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Times Like These – Foo Fighters

Tenho que ser sincera, dormir em um carro – mesmo se tal carro for espaçoso pra caramba, que nem o Impala – é completamente desconfortável. Ainda mais se você tem que dividir o banco de trás com uma criatura grande e espaçosa que nem o Dean.
Mas tudo bem, releva-se. Eu estava de bom humor e a última coisa que me incomodava era ele dormindo em cima do meu braço. Para falar a verdade, eu estava até gostando de vê-lo tão calmo e pacato em cima do meu braço.
Até o momento que o negócio ficou dormente. Tentei tirar o braço do lugar o mais devagar possível, a fim de não acordá-lo. Mas isso é uma missão meio impossível quando você não consegue mais sentir seus dedos.

E a missão foi por água a baixo quando a porta do carro se escancarou, fazendo surgir uma e um Sam com sanduíches nas mãos e grandes canecas de café.

Que sorte que nós estávamos meio vestidos.

- BOM DIA, FLORES DO DIA! – Sim, a é uma pessoa muito animada matinalmente.

Eu não.

- Bom dia. – Respondi sem humor algum. Dean resmungava ao meu lado.
- Vocês querem fechar essa maldita porta? – Ele perguntou todo emburrado, abrindo os olhos com dificuldade. O sol atingia seu rosto diretamente, até que deu um passo ao lado e encobriu a luminosidade.
- Temos novidades para vocês! – Ela comentou radiante.
Eu e Dean nos sentamos no banco do Impala. Ok, agora eu estava com medo. Novidades e radiante? Aquilo não podia ser bom. Provavelmente um plano do mal para nos arrastar para o cinema a fim de assistir algum filme de romance ou algo do gênero.
- Nós vamos para a Disney! – Sam falou todo feliz, antes que ela pudesse explicar.
- O quê? – Eu perguntei com uma sobrancelha erguida.
- Quando? – E Dean estava entendendo menos que eu.
- Hoje! Nós até já arrumamos suas coisas! – respondeu e Sam mostrou as malas arrumadas.

Ficamos alguns momentos em silêncio.

- O quê?! – Eu perguntei de novo.
De onde surgira aquela idéia repentina e insana de irmos para a Disney?!
- Disney, . Sabe, em Orlando, na Flórida... – suspirou como se eu tivesse problemas.
- Achamos que seria uma boa idéia viajarmos que nem pessoas normais para acalmar os ânimos. – Sam explicou tudo, já que sabia que a minha querida não ia explicar com paciência.

Eu observei os dois, sinceramente impressionada. Aquela idéia era ótima.

- Yep, eu sei. – respondeu como se conseguisse ler meus pensamentos. – Toma um sanduíche e um café, arrumem-se e vamos para a Flórida!
E, pela primeira vez na vida, eu e Dean fizemos exatamente o que ela tinha falado, sem nem discutir.


- Disney? – Bobby estava com uma cara de que tínhamos acabado de falar para ele que o Crowley tinha se redimido e virado um anjo.

O que seria algo estupidamente incrível e impossível, para falar a verdade.

- Disney?!
Eu e Dean fizemos que sim com a cabeça e tínhamos um sorrisão estampado no rosto enquanto comíamos panquecas deliciosas do Sam.
Aqui eu tenho que fazer um parênteses. COMO AQUELE HOMEM COZINHA BEM. Agora eu sei por que a o escolheu! Aquelas panquecas são as coisas mais deliciosas que eu já comi na minha vida!
- Vocês bateram a cabeça muito forte na última caçada? – Yep, Bobby estava indignado. E bem humorado como sempre. – Por acaso tem algum caso na Disney que eu não tô sabendo?
- Nope! – respondeu feliz. – Só achamos que estava na hora de termos umas férias! A Disney é um lugar perfeito para relaxar.
- Pensa, Bobby... – Sam comentou da sua maneira diplomática de sempre, enquanto pegava um dos pratos que lavava e começava a secá-lo. – Vai ser a primeira vez que vamos viajar juntos de verdade.

Naquele momento, todos paramos o que estávamos fazendo e ficamos olhando para Sam. E ele só abriu um de seus sorrisos meio desconcertados de quando estava tentando nos convencer de algo. Como se Bobby fosse nosso pai e estivéssemos pedindo autorização dele para fazermos um acampamento na praia.

Eu não tinha pensado naquilo antes... Como aquela viagem seria a nossa primeira viagem. Sem responsabilidades, sem pessoas para salvar, sem criaturas para matar... Sem o peso do mundo nas nossas costas. Poderíamos fazer o que quiséssemos: ir nos brinquedos, tirar fotos com os personagens, correr atrás dos príncipes e princesas pedindo um beijo (se bem que acho que só a teria cara de pau suficiente de fazer uma coisa dessas), tomar sorvetes, caminhar despreocupadamente embaixo do sol escaldante da Flórida...

As opções eram infinitas.

E aquilo me deixou mais animada ainda.

- Como vamos? É uma viagem considerável daqui até a Flórida! – Perguntei no ápice da minha animação.
E só agora que estou relembrando a cena é que me lembrei do Bobby. Na verdade, acabei me lembrando da expressão dele. Eu nunca tinha visto o nosso Bobby com um pequeno sorriso no rosto e um par de olhos tristes.
- Como o Dean morre de medo de aviões, vamos de carro. – respondeu sorrindo e Dean já estava se preparando para agradecer de boca cheia quando ela voltou a falar. – E também porque eu quero ver o Impala sofrer. Então, é uma viagem de mais ou menos três horas e meia até Nebraska. Depois vamos ter que agüentar umas seis horas até St. Louis. De lá, temos quatro horas e meia até Nashville e mais quatro até Atlanta. De Atlanta, vamos ter que puxar e fazer uma viagem de cinco horas até Jacksonville e, no dia seguinte, depois de duas horas e meia, chegaremos até Orlando!
- Nossa, eu fico cansada até de pensar... – Murmurei, ficando um pouco desanimada. Era muito longe. Eu tinha até me perdido nas horas que ela falara, mas fiz o roteiro todo na minha cabeça. E vai por mim: era MUITO longe.
- Ah, é só pegar a estrada, linda. Dirigir sem compromisso nenhum faz bem. – Dean sorriu para mim, com as bochechas gordas de panqueca. Era impossível não sorrir de volta.
- É. Se alguém aqui não fosse tão medroso, poderíamos fazer uma viagem de umas três horas e meia de avião. – Sam comentou com a sua clássica expressão de que estava incomodado com Dean. Eu olhei para e começamos a rir discretamente. – Todo esse sofrimento pra viajar é culpa exclusivamente sua, Dean.
- É muito mais seguro e confortável viajar de carro, Grace Kelly. – E Dean se virou para Sam em sua cadeira. Yep. Eles iam começar a discutir. – Só tem uma pessoa em quem confio dirigindo alguma coisa: eu. Aqueles pilotos não sabem o que estão fazendo.
- É só dormir a viagem toda... Se o avião cair, pelo menos você tá dormindo. É o que eu faço. – SIM! Eu tinha que jogar lenha na fogueira!
E percebeu isso, lançando-me um olhar de repreensão. Apesar disso, ela estava com um sorrisinho no rosto.
- Eu vou colocar as coisas de vocês no carro, seus idiotas. – E Bobby finalmente se retirou. Se tinha uma coisa que ele não tinha paciência nessa vida era ficar nos ouvindo discutir.
- O avião não vai cair. – Sam suspirou, colocando a mão na cintura. Agora sim a coisa tava ficando séria. Aquela era a pose clássica do Sam que dizia: “estou irritado e perigoso, cuidado”. – Vocês sabem quais são as estatísticas de acidentes de avião por ano? Muito pequenas!
Nessa parte do diário, é possível ver uma setinha rosa sendo puxada até o canto do papel com o seguinte comentário feito por : “estou irritado e perigoso, cuidado? Essa foi PER-FEI-TA! Eu ainda VOU falar isso para ele, fazendo a mesma pose que ele faz! O Sam NUNCA mais vai ter paz nessa vida!”
Logo abaixo, em caneta preta, mais recente... Uma anotação do Sam: “agora eu sei por que não tenho sossego na minha vida. , você foi FEITA pra me zoar, não? Aguarde, garota. Eu ainda irei me vingar de todas as coisas ridículas que você escreve de mim nesse diário!”
, em caneta roxa: HAHAHAHA vai sim, Sam. Sei, sei.
- Ah, eu preciso te lembrar da última vez, Sammy? O piloto era um demônio! A gente quase caiu e eu prometi para mim mesmo que nunca mais ia andar num troço daquele de novo! – Dean estava praticamente rosnando. E eu e nos divertindo mais do que deveríamos. – Aquilo é uma lata de sardinha voadora! Eu não sou uma sardinha!

Que fique anotado que eu nunca mais vou parar de chamar o Dean de sardinha a partir de hoje.

- Não é uma lata voadora. – Sam cruzou os braços. Agora ele estava mais perigoso ainda.
- Imagina só quantas toneladas deve pesar um avião 747... – comentou e eu olhei para ela indignada. Ela começou a sorrir para mim e nos seguramos para não rir. Mais lenha na fogueira!
- É contra as leis da física! Colocar um negócio voando no ar pesando toneladas e com pilotos que nem sabem o que estão fazendo direito... – Dean deu uma pequena pausa para respirar e Sam já abriu a boca para responder, mas o irmão não o deixou falar. – E que podem ser qualquer criatura sobrenatural querendo nos matar! Não, obrigado, eu fico com o meu carro.
- Com aquela lata velha que já tá cheirando a whisky, você quer dizer. – O que eu mais gosto no Sam é que ele não insulta logo de cara com palavrões e agressividade. Ele dá uma alfinetada, sempre bem dada. E a cara que Dean sempre faz em seguida...

É IM-PA-GÁ-VEL.

- Não fala assim do meu bebê. – Era quase possível ver labaredas nos olhos de Dean. foi discretamente ao meu lado para ele não perceber como ela estava se divertindo.
Podem falar qualquer coisa, mas ver dois marmanjos brigando por coisinhas tão bestas... É tipo ver o Thor e o Loki brigando por causa dos capacetes. É muito engraçado.
- E antes o meu carro cheirar a whisky do que aquele burrito nojento que você derrubou no estofado outro dia e que deixou um cheiro de guacamole com feijão durante duas semanas!
- Eu não deixei cair! – Agora Sam efetivamente entrara na briga. – Você que fez aquela curva sem avisar, seu idiota!
- E você é mão mole e não conseguiu segurar a sua comida direito, vadia!
Nesse momento, apontei para o celular de e ela imediatamente tirou uma foto. Parecia que os dois iam começar a mostrar a língua um para o outro a qualquer momento. E quantos anos eles têm mesmo? Quase trinta? Yep, bem maduro pra essa idade.

Ah, mas aquela foto ainda ia parar em cima de um dos móveis do Bobby.

Em caneta vermelha: “Vocês são muito más. – D. e S. Winchester.”
Logo abaixo, em tinta preta: “Elas só estão revelando a verdade. Os irmãos Winchester parecem crianças de tenra idade quando iniciam uma discussão fraternal. – Arcanjo Castiel, Anjo do Senhor, Protetor e Guerreiro.”


Se tem uma coisa que eu adoro é quando o Cas resolve fazer uma anotação aqui no diário. Eu deixei o negócio cinco minutos em cima da mesa e encontro a anotação acima. Não conseguia parar de rir.

Senhor, se alguém for escrever a história da nossa vida, por favor que seja o Cas!

Bom, a “discussão fraternal” do Sam e do Dean demorou ainda mais uns dez minutos até que eles perceberam como nós estávamos escondendo as nossas risadas. Assim, e Sam terminaram de lavar as louças e eu e Dean fomos ajudar o Bobby com as malas.
Sim, ele ainda estava carregando o carro. Sabe por quê? Dona não consegue viajar com pouca bagagem. E, além disso, ela sempre tem que levar umas duas malas vazias para comprinhas.
Não que eu reclame muito nesse aspecto. Fazer compras em Orlando nunca é demais.
E a gente tava precisando de uma repaginada no guarda roupa, pois praticamente todas as nossas peças estavam rasgadas e inúteis ou com manchas de sangue que eram impossíveis de retirar.
Dean e Sam que nos aguardem... Era a hora de dar a louca nos outlets!
E, por mais que eu não goste de admitir, foi por causa disso que eu adicionei uma mala vazia minha para a pilha de malas.
Em pouco tempo, nós estávamos reunidos perto do Impala e checando se tínhamos pegado tudo. Além disso, eu estava dando uma olhada nos pneus para ver se estava tudo certo. Pode me julgar, mas do jeito que o Dean cuida daquele carro, não duvido que ele vá explodir no meio da estrada.
- Tomem cuidado na estrada. – Bobby veio se despedir, ainda usando seu roupão.
- Sem ofensas, Bobby, mas acho que já sabemos dirigir em uma estrada. – Sam respondeu com um sorriso desajeitado.
- Eu estava falando de criaturas sobrenaturais, seu idiota. – Bobby encarou Sam com os olhos semi cerrados. – Não se matem no meio do caminho, eu não vou sair por aí para buscá-los. Se alguma coisa aparecer, podem se virar! E não se esqueçam de tirar fotos. Tchau.

E assim, Bobby voltou para casa. Ele é uma pessoa bem temperamental.

- Bom, acho melhor irmos pra estrada logo! – Dean disse e já começou a entrar no carro. – E ninguém encosta no rádio!
- Ouviu, ? Sem encostar no rádio. – Eu comentei lançando um olhar malvado para ela e me preparando para sentar no banco de trás junto com a minha querida irmã.
Se tem uma coisa que a adora fazer é ser o DJ do carro. Às vezes eu coloco um CD, ela vai lá e passa praticamente todas as músicas, escuta só três e depois muda para o rádio. Daí, passa por vinte estações até encontrar uma música que quer, escuta e depois passa por mais umas trinta estações.
E quando eu reclamo, ela simplesmente fala “olha pra estrada e dirige direito”.
Sem enrolar mais, entramos no Impala – Dean e Sam na frente, eu e no banco de trás, que era muito mais espaçoso e confortável – e começamos a nossa jornada até a Disney.


Dezesseis horas. Foi o tanto que demoramos para chegar até Orlando. Fizemos o trajeto em cinco dias, parando nas cidades que a comentara. Somente quando estávamos em Nashville, sendo que só faltava Atlanta e Jacksonville para alcançarmos Orlando, é que resolvemos pensar no hotel.
- , preciso falar com você! – comentou se jogando em cima da cama junto com o laptop. Em seguida, ela ergueu uma sobrancelha. – O que você tá fazendo?
- Tentando arrumar uma mesa decente... – Comentei enquanto observava o que era para ser uma obra de arte. Eu tinha colocado uma toalha de piquenique dentro da mala e usei como toalha de mesa, mas tava parecendo uma cantina italiana dos anos setenta. Com pratinhos e talheres descartáveis. – Achei um vasinho de flores por aí no quarto e achei que ia ficar legal com a mesa. Ficou ridículo, olha isso que horror.

Mas sorriu. Um sorriso enorme, para falar a verdade. O que me fez sentir que a minha mesa não estava tão ridícula assim.

- Ficou bem legal! Pelo menos vamos ter um jantar de gente, sem ter que comer de dentro das embalagens descartáveis. – comentava enquanto o computador ligava. – Acho que é a primeira vez que vamos jantar em uma mesa de gente.
- Yep, foi isso que eu pensei! – E me joguei na cama ao lado dela. – O que você queria falar?
- Ah, é verdade! O hotel! – deu um tapa na própria testa. Eu comecei a rir. – Precisamos reservar o hotel. E, assim como você pensou na toalha e nos utensílios de jantar descartáveis, eu pensei em onde ficaríamos. Já faz um tempinho que eu tô juntando dinheiro, então temos o suficiente para ficarmos uns sete ou oito dias em lugares muito bons.
- Sério? Tipo um resort? – Perguntei toda empolgada e ela fez que sim com a cabeça. – Sua sem vergonha! Nunca me contou que tava juntando dinheiro!
- E precisava? O importante é que temos como gastar agora nessa viagem! – E ela me lançou um olhar emburrado. – Eu sei que você teria gastado esse dinheiro com armas.
- Na minha defesa, armas são os nossos instrumentos de trabalho. – E eram mesmo. Naquele ponto ela não tinha como discutir.
- Ok. Mas ainda prefiro a Disney.
- Com certeza! Então, qual hotel vamos pegar?
Ficamos um tempão olhando o site da Disney e escolhendo o hotel e o tipo de quarto que reservaríamos. Como fazíamos questão de ficarmos em quartos separados – pela primeira vez na vida – todos os preços que pensávamos seriam dobrados. Íamos gastar por volta de cinco ou seis mil dólares por sete dias, mas valeria à pena.
Enfim, acabamos nos decidindo pelo Wilderness Lodge. Tinha um ar meio rústico, naquele estilo meio canadense de lenhadores das montanhas que a gente tinha certeza que Sam e Dean iam adorar.
- Eu tenho certeza que o Dean vai reclamar do azulejo de Tico e Teco no chuveiro.
Foi só eu comentar que começou a dar gargalhadas.
- Nossa, é verdade! Quem teve essa idéia de colocar esse azulejo bem no chuveiro?! – E ela começou a passar pelas fotos. – Eu não vou conseguir tomar banho com o Tico me olhando com essa cara!
- Cara de safado segurando a noz. – Comentei segurando uma almofada e imitando o desenho do azulejo. começou a rolar na cama de tanto rir.
- Quando a gente chegar lá, eu pergunto se tem um quarto sem isso!
Nesse momento, ouvimos a porta abrindo. Dean entrou todo sorridente, sem nada em mãos. Começamos a nos perguntar se eles tinham se esquecido da pequena obrigação de comprar comida, porém Sam apareceu logo em seguida. Carregando vários pacotes.
- Oi. – E, atrás dos pacotes, era possível ver um Sam com cara de paisagem.
Antes que você se pergunte, estávamos todos no mesmo quarto, com duas camas de casal. Como tínhamos que economizar para o hotel na Disney – e já que a não tinha avisado antes do dinheiro que ela tinha juntado – dividir um quarto de motel entre nós quatro era mais barato.

É. Imagina o olhar que o cara que reserva os quartos lançou para a gente. Aposto que ele acha que somos um bando de safados que viajam juntos.

- Não sabia que teríamos um banquete hoje. – comentou com uma sobrancelha erguida.
- O Dean se empolgou. Compramos quinhentas coisas em uma cantina italiana, acho que tem comida para uma semana. – E Sam se dirigiu à pequena parte da cozinha enquanto Dean fechava a porta.
- Ah, achei que seria legal termos um jantar de gente pelo menos uma vez. – Dean deu de ombros, ainda sorridente.

E eu só sorri. Parecia que estávamos coordenados naquele aspecto.

- Uau. Vocês até organizaram a mesa! – Sam estava genuinamente impressionado.
Apesar de parecer uma cantina italiana brega dos anos setenta – com um vasinho de violetas falsas no meio da mesa, além de pratos e talheres descartáveis – foi um dos melhores jantares que já tivemos. E não sobrou nada da comida que eles trouxeram.
Eu e não falamos nada do hotel. Queríamos fazer uma surpresa, já que sabíamos que eles só pensariam naquele detalhe quando chegássemos a Orlando. E também queríamos ver a cara de surpresa deles quando falássemos que tínhamos reservado um hotel daqueles.


Continuamos a viagem sem nem nos cansarmos. Aquele roteiro imenso que a tinha feito nem era tão ruim assim. Dean e Sam dirigiam incansavelmente e, sinceramente, o Dean é o homem com o melhor gosto musical do mundo. Eu simplesmente não consigo me cansar das músicas dele. Acho que poderia viver naquele Impala para sempre.
Uma setinha roxa puxa para o canto da página, onde é possível ler com a letra da : Já consigo ouvir os sinos da igreja tocando. Deixa eu segurar o seu buquê quando vocês forem casar?
Como era de se esperar, paramos de motel em motel, fazendo o mesmo esquema de ficarmos todos no mesmo quarto que nem antes. Precisávamos economizar o dinheiro, por mais que a já tenha cuidado um pouco disso.
Afinal, podem me julgar, mas eu necessitava comprar algumas coisas. Maquiagem era uma delas. E, querendo ou não, Orlando era um ótimo lugar para compras.
E ainda bem que eu não falei isso pro Dean, ou tenho certeza que ele ia me amarrar no pé da cama só para que ele não tivesse que aturar uma tarde de compras em Outlets.

Coitado.

Já estávamos ficando um pouco cansados de pular de cidade em cidade, para falar a verdade. E, sinceramente, eu não aguentava mais ficar no mesmo quarto que a e o Sam... Ô casalsinho meloso, viu? Vira e mexe eles estavam se beijando, dando as mãos, brincando com mexas de cabelo...

Eu queria bater naqueles dois!

E sempre que eu olhava pro lado, lá estava o Dean tomando uma cerveja e COMPLETAMENTE ALHEIO ao resto do mundo. Eu queria bater nele também! Não sou a maior demonstradora de sentimentos, mas por que diabos o Sam e a tinham que ser tão fofinhos, típico casal de comédia romântica, e o Dean tinha que ser tão... Dean?!
Ok. Vou parar de escrever isso ou daqui a pouco a vai sair correndo com esse diário atrás do Dean falando para ele chegar na casa do Bobby com uma limusine e um buquê de flores, empunhando um guarda chuva como espada e finalmente escalando a parede do lado de fora para me buscar no segundo andar, no melhor estilo Uma Linda Mulher.

Me dá até medo pensar em uma coisa dessas.

Em resumo: nós estávamos prestes a surtar com tantos motéis e tantas paradas em quartos conjuntos. Então, quando entramos em Orlando, nós quatro tínhamos sorrisos enormes estampados no rosto.
- Olha aí, galera! Chegamos a Orlando! – Dean comentou todo feliz, rindo e batucando no volante logo em seguida. – Quem está pronto para aproveitar as piscinas e os parques?
- EEEEU! – e eu gritamos ao mesmo tempo, fazendo Dean e Sam começarem a rir. Parecíamos duas criancinhas em uma excursão na Disney.
- Precisamos nos lembrar de comprar os ingressos para os parques! – Sam comentou antes que pudéssemos continuar com a nossa animação. Para falar a verdade, ele era muito organizado e, graças ao senhor Sam, conseguimos realizar a viagem sem dor de cabeça. – E procurar um hotel. Vocês fizeram as reservas?
- Claro que sim! – comentou com um pouco mais de animação do que o necessário. Eu olhei para ela sorrindo, sendo que ela retribuiu o olhar.
- Ok, o que vocês fizeram? – Dean perguntou erguendo uma sobrancelha.
- Como assim? – Eu respondi fingindo que não entendi a pergunta. Ele sorriu, lançando-me um olhar óbvio.
- Quando vocês fazem essa cara é porque fizeram besteira. – Sam comentou rindo. – Ou quando estão escondendo informação de nós.
- Eeeeeu? Escondendo informação? – não podia ser mais óbvia. Eu comecei a dar gargalhadas. – Imagina!
- Tudo bem, se as engraçadinhas não vão contar, pelo menos me falem aonde é! – Dean ficou até um pouco emburradinho. Era fofo, pra falar a verdade.
- Eu dou as direções, não se preocupe! – respondeu animadíssima. Eu ergui uma sobrancelha. – Sim, , eu memorizei o caminho.
- Medo de você... – Eu comentei rindo. Em seguida, olhei para Dean. – Não vejo a hora de chegarmos ao hotel!
- Tenho até medo do que vocês reservaram. – Sam comentou cruzando os braços, obviamente para provocar . O que funcionou direitinho.
- Aposto que você vai babar quando olhar o hotel, senhor presunçoso. – Ela respondeu mostrando a língua, fazendo-o rir.
- Eu não vejo a hora de irmos no brinquedo do Piratas do Caribe. Sempre quis ir lá! – Dean comentou comigo, fazendo-me olhá-lo em choque.
- Dean... Você nunca foi pra Disney?
- Não. – Ele deu de ombros, como se não fosse nada. – Sempre estive trabalhando com o nosso pai, não tive tempo pra isso.

Eu fiquei estática, encarando-o. Como assim ele não tinha ido pra Disney?! Até um pai caçador sabe que é necessário levar seu filho pra Disney pelo menos uma vez na vida!

Sabe, eu respeitava o John absurdamente quando ele estava vivo, mas fazer o Dean caçar ao invés de ir em parque de diversões é IMPERDOÁVEL!

- John Winchester, seu pai negligente! – Eu praticamente gritei, de repente, olhando para o teto do carro. – Saiba que eu ainda vou te dar uma bronca por isso! E quanto a você, Dean... Nós vamos aproveitar a Disney como se você fosse uma criança de cinco anos! E eu não aceito reclamações!
E, para a minha surpresa, ele começou a rir.
- Calma. Você nunca visitou a Disney? – Sam estava tão incrédulo quanto eu. nem tinha palavras naquele momento.
- E você visitou?! – Dean perguntou de volta, já começando a se incomodar com o assunto.
- Claro! Quando estava na faculdade!
A expressão de indignação que Dean lançou a Sam foi tão impagável que nem eu nem conseguimos parar de rir durante um bom tempo.


- Ok, crianças... Não se assustem... Mas esse é o nosso hotel! – comentou logo que nos aproximamos da construção.

Dean e Sam estavam boquiabertos.

Estacionamos no primeiro lugar que encontramos e os dois saíram do carro praticamente correndo. Eu e dávamos risadas enquanto eles paravam em frente ao hotel e não proferiam uma só palavra. Eles estavam tão em choque que tivemos que pegar todas as malas e levá-las até os dois.
- Ah, como eu queria ter uma câmera boa nessas horas... – Comentei rindo.
- Uma de nós duas tem que ter um celular bom pra tirar fotos, né? – respondeu e pegou o celular no bolso, imediatamente tirando uma foto dos dois com cara de pastel na frente do hotel.
- Essa é uma foto que eu vou imprimir e guardar com bastante carinho... – Eu falei suspirando. me lançou um olhar enviesado, estranhando o comentário. – Daí poderei chantagear o Dean pelo resto da vida.
- Nossa, vou fazer a mesma coisa! – Ela respondeu com um riso maléfico.
Nessa página do diário, prendeu a foto dos dois com “cara de pastel” com um clips para sempre ter um material de chantagem contra Dean. E também para sempre se lembrar da cara que eles fizeram quando viram o hotel.
- Isso... É demais! Vocês são demais! – Dean comentou logo que nos aproximamos. A gente só conseguia rir com o comentário.
Percebi que esperava algo de Sam. Mas ele não falou nada, só ficou lá encarando o hotel, que nem Dean. Notei que ela ficou um pouco desapontada, assim eu já estava pronta para dar um pisão no pé do Sam gigante para ele se tocar de que a namorada queria um elogio.
Mas, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, Sam teve a melhor reação do mundo: virou-se de repente, agarrou e a beijou com uma vontade que eu nunca vi antes.

Tenho que admitir que quem ficou com cara de pastel nesse momento fui eu.

- Você é a melhor, ! – Ele comentou segurando o rosto dela com as duas mãos e sorrindo que nem um bobo.
Sério. Até eu que não sou fã de filmes de romance bregas achei aquilo extremamente fofo.
Ele até estava um pouco abaixado para olhá-la nos olhos.
E eu lá, com a minha cara de pastel, olhei para Dean. A anêmona parecia nem se tocar do que tinha acabado de acontecer: ainda observava o hotel. Eu juro que fiquei lá sem falar nada, só esperando ele ter uma reação fofa daquelas.

Acho que nem no Apocalipse Dean faria uma coisa daquelas. Eu esperei em vão, com cara de tacho.

Nota da no canto da página: “Ai meu Deus, ! Você tá criando um coração! Tipo o Grinch quando percebeu que amava o Natal!”
Em seguida, uma nota da , nem um pouco feliz: “Cala a boca, o Grinch do Natal aqui é você. Eu que gosto de coros de Natal enquanto você fica reclamando que nem uma velha.”
- O que a gente faz agora? – Dean se virou para mim completamente perdido. Minha anêmona perdida.

Eu comecei a rir, para falar a verdade. Balancei a cabeça e ele não entendeu nada.

- Continua sendo um hotel, fofo. Precisamos fazer o check-in. – Comentei piscando para ele e pegando minha mala no chão.
Ele que carregasse a dele. Já tinha feito o favor de levar a mala até lá e nem ganhei um beijo de novela que nem o Sam deu em .
Ok, e antes que você ache que eu estou sendo boba: tô com inveja sim dos dois! Sou humana e posso, tá? Ao contrário do Cass, eu tenho sentimentos, beijos.
Logo que comecei a caminhar com a minha mala, Dean veio atrás de mim, carregando a dele.
- Então... Disney! Será que tem cervejas por aqui? – Ele perguntou casualmente, observando os arredores.
- Claro que tem! Todo hotel de família tem cervejas para papais com barriga de chope! – Eu respondi, apontando discretamente um ótimo espécime de pai com pança de cerveja passando por nós. Ele começou a rir.
- Prometo que não vou ficar assim, linda. – E Dean passou um braço pelos meus ombros, caminhando junto comigo.
Não era um beijo de novela, mas aquilo me fez sorrir. Era o suficiente para mim.


- Acho melhor a gente ir lá no balcão de reservas, pois esses dois não vão parar de observar tudo com cara de bobos. – comentou comigo logo que ela e Sam entraram no salão de entrada.

Isso porque logo que Sam entrou Dean veio praticamente correndo atrás dele falando “Cara, você tem que ver isso” e os dois sumiram do nosso radar.

Vira e mexe eles apareciam rindo e conversando, observando tudo com a maior alegria do mundo. Só faltava uma cerveja nas mãos dos dois e criancinhas correndo perto de nós duas para formarmos uma grande família feliz.
Era engraçado até. Eu nunca tinha visto Dean e Sam tão à vontade e vivendo tão normalmente, nem nos casos que tivemos no Halloween e no Natal. E posso falar com segurança que eles também nunca tinham visto nós duas conversando tão naturalmente.
- Yep. Eles só vão parar quando a gente arrastar as criaturas para os respectivos quartos. – Suspirei, brincando.

De repente, me lançou um olhar enviesado.

- Quem será que vai pegar o quarto com o Tico safado no chuveiro? – Ela perguntou com uma voz engraçada.
E assim, trocamos olhares. Eu tinha me esquecido completamente do azulejo do Tico com a noz. Ficamos nos encarando durante um bom tempo.
Até sairmos correndo que nem duas desesperadas, parecendo o Jack Sparrow fugindo de índios canibais.
Pode me chamar de criança, mas eu queria muito sacanear a e pedir para a moça do hotel deixá-la no quarto com o azulejo de Tico! Eu tinha que chegar antes dela ao balcão! Era uma necessidade!

E adivinha quem chegou antes?!

Ela.


Pra falar a verdade, toda aquela correria não ajudou em nada: todos os quartos tinham o azulejo de Tico.
Eu me encontrava no banheiro, encarando o Box e pensando no que fazer com aquilo enquanto Dean arrumava as coisas no quarto. Querendo ou não, ele tinha uma cisma de deixar armas em lugares estratégicos, não sossegando enquanto não terminasse de arrumar tudo.
E pra ser bem sincera, eu desliguei um pouco do azulejo quando percebi que ele estava cantando No One Like You dos Scorpions. Fato, o Dean não é o melhor cantor do universo, mas aquela voz rouca e forte dele ajuda bastante. Até mesmo com as notas desafinadas.
- Vai me dizer o que você está fazendo aí no banheiro esse tempo todo ou vou ter que te arrastar até o quarto à força? – Ele comentou de repente, apoiado no batente da porta, com seu típico meio sorriso nos lábios.

E eu só dei o mesmo sorriso de volta.

- Como se você pudesse me tirar daqui tão facilmente. – Respondi cruzando os braços, toda convencida.
- Ah, você quer briga, é? – E Dean foi se aproximando, parecendo um animal avançando sobre a presa. Mas ele sorria, claramente divertindo-se com aquela situação. – Então vai ter! Vem cá!
- Não!
Foi só o que eu consegui gritar. No próximo momento, Dean estava rindo e correndo atrás de mim, tentando me agarrar. Eu tentava me soltar dos braços dele, também rindo, e me perguntando o que tinha dado nele.
Minha luta foi em vão. Dean agarrou minha cintura por trás, andando desajeitadamente para o quarto enquanto eu me debatia.
- Te peguei! – Ele ria enquanto cambaleava junto comigo.
Em poucos segundos, Dean tombou de costas na cama, rolando logo em seguida só para ficar em cima de mim, segurando meus braços no colchão e sorrindo que nem uma besta.
- Até que eu ganhei bem facilmente, não? – Ele comentou daquele jeito convencido insuportável que me deixava sem saber se eu batia ou beijava aquele homem.
- Cala a boca, seu convencido! – Foi a única coisa que eu consegui responder enquanto ele começava a rir.

E só pra arrancar aquele sorriso insuportável da cara dele, eu tasquei um beijo repentino em Dean.

Aquilo fez com que nós finalmente percebêssemos o nosso estado naquele momento. Onde estávamos e como estávamos. Assim, Dean começou a se aproximar de mim vagarosamente para me beijar. Eu até prendi a respiração de tão ansiosa.

É, ansiosa. Me julguem.

E claro, só pra não perder o costume, Sam bateu na porta do quarto, começando a nos chamar.
- Ah, não! AAH NÃO! – Eu queria morder alguém. Poxa, precisava ser toda a vez que a gente tava tendo um momento legal?! – Eu vou matar esses dois!
- Sam... Some daqui, agora! – Dean rosnou para a porta e nós só ouvimos o som dos dois palhaços rindo.
Após um momento de silêncio encarando a porta, ouvimos passos se distanciando. e Sam tinham realmente ido embora. E aquilo me fez sorrir.
- Onde a gente tava mesmo...? – Dean perguntou para me provocar, com aquele sorriso estúpido novamente nos lábios.
E, dessa vez, eu soltei meus braços violentamente e segurei o rosto dele, puxando-o para mais perto quando o beijei.


Magic Kingdom.
Esse foi o nosso primeiro parque.
Como sempre, e Sam praticamente caíram da cama logo cedo e nos arrastaram para tomar o café da manhã. Enquanto eu e Sam resolvemos comer coisas leves, Dean e pediram um café completo com panquecas, ovos, bacon, sucos e mais um trilhão de coisas que deu até desespero em mim e Sam.

Sério, como aqueles dois não passaram mal? Isso é um mistério para nós até hoje. Deu medo até.

Só que toda a alegria matinal de Sam e passou logo que entramos no carro para ir até o parque. Os dois começaram a pescar e dormir.

Sim, dormir a caminho pra Disney. Quem em sã consciência faz isso, meu Senhor?!

Mas, de repente, todo o silêncio foi substituído por mais uma música da seleção maravilhosa de Dean. Começamos a ouvir o início de teclado e já trocamos olhares. Dean sabia exatamente o que eu queria dizer.

Assim, ele aumentou o som, acordando Sam e imediatamente.

- Mas o que...? – Sam começou a resmungar.
- Dreamer! Nothing but a dreamer! Can you put your hands in your head, oh no! – Eu e Dean começamos a cantar ao mesmo tempo.
- Ah, não... Vai começar... – rolou os olhos, sem conseguir acreditar.
- I Said FAAAAAR OOOOUT! – Yep, ninguém mais ia nos parar. – What a Day, a year, a life it is!
- Desisto deles… - Sam suspirou.
- YOOOOU KNOW! Well you know you had it coming to you! – E nós cantávamos apontando um para o outro, para o desespero dos dois no banco de trás. – Now there’s not a lot I can do...
E assim, Dean começou a batucar no volante do carro, todo empolgado. Eu comecei a rir. Parecia que ele estava realmente feliz.
Não fui só eu que notei, pois Sam começou a rir também, começando a batucar nas pernas. rolou os olhos uma última vez, porém sorrindo, tomando fôlego para começar a cantar.
- Dreamer! You stupid little dreamer!
Yep. Nós quatro cantávamos a plenos pulmões, algo inédito. E, sinceramente, foi um dos melhores acontecimentos do dia.


- Sabe que o primeiro lugar que a gente passa no parque é uma réplica exata da cidade que o Walt Disney nasceu? – Eu perguntei toda empolgada.
Já tínhamos comprado os ingressos e estávamos a segundos de pisar dentro do parque. Pode me chamar de boba, mas queria ver a reação dos dois. Principalmente do Dean, já que ele nunca tinha ido lá.
- Ah, meu Deus, você é tipo uma daquelas tias de excursão que vai falar todas as curiosidades sobre o parque. – Sam comentou rindo atrás de mim. só confirmou com a cabeça.
- Você tá brincando? Ela parece a Hermione falando “porque isso eu li em Hogwarts: Uma História”! – Minha querida irmã comentou com a voz mais insuportável que ela conseguiu fazer.
- Sou mesmo, me processa. – Dei de ombros.
Era a Disney, eu podia fazer o que eu quisesse. E dane-se.

Toda aquela discussão besta de criança terminou quando entramos no parque. Dean e Sam pareciam duas criancinhas no Natal. Eles começaram a andar, olhando de um lado para o outro, completamente empolgados com o que estavam vendo. E a gente só seguia, rindo.

Até uma hora que Dean parou e segurou a camisa de Sam, olhando assombrado para o horizonte.

- Ah, meu Deus, Sammy... – Ele comentou intensamente. Nesse ponto eu já estava quase sacando a minha faca.

É, me julgue. Eu contrabandeei a minha faca de prata pra dentro do Magic Kingdom.

- É o Mickey, cara!
- Onde?! – Sam imediatamente olhou para onde Dean olhava, como um cão que acabou de farejar comida.

E os dois saíram correndo.

- Ok... – disse lentamente e suspirou. – Eu estava esperando lidar com dois adultos que nunca estiveram na Disney, agora crianças...
- Nem olha pra mim. Eu não faço idéia de como cuidar de crianças. – Yep, eu lavei as mãos. E ela me lançou um olhar de morte. – Eu sou péssima com crianças, você sabe disso.
- Olha, é melhor a gente resgatar os dois... Ou acho que eles vão querer levar o Mickey pra casa. – cruzou os braços, comentando seriamente.
- Você dá as ordens. Eu só concordo e sigo. – Sorri de volta e caminhamos até os dois.
E claro, tiramos umas duzentas fotos com aquele Mickey. Acho que o cara que estava dentro da fantasia queria fugir da gente.
Depois disso, foi hora da clássica foto na frente do castelo da Cinderela.
- Sam, você tira a foto! – entregou o celular para ele e, para falar a verdade, Sam era meio ruim para tirar fotos.
- Por que eu? Você sempre reclama do resultado. – Ele suspirou, já sofrendo por antecedência.
- Seu braço é maior. A probabilidade de sair todo mundo na foto também é maior! – E a criatura abriu um sorriso Colgate. Não dava pra não rir.
- Ah, você sabe como é, Sam... – Eu comentei. – Nossa cabeça é muito grande e nossos bracinhos muito curtos. Não dá pra esticar muito.
- Cala a boca... – rolou os olhos enquanto Dean quase rolava de rir ao meu lado.
Assim, depois de umas oito tentativas, finalmente tivemos nossa querida foto com o castelo da Cinderela ao fundo.


Primeira coisa necessária na vida quando se está na Disney: Adventureland. Sério, é a melhor parte do parque. E sabe por quê?

Piratas do Caribe.

SIM! Se dependesse de mim, a gente ia no brinquedo uma, duas, três, dez, cem, MIL vezes seguidas!
Acho que deu pra perceber que eu gosto só um pouquinho da coisa, né?
Por isso, antes de abrirem os portões da Adventureland no Magic Kingdom, eu segurei a mão de Dean fortemente.

E, claro, ele estranhou.

- O que foi?
- Nada. A gente vai sair correndo. – Eu sorri. – Então se prepare.
- O quê? Sair correndo por quê?
- Todo mundo faz isso, Dean. – riu, ouvindo a conversa e já segurando a mão de Sam. – Pra pegar lugar na fila do brinquedo que quer.
- Sério? – Até Sam estava surpreso.

E isso porque ele já tinha ido ao parque.

- Yep! – Respondi animadamente. – Tava querendo ir no Piratas do Caribe, .
- E você acha que eu tava querendo ir pra onde? – Ela me perguntou de volta como se fosse óbvio, fazendo-me rir. – Quando eles abrirem aquilo lá, é cada casal por si!
- Ah, é?! – Ok, agora ela tinha acordado a minha ira. – Vocês vão chorar quando eu e o Dean chegarmos antes!
- , eu não acho que é uma boa idéia... – Sam começou a se lamentar atrás dela, sabendo que não ia adiantar de nada. Porque discutir com a é a mesma coisa que gritar com uma parede.

Não surte efeito nenhum.

- A gente?! Vocês vão comer poeira atrás de nós! – riu da maneira mais Usurpadora que ela podia fazer.
- Linda, você tem certeza... – Dean começou a falar, mas foi interrompido pelo som dos portões se abrindo.

Quase imediatamente, nós duas saímos correndo, arrastando os dois com a gente.

E adivinha? Dessa vez, eu ganhei!


Eu sei a música do brinquedo do Piratas do Caribe de cor e salteado. E olha que só tinha ido no brinquedo uma vez na vida.
Dean pareceu não se importar... Muito pelo contrário. Parecia até que ele tava gostando de me ver cantarolando que nem uma criança feliz. Além disso, ele deu gargalhadas de ver a criança do meu lado com uma cara de “mano, essa moça deve vir aqui todo santo dia”.
E, quando nós saímos do brinquedo, e Sam não tinham nem entrado. Quem fez o favor de constatar aquele fato, foi o meu querido Dean.
- Ah, isso é sensacional! – Ele comentou todo feliz, enquanto passávamos pelas pessoas na fila.
- Eu sabia que você ia ficar todo bobão assim! – Comentei rindo, mas ele balançou a cabeça.
- Não é só por causa do brinquedo, linda... Olha só quem tá travado na fila! – E ele apontou para Sam e , que conversavam animadamente.
- Ah, não creio! – Sim, eu estava no mesmo nível de felicidade que ele. E olha que isso era uma proeza.
- Hey, Sammy! – Dean gritou e os dois imediatamente olharam para nós.

E assim, eu e Dean, na atitude mais adulta possível, sorrimos e acenamos para os dois, que só ficaram com cara de paisagem.

- Esperamos vocês lá fora! – Dean passou um braço pelos meus ombros e eu não conseguia parar de rir.
Os dois estavam com cara de que iam nos morder na primeira chance que tivessem.


- Calma, deixa eu ver se entendi... – Yep, o Dean não tinha se conformado até agora. – Você tem uma paixonite pelo Keith Richards?!
- Não é minha culpa. – Dei de ombros enquanto esperávamos. e Sam já iam sair do brinquedo. – Ele era bonito pra caramba mais jovem.
- Keith Richards bonito? – É, acho que ele já está começando a questionar seriamente a minha sanidade.
- Já disse, ele era super gostosão quando era mais novo. – E pisquei para Dean, que ficou com a expressão de horror mais cômica da minha vida.
- Nem discute, amoré... – E surgiu caminhando com Sam. Ou melhor, os dois estavam praticamente saltitando. – Se não ela vai começar a falar que casaria com o Mick Jagger.
- O QUÊ?! – Dean e Sam falaram ao mesmo tempo. Um amor de irmãos.
- Ué... Ele dança bem. Melhor do que eu! – E dava gargalhadas enquanto eu respondia e os dois entravam em pânico. Eu agarrei o pulso dela. – Não podemos demorar, filha! Precisamos pegar o fast pass do brinquedo do Peter Pan!
- É verdade! – E ficou extremamente empolgada, de repente. – E a gente TEM que ir nas xícaras! Enquanto esperamos pelo fast pass, a gente VAI nas xícaras!

E saímos correndo.

- Ah, qual é?! Vocês têm que correr pra tudo?! – Dean gritou indignado e a gente só dava risada.
- Ah, vai... – Sam comentou rindo. – Vai me dizer que você veio pra Disney pra ficar parado.
- Não. Mas correr assim já é demais! – Dean reclamava tão alto que eu conseguia ouvi-lo claramente.
- E se eu disser... Que quem chegar por último é a mulher do Ash? – Sam perguntou sorrateiramente.

Os dois trocaram olhares durante alguns segundos...

E saíram correndo em disparada.
Yep. Atitudes super adultas na Disney, a gente vê por aqui.


nas xícaras = meu cérebro não se encontra mais dentro da minha cabeça.
Sério. Você sabe o que é uma pessoa girar aquela xícara com tanta fúria que faz dois homens gigantes e valentões que nem o Dean e o Sam segurarem nas bordas do negócio como se a própria vida deles dependesse disso?

Não, você não sabe.

Então só imagina o nosso estado quando saímos do brinquedo. Minhas pernas eram feitas de gelatina e, pela cara do Sam, ele estava na mesma situação que eu. O Dean ainda tentava manter o pouco de orgulho que restava nele, mas tava difícil.

Enquanto isso, Dona saltitava ao nosso lado, com um sorriso imenso no rosto.

- Vamos de novo?! – Ela perguntou toda empolgada, quase batendo palminhas.
- NÃO! – Nem preciso falar que nós falamos ao mesmo tempo, né?

E a criatura ficou com cara de cachorro molhado.

- Nem me olha assim. Não vai funcionar de novo. – Sam cruzou os braços e virou a cara.
E eu só ri. Certeza ela já tinha chantageado o pobre coitado com aquele olhar.
- Mas...
- Olha gente, eu não sei como funciona essa parada... – Dean disse de repente, retirando os bilhetes de fast pass do bolso. – Mas já tá quase no horário que tá marcando no bilhete.
- Então precisamos ir! – E eu agarrei a mão dele, extremamente feliz que ele tinha se lembrado daquilo. Comecei a andar antes que conseguisse pensar em entrar novamente naquela maldita xícara.
O brinquedo do Peter Pan é muito amor. Mas preciso dizer: enfiar o Dean e o Sam com todo aquele tamanho dos dois num barquinho pequeno daqueles – pois o carrinho do brinquedo é um barquinho consideravelmente pequeno – foi comparável a um dos trabalhos de Hércules.
Juro que eu fiquei toda esmagada naquele carrinho só pra dar espaço para ele. Quando virei para trás a fim de checar e Sam – e pra ver se ela estava sofrendo tanto quanto eu – percebi que os dois resolveram o problema com um abraço. Sam passou o braço pelos ombros dela e pronto: ambos tinham espaço suficiente.

E eu só olhei para Dean e suspirei. Sabe em que dimensão ele ia fazer aquilo?

Em nenhuma. Nenhuma.

Bom, eu estava muito certa disso até o barquinho começar a “voar”.
- A gente tá voando? – Ele perguntou todo feliz. Yep. Dean era uma criança novamente.
- Estamos sim! – Respondi sorrindo. – Na verdade, o trilho de baixo...
Mas fui interrompida no meio da minha explicação científica pelo braço de Dean passando pelos meus ombros – assim como Sam fizera com – e me puxando mais para perto dele, a fim de nos debruçarmos e enxergarmos melhor a Terra do Nunca.
- Tá vendo ali embaixo? Índios! – Ele apontou animadamente.
E eu só sorri. Bastante. Sinceramente, achei que realmente estava na Terra do Nunca.


- Eu não acho que é uma boa idéia...

E lá estava eu e , sentadas a uma mesa na lanchonete de Tomorrowland, esperando Dean e Sam chegarem com os nossos lanches.

- Mas é um dos brinquedos obrigatórios da Disney! – Ela suspirou, jogando os braços para cima. Já estávamos naquela discussão fazia um bom tempo.
- ... Você quer colocar dois caçadores numa sala pequena e escura, na qual tem um alien em fuga que vai ficar fazendo cócegas nos nossos tornozelos e fungando no nosso cangote. – Eu falei da maneira mais fria e analítica que consegui. – Eles vão dar um tiro em alguém!
- Mas é o Stitch! – Ela choramingou. – , sua preocupação seria válida se ainda fosse o Alien antigo do Ridley Scott. Mas não é, agora é um bichinho azul que só quer ficar com a Ohana dele!
- É, mas é antes do bichinho azul decidir que queria ter uma Ohana!
- O que o Stitch tem a ver com a gente? – Sam perguntou repentinamente, sentando-se ao nosso lado, seguido de Dean.
- Tem algum brinquedo com o Stitch? – Dean perguntou de uma maneira um tanto... Sensível. Enquanto isso, só pegamos o nosso sanduíche com ele em um gesto desesperado.

Que foi? Eu tava morrendo de fome.

- Ah, Dean! – falou melosamente. – Você se emociona com a parte da Ohana?
Sim, os olhos dela estavam brilhando quando perguntou.
- Há, não...!
Dean fez pose de durão, mas não me convenceu. Eu sabia. Ele tinha um ponto sensível pela cena da Ohana.
Ainda mais quem, né? O senhor “Sou-caçador-e-não-abandono-minha-família-jamais”.
- Qual é o problema do Stitch? Ele é fofinho. – Sam deu de ombros. só sorriu.
- Tá vendo? Fofinho. Acho que podemos ir!
Eu só rolei os olhos. Tinha certeza que ela ia se arrepender daquilo.


Claro, Dean e Sam surtaram no brinquedo do Stitch. Ainda mais porque não contamos o que acontecia por lá. Então só podíamos ver os dois alerta a todo segundo, olhando de um lado para o outro. teve que segurar a mão de Sam pra ele não se soltar da cadeira a força e começar a procurar o tal do alien e eu, ainda por cima, levei um tapão acidental de Dean.

Por mais que ainda ache que aquilo foi uma desculpa esfarrapada pra ele colocar a mão na minha coxa no escurinho do brinquedo. Porque, né... Dean. Eu conheço a safadeza da pessoa.

*Nota da no canto da página: “Dean Safadão arrasando corações!”
Então, podemos dizer que, quando deixamos o brinquedo, todos respiravam mais aliviados.

Assim, já nos colocamos a caminho de outro brinquedo.

- Calma aí... Você achou que o Stitch era uma má idéia... Mas acha que o seu é uma ótima idéia, é isso?! – E claro, a me seguia que nem um chihuahua raivoso.
- Acho. – Eu só ia me limitar a falar isso. Pois sabia que ela ia continuar raivosa, então nem adiantava discutir.
- E onde vamos agora, podemos saber? – Sam se enfiou entre nós duas, passando os braços pelos nossos ombros e praticamente nos abraçando.
Era engraçado ter aquela pessoa extremamente alta entre nós duas.
Assim o chihuahua ensandecido do outro lado não cogitava me morder.
- Na Mansão Mal Assombrada! – praticamente rosnou a resposta. Sam só me olhou com cara de vazio.
- Mal Assombrada? – Dean finalmente se ligou na conversa. Nos últimos cinco minutos, ele andou por aí nos seguindo e encarando todo lugar que vendia comida. E isso porque ele praticamente comera um boi inteiro no almoço. – Sério isso?
- Yep. É um dos mais legais do parque. – Respondi sorrindo placidamente.

Nisso, Dean segurou minha mão.

- Vamos logo! As mansões mal assombradas sempre são as melhores! – Ele comentou sorrindo e caminhando junto comigo, todo animado, praticamente me arrastando pelo parque.
E eu só virei para a e falei um maravilhoso e sonoro “eu disse”.


O que dizer sobre a Mansão Mal Assombrada? É simplesmente o lugar mais propício para nós quatro em todos os parques da Disney!
Bom, só ficou realmente bom depois que eu dei um tapão no Dean para ele parar de encarar as pernas das moças vestidas de empregadas que ficam coordenando quem vai entrar em qual carrinho.

E claro... Depois dessa, eu fui com a e deixei o Dean com o Sam.

- Você não toma jeito também, né...? – Sam suspirou e rolou os olhos logo que eu praticamente me teleportei ao lado da e não deixei com que ele sentasse com ela.
- Mas não era sério...! – Dean respondeu e, óbvio, os dois começaram a discutir.
Só não ficaram discutindo por muito tempo, pois logo entramos na mansão.

E sério, o lugar é SENSACIONAL!

Tudo estava correndo super bem. Os hologramas são super bem feitos, o lugar é muito bem decorado... Até que eu notei, no meio dos fantasmas dançando valsa, que um deles só estava andando pelo brinquedo, feliz da vida.

E aquilo sim era estranho.

- ...
- O fantasma andando?! – Ela perguntou no mesmo momento, feliz que eu também tinha notado. – Ele não estava aí da última vez!
- Será...?!

E nós só nos encaramos, em choque.

- Vamos falar com eles quando sairmos do brinquedo!
- Ok!
Ficamos com a pulga atrás da orelha até chegarmos em um momento do brinquedo que as cadeiras começaram a girar. Nós viramos de frente para Dean e Sam, sendo que começamos a sorrir e acenar um para os outros.
Quando viramos de costas novamente, cutuquei a . Não precisei falar muita coisa: ela olhou para a minha cara de má e já sabia o que fazer.
- Ah, MEU DEUS! NÃO! – Ela gritou de repente.
- DEVE SER BRINCADEIRA! – Eu gritei em seguida.
- CADÊ A SUA FACA?!
- EU NÃO TROUXE! – Mentira esfarrapada minha. - E A SUA ARMA?!
- TAMBÉM NÃO TROUXE!

É. A gente começou a fazer escândalo para encher o saco dos dois. Podem nos julgar.

- Ei, o que houve?! – Sam perguntou desesperado no carrinho de trás. – Garotas, o que houve?!

Mas óbvio, a gente só continuou a surtar.

- Sam, fica de olho se alguma coisa acontece! Eu vou lá! – Dean comentou impulsivamente.
- E como você vai lá?! – Sam estava esbaforido.
- Sei lá, cara! Dou um jeito! Vê se acha alguma coisa!
Nisso, ouvimos que Dean começou a levantar. Ele ia literalmente pular para fora do carrinho para nos salvar!
Mas antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, o carrinho virou novamente, deixando-nos frente a frente.
E nós ríamos feito duas hienas.

Eles só nos encaravam com cara de pastel.

- Isso não teve a menor graça. – Sam cruzou os braços.
Enquanto isso, a gente só continuava a rir. Tinha sido muito engraçado.


- A gente podia ter batido em alguém! – Sam começou a reclamar logo que pisamos do lado de fora da Mansão.

Enquanto isso, eu e só ríamos do exagero daqueles dois palhaços.

- Eu podia ter atirado em alguém. – Dean rosnou. Claro, ele sempre tinha que deixar o negócio mais dramático.
- Ah, parem com isso...! – ia começar um discurso pra que eles parassem com aquela implicância, quando ouvimos alguém gritando desesperadamente.
Vimos que no laguinho perto de nós, havia uma grande área interditada. Em uma maca, um homem desmaiou depois de alguns gritos e estava sendo carregado para uma ambulância.

Aquilo era bem estranho.

- O que vocês acham...? – perguntou já com suspeitas.
- Estranho... Bem estranho... – Sam comentou de volta.

Nós quatro só trocamos olhares. Em seguida, começamos a nos aproximar da área interditada.

Quando estávamos perto, uma moça do parque nos barrou, impedindo-nos de ver o que tinha acontecido com clareza.
- Está tudo bem, moça? – Sam perguntou com seu típico sorriso fofo que conquista qualquer um, fazendo-a sorrir de volta.
- Tudo bem. Ele está tendo um acesso de uma doença pré-existente. A família precisava de ajuda para tirá-lo do parque e estamos fazendo o que está em nosso alcance para ajudá-los.

Só que ela estava mentindo. Dava pra saber.

Nesse momento, tive uma iluminação.

Como não consegui achar meus documentos originais no hotel antes de ir para o parque, peguei um dos falsos só para não ficar andando por aí sem algo para me identificar caso algo acontecesse.
Sendo assim, tirei meu distintivo do FBI de dentro da mochila.
- Somos do FBI, moça. Não precisa ter medo de nos contar se algo estiver errado.

Ela encarou o distintivo durante um tempo e depois me olhou novamente. Em seguida, mordeu o lábio e suspirou.

- Ele sofreu um ataque de crocodilo.
- Crocodilo?! – Nós quatro perguntamos ao mesmo tempo, indignados.
- Nem temos crocodilos no lago. Somente os de plástico, mas são falsos! – A moça estava desesperada. – Há algum tempo, umas coisas estranhas estão acontecendo. Todos falam que as pessoas já deviam estar esperando por isso...
- E por que estão falando isso? – Dean perguntou cruzando o braço. Assim, ele ficava com mais cara de autoridade.
- Bom... Esse cara que sofreu o ataque perdeu um braço... E bom... Ele caça crocodilos. A bota que ele está usando é de pele de um crocodilo que ele mesmo matou. – A moça deu de ombros. – Estamos até com medo. Parece justiça poética.

Nós só continuamos a encará-la. E acho que ela percebeu o motivo.

- Não que a gente ache justo! Essas coisas são horríveis! – Ela balançou a cabeça. – Se vocês puderem nos ajudar em sigilo, sem chamar outros colegas em nada, seria de grande ajuda!
- Podemos dar uma olhada nos outros casos mais tarde. – sorriu cordialmente.

Parecia brincadeira. Até na Disney tínhamos que trabalhar.


À noite, portanto, lá estávamos nós quatro sentados a uma das mesas do enorme refeitório – que, naquela hora da madrugada, já estava vazio - dando uma olhada em um monte de papelada sobre gente morta ou decepada em situações bem esquisitas.
Não falamos um pio. De repente, Sam jogou sua parte da papelada em cima da cama e nos olhou com cara de quem estava cansado por antecipação.

- Acho que sei o que está acontecendo.

Nós o encaramos, estarrecidos.

- Mas já?! – E não conseguia acreditar. Sam só fez que sim com a cabeça.
- Ok, Sammy, corta esse suspense. O que é?

- Trickster. – Ele declarou solenemente.

Imediatamente, nosso quarto começou a ficar muito estranho. Começamos a ouvir o som de cachoeiras e árvores farfalhando. Pássaros cantavam suavemente enquanto a tonalidade do local a nossa volta mudava e uma fina névoa começava a se entrelaçar nos nossos dedos.
- Ah, não... De novo não... – Dean resmungou amargamente.
Eu só olhei para , sem entender nada. O que estava acontecendo?!





The Only Hope for Me is You – My Chemical Romance

- Cas, eu não quero saber o que você vai fazer, nem quantos dos seus amiguinhos alados você vai ter que chamar, mas tira essas duas de lá agora!
Dean estava possesso. Não conseguia se conformar com o fato de que a porta do porão estava emperrada e ele não conseguia entrar lá. Nem com o fato de Cas – um ser praticamente onipresente – não conseguir se teleportar para o local e tirar e de lá.
Sam estava de braços cruzados, encarando a porta. Seu coração estava pulsando na garganta. O que eles iam fazer? Nunca, em mais de vinte anos caçando, tinham se deparado com algo que podia contrariar o poder de Cas. Não sabia o que era aquilo que estava no porão e, sinceramente, estava com medo.
- Não há como, Dean. Essa porta está selada por algo que vai além dos meus poderes. – Castiel suspirou. – Sinto lhes dizer, mas não tenho como entrar.
- Então arranja um jeito. – E foi a vez de Sam de ficar ameaçador. Suas mãos estavam suadas e levemente trêmulas. O medo estava começando a formigar nas suas pernas. – Eu não vou perder a minha mulher em uma situação tão idiota. Não vou.
Nesse momento, Mary finalmente entendeu a gravidade da situação. Já estava com medo antes, nunca tinha caçado e tudo aquilo era muito novo para a garota, mas quando seu pai disse que estava com receio de perder a própria mulher, foi como um soco no estômago de Mary. Ela se sentiu afundar vários centímetros no chão.

Como assim perder a sua mãe?

Aquela possibilidade nunca tinha nem passado pela cabeça da garota. Para ela, era um ser eterno que ia dar o carinho de mãe, as broncas e os conselhos eternamente. E, agora, tinha a possibilidade de perdê-la em um porão assombrado em um dos dias mais esquisitos e aleatórios de todos.
- Castiel! Você precisa fazer alguma coisa! – A garota comentou desesperada. Só aquele pensamento a fazia ficar sem respirar. – Você precisa tirar a minha mãe de lá!
Enquanto isso, Jimmy tentava aguentar tudo em silêncio. Cruzou os braços, que nem o pai sempre fazia quando estava em uma situação polêmica. Imaginou ter que viver a vida a partir daquele dia sem dançando Led Zeppelin aleatoriamente na sala quando dava vontade, ou levando-o para cozinhar com ela enquanto cantavam alegremente na cozinha. Sentiria falta até das broncas que ela dava.
A casa deles ficaria cinza. Não haveria mais cor, não haveria mais música. E toda vez que ele passasse pela sala, iria se lembrar da mãe dançando, cantando e sorrindo para ele. Castiel precisava salvá-la.

Jimmy segurou algumas lágrimas que se atreveram a surgir em seus olhos.

- Por favor, Castiel. Temos que pensar em algo. – O garoto comentou, repentinamente. – Precisamos ser lógicos e pensar.

Dean sorriu. Aquilo era exatamente o que falaria naquela situação. E Jimmy tinha razão.

- Ok, vamos pensar. – Sam suspirou, limpando o suor das palmas das mãos nas calças. – O que já vimos que pode selar portas?
- Espíritos. – Dean respondeu quase prontamente. – Poltergeists, espíritos particularmente nervosos ou maus.
- Mas não faz sentido ter um espírito na casa do Bobby. – Sam cruzou os braços novamente. – Ele não faria isso com a gente.
- A mulher do Bobby, talvez? – Dean cogitou só de alegre, pois sabiam que aquela hipótese era estúpida.
- Não, ela o amava. Nunca ficaria brava com o que aconteceu. – Sam suspirou fortemente. – Ok, temos que pensar em outra coisa.
- O que aconteceu com o Bobby? – Mary perguntou discretamente para Jimmy.
- Não sei. – O garoto deu de ombros. – Eles nunca me contaram muito do Bobby.
- Ele teve que matar a própria mulher, pois ela estava possuída. Foi antes de virar caçador, então não sabia como fazer exorcismos na época. – Castiel explicou para os dois enquanto Dean e Sam discutiam as possibilidades. – Uma tragédia. Se eu tivesse visto, teria tentado interferir...
Jimmy e Mary se olharam. Pelo visto, nenhum caçador tinha um final feliz. Como seria o final da família deles, então?


- Precisamos dar um jeito de sair. – As mãos de tremiam, mas a mulher tentava se controlar ao máximo.
- Será que essa coisa tá lá fora? – perguntou apreensivamente.
Ouviram outro baque forte na porta, fazendo com que as irmãs se sobressaltassem. Não que sentissem medo fácil das coisas, mas aquela situação estava demais.
- Lá fora no porão, sim. Lá fora da casa, não sei. – passava as mãos pelos cabelos, tentando fazê-las parar de tremer.
- E se isso aí estiver atrás do Dean e do Sam? E, principalmente, da Mary e do Jimmy?! – estava começando a ficar histérica.
A mulher só tinha medo de duas coisas nessa vida: perder Sam e perder Mary. Nunca nem queria pensar na hipótese de uma coisa horrível dessa acontecendo, mas lá estavam eles naquela situação idiota. Ela queria derrubar aquela porta e sair correndo atrás da filha, abraçar Mary e protegê-la de qualquer coisa que viesse no encontro delas, mas nem que ela tivesse que morrer por isso.
Mas lá estava ela, trancada em um quarto do pânico, completamente debilitada e sem saber o que fazer. Não havia saída. Ou abriam a porta e tentavam enfrentar aquela escuridão misteriosa ou ficavam lá dentro. E ela não queria ficar lá dentro.
- Não me importa se está atrás deles, o que me importa é que temos que sair daqui agora. – respondeu de maneira nervosa.

E a irmã lhe lançou um olhar de indignação.

- Como você pode falar uma coisa dessas?! – Agora sim estava histérica. – Seu filho e seu marido podem estar sendo perseguidos e mortos por essa coisa e você nem liga?!
- Não fala isso! – gritou repentinamente, deixando a irmã chocada. Os baques na porta continuavam. – Eu estou morrendo por dentro por causa disso, mas se ficar me preocupando com o que tá acontecendo lá fora, não vou conseguir pensar em uma maneira de sair daqui! E se não sairmos daqui, todo o nosso desespero não vai valer de nada! Só de pensar que essa coisa tá fazendo alguma coisa com o Jimmy, eu tenho vontade de abrir essa porta e me jogar na escuridão com uma faca na mão, mas isso seria uma coisa completamente estúpida de se fazer!
Com isso, as irmãs ficaram em silêncio. Tudo que se ouvira era o baque ensurdecedor na porta de ferro, que tremia da base até o topo. Elas tinham certeza que aquela porta não ia durar muito e nem queriam imaginar o que iria acontecer com elas assim que abrisse.

E olha que para derrubar a porta do quarto do pânico de Bobby, precisava de muito.

- Você sabe que isso que você falou seria exatamente o que o Dean faria. – comentou depois do momento de silêncio entre as duas, lançando um olhar engraçado para a irmã.

suspirou, dando uma pequena risada.

- Eu sei. Nunca disse que ele era brilhante. – E esse comentário da mulher fez com que desse uma ligeira risada. – Ele pensa muito com o coração.
Com isso, o clima de desespero entre as duas começou a se dissipar. Todo o nervoso que passaram, a irritação, começou a se desfazer como uma nuvem. As risadas, por mais breves que tenham sido, fizeram com que um peso se levantasse dos ombros de ambas. Foi o suficiente para clarear a mente delas e fazer com que as irmãs respirassem fundo e começassem a bolar um plano para sair de lá.
- Não adianta nos desesperarmos trancadas aqui dentro, certo? – comentou e deu um pequeno sorriso, fazendo que sim com a cabeça.
- Muito bem... Isso daí tem imunidade a ferro. – apontou para a porta, que ainda estremecia. – Então não pode ser um espírito.
- Certo, ou não conseguiria nem encostar. – colocou as mãos na cintura.
As duas passaram alguns momentos encarando a porta estremecendo. Era nítido que os parafusos nas dobradiças começavam a amolecer. Em pouco tempo, pulariam para o chão e a porta cairia com um baque surdo na frente delas. Ambas seriam envoltas pela escuridão e não sabiam o que fazer para lutar contra aquilo.
Respiraram fundo novamente, tentando manter a cabeça lógica. Limparam o suor da palma das mãos nas blusas e calças. Precisavam pensar.
- Sabe... Eu te falei que vi um símbolo estranho na parede do porão, não falei? – comentou casualmente com .
- Falou sim. Você não sabia o que era, né?
- Não. – A mulher deu de ombros. – Mas era grego. Portanto, há uma grande possibilidade disso aí ser grego também.
De repente, os baques na porta ficaram mais fortes. O chão estremeceu como se uma criatura enterrada embaixo delas estivesse gritando. Elas olharam para o chão e para a porta, surpresas.
- Pela reação, isso daí é grego mesmo. – comentou com um sorrisinho no rosto. – Já dá uma bela diminuída nas nossas opções.
- Só tem um problema... – suspirou. – Para lutar contra coisas gregas, precisamos sempre de armas muito específicas. Sabe? Tipo estaca de oliveira embebida em sangue de carneiro, essas coisas.
- É verdade... – cruzou os braços e começou a olhar para baixo, pensando no que poderiam fazer.

E, para falar a verdade, não tinham muito o que fazer.

- Eu tive uma idéia idiota. – Ela comentou de repente, olhando para .
- Eu tenho até medo de perguntar... O que é?
- Sério, é muito idiota.
- Já lidei com idiotices do Dean e do Sam, . Dá pra aguentar. – suspirou, preparando-se psicologicamente para o que teria que ouvir. – Diga.
- Vamos abrir a porta.

Elas ficaram em silêncio, olhando-se. começou a questionar seriamente a sanidade da irmã. Porque, para falar uma coisa daquelas, era porque não estava bem.

- Você tá ficando doida? – Foi a única coisa que conseguia perguntar. E não dava nem para ficar brava com a irmã. Depois de tudo que passaram, ficava impressionada com o fato de que os quatro ainda eram sãos e não estavam internados em um hospício.

Mas, talvez, tinha chegado a hora de . Afinal, só uma doida falaria para abrir a porta.

- Provavelmente... – A mulher suspirou, descruzando os braços. – Para falar a verdade, eu nem sei mais se o meu estado mental pode ser considerado são. Vamos ser sinceras: não somos as pessoas mais mentalmente ajustadas do planeta.
- Definitivamente não. – suspirou também. – De onde você tirou essa idéia...?
- Idiota? – completou. – Eu avisei.
- É, eu sei.
- Só tem um jeito de sair daqui. E é por essa porta. – A mulher apontou. – Estamos lidando com escuridão, não? Você mesma falou que já faz algum tempo que eu entro em transe e fico falando que a escuridão está se aproximando.
- Faz bastante tempo. Desde um dos nossos primeiros casos. – cruzou os braços, começando a achar que a irmã não estava tão louca assim. – Acho que até está no nosso diário.
- Se não me engano, tá mesmo. Bom, se estamos lutando contra a escuridão, precisamos de luz.

E, falando isso, a mulher tirou o celular do bolso. Em alguns segundos, ligou a lanterna e apontou para . As duas começaram a sorrir.

- Então a idéia é abrirmos a porta e corrermos com a lanterna dos celulares?
- Não exatamente... – começou a explicar. – Pois acho que não teremos chance alguma se tentarmos fazer isso. Mas o Cas está lá fora. Ele não pode entrar no quarto, mas pode entrar no porão. Por que ele não entrou até agora?

Finalmente entendeu, olhando para como se tivesse descoberto a Austrália.

- Porque a escuridão não deixa! Se dermos um pouco de luz, talvez o Cas consiga descer aqui e nos ajudar!
- Exatamente. – sorriu. – E, se não funcionar, nós morremos.

As duas se encararam em silêncio novamente.

- Já fizemos coisas mais loucas. – concluiu. – Eu abro a porta e você joga o celular?
- Yep. Eu sempre quis quebrar meu celular mesmo. – piscou para a irmã e as duas começaram a sorrir.
Finalmente, estavam de volta. O desespero e o medo haviam passado e lá estavam as irmãs, anteriormente e agora Winchester, prontas para lutar com o que quer que fosse aquela escuridão.
segurou a pesada maçaneta de ferro para abrir a porta. Conseguia sentir as violentas vibrações dos pesados baques no ferro, estremecendo seu braço inteiro. Ela segurou com força e olhou para a irmã. Acenou com a cabeça assim que deu um pequeno sorriso nervoso para ela.

Juntando suas forças, abriu a porta de ferro o mais rápido que pôde.

E tudo que havia do outro lado era escuridão.

- Vê se consegue aguentar isso! – gritou e jogou o celular com o máximo de força que conseguiu.
E, para o desespero delas, a luz do celular foi completamente engolida pelo negro da escuridão que se assomava no porão.

Não havia o menor sinal da luz da lanterna.

Elas trocaram olhares.

Em seguida, ouviram um som grave reverberando pelo chão, paredes e todos os objetos em volta. Conseguiram distinguir, por mais baixo que fosse, o som de uma risada.

- A gente vai morrer. – admitiu seriamente, encarando a escuridão.

sentiu um grande aperto no coração. Nunca tinha ouvido a irmã falar daquela maneira. era sempre a pessoa que a puxava para continuar lutando e jamais desistir de nada. Nisso, ela era igualzinha ao Dean, pois vira e mexe ele estava dando algum discurso de “não desista” para Sam.

E, se ela estava admitindo a derrota, era porque o negócio estava sério.

- ... – nem sabia o que falar. Queria falar para não desistirem e lutar até a morte, mas não tinham como lutar. Não tinham como escapar. Não havia o que fazer.

A irmã verbalizara bem: elas iam morrer.

Por um instinto momentâneo, segurou a mão de . A irmã apertou a mão dela com força e as duas respiraram fundo.
- Viva livre. – sorriu.
- Morra bem. – levantou a cabeça e sorriu junto com a irmã.
Pelo menos elas iriam juntas.


- Eu não tenho idéia do que pode ser. – Sam bufou e jogou a cabeça para trás. Estavam lá tentando ter ideias há uns quinze minutos.

Até onde sabiam, elas podiam estar mortas.

Sam balançou a cabeça. Nem queria cogitar aquela possibilidade. Ele teve que aguentar a morte da mãe, a morte do pai, de Bobby e de todas as pessoas que amava. Se morresse, ele simplesmente não sabia como iria sobreviver àquilo.
- Que merda! – Dean pegou a coisa mais próxima e jogou em uma parede, sem nem perceber que era um porta retrato empoeirado.
Mary se encolheu para fugir do porta retrato jogado por Dean, mas Jimmy nem se mexeu. Estava acostumado com os ataques de raiva do pai... E da mãe também, para falar a verdade. Sorriu ao pensar que, pelo menos, nenhum dos dois nunca se maltratou.
- Calma, Dean! Temos que pensar! – As mãos de Sam estavam geladas. Ele não sabia mais o que fazer. E estava cansado de se sentir tão impotente. Estava completamente frustrado.
- Pensar, Sam? Pensar?! Até onde eu sei, a minha mulher pode estar morrendo lá dentro e eu tô aqui sem fazer NADA!
Mary ia puxar a jaqueta de Jimmy para perguntar se o garoto não ia fazer nada em relação ao pai, mas, quando esticou a mão, não achou nenhuma jaqueta. Olhou para o lado e constatou que Jimmy tinha sumido.
As pernas dela amoleceram. Primeiro a mãe dela, depois a tia e agora Jimmy. O que estava acontecendo?! Mary sentiu o estômago revirar, não queria nem pensar no que poderia ter acontecido...
Mas todo o desespero dela parou quando, ao olhar pela sala, encontrou Jimmy recolhendo a foto de dentro do porta retrato quebrado.

Ela queria dar um tiro no primo.

De braços cruzados, a garota se aproximou dele.
Antes que Mary pudesse reclamar, Jimmy mostrou para a garota as fotos que tinha em mãos. Era um porta retrato duplo, por isso havia duas fotos diferentes, uma de cada lado.
A primeira era de sentada no capô do Impala e Dean ao seu lado com um pacote em mãos, ambos comendo doces. Pela qualidade, parecia ter sido tirada por um celular.
A segunda foto era de Sam lendo distraidamente, sentado nas escadas de alguma biblioteca, enquanto fazia trancinhas no cabelo comprido dele. Pela cara que a moça tinha na foto, ele estava completamente alheio ao fato de que agora tinha tranças. Aquela foto também parecia ter sido tirada por um celular.
Mary pegou as fotos, dobrou-as e colocou no bolso da calça, pois sabia que se Jimmy fizesse isso, perderia as fotos. Cruzou os braços e olhou para o garoto.
- O que vamos fazer?

Ele a observou sem entender.

- Como assim, Mary?
- O que vamos fazer, Jimmy? Não podemos ficar aqui parados olhando enquanto as nossas mães estão trancadas lá embaixo! – A garota apontou discretamente para a porta do porão enquanto seus pais discutiam. – Precisamos fazer alguma coisa! Não sei o que vou fazer se acontecer algo com a minha mãe!
- Nem eu... – E foi a vez de Jimmy de cruzar os braços. O garoto começou a pensar, olhando para a porta. – O duro é que eu nem sei o que fazer.
- Já sei! – A garota quase deu um pulo ao lado dele. – Podemos olhar o diário! Deve ter alguma coisa lá!
- Bom, é melhor que nada. – Jimmy deu de ombros. – Tem que ter alguma coisa lá.
Assim, os dois correram até o diário. Começaram a folhear as páginas amareladas, mas as mãos tremiam em antecipação. Tentavam se manter lógicos e calmos, mas não estava dando muito certo.
- Esperem! – Castiel se manifestou de repente. Todos congelaram no lugar e olharam para ele. – Eu consigo descer!

Sam e Dean trocaram olhares.

- Então, vai Cas! – Sam apontou para a porta.
- O que você tá esperando, uma autorização escrita?! – Dean praticamente berrou.
E o anjo sumiu.


Castiel conseguia sentir uma luz no meio de toda aquela escuridão, portanto concentrou-se em ir até ela.
Só quando chegou ao porão é que percebeu que a luz era um celular todo estilhaçado. Era até incrível que aquele objeto tivesse sobrevivido com todo o dano que sofrera.

O anjo recolheu o celular do chão e olhou em volta, procurando pelas irmãs.

Encontrou-as de mãos dadas, cabeças erguidas e olhos fechados logo na porta do quarto do pânico. Sorriu ao ver que as duas tinham dado um jeito de ficar vivas, pois entendia que a aquela escuridão era algo pior do que todos eles tinham imaginado.
Apesar disso, Castiel não conseguia identificar o que era. Só sabia que era algo puramente ruim.
- ! ! – Ele gritou e as duas abriram os olhos. Começaram a sorrir logo que o viram.

O alívio que sentiram ao ver Cas era indescritível. Elas tinham certeza que iam morrer. Mas, naquele momento, tiveram um pouco de esperança que podiam sobreviver. Que podiam ver Sam e Dean novamente. Que podiam abraçar Mary e Jimmy de novo.

- Está tudo bem? – Castiel se aproximava carregando o celular. E, conforme ele andava, parecia que a escuridão ia dissipando. Pelo menos onde ele estava.
- Tá tudo bem com as crianças? – perguntou imediatamente.
- Sim! Eles estão lá em cima.
- E com o Sam e o Dean? – perguntou em seguida, sem soltar a mão de .
- Estão discutindo, então acho que estão bem. – Castiel respondeu, fazendo-as sorrir. – Segurem as minhas mãos! Vou levá-las lá para cima!
Dizendo isso, as mulheres – ainda de mãos dadas – seguraram as mãos de Castiel. Não viam a hora de sair daquele inferno.


De repente, Cas materializou-se na sala novamente, acompanhado de e .
Mary imediatamente saiu correndo até a mãe, abraçando-a o mais forte possível. sorriu e abraçou a filha de volta, feliz em vê-la. Quando viu Sam, ficou mais feliz ainda: realmente não esperava estar ali.
- Hey, mãe. Tá tudo bem? – Jimmy se aproximou de , controlando-se para não abraçá-la que nem Mary fizera. Não queria parecer frágil.
- Para de imitar seu pai, seu bobo. Vem cá! – E o abraçou, tendo o abraço retribuído. Jimmy nunca se sentiu tão feliz em abraçar a mãe.
- O que aconteceu lá embaixo?! – Dean aproximou-se rapidamente, procurando algum machucado na mulher.
- Não sabemos... – suspirou. – Mas acho que era alguma coisa grega.
- Grega? – Sam franziu as sobrancelhas. – Enfrentamos muitas coisas gregas já, vai ser difícil diminuir a lista do que pode ser.
- Tinha um símbolo lá embaixo. – Ela completou. – Mas não volto lá por mais nada nessa vida.
- Aqui não é seguro. – Dean cruzou os braços. – Temos que achar algum outro lugar para ficar.
- Que tal o esconderijo dos Homens das Letras? – sugeriu. – Teoricamente, aquilo lá é impenetrável.
- Espero que eles não tenham chegado lá. – Sam suspirou. – Mas vale a pena tentar. Vamos?
- Vamos. – Dean respondeu imediatamente. – Já vamos pegar o carro e sair daqui. Cas, você nos dá cobertura?
- Tudo que tentar perseguir vocês vai encontrar a minha espada angelical no caminho. – Castiel respondeu seriamente e simplesmente sumiu.
- Eu odeio quando ele some assim. – balançou a cabeça. – Ele tem que se acostumar a se despedir.
- Bom, é o Cas. Não espere muito dele. – deu de ombros.
Assim, pegaram todas as coisas que levaram para dentro da casa e já colocaram dentro do carro. Também pediram para Mary e Jimmy encherem caixas e mais caixas com os livros do Bobby para levarem de lá. O esconderijo dos Homens das Letras era praticamente uma biblioteca, mas era sempre bom ter os livros do Bobby. Nunca se sabia se teria alguma anotação útil.

Lá estavam eles na estrada novamente, procurando algum lugar seguro para ficar.

Enquanto isso, Jimmy e Mary começavam a entender em seus corações o que a primeira frase no diário das mães deles queria dizer: “caçadores nunca tem finais felizes”.





When You Wish Upon a Star – Pinocchio

“Para fins de melhor relatar a LOUCURA que aconteceu com a gente na Disney, resolvi passar o diário pra todo mundo escrever. Então prepare-se, porque teremos Sam e Dean narrando partes dos acontecimentos e isso será épico!” – ) .
Bom... Eu nunca escrevi num diário, por isso nem sei por onde começar (por mais que eu tenha certeza que o Dean vai surgir aqui e falar que eu tinha um diário quando era criança, que nem uma garotinha, MAS EU NÃO TINHA TEMPO PARA ISSO).
Enfim. Toda aquela névoa surgiu no nosso quarto. Eu tentei dar as mãos para a a fim de não perdê-la no meio da bagunça – já que Dean podia tomar conta da – mas foi tudo em vão.
Quando me toquei de onde estava, suspirei.
Quero deixar marcado aqui que fui quatro vezes até aquela porta daquele quarto.
Minhas roupas eram ridículas e as botas até os meus joelhos já estavam machucando meus pés. Pela quarta vez, eu bati na porta do quarto.
- Dean...
- Não, Sam! Cala a boca! Eu vou dar um jeito de sair daqui sozinho! – Ele rosnou do lado de dentro.
Mas a gente sabia que não era bem assim. Aquele trickster idiota nunca deixava a nossa vida mais fácil. Da última vez, ficamos presos em programas de televisão e não saímos de lá enquanto não “fizemos os nossos papéis”.
- Dean, não vai funcionar! – Eu comentei já cansado daquilo. – Ou nós fazemos o que precisamos fazer ou você nunca vai sair desse quarto!
- Eu nem sei as músicas, cara! Como espera que eu faça alguma coisa?! – Dean estava prá lá de nervoso. – Vou ver se consigo quebrar essa janela com uma cadeira, encontro você lá fora!
- Dean, não vai funcionar! A gente ainda tem que achar a e a ! Dá pra você ser um pouquinho mais lógico e pensar um pouco nelas também?!
Foi só eu perguntar isso que o silêncio reinou dentro do quarto. Eu sabia. Era só colocar a no meio da conversa que o Dean já ficava com o coração na mão. Era uma ótima tática para chantageá-lo, para falar a verdade. Aleluia ele tinha achado alguém que eu podia usar para botar um pouco de bom senso naquela cabeça de noz.
- Eu ainda vou me arrepender disso... – Ouvi Dean reclamando lá dentro. – Ok, Sam!
Assim, eu respirei fundo e bati na porta. Só assim íamos progredir um pouco naquele lugar e achar a e a . Eu já estava super preocupado com elas.

- Você quer brincar na neve...?

Eu me sentia estúpido.

Lá estava eu, vestido de uma versão masculina de Anna, batendo na porta do chato do Dean. Eu só queria ver como ele estava de versão masculina de Elsa.

- Não! – E eu tenho certeza que a resposta do Dean não foi inspirada no filme, foi a resposta dele mesmo.
- Não tem que ser com um boneco...
- Vai embora daqui, Sam! Chega! Eu não vou fazer essa idiotice!
- Tudo bem.

E ficamos esperando algo acontecer.

Mas nada aconteceu.

E eu me sentia MAIS IDIOTA AINDA.

- Não deu certo, né cabeção? – Ouvi a besta do Dean rindo do outro lado da porta.
- Cala a boca aí, rainha do gelo. – Respondi cruzando os braços e o tonto parou de rir.
- E aí, como vamos fazer pra sair daqui? A música é só isso? – Yep, Dean estava completamente perdido. Mas tenho certeza que já tinha assistido Frozen quando eu não estava por perto.
- Não, tem mais algumas partes...
Aí eu lembrei. Os pais delas morriam, certo? E só as duas sobravam! Mais ou menos que nem eu e o Dean. Então, pelo menos o fim da música tinha que funcionar.
- Só temos um ao outro, o que vamos fazer? Temos que decidir! – Eu comecei a cantar. Yep, me chame de idiota, eu sei as músicas do Frozen. Mas tenta conviver com a cantando isso toda hora na orelha de quem quer que esteja por perto, principalmente da , pra você ver como decora rapidinho. – Você quer brincar na neve...?

Assim, ouvimos a porta fazer um clique.

E ela se abriu.

A cena que estava na minha frente era impagável. Dean de Elsa. Era sensacional. Ok, era uma versão masculina, mas, mesmo assim, era sensacional.

Por isso, comecei a dar gargalhadas.

- Do que você tá rindo, hein princesinha? – Ele perguntou daquela maneira mal humorada de sempre. – Não sou eu que estou de trancinhas duplas!
Era verdade. Eu tinha me esquecido daquilo.

Imediatamente, comecei a desfazê-las.

- Ah, não precisa tirar. Até que você tá fofo assim. – Dean tinha que fazer o favor de me zoar, ou não seria Dean.
- Ok, temos que achar as duas. Quem será que elas podem ser?
- Tem aquele príncipe do mal... A rena, o dono da rena... – Dean começou a contar nos dedos. – Aqueles bichinhos de pedra e o boneco de neve.
- Aposto que a vai ser o Kristoff. – Eu comentei seriamente. Ele só me olhou de volta. – Ela odeia pessoas, lembra? É a cara dela.
- Bom... Faz sentido. – Dean deu de ombros e começamos a andar pelo enorme corredor de madeira do castelo. – O que acontece agora?
- Tem o baile, acho... A Elsa tem que falar para abrir os portões do castelo.
E, de repente, uma música começou a tocar no ar. Era o início da próxima música e eu tinha certeza que teríamos que cantar.
- Ah, não! Sem bichisse! – Dean rosnou. – ABRAM LOGO A PORCARIA DOS PORTÕES! EU SOU O REI AQUI E QUERO QUE ABRA ESSA BAGAÇA!
E, logo que atravessamos a porta, estávamos com roupa de baile e vimos uma sala enorme, cheia de pessoas nos aplaudindo.

E Dean estava de coroa.

- Ok. Efetivo.
- Gostei dessa coisa de ser Rei. – Dean sorriu e já foi para a mesa de comidas.

E eu corri atrás dele, óbvio.

- Ô Dean, precisamos achá-las. Você tem que dar continuidade na história. Mas antes... – E eu tirei meu celular do bolso que, milagrosamente, ainda estava lá. Assim, tirei uma foto dele.
- Você é uma vadia.
- E você é um idiota. – E guardei o celular. – Você tem que fugir do reino e se esconder nas montanhas, sei lá.
- Hmmm, não é essa a hora que ela congela a cidade inteira?
- Yep.
- E como eu vou fazer isso? Até agora não saiu um gelinho sequer das minhas mãos! – Ele respondeu dando de ombros e se movimentando pela festa.
- A gente tem que dar um jeito! Não foge assim de mim!
- Eu faço o que eu quiser. – Dean deu de ombros novamente. – E o que eu quero agora é achar esse trickster e mandá-lo para o meio do inferno!
- Não vai adiantar se a gente não tiver um plano... – Eu segurei o braço dele, tentando fazê-lo parar de andar erroneamente.
- Me solta, Sam!
E, no que Dean se desvencilhou de mim, houve uma explosão de gelo que nem no filme. Eu comecei a sorrir.
- Agora sai correndo.
- Pra onde? – Dean estava perdido. Era impagável.
- Sei lá! Você tem que atravessar o mar e correr pras montanhas! Vai logo, Dean! Antes que a cidade inteira te morda!
- Eu vou, mas não sem comida. Não vou deixar tudo isso aqui se desgastando!
Eu rolei os olhos. Dean pegou uma quantidade considerável de comida e saiu correndo.
Mas que bela Rainha ele era.


Por incrível que pareça, eu tinha um cavalo. E não fazia a menor idéia de onde o Dean tinha se enfiado. Você acha que vai ser fácil achar um castelo de gelo no meio do nada, mas eu não estava vendo nada.
Bom, avistei aquela lojinha no meio de toda aquela neve e, como é o lugar que a Anna conhece o Kristoff, achei que ia ser bom entrar lá para achar a .
Fiquei um tempo lá, até que ouvi o seguinte berro:
- Sam! Aleluia, eu te achei!
Sim, era uma versão feminina do Kristoff. Mas era a .
- Você?! De Kristoff?!
- E você de Anna! Amei a sua roupa! – Ela apontava e dava gargalhadas.
Pra que ter uma namorada que te compreende quando você pode ter uma que te zoa tanto quanto o seu irmão, não é mesmo?
- Essa calça listrada de verde claro e verde escuro tá sensacional!
- Nem vou comentar sobre a sua roupa de renas. – Respondi suspirando. Mas ela só sorriu.
- Renas são melhores que pessoas, certo? – piscou e começou a ir para o lado de fora. – Vamos! O Sven tá lá fora com o trenó! Falando nisso, você achou a ?
- Não. Sinceramente, achei que ela ia ser o Kristoff. – Dei de ombros, seguindo-a.
- Também achei. Ah, meu Deus... – Ela parou no meio da neve e se virou para mim. – Será que ela é o Hans?!

Eu comecei a rir. Aquilo seria realmente cômico.

- O Hans? Mas o Hans quer matar a Anna! E ainda fica cantando aquela música bonitinha com ela...
- Você cantou Love is an Open Door com a ? – perguntou, observando-me com uma sobrancelha erguida.
- Não.
- Ah, que pena... Eu ia ter filmado uma coisa dessas! – Ela começou a rir e voltou a andar.
Pelo menos, a não é ciumenta nesse nível. Eu a segui até o trenó e sentamos lado a lado. Ela pegou as rédeas do Sven – porque, aparentemente, esse é o nome da rena – e sorriu pra mim.
- Você sabe dirigir uma rena? – Perguntei com uma sobrancelha erguida.
- Não faço a menor idéia. – Ela ainda tinha aquele sorriso enorme no rosto.

Eu pensei um pouco, em silêncio.

- Será que a é a rena?! – Sim, eu estava empolgado com aquela possibilidade.
- Nope. Eu já testei. Ele só atende por Sven mesmo. – Ela deu de ombros. – Vamos?
- Espera. Você não faz idéia do que está fazendo, não é mesmo? Podemos ir com calma...
Mas pra que me deixar acabar de falar. Ela mexeu as rédeas e, imediatamente, Sven saiu correndo. Eu tive que me segurar no trenó enquanto aquela doidinha do meu lado só ria de alegria.


- ... Como vamos achar o Dean e a no meio desse monte de neve?
E lá estávamos nós andando. Começamos a subir uma montanha e o trenó tinha se destruído depois de cair de um penhasco.

Exato. Imagina como foi traumatizante aquela doida mandando o Sven pular do penhasco “porque no filme dava certo”.

- Não sei! Se ela é o Hans, vocês dois deveriam estar noivos. – Ela deu de ombros e depois virou repentinamente para mim, quase me fazendo cair de bunda na neve.

Sim. Ela é uma pessoinha muito sutil.

- Você tem certeza absoluta que não estão noivos?
Eu só comecei a rir.
- Tenho, sua sem vergonha. Não vai poder me zoar por causa disso pelo resto da eternidade. – Respondi dando um pequeno peteleco no nariz dela.
só fechou a cara, cruzando os braços. Eu ri mais ainda. Perto de mim, ela é um ser humano muito baixinho, quase uma criança. E quando fica brava, não dá para levar a sério.

Sinceramente? Eu acho fofa. Poderia abraçá-la só para irritá-la mais ainda.

E teria abraçado, se não tivéssemos ouvido passos.
- O que é isso? – Ela perguntou, repentinamente alerta.
Eu tentei pegar minha arma no bolso de trás da minha calça em um reflexo, mas como era de se esperar, não havia nada lá. O que quer que fosse, teríamos que lutar a socos e chutes.
- Olá, todo mundo!

E o que eu fiz?

Chutei.

Só depois fui ver o que era.

- Valeu.

Era a voz de .

E na nossa frente, um pequeno corpinho de neve descabeçado.
- ?! Você é o Olaf?! – perguntou, correndo atrás da cabeça dela.
- Yep. Sabe, isso já aconteceu uma vez... – E o corpinho dela corria desesperadamente de um lado para o outro, agitando os bracinhos. – E é extremamente desconfortável e difícil de achar a minha cabeça! Sam, poderia fazer o favor de me ajudar?!
- Desculpa! Mesmo, ! Não tive a intenção...! – Eu não sabia se ria, se me chutava, se procurava a cabeça dela...
No fim, achei uma cabeça na neve, com um nariz minúsculo de cenoura. Segurei firmemente entre as minhas mãos.
- Olá! – Ela disse toda feliz. – Você se importaria de colocar o meu nariz no lugar também? O seu chute me desfigurou.
- Além de arrancar a sua cabeça. – comentou com os braços cruzados, claramente me julgando.
Coloquei a cabeça da no lugar, empurrando o nariz de cenoura para frente. Ela soltou um suspiro de alívio.
- Ah, bem melhor... Tava difícil para respirar... – E ela sorriu para nós. – Posso fazer algo que queria já há muito tempo?

Eu e só concordamos com a cabeça.

- Olá, meu nome é Olaf e eu gosto de abraços quentinhos! – E abriu os bracinhos de madeira.
Ok. Eu tive que rir dessa vez. Foi uma visão impagável.
- Você tá muito fofa! – comentou com os olhos brilhantes e quase dando pulinhos de alegria. só riu.
- Eu sei! Agora vamos achar o Dean e descobrir como sair daqui! – Dizendo isso, ela segurou a mão de e começou a andar.
- Espera aí! – Eu a fiz parar por um momento. – Você sabe onde tá o Dean?
- Olha, não que eu seja muito brilhante para achar pessoas na neve... – Ela suspirou. – Mas acho que ele é a única pessoa com cara de pau o suficiente para construir uma casa rústica na montanha de gelo.
Eu só fiquei encarando as duas com a minha clássica expressão de quando o Dean dá uma de Dean.

Acho que elas chamam de “cara de paisagem”.

- Casa rústica na montanha?
- É... Mais para um forte. – Ela analisou.
- Era para ele fazer um castelo. – cruzou os braços e rolou os olhos.
- Ah, mas vai por mim, galera. É um belo de um forte na montanha. – E piscou para nós. – Vamos! Antes que apareçam os caras do mal da vila e prendam o Dean!
E assim, saiu andando com as suas pesadas botas de neve, ia aos pulinhos com as suas perninhas minúsculas e eu caminhava com medo que meus pés fossem congelar naquelas botas nada práticas.


Ok. Nesse ponto, chegamos à montanha. A estava andando quase totalmente afundada na neve, com esta até os joelhos, precisando da minha ajuda de vez em quando. Eu estava um pouco mais acima só por causa do meu tamanho, pois a neve estava fofa demais para aguentar o nosso peso.
Enquanto isso, andava toda feliz com seus passinhos quase saltitantes, em cima da neve. Ela era um boneco de neve que batia nos meus joelhos e, portanto, levinha. Era óbvio que ela não ia afundar. E claro, ela estava se divertindo com isso.
- Vamos, seus elefantes! Estamos quase lá! Olha!

E, com os pequenos braços de madeira, apontou o “castelo” da Rainha Dean.

A escadaria, ao invés de trabalhada e delicada que nem no filme, era a coisa mais mal feita que eu já vi na minha vida. Pareciam blocos de gelo, de vários tamanhos diferentes, empilhados da maneira mais tosca que você pode imaginar. E corrimão? Isso não existe no mundo de Dean Winchester.
Apesar de que aquilo lá era tão largo e mal feito que você só cairia da escada se acabasse se jogando de lá.
O forte? Bom, não tinha o que reclamar, pra falar a verdade. Estava super bonito. Parecia o lar de gelo de um viking que tinha acabado de retornar da guerra. Sério, o Dean até se deu ao trabalho de fazer com gelo uma daquelas cabeças empalhadas de animais caçados logo na entrada.

Só que o animal caçado era um lobisomem.

Ele me assusta de vez em quando.

- Isso aqui é tipo Frozen versão Tim Burton. – comentou empurrando as largas portas brutas de gelo. Eu e só conseguimos rir.
Quando entramos, o lugar era maior ainda. Cheio de decorações rústicas, era o verdadeiro lar de um viking. E, num canto, tinha uma vitrola de gelo tocando um disco de gelo.

E sabe qual era a música?

Highway to Hell.

Frozen versão Tim Burton. Acho que nem o Tim Burton teria tanta criatividade em fazer uma Elsa mais viking e maluca que nem o Dean.
- Uau, eu poderia muito bem viver nessa versão de Frozen, obrigada! – estava empolgada e boquiaberta.
E eu só fiquei encarando enquanto aquele bonequinho de neve caminhava para lá e para cá, toda empolgada com o forte na montanha viking de Dean. É. Eles foram feitos um para o outro. Porque só ela ia achar aquilo mais empolgante do que o filme de verdade.

Só passando por aqui para comentar... Sabemos agora que o Sam se empolga com Frozen. Ah, que alegria. –

- E aí, galera? Como foi o caminho de vocês até aqui? – Um Dean sorridente surgiu no topo da escada, descendo alegremente, com uma cerveja em uma mão e um sanduíche na outra.
Aqui eu preciso fazer um parênteses: ele tava com a roupa azul clara logo depois da makeover mágica da Elsa. Versão masculina, com calças e tudo mais... Mas ele tinha feito uma makeover. E eu iria perturbá-lo pelo resto da vida.
- Você... Tá linda, Rainha do gelo. – Eu tinha que comentar. Era mais forte que eu.

Claro, e caíram na gargalhada logo em seguida.

- Cala a boca, ô “quer-brincar-na-neve”. E quem é o boneco de neve? – Ele apontou para a com a cerveja.
- Quem você acha, trouxa? – Ela perguntou de volta, colocando as mãozinhas no que era para ser a cintura.

Dean ficou encarando-a, assustado.

- ? – E ela só confirmou a cabeça. Ele começou a rir imediatamente. – ? Ah, meu Deus, você tá uma gracinha!
- Cala a boca, garotinha do let it go! Aposto que você cantou essa música como nunca na vida, sem ninguém pra te observar! – Ela apontou para ele, mas Dean não conseguia parar de rir, abaixando-se ao lado dela.
- Bom, você continua pequena...!
- Sam... Faz o favor de bater no seu irmão? Eu não tô em condições físicas para isso. – Ela suspirou, completamente irritada. – DEAN, PARA DE MEXER NO MEU NARIZ!
- Isso tá bom demais...! – comentou rindo ao meu lado.
E eu comecei a rir também. Realmente, apesar de não ser as férias que tínhamos planejado, dava pra aproveitar aquela situação.
- Ai ai... – E parecia ser a primeira que ia parar de rir. Alguém tinha que fazer isso. – Bom, gente. Não quero ser chata, mas precisamos saber o que está acontecendo e como sair dessa vibe de filmes da Disney. Isso aqui é coisa de um trickister, certo?
- Dean... Devolve o meu braço. Agora. Antes que eu te bata.
Quando olhei para o lado, lá estava Dean analisando um dos bracinhos de madeira enquanto ela estava com o maior olhar de morte do universo. Sim. Olaf lançando um de morte para o Rei Elsa.

Se fosse realmente um trickister, ele devia estar se divertindo nesse momento.

- Mas você tá sensacional, ... – E Dean sorria que nem uma besta.
- Bom, , acho melhor eu e você lidarmos com isso agora, porque esses dois vão demorar um pouco pra se concentrar. – Comentei suspirando.
- É... Também acho... – Ela balançou a cabeça, sorrindo. – Então. Trickister, certo?
- É, trickister. Só pode. É o único ser forte o suficiente para criar esse tipo de ilusão.
- E transformar a minha irmã em um boneco de neve.
- Exato.

Ficamos em silêncio durante um momento.

- Mas como vamos sair daqui, exatamente? – Ela perguntou com uma sobrancelha erguida.
E, para ser sincero, eu não fazia a menor idéia.
- Bom... Da última vez que eu e o Dean ficamos presos em programas de televisão, tivemos que “fazer os nossos papéis”. Mas era um tipo de lição filosófica para a vida. – Eu suspirei. Aquilo não ia nos ajudar em nada.
- Vocês ficaram presos em programas de televisão?
- Ficamos. Eu não te contei isso?
Ela só me olhou, cruzando os braços. E quando fazia isso, é porque eu não tinha contado nada.
- Ok, depois eu te atualizo na história. O ponto agora é: quando eu e Dean começamos a seguir o roteiro do filme, a história começou a ir pra frente e encontramos com vocês.
- Você cantou as musiquinhas do Frozen? – Sim, ela estava se divertindo muito com aquilo.
- Cantei. Me processa. – Eu respondi, cruzando os braços. Eles nunca mais iam me deixar em paz com aquilo.
- Ok, então o que temos que fazer agora? – deu uma breve risadinha e voltou na conversa principal.
- A rainhazinha aqui tem que descongelar a cidade! – Ouvimos uma particularmente brava gritando ao nosso lado.
E, quando nos viramos, demos de cara com Dean sentado no chão, levando vários tapas do bracinho da que ele ainda estava segurando enquanto ela tentava pegá-lo de volta com o outro braço.

Não deu para não rir. Aquilo era impagável.


- Ok. Que paranauê eu tenho que fazer pra descongelar essa bodega e tudo voltar ao normal? – Dean esfregava as mãos enquanto nós todos estávamos parados naquela nevasca absurda, com todos os navios de Arendelle ameaçando nos acertar a qualquer momento.
- Você tem que descobrir o amor! – colocou as mãos na cintura e deu um sorriso enorme.

Ela estava se divertindo muito com tudo aquilo.

- O quê?! – E a cara do Dean foi impagável.
- É! A Elsa fica tipo “ah, mas é claro, amor”! E sabe-se lá como ela descobre como descongelar o inverno interminável. – interpretava enquanto falava e encerrava tudo como se não fosse nada.

Dean nos encarou durante alguns segundos.

- Como vocês esperam que eu faça isso quando a minha namorada virou um boneco de neve?! – Sim, ele era a indignação em pessoa.
- Sei lá, Dean. Você é a Elsa. Você fez isso aqui e só você pode desfazer. – Eu dei de ombros, pra ser bem honesto. Não era minha responsabilidade e só o Dean conseguiria fazer parar de nevar. Então você sabe, né? Boa sorte pra ele.
- Gente, não quero ser chata, mas... – E ouvimos a voz da vindo de algum ponto muito abaixo de nós. – EU TO QUASE DESMONTANDO, ALGUÉM ME AJUDA! DESCUBRAM LOGO COMO RESOLVER ISSO!
Quando olhamos para ela, senti até dó. Ela segurava o corpinho desesperadamente com os bracinhos de madeira e fazia de tudo para o próprio nariz não sair voando. Quando vi que nosso bonequinho de neve estava quase levantando vôo, saí correndo para segurá-la.
- Obrigada, Sam...! – Ela choramingou enquanto eu a segurava no lugar.
- De nada, . – Eu só sorri de volta. Ela estava realmente engraçada.

De repente, ouvimos um barulho na nevasca. Como se alguém estivesse pronto para atirar em nós.

- Vocês ouviram isso? – perguntou imediatamente.
E tudo fazia sentido. Eu tinha que salvar Dean, assim como a Anna salvou a Elsa. Ou nós nunca sairíamos daquele lugar.
- , segura sua irmã! – Eu gritei e ela nem questionou: somente saiu correndo e foi segurar a no lugar.
Foi uma questão de segundos. No que eu saí correndo e me coloquei na frente do Dean para explicar o que ia acontecer, senti minhas pernas começarem a congelar. Aos poucos, meu corpo inteiro se congelou e senti algo atingir minhas costas.

Nisso, a nevasca parou e todos ficaram pasmos.

- Que porra é essa?! – Dean perguntou desesperado.

Uma Rainha no ápice da educação.

- É verdade! – bateu na própria testa. – A Anna congela e salva a Elsa e só assim elas descobrem o verdadeiro significado do amor.
- Ah, o amor! – E fez uma voz dramática, olhando para Dean com um sorriso engraçado. – Ta na hora de chorar pelo seu irmão, Dean. Abraça ele e chora. A gente promete não contar pra ninguém.
- Eu não vou abraçá-lo! – Dean respondeu revoltado. – Só vou achar o filho da puta que congelou o Sammy e cortá-lo em pedacinhos! Apontem o caminho e eu trucido o desgraçado!

Engraçado. Só naquele momento que percebi o que a define como “Dean estava rosnando”. Ele rosnava de verdade.

- Poxa, Dean. Tenha coração. – cruzou os braços. – Se você não chorar pelo seu irmão, vamos ficar presos em Arendelle pra sempre.
- Até que não é tão ruim assim. – deu de ombros. só lançou um olhar enviesado para ela.
- E como é que você vai ter relações com o Dean sendo um boneco de neve? – perguntou para a irmã.
E ficou com a expressão mais aterrorizada que eu já vi na minha vida. Ou melhor, com uma expressão de Olaf aterrorizado.
- PELO AMOR DE DEUS, DEAN, VAI CHORAR PELO SEU IRMÃO AGORA.

Se eu não estivesse congelado, estaria rindo bastante.

Apesar disso, Dean continuou com sua expressão nervosa.

- Eu não vou chorar, já disse. Vou achar o desgraçado que fez isso e matá-lo. Ninguém mexe com o Sammy e ponto final!
No que ele gritou, senti que as pontas dos meus dedos começaram a descongelar. Aos poucos, eu já podia mexer meus braços. E, quando menos esperávamos, o sol estava brilhando e todos nós estávamos bem no meio de um navio.
- Uau. Não sabia que você me amava tanto assim. – Eu só olhei para Dean, que rolou os olhos.
- Cala a boca, princesinha. – Ele resmungou.
- Rainha da neve. – Eu respondi.

E não conseguimos resistir. Dean olhou para mim ao mesmo tempo em que olhei para ele e começamos a sorrir.

- Que meigo... – comentou daquele jeito que fazia com que eu soubesse que ela estava sorrindo do jeito mais bobo da face da terra. – , a gente precisava tirar uma foto desse momento!
- Concordo. Esses dois são duas princesinhas que se amam!
- ... – Eu comentei desesperado. – Você ta derretendo! Dean, faz alguma coisa!
- Fazer o quê?! – Ele ficou desesperado enquanto ela começou a correr em círculos na própria poça de água. – Poxa, a gente já completou a história! Não era pra voltarmos para o nosso apartamento não?!
De repente, a mesma neblina estranha que surgiu antes de nos encontrarmos em Arendelle começou se enroscar em volta dos nossos pés. Novamente ouvimos passarinhos cantando e vimos o sol brilhar cada vez mais. Se tivéssemos sorte, estaríamos de volta ao hotel em uma questão de segundos.
Mas sorte não é uma coisa muito comum entre os Winchesters ou as .


Eu não sei lidar muito bem com diários. O Sam que era a menininha da família, nossa querida Grace Kelly, e que manja dessas coisas. Então vocês vão ter a alegria de ter um relato em primeira mão de mim, Dean Winchester, que vai ser bem mais legal que o Sam. Só não vai poder se comparar com o diário do nosso pai, porque ele era sensacional, mas com certeza vai ser melhor.
“Eu disse que ele ia falar que eu tinha um diário, não disse?” – Sam Winchester.
Depois que eu tava entrando em desespero com o fato de que a tava derretendo, aquela névoa toda começou de repente e lá estávamos nós. Em um lugar bem mais quente. O chão de grama e um monte de milho à nossa volta.

É. Isso mesmo. Milho.

Além disso, a tava do meu lado e parecia que ela media uns cinco metros.

Foi só aí que fui perceber que eu tinha um rabo.

E fui arrastado à força para uma canoa pela , enquanto tentava cravar minhas garras no chão e me manter na terra. Mas foi tudo em vão. Quando menos esperava, lá estava eu, naquele rio desgraçado, naquela canoa desgovernada com a doida da vestida de índia fingindo que tava sabendo o que tava fazendo com aquele remo.
- Lá na curva o que é que veeeeem?! – Ela cantava animadamente.
Eu só me segurava com todas as minhas forças nos cantos da canoa, enterrando minhas garras na madeira.

É difícil ser um guaxinim, minha gente.

- Ninguém quer saber, ! – Gritei de volta, tentando convencê-la a desistir daquela idéia maluca de sair cantando em uma canoa.
- LÁ NA CURVA O QUE É QUE VEEEEM?!
- NINGUÉM SE IMPORTA COM A PORRA DA CURVA, MULHER! – Respondi desesperado, ainda agarrado ao barquinho. E a doida me fez o favor de ir mais rápido. – QUER DIRIGIR ESSA CANOA DIREITO?!
- Quero saber! Lá na curva o que é que vem! Quero entender! – Ela não tava me escutando e remava com cada vez mais empolgação.
- EU VOU MORRER! NÃO ACREDITO QUE VIVI TODO ESSE TEMPO PRA MORRER DESSE JEITO!
Nesse momento, ouvi uma risadinha estanha ao meu lado.
Quando me virei, encontrei um beija-flor verde dando gargalhadas.
Ou era o Sam ou a .
- Trouxa!

Era a . Pra falar daquele jeito só ela.

- Eu tenho asas dessa vez! – Ela se vangloriou, voando com destreza ao meu lado. – Boa sorte pra lidar com a maníaca da canoa!
- Me tira daqui, ! – Eu choraminguei, ainda agarrado na madeira.
De repente, a canoa empinou, pairando no ar por completo durante alguns segundos antes de bater novamente na água. Quando olhei em terror para a – que ainda cantava – na ponta da canoa, ela estava lá. Sorrindo.
- Eu faço o que você quiser durante uma semana, ! – Eu tinha que tentar alguma coisa. Ou tinha certeza que a ia nos matar.
- Mentira. Você nunca cumpre essas apostas.

- Eu deixo você me algemar na cama.

Que conste que eu tive que engolir todo o meu orgulho pra propor uma coisa daquelas. Não que eu não achasse algemas algo sexy. Mas eu e meio que disputamos e não gostamos nem um pouco de ser submissos pro outro. Então foi a maior proposta que eu já fiz na minha vida.
- Agora começou a ficar interessante... – Ela comentou e eu vi as asinhas dela se agitando com mais empolgação. – Dean, você tem um trato. Eu tento fazer a parar. Pode ir preparando essas algemas, hein?
Eu abaixei a cabeça enquanto ela voava na direção da irmã. Eu ainda ia me arrepender daquilo. Tinha certeza.
- , você pode fazer o favor de dirigir a canoa mais devagar? O Dean tá quase enfartando ali atrás.
- Mas...
- É por um bem maior, . Seja legal com a sua irmã. – E beija-flor sorriu da melhor maneira que pôde.
E só sorriu de volta.
Eu estava frito.


Sim, a conseguiu me tirar daquela canoa e eu fui nadando até a parar a canoa. Fiquei todo molhado naquele calor do inferno que fazia nos Estados Unidos desolado antes da colonização. Assim que paramos, começou a subir um morro e, claro, nós fomos atrás.
- A gente tem mesmo que subir esse morro? – Perguntei já ofegante. Tenta subir aquele negócio com patinhas de guaxinim. Não é fácil.

E, nesse momento, passou voando alegremente ao meu lado.

Eu queria mordê-la de raiva.

- A gente tinha que visitar a Vovó Willow, não? – Ela perguntou enquanto floreava no ar.
Sério, ela tava se divertindo com aquelas asas. Enquanto eu tinha que carregar a minha gordura de guaxinim morro acima.
- É, mas eu não achei o caminho pra lá. – deu de ombros, mas parecia chateada. – Parei aqui porque parece aquela cachoeira que a Pocahontas mergulha com a Nakoma, não parece?
- Uh, parece sim!
- Ei! Dá pra vocês me explicarem o que tá acontecendo aqui? Não conheço todos os filmes da Disney de cor! – Tive que me manifestar, ou ia ficar lá eternamente sem entender nada.
- Então! Os ingleses precisam chegar, brigar com os índios e eu vou ter que parar a guerra! – deu um sorriso enorme, claramente orgulhosa com aquele fato.
- Enquanto isso, eu e você só vamos comer por aí e fazer palhaçadas. – E, novamente, deu aquele sorriso estranho de beija-flor.
- Ok. E essa tal de Willow aí?
- É a avó da Pocahontas, ela é um salgueiro falante. – fez a caridade de me explicar.
- Sabe o que eu me toquei agora... – comentou pensativa. – Será que o Sam é a Nakoma? Porque vamos nos encontrar com ela agora.

Ficamos todos em silêncio. De repente, as duas começaram a dar gargalhadas.

E eu fiquei lá sem entender a piada.

- Vamos! Eu preciso ver isso!
Nisso, saiu correndo pelo resto do morro.
- Ah, sério? Vocês precisavam correr?
Ninguém me respondeu, então as únicas opções que me restaram foram: ficar lá que nem um guaxinim gordo e sedentário ou correr atrás delas.
Nem preciso falar que quando cheguei ao topo do morro, elas pareciam desapontadas. Nakoma era uma índia – muito bonita, diga-se de passagem, eu ia adorar se a estivesse com aquela roupa – que nos esperava lá embaixo do morro, dentro da canoa.

Exatamente.

Vocês leram certo.

Lá embaixo.

- Espera aí. Quer dizer que nós viemos até aqui de trouxas?! – Sim, eu ia morder alguém. Ah, se ia.
- Mais ou menos... – suspirou, parecendo cansada daquilo.
Foi quando sentimos uma rajada de vento. Folhas de várias cores nos rodearam e olhou para o lado. Entre as árvores, vimos grandes formas brancas, com bandeirinhas coloridas.
- Nuvens estranhas... – murmurou e olhou para a irmã.

As duas sorriram.

E eu continuei lá sem entender nada.

- O que foi? – Perguntei na esperança de que elas fossem me explicar algo.
- Tá na hora. – lançou um sorriso meio duvidoso para e se distanciou da borda da cachoeira.
- Poxa, como eu queria ser a Pocahontas agora... – reclamou, fazendo biquinho.
- Por quê? – E eu lá. Perdido.
- Isso vai ter que dar certo. – suspirou e respirou fundo em seguida, como se para tomar coragem.

E começou a correr até a cachoeira.

Eu achei que aquela louca ia se jogar de lá.

- ALGUÉM ME EXPLICA!
- Ela vai pular, Dean! Você é o próximo! – estava claramente incomodada com o meu escândalo.
- O QUÊ?! PULAR DE ONDE?
- Daqui!
- MAS COMO?!
- Assim ó! – E ela apontou para a irmã.
Na hora, vi se preparando para mergulhar.
- Ela não vai...

E a doida se jogou do penhasco.

Eu me apoiei na beirada, completamente chocado. Lá estava de braços abertos, como se estivesse voando. era a única de nós que tinha asas, então não sabia o que ela esperava que acontecesse ali!
- ELA É DOIDA!
- Nope. Ela sabia que ia dar certo. – deu até uma risadinha. – Que inveja... Sua vez, Dean.
- O quê?! Eu não faço isso, mas nem morto!
- Você tem! Ou a história não vai pra frente e a gente não sai daqui!
- Esquece, eu não vou!
- Ah, você vai!
- E o que você vai fazer? Me empurrar? – Cruzei meus bracinhos de guaxinim. – Não sei se você percebeu, mas se eu quiser, posso acabar com você com um tapa!
- Vai sonhando! – E ela começou a me empurrar com aquele mini corpinho de beija-flor.

Preciso admitir. Nunca vi mulher mais forte que ela. Até como beija-flor, a fez a proeza de me empurrar do penhasco.

Com um empurrão que me fez girar no ar. Fiquei gritando até metade do caminho, só para abrir os olhos no meio da queda e me deparar com a palhaça ao meu lado, rindo.
- Você acha engraçado?! Então voa por nós, pelo amor de Chuck! – Eu agarrei a e fiquei na esperança que ela fosse ser forte o suficiente para nos fazer voar.
- Dean, você tá louco?! Eu sou um beija-flor, não uma cacatua! ME SOLTAAAAAAAA...!

E caímos na água.

Quando voltamos para a superfície, lá estava na canoa, rindo e penteando os cabelos com os dedos, feito uma sereia.

Ah, como eu queria derrubá-la daquela canoa.

- Vai rindo... – Resmunguei enquanto tentava entrar no barquinho.
- Vem cá que eu te ajudo. – Ela ofereceu e me puxou para dentro.
Logo em seguida, ouvimos algo batendo com força na madeira.

Nós nos debruçamos para ver o que era e demos de cara com e seu bico de beija-flor entalado na madeira.

- O que você tá fazendo aí? – perguntou enquanto ríamos.
- Não importa. Me tira daqui.
- Ah, não. Quero saber por que você tá aí. – insistiu.
E, incrível, conseguia lançar um olhar de morte penetrante mesmo sendo um beija-flor.
- Eu tentei espetar a bunda do Dean que nem o Flit queria fazer com o Meeko no filme. Não deu certo. – Ela respondeu, obviamente nervosa. Eu ri mais ainda. – Dá pra me tirar daqui agora?!
- Agora sim!
Pelo menos não era só eu que tinha minha cota de situações ridículas.


- ! É aqui que você conhece o John Smith! – começou a agitar as asinhas de repente.
- Jura? Nossa, é verdade!
Estávamos em uma cachoeira cheia de névoa. estava toda agitada e só ficou lá olhando. Não preciso dizer que eu não estava entendendo nada.
- Vai lá!
- Pra quê? – deu de ombros. – Precisamos achar o Sam. Não acho que ele vai ser o John Smith...
- VAI LÁ CONHECER SEU INGLÊS GOSTOSÃO E NÃO ME ENCHE O SACO!

foi tão enfático que a nem falou mais nada, só foi. Eu olhei para o beija-flor ao meu lado.

- Inglês gostosão? – Cruzei os braços. Às vezes eu sou ciumento sim, qual é o problema?
- Yep. Ingleses são gostosões. Posso te dar uma lista. – Ela respondeu com um pequeno riso no fim da frase.
- Uma lista? Essa eu quero ver...
- Benedict Cumberbatch. Tom Hiddleston. Jude Law. Orlando Bloom.
- Ok. Você pode parar agora. Já entendi.
- Henry Cavill. Daniel Day-Lewis. Hugh Grant. David Tennant. Matt Smith.

Eu me arrependi amargamente. Ela não ia parar nunca mais.

Fiquei escutando a lista dela até ouvirmos os passos de alguém na água. Finalmente aquele filho da puta tinha aparecido pra fazê-la parar de falar. Se eu ouvisse mais um nome, ia ter como objetivo ir até a Inglaterra e matar cada um daqueles idiotas da lista.
- Ah, é agora! O vento vai bater, o cabelo dela vai esvoaçar, os dois vão sentir a ligação entre eles...
- É minha impressão ou você gosta de romances da Disney? – Eu não pude deixar de rir. Afinal, a era a senhorita coração de pedra.
- Claro que gosto! É Disney Dean! Todo mundo ia gostar de se vestir de índia e conhecer um inglês gostosão em uma cachoeira nevoenta enquanto o vento bate e toca uma música dramática! – E o pior é que ela estava falando sério. Tipo... Muito sério. – É uma das melhores cenas da Disney. Assista e aprecie.
Comecei a observar. Não queria admitir, mas considerando o clima cinematográfico da coisa, era realmente emocionante. O tal de John Smith se aproximava vagarosamente enquanto se levantava como se estivesse em câmera lenta. O vento bateu levemente, fazendo o cabelo dela esvoaçar. estava quase suspirando ao meu lado.
Até o cara tentar encostar na e ela, em uma tentativa frustrada de desviar, quase caiu na água. Teria caído, se o cara não tivesse o bom senso de segurá-la pelo braço antes que se estatelasse de bunda na água.
- Aí. Acabou a sua ceninha linda. – Cruzei os braços e comecei a rir, sentindo algo bater na minha cabeça com toda a força. Uma frutinha.

Quando olhei para , ela estava me mostrando a língua.

- Porra, Sam! Você não pode ser brusco desse jeito! – começou a xingar de repente e nós começamos a prestar mais atenção.
O cara jogou longe o capacete que estava usando e lá estava meu querido irmãozinho, Sam.
- Desculpa! Eu não sabia que você ia se assustar! – Ele tentou puxá-la de volta para o lugar. – Foi sem querer!
- Seu bruto! – Ela reclamou enquanto se colocava em pé.

Em seguida, ambos se olharam e começaram a rir.

- Pronto. Virou comédia romântica. – E rolou os olhos. – Odeio esses dois.
- É. A vida deles é uma comédia romântica. – Cruzei os braços novamente. – Da vontade de dar um tiro com tanta bichisse.
- Exato. De shotgun. – Ela completou. me olhou e sorrimos.

Se me perguntarem algum dia por que amo essa mulher, leiam nossas conversas. São as melhores.

- Você sabe onde tá a e o Dean? – Sam perguntou de repente.
- Yep. No arbusto, por ali! – respondeu, apontando para nós. – Flit e Meeko, para nossa alegria!
- Ah, vocês estão... Graciosos. – Sam tentou esconder o riso.
- Cala a boca. – Claro, eu tinha que tentar manter a ordem naquilo lá. – O que temos que fazer agora pra essa porcaria acabar?
- Hmmm... Parar a guerra, acho. – Sam comentou. Ah, sempre tinha que ter alguém entendido de Disney pra saber o que fazer. Ele era uma lady mesmo.
- Mas como a guerra vai começar? Vocês acabaram de chegar! – comentou, apontando para ele com as asinhas.
- Já sei! Vamos ver a Vovó Willow! Ela vai saber o que fazer! – comentou alegremente e, segurando a mão de Sam, começou a correr até a canoa.
- Essa mulher não vai mais parar de correr, vai? – Suspirei, rolando os olhos. só riu de mim.
- Ela é a Pocahontas de vestido, descalça e tatuada no meio da floresta. Nada vai pará-la nessa vida!


Pra ser bem sincero, a visita à árvore não adiantou muito. Conversamos horas com ela – uma senhora bem simpática, por sinal, que ficou tentando fazer com que eu e a parássemos de discutir por pelo menos cinco segundos – e nada.

Sem guerra.

Sem tiros.

Sem tambores.

Nada.

Estávamos todos sentados à beira do lago da Vovó Willow, pensando no que iríamos fazer, quando resolveu começar a falar.
- Sabe o que eu percebi? Você não cantou Cores do Vento.
- E nem vou. – deu de ombros, da maneira mais birrenta da vida.
- Por que não? – E Sam parecia um cachorro sem dono.
- Não tô a fim.
- Mas você é a Pocahontas! Às vezes é isso que tá travando a gente. – continuou, pousando no joelho da irmã. – Vamos lá! Se você quiser eu canto junto! Vai ser ridículo um beija-flor cantando com você, mas se for nos desempacar...
- É uma boa ideia! Canta, ! – Eu tinha que dar meu apoio moral. Não queria ficar eternamente preso em um filme da Disney.
- Mas eu tô gostando daqui. Vocês não estão? – Ela perguntou, brincando com o pé na água. – Quer dizer, tá tudo lindo. Não há nenhum bicho sobrenatural nos perseguindo por aí. Estamos aqui de bobeira, sendo felizes e interpretando nossos personagens favoritos da Disney. Que mal tem? Poderíamos aproveitar um pouquinho.
- Eu não tô feliz como guaxinim. Queria deixar isso bem claro. – Eu tinha que reclamar. Carregar aquele corpo gordinho pra lá e pra cá era bem trabalhoso.
- Bom... Cantar faz parte do aproveitar. – E sorriu, tentando novamente animar a irmã.
- Mas...
- Ah, vai, . Nunca te vi cantando. – Sam olhou para ela com aquela cara de pena que convencia até a Rainha Elizabeth a dar a coroa para ele. – Por favor...?

E ele sorriu. Ela sorriu em seguida e concordou.

- Comédia romântica... – Murmurei para assim que a música começou a tocar. Ela só imitou o barulho de um tiro.

Já disse que amo essa mulher?

- Se pensa que esta terra lhe pertence... começou a cantar. Eu e Sam só ficamos lá, sentados, observando. – Você tem muito ainda o que aprender.
- Pois cada planta, pedra ou criatura... sobrevoou ao lado da irmã e tenho que admitir que não estava tão ridículo assim um beija-flor cantante. – Está viva e tem alma, é um ser.
Era simplesmente incrível como elas sabiam aquela música de cor. Acho que foi a primeira vez que eu e Sam realmente paramos para escutar a melodia e letra da música.

E tenho que admitir... Fiquei um pouco emocionado.

A música falava sobre prestar atenção na alma das coisas vivas. Nosso trabalho era simplesmente ignorar a alma e a vontade de qualquer coisa sobrenatural, nosso trabalho era matar. Normalmente eu ignorava aquilo e continuava a viver a minha vida. Mas, naquele dia, tive um momento de realmente pensar no que estava fazendo. E o que nós fazíamos era horrível.
- Não vai mais o lobo uivar para a lua azul! Já não importa mais a nossa cor! – E elas resolveram cantar juntas pra ajudar ainda mais meu momento de mulherzinha. – Vamos cantar com as belas vozes da montanha! E com as cores do vento colorir... Você só vai conseguir, desta terra usufruir, se com as cores do vento... Colorir.

É. Eu chorei. Me processe.

- Dean... Você tá chorando? – E claro, a mala da tinha que perceber.
- Claro que não! – E claro, eu tinha que fingir que não.
Foi aí que eu percebi que o Sam também estava num momento de mulherzinha que nem eu. Só que sendo o casal de comédia romântica que os dois eram, ele levantou e foi até , a fim de beijá-la longamente.
- Eu já disse que vou bater nesses dois...? – rolou os olhos, suspirando.
- Você é linda, já disse isso? – Sam murmurou e deu uma pequena risada.

Foi aí que ouvimos um grito de índio vindo do nada.

Um cara musculoso saiu do meio do mato em uma fúria sem fim, atacou Sam e começou a lutar.

- Sammy! – E eu saí correndo para ajudar. Ia arranhar aquele índio maluco com as minhas letais garras de guaxinim se precisasse, mas ele ia sair do Sam.

De repente, ouvimos um tiro. Era outro cara, parecia inglês que nem Sam, escondido no mato. E ele matou o índio.

- Que diabos tá acontecendo aqui?! – E eu tava confuso. Como sempre.
- Thomas, volte para o acampamento. AGORA! – Sam mandou e o cara largou a arma lá mesmo e saiu correndo.

Nisso, mais índios surgiram do mato, apontando para Sam.

- Você! Você matou o Kocoan!
- Ah, é verdade... – murmurou. – Ele vai preso.
Os índios agarraram Sam.
- Não! Sam! – tentou segurar a mão dele.
- ...! – E ele tentou fazer o mesmo, mas foi levado pelos índios.

Ficamos abandonados no meio da floresta escura, observando Sam sendo levado embora por um assassinato que não tinha cometido.

- Ele vai ficar bem... Não vai? – Perguntei receoso. Fazia tempo que eu tinha assistido ao filme e não fazia ideia do que acontecia agora.
- Ah, ele vai. – comentou decidida, como se tivesse labaredas nos olhos. – Temos uma guerra para parar.
Orgulho de falar que ela é da família.


Descobri que o Sam só ia ser executado.

Só.

Então lá estava ele no dia seguinte, amarrado e ajoelhado em frente a uma pedra, pronto para ser morto pelo chefe da tribo – teoricamente, o pai da .
- Bom, vou fazer a minha parte. Nos vemos mais tarde. – piscou para nós e, antes que o cara pudesse acertar Sam com o que quer que fosse aquela arma estranha, ela se jogou em cima do meu irmão, cobrindo-o. – Não!
- Pocahontas! Saia da frente!
- Mexicano isso, não? – perguntou placidamente sentada no meu ombro.
- Muito. Extremamente dramático. – Comentei enquanto discutia com o chefe da tribo.
- Ah! Olha! É a melhor parte! – E ela agitou as asas.
- Eu o amo! – gritou e todos ficaram em choque.

Tenho que admitir, senti calafrios na minha espinha.

O índio pensou duas vezes. Então aquilo era o que todos chamavam de o poder do amor. Sentia como se eu tivesse descoberto uma galáxia nova.
- Espera... Temos um problema técnico! – E o beija-flor começou a se agitar.
- O que foi?
- Nessa hora, o cara lá embaixo rouba a arma do Thomas e atira no Powhatan! Só que o John Smith se joga na frente e fica machucado!

Ficamos em silêncio alguns segundos enquanto a hora se aproximava.

- Sério isso?
- Sério.
- O Sam vai levar um tiro?!
- Vai.

Mais silêncio.

- A gente precisa fazer alguma coisa!
Nessa hora, vimos o tal do cara que ela comentou pegando a arma.
- Ah, meu Deus! – gritou de repente, sem saber o que fazer.
- Cuidado! – E Sam estava pronto para morrer por um chefe de uma tribo que não era nem o pai de verdade da mulher que ele ama.
- NEM SE ATREVA A ATIRAR NO MEU IRMÃO, SUA BETERRABA GORDA DE MEIA TIGELA! – Eu gritei de repente.
Claro, todos se assustaram. O cara que ia atirar levou um susto absurdo e atirou para cima, errando completamente. , o chefe índio e Sam acabaram no chão por nada e ninguém saiu ferido.
Um guaxinim falante deveria ser a única coisa que chocaria aquela galera naquele momento. Então não consegui pensar em algo melhor do que sair gritando.

Quando olhei para o lado, estava dando gargalhadas.

- Que foi?
- Beterraba gorda de meia tigela...? Esse é o seu melhor insulto?
- Fica quieta que a sua risada de beija-flor não é lá muito melhor. – E ela tinha razão, era um insulto ridículo. – Vamos ver se eles estão bem!
Chegamos perto dos três – agora já em pé, com o chefe da tribo agradecendo Sam pela sua coragem e aceitando o amor entre ele e , sua filha índia que não era índia – e esperamos até os dois estarem livres para falar conosco.
- Paramos a guerra! Será que vamos para casa agora?
E foi só perguntar que aquela névoa estranha começou a nos envolver novamente. Ouvimos tambores batendo na distância.
- De novo não... – Resmungamos em conjunto e tudo sumiu novamente.


Preciso dizer que eu, , não sabia muito bem o que estava acontecendo até sentir meus braços e pernas amolecerem e meu corpo caindo no chão feito uma estátua de pedra. Respirei fundo e levantei, como se tivesse dormido durante décadas.
Foi aí que eu vi.
Meus pés eram vermelhos.

Minhas mãos eram garras vermelhas.

Eu tinha um rabo vermelho, cheio de escamas.

E eu tinha um bigode dourado.

- Diz aí quem é o mortal que precisa da minha ajuda, porque tu sabe... COMIGO NINGUÉM PODE! – E SIM! EU TINHA A VOZ SENSACIONAL DO MUSHU!

Eu tava chorando de alegria por dentro.

Era muita emoção.

- Você não vai proteger ninguém! Estes são os guardiões da família. – Aquele gordinho chinês velhão apontou para umas estátuas de pedra. – E o que é você, ó rebaixada criatura?
- O Mushu do gongo, eu sei, eu sei... – Suspirei. Então teria que começar de baixo. – Fala aí, camarada. Quem eu devo acordar então?
- Não sabemos. Teremos um conclave da família para saber quem deverá ajudar nossa querida Mulan.
Nisso, avistei chumaços de cabelo no chão que só podiam ser de uma pessoa: da .
- Toque o gongo.
- Já sei, já sei... – E comecei a tocar. – Vamos lá, galera! Acorda pra cuspir! Deus ajuda quem cedo madruga!

Nisso, começaram a surgir muitos antepassados chineses.

- Ah, que bom. Enquanto todo mundo tá lá na guerra matando os hunos, eu vou ficar aqui no conclave da família. – Falando isso, sentei no degrau de pedra do santuário, enquanto os outros espíritos apareciam para conversar. – Que alegria.
Sam’s POV
Eu tava bem perdido, pra falar a verdade.
Em um momento eu era o John Smith, salvando o chefe da tribo da , e no outro eu estava dentro de uma gaiolinha de madeira.

Com uma velha me carregando pra lá e pra cá.

- E leve um grilo... Traz sorte! E até você vai brilhar! – Ela cantarolou e me prendeu no vestido de uma moça.
Até agora não entendi como conseguiram me prender ali.
- Ancestrais, ouçam bem, eu vos peço proteção também... – Aí que eu me toquei. Era a voz da . – Pra que encontre logo um alguém... E ao meu pai eu vou honrar!

- ?!

- Sam?!

De repente, ela foi empurrada em uma fila, tendo que carregar uma sombrinha.
- Você é o Grili?
- Aparentemente sim. – E eu sorri, ironicamente. – Aparentemente trago sorte também.
- Traz o homem amado em sete dias também? – Ela brincou e começamos a rir.
- Então estamos em Mulan. Eu não poderia ser outro personagem, não?
- Fica quieto. Eu já tive que dar comida pras galinhas, falar com meus pais postiços, fazer cola da prova de noiva, tomar banho frio, enfiar esse tipo de kimono, pintar minha cara inteira e agora tô indo pra casamenteira. – Ela suspirou e, sinceramente, fiquei com dó. – Casamenteira, Sam. Acho que eu tinha menos medo da minha professora de Física do que da casamenteira agora.
- Ah, não deve ser tão ruim...
- É uma prova de noiva, Sam! Eu sou o pior ser humano do mundo, sabe quando vou passar em uma prova de noiva?!
Nesse momento, todas as moças começaram a fazer uma pequena coreografia e abaixaram. praticamente se jogou no chão, abriu a sombrinha e se escondeu atrás desta.
- Quem sabe se eu não fizer muito barulho, não vão saber que eu estou aqui...! – Ela sussurrou.

Em vão. A porta se abriu e o nome dela foi anunciado. Ela me lançou um olhar suplicante.

- Você vai ter que responder, cedo ou tarde. – Ponderei, apontando para a casamenteira. Era bom tirar aquilo do caminho logo no começo. – Eu vou te ajudar! Vamos lá!

Ela respirou fundo e sorriu para mim.

- Presente! – E se levantou.
- Falando sem permissão... – A casamenteira resmungou e anotou algo em um papel.
Nós trocamos olhares. Tínhamos certeza que estávamos ferrados.
Em poucos minutos, colocamos fogo na casamenteira e fomos expulsos em desonra de lá. Eu fiz de tudo pra ajudar, mas somos uma péssima dupla. Se dependesse de nós dois, ela nunca ia ser uma esposa exemplar na vida, ainda mais mãe.

Sentados na beira do lago da casa dela, não falamos uma palavra sequer.

- Sam... Somos um perigo para a humanidade. – Ela comentou de repente.
- Yep. Eu nunca mais tento te fazer parecer uma boa esposa. – Eu respondi, olhando para ela em seguida.
E começamos a rir.


Como era de se esperar, o pai postiço foi convocado para a guerra. Nós esperamos até a casa inteira estar adormecida para colocarmos o plano em prática. Como no filme, acendeu incensos para os ancestrais, entrou cuidadosamente no quarto dos pais e pegou o pergaminho de convocação, deixando um pente no lugar. Em seguida, fomos para o quarto com a armadura.
- Olha... Você é muito boa em pegar coisas furtivamente. – Comentei, realmente impressionado. Ela riu.
- Você não sabe quantas vezes tive que andar pela casa sem fazer barulho para não acordar meus pais. Sou mestra nisso.

Agora sei por que ela e o Dean estavam juntos. Eram a juventude transviada.

Quando fui prestar atenção novamente, lá estava ela abrindo o armário da armadura.
Era uma bela armadura.

Provavelmente pesada demais pra ela.

- Bom, preciso me vestir, então sai daqui.
- Espera... Você tem que cortar o cabelo antes. – Pulei do ombro dela para o capacete e fiquei a observá-la.

Passamos alguns momentos em silêncio.

- Eu não vou cortar meu cabelo.
- A Mulan corta.
- Problema dela. – E a cruzou os braços. Parecia uma criança birrenta até.
- Você vai dar uma de machão em um acampamento de guerra chinês. Eles não são Vikings. – Lancei o melhor olhar julgador que um grilo poderia fazer. – ... Corta esse cabelo.
- Mas...
- Agora.

Ela continuou me encarando. Ela sabia que eu tinha razão.

Suspirando, ela pegou a espada e se ajoelhou, que nem no filme. Eu pulei até o lado dela. pegou uma mexa e segurou a espada próxima ao cabelo.
- Eu não quero fazer isso não.
- Você tem que fazer. Pela China. – Ou pelo menos pra tirar a gente de lá, mas se eu falasse assim, ela jamais deceparia o cabelo.
- Eu não sei se consigo, Sam...
- , é só passar a lâmina. Quanto mais rápido você for, menos vai doer.
- Mentira. Vai doer de qualquer jeito. Eu sou bem apegada ao meu cabelo.
- Corta isso logo antes que alguém acorde e a gente não saia daqui!
- Se você falar assim, eu não vou cortar!
- Corta logo!
- Cala a boca, Sam!
- , CORTA ESSA DROGA DESSE CABELO LOGO, PELO AMOR DE DEUS!

No próximo segundo, o cabelo dela estava jogado no chão.

Eu não tive que falar mais nada. Ela pegou o que sobrou do cabelo e cortou rapidamente. Em seguida, pegou uma fita e fez um coque, como os soldados chineses usavam.
- Feliz?! – Sim, ela estava puta comigo.
- Feliz. – E eu me limitei a cruzar meus bracinhos de grilo.
- Agora vai embora pra eu me trocar.

Nem discuti. Fiquei esperando do lado de fora da sala. Em poucos minutos, ela apareceu com toda a armadura e com a espada em mãos.

- Nossa. Tá inspirando respeito.
- Obrigada! – E acho que ela deu o sorriso mais feminino que podia só de propósito.
Saímos da casa, mas ao invés de buscarmos o cavalo, ela quis passar no santuário dos ancestrais de novo.
- Por que estamos aqui? Você tem que ir embora!
- Quero levar o Mushu junto. – Ela comentou despreocupadamente, procurando pelo local.
- Mulher... Vai embora antes que alguém acorde!
- Mas o Mushu é o melhor personagem do filme!
- E ele vai atrás de você depois! Vai embora logo!
E daí ela fez a coisa mais crescida da vida de um ser humano: mostrou a língua, pegou o cavalo e foi embora na chuva.
Eu só suspirei.


voltando a relatar
Então lá estava eu na festinha da família.
Momento de outro: um fantasma chamando a de transformista. Eu jamais me esquecerei disso!
Mas, tirando isso, tava bem chato. Até decidirem que o tal do grande dragão de pedra tinha que buscar a doida na guerra e lá fui eu acordar o troço.
- Olha, amigo, já sei que vou ter que te quebrar mesmo, então vou nos poupar esforço! – E eu fiz o favor de dar com o meu gongo várias vezes na orelha dele e quebrá-lo em pedacinhos.

Depois de enganar todos os ancestrais que eu era o tal do grande dragão de pedra, adivinha quem eu encontrei?

O Grili!

- Oi! Você é o Grili mesmo ou é alguém que eu conheço?!
- ? – O grilo perguntou de volta.

E eu estava em êxtase.

- Sam?! – Foi só eu perguntar que ele fez que sim com a cabeça. – EU TÔ MAIS ALTA QUE VOCÊ! QUE EMOÇÃO!
- Se você começar a encher o saco, não te mostro pra qual caminho a foi! – E gente, ele era um grilo tão bonitinho emburradinho e de braços cruzados daquele jeito.
- Tá bom... Anãozinho. – Eu tinha que encher o saco.

Ele só rolou os olhos e começou a andar.

Ah, mas eu ia me divertir tanto como Mushu!


- Não que eu ache que precise de um, mas essa é a deixa pro Mushu aparecer, então acho que eu preciso de um milagre. – Foi só eu ouvir a falar isso, que fiz questão de fazer meu teatro.
- EU OUVI ALGUÉM PEDIR UM MILAGRE?! – E usei toda aquela pirotecnia do Mushu pra parecer que tinha uns 5 metros de altura.
- Uau. Essa foi impressionante. – A comentou e eu comecei a rir.
- Escuta bem aí mocinha, porque eu fui enviada pra te ajudar com a sua farsa! Se o exército descobrir que você é mulher, a sentença... É A MORTE!
- Cara. Eu queria tanto poder ver o Sam trabalhando pra manter todo esse fogo aí... – E a palhaça da minha irmã começou a rir. – Então eu tenho que te perguntar: eu te conheço?
- Se me conhece? SE ME CONHECE? – Ah, sim. Eu era o Mushu e ia me aproveitar ao máximo daquele fato. – Sou o guardião das almas perdidas! Sou o todo poderoso! O todo gostoso... O invencível Mushu!
- E meus ancestrais mandaram um lagartinho pra me salvar? – Ela perguntou rindo. Acho que já tinha percebido que era eu.
- Lagarto não: dragão. Dragão. Eu não fico mostrando a linguinha. – E mostrei a linguinha, que nem no filme.

No segundo seguinte, nós duas não conseguíamos parar de rir.

- Vocês sabem as falas do filme de cor? – E Sam surgiu do matinho, sem conseguir acreditar.
- Claro! Mulan é vida! – A respondeu. – Que inveja, você ficou com o Mushu.
- Olha, se o Chang for tão gostosão quanto no filme, quem vai ficar com inveja sou eu. – Respondi rindo.
- Nossa, verdade. Chinês gostosão general de exército. – comentou sonhadora.
- O Dean ia adorar estar aqui agora. – Sam suspirou.
- É verdade. Quem será que ele é? – Perguntei meio que para o universo. Em seguida, olhei para o cavalo. – Será que é a Mimosa?
- Não, já perguntei. Ele não deu nenhum sinal de ser o Dean. – deu de ombros.

O que mais me impressionava é que ela tinha perguntado.

- Então... Vamos entrar nesse acampamento ou não? – Sam perguntou casualmente.
- Posso te dar umas aulas de como parecer durona. – Comentei sorrindo, mas riu em seguida.
- Sério. Não acho que tenha ninguém mais machão do que eu nesse acampamento. Vamos.
Assim, ela pegou as rédeas do cavalo e fomos para o acampamento.


Se no filme foi vergonhoso pra Mulan, não foi pra . Ela tirou de letra. Até ouvi alguns comentando que ela deveria ser filha de um general ou algo assim.

Mas claro, alguns a acharam arrogante.

- Tá olhando o que, moleque? – Yao, aquele baixinho revoltado do filme, fez questão de perguntar.
E a nem tava olhando pra ele.
- Dean? – Ela perguntou de volta.
- O quê? Olha aqui, você tá me dando nos nervos, moleque!
- Ok, não é o Dean... – Ela se afastou, vagarosamente. Eu e o Sam só observávamos. – Desculpa moço... Não quero briga.
- Briga?! Você já comprou briga quando...!
- Vamos nos acalmar... – E Chanpo, aquele gordinho feliz, se aproximou e acalmou o cara. – Pense em coisas felizes...
- Ah, esse moleque não vale o esforço mesmo, muito mimado... – Yao comentou e a só deu de ombros e foi embora.

E desde quando ela dava de ombros e ia embora?!

- Ah, é?! Diz isso na minha cara, seu palhaço! – Eu fiz questão de colocar minha cabeça pra fora da blusa dela e gritar.
- ! – E claro, a e o Sam queriam me matar.
- Agora você me paga, seu moleque arrogante!

E, assim, tivemos a fantástica briga do começo do filme.

Adivinha o que aconteceu? A deixou quase metade do exército debilitado, até o Chang aparecer.
- Posso saber o que está acontecendo aqui?!
- A culpa é dele! – Todos os homens apontaram para nós. A só deu de ombros.
- É mesmo. – Ela respondeu. – E o nome é Ping.
- Ping? – E nisso, Chang se aproximou. Imediatamente, eu comecei a rir. – É um nome meio tonto, não acha, linda?

Claro, essa última parte ele sussurrou. A devia querer se bater nesse momento.

- Dean... Cala a boca. – Ela sussurrou de volta.
- Por que o Dean fica com o personagem legal e eu sou o grilo? – Sam teve que se manifestar, fazendo-nos rir.
- Eu sou seu comandante agora. Trate de me respeitar. – Claro, o Dean devia estar nas estrelas com aquilo. A tinha que obedecê-lo agora. Provavelmente, preferiria morrer a viver aquela situação.
- Não sei se você percebeu, Dean... Mas agora é a hora que você tira a camisa e começa a cantar pra nos dar lições de moral. – E óbvio, a tinha que acabar com a alegria dele.
- Bom, eu não sei a letra, mas sei que parte que vem agora... – Falando isso, Dean se distanciou e fez a fatídica cena de atirar uma flecha no topo de uma tora de madeira. Pegou os pesos que amarrava nos braços dos soldados e começou a falar. – Quem quiser pegar a flecha, vai ter que usar Disciplina e Força. Algum voluntário?
- É minha impressão ou ele sabe as falas do filme? – Perguntei com altas suspeitas.

Tinha certeza que o Dean ficava no quarto dele, à noite, assistindo Mulan e cantando todas as músicas.

Depois que alguns tentaram, a nem se mexeu – afinal, ela já sabia como escalar o negócio. Como todos falharam, era hora de começar a música.
- , vem cantar! – Dean chamou e eu nem hesitei: sabia todas as músicas de cor e Mulan é um amor de filme, então estava feliz em ser a voz dele.

Mas, antes que eu pudesse ir ao meu posto nos ombros dele, Dean tirou a blusa.

E eu tive que olhar para a .

Ela estava boquiaberta, como se nunca tivesse visto um homem na vida.

- Sabe... – Ela suspirou, de repente. – Eu posso passar o resto da minha vida com ele, mas sempre que esse homem tirar a blusa eu vou ter um minienfarto. Sempre.
Eu comecei a rir. Agora sim ela devia estar nos céus.
Em poucos minutos, estávamos todos cantando e fazendo os treinamentos cansativos do filme. Realmente, eram treinamentos pesados e o exército era muito ruim.

Seremos rápidos como um rio Com força igual a de um trovão Na alma sempre uma chama acesa Que a luz do luar nos traga inspiração

Realmente, poderíamos ficar lá eternamente se continuássemos naquele ritmo. Por sorte, a noite chegou logo – com a música ainda tocando, claro – e, quando todos foram dormir, a resolveu amarrar os pesos nos pulsos e escalar a tora de madeira.
- Tem certeza que você vai conseguir? – Sim, o Sam duvidava com veemência que ela chegaria ao topo.
- Claro que vou! Não pode ser impossível! – Ela deu de ombros e agarrou a tora, entrelaçando os pesos como no filme.

Eu só fiquei de braços cruzados, ao lado de Sam, observando.

- Aposto que ela não consegue. – Sam estava decidido.

Eu pensei um pouco.

- Não vou apostar. Só vou perder dinheiro. – Pra ser bem sincera, também duvidava das habilidades da .

Mais um tempo se passou e ela se moveu alguns centímetros para cima.

- PELO AMOR, MINHAS COXAS ESTÃO ARDENDO COMO FOGO! – reclamou de repente, fazendo-nos rir.
- Não pode desistir agora! – Gritei e ela só continuou resmungando, ainda subindo. – Ainda bem que eu não apostei.
Sentamos, comemos, conversamos, tomamos um chá... E só quando o sol raiou novamente é que ela começou alcançar o topo. Os homens acordaram a tempo de vê-la sentando-se ao topo da tora e jogando a flecha na frente de Dean, acenando para ele lá de cima.

Claro, Dean só sorriu.

- Ah, eles me dão preguiça... – Rolei os olhos.
- Nem me diga... – Sam suspirou e cruzou os braços.
E aquilo foi o momento de mudança. Todos começaram a treinar bem e, em menos de um dia, tínhamos um exército super bem treinado – sendo que a e o Dean tinham como diversão lutar entre si nas horas vagas. Estando prontos para ir para guerra, não demorou muito a sermos convocados para marchar.
Sorte que a não resolveu tomar banho e eu não tive que morder a bunda de ninguém.


- Bom, tá todo mundo morto... O que a gente faz agora? – Sam perguntou sentado casualmente em um pedaço de madeira queimado.
A e o Dean vasculhavam o lugar, procurando por algum sobrevivente. Aqueles dois eram assim mesmo: sabiam que não havia nenhum sobrevivente no filme, mas mesmo assim saiam procurando. Acho que era da natureza deles.
- Precisamos ir para as montanhas. Daí é lá que a mata geral com a neve da montanha. – Respondi, sentando-me ao lado dele.
- Ah, é verdade...
Nisso, Dean apareceu do nada, caminhando furioso. Passou direto por nós, a fim de anunciar aos outros soldados que iriam marchar pelas montanhas. Atrás dele, surgiu a com cara de quem tinha enfiado um garfo numa torradeira.
- O que foi? – Perguntei, preocupada. Aquilo era muito estranho.
- Bom... Você sabe que agora é quando o Chang descobre que o pai dele morreu, certo? – Ela perguntou e eu e Sam só fizemos que sim com a cabeça. – Então. Era o John lá atrás. E o Dean não ficou nem um pouco feliz de ver o pai dele vestido de soldado chinês e morto na neve.

Ficamos em silêncio durante algum tempo. Repentinamente, toda aquela brincadeira tinha ficado muito mais séria do que podíamos imaginar.

Após trocarmos olhares, Sam só suspirou.

- Não podemos fazer nada em relação a isso... Vamos. Precisamos marchar. – Ele tentou parecer bem, mas percebi que estava cabisbaixo.
E eu os entendo. Se fosse com o meu pai, também ficaria muito brava.
Assim, nosso caminho na neve foi silencioso, até eu acidentalmente soltar um foguete.

Isso mesmo.

Um foguete.

Por que eu sou um ser humano muito cuidadoso e soltei um foguete em forma de dragão.

E por causa disso, apareceu todo o exército de hunos para nos matar.

Que alegria!

Eles lutaram com todos os foguetes até que sobrou um só. Daí óbvio, como no filme, a agarrou o negócio, foi lá pro meio da neve, jogou o foguete de dragão na montanha – me espremendo para que eu cuspisse fogo enquanto o Sam ria que nem um palhaço, diga-se de passagem – o huno do mal quase a matou, ela ficou ferida, todos nós quase morremos por conta daquela enxurrada de neve e ela desmaiou!
Sim, tudo isso aconteceu. Eu achei que ia morrer, o Sam achou que ia morrer, o cavalo achou que ia morrer... Acho que só o Dean não achou que ia morrer, porque a ficou correndo atrás dele o tempo todo, salvando-o que nem no filme.

Já disse que tenho preguiça desses dois?

Enfim, ela acordou, todos descobriram que ela era mulher e o que o Dean fez quando o Conselheiro Real falou que a pena para uma mulher no exército era morte?

Bom, no filme, o Chang deixa a Mulan para trás e fala “uma vida por outra”.

Esperávamos que o Dean fosse seguir o script, certo?

Errado!

- Pro inferno com essa lei ridícula! Ela acabou de salvar todo mundo e quase morreu por nós, ela é muito mais macho que você, seu Conselheiro filho da puta. Agora cala essa boca que a minha mulher precisa de mais atenção do que você com esse chapéu ridículo. – Como sempre, Dean foi um cavalheiro, modesto em suas palavras, xingando com classe. – E se você me encher o saco de novo falando que eu tenho que matá-la, juro que pego essa sua tábua e enfio na sua goela.

Todos ficaram observando-o em choque.

Até a , que já estava ajoelhada na neve – porque, diga-se de passagem, o Conselheiro Real tinha arrastado-a pelo braço e jogado-a por lá, falando que ela era uma mulher imprestável.
- Entenderam? Se alguém encostar nela de novo ou tentar falar qualquer palavra que seja para humilhá-la só porque ela é mulher... – Dean parecia trucidar todos com os olhos enquanto falava. – Eu não vou fazer nada, porque podem ter certeza que a surra que ela vai dar em vocês será bem dada.

Novamente, todos em choque.

- Nunca soube que o Dean era feminista. – Comentei com Sam, ainda boquiaberta.
- Ele tem os momentos dele. – Sam também estava estupefato.
- Olha, Dean, eu agradeço bastante, mas essa é a hora que vocês me deixam pra trás na neve e eu fico sabendo que os hunos estão vivos. – comentou sorrindo. A mulher feminista dentro dela devia estar dando pulos de alegria.
- Não quero nem saber. A gente já sabe, então podemos lidar com isso de maneira diferente. – Dean deu de ombros e começou a preparar as coisas. – Você tá machucada e precisa de ajuda. Se tem uma coisa que eu faço é nunca abandonar uma pessoa machucada, ainda mais minha mulher. Agora sobe nesse cavalo e vamos pra Cidade Proibida.

Os soldados começaram a comemorar, arrumando-se para ir para a guerra. Eu subi no ombro da .

- Só eu que tenho a mente poluída ou você também viu maldade nessa frase? – E eu nem precisei de uma resposta: logo que perguntei, a começou a rir.
- Sobe no cavalo e vamos para a Cidade Proibida. – E a palhaça da minha irmã me lançou um olhar safado, fazendo-nos rir mais ainda. Sam só suspirou no outro ombro dela.
- Achei que você ia reclamar que ele tava te dando ordens. – Sam-grilo comentou mas nós só conseguíamos rir.
- Até ia... Mas é que a da Cidade Proibida foi tão boa que eu não consegui me conter.
E assim, cavalgamos até a Cidade Proibida.


Como era de se esperar: o Imperador foi sequestrado pelos hunos e ficamos presos do lado de fora do palácio. Sei lá de onde a tirou, mas ela estava com um vestido super bonito e, em poucos minutos, escalamos o palácio pelas pilastras e entramos furtivamente.
Claro, com os outros caras vestidos de concubinas. Só ficamos observando enquanto eles iam causar com os hunos para podermos ir até a varanda e salvar o Imperador.
- Sabe o que eu sempre achei meio injusto...? – perguntou enquanto aguardávamos.
- O quê? – E eu fui a única que tive coragem de responder.
- Por que o Chang não se vestiu de mulher que nem os outros? Ia ficar uma gracinha. – Ela comentou, lançando um olhar enviesado para Dean.

Eu não aguentei. Comecei a dar gargalhadas, junto com Sam.

Dean só a fuzilou com os olhos.

- Não, obrigado. Não sou uma vadia pintada pra me maquiar daquele jeito. – E ele praticamente rosnou de volta.

Era incrível. Ele realmente sabia rosnar.

- Ei, gente! – Sam gritou de repente. – É agora!
Assim, batemos nos outros hunos no caminho – ou melhor, a e o Dean bateram. O meu ápice nessa briga foi botar fogo no gavião huno e tenho que falar que foi uma das melhores coisas que eu já fiz.
- Salvem o Imperador! – gritou e os outros soldados assim fizeram. Em poucos segundos, o Imperador estava são e salvo e o chefe dos hunos puto da vida.

E em quem ele descontou?

No Dean.

Claro.

- Por que é sempre comigo? – Dean resmungou enquanto brigava com o cara.
Só que se você já acha o Dean forte, imagina ele lutando contra um cara de dois metros de altura por dois de largura. O cara era enorme. Então, em poucos segundos, o Dean tava estatelado no chão, sem condições de lutar.
- Ei! Seu trouxa! – E a fez o favor de jogar o sapato na cabeça do cara. – Eu sou o guerreiro das montanhas!

Nisso, o cara urrou e saiu correndo atrás dela.

- Ok. Não foi uma boa idéia! – E nisso, nós saímos correndo, enquanto o Sam ficava para trás para cuidar de Dean.
- O que a gente vai fazer?! – Perguntei tentando subir no ombro dela, mas com toda aquela correria, tava difícil.
- Não ser morta por ele, talvez?! – Ela perguntou de volta. – Acho uma boa idéia no momento!
O cara estava praticamente cuspindo fogo atrás de nós. Realmente não sabíamos o que fazer.

Até que paramos ao lado de uma janela imensa.

- Já sei! ! – E apontou para uma torre do outro lado do palácio.
- Ah, pode deixar! Já captei a idéia! – Respondi rindo e fiz o favor de ir atrás de Sam.


- Eu tô me sentindo idiota.
- Você só tá falando isso, porque é o Robin. Agora fica quieto e faz sua parte. – Era minha função fazer com que o Sam parasse de reclamar.

E claro. Eu tava vestida de Mushu morcego. Foi meu momento de zerar a vida.

Pousamos na torre dos fogos de artifício e eu fiz nossa entrada triunfal.
- Cidadãos, preciso do seu poder de fogo! – Claro, na minha melhor voz de Sidney Magal.
- Quem é você?! – E os caras estavam aterrorizados.
- O inimigo do crime! – E eu abri minhas asas. Eles saíram correndo.
E Sam só ria.
- Ok. Essa foi sensacional. – Ele comentou enquanto eu desfilava pelo lugar, feliz da vida, escolhendo qual dos fogos de artifício levaria para a . – Inesquecível.
- Obrigada, Sr. Winchester! – Pisquei para ele e peguei o maior foguete que achei. – Hora de explodir aquele huno nojento!
- E melhor irmos logo! A tá pendurada telhado! – Sam apontou e eu o agarrei pelas antenas no mesmo momento, saindo correndo. – Sabe... Quando eu falei para irmos logo, não precisava disso.
- Você é minúsculo! Minhas pernas são maiores, seja legal!
E óbvio, eu não o soltei enquanto nós não alcançamos o telhado em que a lutava com o huno. O Sam amarrou o foguete em mim e, assim que a gritou, eu acendi o negócio e acertei o huno em cheio. Por sorte a me segurou e saímos correndo do telhado.
- Como a gente vai sair daqui? – Sam estava desesperado.
- Assim!
E a doida da se jogou do telhado, segurando em uma das luminárias redondas. Assim que soltou, ela caiu em cima de Dean, na escadaria da Cidade Proibida, enquanto o cara explodia em mil pedacinhos junto com os fogos de artifício.
- É isso aí, minha gente! – Comentei, estatelando-me no chão. – Cansei!
- Nem me diga! – E Sam se jogou na minha mão, também extenuado.
Daí vocês já sabem, né? Condecorações, o Imperador agradeceu e a melhor parte foi quando ela foi falar com o Dean depois. Foi uma cena impagável.
- Você foi sensacional. – Dean comentou, sorrindo. – Parabéns.
- Obrigada. – Ela sorriu de volta.

E os dois ficaram se olhando.

Eu e Sam literalmente nos sentamos para ver se eles iam se beijar. Se o Sam fosse gente – e eu também, diga-se de passagem – eu beijá-lo sem dó nem piedade, até ele não conseguir mais respirar.

Sabe o que os dois fizeram?

Nada.

Ela pegou o cavalo e foi embora.

Embora.

Que nem no filme.

E eu queria bater na minha irmã.

De repente, tudo ficou calmo e plácido. Percebi que estávamos de volta na casa da Mulan. A já tinha feito as pazes com o pai postiço e lá estava eu ao lado da avó e da mãe postiças.
- Armas? Na minha opinião, ela deveria ter trazido um homem mara... – Mas a avó foi interrompida pelo Dean.
- Oi! Aqui é a casa da , certo? Posso falar com ela?
- Claro! – E a avó apontou para a . E lá se foi o Dean. – Uau! Me convoquem para a próxima guerra!

Eu adorava aquela avó.

- Gostaria de ficar aqui para sempre?! – Ela gritou.
- Eu quero essa avó pra mim. Será que podemos levá-la para casa? – Perguntei para Sam, que só começou a rir.
Com isso, nós quatro nos juntamos no jardim.
- Bom... Salvamos a China. – A suspirou. – O que mais vamos ter que fazer?
- Não sei... – Sam deu de ombros. – Será que agora vem outro filme?
- Eu espero que sim! – Levantei meus bracinhos de dragão, toda animada.
Foi nesse momento que a névoa nos enlaçou novamente. Ouvimos os passarinhos como das outras vezes...

E estávamos de volta para o hotel.

Eu era humana de novo.

Uma humana bem chateada.

- Poxa, só porque eu tava gostando... – Reclamei cruzando os braços. Sam só riu ao meu lado, dando-me um beijo na testa como consolação.
- Ei, olha o que eu achei... – Dean comentou, mostrando-nos um bilhete. – “Espero que tenham se divertido bastante! Suas namoradas são maravilhosas! Vejo vocês na próxima, garotos! Com amor, Gabriel”.
- Espera. Gabriel?! – Sam parecia chocado.

Ele e o irmão só trocaram olhares. Em seguida, começaram a sorrir.

- O filho da puta ainda está vivo. – Dean sorriu.
E eu e ficamos sem entender nada. Mas se eles estavam felizes, nós estávamos felizes também.





Elevation – U2

Mary e Jimmy estavam genuinamente impressionados com o esconderijo dos Homens das Letras.
Para falar a verdade, quando chegaram, acharam a coisa mais idiota. Parecia um bunker da Segunda Guerra Mundial e perguntavam-se como viveriam naquele lugar durante o tempo que precisassem até resolver aquele problema. Porém, ao entrar, ficaram boquiabertos.

O lugar era enorme.

- Ah, eu me sinto em casa! – Dean comentou com um sorriso imenso no rosto. só lançou um olhar de morte para ele.
- Não importa o que eu fizesse, ele jamais ia ficar tão feliz de estar em outro lugar. Nossa casa não era tão empolgante pra ele quanto esse bunker. – A mulher murmurou para , completamente emburrada. – Pelo amor de Deus. Acho que eu só conseguiria superar esse esconderijo se falasse para ele que iríamos morar num tanque de guerra.
começou a rir histericamente.
- Você que sempre gostou de homens brutos. – E deu de ombros, nem preocupada em consolar a irmã. – O Sam é o cara mais fofo do universo. Sério. Ele até ficou genuinamente preocupado quando eu fiquei indecisa com a cor das cortinas da sala. Nunca tive que comprar cortinas para uma sala, nem ele, então ficamos perdidos. Mas, o Sam, sendo o homem sensacional e fofo que ele é, fez questão de passar por tudo isso junto comigo.
- Para. Ou eu juro que vou dar com uma cadeira em vocês dois. – cruzou os braços. – Não que eu não goste do jeito do Dean. Mas ele poderia ter me ajudado com as cortinas, porque aquilo foi um parto.
- É pior do que um parto. – completou solenemente.
Mary e Jimmy só observavam. Nunca pensaram que viver uma vida comum fosse tão complicado para seus pais. Quer dizer, cortinas... Qual era a dificuldade de escolher cores de cortinas? Uma mãe comum do subúrbio conseguiria escolher cinco cortinas em menos de uma hora, já as mães deles... Bom, elas conseguiriam decapitar cinco vampiros em menos de cinco minutos.

Se tivessem que fazer uma escala de graduação da dificuldade daquelas tarefas, colocariam a matança dos vampiros no nível máximo. Mas e ... Provavelmente o nível máximo das duas era “dar uma festa de criança para toda a vizinhança, tentar parecer normal perto dos outros pais e não dar nenhum tiro em nenhuma criança mal educada”.

- Sabe, agora eu estava pensando, mãe... – Mary comentou de repente, apoiando as mãos nos ombros de enquanto desciam as escadas, em direção à primeira sala do esconderijo. – Muitas das histórias que vocês contaram para a gente devem ser mentira.
- Como assim? – franziu as sobrancelhas. Enquanto isso, Jimmy se apoiava nos ombros da própria mãe.
- É mesmo. Para nos proteger do terrível mundo dos caçadores! – O garoto disse de maneira dramática, fazendo rolar os olhos.
- Bom... Pelo menos vocês não são tontos. – deu uma pequena risada. – É claro que mudamos algumas coisas. Não conhecemos os pais de vocês numa viagem de férias. E muito menos tivemos o primeiro encontro em um bar simpático durante tal viagem.
- Esse é o ponto! – Mary se sentia injustiçada, enquanto o grupo ia até a biblioteca do local.

Dean e Sam não viam a hora de se sentar à enorme mesa de madeira escura. Estavam completamente nostálgicos.

- Todas as redações sobre a história dos nossos pais que escrevemos para a escola devem ser mentira! – A garota completou, soltando , já que a mulher resolveu sentar ao lado de Sam, do lado direito da mesa.
Imediatamente, Jimmy e Mary se sentaram à frente dos dois, do lado esquerdo da mesa. Dean puxou uma cadeira ao lado de e deu uma distância considerável da mesa. Assim, se sentou em cima desta, logo à frente de Dean, virando-se de lado para poder conversar com os garotos.
- Ah, não precisa exagerar. Algumas histórias foram verdadeiras! – Dean comentou despreocupado, enquanto apoiava um de seus pés na perna dele.
- Só mudamos alguns fatos de alguns momentos da nossa vida. – Sam riu e se apoiou na mesa. – Como a história de como nos conhecemos, a primeira vez que vocês andaram, o que nós fazíamos na idade de vocês, nossos casamentos... Acho que todos os natais antes de eles nascerem também, não?
- Definitivamente. – concordou. – Só os natais depois deles que contamos a verdade. Também mentimos sobre o trabalho de vocês.
- E de vocês duas. – Sam apontou para elas, que só confirmaram com a cabeça. – Inventamos algumas histórias sobre a faculdade... Praticamente todas as nossas histórias sobre a escola foram inventadas também.
- De vocês dois. – frisou, apontando para eles. – Eu e a chegamos a viver um momento de alegria em faculdades.
- Ah, é verdade... – E Sam suspirou, olhando para o teto. – Tem mais alguma coisa que mudamos?
- Acho mais fácil pensar no que não mudamos. – Dean comentou com uma risada no fim da frase, segurando o pé da esposa. Era incrível como ela ficava com o pé gelado rapidamente e toda hora ele tinha que esquentá-lo.
- A história da gravidez também! – Sam se lembrou, de repente. – Mudamos algumas circunstâncias sobre os dias em que descobrimos que elas estavam grávidas.
- Ou seja: nossa vida é uma mentira. – Jimmy comentou da maneira mais apocalíptica e amarga que conseguiu.

Todos permaneceram em silêncio por algum tempo.

- Basicamente... Sim. – Dean e admitiram juntos, dando de ombros. Em seguida, trocaram olhares e sorriram.

Podiam não admitir, mas adoravam quando ficavam coordenados daquela maneira.

- Então calma... Vocês mentiram sobre o casamento também?! – Mary estava a ponto de bater em todos eles.
- Yep. – e Sam resolveram admitir logo. Que nem no ditado: melhor tirar o band-aid de uma vez do que devagarzinho.
- Mas... Vocês falaram que o casamento de vocês tinha sido numa praia! Com as famílias reunidas, uma decoração maravilhosa, tudo do bom e do melhor! Músicas escolhidas a dedo, alianças compradas com carinho... Até a tia se sujeitou a usar rosa bebê para ser sua madrinha! – Mary estava no ápice da revolta.
- Você falou que eu usei rosa bebê no seu casamento...? – E parecia que ia morder a própria irmã.
- O que foi? Combinava com o casamento em geral na minha imaginação. – E deu de ombros.
- Mas era um casamento imaginário! Eu podia usar qualquer cor! – A irmã dela jamais ia se contentar com aquilo.
- Podia. Mas achei que a história do rosa seria mais legal. – comentou com um sorriso doce enquanto Dean só ria da própria esposa.
- Não é isso que importa! – E Mary até bateu na mesa, fazendo com que Jimmy se distanciasse dela vagarosamente de maneira discreta. – O que importa é que eu sempre sonhei em ter um casamento como o de vocês! Na praia, com as madrinhas usando rosa, o bolo de três andares, a decoração em tons pastéis, as músicas especiais... Eu queria que fosse uma tradição de família! E, no fim, é tudo uma mentira!

Sim. A garota estava em crise.

- Sabe, Mary... Se teve uma coisa que eu aprendi com a nossa vida, é que as tradições de família podem ser criadas. – Sam sorriu, segurando levemente a mão da filha. – Se você quiser, podemos fazer desse casamento a nossa tradição. Ninguém precisa saber que eu e sua mãe não casamos assim.
Mary ficou alguns segundos em silêncio, olhando para a mesa. Em seguida, olhou para o pai. Porém, ao encontrar os olhos dele, não conseguiu permanecer séria, sorrindo logo que o viu. Sam retribuiu o sorriso; o tipo de sorriso que Mary adorava ver nos lábios dele.

Parecia que, pela primeira vez desde que ele voltara da última caçada, ela estava vendo-o sorrir sinceramente.

- Então, sabe o que eu quero ouvir... – Jimmy comentou de repente, cruzando os braços. – A tal história da gravidez. Tenho certeza que não foi tão bonitinha como vocês me contaram.

Dean e trocaram olhares.

- Você contou para ele de maneira bonitinha? – perguntou para a irmã, segurando a risada escandalosa que ameaçava surgir. só confirmou com a cabeça. – Pelo amor de tudo que é sagrado nesse mundo, Jimmy, o que ela te contou?!
- Que o papai chegou em casa depois do trabalho e ela, bem calmamente e com um sorriso estampado plácido no rosto, olhou para ele e disse “Dean, tenho uma maravilhosa novidade. Você vai ser pai”. – O garoto disse, imitando a expressão que a mãe contara que fizera. – Em seguida, meu pai saiu correndo e a abraçou, girando-a no ar. Os dois não conseguiam se conter de alegria e até choraram. Que romântico.
- Pelo menos você herdou a ironia da sua mãe. – Dean comentou, suspirando.
- E, pelo que consta no Livro de Família Winchester, esse foi um dos poucos dias que Dean Winchester e Winchester derramaram lágrimas. – Jimmy completou, só olhando para os dois acusados.
- E herdou o humor ácido do pai. – cruzou os braços, olhando para o filho. – Você queria que eu dissesse o quê?
- Algo mais próximo da verdade...? – Sam sugeriu com cautela e começou a dar gargalhadas ao lado do marido. só lançou um olhar fulminante para ele.
- Nem vem que vocês dois não estão nem próximos de ser santos não. – E foi a vez de Dean cruzar os braços. – Aposto que contaram que o dia de vocês foi bem menos tonto do que realmente foi.
- O que eles contaram? – perguntou rapidamente à Mary, antes que alguém pudesse falar qualquer coisa.
- Que, alguns dias depois de o papai chegar em casa de uma viagem, a mamãe serviu café para ele em uma caneca nova. – A garota disse prontamente. – Quando ele chegou ao fim da caneca, estava escrito que ele ia ser pai. A caneca tá lá em casa até hoje.
- Uau. Se tivesse sido só isso... – comentou tentando reprimir uma risada.

só fechou a cara e olhou para a irmã.

- Ok então. Eu conto a nossa história, se você contar a sua. – Ela disse em tom de desafio. A irmã só aceitou com um aceno da cabeça.
- E a história dos casamentos também, por favor! – Mary se manifestou antes que alguém pudesse esquecê-la.
- A gente não pode comer algo antes não...? – Dean estava desconsolado.

Aquelas histórias levariam tempo.


O casamento praiano de Sam e Winchester

Sam estava nervoso. Não que ele achasse que fosse negar uma coisa daquelas, afinal ela era a mulher da vida dele. Mas, por causa disso, ele nunca tinha pedido alguém em casamento antes, então podia dizer que as borboletas em seu estômago estavam em revoada.
Ele não tinha falado para ninguém. Não falara para Dean, pois sabia que o irmão ia tirar os próximos cinco anos para encher o saco dele. E não falara para , pois ela era praticamente a versão feminina do Dean e os dois eram felizes na atividade predileta de “zoar nossos irmãos mais novos”.
Por isso, ele tinha ido para o parque mais próximo do motel em que estavam e chamara pelo telefone. Só a presença dela era o suficiente, poderiam lidar com a chatice das outras pessoas depois.
- Oi, lindo! Você vem sempre aqui? – Ele ouviu a voz de atrás dele e começou a rir, virando-se para ela.
- Qual é o vício pela voz de Sidney Magal? – Ele tinha que perguntar. Até agora não tinha entendido aquilo.
- Ah, você sabe. Ele é o homem mais sensacional do mundo. – Ela deu de ombros, como se não fosse nada de mais. – Diga. Pra que você me chamou aqui? Nós vamos fazer algum plano do mal pra perturbar a e o Dean?
- Não, não é nada disso dessa vez... – Sam respondeu rindo, segurando a mão dela e puxando-a, para que andasse junto com ele.

Não sabia o motivo, mas andar parecia que ia acalmá-lo.

- Preciso conversar de uma coisa séria com você.
só ficou olhando para Sam. Ele não começou a rir após aquela frase, então não era brincadeira. Milhões de coisas começaram a passar na mente dela. E ela não gostava de ser pessimista e amarga que nem a irmã, porém tinha que admitir a si mesma que teve pensamentos apocalípticos de que ele terminaria com ela e sumiria pelos Estados Unidos.
- Calma, ! Relaxa, não precisa ficar assim! – Ele disse imediatamente ao ver a expressão no rosto dela. – É um assunto sério, mas é algo bom! Pelo menos, eu acho que é algo bom...
- Quando você fala assim, eu quase enfarto. Não faz isso com o meu coração, querido... – suspirou, levando a mão ao peito. Seu coração batia em um ritmo frenético. – O que pode ser tão sério e tão bom assim?
- Bom... – Ele suspirou, entrelaçando os dedos de sua mão com os dela. Os dois ainda andavam calmamente pelo parque e, realmente, aquilo estava ajudando. As pernas dele pareciam não formigar tanto. – Estive pensando na nossa relação... Nós nos damos muito bem e acho que nunca tive uma relação tão sincera com uma mulher que durasse tanto tempo.
- A recíproca é verdadeira. – Ela respondeu rindo, fazendo-o rir brevemente em retorno.
- Eu não tenho nada para esconder de você. – Sam sorriu com aquela idéia. E, realmente, gostava da sinceridade no relacionamento deles. – Raramente menti pra você, mas nunca sobre mim. A minha vida que você conhece é exatamente o que aconteceu comigo. Eu sei que posso ser completamente franco com você e acho que a única pessoa que eu consigo falar sinceramente tudo que estou pensando sem ter medo de ser julgado é...
- Comigo. – comentou imediatamente. Em seguida, piscou para ele. – Eu sei, sou uma mulher maravilhosa.

Os dois imediatamente começaram a rir.

- Isso você é mesmo. – Sam teve que concordar, fazendo-a sorrir.
Apesar de toda a autoconfiança de , ela gostava de ouvir aquele tipo de comentário dele. Ela adorava saber que Sam a amava e admirava, gostava dos elogios espontâneos. Sentia que ele sinceramente se preocupava com ela.
sempre pensava naquilo, mas nunca falava... Entretanto, gostava de admitir a si mesma: podia passar o resto da vida ao lado de Sam.
- O que eu fico pensando é se algum dia na minha vida eu encontraria outra mulher tão maravilhosa quanto você. – Ele comentou sorrindo. – E, toda vez que penso nisso, a resposta é “não”. Porque acho que não existe nenhuma outra mulher como você nesse mundo.

imediatamente sentiu que estava ficando vermelha.

E quis bater em si mesmo. Afinal, quantos anos ela tinha? Por acaso era uma garota de doze anos ouvido o elogio do menino que tinha uma quedinha na escola?

- Bom, você está correto. Não dá pra ficar melhor que isso. – comentou, apontando para si mesma, fazendo-o rir mais ainda. Ela tinha que arranjar uma maneira de se controlar e começou a sentir as bochechas ficando vagarosamente geladas.

Um alívio.

- E, pra falar a verdade, acho que um homem não dá pra ficar melhor do que isso. – Ela fez questão de apontar para Sam. – Você é maravilhoso também. Acho que é por isso que estamos juntos, somos um casal maravilhoso.
- Nisso eu concordo. – Sam teve que concordar, jogando o cabelo levemente para os lados, fazendo-a rir. – Eu estava pensando esses dias... Se somos um casal tão maravilhoso, não faz sentido não passarmos o resto da nossa vida juntos, certo?
- Certo. – respondeu automaticamente. Mas só depois se tocou do que ele realmente estava falando. E entrou em choque.
- Por isso eu acho que deveríamos casar. Não acho que precisamos de uma cerimônia chique nem nada, mas queria oficializar isso. – Sam falou após respirar fundo. Enfim, parou de andar e ficou frente a frente com uma em choque. – Quero ter certeza que vamos passar o resto das nossas vidas juntos. Mas nem que esse “resto” seja só dez anos, eu quero ficar com você.

ficou algum tempo olhando para ele, digerindo tudo que Sam tinha dito.

- Eu também. – Ela respondeu finalmente. Em seguida, sorriu. – Eu também quero ficar com você.
Sam abriu um sorriso enorme. As mãos dele pararam de formigar e ele se sentiu aliviado como nunca.

Pedir uma mulher em casamento se provara ser uma tarefa mais complicada do que queimar um espírito.

- Ah, eu comprei um anel... – Ele comentou, tirando um simples anel do bolso do casaco. – Não é muita coisa, mas é melhor que nada.
- Eu adorei! – respondeu enquanto ele colocava o anel nela. A moça nunca imaginara que chegaria um dia que ela não conseguiria parar de sorrir, mas lá estava ela, sorrindo que nem uma besta. – A qualidade do anel não importa. O que importa é a gente.
Dizendo isso, ela o puxou para um beijo.
Diziam que caçadores não podiam ser felizes. Porém, naquele momento, ambos estavam radiantes.

E, meia hora depois, lá estava de volta ao quarto de motel de e Dean, dando a notícia para a irmã.
Claro, ela nem precisou dar a notícia. Logo que entrou no quarto, viu o anel e perguntou “o que diabos é isso aí?” sendo que, antes que tivesse uma chance de responder, apontou para a irmã e ficou boquiaberta.
- , você tá há cinco minutos assim. Tem certeza que tá tudo bem? – perguntou suspirando, mas rindo logo em seguida. Aquela, com certeza, havia sido a melhor reação.
- Você vai se casar! – respondeu, finalmente. Quando falara cinco minutos, não estava brincando. – Você e o Sam vão se casar!
- Sim! – A moça respondeu empolgada. – Por favor, diz que você tá feliz por mim! Não começa o discurso de “nossa vida é complicada e isso nunca vai dar certo”, só fala que você tá feliz...!
- Discurso? Que discurso?! – E parecia indignada. – Minha irmã vai casar! Dane-se a nossa vida complicada, você vai casar! Eu tô muito feliz!

Em seguida, foi abraçada por uma avalanche.

Já do lado de fora, as coisas estavam diferentes.

Porque Sam não deixou Dean entrar novamente no quarto e o irmão não tinha idéia do motivo.
- Sam, qual é o seu problema hoje? – Dean já estava de saco cheio, suspirando. – Não que você não tenha problemas em dias normais. Mas hoje, especificamente, porque diabos você não quer me deixar entrar no meu quarto?
- Eu preciso te falar uma coisa, Dean. Vai ser um choque. – Sam comentou calmamente, antes que o irmão resolvesse passar por cima dele e escancarar a porta do quarto. – E a já tá lá dentro contando pra , então preciso fazer minha parte.
- Tá. O que foi? Tô esperando você desembuchar há cinco minutos. – É. Dean não estava muito feliz naquele dia.
- Eu pedi a em casamento. Ela aceitou. – Sam falou de uma vez, antes que Dean pudesse falar mais alguma coisa. – Nós vamos casar.

Dean encarou Sam.

E Sam encarou Dean.

- Desculpa, o quê?
- Podia ter sido pior. – Sam considerou para si mesmo, sorrindo em seguida. Voltou a falar vagarosamente. – Eu vou casar com a .
- Eu entendi essa parte, não sou idiota, Sam! – Dean rolou os olhos. – E você não me falou nada?
- Hã?
- Você não me falou que ia pedi-la em casamento, seu irmão desnaturado e sem consideração!
- Não achei que você fizesse muita questão. – Sam deu de ombros. – E outra: você ia ficar me zoando durante uma semana.

Dean abriu a boca para discutir, mas fechou-a logo em seguida.

Sam tinha razão.

- Ok. Não tem como discutir essa. – Ele comentou, colocando as mãos nos bolsos do casaco de couro. Em seguida, olhou para Sam e sorriu. – Seu coração resolveu derreter?
- Pronto. Viu? Era por isso que eu não falei nada! – Sam rolou os olhos e Dean começou a rir imediatamente.
- Vocês podem comprar uma casa no subúrbio. Já até imagino a com aqueles aventais de cozinha, tirando um assado do forno enquanto você chega em casa, cansado do trabalho! – Sim, Dean estava se divertindo com aquilo.
- Dean... Cala essa boca. – Sam rolou os olhos, abrindo a porta do quarto.

E, quando o fez, encontrou e de mãos dadas, pulando para lá e para cá.

- Por que estamos pulando? – perguntou de repente, rindo.
- Não sei. Acho que a última vez que fizemos isso, eu tinha doze anos. – respondeu, rindo da bobeira das duas.
- Vocês não vão parar de pular, não? – Dean teve que perguntar, fazendo com que ambas olhassem para ele.
- Não! – E responderam juntas.
Sam só começou a rir. Não achou que ia ficar daquela maneira. E, se ela estava feliz, ele estava feliz também.

Não demorou para marcarem o casamento. Fizeram questão de casar em alguma praia na Califórnia, após pesquisarem um lugar que não teria muita gente. Marcaram para o fim da tarde, bem no comecinho da noite, quando as pessoas já decidiram ir embora da praia.
Além disso, separou um de seus melhores vestidos e forçou a fazer o mesmo. E, sob protestos da irmã, conseguiu enfiá-la em um vestido azul petróleo que ela não usava há muito tempo.
Mas, a parte mais importante, é que conseguiram convencer Bobby a realizar o casamento.

Sim, Bobby.

era revoltada contra a igreja. Sam praticamente não podia pisar em uma igreja sem entrar em combustão espontânea depois de tudo que fez. Então, além de se casar no cartório, a “missa” da praia seria feita por ninguém menos que Bobby.

Mas claro, nada disso poderia acontecer se não saísse do banheiro.

- Ô noivinha... – E estava à porta do mesmo, olhando o celular para checar o horário, já pronta.

Sim. Ela estava pronta antes de . Aquilo era um milagre.

- Anda logo! – Ela suspirou, guardando o celular na bolsa. Não gostava de vestidos por causa daquilo: sentia falta de bolsos. – Aposto que o Dean, o Bobby, o Cas e, principalmente, o Sam, seu iminente marido, já estão esperando lá na areia!
- Calma! – Ela ouviu a voz da irmã de dentro do banheiro. Após alguns segundos e muitos barulhos estranhos, abriu a porta com um sorriso imenso estampado no rosto. – Fala sério! Eu tô muito linda, não tô?
- Você vai casar de verde? – E estava achando aquilo muito interessante.
- É a cor da esperança! Acho válido... Além disso, todo Ano Novo...
- Você passa com alguma coisa verde, eu sei... – rolou os olhos. Quando percebeu que a irmã estava prestes a virar para o espelho mais próximo, o que implicaria em mais duas horas de indecisão e arrumação, ela agarrou a mão de . – Não há tempo pra isso! Você tá linda, gostosa e o Sam não vai te resistir essa noite! Vamos!
- Obrigada! Também achei que tô gostosa! – E a seguia até o Ninety-Eight. – E curti muito meu vestido verde, pra falar a verdade.
- É sensacional. – sorriu, largando-a, a fim de que a noiva entrasse no carro. – O que é mais sensacional é esse salto quinze que você tá usando.
- O que foi? – E esperou para reclamar, voltando a falar só quando ambas estavam dentro do carro. – O Sam tem dois metros de altura! Literalmente! Ia ser ridículo casar com ele sem salto!
- Nisso você tem um ponto... – ponderou. Em seguida, olhou para a irmã, já rindo. – Mas você vai casar na areia, né? Sapatos de salto não funcionam com areia...
Nesse momento, ela tinha certeza que já estavam vivendo há muito tempo com os Winchester, pois olhou para ela com uma cara de paisagem idêntica à de Sam. Enquanto ligava o carro, a única coisa que conseguia fazer era rir.
[n/a: Aqui eu tenho que fazer um mini comentário. O vestido verde de noiva imaginado é aquele usado pela Vee no filme Nerve. Ok, o vestido custa um fígado, mas é uma fic e faz bem sonhar de vez em quando! xD]

- Ela não chega. – Sam comentou apreensivamente.
- Ela vai chegar. – Dean respondeu desinteressadamente.
- E se ela desistiu?
- Ela não desistiu.
- Mas ela tá demorando. A não demora.
- A não. Mas a sim. E é ela que tá dirigindo, então com certeza vão atrasar.
- Mas mesmo assim... Não é normal da ...
- Sam, pelo amor do Chuck, ela não vai desistir do casamento de última hora!
- E como você sabe? – Sam colocou as mãos na cintura. – Por acaso virou médium agora? Tem poderes psíquicos?
- Não! O esquisito aqui que tinha visões e bebia sangue era você, lembra? – Dean rosnou de volta.

Sam estava prestes a responder, mas, quando menos esperavam, ambos levaram tapas na cabeça.

- Vocês dois, parem com isso! – Bobby surgiu com sua roupa mais formal e seu fiel boné esfarrapado. – Parece que têm cinco anos! Pelo amor de Deus, você vai casar e você vai ser padrinho do seu irmão e vocês estão brigando como dois velhos ranzinzas?!

Os dois ficaram quietos e olharam para os pés.

Era incrível o poder que Bobby tinha sobre os irmãos Winchester.

- Sua mulher vai chegar, Sam. Se ela não desistiu de ficar com você até agora, não vai desistir em cima da hora do casamento. Então sossega. – Bobby reclamou e, em seguida, virou-se para Dean. – E você... Seja legal com o seu irmão.
- Mas...
- Cala a boca, Dean. – Bobby respondeu imediatamente. Não ia deixá-lo falar e ponto. – O Sam teve coragem suficiente para pedir a mulher que ama em casamento. Agora você, vai precisar de um chute na bunda para parar de ser medrosinho e pedi-la em casamento.

E, assim, Dean ficou com cara de pastel enquanto Sam só ria.

Mas as risadas pararam rapidamente, pois o Ninety-Eight parou na orla da praia. De lá, saíram as duas e ficou responsável de carregar a própria bota e o sapato da irmã.

Sam ficou imediatamente quieto. Ela estava maravilhosa.

- Você quer música? – perguntou, olhando de soslaio para a irmã. – Posso colocar alguma música bem brega de casamento no meu celular...
- Cala a boca. – rolou os olhos. – Deixa eu ser feliz. É meu casamento.
Com isso, elas alcançaram o grupo. Bobby não queria admitir, mas estava muito orgulhoso dela. Ou melhor, deles. Não conseguia pensar em alguém melhor para Sam, tampouco alguém melhor para . Tinha certeza que ambos seriam muito felizes.
- Você tá linda. – Sam comentou sorrindo.
- E você tá bobo. – Ela respondeu rindo. Não podia fazer nada: ele realmente estava abobalhado.
- Bom, vamos começar antes que vocês comecem a se xingar. – Bobby declarou, limpando a garganta.
- Espera, espera! – Dean disse de repente. Enquanto todos olhavam, ele olhou para o céu. – Castiel, seu perdido! O Sammy e a vão casar! Desce aqui, besta!
De repente, Cas apareceu, com sua típica expressão de nada. Ele ficou observando o casal, enquanto todos observavam de volta.
- Vocês não me avisaram que iam se casar.
- Entra na fila, anjo. Você não foi o único. – Bobby resmungou. – Precisam chamar mais alguém? Deus talvez?
- Ah, eu amo o sarcasmo do Bobby... – sussurrou para Dean, já que resolveram, finalmente, começar a cerimônia improvisada. Ele só riu.
- Muito bem... – E Bobby tirou o boné.

Mas, antes que conseguisse começar, Castiel parou atrás de e Sam, bem no meio dos dois.

olhou por cima do ombro, incomodada.

- Cas... O que você está fazendo? – Ela suspirou. Se soubesse que seria tão difícil coordenar toda aquela galera, teria fugido com Sam para Las Vegas e casado com um Elvis rezando a missa.
- Quero dar minha bênção ao casamento de vocês. – Ele disse de maneira solene, não entendendo o motivo do desconforto.
- Você precisa dar a bênção daí? – Sam olhou para Cas, que estava perto demais até.

Castiel ficou alguns segundos em silêncio. Olhou para Bobby à frente do casal e, em seguida, para Dean e , parados ao lado de Bobby.

- Ah, entendi.

E tudo que pensaram foi: “Aleluia”.

Assim, Castiel foi até Bobby, parando ao lado direito dele – assim, poderia ficar de frente para e Dean.
- Agora vamos começar, porque já estamos enrolando demais! – Bobby comentou, limpando a garganta. – Estamos todos reunidos hoje para celebrar o casamento de e Sam Winchester. Dean, você é o padrinho, cadê as alianças?
- Mas já?! – Dean até estranhou. Não estava esperando que fossem cobrar uma atitude dele tão rapidamente.
- A gente não quer muita ladainha. – piscou para Dean. – Ninguém merece. Eu quero é casar logo e ir comer, isso sim.
- Ah, comidas de casamento... – suspirou, olhando para o céu com um par de olhos sonhadores.
- Ok, então. Alianças... – E Dean começou a procurar nos bolsos.
- Bom, enquanto o Dean procura, vou dizer algumas coisas... – Bobby começou a falar e já fez cara de dor. – Não adianta me olhar assim, mocinha! Vocês me chamaram pra juntá-los e eu vou fazer o meu trabalho! Eu só queria falar que o casamento é um dever entre as duas pessoas envolvidas. Vocês estão tornando essa união oficial e agora é pra valer. Vão ter que se aguentar na saúde e na pobreza e toda aquela ladainha que o padre fala na igreja quando o pessoal vai casar...

Enquanto isso, Dean ainda procurava as alianças. só olhou para ele com o canto dos olhos.

- Dean... Não vai me falar que você perdeu as alianças.
- Eu não perdi. Só não consigo achá-las. – Ele comentou seriamente. A moça só o olhou, indignada.
- Como assim, você não consegue achá-las?! – Sim, estava dando bronca em Dean por meio de sussurros, enquanto Bobby fazia seu discurso de casamento que parecia mais uma bronca.
- Para de brigar comigo e me ajuda!

E, assim, Dean e começaram a missão de procurar pelas alianças em todos os bolsos da roupa dele.

- Hmmm... Dá licença! – chamou de repente, fazendo com que ambos olhassem para o casal. – Tá tudo bem aí ou vocês precisam de um motel?
- Eu tô ajudando o Dean a achar as suas alianças, não começa a dar bronca, milady! – respondeu, vasculhando o bolso de trás da calça de Dean, enquanto ele procurava no bolso de dentro do casaco. – Achei!
- Eu falei para você colocar os anéis dentro de uma caixinha e no bolso do seu casaco, Dean... – Sam suspirou, pegando as alianças com o irmão.
- Não falou nada. E se falou eu provavelmente estava fazendo alguma coisa mais importante do que prestar atenção em você. – Dean respondeu sorrindo. Sam só lançou um olhar de morte. – O que foi? Os anéis estão aí! Você nem tem motivos pra brigar comigo!

Sam só rolou os olhos e entregou uma das alianças para .

- Resumindo o que os dois perderam: além da ladainha de casamento de gente normal, nós, caçadores, temos que lidar com outro tipo de coisa. – Bobby retomou o casamento. - Vocês literalmente vão ter que lidar com vida e morte, decisões difíceis e todos os tipos de horrores. Vai ser difícil e cansativo. Por isso, vão ter que se apoiar mutuamente pra aguentar a barra. E isso, tenho certeza que vocês vão conseguir fazer.
- Ah, Bobby... Você tem coração...! – comentou, fazendo-os rir. Entretanto, só fez isso para esconder que estava com lágrimas nos olhos. Rir a fazia perder a vontade de chorar.
- Ah, chega! Podem colocar as alianças e se beijar, porque eu...
- Espere. – Castiel segurou a mão de Sam antes que ele fizesse algo. Em seguida, pegou a aliança que segurava. – Vou abençoá-las.

Assim, Cas começou alguma reza em enoquiano. Eles ficaram completamente perdidos. Se fosse latim, até poderiam entender algo, mas enoquiano era além do conhecimento de todos.

As alianças brilharam com algumas letras em laranja e, em seguida, sumiram. Assim, Castiel entregou as alianças aos dois.

- Eles vão se casar com o Um Anel... – sussurrou para Dean.
- Já disse pra você ficar quieta, desgrama! – reclamou de volta, pegando a aliança de Sam.
- O que você fez? – Claro, Sam tinha que ser a pessoa interessada na reza enoquiana.
- É uma bênção. Enquanto vocês usarem as alianças de vocês, terão proteção divina. – Castiel esboçou um pequeno sorriso nos lábios. – Pelo menos, foi o que eu li.
- Leu? – E agora, também estava interessada.
- Sim. Na biblioteca celestial temos diversos livros para aprendermos essas coisas. – E, dessa vez, Cas sorriu de verdade. – Espero que seja útil.
- O Cas tá sorrindo. Hoje é realmente um dia de coisas inéditas. – sussurrou novamente para Dean, fazendo-o rir.
- Bom... Terminou? – Bobby perguntou a Castiel, que só confirmou com a cabeça. – Podem trocar as alianças e se beijar. Vocês estão casados.
e Sam fizeram exatamente o que Bobby mandou. Trocaram as alianças e finalmente se beijaram. Sam teve que abaixar consideravelmente para alcançá-la, enquanto teve que ficar na ponta dos pés e enlaçou o pescoço dele com os braços. Cansado, Sam a abraçou pela cintura e a levantou do chão – afinal, perto dele, ela era levinha.
De repente, sentiram várias coisas caindo sobre eles, como uma chuva. Sam a colocou no chão e ambos olharam em volta para ver o que tinha acontecido. Nisso, viram um monte de arroz espalhado pela areia, imediatamente olhando para .
- O que foi? Não fui eu, foi o Dean! – A moça apontou para o ser ao seu lado.
- Eu? Foi ela. – E ele apontou de volta para ela.
Sam e só riram e se voltaram para conversar com Bobby. Castiel já tinha sumido. Dean e guardaram seus saquinhos de arroz e esperaram até o casal recém-casado se movimentar para comemorarem o casamento em um dos restaurantes próximos do motel em que estavam.
- Ei, Cas! Pode voltar! Nós vamos comer hambúrgueres! – comentou e o anjo apareceu imediatamente.
- Já tinha sumido, né, imprestável? – Dean repreendeu o anjo perdido.
- Estava lutando contra alguns demônios. Mas acho que posso deixar isso de lado para comer hambúrgueres em comemoração ao casamento de vocês.
- Você é mais que bem vindo, Cas. – Sam respondeu, já começando a caminhar com até o carro. – Vamos?
- Dean... Sou só eu, ou eles estão indo até o meu Ninety-Eight...? – disse com receio, observando o casal que caminhava na areia.
- Querida, chegamos em um momento muito importante nas nossas vidas... E esse momento é: você vai ter que abandonar seu carro para os dois se apropriarem dele. – Dean comentou de maneira solene.

E teve a impressão que ia chorar.

- Em compensação, nós vamos ficar com o Impala. Porque ninguém encosta no meu Impala. – Ele piscou para ela. Sinceramente, ficou até com dó.
- Eu vou poder dirigir...?

Os dois ficaram alguns momentos em silêncio. Em seguida, Dean viu entrando no Ninety-Eight, no banco de motorista.

- Vai.
E ela só o agarrou e o beijou. Tinha perdido seu Ninety-Eight, porém ganhara um Impala.
- Ei, ! Para de beijar seu homem e me devolve meu sapato! – disse pela janela do carro. Sam só ria do lado de dentro.
- E você acha que vai para onde dirigindo com um salto quinze? – Dizendo isso, deu a volta no carro e entregou o sapato para Sam. – Não deixa a colocar o sapato. Tem um chinelo embaixo do seu banco e é isso que ela vai usar.
- Ok, pode deixar. Vamos cuidar bem do Ninety-Eight. – Ele piscou para a moça e ela só suspirou. Parecia que não, mas Sam entendera que ela teria que abandonar seu amado carro.
- Eu sei que vão. Senão, eu mato vocês dois. – disse com um sorriso doce nos lábios e dirigiu-se ao Impala.
- Agora vamos comer antes que o Cas comece a surtar! – comentou, mas recebeu um olhar de soslaio de Sam.
- O Cas? Quem tava morrendo de fome antes do casamento era você.
- Ninguém precisa saber, lindo. – Ela respondeu, dando partida no carro.
Entretanto, enquanto dirigiam até o restaurante, tiveram que admitir: aquele foi o melhor casamento que já tinham presenciado.


O casamento improvisado de Dean e Winchester

- Nossa, dessa vez eu tô cansada, Dean... – suspirou, saindo do Impala.
Dean tinha parado o carro no meio da estrada mesmo. Fazia algum tempo que o Impala vinha capengando e, aparentemente, o carro resolvera ficar temperamental no meio da estrada. Assim, ele parou o carro no acostamento para dar um tempo e ver se o Impala resolvia andar ou ia ficar com frescura.
Não que fosse reclamar. Do lugar que estavam, podiam ver Los Angeles inteira, com o famoso morro de “Hollywood” à distância. Ela se apoiou no capô do Impala e jogou a cabeça para trás.
- Não só você, linda. – Dean comentou de volta, tirando duas garrafas de cerveja do porta-malas. Apoiou-se no capô ao lado dela e estendeu a garrafa. – Acho que vou ficar uma semana sem caçar nada.
- O que é isso, meu Deus? Dean Winchester falando que vai tirar férias? – Ela fingiu estar impressionada, enquanto ele só lançava um olhar de repreensão para a moça.
- Você não pode falar nada, . – Ele deu de ombros. – Eu poderia tirar férias se você insistisse o suficiente...
- Ah, as pessoas se importam muito com férias. Eu gosto do que faço. – Ela deu de ombros, bebendo sua cerveja.
Os dois passaram alguns momentos em silêncio, observando as luzes de Los Angeles naquele início de noite. Já fazia quase um ano que Sam e haviam se casado e, naquele momento, ambos deveriam estar procurando por uma boa casa em algum lugar para morar. Não tinham parado de caçar, mas caçavam com bem menos frequência que antes.
Dean já tinha pensado naquilo. Na verdade, sempre tivera a impressão que jamais teria paz e morreria caçando, enquanto Sam teria uma boa vida – com casa, filhos, cachorros e um daqueles carros utilitários para levar todo mundo para lá e para cá. Mas, depois de conhecer , começou a mudar aquela visão de si mesmo.
Nesse aspecto, era igual a Dean. Sempre pensara que nunca acharia alguém que nem ele: que a amasse, que ela pudesse confiar e que não quisesse prendê-la em uma jaula. Assim, achara que morreria caçando sozinha, porém o destino colocou Dean no meio do caminho. E aquilo mudou todas as prioridades dela.
- Sabe... – A moça comentou de repente. – Eu sinto falta do meu Ninety-Eight.

Dean começou a rir. Era o último comentário que ele esperava.

- É sério! Aqueles dois estão viajando para lá e pra cá nessa mania de procurar o “lugar perfeito” para se estabelecerem. – Ela suspirou, tomando mais um gole da cerveja. – Imagina? Daqui a pouco eles vão ter filhos andando no meu carro. Crianças porcas comendo salgadinhos e derrubando tudo nos bancos.
- Isso é uma história de terror. – Dean apontou para o carro com a garrafa de cerveja. – O Sam derrubava coisas no Impala. Eu queria matar aquele desgraçado. Uma vez ele derrubou um burrito.
- Ah, não... – E ficou chocada, enquanto Dean só confirmava com a cabeça. – Ah, que nojo. Deve ter ficado cheirando a burrito durante um mês.
- Eu fui lavar o carro. – Ele respondeu seriamente, cruzando os braços. – E fiz o Sam pagar.
- Eu faria a mesma coisa. – E ela dava total razão a Dean.

E, novamente, ficaram em silêncio, observando a cidade.

- Vou sentir falta, pra falar a verdade. – Dean comentou, descruzando os braços. sorriu.
- Eu também. Não só do carro, mas da também. – Ela suspirou. Em seguida, espreguiçou-se. – Mas as coisas mudam. A vida continua e a gente não pode permanecer igual para sempre.
Dean olhou para ela enquanto falava. Ela tinha razão. Ele observou enquanto ela apoiava a cerveja no capô do Impala, respirava fundo, fechava os olhos e apoiava a cabeça no ombro dele.
- Eu estou cansada. – declarou, ainda de olhos fechados, porém sorrindo.
- Eu também. – Dean comentou de volta, segurando a cerveja com a outra mão e puxando-a mais para perto com a mão livre, repousando-a na cintura dela.
Apesar de estarem cansados da caçada do dia, estavam cansados da maneira como a vida deles estava. Caçavam há muito tempo e nunca se deram a oportunidade de sorrir. Sempre fizeram de tudo para que seus irmãos tivessem aquilo garantido, porém raramente pensaram nas próprias vontades.

E estava na hora de pensar um pouco neles mesmos.

- Eu acho que deveríamos nos casar. – Dean comentou de repente.

abriu os olhos e ficou observando Los Angeles, tentando decidir se Dean estava zoando ou se era verdade. Porém, quando ela olhou para ele – calmo, bebendo sua cerveja e observando a cidade com os olhos cheios de expectativa – percebeu que era sério.
- Eu também acho. – Ela respondeu sorrindo e voltando a apoiar a cabeça no ombro dele.

Ambos ficaram em silêncio, sem saber muito bem como reagir.

Eles iam se casar.

- Vamos chamar o Bobby pra fazer a cerimônia, que nem a e o Sam? – Dean perguntou rindo.
- Acho que é a melhor opção. – respondeu, também rindo. – Não faço a menor idéia do que fazer para o nosso casamento.
- Podíamos casar num cartório. – Dean deu de ombros.
- Podíamos casar em Vegas. – comentou despreocupadamente.

Nesse momento, ambos pararam de se falar e somente trocaram olhares, como se aquela tivesse sido a melhor idéia do mundo.

- A gente vai casar em Vegas. – Dean disse seriamente. – Sem discussões. Sem opções. Nosso casamento vai ser em Las Vegas.
- Eu nem me atrevo a discutir isso! – E ela começou a rir. – Só precisamos marcar o dia!
- E chamar o casal feliz, o Bobby e o Castiel. – Ele comentou, impressionado com a rapidez deles para decidir aquilo.
- Pronto. Nós vamos casar. – estava até mais impressionada que ele.
- Yep. Vamos casar.
Dean só sorriu e a puxou para um longo beijo.

Não passou muito tempo para e Dean terem que cancelar o casamento. Contaram rapidamente para Sam e – o que rendeu um “FINALMENTE” em alto e bom som de ambos – mas logo, os quatro foram chamados para um caso complicado.
Tinham que lidar com um grupo de, no mínimo, vinte e cinco vampiros morando na mesma casa. Era a primeira vez que viam tantos vampiros morando juntos. Portanto, decidiram lidar com isso antes de lidar com o casamento.

Porque, como era de se esperar, o casamento os assustava mais do que decapitar vinte cinco – ou mais – vampiros.

Após alguns dias de investigação e reconhecimento do local, decidiram que a melhor opção era infiltrar e na festa que ocorreria na mansão dos vampiros. Assim, elas poderiam tentar negociar a retirada destes com o chefe do ninho antes de saírem derrubando tudo.

Além disso, era uma ótima desculpa para ambas usarem seus melhores vestidos – vez que a festa era consideravelmente chique.

decidiu por um vestido vermelho sangue, que valorizava cada qualidade da aparência dela. Completou com um sapato de salto preto e uma bolsa grande o suficiente para colocar suas kodachi de matar vampiros e uma arma com balas de prata.
colocou um vestido azul marinho de veludo, com um decote considerável – o que quase fez Dean surtar de ciúme. Como ele sabia que ela o chutaria nas partes sensíveis ao primeiro sinal de ciúme, resolveu só observá-la de braços cruzados. Além disso, como a moça estava com preguiça de combinar sapatos, colocou um sapato de salto preto e – já que não tinha onde colocar sua katana própria para matar vampiros – usou uma cinta-liga para prender uma arma com balas de prata e sua fiel faca de combate.

Afinal, não esperavam que nada fosse dar errado.

O que foi um erro, pois ambas tiveram que ser grossas com o chefe do ninho, resultando em vampiros sedentos por sangue correndo atrás delas uma hora e meia após terem chegado.
Portanto, lá estavam as irmãs , correndo como se não houvesse amanhã, tentando alcançar o jardim da mansão. De lá, poderiam correr para o pequeno bosque que havia por perto, o que seria ótimo para despistar aquelas criaturas.
- Sério?! Você tinha que falar “me morde” pro chefe do ninho?! – perguntava para a irmã enquanto tentava ligar para Sam.
- Não me dá bronca! Você que falou pra ele que a gente podia “lidar facilmente com um bando de moreias molengas que nem eles”! – respondeu, levantando a saia, pegando a arma e dando um tiro certeiro em um vampiro que se aproximava.
Em seguida, ela puxou a irmã para o bar mais próximo, escondendo-se atrás deste. Alguns vampiros passaram reto, procurando por elas. tirou a faca da cinta-liga e a usou para fazer um racho no vestido, cortando-o desde a cintura até o fim da perna no lado direito. Em seguida, tirou os sapatos e jogou-os em um canto, prendendo o cabelo em um rabo de cavalo.
- Plano B, Sam. Deu tudo errado. – disse, enquanto observava a irmã, tentando entender o motivo daquele surto de retalhar o vestido. – Traz as armas. Vamos nos encontrar no jardim.

Quando viu que ia rasgar o outro lado do vestido, segurou a mão dela e desligou o celular.

- O que você tá fazendo, sua maluca?!
- Preciso me mexer de algum jeito! – reclamou, soltando-se da irmã. – Não dá pra me mexer com esse vestido!
- Pelo menos não retalha tudo! – E cortou o vestido da irmã, do lado que ainda estava inteiro, somente até metade da perna.
- Não vai funcionar. – deu de ombros e pegou a arma, atirando na testa de um vampiro que surgiu ao lado de para mordê-la. – Vamos!
- Você vai deixar os sapatos?! – A irmã perguntou, mas nem a respondeu. E, assim, correu atrás dela.
Quando chegaram ao jardim, não demorou para que encontrassem Sam e Dean.
- O que aconteceu? – Dean perguntou preocupado ao ver naquele estado.
- Tive que me virar pra conseguir lutar bem. Trouxe a minha katana? – Ela perguntou de volta, o que o fez sorrir.

Do ponto de vista de Dean, ela estava maravilhosa.

- Aqui, linda. – Ele entregou a arma para ela e, em seguida, já decapitaram dois vampiros que se aproximaram.

e Sam só rolaram os olhos. Eles precisavam de um terapeuta.

- E o Cas? Cadê? – perguntou logo que percebeu que o anjo estava sumido.
Afinal, era de interesse dele estar lá. Uma horda de vampiros sem nada pra fazer? Com certeza uma concentração de coisas maléficas que podia dar problema para um anjo.
Além disso, Castiel falara que os ajudaria quando precisassem lutar com os vampiros. E agora estava sumido.
- Boa pergunta. – Sam deu de ombros, decapitando mais um vampiro. – Castiel! Cadê você?!

Em seguida, como sempre, Cas apareceu. Pacatamente.

- Estava resolvendo alguns problemas com meus irmãos. Desculpem o atraso.
E, assim, prosseguiram com a missão de matar vampiros.
Tudo corria bem até Dean ter alguns problemas e quase ser morto por um dos vampiros. Ele conseguiu se safar e matou o desgraçado, mas finalmente percebeu que estavam enfrentando algo que não enfrentavam sempre. E que, se continuasse adiando o casamento para concluir caçadas importantes, ele e poderiam nunca se casar. Poderiam morrer em alguma caçada e nunca poderiam se considerar marido e mulher.
Portanto, após matar um dos vampiros que estava lhe dando trabalho, Dean foi até e a segurou pelo braço, fazendo-a olhar para ele.

- Vamos nos casar.

A moça o olhou durante um tempo.

- O quê?! Agora?!

- Sim. Agora.

E, ao dizer isso, Dean decapitou um vampiro que se aproximava para matá-la.

- Ok. – A moça comentou, entendendo o surto repentino de Dean. – Mas como? Quer dizer, o Bobby não está aqui para fazer a cerimônia!
- Eu sei como resolver isso, linda. – Dean piscou para ela e deu um beijo rápido na moça. Em seguida, ela se virou para atirar em um vampiro que corria até ela em uma velocidade frenética. – Cas! Você vai nos casar! Agora!
- Mas... Agora? – E Castiel também estava confuso com aquele pedido naquele momento tão inoportuno.
- Agora, Castiel! – E Dean virou para Sam. – Sammy! Eu vou casar!
- Agora?! – Sam ficou indignado. Tinha que ser o Dean para fazer uma loucura daquela.
- Será que vai ter alguém que não vai perguntar isso?!
- ! Eu vou casar! – gritou para a irmã. – Consegue segurar as pontas?!
- Vou fazer o meu melhor! – respondeu. Em seguida, riu. – Não podia escolher um momento melhor pra casar, não, sua louca?!
- Não! – E riu, atirando em um vampiro.

Em seguida, Castiel parou na frente dos dois, solenemente. Dean e ficaram observando o anjo. E Cas começou o casamento.

Em enoquiano.

- Ei, ei! Não pode ser em uma língua que a gente fala?! – Dean reclamou logo que o anjo começou.

Castiel suspirou.

- Vou fazer o meu melhor... Estava dizendo que estamos aqui reunidos para uma importante ocasião, a união das almas de duas pessoas que se amam: Dean Winchester e .
Após terminar essa frase, Dean teve que dispersar do grupo para atirar em um vampiro, enquanto foi para o outro lado para decapitar um vampiro próximo que queria arrancar a cabeça dela.
- Pode continuar rezando, Cas! Estamos ouvindo! – Ela comentou, retirando a katana ensanguentada do corpo do vampiro que jazia à sua frente.
- Mas vocês precisam estar na minha frente. – Castiel comentou com a expressão de uma criança que acabara de ser retirada da sua brincadeira preferida.

Dean e só trocaram olhares.

Depois de atirar em três vampiros, claro.

- Você precisa dificultar as coisas, né? – Dean rosnou, correndo até Castiel, assim como .
- Vocês que resolveram casar agora. A culpa não é minha. – Cas resolveu repreendê-los. E, realmente, a culpa não era dele.

Era de Dean.

Como sempre.

- Vou tentar resumir, já que vocês estão ansiosos. A união de vocês é sagrada. O casamento vai marcar o ponto em que ambos se comprometeram em apoiar um ao outro, independentemente da dificuldade apresentada. – E Castiel sorriu em seguida. – Acho que, nesse aspecto, vocês não terão problemas. Pelo que observei todo esse tempo, vocês podem ter suas diferenças e se divertem em discutir com o outro, mas jamais deixam de se apoiar e de se proteger. Ao meu ver, suas almas já estão unidas. Eu estou aqui somente para oficializar tal união.
Quando Castiel falou isso, e Dean começaram a sorrir. Em seguida, fizeram uma breve pausa para decapitar alguns vampiros e voltaram correndo até Cas, a fim de terminar o casamento.
- Muito bem, podem me dar as alianças.

Com isso, ambos se olharam, em choque.

- Não temos alianças! – declarou, observando Cas, como se o anjo pudesse resolver o problema.
- Então, Dean, você segura a mão esquerda dela com a sua mão direita. E , você segura a mão esquerda dele com a sua mão direita. – Castiel comentou, ajudando-os a fazê-lo, já que não tinha muito tempo para explicar.
- Você vai fazer um handfasting? – E teve que perguntar. – Não é um ritual pagão?
- É um ritual antigo. – Castiel corrigiu, lançando um olhar de morte para ela. – Vocês estão sem alianças, eu tenho que improvisar.
Assim, Cas segurou as mãos deles e fez a mesma bênção em enoquiano do casamento de e Sam. A única diferença é que e Dean sentiram as mãos ardendo.
- Ouch! Que porcaria é essa?! – Dean perguntou logo que Castiel soltou as mãos deles.
- A bênção de vocês está marcada em seus ossos, já que eu não tinha os anéis. – Castiel explicou placidamente, enquanto os dois o observavam, boquiabertos. – Dean, ... Declaro-os oficialmente casados. Podem se beijar.
- Bom, acho que se a gente quiser se separar, vamos ter que cortar nossas mãos fora, então. – comentou, fazendo Dean rir, enquanto Castiel só lhes lançava um olhar de morte.
Nisso, Dean foi para um lado, a fim de atirar em mais alguns vampiros, enquanto foi para o outro lado, empunhando sua katana. Em poucos segundos, somente sobraram poucos vampiros, que estavam mais preocupados em fugir do que lutar.
Antes que pudesse matar o último vampiro, Dean segurou a mão dela que empunhava a katana e a ajudou a decapitar o vampiro em questão.
- Eu conseguia lidar com ele sozinha. – Ela comentou, virando-se para ele. – Mas obrigada.
Dean limpou alguns respingos de sangue que ela tinha no rosto.
- De nada, linda.
E assim, puxou-a para um longo beijo de casamento.
- Terapeutas. Eles precisam de vários... – comentou, observando-os com carinho, enquanto limpava suas kodachi.
- Precisam mesmo. – Sam comentou silenciosamente, sem falar mais nada em seguida.

E olhou para ele. Uma lágrima solitária escorria no rosto de seu marido.

- Sam... Você tá chorando? – Ela estava sorrindo com aquilo. No fim, a manteiga derretida da relação era ele.
- Estou. – Ele respondeu rindo e olhando para ela. – Pelo amor de Deus, não fala nada para o Dean.
- Pode deixar. – E ela piscou para ele.


O momento secreto da Lua de Mel de e Dean

- Os dois tinham que esquecer as armas no Ninety-Eight? – perguntou retoricamente pela vigésima vez, enquanto Sam dirigia o carro.
- Até agora não entendi como eles fizeram isso! – Sam riu para si mesmo. – Quer dizer, eles amam essas armas mais do que eles mesmos! São tipo... Bichinhos de estimação!
- Exato! – E rolou os olhos. – Pra mim, isso vai ser sempre um mistério sem fim!
- E eles não vão voltar cedo pra casa do Bobby... – Sam suspirou. – É melhor devolvermos mesmo. Se conheço esses dois, a Lua de Mel deles vai ser correndo por aí atrás de criaturas para matar, de mãos dadas e sorrindo enquanto AC/DC toca ao fundo.
- Nossa, é a cara deles fazer isso! – riu só de imaginar a cena, enquanto Sam riu ao vê-la sorrindo. – Em compensação a nossa Lua de Mel foi sensacional.
- Yep. Sempre quis ir ao Caribe. – E Sam lançou um sorriso safado para ela. – Se bem que a gente não gastou muito do nosso tempo fora do quarto.
- Verdade! – comentou com falsa inocência, fazendo-o rir. – Precisamos voltar lá pra apreciar a vista um dia desses!
Nisso, o celular de começou a apitar. Ela pegou o objeto e notou que já tinham chegado ao motel que, segundo o GPS do celular de , era onde ela e Dean estavam. Segundo ele, os dois iam fazer uma pequena viagem de estrada para finalmente passarem alguns dias em algum hotel mais chique nos campos do Texas.

Provavelmente, passariam os dias comendo churrasco, tomando cervejas e discutindo sobre suas músicas favoritas de rock.

Após matar um ou dois lobisomens no caminho, claro.

- É nesse motel mesmo? – Sam perguntou e confirmou com a cabeça. Logo que entraram no estacionamento, viram o Impala e não tiveram mais dúvidas que eles estavam lá. – Pega as armas, querida?
- Yep. – E ela piscou para Sam, sorrindo. Adorava quando ele a chamava daquela maneira.
Entretanto, logo que saíram do Ninety-Eight, começaram a ouvir uma música com uma batida forte tocando. Não parecia rock, mas sim... Pop.

Sam e trocaram olhares.

Pelo visto, só havia e Dean naquele motel. Isso se evidenciava com a única janela iluminada com as cortinas abertas.
Os dois se aproximaram vagarosamente, estranhando.
- Sam, é minha impressão ou eles estão escutando... – Mas, antes que conseguisse completar sua frase, Dean e apareceram na janela.
Os dois estavam evidentemente bêbados, com garrafas de cerveja em mãos e ambos sem camisa – sendo que usava um sutiã preto de renda. Parecia que queriam dançar que nem os garotos do Clube dos Cinco, um atrás do outro, dançando como se não houvesse amanhã.

‘Cause the players gonna play, play, play, play, play
And the haters gonna hate, hate, hate, hate, hate
Baby, I’m just gonna shake, shake, shake, shake, shake
I shake it off! I shake it off!

e Sam ficaram encarando a janela, sem acreditar no que estavam vendo.

Alguns segundos depois de sumirem, e Dean reapareceram na janela, cantando alegremente e dançando completamente desconjuntadamente. Sam estava boquiaberto, olhando para em seguida e encontrando a esposa com a mesma expressão dele.
Dean, atrás de , apoiou o braço no ombro dela, tomando mais um gole da sua cerveja e jogando a garrafa vazia longe. Ela acabou com a própria cerveja e fez o mesmo. Assim, com a mão livre, Dean a segurou pela cintura e os dois ficaram dançando. Muito alegres.
Após um tempo dançando assim, ambos se viraram de frente um para o outro e ficaram fazendo coreografias estranhas enquanto cantavam a música inteira.

Shake it off! Shake it off!
I, I!
Shake it off! Shake it off!
I, I!
Shake it off! Shake it off!

- Eles estão dançando Taylor Swift. – comentou seriamente.

Em seguida, olhou para o marido.

E ambos começaram a rir como nunca.

- Acho que não os conhecemos tão bem assim! – Sam respondeu ainda rindo.
- Você tem um envelope? Podemos deixar as armas aqui na porta. – Ela comentou, olhando para os dois dançando alegremente no quarto, completamente bêbados. Começou a rir novamente. – Eu ia odiar acabar com isso.
- Eu também. Vamos.
No dia seguinte, e Dean acordaram morrendo de dor de cabeça, jogados na cama, com uma ressaca terrível. Quando Dean abriu a porta – pois se trancara no banheiro para um banho gelado pós-ressaca, incumbindo-o da importante missão de buscar café forte e amargo para acordá-los – ele descobriu um envelope com as armas deles dentro, deixado na soleira da porta.
E riu ao ver para quem estava endereçado: Dean e Swift.


A notícia de gravidez nada sutil de para Dean

não se sentia bem há muitos dias. Não achara que era algo muito preocupante até achar que a carne maravilhosa que Dean fazia de fim de semana estava com um gosto estranho e até meio metálico.

Ela não conseguira comer.

Com isso, soube que algo estava errado. Mas a mulher decidiu ignorar os sinais até assistir um filme com Dean e ficar cheia de lágrimas nos olhos.
Paladar estranho. Mudanças de humor. Enjoo constante. Vontades esquisitas em horários inconvenientes.

Todos os sinais estavam lá.

Assim, quando Dean saiu para uma caçada, ela decidiu fazer o necessário: um teste de gravidez.
E ficou umas duas horas encarando o palito do teste quando este deu o resultado.

Positivo.

Ela nem pensou muito. Como Sam tinha viajado com Dean, só havia uma pessoa que poderia ajudá-la a colocar a cabeça no lugar: .
Sendo assim, deixou todas as suas coisas para trás e caminhou pela rua, carregando somente o palito do teste. Nem sabia se tinha trancado a porta de casa. Só sabia que queria chegar à penúltima casa da rua, a casa de .
Afinal, Dean e Sam jamais conseguiriam morar distantes um do outro.
A mulher ficou batendo à porta até abrir a mesma, com cara de que ia matá-la.
- Que foi, mulher? Vai derrubar a porta agora? – perguntou, porém a irmã só entrou em casa sem cerimônia, deixando-a com cara de pastel.
fechou a porta e a seguiu, encontrando-a em pé na sala de estar, encarando algum ponto vazio no horizonte.
- O que aconteceu, ? Alguém morreu? – Agora sim ela estava preocupada. A irmã só se comportava daquela maneira quando alguém morria. Literalmente.

Porém, só se virou para ela e mostrou o palito.

- Segundo isso aqui, eu tô grávida.

E encarou o palito.

Em seguida, encarou a irmã.

- Ai meu Deus! – E finalmente conseguiu sorrir, dando até um pulo com a surpresa momentânea. – Então você e o Dean realmente decidiram!
- Claro que sim! - cruzou os braços. – Chegamos à conclusão que nunca íamos sossegar se continuássemos só nós dois. Sei lá, para nós, estarmos casados e caçarmos juntos dá na mesma. Vamos continuar caçando e nos colocando em risco enquanto não formarmos uma família efetivamente. Por isso, decidimos que tava na hora de termos um filhote.
- “Filhote”. Exatamente a palavra que eu ia escolher pra descrever essa situação. – comentou, carregada de ironia. – Mas qual é o problema? Você não parece muito feliz.
- Eu tô feliz! Eu tô radiante! – E, por mais que tentasse identificar algum tipo de sarcasmo na frase da irmã, não achou nada. estava falando sério. – Mas não faço idéia de como contar isso pro Dean! Quer dizer, até pra mim isso aqui foi um soco no estômago!
- Ok, primeira coisa... Para de agitar o palito por aí. – fez o favor de tirar o palito da mão da irmã. – Segunda coisa... Respira fundo e pensa: como você pretende contar isso para o Dean? Olha pra minha cara, finge que eu sou o Dean e me dá a notícia.

colocou as mãos na cintura, olhou para baixo e respirou fundo. Em seguida, olhou seriamente para a irmã.

- Dean. Eu tô grávida.

Silêncio.

As duas ficaram se encarando durante alguns longos segundos.

- Nossa. Parece que você vai falar pra ele que tá com câncer terminal. – finalmente declarou.
- Não parece!
- Parece sim! – E ela rolou os olhos. – Você tá grávida! É uma notícia feliz! Não precisa se comportar como se você estivesse com tuberculose no Moulin Rouge!
- Mas eu não sei como vou falar com ele! Querendo ou não, é uma notícia tensa! Eu não sei como o Dean vai reagir!
- Com certeza ele não vai ficar com essa cara de enterro que você tá! – começou a rir. Para uma coisa tão simples, a irmã era tão tonta.

Agora, se você a jogasse no meio de três lobisomens, ela tiraria de letra.

- Eu não tô com cara de enterro, só tô preocupada...
Mas, nesse momento, ambas foram interrompidas pelo celular de .
A mulher olhou para o celular, desesperada. Quando viu que o número era de Dean, jogou o aparelho em cima de .
- Atende! Atende!
- Mas é o seu marido!
- Eu não tô em condições!

Falando isso, , em um ato muito adulto, saiu correndo para a cozinha.

E ficou com a clássica expressão de paisagem de Sam, parada na sala, enquanto segurava o celular escandaloso.
- Alô? – Resolveu atender, antes que Dean começasse a ficar apocalíptico achando que tinha morrido. – Oi, Dean!
- ? Tá tudo bem? – Sim, Dean apocalíptico.
- Tá tudo ótimo. A tá cozinhando aqui em casa e não pode atender. – E aquela desculpa era bem plausível, pois elas adoravam cozinhar juntas. Depois que resolveram comprar uma casa e sossegar um pouco, claro. – Que foi?
- Estamos voltando. – Ele declarou e ela estacou no meio da sala. – A caçada não demorou tanto assim. Já estamos na metade do caminho. Acho que chegamos aí em uns dez minutos.

ficou em silêncio. Se escutasse aquilo, provavelmente ia roubar as chaves do Ninety-Eight e sumir durante um mês.

- ? Tá aí?
- Ah, oi! Tô sim! A quase destruiu um pote com a forcinha descomunal dela, mas tá tudo certo. – Ela riu nervosamente, tentando esconder a pilha de nervos que estava. – Ok! Eu aviso a , sem problemas.
- Obrigado, não vejo a hora de chegar em casa.
E desligou o celular, olhando para a cozinha.

- ... Temos um problema.

A cabeça da irmã surgiu à porta da cozinha.
- Não me diz isso, Houston!
- Temos sim... Lembra que eles iam voltar só amanhã?
- Não me fala que eles vão voltar hoje...! – E praticamente galopava até ela.

- Eles vão voltar em uns dez minutos.

ficou boquiaberta na sala.

- DEZ MINUTOS?!
- Calma...
- DEZ MINUTOS?! EU NÃO CONSIGO DECIDIR O QUE FALAR PRA ELE EM DEZ MINUTOS, MULHER!
- CALMA!

colocou as mãos nos ombros da irmã e olhou-a diretamente nos olhos.

- Vai pra casa. Respira fundo. Treina na frente do espelho. Escolhe a melhor frase e vai. – comentou e a irmã já abriu a boca para comentar algo, mas ela não deixou. – Não importa o que você falar, . O jeito que você falar, vai ser a melhor maneira a comunicar isso. Pensa que é um dia importante pra vocês e, a partir de agora, a vida de casal nunca mais será a mesma. A vida de vocês não será a mesma. De qualquer jeito que você falar, vai ser perfeito. Agora VAI!
E saiu correndo.

As mãos dela estavam suando. A mulher respirou fundo e ficou encarando o próprio reflexo no espelho.

- “Dean. Eu tô grávida”.

Continuou se encarando durante alguns segundos e, em seguida, rolou os olhos.
- Realmente parece que tô falando que tô com câncer terminal. Não dá.
Assim, ela passou os próximos minutos andando pela sala, tentando achar a melhor maneira de dar aquela notícia.
- “Dean... Você vai ser pai”! – sorriu para a parede. Em seguida, fechou a cara. – Pelo amor de Deus, eu pareço uma psicopata sorrindo desse jeito. Vamos lá... “Dean, eu fiz o teste e estou grávida”!
E encarou algum ponto perdido no teto.
- Talvez seja melhor eu contextualizar o que me levou a fazer o teste... Ou melhor não, é muita informação e o Dean vai ficar perdido. – Ela balançou a cabeça e olhou para o chão, colocando as mãos na cintura. Respirou fundo. – Ok! Vamos treinar! “Dean, vamos ter um filho”! Não, ficou péssimo!
Assim, olhou para a parede novamente, sem nem perceber o barulho do Impala estacionando na garagem.
- É melhor eu falar direto ou ser mais cuidadosa? – E se encarou no espelho novamente. – O Dean não vai entender se eu não for direta.
Ela ficou séria novamente.

- “Dean, eu tô grávida”. – Em seguida, rolou os olhos e saiu andando pela sala. Resolveu sorrir para ver se mudava alguma coisa. – “Dean, eu tô”...

- Grávida. Eu entendi da primeira vez.

A voz de Dean ressoou como um eco pela sala. se virou para a porta de entrada da casa, dando de cara com o marido – um tanto sério e chocado, para falar a verdade – encarando-a de volta.

Ela deu um sorriso nervoso em seguida.

- Acabei de fazer o teste. Não sabia como te contar.
- Então é verdade? – E agora parecia que Dean não conseguia acreditar nos próprios ouvidos.
- Claro que é, seu tonto. Você acha que eu ia brincar com esse tipo de coisa? – colocou as mãos na cintura e já estava mais aliviada, agora rindo da cara dele.

Pois parecia que Dean estava extremamente feliz.

- É sério?! Eu vou ser pai?!
- Yep! Vamos ter um filhote de Winchester daqui nove meses! – Ela respondeu e sorriu mais ainda quando viu o tamanho do sorriso que Dean abriu.
- Nós vamos ser pais! Sua linda! – E ele saiu correndo até a mulher, abraçando-a de uma maneira que até a tirou do chão.
só o abraçou de volta, rindo da felicidade de Dean. Afinal, ele sempre fora um cara bem familiar. Ela sabia que Dean queria ter alguém para dar continuidade ao nome Winchester. Além disso, sabia que ele queria montar uma família: com uma esposa que pudesse ser uma mãe tão boa quanto Mary, ele como um pai tão bom quanto e até melhor que John e um filhote para levar uma vida normal – como eles jamais puderam ter.
Além disso, falavam que teriam um filhote, pois, para ambos, não importava se iam ter uma filha ou um filho: seria um Winchester e era isso que importava. Eles seriam oficialmente uma família.
- Vamos ter que fazer nosso melhor para sermos pais normais! – Dean riu para ela, ainda a girando no ar.
- Não precisamos ser normais, Dean. Só precisamos ser exatamente da maneira que somos. Isso já é o suficiente. – respondeu, beijando-o na testa, enquanto Dean só ria.
Afinal, se Dean fosse ser exatamente da maneira que ele era em relação aos futuros filhos, sabia que ele iria amá-los incondicionalmente – como Dean fazia com todos que considerava família.


A notícia de gravidez genial de para Sam

finalmente entendera a reação da irmã.

Lá estava ela, apoiada na pia do banheiro, encarando o palito de teste que dizia “positivo”.

O pequeno Jimmy, filho de e Dean, já estava com um ano e meio. Depois que ela e Sam viram que ele fizera com que seus irmãos finalmente virassem uma família, decidiram que estava na hora de assumirem a responsabilidade também.

Era hora de decidir que a vida deles iria mudar e nunca mais seria como antes.

se olhou no espelho novamente e começou a sorrir. Tinha certeza que Sam seria um pai sensacional.
Mas precisava pensar em como contar aquilo para ele. Portanto, resolveu manter aquele fato em segredo e ir até a irmã dar as boas novas.

- Oi! – estava com um sorriso radiante nos lábios. até estranhou toda aquela alegria ao abrir a porta.
- Nossa, o que aconteceu? – A irmã perguntou rindo, deixando entrar na casa. – Vai me dizer que você achou um caso que só nós duas podemos solucionar e os dois vão ter que ficar em casa cuidando do Jimmy!
se virou rindo para , achando que ela estava brincando. Porém, quando viu a cara da irmã – toda a expectativa nos olhos, o sorriso no rosto – percebeu que ela estava falando sério.
- Ainda não, . O que foi? Você não gosta de ficar aqui cuidando do Jimmy?
- Adoro. Mas mereço férias de vez em quando... – suspirou e as duas ouviram um baque alto vindo da sala. – JIMMY!
Na mesma hora, as duas saíram correndo e encontraram o garoto no chão, aos pés do sofá, tentando se levantar. o agarrou imediatamente e começou a procurar hematomas em todos os cantos da criança – principalmente na cabeça.
- Você se machucou? Tem que tomar cuidado com o sofá, Jimmy! Já falei pra não tentar dar cambalhotas lá...!
se sentou em uma poltrona e ficou observando. Realmente, parecia que a irmã não tinha uma noite decente de sono há um ano e meio.

Agora entendia o motivo de toda a animação de com uma possível caçada.

- Quando você tiver filhos, nunca deixe que eles fiquem sozinhos em um sofá sem supervisão. Essas coisinhas amam dar cambalhotas no sofá e se esborracham. – suspirou e se sentou, colocando Jimmy no chão e deixando-o correr pela sala. – E precisa tomar cuidado quando eles são bebês, porque o osso do crânio não tá formado e a cabeça é mole. Daí qualquer batidinha pode causar um machucado muito sério.
- Como você sabe disso? – ergueu a sobrancelha. Nunca achou que e Dean seriam pais tão responsáveis e preocupados.
- O papai me contou uma vez. Acho que você tinha saído e eu fiquei em casa assistindo ER com ele, daí ouvi várias aulas de medicina do nosso ilustre pai. – Ela comentou, rindo junto com a irmã. Era a cara do pai delas fazer aquilo. – Enfim. Você tem alguma coisa pra me contar, não?
- Sim! Eu tô grávida, ! Acabei de fazer o teste! – respondeu prontamente, com um sorriso imenso no rosto. Não aguentava mais segurar aquilo.

só ficou encarando-a, boquiaberta.

- Sério?! – A irmã finalmente perguntou quando saiu do choque. só confirmou com a cabeça. – Poxa, por que você não parecia que tava me falando que tava com câncer terminal?
E começou a rir mais ainda.
- É um talento natural! – Ela respondeu jogando os cabelos para o lado, fazendo rolar os olhos enquanto ria.
- E você já decidiu como vai contar pro Sam?
- Tenho uma idéia...
Assim, começou a contar a própria idéia, enquanto corria pela casa atrás de Jimmy para que o pequeno garoto não batesse a cabeça em nenhuma quina de algum móvel.

Sam e Dean já tinham voltado da última caçada. Como sempre, Dean resolvera fazer um churrasco para os cinco – já que Jimmy fazia parte da família – a fim de conversarem e beberem como pessoas normais.
E, claro, tomava várias cervejas enquanto Dean só bebia uma ou duas. Ela falava que era para compensar o tempo que ficara sem poder beber durante a gravidez e a fase de amamentação.

Dean simplesmente não podia reclamar daquilo.

Durante todo o jantar, entretanto, deu pelo menos umas vinte indiretas para , a fim de descobrir se a irmã já tinha contado a novidade.

Mas não.

Para ser sincera, queria fazer as coisas com calma. Assim, pediu para a irmã se acalmar e deu tempo ao tempo.
Em seu tempo livre, comprou a caneca que queria dar para Sam e, com uma caneta especial, escreveu no fundo desta: “você vai ser pai, Sammy”!
O plano agora era encher a caneca de café e esperar Sam se tocar.
Ela esperou um final de semana pacato para tal. Dean, e Jimmy haviam deixado a cidade para uma viagem em família – ou melhor, para passear com calma e em silêncio, enquanto Dean cuidava de Jimmy – então o momento era perfeito.
- Hoje é dia de Jogo da Vida, não? – Sam perguntou animado enquanto entrava na cozinha.
Tinha saído para resolver alguns problemas no Ninety-Eight, mas agora já estava tudo bem. Portanto, teriam tempo de sobra para eles.
- Achei que você tinha esquecido! – deu de inocente, já que o Jogo da Vida fazia parte de seus planos.
- Claro que não! Faz tempo que não temos um tempo pra sentar e nos divertir. – Sam a abraçou por trás, dando um beijo no pescoço da moça. – Tá fazendo alguma coisa importante?
- Não mais importante que você. – Ela respondeu, beijando-o na bochecha. – É café. Quer?
- Com certeza! – Ele sorriu de volta. – Vou pegar o jogo e montar o tabuleiro na sala, pode ser?
- Ok, eu já vou pra lá, querido.
E, com um beijo no topo da cabeça de , Sam deixou a cozinha. Ela sorriu, pegando a caneca que tinha feito para ele. Após o café ficar pronto, encheu o recipiente até metade, indo até a sala em seguida e encontrando Sam sentado no chão, com o tabuleiro já pronto em cima da mesinha de centro.
- Obrigado! – Ele disse ao pegar a caneca. – Você não vai querer?
- Ah, não. Já estou suficiente acordada. – Ela respondeu sorrindo. – E meu carro é o verde, nem se atreva.
- Eu sei, eu sei, não precisa me morder... – Sam riu, tomando um gole de seu café e estendendo o carrinho para .
- Já arrumou o banco?
- Ainda não, calma...
Enquanto Sam arrumava, cuidava do tabuleiro. Ele nem percebera que ela colocara no carro, além do pino rosa que a representava, um pino azul ao lado dela e mais um pino rosa atrás dos dois.

Sendo assim, ela deixou seu carrinho montado no ponto de partida, enquanto Sam simplesmente colocara seu carrinho só com um pino azul, sendo ele mesmo.

Sam quase chegara ao fim do café quando terminou de arrumar todas as notas e seguros para poderem começar o jogo. E, quando olhou para o tabuleiro, olhou para em seguida e sorriu.
- Não pode começar com uma família. Trapaceira. – E Sam apontou para o carrinho, pegando sua caneca. – Pode tirar todo mundo do carro.
- Ah, mas achei que ia ser legal jogar já na minha realidade. – Ela deu de ombros, em falsa inocência. – Não é o Jogo da Vida? Então, essa é a minha vida.
- Ah, santa... – Ele lançou um sorriso safado para ela. Em seguida, olhou para o carrinho, enquanto bebia seu café. – Eu entendo você, entendo o pino azul ao seu lado, apesar de achar que seu pino devia ser cortado pela metade pra combinar com o seu tamanho ao meu lado, mas e esse rosa...? É a ? Se for, tá faltando o Dean também.
- Não é a . – respondeu com um sorrisinho no rosto, perguntando-se quanto tempo ele demoraria para perceber.
- Hmmm... – Sam franziu as sobrancelhas, pensando. Tomou mais um gole de café e finalmente pensou no que aquilo podia significar.

Por coincidência, a epifania dele coincidiu com o fim do café, revelando a mensagem no fundo da caneca.

Você vai ser pai, Sammy!

Ele colocou a caneca sobre a mesa imediatamente e olhou para ela, em choque.

E começou a rir imediatamente.

- É verdade?! – Sim, ele estava em choque.
- Yep. Vamos ter um mini Winchester! – comentou, ainda rindo da cara de desorientado de Sam.

Parecia que ele tinha bebido três vodkas na noite anterior e acordado no meio de uma floresta desconhecida, vestido de cowboy.

Era esse o tamanho do choque de Sam.
Após alguns segundos, ele olhou para ela e sorriu.
- Nós vamos ser pais! – E finalmente parecia que ele tinha entendido o que acontecera.
No momento seguinte, o Jogo da Vida já estava esquecido. Sam abraçou e ficou algum tempo murmurando um monte de coisas idiotas, pensando em como aquilo mudava tudo... E em como ele estava feliz em finalmente ter uma vida normal. Enquanto isso, só sorria: se Sam estava feliz, ela também estava.


Bunker dos Homens das Letras – Atualmente

- Mãe... – Jimmy suspirou ao ouvir as histórias. – Você é uma pata de elefante.
- Eu sei. – sorriu de volta para o filho. – Por que você acha que é assim?

Todos começaram a rir, enquanto o garoto só rolava os olhos.

- Não entendi por que vocês não me contaram a história da gravidez inteira. – Mary olhou para os pais, agora já mais calma.
- É que só depois eu fui pensar que o jeito de contar para o Sam foi um pouco... Demais. – respondeu rindo. – As outras mães me olhavam estranho quando eu contava essa história. Então, resolvi ficar só com a mensagem na caneca.
- Como se as outras mães pudessem falar alguma coisa! – Sam se manifestou. – É sério, eu ouvi de uma que comprou todo o enxoval, montou o quarto do bebê e, quando o marido chegou em casa, havia coisas de criança por todos os lugares da casa. Isso é assustador. O que você fez foi fofo.
- Eu sei. – Ela sorriu para Sam. – Mas vai entender. Acho que todo mundo só queria achar algum defeito na gente.
- Foi meloso mesmo, se vocês querem saber. – Dean deu de ombros, ainda esquentando os pés de . Era incrível, aquela mulher parecia uma morta viva sem um pingo de sangue no corpo. – Imagina o tempo e o trabalho pra pensar em tudo isso!
- Mas é a cara da , pra falar a verdade. – deu uma pequena risada. Dean só olhou para ela. – O que foi? Ela sempre gostou do Jogo da Vida. Fazíamos maratonas disso em casa. Enquanto vocês apostavam em pôker, nós apostávamos nisso. Achei digno. E o Sam tem razão: eu conheci mães com histórias assustadoras.
Jimmy e Mary só trocaram olhares. As tais “histórias assustadoras” deveriam ser as clássicas coisas de filme de comédia romântica que a maioria das pessoas gostava. Em seguida, começaram a rir. Seus pais realmente eram estranhos.
- Pelo menos eles têm uma história bonitinha. A sua é um desastre, mãe. – Jimmy comentou ainda rindo. só deu de ombros, rindo de volta.
- Ah, mas não ache que a sua mãe se deu por vencida, Jimmy. – Sam comentou de repente. – Ela deu um jeito de remediar essa notícia bruta. E, pra ser sincero, eu achei épico.
- Ah, meu Deus! É verdade! – exclamou, rindo logo em seguida.
- Eu gostei do jeito que você remediou. – Dean piscou para e ela só agradeceu, sorrindo.
- O quê? O que a tia fez? – E Mary já estava quase morrendo de curiosidade. Odiava quando eles começavam a rir e esqueciam de contar as coisas.
- Sabe aquela expressão de que grávidas têm um “pãozinho no forno”? – perguntou para Jimmy e Mary, que só confirmaram com a cabeça.
E começou a rir, fazendo com que retomasse a história.
- Bom, uma semana depois da minha notícia bruta, eu fiz um pão, coloquei numa caixinha e entreguei para Dean, com um cartãozinho escrito “querido, eu estou com um pãozinho no forno”. – sorriu ao terminar de falar.
Mary imediatamente começou a rir e Jimmy só ficou encarando a mãe. Alguns segundos depois, começou a rir também.
- Ok. Você se superou com essa... – O garoto comentou, lembrando-se que a mãe gostava de cantadas e frases bregas.

Afinal, todo o estoque de coisas bregas que ele tinha – cantadas, frases, filmes e músicas – foi herdado dela.

- Mas o pão tava uma delícia. – Dean comentou suspirando. – Era de cerveja. Será que tem cerveja nesse lugar?
- Não deve ter mais nada por aqui... – suspirou, já começando a sentir falta da comida.

Afinal, precisavam alimentar seus filhos. Aquele dia tinha sido uma correria e mal comeram. As refeições consistiram de salgadinhos e refrigerantes. Só.

- Hmmm, falando nisso, foi você que ficou com vontade absurda de comer batatas durante a gravidez, não? – Dean perguntou para , deixando os filhos ainda mais interessados naquela história.
- Sim, foi ela. – Sam respondeu, claramente incomodado com aquele fato. – Batatas. Vários tipos. Fritas, assadas, em purê, em forma de salgadinhos... Ela só comia batatas. Durante duas semanas, eu só preparei batatas para ela.
- Foi a melhor fase da minha vida... – comentou com um olhar sonhador. – E aquelas batatas com bacon? Ah, uma delícia... Hmmm, e nem vem reclamar, porque o da foi pior.

Nisso, houve uma pausa. Mary e Jimmy só olhavam os pais com expectativa, sem nem falar nada para que eles não desanimassem de contar.

- Abacaxis. – disse finalmente. – Eu fiquei com desejo de abacaxis.
- Eu tive que comprar duas caixas de abacaxis pra você uma vez... – Dean suspirou, como se aquilo tivesse sido o mais difícil de aguentar durante a gravidez da mulher. – Só tinha abacaxi naquela casa.
- Eu vou fazer o quê? Aqueles abacaxis com canela e mel eram uma delícia... – Ela comentou, sonhadora. – E seu filho ia nascer com cara de abacaxi se você não tivesse comprado tudo isso.
Permaneceram em silêncio novamente. Jimmy e Mary pareciam assustados.
- Sério? – Jimmy tomou coragem de perguntar.

Afinal, era uma lenda urbana. E eles sabiam muito bem que lendas urbanas poderiam ser reais.

- Não sabemos. E não quisemos testar. – Sam disse categoricamente. – Ou você teria nascido com cara de abacaxi e a Mary com cara de batata. Se é verdade ou não, pode ter certeza que evitamos.
- Olha, eu já tava com fome antes e toda essa conversa tá me dando mais fome ainda. – Dean comentou, ajeitando-se na cadeira. – Precisamos decidir quem vai sair pra comprar comida e quem vai ficar aqui pra proteger o bunker e esses dois inconsequentes.
- Ah, sempre podemos pedir para o Cas. – Mary deu a idéia brilhante, enquanto Jimmy já rezava ao lado dela, pedindo para que Cas trouxesse alguns hambúrgueres.

Agora que sabiam que o anjo era fã de fast food, era como ter um delivery de hambúrgueres vinte quatro horas por dia, de qualquer lugar do mundo.

- Coitado. Ele está nos ajudando a lidar com essa situação, não cobrem muito. – Sam comentou, mas foi interrompido por uma presença.
- Vocês pediram comida?

E lá estava Castiel com várias sacolas nas mãos, trazendo os mais variados tipos de hambúrgueres que pôde encontrar.

- Cas... Você é demais! – Mary exclamou, correndo junto com Jimmy para ajudá-lo a colocar os pacotes sobre a mesa.
Enquanto isso, Castiel só abriu um grande sorriso em resposta. Ficava feliz em fazer parte da família.





Sunburn – Muse

Como o caso em questão foi muito complicado, decidimos dividir as anotações. Então cada uma vai escrever o que aconteceu, pra ficar mais fácil de anotar e lembrar tudo – .

Nossas férias na Disney não duraram tanto. Claro, acabamos nos divertindo como o esperado – e Dean parecia uma criança feliz sem precedentes, arrastando a de um lado para o outro. Entretanto, logo tivemos que voltar para a vida real e, como sempre, Bobby já tinha uma bíblia de casos que poderíamos escolher para aquela semana.
No fim, escolhemos um caso bem simples. Como tínhamos acabado de voltar de férias, queríamos algo calmo para engatar novamente no ritmo frenético das caçadas anteriores. Então, nada melhor do que um quadro amaldiçoado que estava matando quem quer que fosse seu dono no momento, certo?

Pois é. Foi o que pensamos.

Como eu disse, um cara tinha comprado um quadro – um retrato de uma moça, pintado por seu pai – e, após alguns dias, o homem foi brutalmente assassinado, teve seus olhos arrancados e havia sangue por todos os lados da galeria de arte na qual ele resolvera expor aquele troço.
Daí você deve estar se perguntando: “mas , como pode ter tanto sangue se só havia um cara morto e ele teve os olhos arrancados”?
Esse é o ponto da coisa. A gente não sabia exatamente no que estávamos nos enfiando. Achamos que era um caso bem simples, que era só tacar sal e botar fogo naquela coisa e voltar para a casa do Bobby, mas estávamos redondamente enganados.

Eu nunca me arrependi tanto de ter ido numa caçada.

Sério. A está quase esfaqueando tudo que faz barulho agora que voltamos vivos, por sorte, para a casa do Bobby. Eu não tô soltando do braço do Sam.
E, se você acha que nós duas somos medrosas, parece que nem o Dean nem o meu querido Sam dormem há mais de dois dias. Ambos estão com olheiras enormes, parecem super cansados e ficam alerta com qualquer barulho.

Acho que, daqui a pouco, o Bobby vai fazer um dia inteiro de terapia conosco para voltarmos a conviver em sociedade.

Bom... Enfim. Lá estávamos nós, já na cidade do cara, prontos para comprar aquele quadro maldito. e Sam se disfarçaram de colecionadores de arte – porque a desenha, então ela sabe falar algumas coisas técnicas de traços, e o Sam... Bom, vamos combinar que ele é mais refinado que o Dean e parece muito mais com uma pessoa que colecionaria arte – e lá foram eles à galeria de arte tentar comprar o negócio.
- Você acha que eles conseguem? – Perguntei ansiosa para Dean, enquanto esperávamos dentro do Impala.
Sim, ainda estávamos fazendo a “caravana do Impala”. Como o Ninety-Eight tinha acabado de se recuperar, a queria que ele ficasse um tempo sem fazer viagens longas, a fim de preservá-lo. Afinal, o carro ainda precisava se acostumar com o fato de andar novamente.
- Com o jeito de bicha do Sam, ninguém vai duvidar. – Dean deu de ombros e continuou a prestar atenção à revista que lia. Eu só lancei um olhar para ele, claramente julgando-o.

Sério? Ele veio chamar o Sam de bicha na minha cara?

- Que foi? – Ele me perguntou de volta quando percebeu o olhar. – É verdade! Você pode estar namorando o cara, mas há de convir que o Sam tenha os seus momentos!
- E você é um bruto, Dean. – Comentei, rolando os olhos. Era melhor prestar atenção à saída da galeria de arte. – Nem sei como a te aguenta.
- Porque a sua irmã é bruta também. – Dean comentou com um sorriso. – Ela não curte bichisse que nem você.
- Ah, tá! – Respondi, rindo. – Você ficaria impressionado de saber o que ela curte, Dean Winchester!
- Hã? Como assim? – Agora sim eu tinha a atenção do senhor Dean. E era exatamente o momento de não lhe dar atenção e só sorrir. – , para de me ignorar! Como assim? Responde, mulher!
- Tá vendo? Bruto. – Dei de ombros e continuei a observar a rua. Dean estava quase surtando.

Era engraçado até. Bem engraçado.

- Ok. Você não vai falar e eu vou começar a dirigir. – E agora ele estava bravo. – Se eles precisarem de ajuda urgente, vão ter que se virar sozinhos.
- Você não abandonaria o Sam em uma situação de perigo dessas! – Eu disse de maneira injustiçada. Não acreditava que Dean estava fazendo aquele joguinho comigo.
- Ele é grandinho e sabe se virar com um quadro amaldiçoado. – Dean deu de ombros.

E deu partida no carro.

- Ok, ok. Você venceu... – Suspirei, admitindo a derrota. Ele imediatamente desligou o carro, com um sorriso enorme no rosto.
Não sei como a aguentava aquele homem. Eu queria arrancar aquele sorriso dos lábios dele a bofetadas.

Eu também tenho vontade de arrancar esse sorriso besta dos lábios dele. Com meus dentes. – , .

- Duas palavras, Dean... – Comentei em seguida. – Novela. Coreana.

E ele parecia pasmo.

Até demorou um pouco para voltar a Terra.

- O quê?! – Sim, Dean estava indignado. E eu estava contente. – A assiste à novela coreana?
- Nós assistimos. Como se fosse jogo de futebol. – Respondi sorrindo. – Você precisa ver a torcida que fazemos.
E Dean ficou em silêncio, passado, ao meu lado. Eu só queria rir, mas resolvi respeitar o momento de choque dele. E ficamos daquela maneira até, finalmente, e Sam saírem da galeria.
- E aí? Demoraram dessa vez, hein? – Perguntei, debruçando-me para olhar para os dois no banco de trás.
- Venderam a porcaria do quadro. – respondeu sem muita alegria.
- Pra vocês...? – Eu arrisquei, erguendo uma sobrancelha.
- Não. Antes de chegarmos. – Sam estava com aquela expressão de quando ele ficava muito fulo da vida. – Ficamos todo esse tempo tentando convencer o cara que administra o lugar a nos dar o nome da pessoa, mas ele foi um idiota irredutível. Não conseguimos nada.
- Nada? – Sim, eu estava em choque. – Nenhuma informação que presta?
- Bom, calma... – suspirou e tirou o celular do bolso. – Lembra que eu fiz aquela mistura química há um tempo pra substituir o luminol?
- Hmmm, espera... Luminol é aquele negócio que quando você borrifa numa superfície e ilumina com luz negra reage com sangue e sêmen, certo? – Perguntei e ela só confirmou com a cabeça.
- Então, o Sam conseguiu tirar o cara da sala que ficava o quadro e eu borrifei o protótipo de luminol, rezando pra que ninguém tivesse limpado o lugar com cândida ou algo do tipo... – E, após procurar algumas fotos, ela me entregou o celular. – Consegui tirar uma foto do padrão do sangue. Do monte de sangue que havia no lugar.
Eu observei a foto com cuidado. O sangue parecia ter escorrido pela parede em grande quantidade e formado uma enorme poça no chão. Em locais aleatórios, havia marcas de pés, como se alguém tivesse pisado naquela poça e andado para lá e para cá.

Horrível.

- Mas espera... O sangue escorreu do quadro? – Eu tive que perguntar.
- É o que parece. – Sam bufou de volta. – Eu não quero assumir nada logo de cara, mas parece que esse quadro sangra. Há muito mais sangue aí do que o total de litros que há dentro de um ser humano. Não dava para o cara sangrar o tanto que sangrou se esse sangue que escorreu da base do quadro e formou a poça no chão fosse dele.
- Credo... – Comentei, devolvendo o celular pra . – Então vamos ter que arranjar um jeito de achar o quadro.
- Yep. – Ela respondeu, com um pequeno sorriso nos lábios. – Por sorte, conseguimos o nome da tela, do cara que a pintou e o ano em que foi feita. Anotei tudo nesse papelzinho.
- Ótimo! Então vamos à biblioteca pesquisar! – E sim, eu já estava animada novamente.

Afinal, parecia que ia dar pra terminar tudo logo e tirar um pouquinho mais de férias logo após aquele caso.

- Hã, , que eu mal lhe pergunte... – Sam chamou, debruçando-se para chegar mais perto de nós duas. – O que diabos aconteceu com o Dean?
E, quando olhamos para o ser em questão, ele ainda encarava a rua com um olhar distante, em choque. Comecei a rir imediatamente. Afinal, não sabia que aquela revelação ia ser tão bombástica para Dean Winchester.
- Ah, eu só contei para ele algumas verdades sobre a minha querida irmãzinha. – Olhei para Sam, contendo um sorriso. Ele só começou a rir de volta.

E já lançou um olhar de morte para mim.

- O que você falou dessa vez?!
- Segredo de Estado. Só o Dean poderá te revelar. – E parecia que ele não ia fazer aquilo muito cedo.
- DEAN! ACORDA! – Claro, a Miss Simpatia da minha irmã deu um tapão no banco de Dean, fazendo-o acordar. Ele olhou assustado para ela. – Temos que ir pra biblioteca! E o que a te falou dessa vez?!
- Biblioteca? – Ele perguntou confuso. – Ok, não vou nem discutir. Você tem muita coisa para explicar, mocinha.
E ficou boquiaberta no banco de trás, enquanto Dean só dirigia, com a expressão mais séria do mundo no rosto. Eu olhei para Sam pelo retrovisor e, imediatamente, começamos a rir.
Não sabia que Dean ficaria tão indignado ao saber que minha irmã tem um coração.


- Ok. O que estamos fazendo aqui mesmo? – Foi só o Dean perguntar que eu já comecei a rir.
Era a quinta vez que ele perguntava. Havíamos acabado de entrar na biblioteca e o homem não retivera uma resposta que demos para ele.

Eu não conseguia lidar com aquilo.

- Sam, o irmão é seu... – Dei um tapinha nas costas de Sam, pois os ombros estavam fora do meu alcance. – Se vira.
- Obrigado... – Sam suspirou, parecendo que ia ser um martírio.

Aqueles dois eram ótimos. Feitos um para o outro.

- Eu ainda vou descobrir o que você falou para ele. – comentou séria, fuzilando-me com os olhos. Em seguida, entregou-me um pedaço de papel com algo escrito. – O nome do artista que pintou o quadro é Albert Baker. A tela se chama “Oculus Eternus” e é de 1879. Vê se consegue achar alguma coisa... Porque acho que o Sam vai ficar um bom tempo explicando para o Dean tudo que tá acontecendo.
- Não é possível. Você acha mesmo que ele não ouviu o que falamos no carro? – Eu perguntei para e a criatura somente apontou para os dois. Assim, mudei minha atenção para Dean e Sam, pegando-os no meio do assunto.
- O quadro sangra? Mas que porcaria é essa? – E Dean parecia muito indignado com aquele fato, exatamente da mesma maneira que eu fiquei quando fiquei sabendo daquilo.
- Yep. E, aparentemente, é uma piscina de sangue. – Sam respondeu, suspirando.
- Ok. Essa é a primeira vez que pegamos uma loucura dessas. – Dean ergueu as sobrancelhas e ficou encarando Sam. – Mais alguma coisa?
- Ah, sim... – E Sam voltou a falar sobre o caso.
- Ok, você me convenceu. Eles vão passar um tempo considerável aí... – Suspirei e olhei para minha irmã. – Não achei que o Dean ia ficar tão em choque de saber que você assiste novelas coreanas junto comigo.
- Você contou isso pra ele? – perguntou de volta e eu já achei que ela ia pegar a cadeira mais próxima para me agredir. Mas, em seguida, ela começou a rir. – E ele ficou desse jeito? Ah, essa foi sensacional!
- Tá vendo? Obrigada por concordar comigo!
- Um dia temos que assistir juntas quando eles estiverem no quarto. Acho que vão ficar chocados durante um mês! – Ela comentou, já caminhando para uma das estantes da biblioteca e ainda rindo.
- Um mês é pouco! Eles vão precisar de um semestre inteiro!
Assim, nós duas conseguimos começar nossa busca ao tal do “Oculus Eternus”- o quadro que sangrava e, de quebra, matava pessoas.


Se você acha que fazer o Dean captar tudo que estava acontecendo e compreender, ao mesmo tempo, que a tem coração era uma tarefa longa e difícil, então achar algo sobre aquele quadro era algo homérico.
Não tinha nada escrito em lugar nenhum sobre o quadro, sobre o pintor ou sobre aquele ano. Folheamos livros e livros de arte, mas não havia nenhuma informação que prestava.
Eu estava quase desistindo, sinceramente. Resolvi pegar um livro sobre Monet e apreciar aquelas pinturas, pois não iríamos chegar a lugar nenhum. E eu estava bem confortável lá no meu lugarzinho, até a cabeça de Sam surgir no meio das estantes.
- !

Eu só fiquei observando aquele homem. Mais discreto, impossível.

- Acho que encontrei algo!
- Aleluia! – E eu guardei meu livro, indo até Sam. – Sério. Eu não aguento mais procurar esse quadro maldito!
- Você não é a única. A estava batendo no Dean, porque ele dormiu em cima de um livro. – Ele suspirou e eu só comecei a rir.
- Tá vendo? Foi bom ela começar a namorá-lo. Agora quem tem que lidar com essas coisas é a , não você. – E pisquei para ele. Sam só riu.
- Ainda bem. Se eu tivesse que aguentar isso aí por mais tempo, teria uma síncope. – Nisso, ele apontou para Dean, que esfregava os olhos e lia um livro aleatório enquanto a só ficava sentada ao lado dele, lendo seu livro e fazendo questão de encarar Dean de vez em quando. Realmente, um casal perfeito. – Mas enfim. Achei um livro local que tem fotos de quadros e artistas da região.
- Ah, então o quadro é local? – Perguntei e imediatamente Sam fez que sim com a cabeça, entregando-me um livro aberto.
- Aqui. “Oculos Eternus”, Albert Baker, 1879. – Sam apontou a página da esquerda e eu comecei a ler.
Na verdade, acho que fiquei um tempo encarando aquilo lá sem saber o que falar. O quadro era um tanto... Assustador. Era de uma mulher, sentada em uma poltrona enorme, bordô meio desbotada. O fundo era escuro, a mesa ao lado dela era escura, as cortinas nas janelas eram escuras... E o vestido que ela usava era cinza chumbo. A mulher era pálida, quase como um cadáver, assim como seus lábios. Os cabelos eram ralos, castanhos, presos em um coque e com fios rebeldes descendo pelas laterais do rosto. Uma das mãos ossudas repousava em seu colo, enquanto a outra segurava um copo de ferro negro sobre a mesa. Ela não tinha expressão.
Mas, acho que o que mais me deixou desconfortável foi o olhar. Os olhos dela eram leitosos, provavelmente era cega. Pareciam cobertos por um fino véu opaco. O olhar era vazio, porém incomodava... Era como se a mulher estivesse viva, encarando-o com seu olhar que nada enxergava.

Olhei para Sam. Encarar aquela mulher estava me deixando desconfortável.

- Esse quadro dá medo. Essa mulher é assustadora. Por que as pessoas querem essa porcaria? – Yep, eu estava indignada. Ele só me lançou um sorriso sem humor.
- Você sabe como colecionadores são. Quanto mais mistério, maior o valor da peça. – E ele apontou para o texto no livro que eu só passara os olhos sobre. – Algumas pessoas que compraram o quadro morreram. Com esse tipo de lenda por trás, vários compradores surgem.
- As pessoas não têm medo de morrer não...? – Suspirei na minha pergunta retórica.
- Cada vez mais eu questiono a sanidade da humanidade. Mas fazer o quê, é o trabalho. – Sam deu de ombros, observando-me em seguida. – A gente pode sair pra tomar um chocolate quente depois, se você quiser.
- Porque só chocolate quente pra me consolar em relação à estupidez da humanidade... – Comentei rindo, fazendo-o sorrir. – Eu quero sim. Obrigada.

Em seguida, voltei a observar Dean e enquanto devolvia o livro para Sam. Os dois ainda estavam lá.

- Você contou para eles sobre o que achou? – Ergui uma sobrancelha e perguntei ao ser gigante ao meu lado.
- Ah, ainda não... – Ele suspirou, cruzando os braços em seguida. – Acho que vou deixar o Dean sofrendo mais um pouco com a bibliotecária sem misericórdia ao lado dele.

Quando pegou um livro fino e deu na cabeça de Dean para que ele acordasse, comecei a rir imediatamente.

- Você é ruim, Sam...
Assim, nós nos sentamos à mesa ao lado e resolvemos conversar sobre aleatoriedades até ficarmos com dó do tanto de broncas e tapas que Dean já tinha levado.


Não foi uma ideia muito inteligente fazer aquilo com os dois, para falar a verdade.
Simplesmente, porque o Dean achou alguma coisa relevante e resolveu não nos contar quando percebeu que seguramos a informação só pra ele sofrer nas mãos da .
E você acha que a minha irmã ia tomar o nosso partido e falar para o Dean parar de se comportar que nem uma criancinha chateada e compartilhar a informação dele?

Não.

Minha irmã olhou para mim. Sorriu. E proferiu a seguinte palavra:

- Vingança.

E foi embora.

Aquela mulher tem um coraçãozinho cruel, minha gente. Algo que eu deveria ter aprendido depois de conviver tanto tempo com ela. Ao contrário de mim, a não é muito ligada nessa coisa de vingança – porque eu sou estilo Paola Bracho: mexeu comigo, minha vingança será maligna. Porém, dona guarda o rancor numa caixinha e, se surge uma oportunidade de se vingar, ela irá agarrá-la com unhas e dentes.

E sorrir, ainda por cima.

Então lá estava eu e Sam, sentados numa lanchonete, esperando os dois pedirem as comidas de todo mundo no balcão e nos trazer quando ficassem prontas. E, claro, e Dean estavam conversando animadamente – provavelmente sobre armas, facas, carros ou bandas – e não davam a mínima se estavam demorando ou não.
- Ah, aqueles dois vão ficar namorando no balcão durante horas, né...? – Suspirei, olhando para o teto.

Paciência. Era disso que qualquer ser humano precisava para lidar com a .

Agora, lidar com a e o Dean juntos? Era necessário ser a reencarnação do Buda!
E Sam só começou a rir.
- Aqueles dois vão ficar enchendo nosso saco pelo resto do dia. – Ele respondeu, ainda sorrindo. – É nossa função fingir que não tá funcionando. Daí eles param.
Ele só deu de ombros enquanto eu continuava a observá-lo.

O Sam era o Buda.

Não era possível.

- Olha, querido, você pode ter paciência para lidar com esses dois... – Comentei, apontando para os seres no balcão, que davam risada como nunca. – Mas eu não tenho! Quero arrancar aquele sorriso da boca deles com uma cadeira na cara!
- ... – Sam suspirou, sorrindo para mim. Sinceramente, eu tinha até um pouquinho de medo quando ele falava plácido daquela maneira comigo. – Você tá de TPM?
- O quê?! – E agora, eu estava indignada.
- TPM. Você só fica descontrolada dessa maneira quando está de TPM. – Ele respondeu como se não fosse nada de mais. Eu só continuei encarando. – E já tá quase na época, não?
- E eu vou saber? – Perguntei de volta, cruzando os braços.
Claro que eu ia saber. Sempre anoto meu ciclo em um calendário – algo que a minha ilustríssima irmã se recusa a fazer e daí sempre fica com aquela cara de pastel de “nossa, já se passou um mês desde a última vez”?

É. Sempre que ela vai num médico e perguntam o ciclo para ela, a criatura dá de ombros e responde “aproximadamente”. É muito difícil lidar com ela.

Mas, naquele momento, eu a queria de volta. Queria agarrar a e sair correndo com ela. “Mas, por quê?”, você deve estar se perguntando.

O Sam sabia que eu estava de TPM. Ou seja, ele tinha um pouco de ideia do tempo que durava meu ciclo e quando eu ia ficar meio descontrolada por causa dos hormônios se revoltando dentro de mim. E isso quer dizer que ele me conhece.

Ele me conhece muito bem.

E aquilo era demais para eu lidar no momento.

Por sorte, todos esses pensamentos demoraram somente alguns segundos e os dois namoradinhos do balcão resolveram voltar com os nossos pratos – COMO SE NADA DE MAIS ESTIVESSE ACONTECENDO.
- Demoraram, né?! – Perguntei imediatamente, fingindo que estava surtando com eles e não por causa da minha epifania do meu relacionamento com o Sam.
- Me processa. – A linda da me respondeu sorrindo.

Eu queria esganar aquela criatura.

- Então...! – Sam chamou atenção, antes que eu matasse todo mundo. É lindo como aquele homem sempre ficava responsável por colocar panos quentes e evitar desastres entre nós quatro. – Vocês vão nos contar o que acharam ou vão continuar se comportando que nem duas crianças?
- Não sei. Eu gosto de me comportar que nem criança. – E Dean enfiou umas três batatas fritas na boca de uma vez, sorrindo para nós em seguida.
Eu só rolei os olhos, perguntando-me como a aguentava aquela mania de porco dele.
Até que vi a criatura em questão bebendo cerveja, direto da garrafa, como uma viking.

Eles se completam.

- Dean... – Até Sam estava saindo do sério com aqueles dois. Ele suspirou e se apoiou na mesa, cansado.

Gente. Pro Sam sair do sério, precisa de muito.

- O Dean pesquisou sobre a família no Google. – começou a contar e eu já quis esganá-los de novo.
- No Google?! – Perguntei, indignada. Enquanto isso, a besta da só sorria. – A gente lá, procurando na biblioteca, fazendo um super esforço e vocês procurando no Google?!
- “Nós” não. O Dean. – Ela apontou para o dito cujo, que já estava na metade do sanduíche com somente duas mordidas.

Algo impressionante, para falar a verdade.

- Ou era isso, ou ele dormia no meio da busca. – deu de ombros. E, realmente, ela tinha um ponto.
- Encontrei que o último membro da família Baker, Jake Baker, comprou o tal quadro assombrado por uma quantia absurda, falando que não queria que mais ninguém morresse por sua maldição. Achei até o endereço. – Dean comentou, jogando um papel para Sam. – Só não entendo o motivo de tanto fuzuê em torno dessa coisa. A pintura é feia, cara. Aquela mulher é feia. Quem paga tanto por um troço horrendo daqueles?
- Seres humanos, Dean. Não dá pra entender. – concluiu, suspirando. Ele só deu de ombros, concordando com ela. – Hmmm, outra coisa... Eu dei uma olhada nos artigos de jornal sobre as vítimas do quadro. Pelo que percebi, além de todas serem donas do quadro em algum momento das suas vidas, também tinham em comum o fato de não usar óculos.
- Mas o que isso tem a ver? Afinal, não usar óculos é bem comum até. – Franzi as sobrancelhas. Ou aqueles dois queriam nos perturbar, ou era uma conclusão além das informações que eu tinha.
- Todas as pessoas que foram donas do quadro e não morreram, usavam óculos. – olhou para mim e piscou. – Acho que não é só uma simples coincidência.
- Não mesmo... – Sam resmungou e me entregou o papel de Dean, com o endereço do tal do Jake Baker. – Acho que precisamos pesquisar melhor sobre a família Baker e descobrir de quem é o retrato. Além disso, precisamos conversar com esse Jake. Teremos que nos separar amanhã.
- Eu não quero chegar perto dessa porcaria desse quadro sem um isqueiro numa mão e um pote de sal na outra! – Já me manifestei, a fim de não discutirmos sobre aquilo. – Quero pesquisar. Vou pra biblioteca amanhã e nenhum de vocês vai me segurar!
- Ok, sem problemas! – Dean deu de ombros, sorrindo para logo em seguida. – Então nós dois vamos atrás do Jake, querida. Pronta pra fazer churrasquinho de espírito se for necessário?
- Eu levo o isqueiro, você leva o sal. – Ela piscou de volta para Dean, fazendo com que ambos começassem a sorrir.

Eu suspirei. Precisava pagar terapeutas para os dois. Eles ficavam muito felizes com aquele tipo de situação.

- Hmmm, , preciso ir ao banheiro. – Comentei de repente e ela só ficou olhando para mim. Afinal, aquele era o momento mais discreto para conversar com ela sobre a minha epifania do Sam.
- Ok. Eu levanto. Você vai lá. – E a criatura não entendeu nada do que eu queria.

Às vezes, a dona consegue ser muito lerda com indiretas. A mulher realmente não capta muitas delas.

- Você precisa ir também? – E lancei um olhar significativo.

Daí a tonta me entendeu.

- Ah, sim. Já voltamos, homens. – Ela levantou casualmente, deixando as coisas sobre a mesa. Pelo menos a é discreta quando percebe. – E Dean... Encosta no meu sanduíche pra você ver o que eu faço com você.
- Que medo... – Ele comentou de volta com um sorriso de escárnio no rosto.
A somente segurou a mão dele e o olhou diretamente nos olhos.
- Lembre-se que eu posso te algemar na cama quando eu quiser e fazer o que eu quiser com você. E eu posso ser bem cruel. – Nisso, ela sorriu e soltou a mão dele.

Dean só ficou encarando-a, boquiaberto.

- Então, comporte-se.
- Sim, senhora. – E parecia que Dean ia babar no chão enquanto a ia até o banheiro.
Eu só olhei para Sam e ambos tivemos que segurar risadas. Acho que era seguro dizer que deixar o Dean daquela maneira era algo raro. Bem raro.
Mas aquilo não durou muito, pois logo que chegamos ao banheiro, a se virou para mim e cruzou os braços.
- O que foi? Tá tudo bem?

protetora mode on.

- Mais ou menos... Eu tô meio desesperada, . – Suspirei e olhei para ela, que me encarava em expectativa. – O Sam me perguntou se eu tô de TPM. Ele disse que meu temperamento só fica assim na TPM. E ele sabe que eu tô mais ou menos nessa época, o que indica que o Sam sabe mais ou menos quando é meu ciclo!
- Que lindo! Ele já virou mocinha! – E a besta resolveu me zoar. Eu só lancei um olhar de morte enquanto a criatura riu de volta. – Qual é o problema, ? Isso mostra que ele realmente se importa com você! A relação de vocês não é mais brincadeira! O Sam realmente te conhece, porque qualquer que passa bastante tempo com você sabe quando você tá de TPM.
- Por que você e o Dean não são assim também?! – Eu perguntei cruzando os braços. Sim, estava brava.
- Querida... Se eu não sei em que dia meu ciclo tá, você acha que o Dean vai saber? – Ela riu de volta. – E outra, minha TPM não é que nem a sua.
- Porque você tá sempre de TPM.
- Touché. Mas é isso mesmo. – E deu de ombros. – Sério, desapega. Não vejo motivos pra surtar.

Eu suspirei e joguei a cabeça para trás. Em seguida, olhei para ela de volta.

- Até agora eu não tinha percebido o quão séria era a nossa relação... – Comentei, observando os dois conversando na mesa. – Não que eu não leve o Sam a sério... Mas, por algum motivo, isso me fez perceber que não estamos brincando de namoradinho, não estamos no colegial com o garoto perfeito de filminhos de romance. Realmente temos uma vida juntos. E nos conhecemos. E eu não sei se estava pronta pra isso agora.

E, quando olhei novamente para a , a criatura me encarava com um olhar de morte e os braços cruzados.

- Você tá vindo me falar que você não estava pronta para ter um relacionamento sério com o Sam?! – Sim. Ela estava puta. – E você acha que eu estava pronta com o Dean? Eu me opus a isso com todas as minhas forças, pois sabia que era a coisa mais idiota que podíamos fazer nas nossas vidas! Mas quer saber? O amor é idiota. Nunca vamos saber por que nos apaixonamos, nem o motivo de nos apaixonar no momento em que ocorreu. Só sabemos que acontece e a única coisa que podemos fazer é lidar com isso. Eu definitivamente não estava pronta pra isso. Mas aconteceu, né?
Não tinha nem como discutir, ela tinha razão. Quando a terminou de falar, ficamos observando Dean e Sam conversando juntos na mesa da lanchonete. Alguma coisa fez com que eles dessem breves risadas e continuassem a conversa. Eu só sorri, pensando que lidar com aquilo não era bem um problema.
- E eu fico muito feliz que tenha acontecido... – Ouvi a resmungando ao meu lado.

Mas, quando me virei para falar com ela, a criatura já estava caminhando de volta à mesa.

Eu comecei a sorrir. Apesar de ser de supetão... Também estava feliz que aquilo tinha acontecido conosco.


Bom, no dia seguinte, não esperamos nada de mais. Eu e Sam voltamos à famigerada biblioteca e a e o Dean foram para a casa do tal Jake Baker – pulando feito duas gazelas em uma planície ensolarada.
Eles se animavam demais com a possibilidade de caçar alguma coisa.
E, sinceramente, eu não estava muito longe. Eu e o Sam ficamos sentados durante horas naquela biblioteca do inferno, procurando qualquer coisa que fosse importante sobre a vida da família Baker. Eu achara algumas coisas, mas nada muito gritante – portanto, separei essas informações para conversar com o Sam mais tarde.

Só que esse era o problema. Já era mais tarde e lá estávamos nós.

Na biblioteca.

Lendo uma batelada de coisa.

Sem fazer mais nada de útil.

Eu apoiei o cotovelo na mesa e segui apoiando minha cabeça sobre a minha mão, observando Sam. Ele estava extremamente compenetrado em sua pesquisa e nos recortes de jornal.

Se o Dean estivesse aqui, provavelmente iria chamá-lo de Grace Kelly.

Ri comigo mesma. Porém, parei de sorrir logo que voltei a prestar atenção em Sam novamente, todo sério em sua pesquisa. O céu começava a ficar alaranjado do lado de fora e o grande relógio negro na parede marcava cinco horas da tarde. Nós ficamos pesquisando, literalmente, durante o dia inteiro.
E não parecia que ele ia parar. Não que eu achasse isso um defeito no Sam – muito pelo contrário, gosto dessa característica nele – mas a criatura, às vezes, fica imersa demais nas pesquisas.
Ignorando a vontade de esticar as pernas, caminhar por aí, tomar um café, comer um salgadinho à tarde... Em resumo: fazer qualquer coisa pra sair daquele lugar e parar de ver um monte de letrinhas dançando na sua frente.

Porque sério. Depois de um tempo, as letrinhas realmente começam a dançar na sua frente. E aposto que é no ritmo de Macarena.

Mas aí está mais um problema de observar o Sam: eu fico com uma vontade incontrolável de beijar esse homem. Não sei o motivo.

Mentira, sei sim. Ele é gostoso, lindo, inteligente e meu namorado. Fim. Daí tenho vontade de beijar aquela boca linda, principalmente quando ele começa a dar aquele sorrisinho bobo de “isso aqui é interessante, achei algo que presta”.

Sorrisinho que, por um mero acaso, ele estava dando naquele momento.

Suspirei. Como resistir esse homem? Eu estava numa biblioteca pública, não é como se eu pudesse colocar aquele jornal na mesa, sentar no colo dele e dar um daqueles beijos que faz com que terminemos a noite na cama.
Ou no sofá. Depende do que estiver mais perto no momento.
- ? Tá tudo bem? – Ouvi a voz dele perguntando de repente e percebi que os lábios de Sam se mexiam.

Aleluia, ele estava falando comigo.

- Bem? Tá tudo ótimo! – Sorri de volta e aproveitei a deixa. – Encontrei algumas coisas sobre a família Baker, mas nada que indique quem é a mulher do quadro.
- Então acho melhor compartilharmos informações. – Ele respondeu sorrindo e se aproximando da mesa, deixando o jornal em cima desta.

Eu fiz o Sam largar o jornal. Isso era uma vitória naquele dia.

- Ok. Eu achei que a família Baker, principalmente o pintor Albert Baker, tinha uma pequena obsessão por cegueira. – Comentei, estendendo alguns recortes de jornal para Sam. Ele começou a lê-los enquanto eu falava. – A única coisa que comenta é que ele tinha alguém cego na família e, por causa disso, começou a pintar com texturas e pinceladas diferentes para que essa pessoa pudesse “ver” o que ele estava pintando.
- Bom, então acho que resolvi o seu problema. A filha dele, Juno Baker, era cega. Segundo a descrição que encontrei dela, Juno era uma mulher “alta, de cabelos castanhos, magricela e com o olhar vazio”. – Ele imediatamente leu um dos seus vários jornais. – Tenho quase certeza que a mulher na pintura é a Juno Baker.
- Pelo menos sabemos qual ossada temos que queimar! – Respondi com um sorriso, fazendo-o sorrir também. – Mas então, achei outra coisa... Aqui. Nunca relacionaram isso à família Baker, mas aposto que tem a ver: na época, várias pessoas desapareceram e os restos dos corpos eram encontrados em lugares ermos, sem os olhos.
- Sem os olhos? – E Sam ergueu uma sobrancelha.
- Yep. Sem os olhos... – Repeti, não só para responder à pergunta dele, mas para admitir para mim mesma algo bem óbvio. Que em seguida, resolvi comentar com ele. – Estamos caçando um fantasma de uma mulher serial killer que arrancava os olhos dos outros. Agora o motivo é uma ótima pergunta.
- Ok. – Ele suspirou. – Já caçamos coisas piores, certo?
Eu só olhei para Sam de volta, pensando durante um tempo.
- Certo. – Aceitei com um sorriso. – Você tem razão.
- Bom... Vamos encontrar o Dean e a ? Aposto que eles já voltaram da casa. – Sam comentou, espreguiçando-se na cadeira. – E estou começando a ficar com fome também.
Enquanto isso, eu só tinha olhos para aqueles braços maravilhosos se esticando lentamente... E a pele exposta de Sam logo que a camisa dele ergueu alguns centímetros.

Local público. Eu estava em um local público. Tinha que me controlar.

- Tudo bem? – E Sam tinha que perguntar.
- Sim, sim. – Respondi, levantando-me imediatamente da cadeira. – Vamos comer alguma coisa?
- Claro!
Assim, finalmente deixamos a biblioteca. Enquanto isso, a única coisa que eu pensava era: “o Sam não sairá ileso essa noite”.


Na verdade, quando voltamos ao hotel, não havia nem sinal de Dean e . Então sabe o que eu fiz? Ataquei o Sam à tarde mesmo.

O que foi? O homem é meu e eu faço o que eu quero.

E foi rápido também – afinal, não queríamos ser pegos por Dean e . Porque sério, se eles chegassem bem naquele momento, a gente não teria paz pelo resto da eternidade.
Já não temos paz o resto das nossas vidas convivendo com eles, mas tenho certeza que eles nos achariam no céu para nos zoar pelo resto da eternidade.
E não se atreva a me chamar de dramática. Os dois eram muito difíceis de se conviver – se você ainda tiver dúvidas, por favor, releia o começo desse relato e pense seriamente se você aguentaria dois seres humaninhos agindo daquela maneira para sempre.

Pois é.

De qualquer maneira, após algum tempo, a dupla dinâmica estava de volta e tivemos que convencê-los a ficar no quarto deles para conversar sobre a casa de Jake Baker.
Eu e Sam inventamos uma história esfarrapada de que o cano d’água do nosso banheiro tinha estourado e agora metade do quarto estava alagada. A nossa sorte era que e Dean nunca se importavam muito com essas coisas, principalmente após visitar uma casa com um quadro amaldiçoado.
- E foi isso que descobrimos! – Então, naquele ponto, já estávamos no quarto deles e contamos tudo que achamos na biblioteca. – E vocês? Encontraram algo interessante quando falaram com o tal de Jake?
- Bom, descobrimos o cemitério onde a família dele está enterrada... – Dean comentou, mas logo foi cortado pela .
- E que o quadro é bem pior ao vivo do que na imagem que encontramos nos livros. – Ela disse rapidamente.

Eu e Sam só trocamos olhares.

- O que aconteceu? – Sam perguntou cautelosamente, pois havia duas possibilidades.
Primeira possibilidade: o quadro é realmente do inferno e a ficou pé atrás com ele. Segunda possibilidade: eles querem nos zoar para nos deixar com medinho de alguma coisa bem idiota.

É minha irmã, né? Eu conheço a praga.

- Bom, o Jake foi muito simpático, para falar a verdade. Falamos que éramos agentes do FBI e ele nos recebeu muito bem, feliz por ter uma investigação sobre os crimes que cercam o quadrinho do mal.
- É. Recebeu bem até demais. – Um Dean emburrado comentou no canto, cruzando os braços.
A só rolou os olhos e continuou a história.
- Ele comentou que sempre soube da “tragédia” que atingia os donos do quadro, mas nunca conseguiu comprá-lo, pois sempre havia alguém que o comprava antes dele por uma oferta irrecusável. – Ela comentou, sentando-se na cama ao lado de Dean e descansando uma das mãos casualmente na perna dele. Era o jeito dela de falar “eu te amo, para de ficar emburrado, seu ciumento”. – Depois que ele trouxe o quadro de volta para casa, começou a ouvir alguns barulhos estranhos depois que a noite caía. Aí, pedimos para olhar o quadro.
- E sério, não sei como alguém consegue considerar aquilo uma obra de arte! – Dean balançou a cabeça, enquanto segurava a mão de .
- Dean, você considera uma guirlanda de Natal feita de latas de cerveja uma obra de arte. – Sam rolou os olhos, balançando a cabeça. – Você é a última pessoa que tem propriedade para falar esse tipo de frase.
- Desculpa se eu não aprecio a sua arte de colagens, Grace Kelly.
- Ei! Não comecem, vocês dois! – Falei imediatamente, pois aquela discussão poderia durar dias. – E aí? Vocês foram olhar o quadro e...?
- Parecia que ela estava viva. Aqueles olhos opacos te seguem para qualquer lugar que você vai. – A respondeu rapidamente, não dando chance para os dois começarem a reclamar. – Conforme a gente andava pela sala, os olhos iam atrás de nós.
- Tipo a Monalisa? – Eu tive que perguntar, porque é, basicamente, a mesma coisa.
- É. Tipo uma Monalisa que parece querer te matar. – E a sorriu ao falar. – Conversamos um pouco naquela sala e, quando falamos que tínhamos o suficiente e estávamos indo embora, eu ouvi um barulho. Virei para trás e percebi que o quadro tinha batido na parede e que tinha um pequeno veio de sangue escorrendo da base deste até o chão.
- E o que vocês fizeram...?
- Ela praticamente saiu correndo de lá. – Dean apontou para a e eu imediatamente comecei a rir. – Falou que tinha recebido uma ligação urgente do nosso chefe, que tínhamos que ir embora e saiu correndo.
- Pode me julgar à vontade. Você não ficou sozinho naquela sala com a mulher bizarra do quadro. – Ela deu de ombros. – Aposto que ela sai do quadro no meio da noite para arrancar os olhos de alguém.
- Deve ser por isso que ela arranca os olhos dos donos do quadro. – Sam comentou, finalmente se manifestando. – E faz sentido. Como ela é cega, somente arranca os olhos das pessoas que enxergam bem. Por isso os donos que usavam óculos não sofreram nenhum atentado.
- Pode ser... Mas por que ela arranca os olhos bons? – Agora eu estava confusa, cruzando os braços. – Se ela tem raiva por ser cega, ia fazer mais sentido arrancar os olhos que não são bons. Ela estaria fazendo “um favor” para quem não enxerga bem, que nem ela.

Todos permaneceram em silêncio durante alguns segundos, pensando. Até Dean resolver se manifestar.

- A tem razão. Não faz sentido.
- Ah, bom... – E a suspirou, dando de ombros. – Não precisa fazer sentido, não é mesmo? Ela é um fantasma, às vezes não há muita lógica. De qualquer maneira, vamos botar fogo nela nessa noite e tudo estará resolvido.
- Yep. – Eu sorri. Gostava de estar de volta em um caso simples, para engatar novamente nas caçadas aos poucos. – E acho que deveríamos passar na casa do Jake para avisá-lo que não haverá mais problemas com o quadro.
- É uma boa ideia. Assim ele pode fazer o que quiser com ele. – Sam colocou as mãos na cintura e suspirou. – Então vamos pegar as coisas e ir pro cemitério?
- Pode ser! – E imediatamente se levantou da cama. – E é mansão do Jake. Não casa.
- O cara mora numa mansão? – Agora eu estava impressionada, enquanto ela e o Dean confirmavam com a cabeça.
- Ah, e nós vamos levar o sal. – Dean comentou antes que pudéssemos sair do quarto. – Com o vazamento no quarto, o sal de vocês deve estar todo úmido.
- Que vazamento? – Sam perguntou e eu só lancei um olhar de morte para ele. – Ah, sim. O vazamento.
Imediatamente, e Dean se olharam, começaram a sorrir e olharam para nós. Eu pressentia que piadinhas iam começar. Por conta disso, empurrei Sam para fora do quarto e fechei a porta do quarto deles em questão de segundos, evitando o apocalipse da zoeira.
Pelo menos momentaneamente.


Resumindo o começo da nossa noite: fomos ao cemitério, desenterramos o corpo da tal da Juno Baker, tacamos sal, colocamos fogo e ficamos ouvindo um monte de indiretas vindas da e do Dean, o casal mais chato da face da Terra.
Assim, estávamos todos contentes, achando que tudo estava perfeitamente resolvido. Combinamos de voltar para o hotel, pedir duas pizzas e passar o resto da noite conversando, bebendo cerveja, assistindo a programas bregas na TV e voltando, aos poucos, à nossa vida de caçadores.

Quem dera fosse exatamente isso que acontecera.

Como combinamos antes, passamos na casa de Jake. E realmente, aquilo era uma mansão enorme. Digna de Resident Evil, claro, porém enorme. Eu também não podia negar que era muito bonita.
Dean estacionou o Impala perto da porta e ficamos esperando até que Jake aparecesse.
- Agentes Hart e Matthews! Que visita inesperada! – Jake era um cara novo, com um corte de cabelo bem rente, olhos azuis e bem pálido. Parecia ter servido no exército ou algo do tipo. – Em que posso ajudá-los?

Mas Hart e Matthews, do FBI... Eu já tinha ouvido aquilo em algum lugar...

- Podemos entrar um minutinho, Sr. Baker? – A perguntou, toda formal e educada. – Estamos com dois colegas nossos, Agentes Melling e Morningside.

Melling e Morningside? Eu e Sam não tínhamos nenhuma carteira com aqueles nomes. Eu jamais usaria um nome como Morningside.

- Claro que sim! Por favor! – E o homem nos deu passagem, sem ao menos pedir nossos documentos.
- Podemos ir para a sala do quadro, Jake? – Dean perguntou e o homem confirmou com a cabeça, levando-nos para lá.

E, durante o caminho – que foi relativamente longo – eu me lembrei de onde eram aqueles nomes.

- É sério que vocês usaram nomes do Miss Simpatia? – Eu sussurrei para a , que teve que segurar a risada.
- Coisa do Dean. Ele curte me chamar de Miss Simpatia às vezes. – Ela deu de ombros e eu finalmente me toquei da maior piada de todas.
- E você acha engraçado colocar o Sam como o estilista gay e eu como a ex-Miss Estados Unidos que quer matar todo mundo, não?
Eu nem precisei de uma resposta. A palhaça somente começou a rir, tentando evitar com que Jake a visse rindo que nem uma besta atrás de si.
- Vai ter volta, Gracie Hart... – Respondi, rolando os olhos.
Porém, a conversa teve que acabar por lá, pois finalmente alcançamos a enorme sala que abrigava aquele quadro horrível.
E quando eu digo que era horrível, é porque era mesmo. O Dean tinha razão ao duvidar do gosto das pessoas que consideravam aquilo arte – por mais que a definição dele de “arte” fosse meio duvidosa. Parecia que a qualquer minuto aquela mulher ia pular do quadro e nos estrangular com as mãos ossudas.

Suspirei de alívio ao perceber que aquilo não poderia mais acontecer: tínhamos acabado de atear fogo nela. Então estava tudo bem.

- Aceitam algo para beber? – E Jake era muito mais simpático do que parecia. Apesar da cara de ex-militar do mal, ele sabia receber bem as pessoas e, pelo visto, respeitava o FBI.
Ou qualquer pessoa com um cargo do governo, acho.
- Obrigado, Sr. Baker. Mas seremos rápidos. – Sam comentou rapidamente, cortando Dean.

Sim, lá estava Dean, todo chateado, pois não teve tempo para pedir uma cerveja.

Ele era extremamente previsível em alguns aspectos.

- Somente viemos para avisar que pegamos o responsável pelos assassinatos. – Respondi, lançando uma breve e discreta olhada para o quadro.
E achei estranho. Podia jurar que a mão de Juno Baker segurava um copo de ferro negro quando eu entrara no lugar. Porém, naquele momento, o copo estava sobre a mesa e a mão dela apoiada na mesma.
Pensei que tinha sido só uma alucinação minha, portanto deixei Dean e Sam responderem as perguntas de Jake e puxei a um pouco para trás. Ela tinha visto o quadro antes e saberia responder minhas perguntas.
- ... Quando você veio aqui da primeira vez, ela estava com o copo nas mãos? – Perguntei e apontei para o quadro, porém não me virei para o mesmo.
Nem preciso falar que Sam e Dean estavam achando muito esquisito ficarmos sussurrando no canto.
- Agora não sei, ... Espera aí... – E ela fechou os olhos, ficando quieta alguns segundos. O bom da é que, para certas coisas, a memória dela é excelente. – Estava sim. E no livro que achamos a imagem pela primeira vez também. Por quê?

Eu nem respondi, somente apontei para aquela desgraça.

E, assim que ela virou para olhar, teve um sobressalto. Eu achei a reação estranha, afinal, era só um copo. Porém, resolvi ver o que tinha assustado tanto a minha irmã.

Sendo que foi a minha vez de me assustar. Juno Baker estava com a cabeça virada diretamente para nós, com as duas mãos em cima do colo.

- ... A gente tacou fogo nela... – Agora eu engoli em seco. – Por que ela tá se mexendo...?
- Será que a gente esqueceu alguma coisa importante? – No que a me perguntou, ela olhou para mim, fazendo-me olhar para ela.
- Aparentemente sim... – E olhei para a janela atrás de . Os últimos raios de sol estavam sumindo. – ... Ela matava as pessoas durante a noite.

Nisso, nós trocamos olhares e voltamos a encarar o quadro.

Gostaria de dizer que eu não me assustei, porém senti o meu coração pular no peito quando vimos que Juno estava inclinada na nossa direção.

Como se fosse sair do quadro.

- Precisamos sair daqui. – disse imediatamente. – Será que ela é que nem os Weeping Angels do Doctor Who que não podem se mexer enquanto você está olhando?
- Não sei... Não faz muito sentido. – Dei de ombros, porém não queria desgrudar meus olhos da imagem. Vai que a estava certa. – A não ser que isso só ocorra enquanto ela está dentro do quadro.
- Acho que temos uma chance, pois... – Mas, assim que a começou a falar, um pequeno veio de sangue começou a escorrer da base do quadro. – Merda...
Em poucos segundos, aquele veio foi aumentando, para tomar a extensão inteira da base da moldura. O sangue atingia o chão e começava a formar uma poça que crescia a cada segundo.
- Me dá a mão e não tira os olhos dela. – Falei para a e ela só confirmou com a cabeça. Assim, segurei a mão dela e fui até Dean, Sam e Jake.
- Ok, homens. Precisamos sair daqui. Urgente. – Comentei um pouco apreensiva e eles só ficaram confusos.
- Por que, Agente? – Jake perguntou na maior inocência.
- Bom, porque temos um quadro sangrando e uma mulher cega que mata pessoas durante a noite pronta para arrancar nossos olhos se ficarmos por aqui! – Respondi, apontando para o quadro.

Enquanto isso, continuava encarando o quadro, sem ao menos piscar. Que boa aprendiza do Doctor ela era. Daria uma ótima Companion.
- E acho melhor irmos logo, galera...! – Ela comentou, apertando minha mão. – Tá na hora de correr!
- Mas que diabos é isso?! – Jake estava completamente aterrorizado com aquele rio de sangue que já tinha começado a se formar.
- Também não entendemos, Jake! – Sam comentou, realmente sem entender.
- Nós queimamos a desgraçada! Ou queimamos o corpo errado?! – E Dean, como sempre, estava revoltado.
- Sinceramente, não quero ficar aqui para descobrir! – Foi só a falar que percebi que ela não estava mais olhando para o quadro. – Precisamos sair daqui antes que fique escuro!

Nisso, ela começou a procurar pela saída.

- Por que você não está mais olhando...? – Eu tentei perguntar, mas a Miss Simpatia me interrompeu.
- Porque ela já está saindo do quadro!
Foi nesse momento que eu resolvi lançar mais um olhar para Juno. O sangue já tomava metade da sala e escorria pela parede como se o quadro fosse uma fonte. Mas isso não era pior: as mãos ossudas da mulher já estavam apoiadas na lateral da moldura, como se ela estivesse se puxando para fora da tela.
- Merda...! – Eu tive que comentar. Não era para aquilo estar acontecendo.

Juno colocou a cabeça para fora do quadro, os cabelos desgrenhados mal amarrados em um coque alto, que parecia que ia despencar a qualquer momento. Os olhos opacos da mulher estavam fixos em nós. Assim que ela conseguiu tirar um dos ombros da tela, parecia que Juno tinha caído no chão e agora apoiava a mão direita sobre o piso encharcado de sangue para tirar o resto do corpo de lá.

- Saída! Hora de correr! – gritou e, apertando minha mão com mais força, saiu correndo.

Eu nem pensei: fui junto com ela, agarrando sua mão com a maior força que eu podia.

- Vocês ouviram! Vamos embora daqui! – Dean rosnou e conseguimos ouvir ele e Sam empurrando Jake para que saíssemos de lá.
Corremos tão rápido que, em poucos segundos, já estávamos perto da grande porta de entrada. Era só abri-la e fugir daquele lugar, trancando Juno lá dentro.

Mas claro. Se fosse tão fácil assim, não seria a nossa vida. Seria um conto de fadas.

- A porta tá trancada. – A declarou depois de tentar forçá-la com a mão que eu não segurava.
- Como assim?! – Eu tive que perguntar. Não que estivesse duvidando, mas né... Eu realmente queria sair de lá.
- Licença, . Vou tentar! – E Sam se prontificou a arrombar a porta.

Porque um homem de dois metros de altura e forte daquela maneira sempre é o melhor instrumento para arrombar uma porta.

- Jake, vamos ajudar! – Dean falou e, no mesmo momento, Jake tirou a jaqueta que usava para ajudá-los a forçar a porta.
- Vamos ver se alguma janela abre! – Comentei para e soltamos nossas mãos, tentando abrir a janela mais próxima.
Mas nada. Eu forcei para cima, a tentou socar aquela porcaria...

Sabíamos o que aquilo significava.

Bloqueio sobrenatural.

Juno Baker tinha lacrado a casa. Só sairíamos de lá se ela morresse ou se acabasse o horário dela de ficar fora do quadro, provavelmente até o fim da noite. O difícil era: são doze horas de noite.
Doze horas. Teríamos que sobreviver lá dentro, sem muitas munições ou maneiras de lidar com ela – pois deixamos todas as armas de ferro no carro, carregando somente duas que levamos conosco ao cemitério – além de ter que deixar Jake, um homem completamente leigo no assunto, a salvo conosco... Durante doze horas.
- O que está acontecendo?! – E claro, Jake, como qualquer outro ser humano normal, estava assustado.
- A Juno nos lacrou dentro de casa. Não podemos sair. – Ela podia me chamar de dramática, mas a é a melhor pessoa do mundo para falar as coisas de uma maneira agourenta.
- Precisamos achar uma maneira de nos proteger. Temos que permanecer juntos. – Sam disse calmamente, tentando fazer com que mantivéssemos a cabeça no lugar.

Porém, logo que ele acabou de falar, ouvimos um grito vindo do corredor próximo a nós. Algo parecido com o som de unhas afiadas arranhando uma lousa.

- Corram. Agora. – Dean comentou seriamente, apontando para o corredor do lado diretamente oposto ao som.
Assim, começamos a correr, tentando ficar juntos. Nossa chance de sobreviver era maior se pensássemos juntos, portanto ficar em grupo era imperativo.

Porém, de repente, as luzes começaram a piscar. O grito de Juno ficou cada vez mais alto até que todas as luzes da casa apagaram repentinamente.

- Para que lado vamos?! Alguém consegue ver?! – Perguntei enquanto corríamos. Senti a mão de Sam procurando a minha, porém o grito de Juno estava cada vez mais próximo.
- Não parem! Continuem correndo! – A gritou e, realmente, era o melhor a se fazer.
Não sei muito bem o que aconteceu. Corri até perceber que o turbilhão de passos que compunham a nossa manada, tornou-se somente o barulho de dois pés.

Os meus.

Assim, meus passos diminuíram enquanto o barulho somente se tornava cada vez menor. Eu não ouvia mais ninguém comigo.
Peguei meu celular e liguei a lanterna, apontando-a para todos os lados do cômodo que eu me encontrava.

Eu estava completamente sozinha, no escuro, trancada em uma casa com um espírito sanguinário querendo arrancar meus olhos.

O que mais podia dar errado?!


Relato da
Depois de um bom minuto correndo, percebi que meus passos ecoavam sozinhos pelo corredor. Mesmo assim, não parei. Queria constatar o que já achava protegida por quatro paredes.
Assim, entrei na sala mais próxima e deixei somente uma fresta da porta aberta. Peguei meu celular e liguei a lanterna, iluminando aquela escuridão infernal.

Eu estava sozinha.

No escuro.

Acho que já deu pra perceber que eu tenho medo de escuro – foi exatamente por isso que eu surtei quando aquela deusa egípcia do medo resolveu me trancar em um quarto escuro com o Dean e soltar cães do inferno. Eu não fiquei com tanto medo dos cães, pois sempre dá pra escapar, mas do escuro...

Você nunca sabe o que pode estar te esperando em um canto mal iluminado. Coisas ruins podem estar te observando e você não faz ideia.

Respirei fundo para me manter calma. Tentei fazer a coisa mais óbvia no momento: ligar para . Ou para Dean. Ou para Sam.
Ou para a polícia. Qualquer um que me atendesse estava valendo.

Porém meu celular estava sem sinal.

Eu podia apostar que o sinal de qualquer um de nós estava fraco dentro daquela casa.
Portanto, meu primeiro objetivo era achar um telefone e ligar para algum deles e descobrir em que canto da casa estavam.
Primeiramente, iluminei o local inteiro para ter certeza de que Juno não estava lá. O meu maior problema com escuro é que sempre acho que há alguém me observando por trás. Portanto, encostei minhas costas à parede mais próxima e continuei a olhar a sala.
Era uma biblioteca. O que era bom, pois haveria algum pedaço de papel e um lápis, no qual eu poderia rabiscar um mapa da casa. O lugar era bem grande e eu precisava de uma técnica para saber de onde eu tinha vindo e para onde eu poderia ir.
Logo que achei meus materiais artísticos, sentei em um cantinho, no chão mesmo, e rabisquei um quadrado no centro do papel, escrevendo “biblioteca” no mesmo. Não sabia se estava no canto da casa ou no meio da casa, porém ainda tinha dois lados para ir quando saísse pela porta. Portanto, achei mais inteligente desenhar no meio do papel.
Peguei várias folhas, dobrei-as e coloquei no bolso de trás da calça, sendo que o lápis ficou no outro bolso. Fui silenciosamente até a porta que deixei entreaberta e espiei por esta antes de sair. Iluminei o corredor sem medo, afinal, Juno ainda era cega.

O meu problema era fazer barulho demais.

Meu outro problema era que, pela fresta da porta , eu podia enxergar o que estava do meu lado esquerdo do corredor. Porém, não fazia ideia do que havia ao lado direito.
Portanto, eu teria que abrir a porta e sair da biblioteca para saber se ela estava me esperando do outro lado do corredor.
Meu coração estava na garganta. Odiava ficar desarmada, odiava ter que me esconder. Gostava quando estava armada e podia lutar de volta. Sempre tendo a me defender e enfrentar a situação de frente, não sair correndo e me esconder por aí.

Então aquela situação me deixava extremamente nervosa.

Abri a porta da maneira mais leve que consegui, porém esta, naturalmente, rangeu. Congelei no lugar e fiquei esperando. Se ouvisse qualquer coisa, ia sair correndo para dentro da biblioteca novamente e me esconder.
Passei um bom minuto parada, encarando o corredor com os olhos arregalados. Não sei o motivo, mas acho que quanto mais abrir os olhos, mais vou conseguir enxergar.
Para a minha sorte, nada aconteceu. Mas nada me garantia que Juno não estaria me aguardando, jogando algum tipo de jogo doentio comigo.
Coloquei metade do meu corpo para fora e iluminei o corredor. Não sei se estava com medo de encontrá-la por lá, porém não encontrar foi um dos maiores alívios da minha vida. Chequei novamente o lado esquerdo do corredor e me aventurei a sair do local.

Assim, fechei a porta. Se a encontrasse aberta novamente, poderia ter certeza que alguém passara por lá. Qualquer alguém.

Como precisava checar se estava no meio ou no extremo da casa, resolvi seguir pela direita – vez que cheguei lá correndo pelo lado esquerdo.
Reiterando que não consigo ficar de costas para um buraco negro sem saber o que está atrás de mim, virei de costas para a parede e fui caminhando vagarosamente.

Exato, que nem um caranguejo. Me julgue.

Tentava fazer o mínimo de barulho, porém meus passos ecoavam pelo corredor como um bumbo de bateria. Qualquer barulhinho vindo do lado esquerdo do corredor me fazia parar e apontar a lanterna para o lugar, ficando em completo silêncio.
Depois de alguns momentos tensos, consegui chegar à outra porta do corredor. Estiquei a mão e toquei a maçaneta fria com cautela, girando-a de maneira a evitar seu rangido.
Como parti do princípio de que não haveria ninguém no local – já que a porta estava fechada – entrei no que era um quarto e deixei somente uma fresta da porta aberta, como fiz na biblioteca. Iluminei o local e não achei telefone algum, portanto apoiei meu papel em uma cômoda e desenhei o corredor e o quarto em que me encontrava.
Depois de tudo desenhado, saí novamente para o corredor. Como a única coisa que havia atrás de mim era o fim deste e eu teria que voltar pelo caminho que vim, consegui andar normalmente sem ter que ficar de costas para a parede.
Em um dia normal, eu teria levado segundos para atravessar aquilo. Mas, como não era um dia normal, levei um bom minuto para chegar ao fim do corredor e encontrar uma enorme passagem que levava a uma grande sala com uma lareira no centro e algumas poltronas. Dessa sala, era possível ir para três cômodos diferentes: o lugar de onde eu viera, outro corredor que levava para outra sala e uma porta que dava para algum lugar desconhecido, pois estava fechada.
Assim, voltei ao meu trabalho. Ia desenhar o local, porém não era o mais esperto a se fazer no momento. Aquela sala era muito grande e com muitas passagens. Se Juno estivesse perto de mim, poderia me pegar por qualquer lado. Eu precisava de algum lugar menor e mais seguro, com somente uma entrada.
Caminhei cautelosamente até a porta. Após testá-la, percebi que esta não estava trancada, portanto a abri, entrei no cômodo e deixei minha fresta aberta. Chequei o local e me deparei com um pequeno escritório.
Conveniente, para falar a verdade. Sentei à mesa – já que podia deixar meu celular apoiado sobre esta, com o feixe de luz iluminando a porta – e desenhei o que faltava no meu mapa. Aos poucos, ele estava se tornando cada vez maior e mais útil.

Orgulhosa da minha criação, peguei o celular e mal percebi o som de passos se aproximando.

A minha surdez momentânea durou pouco. Quando me aproximei da fresta, ouvi uma respiração falhada e trêmula. Estaquei imediatamente em meu lugar, abrindo um pouco mais a fresta da porta.

Juno estava parada no meio da sala, olhando diretamente para mim com seus olhos leitosos e opacos.

Comecei a tremer imediatamente. Meu coração disparou. Levei minha mão à boca e despenquei silenciosamente no chão, apoiando minhas costas à cômoda mais próxima, sem tirar os olhos de Juno.

Não tinha a menor ideia se ela sabia que eu estava lá.

Quando ela virou a cabeça e começou a andar – vagarosamente, quase se arrastando – respirei fundo e prendi a respiração. Era a última coisa que eu podia fazer para me proteger. Esta odiando cada segundo daquilo. Não poder lutar fazia com que eu me sentisse impotente e minúscula. Dois dos sentimentos mais humilhantes e desconfortáveis da minha vida.
Juno não parava de arrastar seus pés para lá e para cá. Eu já estava começando a ficar sem ar. Logo não conseguiria mais aguentar e teria que respirar, fazendo mais barulho do que se estivesse respirando. Ela precisava sair de lá. Eu tinha que respirar.
Entretanto, continuei persistente. Já estava sentindo minhas mãos e pés formigando, a falta de ar apertando meus pulmões. Se eu respirasse, estava morta. Se eu não respirasse...

Estaria morta do mesmo jeito.

Tinha que me distrair. Enquanto Juno vasculhava a sala e tentava me achar, comecei a me lembrar de Dean cantando. Ele é meio desafinado, sim, mas me acalmava. A voz dele me acalmava. Dean podia cantar Marilyn Manson que eu ia ficar calma. Vai entender o motivo.
Assim, ouvindo Dean cantando na minha mente, mal percebi que a falta de ar já estava começando a realmente me afetar. Por alguns segundos, achei que não ia aguentar.

Porém Juno ouviu algo e saiu vagarosamente da sala, rumo à outra passagem.

Eu não conseguia acreditar no que acabara de acontecer. Passei alguns segundos ainda segurando a respiração, tentando me certificar de que ela realmente tinha ido embora.
Não sei quanto tempo eu ficara por lá. Quando finalmente me levantei e saí do escritório – fechando a porta atrás de mim – fiquei com as costas coladas na parede e tirei minhas botas, deixando-as no chão, perto de uma das poltronas.
Assim, peguei meu mapa e fiz um “x” na sala da lareira, para me lembrar de pegá-las mais tarde. Se eu sobrevivesse.
Agora eu andava sem fazer barulho algum. As meias abafavam o barulho dos meus pés caminhando pelo chão de madeira. Era só andar lenta e cuidadosamente que não haveria barulho algum e eu poderia me safar de Juno mesmo nas piores situações.
Infelizmente, tive que caminhar pelo mesmo corredor que ela fora, ou teria que voltar para o corredor que me encontrava antes. Caminhando lentamente, cheguei à outra sala, menor do que o cômodo atrás de mim, porém igualmente cheia de poltronas.

Mas, ao iluminá-la, abri um sorriso enorme: um telefone.

Eu achara um telefone.

Aquele era o momento mais feliz daquele dia.

Aproximei-me dele e apoiei meu papel em cima da mesa, rabiscando rapidamente em meu mapa e anotando que aquela sala tinha um telefone. Após checar novamente cada canto do cômodo – pois, assim como o outro, este tinha várias portas e Juno poderia surgir a qualquer momento – encostei de costas à parede, tirei o telefone do gancho e coloquei na orelha.

A linha estava muda.

Só podia ser brincadeira.

Respirei fundo e coloquei no gancho de novo, retirando em seguida. Tive que repetir esse processo umas três vezes, porém, da última vez, consegui uma linha. O barulho do telefone era como se uma lixa estivesse raspando por este, porém ainda sim era uma linha.
Entretanto, comecei a ouvir uma voz em meio à interferência.

- Sem... Comunicação...

Era a voz de Juno, sussurrando em meio ao chiado.

- Merda...! – Não consegui me conter e bati o telefone no gancho, desligando-o imediatamente.

No que fiz isso, comecei a ouvir passos apressados vindo na minha direção.

Na ponta dos pés, saí correndo, tentando pisar somente em tapetes para fazer o menor barulho possível. Tentava marcar mentalmente todos os locais pelos quais eu passava para anotar em meu mapa depois. Atravessei um pequeno corredor, uma sala com uma televisão e, por sorte, cheguei à porta de entrada.
Como sabia que esta não ia abrir, subi as escadas correndo e sentei no último degrau, de modo a observar o que estava acontecendo no andar de baixo. Após alguns segundos tensos, tentando respirar da maneira mais silenciosa que eu podia, Juno apareceu na mesma porta da qual eu viera.

Segurei a respiração novamente e aguardei.

Ela virou a cabeça para minha direção e ficou parada, ouvindo. Eu não me mexia. Para ser sincera, estava ficando boa naquela coisa de estátua.
Por sorte, ela não demorou muito. Creio que ouviu algum barulho, pois saiu correndo em outra direção. Assim como antes, permaneci no meu lugar, sem respirar, durante alguns segundos a mais. Voltei a respirar e continuei lá, sentadinha.
Era melhor prevenir do que remediar. Porque se eu tivesse que remediar, estaria morta e a única maneira de consertar a situação seria ajudá-los em forma de ectoplasma.

Algo que eu queria evitar.

Após algum tempo, peguei meu mapa e desenhei o que faltava. Observei-o durante uns momentos, tentando divisar o que fazer naquele momento. O plano do telefone tinha falhado majestosamente, então tinha que pensar em outra coisa.
O objetivo agora era dar um jeito de sobreviver e achar os outros. Sem comunicação por celular, teria que tentar achá-los na tentativa e erro. Poderia tentar ficar parada em um lugar – pois, com todo mundo correndo de um lado para o outro, seria mais inteligente parar de correr até alguém me achar. Porém, o nosso problema era Juno. Com ela andando por aí, ficar parada não era nem um pouco inteligente. Se estivéssemos sozinhos, seria ótimo, mas como tínhamos um espírito psicopata andando pela casa, era bom fugir dela.
Além disso, alguém tinha que descobrir o motivo de Juno estar lá. Queimamos o corpo, ok, mas era para o espírito dela ter sumido também. O que tínhamos deixado passar? Era mais um mistério que precisávamos resolver para sobreviver àquela noite.
Com isso em mente, divisei meu plano. Objetivo número um: achar a cozinha da casa e pegar um estoque de sal. Se eu achasse algo de ferro antes, poderia riscar esse objetivo da minha lista. Objetivo número dois: encontrar porque a Juno ainda estava lá. Aquela casa era antiga e, com certeza, ainda teria alguma anotação antiga de Albert Baker. Precisava achar alguma coisa que falasse sobre ele e sobre Juno – principalmente sobre os assassinatos dela.
Guardei meu mapa no bolso da calça e tornei a descer as escadas, devagar. Cozinhas normalmente ficavam no térreo das casas, então teria que descer e terminar de desbravar o primeiro andar. Ao chegar ao pé da escada, respirei fundo e resolvi fazer o caminho que fizemos quando pedimos a Jake para ver o quadro.
Quando cheguei à antessala que dava acesso à sala do quadro, não segui pela porta que levava para esta. Ao invés disso, apontei minha lanterna para o corredor escuro e profundo à minha esquerda e resolvi segui-lo.
A cozinha tinha que estar lá em algum lugar.


Relato da
Eu me encontrava em uma sala que dava acesso para dois corredores e uma outra sala. Não ia arriscar chamar ninguém, pois Juno poderia me escutar e eu estaria ferrada.
Chequei o sinal do celular para tentar ligar para a , mas nada. Se não fosse a lanterna, ele seria completamente inútil naquela situação. Assim, decidi que o melhor a se fazer naquele momento era achar os outros. Portanto, precisava de um plano.
Observei a sala e achei a passagem pela qual eu tinha vindo originalmente. Havia um corredor relativamente longo e uma passagem para outra sala. Se eu tivesse sorte, ninguém teria ido muito longe. Então, meu plano era o seguinte: voltar por onde viemos e ver qual era o local mais provável de termos nos separado. Pensando isso, poderia sair procurando todo mundo.
Outra coisa que tinha sido sorte: eu estava com uma das armas. E você deve estar pensando “Ah, mas , de que serve uma arma contra um espírito”? Minhas balas eram de ferro. Eu e a gostamos de atirar em coisas, né. Então divisamos uma maneira de atirar em espíritos.

Entretanto, eu pretendia não usá-la, para não fazer barulho. Em compensação, se eu tivesse muitos problemas com Juno, poderia utilizá-la para me proteger.

Nessa hora, comecei a me preocupar. Eu e Sam estávamos com as armas, a e o Dean resolveram não levar nada, já que estávamos armados. Era bom eu me encontrar com um dos dois, pois eles não tinham nada para se proteger. E sei bem que ambos odeiam não poder lutar.
Não que eu não estivesse preocupada com Sam. Mas ele estava protegido, então podia me preocupar menos.

Um pouquinho menos.

Bom, a primeira coisa que eu tinha que fazer era marcar por quais salas eu já tinha passado para não ficar rodando em círculos. Procurei em meus bolsos e achei a chave do carro.
Nesse momento, tive uma ideia genial. Fui até a passagem mais próxima e fiz um “x” no rodapé, que dava para enxergar de longe. Assim, fiz a mesma coisa do lado das outras duas portas. Quando eu entrasse nos cômodos era só olhar o rodapé ao lado da porta e saberia se já tinha passado por lá.
Com isso, comecei a fazer meu caminho de volta à porta de entrada. Não sabia o quanto tinha corrido de lá e, com todo mundo separado, Juno provavelmente não estava por lá.

Provavelmente. Eu esperava estar certa.

Era algo torturante, para falar a verdade. Minha visão era limitada pelo tanto que a lanterna do meu celular iluminava. Que sorte que eu tenho um celular bom – pois podia apostar Dean estava andando pra lá e pra cá com um isqueiro que não iluminava quase nada.
Quando cheguei ao primeiro corredor, continuei caminhando calmamente, de costas para a parede – afinal, não queria Juno se aproximando de mim por trás. Além disso, minha audição é boa, portanto qualquer barulhinho já era o suficiente para me fazer parar no lugar e iluminar tudo à minha volta.
Achei que estava fazendo um bom progresso, para falar a verdade. Cheguei a uma sala com uma televisão e uma passagem que levava à porta da frente. Fiquei muito contente com aquilo e já fui marcando o rodapé.
Fazia um pouco de barulho, mas conforme disse anteriormente, esperava que Juno não estivesse por perto – e, sinceramente, rezava para que ela estivesse correndo atrás de Dean.
Por que o Dean? Simples: é sempre atrás dele que as coisas saem correndo. Não sei o motivo, mas aquele homem tem mais má sorte que a . Chega a ser impressionante até.
Chequei a sala novamente só para ter certeza que não havia mais ninguém comigo. A casa inteira estava silenciosa como um enterro, então qualquer passo poderia ser algo alarmante. Como constatei que estava sozinha, continuei caminhando até a porta da frente.

Só para não encontrar ninguém.

Resolvi ficar um tempo parada por lá. Alguém poderia ter tido a mesma ideia que eu e voltar até lá, portanto era algo inteligente a se fazer. Na pior das hipóteses, eu poderia ser encontrada por Juno, porém – recostada à porta de entrada – o lugar me dava uma ótima visão das portas a minha volta. Não tinha como algo aparecer sem entrar no meu campo de visão.

Portanto, eu podia pensar no que fazer, proteger-me se algo acontecesse e, se alguém voltasse para lá, encontrar alguém.

Minha prioridade, no momento, era achar alguém que não fosse Juno. Precisávamos nos reunir, pois todo mundo ficar correndo em círculos pela casa não ia ser nada benéfico no momento. Depois disso, poderíamos confabular o que fazer: se iríamos tentar sobreviver à noite ou perambular pela casa procurando alguma maneira de acabar com Juno.
Em uma situação como aquela, era melhor decidir as coisas em grupo do que individualmente.
Portanto, como nada aconteceu – sendo que fiquei checando todas as entradas a cada segundo que se passava – resolvi começar a minha busca.
Voltei para a sala da televisão, localizada ao meu lado esquerdo. Além da porta pela qual eu surgi do corredor e a passagem que levava para a porta principal, havia acesso para um corredor particularmente escuro. Aproximei-me rapidamente da passagem e marquei o rodapé.
Assim, se eu encontrasse alguma sala com muitas portas, as que estivessem marcadas seriam os lugares que eu já tinha checado. Ficaria mais fácil de saber aonde eu não tinha me enfiado ainda para procurar todo mundo.
Como no outro corredor, caminhei cautelosamente com as costas grudadas à parede. Apesar de cuidar para não fazer barulho, meus passos eram rápidos. Não queria demorar muito naquele corredor – exatamente porque qualquer coisa podia surgir atrás de mim a qualquer momento.

Chegando ao final deste, próximo a uma janela, encontrei uma porta meio aberta.

Aquilo era um tanto suspeito, para falar a verdade.

Chequei novamente o fim do corredor e, sem encontrar nada, enfiei a cabeça dentro da sala com a porta semiaberta. Iluminei-a em todos os cantos e encontrei somente uma pequena sala cheia de estantes com uma enorme passagem que levava à sala de jantar.
Entrei cautelosamente na sala – sem mexer na porta, pois esta poderia fazer barulho – e marquei o rodapé, porém sem tirar os olhos da passagem da sala de jantar.
Como o chão era coberto por um enorme tapete, eu podia dar passos menos cautelosos, pois não ia fazer tanto barulho. Assim, a primeira coisa que fiz foi apoiar contra a parede ao lado da passagem e marcar o rodapé. Depois disso, iluminei grande parte da sala de jantar, constatando que Juno não estava por lá – pelo menos, não naquele lado. Inclinei-me vagarosamente pela passagem a fim de checar o resto da sala e, assim como antes, nada.
Tenho que admitir que suspirei de alívio. Entrei na sala de jantar e já marquei o primeiro rodapé, checando a porta entreaberta pela qual entrei novamente. Aquela era uma ideia muito inteligente – afinal, para entrar, Juno teria que empurrar a porta, algo que eu ouviria imediatamente.

Aquilo tinha cara do Sam. Certeza ele havia feito aquilo para não ter que checar por cima dos ombros toda hora.

E o Dean? Se ele estivesse andando que nem um desembestado pela casa com um atiçador de fogo que ele achou por aí, eu não ia ficar impressionada. Aliás, tenho certeza que a primeira coisa na lista de afazeres dele seria encontrar um atiçador de fogo para dar em Juno.
Enfim, só tinha mais um lugar para ir. Apesar das grandes janelas na sala de jantar, não fiquei assustada, pois não havia como Juno estar do lado de fora – afinal, ela tinha selado a casa. Portanto, o único caminho agora era a porta do outro lado da sala de jantar.
A porta em questão também estava entreaberta. Assim, iluminei o outro lado e encontrei um pequeno corredor escuro. Passei pela porta, sem nenhum indício de Juno ou outra pessoa. Havia uma porta no fim do corredor e outra passagem que levava a algum lugar que eu não conseguia ver.
Marcados os rodapés, caminhei até a passagem, encontrando somente uma saleta que levava para muitas outras salas. Dei de ombros, resolvendo checá-la depois. Eram muitas opções e muitos rodapés para marcar, portanto resolvi checar a porta à minha frente antes.

Porém, quando abri a porta, arrependi-me imediatamente.

Eu tinha chegado à cozinha... Assim como Juno. Lá estava ela, parada no meio do recinto, encarando-me com seus olhos opacos. Eu congelei no lugar, com a mão na maçaneta da porta. Será que ela tinha me ouvido? Eu torcia para que não.
Não sei por quanto tempo ela me encarou, para ser bem sincera. Minhas mãos suavam frio e eu fiquei lá, olhando os olhos leitosos de Juno. No momento em que a vi, prendi a respiração para que ela não escutasse mais nada e achasse que não havia mais ninguém por lá.
Ela virou a cabeça para uma das portas da cozinha e começou a andar, arrastando os pés. Lentamente – mas bem lentamente mesmo – eu alcancei a arma que estava presa na parte de trás da minha calça. Continuei sem respirar e, provavelmente, sem piscar, analisando cada passo da mulher. Não queria atirar, mas, se fosse necessário, era exatamente isso que eu ia fazer. Com a mão esquerda até, pois a minha direita estava congelada na maçaneta quente da porta.
De repente, Juno virou-se e começou a arrastar os pés na minha direção. Eu não entendia o que estava acontecendo. Antes parecia que ela não sabia da minha presença, porém naquele momento... Ela vinha de maneira lenta, como se quisesse me torturar.

E minhas pernas fizeram o favor de congelar no lugar e não se mexer.

Mas também, não havia muito o que fazer. Se eu começasse a correr, ela ia perceber a minha presença – e eu não tinha certeza que ela sabia sobre mim. Portanto, podia arriscar algo completamente desnecessário.
Assim, resolvi esperar. A tentação de respirar fundo era muito grande – ainda mais porque meus pulmões começavam a pedir que eu respirasse – mas consegui me controlar. Juno deu a volta pela cozinha, focando na porta que ia utilizar anteriormente.
Fiquei com os olhos grudados nela. No momento que a mulher deixou o local, contei cinco segundos, dei ré vagarosamente – sem tirar os olhos da cozinha – e, assim que alcancei a passagem anterior, saí correndo.

Podia não ser a coisa mais inteligente a se fazer, mas foi a mais instintiva naquele momento torturante.

Passei por uma das portas da saleta e me fechei lá dentro, sem ao menos marcar os rodapés. Distanciei-me, apontei a arma para a porta e fiquei lá, encarando-a com a respiração falhada.

Eu tinha escapado. Minhas mãos tremiam levemente. Estava aliviada, porém a adrenalina corria pelo meu corpo desenfreadamente.

Até que eu senti uma mão em meus ombros.

Eu gritei. Admito, gritei mesmo, sem vergonha nenhuma, porque qualquer pessoa na minha situação teria gritado. Porém meu grito foi abafado por uma mão forte tapando a minha boca.
- Desculpa, Agente Morningside. – Ouvi a voz de Jake sussurrando em meu ouvido, por trás. – Mas não tinha outra maneira melhor de te abordar nesse momento. Afinal, é você que está com a arma.
Falando isso, ele me soltou e eu pude voltar a respirar como uma pessoa normal, apoiando minhas mãos nas minhas coxas.

Sério. Aquele homem quase me matou.

- Eu só não brigo com você, pois estou feliz de encontrar alguém. – Sussurrei de volta, ainda segurando a arma.
Ainda bem que eu não atirei na hora que tomei o susto. Ou nós dois estaríamos mortos.
- Além disso, não sou “Agente Morningside” coisa nenhuma. É . – Respondi rispidamente, ainda tentando me acalmar.

Mas não dava para me acalmar com uma situação daquelas.

- Vocês são de alguma divisão especial secreta do governo? – Ele perguntou seriamente, cruzando os braços.
Tinha me esquecido que Jake era militar, então ele devia conhecer bem sobre as divisões secretas do governo.
- Não. Somos caçadores. – Suspirei. – Coisas sobrenaturais existem e nós existimos para que o mundo não surte com essa informação. Sacou?
Ele só confirmou com a cabeça, em todo seu estilo militar. Em seguida, apontou para a minha arma.
- E isso aí funciona contra um quadro ambulante?
- Funciona, pois as balas são de ferro. E não é um quadro ambulante, é um espírito que saiu do quadro. Como, eu não faço ideia. Queimamos os restos mortais de Juno mais cedo e achávamos que tudo estava resolvido. – Eu me apoiei na parede, finalmente sentindo meu coração voltar a bater normalmente.

Estar com outra pessoa era reconfortante.

- Então quer dizer que vocês violaram a tumba da minha família? – Ele perguntou ainda de braços cruzados. Era incrível como o Jake de antes, simpático e receptivo, tinha sumido e se tornado o Jake militar, sério e um tanto ríspido.
- Sim. Foi necessário. – Eu dei de ombros. – Espíritos raivosos só somem quando seus restos mortais e objetos mais precisos são queimados com sal. Não me pergunta o motivo, mas funciona.
- E vocês se esqueceram de alguma coisa?
- Aparentemente sim. Por um acaso existe alguma coisa por aqui que era de grande importância para Juno? Você sabe se ela gostava muito do quadro?
- Pelo que sei, ela nunca se importou com o quadro. Afinal, não conseguia vê-lo. – Ele deu de ombros. – E tudo que era dela foi jogado fora. Meus parentes não mantiveram muitas recordações de Juno ou de Albert.
- Voltamos à estaca zero, então. – Suspirei, cansada. – Precisamos descobrir o que mantém Juno aqui.
- Ok. Existe uma sala com alguns documentos antigos da família, mas fica no segundo andar. – Ele comentou, aproximando-se da porta.
- Podemos passar por lá. Mas antes, queria tentar achar todo mundo, para nos mantermos mais seguros. – Chequei a munição da arma e olhei novamente para ele. – Você pode me ajudar?
- Claro. Acho que ninguém saiu do primeiro andar, não vai ser tão difícil assim. – Ele respondeu sorrindo.

E lá estava o Jake simpático novamente.

- Bom... Estamos presos em uma casa com um espírito sanguinário querendo nos matar. – Respondi também sorrindo.
- Eu sobrevivi Fallujah. Acho que nada pode ser pior do que aquele inferno. – Jake comentou, já segurando a maçaneta.
- Querido... – Suspirei, colocando a mão no ombro dele. – Fallujah é um parque de diversões comparado à vida de um caçador.


Relato da
Olha, eu penei pra chegar à cozinha.
Não era tão distante assim, mas aquela casa era um labirinto. E tenho que tratar esse medo de escuro mesmo, eu sei, pois não conseguia dar as costas para um lugar em que o breu tomava conta.

Se eu tivesse somente uma pessoa comigo, ia ficar muito mais feliz.

Mas não achei ninguém. Nem , nem Dean, nem Sam, nem Jake. Só a Juno. Ou eu estava andando em círculos atrás de alguém e por isso não encontrava ninguém, ou a minha má sorte estava particularmente atacada naquele dia, não era possível.

Se bem que, com o tamanho daquela casa, era bem fácil perder quatro pessoas no primeiro andar.

Ficava torcendo para que a pelo menos tivesse encontrado alguém. Tudo bem que ela estava armada, mas mesmo assim eu não conseguia deixar de me preocupar com a minha irmã.
E se eu me preocupava com o Dean? Só um pouquinho. Bem pouquinho mesmo. Aquele homem consegue lidar com cães do inferno num quarto escuro, então não havia motivos para me preocupar muito com ele. Afinal, tinha certeza que a criatura já havia achado uma maneira de se proteger e era mais capaz de estar correndo atrás de Juno do que dela.
E o Sam não me preocupava. Simplesmente, porque o Sam é inteligente. Um caçador experiente que usa o cérebro, certeza o Sam tinha divisado uma maneira de achar Juno antes que ela o achasse.

Bem que ele podia encontrar uma maneira de me achar sem esforço, porque né... Eu estava sofrendo.

Com tudo isso em mente, fiquei andando por aquela casa do inferno, desenhando meu mapa. Não me aventurei a entrar novamente na sala do quadro, mas coloquei-a no mapa. Não que eu estivesse com medo da sala, mas havia a possibilidade de Juno sentir a presença de alguém no cômodo e correr até lá. Afinal, ela ainda era parte do quadro.

Entretanto, enquanto eu desenhava em uma das salas, acabo me deparando com quem?

Não, não foi com o Dean.

Juno.

Naquele momento eu tive certeza que a minha má sorte estava atacada.

Prendi a respiração e fiquei lá, sentadinha, seguindo a mulher com a minha lanterna. Entretanto, quando Juno chegou na metade da sala, começou a andar cada vez mais devagar, até parar. Eu tinha um péssimo pressentimento sobre aquilo. Portanto, mudei meu peso para minhas pernas, pois, se fosse necessário, era mais fácil para sair correndo.
Eu tive que abafar uma vontade absurda de gritar de raiva. Estava pensando em fugir, sair correndo. Eu jamais pensava naquilo. Se pudesse, daria com uma cadeira na cabeça de Juno e faria questão de me certificar que ela não seguiria mais ninguém.

Mas não havia nenhuma cadeira de ferro por lá.

De repente, Juno olhou para minha direção. Senti minhas mãos ficando geladas, porém resolvi não levar aquilo como um indício de que ela tinha me descoberto – afinal, ela já tinha me encarado algumas vezes antes, sem me ver.
- Eu te achei... – Ela sussurrou, como se tivesse dificuldade de falar.

Eu franzi as sobrancelhas imediatamente. Não era possível. Ela estava blefando.

Fiquei acreditando nas minhas próprias palavras até ela arreganhar um sorriso de dentes amarelados e desalinhados. O chiado que Juno emitia devia ser uma risada no mundo esquisito em que ela vivia.
Naquele momento, tive certeza que ela sabia que eu estava lá. Segurei meu mapa e minha lanterna com força e fiz o melhor que podia fazer: saí correndo.
Sim, que nem uma desembestada, fazendo todo o barulho do Universo. Mas não havia muito bem o que fazer. Virei rapidamente para trás, iluminando com a minha lanterna, somente para encontrá-la com os braços magricelos esticados na minha direção, gritando e perseguindo-me com seus passos arrastados.

Aquilo me daria pesadelos durante um mês. Tenho certeza.

Mas não parei. Por algum motivo, Juno não podia correr, somente andar apressadamente. Eu tinha que colocar o máximo de distância que pudesse entre nós duas e tentar dar um jeito de fazer silêncio o suficiente para que Juno não me encontrasse.
O que era bem difícil. Afinal, ela ouvia qualquer coisa. E eu estava fazendo muito barulho correndo daquela maneira.

Em resumo: eu estava ferrada. Muito ferrada.

Continuei correndo, estabelecendo uma sala de distância entre nós duas. Não sabia o que fazer. Eu não podia sair da casa, porém não podia ficar correndo de Juno a noite toda – ainda tínhamos muitas horas pela frente se a nossa estratégia fosse sobreviver e sobreviver correndo por aí rezando para que o troço que está te perseguindo não te pegue não é a melhor maneira de sobreviver.
Ou melhor, você nunca sobrevive dessa maneira. Eventualmente o negócio de pega e você termina em uma poça de sangue. Sou graduada em muitos filmes de terror pra saber que é exatamente isso que acontece.
Durante a minha fuga, entretanto, entrei em uma sala e dei de cara com o ser mais alto do mundo entrando por outra porta, iluminando-me com o próprio celular.
- Sam! – Sério. Acho que nunca fiquei tão feliz em ver uma pessoa.
- ! Ela tá te seguindo?! – Ele perguntou se aproximando e apontando a arma para a porta atrás de mim.
- Sim, eu tô ferrada!
- Percebi! Corre, eu cuido do resto!
- Certeza?!
- Yep, estou armado! Vai!
Nisso, fiz sinal para ele de que eu ia para o segundo andar e ele confirmou com a cabeça, dizendo que me encontraria lá depois. Ou seja, era bom eu deixar algum sinal para ele quando entrasse em algum lugar no andar de cima.
Não sei o que Sam fez, para falar a verdade. Saí correndo, pois a minha melhor chance era alcançar o segundo andar e ficar quietinha. Só sei que ele também fez bastante barulho e aquilo deve ter confundido Juno.
Fiquei aliviada quando alcancei a escada. Subi os degraus de dois em dois, tentando fazer o menor barulho possível. Chegando lá, virei à esquerda e me encostei à parede, tentando normalizar minha respiração.
Após algum tempo, já conseguia permanecer quieta novamente. Esperei durante alguns segundos, mas Sam continuou sem aparecer. Como tinha combinado de encontrar com ele, sabia que Sam apareceria por lá eventualmente.
Assim, iluminei o corredor ao meu lado. Havia muitas portas e passagens, portanto resolvi ir para a última passagem do corredor. Como não havia perigo de encontrar Juno no segundo andar, caminhei relativamente rápido.
Quando alcancei a saleta, sentei em uma das cadeiras que dava para enxergar todas as portas do recinto. Peguei meu fiel mapa e comecei a desenhar o segundo andar do outro lado do papel. Concluída a tarefa, resolvi explorar o local.
Afinal, meu segundo objetivo era descobrir o que Juno ainda estava fazendo lá, não? Como meu primeiro objetivo – achar o sal – foi frustrado de uma maneira digna de filme de terror, resolvi continuar com o segundo.
Entrei em algumas salas até finalmente achar uma interessante: um estúdio. Parecia que o próprio Jake Baker fazia pinturas e usava o estúdio, que aparentava ser muito antigo. Iluminei algumas das telas, assinadas por Jake, que eram realmente muito bonitas. Ele tinha um ótimo talento para pintar paisagens.
Foi aí que encontrei tintas. Como sou uma boa aluna de João e Maria, peguei uma tinta amarela, um pincel largo e voltei todo o caminho que tinha feito antes, até alcançar a escada.
Chequei o andar de baixo e não encontrei Juno, além de não ouvir mais ninguém que pudesse estar no andar. Para ajudar Sam a me encontrar, pintei uma grande seta amarela apontando para a passagem do lado esquerdo do corredor, escrito “” em cima.
Assim, fui pintando outras setas pelas paredes até alcançar o estúdio. Quando cheguei lá, fiz uma bola na porta e escrevi “aqui”. A ideia original era pintar setas no chão, porém Juno podia sentir a tinta. Como ela não encostava nas paredes, resolvi pintá-las por lá.
Só depois que pensei no cheiro da tinta. Por causa disso, resolvi me arriscar um pouco mais. Desci as escadas cautelosamente, chequei todos os meus lados e fui até a saleta antes do quadro. Assim, espalhei a tinta e o potinho no chão, como se tivesse caído por lá. Aquilo ia distrair o nariz de Juno e, quando ela sentisse o cheiro de tinta, não imaginaria que era o segundo andar – mas sim o pote derrubado no chão.
Checando cada canto do primeiro andar, voltei rapidamente para as escadas. Tenho que admitir que o segundo andar me fazia sentir muito mais segura do que o primeiro. Assim, voltei para o estúdio e não encontrei ninguém.
Fechei a porta e comecei a procurar por documentos.

Afinal, Albert Baker era um pintor. Portanto, suas coisas importantes deviam estar guardadas naquela sala.

Aparentemente, não havia nada além do material de pintura de Jake. Entretanto, comecei a observar com atenção um armarinho destinado a guardar as tintas, o elemento mais antigo da sala.
Dentro dele, não havia nada além de tintas e pincéis. Porém, passando a mão pelo fundo do armarinho, percebi que este era oco. Pressionei com um pouco mais de força e notei que dava para retirar a placa de madeira do fundo.
Quando o fiz, encontrei um caderno de tecido muito antigo. Peguei o objeto e sentei-me no chão mesmo, de frente à porta. Se Juno entrasse lá, não teria muito como escapar. Porém, se Sam entrasse, eu finalmente poderia ficar um pouco menos tensa.
Folheando o diário, comecei a ler algumas anotações e logo descobri que pertencia a Albert Baker. Ele o fizera com o objetivo de anotar algumas de suas técnicas e misturas de tintas. Porém, após algumas páginas com coisas típicas de artistas, as anotações começaram a ficar... Bizarras.

Começando com um desenho de um homem degolado e sem olhos. Tão agradável.

E lá havia a anotação “Primeira vítima de Juno”. Como se fosse algo a ficar orgulhoso.

Doente. Bem doente.

Ou seja: Albert ajudava Juno a matar e se livrar dos corpos. Conveniente. Pai e filha serial killers.
A cada página, mais algum detalhe sobre os crimes de Juno, além do ódio que ela tinha de quem podia enxergar. Após algumas páginas, começaram anotações muito loucas sobre experimentos para manter os “olhos vivos” e realizar um transplante em Juno para que ela pudesse enxergar.

Aquilo era muita loucura para uma família só.

Mais para o fim do diário, achei algumas anotações sobre o quadro de Juno. E finalmente descobri o motivo de não termos dado um fim nela anteriormente.

Algo meio nojento, para ser bem honesta.

Nesse momento, a porta do estúdio se abriu lentamente. Congelei no lugar, observando-a com cautela. Se fosse Juno, ia dar um jeito de me levantar e sair enquanto ela entrava na sala. Algo meio difícil de fazer, mas minha única chance de sobreviver.

Por sorte, vi as mãos de Sam empunhando a arma entrando no recinto.

Suspirei de alívio.

- Sam! – Sussurrei e ele abaixou a arma, entrando na sala e fechando a porta.
- ! Tá tudo bem?
- Tudo ótimo. Obrigada por me ajudar lá embaixo. – Eu dei um pequeno sorriso, sendo que ele o retribuiu. – Foi fácil de me achar?
- Com essa tinta amarela escandalosa? Ia ser difícil não te achar. – Ele respondeu e me ajudou a me levantar do chão. – O que é isso?
- A solução para todos os nossos problemas. – Comentei, balançando o diário. – Anotações de Albert Baker e todas as maluquices doentes que ele fazia junto com Juno. Os dois eram seriais killers, uma grande família feliz.
- Tipo aquele filme Entes Queridos? – Sam perguntou erguendo uma sobrancelha. Eu ri pela primeira vez naquele inferno.
- Exato. Nunca mais podemos reclamar de famílias disfuncionais. – Balancei a cabeça e abri o diário para mostrar os desenhos a Sam. – Só que menos “baile de formatura” e mais “experimentos nazistas”.
- Credo. – Ele franziu as sobrancelhas ao ver um dos desenhos. – E por aí fala de alguma coisa que pode manter Juno aqui?
- Sim. Ele...

Porém, nesse momento, ouvimos um clique na porta.

Sam imediatamente fez sinal para que eu ficasse atrás dele. Por mais que eu odiasse aquilo, era ele quem estava com a arma. Sam a apontou para a porta e eu imediatamente comecei a procurar algo de ferro que pudesse usar para jogar em Juno e me livrar dela por alguns instantes.

Porém, e Jake entraram sem cerimônias.

Eu não sabia se batia nos dois ou se abraçava.

Por isso, escolhi somente suspirar.

- Vocês quase mataram a gente. – Sam comentou, abaixando a arma.
- Sammy! – E claro, saiu correndo atrás dele, abraçando-o.
Enquanto eu o observava abraçá-la de volta, comecei a ficar um pouco preocupada. O único que estava faltando era Dean. Eu também queria abraçá-lo se ele estivesse bem.
Se ele estivesse bem”. Meu coração apertou um pouco ao pensar naquela frase.


Relato da
- ! Você tá bem? – E eu fui abraçá-la. A criatura somente sorriu, abraçando-me de volta.
- Tô o melhor que podia estar depois de ser perseguida por uma mulher decrépita que acabou de sair de um pesadelo. – Ela comentou, suspirando.
- Ah, então foi você que fez aquela barulheira toda. – Jake concluiu e a só confirmou com a cabeça.
- Vocês encontraram com o Dean? – Ela perguntou, parecendo um pouco tensa.
- Não. Vocês não o viram até agora? – E, no que eu perguntei, ambos negaram com a cabeça. Olhei para Jake, porém ele só fez a mesma coisa.

Percebi o olhar da abaixando, voltando a olhar para mim logo em seguida, como se não estivéssemos falando nada de mais.

Ela estava preocupada. Eu sabia disso.

E não era para menos. Todos já estavam juntos, mas parecia que Dean era o único no andar de baixo... Com Juno.
- Bom, eu estava para falar para o Sam que resolvi nossos problemas. – Ela comentou imediatamente, provavelmente tentando não pensar em Dean.
- O que é isso? – E Jake se aproximou de . – Eu nunca vi esse diário na minha vida.
- Estava escondido em um fundo falso do armarinho de tintas. – entregou para Jake e eu fui ao lado dele, a fim de ver o diário. – Nele, Albert relata todos os assassinatos, como ajudou Juno a realizá-los e a coisa que mais importa para nós: um dos ingredientes das tintas que pintaram o quadro amaldiçoado é o sangue de Juno.
- O quê?! – Eu, Sam e Jake perguntamos ao mesmo tempo, olhando com nojo para .
- Yep. Sangue. Ele pintou o quadro com sangue. Por isso que ela não sumiu. – respondeu, apontando para o diário. – Tá escrito aí. Ele queria que “ela fosse uma com o quadro”.

Nós nos pusemos a ler aquele diário doente. E, realmente, aquilo estava escrito lá mesmo.

Nojento. O cara era doente e nojento.

- Ok... – Balancei a cabeça, suspirando. – Então precisamos tacar fogo no quadro. Daí ela some.
- Yep. – E a deu um pequeno sorriso. Se eu conheço bem a minha irmã, ela teria dado um sorriso maior, porém a preocupação não a deixava.
- Precisamos de sal. – Sam comentou. – , você pode ir buscar?
- Claro. Tento achar o Dean no processo. – Ela respondeu prontamente. Assim que começou a se preparar para sair da sala, eu me pus ao lado dela.
- Também vou. Afinal, tenho uma arma. – Comentei com Sam, mostrando o objeto. – Vocês vão procurar gasolina?
- Exato. – E Sam deu um pequeno sorriso. – Nos encontramos na saleta do quadro?
- Yep. – Eu dei um beijo rápido nele antes de irmos até a porta.
- Elas conseguem se virar? – Ouvi Jake perguntar enquanto saíamos do estúdio.
- Conseguem até melhor do que nós. – Sam respondeu com uma breve risada seca no fim da frase.

Que orgulho. Ele sabia reconhecer aquilo.

- Você sabe onde fica a cozinha? – A perguntou e tirou um pedaço de papel do bolso. – Fiz um mapa da casa por onde passei e, por mais que tentasse, não consegui achar a dita cuja.
- Você desenhou um mapa da casa? – Perguntei com uma sobrancelha erguida.
- Claro. O que você fez para se localizar? – Ela respondeu como se fosse a coisa mais elementar do mundo.
- Marquei os rodapés. – E apontei uma das minhas marcas enquanto caminhávamos até a escada.
- Inteligente... – Ela resmungou, mas continuou com o mapa em mãos. – Então, onde fica a cozinha?
- Aqui. – Indiquei o único espaço em branco no mapa dela. Estava muito bem desenhado para falar a verdade.
- Ah, ok. Faz sentido. – E guardou o mapa.
Tinha que ser a minha irmã esquisitinha para fazer uma coisa daquelas. Pra que fazer do jeito mais fácil se você pode fazer do mais difícil, né?


Com nós duas andando pela casa, a situação ficou bem mais fácil. Não que Jake não tivesse me ajudado, mas ele era muito “operações táticas do exército”. A era o contrário: quando estava no escuro, tudo que aquela mulher queria era praticidade. Então, ela ia na frente – já que era a única pessoa com um mapa da casa – e eu ia atrás, com as costas coladas nas dela, iluminando tudo que deixávamos para continuar nosso caminho.

Lanterna? Checado. Mapa? Checado. Duas bobas andando vagarosamente para não fazer barulho? Checado. Salsicha? Checado. Scooby? Checado.

Joga um sanduíche aí no meio e tudo ia ficar perfeito.

Sério. Parecia que a gente tinha acabado de sair do desenho.

Mas nem vou reclamar, pois devido a nossa situação, andarmos daquela maneira era completamente compreensivo.
Não trocávamos uma palavra. Tudo que precisávamos falar era por gestos. A nossa sorte é que até chegarmos à cozinha, não encontramos nem um vestígio de Juno.

Nem de Dean.

- Você procura o sal e eu fico de guarda? – A me perguntou, mexendo somente os lábios e sem emitir sons, logo que entramos no recinto.
- Procuro. Se ela aparecer, tenta não atirar. – Respondi fazendo o mesmo, enquanto entregava a arma para ela.
- Ok.
E assim, comecei a minha missão para achar o sal. O mais complicado é que teria que abrir as portas dos armarinhos altos, pois eram os locais mais óbvios para manter o sal. Aquilo ia fazer barulho e, se Juno estivesse por perto, com certeza iria nos ouvir.
A permaneceu de costas a uma parede enquanto eu desempenhava minha função. Tentei abrir os armários com o máximo de cuidado possível, mas não dava para nenhum deles ficar sem ranger.

E somente no terceiro armário é que fui achar o bendito sal. Ô povinho que gosta de deixar as coisas mais óbvias nos lugares mais difíceis.

Acenei para a e mostrei o pote, sorrindo. Ela sorriu de volta, mas eu imediatamente fiquei séria. Apontei para a porta atrás dela e a se voltou imediatamente, em um pequeno pulo silencioso.

A porta estava abrindo.

Eu sabia que a Juno ia nos escutar. Malditas portas barulhentas.

Pelo menos, havia sal. Então não era tão preocupante. Eu peguei um pouco de dentro do pote e fiquei segurando, enquanto a recuava lentamente, apontando a arma para a pessoa.
Mas, como a porta abria para a nossa direção, não conseguíamos ver quem estava atrás dela. Demorou alguns segundos, mas a pessoa finalmente entrou na cozinha e virou para nós.

Era o Dean.

Com um atiçador de fogo em mãos. Eu sabia.

Suspirei de alívio enquanto ele mesmo parecia aliviado de nos ver. Ele fechou a porta rapidamente, virando-se para nós novamente.
E, no que ele fez isso, a segurou o rosto dele com uma das mãos – pois a outra estava ocupada, segurando a arma – e o beijou. Intensamente. Após o choque inicial de Dean, que não durou muito, ele colocou a mão na cintura dela, puxando-a mais para perto.

Eu só fiquei observando, sorrindo que nem uma besta. Eles se amam demais. Admitir que é bom, nada. Mas se amam e é isso que importa.

Nisso, ouvimos um barulho, vindo de uma das portas que não abrimos e que dava para o restante da casa. A soltou o Dean imediatamente e fez sinal para a seguirmos. Ela pegou o mapa, calculou a melhor rota até a saleta que ficava antes da sala do quadro e abriu a porta.
- O que foi isso? – Dean somente mexeu os lábios, estranhando o beijo repentino.
Eu somente ri, sem fazer barulho algum.
- Ela estava preocupada. Agora vai, Sr. Atiçador-de-fogo.
Dean somente olhou para o objeto em mãos, ergueu uma sobrancelha, balançou a cabeça e saiu andando atrás da . Eu fiz o mesmo e, assim que fechei a porta da cozinha, ouvi outra porta se abrindo lá dentro.

Por pouco não fomos pegos. Muito pouco.

Nem preciso falar que caminhamos o mais rápido que pudemos até a saleta. Como não sabíamos qual era a relação de Juno com o quadro – se ela percebesse que queríamos queimá-lo, podia sair correndo atrás de nós loucamente – achamos melhor não entrar na sala.
- E agora? – Dean perguntou, movendo somente os lábios.
- Esperamos o Sam. – Eu respondi da mesma maneira.
E assim, começamos a encarar a passagem do outro lado da sala do quadro – teoricamente a que Sam deveria aparecer, afinal a garagem da casa ficava para aqueles lados.

Sim. Jake tinha me explicado a arquitetura toda enquanto procurávamos por alguém.

Observamos a passagem durante alguns segundos... E nada. Nem Jake. Nem Sam. Só a gente e a Juno na cozinha, provavelmente já vindo atrás de nós.

Aquela noite ficava cada vez melhor.

- Eu vou matar o Sam. – Dean comentou.
Eu somente suspirei. Não queria concordar em esganar o meu Sam, mas né... TINHA UM ESPÍRITO ATRÁS DE NÓS. LITERALMENTE.
De repente, vi a apontando para a sala.
- Eles chegaram!
Nisso, vimos Sam e Jake na passagem do outro lado, mostrando um galão de gasolina. Ele fez alguns sinais e combinei com ele de nos encontrarmos no meio da sala.

Entramos correndo, para nos encontrarmos o mais rápido possível. Quando alcançamos o meio, ouvimos um grito estridente de Juno.

- É bom já começarmos! – Comentei logo que os alcancei. Nisso, Jake e Sam já começaram a abrir os galões de gasolina.
- Dean, você tá com o isqueiro? – Sam perguntou e Dean jogou o objeto para ele. – Por que você tá me dando?
- Alguém precisa distrair a Juno. – A comentou repentinamente, entregando-me a arma e pegando o pote de sal. – Nós vamos.
- Não adianta discutir! Precisamos resolver tudo rápido! – Dean comentou antes que eu pudesse falar qualquer coisa. Em seguida, virou-se para a . – Pronta pra correr, linda?
- Ih, a Juno vai te pegar e eu nem vou perceber, de tão longe que estarei. – Ela respondeu com um sorriso e piscando para Dean.

Ele só riu em resposta e os dois saíram correndo pela passagem que entramos, gritando desafios para Juno. A próxima coisa que vi, foi o espírito da mulher, arrastando os pés furiosamente até eles.

- Esses dois são malucos. – Jake comentou enquanto observávamos a cena.
- Eu penso isso todo dia. – Suspirei, balançando a cabeça. – Ainda bem que eu peguei sal antes, ou teria que correr atrás da para pegar o pote de sal de volta.
- Malucos e inconsequentes. – Sam balançou a cabeça e me estendeu o galão de gasolina. – Acho melhor colocar o sal aí dentro. Assim, conseguimos colocar no quadro inteiro.
- Enquanto vocês tacam fogo, eu fico dando cobertura, ok? – Perguntei logo depois de colocar o sal no recipiente. Sam somente confirmou com a cabeça e fez um sinal para Jake.

Assim, virei de costas para os dois, de olho nas duas passagens e na porta que davam acesso à sala. Ouvi quando começaram a jogar a gasolina sobre o quadro.

E o grito de Juno parecia um par de unhas riscando uma lousa.

Segurei a arma com mais força, apontando-a para frente. No primeiro vestígio de algo se movendo, eu atiraria. Por mais que tivesse uma chance de ser a e o Dean, esperava que ambos tivessem bom senso o suficiente para se abaixar caso eu atirasse acidentalmente neles.
- ! TOMA CUIDADO! ELA TÁ INDO! – Ouvi a voz da gritando, não muito distante de nós.

Em seguida, ouvi um estrondo, várias coisas caindo, vidro se quebrando.

- ! – E a voz de Dean gritando.

Ah, mas aquela mulher ia levar uma bala na testa quando entrasse lá.

Foi só eu pensar nisso, que Juno entrou na sala. Ouvi Sam abrindo o isqueiro. Juno começou a correr na nossa direção, as mãos sujas de sangue, os olhos opacos vidrados em nós. Eu mirei e atirei, sem ao menos hesitar.
- Sai de perto, ! – E Sam segurou meu braço, distanciando-me do quadro que pegava fogo rapidamente.
- Vem Jake! – Nessa, eu segurei o moço para que ele viesse junto com a gente. Tínhamos que nos distanciar do quadro e, sinceramente, eu queria achar a .

Porque, pelo que ouvi, ela estava machucada.

Novidade.

- Hey! Cuidado! – Ouvi Dean rosnando atrás de nós.
E, no que viramos, Juno estava lá novamente. Conseguimos nos desviar do ataque dela, separando-nos pela sala. A mulher gritou novamente, e ficou parada, como se estivesse observando o quadro.

Assim, em questão de segundos e com um de seus gritos estridentes, Juno pegou fogo e sumiu no ar, em um monte de cinzas.

Jake estava embasbacado ao meu lado.

- Você está bem, ? – Sam perguntou imediatamente, virando-se para mim.
Mas eu só virei para trás, o mais rápido que pude. Encontrei Dean com um dos braços de por cima de seus ombros, segurando-a pela cintura, enquanto ela mancava com uma das pernas sangrando do joelho para baixo. Eu só sorri. Ela estava bem, portanto...
- Tô sim. – E me virei para Sam, ainda sorrindo. Ele somente sorriu de volta, sabendo o motivo do meu sorriso.

Por isso que eu adoro esse homem. A gente se completa.

- A vida de vocês é assim todo dia? – Jake suspirou, passando a mão pela testa suada. Eu só ri em resposta.
- É. – Sam comentou com um pequeno riso. – Mas agora está tudo resolvido.
- Você só vai ter problema para limpar todo esse sangue. – Dean comentou, apontando para o chão.

E só aí percebemos que deixamos várias pegadas sangrentas pela sala.

- E desculpa pela outra sala. – A comentou em seguida. – Mas a Juno me alcançou quando gritei para vocês tomarem cuidado.
- Sem problemas... – Jake colocou a mão na cintura e deu uma olhada pelo cômodo. Em seguida, riu sem humor algum. – Acho que vou vender essa casa de qualquer maneira. Não vou mais conseguir andar por aqui sem achar que tem algo me perseguindo no meio da noite.
- Bom, eu ia falar para você repensar, pois isso aqui é um bem de família... Mas considerando o que aconteceu e a sua família, acho que é o melhor a se fazer. – Eu falei, finalmente me sentindo um pouco mais aliviada naquela noite.
- E você vai dormir aqui essa noite? – Sam perguntou casualmente. – Podemos te dar uma carona para algum hotel, se quiser.
- Olha... Eu aceito. – Jake respondeu com um suspiro.
Assim, conseguimos finalmente deixar aquela casa.


Jake orientou Dean até o hotel mais próximo – que era relativamente chique, para falar a verdade. Eu e Sam ficamos no banco de trás, com no meio. Ela ficou com a perna esticada em cima de mim – apesar de discutirmos muito, pois ela não queria me sujar de sangue.

Chegamos à conclusão que sujar o Impala de sangue seria bem pior. Dean nos faria limpar aquilo com a língua, certeza.

Quando Jake saiu do carro, eu fiz questão de acompanhá-lo até a porta do hotel. Primeiramente, pois eu era a mais apresentável naquele momento. E, em segundo lugar, Dean já tinha até saído do carro para ir até o banco de trás dar uma olhada na perna da .
Não vou falar que eu não estava preocupada, pois o machucado era bem feio. Estava cheio de pedaços de vidro – grandes e pequenos – atravessados na carne. Aquilo seria um parto de tirar e eu tenho certeza que ela ia xingar bastante o Dean no processo. Mas, a estava viva e, para mim, era isso que contava.
Enfim, eu e Jake alcançamos a porta do hotel e eu finalmente sorri para ele.
- Olha, Jake... Roubei esse pedaço de papel do mapa da . Anotei nossos telefones, então se você tiver algum problema como o de hoje, pode nos ligar. – Comentei, entregando o pedaço de papel.
- Eu pensei na mesma coisa. – Ele respondeu sorrindo. E lá estava o Jake normal e simpático, pintor de paisagens nas horas vagas. Sinceramente, eu gostava mais dele assim. – Anotei meu celular. Se vocês precisarem de qualquer coisa que eu possa ajudar, é só me ligar. Vocês me salvaram hoje e tenho uma dívida enorme com os quatro. Já posso considerá-los meus companheiros de guerra.
- Obrigada. – Sorri de volta, pegando o papel e guardando-o no bolso da calça.
Assim, Jake acenou para mim e se enfiou no hotel, já tirando a carteira do bolso. Eu suspirei e voltei para o Impala, relativamente contente. Afinal... Tínhamos um novo companheiro de guerra.

E, logo que alcancei o carro, já estranhei. Sam estava no banco do motorista e Dean estava lá atrás, com a perna de no colo.

- O que significa isso? – Perguntei, entrando no banco de carona da frente do carro.
- Significa que o Dean é um papai preocupado e não para de me tratar como uma criança. – disse de braços cruzados. Eu e Sam começamos a rir imediatamente. – Como se eu nunca tivesse tido um momento da minha vida com pedaços de vidro incrustados em mim!
- Não desse tamanho, mulher! – Dean respondeu, irritado. E nós, do banco da frente, somente ríamos mais, enquanto Sam começava a dirigir. – Pra tirar isso daí vamos precisar de uma boa garrafa de whisky e boa vontade da sua parte!
- E da sua também! – Ela comentou rolando os olhos. Mas, no momento que Dean apoiou a mão sobre a perna dela para analisar melhor o machucado, ela já fez cara de dor.
Os dois trocaram olhares. Nisso, Dean repousou uma das mãos carinhosamente sobre a coxa de , fazendo-a sorrir como se estivesse agradecendo. Dean sorriu de volta e continuou a analisar os cacos de vidro, acariciando a perna dela no processo.

Eu sorri. Estava tudo bem, pelo menos. Anotei o número de Jake no meu celular – que estava quase sem bateria, após aquela noite intensa – e, depois de guardá-lo, olhei para Sam.

Repousei uma das minhas mãos sobre a coxa dele. Sam somente sorriu levemente, olhando-me de lado.
- Você sabe que eu não vou dormir essa noite, né? – Perguntei com uma pequena risadinha no fim da frase, porém falava sério.
- Sei. – Ele comentou, ainda sorrindo. – Mas não se preocupa. Eu também não vou dormir.
- Acho que vai demorar uma semana pra toda essa adrenalina sair do meu sangue... – Suspirei, rindo. Ele riu de volta.
- E eu acho que teremos que voltar para a casa do Bobby. – Sam comentou, fazendo-me rir mais ainda. – Ele vai ficar uma fera.
Dessa maneira, aquela noite infernal terminou. Mas os pesadelos ainda duraram uns bons dias.





Separate Ways – Journey

O bunker dos Homens das Letras era, naquele momento, o melhor lugar a se ficar. Porém, não poderiam permanecer dentro de um buraco para sempre, esperando que todas as criaturas que os caçavam desistissem daquela empreitada.

Tinham que divisar um plano para lidar com aquela situação e colocá-lo em prática.

Como era a primeira vez que paravam em um lugar seguro, decidiram jantar com calma, pelo menos naquela noite. E claro, em um acordo mútuo, também resolveram deixar Castiel de babá de Jimmy e Mary, enquanto discutiam os próximos passos.
- Sério? Depois de tudo que nós vimos, vocês querem relegar a gente para o quarto com a Mary Poppins? – E Jimmy estava mais do que revoltado com aquilo.
- “Tudo que vocês viram”? – cruzou os braços, perguntando de volta. – Claro. Você já é um caçador profissional, Jimmy Winchester.
- Eu odeio quando você faz isso, mãe.
- E eu odeio quando você se comporta dessa maneira arrogante que nem o sei pai. – Ela ergueu uma sobrancelha. – Vai, Jimmy. Eu te ensinei a ser um ser humano melhor que aquilo ali.

Jimmy somente olhou para o pai, que observava com um par de olhos irritados e os braços cruzados. Em seguida, começou a rir.

- Eu sei. Desculpa, mãe.
- Como assim “eu sei”? – E agora, quem estava revoltado era Dean.
- Mas não concordo em ficarmos quietinhos lá no quarto enquanto vocês decidem tudo. Já não somos mais crianças. – Jimmy cruzou os braços novamente, menos irritado e ignorando completamente o pai.
- O Jimmy tá certo, mãe. – Mary resolveu entrar na briga. Afinal, queria fazer parte dos planos dos pais. – Não que eu ache ruim ficar com o tio Cas, mas queria pelo menos saber o que vocês pretendem fazer.
- “Tio Cas”? – Sam franziu as sobrancelhas. Desde quando aquele apelido tinha surgido?
- Vocês vão saber dos nossos planos. – respondeu sorrindo. – Depois que decidirmos o que fazer.
- Mas mãe...!
- Sem “mas mãe”. Os caçadores experientes e responsáveis por aqui somos nós. – terminou a discussão categoricamente. – Às vezes, o que nós acharmos como melhor opção, vocês vão achar como pior e vice versa. Precisamos de calma para pensar em tudo que está acontecendo e, principalmente, em resolver a questão como caçadores, não como pais.
- Com vocês por perto, não conseguiríamos deixar de pensar como pais. – Sam comentou seriamente. – E, nas alturas do campeonato, não podemos nos dar ao luxo de perder tempo.
- Precisamos voltar a ser caçadores, cem por cento. – completou. – E faz tempo que não somos “cem por cento”.

Mary e Jimmy trocaram olhares rápidos. Se aquilo não era cem por cento, eles não sabiam mais o que esperar dos próprios pais.

E, sinceramente, estavam morrendo de curiosidade de vê-los como caçadores de verdade.

- Ok... – Jimmy suspirou, concordando de maneira derrotada.
Mary olhou para ele novamente. Não esperava que o garoto fosse desistir tão rapidamente.

Afinal, pior do que e Dean juntos, somente Jimmy. Ele puxara todos os traços de cabeça dura dos dois.

- Tudo bem... Não queremos atrapalhar. – A garota concordou silenciosamente, descruzando os braços.
Mesmo assim, ainda achava a reação de Jimmy bem suspeita.
- Então você os leva lá para cima, Cas? – perguntou e o anjo confirmou com a cabeça.
- E não tira os olhos deles. – Dean adicionou. Castiel apoiou uma mão no ombro de cada um.
- Não se preocupem. Meus olhos celestes estarão focados somente neles.

E sumiram.

, , Dean e Sam somente ficaram observando o lugar vazio.
- Ele não podia ter usado as escadas, não? – perguntou, erguendo uma sobrancelha.
- Ah, o Cas não sabe qual é o conceito de “escadas”. – Dean respondeu suspirando.
Assim, finalmente puderam se sentar à grande mesa dos Homens das Letras a fim de discutir seus próximos passos e como lidariam com aquela caçada. Exatamente como faziam antes mesmo de se casarem.


- Tio Cas... Nossos pais eram muito diferentes antes de nos ter? – Mary perguntou logo que entraram em um quarto do bunker, no qual havia duas camas de solteiro.
Perguntavam-se se Castiel os colocaria para dormir e ficaria em pé no meio do quarto, observando-os.
Porque se isso fosse acontecer, nenhum dos dois conseguiria dormir. Jamais.

- Diferentes em que aspecto, Mary? – Castiel perguntou de volta, ficando parado no meio do quarto, enquanto os adolescentes escolhiam suas camas e se sentavam aos pés destas.
- Ah, de comportamento, sabe? – Ela deu de ombros. – Estamos lendo o diário das nossas mães quando conseguimos e deu para perceber como eles eram logo que se conheceram. Mas era tão diferente assim? Sabe, para ter que nos tirar da sala e discutir as coisas...
- É verdade. Meus pais nunca fizeram isso comigo. – Jimmy ergueu uma sobrancelha, entendendo o que ela queria dizer. – Sempre discutiram tudo comigo por perto, não queriam segredos. Tirando as coisas sobre caçadas, claro, mas dá pra entender isso.
- Ah, entendo... Bom... Suas mães não aparentavam ter muito talento natural quando as conheci. – Castiel começou a contar, ainda em pé. Os dois se questionavam internamente se ele nunca ia sentar. – Apesar do relacionamento com seus pais, sempre foram mais sérias e duronas. Extremamente sinceras, e isso continua até hoje. Também nunca tiveram receio de admitir algo, principalmente quando estavam com medo... Afinal, tornaram-se caçadoras por uma circunstância infeliz do destino, não cresceram nesse meio como seus pais. Nunca hesitaram em matar alguma coisa, podiam causar medo nas vítimas com somente um olhar e possuíam um instinto de sobrevivência que nunca vi em outros seres humanos.
- Uau. Elas pareciam heroínas da Marvel, então. – Mary estava realmente impressionada com aquela descrição das duas. – Não consigo imaginar minha mãe desse jeito... Quer dizer, ela sempre foi durona, mas sempre a vi enfrentando professores e outras mães idiotas. Não consigo imaginá-la em uma caçada propriamente dita.

Nisso, ficou em silêncio e olhou para Jimmy, esperando que o garoto concordasse e comentasse o mesmo da mãe.

Teve que esperar alguns segundos até o ser humano em questão notar o olhar.

- O que foi? Minha mãe é uma viking! Disso eu nunca tive dúvidas! – Ele respondeu rindo, fazendo Castiel esboçar um pequeno sorriso e Mary rolar os olhos. – Mas, falando seriamente... Não sei se consigo imaginá-la com aquele rifle nas mãos, coberta de sangue, salvando pessoas em uma caçada. Sei que a minha mãe não leva desaforo pra casa, e que ela já quase saiu no tapa com vários superiores na minha escola, mas... Sei lá. Nunca a imaginei trucidando coisas sobrenaturais.
- Por isso que eles queriam que vocês deixassem a sala. – Castiel sorriu enquanto falava. – Tanto suas mães quanto seus pais tiveram que passar por muita coisa e matar muitas coisas antes de encontrar uma família. Vocês são as coisas mais preciosas que eles possuem. Sam e Dean começaram a sorrir alegremente e se estabeleceram em casas comuns com trabalhos comuns. e conseguiram terminar as respectivas faculdades e passaram a dar vazão a um lado menos agressivo que reprimiram durante muito tempo. De certa maneira, terão que deixar isso de lado por alguns momentos para se tornarem caçadores novamente. É um processo difícil para eles também.
Jimmy e Mary trocaram olhares. Não tinham pensado naquilo. Até o momento, viram os pais arrancando cabeças de vampiros, atirando e dirigindo de maneira desembestada pela estrada como se não fosse nada... Como se fosse uma vida antiga da qual eles sentiram falta e agora, finalmente, estavam de volta. Porém, toda aquela nostalgia tinha um preço. E o preço que precisavam enfrentar era abandonar as personalidades mais meigas e despreocupadas que adquiriram durante o tempo em que moraram pacatamente como famílias normais para voltarem com as personalidades agressivas que não hesitavam em cortar gargantas.
- Uau... – Jimmy comentou, olhando para os pés. – Não estava esperando por isso.
- Nenhum de nós estava. – Castiel suspirou. – E realmente espero que tudo possa se resolver e seus pais possam voltar às vidas com as quais se acostumaram agora. Eles merecem ter esse descanso... Essa vida é o paraíso que eles mereceram depois de tanto tempo salvando pessoas e caçando coisas pela estrada.
- Você tem razão, Tio Cas... Vamos pegar leve com eles. – Jimmy comentou com um pequeno sorriso. – E se vocês não se importam, eu tô com sono. Acho que já vou dormir.
- Já? – Mary estava indignada. Afinal, ela sabia muito bem que Jimmy tinha uma dificuldade absurda de dormir à noite. Se não o conhecesse desde pequena, acharia que ele era um vampiro.
- Já. Tudo isso que aconteceu esses dias me cansou. – Ele comentou inocentemente, já começando a arrumar o lençol da cama. Em seguida, piscou para Mary quando Castiel não estava olhando. – Assim o Tio Cas pode ir com nossos pais ajudar a realizar o plano.
- Verdade... – Mary comentou, finalmente entendendo o que ele estava fazendo. – Agora que você comentou, acabei ficando com sono também... Pode descer com eles, Tio Cas.
- Ficarei à porta de vocês até caírem no sono. – Castiel respondeu solenemente. – Se algo ruim acontecer, é só abrir a porta e me chamar.
- Ok. Obrigada. – Mary respondeu sorrindo e Castiel saiu do quarto.
Ela imediatamente olhou para Jimmy e começou a conversar com ele sem fazer barulho algum, exatamente como seus pais fizeram no caso de Juno Baker.
- Você planejou isso desde que se rendeu a vir pro quarto?
- Yep. – Ele respondeu orgulhoso, sorrindo.
- E nem pensou em me dar um sinal antes? – E ela estava relativamente brava com a lerdeza do primo.

Jimmy somente parou e ficou observando-a, tentando achar uma resposta. Mas nenhuma resposta justificava aquela falta de presença de espírito dele.

- Desculpa. – E o garoto teve que se render.
- Da próxima vez, vê se me dá um aviso antes. – Mary balançou a cabeça, suspirando. Como é que ela podia ter um primo tão esquisito e cabeça de vento?

Assim, lembrou-se dos relatos da mãe no diário. A Tia não era muito normal também... Então estava explicado.

- Aviso sim. Desculpa. – Jimmy balançou a cabeça. – Vamos deitar e fingir que estamos dormindo até o Tio Cas vir nos checar. Assim que ele descer...
- Nós esperamos e descemos atrás dele. Ok. – Ela confirmou com uma piscadinha e ele sorriu de volta. – Posso apagar a luz?
- À vontade. “Boa noite”, Mary.
- “Boa noite”, desmiolado.
E assim, ela apagou a luz, com ambos se deitando nas respectivas camas logo em seguida.
- Eu já pedi desculpas. – Jimmy comentou com um sussurro, fazendo-a rolar os olhos.
- Fica quieto, senão o Tio Cas vai ouvir!
Dessa maneira, ambos finalmente puderam “dormir”.


O tempo passou. Fizeram silêncio durante, mais ou menos, uma hora. Castiel, após aguardar pacientemente em sua vigília à porta deles, checou-os, procurando fazer o mínimo de barulho possível, e sorriu ao ver aquelas duas criaturinhas em um sono profundo.

“Sono profundo”.

Assim que se certificou que tudo estava bem e nenhum ser ia se teleportar para aquele quarto, desceu para conversar com a família Winchester no andar de baixo.
Mary e Jimmy somente aguardaram, pacientemente. Contaram dez minutos que Castiel desceu e, finalmente, levantaram.
- Tá acordado? – Mary sussurrou, chacoalhando Jimmy levemente.
- Tô sim. Não precisa me perturbar! – O garoto respondeu tirando as mãos da prima de cima dele. – Eu não dormi!
- Vai saber. Você sempre dorme, em qualquer lugar. – A garota deu de ombros, caminhando até a porta. – E precisa de uma bandinha de rua pra te acordar, que nem a Tia , senão só vai acordar depois de dois dias.
- Desculpa se eu não sou neurótico que nem você que acorda todo santo dia no mesmo horário. – Jimmy rolou os olhos, seguindo-a até a porta. – Até de final de semana. Você é doente.
- E você é preguiçoso. – Mary respondeu cruzando os braços. – Agora... Qual é o plano?
- Bom, eu pensei em descermos e ficarmos escondidos, ouvindo o que eles estão conversando. – Ele suspirou, abrindo a porta cautelosamente. – Mais simples impossível.
- Ok. Só cuidado pra não fazer barulho. – Ela respondeu, acenando com a cabeça.

Nesse momento, a maçaneta escapou da mão de Jimmy, fazendo um barulho considerável.

Mary só ficou observando-o, com os olhos semicerrados. Jimmy ficou parado, olhando apreensivamente para o corredor, como uma criança que estava fazendo asneira.

Ou melhor: ele era um adolescente fazendo asneira. Então fazia sentido.

- “Cuidado para não fazer barulho”. – Mary repetiu, suspirando.
- Ah, não enche o saco! Quer ir na frente? – O garoto perguntou nervoso. – Não vi você se oferecendo para abrir a porta no meu lugar!
- Claro! Se forem pegar alguém, você é o primeiro a ser visto! Eu só saio correndo e volto pro quarto! – Ela respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
- Santa do pau oco. – Jimmy balançou a cabeça, suspirando novamente. – Então para de reclamar do que eu tô fazendo.
- Não é minha culpa que você tá fazendo besteira. – Mary finalmente empurrou a porta para abri-la, vez que ninguém subira para checar o que estava acontecendo.
- Ah, claro. – O garoto torceu o nariz. – Quando alguma coisa ruim acontecer, tenho certeza que vai sair correndo atrás de mim, com uma arma na mão, falando “Jimmy, me ajuda, não sei como destravar isso daqui”!
Nisso, ambos já caminhavam pelo corredor, sussurrando, enquanto Jimmy fazia uma encenação do que era a voz de Mary e como a garota corria, agitando as mãozinhas para lá e para cá.

E tudo que recebeu de volta foi um leve soco no estômago. “Leve”, pois deu para sentir uma dorzinha.

- Fica quieto. Se eu tiver que sair correndo atrás de alguém, vai ser ou do meu pai ou da minha mãe. – Ela respondeu rispidamente, porém aquilo não o impediu de rir.
- Se eles não estiverem ocupados arrancando cabeças de vampiros...
- Desculpa, meus pais não se divertem tanto com essas coisas como os seus. – Ela deu de ombros, parando no topo da escada.
Nesse momento, Jimmy parou ao lado dela e a observou durante alguns segundos. Mary estava pronta para começar a rir, porém, quando viu a expressão no rosto do garoto, entendeu que aquele comentário tinha ido longe demais.

Porém, antes que pudesse pedir desculpas, Jimmy foi embora, descendo as escadas silenciosamente e deixando-a para trás.

- Boa, Mary... – Ela rolou os olhos para si mesma e saiu atrás de Jimmy, antes que o garoto pudesse fazer alguma burrada por estar nervoso.
Afinal, aquele plano de fuga do quarto da Mary Poppins – também conhecido como Castiel – estava perfeito até aquele momento.
A garota encontrou Jimmy já abaixado, caminhando lentamente até um lugar onde pudessem escutar toda a conversa sem serem vistos. Ela aproveitou que a conversa dos pais estava relativamente alta e desceu rapidamente os degraus, abaixando-se e chegando perto do garoto.
Jimmy parou ao lado da grande passagem que levava à biblioteca onde seus pais e Castiel se encontravam. O garoto conseguiu subir a escada pela lateral e se sentou em um dos grandes blocos de granito que ficavam ao lado da passagem – e tinha a sorte de ser magro, ou não caberia por lá.
Mary o seguiu imediatamente e se espremeu para sentar ao lado dele. Jimmy somente a lançou um olhar não muito feliz.
- Desculpa. – Ela sussurrou o mais baixo que conseguiu.

E ele não respondeu, somente fez sinal para que ela ficasse quieta.

Mary suspirou. Não acreditava muito naquela coisa de zodíaco, porém Jimmy era um típico escorpiano que não largava o rancor quando alguém falava alguma coisa que ele não gostava.

Ela queria bater nele. Com uma frigideira. Na cabeça.

Agora sabia exatamente como sua mãe se sentia nas caçadas com a Tia e o Tio Dean, principalmente na última que leram – com o quadro mal assombrado e tudo mais.
De repente, Jimmy deu uma leve batidinha no ombro dela, com a cabeça virada para a passagem, como se estivesse falando para ela prestar atenção. Sendo assim, a garota começou a ouvir a conversa dos pais.

Teria muito tempo para fazer Jimmy desculpá-la, então podia deixar aquilo para depois.

- Eu não gosto muito dessa ideia... – suspirou. – Mas parece ser a melhor opção.
- Não. Podemos pensar em outra coisa. – Dean comentou decididamente, cruzando os braços.
- Ok. Se você tiver uma opção melhor, sou toda ouvidos. – respondeu, apoiando-se na mesa. – Eu sei que a minha ideia pode parecer besta, mas é a mais lógica.
- É a que pode dar mais certo. – Sam ponderou, também se apoiando na mesa. e Dean olharam para ele como se tivessem sido traídos. – Olha, eu não gosto disso. Mas, pensando como caçador, realmente é a ideia mais lógica. Fazendo o que a sugeriu, nossa fuga se torna mais fácil e teremos mais chance de sobreviver.
- Além de mais oportunidades para pesquisar o que está acontecendo e quem estamos enfrentando. – adicionou, suspirando e passando a mão pelos cabelos. – Eu não gosto de ser a vadia sem coração, mas essa era a minha função antes de nos assentarmos. Sentimentos de lado, temos que decidir tudo pela lógica. Queremos sobreviver, não?
- Claro que sim! – respondeu, recostando-se à cadeira com um baque. – Mas o que vamos fazer com o Jimmy e a Mary? Você chegou a pensar nisso? Vamos pedir para o Castiel os levar para longe daqui e cuidar deles enquanto estamos caçando essas coisas?

Mary colocou a mão na boca enquanto Jimmy congelou no lugar. Eles não queriam, de maneira alguma, deixar seus pais!

- Se for necessário, posso cuidar deles por tanto tempo quanto vocês precisarem. – Castiel comentou solenemente.
- Por um acaso você sabe alguma coisa sobre como cuidar de dois adolescentes? – Dean perguntou, franzindo as sobrancelhas. – Eles são jovens, Cas! Ainda nem terminaram a escola! E precisam terminar a escola, além de que farei de tudo para que estudem em uma boa faculdade e façam alguma coisa da vida que não seja rastejar no sangue dessas criaturas filhas da puta como nós fizemos durante a vida toda!
- Podemos levá-los conosco. – Sam sugeriu, coçando a cabeça.

Nesse momento, todos ficaram em silêncio e encararam Sam.

Jimmy e Mary somente trocaram olhares. Não estavam entendendo nada, porém sabiam que tinha que ser algo ruim para Dean e se oporem com tanta veemência.
- E como vamos nos dividir? – suspirou. Aquele assunto logo a daria dor de cabeça.
- Podemos sortear. – sugeriu e a irmã a encarou, boquiaberta.
- Sortear? Como se não fosse nada? Tipo “ah, legal, peguei minha filha, que sorte”! – não podia estar mais indignada. – Nossos filhos não são presentes de amigo secreto!
- Você acha que eu fico feliz com essa sugestão?! – E agora estava irritada. – Se eu não tirar o Jimmy, vou ficar extremamente preocupada, porém saberei que o Dean vai cuidar bem dele! Vou sentir saudades dele como nunca na minha vida! E não verei a hora de abraçar meu filho quando o encontrar novamente, mas, nesse momento, sortear é a melhor opção que temos! Você consegue escolher como vamos nos separar?

Mary e Jimmy ficaram mais preocupados ainda. Como assim “separar”?

- Não. Não consigo. – suspirou, derrotada. – Quem vai sortear?
- Acho que se vamos fazer essa maluquice... – Dean tinha que se manifestar nervosamente, ou não seria Dean. – Acho que é mais fácil deixar isso para o Cas.
- Eu? – O anjo perguntou, completamente perdido. Queria ajudá-los, porém não queria a fúria dos Winchester caso o sorteio não saísse como eles queriam.
- Você é o mais justo e imparcial de todos nós. – Sam comentou, pegando um pedaço de papel e rasgando em dois. Em seguida, escreveu o nome de Mary em um e o nome de Jimmy em outro. Dobrou-os e entregou ao anjo. – Mistura os papéis e entrega um pra e outro pro Dean. Assim, quem a tirar vai com elas e quem o Dean tirar vai com a gente.
- Muito bem. Mais alguma regra? – O anjo perguntou enquanto embaralhava os papéis.
- Não podemos trocar. – comentou imediatamente. – Esse é o resultado e fim. Não há segundo sorteio, nem terceiro. Vamos nos separar, eu e a para um lado, Dean e Sam para o outro e nossos filhos vão nos acompanhar conforme sair no papel.
Agora Jimmy e Mary finalmente entenderam o que estava acontecendo. Nenhum dos dois conseguiu falar nem trocar olhares. Simplesmente ficaram congelados no lugar, esperando o resultado do sorteio e pensando como os pais puderam ter uma ideia tão idiota.
Castiel não disse mais nada. Simplesmente terminou de embaralhar os papéis e entregou-os a e Dean. Os dois receberam os recortes e trocaram olhares, sem abrir. Em um acordo mútuo, resolveram abrir ao mesmo tempo.
E, quando os abriram, tiveram sentimentos conflitantes. Não sabiam se sorriam ou se começavam a se preocupar. Somente conseguiram ficar com a mesma expressão e sem saber ao certo o que fazer.
- Então...? – Sam perguntou na expectativa. – Qual é o resultado?
- Mary. – leu em voz alta e mostrou o papel. – Eu e a vamos com a Mary.
- Eu e o Sam levaremos o Jimmy. – Dean jogou o papel na mesa, para que todos pudessem ver o resultado.
olhou para . A mulher encarava os papéis, em silêncio. Em seguida, ficou séria e recostou-se à cadeira, olhando para Dean.
- Cuida do meu filho. Não deixa nada acontecer com ele, ok? – Ela perguntou imediatamente.
- O mesmo vale para vocês... – Sam suspirou, apoiando-se na mesa. – Se precisar de alguma coisa, qualquer coisa, me liga, . Eu vou atrás de vocês na hora.
- Eu sei... – suspirou e segurou a mão de Sam.
Nesse momento, Mary segurou a mão de Jimmy e ambos resolveram correr de volta para o quarto, da maneira mais silenciosa que conseguiram. Assim que chegaram lá, soltaram as mãos e ficaram andando de um lado para o outro do cômodo, sem saber o que fazer ou falar.

Até Mary finalmente se virar para o garoto, os olhos cheios de lágrimas.

- Eu tô com medo, Jimmy.
- Eu também tô. – Ele respondeu, tentando esconder as lágrimas que estavam nos próprios olhos. – Cuida da minha mãe, tá?

O coração da garota se apertou mais. Ela correu até ele e o abraçou, sendo que Jimmy retribuiu com um braço apertado.

- Vai dar tudo certo, ok? – Mary perguntou, começando a chorar. Em seguida, sentiu as lágrimas de Jimmy atingindo seu ombro.
- Se a gente repetir isso várias vezes, vira realidade? – Ele perguntou de volta, sem muitas esperanças de escapar da situação em que se encontravam.
Mary nem teve como responder. Queria dizer que sim, mas ela mesma não acreditava mais naquilo. Era seu papel ser a otimista, enquanto Jimmy era o pessimista que resmungava pelos cantos.
Mas era a primeira vez que iam se separar. Nunca, durante seus dezesseis anos de vida, Jimmy e Mary viram seus pais separados durante muito tempo. Às vezes faziam viagens – que agora descobriram ser por causa do trabalho como caçadores – mas nunca demoravam mais do que uma semana. Dessa vez, iriam se separar e não sabiam quando se veriam novamente.
Além disso, ambos cresceram juntos, servindo de apoio para o outro mesmo nas piores situações. Acharam que teriam que enfrentar aquilo juntos – e estavam bem mais seguros daquela maneira – porém agora descobriram que nada seria como imaginaram.
E resolveram repetir a frase “vai dar tudo certo” a noite inteira para ver se aquele sentimento terrível se dissipava enquanto dormiam.


No dia seguinte, ninguém conversou muito. O café da manhã foi silencioso e, enquanto seus pais se organizavam, Mary e Jimmy permaneceram sem conversar. A única coisa que todos fizeram foi pedir para Castiel buscar algumas coisas necessárias em suas casas agora abandonadas – coisa que o anjo fez prontamente, portanto, já estavam prontos para ir embora na hora do almoço.
- Se cuida, tá linda? – Dean perguntou para , sendo que a mulher confirmou com a cabeça. – Se precisar de alguma coisa, é só ligar.
- Você também. – Ela comentou de volta, dando um beijo demorado no marido logo em seguida.
Jimmy só observava tudo em silêncio, com as mãos enfiadas no bolso da jaqueta de couro, apoiado no capô do Impala. se aproximou do garoto logo que terminou a breve despedida de seu pai.
- Não hesite em atirar ou matar alguma coisa. – Ela recomendou logo que parou na frente dele. – Fique sempre alerta e, na dúvida, atire. Ok?
- Ok. – Jimmy respondeu seriamente, tentando parecer tão seguro de si quanto o pai. – Toma cuidado, viu?
- O mesmo vale para você. – Ela respondeu, suspirando em seguida. Abraçou Jimmy o mais forte que pôde.
O garoto fez o mesmo. Entendia o motivo daquele abraço e sabia que a mãe evitava transparecer tudo que estava sentindo – principalmente se os sentimentos eram ruins. pensava que aquela podia ser a última vez que veria Jimmy e o garoto pensava o mesmo.
Quando se separaram, Dean apoiou-se no capô, ao lado do filho. ainda passou a mão pelo rosto do marido e sorriu.
- Vocês são iguaizinhos. Tomem cuidado.
E, dizendo isso, foi até o Ninety-Eight.
Enquanto isso, observava Sam tentando se despedir dela e de Mary sem se preocupar demais.

O que era quase impossível.

- Se precisarem de mim, não hesitem em ligar. – Sam comentou, as mãos apoiadas nos ombros de . – Qualquer coisa que precisarem. Nós vamos atrás de vocês.
- Vocês também podem nos ligar se precisar. – respondeu suspirando. Tentava não parecer tão preocupada, mas não estava funcionando.
- Toma cuidado. – Ele disse pela milésima vez, abraçando-a e seguindo de um beijo.
Após a rápida despedida, ele se aproximou de Mary. A garota estava ao lado do Ninety-Eight, observando Dean e Jimmy apoiados no Impala enquanto se aproximava.
- Já se despediu deles? – Sam perguntou logo que Mary olhou para ele.
- Já... Lá dentro. – A garota respondeu, cruzando os braços e sorrindo para o pai. – Acho que é a nossa vez, né?
- É. – Sam sorriu de volta. – Fica de olho na sua mãe. Se acontecer qualquer coisa, quero que você me ligue, ok?
- Ok.
- E, se você tiver medo de algo, pode me ligar também. Não importa o horário. – E Sam tirou um feixe de cabelo do rosto de Mary. – Eu sempre vou te atender.
- Eu sei. – Dizendo isso, a garota abraçou o pai, apoiando a cabeça no peito dele. – A gente vai se ver de novo, não?
- Vamos. Com certeza. – Sam respondeu, abraçando-a fortemente. Porém ele mesmo não acreditava muito naquilo. – Até.
- Até.
Dizendo isso, Sam começou seu caminho até o Impala, encontrando no meio do caminho.
- Fica de olho no meu filho, tá? – Ela perguntou rapidamente, no que Sam somente sorriu de volta.
- E você cuida da Mary. – Ele respondeu, segurando a mão de . – Até a próxima, .
- Até, Sam. Qualquer coisa...
- Eu ligo. Pode deixar.
E, assim, cada um foi para seu respectivo carro.


Mary se sentou no banco de trás do Ninety-Eight com seu I-Pod que ela pedira para Castiel trazer de volta. Era quem dirigia, pois “não estava no humor” – a mulher se encontrava no banco ao lado da irmã, de braços cruzados e com a cabeça abaixada, dormindo.
Passaram um bom caminho em silêncio. não falava nada, não falava – pois Mary duvidava que a tia estivesse dormindo – e Mary realmente não queria conversar com ninguém.
Irritada com o silêncio e com os próprios pensamentos, a garota resolveu ligar o I-Pod. Procurou entre várias músicas, mas não estava com vontade de ouvir nenhuma.
Até que finalmente encontrou U2, no fim da sua lista de artistas que estavam no aparelho.
Tinha poucas músicas. Não era viciada pela banda como Jimmy – afinal, era uma das bandas preferidas da mãe dele, então o garoto praticamente venerava U2, sabia todas as letras de cor e todas as músicas na guitarra. Ele fizera com que ela pegasse o gosto pela banda.
Assim, Mary clicou nesta. A listinha surgiu e ela ficou olhando uma por uma, pensando em qual estava a fim de escutar.
Até que não conseguiu mais passar músicas. Parou sobre um nome, uma das músicas preferidas do primo. Não estava a fim de escutar nenhuma das suas músicas favoritas, mas uma música favorita dele, talvez fosse a melhor opção.

California

Than we fell into the shining sea

The wind that drags your heart down

Well, that’s what took me where I need to be

Which is here, out on Zuma

Watching you cry like a baby

California, at the dawn you thought would never come

But it did, like it always does

All I know, and all I need to know

Is there is no end to love

Mary suspirou. Ela esperava que o amor que havia entre todos eles – Dean e Sam como irmãos, e como irmãs, Sam e como casal, Dean e como casal, ela e Jimmy como primos e todos eles como uma família – não tivesse fim. Ela realmente esperava que o U2 estivesse certo em sua música.


Mary não sabia mais em qual cidade estava nem em que Estado. Somente sabia que, se elas estivessem de um lado dos Estados Unidos, Dean, Sam e Jimmy estariam do outro. Percebia a saudades nos olhos da mãe e, principalmente, de . Apesar das histórias do diário – que tinha ficado com a garota – ambas estavam sérias e sem falar muito.

Ela não gostava daquilo.

Ouviu as duas conversando durante a noite em algum motel de estrada no qual estavam dormindo, mas não queria ouvir o conteúdo da conversa. Da última vez que fizera isso, ela e Jimmy tiveram notícias horríveis – e, agora que estava sozinha, queria evitar aquilo.
Um belo dia, porém, elas pararam na frente de uma casa simples e bonita. Mary achou aquilo muito estranho – afinal, onde estava o motel de estrada de sempre? – e ficou mais interessada ainda quando e saíram do carro.
foi à frente para tocar a campainha da casa enquanto abriu a porta de Mary, para que a garota saísse do carro.
- Viemos visitar um velho amigo. – sorriu enquanto fechava a porta. Mary estava esticando as pernas pela primeira vez em quatro horas. – Vamos dormir aqui, ele disse que tem quartos para nós três.
- Quer dizer que eu vou dormir sozinha essa noite? – A garota já perguntou na expectativa, mas a tia somente riu.
- Quer dizer que eu vou dormir sozinha. Você vai dormir no quarto com a sua mãe. – A mulher respondeu, fazendo Mary suspirar. – E acho que é cama de casal.
- Ah, já acostumei com as camas de casal... – Mary deu de ombros. Desde que deixaram o bunker, não passara uma noite sequer sem dormir em uma cama de casal com a mãe.
- Bem vinda à vida de caçadores. – sorriu para a sobrinha. – Você vai amar.
- Nossa. Tenho certeza. – A garota respondeu sarcasticamente e ambas riram após um tempo.
Assim, finalmente alcançaram , que já conversava com o dono da casa.
- Olá, Jake! – cumprimentou com um aceno e o homem sorriu ao vê-la.
- ? Quanto tempo! – Jake parecia realmente contente de encontrá-las. – E essa é a Mary?
- Yep. Mary Winchester, minha filha linda. – respondeu orgulhosamente. Mary deu um pequeno aceno envergonhado.
- Sou Jake Baker, amigo das suas mães. Elas salvaram a minha pele uma vez e, desde então, fiquei com essa dívida. – Ele comentou ainda sorrindo. Em seguida, deu um passo para o lado, a fim de dar espaço para que elas entrassem na casa. – Não é tão grande quanto a minha casa anterior, porém é suficiente. Fiquem à vontade.
- Obrigada! – e disseram juntas. Já entrando na casa.

Mary somente as seguiu após algum tempo, olhando para Jake com interesse redobrado.

- Você é o Jake do quadro amaldiçoado?
- Ah, então você ficou sabendo da história... – Ele riu enquanto fechava a porta. – Sou eu mesmo. Com um par de serial killers na família e uma ancestral maluca que voltou dos mortos para arrancar meus olhos.
- Uau. É a primeira vez que eu conheço alguém que meus pais ajudaram. – A garota comentou, ainda impressionada. Começou a segui-lo automaticamente até a cozinha.
- Ah, sim. Elas me contaram que você e seu primo somente ficaram sabendo do trabalho deles recentemente. – Jake respondeu, não demorando muito para alcançar seu objetivo. Quando adentraram o recinto, encontraram um bule de chá e várias canecas dispostas sobre a mesa. – Falando nisso, cadê o Jimmy?
- Está com o Dean e o Sam. – surgiu de repente na cozinha, junto com , assustando levemente a garota. Mary somente se sentou à mesa e esperou enquanto Jake servia o chá. – Tivemos que nos separar. Ele ficou com os dois.
- Você deve estar com saudades. – Jake comentou seriamente e Mary finalmente entendeu a diferença entre “Jake simpático” e “Jake soldado”.
- Claro que estou. Mas não há nada que possa fazer contra isso... – A mulher suspirou, pegando a caneca que Jake estendia. – Por enquanto.
- Ah, sim. “Por enquanto”. Não esperava menos de você. – O homem respondeu sorrindo, voltando a ser o “Jake simpático”.
- Falando nisso, e sua mulher? – perguntou casualmente, apoiando-se no balcão da cozinha. – Achei que ela e sua filha estariam por aqui em algum lugar.
- Comentei com ela que vocês estavam com problemas. – Jake sorriu para , entregando uma caneca. – Conversamos e achamos melhor ela ir visitar os pais dela com a nossa filha. Assim, não teremos problema.
- Sinto muito incomodar, Jake. – suspirou. – Iremos embora o mais rápido possível. Só precisávamos de um lugar para ficar por enquanto e decidir qual é a próxima cidade para qual iremos.
- Sem problemas. – O homem comentou, sentando-se à mesa, de frente para Mary. – Minha mulher também comentou que talvez vocês consigam nos ajudar com os problemas que estamos enfrentando aqui.
- Problemas? Algo sobrenatural de novo? – franziu as sobrancelhas, imediatamente interessada no assunto.

Mary finalmente compreendeu o que a mãe queria dizer quando comentava sobre o interesse que a tia tinha no próprio trabalho.

- Creio que sim. Mortes esquisitas andam acontecendo pela cidade, todo mundo está com medo. – Jake comentou, pegando alguns recortes de jornal e entregando uma parte para cada mulher. Mary somente observava, tomando seu chá em silêncio. – Não sabemos o que está causando tudo isso, mas parece o tipo de coisa que vocês enfrentam.
- Como você sabe que é esse tipo de coisa? – A garota perguntou, curiosa. Afinal, era a primeira caçada na qual iria participar.

Até aquele momento, só tinha lido sobre aquele tipo de coisa.

- Bom... Em um dos casos, o cara morreu engasgado, enquanto dormia, no meio da noite e a autópsia achou bolas enormes de pelo de gato na garganta dele. – Jake comentou suspirando. – Ele não tinha um gato. Ninguém da família dele tinha um gato. E o cara ainda era neurótico por limpeza.
- Ok, isso é estranho...
- E outro foi encontrado partido no meio, como se tivesse sido esmagado por algo enorme. Só que ele estava dentro de casa, na piscina. – O homem continuou, fazendo calafrios descerem pela espinha de Mary.
- Eu não quero ver essas fotos. De jeito nenhum. – A garota comentou silenciosamente.

E sorriu, orgulhosa da filha. Ainda havia esperança.

- Bruxas. Tenho certeza. – comentou logo em seguida, antes que Jake pudesse continuar. Ele somente a observou com as sobrancelhas franzidas.
- Bruxas existem? – O homem perguntou, tão curioso quanto Mary.
- Existem. Algumas são boas, mas a maioria fica louca com seus poderes e sai matando todo mundo. – deu de ombros e olhou uma das fotos que observava no recorte de jornal. Em seguida, abaixou o papel e olhou para o lado. – Credo. As bruxas nunca perdoam, não?
- Nope. – deu de ombros. Mary só conseguia pensar em como a tia era fria. – Com certeza deve haver algumas mulheres envolvidas nessas mortes, ou até homens. Precisamos descobrir quem são e dar um fim neles.
- Balas para bruxas? – perguntou desinteressadamente.
- Acho melhor. É mais rápido e faz menos sujeira. – analisou, entregando os recortes para Jake.
- Vocês podem traduzir para os estagiários aqui que não entendem nada disso? – O homem perguntou sorrindo e apontando para ele e Mary, fazendo-a rir.
- Só dá pra matar bruxas com um feitiço específico ou balas com esse feitiço. – comentou, apoiando as mãos na cintura. – O feitiço faz muita sujeira, sangue e pó pra todo lado. Mas as balas não fazem isso, é mais fácil.
- Então precisamos descobrir quem são as pessoas por trás dessas mortes...? – Mary já estava sugerindo, querendo fazer algo de útil.

Porém, colocou um dos recortes de jornal em cima da mesa, apontando para um dos nomes no pedaço de papel.

- Quem é essa mulher?
Jake se aproximou para ler o nome em questão. Pelo que falava no jornal, era secretária do cara que morrera engasgado nos pelos de gato.
- Ela ainda trabalha no mesmo lugar, com outra pessoa. Não é ninguém muito importante. Por quê? – E Jake não entendia o motivo da pergunta repentina da mulher.
- É a mesma que está nessa foto? – continuou o pensamento, apontando para a foto em questão. Jake somente confirmou com a cabeça. – Olha o terno dela. Tá cheio de pelo de gato.

, Jake e Mary se aproximaram imediatamente para observar o detalhe em questão. Em seguida, começou a rir.

- Que mulher burra! – Comentou, ainda rindo, o que fez a irmã começar a rir também. – Não é possível! Ela tem que ser uma bruxa iniciante pra fazer um erro tonto desses!
- Mas várias pessoas têm gatos! – Mary não estava seguindo a linha de pensamento. – Como vocês sabem que ela é uma bruxa?
- Várias bruxas cometem crimes passionais. – começou a explicar, sentando-se ao lado de Jake.
- E, normalmente matam pessoas próximas que estão com raiva. – continuou explicando, acomodando-se à cadeira ao lado da filha. – Ela era secretária do cara. Segundo a notícia, a esposa dele comentou que o homem fazia muita hora extra no escritório à noite, um cara extremamente “trabalhador”. A secretária tem um gato. A secretária fazia hora extra junto com ele. Após um tempo, ele parou de fazer hora extra. E apareceu morto, engasgado no pelo de um gato que nem existe na casa.
- Pra fazer esse tipo de feitiço, você precisa de algo da pessoa que é seu alvo e algo que represente a maneira como ela irá morrer. – comentou, apoiando-se na mesa. – A secretária era amante. Por algum motivo, os dois terminaram no meio do caminho. Ele voltou à rotina normal com a mulher. A bruxa não se conformou, utilizou algo dele que já tinha, os pelos do gato dela e pronto: ex amante morto por pelo de gato.
- E a tonta nem se deu ao trabalho de esconder tudo isso! – riu como se aquilo fosse inacreditável.
- Como vocês sabem disso olhando só para uma notícia...? – E Jake estava realmente impressionado com as habilidades delas.
- Simplesmente porque isso é o que fizemos durante a nossa vida toda. – piscou para ele, tomando o último gole de chá. – Amanhã precisamos perguntar para ela quem são os outros membros do Clã.
- Ok, calma. Como vocês sabem que há um Clã? – Mary simplesmente não conseguia seguir o pensamento delas. Ainda estava digerindo a história do gato, pois não acreditava que elas conseguiam tirar todas aquelas conclusões de somente um recorte de jornal.
- É meio óbvio, para falar a verdade... – suspirou, pegando os outros recortes de jornal. – Todas essas mortes ocorreram com homens e mulheres aleatórios, sem conexões à primeira vista. A mulher do gato foi um crime passional, ela fez o que queria por impulso. Mas, lendo o caso do cara da piscina, por exemplo, não há nada que indique que ela o conhecia ou que ele fez algo que pudesse irritá-la.
- Portanto, como sabemos que ela é uma bruxa e fez o feitiço contra o “bola de pelo”, tem que haver outra bruxa para fazer o feitiço da piscina. – completou, apontando para os artigos em questão. – Podem haver seis bruxos, como pode haver somente três. Depende... Mas, com certeza, há mais de uma.

Todos permaneceram em silêncio durante algum tempo enquanto Jake e Mary ruminavam as explicações e encontrar a lógica em todas elas. O que não era difícil, pois realmente fazia sentido.

- Vocês são incríveis. – Jake finalmente comentou, recostando-se à cadeira. – Por que nunca trabalharam para a polícia?

As irmãs permaneceram em silêncio, trocando olhares.

- Sinceramente... Nunca pensamos nisso. – comentou e ambas deram um pequeno riso ao final da frase.
Afinal, seria engraçado parar de caçar seres sobrenaturais para caçar seres humanos que tinham cometido crimes.


No dia seguinte, fizeram o itinerário para visitar a “Srta. Bola-de-Pelo”, como e a apelidaram. Esperaram até o fim do expediente da empresa na qual ela trabalhava e subiram até a sala da secretária para falar com a mulher – Jake, e armados com as balas especiais, enquanto Mary foi relegada a usar um apito.

Sim. Um apito.

- É sério, mãe...? – A garota perguntou, suspirando. Tinha recebido uma arma da última vez, não achava justo ter que usar um apito.

Sem contar que era algo ridículo.

- Temos três pessoas armadas contra uma bruxa tonta. Quatro armas são demais nessa situação. – A mãe respondeu seriamente. – Além disso, acho desnecessário você ter que atirar antes da hora.
- Nisso, eu concordo com a . – Jake teve que se manifestar. Afinal, não existia alguém mais a favor de impedir pessoas de empunharem armas do que ele. – Nós conseguimos atirar, você pode nos chamar se algo der muito errado.
- Ok. Isso eu sei. – E Mary cruzou os braços enquanto subiam no elevador. – Mas um apito? Sério?
- Mary, se dê por feliz... – suspirou, repousando a mão no ombro da garota, a fim de consolá-la. – Seu primo está enfrentando algo pior. Tenho certeza que Dean deu algo mais ridículo para ele, como o comunicador da Kim Possible.
- Eu sempre quis um comunicador daqueles. – respondeu para a irmã, suspirando.
- Todo mundo da nossa geração quis. – E piscou para ela. – Mas né... Tenho certeza que o Jimmy tá chorando querendo uma arma pra atirar em todo mundo ao invés de um troço que apita toda vez que ele precisa do Dean.
- Esse é pior mesmo... – Mary balançou a cabeça e suspirou.

Ela e o primo tinham que ter muita paciência para lidar com aqueles malucos que eles chamavam de pais.

Enquanto a garota pensava – imaginando Jimmy com um comunicador que apitava enquanto vários seres do submundo corriam atrás dele, com o garoto fugindo e gritando desesperado por Dean e Sam, que provavelmente davam risada enquanto assistiam à cena – a porta do elevador se abriu. Os quatro chegaram a uma enorme sala branca, na qual havia uma porta de madeira negra à esquerda e somente uma mesa com uma secretária ao fundo.
A mulher de cabelos vermelhos os olhou por cima dos óculos e deu um pequeno sorriso, provavelmente tentando ser simpática com aquelas pessoas que chegaram logo no fim do expediente.
- Boa noite. Em que posso ajudá-los? – Ela perguntou, apoiando os braços em cima da mesa e dando um sorriso mais sincero.
Mary sorriu de volta. Não via motivos para não confiar na mulher. Ela não parecia uma bruxa – na verdade, parecia somente uma mulher normal, muito simpática até. A garota ficou se perguntando se as mães dariam um tiro nela ali mesmo ou se a mulher teria tempo de se defender e se explicar.
Pois, se não tivesse, Mary se colocaria na frente dela e pediria para que as duas tivessem um pouco mais de piedade e ouvissem a mulher. Afinal, era a favor da premissa “inocente, até que se prove o contrário”.
- Pode nos ajudar dando o nome dos outros membros do seu Clã, Srta. Ryder. – comentou com um sorriso igualmente doce no rosto.
Parecia que todos na sala congelaram, em choque. somente olhou para a irmã, querendo matá-la. Mary olhou para a tia, esperando que a mãe fosse matá-la. Jake ainda se perguntava se tinha escutado aquilo direito.
- Eu digo que ela é uma pata de elefante e ninguém acredita... – suspirou, rolando os olhos. – Mas minha irmã tem razão. Não temos tempo para jogar seus joguinhos, Ryder, então o quanto antes nos der os nomes, mais cedo saímos daqui.
- E podemos até repensar se vamos te matar. – completou com uma piscadela.

Jake somente olhou para Mary, no que a garota deu de ombros. No momento, ele se questionava como as duas mulheres ao seu lado conseguiram criar filhos funcionais.

- Quem são vocês? – A secretária perguntou de maneira arredia, levantando-se vagarosamente.
- Caçadoras. – respondeu, mostrando a arma presa à cintura da calça, sem deixar que as câmeras do prédio a vissem. – Achou que bruxas poderiam sair causando por aí sem consequências? Ledo engano.
- Nós somos as consequências. – completou, mostrando a própria arma como a irmã fizera. – Algo como o Juízo Final. Somente não aceitamos confissões de pecados, pois isso não é com a gente.
Mary estava impressionada, para falar a verdade. Sempre soube que a mãe e a tia não eram como as outras mães. Decididamente mais duronas e, aparentemente, não tinham medo de nada. Porém, mesmo assim, eram carinhosas e sorridentes, vivendo uma vida de pessoas normais. Naquele dia, entretanto, era a primeira vez que via ambas se comportando e falando daquela maneira.

Exatamente como Castiel mencionara. Ambas eram muito diferentes antes de estabelecer uma família.

- Ninguém nunca me disse nada sobre caçadores... – A mulher respondeu cautelosamente, analisando as duas por cima dos óculos. – Como posso saber que vocês não estão mentindo?
- Você não sabe. Fim. – deu de ombros. – Mas aqui estão quatro pessoas, armadas, com balas específicas para matar bruxas, que sabem tudo que você fez e como você fez, sem ser classificadas como bruxas. O que isso te diz?
- Se quiser fazer uma ligação mental para a Alta Sacerdotisa do seu Clã e perguntar sobre nós, fique à vontade. – comentou de maneira sarcástica, porém claramente falando sério. – Nós temos tempo para aguardar.
- E vai por mim, nós vamos matar todo mundo, quer você nos conte ou não. – cruzou os braços, suspirando. – Se você nos contar a sua história e nos der os nomes, podemos até deixá-la ir. Mas não dá pra deixar o Clã de vocês matando a cidade inteira.
A mulher pareceu pensar durante alguns segundos. Mary ficou se perguntando se a secretária ia falar algo ou simplesmente chamar a polícia, pois aquelas duas doidas estavam ameaçando matá-la por bruxaria.

Sim. Mary ainda tinha dúvidas de que aquela mulher era quem as duas procuravam. Além disso, “matar alguém por bruxaria” parecia algo digno do século XVII.

- Muito bem... Contarei tudo que querem saber. – Ryder respondeu suspirando e tirando os óculos, apoiando as duas mãos na mesa como se tivesse sido derrotada. – Peço para que escutem tudo antes de tentar fazer algo comigo. Por favor.
Assim, a mulher apontou para a sala do chefe. fez um gesto com a cabeça para que Ryder fosse à frente e, dessa maneira, o grupo a seguiu até o recinto, acomodando-se a grandes poltronas de couro.
Mary estava impressionada. Segundos antes, tinha certeza que seriam presos e enviados para um sanatório, acusados de delírios absurdos. Mas, agora, estavam sentados conversando com uma bruxa. De verdade.
A garota suspirou. Quem diria que um mês antes ela estava reclamando das provas da escola. Daria qualquer coisa para ter que fazer uma prova de Química ou de História. Agora estava aprendendo sobre investigações e como se livrar de seres sobrenaturais.

Parecia até mentira.

- Bom... Como vocês já devem saber, James e eu éramos amantes. – Ryder comentou seriamente, logo que se sentou. – Tudo corria bem até o momento que a mulher dele começou a suspeitar das noites em que ele fazia “hora extra” para ficar comigo. Ele sempre disse que me amava e que daria qualquer coisa para ficar comigo.
- Você sugeriu matar a mulher dele com um feitiço? – tentou adivinhar, claramente se divertindo com aquela história.

Afinal, fazia tempo que não caçava. Queria ver se seus instintos ainda estavam aguçados.

- Não. Jamais faria uma coisa daquelas. Somente queria que eles se separassem. – A secretária suspirou, dando de ombros. – Nunca tinha usado magia para algo ruim, sempre para promoções, amor ou coisas do gênero. Nossa Alta Sacerdotisa concordava com a minha atitude, por mais que os outros membros do Clã e ela mesma não se comportassem da mesma maneira.
- Ah, sim. Os outros “acidentes” ocorreram antes do pelo de gato. – murmurou com Jake e Mary, a fim de se certificar de que eles estavam acompanhando bem os fatos.

Afinal, tinha que cuidar dos seus estagiários.

- Sim. – Ryder deu um sorriso seco. – Quando a mulher descobriu, James quis me deixar. Eu disse que poderíamos resolver o problema sem nos separar, porém ele gritou comigo, falou que a culpa era toda minha, que eu o seduzi e agora tinha que aguentar as consequências.
- Que cara idiota. – Jake não conseguiu segurar o comentário. Não suportava homens que maltratavam as mulheres e sempre deixava escapar um comentário daqueles quando surgia alguma conversa do tipo. – Não é como se ele não tivesse concordado com o relacionamento de vocês.
- Exatamente. Aquilo me deixou furiosa. Tentei conversar novamente, mas ele foi cada vez mais estúpido. – Ryder rolou os olhos e passou a mão pela testa. – Chegou até a me bater várias vezes e falar que a mulher dele tinha descoberto o nosso caso por causa dos pelos do meu gato no terno dele.

Nesse momento, começou a sorrir. Como se fosse Natal.

- Vai me dizer que foi por causa disso que você o fez engasgar nos pelos de gato?
- Gosto de pensar que ele engoliu as próprias palavras. – Ryder cruzou as mãos sobre o colo e somente deu um sorriso perversamente doce.

Mary engoliu em seco. Estava rodeada de pessoas malucas.

- Você acabou de se tornar minha pessoa favorita nesse mundo. – completou sorrindo. – Não vou matá-la. Vocês podem confabular entre vocês, mas, depois dessa história, não vejo motivos para matá-la. O cara era um idiota abusivo e, apesar de achar que matá-lo foi demais, curti o estilo. Meu voto é “viva Ryder”.
- Você e o Dean são extremamente previsíveis... – rolou os olhos, suspirando. – Bom, Ryder... Quem são os outros bruxos do seu Clã? Não vou me convencer de que você é inofensiva só por conta de uma historinha dessas.
- Não se preocupe... Anotarei os nomes para vocês. – A mulher comentou, pegando um bloquinho de papel e uma caneta. – Se quiserem, posso anotar o lugar no qual o Clã se encontra todos os dias. Somos quatro pessoas, porém quem nos ensinou todos os feitiços foi a Alta Sacerdotisa. Até ela chegar, éramos somente um bando de bruxas que usava magia branca.
- E você acha que elas vão continuar usando magia branca se a Alta Sacerdotisa morrer? – Jake perguntou, já começando a levar jeito para interrogatórios sobrenaturais.
- Não sei... Mas não custa tentar. – A bruxa deu de ombros, enquanto anotava os nomes.
- Mary, Jake... Fiquem de olho nela. Eu vou ali falar com a e já volto. – comentou em seguida, levantando-se da poltrona junto com a irmã. Os dois somente confirmaram com a cabeça enquanto ela se afastava para um canto da sala. – Por que você concordou tão rapidamente com a Ryder?
- Meus motivos não foram suficientes? – perguntou com um pequeno sorriso no rosto.
- Não. Eu sei que você e o Dean não perdoam, mesmo gostando do estilo da pessoa. – suspirou, cruzando os braços. – O que foi?
- Ela pode nos ajudar. – A irmã declarou, apoiando as mãos na cintura. – Poupando a vida dela, teremos uma bruxa ao nosso lado quando as coisas apertarem. Ela ficará em dívida com nós e poderá nos ajudar a descobrir o motivo de sermos atacadas nas nossas casas e caçadas como se fôssemos seres do submundo.
- Uma questão de utilidade, então.
- Exatamente. – E piscou para a irmã. somente sorriu.
- Você continua igual.
- Não se preocupe. Você também.
Assim, as irmãs voltaram para suas poltronas, a fim de pegar os nomes e o endereço na folha de papel e poupar a vida da bruxa Ryder – que se declarou eternamente em dívida com as caçadoras.
Algo que as deixou extremamente satisfeitas.


- Acho que aqui é um ótimo lugar. O que você acha, Jake? – perguntou enquanto dirigia naquele breu noturno.
A cidade tinha um pequeno bosque, no qual o Clã se encontrava durante a madrugada. Algo extremamente conveniente, pois nunca seriam vistos por humanos normais e suas ações continuariam escondidas.
Ryder anotara exatamente o local de encontro. Após divisarem o plano, Jake ia no banco da frente ao lado de , enquanto e Mary iam no banco de trás. Mas, o que mais interessava Mary no momento, é que ela tinha uma arma.
- Concordo. Conseguimos ver tudo que acontece lá embaixo. – Jake respondeu, o que fez com que a mulher estacionasse o carro.
O plano era: e Mary desceriam a pequena ladeira na qual se encontravam e conversariam com as bruxas. Se detectassem sinais de que estas eram nocivas para a sociedade, atirariam sem hesitar. Enquanto isso, e Jake ficariam ao lado do carro, com seus rifles – uma vez que ele fora franco-atirador do exército americano quando em guerra – e, se algo desse errado, dariam a cobertura necessária às duas no plano mais baixo.
- Tia... Você tem certeza que sabe usar esse rifle desse tamanho? – Mary perguntou logo que viu a arma que tirava do porta-malas. E a mulher somente começou a rir em resposta.
- Tenho, querida. Atiro até de olhos fechados, se você quiser. – Ela piscou para a sobrinha, que somente ergueu uma sobrancelha.
- Jake, pode ajudar a Mary a destravar a arma dela, por favor? – perguntou casualmente e o homem acatou na hora, indo até a garota.

Assim, teria um tempinho para conversar a sós com a irmã.

- Diga. – comentou logo que se aproximou, apoiando o rifle nos ombros.
- Queria te pedir uma coisa... Não deixa a Mary matar ninguém essa noite, ok?
No que terminou de falar, franziu as sobrancelhas.
- ... Eu sei que não criamos nossos filhos para serem caçadores, mas a situação pede por isso. Eventualmente, ela vai ter que matar alguma coisa. É só uma questão de tempo. – E realmente não entendia o motivo daquele pedido.
- Eu sei, , eu sei. Mas bruxas não são seres sobrenaturais propriamente ditos... Não são criaturas. São pessoas. – suspirou, passando a mão pela testa. – Não quero minha filha matando pessoas logo de cara.
- Por que ela pode ficar que nem eu? – perguntou de volta, com um pequeno sorriso no rosto. somente a encarou seriamente.
- Você sabe que não foi isso que eu quis dizer.
- Mas é a realidade. – A irmã deu de ombros. – Ok. Se a Mary tiver força e não hesitar nem um segundo, deixarei que ela atire. Se ela pensar duas vezes, eu atiro. Pode ser?
- Pode. Obrigada, .
- Imagina, . – E sorriu. – Não quero que a Mary vire uma caçadora também. Espero que consiga voltar à vida normal quando tudo isso terminar.
Assim, ambas voltaram ao lugar onde Mary e Jake as aguardavam.
Não tiveram que esperar muito tempo até que as bruxas surgissem. Eram duas mulheres, um homem e Ryder – que já tinha deixado a cidade. O Clã estava aguardando a chegada do quarto elemento e, assim, e Mary aproveitaram a deixa para descer e conversar.
- Pode deixar que eu converso com eles. Você só fica com cara de má atrás de mim e a arma na mão, ok? – perguntou por cima do ombro e Mary confirmou com a cabeça imediatamente.
- Cara de má. Ok.
Não que a garota soubesse qual tipo de cara de má ia assustar um Clã de bruxas, mas faria o seu melhor. Já sentia as mãos formigando enquanto se aproximavam e logo que o Clã se virou para elas e a mãe disse o primeiro “olá”, Mary sentiu como se trezentas borboletas habitassem seu estômago.

Definitivamente não era uma sensação confortável.

- Não viemos aqui machucá-los! – comentou logo que o Clã estranhou a aproximação. – Somente queremos saber quem é o responsável por toda a matança ocorrendo pela cidade.
- Caçadoras? Já era de se esperar... – A Alta Sacerdotisa rolou os olhos enquanto os outros dois membros a encaravam, em choque.
- O quê? – A moça perguntou, genuinamente assustada. – O que são “caçadoras”? Você disse que não havia nada para julgar bruxas!
- Você acha que meras caçadoras são suficientes para dizer o que nós fazemos de errado ou não? – A Sacerdotisa respondeu. – Aposto que essa velha já tem mais sangue nas mãos do que nós todos juntos.
- Velha...? – perguntou lentamente e brandiu a arma. Mary, rapidamente, imitou a mãe. Como não sabia o que fazer, achou melhor repetir os movimentos de . – Primeiro: velha é você, sua bruxa desgrenhada. Segundo: tenho mesmo. É melhor medir suas palavras.
O clima tenso pairou pelo grupo durante alguns momentos. imediatamente segurou o rifle de maneira a mirar na Alta Sacerdotisa, apoiando um dos pés na roda do carro. Ao perceber a movimentação, Jake se ajoelhou no chão, segurou o próprio rifle e utilizou a mira para focar no bruxo mais próximo de enquanto matinha uma parte de sua atenção na outra bruxa mais atrás. Não entendia como podia atirar sem a mira, mas resolvera não discutir.

Afinal, as duas irmãs podiam ter salvado a vida dele, porém eram bem peculiares.

- Viemos aqui anunciar que a festa de vocês acabou. – declarou seriamente. Mary continuava apontando a arma para a Alta Sacerdotisa, sem ao menos tremer. – Podemos perdoar alguns crimes, porém não todos. Queremos saber quem é o responsável por essa onda de sangue que tomou o Clã, pois essa pessoa é a única que não poderá ser absolvida.
Nesse momento, a Alta Sacerdotisa olhou para o bruxo ao seu lado. Com um berro repentino, o homem se jogou em cima de , iniciando uma luta no bosque escuro. A outra bruxa somente se apoiou a arvore mais próxima, chocada com os acontecimentos. Enquanto isso, a Sacerdotisa olhou para Mary com um sorriso de escárnio.
- O que foi, queridinha? Não vai atirar? – Ela perguntou, apoiando as mãos na cintura com orgulho.
Mary estava preocupada com a briga da mãe, porém não podia tirar os olhos da mulher ou abaixar sua arma. Sabia que devia atirar, porém não sabia se era capaz de matá-la.
- E então?
- Cala a boca. – Mary respondeu nervosamente, segurando a arma com mais firmeza.
- ... – Jake comentou silenciosamente para a mulher ao seu lado. – Não acha que deveríamos interferir?
- Não. – A mulher respondeu, simplesmente. Fria como gelo.
- Certeza? – Mas Jake não aceitaria somente aquilo como resposta.
- A consegue sem livrar. Em menos de dez segundos vai ganhar a briga. – resolveu se explicar, sem tirar os olhos dos acontecimentos ladeira abaixo. – E a Mary precisa aprender. Ela vai nos acompanhar e, eventualmente, vai ter que matar.
Jake somente permaneceu em silêncio, observando a briga através da mira. Não sabia o que responder. Apesar de achar aquela atitude horrível e fria, não podia negar... A mulher tinha razão.
Em poucos segundos, porém, um tiro foi disparado. se levantou do chão enquanto o corpo do homem permaneceu estatelado. Assim que viu Mary apontando a arma para a Alta Sacerdotisa, começou a procurar seu próprio revólver, mas este tinha se perdido em meio às folhas secas espalhadas pelo chão.
- Eu lido com você depois... – A Sacerdotisa rolou os olhos e começou a andar na direção de , achando que Mary não valia seu tempo.
- Nem pense nisso! – E aquilo fez com que a garota finalmente tomasse uma atitude.
Mary correu até a mulher e desferiu um soco diretamente no rosto. A Alta Sacerdotisa cambaleou, segurando o sangue que escorria da própria boca logo que olhou novamente para Mary, com os olhos repletos de surpresa.

A garota ergueu a arma novamente, apontando para a cabeça da mulher.

prendeu a respiração. Aquele era o momento decisivo. Se Mary disparasse, podia nunca mais ser a mesma. Aguardou com o coração na mão, olhando para e Jake no topo da ladeira ao lado.
Jake se segurava para não atirar na Alta Sacerdotisa antes que Mary pudesse fazê-lo. Não queria que a garota disparasse, não queria que a garota matasse. Mas não era sua decisão. Ele não fazia parte da família e não sabia o que era ser um caçador. Somente e saberiam o que fazer.
também aguardava em expectativa. Parecia que finalmente o momento chegara. Porém, ao invés de ouvir o disparo da arma de Mary logo que a garota conseguiu mirar na cabeça da mulher – um tiro certeiro, sem margem de erros – compreendeu que estava errada. O momento não chegara. Mary hesitara, não estava pronta.

Assim, deu um pequeno sorriso e apertou o gatilho, fazendo um disparo alto ressoar enquanto a bala atravessava a cabeça da Alta Sacerdotisa.

Mary ficou alguns segundos em choque. Não conseguira atirar, porém sentiu o sangue a atingir quando a bala chocou na mulher. Porém, tal choque não durou muito tempo, pois logo sentiu os braços da mãe a abraçando. Assim, Mary largou a arma que carregava e a abraçou de volta, feliz por não ter apertado o gatilho.
Enquanto isso, no topo da ladeira, se encontrava sentada no capô do carro, limpando a boca do rifle, com uma expressão serena no rosto. Jake se aproximou, com um pequeno sorriso.
- O que foi isso? – Ele comentou logo que se aproximou. A mulher simplesmente olhou para ele, com um sorriso plácido.
- Não era a hora dela. – respondeu simplesmente, levantando-se do capô para guardar o rifle no porta-malas. – E talvez nunca seja.
- Eu vou torcer para que a última parte seja verdade. – Jake sorriu, abrindo a porta e se sentando no banco de trás do carro, esperando o retorno de e Mary.

Assim que as duas alcançaram o Ninety-Eight, Mary sorriu e abraçou a tia. somente a observou com uma sobrancelha erguida.

- Ei, garota. Não é pra tanto. Entra lá no carro, pois amanhã vai ser um dia longo. – A mulher comentou suspirando, porém sorrindo. – Temos que voltar para a estrada.
- Ah, que alegria...! – Mary suspirou sarcasticamente, enfiando-se no carro e deixando e rindo sozinhas no bosque iluminado somente pela luz da lua.
- ...
- Diga, .
- Obrigada.





Remember Me – Journey

Depois do nosso último caso, tudo que queríamos era descansar.
Ou melhor, tudo que eles queriam era descansar. Eu não conseguia dormir, nem a . Tudo o que nós duas queríamos era manter nossas mentes ocupadas e esquecer aquele pesadelo ocorrido na mansão de Jake Baker.
Eu passei uma semana acordando sobressaltada no meio da noite, com a minha faca em mãos e a respiração acelerada, após ter sonhado com Juno me perseguindo com aquele grito rouco e arrastando os pés. Sim, uma semana. Dean teve que me acalmar várias vezes e, em uma delas, eu quase o esfaqueei.

Pois é, sou uma ótima namorada, eu sei. Ninguém precisa me avisar disso.

Por conta da minha sanidade mental – e vendo que minha querida irmã também estava no mesmo barco, acordando Sam sem querer quase toda noite – resolvemos dar uma pausa no relaxamento e voltarmos ao trabalho.
Por sorte, Cas aparatou na casa do Bobby um dia e surgiu com um caso simples que parecia ser exatamente o que estávamos procurando.
- Tem certeza que vocês querem ir sozinhas? – Dean estava apoiado no batente da porta do quarto, de braços cruzados, e nem um pouco feliz com aquela história de irmos caçar juntas durante uma semana e voltarmos revigoradas.
- Claro que sim. Eu fazia isso muito tempo antes de te conhecer, sabia? – Perguntei com uma sobrancelha erguida enquanto arrumava minha mala de mão, sorrindo ao ouvi-lo suspirar. – É só uma semana. O Apocalipse não vai recomeçar em uma semana.
- Você não sabe! – Ele deu de ombros, completamente incomodado. Fechei minha mala e parei na frente dele.
- Ei. Pare de se preocupar. – Comentei fazendo-o olhar para mim. – São só alguns dias. Só vou chutar umas bundas e já volto. Você sabe que eu sou boa em chutar bundas.
Dean me observou durante algum tempo e sorriu logo em seguida.
Eu sorri de volta, segurando-me para não suspirar. Só eu tenho o poder de tirar aquele bico marrento da cara de Dean Winchester.


Quando cheguei ao andar de baixo, vi que a estava tendo o mesmo problema que eu. Enquanto ela se arrumava e ia para lá e para cá, Sam andava atrás dela – como um patinho seguindo a mãe – fazendo trezentas mil perguntas. Eu só parei à porta de entrada e fiquei observando.
- Pegou o sal? – Sam perguntou, seguindo-a para um lado.
- Peguei, querido. – respondeu de maneira automática e sem muito sentimento, provavelmente já nem processando mais o que ele tinha perguntado.
- E a arma que eu te dei?
- Sim.
- Pegou a faca de prata?
- A vai se encarregar disso... – Parecia que ela não estava nem um pouco interessada enquanto arrumava a própria mala de mão, com Sam de chaveirinho atrás dela.

Ou melhor, chaveirão.

- O sangue de homem morto?
- Não é um caso com vampiros.
- Mas nunca se sabe...! – Ele deu de ombros, tentando argumentar. – Vocês podem encontrar vampiros no meio do caminho e precisar do sangue...
- Temos a katana e as kodachis no porta-malas. Não vamos precisar disso.
Sam ficou com cara de paisagem durante alguns segundos e depois voltou a segui-la.
Eu e Dean estávamos segurando o riso o máximo que conseguíamos.
- Pegou um casaco?

de repente se virou para ele, com as mãos na cintura, meio incrédula.

- Sério, Sam?
- Ok, essa foi demais. – Ele próprio admitiu enquanto eu e Dean ríamos como nunca à porta de entrada. Sam nos lançou um olhar de poucos amigos antes de voltar a focar na . – Eu fico preocupado de deixá-la ir para caçar sozinha. Desculpa. Não foi minha intenção ficar pegando no seu pé que nem uma mãe chata, mas...
- Relaxa, Sammy. – A própria estava rindo com aquele ser humano de dois metros de altura. – Tudo vai dar certo. Não é a primeira vez que vou caçar sem você e definitivamente não é a última. Afinal, não estarei sozinha, a estará lá também. Com essa pequena psicopata comigo, você não precisa se preocupar com nada.
- Obrigada! – Comentei, rolando os olhos ao perceber que ela falava sério.
Sam somente sorriu e deu um beijo demorado nela. Eu suspirei e olhei para o homem parado ao meu lado, que tinha um sorriso debochado no rosto.
- E você, o que foi? – Ergui uma sobrancelha, já um pouco irritada. Eu não sou psicopata, só sou dedicada ao meu trabalho!
- Só uma mini psicopata pra me aguentar. – Dean comentou logo em seguida, descruzando os braços. – E com certeza você é a psicopata mais linda do Universo.

Eu não pude deixar de sorrir. Yep, Dean Winchester também tem a habilidade de tirar a expressão marrenta do meu rosto.

Assim, com alguns beijos e o motor do meu Ninety-Eight finalmente funcionando – sim, Dean e Sam conseguiram consertá-lo após um bom tempo – eu e a enfiamos o pé na estrada e seguimos para o nosso caso na cidadezinha próxima. Provavelmente nem demoraríamos uma semana. Todo aquele drama teria ocorrido por nada e em menos de quatro dias, estaríamos de volta.
Eu tinha certeza.


Relato da Visão do Dean

O duro da é que quando ela tem certeza, nada sai da maneira como ela esperava.
Sim, porque eu conheço a peça. Ela é quase tão azarada e tão perseguida pela Lei de Murphy quanto eu.
Eu e o Sam começamos a desconfiar que algo estava errado quando elas não voltaram depois de cinco dias. Tudo bem, elas falaram uma semana, que normalmente tem sete dias, mas um caso simples daqueles era pra terminar em menos de quatro.

E elas não terminaram.

Mas resolvemos nos segurar e ignorar aquilo. Provavelmente era só neurose e um pouco de ciúmes por nossa parte.
Ok. Ciúmes da minha parte, o Sam parece a porcaria do Buda de tão ok que é com tudo em relação à .
O que nos fez ignorar toda aquela placidez fingida?

O Castiel.

Plantado.

Na cozinha.

Logo de manhã.

- O que você tá fazendo aqui? – Sam perguntou franzindo as sobrancelhas e fazendo aquela cara de tonto perdido que só ele consegue fazer.
- Antes que vocês possam falar alguma coisa...
- O que aconteceu com elas?! – Eu nem deixei Cas terminar de falar. Tinha que ser algo relacionado à e à , ou aquele energúmeno não estaria ali!
- Eu fiz o melhor que pude para ajudá-las. – Ele suspirou, terminando a frase anterior.
- Cas...!
- Calma, Dean! – E Sam colocou a mão no meu peito, impedindo-me de avançar em cima daquele anjo e arrancar as asas dele com as minhas próprias mãos. – Não precisa começar a rosnar! E você, trate de explicar direito o que aconteceu!
- Eu não tô rosnando... – Respondi e resolvi comer alguma coisa ia ser melhor do que ficar lá só encarando o Cas.

É, eu como quando fico nervoso. A odeia isso. Se estivesse lá, já estaria me dando altos tapas e me colocando de volta no lugar.

Só de pensar nisso, sentei à mesa e fiquei quieto, de braços cruzados, só olhando para o Castiel. Ela não estava lá pra reclamar do meu hábito gordo e era tudo culpa dele.
- O caso era simples, nada de mais... – Cas suspirou, realmente parecendo arrependido. Não que aquilo o ajudasse em algo. – Porém meus irmãos se envolveram. Para elas não se machucarem até eu resolver o problema, enviei-as para uma realidade paralela...
- Você o quê?! – Sim, eu ia voar no pescoço dele a qualquer segundo.
E exatamente por causa disso, Sam se colocou entre eu e aquele querubim maldito, cruzando os braços e não parecendo nada feliz.
- E você não consegue trazê-las de volta. É isso? – Sam perguntou daquele jeito meio de vadia nervosa, sabe? Braços cruzados, olhar de quem está te julgando, puto da vida...
- Exatamente. – E Castiel parecia aliviado que nós entendíamos o problema.
- Não vai ficando com esperanças, Cas... Pois nós não entendemos e com certeza iremos trucidá-lo depois de resolvermos isso! – Eu tive que comentar, levantando-me e apontando para aquele anjo perdido.
- Não é um problema tão grande. Eu posso trazê-las de volta. – Ele começou a explicar calmamente. E toda aquela calma me dava ainda mais vontade de dar uma na cara dele. – O problema é que elas se esqueceram.

Eu e Sam somente erguemos as sobrancelhas.

- De quê...? – Sam fez o favor de perguntar.
- De tudo dessa realidade. Família, amigos, inimigos, caçadas, criaturas... Até de vocês. – Ele suspirou. – Sem essas memórias, não consigo trazê-las de volta.
- Espera aí, Cas... – Eu só passei a mão pela testa, suspirando e lançando o olhar mais puto da vida para aquele projeto de querubim. – Quer dizer então que você mandou minha namorada e a irmã dela, que também é namorada do Sam, para uma realidade paralela a fim de que os seus amiguinhos não fossem matá-las, elas perderam a memória e agora você não consegue trazê-las de volta?!
- Sim! – Ele respondeu com um sorriso plácido.
- É isso. É hoje que eu arranco as asas desse filho da mãe...!
E passamos um bom tempo com Sam no meio de nós dois impedindo que eu fizesse qualquer coisa do gênero com Castiel.


Sabe aquelas manias do Castiel de encostar de repente em você e daí parece que você caiu no buraco do coelho da Alice e já tá em outro lugar?
Então, no meio da discussão ele conseguiu segurar eu e o Sam e, do nada, estávamos em um estúdio de gravação.
- Ah, vai me falar que você mandou as duas para aquela realidade que nossa vida é uma série e eu sou aquele cara ridículo que fez novela? – Perguntei indignado e a besta do Sam só dava risada ao meu lado.
- Não. Nessa realidade, a vida de vocês não é uma série. – Ele explicou calmamente.
- Mas ainda somos atores? – E agora Sam estava com aquela clássica cara de perdido.
Bem feito. Pelo menos parou de rir de mim.
- Sim. Estão fazendo um filme junto com elas. – E Cas apontou para as duas, que conversavam animadamente sentadas em cadeiras à distância. – Assim que conseguirem fazer com que elas recobrem a memória, voltarei para buscá-los. Agora tenho que ir.

E sumiu.

A cada dia que passava, eu tinha mais vontade de bater nele.

- Bom... Vamos falar com elas? – Sam perguntou suspirando. - Talvez de olhar para nós, elas irão se lembrar.
- Espero que sim. – E comecei a andar. Não estava no humor para demorar. – Como era seu nome mesmo...? Jared Pada-alguma-coisa...?
- Tinha um “k” aí em algum lugar... – E ele começou a procurar alguma coisa nos bolsos.
- Pada... Pada... Padaleski? Era isso?
- “Padalecki”. – Ele corrigiu categoricamente. Eu só o observei com uma sobrancelha erguida e a criatura me mostrou a carteira de motorista. – Jared Padalecki. Você era... Jensen... Não?
- Realmente não sei qual é o problema das pessoas com nomes nessa realidade... – Eu bufei e ele só começou a rir. Resolvi ignorá-lo até achar minha carteira de motorista. – “Jensen Ackles”. Cara. Jensen Ackles. Não dava pra ficar mais difícil, né?
- Aposto que você vai reclamar dos nomes delas também. – Sam comentou com aquela risadinha de trouxa e eu só rolei os olhos.
E, quando finalmente alcançamos as cadeiras delas, percebemos que os nomes que estavam atrás eram diferentes.

Ou seja, nessa realidade, elas não eram irmãs.

Na cadeira da estava escrito “Laguardia” e na de estava escrito “Marchesi”.
- Elas são italianas agora...? – Sam sussurrou para mim, mas, antes que eu pudesse responder, ambas viraram para nós com sorrisos enormes no rosto.
- E o que os senhores estão aí sussurrando atrás de nós? – perguntou apoiando o braço na parte de trás da cadeira.
- Aposto que iam tentar nos assustar. – respondeu com um sorriso convencido no rosto e os braços cruzados. – Eu já disse: é impossível.

Eu somente sorri de volta. Pelo menos, elas não tinham mudado tanto assim.

- Ah, nada. A gente só estava discutindo, pois eu tenho certeza que vocês não conseguem acertar nossos nomes. – Sam comentou com o mesmo sorriso no rosto, já aproveitando a situação pra ver se elas se lembravam de nós ou da nossa versão paraguaia.
- Eu tenho um pouco mais de fé. – Entrei na brincadeira também. Quem sabe resolveríamos aquilo em questão de segundos? – Acho que vocês conseguem.
- Claro que a gente consegue! – riu consigo mesma, como se fosse uma coisa idiota a se falar. Em seguida, apontou para mim. – Jensen Ackles.
- Jared Padalecki. – E apontou para Sam. – Seus nomes não são tão difíceis. Tenta fazer todo mundo pronunciar “ Laguardia” e “ Marchesi”.
Nós ficamos alguns segundos somente encarando-as. Elas realmente não se lembravam e ainda acreditavam que eram pessoas diferentes. Eu só consegui dar um sorriso sem graça enquanto Sam fingia que aquilo era uma situação completamente normal melhor que eu.
- Hmmm, e , é hoje que você quer que eu vá lá na sua casa fazer sua unha? Aproveite meu tempo livre! – comentou de repente. Nós somente começamos a prestar atenção na conversa.
- Ah, é verdade! Pode ser sim. Só nada de pizza dessa vez, ou nossa dieta vai por água abaixo. – respondeu suspirando, parecendo cansada só de pensar.
- Sem problemas! Nisso, eu concordo plenamente com você! – riu. – Então depois daqui...
- Festa do pijama. Você dorme lá em casa, a gente faz a unha, joga conversa fora, faz nosso jantar magro sucesso e não vamos dormir muito tarde ou nossa pele fica uma porcaria no dia seguinte!
- Ok!

Eu e Sam estávamos pasmos com aquela conversa. Só agarrei o braço dele e o arrastei para longe.

- Aquela não é a . – Comentei decididamente. – Não pode ser. Dieta? Dormir cedo pra pele ficar linda?!
- E qual é a da festa do pijama pra fazer a unha...? – Sam parecia que tinha visto um fantasma. – Quer dizer, eu sei que a faz a unha com até certa constância, mas nunca vi as duas fazendo isso numa festa do pijama.
- Eu nunca vi a fazendo a unha. Fim. – Passei a mão pela testa. – Ela simplesmente aparece com a unha cortada no dia seguinte. Como mágica. Aquela mulher só faz a unha quando quebra em uma caçada, Sam!
- Bom... Mas elas não são mais caçadoras por aqui, né. – Ele comentou e começamos a observá-las de longe.
As duas riam como nunca. Parecia que nunca tiveram uma preocupação que fosse na vida. tinha uma garrafinha de água em mãos e parecia que tomava algum tipo de chá, também dentro de uma garrafinha. As duas se levantaram para buscar mais água para a e pude ver que ambas estavam usando saltos, saias, pulseiras, anéis e maquiagem.
- Ok. Algo está errado. – Sam finalmente constatou. Eu agradeci internamente que ele concordava comigo.
- Muito errado. Precisamos levá-las de volta.
Nem precisei falar mais nada. Ele simplesmente concordou com a cabeça e nós saímos andando atrás delas.
A missão “trazer e de volta para a realidade” tinha acabado de começar.


E o resto da gravação foi um desastre. Nós dois definitivamente não nascemos com a habilidade de atuar. As duas estavam tirando de letra – e, pelo que entendemos, eram atrizes renomadas de filmes de ação, profissionais em correr de salto e atirar sem destruir a maquiagem ou os cabelos.

Era impressionante, pra falar a verdade.

Além disso tudo, as duas eram extremamente simpáticas com todo mundo e humildes. No final do dia, mesmo com a nossa atuação terrível, as duas se ofereceram para nos acompanhar até o portão do estúdio, pois parecíamos horrivelmente perdidos naquele dia.
- Temos que pedir desculpas. Sabemos que fomos péssimos hoje. – Sam comentou com um sorriso envergonhado no rosto enquanto caminhávamos.

Péssimo é apelido para aquele horror.

- Ah, sem problemas, Jared. Todos temos dias ruins. – piscou de volta para ele, sorrindo animadamente. – Pega a , por exemplo. Teve um dia que eu realmente fiquei me questionando se éramos primas, pois nem parecia que éramos da mesma família.
- Olha quem fala! – respondeu com um riso de escárnio no fim da frase. – Ok, aquele dia eu estava terrível. Mas você também já teve dias igualmente péssimos. Todo mundo tem.
- Isso me consola um pouco. – Tentei entrar na conversa e, assim que ela me olhou, lancei meu sorriso que sei que ela gosta. A me observou durante alguns segundos, sorrindo em seguida. Talvez ela lembrasse daquilo.
- Tá vendo? Pelo menos seu sorriso é bonito. – Ela apontou para mim, fazendo e Sam começarem a rir. – Isso melhora qualquer tipo de atuação medíocre. Vai por mim.
Eu olhei para Sam desolado enquanto as duas riam. Sam, sendo o bom irmão que é, compreendeu imediatamente. Se aquele sorriso não fez com que lembrasse, talvez o problema fosse pior do que imaginamos.
- É só não se preocupar muito com isso. – deu de ombros e finalmente alcançamos o tal do portão, parando logo que o atravessamos. – Amanhã é um novo dia. E, além de tudo, amanhã é sábado. Nosso break é justamente de sábado.
- Só não se esqueçam de aparecer por aqui no domingo. – E piscou para nós, sorrindo. De repente, seu celular começou a tocar, o que pareceu pegá-la de surpresa por um momento. Ela olhou de quem era a chamada e franziu as sobrancelhas. – Não é possível...
- O que foi? – perguntou imediatamente, enquanto eu e Sam somente trocamos olhares.
- Aquele idiota...! – E atendeu ao telefone. – Sério! Não me fala que você resolveu me avisar agora que...
Mas a pessoa com quem ela reclamava respondeu algo e desligou logo em seguida. Ela colocou o celular no bolso, indignada, porém sorria.
- ... Mas o que diabos foi isso? – perguntou suspirando e colocando as mãos na cintura.
somente sorriu e apontou para o fim da rua. Vimos um carro esporte prateado surgindo em alta velocidade, diminuindo a velocidade conforme se aproximava de nós. Ao lado deste, um cara em uma Harley-Davidson preta lustrosa o seguia, fazendo a mesma coisa.
Assim que o carro parou, o cara da moto estacionou logo atrás. E adivinha? Sim, eles pararam na frente de nós quatro.
- Axel! – gritou e saiu correndo até o cara da moto assim que ele saiu desta. Ela nem esperou que ele tirasse o capacete, simplesmente se jogou nos braços dele e ele a abraçou fortemente, retirando-a do chão.
- Zach! – saiu correndo atrás do cara que saiu do carro esporte, abraçando-o fortemente. E ele também não poupou força: retribuiu tudo do abraço, quase a retirando do chão.
- Elas têm namorados...? – Sam murmurou para mim, provavelmente se controlando para não surtar.
- Se eles forem namorados delas... Eu juro que trucido o Castiel quando voltarmos para casa. – Não gosto de admitir que rosno, mas tenho certeza que qualquer um que me escutasse falaria que eu estava rosnando no momento.
- Você não me disse que voltava hoje, seu tonto! – E a deu um tapão no braço do tal de Axel. Ele somente riu e retirou o capacete, revelando cabelos compridos exatamente do mesmo tom do cabelo dela. Na verdade, era igualzinho ao cabelo da , até no corte.
- Eu queria ver essa sua cara de trouxa! – Ele respondeu com um sorriso convencido no rosto. O mesmo que o dela. – Exatamente essa que você tá fazendo agora, porque não esperava me ver hoje!
- Ah, e você também queria ver a “minha cara de trouxa”? – cruzou os braços e perguntou pro Zach. Agora que eu o observava com calma, percebia que, apesar dos cabelos curtos e da mesma cor dos dela, os olhos dos dois eram idênticos.
- Você sabe que eu não consigo resistir a chance de te irritar, baixinha. – Zach comentou com o mesmo olhar que tinha quando irritava alguém e se divertia demais com aquele fato.
- Ah, Jared, Jensen! Não sei se vocês vão se lembrar, mas esse é o Axel, meu irmão! – A fez o favor de nos explicar o que estava acontecendo.
- E esse é o Zach, meu irmão. – A completou com um sorriso animado, parando ao lado dele. – Os dois estavam viajando e a previsão era voltarem amanhã, mas, pelo visto, vale a pena voltar um dia antes para irritar suas irmãs!
- Isso vale mesmo. Olha a sua cara! – Zach complementou e os dois começaram a rir, enquanto elas somente rolaram os olhos.
Assim que eu e Sam nos colocamos a observá-los, ficara óbvio: eles eram cópias masculinas das duas. Ambos eram praticamente da minha altura. O Zach era mais forte e tinha mais músculos – porque sim, apesar da roupa dava pra notar aquilo – enquanto o Axel era forte, porém mais magro – além de se vestir com algumas coisas de couro e correntes aqui e ali. Se você os olhava, pareciam até que eram gêmeos ou algo do tipo. Assustador.
- Claro que nos lembramos! – Sam fez o favor de se manifestar, porque se fosse por mim, eu só ia ficar lá. Encarando. – Vocês são tão parecidos que é impossível esquecer! Como vão?
- Ah, a gente sempre escutou isso! – Axel comentou e se adiantou para apertar a mão que Sam estendia. – Vamos bem! E vocês?
- Vamos dizer que hoje não foi nosso dia no estúdio. – Eu finalmente dei sinal de vida, sorrindo e estendendo a mão para ele.
E aquele cara tinha um aperto de mão forte. Que nem o Zach, que me cumprimentou logo em seguida.
- Nem me fale. – O cara comentou enquanto parava novamente ao lado de . – Nós nos metemos a escalar um daqueles Alpes que comentamos, lembra? Então, não foi nosso dia também.
- Teve uma hora que achei que eu ia ficar com gangrena e amputar meu pé. – Axel comentou seriamente e a expressão de horror no rosto de foi impagável. – Mas, no fim, demos um jeito de nos aquecer.
- Tiveram que descer antes de terminar de escalar? – Sam perguntou com um pouco de satisfação na voz.

Aparentemente, não era só eu que estava com um pouco de ciúmes da situação.

- Claro que não! – E Zach riu de volta. – Se tivesse que cortar o pé dele fora, nós cortaríamos. Mas chegamos ao cume sem nenhum problema! Temos que checar os recordes de escalada, pois demoramos menos tempo do que achamos que demoraríamos.
Olhei para Sam e vi que ele tinha o mesmo sorriso idiota que eu tinha plastificado no rosto.
- E o que é mesmo que vocês fazem...? – Eu fingi não me lembrar. Pra sair viajando e escalar Alpes, voltando com um carro esporte e uma Harley-Davidson... Aqueles dois só podiam estar se aproveitando do dinheiro delas!
- Nós criamos softwares. Recentemente desenvolvemos um daqueles apps indispensáveis e tal, então ganhamos o direito de férias bem merecidas! – Axel respondeu rindo junto com Zach.
- Ah, vocês são gênios então. – Eu não pude deixar de alfinetar. Não estava me sentindo bem com aquela situação.
- Bom, nossas irmãs são bem inteligentes... – E Zach passou o braço pelos ombros de , abraçando-a. – Então acho justo sermos inteligentes também.
- Se bem que eu sempre nos achei mais inteligentes que vocês. – respondeu com um olhar analítico, recebendo um leve soco de Axel.

Aquilo me fez arder por dentro. Eu queria jogar aquele cara até o outro lado da rua.

Mas ela retribuiu o soco, rindo, e batendo até um pouco mais forte que ele. Como qualquer pessoa normal faria com um irmão.

Bom, se fosse eu e o Sam, a gente já estaria se matando. Mas se o Sam fosse uma moça... Ok, ele já é uma moça, então não muda nada.

Obrigado. Também te amo. – Winchester, Sam.

- Bom, já que estamos de volta à cidade e aparentemente vocês duas não têm nada pra fazer... – Zach começou a puxar o assunto e eu pude sentir Sam ficando tenso ao meu lado, provavelmente já prevendo o que o cara ia falar. – Pub. Nós quatro. Festa até o amanhecer.
- Vocês iam ficar em casa pra fazer a “festa do pijama”, não era? – Sam perguntou praticamente no mesmo segundo que o Zach terminara de falar.
- Yep. – suspirou e olhou para Axel. – Mas senti saudades de você, traste. Minhas unhas podem esperar.
- E ninguém consegue beber mais que você e continuar sóbrio, não é mesmo? – Axel perguntou rindo, fazendo-a rir também. Eu tive que me conter para não fechar a cara: sou o único que consegue beber mais que ela e continuar sóbrio na nossa realidade. E agora aquele protótipo de Rapunzel queria me substituir. – Pela sua cara, você precisa de umas cervejas!
- Bom, vocês não precisam falar muito pra me convencer! – A se manifestou e mandou beijos no ar para mim e para o Sam. – Vemos vocês no domingo, lindos! E Zach, é bom me levar num lugar mais que sensacional dessa vez!
E assim, ela entrou no banco de passageiro daquele enorme carro lustroso.
- Você acha que eu vou levar você aonde, hein? Nada além do bom e do melhor. – Piscando, Zach fechou a porta dela e acenou para nós antes de entrar no próprio carro e sair cantando pneus.
- Seu capacete. – Axel estendeu o objeto para , colocando o próprio e já sentando na moto.
- Até domingo. - Ela sorriu para nós, acenando animadamente. – Não se esqueçam de treinar no sábado. Ah, e Jared, mande beijos para a sua mulher! Confirme com ela que vamos à festa de vocês semana que vem!
- Ok, pode deixar...! – E Sam estava completamente perdido.
Com isso, ela colocou o capacete, sentou-se atrás de Axel e o abraçou. Em seguida, a Harley-Davidson saiu rua abaixo com seu barulho característico enquanto eu ficava lá, morrendo por dentro ao vê-la abraçada em uma moto com outro cara.
- Sério? – Sam se virou para mim, puto da vida. – Sério?! Você viu o que eu acabei de ver?!
- O quê? Aqueles irmãos que são clones masculinos delas, ricos, bonitos, inteligentes e aparentemente perfeitos? – Perguntei de volta, cheio de sarcasmo na voz. – Sim. Eu vi. E quero bater nos dois.
- Além disso, elas também são ricas, bem sucedidas, maravilhosas e inteligentes como sempre! – Sam suspirou, não conseguindo acreditar. – Não sei você, Dean, mas se eu descobrisse sobre a nossa realidade estragada, não ia querer voltar de jeito nenhum!
- Muito menos eu! – Passei a mão na testa.
A cada momento que passava, aquela realidade se tornava um problema ainda maior.


- Achou alguma coisa de útil, Sam? – Sim. Estávamos em um hotel mambembe como sempre e Sam teve que ligar pra esposa dele, que eu ainda não conseguia acreditar que era a Ruby, pra avisar que ele não voltaria para casa.
E agora estávamos pesquisando as melhores maneiras de fazer pessoas sem memória se lembrar de coisas importantes.
Mas nada disso é uma ciência exata e não achamos nada que pudesse ajudar.

Então só imagina como eu estava frustrado.

- Nada. Sinceramente, a internet não tem nada que preste. – Sam fechou o laptop com raiva. É, aparentemente não era só eu. Ele suspirou. – Às vezes.
- Só achei aquelas de sempre. “Tente fazer a pessoa sentir um cheiro que gosta e que foi marcante”, “tente chocá-la com alguma memória anterior”, “tente pegá-la de surpresa”. – Reclamei, fechando meu próprio laptop e tomando o último gole da minha terceira cerveja.

Que ódio.

- Pois é. Acho que não vai funcionar com o caso delas. – Sam passou as mãos pelo cabelo, respirou fundo e olhou para o teto. – Elas acham que são pessoas diferentes. E tudo que o Google me indica é interná-las em um hospício.
- Quem sabe? Pelo menos aquele irmão motoqueiro da não ia chegar mais perto dela. Nem aquele primo sem graça. – Procurei por mais cervejas, porém não tinha mais nada: eu e Sam bebemos todas.
- E cara, qual que é a desse Zach? – Ele perguntou revoltado, apoiando uma das mãos na perna com mais raiva do que o recomendado. Pelo visto meu Sammy conseguia ser homenzinho de vez em quando. – O carro esporte? A roupa? Os Alpes? Quem ele acha que é, o James Bond?
- Não dá pra competir com um cara daqueles. – Suspirei, apoiando nas costas da minha cadeira, olhando para Sam. – Qual era a da moto e do cabelo comprido? Se esse Zach acha que é o James Bond, o Axel acha que é o Axl Rose!

E ficamos em silêncio durante alguns segundos. Eu só olhei para Sam como se estivesse advertindo para não fazer a piadinha que sabia que estava vindo.

- Até que faz sentido, né. Axel, Axl Rose... – Mas aquele palhaço fez, obviamente.
- Ah, cala a boca e vai dormir. Vadia. – Rolei os olhos e decidi que ir para a cama era o melhor que eu podia fazer.
Enquanto aquele asno que eu ainda chamo de irmão só ria.
Mas nenhum de nós dois dormiu muito bem. Enquanto eu fiquei checando o celular a noite toda, esperando alguma mensagem ou sinal de vida da , percebi que Sam estava no mesmo estado que eu. Ele checava de cinco em cinco minutos, provavelmente super preocupado com a .
Nem se elas estivessem em uma caçada nós ficaríamos tão tensos quanto naquela noite.


E o que você acha que aconteceu?
O Sam não aguentou.
De verdade, nem fui eu dessa vez. Sei que a odeia quando fico todo ciumento e territorial, fica me cortando toda hora falando “Dean, você tá com a mania de controlador, para, antes que eu te bata”. Eu não reclamo, acho bom pra falar a verdade. Ela consegue segurar esse meu lado...

Mas que aquela mulher testa a minha paciência e os meus limites, ela testa.

Então eu tava lá, sentado à mesa, comendo qualquer coisa que tinha pelo quarto – porque comida era a minha última preocupação no momento – e me controlando ao máximo pra não descobrir onde era a casa dela e dar uma passada por lá para fazê-la lembrar de tudo e sair daquela realidade terrível. Era só imaginar a me olhando com aquele clássico olhar de “se você falar uma palavra, eu meto a mão na sua cara” e pronto, eu conseguia me aguentar.

Até o Sam começar a andar de um lado para o outro, impacientemente.

- Eu mandei uma mensagem pra e ela não me respondeu.
Eu só ergui uma sobrancelha.
- Ela nunca fica sem me responder durante mais de dez minutos. Se ela não me responde rápido, algo está errado, Dean. – E ele balançava o celular, com aquela cara de Sam irritadinho que me dá vontade de meter um tapa pra ver se volta ao normal.
- Ela não é sua namorada nessa realidade. – Eu cruzei os braços e fiquei ainda mais pasmo. – Nossa. Se isso fosse um problema comigo e com a , eu ia surtar todo dia. Ela demora pelo menos uma meia hora pra responder. Isso quando tá rápida.
- Mas a não é a e eu conheço a minha namorada. – Sam bufou em resposta e pegou o casaco. – Nessa realidade ou em qualquer outra: ela demorar pra responder é esquisito.
- Aonde você vai? – Tive que perguntar quando aquele maluco já estava girando a maçaneta na porta do quarto.
- Onde você acha? Procurá-la! – E para ele tudo aquilo parecia tão óbvio.
Eu suspirei, balançando a cabeça.
- Precisamos descobrir os endereços delas antes. – Claro, eu me rendi, pois queria muito saber o que estava acontecendo... Não gosto de admitir, mas Sam tinha razão.
E, quando sentamos com o laptop para pesquisar sobre a vida delas, eu podia ver e sentadas ao outro lado da mesa, encarando-nos com seus olhares de morte. Eu só me escondi do espectro delas atrás do meu computador e continuei minha missão.
Em poucos minutos, lá estávamos nós dois, EM UM CARRO MUITO PATÉTICO QUE NÃO ERA UM IMPALA e eu não vou nem mencionar qual era – porque, meu Deus, por que alguém compraria um carro tão ridículo? – indo para a casa da . Sim, pois eu queria passar lá antes.

Já ficara muito tempo controlando meu ciúme naquela manhã, então até o Sam reconheceu que eu merecia passar lá antes.

E logo que chegamos àquela casa imensa, com direito à piscina com cascata e tudo mais, ficamos esperando no tapete diante da porta de entrada logo depois de tocar a campainha.
Que não me desapontou. Era uma versão com sininhos de Thunderstruck do AC/DC. Podia ser a realidade que Castiel quisesse, a sempre seria a . E aquilo me fez sorrir.

Até o irmão dela abrir a porta. Sem camisa. Com uma bandana amarrada na cabeça. E cara de ressaca.

- Ah, Jared e Jensen! Tudo bem com vocês? – Ele perguntou tentando abrir os olhos, mas a claridade não deixava. – O que os traz aqui?
- Pensamos que elas podiam passar o texto com a gente hoje! – E Sam, como sempre, salvou a pátria com uma desculpa esfarrapada de última hora. – Quando não responderam as mensagens, resolvemos passar aqui para ver se estava tudo bem! Mas aparentemente sim, então nós vamos...
- Vamos...? – Eu não consegui ficar sem perguntar, já querendo bater no Sam e no tal de Axel. Tinha raiva em mim suficiente para todo mundo.
- Imagina! Não precisa ir! Entra aí! – E Axel entrou na casa, deixando a porta para trás. Nós somente o seguimos.
- Pergunto de novo: ele acha que é o Axl Rose, por um mero acaso? – Sussurrei para Sam enquanto ele fechava a porta atrás de nós. – E essa casa? Isso aqui não é uma casa! É a mansão do Homem de Ferro!
- Bom... Elas são ricas, né. O que você esperava da ? – Sam tentou dar de ombros, mas percebi que ele estava tão incomodado quanto eu.
- Cara... Como vamos fazer para que elas se lembrem dos nossos glamourosos motéis de estrada? – Balancei a cabeça enquanto falava. Sam nem respondeu. Ele sabia que eu tinha razão.

A situação era realmente preocupante.

- Elas ainda estão dormindo... Mas também, depois de ontem, não espero nada além de ressaca dessas duas! – Axel riu enquanto se apoiava em um sofá.
A provavelmente era a pessoa mais linda de ressaca nesse mundo. Estava deitada em um monte de almofadas jogadas no chão – com um vazio ao lado dela que provavelmente era de Axel – e ainda vestia a calça da noite anterior. A parte de cima era um moletom velho e esfarrapado, além de estar só com alguns restos de maquiagem no rosto que provavelmente não conseguira tirar quando voltou para casa.
Ao meu lado, porém, só consegui sentir Sam ficando tenso. Quando olhei mais adiante, lá estava , deitada no enorme sofá, com a cabeça apoiada no ombro de Zach. Ele estava acomodado ao lado dela, envolvendo-a com um braço. Ela ainda usava as roupas da noite anterior – uma saia e uma blusa de paetês pretos, com uma sandália de salto considerável – e parecia que os dois tinham se molhado durante a noite.
- O que aconteceu com eles? – Perguntei antes que Sam tivesse um colapso.
- Ah, o tonto do Zach caiu na piscina e levou a junto né! – Axel riu e surgiu de algum lugar, carregando uma caneca com uma colher dentro. Nem percebi que ele tinha saído de lá. – Daí eu e a ficamos só com as pernas dentro da piscina, olhando esses dois achando que conseguiam nadar com essas roupas!
- E você? – Ouvi Sam perguntando depois de respirar fundo. – Qual é a da bandana?

E é incrível como o Sam consegue sorrir mesmo sem ter vontade de fazer isso. Principalmente quando está irritado.

- A me pediu um show de rock ontem à noite. – Ele piscou para nós. – Cantar Paradise City com ela, nós dois fingindo que somos o Axl Rose, é a melhor maneira de encerrar uma noite como essa.
Por sorte ele se abaixou ao lado dela quando terminou de falar, ou teria me visto rolando os olhos, nem um pouco contente com aquela situação. Axel passou a mão de leve pelos cabelos dela e colocou a caneca diante do rosto de .
- Isso é comida...? – Ela perguntou com uma voz embriagada de sono e ressaca.
- Claro, né. Só assim pra você levantar. – Ele respondeu rindo e se pôs de pé. Em seguida, esticou a mão para ela. – Pronto. Pode levantar também, ou nada de cereal.
- Você é um ser ruim... – suspirou, mas segurou a mão dele.

Nem eu conseguia fazê-la levantar tão rapidamente de manhã.

- Mas é lindo também. Obrigada. – Ela comentou ao pegar a caneca e o abraçou, mal abrindo os olhos enquanto sorria.
Eu me sentia uma besta por estar com ciúmes daquele irmão falso, mas estava. Até aquele dia, ela nunca tinha me abraçado daquela maneira, por que tinha que abraçar ele?
- Bom, vou acordar a ... – Sam suspirou, rolando os olhos ao meu lado.
Mas, na hora que ele começou a andar, Zach tirou algumas mechas de cabelo do rosto de , cuidadosamente.
- Já acordou, baixinha?
- Claro. Antes de você até. – Ela respondeu claramente, ainda sem abrir os olhos. – Mas não lido bem com ressacas e manhãs. Estava esperando o dia passar.
- Ah, tá! – E Zach deu uma risada audível. – E você achou que ia dar certo? Pretendia levantar que horas?
- Depois que o sol fosse embora. – suspirou e começou a levantar vagarosamente com a ajuda do irmão.
- Olha, a descendente do Drácula aqui é a . Não me force a fazê-la assistir temporadas e temporadas de RuPaul para você lembrar que é uma Diva encarnada na Terra. – Ele comentou brincando e somente riu.

Ainda abraçada naquele irmão idiota, enquanto comia seu cereal. Como ela conseguia fazer aquela proeza, é uma boa pergunta.

- Eu sou uma Diva das trevas! – A se manifestou. – Me joga glitter preto e me chama de Elvira!
E todos começaram a rir imediatamente.

Menos eu e o Sam. Claro.

Se bem que ela ficaria bem sexy vestida de Elvira.

- Quer que eu pegue uma água pra você? – Zach perguntou enquanto massageava a cabeça. – Hidratar é a melhor maneira de lutar contra a ressaca.
- E você, como sempre, cuidando de mim, né? – Ela perguntou com um pequeno sorriso no rosto, sendo que ele somente piscou de volta.
- Claro. Alguém tem que ficar de olho na minha baixinha, não?
Era oficial. Eu e Sam tínhamos sido substituídos por irmãos em versões mil vezes melhores do que nós dois poderíamos ser em qualquer dia das nossas vidas.


Domingo
Depois do dia da ressaca, só encontramos com as duas novamente no estúdio, prontas para trabalhar conosco em pleno domingo.
Não gostamos de admitir, mas perceber que havíamos sido tão facilmente substituídos naquele dia da ressaca acabou com nós dois. Simplesmente voltamos para o motel e ficamos em silêncio o resto do dia, pensando em tudo que estava acontecendo.
Sinceramente, nosso desejo era de acordar no dia seguinte e perceber que ainda estávamos na casa do Bobby e as duas estavam voltando depois de três dias de caçada – finalmente sem os pesadelos do caso de Jake Baker.

Mas né. Para isso, precisaríamos de sorte. E sorte não é algo muito comum na família Winchester.

Que dó dos nossos filhos, se algum dia tivermos algum.

Minha estratégia era simples: sei que a tem tara por um dos meus perfumes e resolvi abusar dele naquele dia. Tinha certeza que aquilo a faria lembrar. Afinal, segundo aquele monte de pesquisa inútil que eu e o Sam fizemos, o olfato é o sentido que mais traz memórias de volta à tona.
- Você tá parecendo um gambá, isso sim.
- Cala a boca, Sam. – Rolei os olhos. Estávamos no meio de um intervalo e as duas estavam repondo suas garrafas de água e chá.

Já disse que achei estranho? Então, ainda acho estranho.

- Sério. Dá pra sentir você chegando lá da porta do estúdio. – Ele fez uma careta enquanto tomava um copo de café.
- Ah, é? Pelo menos eu tô melhor que você, que fez o estúdio todo parar de gravar, porque engasgou na sua própria saliva. – Ok. O Sam queria começar uma guerrinha? Ele teria uma guerrinha. Só tinha que saber que estava se metendo comigo, irmão dele, e ganhar algo assim de mim é quase impossível.
- Não é disso que estamos falando. – Ele respondeu com aquela cara de pastel que sempre faz quando fica incomodado com algo vergonhoso.

Ponto. Pra. Mim.

- Então fica quieta, Grace Kelly. – Dei de ombros e pude sentir que Sam ia responder algo, porém a estava se aproximando.
Sozinha. Pela primeira vez no dia.
- Some daqui.
- O quê? – E claro, aquele tonto que eu chamo de irmão ficou pasmando lá do meu lado.
- Some daqui! – Sussurrei. – Preciso falar com ela sozinho! Sai!
- Mas...
E dei uma cotovelada nas costelas dele enquanto sorria para . Por sorte, ela não percebeu e só sorriu de volta.
Sam finalmente foi embora.
- Ué! Para onde o Jared foi? – Ela perguntou confusa logo que chegou perto.
- Ah, ele tinha algumas coisas pra resolver. A esposa tá dando problemas, acho. – E eu dei o sorriso que sei que ela adora. Meio convencido e meio brincalhão, sabe? Sei que a não resiste a isso.
- Entendi... E você não resolveu as coisas com a sua namorada? – Ela perguntou de volta, quase imediatamente.

Aparentemente, ela resistia ao meu sorriso naquela realidade. Ou seja: ela era tão perdida quanto o Sam.

- Ah, ainda não... – Comecei, tentando me livrar daquele assunto. EU NEM SABIA QUE TINHA NAMORADA. – E acho que não vamos resolver. Sabe como é, né... Cada um para o seu lado.
- Ah, mas eu gostava dela! – E a realmente parecia chateada de ouvir aquilo. – Era uma pessoa tão legal! Vocês eram perfeitos um para o outro!

Aquela conversa realmente não estava acontecendo da maneira que eu queria.

- Na verdade, não queria falar muito disso. – Tentei cortá-la sem parecer muito rude. Ela somente concordou com a cabeça.
- Tudo bem, eu entendo... – suspirou e apoiou-se na mesa ao meu lado, observando o set do estúdio. – Mudando de assunto, você está bem melhor hoje do que antes de ontem. De verdade.
- Obrigado. – E novamente lancei o sorriso dela. Mas a criatura mal olhou para mim.

Poxa, eu sabia que a era difícil. Mas, naquela realidade, ela estava pior que o Slash pra se reencontrar com o Axl Rose!

- Jensen... Você tá sentindo um perfume diferente...? – Ela perguntou repentinamente, farejando o ar.
Senti minhas mãos formigando no momento que ela falou isso. “É agora”, pensei. Ela iria se lembrar. Eu tinha certeza. A ficava usando minha jaqueta durante dias depois que eu passava esse perfume, de tanto que gostava da coisa. Não tinha como perder uma memória dessas.
- Ah, é meu perfume. – Respondi desinteressadamente e ela imediatamente se virou para me olhar.
Ela se lembrou. Eu tenho certeza absoluta que se lembrou. Seus olhos me encaravam de uma maneira diferente. A não estava me olhando como a atriz que contracenava com o tal de Jensen Ackles, mas sim como a da nossa realidade: a que gostava do Dean e não hesitava em caçar com ele. A minha .
Mas aquele olhar somente durou alguns segundos. Em poucos momentos, os olhos dela me encaravam novamente como se eu fosse um colega de trabalho, um estranho.
- É muito bom. – Ela comentou com um sorriso plácido. – Não sei o motivo, mas me lembra de alguma coisa... Não sei bem o que também...
Deixei-a pensando durante algum tempo. Quem sabe se lembraria se eu não a forçasse.
- Não sei... – A balançou a cabeça, derrotada. – Só sei que é algo que me dá saudades. Muitas saudades.
Antes que eu pudesse falar alguma coisa, entretanto, um assistente parou na frente dela e perguntou se a queria que ele lhe trouxesse um café. Ela somente sorriu e fez que não com a cabeça.
- Eu...
- Chá. Ela não gosta de café. – Comentei automaticamente, falando por cima dela sem querer. – Chá preto, forte, com limão, pouco açúcar e no maior tamanho que tiver.
- Ok! – E lá foi o assistente buscar o tal do chá da .

E só aí vi que ela me observava com um pequeno sorriso no rosto e as sobrancelhas franzidas.

- O que foi? – Perguntei imediatamente. Não parecia que ela tinha se lembrado, mas parecia impressionada.
- Acho que só o Axel e a sabem de todas essas minhas especificações com o chá e o café. – E a deu um pequeno riso no fim da frase. – Como você sabe tudo isso?
- Ah, não sei. Eu te conheço bem, né... – Respondi dando de ombros e voltando a tomar meu café, enquanto ela somente se aproximava um pouco mais de mim e se sentava à mesa atrás de nós, silenciosamente.
Ponto pra mim. O Axel que se cuidasse.


Missão do Sam

Ao invés de querer bancar o gambá que nem o Dean, resolvi fazer algo mais discreto.
Porque não estou mentindo quando falo que realmente dava para sentir o cheiro dele desde a porta do estúdio. Era óbvio que algo estava acontecendo e ele queria provar algum ponto. Era impossível dar mais bandeira que ele.

Mas também... Desligada do jeito que a é, não duvido de nada.

Logo que o Dean me expulsou de lá, não sabia exatamente para onde ir. Só saí andando casualmente por aí – mas de uma maneira que parecia que eu tinha algum objetivo na vida. Assim, ela não ficaria tão desconfiada.
Foi nesse momento que parei à porta do estúdio e fiquei observando o lado de fora. Não tinha visto a desde que as duas saíram andando por aí e, sinceramente, só estava torcendo para que ela não estivesse com aquele irmão dela, o Zach.
Você provavelmente deve achar uma besteira esse ciúmes meu e do Dean com os irmãos postiços delas, mas vou explicar. Na nossa realidade, temos uma função como namorados delas. E, querendo ou não, gostamos dessa função. Com o Axel e o Zach, nós não temos função alguma. Eles são versões infinitamente melhoradas de nós dois e simplesmente comprovam o fato de que elas não precisam de nós na vida delas. Entre as duas, a amizade já é bem parecida com a que vimos com eles nessa realidade... Então, né. Eu e o Dean somos dispensáveis.

E, quando você se toca disso, é algo bem difícil de lidar.

Então resolvi lidar com o problema sentindo ciúmes do Zach e é isso mesmo. Sou um ser humano, não sou perfeito, tenho sentimentos horríveis às vezes e fim. Eu queria que ela ficasse longe dele, pois se lembrasse de tudo que aconteceu lá ao voltarmos para a nossa realidade, a poderia se tocar de tudo aquilo que mencionei anteriormente.

E eu não queria perdê-la. De jeito nenhum.

- E aí, Jared? Pensando na vida?
Quem surgiu atrás de mim repentinamente? Ela mesma.
Não consegui ficar sem levar um susto e derrubar meu café no chão.
- Nossa! Desculpa! – comentou imediatamente, abaixando-se para pegar o copo. Porém, quando se levantou, já era tarde: o café inteiro estava esparramado. – Não achei que você ia se assustar tanto assim, Jared! Desculpa mesmo! Não era minha intenção!
- Sem problemas, ... – Eu respondi rindo. – Acontece. Eu que estou muito distraído hoje. Pensando na vida.
- E pelo visto não são coisas boas. – Ela jogou o copinho no lixo próximo. – Alguma coisa com o casamento...?
- Não, não...! – Balancei a cabeça, pensando no que falar. Não ia ficar muito naquele tópico, pois nem sabia direito quem era minha esposa. Quer dizer, sabia que era a Ruby, mas naquela realidade ela não era um demônio querendo que eu libertasse Lúcifer, então né. Não sabia nada além disso sobre a minha própria “esposa”. – São algumas coisas pessoais, mas nada a ver com a minha esposa. Sem problemas nesse aspecto.
- Hmmm... – E a começou a observar o horizonte enquanto murmurava. Quando ficava assim, é porque tinha tido alguma ideia. – Então o que você acha de darmos uma volta por aí e eu te pago outro café? Vai ser bom pra arejar a sua mente.

Viu? Sabia que ela tinha alguma ideia.

E, sinceramente, foi a melhor do dia. Afinal, era o momento perfeito para ficar sozinho com ela.
- Pode ser. Só não lembro onde é que tem café por aqui no estúdio...
- Pode deixar, eu lembro. É o único lugar que dá pra comprar o chá jumbo da .
Eu só comecei a rir. Podíamos mudar de realidade e até de planeta, mas elas sempre conheceriam, reclamariam e amariam as peculiaridades uma da outra.
Conversei com ela sobre amenidades até chegarmos ao café. Ficamos esperando em uma pequena fila e paramos para ouvir atentamente ao que a pessoa da frente estava pedindo. Era algo que eu e a sempre fazemos em qualquer lugar que vamos, pois ela gosta de fazer uma brincadeira que, no fim, eu sempre dou muita risada.

Já é automático para mim, porém não esperava que ela fosse comentar nada.

- Calma. Só parei de falar, pois gosto de brincar de adivinhar a vida da pessoa na minha frente só de ouvir o pedido dela. – comentou atentamente e eu fiquei alguns segundos observando-a, em choque. Era exatamente isso que eu estava fazendo.
- Também faço a mesma coisa. – Comentei baixinho para não atrapalhá-la e a teria parecido mais empolgada se a pessoa da frente não tivesse começado a falar.
- Chá preto, forte, com limão... Hã... Pouco açúcar? É. É isso. – E o cara sorriu, corrigindo-se logo em seguida. – Ah! E no maior tamanho que vocês tiverem!
- Maior tamanho...? – Ergui uma sobrancelha e a se virou para mim com um sorriso.
- E acabamos de descobrir que a minha prima não sabe que a abolição da escravatura já ocorreu há anos atrás e usa os assistentes de pajem pra ir buscar chá pra ela. – comentou ainda com aquele doce sorriso nos lábios, apesar das palavras duras. Eu só comecei a rir enquanto a moça do caixa nos chamava.
- A ? Por que...?
- Chá tamanho jumbo. É ela. Eu conheço a criatura. – me respondeu com uma piscadela sem ao menos me deixar terminar a frase, apoiando-se no balcão logo em seguida. – Oi, moça! É um café médio com leite e pouco açúcar, por favor.

Ergui uma sobrancelha. Será que ela tinha se lembrado de algo? Pois era exatamente o que eu tomava quando ia a cafés com ela.

- É isso que você quer, não? – Ela me perguntou, parecendo um pouco confusa.
Só confirmei com a cabeça e não esperamos nem cinco minutos para o café ficar pronto. Peguei o copo e começamos a passear pelo estúdio.
- Estranho... Nunca comprei café pra você antes. Não sei como acertei direto dessa maneira... – comentou pensativa, olhando para o chão. Em seguida, olhou para mim e sorriu. – Às vezes, somos almas conectadas. Você pode ter sido meu primo distante em uma vida passada.
Comecei a rir, pois claramente ela estava brincando. Mas, quando a olhei novamente, lancei um olhar que sei que a gosta.
- Ou o amor da sua vida.
- Pode ser. – Ela deu de ombros, mas ficando ligeiramente corada. – Tudo é possível quando falamos de vidas passadas.
Ficamos alguns momentos em silêncio. Apesar do tom de brincadeira na voz dela, eu tinha novas esperanças. O fato de saber exatamente qual tipo de café eu peço sem nunca ter pedido antes naquela realidade, demonstrava que pelo menos o subconsciente dela se lembrava de algo.
Nesse momento, um cheiro quente e açucarado encheu o ar. Nós dois olhamos para a fonte do aroma ao mesmo tempo, como cachorros ouvindo um barulho distante. Eu somente sorri ao ver o que estavam vendendo na cantina ali perto.
- Churros! – Ao falar isso, automaticamente segurei a mão dela e comecei a caminhar até lá. – Aposto que você quer!
- Com certeza! Eu amo churros! – E ela segurou a minha mão com mais força, caminhando ao meu lado como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.
- Quantos? – Perguntei logo que nos apoiamos no balcão.
- Um só dessa vez. Ou não vou jantar direito, Sam. – respondeu despreocupadamente e a moça foi buscar os churros ao ouvir o pedido.
Eu somente encarei , um tanto chocado. Ela tinha me chamado de Sam, não de Jared. Ela me chamara pelo meu nome. Só fui até a lanchonete com os churros, pois foi exatamente o que comemos quando resolvemos fazer o nosso primeiro encontro oficial, então pensei que ela poderia se lembrar de algo. E, aparentemente, eu estava certo, pois ela chamara meu nome.
- Nossa... – E olhou para o balcão, abaixando a cabeça. Em seguida, balançou-a e olhou para mim com um par de sobrancelhas franzidas e olhos confusos. Não da maneira que a minha me encarava, mas da maneira que a atriz me olhava. – Eu te chamei de Sam?
- Chamou. – Eu respondi sorrindo e com um pouco mais de empolgação na minha voz do que gostaria.
- Nossa, desculpa. Não sei de onde veio esse nome, de verdade... – E ela ficou encarando um ponto vazio até a mulher dos churros retornar com o pedido dela. – Sam? Não tem nada a ver com Jared. Até se eu tivesse te chamado de Jensen seria válido, mas Sam? Desculpa mesmo. Não sei o que deu em mim.
- Tudo bem. Vamos voltar?
Dizendo isso, começamos a caminhar de volta para o estúdio. Eu sabia exatamente o que tinha dado nela. Era uma memória que fez questão de voltar. Até pouco tempo, estava sem muitas esperanças e achando que ela jamais se lembraria de mim, mas depois daquela... Bom. Tinha certeza que a minha ainda estava lá. Eu só precisava trazê-la de volta.


- Nossa, vocês deram uma bela sumida, não? – nos perguntou logo que nos aproximamos dela e de Dean.
O que mais achei interessante, é que ela estava sentada em cima de uma mesa, extremamente próxima dele, apoiando a cabeça no ombro de Dean enquanto mostrava alguma coisa em seu celular.
Achei tão estranho que suspeitava que ela tinha lembrado de algo.
- Eu e o Jensen já estávamos considerando chamar a polícia pra saber se vocês tinham sido abduzidos. – E, quando ela completou a frase, concluí que não.
- E terminamos vendo clipes bregas de bandas de rock dos anos 80. – Dean deu de ombros, mas tinha um sorriso enorme no rosto. – Mais útil do que procurar por vocês.
- Sei, sei... – comentou com um suspiro e um sorriso no rosto, colocando as mãos na cintura logo que paramos perto deles. – Aposto que você já tava quase ligando pro Zach, completamente desesperada.
Queria ser mais adulto e falar que não torci o nariz quando ouvi o nome daquele cara, mas estaria mentindo.
- Sabe, eu nunca imaginei que vocês seriam tão grudadas assim nos seus irmãos. – Comentei cruzando os braços e sorrindo, não querendo parecer muito chato.

Só um pouquinho.

- Ah, é que ter um irmão é tão gostoso! – respondeu e, se fosse possível, seus olhos estariam brilhando. – É diferente de ter uma irmã. Nós duas somos quase como irmãs, então temos propriedade para falar.
- Exatamente. Nós quatro crescemos juntos. – se manifestou logo em seguida, com um pequeno sorriso no rosto. – Brincávamos de Peter Pan fugindo de piratas em fortes de travesseiros na sala, príncipes salvando princesas, princesas salvando príncipes...
- Isso é a sua cara. – Dean comentou baixinho com um sorrisinho no rosto.

Incrível como ele ficava constantemente orgulhoso do fato de que conseguia se proteger virtualmente de qualquer coisa.

Também me orgulhava disso na , mas, sinceramente, adorava quando ela dava de coala e resolvia me abraçar durante quase uma hora.

- O ponto é: as coisas mudam quando crescemos. – E a retribuiu o sorriso dele. Algo um tanto estranho, mas ok. – Com a gente, entretanto, nada mudou.
- Continuamos nos divertindo juntos da mesma maneira que nos divertíamos quando éramos crianças. – estava com um sorriso orgulhoso estampado nos lábios. – E, pessoalmente falando, o Zach é um amor de pessoa comigo. Ele me trata bem, está sempre ao meu lado quando preciso e diz que, se for necessário, será nós dois contra o mundo todo. Aposto que o Axel não é muito diferente.
- Não mesmo. – E suspirou, sorrindo placidamente ao se lembrar das coisas que falava. – Até eu preciso ser protegida de vez em quando e o Axel não poupa esforços quando necessário. Eu sei que ele morreria por mim se fosse preciso. Posso contar os meus sentimentos mais horríveis e profundos, posso me divertir a noite inteira e levar um porre no dia seguinte, posso sair dirigindo uma bicicleta sem as mãos... Mas sei que nada de ruim vai me acontecer, pois o Axel estará lá ao meu lado. Sempre.
- Acho que ter um irmão é a melhor coisa do mundo. – finalmente concluiu, cruzando os braços. – Aposto que se eles não existissem, tê-los seria a coisa que mais desejaríamos na vida.
Nesse momento, Dean me lançou um olhar significativo. Eu, como bom irmão que era, sabia exatamente o que aquilo queria dizer: “precisamos conversar”.


O nosso maior problema agora? Elas estavam felizes.
Radiantes, para falar a verdade.
Voltamos para o motel e passamos a tarde toda conversando e encarando as paredes, tentando resolver o que fazer. Nessa realidade, elas tinham tudo que qualquer pessoa gostaria de ter para ser feliz: dinheiro, fama, amor, família, diversão, vida confortável e estável, além de dois irmãos sensacionais que podiam cuidar delas sem dificuldade alguma.
Como dissemos anteriormente: elas não tinham necessidade de nos ter por perto em uma vida dessas. Na verdade, nós não tínhamos espaço nessa realidade. Simplesmente não pertencíamos.
- Sam... Vamos lembrá-las de quem são ou não? – Dean fez a pergunta fatídica que não queria calar.

Eu suspirei fortemente, ainda de braços cruzados, sentado em minha cama e encarando o nada.

- Não sei. Elas são nossas namoradas e eu realmente amo a . Não quero que ela fique aqui para sempre e quero trazê-la de volta comigo... – Comentei rapidamente, ainda encarando o ponto vazio, até ser cortado por Dean.
- Mas levá-las de volta para a nossa realidade seria puro egoísmo da nossa parte. – Não dava para ser mais curto e grosso que aquilo. – Elas estão felizes aqui, com uma vida perfeita. Sem precisar matar nada, sem duvidar se vão sobreviver para ver o dia seguinte.
- Eu sei, eu sei... – Balancei a cabeça, suspirando novamente.

Eu sabia o que era certo. Só não sabia se estava pronto.

- Vamos deixá-las aqui então? – Finalmente perguntei após alguns minutos pensando.
- Eu acho melhor. – E Dean finalmente se levantou da cama. O dia já tinha escurecido e eu tinha certeza que estávamos prontos para ir atrás delas. – A tá feliz e ela merece isso. Eu vou me despedir dela, você vai atrás da ?
- Vou. – Respondi decididamente e fui até a porta com Dean. – Depois disso, chamaremos o Cas para nos levar embora?
- Esse é o plano.
E, assim, apagamos as luzes e deixamos o motel. Durante o caminho inteiro, não falamos mais nada. Afinal, estávamos prontos para nos despedir das nossas namoradas e não vê-las nunca mais. Morrer não seria muito diferente para falar a verdade.


Acabamos jantando na casa de , já que todo mundo estava lá – Axel e Zach inclusos no pacote. Fiquei pensando quando seria o melhor momento para conversar com ela, porém, quando já estava quase de madrugada, a se retirou da sala para tomar um ar perto da piscina. Axel e Zach tinham sido condenados a lavar a louça, portanto aproveitei para me despedir dela.

Após lançar um olhar significativo para Dean, pois era a melhor hora para ele fazer o mesmo.

A noite estava levemente gelada, com uma brisa batendo silenciosamente nos braços descobertos dela. Porém, a sempre foi bem resistente ao frio, então não demonstrava estar incomodada. Estava apoiada em um dos pilares que sustentava a sacada no andar de cima e observava o céu.
- Hoje a noite está tão bonita... O que você acha, Sam? – Ela perguntou e eu imediatamente fiquei sem saber o que fazer. Em seguida, a começou a rir. – Desculpa, de novo. Não sei o motivo, mas fico te chamando de Sam.
- Provavelmente você cismou depois da primeira vez. – Parei ao lado dela e dei um pequeno sorriso. Ela sorriu de volta e resolvi encarar o céu, ou aquilo somente seria mais difícil.
- Ou era seu nome na sua vida passada. Vai saber. – deu de ombros com uma risada sapeca ao fim da frase. – Mas você parece sério. Algum problema?
- Não, nada de mais... – Respondi, pego de surpresa. Tentei dar de ombros e parecer o mais despreocupado possível. – Vou fazer uma viagem com a minha esposa, então provavelmente ficarei alguns dias fora. Talvez um mês até.
- Jura? Que bom pra você! – Ela abriu um sorriso enorme, realmente empolgada com a notícia.

Pelo menos não se lembrava de nada e não ia ficar chateada com o meu sumiço. Aquilo era bom.

- Vamos amanhã de manhã. Sabe, temos que tratar de alguns assuntos urgentes de família... – Comecei a inventar a melhor desculpa que me veio no momento. – Então queria vir aqui para te dizer tchau.
- Poxa, um mês? Eu vou sentir sua falta! – parecia sincera em suas palavras, porém era o tipo de coisa que diria para um amigo... Não para um namorado. – Se a gente se encontrar depois, você precisa me mostrar as fotos da viagem!
- Pode deixar...! – Eu dei um pequeno sorriso desajeitado, tentando esconder o quão chateado estava.

Entretanto, não deu certo.

- Sam... Quer dizer, Jared! Tá tudo bem? – estava alarmada, pousando uma de suas mãos em meu braço.
Não quero admitir, mas meus olhos começaram a ficar marejados com lágrimas.

O Dean vai me perturbar por causa disso pelo resto da vida. A também.

- Tá! Não precisa se preocupar...!
- Mas você tá chorando, Sam! Ah, que droga! – E ela começou a brigar consigo mesma, ficando irritada. – Por que diabos eu tô com essa mania de te chamar de Sam?! E por que você está chorando?! Algo está muito errado aqui!
Pronto. Agora sim eu estava em maus lençóis. Se ela se lembrasse, todo o nosso plano iria por água abaixo. Sendo assim, limpei as lágrimas e sorri para ela o máximo que pude.
- Não há nada de errado! Eu só tenho que ir, tá? – Falando isso, comecei a me distanciar de .

Sim, eu estava fugindo. E era a melhor opção no momento.

Se ela não tivesse segurado a minha mão.
- Espera aí! Eu te conheço de algum lugar! – comentou imediatamente, fazendo-me virar para ela. – Não do filme, não do Jared, não de nada! Mas você me lembra alguém e tenho certeza que essa pessoa se chama Sam.
- , esquece. Ok? Esquece Sam, esquece tudo. Aproveita a sua vida, de verdade. É isso que eu quero, de verdade. – Comentei decididamente, tentando me desvencilhar dela.
Mas a não é uma pessoa fácil de se desvencilhar. Muito pelo contrário, ela agarra em você que nem um coala e não há força nesse mundo suficiente para desgrudá-la contra a vontade dela.
- Sam... Sam... É alguma coisa que eu não quero esquecer...! – Ela comentava para si mesma enquanto eu continuava com os meus esforços inúteis. – Eu quero me lembrar...! Quero saber quem você é! Sam... Sammy... Winchester?

Eu congelei no lugar e somente a encarei.

Repentinamente, os olhos dela me encararam, arregalados.

Aquele par de olhos que eu conhecia muito bem. Os olhos da minha .

- Sam! – Ela praticamente gritou, levando uma das mãos à boca. Em seguida, segurou meu rosto com ambas as mãos. – Nunca quero te esquecer. Eu te amo, Sammy.
Nisso, ela puxou meu rosto, a fim de me beijar. Eu somente deixei meus braços se enlaçarem na cintura de , abaixando-me para ficar em uma altura mais confortável, enquanto os dedos dela se embrenhavam nos meus cabelos com força.
Eu estava triste de que ela não viveria aquela vida perfeita, porém feliz. A havia se lembrado de mim.


Missão do Dean

Sam tinha acabado de deixar a sala e me lançar o olhar mais tonto do Universo para me lembrar de que eu precisava falar com a .

Como se eu pudesse me esquecer que estava prestes a me despedir para sempre dela.

- Você quer mais vinho, Jensen? – Ela me perguntou casualmente, já servindo um pouco mais da bebida para si mesma.
- Claro. – E só estendi meu copo. Álcool servia exatamente para ajudar com aquele tipo de situação.
- Sabe uma coisa que notei... – Ela comentou casualmente, sentando-se em um pufe à minha frente no sofá e colocando mais vinho no meu copo. – Você está meio aéreo hoje. Alguma coisa errada?
- Ah, não, nada... Só alguns problemas pessoais. – Dei de ombros e tomei um grande gole de vinho. Acho que ia precisar daquela garrafa mais do que até o fim da noite. – Nada preocupante.
- Certeza? Qualquer coisa, pode me contar. – E a colocou a garrafa na mesinha ao seu lado. – Se você se sentir confortável, claro.
- Eu me sentiria confortável pra te falar qualquer coisa. – Comentei de maneira automática, somente notando o tamanho da besteira que eu tinha dito depois de falar. Como sempre, eu e minha boca grande. – Mas não é nada sério. Não se preocupe. É só que...
A atenção da se voltou imediatamente para mim. Ela própria parecia meio desligada antes, mas agora prestava cem por cento de atenção ao que eu estava dizendo. Suspirei e tentei ignorar aqueles grandes olhos brilhantes me encarando. Não era fácil dizer adeus quando ela era linda daquele jeito.
- Eu vou viajar. O Jared vai fazer uma viagem com a esposa dele e achei que era bom para mim dar um tempo também. – E forcei um sorriso. Sou péssimo para forçar sorrisos.

E acho que ela percebeu, pois franziu as sobrancelhas.

- Mas nem terminamos de gravar o filme!
- É, eu sei. Mas temos alguns assuntos pessoais urgentes para resolver. – Logo que terminei de falar, ela abriu a boca. – Já disse, não precisa se preocupar, não é nada muito sério.
- Então... Vocês vão embora?
- Yep.
- Você vai embora...?
- Isso mesmo, linda. – E, novamente, eu sorri.

Até notar o que estava acontecendo.

Quando terminei de falar, a começou a encarar um ponto vazio no chão. E, de repente, vi uma lágrima escorrendo pela bochecha dela.

Ela própria franziu as sobrancelhas novamente e me olhou, como se não entendesse o que estava acontecendo. Em seguida, mais uma lágrima escorreu e ela passou as mãos pelas bochechas para secá-las.
- Por que eu estou chorando...? – A perguntou mais para si mesma do que para qualquer outra pessoa. Eu me levantei do sofá, pois se ficasse assistindo àquilo, não seria capaz de deixá-la nunca, por mais que fosse o melhor a se fazer. – Jensen, espera! O que está acontecendo?
- Não sei, . Preciso ir embora. – Resolvi ser seco, porque é isso que eu faço melhor. E, também, as coisas ficam mais fáceis.
Porém, ela segurou a minha mão e se levantou do sofá, com mais lágrimas escorrendo dos olhos. O mais estranho é que ela não tinha expressão alguma no rosto, somente confusão.
- Por que eu estou me sentindo tão mal de saber que você vai embora? Não faz sentido! – A ainda segurava a minha mão e eu não tinha coragem, muito menos vontade, de lutar contra aquilo. – Eu não choro tão facilmente, Jensen. E por que eu estou sentindo que é tão errado te chamar de Jensen?!
- Eu sei que você não chora. – Novamente, lá estava eu com a minha boca grande, pois ela me olhou com o par de olhos brilhantes alarmados. Eu respirei fundo e segurei a mão dela, fazendo-a me soltar. – Não há nada de errado. Dá um abraço no Axel e segue sua vida, . Para de se preocupar, ok?
Virei de costas, indo em direção à porta. Eu não podia olhar para trás novamente ou não conseguiria sair de lá. A felicidade da era mais importante para mim – e, aparentemente, viver daquela maneira e sem a minha presença era muito melhor para ela.
Mas, eu estava quase com a mão na maçaneta quando ouvi palavras que me fizeram parar imediatamente.

- Eu te amo, Dean.

Eu me virei, com as sobrancelhas franzidas, sem acreditar no que tinha acabado de escutar.
- Pelo amor de Deus, eu te amo, Dean! Como posso ter me esquecido?! – E, quando olhei novamente nos olhos de , pude vê-la ali. Ela me olhava da maneira que sempre me olhou, aquele olhar forte e confiante de sempre. – O que aconteceu?! Desculpa!
Dizendo isso, a veio rapidamente até mim. Eu nem sabia muito bem o que fazer. Somente estiquei os braços e a segurei com força quando ela me abraçou, retribuindo o beijo igualmente forte que ela resolveu estampar em meus lábios.
Apesar de tudo, não podia mentir: meu coração estava aliviado com aquilo. Um pouco triste, porém aliviado.


- A gente se vê amanhã, então? – Zach perguntou para a antes de entrar em seu lustroso carro esporte.
- Sem falta, meu lindo. – Ela respondeu com um sorriso e, em seguida, jogou-se nos braços dele, fazendo-o segurá-la com força e tirá-la do chão em um abraço apertado.
- Nossa, quanto amor de repente! – Ele comentou entre risadas. – Relaxa, eu estarei aqui amanhã! Não vou sumir!
- Eu sei, eu sei... – Ela disse logo que ele a colocou no chão. – Só fiquei com vontade de te abraçar.
- Amanhã eu te abraço mais. Tchau, minha linda! – Dizendo isso, Zach deu um beijo estalado na bochecha de e entrou em seu carro lustroso, sumindo rapidamente.
Enquanto isso, a estava parada ao lado de Axel, segurando o capacete do irmão.
- Não esquece do show do Red Hot amanhã, viu? – Ele piscou para ela e fez sinal com a mão para que a lhe entregasse o capacete.
- E você acha que eu iria esquecer? – Ela perguntou rindo, porém negando o objeto.
- Sabe, eu preciso disso para voltar para casa. – Ele comentou com um suspiro, fingindo estar incomodado. O que não durou muito, pois logo ambos começaram a rir.
- Sei, sei... – Ela respondeu, largou o capacete no banco da moto e envolveu o pescoço de Axel com os braços, levantando as pernas. Ainda bem que o cara era rápido e forte, pois abraçou-a imediatamente na cintura e tirou-a do chão.
- Uau! O que é esse ataque de coala de repente, criatura?! – Ele perguntou entre risadas, o que a fez começar a rir. – Você sabe o que vem agora, né?
Dizendo isso, ele começou a girar. Após alguns segundos, colocou-a no chão e pegou o capacete.
- Posso ir embora agora, Miss Carência?
- Pode, Senhor Engraçadinho.
E, com isso, Axel deu um beijo na testa de , colocou o capacete e finalmente nos deixou para trás.
- Bom... Acho que essa despedida foi suficiente. – comentou, olhando para mim e para Sam, tentando esconder que estava chateada. – O que fazemos agora?
- Acho que chamamos o Cas. – Sam comentou despreocupadamente e imediatamente olhou para o céu.
- Castiel, seu anjo de meia tigela, baixa aqui agora!
Foi só ela falar que aquele protótipo de querubim baixou na nossa frente. Muito eficiente.
- Ah, que bom! Fico feliz que vocês tenham se lembrado! – Ele comentou com um pequeno sorriso no rosto.

Eu queria arrancar aquele sorriso com uma cadeira.

- Nunca mais faz isso com a gente! – A resolveu se manifestar e apoiou uma mão no ombro dele, segurando Sam com a outra. – Agora aparata a gente de volta para onde viemos!
- E nem pense em discutir. – A também não estava muito feliz. Segurou a mão de Castiel e a minha com firmeza.
Em poucos segundos, estávamos de volta à sala empoeirada da casa do Bobby.
- Agora, Cas... É melhor você sumir, antes que a gente acabe com a sua raça. – Comentei e ele nem resolveu discutir.

Sumiu.

Aparentemente, fizemos um bom trabalho de adestramento com ele.

De repente, Sam suspirou e se sentou em uma das poltronas da sala. Parecia cansado, mas havia outra coisa em sua expressão.
- O que foi, Sam? Tá tudo bem? – E a foi até ele antes que eu pudesse perguntar a mesma coisa.

Ele só olhou para mim e eu entendi. Não precisava de muito para entender aquele humor dele.

- É só que vocês estavam bem naquele lugar, com dois irmãos maravilhosos. – Eu expliquei, sentando no braço de um sofá. – E agora nós as trouxemos de volta para a nossa realidade péssima, sem irmãos sucesso, sem dinheiro... Nada.
As duas somente trocaram olhares, sorrindo logo em seguida. De braços cruzados e um sorriso sapeca no rosto, a foi responsável pela resposta.
- Uma realidade sem vocês é só meia realidade. Nenhum conforto do mundo pode substituir o que temos com vocês. Nós não os trocaríamos por nada.



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