Já pensou em acordar um dia com o convite de casamento da pessoa que você ama? E agora vê que é tarde demais para conquistá-la? Isso acontece com o personagem principal ao acordar depois de uma ressaca e dar de cara com o convite de casamento da melhor amiga, pela qual ele sempre foi apaixonado, mas nunca deu valor. Ele vai tentar de tudo para acabar com o casamento, seja tentando conquistá-la de novo ou até mesmo arranjando uma forma de estragar cada detalhe dos preparativos. Será que o casamento vai acontecer ou ele vai conseguir?
- Você vai na festa da Amber? – Perguntei descontraído enquanto a observava morder seu lanche de salame com queijo branco de todos os dias. Seus olhos castanhos me fitaram de maneira breve antes de voltarem para o seu lanche.
- Você sabe a resposta, . – Retrucou levemente ofendida, deixando o lanche de lado para tomar um longo gole do suco de caixinha que estava em sua frente – Não sei porque fica insistindo nisso.
- Porque quero que você vá comigo. – Respondi em tom sério, observando o movimento ao meu redor e observei a mesma suspirar, parecendo chateada – Você deixou de ir todas as sextas para a minha casa... Se quiser, posso ir até a sua.
- Não. – Seu tom de voz saiu mais sério do que o normal, os olhos castanhos por trás dos óculos de fundo de garrafa me fitaram em um desespero anormal – Nós crescemos, .
- Então daqui nove anos estaremos completamente separados? – Perguntei irritado e ela virou os olhos, negando impaciente – , eu prometo que não vou mais insistir em nada que você insiste em manter segredo... Eu só não quero que a nossa amizade vire apenas lembranças.
- Eu também não quero... – respondeu mal humorado, os olhos carregados de vários sentimentos confusos – Me desculpa, eu farei de tudo para ir com você na festa.
- Você promete? – Perguntei em tom firme, fazendo-a me encarar envergonhada e ela concordou com um sorriso fraco.
Eram onze horas da noite e eu estava parado em frente à sua casa, era óbvio que ela não havia conseguido cumprir a promessa que havia feito, mas eu entendia que não era culpa dela. Eu havia ido para a festa, mas não consegui me concentrar em nada naquele lugar, eu queria . Eu a procurava em todos os lugares e agora, eu estava me concentrando em tacar pedrinhas em sua janela sem que o dragão que tomava conta de sua casa ouvisse e talvez, me matasse.
O quarto antes escuro, agora era preenchido pela fraca luz de seu abajur. Ela abriu a janela sem fazer barulho e sorriu ao me ver ali, plantado em frente à sua casa. estava sem os óculos e sem as marias chiquinhas tenebrosas, estava da maneira que eu gostava.
- Você enlouqueceu? – Ela perguntou sem emitir som, éramos realmente bons em leituras labiais e eu acenei de maneira breve com a cabeça – Você quer subir?
Analisei todas as opções de subida que eu tinha ali, havia uma grade que me ajudaria a ir até o seu quarto, típico filme americano. Comecei a subir tentando não fazer nenhum barulho, eu até evitava respirar em alguns momentos quando algum som saía mais alto do que o planejado. Pisei no telhado e ela estendeu a mão para me ajudar a entrar em seu quarto, pulei a janela e me desequilibrei, caindo em cima dela.
- Você não deveria estar na festa? – Perguntou assustada enquanto se levantava e ajeitava a camisola de gatinhos que eu havia dado em seu aniversário do ano passado.
- Eu vim cobrar o que você prometeu. – Respondi me levantado e dando uma olhada rápida para a porta fechada, aliviado por não ter chamado a atenção de ninguém.
- Eu não consegui ir à festa. – Ela lembrou enquanto se sentava em sua cama, sua voz saindo tão baixa que foi difícil de entender.
- Eu só me importo com sua presença. – Respondi em tom sério, me sentando ao seu lado e encostando meu corpo em sua cabeceira, fazendo-a se aproximar de mim e apoiar a cabeça em meu ombro – Posso ficar um pouco com você?
- Deus nos proteja, . – sussurrou baixinho, controlando um riso nervoso e amedrontado – Se algo acontecer conosco...
- Ele sempre estará ao nosso favor. – Respondi entrelaçando nossos dedos e pude senti-la sorrindo ao meu lado, como eu queria eternizar aquele momento – Eu não quero mais ficar distante de você...
- É como se um pedaço estivesse faltando. – completou com um sorriso doce em seu rosto pouco iluminado pelo abajur – Eu não sei o que o destino está preparando para a gente.
- Algo me diz que o destino aconselha viver o agora. – Respondi me aproximando e segurando em seu rosto com delicadeza, nossos narizes se tocaram e ela estremeceu com meu toque – Eu quero beijar você, . – Pedi da maneira que ela havia exigido depois do nosso primeiro beijo, ela queria que eu pedisse pelo nosso beijo e seus olhos castanhos me fitavam confusos e surpresos, uma mistura de felicidade e adrenalina.
Seus lábios úmidos e quentes tocaram os meus, meus dedos deslizaram por sua cintura, a puxando para mais perto enquanto minha língua pedia permissão para completar nosso segundo beijo. sorriu no meio do beijo enquanto seus dedos brincavam em meus cabelos, era um beijo sem segundas intenções, era a nossa maneira de eternizar aquele momento e provar que nossos lugares eram juntos um do outro. E Deus, como eu queria que aquela certeza fosse real e que daqui nove anos eu estivesse esperando aquela garota em meus braços no altar. Meus pensamentos foram interrompidos por passos pesados no corredor, me fazendo saltar da cama e olhar para uma desesperada.
Apaguei o abajur e sai pela janela, rapidamente a fechou e deitou novamente na cama. Me encostei na parede da casa, tomando cuidado para não fazer nenhum barulho no telhado e suspirei ao ver que seu pai estava apenas fazendo a vistoria noturna. Quando finalmente pisei em minha casa, meu celular vibrou em meu bolso. Desbloqueei com certa pressa e encontrei uma mensagem de , assim que a abri, meu sorriso foi involuntário e poderia iluminar a rua inteira.
“Promessas são feitas para serem quebradas, mas só peço que a promessa de que nunca esqueceremos um do outro ficarão eternizadas em nós. Você me promete?”
“Eu nunca esquecerei você, pequena. Você ainda será completamente e inteiramente minha”. Respondi enquanto subia as escadas em direção ao meu quarto e o celular vibrou novamente.
“Eu já sou, .”
Agora
Acordei mais disposto no dia anterior, sonhar com um dos meus momentos mais marcantes com realmente mexeu comigo. Eram palavras realmente intensas para dois adolescentes de apenas dezesseis anos, mas nunca fomos normais de qualquer maneira.
Desci as escadas com pressa, encontrando a mesa de café da manhã já preparada para mim. Sentei-me em uma das cadeiras e logo, Mary apareceu com um sorriso materno acompanhada de abraços e beijos em minha testa, ela se sentou em minha frente e se serviu de algumas torradas.
- Você poderia fazer alguns cookies? – perguntei apreensivo e ela me olhou de maneira curiosa, sem esconder um sorriso cúmplice – Ótimo, vou ver se ainda existem locadoras.
- Locadoras, ? – Perguntei Mary em choque, me fazendo rir – Isso é passado, querido.
- Você está certa. – Eu disse rapidamente e ela sorriu animada – Eu tenho contas nesses sites de filmes, está tudo certo.
- Daqui uma hora e meia os cookies estão prontos, ok? – Mary avisou enquanto eu me retirava da cozinha com certa pressa, pensei em passar na joalheria para comprar um colar que fosse realmente a cara de enquanto Mary preparava a outra surpresa.
Assim que voltei com o colar comprado e Mary estava com os cookies prontos, tratei de colocar a melhor roupa que eu tinha e ir para a casa de o mais rápido possível. Estacionei meu carro em frente ao prédio e apertei o interfone, esperei alguns segundos até o porteiro permitir minha entrada. Terceiro andar. Pensei comigo mesmo enquanto apertava o botão com certa força, eu sabia que precisava mostrar que eu havia mudado.
O elevador abriu e eu encarei a porta de madeira clara com o número 30 estampado nele. Respirei fundo antes de tocar a campainha e fechei meus olhos, quando os abri, encarei a figura loira de olhos azuis me encarando com surpresa.
- ? – Andrew perguntou surpreso ao me ver parado em frente a porta de seu apartamento dez horas da manhã durante um dia da semana que eu até havia esquecido qual era naquele momento – O que faz aqui?
Mexi no bolso de minha calça apreensivo, deixando de lado o pacote colorido pequeno onde eu havia embrulhado seu colar. A caixa de cookies ainda estava em minhas mãos, totalmente expostas ao noivo da garota que eu amava.
- disse que estava com medo de ficar sozinha enquanto você viajava e eu decidi fazer companhia a ela. – Respondi um pouco apreensivo sobre o olhar sério dele – Talvez assistir filmes enquanto comíamos cookies, como nos velhos tempos. Mas não se preocupe, eu já estou de saída.
- Não. – Andrew interrompeu minha saída e pegou a caixa de cookies em minhas mãos, me deixando um tanto paralisado em sua frente – já havia comentado comigo sobre esses cookies e não faria mal uma sessão de cinema a três, certo?
- Vamos, cara. – Andrew deu espaço para eu entrar em seu apartamento e eu me senti tentado a sair correndo dali, mas eu não poderia demonstrar que havia algo a mais em minha visita à sua noiva.
Entrei em seu apartamento sem vontade, encontrando as malas ainda espalhadas pela sala de estar. O apartamento estava mais ajeitado desde a última vez que eu havia aparecido por lá, Andrew depositou os cookies na mesinha do centro enquanto se aproximava do bar para pegar alguma bebida para nós.
- Eu estou tomando remédio. – Inventei a primeira desculpa ao vê-lo pegando dois copos e ele me encarou surpreso – Obrigado.
- Andrew, você separou as roupas su... ? – pareceu surpresa e confusa ao me ver sentado em seu sofá com cara de desespero, ela encarou confusa para o noivo que se aproximava com um copo cheio até a boca de alguma bebida alcoólica.
- Veja, querida. – Ele apontou para os cookies em cima da mesinha e sorriu para a noiva – Eu finalmente irei experimentar aqueles cookies deliciosos.
- O que você veio fazer aqui, ? – perguntou em tom sério, sua voz saiu falha enquanto se aproximava da sala e encarava os cookies confusa.
- Ele veio assistir um filme com você porque você disse que estava realmente ruim ficar no apartamento sozinha. – Andrew respondeu com a voz amarga enquanto bebia um longo gole da bebida em seu copo – Achei digno que assistíssemos algum filme juntos.
- Obrigada pela visita, . – disse em tom sério, me encarando de maneira confusa e forçando um sorriso – Estamos terminando de ajeitar alguns detalhes novos.
- Ele vai ficar, querida. – Andrew retrucou em tom mais alto, me deixando levemente incomodado com o tom que ele usou com ela e eu me sentia um imprestável, por não conseguir manifestar nada, eu parecia em estado de choque.
- Você está bebendo, Andrew? – perguntou em choque ao ver o copo na mão do noivo e eu fechei meus olhos, eu sabia o motivo de um cara beber as dez da manhã. Não era fácil quando o melhor amigo colorido de sua noiva aparece em sua porta com boas intenções com sua noiva.
- Sabe, . – Andrew disse se aproximando de e lhe dando um selinho demorado, envolvendo a garota em seus braços – Você deveria arranjar alguém como a ... Essa vida de solteiro não vai dar em nada.
- Te garanto que estou bem assim. – retruquei levemente ofendido, apenas lançando um olhar serio para que parecia em outro mundo.
- Você já experimentou a comida que ela faz? E o sorriso dela quando ela acorda? – Andrew perguntou tentando mais uma vez beijar que se desviou dele, mantendo os olhos no chão – A maneira como as minhas mãos deslizam pelo corpo dela...
Olhei para que parecia envergonhada com a maneira que ele falava dela e eu senti raiva daquele cretino em minha frente. Eu sabia o quanto ele queria me testar, o quanto ele queria mostrar que não importa o que eu fizesse por ela... Ela pertencia a ele.
Mas não era Andrew que havia lutado por nossa história e não seria ele quem a destruiria.
- Acho que vocês precisam resolver os detalhes novos do apartamento. – Eu disse me levantando e fechando meus punhos, pronto para qualquer momento, acertar a cara dele com uma força que eu não sei de onde surgiria – E, Andrew, sobre a maneira como suas mãos deslizam pelo corpo dela... – Ele me encarou de maneira séria e eu sorri – Devem ser os mesmos caminhos que eu fiz por muitos anos e que posso voltar a fazer em um estralo de dedos.
olhou para mim e não estava brava, parecia mais calma que o normal e seu olhar estava diferente. Afastei-me de ambos sem dizer mais nada, sendo surpreendido pelos dedos finos de ao redor de meu braço.
- .
- Eu deveria ter ouvido quando me falaram que eu sairia machucado disso tudo. – Respondi antes que ela falasse alguma coisa e enfiei minha mão no bolso, lhe entregando o embrulho amassado – Mais uma vez, quebramos uma promessa.
Agora
- Você precisa se alimentar. – A voz de Mary era firme e eu teria me assustado com o seu tom de voz se eu não estivesse tão perdido em meus pensamentos – .
- Eu não estou com fome. – Respondi irritado, já era talvez a vigésima vez que ela tentava me forçar a comer alguma coisa, um dia havia se passado desde o acontecimento no apartamento de – Me deixe a sós.
- Eu não vou suportar você neste estado. – Sua voz se manteve firme enquanto deixava a bandeja com pães e doces em minha frente – Se você está vendo que ela não é a garota certa e ela já te deu muitos motivos que confirmam essa teoria, você deveria partir para outra. Não é isso que vocês jovens dizem? “A fila anda” e a sua deveria ter andado faz tempo.
Mary era realmente boa com palavras, sabia usá-las quando queria ajudar ou ferir alguém. Falar a verdade nunca foi e nunca será um problema para ela.
A campainha tocou em seguida, achei estranho o interfone não ter tocado e espiei pelo começo da escada enquanto Mary se direcionava até a porta principal e a abria sem vontade. A surpresa a atingiu ao encarar uma figura de cabelos loiros e sorriso sapeca, os olhos azuis de Hilary me procuraram pelo apartamento e sorri ao vê-la arrumada para nosso almoço, o primeiro almoço em meu apartamento.
- Você chegou cedo. – Eu disse sorridente enquanto descia a escada com pressa, recebendo um olhar aprovador de Mary, porém eu a surpreendi por ter sido mais rápido que o raciocínio dela.
- Queria ter certeza de que você não iria estar brincando comigo. – Hilary respondeu com o mesmo sorriso brincalhão, eu sabia que ela havia chegado cedo com medo de que eu cancelasse o almoço, mas a companhia dela me faria bem.
- Mary esta é Hilary, uma amiga. – Apresentei e dei uma piscada para Hilary que sorriu para minha babá de maneira doce – Vou te mostrar o apartamento enquanto Mary termina os preparativos do almoço.
Hilary observava cada detalhe de meu apartamento atenciosamente, as vezes riamos de alguma coisa engraçada e eu pude sentir como a sua energia era positiva. Ela usava os cabelos loiros presos em um coque mal feito que deixava algumas mechas brincando rebeldes, usava uma regata com o nome de alguma marca que deixava um pouco do sutiã à mostra na lateral e uma calça de couro preta apertada com um tênis de alguma marca que eu não lembrava o nome. Era simples e eu adorava aquele jeito de adulta que não havia deixado a fase adolescente de lado.
Hilary era totalmente diferente de , preferia pensar nas consequências depois de ter feito. É o oposto da garota que eu amo, mas era a pessoa perfeita para eu tentar reorganizar meus sentimentos errados.
- Ansiosa para conhecer meu quarto? – Perguntei com malícia, fazendo-a rir e concordar em seguida. Abri a porta de meu quarto recém arrumado e ela sorriu ao ver o tamanho dele.
Hilary encarou as paredes claras e a cama queen size, seus olhos azuis me fitaram antes de pular em minha cama e se aconchegar em meus travesseiros. Ela me encarou de maneira sapeca e fez sinal para eu me aproximar, eu me aproximei com um sorriso incrédulo ao ver como ela se divertia em minha cama. Eu realmente ficava orgulhoso em dizer que minha cama era MUITO boa, eu havia escolhido um dos melhores colchões já fabricado.
Aproximei-me com cautela e me posicionei em cima dela, seus lábios roçaram em minha boca enquanto ela me puxava para mais perto. Sorri orgulhoso ao ver a forma como ela me queria e aquilo me causou conforto, um conforto que eu não sentia com . Era obvio que ela só me queria por perto porque eu a fazia se sentir da maneira que seu noivo nunca a faria sentir. Mas por que raios eu não conseguia esquecê-la?
- ? – Hilary perguntou, interrompendo meus pensamentos e eu a encarei confuso.
- Você está bem? – Ela perguntou em seguida, mantendo um olhar confuso sobre mim e eu respirei fundo, me sentando ao seu lado e concordando, tentando parecer um homem normal com problemas – Você pode me contar se quiser.
- Não quero encher você com meus problemas. – Eu respondi e me aproximei dela, a envolvendo em meus braços e apoiando o meu queixo em sua cabeça, fechei meus olhos inspirando seu perfume delicado e doce – Eu só quero que tudo se ajeite.
- Você mudou de uns dias para cá, você acha que eu não percebi? – Hilary perguntou agitada em meus braços, ela se soltou e forçou um contato olho a olho – Tem outra pessoa, não tem?
- Tinha. – Respondi um pouco irritado, cruzando meus braços enquanto observava seu rosto mudar totalmente, ela parecia uma adulta em minha frente pela primeira vez.
- Olha, eu não quero ser a segunda opção... De verdade...
- Eu escolhi você. – Eu disse em tom firme, fazendo com que Hilary me encarasse confusa, ela não esperava aquela resposta e logo, as curvas de seus lábios vermelhos se erguiam lentamente em um sorriso – Quero que você me dê uma chance de fazer com que nós sejamos alguma coisa além de alguns encontros.
- Eu estou mesmo acordada? – Hilary perguntou em um tom mais alto, dando um grito em seguida e colocando as pernas em volta da minha cintura – Obrigada, eu vou fazer você esquecê-la.
Eu queria agradecer, mas tudo que eu fiz, foi beijá-la com vontade. Com toda a vontade que eu tinha dentro de mim de esquecer para sempre.
Maio de 2011
16 anos "Parte um "
Senti seus lábios macios contra minha boca mais uma vez naquele dia, estávamos colados dentro do armário onde ficavam os utensílios de limpeza da escola. O armário ficava cada vez mais quente, nossas respirações ofegantes se misturavam e deixavam o ambiente cada vez menor.
- Eu vou passar mal. – gemeu baixinho enquanto me empurrava com suas mãos, vendo que seu pensamento de tentar amenizar o calor que sentíamos foi em vão quando dei de costas com mais baldes e vassouras – Vamos nos atrasar para a aula, .
- Você é tentadora, . – Eu resmunguei enquanto nos afastávamos e eu abria a porta do armário com cuidado, para ver se não havia ninguém no corredor e eu suspirei aliviado ao ver que todos estavam no pátio aproveitando o intervalo – Continue vindo desse jeito para a faculdade, não quero que reparem em você.
- Eu venho do jeito que eu quero, . – retrucou levemente irritada, lembrei que odiava quando seu modo de se vestir era citado em alguma frase.
- Me desculpe. – Pedi rapidamente, no intuito de não causar nenhuma briga. Faziam algumas semanas depois do nosso segundo beijo que agora eu sabia que havíamos passado do decimo quinto, que não brigávamos e isso era algo que nos deixava extremamente felizes – Você tem aula do que agora?
- Historia. – Ela respondeu enquanto fingia estar lendo alguma coisa enquanto uma garota passava entre nós, concentrada no celular em sua frente – E você tem treino, né?
- Os campeonatos estão chegando. – Respondi sem vontade enquanto apoiava no armário, observando procurar o livro de história dentro do seu armário organizado e com uma fotografia nossa colada... Ei.
- Eu não sabia dessa foto. – Eu disse rapidamente, tentando tirá-la do armário mas sendo repreendida com um tapa forte em minha mão – Quem tirou?
- Amber estava desocupada e a tirou um dia desses. – respondeu com desdém, tentando não demonstrar tanto interesse, já que havia interesse demais pelo fato da foto estar enfeitando seu armário – Eu gostei e revelei.
- Eu estava pensando...
- Odeio quando você pensa. – A ignorei.
- Você podia assistir meu treino da tarde um dia. – Completei sério e seus olhos castanhos me fitaram com seriedade – Por favor, todas as namorad... quer dizer, companheiras dos meninos assistem.
- Eu tenho coisas importantes para fazer, . – respondeu em tom sério ignorando a palavra que havia escapado de minha boca e fechou o armário com certa força – Você sabe que eu tenho que ajudar minha mãe.
- Um dia. – Eu levantei meu dedo indicador e o balancei na frente dela, que me olhou culpada – Um dia que você irá assistir seu melhor amigo fazendo o que ele sabe fazer de melhor.
- Encher o saco? – Perguntou em tom brincalhão e eu neguei, a olhando de maneira séria – Está bem. Está bem. Eu vou pedir permissão para minha mãe, ok?
- Obrigado por fazer isso por mim.
- O que você não pede sorrindo que eu não faço chorando? – O sinal tocou, interrompendo nossa conversa e ela me olhou rapidamente, me dando um selinho rápido que me deixou chocado por alguns segundos – Até mais tarde, .
Aos poucos, os alunos preenchiam o corredor principal, parecia uma multidão em uma passeata e eu suspirei, vendo-a entrar em uma sala mais distante. Eu sempre fui do tipo que gostava de várias garotas e parecia que eu realmente estava começando a gostar de alguém, infelizmente da minha melhor amiga.
Quando o treino acabou, de longe, pude observar o carro de seu pai estacionado há alguns metros da quadra. Fechei meu punho com força, sentindo minhas unhas curtas enfincarem na palma de minha mão. Senti uma mão pesada em meu ombro e estremeci.
- Cara, você tá bem? – perguntou suspeito, os olhos azuis pareciam procurar o que eu tanto encarava e eu concordei rapidamente, tentando não demonstrar o que eu estava sentindo – Vai ter sessão vídeo game na casa do Kevin, você vai né?
Observei de soslaio, entrar no carro sem cumprimentar o pai enquanto mais uma vez ele cantava pneus.
Atravessei o gramado onde alguns alunos conversavam sentados em grupinhos e encontrei o olhar sério da professora de geografia. Seus olhos queriam dizer algo que eu não conseguia entender, senti novamente me trazer de volta para o mundo real.
“Estou indo para a casa do Kevin jogar vídeo game.”
Enviei a mensagem rapidamente enquanto caminhávamos em direção à casa de Jack que ficava há alguns quarteirões da escola. Nem um minuto havia se passado e senti o aparelho vibrar em minha mão.
“Desde quando precisa me avisar para onde está indo?” Me assustei com a ferocidade de suas palavras que me pegaram desprevenido.
“Tome cuidado, desculpa a grosseria... As coisas aqui em casa não estão... Fáceis.”
Eu parei de andar e fiquei algum tempo processando a mensagem. Era a primeira vez que se abria sobre o que estava acontecendo em sua casa, precisei que um grito de alguns dos jogadores do time, me trouxesse de volta a realidade. Voltei a andar em passos rápidos, com os olhos fixos no celular.
“Você quer que eu... Passe aí?”. Perguntei rapidamente, nunca pense que meus dedos fossem capazes de digitar tão rápido.
“Não agora.”
Prendi minha respiração enquanto lia a mensagem: “Mais tarde, no meu quarto. Deixarei a janela aberta.”
“Obrigado por confiar em mim”.
Foi tudo que eu fui capaz de responder e senti que ela sorria.
“Não me troque por esses meninos com cheiro de suor. Beijos”
respondeu e eu não mandei mais mensagens, havia finalmente chegado a casa de Kevin e era impossível pegar no celular naquele momento. Eu estava me divertindo com eles, mas quando a bagunça e as risadas cessavam, eu pensava nela.
Quando finalmente cheguei em minha casa, encontrei minha mãe assistindo algum programa de culinária com Ashley brincando com suas bonecas como de costume. Minha mãe me recebeu com um beijo doce e disse algo que eu não prestei atenção enquanto subia rapidamente as escadas, no quarto ao lado do meu eu podia ouvir a voz de Christopher abafada pela porta, ele deveria estar falando com algum amigo enquanto tentava bolar uma maneira de se manter sempre em cima das pessoas.
Tomei um banho rápido e desci para encontrar com minha mãe. Ela terminava de recolher as roupas na lavanderia.
- Mãe. – A chamei e ela se virou para me encarar – Eu já vou deitar, ok? Estou morrendo de dor de cabeça.
- Quer que eu leve alguma coisa para você tomar? – Ela perguntou preocupada e eu neguei, mas ela não insistiu, sabia que eu odiava remédios – Bom descanso, querido.
Subi novamente as escadas e entrei em meu quarto, trancando a porta como de costume. Era a forma de mostrar que eu não queria ser incomodado e minha mãe entendia perfeitamente isso, apenas Mary que nunca respeitava minha porta trancada.
Abri a janela e desci com cuidado pelo telhado, tentando não fazer nenhum barulho enquanto colocava meu plano de fuga em ação. Seria mais fácil evitar as mentiras, mas da maneira que as coisas relacionadas ao pai de estavam, era realmente difícil convencer minha mãe a permitir minha ida à casa dela.
Caminhei em passos rápidos, o relógio em meu pulso marcava dez e meia, esse horário provavelmente os pais de já estariam deitados. Olhei atentamente para a casa apagada e comecei a subir as paredes com cuidado, evitando o máximo qualquer barulho que me entregasse de mãos beijadas para a morte.
Puxei com cuidado a janela e o abajur acendeu em seguida, se ajeitou na cama e sorriu para mim ao me ver. Eu havia adquirido o dom de espião de uns dias para cá.
- Achei que não viria. – Ela sussurrou baixinho e se levantou, vindo correndo em minha direção e me abraçando. Inspirei lentamente seu perfume doce e natural, a envolvi com força e beijei-lhe o topo da cabeça.
- Eu nunca deixaria você por qualquer motivo, pequena. – Retruquei no mesmo tom, colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha e ela sorriu fraco.
Uma pessoa que não conhecesse como eu conhecia nunca iria perceber a maneira como suas bochechas estavam coradas e o rosto um pouco inchado. Mesmo com a luz fraca do abajur, era capaz perceber que ela havia chorado.
- E então? – Perguntei baixinho enquanto a guiava para sua cama e me sentava na beirada da cama com ela ao meu lado, abraçando os joelhos como uma criança com medo.
- Meus pais estão brigando cada vez mais, . – Ela comentou tão baixo que parecia que estada confessando um assassinato – As brigas estão... Passando do limite.
- Preciso que seja mais direta, . – Respondi de maneira sincera, segurando sua mão com delicadeza enquanto entrelaçava nossos dedos e ela fechou os olhos, deixando que a primeira lágrima brincasse em seu rosto.
- Meu pai... Ele...
- Ele o quê? – Perguntei sentindo minha respiração pesar enquanto ela concentrava forças para falar.
- O QUE ESSE GAROTO ESTÁ FAZENDO AQUI? – A porta foi brutalmente escancarada e segundos depois, eu senti o barulho de minhas costas contra a parede do quarto de .
- LARGA ELE! – gritou desesperada, tentando inutilmente puxar a camiseta do monstro em sua frente – PELO AMOR DE DEUS, LARGA ELE, SEU MONSTRO!
Os dedos dele apertavam com cada vez mais força o meu pescoço, aos poucos a minha visão estava começando a ficar turva enquanto eu tentava me soltar das garras dele. Quando ele finalmente me soltou, meu corpo caiu no chão de madeira fazendo um barulho estrondoso. Eu tentava inutilmente buscar ar, mas meus pulmões pareciam ter dificuldade em filtrar o ar que eu puxava. tentou se aproximar e ele a empurrou com força, fazendo-a cair enquanto chorava em silêncio.
- VOCÊ ENLOUQUECEU? – A mãe de gritava desesperadamente enquanto corria em minha direção, ele a empurrou e veio para cima de mim novamente. Eu me encolhi como um covarde.
Senti seu punho forte contra meu rosto e segundos depois, ouvi mais passos em minha direção. Minha cabeça doía e minha visão parecia mais embaçada do que antes, antes de ver tudo escurecer, eu ouvi o grito de minha mãe.
"Parte dois "
Um pequeno incômodo em minha mão, fez com que eu lentamente abrisse meus olhos. A minha visão turva começava a se adaptar com a sala branca com detalhes discretos em azul claro, definitivamente aquele não era meu quarto. Com dificuldade, eu sentia algumas pontadas em meu corpo e algo em meu nariz, dificultava minha respiração.
- Eu não sei se eu mato você agora ou quando chegarmos em casa. – A voz de minha mãe era chorosa, mas intensamente ameaçadora. Senti seus dedos macios tocarem minha mão, enquanto eu ainda raciocinava o que havia acontecido.
- Pai? – Perguntei quando observei uma figura masculina no quarto e ele se virou para me encarar, pela primeira vez, em seu rosto havia um sinal de preocupação relacionado a mim – O senhor...
- Eu voltei assim que soube. – Ele disse em tom paciente, ainda com a roupa social do que ele provavelmente estaria usando em mais uma reunião de sua empresa – Aquele homem será processado por bater em um menor.
- Você não pode processá-lo. – Eu disse rapidamente, meu raciocínio voltava com velocidade e eu o encarei desesperado – Ele vai descontar nelas.
- ... – Minha mãe murmurou meu nome e meu pai me olhou atentamente, seus olhos azuis se mantinham inexpressivos e eu solucei baixo.
- Ele não pode machucá-las mais, pai. – Eu implorei e senti meu nariz doer, provavelmente eu havia apanhado muito do pai de .
- OLHA O QUE ELE FEZ COM VOCÊ! – Meu pai gritou e minha mãe abaixou a cabeça, ela nunca protestava contra as palavras dele – Ele quase te matou ontem, ele é um maníaco.
- Eu amo a filha dele, pai. – Respondi com a mesma intensidade em cada palavra que saiu de minha boca – Eu não quero que ela se machuque mais.
- Se resolva com ela, . – Ele retrucou em tom sério e eu suspirei – Mas eu não vou deixar ele sair dessa limpo. – Foi tudo que ele disse antes de se retirar do meu quarto sem falar mais nada, respirei fundo e encarei minha mãe que me olhava de maneira séria, porém compreensiva.
- Sei que é difícil para você, mas as coisas aconteceram sem que tivéssemos um plano. – Minha mãe confessou em tom desanimado enquanto fazia um carinho em minha mão que latejava por causa do soro – Eu sei que você sente algo por ela, mas vocês são apenas adolescentes e muitas coisas vão acontecer...
- Eu não estou preocupado com o meu futuro, talvez você esteja certa de que não vai estar nele. Mas ela está no meu passado e no meu presente, o que importa para mim é o agora, mãe. – Eu respondi em tom firme enquanto ela me observava com cautela – Ontem eu fui até lá porque ela finalmente ia contar a verdade para mim, ela finalmente ia dar a brecha que precisávamos para colocar aquele doente atrás das grandes por violência doméstica. Eu nunca ia pensar que ele sabia da minha presença ali e que quase me mataria.
- Eu quero que você fique longe de . – Seu tom de voz era firme e eu a olhei incrédulo.
- Você sabe que eu nunca vou obedecer você se pedir isso, mãe. – Retruquei com sinceridade e ela me olhou de maneira dolorosa – Eu não vou...
- Você vai, . – Ela respondeu em tom alterado enquanto se levantava e me olhava com os olhos marejados – Ou irá se mudar daqui.
Senti minha cabeça latejar, abri meus olhos com rapidez e minha respiração estava ofegante. Eu havia sonhado mais uma vez com o dia em que descobriu a verdade que eu guardava para mim.
Os braços fortes de Andrew estavam ao meu redor, como se me protegessem de todos os perigos que eu corria, mas não era ele quem sempre estava me protegendo. Com cuidado, me soltei de seu abraço e o observei dormir tranquilamente, sem se incomodar com minha falta. Apoiei meus pés no chão, sentindo-os afundar no carpete e caminhei em direção ao banheiro, fechei a porta e senti a primeira lágrima brincar por meu rosto.
Quem eu queria enganar por ter deixado sair daquela maneira? Eu não queria que ele saísse da minha vida mais uma vez, seria mais fácil se ele nunca tivesse voltado, mas eu pedi para que ele voltasse quando decidi enviar o convite de meu casamento.
A água gelada caia em minhas costas, me causando uma sensação desconfortável. Eu precisava acordar, precisava deixar que a antiga voltasse e impedisse que as coisas saíssem do controle mais uma vez.
Troquei-me rapidamente e deixei um bilhete para Andrew, falando que eu resolveria alguns detalhes finais do casamento sozinha. Abri a porta e desci de escada, eu não teria paciência de esperar o elevador.
Estacionei meu carro há dois quarteirões do prédio de e caminhei com certa pressa em direção a ele. O vento gélido da manhã cortava meu rosto e eu ajeitei meu cachecol com rapidez, enfiando minhas mãos em meu casaco enquanto me aproximava de meu destino, mas algo me fez parar e encarar a figura que passava pela portaria.
descia com um sorriso maior que o próprio rosto, o sorriso que ele só dava quando estava comigo e ao seu lado, uma garota de cabelos loiros e aparência jovem, descia com o braço enrolado no dele enquanto contava alguma coisa. Quando seus olhos percorreram perto de onde eu me encontrava, entrei na primeira loja que havia na calçada. Observei eles atravessarem a rua e passarem entretidos pela loja que eu estava, algo dentro de mim havia congelado ao vê-lo feliz daquela maneira e eu sabia que deveria ser menos egoísta... Ele tinha o direito de viver a vida dele, conhecer pessoas novas... E eu era a culpada dele ter esse direito.
- Moça. – Uma voz masculina me despertou e eu olhei assustada para o ruivo em minha frente que me olhava preocupado – Você está bem?
Neguei rapidamente com a cabeça, antes de sair correndo em disparada. Eu precisava de alguma coisa forte, qualquer coisa que fizesse aquela dor passar.
Entrei no primeiro bar aberto que eu havia visto e alguns caras me olharam assustados, cochichando entre eles o que uma garota como eu fazia naquele horário com um copo de bebida transparente em minha frente. Virei o copo e fechei meus olhos, sentindo o arder em minha garganta enquanto as lágrimas saiam com ferocidade.
Meu celular vibrou intensamente em meu bolso e eu o peguei, vendo a foto de Andrew com uma careta aparecer. Dei um riso amargo antes de desligar o aparelho, eu não queria que ninguém me encontrasse, eu não queria me encontrar.
- O que uma garota como você faz aqui? – Uma voz rabugenta sussurrou em meu ouvido, fazendo com que eu estremecesse, sentindo o medo me atingir – Vem aqui.
Seus dedos fortes seguraram em meu braço e eu tentei me soltar, mas minha cabeça girou fazendo com que eu quase caísse. O homem barbudo me puxou e eu tentei gritar, mas ele me apertou com mais força. Eu me sentia como a antiga , desprotegida e prestes a sofrer nas mãos de outro homem.
Segundos depois, o homem se agoniava no chão e fui puxada para fora do estabelecimento. A pressa com que eu estava sendo puxada fez com que eu sentisse pontadas em minha cabeça e quando finalmente paramos, encarei a figura de cabelos castanhos cacheados e olhos azuis que demonstravam confusão ao me ver naquele estado.
- Você enlouqueceu? – Não me lembrava direito do nome dele, deveria ser James... Não, não era James, era Paul! – , eu estou falando com você.
- Não grita, droga. – Reclamei, sentindo minha cabeça latejar com mais força.
- Eu acabei de salvar sua vida. – Ele retrucou ofendido com os braços tatuados cruzados sobre o peito e eu fechei meus olhos concordando – O que você estava fazendo em um bar esse horário?
- Eu não posso confiar no melhor amigo do meu inimigo. – Respondi com a voz falha, confundindo algumas letras e fazendo algumas movimentações com os dedos, apontando para ele.
- Inimigo? – , isso eu havia me lembrado de seu nome, perguntou ironicamente com um sorriso malicioso nos lábios e eu senti vontade de agredi-lo – Desde quando?
- Desde que ele voltou para minha vida e tá acabando com meu casamento. – Cala a boca, , pensei comigo mesma enquanto observava seu sorriso aumentar – Eu sabia que não podia confiar em você!
Sai andando e senti novamente seus dedos ao redor de meu braço, me impedindo de ir para longe dele e seus olhos azuis me fitaram com sinceridade.
- Eu e não nos vemos há dias. – Ele disse em tom sério e seus dedos se afrouxavam ao redor de meu braço e eu o encarei desconfiada – E vejo que você realmente precisa de um café bem forte e um remédio para dor de cabeça, aceita sair comigo?
- Meu marido vai enlouquecer se souber que tem outro na jogada. – Pensei alto e ouvi a risada de escandalosa – Desculpa, eu...
- Estou vendo que vou me divertir. – Ele sussurrou em tom brincalhão, me guiando para alguma cafeteria ali perto.
empurrou a porta pesada da cafeteria enquanto eu andava encostada ao braço dele para tentar manter o equilíbrio. Ele me guiou para uma mesa mais afastada das demais e eu sentei em sua frente enquanto ele fazia sinal para a garçonete.
- Dois cafés fortes, por favor. – Ele pediu educadamente e galanteador, fazendo com que a garçonete precisasse de algum tempo para escrever o pedido e se retirar. Ele e eram os tipos de caras que deixariam as mulheres de pernas bambas somente com o olhar, era uma dupla realmente perigosa.
- Então, quer dizer que o está acabando com seu casamento? – perguntou com as mãos entrelaçadas sobre a mesa de madeira e eu fechei meus olhos antes de concordar sem vontade, era como se eu não controlasse meus movimentos.
- Meus sentimentos por ele nunca mudaram, . – Confessei em pleno desespero, fazendo com que ele me olhasse atentamente e eu vi que podia confiar nele, droga.
- Aposto que nem os dele por você. – completou em tom sério, me fazendo sorrir contra minha vontade.
- Aconteceu algo no meu apartamento há um dia mais ou menos... Ele foi me fazer uma surpresa e Andrew voltou antes do prazo. – Eu soltei e meus olhos aos poucos ficavam marejados – Ele humilhou o , falando coisas que eu sabia o quanto doíam nele e doíam em mim. Éramos inseparáveis, sendo melhores amigos ou amantes, éramos nós mesmos quando estávamos juntos e de repente... Eu só queria alguém que me fizesse esquecer tudo que um dia eu passei, alguém que não conhecesse a de antes.
mantinha o olhar fixo em mim enquanto a garçonete depositava nossos pedidos e se retirava rapidamente com medo de atrapalhar alguma coisa. Bebi um gole rápido do café e ignorei o quanto ele estava fervendo.
- Mas todo esse pensamento mudou quando ele decidiu voltar, . – Confessei e as lagrimas começaram a brincar em meu rosto e ele pareceu preocupado – Eu estou confusa e esses dias que passei com , era como se nada tivesse mudado, apenas meu auto controle de não jogar tudo para o alto e ficar com ele... Meu lado racional está entrando em conflito com o lado emocional que vence toda vez que penso nele...
- Você já pensou em desistir? – perguntou com sinceridade e eu parei, eu nunca havia me perguntado isso antes – Você não pode ficar com alguém amando outra pessoa.
- quebrou minha confiança uma vez, coisas aconteceram e mostraram que por mais que a gente se goste, não estamos predestinados a ficar juntos, . – Eu confessei tomando mais um gole longo de café e estremeci com a sensação que ele me causou.
- Ele tem outra pessoa agora. – Eu lembrei com um riso amargo enquanto terminava a frase, fazendo-o me olhar de forma séria – Eu vim pedir desculpas para ele, mas eu o vi com uma garota e ele parecia... Feliz com ela. – Eu travei no fim da frase e ele me olhou preocupado, mantendo os lábios cerrados.
- E foi ai que você decidiu que ia beber. – Ele complementou com um sorriso triste e eu concordei envergonhada, ele sorriu e esticou a mão, puxando a minha e fazendo um carinho amigável – Vocês podem seguir caminhos diferentes, mas sempre as consequências irão mostrar que vocês têm que ficar juntos, . Só vocês não querem enxergar isso, vocês têm medo de quê? Muita coisa já aconteceu, vocês já se machucaram diversas vezes e nunca o sentimento morreu.
- Ela pode fazer o que eu nunca fiz realmente por ele, . – Eu confessei baixo com os olhos marejados e ele me olhou confuso – Eu nunca dei a chance de fazê-lo feliz.
- Eu preciso voltar. – Eu disse rapidamente ao ver que Andrew deveria estar em pane total com meu sumiço – Eu não vou...
- Eu te levo, está bem? – Ele disse em tom brincalhão enquanto deixava o dinheiro e uma gorjeta para sua admiradora – Depois eu pego um táxi.
- Você realmente precisava ver a cara dela quando... – Hilary foi interrompida pelo som estridente do meu celular e eu pedi uma desculpa baixo, enquanto atendia o telefone e ela continuou tomando seu suco.
- ? – Perguntei quando ouvi seu nome no visor do meu celular e dei um sorriso incrédulo ao ver que ele havia me ligado depois de um tempo – Como que você está, cara?
- Eu estou bem... É... Será que você poderia vir aqui em casa? – Perguntou um pouco receoso e eu franzi minhas sobrancelhas, olhando para Hilary que parecia entretida em alguma rede social.
- Aconteceu alguma coisa? – Perguntei preocupado e ele grunhiu alguma coisa, enquanto demorava para me responder – ?
- É urgente. – Ele respondeu em tom sério e ofegante, eu olhei para Hilary que agora me encarava preocupada – Eu tenho um presente para você.
- Daqui uns dez minutos estou aí. – Eu disse rapidamente e antes de desligar, ele sussurrou baixo como se Hilary pudesse me ouvir:
- Venha sozinho, tá?
- Você realmente vai me trocar por testosterona? – Hilary perguntou deprimida enquanto eu estacionava o meu carro simples em frente à casa dela e me olhava com um biquinho tentador.
- Sinto muito, problemas masculinos são tão graves quanto os femininos. – Respondi em tom brincalhão e ela me deu um beijo rápido – Mais tarde nos falamos, ok?
- Obrigada por tudo. – Hilary me beijou mais uma vez antes de sair do carro e eu esperei ela entrar para dar partida. Acelerei o carro e apertei o volante com força, o que aprontou dessa vez?
Estacionei meu carro em frente ao seu loft e caminhei rapidamente, apertei a campainha e rapidamente, fui recebido pelo mesmo. Ele sorriu nervoso e deu passagem para eu entrar.
- Não me diga que eu vou ser tio. – Eu disse rapidamente e negou na mesma rapidez – O que você quer, então?
- Promete que não vai ficar com raiva de mim? – perguntou receoso e eu o olhei suspeito, ele sempre fazia aquele tipo de pergunta depois que ficava com alguma menina que eu já havia gostado – Mas eu juro que não rolou nada.
Ele me guiou até o segundo andar do seu loft e receoso, abriu a porta do quarto dele e eu fique estático com a cena que eu vi em minha frente. dormia encolhia como uma criança e o quarto cheirava a vodca. Meu estomâgo se revirou com o cheiro àquela hora do dia e olhei para ele com certa confusão, eu não estava preocupado com o fato dele ter ficado com ela, afinal sabia o quanto ela era importante para mim.
- Encontrei ela em um bar por volta das dez da manhã, a um quarteirão do seu prédio e cheguei na hora em que um idiota estava tentando tirar uma casquinha dela. – Senti meu sangue ferver com a parte final que havia dito – Eu a levei para tomar um café para não deixá-la embriagada no meio da rua e bem, no caminho da casa dela ela capotou e eu não sabia onde ela morava, então a trouxe até minha casa.
- Que horas você a encontrou, ? – Perguntei mais uma vez e encarei a garota em minha frente, me sentei ao seu lado e ela se manteve no sono pesado.
- Por volta das dez horas. – Ele respondeu em tom sério, parecia que estava escondendo algo de mim e eu suspirei, era o horário que eu havia saído do prédio com Hilary e eu realmente achei que havia visto um carro conhecido, mas pensei que era fruto da imaginação.
- Vou deixar vocês a sós, preciso terminar um relatório. – disse em tom sério indo em direção a porta e eu suspirei.
- Obrigado por ter ajudado.
- Você sabe que eu nunca a deixaria na mão sabendo o quanto ela é importante para você.
Fiquei a observando dormir por quase duas horas até que finalmente peguei no sono sentado na poltrona que tinha em seu quarto. Eu queria respeitar Hilary e não me intrometer mais no casamento de com Andrew, por isso havia saído da cama e ido para a poltrona.
Acordei com os olhos sérios de me encarando ainda deitada na cama de , sua expressão era séria e ela estava com o rosto inchado.
- Traidor. – Ela rosnou baixinho quando me viu ali e eu a encarei confuso, ela se levantou com rapidez e se desequilibrou, caindo na cama novamente.
- Você está bem? – Perguntei em tom sério e controlei o riso ao ver a maneira desajeitada que ela estava agindo – Quer uma aspirina?
- Eu preciso ir embora. – disse desesperada, procurando suas coisas pelo quarto e eu me mantive na poltrona, mordi meu lábio e ela fechou os olhos.
- O que fez você ir até meu prédio hoje? – Perguntei em tom sério e ela me olhou desesperada, por algum tempo uma expressão de raiva tomou conta de seu rosto, mas ao ver meu olhar atento sobre ela, se transformou em culpa.
- Eu queria pedir desculpas pelo que houve naquele dia. – respondeu com sinceridade e encostou as costas na cabeceira da cama e abraçou os joelhos, da maneira que fazia quando se sentia acuada.
- Não foi sua culpa. – Eu disse rispidamente e ela abaixou a cabeça, fechando os olhos e eu sabia o quanto sua cabeça estava doendo – Eu deveria ter deixado você viver sua vida.
- Do mesmo jeito que você está vivendo a sua, né? – respondeu no mesmo tom ríspido e encarei seus olhos marejados – Até alguns dias atrás estava agindo como se não houvesse mais ninguém e hoje mesmo já estava sorrindo para ela da maneira que você sorri para mim.
Aquilo me pegou desprevenido, fiquei encarando por alguns segundos enquanto ela limpava as lagrimas que brincavam em seu rosto e lutava contra si mesma se ficava ou não ali.
- Você sabia que tinha alguém, . – Eu retruquei levemente impaciente e ela abraçou os joelhos com mais força – Duas pessoas estão envolvidas nisso tudo, envolvidas nesse conflito que dura anos entre nós.
- Você acha que eu deixei de acreditar em nós? – Ela perguntou com a voz chorosa e eu a olhei sério – Todo santo dia eu queria que esse sentimento morresse e toda vez que eu olho para você, ele grita dentro de mim.
- E você acha que eu me sinto como? – Perguntei em um tom mais alto e me culpei por ela ter feito cara de dor por causa da ressaca – Eu implorei todo santo dia por ser o cara que te esperaria no altar e agora estou tendo que aceitar o fato de que a mulher da minha vida vai passar o resto da vida com outro cara.
me olhou como se o mundo tivesse parado naquele momento. Seus olhos castanhos pareciam perdidos em um mundo distante do que estávamos e as lágrimas brincaram em seu rosto insistentes.
- Eu só quero que ele te ame da maneira que você sabe que eu te amo. – Eu disse enquanto me levantava e ela abaixou a cabeça, mantendo-se naquela posição que eu sabia que ela ficava quando era agredida pelo pai, quando se sentia machucada por quem ela amava.
Droga, eu não iria conseguir me controlar. Em questão de segundos, estava em meus braços enquanto seu perfume penetrava em meus pulmões com ferocidade. Acariciei seus cabelos e ela soluçou baixinho, eu puxei seu rosto para ela me olhar cara a cara e seus olhos fizeram o que eu não queria que eles tivessem feito... Fitassem meus lábios com desejo.
Ela se levantou e seus lábios ficaram na altura dos meus, seu hálito quente batia contra minha boca me causando um turbilhão de pensamentos. Seus olhos me encararam e eu respirei com dificuldade quando senti sua mão macia em minha nuca.
- Me beija. – Ela pediu como no nosso primeiro beijo e eu quase explodi de alegria, era como se todos nossos problemas e todos ao nosso redor sumissem em uma questão de segundos. Meus dedos se perderam em seus cabelos castanhos e eu acabei com a distância que nos separava, seus lábios úmidos e macios tocaram os meus e eu pedi passagem com a língua e ela logo cedeu. Era um beijo repleto de desejo, saudade e... Por incrível que pareça, amor.
Minhas mãos brincaram por baixo da camiseta branca que ela usava e aos poucos, eu subi a camiseta sentindo sua pele quente sobre minhas mãos. mordeu meus lábios com vontade enquanto eu a deitava e ficava por cima dela, quebrando a distância entre nossos corpos. Não precisávamos falar mais nada naquele momento, não queríamos pensar em ninguém que sairia prejudicado pelo que sentíamos. Éramos inteiramente um do outro e nada destruiria isso, nem eu consegui pensar em mais nada. Eu só precisava terminar aquilo e fazê-la minha novamente.
Ouvi os passos apressados de pelo quarto e abri meus olhos lentamente, a claridade que entrava pela janela me incomodava. Puxei o lençol para cima, cobrindo meu corpo e encarei a rapidez com que ela se trocava e o desespero evidente em seu rosto.
- Duzentas chamadas. – apontou para o aparelho, tentando controlar o nervosismo que estava presente em cada parte de seu rosto – Droga, eu sou uma vagabunda...
- . – A chamei sério e ela me encarou da mesma maneira, não pude controlar um sorriso ao vê-la daquele jeito – O que acontece depois?
- Temos uma última chance de fazer tudo isso dar certo, nossas vidas irão continuar com esse detalhe diferente. – parecia determinada em suas palavras enquanto calçava suas botas.
- E se for der certo? – Perguntei receoso, implorando para que dessa vez conseguíssemos ficar juntos e ela me olhou intensamente.
- Não iremos mais negar o que sentimos. – Ela respondeu enquanto prendia o cabelo e respirava fundo, se preparando para a desculpa que ela daria – Droga, .
Ela apontou para os braços arranhados e eu não consegui segurar a gargalhada, fazendo com que ela ficasse brava comigo.
- Fale que você sofreu um acidente. – Eu disse dando de ombros enquanto começava a me trocar e ela me olhou de maneira séria – Somente isso explicaria o tempo que você não falou com ele.
- Diga que uma bicicleta atropelou você e o médico te segurou porque você bateu a cabeça e ele ficou preocupado. – Complementei em tom sério e ela sorriu envergonhada, concordando e seus olhos castanhos me fitaram mais uma vez – Se você não sair logo, eu nunca mais vou deixar você sair.
- Promete uma coisa? – Ela perguntou receosa e eu me virei para encará-la – Não sorria mais para ela daquele jeito? – perguntou apreensiva e eu sorri para ela, fazendo-a suspirar em seguida.
- Posso sorrir para ela, mas ela nunca vai me fazer sentir o que sinto por você. – Respondi e sorriu para mim, me dando um selinho demorado antes de deixar o quarto e pela maneira rápida que ela saiu, aposto que não havia pensando em se despedir de ou ele simplesmente havia decidido nos deixar a sós e eu devo muita coisa a ele, inclusive lençóis novos.
Junho de 2011
16 anos
Mais uma vez eu olhava para a carteira vazia onde costumava se sentar durante a aula, todos os alunos haviam notado a falta da garota esquisita que NUNCA faltava. Até mesmo o professor de matemática se deu ao trabalho de me perguntar sobre ela quando a aula acabou naquele dia.
- Cara, se você estiver com algum problema eu aviso o técnico. – disse depois de se aproximar de mim enquanto eu arrumava minha mochila e o encarei de maneira séria.
- Eu vou para o treino. – Respondi sem vontade e me culpei por parecer grosso com ele que não merecia nenhuma grosseria por estar se preocupando comigo – É uma das maneiras de eu afastar qualquer pensamento que me cause alguma coisa.
- Todo mundo percebeu o sumiço repentino da sua garota. – disse em tom sério, enquanto se apoiava em minha mesa e parecia tenso – Você sabe que pode contar comigo.
- Em primeiro lugar, não é a “minha” garota. – Eu respondi no mesmo tom, colocando a bolsa em meu ombro direito enquanto andava até o refeitório com ao meu lado – E sim, eu posso e agradeço por isso.
- Você fica um rabugento quando está longe dela. – resmungou ao meu lado, mas ficou em silêncio em seguida, mostrando que havia falado o que não devia e eu fingi que não ouvi a maior verdade que ele já havia dito alguma vez.
Caminhei em passos rápidos até o refeitório e senti que uma parte de mim parecia incompleta, fazia tempo que eu não tinha uma notícia se quer da minha garota. Ela não é sua garota, . Minha voz interior sussurrou em meus pensamentos, me fazendo respirar fundo antes de me sentar com os caras do time de futebol.
- ? – A voz de Amber me fez voltar a realidade em que estava e a encarei perdido, ela me entregou um envelope – Pediram para que eu lhe entregasse isso. – Foi tudo que disse antes de se retirar e eu encarei o envelope branco em minha frente, não havia remetente e nem nada do tipo.
- Uma admiradora secreta? – Um dos caras perguntou curioso, quando abrindo a carta por mim e eu o olhei de maneira breve que não precisou de nenhuma palavra acompanhada – Desculpa.
Levantei-me e fui até o pátio mais afastado da multidão que estava no refeitório, me sentei debaixo de uma arvore e abri a carta com certa pressa. Uma calmaria me atingiu quando a primeira coisa que eu vi foi a letra de .
Querido ,
Sei que provavelmente está chateado comigo por tudo que aconteceu há alguns dias. Eu sinto muito, tentei esconder aquilo de você para te proteger do homem que eu deveria ter aprendido a chamar de pai e não de temê-lo toda vez que ele se aproxima de mim. Sei também que você foi proibido de ficar perto de mim e não julgo seus pais pela atitude que eles tomaram... Eu faria o mesmo para proteger um filho. Talvez, você esteja odiando eles, mas não os odeie. Você tem o amor deles e eu nunca tive esse amor 100% em minha vida. Mas não é disso que eu quero falar com você.
Eu quero que saiba que estou bem. Com tudo que aconteceu, minha mãe decidiu passar um tempo em minha avó no interior e não tive tempo e nem como te avisar antes... Eu sinto sua falta todo dia, a falta de como você olha para mim durante a aula e como é carinhoso comigo a maior parte do tempo. Eu sinto tanto ódio dele por ter machucado a pessoa que eu mais amo, ... Espero que agora que as coisas extrapolaram, minha mãe decida que o melhor para nós é ficarmos longe dele. Sinto que talvez isso não aconteça, não sei se é medo ou amor que ela sente, eu só não quero sentir isso um dia. Espero que você esteja indo bem nas atividades e não esteja trocando suas obrigações por tardes jogando vídeo game, as pessoas devem estar estranhando meu sumiço, mas caso perguntem... Responsa que é apenas uma virose... É vergonhoso que as pessoas saibam a verdade sobre minha vida. Preciso ir... Minha mãe precisa de mim mais do que nunca agora, eu volto a lhe escrever um dia, embaixo está o endereço de minha avó caso você queira responder minha carta. Meu celular foi brutalmente quebrado por meu pai no dia do acontecido e estamos sem dinheiro para outro.
... Não encontre outra melhor amiga durante esse tempo, ok?
Um beijo e saudades,
.
- Onde você está indo? – perguntou quando voltei para o refeitório e peguei minha mochila, colocando-a em meu ombro e caminhando rapidamente para a saída do colégio.
- Embora. – Respondi o obvio e ele parou em minha frente, com uma sobrancelha erguida e os braços cruzados – É a primeira vez que eu falto em um treino e...
- O que ela disse na carta? – Perguntou curioso e eu o olhei incrédulo, as vezes ele parecia uma menina querendo saber das coisas dos outros – Vai cara, sou seu melhor amigo.
- Ela está passando uns dias na casa da avó, está com virose ou algo do tipo. – Respondi como se fosse a coisa mais normal do mundo e ele me olhou confuso – Mais alguma pergunta?
- Quando vai pedi-la em namoro? – Perguntou curioso e eu quase engasguei com minha própria saliva, colocando a mão na boca e tossindo.
- Somos apenas amigos, . – Respondi enquanto ele andava ao meu lado, me levando até a saída e ele riu forçado.
- Eu sei a definição de amizade e no caso de vocês, existe uma completamente diferente, meu caro. – Ele retrucou de maneira formal, tentando parecer inteligente e eu o olhei com um sorriso incrédulo.
- Você precisa de uma garota urgente para parar de encher meu saco, amigão. – Respondi enquanto me despedia dele que sorria vitorioso.
- E você cair em si de que vocês estão tentando evitar o inevitável.
Querida ,
Assim que recebi sua carta a primeira coisa que eu fiz foi faltar em meu treino para poder te escrever o mais rápido possível. Mil pessoas e mil coisas podem ficar no nosso caminho, mas nada vai impedir que a gente continue juntos.
Faltei uma semana na escola depois do acontecimento, demorou um tempo para que o roxo sumisse e minha mãe não queria que eu tivesse que inventar desculpas a cada curioso que perguntasse. Senti sua falta todos esses dias, quando acordei no hospital a primeira coisa que eu queria era saber como você estava... Droga, . Você não deveria ter escondido essa verdade de mim, eu acabei descobrindo da pior maneira, mas nunca vou deixar que ele faça mal algum a você. Eu prometo.
Independente da escolha que sua mãe faça, eu sempre irei te proteger de todos aqueles que pretendem te machucar, até mesmo se eu for essa pessoa. Você é a peça que faltava do meu quebra cabeça e não, eu tenho a família mais perfeita do mundo, pequena.
Eu tenho um irmão mais velho que só pensa em ser o melhor que todo mundo, um pai que dedica todo seu tempo em uma empresa, uma mãe que quer suprir a falta de um pai com mimos e tentando ser a melhor mãe possível, por mais que ela ache que não, ela não precisava de muito para ser a melhor mãe do mundo. E Ashley, que bem, fico feliz do único homem importante na vida dela é o Ken que já tem a Barbie como namorada. Eu e você teremos uma família perfeita um dia, quando ficarmos mais velhos e encontrarmos pessoas que farão bem a nós, claro que se depender de mim, nenhum cara além de mim vai triscar um dedinho em você.
Só quero que saiba que eu também penso em você todo dia, cada minuto longe de você é como se faltasse uma parte importante da minha vida. Eu espero que sua mãe faça uma escolha sábia, sabemos o quanto é difícil esses casos... Ela apenas vai querer o seu bem, eu espero. , eu vou juntar todas as moedas do meu cofrinho e vou comprar um celular novo, meus dedos estão doendo de escrever essa carta para você.
E não, não estou gastando todas as minhas tardes em vídeo game, o campeonato está chegando então estou tendo que me dedicar ao futebol mais do que nunca.
Me responda o mais rápido possível, pequena.
E eu nunca irei trocar você, apesar de todos os seus defeitos... Você é única.
Com amor,
Do gostoso... .
Querido ,
Você tem que estragar o final da carta como sempre, não? Estou te ensinando como viver em tempos antigos quando os amigos de longa distância não tinham a tecnologia ao seu favor. Como você está? E quando será o campeonato? Espero estar presente aí quando você chegar se achando com uma nova medalha, você sempre será meu jogador preferido e não quero nem ver quando começar a ter marias chuteiras em seus pés. Espero que cumpra a promessa de que sou única para você mesmo com modelos internacionais aos seus pés.
Mamãe está cada dia mais distante, parece perdida em suas escolhas e eu sinto o quanto ela sente a falta dele. Talvez para ela, ele nunca deixou o homem pela qual ela se apaixonou um dia... Ela nunca esqueceu o ele de antigamente, por enquanto estou tendo aulas com minha tia que é professora. Ela não quer de maneira alguma que os problemas pessoais atrapalhem meu desempenho ou atrasem minha formação e eu sou eternamente grata a ela por pensar em mim.
As férias estão chegando e espero que eu volte logo para casa, é realmente difícil ficar longe de você e dos cookies de Mary. Quem dera se você enviasse alguns para mim, talvez a saudade deles seja maior que a de você.
Adorei saber que você respondeu tão rápido minha carta e estou te retribuindo, para mostrar que esse desespero é reciproco. Você não pode me impedir de conhecer o amor da minha vida, a não ser que você seja ele. Conheci um casal de idosos que se conheceram quando tinham doze anos de idade e estão juntos até hoje, mas o senhor não é metido como você, e nem galinha. Me desculpe, lembrei que não somos nada além de amigos que se beijam, certo? CERTO. Bom, em breve espero estar aí e espero de coração que sua mãe entenda que precisamos ficar juntos e que eu não pretendo deixar que te machuquem novamente.
Um beijo de sua ÚNICA melhor amiga,
.
Obs: você já era meu anjo da guarda sem ao menos saber disso.
Querida ,
Desculpa a demora para escrever essa carta, eu estava no campeonato. Infelizmente, esse campeonato ficamos em segundo lugar, mas não culpo ninguém da equipe, apenas não era para ser. E bem, eu estou com uma medalha e realmente, irei ficar me achando com ela para você.
Falta menos de uma semana para as férias e você ainda não voltou. É realmente perturbador passar em frente sua casa e saber que você não está ali, minha mãe deixou escapar que você faz falta e que foi um erro nos impedir de se ver, ela disse que quando voltar essa regra estará quebrada sem que meu pai saiba. E bem, mesmo que ela não desse permissão, eu quebraria qualquer regra que me tirasse você.
A semana de provas já acabou finalmente, estou apenas esperando o resultado delas e acho que por incrível que pareça eu fui bem. Estou realmente sentindo sua falta, sério, até mesmo de todos os momentos que você reclama de todos os meus defeitos, até os que não existem. Eu estou escrevendo em poucas palavras porque hoje é o aniversário de Ashley e estou ajudando com os preparativos... Queria que você estivesse aqui, Ash também. Ela te mandou um beijo e que quer brincar de Barbie com você outra vez. Essa família não vive sem você, garota.
Espero que as coisas estejam melhores por aí, eu sinto muito pela sua mãe e sei o quanto deve ser difícil superar certas coisas. Mas o tempo é o melhor remédio, eu estou com saudades de tudo em você, .
Até mais,
Com carinho,
.
Querido ,
Independentemente da posição que você ficasse no campeonato, eu sempre teria orgulho de você. Você ia odiar o quanto esse lugar é parado, até as pessoas são devagar. Estou começando a desejar voltar logo para casa, parece que estou refugiada, escondida aqui em minha avó. E sinto que eles estão incomodados com a maneira como minha mãe está, ela me deixou aqui para passar uma semana aí, ela disse que precisava conversar com meu pai. Apesar de tudo, não consigo deixar de chamá-lo disso, por mais ódio que eu sinta dele, eu me lembro dos poucos momentos que eu sorri com ele.
Dê lembranças a Ashley, enviei um cartão para ela no envelope e por favor, não leia! São coisas de meninas e você pode até estar dividido em sua orientação sexual, mas não leia, entendeu? E dê lembranças a sua mãe ou não? Ela sabe que estamos nos falando antes mesmo dela decidir que foi a regra mais imbecil que ela já criou? Eu te disse para não ficar bravo com ela, o coração dela é maior que o mundo inteiro.
Eu também estou sentindo inexplicavelmente sua falta e a maneira como você sorria para mim querendo me desconcentrar na aula, todo dia eu rezo para as coisas se resolverem, . Às vezes nem ligo para o que virá, contanto que eu volte logo a ter você todos os dias do meu lado. E por favor, não exagere nos salgadinhos, a última festa você vomitou no meu vestido preferido e eu nunca mais tive coragem de usá-lo. , seria loucura e errado falar que eu sinto falta de como você me abraça? De como você... Me beija? Talvez essa distância esteja mexendo com meu bom senso, mas ficar longe de você é realmente enlouquecedor. Enfim, espero que suas notas sejam boas e que a gente se veja logo.
Com carinho,
.
Respirei fundo enquanto me afundava cada vez mais no sofá enquanto meu avô insistia em assistir mais um documentário sobre a revolução russa em algum canal da televisão a cabo recém colocado. Queria profundamente lembrá-lo de que ele tinha muito mais que um único canal disponível na televisão agora, mas brigar com ele por qualquer motivo era impossível. Eu devo ter engordado uns cinco quilos desde que cheguei aqui, com minha mãe me proibindo de usar qualquer meio de comunicação que me deixasse a mercê de fofocas e daquele que eu insisto em chamar de pai, eu realmente me dediquei a ser a degustadora oficial das comidas de minha avó.
A campainha tocou e eu bufei, sem vontade alguma de me levantar e agradeci mentalmente, quando minha vó caminhou em passos rápidos e curtos até a porta principal. Ela usava um coque bem feito e óculos pequenos, provavelmente estava fazendo algum cachecol colorido que eu teria que usar para agradá-la sendo que pareceria uma tortura de tanto que me pinicaria.
- . – Ela me chamou e eu a olhei rapidamente, ela fez um sinal para que eu caminhasse até a porta e eu levantei sem vontade, indo quase me rastejando até a porta principal – Encomenda.
Assim que levantei meus olhos, eu não acreditei no que estava em minha frente. Os cabelos castanhos curtos estavam mais bagunçados que o normal e os olhos azuis fixos em mim, esperando uma reação ao vê-lo ali em minha frente. estava bem mais bonito desde a última vez que eu o havia visto e quanto mais eu convivia com ele, menos percebia o quanto ele era gato.
- Já que você não vai falar nada, eu falo. – disse de maneira engraçada ao ver que eu não conseguia esboçar nenhuma reação ao vê-lo ali em minha frente, em carne e osso – Eu decidi trazer pessoalmente os cookies que você estava sentindo falta e aproveitei para trazer uma carta junto.
Não consegui dizer nada e me envolvi em seus braços, sentindo seu perfume que eu tanto gostava. E quando ele me abraçou de volta, foi como se alguma parte do meu coração se preenchesse. Naquele momento, eu voltei a me sentir inteira. Eu precisava de um abraço, de um abraço bem apertado, um abraço que me livrasse das angústias que eu estava passando. E o abraço dele foi exatamente isso.
- Não vai falar nada? – perguntou em tom brincalhão, segurando meu queixo com uma de suas mãos enquanto sorria daquela maneira que eu tanto gostava.
- Você é louco. – Sussurrei um pouco engasgada com aquele momento e ele riu baixinho, beijando a ponta de meu nariz e dei passagem para ele entrar – Sua mãe vai te matar.
- Na verdade, ela está apenas dando uma volta pela cidade para dar tempo de ficarmos juntos. – respondeu com um sorriso que mal cabia em seu rosto e eu o abracei com força mais uma vez.
- Não aguento mais ficar aqui, . – Eu sussurrei baixo para que meus avós não ouvissem, o problema não era com eles, eu os amava incondicionalmente, eu só queria minha vida de volta.
- Vamos embora comigo. – Suas palavras eram tentadoras e eu respirei fundo para não ceder tão rapidamente, droga, eu deveria usar meu lado racional e não deixar que as emoções tomassem conta de mim – Está na hora de decidir as coisas por si mesma.
- Preciso falar com meus avós e...
- Não precisa, querida. – A voz de minha avó me trouxe a realidade e eu a olhei desesperada, ela estava em sua cadeira de balanço, tricotando alguma coisa e manteve um sorriso cúmplice em seu rosto pálido – Eu não quero que sua vida pare por um problema de sua mãe, eu assumo as consequências de sua ‘fuga’.
- Eu não quero que a senhora se prejudique. – Eu respondi em tom sério, me aproximando de minha avó que sorriu de maneira doce, me olhando por algum tempo.
- Eu já tive sua idade, . – Ela me repreendeu com um sorriso travesso em seu rosto e na sala, meu avô nos encarava com um sorriso brincalhão – E como dizem, os avós estão aqui para quebrar todos os ensinamentos que os pais dão para os filhos.
- Eu amo a senhora. – Eu a abracei com força – Mas não deixarei que aconteça algo a vocês dois.
- Não irá acontecer nada conosco, teimosa. – Meu avô respondeu da sala e eu sorri emocionada – Mas em troca, quero esses cookies.
- Robert, cuidado com sua diabete. – Lembrou minha avó em tom sério, fazendo rir e se aproximar de meu avô, se sentando ao seu lado enquanto dividiam o que seriam meus cookies, mas eu estava tão feliz que nada me afetaria naquele momento – Vamos arrumar sua mala, querida.
Peguei todas as roupas dobradas em meu armário e as joguei dentro de minha mala, eu não ligava para o quanto as roupas ficariam amarrotadas, eu só queria voltar para minha rotina, para minha vida, voltar para . Digo, para a nossa rotina juntos de melhores amigos, claro.
Quando finalmente fechei o zíper de minha mala, encarei os olhos marejados de minha avó e a abracei com força. Seu cheiro adocicado invadiu minhas narinas e eu funguei baixo, eu não queria deixa-los como culpados por minha fuga.
- Eu estou deixando você ir porque confio naquele garoto. – Minha avó disse enquanto fazia um carinho gostoso em meus cabelos, me abraçando com mais força – Coisa que eu nunca senti com seu pai, querida.
- Não o chame assim. – Lembrei em tom sério e ela sorriu culpada, a abracei com mais força e ela me soltou, me olhando de maneira firme.
- Independente do quanto seja difícil, não saia do lado de sua mãe, . – Minha avó pediu e eu suspirei, não sabia se seria capaz de obedecê-la – , me prometa.
- Tenho medo de prometer algo que não sei se posso cumprir. – Falei com firmeza e ela concordou triste, me deu um beijo na testa e eu peguei minha mala.
Parei no meio da sala com minha mala e sorri para que retribuiu ao me ver pronta para ir embora com ele. Meu avô sorriu de maneira doce e eu corri para abraça-lo, seus braços magrinhos me envolveram e me apertaram com força.
- Obrigada por tudo que fizeram por mim. – Eu sussurrei para ele, mas em tom alto o suficiente para que minha avó conseguisse escutar – Eu amo vocês.
Despedi-me rapidamente de minha avó novamente, abri a porta de madeira com atrás de mim carregando minha mala e eu sorri nervosa ao ver a mãe de nos esperando ansiosamente apoiado na lateral do carro.
- Eu disse que nunca mais ia deixar vocês se verem e estou aqui, ajudando em um crime.
- Isso não é um crime, mãe. – lembrou após jogar minha mala no porta malas enquanto eu entrava no banco traseiro e ele no passageiro.
- Que tipo de mãe eu sou? – Ela se perguntou novamente de maneira engraçada enquanto ligava o carro e o acelerava quase no mesmo instante – O tipo de mãe que não pode deixar que uma menina se prejudique no colégio por causa dos pais.
- Esse argumento é bom. – incentivou em tom brincalhão, fazendo com que eu segurasse um sorriso.
- Cale a boca, . – Sua mãe pediu em tom sério, mas um sorriso brincou no canto de seus lábios – Bem vinda de volta, querida. Infelizmente, você terá que brincar muito de Barbie nesses dias.
- Finalmente! – Ashley exclamou após ouvir tudo que aconteceu entre eu e no dia anterior, era claro que eu precisava de alguém que me ouvisse sem me criticar e Ashley era a pessoa menos pior para isso – Essa é a que eu conheço.
- Obrigado pelo apoio. – Respondi ironicamente e ela lançou um sorriso cheio de intenções para mim – Dá para você parar de sorrir assim? – Perguntei levemente irritado e ela negou – Droga, para de agir como se você tivesse dezoito anos, eu não quero saber sobre...
- Cala a boca. – Ashley rosnou baixinho, me olhando de maneira séria enquanto tomava um gole do milk-shake de morango que eu havia comprado para ela – Estamos no meio do shopping e eu nunca falaria das minhas intimidades para você.
- Intimidades? – Perguntei incrédulo e ela me olhou cansada, tomando um longo gole de seu milk-shake – QUEM FOI O RESPONSÁVEL POR...
- Ok, desculpa. – Me sentei novamente na cadeira ao ver que as pessoas nos olhavam curiosas na praça de alimentação do shopping – Por que você escolheu o shopping para conversarmos?
- Eu trabalho aqui, maninho. – Ashley lembrou com um sorriso sarcástico, tomando o resto do seu milk-shake enquanto se levantava e eu fazia o mesmo – E você parecia desesperado no telefone.
Caminhamos em silêncio até a loja de maquiagem que Ashley trabalhava com a ajuda do curso de maquiadora que ela havia feito há algum tempo, era a desculpa para ter o próprio dinheiro e ajudar minha mãe com as despesas. Apoiei no batente da loja enquanto a encarava de maneira séria, vendo-a colocar um avental preto e prender os cabelos em um coque bem feito.
- Aposto que você prefere as que cheiram sardinha. – Ashley brincou após passar um perfume tão doce que eu fiz uma careta em seguida – Trabalhar em um aquário deve ser bem mais emocionante que aqui.
- Você pode me ajudar em alguns eventos, de repente como maquiadora quando eu souber de algum evento de moda. – Eu disse em tom sério, fazendo-a sorrir abertamente em minha direção.
- Você faria isso por mim? – Perguntou com os olhos brilhando em minha direção e eu concordei, fazendo-a sorrir mais ainda e correr em minha direção para me dar um abraço forte.
- Obrigada, eu te amo!
- Interesseira.
Junho de 2011
16 anos
- Gostou do seu quarto novo? – Perguntei quando encarei a figura de descer as escadas com os cabelos ainda úmidos e ela me lançou um sorriso carinhoso. Caminhou em passos rápidos até onde eu estava e se sentou ao meu lado no sofá.
- Obrigada por fazer isso por mim. – Respondeu com o sorriso ainda brincando em seu rosto, sua felicidade parecia a de uma criança que havia acabado de ganhar centenas de presente. se aproximou sem avisar e apoiou a cabeça em meu ombro, fechando os olhos em seguida. Seus dedos percorreram minha coxa coberta pela calça jeans e se entrelaçaram aos meus, eu levei sua mão até minha boca e dei um beijo carinhoso nas costas de sua mão.
- Você achou mesmo que eu não daria notícias, não é? – perguntou após dois minutos de silencio e eu sorri nervoso, fazendo com que ela apertasse minha mão com mais força – Eu nunca vou sumir de sua vida, eu prometo.
- Não prometa o que não pode cumprir. – Lembrei em tom sério, fazendo-a me olhar por alguns segundos e depois, voltar a encarar nossas mãos entrelaçadas.
- Você e sua mania negativa. – resmungou baixinho e se aninhou mais em meus braços, ela manteve os olhos fechados – Tenho medo do que vai acontecer quando souberem que eu fugi.
- Não me importo de apanhar mais uma... Me desculpa, eu... – Tentei corrigir rapidamente e pude ouvir um riso baixo vindo dela que se ajeitou para poder me encarar com seriedade.
- Eu deveria ter te contado antes sobre isso. – respondeu em tom sério e manteve nossas mãos entrelaçadas – Dizem que é algo que acontece com tantas famílias, mas nunca acreditamos que pode acontecer com a nossa... E o medo domina a gente, .
- Não precisa falar disso se você não quiser. – Eu avisei rapidamente, vendo que aquele assunto poderia magoá-la e isso era o que eu não queria naquele momento.
- Eu preciso. – Ela fechou os olhos e murmurou com a boca quase fechada, concordei sem dizer nada e ela suspirou de alivio – Eu não deveria ter deixado afetar você.
- Independente da escolha de sua mãe... Eu vou estar ao seu lado. – Afirmei segurando em seu rosto e ela sorriu com os olhos marejados – E se ele ousar tocar um dedo em você, eu não pensarei duas vezes antes de te levar para longe dele, .
me deu um selinho demorado e eu a abracei com força, era bom senti-la perto de mim daquela maneira, eu a amava e não sabia explicar o quão difícil era o meu sentimento por ela. Eu sabia que era único e especial.
- Hora do jantar! – Ashley gritou animadamente da cozinha e se afastou de mim, sorrindo de maneira doce enquanto me ajudava a sair do sofá e caminhávamos até a cozinha – Lasanha!
Nos sentamos na mesa de madeira e minha mãe serviu um pedaço para cada um, Christopher chegou em seguida com sua nova namorada e minha mãe fez questão de que tudo saísse de maneira perfeita. Christopher inúmeras vezes encarava com um ódio controlado, eu sabia que ele era facilmente influenciável por meu pai e que a qualquer momento meu pai poderia entrar em casa e gritar com minha mãe pelo fato de que estava em nossa casa depois de tudo que havia acontecido.
- Nosso pai sabe da visita? – Christopher perguntou após dar um longe gole no refrigerante que estava em seu copo e eu olhei rapidamente para minha mãe.
- O seu pai está muito ocupado com as coisas dele, Christopher. – Minha mãe foi direta ao ponto e eu quis beijá-la ali mesmo, limpou a boca com o guardanapo antes de continuar – está passando por um momento difícil e toda ajuda é bem-vinda.
- Já começa a treinar para bater nela quando essa amizade virar algo a mais, irmãozinho. – Christopher soltou ironicamente e eu senti meus punhos se fecharem quando deixou a comida e ficou em silêncio ao meu lado. A garota ao lado de Christopher olhou para ele de maneira horrorizada.
- Algumas mulheres realmente nasceram para apanhar. – Christopher continuou ironicamente e eu não pensei duas vezes antes de voar em sua direção.
O barulho de sua cadeira batendo contra o chão fez com que todos acordassem na mesa e Ashley gritou animadamente ao ver que eu não estava poupando os socos em Christopher que tentava desesperadamente me tirar de cima dele. Senti alguém me puxar com ferocidade e olhei para que me olhava assustada com a cena que havia acontecido bem em sua frente, minha mãe mantinha uma expressão de raiva em seu rosto e pude ver quando Mary finalmente soltou minha camiseta e eu consegui voltar a respirar normalmente.
- SEU IMBECIL! – Christopher gritava com raiva enquanto tentava estocar o sangramento em seu nariz e a garota que ele havia chamado para jantar controlou um sorriso ao ver que ele havia recebido o que merecia.
- , vá para o seu quarto! – Minha mãe gritou atordoada e correu na direção de meu irmão, lancei um olhar rápido para que continuou estática sentada ao lado de Ashley que aplaudia animadamente – , leve Ashley para o quarto.
pegou a mão de minha irmã e subiu rapidamente para o quarto, passando por mim como um furacão e respirei fundo. Eu não queria causar aquilo para ela, mas não poderia deixar que Christopher a ofendesse de tal maneira.
Subi as escadas sem vontade e pude ouvir Christopher resmungar alguma coisa para minha mãe, virei lentamente meus olhos e entrei em meu quarto. Fechei a porta e respirei fundo, meus dedos ardiam por causa da força que eu havia usado em Christopher, ele havia merecido cada soco que eu dei nele e eu não me arrependia de ter feito.
Ouvi minutos depois uma buzina, espiei pela janela e pude ver um carro vermelho parado em frente a porta de casa. A namorada, talvez não mais namorada, de Christopher entrou na porta do passageiro e o carro acelerou pela rua escura. Em seguida, vieram os passos pesados no corredor e a batida da porta de Christopher fez com que eu suspirasse, eu sabia que consequências viriam, mas eu estava disposto a encará-las.
Duas batidas na porta fizeram com que eu suspirasse antes de destrancar a porta, a figura séria de minha mãe invadiu meu quarto. Os cabelos castanhos presos em um coque mal feito, os olhos cansados e tristes me encararam de maneira séria.
- Eu deveria estar brava em você porque não tolero nenhum tipo de violência nessa casa. – Minha mãe disse em tom sério, se sentando na beirada da minha cama enquanto eu voltava a me deitar, entediado – Principalmente, violência verbal como Christopher fez. Em nenhum momento, você deveria ter quase quebrado o nariz dele e nem ele falado daquele jeito com .
- Quase? Que pena, eu queria que tivesse quebrado. – Ironizei com os braços cruzados sobre o peito enquanto ela falava, fez uma pausa para me olhar feio e suspirou.
- Sei que quer sempre estar presente para proteger e eu admiro você por isso, mas não quero que se machuque por causa disso. – Ela alertou me olhando com seriedade e eu respirei fundo, fechando meus olhos – , eu só não quero mais problemas, entendeu? Você me convenceu de que eu não teria mais problemas com essa garota, hospedei ela aqui em casa sabendo das consequências que eu terei mais para frente. Não passou um dia e eu quase corri para o hospital na primeira noite.
- Não vai se repetir. – Eu resmunguei em tom baixo e ela me olhou confiante – Eu vou me controlar.
- Eu irei conversar com Christopher, não quero que ele seja um idiota quando crescer. – Ela respondeu em tom sério e me deu um beijo rápido na testa – Você estará de castigo, sei que não posso tirar de você novamente, portanto faltará nos dois treinos do time de futebol.
Qualquer coisa era menos pior do que ficar sem .
- E falarei com Ashley também, ela foi a que mais incentivou quando viu Christopher apanhando. – Tive que controlar o riso e minha mãe fez o mesmo antes de sair de meu quarto, respirei fundo e peguei o celular, digitando rapidamente uma mensagem para .
Me desculpe pelo ocorrido, eu avisei que meu irmão é um idiota.
Deitei a cabeça no travesseiro e apertei o celular contra o peito, sentindo-o vibrar segundos depois. Sorri ao ver a mensagem de .
Eu sabia que eu seria um problema para a família de vocês, sinto muito.
Virei meus olhos lentamente e bufei irritado, eu odiava a maneira como se sentia culpada por tudo. Talvez, esse seja o principal defeito dela.
Você não precisa se sentir culpada! Ele é quem começou com tudo isso.
Demorou algum tempo para o celular vibrar novamente e eu não hesitei quando a mensagem de brilhou na tela.
Você não vai seguir o que ele falou, não é?
Não consegui esconder um sorriso fraco ao ver o que a estava incomodando naquele momento, comecei a digitar rapidamente as palavras.
Se ficarmos juntos, eu vou fazer de você a garota mais feliz da face da terra.
Um sorriso fraco brincou em meus lábios ao imaginar a reação dela lendo aquela mensagem, mas não respondeu e logo, peguei no sono. Sendo despertado pelo toque silencioso de meu celular no meio da madrugada.
- Alô?
- Estou tendo pesadelos. – A voz de era chorosa e baixa, eu sabia que ela fazia o maior esforço para não acordar ninguém e eu sorri fraco.
- A porta está destrancada. – Eu disse no mesmo tom e senti que ela sorria, desliguei o celular e segundos depois, a porta se abria lentamente sem fazer barulho.
colocou a cabeça para dentro do quarto e eu controlei um sorriso enorme ao vê-la ali. Os cabelos castanhos estavam soltos na altura do ombro e ela encostou a porta sem fazer barulho, usava um pijama de frio de gatinhos e eu controlei o riso ao ver que os hábitos antigos nunca mudavam e ela sorriu ao ver que eu estava pensativo.
- Espero que não esteja pensando algo a respeito do meu pijama. – Ela grunhiu baixinho e eu dei espaço para ela se deitar em minha cama e eu neguei rapidamente, fazendo com que ela acreditasse em mim.
se endireitou em minha cama e se ajeitou em meus braços, sua respiração quente e rápida batia contra meu pescoço enquanto eu encarava o teto branco. Ela respirou fundo e fez carinho com a ponta de seu dedo em minha camiseta velha que eu usava como pijama.
- Sinto que minha mãe vai ceder. – confessou baixinho como se aquele fosse um segredo horrendo que ninguém poderia saber – Sei o que as pessoas vão falar dela.
- Você não deveria se preocupar com isso. – Respondi em tom sério, enquanto a puxava para mais perto de mim e ela suspirou cansada.
- Eu só quero o melhor para ela e estarei ao lado dela para tudo. – afirmou segundos depois de maneira determinada e fechou os olhos, pensativa – Eu só não quero que ele nos machuque novamente.
- Quando ele começou a te machucar? – Perguntei receoso, eu não sabia se iria suportar ouvir o que havia passado escondido de mim durante um bom tempo.
- Quando eu comecei a desconfiar e defender minha mãe em algumas ocasiões. – Respondeu sinceramente enquanto brincava com meus dedos, parecendo uma criança – Eu o respeitava até o momento que as coisas começaram a aparecer para mim. Ninguém quer reconhecer que existe um desconhecido dentro de casa no lugar da pessoa que você ama.
- Sei o quanto é difícil para você. – Confessei baixinho enquanto apoiava o queixo em sua cabeça e apreciava o aroma gostoso que vinha de seus cabelos – Minha família não é perfeita.
- Nenhuma é. – respondeu com a voz falha e eu abracei seu corpo frágil com mais força – Christopher realmente é diferente de vocês.
- Graças ao bom Deus. – Resmunguei em tom brincalhão e ela riu baixinho, se aninhando em mim – Ele puxou os defeitos de meu pai.
- Estou começando a ficar com sono. – murmurou baixinho com a boca próxima ao meu pescoço, me causando choques sem que ao menos soubesse.
- Dorme bem, pequena.
- A gente vai...
- Achei que nunca iria perguntar. – Brinquei me afastando dela e puxando o colchão embaixo da cama e pegando um travesseiro no armário – Não podemos desrespeitar as ordens da dona da casa, mas podemos mudá-las.
Deitei-me no colchão debaixo e senti os olhos castanhos de sobre mim, ela sorriu de maneira doce e me deu um beijo rápido, retribui na mesma velocidade e ela se jogou em minha cama.
- Você é o melhor amigo que alguém pode ter.
- Amigo colorido, arrume sua frase. – Avisei.
- Boa noite, .
- Boa noite, pequena.
Acordei com a claridade invadindo meu quarto e olhei para a cama em que estava dormindo e suspirei aliviado ao ver que ela continuava ali, dormindo de forma pesada. Olhei para a porta entre aberta e um sorriso brincou nos lábios de minha mãe, seus olhos azuis me fitaram e ela fez sinal para eu encontrá-la quando me levantasse.
Arrumei meu cabelo e vesti uma roupa decente no banheiro, quando eu voltei se manteve da mesma maneira. Puxei a coberta até seus ombros e ela suspirou, controlei a vontade de beijá-la e desci rapidamente a escada.
Meus passos cessaram quando encontrei a mãe de sentada em meu sofá com uma expressão tranquila, ela ria de alguma coisa que minha mãe falava e as risadas sumiram quando ela finalmente me viu parado na escada.
- Eu soube do sumiço de e nem precisei interrogar meus pais para saber onde ela estava. – A mãe de disse tentando quebrar o gelo que havia se formado enquanto eu a olhava sem expressão, eu não queria que ela tirasse de mim novamente.
- Querido. – Minha mãe me olhou de maneira séria enquanto o apelido carinhoso escapou de sua boca – Ela veio em paz.
- Eu não quero que você a leve. – Eu murmurei com raiva e meus dedos grudaram na palma de minhas mãos, senti minhas unhas incomodarem – Ela não merece pagar pelos seus erros.
- ! – Minha mãe gritou surpresa com minha reação e a mãe de se manteve com a mesma expressão tranquila enquanto me encarava – Me desculpe, Violet.
- Eu vim agradecer por ter ido buscá-la. – Violet disse em tom sério e seus olhos castanhos me penetravam com profundidade, fazendo com que minha respiração falhasse – Fui cega demais para ver que eu não tinha o direito de tirá-la da escola e de você. Não vim pedir para ir comigo de volta para nossa casa, vim pedir para sua mãe que ela fique mais algum tempo aqui, talvez mais uns dias apenas para tudo voltar ao normal.
- Você vai mesmo voltar para ele? – Perguntei indignado e ouvi minha mãe suspirar ao invés de chamar meu nome novamente – Depois de tudo o que ele fez?
- Ele está passando por momentos difíceis. – Violet respondeu de maneira dolorida, segurando as lagrimas enquanto tentava se manter firme em minha frente – Eu jurei que o amaria, .
- Ele agrediu a própria filha! – Gritei no mesmo tom, ignorando se aquela gritaria acordasse ou um dos meus irmãos – Ele a machucou!
- Ele estava fora de si! – Violet retrucou irritada, as primeiras lágrimas brincaram em seu rosto e ela deu uma risada amarga – Um garoto de dezesseis anos me fazendo chorar.
- , volte para o seu quarto. – Minha mãe pediu impaciente e se aproximou de Violet, olhei mais uma vez para a mulher em minha frente que cobria o rosto com as mãos trêmulas.
- Se ele ousar encostar um dedo em , eu não responderei por mim. – Foi tudo o que eu disse antes de subir as escadas com velocidade, encontrando os olhos tristes de à minha espera, ela correu em minha direção e eu a abracei com força.
Apertei pela milésima vez o botão do controle remoto, procurando algo interessante naquele domingo entediante. A campainha tocou e eu respirei fundo, era quase cem por cento de chance de ser Hillary e eu me sentia mal de pensar que isso era ruim, ela estava tentando me fazer acreditar que eu poderia deixar de amar . Se nem o tempo conseguiu, por que ela conseguiria?
Mary andou rapidamente até a porta, eu podia ouvir o barulho de suas sapatilhas pretas já velhas contra o piso de madeira do meu apartamento. A porta se abriu e pude escutar um murmúrio surpreso de Mary, virei minha cabeça lentamente e encontrei uma pálida vindo em minha direção, me levantei rapidamente e ela me abraçou desesperada.
- O que houve? – Perguntei preocupado, lançando um olhar tranquilizador para Mary que fechou a porta e nos deixou a sós, ouvi choramingar baixinho e segurei seu rosto, colocando-o perto do meu.
- M-Meu pai... – gaguejou com a voz chorosa e eu olhei fixamente em seus olhos castanhos marejados, eu já começava a temer o pior – Ele me enviou uma carta, pedindo para que eu o visitasse.
- Você trouxe a carta? – Perguntei com a voz falha, tentando esconder o espanto que eu sentia ao saber que ele havia decidido depois de cinco anos tentar uma chance com ela.
- Trouxe. – se sentou no sofá e eu me sentei ao seu lado, ela tremia enquanto procurava pela carta em sua bolsa bege e me entregou rapidamente quando a achou.
Observei a carta amarelada e respirei fundo, abri a mesma com facilidade e soluçava baixinho em minha frente. Mary apareceu como se lendo meus pensamentos e entregou uma água com açúcar para e se sentou na mesinha de centro, me olhando apreensiva. Suas mãos se entrelaçaram com as de e eu sorri, sabia que Mary nunca conseguia ficar com raiva de .
Comecei a ler a carta em minhas mãos e respirei fundo, concentrando-me nas palavras em minha frente. Querida ,
Se é que ainda tenho o direito de te chamar dessa maneira. Sinto que depois de longos cinco anos temos muito para conversarmos, tenho tanta coisa para lhe dizer... Quero ter seu perdão agora que me tornei um novo homem. Sei que é tarde demais para voltar ao passado e mudar tudo que eu fiz de mal a você e a sua mãe, mas quero que saiba que eu me arrependo. Não quero partir dessa vida sem o seu perdão, sua mãe me manda fotos suas por mais que seja contra a sua vontade e eu vejo que você se tornou uma mulher maravilhosa.
Eu sei que nada do que eu farei trará seu amor inocente que sentia por mim, sei que te magoei demais e quero tentar iniciar um novo capitulo com você. Você está disposta a dar uma chance para mim? Uma ultima chance, é isso que eu te peço.
Com carinho,
De seu (eu espero que eu ainda seja) pai.
Levantei meus olhos azuis para encará-la e ela mordia o lábio nervosa, com as mãos ainda entrelaçadas nas de Mary que me olhava apreensiva. respirou fundo e balançou a cabeça, sem saber o que falar e eu coloquei minha mão por cima da de Mary.
- Eu estarei ao seu lado em qualquer escolha que você fizer. – Eu avisei em tom sério e choramingou baixinho, fechando os olhos e concordando com a cabeça – ...
- Ele nunca mandaria uma carta assim, . – Respondeu com a voz chorosa e eu a encarei confuso, ela balançou a cabeça e puxou todo o ar que seus pulmões eram capazes – Ele provavelmente está precisando de alguma coisa.
- Faz cinco anos que vocês não têm contato, . – Eu retruquei um pouco chocado e ela mordeu o lábio com mais força, me deixando nervoso – Você sabe que eu nunca o defenderia...
- Doença, . – foi direta ao ponto e eu a olhei curioso – Eu o conheço e sei que ele nunca pisaria no próprio orgulho.
- Você acredita que as pessoas mudam? – Perguntei em tom sério e ela me olhou apreensiva, Mary nos olhou mais uma vez antes de nos deixar a sós mais uma vez.
- Você me deu uma chance. – Eu murmurei baixinho, aproximando meu rosto do dela e senti a ponta de seu nariz tocar no meu, fazendo com que seu hálito quente batesse em minha boca – Por que não pode dar uma a ele?
- É diferente. – retrucou ainda com nossos rostos próximos e eu acariciei sua bochecha com meu polegar e ela abriu os olhos para encarar os meus tão próximos dos seus – Eu amo você.
- Faça uma escolha que você não se arrependa no final. – Eu aconselhei, colocando uma mecha rebelde de seu cabelo atrás de sua orelha e ela suspirou, eu a puxei para mais perto e dei-lhe um beijo no canto da boca rapidamente – Você nunca vai saber como será se você nunca tentar.
- Andrew disse que era perda de tempo. – soltou alguns minutos de silencio depois e eu revirei meus olhos lentamente, fazendo com que ela sorrisse sem vontade.
- Ele não sabe o que é o melhor para você. – Retruquei irritado e ela se ajeitou em meu abraço, suspirando enquanto eu fazia um carinho em seus cabelos – Você que sabe o que é melhor para você mesma, .
- O que sua mãe disse sobre isso? – Perguntei curioso após algum tempo de silêncio e ela me olhou de maneira triste, sorrindo fraco.
- Disse que eu deveria largar de ser teimosa e dar uma chance para recomeçar antes que seja tarde demais. – respondeu, relaxando os ombros e eu entrelacei nossos dedos, brincando com eles enquanto ela sorria de maneira triste.
Final de junho - 2011
16 anos
havia finalmente voltado ao colégio, algumas pessoas haviam perguntado sobre o sumiço repentino e demorado dela, mas ela inventou uma desculpa que um parente estava doente e a família precisava dela. Alguns ainda tiveram a ousadia de perguntar do por que ela havia escondido aquilo de mim e a resposta de se manteve simples e direta: nunca me deixaria largar os estudos. E mais ninguém ousou perguntar mais alguma coisa.
Sentávamos longe um do outro agora, ela não se vestia mais daquela maneira estranha e eu odiava o fato de começarem a reparar na minha melhor amiga com outros olhos, como eu sinto falta daquelas malditas marias-chiquinhas, mas eu não podia negar que estava feliz por ela estar sendo ela mesma novamente.
mandava alguns olhares discretos em minha direção enquanto mordia a tampa da caneta, uma mania que ela havia adquirido com o passar dos anos. Eu sentia dó da tampa quando ela estava prestes a fazer uma prova ou receberia uma nota importante, fico imaginando quantas tampas de caneta ela morderia no dia do seu casamento. Mas não quero pensar em entrando em uma igreja agora, a não ser que seja para ir à missa.
- , acho que você consegue responder à questão na lousa, certo? – O professor de matemática perguntou com um olhar enfurecido em minha direção enquanto eu me ajeitava na cadeira e observava a equação que ocupava todo o quadro negro e engoli em seco.
- Eu consigo. – Salvo pela CDF mais gata da sala, lancei um olhar rápido para que estava com o braço erguido e recebeu um olhar enfurecido do professor por estar sendo minha cúmplice – O resultado é cinco.
- Você é uma excelente aluna, . – O professor confessou passando as mãos pelos cabelos grisalhos e eu controlei a vontade de sorrir para ela – Mas não quero mais você defendendo os que não merecem.
- Ele não tem capacidade para responder essa questão, Senhor. – respondeu em tom irônico e lançou um olhar provocativo em minha direção, me fazendo encará-la com curiosidade. Ela havia se esquecido que estava morando em minha casa e comendo da minha comida? Um sorriso brincalhão brilhou em seu rosto após o professor virar as costas e olhei feio para ela, que voltou a se concentrar em algo em seu caderno. Suspirei e espantei qualquer pensamento de como ela era incrível e voltei a me concentrar naquela expressão matemática horripilante.
- O baile de primavera é daqui um mês! – Ouvi a voz animada de Amber enquanto me aproximava de após o professor terminar a aula e meus passos até elas diminuíram a velocidade apenas para escutar a conversa – Quem você quer que te leve?
- Não sou fã dessas coisas, Am. – retrucou enquanto terminava de ajeitar o material e eu me mantive distante, fingindo que eu havia parado para falar com um dos jogadores do time de futebol que realmente tentou puxar algum assunto comigo e era apenas respondido por palavras curtas.
- Soube que o Peter está querendo chamá-la. – Amber cutucou com um sorriso provocante e eu quis quebrar todos seus dentes com um soco, tentei manter minha posição, mas eu não queria ver com um babaca que não fosse eu.
- Para de besteira, Amber. – foi mais direta e senti seu olhar sobre mim, mas depois ela voltou a encarar a amiga – Preciso estudar para as provas que eu perdi.
- Está bem. – Amber resmungou, pegando seu fichário e finalmente deixando em paz, me despedi do jogador e me aproximei ansioso na direção de .
- Você deveria aprender a disfarçar melhor. – avisou em tom sério, colocando a mochila sobre um ombro e eu bufei descontente com seu comentário – Estou sendo sincera, .
- Você mal sabe quem é Peter. – Retruquei sem vontade enquanto saiamos da sala e ela deu um sorriso fraco, mantendo o ritmo rápido de seus passos – Ou sabe?
- Não, não sei. – respondeu com rapidez, parecendo levemente irritada com minha pergunta e se virou para me encarar – Mas nada me impede de saber quem ele é, certo?
- Certo. – Falei sem vontade e ela sorriu com vontade, caminhávamos em direção ao portão principal e ela me olhou rapidamente, vendo minha cara de merda enquanto andávamos.
- ... Você sabe que eu odeio bailes. – disse parando em minha frente e me encarando de maneira séria, seus olhos castanhos borbulhavam sinceridade e eu bufei, desanimado – As pessoas finalmente estão me notando, você deveria estar feliz por isso.
- Ele só quer te levar para a cama.
- As pessoas normalmente fazem isso no baile de formatura, acho que estamos uns anos antes. – retrucou com um olhar raivoso em minha direção.
- Você quem sabe, mas não vou assumir o filho de outro.
- Cale a boca, idiota. – rosnou com ferocidade e senti seu olhar pesado sobre mim enquanto eu saía de perto dela a passos largos e ela teve que correr para me alcançar – Temos um mês para essa droga de baile e você vai agir como um babaca?
- Desculpe é que eu...
- Precisamos estabelecer limites, . – lembrou em um tom sério e dolorido, eu apenas concordei e ela mordeu o lábio – Não os ultrapassar.
O caminho inteiro eu a ouvia dizer sobre o que fazíamos de vez em quando era apenas ceder as tentações, mas que seriamos fortes com mais frequência e a partir do momento que o assunto me cansou, meus ouvidos me obedeceram e não permitiram nenhuma palavra vinda de penetrá-los.
Abri a porta de casa e quis empurrar para longe da vista das pessoas que estavam ali, senti o olhar triste de minha mãe sobre mim quando eu interrompi o silêncio perturbador que rodeava a sala de estar. Olhei para a figura de meu pai em uma postura defensiva e eu soube que minha mãe o havia chamado para se defender da pessoa que encarava de uma maneira esquisita, parecia feliz em saber que as teria novamente.
- , vá arrumar suas coisas. – A voz autoritária dele fez com que ela se escondesse atrás de mim e lancei um olhar para minha mãe que controlava a vontade de chorar, ela se sentia exatamente da mesma maneira que eu ao ter que deixar voltar para aquele homem.
- Mãe. – A chamei baixo e ela não me encarou, se escondendo atrás de meu pai e eu sabia que não poderia contar com a ajuda dela dessa vez – não vai voltar com você.
- . – Meu pai grunhiu meu nome em tom irritado, seus olhos azuis me fitaram com seriedade e eu não senti medo do olhar que antes me fazia correr para o banheiro – Não é da sua conta.
- Tudo relacionado a ela, é da minha conta, sim! – Gritei de volta, sentindo cada parte de meu corpo estremecer de raiva, era como se algo dentro de mim estava prestes a explodir. se manteve escondida atrás de mim e eu não conseguia decifrar seu olhar, ela apenas respirava com dificuldade.
- . – Violet chamou o nome da filha e meus olhos marejados encararam a mulher próxima de nós – Vá arrumar suas coisas, te esperamos em casa e se não for em duas horas, voltaremos para te buscar... A força. – Seus olhos castanhos me fitaram antes dela pegar o braço do marido e passar por nós, a sensação daquele homem perto de mim foi horripilante, mas algo me impedia de sentir medo dele.
- , você não precis...
- Ela precisa sim! – A voz de meu pai interrompeu brutamente minha mãe que se encolheu ao seu lado, passando as mãos pelos braços despidos por causa do vestido azul bebê que usava, ela me lançou um olhar que eu não seria capaz de sentir raiva dela, ela havia tentado por mim.
- Eu vou arrumar minhas coisas. – disse com a voz chorosa, ela se apressou em subir as escadas em uma velocidade extraordinária e eu suspirei, indo atrás dela. Ela entrou no quarto de Ashley e começou a chorar antes de pegar a primeira roupa, eu a abracei com força e encostei minha boca em sua testa morna.
- Agora as coisas vão ser diferentes, pequena. – Murmurei abafado contra sua testa e ela fungou baixinho contra minha blusa – Eu não vou deixar ele esconder um dedo em você.
- Eu estou com medo, . – Ela respondeu em tom baixo, o rosto já vermelho por causa das lágrimas e eu suspirei, me doía de forma inexplicável vê-la daquela maneira.
- Eu vou te visitar todos os dias, vamos nos falar todos os dias por vídeo chamada e deixaremos ligado. Se eu ver ele fazendo alguma coisa com você, não me responsabilizo por nada. – Afirmei e pude ver confiança refletido em seus olhos castanhos, a puxei para perto e lhe enchi de beijos no rosto, ela chorou baixinho mais uma vez e deixei que ela ficasse na cama enquanto eu arrumava sua mala.
Eu havia decidido deixar pensar no que ela faria em relação ao pai, eu não queria me intrometer, apesar de saber o quanto ela havia sofrido por causa dele. Ela também já sofreu por minha causa e havia me dado uma segunda chance, todos merecem uma chance de mostrar que mudou. A porta do meu escritório abriu lentamente e eu me virei para encarar a figura que entrava em silêncio, mantinha uma expressão séria após encostar a porta do escritório e se aproximava como se estivesse fazendo algo errado.
- Antes de decidir, eu precisava perguntar algo a você. – disse com os olhos marejados e eu fiz sinal para ela se sentar em meu colo, ela obedeceu e apoiou a cabeça em meu ombro, suspirando em seguida.
- Pode perguntar o que você quiser. – Respondi contendo a animação por tê-la ali, tão minha de novo e tentei não pensar em Andrew e o que ele estava fazendo naquele momento, eu só queria que aquele momento durasse para sempre.
- Você iria comigo se minha decisão fosse dar uma chance para meu pai? – perguntou com a voz chorosa, parecia que algo dificultava a palavra “pai” de sair de sua boca e eu concordei imediatamente, ela choramingou baixinho e eu a puxei para mais perto.
- Sempre estarei ao seu lado pequena, independente de qual for a sua escolha. – Eu respondi em tom sério e ela sorriu aliviada, me dando um selinho demorado e eu senti suas mãos macias contra meu rosto e nossos narizes se tocaram quando ela afastou nossas bocas.
- Vou me arrumar. – Ela disse se levantando e ajeitando os cabelos antes presos em um coque, que agora caiam levemente sobre os ombros – Obrigada, .
- Não há de que, pequena. Se arrume que ainda dá tempo de irmos hoje. – Ela concordou e se aproximou da porta, tocando a maçaneta e me olhar por alguns segundos antes de falar baixinho:
- Minha escolha mais difícil está próxima.
- Essa é a que eu mais tenho medo. – Confessei baixo quando ela abriu a porta e me lançou um olhar doce e confuso, fechando a porta em seguida enquanto eu fechava meus olhos e respirava fundo.
Minutos depois eu a encontrei sentada no sofá com Mary ao seu lado, lhe dizendo coisas que eu não havia conseguido ouvir, mas eu sentia que eram palavras tranquilizadoras e que faziam sorrir enquanto deveria estar roendo a última unha que ainda restava. Assim que as duas me viram parado na escada, se levantou relutante e lancou um olhar acolhedor para Mary que retribuiu e lhe deu um abraço rápido, antes de nos deixar a sós novamente.
- Eu sei que parece chato, mas quero ter certeza de que você está preparada. – Eu sussurrei enquanto ela apertava o botão do elevador hesitante, seus olhos castanhos estavam fixos em algum lugar enquanto sua respiração parecia acelerada.
- Eu não estou preparada, . – respondeu sem vontade, controlando a vontade de chorar, olhando para o teto e respirando fundo – Mas talvez eu nunca irei ficar, então preciso ir assim mesmo.
Não dei continuidade ao assunto, quando o elevador chegou deixei que ela entrasse primeiro e descemos até o subsolo sem trocar uma palavra. olhou para mim e eu apontei para o carro que estava do lado direito e ela sorriu ao ver que era mais simples que o outro. Abri a porta do passageiro para ela e depois entrei no carro, colocando o cinto antes de liga-lo e ela abraçou os joelhos sobre o banco e fechou os olhos.
- Preciso do endereço. – Avisei sem vontade, eu não queria atrapalhar a bolha que ela havia se enfiado, seus olhos castanhos me fitaram por alguns segundos. Ela enfiou a mão na bolsa que usava e pegou a carta que seu pai havia lhe enviado, voltando a se fechar em sua bolha.
Encarei o endereço e o repeti para o celular que logo me mostrou o caminho mais rápido, dei ré no carro e me enfiei dentro de minha própria bolha. Eu sabia o quanto era difícil para perdoar o homem que fez tanto mal para ela e para sua mãe, eu era suspeito em falar algo relacionado a perdoar, eu nunca havia perdoado meu pai depois que descobri que não éramos sua única família.
Julho de 2011
- Como estão as coisas aí? – Perguntei descontraído enquanto ouvia o silencio amedrontador do outro lado da linha e pude sentir sorrindo fraco.
- Estou com a porta trancada. – respondeu com a voz engraçada e suspirou em seguida, apoiei minha cabeça na parede e fechei os olhos, eu sentia falta de vê-la todo dia – Mas por enquanto está tudo bem... Só não sei quando vou me acostumar com a ideia que minha mãe conseguiu perdoá-lo.
- A gente nunca vai entender o que passa na cabeça deles. – Resmunguei enquanto joga minha bola de beisebol para cima e a pegava novamente – Deve ser amor.
- Comodismo. – retrucou em seguida, me fazendo sorrir fraco enquanto continuava a brincar – Medo de sair do que já faz parte dela.
- Amanhã você vai para a escola? – Perguntei para mudar de assunto e segurei a bola de beisebol em minha mão, a analisando enquanto esperava sua resposta.
- , eu não vou te passar cola da prova. – respondeu em tom sério, me fazendo rir ao imaginar a cara que ela havia feito – Você estudou, né?
- Sim, senhorita. – Falei com um sorriso e ela riu baixinho do outro lado.
- Vou dormir. – Ela murmurou com a voz sonolenta e eu sorri ao imaginar ela dizendo isso.
- Boa noite, pequena. – Murmurei e ouvi um bocejo do outro lado da linha.
- Boa noite, . – Ela se despediu rapidamente e eu relutei em desligar o telefone, assim que apertei o botão, me remexi sem vontade na cama e tentei fechar meus olhos. O relógio na escrivaninha marcava uma hora da manhã e provavelmente todos estavam dormindo, me remexi na cama inquieto e me surpreendi ao ouvir a voz de meu pai no corredor. Os seus passos rápidos fizeram com que eu me sentasse na cama, ouvindo-o descer as escadas com pressa e tentando não fazer barulho como havia feito. Desci da cama e abri minha porta sem fazer barulho, o corredor estava escuro e tomei cuidado para que ele não percebesse minha presença, que raios ele estava fazendo acordado aquele horário? Parei na metade da escada e observei a luz da cozinha acesa, me aproximei sem fazer barulho o suficiente para escutar sua voz.
- Querida, você sabe que não pode me ligar quando eu estiver com minha família. – Ele parecia cansado e eu não conseguia olhar para ver como estava seu rosto, ouvi o barulho da geladeira e ele provavelmente estava disfarçando para que ninguém pensasse que ele estava com alguém no celular – Eu estou com saudades de você também, do seu corpo e do seu beijo.
Fechei meus olhos, sentindo meu sangue ferver em minhas veias ao ouvir ele falar daquela maneira com outra mulher enquanto minha mãe estava dormindo, acreditando que ele era o marido fiel dela. Encostei minha cabeça na parede e senti minhas unhas enfincarem na palma de minha mão, enquanto eu prestava atenção na conversa.
- Ela nunca vai desconfiar de nós. – Aquele cafajeste que eu era obrigado a chamar de pai sussurrou e riu em seguida, quando dei por mim, estava encostado no batente da cozinha e observei ele sorrir enquanto ouvia a voz da puta que dividia a cama com ele quando ele não estava conosco – Am, você é tão... ?
Seus olhos azuis me fitaram inexpressivos, mantive meus braços cruzados e o encarei com raiva, tentando controlar minha vontade de socar sua cara. Ele desligou o telefone rapidamente e me olhou com desespero, quando se aproximou de mim, foi o suficiente para eu fechar meu punho e lhe acertar no nariz, fazendo-o gritar surpreso com minha reação.
- QUEM VOCÊ PENSA QUE É SEU MULEQUE? – Ele gritou com a mão sobre o nariz e pude ver o vermelho vivo escorrer por seus dedos, em seguida passos rápidos na escada interromperam os gritos dele e seus olhos azuis desesperados focaram atrás de mim.
Não precisei olhar para saber que era minha mãe, parada, olhando a cena com horror atrás de mim. Virei-me lentamente e ela me olhou horrorizada, seus olhos preocupados e confusos se fixaram em meu pai que se levantava com dificuldade.
- , o que houve aqui?
- Peça para ele te explicar sobre Am. – Retruquei com raiva, praticamente cuspindo as palavras que estavam entaladas em minha garganta e minha mãe olhou sem entender para o homem em sua frente – EXPLIQUE PARA ELA QUE VOCÊ TEM A PORRA DE UMA AMANTE!
A expressão no rosto de minha mãe foi indecifrável, um misto de raiva e dor. Seu rosto começava a ficar mais pálido que o normal e ao seu lado, Christopher surgiu com uma expressão semelhante à de raiva que estava em meu rosto.
- Emma você não vai acreditar em um pirralho... – O homem com o nariz ainda sangrando perguntou com raiva em minha direção e eu me virei para encará-la mais uma vez, ela suspirou e olhou para o seu marido.
- Pirralho que é meu filho. – Emma retrucou com raiva e se aproximou de meu pai, parando a centímetros dele – Pirralho que está ao meu lado quando você não está e que nunca mentiria para me magoar. Saía de minha casa, AGORA!
Meu pai me olhou com raiva e ameaçou vir para cima de mim, mas Christopher entrou em minha frente e lhe lançou um olhar significativo, nunca pensei que meu irmão mais velho seria capaz de me defender um dia. Ele passou por nós e saiu rapidamente, ouvimos o barulho da porta principal bater contra a parede com força e minha mãe desabou no chão. As mãos tampando o rosto enquanto ela chorava baixinho, eu me aproximei dela e a abracei com força, Christopher fez o mesmo e ficamos assim um tempo.
No dia seguinte, faltei na escola e perdi a prova que era importante para eu conseguir passar no semestre sem precisar de um exame e uma recuperação depois. Decidi que iria passar o dia com minha mãe que não queria comer e chorava desde o momento da descoberta, Christopher agora já me olhava com raiva pelo que eu havia feito.
- Você só pensou em você? – Christopher gritou comigo quando finalmente ficamos sozinhos e eu fechei meus olhos – Você não pensou em Ashley? Não pensou em como nossa mãe ficaria?
- Ele estava traindo ela, Christopher! – Retruquei com raiva e pude escutar um riso amargo dele em seguida, se aproximou e seu rosto ficou a centímetros do meu.
- Você só pensa em você, em vez de ter tomado outra decisão, você destruiu a nossa família. – Foi tudo que ele disse antes de me deixar sozinho na cozinha e suspirei, minha cabeça estava prestes a estourar. Minutos de silencio, a campainha foi a única coisa que me tirou dos pensamentos mais egoístas que me invadiam com ferocidade.
Andei em passos lentos até a porta principal e toquei a maçaneta gelada, girando-a para a direita e ouvi o clique da porta, a puxei lentamente para mim temendo que fosse meu pai ali. Os olhos preocupados de me surpreenderam e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ela me abraçou com força e apoiou a cabeça em meu peito. Eu a puxei para mim com força e acariciei seus cabelos, ficamos assim alguns minutos até que ela tomou coragem para me olhar e eu não consegui ser o garoto forte na frente dela, eu senti as primeiras lagrimas brincando em meu rosto e as limpou com cuidado. Seus dedos gelados pelo tempo que fazia lá fora se entrelaçaram aos meus, ela me guiou até o sofá e nos sentamos, ela me puxou para deitar em seu colo e eu obedeci sem relutar, eu precisava dela naquele momento.
- Eu destruí minha família, . – Murmurei choroso enquanto meu rosto estava encostado em seu moletom e seus dedos brincavam em meus cabelos, os bagunçando de maneira gostosa.
- Shhhh... – sussurrou com o rosto próximo do meu, seus olhos castanhos me fitavam com compaixão e delicadeza, da maneira que deixaria qualquer coração amolecido – Não diga nada.
Eu só queria saber como soube que eu precisava dela sem eu ao menos ter contado o que havia acontecido, fechei meus olhos e tentei pensar em outras coisas enquanto sentia a ponta de seus dedos em meu couro cabeludo.
- Quando você estiver preparado você me conta o que aconteceu. – pediu baixinho em meu ouvido e eu concordei com a cabeça abrindo os olhos, seus olhos doces me fitavam enquanto ela sorria de maneira gostosa em minha direção por mais fraco que era seu sorriso.
- Eu ouvi meu pai com outra mulher no telefone assim que nos despedimos. – se ajeitou e me levantei, ficando sentado em ao seu lado com meu corpo virado para ela, estávamos frente a frente sentados em cima de nossas pernas – Ele falava do corpo dela de como sentia dela.
pareceu não mostrar o quanto estava horrorizada com o que eu havia falado, seus olhos pareciam mais tristes agora. Ela colocou uma mecha de seu cabelo atrás de orelha e manteve a atenção em mim.
- Quando dei por mim já estava na frente dele, controlando a raiva que eu estava sentindo. Quando ele me questionou, eu não aguentei e lhe acertei no nariz. – Passei as mãos por meus cabelos, mostrando o quão desesperado eu estava com o que eu havia feito – Em seguida minha mãe apareceu e eu soltei a verdade sem ao menos ajeitá-la para o que viria. Eu ao menos pensei em Ashley e no quanto eu estava prestes a destruir minha família... Eu simplesmente fiz.
- Eu teria feito o mesmo, . – retrucou em tom sério, seus dedos entrelaçados ao meus em um ato simples e cheio de carinho – Sua mãe não merece um homem enganando ela, ela tinha o direito de saber a verdade da maneira que tinha que ser.
- Christopher está com ódio de mim pelo que fiz. Minha mãe trancada no quarto desde que descobriu a verdade. – Vomitei as palavras em que manteve a postura séria enquanto me ouvia e um suspiro brincou em seus lábios.
- Christopher é um idiota, talvez ele esteja tão abalado quanto você e sua mãe. – respondeu com sinceridade e fez um carinho em minha mão – Sua mãe o amava e talvez demore para aceitar as coisas, mas ela é uma mulher forte e vai dar a volta por cima com a sua ajuda.
- Eu destruí minha família, . – Repeti mais uma vez e senti suas mãos frias sobre meu rosto, os envolvendo com delicadeza e seriedade.
- Quem destruiu sua família foi seu pai. – disse com certeza e seu rosto estava próximo do meu – Ele não pensou em vocês quando estava com a outra mulher, ele enganou todos vocês.
- , não quero que sinta raiva de seu pai porque eu estou falando essas coisas. Quero que saiba que um dia a verdade viria à tona e doeria de todas as maneiras como está doendo agora. Você nunca evitaria o inevitável. – murmurou baixinho contra minha boca e respirei com dificuldade, ela mais uma vez me envolveu em um abraço e respirou fundo – Ficarei com você hoje.
- Chegamos. – Soltei quando finalmente chegamos no lugar e as memórias finalmente me deixaram em paz, olhei brevemente para que parecia em choque ao observar o lugar que parecia uma mansão antiga e bem conservada, era branca e causava alguns arrepios por parecer com alguns sanatórios de filmes de terror.
– Está tudo bem? – Perguntei após alguns segundos de silencio enquanto ela analisava o lugar e respirava fundo, concordando após ter provavelmente o mesmo pensamento que eu sobre o lugar – , eu quero que você tenha certeza.
- Eu tenho medo do homem que eu vi a última vez antes dele vir para cá. – confessou com as mãos tremulas sobre as pernas e fechou os olhos com força, controlando a vontade de chorar e eu prendi a respiração por um tempo, observando a cena ao meu lado – Mas o homem que me escreveu aquela carta, eu senti que foi o homem que eu mantenho vivo nas minhas lembranças, o homem que me amava e cuidava de mim como pai e não como um monstro.
me olhou rapidamente e me abraçou fraquinho, era apenas um incentivo para ela ter a coragem de enfrentar seus maiores medos de uma vez por todas. Ela tirou o cinto e abriu a porta, em seguida eu fiz o mesmo e travei o carro. Andamos rapidamente em direção a entrada do centro de reabilitação e uma moça jovem e educada nos recebeu na entrada receptiva que mal parecia de um lugar tão carregado.
- Em que posso ajuda-los? – A jovem enfermeira perguntou se aproximando do balcão e se posicionou ao lado de um porteiro de aparência mais velha, ele nos olhava intrigado e após algum tempo voltou a prestar atenção em outra coisa.
- Sou a filha de Gregory. – disse com dificuldade, seus dedos entrelaçados aos meus de maneira leve e natural, me causando choques na região em que nossos dedos se tocavam. A enfermeira pareceu surpresa com a resposta de assim como o porteiro que voltou a nos olhar, dessa vez com um olhar mais terno e aliviado.
- Ele vai ficar tão feliz. – Ela disse mais para si mesma do que para nós, fazendo se sentir um pouco desconfortável com a informação. Eu apertei sua mão com mais força, fazendo-a se lembrar de que eu estava ali – Wendy, você não vai acreditar em quem está aqui. – Havia emoção nos olhos azuis escuros da enfermeira em nossa frente, um sorriso animado enfeitava seu rosto branco como porcelana.
- Me acompanhem, por favor. – A enfermeira pediu com um gesto rápido com sua mão e olhei para que respirou fundo antes de começa-la a seguir, comigo em seu encalco, parecendo perdido nos corredores largos e brancos, onde haviam diversas portas com o nome dos pacientes da clínica, um arrepio percorreu minha espinha ao pensar nas pessoas que estavam ali, lutando contra seus vícios e suas abstinências.
A enfermeira parou em frente a um arrumado jardim de inverno e me olhou por alguns instantes, antes de fazer o mesmo com . Haviam duas cadeiras de madeira que pareciam confortáveis e algumas plantas, um pequeno caminho de pedras brancas que iam em direção as cadeiras, fazendo com que o ambiente ficasse agradável.
fungou baixo quando ouvimos passos se aproximando de nós, encarei a figura alta que se aproximava acompanhado de uma enfermeira mais robusta, os cabelos ruivos estavam presos delicadamente em um coque e ela me lembrava a Adele um pouco mais velha. Ao seu lado, apoiado com a ajuda dela e de uma bengala, os olhos castanhos e intensos antes assustadores do pai de , agora refletiam dor e alivio, ele nunca pensou que isso iria acontecer um dia. Um sorriso escapou de seus lábios ao me ver ao lado de sua filha como em todos os anos em que nos conhecíamos, ele parecia menos assustador agora com a aparência prejudicada pela idade e pelo vício.
Os cabelos grisalhos estavam mais calvos desde a última vez que eu o tinha visto e ela o encaminhou até o jardim de inverno, ajudando-o a se sentar na cadeira de madeira enquanto ao meu lado estremecia com a rapidez dos acontecimentos. Ela me olhou antes de ver o sinal da enfermeira de que ela poderia ir até lá, seu sorriso estremeceu e eu segurei seu rosto, colando-o junto ao meu, sentindo seu nariz gelado na ponta encostar no meu enquanto ela fechava os olhos e sua respiração ofegante batia em minha boca.
- Seja forte. – Sussurrei para ela que concordou com a cabeça antes de se afastar, ela olhou para trás antes de seguir o caminho rápido que a enfermeira fez até o jardim de inverno e suspirei, fechando meus olhos enquanto sentia os dedos finos e macios da enfermeira ao meu lado, me cutucarem.
- Quer esperar no jardim principal? – Ela perguntou distraidamente e eu concordei, dando uma última olhada neles antes de me retirar acompanhado da enfermeira que mantinha um sorriso doce nos lábios – Ele falava dela desde o momento que chegou aqui.
- Achei que ele estava preso por violência doméstica. – Retruquei um pouco confuso e a enfermeira fez um aceno com a cabeça enquanto passávamos por mais salas e dormitórios, me deixando desconfortável.
- Os promotores reconheceram que era apenas um homem viciado em bebidas alcoólicas que não tinha mais consciência do que havia feito. Gregory provou que era diferente dos outros agressores, ele sentia que ainda podia fazer algum feito para a filha. – A enfermeira respondeu com sinceridade enquanto me guiava até o jardim e eu respirei fundo – E imagino que você seja .
- Fico surpreso por saber sobre mim. – Respondi ainda atordoado com a informação e ela deu um meio sorriso cumplice, olhando para trás e voltando a prestar atenção no caminho, parando no meio do corredor e me olhando com ternura.
- Ele dizia que você era um rapaz enxerido, mas que durante o tempo que ficou aqui, queria que a filha estivesse com você. – A enfermeira confessou com um sorriso brincalhão e eu virei os olhos, claro que ele havia falado mal de mim – Ele disse que te admirava por proteger da maneira que ele nunca protegeu.
Meu corpo inteiro tremia a cada passo que eu dava para perto do homem que ainda fazia parte dos meus piores medos. Minha respiração estava falha e nem o sorriso doce e encorajador da enfermeira que deveria ser responsável pelo homem que eu temia me trazia tranquilidade.
Olhei para trás e já não estava mais ali, fazendo com uma parte dentro de mim gritasse de desespero e medo, sem ele por perto eu me sentia como me senti todos os dias longe dele, desprotegida. Aproximei-me do jardim de inverno e o sorriso da enfermeira ainda brincasse em seu rosto, ela tocou minhas mãos e me lançou um olhar terno, fazendo com que eu sentisse culpa por não estar dando atenção pelo carinho que ela sentia por mim.
- Ele é um novo homem, . – Ela disse em tom baixo para que ele não escutasse o quanto eu estava apavorada por estar ali, apenas concordei com a cabeça relutante, sentindo minha respiração falhar a cada segundo que se passava – Não pense nele como um vilão agora.
Apenas concordei com a cabeça antes de entrar no jardim e encarar o homem em minha frente, seus olhos castanhos me fitaram com gratidão e ressentimento, meu coração estourava dentro do peito e eu sentia o ar saindo pela boca ao invés de sair pelo nariz. Minha cabeça rodou enquanto eu me forçava a sentar na cadeira ao seu lado, sem trocar nenhum contato físico com ele que pareceu entender que o caminho até mim seria cheio de empecilhos e obstáculos. Minha garganta estava seca e agradeci mentalmente por ter uma jarra cheia de água e dois copos na mesa entre eu e aquele que eu deveria chamar de pai, mas algo me impedia de fazer isso.
- Achei que ignoraria meu pedido de vir até aqui. – Suas palavras doíam em meus ouvidos, arrepiavam cada parte de meu corpo e as lágrimas logo pediram para brincarem em meu rosto, mas eu não mostraria fraqueza na frente daquele homem – Você é corajosa, admiro isso em você.
Ele esperou um tempo para que eu dissesse alguma coisa, mas meus lábios se mantinham cerrados enquanto eu engolia em seco. Minhas unhas estavam enfincadas em minha calça jeans, eu sentia à vontade de me arranhar por estar me sujeitando aquilo. Seus olhos castanhos estavam fixos em mim, esperando que eu fizesse algo, mas eu não os obedeci, permaneci em meu silêncio acolhedor.
- Não a culpo por não falar comigo. Se existe um culpado nessa história toda, sou eu. – Ele confessou em tom baixo mais para si mesmo do que para mim, olhei para suas mãos enrugadas e entrelaçadas, parecia um movimento de prece – , eu não quero que me perdoe se isso não for o que você deseja, eu só te chamei porque quero que conheça o verdadeiro homem que eu sou... Não aquele homem que te machucava, que te fazia chorar e temer o que eu realmente sou.
- Um monstro? – Perguntei explosiva e as palavras saíram com facilidade de minha boca, o surpreendendo e seus olhos tristes me fitaram – É isso que você se tornou para mim, um monstro, eu tenho raiva de você e de todos os homens que fazem isso com suas mulheres.
Ele abaixou a cabeça e fitei os cabelos grisalhos, as lágrimas já não me obedeciam mais e ele parecia aceitar as coisas que eu falava em tom alto para que todos ali perto ouvissem.
- As pessoas aqui gostam de você porque você nunca lhes deu um tapa na cara, você nunca as agrediu fisicamente e verbalmente! – As palavras saiam de minha boca com facilidade, uma parte parecia aliviada por deixar que elas tomassem conta de mim, enquanto outra me fazia pensar que aquilo estava longe de ser um perdão – Elas conhecem o homem arrependido, o homem que hoje depois de tantos anos finalmente se arrependeu, depois que a família foi brutalmente destruída e a própria filha conseguiu processá-lo na justiça!
- . – Sua voz baixa e fraca mostrou o quanto ele estava machucado pelas palavras que havia acabado de ouvir, seus olhos vermelhos me fitaram segundos depois e eu senti meu corpo estremecer – Foi graças a você que eu percebi o homem que realmente sou novamente.
- Eu não me lembro do homem que você era antes de se tornar meu pesadelo. – Minha voz saiu ríspida e quando eu me levantei, senti sua mão áspera contra meu pulso e gritei, me jogando para trás e observei de canto de olho uma movimentação próxima a nós.
- Me dê uma chance, é tudo que eu te peço. – Ele murmurou em suplica e eu estremeci, olhando ao meu redor e observando alguns enfermeiros nos olhando de maneira preocupada. Meu olhar se encontrou com o de que havia acabado de voltar, seu peito ainda descia e subia rapidamente – Eu preciso partir sabendo que eu tentei, . Que eu tentei fazer você me ver como antes.
- Está bem. – Eu sussurrei tão baixo que duvidei que ele tivesse ouvido, criei coragem e me sentei novamente na cadeira de madeira confortável e senti os olhares sobre mim, fazendo meu corpo estremecer.
- Sua mãe me contou que você vai se casar. – Ele começou em tom baixo e seus olhos castanhos me fitaram intensamente, senti raiva ao ver que minha mãe ainda era fraca de manter contato com ele – E fiquei surpreso em saber que não é com o rapaz que eu esperava. – Seus olhos foram para brevemente e depois me fitaram novamente, encarei que parecia entretido em conversar com a enfermeira responsável por meu pai.
- A vida nos surpreende, não é? – Perguntei ironicamente, ajeitando um fio rebelde de meu cabelo que insistia em cair do meu rabo de cavalo mal feito e ele balançou a cabeça.
- Você sabe que é um erro, não sabe? – Gregory me perguntou em tom sério e eu senti uma pontada de raiva em meu peito, olhei para ele mostrando o quanto aquele assunto me incomodava – Não sou a melhor pessoa para falar de um relacionamento, mas...
- Você sabe por que eu não estou com agora? – Perguntei em tom defensivo e ele me encarou confuso, não sabendo a resposta – Porque ele me lembra você e tudo que me faz voltar ao passado, eu quero longe de minha vida.
- Isso é um erro. – Ele retrucou no mesmo tom e encheu um copo com água, eu apenas observava seus movimentos – Nenhum cara vai amar você como ele te ama.
- Se você continuar a falar desse assunto, eu vou embora e essa chance será retirada. – Ameacei em tom irritado e ele sorriu fraco, fazendo um breve aceno com a cabeça – Obrigada.
- Queria contar que eu não sinto mais vontade de colocar uma gota de álcool em minha boca. – Ele pareceu contente ao me contar e uma parte de meu peito estremeceu ao ouvir aquilo, um sorriso fraco brincou em meu rosto – Ele foi o principal motivo da minha agressividade, mas eu nem pareço o mesmo cara que chegou aqui há um tempo atrás.
- Você se deu uma chance de provar a si mesmo que não era um monstro.
- Meu maior motivo de ter feito isso tudo, foi por você. – Ele murmurou em tom baixo, seus olhos castanhos fixos em mim enquanto sua mão se aproximava da minha, fazendo com que eu me forcasse a ficar ali, sem me afastar dele por impulso – Eu queria mostrar que sou um bom homem agora.
Seus dedos finalmente tocaram os meus e eu funguei baixo, as lágrimas voltaram a cair por meu rosto e ele sorriu fraco, observei o rosto úmido pelas lágrimas e não hesitei em abraçá-lo com força, ainda sentado em sua cadeira. Ele se levantou com dificuldade sem desfazer nosso abraço, seus braços fortes ao meu redor me fizeram continuar em pé, abri meus olhos e encarei nos olhando com admiração e eu sorri para ele, meus lábios se mexeram em silêncio sussurrando um ‘obrigado’ que foi retribuído por mais um sorriso apaixonante dele.
- Senhor? – A voz da enfermeira nos interrompeu alguns minutos depois, eu não conseguia processar quanto tempo havíamos ficado naquele abraço – O horário da visita vai acabar.
- Não! – Ele respondeu rapidamente em um pulo, os olhos arregalados e eu o encarei confusa, ele olhou para além de mim e percebi que fitava de maneira angustiante – Preciso conversar com mais uma pessoa, juro que será rápido.
- Por que você quer conversar com ele? – Perguntei baixo em tom suplicante e ele me lançou um sorriso tranquilizante e senti sua mão áspera sobre meu rosto, fazendo um carinho que deixou minhas pernas bambas e meu coração acelerado.
- Eu preciso me desculpar com ele também, filha. – Meu pai respondeu em tom sério, havia culpa e apreensão em sua voz, mostrando que estava determinado em conversar com , suspirei ainda relutante e ele sorriu para mim – Amanhã você volta?
Uma parte de meu peito se manteve relutante em voltar para perto enquanto a outra explodia de felicidade, um sentimento que eu não me lembrava de ter sentido com ele em nenhum momento anos atrás, eu ainda sentia medo de seus toques e ainda sentia vivos os hematomas que ele havia deixado em mim, mas agora era diferente... Ele queria curá-los e não cutucá-los mais.
Observei abraçar seu pai mais uma vez e me levantei da cadeira em que eu estava sentado antes acompanhado da enfermeira responsável por ele. Meus olhos se mantiveram fixos em cada movimento de , até mesmo seus olhares que falavam mais que seu corpo. Uma sensação de conforto me percorria toda vez que ela me procurava para ver se eu ainda estava ali mesmo sabendo que eu nunca sairia do lado dela naquele momento e em todos os outros que ela me permitisse.
havia ficado chocada com algo que ele havia dito e olhou para onde eu estava mais que três vezes, me deixando atordoado com o que poderia estar acontecendo. Alguns minutos depois, observei ela caminhar ao lado da enfermeira trocando sorrisos fracos e a enfermeira parecia lhe dizer coisas que a deixavam com uma emoção diferente em seus olhos doces. Elas finalmente pararam em minha frente e não segurei um sorriso confiante para que me olhou receosa e meu sorriso aos poucos diminuiu, confuso com o que ela queria falar para mim.
- Ele quer falar com você. – murmurou baixinho como se aquilo fosse uma atrocidade e olhei para o homem sentado por cima de seus ombros, ele me lançou um olhar rápido e culpado, olhei novamente para ela, ainda receoso – Se você não quiser...
Coloquei meu dedo indicador sobre sua boca macia e quente, me sentindo tentado a encostar meus lábios nos seus e não deixar que ela falasse mais alguma coisa. Coloquei uma mecha rebelde de seu cabelo castanho atrás da orelha e beijei sua testa antes de caminhar em direção ao jardim de inverno. Sensações estranhas brincavam em meu estômago, me causando náuseas enquanto me aproximava do homem que eu já havia apanhado e que já havia batido quando ousou encostar a mão em novamente um dia em que estávamos voltando de um aniversário.
Assim que entrei no jardim de inverno, eu não conseguia controlar o que eu sentia, se era raiva ou tristeza, eu sabia que o tempo todo por dentro daquele homem, havia um pai que um dia iria se arrepender de tudo que havia feito e eu havia me agarrado a essa esperança de que um dia poderia contar com ele.
- Sente-se, garotão. – Ele pediu com um sorriso sereno e eu imediatamente obedeci, me sentando na cadeira onde minutos antes estava sentada – Obrigado por ter vindo com , tenho certeza que você ajudou ela a tomar uma decisão.
- Amigos são para isso. – Respondi incomodado e me mexi na cadeira, tentando encontrar uma posição, mas era como se minha cadeira estivesse cheia de formigas.
- Você quer enganar quem falando de “amigos”? – Ele perguntou em tom engraçado e o olhei confuso, balançando a cabeça, ele continuou: - Sabe o quanto fiquei surpreso quando soube que iria casar?
- Aposto que nem tanto quanto eu fiquei. – Respondi em tom irônico e ele riu baixo, mantendo a cabeça baixa enquanto fitava os próprios pés.
- Eu nunca desejei tanto ver seu nome escrito em um lugar, garoto. – Aquilo me surpreendeu e eu o olhei com seriedade, ele retribuiu o olhar e suspirou – E talvez eu seja o principal culpado por estar fazendo isso com a vida dela.
- Eu também dei motivos. – Completei em tom sério e culpado, meus dedos faziam desenhos invisíveis na calça jeans e o homem ao meu lado respirou fundo, soltando o ar lentamente em seguida – Ela tem o direito de ser feliz. – Lancei um olhar rápido na direção onde estava e ela fingia prestar atenção no que as enfermeiras conversavam com ela, seu olhar estava distante e perdido em algum momento.
- Ela só vai ser feliz com você, . – Ele retrucou em tom levemente irritado e passou as mãos pelos cabelos grisalhos, parecendo nervoso – Você deu vários motivos para eu te odiar, mas...
- Você agredia a própria filha e queria que eu visse tudo em silêncio? – Perguntei em resposta, sentindo a raiva percorrer cada parte de meu corpo.
- É falta de respeito interromper os mais velhos, você sempre vai ser mal educado. – Ele brincou e eu virei lentamente meus olhos, ele nunca havia sido agradável comigo e esperava que eu fosse com ele? – Mas você a fazia feliz, esse era seu principal objetivo em todos os momentos que estava com ela.
Olhei para o homem ao meu lado e uma parte de meu peito latejou, mostrando que o tempo inteiro era esse meu objetivo, fazer feliz e eu provavelmente havia falhado nisso. Mordi meu lábio nervoso e o silêncio permaneceu por alguns minutos, até eu sentir sua mão fria sobre a minha, me causando um pequeno susto.
- Faça a minha pequena voltar, . – Ele murmurou baixinho com medo de que escutasse nossa conversa e eu fechei meus olhos, controlando a vontade de sair quebrando tudo que eu sentia – Faça-a a ver o que todos são capazes de ver menos ela... Que por mais que ela negue, vocês são predestinados um ao outro.
- Ela não vai mudar de ideia. – Confessei com medo e ele me olhou incrédulo, seus olhos castanhos pareciam mais intensos que o normal, ele deu tapinhas em minha mão e sorriu me encorajando.
- Eu não quero estar vivo para ver o que eu conheço desistir de alguma coisa. – Ele murmurou com um sorriso sincero no rosto e eu forcei um sorriso para ele – Eu me sinto culpado por ser um dos empecilhos que separaram vocês, , mas agora estou disposto a mostrar que eu estava errado o tempo todo. Não há ninguém melhor para minha filha do que você.
Dezembro de 2011
Cinco meses haviam se passado desde a separação de meus pais, o clima em casa há cinco meses não era dos melhores. Eu me sentia culpado a maioria das vezes em que eu observava Ashley encantada com os pais de seus amigos, juntos e apaixonados e a culpa aumentava quando algumas noites, eu ainda era capaz de ouvir o choro baixo de minha mãe. Christopher e eu já não éramos companheiros antes, depois do acontecido, ele havia se distanciado ainda mais de todos nós. Nada me importava mais agora além de fazer com que minha irmã mais nova não se sentisse um alienígena no meio das amigas, eu sabia que Ashley não sofria tanto pela falta de meu pai, pois ele sempre viajava com frequência, para visitar a amante na maioria das vezes, mas em sua minoria à trabalho.
havia sido convidada pelo babaca do Paul para o baile que aconteceria hoje, ela aceitou e eu aceitei o fato dela ter decidido isso. Eu não havia chamado ninguém para o baile e nem iria nele hoje, eu não sentia vontade alguma de ver com outro garoto e brincar de Barbie com Ashley parecia mil vezes mais tentador.
- ! – Ashley me chamou e estralou os dedinhos em minha frente, me fazendo encará-la, vendo a sorrir brincalhona em minha direção, com uma janela em seu sorriso, ela havia me dado seu dente de leite como um presente para eu nunca me esquecer dela – Você tem que se focar no personagem.
Olhei para o Ken na minha mão e controlei um riso que a deixaria brava, concordei rapidamente e levantei o Ken que antes estava caído. Ashley continuou entretida em uma conversa paralela entre o Ken e a Barbie.
- Você foi no baile com outro! – Ashley engrossava a voz para imitar o Ken e eu a olhei incrédulo, como minha irmã de quatro anos jogava isso na minha cara? – Você é uma traidora, Barbie.
- Eu? – Ela deu um gritinho histérico e afinou a voz com rapidez – Você que não teve coragem de me chamar!
- Será que podemos mudar o assunto da brincadeira? – Perguntei levemente ofendido, fazendo com que ela me encarasse com os olhos tristes e repletos de culpa – Não me olha assim.
- Você deveria mostrar que ela escolheu o Ken errado para ir no baile. – Ashley murmurou baixinho, de maneira provocativa e eu bufei, cruzando meus braços. Jura que eu estava recebendo conselhos de uma garota de quatro anos?
- Se eu fosse para o baile agora, eu teria que levar você. – Murmurei no mesmo tom que ela, mas dessa vez irônico, eu sabia que ela não entenderia o que é ironia ainda.
- Eu sei me cuidar sozinha. – Ashley resmungou com os bracinhos cruzados sobre o peito, me fazendo rir em tom alto, deixando-a com um bico maior que ela.
- Não perco a noite com a minha princesa por nada. – A puxei para o meu colo e mordi sua bochecha, ela deu um sorriso gostoso e retribui – Que tal fazermos um bolo de chocolate?
- Um quarto de leite. – Eu falei sozinho enquanto lia a receita pela internet, eu usava o avental que minha mãe usava e Ashley usava um pano de prato improvisado como avental, já que não tinha um do seu tamanho – Prontinho, agora vamos para a parte mais legal.
Ashley bateu palmas sentada em cima do balcão de mármore, toda hora eu olhava em sua direção e checava se ela não iria se jogar dali de cima, mas ela parecia entretida em tentar tirar a farinha branca de seus cabelos, me fazendo rir. Passei meu dedo na massa de chocolate e passei em seu rosto, ela deu um gritinho histérica e brigou comigo com as palavras enroladas.
Paul ria acompanhado de seus amigos tão idiotas quanto ele na mesa do baile, diversas vezes eu discretamente tirava sua mão de cima de minha coxa. Ele apenas me retribuía um olhar irritado toda vez que eu fazia isso, eu só queria encontrar aquele que eu sei que me tiraria disso.
Droga, . Foi você quem quis isso. Você quem aceitou o convite para ser a companheira do idiota do Paul, sendo que sabe que tem do seu lado.
- Vou ao banheiro. – Murmurei baixinho, apenas para Paul ouvir e ele apenas acenou com a cabeça. Afastei-me do grupo babaca e senti um alivio me tomar assim que sai da mesa deles, indo em direção ao banheiro enquanto procurava algum sinal de Amber ou de . Qualquer um dos dois me salvaria daquele inferno.
Assim que entrei no banheiro, me tranquei na cabine que estava vazia e limpa, porque a maioria delas cheirava a vômito de alguma bebida alcoólica. Peguei meu celular e fitei a tela, sem nenhuma mensagem ou ligação de , bufei irritada ao ver que ele nem havia ligado para ver se eu estava bem. Cala a boca, . Você pediu isso a ele há dois dias. - Você tem certeza que é isso que você quer? – perguntou mais uma vez, havia uma raiva disfarçada em suas palavras e eu virei lentamente meus olhos, já perdendo meu apetite e deixando meu hambúrguer de lado. Estávamos almoçando na lanchonete perto do colégio.
- Pare de fazer essa pergunta ridícula. – Retruquei irritada e ele deu de ombros, voltando a comer o lanche maior que ele em sua frente – É claro que eu tenho certeza e eu não quero que você fique me mandando mensagens ou me ligando, entendeu?
não me respondeu, apenas me lançou um olhar sério e deu de ombros mais uma vez, eu odiava quando ele fazia isso. Voltou a comer seu lanche e eu me obriguei a fazer o mesmo, espero que eu estivesse certa sobre ir com Paul para festa, eu nunca deixaria ele vencer que estava certo sobre Paul ser um babaca.
- Merda. – Murmurei contra o celular em minha boca, fechei meus olhos e respirei fundo mais uma vez, ao ouvir o barulho de uma garota vomitar na cabine ao meu lado – Ele estava certo.
Batidas na porta da minha cabine me assustaram, fazendo com que eu abafasse um grito de surpresa. Hesitante, abri a porta e logo, minha cabeça bateu contra a parede do banheiro, fiquei atordoada por alguns segundos até sentir os lábios gelados e cheirando a tequila em cima dos meus. Tentei socar Paul e tirá-lo de cima de mim, mas ele era bem mais forte.
- Vou te ensinar boas maneiras. – Ele disse em meu ouvido e eu dei um grito alto, mas ele tampou minha boca a tempo, meus gritos saiam abafados enquanto ele beijava meu pescoço e eu me contorcia, tentando sair de seus braços.
O telefone de casa tocou mais uma vez, fazendo com que eu bufasse enquanto terminava de cobrir Ashley encolhida no sofá depois de comer nosso incrível bolo de chocolate. Caminhei com pressa em direção ao telefone para não acordá-la, o atendi sem vontade e meu coração pareceu bater mais rápido quando a voz de Amber invadiu meus ouvidos.
- , você precisa vir para cá. – Ela dizia desesperadamente, sua voz estava misturada com choro e bebida, me fazendo virar os olhos – Ouvimos um grito da no banheiro e Paul sumiu, a porta do banheiro está trancada e...
Não deixei que ela terminasse e sai às pressas, eu sabia que Ashley ficaria bem já que dormia feito um anjo. Corri em direção a garagem e peguei o carro de Christopher que estava nela, eu sabia que aquilo me causaria problemas futuros, mas eu não ligava para isso. Era minha garota que estava precisando de mim. Em menos de dois minutos, eu estava deixando o carro na frente do ginásio e entrei com tudo, empurrando algumas pessoas que me xingavam em seguida, finalmente chegando ao banheiro e encontrando que tentava abrir a porta, mas ninguém o ajudava.
- ! – Gritei batendo contra a porta, eu sabia que se ela ouvisse minha voz, ficaria mais calma – ABRE A PORRA DESSA PORTA, PAUL! – Eu gritei com raiva, socando-a com mais força ao ver que ele não fazia isso.
Olhei para e ele entendeu o recado, eu chutei o trinco do banheiro que quebrou no instante seguinte. A porta se abriu e encontrei Paul tentando fazer aquilo que eu mais temia que ele fosse tentar com ela, puxei seus cabelos ralos e o joguei no chão. Olhei rapidamente para que tremia e chorava, o rosto vermelho e os olhos castanhos arregalados.
Ouvir a voz de fez com que eu criasse forças para lutar contra aquele monstro em minha frente, eu lhe dei socos fortes no ombro que o fizeram sentir mais raiva de mim. Ele tentava inutilmente abaixar o zíper, mas eu era mais rápida e lhe acertei naquela região com o joelho, quando finalmente a porta foi derrubada e Paul foi brutalmente tirado de cima de mim.
me olhou rapidamente antes de ficar por cima de Paul e lhe encher de porradas com a ajuda de , enquanto eu era amparada por Amber que chorava desesperadamente e me abraçava com força, eu retribuía na mesma intensidade ainda sem tirar os olhos de , que depois que algumas gotas de sangue sujaram o azulejo do banheiro, ele veio em minha direção.
Amber deu espaço quando ele se aproximou, em questão de milésimos de segundos, eu estava em seus braços, soluçando alto enquanto ele acariciava meus cabelos com delicadeza, me dando longos beijos na testa, tentando me acalmar.
- Está tudo bem agora, pequena. – A voz rouca de invadiu meus pensamentos, me fazendo colar mais meu corpo no dele, não havia mais ninguém além de nós dois naquele banheiro – Vamos embora daqui.
colocou sua jaqueta de couro sobre mim e eu forcei um sorriso fraco em sua direção, de longe observei Amber tirar algumas fotos em seu celular que me ajudariam a provar o que Paul havia feito caso eu decidisse levar adiante o fato de ter sido quase vítima de um estupro. As pessoas mal notaram quando eu saí e isso me aliviou, não queria que rolassem boatos sobre mim no colégio, eu não poderia comemorar antes da hora, eu não sabia sobre o futuro, eu somente desejava que estivesse nele.
abriu a porta do carro de Christopher para mim e eu entrei sem pensar nos problemas que ele iria ter se o irmão mais velho souber que ele pegou o carro sem autorização. Naquele momento, nada importava para mim e eu ainda sentia as lagrimas quentes escorrendo por meu rosto, enquanto eu tentava inutilmente limpá-las.
sentou no banco do motorista e logo deu partida, respirei com dificuldade apoiando minha cabeça no banco e olhando o movimento pela janela. Em menos de um ou dois minutos estávamos em frente à casa de , um alivio tomou conta de mim pelo fato de que ele não me levou até minha casa.
Estacionei o carro de Christopher dentro da garagem e o deixei da maneira como o havia pego, ele nunca desconfiaria de nada. desceu do carro logo em seguida, sem eu precisar abrir a porta para ela e subimos a escada que dava em direção ao hall da casa. Por sorte, ninguém havia chego de seus compromissos e Ashley continuava dormindo no sofá, como eu a havia deixado.
e eu caminhamos em direção à cozinha, ela ainda usava minha jaqueta preferida em seus ombros, parecendo mais tranquila agora que estava em um lugar seguro. Puxei uma cadeira para ela se sentar e fiz o mesmo com uma cadeira próxima dela.
- Por favor. – pediu em tom sério, senti seus olhos castanhos sobre mim – Não diga que você estava certo. – Completou com um sorriso triste no rosto, me fazendo sorrir da mesma maneira, peguei sua mão e entrelacei na minha.
- Quem sabe quando a poeira abaixar. – Brinquei em resposta, lhe dando uma piscadinha e ela riu baixinho, quando olhou para mim novamente, seus olhos pareciam mais tristes que o normal.
- Você vai fazer um boletim de ocorrência, né? – Eu perguntei em tom sério e arregalou os olhos em minha direção – , é a melhor coisa...
- Eu não quero. – Ela respondeu em tom irritado, suas mãos tremiam em cima da mesa e ela suspirou em seguida – Não quero que meu pai me proíba de sair de casa agora que eu estou conseguindo um pingo de liberdade, .
- E deixar aquele imbecil sair ileso disso tudo? – Perguntei aumentando meu tom de voz, vendo as rugas em sua testa surgirem, mostrando que ela estava começando a se irritar.
- Provavelmente ele está em um pronto socorro agora com o nariz quebrado e sabe se lá mais o que. – respondeu com os braços cruzados e o olhar frio sobre mim, ela mordeu o lábio e entrelaçou nossos dedos, sorrindo fraco para mim – Desculpa, eu estou sendo uma idiota e não sei o que faria para conseguir mostrar a gratidão que eu sinto por você. Eu só quero fingir que nada aconteceu, é assim que eu sofro.
Igual sua mãe, pensei e me xinguei mentalmente por pensar aquilo dela, comparar a mãe dela que vive um caso de violência doméstica com um caso também de violência contra a mulher. Respirei fundo e ela mordeu o lábio, vendo o quanto eu pensava.
- Odeio quando você pensa demais.
Um sorriso fraco escapou dos meus lábios e eu a puxei para mim, a abraçando com cuidado e lhe dando um beijo demorado na testa. Eu sentia vontade de mantê-la nos meus braços para sempre, eu sentiria vontade de quebrar a cara de Paul toda vez que eu o visse no colégio, toda vez que ele tentasse se aproximar dela e de qualquer outra garota.
- Eu vou mandar uma mensagem falando que eu vou dormir na Amber, ‘tá? – me perguntou com uma voz chorosa e eu concordei sem pensar duas vezes, ela sorriu agradecida e se levantou, vacilando ainda e mordi meu lábio, vendo-a se afastar.
- Amber, pela milésima vez, a culpa não é sua. – dizia em tom baixo, mais o suficiente para que eu conseguisse ouvir do quarto de Ashley, eu havia decidido tirá-la da posição desconfortável no sofá e a levado para seu quarto. Olhei para suas bonecas na prateleira e estremeci, eu odiava aqueles tipos de boneca de porcelana.
- Eu vou ficar bem, ok? Obrigada por tudo. – finalmente desligou e eu cobri Ashley até os ombros, ela suspirou e eu sorri, mexendo em seus cabelos lisos – Você será um ótimo pai, .
- Não estou pensando nisso no momento, mas agradeço. – Eu brinquei, me virando para vê-la encostada no batente da porta com um sorriso fraco em seu rosto que desapareceu quando ouvimos o barulho da chave na porta – Acho que ninguém precisa saber agora que você está aqui, certo?
- Você é demais, . – murmurou com um sorriso brincalhão em seu rosto, enquanto eu a levava até o meu quarto, fechando a porta atrás de mim, vendo seus olhos castanhos me fitarem com gratidão.
- Pegue. – Falei após jogar uma camiseta minha velha de alguma banda, ela sorriu fraco e agradecida, aposto que ninguém se sentiria confortável em dormir com aquele vestido – Em troca, se troque na minha frente.
- Babaca. – resmungou com um sorriso divertido e foi em direção ao banheiro, antes de me lançar um olhar engraçado. Sentei me na cama enquanto a esperava, mantendo um sorriso fraco por saber que minha garota ainda era só minha e nenhum babaca tinha tirado o que é mais importante e especial para uma garota.
- Andei pensando em algo. – concluiu quando saiu do banheiro e a olhei com uma sobrancelha erguida, enquanto ela se sentava ao meu lado.
- No que? – Perguntei com um sorriso fraco.
– Você é meu herói favorito. – Ela encostou seus lábios nos meus de maneira breve, mas manteve nossos narizes encostados por algum tempo, eu sorri fraco antes de me afastar. Eu não daria continuidade na minha esperança, não agora.
- Amizade acima de tudo, pequena.
- Você cortou o clima de filme de romance. – murmurou contra o travesseiro, aliás no meu travesseiro, fechando os olhos em seguida.
- Você é craque nisso, eu só quis dar o troco.
- Eu me lembro da época que você dizia que queria morar em um sitio e ter cento e um dálmatas. Retruquei enquanto prestava atenção no caminho de volta para casa, fazendo-a rir do que eu havia dito no banco passageiro.
- Eu tinha apenas quatorze anos, ! – resmungou em resposta, os braços cruzados sobre o peito enquanto mantinha um sorriso convencido em seu rosto – E era fã da Disney.
- Ainda é. – Retruquei mais uma vez, fazendo-a erguer os braços como se tivesse sido vencida pelo que eu havia dito.
- Esse sonho não vai se realizar pelo fato de que Andrew não gosta de cachorros porque ele tem alergia. – disse em tom sério, como se aquilo não tivesse importância para ela, mas eu sabia o quanto ela amava animais, afinal de contas, ela era veterinária, droga.
Não falamos mais nada quando o assunto finalmente acabou, tocar no nome de Andrew era algo que incomodava os dois e o fato dele não saber de nossas saídas, era algo que incomodava , mas que para mim era simplesmente prazeroso colocar um belo par de chifres em sua cabeça. Infelizmente, a realidade batia de frente comigo toda vez que eu pensava dessa maneira, de que adianta eu me contentar com os chifres dele sendo que ele que vai ter ela para si mesmo daqui há alguns meses?
- Obrigada. – murmurou quando a deixei na calçada do meu prédio, ela não quis ao menos entrar para comer alguma coisa ou ver Mary.
sorriu de maneira triste antes de me dar um beijo demorado na bochecha de despedida. O clique da porta se abrindo, fez com que eu me virasse para olhá-la indo em direção ao seu carro com pressa, olhando para os lados para ter certeza de que seu noivo não estava nos investigando ou algo do tipo.
As palavras do seu pai ainda se mantinham vivas em minha cabeça, fechei meus olhos e segurei com força no volante antes de decidir fazer uma visita para minha mãe. Olhei para o banco antes ocupado por e me perguntei porque era tão difícil simplesmente tê-la. Abri a porta do carro e caminhei em passos lentos em direção ao elevador, afundando meu dedo no botão enquanto o esperava impaciente. Eu iria me focar em meu trabalho mais do que nunca agora, eu precisava esquecer que a cada dia que se passava, eu perdia .
Janeiro de 2012
Aquele havia sido o primeiro ano novo sem meu pai e o clima em casa havia cedido para a paz pela primeira vez. No natal, havíamos recebido presentes, aliás, apenas Christopher e Ashley haviam recebido presentes de natal, para mim não havia ao menos um cartão. Era visível a dor nos olhos de minha mãe quando Christopher e Ashley abriam os presentes, enquanto eu apenas os assistia de mãos abanando, eu havia ido dormir antes que todo mundo, me trancando no meu quarto e controlando a vontade de socar tudo em minha frente.
Meu celular vibrou na hora, fazendo com que eu o olhasse esperançoso, como se fosse um pedido de desculpas de meu pai por ter se esquecido de mim. Era uma mensagem de , mil vezes melhor do que eu estava esperando. “Tem algo no jardim para você”, era tudo que dizia na mensagem, me fazendo abrir a porta rapidamente e correr em direção ao jardim. Assim que parei em frente a roseira de minha mãe, encontrei um embrulho de ursinhos vestidos de papai Noel, me fazendo rir ao imaginá-la embrulhando o presente. Olhei para os lados, sentindo que eu estava sendo observado, abri o embrulho e sorri ao fitar o porta-retratos com alguns corações e uma foto nossa. estava de cavalinho em minhas costas, ambos riamos da nossa brincadeira.
Aquela foto havia sido tirada por Amber no dia que fomos ao parque, mordi meu lábio ao rever as cenas em meus pensamentos. Como ela me surpreendia com aquele presente quando eu mais precisava dela? Entrei novamente em casa, fechando a porta e ainda sorridente enquanto encarava o porta-retratos.
Agora, dia primeiro de janeiro, estávamos gritando feliz ano novo um para o outro enquanto nos abraçávamos e eu a girava, fazendo-a se segurar em meu pescoço. usava um vestido branco simples e uma sandália prateada, os cabelos castanhos estavam soltos e ela usava pouca maquiagem, da maneira que eu amava. Alguns parentes estavam em casa naquela noite de comemoração, era um novo ano para todos e um recomeço para minha família, principalmente para minha mãe que já começava uma nova rotina.
- Me põe no chão, ! – gritou desesperada, dando tapas em minhas costas, fazendo com que eu a colocasse no chão e a deitasse na grama molhada, ela gritou e me puxou pelo colarinho da blusa que eu usava, eu tropecei e cai por cima dela.
Os olhos castanhos de brincaram em meu rosto, passando por cada parte dele e parando em minha boca. Molhei meus lábios com minha língua, tentado a beijá-la esquecendo qualquer conceito de amizade colorida que tínhamos, eu nunca entenderia o que eu sentia por .
engoliu em seco quando viu que eu me aproximava de sua boca, pensei em recuar e estava prestes a fazer isso, até que senti seus dedos em meus cabelos, fazendo um carinho como se me incentivasse a fazer o que eu mais queria. Olhei mais uma vez em seus olhos antes de encostar nossos lábios em um selinho demorado, pediu permissão e eu concedi, minhas mãos desceram para sua cintura e iniciamos nosso primeiro beijo do ano, eu esperava que fosse o primeiro de milhares.
- Seria tão mais fácil se você não beijasse tão bem. – resmungou com a boca ainda próxima da minha, fazendo com que eu sorrisse convencido.
- Nunca diga isso a um homem, ele vai se achar para o resto da vida. – Avisei em tom sério, fazendo com que um sorriso gostoso brincasse em seu rosto, enchi seu rosto de beijos e ela me deu tapinhas, mostrando que poderiam estar nos vendo.
- Babaca. – brincou quando me levantei e a ajudei a fazer o mesmo, segurei em sua mão e a puxei para mim, fazendo com que seu rosto ficasse próximo do meu – Preciso ir.
- Feliz ano novo, pequena. – Murmurei perto de seu pescoço, lhe dando um beijo demorado em seu pescoço, fazendo com que ela sorrisse e me desse mais um beijo demorado.
- Eu amo você, . – Ela respondeu com um sorriso sincero, me fazendo sorrir de volta.
- Eu amo você, . – Retruquei, fazendo-a sorrir mais ainda enquanto se afastava e voltava correndo para sua casa, me deixando parado como um bobo no meio do jardim de um desconhecido.
Agora
Meu olhar parou sobre o porta-retratos em cima da mesa de meu escritório, me fazendo sorrir enquanto encarava a foto de quando eu e tínhamos apenas dezesseis anos. Éramos livres para viver o que até hoje não sabemos definir, eu só sabia que era amor, de maneiras confusas e erradas, mas era um sentimento puro. O sorriso dela continuava o mesmo assim como o brilho doce e sincero de seus olhos, eu havia amadurecido depois de tantas coisas que haviam acontecido.
Meu celular vibrou em cima da mesa, me despertando dos pensamentos e encarei a foto de Ashley com a boca cheia de batata frita, fazendo uma careta esquisita. Atendi sem vontade, mas eu nunca deixaria minha caçula na mão.
- ! – Ela gritou do outro lado da linha, fazendo com que eu fechasse meus olhos, esperando pelo pior – Como você tem coragem de fazer isso? Enlouqueceu?
- O que eu fiz dessa vez? – Perguntei enquanto massageava minhas têmporas, sem paciência para dramas adolescentes quase adultos.
- FALA PARA ELE QUE ELE VAI VIR CATAR OS COCOS COM A BOCA! – Ouvi a voz de minha mãe no fundo da ligação e meu sorriso cresceu em meu rosto.
- A mamãe está bem brava com você. – Ashley avisou em tom sério, me fazendo rir alto.
- Ele já chegou? – Perguntei animadamente, Ashley apenas murmurou concordando com minha pergunta – Estou indo para aí.
Cheguei na casa de minha mãe em menos de dez minutos, estacionando de qualquer jeito, ansioso pelo que me esperava. A porta se abriu e uma Ashley sorridente me recebeu, me dando beijinhos na bochecha quando me viu, apesar de estar brava ela não deixava de ser carinhosa comigo.
Entrei na casa e parei na sala de estar, onde um cercado improvisado com um pote de cerâmica era usado para colocar água e a figura peluda de apenas dois meses de vida me olhava com curiosidade. Agachei-me e o peguei no colo, suas patas apesar do tamanho já eram grandes, mostrando que ele ficaria maior do que eu esperava e isso era ótimo. Senti a sua língua quente encostar em minha bochecha, me fazendo rir enquanto eu o erguia brincalhão.
- Um são bernardo? – Minha mãe perguntou com os braços cruzados e a expressão séria, me fazendo sorrir mais ainda – Você sabe o tamanho que esse cachorro fica, né?
- Não é para mim. – Retruquei fazendo cocegas na barriga macia e peluda do cachorrinho em meu colo que tentava furiosamente se livrar das minhas mãos.
- . – A voz de Ashley era uma mistura de diversão e horror, fazendo uma expressão engraçada enquanto me fitava incrédula – Você é um ótimo inimigo.
- Eu não vou deixar você fazer isso. – Emma avisou em tom ameaçador na minha direção, seus olhos mostravam o contrário do que ela falava – Isso não é um presente de casamento.
- Não quando somos contra o casamento, mamãe. – Retruquei dando um beijo no topo da cabeça do cachorro e sorri na direção de Ashley, que tampava a boca com uma mão, para não levar bronca de minha mãe ao concordar com aquela loucura.
- Eu sei que você a ama, mas até quando vai continuar com essa loucura? – Ela perguntou em tom sério, sua cabeça pendeu para o lado enquanto esperava a minha resposta.
- Até ouvir dizendo que não me ama mais. – Retruquei em tom ofendido, me levantando e pegando o cachorro, apertando-o contra meu peito enquanto olhava em sua direção.
- Ash, me ajuda a levar ele para o apartamento? – Perguntei sem vontade e a minha irmã concordou, pegando a caixa que estava com os pequenos utensílios básicos que eu havia comprado para aquele pequeno. Olhei rapidamente na direção da minha mãe que fechou os olhos, mordendo o lábio enquanto me via sair pela porta principal sem me despedir, eu sabia que ela estava tentando fazer o que julgava ser melhor para mim, mas eu havia decidido que não iria desistir da minha garota, não agora.
Junho de 2012
- Eu vou enlouquecer. – resmungou pela quinta vez naquele dia, olhei entretido para ela que se descabelava enquanto fitava as folhas de fichário jogadas sobre o tapete da minha sala, me fazendo rir e recebendo um olhar feio em troca – Eu preciso entrar em uma faculdade pública.
- E você vai, não sei por que ainda tem dúvidas disso. – Resmunguei imitando-a e deitando no sofá, apoiando meu braço em meus olhos para tampar a claridade, eu odiava estudar e eu não queria a companhia de para estudar, se é que me entendem.
- Como estão os preparativos para a festa de formatura? – perguntou após juntar suas folhas e eu tirei meu braço para encará-la, seus olhos estavam fixos em mim.
- Está tudo sob controle. Ainda. – Respondi com um sorriso convencido e ela virou lentamente os olhos castanhos, sem que ela percebesse de tão rápido, eu pulei do sofá e a abracei, deitando-a no tapete e fazendo cócegas, ela gritou em protesto me fazendo sorrir mais ainda. Quando parei sua respiração estava falha e o peito subia e descia com rapidez, um sorriso brincalhão enfeitou seus lábios e eu beijei a ponta de seu nariz.
- . – Ela sussurrou fraquinho com o hálito de menta contra minha boca, os olhos estavam vesgos já que ela fitava meus lábios – Saí de cima de mim.
- Tem certeza que é isso que você quer? – Perguntei com a boca próxima a dela, meu sorriso malicioso fez com que ela fechasse os olhos e negasse, me fazendo sorrir. bufou irritada embaixo de mim e sem que eu esperasse, senti seus lábios macios contra minha boca e um sorriso escapou dela durante nosso beijo, me sentei com as costas apoiadas no sofá e ela colocou as duas pernas em volta de minha cintura.
O beijo começou a ter mais intensidade alguns segundos depois, deu um pulo do meu colo quando seu celular tocou e eu segurei o riso ao ver seus lábios vermelhos e levemente inchados. Ela correu para atender seu telefone e a expressão estava mais séria que o normal, ela me lançou um olhar rápido e fechou os olhos em seguida.
- Mãe, se acalme. – pediu em tom preocupado, ainda de olhos fechados e a expressão tensa – Eu estou indo para aí. – Ela desligou o telefone e abriu os olhos, me encarando de maneira triste e desesperada.
- O que houve? - Perguntei preocupado e começou a arrumar as coisas dela sem falar nada, eu perguntei a mesma coisa mais umas três vezes e ela parecia estar em outro mundo – !
finalmente me olhou, os olhos agora marejados me fitaram e eu corri para abraça-la, ela fungou baixo, se afastando rapidamente enquanto colocava a mochila de cupcakes no ombro direito e me olhava culpada.
- Meu pai chegou bêbado em casa. – confessou finalmente e eu olhei preocupado para ela, eu nunca havia acreditado, mas a maioria das pessoas, inclusive achavam que o pai realmente havia melhorado – Eu preciso ir, minha mãe precisa de mim.
- Eu vou com você. – Eu respondi rapidamente e antes que ela falasse alguma coisa, segurei em sua mão e saímos de minha casa, andamos uns cinco minutos até a casa dela e Violet nos esperava do lado de fora com o rosto vermelho. soltou minha mão e correu na direção da mãe que a abraçou com força, chorando em seguida, me deixando preocupado há alguns metros de distância. Olhei para o alto e encontrei os olhos irritados do pai de em minha direção, mantive o olhar fixo no dele.
Eu havia prometido para mim mesmo que eu chamaria para ser meu par na formatura, respirei fundo juntando toda a paciência que ainda me restava e olhei novamente para a janela, vendo que o pai de havia desaparecido da mesma. Olhei na direção da mesma que estava abraçada com sua mãe, lançando me um olhar de desculpa e eu só queria tirar daquela situação ridícula em que a mãe dela as colocou novamente.
Ashley segurou o filhote no colo o tempo todo, as vezes me lançava olhares contínuos, tentando me impedir de fazer aquela loucura, mas essa era a minha carta final. Eu já havia desistido de manter uma boa relação entre eu e , eu sabia o quanto ela amava animais e foi tão errado me falar sobre o fato de Andrew não gostar de cachorros pelo fato de ser alérgico.
- E se ele morrer de alergia? – Ashley perguntou preocupada, me fazendo olhar rapidamente em sua direção e sorrir de maneira maldosa.
- Ia ser uma ótima notícia. – Ela me olhou horrorizada e se ajeitou no banco do passageiro, dando um beijo na cabeça do cachorrinho em seus braços, fazendo bico toda vez que eu olhava em sua direção – Se ele não aceitar, você pode ficar com ele.
- Até parece que a mãe vai aceitar depois que o Pongo nos deixou. – Ashley retrucou em tom sério, fazendo um bico maior ainda e eu sorri triste ao me lembrar do nosso único cachorro e que depois de sofrermos com sua morte, minha mãe jurou que seria o último da vida dela.
- Chegamos. – Parei em frente ao prédio e Ashley apertou o bichinho contra seu corpo, eu virei meus olhos e peguei a caixa azul com laço vermelho no banco de trás e sorri cúmplice para ela que bufou derrotada – Coloque ele aí, se ela não ficar com ele, ficaremos maninha.
Ashley derrotada colocou o são bernardo dentro da caixa e eu deixei ela aberta até o percurso da portaria, minha irmã segurava a caixa com os brinquedinhos e o que fosse necessário para o filhote.
- Ashley. – Ela murmurou o nome sem vontade para o porteiro – É uma encomenda para , do apartamento vinte e dois. – Ashley concluiu como havíamos combinado ainda no carro, ela olhou mais uma vez para o filhote que parecia entretido em tentar morder a caixa.
- Vocês querem entrar? – O porteiro perguntou entediado, fazendo com que Ashley me olhasse rapidamente e eu neguei com a cabeça.
- Não, só peça para buscar aqui embaixo, é uma surpresa. – Ashley respondeu em tom sério, ela sabia encarnar o papel quando queria e isso me deixava impressionado. O clique do portão preto nos surpreendeu, fazendo com que eu olhasse para ela que suspirou olhando mais uma vez para o filhote antes de entrar e colocar a caixa onde o porteiro nos esperava com um olhar curioso.
- Você pode tampar a caixa quando descer? – Perguntei ansioso e ele concordou prontamente, deixei a caixa com os pertences dele ao lado de sua caixa e fiz um carinho rápido nele – Minha casa é a sua casa, garotão.
Afastei-me do porteiro e agradeci com um olhar, Ashley me olhou com ternura e eu soube que ela havia ouvido o que eu falei para o cachorro. Ashley fechou o portão e o clique fez o filhote latir baixinho, sorri fraco e entramos no carro, dei uma volta no quarteirão em seguida e passamos pela rua novamente a tempo de ver abrir a caixa, os olhos castanhos refletiam paixão e animação, ela ergueu o olhar e eu acelerei o carro, ela sabia que eu havia feito aquilo por ela.
Mais uma lágrima escorria em meu rosto e eu a limpava com ferocidade, pela décima vez eu deixava meus livros e papéis espalhados pela escrivaninha, me jogando em minha cama e sentindo o bolo se formar em minha garganta. Os gritos de meus pais discutindo invadiam meus pensamentos e eu só conseguia pensar no que eu havia feito dois dias atrás, eu nunca havia sido tão egoísta com quem sempre esteve ao meu lado.
- , nós não podemos invadir a casa de árvore de uma criança dessa maneira. – Murmurei assustada enquanto ele pulava a cerca de madeira de uma das casas da vizinhança e eu respirei fundo, ele nunca me ouvia – Qual o seu problema em me ouvir?
- Você reclama demais. – respondeu com um sorriso brincalhão sabendo que aquilo me deixaria irritada, mas pela primeira vez eu concordei com ele e mantive meus braços cruzados sobre meu peito, mostrando meu protesto silencioso de que aquilo era uma loucura – Vem.
Ele esticou os braços e eu bufei antes de aceitar sua ajuda para pular a cerca, sentindo a grama macia afundar sobre minhas sapatilhas e me encolhi com o vento gelado que passou por nós. checou para ver se havia alguém na casa, mas todas as luzes estavam apagadas e comecei a pensar que ele havia planejado aquilo, pois a casa não tinha indícios de seus moradores. Quando dei por mim, ele ria baixo me olhando há alguns metros de distância apoiado na árvore que sedia para a casa bem-feita de madeira, aquele era o sonho de qualquer criança.
Aproximei de onde ele estava e me guiou para subir a escada de madeira grudada na árvore, confesso que senti medo, mas a adrenalina era maior que qualquer outra sensação que eu sentia. Com um passo de cada vez, meus dedos até doíam tamanha a força que eu fazia para me manter grudada na árvore e não terminar aquilo em um acidente indesejado. Empurrei a pequena porta de madeira e me abaixei para conseguir entrar, olhei para trás e fez o mesmo com mais dificuldade pela sua altura, sorrindo carinhosamente para mim após fechar a portinha.
Estávamos completamente no escuro e eu senti medo por estar fazendo algo que poderia deixar meus pais furiosos, ele trouxe uma lanterna para mim e uma para ele, a luz forte sobre meu rosto, fez com que um grito de susto escapasse de meus lábios e uma risada gostosas dos dele.
Quando abri meus olhos e encarei o que estava em minha frente, senti meu estômago revirar ao encarar a toalha quadriculada vermelha estendida no chão da casinha e uma cesta antiga de piquenique em cima dela, olhei rapidamente para que sorria satisfeito com seu trabalho.
- Você invadiu essa casinha antes? – Perguntei incrédula e ele virou os olhos, me fazendo sorrir ao ver que eu mal havia começado reclamando já, me aproximei dele engatinhando e lhe dei um beijo demorado na bochecha – Está lindo, devo admitir.
Os olhos azuis de me fitaram, os cantos de seus lábios se ergueram em um sorriso sincero e ele se sentou, mostrando que eu deveria fazer o mesmo e obedeci sem hesitar. Curiosa, esperei ansiosamente ele abrir a cesta, em segundos ele a fez e sorri ao encarar os cookies de Mary assim como alguns pedaços de bolo em um potinho e lanches com frios. Ele me olhou e eu sorri, era uma ação involuntária que eu fazia toda vez que sentia seus olhos azuis sobre mim, eu não queria admitir para mim mesma o que eu já sabia há muito tempo: eu estava apaixonada pelo meu melhor amigo.
Estiquei meu braço e peguei um pedaço do lanche que havia ali, eu começaria pelo salgado. esticou os braços e pegou duas caixinhas de suco, me fazendo rir pelo fato de que ele havia lembrado da minha mania de prometer ficar sem refrigerante para passar em uma faculdade pública e finalmente sair de casa. Lembrar daquilo fez meu peito doer, faculdade pública tinha o mesmo significado que ir para longe de também e aquilo me causava um desconforto.
- Eu fiz tudo isso para te perguntar uma coisa. – cortou o silêncio que havia surgido entre nós, olhei de soslaio para ele que respirou fundo antes de continuar – Esse é nosso último ano e eu não suportaria te ver com outro cara sendo que essa é a última formatura juntos, nosso último baile juntos. Eu finalmente decidi que eu deveria te chamar para um baile, pequena. Você aceita?
Meu ar sumiu no momento, um bolo se formou em minha garganta e eu queria gritar sim, eu queria dizer o quanto eu esperei por aquele pedido, o quanto eu esperei para finalmente ser o par dele.
- ? – Ele perguntou em tom fraco, me fazendo respirar com dificuldade e meus olhos marejaram em seguida, eu era uma idiota por estar fazendo aquilo com ele.
- Eu não posso, . – Eu murmurei com a voz falha e ele me olhou ainda surpreso com minha resposta – Eu sinto muito. – Completei antes de me levantar e descer da casinha com dificuldade, olhei uma última vez para a mesma antes de desaparecer da visão de .
Ele não foi atrás de mim e eu não sabia se aquilo era bom ou ruim, eu não merecia nada do que ele havia feito para mim. Cheguei em casa com a respiração ofegante e chorei baixinho quando fechei a porta atrás de mim, erguendo minha blusa de manga comprida e olhando o hematoma em meu braço que ainda doía.
Agora
- Tem uma encomenda para você, senhorita. – A voz do porteiro fez com que eu me despertasse do meu transe ainda com o interfone apoiado em meu ouvido – É bom a senhora vir buscar logo.
- Ok, eu estou indo. – Estranhei a maneira como ele havia dito aquilo, mas ignorei. Olhei para Andrew que dormia tranquilamente no sofá e abri a porta sem fazer barulho, chamei o elevador e alguns segundos depois entrei no mesmo, apertando o botão do térreo.
Empurrei a porta pesada com um pouco de dificuldade e caminhei rapidamente em direção a portaria, encontrando o porteiro de aparência cansada me aguardando com uma enorme caixa sobre seus pés, provavelmente era mais um presente de casamento de algum parente que eu mal me lembrava.
- É pesada. – Resmunguei ao tentar carregar a caixa e algo dentro dela chorou baixinho, olhei para o porteiro que parecia receoso com o olhar sobre a caixa de presente.
Puxei a tampa com cuidado e observei o filhote de são bernardo com um laço azul em volta de seu pescoço, meu coração disparou ao encarar o filhote em minha frente. Rapidamente o peguei em meu colo e ele me lambeu me fazendo sorrir incrédula. Olhei ao meu redor, mas não encontrei nada e nem ninguém conhecido, sorri ao encarar a pequena criatura em meus braços.
- Ai, meu Deus, eu não posso ficar com você. – Murmurei baixinho na direção do filhote que mal cabia em meu colo, olhei para o porteiro que sorriu ao ver o presente – Andrew vai me matar. Quem trouxe esse presente?
- Foi um casal, era um cara e uma menina que parecia mais nova que ele. – O porteiro respondeu em tom sério, preocupado com alguma coisa.
- . – Resmunguei o nome do meu melhor amigo e olhei dentro da caixa, encontrando um bilhete que logo reconheci ser sua letra. Peguei o bilhete com o filhote ainda em meu colo e chamei o elevador de serviço, me preparando para o que me aguardaria em seguida.
Dezembro de 2012
Eu ainda não sabia o porquê havia recusado ir ao baile comigo e aquela pergunta martelava minha cabeça há exatamente um mês desde que eu a havia convidado para o baile. Ajeitei minha gravata uma última vez, respirei fundo quando minha mãe invadiu meu quarto segurando uma câmera fotográfica com um sorriso animado em seu rosto cansado.
- Uma foto para meu álbum. – Ela pediu gentilmente e eu me posicionei sem graça diante da câmera, fazendo-a sorrir mais ainda com minha timidez ou falta de vontade, interprete como preferir.
- Você está lindo, meu amor. – Minha mãe murmurou enquanto me puxava para um abraço apertado e eu retribui com força – Sinto muito por não poder ir.
- Não sinta, cada um é responsável pelas suas decisões. – Resmunguei levemente irritada e desfiz o abraço, sentindo os olhos claros de minha mãe sobre mim, ela suspirou e me olhou daquela maneira que eu odiava.
- Fiquei sabendo que a situação na casa dela piorou, . – Minha mãe confessou em tom sério e eu a encarei sem saber se deveria acreditar ou não, Violet havia aceitado aquela situação novamente e havia levado com ela – Não a culpe por não querer te envolver nisso, ainda mais porque fui eu quem pedi para ela te deixar longe daquele homem.
Meus olhos fitaram minha mãe que agora deixava as lágrimas brincarem em seu rosto, as limpando em seguida e senti a culpa sendo refletida em seus olhos. Eu não sabia se sentia raiva ou alivio por saber a verdade agora.
- Mas nunca imaginei que você ficaria assim, afinal de contas é apenas um baile. – Ela sussurrou com culpa e mordeu o lábio, respirando fundo em seguida – E agora eu estraguei a noite dela.
- A noite está apenas começando, mãe. – Sorri fraco e lhe dei um beijo demorado na testa, controlando a vontade de sorrir ao ver que não havia nada de errado entre e eu.
A buzina de fez com que eu desse outro abraço rápido em minha mãe e corresse para a porta principal, encontrando meu melhor amigo dentro de seu carro acompanhado por Amber que mantinha um sorriso bonito e havia conseguido ficar mais linda do que já era naturalmente.
- Preciso da ajuda de vocês. – Eu disse assim que entrei no carro, me jogando de maneira desastrada no banco de trás.
- Odeio quando ele fala assim. – confessou no banco do motorista, me lançando um olhar de piedade pelo retrovisor.
- Cala a boca, . – Amber murmurou com um sorriso de lado e se virou para me encarar.
- não está indo para o último baile do colégio e agora eu sei o verdadeiro motivo. – Eu confessei em tom sério e se virou na intenção de ouvir o que viria em seguida, mas eu não falaria o motivo abertamente para eles – Não podemos deixar isso acontecer.
- Eu concordo com você. – Amber disse rapidamente, fazendo um high five animado comigo e o meu melhor amigo suspirou no banco do motorista – Vai ser menininha ou entrar nessa com a gente? – Amber perguntou em tom sério e ele virou os olhos, juntando nossas mãos e sorrimos olhando uns para os outros.
- Tenho um plano! – Amber deu um gritinho dentro do carro e levou um dedo ao ouvido, recebendo um tapa forte em seguida – É o seguinte...
Duas horas depois
- As bebidas provavelmente já devem ter acabado. – resmungou ao estacionar o carro em frente à casa de que estava acesa, observei seu quarto aceso e suspirei, eu não deixaria a minha garota perder aquela noite.
Amber me entregou o embrulho com um sorriso doce nos lábios e piscou, sussurrando uma “boa sorte” no banco do passageiro.
- Estamos aqui. – disse em tom sério, apesar de ser reclamão, ele nunca me deixaria na mão em nenhuma situação e eu sabia que ele se dirigia ao pai de .
Desci do carro e bati a porta, respirando fundo e indo na direção da porta branca. Bati algumas vezes na mesma e esperei, ouvi passos pesados e logo dei de cara com o pai de que não havia gostado de me ver.
- O que você tá fazendo aqui garoto? – Ele perguntou de forma grosseira e eu olhei além dele, encolhida no meio da escada, me encarava abismada e ao mesmo tempo, havia esperança em seus olhos.
- Eu vim buscar a minha melhor amiga para o último baile do colégio e nada vai me impedir. – Eu respondi em tom sério e observei seu punho se fechar – E quando eu digo nada, isso envolve o senhor.
deu um sorriso fraco no meio da escada e logo outra presença chamou minha atenção, Violet estava encolhida entre a escada e a porta principal, ao redor de seu olho direito eu pude ver uma marca roxa bem leve e senti meu sangue ferver.
- Ela não vai para nenhum lugar. – O homem em minha frente insistiu quando desceu a escada e estava mais próxima de nós, dei um sorriso irônico e o olhei com raiva – Ela não vai me desobedecer, não é mesmo? – Observei a mão dele sobre a cinta e meu sangue ferveu quando recuou de perto de mim.
- Desculpa. – Pedi para que me olhou sem entender e em seguida, eu sentia meus dedos doerem de maneira gostosa enquanto seu pai gemia no chão com as mãos sobre o nariz. Violet não reagiu e me olhou com um pingo de alivio, o homem continuou se contraindo no chão e me olhou de volta.
Estiquei meu braço e lhe entreguei o embrulho, ela o pegou ainda atordoada com tudo que tinha acontecido e sorri fraco para ela.
- Eu disse que nada me impediria de fazer a sua noite feliz, . – Eu disse mais uma vez e ela olhou para o homem ainda gemendo no chão e correu para o segundo andar, lancei um olhar rápido para Violet que parecia envergonhada – Se você não fizer, eu farei.
Violet correu para a sala e provavelmente iria chorar, olhei mais uma vez para o homem no carpete tentando estancar o sangramento no nariz e sorri prazeroso ao erguer minha perna e lhe acertar com força na barriga, fazendo-o cuspir.
- Você merece muito mais por ser um covarde. – Murmurei próximo a ele e cuspi em cima do monstro que havia se tornado, minutos depois um barulho fez com que eu parasse estático no batente da porta principal.
Luzes vermelhas e azuis se misturavam no meio da noite, o carro da polícia parou em frente à casa de e alguns policiais saíram do carro no mesmo instante, vindo em minha direção. Violet havia me denunciado por agredir seu marido, eu já estava preparando para ser algemado quando apareceu deslumbrante no topo da escada e me fez perder o foco por alguns segundos antes de falar em alto e bom som:
- É aquele homem deitado. – Ela apontou na direção em que seu pai ainda agoniava de dor, um pouco roxo pela falta de ar do último golpe que eu havia lhe dado – Prestei o boletim de ocorrência pelo telefone, mas amanhã comparecerei a delegacia. – Ela completou em tom sério para o policial que prestava atenção nela enquanto o outro prendia seu pai.
- Você sabe que fez a coisa certa, . – O policial deu dois tapinhas no ombro desnudo de que concordou ainda sem expressão, ela parecia fria e eu nunca a havia visto daquela maneira. me olhou e havia dor refletida em seus olhos, fui em sua direção e a abracei com força, ela retribuiu e fechei meus olhos, eu ficaria do lado dela naquela luta.
Os policiais saíram em seguida sem dizer uma palavra, apenas acenaram com a cabeça e olhei na direção da porta, onde e Amber nos encaravam surpresos e assustados com tudo que havia acontecido. Eles se aproximaram e se juntaram ao abraço que eu estava dando em .
- Você está linda. – Amber disse com sinceridade, fazendo dar uma voltinha e eu finalmente havia notado que o vestido com alguns detalhes rosas e meio transparente havia ficado perfeito nela, os cabelos castanhos estavam presos de um lado da cabeça, caindo como cascatas ondulados.
- Ela é linda. – Corrigi Amber em tom sério, fazendo todos rirem e olhou para trás, eu sabia que ela queria falar com a mãe antes de ir, mas algo dentro dela fez com que desistisse e a mesma entrelaçou seus dedos aos meus, me incentivando a sair de sua casa.
- Obrigada por nunca desistir de mim, . – murmurou com a voz triste e eu a puxei para perto, lhe dando um beijo demorado em sua testa, fazendo com que ela sorrisse fraco.