei me controlar, Senhorita .

Enfim. Estávamos no meio de uma discussão calorosa sobre qual era a melhor música do Led Zeppelin – e Dean parecia que ia morder o primeiro que não falasse que era Ramble On – que nem percebemos uma pessoa fazendo corrida na calçada da praia.
É. Praia. Ignore que eu não mencionei isso antes, mas realmente tinha esquecido. É que nunca contei as coisas para as pessoas como se elas não estivessem lá, então esqueci mesmo.
E lá ia a pessoinha correndo. Não que a gente não tenha percebido, mas já haviam passado tantas pessoas correndo por lá que nem conseguíamos acreditar.

Caso você esteja se perguntando: sim, estávamos parados/sentados no Impala, literalmente encarando todo mundo que passava.

- Calma aí... Vocês estão sentindo isso? – De repente, percebi que minhas mãos começaram a ficar geladas. esfregou o nariz.
- Ah, não... – Sam checou o relógio. – Meia noite e cinco.

E olhamos em volta.

Vimos a pessoa que estava correndo. Nem pensamos duas vezes: saímos correndo atrás dele. O homem estava completamente fora de ar sobre o que estava acontecendo a sua volta, só queria saber de correr.

Daí que vimos a aparição.

Primeiro foi uma nuvem sem forma definida. Conforme nos aproximávamos, ela tomava forma. Foi aí que conseguimos distinguir um homem, com roupas bem... Peculiares.
Peculiares no sentido Piratas do Caribe.

Exato.

O cara era um pirata. Acho que todo mundo ficou meio em choque com aquilo.
O homem olhou para nós e sorriu. Em seguida, abriu a boca, arreganhando duas presas afiadas. Somente duas.

E a única coisa que eu conseguia pensar: o tal do William era um fantasma?

- Merda!
Quando Sam pegou a barra de ferro e deu no fantasma, já era tarde demais. O corpo do homem se esparramou no chão, sangrando, sem vida.
- Um fantasma pirata vampiro?! – Dean perguntou completamente indignado. – Cara... Mas que diabos?!
- Não olha pra mim, porque se você não entendeu, eu menos ainda. – Comentei balançando a cabeça e suspirando. Realmente. Nossas duas hipóteses com o adicional de ser um pirata.

Aquilo estava ficando cada vez mais sem pé nem cabeça.

E, DO NADA, a me faz o favor de sair correndo.

- O que foi? – Dean saiu correndo atrás dela. – Viu alguma coisa?
A criatura parou no meio do caminho, observando algum ponto no meio da escuridão.
- Não... Não foi nada, só uma sombra.
- Ok... Vamos chamar a polícia e ir embora.
Ainda bem que o Sam estava sóbrio e com o cérebro pensante, porque do jeito que todo mundo estava, era capaz que não saíssemos de lá nunca mais.
Só no dia seguinte que a me contou que saíra correndo porque tivera certeza que vira nosso vampiro ilustre.


Na tarde do dia seguinte (porque na manhã não fizemos nada), encontrei a com uma cara de quem tinha enfiado um garfo em uma torradeira, sentada à mesa da biblioteca local, já que combinamos de nos encontrar lá.
Dean estava andando pela biblioteca, procurando livros. Ou revistas. Ou mofando, quem sabe. Estar em uma biblioteca para ele era a mesma coisa de jogar um atleta numa competição de videogame. O cara fica completamente perdidinho.
- ... – Sam, que estava ao meu lado, me cutucou com um livro. – Viu isso aqui? “História da Pirataria nos EUA”.
Gente, o sorriso dele era tão fofo naquele momento que eu simplesmente tive vontade de mordê-lo. Eu amo o Sam. Amo mesmo.

Claro que eu não ia falar isso na lata para ele.

- Você já saiu para procurar livros e nem me chamou? – Tentei parecer brava.
- Estava em uma prateleira... – E ele fez aquela cara de confuso misturado com dó que me dá uma vontade imensa de abraçar aquela criatura.
- Não dá pra ficar brava com você... – Eu comentei rindo, fazendo-o sorrir também. – Eu tento, mas não dá.
- Espero que seja sempre assim. – E ele me deu um beijo na testa, entregando-me o livro.

Viu? Não dá pra ficar brava!

- Ei! Vocês querem ajudar ou querem voltar pro motel? – Dean, casca de ferida, veio incomodar nosso momento fofo.

Não é minha culpa que a namorada dele tinha enfiado um garfo em uma torradeira.

- Dean... Cala a boca. – Sam respondeu suspirando. Comecei a rir da cara que Dean fez. – Vamos procurar livros para pesquisa! Mas do outro lado! Esse que você está é literatura infanto-juvenil!
E com isso, Dean e Sam sumiram entre as estantes, discutindo como sempre. Chance perfeita para eu me sentar na cadeira em frente a criatura da torradeira.
- Que foi?
E a olhou para mim, parecendo finalmente notar a minha presença.

Eu sei que ela me ama. Por mais que não me note, ela me ama.

*Falei que ia começar o drama. Essa menina tem uma veia pra drama desde que a gente nasceu.*

Sim, ela me ama.

- Não sei, ... Estou com um pressentimento ruim... – Ela comentou suspirando, finalmente parando de mexer no livro. – O William por aqui decapitando vampiros, o nosso fantasma vampiro pirata... Não sei. Acho que se Dean e o Sam encontrarem ele, vão tentar matá-lo.
- Por isso temos que encontrá-lo antes, gênio. – Respondi quase suspirando. – Você mesma disse isso.
- É, eu sei... Mas eu tenho medo...
- Que o Dean e o Sam matem o William? – Afinal, os dois têm um ódio bem óbvio por criaturas sobrenaturais. E uma raiva profunda quando estão caçando. De vez em quando chega a ser um pouco assustador, para falar a verdade.
- Não... Tenho medo que o William mate os dois...
Enquanto ela voltava a mexer no livro, caiu a minha ficha sobre a gravidade do problema.
E foi a minha vez de ficar com cara de quem tinha enfiado um garfo em uma torradeira.


- Vamos atrás do espírito essa noite de novo. – Sam declarou decididamente.
Estávamos tomando sorvete e observando o mar no fim da tarde, o sol pintando tudo de um tom alaranjado. Era muito bonito, para falar a verdade. Por mais que a gente nunca descansasse, sempre tínhamos alguns momentos de pausa como aquele que nos fazia pensar que valia a pena viver. Um pôr-do-sol, um sorvete à beira da praia, observar os fogos deitados nos capôs dos carros... Valia a pena.

E bom. Não encontramos nada na biblioteca. Por isso estávamos lá.

- Vamos. – Eu suspirei, também decidida. – Precisamos de ferro e sal. Precisamos proteger o alvo dele essa noite.
- Mas precisamos achar o túmulo desse animal também. – Dean, o rei da discórdia, resolveu acabar com o nosso momento de decisão heróica.

Eu já estava até me sentindo o Thor, prestes a levantar o meu sorvete que nem o Mjölnir.

Como sempre, tudo culpa do Dean (porque eu não sei se vocês lembram, mas enquanto eu escrevo, estou com um ódio mortal dele. Nosso carro está em pedaços e é culpa dele. Tudo é culpa dele).

Em um cantinho do diário, pode-se ver escrito em caneta roxa: “Eu já pedi desculpas. Não é minha culpa que você e a são duas cabeças duras que não querem escutar ninguém. O que vocês querem que eu faça? Vire criado de vocês por uma semana?”

E ao lado, escrito em caneta vermelha: “Nem dez anos de servidão seriam suficientes, Dean. EU TE ODEIO.”

Como eu disse, a ta quase a ponto de espancá-lo, como vocês podem observar pelo comentário dela de caneta vermelha.

Mas, bom. Dean acabou com o meu momento heróico e tudo que eu pude fazer foi dar um chute na canela dele.

Sim, ás vezes eu sou uma criança de cinco anos. (às vezes. HAHAHAHAHA)

- Desculpa, senhor balde de água fria, mas por enquanto é o melhor que podemos fazer! – Comentei com uma vontade quase incontrolável de esmagar meu sorvete na cabeça dele. Mas não fiz isso, pois é comida. E eu não podia gastar minha comida naquela cabeça de vento.
- Nisso a tem razão. – A resolveu se manifestar e me apoiar. Dean só rolou os olhos.
- Olha aqui... – E eu parei na frente dele. – A gente pode ficar a noite inteira pesquisando coisas e deixar um monte de gente morrer, ou a gente pode ir atrás do espírito e impedir que ele mate mais uma pessoa!

Sam e só riam enquanto Dean me observava relativamente assustado.

- Então chega de bichisse e vamos! Não estamos aqui pra ficar lamentando da vida, e sim para caçarmos!
- Sim, senhora. – Dean respondeu ainda com aquela cara. Os outros dois só riam mais ainda.
Eu estava extremamente orgulhosa de mim mesma. Tinha acabado de impor respeito perante Dean Winchester, o mais cabeça dura dos Winchester.

Porque o Sam também é, só que em proporção menor.

- Não quero te perturbar, , mas acabei de ter uma idéia... – Sam comentou e eu só lancei o olhar de morte para ele.
Por que todo mundo queria acabar com o MEU momento?!
E a criatura ainda sorriu para mim.

- Eu só ia comentar que também há a opção de dois irem caçar enquanto dois pesquisam. – E ele praticamente deu de ombros. Acho que ele pensou que se estivesse falando sério, eu iria mordê-lo.

O que eu sou bem capaz de fazer.

- A fica comigo pra pesquisar. – se manifestou de repente. Todo mundo olhou para ela e só aí percebemos que a criatura tinha um livro embaixo do braço. – Aluguei esse livro antes de sair da biblioteca. Tem algumas coisas bem interessantes, para falar a verdade.
- E por que a ? Posso saber? – Dean com ciuminho. Que coisa mais fofa.
Mas eu já tinha percebido aquilo fazia tempo. Sam também tinha ciúmes de algumas coisas que eu fazia, mas não era que nem o Dean. Sam ficava com um pouquinho de ciúmes quando eu falava com outros caras e ria demais, essas coisas normais para um homem. Agora Dean... Era um negócio incrível. Se dependesse dele, tinha ciúmes até do nosso carro.

Vai ver foi por isso que ele quebrou o coitado.

Mas eu ainda vou chegar lá.
- Porque sim. – respondeu e eu podia sentir que ela estava com uma vontade imensa de dar com o livro na fuça de Dean. Se tem uma coisa que ela não suporta, é homem possessivo e ciumento.

Eu falei que eles são um casal perfeito.

*Sabe, agora lendo o que você está escrevendo, eu realmente me pergunto por que diabos estou com ele?*

Viu? Feitos um para o outro.

Não que nem eu e o Sam. Porque eu juro que nós dois temos uma ligação incrível. Conseguimos nos coordenar nos nossos afazeres sem ao menos trocarmos uma palavra. E a coisa mais fofa dessa vida – e que eu mais prezo no Sam – é que ele sabe quando eu preciso de um abraço.
Não estou brincando. Eu realmente prezo isso em um homem. O Sam sabe me ler tão bem que pressente quando estou precisando de um abraço. Então ele não diz nada, simplesmente para tudo que está fazendo e vem me dar um abraço.
É melhor do que dizer “eu te amo”.
Mas enfim, passando o momento meloso de novela mexicana – como diria a insensível da minha irmã – Dean ainda não tinha se convencido com aquela resposta.

- Dean, você tem duas opções... – E ela começou a contar nos dedos. – Ir caçar com o Sam ou ficar no quarto pesquisando comigo, cuidando de mim e essa cólica quase insuportável que eu estou sentindo. O que vai ser?
- Sam. A gente vai caçar. – Dean nem pensou. Nós começamos a rir.
- Sábia decisão, amor. Só volte inteiro, por favor. – Ela sorriu e beijou Dean.
- Você também, Sam. Cuide-se. E eu vou querer um abraço quando você voltar.
- Pode deixar, . Nada vai acontecer comigo. – Ele deu aquele sorriso fofo. Na verdade, tudo no Sam é fofo. Vai se acostumando. – É bom vocês se cuidarem também.
- Pode deixar. – Respondi piscando para ele. Sam me deu um beijo e se enfiou no Impala.

Nós ficamos acenando até o carro sumir no início da noite.

- Ok. O que aconteceu dessa vez? Algum contato com o William?
- Menina, você é direta. – se virou para mim, rindo.
- O que você esperava?! Eu não vejo a hora de conhecê-lo! – E eu estava quase batendo palminhas no meio da calçada. – E “cólica” já virou um código secreto de “vamos cuidar do caso do meu vampiro gostosão”.
- Eu nunca disse que ele é gostoso... – rolou os olhos. – Mas já que você mencionou...
- Vai logo! O que você tem nesse livro?! – E eu arranquei o livro das mãos dela, já que ela estava divagando na questão de William ser gostoso ou não.
Logo que abri o livro, caiu um bilhetinho. Peguei o papel e encontrei uma letra linda e toda trabalhada. Só podia ser dele.

“Você é muito discreta caçando. Até um elefante seria menos vistoso. Encontre-me no cemitério à meia noite. Leve a sua espada com você.”

No cantinho da folha, havia a letra “W”, mais floreada do que as outras, como assinatura.
- A gente vai se encontrar com ele?!
- Uhum.
Acho que a quis sumir. Simplesmente porque eu comecei a dançar no meio da rua, meio descoordenada, cantando algo como “vamos conhecer o vampiro gostosão”. Na verdade, eu nem lembro direito o que estava fazendo, só a cara da de que tinha vergonha de me chamar de irmã.
- Precisamos levar as espadas! – Finalmente me toquei daquilo. – Ele está querendo te matar, por um mero acaso?
- Não, ele não ia precisar de uma espada para isso! – respondeu rindo como se aquilo fosse completamente absurdo e tirou o livro da minha mão, começando a andar para o carro. – Provavelmente está aqui para caçar. A minha katana e as suas kodachi estão no carro?
- Não... As minhas estão comigo no quarto e a sua katana provavelmente está na sua mala de armas. Então meia noite?
- Yep. Hoje você finalmente irá conhecer o desmiolado do William.
Eu mal podia esperar!

[n/a: Katana é uma espada japonesa, com gume apenas de um lado, muito usada por samurais. A kodachi é igual à katana, só que menor. É mais usada para defesa do que para ataque, porém é mais rápida e mais leve justamente por ser menor. Por isso coloquei como arma de ataque ^^]


Dez para meia noite.

Sam e Dean estavam patrulhando o local dos ataques para evitar o aumento no número de vítimas.
Eu e estávamos paradas em frente ao cemitério. Havia uma névoa fina e branca se enroscando nos nossos pés. Uma brisa gelada batia no nosso rosto.

E eu me assustei mais do que devia com uma coruja piando em uma árvore.

- Ai, os momentos que eu queria ter uma câmera pra te filmar... – A chata da comentou rindo de mim. Eu estava abraçada nela.
- Vai me falar que você não se assustou! Olha o lugar que a gente está! – Soltei dela. Aquela criatura má não merecia um abraço.

Por mais que fosse um abraço assustado.

- Oh, bebê... Ta com medinho? – Claro, aquela palhaça tinha que começar a fazer biquinho e me zoar.
- To! Eu nunca gostei dessas coisas, ta bom?! – E também estava revoltadissima com aquele troço que eu chamava de irmã! – Você que ficava assistindo Sexta-Feira Treze e afins nas suas horas vagas! Eu gosto de comédia! Romance!
- Sexta-Feira Treze é mais comédia do que terror... – Ela comentou enquanto eu abria o portão e entrava destemidamente no cemitério. Agora eu estava brava. – É sensacional. Você deveria assistir.
- Sabe quando eu vou assistir?! NUNCA! – Respondi seriamente tentada a mostrar a língua para ela. E a palhaça só rindo. – Do mesmo jeito que você se recusa a assistir filmes fofos de romance!
- Isso sim é terror...! – E a criatura até tremeu de medo. Ela não é humana.

E é por isso que não é fofa com o Dean do jeito que eu sou com o Sam. Problema dela.

- Eu ainda acho que você não devia ter virado caçadora...
- Você cala a boca, . – Agora sim eu estava em um nível extremo de irritação. – Eu sou sua irmã e vim te ajudar. Não me arrependo e ponto final. Para de bater na mesma tecla...
Só que, naquele momento, ouvimos barulhos. Eram várias pessoas correndo e gritando mais à frente, enquanto um vulto negro e alto carregava uma espada brilhante ao luar.

Era ele.

E como eu soube? Porque a besta da saiu correndo, desembainhando a katana.

Nem vi direito como aconteceu. Ela desembainhou a espada e cortou a cabeça de uma das pessoas. Quando meu estado de choque passou, notei que era um vampiro. A parou ao lado do vulto negro, brandindo a espada, e sorriu.
- Três anos é bastante tempo para um mero mortal, idiota.

Ok. Ela falou que ele era desmiolado, mas a criatura ainda me fala assim com um cara que é QUE NEM O DRÁCULA?!

- Olha. Você cresceu. – Ele comentou totalmente sem expressão na voz. – Vou tentar tomar cuidado para não te acertar.
E os dois sorriram.

Agora sim. Minha irmã tem o mesmo humor de um vampiro sanguinário. Finalmente entendi aquela criatura.

*NÃO TENHO NÃÃÃO!* Eu só fiquei parada, assistindo os dois literalmente dizimando os vampiros. Aquele era um lado que eu nunca tinha visto na minha própria irmã. Ela era tão rápida e bruta quanto ele. Os dois lutavam perfeitamente quando estavam juntos. A sincronia era sem falhas. Enquanto ela abaixava, ele golpeava um vampiro, quando ele abria caminho, ela matava outro.

Sinceramente... Eu fiquei com um pouco de medo dela.

Desembainhei as minhas duas kodachi quando um vampiro se aproximou. Cuidei de alguns deles, afinal a duplinha mais à frente fez o favor de fazer algo próximo de um massacre.
Os dois finalmente pararam. Estávamos rodeados de vampiros mortos e eu estupidamente impressionada de ter assistido aquilo.
- Sentiu minha falta? – Ele perguntou sorrindo e abrindo os braços.

Presas. ELE TINHA PRESAS. Eu quase surtei.

*Mentira. Ela surtou.*

Não. Surtei. Eu sei me controlar de vez em quando.

- Senti, sua besta! – E a abraçou a criatura. Eu sorri. Eles deviam ser mais amigos do que eu estava esperando.
Na verdade, estava esperando que ele fosse arrancar as nossas cabeças, por isso fiquei aliviada quando ele retribuiu o abraço.
- Você deve ser a famosa . – William comentou se virando para mim.

E agora para tudo. TUDO.

Meu segundo motivo pra ficar besta naquele dia era que aquele homem era realmente maravilhoso. Vampiros clássicos são lindos. A primeira coisa que pensei: “se ele é assim, imagina o Drácula”.
William era muito alto e pálido. Afinal, ele é um vampiro. Os olhos eram verdes bem claros, realçados pelos cabelos negros curtos, com alguns cachos quase caindo nos olhos. Vestia uma calça jeans preta, uma camisa branca (que, nesse ponto, já estava com manchas vermelhas) e um par de sapatos pretos. E, claro, eu não pude deixar de notar que ele era muito forte. Tipo o Thor.
Só aí, aquele homem já tinha ganhado meu coração.
- Então quer dizer que eu sou famosa? – Perguntei sorrindo. Eu simplesmente adoro saber o que falam de mim.

Eu e William tínhamos muito que conversar.

- Claro. A não parava de falar de você quando caçávamos juntos. – Ele se aproximou, pegou a minha mão e beijou.

Morri.

Sério. Acho que meu coração parou. Ainda mais porque ele olhou para a minha cara e sorriu logo em seguida.
- Criatura, por que você não me apresentou para ele antes?!
- Esse troço é perigoso, . Não se deixe levar... – respondeu suspirando.
- Desde quando você tem o direito de me chamar de troço, ô criança? Mais respeito comigo. – E ele lançou um olhar assustador para . Ela só virou a cara.
- Sabe... Você falou que ela é tão discreta quanto um elefante, mas essa espada também não ajuda. – Yep. Eu interrompendo para ver se eles não se matavam.
- Acho mais eficiente usá-la do que ser um bruto com um facão.
- Então... O que você está fazendo aqui? – finalmente perguntou. É verdade. Eu já tinha até me esquecido que ele estava lá por algum motivo.
Ele fez sinal para que caminhássemos para fora do cemitério. Ficamos uma de cada lado do vampiro enquanto ele explicava.
- Eu e a Eva temos uns problemas antigos para resolver por aqui. Fiquei sabendo de vocês quando visitaram o necrotério. Daí percebi que estavam vindo atrás de mim e resolvi mandar uma mensagem para tornar a nossa reunião mais fácil.
- Ok, duas perguntas: quem é Eva? E por que você mata vampiros? – Sim, eu estava confusa. E aquela explicação dele não tinha adiantado de nada.
- A Eva é minha companheira. – Ele respondeu sorrindo. – Mas está na cidade vizinha. E eu estava matando esses vampiros, pois não gosto dessa espécie.

Aí que eu cheguei à conclusão de que ele era meio assustador.

- E vocês estão com homens pelo que eu vi. Namorados?
- Eles são caçadores que nem a gente! – Respondi toda feliz. – E irmãos. Não dá pra sermos casais mais perfeitos, não?

Quando percebi, William estava lançando um olhar estranho para . E ela não parecia nem um pouco feliz com o meu comentário.

- Então quer dizer que a minha criancinha arranjou um namorado? Que orgulho. – Lá estava William com o mesmo biquinho e a voz debochada que a estava fazendo comigo alguns momentos antes.
- Eu te odeio. – Ela se limitou a respondê-lo, enquanto ele continuava enchendo o saco.
E eu só conseguia rir. Aquilo só podia ser vingança divina!


Não demoramos muito para chegar ao hotel. Eu e a tivemos que enfiar o William no carro à força, assim poderíamos explicar o nosso caso com o espírito vampiro pirata com mais calma e sem receber olhares esquisitos de policiais que faziam ronda na frente do cemitério.

Eu nem quero saber o que se passou na cabeça daqueles policiais sobre o que nós três estaríamos fazendo por lá naquela hora da noite.

O caminho inteiro foi muito engraçado. William ficou me fazendo perguntas pessoais da toda hora e, quando ela se irritava, começava a perturbá-la novamente por causa do Dean.
- Agora me conte a verdade, ... – William estava super sério no banco de trás e eu ainda estava rindo de quando ele chamou a de “criança feliz”. – Ela ainda dorme com um bichinho de pelúcia?
- Como você sabe disso?! – Eu perguntei de volta e nós começamos a rir. Enquanto isso, a virava um pimentão ao volante. – Ela trocou por um travesseiro recentemente, mas sempre dormiu com um bichinho de pelúcia!
- Eu tive minhas aventuras com ela para saber essas coisas. – William comentou entre risadas, aparentemente tentando se conter de tanto rir.
- Eu tenho necessidade de abraçar alguma coisa à noite, dá licença?! – Ah, você quer saber se a estava irritada? Meu amigo, irritada é apelido!
- Agora você abraça o seu querido Dean? – E ele voltou a encher o saco.

Gente, aquele vampiro era sensacional. Eu não conseguia parar de rir.

Por isso eu me assustei quando a parou o carro e deu um soco na cara dele.

- Agora eu acho que essa cara de bobo sai daí... – Ela comentou com um grunhido irritado e voltou a dirigir. – Vampiro de meia tigela.
Eu virei para trás, a fim de checar se estava tudo bem, mas dei de cara com William em perfeitas condições, nem um pouco abalado. E com um sorriso irônico nos lábios.
- Ela não é fofa quando fica irritada? – Ele perguntou. E eu não me segurei mais, comecei a rir mais ainda.
- William... A partir de hoje, você é o meu melhor amigo! – Afinal, todos sabem que a função do irmão mais novo é perturbar o irmão mais velho.
Não demorou muito para voltarmos ao motel. Acho que a ficou tão irritada que saiu voando com o carro na rua. Fiquei com medo que ela fosse quebrar o carro, mas não tinha como ficar com medo com William no mesmo recinto. Simplesmente porque nem dava tempo de pensar na velocidade, com tantas coisas engraçadas que ele estava falando.
- Vocês querem parar? – Ela perguntou enquanto estacionava.
- Ah, que foi? Muitos detalhes constrangedores sendo revelados? – Eu respondi com uma risada um tanto maléfica ao final da frase.
- Além disso, temos que lidar com um par de namorados particularmente irritados. – E finalmente vi que estava apontando para o lado de fora. – Sinceramente, agora estou mais com medo deles do que desse protótipo de vampiro aqui.
- Droga... – E a minha alegria toda foi por água abaixo. Eu estava me divertindo tanto... Mas ao olhar a feição no rosto de Sam, acabei me desanimando na hora.
- Hmmm... Então esses são seus namorados... – William analisou enquanto estávamos prestes a deixar o carro. – Um deles é gigante por um mero acaso?
- Você não pode falar nada. – E não podia mesmo. Ele era quase do tamanho do meu Sam.
Sendo assim, tomamos coragem e saímos do carro. Os dois pareceram surpresos e irritados ao ver William perto de nós. Caminhamos calmamente, como se nada estivesse acontecendo.

Eu tenho que admitir que estava levemente nervosa.

- Pesquisando, hein? – Sam comentou logo que chegamos perto. E eu imediatamente me senti um pouco envergonhada.
Mas não devia! Afinal, estava ajudando minha irmã e encontrando um dos vampiros mais épicos da minha vida! Mas mesmo assim... Estava me sentindo mal por ter mentido para o Sam. Ele era meu namorado, eu não podia ficar escondendo as coisas dele... Claro que ele ia tentar matar o William logo de cara se o tivesse visto no cemitério, mas... É o Sam. O meu Sam. Nós estamos namorando. E temos que confiar um no outro...

E como ele vai confiar em mim dessa maneira?

Aqueles pensamentos desceram em cima de mim como uma nuvem negra, pesando nos meus ombros.
- Quem é esse? – Dean perguntou já com ciúme. Se ele continuasse daquela maneira, levaria um soco da Miss Simpatia.

*Obrigada. “¬¬*

- William. – O vampiro em questão respondeu sorrindo largamente, com as presas à vista.

Eu e só ficamos observando aquele animal, completamente incrédulas. Ele estava fazendo aquilo de propósito!

- Ele é um vampiro?! – Sam perguntou e imediatamente puxou uma faca sei lá de onde. Desde quando ele andava com facas próprias para decapitação?! – , não chega perto!
E Sam me puxou para longe de William. Quando eu fui perceber, Dean também estava com uma faca em mãos, pronto para atacar. Ele já ia puxar a , mas ela discretamente tirou o braço do caminho, fazendo-o agarrar o ar.
- Parem com isso. O Will é meu amigo. – Ela comentou com um suspiro. Depois lançou um olhar de morte ao vampiro. – Desmiolado, mas meu amigo.
- Amigo?! Como alguém pode ter um amigo desses?! – Dean perguntou completamente em choque. – E outra, você mentiu pra mim pra procurar esse aí?
- Porque eu sabia que você ia fazer isso! – Ela respondeu brava. Eu me soltei de Sam.
- Se nós soubéssemos que vocês não iam atacar o William, poderíamos até ter comentado com vocês antes! – Adicionei, antes que todo mundo resolvesse se matar.
Só naquele momento percebi que ou eu ou o Sam éramos os responsáveis por acalmar os ânimos. Principalmente eu, pois o Sam sempre tinha a tendência de querer matar alguma coisa.
- Ah, você tem muita coisa pra explicar hoje, ! – Dean comentou irritado, ainda brandindo a faca.

E pela primeira vez eu vi William realmente irritado.

Deu medo.

Ele estava com os olhos semicerrados, fixos em Dean. E vocês podem achar isso impossível, mas eu tive a impressão de que ficaram levemente mais escuros. A voz de Will era grave e calma, porém parecia que ia estourar a qualquer momento.
- Não fale mais assim com elas, nenhum de vocês dois. Vocês não são donos dessas mulheres, Winchesters.
Ele falou o sobrenome dos dois com um desprezo que eu até tremi. Agora sim eu tinha entendido o que realmente era um vampiro.

Dean e Sam lançaram um olhar extremamente irritado para William.

- Chega. Eu vou explicar, Dean. Mas não aqui. Não há necessidade de toda essa cena. – A comentou com um suspiro. Parecia cansada. – A gente pode se encontrar amanhã na biblioteca, Will? Às duas?
- Três da tarde. Tenho algumas coisas pra cuidar e já faz uma semana que não como nada. Estou praticamente morrendo. – Ele respondeu com um sorriso. – Até amanhã, criança. Continuamos nossa conversa amanhã, Lady .

E ele beijou a minha mão antes de sumir na escuridão.

Eu disse que ele era sensacional. Ia julgá-lo como um mulherengo, porém ele comentara sobre uma companheira. Então não podia pensar nele daquela maneira.
- Vamos para o quarto, ? – Sam perguntou enquanto guardava a faca. – Esses dois têm muito que conversar.
- Ok. – Eu suspirei cansada. A gente também tinha muito que conversar, mas eu não ia falar isso naquele momento. Deixei Dean e para trás.
Se eles se matassem não era culpa minha.


O Sam estava quieto. Guardou a faca em um canto do quarto. Tirou a camisa e a jogou em cima de uma cadeira. Eu fiquei sentada na cama, pensando no que dizer. Sabia que se eu não dissesse nada, ele também nada falaria.
Mas eu não sabia como tratar daquilo. Ele estava bravo? Ou nem tanto assim? Ele poderia me desculpar se eu pedisse? Será que tinha sido algo mais sério do que eu pensava? Todas aquelas perguntas estavam me matando por dentro!

Eu não sabia o que fazer.

Não sabia o que falar.

Queria pedir desculpas, mas será que o que eu estava sentindo era o mesmo que ele estava sentindo? Será que minhas desculpas seriam superficiais? Não sabia se ele voltaria a confiar em mim depois daquilo...

Eu tinha feito besteira.

Estava ajudando a , claro, mas ela sempre foi cabeça dura. E também sempre teve mais força pra agüentar as conseqüências do que resolvia fazer. Não que eu fosse fraca, mas ela era do tipo que acabava sofrendo em silêncio, mas não se arrependia do que tinha feito. Se ela perdesse o Dean por causa daquilo, não ficaria chorando pelos cantos. Falaria que foi uma decisão dela e que faria tudo de novo, mesmo sabendo do resultado.
Eu não. Se eu perdesse o Sam por causa de uma coisa tão boba, não ia conseguir agüentar. Ia me cobrir com todos os cobertores possíveis e chorar durante uma semana. Ele é um dos poucos homens decentes que eu já arranjei na minha vida e eu tinha sido boba e feito uma coisa daquelas.

Suspirei. Hora de encarar as conseqüências.

- Desculpa, Sam. – Comentei baixinho. Mas sei que ele me escutou, pois parou de mexer nos papéis que estavam em cima da mesa. – Eu realmente me arrependo de ter mentido para você...

Ouvi enquanto ele suspirava. Sam estava sentado à mesa, parecendo cansado.

- Eu sei, ... – Ele respondeu, parecendo sem saber o que dizer, assim como eu. – Mas como posso saber que você está mentindo ou me contando a verdade?
Eu mordi o lábio. Ele tinha razão, eu sabia que ele tinha.
- Você entende, não? Nós vivemos como caçadores. Eu preciso saber que posso confiar em você, mas depois dessa...
- Desculpa. – Repeti. Eu queria que ele confiasse em mim! Com todas as minhas forças! Simplesmente porque eu confiava nele! – Eu sei que às vezes desculpas não são suficientes, mas eu não quero ficar mal com você. Sam, você é uma das poucas pessoas que eu realmente confiei na minha vida toda e... Nós...

Empaquei. Nós...?

E pela cara dele, Sam também esperava o complemento daquela frase. Com ansiedade, pelo que eu percebi.

- Nós estamos construindo uma coisa legal. E eu não quero perder isso. Se tudo for desperdiçado hoje, por causa dessa pequena mentirinha, eu nunca conseguiria tirar da cabeça tudo que poderíamos ter vivido juntos se isso nunca tivesse acontecido.
Pronto. Falei. Minhas bochechas queimavam, vermelhas. Eu sou uma negação para admitir meus sentimentos em voz alta. Mas não tinha jeito. Eu tinha que falar tudo aquilo. Ou poderíamos perder uma relação ótima por um motivo extremamente bobo.

Sim, o William é o motivo bobo (por favor, Deus, que ele nunca leia esse diário).

Fiquei esperando o Sam reclamar, falar que nunca mais poderia confiar em mim, que eu poderia mentir sobre outros homens e todas aquelas coisas geradas pela falta de confiança. Ou seja, eu esperava um dramalhão completo. Nem eu acreditava que aquela coisinha pequena viraria uma bola de neve tão grande.
Por isso, não pude ficar mais surpresa do que quando ele se levantou da cadeira. Eu levantei para falar com ele, mas tudo que Sam fez foi se abaixar e me abraçar.

Ficamos em silêncio durante um tempo. Eu sinceramente estava em choque.

- Não tem como ficar bravo com você. – Ele comentou no tom mais fofo da face da terra.

Eu abri um sorriso imenso.

Sim! Meu Sam estava de volta!

- Eu ainda estou bravo com você... – Ele falou no meu ouvido. – Mas tudo bem. Só não minta mais para mim. Por favor.
- Eu não vou. Prometo. – Eu respondi, abraçando-o de volta.
Não sei quanto tempo ficamos daquela maneira, mas eu não queria mais sair dos braços dele naquela noite.


Invasão da
Só estou aqui, pois a me encheu o saco pra escrever o que aconteceu naquela noite entre eu e o Dean. Sinceramente, eu preferiria deixar isso somente na minha cabeça, mas a criatura faz questão de um “registro físico”.

Bom... Nós entramos no quarto e já começamos a brigar.

- Claro. Porque mentir é a melhor saída para evitar que eu mate um vampiro! – Dean comentou daquela maneira sarcástica e irritada que ele adora fazer toda vez que está bravo.
E toda vez que ele faz isso eu tenho vontade de dar um chute nele. Ele fica todo arrogante, levanta a cabeça e fica me olhando com aquela cara de quem espera uma resposta. É MUITO IRRITANTE!
- Até parece que você ia se conter se eu pedisse! – Respondi cruzando os braços.
- Ah, então você não confia em mim?!
- Eu não confio no seu autocontrole! – E não confio mesmo. Ele é que nem uma bomba que pode explodir a qualquer momento. – E se você matasse o William, eu ia ficar muito puta!
- Por quê?! Você gosta dele?
- Já que você quer tanto saber, gosto! Mas não do jeito que você está pensando! – Ele é ciumento. Demais.

Claro, toda mulher gosta que o cara fique com um pouco de ciúmes dela. Mas às vezes é muito ciúme pra uma pessoa só!

E eu sabia que ele estava usando esse motivo como uma desculpa para brigar comigo. Afinal, acusar que a pessoa gosta de outra é a desculpa clássica em brigas de casais. Eu só não achava que o momento de usá-la chegaria tão cedo entre nós.
- Ah, não! Até parece, ! Vai ficar com ele, já que você gosta tanto de vampiros! – Dean também sabe que me chamar pelo meu nome inteiro e não pelo meu apelido me deixa dez vezes mais irritada. E ele estava fazendo de propósito.
- Dean, pare de fazer tempestade em copo d’água! – Eu respondi, rolando os olhos. – Até parece que você ia me obedecer! Você tentaria matar o William, eu tenho certeza! Simplesmente porque você tem vontade própria e não fica seguindo tudo que os outros falam! Você toma as suas próprias decisões!

Nota do Dean: eu quase amoleci quando ela disse isso. Fiquei impressionado e sinceramente pensei em ficar quieto. Afinal, sempre me orgulhei de tomar minhas próprias decisões (o que já me salvou várias vezes). Mas não gosto de admitir quando estou parcialmente errado.

Nem quando está totalmente errado, diga-se de passagem.

- Ah, então você decidiu mentir pra mim porque eu sou um ótimo exemplo de livre arbítrio? – E lá estava aquele tom sarcástico e irritante de volta. – Tem tanto medo assim que eu mate o seu amiguinho?!
- Não! – E eu explodi de vez. Consigo me conter durante algum tempo, mas às vezes simplesmente não dá. E o Dean estava mexendo com os meus sentimentos, afinal eu gosto dele. Então não foi culpa minha que lágrimas estúpidas começaram a escorrer dos meus olhos. – Eu tinha medo que ele te matasse se você o atacasse! O William é diferente, ele é forte! E tem um senso insano de sobrevivência! Por mais que ele seja meu amigo, é capaz de me matar se eu atacá-lo! Entendeu agora?!

O quarto inteiro ficou em silêncio. Nenhum de nós dois arriscava dizer uma palavra.

E eu estava morrendo de vergonha de estar chorando que nem uma garotinha de cinco anos na frente do Dean.

- Você estava preocupada comigo? – Ele perguntou ainda daquela maneira insensível, porém com a voz mais baixa.
- Estava. – Respondi tentando engolir o choro. Ficava repetindo para mim mesma que não sou fraca desse jeito. Precisava parar de chorar! - Eu não queria que você acabasse machucado.
- Por que você se importa tanto com esse cara?
Eu sentei na beirada da cama, derrotada. Não ia conseguir parar de chorar. Merda.
- Ele me ajudou quando eu comecei a caçar. Se não fosse pelo William, eu provavelmente estaria morta. E a minha família inteira também. – Suspirei. Dean finalmente se aproximou devagar, sentando-se ao meu lado na cama. – Eu não queria que vocês dois lutassem. Simplesmente porque não ia suportar a perda de nenhum dos dois.
Naquele momento, eu decidi que não ia falar mais nada. Já tinha declarado muitos sentimentos que eu pretendia nunca dizer a ele. Mas lá estava eu: boba, chorando silenciosamente, falando meus sentimentos como uma adolescente em crise.

Outra nota do Dean: eu fiquei chocado. Nunca tinha visto a chorando daquela maneira. Quando ela se sentou na cama, percebi que eu estava sendo um completo idiota também. Ela estava sendo sincera... E eu a tinha forçado a falar todas aquelas coisas. Ela não se sentia à vontade falando tudo que sentia e eu a forçara a botar tudo pra fora. Quando ela começou a chorar, fiquei em choque. Não sabia o que fazer.

Assim, eu segurei a mão de Dean. Senti que agora ele me entendia. Que pelo menos entendia o motivo da minha mentira. Não queria que ele parasse de confiar em mim. E estava meio incerta se ele voltaria a confiar em mim como antes, por mais que tivéssemos pouco tempo de convivência.
- Não fica assim, linda... – Ele sussurrou, abraçando-me. – Não fica assim... Não vai acontecer nada... Eu deixo aquele vampiro metido quieto, não se preocupe. Vou ficar com você a noite toda, ouviu?
Quando ele começou a falar aquelas palavras, eu parei de me preocupar. Sim, o Dean estava bravo. E sim, eu estava brava também. Mas não era o fim do mundo.
Afinal, todos os casais precisam brigar de vez em quando.


retorna
De vez em quando é apelido para eles!
Ok, tenho que admitir que eles têm os momentos fofos deles.
Bom... Aquela noite, apesar de tensa, foi boa também. Eu e Sam dormimos abraçados e ele não me largou em nenhum momento. Eu acordei feliz, logo que os primeiros raios de sol entraram no quarto.
Respirei fundo. Um novo dia. Novos problemas, mas aquele estava resolvido. Precisávamos resolver o caso do nosso amigo vampiro pirata fantasma. Que, logo que eu me lembrei dele, fiquei pensando naquela criatura, intrigada. Aquele era um dos casos mais esquisitos que já tínhamos nos deparado.
Apertei a mão de Sam, que estava na minha cintura, com um pouco mais de força. Sim, ele ainda estava lá. Eu sorri, virando-me de frente para ele. Sam parecia tão calmo, tão despreocupado... Fiquei pensando em uma maneira especial de acordá-lo.
Acabei me lembrando de um filme, que a mulher assoprava bem de leve no rosto do marido.

*Nossa. Eu te batia se você fizesse isso comigo.*

E daí eu pensei que não era uma boa idéia. Simplesmente pelo que a comentou acima. Eu bateria se alguém fizesse isso comigo. Então resolvi ficar com o clássico beijo. Um pouquinho mais longo que um selinho, não tem como não gostar.

Sam sorriu logo em seguida.

- Bom dia, minha linda... – Ele comentou com aquela voz arrastada de sono, abrindo levemente os olhos. Eu sorri.
- Bom dia, meu lindo... – Respondi e dei um beijinho na ponta do nariz dele. – Hora de levantar.
- Já...? – Ele resmungou e eu já comecei a sair da cama. Mas ele me segurou pela mão e me puxou de volta, envolvendo-me de uma maneira que era impossível soltar. Sam enterrou o rosto nos meus cabelos, perto do meu pescoço. – Fica mais um pouquinho... Ainda é muito cedo...
- Com você pedindo desse jeito eu não posso fazer nada. – Comentei suspirando, dando-me por derrotada. Como se eu fosse me opor a um pedido daqueles.
E, por incrível que pareça, não fizemos nada de mais. Ficamos lá, de olhos fechados, só curtindo o abraço. Sinceramente, aproveitar aquele abraço foi uma das melhores coisas que eu podia ter feito naquela manhã. Muito bom. Acho que é uma coisa que todo mundo tem que fazer um dia na vida: naquela manhã preguiçosa, abrace a pessoa que você ama e fique. Sem compromissos. Sem tempo. Sem nada. Só o abraço.
Não sei quanto tempo ficamos lá. Até começamos a cair no sono novamente. Só sei que ouvi os dois gremlins batendo na nossa porta de repente.

Se você concluiu que gremlins são a e o Dean, acertou em cheio.

- Que preguiça daqueles dois... – Eu grunhi e só ouvi Sam concordando entre os meus cabelos. Começamos a rir logo em seguida.
- Já vamos! – Sam gritou quando os dois bateram novamente à porta, depois deixou a cabeça cair perto da minha. – Anota naquele seu diário que temos que repetir isso aqui.
- Pode deixar. – Respondi sorrindo.
Em seguida, começamos a nos espreguiçar para finalmente levantarmos.
Acabamos nos trocando relativamente rápido. Sam perguntou se eu sabia onde estavam algumas coisas dele – tipo camisas, ele nunca sabia onde tinha enfiado as camisas – e eu perguntei o paradeiro da minha bota, sendo que ele me indicou o banheiro. Em poucos minutos estávamos prontos e deixando o quarto.
Eu achei que o Dean ia estar em um canto e a no estremo oposto, os dois com bicos do tamanho da China. Sendo assim, eu não pude deixar de sorrir quando vi a cena que estava acontecendo. Aquilo merecia uma foto.

A estava sentada no capô do Impala, enquanto o Dean estava apoiado ao lado dela. Como a manhã estava um pouco fria, ela usava a jaqueta de couro dele. Dean estava com um saquinho em mãos, ajudando-a a pegar os docinhos que estavam dentro. E não era qualquer docinho, ele provavelmente tinha ido comprar em uma padaria. O que mais me deixava feliz, era que os dois estavam conversando e sorrindo, trocando olhares cúmplices.

Eu me senti na obrigação de tirar uma foto daquilo. Com o meu celular e sua qualidade maravilhosa, mas ainda assim uma boa foto. Acho que eles podem colocar em um porta retrato no futuro. Nem que seja na casa do Bobby.
- Bom dia! – Eu acenei enquanto eu e o Sam nos aproximávamos.
- Bom dia, meu gremlin! – A respondeu sorrindo. Ah, se ela soubesse que aquele apelido já era dela. – Vamos comer? Estou morrendo de fome!
- Mas o Dean trouxe doces... – Sam comentou observando enquanto o irmão amassava o saquinho vazio.
- Ainda estamos com fome. Isso aqui não é suficiente para alimentar! – Dean respondeu acertando o saquinho no lixo que estava relativamente longe. – É o suficiente para esperar as senhoritas saírem do quarto!
- A preguiça de levantar estava maior... – Eu disse com um suspiro. E o abraço também estava muito bom para me soltar.
- Preguiça. Sei. – E a trocou uma olhadinha safada com Dean. Os dois começaram a rir enquanto se dirigiam para dentro do Impala.
Eles estavam tão bem humorados que eu achava que tinham sido trocados por clones, ou alguma coisa do tipo.
*Na verdade isso se chama uma ótima noite depois de uma discussão cansativa. Um dos melhores remédios para uma briga de casal. O abraço da e do Sam também é ótimo, mas também não se deve descartar outras opções.*


Acho que foi o café da manhã mais bem humorado que já tivemos. Não discutimos o caso uma só vez. Só conversamos e demos risada. Parecia um mundo paralelo, diferente do que nós normalmente vivíamos. E aquilo era muito bom.
Mas, tudo que é bom, dura pouco. Pelo jornal da manhã (que não era tão manhã assim, mas finge que sim), ficamos sabendo de outro assassinato. Aquilo nos fez nos lembrar do motivo para estarmos lá.
Sendo assim, demos uma volta e paramos à beira da praia para discutirmos sobre o caso, a fim de recapitularmos tudo que acontecera antes do aparecimento do nosso ilustre vampiro.

Quando checamos o horário, eram quase três horas.

Ou seja, fomos para a biblioteca. Afinal, tínhamos combinado de nos encontrar lá com William e havia muita pesquisa a ser feita.
O local estava praticamente vazio. Havia uma pessoa ou outra. Sentamos em grandes mesas de madeira e Dean e Sam foram fazer a ronda entre as estantes. Eu e ficamos com alguns livros, folheando-os.
- Acho que vamos ter muita leitura para fazer hoje. – Sam comentou carregando um monte de livros antigos. Dean vinha logo atrás, com mais livros.

Eu fiquei boquiaberta.

- Querem levar a livraria inteira? Eu posso conversar com a bibliotecária e ver se ela faz um preço bom. – A comentou enquanto observava aquela cena.
Realmente, parecia que eles queriam levar tudo e mais um pouco.
- Acho que não temos pessoas suficientes para tudo isso. – Eu comentei quase rindo. Era a primeira vez que via os dois com tantos livros.
Porque o estudioso entre nós era o Bobby. Sempre que precisávamos de alguma coisa, íamos atrás dele. O homem é uma enciclopédia ambulante sobre o sobrenatural, não me julgue.
- Ah, temos pessoas suficientes sim, . Não se preocupe. – Dean comentou sorrindo e dando uma piscadela. Não consegui ficar sem rir.
- Ok, então é hora de fazermos um mutirão de leitura! – respondeu animada. – Dean, pode me passar o grandão de couro vermelho? Aquelas letras douradas parecem bem interessantes...
- Você quer justamente o que eu mais queria, não? – Dean perguntou de volta, semicerrando os olhos, mas com um sorriso no rosto.
- , quer ficar com esses aqui? – Sam perguntou rolando os olhos e rindo. Dean parecia que queria arranjar qualquer motivo para discutir com a .
- Posso sim... Mas posso trocar esse marrom pelo azul? Gostei mais da capa daquele.
- À vontade. – E Sam trocou os livros. – Satisfeita, ou a senhorita quer trocar mais alguma coisa?
- Satisfeita, nobre cavalheiro. – Eu respondi, fingindo ser uma dama. Começamos a rir e finalmente pudemos retornar à nossa incansável pesquisa.
Passamos alguns momentos em silêncio. A deixara o livro vermelho com Dean, mas só depois que ele prometeu que leria aquele primeiro e daria para ela logo em seguida. Eu comecei pelo livro azul, que contava algumas histórias de piratas que passaram por aquela área do continente. Após ler um número considerável de páginas, chequei o relógio.

Três e meia.

- ... Será que o William não vem?
- Pra um vampiro clássico ele não é nem um pouco pontual. – Sam comentou com uma sobrancelha erguida.
- Se eu te falar o provável motivo para o atraso dele, você não vai gostar... – Ela respondeu um tanto distraída, ainda lendo o livro.
- Eu estava me alimentando, se vocês querem tanto saber. – Acabei me assustando com a voz de William atrás de mim.

Quando me virei para cumprimentá-lo, ele ainda tinha um pouco de sangue nos lábios, tentando limpar.

- Sangue é uma chatice de limpar... – Ele disse sorrindo e sentou-se na cabeceira da mesa. – Por qual motivo eu estou aqui?
- Vampiro fantasma pirata. – Eu comentei prontamente.

William fez uma cara sensacional. Algo que eu só posso definir como expressão de quem enfiou um garfo em uma torradeira. Simplesmente porque não há melhor definição para esse tipo de expressão. Uma mistura de surpresa com estranhamento.

Nós imediatamente começamos a rir do vampiro.
- Ok. Pela primeira vez em séculos eu estou impressionado. Vampiro fantasma pirata? É isso que vocês estão caçando?
- Exatamente. – Sam confirmou com um sorriso enorme no rosto.

William imediatamente se levantou da cadeira.

- Com licença, essa até eu terei que pesquisar. E olha que já vi muita coisa nessa vida...
E, dizendo isso, o vampiro desapareceu por entre as estantes.
Nós continuamos com o nosso desbravamento de livros. Líamos diversos livros e colocávamos os terminados no centro da mesa. William desaparecera nas estantes e, de vez em quando, eu o via indo de um lado para o outro, com um livro em mãos.
O dia foi escurecendo. Pelas altas janelas de madeira, eu via o céu passando de azul claro para o tom róseo da tarde. Logo, o tom de laranja tomou o céu e eu sabia que era o momento do pôr-do-sol. Ninguém sentia necessidade de comer, somente de tomar água e esticar um pouco as pernas, caminhando pela biblioteca.

Estávamos sem tempo. Logo a noite chegaria e o espírito atacaria novamente. E nós não conseguiríamos proteger a vítima novamente.

- Achei algo que possa ser interessante... – Sam comentou de repente. Nós três nos aglomeramos em volta dele. – Um navio pirata que tinha um capitão cruel e sanguinário. O interessante é isso: havia rumores de que ele era um vampiro.
- Qual era o nome dele?! – Dean perguntou quase se jogando em cima de Sam.
- Fairfax. – leu o nome que estava escrito no livro.
- Oi! – E, de repente, William surgiu das estantes com a cara mais confusa da face da terra.

A gente só encarou de volta.

- Alguém me chamou? – Ele perguntou ainda sem entender nada.
Eu peguei o livro das mãos de Sam imediatamente. Passei o dedo pelas letras, encontrando justamente o que eu queria: o nome do navio. Eva, The Red Queen.
- Você é o Capitão Fairfax?! – Eu perguntei, apontando para o vampiro, boquiaberta.

Ele fez cara de quem queria se chutar. Eu dei pulinhos de alegria.

Pela primeira vez na vida, eu estava pessoalmente conhecendo um pirata. Não era o Jack Sparrow, mas dava para o gasto.
- Culpado. – Ele respondeu com um suspiro. – Capitão do Eva, The Red Queen, que eu faço questão de esconder muito bem de arqueólogos enxeridos.
- Então seu nome é Fairfax? – Dean perguntou um tanto confuso.
- William Fairfax. – O vampiro deu de ombros. – Antigamente, eu usava mais o Fairfax.
- Ok, Capitão Fairfax... Se você é um vampiro e foi capitão de um navio, tinha mais algum vampiro na sua tripulação? – A perguntou se sentando, o que fez com que todos nós sentássemos à grande mesa. A noite estava chegando e não tínhamos tempo a perder.
- Não, eu fiz questão de não transformar ninguém... – E William parecia perdido nas suas memórias. – E a Eva também não transformou ninguém no White Queen. Era uma regra mútua.
- Então a sua companheira também foi capitã de um navio? – Eu perguntei e ele fez que sim com a cabeça.

Naquele momento, cheguei à conclusão que um dia queria sentar só para ouvir as histórias que ele tinha para contar.

- William, por favor, pense. – Sam pediu, chegando mais perto do vampiro. – Qualquer coisa pode ser importante. Não havia nenhum vampiro que morreu no seu navio?
- Não. – Will respondeu com uma certeza inabalável. Mas, pareceu pensar duas vezes logo em seguida. – A não ser que...
- O quê?! – Nós quatro perguntamos juntos.

Eu falei que o tempo estava curto.

- Teve um marujo... Thomas Gates, se não me engano... Ele me desafiou na frente de todos e tentou um motim. Eu lutei com ele e, óbvio, venci. Quando um dos marujos jogou o corpo dele no mar, porém, falou que ele não estava completamente morto, porém às portas da morte. Naquela época, não dei muita atenção àquilo. Afinal, ele ia morrer de qualquer jeito.
- E como você o matou? – Precisávamos saber dos mínimos detalhes. E parecia que só eu estava pensando rápido o suficiente para fazer aquele tipo de pergunta.
- Quando ele perdeu a espada, eu o mordi. – William deu de ombros. Ah, claro. Porque aquilo era extremamente normal. – Algumas vezes. Era de praxe derramar bastante sangue no deque, assim os outros teriam medo e deixariam o navio no próximo porto ao invés de tentar um motim.
- Era de praxe. – Dean comentou com uma sobrancelha erguida.
- Exato. – O vampiro respondeu, ainda impassível.

Yep. Um tanto assustador.

- Então, se eu entendi bem essa história, Thomas Gates não está enterrado? – Sam perguntou um tanto preocupado.

Ok. Aquilo era um problema.

- Não. Marujos que começavam um motim não tinham direito a um enterro. – Will respondeu com um pouquinho de raiva. – A maioria dos piratas não tinha.
- Então como vamos fazer agora?
A minha pergunta ficou no ar. Precisávamos de uma resposta rapidamente: o sol já estava sumindo e a noite se aproximava.
- Já sei. – Dean comentou com um sorriso. – Eu e Sam já lidamos com piratas antes. William, vamos precisar de você. Ou melhor, do Capitão Fairfax.
Eu sorri. Tínhamos um plano, armas e o homem que matara o nosso pirata fantasma vampiro. Na minha cabeça, só um pensamento: Thomas Gates que nos aguarde!


E lá estávamos nós de volta ao cemitério.
O que o William tinha feito com os corpos dos vampiros que matamos anteriormente, eu não fazia a menor idéia. Mas tendo em vista que ele em si era um vampiro meio inconseqüente, resolvi deixar aquela questão de lado. Sinceramente, ele me assustava um pouquinho.

Sei lá. Vai que ele surtava e resolvia me comer do nada.

Sem más intenções, pessoas.

- Ainda não entendi a do cemitério. – A estava ao meu lado. Quando olhei para a criatura, vi que estava sentada em cima de um daqueles túmulos altos, balançando os pezinhos.
- Você não tem nenhum respeito pelos mortos, não? – Perguntei me segurando para não rir. Apesar de ser a mais velha, às vezes ela parecia uma criança.
Bom, quase sempre, porque eu sempre pareci mais velha que ela.

---> E eu sempre pareci mais inteligente. By - Eu to cansada... – Ela reclamou quase fazendo bico. – E a minha questão anterior ainda fica no ar.
- É verdade, também não entendi a do cemitério...
Na verdade, não tinha entendido nada. Sam e Dean estavam à frente, fazendo um ritual muito louco com velas, plantas e desenhos em cima de outro túmulo. E aquilo estava realmente me assustando.

O vampiro? Tinha sumido.

- Sabe... Estava pensando que o Will me assusta um pouco. Ele sempre foi assim? – Comentei enquanto observava Sam procurando algum encantamento no seu livrinho de latim.

Ele é tão aplicado que é quase fluente em latim. Só de ler rituais e encantamentos (sim, eu estou quase radiante de orgulho enquanto escrevo).

- Diz a garota que é apaixonada pelo Eric bonitão que retalha pessoas sem nem pensar. – respondeu rindo.
- O Eric é completamente diferente. Ele fica fofo depois e eu comecei a gostar dele perto dessa época. Basicamente na época que o Bill vira um completo filho da puta. – Eu cruzei os braços. – Se bem me lembro, você que gostava do Eric desde o começo e ficou bravinha quando ele ficou fofo.
- Uma besta apaixonada. Ele era melhor antes. – E ela torceu o nariz. – Mas sim, o Will sempre foi desse jeito. Até que me lembra um pouquinho o Dean, pra falar a verdade...

Fiquei observando a durante alguns momentos. Suspirei em seguida. Eu sabia exatamente do que ela estava falando.

- O Sam também... Eu já vi esse outro lado dele... – Comentei cruzando os braços novamente, observando seriamente o ser ao qual eu me referia. – Às vezes parece que ele... Desliga completamente. Vai pra outro mundo... E vira um troço assustador.
- Nossa. “Troço assustador”. – Ela respondeu claramente me zoando. Só fiquei olhando, esperando uma explicação para aquele tom de voz. – Sei lá. Eu achei que você ia usar alguma coisa do tipo “assassino a sangue frio incontrolável e sem limites”.

Eu comecei a rir.

- Ah, sei lá. Você que é a rainha do drama.
- Cala a boca, . Eu não sou rainha de drama nenhum. – Tentei parecer brava, mas não deu certo.
Enquanto isso, voltei a observar Sam. Em algumas vezes que caçamos juntos eu percebi aquele lado dele. De assassino, como a disse. E, sinceramente, aquilo me deu mais medo do que qualquer coisa que eu já enfrentei na minha vida.
Não pude sentir um alívio maior quando aquela criaturinha de quase dois metros de altura olhou para mim e sorriu. Eu sorri de volta e comecei a rir quando Dean deu uma bronca nele e disse para ele se concentrar. Bom, eventualmente eles iam explicar o que estavam fazendo então não tínhamos com o que nos preocupar.

Porém eu não me sentia nem um pouco relaxada.

- Eu não gosto quando o Dean fica desse jeito. – A comentou de repente, ainda balançando os pezinhos. – Parece que ele vai... Sei lá... Sumir. Pouco a pouco.
- Sumir com um homem enorme desse não é muito fácil, . – Eu comentei de volta e nós imediatamente começamos a rir.
Afinal, o Dean também não era baixinho. É que todo mundo parecia um Smurf perto do Sam.
- Você entendeu, ô palhaça! – Ela respondeu ainda rindo. Eu fiz que sim com a cabeça.
E antes que pudéssemos voltar ao nosso assunto filosófico sobre sumir com homens de quase dois metros de altura, o ilustre vampiro quase literalmente se materializou ao nosso lado.

Claro, eu me assustei.

- Credo, homem! Não faz mais isso! – E também óbvio que eu tinha que dar uma bronca nele. A criatura só riu.
- Desculpe. Eu esqueci que você não está acostumada.
- Poucas pessoas estão acostumadas com um ser que aparata do lado delas, Will. – também estava rindo. Provavelmente mais do que devia.
- Para de me julgar, criancinha. – Ele respondeu secamente, mas estava sorrindo. – E eu posso garantir que eles não vão sumir se vocês ficarem ao lado deles.
- Quê?

Se eu e a falamos ao mesmo tempo, é porque ele realmente perdeu a gente. Do que ele estava falando?!

Ao invés de explicar, William só ficou observando os dois terminando os preparos para o ritual noturno.
E daí eu soltei aquela típica exclamação de quem tinha acabado de descobrir a Austrália. Seguida da exclamação da . Um perfeito efeito cascata de entendimentos. O vampiro sorriu.
- Só posso dizer isso, pois eu sempre tive a Eva ao meu lado. – E ele deu uma piscadela para nós. – Vocês dois! Não vão acabar isso nunca? Se o sol sai, eu viro pó, sabiam?!
- Oferecer pra ajudar, ninguém quer, né? – Dean respondeu amargamente.

Opa. Eu tinha me esquecido daquele detalhe.

Olhei para a e ela estava com a mesma cara que eu, olhando para mim logo em seguida. Nós ficamos tão entretidas no nosso assunto que acabamos esquecendo completamente de oferecer ajuda.
Mas, em nossa defesa – que eu só consegui pensar agora enquanto eu escrevo – o senhor Sam falou para nós duas esperarmos enquanto eles organizavam tudo. OU SEJA, eles não tinham o MENOR direito de reclamar.

E ponto.

(Acredite, toda essa questão levou a uma discussão de proporções fenomenais. Não tanto quanto a mentirinha do William, mas o suficiente para fazer com que eu e a chutássemos o banco de Sam e Dean enquanto rebocávamos o Ninety-Eight.)
- De qualquer jeito, já terminamos. – Sam adicionou suspirando. Como eu disse, nós éramos os agentes responsáveis pela paz no nosso grupinho. – Que horas são?
- Exatamente três para meia noite. – Respondi checando no meu celular. – Daqui a pouco é o horário do ataque.
- Então vamos explicar. Da última vez que lidamos com piratas, não tinha como nos livrarmos do espírito de uma maneira normal. – Sam começou a falar. Dean só se sentou na beirada do túmulo e ficou checando o horário no relógio. – Então demos um jeito de invocar o espírito do capitão que matou o espírito que estava assombrando as pessoas. Assim os dois puderam resolver os problemas.
- Então o objetivo é fazer com que o espírito de Thomas Gates se resolva com o Will? – Perguntei. Aquela teoria era realmente interessante. Muito criativa, eu tinha que admitir.
- Exato.
- E se não der certo? – se manifestou. – Precisamos ter um plano reserva.
- Você sempre pensa demais, linda. – Dean comentou sorrindo. – Mas eu já pensei nisso também. Enquanto eles se resolvem, podemos procurar por aí algum objeto que Thomas Gates possa ter deixado para trás.
- Ah, então eu simplesmente vou ficar aqui, tomando chá com bolachas com Thomas Gates. – William comentou ironicamente. Eu e seguramos o riso. – Não sei se vocês perceberam, mas eu o matei justamente porque ele não era muito civilizado.
- Você não o matou, você dilacerou. – Dean comentou amargamente.

E logo Sam veio se manifestar para colocar panos quentes.

- É que estávamos pensando que a maneira que ele mata é exatamente a mesma maneira que ele foi morto. Então pode ser mais interessante para ele ficar aqui com você.
- Não exatamente. Ou haveria mais sangue nas vítimas. – Will suspirou. – E Gates morreu afogado. Provavelmente sua transformação ocorreu segundos antes de morrer e por isso não sobreviveu. E deve estar revoltado com isso.
- Afogado? – Eu e Sam perguntamos juntos.

E não tem sentimento mais fofo no mundo do que sincronizar com seu namorado. Marquem minhas palavras.

- O meu contra mestre comentou que ele estava respirando quando o jogou do navio. – O vampiro praticamente deu de ombros. A indiferença dele com aquele tipo de assunto incomodava.
- Então deve ser por isso que está com tanta raiva... – Eu considerei mais para mim mesma.
- A gente sempre pode jogar o Will no mar, caso tudo dê errado. – deu de ombros. O vampiro lançou um olhar de morte para ela e nós não conseguimos deixar de rir dele.
- Tenta me jogar no mar, querida... Você vem junto. – William comentou por entre as presas.

Eu já falei que ele me assustava um pouco?

- Ok, gente, não tem mais tempo para pensar. Meia noite e três. – Dean comentou se levantando e pegando um pé de cabra de ferro, só por precaução. – Daqui a pouco a festa começa.
- Já era hora! – suspirou, levantando-se do seu túmulo. Pegou um pedaço de ferro que estava ao seu lado. – Eu já estava ficando com as pernas dormentes.
Agora que eu li essa frase, consigo imaginar muito bem aquela criatura levantando do túmulo como um dos mortos vivos do Thriller. Michael Jackson é vida, gente.

*Ela só me imagina como gente bonita. Que amor de irmã*

Você deve estar se perguntando: se o espírito ia aparecer de qualquer jeito, por que eles estavam preparando o ritual?
Bom, como consideramos anteriormente, Thomas Gates provavelmente aparecia e matava a pessoa que estivesse carregando um objeto que foi dele. Como não conseguimos descobrir o que era, o ritual para invocá-lo deveria ter mais força que o antigo objeto.

De repente, Sam começou a ler o livrinho de latim. Aquilo fez descer calafrios pela minha espinha.

Ok, qualquer um que ler isso deve achar que eu sou uma medrosa de carteirinha. Mas não é bem assim. Vou descrever o lugar só pra você entender o problema.
Era meia noite. A noite estava escura, a lua parecia que tinha sumido. O céu estava negro. A única fonte de iluminação eram a luz das estrelas e as nossas lanternas. A noite estava quente, mas a temperatura abaixava gradualmente. Uma estranha névoa branca, que não era para estar lá, se enroscava nos nossos pés, exatamente da mesma maneira que aconteceu quando visitamos aquele cemitério pela primeira vez. De vez em quando era possível ver algo se mexendo, o que logo eu identifiquei como corvos sentados em cruzes, pedaços de granito ou anjos imóveis.
E tudo estava em um silêncio sepulcral. A única coisa que se podia ouvir, era a voz grave de Sam lendo o ritual em latim, a luz das velas dando uma leve sombra alaranjada em seu rosto.

Agora vai me dizer pra não ter medo.

Segurei a corrente de ferro que levara para me proteger com mais força. A qualquer momento Thomas Gates apareceria. As pontas dos meus dedos começaram a ficar geladas. Senti o meu nariz também começando a congelar.

A temperatura estava abaixando.

O frio irradiava pelas minhas mãos até o meu pulso. Ninguém dizia uma palavra, só ouvíamos o que Sam estava dizendo. Abri a boca e vi uma fina fumaça branca saindo.

Dean e trocaram olhares.

Nem tive tempo de me perguntar o que eles estavam pensando: as luzes das lanternas começaram a piscar.
Chegara a hora.

Ficamos aguardando, a postos. A primeira menção de um ataque seria o suficiente para nos defendermos. Queríamos que Thomas Gates se resolvesse com Will, não que tentasse nos matar.

E aí eu vi uma das cenas que realmente vai me dar pesadelos para todo o sempre.

Quando olhei para o vampiro, seu pescoço estava sangrando. Como se uma força invisível estivesse fazendo machucados profundos. William estava calmo e impassível. Enquanto isso, de seu pescoço escorria sangue, manchando a camisa branca e aumentando o fluxo gradualmente.

E ele não fazia nada.

Simplesmente nada. Não dava pra ver o que estava causando tudo aquilo, mas ele estava sangrando. E era muito sangue pra ficar impassível daquele jeito. Até mesmo para um vampiro. Já estava começando escorrer até a calça dele e manchar as criptas mais próximas com respingos de sangue.

Claro, isso tudo aconteceu muito rápido.

- Já terminou? – William perguntou com um suspiro. – Você deve saber que isso não é suficiente pra me matar. Precisa de muito
E o fantasma apareceu, logo à nossa frente, no meio do grupo. Ele sorriu com escárnio, revelando as longas presas pontiagudas.
- Se eu soubesse que você tinha se transformado, voltaria para te matar de uma maneira melhor. – William comentou cruzando os braços, parecendo insatisfeito. – Não tinha a menor intenção de te transformar... Nisso.
- No quê?! Em um monstro que nem você, Capitão Fairfax?!

Pela primeira vez ouvimos a voz de Thomas Gates.

Era grave e saía com dificuldade. Como se a garganta dele tivesse sido tão dilacerada que falar se tornara algo muito mais difícil que o normal.
Credo. Só de lembrar me dá arrepios. Parecia que o ar saía como um chiado pelos machucados no seu pescoço. As palavras eram arrastadas, todas cheias de raiva. E isso só piorava o chiado.
- Não. Nessa coisa patética de espírito pirata vampiro. – Will torceu o nariz.
- Ele tem algum tipo de problema? – Cochichei para .
Não era possível gente. O homem já estava todo coberto de sangue, o suficiente para deixar um ser humano normal zonzo e desorientado, e mesmo assim ficava provocando aquele troço?!

Quis me chutar em seguida por ter perguntado, pois Thomas Gates pareceu notar a nossa presença.

- Ah, então você tem amigos caçadores? – O espírito perguntou e em seguida soltou uma risada.
Ou pelo menos tentou. Pois tudo que eu conseguia ouvir era o chiado que saía da sua garganta.

E Thomas Gates sumiu.

- Para onde ele foi? – Dean sussurrou confuso.
Olhávamos para todos os lados, completamente perdidos. Mas não saíamos dos nossos lugares. Se andássemos e houvesse um ataque, seria pior. Era melhor aguardarmos nos lugares em que estávamos, tentando encontrá-lo só de olhar.
- Ele não vai atacar vocês. – Will estava completamente seguro daquilo.
Eu até comecei a ficar um pouco mais calma com toda a segurança do vampiro, mas aquele sentimento não durou nem um segundo. Toda minha calma foi quebrada por um grito de Sam.
Sim, meu Sam. Quando olhei para ele, sangue jorrava de seu pescoço, assim como acontecia com William anteriormente. Mas, como o Sam é um ser humano, ele gritava de dor e tentava se desvencilhar de algo invisível.

AGORA ME RESPONDE COMO VOCÊ LIVRA SEU HOMEM DE UMA AMEAÇA INVISÍVEL?!

Como deu pra perceber, eu surtei.

- Sam! – Imediatamente saí correndo até ele. Sem pensar. – Sam! Pare de se mexer!
Ajeitei a corrente na minha mão e, quando me aproximei dele, golpeei o ar.
Sam se estatelou no chão ao meu lado, caindo de joelhos. Segurava o pescoço para tentar estancar o sangue. Abaixei logo em seguida, analisando a ferida.
- Está tudo bem? – Perguntei mais por perguntar. Era óbvio que não estava tudo bem. A mordida era profunda. – Fica segurando, pra estancar o sangue...
Quando olhei de volta para o grupo, estava olhando Dean fixamente. E ele com aquela típica cara de que ela ia fazer besteira.
- . Não faz isso. Fica aí. – Dean falou, mas ela parecia tentada a fazer o que queria. – Eu me viro sozinho. Fica. Aí.

Ela suspirou.

- Eu fico. Mas um sinal de que tem sangue saindo do seu pescoço e eu vôo nesse desgraçado, Dean. – Ela respondeu nem um pouco feliz de ter que ficar em seu lugar.
- É, eu captei isso quando você deu uma voadora em um lobisomem. – Dean estava quase rindo. Ela deu um sorriso nervoso de volta.
- Sério que você fez isso? – E claro, o único ser que estava mega despreocupado era ele, o vampiro William.
De repente, o grito veio de . E tudo foi tão rápido que, quando eu olhei para ela, o sangue já estava escorrendo pela sua calça jeans.

E eu não tinha a menor idéia do que fazer. Ficava lá com o Sam ou ia ajudar a minha irmã?! Era óbvio que o Sam precisava de ajuda, afinal aquela ferida não parava de sangrar. Ele estava relativamente zonzo e mal conseguia estancar o sangue com força. Mas era a minha irmã que estava lá, em um ataque mortal. Se eu não fosse ajudá-la, ela poderia morrer. Se eu fosse, o Sam poderia morrer.

E de novo, eu não sabia o que fazer.

Fiquei completamente desesperada. Se eu já estava antes, imagina agora. Pela primeira vez entendi o motivo de toda aquela bichisse da para não ficarmos juntos. Eu sempre achei que ela estava fazendo drama demais, mas agora entendi que não estava. O drama era real.
Se você tivesse que escolher uma vida para salvar de quem seria: da sua irmã ou o homem que você ama?
Claro que pensei nisso em segundos. Quando eu já estava quase soltando a mão do Sam e tomando minha decisão, Dean saiu correndo para ajudá-la.

Ok, eu tinha me esquecido do Dean. Mas isso não é importante.

Ele fez que nem eu: acertou o ar e segurou uma pálida nos braços. Pelo menos ela ainda segurava o pescoço com força pra estancar o sangue. Nunca vi alguém com um instinto de sobrevivência maior que ela.
- Você pode matar todo mundo aqui. Não vai me afetar, Gates. – William anunciou e sentou-se em um túmulo. – Vou ficar aguardando até você ter a boa vontade de conversar. Não estou no humor de ficar correndo atrás de você que nem um idiota

Ele realmente não ligava. Era o que a tinha dito, se ela tentasse matá-lo, ele a mataria.

E daí eu não sabia mais se tínhamos que nos proteger de Thomas Gates ou de Will.

- ... Vai fazer alguma coisa... – Sam comentou com dificuldade. Sério, para ele não se levantar do chão, é que o negócio é sério. Eu o ajudei a se encostar a um túmulo próximo. – Você e o Dean... Não ta dando certo o que a gente pensou...
- Você consegue manter pressão? – Mas, pela cara dele, a resposta era não.
Então eu fiz o que a pessoa mais sensata do mundo faria.

Pelo menos, na minha opinião.

Segurei a minha blusa com força e cortei uma faixa. Peguei aquele pedaço de pano e enrolei em volta do pescoço de Sam. Chequei algumas vezes pra ter certeza que não estava esganando o coitado nem que estava muito frouxo.
- Capitão Fairfax... Já está na hora de eu arrastá-lo para o inferno comigo! – Thomas Gates estava parado em frente ao vampiro.
Sentindo um pequeno peso no meu coração, deixei Sam para trás. Dean já estava próximo de Gates, pronto para acertá-lo se algo acontecesse.
- Como a está?
- Ah, você conhece a sua irmã. – Dean olhou para mim e piscou. – Ela se vira. Agora está na hora de lidarmos com esse filho da puta.
- Você realmente se esqueceu de tudo que eu fiz por você? – William perguntou com os braços cruzados. – Se for assim, não há o que conversar. Não estou pronto ainda para ir ao inferno.
- Você nunca fez... – Conforme ele ia ficando mais nervoso, a dificuldade de falar aumentava. – NADA POR MIM!
- Dean. Pode se virar. – E Will jogou alguma coisa para Dean.
Quando fui ver, era uma moeda maciça de ouro. E quando eu digo maciça, é tipo o medalhão do Piratas do Caribe. A gente nunca ia conseguir derreter aquilo lá.
- Você vem junto, vampiro! – Dean apontou para William, fazendo-o acompanhá-lo enquanto saía correndo. – Eu gostei da idéia da de te jogar no mar!

Ok. Eu estava muito perdida.

- Gente... Onde estamos indo? E o que é isso?!
- O vampirinho aqui achou isso com a última vítima... – Dean explicou enquanto corria. William não parecia estar fazendo o menor esforço. – Disse que pertencia a Gates! Mas nunca íamos derreter isso a tempo, então fizemos um plano B!
- Achei que o plano B era procurar o negócio. – Sim, eu estava julgando Sam e Dean por mentirem para nós sobre aquilo. Qual era a droga do plano B afinal?
- O plano B é pegar isso aqui e jogar no mar! – Dean explicou, checando por cima dos ombros se Gates estava no nosso encalço. – Vamos até o píer! É a melhor solução que achamos!
- E qualquer coisa a gente joga o Will no mar também?
- Yep! – Dean abriu um sorriso enorme. William só rolava os olhos.

Quando chegamos aos carros, Dean checou os bolsos.

Acho que paramos de respirar quando ele viu que a chave do Impala não estava lá.

- Você esqueceu a chave?! – Eu estava MEGA indignada com aquele fato!
- Ficou com o Sam! Merda!
- Então vamos com o nosso! – A minha sorte era que a tinha deixado a chave do Ninety-Eight comigo quando resolveu amarrar a bota no cemitério e se esquecera de pegar de volta.

Às vezes vale a pena ter uma irmã cabeça de vento.

Só que Dean arrancou as chaves da minha mão e entrou no carro correndo, com William no banco de passageiro.
- O que você acha que está fazendo?! – Se eu estava indignada antes, agora estava pior.
- Eu e o Sam não queríamos que vocês viessem junto, por isso não contamos o plano B! – E Dean piscou para mim enquanto ligava o carro. – Vai cuidar deles! Gates vai nos seguir, querendo ou não!

Com essas palavras, ele saiu dirigindo na escuridão, deixando-me para trás na névoa do cemitério.

- DEAN, SEU FILHO DA PUTA!!! – Foi a única reação que eu consegui ter. Afinal, tudo acontecera tão rápido que eu nem tive a chance de me enfiar no carro correndo e fazê-lo me levar à força.
- ! Ta tudo bem?! O que aconteceu?! – Sam apareceu correndo o mais rápido que ele podia. Apoiou-se no portão do cemitério logo que me alcançou. Ele estava extremamente pálido, coitado.
- O Dean aconteceu! Ele saiu com o nosso carro para o píer! – Eu estava praticamente cuspindo fogo. – Que história é essa de não nos levar?! Eu não sou uma dama em perigo que tem que ser protegida!
- A gente discute isso depois... – Ele comentou ofegante. – Cadê a ?
- O quê? – E finalmente percebi que ela era o elemento faltante. – Ela não estava com você lá no cemitério?!
- Desde que vocês saíram correndo, ela sumiu! – Sam parecia mais confuso que eu. – Achei que ela estava junto com vocês!
- Ah, droga! Se ela não está aqui, não está com você e não está com eles, Gates deve estar com ela!
- E cadê ele?!
- Não sei! – Eu simplesmente queria matar todo mundo. O que era pra ser uma coisa super simples, tinha se tornado super complicada. Meu namorado estava quase morrendo por falta de sangue, minha irmã idem, de quebra a criatura sumiu e Dean estava dirigindo que nem um louco até o píer. Ou seja: todo mundo podia morrer. – Pega as chaves do Impala, Sam! A gente vai atrás deles!
Ele jogou as chaves do carro para mim e entramos no Impala. Quando eu dei partida, já saí correndo pela estrada que nem uma desesperada. Qualquer guarda podia tentar me parar ou fazer qualquer coisa comigo, mas vidas estavam em jogo. Eu não ia ficar parada esperando que tudo acabasse como uma donzela em perigo.

Eu ia pegar uma bala de ferro e dar um tiro na testa daquele infeliz do Thomas Gates.

E antes que você se pergunte: sim, eu estava realizada de estar dirigindo o tão precioso Impala do Dean.

Eu estava dirigindo tão insanamente, que Sam não falava uma palavra. Após alguns minutos na direção, consegui distinguir o Ninety-Eight na escuridão. Eu ia alcançar Dean e fazê-lo parar a droga daquele carro. A minha irmã tinha sido seqüestrada, poxa! Ele devia ter pensado nisso antes de abandoná-la ensangüentada no meio de um cemitério desolado!

No momento seguinte, o tempo parou.

Eu tenho que agradecer pelos meus reflexos rápidos.
O Ninety-Eight estava completamente desgovernado. Em poucos segundos, ouvi uma explosão no motor e vi o carro derrapando a toda velocidade em direção a um paredão de concreto.

A frente inteira se estilhaçou em pedacinhos.

Arregalei os olhos. Antes de fazer qualquer coisa, desviei o Impala, fazendo-nos derrapar por alguns metros. Quando o carro parou, eu fiquei agarrada ao volante, em choque, observando o Ninety-Eight.

O carro estava em frangalhos.

Saía fumaça por todos os lados. Eu achei que ia explodir, mas não sei o que foi – Deus, força do Universo, sorte – que nos salvou aquele dia e fez com que nada explodisse.

E a única coisa que eu podia pensar era: o Dean morreu.

Por isso, eu não conseguia largar do volante. Parecia que minhas mãos tinham grudado. Eu fiquei lá, congelada, de olhos arregalados, observando aquela cena horrível à minha frente. Eu conseguia ver sangue no vidro da frente do carro. Nossos air-bags não estavam funcionando – o carro era muito velho – mas nós duas sempre confiamos na maneira que dirigíamos.

Ou seja, nada aparou Dean e William naquela batida terrível.

- ! Tudo bem?! – Sam surgiu do nada ao meu lado. Eu já até tinha esquecido que ele estava lá. Ele segurou o meu rosto e começou a limpar as minhas lágrimas. – Calma, fica calma... Vamos lá ver o que aconteceu, ok?
Mas ele mesmo não estava calmo. Vi que suas mãos estavam tremendo enquanto soltavam as minhas do volante.
- O Dean... O Dean... – E eu só conseguia murmurar um monte de coisas sem sentido enquanto saíamos do carro.

Corremos até o Ninety-Eight. Quando fui perceber, Will estava tirando Dean de dentro do carro. Dean estava com vários machucados, mas nenhum que parecia fatal. Aquilo me aliviou um pouco.

William, por outro lado, estava bem tenso de se observar. Tinha cacos de vidro pelo corpo todo, as costas da camisa estavam inteirinhas dilaceradas, com sangue escorrendo. Mesmo com vários machucados profundos, ele estava lá, ajudando o Dean.
- Vocês estão bem? – Ele perguntou enquanto puxava o que faltava de Dean.
- Obrigado... – Dean comentou a meia voz, ofegando. – Cadê... Cadê a ?
- Não está aqui. – Eu comentei meio desesperada.
Ainda estava meio em choque pelo que tinha acabado de acontecer. Dean estava vivo, e isso me aliviava, mas tinha acabado de sentir o medo de uma provável perda. E aquilo ainda apertava no meu coração.
- Ah, ela está aqui sim!
Ah, Thomas Gates. Ele mal podia esperar. Se estivesse vivo, eu o torturaria um dia inteiro antes de acabar com ele!

Quando nos viramos para gritar com ele – porque eu acho que todo mundo estava no mesmo humor que eu – lá estava o fantasma, segurando uma super pálida pelos cabelos.

- Eu sei como te matar, Fairfax! – Ele gritou enraivecido. Parecia que a ia desmaiar a qualquer momento. – Desista e eu a deixo ir!
- Você disse que eu nunca fiz nada por você, não? – Toda a calma de Will tinha sumido. Seus olhos quase negros de tão escuros. Yep, eu ia deixar ele cuidar daquele animal. Se não desse certo, mandaria bala em Gates. – Eu ajudei a sua mulher e seu filho depois que você morreu. Dei uma vida digna aos dois, coisa que eu sei que você estava tentando fazer.

Todo mundo ficou em silêncio completo. Finalmente Will conseguira conversar um pouco com Gates.

E eu percebi que o espírito ficou um tanto abalado.

- Mas você, com toda a sua ganância de se tornar capitão, esqueceu-se disso. Eu nunca daria o Red Queen para ninguém, Gates. A sua mulher chorou quando ouviu aonde a sua ganância tinha te levado. E eu fiquei com dó dela. Ajudei como podia para que seu filho não seguisse seu caminho. – E Will suspirou. – Ele virou Oficial da Marinha Britânica, com um navio próprio. Capitão Bartholomew Gates.
Thomas Gates ficou parado no lugar ao ouvir aquelas palavras. Parecia decidir o que faria. Ele tinha duas opções: arrepender-se e seguir em frente, ou continuar com tudo e acabar no fundo do mar. De novo.
- Pense bem, Gates. Eu sou mais rápido que você. Posso tirar a dos seus braços e carregá-la junto comigo ao píer em segundos, jogando a moeda no mar. – William comentou e mostrou o objeto. – Sabe como isso sobreviveu até hoje? Era a única memória que o seu filho tinha de você. Eu dei a ele.

A mão de Thomas afrouxou em volta do cabelo da .

- Eu... – O espírito parou de falar e pensou duas vezes. Olhou novamente nos olhos negros de William. – Eu devolvo a mulher... Se você me devolver isso.

Will sorriu. Caminhou calmamente até Gates, que não tirou os pés do lugar. Estendeu a moeda para o espírito.

Sinceramente, eu achava que ele ia pegar o objeto e matar a em seguida, só de raiva. Mas logo que as mãos do espírito tocaram a moeda, vi caindo nos braços de William, completamente fraca.
- Obrigado... – O espírito sussurrou e sumiu no ar, derrubando a moeda no chão.

Thomas Gates finalmente podia descansar em paz.

- Sério?! – Dean perguntou indignado, porém cansado. Estava apoiado no que restara do Ninety-Eight. – Tudo isso pra ele se arrepender e ir embora assim?! Por que você não fez isso antes?!
- Ele precisava ver o monstro que se tornou para poder se arrepender. – Will declarou seriamente, seus olhos tornando à coloração azul gradualmente.
Diga o que quiser, mas palavras filosóficas saídas da boca de um vampiro sempre são mais profundas.
- Calma aí... – se manifestou pela primeira vez, deixando-me um pouco aliviada. Pelo menos ela não estava morta. – Isso aí é o meu carro?! O MEU NINETY-EIGHT?! O WILL TÁ MACHUCADO?! CADÊ O DEAN?!

Yep. Ela estava bem.

E em seguida começou a chorar, ainda se apoiando em Will para andar.

- Dean, eu te odeio! Você destruiu o MEU carro!
Instalou-se o caos. Dean fugia de , que tentava correr atrás dele para esganá-lo – sendo amparada por um William risonho o tempo todo – enquanto Sam tentava colocar panos quentes. E eu? Tentava ajudar a minha irmã a esganar o Dean. O Ninety-Eight tinha dado perda total e era tudo culpa dele.


Como já era de se esperar, eu e a estávamos possessas.
A viagem de volta foi completamente silenciosa – tirando quando discutimos e chutamos os bancos dos dois inconseqüentes na nossa frente, como eu comentei anteriormente. Demos um jeito de amarrar o Ninety-Eight no Impala e lá estávamos nós rebocando o pobre coitado.

Para onde? Para a casa do Bobby, é clara. Com o William de brinde capotado no Ninety-Eight.

Segundo ele, estava meio zonzo pela perda de sangue. Mas ficaria bem.

A , por outro lado, não ficou. Juro que enquanto eu escrevo, ela ainda está lá fora, junto com o carro, tentando consertá-lo. É noite e acho que ela vai dormir lá. No frio e tudo. Até agora, ela não trocou uma palavra sequer com o Dean. A não ser para xingá-lo.

Ok, ele bateu o carro. Mas já estou até ficando com dó dele observando-a pela janela da casa.

Eu? Estou muito bem aconchegada no Sam. Estávamos assistindo um filme – sim, Sexta-Feira Treze, por mais que eu não quisesse – e ele deitou. Eu deitei junto e sabe-se lá como coubemos nesse sofá juntos. O Bobby está na cozinha, fazendo sei lá o que, enquanto eu estou tentando ignorar uma moça morrendo com uma machadada na cabeça. Lindo esse filme.
Mas voltando. Como já deu pra perceber, eu e o Sam estamos bem. Afinal, acho que nunca vai ter um dia que não vamos estar bem. Acredita que ele até me deu um morango na boca hoje no almoço? Eu quase capotei de emoção, mas me controlei pra fazer a cara mais sexy que consegui.

AAAAH, o vampiro! Não, ele não sumiu do nada. Na verdade, foi quase do nada.

Tínhamos acabado de chegar à casa do Bobby, para ser sincera, quando ele anunciou que sumiria outra vez. O que só aumentou o bico imenso na cara da .
Sério. Eu quase tirei uma foto da cara dela só pra ter alguma coisa do que rir quando estivesse chateada.

*Depois ela não quer que eu fique brava com as asneiras que ela escreve nessa porcaria*

Ok, ok. Não foi imediatamente quando chegamos à casa do Bobby. Ao chegarmos lá, William ainda estava estropiado e capotado no banco de trás do Ninety-Eight.

O que só me fez imaginá-lo dormindo em um caixão.

Mas releva-se. Bobby veio nos receber – lê-se perguntar o que diabos estávamos fazendo lá – e tomou um susto com o estado do carro.
- O que vocês idiotas fizeram dessa vez? Garotas, vocês estão bem? – O Bobby pode ser uma casca de ferida quando quer, mas também é muito fofo quando está preocupado.

Claro, se ele souber que eu acho isso, provavelmente corre atrás de mim.

- Mais ou menos, Bobby... – Comentei com um suspiro. A nem respondeu. Parecia que ficara muda de repente. – E foi culpa do Dean.
- Não foi não! A gente já discutiu sobre isso! – Dean bradou enquanto saía do carro, completamente emburrado.
- Dean... Cala a boca. – A finalmente comentou alguma coisa. A última coisa que ela fizera foi xingar o Dean e chutar a poltrona dele.
Ele ficou quieto e cruzou os braços, olhando para ela. A fez o mesmo. Os dois estavam em um concurso de encarar que eu achei que logo ia sair faíscas. Bobby ergueu uma sobrancelha ao observar aquela cena.
- Mal começaram a namorar e já estão discutindo desse jeito? Qual é o problema de vocês? – Ele franziu as sobrancelhas, completamente impaciente.
- Você prestou atenção no estado do carro?! – Eu perguntei indignada. Ok, achava sim que a estava exagerando um pouco, mas o Ninety-Eight estava praticamente irrecuperável.
- A gente dá um jeito nisso... – Sam comentou suspirando, apoiado no Impala. De todo mundo, ele era o mais calmo da briga. Acho que era porque o maior alívio dele era que o carro tinha quebrado e Dean estava vivo.
- Ah, sol... – De repente, ouvimos um ser resmungando como se tivesse acabado de acordar. Exatamente da mesma maneira que a faz quando acorda de manhã. – Já está tão claro assim...?

Era o William. Ele saiu meio capengando do carro, cobrindo os olhos com a mão. Ainda estava coberto de sangue e com a roupa toda rasgada, mas parecia um pouco melhor.

- Quem é esse?! – Óbvio, Bobby ficou indignado com a presença do nosso vampirinho.
Will caminhou calmamente até a porta da casa, ainda se protegendo do sol.
- Posso entrar?
Bobby consentiu com a cabeça e o vampiro pareceu mais feliz depois que pisou na sombra. Tirou os óculos escuros do bolso da calça e sorriu para nós ao colocá-los.
- Todo mundo ainda querendo se matar?
- Will. Não joga lenha na fogueira. – Eu rolei os olhos. Era tudo que a gente não precisava.
- Calem as bocas, todos vocês! – Bobby estava furioso repentinamente, o que fez Dean ficar quieto. Se Bobby não tivesse falado alguma coisa, Dean provavelmente tentaria dar um tiro no William e aí sim a coisa ficaria complicada. – Vocês têm muita coisa pra explicar! Então mexam essas bundas pra dentro de casa e tratem de começar a falar o que aconteceu!


Sentamos no sofá e, enquanto o Bobby bebia seu whisky, contamos tudo que aconteceu. Will capotou em uma cadeira, no canto mais escuro da sala e mal se mexia. A fazia uma ou outra adição na história. No fim, só eu e o Sam contamos o que realmente tinha acontecido, sem exagerar nos detalhes.

Ah, sim. E eu dei uma bela bronca no Dean por ter deixado a minha irmã sozinha no cemitério.

- Mas o que aconteceu com o carro, no fim das contas?
Foi só Bobby perguntar que o silêncio caiu na sala como um balde de água fria em todo mundo.

Ninguém tinha pensado em fazer aquela pergunta.

Ou seja, podia não ser culpa do Dean.

- Pelo que eu vi e senti quando o carro bateu, o motor fundiu. – Dean comentou seriamente. A lançou um olhar de morte tão profundo que eu quase busquei um balde de pipocas para assistir a briga.
- Como você é má... – Sam cochichou no meu ouvido, com uma risadinha no fim da frase. – Tenta parecer menos empolgada.
- Ok. – Eu respondi dando uma pequena risada. Yep, eu adoro o Sam.
- Meu motor nunca ia fundir, Dean Winchester. – Ok, a chamou pelo sobrenome. Daqui a pouco se jogava em cima dele.

Tipo a voadora no lobisomem.

- O seu não, linda. Mas o do seu carro já era. – E Dean deu um pequeno sorriso tentativo, meio sem jeito.
Eu quase morri com aquele momento fofo. Olhei para a cara do Sam e ele estava se segurando para não dar gargalhadas de mim. E claro, como ele é um homem muito inteligente, segurou as minhas mãos e se inclinou na minha direção.
- Controle-se, . Controle-se. Sem fazer barulhinhos de bichinho de pelúcia. – Ele cochichou e aquilo foi o suficiente para mim. Eu ia começar a rir escandalosamente.
Mas ele percebeu e foi mais rápido: quando viu que eu estava pra começar a gargalhar, arregalou os olhos e me puxou para perto, tapando a minha boca. E aquilo me deu mais vontade de rir. Ele estava tentando segurar as próprias risadas – mas, para falar a verdade, estava falhando um pouco.
- Muito engraçado, Dean. – Ela disse secamente e virou a cara, observando o carro pela janela. – Motor fundido ou não, o meu carro está uma sucata e você que estava dirigindo.

Eu fiquei com dó. A cara que o Dean fez... Simplesmente ficou quieto no canto e se sentou na cadeira novamente. Sem discutir.

SEM DISCUTIR, MINHA GENTE. O DEAN NÃO É ASSIM!

E ficou lá, com cara de amuado. Eu fiquei com vontade de dar um chute na . Sei que ela é grossa e mais Rainha do Gelo do que a própria Elsa, mas pelo amor de Deus. Parecia que ela queria arranjar briga com ele. Que queria ter um motivo para afastá-lo.

Eu ia abrir minha boca. Mas todas as atenções se mudaram para o outro canto da sala.

Castiel, o perdido, tinha acabado de chegar.

- Cas, meu lindo! Que saudades de você! – Eu praticamente gritei, levantando os braços, e quase batendo no Sam. Ainda bem que ele é rápido e se desviou.


E aí eu vi a coisa mais épica da minha vida: o Castiel sorriu pra mim.

Ok. Não foi bem um sorriso. Mas foi um mini sorrisinho no canto dos lábios. E isso já era uma grande vitória, pois ele sempre tinha cara de paisagem. Eternamente.
- O que é isso agora? Por acaso aqui é a casa da Mãe Joana?! – Bobby, como sempre, estava irritado e indignado.

Mas realmente, aquela casa parecia um circo. Acho que nunca teve tanta gente antes.

- Também estou contente em vê-la, . – Cas comentou com o sorrisinho e em seguida voltando para a cara de paisagem. – E não conheço nenhuma Mãe Joana, Bobby.
E lá foi Sam me segurar pra eu não sair dando gargalhadas de novo. A cara do Bobby foi sensacional. Ele ficou segurando o copo de whisky e encarando Cas com um olhar de morte que só o Bobby conseguia fazer. Eu e a aprendemos com ele.
- O que aconteceu com vocês? – Cas perguntou imediatamente se virando para e Dean. Os dois estavam em lados opostos da sala. A emburrada e o Dean amuado. – Achei que agora que estivessem juntos, iam dar gargalhadas toda hora que nem a e o Sam.
Eu e o Sam imediatamente ficamos quietos quando Dean e lançaram olhares para nós. Você deve estar me achando uma hiena, mas a situação estava muito engraçada. E o sorriso sem jeito e meio bobo que o Sam deu em seguida só piorou a minha situação.
- Cas... Você acha que consegue consertar um carro? Tipo instantaneamente que nem você fez com o machucado do Dean? – Quando a perguntou, percebi pela sua voz que estava menos brava.
- Desculpe. Mas não posso fazer isso. – Ele continuou com aquela cara impassível. – E quem é você?

Só aí eu fui perceber que Will tinha se levantado e estava se espreguiçando em seu cantinho escuro.

- William Fairfax, Castiel. – E o vampiro fez uma reverência. Eu sorri. – Prazer em conhecê-lo.
- Você e a Eva ainda estão resolvendo aqueles assuntos pendentes?
- Aposto que vocês devem se divertir lá no céu enquanto assistem o banho de sangue aqui embaixo. – William abriu um enorme sorriso irônico. Apesar de ser extremamente cordial, aquele tom que estava usando tinha uma ponta hostil.
- Não pude mais acompanhar as suas aventuras desde 1900. – Cas respondeu com um suspiro. Ainda com a cara de paisagem clássica. – Tive que resolver meus próprios problemas. Fico feliz que você e a Eva estão juntos novamente.
- Obrigado. – O sorriso de Will melhorou suavemente.
Mas, de repente, ele olhou para a janela. Como se alguma coisa muito importante estivesse lá fora. Ele estava com uma expressão suave que eu nunca achei que poderia ver no rosto de William.
- Falando nela, Eva me chama. – E ele abriu os olhos. Incrivelmente calmos. – Está na minha hora de ir. Faz algum tempo que não a vejo.

E foi exatamente aí que o bico da aumentou. Achei que ela tinha se acalmado, mas aparentemente não.

- Vê se não demora séculos pra voltar. Eu sou mortal, viu? – Ela reclamou, os braços cruzados. William sorriu para ela. Em um piscar de olhos, já a tinha alcançado e a beijou na bochecha.

Aposto que naquele momento o Dean virou uma fera por dentro. Uma fera sedenta de sangue de vampiro.

- Eu estarei de volta antes que você sinta a minha falta. – E piscou para ela.

Poxa, eu também queria.

Em segundos, lá estava William na minha frente. Segurou minha mão e deu um beijo um tanto demorado.
- Au revoir, madmoiselle.
Yep. Eu derreti e só consegui sorrir de volta. Vampiros são um perigo, minha gente. Não os vampiros que a gente caça, mas vampiros que nem aquela criatura.
- Cuide bem da . – E Will apertou a mão de Sam. – E Dean! Não deixe essa cabeça dura te empurrar pra longe.
Após dizer isso, o vampiro abriu a porta e sumiu. Não sei como ele foi, nem para onde foi. Não sei nem se vou encontrá-lo de novo. Mas espero que ele esteja feliz com a Eva.
Bom, depois disso, não aconteceu muita coisa. O Bobby foi para fora com a para ajudá-la a dar uma olhada no carro e ver se o estado era muito ruim. O Dean se prontificou, mas ela recusou a ajuda. Cas só ficou sentado observando tudo enquanto eu e o Sam demos de ombros e resolvemos assistir filmes.
Então cá estamos nós, o crédito do filme rolando alegremente na tela e eu feliz por ter terminado, Sam dormindo enquanto me abraça (ele provavelmente deve pensar que eu sou um ursinho de pelúcia), o Bobby ainda na cozinha, o Dean ainda quieto bebendo no seu canto e observando a esporadicamente...

Verdade, o Cas sumiu.

Mas isso não é muito estranho, pra falar a verdade.
Só queria que ele se despedisse com mais freqüência.


Eu achei que finalmente podia descansar um pouco. Já tinha fechado o diário e me aconchegado nos braços do Sam – que enterrou o nariz no meu cabelo – quando Cas, o anjo mais perdido da galáxia, apareceu no meio da sala com sacolas de plástico vermelhas.

Sim, vermelhas.

Ouvi o Sam resmungando atrás de mim.

- Cas...? O que é isso? – Ele perguntou ainda meio dormindo.
- Achei que todos estavam com fome. Trouxe hambúrgueres. – E ele levantou as sacolas. Junte isso com a cara de perdido dele e terá a cena mais bonitinha da face da terra. Eu só consegui sorrir.
- Obrigada, Cas! – Levantei para ajudá-lo com as sacolas. Só quando senti aquele cheirinho quente de pão de hambúrguer é que percebi que estava morrendo de fome. – Se dependesse deles, a gente definharia aqui.

E eu dei um beijinho na bochecha dele.

Se você acha que a expressão no rosto do Cas não podia ficar mais perdida, está enganado.

- Bobby... O Cas trouxe hambúrguer. Vem comer. – Sam, ainda meio sonâmbulo, chamou o Bobby na cozinha, que veio quase imediatamente quando ouviu a parte do “vem comer”.
Nós nos reunimos em volta da mesinha de centro para pegarmos os hambúrgueres. Dean ainda ficou lá no seu canto depressivo, olhando pela janela. Eu ia tomar uma atitude, mas – acredite ou não – Cas foi mais rápido.
- Dean. – O anjo chamou e ficou encarando até o Dean virar. Cas estendeu dois pacotinhos de hambúrguer. – Vai levar um pra .
- Cas, eu sou a última pessoa desse mundo que ela quer ver agora. – Dean balançou a cabeça e tomou mais um gole do whisky.
- Você é a única pessoa que ela quer ver. – Cas ainda estava com cara de paisagem.

Eu, Bobby e Sam observávamos aquela cena meio boquiabertos.

Dean olhou dos sanduíches para Cas e do Cas para os sanduíches. Terminou de beber o whisky e pegou os dois pacotinhos, abrindo a porta e dirigindo-se ao Ninety-Eight em frangalhos logo em seguida.
Sim. Bobby, Sam e eu sorrimos com aquilo. Sentamos no sofá como se nada tivesse acontecido, puxando Cas conosco, e tratamos de abrir os nossos pacotinhos para devorar os hambúrgueres enquanto assistíamos a algum programa aleatório na T.V.
O Dean e a ? Não sei. Ainda estão lá fora. O que é um bom sinal. Eu e Sam já arrumamos o sofá para dormirmos aqui – mais aconchegante impossível. Dá pra dormir bem pertinho dele.
De tudo que aconteceu nesses dias, só uma coisa conseguiu me deixar realmente impressionada e me faz sorrir toda hora que eu lembro: Cas só foi comprar os hambúrgueres para fazer o Dean ir falar com a . Esse anjo tem muitos sentimentos por baixo da cara de paisagem.
Um dia ele ainda irá revelá-los para mim. Aguardem-me.





Doom and Gloom – The Rolling Stones

- William! – gritou de repente. Não era possível saber se estava quase chorando, pois sua família estava sofrendo um atentado, ou se era porque finalmente estava encontrando William novamente. – Você demorou, seu idiota!
- Eu tive uns contratempos. Não posso ficar te seguindo onde quer que você vai. – Ele respondeu ainda com aquele sorrisinho nos lábios.

Mary e Jimmy só ficaram encarando, boquiabertos.

- Ele é um vampiro?! – Os dois perguntaram juntos. Queriam explicações. Naquele momento.
- Sim, eu sou, não temos muito tempo, muitas criaturas estão vindo pra cá e a Eva acabou de lavar a minha camisa, então não quero sujá-la. Podemos ir?

É. Ele estava exatamente como eles lembravam.

- Mas nós vamos para onde? – Paola perguntou antes que alguém fizesse alguma coisa. Segurou Mary pelo braço, pois sabia muito bem que Will era capaz de fazer qualquer mulher segui-lo até o inferno.
- Vamos logo! Eu estou aqui para ajudar vocês! Falo no caminho!
- Bom, nós nunca tivemos motivos para reclamar dele... – Dean disse enquanto se levantava e ajeitava a jaqueta. – Só precisamos pegar nossas armas.
- Temos armas suficientes pra onde estamos indo. – William respondeu já caminhando para a porta.
- Sem motivos pra reclamar dele? – colocou as mãos na cintura e encarava Dean. – Você quer que eu dê todos os motivos que você sempre tagarelou para mim em ordem cronológica ou alfabética?

Dean abriu a boca para refutar, mas Sam o interrompeu.

- Não adianta fingir que você morre de amores pelo vampiro, Dean. Nós te ouvimos xingando a criatura durante anos. – O irmão comentou com um sorrisinho no rosto e guardando a faca. – Temos que ir, Mary. Depois voltamos para pegar as suas coisas, ok?
- Calma! – Jimmy não tinha se conformado com toda aquela situação ainda. – Então quer dizer que um cara esquisito de cabelos compridos e dentes pontiagudos, que por um acaso é um vampiro, aparece aqui DO NADA e fala pra gente ir com ele e todo mundo vai achando que isso é muito normal?!

Os adultos trocaram olhares. Até William olhou para aquelas criaturas que agora eram pais teoricamente responsáveis. Poxa, ele não se achava esquisito. Tirando o fato de beber sangue e usar umas roupas meio antigas de vez em quando, ele era completamente normal.

- Sim. – Os quatro responderam juntos, fazendo o vampiro sorrir. Mary fechou a cara.

- Vocês sempre nos perturbaram em um nível extremo para não falarmos com estranhos! – A garota comentou, desvencilhando-se das mãos da mãe. – Agora nós somos atacados por um bando de pessoas esquisitas de olhos azuis brilhantes e estamos confiando em vampiros?!
- Mary... Eu sei que isso é muito difícil de entender... – Sam comentou com um suspiro, limpando o suor da testa. Sabia que precisavam sair de lá logo. – Acredite, para mim não foi fácil. Eu tentei mudar de vida, mas não consegui. E no começo foi igualmente difícil para entender. Mas eu preciso que você seja forte e agüente um pouco as coisas até conseguirmos conversar. Nós sabemos o que estamos fazendo.
Mary suspirou. Ainda estava com um bico enorme no rosto, os braços cruzados. William olhou para fora durante alguns segundos e depois voltou sua atenção para o que acontecia lá dentro. Parecia não se importar nem um pouco com a mão cheia de sangue.
- Tudo bem... Eu confio em vocês... – Ela suspirou, um tanto derrotada.
- Ok. Vem comigo pra cozinha. Vamos estocar pelo menos um pouco de água benta, porque isso eu sei que o William não tem. – Sendo assim, Paola e Mary saíram correndo para a cozinha, com a bolsa de Paola em mãos.
Dean só olhou para Jimmy. O garoto suspirou e deu um meio sorriso.
- Contem comigo.
sorriu. Ele só podia ser filho do Dean mesmo. Aquele era o mesmo olhar corajoso e determinado do marido. Ela até deu um pequeno sorriso, enquanto Sam pensava a mesma coisa que ela e balançava a cabeça.
- Pode parar com o olhar de mãe orgulhosa agora. – Dean comentou sorrindo, fazendo-a fechar a cara logo em seguida.
- Cala a boca, Dean. – suspirou. É, ele não mudava mesmo. – E Jimmy, nem pense em puxar esse gatilho enquanto nós não te dermos certeza que ele pode fazer alguma coisa de útil!
- Sim, senhora! – Jimmy bateu continência, fazendo-os rir.
- Pegamos o que precisávamos! – Paola ressurgiu da cozinha, junto com Mary. Jogou uma bolsa para a irmã. – Tomei a liberdade de colocar algumas coisas na sua bolsa, !
- Podemos ir agora?
William nem precisava ter perguntado novamente. As famílias começaram a segui-lo imediatamente, sem saber o que esperar encontrar do lado de fora da casa.

E lá, encontraram corpos decapitados. Vampiros.

Em pé, ao lado de um carro, estava uma mulher segurando uma espada prateada. Ela tinha longos cabelos dourados, quase platinados, e usava um casaco preto, fechado com um cinto. Só conseguiram perceber que, além daquilo, ela usava um par de botas também negras e calças jeans escuras. A espada estava toda ensangüentada e ela limpava algumas réstias de sangue de seu queixo.
- Achei que vocês não iam sair de lá nunca mais. – E ela mostrou suas presas ao sorrir.
- Eles precisaram de um tempo, amor. – William comentou automaticamente. Eles se dirigiram para um carro negro parado quase em cima da calçada. – Caçadores. Você deveria entender.
- Não comece. – Ela apontou a espada para ele. – Eu era bem rápida quando era humana. E se você me chamar para uma briga, vai acabar perdendo, seu tonto.
- Essa é a Eva? – Sam perguntou com uma sobrancelha erguida. Achou que os dois iam se amar platonicamente, não discutir.
- Ela mesma. – Will abriu a porta para que todos pudessem entrar no carro. Era um carro realmente espaçoso, como uma van, ou não caberia todo mundo.
Quando todos se ajeitaram no que agora parecia a Máquina do Mistério – só que numa versão negra – Eva deu partida e começou a dirigir rapidamente. Ou seja, que nem uma louca.
- E eu achei que a dirigia mal! – se segurou no estofado, ou podia jurar que sairia voando.
- Desculpe! – Eva respondeu rindo. – Mas estamos sendo seguidos. Se tivermos algum problema com qualquer criatura, passo por cima dela. E passar por cima de alguma coisa em alta velocidade é mais eficiente do que indo devagar!
- Ela é caçadora. Que nem vocês. – William sorria. Podiam até dizer que ele estava orgulhoso.
- É. E provavelmente a única que virou vampiro.
E um silêncio desconfortável tomou o carro. O clima ficou tenso. Mary e Jimmy não estavam entendendo nada da conversa, mas seus pais se lembraram que William nunca comentara nada de como Eva fora transformada, muito menos que ele a conhecera quando ela ainda era humana.
- Uh... Assuntos não resolvidos... – sussurrou para Mary e , achando que aquela seria a fofoca do século. não conseguiu ficar sem rir, assim como Sam, que ouviu o comentário.
- Não, não é um assunto não resolvido. – Eva comentou sorrindo e pegando a mão de William repentinamente. – Mas eu gosto de perturbá-lo de vez em quando.
Com uma risadinha, ela deu uma mordidinha na mão do companheiro.
Todos só ficaram observando, sem reação. Aquilo devia ser algum tipo de gesto romântico entre vampiros. Como se fosse um beijo, talvez? Provavelmente era, pois William estava sorrindo.
- Ok. Vamos ao que interessa. – Dean se lembrou de que estavam sendo seguidos e que deixaram a casa escancarada. Então não era hora para ficar discutindo relações. – Para onde vamos? Nenhum de vocês falou sobre isso até agora.
- Tem um galpão abandonado onde podemos ficar até decidirmos o que vamos fazer. – Will explicou, agora segurando a mão de Eva. – É o suficiente para não sermos atacados por um dia, um dia e meio.
- Vocês pegaram todas as armas que vamos precisar? – Sam tinha que ter certeza. Afinal, a vida de toda a sua família estava em jogo.
- Facas, sangue, sal, armas de prata, qualquer coisa de ferro e armas de fogo. Muitas. – Eva respondeu seriamente. – Só não pegamos a água benta. Não que exista algum problema com isso, mas as pessoas não reagem bem a um vampiro em uma igreja.
- Ah, ta. – Mary rolou os olhos. – Até parece que vocês podem entrar em uma igreja.
- Podemos sim. – Will se virou para trás e mostrou um crucifixo para a garota. Estava preso a uma corrente, em volta do pescoço do vampiro. – Mas pessoas religiosas meio loucas conseguem perceber que somos vampiros.
- Como assim? Quer dizer, se você passasse por mim há uns dias atrás, eu nem ia cogitar uma coisa dessas! – Jimmy, que já achava que aquilo era loucura, estava achando aquela história de igreja mais esquisita ainda.
- Existem pessoas que acreditam, Jimmy. – explicou, sorrindo. – E são essas pessoas que nos ajudam normalmente, os louquinhos supersticiosos.
- Ok... Uma hora eu entendo vocês.
E assim, seguiram em silêncio até o galpão.


- Que lugar mais bonito... – Mary comentou logo ao sair do protótipo de Máquina do Mistério.
Realmente, não era dos melhores lugares que ficaram em suas vidas. Era um galpão enorme e escuro, com um local completamente descampado em volta. Mary realmente não queria entrar naquele lugar. E Jimmy pensava que já tinha tocado com sua banda em garagens melhores do que o galpão, e aquilo era algo realmente notável.

Para Sam, Dean, e , o galpão parecia a casa da deusa egípcia do medo maluca que enfrentaram muitos anos atrás.

- Gente... Foi há muito tempo mesmo... – comentou de repente, observando o galpão com um olhar que podia ser considerado nostálgico. Começou a rir logo em seguida. – Lembra dos palhaços assassinos, Sam?
- Nossa... – Ele também ria, mas parecia nervoso só de lembrar. – Terríveis. E olha que achei que eu era a única criatura boba nessa vida para ter medo de palhaços.
- Nada será mais cômico do que a aranha gigante que saiu perseguindo a ! – achou que ia começar a dar gargalhadas só de lembrar. – Como eu queria estar com uma câmera naquele momento!
- Do que vocês estão falando? – Jimmy não gostava de ficar perdido nos assuntos.
Enquanto isso, William e Eva tinham sumido dentro da escuridão do balcão para checar se o esconderijo não havia sido descoberto.
- Um caso, há muito tempo atrás... Um dos nossos primeiros casos juntos, para falar a verdade. – Dean respondeu com o mesmo olhar nostálgico. – Quando finalmente convencemos essas duas cabeças duras de viajar com a gente.
- Viajar não. Caçar. – se intrometeu. – São duas coisas diferentes.
- Ah, vai me dizer que você iria viajar se nós pedíssemos! – Dean rebateu, nervoso.

e Sam rolaram os olhos, só para se olharem sorrindo depois.

- E eles vão começar a discutir. – Sam comentou fazendo-a rir.
- O que eu faria sem você? – perguntou sorrindo e só ouvindo os dois discutindo como plano de fundo.
- Provavelmente ia ter que ficar se intrometendo na conversa e impedindo que os dois comecem a se morder.
- Eles já se morderam? – Ok. Essa ela nunca tinha visto.
- Já. E eu tive que parar a briga. – Sam respondeu com sua clássica feição de vazio.

Jimmy e Mary só se sentaram nas caixas abandonadas mais próximas e ficaram observando com extremo interesse.

- Jimmy... Você já parou para pensar de que estamos observando nossos pais como eles eram logo no início? – Mary perguntou repentinamente.

Só faltava um balde de pipoca no colo dos dois.

- Pelo que a tia colocou no diário, os dois não paravam de discutir... – Jimmy comentou interessado, com o diário em mãos.
Eles só sabiam disso, pois enquanto Eva dirigia loucamente até o galpão, eles tiveram a chance de ler os primeiros casos no diário.
- Enquanto meus pais não paravam de dizer coisas fofas... – Mary disse com uma feição sonhadora. – Eu sempre disse que meus pais se amam mais que os seus.
- Não se amam não. – Jimmy lançou um olhar de morte para a prima. – E nem pensa em começar com esse assunto bobo. Existem vários tipos diferentes de se amar. Ponto.

A garota ficou observando o primo durante um tempo, completamente intrigada. Ele suspirou.

- O que foi agora?
- Eu nunca tinha percebido que você tem coração... – Mary comentou solenemente.

Era óbvio que ela queria perturbá-lo.

- Mary... Você quer brigar, não é?
A garota sorriu.
- Ei! – Ouviram Sam gritar logo que Jimmy partiu para cima da prima que não parava de dar risadas. – Vocês dois! Já não é suficiente um monte de criaturas sobrenaturais querendo nos matar, vocês querem se matar também?!

E lá foram Dean e Sam apartar a briga das crianças.

- Sabe... Eles são pais melhores do que qualquer um esperaria. – comentou, juntando-se com .
- São... Se bem que o Dean quase me deixou louca na época em que ele estava tentando ser um “pai exemplar”.
começou a rir.
- Coitado, Script>document.write(Kah). Dê um desconto a ele.
- ... Reunião de pais. Você imagina o Dean em uma reunião de pais? – perguntou com uma sobrancelha erguida. começou a rir. – E quando ele insistiu em ir à escola no dia de contar o que ele fazia no trabalho?! Ainda bem que ele se enrolou na hora de começar a contar e uma das crianças achou que ele era lenhador!
- Eu lembro dessa! O Dean lenhador é uma visão extremamente engraçada! – dava altas risadas. contou aquela história em uma das festas de Natal feitas na sua casa. – É, ele não tem muito o perfil de pai que vai à escola e afins...
- Mas o Sam, por outro lado... Parece ser perfeito para esse tipo de coisa. – comentou sorrindo, já que a cena observada era no mínimo engraçada: Dean segurando Jimmy pela gola da jaqueta de couro e Sam segurando Mary no lugar para que ela pedisse desculpas. – Melhor até do que você. Acho que ele tem mais paciência. Você jogaria uma cadeira em cima das professoras.
- Você só vai à reunião de pais por falta de opção, porque eu sei que você já ameaçou umas duas professoras. – lançou um olhar de morte para a irmã, que fingiu que não era com ela. – Mas é verdade. O Sam é ótimo nesse aspecto. Super compreensível, sabe quando a culpa é da Mary ou quando é da professora. E no dia do trabalho, não se enrolou nem um pouco. Falou que tinha uma mecânica junto com o irmão e não teve nenhum problema. Se bem que as outras mães lá na escola ficam me medindo de cima abaixo, falando que eu sou esposa do mecânico.
- Pelo menos você é esposa de um empreendedor com o seu próprio negócio... O que você acha que as outras mães falam de mim, a esposa do lenhador?

Nesse momento, as duas trocaram olhares. Caíram na gargalhada logo em seguida, começando a ficar vermelhas de tanto rir.

- Esposa do Wolverine! – comentou dando mais risadas ainda.
só conseguiu dar um tapinha de leve na irmã, pois não tinha condições de bater mais forte naquele momento.
- Posso saber o motivo de tantas risadas? – Dean voltou curioso, ainda segurando Jimmy pela gola da jaqueta.

Sim, as crianças explicaram o problema e Mary pedira desculpas. E o motivo da briguinha boba dos dois ficou na cabeça tanto de Dean quanto de Sam.

- Se você falar, eu te esgano, ! – comentou, ainda rindo.
Os dois ficaram observando com uma sobrancelha erguida. Jimmy e Mary não sabiam o que comentar sobre aquilo.

Afinal, não era sempre que as duas irmãs tinham ataque de riso.

- Sinto interrompê-los, mas acabamos a checagem no galpão.
William surgiu literalmente do nada, assustando a todos. Ele até já tinha se acostumado com aquilo.
- Vamos antes que alguma coisa venha atrás de vocês.
E assim, começaram a segui-lo até o galpão. Só quando finalmente resolveram observá-lo é que perceberam que Will estava cobrindo o rosto do sol. Nunca notaram essa intolerância antes.
- Você tinha uma sensibilidade por sol tão grande antes? – Sam perguntou curioso. Passou em sua mente todas as vezes que viram William e em pouquíssimas ele se cobriu daquela maneira.
- Sim. Mas é que faz tempo que me alimentei, então fico mais sensível.
Jimmy e Mary trocaram olhares. Em seguida, olharam para seus pais. Nenhum dos quatro nem piscou quando William falara que estava com sede. E aquela sede dele só podia ser de sangue. Humano. Mary olhou assustada para Jimmy, que retribuiu o olhar. Será que ele ia fazer algum deles de lanche?

Tinham que admitir... Estavam com medo. Nunca tiveram que lidar com um vampiro antes. Ou com criaturas sobrenaturais em geral. Não conseguiam lidar com tudo aquilo a sangue frio, como seus pais.

- Ele é uma flor delicada no deserto... – Eva disse romanticamente, recebendo um olhar de morte de Will e fazendo-os rir. – Todos nós somos. Principalmente quando estamos com sede.
- E vocês não se alimentaram antes de vir pra cá? – perguntou casualmente, sentando-se em uma rodinha de caixas arrumadas por Eva.
- Não tivemos tempo. – William fez cara de sofrimento. – Eu podia matar qualquer coisa agora...

O local foi tomado por um silêncio sepulcral. Todos trocaram olhares apreensivos. Dean até preparou sua faca de prata como precaução.

Ou melhor, a faca de prata que ele surrupiara de . Mas ela era esposa dele, então conseguiria conviver com aquilo.

- Sabe... Nem todo mundo é um vampiro que vive com você há séculos e já se acostumou com o seu lado psicopata. – Eva comentou suspirando, lançando um olhar de quem estava julgando William. – Fairfax, sossega o facho. Você consegue sobreviver mais um dia.

E Will só ficou olhando para Eva. De uma maneira profunda. Demais.

- Então... – Jimmy começou a falar antes que William resolvesse virar um vampiro das trevas do nada e atacasse Eva. – O que vamos fazer agora?
- Agora, eu, sua mamãe, sua titia e seu titio vamos nos preparar. – Dean comentou enquanto tirava a jaqueta de couro. – E vocês vão ficar sentadinhos aí, só assistindo.
- Mas...
- Nada de “mas”, Mary. – Sam respondeu autoritariamente. sorriu. Achava fofo quando ele dava uma de pai responsável. – Vocês nunca caçaram na vida. Eu demorei muito tempo para aprender, então é melhor vocês só observarem.
- Demorou muito tempo, porque nunca quis aprender. – Dean deu de ombros enquanto checava as armas que Eva trazia gradualmente.

Sam só lançou um olhar de morte.

- Oh, meu Deus. – parecia que ia profetizar alguma coisa. – A terceira guerra mundial irá começar...
- Eu achei que a terceira guerra era quando a tia e o tio Dean resolviam discutir... – Mary comentou inocentemente. Mas mãe e tia fizeram que não com as cabeças.
- Quando o Dean e o Sam resolvem discutir sobre o John, as minhas discussões com o Dean viram algo como hobbits atacando espectros do anel. – comentou suspirando. [n/a: Yep, o meu vício por Senhor dos Anéis é muito].
- Você quer discutir sobre isso de novo? – Sam perguntou, nem um pouco feliz.
- Não. Só estou comentando. – Dean deu de ombros novamente. – Você nunca quis fazer parte disso. Então não vá falando pra sua filha que você sempre aprendeu o trabalho da família com dedicação e força de vontade. Você foi embora, Sam. Não minta para ela.

O silêncio caiu novamente como uma nuvem densa sobre o grupo. Eva e Will não pareciam nem um pouco incomodados com aquilo, continuando com sua missão de resgatar as armas do lugar que tinham escondido. Já Mary e Jimmy, observavam tudo com apreensão. Claro que já tinham visto os pais discutindo, mas nunca sobre um assunto como aqueles. Nunca sobre o passado.

- Não estou tentando mentir para minha filha. Estou tentando confortá-la. Muito melhor do que você que simplesmente não explica nada e espera que seu filho haja que nem você com tudo que está acontecendo.
Foi a vez de Dean lançar um olhar indignado.
Nesse momento, e se sentiram compelidas a fazer alguma coisa. Estavam junto com eles há muito tempo para saber que dali não sairia nada de bom.
- Sam! Não precisa ficar jogando lenha na fogueira! – comentou brava, colocando-se na frente do marido, a fim de que um não pulasse em cima do outro.
- E você também, Dean. – foi até ele, despreocupadamente. – Precisamos ficar juntos agora. Não adianta discutirmos.
E então, os dois resolveram deixar aquela discussão de lado.

Pelo menos durante aquele momento.


Eles se sentaram na rodinha que Eva havia feito. William, para o medo de Mary e Jimmy, estava sumido. As duas “crianças” estavam sentadas, quietinhas, só observando o movimento do grupinho. Pela janela do galpão, conseguiram enxergar o céu, já azul escuro e começando a se tornar negro.
- Precisamos de um plano. – comentou, sentando-se em uma das caixas empilhadas. – Não podemos ficar aqui para sempre e temos que matar quem quer que seja que começou a nos caçar.
- Acho que conseguimos ficar aqui até amanhã. – Sam respondeu enquanto analisava algumas das armas que Eva levara. – O nosso ataque em casa foi pesado, mas nem tanto.
- Como assim? Aquelas coisas iam matar vocês! – Jimmy protestou. Se não fosse William, eles estariam mortos! Pelo menos era o que o garoto pensara.
- Eles sabiam que pelo menos dois de nós iam sair vivos. – analisou, sentada em sua caixa. Tentava pensar nos planos de ataque das criaturas, mas eram muitas possibilidades. E aquilo a deixava frustrada. – Então não era o plano nos matar em casa. E com certeza vocês também estavam na equação.

Mary engoliu em seco enquanto Jimmy tentou fingir que não estava com medo.

- Vamos para o nosso abrigo de emergência. – Dean estava decidido. E realmente, era o melhor plano. – Lá nós temos tudo que precisamos e não tem como sermos rastreados.
- Não sei se é uma boa idéia... Essas coisas parecem nos conhecer muito bem. – rebateu. – E se nos conhecem bem, sabem onde é nosso abrigo de emergência. Não tem sentido irmos para lá.
- Tem. Por causa de uma coisa. – E Dean fez uma pausa dramática. Todos ficaram olhando, esperando uma conclusão. – Quarto do pânico.

Mais uma vez, todos ficaram em silêncio. Sam parecia concordar cada vez mais com a idéia enquanto pensava nela.

- Podemos deixar a Mary e o Jimmy lá. – Ele estava de braços cruzados, mas já aprovava completamente o abrigo de emergência. – Enquanto pensamos no que fazer. Dá pra sobrevivermos dois meses, todos nós, trancados lá sem a necessidade de sair.
- Quarto do pânico?! – Mary sussurrou para o primo, já em desespero. Só aquele nome a fazia ter calafrios na espinha.
- Acho que está decidido então. Vamos para lá. – E sorriu.

De repente, William surgiu no recinto, assustando os que ainda não estavam completamente acostumados com suas aparições repentinas.

- Posso saber aonde o senhor foi? – Eva o encarava, com uma sobrancelha erguida.
- Trazer os carros. Já estão lá fora e eles vão precisar quando forem viajar. – Will praticamente deu de ombros. Eva continuou encarando.
- Carros? – não entendeu nada da conversa.
- Os carros antigos de vocês. – Eva sorriu, mas ainda encarava o vampiro. Ele suspirou.
- Quer parar com isso? Eu não matei ninguém, não bebi sangue!
- Eu sei. Mas alguém precisa ficar de olho em você, Fairfax! Você não tem noção de como fica quando está com fome!
Jimmy e Mary sentiram os calafrios novamente. Estava decidido: eles não dormiriam naquela noite. Não quando havia um vampiro sanguinário rondando os arredores deles.
- Por isso eu vou beber de você. – Will respondeu como se fosse óbvio.
- Oi, gente! – chamou os dois. Quando eles olharam, ela sorriu. – Então, somos pessoas que não estão acostumadas com assuntos corriqueiros de vampiros, ok? Por isso comportem-se!
Após alguns segundos de silêncio, os dois só deram risadas. Dean, , e Sam voltaram a atenção às armas e a discutir como chegariam ao esconderijo. Enquanto isso, Mary e Jimmy só conseguiam monitorar todo e qualquer movimento dos vampiros que habitavam aquele balcão junto com eles.
Afinal, a noite tinha acabado de chegar.


- Você está preocupado. – comentou chegando perto de Dean.
Ela passara algum tempo com Jimmy e Mary, tentando acalmá-los e convencê-los de que William não os atacaria no meio da noite. a ajudou e, quando os dois adormeceram, cada uma foi conversar com seu respectivo marido.
Dean estava sentado no chão, perto da porta, olhando pensativamente para fora. Tinha seu inseparável revólver prateado em mãos e, às vezes, mordia os lábios inconscientemente. E ela sabia que aquilo era um sinal de que ele estava preocupado. Muito preocupado.
- Não estou. – Como sempre, ele mentiu e sorriu, tentando passar confiança para ela. A mulher suspirou e se sentou ao lado dele.
- Nem vou começar com o sermão de quantos anos estamos juntos. – Ela torceu o nariz. – Eu sei quando você está preocupado. Não adianta mentir pra mim, fofo.
Eles ficaram em silêncio durante algum tempo, observando a noite, iluminada pelo brilho pálido da lua.

De repente, Dean segurou a mão de .

- O que foi? – Ela perguntou novamente, começando a ficar apreensiva.
Dean se virou, com o típico sorriso no rosto, pronto para mentir novamente. Mas quando deu com os olhos preocupados dela, parou de sorrir. Suspirou.
- Acho que não vamos passar dessa.
E novamente ficaram em silêncio. Ela ficou esperando pacientemente por um complemento daquela frase.
- Acho que a melhor opção é vocês irem com as crianças para um lugar seguro. Mudarem de país e de nome. Nós ficamos aqui e seguramos esses desgraçados o mais que conseguirmos.
Quando ele olhou para a cara dela, ficou surpreso. parecia assustada e, ao mesmo tempo, horrorizada com aquele comentário. Observava-o boquiaberta, com os olhos arregalados, sem saber o que falar.

De repente, os olhos dela se encheram de lágrimas.

- Eu sei que é uma solução triste, mas acho que...
- Eu não estou triste! – Ela praticamente gritou. Os dois ficaram em silêncio e checaram se as crianças ainda estavam dormindo. Perceberam que Sam e lançaram um olhar para eles. abaixou o tom de voz. – Estou brava! Como você pode pensar em uma coisa dessas, Dean?! Deixar você e o Sam pra trás?! Eu nunca faria uma coisa dessas!
- Talvez seja a única solução viável! – Dean respondeu segurando as mãos dela, ou tinha certeza que bateria nele. – E se o William é tão bom assim, vai nos ajudar a segurar as coisas por aqui durante bastante tempo.
- Escuta aqui, Dean. Eu não vou mudar de nome. Não vou mudar de país. Vou ficar com você e ponto final. Não vou te deixar, ainda mais depois de tudo que passamos juntos. – Ela comentou, olhando fixamente nos olhos dele. – Eu te amo demais pra te jogar aos leões. Se é pra lutarmos, vamos lutar juntos.

De repente, para a surpresa dela, Dean sorriu. Segurou as mãos dela com mais força.

- Eu também te amo.
E com isso, puxou-a para abraçá-lo enquanto observavam qualquer coisa que pudesse acontecer do lado de fora.
Alguns momentos se passaram sem palavra alguma, somente o som periódico de grilos noturnos.

- Dean... Se você disse tudo isso só pra eu falar que te amo, eu juro que eu te mato.

E em seguida, começaram a rir. Pelo menos, poderiam passar aquela noite sem mais discussões.


ainda ficou um tempo brincando com os cabelos de Mary enquanto ia se sentar com Dean. Deu um beijo na testa da filha, checou se Jimmy estava bem e finalmente se levantou para falar com Sam.
Ele estava silencioso, sentado em um caixote junto com o pequeno arsenal que tinham à disposição. Ela arrastou um caixote, grudando-o ao de Sam, e se sentou.
- Você vem sempre a galpões abandonados? Se sim, vou começar a freqüentá-los. – Ela comentou, com um sorriso no rosto. Sam sorriu de volto.
- Não, venho só quando a vida me pede. Como estão as crianças?
- Com medo. Mas estão bem. – E ela abaixou o tom de voz. – Mas se ouvirem você chamando-as de crianças, vão correr atrás de você com essas facas.
- Então acho que tenho que abaixar minha voz. – Ele respondeu com um pequeno sorriso. Mas conseguia perceber tristeza em seus olhos.
- O que foi, Sam? Você está muito triste... E eu tenho certeza que não foi por causa da briguinha boba com o Dean.
- É, tenho que conversar com ele sobre aquilo... – Ele parecia até um pouco envergonhado com a briguinha anterior.
- Não vá fugindo do assunto. Eu perguntei o que aconteceu pra te deixar com esses olhos tristes. – cruzou os braços, um pouco brava. Ele tinha uma habilidade incrível para desviar os assuntos e deixar de responder o que ela perguntava.

E aquilo a irritava profundamente.

Sam suspirou.
- Eu estava pensando nas probabilidades... No que teríamos que fazer pra sair dessa.

- Eu não estou triste!

Imediatamente, Sam e se viraram para ver o que havia de errado com e Dean, temendo um ataque noturno. Os dois olharam de relance para eles e depois voltaram a conversar, em um tom mais baixo. parecia irritada.
- Pelo jeito, o Dean pensou na mesma coisa.
- Que coisa? Pare de ser tão redundante, Sam!
- Em vocês irem e nós ficarmos aqui.

E foi a vez deles de caírem em um silêncio mórbido.

- Não. – estava mais brava, ainda com os braços cruzados. – Eu não vou a lugar nenhum. Se for preciso, mandaremos Eva e William escoltarem as crianças para um lugar a salvo, mas eu não saio daqui.
- , o que eles vão fazer? Cuidar dos nossos filhos? Se nós dois morrermos...
- Nós não vamos morrer, Sam! Você nem ouse falar isso novamente! – Agora ela entendeu o pseudo grito da irmã. Que idéia mais idiota era aquela?! – Vamos ficar aqui e dar um jeito na situação. Eu mato todo mundo com um lança chamas se for preciso!
Os dois ficaram se encarando em silêncio, sérios. Aos poucos, era possível ver Sam se controlando para não começar a rir. Ele queria permanecer sério, afinal a situação era séria. Ele comprimiu a boca, torceu-a e continuou sério, respirando fundo. Mas todo seu esforço foi por água abaixo quando ele viu um sorrisinho surgindo no canto dos lábios dela, fazendo-o começar a rir discretamente.

- Um lança chamas? Sério? – Sam perguntou daquela maneira incrédula que só ele conseguia fazer. começou a rir de verdade.

- Sim, um lança chamas! E ainda coloco a roupa dos caça fantasmas!
E enfim, podiam considerar aquele assunto encerrado. Ninguém ia para lugar nenhum e não se cogitaria mais aquela hipótese. Sam puxou para um abraço e continuou a mexer em uma arma quando percebeu que ela adormecera em seu ombro. Tentava ao máximo não se mover para não acordá-la.


A noite foi tranqüila. Logo que o sol surgiu no céu, acordou, levantando-se vagarosamente do chão. Encontrou a fogueira acesa e Eva preparando o café da manhã.
- Não sabia que vampiros comiam.
- Sinceramente, eu também não. – A moça respondeu piscando. – Depois que me transformei, percebi que a sede pode ser enganada se você comer alguma coisa. Mas não pode ser saciada, óbvio.
- Elementar. – respondeu como se fosse extremamente óbvio. Eva riu. – Então, o que temos hoje?
- Pães e ovos cozidos. – A moça mostrou a panela que soltava uma leve fumaça esbranquiçada. – Mas ainda não estão prontos.
- Hmmm, café da manhã medieval. Delícia. – A mulher respondeu ironicamente. Ficou surpresa quando Eva riu.
- Alguns hábitos são difíceis de abandonar. – Ela comentou, dando de ombros. – E ovos molinhos são bons para morder.
- Ok, informação demais... Pode me passar um pão?
- Bom dia, flores da minha vida! – William estava radiante, voltando de algum lugar desconhecido. – Só você acordou?
- Você ta feliz demais. E isso me assusta.
- Eu me alimentei, se você quer tanto saber. Olha o pescoço da Eva. – Ele apontou para a moça sentada, que nem tentava esconder os furos no meio do pescoço. – Vou acordar o resto.
- Toma cuidado, o Dean às vezes pega a faca da e tenta matar o primeiro que aparece na frente. – avisou, mas Will só riu.
- Como se isso fosse me matar.
o observou enquanto ele se distanciava. Mordiscava um pedaço de pão.

- É minha impressão, ou ele acabou de rir que nem o Caesar do Jogos Vorazes? – Ela perguntou e Eva começou a ter um ataque de riso.

- Depois que a gente assistiu esse filme, ele faz isso de vez em quando! – E a moça não parava de rir. – Mas eu nunca tinha percebido! Você acabou de me dar material para tirar sarro dele durante uns cinqüenta anos!

ficou contente pelo menos com aquilo.

Como esperado, Dean pegou a faca que estava na calça de e tentou esfaquear o vampiro, que parecia extremamente entediado com aquilo. William fez com que os dois se levantassem e fossem até a fogueira. Em seguida, acordou Sam que, após abrir os olhos, não resistiu se levantar e se juntar aos outros.
- Só não acorde as crianças, por favor. – Sam pediu quando se sentou à fogueira.
- Por quê? – Will perguntou com uma sobrancelha erguida, genuinamente confuso.
- Porque eles têm medo de você. – respondeu lançando um olhar de morte. Odiava acordar cedo.
- Ok. – E William deu de ombros. – Eva, sugiro uma patrulha, de quinhentos metros. Se encontrar alguma coisa fora do normal, pode me acordar imediatamente. Se tiver suspeitas, patrulhe mais quinhentos metros.
- Sim, senhor. – Ela piscou para ele. – Agora vai dormir. Você está um bagaço.
- Obrigado, amor. – Ele respondeu ironicamente e se deitou em qualquer lugar no chão.
- Ele é sempre mandão desse jeito? – Dean perguntou, ainda segurando a faca de . Comia um pão com ovo, mas daria tudo por uma torta naquele momento.
- Ele é melhor de estratégias do que eu. Tem mais anos de experiência. – Eva suspirou, levantando-se em seguida. – Bom, eu vou patrulhar. Não saiam daqui. E é melhor ensinar as crianças a atirar.

E, num piscar de olhos, a moça sumiu.

Os quatro trocaram olhares.

- Atirar... – comentou, respirando fundo. – Eu queria que a Mary nunca tivesse que aprender.
- Precisamos ensiná-la. – Sam ponderou. – Vou acordá-los. Podemos conversar sobre isso depois do café da manhã.
Os outros concordaram e, realmente, era a melhor coisa a fazer. Talvez não pudessem proteger seus filhos como queriam. E, nessa hipótese, deixá-los armados era a melhor opção. Assim, poderiam se defender caso o pior acontecesse.
Sam acordou primeiro Mary, com um beijo na testa. Em seguida, chamou Jimmy e o balançou de leve. O garoto resmungou e virou de lado, enquanto Mary abria os olhos vagarosamente. A garota se levantou sem a menor vontade, espreguiçando-se. Olhou para o primo e o chacoalhou com mais vontade, fazendo-o resmungar mais ainda.

Mas foi eficiente, pois aquilo o fez se levantar.

- Bom dia. – Dean cumprimentou com um sorriso. – Dormiram bem?
- Esse chão é mais confortável do que parece. – Jimmy comentou enquanto estalava o pescoço. Não conseguiram identificar se aquilo era uma ironia ou não, mas ao que parecia, o garoto estava sendo sincero.
- Eu dormi na jaqueta do Jimmy. – Mary se sentou ao lado do pai e começou a servir-se de pão e ovos. – Achei que ia ficar acordando durante a noite, por causa dos vampiros, mas não. Até que dormi bem.
Conversaram sobre algumas coisas no café da manhã – principalmente sobre o trabalho dos pais, como se conheceram e como manusear armas. Quando chegaram a esse assunto, eles aproveitaram a deixa para ensinar os filhos a atirar e confiar armas a eles.

Não puderam deixar de notar que Jimmy tinha uma facilidade incrível para atirar e acertar os alvos.

- ... – Dean estava praticamente rosnando. A mulher fingiu que não era com ela.
- Nós combinamos que não íamos ensinar nossos filhos a atirar! – se manifestou, claramente se sentindo injustiçada.
- Desculpa, mas eu tive bons motivos para achar que estávamos sendo caçados por lobisomens e ensinei o Jimmy a atirar. – suspirou, levantando as mãos. Jimmy arregalou os olhos.
- Você nunca me disse isso! Só disse para eu não contar para o papai e que era só para brincar e acertar as latinhas de refrigerante! – Jimmy estava boquiaberto. Afinal, ela lhe ensinara quando ele tinha doze anos. Por acaso esperava que ele se defendesse sozinho?!
- Gente, vamos nos acalmar! – E lá ia Sam colocar panos quentes na situação. – , não podemos fingir que não faríamos a mesma coisa se estivéssemos na mesma situação. Íamos ensinar a Mary a atirar, para o caso de não conseguirmos defendê-la.
- Obrigada, Sam. – suspirou, fechando os olhos. – Vocês estavam fora da cidade em um trabalho, eu não sabia o que fazer. Podia desenterrar o rifle da garagem, mas não sei se conseguiria manter um olho em Jimmy e um no que quer que eu tivesse que matar.
- Você podia ter me contado. – Dean respondeu, quase fazendo bico.
- E você ia surtar. Exatamente como agora.

Ele suspirou.

- Mais alguma coisa que eu preciso saber?
- Ele aprendeu a atirar com a sua arma. – E ela sorriu. – Agora vamos. Mary, você não está segurando com força suficiente.
E assim, voltaram às aulas de tiro.
Mary melhorou bastante, enquanto Jimmy aperfeiçoou um pouco a sua técnica. Que não era das melhores, mas dava para o gasto. Teriam ficado lá a tarde toda, se Eva não tivesse voltado de repente, com a espada em mãos.
Ela chacoalhou Will de leve, fazendo-o acordar imediatamente.

- Temos companhia, Fairfax. Está na hora de trabalhar. – Ela disse seriamente. Ele se levantou, procurando a própria espada. – Peguem as suas armas! Teremos companhia em menos de dois minutos!

- Dois minutos?! – Sam estava surpreso. Foram localizados rápido demais para sua opinião. – Mary, fica com a minha arma! Estamos sendo caçados por o que dessa vez?
- Vampiros! Eles estão se aproximando rapidamente! – Eva balançava a espada.
- Droga! – Dean não conseguia acreditar. De tudo que existia que podia levar um tiro, tinha que ser vampiros, que exigiam decapitações. – Ok, tive uma idéia! e , peguem as balas e mergulhem em sangue de homem morto. Se eles atirarem, pelo menos vão conseguir imobilizar os vampiros.
- Ok! – E assim, e saíram correndo para fazer exatamente o que ele dissera.
Enquanto isso, Dean e Sam encontravam-se no arsenal, escolhendo as armas que usariam.
- Dean... Desculpe por antes. – Sam comentou, pegando uma machete e estendendo outra ao irmão. – Eu disse coisas realmente estúpidas. Foi uma briguinha idiota.
- Não tem problema, Sammy. – Dean pegou a machete. – Eu também disse o que não devia. Acho que já estamos acostumados a brigar desse jeito.
Os dois sorriram. Já tinham discutido tanto, que nem ficavam mais magoados com o que o outro dizia. Estavam mais velhos e sabiam que o que diziam no calor do momento não poderia ser levado em conta. Magoava, mas, com o tempo, podia ser esquecido.
- Olha que eficiente, trouxeram até a katana da . – E Dean pegou a espada, mostrando um par de espadas menores. – Não esquece de levar as da .
- O nome é kodachi. – Sam corrigiu, pegando as espadas.
- A enciclopédia ambulante aqui é você e não eu. Não espere que eu lembre. – Dean comentou enquanto voltavam ao grupinho. e já entregavam as armas para Mary e Jimmy.
- E lembrem-se, quando atirarem em um vampiro, gritem. – recomendava, apreensiva. – Vamos decapitá-lo imediatamente.
- Como toda família feliz faz em um fim de semana. – Mary respondeu, um pouco assustada. Riu nervosamente. – Só gritar, né?
- Só gritar. Viremos imediatamente. – Sam assegurou.
- Trinta segundos! Fiquem em posição! – Eva anunciou de repente.
- Como você não notou esses vampiros se aproximando? Devem ter começado a aproximação logo depois que eu dormi. – Will perguntou, intrigado. Eva não errava. Afinal, ela era caçadora, não tinha como não notar uma aproximação daquelas.
- Eles não são os únicos da região. Estava mais preocupada com os nossos antigos amigos do que com eles. Não percebi o cheiro. – Ela respondeu discretamente. Os olhos dele escureceram gradualmente. – Mas eles não vão atacar. Não com esse grupo que está vindo.
- Ótimo. – A voz de William estava baixa e seca. – Não queria me envolver em um banho de sangue hoje.

Mary e Jimmy trocaram olhares. Vampiros estavam definitivamente no topo da lista de criaturas assustadoras.

- Cinco segundos! – Eva gritou.

Jimmy e Mary seguraram a respiração, como se fossem mergulhar. Aqueles foram os cinco segundos mais torturantes que presenciaram. Nada descrevia melhor aquele momento do que a frase: “é o respiro profundo antes do mergulho”. As mãos que seguravam as armas começaram a suar. E se escorregassem? E se errassem o tiro e acertassem um de seus pais? Começaram a suar frio...

E, de repente, a porta do galpão se escancarou.

Will e Eva correram em direção aos invasores, lutando com rapidez, força e fluidez dos movimentos. Em alguns segundos, já tinham conseguido decapitar cinco vampiros.
e Sam se adiantaram para lutar junto com eles, repelindo os ataques com força e matando os que tentavam avançar. Dean e ficaram para trás, a fim de proteger seus filhos, caso algum vampiro passasse pelos quatro primeiros obstáculos.

Mary e Jimmy estavam paralisados, de mãos dadas, encostados à parede.

Eram várias cabeças rolando no chão. Muito sangue. Muitas vozes. Perderam seus pais no meio da guerra mais de três vezes. Ficavam desesperados toda vez que aquilo acontecia. Não conseguiam imaginar uma vida inteira... Matando daquela maneira.
- ! Preciso de você! – Sam gritou de repente e correu até ele sem pensar. Mary segurou a arma com mais força, por mais que nenhum vampiro tivesse se aproximado deles.
- Vocês não passam de hoje, Winchesters! – Um vampiro falou raivosamente, expondo todas as presas em sua boca. De repente, sua cabeça saiu rolando.
- Já passamos por pior! – comentou após decapitá-lo. Olhou para Dean em seguida, com um pequeno sorriso no rosto. – Você vem dançar?

Ele começou a rir.

- Achei que você nunca ia pedir!

E começaram a lutar juntos. Para seus filhos, que observavam de longe, ainda grudados à parede, era como se realmente estivessem dançando.

- Nossos pais... Têm sérios problemas. – Jimmy estava boquiaberto.
- Nós somos os problemas deles! – Um vampiro surgiu, quase que literalmente, do nada, assustando os dois.
Corria em direção de Mary e Jimmy. A garota gritou, apontando a arma, mas errando o tiro. Jimmy parecia um pouco mais calmo, mas também errou o tiro. Afinal, estava tremendo.
- Mary, precisamos nos acalmar! – Ele segurou a arma na mão da garota, apontando-a para o vampiro. – Vamos atirar juntos!
- Ok! Agora! – Mary gritou e os dois apertaram o gatilho.

O vampiro caiu ajoelhado no chão, a alguns metros de distância deles, com uma bala na testa. Os dois ficaram observando, sem palavras.

- Pode gritar agora. – Jimmy disse, ainda meio paralisado com a cena logo à sua frente.
- Ok. AAAAAAAAAAAH! – E Mary fez questão de chamar a atenção dos pais.

Dean veio correndo e, em poucos segundos, o vampiro estava morto.

- Peguem seus carros. Há mais alguns vampiros vindo, nós podemos segurá-los. – Will limpava a espada com um pedaço de roupa de um dos vampiros mortos.
- Seria bom se vocês viessem. Conseguimos nos distanciar antes do outro grupo chegar. – Sam ponderou, enquanto Eva jogava as chaves dos carros para cada um.
- Não podemos. – Ela respondeu. – Vamos cuidar deles e de outros assuntos pendentes. Mas vamos ajudá-los novamente se necessário.
- Obrigada! – agradeceu e, com a ajuda de , arrastou os filhos para o lado de fora, uma vez que pareciam congelados em seus lugares.
Quando chegaram à luz do dia, pararam por alguns momentos. Ficaram observando a vista com largos sorrisos nos rostos e, para a vergonha de alguns, lágrimas nos olhos. Lá estavam o Impala e o Ninety-Eight, lustrosos, como se nunca tivessem sido aposentados. Conseguiam até ouvir o som dos motores antes mesmo que estes fossem ligados.

- Jimmy, Mary... – Dean estava com a voz embargada, completamente nostálgica. Parecia até orgulhoso. – Bem vindos ao nosso mundo.

Pela força do hábito, Dean e Sam se dirigiram ao Impala, enquanto e foram ao Ninety-Eight. Mary e Jimmy ficaram imediatamente divididos, sem saber para qual carro ir. Enfim, a garota acabou no Ninety-Eight e o garoto no Impala.
Logo que os motores ligaram, os sons começaram a tocar, fazendo-os rir.

Nada era melhor que Highway to Hell naquele momento.

Assim, com a música no último volume, os dois carros levantaram poeira novamente, cantando os pneus na estrada, como costumavam fazer antigamente.

No stop signs, speendin’ limit
Nobody’s gonna slow me down
Like a Wheel, gonna spin it
Nobody’s gonna mess me ‘round
I’m on a highway to hell!






Kiss From a Rose – Seal

No topo do diário, em um papelzinho segurado por um clipe: “Sei que essa era a minha vez, , de escrever. Mas tudo isso foi escrito por alguém que permanece um mistério para nós. Então, na próxima, eu escrevo. Enquanto isso, divirta-se com a visão de um terceiro sobre um dia normal nas nossas vidas.”
“Porque eu, , achei super divertido!”


Já estava frio e escuro. se encontrava toda suja de graxa e suada, com uma luz acesa, tentando consertar o carro. Algo meio em vão, se você quer saber, pois era óbvio que ela precisaria da ajuda de alguém.
E, graças aos hambúrgueres abençoados do anjo Castiel, a ajuda estava a caminho. Dean vinha caminhando em sua direção, meio cabisbaixo, carregando os lanches, um em cada mão. Provavelmente pensava no que falar e em como ela ia reagir.

Afinal, aqueles dois pareciam que gostavam de brigar. Tipo Sid e Nancy.

Ok, não tão ruim assim, pois aqueles lá eram dois trens desgovernados. Mas deu pra entender o comparativo.

Era possível perceber, entretanto, que nunca tiveram uma briga tão séria. Que nunca ficaram sem se falar, que sempre resolviam os problemas rapidamente. Aquela era a primeira briga séria dos dois.

Portanto, mais interessante ainda ver como se resolveriam com aquilo.

- ? O Cas trouxe comida. – Dean disse tentativamente, com um pequeno sorriso no rosto. Era óbvio que estava chateado com o acontecido.
- Ok. Deixa ali em cima. – Ela apontou com a ferramenta que tinha em mãos uma mesa de madeira comprida, utilizada para deixar as peças e ferramentas. Limpou o suor da testa logo em seguida, sem ao menos olhar para Dean.
Ele foi silenciosamente até a mesa e deixou os dois hambúrgueres. Apoiou-se nesta e ficou observando a namorada, que estava praticamente mergulhando dentro do carro a fim de evitar conversar com ele.
- Eu posso te ajudar. Sou bom em consertar carros. – Ele disse novamente com aquele pequeno sorriso tentativo.
emergiu do carro, vendo que seria difícil continuar a evitá-lo. Observou-o com os olhos frios e duros.
- Não precisa. Eu sei me virar.

E voltou a mexer no carro.

Dean ficou ainda um tempo a observá-la. Finalmente suspirou e começou a caminhar de volta ao seu whisky. Qualquer um teria vontade de chutá-lo naquela situação. Era óbvio que ela precisava dele!
- Eu disse pro Cas que eu era a última pessoa que você queria ver...! – Ele resmungou um tanto irritado. soltou um suspiro alto.
- Se você quer tanto assim me ajudar, pega o carrinho e vai ver o que precisa fazer embaixo do carro! Eu não deixo cair em cima de você. – Ela comentou irritada e jogou uma lanterna para ele.
Dean sorriu e imediatamente tirou a jaqueta de couro. Pegou o carrinho, que mais parecia um skate, e deitou-se neste, enfiando-se embaixo do carro. Ela se abaixou, a fim de conseguir se comunicar com ele.
- O estrago está muito grande? – Ela perguntou um pouco apreensiva.
- Não consigo ver direito. Consegue levantar um pouco o carro ou quer trocar de lugar? – Ele olhou para ela, que sumiu imediatamente.

Dean provavelmente pensou que ela fosse jogar o carro sobre ele e esmagá-lo naquele exato momento.

Mas, para sua surpresa, pegou mais um macaco, subindo o carro como pôde. Segurou na parte da frente e subiu mais um pouco com os próprios braços. Pouco, mas com uma força considerável.

Claro, se aquilo ainda pudesse ser considerado um carro, ela não conseguiria fazer aquilo.

- Melhorou? – perguntou com dificuldade, devido ao esforço que estava fazendo.
- Yep! – Dean respondeu. Analisou um pouco, iluminando com a lanterna. – Foi um estrago grande mesmo... Mas a parte de trás ainda está boa! Só vamos precisar trabalhar na parte da frente.
Dizendo isso, Dean escorregou para fora do carro, sendo puxado por quando ela conseguiu.
- Quem disse que vamos trabalhar juntos? – Ela perguntou secamente, voltando-se para a mesa de madeira.
Mas, parece que reconsiderou todas as suas atitudes quando viu as duas caixinhas de isopor que continha os sanduíches. Ela suspirou, estendendo uma das caixinhas para Dean, convidando-o para jantar com ela.
- Bom, eu destruí o carro, posso ajudar a montá-lo de novo. Já fiz isso com o Impala. – Ele comentou enquanto se dirigiam à parte de trás do carro.
Sentaram-se sobre o porta-malas e, apoiando as caixinhas nas pernas, começaram a comer os hambúrgueres em silêncio. deu um pequeno sorriso.
- É incrível. O Cas sabe escolher os melhores hambúrgueres.
Em seguida, ficaram novamente em silêncio. Desconfortavelmente. Só era possível ouvir o barulho das mastigadas e da televisão dentro da casa. Finalmente, Dean tomou uma iniciativa sobre aquele silêncio desconfortável.
- Eu não tinha a menor intenção de estragar o seu carro desse jeito, . Tentei desviar, mas...
Mas ele foi interrompido por um suspiro de .
- Eu não estou irritada porque você quebrou meu carro! – Ela disse de repente, largando o que faltava do sanduíche dentro da caixinha.

Dean ficou obviamente surpreso, com a maior cara de confuso do universo.

- Você ainda não entendeu, Dean? Quando vi meu carro destruído dessa maneira, a primeira coisa que pensei foi que tinha perdido você! – disse tudo de uma vez, como se mal conseguisse respirar. Tentou se controlar e terminou de comer o sanduíche.
- Então você está irritada comigo por que eu quase morri? – Dean já tinha terminado seu sanduíche e ainda estava tentando compreender. – Não entendi a lógica disso.
- Você se coloca em umas situações muito perigosas! – Ela comentou, pegando a caixinha do colo dele e se dirigindo à mesa de madeira para deixá-las lá. – Quando pensei que você tinha... Meu coração afundou no meu peito, eu não consegui respirar! Meus olhos se encheram de lágrimas e eu só conseguia pensar que teria que ficar sem você! Parece que você faz de propósito para que eu fique preocupada!
- Você sabe que eu não faço de propósito! – E Dean a fez virar para ele, segurando-a pelo braço. E, assim, deu de cara com uma quase chorando. Mas ela se segurava.
- Vocês podiam ter contado o plano, não escondido. – Agora a moça parecia mais controlada, uma vez que olhava para ele. - Eu achei que nunca mais ia ver aquele sorrisinho bobo que você dá quando fica todo convencido ou quando eu faço alguma coisa inesperada. Ou quando você fica compenetrado lendo alguns papéis e tomando a sua cerveja.

Pela cara de Dean, aquilo era tudo que ele não estava esperando. Ela ficou quieta e mal conseguia olhar para ele.

- Eu gosto de você, Dean. Gosto demais. – Agora tentava focar no rosto dele. – E quando te vi, vivo ao lado do meu carro destruído, quis te esganar por ter me feito sentir todas aquelas coisas terríveis que eu tinha acabado de sentir.
- Uau. – Foi a única coisa que ele conseguiu falar. De repente, deu o sorrisinho bobo que ela dissera, que ele só dava quando ela fazia alguma coisa inesperada. – Percebe que eu nunca teria adivinhado se você não tivesse me contado?
- Dá um desconto, Dean. Ainda estou irritada. Quero quebrar tudo que vejo na minha frente e você não é exceção. – suspirou, coçando a cabeça. Parecia que seu cansaço não era somente físico, mas também espiritual.
- Ok. Mas da próxima vez, tenta não ficar me evitando desse jeito. A gente não vai pra frente se não conversarmos de vez em quando. – Dean respondeu sorrindo. De repente, parou de sorrir, olhando dramaticamente para o horizonte. – Jesus, eu estou falando igual ao Sam.
Nem conseguiu ficar séria com essa, dando uma pequena risada. Ele a segurou pelo queixo e a beijou. Primeiramente, parecia que ela não ia retribuir, mas colocou as mãos nos ombros dele em seguida.
- Melhor? – Ele sussurrou.
- Um pouco. – Ela respondeu com um pequeno sorriso. – Por onde começamos a consertar o carro? Sinceramente, estou meio perdida.
- Não se preocupe. Consertar carros é comigo mesmo, linda. – Ele deu uma piscada para ela enquanto pegava uma ferramenta na mesa de madeira. Jogou uma ferramenta para ela. – O dano foi maior na parte da frente, então vamos começar por lá. Vamos ver o que dá pra fazer hoje.
Assim, os dois seguiram com suas ferramentas, prontos para trazer o Ninety-Eight de volta à vida.


Sam e já tinham terminado seus jantares há muito tempo, quase ao mesmo tempo em que Bobby foi dormir. Quando resolveram assistir a outro filme, Sam ficou encarregado de buscar duas cervejas para o começo do filme.

Mas, quando voltou, deu de cara com sentada onde antes estava Dean, observando o lado de fora com uma atenção descomunal.

- Sabe, você fica parecendo uma fofoqueira de novela mexicana desse jeito. – Ele comentou enquanto colocava a cerveja ao lado dela. começou a rir.
- Ah, vai Sam. Não vai me dizer que você também não está curioso para saber que fim levou o jantar dos dois.

Sam a observou durante um tempo. Após alguns segundos, suspirou e concordou, puxando uma cadeira para sentar ao lado dela.

- O que aconteceu até agora?
- Bom, pelo que eu vi, ela xingou bastante e ele estava quase voltando para cá... – começou a contar, fazendo um pouco de suspense. Sam ouvia atentamente. – Mas ela o chamou de volta. Os dois acabaram de jantar e agora estão discutindo de novo.
- Espera. Quer dizer então que os hambúrgueres do Cas funcionaram? – Sam parecia completamente incrédulo.
- Perfeitamente. – respondeu com uma piscadinha e um sorriso.
Os dois voltaram a observar Dean e discutindo perto do carro. Estavam com um bom sentimento em relação àquela discussão em particular. E quando os dois se beijaram...
- ALELUIA! – gritou, levantando-se da cadeira e olhando para o teto. – Aleluia, irmãos! Eles largaram mão de ser tão chatos!
Sam só ficou rindo da moça. Era óbvio que ele gostava do jeito que ela sorria – enquanto fazia uma dança um tanto estranha – sem desgrudar os olhos do rosto dela.
Particularmente, creio que é assim que se sabe quando alguém realmente ama o outro: a maneira como observa a pessoa amada, seu sorriso, o jeito que ajeita o cabelo e etc.

Sentimental demais, parece até bobo. Mas é verdade.

E, de repente, Bobby irrompeu na sala, carregando um copo de água.

- O que vocês dois são? Duas fofoqueiras que ficam lavando roupa e falando da vida dos outros? Vão cuidar da vida de vocês!
parou de comemorar na hora e se fingiu de comportada. Sam parou de sorrir e fez aquela típica cara de criança que faz algo errado, mas não sente a menor vergonha de ter feito.
Com isso, Bobby se retirou da sala, de volta ao seu quarto. Não demorou nem cinco segundos e ele estava de volta.

- Eles se resolveram?

teve que se controlar demais para não rir. Nunca imaginou que dentro do Bobby ranzinza existia uma fofoqueira de plantão.
- Eles se beijaram. Já é um começo. – Sam respondeu sorrindo.
Bobby só sorriu de volta.
- É melhor aqueles cabeças de vento se resolveram antes que eu faça com que eles se resolvam... – Ele resmungou tentando olhar o que acontecia do lado de fora. – Vocês dois! Vão assistir ao seu filme e os deixem em paz! E boa noite.

Assim, Bobby finalmente se retirou para sua cama.

- Ok, eu dou alguns momentos de privacidade para eles... – comentou. – Mas só até amanhã de manhã!
- Até que você está se controlando bastante. Achei que ia ser só até daqui duas horas. – Sam brincou, indo até o sofá junto com ela.

De repente, Cas surgiu na sala.

- Alguma novidade? – O anjo perguntou ao perceber que Dean não estava mais na sala.
- Cas, deixe de ser fofoqueiro. Só vamos descobrir amanhã de manhã. Nesse exato momento, você está sendo intimado a assistir ao filme com a gente!
Cas ergueu uma sobrancelha, mas não quis discutir. Sentou-se no sofá e juntou-se a e Sam para a sessão cinema.
Mal sabia ele que só estava se preparando para “desvendar os segredos do anjo mais impassível da terra”.


e Dean continuavam na sua missão de consertar o carro – o que parecia mais uma missão impossível. Dean dava algumas ordens e, por mais incrível que pareça, obedecia. Era missão dela, principalmente, alcançar os lugares que ele não conseguia, já que ela era bem menor que Dean.
Mas, apesar de parecer que eles se amam incondicionalmente novamente, ela mal conversava com ele. Só murmurava alguma coisa para dizer que tinha entendido a ordem. E, bem de vez em quando, trocava algumas idéias com ele.
Claro que Dean se incomodou com aquilo. Ela estava tentando alcançar uma peça que se desencaixara de seu lugar e ficara perdida em algum lugar perto do motor. Enquanto isso, Dean observava, tentando achar alguma maneira de puxar assunto. Mas ela não dava o braço a torcer.
- Sabe que tudo ficaria muito mais fácil se você conversasse comigo.
Eu sabia que até aquele momento ela estava se segurando e sendo muito legal. Achei até incrível que ela não mordeu o Dean logo que ele apareceu com os sanduíches. Mas, naquele momento... Era possível até ver labaredas nos olhos dela.
- Olha, eu to fazendo o melhor que eu posso, ta?! – E surgiu de dentro do carro, com o braço todo manchado de graxa, segurando uma peça na mão. – Não tem como eu te fazer entender melhor do que eu expliquei antes, Dean! Você não sentiu o que eu senti! Eu to me esforçando pra me acalmar e ficar de boa com você!
Os dois ficaram em um silêncio completamente desconfortável. Ele não sabia o que responder e ela não sabia mais o que falar.

Então, Dean fez o que ele faz melhor nessas situações.

Mudar o tema da conversa.

- Eu vou te trazer um pouco de água para limpar esse braço. – Ele comentou com um suspiro.
- Obrigada.
E assim, Dean voltou para a casa, a fim de buscar a água, com cara de quem tinha uma espinha de peixe entalada na garganta. Enquanto isso, ficou apoiada no Ninety-Eight aberto, encarando eternamente o motor do carro.
Uma lágrima escorreu pelo rosto dela enquanto a moça pensava. Por um momento, parecia que ela não conseguia mais respirar.
- Dean! Que surpresa você por aqui! – comentou logo que ele entrou na casa.

Era realmente uma surpresa, mas aquela frase digna de Dona Florinda não convencia muito.

- Pois é. – E ele foi para a cozinha.
, Sam e Cas ficaram observando enquanto ele se enfiava no outro cômodo e procurava uma vasilha para colocar água.
- O que será que aconteceu dessa vez? – Sam ergueu uma sobrancelha.
- Será que a finalmente mordeu o Dean? – perguntou ansiosa, segurando na camisa de Sam. Ele começou a rir.
- Duvido. Ele morderia de volta. – Sam comentou com seu clássico jeito sarcástico.
- Não foi isso. – Cas respondeu, as sobrancelhas levemente franzidas.

E sumiu.

agarrou a blusa de Sam com mais força.
- Eu ODEIO quando ele faz isso! – Realmente, ela estava começando a ficar vermelha.
- Eu sei, só não precisa estraçalhar meu braço por causa disso. – Sam comentou com um sorrisinho no rosto, quase rindo do acesso de ódio dela.
- Desculpa.
- Tudo bem. Com o tempo você acostuma. Eu tentava fazer com que ele parasse no lugar no começo, mas agora... Eu só convivo com isso. – E ele piscou para ela. sorriu. – Acho melhor voltarmos a assistir o filme e deixarmos isso pra lá.

Nesse momento, Dean saiu da cozinha, carregando uma vasilha de água, com uma cara bem emburrada.

E Sam e só ficaram observando enquanto ele deixava a casa antes de darem play e se abstraírem de tudo que estava acontecendo do lado de fora da casa.


Dean nem tinha chegado à metade do caminho quando Cas se materializou na frente dele. Claro que, com o susto, ele derrubou toda a água no chão. E tudo que fez, foi lançar seu clássico olhar de morte e ódio para o anjo com cara de paisagem parado à sua frente.
Cas o observou durante alguns rápidos segundos. Em seguida, inclinou a cabeça para o lado e franziu as sobrancelhas.

- Você ainda não entendeu.

- Não entendi o que, Cas? – E Dean pegava a vasilha que caíra no chão a fim de voltar para a casa.
- O que ela tentou te explicar.
- Ok. Sinceramente? Eu não entendi porcaria nenhuma. Ela está irritada comigo, porque eu quase morri. Isso não faz o menor sentido!
- Dean...
- Quero dizer, quantas pessoas ficam irritadas com você porque você quase morreu?
- Dean...
- A resposta é: nenhuma. – Dean abriu os braços, com o típico sorriso que dava quando ficava irritado. – Nenhuma pessoa se irrita com isso. Elas dão glória aos céus que você está lá com elas!
- Dean...
- E sabe o que elas fazem? Ficam o dia inteiro com você. Tomam uma cerveja junto, conversam, assistem um a um filme... E não ficam te culpando porque você quebrou o carro delas!
- Dean! – Cas finalmente gritou para chamar a atenção do ser descontrolado à sua frente. – Você quer me escutar ou vai ficar dando chilique?
- Eu não estou dando chilique. – Dean parecia agora mais recatado e menos propenso a gritar. – E você nem sabe o que é chilique, não pode falar nada.
- Eu ouvi a falando isso para o Bobby quando ele ficou irritado. – Cas deu de ombros. – Acho que se aplica muito bem ao que você estava fazendo. Ela me explicou o que significa “chilique”.

Dean lançou novamente o olhar de morte e ódio. Naquele momento, gostaria que Cas sumisse de repente como sempre fazia.

- O que diabos você veio fazer aqui, Cas? – Ele finalmente perguntou, já cansado de ouvir o anjo à sua frente.
Ou melhor, estava cansado de todo mundo se metendo na briga dele com a namorada dele.
- Estou aqui para te fazer entender, Dean.

E o bico de Dean só aumentou.

- Cas, você acha que falando dessa maneira todo mundo vai te entender. Mas ninguém te entende. – Dean estava quase suspirando. Era um parto ensinar Cas a lidar com seres humanos. – Você tem que explicar qual é o assunto antes, nem todo mundo sabe ler pensamentos. Me fazer entender o quê?
- O motivo de ela estar brava com você. – E Cas se aproximou sem avisar, colocando as mãos nos ombros de Dean. – É melhor largar a vasilha.

- Cas, o que...?

Mas antes que Dean conseguisse acabar de perguntar, foi tomado por uma luz branca e os dois sumiram.
De repente, Dean percebeu que estavam de volta ao local da batida do carro.
- O que você fez? Trouxe a gente de volta pra cá por quê? – E claro, ele não estava entendendo nada.
- Não te trouxe de volta. Nós estamos nas memórias da .
No mesmo momento, viram o carro destruído e o espírito aparecendo com a moça como refém. E Dean finalmente percebeu que, no lugar que ela estava e sendo segurada daquela maneira, ela não conseguia vê-lo de jeito nenhum. Na verdade, como o espírito segurava a cabeça dela, a única criatura que ela conseguia enxergar era Nathan.
- Percebe? Ela não enxergou nenhum de vocês. – Cas comentou, apontando para a moça.
Dean permaneceu em silêncio enquanto Nathan negociava com o espírito. Quando este finalmente sumiu e podia se mover novamente, viu que ela olhou para o carro. E em seguida para cada um deles.
Só que, novamente, ela não encontrou Dean na multidão. Não conseguia enxergá-lo parado atrás de Sam. Ela viu somente , Nathan e Sam. Só.
- Se você tivesse andado um pouquinho mais para o lado, ela não acharia que você estava morto. – Cas estava com a voz impassível, mas olhava para ela com pena. – Agora vem a pior parte.

- Que parte?

Mas Dean entendeu logo em seguida que parte era essa. De repente, ele se sentiu sem ar. Não conseguia respirar de jeito nenhum. Olhou para Cas sem entender nada, encontrando o próprio anjo parecendo que ia chorar. Em seguida, olhou para , de olhos arregalados. Conseguia ver a dor que estava sentindo estampada nos olhos dela.
Provavelmente estava sentindo como se seu coração tivesse sido arrancado do peito, pois caiu de joelhos no chão logo em seguida. Dean respirava entrecortadamente e tinha grossas lágrimas nos olhos vermelhos, ameaçando escorrer pelo seu rosto.

“O Dean... Morreu?! Não! Não, não, não, não! Não pode ser! Ele não... Ele... Morreu?! O que eu vou fazer?! Não!”

A voz dela ecoava como se estivesse gritando. Mas aquilo tudo só estava passando dentro da sua cabeça em uma questão de segundos.
Em seguida, o cenário mudou para um cemitério. E nesse cemitério, estava ajoelhada no chão, chorando desesperadamente, em frente à uma lápide.

Completamente sozinha.

Exatamente da maneira que ela mais temia na vida. Sozinha, à noite, em um cemitério vazio e frio, em frente à lápide de ninguém menos que Dean. E a dor dela somente aumentou, pois Dean finalmente começou a chorar. Ele tentava achar alguma origem física para aquela dor, mas não conseguia. Aquilo tudo estava dentro dele.
Em seguida, Dean olhou para Cas.
- Agora você entende? Ela imaginou passar a vida inteira sem você. – Cas comentou suspirando. – Ela não demonstra, mas os sentimentos que tem por você são muito fortes. E pensar em tudo isso foi quase insuportável para ela.
De repente, estavam de volta ao local do acidente.

E ela finalmente vira Dean atrás de Sam.

Dean parecia que tinha sido acendido por uma chama. Deu um soco no chão. Mas nem sentiu dor, de tanta raiva que sentia no momento. Queria gritar. Queria bater em alguém.

“Ele está vivo! VIVO! Escondido atrás do Sam, aquele idiota! Eu aqui sofrendo, achando que ele tinha morrido, e ELE TAVA ATRÁS DO SAM! EU MATO ESSE DEAN! Mas... Respira, . Ele ta vivo, é isso que importa. Ele não morreu e você não vai passar o resto da vida caçando e se lembrando que a culpa da morte dele foi do seu carro. E isso já é o suficiente. A culpa não foi minha, ele está vivo.”

- Ela achava que... A culpa foi dela? – Dean perguntou conseguindo respirar novamente. Assim como ela se acalmou, ele se acalmou.
- O carro que gerou o acidente foi o dela, Dean. Por um instante, ela pensou que não tinha feito a supervisão correta e deixou algum defeito mecânico passar. E que você morrera por causa disso. – Cas explicou pacientemente.

“Calma aí... Ele tava dirigindo o meu carro... Então aquele carro todo destruído... É O MEU NINETY-EIGHT?! EU NÃO SEI SE EU SINTO RAIVA DE MIM, DO DEAN, DO ESPÍRITO OU DO NATHAN POR TER MATADO O CARA EM PRIMEIRO LUGAR!”

- Calma aí... Isso aí é o meu carro?! O MEU NINETY-EIGHT?! – Ela gritou de repente. E Dean voltou a sentir toda a raiva que ela estava sentindo.
Em seguida, ela finalmente começou a chorar. Mesmo com todos aqueles sentimentos e pensamentos horríveis – que ocorreram em questão de segundos – ela só foi chorar naquele momento. Na verdade, estava chorando e surtando por causa de tudo que tinha sentido.

E também por causa do carro.

- Dean, eu te odeio! Você destruiu o MEU carro!
Quando ela falou isso, Dean finalmente entendeu que ela estava gritando que o odiava, pois era uma maneira de dispersar todos aqueles sentimentos que estavam dentro dela no momento.

No final, o motivo de toda aquela briga foi aquele espírito infeliz que fez com que Dean batesse o carro.

E, de repente, eles estavam de volta à casa do Bobby. Com Dean ajoelhado no chão e tudo.
- Entendeu agora, Dean? – Cas perguntou, lançando um olhar compreensivo.
Dean não respondeu. Só se levantou, deixando a vasilha no chão e Cas para trás. Ia atrás de . Finalmente entendera o que ela estava tentando explicar. Mas ela era tão ruim com palavras e sentimentos que Cas teve que levá-lo por um passeio pelas memórias da moça para Dean compreender.
Quando a avistou, começou a andar mais rápido. Se ela morresse, ele também se sentiria daquela maneira. Sentiria raiva, tristeza e vontade de bater em alguma coisa, tudo ao mesmo tempo. Simplesmente porque sentir raiva era mais fácil do que lidar com o sentimento de perda de uma pessoa amada. E ele sabia muito bem como aquilo era, pois foi exatamente o que ele sentiu quando perdeu seu pai e sua mãe.

E não queria sentir aquilo em relação a ela. Queria sentir tudo, menos aquilo.

- Você não disse que ia trazer água para eu lavar meus braços? – perguntou logo que viu ele se aproximando apressado. Mal notou as lágrimas nos olhos de Dean. – Eu to toda...
Mas não conseguiu terminar a frase. Dean a abraçou com força, escondendo o rosto no pescoço da moça. Ela parecia em choque com aquela reação, afinal, no ponto de vista dela, ele só foi buscar água. E ainda voltara sem a vasilha.
- Eu entendi, linda. Eu te entendi. – Ele comentou com a voz abafada e provavelmente molhava o pescoço dela com algumas lágrimas. – Você nunca mais vai ter que passar por isso, entendeu? Eu não vou deixar. Nunca mais.

Parecia que eles estavam falando a mesma língua. encarou algum ponto no horizonte, chocada, enquanto seus olhos ficavam marejados. Ela o segurou com força e fechou os olhos, retribuindo o abraço.

Eles nem devem ter percebido, mas passaram bons minutos se abraçando daquela maneira.

E nem sabiam que estava dando chiliques dentro de casa, chacoalhando o Sam para todos os lados que nem um pandeiro, cantarolando de alegria que eles finalmente tinham se resolvido e apitando.

Enquanto isso, Cas só observava todo mundo com um pequeno sorriso no rosto. Tenho certeza de que ele estava pensando que, apesar de loucos, adorava conviver com aquele grupinho de humanos. E ele conseguia fazer muitas coisas boas por eles, finalmente usando seus poderes de anjo para o bem.

Para “o bem” pequeno. Mas era para o bem. E aquilo já era suficiente.


- Sinceramente... Eu estou feliz. – comentou, enquanto estava jogada na cama, olhando para o teto. – Eles se resolveram, o Cas ta assistindo televisão na sala, o Bobby dormindo...
- Acho que é o mais próximo de uma vida normal que vamos ter. – Sam respondeu sorrindo. – Podíamos ter mais dias normais assim, não acha?
- Acho. – se apoiou em um braço, enquanto ele se deitava ao lado dela. – Ia ser muito bom.
Os dois ficaram se observando durante um tempo. De repente, segurou o rosto de Sam, beijando-o. Quando partiram o beijo, os dois sorriram e voltaram a se beijar.
Em poucos segundos, ela estava em cima de Sam, tirando a blusa dele vagarosamente. Os dois tomavam cuidado para não fazerem barulho, afinal não queriam ter a possibilidade de serem encontrados por Bobby.
As blusas dos dois caíram em lugares separados do quarto. Enquanto beijava o pescoço de Sam, voltou a falar.
- Sabe o que eu estava pensando? – Ela praticamente sussurrava. Ele começou a rir.
- Que eu sou muito lindo?
- Além disso... – respondeu também rindo do sorriso convencido que ele tinha no rosto. – Disney. Podíamos ir para a Disney.

Sam parou de beijá-la e distanciou-a para poder observar seu rosto.

- Essa é uma idéia genial. – Ele comentou, fazendo-a abrir um sorriso enorme.
- Já falei, você vive com um gênio. – E ela piscou. – Disney. Vamos logo que conseguirmos.
- Amanhã. – E Sam voltou a beijá-la. – Arrastaremos aqueles dois mal humorados para longe do carro...
- E vamos para Orlando... – Ela completou.

E, por algum motivo, os dois começaram a rir.

- Bom, você já ficou em cima tempo demais.
- O quê? – E para a revolta de , Sam a jogou para o lado, trocando as posições. – Ok, já que você ta aí, a tarefa é sua.
- Qual?
- Apaga as luzes.
Após ver o sorrisinho safado no rosto dela, essa foi a próxima coisa que ele fez.
E, felizmente, eles não foram descobertos por Bobby.


- Acho que não dá pra fazer mais nada hoje, linda. – Dean comentou enquanto limpava um resto de graxa dos braços.
- Não precisa fazer mais nada. – suspirou, cansada. – Um dia a gente termina de consertar isso daí. Até lá, vamos sobreviver do Impala.
- Não tem problema.
- E falando nisso, preciso levar meus CDs até lá.
Assim, pegou os CDs – que, por sorte, deixava no porta malas, junto com as armas – e os dois foram até o Impala. Ela entrou no carro e colocou os CDs no porta luvas. Dean ficou do lado de fora, aguardando-a.

Mas só o observava.

- Dean. Vem cá.
- O que foi?
- Vem cá. – Ela chamou de novo, com calma.

Calma demais até. Aquilo deixou Dean um tanto receoso.

Ou ela ia bater nele ou beijá-lo. Não tinha meio termo.

Mas, mesmo assim, ele resolveu se arriscar e chegou perto da moça.
o puxou pelo pescoço e começou a beijá-lo, com força. Dean pareceu surpreso por um momento, mas logo colocou a mão na cintura dela, entrando no carro aos poucos e como podia.
- Banco de trás... – Ela comentou enquanto se beijavam. Dean só confirmou com a cabeça. – Vai você antes.
Com dificuldade, Dean passou para o banco de trás e fechou a porta do carro. Como ela estava demorando, ele a segurou pela cintura e puxou-a para trás. se sentou no banco, passando as pernas por cima das pernas de Dean, ficando de lado para ele.
- Precisamos de dias normais. – Dean comentou enquanto a observava.
- Precisamos. – suspirou enquanto ele voltava a beijá-la. – De muitos dias normais.
Ela segurou as mãos de Dean, distanciando-as de si, e praticamente arrancou a blusa dele logo em seguida. Dean sorriu e os dois se ajeitaram como puderam no banco de trás do Impala.
até bateu a cabeça.
- Ai...
- Desculpa.

E os dois começaram a rir.

- Se não tivermos dias normais... Consigo me contentar com dias assim. – Ela comentou sorrindo. Dean sorriu de volta.
- Só tente ficar sem brigar comigo, por favor.
Rindo, os dois voltaram a se beijar. Até os vidros das janelas do Impala ficaram embaçados.
[n/a: TITANIC FEELINGS! Não consegui resistir gente! *chora*]


E, assim, tudo foi resolvido. e Sam colocariam em prática seu plano do mal de tirarem férias e arrastarem seus irmãos para Disney. e Dean tentariam ficar sem brigar. Bobby estava contente que suas crianças estavam se dando bem e finalmente pareciam felizes.
Enquanto isso, Cas ainda tentava descobrir qual era a mágica do delivery, que fazia um hambúrguer aparecer na sua casa. Para você ver o que uma propaganda de McDonald’s faz com um anjo desavisado.
Mas ele também estava contente. Muito contente.





This is Halloween – Nightmare Before Christmas/Marilyn Manson

- Ow, Dean… - comentou de repente, olhando pensativa para um calendário pendurado na geladeira do motel em que se encontravam.
Chamar aquele pedaço de papel retalhado de calendário era um elogio, para falar a verdade. Mas, querendo ou não, marcava os dias e ela – por milagre – sabia em que dia estavam. Algo que a orgulhava, para falar a verdade.
- Você sabe que dia que é hoje?
Ele olhou para ela, finalmente parando de mexer na mala que resolvera arrumar – porque, pasmem, depois de muita insistência da moça, ele resolveu trocar de blusa.
- Não. É alguma data especial?

Ela só sorriu.

- Vai me dizer que eu esqueci o aniversário do Sammy?! – E Dean começou a se desesperar.
- Calma, amor, não precisa rosnar, não é o aniversário do Sam. – Ela começou a rir e foi até a cama, pulando nesta e sentando-se na frente dele. Dean não estava entendendo nada.

Será que ela ia implicar com o dia em que eles ficaram juntos? Porque ele não fazia ideia de qual dia fora e nem há quanto tempo estavam juntos.

- É dia 30 de Outubro, fofo! Amanhã é Sábado e é Halloween! – comemorou levantando os braços, o que resultou em uma careta de desdém de Dean.
- E daí? Você quer pegar um caso especial pra comemorar?

Ela imediatamente fechou a cara. E Dean só continuou arrumando as coisas como se nada tivesse acontecido.

- Sabe, eu estou me esforçando pra não brigar com você, mas às vezes você pede. – rolou os olhos. – Aula de como lidar com pessoas, querido: quando ela está animada você NÃO joga um balde de água fria!

Falando isso, ela se levantou e pegou as chaves do quarto.

- Aonde a senhorita pensa que vai? – E Dean resolveu dar de possessivo, colocando as mãos na cintura e tudo mais.
- Falar com gente que não é uma patinha de elefante que nem você. Quando o seu mau humor passar, vem comer pizza com a gente no quarto da e do Sam. – Ela piscou e deixou o quarto.
já estava entendendo como Dean funcionava. Apesar de ser todo grosso e machão daquele jeito, não queria ser deixado de fora e, claro, ele já tinha percebido que ficar com toda aquela pose para cima dela não ia funcionar.
Não deu nem cinco minutos que ela tinha deixado o quarto e Dean parou de arrumar as coisas. Ele olhou para a parede e começou a sorrir. sabia muito bem como fazê-lo segui-la. E, querendo ou não, aquilo era uma coisa que ele admirava.

Afinal, nunca seguira uma mulher antes.

Assim, em poucos minutos, lá estava ele batendo na porta do Sam.
- Dean! – E Sam apareceu correndo, descabelado e sem saber se sussurrava ou gritava. Dean estranhou. – Espera só mais um minuto pra vir pra cá!
- O quê? Por que, seu tonto?
- Aproveita que elas não perceberam você aqui! Ou vou perder cem paus! – Sam checava por cima dos ombros se elas já tinham saído do banheiro.

Porque derrubara cerveja em acidentalmente e agora estava ajudando a irmã a lavar o cabelo na pia.

- Você apostou cem dólares com elas de que eu chegaria aqui um minuto depois? – Dean ergueu uma sobrancelha.
- Cem dólares com cada uma delas. – Sam suspirou e utilizou seu olhar de cachorro perdido. – Me ajuda... Por favor?
Dean sorriu e Sam retribuiu o sorriso. Estava crente que o irmão esperaria mais um pouco para anunciar sua chegada. E não precisaria perder duzentos dólares de uma vez só.

- MENINAS, CADÊ A PIZZA?! EU TÔ MORRENDO DE FOME!

E Dean entrou que nem um ogro no quarto deixando um Sam pasmo com cara de paisagem paralisado ao lado da porta enquanto as duas faziam escândalo de que tinham ganhado cem dólares. Cada.

Dean só se virou e sorriu para Sam.

- Vai ter volta. – Sam comentou irritado enquanto elas não estavam olhando. Dean fez cara de medo.
Ah, se elas não tivessem lá, os dois já tinham partido para briga com direito a travesseiradas e rolar no chão.


- Então, o assunto é de suma importância. – comentou enquanto mastigava metade da pizza que segurava. – Precisamos conversar sobre isso com urgência.
- O que é tão importante assim, mulher? – Dean já ficou em alerta e completamente preocupado. O tom de voz ficou sério e imediatamente começou a rir.
- , você não pode falar assim com ele. Ou ele acha que é o Apocalipse. De novo. – A moça comentou se sentando novamente na cama em que todos estavam, entregando uma garrafa de cerveja para Sam.
- Vai por mim, Dean. Você não pode lutar nem discutir. Só aceita o que elas falarem. – Sam sorriu e voltou a comer sua pizza, todo contente.
- Ah, então vocês já decidiram o que quer que seja e nem me contaram? – E agora ele estava parecendo uma mulher injustiçada.
- Festa de Halloween! – comentou como se fosse Natal.
Parecia que ela gostava mais de Halloween do que de Natal.
- O quê?

E Dean não entendia nada.

- Nós vamos numa festa de Halloween, com fantasias e tudo. – Sam declarou solenemente, só aguardando uma reação de Dean.
Que fez a maior cara de nojo e de perdido que conseguiu. Ele não sabia se brigava com eles por cogitarem uma coisa tão estúpida ou se simplesmente levantava e ia embora.
- Antes que você fale qualquer coisa... – E praticamente pulou ao lado dele na cama. – Quando foi a última vez que você foi fantasiado em uma festa de Halloween.
- Eu nunca me fantasiei numa festa de Halloween. – Dean praticamente rosnou e lançou um olhar de morte para ela.
- Viu? Sempre tem uma vez para tudo! – E levantou os braços de alegria. – Nem adianta discutir! O Sam achou uma festa super legal que vai ser em um casarão supostamente assombrado e amanhã vamos procurar nossas fantasias!
- Assombrado? Sério?! – Dean não conseguia acreditar. – Vocês querem ir à uma festa num casarão assombrado?
- Supostamente. – Sam corrigiu.
- É. Do jeito que a gente é, é capaz que esteja lotado de poltergeists raivosos! – Dean rolou os olhos, olhando para para ver se pelo menos conseguia convencê-la a não embarcar naquela estupidez.

Porém a encontrou encarando-o com um grande par de olhos praticamente lacrimejantes.

- Por favor, Dean. Seja legal pelo menos uma vez na vida. Eu sempre quis ter um par numa festa de Halloween. – Ela praticamente choramingou.
Dean abriu a boca, sem conseguir encontrar palavras para contrariá-la. Em seguida, olhou para , como se pedisse ajuda para falar alguma coisa. A moça só sorria, assim como Sam. Dean rolou os olhos novamente, jogando a casca da pizza dentro da caixa.
- Tá bom! A gente vai nessa festa ridícula! Mas vai por mim, vai estar cheio de poltergeists e demônios e a única coisa que vamos fazer é trabalhar ainda mais!
começou a praticamente pular na cama de alegria, chacoalhando Sam no processo – algo que ele já estava começando a se acostumar. abraçou Dean, dando um beijo estalado na bochecha dele.
Dean sorriu. Se ela fosse fazer aquilo mais vezes, ele com certeza continuaria sendo chato daquela maneira só para ganhar um beijo quando cedesse.


Quando Sam percebeu que estava acordado, percebeu também que estava com uma preguiça extrema de se levantar. Toda aquela preguiça e carência matinal só se resolviam com uma coisa: abraçar logo de manhã.
Sem nem abrir os olhos, ele se arrastou preguiçosamente até o lado dela da cama. Tateou o colchão, esperando encontrar a cintura ou as pernas dela...

Mas tudo que achou foi o colchão.

Estranhando, Sam abriu os olhos. E encontrou o quarto vazio.
Ele lutou para não fazer bico que nem uma criança, mas falhou miseravelmente. Não podia negar: ficava extremamente chateado quando ela levantava antes que ele de manhã.

O que acontecia com freqüência.

Sam se sentou na cama, massageando o pescoço. Esquadrinhou o quarto e encontrou a porta do banheiro fechada. Já estava quase concluindo a frase mental “ela deve estar lá dentro” quando abriu a porta.

E saiu radiante, sorridente, de cabelos penteados, dentes escovados e com roupa de sair. Ele ergueu uma sobrancelha.

- Você vai num encontro com algum outro cara que eu não to sabendo? – Ele perguntou seriamente. – Porque você sabe... Eu teria que matá-lo.
- Só quebrar os dedos dele já é o suficiente para mim. – piscou e depois sorriu. – Bom dia, Sammy querido! Pronto?
- Pra quê? – Às vezes ele era lento durante as manhãs. Que nem a irmã dela.
- Fantasias, amor. Hoje vamos alugar as nossas fantasias. – Ela apoiou na cama e se inclinou para beijá-lo. Distanciou-se um pouco, ainda encostando o próprio nariz no nariz dele. – E você não vai escapar. Você vai experimentar a fantasia de Peter Pan.
- Ah, tá. Até parece. Vai sonhando. – Ele sussurrou sorrindo.
deu de ombros e se distanciou.
- Prepare-se querido. Você um dia será o Peter Pan e eu a Wendy. – Ela piscou enquanto abria a porta. – Vou comprar o café da manhã com a . Até mais tarde!


Depois daquela frase de , Sam estava até com medo de entrar na loja de fantasias. Dean, por outro lado, tinha começado a se animar. Porém Sam tinha certeza de que aquilo era resultado de uma ótima noite e um café da manhã gordo.

Porque pelo amor de Deus, ele não sabia como o irmão tinha a capacidade de comer toda aquela quantidade de bacon com lingüiças logo de manhã.

- Vocês já decidiram como vão vestidos? – Sam perguntou cautelosamente enquanto e andavam à frente.
Era uma loja cheia de fantasias e as duas estavam extremamente empolgadas, caminhando pelo labirinto de corredores como crianças em lojas de brinquedos.

Ou caçadores em lojas de armas. É o mesmo sentimento.

- Ainda não. Mas gostei da idéia de irmos de mosqueteiros! – Dean comentou destemido, já se imaginando em uma roupa de mosqueteiro, pronto para salvar as damas em perigo.
Se bem que, do jeito que elas eram, era capaz que o salvasse com um vestido de mosqueteira, bota de salto alto e ainda o carregasse nos ombros.

O que era igualmente sexy para ele.

- Ela também deu a idéia de piratas, que é muito boa! – Dean já estava praticamente tão empolgado quanto elas. Sam suspirou.
- Espero que elas não coloquem a gente em algo ridículo.
- Como o quê? – Dean não estava levando Sam a sério. Porém, quando viu a cara do irmão, ficou imediatamente sério. – Como o que, Sam? A falou alguma coisa?

Desespero. Era isso que definia os dois no momento.

- Uma palavra: Collant.
E a expressão de terror no rosto de Dean foi impagável.
- Exatamente. – Foi tudo que Sam conseguiu responder.
Aquilo era algo que eles tinham que se manifestar sobre. Não podiam deixá-las forçá-los a usar collant. O orgulho masculino deles falava mais alto.

E quando foram se manifestar, elas não estavam mais lá.

- Dean! – surgiu de repente, assustando-o. – Achei as fantasias de mosqueteiros! Vamos experimentar?
- No mesmo provador? É pra já, linda...! – E Dean estava com a sua típica cara de safado. Sam rolou os olhos.
- Pode se controlar, Dean. Vamos ser expulsos se fizermos alguma coisa. – Ela riu enquanto ia para os provadores.
- E quem disse que eu me importo em ser expulso?
Sam suspirou. Ainda bem que tinha para dividir o fardo de aguentar aquele mala sem alça que ele chamava de irmão.
- SAM! – surgiu quase literalmente do nada. Sam imediatamente fez cara de dor e medo. – Que foi? Tá com tanto medo assim do collant verde?
- Sim. Até mais medo do que eu senti com a Lilith. – Ele estava visivelmente em sofrimento profundo.
- Relaxa. Achei um par melhor: deuses gregos! – E ela imediatamente segurou a mão dele e o arrastou até o provador. – Vamos! Não vejo a hora de te ver de gladiador!

Alguns segundos depois, os quatro saíram do provador.

- Ah, meu Deus, você tá de saia! – Dean imediatamente começou a dar gargalhadas de Sam.
- É gladiador. – Sam respondeu com as mãos na cintura. – Não sei do que você está rindo. Parece que tem uma galinha inteira na cabeça.

Dean imediatamente parou de rir e olhou para o chapéu.

- Ei. Respeita o chapéu.
- Você tá linda, ! – E só quando ouviram o comentário da é que resolveram olhar para as duas.
E realmente, estavam lindas. estava a própria imagem de uma deusa grega e era uma mosqueteira destemida que podia chutar bundas mesmo com um salto de dez centímetros.
- Uau. – Dean e Sam falaram ao mesmo tempo. Não tinham outra palavra para descrever aquilo.
- Vocês também estão lindos! – piscou para os dois. – Vamos experimentar outras?
- Calma aí. Quantas vocês querem que a gente experimente? – Dean já estava começando a ficar com medo. Ele não era nem um pouco bom naquele negócio de experimentar quinhentas mil roupas.
- É. Essas aqui não estão boas? – Sam também não tinha lá muita paciência para experimentar roupas. Podia experimentar mais uma ou duas, mas era só isso.
- Aposto que você tá curtindo essa minissaia... – Dean lançou um olhar de lado e um sorriso engraçado para o irmão.

As duas só assistiam.

- Concordo com vocês. Vamos experimentar várias. – Sam comentou com raiva. Dean imediatamente ficou sério.
- EBA! Vamos pegar outras fantasias então! – As duas disseram praticamente ao mesmo tempo e saíram em disparada pela loja de fantasias.
Dean só olhava para Sam em choque, como se estivesse sido traído. Da mesma maneira que o encarou quando descobriu sobre o romance do irmão com Ruby.

Mas Sam só sorriu.

- Eu disse que ia ter volta.


Para o desespero de Dean, foram muitas fantasias. Mas o que no início foi visto como uma tortura, logo virou uma brincadeira. Com tirando diversas fotos em seu celular, eles experimentaram várias fantasias: Cavaleiros e damas medievais, cowboys e garotas de cabaré, faraós e cleópatras, árabes e odaliscas, hippies dos anos 70 e viciados em discotecas...
Sam e Dean até colocaram as perucas Black Power e calças metálicas de boca de sino para entrar no clima, tirando várias fotos no melhor estilo Embalos de Sábado à Noite. Pasmem, até colocaram o famoso sapato cavalo de aço.
Mas se divertiram tanto que nem se importaram o quão ridículos estavam sendo naquele momento. até caçou e encontrou fantasias no melhor estilo anos 80, fazendo com que todos ficassem com aparência digna para tocar no Guns n’ Roses.
A parte mais legal foi, sem sombra de dúvidas, vestir-se de personagens de filmes. Em poucos segundos, apareceram vestidos de Flintstones – o que rendeu boas risadas e muitas fotos – Motoqueiro Fantasma, Príncipe Encantado – fazendo suspirar e dar altas risadas – He-Man – a primeira fantasia ridícula e voluntária vestida por Dean e Sam – Jedis e Princesas – sendo que, para a infelicidade dos dois, tanto quanto se recusaram a experimentar a roupa de Léia Escrava no meio da loja – e diversas outras.
Quase se convenceram a vestir-se de Senhor dos Anéis, com Dean como Aragorn, e como Samwise e Frodo... E Sam como Gandalf. Porque ele era alto demais.

Infelizmente, os dois se recusaram.

De repente, surgiu do meio das araras de fantasias com um sorriso de orelha a orelha.
- , achei as fantasias perfeitas! Vem cá ver!
- Olha que eu to super convencida a ir de Flintstones. Tem que ser fantasias muito boas pra me convencer do contrário...

E sumiu nas araras.

- Eu fico até com medo... – Sam comentou enquanto as observava sumindo.

Mas não obteve resposta de Dean.

Quando olhou para trás, encontrou o irmão estirado em três pufes, completamente exausto.
- Agora eu sei por que mulheres se cansam tanto quando vão comprar roupa, cara... – E Dean suspirou, rolando para o lado. – É exaustivo experimentar tudo isso.
- Ah, mas você tem que admitir... É legal. – Sam empurrou as pernas de Dean para o lado, arranjando um cantinho para se sentar. – Seja honesto, Dean. Há quanto tempo a gente não se divertia dessa maneira?
- Muito tempo, cara. – Dean sorriu bobamente. – Muito tempo mesmo. Mas o que eu não daria por um pedaço de torta nesse momento...
- Levanta daí, torta de abóbora! – anunciou sua entrada no recinto. – Achamos as melhores fantasias. Com certeza vocês também vão querer ir com essas!
Sam e Dean nem estavam mais apreensivos. Pegaram as roupas das mãos delas e foram direto para os provadores, aguardando mais risadas.
Mas elas tinham razão... Aquelas eram as melhores fantasias. De todas.


Conforme o combinado, Dean e Sam ficaram encarregados de levar as fantasias de volta ao hotel e providenciar o almoço enquanto e iam comprar os ingressos para a festa. Assim, as duas saberiam o caminho na hora de ir para lá à noite.
- ... Já faz quarenta minutos que a gente tá enfurnada nesse carro. Eu to com fome.
- Para de reclamar e vai me falando o caminho. – deu de ombros. – Você quis que eu dirigisse, não? Então, estou dirigindo.
- O meu ponto é que estamos perdidas. Você melhorou muito no quesito ‘dirigir que nem uma velha’. – E ela piscou para a irmã. – Agora você já tá dirigindo que nem gente.
- É. Isso significa quase me suicidar ao volante de vez em quando, não? – E riu. – Mas é mais eficiente assim para o nosso trabalho. Agora me fala: esquerda ou direita?

Assim, as duas demoraram ainda mais vinte minutos para chegar à casa, totalizando uma hora de direção.

E quando chegaram, não se arrependeram. O local era literalmente enorme e antigo, com um jardim igualmente gigante em volta da casa. Não parecia muito bem cuidada, como se fizesse muito tempo que alguém não morava lá.
- Aposto que eles têm uma cripta, que nem no filme a Mansão Mal Assombrada. – comentou com a irmã, completamente empolgada.
- Pela primeira vez eu to empolgada pra ver uma cripta. – começou a rir. Parecia que as duas iam sair batendo palminhas logo mais.
O jardim estava inteiro decorado com coisas temáticas de Halloween. Quando se aproximaram da porta, conseguiram ouvir uma grande movimentação dentro da casa, provavelmente dos donos fazendo os últimos arranjos para a grande festa.
Sem conseguir ver nada pelos vidros foscos que ladeavam a porta, tocou a campainha.

Elas ouviram uma comoção ainda maior e logo um homem abriu a porta, ajeitando os óculos no rosto.

- Olá, garotas! Bom dia! – Ele sorriu desajeitadamente. - Desculpem a bagunça, mas estamos tentando arrumar tudo para hoje à noite! Em que posso ajudá-las?
- Então, ouvimos falar da festa e queríamos saber se ainda há convites! – sorriu. Ela nem o conhecia, mas tinha certeza que ele era uma pessoa simpática. – Resolvemos dar uma parada na cidade justamente porque vimos o anúncio da festa de vocês.
- Parar na cidade? Vocês viajam por aí? – Uma garota, que parecia ter quinze ou dezesseis anos, perguntou extremamente interessada.

Percebendo o interesse o homem suspirou, ainda sorrindo.

- Acho que a minha filha pode atender vocês melhor! Preciso ajudar a pendurar o resto da decoração, mas temos ingressos sim! – Ele virou para a menina. – Querida, pode ajudar as moças?
- Claro! – E a menina veio correndo para a porta, extremamente empolgada de conversar com aquelas mulheres viajantes. – Meu nome é Melissa, podem me chamar de Mels!
- Eu sou a e essa é a minha irmã, ! – Ela comentou enquanto a irmã só acenou, sorrindo. – Estávamos passando aqui com os nossos namorados e faz muito tempo que não vamos à uma festa de Halloween. Por favor, fala que você ainda tem convites!
- Temos sim! Vocês têm sorte, pois são os últimos!
Foi só ela falar que ouviram um estrondo vindo da enorme sala. Uma mulher apareceu correndo para acudir o homem e um dos irmãos mais novos de Melissa. A garota rolou os olhos, rindo, e saiu de casa, sendo seguida por e . As três se sentaram em alguns pufes que ficavam na varanda de entrada.
- Então vocês viajam por aí? – Melissa estava interessada naquilo. Não que não gostasse de ficar com a família, mas gostaria de viajar também. Como elas.
- Viajamos. Mas gostamos de parar de vez em quando. – sorriu. – Você gosta de viajar também, Mels?
- Eu queria. Ao invés de ficar aqui toda hora... – A garota olhou os pedaços de madeira que soltavam das paredes da casa. – Mas gosto daqui. Meu pai está fazendo de tudo para ficarmos com o lugar.
- Pelo que eu vi, a sua mãe também ajuda bastante. – comentou. – Com os primeiros socorros, pelo menos.
- Ah, isso ela faz bastante! – Melissa começou a rir junto com as moças. – Mas ela não é minha mãe, é minha tia. Irmã do meu pai.
- Ah, desculpa... Eu achei...
- Não se preocupe, todo mundo confunde. – E a garota piscou para elas. – Fico muito feliz que vocês estão interessadas na festa. Coseguimos esgotar todos os convites!
- Aposto que aqueles rumores de que a casa é mal assombrada ajudaram bastante com isso. – Apesar de não estar trabalhando, não conseguia ficar sem se certificar.

Pois tinha certeza que Dean surtaria se aparecesse um espírito sedento de sangue no meio da festa.

- Ah, mas ela é assombrada mesmo. Isso não nos preocupa tanto. – Melissa suspirou enquanto as irmãs trocavam olhares. – O que mais assombra esse lugar é a Sheryl.
- Sheryl? – estava começando a ficar interessada naquela história. – Quem é essa?
- A “dona de verdade” dessa casa. – Melissa rolou os olhos. – Ela nem gosta desse lugar. Nós viemos para cá antes que ela soubesse que era uma das propriedades do marido dela. Ele era maravilhoso, alugava a casa para a gente por um preço super baixo e a ofereceu para comprarmos por um preço mais baixo ainda. Ele dizia que nós éramos os verdadeiros donos daqui.
- E o que aconteceu? Por que vocês não compraram? – estava com dó. Pai viúvo cuidando de dois filhos pequenos e uma adolescente? A vida deles não devia ser fácil.
- Ele morreu antes que pudéssemos fechar o negócio! Vocês acreditam nisso?! – Nem Melissa acreditava naquilo. – Enfim, a esposa nojenta e parasita dele quer nos vender a casa pelo dobro do preço. Meu pai entrou em desespero quando soubemos disso, mas eu dei a idéia de organizarmos uma festa de Halloween para juntar dinheiro.
- E aí? Foi o suficiente? – Se pudesse, daria um tiro naquela tal de Sheryl. Infelizmente, aquele tipo de monstro era humano.
- Por incrível que pareça, sim! Faltou só um pouquinho, mas nada que não dê para emprestar no banco.
- Ah, bancos. Você sabe que eles vão cobrar juros absurdos que vocês não vão conseguir pagar, não? – perguntou. Ela simplesmente odiava bancos. Antro de burocratas sedentos por dinheiro, como ela sempre dizia.
- Sei. Mas é a opção que temos no momento. – E Melissa suspirou. – Ou teremos que procurar outra casa, meu pai procurará outro emprego e eu e meus irmãos teremos que mudar de escola. De novo.
- Bom... Espero que tudo dê certo. – sorriu. – E não desista de viajar quando você tiver a oportunidade.
- Obrigada! Vou pegar os convites de vocês, volto em um instante!
Assim, as moças adquiriram os quatro convites. Melissa observava enquanto elas sumiam na estrada com aquele carro lustroso e antigo. Estava fascinada pelas duas. E não via a hora de conhecer os namorados delas... Eles deviam ser casais sensacionais.
- Mels! Preciso de ajuda! – O pai dela gritou de repente. A garota começou a rir.
- O que foi dessa vez?
- Fiquei preso no celofane, querida! Seus irmãos estão com a sua tia e você é minha última esperança!
Rindo, Melissa foi soltar seu pai das furiosas garras do celofane, nem percebendo como a temperatura do ambiente tinha esfriado de repente.


Elas demoraram mais ainda para voltar ao hotel. Além de se perderem no meio do caminho, o GPS fez questão de ficar sem sinal. Após o almoço, a noite chegou rapidamente, assim como a hora de começar a se trocar.
- Já tá pronta?

Sam estava plantado na frente da porta do banheiro, só imaginando saindo de lá com sua roupa de látex preto.

Apesar de achar aquilo muito sexy, ele não conseguia deixar de se questionar como ela ia entrar naquilo lá sem ajuda.

- Não estou, Sam! Ainda to fazendo a maquiagem! – Ela respondeu impaciente. – Por que você não vai lá fora esperar junto com o Dean?
- E como a senhorita sabe que o Dean está lá fora?
- Por que eu combinei com a que vocês iam sair antes do quarto pra gente fazer uma saída fenomenal! – riu no fim da frase, fazendo-o rir também.
- E você não tá curiosa pra me ver na minha fantasia? – Sim, Sam estava provocando.
- Morrendo de curiosidade. Mas quero te ver lá fora, ou acho que não vamos sair desse quarto quando eu sair daqui!
Ele começou a rir mais ainda. Convencido, Sam se despediu e deixou o quarto, caminhando em direção ao Impala. Estava impressionado como tivera a habilidade de convencer Dean a ficar com a fantasia que fazia par com ela e não com a que Sam estava usando.
Enquanto pensava nisso, os dois se encontraram. Um ficou encarando o outro, boquiaberto.
Sam estava um perfeito Batman. Com a capa e tudo, os cabelos compridos dentro da máscara. Além disso, toda aquela altura dele só ajudava para deixá-lo mais assustador e imponente como o Homem Morcego.
Dean estava ótimo como o Coringa. conseguira pintar os cabelos dele de verde e fizera a maquiagem perfeitamente inspirada no filme com Heath Ledger. O terno roxo estava estranhamente elegante e, querendo ou não... Dean tinha seu ar meio psicopata quando queria.
- Cara! – Sam foi o primeiro a comentar, boquiaberto. – Você tá ótimo!
- E você?! – Dean apontou para o irmão, rindo em seguida. – Com todo esse tamanho e essa roupa, vão achar que você é o Batman de verdade! Agora só falta a voz.

- Eu sou o Batman. – Sam engrossou a voz e tentou deixá-la um pouco rouca, fazendo com que ambos começassem a rir.

- Sabe... Eu mudei de idéia. Esse Halloween? Vai ser ótimo! – Dean se apoiou no capô do Impala, sendo seguido por Sam.
- Não vejo a hora de ver a vestida de Mulher Gato. – Sam sorriu bobamente, encarando a porta do quarto.
- Seu safadinho. – Dean não podia perder a chance de zoar o irmão.
- Ah, então você não tá morrendo de vontade de ver a de Arlequina? – Sam cruzou os braços.
- Nunca disse um absurdo desses. – Dean respondeu seriamente. – Ela tá lá há meia hora tentando fazer a maquiagem.
- A também. Eu não entendo qual que é a da maquiagem.
- Exatamente. A só precisa de um batom vermelho e a só precisa jogar um monte de coisa e borrar tudo. Nem deve dar tanto trabalho assim.
- É mais difícil do que parece. – comentou e os dois finalmente perceberam que elas tinham saído do quarto e estavam paradas à frente deles.
estava com a roupa preta de látex remendado e botas de salto alto assim como usadas pela Michelle Pfeiffer ao fazer o papel da Mulher Gato no filme Batman Returns. Ela enrolava o chicote, ainda tentando descobrir onde colocaria aquele negócio. Teoricamente tinha um lugar para prendê-lo no cinto, mas até aquele momento não tinha funcionado. Mas, claro, ela não ia perder a pose, pois Sam – ou melhor, Batman – estava praticamente babando.
estava com a roupa da Arlequina como vista no jogo Arkham City – já que se recusava a usar a roupa do Esquadrão Suicida antes do lançamento do filme. Tudo era preto e vermelho, cada perna da calça de uma cor, assim como cada uma das botas que iam até acima do joelho. O mesmo se aplicava para o corpete e as luvas. Ela prendeu os cabelos em Maria chiquinhas e pintou as pontas, com a mesma tinta provisória que usara nos cabelos de Dean. Mas a maquiagem... Ela não resistiu e fez uma mistura de Esquadrão Suicida com Coringa.

Dean e Sam estavam prontos para falar ‘Uau’ ao mesmo tempo novamente, mas se controlaram. Ao invés disso, só ficaram encarando-as como bobos.

- Que eu mal lhe pergunte... – comentou quando finalmente descobrira como prender o chicote no cinto. – Cadê o seu taco de baseball?
- Ah, meu Deus! O taco! – colocou as mãos na cabeça. Em seguida sorriu. – Segura a carona aí, pudinzinho! Volto em um segundo!

E saiu correndo.

Sam olhou para Dean, sorrindo.

- Ela acabou de te chamar de... Pudinzinho?

Ele ia ter um ataque de riso. E chamar Dean de ‘pudinzinho’ pelo resto da vida.

- Cala a boca. – Dean não podia nem zoar Sam. Não enquanto ele estava vestido de Batman.
- É o jeito que a Alequina chama o Coringa. – esclareceu antes que eles começassem a discutir feito duas crianças.

O que acontecia com mais freqüência do que ela gostaria de admitir.

- Ah, é? – Os dois perguntaram ao mesmo tempo.
Ela se segurou para não rir. Ver o Coringa e o Batman falando ao mesmo tempo, tão sincronizados daquela maneira, era, no mínimo, cômico.
- Yep. Então se prepare para ser chamado de pudinzinho e outras coisas ridículas a noite toda. – piscou para os dois e depois lançou um sorriso safado para Sam. – E você também, minha bola de lã favorita.

- BOLA DE LÃ! – E Dean começou a gargalhar loucamente.

Era oficial: Sam seria a ‘bola de lã’ pelo resto da sua existência.

- Para com isso, Dean. Ver você gargalhando desse jeito e vestido de Coringa é no mínimo assustador. – Sam nem ficou tão bravo com o apelido. Na verdade, nem notara muito bem a brincadeira, pois ver Dean daquela maneira era perturbador.
- Ele tá entrando bem no personagem. – sorriu e se sentou no capô do Impala. – Aposto que vamos ganhar a competição de melhores fantasias.
- Tem competição? – Dean voltou a prestar atenção.
- Claro! Que festa de Halloween que se preze não tem competição de melhor fantasia?! – surgiu correndo, com o taco de baseball apoiado nos ombros. Nele estava escrito ‘Kiss This’ em vermelho. Além disso, ela batera em algumas coisas para fazê-lo parecer desgastado.
- Ok, agora sim estamos falando de Halloween! – E, finalmente, Dean estava cem por cento empolgado. – Todo mundo no carro! E você vai na frente, Torta de Abóbora!
ficou observando boquiaberta enquanto praticamente saltitava até o bando da frente do Impala enquanto falava “É pra já, Mr. J”. Sam não tinha entendido nada. [n/a: só pra constar, a Arlequina não fala ‘Mister J’, ela fala ‘Mistah J’.]
- O Dean sabia... – observou Dean com os olhos semicerrados. – O apelido da Arlequina... Ele deve ter assistido o desenho em algum momento da vida.
- E eu? Não tenho apelidos pra você?

só o observou durante um momento.

- Hmmm... Não. Você é o Batsy. Nós damos os apelidos e você... É a noite. – Ela comentou dramaticamente, fazendo-o rir. – Agora vamos, Bats. Ou vamos chegar atrasados!
Tudo bem que era uma festa de Halloween de madrugada e, portanto, era difícil de atrasar. Mas era a primeira vez em anos que eles se fantasiavam daquela maneira e iam a uma boa festa de Halloween. Ninguém podia culpá-los por estarem tão empolgados.


ficou monitorando o caminho em seu celular, por meio de um mapa. E, como era de se esperar, acabaram se perdendo no meio do caminho. Elas nem mencionaram o fato que a casa parecia ser assombrada e que estava convencida de que havia uma cripta.
Simplesmente porque falar em cripta era a mesma coisa que falar em fantasmas. E, apesar de estarem no Impala, tinham tirado a maioria das armas do porta-malas, justamente para não serem presos caso alguém resolvesse dar de engraçado e entrasse no carro de Dean.
- Tem certeza que a gente não se perdeu? – Sam suspirou. Já fazia por volta de meia hora que estavam dentro daquele carro.
- Coopera aí, B-man! – comentou se espreguiçando. – O celular tá sem sinal, não é tão fácil assim servir de copiloto. Se você quiser usar o seu sensor de morcego para achar o lugar, será muito bem vindo.
- Você tá toda engraçada de Arlequina, não? – Sam respondeu cruzando os braços. Sim, ia começar a discutir. Não era só porque estavam vestidos daquela maneira que ela tinha todo o direito de ser engraçadinha daquele jeito.
- O que foi, hein ? – também cruzou os braços, parecendo séria. A irmã estranhou aquela reação. – Dormiu com o Coringa?
Dean, e começaram a rir imediatamente. Não podiam negar, aquela piada foi muito boa. O único que não riu e continuou com a cara de paisagem foi o Sam. E, para falar a verdade, aquela cena foi no mínimo engraçada... Mulher Gato, Arlequina e Coringa morrendo de rir enquanto o Batman ficava de braços cruzados e não dava um sorriso sequer. Pelo visto, tinham escolhido os personagens muito bem.
- Gente, atenção! – Dean parou de rir de repente, apontando algo no horizonte. – É aquela casa ali? Por que é a única casa da região! Se não for aquela, eu dou um tiro em alguma coisa!
- É aquela sim, pudinzinho! Chegamos! – levantou os braços, toda feliz de finalmente alcançarem a casa.

Pois tinha certeza que se ficassem mais tempo naquele carro, acabariam brigando loucamente. E provavelmente desistiriam da festa, coisa que ela não queria.
Dean estacionou no lugar mais próximo que conseguiu. O jardim estava cheio de carros, portanto foi difícil de arranjar um lugar. Caminharam juntos até a porta, que estava aberta. Era possível ouvir a música alta e várias pessoas conversavam do lado de fora, vestidas nas fantasias mais variadas possíveis.

E, na porta, recebendo todos, estavam Melissa e seus irmãos mais novos.

- São elas! Oi! – Melissa acenou para e . As duas começaram a sorrir. – Vocês estão ótimas!
- E você? Está ótima de Sininho! – achou aquilo sensacional. – E seus irmãos? Peter Pan e Sr. Smee?
- Claro! Eu sou um pirata do mal! – O irmão mais velho rosnou, fazendo-os rir.
- Seu pai e sua tia estão vestidos de quê? – Agora estava curiosa.
- Capitão Gancho e Tiger Lilly. – Melissa respondeu sorrindo. – E o Batman e o Coringa? Eles têm nomes?
- Sam e Dean. – Sam respondeu sorrindo. – Obrigado por nos vender os últimos convites.
- De nada, Batman! – Melissa estava super empolgada. – Podem entrar! Fiquem à vontade e curtam a festa!
Quando entraram no enorme salão, ficaram boquiabertos. A casa tinha uma arquitetura antiga e muito bonita, cheia de decorações de Halloween. Parecia perfeitamente mal assombrada. Realmente, tinha cara das casas que eles investigavam normalmente. Todos dançavam e, para a alegria deles, estava tocando músicas dos anos 80 e rock clássico.

Em resumo, a festa era perfeita.

- Ok, só uma coisa pra fazer essa festa literalmente perfeita... – Dean comentou boquiaberta.
- Tortinha de abóbora? – surgiu de repente ao lado dele, carregando pelo menos umas quarto tortinhas.
- Torta. – Dean estava até com os olhos brilhantes. – Você é a melhor, babe.
- Minha impressão ou os dois resolveram ficar mais amorosos com os apelidinhos depois de colocarem as fantasias? – Sam comentou se distanciando junto com e deixando o casalsinho a sós com as tortas.
- Pra você ver o bem que fantasias fazem a um relacionamento! – respondeu rindo, segurando a mão dele. – Agora você é meu e eu quero dançar, Bats. Vamos!

- Acho que é a primeira vez que vamos dançar em uma festa, não?

Com essa pergunta de Sam, começou a puxá-lo com mais força até a pista de dança. Sim, era a primeira vez que iam dançar juntos. E ela não via a hora de poder dançar com seu Batman.


e Dean estavam na pista de dança. A moça colocara as mãos dele na cintura dela, logo percebendo que, apesar de toda a pose, Dean não tinha a menor experiência em dançar daquela maneira. estava adorando aquilo, contente em conhecer um lado de Dean que, provavelmente, quase nenhuma mulher tinha visto.
e Sam, por outro lado, dançavam maravilhosamente bem. Na sua época de faculdade, Sam tivera a oportunidade de dançar o suficiente para saber quando girá-la, segurá-la por trás ou até segurá-la como se estivessem dançando tango. se divertia com tudo aquilo, feliz por poder se soltar completamente e ser ela mesma com Sam. Fazia bastante tempo que ambos não faziam aquilo.

Mas, como diz o ditado, tudo que é bom, dura pouco.

- Eu juro! Eu vi um fantasma! De verdade! – Uma garota passava correndo pela pista, ao lado de e Dean. – Ele tinha olhos vermelhos e dentes afiados! Por favor, vamos sair daqui!

Dean ergueu uma sobrancelha.

- Isso parece mais descrição de lobisomem que de fantasma.
- Ah, vai saber. É Halloween, às vezes alguém quis pregar uma peça nela! – respondeu rindo.

Mas logo parou de rir quando ouviu um grito histérico.

E, em seguida, uma garota saiu correndo, seguida de um garoto em desespero.
Quando os dois atravessaram a porta de entrada, todos começaram a rir, achando que era mais uma atração de Dia das Bruxas.
- Ok. Isso pareceu autêntico. – Dean comentou, lançando um olhar estranho para a namorada.
- Olha, falaram que o lugar é assombrado. Mas desde quando espíritos resolvem participar de festas de arromba? Normalmente eles matam todo mundo antes disso!
- Ela tem razão! – Sam comentou enquanto girava no meio da música.
- Quer dar uma perguntada por aí, abóbora? – Dean perguntou casualmente, oferecendo o braço para .
- Contanto que a gente pare para pegar uma cerveja, ok! – E ela entrelaçou seu braço com o dele.

Sam rolou os olhos.

- Ah, nem se preocupa. Esses aí não param de trabalhar por nada nessa vida! – deu de ombros. – Nem se atreva a segui-los! Hoje nós merecemos dançar!
- Sabe de uma coisa? Você tem razão. – E Sam puxou-a mais para perto. – Dane-se o trabalho. Vamos nos divertir.

Ela abriu um enorme sorriso, soltando-se cada vez mais.

Enquanto isso, e Dean tomavam suas cervejas e comiam docinhos perto da mesa de guloseimas para captar alguma coisa. Em pouco tempo, viram um casal mais velho andando apressadamente.
- Essa casa é realmente assombrada. – A mulher mal conseguia respirar. – Eu achei que era brincadeira.
- Eu também. Vamos dar o fora daqui. – O homem respondeu, caminhando com ela o mais rápido que podiam até a saída.
- Isso já está bem estranho... – comentou pensativa. – Podemos ir falar com a Mels.
- Mels? Quem é Mels?
- A Melissa, filha do dono da casa! – E ela segurou a mão dele, caminhando por aí para achar a Sininho. – Quer dizer, quase dono.
Os dois avistaram Melissa do outro lado da festa. Sendo assim, o lugar mais fácil para alcançá-la era pela pista de dança. E quando e Sam viram os dois caminhando de maneira afobada, não resistiram e foram atrás.
- O que foi? A assombração é de verdade? – praticamente saltitava atrás da irmã, segurando Sam pela mão.

Estava engraçado até. O Coringa sendo arrastado pela Arlequina e o Batman arrastado pela Mulher Gato. Se um produtor de filmes tivesse visto aquela cena, provavelmente teria virado um filme.

- Não temos certeza. Mas pela cara de preocupação da Mels, é sim. – apontou com a cabeça.
E, realmente, Melissa parecia super preocupada. Logo em seguida, os irmãos mais novos se aproximaram e cochicharam alguma coisa para ela. Assim, ela deu as mãos para eles e os três subiram a enorme escadaria para o andar de cima.

e trocaram olhares. Hora de arrastar o Batman e o Coringa escada acima.

- Meninas, vocês não acham que já é demais com a perseguição? – Sam rolou os olhos enquanto subia as escadas aos tropeços.

Não que fosse desengonçado, mas tenta ter quase dois metros de altura e ser arrastado por uma pessoa bem menor que você.

- É, a gente pode perguntar para ela quando ela voltar para festa? – Dean perguntou sorrindo. Na verdade, já estava sentindo falta da comida. – Que tal?
- É mais fácil perguntar longe das pessoas normais. – comentou já no topo da escada.
Assim, seguiram Melissa até um dos quartos da casa. Chegando lá, os quatro tiveram uma surpresa: ela e os irmãos estavam conversando com três caras. Dois usavam ternos antigos, que pareciam ter saído dos anos vinte. O último estava com roupas normais, porém branco demais para estar vivo.
- Mels! Cuidado! Eles são fantasmas! – gritou, soltando a mão de Dean e procurando a primeira coisa de ferro que conseguisse achar.
- Calma, eu sei! Mas eles são do bem! Estão nos ajudando! – A garota falou desesperada, colocando-se na frente dos fantasmas que estavam se protegendo de qualquer coisa que pudesse acertá-los.

Ok. Fantasmas se protegendo? Aquilo era estranho.

- Eu só vou perguntar uma vez. – Sam comentou sério. Agora sim estava digno de ser o Batman. – O que diabos está acontecendo aqui?
- Eles são legais! – O garotinho vestido de Peter Pan comentou, ficando ao lado da irmã. – Eles estão nos ajudando a ficar com a casa.
- É. Mas não conseguem assustar ninguém... – O garotinho Mr. Smee comentou tristemente, chutando o tapete de leve.
- Os dois de terno moraram aqui há muito tempo. O mais novo era o marido da Sheryl, a atual dona da casa. – Melissa explicou melhor, suspirando. – Mas eles queriam que nós ficássemos com o lugar.
- A Sheryl não tem o menor respeito pela mansão. – O fantasma cruzou os braços. – Ela venderá a propriedade para qualquer empreiteira que vai demolir o lugar e toda essa história irá por água abaixo.
- Não podemos deixar que a nossa casa vire pó. – Um dos fantasmas dos anos vinte comentou tristemente. – Eles viveram aqui e cuidaram de tudo, como se fosse um lar.
- Não podemos deixar que uma doida destrua nossa casa e o lar de uma família que precisa. – O terceiro fantasma suspirou.
- Por isso, tivemos a idéia de que eles podiam assombrar a Sheryl! – Peter Pan levantou os bracinhos, todo empolgado. – Assim ela desistiria do lugar!
- Mas eles não sabem ser assustadores como os fantasmas de filmes. Até agora, assustaram só algumas pessoas. – Mr. Smee voltou a chutar o tapete. – A Sheryl não vai sair da festa por tão pouco para checar o problema.
- E daí não temos como assustá-la para ficar com a casa para nós. – Melissa suspirou. A chateação da garota era quase palpável.

Os quatro caçadores estavam boquiabertos.

- Então calma... – Dean respirou fundo, tentando entender aquilo. – Vocês são fantasmas... Do bem?
- Exatamente. – Os três disseram juntos e começaram a sorrir.
- O quê? – e Dean perguntaram ao mesmo tempo. Aquilo era extremamente esquisito.
- Olha, somos caçadores. Não nos deparamos com isso todo dia. – tentou explicar. E parecia que aquilo fora o suficiente para entendimento dos fantasmas, pelo menos.
- Não precisa queimar nossos ossos. – O último fantasma a falar se manifestou. – Nunca faríamos mal a ninguém. Não conseguimos nem assustar.
- Então vocês querem assustar essa tal de Sheryl para que ela dê a casa de graça para vocês? – Sam, assim como Dean, tentava ver se tinha captado tudo corretamente.
- Ou que nos venda pelo preço justo, que acordamos antes de ela virar a legítima dona. – Melissa explicou imediatamente. Falando daquela maneira, parecia até uma coisa ruim a se fazer.

- Pra falar a verdade... – Sam considerou durante um tempo. – Isso é genial.

Não tinha como discordar dele: era realmente um plano genial.

- Seria. Eles não conseguem assustar ninguém. – O Peter Pan se sentou no chão, suspirando em derrota. – Teremos que mudar de casa novamente.
- Ah, não! A gente pode tentar ajudar em algo! – se manifestou, trocando olhares com seu grupinho. – Não podemos? Conhecemos coisas assustadoras!
- Mas normalmente matamos essas coisas. – Dean lembrou. – Eu não consigo ensinar um fantasma a ser assustador. Normalmente mato essas coisas para pararem de ser assustadoras.
- Idem. Também acho que não consigo dar aulas de como ser assustador... – Sam murmurou, tentando achar alguma outra opção.
- Nem eu... – suspirou, sentindo-se derrotada. – E você, ? Consegue ou tem alguma idéia melhor?
- Não consigo. E não sei se é uma idéia melhor, nem se vai funcionar ou não. Até a parte que sei, pode nem ser verdade. Mas acho que vale a pena tentar.
- O quê? – perguntou curiosa. começou a sorrir.
- Eles querem assombrar uma mulher chata para fora dessa casa, certo? – Ela perguntou ainda com o sorriso no rosto. entendeu imediatamente.
- Não! Você está louca? Não, não e não! E se for verdade?! Como vamos nos livrar dele?!
- Dele quem? – Sam estava perdido.
- Garotas, que idéia é essa?! – E Dean mais ainda.
- , é melhor não... – quase gemeu de sofrimento.

- Beetlejuice, Beetlejuice, Beetlejuice!

disse tão rápido que não havia ninguém que pudesse ter impedido aquilo.

Por um momento, todos ficaram em silêncio e nada aconteceu. Após alguns segundos, deram de ombros. Achavam que tinha valido a tentativa...

Até olharem para a porta e encontrarem um morto vivo de camisa branca e terno listrado apoiado no batente, fazendo a maior pose de galã.

- Alguém precisando de ajuda para assombrar uma casa?
estava praticamente dando pulinhos de alegria ao ver Beetlejuice em pé logo na frente dela. ficou apontando para ele, boquiaberta. Sam e Dean simplesmente trocaram olhares, completamente confusos.

Como era possível que aquele cara existisse?!

- Olá, garotas! – Beetlejuice sorriu, começando a caminhar em direção delas. – Quem se oferece para ser minha esposa morta-viva? Vão com calma, não precisam fazer fila!
- Beetlejuice, eu sou sua fã! – disse sorrindo. Em seguida, apontou o taco de baseball para ele. – Mas se você chegar perto da Mels ou da minha irmã, vai ter que beijar meu lindo taco de baseball! Entendido?

Yep. Ela estava a imagem perfeita da Arlequina.

- Ok, sem violência! – Ele levantou as mãos. – Você me tirou daquele túmulo sujo e abafado, então faço o que vocês quiserem. Precisam assombrar humanos para fora daqui, certo?
- Certo! Precisamos assombrar a Sheryl para que ela nos deixe com a casa! – O pequeno Peter Pan se prontificou a explicar. Apesar de todas as ameaças, tinha gostado daquele cara.
- Sheryl? Já gostei do nome dela! – Beetlejuice sorriu animadamente. – E vocês fantasmas? Por que não fazem alguma coisa?
- Não somos assustadores... – Os três suspiraram ao mesmo tempo.
- Isso foi antes de eu chegar aqui! – Ele começou a flutuar de alegria, finalmente podendo esticar as pernas depois de tanto tempo em sua cova apertada. – Todo mundo vai ter que fazer alguma coisa, vamos!
E assim, o grupinho seguiu Beetlejuice. Sam e Dean não estavam gostando daquela idéia – afinal, já tinham assistido o filme – mas, por enquanto, parecia que ele não ia dar trabalho. Por enquanto.


Todos estavam dançando na festa, quando, de repente, todas as luzes se apagaram. Os convidados estranharam, perguntando-se entre si o que estava errado. Sheryl rolou os olhos. Sabia que aquela idéia de festa era patética, só não esperava que fosse tão patética assim.
Mesmo assim, ela sorriu. Era ótimo que isso acontecesse. Todos iam pedir o dinheiro de volta e ela poderia expulsar aquela família igualmente patética da casa de uma vez por todas.

Mas, de repente, uma luz azul clara se ascendeu, iluminando somente o chão. Foi aí que todos perceberam que o local estava encoberto por uma névoa densa e branca.

E, do nada, risadas.

Milhares de risadas sem corpos. Ninguém queria admitir, mas aquilo era realmente assustador. Risadas femininas, masculinas, de crianças.

Mal sabiam eles que eram Mels, Dean, , Sam, e as crianças escondidas em lugares estratégicos apontados por Beetlejuice.

- Bem vindos, senhoras e senhores... – Uma voz grave ressoou nos alto falantes. Só tinha um porém: eles estavam desligados. As pessoas se afastaram gradualmente dos aparelhos. – Ao INFERNO!
Quando a voz gritou isso, um primeiro fantasma flutuou rapidamente pela cabeça das pessoas, fazendo-as gritar.

- Vocês não queriam uma casa mal assombrada? Pois estão em uma! Vamos ver quem sobrevive a essa noite?! – Sim, Beetlejuice estava sendo bem assustador.

Os outros dois fantasmas apareceram, flutuando sobre todos, gemendo e gritando, arrastando correntes.
Foi imediato. Todos os convidados gritaram e saíram correndo, em direção à porta de entrada.

Mas Beetlejuice apareceu na frente desta, sorrindo.

- Eu sou o anfitrião da noite! E tenho uma regra: ninguém sai dessa casa essa noite! Vamos brincar de quem sobrevive aos fantasmas sedentos de sangue até o sol raiar?!
Os convidados estavam congelados no lugar. Sheryl - que ficara assustada, mas mascarava aquilo muito bem – tomou a frente de todos.
- Pare com essa brincadeirinha idiota de Halloween, Jack! Nós já sabemos que é você, tenha um pouco de respeito pelos seus filhos! Essa casa não é assombrada!
- Ah, você deve ser a Sheryl. Gostei muito do seu vestido. – Beetlejuice já olhou imediatamente para o decote dela. – Mas meu nome não é Jack. É Betelgeuse. E posso provar que sou um morto vivo, quer ver?

E foi aí que os convidados da festa entraram em pânico total. Beetlejuice fez o favor de tirar a cabeça do lugar e segurá-la nos braços como um capacete.

- Viu? E ainda estou vivo! – Ele sorriu. – Ou morto, se você preferir.

E o caos se instalou.

- Beetlezinho! – apareceu saltitando, carregando um taco de baseball ensanguentado. Sangue falso disponibilizado por Beetlejuice, mas parecia de verdade. – Você falou que ia esperar pela gente pra começar a festa!
- Já matou alguém, Arlequina? – Beetlejuice rolou os olhos, colocando a cabeça no lugar.
- Já. Será que posso matar mais um? – Ela olhou para os convidados com um olhar psicopata e um sorriso enorme no rosto.

Ela era boa naquilo.

- Não. Controle-se. E o Coringa?
- Ah, deve estar por aí matando mais alguns. – Ela deu de ombros. – E você colocou sua cabeça ao contrário, deixa eu colocar do lado certo!

E ela arrancou a cabeça de Beetlejuice. De novo.

De repente, todos ouviram tiros. Vários tiros e gritos.
Os convidados se viraram para a escada, origem dos gritos. No topo desta, encontraram um Dean salpicado de sangue, sorrindo que nem o Coringa. Todos gritaram ao mesmo tempo.
- Mais dois para a nossa lista, tortinha de abóbora! – Ele sorriu. – Por que você está com a cabeça dele?
- Ele colocou do lado contrário. Quer jogar vôlei? – E jogou a cabeça de Beetlejuice por cima dos convidados até Dean.
- O que está acontecendo aqui?! – Sheryl perguntou desesperada. Não era possível que os rumores sobre aquela casa fossem verdadeiros.

De repente, um chicote prendeu o pulso de Sheryl, que estava pronta para bater em e provar que ela não era um fantasma. Quando a mulher se virou, lá estava , nem um pouco feliz.

- Ah, então você é a megera que não acredita em fantasmas? – A moça se aproximava como um gato espreitando sua comida. Sheryl tentava soltar o pulso, mas não conseguia. – Adivinha? Fantasmas existem. E eu vou contar uma história para vocês.

fez força com o chicote, fazendo com que Sheryl se sentasse no chão. Em seguida, virou-se para todos os convidados.

- Há muito tempo atrás, houve uma festa de Halloween aqui. Quatro estudantes morreram, vítimas de um assassino em série maluco. – suspirou. – E cá estamos nós de volta! Curtindo o Halloween.
- Espera um pouco... – Um garoto, com mais ou menos a idade da Melissa tomou frente dos convidados. – Se vocês são fantasmas e morreram, onde estão suas marcas? Quer dizer, todos os fantasmas têm as cicatrizes de como morreram.
- Ah, isso é fácil, moleque! Elas só não queriam assustar vocês tanto assim! – Beetlejuice comentou nas mãos de Dean enquanto seu corpo arrancava a gargantilha de .
Dean quase jogou a cabeça do morto vivo longe e correu até . Isso porque, quando Beetlejuice tirou a gargantilha, ela tinha uma ferida bem real no pescoço, como se tivesse sido degolada.
A moça olhou para baixo e em seguida para os convidados horrorizados. Sheryl começou a gritar e não parou nunca mais. Mantendo-se no personagem, cruzou os braços, fez biquinho e olhou para Beetlejuice nos braços de Dean.
- Poxa, Beetlezinho! Eu não queria ficar tão assustadora, tá? Isso daqui doeu quando aconteceu.
- Vocês disseram quatro, não? – O garoto comentou aterrorizado. Aquela festa já estava suficientemente bizarra. Ele queria conhecer os fantasmas da casa, mas não achou que eles seriam tão assustadores assim. – Cadê o último?
- Aqui. – Sam surgiu ao lado de Dean. – Estava limpando a sujeira do Coringa, como sempre.
- Batman! – Sheryl gritou de repente. – O Batman é bom, certo? Tire esses espíritos ruins da minha casa!
- Sua casa? – Sam perguntou daquela maneira irônica e irritante que só ele conseguia fazer. – Eu sou um fantasma, Sheryl. Eu não vou te ajudar só porque você quer. Ainda mais você.
- O que você quer dizer com isso? – Sheryl tentou se levantar, falando da maneira arrogante de sempre. Porém, a puxou para baixo novamente com o chicote.
- Se tem alguém que precisa pagar pelos seus pecados, essa pessoa é você, Sheryl. – Sam comentou, apoiando-se no parapeito da escada. Em seguida, olhou para Dean. – O que você está fazendo com essa cabeça?
- Não olha para mim assim, Bats. – Dean deu de ombros. – Foi presente da minha pequena abóbora.
- Eu não sou presente de ninguém! – Beetlejuice se manifestou, rolando os olhos. – Quer me devolver para o meu corpo? Tenho grandes anúncios para fazer!
- Ok. Pega aí, Arle! – Dean gritou e jogou a cabeça de volta para .

Claro que todos que estavam embaixo se abaixaram, com medo de que aquilo caísse no meio deles.

- Peguei, pudinzinho! – comemorou, segurando a cabeça da melhor maneira que conseguiu.
- Obrigado, lindona! Agora me coloque de volta no meu corpo, do lado certo! – Beetlejuice piscou para ela.
- Só se você falar a palavrinha mágica! – E estava muito saltitante naquele dia. estava quase rindo ao assistir aquela cena.

Se bem que estava preocupada com a ferida no pescoço da irmã. Mas, se conhecia bem Beetlejuice, aquilo era mais um dos truques dele.

- Por favorzinho, fantasminha maravilhosa.
- Agora sim! – E ela colocou a cabeça dele no lugar.
- Ah, assim está melhor! – Ele sorriu, todo animado. – Agora vamos para a segunda parte da noite! Vocês sabem quantos fantasmas moram nessa casa?

Os convidados trocaram olhares.

- Quantos? Quer dizer que têm mais do que só vocês?! – Sheryl já estava histérica. piscou para , contente de que o plano estava funcionando.
Enquanto isso, Melissa e seus irmãos rolavam de tanto rir daquela cena. O que deixava tudo ainda melhor, pois era possível ouvi-los de todos os cantos da casa, fazendo com que tudo ficasse mais assustador ainda.
- Sim, Sra. Sheryl! Quantos! Sabe, não somos os únicos mortos vivos por aqui. – Beetlejuice comentou, flutuando sobre os convidados. – Quer dizer, tecnicamente eu sou o único morto vivo. Os outros são fantasmas. Mas você entendeu o que eu quis dizer.
De repente, os dois fantasmas de terno apareceram flutuando sobre todos. Com olhos vermelhos e dentes afiados. Os convidados não sabiam para onde correr e Sheryl tentou fugir, mas fez questão de mantê-la no lugar.
- Mas tem um que é especial nessa casa! – Beetlejuice se pendurou no enorme lustre de vitral que ficava no centro da sala. – Ele sabe de tudo que você fez nessa vida e após a morte dele!

- Não... – Sheryl sussurrou, de olhos arregalados.

- Ele sabe dos seus pecados, Sheryl! – Beetlejuice fez a melhor pose de apresentador de programa que conseguiu. – Senhoras e senhores, gritem, corram e se desesperem com ele, o próprio, o único... Thomas Baltimore, antigo dono desse lugar decadente e maravilhoso!
Thomas sobrevoou os convidados, que gritaram ao vê-lo por ali. A maioria o conhecera em vida e, sinceramente, nunca esperara encontrá-lo como um fantasma em uma festa de Halloween.
- Sheryl, querida! – Thomas finalmente pousou no chão, aproximando-se vagarosamente da ex-mulher.
- Não! Deixem-me ir! Não! – Sheryl tentava fugir, mas a segurava com força.
- Você fez besteira, não? – perguntou para Sheryl, segurando o chicote no lugar. – Então aguente as consequências. Tudo que vai, volta.
- Ela tem razão, Sheryl. – Thomas comentou com raiva. – Afinal, foi você que me matou não foi?
O local ficou em silêncio. Jack e sua irmã já tinham achado os filhos dele, que lhe explicaram toda aquela confusão. Mesmo assim, ele não conseguia deixar de abraçá-los e protegê-los. Quando a família ouviu aquilo, não coseguiu acreditar.

- Você o quê? – Jack perguntou escandalizado.

Ficara desesperado e quase entrara em depressão quando Sheryl deu o ultimato de que se ele não pagasse o valor que ela queria, teria que sair de lá. Ele achara que o ataque de coração de Thomas tinha sido uma coincidência infeliz. E agora finalmente soubera da verdade.
- Ah, não! Precisamos de um clima bom nesse lugar! – Beetlejuice ligou os aparelhos de som novamente, colocando uma música dramática de fundo. Em seguida, sentou de pernas cruzadas em cima de um amplificador e ficou regendo uma orquestra invisível. – Pode prosseguir, Tom-Tom!
- Você me matou, Sheryl. Envenenado. – Thomas revelou para a multidão em choque. A música ficava cada vez mais dramática. – Só porque eu te disse que queria dar uma das minhas propriedades mais valiosas para essa família que precisa e que cuida dela como você jamais faria!
- Desculpe, Tom! – Sheryl tentava se distanciar do fantasma do marido, mas não conseguia. segurava o chicote como se fosse uma coleira.

Sam não podia negar. Estava achando aquela uma das visões mais sexys que tivera da namorada.

- E se eu não desculpar, querida? – Thomas comentou ironicamente, ficando a centímetros do rosto da ex-mulher.
- A casa é deles! Eu dou a casa para eles! Só deixe-me ir embora, por favor! – A mulher choramingava, completamente aterrorizada.
- Agora sim. Isso é uma promessa?
- É! Claro que é! – Sheryl já estava chorando, borrando toda a maquiagem.

- Boa garota. – E, no momento que Thomas deu um beijo frio na testa da mulher, ela se estatelou no chão, desmaiada.

- Isso é o que eu chamo de revelação, minha gente! – Beetlejuice estava praticamente dançando de empolgação. Dean e Sam desceram as escadas, em direção às moças e Sheryl. Os convidados até saíram do caminho deles, morrendo de medo. – O que vocês acham de agitar essa festa de novo?!

De repente, todos os aparelhos de som e iluminação voltaram ao normal. A névoa sumiu e a festa voltou a ser somente uma festa.

- Mas vocês são fantasmas! – Uma mulher gritou histericamente.
- Só estávamos tentando fazer com que Sheryl pagasse pelos pecados que cometera. – Thomas suspirou, sorrindo. Ele não parecia mais tão assustador. – Foi só uma brincadeira com ela.
- Então tudo isso foi feito com efeitos especiais? – A mulher perguntou praticamente tremendo.
- Claro que sim. – Sam riu enquanto ajudava a levar Sheryl para outra sala. Assim, poderiam prendê-la em uma cadeira e levá-la até a polícia no dia seguinte. – Ou vocês acharam que era verdade?
- Maquiagem e afins. – Dean comentou passando a mão pelo pescoço da namorada. Ele sorriu, fingindo que era tinta, mas aquilo parecia sangue de verdade.
- Não se preocupem, não iríamos fazer uma coisa de verdade! – Melissa finalmente se manifestou. – Ou vocês acham que a casa é realmente mal assombrada? Essas coisas não existem!
Assim, todos começaram a rir. Bateram palmas para os “atores”, sendo que Beetlejuice se sentiu extremamente honrado, flutuando sobre todos e agradecendo mil vezes.
A festa retornou ao normal. A música começou a tocar, as pessoas começaram a dançar, beber e comer. Beetlejuice pousou ao lado do grupinho, enquanto Melissa e sua família se aproximavam.
- Tenho que admitir, todos vocês estão de parabéns! – Beetlejuice comentou rindo.
- Ok, seu maluco de cabelo verde, o que você fez com o pescoço da minha namorada? – Dean praticamente rosnou, só para não perder o costume.
- Calma, calma, calma! Em primeiro lugar eu não sou o único maluco de cabelo verde, Coringa. – Beetlejuice levantou as mãos. – É só um dos meus truques, não há nada de errado com ela! Quer ver?

Ele estalou os dedos e aquela ferida horrível sumiu do pescoço de .

- Obrigada. Não estava nem um pouco contente de ter que ver a minha irmã quase decapitada. – suspirou, voltando na sua missão de enrolar o chicote e prendê-lo no lugar. – E agora?
- Agora poderíamos ter um casamento, o que acham?! – Beetlejuice perguntou tão de repente que confundiu todo mundo. Ele agarrou Melissa e a puxou para si. – A linda Mels seria uma ótima esposa!
- Solta a menina, Beetlejuice. – Sam disse seriamente, pronto para atacar se fosse necessário. – Ela não vai casar com você.
- Vocês vão fazer o que contra isso? Sabe, não é tão fácil assim se...

E, antes que ele pudesse terminar de falar, um taco de baseball acertou sua cabeça, fazendo-a voar e rolar pelo chão da sala. Todos olharam boquiabertos para uma sorridente.

- Eu disse que você ia beijar o taco se resolvesse ser engraçadinho, né? – Ela disse enquanto limpava o taco de baseball.
- Ok, entendido, sem casamentos. Alguém pode me colocar de volta no lugar? – Beetlejuice rolou os olhos.
pegou a cabeça dele e colocou do jeito certo no corpo. Assim, fizeram um combinado: ele poderia aproveitar até o fim da festa – sem se casar com ninguém, claro – e daí iria embora.
Dessa maneira, até os fantasmas puderam aproveitar e dançar com os vivos sem ouvir todo mundo gritar e sair correndo em terror.
Dean e puderam aproveitar todas as comidas e cervejas quando decidiam dar uma pausa da dança. Já e Sam não desgrudaram da pista de dança, ficando lá eternamente se dependesse deles.
Por pedidos de Melissa, ficaram na festa até amanhecer. Todos os convidados já tinham ido embora e eles se encontravam na varanda da casa, sentados nos degraus da escada, bebendo cerveja e assistindo os meninos e Melissa brincando com Beetlejuice.

Ou melhor, jogando a cabeça dele de um lado para o outro como um balão enquanto o corpo dele tentava pegá-la de volta.

A tia deles observava de perto, a fim de prevenir qualquer acidente que pudesse acontecer. E Jack, ainda vestido de Capitão Gancho, sentou-se ao lado deles na escada.
- Obrigado. Pelo que vocês fizeram essa noite. – Ele suspirou, obviamente emocionado. – Tenho certeza que as crianças nunca vão esquecer vocês.
- E os fantasmas? – Sam perguntou casualmente.
- Eles são inofensivos. Estão nos ajudando desde que mudamos para cá. – Jack sorriu. – Já são parte da família até.
- Olha, Jack. Não quero ser chato, mas a maioria dos fantasmas ficam maus e tendem a matar pessoas. – Dean comentou seriamente. – Viram espíritos vingativos. Não sei se isso vai acontecer aqui, porque toda regra tem sua exceção.
- Mas Jack, nós queríamos que você soubesse que, se precisar, é só nos chamar. – Sam estendeu um pedaço de guardanapo com vários números de celular. – Pode ligar em qualquer um desses. Se não atendermos um, atendemos ao outro.
- E, se a situação ficar muito ruim de repente, é só jogar sal e tacar fogo nos ossos do fantasma que está fazendo mal. – sorriu, como se estivesse dando instruções para algo muito simples.
- Ou nos pertences desse fantasma, caso queimar os ossos não funcione rapidamente. – piscou. Jack só ficou observando-os, boquiaberto.

- Então vocês realmente trabalham com isso?

- Sim. – Os quatro responderam ao mesmo tempo, completamente coordenados. Jack começou a rir.
- Ok. Caso algo aconteça, chamarei vocês.
Assim, eles se levantaram e se despediram do homem, que estava mais do que agradecido por ter sua casa de volta.
- Vocês já vão embora? – Melissa imediatamente jogou a cabeça de volta para Beetlejuice e caminhou em direção ao grupo.
- Temos que ir. A estrada nos chama. – Dean disse de maneira trágica, fazendo-a rir.
- Vocês não querem ficar mais um tempo na cidade?
- Nós até queremos, mas temos que ir, Mels. – Sam suspirou, mas estava sorrindo. – Faz parte do trabalho.
- Viu? A vida na estrada não é tão glamourosa assim. – piscou para a menina.
- É capaz que a gente passe por aqui um dia. – deu de ombros. – Deixamos nossos telefones com o seu pai, caso tenham algum problema.
- Beetlezinho! É hora de ir! – anunciou logo que Beetlejuice se aproximou.
- Tem certeza? Aquele túmulo é bem incômodo.
- Ninguém mandou você ser incômodo. – Sam cruzou os braços. – Hora de ir embora.
- E nem tente nenhuma gracinha com a gente. – Dean falou antes que Beetlejuice pudesse tentar qualquer outra coisa. – Lembre-se que nós somos do tipo que vamos tacar fogo em você, não dos que vão procurar uma maneira de te mandar de volta para o mundo dos mortos. Entendido?
- Entendido, brutamontes. – Beetlejuice rolou os olhos. – Sério, como vocês aguentam esse cara?! Bom, já vou antes que os dois gigantes resolvam dar um tiro em um morto vivo. Não que isso vá adiantar, mas geralmente é bem irritante ficar com uma bala no meio da sua testa.

- Tchau, Beetle! – Os dois meninos saíram correndo para abraçar Beetlejuice, que não sabia o que fazer.

- Ok. Ok. Já entendi. Podem soltar.

- Obrigada, Beetlejuice. – Melissa sorriu e deu um beijo na bochecha do morto vivo. e fizeram uma careta, perguntando-se como ela arranjou coragem para beijar aquele rosto em decomposição.

Beetlejuice sorriu, meio desengonçado, pela primeira vez em toda a sua morte.

- Bom, bom. Hora de ir embora. Se precisarem da minha ajuda, já sabem como me achar! Adiós!

E, assim, ele sumiu no ar.

- Para onde vocês acham que esse cara foi? – Dean estava cheio de suspeitas. Não era muito inteligente deixar um espírito doidão como ele rondando pelo mundo afora.
- Assombrar algum bordel em Nova Orleans? – sugeriu, dando de ombros. – Isso é bem a cara dele.
- Quem se importa? – suspirou. – O importante é que curtimos a nossa festa de Halloween e ainda ajudamos uma família!
Com as respectivas despedidas, eles entraram no Impala e dirigiram para a cidade assim que o sol nasceu no horizonte.
Enquanto as crianças voltaram a brincar no jardim junto com a tia e os fantasmas, Jack guardou o guardanapo no bolso da calça com muito cuidado. Apesar de todos os acontecimentos estranhos, finalmente poderiam ter uma vida normal em uma casa que era realmente deles.
Jack ficou imediatamente grato que Sam, Dean, e resolveram ir à sua festa. Assim, correu para o jardim para brincar com os filhos.
Mal sabia ele que os caçadores consideraram aquela festa de Halloween a melhor em que estiveram em anos. Era algo que eles iam lembrar pelo resto da vida.





Ballad of Dwight Fry – Alice Cooper

- Mãe... Que fim de mundo é esse?! – Mary perguntou depois de cinco horas na estrada. Já eram por volta das onze e meia da noite e a garota estava cansada de só ver asfalto à frente e plantas mortas ao lado.
- Estamos indo para o nosso antigo quartel general, Mary. – respondeu despreocupadamente. Parecia que todas aquelas mortes e a perseguição frenética não tinham afetado nenhum nervo do corpo da mulher. – A antiga casa do Bobby.
- Uau! Nós vamos visitar o Bobby?! – A garota perguntou toda empolgada, apoiando-se no meio dos bancos da frente.
- Não. O Bobby morreu já faz um tempo. Antes de vocês nascerem. – Pela voz de , ela parecia triste com aquilo. – Ele morreu muito antes do que realmente precisava. Mas ele deixou uma casa sensacional com várias fontes de informação. É tipo uma biblioteca para a gente.
- Nós temos vários esconderijos, mas nenhum tão querido quanto a casa do Bobby. – explicou sorrindo. Mary só sorriu de volta.
Enquanto a garota se recostava ao banco, ficou observando as estrelas. Tentava imaginar Bobby com o boné surrado que seu pai sempre comentava. A camisa de flanela fofinha que a mãe falava que a deixava com vontade de abraçá-lo o dia inteiro. A resistência a whisky que o tio Dean sempre falava que ficava tentando alcançar. E o rosto que lembrava um castor mal humorado, mas fofinho, conforme definição da tia . Para Mary, ele parecia ter sido uma pessoa bem legal.
Em pouco tempo, a garota viu a tia virando o volante. Quando começou a prestar atenção na estrada novamente, viu um ferro velho cheio de carros estourados e que provavelmente foram destruídos pelo tempo e por vândalos. Uma casa velha se erguia no meio daquele monte de ferro destruído, igualmente vandalizada.
As janelas estavam quebradas e a porta inteirinha riscada. Havia algumas pichações pelas paredes e estas estavam bem sujas. Logo que estacionaram, Mary saiu do carro e ficou observando a casa. Era... Assustadora.
Mas, naquele ponto, ela concluiu que a vida dos pais deveria ser assustadora desde o dia em que eles nasceram.

E, de repente, ela sentiu algo gelado em seu ombro.

- AAAAH! – A garota pulou para o lado e sacou sua arma de uma maneira desajeitada.

E deu de cara com um Jimmy vermelho de tanto rir.

- Seu animal! – Ela gritou, cheia de raiva. – Eu poderia ter atirado em você!
- Ele é realmente seu filho, ... – suspirou, rolando os olhos enquanto pegava uma das malas de armas no carro.
- Não é minha culpa. – deu de ombros. – Você tem que lembrar que tudo na minha casa é culpa do Dean. Então a culpa é dele.
- O que é culpa minha dessa vez? – Dean perguntou suspirando. Estacionara o Impala perto do carro delas e já carregava uma grande mala de armas.
- Eu nem sei por que você ainda pergunta. – Sam respondeu rindo enquanto ultrapassava o irmão e tirava um molho de chaves do bolso. – Era tudo sua culpa também quando nós dois viajávamos juntos, então qualquer coisa vai ser sua culpa.

E Dean ficou parado com cara de paisagem enquanto todo mundo só ria.

- Acreditem, sempre que tinha alguma coisa errada, era por causa de algo que o Dean fizera. – Sam piscou para Mary e Jimmy enquanto tentava abrir a porta meio emperrada.
Sam ainda ficou algum tempo para empurrar a porta. Como não estava conseguindo, Dean adiantou-se para ajudar. E nada. A porta estava mega emperrada.

De repente, algo começou a puxar a porta. Por dentro.

- Fiquem atrás de nós...! – Dean sussurrou para Mary e Jimmy, que imediatamente sacaram as armas e correram para trás dos pais.
Dean e Sam seguravam as armas, apontando-as para a porta emperrada, que se movia com cada vez mais força. A madeira balançava violentamente, tremia e dava solavancos. Como se o que quer que estivesse lá dentro quisesse abri-la de qualquer maneira.
Os irmãos trocaram olhares. Dean fez um sinal afirmativo com a cabeça, respondido por Sam. Assim, Sam começou a caminhar cautelosamente até a porta, com Dean pronto para atirar em qualquer coisa que quisesse atacar o seu irmão.

Quando Sam estava a um passo da porta, esta se abriu violentamente.

Ele apontou a arma, com o dedo no gatilho, pronto para atirar.

Só depois de alguns segundos que seu cérebro processou que as criaturas mortais em que ele estava pronto para atirar eram e sorridentes.

- A porta de trás não está emperrada. – aumentou o sorriso, mostrando uma pequena chave velha e enferrujada em seu chaveiro de estimação.
- Eu quase atirei em vocês. – Sam suspirou, sem saber se ficava nervoso ou aliviado.
- Vamos entrar. – Dean comentou de repente. – É melhor não ficarmos por aqui. Algo pode ter nos seguido.
Jimmy e Mary trocaram olhares. Estavam a passos de entrar na famosa casa do tio Bobby que seus pais tanto falavam. Por mais que nunca tenham mencionado que ele era um caçador, os dois concluíram que era dali que vinha o mau humor tão comentado de Bobby.
Jimmy deu espaço para a garota entrar antes, seguindo-a logo depois. A casa cheirava a mofo e coisas velhas, como se não visse a luz do sol desde que Bobby morrera. Em cima dos móveis havia uma grossa camada branca de poeira. Conforme andavam, seus passos ficavam marcados na sujeira do chão. Nada tinha sido movido do seu local de origem, como se Bobby tivesse somente abandonado a casa de repente e sem motivo.
Mary puxou a manga do casaco de Jimmy. Estava parada ao lado da escrivaninha de Bobby, com um porta retrato em mãos. Sem dizer nenhuma palavra, ela mostrou a foto.
Lá estavam todos eles. Em algum lugar que eles não sabiam onde era – um museu, talvez. estava em pé em uma escada, abraçando Dean por trás, apoiando os cotovelos nos ombros dele. estava de braços dados com Sam, também em cima de um degrau, a fim de ficar do tamanho dele. E no meio, estava Bobby, sorridente, assim como eles. Era uma foto realmente bonita.
Quando Mary olhou para Jimmy, percebeu que ele estava quase a ponto de chorar. Ela colocou a foto de volta no lugar e abraçou o primo como podia. Os dois estavam descobrindo, em poucos dias, o passado inteiro de seus pais. Um passado que eles nunca contaram e que, querendo ou não, mudava tudo na vida deles.
Era como se as mágoas que tinham de seus pais estivessem passando aos poucos. Todas as proibições, ligações insistentes enquanto estavam fora, cisma com alguns amigos... Finalmente Mary e Jimmy estavam começando a compreender. Ao ver aquela foto de Bobby com os quatro, entenderam que tudo que seus pais sempre fizeram era para protegê-los de uma simples coisa nesse mundo que ambos nem sabiam que era verdade: o mal.
Bom, o mal sobrenatural, pelo menos. Pois eles não podiam matar seres humanos. Apesar de que Jimmy e Mary não duvidavam de que eles matariam qualquer ser humano que tentasse machucá-los.
- Já checamos o andar de cima, não tem nada. – Dean comentou enquanto descia as escadas com Sam.
Os primos finalmente pararam de se abraçar e fingiram que nada tinha acontecido. Teriam se sentado no sofá, mas achavam que iriam se afundar na poeira que havia em cima deste.
- Nada no resto da casa também. – respondeu, guardando a arma. – Precisamos decidir o que fazer agora.
- Por que eu sempre fico com o porão? – A voz de era um eco que chegava cada vez mais perto conforme ela subia as escadas. – Ratos. É o que eu encontrei lá embaixo. Ratos.
- Tá vendo? Ainda bem que eu não desci. – comentou casualmente, apoiando-se em um móvel próximo.

E Mary só fez uma careta ao ver o tanto de poeira que ficou presa na blusa da mãe.

- Ratos do tamanho do pé do Sam, com olhos vermelhos e dentes afiados. – finalmente surgiu no topo da escada. – Eu não desço mais sem algum de vocês comigo.
- Meu pé não é tão grande assim... – Sam resmungou, observando seu pé tristemente.
- Você tá com medo de ratos? – Dean cruzou os braços, com seu sorriso convencido estampado no rosto.
- Bom, da próxima vez você pode ir, Dean. – respondeu sorrindo. – Acho que ninguém mais vai querer ir lá.
- E sempre sobra pra mim, né? – Ele perguntou com uma sobrancelha erguida, agora olhando para .
- Ratos já não são legais. Agora ratos do tamanho do pé do Sam? Eu não chego perto desse porão nunca! – continuou a defender seu ponto de vista, recebendo um olhar desapontado de Sam.
- Qual é o problema de todos vocês com o meu pé?
Mary e Jimmy só assistiam a tudo curiosamente, tentando não interferir. Afinal, gostavam de ver como seus pais sempre foram antes de tentar ter uma vida normal.
- Você já viu o seu tamanho? – se limitou a só perguntar, erguendo uma sobrancelha.
- Ok. A gente tá começando a focar no que não deve. – Sam suspirou, fechando os olhos. – Estamos sendo caçados e precisamos decidir o que vamos fazer em relação a isso.
- Reunião na cozinha! – apontou e todos imediatamente se dirigiram para o cômodo.
Ela fez sinal para Mary e Jimmy irem à frente e os seguiu. A cozinha estava completamente empoeirada, o que os impediu de sentarem à mesa. Sendo assim, ficaram em pé, apoiando onde podia.
- Precisamos descobrir tudo que pudermos sobre esses caras. – Dean cruzou os braços. Jimmy nunca vira o pai tão sério antes na vida. – Quantos são, quem são, quais as criaturas.
- Tem mais uma coisa importante para descobrirmos também. – se manifestou. – Onde eles estão.
- Se é um número tão grande assim, eles irão precisar de uma base, assim como a gente. – ponderou, mordendo o lábio.
- Temos que descobrir quem fundou o grupo também... – Sam comentou pensativo em seu canto. – Não acho que foram as bruxas que estávamos caçando. É óbvio demais.
- Vocês disseram algo sobre um “fã clube anti Winchester”, não? – Mary perguntou de repente, recebendo olhares. Jimmy olhou para ela, sabendo exatamente o que a prima estava pensando.
- Tudo está na internet hoje em dia. A gente pode dar uma olhada e ver se achamos algo sobre o “fã clube” de vocês. – O garoto comentou com um sorriso. Estava feliz em poder ajudar, já que atirava tão mal.
- Nós somos bons com computadores. – Mary piscou para os pais.
- Ai, meu Deus, minha filha é uma hacker. – estava completamente desolada. Em seguida, olhou para a irmã, em fúria mortal. – A culpa é toda sua, Dona !
- Por quê?!
Dean e Sam se controlaram imediatamente para não rir. Simplesmente porque quando Mary fazia alguma coisa errada, a culpa era de . E a mulher nunca sabia como se defender da ira da irmã.
- Você que leva a Mary pro mau caminho!
- Eu?!
- Você sempre foi meio hacker! Minha filha pode ser presa pelo FBI um dia por hackear bancos de dados do governo e a culpa vai ser toda sua por tê-la ensinado a hackear coisas, porque eu sei que você ensinou!
- Olha aqui. – cruzou os braços, respirando fundo e tentando parecer o mais madura possível. – Não fui eu que acabei de dar a idéia de hackear coisas do governo, mamãe ursa. Eu só falei que eles podiam usar isso quando um bully filho de uma quenga enchesse o saco deles na internet.
- Nossa. Que exemplo de mãe. – lançou um olhar de morte. – Eu não acredito que você ensinou os dois a fazer bullying com os bullies.
- Yep! – E a mulher sorriu, fazendo joinha com as duas mãos. – Eles precisavam aprender a se defender sozinhos!
Não adiantava. Sam e Dean já estavam quase rolando no chão de tanto rir. Adoravam assistir as duas esposas brigando daquela maneira, como se fossem mães responsáveis.
- Do que você tá rindo, ô pé grande?! – colocou as mãos na cintura e olhou para Sam, mas vermelha que um tomate. – Você devia estar me ajudando e não dando o braço a torcer! A sua filha vai virar uma vândala se continuar assim!
- Mãe! Não começa... Não vou virar nada, você não me ensinou a ser vândala! – Mary tentou se defender, mas somente levantou um dedo.
- A gente tinha um acordo, . Não iríamos ensinar nada que pudesse ter a ver com a nossa antiga vida. – Sim, estava furiosa, mas tentava manter-se calma. – Não ensinaríamos vingança. Ensinaríamos nossos filhos a perdoar e a resolver as coisas de maneira pacífica.
- Hackear um computador e encher o saco de um bully é uma maneira pacífica. – deu de ombros. – Eles não estão batendo em ninguém.

Todos ficaram em silêncio.

- A mamãe tem razão. – Jimmy comentou, praticamente dando de ombros. Para ele, aquela discussão era completamente sem sentido. Tinham que se preocupar com coisas mais sérias.
- Ok, não é bater. Mas você ensinou o Jimmy a atirar!
- E sem me consultar. – Dean cruzou os braços novamente, parando o ataque de riso.
- Não vamos começar isso de novo, não é? – Sam suspirou, rolando os olhos. – Ela teve bons motivos! E hackear um computador não é tão ruim assim.
Mais um momento de silêncio. só observava a irmã com um par de olhos semi cerrados. parecia calma, porém estava alerta: se tentasse bater nela, já tinha localizado uma vassoura abandonada que seria ótima para auto defesa. Não que quisesse bater na irmã, mas iria se defender caso as coisas saíssem de controle.

E, de repente, girou nos calcanhares e começou a caminhar para fora da cozinha.

- Aonde você vai? – perguntou franzindo as sobrancelhas. O que quer que ela fosse fazer, não podia ser bom.
- Pegar um rato assassino no porão e jogar em cima de você.

A mulher arregalou os olhos. Em seguida, olhou para Sam.

- Você não acha que ela estava falando sério... Acha?
- Considerando todo o tempo que eu a conheço e levando em conta o tempo que você a conhece... – E Sam respirou fundo. – Acho.

saiu correndo imediatamente atrás da irmã.

- Elas eram assim toda hora? – Mary ergueu uma sobrancelha, com medo dos ratos do porão.
- Não. Eram piores. – E Dean sorriu para a garota.
Sorriso que não ficou em seu rosto por muito tempo, pois logo sentiram uma presença na cozinha. Mary gritou e Jimmy sacou sua arma.


- ...? – estava na porta do porão, observando a luz tênue piscando no fim da escada.

Filme de terror feelings? Com certeza.

- , sai daí... – Ela suspirou. – Você vai ser engolida por um rato gigante. E pensando em tudo que a gente já passou, essa seria uma morte bem ridícula.
Mas nada. Não havia resposta alguma. já estava começando a ficar apreensiva. Normalmente a responderia... Então por que a irmã não estava dando nenhum sinal de vida?
- Eu ainda vou me arrepender disso... – E sacou sua fiel faca de prata, começando a descer as escadas. – Eu sei que vou...
A mulher descia cautelosamente degrau por degrau. Não queria pisar em nenhum rato e, se visse um deles, certamente o chutaria como uma bola de futebol. Sem dó nem piedade. Aquele bicho tinha cara de coisa do mal.

Quando chegou ao fim da escada, encontrou em um canto do porão, encarando uma parede. A mulher engoliu em seco.

Naquele momento, desejava nunca ter assistido A Bruxa de Blair.

- ...? – Ela ergueu a faca. – O que você tá fazendo nesse canto estranho...?
- Você viu isso daqui? – E se virou, como se nada estivesse acontecendo.
suspirou, voltando a respirar novamente. Abaixou a faca e colocou as mãos na cintura, respirando fundo toda vez que soltava o ar. Parecia que seu coração ia pular para fora do peito.
- Você tava com medo? – perguntou com um sorrisinho sacana no rosto. Yep, ela se divertia muito quando ficava com medo.
- Claro que eu tava! – A mulher não sabia se agradecia os céus ou se jogava um pote na cabeça da irmã. – Você tava aí, virada para a parede, parecendo que tinha acabado de sair da Bruxa de Blair e ainda por cima não me respondeu quando eu te chamei! Obrigada por isso!
- Como assim, não te respondi? – franziu a sobrancelha, colocando as mãos na cintura. – Eu te respondi sim. Falei pra você vir aqui em baixo, pois eu tinha visto alguma coisa.

As duas ficaram um tempo em silêncio.

- Então por que eu não te ouvi...? – perguntou cautelosamente, abaixando a voz.
Elas só trocaram olhares. Em poucos segundos, saíram correndo para a escada do porão, encontrando a porta se fechando vagarosamente. sacou a faca e ia atrás de , que corria com os braços esticados a fim de parar a porta.
Os passos delas batiam desesperadamente contra os degraus. Quanto mais subiam, mais fechada estava a porta. Não ia dar tempo. Mas elas queriam que desse. Correram o mais rápido que puderam, as gargantas já doendo com a entrada de ar gelado conforme respiravam pela boca.
se esticou mais ainda. Estava quase lá. Mais um segundo e poderia alcançar a porta. Não podiam ficar presas no porão. Tinham que avisar Dean e Sam e proteger as crianças. Não podiam ficar lá.

Os dedos de já estavam tocando a maçaneta quando a porta se fechou.

As irmãs ficaram paradas, observando a porta. Completamente sem palavras. Por um segundo não conseguiram alcançá-la. Quando olharam de volta para o porão, a luz parecia ainda mais fraca. Engoliram em seco.
- ... O que diabos está acontecendo? – perguntou sussurrando. Era óbvio que não estavam mais sozinhas e não queriam ser ouvidas pela coisa que estava lá dentro com elas.
- Não sei, ... Era pra casa do Bobby ser inofensiva. – A irmã sussurrou de volta, pegando a arma que carregava com ela. – Podemos tentar nos comunicar com eles do lado de fora.
- Ok. Se não der certo, a nossa única opção é o quarto do pânico.
Elas trocaram olhares apreensivos. Só de pensar na alternativa de utilizar o quarto do pânico sem comunicação com a família já era o suficiente para fazê-las prender a respiração.


- Armas mortais como essas não podem me matar.
Jimmy tentou fingir que não estava com medo daquele ser impassível que tinha acabado de falar uma coisa daquelas. Como assim “armas mortais”?
- Cas! Por que você sempre tem que assustar todo mundo? – Sam estava tentando decidir se ficava feliz com a presença do anjo ou se dava com uma vassoura em cima dele. Por um segundo, achou que estavam sendo atacados e a única solução seria se sacrificar para salvar os outros.

Algo que ele pretendia adiar o máximo que pudesse. Afinal, agora tinha uma boa casa, uma esposa e uma filha para cuidar. Não tinha a mínima vontade de se matar.

- Vim assim que soube o que tinha acontecido com vocês. – Castiel estava no auge da sua preocupação impassível.
- Então você só ficou sabendo de tudo isso... Agora? – Dean estava de braços cruzados. E Cas sabia que quando Dean cruzava os braços, é porque a coisa estava feia.
- Estive ocupado.
- Que tipo de anjo você é, afinal? Existe um clubinho anti Winchester por aí e você não ouviu nada todo esse tempo? – Yep, Dean estava uma fera. Cas começou a se questionar se foi uma boa decisão ir para lá.
Assim, olhou para Sam, que parecia mais calmo.
- Olha, Cas... Eu tenho dó de você, mas o Dean tem razão. – Sam ficou ao lado do irmão, também cruzando os braços.

Ok. Agora a coisa realmente estava feia.

- As coisas não estão muito bem na minha casa. – Cas parecia um tanto melancólico ao dizer isso. – Estamos enfrentando diversos problemas. Alguns dos meus irmãos se rebelaram. Estamos fazendo de tudo para resolver as coisas antes que elas cheguem a terra.
- Ótimo. Anjos causando de novo. – Dean rolou os olhos.
- Não acha que já é hora do seu Pai de intervir em tudo isso? – Sam perguntou suspirando. Era sempre assim: o céu estava com problemas e Deus não fazia nada.
- Nós somos irmãos. Temos que ter a capacidade de resolver nossas diferenças sem intervenção. – Castiel comentou seriamente. – Acho que você e o Dean entendem isso.

Os dois iam responder, mas ficaram sem argumentos. Mary e Jimmy começaram a rir.

- Eu gostei dele! – Mary sussurrou para Jimmy, mas não conseguiram passar despercebidos. Cas se virou imediatamente para eles.

E, em seguida, sorriu.

- Meu nome é Castiel. – Ele comentou ainda sorrindo. Dean e Sam estavam achando aquilo extremamente bizarro. – Cuido de vocês desde que nasceram.
- Então... Você é tipo nosso anjo da guarda? – Jimmy estava incerto. Já tinha decidido fazer uma lista de criaturas que conhecera em dois dias e tentar absorver tudo aquilo com calma. Quando tivesse um momento de paz.
- Exatamente.
- Que legal! – Jimmy e Mary disseram ao mesmo tempo, quase saindo pulando por aí e batendo palminhas de alegria. Para Sam e Dean, os dois nunca lembraram tanto suas mães quanto naquele momento.
Aquilo deu um clique no cérebro de Sam. Ele checou o relógio no pulso e depois observou a sala e a cozinha. E nada de ou de . As duas já tinham sumido durante dez minutos. Em uma situação como aquela, ele duvidava que elas demorariam tanto tempo. Achou que voltariam depois de cinco minutos, afinal eram super protetoras em relação aos filhos.

Ninguém podia culpá-las, para falar a verdade.

Então aquela demora era injustificável. A não ser que elas tivessem sido comidas por ratos gigantes e sedentos de sangue.

O que ele duvidava.

- Dean... Você acha que a demoraria tanto assim só pra jogar um rato em cima da ? – Sam olhou para o irmão, aguardando ansiosamente uma resposta.
Na verdade, queria que Dean falasse que sim, que achava que demoraria tanto tempo só para discutir sobre um rato gigante.

Mas sua esperança sumiu logo que o irmão o fitou e fez cara de quem tinha se esquecido de algo muito importante.

- Droga! Por que elas tinham que se enfiar naquele porão justo agora?!
Jimmy e Mary trocaram olhares, assim que começaram a sair da sala. Seguiram Dean, Sam e Castiel até a porta do porão.

E não sabiam dizer o motivo, mas... Aquela porta parecia bem assustadora.

Tudo ficou mais assustador ainda quando Dean não conseguiu abri-la. Sam tentou logo em seguida, forçando a maçaneta. Em um acordo mudo, os dois tentaram juntos, empurrando a porta com os ombros.
- Cas, você consegue entrar lá e perguntar por que elas fecharam a porta? – Sam pediu pacientemente, tentando convencer a si mesmo que não havia nada de errado.
- Claro.
Eles já esperavam Cas sumir do nada como sempre fazia.

Porém Castiel continuou lá.

- Então... É pra hoje, ok? – Dean já estava mais impaciente.
- Eu... Não consigo entrar lá. – E um Cas confuso encarava a porta do porão.
Mary imediatamente segurou a mão de Jimmy, engolindo em seco.
- Então quer dizer que a mamãe e a tia estão presas lá dentro? – A garota perguntou com medo até de olhar para a porta.
- Exato. Alguma coisa lacrou o porão e eu não sei o que é. – Cas explicou, com a expressão de sempre. Dean rolou os olhos, suspirando alto e chamando a atenção do anjo.
- Cas, essa é a hora que você mente e fala que tudo vai acabar bem. – Sam tentou explicar com o pouco de paciência que ainda lhe restava. – Você não fala pra crianças que as mães delas foram capturadas por alguma coisa desconhecida!
- Aaah... – E Castiel fez cara de quem tinha acabado de descobrir que a África é um continente e não um país. – A e a vão ficar bem.

E ele sorriu.

Jimmy só olhou para o teto e suspirou enquanto Mary encarava Cas com uma expressão de vazio. O anjo franziu as sobrancelhas.
- Eles são iguais a vocês.
Mary e Jimmy nem sabiam o que dizer sobre aquele comentário. Se Castiel, o anjo mais nada a ver que eles já tinham visto, falara aquilo, então não tinha como contrariar: eles eram iguais aos pais.
- Vocês escutaram isso? – Castiel perguntou de repente. Todos ficaram em silêncio e em alerta. – São elas.
- Onde? Como? – Dean e Sam perguntaram ao mesmo tempo, aproximando-se da porta para ouvir melhor.
- De dentro do porão. – Cas respondeu, com a entonação da voz um pouco mais animada. – Mas está muito abafado, não consigo ouvir direito.
- O que aconteceu? Está tudo bem? – Jimmy perguntou em alto e bom som, mas tudo que recebeu em resposta foi silêncio.
- Elas disseram que está tudo bem. Que a porta fechou sozinha e elas mal conseguem nos escutar... – Cas parou um momento para ouvir. Os quatro aguardavam ansiosamente. – E que, se tudo der errado, elas vão pro quarto do pânico.
- Droga! – E Dean deu um soco na parede, indo furioso até a sala. Ele tinha certeza que acharia uma garrafa de whisky em algum lugar.
- O que foi? Por que o tio Dean ficou tão nervoso? – Mary tinha até medo de perguntar. Para falar a verdade, estava até com medo da própria sombra.

Vai que a sombra de repente ganhasse vida e resolvesse comê-la viva? [n/a: se alguém aqui assiste Doctor Who, sabe que é muito plausível ter medo de sombras xD]

- A casa do Bobby era pra ser um local seguro... – Sam suspirou, passando as mãos pelos cabelos. – Mas parece que nem isso temos mais. Vamos ter que pensar em outro lugar para irmos. Agora vamos para a sala, precisamos discutir o que fazer. Cas, você fica aí e se elas falarem mais alguma coisa, venha nos falar imediatamente.
Castiel só fez que sim com a cabeça e ficou parado na frente da porta, encarando-a de maneira impassível e sem mexer um músculo. Mesmo assim, pensava em mil maneiras de colocá-la abaixo e tirar e de lá de dentro.


- Você escutou mais alguma coisa? – perguntou ansiosa, mas fez que não com a cabeça. – Droga!
- Não fala alto. Vai saber o que está por aqui... – A irmã suspirou e olhou para a escada do porão. Em seguida, franziu as sobrancelhas... Era impressão dela, ou tudo estava mais escuro? – ... A lâmpada estava tão fraca assim quando você entrou aqui?
se virou e realmente achou estranho. Do jeito que a iluminação estava, não conseguiam enxergar a parede do fundo do porão... E ela tinha certeza que conseguia enxergar aquela parede, pois quando entrou é que notou algo estranho na mesma.
- Acho que não, ... Quando entrei, conseguia enxergar a parede e foi aí que percebi que tinha um entalhe estranho que nunca esteve lá. – respondeu, apontando para a escuridão.

Estranhamente, parecia que a escuridão tinha se arrastado em direção à escada. Agora não conseguiam enxergar alguns metros à frente da parede.

- O que você viu? Eu lembro que você tava pra me mostrar quando a porta começou a fechar.
- Um entalhe em grego, acho.
- Você acha? , você é mestra em grego! Não tem como você achar.
- Eu nunca vi esse símbolo na minha vida. – respondeu gravemente. Nem percebeu que a escuridão tinha se alastrado e a lâmpada estava cada vez mais fraca. – Parece ser um tipo de escrita muito antigo que se assemelha ao grego, mas não posso ter certeza.

De repente, a luz piscou.

Ok. Agora elas sabiam que estavam com problemas.

- ... Acho que a luz tá apagando. – comentou puxando a blusa da irmã e agora via claramente que a escuridão somente aumentava. Em pouco tempo, alcançaria os degraus da escada.
- A escuridão está vindo. – disse de repente, como se estivesse em transe. se assustou e olhou para a irmã, que logo parecia normal. – Acho melhor sairmos daqui. Precisamos avisá-los de alguma maneira!
- De novo! – apontava para a irmã, que a observava sem entender. – Você fez aquilo de novo! Falando em transe! , faz muito tempo que você não fazia uma coisa dessas!
- Eu fiz...? – Ela não queria admitir, mas estava com medo de si mesma.
Como dissera, há muito tempo atrás, dissera algumas frases como aquela em momentos imprevisíveis. E ela nunca se lembrava do que dizia.
- Cas! – gritou, assustando a irmã. – Nós vamos sair daqui! Não sabemos o que está acontecendo, mas é bem ruim! Por favor, dêem um jeito de entrar aqui!

Em seguida, segurou a mão de e as duas encararam a escada.

- Por que você não vai na frente? – perguntou casualmente e só a olhou com raiva.
- Eu não sei por que você está falando essas coisas e sim, você tá me assustando, mas se tem alguma coisa errada com você, a última coisa que vou fazer é deixá-la para trás! Então cala a boca.
- Tão meiga... – suspirou quase rindo no fim da frase. sorriu.
- Não larga da minha mão e acho melhor não encostarmos nas sombras.
- Ok. Vamos!
Nesse momento, as duas saíram correndo escada abaixo, desvencilhando-se no último segundo da escuridão que alcançava a escada. O último feixe de luz vinha da porta entreaberta do quarto do pânico.
De repente, as coisas velhas de Bobby que foram empilhadas no porão começaram a cair, a fim de impedi-las de alcançar o quarto. De repente, elas começaram a ouvir um barulho. No início, acharam que era somente o impacto dos objetos caindo no chão. Mas logo perceberam que era um som grave e contínuo, como uma voz que há muito tempo não era ouvida.
E, quando elas estavam a passos da porta, a voz conseguiu falar sua primeira palavra. Em um tom grave e forte, que fez o chão tremer conforme a palavra vibrava. O som foi longo e arrastado, parecendo que não ia terminar nunca.

Winchesters...

E parecia que vinha logo de trás delas.

- NÃO OLHA PARA TRÁS! – gritou em desespero. – , NÃO OLHA!
A irmã só confirmou desesperadamente com a cabeça e, apertando a mão de com mais força, aumentou a velocidade, empurrando a pesada porta do quarto do pânico com uma força descomunal.
As duas cambalearam para dentro da sala, caindo no chão logo em seguida. Sentiram-no tremer como se aquela voz assustadora do além fosse falar mais alguma coisa. Não querendo mais ouvir, cambaleou até a porta, empurrando-a com força e fechando-a o mais rápido que conseguiu.
Finalmente encostou as costas na porta e escorregou até o chão, sem forças nas pernas. Quando olhou para a irmã, viu que, pela primeira vez em décadas, ela estava chorando de medo.
- ... O que foi isso? – perguntou tentando retomar o fôlego e olhando para a porta, completamente assombrada. Parecia uma estátua da qual escorriam lágrimas pelos olhos.
- Não sei... Não sei mesmo... – E se deu ao direito de começar a chorar também, tentando se acalmar. – O que diabos está acontecendo?

BAM!

As duas pularam e gritaram quando a porta do quarto do pânico tremeu. O que quer que estivesse do lado de fora estava furioso e queria colocar aquela porta abaixo. Aquilo era impossível, mas o quarto só as protegia de coisas que elas conheciam... E aquela coisa era desconhecida.
praticamente engatinhou até a irmã, segurando a mão dela ao alcançá-la. Novamente a porta tremeu com um baque. começou a olhar para todos os lados do quarto do pânico.
- Nós precisamos sair daqui.





Christmas Time – The Darkness

Dezembro. O mês mais feliz do ano. O amor e a confraternização pairam sobre as cidades como uma linda névoa impossível de passar despercebida. A neve já começara a cobrir as paisagens de branco, as lojas já começavam a tocar cantigas, as casas já começavam a se enfeitar de vermelho e verde... O Natal estava chegando.

Infelizmente.

Nenhum deles gostava de comemorar o Natal. Dean e Sam só tinham lembranças de Natais pessimamente comemorados, com guirlandas de latas de cerveja e presentes roubados de outras casas. O único Natal decente que tiveram foi no ano em que Dean estava para morrer por conta do pacto com o demônio da encruzilhada e isso era algo que eles não faziam questão de lembrar sempre.
e estavam no mesmo barco. Nunca tiveram Natais perfeitos em suas casas, apesar de sempre reunirem a família. Mas, como todos sabem, sempre que a família se reúne, há alguma confusão. E a delas não era exceção. Depois que começaram a caçar, o Natal foi praticamente abolido dos seus calendários, restando como data especial somente quando tinham que caçar alguma coisa vestida de Papai Noel.
- Espera. – Sam fez com que elas parassem de falar. Estavam todos reunidos no quarto de e Dean, jantando duas pizzas grandes por conta da fome. – Vocês já caçaram um vampiro disfarçado de Papai Noel?
- Yep. – confirmou, pegando mais um pedaço de pizza. – Uma dupla de vampiros. Um estava de Papai Noel e o outro de duende ajudante.
- Duende ajudante? – Dean estranhou. – Isso é tão ruim quanto ter que se fantasiar de Robin.
- Exatamente. Ele era ridículo. – continuou a história, abrindo mais uma cerveja. – Enfim, imagina o terror das crianças quando cortamos as cabeças deles.
- “MÃÃÃÃÃÃE, elas decapitaram o Papai Noel! O duende tá agonizando no chão!” – imitou a voz chorosa e escandalosa das crianças naquele dia.

Dean e Sam começaram a rir imediatamente.

- Vocês traumatizaram essas crianças pelo resto da vida! – Sam comentou ainda rindo. Pelo menos ele nunca teve que matar um Papai Noel.
- Melhor do que deixá-las traumatizadas porque o Papai Noel era um vampiro! – deu de ombros.
- Essa foi a nossa única data importante de Natal. – suspirou, parando de rir aos poucos. – Bem melhor do que o Natal mórbido de vocês.
- Viu o que você fez comigo? Até ela achou mórbido. – Sam cruzou os braços, triunfante.
- Não quero nem saber! – Dean deu de ombros, mordendo mais um pedaço de pizza. – Eu ia morrer e queria aproveitar tudo ao máximo. Dane-se se era mórbido ou não!
- Não fala de boca cheia, seu porco! – E jogou um guardanapo em cima dele. – Não tô a fim de ficar vendo essa pizza rolando de um lado para o outro na sua boca!
E assim a discussão mudou de Natal para o fato de que Dean tinha mania de falar enquanto comia, algo que Sam sempre achara nojento e enchia o saco do irmão para que este mudasse de atitude.
Mas era Dean. Mais cabeça dura que ele, só a . Então era algo que jamais iria mudar, independente de quantos guardanapos amassados jogasse em cima dele.


Apesar do desgosto comum pelo Natal, havia outra coisa em comum: feriado. Iam se dar ao direito de simplesmente viajar, sentar e descansar. Sem caçadas, sem tiros, sem coisas para matar no meio do caminho.

Por mais que parecesse que toda vez que decidiam fazer isso, algo entrava no caminho deles.

Foi consenso geral ir para uma cidade que não fosse nem muito grande e nem muito pequena, com o tamanho suficiente para que eles pudessem descansar sem nenhuma interrupção incômoda.

Principalmente de coros natalinos.

A sorte deles é que nenhum coral parava na frente de motéis para cantar, então pelo menos não precisavam se preocupar com aquilo.
Assim, logo que chegaram, decidiram caminhar por aí pela cidade só pra fazer um reconhecimento prévio do lugar. Coisa de caçador, mas se não tinha como objetivo principal matar alguma coisa, não era uma atitude tão reprovável assim. Se tivesse algo para caçar, provavelmente sairiam correndo.

E depois voltariam por causa da consciência pesada. Mas o objetivo principal era fugir de caçadas.

- Ah, como eu odeio essas músicas. – suspirou com um sorriso no rosto. Sam a observou com uma sobrancelha erguida.
- Sabe. Você devia estar emburrada e não sorrindo. – Ele comentou quase rindo. Ela era uma contradição ambulante, mas não havia nada que ele podia fazer contra aquilo. Na verdade, Sam até gostava.
- É que eu tô tentando me controlar para não ter um ataque de nervos. Tenho vontade de arrancar todas essas bolinhas de Natal e jogar em cima de todo mundo que começar a cantar uma música natalina. – Ela suspirou, observando uma bolinha por um tempo comprido demais.

Sam teve medo que ela realmente fosse arrancar a bolinha do lugar e usar como arma.

- Se controla aí, Grinch. – Dean comentou enquanto ultrapassava os dois, com o braço na cintura de . A moça se esquecera de pegar o cachecol e agora estava morrendo de frio, necessitando de Dean para esquentá-la. – Não vamos te defender se te prenderem por agressão a pedestres.
- Imagina a manchete? “Agressão Natalina: Grinch descontrolada atira bolinhas de Natal em cidadãos indefesos. Mantenha suas crianças em casa”. – disse como se fosse âncora do jornal da noite.

[n/a: Ou melhor, como se fosse o Rezende anunciando mais um crime absurdo na televisão, estilo “corta pra mim, Percival”.]

- Problema. Vou agredir todo mundo mesmo. – deu de ombros, fazendo-os rir. – Cada musiquinha chata que me colocam, viu?
- Será que o Grinch existe mesmo? – perguntou observando o céu. Estava com cara de que logo começaria a nevar.
- Sabe que essa é uma boa pergunta... – Sam começou a ficar pensativo também. Nunca tinha cogitado aquela hipótese, mas era uma ótima hipótese a se colocar.
- Se ele existir, a gente mata. – Dean comentou decididamente, recebendo um olhar de choque e horror da namorada. – Atirando bolinhas de Natal junto com a .

Os quatro começaram a rir imediatamente. até esqueceu seu ódio profundo por músicas de Natal.

- Aposto que ele ia explodir e virar purpurina.
Com esse complemento de Sam, eles riram mais ainda. Não tinha mais o que se discutir sobre Natal. As músicas podiam irritar, o clima de amor e cooperação podia ser insuportável, mas pelo menos eles estavam juntos. E era isso que contava.
Apesar daquele pequeno espírito natalino surgindo no coração dos quatro, tudo estava para mudar. Ninguém notou quando o dia começou a escurecer cedo demais... Ninguém notou quando uma presença sombria pairou sobre a cidade e as cantigas de Natal pararam de tocar.


- Eu tive uma idéia muito maligna. – comentou enquanto esperava Dean e Sam voltarem com o jantar, já no quarto do motel.
- O que foi, Grinch? – perguntou rindo enquanto guardava as roupas usadas na mala.
- Podemos assustar as criancinhas contando a história do Krampus.

E quando se virou para trás, viu sentada na cama com um sorriso de orelha a orelha. Ela era a personificação do Grinch.

- Por mais que eu me simpatize muito com essa idéia... – E ela se sentou na cama ao lado da irmã. – Acho melhor não.
- Por quê?! – Parecia que ela tinha acabado e falar para uma criança que ela não ganharia presentes de Natal.
- Krampus é muito assustador. Tipo demais. – até fez uma cara de medo. – Não me importo de assustar criancinhas, mas assustar com histórias do Krampus é mancada.
- Exatamente. Ele é tipo o Lúcifer do Natal. É perfeito! – não conseguia conter a empolgação com a sua idéia genial.
- Eu sei, mas sei lá... Ele ainda me assusta um pouquinho até hoje. – comentou meio receosa. – Eu morria de medo dele quando era mais nova.
- Você já conhecia? Eu só ouvi falar depois que começamos a caçar. – franziu o cenho.
- É, sei lá onde ouvi falar dele antes... Acho que tinha um moleque na minha sala que era da Alemanha e ele comentou disso pra gente. – A irmã deu de ombros. – O ponto é: ele assusta de verdade.
- Ah, mas você lembra que sempre que íamos ao Natal da Roadhouse e surgia esse tema, todo mundo falava que era mito. Que nem o Pé Grande. – analisou, tentando trazer de volta o lado lógico da irmã.
- É, eu sei. Falando nisso, que saudades da Roadhouse. Faz tempo que a gente não vai lá. – observou um ponto perdido no teto, assustando-se quando Dean e Sam abriram a porta.
- O que foi, amor? Achou que era o Grinch chegando? – Dean perguntou rindo ao ver o pulo que a namorada deu.
- Não. Ela achou que fosse o Krampus mesmo. – completou, também rindo.
- Vão rindo. Aposto que ele vai vir puxar os pés de vocês enquanto vocês dormem! – suspirou, tentando se acalmar para desacelerar o coração.
- Se tem alguém que precisa ter medo dele por aqui, esse alguém é você, Dean. – Sam considerou, deixando os pacotes de comida em cima da mesinha do quarto. – Você não é nenhum santo.
- Não sou mesmo! – Dean riu. – E se aquele desgraçado vier atrás de mim, meto bala nele. Viu, linda? Não precisa ter medo.
E Dean piscou para . Ela sorriu, um pouco mais aliviada. Não que precisasse de Dean para protegê-la, mas só de saber que ele estaria lá para ela já a deixava um pouco mais calma.
Assim, eles jantaram em paz, com tentando convencer a todos de assustar as criancinhas em pleno mês de Natal.
Algo que definitivamente contabilizaria para ela ser colocada na lista de crianças levadas.


Mais um dia amanheceu belo e sem indícios de nevascas. Os quatro saíram para tomar café da manhã, encontrando uma lanchonete simpática e relativamente cheia. Ao entrarem, não conseguiam acreditar no assunto que predominava entre as pessoas.

Krampuslauf.

E, quando foram checar novamente onde estavam, perceberam que era uma cidade de colonização alemã, na qual as pessoas tentavam manter os costumes dos seus colonizadores e ancestrais.
Portanto, a Krampuslauf - ou seja, o dia em que as pessoas mais jovens que queriam tocar o terror na cidade se vestiam de Krampus e saiam por aí correndo atrás de crianças e instaurando o caos – era algo necessário no mês de dezembro.

se sentou em sua cadeira com um sorriso imenso no rosto.

- Não temos mais motivo algum para não assustarmos criancinhas! – Ela estava praticamente radiante.
- Ok. Com uma condição... – disse de repente, surpreendendo a todos. – Eu não me visto de Krampus.
- Só eu aqui tenho um bom coração e não quero assustar crianças? – Sam perguntou ligeiramente irritado.

Todos só o observaram durante um tempo.

- Sim. – Dean foi o primeiro a responder. – Porque a única menininha de bons costumes aqui é você.
E ele sorriu antes de chamar a garçonete, deixando Sam com cara de paisagem. A única coisa que e conseguiam fazer era rir.
- Ok, então outra condição... – Sam disse suspirando, aderindo ao plano. Conforme o antigo ditado: se não pode contra eles, junte-se a eles. Então lá estava ele se unindo. – Se a gente perceber que a criança tá quase tendo um infarto, a gente para.

Dean e só olharam para ele, desconsolados. teve que conter uma risada.

- Eu não quero ser responsável pelo assassinato de criancinhas. – Sam comentou com um sorriso irritado no rosto, como ele sempre fazia. já conhecia aquela expressão de cor. – Changelings sim. Criancinhas normais indefesas não.
- Sammy, Sammy... Você é tão santo que acho que não dá pros céus perdoarem seus pecados... – comentou suspirando. – Mas ok, aceito suas condições.
- Mais uma! – praticamente levantou a mão.
- Ah, não! Vocês dois não vão ficar colocando trezentas condições, não é?! – Dean perguntou irritado. – Parem de acabar com a alegria dos outros!
- Viu? É por isso que você não ganha presente de Natal. – comentou rindo. – Você se alegra com a desgraça de criancinhas indefesas. Oi, moça!
Ela sorriu e eles foram interrompidos pela garçonete para fazer os pedidos. Assim, as condições da Krampuslauf teria que aguardar.
- Ok, fala. – suspirou logo que a garçonete foi embora. – Mas se você for ficar enchendo o saco, dona , eu tapo a sua boca com um esparadrapo!
- Eu só ia falar pra gente tomar cuidado com o que estamos fazendo! – rolou os olhos. – Até onde sabemos, esse tal de Krampus é um mito. Mas se ele não for, eu NÃO QUERO dar de cara com ele. Ok?
- Por que, amor? Tá com medinho? – E Dean deu seu típico sorrisinho arrogante de quando queria encher o saco de alguém.

e Sam quase se esconderam embaixo da mesa.

lançou um olhar para Dean que parecia que ia queimá-lo vivo a qualquer segundo. Em seguida, ela deu o sorriso mais medonho que conseguiu. Pior do que o sorriso de Dean vestido de coringa.
- Você vai ter medinho quando eu resolver correr atrás de você pra te dar um tiro, fofo. – E a aura negra que ela tinha quando falou essa frase deixou tudo ainda mais dramático.

Dean a encarou durante alguns segundos, parecendo assustado.

- Isso foi muito sexy. – Ele comentou de repente.
rolou os olhos. e Sam só começaram a rir descontroladamente. Dean continuou quieto em seu cantinho, ainda assustado com o aviso sexy da namorada.
Então, naquele momento, tudo ficou decidido. Eles participariam da Krampuslauf, nem que fosse só para olhar e dar risada.
Enquanto isso, quatro nomes eram adicionados em uma lista... Uma lista não muito boa.


- Vamos logo, Sam! Daqui a pouco começa a Krampuslauf! – estava agarrada na mão de Sam, praticamente puxando-o para fora do quarto.
Ele estava somente pegando seu casaco, mas começou a rir quando percebeu que ela, com todo aquele pouco tamanho, queria puxar ele para fora do quarto.

Era só ele dar um pequeno puxão que cairia em cima dele. E aquilo o fez rir.

- Parecemos aqueles desenhos animados, sabe? – Sam comentou observando. – Você me puxando e nem consegue me tirar do lugar.
- Ah, vamos logo, Sam...! – Ela pediu de um jeito manhoso. – Eu quero chegar logo!
- Ok, ok, vamos assustar criancinhas. – Sam suspirou e passou o braço pelos ombros dela, começando a caminhar até a porta. – O que a gente não faz por amor, né?
- Uh, as loucuras do amor! – brincou, fazendo-o rir.
E assim, os dois seguiram até o Impala, esperando Dean e . Ao ver a irmã na janela do quarto, acenou para ela, tentando apressá-la. Logo começaria o evento e eles ainda não estavam nem dentro do carro.
Dean observou durante alguns segundos. Ela nunca parava na janela do quarto para observar as estrelas como estava fazendo naquele momento. Ele até se lembrou que sua mãe fazia isso de vez em quando... Somente quando tinha um tempo é que fazia aquilo.
- Você não acha que o tempo está meio esquisito? – suspirou enquanto observava o céu.
- Oi? – Dean estranhou a pergunta, franzindo as sobrancelhas.
- Tempo, Dean. O tempo fechou de repente. Você não acha estranho? – Ela apontou para o céu.
- Ah, é dezembro. – Dean deu de ombros, aproximando-se dela. – Sempre neva. Vamos?

Mas, quando sairam do quarto, ela ainda continuou observando o céu.

- O que aconteceu, ? Perdeu alguma estrela, por um mero acaso? – cruzou os braços e suspirou. Estavam atrasados, como sempre.

O dia que não se atrasasse para alguma coisa, o Pé Grande com certeza seria real.

- Tá com cara de que vai nevar. Muito. – E a moça apontou para o céu.
- Bom, se der alguma nevasca, teremos ótimos motivos para permanecermos no quarto. – E Dean lançou um olhar safado para a namorada, que só começou a rir.
- Ah, sei lá. Só achei essa virada de tempo muito estranha. – Ela deu de ombros.
Em seguida, Sam começou a observar o céu.
- Sabe... Você tem razão. – Sam comentou pensativamente. rolou os olhos. – É sério. Hoje de manhã o tempo estava ótimo. E agora tá com cara de nevasca!
- Sim, e daí? – Dean cruzou os braços, parando ao lado do Impala. – O que vocês querem fazer sobre isso?
- Podemos começar uma dança do sol pra fazer sumir a nevasca. – comentou ironicamente fazendo Sam rolar os olhos.
- Ah, esquece. Provavelmente não é nada. – suspirou e abriu a porta do carro. – É neura minha de caçadora.
O assunto da nevasca foi esquecido. Dean dirigiu até a praça principal da cidade, local onde começaria a Krampuslauf. O lugar estava em clima de festa: várias pessoas andavam para lá e para cá, com máscaras de madeira e fantasias de Krampus, além de bebidas. Muitas bebidas.
- Agora sim! – Dean estava cada vez mais animado com aquilo. Principalmente em relação às bebidas. – Festa e cerveja! Esse é o melhor Natal de todos!
- Viu? – sorriu, toda animada no banco de trás. – Eu sabia que vocês iam gostar! Muito melhor do que ficar mofando com árvores dentro do quarto!
- Ainda acho que é maldade... – Sam suspirou. – Mas fazer o que, né?
- Se você estivesse tão incomodado assim, teria ficado no quarto. – comentou sorrindo. – Não se finja de santo, Sam. Aposto que você vai se divertir tanto quanto a gente.
- Isso mesmo, galera! É hora da gente se divertir! – praticamente gritou dentro do carro, fazendo-os rir.
E ela tinha razão. Era hora de se divertirem. Era hora de darem risadas, beberem e de ficar juntos. Sem caçadas, sem monstros interferindo. Sem ter que sentir raiva e sem ter que matar. Eles tinham todo o direito do mundo de parar durante pelo menos um dia.
Elas se sentaram no capô do carro e ficaram conversando enquanto Dean e Sam se encarregaram de comprar cervejas. Era um movimento incrível. Por mais incrível que parecesse, a cidade inteira tinha se reunido na praça.
- Meu... Acho que vai ter um show de pirotecnia. – comentou enquanto puxava a manga do casaco de .
- Sério? – E a moça estava tão empolgada que devia ser proibido. – Que legal! Eu falei que ia ser legal!
- E pelo visto as crianças não estão tão assustadas. – apontou para duas criancinhas que corriam de um lado para o outro, rindo, enquanto um adolescente as perseguia com uma máscara.
- Ah, a máscara dele nem é tão assustadora assim. Existem outras que são piores!

Enquanto isso, Sam só observava as duas conversando alegremente, aguardando pelas cervejas.

- Elas parecem animadas. – Ele comentou com um sorriso sincero no rosto. – Gosto quando a sorri desse jeito.
- Aw, o pequeno Sammy está todo apaixonadinho! – Dean riu, olhando para o carro. Realmente, elas pareciam bem felizes.
- Ah, então você vai me dizer que não gosta de ver a sorrindo? – Sam colocou as mãos na cintura. Não estava bravo. Na verdade, aquele era o tipo de pose que ele fazia quando não acreditava em nenhuma palavra que Dean acabara de falar.
- Claro que eu gosto. Só não fico que nem uma manteiga derretida toda vez que ela sorri.
- Sei. Porque você é o irmão mais velho, machão que nem o papai. – Sam riu enquanto pegava as cervejas com o dono da barraquinha na qual se encontravam.
- Basicamente... Sim. – E Dean pegou duas garrafas com Sam para que o irmão não carregasse tudo sozinho. – Alguém tem que fazer o papel de homem nessa família, já que você saiu todo afeminado.
- Há há, muito engraçado. – Sam rolou os olhos. Apesar da resposta sarcástica, não estava irritado. Muito pelo contrário, já estava acostumado com aquilo.
- Mas sabe... Hoje vendo ela na janela, lembrei da mamãe. – Dean disse de repente.

Ok, Sam não estava acostumado com aquilo.

- Ia ser bom se tivéssemos um pouco de paz. Uma vida normal, sabe?
Sam estava em choque. Aquele era realmente o Dean? Sim, pelo visto era. Não era um metamorfo ou qualquer outra coisa do gênero, era seu irmão. O choque foi tão grande que Sam até parou de andar.

- Dean... Você tá pensando em desistir de caçar?

Aquela frase praticamente ecoou entre os dois. Sam sempre quisera desistir e ter uma vida normal. Mas para Dean, caçar era o negócio da família. Ele nunca tivera uma segunda opção. Sam faria Direito e teria uma família, longe de tudo aquilo. Mas Dean? Ele nem sabia qual tipo de faculdade poderia fazer. Ele provavelmente nem faria uma faculdade. Tudo se resumia ao negócio da família.
Dean só se virou e olhou para Sam. Os dois se observaram durante algum tempo.
- Cala a boca, Sam. – Dean disse gravemente e continuou seu caminho até as moças.
Sam continuou a andar. Sabia muito bem que aquele assunto terminava ali.
Mas isso não indicava que aquilo sairia da sua cabeça. Será que eles iriam parar?


- Vocês demoraram com essas cervejas, hein? – cobrou, de braços cruzados.
- É que não achavam a cerveja sem álcool do Sam fofinho. – Dean comentou rindo e entregando uma das garrafas para .
- Eu não tomo cerveja sem álcool. – Sam até rolou os olhos. Sinceramente, achava que aquela mania de irmãos de se encher o saco não ia sumir nunca.
- Nesse ponto eu tenho que comentar que a não se importa. – declarou, tomando um gole da cerveja. Estava gelada demais para aquele frio, mas ela não se importava nem um pouco. – Ela tá toda desesperada porque já vai começar.
- Exatamente! – E agarrou a mão de Sam, pronta para arrastá-lo para cima e para baixo. – A Krampuslauf já vai começar e eu não quero perder o show de pirotecnia!
E assim, os quatro foram para o centro da praça. Lá, após alguns anúncios, iniciou-se a tão esperada caminhada. Mas, antes que todos os habitantes fantasiados pudessem sair por aí mostrando suas carrancas, alguns realizaram um show impressionante de pirotecnia, todos fantasiados.
E que fantasias. Máscaras de madeira com carrancas entalhadas, chifres de todos os formatos e tamanhos, dentes afiados brilhando em branco ou cobertos de sangue... Existiam vários Krampus que podiam agradar a todos. As roupas variavam de casacos peludos a couro manchado de sangue. Alguns carregavam correntes, outros não. Todos tinham cascos para marchar no chão, fazendo barulho suficiente para acordar a cidade inteira.
Eles não podiam negar... Estavam se divertindo. estava contente de fazer algo que não remetia ao Natal em si. Sam também parecia feliz... O que ela não sabia, é que ele era daquele tipo de pessoa que, se ela estivesse feliz, ele também estaria feliz. e Dean estavam comendo, bebendo e vendo um show sensacional de pirotecnia, então não podiam exigir mais do que aquilo para ter um sorriso estampado na cara.
Mas, no meio de todo aquele fogo, cascos, correntes e chifres, viu algo que achou muito estranho... Um par de olhos vermelhos. Ela não havia visto aquilo em nenhuma das outras fantasias, chamando a sua atenção. Os olhos observavam à distância, envoltos em escuridão.
De repente, ela conseguiu divisar um par de chifres desproporcionais e um sorriso retorcido apreciando a festa. Ela deu um passo para trás e arregalou os olhos, largando a garrafa de cerveja e levando a mão à cintura em busca da sua fiel faca prateada, em um gesto instintivo.

E, em segundos, aquele terrível sorriso não estava mais lá.

- ... Ei! – E finalmente ela percebeu que Dean estava chamando, olhando para ele logo em seguida. – O que foi? Aconteceu alguma coisa?
- O quê? – Ela não entendeu o sentido da pergunta. Provavelmente ninguém vira nada e ela estava ficando louca.

Tudo culpa daquelas histórias bobas da .

- Você largou sua garrafa de repente! Tá tudo bem? – E Dean estava cada vez mais preocupado. Nunca a vira desorientada daquela maneira.
- Ah, tudo bem! A garrafa tava molhada, acabou escorregando! – Ela riu de si mesma, inventando qualquer desculpa.
- Por que você tá com a mão na cintura então?
- Instinto, Dean. Vira e mexe eu tenho mania de checar se ela tá aqui ou se caiu no meio do caminho. – suspirou. – Tipo TOC, sabe? Preciso parar com isso. E preciso de uma cerveja nova. Sam! Vocês vão querer mais cerveja?!
- Sim, por favor! – Sam sorriu, grato de que tinha se manifestado e ele não teria que voltar à barraquinha de cerveja.

Porque Dean fez questão de dar a entender para o dono da tenda que Sam era gay e estava a fim de um dos atendentes da barraca. Sam jamais voltaria lá.

- Ok! Sr. Dean, você vem junto! – E agarrou Dean, levando-o até a barraquinha.
não queria falar... Mas os olhos vermelhos também chamaram atenção dela. Como parecia que ninguém tinha visto a mesma coisa, começou a achar que estava louca. E que precisava de uma boa noite de descanso.


A noite de descanso que ela queria tanto não demorou a chegar. Após o primeiro show, a caminhada de Krampus realmente começou. Eles acompanharam a caminhada durante um período, rindo das crianças que fechavam as janelas das casas em terror.
Era óbvio que aquilo era um dos costumes mais antigos da cidade. As pessoas adoravam e tudo não passava de uma brincadeira para não deixar a lenda morrer. Mais ou menos que nem o Dia de los Muertos no México.
Mas, quando a caminhada estava na metade do caminho até o hotel, resolveram voltar e pegar o Impala na praça. Já tinham andado bastante o melhor da Krampuslauf já tinha terminado.
Eram quase duas horas da manhã. Logo que entraram no carro, recostou-se em Sam e começou a cochilar, sendo que ele fez o mesmo. , por outro lado, fazia de tudo para permanecer acordada no banco de carona ao lado de Dean, que dirigia.
- Sabe... Você pode dormir, não precisa ficar acordada até lá. – Dean comentou rindo.
- Eu vou tentar ficar acordada. – sorriu de volta. – Ou vou acabar passando a noite inteira acordada no motel.
- Eu não acho que seria tão ruim assim se você ficasse acordada... – Dean lançou um olhar safado para ela, fazendo-a rir.
- Agora que você está falando... – Ela retribuiu o olhar safado.
Mas a brincadeirinha deles acabou logo. Em segundos, o tempo fechou de uma maneira inacreditável e uma nevasca começou de repente. O vidro da frente do Impala foi até acertado por um pedaço de gelo.
- MEU DEUS! – gritou achando que o vidro ia se estilhaçar, fazendo com que e Sam acordassem com um salto.
- O que foi?! – Os dois perguntaram ao mesmo tempo, desesperados e com sono.
- Nevasca! – Dean gritou de volta. – Segurem-se firme!
Era difícil dirigir naquela nevasca. Sam e se seguravam como podiam, torcendo para que o carro não derrapasse no asfalto. segurava a janela da frente do Impala, a fim de que o vidro não estilhaçasse com as pedras de gelo. E, Dean fazia o melhor que podia ao volante.
- Vamos, baby, agüente firme! – Ele praticamente choramingava. – Não quero te perder!
Se a situação não estivesse desesperadora, e provavelmente começariam a rir.

Um vento absurdamente forte atingiu o carro. E, da mesma maneira que a nevasca começou, ela parou.

Os quatro ficaram em silêncio, observando o céu, embasbacados.

- O que DIABOS acabou de acontecer? – Dean foi o primeiro a perguntar, dando um tapa no volante.

Todos só trocaram olhares.

- Ok. Alguma coisa muito estranha está acontecendo nessa cidade. – comentou de repente, tentando ver se havia alguma coisa na rua que pudesse dar uma dica do que tinha acabado de acontecer.
Mas nada. Tudo estava em silêncio.

Até que ouviram um grito que seria capaz de congelar as almas mais corajosas.

Em segundos, uma mulher saiu correndo de dentro de uma casa, gritando. Estava completamente descabelada e, na sua roupa, havia manchas de sangue.
- MEU FILHO! ONDE ESTÁ MEU FILHO?! – Ela gritava, completamente desesperada.

Mas ninguém respondeu.

Quem tinha saído para ver o que acontecera, trancou-se dentro de casa em terror.
Não havia uma alma viva sequer na rua.
E a mulher teve que se contentar em se ajoelhar na neve e chorar desesperadamente. Seu filho estava perdido para sempre.


Até os quatro destravarem do choque inicial de algo muito estranho estar acontecendo no Natal deles, a mulher se trancou novamente em casa enquanto tentava segurar o choro com altos soluços.
Dean não disse uma palavra sequer, somente começou a dirigir de volta para o motel.
Ninguém comentou nada até finalmente se trancarem em um quarto só. Todos trocaram olhares e respiraram fundo.
- Ok. O que foi aquilo? – Sam foi o primeiro que teve coragem de perguntar.
- Changelings? Talvez? – jogou a opção no grupo, apesar de não acreditar muito naquilo.
- Mas ela tinha sangue na roupa. Changelings trocam de lugar com a criança real, eles não somem de repente. – suspirou e se sentou na cama. Estava esperando ter um Natal normal pelo menos uma vez na vida.
- A criança dela morreu. – Dean comentou seriamente. – Precisamos pensar em todas as coisas que matam crianças.
- Bom, basicamente... Tudo. – Sam deu de ombros, um pouco desesperado. – Tudo que caçamos mata crianças, Dean.

Mas a conversa foi interrompida por mais um grito de desespero, junto com o barulho de correntes.

Eles trocaram olhares. Estava na hora de agir.

pegou a faca e o rifle que tinha deixado embaixo da cama, enquanto Dean pegava seu fiel revólver que estava debaixo do travesseiro. Sam e foram para o quarto, buscar as armas que deixavam dentro de uma gaveta, longe das roupas e de praticamente tudo, para não terem que se lembrar toda hora de que eram caçadores.
Quando saíram na rua, não encontraram nada. Não havia uma pessoa sequer. Além da leve neblina que começava a se formar, a tensão envolvia a cidade como uma bolha. Ninguém poderia sair, ninguém poderia entrar. Todos só podiam esperar aquela onda de terror passar.

De repente, ouviram um barulho distante.

apontou o rifle na direção correta. Entretanto, não conseguia ver muita coisa: a neblina estava ficando cada vez mais densa.
- Continua apontando. Eu vou checar o que é. – Dean comentou em um tom baixo e grave.
Sam e Dean caminharam até a origem do barulho, vindo de alguns arbustos perto dele. apontava sua arma na mesma direção, porém se preocupava mais com o barulho evanescente de correntes.
Em um movimento rápido, os irmãos apontaram as armas para os arbustos. Em seguida trocaram olhares e Dean rolou os olhos. Sam só suspirou.
- Está tudo bem? O que você está fazendo aqui? – Ele perguntou, já que o irmão mais velho não seria tão compreensivo.
- Estava voltando pra casa e me escondi. – E as irmãs ouviram a voz de um garotinho respondendo. – Alguém está passando pela rua. E minha mãe disse pra fugir caso isso acontecesse.
- Ok, hora de sair dos arbustos. – Dean segurou a blusa do garoto e praticamente arrastou-o para fora de lá, colocando-o no meio da calçada. Enquanto isso, as moças se aproximavam. – Que história é essa de fugir?
- Ele vem todo mês antes do Natal. Para sumir com as crianças levadas. – O menininho estava cheio de medo.

E eles não podiam culpá-lo, afinal a cidade já tinha virado um cenário perfeito para Silent Hill.

- Quem? – Sam simplesmente perguntou, com medo da resposta.
- O Anti Papai Noel... O Krampus.
Nesse momento, um vento gélido bateu no grupo. sentiu calafrios descendo pelas espinhas, enquanto Dean só pensava na promessa que tinha feito a ela. Sam mordeu o lábio nervosamente e simplesmente congelou no lugar, sem conseguir acreditar que aquilo era verdade.
- Todas as lendas que eles contaram são verdadeiras. – O garoto estava quase chorando. – Mas eu preciso voltar para casa logo! Meus irmãos podem estar em perigo, minha família toda!
- Qual é o seu nome? – perguntou antes que pudessem tomar qualquer outra atitude.
- Nicholas, senhorita.
- Ok, leve-nos para a sua casa, Nicholas. – disse após respirar fundo. – Nós temos armas e, se a sua família está em perigo, somos os únicos nessa cidade inteira que podemos protegê-los.
Nicholas deu um pequeno sorriso, contente em tê-los ali com ele. Não era uma longa caminhada até a sua casa, mas seria um trajeto tenso.


ia à frente junto com Sam, enquanto e Dean iam atrás com Nicholas. Somente após muitas discussões é que conseguiram chegar a um acordo de quem ficaria na frente, que, para falar a verdade, teve motivações meio estúpidas.
se prontificou a andar na frente, pois tinha um rifle e podia atirar em coisas distantes. E Sam... Ficou junto com ela, porque era alto. Simples assim.
Não que e Dean concordassem com aquilo totalmente, mas estavam demorando tanto para decidir quem ia à frente que Nicholas já estava quase desistindo deles e indo para casa sozinho.
- É aquela ali. – O garotinho sussurrou, puxando o casaco de . – Aquela casa.
- Ok. Vamos para lá o mais rápido possível, entendido? – comentou não só com Nicholas, mas com todos.
- Ok. – Dean concordou prontamente. – , vai checar se tem alguma coisa até lá. Sammy, dá cobertura pra ela.
Os dois nem perguntaram o que e Dean iam fazer. Sabiam muito bem que os irmãos iam aproveitar a varredura deles para levar Nicholas até a casa em segurança. Assim, deu um leve tapa no braço de Sam para que começassem a checagem do lugar.
Ela saiu à frente, com o rifle apoiado no ombro, mirando em qualquer lugar. Sam começou a caminhar logo atrás dela, com a arma em mãos. Quando os dois já estavam a uma distância considerável de Dean e , a moça segurou a mão de Nicholas e os dois começaram a caminhar em um passo rápido até a casa do garoto.
- Vamos deixar você e checar se vocês estão protegidos, daí sairemos para caçar, ok? – perguntou para Nicholas, já na metade do caminho.
- Não! Vocês não podem fazer isso! – O garotinho praticamente chorava. – O lugar mais seguro é dentro das casas! Por isso ninguém está nas ruas!
- Olha, garoto, não podemos deixar essa coisa andando por aí e matando crianças. – Dean comentou seriamente. A mesma alegria que ele tinha podia mudar repentinamente para toda aquela seriedade, de uma maneira que nunca vira antes. Às vezes, Dean parecia uma criança. E, às vezes, parecia um membro do exército americano, pronto para matar. – Ou a gente mata essa coisa, ou ela nos mata. Não tem meio termo.
- Mas ele não anda por aí sozinho! – Nicholas choramingou.

Nesse momento, o grupinho parou à frente dos degraus da porta da frente do garoto. e Dean trocaram olhares.

- Como assim...? – estava até com medo de perguntar.
- Ele tem ajudantes! Assim como o Papai Noel!
A mandíbula de travou. Ela não sabia muito bem o que pensar nem qual reação teria. Poderia surtar e sair correndo pela cidade procurando por Sam e ou ficar exatamente em seu lugar e proteger Nicholas, como uma caçadora centrada.
- ... Você também percebeu que tá muito silencioso atrás de nós? – Dean fez a pergunta que ela queria evitar mais que tudo nessa vida.
Quando olharam para trás, tudo o que viram foi névoa. A rua estava envolta em névoa e não conseguiam ver nem sombra de e Sam. Pensavam que os dois estavam perdidos para sempre.

Até ouvirem o barulho de um tiro.

Com passos apressados, Sam e apareceram correndo. Sam dava cobertura para a moça, que recarregava o rifle. Quando terminou a tarefa, ela segurou Sam pelo casaco e saiu correndo com ele até Dean, e Nicholas.
- Abram a porta! Rápido! – Sam gritou, virando-se para trás logo em seguida e atirando.
Nicholas saiu correndo e começou a bater desesperadamente na porta de madeira maciça da própria casa.
- Mãe! Pai! Sou eu! Deixem-me entrar!
Os caçadores ouviram a movimentação dentro de casa. e Dean estavam completamente perdidos.
- O que aconteceu? Do que vocês estão fugindo? – Dean perguntou enquanto subiam as escadas, com Sam e apontando as armas para a névoa.
- O Papai Noel tem duendes fofinhos como ajudantes, não?! – Sam perguntou um tanto irritado. e Dean só confirmaram com a cabeça.
- O Krampus tem zumbis vestidos de duendes! – respondeu, mirando com atenção logo que notou uma movimentação na névoa.

Em poucos segundos, a porta foi aberta.

E dois zumbis surgiram da névoa. Vestidos de duendes de Natal... Só que em uma versão mais assustadora.
Um deles foi derrubado com um tiro certeiro na testa. Enquanto recarregava a arma, Dean atirou no outro zumbi. Nicholas agarrou a mão de e entrou em casa correndo, sendo seguida por Sam.
Percebendo que mais zumbis iam aparecer, Dean não esperou que carregasse a arma. Simplesmente passou o braço pela cintura da moça e a arrastou para dentro da casa.
Logo que entraram, os pais de Nicholas trancaram as portas com várias trancas, empurrando um móvel para calçá-la. Nada poderia passar por lá facilmente.

Pelo menos era o que esperavam.

- Quem são vocês? – A mãe de Nicholas perguntou imediatamente, ameaçando-os com uma faca de cozinha.
- Não se preocupe, dona. Estamos aqui para ajudar vocês! – Sam levantou os braços, tentando apaziguar os ânimos.
A última coisa que precisavam era uma mãe desesperada com uma faca tentando matar todo mundo. Já tinham problemas demais para resolver.
- Eles me trouxeram para cá, mãe! Falaram que conseguem nos proteger durante a noite! – Nicholas comentou, abaixando a mão da mãe.
- Nada pode nos proteger. – O pai comentou amargamente, indo para a sala onde se encontrava o resto da família e as crianças. – Todo ano é a mesma coisa. Ninguém se salva.
- É porque não estávamos aqui. – Dean comentou checando quantas balas havia na sua arma. – Todas as portas estão trancadas?
- Sim. – A mãe respondeu, de mãos dadas com Nicholas. – As janelas também. Todas as portas estão guarnecidas com móveis.
- Mais uma pergunta. – se manifestou, sem tirar o dedo do gatilho do rifle. – Alguém aqui se comportou mal esse ano?
A sala inteira ficou em silêncio. O clima de culpa era palpável. Obviamente, alguém tinha se comportado mal. Ou seja, Krampus tinha ótimos motivos para visitar aquela casa.

suspirou. Aquela seria uma longa noite.

- Como não sabemos contra o que estamos lidando, vamos precisar da ajuda de vocês. – Dean comentou, sentando-se em um sofá. – Como eles agem? Esse tal de Krampus e seus ajudantes.
- Eles levam crianças das casas. – A tia de Nicholas se manifestou, abraçando sua filha. – Às vezes matam na própria casa. Mas o Krampus prefere colocá-las vivas em um saco... E nunca mais as vemos novamente.
- E ele só leva crianças? – tentava ficar o mais objetiva que podia. Começava a entender o motivo do medo que a irmã sentia daquela lenda.
- Não. – Ela respondeu, a voz trêmula. – Ele já levou adultos. Mas só aqueles que se comportam muito, mas muito mal.

Eles tinham até medo de perguntar o que era se comportar muito mal.

- E tudo isso dura quanto tempo? Horas? A noite toda? – Sam perguntou, sentando-se ao lado do irmão.
- Vai até o amanhecer. – O tio comentou, suspirando. – Até o amanhecer ficamos com receio que aquelas coisas entrem aqui.
- Se isso acontece todos os anos, por que vocês não deixam a cidade? – não conseguia entender a lógica daquilo. Se o ataque acontecia durante a noite, era só deixar a cidade durante o dia.
- Muitos já tentaram. Mas todos os corpos foram encontrados no dia seguinte, na estrada. – A mãe suspirou, sentando-se no sofá. Nicholas sentou-se no colo dela, morrendo de medo. – E todos que mudam de cidade foram encontrados mortos em dezembro, meses após a mudança. Não há como escapar.
- Então tudo que temos que fazer é sermos bons e sobrevivermos a noite? – suspirou, apreensiva. Algo a dizia que aquilo não ia ser tão simples.

A família só confirmou com a cabeça, assustada demais para responder com palavras.

- Ótimo. Eu não quero atirar em zumbis a noite inteira. – suspirou, finalmente pendurando a alça do rifle no ombro.
- O problema não são os ajudantes... – A tia suspirou. – O problema é quando o Krampus aparece.

Dean deu um sorriso convencido.

- Quando ele aparecer, eu meto bala nesse desgraçado.
sorriu. Estava feliz que não era só ela e naquela noite. Estava feliz que tinham Sam e Dean.
Foi nesse momento que ela sentiu pela primeira vez que estavam se tornando uma família. E aquilo a deixou mais calma para sobreviver a noite.


Duas e meia da manhã. A casa estava enterrada em um silêncio sepulcral. Alguns zumbis apareciam de vez em quando, mas estavam ocupados demais com outras tarefas, caçando outras pessoas.

Não sofrer nenhum ataque era tão ruim quanto serem atacados.

Às duas e quarenta, uma série de gritos cortantes preencheram o ar. Os adultos se ocuparam em cobrir os ouvidos das crianças que começaram a chorar, enquanto os caçadores foram checar a rua.
A névoa estava começando a ficar escassa. Aquilo significava que logo a casa seria atacada.
- Vocês estão ouvindo? – perguntou alarmada.

Todos ficaram em silêncio quando os gritos terminaram.

Conseguiam ouvir o som de correntes se arrastando, aproximando-se vagarosamente.
- Correntes. Estou ouvindo isso já faz algum tempo. – Ela completou logo que percebeu que todos tinham escutado.
- Tem mais alguma coisa... – comentou de olhos fechados. – Tá ouvindo?
Eles se concentraram. Embaixo do barulho de correntes conseguiram ouvir uma voz. Cantando.
- Ele tá... Cantando? – Sam estranhou aquela atitude.
- E parece ser uma música de Natal. – Dean ergueu uma sobrancelha. – Ok, esse cara é doente. Matar pessoas cantando músicas de Natal é algo muito errado.
- Gente, tem uma coisa que tá me incomodando... – suspirou. – Além desse cara cantando coisas natalinas. A gente disse que ia proteger essa família, certo? Mas, do jeito que eu vejo, devemos ser os primeiros nomes na lista de adultos que se comportaram mal durante o ano.

Os quatro ficaram em silêncio durante alguns segundos.

- Eu não tinha pensado nisso. – Sam comentou com sua clássica expressão de paisagem.
- Se ele vier por nós, saímos de boa vontade. – Dean decidiu por todos. – Assim não colocamos a família em risco.
- Eu ia reclamar do livre arbítrio para decidir as coisas por mim mesma, mas era exatamente o que eu ia sugerir. – deu de ombros, dando uma pequena risadinha ao ver o sorriso no rosto de Dean.
- É melhor mesmo. Assim podemos levar a briga lá pra fora. – cruzou os braços. – Só eu não gosto de ficar plantada esperando um ataque?
- Não. Mas eles sempre fazem isso. – O pai de Nicholas surgiu de repente. – As crianças estão ficando com fome. Vocês querem alguma coisa da ceia de Natal?
- Não, obrigado. – Sam sorriu, respondendo por todos. Apesar disso, estava agradecido pela oferta do homem.
- Eu agradeceria alguma bebida. Você tem cerveja? – Dean ignorou completamente a resposta de Sam, recebendo um olhar de morte do irmão.
- Temos vinho. Pode ser?
- Com certeza! – Dean respondeu sorrindo. Em seguida, apontou para . – Ela também vai querer um.
Quando o homem foi buscar as bebidas, olhou para o namorado, erguendo uma sobrancelha.
- Tudo bem, vou mudar o nome. Não vai ser mais livre arbítrio. Agora isso aí vai chamar Dean arbítrio na minha vida.
- Obrigada por não beber no expediente, Sam. – suspirou, rolando os olhos. Sam continuou lançando o olhar de morte ao irmão.
- Não seja por isso. Eu odeio caçar com gente bêbada.
- A não ser que isso seja parte do trabalho, não é mesmo? – Dean obviamente se referia ao trabalho em que tiveram que ficar bêbados. Obviamente.
- Ok, piada interna. Expliquem-se. – comentou, já imaginando o que poderia ser.
- Estávamos caçando um espírito japonês que só dava pra enxergar quando você estivesse bêbado. – Sam suspirou, lembrando-se de como quase não conseguia andar em linha reta.
- E precisávamos matá-lo com uma espada samurai abençoada. – Dean comentou orgulhosamente. Logo em seguida, o pai de Nicholas voltou com os dois copos de vinho.
- Obrigada. E não se preocupe, sabemos o que estamos fazendo. – sorriu enquanto pegava o copo. Quando o homem foi atender ao chamado da mulher, ela olhou para Dean. – Pelo menos finja que você sabe o que está fazendo.
- Eu sempre sei o que estou fazendo. – Ele respondeu, brindando com ela. – Feliz Natal, amor.
- Feliz Natal. – Ela rolou os olhos e respondeu de uma maneira sarcástica.
- É verdade, já é Natal... – Sam comentou, observando o relógio na parede da sala. Assim, deixou-se dar um pequeno sorriso. – Feliz Natal.

A única que faltava era a Grinch oficial do grupo, que encontrava-se de braços cruzados e quase com um bico enorme no rosto.

- Vamos lá... Só um sorrisinho...! – Dean começou a falar de uma maneira boba, fazendo com que e Sam rissem. – Só um “Feliz Natal”!
- Eu me recuso. – rolou os olhos. – Tudo de ruim está acontecendo. Não é nada feliz esse Natal que estamos passando.
- Pensa, ... Tudo podia ser pior. – riu. – Podíamos estar caçando vampiros fantasiados de Papai Noel. Podíamos estar com problemas com metamorfos.
- Então é isso que vocês fazem? – A tia de Nicholas surgiu do nada. Estava de braços cruzados e parecendo seriamente assustada. – Caçam essas coisas horríveis todos os dias?
- Não todos os dias. Às vezes tiramos férias. – Dean sorriu para ela.
- Deve ter uma vida terrível. – A mulher comentou, suando frio.
- Senhora... Existe alguma coisa que devemos saber? – Sam perguntou de repente, notando que ela estava escondendo algo. Ou queria falar sobre algo.
- Vocês devem saber que uma coisa muito horrível aconteceu. – Ela comentou baixinho, quase sussurrando. – E se a pessoa que fez essa coisa não se entregar, nossas crianças vão sofrer. E isso é algo que eu nunca poderei aceitar.
Dizendo isso, ela se virou de costas e foi embora. Nesse momento, percebeu um leve hematoma no pescoço dela. Esticou o braço para pará-la, mas, no mesmo momento, começou a ouvir algo.
Uma voz terrível ecoava pelas ruas. O barulho das correntes ficou mais forte. A voz era como um lamento rouco e ameaçador, uma trilha sonora terrível feita para assustar qualquer pessoa.

You better start shouting
(É melhor você começar a gritar)
You better start crying
(é melhor você começar a chorar)
You better start running
(é melhor você começar a correr)
I’m telling you why
(eu vou te dizer o porquê)
Santa Claus isn’t coming to town
(o Papai Noel não está vindo para a cidade)
I killed your dearest Santa Claus
(eu matei seu querido Papai Noel)
Now I’m off to kill… You.
(e agora vou matar… Você)

Agora sim, sabiam que iam ter problemas. Aquela era a voz de ninguém mais, ninguém menos que o próprio Krampus.

A música começou a ecoar assim que o relógio bateu três horas da manhã. Sam puxou a cortina levemente para o lado, a fim de ver o que estava ocorrendo na rua.
Alguns zumbis andavam à distância. Perto da casa, conseguiram ver a figura de cruéis olhos vermelhos que e avistaram anteriormente na praça. Era ele quem cantava e quem arrastava as correntes. Com um sorriso retorcido no rosto e carregando um saco cheio de coisas imóveis.
- Mãe... Estou com medo. – Um dos irmãos de Nicholas choramingou, agarrando a perna da mãe.

Os caçadores ficaram com dó. Normalmente viam adultos assustados, mas, daquela vez, era uma criança que estava aterrorizada. E eles não podiam aceitar isso.

A mão de unhas longas e retorcidas de Krampus apontou para uma casa. Sem piedade, os zumbis entraram correndo. Gritos foram ouvidos, móveis foram revirados, tiros foram dados, pratos e vasos foram jogados... Em menos de um minuto, os zumbis apareceram arrastando uma criança para fora da casa.

Os caçadores assistiam àquela cena, em choque. Nunca em seus anos de caçada tinham visto uma coisa daquelas.

Krampus se abaixou na frente do garoto aterrorizado.

- Você foi uma criança má? – Ele perguntou com um sorriso cruel no rosto. Era óbvio que já sabia a resposta.
- S-S-Sim, eu fui! Por favor, me perdoe! – O garotinho chorava desesperadamente.
- Desculpe-me... Mas não é assim que as coisas funcionam. Você tem que pagar pelas suas atitudes. – E Krampus sorriu mais ainda. – Mas acho que não vou matá-lo agora.
Quando ele disse essa frase, o garoto começou a chorar mais ainda. Com um grito, Krampus o agarrou pelo tornozelo, colocando-o dentro de seu saco. Quando o garoto começou a se debater, Krampus jogou o saco no chão algumas vezes, fazendo com que o menino desmaiasse. Assim, jogou o saco nas costas novamente, começando a caminhar e cantar como anteriormente.
- Vocês ainda me acham boba por ter um pouco de medo dele? – sussurrou, com medo de que ele ouvisse o comentário e tornasse a atenção para a casa.

Krampus apontou para outra casa, que começou a ser atacada. Com isso, os caçadores se reuniram junto com a família.

- Muito bem, é isso que vai acontecer: ele vai apontar pra cá e nós vamos segurar os zumbis o máximo que pudermos, entenderam? – Dean comentou rapidamente, já que as criaturas logo se aproximariam.
- Não juntamos essas facas por aqui à toa. – Sam comentou apontando para a mesinha de centro. – Se algum zumbi vier atacar vocês, é só jogar uma dessas facas em cima dele.
- Gritem o máximo que puderem e nós viremos ajudá-los. – completou as instruções, enquanto cada um dos adultos pegava uma faca.
- Gente, é bom se prepararem. – disse, terminando de carregar a arma. – Ele acabou de apontar para cá.
Com isso, todos tomaram posições. A família se encostou em um canto da parede e ficou à frente deles, pronta para atirar à distância. e Dean ficaram próximos das janelas da frente da casa enquanto Sam se colocou na porta da cozinha, pronto para atirar em qualquer coisa que tentasse entrar por trás.
Em poucos segundos, o ataque começou. Alguns zumbis tentaram forçar a porta da frente, enquanto outros quebravam janelas. Dean e começaram a atirar quase imediatamente. Sam demorou alguns segundos para começar a descarregar a arma. atirava em qualquer zumbi que era perdido por algum deles.
Krampus logo percebeu isso. Era a primeira vez que via algum de seus ajudantes morrendo em sua missão macabra. Por isso, sorriu. Sabia exatamente quem eram as pessoas que estavam lá dentro. Apesar de estarem na sua lista, não eram eles que interessavam, portanto não se importava em fazer um trato com os caçadores.

- Parem! – Ele gritou, fazendo com que os zumbis imediatamente parassem o ataque.

Sam ergueu uma sobrancelha.
- Acho que esse foi o ataque zumbi mais rápido da história. – Ele comentou, provocando um pequeno sorriso em .
- Irmãos Winchester e irmãs Marques, eu sei que vocês estão aí dentro! – Krampus se aproximou da entrada da casa. – Apesar de terem um histórico de maldades, tenho que admitir que o histórico de bondades de vocês também é considerável! Portanto, ofereço um acordo: se vocês me entregarem o querido titio e papai Dick, deixarei a família inteira em paz, assim como vocês e suas famílias, durante o resto das suas vidas. Darei quinze para que vocês se decidam. Se não... Eu vou pessoalmente buscar todos vocês.

E assim, Krampus continuou sua missão em outras casas. Quinze minutos era pouquíssimo tempo para se planejar alguma coisa.

- Ok, Dick! Quem é Dick? – Dean rosnou atrás do homem.
- Sou eu! Mas juro que não fiz nada! – O tio de Nicholas se levantou do sofá em que estava sentado.
- Ele não falaria diretamente com você se você não tivesse feito alguma coisa. – Sam aproximou-se, colocando as mãos na cintura. – O que você fez?
- Nada!
As crianças choravam. Todos estavam desesperados. E, se Krampus não queria os caçadores, Dick deveria ter feito algo muito ruim para ser tão requisitado pelo anti Papai Noel.
- Ele vai entrar aqui e levar as crianças! – A mulher dele gritou. – Você tem que contar!
- Cala a boca, Martha! – Ele gritou de volta, em um tom ameaçador. – Cala essa boca!
- Não vou deixá-lo matar meus filhos! Você tem que admitir o monstro que é!
- Cala a boca, mulher! – E o homem levantou a mão, em um reflexo agressivo.
- Abaixa essa mão. Agora. – disse gravemente, apontando o rifle para a cabeça dele. – Se você encostar um dedo nessa mulher, juro que te mato.
- Quem você acha que é para falar assim comigo?!
- Sou a caçadora que vai salvar a sua família, seu idiota! – E finalmente aprendera a rosnar como Dean. – Eu voto em entregarmos ele para o Krampus!
- Não! Não podemos fazer isso! – Sam respondeu imediatamente, enfiando-se na briga. – Estamos aqui para evitar mortes, não para causar mais uma!
- O que você fez para ele querê-lo tanto assim? – se caminhou para perto dos dois a fim de evitar alguma briga, caso esta ocorresse.

Porque tinha tendência a sair no tapa. Mesmo se o cara tivesse quase dois metros de altura que nem o Sam.

- Nada...!
- Ele matou o melhor amigo! – Martha exclamou como se tivesse tirado o peso do mundo de seus ombros.
- O quê?! – O pai de Nicholas olhou surpreso para Dick. – Você matou o Shaw?
- Foi isso não foi? – Martha chorava, sem conseguir se controlar. – Você o matou covardemente.
- Nunca! Pare de falar idiotices, mulher...!
- Eu encontrei a camisa dele suja de sangue enterrada no nosso jardim! – Martha agora cuspia as palavras com raiva. – Como você pôde? Matou seu amigo e sócio e enterrou a camisa no jardim?!
- Ele era um idiota que ia me levar à falência! – Dick respondeu com a mesma raiva que a esposa. – E eu tenho certeza que você estava dormindo com ele! É por isso que pediu o divórcio, não?!
- Ele era um homem infinitamente melhor do que você jamais foi! – Martha já começava a ficar rouca. – Ele me tratava de uma maneira que você nunca me tratou! O Shaw jamais bateu em mim!
- Gente... Viemos parar no meio de uma novela mexicana... – sussurrou tão baixinho que nenhum dos dois conseguiu escutar.
- Não me diga... – respondeu, observando aquela cena abismada.
E tudo que eles queriam era um Natal calmo na vida.


- Os quinze minutos acabaram.

Krampus voltara. Parara na frente da casa e fizera o anúncio, com seus zumbis se aproximando vagarosamente. suspirou.
- Eu ainda acho que é uma péssima idéia. – Ela comentou amargamente, lançando um olhar de morte para e Sam.

Porque os dois defenderam ferrenhamente a idéia de não entregar Dick ao anti Papai Noel.

A idéia era simplesmente não entregá-lo e matar Krampus assim que ele tentasse entrar na casa. O único problema era: eles não tinham a menor idéia de como matar aquela coisa. Esperavam que tiros com balas de prata resolvessem o problema, se não tentariam esfaqueá-lo com a faca de prata.

Se isso não desse certo... Bom, aí sim teriam problemas. Sérios problemas.

- Fica quieta. Vai dar sim. – respondeu sem nem olhar para a irmã. Estava mais ocupada em observar Krampus pela janela.
- Por mais que ele seja uma pessoa desprezível, ainda é um ser humano. Não vamos entregá-lo pra isso daí. – Sam comentou, pronto para bater boca novamente com .
- Então, caçadores? – Krampus interrompeu a discussão, sem ao menos ouvi-la. – O que vocês irão fazer?
- Quer saber de uma coisa? Vá pro inferno, Krampus! – Dean gritou de dentro da casa, fazendo , e Sam o observarem, em completo choque. Ele era maluco por um mero acaso?!

[n/a: Nessa parte acho que o que mais combinaria com o Dean falando seria “kiss my ass, Krampus!”, mas a melhor maneira que consegui traduzir essa frase foi “vai pro inferno”]

Eles voltaram a olhar para fora pela cortina. Krampus era a visão do inferno em fúria naquele momento. A raiva que ele sentira com aquela frase era quase palpável. E, claro, todos queriam bater no Dean por dizer uma asneira daquelas.

Será que ele não podia declinar a oferta como um gentleman pelo menos uma vez na vida?!

- Nem vocês e nem suas crianças conseguirão escapar disso! – Krampus bradou roucamente. Era uma voz horrível. – Vocês escolheram o seu destino!
Os quatro prepararam as armas e apontaram para Krampus logo que perceberam que ele estava para se aproximar e entrar na casa.

E, assim, a criatura sumiu.

- O quê?! – não conseguia acreditar em seus olhos. – Aonde é que ele foi?!
- Boa, Dean! Essa foi brilhante! – Sam estava revoltado. – Se não fosse você e essa sua boca grande, nosso plano poderia dar certo!
Mas, antes que eles pudessem começar a discutir, ouviram um grito da sala.
Correram para o cômodo o mais rápido que puderam e encontraram Martha chorando. Sua pequena filha que anteriormente estava em seus braços tinha sumido.
- Ele a levou! Ele levou a minha pequena Selina! – A mulher chorava desesperadamente, com sangue nos braços.

lançou um olhar de morte para Dean.

- Precisamos fazer alguma coisa. Ele não pode pegar todas as crianças.
Como o primeiro plano dera errado, prosseguiriam para o segundo: todos deveriam se esconder em lugares seguros enquanto os quatro andavam pela casa, caçando. Não era dos melhores planos, mas era o melhor que poderiam fazer no momento.
Nicholas se escondeu embaixo da pia da cozinha, fechando uma pequena cortina. Assim, era impossível ver o garoto. Não sabia onde o resto de sua família tinha se escondido, já que seus pais pediram para que ele não saísse de lá de jeito nenhum.
O garotinho só conseguia ver os pés dos caçadores andando vagarosamente pela casa procurando por Krampus. Nenhum deles falava nada. O silêncio era a coisa mais preciosa que tinham naquele momento.
Nicholas abraçou as pernas. Estava com medo. Morrendo de medo. Não queria ser levado embora. Ouvira as lendas e o que Krampus fazia com as crianças que levava embora em seu saco e aquilo o assustava mais do que qualquer coisa nesse mundo.

Se Krampus o encontrasse, preferia ser morto do que ser levado embora.

Nicholas se assustou quando começou a ouvir passos. Começou a tremer e a suar frio. Os caçadores não faziam barulho algum enquanto andavam, então aqueles passos só podiam ser de uma criatura.
O garotinho se arriscou a olhar por debaixo da cortina. E o que viu só confirmou suas expectativas: um par de cascos se arrastando pelo linóleo da cozinha.
Nicholas teve que se concentrar para não chorar. Teve que se controlar para não gritar. Não podia se mexer, não podia fazer nada. Não podia sair correndo. Somente podia esperar que sua presença não fosse notada pelo Krampus.
Os cascos caminharam vagarosamente, alcançando a metade do recinto. Nicholas mordia um dos dedos da mão, de nervosismo. Mais um pouco e ele estaria a salvo. Mais um pouco e Krampus deixaria a cozinha.
Mas a criatura parou no meio desta. Nicholas ouviu um barulho, como se ele estivesse farejando. Fechou os olhos, tentando não respirar alto.
Foi tudo em vão. Com um movimento brusco, Krampus abriu a cortininha. Ao ver Nicholas, deu seu horrendo sorriso. O garoto pode ver as gotículas de sangue naquele terrível rosto distorcido.

- Achei. – Krampus grunhiu e agarrou o pé de Nicholas.

O garoto começou a gritar desesperadamente. Tentou agarrar um dos canos da pia, mas foi em vão. Tentava fincar as unhas do chão, lutava como um animal enquanto Krampus o arrastava da cozinha até a sala. Ele seria levado embora. Seria colocado dentro do saco como as outras crianças.

Nicholas estava aterrorizado.

- Ei! – Sam gritou de repente e o garoto ouviu um tiro.
Em seguida, ouviu mais três tiros vindos de pontos diferentes da sala.
Krampus parou em seu lugar, sem soltar o pé de Nicholas. O garoto torcia para que tudo estivesse acabado.
- Vai precisar muito mais do que isso para me matar.

Os caçadores trocaram olhares.

- Agora sim. Estamos oficialmente com problemas. – anunciou o que todos estavam pensando.
Mas, antes que Krampus pudesse fazer alguma coisa, Martha surgiu da escada, segurando Dick pela camisa. O homem estava com a cabeça ensanguentada, mal se aguentando em pé, enquanto ela carregava um castiçal de metal na mão.
- Você queria fazer um trato, não? – Martha perguntou desesperada. – Devolva minha filha. Deixe o Nicholas ir. Eu entrego esse filho da puta pra você.
Os caçadores ficaram em choque. Nunca iam imaginar que a frágil Martha, que aguentara um marido estúpido daqueles e sofria abusos dele, seria capaz de fazer uma coisa daquelas.

Krampus somente sorriu. O sorriso mais perverso que ele já dera, como se aquilo fosse possível.

- Por isso que adoro seres humanos. – Ele comentou largando o pé de Nicholas como um saco de batatas. O garotinho correu imediatamente para os braços de . – Vocês são imprevisíveis. Mas sempre escolhem uma vida em troca de outra. Sempre.
Dizendo isso, a criatura se aproximou de Martha. A mulher ficou firme no lugar, sem um abalo emocional sequer. Krampus agarrou Dick e jogou-o por cima de seus ombros, como fazia com seu saco vermelho.
- Não se preocupe. Trarei a sua pequena Selina logo que sair daqui.
Todos ficaram em silêncio. A porta se abriu e Krampus saiu casualmente, jogando Dick no chão assim que alcançou seu saco. De lá, tirou Selina, que abriu os olhos logo que ele sussurrou que sua mãe a aguardava.

Martha saiu correndo, agarrando Selina assim que pôde. Distanciou-se de Krampus e seus ajudantes, parando na frente da casa.

- O que você vai fazer com ele?
- Eu sempre preciso de novos ajudantes. – Krampus deu um sorriso maléfico e, com isso, os zumbis começaram a se aproximar de Dick. – Por mais que eu seja a favor de punir crianças más, sugiro que leve a Selina para casa. Ela não precisa olhar a morte do próprio pai.
Dick olhou para Martha com os olhos cheios de ódio.
- Você vai deixar o pai da sua filha morrer dessa maneira? – Ele perguntou amargurado, com um tom um pouco desesperado na voz.
- Você não é o pai dela. – Martha finalmente disse. escancarou a boca, em choque completo. Dean e Sam trocaram olhares. E pensava em como diabos ela tinha ido parar em uma novela mexicana em pleno Natal. – Você matou o pai dela. A sangue frio. Eu te odeio.
Com isso, Martha saiu correndo para dentro de casa. Quando fechou a porta, conseguiram ouvir os gritos agonizantes de Dick. , Sam e Dean se reuniram na janela, tentando atirar nos zumbis e impedir aquilo, mas foi em vão. Precisavam de uma arma de longa distância.
Quando olharam para o lado, estava sentada em uma poltrona, de costas para a janela e com o rifle descansando no colo. Ela olhou para eles, com um sorriso infeliz nos lábios.
- Feliz Natal. – Ela comentou ironicamente, ouvindo o último grito de Dick.


- Aonde vocês vão? – Martha perguntou logo que viu que os quatro estavam recarregando as armas e se preparando para algo.
- Por mais que as coisas estejam resolvidas aqui, outras crianças foram sequestradas. – comentou, abrindo a porta da casa. – Precisamos pará-lo.
- Mas vocês não sabem como matá-lo! – Nicholas comentou com medo. Tinha gostado muito dos quatro para deixá-los morrer.
- Vamos descobrir um jeito, garoto! – Dean piscou para ele. – Todo mundo pronto? Então vamos acabar com isso!
Nicholas correu para uma gaveta e pegou uma medalha de prata antiga, que continha algumas coisas escritas. Correu até e puxou-a pelo casaco, como gostava de fazer com todos os adultos.
- Minha avó me deu isso. – Ele comentou, entregando a medalha para a moça. – É de São Nicolau, ela falava que combina com o meu nome. Também me disse que se eu tivesse problemas, era só segurar bem forte e rezar para ele que tudo ia dar certo.
- Obrigada, Nick. – sorriu e guardou a medalha no bolso, preparando-se para sair da casa. – Prometo que vamos voltar.
Assim, o grupo seguiu pela rua coberta de névoa. Não viam mais nenhum zumbi, nem sombra alguma de que Krampus tinha passado por lá. Entretanto, alguns lugares estavam com rastros de sangue e esses rastros levavam para somente um lugar: a praça principal.
Como não tinham tempo para pegar o Impala, Sam arrombou um carro e Dean se dispôs a dirigir. Em pouco tempo, alcançaram a praça, encontrando Krampus e seus ajudantes se preparando para deixar a cidade. Vários sacos vermelhos se encontravam no chão, provavelmente cheio de crianças e adultos que seriam levados embora.
- Ok. Vamos pegá-lo de surpresa. Tiros, facadas, qualquer coisa está valendo. – Dean sussurrou antes de sair do carro. – Prontos?
Os outros só confirmaram com a cabeça. Assim, em um ataque surpresa, saíram do carro atirando e jogando todas as facas que conseguiram achar.

E a única coisa que Krampus fez foi dar risada.

- Muito bem, vocês estão começando a me irritar. – Ele comentou no fim de uma risada.
Dean tentou se aproximar, mas foi jogado longe, em cima de . tentou um ataque logo em seguida, mas levou um golpe que a fez se estatelar na neve gélida. Sam até conseguiu dar uma facada na criatura, mas levou um soco que o fez cair no chão.
Krampus pegou uma das facas e segurou Sam pela camisa, levantando-o do chão. Nesse momento, se lembrou da medalha de Nicholas. Até onde sabia, aquelas coisas não funcionavam. Mas não estava em condição de se levantar do chão, suas costelas doíam muito para fazer qualquer outra coisa.
Assim, ela fechou os olhos, agarrou a medalha e começou a rezar. Não era uma reza propriamente dita, mas pedia a São Nicolau que, se ele existisse, aparecesse para ajudá-los, porque a coisa estava feia.
Quando Krampus estava quase cravando a faca no peito de Sam, todos ouviram um barulho de um trenó de neve se aproximando. E a única coisa que podiam pensar era: quem é a pessoa insana que ia sair no meio de uma noite daquelas?
- Não! Quem foi que fez isso?! – Krampus urrava de ódio. Seus olhos desesperados pararam em , agarrada à medalha. – Foi você! VOCÊ SERÁ A PRIMEIRA!
Nesse acesso de raiva, Krampus largou Sam no chão e começou a se aproximar da moça em fúria. tentava rastejar para longe, mas estava com muita dor para conseguir levantar e sair correndo.

Quando Krampus estava a centímetros da moça, o trenó de neve parou.

- Finalmente te achei. – O motorista comentou. – Está na hora de você parar com essa insanidade, Krampus.
O homem que se levantou usava uma camisa quadriculada de flanela vermelha e calças jeans, junto com botas pretas. O cabelo era branco, assim como a barba por fazer. Era forte e aparentava ter por volta de trinta e cinco anos.

estava boquiaberta.

- Esse é o Papai Noel? – Ela perguntou indignada.
- Também conhecido como São Nicolau. – Ele sorriu para ela. Em seguida, voltou a olhar para Krampus. – Fique longe da moça. Você virá comigo.
- E o que você acha que vai fazer?! Me forçar a ir com você?! – Krampus gritou de raiva. – Assim como as crianças boas são recompensadas, as más devem ser punidas!
- Não! O que você faz é insanidade! – Noel respondeu com as mãos na cintura. – Seus dias de tortura e crueldade chegaram ao fim, Krampus! Não há mais como escapar de mim! Você deve pagar pelos seus crimes!
Sinceramente, Dean, e Sam estavam sentados na neve, assistindo a tudo aquilo, boquiabertos. De pior Natal da vida, aquele com certeza seria uma das melhores datas natalinas da história. Krampus lutando contra o Papai Noel era algo que não se via todo dia.
- Você se acha muito esperto, mas nunca vai conseguir me pegar! – Krampus deu uma alta risada de escárnio.

Só para ficar quieto logo em seguida, pois uma mulher amarrou os braços dele com uma longa corrente prateada.

Uma mulher usando uma versão feminina das roupas de Noel e de longos cabelos brancos.
- Vai me falar que...? – Dean começou a comentar, mas nem precisava perguntar: era a Mamãe Noel.
- Não foi tão rápido dessa vez, né? – A mulher comentou com raiva. Em seguida sorriu. – Você vai pagar por tudo que fez contra a minha família. Sua vida de aterrorizar os outros acaba aqui.
Dean, Sam e se levantaram do chão, ainda sem acreditar no que estava acontecendo. Os zumbis começaram a se dispersar sumindo na névoa. Os três tentaram acertar os que conseguiam.
- Não se preocupem, eu dou um jeito neles depois. – Noel suspirou enquanto a Sra. Noel levava Krampus até o trenó de neve. – Foi a maneira dele de copiar meus ajudantes.
Dizendo isso, Noel se aproximou de e ajudou-a a levantar da neve. A moça levantou com dificuldade, mas toda aquela dor parecia ter sumido. Ela estava mais em choque com o fato de que o Papai Noel parecia uma versão de cabelos brancos do Wolverine do que com a dor nas costelas.
- Obrigado por me chamar. Você não tem idéia de quanto tempo venho caçando-o. – Ele comentou sorrindo. Em seguida, tirou algo do bolso. – Como sei que essa medalha é do Nicholas, fique com esta outra para você. Sempre que precisar, é só fazer o que fez hoje que vou aparecer. E coma esse doce, vai passar a dor.
Em seguida, Noel parou ao lado do trenó, observando os caçadores que se reagrupavam. Vinha acompanhando os irmãos Winchester e as irmãs Marques durante algum tempo, então gostava deles. Queria que eles tivessem um bom Natal pelo menos uma vez nas vidas.
- Vão para a casa de Nicholas amanhã. Essa cidade vai estar com o espírito de Natal e vocês vão poder aproveitar as bolas de neve, as gemadas e a ceia. Ninguém vai lembrar muito bem do que aconteceu. É o meu presente para vocês.
Sentando-se no trenó e sendo acompanhado pela Sra. Noel em outro trenó, Noel olhou para eles novamente.

- Ah, e ? Larga um pouco esse espírito de Grinch. Senão quem vai vir atrás de você para cobrar uma atitude de Natal sou eu.

E, após piscar para ela, o trenó sumiu na distância, com Krampus e a Sra. Noel de acompanhantes. Os quatro ficaram observando aquilo, ainda tentando entender o que acabara de acontecer.
- Se for para ele voltar, eu vou ficar para sempre com atitude de Grinch! – comentou de repente, começando a rir junto com .
- Não é?! Quando ele apareceu eu fiquei tipo “Jesus me abana”! – ria cada vez mais. – Não é possível que o Papai Noel seja tão lindo!
Assim, elas começaram a caminhar de volta para a casa de Nicholas. Sam e Dean começaram a caminhar logo atrás delas.
- Cara... A gente acabou de ser passado para trás pelo Papai Noel. – Sam comentou com a cara de paisagem, sem saber ao certo como se sentir sobre aquilo.
- Eu sei.
- Pelo Papai Noel, Dean. O velhinho gordinho e barbudo que todo mundo quer como avô.
- Nem comenta, Sam. Nem comenta. – Dean suspirou, balançando a cabeça enquanto as duas ainda comentavam sobre como o Papai Noel era lindo e a Mamãe Noel era incrivelmente badass.
Sim. Eles estavam babando pelo Papai Noel.


Como prometido, ninguém da cidade se lembrava muito bem o que tinha acontecido. As crianças sequestradas foram encontradas no conforto das suas camas, dentro de seus lares. A neve já começava a cair, o chocolate quente era preparado nas casas e cafeterias. Músicas natalinas tocavam alegremente pela cidade inteira.

O Natal realmente havia chegado.

Nicholas e sua família convidaram os caçadores para a ceia de Natal. Normalmente eles iriam recusar, mas, daquela vez, resolveram falar sim. E foi uma das melhores coisas que fizeram.
Durante a troca de presentes entre a família, alguém abriu na porta. Os quatro ficaram em alerta, já pensando em pegar as armas no Impala.

Mas logo em seguida, ouviram vozes começando a cantar.

Um coro de Natal estava do lado de fora da casa, cantando as clássicas cantigas natalinas.
Normalmente eles não iriam gostar. Mas, daquela vez, começaram a sorrir.
- Feliz Natal! – Sam comentou alegremente, abraçando que estava ao seu lado. Nem ela conseguiu ficar sem rir.
- Feliz Natal, Sammy! – E ela o abraçou de volta. Poderia voltar a ser o Grinch no próximo ano.
- Feliz Natal, linda. – Dean passou o braço pela cintura de , dando um beijo estalado na bochecha da moça.
Ela começou a rir, abandonando toda a amargura do dia anterior. Olhou para Dean, ainda sorrindo.
- Feliz Natal, lindo.



Continue lendo >>



comments powered by Disqus



TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO SITE FANFIC OBSESSION.