Estátuas e cofres
E paredes pintadas
Ninguém sabe o que aconteceu.
tinha a vida perfeita. Era bem sucedida. Tinha filhos que a amavam. Um marido tão bem sucedido quanto ela. Uma fachada enorme e luxuosa em Moema, bairro mais rico da capital paulista. Um consultório próprio no centro da cidade. Passava as férias cada ano em uma capital europeia diferente, ora em Paris, ora em Madrid, ora em Roma...
As pessoas todas se perguntavam por que, afinal de contas, uma pessoa com essa vida tão superestimada não estaria feliz. O que lhe faltava na vida? Qual a grande tristeza de alguém que nunca passara por dificuldade nenhuma na vida?
Talvez a resposta fosse exatamente essa. Quem tem demais, acaba se tornando fraco. Não precisa lutar pela sobrevivência, logo não sabe como usar as armas. Não suporta muito peso.
Talvez fosse esse o motivo de .
Ela se jogou da janela do quinto andar
Nada é fácil de entender.
O vento batia no rosto de , forte, cortante. Conversava com ela.
O vento sempre a assustou. Parecia ter vida própria, principalmente quando soprado com força. Parecia um ser, sempre ali, em volta dela. E agora, o vento seria o último cúmplice de sua vida.
apertou o anelzinho de pedra na mão com tanta força que podia sangrar. Ela não tinha dúvidas. Chegara a tal ponto, que não tinha mais dúvida alguma. Não precisava repensar por nem um segundo. Precisava fazer isso, e precisava fazê-lo agora. Tinha tudo que precisava ali com ela: o anel, as lembranças... e o vento.
Fechou os olhos. Soltou o ar pela boca, levou a mão fechada em punho com o anelzinho ao peito. Respirou fundo pela última vez.
Deu seu último passo, e mergulhou para o vento.
Dorme agora:
É só o vento lá fora.
era filha de um importante senador da cidade de São Paulo, e desde pequena fora criada como a princesa que era. Para ela não faltava nada, nunca, em momento algum. Nem comida, nem roupas, nem brinquedos ou amigos. Para ela apenas faltava carinho.
Mas como uma criança alegre e elétrica, ela não se importava com isso na maior parte do tempo. Sua inocência não lhe permitia ver maldade em seu pai, que apenas trabalhava mais do que podia, ou em sua mãe, que estava sempre ocupada demais com outros afazeres.
Além disso, ela tinha Teresa.
A empregada Teresa, de na época seus cinquenta e três anos, cuidava de desde que ela nascera. Vindo de uma família muito pobre da periferia de São Paulo, a senhora humilde só tinha a agradecer pelo serviço que lhe fora oferecido há muitos anos atrás. Ela fazia muito mais do que uma empregada qualquer. Limpava, cuidava, administrava o lar dos . Era ela quem mantinha a ordem naquela casa. Era ela, inclusive, quem arrumava para a escola, lembrava-a de comer nos horários certos, de tomar banho, de escovar os dentes. Tinha um apreço enorme pela garotinha, que era querida e tinha um grande coração. Ela tinha pena da menina, que tinha que conviver no meio de brigas, gritarias, choros e loucuras de seus pais. Teresa pensava sempre que algo do tipo acontecia que, Deus a perdoasse, pessoas assim não podiam ter filhos.
Teresa tinha um filho pouco mais velho que , o . Era um garotinho educado, engraçado, estudioso. Filho de um pai que não conhecia, apenas tinha Teresa na vida, e ambos eram unha e carne. A mulher era muito orgulhosa de seu filho, e dizia que ele podia não ter muito, mas carinho e amor nunca lhe faltaram.
às vezes ia passar as férias do colégio na casa dos , que sempre iam viajar para algum lugar chique. A família nem se importava o suficiente com aquilo, então nunca houve problema. O garoto adorava a casa enorme, e isso ajudava Teresa a economizar, podendo passar a noite no serviço sem ter que voltar para casa.
Houve um ano, porém, em que não pode ir junto na viagem de seus pais, que era mais como uma viagem a trabalho. A garotinha então ficou em casa com Teresa como responsável, e ela adorou quando conheceu e descobriu que o teria como companheiro por todo o verão.
Os dois se entrosaram rápido. Tinham nada mais do que dez anos, e adoravam correr pela casa, ficar na piscina, jogar tabuleiro ou assistir filmes. O verão foi o melhor da vida de ambos. O mais divertido! arranjou um amigo de verdade, que não era como as crianças fúteis da escola. E se divertiu bastante com aquela pequena saltitante, que era tudo menos o que ele imaginava que fosse.
- Durmam, durmam... – Teresa pedia, cobrindo os dois com o cobertor no colchão inflável na sala de estar. Eles insistiram em dormir lá para assistir TV. – Amanhã vão ter que acordar cedo para se despedir... volta para casa de manhã.
- Não queria que você tivesse que ir – comentou, olhando para o amigo de repente. Ele sorriu.
- Mas ele tem, criança... – Teresa disse.
- Tem o anel que te dei, ? – virou-se para ela e perguntou, arrumando o travesseiro. – Enquanto o tiver, vou estar por aqui – sorriu.
- Que anel é esse que não fiquei sabendo? – Teresa perguntou, e levantou sua mão mostrando uma pedra em forma circular como um anel, em seu dedo anelar.
- Achamos ela lá perto da piscina, e o me deixou ficar com ela. Não é bonita? Parece que foi forjada.
- Verdade... – Teresa tocou a pedrinha gelada e sorriu. – Mas tem que tirar de vez em quando para ver se não está muito apertado. Seu dedo vai crescer e você não vai mais poder usar, uma hora.
A garotinha assentiu.
O vento soprava forte lá fora, assoviando contra as janelas, que faziam barulho e assustavam .
- Shhh... Dorme agora, é só o vento lá fora... – Teresa a confortou, fazendo carinho em seu braço até que ela dormisse.
No dia seguinte, os pais de chegaram de viagem antecipadamente e simplesmente piraram por encontrar lá. Eles não queriam os dois, de jeito nenhum, brincando juntos. A mãe de , uma mulher ainda jovem, mas amarga como ninguém, chegou a dizer que não queria que sua filha pegasse piolho de . Isso ressentiu Teresa de forma que nunca antes havia acontecido ali, em todos seus anos naquela casa. Ela mandou para casa com tristeza naquela manhã.
Quero colo
Vou fugir de casa
Posso dormir aqui
Com você?
Estou com medo tive um pesadelo
Só vou voltar depois das três.
levantou da cama assustada com a cortina esvoaçando. Olhou no relógio de sua cabeceira, era tarde. Apesar da noite quente, o vento não dava trégua, soprando feito um fantasma, fazendo-a arrepiar-se mesmo completamente coberta em sua cama.
Ela voltou a deitar depois de fechar o vão na janela, mas não conseguiu mais dormir. Pensava a todo momento nos acontecimentos que tomavam sua vida nos últimos tempos, isso era tudo em que ela conseguia pensar. Em seu pai, sempre fechado no escritório, cada vez mais seco e solitário e sem amor. Em sua mãe... atirando-se da sacada. Deve ter sido libertador, pensava. Por alguns segundos. Deve ter sido como voar.
Ela respirou fundo e decidiu ignorar esses pensamentos sombrios, pegando o celular da cabeceira e enviando uma mensagem a . “Está acordado? Por favor, diz que sim... preciso sair daqui.”
A resposta veio em seguida, como sempre era. “Estou, o que houve, tudo bem? Quer vir?”
“Espera na árvore.”
levantou novamente da cama depois de enviar a última mensagem e colocou botas de couro e lã. Colocou um casaco comprido por cima do pijama, ela sabia que não havia ninguém na rua há essa hora.
Sabia também que seu pai apagava como uma rocha de noite, e nada no mundo o acordaria. Ela saiu sem fazer muito barulho levando sua cópia das chaves e pegou sua bicicleta na garagem, saindo de casa por lá. Por sorte, e dona Teresa se mudaram há alguns anos para uma casa no bairro ao lado. Era perigoso se comparado ao lugar onde ela morava, mas não para quem estava sempre (que o possível) por lá.
Ela pedalou por quinze minutos até chegar à linda macieira na esquina da casa de , a árvore mais bonita da cidade. Desceu da bicicleta quando o notou encostado na árvore, os braços cruzados e os olhos quase se fechando pelo sono. Quando a viu ele se desencostou e foi para o outro lado da bicicleta, segurando um dos guidões e caminhando ao seu lado.
Caminharam até a frente da casa dele, onde pararam na porta e segurou o pulso de .
- Tudo bem?
Ela fez que sim e desviou o olhar como sempre fazia, mas ele a conhecia melhor que isso. Tirou seu cabelo do rosto e segurou seu rosto com as duas mãos.
- Tudo bem, ?
Aquilo a quebrava, sempre quebraria. O jeito como a enxergava. Ela fez que não com a cabeça, seu queixo tremeu indicando uma onda de choro e ele instantaneamente a puxou até seu peito, a apertando forte. A garota engoliu as lágrimas e simplesmente sussurrou:
- Quero colo, ...
- Eu vou te dar. Tudo bem. Tudo bem. Noite difícil?
Ela fez que sim.
- Estou com medo, tive um pesadelo...
- Shhh, tudo bem. É só o vento lá fora – sussurrou, a fazendo sorrir.
Desde sempre, essa era a frase de para quando ela tinha seus momentos ruins. A acalmava como mais nada conseguia. Ao ouvir aquelas palavras dele, ela sabia que o reconheceria em qualquer lugar. Era seu . Seu abraço era a sua casa, seu lar. E ela não precisava de mais nada.
Os dois se tornaram amigos de verdade desde aquelas primeiras férias que passaram juntos, e mesmo sem a permissão dos pais da garota, ela incomodou tanto dona Teresa para que pudesse ver de novo, que sempre que possível ela dava um jeito de juntar os dois, fosse por poucos minutos apenas.
Os dois entraram na casa pela porta dos fundos sem fazer muito barulho e foram até o quarto de , que era pequeno e apertado, mas agradava a garota. já estivera ali antes poucas vezes.
se deitou e a chamou para deitar junto. foi sem pestanejar, apenas tirou o casaco e os calçados e deitou em seu braço, olhando o teto de madeira do quarto dele, com estrelinhas, foguetes e planetas que brilham no escuro coladas no teto. Ela sorriu.
- Gosta do que vê?
Ela assentiu.
Temos a melhor parte de olhar as estrelas, sem precisar passar frio ou estar no mato. – Sorriu, e ele a acompanhou rindo baixo.
- Pena que não são de verdade.
Ela deu de ombros.
- São o suficiente para mim, nesse momento. – Virou o rosto para ele e sorriu o encarando nos olhos, permitindo perder-se ali.
tinha olhos comuns. Na verdade, era todo comum, o que mais encantava a . Ele era tão diferente das pessoas com as quais ela convivia, aquelas pessoas que tentavam a todo custo ser o que não são para agradar os outros. queria apenas agradar a si mesmo, e era lindo. Era puro.
Continuaram conversando baixinho para não acordar dona Teresa no quarto ao lado, trocando segredos e confidências pelas horas seguintes. estava cansado, porém desperto, queria apenas conversar com ela, ouvir sua voz, aproveitar da companhia dela enquanto a tivesse nos braços, pois era raro... raro e tão bom...
E assim eles pegaram no sono, no meio de uma frase, enquanto afagavam um o cabelo do outro. Apenas dois jovens felizes.
Na manhã seguinte, saiu do quarto seguida por para tomar café da manhã e Teresa sorriu para ela quando a viu.
- Ah, oi, criança! – Foi até ela e a beijou o rosto com carinho. – Não te via faz tempo.
- É bom te ver também! – Ela sorriu, abraçando Teresa. Desde que sua mãe morrera, ela apenas sentia esse amor materno vindo da mãe de , que via de vez em quando. Mesmo assim, era menos raro do que quando sua mãe era viva.
Os dois sentaram na mesa e começaram a comer enquanto conversavam, Teresa gostava de contar como andava a vida a quando ela ia lá.
- E como você está? O colégio, a família? Tudo bem? – Teresa sentou ao lado de e perguntou.
- Sim, tudo na mesma – ela respondeu, tomando um gole de café em seguida. – Estamos estudando pro ENEM desse ano, fazendo testes vocacionais, olimpíadas de robótica. Está sendo puxado. Ah, abriram vagas para bolsistas, se o quisesse... – Começou a dizer, empolgada, mas quando olhou para ela parou. Lembrou-se que sempre discutiam sobre aquele assunto, e não quis ir em frente. – Bem, meu pai também está melhor... pelo menos melhor do que antes. – Sorriu para Teresa.
- Que ótimo, criança – a mulher sorriu e afagou seu cabelo. – Eu vou te dizer que rezo todas as noites por você. Nunca esqueço. Quero todo o bem desse mundo para você, , você é uma garota de ouro. Merece tudo de melhor. E você sabe que Deus só impõe a nós aquilo que conseguimos suportar. Você é forte. – Disse e apertou a mão da garota em seu colo, fazendo-a ficar um pouco vermelha e sorrir de volta.
- Obrigada, dona Teresa.
Antes de terminarem o café, recebeu uma ligação de seu pai, furioso, berrando aos quatro ventos que queria ela em casa já. Ela levantou da mesa, foi lá para fora, gritou com ele de volta, mas não impediu que e Teresa ouvissem a discussão.
“Não os chame disso!” e “eu faço o que quiser com a minha vida!” eram frases que ela repetia a todo momento, enquanto os dois terminavam o café, em silêncio, fingindo que não ouviam.
No final, ela voltou para dentro de casa e sorriu fraco para eles.
- Preciso ir... Obrigada pelo café. Obrigada pela estadia. De verdade. – Apertou o ombro de , que se levantou na hora.
- Te levo até lá... até lá perto.
- Não, , fica aí. Meu pai vem me buscar aqui perto, fica. – Ela insistiu. – Nos falamos, tá bem?
- Tem certeza? – Ele perguntou, incerto.
- Sim. Fica, termina o café. Te aviso quando chegar. Obrigada – abraçou-lhe e ele retribuiu, um abraço apertado, forte. Deu tchau a Teresa com um beijo no rosto e foi embora com sua bicicleta, segurando o choro, querendo ficar e, principalmente, xingando seu pai de todas as formas possíveis.
Meu filho vai ter
Nome de santo
Quero o nome mais bonito.
- Me trouxe aqui para devanear sobre o céu, ? – perguntou risonha, deitando-se ao lado dele em cima de uma toalha no chão. Estavam debaixo da árvore preferida de , a árvore mais bonita da cidade... e estava escurecendo. Era apenas mais um entardecer de verão, quente e alaranjado... como se o sol se espremesse no horizonte só para ficar mais um pouquinho.
- Mas, , isso não te impressiona? Que esse mesmo sol esteja agora se pondo para nós e outras milhares e milhares de pessoas, enquanto nasce lá do outro lado? Que enquanto nos coloca para dormir, acorda o outro lado do mundo? É incrível!
- Incrível – ela concordou, para compartilhar de seu entusiasmo.
Ficaram em silêncio por um momento, quando ele perguntou:
- Que nome daria ao seu filho? Meu filho vai ter nome de santo. Quero o nome mais bonito!
- João? Miguel?
- Lucas, talvez...
- Gabriel. Acho Gabriel um nome bonito.
- Muito comum – ele comentou. – Não acha? Existem milhares de Gabrieis. E de Lucas, e de Migueis...
- Se for pensar assim, nunca vai escolher um nome. – comentou, se arrumando mais confortavelmente na grama. Estava meio preguiçosa, mas completamente ligada na conversa. – Tem um nome de santo que acho o mais bonito.
- Qual é?
- – ela virou o rosto para ele e riu. – O mais bonito de todos.
- Colocaria o nome de seu filho de ? – Ele ergueu uma sobrancelha, sorrindo. – Eu não colocaria o nome do meu filho de . Nem de .
- Por que não?
- Porque é estranho, , simplesmente estranho. O filho se chamar igual ao pai, ou a filha igual à mãe. – Franziu o cenho e a olhou, fingindo confusão, o que a fez rir deliciada. Aquela conversa estava se tornando, inocentemente, uma das melhores que já tivera com ele.
- Tem razão. Mas não sei se o nome do pai dele seria , para começar. – Brincou.
- Estou sentindo um tom de ironia? – Ele cutucou-lhe a costela, a fazendo rir e se encolher. – Não brinque, . Vamos nos casar um dia... se você ainda me quiser.
se levantou nos cotovelos e virou o rosto para ele.
- Sempre vou te querer. Sempre. – Disse, com convicção. Não era mentira. Ela falava com toda a sinceridade em seu coração.
colocou os cabelos que caiam em seu rosto atrás da orelha e afagou sua bochecha, sorrindo-lhe com cumplicidade de amigos e contemplação de companheiros. Era ainda muito novo, mas não duvidava do amor que sentia pela garota. E para não havia barreira que o fizesse deixa-la enquanto ela ainda fosse a dele.
Ele beijou a garota suavemente e sorriu para ela. Eles não eram ficantes, tão menos namorados, mas tinham momentos assim às vezes. Eles sabiam que ambos eram apenas um do outro, e não necessitavam de rótulos. Apenas viviam.
- , vou casar com você um dia. – Voltou a afirmar, a voz mais doce e baixa, sussurrada. – E vamos ser muito felizes.
Ela se deitou de novo.
- Henrique. – Disse e ele a olhou. – Gosto desse.
- Henrique, então.
É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Porque se você parar pra pensar,
Na verdade não há.
Quando leu a mensagem de , parou no portão da escola por um momento, até a ficha cair. Enviou uma mensagem a seu pai dizendo que perderia o jantar, avisando onde ia e que era uma emergência. Engoliu em seco e, em seguida, montou em sua bicicleta e pedalou, pedalou, pedalou sem parar.
A funerária ficava há meia hora de carro dali, mas ela pedalou tão rápido e seus pensamentos estavam tão longe que mal sentiu a distância. Quando chegou na frente do hospital, desceu correndo de sua bicicleta e a prendeu no bicicletário em frente ao prédio, fechando o cadeado às pressas e entrando no salão silencioso. Tudo lá dentro era humilde, como ela já esperava que fosse. O caixão aberto se encontrava bem no meio da sala, rodeado de algumas pessoas vestidas de preto, em sua maioria pessoas mais velhas. olhou o caixão de longe, mas soube que não conseguiria suportar chegar mais perto. Então saiu daquela sala, indo para uma salinha pequena ao lado daquela onde haviam algumas poltronas e chá. Ela encontrou lá, perto de uma fileira de bancos, parecendo desolado e sozinho, esperando alguém, procurando alguém. Assim que a viu ele pareceu aliviado, seus olhos tristes se fecharam por um momento.
Ela correu até lá e o abraçou, chocando-se contra seu corpo com força, apertando-o o mais forte que conseguia, e quando sentiu que ele desandou em chorar ela chorou também. Choraram, um no ombro do outro, por minutos seguidos.
- Eu sinto muito, , sinto tanto, tanto, tanto... Meu Deus, sinto muito, sinto muito! – Ela repetia ainda o abraçando, sem saber o que mais dizer, apenas desejando que aquilo não estivesse acontecendo. Não por ela, pois já estava acostumada com a dor de perder as pessoas, mas por ele. Queria poder pegar seu coração nas mãos, segurá-lo apertado contra seu peito e impedir que ele sofresse, que precisasse passar por tudo aquilo. Era simplesmente demais. Vê-lo sofrer a fazia sofrer.
E chorou. E chorou, e chorou e chorou.
- Ela era a única pessoa que eu tinha. – Disse com a voz baixa e embargada, depois de sentar ao lado de no sofá ao lado deles. Encarava o chão e mordia o lábio inferior toda vez que sentia outra onda de choro chegando, seus olhos estavam vermelhos e inchados, e uma das mãos era segurada por .
- Eu sei... mas você tem a mim, . Tem a mim, e pode contar comigo, nunca duvide. Eu juro. – Tocou a cabeça em seu braço e suspirou. – Vou sentir falta dela também. Cantando enquanto cozinhava, ou me ajudando a dormir quando eu era criança... – sorriu. – Ela era uma pessoa e tanto.
Ele concordou com a cabeça.
- Sabe de uma coisa? – Olhou-a. – É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã – tocou a bochecha dela com a ponta dos dedos e virou o rosto, a beijando de leve. – Eu te amo. Nunca esqueça.
- Eu te amo também. Muito! – Ela sorriu.
voltou a fechar os olhos.
- Não sei o que vou fazer agora, . – Sussurrou com dificuldade e abaixou a cabeça.
levantou a cabeça e olhou no rosto dele. Passou a mão em sua nuca e tocou seu rosto no dele, também fechando os olhos.
- Tudo bem, . Tudo bem. É só o vento lá fora. – Sussurrou de volta.
Ele sorriu. Sentia-se quase em paz por ela estar ali, apesar da tristeza em seu coração.
Mas a paz não durou muito tempo. Os dois ouviram passos apressados adentrarem a salinha e logo não estavam mais sozinhos ali. O pai de estava parado, em pé, rente à porta. Assim que focou os olhos nele, foi até espumando e a puxou pelo cotovelo.
- Pelo amor de Deus, , eu disse para ir diretamente para casa, garota! – Xingou. – Já falei milhões de vezes sobre estar com essa gente. Olha aí o que acontece, minha filha! Outro velório? Você não é obrigada a passar por isso, essa gente vai acabar de enlouquecendo!
se levantou, mas apenas encarava seu pai, chocada demais com aquela reação para dizer qualquer coisa. Ela não tinha medo de enfrentar seu pai, apenas não conseguia acreditar no que ouvia. Não conseguia acreditar em tamanha insensibilidade da parte dele.
- Pai, me solta... meu Deus, você está louco?! – Disse, baixo. – Isso é um velório, me deixa, eu quero estar aqui!
- Não, , não. Vamos embora agora. Graças a esse garoto que eu vou ter que pagar mais sei lá quanta seções de psicólogo para você, já estou vendo tudo. Vamos embora agora. – Ele a puxou, não a machucava, apenas era firme. Virou-se para . – Meus pêsames, filho, mas não é para o seu bico. Você sempre soube disso. Está na hora de crescerem, os dois. Não a procure mais. – Avisou e, puxando pela mão, saiu da salinha em direção à saída do prédio.
desculpou-se de com o olhar, não sabia mais o que dizer. Seu coração doeu ao ter como última imagem dele um choroso e magoado.
Quando entraram no carro, nem sabia o que dizer. Não sabia como reagir àquela reação explosiva do pai. Ele parecia irado.
- Pai...
- Não fala nada, .
- Pai, eu gosto dele. Eu gosto dele! – Ela disse alto, tentando fazer com que ele a olhasse. – Você não vai fazer isso mudar!
- Chega, , chega! Vamos embora. Depois a gente conversa.
Quando chegaram em casa, ela desceu do carro e foi direto para seu quarto, prometeu não trocar mais uma palavra com o pai para sempre, apesar de saber que não conseguiria cumprir. Ela queria acreditar que ele a amava, mas não conseguia. Era tão ignorante, tão hipócrita. Não aceitava a felicidade dela. Ele não queria vê-la feliz, era egoísta, seco e sem compaixão.
dormiu chorando naquela noite.
Me diz por que o céu é azul
Me explica a grande fúria do mundo
- ... – sussurrou depois de um grande tempo em silêncio, no ouvido dele. abriu os olhos, depois de tanto tempo que até parecia que havia cochilado. Ainda estava um pouco claro, a árvore ainda balançava levemente com a brisa que soprava, enquanto eles estavam deitados ali.
- Hum?
- Me diz por que o céu é azul... – Sussurrou para ele, que riu.
- Você é a inteligente aqui, princesa. – Respondeu. Olhou para o céu, que naquele momento já nem era mais azul. Era a mistura de todas as cores do mundo. – Pelo que sei, o céu não é azul de verdade. A gente só enxerga ele assim porque um monte de negócio se mistura lá em cima.
Ela gargalhou.
- São raios solares. Eles são extremamente fortes, mas compostos por outras milhares de cores, que quando atingem as partículas de nitrogênio e oxigênio na nossa atmosfera, espelham para nós essa cor azul. Por isso não vemos o azul durante a noite.
- Viu só, disse que você é a inteligente entre nós – ele falou sorrindo de canto para ela.
- E você é o rostinho bonito – brincou, apertando as bochechas dele.
- Fale por si própria. Olha só pra você... – ele passou a mão em seu rosto e suspirou. – Parece um anjo. Eu diria, , que dentre todos os mistérios do universo, você é a coisa mais preciosa que existe.
- Não. – Ela sorriu.
- Sim. Sim. – Sussurrou, fechando os olhos e tocando o nariz no seu. - Em todas as vidas eu me apaixonaria por ti, princesa.
São meus filhos que tomam conta de mim...
tremia, entre uma dose de Whisky e outra, e tentava parar de tremer para conseguir escrever as anotações que não podia esquecer. Seu escritório estava em meia luz, uma dica de seu decorador para os momentos em que precisasse se concentrar e relaxar para trabalhar melhor. Ele disse que era psicologicamente testado.
Ele só esquecera que o resto da casa não estaria em silêncio.
Marina e Helena gritavam na sala, aparentemente no meio de uma brincadeira muito empolgante, e volta e meia derrubavam algo no chão, fazendo um barulho estrondoso no apartamento. estremecia a cada grito que ouvia, quando sua cabeça ameaçava explodir. Ela sabia que já tomara muito mais que o recomendado para quem tomava remédios controlados, mas não conseguia, simplesmente não conseguia se concentrar. Precisava trabalhar, necessitava com todas as suas forças focar em algo que não fosse sua casa, seu marido ausente, suas filhas barulhentas.
Ah, Deus, faça elas pararem de gritar, por favor. Só por um momento, só um pouquinho. Faça elas pararem.
se lembrava da felicidade imensa que viveram quando descobriram de sua primeira menininha. Marina fora esperada com tanta expectativa, e fora tão amada, tão paparicada... Naquele tempo seu pai ainda era a eterna promessa de melhor pai do mundo. Foi quando Helena nasceu que nem promessa mais ele era. Simplesmente desapareceu entre uma reunião em BH e uma conferência em Minas, uma visita de negócios em Goiás e uma semana de treinamento em Salvador. Enquanto isso, se afundava cada vez mais em uma depressão profunda, ferrenha, que não parecia nunca ter fim. As melhores partes do seu dia eram quando a babá finalmente conseguia controlar o choro histérico daquela menininha, que parecia nunca calar a boca.
Com o tempo, a raiva foi crescendo por seu marido, Rafael, que aparecia apenas nos momentos em que lhe era mais conveniente e desaparecia logo em seguida, quando precisava ajudar em alguma coisa. Ela tentava lembrar de porque aceitara se casar com ele, mas nem isso conseguia. Parecia que todas as qualidades do homem haviam simplesmente desaparecido. Como e nunca tivessem existido.
- Merda! – Ela bateu a mão na mesa, soltando o copo vazio e levantando de sua cadeira, cambaleando um pouco, surpresa pela quantidade que bebeu. Foi até a porta quando se recuperou e a abriu, indo até o fim do corredor. – Maria, por favor, faça essas crianças calarem a boca! – Berrou, fazendo a brincadeira cessar no mesmo segundo, com as duas garotinhas empoleiradas em cima da empregada, que brincava com elas no sofá.
Maria, a empregada que não devia ter mais de trinta anos, se levantou no segundo seguinte e alisou a roupa que vestia, assentindo para .
- Sim, senhora. Desculpe.
- Não é para isso que eu te pago, pelo amor de Deus – A mulher bufou, dando meia volta e voltando ao escritório.
Precisava trabalhar. Trabalho era sua única válvula de escape.
Às vezes cometia a estupidez de pensar se teria sido diferente com outra pessoa. Mas logo tratava de ignorar esses pensamentos.
Com a casa em silêncio ela conseguiu ter algum progresso em seu trabalho, mas não foi muito. Um tempo depois uma batidinha na porta a puxou dos devaneios, e ela disse que entrasse.
- Mãe... – Marina entrou no aposento andando até o lado de sua mãe na cadeira giratória. – Pode assinar isso para mim? É de um passeio na escola – pediu baixinho, e a mulher pegou o papel o analisando. Olhou de volta para sua filha, que vacilava o olhar toda vez que ela tentava fazer contato visual. Exatamente como acontecia com ela e sua mãe quando era criança.
- Passeio, é, filha? – Ela olhou para o papel outra vez e o assinou. – Para onde é?
- Uma fábrica de chocolate – ela sorriu.
- Legal. – Ela devolveu o papel a Marina e passou as mãos em seu ombro. Aquela criaturinha, tão pequena... a amava. Amava as duas. Apenas lhe faltava paciência. Ela sempre dizia a si mesma que hora ou outra as compensaria por todo esse tempo perdido. – Se cuida, tá bom?
- Se cuida, mãe. – Marina a abraçou pelo pescoço a puxando um pouco para baixo e assim ficou por um tempo. – Eu te amo. Se cuida, mesmo.
sorriu.
- Tudo bem. – Beijou a filha e ela se afastou da mulher. – Boa noite.
Quando ficou sozinha outra vez, suspirou. Ainda lhe restava um pouquinho de sentido, às vezes.
Eu moro com a minha mãe
Mas meu pai vem me visitar
Anos depois que e se viram pela última vez, bastante coisa havia mudado na vida de ambos. cursou toda sua faculdade de nutrição na Universidade de Londres. Seu pai morreu poucos meses após a mudança, e ela foi morar com uma colega de curso perto da faculdade e fazer estágio durante o dia. Assim passou os anos de sua vida de universitária, vendo os colegas passarem as datas comemorativas com namorados e familiares, enquanto ela só conseguia ficar sozinha.
Depois de tudo que acontecera em sua vida, depois de se afastar da única pessoa a quem ainda tinha algum apreço... ela havia se fechado para tudo. Toda e qualquer forma de amor, de carinho, companheirismo. gostava de ser sozinha agora. Não precisava de ninguém, não gostava muito de ninguém. E não era por falta de esforço, ela simplesmente não gostava. Inúmeros foram os encontros arranjados que não passaram da primeira fase, as paqueras que nunca andaram para frente, as amizades mal finalizadas. Ela simplesmente se distanciou de tudo que as pessoas tinham a lhe oferecer.
Foi quando, ao voltar para o Brasil para fazer a pós, ela conheceu Rafael, recém formado do mestrado de Engenharia Civil que estava apenas no começo de uma carreira brilhante. Eles se encontraram uma, duas, três vezes e deu certo. Andaram juntos alguns meses, se conhecendo mais, em um “meio que namoro”, e foi deixando rolar. Não havia paixão ardente ou amor incontrolável, mas ela tinha estabilidade com o garoto. Ele era gentil, inteligente e bem de vida. Ela decidiu ir deixando acontecer, até que... quando completaram um ano de “quase namoro” ele a pediu em casamento.
Ora, o que ela poderia fazer além de dizer sim? Sentiu-se na obrigação. Afinal, olhava em volta e não tinha absolutamente nada. Ele era sua única chance de sair do zero. Então ela apenas... disse sim, e continuou deixando acontecer.
Eu moro na rua, não tenho ninguém
Eu moro em qualquer lugar
Já morei em tanta casa que nem me lembro mais
Eu moro com meus pais.
, por outro lado, andava literalmente sem eira nem beira desde a morte de dona Teresa, mas apesar disso, andava feliz. Por um tempo, depois de terminar o colégio, ele morou com um grupo de amigos que tinham uma banda. Passou meses naquela vida com eles, trabalhando em um supermercado apenas para juntar dinheiro suficiente para pagar uma rodada de cerveja no final do mês, chegando de madrugada todos os finais de semana depois de horas e horas em bares, cantando e bebendo e rindo com os amigos. Acordava cedo e dormia tarde, passava o dia cansado e a noite em claro, pensando em que planos queria fazer para sua vida, em que esperar para seu futuro incerto.
sempre fora do tipo desencanado, e isso não mudou. Ele gostava de viver aquela vida leve, tendo apenas o suficiente para não dever a ninguém, apenas o suficiente para ser feliz. Foi quando começou a cansar daquela rotina, que ouviu uma história de um amigo de um conhecido que frequentava o bar, sobre um garoto que fez planos de conhecer o mundo sem precisar desembolsar grandes quantidades para isso.
Então, se decidiu. Decidiu que a vida era muito curta e que ele não queria perde-la vivendo todos os dias do mesmo jeito, no mesmo lugar, com as mesmas pessoas. Queria ver coisas novas, vivenciar novas aventuras e experiências, conhecer novos rostos. Ele juntou dinheiro trabalhando no supermercado e fez seu visto e passaporte e comprou uma passagem só de ida para o Chile. Precisou de uma grande dose de coragem para dar aquele primeiro passo. Ele repensou muitas vezes no que sua mãe pensaria, no que diria a ele. Por fim ele percebeu que sua mãe não estava mais ali, e pensar daquele jeito era besteira. Ele tinha a certeza de que ela apenas queria que ele fosse feliz acima de tudo, e aquilo o faria feliz.
Então embarcou no avião.
Conheceu a Cordilheira dos Andes, a Ilha de Páscoa, viu de desertos a geleiras e uma penca de ilhas bonitas. Trabalhou como atendente de bar por uns meses, sempre gastando o mínimo possível, apenas com comida e aluguel (ele ficava em hostels e albergues, os lugares mais baratos de se viver), e quando se cansou de lá pulou para seu próximo destino: Peru.
pensava a todo momento, nas noites silenciosas e solitárias nas camas dos albergues, se aquilo realmente o fazia feliz. Ele conhecera tantos lugares maravilhosos, que eram como uma massagem aos olhos... E tudo que conseguia imaginar ao ver aquilo era ao lado dele. Nunca conseguiu se desligar por completo da garota, que sumiu de sua vida, mas levou uma parte de seu coração. Ele não era estúpido, ficou com diversas outras garotas depois dela, mas nenhum minimamente importante. Não como ela.
Depois de dois anos pulando de país em país da América Latina e adquirindo conhecimento, ele deu outro passo gigantesco na sua vida: conseguiu guardar dinheiro suficiente para conhecer a Europa, onde acabou perdendo vários outros anos (cinco ou seis) viajando, fazendo amigos, trabalhando em bares, conhecendo pessoas e adquirindo mais e mais conhecimento. acabou aprendendo uma importante lição de tantas viagens: aprendeu a desapegar. É claro que não completamente, pois o garoto era bom demais para simplesmente esquecer das pessoas que gostava. Mas aprendeu a desapegar apenas o suficiente para mudar sem se machucar.
Depois de cinco ou seis anos vivendo assim, ele sentia-se finalmente satisfeito com sua vida, mas queria mais. Perguntava-se qual seria o próximo passo, depois de literalmente conhecer o mundo, realizar o sonho de milhares de pessoas.
Ele descobriu que o que faltava agora era realmente começar a viver. Estava pronto, agora, para se assentar em um lugar só, conhecer alguém e viver uma vida tranquila, sem muitas mudanças. Trabalhar, quem sabe começar uma faculdade... Casar, ter filhos... quem sabe o que a vida podia lhe oferecer?
É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Porque se você parar pra pensar,
Na verdade não há.
dispensou Maria dos afazeres de domingo, ela havia acordado disposta a fazer um bom almoço para suas filhas e Rafael, que depois de meses passaria o dia em casa. Ela queria – sentia que precisava, também – fazer tudo dar certo. Sentia como se fosse sua última chance.
Entrou no Pão de Açúcar e pegou um carrinho, caminhando sem pressa com ele por entre as prateleiras, olhando para os lados, pensando no que precisava pegar. Nunca cozinhou bem, tinha medo que aquilo fosse um desastre total.
Caminhando distraidamente pelo corredor, nem percebeu quando foi virar o carrinho para fazer a “curva” de um corredor para o outro, e bateu em cheio com outro carrinho, impulsionando seu corpo para frente.
tentou puxar o carrinho, mas a roda dos dois ficaram presas, impossibilitando-os de se soltarem.
- Caramba...
Ela levantou a cabeça no meio de um suspiro, e parou de respirar quando viu quem era.
. Era .
congelou por um segundo, quando ele a olhou. Não conseguia acreditar, nunca sequer imaginaria encontra-lo ali, do nada.
- lia... – Ele sussurrou depois de um tempo olhando para ela. – . Eu não acredito.
Ela ainda não conseguia respirar.
Ele estava tão diferente! Era um homem! Mas é claro que era, , ele também envelhecia, não era uma exclusividade sua, ela pensou, se crucificando. estava bonito. Adulto, cabelo desgrenhado, uma barba por fazer. Parecia, como sempre pareceu, descansado. Leve.
Então, depois de um breve momento, ela se forçou a se recompor. Arrumou a postura e respirou fundo.
- Tudo bem, ? Quanto tempo, hein? – Se aproximou dele para cumprimenta-lo ou sei lá, mas não conseguiu descobrir o que fazer, porque ele continuou parado no lugar.
- Não ouse. – Ele disse, depois de um momento, e sorriu fraco.
- O quê?
- Me tratar como um antigo colega de colégio. – Explicou e aproximou-se a abraçando forte, com vontade, a fazendo se perder dentro daqueles braços. Ah, era tão bom... Ela havia esquecido de como era bom morar naquele abraço.
- O que faz aqui? – Ela perguntou ao que se separaram.
- Entrei pensando que encontraria geleia de caju, já procurei por tudo, mas... – deu de ombros. – nem aqui tem.
Ela riu, talvez a risada mais honesta que dera em tempos. Não porque fora engraçado, mas porque ela gostava de tê-lo por perto novamente, depois de tantos anos.
- Geleia de caju, é? Por que tem que ser de caju e não de goiaba? – Deu de ombros e sorriu para ele.
- Ah... – ele sorriu, sem graça, o que a fez pensar melhor na resposta que talvez receberia. – Minha mulher... – coçou a nuca, sem jeito. – Desejos... e tal.
sentiu seu rosto descer lá no chão.
- Uau... uau, ! – Disse, sem saber o que mais poderia dizer além daquilo. Ela estava sem respostas. , casado? Esperando um filho? Deus, ela não sabia nem reconhecer o que sentia naquele momento.
- É, pois é. – Ele sorriu. Ficaram em silêncio por um segundo, e certamente as mesmas lembranças que corriam a mente dele ao vê-la, corriam a dela também. Aquele último dia, há tanto tempo... – Bem, eu vou... – ele pareceu acordar daquele momento, mas não conseguia parar de olhá-la. – Preciso ir.
Ela assentiu. Ele se abaixou para desprender os carrinhos e ela segurou seu carrinho com força, o observando. Quando se levantou, ela sorriu.
- Medianeira.
- Oi? – Ele franziu o cenho.
- Tem um mercadinho aqui perto, na outra rua... Medianeira. Tem geleia de caju. A melhor da cidade.
- Ah... obrigado, . – Ele sorriu para ela, e a junção daquele sorriso e daquele apelido fez algo em seu peito doer.
- De nada – sussurrou, quando ele já estava virando para ir embora.
Ela virou também e continuou seu caminho, mas agora não tinha mais vontade alguma de comprar. Não conseguia voltar para a Terra. Ver mexeu com tudo dentro dela, cada célula, cada veia. suspirou tristemente ao virar para entrar em outro corredor, e deu um pulo quando novamente se encontrou com . Ele riu e ela riu também, e ele a encarou por um momento.
- Escuta, você... quer almoçar? – Ele hesitou um pouco em perguntar, mas perguntou, e algo dentro dela voltou a acender. pensou em sua família, esperando por um almoço em família. Devia dizer não. Mas já dera tanto de si àquela família, literalmente, que talvez devesse pensar um pouco em si. Além disso, Rafael sobreviveria a isso. Com certeza ele sobreviveria.
Pensando nisso, ela assentiu.
- Mas sua mulher, ela não vai se importar?
- Não é tão urgente assim – ele garantiu.
Enquanto passava as poucas coisas que comprou no caixa deixou o carrinho onde o havia encontrado e fez uma ligação rápida a Maria, a pedindo que fosse para casa e cozinhasse para eles. Enviou uma mensagem a Rafael avisando que precisava fazer outra coisa agora, e que ficasse para a próxima.
Eles foram a uma lanchonete qualquer, lugar que nunca mais na vida havia frequentado depois de se casar. Comeram um pastel com Coca-Cola enquanto conversavam sem parar. Não foi nem um pouco difícil se livrar daquele clima inicial de constrangimento, logo estavam contando tudo sobre como suas vidas correram depois de... bem, de não se verem mais.
mal acreditou que conhecia mais do mundo do que ela, que andava sempre tão atarantada em serviço que mal tinha tempo para ir ao mercado. Ela tentou fazer de sua vida uma história mais empolgante e feliz, contando que havia casado, tinha duas filhas, um consultório, um apartamento em Moema. Não queria impressiona-lo, apenas necessitava provar que também estava tão feliz quanto ele aparentava estar. O que não era verdade, e nunca seria. nunca mais foi feliz de verdade.
As horas se passaram, depois da lanchonete eles caminharam por um parquinho enquanto continuavam a conversar, sentaram em um banco, e por lá passaram a tarde, daquele jeito.
suspirou, olhando para o céu em um momento de silêncio.
- Me diz por que o céu e azul.
Ela sorriu, lembrando-se vividamente daquele dia, daquela pergunta. Olhou para ele.
- Já sabe o sexo de seu filho?
Ele sorriu e concordou com a cabeça.
- Menino. – Virou o rosto para ela. – Henrique.
- Henrique... – Ela repetiu, e lembrou-se daquela antiga conversa que tiveram. Pressionou os lábios, assentindo com a cabeça, e por fim sorriu. Mas não estava feliz. se sentia... abandonada. Ele colocou o nome que os dois escolheram no filho que teve com outra mulher.
Um nó se formou em sua garganta, e ela engoliu em seco.
- . – Chamou, mas ela não conseguiu olhá-lo. Se olhasse, despencaria.
Ambos ficaram em silêncio por bons minutos, olhando as crianças correrem no parquinho, sentados ali naquele banco.
- Um dia me disse que em todas as vidas você me amaria. – Ela comentou.
- Isso foi antes. – ele falou, o que só fez crescer o nó na garganta de .
- Antes?
- Antes de tudo, você sabe. – Ele suspirou. Olhou para longe. – Quando seu pai te tirou do velório de minha mãe fiquei tão bravo com você. Com ele. Com a vida. Não era justo, simplesmente não era. Ele tinha razão, vocês tinham razão, você era demais para mim. E depois daquilo, ... daquela última vez que te vi... Eu não consegui mais te reconhecer. – fez uma pausa e olhou para as mãos. – Eu costumava pensar que nada nunca me faria deixar de te amar enquanto eu tivesse você. – a olhou nos olhos. – Foi o que aconteceu. Eu perdi você. A por quem me apaixonei. Não reconheci ela naquele dia. Foi... foi o que aconteceu.
desviou o rosto e piscou algumas vezes, respirando fundo para não chorar. Quando conseguiu o controle novamente, ela o olhou.
- Me reconhece agora?
Ele encolheu os ombros.
- Eu não saberia dizer.
Ela se levantou do banco, e no mesmo momento ele segurou seu pulso.
- Eu deveria ir – disse.
- Não, não. Não quis te magoar. Eu só quis ser sincero.
- Eu sei. Mas tenho que ir, não sei o que estou fazendo aqui... Não foi uma boa ideia.
- , espera... – ele levantou e soltou seu pulso. A encarou nos olhos, e naquele momento podia enxergar em seus olhos o quanto ela sentia falta dele. Tanto quanto ele sentia dela. – A razão pela qual te chamei para almoçar hoje, foi porque precisava saber mais sobre você. Ter certeza de que estava bem, de que havia melhorado. Mudado. Não houve um dia até hoje em que eu não tivesse me perguntado se você estava bem. Eu sei que também errei, não fui compreensivo o suficiente, eu estava errado, só estava passando por um momento difícil e fui egoísta... Como ele podia pensar assim, ela se perguntava. Ele era tão bom. Bom demais para mim. Bom demais para mim em todas as vidas.
- Mas... olha pra mim – pediu, quando ela desviou o olhar, e ela voltou a olhá-lo, os olhos marejados. – Olha pra nós, . Você realmente achar que daríamos certo? Que teríamos casado, começado uma família feliz? Você acha?
Ela se lembrou disso também. Dessas palavras. Só agora entendia o quanto elas machucavam. E sabia que ele tinha todo o direito de usá-las.
não sabia. Não sabia de mais nada, só sentia como se houvesse aparecido naquele dia para arrancar seu band aid e rasgar sua ferida, que há anos tentava cicatrizar. Ela balançou a cabeça sem saber o que responder e não conseguiu evitar que as lágrimas caíssem. Queria explicar que tudo que ela queria era poder ter uma outra chance. Fazer diferente, de um modo que não tivesse acabado presa nessa rua sem saída. Ela sentia como se houvesse escolhido o caminho errado do labirinto, e que não tinha volta. Estava fadada a encarar aquela parede branca que se tornara sua vida para sempre. Era isso que sentia. Que não tinha mais chances.
- Eu... só... – Fechou os olhos, queria ir para casa. Apagar, e esquecer que aquele dia acontecera. – , me deixa ir. Não faz mais diferença, não podemos voltar, fazer diferente. Você tem sua vida e eu tenho a minha...
- Não, espera. – Ele a segurou mais uma vez, quando ela tentou escapar. – Só me responde uma coisa. Me responde uma única coisa, e eu juro que nunca mais nos encontramos, que podemos seguir nossa vida sem arrependimentos. Mas eu já me arrependo, ela pensou. Me arrependo todos os dias.
- ... você é feliz?
A resposta era simples, ela nem precisava pensar. Não era feliz. Nunca mais fora. Nem sabia dizer o que era felicidade, ela tinha tanto por fora, mas internamente tão pouco. Seu arrependimento se devia principalmente ao fato de que talvez tivesse sido feliz se tivesse ficado com ele.
Ela balançou a cabeça e se aproximou dele, tocando a mão gelada em seu rosto, sentindo sua barba rala. Aproximou a boca do seu ouvido.
- É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, . Porque se você parar pra pensar... na verdade não há – sussurrou. Se afastou e ao ver seus olhos uma última vez, apesar de tudo, ela era grata por ter passado por sua vida. – Você merece ser feliz. - Ela se afastou. não sabia mais o que dizer, apenas a encarava, se perguntando como seria sido. Obviamente não havia mais volta. – Nunca se esqueça, tá bem?
- Do quê? – Ele arqueou as sobrancelhas.
- De mim. Nunca se esqueça de mim. – Ela sorriu, e após deixar dar uma última olhada em seu rosto, virou de costas e foi embora.
Ele nunca mais a veria.
Sou a gota d'água
Sou um grão de areia
Você me diz que seus pais não entendem
Mas você não entende seus pais.
Já fazia quase um mês que e não se viam quando ela finalmente fez contato novamente, mandando uma mensagem para pedir que se encontrassem. Ela sabia que não devia fazer isso, o combinado com seu pai não era esse, mas precisava vê-lo de novo.
Quando o pai de contou que estava doente, ela começou a entender. Ele nunca mudaria, sempre teria a visão limitada do mundo que sempre teve, não começaria a acreditar que era na verdade um garoto bom para ela. Ele nem teria a chance de conhecê-lo, porque não teria tempo suficiente. Mas nada disso importava. havia perdido a mãe que cometera suicídio há poucos anos. Apesar dos pesares, sabia que seu pai sentia aquela dor tanto quanto ela. Ele sentia culpa. Quando ele contou que estava doente, a primeira coisa que cruzou sua mente foi que ela ficaria sozinha.
Foi então que seu pai fez alguns pedidos a ela. Queria que ela fosse forte o suficiente para cuidar de si mesma, que tivesse uma vida estável. Queria que começasse a faculdade, que estudasse em um lugar bom, e tivesse a certeza de um futuro promissor. Queria que ela se esquecesse de , que corresse atrás da vida que “ele nunca seria capaz de proporcioná-la”, foram as palavras de seu pai. “E eu não suporto pensar nessa hipótese, filha”.
passara anos de sua vida odiando seu pai, vendo-o sempre como o vilão de sua vida de adolescente. Ela nunca tentara se colocar no lugar dele. Aquela fora a primeira vez que o fez, e então ela entendeu. Entendeu porque ele fazia tudo o que fazia. Tinha uma visão errada, deturpada do mundo, mas aquele era apenas o jeito dele de dizer que a amava, e que queria protege-la. E, sendo ele a última pessoa no mundo que ela tinha, não conseguiu negar nada a ele.
encontrou-a, como o combinado, na árvore do bairro onde ele não morava mais, às nove e meia da noite. Ela estava chegando quando ele chegou. Estava de táxi, e pediu para o carro esperar, que seria breve. Ele achou tudo aquilo muito estranho. não respondia às suas mensagens, não atendia suas ligações. Desde o velório de sua mãe que ele não a vira mais. No momento em que ele mais precisou ela simplesmente sumiu, e essa era uma das razões pela qual ele decidira a encontrar. Queria respostas.
- , o que é isso? – Ele foi logo perguntando, tocando seus ombros quando ela se aproximou. – Por que não me respondeu, onde você estava? Eu precisava de você, e você simplesmente...
- , eu vou embora. – Ela contou de uma vez.
ficou petrificado no lugar por um momento.
- Embora como? – Perguntou a ela. Ele estava confuso. – Como assim embora, ...
- Eu vou embora da cidade. Do país. Com meu pai. Vou estudar em outro país, fazer a faculdade.
engoliu em seco, havia um nó em sua garganta o impedindo de respirar direito.
- Mas por quê? Como assim, do nada você...
- Surgiu uma oportunidade, . Surgiu essa... essa bolsa na universidade de Londres. Não tem como negar, e... – ela balançou a cabeça. – Sinto muito.
- Você não me respondeu mais, por que não me contou? Você não pode simplesmente ir assim, do nada... Nem me disse nada! Nem perguntou como eu estou! – Sua voz subiu de tom. – Que droga, ! Você pensou em mim em algum momento nesse último mês?! Eu estou passando o inferno!
já quase chorava. nunca precisou segurar tão forte o choro antes. Queria chorar com ele. Dizer que queria ficar, que o amava e não queria precisar deixa-lo. Mas seu pai estava certo quando disse que cultivar esperanças sobre um relacionamento que nunca existiria apenas o faria sofrer mais.
- Eu sinto muito pelo que você está tendo que passar, . Também perdi minha mãe. Você vai ficar bem...
- Como diabos eu deveria ficar bem?! – Ele quase gritou. – Eu contava com você! Pensei que teria você, mas você sumiu no pior momento, não consegui te encontrar, por que está fazendo isso?!
- ... Meu pai estava certo. Nunca daria certo. – começou a dizer o que já ensaiara tantas vezes no último mês. Estava entrando em desespero com o desespero dele. – Olha, o que você esperava? Que fossemos nos casar? Criar uma família feliz? Eu fazendo faculdade e você trabalhando em um mercado?! Você pensou que... que teríamos filhinhos, que eu trabalharia enquanto você ficaria em casa cuidando deles, que eu sustentaria a casa enquanto você tenta juntar dinheiro suficiente para pagar um cursinho de inglês?! , nunca daria certo! Somos de mundos diferentes, você mesmo disse isso mil vezes! Eu... – olhou para cima e respirou fundo. Precisava de forças para dizer aquilo. – Eu preciso de um homem do meu nível, . Preciso pensar no meu futuro. Garantir meu estilo de vida.
Aquelas eram as palavras mais sujas que já saíram de sua boca. A verdade era que ela queria toda aquela vida que descreveu para ele. Não se importaria em viver com ele, contando os centavos para uma passagem de ônibus, não se importaria com nada disso contanto que fosse com ele. Mas ele não precisava saber. Era melhor que seguisse sua vida pensando que ela era essa pessoa nojenta. Só assim não criaria ilusões sobre eles.
Ela já estava quase chorando, por isso precisava ir embora logo.
- Não acredito que está falando isso... – ele sussurrou. – Não pode estar falando sério. Você não é assim.
- Eu sou, . Sou assim. Durante anos fingi não me importar com o seu jeito de ser porque eu gostava de ficar com você, mas... não vou mais mentir. Surgiu essa oportunidade, e eu precisei fazer uma escolha.
Ela respirou fundo outra vez e engoliu em seco. Tocou o braço dele.
- Desculpa, ... eu preciso ir. Espero que seja feliz, eu realmente espero. – Disse, com toda a sinceridade do mundo.
Ela virou as costas e voltou para o taxi antes que começasse a chorar ali mesmo, na frente dele.
Sentia-se a pior pessoa do mundo, mas estava fazendo isso pela única família que ainda lhe restava.
Você culpa seus pais por tudo
Isso é absurdo
São crianças como você.
O que você vai ser
Quando você crescer.
Naquele domingo, depois de discutir com Rafael quando chegou em casa no final da tarde, se retratou. Disse que sentia falta dele... disse-lhe toda a verdade. Que estava brava com ele há tanto tempo que nem se lembrava mais, e que ele devia ser um pai melhor. Que as garotas o amavam, que ele devia dar valor a isso e nunca, nunca esquecer.
Mentiu-lhe que fora feliz.
Ela agradeceu quando ele se voluntariou para levar as garotas no parque para brincar, coisa que ele nunca mais havia feito. Escolheu as roupas de Marina e Helena, penteou seus cabelos, as encheu de beijos. As lembrou que as amava e que sempre as amaria. Fez tudo que sempre desejou que sua mãe tivesse feito, antes de seu último dia.
Quando saíram e ela ficou sozinha, descobriu a razão pela qual precisava fazer aquilo. Algumas pessoas simplesmente não são fortes o suficiente para esse mundo.
terminou com a meia garrafa de whisky em seu escritório. Abriu a caixinha de joias que guardava em seu quarto e encontrou, lá no fundo, intocado há muitos anos, o pequeno anelzinho de pedra. Enquanto o tiver, vou estar por aqui, ele disse. E ela ainda o tinha.
Segurou-se na grade da sacada e subiu, equilibrando-se com dificuldade no parapeito. Ela agradeceu pela rua estar vazia.
teve todas as chances de conhecer o mundo. Ela não aproveitou. Pensava que não tinha mais saída, por isso tomou aquela decisão. E estava feliz consigo mesma. Pela primeira vez estava fazendo algo por si própria.
O vento bateu em seu rosto e ela sorriu. O vento... era o único cúmplice de seus últimos momentos, justo ele que acompanhara toda a sua história.
- É só o vento lá fora, ... – ela sussurrou para si mesma, antes de dar um passo.
E, por um momento, sentiu como se estivesse voando.
leu nos jornais sobre o suicídio de . Por um bom tempo, ele não conseguiu processar a informação. Ele a havia visto naquele mesmo dia, depois de tanto tempo... Seria possível que a culpa fosse dele?!
ficou sem chão. Em um momento estava lá... e depois simplesmente não estava mais. E nem podia ser considerado uma fatalidade... foi escolha dela.
Nos jornais havia a informação de quando e onde seria o enterro, e naquela noite ele perdeu o sono pensando nela. Todas as vezes que tentava dormir ele via seu rosto na mente dele, seu rosto jovem e feliz ao lado dele... seu rosto do dia em que foi embora. Seu rosto naquele domingo, tantos anos depois.
quis ir ao enterro. Sentia que precisava dar-lhe adeus de verdade, porque naquela tarde apenas ela se despedira. Se apenas ele soubesse...
E ele foi. Na tarde do enterro, passou de carro pelo cemitério que constava nos jornais e estacionou por lá, indo até perto de onde estavam os parentes reunidos. De longe, ele viu pessoas que nem conhecia. Viu o homem que deveria ser seu marido abraçando uma garotinha e segurando outra no colo. Marina e Helena. Ela havia me contado sobre as duas, e Marina, a mais velha, tinha tanto da mãe...
se sentiu desolado, seu peito doía. Ele já era adulto o suficiente para entender a morte agora, e sabia que não a amava como um dia amou. Mas ainda tinha muito dela dentro dele. Se perguntava, e sabia que sempre se perguntaria, se teria sido diferente. Mas essa foi uma escolha que ela tomou.
Ele decidiu então, que não conhecia aquela mulher que estava sendo enterrada ali, assim como não conhecia a nenhuma daquelas pessoas presentes. Ele queria se despedir, mas queria se despedir de , a sua , a garota que amara.
Ele voltou ao carro e dirigiu para longe, deixando seu automático guia-lo enquanto sua mente estava longe. Parou no antigo bairro onde morava e estacionou na esquina de um terreno baldio, onde uma vez havia uma macieira. Nunca mais, depois daquela última noite, ele viera ali. O amor de e não sobrevivera àquela noite, e tampouco a macieira também. No lugar onde antes havia a árvore agora estava apenas o toco do tronco, cortado rente ao chão, perto da esquina.
desceu do carro e foi até lá, lembrando de cada palavra, cada carícia, cada beijo que trocaram naquele lugar. Quando chegou ao toco da árvore, se ajoelhou na grama e a tocou, fechando os olhos e rezando. nunca fora tão religioso, mas naquele momento precisou voltar-se a um ser superior para pedir que, por favor, cuidasse da alma dela. Porque apesar de tudo, fora uma pessoa boa. Ela apenas não colheu de tudo que a vida tinha a lhe oferecer.
- Adeus, ... – ele sussurrou para si mesmo. – Espero que esteja em paz.
descobriu naquele dia que algumas histórias simplesmente não têm um final feliz. Mas ele nunca esqueceria da garotinha com quem passou as primeiras férias de sua vida.
Fim!
Nota da autora: (31/07/2015)
Então, o que dizer... Escrevi essa fanfic em exatos dois dias, correndo, com pressa, ainda passei por um bloqueio criativo no finalzinho, apaguei, reescrevi, mandei pra lixeira, restaurei... tudo isso porque achei que não podia faltar um Renato Russo em um especial de música brasileira, de nada Renatinho. Bem, pessoal, esse não foi nem de longe um dos meus melhores trabalhos, nem consegui reler depois de pronto antes de enviar... mas tá aí, fiz minha parte. Espero que tenham gostado, e minhas desculpas ao Renatinho caso eu tenha estragado a (fucking) música dele. Fiquem com meus contatos: Twitter || grupo do face || Blog || Fanfic: IBHBYS || Fanfic: Fanfic: The A Team || Fanfic: Drunk in Love
Qualquer erro nessa atualização são apenas meus, portanto para avisos e reclamações somente no e-mail.
Para saber quando essa linda fic vai atualizar, acompanhe aqui.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO SITE FANFIC OBSESSION.