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Última atualização: 27/06/2017

Prólogo


Março de 2020 - 25 anos

Minha cabeça latejava com mais força do que o normal, demorei algum tempo para conseguir finalmente abrir meus olhos e encarar a pouca claridade que entrava em meu quarto. Estiquei o braço encontrando o vazio no outro lado da cama e suspirei cansado, cocei os olhos impaciente e sorri fraco ao ver minha fiel e dedicada empregada me olhar de forma repreensiva.
- Um dia você terá que parar com essa vida de quem não quer nada com nada. – Repreendeu mais uma vez minha empregada e babá nas horas vagas.
Sentei-me na cama entediado por ouvir novamente o mesmo discurso de todos os fins de semana.
- Não sei o que será de mim no dia que eu não ter você em minha vida, Mary. – Retruquei esticando os braços e ela virou lentamente os olhos castanhos.
Sorri de lado quando ela me entregou uma bandeja com um café da manhã gostoso e olhei para o envelope branco com detalhes em prata que havia na bandeja.
– O que é isso?
- Um convite. – Mary respondeu animada e sorriu convencida – Ainda bem que nem todos os seus amigos são como você. – Não perdeu a oportunidade de me criticar. Olhei para a letra que eu nunca esqueceria e abri com pressa o envelope branco, encontrando um belo convite de... Casamento.
Meus olhos percorreram o papel macio e encontrei o nome que eu tanto sentia falta e que nunca esqueceria, meu ar sumiu ao ver que a única pessoa que eu nunca pensei que casaria, agora estava noiva de um tal de Andrew.
- Deixe-me adivinhar... – Mary começou se aproximando e tirando o convite de minha mão, já que meu estado era completo choque – Os noivos Marks e Andrew Foxes convidam você para comemorar sua união no dia vinte e dois de novembro de dois mil e vinte. – Mary leu pausadamente enquanto meu cérebro ainda tentava processar a informação.
– Terra chamando .
- Ela não pode se casar, Mary! – Gritei desesperadamente e pulei da cama, ouvindo o grito de Mary enquanto a mesma saía do quarto e olhei para baixo, vendo que novamente eu havia esquecido de colocar a cueca, mas nessa hora, isso não era importante. Ou era?



Capítulo 01


- Mas mãe, eu odeio rosa! – Ouvi sua voz de cansada assim que estacionei o carro no enorme estacionamento que havia perto do salão de festas aonde seria o casamento. – Ok, depois nos falamos. – bufou visivelmente nervosa e guardou o celular no bolso da calça jeans rasgada nos joelhos, passou as mãos pelos cabelos soltos, sorri fraco ao vê-la depois de tanto tempo.
Seus olhos castanhos em questão de segundos perceberam minha presença e sorri de orelha a orelha quando correu para meus braços e se jogou neles, a envolvi com força e fechei meus olhos ao sentir aquele perfume doce que saía de sua pele.
- O que faz aqui, ? – Perguntou curiosa e por incrível que pareça, feliz por me ver ali.
- Como assim você se casa sem a minha permissão, mocinha? – Perguntei em tom brincalhão nos pensamentos dela que riu sem graça, sabendo que aquilo era sério – Vim cobrar explicações.
- Sempre surpreendente, não é mesmo? – perguntou em resposta, se despedindo dos funcionários do salão e começamos a caminhar ao redor de um enorme lago que havia ali.
- Você não veio aqui somente para me cobrar isso, veio ? – perguntou após alguns minutos de silêncio, me joguei contra a grama úmida da beira do lago e suspirei, ela fez o mesmo em seguida, me encarando com ternura e ansiedade.
- Eu vim pedir para você desistir de tudo isso. – Soltei com ferocidade e seus olhos castanhos me encararam confusos e assustados – , isso não é você, você não quer isso, certo?
me encarou e depois olhou para o lago em nossa frente, balançou a cabeça rindo de forma incrédula e me olhou com os olhos marejados.
- Você acha que é assim, ? – Perguntou com a voz rouca e com a boca tremendo, ela iria chorar e eu não queria fazê-la chorar mais uma vez.
– Você acha que eu te esperaria para sempre? O mundo não gira em torno de você, só porque você é bonito, tem dinheiro e porque pode ter tudo o que você quer na palma de sua mão. – Aquilo doeu tanto quanto um tapa na cara, se levantou e eu fiz menção de me levantar, mas ela me impediu.
– Você ainda é importante para mim, . – Me levantei e a abracei com força, sentindo meus olhos arderem - Mas as coisas mudaram...
- Me desculpe, eu... – Disse, mas ela colocou o dedo indicador sobre minha boca, me encarando com os olhos vermelhos.
- Sinto muito se você percebeu que eu era importante para você tarde demais. – sussurrou em meu ouvido antes de sair correndo em direção ao seu carro estacionado do lado oposto do meu, me sentei novamente e respirei fundo antes de voltar para casa.


Capítulo 02


- Não posso perder ela, Mary! – Eu disse de forma desesperada enquanto Mary terminava de arrumar as coisas espalhadas na minha cozinha – Ela é tudo para mim.
- Você deveria ter percebido isso antes, não? – Mary retrucou sarcástica e eu bufei irritado, me apoiando no balcão e passei as mãos pela minha cabeça.
– Ela sempre gostou de você, . – Mary me encarou de maneira doce e sincera – Mas você nunca parou para perceber isso.
- Quando ela parava de falar comigo, eu ia atrás dela, Mary! – Exclamei desesperado e Mary me olhou decepcionada, me causando certo desconforto – Eu só era confuso demais.
- Nenhuma garota espera um garoto confuso por muito tempo. – Ouvi aquela voz que me acalmava e sorri fraco ao ver minha mãe logo atrás de mim.
Desde que eu havia conseguido um emprego bom e que tivesse um salário que conseguisse manter um apartamento, eu decidi me mudar já que minhas brigas com meu pai eram constantes e me deixava cada vez mais afastado dele e de meus irmãos.
- Vejo que também recebeu um convite que abalou seu mundo, certo? – Emma perguntou em um tom brincalhão, porém de forma carinhosa, virei e encarei Mary que me olhava triste.
- O que aquele cara tem que eu não tenho? – Perguntei agressivo e as duas me olharam de forma repreensiva – Ok, não precisam dizer, eu mesmo vou descobrir sendo amigo dele.
- Você é mais falso do que eu imaginava. – Mary respondeu brincando e lhe mandei um sorriso torto, convencido – Descobrir todos os podres dele não vai ajudar em nada.
- A questão não é fazer desistir do casamento... Ainda! – Exclamei enquanto saía da cozinha de forma lenta, fazendo drama – Mas sim, conquistá-la de novo para que ela desista sem pressão alguma.
- Se isso fizer com que você pare de sair com essas garotas estúpidas e interesseiras que você traz para cá, eu sou totalmente a favor. – Minha mãe disse de maneira séria e Mary concordou rapidamente, virei os olhos e subi as escadas para o segundo andar da cobertura em que eu morava.


Capítulo 03


- Pois não? – Um cara loiro abriu a porta e eu o encarei com um sorriso falso no rosto, seus olhos azuis me olharam confusos e estiquei minha mão para cumprimentá-lo, ele retribuiu, receoso.
- Andrew, você já viu sobre a cor dos... – Sua voz me trouxe a tranquilidade que há muito tempo eu não sentia e seus olhos castanhos se arregalaram ao me ver, os pratos que segurava se espatifaram no chão e Andrew correu para ajudá-la – Eu estou bem... Não se preocupe.
- Achei que precisariam de ajuda com a casa. – Disse em tom sincero e Andrew me encarou confuso, se aproximou e me fuzilou com o olhar – Não vai me apresentar para ele?
- Andrew esse é , meu antigo melhor amigo. – Respondeu sem vontade e Andrew me cumprimentou de forma mais simpática – Querido, você pode buscar a vassoura para eu limpar essa sujeira? – Andrew concordou sem pensar duas vezes e senti o olhar irritado de sobre mim. - O que você está fazendo aqui, ? – Perguntou impaciente e eu suspirei, encontrando seus olhos castanhos magoados e irritados comigo.
- Vim me redimir pelo que aconteceu ontem. – Respondi com sinceridade e a vi suspirar, dando espaço para que eu entrasse em seu novo apartamento, sentindo meu estômago revirar.
- Quer um copo de whisky? – Perguntou Andrew após voltar com a vassoura e eu concordei sem pensar duas vezes, ele pegou dois copos e colocou alguns cubos de gelo, preenchendo-os com whisky.
comentou de você algumas vezes, era capitão do time de futebol, não era?
- Tudo por uma bolsa em uma escola particular. – Respondi sem ânimo e de forma irônica, recebendo um olhar reprovador de que juntava os cacos espalhados no chão – E você?
- Fazia parte do teatro da escola. – Cuspi todo o conteúdo que eu havia colocado em minha boca e me xingou alto ao ver que eu havia sujado o chão – Sou ator. – Pareceu desanimado.
- Isso é demais, cara! – Menti, mas é claro que eu menti – Desculpa pelo chão, foi a força do hábito. – Completei pegando um pano e limpando o chão, encontrando o olhar sério de sobre mim.
- É uma profissão complicada, mas no momento estou fechando contrato para trabalhar em um daqueles programas que fazem simulação de casos de assassinato. – Andrew explicou enquanto me encarava e eu não conseguia desviar meus olhos de – Apesar de parecer ridículo, o dinheiro vai ajudar no casamento.
- É disso que eu vim falar com vocês. - Completei e senti o olhar frio de sobre mim - O meu presente de casamento para vocês.
- A lista de casamento está disponível no site que veio anexado no convite, . - respondeu de maneira fria ao lado de Andrew.
- Eu trabalho com eventos. - Atropelei as próximas palavras que sairiam da boca de - E quero ajudá-los com o gasto de alguns detalhes do casamento.
- Uau. - Andrew pareceu surpreso e olhou para o copo em suas mãos - Deve ser um ótimo trabalho.
- Não queremos sua ajuda, . - respondeu rapidamente, seus olhos me fitavam com tristeza - O casamento vai ser simples e eu prefiro dessa maneira.
- . - Andrew olhou para a noiva que manteve o olhar fixo em mim - Você sabe que não daremos conta de tudo e a ajuda dele seria muito bem vinda.
- Não quero que discutam isso comigo aqui. - Falei rapidamente, apoiando meu copo sobre a mesinha no centro da sala e senti seus olhares sobre mim - Aqui tem meu telefone e podem entrar em contato comigo em qualquer momento.
- Obrigado, . - Andrew respondeu com um sorriso no rosto ao pegar meu cartão - Volte sempre. - Se despediu com um aperto de mão.
- Eu o levo até a porta. - avisou em seguida, caminhando ao meu lado enquanto eu me aproximava da porta de madeira.
- Por que você está fazendo isso? - Perguntou quando a porta atrás de si fechou.
- Eu quero ver você feliz. - Respondi rapidamente e suspirou - Me dê uma chance.
- Uma chance, . - Resmungou ela com os olhos fixos em mim - Não estrague ela.

Capítulo 04


Fevereiro de 2010 - 15 anos

Era a primeira vez que eu mudava de escola em toda minha vida, fazia anos que eu não tentava começar uma nova amizade e era um pouco assustador. Eu jogava futebol em minha outra escola, era um dos melhores do time júnior que eles tinham e isso me proporcionou bolsa integral em uma escola melhor.
E o fato de ser jogador de futebol, fez com que eu diretamente fosse aceito pelos garotos da sala, já que a maioria também pertencia ao time juvenil da escola. Suspirei quando encarei o enorme portão de ferro recém aberto, observei o movimento de vários estudantes de todas as idades, uns felizes por se reencontrarem depois de um mês em casa e outros tão perdidos quanto eu.
- Oi. - Ouvi uma voz feminina invadir meus pensamentos e me virei, encarando uma garota de óculos e cabelos castanhos de maria-chiquinha - Sou .
Controlei a vontade de rir do penteado dela e do óculos fundo de garrafa, mas eu não era tão mal assim.
- . - Respondi com um sorriso nervoso e ela retribuiu confiante - É nova?
- Sim. - A tal respondeu e eu pude ver algumas pessoas olhando em nossa direção, senti pena dela - Somos vizinhos.
Lembrei-me de ter visto um movimento diferente mesmo na casa ao lado, mas não dei muita atenção para o acontecimento.
- Que legal. - Resmunguei passando a mão pelos meus cabelos bagunçados e úmidos - Bom, eu preciso ir ao banheiro... A gente se vê.
- Estamos na mesma sala! - disse animadamente e eu sorri de volta - Até.
Boa, ! Começou a sua primeira amizade com a menina mais esquisita da escola, você vai ser super zoado pelos seus, nem um pouco, amigos.
Caminhei rapidamente até o banheiro mais próximo e olhei para trás, apenas confirmando de que a louca de maria-chiquinha não estivesse me seguindo.
- Você deve ser o tal , certo? - Um garoto de cabelos loiros me parou e eu concordei confuso - Ótimo, venha comigo.
Segui o garoto esquisito e que parecia ser popular por conhecer grande parte da escola, parando em frente a uma sala de aula.
- Fizemos uma recepção especial para você. - O garoto disse com um sorriso sincero e abriu a porta para mim, encontrei mais alguns garotos que sorriam com vontade.
- Bem vindo ao time! - Eles gritaram e vieram em minha direção, gritando e fazendo piadinhas.
- Meu nome é , eu sou o capitão. - O garoto de cabelos castanhos avisou com um sorriso - Na verdade, estou substituindo o capitão oficial que está com algum tipo de virose.
- Ah, ok. - Respondi sem saber o que falar e eles sorriram um para o outro - Obrigado por me receberem dessa maneira.

XxxxX


- Por que a louca de maria-chiquinha está sorrindo e acenando para você? - , o substituto do capitão do time, perguntou enquanto entravámos na sala com capacidade para uns trinta alunos.
- Não sei. - Menti, ignorando a garota e me sentindo mal por fazer isso com ela, mas eu não podia queimar meu filme.
Sentei-me ao lado de e de outros garotos do time, mantendo meu olhar distante de que parecia decepcionada por ter sido ignorada. Algumas garotas ao meu lado riam dela e eu sentia uma pitada de raiva cada vez que elas zoavam .
Olhei disfarçadamente para ela que mantinha a cabeça baixa enquanto copiava alguma coisa, ela havia feito amigas tão esquisitas quanto ela.
- Intervalo. - A professora com cara de bruxa avisou e se sentou em sua mesa, abrindo um livro tão velho quanto ela e começando a lê-lo - Voltem em vinte minutos.
Esperei que todos meus amigos se levantassem e olhei para ela que terminava de copiar alguma coisa do quadro negro, cara... O que tanto ela estava copiando?
finalmente parou de copiar e seus olhos castanhos encontraram os meus, ela sorriu fraco e se levantou. Eu sabia que havia pisado na bola com ela e me aproximei rapidamente, ficando ao seu lado enquanto ela caminhava.
- Desculpa não retribuir o aceno, eu não tinha visto. - Avisei rapidamente, praticamente cuspindo as palavras e ela me encarou de forma séria.
- Sem problemas, normalmente não costumam ver quando eu aceno. - Ela respondeu de maneira triste e um sorriso doce no rosto.
- Minha mãe disse que ia fazer cookies hoje. - Soltei quando vi que ela estava acelerando os passos para se livrar de mim - Você podia ir experimentar, ela adora visitas.
- Pode ser. - disse um pouco animada - Até mais tarde, .
Observei ela se afastar e olhei ao meu redor, suspirando aliviado ao ver que ninguém havia notado nossa conversa. Caminhei de encontro a e outros garotos sentados mais adiante no refeitório, me sentei ao lado de um dos goleiros e ele sorriu para mim.



Capítulo 05


- Você ia ficar um dia inteiro rindo da maria-chiquinha que ela insistia em usar no cabelo. - Confirmei enquanto esperávamos uma mesa no restaurante preferido de , eu sabia que a levando ali para combinar detalhes do casamento, eu iria surpreendê-la.
Andrew riu, talvez imaginando a cena de ver a noiva realmente zoada. me encarava de cara feia, querendo mostrar que ninguém precisava saber detalhes de como ela era anos atrás.
- Sem contar o óculos de fundo de garrafa. - Ri sozinho quando me lembrei do óculos que ela insistia em usar e seu olhar parecia queimar.
- Viemos acertar detalhes do meu casamento, não do meu estilo de dez anos atrás. - resmungou emburrada e eu sorri vitorioso, adorava aquela cara de emburrada que ela fazia.
Nossa senha foi chamada e me aproximei da atendente que ficava acompanhada de outras duas. Assim que entreguei a senha, dei meu melhor sorriso, vendo as três se entreolharem para ver quem me guiaria até a mesa.
- Por favor. - A ruiva foi a vencedora e ela me olhou de forma safada, me fazendo segurar o riso enquanto a seguia até a mesa.
Meus olhos estavam fixos em sua bunda apertada na calça preta, balancei a cabeça espantando pensamentos que não faço questão de compartilhar.
- Você não muda nunca, né? - perguntou com irritação em cada sílaba.
Encarei a morena em minha frente que se sentou acompanhada do noivo na mesa, enquanto seus olhos me fitavam com seriedade. Dei de ombros e sorri para a atendente que nos entregou o cardápio e se retirou.
- Aconselho a comer a costela com barbecue. - sussurrou para o noivo e então, algo me surpreendeu ao ver aquela cena.
Andrew nunca trouxe para aquele lugar e eu sabia que eu tinha vantagem em saber o gosto dela mais do que o próprio noivo. Abri o cardápio entediado e um pequeno post-it rosa caiu, nele estava anotado três números de telefone.
Os olhos castanhos de fitaram o post-it com certa irritação, mas ela disfarçou voltando a encarar o cardápio em sua frente.
- A loira, a morena ou a ruiva? - Perguntei para Andrew que me encarou confuso, os olhos de me fitaram furiosos.
- Gosto de morenas. - Andrew respondeu baixo, parecendo sentir medo da garota enfurecida ao seu lado e sorri confiante.
Guardei o post-it em minha carteira e olhei para o garçom que veio nos atender com simpatia. Pedi um Chopp claro e Andrew uma Coca-Cola light, cara... E , como sempre...
- Um suco de laranja com gelo e açúcar. - Falei antes de que ficou espantada ao me ver pedindo o que ela iria querer - Uma costela com barbecue e uma onion, por favor.
O garçom anotou o pedido e se retirou. me encarou por breves segundos e depois arrumou a postura, entrelaçando os dedos aos de Andrew que pareceu incomodado ao ver o quanto eu sabia da noiva.
- Ótimo. - Eu disse, apoiando meus cotovelos em cima da mesa e olhando para o casal em minha frente - O casamento será na igreja e depois vamos para o salão?
Eu não podia mostrar que eu já havia ido até o salão encontrar logo que recebi a notícia do casamento.
- Será direto no salão, não queremos gastar muito e hoje em dia está um absurdo casamento nas igrejas da região. - Andrew respondeu de forma sincera e me senti comovido, bem pouco.
- E chamamos apenas familiares próximos. - completou segundos depois, seu olhar parecia distante e preocupado - Queremos poupar dinheiro para a lua-de-mel.
- Certo, conheço um buffet ótimo e os salgadinhos são realmente incríveis. - Admiti contra a minha vontade - E tenho uma lista de DJ's que me ajudam em alguns eventos.
O garçom depositou as bebidas e eu tomei um longo gole do meu Chopp. Voltei meu olhar para que parecia pensativa demais.
- Podemos combinar um dia de irmos até esse lugar, pode ser? - propôs e eu concordei sem vontade - Será bom ter um olhar masculino já que Andrew ficará fora por duas semanas.
Quase sai gritando pelo restaurante, sinto que é hora de eu começar a acreditar que eu sou o cara mais sortudo do mundo. Forcei uma expressão séria, mostrando que meu plano era somente ajudá-los a serem felizes.
- É só isso que precisa? - Perguntei e os dois pararam para pensar por um momento.
- Acho que sim, . - respondeu em voz baixa e sorriu fraco.
- Eu vou ajudá-la com a decoração também, . - Avisei com um sorriso e ela agradeceu com outro - Adoro a rapidez desse restaurante!

XxxxX


- Acha mesmo que ajudá-la é a melhor forma de destruir o casamento? - Mary perguntou enquanto terminava de ajeitar algumas coisas fora do lugar.
Senti seus olhos se pesarem sobre mim e dei de ombros, tomando um longo gole da bebida forte em meu copo. Fechei meus olhos ao sentir o arder da bebida descer por minha garganta, os abrindo novamente e encontrando uma mulher séria em minha frente.
- Não quero vê-lo sofrendo. - Mary manteve o tom de voz sério, seus olhos castanhos me fitaram de maneira materna - Sei o quanto ela é importante para você...
- E eu quero que eu seja importante para ela também, Mary. - Minha voz saiu falha, mostrando que era meu ponto fraco - Não apenas algo que ela quer deixar para trás.
- Apenas me prometa. - Mary parou em minha frente, os braços enrugados apoiados sobre o balcão de granito escuro e os olhos castanhos sérios - Que independente do caminho que isso leve, você não vai deixar o resultado destruir você.
- Prometo. - Respondi rapidamente, bebendo mais um longo gole antes de receber um beijo carinhoso na bochecha vindo dela.
Mary se retirou indo para o quartinho que ela mantinha em meu apartamento. Desde que eu a havia conhecido, ela era uma mulher sozinha que vivia cada dia sem o marido que morreu há alguns anos de infarto e não deixou herdeiros por um câncer no útero que ela teve quando mais nova. Por isso, ela me adotou de maneira tão materna quanto minha mãe cuidaria de mim.
Olhei para o copo vazio em minha mão e sorri, um sorriso dolorido e cheio de lembranças.

Capítulo 06


Março de Dois mil e dez - Quinze anos

Era sexta-feira e eu estava animado para mais uma sessão de filmes com cookies com gotas de chocolate. Eu e havíamos decidido que toda sexta-feira à tarde passaríamos juntos, comendo cookies preparados pela minha ‘babá’ e assistiríamos todos os tipos de filmes, desde o romance tão enjoativo até o terror mais sangrento já gravado.
A campainha tocou, interrompendo meus pensamentos perdidos. Meu olhar seguiu a mulher de altura mediana que trabalhava em nossa casa desde que eu me conhecia por gente. Olhei-me rapidamente mais uma vez no espelho da sala e sorri ao ver a figura de maria-chiquinha entrando em minha casa.
- Os cookies já estão no forno. - Mary avisou assim que observou a garota parada em sua frente - Logo estarão prontos e eu levo para vocês.
fez um aceno rápido com a cabeça, suas bochechas estavam levemente coradas. Ao ver que a mais nova não iria se mover, Mary indicou o caminho que ela já conhecia até a “sala de vídeo” como a havíamos apelidado. se aproximou de mim e se jogou no sofá, com alguns dvd's em seu colo enquanto ela manteve um sorriso meigo nos lábios rosados.
- O que teremos hoje? - Perguntei animado, encarando os dvd's em suas mãos, deveriam ter uns cinco ali.
- Sessão Disney! - respondeu animadamente, me mostrando os cinco dvd's e eu pude sentir meu estômago embrulhar. Disney era coisa de menininha.
Parei para ler o nome dos filmes que ela havia trazido. Rei Leão o um e o dois, não é uma má ideia, quem nunca quis ser o Simba? Vida de inseto, é uma boa escolha também, mas as formigas não são tão legais assim na vida real. Os incríveis, ok, eu confesso que já tentei correr em cima da água como o filho mais novo deles. Procurando Nemo, ok, ok. Eu falo baleiês as vezes quando imito Mary reclamando da minha bagunça.
- Que isso não saia daqui. - Fuzilei com o olhar e ela me olhou entediada.
- Você não vai deixar de ser popular porque curte Disney. - retrucou com ironia, virando seus olhos castanhos e cruzando os braços - Você se preocupa muito com que os outros pensam de você.
- E você se preocupa pouco. - Retruquei com os braços cruzados e com um bico gigante enfeitando meu rosto - Você acha mesmo essas marias-chiquinhas legais?
- Você prometeu que não ia tocar em qualquer assunto envolvendo o meu cabelo! - aumentou o tom de sua voz e me senti com cinco anos de idade, em uma discursão do jardim de infância - Somos quase adultos, isso foi patético.
Concordávamos em alguma coisa pela primeira vez, mas eu não me lembro de ter prometido não falar dos cabelos dela.
- Cookies! - Mary exclamou animadamente ao entrar na sala de vídeo, encarando eu e sentados de braços cruzados, afastados um do outro - Brigaram?
- Ele falou do meu cabelo! - respondeu ofendida e eu virei os olhos, encarei a figura de Mary que controlou o riso ao notar o cabelo da menina.
- Eu sei fazer uma trança linda. - Mary avisou ainda com a bandeja florida cheia de cookies e um sorriso cúmplice para mim que passou despercebido por . - Posso fazer em você?
manteve os braços cruzados e o olhar tenso enquanto eu a encarava curioso, esperando o não que ela daria para Mary que agora, depositava a bandeja na mesinha do centro.
- Quero. - Havia sinceridade em sua voz, eu sabia que havia travado uma luta com si mesma para ter que engolir seu orgulho, o que me fez encará-la de forma incrédula, sendo repreendido por Mary em seguida- Por favor.
Enquanto eu esticava meu braço para pegar um cookie ainda morno, meus olhos estavam fixos nas duas em minha frente. havia se movido para mais perto de onde eu estava e estava frente a frente comigo, um sorriso envergonhado brincava em seus lábios, me fazendo sorrir involuntariamente para ela.
Mary se posicionou atrás da mais nova, fazendo com que a menina ficasse entre suas pernas enquanto ela tirava a primeira maria-chiquinha e depois a outra. Fiquei perdido no brilho dos cabelos castanhos de , eles estavam armados, talvez por causa da maria-chiquinha. Um olhar curioso de Mary pousou em mim por alguns segundos, enquanto seus dedos mantinham o trabalho de fazer uma trança.
Peguei rapidamente um cookie, entregando-o para que sorriu agradecida, dando uma mordida em seguida. Respirei nervoso, vê-la tão bonita de uma forma tão simples me causou um frio na barriga, eu nunca havia sentido aquilo antes. Peguei o primeiro dvd que estava empilhado e o coloquei no aparelho que começou a rodar em seguida, apertei um botão na estante e logo um telão começou a descer como em filme.
- Uau! - exclamou incrédula ao ver o enorme telão que meu pai havia instalado dois dias atrás, sorri ao ver que a surpresa que eu havia citado no telefone, havia funcionado - Isso é DEMAIS!
Alguns segundos depois, a trança já estava pronta. O óculos de fundo de garrafa ainda enfeitava seu rosto, mas a trança lhe dava um ar maduro que me deixou de queixo caído. As bochechas estavam levemente coradas e um sorriso doce brincava em seu rosto.
- E então? - Perguntou com um sorriso nervoso, seus olhos me fitavam intensamente, me deixando sem palavras enquanto ela esperava uma resposta.
- Está maravilhosa. - Foram as duas palavras que mudaram a maneira como seus olhos me fitaram e seu sorriso pareceu maior - O filme já começou.
- Ahn sim, claro. - respondeu rapidamente, os dedos finos brincavam na trança e ela se ajeitou assim que Mary se levantou - Obrigada, Mary.
Sua voz estava mais fraca que o normal e Mary se despediu com seu sorriso amável, nos deixando novamente a sós. Os olhos castanhos de me encararam e eu sorri, lhe entregando mais um cookie.
- Sabe, . - Depois de alguns minutos de filme, me chamou e eu tirei a cabeça de minha mão que estava servindo de apoio enquanto assistíamos rei leão - Acho que vou mudar meu cabelo mais vezes.



Capítulo 07


Dois mil e vinte - Vinte e cinco anos

Minha cabeça latejou com certa força quando abri meus olhos naquela manhã. Bati com certa força contra o despertador, ouvindo-o cair no chão e o barulho de cada pecinha indo parar em um canto do quarto. Soltei o ar preso em meus pulmões, encarei o quarto pouco iluminado e pensei nela, eu havia sonhado com o dia que ela finalmente tirou aquelas maria-chiquinha ridícula.
Algumas batidas na porta fizeram com que eu saltasse da cama, enrolando meu lençol em torno de minha cintura.
- Pode entrar. – Resmunguei com a voz sonolenta.
A porta se abriu e pude encarar a expressão animada de Mary enquanto me olhava.
- Temos uma visita para o café da manhã. - Mary avisou com um sorriso malicioso nos lábios, me deixando um pouco assustado e logo, eu processei exatamente o que aquele sorriso queria expressar - Não se atrase, por favor.
Peguei a melhor roupa que eu tinha em meu armário depois de tomar uma ducha gelada e rápida, escovei meus dentes com ferocidade e deixei meu cabelo úmido bagunçado. Vesti uma camiseta branca com gola 'v' e uma bermuda jeans, desci as escadas rapidamente e sorri ao encontrar aquela silhueta em minha cozinha.
estava com um vestido branco de renda, simples e perfeito nela. Os cabelos castanhos ondulados estavam soltos e ela ria de alguma coisa que Mary lhe contava, eu esperava que não fosse nada de mim. Por um momento, senti inveja de Andrew porque ele teria aquela mulher na cozinha dele todos os dias quando acordasse.
- Bom dia, dorminhoco! - Mary disse animadamente, fazendo com que virasse lentamente em minha direção e sorrisse envergonhada ao estar ali tão cedo.
- Bom dia, . - Sua voz doce parecia melodia para meus ouvidos, me aproximei dela e a abracei com força, sendo retribuído com a mesma intensidade - Desculpa acordá-lo tão cedo.
- Você não precisa se desculpar. - Respondi em tom sério, me sentando na mesa e fazendo um sinal para ela me acompanhar no café da manhã - O que faz aqui tão cedo?
- Andrew viajou de madrugada e eu achei que poderíamos adiantar algumas coisas em relação ao casamento. - sussurrou quase inaudível, parecia envergonhada por estar dividindo aquilo comigo e eu suspirei concordando com ela.
- Espero que ele cuide muito bem de você, . - Mary interrompeu o silêncio em tom sério e autoritário, fazendo a garota em minha frente sorrir com vontade.
- Ele vai cuidar, Mary. - respondeu com o mesmo sorriso doce em seu rosto, pensei que ela falaria 'Ele é diferente de outra pessoa', mas claro que ela não falaria isso em minha casa e na minha frente, eu sabia que a havia feito sofrer muito por minha causa.
- quer uma festa simples. - Comentei com Mary que estava apoiada na pia e nos olhava com admiração, recebendo meu olhar de reprovação - Mas ela merece uma super festa por isso estamos arrumando alguns detalhes.
- Então vai adiar a data do casamento para os novos preparativos? - Mary perguntou animada, mas fingiu que estava deprimida em seguida para disfarçar.
- Não!
- Sim! - e eu respondemos juntos, ela me encarou incrédula e eu tomei um longo gole de meu café, disfarçando.
- Não pretendo adiar o casamento, Mary. - completou me olhando com um pouco de raiva, mas um sorriso voltou ao seu rosto em seguida - E você está convidada.
- Esse assunto está me dando enjoo. - Eu comentei baixo e pude sentir o olhar das duas em minha direção - Vamos logo resolver esses detalhes, estou quase vomitando tudo o que eu comi.
deu de ombros e em seguida, deu um forte abraço em Mary que disse para ela voltar sempre. Despedi rapidamente de Mary que me olhou como se me desse forças para continuar com meu plano e não estragar tudo como sempre.
Entramos no elevador e eu apertei o botão do subsolo, estava encostado em um canto do elevador enquanto se olhava no espelho e algumas vezes, eu sentia seu olhar sobre mim. Assim que o elevador abriu, dei espaço para ela passar e ela fez.
- Qual o seu carro? - perguntou inocente, apontando para alguns carros simples em nossa frente e eu sorri amarelo.
- Aquele do fundo. - Apontei para minha porsche branca estacionada há alguns metros de nós e ela acenou com a cabeça, um pouco surpresa - Estou em um relacionamento sério com ela, desculpe. Talvez, ela fique com um pouco de ciúmes.
parou alguns segundos para analisar o carro enquanto eu o abria, ela suspirou antes de entrar no mesmo e sentir o cheiro de novo. Assim que eu entrei, ela me encarou de maneira séria.
- Quantas garotas já entraram nesse carro com você? - perguntou tentando mostrar indiferença, mas seus olhos mostravam o contrário. Ela estava com ciúmes.
- Você é a primeira. - Eu respondi com sinceridade e ela me olhou desconfiada - Jasmine é ciumenta, como eu disse estamos em um relacionamento sério.
Eu nunca havia deixado outra garota entrar no meu carro, além de , e eu não estava mentindo, eu tinha dois carros e um deles era um carro mais simples, mas não deixava de ser caro e chamativo.
- Quem dá um nome a um carro? - perguntou depois de colocar os cintos e eu ligar o carro, acelerando em seguida, fazendo a mesma segurar no banco de couro bege - Idiota.
- Devo lembrar que todos seus bichinhos de pelúcia tinham nome? - Perguntei ironicamente e pude ver um sorriso brincar em seu rosto delicado - Ótimo.


Capítulo 08


Agosto de dois mil e dez - Quinze anos

terminava de recolher as canetas jogadas em cima da mesa, quando me aproximei e me apoiei na mesa dela. Senti seu olhar rápido sobre mim, depois de me analisar, ela voltou a guardar seu material.
- Seus amigos ainda estão na sala. - lembrou-me em tom grosseiro, o cabelo estava novamente naquela maria-chiquinha horrorosa e ela manteve os óculos fundo de garrafa.
Suspirei e me virei, encarando meus amigos que riam de alguma piada que um deles havia contado. Dei de ombros e me virei novamente para ela que terminava de colocar a bolsa rosa em seu ombro direito.
- Quero te fazer um convite. - Pedi rapidamente antes que ela pudesse sair correndo, me deixando falando sozinho como na maioria das vezes - Por favor.
se virou para me encarar e um sorriso aliviado brincou em meu rosto, ela parecia incomodada com a presença de meus amigos, mas eles já estavam mais acostumados com minha convivência pacifica com a estranha da sala.
- Fala logo. - resmungou com os braços cruzados, encarei o suéter cinza de vovó que ela usava naquele dia, mas decidi ignorar esse detalhe em seguida.
- Quer ir ao baile de primavera comigo? - Perguntei rapidamente, praticamente cuspindo as palavras em cima de que arregalou os olhos com meu pedido. Ela abriu e fechou a boca várias vezes, parecendo surpresa com a pergunta. Um sorriso triste brincou em seus lábios enquanto me encarava de forma doce.
- Me desculpe, . - Ela disse com tristeza em cada sílaba - Meu pai não vai deixar eu ir.
- Ele não precisa saber disso, sua mãe me conhece e gosta de mim. - Implorei com a voz chorosa e ela me olhou relutante, soltando um suspiro carregado em seguida - Por favor, quero que você vá comigo.
- Não quero mentir para ele... - respondeu de maneira séria, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha enquanto me encarava - Podemos combinar de você ir em casa um dia e pedir para ele, que tal?
- Se eu voltar vivo para casa depois tudo certo. - Brinquei, arrancando um sorriso dela e dei um beijo rápido em sua bochecha - Me passe o dia certinho e eu irei convencê-lo a deixar você ir, afinal amigos são para isso.
- Obrigada, . - agradeceu e saiu em seguida, me deixando a sós com meus amigos que me encaravam sérios e fizeram sinal de que eu era louco por chamar para o baile e não as outras garotas da turma.

Duas semanas depois

- Tem certeza que os pais dela vão gostar de mim? – Perguntei, mais uma vez, enquanto minha mãe arrumava, mais uma vez, o terno que eu estava usando especialmente para a ocasião.
- Se eles não gostarem, devem ser loucos. - Minha mãe respondeu com sinceridade, apertando minha bochecha com força e sorrindo toda babona.
- Mãe, eu tenho quinze anos. - Resmunguei tirando a mão dela de minha bochecha e ela concordou, se afastando com um sorriso bobo acompanhada de Mary que me admirava ao seu lado - Preciso ir, não posso chegar atrasado ao jantar.
- Estaremos olhando da janela tudo. - Minha mãe disse em tom sério, ela tinha o dom de mudar de personalidade de um segundo para o outro - Qualquer coisa, grite se o pai dela for muito agressivo.
Recusei-me a responder o que ela havia falado, peguei o buquê de rosas vermelhas e respirei fundo fechando a porta atrás de mim. Contei meus passos de forma ansiosa até chegar a porta da casa dela, contando até três antes de bater na porta com minhas mãos trêmulas.
Ouvi passos pesados em direção a porta e segurei o buquêcom força, eu precisava mostrar que estaria segura comigo no baile e em todos os lugares. Eu tenho quinze anos, por que estou pensando como um cara de quarenta?
A porta se abriu e encarei o homem de cabelos grisalhos e barba mal feita, os olhos castanhos me fitaram com desdém e ele forçou um sorriso amarelo ao me ver. Dando espaço para que eu entrasse em sua casa e eu obedeci, meus pés insistiam em sair correndo para longe daquele cara estranho que chamava de pai.
- Boa noite, senhor. - Eu disse em tom firme, tentando não vacilar e parecer uma bichinha na frente dele.
- Boa noite, . - A mãe de apareceu com um sorriso doce em seu rosto parecido com o de , os cabelos castanhos estavam presos em um rabo de cavalo e ela usava um vestido simples e comportado, coberto por um avental cor de rosa - já está descendo.
Concordei com a cabeça, minhas mãos tremiam e eu segurei o buquêcom mais firmeza, tentando não mostrar o quanto eu estava nervoso com a situação. Qual é? Somos apenas a.m.i.g.o.s, por que estou sentindo como se eu fosse pedi-la em casamento?
O pai de se sentou na poltrona e permaneceu os cinco minutos que demorou para descer me encarando, devo lembrar que esses cinco minutos passaram como anos.
- Oi. - disse em tom tímido, as mãos estavam segurando a barra do vestido rosa com detalhes floridos que ela usava, manteve o óculos fundo de garrafa e as marias chiquinhas como de costume.
- São para você. - Entreguei o buquêe ela pareceu surpresa, pegando o buquêe cheirando as rosas com vontade - Sei que gosta muito de flores.
- Obrigada, . - respondeu com os olhos brilhando e as bochechas coradas, percebi que seu pai havia se levantado e caminhado em direção à cozinha - Ele é meio mal humorado. - Justificou.
- Crianças, venham! - A mãe de gritou animadamente e sorriu para nós quando entramos na cozinha simples, mas bem arrumada - Espero que goste de lasanha, sou especialista em lasanhas.
- Eu adoro lasanhas. - Conclui com um sorriso animado, me olhou e deu uma piscadinha, logo me dei conta que ela havia ajudado sua mãe com o cardápio, já que lasanha era meu prato preferido.
- Mãe, você tem um vaso? - perguntou mostrando o buquê para sua mãe que sorriu sinceramente ao ver o buquê que eu havia dado para sua filha.
- Claro. – Ela pegou o buquê e o colocou em um vaso transparente com água, um sorriso brincou em meus lábios quando se sentou ao meu lado e piscou para mim antes de começarmos a nos servir.
- E então, . – O homem sentado na ponta da mesa disse meu nome como um juiz em um tribunal condenando um assassino sangue frio – O que você tem para me falar?
- Quero sua permissão para levar para o baile de primavera da nossa escola. – As palavras saíram como um jato de minha boca e parei para ver se ele havia entendido, pela sua expressão fechada ele havia entendido cada letra – É uma festa organizada e prometo que irei cuidar de , não vou deixar nada acontecer a ela.
- Quem vai protegê-la de você? – O homem perguntou em tom grosseiro e irônico, me fazendo encará-lo incrédulo com aquela pergunta, ele sorriu em seguida, dando um longo gole em sua cerveja.
- É apenas uma brincadeira. – A mãe de completou com os dentes trincados, olhando feio para o homem ao seu lado enquanto ela limpava a boca com delicadeza – poderá ir ao baile com você, mas queremos que você obedeça o horário que colocarmos.
- Sim, senhora. – Respondi rapidamente, sentia meu corpo inteiro tremer pela sensação do olhar mortal daquele homem sobre mim.
- Se ela atrasar dez minutos, irei matar você. – O homem disse em tom sério, rindo em seguida e todos na mesa permaneceram calados, inclusive eu – Pode ir embora, garotão.
- Ainda tem a sobremesa, querido. – A mãe de afirmou com irritação para o marido que bebeu mais uma vez a cerveja em sua mão, ele me encarou com desdém e deu de ombros, se levantando e nos deixando a sós.
- Espero que goste de torta de amora. – sussurrou em meu ouvido com um sorriso doce no rosto, me fazendo sorrir involuntariamente – É a especialidade da mamãe.


Capítulo 09


Agora

- Qual o próximo item da nossa adorada lista? – Perguntei tentando não parecer entediado, afinal de contas seria mil vezes melhor se eu fosse o noivo.
- Deixe-me ver. – abriu o papel amassado pela centésima vez naquele dia e seus olhos ficaram apertados para conseguir ler o que estava escrito – Vestido de noiva.
- Nunca pensei que esse momento chegaria. – Confessei acelerando e pegando a avenida novamente, ela sorriu fraco ao meu lado enquanto ligava o rádio sem pedir minha permissão – Sempre pensei que...
- Seria com você. – completou com a cabeça apoiada no banco, um sorriso fraco brincou em seu rosto enquanto ela me fitava intensamente – A vida nos surpreende.
- Espero que ela ainda me surpreenda. – Resmunguei baixo, ela me olhou buscando uma explicação e eu dei de ombros, prestando atenção no trânsito enquanto uma música conhecida tocava no rádio e ela cantava baixinho. Olhei para rapidamente e ela parecia pensativa enquanto cantava e seu rosto corou imediatamente quando percebeu que estava sendo observada.
- Em meio a toda essa correria, eu esqueci até de perguntar. - Me senti um pouco envergonhado ao começar outro assunto novamente, ela me olhou séria – Em que você trabalha? - Decidi seguir meu sonho. – respondeu enquanto fitava suas próprias unhas e mordeu o lábio de maneira ansiosa – Eu sou a responsável pelos animais do aquário da cidade.
Eu fiquei surpreso ao ver que ela havia conseguido se formar naquilo que ela sonhava, ser médica veterinária de animais marinhos. Eu sempre zoava quando ela dizia que iria cuidar de golfinhos e tartarugas, mas quem riu por último foi ela.
- Fico muito orgulhoso de você. – Respondi com um sorriso sincero no rosto, fazendo a mesma me encarar com alegria já que um sorriso enfeitava seu rosto também.
- Essa semana eu te levo para conhecer a estrutura interna do aquário. – disse com animação, piscando para mim enquanto eu sorria para ela que nem um bobo.
- Espero que você não deixe uma arraia me matar, eu ficaria muito chateado se eu não pudesse aparecer na hora que o padre perguntasse: se tem alguém contra esse casamento, fale agora ou cale-se para sempre. – Respondi em tom sério, recebendo um olhar irritado de que se remexeu no banco do passageiro com raiva – É brincadeira. - Não quero que estrague tudo isso, . – pediu em tom fraco, seus olhos castanhos pareciam tristes e eu suspirei, peguei em sua mão e beijei as costas da mesma. - Chegamos. – Eu disse sem ânimo para vê-la em um vestido de noiva, ela me encarou com tristeza e forçou um sorriso fraco. Abriu a porta do carro e desceu com rapidez, eu esperei alguns segundos a mais para segui-la, não queria saber que a cada passo que dávamos eu estava perdendo ela.
Empurrei a porta dourada e pesada da loja de vestidos de noiva, meus olhos correram pelo lugar procurando que havia entrado em minha frente. Respirei fundo ao ver várias mulheres de formas e jeitos experimentando vestidos, umas preferiam os mais curtos e outras cobriam até o pescoço, como se o noivo já não tivesse visto cada coisa.
- Em que posso ajudá-lo? – Uma voz masculina quase afeminada me perguntou, me virei e encarei o cara magro com olhos azuis e.... Ele estava usando rímel?
- Ele está comigo, Luke. – apareceu com um sorriso tímido no rosto, apoiando sua mão no braço magro do vendedor que sorriu quando a viu, dando dois beijinhos no rosto de .
- Ele não é o noivo, né? – O tal Luke perguntou em tom surpreso, as mãos espalmadas no peito e eu revirei os olhos quando negou rapidamente com a cabeça.
- Ai, adoro quando bofes assim estão na pista. – Luke respondeu com um tom de voz estranho e piscou para mim, fazendo com que segurasse o riso enquanto me olhava divertida.
Luke se afastou nos deixando a sós e ela segurou em meu braço com delicadeza, fazendo um carinho rápido enquanto me guiava para o fundo da loja. Olhei de relance para o lugar cheio de vestidos e encarei o teto espelhado com detalhes em dourado, fingindo ouro. Passei por um lugar onde havia um tapete vermelho estendido e algumas penteadeiras aonde algumas noivas se produziam com o vestido para ver se era aquilo mesmo que elas queriam.
- Se ele der em cima de mim de novo, você está me devendo o que eu quiser, entendeu? – Falei levemente irritado para que sorriu quando viu que Luke voltava com uns dez vestidos, colocando-os em cima de um balcão e sorrindo para mim e para .
- Obrigada, Luke. – agradeceu enquanto encarava os vestidos em sua frente, ela me olhou e pegou o primeiro, indo em direção ao provador em nossa frente, me deixando a sós com o cara que ficava reparando em minha bunda a cada dois segundos.
- Eu malho. – Falei com convicção, fazendo-o corar com intensidade.
- Uma pena que não tenha escolhido você. – Luke disse enquanto encarava as unhas brilhantes e me olhava com pena – Aquele cara é um lixo comparado a você.
- Queria que ela tivesse o mesmo pensamento que você. – Confessei e ele suspirou ao meu lado, entendendo a minha situação e talvez, até decepcionado ao ver que eu realmente gostava de mulher – Isso costuma demorar?
- Café ou água? – Luke perguntou em tom de brincadeira, mas ao mesmo tempo ele realmente estava oferecendo algo.
- Café. – Respondi enquanto me sentava em um banco que havia ali, apoiei minhas costas e fechei meus olhos, respirando fundo enquanto esperava se trocar.
Luke estava chegando com o café quando as cortinas douradas do provador se abriram, colocou a cabeça para fora e sorriu nervosa para mim. Peguei meu café e tomei um gole ao vê-la saindo, Luke ficou ao meu lado assistindo a cena.
estava com os cabelos presos em um coque frouxo, o vestido tomara que caía deixava seus ombros à mostra e era tão brilhante que parecia enfeitado com diamantes, havia uma faixa dourada na cintura dela. Estava parecendo com a Cinderela em um tomara que caía, sorri para ela encantado com a garota em minha frente que parecia a mesma garota de quinze anos que eu havia conhecido, insegura e linda do jeito dela.
- Você está parecendo um bolo. – Brinquei e recebi um olhar reprovador de todas as mulheres que admiravam a beleza de – Próximo.
- Estou começando a me arrepender de ter trazido você. – resmungou sem esconder um sorriso doce em seu rosto, ela pegou o outro vestido e entrou no provador.
Terminei de tomar meu café enquanto observava outras mulheres desfilarem pelo tapete vermelho. Suspirei quando a cortina dourada foi novamente puxada, me fazendo sentir borboletas no estômago e quase cair da cadeira.
apareceu com um vestido tomara que caía com um decote exagerado, me fazendo quase gritar de desespero. O vestido era apertado até a cintura dela, depois ele ia se abrindo com se ela fosse uma sereia e ela podia fazer tudo naquele momento comigo de tão hipnotizado que eu estava. O vestido tinha detalhes em prata e algumas pedras que se destacavam, ela se olhou e me olhou esperando uma resposta.
- Eu amei esse. – Eu disse ofegante e ela me olhou de forma reprovadora, fazendo Luke gargalhar ao seu lado – Mas duvido que Andrew goste de ver você nele.
- Ok, próximo. – puxou a barra do vestido e suspirou, voltando para o provador com outro vestido e acompanhada de Luke.
O próximo vestido deixou metade das mulheres querendo o vestido, esperando somente o momento que iria desistir dele. Estavam provavelmente torcendo para que eu falasse que era horrível ou algo do tipo. era definitivamente uma princesa, o vestido fugia do branco comum indo para um perolado incrível. Ele tinha as alças caídas e era todo cheio, ela estava com o cabelo de lado e sorria para mim. Ela era definitivamente a Bela, a bela do Andrew.
- Eu só provei esse para me sentir a Bela pelo menos uma vez na vida, agora chega de brincadeiras. – avisou com um sorriso brincalhão e eu concordei. O vestido era lindo, mas eu achava que se era pra ser noiva, que casasse de branco e não um perolado.
A cortina dourada mais uma vez se abriu e apareceu com um sorriso tímido e animado, eu senti que ela havia gostado daquele modelo. O vestido era tomara que caía, mas havia uma renda em torno dos ombros, ela se virou e encarei suas costas despidas e a renda surgia fazendo um desenho em suas costas. O vestido não era tão cheio e nem tão apertado, na medida do perfeito e ele parecia ter sido feito sob medida para ela.
Pela maneira como eu a encarava, ela sabia que eu havia gostado daquele mais do que qualquer outro vestido. Levantei-me e peguei em sua mão, fazendo-a girar lentamente e parar a centímetros do meu rosto, sua respiração quente batia em minha boca e ela ficou algum tempo me encarando, quando deu um passo para trás e seu sorriso havia sumido.
- Fique aí, garotão. – Luke disse enquanto pegava e a levava para o outro lado da loja, me fazendo ficar parado e de olhos fechados, ainda anestesiado pelo perfume dela.
Imaginei as portas da igreja se abrindo enquanto a marcha nupcial invadia meus ouvidos, todos os convidados haviam ficado em silêncio enquanto ela entrava acompanhada de algum parente próximo que ela considerava seu pai. se aproximava com um buquê de rosas vermelhas, idêntico ao que eu havia dado um dia para ela quando fui pedir para que me acompanhasse no baile de primavera quando tínhamos quinze anos.
Ela sorria emocionada me encarando com uma felicidade que não cabia em si, era eu quem estava esperando ela no altar. Era eu quem viveria ao lado dela para sempre.
Mas meu pensamento sumiu quando a imagem de Andrew veio em minha cabeça, estragando tudo que eu havia planejado um dia com . Graças a esse pensamento ruim, eu me virei e dei de cara com em pé no tapete vermelho, ela sorria nervosa e pareceu aliviada ao me ver sorrindo para ela, lhe dando força. Em suas mãos, ela carregava um buquê de lírios brancos de plástico, apenas para ver se aquele era o vestido ideal para ela. A marcha nupcial começou a tocar e eu corri para o final do tapete vermelho, fingindo que estava esperando sua chegada. Ela riu emocionada e se aproximou de mim, dei um beijo em sua testa e Luke deu um gritinho ao ver aquela cena. - É um castigo vê-la assim e não poder te fazer minha. – Eu sussurrei somente para ouvir e ela me olhou intensamente, tocando de maneira doce meu rosto e dando um beijo demorado em minha bochecha.
- Não piore as coisas, . – Ela pediu em tom baixo, os lábios tremiam e eu a puxei para um abraço forte – Senti sua falta.
Não respondi, deixei que ela se trocasse enquanto Luke me encarava de maneira confusa, eu apenas forcei um sorriso. Enquanto se arrumava para ir embora, deixei claro para Luke que esse era meu presente para ela, eu havia comprado o vestido que ela havia gostado e se eu pudesse, a veria nele todos os dias.
- Acho que por hoje é só. – disse assim que entramos no carro e eu dei partida, ela me encarou de maneira triste – Obrigada por estar me ajudando com os gastos.
- É o mínimo que posso fazer. – Respondi segurando sua mão e fazendo um carinho com o polegar, ela sorriu agradecida e tirou a mão, colocando-a em cima de suas pernas.
- Eu estaria surtando se fosse o contrário. – Ela admitiu com um pouco de vergonha e eu ri baixinho, acelerando para passar no farol verde.
- Eu engano bem. – Respondi, piscando para ela em seguida que sorriu meiga para mim.
- Será que Mary ainda faz cookies? – Perguntou mordendo o lábio e eu a encarei confuso, era impressão minha ou ela queria passar mais tempo comigo?
- Quem consegue negar algo a você? – Perguntei em resposta e ela sorriu abertamente, ligando o rádio e cantando a música que estava tocando.

Capítulo 10


Setembro de dois mil e dez

Eu sentia o suor escorrendo por minha nuca, eu havia acabado de me trocar e minhas mãos tremiam. Olhei-me mais uma vez no espelho e arrumei minha gravata borboleta, a porta de meu quarto se abriu e observei minha mãe entrar com um sorriso doce em seu rosto cansado.
- Está ansioso, querido? – Ela perguntou se sentando na beirada da minha cama enquanto me olhava com admiração.
- Vou fazer dessa noite especial para ela, mãe. – Respondi de forma séria, fazendo a sorrir emocionada e se levantando, vindo em minha direção e me abraçando com força.
- Vamos. – Ela disse mexendo em meus cabelos e sorrindo com vontade – Ou vamos chegar atrasados.
Descemos a escada com pressa, me despedi de meus irmãos e caminhei em direção à porta com minha mãe em meu encalce. Abri a porta e caminhei até o carro prata estacionado em frente à minha casa. Entrei no passageiro e minha mãe no motorista, dois quarteirões depois estávamos na frente da casa de .
Desci do carro com um nervosismo fora do normal, minha mãe sorriu para mim para que eu tivesse coragem para olhar novamente para o pai dela. Bati três vezes na porta e foi a mãe de que me atendeu, ela estava com a parte direita de seu rosto inchada e sorriu, fingindo que nada havia acontecido. Eu queria perguntar, mas seria indiscreto de minha parte. Segundos depois, apareceu acompanhada de seu pai que parecia mais sério do que o normal.
Ela estava usando óculos e o cabelo estava de maria chiquinha, suspirei ao ver que ela não abria exceções nem no dia do baile, mas sorri com vontade ao pegar em sua mão e a abraçar com força.
- Meia noite quero ela aqui, garoto. – O pai dela disse em tom firme sem me cumprimentar e eu concordei, fazendo um aceno rápido com a cabeça e pude ver que parecia mais quieta que o normal.
Caminhamos até o carro onde minha mãe nos esperava e eu abri a porta traseira para ela entrar, ela sorriu fraco em agradecimento e eu entrei no banco do passageiro. O trajeto até a escola foi silencioso, a não ser nos momentos que minha mãe decidia puxar assunto sobre alguma coisa e fazia rir baixo.
Minha mãe estacionou o carro em frente ao ginásio da escola, onde haviam vários alunos na frente esperando para entrar no baile.
- Onze e meia estarei aqui na frente. – Minha mãe disse em tom sério, piscando para mim que sorri para ela – Bom baile, queridos.
Desci do carro e abri a porta para que desceu com timidez, peguei em seu braço e observei o carro de minha mãe desaparecer. Pela primeira vez, parei para observar a roupa que usava. Era um vestido tomara que caía cor de rosa bem claro com alguns detalhes mais escuros, ela sorriu ao ver que eu estava olhando para ela.
- Achei que não viria! – apareceu acompanhado de uma das garotas do grupo de líder de torcida, ela sorriu simpática tanto para mim quanto para o que me surpreendeu – Essa é Amber.
- É um prazer conhecê-los. – Ela disse em tom simpático e sorriu para que retribuiu confusa com a boa recepção da garota, ela nunca havia sido tratada bem por nenhuma garota popular da faculdade. Eu poderia desconfiar de Amber, mas eu sabia que ela não era igual as outras meninas e sabia da minha admiração por .
- Sou . – disse com incerteza, sorrindo fraco enquanto apertava meu braço com força e eu olhei para ela, mostrando que estava tudo bem.
- Venha, vou apresentar você para as outras meninas. – Amber piscou para mim e pegou no braço de que a seguiu incerta, me olhando diversas vezes enquanto caminhava para dentro do ginásio.
Amber tinha os cabelos compridos e eram em tom castanho claro, ela usava um vestido azul que deveria ter custado caro, mas apesar de ser uma das alunas mais ricas do colégio, era a mais humilde das líderes de torcida. deu tapinhas em minhas costas e sorriu, com o tempo ele parou de tentar entender minha relação com e entendeu que a amizade era mais importante do que qualquer coisa.
Os outros garotos do time se aproximaram e começamos a conversar, depois de meia hora decidi que deveria ir atrás de . Eu passava entre os alunos com certa pressa, erguendo meu pescoço para tentar encontrá-la, o desespero começava a me invadir. Eu não estava encontrando ela.
- ! – Ouvi a voz de Amber e me virei rapidamente, encontrando a mesma com o rosto vermelho e ela parecia preocupada – sumiu.
- Do que você está falando? – Perguntei com raiva, segurei em seu braço com força e ela fungou baixo.
- As meninas começaram a zombar da aparência dela e ela desapareceu. – Amber explicou com a voz chorosa e ela me encarou com sinceridade – Eu não sabia que elas a tratariam dessa maneira.
- Eu sei onde ela está. – Respondi sem vontade e olhei para Amber uma última vez – Você tem que começar a selecionar melhor suas amizades. – Avisei em tom sério e ela concordou entristecida, me afastei e empurrei a porta da saída de emergência.
Corri em direção ao pátio do colégio, que por incrível que pareça estava aberto discretamente. Observei uma figura pequena sentada debaixo da enorme árvore e suspirei aliviado, acelerei meus passos na direção de que chorava baixinho.
- Não se foge assim de um baile deixando o parceiro desesperado. – Sussurrei me sentando ao seu lado e ela fungou baixinho, limpando uma lágrima teimosa que brincou em seu rosto. abraçava os joelhos e me olhou de maneira triste, fazendo meu coração se partir em mil pedaços.
- Eu não deveria ter vindo. – respondeu no mesmo tom, seus olhos castanhos me fitavam de maneira triste e eu a encarava com seriedade – Meu pai estava certo, as pessoas iam rir de mim.
- Seu pai não está certo, . – Respondi com convicção e segurei em sua mão, fazendo um carinho com meu polegar e ela me olhou confusa – Você que esconde quem você realmente é com esse cabelo e o óculos.
- Você não entende meus motivos, . – Ela disse em tom firme, abraçando com mais força os joelhos e soltando minha mão, seu olhar se perdeu na escuridão ao nosso redor.
- Um dia eu ainda irei entender. – Sussurrei me aproximando mais dela e puxei seu óculos com delicadeza, vendo ela me encarar suspeita. Meus dedos brincaram em seus cabelos e eu soltei as fitas que prendiam sua maria Chiquinha, deixei o cabelo cair e guardei as duas fitinhas.
- ...
- Shiu. – Sussurrei e sorri, acariciando o cabelo dela com delicadeza e vendo-os cair sobre seus ombros, ondulados e perfeitos. Guardei seu óculos em meu bolso e ouvi uma música lenta começar a tocar.
- Vem. – A puxei e ela se levantou relutante, puxei seu corpo para perto do meu e comecei a dançar lentamente com ela. Encostei nossos corpos e senti sua respiração ficar ofegante, me fazendo sorrir para ela que provavelmente estava corada.
Um passo para cá e outro para lá, nossos dedos estavam entrelaçados e ela sorria de maneira tímida, me fazendo enlouquecer. Peguei sua mão e a girei lentamente, fazendo os cabelos rodarem livres e ela parou há alguns centímetros do meu rosto, levei minha mão até seu rosto e fiz um carinho em sua bochecha um pouco molhada. Meus olhos fitaram sua boca e ela parecia nervosa, mal ela sabia que eu me sentia da mesma maneira.
- Vamos. – Sussurrei contra minha vontade e entrelacei nossos dedos, ela me olhou assustada e relutante – , eu vou mostrar quem você realmente é para todos.
Guiei até o ginásio e abri a pesada porta de emergência, no momento em que entramos, o salão inteiro parou para nos olhar. Olhar , principalmente. As líderes de torcida me encararam com raiva e eu fiz questão de retribuir meu olhar para elas, eu sabia que haviam feito isso de propósito pelo fato de eu não ter chamado nenhuma delas. Do outro lado do salão, Amber e nos olhavam boquiabertos e admirados, assim como a maior parte dos alunos presentes.
- Eu odeio você. – sussurrou baixo e eu entrelacei nossas mãos, puxando-a para mais perto de mim enquanto caminhávamos até o meio da pista de dança.
- PODEM CONTINUAR, PESSOAL! – Gritei chamando a atenção dos presentes e corou violentamente ao meu lado – MAS ANTES, QUERIA DEIXAR BEM CLARO QUE NUNCA DEVEMOS DAR AS COSTAS A UMA PEDRA, ANTES DE LEMBRAR QUE O DIAMANTE É UMA PEDRA TAMBÉM. E SÃO AS PEDRAS MAIS DIFÍCIEIS DE SEREM ENCONTRADAS. Depois de meu discurso, tudo voltou ao normal. Algumas pessoas vieram falar para o quanto ela era linda e que deveria ir mais vezes daquele jeito para a escola. E tudo que ela fazia era retribuir com um sorriso triste, enquanto eu assistia a cena lembrei de suas palavras tristes “Você não entende meus motivos, ” e em seguida, me lembrei da mãe de com o rosto levemente inchado. Seus olhos castanhos fizeram com que eu voltasse a realidade, olhei para o relógio em meu pulso e suspirei ao ver que logo minha mãe estaria ali. Peguei na mão de e me despedi de alguns amigos, principalmente de e Amber que eu senti que talvez seria uma pessoa ótima para e vice-versa. Sentei na guia da calçada sentindo umas gotinhas cair sobre mim e vi fazer o mesmo ao meu lado, ela manteve um sorriso animado em seu rosto enquanto me encarava.
- Obrigada por hoje. – Ela sussurrou apoiando a cabeça em meu ombro e eu suspirei, aquela garota tinha algum poder indecifrável sobre mim – Por fazer minha noite perfeita.
- Todos devem saber o quanto você é linda. – Respondi entrelaçando nossas mãos e senti que ela sorria ainda com a cabeça apoiada em meu ombro – Tanto por dentro quanto por fora.
- Falta algo para essa noite ficar perfeita. – Suas palavras saíram com dificuldade e eu me virei para encará-la, ela sorria de maneira tímida e eu me aproximei, beijando sua testa – Quero que você seja o primeiro.
Olhei espantado para ela que riu e me deu um tapa no ombro, rindo mais alto em seguida ao ver minha expressão confusa.
- Quero que meu primeiro beijo seja com você. – Suas palavras doces me atingiram com ferocidade e eu sorri para ela, me aproximei e segurei seu rosto entre minhas mãos, distribui beijos por todo seu rosto, fazendo-a rir.
Beijei a ponta de seu nariz antes de descer para sua boca e sentir seus lábios quentes contra os meus, com delicadeza pedi passagem com a língua para continuar o beijo e eu sentia que ela tremia. Seus dedos finos se prenderam em meus cabelos e eu a puxei para mais perto quando finalmente o beijo ganhou intensidade e para uma garota que estava tendo seu primeiro beijo, ela estava se saindo bem.
- Nunca me abandona, tá? – Perguntei em tom sério e ela sorriu com as bochechas levemente coradas, apoiando a cabeça em meu peito. Minha mãe chegou em seguida e entramos no carro rapidamente, não queríamos chegar atrasados.
Enquanto estávamos a caminho de sua casa, refazia as marias chiquinhas enquanto me encarava de maneira triste, lhe devolvi seu óculos com um sorriso triste e ela mordeu o lábio insegura. Minha mãe estacionou o carro em frente à casa de e a mesma desceu do carro, abri a porta e lhe dei um abraço forte.
- Promete que o que aconteceu hoje não vai interferir na nossa amizade? – Ela perguntou de maneira triste e eu sorri lhe transmitindo confiança.
- Prometo.
se afastou e correu para sua casa, observei a silhueta assustadora de seu pai na janela e em seguida, entrou e fechou a porta atrás de si. Voltei para o carro e sorri para minha mãe que sorria apaixonada para mim.
- O pai dela me dá calafrios.
- Nem me fale. – Respondi em seguida, fazendo minha mãe rir.

Capítulo 11


Agora - dois mil e vinte

Terminei de recolher o último cookie que havia sobrado e observei que dormia tranquilamente no sofá. Um sorriso escapou de meus lábios e levei a bandeja para a cozinha, apoiei a mesma no balcão e abri a geladeira para guardar o leite que estávamos tomando junto com os cookies.
Senti que estava sendo observado e me virei, encontrando me encarando e um sorriso brincou em seus lábios. Ela se aproximou e seu rosto ficou bem próximo ao meu, eu sabia que tinha que ser forte.
- Eu sei que você quer tanto quanto eu. – Sua voz saiu falha, me deixando louco por aquela mulher em minha frente. me olhou e começou a descer o zíper do vestido que usava, fazendo com que eu engolisse em seco – Não resista.
Como se eu estivesse sob os efeitos dela, envolvi seu corpo com meus braços e a puxei para mim. Suas pernas envolveram minha cintura e eu a apoiei no balcão da cozinha, derrubando a bandeja de cookies, fazendo um barulho que provavelmente teria acordado Mary. Ignoramos esse detalhe e minha boca foi de encontro a dela, era como se eu fosse um viciado e tivesse ficado tanto tempo sem provar a droga. Eu sentia abstinência, desejo por aquela garota em minha frente.
Meus lábios desceram para o pescoço dela enquanto suas unhas arranhavam minha nuca lentamente, fazendo com que eu gemesse baixinho. Minhas mãos desciam o vestido que ela havia usado a tarde toda enquanto mordiscava minha orelha. - Vamos para o seu quarto. – Ela sussurrou baixinho, como se implorasse por aquilo. Envolvi suas pernas novamente em minha cintura e fomos subindo a escada aos tropeços, ela ria enquanto me beijava, não desgrudando nossos lábios por um segundo se quer. Abri a porta de meu quarto e a fechei com o pé, deitei em minha cama e fiquei por cima dela, beijando cada parte do seu torso despido.

O despertador gritou do meu lado, fazendo com que eu acordasse em um susto. Olhei para o lado vazio de minha cama e bufei, passando as mãos por meus cabelos e fechei meus olhos novamente. Não era a primeira vez que eu sonhava com , eu precisava de uma distração, de algo que me fizesse esquecê-la... Sabendo que isso seria impossível.
Desci as escadas da maneira que eu estava, apenas de samba canção. Minha barriga roncava enquanto eu me aproximava da cozinha, observei Mary concentrada em algo no fogão e o cheiro de café penetrou meus pulmões.
- Então hoje receberemos uma visita especial novamente? – Mary perguntou assim que eu botei meus pés na cozinha e sorri preguiçoso, minha vista ainda estava embaçada e eu estava de samba canção – Você deveria parar de gastar dinheiro com roupas, você nunca as usa.
- Muitas madames dariam tudo para estar em seu lugar e acordar com essa visão todos os dias, Mary. – Respondi cheio de mim e ela deu uma risada gostosa, me trazendo uma xícara de café puro para que eu acordasse.
- Espertinho. – Ela retrucou se sentando em minha frente enquanto se servia de uma panqueca com mel e eu pisquei para ela após tomar um gole do meu café.
- Droga, Mary. – Resmunguei, passando as mãos pelos cabelos e ela me olhou assustada, pensando que havia feito algo de errado – Ela ficou linda de noiva.
- Ela fica linda de qualquer jeito, querido. – Mary resmungou enquanto sorria cúmplice para mim – Como foi?
- Difícil. – Respondi com sinceridade e relaxei meus ombros, enquanto passava manteiga em meu pão – Eu não sei se vou sair intacto desses passeios, Mary.
- Era isso que eu temia. – Mary completou com sinceridade naquele tom materno que eu tanto amava, ela colocou uma mecha de cabelo rebelde atrás da orelha e suspirou.
- Ela merece um cara que não magoou ela. – Respondi antes de morder um pedaço do pão e ela me encarou de maneira triste – Andrew pode ser um quase bicha, mas ele a faz feliz, pelo jeito.
- Você sabe que ela só quer uma pessoa que a faça se sentir diferente, querido. – Mary explicou em tom sério enquanto saboreava a panqueca – Alguém que a faça esquecer do passado dela.
Quando Mary disse aquilo eu sabia que eu não era esse alguém, toda vez que me olhasse ela ia enxergar todos os dez anos que passamos juntos e os momentos em que ficamos afastados durante esses anos. Mary percebeu que havia falado algo que não devia e permaneceu em silêncio, desistindo de continuar o assunto que em breve estaria lá novamente com a sua lista de casamento enorme.
Meu celular tocou e eu suspirei, sai da cozinha e caminhei em passos firmes até o meu quarto. Peguei meu celular e atendi sem ver quem era, não me surpreendi ao ver que era uma das garotas com quem eu costumava sair para passar as horas.
- Achou uma garota mais interessante? – Ela perguntou em tom brincalhão, me fazendo sorrir sem vontade com o aparelho contra minha orelha enquanto eu me sentava na beirada da cama.
- Achei que tínhamos um acordo de não falarmos sobre os outros relacionamentos. – Lembrei de forma séria, ouvindo a risada gostosa de Hillary invadir meus pensamentos e fechei meus olhos, sentindo minha cabeça latejar.
- Sinto sua falta, . – Ela sussurrou do outro lado da linha e eu respirei fundo, queria poder falar que eu estava dedicado a somente uma garota agora, mas que ela não estava nem um pouco dedicada a mim.
- Quer fazer algo à noite? – Perguntei e ela demorou alguns segundos para responder, me deixando em um silêncio esquisito.
- Quero. – Hillary respondeu animadamente e eu sorri com sua animação – Às vinte horas está bom para você?
- Ótimo, eu passo ai. – Completei e desliguei, fiquei encarando a tela do celular por algum tempo até a campainha tocar e suspirei.
estava seguindo a vida dela, apesar de não ter desistido dela, eu tinha que ter um lugar para cair caso ela realmente casasse.
Assim que abri a porta, fui surpreendido por um abraço amoroso vindo de . Ela parecia mais a que eu conhecia, usava os cabelos presos em uma tiara, estava com uma calça jeans normal e uma blusa regata. Ela me olhou animadamente e tirou cinco dvd’s de dentro da bolsa que usava.
- Como nos velhos tempos. – Ela brincou e eu sorri para ela, sentindo uma pequena culpa por ter marcado algo com Hillary naquele dia, mas eu não deixaria de viver minha vida.
- Não vamos ver coisas do casamento hoje? – Perguntei surpreso e ela me encarou descontraída, negando com a cabeça e mantendo um sorriso doce em seu rosto.
- Eu quero tirar o dia para relaxar... Tudo bem? – Ela perguntou em resposta, se sentando no sofá e eu sorri para ela, me sentando ao seu lado.
- Seu pedido é uma ordem, anjo. – Respondi fazendo um carinho na bochecha dela enquanto ela me encarava com ternura, lhe dei um beijo rápido na testa.
- Eu trouxe alguns filmes de terror para dar aquela variada. – puxou assunto, parecendo quebrar o clima estranho que havia se formado entre nós – Quer começar com qual?
- Invocação do mal. – Sugeri e ela pareceu gostar da minha escolha, me entregando o dvd e eu o coloquei no aparelho, suspirei ao sentir o olhar dela sobre mim e liguei a televisão – Infelizmente não adaptei um telão.
- Está perfeito assim. – Ela respondeu com sinceridade e me olhou, ela fez um sinal para eu sentar ao seu lado e eu obedeci. colocou uma almofada em seu colo e eu deitei minha cabeça no mesmo, jogando minhas pernas para o resto do sofá.
Senti seus dedos macios brincarem com meus cabelos e suspirei, por que diabos ela estava fazendo aquilo? Era algum tipo de tortura?
Eu dormi na metade do filme com o cafuné de , eu ouvi ela conversar com Mary algum tempo, mas não tirando minha cabeça de seu colo. Assim que o filme acabou, senti ela me cutucar com cuidado, me fazendo abrir os olhos sem vontade.
- Posso escolher o próximo filme, dorminhoco? – Ela perguntou enquanto sorria com o rosto próximo do meu e eu concordei, me ajeitando em seu colo antes de me sentar enquanto ela analisava a capa dos dvd’s espalhados pela mesinha no centro da sala.
- Antes vocês dois vem almoçar. – Mary avisou encostada no batente da cozinha e eu cocei meus olhos, sentindo que eu poderia dormir o dia inteiro – .
- Estou acordando, babá. – Resmunguei levemente irritado, fazendo rir baixinho de mim e eu a encarei suspeito – Do que está rindo?
- Continua mal humorado. – Retrucou de braços cruzados, em pé na minha frente.
Levantei-me ficando um pouco maior que ela e a derrubei no sofá, começando a fazer cócegas nela que ria desesperadamente. Quase acertando minha parte íntima em meio as crises que ela tinha.
- PARA! – gritava desesperadamente e eu parei, vendo a mesma respirar de forma ofegante ainda deitada no sofá comigo sobre ela, seus olhos desceram para minha boca e ela me empurrou ficando em pé – Odeio cócegas.
- Você pediu.
Almoçamos macarronada que como sempre vindo de Mary estava delicioso, em meio a algumas lembranças e risadas, o almoço passou rapidamente. De sobremesa teríamos cookies de chocolate ao leite com direito a mais filmes de terror.
Durante o outro filme que assistimos que eu não sabia o nome, decidiu que iriamos ficar em sofás diferentes. Toda vez que eu a olhava, ela estava mandando alguma mensagem para Andrew, me fazendo sentir uma irritação desconhecida dentro do peito.
Olhei para o relógio que marcava sete horas da noite e suspirei, o filme havia acabado e continuava mandando mensagens para Andrew. Levantei-me e senti o olhar confuso dela sobre mim, deixando o celular de lado.
- Vai sair? – Perguntou levemente confusa e eu suspirei, concordando sem saber como reagir bem aquilo – Com uma garota?
- Que eu saiba deixei claro que eu não gostava da mesma fruta que Luke. – Brinquei, tentando fugir daquele clima que havia se formado, mas havia sido um pouco grosseiro da minha parte – Ela é uma garota legal.
- Fico feliz que você tenha encontrado alguém. – demorou para processar as palavras e forçou um sorriso, eu retribui e ela se levantou – Vou ver se Mary precisa de ajuda.
Subi as escadas e entrei em meu banheiro, respirei fundo antes de tomar um banho demorado. Deixei a água quente cair com ferocidade em meu corpo, fazendo com que meus ombros relaxassem. Quando vi que não queria me atrasar, desliguei o chuveiro e me sequei rapidamente.
Coloquei uma das melhores roupas que eu tinha, deixei meu cabelo bagunçado e me olhei no espelho uma última vez antes de respirar fundo e descer as escadas. Eu não sabia para onde levaria Hillary, mas talvez apenas comêssemos em um lugar e voltaríamos para casa. Por algum motivo, eu não estava com vontade de fazer algo além disso e o motivo estava na cozinha, rindo com alguma coisa que Mary havia contado.
- Uau. – Mary sussurrou ao me ver e continuou a secar o prato em suas mãos, se virou e seu sorriso sumiu ao me ver pronto para sair – Juízo, mocinho.
- É meu sobrenome, mamãe. – Brinquei me aproximando de Mary e dando um beijo rápido em sua testa, me aproximei de que estava apoiada no balcão.
- Obrigado por ter passado o dia comigo. – Sussurrei e a abracei com vontade, ela pareceu não retribuir e aquilo mexeu comigo – Mande abraço para Andrew.
Desci para a garagem do prédio e peguei o carro mais simples que eu tinha, eu sabia que poderia estar assistindo cada passo meu pela câmera de segurança. Acelerei o carro e abri o portão do prédio, saindo em seguida. Dez minutos depois, eu estava parado em frente à casa de Hillary que apareceu vestida em um vestido vermelho curto que deixava seu corpo escultural moldado no vestido.
- Onde quer ir? – Perguntei após sentir os lábios macios de Hillary contra os meus em um selinho rápido, ela colocou o cinto e me encarou de forma tentadora.
- Pensei em irmos para um pub. – Respondeu relaxada, passando as mãos pelos cabelos loiros e eu sorri para ela que retribuiu, os olhos azuis estavam marcados pelo delineador preto – Você precisa relaxar um pouco.
Sair com uma garota cinco anos mais nova que você era sinônimo de ir em pubs badalados da cidade, estar acompanhado de Hillary me fazia revigorado novamente, era como se a idade não tivesse chegado ainda junto com as responsabilidades.
Assim que chegamos ao pub, encontramos um grupo de amigos de Hillary e por incrível que pareça, em um canto mais afastado estava com alguma garota nova.
- Os hábitos não mudam. – Brinquei ao me aproximar dele que me encarou surpreso, um sorriso invadiu seu rosto e ele se levantou para me cumprimentar de forma calorosa.
- Senti tanto sua falta. – brincou já alterado pela bebida e a garota sorriu sem vontade para mim, pelo jeito eu havia atrapalhado alguma coisa – Fiquei sabendo sobre o casamento de e juro, fiquei surpreso ao ver que não era você junto com ela.
- A vida nos surpreende, né? – Retruquei sem vontade e me sentei no lugar que antes pertencia a garota que desistiu de esperar que eu fosse embora – Era alguma coisa sua?
- Estava tentando fazer com que eu pagasse uma bebida para ela e suas amigas. – respondeu dando de ombros e fazendo sinal para o garçom – Duas doses de tequila para velhos amigos.
- Acabei de deixar em casa para sair com a garota loira ali. – Soltei e me olhou surpreso, olhando de mim para Hillary.
- O que quase casada está fazendo em sua casa? – Perguntou suspeito, me fazendo rir da expressão dele.
- Decidi que a ajudaria com os detalhes do casamento. – Respondi sem vontade e quando a tequila chegou, a virei com tudo sentindo minha garganta arder.
- Já falaram que você é masoquista? – perguntou rindo baixo e eu ri junto com ele, concordando – Você sabe que a loirinha ali não tem nada a ver com você, certo?
- Senti sua falta, cara. – Brinquei pedindo um chopp para o garçom que se afastou novamente, suspirei ao ver Hillary acenar para mim animadamente e retribuiu para ela.
- Pelo menos terá minha companhia no casamento. – lembrou após tomar a tequila e eu virei meus olhos, fazendo com que ele sorrisse – Aposto que ela vai desistir dele no altar.
- Cala a boca, velho. – Resmunguei rindo em seguida – Você não muda.
- Pior são vocês dois que estão nesse vai e vem desde que me conheço por gente.
- Olá, garotos. – Hillary se aproximou e eu a abracei pela cintura, ela se sentou no meu colo e sorriu gentilmente para – Se importa se eu tirar seu amigo para dançar?
- Claro que não. – respondeu, piscando para mim enquanto Hillary me ajudava a levantar e eu ria baixinho.
- Minhas amigas estão de olho em você. – Hillary lembrou e apontou para a direção oposta do pub – Se divirta.
Deixei Hillary em casa e recusei todas as vezes que ela me pediu para dormir com ela naquela noite. Assim que estacionei o carro na garagem, senti minha cabeça rodopiar. Eu odiava dirigir bêbado, mas naquela noite eu não tive escapatória. Apertei o alarme e chamei o elevador, assim que abri a porta do apartamento, o encontrei totalmente escuro como na maioria das vezes em que eu saía.
Acendi a luz para deixar a chave do caso em cima do armário que havia na sala de estar e me surpreendi ao ver a imagem encolhida em meu sofá. Aproximei-me do sofá e encarei que dormia encolhida em posição fetal em meu sofá, agachei e sorri encarando a maneira gostosa como ela dormia e eu sabia que ela havia dormido ali, esperando que eu chegasse em casa.
Peguei no colo e ela apoiou a cabeça em meu ombro, ainda sonolenta. Subi as escadas com cuidado após apagar a luz, para que eu não a derrubasse. Abri a porta do quarto de hóspedes e a depositei com cuidado na cama macia, ajeitei sua cabeça no travesseiro e puxei a coberta. Beijei-lhe delicadamente na testa e ela suspirou, mas não fez mais nada, o sono era profundo.
- Ela não queria sair do sofá. – Mary me deu um susto no corredor e eu sorri ao ouvir à confissão dela – Fico feliz ao saber que talvez você possa ganhar esse jogo, querido.
- Eu também, Mary. – Respondi enquanto me afastava dela e ela entrava em seu quarto novamente – Eu também.

Capítulo 12


Novembro de dois mil e dez
As pessoas haviam mudado a maneira como olhavam para , as garotas passaram a conversar mais com ela que manteve a aparência de antes. Eu sentia que queria esconder algo de todos, principalmente de si mesma.
Sorri ao vê-la se aproximar com Amber enquanto eu terminava de comer meu lanche preferido de presunto feito por minha mãe. As duas se sentaram no banco onde eu estava e sorriram para mim.
- Tenho até medo de vocês. – Confessei assim que terminei meu lanche, fazendo as duas rirem baixinho e Amber se levantou em seguida.
- Eu esqueci que preciso resolver um negócio. – Amber disse rapidamente, parecendo realmente ter esquecido de algo – Nos encontramos na sala, pode ser?
- Claro. – respondeu com um sorriso no rosto, ela me olhou de soslaio para ver minha reação e relaxou os ombros depois que Amber saiu – Ela está sofrendo para se adaptar ao novo estilo de vida.
- Foi bom ela ver quem eram as amigas dela. – Retruquei sem vontade enquanto tomava um longo gole do meu suco de uva, olhei para que parecia perdida em seus pensamentos – Aconteceu alguma coisa?
- Hoje faz um mês que aconteceu. – sussurrou baixo, as bochechas coraram em seguida e eu a olhei sem entender, seus olhos mostraram uma leve irritação – O baile.
- Nosso beijo você quis dizer, né? – Perguntei com um sorriso brincalhão, deixando-a mais corada que o normal – Podemos repetir se você quiser.
- Cala a boca. – retrucou em tom de aviso, o dedo indicador apontado em minha direção me fazendo rir de forma escandalosa – Não vamos repetir aquilo, foi um erro.
- Assim você me ofende. – Respondi, mordendo o canudinho do meu suco, fazendo com que ela me encarasse, se sentindo culpada – Aliás, foi você quem pediu.
- Eu... O quê? – perguntou parecendo ofendida e eu escondi um sorriso, mostrando como eu estava sério – !
- O que foi? – Perguntei em resposta, surpreso com a reação dela e sorrindo em seguida.
- Eu vou fazer você implorar agora. – Ela resmungou com um bico maior que o de um tucano, o que me fez encará-la de forma tentadora e ela virou os olhos, cruzando os braços.
- Então, se eu implorar agora você vai atender meu pedido? – Perguntei me aproximando dela e ela se afastou em reflexo, me fazendo sorrir mais.
- Somos melhores amigos. – lembrou em tom sério, levantando novamente um dedo em minha direção e olhando ao seu redor, para ter certeza de que não estávamos chamando atenção – E melhores amigos não fazem isso.
- Onde você ouviu isso? – Perguntei ofendido e ela me olhou com seriedade – A maioria dos casamentos que deram certos foram entre melhores amigos.
- Isso não vai acontecer conosco. – interrompeu com seriedade, os olhos castanhos mostravam que ela falava sério e eu virei os olhos – E por que estamos discutindo esse assunto?
Dei de ombros e amassei a caixinha de suco, respirando fundo ao vê-la ficar em silêncio enquanto observava o movimento dos alunos voltando para a sala de aula. Ela me encarou em seguida e me deu um beijo demorado na bochecha, sorrindo daquela maneira tímida que só ela tinha.
- Talvez, eu disse talvez, podemos ser uma exceção. – Disse antes de se retirar, observei ela desaparecer no meio da multidão e suspirei, eu não queria pensar em casamento ou em um relacionamento, eu tenho apenas quinze anos.

- Peça de teatro? – Perguntei com a boca cheia de pipoca enquanto assistíamos algum filme de comédia que passava na televisão – Sério mesmo? Tipo, sério?
- Qual é o problema agora, senhor preconceito? – Perguntou com sarcasmo, os braços cruzados sobre o peito e os olhos raivosos sobre mim.
- Você acha mesmo que existe um Troy Bolton que vai sair cantando e pulando com você e vocês viverão felizes para sempre? – Perguntei em resposta novamente, terminando finalmente de mastigar minhas pipocas salgados e com excesso de manteiga.
- Você é ridículo, . – retrucou com raiva e voltou a assistir ao filme, suspirando em seguida – Você não pode simplesmente dizer ‘oh, que legal, estou torcendo por você’.
- Soaria falso demais vindo de mim. – Resmunguei pegando mais pipoca e enfiando na minha boca, olhando de soslaio para ela que bufou irritada, me fazendo sorrir – Você sabe que estarei na primeira fileira esperando o momento certo para tacar tomate em você.
- Estamos evoluindo. – suspirou com um sorriso doce no rosto, ela se aproximou e pegou o pote de pipoca em minhas mãos, se aconchegando ao meu lado enquanto eu a envolvia com meu braço.
- Sobre o que será a peça? – Perguntei em seguida, sentindo seu perfume doce invadir meus pulmões e ela demorou algum tempo para responder.
- Pocahontas. – respondeu com um sorriso tímido em seu rosto e eu a olhei surpresa.
- Você vai ficar pelada? – Gritei desesperado e ela me olhou incrédula, dando risada em seguida, me fazendo fita-la com ódio.
- , por favor. – Ela relaxou os ombros e gargalhou mais uma vez – A Pocahontas não fica pelada.
- Que tipo de índia ela é? – Perguntei curioso e ela virou lentamente os olhos, seu olhar fitou minha boca e depois subiu, fitando-me com seriedade.
- Faremos uma sessão Pocahontas na próxima semana. – avisou com o dedo indicador apontado em minha direção e eu concordei, sorrindo para ela – E se eu fosse ficar pelada, qual é o problema?
- Só eu posso te ver pelada. – Resmunguei sem vontade e ela me olhou de forma curiosa, corando violentamente em seguida e eu sorri com isso.
- Você nunca vai me ver pelada, . – Retrucou levemente irritada, as bochechas vermelhas e o rosto virado para baixo, ela não me encarava.
- Vou retirar isso de você quando estiver debaixo de um edredom.
- Eu odeio você.

Agora
Acordei com a cabeça dolorida por causa da quantidade de álcool que eu havia ingerido na noite anterior. Levantei-me em um susto ao lembrar que ela havia dormido em meu apartamento, escovei os dentes e andei rapidamente, corri na verdade, em direção ao quarto de hóspedes.
Abri a porta lentamente, tentando fazer o mínimo de barulho possível quando a porta finalmente abriu por inteira, observei a cama arrumada e vazia. Suspirei e dei um grito, socando a porta de madeira com força enquanto gritava alguns palavrões.
- ! – Mary gritou do primeiro andar e eu continuei a gritar e chutar a porta com vontade, senti seus braços fortes me segurarem e ela me olhou preocupada – Se acalme.
- Eu sou um idiota. – Foi tudo que saiu de minha boca, eu olhava com a visão turva na direção de Mary que me guiou até a cama, me ajudando a sentar na beirada da mesma.
- Vai desistir dela mais uma vez? – A voz de Mary soou fraca fazendo com que eu suspirasse enquanto seus dedos faziam um carinho em meus cabelos – Você é perfeito, ela sabe disso, só tem medo de se magoar novamente.
- Eu não deveria ter entrado na vida dela de novo, Mary. – Respondi com a voz chorosa, me sentindo um fraco por me ver naquele estado deprimente.
- Você nunca deveria ter saído da minha vida, . – A voz triste de invadiu meus pensamentos e eu levantei meu rosto, encarando-a parada na porta enquanto me fitava com atenção – E eu não quero mais que faça escolhas por nós dois.
Meu olhar se perdeu na seriedade estampada em seu rosto delicado, ela olhou para Mary e que saiu imediatamente do cômodo em seguida, nos deixando a sós. Seus olhos tristes me fitaram enquanto eu me mantive sentado na beirada da cama, ela encostou a porta e se sentou ao meu lado. Suas mãos apertavam seus joelhos com força, enquanto ela fitava o carpete claro do quarto sem saber o que falar.
- Temos caminhos diferentes agora. – disse em tom sério, ainda sem me encarar e mantinha os ombros tensos, seus olhos ainda distantes dos meus – Pessoas diferentes em nossas vidas, não há motivos para nos separarmos novamente.
- O que você sente por mim? – Perguntei de forma direta, pela primeira vez ela me encarou de maneira tensa.
- Você sabe o que eu sinto. – Retrucou com rapidez, mordendo o lábio inferior enquanto voltava a olhar para o carpete – Mas agora eu quero ter uma vida ao lado de Andrew.
- É isso o que você realmente quer? – Perguntei mais uma vez, com medo da resposta e com medo de ter perdido a noção de onde eu queria chegar.
- Estamos atrasados. – se levantou com pressa, me olhando com seriedade enquanto caminhava até a porta do quarto – Temos um encontro com o decorador da festa, não demore.

Entrei no carro e já me esperava, respirei fundo enquanto colocava o cinto e eu podia sentir o clima pesado dentro do carro. Acelerei e ignorei o fato de que não gostava quando eu corria com o carro, ou quando qualquer pessoa corria.
Ela se ajeitou no banco do passageiro e ficou encarando os borrões na janela enquanto eu fixava meu olhar no trânsito em minha frente. Eu sabia o caminho para onde seria a festa, eu havia ido até lá para pedir para que desistisse daquela merda de casamento, da merda que ela estava fazendo com os sentimentos dela e de outra pessoa. Pensar em Andrew naquela altura do campeonato me causou náuseas, quando ele voltasse tudo ficaria ainda mais restrito para nós.
Estacionei na vaga que havia em frente ao salão que parecia um enorme chalé de campo, observei o enorme lago artificial enquanto descia do carro e caminhava sem me esperar em direção ao salão. Tirei a chave do contato e suspirei pesadamente, vendo a pequena fumaça brincar em minha frente, olhei para o lado e observei enquanto conversava gentilmente com uma mulher mais velha que ela. Ela deveria ser a responsável pela decoração do lugar, de repente senti uma necessidade enorme de beber e fumar, eu não era fã de cigarro, para falar a verdade odeio o cheiro de cigarro, mas naquele momento eu somente queria acordar daquele pesadelo que eu insistia em dizer que era um sonho.
- Você deve ser o famoso . – A mulher disse com um sorriso malicioso ao me ver, me senti desconfortável pelo fato de que ela poderia ser minha mãe com algumas ou talvez, milhares de plásticas em seu rosto – É um prazer finalmente conhecê-lo.
- O prazer é todo meu. – Retribui receoso e pude receber um olhar curioso de que segurou o riso ao ver que eu não perdia a oportunidade de ser galanteador com qualquer pessoa do sexo oposto.
- A última vez que conversamos você disse que gosta de arranjos grandes e rosas vermelhas, certo? – Perguntou a mulher com um sorriso que pegava metade de seu rosto fino e repuxado.
- Sim. – respondeu enquanto caminhava ao meu lado e tinha o olhar perdido nos arranjos especialmente montados para a sua decisão final – São todos lindos.
- Todos foram especialmente feitos da maneira como você pediu. – A mulher chegou a me lembrar a Cruela de Vil de 101 dálmatas, ainda mais pelo fato de segurar um cigarro e usar casacos de pele.
- Você gosta de dálmatas? – Perguntei sem pensar duas vezes, pegando as duas desprevenidas com a minha pergunta. Percebi que um riso escapou dos lábios rosados de enquanto esperava a resposta da mulher.
- Gosto mais de cachorros de madame, . – A mulher respondeu sem processar o porquê da minha pergunta – Mas na verdade, prefiro gatos, principalmente da raça persa.
- Pare de causar. – sussurrou baixo enquanto a mulher falava do sonho de ter um gatil de persas somente dela, disse que os gatos eram confiáveis e os homens traiçoeiros.
- Ninguém mandou me forçar a ver filmes da Disney. – Retruquei ironicamente, fazendo com que ela sorrisse doce para mim – Esse arranjo é bonito.
- Devo vender meus rins e mais três órgãos para conseguir colocá-lo em meu casamento. – resmungou de maneira triste e eu suspirei, a puxei para perto e ela me encarou confusa.
- Você sabe que eu estou te ajudando nisso.
- Não quero que você pague tudo, . – Ela lembrou em tom sério, os olhos fixos em meu rosto, a mulher nos olhava com curiosidade.
- Você que está bancando o casamento dela? – A mulher perguntou com interesse e eu suspirei quando negou desesperadamente – Se um cara bancasse o meu casamento com outro cara, eu terminaria com o meu noivo.
- Quero algo mais simples. – mudou de assunto um pouco irritada – Quero algo simples, não quero um casamento digno de Hollywood.
- Está bem, querida. – A mulher disse de maneira falsa enquanto mostrava um arranjo mais simples, que não deixava de ser bonito – Temos esse.
- Esse está ótimo, quero ele em cima da mesa de entrada. Na mesa dos noivos, quero com rosas em tom rosa bem chocante. – respondeu de maneira breve, eu sabia que ela estava louca para o dar o fora dali – Obrigada pela atenção.
- Querida. – A Cruela de Vil chamou e a encarou sem vontade – Pense bem no seu futuro, está bem?
- Só quero saber quando as pessoas vão entender que da minha vida cuido eu. – bateu a porta de meu carro sem dó alguma, olhando-me culpada em seguida e eu fiz um aceno com a cabeça para mostrar que aquilo havia doido, mas ela estava perdoada.
- Podemos ir atrás de outra decoradora, conheço várias. – Respondi em tom sério enquanto dava ré e saía da vaga principal.
- Apesar de intrometida ela faz um trabalho bem feito. – confessou passando as mãos nervosamente pelos cabelos soltos e suspirou em seguida.
- Se você quiser... Paramos de ir juntos atrás dessas coisas. – Avisei em tom sério, seus olhos tristes me encararam e ela mordeu o lábio ansiosa.
- As pessoas precisam aprender que somos inseparáveis, . – respondeu no mesmo tom enquanto fazia um carinho em meu cabelo e mantinha o olhar sobre mim.
Eu não respondi, peguei sua mão que fazia carinho em mim e lhe dei um beijo demorado enquanto prestava atenção no trânsito.

Capítulo 13


Novembro de dois mil e dez
- Tem que estar tudo perfeito! – Ouvi a voz grotesca da professora de teatro e a encarei com desdém enquanto terminava de pintar sem vontade uma das árvores do cenário da peça – , não vire os olhos para mim.
- Você quis mesmo pegar uma detenção de propósito e ter que aguentar essa verruga nojenta por vontade própria? – Perguntou sem vontade na primeira fileira, os pés apoiados no palco pela décima vez, desobedecendo as ordens da professora de teatro – Você deve ter algum tipo de demência.
- Eu preciso ficar olho naquela biba saltitante que só se finge de biba para se aproveitar de garotas inocentes no teatro. – Retruquei levemente irritado enquanto passava a segunda mão de tinta marrom no caule da árvore e ele riu escandalosamente na cadeira, se contorcendo.
- Cara, você anda vendo muito filme. – concluiu ainda vermelho de ter rido loucamente sem necessidade alguma e eu sabia como pegar no ponto fraco dele.
- Eu vi ele combinando de ir na casa da Amber antes do espetáculo, realmente estou apenas exagerando. – Falei em um murmúrio e o ouvi gritar de desespero, enquanto eu sorria sem ele perceber.
- Vamos quebrar a cara dele! – gritou e ouvi os passos pesados da senhora verruga se aproximando de nós, me virei e continuei meu trabalho, enquanto ouvia que deveria me ajudar já que ele insistia em me atrapalhar – Eu te odeio.
- Ainda quer quebrar a cara dele? – Perguntei inocentemente de maneira provocativa e ele bufou ao meu lado, enquanto pegava um pincel e começava a pintar outra árvore.
- Primeiro, a sua.
- O que vocês estão fazendo aqui? – A voz de me despertou, a encarei rapidamente, encontrando o olhar surpreso da biba saltitante e de Amber que sorriu para ao vê-lo sujo de tinta.
- Detenção. – Respondi rapidamente, poupando de começar a contar a história desde o início e me olhou de maneira reprovadora. Esperou sair acompanhado de Amber e o biba saltitante ir para o lado oposto.
- Detenção é a ÚNICA maneira de você ser “bem-vindo” aqui. – cruzou os braços e ficou parada ao meu lado, ajeitando alguns galhos de papelão da árvore.
- Está supondo algo? – Perguntei ironicamente enquanto dava uma última olhada na minha obra de arte.
- Que você está aqui de propósito. – respondeu em tom autoritário, os braços cruzados sobre o peito enquanto me analisava - Somente para me espionar.
- Talvez você esteja certa, talvez não. – Completei no mesmo tom, pegando o pincel molhado de tinta marrom e passando no rosto de , deixando uma faixa transversal em seu rosto.
- ! – Gritou com raiva, enquanto tentava tirar a tinta de seu rosto e só piorava a situação – SEU IDIOTA! – Ela pegou a bandeja de tinta e virou em mim, quando eu estava desprevenido. Ela começou a gargalhar e eu a peguei pela cintura, fazendo com que escorregássemos no chão deslizante do palco, senti o baque da minha cabeça contra o chão. Fazendo me olhar preocupada com o rosto a poucos centímetros do meu.
Seu hálito quente batia em minha boca, fazendo com que qualquer coisa que passasse em minha cabeça, ficassem de lado. Coloquei minha mão em sua nuca e a puxei para mais perto de mim.
- Eu quero beijar você. – Sussurrei baixo, somente para ela escutar e eu sabia que algumas pessoas nos olhavam, pela sujeira que havíamos feito.
Sem responder qualquer coisa, se aproximou e me beijou com vontade. Seus lábios quentes e úmidos de tinta encostaram no meu, pedi permissão para dar continuidade ao beijo e ela me concedeu sem pensar duas vezes.
- O momento está maravilhoso... – Ouvi a voz da dona rabugenta estragar o momento e se levantou rapidamente, com medo de perder o papel principal – MAS VOCÊS ESTRAGARAM O MEU PALCO!
- A culpa foi inteiramente minha, senhora. – Eu disse rapidamente, me levantando do chão e puxei com cuidado para ficar de pé ao meu lado – Ela não tem nada a ver com isso.
- Ela não deveria nem estar conversando com você, . – A senhora rabugenta retrucou com raiva, olhei para ela com desdém e olhou incrédula para a mulher em minha frente.
- A senhora acha que eu não deveria conversar com el,e por que você acha isso? – Perguntou com raiva, encarando a mulher de forma incrédula em minha frente.
- Ele quer te transformar em algo que você não é, querida. – A rabugenta respondeu com raiva, me olhando de forma indignada.
- Pelo contrário, ele quer me fazer ser quem eu realmente sou. – consertou em tom sério, pegando em minha mão e colocou o colar de sua personagem na mão da professora de teatro – Escolha outra pessoa que aguente palpites vindo de você.

Agora
- Tem certeza de que quer ficar ai? – Perguntei em tom sério quando estacionei em frente ao prédio em que iria morar com Andrew, ela concordou incerta e me deu um beijo rápido na bochecha – Qualquer coisa, me liga.
- Pode deixar. – Disse apoiada na porta antes de fechá-la com cuidado, observei ela caminhar em direção a entrada do prédio e abriu o portão com uma chave. Um sorriso fraco escapou de seus lábios quando se virou para trancá-lo, esperei ela entrar para finalmente sair dali.
Bati três vezes na porta e aguardei, ouvi passos rápidos vindo em direção à porta e quando a mesma se abriu. Encontrei a minha cópia versão menina em minha frente.
- ! – Minha irmã mais nova gritou animadamente ao me ver, se jogando em meus braços e me abraçando com força – Que saudades de você.
- ? – Ouvi a voz doce de minha mãe mais no fundo, ela apareceu com um sorriso amoroso em seu rosto e esperou eu entrar para me dar um abraço apertado – Que surpresa.
Eu sabia que a surpresa era realmente muita. Depois de anos, eu finalmente havia voltado a pisar em minha antiga casa. Eu sentia falta daquele cheiro do perfume doce da minha casa, ela continuava exatamente igual.
- Chegou na hora certa, maninho. – Ashley disse animadamente, os cabelos castanhos estavam curtos e ela tinha algumas sardas espalhadas pelo rosto, tinha olhos azuis brilhantes e que deixariam qualquer cara babando nela – A mamãe fez torta.
Ela tinha dezoito anos, ano passado eu mesmo havia preparado uma super festa de comemoração para ela, com direito a DJ’s de várias partes do mundo que felizmente, eram amigos meus. Eu sabia que não era fácil para ela ser irmã de dois caras mais velhos, realmente éramos bem ciumentos.
- O que faz o meu garotão voltar para casa? – Minha mãe perguntou enquanto eu entrava na cozinha e me sentava na simples mesa de madeira rústica que ela insistia em manter na cozinha.
- Uma maneira de voltar no tempo. – Respondi incerto e pude sentir o olhar sério de Ashley sobre mim enquanto se sentava ao meu lado e sorria fraco.
- É a , não é? – Ashley perguntou incerta e recebeu um olhar reprovador de minha mãe, sorri, mostrando que tudo bem tocar naquele assunto – Sempre gostei dela, mas ela está fazendo a maior cagada da vida dela.
- Ashley. – Minha mãe chamou sua atenção e a mesma deu de ombros, olhando para mim enquanto esperava uma resposta minha – As pessoas têm que seguir os caminhos delas.
- Só não quero vê-lo triste. – Ashley resmungou enquanto separava um pedaço de torta de amora para ela e depois para mim.
- Tenho certeza de que ele não veio para falar disso conosco. – Minha mãe retrucou, como se eu não estivesse entre elas naquele momento, me deixando levemente confortável ao sentir que estava em casa novamente.
- Estou aqui. – Lembrei, erguendo meu braço e fazendo elas pararem de falar – Como está o Chris? – Perguntei ao me lembrar de meu irmão mais velho, ele era apenas dois anos mais velho que eu e sempre o considerei o vovô da casa. Éramos e ainda somos, totalmente diferentes um do outro, ele foi o único que havia superado o fato de meu pai ser um covarde e estar seguindo os passos dele naquela maldita empresa.
- A esposa dele está esperando gêmeos. – Ashley contou sem vontade, com a boca cheia de torta enquanto recebia outro olhar desaprovador, me fazendo rir.
- Louise. – Minha mãe arrumou ao ver que Ashley havia esquecido novamente o nome da esposa de Chris, me fazendo rir enquanto terminava de engolir um pedaço da torta.
- Seremos titios. – Ashley resumiu enquanto sorria cúmplice para mim e minha mãe sorriu ao ver que nada havia mudado entre os irmãos mais novos – Espero que eles tenham uma infância legal, porque ser filho daqueles dois não deve ser nada fácil.
- A língua só cresceu com a idade. – Minha mãe avisou em tom brincalhão, recebendo um olhar feio de Ashley – Vai dormir aqui hoje?
- Acho que vou aceitar sua ideia. – Respondi com um meio sorriso, fazendo Ashley dar um gritinho animado e me abraçar com força, fazendo minha mãe rir.
Subi as escadas, preparado para relembrar tudo que havia acontecido naquela casa. A cada degrau que eu subia, uma sensação e uma lembrança me invadiam. As fotografias ainda penduradas ao longo da parede da escada, fotos minhas com meus dois irmãos e infelizmente, uma foto da família inteira junta. Eu sabia que minha mãe nunca superaria a dor do que aquele homem a havia feito passar.
Entrei em meu quarto e o encontrei da maneira como eu o havia deixado, apenas com as coisas que eu jurei que deixaria para trás. Troféus de campeonatos de futebol do time da escola, algumas medalhas penduradas, algumas fotos e um computador antigo. Minha cama de solteiro estava com um edredom azul claro e o travesseiro era novo, eu havia levado o meu para o meu apartamento. Aquele lugar nunca me pareceu tão cômodo, eu sabia que em qualquer lugar que eu andasse ali, ela viria em minha cabeça. Ali, eu poderia pensar nela como éramos antes, antes de nos tornarmos adultos e seguir nossos caminhos.
- Oi. – Ouvi a voz de Ashley invadir meus pensamentos – Eu bati na porta, mas não obtive resposta. – Eu sabia que ela havia batido, mas meus pensamentos me impediram de ouvir qualquer coisa.
Bati algumas vezes na cama, indicando para ela se sentar ali comigo e ela obedeceu. Um sorriso triste brincava em seu rosto sonolento, ela se sentou na beirada da cama e me olhou de maneira carinhosa.
- Você faz falta. – Ashley confessou com um beicinho tentador, ela havia herdado muitas características e manias minhas – Mas garanto que eu estou sendo uma ótima companhia para nossa mãe.
- Eu estou vendo. – Brinquei, fazendo-a rir com vontade, concordando – Essa casa será grande demais para ela quando você seguir seu caminho.
- Evitamos esse assunto aqui em casa. – Ashley avisou em tom sério, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha enquanto apoiava as costas na parede azul clara de meu quarto – Chris decidiu que agora que tem a própria família não precisa se dedicar totalmente a essa.
- Ele sempre foi assim. – Lembrei sem vontade, apoiando minhas costas na cabeceira e ela suspirou – Nunca se importou com algo que não fosse ele.
- Por isso você é meu preferido. – Ashley completou com um sorriso brincalhão, ela relaxou os ombros e fechou os olhos – Posso dormir com você?
- Você pode dormir em casa quando quiser, não sabia que me amava tanto assim. – Respondi com um sorriso sincero e ela me fuzilou com os olhos azuis, me fazendo puxá-la para um cafuné – Vou lá buscar seu colchão, pequena.
Levantei-me e caminhei em direção à porta, até o momento em que ela me chamou baixinho e eu me virei para encará-la.
- Vai dar tudo certo, vocês dois... Vão ficar juntos.

Capítulo 14


Fevereiro de 2011
16 anos


- Você não tem o direito de se intrometer na minha vida amorosa, ! – manteve o tom de voz firme enquanto eu a mantinha trancada dentro da salinha de limpeza do colégio e ela batia com força na porta, fazendo um eco alto – ME SOLTA!
- Você está sendo uma menina muito mal educada. – Respondi com as costas contra a porta pesada, ouvindo ela grunhir algum palavrão do outro lado da porta, me fazendo sorrir. Eu ficava aliviado em saber que ela havia mudado um pouco sua aparência esquisita do começo, mas manteve os óculos e as roupas estranhas. Eu não aceitava o fato de urubus voando em cima dela esperando uma brecha.
- Se você não me soltar, ficarei anos sem falar com você! – gritou novamente quando eu achei que ela havia desistido de todo o barulho – Por favor, .
- Você sabe que ele é um idiota. – Completei de forma séria contra a porta e ouvi ela suspirar pesadamente do outro lado – Não quero que nenhum idiota te machuque.
- Eu sei bem cuidar de mim mesma. – Lembrou ela e eu virei os olhos, abrindo a porta e ela me olhou com raiva, porém não tentou me matar quando me viu – Fizemos um juramento e você não está cumprindo.
- “Não devemos sentir ciúmes um do outro”. – Imitei a voz fina dela enquanto me lembrava de tal juramento, mas eu não havia concordado com a lista de regras que ela havia feito sobre uma amizade colorida – Posso sair com qualquer garota que você não vai se importar?
- Não, ué. – respondeu, dando de ombros enquanto andava até seu armário para pegar um caderno – Você tem esse direito...
Esperei a garota, que mais odiava do grupo de líder de torcida da sala, se aproximar e segurei em seu braço, fazendo com que a loira me olhasse de maneira surpresa. Assim como olhava para a cena.
- Aceita ir comigo ver o filme de terror que lançou ontem? – Perguntei com um sorriso galanteador e a menina me olhou surpresa, mostrando-se encantada com a maneira que eu a abordei.
- Claro. – Ela respondeu com um sorriso doce e eu retribui – Amanhã está bom para você?
- Te encontro às dezenove horas na frente do cinema, ok? – Perguntei e ela concordou sorrindo, me aproximei e dei um beijo na bochecha dela que saiu corada de perto de nós.
- IDIOTA. – disse com raiva, fechando a porta do armário com tudo e saindo disparada na minha frente.
- Achei que tínhamos um juramento. – Retruquei me fazendo de desentendido e ela suspirou irritada, parando apenas para me encarar.
– Tínhamos, mas você CAGOU com ele. – respondeu com raiva, eu a segurei e a puxei para perto de mim, fazendo nossos corpos se chocarem – Me solta.
- Por que não admite para si mesma que gosta de mim? – Perguntei com seriedade e a mesma respirou fundo, no momento em que soltei seu braço, observei um hematoma roxo e eu sabia que eu não era o responsável por aquilo – O que...
- Não te interessa. – respondeu rapidamente, tentando cobrir o hematoma com a blusa de manga comprida que ela usava por cima da regata – E faça bom proveito do seu encontro.
saiu com pressa, me deixando parado no corredor que aos poucos enchia de alunos desesperados pelo intervalo. Suspirei ao vê-la se perder entre a multidão, passei as mãos em meus cabelos e decidi que iria atrás da garota para cancelar o encontro mais tarde. O hematoma roxo azulado de me veio à cabeça, era semelhante ao roxo que sua mão tinha uma vez em seu rosto.
No dia seguinte, senti que algo estava errado, ela havia voltado a se vestir como antes e se sentou longe de mim, sem nem ao menos conversar comigo. Seus olhos pareciam distantes, ela evitava olhar para onde eu estava e eu suspirei, aquela garota me deixava louco.
- ! – Chamei quando a aula finalmente terminou, algumas pessoas de nossa sala me olharam e cochicharam o fato de ela nem ao menos se virar para falar comigo – !
Ela andou mais rápido e a observei atravessar o pátio. Segui seus passos com pressa e parei no portão do colégio, encontrei o carro de seu pai estacionado do outro lado da rua. Ele fumava um cigarro e continuava com aquela cara de poucos amigos, a barba grisalha estava mal feita e ela entrou no carro sem dizer nada. Nem ao menos se cumprimentaram, ele cantou pneus e deixou o cheiro sufocante de borracha queimada.
Joguei a mochila no sofá de casa e respirei fundo, ouvi os gritos de Ashley no andar de cima, provavelmente brincando com suas bonecas após um dia cansativo na escola. Ouvi os passos rápidos de minha mãe descendo a escada e a mesma se surpreendeu ao me ver ali, parado feito estátua no meio da sala.
- O que a fez dessa vez? – Ela perguntou em tom brincalhão enquanto se aproximava de mim e me dava um beijo demorado na bochecha, eu odiava quando ela me tratava como um neném, mas hoje eu estava disposto a deixar.
- O que você sabe sobre a família dela? – Perguntei rispidamente em resposta, deixando minha mãe surpresa com meu tom de voz e ela se sentou no sofá, me puxando para sentar ao seu lado.
- Já avisei para você não se meter em problemas familiares, . – Minha mãe repreendeu em tom sério e eu virei os olhos, fazendo ela me olhar de maneira reprovadora – Eles são reservados e têm seus próprios costumes, apenas isso.
- O pai de , quero detalhes dele. – Aprofundei e ela me olhou cansada, acariciando meu rosto em resposta da minha teimosia.
- É um homem difícil. – Foi tudo que ela disse antes de se levantar e ir até a cozinha, mordi meus lábios e apoiei minha cabeça no sofá.
Eu sabia que havia algo errado, eu odiava ver que ela havia entrado novamente naquele mundo em que ela havia criado. O mundo em que ninguém fazia parte, ninguém era bem-vindo... O mundo em que eu não era bem-vindo.
- Ela estava com um roxo no braço, mãe. – Continuei insistindo, encontrando ela arrumando a mesa com certa pressa.
- Ela pode ter batido em algum lugar, . – Minha mãe respondeu com certa irritação, enquanto evitava me olhar e pegava alguns copos.
- A mãe dela estava com o mesmo roxo no dia do baile. – Continuei falando e percebi que minha mãe tinha o poder de me ignorar quando queria – No olho.
- Isso foi há um ano atrás. – Minha mãe lembrou com tom de voz autoritário.
- Foi há um ano porque só vimos isso há um ano. – Retruquei irritado.
Ela depositou o ultimo copo na mesa e me olhou, daquela maneira séria e desconfiada. Seu rosto começava a ficar pálido enquanto puxava uma cadeira para se sentar.
- Não podemos acusar sem provas. – Foi tudo que ela conseguiu falar, os olhos azuis me encaravam confusos – É uma acusação grave.
- Algo está errado, mãe. – Completei em tom sério enquanto me sentava em sua frente, ela passou as mãos pelos cabelos – E eu não vou deixar nada de ruim acontecer com .

Agora
Acordei preguiçosamente aquela manhã, no colchão debaixo, Ashley ainda dormia como um anjo. Uma faixa fina de claridade invadia o quarto, mostrando que havia uma pequena fresta por causa da porta entreaberta.
Levantei-me com cuidado para não pisar e nem acordar minha irmã caçula, sorri ao vê-la tão inocente sendo que já agia como uma adulta ao saber suas responsabilidades em relação ao futuro e à nossa mãe.
Caminhei lentamente pelo corredor carregado de porta retratos, em passos calmos, meus pés afundavam no carpete macio do chão. Minha mão tocou a maçaneta fria e antes que eu pudesse abrir o banheiro, uma voz me trouxe de volta à realidade.
- Não precisa acordá-lo. – disse de maneira séria, imaginei que sua expressão também estava séria – Eu só fiquei preocupada quando Mary disse que ele não havia ido passar a noite em casa...
Imaginei que ele pudesse estar com a garota daquela noite em que eu o esperei chegar.
Balancei minha cabeça, tirando essa frase que imaginei que poderia deixar escapar. Entrei no banheiro e apoiei minhas mãos na pia, abri a torneira com detalhes em dourado e juntei minhas mãos. Joguei a água fria contra meu rosto e me olhei no espelho que havia ali. Eu apenas queria ver o reflexo daquele menino de dezesseis anos que não temia nada que a única preocupação que tinha, era qual seria o próximo campeonato... Mas eu nunca fui assim, não com em minha vida...
Minhas preocupações se baseavam nela, seja em seu bem estar ou em nossa amizade. Eu a queria, mas deixei que as palavras dela me impedissem de ir além... E eu nunca deveria tê-las ouvido.
- Bom dia, querido. – Emma sorriu gentilmente para mim quando apareci na cozinha, sorrindo desajeitado para minha mãe e para .
- Bom dia, minhas meninas. – Respondi enquanto caminhei na direção das duas, abracei minha mãe e depois, dei um beijo na testa de que sorriu desajeitada.
- Hoje nossa programação vai ser diferenciada. – disse em tom animado, ela mexeu nos cabelos que estavam presos em um rabo de cavalo e me olhou com um sorriso doce – Vamos visitar o aquário onde eu trabalho.
Eu sorri, realmente sorri. Eu estava cansado de ir atrás de detalhes de casamento, ainda mais da garota que eu amava.
Despedi rapidamente de minha mãe e pedi que mandasse um beijo para Ashley, lembrando que ela era bem-vinda em minha casa sempre que quisesse ir para lá, as portas estariam abertas. Caminhei ao lado de até o seu cinquecento branco e soltei um riso baixo ao ver seu carro, fazendo com que ela me olhasse feio.
- Eu não disse nada. – Falei ofendido ao ver a careta que ela fez, me fazendo rir em seguida.
- Mas pensou. – retrucou em tom sério e depois sorriu, abrindo a porta do motorista e eu entrei no passageiro – Prefiro um carro que seja fácil de estacionar do que aquele trambolho que você tem na garagem.
- Prefiro um carro que estaciona sozinho do que um que eu tenha que estacionar. – Retruquei em tom brincalhão enquanto colocava o cinto, vendo ela me olhar de forma indignada – Desculpa, eu ganhei.
- Isso é golpe baixo. – disse com a voz chorosa, ligando o carro e em seguida, acelerando com vontade – Deveria ter escolhido uma profissão que realmente desse dinheiro.
- Você faz o que gosta, isso é o mais importante. – Respondi abrindo o vidro e sentindo o vento bater com força em meu rosto.
- Aposto que sua mãe e Ash ficaram feliz com sua visita. – disse, mudando de assunto, e me olhando rapidamente enquanto esperava o semáforo abrir.
- Algum homem tem que estar presente naquela casa. – Retruquei sem vontade, apoiando minha cabeça no encosto e suspirei – Christopher vai ser pai de gêmeos.
- Ele vai surtar. – soltou em seguida, rindo de forma gostosa em seguida – Ele deve ter nojo de limpar a própria bunda imagina a de outras duas pessoas.
- Com certeza, os gêmeos serão criados por ótimas babás. – Lembrei enquanto a via sorrir e concordar, prestando atenção no trânsito.
- Ainda bem que você é totalmente o contrário dele e de seu pai. – disse quando estacionou o carro e só então, percebi que já estávamos no estacionamento dos funcionários no aquário em que ela trabalhava.
- Foi rápido. – Comentei surpreso enquanto descia do carro e a vi fazer o mesmo, sorrir brincalhona enquanto apertava o alarme do carro.
- Não duvide da potência do meu carro. – Retrucou em tom brincalhão enquanto caminhava ao meu lado e cumprimentava alguns funcionários que cruzavam nosso caminho – Quarta-feira, normalmente, é o dia em que o aquário fecha para algumas reparações e para a alimentação reforçada dos animais.
- E o que isso quer dizer? – Perguntei curioso enquanto a seguia em direção a uma entrada restrita e ela prendia o cabelo em um rabo de cavalo firme, deixando sua nuca tentadora à mostra.
- Que você irá alimentá-los comigo. – Respondeu , me olhando como se aquilo fosse óbvio, me fazendo sorrir com vontade para ela – Se não se comportar, te jogarei no tanque dos tubarões.
- Tentador. – Retruquei, mordendo meu lábio sem ela perceber e suspirei ao vê-la parar em frente a uma porta exclusiva dos funcionários.
- Primeiro, vamos fazer um tour rápido pelo aquário e depois, iremos alimentá-los ok?
- Certo. – Respondi, batendo em continência, fazendo a mesma virar os olhos – Estou me sentindo naquelas visitas do primário.
- Cala a boca, . – Falou com seriedade enquanto me entregava um folheto com o mapa do aquário – Não estraga o momento, como sempre.
era linda séria, ela é linda de qualquer maneira e eu pareço um velho babão, talvez eu realmente esteja babão, mas não velho. Caminhamos pela entrada do aquário que dava acesso ao lugar onde os visitantes podiam tirar foto com algumas réplicas de animais marinhos que têm no aquário. Uma delas, era de um tubarão que foi apelidado de Rex e era uma das mascotes mais antigos do aquário, a outra era Maya, uma tartaruga marinha que havia sido resgatada e reabilitada por , mas que infelizmente não tinha condições de voltar ao mar, ficando ali no aquário.
- Nosso primeiro tanque tem alguma diversidade de peixes do continente americano. As pessoas normalmente procuram os mais coloridos ou que se destacam pela sua “feiura”. – explicou de maneira delicada, apontando para um peixe realmente esquisito no fundo do tanque – Eu não sou a responsável por essa parte, os biólogos normalmente fazem esse trabalho.
Caminhamos mais alguns passos e paramos em um tanque onde haviam algumas arraias e outros peixes maiores, fiquei fascinado por uma raia com algumas bolinhas brancas com a predominância da cor preta. Ela nadava de maneira tranquila e lenta pelo aquário, parecia que estava voando.
- Sheik é uma raia de água doce. – disse quando percebeu que eu havia me apaixonado pela arraia, fazendo-a sorrir com vontade – É temperamental, nasceu aqui.
- É realmente linda. – Confessei encantado por aquele ser vivo, toquei o vidro e observei os outros seres que nadavam ali, alguns tipos de arraias menores e até mesmo enguias.
- No próximo tanque, temos algumas tartarugas marinhas e iremos alimentá-las depois. – disse animadamente, um sorriso infantil brincava em seu rosto – Temos tartarugas jovens e mais velhas, algumas resgatadas que estão em processo de reabilitação e outras que já vivem aqui há um bom tempo.
- Deve ser uma tarefa difícil treiná-las para a vida lá fora de novo, né? – perguntei um pouco decepcionado e seus olhos castanhos me fitaram com ternura.
- Às vezes sim, as vezes não. – respondeu com sinceridade e me olhou mais uma vez enquanto caminhávamos mais adiante – Bom, esse é o famoso Rex, um tubarão Mangona.
- Realmente assustador. – Confessei encarando o animal que nadava lentamente pelo aquário, pensei em como seria minha reação ao encontrar um desse um dia na praia.
- Melhor que muitos humanos. – retrucou na defensiva como sempre, pelo jeito, todos os animais ali eram seus filhos de criação, me fazendo sorrir – No tanque do lado temos alguns tubarões-lixa.
- Será que podemos ir mais adiante? – Perguntei levemente incomodado, fazendo-a rir concordando com um sorriso em seu rosto – Obrigado.
- Aqui temos alguns Jacaré do Pantanal, no tanque ao lado alguns peixes e uma moreia verde. – explicou rapidamente, me tirando da sessão dos maldosos do aquário.
Paramos em frente a um tanque com dois peixes boi, me fazendo sorrir ao encará-los. Eram animais dóceis que faziam acrobacias enquanto nos encaravam, provavelmente associavam com comida, ou algo do tipo. deu mais alguns passos e parou em frente ao tanque onde as lontras ficavam, eu sempre admirei aqueles animais elétricos e espertos, elas mergulhavam e nadavam com facilidade, era realmente espetacular.
- Aqui temos algumas espécies de pinguins, a maioria deles vieram para reabilitação e acabaram se adaptando a vida aqui, por causa de algumas sequelas que se mantiveram. – explicou com um sorriso triste e os pinguins nadavam perto do vidro, provavelmente a reconhecendo pelo mesmo motivo dos peixes boi.
- Ali temos alguns golfinhos e botos, eles realmente são animais amáveis e carinhosos. O aquário tem algumas visitas em que o visitante pode alimentar e acariciar o animal, para você a surpresa será maior. – avisou com um sorriso de quem estava planejando algo e poderia ser bom ou ruim – O aquário é contra pegar orcas ou qualquer mamífero que não se adapte ao nosso aquário. Principalmente, animais que estão sendo prejudicados pelo homem e seu impacto na natureza.
- Você fala isso para todos os visitantes? – Perguntei com os braços cruzados, fazendo ela sorrir carinhosamente para mim enquanto voltávamos para a ala dos funcionários.
- Não sou eu quem cuido da monitoria, somente quando são estudantes de veterinária que vem para o aquário. – respondeu, empurrando a porta pesada com dificuldade e cumprimentando um garoto que deveria ser novo, já que ele parecia mais perdido do que eu.
- Toma. – disse me entregando uma roupa de mergulho preta com detalhes em azul marinho – Não faça essa cara, .
- Você jura que eu vou ter que usar essa roupa colada? – Perguntei levemente ofendido e ela me olhou com certa irritação, fazendo um movimento com o braço para me indicar novamente a roupa de mergulho – Ok.
- O vestiário é ali. – Ela mostrou uma porta azul claro que havia uma placa de masculino para funcionários.
- Obrigado. – Respondi e pisquei para ela, vendo-a entrar no banheiro ao lado. Sorri para ela antes de entrar no meu banheiro.
- E então? – Perguntei assim que a encontrei me esperando do lado de fora da porta do meu vestiário e ela deu um sorriso que eu poderia agarrá-la ali mesmo.
- Caiu perfeitamente em você. – Ela respondeu sorrindo e eu a encarei com a mesma roupa, aquela roupa colada em seu corpo, me causava um certo desespero – Vamos.
Ela caminhou um pouco até chegar a uma porta de vidro, ela a abriu e eu pude encarar uma enorme piscina artificial que imitava o mar. Lá, uma jovem garota de cabelos castanhos e um sorriso amigável nos esperava com um balde cheio de sardinha, já que o cheiro estava realmente ruim, mas suportável.
- Obrigada, Mad. – agradeceu enquanto pegava o balde pesado pela força que ela havia feito e rapidamente, o tomei de sua mão – Obrigada.
- Bom divertimento. – A garota respondeu sem muito ânimo e caminhou em direção a saída que havia ali, olhei confuso para que deu de ombros enquanto caminhava pelo tanque. Aos poucos, pude ver as barbatanas dorsais levantando pela água turva. Droga.
- ...
- Não são tubarões, . – respondeu antes que eu pudesse questioná-la e pude ver ela depositar as pernas na água e logo, sendo obrigada a fazer um carinho rápido naquela pele molhada e acinzentada – São golfinhos.
Olhei para aquelas cinco criaturas que se aproximavam de com uma confiança extraordinária, o sorriso em seu rosto era o sorriso que eu queria poder ver todos os dias quando eu acordasse. Ela me olhou com intensidade antes de me entregar um colete salva-vidas, após colocar em si mesma, entrou no tanque. Respirei fundo antes de colocar o colete em mim e fazer o mesmo que ela, senti a água morna em meu corpo e pensei o quanto aquela água deveria ter urina e fezes de golfinho, mas somente de vê-la feliz ali com eles, esse pensamento sumiu.
Abafei um grito de surpresa ao sentir sobre minhas mãos, uma pele que parecia borracha. E em seguida, um deles estava em minha frente com a barriga exposta para eu fazer um carinho, obedeci seu pedido e fui recebido por um esguicho de água.
- Ok, vamos nos apresentar pessoal. – disse em tom alto, me olhando com delicadeza enquanto eu sorria para ela, ela pegou o apito e apitou uma vez – Esse é o Jack. – Ela apontou para o golfinho mais afastado que levantou a cabeça para nos encarar – Venha dar oi, Jack.
Ele nadou rapidamente até nós, fazendo o mesmo movimento em círculos enquanto esbarrava em mim e em que sorria apaixonadamente, assim como eu. Era incrível a energia que eles passavam para nós.
Ela apitou duas vezes, Jack havia desaparecido depois de receber uma recompensa e dado lugar a um golfinho mais claro com uma mancha rosa em seu rosto.
- Essa é a Shiva. – disse acariciando o dorso do animal em sua frente, lhe entregando uma sardinha assim como havia feito com Jack – Ela é a mais velha do aquário.
Ela ficou erguida em minha frente e fez um som irreconhecível, parecia que estava me recebendo de maneira amorosa. fez um sinal para que eu a abraçasse e eu a obedeci. Pela primeira vez, eu estava sendo abraçado por um golfinho.
Um assobio diferente atraiu um terceiro golfinho, a cor acinzentada mais escura e algumas feridas que eu já sabia que haviam sido causadas por pescadores malditos.
- Esse é o Lim. – disse enquanto oferecia sardinha ao mesmo rapidamente, ele apenas passou por mim e depois se afastou – Ele está sendo reabilitado por mim e pela minha equipe. Foi encontrado à beira da morte em uma praia próxima.
Outro assovio diferente e então, me dei conta que usava uns três tipos de apitos presos em um cordão em seu pescoço. O quarto golfinho deveria ser o mais novo deles, era brincalhão e elétrico. Veio até nós dando piruetas, espirrando água para todos os lados imagináveis.
- Chico é o mais novo de todos, é o filho de Shiva e já está bem acostumado com humanos. Alguns dizem que é errado esse lado de apego, mas eu discordo quando se trata de um animal que está com pessoas que realmente querem o bem dele, como aqui. – dizia enquanto acariciava o golfinho, atrevido e brincalhão, ele bateu a cabeça em mim e ela riu – Ele faz isso quando quer dar carona para alguém.
- Carona? – Perguntei meio perplexo e ela concordou – Eu não sei se...
- E por último, essa é a Lucy. – disse acariciando a fêmea que ficou ao meu lado esperando uma recompensa – E você vai dar a ela o que ela quer.
me entregou com cuidado uma sardinha que estava dentro do balde do lado de fora do tanque. Eu a entreguei com cuidado e ela pegou rapidamente, esguichando água em mim em seguida, como forma de agradecimento.
- Ótimo. – disse esfregando as mãos animadamente, eu odiava quando ela fazia isso – Vamos pegar a carona que Chico quer tanto nos dar. Você vai segurar com as duas mãos na nadadeira dorsal dele, assim... – segurou na nadadeira dorsal de Shiva com um sorriso – Cuidado apenas com a cauda, talvez doa um pouco se acertar você. Por isso, deixe as pernas abertas quando “montar” nele.
Chico se aproximou de mim e eu fiz exatamente o que havia dito, eu estava receoso de montar em Chico, mas era bem melhor que Lim. Chico emitiu algum som gritante e fino, fazendo meus tímpanos doerem e quando dei por mim, era eu quem estava dando um grito fino e desesperado. Ele havia disparado sem qualquer permissão, ou havia tido permissão de , porque ela ria como nunca.
- Você me paga. – Retruquei quando voltei com Chico e por mais que eu estivesse falando em tom sério, eu havia amado pegar carona com Chico – Obrigado.
- Andrew não gosta de vir até aqui. – disse enquanto tirava uma foto minha e do Chico com Lucy – Ele diz que o cheiro é horrível.
- Eu e o Chico achamos que você deveria desistir dele. – Eu respondi em tom sério com o golfinho em meu lado, emitindo um som como se concordando com o que eu havia dito – E ele acabou de dizer que prefere eu no altar. – Brinquei.
- Já disse que não íamos falar sobre isso. – retrucou em tom sério e eu virei lentamente os olhos, eu deveria lembrar quem havia iniciado o assunto? – Vamos tirar uma foto debaixo da água com eles.
- Vai sair tenebroso. – Conclui e ela virou os olhos.
- Eu sou profissional.

Estávamos sentados com as pernas dentro do tanque dos leões marinhos enquanto dávamos o restante da sardinha para eles. Eu já não ligava mais para o cheiro de peixe em minhas mãos, aquilo tudo era incrível, a maneira como os animais confiavam em mim e em , principalmente em e a maneira como alguns deles logo estariam livres novamente na natureza.
- Há quem diga que cativeiro é ruim para eles. – disse enquanto acariciava a cabeça de um dos maiores leões marinhos do tanque, alguns deles tinham marcas de resgate e maus tratos – Ruim é lá fora, onde a qualquer momento um monstro pode tirar a vida deles por um simples prazer. Quando os reabilitamos, tentamos não deixar que eles gostem disso... Lá fora, não é fácil conseguir alimento.

Capítulo 15


Março de 2011
Dezesseis anos


Os hematomas de haviam sumido desde a última vez que eu havia visto, ela se fechou no mundo dela impedindo que qualquer pessoa, inclusive eu, entrasse nele. Vê-la do outro lado da sala, nem olhando na minha direção como se eu fosse um estranho, era extremamente ruim.
Diversas vezes, a professora de geografia chamava minha atenção vendo que meu foco estava perdido nela, ela fingia que nada estava acontecendo e eu via que Amber tentava se aproximar, mas cada aproximação era em vão. Respirei fundo quando olhei mais uma vez para ela e dessa vez, ela estava me olhando e havia muita coisa em seu olhar, o deixando pesado, mas de uma maneira que eu conseguia ler perfeitamente o que se refletia neles... “Sinto sua falta”.
Esperei o sinal tocar, mostrando que a aula havia finalmente acabado e esperei cada aluno sair. Ela conscientemente fez o mesmo, fingindo ainda estar anotando alguma coisa em seu caderno de desenhos da Disney, típico dela. Assim que havíamos somente eu e ela na sala, me aproximei um pouco apreensivo e ela me olhou de maneira triste.
- Oi. – Dissemos juntos, parecíamos dois estranhos e isso não fazia parte da nossa amizade ou do que tínhamos juntos.
- Você poderia ser mais discreto quando olha para mim. – sussurrou como se houvesse mais alguém ali que soubesse o que somente eu e ela sabíamos, me fazendo rir sem graça – Eu sou esquisita, tem garotas mais bonitas para você olhar daquele jeito.
- Você é assim porque você quer ser assim. – Disse em um tom firme, fazendo-a suspirar confusa em minha direção e eu ameacei tocar em seu rosto, mas abaixei minha mão, não poderia ultrapassar nossos limites.
- Eu já disse que tenho motivos, . – Respondeu ela em tom choroso, os olhos castanhos me fitavam com uma intensidade desconhecida e eu suspirei, enquanto me sentava ao seu lado e fitava sua expressão sombria – E eu faço isso para o meu bem e o de quem está perto de mim.
- Eu sou seu melhor amigo. – Lembrei no mesmo tom sério da outra vez, meu olhar firme no dela e a mesma suspirou – Você sabe que pode confiar em mim para qualquer coisa, .
- Não quero ver você machucado. – respondeu com a voz chorosa e eu tentei me aproximar, mas ela se levantou rapidamente com a mochila apoiada em seu ombro direito – Vai doer o dobro em mim se algo acontecer com você.
Dito isso, ela saiu correndo. Como se estivesse fugindo de um monstro ou de um fantasma, eu não fui atrás e esperei que meus pensamentos atordoados voltassem ao normal antes de pegar minha mochila e ir para casa. “Não quero ver você machucado...”
- ? – Ouvi a voz da professora que havia me dado aula e parei no meio do corredor, me virando para encarar sua expressão séria – Podemos conversar?
- Claro. – Respondi sem vontade, indo em sua direção enquanto ela me guiava em direção a sala dos professores e eu pude encontrar a sala vazia, somente para a nossa conversa – É algo importante? Se for sobre a sua aula...
- É sobre . – Ela disse rapidamente em tom fraco, como se alguém pudesse escutar nossa conversa e ela se sentou em uma cadeira. Eu me sentei na cadeira ao lado.
- Desculpa, não posso...
- Eu vi o hematoma no braço dela e durante o campeonato de futebol que você esteve fora... Ela não é realmente boa em se maquiar. – Meu corpo paralisou e eu encarei a mulher em minha frente como se ela fosse uma assombração – Ela estava com um olho roxo.
Meu estado de choque era visível. Era como se havia algo preso em minha garganta que impedisse que minha voz saísse e a professora suspirou ao ver o que havia causado, mas isso não a impediu de continuar.
- Sei que não é o tipo de garota que se mete em brigas e a única pessoa que ela realmente confia é em você. Posso ser nova, mas não nasci ontem para perceber que alguma coisa estava errada entre vocês. – A professora disse em tom sério, os dedos entrelaçados sobre a mesa de madeira da sala de professores – Você acha que algo está acontecendo, ?
Me mantive em silêncio. Eu não sabia se era certo contar para ela o que eu pensava, minha mãe ficaria furiosa comigo se soubesse que eu havia tido aquela conversa com minha professora sobre a vida pessoal da família de . E eu sabia que nunca mais falaria comigo se soubesse disso... Mas pensei no olho roxo de ... Eu realmente havia ficado uma semana fora para o campeonato de futebol, não havíamos mantido o contato por uma semana inteira, o que me deixou... Louco.
- . – Ela me chamou, me despertando do paralelo onde eu me encontrava – E então?
- Por que eu deveria confiar em você? – Perguntei um pouco alterado, vendo a doçura em seu rosto se tornar confusão.
- Porque essa conversa e esse envolvimento aqui. – Ela apontou para nós e eu suspirei – Pode me mandar embora, . – Ela completou em tom sério e eu sabia que ela não estava mentindo – Eu não estaria perdendo meu tempo aqui para fofocar sobre algum aluno, principalmente se tratando de .
- Eu acho que é algo relacionado ao pai dela. – Disse sem pensar duas vezes e me martirizei por isso em seguida, ela me olhou e não parecia surpresa, dando um sorriso seco – Eu vou embora.
- . – Sua voz saiu séria e eu a encarei confuso, havia uma expressão sincera em cada traço do seu rosto quadrado – Eu conversei com a mão dela semana passada, inventei qualquer coisa para apenas falar com ela e eu vi... Marcas roxas no pescoço da mãe dela que pareciam...
- O que está acontecendo aqui? – Perguntou o diretor rispidamente quando adentrou a sala dos professores, fazendo a professora se assustar com o seu tom de voz. Olhei para trás e encarei o homem com um suéter apertado deixando a barriga de cerveja de maneira indiscreta sob visão.
- não se comportou em minha aula hoje e não somente nessa aula. – A professora foi rápida o suficiente para não dar tempo do homem pensar qualquer coisa diferente – Decidi que seria melhor conversar com ele do que tomar alguma atitude mais drástica. Afinal de contas, não estamos na primeira série. Certo, ?
- Perfeitamente. – Respondi neutralizado, como se estivesse em choque pela nossa conversa... E bem, eu REALMENTE estava.
- Está liberado, . – Ela disse em tom de voz sério e o diretor se sentou na cadeira mais afastado com uma expressão satisfatória pela atitude dela – Espero ver melhoras.
- Eu também, professora. – Respondi não se tratando do assunto falso e sim do verdadeiro que me levou até lá – Eu também...
Cheguei em casa e encontrei minha mãe com uma expressão séria sentada no sofá de casa com Ashley brincando de boneca no tapete. Respirei fundo ao ver que eu levaria uma comida de rabo por estar atrasado para o almoço ou algo do tipo, mas tudo que ela fez, foi dar batidinhas no sofá, indicando que eu deveria sentar.
Sentei, um pouco desnorteado, me preparando psicologicamente para a bronca que viria em seguida. Seu olhar demonstrava que ela não iria me dar bronca, parecia um aviso que deveria ser dado, algo que ela não aguentaria esconder de mim.
- Ashley. – Minha mãe sussurrou seu nome em um gemido doloroso, a menina de grandes olhos azuis encarou minha mãe de maneira séria – Preciso falar a sós com .
- Eu já sou adulta. – Ashley disse em tom sério, os olhos azuis mostrando a convicção na qual ela falava – Ok... – Arrumou suas coisas rapidamente e subiu as escadas, acompanhada de Mary que ficaria de olho nela para que não tentasse ouvir nossa conversa.
- O que houve? – Perguntei estremecendo ao ver ela suspirar e passar as mãos pelos cabelos, como ela faz quando não sabe por onde começar um assunto – Mãe.
- Talvez você esteja certo, ok? – Minha mãe respondeu em um tom doloroso, seus olhos azuis me encararam com seriedade e eu me mantive sem entender o que ela estava falando – Talvez, talvez, entendeu?
- Sobre o quê? – Perguntei levemente impaciente, encarando-a confuso enquanto ela começava a roer todas suas unhas, parecendo uma adolescente. Talvez, Ashley realmente fosse mais adulta que ela.
- Sobre o pai de . – Era muita informação para apenas um dia, minha cabeça doeu e eu fechei meus punhos, tentando me manter firme – Encontrei a mãe dela no mercado esses dias e céus, ela está com uma marca horrível no pescoço, . No outro dia, fiz questão de surgir de surpresa em sua casa e ela estava com um lenço no pescoço.
- Eu não quero mais deixar a lá. – Minha voz saiu rouca, minha mãe me olhou desesperada e incrédula – Ele está machucando ela também!
Levantei-me desesperado, mas um par de mãos firmes e macias me impediu. Minha mãe me virou em sua direção e sua expressão era mortal.
- Você não vai fazer nada, ! – Ela exclamou em tom sério, os olhos azuis começando a ficar marejados enquanto afrouxava as mãos em meus braços – Não quero que nada aconteça a você. Isso é algo deles.
- Estamos encarando uma barbaridade, mãe! – Exclamei incrédulo, aumentando meu tom de voz sem perceber, fazendo com que ela me olhasse de maneira frustrada – Eu não quero ver a sofrendo.
- E eu não quero que você se meta em assuntos de ADULTOS! – Ela retrucou no mesmo tom, odiava discutir comigo ou com qualquer pessoa – Você é apenas um adolescente, para você as coisas são fáceis de se resolver... Mas você tem que entender que as coisas não se resolvem dessa maneira! Se ela não te contou até agora, ela apenas quer te proteger do que NÃO TEMOS CERTEZA, !
Não esperei ela terminar de dizer e corri para o meu quarto, batendo a porta com toda minha força acumulada. Gritei em seguida, socando a parede e sentindo os nós de meus dedos estalarem de dor. Gritei mais uma vez e fechei meus olhos, encostando minha testa na parede enquanto pensava em , pensei na maneira que ela deveria se encolher quando aquele monstro chegasse perto dela. E em vez de procurar uma maneira de se defender, ela apenas queria me proteger dele.

Agora
- Obrigado pelo passeio. – Eu disse assim que estacionou o carro na porta do meu prédio – Tem certeza de que não quer entrar?
- Ficar naquele apartamento sozinha está realmente me incomodando. – respondeu enquanto coçava a nuca e sorria sem graça – Mas eu preciso de um banho.
Olhei os cabelos molhados e cheirando a sardinha, me fazendo segurar um riso e ela mordeu o lábio ansiosa.
- Você sempre usou roupas minhas. – Retruquei levemente ofendido, encarando-a com um olhar sério – Qual o problema de usar agora?
- Estou noiva. – respondeu em tom irônico, me olhando de maneira séria – Isso é motivo o suficiente.
- Está noiva da pessoa errada, isso é um problema e não usar minhas roupas. – Retruquei enquanto abria a porta de seu carro sem vontade e a pude ver resmungar alguma coisa. Enquanto me virava de costas para caminhar até a portaria, senti seus dedos firmes ao redor de meu braço e me virei. Seus olhos marejados me fitaram com seriedade e dor, eu não queria vê-los daquela maneira tão cedo.
- Você está estragando a chance que eu te dei! – gritou fechando os punhos e batendo contra meu peito com força – Você sempre estraga tudo! Por que simplesmente tenta não destruir alguma coisa? – gritou novamente e eu fechei meus olhos, juntando a calma que eu havia guardado todo esse tempo.
- O que eu estou destruindo? – Perguntei irônico e ela me fitou com raiva – Seu conto de fadas? Porque é realmente isso que eu estou vendo. O cara é totalmente o oposto de você, mas você aceita tudo apenas para escapar do que? Do que você realmente é?
- Eu faço isso para escapar de você. – disse com os dentes trincados e o olhar furioso sobre mim – Porque ele é o único que pensa antes de acabar comigo.
Olhei para ela e deixei que ficasse falando sozinha, virei as costas e coloquei minha digital sobre o portão que logo se abriu. Olhei para trás e encarei apenas o lugar vazio antes ocupado por seu carro.

Abri a porta de meu apartamento e me deparei com Mary em frente à televisão, ela usava um roupão que era seu costume dormir com ele. Eu já havia lhe dado vários tipos de roupão de natal e aniversario, ela os adorava.
- Talvez o prédio inteiro tenha visto um pouco do que aconteceu lá fora. – Mary disse em tom brincalhão enquanto eu me jogava no sofá e ela tampava o nariz em reflexo – Meu deus! Você está fedendo, saía do sofá IMEDIATAMENTE!
Ela fez força para me levantar do sofá e eu bufei irritado, enquanto ela me guiava para o meu banheiro como se eu fosse um neném. Mary fez um sinal para eu entrar no banheiro e puxou a cadeira da escrivaninha que havia em meu quarto e se sentou atrás da porta encostada, o que a impedia de me ver tomando banho. Comecei a me despir enquanto ela cantarolava alguma música, me fazendo rir.
- Podemos conversar? – Ela perguntou após eu entrar na ducha quente e eu concordei sem dizer uma palavra – O que houve lá fora?
- A convidei para entrar e ela disse que precisava tomar banho. – Respondi sem animo enquanto me ensaboava e ouvia a mesma suspirar – Eu disse que a emprestaria uma roupa e ela afirmou que estava ruim ficar no apartamento sozinha. E quando eu disse que emprestar uma roupa nunca havia sido um problema, ela surtou e disse que eu sempre tinha que estragar tudo.
- Você parece uma mulherzinha falando. – Mary comentou risonha e eu virei meus olhos, ela provavelmente estava sorrindo naquele momento – Sabe o que isso significa, certo?
- Hm, não. – Resmunguei enquanto ensaboava meu cabelo pela segunda vez, aquele cheiro de sardinha havia impregnado em meus cabelos – O quê?
- Que você está mexendo com ela, querido. – Mary respondeu e eu sorri um pouco atordoado, eu deveria lembrar que quase havia sido agredido ou ela realmente viu pelas câmeras de segurança? – Uma mulher nunca surta daquela maneira se não há algo mexendo com ela... Ela quer colocar a culpa em você por sempre estragar tudo, mas na verdade, algo me diz que ela está sentindo algo que não deveria sentir há meses de seu casamento.
- Você acha... – Eu não consegui elaborar uma resposta enquanto desligava a ducha e passava a toalha macia por meu corpo.
- Tenho certeza. – Mary respondeu e eu sentia que ela estava sorrindo daquela maneira doce que somente ela sorria – Só repito mais uma vez, querido. Não quero que você saía machucado disso.
- Não sairei, Mary. – Respondi em tom sério e ouvi seus passos macios sobre o piso de madeira, ela se afastou e em seguida, bateu a porta, me dando privacidade para me trocar – Eu espero.



Capítulos 16 ao 30