Escrita por:Clara | Betada por:Letty Fernandes (até o capítulo 47 por Lila Zardetto e Marcela Spaolonzi | até o capítulo 154 por Lai)
Última atualização: 06/01/2017
O que aconteceria se juntassem vários jovens em uma única fraternidade? Com certeza muita confusão. É isso que acontece em Teenagers, uma história que narra a vida de 11 adolescentes aparentemente normais, mas cada um escondendo seus segredos.
recebeu uma mensagem de com o sinal positivo, que queria dizer que ela estava se saindo bem. Desde que levou a um pub na noite passada, não conseguia parar de pensar nela. Os dois não beberam, o que foi ótimo, porque soube que ela realmente se divertindo e não porque estava bêbada. A noite se passou com boas conversas e até mesmo conseguiu convencê-la a dançar um pouco. O problema era que por enquanto os diálogos que tiveram estavam mais parecidos com monólogos. Tinha a impressão de que se fechasse somente para ele, pois sempre lhe respondia curta e rapidamente, como se não quisesse que o garoto soubesse muito a seu respeito. Temia que a garota tivesse percebido seu interesse por ela e isso a deixasse constrangida de alguma forma, tendo em vista que se comportava diferente quando estava sozinha com ele. Mas qual é, só queria ser amigo dela, não queria mordê-la nem nada. Talvez então chegara a conclusão de que nada vindo dele era somente amizade, pelo menos nada direcionado a ela.
Uma reprise de 90210 passava na televisão. O cômodo onde estava possuía paredes altas e cobertas de quadros com pôsteres de filmes ou séries famosas, as molduras de madeira desgastadas e precisando de substituição. A sala era enorme, com o piso coberto por um carpete caro e antialérgico e várias sofás grandes e confortáveis, com capacidade para mais de sete pessoas. A maioria dos jovens ao redor da enorme tela se sentavam no chão, enroladas em cobertores. A maior parte das pessoas estava no chão, enroladas em cobertores, algumas mexendo em seus notebook, outras lendo ou conversando. Passou por duas loiras que discutiam sobre qual canal deveriam assistir, e ao passar por elas pensou em sugerir que cada uma fosse para seu quarto e baixasse em seus computadores o que gostaria de assistir, mas devido ao silêncio que substituiu a discussão quando se aproximou, achou melhor deixar para lá. Sorriu convencido depois de ultrapassá-las e após uns segundos, pôde escutar as garotas voltando a brigar.
Ninguém realmente assistia televisão ali, a não ser quando algum monitor resolvia fazer uma sessão cinema com alguns moradores. Não viu tantas pessoas ali. Vinte, no máximo, todos com roupas bem quentes devido ao clima ridículo daquela cidade e alguns de ressaca. As luzes alaranjadas estavam ligadas e o tom meio dourado que a pele das pessoas ganharam as deixavam mais bonitas. Ou disfarçava melhor a cara de morte, como preferir. Flagrou estirado em um dos sofás pretos, rodeado de meninas. Era incrível como ele era tão cheio de amigas mas não se interessava por nenhuma. Qual era o problema dele, era gay? ouviu rumores de que e uma caloura, a , tinham dormido juntos na noite anterior. Achava a suposição meio fora de cogitação, considerando que seu amigo não costumava chegar a esse nível de intimidade logo de cara com uma garota. Além do mais, seu quarto estava o mesmo tédio que sempre esteve quando chegou de seu encontro com .
Ao contrário de , não falava muito sobre seus sentimentos para ninguém. Apesar de ser uma pessoa de opinião, o amigo não deixava aparecer o que estava sentindo. Quando o garoto estava bem satisfeito, uma faísca aparecia em seus olhos e sempre baixava a cabeça ao esboçar um sorriso. E quando estava triste, engolia em seco e aguentava a dor, para que ninguém o visse chorar. Ele, por exemplo, nunca o viu chorar. Nunca mesmo, nem quando sua irmã mais nova quase morreu em um acidente de carro. Naquele dia, ao receber a ligação de seu pai mandando-o ir para o hospital, simplesmente assentiu com a cabeça e obedeceu.
As meninas riam de algo que ele tinha falado, e sentou-se ao seu lado. Quando o viram, mudaram um pouco a postura diante dos dois amigos.
-E aí? –disse enquanto se acomodava ali, fazendo que todos os olhares femininos se cravassem nele por um instante. Recebeu um sorriso relaxado do amigo e mexeu nos cabelos loiros, esperando que alguém se falasse logo.
-Oi, . –Linda Haynes o cumprimentou com um sorriso nos lábios finos pintados de algum brilho labial rosa claro. Seus lábios brilhavam com a luz, mas ganharam um tom meio estranho por causa dela. Seu corpo se inclinou levemente para frente, nada sugestivo demais. –Como você está?
-Bem, obrigado.
-Senti sua falta ontem na festa. –Joana Marshall entrou na conversa. A garota tinha uma voz muito fina e um pouco estridente, coisa que não fazia muito sentido para ele, levando em conta que sabia cantar muito bem e era bom escutá-la nas apresentações.
-Também senti sua falta ontem, . – falou com a voz rouca, como sempre. Sabia que as garotas achavam isso atraente. Se fosse uma garota, provavelmente acharia também. –Onde estava?
-Não fiquei para a festa. –ele explicou e sorriu ao pensar no que estava fazendo durante a festa. O amigo o encarou daquele jeito que mostrava que sabia muito bem do que se tratava. Lançavam aquele olhar um para o outro quando chegam atrasados em algum lugar e precisam se justificar. Ou quando um dos dois precisava do quarto só para si por uma noite, pois pretendia usá-lo. sorriu minimamente com isso, percebendo que usavam mais aquele sinal do que pensava. Poderiam também esta saindo do banheiro e...
-Pois é, Willy. –Nora Jook contorceu o rosto, aparentando uma tristeza profunda. Poderia ser verdade, mas o garoto precisou segurar o riso ao escutá-la se referir ao amigo daquele jeito. –Algumas pessoas andam mais bem acompanhadas nas festas do que as outras.
Escondendo o desconforto, ou pelo menos tentando, perguntou:
-Do que está falando? –buscou uma explicação com os olhos, mas tudo o que conseguiu foi assistir sussurrar boatos com os lábios. –Não estou entendendo.
-Estão falando que você levou uma caloura para o quarto. –Ariana Lee disse jogando seu cabelo encaracolado para o lado. Os olhos levemente arregalados indicavam urgência para tirar a limpo aquela história. – .
-Pelo o que me contaram, seus pais se separaram e ela mora com a mãe, que trabalha para a mãe da namorada de . –Nora observou, levantando o dedo indicador como quem sabia das coisas. precisou segurar a risada novamente, sentindo pena do interrogatório que estaria por vir. Aquelas meninas podiam ser bem... Eficientes. –Ela e são amigas, e as duas tiveram a sorte de serem chamadas.
-Também fiquei sabendo que ela está agora na casa do pai dela. –Joana interveio. parecia assistir a um jogo de pingue-pongue, seus olhos se revezavam entre as garotas. –É o aniversário da madrasta e ela vai perder a primeira semana inteira como caloura.
-Como vocês sabem de tudo isso? – o garoto perguntou impressionado, com a testa franzida, fazendo com que sorrisse com a inocência dele. Para uma pessoa tão bonita e desejável, ele não conhecia nem um pouco as garotas. Sua ignorância nesse assunto era uma das várias coisas que divertia .
-Foram só os rumores. –Ariana tentou passar um ar descontraído. Um pouco tarde para isso. Ela e suas amigas se entreolharam e soltaram risadinhas nervosas. –Você não respondeu.
-Desculpe, não escutei nenhuma pergunta.
-Para de enrolar, ! –Joana jogou um travesseiro na cabeça dele, que riu e jogou de volta. Ele se encolheu um pouco, nada à vontade com o rumo que a conversa tomou. Se não se sentia confortável conversando sobre sua vida pessoal com os amigos, quem dirá com aquelas garotas. – Conta logo.
-Aposto que foram Anna e Jessica. A partir do momento em que se juntou a nós ontem, eu tive certeza de que não deixariam barato. –ele coçou a cabeça, muito sem graça. As meninas o olhavam como se estivessem prendendo a respiração e inclinou a cabeça, curioso. –Ontem eu e ela estávamos juntos, sabe como é, dançamos e tudo o mais. Ela é uma boa amiga.
-Amiga? –Sue Garcia gaguejou. A garota realmente parecia gostar dele, não como as outras, mas gostar de verdade. Sua expressão era o oposto de branda, e suas mãos se apertavam em dois punhos.
-É claro. –deu de ombros. O clima pareceu se amenizar quando se virou para ele e o empurrou levemente com o antebraço. –Você não acreditou nesses boatos, acreditou?
-Mais ou menos.
-Você saberia se algo tivesse acontecido. Se todo mundo sabe mesmo quando acontece, não é muito difícil da notícia se espalhar quando realmente tem alguma coisa.
-Angel contou para que contou para Tassy, que contou para Megan, que me contou que você estava com em seu quarto. – Linda perguntou. Provavelmente aproveitaram a deixa para descobrir tudo o que andavam querendo saber.
-Eu... –ele começou, porém não soube como terminar. Lançou um pedido de socorro silencioso para o amigo, que logo percebeu sua deixa e introduziu um assunto novo:
-Parece que a festa amanhã está de pé. Conversem sobre isso, eu já volto.
atravessou vários cômodos até chegar em seu quarto. Quando fechou a porta atrás de si, pegou um papel e uma caneta e escreveu um bilhete para . Foi até o quarto dela e o deixou embaixo da porta.
Já que estava fora da cidade, com certeza o pegaria quando voltasse do encontro com e . Precisava saber se estava gostando ou não de . Pelo jeito não, negou tão rápido quando isso foi sugerido. Por isso, teve um mal pressentimento. Quando Linda mencionou , as bochechas do amigo ficaram rosadas. gostou dela? Tomara que não, já que as chances de dar errado eram bem maiores. Alguém precisaria fazer companhia para quando ele e terminassem, e o amigo não se encaixava naquela equação. Provavelmente não era nada demais, não seria a primeira vez que leu errado a expressão dele. Suas bochechas eram naturalmente rosadas, e estava frio e o tempo no lugar onde morava era estranho. Ridículo, até.
*
Regras precisam ser cumpridas, é para isso que elas existem. É fato que todos os filhos devem seguir as ordens dos pais, é assim que a criação dos filhos funciona. Quando a regra é imposta para um, o outro também precisa obedecer. É justo e é assim que as coisas são, certo?
comia seu espaguete com legumes, enrolando o macarrão no garfo demoradas e repetidas vezes, enquanto seu pai e Joane conversavam sobre o novo trabalho super maravilhoso dela. Camilla digitava furiosamente no teclado de seu celular verde-limão, sem prestar nenhuma atenção em nada que estava acontecendo. A garota normalmente parecia alheia a tudo que não fosse de seu interesse.
O restaurante tailandês tinha um estilo rústico, com as paredes, o teto e o chão de madeira recém reparada. Os lustres de ferro eram em forma de caixas, de onde uma luz amarela iluminava parcialmente a sala onde estavam. Algumas mesas alaranjadas estavam organizadas em um canto, enquanto no centro haviam mesas maiores, para festas.
Bianca não tinha chegado e estava muito atrasada, mas Bob parecia aceitar aquilo numa boa. apostava que se fosse ela a atrasada, as coisas não ficariam tão calmas assim.
-Onde está a Bianca? –Camilla perguntou sem tirar os olhos do celular, parecendo ler sua mente e fazendo com que se encolhesse um pouco em sua cadeira. Era a única peça que não se encaixava ali, e era tão nítido para ela que se sentia extremamente incomodada.
-Quase chegando. –Joane respondeu rápido. –Largue esse celular. O que faz de tão importante?
-Só conversando com umas pessoas. –Camilla disse com a mesma cara de tédio de sempre. Os olhos verdes eram opacos e sem expressão alguma. Ou talvez estivesse bem entediada. –Quando Bianca chegar eu largo meu celular.
-Bianca já está quase entrando na faculdade, . –Bob disse tomando um gole de seu vinho branco, tentando ao máximo suavizar o clima que se instalou na mesa. Esse era um dos problemas barra novas características do pai. Ele tentava demais, se esforçava demais. –Assim como você.
-Hum. –ela balançou a cabeça sem entusiasmo. Seria melhor ser mais educada, só que o máximo que conseguiu acrescentar foram duas palavras. –Que legal.
-Em que você pretende se formar, doçura? –Joane perguntou com um sorriso afetado. Notou que seu rosto tinha uma camada de base, e o corretivo cobrindo suas olheiras inexistentes poderia ter sido mais sutil. Para uma mulher de sua idade, não era comum estar conservada daquela forma, mas a garota tinha a impressão de que a madrasta se enxergava bem pior do que realmente estava.
-Não sei. Penso em ser psiquiatra.
-O que? –Bob quase gritou. Abaixou um pouco o tom de voz e repousou a taça sobre a mesa forrada, a mão tremendo um pouco. –Sua mãe disse que queria ser advogada.
-Não quero. – se sentiu inclinada a contar para o pai que a Sra. provavelmente lhe informou que queria ser advogada. Provavelmente o homem não prestava atenção – era o que geralmente acontecia – e se confundiu.
-Mas...
-Também acho que não tem cara de advogada. –Joane disse e piscou para a enteada, como se tivesse fazendo um enorme favor a ela ao dizer aquilo.
Ela passou as mãos no cabelo. Quando aquela tortura iria acabar? Só queria voltar para a April Hall logo e ver . Sua vontade era de conversar com ele por horas, e depois contar tudo para alguma amiga para que pudessem rir juntas das coisas idiotas que ela provavelmente diria e pedir conselhos. Poderia fazer isso com .
Seus pensamentos foram interrompidos ao avistar uma garota loira de olhos verdes jogar seu cabelo para trás junto com a franja, que caiu perfeitamente sobre os ombros. Seus lábios eram carnudos e bem desenhados, enquanto seu corpo também era muito bonito. Atrás dela um garoto um pouco maior de cabelos pretos e olhos também verdes a acompanhava. Ele tinha um jeito engraçado de andar, que quase não era importante quando acompanhado de seus músculos que saltavam da camisa apertada que usava.
-Oi, papai. –Bianca disse dando-lhe um beijo na testa. –Oi, mãe.
-Oi senhor, senhora. –o garoto cumprimentou, um sotaque carregado na voz. Ele era incrivelmente atraente e naquele momento olhava para , que virou o rosto para outra direção. –Camilla.
-Eu já disse para me chamar de Joane, querido. –Joane abriu um sorriso largo. Bianca se sentou ao lado da garota, sem nem cumprimentá-la e empurrou o garoto para seu lado, deixando-o na frente de . Ele ainda a olhava sem nem mesmo se preocupar se a família dela estava lá ou não. Aquilo fez com que a reprimisse uma careta. –, você conhece Justin? Ele é o namorado de Bianca.
-Olá. –Justin disse com um sorriso e estendeu sua mão. Ela lentamente apertou a mão dele, e ao fazê-lo, percebeu com um choque o quanto estava fria. Ou era sua mão que estava muito quente? Não gostava quando as pessoas a encaravam, e ter aquela atenção lhe deixou incomodada. Quando ia soltar sua mão, sentiu um pequeno aperto a mais, e puxou seu braço de volta com força. –Oh. –ele soltou uma risada. –Me desculpe. É um prazer conhecê-la.
-Igualmente. –ela não olhou nos olhos dele. Era impressão dela ou o namorado da filha de sua madrasta estava flertando com ela? Tinha alguns problemas quando se tratava de flertes e coisas assim. Custava a conseguir a atenção das pessoas que queria e nunca percebia quando era desejada.
-Então, mãe. –Bianca disse sorrindo. –O que você pretende fazer no seu aniversário?
-Uma festa bem grande. –Joane disse. –Pensei em fazer naquele salão que alugamos para seu aniversário de dezesseis anos, e a música...
-Podemos contratar um ótimo DJ. –o pai dela se manifestou, um sorriso brotando no rosto, mostrando algumas linhas de expressão nas bochechas. –Como quando fomos aquele festival!
ficou pasma. O homem sempre odiou música eletrônica, argumentava com a opinião de que era barulho, e não música. Ele tinha conseguido arrastá-la para alguns concertos de música clássica, sempre aproveitando a oportunidade para escutá-las no seu dia-a-dia. Ela se lembrava de quando o pai ficou doente por alguns dias e precisou se afastar de seu emprego, ficando em casa o tempo todo. Foi necessário muita paciência para aguentá-lo escutar aquelas músicas a cada segundo do dia. Ao se divorciarem, a mãe dela sempre tentava insistir que tudo ficaria bem, que não estava tão magoada assim. Sempre que conversava com ela, a mulher brincava com um sorriso meio amarelo no rosto, dizendo que pelo menos as músicas incessantes enfim acabaram. Se alguém falasse em algum dj perto dele, com certeza não saberia citar o nome de nenhum.
-Desde que papai foi em um show comigo, não consegue parar de falar dele. –Bianca finalmente dirigiu seu olhar frio a ela, que notou uma frieza ali. Toda vez que uma das irmãs chamava seu pai de “papai”, seu sangue gelava.
Ela se remexeu em sua cadeira, sem saber o que dizer. A pergunta que queria fazer foi direcionada o pai:
-Desde quando gosta dessas músicas?
-Oh, , eu sempre gostei. –Bob respondeu, a maneira como aquelas palavras soaram indicaram a obviedade daquilo.
-Não é assim que me lembro, você nunca me levou em nenhum dos shows que pedi, dizia que o que eu escutava era somente barulho. –ela fez uma careta. Seu telefone começou a tocar e leu o nome de sua mãe no visor. Levantou-se prontamente e respirou fundo. –Com licença, eu tenho que atender essa ligação.
se afastou da mesa onde eles estavam, pousando os olhos num garçom loiro, que cravou seus olhos negros nela ao passarem um pelo outro. normalmente não respondia ninguém daquele jeito, mas o efeito que seu pai traidor e sua família idiota lhe causavam era algo que não sabia explicar racionalmente. Não conseguia controlar suas palavras e tudo o que saía de sua boca acabava mais parecido com uma ofensa. Seu pai foi negligente e pareceu ter percebido, pois tentava desesperadamente consertar seus erros do passado. Joane era esnobe e ela nem queria pensar sobre as irmãs. Para completar, precisaria ver Bianca movimentar seus dedos pela coxa de seu namorado sem nenhum discernimento. Apesar de que desde que chegaram, a atenção do garoto estava totalmente depositada sobre ela, e isso não fazia sentido em sua cabeça. Já se conheciam de algum lugar, ou ele somente gostava de encarar garotas aleatórias? Justin ainda tinha seus olhos fixos nela, que fingiu não perceber, olhando dispistadamente para os outros, procurando saber se era algo de sua cabeça. Só ela estava percebendo? Não podia pensar daquele jeito. Ele era namorado de Bianca, que era praticamente irmã dela. nunca faria uma coisa dessas. Não sabia ao certo o que faria, se pensasse bem. Achava ter uma ideia bem clara de quem era, porém toda vez que tentava entender a si mesma, falhava miseravelmente. Por isso, era mais fácil se inspirar em e fazer o que ela fazia. A amiga provavelmente falaria para aproveitar os flertes, não era como se Bianca fosse sua amiga.
-Oi, mãe. –ela disse com a voz arrastada. Não estavam num momento muito bom, considerando que foi obrigada a viajar logo em sua primeira semana de festas. –O que foi?
-Como você está, querida?
-Quer mesmo saber? –ela perguntou com raiva, os cantos de suas bochechas queimando. –Eu só quero sair daqui, mas pelo visto não tem jeito.
-Filha, nós já conversamos sobre isso. Você quase nunca vê seu pai.
-Já me ouviu reclamar? Mãe, estou bem. O vôo foi tranquilo. Se me dá licença, eu preciso voltar.
-, o que está acontecendo? Por que está falando desse jeito? –a Sra. parecia preocupada e irritada ao mesmo tempo, era visível que sabia o motivo do mal humor da filha. –Você não é rude, não foi assim que eu me criei. Pensando bem, está falando como outra pessoa totalmente diferente, você não é assim.
-Eu não sou assim como? Você não sabe quem eu sou.
E desligou o telefone. Quando se sentou de novo, o garçom bonitinho estava lá. Ele a olhou com um sorriso e a perguntou se podia fazer algo por ela.
-Não, obrigada. –ela disse com educação. –Não acabei o prato principal ainda.
-Você pode me falar o que tem aqui com peixe? –Camilla perguntou com um olhar intenso, o queixo erguido um pouco. Ela cheirava a desespero. –Qual é seu nome mesmo?
Bianca girou os olhos e o garçom sorriu.
-Pode só nos trazer mais vinho, por favor?
-Ei! –ela sussurrou quando o cara se afastou, brava com a irmã por ter atrapalhado seu diálogo com o garçom. – Eu estava no meio de uma coisa.
-Não seja ridícula. –Bianca se inclinou e começou a mexer no cabelo de Justin, que olhou para ela como se só então se lembrasse de sua presença. Apoiou o queixo na mão e voltou seu olhar para onde estava antes, os olhos verdes brilhando.
-É verdade que você foi aceita na April Hall? –ele perguntou para .
-Sim. –respondeu, meio chocada por ter recebido aquela pergunta dele, e mais chocada ainda pelo garoto saber daquilo. Talvez sua mãe tivesse contado para seu pai, que comentou com a família... De repente, aquilo não importou. Ao perceber o olhar das irmãs direcionado ao seu rosto, continuou a falar calmamente. –Mas estou perdendo a primeira semana de festas.
-Sério? –ele fez uma cara de assustado, as sobrancelhas se erguendo de um jeito um tanto adorável. –Isso é injustiça. A primeira semana na é imperdível.
-Já esteve na April Hall antes?
-Justin é da mesma cidade que você. –Bianca disse tentando entrar na conversa. –Estudava num colégio lá até entrar na faculdade e perceber que existe coisa melhor no mundo do que morar naquele projeto de cidade. Sem ofensas, Bob. –sorriu, fazendo ela se perguntar quantos nomes diferentes eram usados ali para se referir a seu pai. –Mas precisa concordar comigo, . Deve ser deprimente pra você acordar todos os dias...
-Na verdade, considero estranho alguém que nunca esteve em um lugar dar uma opinião a respeito dele. – percebeu o olhar de censura do pai. –Não me importo se mora aqui agora, não existe lugar melhor do mundo do que o a Avenida Dez. –era algo que as pessoas de sua cidade costumavam dizer. –A partir do momento em que temos uma educação infinitamente melhor, hospitais que são referência nacional e os centros comerciais mais bem organizados da região, posso começar com isso para mostrar a todos quando alguém realmente não sabe do que está falando.
Bianca e Camilla ficaram boquiabertas e o peito de se encheu de satisfação. Bob e Justin deixaram escapar uma risadinha. Ela não pararia por aí.
-Se quiser, posso continuar. Já ouviu falar das festas beneficentes? Bob pode contar longas históricos sobre como ele conseguiu me colocar para dentro mais de uma vez. Acontece que nossas festas são eventos, pode até mesmo perguntar para seu namorado, que provavelmente sabe do que estou falando. Se onde eu moro é um projeto de cidade, sou obrigada a afirmar que esse projeto deu certo.
Justin riu, mas parou com o olhar fulminante de Bianca para ele, que depois foi direcionado para . A garota enfiou uma garfada de espaguete na boca, quase engasgando. Sua respiração estava acelerada e sentiu as bochechas esquentarem novamente depois daquilo. Bob e Joane também ficaram em silêncio, assim como Camilla, que parecia estar em seu próprio mundo observando o garçom gatinho que tentava fazer seu trabalho e fingir que não estava sendo observado.
-Como eu estava dizendo... –Justin falou de repente, a assustando. Ele olhava para ela de um jeito engraçado, como se estivesse se divertindo à beça ali. –Eu morei na April Hall durante um ano, mas infelizmente tive que vir morar aqui por causa do meu curso e acabei saindo de lá também.
-Quantos anos você tem? – perguntou, finalmente tendo um diálogo com alguém que não fosse insuportável naquele lugar. O garoto pareceu bem confortável com a conversa, quase como se esperasse que ela continuasse.
-Ele tem vinte. –Bianca disse por ele. Justin a encarou por um momento, e depois voltou sua concentração à .
-Foi a pior mudança que tive que fazer, considere-se sortuda por ter conseguido. Aliás, fiquei sabendo que meu primo também entrou, talvez o conheça.
-Qual é o nome dele?
- . –Justin sorriu. Ele era primo de ? Fazia sentido, os dois eram bem parecidos. Ambos tinham corpos atléticos, ambos eram altos e morenos. Ah, e aqueles olhos que pareciam um crime de tão verdes. Ela então percebeu que estava certa quando teve a sensação de já conhecê-lo de algum lugar. –Conhece?
-É claro que ela conhece. –Bob estava pensativo. – estuda com ele desde o jardim de infância. Eu me lembro bem dele. Um garoto doce e um craque no futebol.
-Igualzinho ao primo. –Bianca lascou um beijo na bochecha de Justin, que deu um meio sorriso.
-Vocês se parecem muito. – sorriu.
-Ouço muito isso. –ele bagunçou o cabelo, aparentemente sem graça.
Bianca não aguentava aquilo, ser deixada de fora era algo que não podia suportar. Parecia que seu namorando nem se lembrava mais de sua presença ali, talvez se saísse não mudaria nada. Além disso, dava em cima dele descaradamente. Esse era um dos motivos que achava que sua vida seria infinitamente mais fácil se a garota não existisse. Não teria ninguém para se preocupar e... Na verdade, não precisava mesmo se preocupar com ela.
tinha os pensamentos direcionados a desde que se conheceram, e sabia o que deveria fazer quando o namorado de alguém lhe dava atenção demais. Bianca tinha um nível de ciúmes muito acima do exagerado. Se Justin conversasse com outra garota, ela já se contorcia de raiva, não queria saber quem fosse, não ia deixar o namorado perto dela. Aliás, elas nem eram irmãs de verdade.
pensava o mesmo.
*
bebericou mais um gole do champanhe que roubou da cozinha, consequência da negligência dos empregados. Já era madrugada de quarta, mas ela não estava com a mínima vontade de dormir.
Ela e Ashley Collins iriam matar a aula na faculdade porque estavam bebendo naquele momento. As duas estavam no quarto de Ashley e desde às onze da noite, junto com Angel.
Ashley tinha os grandes cabelos castanhos presos em um coque apertado no alto da cabeça, com uma blusa cinza da faculdade e uma calça de pijama de cetim de bolinhas azuis justa demais. Vestígios de maquiagem ainda existiam por cima de seus olhos verdes e por sua pele de porcelana muito clara.
Seus pais eram empresários da rede de comida mexicana do lugar e moravam em uma mansão vermelha na zona leste da cidade. Tinha se formado no Elizabeth Medium High School e seu recém término tinha dado um pouco o que falar. Brian Neles sugeriu de forma pouco delicada que os dois precisavam conhecer outras pessoas, para depois concluir se eram certos um para o outro ou não. Ela não se importou muito, já que não conseguia ficar muito tempo em uma relação com um garoto.
Angel serviu mais champanhe em seu copo, quase caindo em sua blusa branca de algodão. Ela não queria de jeito nenhum saber se o plano de tinha dado certo, que era basicamente pedir a uma de suas amigas para falar com que Gina o chamava no telefone no quarto dele. Ele era doido com a irmã, certamente pararia na mesma hora o que estava fazendo para atendê-la. Então, quando chegasse lá, ia surpreendê-lo com um corpo nu ou sei lá o que.
-... –ela precisava saber. –O que aconteceu com ?
-Nada fora do esperado. – sorriu com superioridade. O modo como se esticou pela cama, fazendo sua blusa subir um pouco e sua barriga morena aparecer fez com que a garota sentisse tanta raiva dela que achou que poderia lhe dar um soco bem naquele momento. –Quando eu o beijei, ele retribuiu total. Estava tão sexy.
-E o que ele fez quando viu que era você? –Ashley perguntou, diminuindo o volume do som, onde Bruno cantava.
-Parte triste: ficou irado. – respondeu olhando para suas unhas, que sem querer tinham esbarrado na cômoda. –Ele me beijou com tanta vontade, meninas. Eu até tinha esquecido como beija bem.
-Sério? –Angel provocou. –Pensei que ele estivesse com raiva de você.
-Eu quero de volta. A parte horrível é que ele só me beijou daquele jeito porque pensou que eu fosse...
-Me deixa adivinhar. –Angel a cortou. – ?
-Exatamente.
-Sério? –Ashley perguntou com uma careta. –Não me surpreende gostar dela. Vocês já viram aquela garota? Ela faz sucesso até com os universitários. Um dia eu estava com meu tio John, ele tem uns trinta anos. Vimos ir pegar uma encomenda na padaria e meu tio ficou babando. Ele disse que todos no trabalho conheciam ela.
-Quem é essa garota para fazer tanto sucesso assim? –Angel ficou com muita raiva. –O que ela tem de tão especial? Quer dizer, ela chega na April Hall do nada e já fica amiga de e já gosta dela.
-Não gosto de calouros que não sabe o que significa ser calouro. –Ashley comentou, cucutando a taça com a ponta do dedo e passando a língua pelos lábios. –Eu ficaria bastante irritada se esse fosse o caso.
-Eu Angel também ficaríamos, por isso não tem hora melhor do que agora que a amiga comportada dela está fora da cidade para pararmos de nos estressar por .
-Já pensaram em tudo?
-Por que não? – sorriu vitoriosa. –Não quero ninguém querendo o que é meu. Quer dizer, o que voltará a ser meu.
-Mas... –Angel tentou protestar. –Acho que você devia esquecê-lo.
-E eu acho que você devia ficar calada, Angel.
virou o copo todo de champanhe na boca. Só por cima do meu cadáver.
*
levantou a cabeça do travesseiro enquanto coçava os olhos com as costas das mãos. Ainda não estava de manhã? Ela colocou os pés descalços no chão frio do quarto e andou até a janela, só para dar de cara com o céu escuro da madrugada. Bufou. Não conseguia dormir de jeito nenhum e havia um motivo muito simples para isso.
Enquanto ainda estava na pizzaria com e com , as coisas foram ficando insuportáveis, e se lembrava com nitidez de cada detalhe da noite, sendo assim, sabia que o seu lado era o certo.
enfiara seu último pedaço de pizza na boca. Aquela experiência toda estava sendo muito estranha e ela já estava muito irritada. A noite inteira teve que agüentar conversando e dando em cima de , sem ele nem mesmo perceber. Como ela poderia ser mais ridícula?
-Então, eu disse a ele para não sair. – disse rindo, fazendo rir e mostrar suas covinhas adoráveis. Ele nunca gostou muito delas, e às vezes, quando ria muito de alguma coisa, tampava a boca rapidamente com a mão, coisa que para era totalmente adorável. Esse era o problema: as coisas que o namorado fazia não eram adoráveis somente para ela, e a garota sentada ali era um exemplo claro disso. –Dá para acreditar?
-Que idiota. – tentava se acalmar, mas não parava de rir. –Com certeza é um idiota.
-É, eu sei.
-Você está saindo com ? – perguntou tentando mudar logo de assunto. Analisava de um jeito que era tudo menos furtivo, e sabia que ela provavelmente já percebera. Não sabia o motivo, estava acostumada com a atenção feminina que o garoto ganhava, mas saber que gostava dele... Significava que ela realmente poderia consegui-lo.
-Não. – ela respondeu rápido, como se aquilo fosse um absurdo. –De onde tirou isso?
-Não é nada. – respondeu. a olhou como se estivesse louca. –E com ?
-Claro que não! – riu. –O que foi, hein? Por que está me fazendo essas perguntas?
-Como se você não fizesse esse tipo de pergunta constrangedora. Só queria mudar de assunto, porque as histórias que conta já me enjoaram a muito tempo.
-! – ficou com raiva de novo. Qual era o problema dela?-Que droga, por que você está agindo assim? Está me envergonhando.
-Não tem nada para se envergonhar. – se apressou em dizer, com a voz mais doce que conseguiu. Doce a ponto de causar vômito. –Está tudo bem, eu acho que eu e estamos tentando conviver juntas por você. E olha, eu sei que não somos as melhores amigas, mas se tentarmos...
-Não me venha com essa. – gritou de novo. –Como se você estivesse fazendo o maior esforço para sermos amigas.
-Ela está fazendo isso agora mesmo. – partiu na defensiva. Os cachos de repente pareceram um pouco bagunçados aos olhos de , que sentiu vontade de arrumá-los naquele momento.
-Isso porque você está aqui.
-Por que você está tão irada assim? –ele passou as mãos pelos cachos, nervoso. – está se esforçado.
-Não é isso. – olhou para , que estava com uma carinha de assustada completamente falsa. E depois olhou para , que tinha as sobrancelhas erguidas, esperando uma explicação convincente. –Você não percebe mesmo.
-O que eu não percebo?
-Ela gosta de você. –ela se rendeu, abaixando o tom de voz. Mesmo que não fosse um segredo e que parecia óbvio demais para que precisasse falar em voz alta, dizer aquelas palavras foi uma tarefa mais complicada do que jamais imaginou. –E você ainda dá corda para ela.
-Do que você está falando? –ele perguntou. só podia estar louca. Olhou para esperando uma resposta, mas ela pelo jeito estava tão confusa quanto ele.
-O problema é que isso está tão claro que me faz parecer uma louca só de precisar mostrá-lo. É só você que não percebe, , não percebe! Deve ser a intenção dela me fazer parece uma doida.
-Você está doida. – olhou para , que tinha os olhos cheios de água. –Você não pode ficar dando essa crise de ciúmes na frente de . Somos amigos, não somos, ?
-É claro. –ela respondeu com uma voz inocente. Seus olhos claros e cheios de energia se pousaram sobre os de , e pareceram surpresos ao perceber que estava a ponto de chorar. O olhar foi sustentado por alguns segundos, até que o garoto resolveu parar com aquela enganação. É claro que não daria certo.
-Você está me sufocando, . Pode dar um tempo?
-Um tempo? Você quer um tempo? – começou a ficar desesperada. Todo mundo sabia que quando alguém pedia um tempo em uma relação era a mesma coisa que terminar. As lágrimas começaram a correr pelo rosto dela. estava mesmo terminando? Como isso era possível? Ela não acreditava, simplesmente não acreditava.
-Não foi isso que eu quis dizer. – disse, claramente chateado. –Eu só quero que você me deixe sozinho por um tempo para eu esfriar a cabeça. Vou te levar para casa e a gente se fala amanhã.
-N-não. –ela estava aliviada por ele não estar realmente terminando, mas não podia esconder a raiva porque o motivo dela estava bem ali na sua frente, com uma cara de assustada ridícula. –Acho que devia levar a para casa. Eu pego um táxi.
-Não seja ridícula, eu...
-, tudo bem. – sorriu.
-Você. – chegou bem perto de , até que o nariz das duas quase se encontrassem. Ela não estava aguentando mais. –Vai pro inferno. Com licença.
Ela saiu de lá marchando, mais ainda assim chorando. Foi até o meio-fio em frente à pizzaria e acenou chamando um táxi. Um carro parou e ela logo entrou lá dentro.
-April Hall, por favor. –informou ao motorista, um homem gordo que parecia estar odiando cada segundo dentro daquele táxi. Mas não se importou, porque ela também estava.
Assim como os prédios iam passando, ela ia chorando cada vez mais, e os soluços tomaram conta do seu corpo. A raiva que sentia daquela garota a consumia de uma forma que a deixava assustada, nunca imaginou que sentiria tanta raiva de alguém. Sentia como se estivesse realmente agindo loucamente, porém isso não foi o bastante para que se sentisse culpada. Pensou em todos os momentos que seu namorado a chamou a atenção por ser muito controladora. Não sou controladora. Os dois já haviam discutindo algumas vezes nesses últimos dias, e não sabia se poderiam continuar brigando daquele jeito. Por outro, eram o casal perfeito, não imaginava – e nem queria – como seria se eles terminassem. e não terminavam, certo? Certamente não por causa de...
-Você está bem? –o taxista perguntou, vendo o rosto molhado e escutando os soluços da garota pelo banco do motorista. Ela somente confirmou com a cabeça e ele se deu por satisfeito, considerando que fez sua obrigação ao perguntar.
Depois daquilo, foi para o quarto e caiu na cama, rolando de um lado para o outro até conseguir pegar no sono. Ela não conseguia dormir de jeito nenhum. não estava lá, provavelmente foi para o quarto de . A raiva tomou conta dela novamente depois de se lembrar da menina.
Ela andou pelo quarto, voltando para sua cama. Um pedaço de papel chamou sua atenção e ela se abaixou para pegá-lo. A caligrafia meio infantil fez com que sorrisse mesmo contra a sua vontade. Amanhã teremos uma festa no Gentleman Club. Apesar do nome, não é nenhum clube de strip nem nada, por isso eu acho que será bem legal. Vai se a segunda festa da semana, e caso você não saiba, as festas vão ficando cada vez mais legais. Acho que dessa eu vou participar, mas só se você for comigo. Descobri que o que você precisa é relaxar, e eu ficaria muito feliz em te ajudar a fazer isso. O que me diz? –
*
David tirou sua camisa. O que ele mais queria no momento era ver , mas não queria parecer o tipo de namorado que fica o tempo todo colado na namorada. Ele já gostava dela, e apesar de terem só se beijado e dado uns amassos aqui e ali, sentia que estava com ela há meses. Foi até seu armário e pegou uma blusa listrada e trocou sua calça de moletom por uma jeans. Iria almoçar com sua mãe no Marina Club.
A mãe de David não era necessariamente a melhor companhia no momento. Conseguia imaginar os motivos, mas o fato de que a mulher estava agindo feito uma adolescente irritava o garoto. A Sra. Greenwod sempre foi uma pessoa vaidosa e não aceitava direito sua idade, mesmo não chegando aos cinquenta ainda. David só queria que a mãe aceitasse sua situação atual e parasse de fingir ser quem não era. Por esse motivo não chamou para ir com ele. Não queria que ela pensasse que a mãe era uma louca com problemas na cabeça. Não fazia nem uma semana que eram namorados e nem um mês que ele gostava dela. Mas gostava. Liz disse a ele que isso era só psicológico, porém, ele ignorava. Não queria ser racional, só queria incluir o máximo que conseguisse em sua vida. Não havia nada de errado nisso, certo? Quer dizer, não era estranho da parte dele, era? Apesar de não ter gostado do assunto, ficou feliz quando ela lhe contou que tinha dormido com o amigo, – na verdade ele tinha se esgueirado e escutado tudo. O importante era que depois ela explicara tudo para ele – e porque tinha “terminado” com . Aceitou a situação toda, tentando entendê-la e enxergar seu lado. Não sabia explicar, havia algo naquela garota... Uma ingenuidade, talvez.
Depois de pegar seu carro no estacionamento da April Hall, foi para o restaurante. Não estava animado, mas tinha que fazer um esforço. Era a sua mãe, e havia a chance de ela não estar tão insuportável como nos outros dias. Era só o que podia esperar que acontecesse, sendo que seu pai quase não olhava mais para ela e nem isso foi o bastante para impedi-la de cancelar sua próxima cirurgia.
O Marina Club era um restaurante chique, com pisos de madeira recém encerada e paredes de vidro, que davam para uma estufa do lado de fora. O jardim que ficava nos fundos parecia sempre impecável, e o doce aroma das hortênsias não era forte demais para não se misturar com a comida. Normalmente quem comia lá eram casais, que gostavam de ficar à luz de velas e de sua privacidade. Ele se imaginou com ali. Os dois podiam ficar na mesa perto da pequena fonte de água, no lado esquerdo do jardim. Podia mostrar a ela seu conhecimento por vinhos, por ter passado um ano na Europa. A família que o acolheu tinha uma coleção de vinhos e gostava muito de ficar na adega conversando com Charles Bradshaw, o homem da casa. A última vez que tentou impressionar uma garota com seu conhecimento por vinhos, não deu tão certo assim. Liz sorriu e disse que ele ficava meio metido quando falava daquele jeito, coisa que ele respondeu com uma careta divertida.
Logo viu sua mãe em uma das mesas do centro. Ela vestia um vestido azul escuro com um decote meio profundo demais para o gosto dele, deixando à mostra seus peitos novos. O cabelo dela não estava mais loiro, o tom de vermelho escuro parecia brilhar com as luzes do lugar. Ela tinha uma aparência mais jovem, mas David sempre dizia que nada que ela fizesse no rosto iria diminuir sua idade.
Quando viu o filho, a Sra. Grenwood se levantou bem devagar e esperou que ele viesse até ela, com um sorriso no rosto e os braços abertos. David a abraçou forte, de repente esquecendo de todos os problemas que ela tinha. O cheiro inconfundível da mulher penetrou seus sentidos e por um momento se sentiu em casa.
-Cuidado com os peitos, querido. – ela o censurou, sua voz fina preenchendo os ouvidos. –Ainda estão meio doloridos.
-Desculpe. –ele se afastou depressa, não querendo mais detalhes. Ela se sentou e ele se sentou na frente dela, desejando que sua irmã estivesse ali. Uma garçonete que parecia ter a idade da mãe, mas sem todas as plásticas, chegou perto dos dois com um sorriso congelado no rosto. –Boa tarde.
-Boa tarde. –ela disse e sua voz era irritante. O garoto não gostava muito das pessoas que trabalhavam ali, não sabia ao certo o motivo. Só ficava meio desconfortável e sentir aquilo era horrível. –O que vocês vão querer como entrada?
-Hã... Mãe, o que você acha desse churrasco de camarão?
-Gorduroso demais. Eu quero o especial vegetariano. E o melhor champanhe que vocês tiverem.
-O que tem no especial vegetariano? –David perguntou para a garçonete, se remexendo na cadeira enquanto procurava uma posição confortável. Bagunçou seus cabelos claros na cabeça e olhou em volta, procurando alguém conhecido.
-Repolho, aipo, manga, brócolis, couve-flor, aspargos e tomates frescos.
-Pode trazer. –a mãe dele falou, fazendo a mulher sair apressada. Quando sumiu de vista, ela bebeu um pouco da água que já estava bebendo antes dele chegar e o encarou de um jeito sério. –Eu já disse para você me chamar de Regina na rua, e não de mãe.
-Está falando sério? –David girou os olhos, esperando que a mulher falasse que era brincadeira, e ao mesmo tempo sabendo que isso não aconteceria. Tinha perdido a esperança já tinha umas semanas. –E você é minha mãe e é disso que eu vou te chamar, mesmo te fazendo parecer velha.
O olhar que a Sra. Greenwod lhe lançou foi tão severo que o garoto concertou:
-Tudo bem, Regina. Isso é ridículo.
-Como estão as coisas na April Hall?
-Ótimas.
-E as meninas? – os lábios rosados se curvaram em um sorriso malicioso. Infelizmente, sua curiosidade era algo natural, e sempre esteve presente. –Namorando alguém? Ou somente uns beijos aqui e...
-Não. –ele respondeu um pouco rápido demais. Não iria dizer para sua mãe que estava com porque ela iria querer conhecê-la e ele não iria querer isso. A mãe percebeu seu desconforto, obviamente. –Ninguém.
-E quanto às calouras? Nenhuma bonita?
-Mãe, eu não gosto de ter essas conversas com você. Aliás, como sabe que está na época de admissão de novos alunos na April Hall?
-Porque eu me lembro quando você entrou para lá. E porque eu tenho muitas amigas que moram na casa.
-O que? Mãe! Você virou amiga das minhas amigas?
-Nem todas são suas amigas.
-Mãe! –ele apoiou a cabeça nas mãos. Era só o que faltava. –Por que não pode sair com mulheres da sua idade?
-Eu me dou muito bem com adolescentes. Elas gostam de mim porque eu tenho esse espírito jovem, sabe? Porque sou divertida. Dizem que queriam que a mãe delas fossem como eu. Viu só, filho? Elas me valorizam.
David piscou, ainda não acreditando. Depois disso só faltava alguma das amigas da mãe contar para ela que ele estava com . Merda.
Ele não sabia porque a mãe tinha ficado daquele jeito. Foi da noite para o dia. Não era anormal que uma mulher assistisse Project Runaway e essas drogas que passavam na televisão. Além disso, sempre cuidou de sua aparência muito bem e sempre se deu bem com adolescentes – porque ela era educada e realmente divertida –, mas isso era normal. Ele se lembrava de uma manhã de domingo, no aniversário de quarenta e quatro anos dela, quando ela acordou dizendo que queria uma plástica de presente. Ele e o pai aceitaram numa boa, pensando que seria algo simples. Mas depois ela começou a fazer mais plásticas, botox e quis seios novos. Se David fosse parar para pensar, perceberia que havia meses que não conversava direito com a mãe. Que não tinha nem uma conversa mais simples, como “Ei, como foi seu dia?” ou “O que te ensinaram na aula hoje?”. Ela perguntava sobre os amigos dele, se estavam solteiros, se estavam bonitos. Sem vergonha nenhuma, mesmo sendo casada. David vivia com medo do pai se cansar da atitude infantil dela e pedir o divórcio. Eles brigavam tantas vezes que cada diz ficava mais certo que o casamento dos pais iria acabar.
-E como está Liz? Ela ainda gosta de você?
-Como? –David piou, espantado com aquela súbita pergunta. Suas mãos formigaram embaixo da mesa e sua cabeça zuniu um pouco. Aquele assunto era o pior, e ter aquela mulher na sua frente perguntando sobre isso foi uma nova definição de pior para ele. –Como sabe que Liz gosta de mim?
-Eu não sou besta. –ela sorriu, mostrando seus dentes brancos e lhe dirigindo um olhar maternal de quem sabe das coisas. O garoto fechou os olhos com força, desejando poder sair dali. –É muito óbvio. Por que não dá uma chance a ela?
-Somos amigos, e não gosto de falar dessas coisas com você. –ele respirou fundo. A mãe dele tinha sido dispensada do emprego por muitas faltas sem avisar, devido às cirurgias que fez. Ela trabalhava numa editora de uma revista, o trabalho dos seus sonhos, que foi jogado fora. –Você precisa voltar a trabalhar. Por que não tenta voltar para a Style?
-Eu sei que não posso ficar sem trabalhar e viver às custas de seu pai. Mas eles não me merecem, David.
-Ah, porque você faltar dois meses do trabalho não foi nada. Se colocasse seu orgulho de lado e fosse lá, talvez eles te aceitassem de volta. Era muito querida.
-Não vamos falar de trabalho agora, tudo bem?
Ele concordou com a cabeça. A garçonete chegou trazendo uma taça de champanhe e serviu para os dois, que brindaram e beberam. O gosto amargo da bebida borbulhou na boca de David, que fez uma careta. Nunca gostou muito de champanhe. Eles comeram a entrada vegetariana que Regina havia pedido e pediu como prato principal vários frutos do mar, apesar da mãe suplicar para pedirem algo que não a fizesse engordar. Enquanto esperavam pelo prato, começou a conversar com a mãe sobre a sobremesa que podiam pedir, mas já estava ficando meio irritado com as exigências dela. De repente uma mulher com certeza mais nova que a mãe se materializou em frente a mesa dos dois. O cabelo preto dela era muito preto e estava preso em um coque. O terno não possuía nenhuma marca sequer.
-Regina Grenwood. –ela arregalou os olhos. A mãe dele se inclinou lentamente para a direção que o som veio e arregalou os olhos também ao vê-la. Olhou com desespero para David, que estava meio confuso.
-Denise! –Ela se levantou e abraçou a mulher, que só então notou David. Os olhos de coruja avaliaram cada centímetro do garoto, para então sorrir levemente.
-E quem é esse jovem?
-Esse é David. –ela disse. David percebeu que ela não tinha mencionado o fato dele ser filho dela.
Ele se levantou e apertou a mão dela mulher, com um sorriso educado.
-É um prazer conhecê-la. –ele falou cordialmente, meio no piloto automático. Sabia como deveria se comportar perto dos conhecidos dos pais e tentou ao máximo não parecer irritado. –Devo admitir que nunca vi um terno tão bonito.
-O prazer é todo meu. Como você é educado! Quantos anos tem?
-Dezenove.
-Você já é um adulto. –ela sorriu afetadamente. –Não me diga que esse lindinho é seu filho, Regina.
-Meu filho? –a Sra. Grenwood olhou para David de um jeito estranho. Ele franziu a testa. –Não me insulte, Denise. –ela riu forçado. –Ele é meu enteado.
-Seu marido já foi casado antes? –ela olhou a mãe dele com desprezo.
-Não, mas sabe como é, tempos de faculdade. Como sou essa pessoa saudável, mantenho um relacionamento confortável com David. Sou tão boa com ele que o garoto me trata como sua mãe, dá pra acreditar?
David olhava para sua mãe com nojo. Não acreditava que ela tinha dito aquilo. Se achou que queria ir embora antes, percebeu que estava redondamente enganado. Nunca sentiu tanta repulsa e vontade de sair de um lugar quanto naquele momento. Precisou se segurar muito para manter sua boca fechada e não falar tudo o que se passou por sua cabeça.
-E não é que ele se parece com você?
-Sorte a minha. –David se obrigou a sorrir. –Regina é como uma irmã mais velha.
Denise riu e se despediu dos dois, entrando em um carro preto do outro lado da rua. Regina olhou para o filho com gratidão e fez que iria abraçá-lo, mas mudou de ideia.
-Muito obrigada, querido. – falou colocando sua mão com as unhas postiças vermelhas no ombro musculoso do filho. –Aquela mulher é horrível.
-Não pense que farei isso de novo. Estou com nojo de você agora.
-O que?
-Dizer que eu sou seu enteado para não parecer velha? A cada tentativa sua de parecer mais nova eu fico com mais raiva ainda. Você está me dando nojo, mãe.
-Pare com isso. –ela olhou em volta, parecendo preocupada com as pessoas escutaram e ao mesmo tempo triste pelo garoto estar dizendo aquelas coisas dela.
-Está preocupada com que alguém escute? Então eu falo mais baixo. –David se inclinou em direção à mãe e falou bem perto dela. –Seu casamento está indo por água abaixo por causa do seu comportamento infantil. Você tem que aceitar sua idade, porque essa é sua vida. Você tem quase quarenta e seis anos, não dá tempo de continuar agindo assim.
-Não quero que ninguém ouça o que está dizendo.
-Está vendo do que eu estou falando? Escute, você pode fazer quantas plásticas quiser, pode mudar seu corpo inteiro. Mas o que você precisa é de uma mudança no pensamento, preciso confessar que sua aparência está boa. O problema é que por dentro está podre, mãe.
-David...
-Não, eu vou embora. E vou deixar a conta para que pague, talvez assim veja o quanto é importante trabalhar.
-Volte aqui.
-Estou muito ocupado hoje. Aliás, já que queria tanto saber, eu tenho uma namorada. Só que não vai conhecê-la. Eu tenho vergonha de você desse jeito.
David foi embora e não esperou que a mãe, Regina, ou quem quer que fosse respondesse.
*
saiu da detenção. Finalmente estava livre e poderia esfriar sua cabeça no treino de futebol. Tinha ficado feliz por ter feito as pazes com , mas não tão feliz quando ela lhe contou o que sentia por . O triste é que ele já tinha dito a ela milhões de vezes que o amigo era encrenca, mas a garota insistia em querer ficar com ele. Por um lado, até entendia. Também sentia isso por alguém, algo que não era medido nas condições de dar certo ou não, só era medido no que sentia e pronto. Estava disposto a esperá-la se decidir entre os dois se fosse preciso, mas não estava disposto a perder aquilo sem lutar. Gostava de , gostava. Sabia que se importava muito mais com ela do que qualquer outra pessoa.
Ele passou pelas arquibancadas da quadra de grama do Elizabeth Médium High School até o vestiário, cumprimentando algumas garotas que ali estavam sentadas e que o cumprimentavam também. Era típico. Estava até acostumado, todo treino de futebol era constituído por uma pequena plateia, às vezes eram as animadoras e outras vezes, algumas pessoas que simplesmente queriam assistir ou passar o tempo.
Foi até seu armário, perto do de Evan Marshall, um calouro alto e bonito que atraiu a atenção até das veteranas. Evan tinha algumas sardinhas – que as meninas consideravam adoráveis –no rosto, olhos redondos e claros. Seu cabelo liso caía sobre seus olhos, completando um sorriso reto e mostrando seus olhos alinhados. Ele sorriu para .
-E aí, cara? –cumprimentou, prendendo o cabelo que sempre caía no rosto com um elástico preto. Uma coisa que achava legal em Evan era que o garoto parecia estar sempre com disposição e bom humor, nem todo mundo era assim. Não precisava procurar muito para encontrar a primeira expressão emburrada que seus colegas faziam. –O dia hoje está ótimo para jogar. Sem muito sol e não está tão frio assim.
sorriu sem mostrar os dentes, concordando com a cabeça, demonstrando concordar plenamente. Era difícil o tempo colaborar daquele jeito, e perceber isso fez com que uma adrenalina crescesse em seu corpo, e de repente, mal podia esperar para colocar os pés na quadra.
-Parece que a nossa torcida de hoje está bem animada.
Evan riu. Era divertido o fato de serem sempre observados por uma turma de meninas que ficavam praticamente babando por eles. Já tinha virado um costume, mas era divertido.
-E como está ? –Jorge Michael entrou no vestiário. Ele estava sem camisa, e sua pele negra exposta brilhava pelo suor. Provavelmente já tinha começado a treinar, o amigo era meio obcecado com atividades físicas. Seu abdômen malhado era o resultado de todo aquele esforço, e naquele momento foi coberto pelo colete amarelo neon que normalmente usavam para separar os times.
ficou meio incomodado com aquela pergunta. Obviamente todos sabiam da sua paixão por , e era por esse motivo que não queria dizer que ela estava namorando um cara que acabou de conhecer em um lugar que tinha acabado de se mudar. Não parecia meio estranho?
-Está bem, acho. – fez pouco caso. –Não é problema meu.
-Opa! –Jorge disse, fazendo os outros caras do vestiário assoviarem. Ele ignorou, voltando sua atenção para seu armário e pegando seus tênis. –Problemas no paraíso, cara?
-Nada aconteceu. Eu e somos amigos.
-Mas você bem que queria mais. –Teddy Néri disse rindo. –Não sei como pode escolher quando está toda chegada em você
-Merda, sei de tudo o que está acontecendo. –Brian Lee falou e soltou um riso. – e estão juntos. Ele brigou com a Jens por causa dela.
-Sério? – estava surpreso e sentiu-se traído. Aquilo não contou para ele. –Parem com isso, gente. Vamos treinar.
-Vem dar uma de bom samaritano agora! –Logan Elis caçoou, jogando seu colete no amigo, que apenas jogou de volta sem achar muita graça na situação toda. Não gostava de conversar sobre , mas também não lhe agradava os momentos em que os amigos começavam a comentar sobre .
-Gente, dá um tempo. –Evan disse. – não está com paciência. E eu também não.
-Oh meu Deus, e agora? –Carlos Miles falou com sarcasmo. –Ele não está com paciência, pessoal.
-Parem. – disse alto, com a voz grossa e cheia de autoridade. Não foi o suficiente para todos ouvirem, mas foi o suficiente para os que ouviram calarem a boca. podia ser um só, mas tinha força para dois, e ninguém queria se arriscar a discordar dele. –Vocês estão precisando de namorada, isso sim.
-Muito bem, pessoal. –o treinador Duncan chegou no ginásio, como sempre, animado. Sua camisa azul tinha cheiro de amaciante de roupas e seu cabelo escuro estava jogado para trás. Alex Duncan devia ter uns vinte e poucos anos, mas parecia mais ter dezenove. Ele era um dos motivos das meninas sempre aparecerem nos treinos de futebol. –Esse será nosso último treino antes da final do campeonato. Nosso último treino para o último jogo dos veteranos no colégio.
Jorge bufou, mas Duncan o ignorou, continuando:
-Alguém faltou? –ele esperou um tempo até que todos respondessem um “não” em coro. –Ótimo. Vamos começar. O time de Evan primeiro fica do lado de fora, enquanto o time de Jorge e de Chris vão jogar. Quando der dois a zero, o time derrotado sai. E assim por diante.
Os meninos concordaram e saíram do vestiário, deixando sozinho. Colocou sua bermuda cinza que usava para treinar e tirou sua camisa. Evan voltou para pegar uma barra de cereais, ao lado dele.
-Esses caras sabem ser idiotas. –falou olhando diretamente para , parecendo envergonhado, como se achasse que era sua obrigação dizer algo para apaziguar as coisas, mesmo que não tivesse acontecido nada demais.
-Já me acostumei. – deu de ombros, tocando gentilmente o ombro do garoto. Gostaria de jogar tão bem quanto Evan quando tinha sua idade. –Obrigado. Você é um cara legal, Evan.
Ele inclinou a cabeça agradecendo e saiu correndo do vestiário. pegou seu celular e digitou uma mensagem para e para , ambas falando a mesma coisa: “Precisamos conversar.”
Saiu do ginásio correndo, chamando a atenção de todos a seu redor.
-! –uma garota que ele não sabia o nome gritou, se levantando. –Vai lá!
Ele sorriu meio sem graça. Uma das meninas introduziu um grito de guerra, e as outras continuaram. Logo, as animadoras chegaram. Susie Montgomery foi até com seu uniforme minúsculo. Ela sorriu e deu uma olhada para seu corpo enquanto lhe cumprimentava.
-Oi, !
O garoto lhe deu um beijo na bochecha bem rapidamente, vendo o olhar do treinador com o canto do olho.
-Andou malhando? –perguntou chegando mais perto. –Posso te dar várias dicas de como ganhar massa.
-Devo ficar preocupado? – respondeu com um sorriso simpático. Os pais de Susie eram nutricionistas, e ela achava que dar dicas para os meninos sobre como entrar em forma era um bom jeito de dar em cima deles. –Quer dizer, eu malho desde os catorze anos, então... –tentou fazer uma piada, mas a garota pareceu não entender. Beleza. –Obrigado, Susie, não precisa. Consulto uma nutricionista.
-E quem é?
-Cristina Marin, a me indicou, seus pais devem conhecer. Tenho notado bons resultados.
-Ah, e como... –ela deu outra analisada nada discreta para seu corpo e suspirou, se endireitando em seguida. –Mas da próxima vez que precisar de conselhos, não perca seu tempo pedindo para alguém como a .
-Por que diz isso.
-Porque a menina é uma va... –sorriu afetadamente. –Não sei como consegue ser amigo dela, acho bem legal da sua parte fazer coisas assim.
-Coisas assim?
-Só estou dizendo a verdade. Ela é uma manipuladora, idiota, e nem é tão bonita. Não o bastante para conseguir roubar minha vaga como modelo no ano passado.
-É normal para você sair falando de pessoas que não conhece? –perguntou casualmente enquanto inclinava a cabeça para o lado, estudando a garota. –Mas não me surpreende ela conseguir a vaga. é encantadora, qualquer agência mataria por ela.
Susie se enfureceu, seu coração batendo rápido de raiva. Era incrível como todos preferiam a . não enganava ninguém com esse papo de , com certeza gostava de . Era isso que Susie pensava.
*
sorriu ao passar por Penélope Hush, uma garota bonitinha que flertou com ele. Não se importava mais de estar namorando outro cara. Para ele, tanto fazia. Não é como se fosse ficar sozinho por causa disso.
Subiu as escadas do segundo andar da April Hall até chegar na sala de informática. Muitos computadores espalhados pelo lugar, e alguns alunos já faziam uso dele. Eram quatro horas da tarde, mas os alunos da casa já começavam a se arrumar para a festa que aconteceria dali a algumas horas.
Ele se sentou em uma cadeira e se conectou a um dos computadores. estava online, e ela tinha atualizado seu status para “Em um relacionamento sério com David Greenwod.” Qual era o problema dela? Fazia uns dois dias que os dois estavam juntos, como podia ser sério? Se procurasse por Pelélope no corredor naquele momento e a pedisse em namoro daria na mesma. : Oi .
Ela demorou um pouco para responder. O garoto tamborilou os dedos pela mesa, sabendo que receberia uma resposta. Nunca precisava se esforçar muito quando o assunto era aquela garota. : O que você quer? : Precisamos conversar. : Precisamos? Conversar não é seu forte, pelo o que eu sei. : Realmente, você me conhece bem. Eu que devia estar chateado com você. : Chateado comigo? Por quê? : Eu não sei se já se esqueceu, mas você dormiu com meu melhor amigo.
engoliu em seco. Ela estava em uma das cabines da sala de informática da April Hall e não conseguiu deixar de pensar onde estaria naquele momento. Escutou um barulho vindo da porta, e olhou para ver quem era. Só um cara com a barba para fazer que lia atentamente um livro grosso e escuro.
Examinou a fileira em que estava, mas não reconheceu nenhum rosto. Tentou espiar quem estava na sua frente, mas a cabine tampava um pouco. Prendeu a respiração ao ver um topete igual ao de , para logo sacudir a cabeça e decidir que precisava parar de paranóica. Ela devia parar de pensar nele. Era por esse motivo que estava com David. Se sobressaltou ao assimilar o que havia acabado de pensar. Não era por isso que estava com ele!
esperou uma explicação, qualquer coisa. Se fosse sincero consigo mesmo, precisaria admitir que tudo o que esperava dos dois era um pedido de desculpas e uma explicação. Não era pedir demais, era o mínimo que merecia depois daquela traição horrorosa. Sentia-se enojado sempre que pensava nos dois juntos, era como se tivesse ganhado uma facada no peito. Algo dentro dele latejava de um jeito terrível quando pensava sobre o assunto, e o que mais o incomodava era o quanto ficou chateado ao descobrir o que aconteceu. Tinha consciência de que foi ele mesmo quem disse para a garota sair com quem quisesse, mas isso não significava que ela e precisavam sair se pegando por ali. : Foi você quem disse que eu podia sair com quem quisesse. : Vejo que escolheu muito bem. : Acontece que ele também é meu melhor amigo. Eu o conheci antes de conhecer você. Não era necessário dar um soco na cara dele. Aliás, sorte sua que ele parou, porque te partiria em três pedaços em menos de cinco minutos. : Ah, claro. : , o joga futebol, freqüenta a academia umas cinco vezes por semana desde os catorze anos. Sabe que ele é mais forte que você. : Estou cagando pra isso, . Só quero conversar. : Já estamos conversando. O que mais quer dizer? E seja rápido porque meu namorado está me esperando. : Ah, o namorado. Foi amor à primeira vista?
quase socou o teclado com a piada sem graça do garoto. sorriu convencido, sabia que ela provavelmente estava começando a se estressar. Nenhuma resposta veio dessa vez, e ele temeu que estivesse falando sozinho. Checou para constatar que a garota ainda estava ali. Não queria que parassem de conversar, então digitou rapidamente: : Quanto tempo até David descobrir que não gosta dele? : Mas eu gosto dele. E ao contrário de você, ele assume um compromisso comigo. : Entendo que precisa de alguém para me substituir, não tem problema nenhum nisso. : Não é isso. Ele gosta de mim, eu gosto dele. Ele assume, , e é simples assim. : Você fala nessa coisa de assumir, mas nunca reclamou, não é? Quer dizer, se não estava contente com o nosso relacionamento, podia ter pulado fora a hora que quisesse. Mas nós dois sabemos muito bem porque não fez isso.
suspirou. Era tão óbvio assim? Ela nunca tinha reclamado nada porque pensava que se reclamasse, pularia fora. Os olhos dela se encheram de água, com o simples pensamento que lhe veio a cabeça. : E por que você nunca quis assumir? Você não gosta de mim, gosta? Só acha que eu sou mais uma das suas conquistas, você não se contenta comigo, não se contenta com uma só. Isso tudo por causa do seu ridículo ego que me esmaga quando tento chegar perto de você. Quer saber, ? É exatamente isso. Eu nunca reclamei porque eu gostava de você. Era por isso. E achei que pularia fora se eu reclamasse. : O fato de pensar assim me ofende. : Não tente por um segundo negar que pularia fora, porque nós dois sabemos que sairia correndo.
Ele apoiou a cabeça nas mãos. O assunto era muito delicado para, sempre gostou dela, desde a primeira vez que a viu. Queria o melhor para ela, por isso pensou que como ele tinha medo disso tudo, não queria que tivesse. Não queria que ela ficasse se sentindo sufocada.
Isso e o fato dele ser um safado. : Só quis te dar liberdade. : Eu não acredito nisso. : O que? : Você só pode ser idiota.Eu estava completamente na sua! Eu não queria liberdade, eu só queria você.
Aquilo tinha pegado de surpresa, mas ele não se deixou abalar. : Se você só me queria, por que dormiu com meu melhor amigo? : Eu estava bêbada! : Mas o que você fez muda tudo. : Como mudaria alguma coisa? : Você não tem que ficar com raiva de mim nem do . A gente brigou por você. Porque gostávamos de você. Não se ligou até agora? Quem tem que ficar, e já ficou chateado sou eu. Podia ter sido qualquer um, menos meu melhor amigo. : Você disse que podíamos sair com quem quisesse, eu escolhi o –mesmo bêbada –, porque ele também é meu melhor amigo. Qual o seu problema? Por que se importa tanto? Você mesmo saía com um monte de meninas enquanto saía comigo. Diz qual é o problema. Não era pra eu não me sentir sufocada? Agora eu me sinto completamente sufocada, sabendo que tudo bem pra você sair com uma por dia, e quando eu faço isso não está tudo bem. Você percebeu que gosta de mim? É isso?
deu um tapa na mesa. Ele não podia mais conversar com . Gostava dela, mas não sabia o tanto. Estava muito confuso, mas não queria mostrar para ela sua confusão. Um sentimento ruim tomou conta de seu corpo. Ele se desconectou e se levantou para ir embora. Porém, ao fazer isso, se deparou com . Ela estava na cabine na frente dele aquele tempo todo. Seus olhos azuis estavam arregalados e sua boca vermelha em um formato de O. Seus cabelos negros caíam num rabo do alto da cabeça e ela parecia não sentir frio com o macacão de algodão que usava.
Os olhos dela se encheram de lágrimas, e o sentimento ruim se intensificou mais ainda. A confusão na cabeça dela era tanta quanto a confusão na cabeça dele. empurrou a cadeira e se virou para ir, mas o impediu, gritando:
-!
Seguido com alguns olhares e pedidos de silêncio, ele se virou lentamente para trás, como se não se importasse nada com a conversa que os dois acabaram de ter.
-Você não respondeu. –ela disse com um fiapo de voz, e o garoto suspirou. Era um dos únicos que sabia o quanto aquela garota era ingênua. Por baixo daquela aparência séria, cabelos longos e escuros e olhos frios, havia basicamente uma garotinha.
-Divirta-se com seu namorado. –ele disse com a voz séria. Mexeu no topete e deu passos firmes até seu quarto.
*
sorriu. Estava tudo correndo às mil maravilhas. Recebeu uma mensagem de perguntando se iria à festa mais tarde. Ela respondeu que sim, e ele disse que a veria lá então. Não gostava muito de ficar com meninos mais novos, mas ela com certeza podia abrir uma exceção para .
-Eu acho que você devia deixar essa para lá. – disse bebericando seu suco de maracujá. Ela, Angel, Ashley e estavam na área da piscina da April Hall, ao pôr do sol. Mais cedo, sua mente brilhante teve uma ideia, então, chamou Ashley e Angel para contar mais. –Ela parece tão sem graça.
-Com certeza. –Ashley concordou. Talvez se convencesse a ficar com , ela deixaria em paz. –Você já conseguiu fazer os dois brigarem por sua causa, está indo bem.
-Eu sei, isso me deixa muito feliz. – disse, tirando algumas linhas soltas de seu suéter amarelo de marca. Suspirou ao jogar o cabelo para trás com o dedo indicador. –Sério, essa garota não bate bem.
-Por quê? –Angel perguntou, os olhos levemente arregalados ao olhar da garota para , que quase lhe deu um chute e a mandou se comportar como uma pessoa normal.
-Já me disseram que ela vigia o namorado como se fosse sua propriedade. –ela tentou desviar os olhos de para longe da Angel. –Que precisa que o namorado fale todo dia que a ama para que ela não se sinta insegura.
-Minha prima a conhece. –Ashley falou. –Ela me disse que dá muito espaço para com as outras meninas, mas que ela não gosta. Sinceramente, quem gosta que seu namorado fique conversando toda hora com meninas que dão em cima dele?
O olhar que Ashley recebeu de foi o bastante para que a menina se corrigisse o mais rápido possível:
-Mas eu tenho certeza que é ciumenta demais. – tentou concertar. –Como eu ia dizendo, minha prima me disse que o único medo dela é você, .
-É mesmo? –Angel se animou. –É ótimo que ela pense em você como uma ameaça.
-Vocês não acreditam no que aconteceu ontem. – riu, os olhos brilhando de felicidade. –Ela surtou geral, começou a ficar doida mesmo, falando que eu quero roubar o dela e tudo o mais. Me mandou ir para o inferno na frente de seu namorado.
As meninas riram com deboche.
-O que fez? –Ashley perguntou, se inclinando para frente como sempre fazia ao escutar uma fofoca. Os olhos verdes faiscavam como se estivesse encarando a comida mais deliciosa do mundo.
-Ele me defendeu, claro. Disse a para dar um tempo pra ele, e ela ficou toda nervosinha achando que estava terminando com ela. Ofereceu para levá-la para casa, mas a garota não quis. Então, me levou para casa.
-Ponto para ! –Angel disse com o mais forçado dos sorrisos, esticando um braço para o alto, e a encarou de um jeito estranho. deslizou os dedos até alcançar o quadril da amiga e dar um beliscão bem ali. –Ai! –Angel a encarou e ela estreitou os olhos.
-Esse é um gostosinho. – continuou a conversa, passando seu braço por trás da cadeira da menina. Abriu seu melhor sorriso, que não chegou aos seus olhos. – Fico muito feliz de poder ajuda uma amiga a ficar com ele.
sorriu. a chamou de amiga. Aquilo com certeza era um avanço, e fez com que a garota ficasse satisfeita pelas coisas estarem dando certo para ela. Aquelas garotas eram bem legais. Era ótimo sair com garotas mais velhas, sempre achou. De vez em quando, se sentia meio entediada com as meninas da sua idade. Seu celular começou a tocar, e quando o tirou da bolsa e leu o visor, levou um susto. . O que ele estaria querendo? Ashley se esgueirou para ver quem era, e quando leu o nome dele, arregalou os olhos.
-Oh! –deixou escapar. a olhou confusa. A menina deu uma olhada para , que já tinha entendido tudo. Angel engoliu em seco, com raiva de estar ligando para e não para ela. O telefone parou de tocar. –Pode ligar para ele de volta, se quiser. Seria falta de... Ai!
Ela parou de falar, olhando alarmada para Angel, que tinha chutado sua canela e molhado seu jeans. Angel fez uma careta, indicando que ela podia permanecer calada que daria mais certo.
-Não, tudo bem. – disse colocando o telefone na bolsa, como se não fosse grande coisa. As três se entreolharam. –Depois eu ligo.
-Pode ligar. – se apressou em dizer. Era melhor ela falando com em um lugar onde podia ver e escutar o que falavam do que a sós. –Não seja boba. Eu insisto.
-Tudo bem, então. –ela sorriu e ligou para ele, que atendeu depois de dois toques. –Oi. Você me ligou?
-Liguei. – a voz rouca de ecoou pelo ouvido de , que sorriu. flagrou aquele pequeno movimento nos lábios da garota, a algo dentro dela borbulhou de raiva. Mais do que qualquer coisa, e talvez só por isso, odiada ser deixada de lado. –Vai ao Gentleman Club hoje?
-Vou. – sorriu para as meninas, que não paravam de observá-la.
-Sabe, um dia eu... –Ashley começou a falar, mas a interrompeu.
-Silêncio! – a olhou espantada. –Não vai querer atrapalhar a .
-Ótimo. – disse. –Eu quero te ver lá. Vou procurar direito dessa vez.
-Será bom se fizer isso. –ela deixou escapar um riso. –Não desista até achar.
Quando desligou o telefone, percebeu que ainda estava sorrindo. As meninas a encaravam com curiosidade, e ela se sentiu um pouco sufocada. Não podia ficar dando corda para , mas ele era irresistível. Não era como se estivesse interessada ou coisa assim, só era bom ter um pouco de diversão.
- está interessado em você? –Angel perguntou forçando novamente o sorriso.
-Não! Só conversamos um pouco desde que cheguei aqui.
-Ah! –Ashley suspirou.
observava com a respiração acelerada.
-Sabe, ... Você tem se mostrado muito amiga e companheira. Acho que devemos te contar. Não devemos, meninas?
-Contar o que? –ela perguntou, curiosa.
-Sobre a festa no Gentleman Club. – olhou para as meninas, que concordaram com a cabeça. –Vou contar! É o seguinte, nas festas do Gentleman Club temos uma pegadinha. Todo mundo vai fantasiado, sabe? Menos os calouros. Eles ficam sendo os únicos sem fantasia. É uma pegadinha idiota.
-Pois é. –Angel continuou. –Mas você é nossa amiga, por isso queremos te poupar dessa vergonha. Então, vá fantasiada.
-Nossa, obrigada, gente. – estava impressionada. Elas realmente a consideravam parte do grupo. –Mas me contem. Que tipo de fantasia?
-A que quiser. –Ashley respondeu. –Tenho várias para te emprestar, se quiser.
-Eu adoraria.
-É estranho. – riu. –Mas é o que fazemos.
-Tudo bem, então, se vocês dizem.
-Ótimo! –Angel bateu palmas.
tinha a impressão de que o sangue corria por sua veias com mais rapidez, devido à adrenalina que sentiu. O quarto de cheirava a uma mistura de seu perfume com o de – que era melhor –, e ao passar por ele, um sorriso satisfeito brotou em seus lábios. Calouros.
*
recebeu uma mensagem de havia uma hora, dizendo que passou a ser amiga de e companhia, coisa que não tinha certeza se era boa ou não. Além disso, comentou que encontraria na festa daquela noite e que gostaria de encontrar . Por último, confidenciou que o garoto brigou com por causa dela, para depois perguntar como ela estava e dizer que tinha muito para contar. O coração da garota se encheu de alegria ao ler o entre em contato de , mas temeu pela amiga. Talvez fosse impressão sua, somente o tempo diria se não. O fato de se preocupar com o caos que a amiga andava causando no relacionamento de e não compensava o trecho da mensagem que dizia que ela se encontraria com no Gentleman Club. era a garota que queria se encontrar com ele, podia-se dizer que era o que mais desejava naquele momento. Apesar disso, se sentiu grata e feliz pela amiga compartilhar tudo aquilo com ela, como se sempre tivessem sido amigas.
Quando chegou na cozinha, abriu a geladeira para beliscar alguma coisa. Pegou um pouco de leite e entornou na boca. Fechou a geladeira, e se virou para colocar o copo na pia, quando deu de cara com Justin. Ela pulou de susto. Era muito medrosa para se aventurar por aí durante à noite, então se via uma sombra ou escutasse um barulho incomum, seu sangue já gelava de medo.
Ele vestia uma blusa vermelha apertada, que deixava seus músculos à mostra. Depois que descobriu seu parentesco com , o garoto parecia mais semelhante ao primo toda vez que o olhava. Pelo jeito também eram parecidos no gosto por camisas um pouco mais justas. Seu jeans gasto, num tom meio esverdeado, tinha caído super bem. Ele estava adorável. E a encarava de um jeito engraçado.
-Você me assustou. – disse se recompondo e sorriu amarelo em sua direção, esperando que assim Justin desviasse seu olhar. Isso não aconteceu, coisa que deixou a garota desconfortável. –O que está fazendo aqui?
-Vim assistir um filme com Bianca. –ele pegou uma maçã na fruteira e a mordeu. se desconcentrou um pouco com aquela imagem, enquanto observava o maxilar dele se alongar para morder a fruta com os dentes brancos e perfeitamente alinhados, deixando o lábio inferior levemente molhado... –Ela disse que amanhã não poderemos fazer nada, já que é o aniversário de Joane.
Ela concordou, para depois voltar sua atenção para a pia. Não imaginava o que aconteceria no aniversário da madrasta, porém podia imaginar algumas coisas. Em sua cabeça, a festa perfeita para a mulher seria aquela onde mais coisas aconteceriam ao mesmo tempo: confetes e decorações coloridas como um carnaval, um vestido enorme e extravagante em Joane, enquanto ela cumprimentava os convidados e espiava o conteúdo dentro dos embrulhos de presentes que recebia, julgando se gostaria ou não deles. Provavelmente daria os que não gostou para , como um ato de bondade. E ela não seria orgulhosa de não aceitar, ainda abriria um sorriso de orelha a orelha e fingiria gostar dela por um momento, só para que não ficasse muito feio. Imaginava garçons andando por aí com uma roupa muito estranha, e todo o tipo do loucura que pudesse passar pelas ideias de Joane seria aceita. Em um mundo perfeito, a mulher faria uma entrada triunfal em cima de algo bem grande, como um... Elefante. riu sozinha com seus pensamentos, para depois notar que o namorado de Bianca ainda estava na cozinha, desviando os olhos dos eletrodomésticos para ela. Tudo bem, já tinha ficado estranho.
-Esses devaneios que você tem... –Justin começou e colocou um dedo no queixo, como se fosse um psiquiatra numa consulta com seu paciente. –Acontecem sempre ou só porque não queria estar aqui?
-Devaneios? Não faço isso.
-Faz, sim. É engraçado, como se estivesse sonhando acordada. –acrescentou, parecendo se divertir muito com aquilo. Nas duas ocasiões em que se encontraram, o garoto aparentava não levar as coisas muito a sério, como se o mundo o divertisse de tal forma que era banal demais para ser considerado algo importante.
-Acho que está enganado. –tentou ser educada. –Às vezes tiramos conclusões que não...
-Eu vi, mais de uma vez em quarenta e oito horas.
-Não percebi.
-Claramente. Imaginando o tipo de personalidade que você tem, não acho que sairia somente com seu roupão por aí se percebesse mais as coisas.
olhou envergonhada para seu roupão de banho, notando que seus seios ficaram bastante marcados pelo tecido pelo fato de que não estava de sutiã. Perguntou:
-O que te faz pensar assim?
-Você só não parece ser esse tipo de garota.
-Esse tipo de garota.
-É, dessas que saem andando de um jeito vulgar. Não pense que está vulgar, porque não está. Essa é sua casa, pode usar o que quiser. Aliás, também não estou reclamando por você estar usando isso aí.
Ignorando a cantada que ele tinha acabado de jogar nela, ela disse, indignada:
-Desculpe, mas você nem me conhece.
-Não mesmo. Mas já notei várias coisas.
-Ah,é? – sorriu, interessada. Ela se sentou no banco e apoiou os braços na bancada da cozinha, de frente para Justin. Ele devolveu o sorriso, e se apoiou na bancada de mármore também, de modo que ficasse mais perto dela. Sentiu sua proximidade tarde demais. –Conte-me o que você notou.
-Bom, não é muito difícil tirar algumas conclusões a seu respeito. O modo como divaga por aí me faz pensar que além de não querer estar aqui, algumas coisas te fazem se agarrar ao cenário atual de onde mora. O fato de ter acrescentado um pedido de desculpas antes de dizer algo um pouco rude também dá algumas dicas. Também percebi que se finge de durona para seu pai e as meninas, mas levantou da mesa no exato momento em que sua mãe te ligou para atendê-la.
Ela suspirou. Ele podia até ter razão, mas ela não queria demonstrar isso. Queria que pensassem que ela era decidida, autoconfiante e responsável. E podia ser isso. Sentiu a respiração de Justin em seu nariz e afastou um pouco o rosto, para depois direcionar os olhos até os seus, observando aqueles holofotes que emanavam energia, e algo em seu olhar a deixava desconfortável, mas ao mesmo tempo...
-Continue. – disse tentando parecer calma.
-Você hesitou. –Justin levantou as sobrancelhas. –Deve estar se perguntando se está imaginando algo, já que sou o namorado da Bianca. –o garoto esticou o dedo indicador e tocou a testa dela, que se sobressaltou com o toque, seu coração começando a se acelerar. O movimento da mão dele se prolongou até o outro lado do rosto de , que o encarou chocada demais para dizer algo. –Várias rugas de preocupação, devia relaxar mais. Talvez se eu tirasse a mão da sua testa... –ele riu e afastou sua mão. Manteve seu olhar fixo nela por alguns segundos e depois sorriu novamente. –Você é muito bonita para ter rugas tão cedo.
A garota saiu de seu estado catatônico e a raiva invadiu seu corpo, como se o que Justin disse fosse o maior absurdo do mundo. Não era nada do que ele afirmou, era uma garota espontânea e relaxada. Afastou-se mais ainda dele e apontou seu dedo em sua direção.
-E sabe o que eu percebi? Que você você é muito presunçoso. E está certo, você não me conhece mesmo.
Ela se virou para lavar o copo. De costas para Justin, pôde escutá-lo rindo, coisa que fez com que sua raiva aumentasse. Quem esse cara pensava que era, para chegar dizendo quem era ela e o que pensava? E ainda insinuar que houve algo ali? Justin era muito bonito, mas não sentiu nenhuma atração por ele.
Ela escutou o barulho do banco se arrastando no chão, e finalmente pôde respirar. Ele tinha saído de lá, enfim.
Justin se aproximou a ponto de ficar perto dela. Se inclinou um pouco e falou no ouvido dela, que se assustou com o calor da boca dele em seu pescoço.
-Não fique ofendida, não associo minha facilidade em te descrever com falta de graça. Se teve uma coisa que eu achei nos poucos momentos que nos encontramos foi que é uma pessoa bem interessante.
-Obrigada, mas não me importo se...
-Você é como uma bomba, . –ele disse bem baixo, só para ela ouvir. sem querer se arrepiou. –Essa vontade de se redefinir que vejo em você, me faz pensar que é uma bomba. E quando você explodir... Vai ser maravilhoso.
Ela pensou em retrucar, mas quando se virou, ele já tinha corrido para o quarto de Bianca. Ela respirou fundo, percebendo que seu peito subia e descia com rapidez embaixo de seu roupão. Aquela droga de roupão.
*
abotoou sua camisa azul-marinho e arregaçou as mangas até a altura do cotovelo, o perfume de roupa nova se espalhando pelo quarto. Ele pegou seu perfume Hugo e se mergulhou nele. Ainda não tinha conversado com , mas sinceramente, estava enrolando. A garota vinha agindo de uma forma estranha o tempo inteiro e o modo como havia perdido a cabeça com o fez ficar irritado. Por que não podia fazer um esforço? Ele sabia que também não gostava muito da sua namorada, mas ela estava se esforçando.
Por outro lado, ele começou a pensar no que tinha dito. Tudo aquilo de gostar dele fazia sentido, se pensasse bem. Mas ela era assim com todos – já tinha pensado na possibilidade de gostar dele, por isso começou a observar se ela era daquele jeito com outros meninos –, inclusive com .
O que o chateava não era o fato de e não serem amigas. Isso não era da conta dele. O que o chateava era o fato de não fazer um esforço para se adaptar às coisas que pedia, e ela era sempre tão controladora. Do mesmo jeito que fazia um esforço para conviver com sua namorada, ela também podia fazer um esforço para conviver com . Tudo bem que ficasse com ciúmes de sua amiga, a culpa não era dele. O problema era que não estava confiando em e aquilo o deixava inseguro e irritado. A garota sempre teve uma certa implicância com , mas ultimamente estava insuportável.
foi pegar seu pente no armário, quando seu rosto raspou na quina da porta, fazendo-o dar um suspiro de dor. Sentiu o rosto latejar um pouco e fechou os olhos. Estava ocupado demais para lidar com um simples machucado. E, como se seus pensamentos fossem imãs, escutou algumas batidas na porta. Quando abriu, se deparou com . Ela estava com um roupão de banho e claramente sentia frio. Ao vê-lo, sorriu:
-Oi!
-Oi, entra. – deu espaço para ela entrar e fechou a porta atrás de si. –Você deve estar congelando. Quer uma blusa emprestada?
-, meu quarto é no final do corredor. – riu, fazendo exatamente o planejado. Ela precisava medir bem as palavras dela. –Estou bem.
-Jura? Parece estar com frio.
-Estou bem. É serio.
-Não vai à festa?
-Vou, mas ainda não terminei de me arrumar. Você está ótimo.
-Obrigado. –ele ficou desconfortável. Mesmo achando uma bobeira, era melhor esclarecer as coisas. –Lembra-se do que disse quando surtou no restaurante?
-Lembro. O que tem? –ela se sentou ao lado dele na cama. Os cabelos loiros caíam pelas costas e o rosto bem desenhado parecia sereno, apesar de os olhos azuis da garota estarem atentos, como sempre.
-Eu fiquei pensando que... Talvez, eu não sei... Ela estava muito segura quando disse e...
-Espera. – fez um movimento com as mãos para que o garoto interrompesse seus pensamentos antes de concluí-los. –Você realmente deu ouvidos ao que ela disse? , eu sei que é a sua namorada, mas ela estava nervosa.
-Bom, não, mas...
-Não seja bobo. Eu sei dos sentimentos da e sei dos meus. Não há nada com o que se preocupar. Agora, a questão é se você sabe dos seus sentimentos.
estava olhando para o chão. A perna nua de encostou na dele e foi como um choque térmico, embora ele pareceu não ter percebido. Seus olhos verdes focavam um pequeno pedaço de papel amassado que David jogara mais cedo no chão. escondeu um sorriso, gostando mais daquela situação do que deveria.
-Você sabe dos seus sentimentos? –ela perguntou, depois de um tempo, e como não obteve resposta, insistiu. –?
-Sei. –ele respondeu saindo do transe e olhando nos olhos azuis dela.
-Ótimo. –forçou um sorriso.
Eles ficaram mais um tempo em silêncio. olhava ainda para o pedaço de papel, e olhava para ele. Ela tocou seu ombro, e ele se virou para como se tivesse sido acordado com um banho de água fria. Ela se mexeu para mais perto dele, que a encarava com medo do que podia fazer. se inclinou para perto, colocando uma mão em um canto do rosto e esticando a mão para colocar na outra bochecha. Sua expressão era de urgência, e sua testa estava franzida.
só então se tocou e deu um pulo para trás rapidamente. Ele estava em choque e fingiu uma expressão de confusão.
- O que é isso? –ele gritou e logo diminuiu a voz. –, não... Eu pensei que...
-O que é isso? Eu que pergunto. Calma, ! O que pensou que eu ia fazer? –ela se aproximou novamente. –Achou que eu ia te beijar?
-Mas... – fechou os olhos com força, percebendo a bobagem que tinha feito. –Desculpa.
-Você não confia em mim.
-Claro que confio. É que essa história toda da minha briga com a me deixou meio estranho. Desculpe, .
-Tudo bem, mas confie da próxima vez. Seu rosto está sangrando, o que aconteceu?
-Ah! –exclamou. –Eu bati no meu armário.
-Quer ajuda?
-Não, tudo bem.
-Sério?
-Claro. Você precisa se arrumar.
-Tudo bem. Até logo.
deu um beijo na bochecha que não sangrava e foi embora rápido. O lugar do beijo queimou em sua bochecha mais do que o corte estava queimando antes.
*
estava bonita. Seu vestido de renda preto com branco a deixava parecendo ser mais velha do que realmente era. O seu cabelo loiro claro estava preso em um coque no meio da cabeça e seu batom deixava sua boca mais vermelha do que o normal. Ela colocou um sobretudo preto e saiu andando confiante em seus saltos de oito centímetros. Não queria nada exagerado para a noite, só queria se divertir um pouco e não ter que pensar em ou em .
a esperava em frente à April Hall, com a porta do passageiro de seu carro vermelho aberta, esperando por ela, que sorriu ao entrar dentro do carro. O garoto se inclinou e beijou sua bochecha de leve.
-Você está linda.
-Obrigada, mas você ainda nem viu meu vestido.
-Não vou precisar ver para saber que estará linda.
sorriu com o elogio e deu uma olhada para ele. usava uma blusa social listrada de vermelho e branco e jeans claros. Estava adorável, e isso até teve que admitir. Ela fungou. O carro dele tinha cheiro de coco e no som tocava Oasis.
-Você tem um ótimo gosto para música. –ela falou. –Eu não sabia.
-Você nunca perguntou.
Ela ficou calada por uns instantes.
-Sabe muita coisa de mim. Eu não sei tanto sobre você.
-Então comece perguntando.
-Posso perguntar qualquer coisa?
-O que quiser vou responder.
-O que você quer ser quando crescer?
-Que pergunta de criança. – começou a rir. franziu a testa, mas ele continuou rindo.
-Não ria de mim. – deu um tapa de brincadeira no ombro dele. –Foi a primeira coisa que passou pela minha cabeça.
-Foi bonitinho. –ele sorriu. –Mas sabe o que eu quero ser, eu já te disse o que estou estudando.
-Tá legal, foi uma pergunta idiota. –ela abaixou a cabeça. –É meu último ano do ensino médio, eu tenho pensado muito sobre o futuro. Quero ser advogada, você sabe. Mas o que me preocupa é que não sabe o quer fazer, e se ele não decidir logo nenhuma faculdade irá aceitá-lo.
Ele suspirou. , , .
-E por que você não o pressiona um pouquinho?
-Na verdade, não estamos nos falando. Não conversamos desde ontem, mas faz um tempo que não temos um diálogo mesmo. – Talvez estivesse mentindo para si mesma esse tempo todo, as coisas com o namorado não eram as mesmas fazia um tempo. O momento em que o clima aliviou um pouco foi na Festa do Luar, e a noite tinha sido tão especial... Ela se deu conta de uma coisa. Ela achava que tinha sido boa para os dois! não estava falando direito com ela por causa do sexo?
-Me contaram que tinha sido por causa de .
-O que? Como assim?
-Hã, esquece. Devem ser só boatos.
-Do que está falando? – fez uma cara de preocupação e sorriu por dentro. Quando se tratava de conseguir o que queria, podia ser um gênio do mal. –Que boatos?
-Hum, eu ouvi que ele pode estar gostando dela. Parece que disse que é bom sair com porque ela não é preocupada com coisinhas pequenas, não pensa no que vai acontecer, não fica falando para ele suas obrigações e é mais solta. Mais livre.
-Ele disse isso? –ela perguntou com a voz falhando. Não podia acreditar, ela e estavam juntos quase a vida inteira, como nunca tinha reclamado de nada? Ela estava insuportável ultimamente?
Ele não devia descontar nela daquele jeito, os dois estavam prestes a ir para a faculdade. devia entender que era um passo grande na vida e que ela tinha o direito de ficar ansiosa. Talvez estivesse muito ciumenta quanto à , mas naquele momento precisava de seu namorado mais do que nunca, e não aguentava vê-la dando em cima dele. Por que o garoto não falou nada? Ele achava que era mais solta, mais livre. O que isso queria dizer? Que era chata? Será que pensava que ela estava pegando muito no pé dele por causa da faculdade? Tudo o que sempre quis era ajudá-lo.
disse para ela insistir mais um pouco com , mas ele sabia desse boato. Era claro que daria a instrução errada. Ele gostava de , pelo menos era o que parecia. Estaria disposto a sabotar o relacionamento dela e só por seus sentimentos? Ela podia até gostar de , mas era só como um amigo. Não havia chance nenhuma dos dois ficarem ou coisa do tipo. Começou a se sentir inquieta, até com um pouco de medo. De repent, se perguntou se era tão confiável assim. Se ele era o tipo de pessoa que estaria disposto a tudo para conseguir o que queria, então não sabia se queria ser amiga dele. Ela infelizmente convivia com uma pessoa assim: . E não gostava nem um pouquinho. Talvez fosse por isso que ele e se davam tão bem.
Ao ver a confusão formada na cabeça dela, se deu como vitorioso da noite. Era esse o objetivo pelo momento: deixar o casal confuso. Ele e realmente eram uma bela equipe. Obviamente se sentia um pouco mal pelo o que estava fazendo, porém, se aquilo abrisse os olhos de , não se importava. A garota precisava entender que o lugar dela não era com . Era incrível como ele a conhecia em pouquíssimo tempo e já sabia o que queria. Depois de tudo, se descobrisse que ele e estavam sabotando o namoro dos dois, teria que perdoá-lo. Afinal, estava fazendo tudo aquilo porque gostava dela. Aquilo não contava? Mas tinha que ter certeza se gostava dela a ponto de fazer tudo isso. E, quanto mais passava tempo com ela, mais tinha certeza que queria se agarrar àquele objetivo. No final do dia, sabia muito bem que as duas únicas pessoas que sabotariam algo ali, sera e , à eles mesmos.
-Não fique nervosa por causa disso, . – por fim disse. –As pessoas falam demais, nunca se deve acreditar em tudo que falam.
-Elas falam demais. – demorou para responder.
-E se ajuda, eu acho você boa demais para . E mesmo sendo amigo dela, comparar você com é a mesma coisa que comparar essas bandinhas medíocres com Coldplay. Sem comparação. Acho o um otário. Se você fosse minha namorada, eu te trataria do jeito que realmente merece ser tratada.
-Obrigada. –ela não deixou de corar. –Mas eu gosto do , .
-É claro que gosta. –ele concordou com a cabeça, fingindo naturalidade.
-Hã? –ela ficou confusa. –Quer dizer, eu achei que você...
-Eu nunca me meteria entre você e .
O carro parou em frente ao semáforo, fazendo olhar nos olhos dela. ainda estava confusa, só que aliviada. Ele era uma boa pessoa e queria o bem dela. Não sabia porque tinha pensado coisas ruins dele.
-Você é um idiota. – disse séria.
Uma expressão de preocupação atingiu o rosto dele.
-Eu? O que eu fiz?
-Não superestime tanto essa banda.
-Coldplay? Não estou superestimando, só digo a verdade.
-, você está escutando o que está dizendo?
-Claro que eu sei do que estou falando.
-Ai meu Deus, posso te dar tantos exemplos melhores...
-Não ouse.
-Você é ridículo. – começou a rir.
- Pois saiba que eu sou um grande fã de Coldplay.
-Bom, lamento.
deu um tapinha nele, indignada. Ela ainda estava rindo, e ver aquela imagem o fez sorrir também. Apesar de confiar muito no seu jogo, tinha que se prevenir. Afinal, querendo ou não e estavam juntos há anos. Por isso precisava ser cauteloso, era difícil competir com isso.
Mas não era impossível.
*
entrou no Gentleman Club sozinha, passando as mãos pela roupa e falhando em disfarçar o pequeno nervosismo que brotava em seu estômago. Seu vestido azul rodado combinava com sua touca tricotada pela avó. Anna Kingston deu um sorriso ao passar por ela e deixar seu casaco no almoxarifado.
-Obrigada. –ela agradeceu com um sorriso.
O Gentleman Club era todo feito de madeira, sem nenhuma exceção, e garota percebeu que logo já estaria sentindo calor. O lugar já estava cheio de pessoas, com roupas elegantes, conversando e bebendo coquetéis. Mesmo assim, não estavam dançando, só balançando um pouco, mas ainda estava cedo demais. David lhe contou que as festas no Gentleman Club só começavam mesmo depois da meia noite. Ela se sentiu em um filme, naqueles cassinos em Las Vegas onde as pessoas estavam sempre muito arrumadas e sofisticadas.
andou até a sala principal e encontrou David conversando com uma garota. Eles riam de segundo em segundo e ele parecia estar contando um caso, já que gesticulava com as mãos o tempo inteiro. Seu namorado usava uma blusa social amarela, num tom claro. E sua calça era levemente apertada, o que fez com que involuntariamente sorrisse. Quando ele a viu, pediu licença à garota e foi até , pegando-a pela cintura e colando seus lábios nos dela. Aquele contato trazia uma sensação diferente para a garota. A boca dele era quente, e David sempre respirava pesadamente quando a beijava. Ela gostava.
-Deus, você está linda. –ele disse, os olhos oliva percorrendo todos os centímetros do corpo da garota, mirando finalmente em seu rosto, e o modo como foi observada naquele momento a fez corar. –Sinto que deveria ter me arrumado mais.
-Deixe disso. Você está lindo e eu amei essa calça apertada.
Ele riu e chegou mais perto dela, dando-lhe outro beijo. A garota não sabia por que deixou aquelas palavras escaparem da sua boca, falava coisas assim com David. Sentia como se pudesse se soltar mais com o garoto, sem temer uma rejeição. Quando se separaram, ele olhou para trás e a garota ainda estava lá, olhando para os dois de uma forma não muito amigável.
-Venha. –ele entrelaçou seus dedos nos dela, sua mão era macia e quente. Ela se deixou ser guiada por ele, aproveitando a sensação de sua mão em cima da dela. –Quero que conheça uma amiga.
analisou bastante a garota: seus cabelos ruivos iam até a altura do queixo e seu batom vermelho a deixava parecendo uma bonequinha. Ela era muito bonita, e apesar de seu jeito delicado, o nariz levemente arrebitado e os olhos sagazes lhe garantiam uma aparência um tanto atrevida.
-Meu nome é Liz Johnson. – a menina estendeu a mão em sua direção quando percebeu que era isso que o garoto queria que ela fizesse. captou um olhar entre os dois antes de Liz esticar seu braço, mas não soube interpretá-lo. Possuía essa capacidade de notar as pequenas coisas, desde pequenos movimentos até curtos e disfarçados olhares. colaborou para que aprimorasse esse talento.
- .
-Ah, então você é a famosa ... David me falou muito de você.
-É mesmo? – sorriu e olhou para David, que olhava de um jeito engraçado para Liz. Ela olhou para ele daquele jeito que irmãos se olham quando querem dizer algo somente com os olhos, para logo em seguida receber um sorriso envergonhado e uma atrapalhada no cabelo. piscou. Tuuuudo bem.
-Você é muito bonita. – Liz elogiou, parecendo genuinamente sincera. Os olhos de coruja inspecionaram seu rosto, e ela deveria ter ficado sem graça, porém algo naquele rosto indicava que estava sendo amigável. –As pessoas te dizem muito isso?
-Não! –ela riu. –Nossa, obrigada, Liz. Você também é muito bonita. E gentil.
-Eu sabia que vocês duas iam se dar bem. –David disse orgulhoso.
*
O sofá banco onde Bianca e Justin estavam ficava bem no meio da sala, de frente para a televisão. não gostava dos móveis porque eram quentes demais e não havia a chance de alguém se mover sem fazer um barulho de pum no couro novo. A irmã descansava a cabeça no colo do namorado, que tinha o corpo estirado no sofá, ocupando mais espaço do que precisava numa posição engraçada. Em outro sofá ao lado, ela tentava prestar atenção no filme. Percebeu, sem saber se achava graça ou ficava aflita, que a única pessoa que realmente assistia ao filme entediante era a garota ao seu lado. Ela não tirava os olhos da tela, a não ser em pequenos segundos, quando resolvia interagir com seu namorado. Não que ele se importasse, estava mais concentrado em , e não parava de olhar para ela. Não faltaria muito para que ficasse muito envergonhada e saísse dali, como sempre fazia quando se tratava de garotos bonitos. Não que fosse constantemente cortejada por pessoas assim, mas sabia o que estava acontecendo e não se sentia confortável com isso, por mais que o garoto fosse bonito e não tirasse os olhos dela por algum motivo. Quer dizer, ele estava olhando, certo? Esperava não estar ficando doida.
-. –a voz de Justin preencheu o cômodo, vibrando nos ouvidos da garota por alguns segundos até que a mesma percebesse que era com ela e prender a respiração, com medo do garoto dizer algo inconveniente. –Ele vai ficar bravo com você.
-O que? –as palavras não fizeram sentido algum para ela, que se perguntou se era porque tinha ficado tão nervosa e ao mesmo tempo confusa que não conseguiu dirigir o que lhe foi dito.
-Seu pai está te chamando na cozinha faz uns cinco minutos. Se ele estivesse morrendo, já estaria se desintegrando.
-Que engraçado. – respondeu, tentando a voz mais sarcástica que conseguiu. –Normalmente quando estou prestes a dormir também misturo os sons que ouço da televisão com a realidade.
Justin abriu um sorriso, divertindo-se com a provocação. Olhou para a namorada, que felizmente aparentou não ter percebido o que a outra quis dizer com aquilo.
-É mesmo? –Bianca perguntou alisando a bochecha de Justin com o dedo indicador. –Eu não ouvi, gatinho.
se levantou do sofá quase que num pulo e caminhou lentamente até a cozinha, os pés descalços se demorando no chão frio. Ao chegar à porta olhou brevemente para trás, tendo uma visão privilegiada de Bianca cochichando algo no ouvido do garoto e praticamente avançando nele, fazendo-o recuar de susto e começar a rir.
-Não, Bianca. –ele disse num tom de voz um pouco alto, mas depois abaixou. ainda assim pôde ouvir. –Estamos na casa dos seus pais.
Ele a empurrou com delicadeza para o outro lado do sofá e voltou a assistir o filme. A irmã ficou com o rosto vermelho e bufou de raiva, fazendo com que risse e entrasse na cozinha. Não podia culpar a menina: seu namorado era realmente beijável. Quando o olhava, pensava em um daqueles garotos que provavelmente nunca ouviu um não de uma garota em toda a vida. Era por isso que precisava ficar longe dele, se tivesse um namorado e soubesse que ele prestava mais atenção em outras do que nela, com certeza sugeria em seu coração uma desconfiança enorme. Precisava se colocar no lugar da irmã e repetir para si mesma que Justin era seu namorado, e sentiu pena dela. Provavelmente não era um namoro fácil. sabia que o motivo de ele entender tanto seu modo de pensar era que conheceu mulheres o suficiente para tal, e não sabia se naquele caso isso podia ser considerada uma qualidade. Seu pai não esperava por ela, que no início ficou confusa, porém depois entendeu. Que idiota. Não que ela queria assistir àquele filme ridículo, mas ele praticamente a expulsou da sala. Aquela podia não ser a casa dela, mas muito menos era a dele.
, eu fico muito feliz pelas coisas estarem dando certo aí. Aqui está um pesadelo, ainda mais com o namorado da minha irmã dando em cima de mim. É Justin , você deve se lembrar dele, sua aparência não é de se esquecer. Eu gostaria de estar aí! L -
-E como é a sensação de ter uma pessoa tão inesquecível dando em cima de você? –uma voz grossa chegou aos seus ouvidos emitindo um calor, que fez com que as bochechas da menina esquentassem instantaneamente. Não precisava olhar para trás para saber que Justin estava ali. Na verdade, não precisava nem ter saído daquele sofá para entender que o garoto só estava tirando uma com ela. E ele definitivamente não deveria ter lido aquilo.
-Você não sabe conversar feito uma pessoa normal? –ela sussurrou. –Precisa estar sempre chegando por trás e me assustando? E quem acha que é para ler minhas mensagens?
-Não precisa sussurrar, . –Justin ainda falava no ouvido dela e mesmo aquilo a incomodando, ela não se moveu. –Eu gosto de te assustar. Você é sempre tão previsível.
-Não sou previsível.
-É claro que você é. –Justin passou a mão pelo braço direito nu dela, que se arrepiou. O garoto tinha aquele deleite na voz, parecendo sempre se deliciar com cada palavra que dizia como se considerasse a si mesmo algum tipo de gênio. Aquilo irritava , que sentiu mais raiva ainda quando escutou uma risadinha vinda dele. Tomou consciência da proximidade dos dois um pouco tarde demais, quando sentiu a respiração dele em sua perna, apesar de não ter feito nada para sair dali naquele momento. –Dentro da sua cabeça deve estar a maior confusão. Você não sabe se o que está achando que vê é pra valer ou se está vendo demais o que gostaria. Talvez esteja prestes a dormir também.
-Não seja ridículo, eu não gostaria de nada disso.
-Disso o que? –Justin mexeu no cabelo dela, que se sobressaltou. olhou para ele contrariada, para receber um sorriso como resposta. –Você não saiu de perto de mim ainda.
Ela se tocou e moveu-se rápido para longe dele, indo até o banheiro perto da cozinha. A imagem de seu sorriso circulava pela cabeça dela enquanto fechava a porta com dificuldade, ainda meio em choque. Respirou fundo antes de abrir a torneira e molhar o rosto com água gelada da pia, sentindo um alivio quando essa bateu em seu rosto quente. Que droga era aquela, ele lia mentes por acaso?
Estava ficando difícil de ficar perto dele, se cada movimento que ela fazia era totalmente normal. não era previsível, era? era agradável e uma ótima companhia, mas seu primo era horrível. Sentia uma urgência em sair de perto dele. Seu telefone tocou e ela o pegou ansiosa, pensando ser uma resposta de . Mas não, era só uma mensagem de seu pai.
Se quiser pegar meu carro para sair, tudo bem. Acho que não estamos te dando muita liberdade aqui, então é todo seu. –Bob
Pelo menos uma coisa boa. Podia dar o fora dali e sair de perto daquela família bizarra. Abriu a porta do banheiro e esticou o pescoço pela porta, para conferir se Justin estava por perto. Nem sinal. Ela correu escada acima até chegar ao seu quarto. fechou a porta correndo e sentiu um alivio por finalmente estar sozinha. Quando se virou, lá estava ele. Sentado na cama dela com um sorriso idiotamente lindo no rosto.
-Justin! – estava com raiva. –Dá para parar de me seguir?
-Do que está falando? –ele falou casualmente. –Estou esperando a Bianca.
-No meu quarto?
-Esse não é seu quarto.
-Claro. –ela foi sarcástica. –Como você é hilário. Agora será que poderia sair?
-Hum... –ele se levantou até ficar de frente para ela. –Posso te perguntar uma coisa?
-Já perguntou. –sentiu um nervosismo atingir seu corpo, e o máximo que ela conseguiu fazer para contê-lo foi criar a coragem para pedir que o menino saísse. - Pode ir agora?
-É sério.
-Se eu disser sim você pergunta e vai embora?
-Claro.
-Vá em frente, então.
-Estou curioso para descobrir uma coisa...
Justin pegou-a pela cintura, carregando-a até ficar na altura dele. A menina sentiu as mãos firmes e quentes por cima de sua roupa e um inesperado tremor subiu pelo seu corpo. As íris bem claras dos olhos dele a fitavam de um jeito tão intenso que se derreteu em deleite nos braços do garoto, o corpo mole demais para poder criar tipo e se recompor. Sabia que ele estava prestes a beijá-la, e observando aquele rosto bonito tão próximo ao seu, os poros da pele do garoto abertos, provavelmente porque raspou a barba recentemente... Fechou os olhos e esperou pelo o que viria.
-Foi o que eu pensei. –ele deu outro sorriso e a soltou abruptamente, tão rápido que o pequeno momento em que se encontrou nos braços do garoto pareceu ter sido fruto de sua imaginação. Ela colocou os pés no chão, desnorteada e uma raiva intensa começando a dominar seus sentidos. –Você acha que eu não sou uma boa opção porque namoro a Bianca, mas quer provar que eu estou errado e quer ficar comigo mesmo assim. Quer dizer, o fato de eu ser lindo não ajuda em nada a sua resistência, então calculo que será uma questão de tempo até que feche seus olhinhos brilhantes de novo e...
-Isso não tem nada a ver. – disse com a voz vacilando. –Eu só fiz isso porque sabia que ia cair.
-Claro que não cairia, .
-Você quer sair de perto de mim? – finalmente tomou uma atitude. Era isso que faria. –Você vem achando que me conhece e isso tudo é um jogo para você. Por que não volta para a sala e vai ficar com a Bianca, que, aliás, é a sua namorada? Pode me chamar de tudo o que quiser, mas isso não vai mudar o fato de que nem me conhece e que tem namorada. Eu também tenho um namorado, e devia ligar para ele agora mesmo.
Justin ficou parado por uns instantes, sem reação. As palavras de definitivamente o pegaram de surpresa. Ele deu um sorriso calmo e saiu do quarto dela, finalmente deixando-a em paz para respirar fundo.
Ele podia ser atraente o quanto fosse, mas não era com quem ela queria estar naquele momento, só havia uma pessoa com quem queria conversar e essa pessoa era . Sorriu surpresa por aquele pensamento ser tão sincero. Ela ficou feliz por ter dito o que pensava para Justin. não era previsível.
*
saiu de sua picape preta com um sorriso no rosto. Ele vestia uma blusa social branca e seu jeans preto era justo o bastante para não ser justo demais. Ao entrar no Gentleman Club, foi recebido muito bem pelas garotas da April Hall que organizaram a festa. Bem até demais. Na sala ao lado, podia ouvir a voz de Justin Timberlake pelo som gigante que estava perto da pista de dança. Viu dançando de um jeito bem inadequado para seus olhos com David Grenwood no meio da pista de dança. Ela estava linda, e os dois pareciam estar se divertindo muito. Mas não se permitiria ficar abalado por causa daquilo, pelo menos não tinham parado de se falar.
Quando foi dançar, esbarrou em , que estava com . Ele se assustou ao vê-la acompanhada por alguém que não fosse . Se os dois haviam terminado e se ultimamente estava andando muito com , havia uma chance de os dois estarem namorando. Isso não o agradou. Quer dizer, porque estava com desde que conhecia os dois, e ele demoraria muito tempo para superar aquilo. Não queria que ficasse magoada.
Uma garota com apele morena reluzente, cachos perfeitamente formados que iam até os ombros apareceu na frente dele, girando seu vestido azul escuro. A beleza da menina era composta por um ar um tanto presunçoso, ele pôde logo notar. O menino era muito bom em ler as pessoas, muitas vezes só de olhar para elas por um breve momento.
-Calouro? –perguntou. sorriu.
-Dá tanto assim para notar?
-Não, você parece mais velho do que é. –ela sorriu com simpatia e ganhou outro em resposta. Não era a primeira pessoa a falar aquilo para ele. –Mas eu conheço quase todo mundo da April Hall, e não me lembrava de ter te visto.
- . –ele disse, esticando sua mão.
-Meu nome é Angel. –ela pegou na mão dele. –É um prazer te conhecer, .
-É todo meu. Quantos anos você tem?
-Dezenove. –Angel sorriu. Se a festa andasse como sua amiga planejou, tudo daria certo. É claro que andaria. E ela também queria se preocupar com outros calouros, outros que realmente importassem. Como .
-Vocês sempre têm festas assim?
-Temos. Quer dizer, não todos os dias da semana, só essa por causa de vocês. Mas normalmente temos muitas festas. A festa que eu mais gosto é a de Ano Novo, vamos todos para o Clube Norte, que é simplesmente demais. Os fogos são lindos, e parece que estamos naqueles filmes antigos.
-Entendo o que quer dizer. Eu geralmente vou a festas de Ano Novo muito legais. No último ano fui a Barcelona com minha amiga. Nós nos divertimos muito.
lembrava-se bem de sua viagem que tinha feito com . Os dois ficaram três semanas em Barcelona e parecia que estavam no paraíso. Quando estava com ela, tudo parecia ficar bem. Nem em ele chegava a pensar, só nos momentos em que ficava sozinho.
-Barcelona? –Angel se empolgou. –Você foi à Barcelona?
-Sim. Queríamos um lugar diferente, um lugar que nunca tínhamos ido antes, onde as pessoas geralmente não escolhem para passar a noite da virada e decidimos ir para lá. Estava bem cheio, mas não nos importamos.
-Você e sua namorada devem ter adorado. Dizem que lá é lindo.
-Minha namorada? – riu. –Claro que não. Sempre fomos amigos, que coisa estranha para se dizer. e eu somos amigos desde o jardim de infância.
-? ?
-Conhece? –ele disse ao mesmo tempo em que pegava um coquetel de abacaxi. Já sabia a resposta, não era como se sua amiga fosse alguém que ninguém conhecia.
-Somos amigas. Quando chegou à April Hall, não nos damos bem de cara. Eu a conheci no quarto de , meu amigo. Os dois estavam lá quando entrei e ela praticamente me expulsou do quarto. Antes disso, tratou minha amiga mal na Reunião dos Calouros. no quarto de ? Ele com certeza não sabia dessa. No primeiro dia da April Hall, ele se lembrava de que não estava se sentindo muito bem por causa de uma menina. Devia ser a amiga de Angel que causara aquela insegurança nela os dois resolveram sair para dar uma volta.
- não estava tendo um bom dia. –ele justificou, mas Angel se apressou em dizer:
-Não se preocupe! Eu não me importo, somos amigas agora. Até dei umas dicas legais sobre a roupa que ela vai usar hoje, espere para ver. –ela se interrompeu e mudou de assunto. –Mas e aí, não é estranho para você ser tão amigo assim dela quando a garota está gostando de ?
Aquelas palavras pegaram-no de surpresa. Todo mundo falava daquilo, e ele sabia que brigara com por ela. Por que não contava logo para ele? Será que achava que ele se magoaria depois do incidente pós Festa do Luar na casa dele? Era ruim que ela pensasse que não podia mais confiar nele.
-Eu não sei. Não gosto de me meter na vida dela.
-Claro, claro. Foi inconveniência minha, me desculpe.
-Não se preocupe com isso. Mas e o seu namorado?
-Ah, eu não tenho namorado.
-Como não? Você é muito bonita.
Angel sorriu, fingindo estar envergonhada. só falou aquilo porque era muito educado e porque era... . Se Angel achava que aquilo significava alguma coisa, teria que se esforçar mais.
-Então, você não quer dançar? –ela perguntou.
-Claro. – disse, guiando-a para a pista de dança.
*
saiu do táxi confiante. A fantasia que escolheu era bem provocante: uma blusa preta com bojo, daquelas que uma stripper podia usar em uma noite de trabalho. A peça deixava seus peitos duas vezes maiores do que realmente eram. Seu short minúsculo combinava com sua blusa e a meia-calça de renda dava um tom sexy ao visual. Suas orelhas de gatinha balançavam na cabeça e qualquer garoto que a visse ficaria babando.
Ela queria ver a reação de . Já que todas as meninas estariam usando roupas provocantes, quis que a dela chamasse mais atenção. Iria até ligar para e dizer a ele que gostaria dessa festa em especial porque veria com uma fantasia sexy. Mas os dois já deviam estar juntos na festa. Quando foi ao quarto de mais cedo, tinha tudo corrido exatamente como ela planejou. Ele tinha ficado confuso como ela planejou, partiu na defensiva como ela previu. Até se machucou, o que facilitou as coisas para ela. Parecia que o destino estava ao seu favor. Ela esperava que ainda estivesse, pelo menos até o resto da noite, enquanto estava com .
Ela entrou no Gentleman Club, tirando seu sobretudo. Mas a surpresa que teve não foi agradável. Ninguém estava de fantasia, e imediatamente sentiu vários olhares apontados para ela. arregalou os olhos e gelou, sem reação. Não era como na escola, onde todo mundo assoviaria e começaria a gritar. Ela estava em uma festa da April Hall. De fantasia de gatinha.
O constrangimento que sentiu foi tão grande que a fez vacilar. ria dela descontroladamente no ombro de seu novo namorado, David. Seu sangue ferveu. Foi uma das primeiras vezes que não soube o que fazer. Seus olhos se encheram de lágrimas ao notar que a olhava com uma cara de pena, o que a fez ficar com mais raiva ainda. Ela odiava que sentissem pena dela – o que geralmente não acontecia –, e pior ainda se fosse .
dançava com Angel, que ria dela. Tudo então fez sentido em sua cabeça, e acreditou que não tivesse feito. Quando o menino ia se virar para ver o que as pessoas tanto olhavam, Angel o puxou pelo colarinho da camisa e o beijou. Não um beijo normal, um beijo com urgência e ele ficou surpreso, mas retribuiu o beijo. Ele tinha retribuído o beijo. Isso fez pirar, e quando ela ia desabar alguém que não conseguiu ver a puxou para fora do clube.
Lágrimas quentes de raiva escorriam por sua bochecha, coisa que fez questão de limpar logo com os dedos gelados. Seja lá quem a tinha resgatado, não importava. não chorava em público.
-O que deu em você? –ele perguntou. Era , e isso serviu para lhe deixar um pouco aliviada.
Sem esperar resposta, a pegou pelo braço e a puxou até seu carro, que estava parado em frente ao prédio. Os dois entraram e finalmente falou alguma coisa:
-Eu... disse que...
-Eu não acredito. – apoiou a cabeça no volante. Provavelmente Angel contou a que viu ele com no quarto e ela ficou louca da vida pensando que rolara alguma coisa entre os dois. Não que fosse da conta dela. Ele vestia uma blusa social verde e seu perfume Hugo era delicioso. Seus cachos brilhavam, e ao contrário dela, estava bem calmo. –Foi que fez isso com você? Ela disse para vir com essa roupa?
só assentiu com a cabeça, e ferveu de raiva. Teria uma séria conversa com ela. Por que era daquele jeito? Por que tinha que estragar a vida de todo mundo, assim como fizera com a dele?
-Vem aqui. – disse puxando-a para si e a apertando em um abraço. Ela passou os braços pela cintura dele e apoiou a cabeça em seu peito malhado, enquanto ele fazia carinho em seus cabelos. Depois de um tempo, empurrou para frente, fazendo-a olhar em seus olhos. O garoto limpou as lágrimas de suas bochechas macias e deu um beijo na cabeça dela. –Vamos para casa?
Ela murmurou um sim, encostou-se ao banco do carro e dirigiu de volta para a April Hall. Ele não falou nada o trajeto inteiro, a fim de dar espaço a ela. Só deixou uma música bem baixa tocando no rádio. olhou pela janela e pensou no erro que tinha cometido confiando em . Ela devia seguir seu princípio de primeiras impressões: Se não me impressiona da primeira vez, nem tente mais. Isso valia com garotos e garotas. O primeiro encontro das duas não foi bom e ela devia ter esquecido aquela idiota quando saiu da April Hall, no mesmo dia. Mas estava tão interessada em fazer parte de alguma coisa naquele lugar que não se importou. Que idiota.
Quando chegaram, foi com até seu quarto. Não havia mais de quinze pessoas dentro da casa: os que cansaram da festa, os que tinham muito dever, os que estavam desanimados para ir, os que estavam doentes e os namorados que queriam ficar sozinhos.
Ele insistiu em esperá-la do lado de fora de seu quarto até que se trocasse. Ela vestiu uma grande blusa de veludo que tinha e uma calça jeans meio gasta. Ao abrir a porta para , reparou novamente em como ele estava bonito e os cantos de sua boca se curvaram para cima num sorriso singelo.
-O que foi? –ele disse dando um sorriso doce e fechando a porta.
-Nada. –ela foi até ele bem devagar. quase prendeu a respiração com a surpresa. Ela se esticou toda e o abraçou forte. Aproximou sua boca do ouvido dele e abaixou o tom de voz. –Obrigada.
-Não foi nada. –a voz dele saiu meio grossa, sem querer. A vontade que ele tinha era de beijá-la, mas sabia de toda aquela história com e .
Já estava tarde. Ele sugeriu que os dois assistissem a um filme na sala de cinema, mas a menina quis que ficassem ali mesmo. Deitada em sua cama com a cabeça apoiada no ombro do garoto, sentia-se confortável, os pés meio enrolados nos lençóis e esbarrando nos dele vez ou outra. não prestava atenção no que acontecia dentro daquela tela porque tinha plena consciência da proximidade dos dois. Ela era linda, e parecia nunca ficar menos bonita ou desajeitada. Desde que fora ao seu quarto procurando por ele tinha visto algo nela. E queria muito explorar mais aquilo, colar seus lábios nos dela para descobrir como seria o gosto daquela boca estampada em seu rosto bonito. Porém, deteve-se, limitando-se apenas a passar os dedos pelos cabelos sedosos da menina. Ela se ajeitou, aproveitando o carinho para depois quebrar o silêncio:
-Você não está prestando atenção no filme.
-Tem algo me desconcentrando.
entendeu o recado e tirou a cabeça de seu ombro, posicionando o rosto na altura do dele. O garoto já não estava podendo mais resistir à tentação e naquele momento não conseguiu fazer outra coisa, senão o que queria. Ele a puxou pela mão de uma forma não muito delicada, fazendo-a arregalar os olhos com o gesto. Quando encostou seus lábios nos dela, foi como se voltasse a respirar. Como quando se está com muita sede e finalmente consegue beber água. Ela o beijou de volta e ele passou a beijá-la mais forte e com mais intensidade, querendo provar aqueles lábios macios e bonitos e quase em formato de coração. Os dois se beijaram tempo demais, mais tempo que pretendia. Ela então vacilou. Não gostava de daquele jeito e ainda estar tentada a conseguir ficar com . Estava quase conseguindo.
Ele entendeu a deixa. Levantou-se e calçou seus tênis.
-Você não precisa ir embora. – se sentiu culpada.
-Acho melhor eu ir. –ele custou a dizer.
Quando saiu, fechou a porta com força, como que querendo quebrá-la. encarou a maçaneta, sua mente trabalhando para assimilar a situação. Droga.
*
sorriu para . Precisava admitir: aquele lugar com nome estranho era divertido. Quando ele a encontrou lá e viu seu vestido marrom tomara que caia, agradeceu a Deus por ela estar usando algo que mostrasse seus amigos. era bonita demais.
Os dois dançavam no lado esquerdo da pista de dança, e exatamente no lado oposto estava e David. Ela pareceu surpresa ao vê-lo com , mas ele não deixou aquilo o abalar. Já que estava com , iria aproveitar sua presença. A garota também estava se divertindo. era muito bonito e engraçado, apesar de ser meio atrevido, só que ela gostava disso. Mas o mais divertido foi o momento em que Angel contou para ela que o plano das duas tinha saído muito bem, melhor que o esperado. E ela ainda conseguiu ficar com o gostosão do , do jeito que a pediu. Talvez assim esquecesse , sabia muito bem que Angel gostava dele. Infelizmente ela tinha chegado à festa depois do fiasco de , mas ficou feliz só de saber o que tinha acontecido.
-Quer sair um pouco para beber alguma coisa? – perguntou. Ela concordou, os dois estavam dançando há um tempão e ela estava com muita sede.
e sentaram-se em uma das mesas da varanda, um pouco afastados do barulho. As mesinhas iluminadas por velas davam um tom mais íntimo ao local, e o vento fresco que bateu em seu rosto foi mais que bem-vindo. Ele pediu dois coquetéis para o garçom que passava por ali.
-O que está achando da festa? – perguntou apoiando seus braços na mesa.
-Legal. –ele respondeu, passando os olhos rapidamente pelo colo da menina, para depois focar novamente em seu rosto. –Gostei das músicas.
-Prepare-se, pois vai ser assim pelos próximos anos em que você estiver na faculdade.
-Então estarei vivendo no Paraíso. –ele estalou a língua, fazendo-a sorrir. apareceu de mãos dadas com seu namorado, bem na frente dele. Ela deu um sorriso incrivelmente falso e exclamou com a voz enjoada:
-, que coincidência!
-Não é? –ele disse entrando na dela. –E então, esse é o seu cara do dia?
-Não seja bobo. – riu, mesmo que aquele comentário quase tenha estragado tudo. –Então você veio acompanhado. Meu nome é .
- . É um prazer. –ela se apressou em dizer. notou que a voz da garota também estava meio estranha. Qual era a das meninas, que precisavam sempre forçar uma voz chata para passar por momentos assim? A garota à sua frente estreitou os olhos escuros. Pelo o que sabia, era a ex-namorada de . –Oi, David.
-Oi, . –David foi curto, para dirigir seu olhar a , querendo uma explicação.
-David, como sabe, esse é . – disse. –, eu acho que conhece o David.
-Na verdade, não. –ele fingiu admiração. –Vocês formam um casal bonito.
-Obrigada.
-Por que vocês dois não se sentam conosco? – perguntou. Ah, . a encarou, um sorriso sacana cruzando o rosto quando se deu conta de que a menina gostava de uma confusão.
-Oh. – pegou o pulso de David, começando a se afastar. –Não, acho melhor não.
-E por que não? – provocou, fixando os olhos nos da garota, esperando uma resposta nos segundos em que se seguiram. Ela não gostava quando ele a olhava por tanto tempo, sentia-se bastante desconfortável. Desviou o olhar dele para o namorado e o menino reparou no jeito carinhoso como ela encarou o garoto ao seu lado.
-Tudo bem pra você?
-Claro.
Os dois pegaram mais duas cadeiras e se sentaram do outro lado da mesa, de modo que ficou ao lado de e ficou ao lado de David. O garoto sabia que a última coisa que ela queria fazer era se sentar ali com ele, porém não iria deixar que percebesse sua insegurança.
-O que você quer cursar, ? – perguntou depois que todos já tinham pedido. Um garçom colocou os dois coquetéis que pediu em cima da mesa. Ela deu uma bebericada em seu copo e deu o de para ele. –Gostou?
-É ótimo. Bem que você disse. –ele deu uma piscada rápida para ela, um movimento que foi pego por no exato segundo em que foi feito. –Você tem bom gosto para tudo, garota.
segurou o riso, sabendo que uma garota só seria chamada assim por ele nas duas ocasiões a seguir: ou porque não se lembrava de seu nome, ou porque ele realmente gostava dela, e usava esse modo carinhoso para chamar as meninas que estimava. Normalmente não o faria, porém ao ver ali com seu namorado, achou que seria o momento perfeito para estrear o apelido. sorriu, mas não se deixou enganar: sabia que aquele show todo era só para irritar a ex-namorada.
-Eu gosto de biologia. – respondeu, os olhos brilhando. Era de se admirar a paixão da garota, e todo mundo sabia que esse seria o caminho que ela seguiria logo antes da mesma se dar conta disso. Foi o primeiro a sugerir que tentasse algo nessa área, e pareceu a ideia perfeita.
-Para ser bióloga, não é? –ela soltou um riso com deboche. –Porque se quiser ser professora, querida, sinto muito.
-Na verdade, eu não tinha pensado nisso antes. Seria algo muito legal e gratificante. É uma profissão muito bonita.
David sorriu encantado. Era bom para ele saber que não era como , que ficava pensando em dinheiro o tempo todo até a morte. trincou os dentes.
-Mas não dá dinheiro, bobinha. –ela disse, se recuperando. –Não escolha uma profissão que não dê dinheiro. Você não quer viver à custa dos outros, quer? Eu pessoalmente acho isso uma falta de vergonha. É bom ter seu próprio dinheiro.
David não gostava dela. Eles vieram da mesma escola e ele aprendera a lidar com ela, mas não era sua pessoa preferida no mundo. Ainda mais porque ela trazia lembranças de sua antiga namorada, Samantha, onde as coisas não acabaram muito bem. E era irônico para ele ouvi-la dizer que não é legal viver à custa dos outros quando ela mesma nunca sujou as mãos em nada, sempre teve o que queria no momento que queria, nunca precisou trabalhar na vida, tinha uma mansão e milhões de empregados ao seu dispor.
-Eu sei que sim. – concordou, nunca perdendo sua compostura. Ela podia odiar com todas as forças, mas se tinha algo que ela havia aprendido com ela era isso. Nunca perder a pose, mesmo que por dentro você esteja explodindo. Isso enlouquecia as outras meninas. –Eu só acho que não seria uma má ideia. É claro que não ficaria rica com esse emprego, por mim não tem importância. Não sou daquelas que só se importam com dinheiro.
-Eu posso ver. – apoiou os cotovelos na mesa novamente, sorrindo de um jeito meio sinistro. ficou com medo de ela falar algo que magoasse , coisa que não era tão difícil assim de acontecer. –Você é muito jovem ainda, não tem noção de como são essas coisas. Quando for mais velha provavelmente vai entender que a vida é um pouquinho mais dura do que se imagina.
-, por favor. –David estava de saco cheio. –Pare de falar como se fôssemos tão mais velhos. Não duvido nada que você saiba menos dessas coisas que ela, já que tem tudo o que quer desde sempre.
A garota sorriu por ele defendê-la. Olhou para , que parecia estar em outro mundo enquanto olhava para a mesa de madeira. Ela se irritou. Ele podia muito bem vê-la com seu novo namorado e sentir ciúmes, podia muito bem implorar para ela voltar com ele, mas não. O garoto só sabia ficar olhando sem expressão nenhuma para uma droga de mesa de madeira, enquanto ficava ao seu lado procurando briga com quem não queria.
entornou o conteúdo do copo na boca rapidamente, enquanto já ia pedindo mais um para o garçom. Ela se aproximou de e sussurrou algo em seu ouvido, fazendo com que o garoto risse. assistia àquilo tudo atenta e com os olhos cheios de frustração. Enquanto ela tentava fazer ciúmes em e não conseguia, ele não estava nem tentando e estava conseguindo.
-E você, ? –David perguntou. levantou os olhos bem devagar. De todos na mesa, ele era o mais calmo, por incrível que pareça. –O que quer cursar?
-Cara, eu ainda não sei. –ele deu um sorriso amarelo.
-Não se preocupe, você vai logo saber. Eu também demorei um tempo para saber o que queria, mas agora que sei gosto do que estudo.
-Espero que seja assim comigo. – se endireitou. –Meu pai é dono de uma empresa de carros, e ele me obriga a trabalhar para ganhar experiência. Então mesmo que eu decida algo que não é para mim, pelo menos ainda vou ter um emprego garantido. Quem sabe quando meu pai vier a falecer, o que eu espero que ainda demore muito, eu assuma seu lugar.
-Seu pai é Nicholas ? –David perguntou com um sorriso esperançoso. inclinou a cabeça e fez que sim. –Meu pai é Lucas Grenwood.
-Você é filho do Lucas? – deu uma gargalhada. Os pais dos dois eram praticamente irmãos. –Cara, como nunca nos conhecemos antes?
-Eu não sei. –David estava animado. –Que coincidência!
engoliu em seco. Era só o que faltava.
Ela começou a ficar desesperada. A última coisa que precisava era de seu ex-namorado e seu atual namorado ficassem amigos. Como não sabia mais o que fazer, puxou a cabeça de David para perto de si e lhe deu um beijo, mais espremendo sua boca do que qualquer outra coisa. Ele ficou sem respirar e logo se afastou e olhou para ela como se estivesse doida. Ela apertou os olhos com força. Quando os abriu, desejou não tê-lo feito. Pareceu então que era a hora do beijo. já estava em cima de , beijando-o de um jeito como se quisesse engolir a língua dele. E retribuía. Não com a mesma empolgação que ela, mas não importava, porque ele retribuía. A mão direita dele estava apoiada no braço dela e a outra mão repousava no colo dele. então entendeu. O garoto não tentava fazer ciúmes em nela. Muito pelo contrário, ele não estava forçava nada. Estava tranquilo, e ela não. não tinha que provar nada para ninguém, só estava lá se divertindo.
Ela olhou para David, que lhe lançou um sorriso reconfortante. Tentou ficar calma, mas não conseguia. Era para ser o contrário, era para ele estar com ciúmes, e não ela. Mesmo que concordasse que aquilo era infantil de sua parte, não podia evitar. A raiva tomou conta de seu corpo e pensou em ir embora. Foi aí que os olhos de e se encontraram. Ele deu um meio sorriso, aquele que sempre dava quando estava prestes a beijá-la, e o coração dela se despedaçou. Ela respirou fundo. Não podia deixá-lo ganhar aquele jogo numa boa.
-David, você quer dançar comigo? –perguntou, sussurrando em seu ouvido. dessa vez os observou. observou .
-Tudo bem. –David pegou na mão dela.
-Vocês nos dão licença? – perguntou, o sorriso grande de volta no rosto.
-É claro. – falou com doçura na voz.
Os dois se levantaram e foram dançar, sentindo o olhar do garoto preso nos dois. Ela estava linda e dançava com David. Ele tinha sacado desde o momento em que ela se sentou na cadeira que tentaria fazer ciúmes nele. Por isso, fingiu nem estar prestando atenção. Decidiu não fazer nada. Nada mesmo. E olhe como ela ficou louca da vida.
Mas não precisava se preocupar. Porque a tentativa dela de fazer ciúmes tinha funcionado melhor que ela sequer imaginaria. sabia tão bem daquilo que agradeceu a si mesmo por ter autocontrole.
sorriu para Marcus. David, seu colega de quarto, apresentou os dois e eles acabaram ficando amigos. Era a pessoa da April Hall com quem mais conversou até aquele momento e ele estava sendo muito gentil apresentando-o para seus amigos. Marcus e seus amigos estavam sentados em uma mesa de pôquer perto da pista de dança. Eles jogavam há umas duas horas, mas o jogo estava tão bom que ninguém queria sair dali. Quando o novo amigo contou para ele o que tinha acontecido com , ele ficou preocupado. Queria falar com ela, perguntar se estava tudo bem. Do jeito que a conhecia, sabia que devia estar doida na casa dela ou na April Hall. Marcus disse que todo mundo ficou indiferente, que não tinha passado tanta vergonha assim como ela devia estar pensando, mas ele sabia que ficaria doida.
O que mais o assustou foi que a menina não fez nada. A que conhecia com certeza teria dado um jeito de dar a volta por cima e impressionado todo mundo. E quando ela foi ao seu quarto mais cedo, fez uma confusão na cabeça dele. Estava confuso demais para conversar com ela ou com .
-Rodada das meninas! –Dylan Morse gritou ao seu lado.
-O que é a rodada das meninas? – perguntou.
Antes que Dylan pudesse responder, várias universitárias vieram à mesa de pôquer e começaram a dançar ao som de uma música eletrônica, e ficou perdido.
-Elas foram desafiadas. –Dylan explicou, se virando para . –Se quiser alguma é só gritar o número que está na blusa delas. Eu acho que quero a Ciara, a número oito. Qual você gostou?
Ele olhou para as meninas dançando. Elas mexiam o corpo com tanta força que o garoto se espantou. Achou um absurdo aquelas garotas se oferecerem daquele jeito, mesmo que fosse apenas uma aposta.
-Nenhuma delas.
-Como assim, cara?!–Cody Duncan praticamente berrou. –Olhe quantas meninas estão dançando. Jenna Rose, Giuliana Marshall, Amy Kiera, Brittany Nuss! Como pode não querer nenhuma delas?
-Só pode ser doido. –Hugo, primo de Marcus, falou sem tirar os olhos da bunda de Amy. –Ou gay.
-Você é gay, cara? –Marcus perguntou. –Eu não tinha percebido.
-Eu não sou gay. – começou a rir. –Só acho isso idiota. Elas parecem desesperadas.
-Elas foram desafiadas. Aliás, você sabia que isso aconteceria. –Cody disse. –Se não, não teria entrado no jogo dos solteiros.
-Eu não... – enfim entendeu. Ele estava jogando há tanto tempo que não sabia que tinham mudado de jogo. E como não notou ninguém saindo da mesa, ficou onde estava.
-A melhor parte. –os olhos de Marcus brilharam.
As meninas saíram da mesa. Cada uma podia chamar quem quisesse para dançar durante cinco minutos, ou os meninos podiam chamá-las para dançar. Ninguém podia recusar. Antes que alguém pudesse fazer alguma coisa, Brittany chamou . Ele pensou em dizer que tinha namorada, mas não levou tão a sério. Era só uma dança.
Brittany tinha cabelos loiros que iam até a cintura e seus olhos castanhos brilhavam de forma cativante quando ela sorria. Seu corpo era cheio de curvas, que eram acentuadas por uma calça de couro que estava usando. Os dois começaram a dançar e o garoto se animou. Ela não tirava os olhos dele, enquanto ele olhava para a multidão de pessoas, distraído.
-Meu nome é Brittany. –ela disse esticando a mão para ele.
-. –ele pegou a mão dela e a girou, fazendo-a sorrir.
Como um imã, ele sentiu alguém olhando para ele. Quando se virou, levou um susto. estava do outro lado da pista de dança com . Ela olhava para ele de um jeito muito provocante, atento. Como se estivesse prestes a atacar a qualquer momento. Ela olhou de para Brittany, como que querendo uma explicação. Sem nem saber ao certo o motivo, ele ficou com raiva. Tudo bem, estava dançando com uma menina. E daí? Ela também estava dançando com um cara, e não era por isso que iria ficar na cola dela. Achava que os dois já tinham passado daquela fase.
conversava com um amigo enquanto ainda observava o namorado. Brittany estava concentrada em , então nem percebeu a pequena confusão que se formava ali. fez que ia falar com ele, mas antes que pudesse começar, sacudiu a cabeça. Não podia falar com ela naquele momento. Ela pareceu surpresa, mas depois se virou e simplesmente voltou a dançar. Ele também se surpreendeu com a naturalidade dela, mas se estivesse virada de frente para onde estava veria que estava com lágrimas nos olhos.
-Por que você aceitou fazer isso? – perguntou para Brittany.
-Eu perdi uma aposta. –Brittany respondeu sorrindo. Seus olhos brilharam. –Apostei com Marcus que ficaria sem estudar na Semana das Festas. Sabe quantas pessoas se lembram do que são aulas durante esses dias?
Ele fez que não, e ela continuou:
-É quando os calouros entram para a April Hall e nós fazemos todas as festas. Todo ano acontece. E quase ninguém estuda direito. Mas eu não consegui, tenho que garantir uma boa nota.
-Então você é do tipo estudioso? –ele estava surpreso. Quando a viu dançando, pensou exatamente o contrário dela.
-Na verdade, eu sou do tipo que tem pais rígidos.
Ele concordou com a cabeça.
-Então não foi uma aposta justa.
-Sei que não. Marcus disse que sabia que eu não poderia ficar sem estudar, por isso perderia. Ele disse que me queria dançando na mesa, então queria que eu perdesse.
-Mas por que você aceitou isso?
-O garoto pode ser bem insistente às vezes. –ele deu de ombros. –Está tudo bem. Se estou aqui conversando com você, então acho que valeu a pena.
ficou corado. Um ato involuntário que ele não podia evitar. E que acontecia muito quando o elogiavam.
-Cinco minutos! –ele escutou alguém gritando. Brittany olhou para ele com um sorriso desapontado e os dois voltaram para a mesa de pôquer.
A menina sumiu de vista e ele olhou para os meninos, que estavam meio desarrumados. Pelo jeito foi o único que não tinha aproveitado tanto assim.
-Brittany te escolheu, cara. –Marcus deu um soco de leve no ombro dele. –Foi bom?
-Só dançamos. –ele deu de ombros.
-Você teve a chance de beijar Brittany Nuss. Não beijou por quê?
-Eu tenho namorada, Marcus. Acho que nunca te falei isso, mas o nome dela é .
- ?
-Sim. Você a conhece?
-Ela veio à festa de hoje com .
-Ah, veio? – pigarreou. Então sua namorada ficava irada quando o via dançando com uma garota durante cinco minutos e brigava por ele ter uma amiga chamada . Mas ia à festa com outro cara? Que lógica era aquela? –Eu vou sair do jogo.
-Não, você não pode sair.
-Claro que posso. Estou saindo agora mesmo.
-E aonde vai?
-Procurar minha namorada.
*
Danny finalmente tinha parado de conversar com , que achou que ele não ia embora mais. O menino chegou com um papo de futebol, e até aí tudo bem. Mas depois Danny começou a pedir conselhos sobre uma garota que estava gostando, e teve que ajudá-lo. Eles eram velhos amigos, e mesmo que estivesse contando os segundos para Danny ir embora, tinha esse princípio de sempre ajudar os amigos quando se tratava de garotas.
-Ele é bem empolgado. – comentou rindo. Ela dançava ao seu lado por horas, e ele não queria ir embora de jeito nenhum. Podia dançar a noite inteira com aquela garota linda.
queria ir a um lugar onde pudessem ficar a sós. Já que não estava lá para manter ocupado, ele podia decidir ir atrás da namorada a qualquer momento. O que era meio improvável, já que os dois estavam brigados. Mas podia acontecer.
Queria conversar com para entender o que tinha acontecido. Ficou chocado ao vê-la aparecer daquele jeito. O pessoal estava meio indiferente em relação ao acontecimento, mas alguém tinha que dizer aquilo para ela.
-Até demais. – deu um sorriso e respirou fundo. –Você deve ter ficado contente por ter visto com uma fantasia de gatinha no meio de todo mundo.
-Acredite se quiser, mas não. –ela disse olhando em seus olhos.. –Eu fiquei com pena dela. Sei o quanto a April Hall significa para ela.
-Você sabe? Como?
- já havia me contado ano passado, antes dela começar a gostar dele. – e nunca foram muito amigas, mas há um ano atrás elas não se odiavam. As duas simplesmente não interagiam uma com a outra. Só quando era extremamente necessário. –Mas ela vai superar isso. É chato admitir isso, mas sei que ela vai. A garota passa por cima de tudo.
se sentiu bem quando ouviu aquelas palavras, não porque eram coisas boas ditas sobre sua mais nova amiga. Mas porque era honesta e tinha um coração grande. Deveria odiá-la e achar que a garota que estava tentando roubar seu namorado merecia muito mais. era perfeita.
passou as mãos na cintura dela e eles começaram a dançar algo meio improvisado, no ritmo da música que tocava. Ele a conduzia com muita agilidade, e sabia o que estava fazendo.
Quando a Sra. era mais saudável, levou a menina para aulas de dança de salão, perto da casa dos . Todo dia elas acordavam às oito da manhã e iam para a aula. gostava muito de ficar com a mãe de , porque ela não era como uma sogra, era como uma amiga, uma tia que tinha. Assim que ficou boa na dança, as duas se inscreveram em um campeonato. A mãe de ganhou, ela já dançava desde os doze anos. Mas isso não diminuiu a determinação de . Quando a Sra. foi ficando doente, não pôde mais ir às aulas com sua nora.
Foi aí que a garota se inscreveu no clube de teatro da escola, onde podia praticar tudo que sabia. Ela então gostou, e só precisou sair porque tinha chegado no último ano, e ficar no clube de teatro atrapalharia seus estudos.
-Vamos jogar o jogo das cinco perguntas. – disse. –Você faz cinco para mim e eu faço cinco para você.
-Tudo bem. – sorriu, surpresa com o convite. Os dois ainda não tinham parado de dançar.
-Primeira pergunta. Qual é a sua banda preferida?
-Coldplay. – disse. –Mas você já sabia. Gastou uma pergunta atoa.
-Droga! – suspirou. –Qual lugar do mundo você gostaria de conhecer?
-Hmm... Sempre quis ir para a Disney.
-Eu não acredito que disse isso.
-O que? – riu. –Não posso querer ir para a Disney?
-Que coisa mais boba, .
-Mas é a verdade, me desculpe. Próxima pergunta.
-Que decepção. –ele riu. –Quem foi seu primeiro amor?
-Daniel Reynaud. Eu tinha oito anos. Obviamente não estava apaixonada por ele, tinha só oito anos. Mas nós éramos namoradinhos. Fazíamos tudo juntos.
-Vocês se beijavam?
-Claro que não, ! –ela girou os olhos. –Depois dessa, você só tem mais uma pergunta.
-Não, eu ainda tenho duas. Eu te perguntei sua banda preferida, o lugar que você queria ir e seu primeiro amor.
-E se nós nos beijávamos, o que foi algo imbecil para se perguntar.
-Isso não contou como pergunta!
-É claro que contou, por que não contaria?
-Porque... Ah, isso não é justo.
-O mundo não é justo, . Última pergunta.
-Quem é a pessoa que você mais admira? –ele prendeu a respiração. Se ela dissesse que era , ele teria um ataque do coração.
-A Sra. . Mãe do . É uma pessoa muito especial. Não tem uma saúde muito boa recentemente por causa de um derrame cerebral que teve há alguns anos atrás, mas ainda assim ela é...
-Especial?
-Isso. Especial. –os olhos de coçaram. Ela nunca tinha dito aquilo em voz alta, e ao dizer percebeu como ela gostava da Sra. .
passou a mão com delicadeza pelo cabelo dela.
-Venha à sacada comigo. –ele disse. –Meus pés estão doendo.
-Tudo bem.
Os dois foram até o bar e se sentaram em uma das mesas de madeira espalhadas pela varanda. Eles pediram dois refrigerantes, e deu início ao seu ciclo de perguntas.
-Qual é a sua comida preferida?
-Pizza. Com certeza. –ele sorriu com a expressão de tédio que ela fez. –O que?
-Depois eu sou a clichê.
-Você é clichê sim. Gostar de pizza não é ser clichê, pizza é uma comida que todo mundo gosta, ninguém não gosta de pizza. Não tem explicação.
-Tá bom. Qual é a coisa mais legal que você já fez por uma garota?
-Ah, essa é boa. No dia do aniversário dela, nós fomos a um cruzeiro. Eu paguei. Nos divertimos muito. Estávamos dançando e um barco passou perto do nosso, e de onde estávamos era possível ver que todos estavam de vermelho e com um cartaz escrito “Eu te amo”. Foi aí que eu contei que era tudo um plano meu e perguntei se ela queria ser minha namorada.
-Nossa. –a garota parecia chocada. –Que lindo. Ela aceitou?
-Não.
-Não? Por quê? Que tipo de idiota não aceitaria, depois dessa?
-Bom, na verdade eu não era muito o tipo dela.
-Como?
-Nem eu e nenhum outro homem do mundo.
arregalou os olhos. Ela não pôde segurar o riso, e aquilo fez com que risse também.
-Me desculpe. –disse bebendo seu refrigerante para tomar fôlego. –Não pude evitar.
-Está tudo bem. Comecei a rir na hora também, ela era minha amiga há um tempão e disse que achava que eu soubesse, já que andava tempo demais com as garotas e nós ficávamos conversando sobre qual era bonita, qual era engraçada... Eu achava que ela estava só me ajudando a achar uma namorada, mas provavelmente aproveitava para achar uma para ela também.
-Sinto muito.
-Não sinta. Somos amigos até hoje, mas ela não mora aqui.
-Tudo bem, próxima pergunta. Seus olhos são realmente dessa cor ou você usa lente?
-São dessa cor, claro. Por que está me perguntando isso?
-Sei lá. São azuis demais.
-Obrigado?
-Não se preocupe, foi um elogio.
-Ah! –ele ficou satisfeito. –Obrigado, então.
-De nada. Você já fez algo muito ruim a um amigo?
gelou. Não podia contar para o que tinha feito com , quando quase dormiu com . Mas também não queria mentir para ela. Se contasse, ela poderia não confiar mais nele e aquele podia ser o fim do que podia começar entre os dois.
-Não. Que perguntas são essas?
-As primeiras que vem nos meus pensamentos. A última agora. –ela pensou um pouco. Tinha uma coisa que queria muito perguntar para ele, mas seria ruim ficar insistindo naquilo quando ele já dissera que não se meteria entre ela e . –O que rola entre você e ?
A pergunta saiu da sua boca antes que ela pudesse perceber o que perguntou. Não sabia por que tinha perguntado aquilo, mas quando ouviu suas próprias palavras, percebeu que queria mesmo saber.
sorriu. Então estava interessada na vida amorosa dele. Aquilo já era um avanço.
-Quando foi para a April Hall ela errou o quarto e foi parar no meu. Então ficamos amigos, eu não poderia ser mais nada dela.
-Por que não?
-Dois motivos: Não quero. E o outro você não pode contar para ninguém. Acho que gosta dela, ele não admite, é do tipo misterioso, não gosta de se abrir muito quando se trata de garotas, mas acho que gosta.
-Sério?
Aquilo podia muito ser verdade. Porque talvez assim ela saísse do pé de .
-Sim. Suas perguntas acabaram. Foi legal jogar com você.
-É isso? Está me dispensando?
Os dois riram.
-Acredite, eu não estou. Na verdade se tem algo que eu quero é você por perto.
sorriu para ele, sem saber o que dizer. Mas para seu alívio – ou desespero –, chegou naquele exato momento. olhou para ele e desejou dar um empurrão e mandá-lo para longe.
-, podemos conversar? –ele perguntou.
-Estou meio ocupada agora. – disse, e ao mesmo tempo se arrependeu.
-É importante.
-Tudo bem. – disse se levantando. Ele deu um beijo na bochecha de e saiu. era um idiota, e não merecia a .
De longe pôde observar o que os dois faziam. a levou até a porta, pegou os casacos dos dois e eles saíram. Uma raiva passou pelo corpo de .
Ele não podia deixar que ganhasse aquilo.
*
David não queria ir embora daquele lugar porque gostava de ficar com , mas o que tinha acontecido realmente o incomodava. Todos já estavam indo embora e não demoraria muito para que o sol começasse a nascer.
Ele ignorou completamente o fato de ter conversado com o ex-namorado da garota e de os dois terem se dado bem, mas não conseguia se concentrar direito depois das três trombadas “sem querer” que sua namorada deu em . O que ela estava pensando, que ele não veria? Toda vez que surgia perto dela, ela começava a ficar nervosa e desconfortável. Sabendo da história deles, como poderia levar aquilo numa boa?
David disse que esperaria, disse que se quisesse pensar melhor, tudo bem. Sabia que estava machucada por dentro ainda, que se não estivesse pronta para um relacionamento tinha que dizer. Não foi preciso muito tempo perto daquela menina para que soubesse que poderia realmente gostar dela. O jeito como se sentia quando estava ao seu lado era quase como se a conhecesse sua vida inteira.
Os dois seguiram a multidão de pessoas que saíam. Enquanto vestia seu sobretudo, ele começou a pensar em como falar aquilo para ela. Era complicado dizer algo que não queria para alguém que se importava muito.
-A noite foi boa.
-Foi boa. –a menina olhou para ele e lhe deu um sorriso reconfortante que o fez vacilar um pouco. Se ela não fosse tão bonita... Eles caminharam em silêncio pela calçada até chegar ao carro dele. –Me desculpe pelo .
-Como assim?
-Bom, ele ficou dizendo coisas inconvenientes e acho que estava tentando fazer ciúmes em mim. – respirou fundo. –Ele não me esqueceu.
David suspirou. O pior é que sabia que ela acreditava em suas palavras, não era como se estivesse mentindo. Não sabia se o menino a esqueceu ou não, e não se importava, contanto que não lhe fosse dado algum motivo para se preocupar. Analisou o rosto dela, resistindo à vontade de esquecer tudo e puxá-la para si, só pra poder afundar seu rosto naquele pescoço delicado e fazer carinho nela. Tirou aqueles pensamentos da cabeça, tentando manter o foco.
-Para com isso. –ele parou de andar abruptamente, fazendo-a parar também. –, a única pessoa que você está enganando é a si mesma.
-Do que está falando?
- não estava tentando fazer ciúmes em você, nem te olhava direito porque sabia que eu estava ali, que sou seu namorado agora e foi certo da parte dele se comportar assim. Ele foi muito simpático, disse o que queria da vida dele e foi sincero. Você foi? Quer dizer, você está sendo?
-Eu nunca menti para você. Tudo o que precisa saber sobre mim você sabe. –ela disse meio chocada com as palavras dele. –Por que está dizendo isso?
-Quando viu que eu estava começando a me dar bem com seu ex-namorado me deu um beijo só para... O que está tentando provar? Quer deixá-lo com ciúmes? Está me usando para isso?
-Não. O que acharia se eu me tornasse amiga da sua ex-namorada? Com certeza não seria agradável para você, seria?
-A questão não é essa. É claro que eu não vou tentar virar o novo melhor amigo dele, sei como isso seria desagradável para ele e para você. , e aquelas trombadas na ? Achou que eu não veria?
Ela olhou para baixo. Gostava de David, por isso não mentiria para ele.
-Você ainda não o esqueceu. Eu sabia disso no momento em que começamos a conversar, mas não sabia que gostava tanto assim.
-Não, eu já esqueci o ...
-Esqueceu mesmo? –David colocou as mãos na cabeça, como se o que ela falasse fosse um absurdo. –Acho que não. Não quero que fique comigo se gosta de outro. Ele também gosta de você, te olha do mesmo jeito que olha para ele, do mesmo jeito que Liz me olha.
-Liz? Sua amiga?
-Sim, já sabia que ela gosta de mim. Acontece que o que eu tenho com a Liz é algo diferente, só que isso realmente não vem ao caso agora. Você gosta de mim? Pelo menos se sente atraída por mim?
-É claro que sim! –os olhos dela se encheram de lágrimas, porque sabia que era verdade. –Me dê outra chance. Eu prometo que nunca mais olho para a cara do .
-Não farei isso. A questão não é essa... Como se sentiria se... –ele parou a frase antes de continuar. Olhava fixamente para o chão, tentando se acalmar. –Vamos terminar, eu preciso de um tempo. E acredito que você também.
-David, não faça isso.
-Desculpe.
Ele saiu correndo, deixando sozinha. Quando chegou ao seu carro, percebeu que estava ofegante. Não queria ter feito aquilo, mas não queria começar a gostar dela de verdade para depois descobrir que ela não sentia o mesmo.
Era maldade não deixá-la em casa, mas não conseguiria ficar no silêncio constrangedor do carro durante o trajeto de volta. Ele só queria sair de perto dela. Por incrível que pareça.
*
ficou vermelha de raiva. Ela precisava achar Angel rápido.
Estava tudo correndo bem, a não ser pelo fato de ter desaparecido a festa inteira. Quando Angel contou para ela o que tinha acontecido, ficou muito feliz por ter dado tudo certo. Passou o resto da noite com e seria a mais redonda mentira dizer que não gostou. Mas enquanto os dois estavam conversando com um dos amigos de , escutaram que foi o próprio quem tirou do Gentleman Club e provavelmente tinha ido embora com ela para a April Hall. não estava acreditando naquilo. Por isso, deixou conversando com o menino e foi procurar por Angel.
Ela a encontrou em um canto conversando com . Os dois estavam se despedindo dos amigos dela provavelmente para depois irem embora no carro de , já que Angel tinha ido com o motorista da família. Se a amiga dela estava achando que conseguiria alguma coisa, podia desistir. tinha respeito demais para fazer aquilo.
-Angel. – disse entre dentes. Suas unhas fincaram seu braço, fazendo-a dar um pulo e encará-la com os olhos arregalados. Ela sorriu afetadamente depois que seu movimento foi flagrado pelo garoto e logo tirou suas mãos de lá, fingindo que nada aconteceu. –Desculpe. Temos que conversar, é urgente. ?
-Claro. –ele disse. –Com licença.
-! –Angel disse e ele parou. Com um sorriso meio irritante brotando no rosto, continuou. –Pode esperar por mim lá fora?
Ele pareceu surpreso com a pergunta dela. É claro que estava. A falta de delicadeza da amiga era algo realmente chocante. Provavelmente não conhecia tantas garotas atiradas daquela forma, então quando se deparava com uma, era como se estivesse presenciando um absurdo. Depois, com um sorriso, respondeu:
-Tudo bem.
saiu andando para a sala dos casacos, e ela observou todos os mínimos movimentos dele com os olhos, os cantos da boca se curvando num sorriso mais do que satisfeito. girou os olhos com a cena.
-Ele é tão atraente. –comentou ainda olhando para onde o menino passou. –Sou com certeza a garota mais sortuda da noite. Nos beijamos, e foi tudo tão perfeito que eu nunca pensei que...
-Você fez tudo errado. –sussurrou. –Era para você distrair o .
-Eu sei, mas pense pelo lado bom. estava livre e lindo, então fui até ele. Quando estava em seu momento vergonhoso, ela viu nós dois e quase teve um infarto. Não sei qual foi melhor: ter ficado com esse homem maravilhoso ou ter visto a cara de perdida que a garota fez quando nos viu.
-Mas era para você ir distrair o , não o . O plano era fazê-la passar vergonha na frente de todo mundo e não deixar o sabendo, porque assim ele não falaria nada e ela acharia que estava com vergonha dela.
-Qual você acha que a irritaria mais: não dar a mínima ou me ver beijando uma das pessoas que ela mais gosta? Depois do que fizemos com ela?
-Você tem razão. Bom trabalho. Eu devia ter pedido para a Ashley distrair o . Se ele a levou para casa, então sabe que fiz isso. Que droga, o garoto deve estar irado.
-Boa sorte falando com ele. Agora se me dá licença...
-Espera, aonde você vai?
- está me esperando.
-Por que vai embora com ele? já viu o que precisava.
-Precisa de algum motivo? Quer dizer, você já deu uma olhada pra ele? Quero beijá-lo de novo e de novo.
-Como quiser.
achou no mesmo lugar que tinha deixado. Mas ele estava sozinho, esperando por ela. Olhou bem para ele: muito alto, e não tinha cara de ter a idade que tinha. Parecia um universitário, e não um veterano no ensino médio. Dessa vez foi fácil andar pela sala onde estava a pista de dança. Tinham poucas pessoas ali. Quando se aproximou o bastante, ganhou um sorriso.
-Você se divertiu?
-Eu me diverti muito, e você?
-Não consigo imaginar algo que não seja divertido com você por perto.
Ela tocou o braço do garoto, olhando diretamente em seus olhos num agradecimento silencioso.
-Minhas amigas me chamaram para ir embora com elas. Importa-se?
-De forma alguma. –o menino deu de ombros e inclinou a cabeça um pouco para o lado, um ar travesso cruzando seu rosto bonito. –Apesar de que isso acaba com as minhas expectativas.
-Expectativas?
a pegou pela cintura, demorando um pouco para quebrar a distância entre os dois devido ao prolongado olhar que a deixou desnorteada. se deixou ser puxada em sua direção, sentindo o perfume dele invadir suas narinas e aproveitou a sensação dos lábios macios em cima dos seus, pedindo espaço para mais sem muita delicadeza. Abriu a sua boca, mostrando realmente o que queria oferecer e beijou aquele garoto como merecia ser beijado, coisa que quis fazer desde que se viram pela primeira vez naquela noite. Passou as mãos pelos fios lisos dele, puxando-o para mais perto ainda sem discrição nenhuma, aproveitando aquela adrenalina que corria pelo seu corpo enquanto experimentava aquele sabor de licor. Quando decidiu que já estava bom – por enquanto –, puxou o lábio inferior de numa pequena mordida e escutou um riso gostoso vindo dele, barulho que a fez vibrar de empolgação. Trocou um último olhar e depois o observou ir embora.
*
Os detalhes da noite passavam como um filme na cabeça de . Era como se estivesse em um loop infinito, e parecia cada vez pior quando repetia em sua memória. Não era sua culpa, era impossível evitar, precisava rever todos os momentos para tentar acreditar que as coisas haviam chegado àquele ponto. E mesmo que estivesse cansada de saber o que aconteceu, nunca pareceria real.
Depois que o namorado a pegou de surpresa e pediu para que conversassem, a garota se sentiu um pouco melhor, pensando que as coisas finalmente se acertariam. Os dois vestiram seus casacos e foram para o meio-fio, em frente ao prédio de Gentleman Club. Estava gelado lá fora, e a surpresa que sentia pela atitude repentina do menino ainda a perturbava. Quando chegaram ao lado de fora, um medo percorreu a espinha dela. estava sério demais, seu olhar era severo demais para uma reconciliação. E ela que achou que tinha causado ciúmes nele e que presenciaria o maior pedido de desculpas de sua vida.
-Nós precisamos mesmo conversar. – disse num fiapo de voz. Tinha medo de brigarem mais ainda, porém não podia deixar que as coisas continuassem como estavam. Precisava que algumas coisas ali parassem imediatamente. –Eu...
-Não, . – a interrompeu. Sua voz estava meio estranha, e por isso a garota parou de falar imediatamente, arregalando os olhos e engolindo em seco. –Dessa vez você vai ter que escutar.
Ela ficou pensando se ele iria reclamar com por ter surtado com , ou se reclamaria com porque foi para a festa com e não com ele. Muitas acusações e xingamentos passaram pela cabeça dela. Enquanto o silêncio dele se prolongava, começou a criar uma conversa em sua cabeça. Obviamente, em sua cabeça, os dois acertariam as coisas entre si e parariam de brigar por causa de uma pessoa tão ridícula quanto a .
Na parte de seu sonho que eles iriam se beijar, seus pensamentos foram cortados pela voz de seu namorado.
-O que deu em você?
Antes que pudesse responder, ele continuou:
-, você está insuportável ultimamente. Tem surtado por cada mínima coisa, dito coisas horríveis sobre e queria fiscalizar a Brittany só porque ela estava dançando comigo na pista de dança mais cedo. Você ainda levou como seu acompanhante.
-Você participou do Jogo dos Solteiros.
-Eu estava jogando há um tempão, não sabia que eles tinham mudado para isso. Pode perguntar para Marcus ou para qualquer outra pessoa. Eu não queria escolher nenhuma daquelas meninas para dançar, mas Brittany me chamou e aceitei. É parte do jogo, foi só uma dança. Quanto a , ela sempre foi minha amiga e você nunca se incomodou com isso. Por que agora surtou?
-Antes ela não gostava de você.
-Pare com essa ideia ridícula de que ela gosta de mim. Por que isso importa?
-Você também gosta dela? – perguntou com a voz trêmula. Sabia que não queria ouvir a resposta, afinal, quem não gostava de ? Mas precisava perguntar, era melhor se soubesse de uma vez por todas. –Você se sente atraído por ela?
-Está vendo? O problema da nossa relação não é nenhuma. É você, . Fica tão irada porque acha que é ela quem está sabotando a nossa relação que não percebe que a única pessoa que está estragando as coisas aqui é você.
Com o silêncio, ele continuou:
-Você está diferente. Não estou mais reconhecendo minha namorada. Antes você costumava ser doce. Faz um tempão que nós não conversamos direito porque anda muito estranha.
-É claro que conversamos.
-Conversas rápidas, quando não estamos discutindo. E quer saber? Era para me apoiar por causa da minha mãe, do meu futuro, por qualquer decisão que eu fizer. Mas parece que a única coisa que sabe fazer é colocar defeito em tudo o que faço.
-Eu não...
-Coloca sim, . Nunca pensei que me sentiria sufocado enquanto namorássemos porque você era como o meu porto seguro, onde sempre pensei que ficaria mais feliz. Acontece que ultimamente por onde anda a única coisa que espalha é desconfiança.
-... Eu... Eu não confio em ... –ela já estava chorando. Não podia suportar ouvir aquela frase tão bonita a seu respeito sendo dita com o verbo no passado. Era assim que ele se sentia?
-Mas e em mim? Você confia ou não confia?
-Essa não é a questão.
-Essa é a questão sim. É em mim que você precisa confiar. Foi sempre assim, por que mudou?
-Eu não sei.
-Eu acho melhor... –ele respirou fundo e mexeu em seus cachos, o que fazia sempre que estava nervoso. Não era preciso muito esforço para perceber que o garoto estava uma pilha de nervos, e perceber isso só fez com que a menina se sentisse pior. Achou que não aguentaria até o final da conversa, seus sentidos começaram a se confundir. Havia mesmo um ponto brilhante atrás de ou estava ficando louca? –Eu acho melhor darmos um tempo. Até o mais para o final do ano. É melhor não nos falarmos por um tempo.
-Do que está falando? Está terminando comigo? –aquelas palavras soaram tão ridículas que quase soltou uma risada, se a situação fosse um pouco diferente. Acontece que não poderia ser verdade, os dois não terminariam.
-Não estou... Você entendeu. É um tempo.
-Você está gostando mesmo dela, é claro que está.
-Eu desisto.
bufou e saiu correndo para seu carro. ficou parada na calçada por uns minutos, processando tudo o que acabado de acontecer, esperando que o menino voltasse e gritasse Te peguei!, para que pudesse brigar um pouco com ele e depois desculpá-lo. Como ele podia dizer que ela era o problema da relação dos dois?
Não podia imaginá-lo com . Ela não podia pensar nele gostando dela. Havia a possibilidade de ele ter se enjoado dela? era uma novidade, e talvez o namorado só estivesse um pouco entediado. Os dois sempre foram tão unidos, a metade do outro. Apesar de não ter dito que queria terminar, ela sabia muito bem o que significava “dar um tempo”. E o peso daquelas palavras foi tanto naquele momento que lhe faltou ar para respirar. Não conseguia imaginar sua vida sem ele, nunca precisou fazê-lo e sequer considerou a possibilidade.
a encontrou na calçada e ofereceu uma carona. O carro dele cheirava ao perfume que tinha passado mais cedo. Ela se sentou no banco do carona e encostou a cabeça no vidro do carro, quase deixando as lágrimas escaparem. Não queria chorar na frente de para não assustá-lo, mas àquele ponto já não conseguia mais se controlar.
-Quer conversar sobre isso? –ele perguntou com delicadeza. a observou por alguns segundos e seus olhos azuis vidrados em fez com que ficasse culpada por começar a chorar feito uma louca dentro do carro dele. Ela balançou a cabeça negativamente, e o garoto assentiu com a cabeça.
Ele se inclinou para a direção dela e pegou um CD no porta-luvas do carro. Quando colocou no som, ela pôde escutar as primeiras notas de Violet Hill. Olhou para o menino ao seu lado com a testa franzida, e antes que pudesse perguntar, ele respondeu:
-É do meu irmão.
quase sorriu, grata pela delicadeza dele. Mesmo sem gostar da banda, ele colocou o cd só para que se sentisse melhor. Pelo menos se importava com ela e não a importunou enquanto ficava absorta em seus pensamentos pelo resto do trajeto. Às vezes começava a cantar alguma ou outra música, mas quando percebia o que estava fazendo, se calava imediatamente. ficava menos mal toda vez que aquilo acontecia.
Ele a deixou em seu quarto, e antes de ir embora instruiu:
-Qualquer coisa que precisar me ligue.
-Certo... –ela se inclinou e deu um abraço apertado nele. Começou a chorar novamente.
a pegou no colo e a carregou até a cama, fechando a porta atrás de si. estava péssima, e mesmo que ele tenha conseguido o que queria ficou mal por vê-la daquele jeito. Sinceramente, preferia a garota sorridente longe dele a miserável e solteira. Não valia a pena ter que olhar para seu rosto lindo e triste, marcado pelas lágrimas confusas que ainda não entenderam ao certo o que acontecia.
-Você... –ela disse em meio a soluços. –Você pode... Pode ficar aqui?
-Claro que posso.
Ele foi até a cama dela e deitou atrás de , passando os braços em volta de seus ombros. Enquanto não adormecia, sentiu o garoto mexendo em seus cabelos. Toda vez que a pele deles se encostava, sentia um choque que fazia com que sentisse vontade de se aconchegar mais nela, mas não o fez hora nenhuma. Naquele momento, estava deitada em sua cama. Os braços de ainda estavam ao redor dela, que ficou muita grata por tê-lo perto dela.
*
acordou com o despertador de tocando.
-Que droga é essa? –gritou, sua voz preenchendo todos os cantos do quarto. Levantou da cama num pulo. Seu cabelo estava preso em um coque e a maquiagem da noite passada ainda borrada em seu rosto. A raiva se apropriou de seus sentidos, só ela sabia o quanto odiava ser acordada. Parou em frente à cama de , que bocejava. –Você pode desligar essa droga?
A menina se moveu lentamente, como se estivesse embaixo d’água. Aquele movimento pareceu ter sido feito exclusivamente para irritá-la, pois bufou de raiva enquanto esperava a colega de quarto fazer o que pediu. Ela desligou o despertador, e o zunido no ouvido de cessou. Observou os olhos grandes de e girou os seus quando a garota os arregalou ao dar uma olhada em seu rosto.
-Nossa, você está péssima. –ela disse rindo.
-Eu não te perguntei nada. Não que seja da sua conta, mas não tive uma boa noite.
foi até o banheiro e limpou seu rosto na pia do banheiro. Depois se olhou no espelho: embaixo de seus olhos azuis tinham fundas olheiras e suas bochechas rosadas estavam inchadas.
-Eu reparei. – falou. –Aliás, você bem que podia me dar dicas de moda. Porque depois do seu mais inovador visual de ontem eu fiquei impressionada.
-O que acha de ficar calada? Não estou no ânimo.
-Não é só você que tem problemas. Eu também não tive uma noite boa, mas tento compensar tudo com humor.
-Se para você ficar feliz precisa caçoar dos outros, então eu preferiria ser triste.
-Não me venha com essa de boazinha. Você faz isso o tempo inteiro.
-Eu não faço isso.
-Faz comigo.
-Só porque você faz comigo também.
respirou fundo.
-O que deu você ontem?
-Me disseram que era uma festa à fantasia.
-Ah. Se te faz sentir melhor, ninguém reparou direito. Quer dizer, teve aquele momento em que você ficou congelada no meio da sala, mas depois disso ninguém riu nem nada. A vantagem de ser uma festa de faculdade é que o pessoal consegue ser mais maduro do que o pessoal da nossa escola. No máximo eles acham que você errou o endereço ou sei lá.
não acreditou. Ela concordou com a cabeça, mas não se convenceu. estava rindo dela na noite passada. Como não podia ter significado algo? Nunca passava vergonha, nunca errava o endereço e jamais, em toda a sua vida, errou a roupa num evento. Ter a primeira vez para uma dessas coisas sendo tão dramática com certeza faria com que ficasse traumatizada para sempre.
-Claro. –ela foi sarcástica. –Era por isso que você estava rindo feito uma louca ontem.
-Você achou que eu... – soltou um riso. –Eu não estava rindo de você, .
-Do que estava rindo, então?
-Isso é particular. –com o olhar desconfiado dela, continuou. –Meu namorado me disse algo... Não preciso repetir. Não tinha nada a ver com você, é particular. Quer dizer, meu ex-namorado.
-Nossa. Já foi para outro? Quanto tempo esse durou?
Com o olhar triste de para ela, se arrependeu de ter dito aquilo. Estragou completamente o momento legal delas. Elas tinham ficado quase cinco segundos sem querer matar a outra e aquilo já era um avanço.
-Desculpe.
-Ele terminou comigo. – olhou para baixo. –Disse que não queria namorar porque não quer se meter entre mim e o , que eu ainda estou apaixonada por ele.
-E você está? – perguntou. Ela hesitou um pouco, mas caminhou lentamente até a cama da outra e se sentou ao seu lado. As duas estavam achando aquele diálogo estranho, mas de certa forma era bom. Ambas precisavam muito de uma amiga. olhou de um jeito estranho para ela e assentiu com a cabeça. Não a culpava por não confiar nela. –Quando me trouxe para casa ontem, ele veio ao nosso quarto comigo. Nós nos deitamos e ele que eu me sentisse melhor para ir embora. Mas aí ele me beijou.
-Eu espero que não tenha sido na minha cama. –ela sorriu.
-Não se preocupe. – deixou escapar um sorriso. –Mas eu gosto do . Estou quase conseguindo ficar com ele e eu também gosto do , mas acho que não desse jeito. Ele é muito bonito e eu de certa forma sinto que estou segura perto dele, só que...
-Está confusa? Sei como é, também estou. Eu gosto do David como amigo. Sim, o garoto é lindo e é claro que existe uma atração, quero gostar como algo a mais, mas o ...
-Tudo bem. Você não precisa me contar nada.
respirou fundo e olhou para com uma expressão serena.
-Como foi que começamos a nos odiar?
-Quando você roubou meu namorado e ficou com ele por menos de uma semana.
-Ah. Desculpe.
-Eu já superei.
-Era meio frustrante ficar perto de você. Não deixa nada te derrubar, você transpira energia para todo lugar que passa. De vez em quando penso que é a pessoa mais decidida que conheço, e essa é uma qualidade que eu nunca vou ter.
-Uau. – começou a rir, e também. Nenhuma das duas tinha acreditado que ela tinha dito aquilo de verdade. –Não é bem assim. Acho que consigo ser assim porque a única pessoa que tento ultrapassar sou sempre eu mesma, entende? No fundo, essa é a verdade. É um dom e uma maldição. –ela brincou, jogando seu cabelo para trás e as duas riram.
-Isso é bem legal. Me desculpe por essas coisas... Eu nunca cheguei a te odiar de verdade. Tinha momentos que realmente sentia raiva de você, mas nada a ponto a desejar o seu pior.
-Eu também. Nós não precisamos ser amigas. Mas é bom saber que nenhuma vai tentar atacar a outra durante a noite.
-Vamos fazer um trato. – esticou a mão. –Vamos tentar conviver juntas sem brigar e sem fazer nada enquanto a outra estiver dormindo.
-E sem vinganças relacionadas a roupas, porque eu tenho muitas emprestadas das lojas. Tranquilidade. – pegou na mão dela.
Mesmo que nunca tivesse imaginado aquilo acontecer, ela não se importou. Era até mesmo um alívio. Voltou para a sua cama e apagou seu abajur.
-Vai faltar de aula? – perguntou.
-Estou cansada demais.
-Vou ver no treino depois da detenção. Quer ir comigo?
-Claro.
Ela assentiu com a cabeça e foi para o banheiro.
ligou seu celular e tentou ligar para , mas caiu direto na caixa postal. Ela suspirou, desejando muito poder falar com ele.
Lembrou-se do que tinha visto na festa. com Angel. Um mal estar atingiu seu corpo e sua cabeça começou a doer. Ela não suportaria os dois juntos. Queria muito falar com ele.
Pensou em todos os modos de convencê-lo a sair de perto dela. Adormeceu pensando em .
*
acordou com empurrões de seu pai. Ela abriu os olhos lentamente e a visão que teve foi do homem sorrindo de um jeito estranho. Os cabelos castanhos cacheados dele estavam penteados para trás e ele tinha feito a barba. Estava com um ar muito mais jovem, muito menos cansado do que tinha quando morava com a filha.
-O que foi? –ela murmurou cobrindo o rosto com a mão direita. Havia claridade demais naquele quarto, e sentia como se alguém tivesse ligado uma lanterna gigante diretamente em seus olhos.
-Levante, por favor. –ele disse. –Vamos fazer uma surpresa para Joane.
quase deu um soco na cara dele. Ele realmente a estava acordando às sete da manhã para que eles fizessem uma surpresa para a madrasta dela? Uma mulher fútil, esnobe e vulgar que tinha destruído o casamento de seus pais? E o pai ainda ousava ir até o quarto dela e pedir aquilo com a melhor cara do mundo?
-Vocês podem ir sem mim. –ela enfim escolheu palavras que não fossem rudes. Pensou em como seria passar um dia com sua família postiça, indo a coquetéis e lugares chiques com eles e um filme passou em sua cabeça. Evitou ao máximo contorcer seu rosto numa careta, e chegou a conclusão de realmente não era algo que queria participar. Aliás, seria até melhor para eles, ninguém para estragar a família perfeita. sinceramente não se importava, eles podiam ser perfeitos longe dela, desde de que tivesse seu celular em mãos para manter contato com e comida na geladeira, era o melhor cenário possível.
-Não, a sua presença é obrigatória. Vamos andando.
-Não, pai...
-Levante ou eu trago um balde de água gelada. E espero que você já saiba o que farei com ele.
Ele saiu do quarto e fechou a porta.A garota bufou e levantou da cama, indo para o banheiro jogar água no rosto. Observou seu reflexo no espelho, os cabelos ondulados estavam desgrenhados e havia uma marca enorme de travesseiro no canto esquerdo do seu rosto.
Depois que expulsou Justin de seu quarto, foi inevitável que recebesse uma enxurrada de pensamentos a seu respeito, indo e vindo tão rapidamente que pensou que sua cabeça fosse até esquentar. Justin era maravilhoso, desde seus olhos cintilantes até o jeito de andar, que parecia chamar a atenção de todo mundo. Seu sorriso era irritante, sempre parecendo tirar sarro das pessoas. Mas mesmo assim, era digno de retribuição. Não que fosse sorrir assim perto dele, apenas quando ficou repassando os detalhes da noite depois que o garoto já tinha ido embora. Não era como , mas era algo, definitivamente era algo. O modo como ele conseguia prever o que ela faria e porquê a deixava com raiva, mas ao mesmo tempo era excitante ver algum menino falar daquele jeito.
ligou na noite passada, e os minutos que conversaram foram o bastante para que ficasse preocupada. A amiga estava meio histérica e contou tudo o que aconteceu em sua ausência. ouviu tudo com atenção e disse que ficaria tudo bem, que não precisava se preocupar. Sabia que pedir para não se preocupar com algo assim era o mesmo que pedir o contrário. No final, a menina faria o que bem entendesse. agradeceu, dizendo que se não fosse por ela não conseguiria se acalmar. Aquela parte da conversa lhe deixou com vontade de estar lá, mas não lhe afetou tanto quanto o que ouviu depois. Seu estômago pareceu se revirar no interior do seu corpo, e a sensação que lhe visitou foi tão ruim que surpreendeu à ela mesma. disse que achava que gostava dela. Não conseguiu dizer nada em resposta, somente começou a raciocinar consigo mesma, pensando em todas as coisas que poderiam ter acontecido para que a garota passasse a pensar daquela forma. A paranoia invadiu seus sentidos como o amor arrebatava uma pessoa apaixonada. Depois de longos segundos de silêncio, percebeu que ainda não tinha respondido, e falou que provavelmente não. omitiu a parte que os dois se beijaram na cama dela para . Não sabia porque tomou aquela decisão, mas o fez mesmo assim.
disse que talvez ele só estivesse tentando ser legal com ela. Mas se soubesse que os dois tinham dado uns amassos, com certeza pensaria diferente. Se ela soubesse disso iria desmoronar.
Ela colocou uma calça jeans boca de sino e andou pelo quarto à procura de uma camiseta. Pegou a jaqueta que sua mãe lhe dera de aniversário no ano passado e enrolou um dos cachecóis que fez no pescoço. Enquanto penteava seu cabelo, seus pensamentos voaram de volta para . Se o garoto achava a amiga bonita, será que nunca reparou nela? Tratou de jogar esses pensamentos para longe, a última coisa que precisava naquele momento era de uma crise de autoestima.
Passou pelo lugar em que o namorado a meia-irmã esteve na noite passada. Não queria se esforçar para ficar bonita, mas parte dela ficou se perguntando o que Justin acharia daquela roupa. Ela colocou seus sapatos pretos de salto agulha,e eles a fizeram ficar na altura normal de uma pessoa. sempre teve raiva de ser baixinha.
Saindo do quarto, viu que o quarto de Camilla estava vazio, mas que sua presença ali era recente, pois o cômodo cheirava fortemente a perfume. A porta de Bianca estava fechada, e imaginou o motivo do atraso.
-O que você quer? – entrou na cozinha e hesitou, constatando que aquele lugar conseguia ser mais claro que onde dormiu, devido aos azulejos reluzentes pregados na parede. Aquele pessoal provavelmente nunca ouviram falar de cortinas. Seu pai estava sentado à mesa, bebendo café do dia anterior numa xícara que ela tinha feito para ele quando tinha doze anos. Boa tentativa.
-Pai, já está na hora de irmos? –Camilla perguntou aparecendo na cozinha com um vestido marrom estampado de mangas compridas que na opinião de era chique demais para a ocasião. A menina olhou para ela dos pés à cabeça e deixou escapar um sorriso. Tudo bem, pensou consigo mesma, Sem problemas.
-Só espere Bianca sair do quarto. –Bob olhou para a filha. –Nós vamos fazer um café da manhã especial para Joane. Por isso acordei vocês duas mais cedo, para podermos ir comprar as coisas. Justin já deve estar chegando, ele vai ficar para garantir que Joane não vai acordar e querer descer e também vai receber as flores e alguma das comidas. Vai ser um banquete.
-Justin não dormiu aqui? –Camilla perguntou e quase a agradeceu por ter perguntado isso. Repreendeu a si mesma ao perceber que também estava curiosa.
-Não. Acho que ele e Bianca brigaram.
-Ele é gostoso demais para ela. –Camilla deu de ombros, enfiando uma colher cheia de chocolate derretido na boca e depois a lambendo de um jeito nada sutil. segurou o riso. O homem olhou para a garota com espanto, porém ela pareceu não notar.
-É legal da parte dele vir aqui para o aniversário de Joane. – falou olhando para o pai. Aquilo era o máximo que podia fazer para tentar ser legal, ainda que a pessoa que estivesse elogiando nem fosse da família. –Mesmo que esteja brigado com Bianca.
-O que estão falando de mim?–Bianca perguntou entrando na cozinha. A roupa dela também era demais para a ocasião, coisa que fez com que se virasse para o pai e desse uma olhada nele. Sua calça risca de giz cinza combinava com sua blusa social listrada com azul. Percebeu que a única mal vestida ali era ela, mas com certeza não mudaria.
-Estamos falando que você vai com Camilla ao supermercado e eu vou à loja de perfumes com . –Bob disse com um sorriso caloroso no rosto.
-Por que nós ficamos com a parte mais chata? –Camilla se queixou olhando para suas unhas afiadas que estavam pintadas num tom de rosa. Ela parecia mais mimada ainda quando fazia aquele biquinho com os lábios.
-Sem reclamações. Vamos.
foi com o pai para uma loja chique de perfumes. Quando entraram, ela tentou se comportar como a sua mãe tinha ensinado. Sempre mantenha a compostura e seja educada e culta.
-O que você acha desse? –ele perguntou espirrando um perfume doce demais no nariz dela.
-Pai! – exclamou em meio a espirros.
-Opa. Desculpe, nunca levei muito jeito para essas coisas. Por isso sempre pedia para que você viesse comigo me ajudar a comprar algum presente para sua mãe.
Ele não devia ter falado aquilo. pensou em como era bom quando eles tinham que sair para comprar presentes para a mãe. Nenhum dos dois sabia de nada de roupas de marca, ou de nada relacionado a moda e acabavam se atrapalhando. Ver aquele homem andando pelas lojas, fingindo saber do que a vendedora falava quando na verdade não fazia ideia preenchia o coração da menina de alegria. Era muito divertido. No final, eles precisavam pedir ajuda a alguma mulher que trabalhava na loja, depois de quase expulsarem os dois da loja.
nunca foi uma criança mimada. Ela costumava a ser muito ligada aos esportes porque Bob a fizera ficar daquele jeito. Ele a levava para as aulas de tênis todas as manhãs e ficava observando-a e incentivando-a todos os momentos. era muito boa neles e por isso jogava com meninas e meninos mais velhos do que ela.
Ela se lembrava de seu primeiro namorado, Hans Miller. Ele fazia tênis com ela e os dois se gostavam, mas era tímida demais para tomar algum incentivo. Ela tinha uns quinze anos. Hans sempre foi bonito, com seus cabelos pretos lisos que caíam um pouco no rosto e seus olhos cor de caramelo, além de corpo malhado demais para um jogador desse esportes. A menina conversava com ele de vez em quando, e quase fazia xixi nas calças de ansiedade.
Toda vez que se lembrava de como ele a chamara para sair, começava a rir. Num jogo entre os dois, eles tinham feito uma aposta de cinco pratas. Ela estava determinada a ganhar dele, para que o garoto se impressionasse. Durante o jogo, quando foi fazer um smash, se distraiu olhando para ele e acidentalmente jogou a bola nas partes baixas de Hans. Ele foi direto para o chão e achou que iria morrer de vergonha. Hans disse que estava bem, foi algo como: “Acho que não vou poder mais ter filhos no futuro, mas estou bem.A propósito, quer sair comigo?”. Ela quase teve um ataque cardíaco na hora que ouviu aquelas palavras. Seu pai ficou super tranquilo sobre ela ter um namorado, tentou ficar amigo de Hans, contando piadas ridículas para ele matando a filha de vergonha. Contava sobre como era boa nos esportes, mas também todas as bobagens que ela já fizera com uma bola de futebol.
Eles se separaram porque Hans foi morar no Canadá. Ao ouvir a notícia, entrou em uma depressão profunda e foi seu pai que a ajudou a sair daquela tristeza. Era triste demais ver seu primeiro amor indo embora daquele jeito, mesmo porque Hans não era uma pessoa fácil de esquecer, tamanho seu carisma e carinho.
O pai dela realmente não levava jeito em assuntos de mulheres. Vê-lo experimentar os perfumes sem o menor jeito a fazia rir, mesmo querendo ficar emburrada com ele. Era estranho pensar que os dois estavam juntos novamente comprando presentes, mas não para a mãe de , para Joane, a madrasta de .
-Você realmente nunca levou jeito para essas coisas. –deixou escapar um riso. –Pai, você é péssimo, sinceramente, parece até que piorou.
-Ei, tinha uma época em que você também era péssima.
-Mas eu era criança. Eu não precisava saber dessas coisas.
-Vamos, me ajude a escolher um perfume para Joane. Que tal esse que eu te mostrei?
-É doce demais. Não posso te ajudar com isso, não sei que tipo de perfumes sua mulher gosta, nem a conheço.
Bob olhou para baixo, chateado. O homem tinha rugas de expressão na testa que se acentuavam quando ficava triste ou aborrecido. Uma pequena marquinha entre suas sobrancelhas era familiar para a menina, pois ela também a possuía. Ele não queria que as coisas fossem tensas assim entre com a filha. Estava se esforçando, mas não facilitava nada.
-Estou fazendo o melhor que posso, . Você precisa dar uma chance à Joane.
-Ela praticamente disse que minhas roupas são uma droga na sua frente e você não fez nada. Ela fica jogando na minha cara as conquistas que as filhas delas fizeram e você também não faz nada. Está apaixonado por Joane, pai, eu sei disso. Já aprendi a conviver com isso, mas não vai mudar o que eu penso sobre ela. Ela é fútil, liga demais para as aparências. E o fato de Bianca e Camilla chamarem você de pai me faz pensar que realmente é pai delas. Me faz pensar que está tão diferente, que a única errada por te chamar de pai sou eu.
-Não diga isso.
-Minha mãe também se importa muito com a imagem dela. Eu até entendo, ela não quer que as pessoas pensem que é a ex-mulher de Bob hall, um homem que abandonou a família para viver com uma mulher estranha e suas filhas mimadas. Ela não quer que pensem que está na pior. Você sabe como mamãe odeia que sintam pena dela. Sabe, eu tenho que pegar roupas emprestadas quase todos os dias nas lojas porque a patroa da mamãe convence as pessoas a fazerem isso por mim, já que sempre fui cuidadosa.
Mesmo dizendo aquilo em voz muito baixa para o pai por causa do lugar onde estavam, ele podia escutar muito bem. E cada palavra que escutava partia seu coração, o fazia perceber que nunca tentou ver pelo lado dela.
Aquilo também era estranho para . Ela passou tempo demais guardando aquelas palavras para si mesma, sem coragem de dizê-las ao pai. Para que não desmanchasse, a única solução que encontrava era ignorá-lo.
-Sua mãe nunca me pediu dinheiro emprestado. Ela podia pedir.
-Ela tinha vergonha de pedir dinheiro para você. Quando eu ignorava suas ligações, escutava você conversando com a minha mãe pelo outro telefone fixo. Lembro de escutá-lo dizer para ela que eu não era mais a mesma pessoa, que tinha mudado. Você me machucou muito para depois esperar que as coisas continuassem normais. Eu nunca mudei, pai, só não queria falar com você. Porque se falasse, tudo isso que eu estou te dizendo escaparia da minha boca. E estava muito feliz com seu novo casamento e a sua nova família. Quem mudou foi você. Deixou que Joane te mudasse. Não estou dizendo que ela faz mal para você, só digo que não te reconheço mais. Trata as meninas com tanto carinho e se preocupa tanto em ser o pai delas... Mas tem muito tempo que já não é o meu. Bob engoliu em seco, envergonhado demais para dar alguma explicação. Surpreso com tantas confidências, e acima de tudo, envergonhado. Tudo o que ela tinha dito era verdade. Ele olhou para a filha de dezoito anos e percebeu o quanto tinha perdido. Os olhos de estavam cheios de lágrimas, porém a menina não parou o que estava fazendo. Analisou a prateleira com rapidez, os olhos de águia treinados para serem sagazes quando se tratava de compras voando de um lado para o outro.
-Leve esse para Joane. – disse e entregou a ele. –Não a conheço, mas não existe ninguém que não goste desse.
-Filha...
-Se tem algo que você realmente não mudou foi o seu péssimo senso para moda. Para um estilista, você é um grande jogador de tênis. – deu um sorriso e saiu da loja rumo ao ponto de táxi.
*
-Me deixa em paz. – disse para , que tentava acordá-lo a todo custo. O amigo tinha essa mania irritante de acordá-lo, na maioria das vezes porque sabia que aquilo o irritava mais do que qualquer outra coisa. Se havia uma coisa que gostava de fazer, era dormir, e não lhe agradava nada quando alguém lhe tirava esse privilégio. –Eu não vou à faculdade hoje.
-Você precisa se tornar um advogado. – disse puxando as cobertas do amigo para longe. O garoto usava somente uma cueca por baixo delas, e o outro fez uma careta. –E isso não vai acontecer se ficar dormindo o dia inteiro.
-Eu não quero levantar.
-Por quê? Aconteceu alguma coisa?
respirou fundo. Ele não queria falar sobre o acontecimento no quarto de . O pequeno fora que ele ganhou. O fato de ela gostar de . O fato de ele estar completamente perdido e não saber o que fazer, pois nunca levou um fora antes. Quer dizer, a garota era linda e sabia que queria beijá-la no momento em que a viu pela primeira vez, portanto, não esperava uma resposta negativa. Normalmente não era o que acontecia.
-Não. Eu só não estou no clima.
-Cara, ninguém está no clima para aula, ainda mais depois da festa de ontem. Você bem que podia tirar essa bunda daí e ir enfrentar sua vida!
se levantou lentamente e vestiu uma calça jeans preta e uma blusa xadrez de mangas compridas, as quais dobrou até a altura do cotovelo. Ele jogou os cachos para trás, mesmo eles insistindo em caírem em seu rosto. Com um suspiro, resolveu deixar como estava. Não tinha tempo para se preocupar com o cabelo. Faltavam cinco minutos para sua aula começar e ele precisava chegar ao campus.
-Por que demora tanto? – perguntou, já do lado de fora, impaciente. –Quer que eu avise ao professor que ainda vai se maquiar?
-Não, essa parte eu fiz antes de dormir. – respondeu, amargo. –Agora estou passando perfume.
-Engraçado, . Agora, anda logo, porque sarcasmo não combina com você.
Os dois saíram em direção ao campus. Junto deles, um monte de jovens apressados corriam para suas salas. Quando passaram pela fonte perto do campus, o garoto ficou muito assustado ao ver uma garota de olhos azuis e cabelos loiros. ? O que ela estava fazendo ali? Ele sorriu e chegou mais perto, meio receoso. Depois de um puxão de seu amigo, virou-se para , indignado.
-O que deu em você hoje? –o garoto tinha as sobrancelhas castanhas franzidas, num gesto impaciente e um tanto bravo. –Parece até que está doidão. Me diga que não está doidão.
não fumava, mas mesmo assim não percebeu. Quando olhou novamente para a garota, era só uma universitária que nem se parecia com . Ele fechou os olhos com força. Ótimo. se despediu dele ao chegar a sua sala e continuou andando até o prédio onde sua primeira aula aconteceria, em frente ao do amigo. Ele entrou em uma das salas apressado.
-Com licença. –disse ao entrar e escolher um lugar perto da janela, ainda atordoado por ter levado uma rejeição tão a sério. Acontece com todos, um dia aconteceria com ele também. Devia ser um homem e encarar aquilo de cabeça erguida, caso o contrário morreria sozinho e infeliz.
-Olá, . –uma mulher mais baixa que ele, de cabelos cacheados e olhos marrons bem redondos, disse olhando para ele. Ela lhe lembrava muito alguém, porém escondia um sorrio no canto dos lábios que de cara fez com que o garoto se sentisse desconfortável. –O Sr. Anderson ficará ausente por algumas aulas e eu vou substituí-lo. Eu gosto que me chamem pelo meu nome, e não pelo meu sobrenome. Para você que chegou agora, meu nome é Heather.
-É um prazer conhecê-la, Heather. – falou com educação, analisando seu rosto e tentando descobrir se já a conhecia. Aquela manhã estava tão estranha, ele estava tão estranho, que temeu que fosse mais uma peça que seu cérebro tentava pregar nele.
-O prazer é todo meu.
Heather começou com uma explicação rápida do trabalho dela e de como ganhou vários casos na promotoria. Enquanto falava, não conseguia parar de se perguntar quem ela o lembrava. O rosto lhe era muito familiar, mas ele não conseguia se concentrar. Sentia pontadas na cabeça, e lembrou-se que não tomou café da manhã. Quando não conseguia se lembrar de algo, isso o frustrava, então era difícil para ele parar de pensar naquilo.
-Ei, . –Joshua Robinson o chamou na carteira atrás da dele. O menino se virou para o lado e a voz do outro ficou mais baixa. –Essa nova professora é gostosa.
-Não curto muito coroas. – respondeu e acrescentou um riso para tentar quebrar o gelo. De fato, garotas mais velhas não lhe agradavam tanto assim, isso geralmente acontecia com .
-Ah, cara. Olhe para o corpo dela e me diga se ela não é gostosa.
-Obrigado, mas não, obrigado.
Joshua riu derrotado, e o garoto olhou discretamente para a silhueta da mulher, reparando em como suas curvas eram bem acentuadas. Tirou os olhos dali numa velocidade maior do que quando os colocou, e apoiou o rosto nas mãos enquanto tentava prestar atenção no que sua professora dizia. Apesar de ficar difícil depois do comentário inconveniente que seu colega tinha feito. E ele só conseguia pensar se tinha assustado , eles mal se conheciam. estava meio enferrujado.
Lembrava-se de quando tinha doze anos de idade, era uma criança adorável e parecia um anjinho. Seus cachos loiros costumavam ser mais claros e seus olhos possuíam o mesmo brilho, além de suas bochechas grandes e rosadas. Sua casa era ao lado de uma loja de doces, sendo assim, costumava ir lá com muita frequência. Certo dia, uma nova atendente apareceu por lá, ela devia ter por volta de dezenove anos. O nome dela era Gillian Wright. Ele se lembrava que o cabelo dela era loiro demais e os olhos pretos demais. A mulher usava blusas que sempre subiam e deixavam a barriga de fora, deixando à mostra um piercing no umbigo e normalmente tinha muita má vontade para trabalhar e conversar com os clientes.
Ele dizia estar “perdidamente apaixonado por Gillian Wright”. Passava a ir na loja todos os dias para vê-la, e mesmo com uma terrível personalidade, ela acabou ficando amiga dele. No Dia dos Namorados, pediu para a mãe que comprasse um buquê de flores. Ele levou para a loja e quando Gillian perguntou quem tinha deixado aquele buquê lá, respondeu: “Fui eu. Eu te amo, Gillian Wright. Quero que se case comigo.” Toda vez que se lembrava daquilo, soltava um riso constrangido. Boa aparência nunca foi um problema para o menino, mas quando era mais novo não conseguia manter os pés no chão. Gillian respondera: “, você é um pirralho.”
Depois disso nunca mais teve interesse em mulheres mais velhas. Era estranho para ele ouvir Joshua dizer aquilo, era pior ainda ver seus amigos saindo com mulheres mais velhas. Algumas coroas já tinham dado em cima dele, e ele tentava ser educado dizendo que não estava interessado, mas sempre se sentia extremamente desconfortável.
-Vocês leram o livro que o Sr. Anderson pediu como dever de casa? –Heather perguntou, tirando-o de seus devaneios.
As pessoas responderam que sim e com isso a professora seguiu com um elogio por todos terem lido o livro, já que o Sr. Anderson não era um professor muito tolerante a alunos que tinham preguiça de aprender.
-Já que todos leram o livro, acho que posso expor o Caso do Roubo no Sul para vocês.
Ela foi até a sua mesa e pegou uma pasta de plásticos preta. Começou a folhear até achar a parte que lhe interessava.
-Heather, eu não acho que deva passar o Caso do Roubo no Sul. – falou e sua voz saiu um pouco mais rouca do que o normal. Ele pigarreou quando percebeu que toda a atenção da sala, que continha mais de quarenta pessoas, se voltou para seu rosto.
-O que disse? –Heather tirou seus óculos de leitura e olhou para ele com uma expressão intrigada. –Por que acha isso?
-Eu entendo que quer nos dar aulas com seus métodos, mas conhecendo o Caso do Roubo no Sul, acho que seria uma coisa precipitada a se fazer.
-É mesmo? –a moça perguntou, inclinando-se um pouco para frente, deixando que seu decote se abaixasse um pouco. Joshua assoviou bem baixinho atrás dele, que tentou fingir que não escutou. Ela parecia estar adorando aquilo. –Então o que você sugere que façamos nessa aula?
-O Sr. Anderson sempre fazia um debate sobre os livros que passava e isso ajudava a fortalecer a nossa capacidade de opinar. Eu tenho certeza de que cada um teve uma visão muito diferente da leitura, não acha? –ele olhou em volta e algumas pessoas concordaram com ele. Seu olhar vacilou até uma garota que o olhava de um jeito intenso, e ficou vermelho. No rosto da professora estava estampado um sorriso. –Eu acho que é isso que deveríamos fazer. Se não se importar, é claro.
-Não, é claro que eu não me importo. – Heather soltou um riso que o fez ter um deja vu. –Você acabou de ganhar seu caso, .
Ele sorriu com a brincadeira, e enquanto todos arrumavam as cadeiras em um circulo, se lembrou de quando assistiu ao jogo com . Os dois estavam se divertindo assistindo ao jogo juntos. Ele se lembrou de ter pensado o quanto ela era diferente. Em um ato involuntário, perguntou a se ela tinha namorado. Como respondeu que não, ele fez uma careta, dizendo: “Eu não acredito.”. Ficou olhando para com um sorriso, e ela deu uma risada. A mesma risada que tinha acabado de escutar vinda de Heather.
-Qual é o nome da professora? – perguntou para Joshua num sussurro.
-Agora se interessou, é? –ele riu do colega, que o olhou com censura. –Heather Walker , ela escreveu no quadro mais cedo.
-? – falou meio alto demais. A turma se virou para ele, juntamente com a professora. Assim que percebeu que já atrapalhou a aula, continuou falando. –Você é parente de ?
-Ela é minha prima. –Heather sorria. Ele enfim viu quem ela o lembrava. –Você a conhece?
Antes de responder, pensou na menina que conheceu recentemente, mas que em poucos encontros já o surpreendeu mais do que qualquer pessoa. Um sorriso brincou em seus lábios quando respondeu:
-Somos amigos.
*
esperava por na entrada da escola. A bainha de seu macacão preto roçava no chão enquanto deslizava o pé pelo piso, formando círculos. Estava meio ansiosa, não sabia o que esperar, já que iria passar um tempo com . Julia a olhava com preocupação, e no momento em que ia abrir a boca para falar algo, parecia mudar de ideia e se calava, perdendo-se novamente em seus pensamentos.
-Por que você veio com capa, Julia? O tempo está bom. – perguntou, distraída. O tempo estava um pouco frio, e a menina gostava de tempos assim, quando o sol não ardia em sua pele ao andar na rua, mas também quando não precisava se enrolar em várias roupas para poder se aquecer. Aquilo era um bom sinal. preferia sair em dias assim. Olhou para a amiga, que a encarava como se fosse um alienígena. –O que foi?
-Desde quando você e são amigas?
-Desde essa manhã.
-Você não acha meio precipitado marcar de encontrar com ela?
-Não seja paranoica. Dessa vez eu acho que nós vamos ficar bem.
-Eu não estou sendo paranoica, estamos falando de . Já pensou que isso pode ser um plano dela para te ferrar de vez? Você está sendo muito inocente aqui.
-Julia, eu vou ficar bem. E se as intenções dela forem ruins, estará lá para impedir que algo ruim aconteça.
-Você que sabe. –ela deu de ombros. –Tenho que ir.
Julia se afastou a passos rápidos e bufou. Entendia que Julia só queria protegê-la, mas era improvável que estivesse planejando alguma coisa. Ela contou coisas para que pareciam bem sinceras, e sabia muito bem que a última coisa que a menina fazia era se abrir para alguém que não considerava um amigo. Ela sempre a alertou quando eram mais novas, dizendo a que nunca deixasse que outras pessoas vissem suas fraquezas.
Ao longe pôde ver andando em sua direção. Ela vestia uma blusa pólo rosa por baixo de uma jaqueta jeans rasgada, e parecia estar com calor por baixo daquela roupa. Além disso, seus passos eram demorados e desajeitados, como se estivesse com dificuldade para dá-los.
-Veio andando da April Hall até aqui a pé? – gritou, e a outra levantou a cabeça para olhar para ela. –Onde está seu carro?
-Minha mãe pegou. – disse tirando o cabelo do rosto e a cumprimentando. Cheirava ao mesmo perfume de sempre. Sabia até onde a garota o comprava, pois costumava acompanhá-la quando era preciso abastecer seu estoque. Um antiquário perto da casa de existia desde antes de terem nascido, marcando presença em volta da grande praça que havia lá. Era um lugar bonito e caloroso, e a mãe de visitava loja com frequência. Uma vez estavam entediadas olhando para os artesanatos quando descobriram que o dono colecionava perfumes feitos por ele mesmo. ofereceu uma quantia para o homem, que explicou que não possuía interesse em vendê-los. Depois de cheirá-los e se convencer de que precisava de um deles, conseguiu fazer o senhor ceder contando casos e mais casos de perfumarias que já conheceu em suas viagens, e explicando que um bom perfume tinha toques singelos e expressivos. Terminou sua pequena palestra afirmando que eram os pequenos detalhes que faziam a diferença, e é claro que o homem se encantou com a menina naquele dia. Em seguida, os dois passaram a negociar sempre, e esse se tornou seu cheiro característico. –Ela precisava emprestá-lo a uma cliente.
-Mas o carro não é seu? – perguntou com a testa franzida, esquecendo-se de como a Sra. era uma pessoa indiferente quando se tratava dos interesses da filha. Nunca se preocupou muito em ver o lado dela, porque... Não sabia bem o motivo, na realidade. –Não entendo.
-É, mas ela disse que eu precisava abrir mão dele para o bem do trabalho dela. Minha mãe tem mais dois carros dela que ela nem usa em casa e preferiu pegar o meu, sendo que anda de motorista para todo lado que vai.
-Isso é injusto.
-Eu sei que é, mas já me acostumei, a mulher faz coisas assim o tempo inteiro. Ela prometeu que mandaria um motorista me levar para o lugar que eu quisesse, mas deve ter esquecido. Não me atinge mais.
Normalmente, conseguia mentir bem. Diria até que era perita no assunto, porém mesmo se mentisse, seria capaz de flagrar a desonestidade na mesma hora. Os problemas maternos da menina eram de longa data, e sabia que mesmo assim, passando o tempo que passasse, sempre seriam dores de cabeça. Estava ciente das inseguranças da amiga, mesmo aquelas que passaram a existir depois que pararam de conversar. Era fácil perceber, pois conhecia sua família e sabia o quanto era uma filha carente por atenção.
Enquanto as duas andavam até a quadra de grama no final da área da escola, pensou em como Sra. era distante com a filha. Ela já tinha notado muitas vezes aquilo, mas tentava fingir que era só impressão sua. Depois de ouvir dizendo aquilo, ficou com pena dela.
-É por isso que nós brigamos o tempo inteiro. – continuou falando e olhava para ela vez ou outra para que sentisse que tinha apoio. –O me ajudou a fazer as pazes com ela, mas a mulher sempre consegue ser insuportável.
-Eu entendo. Minha mãe também é meio assim.
-A sua mãe é bem mais legal que a minha. Nos almoços que fazemos, ela me trata tão bem, faz perguntas sobre a minha vida e me faz acreditar que realmente se importa, diferente da minha mãe.
-Ela é um lixo comigo. –ela pensou em como a Sra. tratava bem ao virarem para a área perto da quadra. –Mas com você ela é legal mesmo, eu já notei.
-E minha mãe é legal com você. Isso é muito estranho. –ela deixou escapar um riso.
As duas entraram na quadra e os garotos treinavam passes, as vozes masculinas pairando no ar. Os meninos se dividiam em jogar a bola um para o outro ou em trotar pelo campo para se aquecerem. Alguns olharam para elas com um sorriso no rosto. Havia algumas garotas na arquibancada, que perceberam a presença das duas ali. sorriu. Ela e Maria Duncan costumavam chamá-las de Chicletes na oitava série porque elas sempre ficavam ao redor de e suas amigas e aquilo era irritante.
Evan hall saiu do vestiário e as líderes de torcida o seguiram para ensaiar a dança. Ele olhou na direção das duas e sorriu ao vê-las. Inclinou a cabeça na direção do vestiário e elas entenderam o que ele queria dizer. Alguns segundos depois, saiu de lá sem camisa e com shorts que usava quando ia treinar. Vozes femininas surgiram, incentivando-o. O menino deu um sorriso amarelo, mas girou os olhos, sabendo que estava lisonjeado. Gostava quando lhe elogiavam em jogo, e já lhe bastava um grito para animá-lo.
Quando viu as duas, seu olhar foi de uma para a outra repetidas vezes. A testa dele estava franzida, mostrando claramente a confusão na sua cabeça. Elas riram e desceram as arquibancadas até onde ele estava, seguidas com os olhos de muitas meninas que queriam estar no lugar delas.
o abraçou primeiro e lhe deu um beijo na bochecha direita, fazendo-o sorrir e dar um beijo no nariz dela. Depois foi até ele e o abraçou forte, e fez o mesmo. Ele tinha se esquecido de como era bom abraçá-la sem ter que consolá-la depois, abraçá-la porque isso simplesmente era uma coisa que eles faziam sempre.
-O que eu perdi? –perguntou com um sorriso. –O que eu perdi para vocês estarem andando juntas sem nenhuma agressão física acompanhada?
deu de ombros, e explicou:
-Decidimos que a paz é melhor. até me convidou para vir aqui assistir o treino com você.
sorriu. Era estranho escutar aquilo dela.
Ela se lembrava de uma vez que elas estavam na casa de e decidiram brincar que eram irmãs. A Sra. e a Sra. sempre foram amigas e houve um tempo em que e também eram. Mas não morava na mesma cidade de , e ela ia para lá de vez em quando para que as mães pudessem fofocar. As duas foram até a casa de bonecas do tamanho de um apartamento que tinha. Enquanto brincavam, cada uma tinha o seu próprio namorado. disse que seu namorado seria o mais bonito de todos, que teria cabelos loiros e olhos verdes. Ao se lembrar disso, a imagem de David veio à sua cabeça. Ela achou estranho. Quando perguntou a quem seria o namorado dela, a menina respondeu que não precisava fingir, que já tinha um namorado. Quando quis saber quem era, falou que ele se chamava . Lembrava-se de ter dito para ela que ele e a amiga costumavam brincar de serem namorados quando mais novos. Isso durou até os onze anos de idade dos dois. ficou com enciumada por realmente ter um namorado, por isso não dissera nada, só respondeu: “Bom, quando eu tiver meu namorado de cabelos loiros e olhos verdes você vai ver.”.
Na noite anterior, ela se lembrou daquele dia. E se David realmente fosse o loiro de cabelos verdes que sempre sonhou? E se era só uma pedra no caminho que tinha encontrado para chegar até David? não era supersticiosa mas fazia um pouquinho de sentido.A única coisa que não se encaixava era como ela considerava a pedra no caminho mais importante do que o loiro de olhos verdes.
-Vir assistir ao treino? – ergueu uma sobrancelha como quem não acreditava nem um pouco. A voz estava séria, porém um sorriso começava a se formar no rosto. aprendeu a jogar futebol com ele, os dois jogavam bastante quando eram mais novos. –, você nem que é um pênalti.
-É claro que eu sei o que é um pênalti. – disse com confiança, colocando as duas mãos na cintura. Ergueu o queixo em desafio, como sempre fazia quando confrontava alguém. Observou os dois, como se comportavam um com o outro, e sorriu, achando engraçado. –Não seja bobo.
-Não, você não sabe.
-Você não tem o direito de falar o que eu sei o que é e o que eu não sei. –a menina se aproximou dele, os olhos claros se estreitando em sua direção. não pareceu se intimidar, já que continuou na mesma posição, sem mover nenhum músculo.
-Então me diga o que é.
-Bom, um pênalti é quando você... Quando você vai... – olhou para com um sorriso amarelo e os olhos arregalados num pedido de socorro silencioso.
-Faz uma falta na grande área. – sussurrou em resposta, mexendo a boca com movimentos suaves para que o garoto não percebesse.
-Quando você faz uma falta em alguém dentro da grande área.
-Ei, eu vi isso! – exclamou apontando para , fazendo-as rirem. –Cara... –Ele parou de falar, maravilhado. Do jeito que as duas eram, se ambas decidissem fazer algo juntas, ninguém poderia impedi-las. –Desafio vocês duas a marcarem um ponto em mim.
-Só se você estiver pronto para perder.
-Ah, claro. –ele riu com deboche. Depois olhou para esperando uma resposta. –Desculpe, meninas, mas isso não vai acontecer.
-Meu salto não permite que eu faça algo assim. Mas podem ir, eu vou sentar aqui.
Eles concordaram e se sentou na arquibancada. De longe viu os dois. não tinha a menor ideia do que estava fazendo. Por isso, começou com a bola e disse para que ela o marcasse. tentou cercá-lo, mas a diferença de tamanho era grande. Quando viu que ele estava quase marcando um gol, saiu correndo e pulou nas costas nuas dele, assustando-o mais do que tudo.
-Mas o que... – gritou indignado e começou a rir.
Ainda em cima dele, tapou seus olhos com uma mão e empurrou para longe, dominando a bola com o pé direito logo em seguida. Ela correu como uma condenada para o outro lado da quadra e jogou a bola no gol que não estava sendo usado. levantou os braços, perguntando-se o que diabos foi aquilo. A loira comemorou e o caçoou. comemorou com a outra, feliz por ela ter ganhado dele, mesmo que trapaceando.
Era estranho ver correndo e praticando um esporte. Nunca tinha visto antes, a não ser tênis. Ela era campeã estadual de tênis feminino. Os meninos correram para a arquibancada, a fim de descansar um pouco. Eles começaram a tirar uma com e aplaudir o gol de , deixando o menino com raiva.
-É claro que não valeu! –ele disse indignado. –Vocês viram o que ela fez? Vocês viram?
-Não fique triste por ter perdido, fofinho. – disse com um sorriso e encostou os lábios no ombro dele, demorando-se ali um pouco. o observou pular de susto, para depois um sorriso se formar em seu rosto bonito.
-Se eu fosse você, corria! – gritou para ela.
-Ah, é? E por quê?
Antes que ele pudesse responder, saiu correndo pelo campo e correu atrás dela. Os dois corriam pelo campo como se tivessem sete anos de idade, e quando conseguiu alcançá-la (o que não demorou muito tempo), a pegou no colo e lhe fez cócegas. No rosto dele estava estampado um sorriso sincero e as bochechas dela estavam vermelhas de rir.
-O que pensa quando vê os dois juntos? –Evan disse se sentando ao lado dela, o olhar distraído, carregando uma barrinha de cereal nas mãos. Parecia mais interessado em sua comida do que na resposta.
- tem um jeito especial de tratá-la. – concluiu tudo o que estava pensando desde que as duas chegaram à escola. Ela olhou para Evan, que concordou com a cabeça.
-E pensar que ele é apaixonado por você... –ele murmurou, mas pôde escutar. Ela escutou, e pensou ter ouvido errado. Seu estômago se embrulhou e a garganta pareceu fechar.
-O que disse? – praticamente berrou.
-O que? Eu? Nada, eu... –ele engasgou. Pensou que soubesse, todo mundo sabia. –Quer dizer, eu... Ele... Eu pensei que... Ah, esquece. Estou só te enchendo.
-Ah! –ela disse meio aliviada. O que ele tinha dito não podia ser verdade. Se realmente era apaixonado por ela, então nunca tinha percebido.
Aquele pensamento a fez ficar inquieta. Não, não podia ser. Claro que não, que ideia.
-Vamos lá, meninos! –o treinador Duncan surgiu na quadra. –Eu estou atrasado hoje, mas não vamos deixar que isso nos atrapalhe. Eu disse que o último treino seria o último e foi muito bom para nós que eles nos dessem mais tempo para treinar adiando a final do campeonato. Os times do Evan e do Chris vão jogar e o do Jorge espera até a sua vez. Olha só, hoje nossa plateia está maior! –ele disse olhando para as meninas que apareceram. Elas sorriram meio abobadas.
Ele soltou o grito de guerra do time e os meninos começaram a jogar. correu até onde estava, sentando-se ao lado dela. Foi saldada com um elogio:
-Parabéns!
-Ah, obrigada! – disse rindo. –Tenho um talento nato no futebol que consiste em subir em cima do adversário e tampar a visão dele. Genial, não?
-É genial. – olhou para ela. Era estranho elas voltarem a ser amigas, mas de certa forma se sentia em paz, como se agora que elas eram amigas de novo tudo tivesse voltado ao normal. –Você e fazem uma boa equipe.
-Ele é patético. Não aceita que perdeu.
-Não estou falando nesse sentido.
a olhou por uns segundos com a testa franzida.
-É brincadeira! – disse rindo, e a outra soltou um riso meio nervoso. Depois do que Evan deixou escapar, não era a única nervosa ali.
*
acordou com uma dor de cabeça horrível. Ele tinha ido direto para casa na noite passada. Não a April Hall, para sua verdadeira casa. Quando foi até a suíte e se olhou no espelho, seu cabelo estava todo bagunçado e parecia que ele tinha ficado noites sem dormir. Sua bochecha um tanto amassada fazia com que parecesse uma criança.
Depois de lavar seu rosto com água fria e bochechar um enxaguante bucal de menta, foi até o quarto da mãe. Uma empregada e uma enfermeira estavam na porta do quarto. Elas se afastaram rapidamente para dar passagem a ele, e quando estava perto da cama se deparou com uma médica que parecia ter a idade da mãe. O olhar sereno do pai, ao lado da esposa, caiu sobre ele, que acenou com a cabeça.
-Olha ele aí. –a médica falou com um sorriso caloroso. –Você deve ser . Meu nome é Rose Wilson. Sua mãe falou muito de você.
-É um prazer conhecê-la. –ele disse com as bochechas um pouco vermelhas. Ainda não tinha se acostumado com os estranhos que encontrava vez ou outra perambulando por sua casa. –O que aconteceu com a minha mãe?
-Não precisa se preocupar. –a Dra. Wilson estava radiante. Ele olhou para seu pai, que estava abraçado com a sua mãe, que também estava feliz. Uma onda imensa de alívio percorreu o corpo do garoto, que até mesmo se sentiu mais leve, sua respiração um pouco acelerada, tamanha a sensação. –Acho que sua mãe já está em condições de sair da casa.
-É sério? – perguntou empolgado. Ele correu até a mãe e lhe deu um abraço, a esmagando um pouco. A Sra. soltou um gemido, que fez com que fosse solta imediatamente. –Desculpe, mamãe. Consegue se levantar?
-Eu não sei.
A Sra. fez força para ficar de pé, e a ajudou. Quando ela finalmente ficou firme, conseguiu dar alguns passos desajeitados, segurando-se no filho. teve um choque ao ver aquilo. Sua mãe sorria para ele, e a visão dele ficou meio embaçada.
-Pai, pode segurá-la? –ele perguntou para seu pai, que rapidamente se colocou de pé e assumiu o lugar dele. –Eu... Eu já volto.
correu para seu quarto e se sentou na cama, afundando o rosto nas mãos. Sua cabeça doía muito e uma tonteira atingiu seu corpo. Estava feliz por sua mãe estar progredindo, mas não aguentava aquilo. Vê-la daquele jeito era simplesmente medonho.
Ele estava na casa de fazendo um trabalho para a escola quando recebera a notícia que sua mãe tinha ido para o hospital. A amiga ficou muito preocupada quando o viu, ele estava branco, como se toda a vida de seus olhos estivesse sido tirada dele.
“O que aconteceu?” era tudo o que ela ficava perguntando, mas o menino não conseguia responder. Achando que ele poderia desmaiar a qualquer momento, o deitou na cama dela e o mandou respirar fundo até se acalmar, enquanto abanava um leque no rosto dele. Quando finalmente conseguiu acalmá-lo, ele disse o que tinha acontecido. Mesmo atordoada, agiu rápido. Ela tinha uma viagem marcada e não pôde acompanhá-lo até o hospital. Ligou para e pediu que ela o buscasse. A namorada chegou milagrosamente rápido e o levou para hospital. pediu desculpas por não poder fazer mais que aquilo, mas deu um beijo na testa dela e disse que estava tudo bem. Ela ainda não gostava dele, porém gostava o bastante para se preocupar pelo resto da noite.
O garoto não se lembrava direito o que tinha acontecido depois. Alguns flashes de lembranças as vezes passavam pela cabeça dele, mas nunca conseguia se lembrar ao todo. Dizem que seu cérebro apaga certas lembranças dolorosas demais, porém não sabia se era verdade. Ele se lembrava de ter visto sua mãe na cama do hospital com muitos tubos em volta de seu corpo, se lembrava de estar chorando e de flagrar chorando escondido para não agitá-lo mais. A próxima lembrança era dele acordando na cadeira da sala de espera com ao seu lado e o médico dizendo para que fossem pra casa. Ele se lembrava de estar na casa da garota deitado no colo dela e chorando, enquanto ela acariciava seu cabelo e dizia que tudo ia ficar bem, que sua mãe não estava em nenhum estado crítico, nem nada.
Sem nem perceber, deixou algumas lágrimas caírem pelo seu rosto. não era de chorar. Só deixava escapar o choro quando o assunto era família. Escutou batidas na porta de seu quarto e enxugou as lágrimas rapidamente. Passou a mão pelo rosto e abriu a porta bem devagar. A Dra. Wilson estava do outro lado da porta com um olhar calmo para ele.
-Posso entrar, ? –ela perguntou esfregando as palmas negras de suas mãos, parecendo um tanto receosa.
-Claro. –ele disse com educação e abriu passagem para ela. –Algum problema?
-Bom, sim. – se levantou rapidamente, preparado para correr até o quarto de sua mãe. –Mas com você.
-Comigo? O que tem de errado comigo?
-Me responda você. –ela inclinou a cabeça e levantou as sobrancelhas. –Sente-se.
-Tudo bem. Fique à vontade.
-Obrigada, querido.
se sentou na cama, meio ansioso. A Dra. Wilson olhava para ele de um jeito que não conseguiu decifrar o que devia passar pela cabeça dela. Ela ficou um tempo daquele jeito e um desconforto percorreu o corpo dele.
-Você já é bem grandinho. Na semana passada sua mãe teve uma recaída e não ficou nada bem. Sabe disso. Aposto que se lembra dela parecer pior?
-Na semana passada ela estava com uma cara péssima. – concordou, não sabendo como ela pretendia que aquelas frases ajudassem, quando na verdade, atrapalhavam muito.
-Pois é. Ela me disse que você a perguntou se ela iria a Festa do Luar com seu pai e ficou muito triste por ter que dizer que não iria. Estava em dúvidas se um dia poderia andar novamente por causa da recaída. Sua mãe ficou com muito medo.
Ela fez uma pausa, deixando-o mais ansioso ainda. Era uma má notícia? A doutora estava apenas preparando o terreno para contar algo horrível? Um medo se pronunciou no garoto, que temeu começar a entrar em pânico. Sempre assistia filmes ou séries em que os médicos faziam um discurso antes de contar o que a família do paciente não queria ouvir. Nunca entendeu direito aquilo, como se alguém fosse prestar atenção em alguma das palavras enquanto aguardava pelo veredicto. Como se ajudasse alguma coisa. Na sua opinião, o que eles deveriam fazer era simplesmente dizer logo, pois assim a família não sofreria tanto em espera. Ter que esperar era a pior coisa. Depois de uns segundos num silêncio insuportável, voltou a falar.
-Mas sua mãe melhorou muito rápido, por incrível que pareça. É inacreditável como ela melhorou tanto em uma semana! Talvez possa voltar a vida como antes. – ele engoliu em seco. Talvez. –Obviamente sua saúde nunca mais será a mesma e precisará tomar muito mais cuidado. O que te faz ficar atordoado?
-Minha mãe... Ela... Ela tinha uma saúde muito boa... – gaguejou, com um nó na garganta. A voz dele falou, e a Dra. Wilson colocou a mão sobre seu ombro, como se o entendesse muito bem. Infelizmente não entendia, caso o contrário, veria que o menino não queria falar daquilo. –Eu não entendo porque a saúde dela não é mais a mesma. Lembro que ela foi até parar no hospital...
Ele sabia que sua reação foi exagerada para uma queda na pressão. Encontraram a mulher no chão, confusa. O que lhe foi dito era que a Sra. não conseguia mexer direito uma das pernas. Ficou furioso quando lhe contaram que a mãe não comeu no dia, e sabia que ela não podia ficar sem comer. Entendia que o problema não era tão grave, mas vê-la daquele jeito tão diferente assustou tanto o garoto, que ele entrou em pânico. Desde então, a mulher ainda estava em recuperação, e essa recuperação parecia longa demais. Para um problema tão comum...
-No dia do derrame?
piscou algumas vezes, sem entender.
-Derrame? Que derrame?
-O AVC que sua mãe... –ela colocou a mão sobre a boca. –Ah, meu Deus, .
franziu as sobrancelhas e de repente lhe faltou ar para respirar. Do que ela está falando? A situação ficou cada vez mais clara para o menino, que ligou as peças soltas em sua cabeça com tanta rapidez, que ela latejou de dor. Percebeu que seu estômago estava mais que embrulhado: sentiu que se tentasse falar alguma coisa, colocaria sua última refeição para fora. Olhou em volta e seu quarto pareceu menor. Com todo o autocontrole que possuía, perguntou debilmente, mesmo já sabendo a resposta:
–Do que... Do que está falando?
-Eu não queria que você soubesse assim, pensei que já fosse do seu conhecimento. –ela pressionou as têmporas, parecendo derrotada. –O que seus pais te contaram, querido? Os sintomas de sua mãe eram de derrame, foi isso que ela teve. -Não teve! –ele berrou, descontrolado. Havia um zunido incontrolável em sua cabeça, que apenas fez com que se sentisse pior. Ainda estava sentado na cama? –É mentira.
-, se acalme, por favor. Não é algo para se desesperar, querido, sua mãe está melhor agora. Um derrame não é uma sentença de morte.
-O que vocês acharam que eu era, idiota? Minha mãe teve algo assim e eu achando que era só uma enxaqueca que a pegava de vez em quando. Com licença.
-, não faça algo que...
Mas tinha corrido a passos rápidos para o quarto dos pais. Sua mãe estava sentada na cama conversando com o pai. Eles olharam para o filho quando chegou, preocupados com a expressão maluca em seu rosto.
-O que foi, querido? –a Sra. perguntou, o sorriso doce desaparecendo do rosto lentamente, quanto mais observava o olhar assassino do garoto. Um temor subiu pelas costas da mulher, que se assustou por vê-lo de tal forma.
-O que foi?! – gritou com raiva e algumas lágrimas caíram de seu rosto. Seus pais olharam para ele preocupados. –Mãe, como você mentiu assim para mim?
-Te contaram. -Me contaram? É claro que me contaram! O que você achou? Que o otário do nunca iria descobrir? Foi isso que achou? Eu tenho dezoito anos! Por que não me contaram? Por quê?!
-Para que você não ficasse preocupado. Já passou.
-Que tipo de merda de pais são vocês?! –ele esbravejou, hesitando um pouco quando percebeu o espanto dos pais depois daquelas palavras. Imaginou se era o único filho que não sabia, e quando chegou à conclusão de que provavelmente sim, a raiva retomou o corpo.
-! –o Sr. disse com a voz cheia de autoridade e foi para perto do filho, as sobrancelhas grossa quase se juntando numa expressão estressada. Apenas um pouco maior que o filho, o pai se posicionou de frente para ele, os punhos cerrados. –Se acalme.
-Como querem que eu me acalme numa situação dessas? Eu disse para todo mundo que minha mãe teve queda na pressão, uma enxaqueca foi para o hospital, mas não era nada demais. Eu disse para que foi isso!
- me ajudou muito quando soube. –a mãe dele disse com medo da raiva súbita do filho. Sua voz saiu fina como um pedaço de papel, e parecia que ia chorar a qualquer momento. Ao escutá-la, o menino murchou novamente por alguns segundos, até que percebeu o que ela disse.
-Espera aí... sabia? sabia disso?!
-Sabia, filho, mas achamos melhor não contá-lo.
urrou. Não conseguiu mais pensar direito. Sua fúria era tão grande que tomou conta de todo o corpo, e então não fez mais nada racionalmente. Parecia não ter controle de nada, como se estivesse assistindo a ele mesmo de fora. Chutou a cama que a mãe estava sentada, e a Sra. deu um grito de pavor. Ela nunca tinha visto o filho daquele jeito. O quarto estava mais escuro, e nunca se sentiu daquela forma. A traição era tamanha que não reconheceu aquelas duas pessoas, e a única coisa que conseguia pensar era que ambos eram monstros por terem a coragem de mentir daquela forma para ele. Não era como se tivessem mentido sobre uma dívida que lhes perseguia, ou uma briga entre familiares. A mãe dele teve um AVC e ninguém achou que talvez seria melhor se ele soubesse. O pai dele tentou acalmá-lo, mas foi em vão. A mãe de estava chorando na cama, e o menino se alhou, esmurrando o chão com tanta força que amedrontou todas as empregadas e enfermeiras que estavam por perto. Viu que as pessoas que trabalhavam lá circulavam pela casa correndo, contando umas às outras, se perguntando se deveriam interferir. O menino não viu a médica, e soube que era melhor assim, porque se a visse e ela o chamasse de querido mais uma vez... Levantou-se e chutou a primeira coisa que viu pela frente, que foi a porta do banheiro. A madeira se entortou um pouco com a força que lhe foi transferida, e um parafuso que prendia a porta caiu no chão, arranhando os ouvidos dele. estava tonto, e achou que cairia em breve. Tinha a visão embaçada por causa das lágrimas e não conseguia ver direito. O pai dele o segurou para que ficasse quieto, mas ele ainda tentava sair dos seus braços.
-Pare com isso! Pare com isso!
O garoto ainda não tinha acabado, eles mereciam muito mais. Se contorceu para sair, e quando conseguiu, gritou e deu um soco na cara do pai, que caiu no chão com o nariz sangrando. A mãe dele implorava para que ele parasse.
-Você está exagerando, ! Isso pode acontecer com qualquer um e eu já estou me recuperando. –ela gritou. –Por que está dramatizando tanto tudo isso?
-Por que não me contou? Por que? Eu não sou um idiota!
estava com tanta raiva da mãe que podia bater nela. Ele olhou para ela com fúria em seus olhos e se aproximou rapidamente. Antes que pudesse fazer algo, seu pai o empurrou e deu-lhe um soco bem dado, fazendo o cair no chão e fechar os olhos com força.
Parecia que sua cabeça sangrava, porém não sentiu nenhum sangue escorrer. Só doía muito, e ele decidiu manter os olhos fechados porque sabia que a dor seria enorme caso os abrisse. Os empregados homens que trabalhavam na casa abriram caminho entre as curiosas que espiavam horrorizadas na porta do quarto e todos pegaram , que parou de se debater quando perdeu as forças. Eles levaram-no para o quarto dele e o trancaram lá dentro. Ele pediu para sair, mas quando viu que ninguém ia abri-la, deitou-se no chão, esgotado.
Abaixou a cabeça e continuou chorando. Mas dessa vez as lágrimas não eram de raiva.
*
desligou a televisão. Ela não estava com ânimo para fazer comida, mas também não estava com ânimo para comprar. Pensou em sair para correr um pouco perto do rio, mas nem para dormir estava com ânimo. Sentia como se a noite passada tivesse sido um sonho. Não tinha caído na real ainda. O dia se passava devagar e monotonamente, e queria saber o que fazer.
Quando acordou, não tinha vontade nem coragem de ir para a escola, e pelo o que sua amiga lhe disse nem e nem foram. Ela não queria pensar na possibilidade dos dois estarem juntos, por isso imaginou que alguma coisa tinha acontecido com a mãe dele. Também esperou que não fosse nada disso.
Sua mãe tinha saído para comprar café. Por incrível que pareça, ela se voluntariou para comprar alguma comida para . Depois que contou o que aconteceu com , a Sra. estava sendo mais legal do que fora nos últimos meses.
-Voltei! –ela escutou a voz de sua mãe atrás de si, saindo do elevador. Mas não se virou para vê-la. –Eu trouxe seu café com chantilly.
-Obrigada. – disse pegando o copo da mão dela e bebendo em um só gole. –Você demorou.
-Eu sei, mas não vai acreditar no que aconteceu. Eu quase fui atropelada.
-É mesmo? –ela se virou para encarar a mãe. – Você está bem? –perguntou, um pouco preocupada. Nem tanto, pois a mulher aparentava estar normal. Sabia quando sua mãe não estava bem, e aquele não era um dos momentos. – Aposto que estava mexendo no celular.
-Bom, isso é o de menos. Sabe quem me salvou?
A garota sabia que a Sra. esperava por um interesse genuíno, que queria que ela se levantasse e arregalasse os olhos, doida para saber como foi sua experiência, mas a única coisa que lhe preocupava era se tinha se machucado. Quando viu que não era o caso, não se interessou mais pelo o que ela tinha para dizer. Não era culpa de ninguém, a menina só queria ficar sozinha. Não estava em clima algum para fofocar com a mãe.
- .
Ela se surpreendeu ao ouvir esse nome. Parece que tinha o hábito de salvar sua família em momentos difíceis. Um sorriso de gratidão cruzou seu rosto.
-Hum, então você o encontrou. Que coincidência.
-Por que é uma coincidência?
-Porque nós somos amigos.
-Só amigos?
-Sim. Só amigos.
-Ah... E o clima não fica meio estranho entre vocês?
-Do que está falando? É claro que não. Pare de falar essas coisas idiotas.
-Então você não se importará se eu convidar Georgia e para almoçar no domingo. E poderia chamar e eu poderia chamar e a mãe dela! Que tal?
-Você precisa mesmo chamar a ? – perguntou torcendo o nariz. Qual era o problema da mãe? Ela acabou de contar que seu relacionamento acabou e o máximo que a mulher conseguia fazer era pensar em um almoço com outras pessoas?
-O que aconteceu? Vocês duas brigaram?
-Não. – suspirou. Não estava disposta a fazer um relatório completo pra sua mãe sobre porque ela e não se falavam mais. –Só não chame.
-Não seja malcriada. Aliás, se vocês não brigaram, não fará diferença. Você estará muito ocupada com .
-Olha, mãe, eu entendo que você ficou muito grata por ele ter salvado a sua vida e tudo o mais, mas não tente me empurrar para ele. Somos amigos. acabou de me pedir um tempo e tecnicamente ainda estamos juntos.
-Mas nós não estamos sendo técnicas, filha. Qual é o melhor jeito de parar de pensar em uma pessoa? Pensando em outra!
-Mãe...
-Eu posso pedir para que vocês dois achem algo no escritório para deixá-los sozinhos. Seria bem legal. E vocês podem...
-Mãe. Por favor. Deixe que eu cuido da minha vida amorosa, tudo bem?
-Eu só queria ajudar.
-Eu sei disso, e agradeço, mas eu te garanto que não precisa.
Ela olhou para baixo e assentiu com a cabeça. se sentiu meio culpada, mas não se deixou afetar. As tentativas de sua mãe para ser amiga dela eram bizarras. O telefone tocou e deu graças a Deus por poder sair dali e acabar com aquele momento tenso.
-? –ela escutou a voz da Sra. . Soube na mesma hora que algo não estava certo, pois a voz da mulher estava tão estranha que lhe deu calafrios.
- Sra. ? – ficou preocupada. Ela sabia que tinha alguma coisa errada acontecendo na casa de . Era como se tivesse um alarme dentro de sua cabeça para saber quando as coisas não estão certas com ele. –Aconteceu alguma coisa?
-Sim, querida. Meu marido não sabe que eu estou te ligando, e ele também não pode saber. descobriu sobre o derrame.
-E como ele reagiu?
-Foi a coisa mais triste e assustadora que eu já vi na vida, querida. –ela respirou fundo e contou para tudo o que tinha acontecido, e com cada palavra ficava mais horrorizada. –Eu nunca o vi assim.
-Jesus.
-Tudo bem? –a mãe de perguntou se inclinando no sofá.
-Sim, mãe. – respondeu e caminhou rapidamente até o andar de cima. –Sra. , como o está agora?
-Bom, depois que o trancaram no quarto dele escutamos muitas batidas na porta e gritos. Ele queria sair. Mas depois de um tempo ninguém escutou mais nada. Acho que as forças dele acabaram e ele dormiu. Eu espero que esteja bem.
-Eu não acredito nisso. Quer dizer, felizmente não foi grande coisa, e você está se recuperando agora. Um derrame não é uma tragédia. Pensei que ia ficar nervoso, mas não sabia que ele iria surtar assim.
-Por isso estou te ligando. Meu marido não vai me deixar ir até lá de jeito nenhum. Ele disse que precisamos deixá-lo trancado até amanhã. Estou preocupada e quero estar lá dentro de todo jeito. Ele pode ainda estar bravo, provavelmente ainda está bravo. Eu quero que você vá até lá e fale com ele.
- Sra. , eu queria muito poder fazer isso. –a voz dela falhou. –Mas nós dois não estamos exatamente bem no momento. Ele terminou comigo.
-O que?
-Ele não terminou, pediu um tempo, mas...
-Isso não é possível. Você está brincando.
-Eu gostaria de estar. Me desculpe.
-Precisamos conversar sobre isso. Depois. Preciso que tente mesmo assim. É a única pessoa a quem posso recorrer agora. Você pode tentar? Estou preocupada com ele.
-Você sabe que pode não dar certo, não sabe?
-Sei.
-Tudo bem. Estou indo.
desligou o telefone e desceu as escadas correndo. Pegou seu casaco e o vestiu com pressa.
-Mãe, eu preciso sair. Não me espere.
-Aconteceu alguma coisa?
-Não é nada demais. Não se preocupe.
abriu a porta, meio tonta.
-Vou convidar o ! –A Sra. gritou.
girou os olhos. Não tinha tempo para pensar sobre isso.
*
Enquanto a festa não começava, tirou um tempo para passar com seu irmão. Jonny decidiu que queria ir no Mc Donalds, e mesmo sendo um pedido surpreendente, ele aceitou. Precisava conversar com o irmão.
-Você tem certeza de que não pode me colocar dentro da festa? –Jonny perguntou. Ele comeu um pouco de suas batatas fritas enquanto tentava dar um jeito no topete negro.
-Só para quem mora lá. Sinto muito, Jonny.
Jonny olhou em volta, derrotado. Viu que o irmão queria ir à festa, porém seus pensamentos pareciam meio longe, como se pensasse em algo completamente diferente, e só tivesse perguntado da festa para que não notasse o dilema que acontecia em sua cabeça. Mas ele notou, sempre notava. Encarou o menino pacientemente, esperando que dissesse o que lhe aborrecia. Jonny tentava ser reservado, porém sempre acabava falando demais, como se não aguentasse o peso de um segredo. Quantas vezes já disse mais do que deveria, quantas festas surpresas já estragou, e quantas namoradas perdeu por não conseguir controlar sua língua. Ele respirou fundo.
-Cara, acho que vou dizer a Hanna que não quero mais nada com ela.
-O que? Por quê?
-Não sei, desde que dormimos juntos pela primeira vez lá em casa ela só quer saber disso. Quer dizer, ótimo, mas acho que ela está exagerando um pouco.
começou a rir.
-Não ri, cara, isso é sério! –Jonny reclamou com o rosto emburrado, para logo começar a rir também. –Ela quer no carro, na escola, em todos os lugares a todo o momento! Até durante o jogo ela quer!
-Meu Deus. – tentou parar de rir em solidariedade ao irmão, apesar de ser bem difícil. Era engraçado ver os problemas da vida dele: sempre eram coisas assim. – Nunca imaginei que você teria esse problema algum dia. Você precisa conversar com ela sobre isso.
-Eu já tentei. Sabe o que ela fez?
-Muitas coisas passam pela minha cabeça. – olhou para cima fingindo refletir e Jonny o olhou com censura. –Não tenho certeza.
-Ela continuou me beijando como se nada tivesse acontecido. Eu vou ficar todo assado!
começou a rir de novo, fazendo seu irmão bufar de raiva.
-Nem sei por que te contei isso. Você não presta.
-Cara, qual você esperava que fosse a minha reação? Você tem que falar com ela!
-Mas eu já tentei! Ela sempre fica me beijando e eu não consigo resistir... A Hanna é linda, nunca vi nenhuma garota mais bonita que ela. Como posso encontrar alguém melhor?
-Isso é porque você é fraco. Seja homem e negue.
-Vai ficar parecendo que não gosto disso, se eu negar.
-Então você prefere ficar assado? –ele começou a rir de novo.
-Vai à merda, . –Jonny deu um empurrão nele, que ainda ria, e ficou emburrado em um canto.
olhou para ele e finalmente parou de rir. Colocou a mão no ombro do irmão e insistiu para que ele tentasse falar com ela de novo. Ele não conseguia ficar com raiva das pessoas e nem gostava que ficassem com raiva dele.
-Droga. –Jonny disse olhando para a entrada do Mc Donalds. –Droga. Droga. Como ela sabia que eu estava aqui? Isso é doentio, cara. Isso é doentio.
-O que foi? – perguntou, confuso. Ele se virou para onde o irmão estava olhando e viu Hanna com o pescoço esticado, procurando pelo irmão. Segurou um riso. –Vai para o banheiro que eu te dou cobertura. Vai!
Jonny saiu correndo para dentro do banheiro e fechou a porta com rapidez. O problema era que gostava muito de Hanna e nunca tivera muitos relacionamentos sérios porque não conseguia se prender a uma garota só. Ele era como , mas... Menos. E por estar em um relacionamento com Hanna, a gostosa da Hanna, ele se sentia intimidado. Não queria fazer nada que pudesse estragar aquilo. Ela era mais velha e logo iria para a faculdade. Jonny nunca tinha expressado aquilo, mas ele meio que estava com um pouco de medo de Hanna se cansar dele e trocá-lo por algum cara da faculdade. Definitivamente não contaria aquilo para ninguém, porque aquele medo não era algo natural dele. Para ficar preocupado assim, ele só poderia estar começando a gostar dela. Merda.
Enquanto isso, Hanna achou sentado em uma mesa sozinho comendo dois hambúrgueres, duas porções de batatas e dois refrigerantes. Ela torceu o nariz, sabendo que Jonny estava ali. Marchou até a mesa em que ele estava e se sentou onde antes Jonny estava sentado. Hanna colocou as mãos na mesa, torcendo a toalha amarela que a cobria com as mãos finas.
-Olá, Hanna. – disse com a maior calma do mundo. Um sorriso despojado cruzou seu rosto, e se ele não fosse tão bonito, Hanna teria ficado menos irritada.
-Ele está aqui, não está? –o olhar assassino em seu rosto quase assustou . –Ele tem ignorado minhas ligações e praticamente sai correndo quando me vê. Eu sei que está aqui.
-Ele quem? –ele perguntou com um tom casual. Pegou uma batata e passou no molho de churrasco, para em seguida saboreá-la bem devagar. A garota esperava que parasse com isso logo e falasse a verdade, só que lambeu um dedo e fechou os olhos em deleite. –Ah! Você está falando do Jonny?
-Pare de se fazer de bobo. Onde ele está?
-Aqui não.
-Eu não sou idiota, . Onde ele está escondido?
-Do que está falando? Eu não sei onde meu irmão está.
-Está dando cobertura para ele, é isso. Ele está no banheiro?
-Não.
-Ele está no banheiro. –ela concluiu, já se levantando para esperar na porta do banheiro. –Você não sabe mentir.
-Espere! – pegou o pulso dela quando ia começar a andar. Ele fez Hanna se sentar de novo e respirou fundo, pensando no que inventaria. –O que te faz pensar que Jonny está aqui?
-Você comendo duas porções de cada coisa.
-Eu não posso estar com fome?
-Por favor, . Você é um atleta, você consulta uma nutricionista quinzenalmente. Lógico que não está comendo tudo isso sozinho.
-Você tem razão. Tem outra pessoa comigo.
-Eu sabia! Onde ele se escondeu?
-Mas não é o Jonny.
-Ah, não? Então quem é?
-Eu estou com uma garota.
-Como? –os olhos dela quase saltaram das órbitas. Ela correu os olhos pelo lugar, com a testa enrugada. não entendeu o motivo de aquilo ser tão chocante para ela. –Quem é ela?
-O nome dela? Por que quer saber? –ele apertou os olhos com força. –O nome dela é Angel Kudrow.
-Vocês estão num encontro? Onde se conheceram? Onde ela está?
-Calma, polícia. –ele riu nervoso. –Ela mora na April Hall também e estamos num encontro. Ela foi ao banheiro.
- sabe disso?
-? – ficou confuso. O que tinha a ver com aquilo tudo? –Por que deveria?
-Nada. Eu só... Bom, acho que vou andando. Desculpe.
Ela se despediu dele e saiu, desconsertada. Realmente não tinha previsto aquilo. Será que contava ou não a ?
Jonny bateu na parede, impaciente. Estava demorando demais. Quando resolveu sair e encarar sua namorada, seu celular tocou. Hanna já foi. –
Ele saiu correndo do banheiro e se sentou na cadeira, quase a derrubando. estava com uma expressão confusa no rosto.
-Que demora foi essa? –Jonny perguntou e voltou a comer.
-Sua namorada. – respondeu, ainda olhando fixamente para o pano de mesa. –Ela é muito insistente.
-Eu sei disso. Ela ficou brava?
Ele concordou com a cabeça sem nem olhar para o irmão.
-Droga! Eu amo quando ela fica brava, fica tão sexy.
-Comentário desnecessário.
-Mas é verdade. Eu quero muito falar com ela, só não sei como.
-Que pena você não ter o hábito de conversar com ela porque vocês ficam ocupados demais fazendo outras coisas.
-Pare de me encher. E o que deu em você, hein?
-Nada.
-Aposto que tem algo a ver com ou com...
-Eu falei pra Hanna que estava num encontro para ela ir embora. Ela perguntou o que achava disso.
-Com . Eu sabia. E daí?
-Eu não sei. Por que eu teria que dizer algo à ?
-Você não precisa. Não é como se vocês fossem...
-Eu não entendo a . Eu não entendo ela.
-Você está bolado assim por que? Eu ainda não entendi. E daí que ela perguntou se sabia? Ela não sabe. E não precisa saber. Pronto. Mesmo porque é mentira.
-É, tem razão.
-É claro que eu tenho razão.
Enquanto os dois iam acabando de comer, o garoto ficou pensando sobre o que ouviu sobre e . Ela nunca tinha contado a ele que gostava de . Mas então percebeu que não precisava. Eles não eram nada um do outro. Pensou na noite que passou com Angel. Ele a deixou em seu quarto e foi dormir em seu quarto com – que não estava falando com ele –. Angel tinha praticamente se atirado nele e o beijado até seus lábios secarem. Mas não se importou, estava precisando ficar com alguém que não o fizesse se sentir culpado por isso.
-Já que eu te contei esse lance da Hanna, você vai precisar me responder algo. –Jonny disse com um sorriso malicioso no rosto. nem queria saber o que o esperava.
-Você contou esse lance da Hanna porque você quis. Na verdade, depois que eu te dei cobertura, quem está me devendo um favor é você.
-Tudo bem, só me responda. Pode me responder, não pode? –ela levantou as sobrancelhas e concordou, dando de ombros. –Eu me lembro de ter visto você com na cama.
-Não quero falar sobre isso.
-Aquela não foi a primeira vez que aquilo aconteceu, foi?
-Não. –ele admitiu, se lembrando de todas as outras vezes. Ele se lembrou dos beijos que eles deram, de como nas outras vezes se esquecia do mundo ao beijá-la, de como ele era dependente dela. E sentiu uma necessidade de beijá-la, mas ela foi embora à questão de segundos, como um vento forte. Ele se lembrou de e do dia que os dois tinham bebido além da conta e dormido juntos. E não pode deixar de compará-la com .
-Eu sabia que não.
-Do que está falando?
-Não é nada. –Jonny respondeu com um sorriso.
girou os olhos e olhou em seu Rolex no seu pulso. Ele combinou com Angel de encontrá-la no saguão para a última festa da semana.
-Mano, eu preciso ir. Tenho um encontro. Tudo bem se você ficar aqui e acabar sozinho?
-Claro que sim. Já estava passando da hora de você ter um encontro, cara! Vê se não estraga tudo.
-Obrigado por seu voto de confiança.
-Sempre um prazer.
riu e bagunçou o cabelo do irmão. Ele deu alguns passos até a saída.
-! –Jonny gritou, fazendo-o se virar rapidamente. – sabe sobre isso?
Jonny começou a rir e sorriu, aceitando a chatice do irmão. Ele riu demais dele para se iludir achando que Jonny não iria revidar.
-Você é ridículo. – disse rindo.
Ele assentiu com a cabeça e o menino saiu correndo para o meio-fio, onde seu carro estava estacionado.
*
saiu do quarto a procura de . Ele não queria ter que conversar com ela por motivos óbvios, mas depois do que ela tinha feito com , não poderia deixar de falar. Mais cedo ligou para e ela disse que não iria à festa por causa da vergonha que passou. Aquilo fez com que a raiva dele aumentasse.
Ele vestia um suéter listrado de preto e branco com mangas longas que foram dobradas na altura dos cotovelos, combinando com sua calça jeans preta e seus Adidas brancos. cheirava à canela por causa do perfume que passou antes de sair do quarto. O colarinho de sua camisa estava um pouco úmido por causa de seu cabelo molhado. Seus cachos loiros caíam desajeitados, de um jeito despojado que o deixava atraente.
Ele procurou por no quarto de Sofia, com quem ela costumava dividir o quarto. Mas Sofia disse a ele que havia exigido um quarto com Angel e Ashley e quem estava com Sofia no momento era Liz. Ele ficou com pena de Sofia. Ela devia ter se sentido ofendida por querer mudar de quarto. Por outro lado, provavelmente se acostumou com os caprichos e exigências ridículos de .
estava no quarto deles se arrumando para a festa. Segundo ele, não iria a festa com ele porque estava dando um tempo à ela. “Quem sabe a gente se esbarra lá dentro?” foram as palavras dele. não queria insistir com o amigo que aquilo não daria certo, mesmo sabendo que tinha terminado. Deixou sozinho fazendo seus planos e foi embora.
Ele finalmente encontrou o quarto de . Quando bateu na porta, quem abriu foi Angel. Bacana, estava evitando se encontrar com a ex-namorada, e quando finalmente cria coragem, encontra e Angel. Ela usava um vestido azul pérola de seda, que tinha mangas compridas. Seus cabelos encaracolados estavam presos em um rabo no alto da cabeça, deixando a mostra seus brincos brilhantes de diamante. Quando percebeu que era quem estava esperando, seu rosto passou de surpreso para feliz. Ele sorriu amarelo.
-Oi, ! –ela guinchou e foi abraçá-lo. Demorou-se um pouco em seus braços antes de soltá-lo. –Você está tão cheiroso.
-Ah, obrigado. –ele murmurou com sua voz grossa. – está aí?
-Você veio ver a ? –Angel fez biquinho. –!
-O que foi? –ele pôde escutar a voz com sotaque do Sul de vinda do banheiro.
- está aqui para falar com você.
-O que? Estou indo, !
-Você está muito bonita. – disse tanto ser educado. Fingiu que não percebeu a decepção no rosto da garota e o modo como chamou à amiga quando lhe foi pedido. Angel nunca era muito sutil, e isso o deixava bastante sem jeito quando ficava perto dela. Mesmo assim, nunca a tratou com desrespeito ou grosseria, sempre tentava ser legal. Ainda mais porque já namorou com sua amiga, então o mínimo que podia fazer era tentar se dar bem com as suas amigas, mesmo que elas dessem em cima dele.
-Obrigada! –Angel deu um beijo um pouco demorado demais na bochecha dele, deixando-a melada por causa do brilho labial que usava. –Mas hoje é para outra pessoa.
-Então você tem um encontro.
-Tenho. O nome dele é , conhece?
-Sim. –ele sabia que era amigo de . Já o viu jogando futebol uma vez, e era admirável seu esforço e talento. O garoto era pura competência, e sabia que tentaria algo mais sério com o esporte. Não tinha dúvidas de que conseguiria. –Bom, divirta-se.
-Vai ficar com ciúmes?
riu falso e um vulto vermelho atrás dela chamou sua atenção. Era . Angel saiu do quarto, meio contrariada e deixou os dois a sós. Ele olhou de cima para baixo para , mesmo que não gostasse muito de fazer isso por achar desrespeitoso. Seu corpo chamava a atenção num vestido vermelho sem alças, que poderia ser considerado vulgar, mas não nela. A garota conseguia ficar elegante em tudo o que usava, e não somente elegante. Sexy. Os cabelos dela estavam mais lisos que o normal, com sua franja caindo perfeitamente. Ela passou algo preto em volta dos olhos um pouco puxados e um batom vermelho combinando com o vestido, que deixava à mostra suas longas pernas bronzeadas e seus sapatos brancos de salto agulha. engoliu em seco. podia não ter uma das melhores personalidades, mas era uma das garotas mais bonitas que ele já tinha visto.
-Gostou? –ela perguntou mordendo o lábio inferior e despertando-o de se pequeno desvio de atenção. Ele se endireitou e se lembrou do mundo ao seu redor.
-Você está bonita. –ele passou a mão pelos cabeços enquanto fechava cautelosamente a porta. sorriu, e ele decidiu ir direto ao assunto. –Olha, eu vim conversar com você porque sei o que fez.
-Do que está falando?
-Não finge que não sabe. me contou que você disse a ela que a festa no Gentleman Club seria à fantasia. Precisava mesmo, ? Eu juro que dessa vez você me surpreendeu com a criancice, nós não estamos mais no Ensino Médio. Você nunca se cansa de atrapalhar a vida dos outros?
-Ela te disse que eu fiz isso?! – colocou a mão no peito, como se aquilo fosse um absurdo. Ela sabia que iria vir falar com ela, mas queria prolongar aquela conversa um pouco mais. O menino bufou com impaciência. Quando namoravam, foi obrigado a assistir Legalmente Loira duas vezes com a garota, que queria agradá-lo porque o filme é sobre uma garota que faz Direito. Sabia até de onde veio a inspiração da ex-namorada para fazer aquela maldade com , então não adiantava negar para ele.
-.
-Tudo bem, pedi às meninas para me ajudarem, mas a ideia foi minha.
-Por que fez isso? A te intimida, não é? Você ficou com medo de alguma coisa?
-Não seja bobo, é claro que ela não me intimida. Ninguém me intimida. – o empurrou até que ele encostasse-se à parede, perto da cama de Ashley. A respiração dele se acelerou com a surpresa, e pensou em tirar seu braço dali e ir embora, mas sabia que não faria nada com ela ali. – Eu fiz isso por uma boa causa, para me aproximar de você.
-Mas seu plano deu errado, já que eu fui atrás dela.
-Está vendo? Você é o problema e também é a solução. É por isso que eu gosto de você.
-...
-, alguém já te falou que você fica muito sexy de listras?
estava com a mão direita apoiada na parede, ao lado da cabeça dele, de modo que os dois ficassem frente a frente. Uma distância bem perigosa. Podia sentir a respiração quente da garota em seu rosto, e seus lábios cheios estavam bem perto dos dele. O cabelo caía pelas costas graciosamente, deixando os ombros nus, a pele mais escura que a dele brilhando e cheirando a algum creme.
-Para com isso.
-Ah, ! Tente ver as coisas pelo meu lado. Eu só queria ficar com você, entendeu? te deixa distraído e eu queria você só para mim.
se aproximou e fez que ia beijá-lo. virou a cabeça para o lado. Ela soltou uma risada.
-Vai se fazer de difícil?
-Eu não quero você fazendo mal à . – falou com a voz firme. Era difícil se concentrar, a atração que ainda sentia por pregava peças em sua mente quando a menina ficava tão perto, implorando para que ele colocasse a mão nas costas dela e a puxasse para perto. O suéter que vestia de repente começou a lhe sufocar. –Se você fizer qualquer coisa contra ela, vai ter que me encarar depois.
-Oh, e o que você faria contra mim? –ela colocou o dedo indicador em cima dos lábios macios dele, sentindo sua respiração ofegante. Lutou contra a vontade de mordê-lo, de morder a garota, pegando seu lábio inferior e puxando-o para si, coisa que ela amava quando ele fazia. –Você não tem coragem de fazer nada contra mim.
-Experimente.
-, você vez com esse papo de para cima de mim, mas não me engana. Eu sei que anda gosta de mim... Eu vi o jeito que me olhou quando me viu. Por que continua se fazendo de difícil?
-Eu não vou mentir. Você sempre foi e é muito linda, . Só que não tem chance nenhuma de nós dois voltarmos a ser alguma coisa.
-Ah, para com isso. –ela afundou a cabeça no pescoço dele, beijando-o e fazendo estremecer. Os beijos da menina eram demorados e molhados, como quem sabe exatamente o que está fazendo, e droga, ela sabia. Um arrepio subiu pela coluna do garoto, que conseguiu recuar um pouco. –Mas já que você quer tanto salvar a sua amiga, vou deixá-la em paz.
-Ótimo. E qual é a condição?
-Vejo que me conhece bem. –ela riu. –Venha até aqui hoje à meia noite. É o único jeito de eu deixar sua amiguinha em paz. E é melhor vir mesmo, porque eu já estou pensando em outra cilada para ela.
-E como saberei que estará falando a verdade?
-Bom, você sabe que eu sou capaz de fazer muitas coisas a quem eu não gosto. E quanto à minha parte do trato, vai ter que confiar em mim.
-Eu não confio em você.
-Sinto muito, então.
bufou, empurrou-a para longe dele e saiu do quarto furioso. Ele não acreditava que era tão suja a ponto de pedir aquilo para ele. Se a menina queria que os dois voltassem a ser namorados, com certeza não seria assim que conseguiria. Foi para o quarto dele, batendo a porta com força e caindo na cama. Não estava com ânimo para festa nenhuma. estava sem camisa na porta do armário, decidindo qual blusa iria usar. Ele tirou sua atenção do guarda-roupa e olhou preocupado para .
-O que você tem?
Não queria falar sobre isso, especialmente com o amigo, porém sabia que se não falasse ficaria remoendo o assunto em seus pensamentos. Murmurou:
-O de sempre.
-O que fez dessa vez?
-Nem queira saber.
-Não, só perguntei por educação. –ele se virou, fazendo sorrir com a sinceridade desnecessária. –Ouvi dizer que convidaram Heather para a festa.
-Mesmo? E ela vem?
-Acho que sim. Ela é doida para aceitar a ir numa das festas dos alunos. Se os diretores descobrirem, provavelmente estará encrencada. Michael disse que vai chegar nela.
-Ele pirou.
-Não acho. Você devia tentar.
-Eu? Por que eu?
-Você está precisando de uma garota. Fiquei sabendo que ela é muito bonita. Não acha?
-É, ela é bonita. Mas eu não sairia com ela.
-Por que não?
-Ela é prima da .
-Da ? Ah. E daí?
-E daí que eu... Não sei.
deu de ombros e ficou confuso. Ele mesmo não sabia qual era o problema, mas algo ali de alguma forma parecia errado para ele, principalmente quando se lembrou dos momentos divertidos que passara com ela. Era tão fácil conversar com , e sinceramente era daquilo que ele precisava. Sentia-se bem perto dela, como se... Não sabia como, só sabia que gostava da sensação que lhe causava.
-Estou de saída. – disse. –Vou até o quarto do David.
-Tudo bem.
Ele saiu e deixou o amigo sozinho. pegou seu celular e procurou pelo número de . Ela atendeu no terceiro toque.
-?! –a voz dela soou esganiçada. –Que surpresa!
-Estou atrapalhando? –ele perguntou, se deitando novamente em sua cama. Passou um braço atrás da cabeça e esticou os pés até que estivessem bem relaxados.
-Não, claro que não. –ela soltou uma risada que fez com que ele involuntariamente sorrisse. fechou os olhos, pensando que o riso dela não era igual o da prima, o de era mais gostoso. Aquele tipo de risada contagiante que faz com que o homem mais sério do mundo a acompanhe se ela decidir rir de algo perto dele. – Tudo bem?
-Sei lá. –ele deu uma risada rouca, imaginando o que ela poderia estar fazendo naquele momento. Tinha consciência de que poderia ser um péssimo momento, e que não caía bem para ele sair ligando para as pessoas do nada, só porque queria falar com elas. A verdade era que gostava de conversar com a garota, e fazer isso era tão satisfatório que se pegava com vontade de repetir. Estava estressado, e pensou em telefonar, pois sabia que se alguém conseguiria deixá-lo feliz, essa pessoa seria . Constatar isso foi ao mesmo tempo assustador e bom, e fez com que ficasse confuso, mas não surpreso. A enxurrada de pensamentos que sua cabeça recebeu foi tamanha, que somente conseguiu dizer o que resumia tudo. –Eu estava com vontade de falar com você.
Do outro lado da linha, a garota estava tendo um ataque de felicidade.
-Me disseram que você viajou. Onde está?
-Na casa do meu pai e da esposa dele. Minha mãe me obrigou a vir para cá justamente na semana mais legal de todas.
-É, realmente é algo muito ruim quando se perde a semana das festas. Sinto muito por você. Mas como estão as coisas aí?
-Quer mesmo saber?
-Pode me contar.
-Bom, a minha madrasta é uma mulher superficial e fútil, e as filhas dela são mimadas e meio insuportáveis. Meu pai parece um estranho e eu estou trancada no meu quarto desde bem cedo.
-Uau, isso é mal. – ele procurou em sua mente algum conselho para dar a ela, mas não conseguiu pensar em nada bom. – Hum, eu acho que você deve falar com seu pai, para ouvir o lado dele.
-, o lado dele é simplesmente que ele se casou com uma idiota e se mudou.
-Você não sabe.
-Tenho quase certeza. –ela suspirou. –Mas vou tentar. Obrigada.
-E você pretende sair do seu quarto quando?
-Eu não sei. –ela riu. –Joane, minha madrasta, vai fazer uma comemoração em um salão de festas aqui perto. Acho que eu preciso ir, não é mesmo?
-Eu acho que não precisa. Mas deveria.
-É, eu sei. Como estão as coisas aí? A está melhor?
-Ela te contou. – suspirou, imaginando até que ponto da noite sabia. Ele esperou que ela não soubesse o que tinha acontecido entre ele e . –Eu não a vi hoje, mas ela não estava em casa, então acho que já deve estar melhor.
-Foi muito legal da sua parte ajudá-la.
-Não foi nada. Hoje teremos nossa última festa da semana, sabia disso? Já dá para ouvir o pessoal lá em baixo ligando o som.
-Queria muito estar aí.
passou as mãos pelos cabelos e se deitou na cama. Quando ligou, ficou tão ansiosa e feliz que ficou andando pelo quarto enquanto conversava com ele. Tinha sido a melhor coisa que aconteceu desde que ela chegara à casa do pai.
apertou os lábios. Ele estava feliz.
-Sabe, eu conheci sua prima hoje. Heather.
-É mesmo? Como?
-Ela é minha professora.
-Jura? A Heather é tão nova.
-É, os caras gostaram dela. –ele riu. se perguntou se também tinha gostado dela. –Ela vai vir à festa hoje.
-E você gostou dela? – tentou soar brincalhona, mas o desespero em sua voz era notável. Heather era muito bonita e tinha uma lábia muito boa, qualquer um podia gostar dela.
-Ela é legal. – ficou vermelho, e agradeceu por ela não poder ver. –Mas eu não tentaria nada a mais. Primeiro porque é a minha professora, e se alguém descobrisse eu estaria encrencado. Mesmo que eu seja maior de idade. E segundo porque eu não curto muito mulheres mais velhas.
-Ah! –ela exclamou aliviada.
-Ela me lembra muito você.
-Você acha?
-Vocês se parecem muito. –ele mordeu o lábio inferior. Depois, admitiu algo que não devia ter saído. –Ela fez com que eu pensasse em você a aula inteira.
-O que? –ela praticamente gritou. Seu estômago deu voltas e mais voltas e ela não pôde acreditar no que tinha ouvido. arregalou os olhos e ficou vermelho de novo. levantou-se da sua cama e deu uns sete pulos enquanto esperava a justificativa dele.
-Eu... –ele gaguejou. –Me desculpe. Isso saiu sem querer.
começou a rir, fazendo-o rir também. Ele estava muito envergonhado. Nem tinha consciência daquelas palavras até dizê-las em voz alta, mas quando disse percebeu que era realmente verdade. Do outro lado da linha, ouviu um barulho de porta e uma voz feminina dizendo:
-, mamãe está perguntando se você vai a festa. – bufou. Era Bianca.
-Estou no telefone! – gritou com raiva. deu um sorriso confuso. –Dá para sair? Eu vou à festa da sua mãe, agora pode sair?
-Está conversando com ? –Camilla apareceu atrás dela com um sorriso malicioso nos lábios.
-Dá para sair daqui? – começou a ficar aflita, com medo de que ele escutasse.
-Calma, maninha. – Camilla riu. – Quero conversar com .
-Não, isso não vai acontecer.
-Eu acho uma ótima ideia. –Bianca soltou, com um meio sorriso. Ela empurrou Camilla para que fosse até a cama de e brigasse pelo telefone em sua mão.
-Solta esse telefone! – gritou. não estava entendendo nada.
-Deixe-me falar com . –Camilla disse. Ela finalmente conseguiu tirar o telefone da mão de e colocou-o em seu ouvido, enquanto Bianca segurava . –Olá, .
-Hã... Oi. –ele falou sem entender nada. –Quem é?
-Uau, você é de verdade. –ela deixou escapar. As irmãs não estavam acreditando que realmente podia ter um namorado como aquele. Se elas soubessem a verdade. Ela olhou para a irmã, que arregalou os olhos quando viu o sinal de positivo que lhe foi direcionado. Camilla tinha gostado do fato da voz dele ser grosa, por isso sorriu. – falou de você.
-Me solta! – gritou tentando sair das garras de Bianca. Ela queria cavar um buraco no chão e se esconder depois daquela. Bianca começou a rir. –, não escute nada que elas falam!
Não tinha como ficar pior.
-Aliás, ela até nos mostrou uma foto sua.
Ok, talvez tivesse como ficar pior. começou a se mover rapidamente e conseguiu sair de perto de Bianca. Ela praticamente pulou em cima de Camilla e pegou o telefone da mão dela, expulsando as meninas com a outra mão.
começou a rir, surpreso com o que tinha acabado de ouvir. Aquilo era algo que ele não esperava. Começou a imaginar o que falou dele.
-Me desculpe por isso. – finalmente disse algo. A voz dela estava trêmula.
-Eu espero que você tenha falado bem de mim.
O telefone desligou abruptamente, assustando-os. olhou para o celular, que tinha acabado a bateria.
E de certa forma, ele ficou decepcionado.
*
andou pelo corredor do terceiro andar até o quarto da Sra. . Ela dirigiu até lá o mais rápido que pôde, passando pela Avenida Sessenta e Quatro, perto da April Hall. Quando finalmente conseguiu estacionar o carro, o alarme apitou quando estava na entrada da grande casa de . Já estava muito estressada. Quando uma empregada abriu a porta, ela praticamente a empurrou e subiu os lances de escada correndo até o quarto da Sra. . Ao chegar lá, sequer bateu na porta.
Haviam uma empregada e duas enfermeiras dentro do grande quarto. O Sr. felizmente não estava lá, o que facilitaria as coisas. quase caiu no chão, ofegante. A mãe de pediu para as empregadas para que as deixassem a sós.
correu para a beirada da cama dela, que lhe deu um sorriso triste.
-E aí? – perguntou. –Como estão as coisas?
-Até agora nada aconteceu. Estou muito preocupada com o que ele esteja aprontando lá dentro. –ela passou as mãos nos cabelos que careciam uma pintura. –Jorge não está aqui, nem os outros irmãos de . Você deve ir até lá e tentar acalmá-lo. Não se preocupe se demorar tempo demais, quando sentir que é a hora, venha até aqui porque temos muito para conversar.
-Tudo bem. – se endireitou e passou as mãos pelos cabelos, tentando dar uma arrumada.
-A chave está em baixo do tapete do quarto dele.
correu para o andar debaixo até o quarto de . Nem sabia o que pensar, estava nervosa. Mas teria que se comportar, mesmo que estivesse com um pouco de medo. Pelo jeito que a mãe de descreveu a explosão dele, ela pensou que ele tinha surtado mesmo. O menino não era de ficar bravo assim. Ela se agachou com custo e pegou a chave, abrindo a porta. Depois, a fechou novamente, colocando a chave em seu bolso. Apertou os olhos com força e os abriu. estava encostado sobre a cadeira da escrivaninha dele, com a cabeça inclinada para trás e dormia profundamente. A camisa dele estava toda amassada e o cabelo todo bagunçado.
Movendo-se bem lentamente, se sentou ao lado dele e pegou sua cabeça nas as duas mãos com muita delicadeza. Isso fez com que acordasse com a cabeça apoiada no ombro dela, que o envolvia num abraço apertado. Ele estava grogue e tremia um pouco. Aquela visão fez com que os olhos dela lacrimejassem.
-Está tudo bem. –ela sussurrou. –Está tudo bem, .
assentiu com a cabeça, sem forças para dizer nada. o ajudou a deitar na cama e depois foi para o banheiro. Ela pegou uma toalha molhada e passou sobre o rosto dele, tirando as marcas das lágrimas e um sangue seco do arranhão que ele tinha feito e que tinha começado a sangrar novamente, provavelmente quando começou a se esmurrar.
Ao acabar seu trabalho, pegou a mão dele, que a apertou com força, fazendo-a dar um gemido.
-Desculpe. –ele disse com a voz bem rouca, causando um arrepio na garota. Ela o observou: menino parecia uma obra de arte.
-Como você se sente?
-Como se tivesse sido traído. –ele olhou para pela primeira vez na noite. –Mas eu me sinto pior ainda pelo o que fiz com a minha mãe. , eu quase bati nela.
-Você estava com raiva.
-Ela deve estar com medo de mim agora.
-Ela não está.
-Eu sei que exagerei. É até meio ridículo se eu for parar para pensar, mas, por favor, entenda. Eu acordo meia hora mais cedo todos os dias para falar com a minha mãe doente. Escolhi uma nova enfermeira para ela com todo o cuidado. Nenhum dos meus outros irmãos faz tanta coisa. Estou disposto a largar tudo para ficar com ela. Não acha que de todos, era eu o primeiro que deveria saber?
-Eu entendo. – se sentou na cama dele, ao seu lado. Ele chegou para o lado para que ela pudesse caber. As mãos dos dois ainda estavam dadas, e a menina se sentiu feliz por aquilo. –Mas foi por isso mesmo que ela não te contou. Sua mãe ficou com medo de você largar sua vida de lado por causa de tanta preocupação. Não foi nada sério, todo mundo sabia que ela iria se recuperar rápido e eles podiam esquecer isso. Está se recuperando rápido.
-Eu me sinto traído.
-Não se sinta assim. Sua mãe fez isso porque se preocupa demais com você.
-Eu sei. Vou me desculpar com ela. Mas não hoje.
-Pode levar o tempo que quiser. Somente esqueça isso, tudo bem? –ela suspirou de alívio por tudo ter dado certo. Sabia que aquele não era o momento, mas tinha medo de que resolvesse não querer falar com ela nos próximos dias. Por isso, decidiu tentar. –Assim como ela, eu só fiz as coisas que fiz, dei ataques de ciúmes porque não quero te perder.
-Não quero falar disso. – o garoto disse rapidamente, pensando que não foram somente os ataques de ciúmes. Ele se lembrou de tudo e de que sabia do que tinha acontecido com a mãe. Até entendia o porquê de sua mãe não contar a ele o que tinha acontecido com ela, mas não. Ela tinha a obrigação. –Eu perdoei minha mãe por não ter me contado. Mas você eu não perdoo.
-Mas , eu só estava tentando te proteger! Sua mãe me pediu...
-, você não tinha o direito de esconder uma coisa dessas de mim. Isso é sobre a saúde da minha mãe. Esse segredo não pertence a você.
Os olhos dela se encheram de lágrimas. De novo não.
-Você não tinha o direito, . –ele passou as mãos sobre o rosto, com muita dificuldade de dizer o que viria. –Você pode sair?
-O que?
-Por favor. Eu quero que saia.
respirou fundo e assentiu com cabeça, trancando o quarto dele e deixando a chave onde tinha achado. Ela começou a chorar, sem saber o que fazer. Pensar que achava que ela tinha feito aquilo por mal acabou com ela. Não queria passar no quarto de Emily, só queria sair dali logo. Não conseguia descrever o que sentia: medo, tristeza, raiva...
Porém, não podia deixá-lo sozinho naquela situação de jeito nenhum. Ela se importava demais com para guardar rancor dele. Por isso, pegou seu telefone e ligou para uma pessoa que nunca pensou que ligaria, mas que sabia que podia ajudar.
-Jesus, eu não acredito. – pôde ouvir do outro lado da linha. Ela tinha aquela voz de quem estava tirando sarro de alguém. Era uma das coisas que a irritava nela, como se não estivesse nem aí para nada, quando na verdade deveria viver preocupada com tudo. Ou não. Talvez aquela fosse , e não a garota. Limpou as lágrimas e clareou a garganta.
-Primeiramente, quero que saiba que não tive mais escolha. – soltou e contou o que aconteceu com o menino, e a cada surtada dizia “Meu Deus!”. –Venha para a casa dele. Acho que no momento você é a pessoa para ajudá-lo.
-Não acredito que um dia ouviria uma coisa dessas. – suspirou, pensando o quanto devia amá-lo. –Uau. Tudo bem. Estou saindo da April Hall.
-A chave está embaixo do tapete da porta.
*
se olhou no espelho. Vestia um vestido bege tomara que caía rodado que ia até um pouco antes dos lhos. Seus saltos Annabella também beges combinavam perfeitamente. Ela deixou os cabelos ondulados soltos e cheirava a um perfume que Jojo Marques comprou para todas as meninas e dera um para ela também no dia da Festa do Luar.
Apesar de Justin mexer com ela, ficou até meio aliviada depois que botou fim naquela situação. Até aí ainda estava meio tensa, pensando nas falhas que seu pai tinha cometido com ela e pensando se iria ou não na festa de aniversário de Joane.
Mas tudo ficou colorido depois que ligou. Quando se lembrava do que suas irmãs falaram para ele, riu consigo mesma, envergonhada. Ela se sentia como quando era mais nova e se apaixonou por Zac Montrey, um primo de que fora fazer intercâmbio. Como ela e ainda eram muito amigas, pedia conselhos para sobre como conquistá-lo. Ele a ajudava com muita boa vontade, como sempre. Ela se sentia tão leve quando ele a olhava. Quando falou com o menino pela primeira vez quase explodiu. Ficaram amigos e conversavam por telefone todos os dias antes de dormir e pensava que se sentia completa. A menina amava seu sotaque do Sul e realmente se sentia correspondida. E era. No Baile no final daquele ano disse que ele finalmente admitiria o que sentia. Um imprevisto aconteceu com a tia dele e Zac precisou voltar mais cedo do que planejava. Ele foi embora durante o baile e nem se despediu dela. sofreu muito depois de sua partida. Apesar de alguns meninos e relacionamentos, a garota não tinha muitas experiências reais e completas com meninos. Depois que ficou mais velha e as coisas começaram a mudar, aquela fase na adolescência em que meninos e meninas começam a se distanciar e uma tensão passa a existir entre os dois, nunca mais teve um namorado.
Normalmente não pensava nele com a tristeza que sentiu quando ele teve que ir, mas pensava de um jeito leve. a fazia se sentir assim. Por enquanto não com a intensidade que Zac provocava, mesmo porque não fazia muito tempo que eles se conheciam. Mas gostava de gostar dele e tinha um pressentimento que sentiria exatamente o que sentiu com Zac de novo. Algo em era tão... Ela nem sabia explicar.
Só o fato de ele ter ligado para já a agradava porque significava que estava pensando nela. Mas quando disse que realmente pensou, quase fez com que a menina explodisse segurando um grito de felicidade. Ficou curiosa também, queria saber o que ele pensara.
Ela foi até a sala de jantar da casa de Bob, onde ele estava sentado na mesa com um terno e conversava no telefone. ouviu as vozes de Camilla e Bianca vindas da cozinha.
-Ela acabou de descer e vai conosco ao aniversário de Joane. –Bob disse, fazendo-a entender que estava conversando com a mãe dela, o que era um tanto bizarro. –Por aqui está tudo bem. Como ela está? –ele olhou com um sorriso franco para a filha e um olhar triste. –Sempre maravilhosa.
quase sorriu. Mas se ele achava que iria compensar a discussão de antes falando aquilo, só podia estar viajando. Deixou os pais conversando no telefone e foi até a cozinha, com uma ponta de curiosidade para saber o que as meninas estavam vestindo. Quando ia se aproximando da cozinha, parou imediatamente, escutando a conversa das irmãs.
-Papai está conversando com a mãe dela. –Camilla comentou com uma voz de desprezo. –Ela é tão ridícula que provavelmente vai vir aqui vestindo jeans, como hoje mais cedo. Tudo bem que não tenha senso nenhum para moda, mas pelo menos podia pedir ajuda para alguém. Sabe, mostrar um pouco de respeito à nossa família.
-Eu que não ajudaria ela. –Bianca riu e fez a irmã rir também. –Ela realmente não tem respeito nenhum. Fica flertando descaradamente com Justin na minha frente, acredita nisso?
-Por que você não conta para o papai? Com certeza ele vai ficar do nosso lado.
-Vou só esperar uma oportunidade. E aquele namorado dela, como será que conseguiu?
-Tem voz de homem. –Camilla completou. –Por isso, sem chance de ser gay.
-É lindo e hétero e ainda quer ficar com ela. A única explicação é ele ser retardado.
não aguentava mais ouvir aquela conversa. Estava pronta para invadir a cozinha e falar muitas coisas desagradáveis para as duas, quando se deteve. A outra voz que escutou chegando pela porta da cozinha fez com que se arrepiasse de surpresa.
-Justin! –Bianca gritou com a voz esganiçada. –Meu Deus, eu odeio quando você entra por essa porta, já falei que...
-Joane ainda está aqui? –ele perguntou sem nem cumprimentá-la. Os dois pelo jeito ainda estavam brigados. Era fofo da parte dele ir até lá por causa de Joane.
-Ela já está na festa. –Camilla disse.
-Tudo bem. Já estamos indo?
-Só esperando a . –Bianca falou e a garota teve certeza que ela tinha feito uma careta.
resolveu que aquele era o momento. Levantou a cabeça e ficou firme, andando com passos fortes até a cozinha. Quando entrou, as duas irmãs olharam para ela surpresas, mas não do jeito bom. soube disso quando viu a boca escancarada delas.
Já Justin teve outra reação. Ele a olhava intensamente, sem desviar nem piscar nenhum segundo. Como se nem a namorada e nem ninguém estivesse ao lado dele. Seus olhos verdes brilhavam e depois de uns segundos que para pareceram séculos, sorriu abertamente, mostrando os dentes.
-Olá, meninas. – disse indo até o espelho do micro-ondas e passando um gloss nos seus lábios. Elas finalmente recuperaram a postura e murmuraram um “Oi.”. –Justin.
Bianca olhou para o namorado de um jeito alerta, mas ele não percebeu. Estava meio concentrado demais em e em todos os movimentos que ela fazia. O rosto dela ficou vermelho de raiva e cutucou Camilla, que entendeu perfeitamente que as duas tinham um problema. foi para a sala chamar o pai pra ir embora e Justin a seguiu sem nem disfarçar. As meninas foram atrás dele e quando chegaram à sala, o homem deu um sorriso.
-Estamos todos prontos? – perguntou. Como todos concordaram, ele se levantou e disse que era para todo mundo ir para o carro.
-Eu prefiro ir com Justin no meu carro. –Bianca se manifestou. –Pensando bem.
-Você acha que vou deixarei você ir com seu carro? Durante a festa você vai beber e não quero que volte dirigindo. Por isso vamos todos juntos, sem discussão.
Ela bufou e foram todos para o carro de Bob. Justin ainda não tinha desviado os olhos de , e aquilo já estava ficando desconfortável. Ela se sentou no banco atrás do de seu pai. Camilla se sentou no banco do carona, e antes que Bianca pudesse se mover, o namorado se esgueirou para o meio, ao lado de . Ela fingiu estar muito interessada na paisagem enquanto o trajeto não terminava. Bianca conversava por mensagens de texto com Camilla, que pareciam estar planejando alguma coisa. Bob estava muito concentrado na música que saía pelo som do carro. começou a se distrair e esquecer que Justin estava ali porque ele já tinha parado de olhar para ela e começou a conversar com Bob sobre qualquer coisa.
Foi aí que o estômago dela deu uma reviravolta, sem ela querer. Justin discretamente colocou sua mão esquerda sobre a perna direita de . O contato da pele dos dois foi como um choque para ela, que o olhou alarmada. Justin sorriu e não fez menção de tirar a mão dali. Ela levantou seu braço direito, pegando a mão dele e tirando-a dali sem que alguém percebesse.
Quando chegaram, o clube já estava cheio de gente, todos muito bem vestidos. O salão era de um piso de granito branco que até brilhava de tão limpo. Havia lustres de cristal e mesas de vidro cobertas com um pano de mesa bem chique. Era como se todos que estavam lá tivessem saído de revistas, não viu nenhuma pessoa que não fosse bonita.
Do outro lado do salão uma boate bem grande, onde a maioria das pessoas se encontrava. Ela viu Joane vir correndo com um vestido longo vermelho na direção do pai. Quando se aproximou o suficiente, se jogou em seus braços e lhe deu um beijo um tanto exagerado. Aquela visão fez o estômago dela embrulhar. Bob sorriu, um pouco envergonhado por causa da quantidade de pessoas ali.
-Está tudo lindo!
-Eu sei. Martha fez um ótimo trabalho. –Joane olhou para as filhas. Só então deu uma olhada nas meninas: Bianca vestia um vestido azul escuro de seda aberta na lateral, exibindo sua perna bronzeada. Camilla vestia um vestido exatamente igual ao da irmã, mas era rosa. Elas pareciam duas irmãs siamesas, mas os vestidos eram bonitos, teve que admitir. –Meninas, eu disse para virem com aqueles outros vestidos!
Elas giraram os olhos, nada surpresas com a desaprovação da mãe. Joane deu um beijo na bochecha de Justin, que a desejou feliz aniversário pela milésima vez no dia. Em seguida, olhou para e ficou sem expressão nenhuma no rosto, de modo que não dava para tentar adivinhar o que ela estaria pensando. Não que se importasse.
Bob e Joane foram andando de braços dados até os outros convidados. A garota o observou com a sua nova esposa. Ele nunca gostou de dar os braços nem as mãos para mãe dela, só passava os braços pelos ombros dela às vezes.
Camilla fugiu na primeira oportunidade, quando viu um cara alto passando por lá. Bianca estava prestes a puxar Justin, quando ele mesmo fez isso. Ela ficou feliz, pensando que a levaria para dançar. Mas não foi isso que ele fez.
Justin a puxou para um canto e observou os dois conversando com o canto do olho, enquanto pegava uma taça de champanhe com um garçom fofo que a olhou de baixo para cima.
-É filha de Joane? –ele perguntou com um sotaque forte.
-Graças a Deus, não. –ela sorriu e uma movimentação ao seu lado chamou a atenção dela. Bianca estava eufórica e Justin colocou as mãos na nuca parecendo frustrado. –Ela é a minha madrasta.
-Então você é a filha do Bob. Seu pai fala muito de você.
-Como conhece meu pai?
-Minha mãe é Martha, amiga de sua madrasta. Ela quem organizou a festa e me obrigou a trabalhar como garçom. Bom, o pagamento vale a pena.
-Meu pai fala muito de mim? –foi a única coisa que ela conseguiu dizer.
-Constantemente. –ele deu um sorriso doce. –Você é a pessoa preferida dele.
-Acha isso?
-Tenho certeza. –ele piscou. –E olha que nem conheço vocês dois direito. Aliás, meu nome é Marcus.
-. –ela disse pegando na mão dele.
-É um prazer, . Apesar de querer fugir do meu trabalho, não posso fazer isso. Nos veremos por aí.
-Claro. –ela deu um sorriso educado para ele e Marcus se afastou.
Mesmo que não conseguisse perdoar o pai por ter pulado fora da vida dela, ouvir aquilo fez muito bem para . Talvez e estivessem certos, talvez ela precisasse mesmo ouvir o lado do pai. Não é todo casamento que dá certo.
Ela procurou o homem pelo salão. Ele conversava com uma mulher que tinha quase certeza que era a mãe de Joane, que estava ao lado dele apertando seu braço com carinho. O pai sentiu o olhar da filha e a olhou alarmado. Ela desviou o olhar, arrumando o cabelo. Bob continuou olhando para ela sozinha ali e se sentiu velho. Ele sorriu consigo mesmo e voltou sua atenção à sogra.
Justin caminhava na direção dela. tentou fingir que não tinha percebido, mas não conseguiu. Os dois se olhavam nos olhos enquanto ele ia ficando cada vez mais perto. Quando ele finalmente estava de frente a ela, começou falando:
- , eu entendi perfeitamente o que você pensa de mim.
-Meus parabéns. –ela disse seca, fazendo que fosse sair dali. Mas antes que pudesse se mover, ele a puxou para perto pela mão. Os dois estavam mais perto ainda, quase se encostando. Ela ficou meio desconcentrada com os olhos verdes dele. –Sabe, você é meio previsível também. Eu sei que faz o maior esforço para Joane gostar de você. Tão típico.
-Parece que você também me conhece. –ele sorriu. –Porém, não me chame de previsível, .
-Por que não chamaria? Faça uma coisa que não seja surpreendente.
-Já fiz. –ela o olhou com uma cara de dúvida. –O que? Não sabe? Engraçado, porque você parecia muito antenada na minha conversa com Bianca. Acha que me engana com aquele garçom?
-Você é ridículo. –ela começou a rir.
-Vou te contar o que eu fiz. Você não queria pensar em mim como uma possibilidade porque eu namoro Bianca. Disse que para mim era tudo um jogo e praticamente disse que eu não tinha sentimentos. Você me ignora o tempo inteiro quando eu te olho, mas quando chego perto de você, fica toda nervosa. Então eu te provei que estava errada.
-E... E o que você fez?
-Não é óbvio? Terminei com ela.
ficou em choque, sem saber o que dizer. O estômago dela deu outra cambalhota. Não gostava de Bianca, porém Justin não deveria ter feito aquilo.
-É claro que ela pirou, está histérica até agora. –ele continuou. –Mas vai superar. Ela sabe que você foi o motivo. Sorte sua estar indo embora amanhã de manhã.
-Sorte minha mesmo, sou tão sortuda por ter alguém para arruinar mais ainda minha relação com o meu pai. – bufou e viu que o garoto se surpreendeu, provavelmente não pensou nisso antes de tomar aquela atitude. – Você podia me deixar em paz até amanhã de manhã.
-Pare de bancar a durona.
-Eu tenho namorado! Justin, eu acho que você não entendeu, não estou interessada em você, sinto muito. Só o fato de ter terminado com a sua namorada por causa de uma menina que acabou de conhecer já mostra muito sobre seu caráter.
-Tenho problemas com Bianca faz tempo, só estava tentando criar coragem para terminar. Quando a conheci, percebi que existem pessoas tão doces nesse mundo, e eu perdendo tempo com uma garota que consegue se irritar até com o fato de eu entrar pela cozinha na casa dela.
Justin deu um grande sorriso para ela, o que a fez ficar mais brava. Mas na realidade não estava brava. Nem um pouco.
-Amanhã você já estará pegando outra... – deixou escapar e ele levantou as sobrancelhas.
-Você acha?
-Sim. Está vendo? É previsível.
-Você acha?
-Sim! Pare de me provocar assim.
-Não estou te provocando.
-Está sim.
-Não estou.
-Está.
-Não estou.
-Ah, como você é ridículo.
-Não, não sou.
Sem hesitar, Justin deu um passo e esticou a mão direita, agarrando o pescoço dela e travando seus lábios juntos num beijo. Quando isso aconteceu, sorriu e olhou para . Ela estava em choque e nem se moveu. Finalmente teve alguma reação, simplesmente puxou a gola da camisa dele e lhe deu outro beijo mais intenso. As bocas deles pareciam ficar elétricas quando se tocavam e sentiu um frio na barriga que supostamente não deveria sentir.
Justin segurava a cintura dela com uma mão e o pescoço com a outra e tinha as duas mãos afogadas em seus cabelos. Quase se separaram para pegar ar, mas ele a puxou de volta como se aquilo não importasse. Foi tão rápido e urgente que nem teve tempo de raciocinar o que o beijo lhe causou, apenas aproveitou a adrenalina que correu por seu corpo. Até que foram interrompidos e assustados com um grito. E sabia muito bem de quem era.
*
O casaco de cashmere que usava pinicava em sua pele. Ela enfiou uma calça jeans branca e saiu às pressas da April Hall. Não era uma roupa muito boa para usar em público, mas era melhor que o moletom cinza velho que usava quando ligou para ela.
Olívia Jay conseguiu se esgueirar para dentro do quarto dela com a ajuda de . As duas fofocaram sobre as mais novas notícias da escola e sobre a vida dela. Olívia tinha acabado de ir embora quando o telefone tocou.
ficou feliz por ter ligado para ela, mas muito preocupada quando soube o motivo. Ela queria esfregar na cara daquela esquisita que a preferia, mas não conseguiu ser nada menos que prestativa. Era algo muito legal da parte de ligar justo para e pedir isso. Isso mostrava o quanto gostava de .
Mas o que mais queria era vê-lo. Quando a mãe dele teve o derrame, estava com ele. guardava um segredo muito ruim sobre aquele dia, algo que não gostava de revelar para ninguém e que tinha medo de rejeitá-la se descobrisse.
Quando chegou à casa de , foi direto para o quarto dele. Ela pediu que uma empregada avisasse a Sra. que não estava mais lá e quem estava lá naquele momento era . Como sempre deveria ter sido.
se abaixou e pegou a chave embaixo do tapete azul dele. o tinha desde uns dez anos. Nunca gostou muito daquele tapete porque sempre tropeçava nele. Quando entrou no quarto, fechou a porta atrás de si e caminhou rapidamente até a cama. tinha dado o relatório completo do que aconteceu, contando cada detalhe que sabia. estava deitado em cima da cama com a camisa toda amassada e os cachos desalinhados. Seus olhos verdes estavam fechados.
-Quem está aí? – perguntou sem nem abrir os olhos. –Não quero falar com ninguém agora.
-Nem comigo? –ela tentou soar brincalhona para quebrar o gelo.
Ele abriu os olhos devagar e quando viu , uma expressão de indiferença passou pelo seu rosto. Mas ele ao mesmo tempo estava aliviado porque a garota era a melhor pessoa para ficar com ele naquele momento.
-Oi. –ele piou. –Sente-se ao meu lado.
tirou suas botas marrons de couro e sentou onde ele estava ficando ao lado de . Os braços dos dois se tocavam e eles ficaram um tempo em silêncio. O menino apoiou a cabeça nos lhos e olhou para com um sorriso.
-Você chegou ao momento exato. –ele disse e se aproximou dela, passando seus braços pela cintura dela num abraço. –Eu estou precisando muito de você agora para me fazer ficar de bom humor.
riu e brincou com os cachos dele, alisando o pescoço dele com o dedo indicador. Ele continuou com a cabeça apoiada no ombro dela e os braços apertando forte sua cintura, mas ela não se importou nem um pouco com aquela situação.
-Você é realmente um anjo. –deixou escapar. Ele inclinou a cabeça rapidamente em direção a ela, ficando com o rosto a centímetros do dela. queria muito acabar com o espaço entre eles e beijá-lo, mas aquele realmente não era um bom momento. A testa dele estava enrugada de um jeito que percebeu que suas palavras o deixaram surpreso. –Eu não conheço ninguém que trata as pessoas de um jeito melhor que você as trata. Até quem não conhece, faz questão de ajudá-la até o seu último suspiro se for preciso. Eu invejo pessoas como você.
sorriu, maravilhado com ela. Mas depois se recuperou e respondeu:
-Se soubesse o que eu fiz com minha mãe mais cedo não pensaria isso de mim.
-Não me interessa o que você fez com ela. Eu já sei que foi por amor. – sorriu para o garoto, que ficou impressionado com o jeito que foi tratado.
suspirou pesadamente com um pequeno sentimento de culpa, porque sabia que tudo o que fazia por era por amor. Ela o amava demais e não sabia se um dia poderia competir com aquilo. Mas decidiu não pensar sobre isso.
O silêncio atingiu o quarto de novo, dessa vez não foi um silêncio pesado como quando ele estava com , foi um silêncio que o fez ficar calmo e confuso. Ela continuou fazendo carinho nos cabelos dele até que ele estivesse quase adormecendo. Os dedos dela passaram dos cabelos para as orelhas, até que chegaram a sua bochecha. Sentiu com a ponta dos dedos o machucado de que estava com sangue seco em volta.
-Me deixe ver o que temos aqui. – falou puxando o menino para que se sentasse de frente para ela, com as pernas cruzadas. Olhava profundamente nos olhos dele, meio distraída. piscou um pouco, recuando. Mas logo voltou para onde estava.
passou as unhas em volta do machucado dele com delicadeza, tirando o sangue seco que estava ali. olhava nos olhos dela enquanto ela fazia aquilo e ele piscou de novo e recuou de um jeito engraçado.
-Já acabei. –ela começou a rir. –O que foi?
-Eu nunca tinha olhado tão dentro dos seus olhos. Dá uma sensação esquisita.
-Oh, obrigada, . –ela foi sarcástica.
-Quer dizer, eles parecem não ter fundo e hipnotizam um pouco.
Ela sorriu, desviando seu olhar para as mãos. não era a primeira pessoa a falar que os olhos azuis de eram bonitos, mas com aquelas palavras só uma pessoa já tinha falado até aquele momento. . Ela sentiu um deja vu e ficou meio desconfortável.
-Eu agradeço por vir até aqui. –a voz dele estava muito rouca.
-Estava preocupada com você.
-E por que ficaria?
-Porque me importo demais com você. Não nos falamos direito faz um tempinho.
-Eu gosto de conversar com você. – inclinou a cabeça para o lado de um jeito muito fofo. –Preciso te perguntar uma coisa e quero que seja cem por cento sincera.
-O que foi?
-Promete que será sincera?
pensou um pouco. Não imaginava o que viria em seguida, por isso ficou com um pouco de medo. Só que merecia a honestidade dela e era obrigação dela ser sincera com ele. Engoliu em seco.
-Sim.
-Faz um tempo que eu quero saber isso. –ele a fez olhar em seus olhos com seu olhar insistente. –, o que você sente por mim? De verdade mesmo.
O coração dela acelerou e ela ficou aflita. O que diria para ele? Já tinha dito para ele milhares de vezes que gostava dele só como amigo desde que começou a ficar mais ciumenta. Mas nunca fazia muita questão de esconder seu interesse por ele e é claro que cedo ou tarde perceberia isso.
O garoto a olhava com as sobrancelhas unidas. Tinha se endireitado, mantendo a coluna reta e tentando parecer calmo. Mas “calmo” não era a palavra certa para descrevê-lo naquele momento. mordeu o lábio pensando em uma resposta boa. Pensou em disfarçar e dizer que ele era um amigo muito importante para ela.
Porém, se lembrou de uma das regras que tinha consigo mesma: Nunca hesite. Se falasse para ele o que sentia, o pior que o garoto podia fazer era dizer que era apaixonado por e que sempre seria. Ela podia finalmente desistir, depois de nada do que fez ter funcionado. No fundo sabia que era muito arriscado se esforçar tanto assim por . E aquele sentimento de insegurança ainda pairava no ar. Podia ir de volta para a April Hall e bater à porta de . Podia ficar com ele e quem sabe começarem a sair. Se a questão fosse essa, sempre teria alguém. De fato, uma pessoa específica, porém não podia se agarrar a isso.
A única maneira de ela desistir de era se ele dissesse que não gostava dela e que não tinha chance nenhuma de gostar. Tinha que descobrir logo qual era a dele.
-Se eu te responder, você me responde outra coisa? –ela enfim disse algo.
-Hum, sim.
-Tudo bem. – respirou fundo, puxando o ar para a barriga e expirando lentamente pelo nariz, como sua professora de yoga lhe ensinara. –Eu gosto muito de você e a cada dia gosto mais. Não é mais como antes. Não é mais como quando éramos amigos, agora eu te quero muito.
arregalou os olhos. Ele meio que já esperava por isso, mas escutá-la dizer aquelas palavras foi surreal. Os dois sempre tinham se dado bem, só que nunca imaginou que ela pudesse querer mais que a amizade dele.
O fato de estar brigado com não significava que tinha parado de amá-la. Ele ainda amava, e era por isso que havia decidido que os dois precisavam ficar uns tempos separados para que cada um desse um jeito na vida deles. Aquele ano era muito importante para os dois e não podia deixar que as complicações da fase ruim deles atrapalhasse a menina com a faculdade. E o garoto tinha que reconhecer que de uns tempos para cá preferia a companhia de . Ela era tão mais despreocupada e tão mais relaxada. Tinha que reconhecer que estava confuso em relação a ela. Que quando foi ao quarto dele antes do Gentleman Club, o deixou muito confuso.
-Tudo bem. –ela continuou com a voz trêmula. –Você acha que... Acha que sente algo por mim?
-Eu não sei. –ele confessou. –Tenho estado muito confuso a seu respeito. Preciso dizer que esse foi um dos motivos que dei um tempo na minha relação com . Eu precisava dela longe por uns tempos para poder definir o que está se passando pela minha cabeça.
-Entendo. –ela assentiu com a cabeça. –Por que você não tenta descobrir?
-, estou só confuso. Pode ser que esteja te colocando como desculpa para outra coisa.
-Só me diga o que sente quando eu faço isso.
Antes de qualquer coisa, se inclinou e beijou . O corpo dela ficou elétrico e sabia que podia estar fazendo uma burrada. Não acreditava que realmente tinha feito aquilo. Ela pensou consigo mesma: “Estou beijando . Estou beijando .”
Apoiou as mãos e os lhos na cama como se fosse engatinhar. Ele foi cedendo lentamente e logo retribuiu o beijo. Os lábios de eram macios e quentes e ela sentia como se estivesse beijando algodão doce. Até a língua de parecia doce.
O menino colocou as mãos na cabeça dela. A confusão na cabeça dele era notável. Ele levantou os braços até os cabelos louros da garota e os jogou para longe de seu rosto. nunca imaginou que fosse gostar tanto assim de beijá-lo.
Ele se deitou e deitou em cima dele, sem parar por um segundo. O menino passou as mãos pela blusa branca dela até colocá-las por dentro de sua camisa. Quando acariciou as costas dela, tudo pareceu o paraíso para a garota. Finalmente conseguiu o que mais queria.
beijou o pescoço de , que respirava pesadamente. Ele riu e puxou o queixo dela para perto dele, fazendo as bocas dele se tocarem novamente. a beijava forte e a menina fez o mesmo.
Até que ele deu um beijo na testa dela e a encarou por uns momentos. sorriu e depois de um tempo, sorriu também.
Ela se deitou com a cabeça no peito dele e ela pôde sentir as batidas aceleradas de seu coração. O garoto passou um braço em volta dela e fechou os olhos, tentando processar tudo que acabara de acontecer.
não dormiria tão cedo depois daquilo. Quando saiu da April Hall decidiu que não falaria nada sobre e sobre o que fez. Era melhor assim. Melhor impossível.
E pensar que ela estava com medo de dizer a verdade. Apesar de ainda não ter ganhado uma resposta, o fato de ter sido beijada por ele já compensava tudo.
*
Depois de mais uma partida perdida e vinte pratas jogadas fora, decidiu que seria melhor se ele simplesmente parasse com o pôquer. A festa parecia ainda estar no início e tudo que queria fazer era dormir para tentar acabar de vez com aquele cansaço que teimava em tomar conta de seu corpo. Caminhou derrotado até um sofá branco perto da sala em que estava jogando. Encostou a cabeça no sofá e respirou fundo, os cachos caindo nos olhos enquanto observava algumas pessoas bêbadas curtindo a música que tocava. Alguém teve uma ideia um tanto exótica de colocar um cd do Bob Marley no som, e era engraçado ver os outros dançando ao ritmo descontraído.
Katherine Evans se sentou ao lado de com um sorriso no rosto. Seus cabelos muito ruivos estavam presos em tranças e por algum motivo ela vestia uma roupa de índia.
-Oi, ! –ela falou, ajeitando os cabelos. Parecia ter um tique nervoso que fazia com que mexesse bastante na cabeça. –Você quer dançar comigo?
-Desculpe, Katherine. –ele sorriu amarelo. Odiava se passar por sem educação, mas se tinha algo que ele não queria fazer no momento era dançar. Concordava que seria legal observar os indivíduos tentando dançar de perto, só que isso não foi o bastante para convencê-lo. –Não estou no clima.
-Ah, vamos! Você vai se animar!
-Desculpe.
A garota sorriu sem jeito e saiu às pressas dali. Ele não queria parecer grosso, por isso culpou a si mesmo por não ter se levantado dali e seguido a menina. Ao seu lado viu alguns universitários se afastando rápido e desmanchando uma rodinha que haviam formado. Após nenhum dos bêbados estarem mais perto, deu uma olhada para o lado e viu Heather . Pelo jeito ela conseguira dar um fora em todos juntos.
Ela vestia um macacão de malha listrado de preto e branco, assim como a camisa dele. Ela e realmente se pareciam muito, e pegou-se observando as semelhanças, juntando todas as que conseguiu encontrar em sua memória. Parecia distraída bebendo um copo grande de cerveja e quando seu olhar vacilou até ele, deu um sorriso.
-Olá, garoto prodígio. –a garota disse ainda sorrindo. Ela sorria de um jeito um tanto desconfortável, era como se estivesse tirando sarro de alguém. –Sente-se aqui.
Ele a obedeceu e sentou ao seu lado. Heather cheirava a uma mistura de lavanda, morango e cerveja. sorriu educadamente, não sabendo o que dizer para sua professora.
-Estamos combinando. –ele falou brincalhão e logo se arrependeu. Teria sido melhor se ele tivesse ficado calado, nunca sabia como começar uma conversa direito.
-Sim, estamos. –ela concordou. –O que faz na festa, sozinho?
-Não estou muito no clima festivo. Acho que todas as festas e aulas dessa semana me cansaram demais e acabei ficando esgotado justo na última festa da semana.
-Já me disseram que essa semana é muito cansativa. Pelo jeito você está tão acabado que nem conseguiu jogar pôquer direito.
Ele piscou, sem entender direito. Depois de uns segundos uma ideia lhe veio à cabeça. Heather estivera observando-o enquanto jogava? Aquilo sim era estranho e o fez ficar mais sem jeito ainda. tentou disfarçar com um sorriso e olhou para o relógio em seu pulso. Eram quase duas horas da manhã. Ele tinha decidido não ir ao quarto de pelo simples motivo de que não queria ir. Se ela iria fazer da vida de um inferno, ótimo. Gostaria muito de vê-la tentando, já que não parecia o tipo de menina que deixava coisas assim acontecer.
Desde que terminara com , ela vinha fazendo aqueles joguinhos para tê-lo de volta. E o garoto sempre acabava sem saber o que fazer. Apesar do relacionamento dos dois não ter acabado bem, eles passaram por bons momentos juntos e esquecer aquilo ainda era difícil. Mas não possuía interesse algum em voltar com a garota, mesmo porque sabia o que era melhor para ele, e precisava colocar um fim naquilo.
-Me responda uma coisa. –Heather disse tirando-o de seus devaneios. olhou para seu rosto, percebendo um interesse genuíno ali, e por um momento sentiu-se nervoso pelo o que viria. –Você e minha prima estão namorando?
-Hã... –ele riu, sem graça com aquela súbita pergunta. –Não. Somos só amigos.
-É mesmo? –ela pareceu se divertir. Agia como se estivesse entretida em tudo o que acontecia ao seu redor, até as pequenas coisas. Era um pouco intimidante. –E como se conheceram?
-Meu amigo nos apresentou na Festa do Luar e ficamos amigos.
-Ah. –ela sorria de um jeito insistente e ele não sabia o motivo. –E o que você acha dela?
- é muito legal e diferente. –pensou no que achava da garota. Era uma pergunta fácil de responder, porque havia criado uma resposta padrão em sua cabeça quando Heather o chamou para conversar. Porém, não sabia ao certo o que dizer: era uma garota tão diferente, e se sentia tão bem perto dela, sabia que um sorriso brotaria em seu rosto antes mesmo dos dois começarem a conversar. –Não é como as garotas que eu costumo sair e por isso gostei dela. – percebeu que os cantos de sua boca já estavam curvados para cima,e ao notar o sorriso da garota à sua frente, adicionou: -Na verdade, você se parece muito com ela.
-Já ouvi isso antes. Quando conversa comigo tem a impressão de conversar com .
-O que?
-É por isso que fica nervoso, não é? –Um sorriso malicioso preencheu o rosto dela. enrugou a testa, achando que ela só podia estar louca. Estava nervoso porque achava que Heather estava dando em cima dele, e não porque ela se parecia com . –Me desculpe. Eu falo demais às vezes.
-Não, está tudo bem.
-Opa! –um garoto com ombros largos disse ao tropeçar e deixar um pouco de cerveja cair no sofá, espirrando na calça de . –Foi mal, cara.
-Adolescentes bêbados me lembram do motivo de eu não frequentar festas de faculdade. –Heather comentou, esticando-se no sofá como um gato, os dedos passando levemente pelos cabelos.
-Nem me fale. – sorriu timidamente. Ele curtia as festas da April Hall, mas não bebia muito e não tinha o mesmo propósito dos meninos em geral, que era levar o máximo de garotas para a cama. Normalmente ele só jogava um pouco de pôquer, conversava com os amigos e dançava. –Esses caras ficam loucos nas festas.
-Acho que tenho uma definição diferente da deles sobre o álcool. Para mim é necessário apreciar o sabor, e não beber para pegar um porre no dia seguinte porque ficou bêbado na noite passada.
-Eu não costumo beber muito. Normalmente, quando bebo, somente misturo álcool com algum suco. Não curto muito essas bebidas.
-É sério? –ela pareceu surpresa, mas teve a impressão que o tom de sua voz foi de deboche. –Pois eu sou uma grande apreciadora de vinho.
-Prefiro suco de uva.
-Tolo. –ela torceu o nariz e ele ficou sem graça. –Porém, eu também amo cerveja.
-Cerveja? –ele riu. –Sinceramente, as pessoas só bebem cerveja para ficarem bêbadas, porque cerveja é a pior coisa que eu já bebi na vida.
-Não acredito que disse isso. –ela fez uma careta. –Pensei que fosse mais inteligente do que isso.
quase mandou Heather se acalmar e quase disse que era só uma brincadeira. Ela parecia realmente aborrecida. Estranho, pensou. Qual era o problema dessa mulher? Pelo jeito Heather não seria uma companhia agradável, e comparando-a com a prima mais uma vez, ele decidiu que estava com muito sono para aquilo.
-Com licença. –se levantou rapidamente. –Tenho que ir.
saiu da sala antes que Heather pudesse responder. Passou pelo jardim, já que o número de pessoas no hall era imenso e se quisesse chegar ao quarto rápido teria que pegar um atalho. Sentiu uma trombada e quando olhou para se desculpar, se deparou com Katherine mais uma vez.
-Me desculpe, Katherine.
-Tudo bem, . Já está indo para o quarto?
-Bom... –ele coçou a cabeça. Estava cansado, mas podia aproveitar mais um pouco daquela festa, se estivesse com uma boa acompanhante. –Não se quiser dançar comigo.
-Mas é claro! –ela exclamou surpresa. Um sorriso bonito se espalhou pelo seu rosto, e ele se sentiu bem por ter feito alguém feliz naquela noite.
Os dois começaram a dançar no jardim a um som animado, e ele enfim se animou. Katherine não era exatamente a pessoa com quem queria estar no momento, mas ele tinha se esquecido de como ela dançava bem. Isso não era surpresa, considerando que estudava em uma das academias de dança mais prestigiadas do país.
Temeu quando pensou na possibilidade de Heather passar ali e flagrá-lo dançando com outra pessoa, provavelmente ficaria ofendida. Mas, pensando não, havia garotos ali para mantê-la ocupada. Apesar de não ter ido muito com a cara dela, ela serviu para que pensasse em . De novo.
Ele não se importou.
*
já tinha bebido três copos de cerveja e decidiu parar. No sábado depois da Festa do Luar, ele ficou tão envergonhado com as palavras de que decidiu não passar mais do terceiro copo. Sentia que devia isso à , então se contentou com aquela pouca quantidade de álcool.
E apesar das coisas entre os dois estarem complicadas, uma promessa era uma promessa, até para . Mesmo porque ele vinha descumprindo muitas ultimamente.
-Já parou? –David Grenwood lhe perguntou depois que ele recusou uma bebida. O garoto estava se servindo, um braço esticado para manter o freezer aberto e o outro enterrado no monte de gelo dentro do congelador.
-Estou tentando maneirar.
-Está certo. Na verdade, só estou bebendo porque quero me animar. Depois que eu e ... –ele parou imediatamente o que estava falando assim que se deu conta de para quem estava dizendo aquilo. Os olhos do menino se estreitaram em súplica, e soube o que ele iria dizer antes mesmo que o fizesse. –Desculpe.
-Eu não sabia que vocês tinham terminado.
-Pois é, eu vi que não daria certo. –David deu de ombros, omitindo o motivo do término. Ele parecia um tanto magoado, e mesmo observando aquilo, o garoto precisou de todo o autocontrole do mundo para não erguer uma sobrancelha num sinal de quem sabia que estava certo desde o início. e David começaram a conversar durante a festa e mesmo a situação sendo um tanto desconfortável, era bom conversar com David. –O engraçado é que nosso namoro foi por tão pouco tempo, mas sinto como se tivesse sido bem maior e agora estou quebrado.
assentiu. Ele também tinha se sentido assim ao ver a garota com David. E o resto dos dias desde então. Mexeu no topete no alto de sua cabeça, expirando fortemente.
-É o que a pode fazer com você.
-Por quanto tempo vocês ficaram juntos?
-Cara. – contorceu seu rosto numa careta e fez que não com a cabeça. Não conversava sobre com ninguém, e com certeza não iria dizer uma palavra a respeito com o ex-namorado dela. Somente o fato de ele querer abordar aquele assunto o irritou um pouco, como se o garoto não tivesse aquele direito, mas tratou de eliminar esses pensamentos da cabeça. David só estava magoado.
-É, você tem razão. Melhor não falarmos disso. Só fiquei curioso.
-Nós nunca ficamos juntos de verdade. A gente ficava, mas se quiséssemos, podíamos ficar com outras pessoas. não aceitava isso, eu sabia. Durou um bom tempo.
-Por que terminaram?
-Ela pelo jeito não queria que fosse assim, queria um compromisso. Eu não quis para o bem dela.
-Do que está falando, cara? Para o bem dela? Você gosta da menina.
-Eu tenho o péssimo hábito de estragar as coisas boas na minha vida.
O assunto era complicado para , e percebendo isso, David mudou de assunto.
-Quer jogar dardos?
-Ah, claro. – respondeu distraído, o rosto da garota ainda ocupando seus pensamentos. Girou os olhos, percebendo que era exatamente aquilo que ela queria que acontecesse.
Eles foram até a sala de jogos e começaram uma disputa entre os dois. Da primeira vez que levara para sair, os dois foram para o Joke’s matar aula. o ouviu contar uma história sobre como tinha ganhado um campeonato de dardos que seus amigos fizeram. Ela assentia com a cabeça e ria nas horas apropriadas. Quando achou que iria parabenizá-lo ou algo do tipo, ela inclinou a cabeça e disse: “Se você é tão bom assim, então eu te desafio.”.
se lembrava nitidamente do sorriso ameaçador no rosto dela, do jeito que aquelas palavras o pegaram de surpresa e da forma como a garota dançara enquanto comemorava sua vitória, e de como ele não se importara nem um pouco com a derrota.
Jogou um dardo no meio e depois de um tempo jogando, ganhou. As pessoas de sua escola tinham experiência com aquele jogo, pois estavam acostumadas a passar horas de bobeira em bares perto da escola. David colocou seu copo vazio sobre uma mesa de vidro e falou com a voz arrastada:
-Você é muito bom! –ele apoiou o braço no ombro de e riu pelo fato de que David estava bêbado. O garoto bebia um gole a cada boa jogada, e a cada uma que errava feio também, situação que começou a se repetir depois de um tempo devido à alteração que o álcool fez em seus reflexos.
-Nossa mira não é a mesma depois de alguns copos de cerveja.
-Engraçadinho. –David apontou para ele com o dedo indicador, bastante sério. riu um pouco do estado do garoto, mas quando viu as sobrancelhas dele se franzindo, num aviso, fechou a expressão, fingindo estar bastante sério também. –Aposto que ninguém nunca ganhou de você.
-Apostou errado. –ele girou os olhos. –Alguém já ganhou de mim.
O único problema das festas da April Hall é que são animadas o suficiente e não precisam de pós- festa. Normalmente animadas até demais. As pós- festas eram mais chamadas de ressaca. Na sexta de ressaca praticamente todos os alunos ficavam nos quartos ou na sala de cinema, porque os outros cômodos estavam sendo limpos por uma equipe profissional. E como todos são adolescentes e arrumam qualquer desculpa para matar aula, eles geralmente estendiam a ressaca para o sábado também, mesmo num sábado em que o dia lá fora estava lindo como estava naquele sábado.
Enquanto e ainda dormiam profundamente na cama dele – os dois ficaram no quarto durante a sexta inteirinha e ela ainda estava lá –, saíra com a mãe para fazer compras. A Sra. dissera que aquela era a solução perfeita para a tristeza da filha. Ao passo que devorava um sundae tamanho grande com em uma sorveteria perto do Parque Central, dormia profundamente em sua cama no dormitório. ainda choramingava do bolo que tinha dado nela para Angel, que olhava para a televisão do quarto onde passava Pretty Little Liars, com muito sono. Ela tinha passado a festa com e queria saber quando o veria de novo. O pequeno Jonny estava no quarto conversando ao telefone com Jojo Marques, e inventando o motivo de não poder se encontrar com Hanna. A não-mais-inocente dormia na cama de seu apartamento, depois do pai tê-la acompanhado até o aeroporto. Ao mesmo tempo, levantava uma série de pesos e fazia sua série de abdominais no quarto, e tentava acordar para se encontrar com a mãe e a irmã mais nova, Gina.
-Me dá essa garrafinha? – pediu ao amigo. Ele vestia só um shorts de malhar, aproveitando que o frio tinha diminuído um pouco. resmungou na cama, os olhos começando a se abrir. –, levanta!
-Não quero.
-Você está de ressaca? Você nunca fica de ressaca.
-Só estou cansado. Dancei muito com as meninas.
-Hum, eu não sabia que você tinha decidido virar garanhão agora. – riu e abriu os olhos somente para poder girá-los. Finalmente decidiu que seria uma boa ideia acordar para a vida e sentou-se em sua cama, coçando os olhos lentamente. A vagareza com que se movimentava começou a irritar .
bocejou e perguntou, com a voz rouca:
-Como foi a sua noite?
-Que bom que pôde se juntar à conversa. –ele debochou e não esperou uma resposta para continuar a falar. –Bom, eu esperava me encontrar com a , mas ela não apareceu. Na maior parte da festa, eu e Dylan bebemos e conversamos com os caras.
-Ah. Ótimo, porque assim você pode dar um tempo a ela.
O amigo se levantou e foi para o banheiro, enquanto pensava no que ele tinha dito. Talvez devesse mesmo dar um tempo à , só estava meio impaciente. Precisava falar com , mas durante a festa recebeu uma mensagem dela dizendo que estava à caminho da casa de e que provavelmente dormiria lá. Isso fez com que ele ficasse feliz por ela, e por outro lado só serviu para lembrá-lo que poderia estar com .
Ele colocou uma toalha branca de algodão em volta do pescoço e saiu do quarto à procura de , aproveitando a atenção feminina que ganhou nos corredores. Quando chegou ao quarto dela e bateu na porta, ninguém atendeu. se perguntou se ela ainda estava na casa de .
-Não acredito. –uma voz extremamente familiar invadiu seus sentidos, e o garoto sorriu em deleite. Essas conversas eram sempre divertidas. –Você também está procurando por ela?
se virou para trás e deu de cara com . Ela vestia só um roupão de banho, que deixava um decote à mostra. Seus cabelos negros estavam presos em um rabo alto, e ela estava bonita, mesmo que um pouco vulgar. o analisou de cima para baixo e deu um sorrisinho.
-O que foi? –ele provocou. –Não aceita que seja mais procurada que você?
-Como se isso fosse possível. –ela rolou os olhos, fazendo o rir. não precisava de ninguém para dizê-la que era bonita, que era capaz de algo ou até mesmo que a sua roupa estava um pouco inapropriada para sair andando pela casa, pois sabia disso tudo. Era uma das coisas que ele amava e odiava nela. –Então no amor e na guerra vale tudo?
-Do que está falando?
-Como se sente sabendo que você e brigam pela mesma garota?
-Eu não gosto de . –ele disse como se aquela ideia fosse absurda. Sorriu, imaginando se era isso que parecia para as pessoas. –E não acho que goste dela, pensando bem.
-Se pensa assim, você ficou realmente burro quando parou de falar comigo. –ela fez biquinho para ser dramática, mas ele sabia que realmente se ressentia.
Antes de uma Festa da Pizza na April Hall em que estava bêbado de cair e o convenceu de que desafiara os dois a se beijarem e ele aceitou, para minutos depois o amigo flagrá-los e quase ter um surto de raiva, e costumavam ser amigos. Entendiam-se como ninguém, e o sentimento de carinho que sentia pela garota não deixaria de existir. Quando era mais novo já tinha gostado de verdade dela e viveu essa paixão até se desiludir completamente ao vê-la ficar com numa festa de Ano Novo. Eles não brigaram pelo simples motivo que jurou para o amigo que não sentia nada a mais por . O problema era que a única coisa que a garota precisava fazer se o quisesse era pedir, e ele viria correndo. Quando descobriu no dia seguinte, de ressaca, o que ela tinha feito na Festa da Pizza, cortou imediatamente a amizade que possuíam.
- está apaixonadinho por . –ela continuou. –Até eu percebi. Ele não te contou?
-Contou o que? – já percebera a possibilidade dele gostar de , mas achou que era impressão dele e que o amigo estava a fim de , ou sei lá. não falava muito sobre seus sentimentos. –Ele foi ao meu quarto na noite da festa me xingar porque eu disse à que a festa no Gentleman Club era à fantasia e ela foi de coelhinha ou gatinha safada.
-Você?!
-Ah, não finja que está surpreso. –a menina riu. –Ele a acompanhou até a April Hall depois de ela se expor para a população da April Hall. Deus sabe o que aconteceu naquele quarto. engoliu em seco, deixando transparecer sua preocupação. O plano era ficar com para ele poder ficar com . Se falou que gostava dele e que faria qualquer coisa para tirar do caminho, então devia ser verdade. Porém, ele não queria que o amigo ficasse chateado. Ele já não estava com a autoestima nas alturas desde o que aconteceu com e ver com não ajudaria.
As coisas provavelmente estavam indo bem, já que ela estava na casa de . pensou que para que seu amigo não ficasse chateado, podia empurrar alguma menina para ele. Se bem que essa tarefa não seria difícil, qualquer garota gostaria de ficar com ele.
- disse para que eu parasse de fazer maldades, e que se fizesse mais alguma coisa com ela, me veria com ele.
nunca tinha pensado que poderia ameaçar uma garota. Aquilo não era um bom sinal, nem de longe. Quando crianças, o amigo era o tipo de menino que se abaixaria para pegar uma flor do chão para presentear a garota que estava conversando. É claro que sua face ficaria vermelha como um pimentão e o ato de entregar a flor seria um sacrifício, mas ele o faria.
-Eu disse que pararia de falar com , que sairia de perto dela se ele fosse ao meu quarto. Ele não foi.
-Você não presta.
-Temos isso em comum.
se aproximou dele, que ficou estático. Ele a observou se aproximar até suas bocas quase colarem. tentou permanecer calmo enquanto sentia a respiração quente da menina em seu rosto. Quando achou que ela iria acabar com a distância entre os dois, sorriu e saiu tão rápido como tinha chegado. riu, respirando fundo de alívio, e xingando a garota em seus pensamentos. Seu telefone tocou e ele atendeu, logo escutando a voz de .
-Oi, cara. Minha mãe me disse algo que vai te fazer ficar feliz.
-O que?
-A Sra. convidou minha mãe, eu e você para o almoço de amanhã.
se empolgou.
-É sério?
-Pelo jeito ela gostou do herói.
-Estou dentro. Quando vai voltar? Precisamos conversar.
-Só amanhã, pra te buscar. Aconteceu algo?
-Não, não é nada demais. Até amanhã.
desligou o telefone. Apesar de estar preocupado com , só conseguiu pensar em naquele momento.
*
-Eu não quero ir, Caroline. – protestou pela milésima vez.
O sábado dele tinha se passado em sua cama e sua irmã insistia no telefone para que ele fosse até a casa dos para um domingo em família.
Abriu seu armário e colocou um suéter verde-escuro, enquanto ia até o banheiro e penteava o topete. tinha saído cedo para um café da manhã com e segundo seus cálculos, o já devia ter voltado. Desde a Festa do Luar, ele não estava falando muito com ele por causa da briga. havia escutado o garoto falando ao telefone com quando estava na cama. O fato da amizade dos dois ter voltado ao normal e dela não o ter perdoado como perdoou o irritava mais do que sabia colocar em palavras. Ele tinha certeza de que a queria de volta, mas o orgulho não deixava. Queria mostrar para ela o quanto precisava dele. E sabia que o namoro dela com David não tinha dado certo por causa dele.
-Olha, . –Caroline disse depois de um tempo. –Sei que acha que sua situação atual com o pai e a mãe não está boa, mas foram eles que pediram para te convidar. Está vendo?
-Estou vendo que se a nossa situação realmente estivesse boa, eles teriam me ligado, e não te mandado falar comigo.
-Bom... Ah, ! Pare de inventar pretextos. Venha, sim?
-Tudo bem. –ele se rendeu. Precisava estar extremamente chateado para não se render às vontades da irmã. Desde pequeno fazia tudo o que ela pedia com gosto, pois não gostava de vê-la chateada. Era superprotetor em relação à garota e sabia que isso não era bom, porém não era um hábito que estava disposto a largar.
-Ótimo. Te vejo mais tarde, maninho.
se olhou no espelho e soltou um suspiro. Apesar de não ter bebido muito, estava cansado e com o corpo dolorido. Porém, todo o cansaço do mundo não bastava para que ele deixasse de ser lindo. Sorriu para si meso e saiu do quarto, passando pelo saguão – que já estava impecável – até a garagem dos fundos da mansão. Algumas pessoas ainda limpavam alguns lugares, mas em geral estava quase tudo de volta ao normal. Ele andou por volta dos carros caros dos alunos da April Hall, desviando de algumas poças de água que tinham se formado com a neve derretida.
Até que esbarrou em alguém saindo de um carro cinza. Quando reconheceu aqueles cabelos pretos lisíssimos e aqueles olhos azuis, deu um sorriso.
-Oh! – exclamou olhando para ele. –Olá, .
-Que café da manhã demorado esse que você tomou com .
-Achei que você e não tinham voltado a se falar.
-Não voltamos. Eu ainda não o perdoei por ter dormido com você.
Aquilo a pegou de surpresa e ela não pôde deixar de sorrir. Mas logo se recuperou e falou:
-Isso é problema seu. Se não está falando com , como sabia que íamos tomar café da manhã juntos? Não vai dizer que agora está me espionando.
-Você bem que queria. –ele levantou as sobrancelhas de um jeito provocante. –Mas, não. Só estava dormindo e acordei com ele falando no telefone com você. Aliás, que mau humor é esse? Só porque terminou com David? É difícil ficar com ele quando sabe que ainda está apaixonada por mim?
-Não seja ridículo. E foi ele quem terminou comigo.
-Eu sei, só queria ver se você diria isso. David me contou na festa.
-E agora ficaram amiguinhos, é isso? O que mais você fará para me provocar?
-Não seja boba. E então, quando é que vai me implorar de volta?
-Ah, bobinho. Não antes de você.
-Isso parece uma aposta.
-É, parece.
sorriu.
Então aquilo seria interessante.
*
-Anda, acorda. Temos que subir para a casa da Sra. daqui à meia hora.
abriu os olhos lentamente. Ela queria que sua mãe saísse do seu quarto e a deixasse dormir até ter que ir à escola, no dia seguinte. A Sra. foi até a janela e abriu as cortinas, deixando a luz do dia nublado entrar no quarto. fez uma careta e cobriu o rosto com o cobertor.
-Não me faça ter que jogar água em você.
A mãe dela saiu do quarto batendo a porta, fazendo-a se lembrar de que seu pai tinha dito a mesma coisa para ela quando fora acordá-la.
Quando estava perdida em um beijo com Justin, escutara um grito. Os dois se viraram rapidamente, junto com mais vários convidados da festa e viram uma figura medonha. Bianca tinha os olhos borrados de rímel, o batom saindo pelos contornos da boca e olhava para os dois com o rosto quase roxo de raiva, tremendo sem parar.
-Eu vou te matar! –ela esbravejou.
Justin entrou na frente de antes que ela pudesse assimilar o que estava acontecendo. Bianca começou a se debater em Justin, mas ele devia ser o dobro dela. Joane e Bob vieram correndo para acabar com aquela situação pavorosa e as pessoas olhavam horrorizadas. estava estática e tudo aconteceu muito rápido para ela. Quando ele finalmente imobilizara Bianca, os dois saíram de lá rápido e Joane disse:
-Que a festa continue!
As pessoas voltaram ao que estavam fazendo antes e Joane chegou bem perto de .
-Você não vai estragar meu aniversário. –ela cutucou o nariz da enteada e falou para Bob. –Leve sua filha para o aeroporto. Não a quero aqui mais.
Bob guiou até o carro esporte dele e a levou para casa, onde ela fez as malas rapidamente e os dois foram para o aeroporto. A garota obedeceu quando ele lhe deu algumas ordens, mas fora isso, o silêncio do trajeto foi sufocante. Quando eles chegaram na sala de embarque, ele deixou que ela entrasse e se despediu dizendo:
-Espero que volte a ser como antes. Não estou te reconhecendo mais.
Ela entrou na sala de embarque e se sentou em uma das cadeiras pretas enquanto esperava anunciarem o voo, juntamente com mais algumas pessoas. Apesar de que Bob estava bravo em tenso, ela o viu esperando perto dali, com as mãos cruzadas na altura da barriga e a testa franzida. O homem podia estar preocupado com a filha ou só queria ter certeza de que ela entraria no avião e não tentaria fugir. No fundo sabia que Bob continuava o mesmo e só estava preocupado com ela e com o que se passava na cabeça dela. Isso fez com que a garota pensasse no que o pai tinha dito. Desde quando conversara com naquela loja e as duas tinham se tornado amigas, a obsessão dela em ser igual à ela só tinha aumentado e começou a medir seus atos nos atos de . Quem ela estava sendo não era exatamente a pessoa que achou que fosse, era? Ela entendeu que o que tinha acontecido com Justin tinha sido só mais uma tentativa dela em ser igual a . Ou não.
Quer dizer, não podia mentir e dizer que não se sentia atraída por ele, mas nunca faria o que fez em situações normais. Não sabia se sua personalidade tinha mudado ou se somente estava com a cabeça cheia demais por causa do fracasso que era seu relacionamento com o pai. Encontrar alguém ali que a entendia um pouco e que convivia tempo o bastante com aquela família para entender que não podia levá-los a sério foi reconfortante. Talvez Justin fosse o mais próximo que chegaria a entrar naquela família, e saber disso lhe deixava chateada. Afinal de contas, era de seu pai que estava falando, e não tê-lo mais em sua vida era um buraco que ninguém nunca conseguiria preencher.
Mas só queria ser uma versão melhor de si mesma. Queria poder se sentir corajosa, destemida, queria voltar a ter uma melhor amiga e ser parte de um grupo. Não era nada demais querer aquilo, era?
Quando o avião pousou e ela pegou suas malas na esteira, sua mãe já a esperava li. Sentiu-se tão grata por ter uma relação tão boa com a mãe. Correu até ela e a abraçou forte.
-Seu pai me ligou. –A Sra. disse ainda a abraçando. –Você pode esquecer isso agora. Eu te ajudo com essas coisas.
As duas voltaram juntas para casa e a mãe de lhe deu a comida que tinha sobrado do jantar e as duas assistiram a uma maratona de Friends, até que a menina dormiu no sofá e sua mãe a acordou um pouco depois, mandando-a ir dormir em sua cama porque no dia seguinte elas iriam almoçar na casa de . Ela estava tão cansada que nem pensou nisso, dormiu direto.
Levantou-se da cama e foi até o armário escolher uma roupa. Estava sem ânimo para ir até a casa de . A Sra. provavelmente ainda não sabia que as duas não eram mais amigas e seria desconfortável. pegou um vestido marrom de mangas compridas .Ela colocou um par de sapatos pretos que pegara emprestado em uma loja, com saltos de dez centímetros. Já não estava tão baixinha. Seu cabelo castanho estava solto, formando alguns cachos nas pontas. Quando finalmente saiu do quarto e desceu as escadas até a cozinha, viu sua mãe terminando uma torta de morango que provavelmente levaria para o almoço.
-Seu pai ligou. Ele está preocupado com você, . O que foi que você aprontou?
-Eu sei que ele te contou.
-O que você tem na cabeça? Não vê que quase arruinou o aniversário de Joane?
-Essa não era a minha intenção.
-Então, qual era? Chamar a atenção de Bob?
-Não, eu só sentia que era o que eu queria fazer. E também queria dar uma lição em Camilla e Bianca.
A mãe de riu, surpreendendo-a.
-Queria estar lá para ver a cara de Joane.
-Foi demais, mãe. Mas meu pai ficou bravo quando ela me expulsou da festa.
-Querida, aquele enorme salão de festas é pequeno demais para o tamanho da arrogância daquela mulher. Toda vez que você volta da casa do seu pai é a mesma coisa.
A Sra. cobriu a torta com um pano bordado e colocou uma xícara de café com leite na frente da filha para que ela bebesse.
-Eu não devia ter te mandado para a casa do seu pai. Ainda mais na sua primeira semana da April Hall.
-Você fez o certo. – olhou com compaixão para ela. –Foi bom eu ter ido para lá, me fez entender algumas coisas. Aliás, finalmente falei para ele tudo o que eu tinha vontade.
-O que?
-Mãe, eu disse a ele o que pensava. O terrível pai que tem sido. Ele falou que não me reconhecia, mas quem não está reconhecendo ele sou eu. Sabe por que não está me reconhecendo? Porque mudei, e ele não acompanhou essa mudança.
-Ah, filha... – ela ganhou um abraço da mãe. –Eu já disse que você tem a mim.
-Eu sei.
-Bom, está na hora de ir. Leve a torta, sim?
concordou com a cabeça e seguiu a mãe até o apartamento da Sra. , desanimada. Quando chegaram, Carrie já as esperava na porta do elevador de braços abertos.
-Querida! –ela cumprimentou a mãe dela e foi até . –, você está linda.
-Obrigada Sra. , você também está ótima.
- já está descendo.
-Ah. Tudo bem. A torta de morango.
-Ponha na mesa da cozinha para mim, por favor.
deixou a torta onde lhe fora pedido, quando ouviu mais vozes vindas da sala. Ela olhou para trás, perguntando-se se a Sra. tinha chamado mais pessoas. Uma garota de cabelos cor de mel e olhos verdes entrou na cozinha e cumprimentou . Notou uma familiaridade nela, mas somente sorriu.
-Meu nome é Gina. –ela falou com educação e os cantos da sua boca se erguendo um pouco. Parecia um pouco tímida, só que por algum motivo desconfiou que não fosse bem assim uma vez que tinha intimidade com alguém.
-.
Logo em seguida, atrás de Gina, entrou na cozinha com aquele sorriso que sempre estava presente ali. Ele olhou para , surpreso.
-! – exclamou e deu um abraço nela. –O que faz aqui?
-Eu ia te perguntar a mesma coisa.
-Bom, já que a Sra. chamou a família para vir para cá, ela me chamou também.
-Ah! – falou e sorriu. Então se deu conta. Engasgou, e seu estômago se agitou com o que o garoto acabou de falar. –O que você disse?
-Eu disse...
olhou para trás e entrou na cozinha. Ele vestia um suéter vinho e o cheiro de seu perfume tomou conta do lugar, do nariz, dos sentidos e dos pensamentos de . Os cachos dele estavam penteados para trás, já que usava uma touca cinza. Quando a viu, arregalou os olhos por trás dos óculos de leitura e as pernas da garota chacoalharam um pouco, por um momento temendo não conseguir ficar em pé, tamanha foi sua surpresa.
-, o que faz aqui?
-A Sra. é a chefe da minha mãe, e elas também são amigas. –ela gaguejou. –Estou aqui porque... Bom, elas são chefes. Quer dizer, amigas.
soltou uma risadinha, que fez com que sentisse suas bochechas esquentando. Queria olhar para o menino com cara feia, mas nem isso foi capaz de fazer. Sentiu vontade de se socar por não conseguir montar uma frase na frente do garoto. Gostaria de ter sido avisada antes que o veria, pois dessa forma teria se preparado. Que droga estava vestindo? Por que não colocou algo que não fazia com que parecesse um cupcake gigante? No caso não tão grande assim, ela não tinha a famigerada altura. O problema era que desde que conversou com ele quando estava na casa do pai – aquela conversa –, não conversaram depois. Se fosse por ela, não conversariam tão cedo, mesmo que queria conversar com ele. Bastante. Porém, era humilhante demais. a olhava intensamente, e depois de piscar algumas vezes, perguntou:
-Eu posso... Posso falar com você?
Ela ficou surpresa com a pergunta, e antes que pudesse responder, puxou Gina para a sala, onde o resto das pessoas estava. franziu a testa e ficou preocupada. Ele falou:
-Me explica uma coisa... Por que uma garota chamada Bianca me ligou falando que você me traiu com um cara chamado Justin?
*
Enquanto uma pequena confusão parecia se formar na casa dos , outra estava prestes a acabar e se resolver na casa dos .
já tinha se trocado e estava se preparando para ir falar com os pais. foi embora durante a tarde do dia anterior, assim que acordou. “Acho que preciso dar um espaço à você.” –foram as palavras dela. Ele a observou quando ela calçava as botas e se inclinava para dar um beijo na bochecha dele. não sabia o que estava sentindo. Enquanto se resolvia, colocava as coisas em ordem, dava um tempo para entender o que estava fazendo de errado, podia experimentar algo com . Era claro que estava confuso em relação a ela, mas que não quis parar de beijá-la quando começou.
Ele foi andando lentamente até o quarto dos pais – deixara a porta aberta para ele – e os dois estavam sentados na beirada da cama, com o Sr. medindo a pressão da esposa. pigarreou e os dois olharam para ele espantados e ao mesmo tempo aliviados. Deu um passo à frente e disse:
-Quero me desculpar por tudo o que causei.
-Filho... –Emily começou, porém o pai dele a impediu de falar mais para que pudesse continuar.
-Eu sei que essa decisão foi tomada para o meu bem, mas quero que entendam o meu lado. Sou capaz de largar tudo com um telefonema seu, mamãe. Quem acorda meia hora mais cedo todos os dias para vir até aqui? Quem se encarregou de achar a enfermeira perfeita para você?
-Sabemos disso. –os olhos dela se encheram de lágrimas. –...
-É por isso que eu agradeço a preocupação. –ele a interrompeu e caminhou até o pai. –Me desculpe.
-Tudo certo, filho. –o Sr. colocou o braço sobre o ombro de de forma protetora. –Acho que devo deixar vocês dois conversarem.
Logo só ficaram mãe e filho no quarto e o menino se jogou nos braços da mãe como um garotinho. A Sra. o apertou e falou que estava tudo bem.
-Você deve ter ficado com medo de mim. –choramingou, e não se importou em parecer maior idiota do mundo. A dor que causou naquela mulher lhe deixou com um sentimento de culpa tão grande que achou que não conseguiria nem comer antes de pedir o perdão dela. –Eu estou com vergonha de você agora.
-Não seja bobo. Vamos esquecer isso, certo? –ela o colocou sentado ao seu lado para que os dois pudessem conversar. –Só me explique o que aconteceu entre você e e porque dormiu aqui.
-Eu pedi um tempo para .
-Por quê?
-Ela já não é mesma. Está tão controladora, ciumenta e possessiva nesses últimos meses que eu nem conversamos direito mais. Achei que na Festa do Luar as coisas melhoraram, mas aquele foi só um motivo para eu adiar o que estava previsto.
-Talvez ela só esteja amedrontada porque o ensino médio está acabando. Eu sei que é muito assustador pensar que daqui a pouco tempo vocês nunca mais irão para a escola, e tem toda a pressão de entrar nas faculdades certas. Ela saiu de casa antes da hora, assim como você. Estão começando uma vida nova.
-Eu sei. Foi por isso que eu disse para ela pra nos falarmos mais no final. Se ainda quisermos ficar juntos, ficaremos. É por isso que dei um tempo para ela pensar.
-E agora pode me explicar o motivo de aparecer aqui?
-Veio me fazer companhia. Se não fosse por ela, não sei o que seria de mim agora. –ele levantou as sobrancelhas e a mãe riu com o exagero.
-Agora só falta você em explicar uma coisa. Por que Eugênia me contou que escutou barulhos vindos do seu quarto?
-Porque aquela mulher é doida. Eu morro de medo dela.
-.
-Ah, mãe, eu não vou falar disso com você!
-Meu Deus. –Emily colocou a mão sobre o peito. –Vocês usaram proteção?
-Nós não chegamos a esse ponto. Já disse que não vou falar disso com você. – mexeu nos cachos, desconfortável. –Vou ver se Eugênia já fez o almoço. Para espionar os outros ela serve muito bem, vamos ver se na cozinha é o mesmo.
No momento em que saiu do quarto, pôde escutar a Sra. exclamou outro “Ai meu Deus!”. Ele pegou seu celular e ligou para , que atendeu animada no segundo toque.
-Oi, !
-Como você está?
-Mal. - ela suspirou e o menino escutou algumas vozes vindas do lado da linha dela. –Minha mãe convidou umas pessoas para almoçar aqui em casa e praticamente esqueceu a minha existência. O único momento que ela se lembrou de mim foi para perguntar em particular se eu não me importava se ela transformasse meu quarto em um terceiro escritório.
-É sério?
-É, mas deixa para lá, me fala como ficaram as coisas aí.
-Tudo bem novamente. Minha mãe disse para esquecermos aquele dia.
-Eu com certeza não esquecerei esse dia.
sorriu. Foi a única coisa que fez o dia valer a pena. Ele encostou-se à parede, se lembrando de quando se inclinou até ele e colou seus lábios. A surpresa dele fora imensa, mas isso não fez com que recuasse.
-Então... Por que você não chega amanhã uma hora mais cedo na escola?
Os olhos azuis de saltaram das órbitas e ela custou para responder.
-Claro.
-Eu te espero em frente o armário do faxineiro, entre o banheiro feminino e aquele armário de troféus da escola.
-Combinado.
desligou o telefone e ambos sorriram.
*
De volta a casa dos , enquanto o Sr. conversava com o Sr. , as mães conversavam entre si e Gina insistia com que ela precisava conversar com para saber suas intenções com o irmão e o menino começava a ficar nervoso porque não aparecia logo, aguardava uma explicação.
-Então é verdade? –perguntou sério. Ele fica tão sexy de óculos, era a única coisa que conseguia pensar. –Você estava me traindo?
arregalou os olhos. O estômago dela deu uma cambalhota. Outra. Para que ela estivesse traindo ele, os dois então precisavam ser...
-É brincadeira. – falou, vermelho. –Você tem uma meia-irmã chamada Bianca, não tem?
-Nem meia, nem inteira. –ela respondeu decepcionada. –É só a filha da minha madrasta.
-Provavelmente ela só estava te enchendo.
-Não, eu realmente fiquei com Justin, mas foi só para ensinar uma lição a ela.
-Oh. –ele fez uma careta. Parecia... Desapontado? Bravo? Indiferente? não sabia dizer. –Não sabia que você era esse tipo de pessoa.
-Eu não... –ela teve vontade de bater na própria testa. –Eu só cometi um erro.
-Você não precisa se justificar para mim.
-Não, eu quero. Posso não ser perfeita na aparência como a , e minha personalidade tem falhas. Acho que estava passando por um mau momento e acabei fazendo mais do que deveria. Eu pessoalmente acho que vacilo demais, mas nunca me arrependi de nada que fiz.
sorriu feito um bobo, esquecendo-se completamente da visão errada que acabara de ter de . Sem pensar duas vezes chegou mais perto dela e se inclinou para baixo, quase ficando corcunda. Ela prendeu a respiração e ele olhava nos olhos dela sorrindo, com a boca a centímetros da dela. Quando a distância entre eles ia acabar, a Sra. entrou na cozinha.
-, venha para a sala conhecer a Sra. .
A garota se afastou dele e começou a rir. Ele riu também. Aquilo tinha acabado com o clima. ia mesmo beijá-la e sentiu a sua pulsação em seu pescoço, só então percebendo o quanto estava nervoso. A adrenalina causada pelo súbito movimento corria por seu corpo, e observou o rosto delicado da menina, seu sorriso doce e envergonhado o deixava bravo por terem sido interrompidos.
-Bianca disse que você contou a eles que sou seu namorado.
-Ah! –ela corou. –Me desculpe por isso. Eu só não queria ficar na desvantagem.
-Está tudo bem. Na verdade, me sinto lisonjeado. Só me responda uma coisa.
-Pode falar.
-Você realmente mostrou uma foto minha para eles?
Ela engasgou e ficou vermelha, e sorriu, entendendo aquilo como um sim. Ela também pensara nele.
-Para que você não fique na desvantagem, quero que saiba que eu também pensei em você enquanto estava fora.
-É sério?
-É. –ele passou o braço pelos ombros dela. –E já que somos namorados, venha conhecer sua sogra.
sorriu, fazendo-a sorrir. Os dois foram juntos para a sala.
*
-Jonny, Hanna está no telefone. – gritou, apontando para , que segurava seu celular na mão, esperando.
-Ah, não. –ele piou. –, diga que eu não estou aqui.
-Ela já sabe que você está aqui. – disse. –Vá falar com ela.
-Diga que eu estou ajudando sua mãe com a carne.
fez o que ele pediu e continuou falando com a amiga. Não, ele não vai terminar com você, ficava repetindo para Hanna. Jonny se sentou ao lado de e suspirou.
A mãe de chamara a família dele para um almoço, e enquanto os pais deles conversavam e tomavam vinho no andar de baixo, os três sumiram para uma sala de televisão no terceiro andar. Era possível ouvir a voz dos outros filhos dos convidados que acabaram de chegar de onde estavam.
ficara com Angel na festa, e apesar de tudo, gostava da companhia dela. Na sexta ele saiu com e os dois passaram o dia indo numa sorveteria e depois no cinema. Ele tinha se esquecido do quanto era bom sair com ela, mesmo tendo que escutá-la falar de . Mesmo que a menina não estivesse mais com David, achou melhor não tentar nada para dar um tempo à ela. E sem contar que ele testemunhara o momento em que garota disse que amava .
No domingo de manhã os dois foram tomar café juntos e depois ele foi para casa. Quando Jonny falou que eles iam para a casa dos , ficou feliz, e ao mesmo tempo se sentiu estranho e não sabia bem o motivo. se sentou ao lado de Jonny e esperou por uma explicação.
-Estou evitando a Hanna.
-É, eu percebi. –ela se virou para ele. –Por quê? Não gosta mais dela? Vai terminar?
-Não, pelo contrário. Mas é que tem um problema. –ele abaixou os olhos verdes, se sentindo culpado. Não queria que Hanna pensasse que ele não gostava mais dela. –Não vou te contar. Desculpe, .
-Ah, você sabe que pode contar comigo. Eu te conheço a vida toda. Não é, ?
-É. Claro. –ele gaguejou. Não tinha conversado muito com nos últimos tempos. A última vez que tivera uma maior interação com ela foi quando a levou para ver o treino dele e mesmo assim foram poucos minutos.
-Tudo bem, só digo uma coisa. Se ela ficar sabendo por alguém que não seja eu...
-Confie em mim.
-Tudo bem. Vou falar bem rápido. –ele tomou fôlego e falou sem respirar. –Hannaestáviciadaemsexo.
-O que? –ela começou a rir, fazendo sorrir. Jonny a olhou com cara feia. –Desculpe. E por que você não fala para ela diminuir o ritmo?
-Porque ela não me escuta!
-Quer que eu fale com ela para ela parar um pouco?
-Não. – falou. –Acho que Jonny deve dizer para Hanna.
-Jonny, pode vir aqui, por favor? –a Sra. gritou do segundo andar para ele.
Jonny bufou e foi andando lentamente para a cozinha. piscou com força, não queria ficar sozinho com , algo ali o deixava meio sem jeito. A garota foi para perto dele e passou as pernas em cima das coxas de , esticando as mãos para fazer carinho nos cabelos dele.
-Quando é que você vai me contar o que é que está acontecendo com você? –ela perguntou.
sentiu os dedos quentes de pelos cabelos dele e fechou os olhos, inclinando a cabeça para baixo. Ele finalmente se sentiu bem. Até que abriu os olhos verdes e olhou para onde sua cabeça estava apontada, que por acaso era para as pernas dela, que estavam apoiadas nas dele. A menina usava uma saia curta de lã e uma blusa de renda de mangas compridas e seguiu o olhar por toda a pele não coberta das pernas de , praticamente a comendo com os olhos. Só quando percebeu o que estava fazendo, parou imediatamente, olhou para ela e gaguejou:
-Não tem nada acontecendo comigo. –apesar de acreditar fielmente que aquilo não era verdade.
-Eu te conheço melhor do que todo mundo, bobinho. Diga-me o que está acontecendo.
-Nada, .
-? Tudo bem, então.
-Me desculpe. Só me conte o que aconteceu entre você e a sua mãe, porque o clima parecia tenso.
-Ela me perguntou se eu não me importava em ceder meu quarto para um terceiro escritório.
-Sua mãe pode ser tão sem noção às vezes.
-Eu não entendo isso, . Minha mãe é o símbolo da perfeição para todo mundo, mas parece que nem faz questão de ser agradável comigo.
-Acho que ela não sabe ao certo como agir. –ele finalmente olhou para os olhos azuis hipnotizantes dela. –Não deve ser fácil ter filhos. Só dê uma chance a ela.
concordou com a cabeça e deu um beijo na bochecha dele, que se surpreendeu.
-Não fique longe demais. –ela sussurrou no ouvido dele. –Eu te amo mais do que qualquer garota no mundo e você sabe disso. Suas namoradas vêm e vão, mas você sempre terá a mim.
se arrepiou em todas as partes possíveis do corpo e seu coração deu um salto.
-Se fala isso por causa de Angel, nós só saímos algumas vezes.
-Você podia ter me contado.
-Você também podia ter me contado que gosta de .
-Eu...
-Esquece. Não somos obrigados a contar nada um para o outro. Não somos namorados nem nada.
abaixou os olhos e se sentiu mal pelo modo que falou com ela. Jonny voltou trazendo uma bandeja com três copos de Coca Cola. se levantou sem ver e bateu o braço nela, fazendo toda a Coca cair em cima dela. Ela deu um gritinho de susto.
-Merda. –Jonny falou. –Foi mal.
-Tudo bem, a culpa não foi sua. –ela tirou as pedrinhas de gelo de sua camisa.
Jonny deu uma breve olhada para o sutiã rosa shoking dela. Sua blusa tinha ficado transparente depois de molhada e ele lutou contra a vontade de olhar.
-Vou me trocar.
foi para o quarto. Ela não estava confortável com aquela situação. Não porque os peitos dela ficaram à mostra, ela já tinha ficado de biquíni muitas vezes perto daqueles irmãos. Mas o que a deixava ansiosa era o fato de a estar evitando completamente. Ele nem conversou, nem cumprimentou e nem olhou direito para ela a alguns dias. A não ser pela visita dela e de ao treino, os dois nunca tinham se distanciado daquele jeito.
suspirou e ajudou o irmão a pegar os cacos de vidro que se espalharam no chão.
-, que merda você está fazendo?
-Te ajudando a juntar isso? –ele respondeu como se fosse a pergunta mais idiota do mundo.
-Você sabe muito bem do que eu estou falando. já deve estar doida pensando no que deve ter feito para você tratá-la assim.
-Estou tratando ela como sempre tratei.
-Pode continuar fazendo isso, mas nós dois sabemos.
-Do que está falando?
Antes que Jonny pudesse responder, a atenção dos dois foi desviada para o celular de , que tocava na mesinha de centro. Era um dos números de emergência dela. olhou para o irmão, e como se ele tivesse lido seus pensamentos, disse:
-Você leva.
-Por que você não pode levar?
-Eu tenho que levar esses restos de copo para a cozinha. –ele se levantou. –E já que você está tratando normalmente, então imagino que não vai ter problema pra você.
Jonny sorriu e ele bufou. Com o celular da garota com uma chamada não atendida na mão, ele caminhou lentamente para o quarto dela.
Talvez estivesse realmente evitando-a, e ter que ficar sem outra pessoa no mesmo lugar que ela o deixou desconfortável. Quando entrou no quarto dela, a escutou cantando no closet e decidiu esperá-la onde estava. Mas de onde estava um vulto lhe chamou a atenção. No lugar do quarto que estava parado dava para ver dentro do closet. Ela estava de costas para ele escolhendo alguma coisa para vestir.
a observou só de sutiã, absorvendo cada detalhe do corpo dela, desde cada curva até a sua pele que quase parecia dourada. Até a pequena tatuagem de pássaro no ombro dela. Ele ficou estático e um pouco assustado, mas não se moveu. por fim escolheu uma blusa rosa de renda que combinava com sua saia. Ela procurou o fecho do sutiã com os dedos e arregalou os olhos quando viu o que ela iria fazer. Ela ainda cantava bem baixinho, mas ele podia ouvir com clareza. Quando finalmente tirou o sutiã, se sentiu estranho, mesmo que a menina estivesse de costas para ele.
Ele ouviu um pigarro e pulou de susto quando viu Jonny. O irmão estava parado encostado à porta, bem atrás dele. Um sorriso invadiu o rosto dele e o garoto engoliu em seco, com o celular ainda na mão. Saiu às pressas do quarto e do terceiro andar, parando para respirar em um corredor do segundo andar. Jonny o seguiu.
-Não quero comentários.
-Tudo bem, você deve estar ocupado pensando no pássaro do ombro de . Que aliás, fica bem perto do peito dela.
-Eu só me distraí.
-Eu percebi isso.
-Ah, Jonny, não enche. Como se você não fosse ficar olhando se estivesse no meu lugar.
-Eu tenho namorada.
-Como se você se importasse com ela.
-Claro que me importo.
-E é por isso que você não tem coragem de falar com ela.
-Eu tenho coragem de falar com ela, só não tenho coragem de magoá-la. Estou começando a gostar de verdade de Hanna, acredite ou não, e não escondo isso de ninguém, cara. Agora me responda... Você não deveria ser o exemplo?
-Não sei aonde quer chegar. –ele gaguejou. Nunca ouvira o irmão falar daquele jeito.
-Eu esclareço pra você. O meu irmão mais velho é um idiota que não me dá exemplo nenhum. Se você não dá, pelo menos siga o meu exemplo. Agora vamos comer. Estou morrendo de fome.
*
estava surpresa. Até mesmo chocada. Quando saiu de seu quarto e viu , ficou constrangida com o olhar constante dele sobre ela. Aproveitou uma das súbitas mudanças de tempo que aconteciam com frequência naquela cidade para colocar uma camiseta preta de alcinhas com pérolas espalhadas na altura dos seios. E para combinar colocou uma saia longa estilo cigana, do jeito que tanto gostava. Suas sandálias de salto agulha tinham sido um presente de uma de suas amigas líderes de torcida.
É claro que nem um dia de compras com sua mãe nem nada no mundo iria fazê-la se esquecer da tragédia que estava sua relação com . Ela realmente tinha entregado-o para , assim, de bandeja? Mas pensar daquele jeito a tornava egoísta. O que o menino precisava naquele momento era de , por mais que odiasse admitir. Deus sabe o que aconteceu naquele quarto. Ela não tinha um bom pressentimento quanto àquilo, mas já não podia fazer mais nada. A mãe dela tinha sido muito legal levando-a para fazer compras e depois para o Nature Spa, onde ficaram até anoitecer. Sentia-se mais relaxada, apesar de só conseguir imaginar se tentara alguma coisa com , aproveitando-se do estado dele, se ele tinha tentado algo com ela, aproveitando que não tinha mais namorada. Era tão estranho para pensar que os dois não eram mais namorados. Parecia surreal.
lhe deu um abraço e lhe perguntou se estava tudo bem.
-Sim. Obrigada. –foi a resposta mais rápida e menos dolorosa que conseguiu dar. Sorriu para ele e cumprimentou os outros convidados, indo bem rápido quando chegou a vez de . Àquela altura do campeonato, já deveria estar acostumada com a presente constante da menina, juntamente com a Sra. , porém sempre seria meio desconfortável ter que conversar com ela.
Estava surpresa por ver que tinha uma conversa particular e cheia de risadinhas com . Era maldoso da parte dela ficar chocada com isso, mas a garota não era do tipo que paquerava os garotos, normalmente era tão tímida. Parecia que a amizade com tinha causado algum efeito. só não tinha certeza se era bom ou ruim.
Sentou-se à mesa junto com os adultos, ao lado de , que estava bem bonito, e se serviu com suco natural de pêssego à pedido da mãe de não ingerir álcool.
-Então, . –Carrie pigarreou. –O que você e estão achando de morar na April Hall? Gostaram de eu ter pedido para colocar vocês duas no mesmo quarto?
-Bom, na verdade... – começou, mas parou com o olhar de súplica de . Ela respirou fundo. –A April Hall é demais. Eu só não pude desfrutar da companhia de ainda porque estava fora da cidade.
-Ela foi visitar o pai. –Anna justificou, forrando o colo com um guardanapo de pano. Possuía os olhos cansados, mas estava elegante e bonita.
-E como está Bob? – perguntou, tentando entrar naquele assunto para não precisar falar da suposta amizade das duas. Percebeu o olhar de focado em seu rosto, a menina provavelmente estava surpresa por ela ter lhe dirigido a palavra. Só então pôde perceber que tocou no assunto errado pelo modo que os olhos sempre alegres da garota ficaram tristes de repente, e por causa dos olhares compreensivos lançados por e pela Sra. .
- ficou muito animado quando ele e foram convidados. –felizmente Sra. interrompeu o que seria uma situação constrangedora. Ela parecia ter olhos de gato, e a atenção também, pois seu comentário foi tão urgente, que percebeu com nitidez que ali houve uma tentativa desesperada de mudar o assunto.
-Isso é verdade. – confirmou, lançando um olhar descontraído para ela, que sorriu involuntariamente. –Quer dizer, ficamos animados na medida certa, como pessoas normais ficariam, sabe como é.
-Vocês pareciam duas garotinhas que ganharam uma viagem para a Disney. –o Sr. caçoou. Isso fez com que as pessoas começassem a rir, e Carrie olhou para com um sorriso malicioso nos lábios. Merda, lá vem, pensou.
-, filha, eu estava pensando se você não podia ir até o quarto de ferramentas e pegar as luvas para eu tirar a torta do forno.
-Tudo bem. –ela respondeu aliviada por a mãe não ter dito nada demais. Levantou-se num pulo, com pressa para sair dali e temendo que a mulher não aproveitasse a oportunidade para ser sutil pelo menos uma vez em sua vida.
-E, , você podia ajudá-la a achar.
-Ah... –ele riu, surpreso. –Tudo bem.
olhou com reprovação para a mãe, que a ignorou. Ela guiou o garoto até o andar de cima, onde ficava o quarto de ferramentas, na última porta do corredor. Lá dentro estavam dispostas várias prateleiras e armários brancos sobre o piso de mármore que mais se parecia com uma pedra desenhada. Ela acendeu a luz, meio nervosa. O cheiro forte de naftalina invadiu seus sentidos, fazendo sua cabeça latejar.
-Sua mãe é uma pessoa muito engraçada. –ele falou por fim alguma coisa. –Estávamos conversando antes de você chegar.
-Ai, meu Deus. Ela não falou nenhuma besteira pra você, falou?
-Não no meu ponto de vista. –sorriu. –Mas ela não tem medo de fazer perguntas, isso eu tenho que admitir.
-Me desculpe por isso, é tão constrangedor.
-Não se preocupe.
Enquanto os dois iam procurando, a porta se fechou com força, assustando-os. A menina olhou para , que deu de ombros e continuou a procurar. tentou pegar uma caixa no alto de uma prateleira dando pulinhos, até que viu duas mãos grandes sobre sua cabeça pegando a caixa e colocando nas mãos dela.
-Obrigada.
se virou e ele ainda estava lá, com o corpo quase colado no dela e o rosto a centímetros do dele. O menino sorriu e não fez questão de se mexer, prendendo-a ali.
-Você sabia que seus olhos às vezes ficam mais claros durante o dia?
Ela deixou um riso nervoso escapar dos lábios, sem saber onde ele queria chegar com aquilo. era lindo, e com certeza charmoso. Possuía uma ótima capacidade com palavras, e sabia disso, pois usava à seu favor sempre que podia. Era um tanto divertido nunca saber o que sairia da boca dele. E mesmo que não tenha sido um elogio, tudo o que ele dizia soava como um para a garota, que ficava sem graça perto dele, mas aquela sensação de deleite a visitava. Isso porque era legal ter alguém observando, mostrando que se importa e que está prestando atenção. Era algo que não acontecia com ela havia um tempo, pois seu namorado – seu ex-namorado – não o fazia mais.
-Pois é. E é bem legal.
sorriu sem graça e ele continuou encarando. Ela se esquivou dele com dificuldade e abriu a caixa em suas mãos, achando as luvas que a mãe pediu e indo para a porta. Percebeu que suas mãos tremiam de ansiedade, e mandou falou para si mesma que precisava se controlar. Estava parecendo uma criança.
-Achei. –ela gaguejou. –Vamos voltar?
concordou com a cabeça, decepcionado. Ela girou a maçaneta, mas a porta não abriu. Fez isso mais sete vezes – seu número da sorte – e nada.
-Não acredito nisso. –sussurrou. –Eu vou matar a minha mãe.
-Me deixa ver isso. – tomou frente e fez o mesmo que , mas com mais força. Nada. –É. Parece que alguém nos quer aqui dentro.
-Está com seu celular?
-Não, o meu está com o , e você?
-Está no meu quarto. Não adiantará se gritarmos.
-Então o que faremos?
-A gente espera minha mãe vir aqui e nos soltar.
-Como tem tanta certeza de que foi ela?
-Eu conheço bem a minha mãe. Isso é a cara dela.
suspirou e se sentou no chão, apoiando-se em um armário. se sentou ao lado dela e respirou fundo. Ele não estava nem um pouco aborrecido.
-Quando eu era pequena e brincava de esconder com , aqui era sempre o esconderijo dela. – soltou sem saber ao certo o motivo de estar falando aquilo.
-Acho que você sente muito a falta dela.
-É claro que sinto. Ela foi a melhor amiga que já tive. E me trocou para ser amiga de . Parece que todo mundo me troca pela porque ela realmente é muito melhor do que eu.
-Não diga isso. é um idiota, no meu ponto de vista.
-Quando eu te disse que estava bem, era mentira.
sentiu as lágrimas quentes escorrendo pelas bochechas. a envolveu em num abraço, se sentindo muito mal por ela, que molhou o peito seu com lágrimas, mas o menino a deixou chorar, mexendo nos cabelos dela.
-Na sexta eu fui até a casa dele porque ele tinha brigado feio com os pais. A mãe dele me chamou para ir acalmá-lo, mas... – falou soluçando. – Ele não quis. Então a chamei para ficar lá.
-Você... – engoliu em seco. –Você chamou para ficar com no seu lugar?
-Sim. –ela limpou as lágrimas, não queria mais chorar por aquilo. Foi atingida por uma súbita raiva. não queria enxergar que ela só estava sendo difícil nos últimos dias porque tinha medo de perdê-lo. Que não contou do derrame de sua mãe porque queria protegê-lo. Fazia tudo pensando nele e o garoto não entendia isso. A porta se abriu depois de um tempo, sozinha. estava quase dormindo com a cabeça no colo de e se levantou num pulo. Sentia-se mais calma e seu rosto tinha voltado ao normal. –Me desculpe. –ela sorriu amarelo, alhada na frente dele enquanto ajeitava o cabelo.
-Pelo que? – se alhou como ela, parecendo uma criança de oito anos. sorriu.
-Pela minha mãe e por ter começado a chorar feito uma doida.
-Eu não me importei com nenhuma dessas coisas.
fechou os olhos. Facilitaria muito se não fosse tão bonito e tão legal com ela. Sentiu algo em seus lábios e nem precisou abrir os olhos para saber o que era. O beijo foi rápido, mas fez com que ficasse nervosa. Os lábios e eram macios e ela sentiu como se estivesse rindo de alguma coisa muito engraçada e não conseguia parar de rir, por isso ficou sem fôlego. Ele a puxou pela nuca e lhe deu um beijo na testa. Foi algo tão curto e inesperado que a menina precisou de alguns segundos para se recuperar.
-...
-Não precisa falar nada. Só quero que pense sobre isso.
Ela concordou e então a bagunça em sua cabeça ficou maior ainda. Os dois foram para a cozinha, onde o resto das pessoas estava comendo e se esqueceu de que queria matar sua mãe.
*
Enquanto e Dylan tomavam café em uma lanchonete perto do campus, e brigavam numa partida de tênis na quadra da April Hall, despreocupados com o fato de a aula começar dali a uma hora e meia. treinava arremessos na quadra da escola desde às cinco e meia da manhã, entrando escondido pela porta dos fundos do ginásio, se torturando para tudo sair perfeito. Esse era um bom modo de encher a cabeça com outra coisa. assistia ao treino das amigas líderes de torcida, perto da quadra de grama e e conversavam na porta de escola. encontrou David na academia e a situação estava um pouco desconfortável, sobretudo porque ele não tirava os olhos dela. O pequeno Jonny também assistia ao treino das meninas, quase babando. E desejando que Hanna não estivesse por ai.
E esperava por , que já estava ansiosa e a caminho. Ele mandou uma mensagem dizendo que a esperaria na salinha do zelador, um pequeno armário de vassouras, rodos e panos de chão. Super-romântico. Esperou que o corredor estivesse vazio para entrar na salinha escura e fechar a porta. Se alguém pegasse os dois, estariam numa encrenca tremenda, mas essa ideia era um pouco excitante.
Depois que foi embora de sua casa, pensou muito em e isso o fez ficar mal. Achou por muito tempo que não tocaria mais em outra garota, e a situação era no mínimo estranha. Porém, a menina não se parecia mais com quem ele conheceu e depois teria que decidir o que queria. É claro que não esperava que o recebesse de braços abertos se decidisse ficar com ela, mas não queria parar o que estava fazendo. Ele sentia algo por e ela o deixara louco quando o beijara. Se quisesse sair com alguém nesse meio tempo... Tinha combinado consigo mesmo que o tempo dos dois seria de no máximo duas semanas. Quando acabasse, teria que se decidir o que queria. Mas, merda, era tão difícil.
Uma voz feminina chamando o seu nome o tirou de seus devaneios. Era .
-, eu não estou enxergando nada. –ela falou rindo. Esticou a mão e acendeu uma lanterna, deixando-a acesa em uma prateleira. O rosto de estava parcialmente iluminado e a garota sorria. –O que é tudo isso?
-Eu não sei. –ele sussurrou.
a jogou contra a parede e foi atrás, batendo em um balde cheio de água no caminho e fazendo cair um pouco no chão. Sorriu para , que o olhava de um jeito novo. Ele colou os lábios dos dois, que respiravam ofegantes. Dessa vez o beijo passou de calmo para feroz e ardente, e mordia o lábio inferior dele com frequência. Seu corpo latejou devido à adrenalina, e apertou os olhos, puxando a garota para mais perto, até fundir seu corpo no dela. Sentiu os dentes da menina pegarem seu lábio inferior mais uma vez e suspirou.
-Você tem que parar com isso. –ele disse rindo, os cachos caindo nos olhos e o peito subindo e descendo rapidamente.
-Por quê? –ela fez de novo. –Isso te deixa ligado?
beijou todo o pescoço dela enquanto subia a camisa dele lentamente. Separou-se da menina para que ela pudesse terminar de tirar sua camisa. Voltou a beijá-la enquanto ela arranhava sua barriga e suas costas. Ele a levantou pela cintura e a garota passou as pernas pela cintura dele. começou a tirar a blusa dela, mas um clarão os interrompeu. Ele olhou para trás e viu um homem num uniforme de funcionário da escola, com os olhos arregalados. Lançou um olhar para a garota, que tirou as pernas dele e se jogou para o outro lado daquele cubículo.
Ele pegou sua blusa e passou por cima do pescoço, vestindo-a com agilidade. Os três ficaram sem reação nenhuma, até que o zelador falou:
-Me acompanhem até a diretoria.
*
-É, . – fez biquinho. –Parece que eu ganhei de você. De novo.
O céu azul acima das duas cabeças combinava com a cor dos olhos do garoto, que tomava sua água calmamente, um olhar de aceitação no rosto, como um bom perdedor. Os dois estavam sentados no banco de pedra da quadra de tênis da April Hall descansando da grande partida que havia acabado de acontecer. Os jogos entre os dois eram considerados uma tradição, e normalmente acabavam em discussões. Porém, vez ou outra acabavam naquela quadra, e o menino sempre se abismava com a força fora do normal que possuía. Ela conseguiria jogar com qualquer um que a desafiasse, e provavelmente ganharia. seu famoso sorriso de lado.
-Só por hoje.
-Essa é sempre a sua desculpa.
-Só quando eu perco.
-E isso não acontece sempre?
Ele sorriu e tirou sua camisa azul, aproveitando o brisa gelada que bateu em seu peitoral suado e quente, uma sensação de deleite atingindo seu corpo, como todas as vezes que acabava de fazer alguma atividade física. Sentiu o olhar da menina sobre seu corpo, apertou os lábios, para que não sorrisse e a deixasse sem graça. Era difícil demais ficar sério com aquela cena, ainda mais porque aproveitou aquele momento mais do que aproveitaria qualquer outra coisa vinda dela. bufou, tirando seus olhos dali e mirando-os em seu rosto como se fossem dois raios lasers prestes a fritá-lo por inteiro.
-Então essa é a sua arma secreta? –ela perguntou, achando patético. Não era possível que realmente precisava fazer isso para chamar atenção, parecia que ele necessitava o tempo inteiro que os olhos estivessem sobre ele, era ridículo. Conhecia aquela mania dele, e já estava familiarizada com os caprichos do menino, mas era irritante presenciá-lo usando aquelas táticas baratas com ela, que nem mesmo olhou para onde ele queria que ela olhasse.
Ele deu uma risada curta, de repente ficando um pouco confuso com as palavras dela, mesmo que no fundo soubesse onde ela queria chegar. Perguntou, sem conseguir esconder a satisfação na voz:
-O que?
-Tirar a camisa e mostrar seu corpo para as meninas. É assim que as conquista?
-Você acha que estou flertando com você?
-Eu não disse isso.
-Não com essas palavras.
tomou o resto da água de sua garrafa térmica e pegou a outra de , abrindo-a e molhando o cabelo, fazendo seu rosto e peito ficarem encharcados. A água gelada entrou em contato com sua pele quente, mais quente ainda pela atenção que estava recebendo, não podia negar, e ele sentiu a adrenalina percorrer seu corpo. Encarou a garota e levantou as sobrancelhas, para depois observar girar os olhos.
-Você é ridículo.
-Você tem algum problema com a minha necessidade de água?
-Se quer conquistar uma garota, vai ter que se esforçar mais do que isso. Me disseram que tem uma lábia muito boa.
-Tudo bem, você me pegou, eu estava fazendo isso mesmo. –ele se inclinou para perto da garota, sentindo um aroma de hortelã vindo de seus cabelos longos e escuros. –Já que agora estamos entendidos, aproveite essa deixa para tirar sua blusa também.
olhou boquiaberta para ele. Sentia falta de ficar com , mas não pensou que ele seria assim tão direto. Quer dizer, os dois sempre foram amigos e...
-Jesus. – ele levantou as mãos na altura dos ombros. –Eu estou brincando.
-Patético, , você não se cansa de fazer joguinhos?
-Não abro mão das coisas que me divertem.
-Você é péssimo.
-Aprendi com a melhor. –ele olhou de canto de olho para ela. –Aliás, se você fica tão incomodada com a exposição do meu corpo, por que não para de olhar?
piscou três vezes e fechou os olhos por alguns segundos, para depois abri-los novamente. Não estava olhando para lá, sabia que não estava. O garoto só falou isso para mexer com a sua cabeça. E conseguiu: os pensamentos borbulhavam, e ao mesmo tempo que queria se atrever a tocá-lo, ou ao menos olhar mais um pouco para ele, porque o garoto era tão lindo e aquele jeito extrovertido que possuía... É, sabia como chamar atenção, odiava admitir isso. Por outro lado, seu lado racional, ela só queria dar um tapa naquele rosto bonito e mandar o garoto parar com toda a gracinha. Parecia desorientada, e não queria que ele visse que conseguiu deixá-la dessa forma. Levantou-se, colocou a raquete na raqueteira e abriu uma barrinha de cereais, devorando-a em três grandes mordidas. Ele a olhou, parecendo se divertir com a situação.
-Agora que já perdemos mais da metade da aula, não se importa se perdermos o resto, importa?
-Desde que meu pai não descubra. –ela deu de ombros. –Eu ando faltando demais.
-Para você tudo bem fazer coisas erradas desde que ninguém descubra. Mas elas descobrem, você sabe.
-Não me diga que agora você vai querer me dar lição de moral. –se havia uma coisa que não gostava, era falar sobre aquele assunto, principalmente com . Não era a primeira vez que ele vinha à tona, e com certeza não seria a última. Algo em seu estômago se manifestou, e achou que iria vomitar. –Está falando isso por causa da Noite da Pizza?
-Não tem nada a ver, eu só acho que você devia tomar mais cuidado com o que faz. Não sei se percebeu, mas está perdendo as pessoas aos poucos. Você já perdeu seu irmão, Samantha, e daqui a pouco perde o seu pai.
olhou para o chão. A briga que teve com seu irmão foi o motivo pelo qual ele saiu da April Hall e da cidade dizendo que estava farto da irmã que não sabia a hora de amadurecer. Isso a magoou em um nível que nunca pensou que a magoaria. Ela também teve uma briga feia com Samantha, uma antiga amiga, que mudou de cidade um pouco depois da briga. E não gostava de se lembrar do que tinha acontecido na Noite da Pizza. Ela no fundo – bem no fundo – sabia que estava certo. Sabia que ele nem devia estar falando com ela depois de ela o ter enganado.
Então percebeu o quanto sentia a falta dele.
-Uau. – suspirou. –Eu finalmente deixei sem fala. Tenho uma sugestão para você, que já teve sua chance e estragou tudo. Por que não deixa ir? Você precisa seguir em frente e deixá-lo seguir também.
-Eu gosto de . Só quero que ele me deixe tentar de novo. –a voz dela saiu baixa e fraca. Era isso o que ela queria, sabia que era. Uma chance para consertar as coisas seria o máximo que poderia pedir, porque sabia que era capaz de mais coisas. Se deixasse, tinha certeza que poderia provar para ele, não só porque ele duvidava dela, mas porque queria provar para ele...
-Mas agora ele já conheceu outras pessoas e está feliz como antes. Eu não sei o motivo dessa felicidade toda, mas ela estava ausente desde que terminou com você.
fechou os olhos e tentou manter a calma.
-Eu tenho que ir. –ela falou se levantando. Tinha que ficar sozinha para pensar sobre aquilo tudo.
-Tudo bem. – se levantou e a ajudou a guardar as coisas dela. –Você não me perdeu. –ele deu aquele sorriso de lado perfeito e os olhos dela se encheram de lágrimas, sem querer. Engoliu em seco, tentando não chorar na frente dele. Não aceitava que ninguém a visse chorando, muito menos o garoto. –Ainda não. Não sei se te serve de consolo.
Ela sorriu. Servia.
*
não conseguia prestar atenção na aula de História Avançada. estava sentada ao seu lado e parecia anotar cada palavra que o Sr. Brown dizia, a mão se mexia freneticamente em cima do seu caderno. As provas finais estavam chegando e ela devia prestar atenção na aula, mas se pelo menos conseguisse. Olhou em volta e viu do lado oposto da sala, que olhou de canto de olho para ela e quase que imediatamente fingiu estar prestando atenção no Sr. Brown. O garoto estava muito estranho e claramente a evitava. Ela tentou se lembrar se tinha feito alguma coisa errada e não encontrou nenhuma lembrança que pudesse explicar o comportamento dele.
-. – sussurrou um pouco alto demais, atraindo a atenção dos colegas que estavam sentados em volta dela. olhou para ela como se tivesse sido despertada de um sonho. –O que a diretora falou?
-Já disse que depois te explico. Só detenção.
levantou as sobrancelhas e voltou sua atenção à aula, porém ela percebeu os pés da menina se mexendo nervosamente embaixo de sua mesa. Talvez devesse alertá-la que estava indo rápido demais com , e aquela situação toda lhe passava uma sensação ruim. Sabia que a garota estava se deixando levar, que não deveria mergulhar de cabeça em um relacionamento com esse menino, mas as chances de ouvi-la eram negativas.
Mais cedo ela tinha ido à academia nova que sua mãe a indicara. A última coisa que esperava era encontrar David lá. A surpresa que sentiu ao ver seu rosto ali foi suficiente para deixá-la inquieta pelo resto da manhã. Nem por meio segundo o menino tinha parado de olhar para ela e nunca perdia a chance de mostrar seu corpo musculoso e bronzeado. Era impossível não ficar boba ao lado dele, que sabia disso perfeitamente. David era tão bonito que era injustiça. Era quase um caso a ser estudado, quase um desaforo. Ele a estava provocando e achou maldade da parte dele. E era nisso que pensava com tanta insistência. Ela queria muito saber o que o menino pensava, seria tão mais fácil. Quando era criança, sempre desejava o poder de ler mentes quando soprava as velinhas de seu bolo de aniversário. Dizia para todos que queriam ouvir que um dia conseguiria essa façanha, e continuou com esse discurso por muito tempo, até ficar velha o suficiente para entender que haviam coisas impossíveis. Tinha consciência disso, porém às vezes imaginava como seria. Poderia saber o que o Sr. Brown estava pensando naquele exato momento, provavelmente imaginava as cenas históricas que contava com tanto gosto. Será que ele tinha algum podre? Poderia descobrir os podres daquele homem com tanta facilidade, mas eles não lhe seriam muito úteis. Fofocas de professores? Ninguém estava interessado naquilo, a não ser que usasse isso para aumentar suas notas, coisa que nunca faria em sua vida. Chegou à conclusão que talvez esse poder só lhe serviria quando se tratava de relacionamentos.
-!
Ela olhou para cima assustada e se deparou com debruçada sobre a mesa dela.
-Onde você estava com a cabeça? –ela perguntou colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. –Já bateu o sinal.
-Oh. – se levantou e jogou todos os seus materiais dentro da bolsa de couro. Seus pensamentos se organizaram aos poucos e seus pés foram recolocados no chão. Sempre fazia isso quando algo a importunava: quando se dava conta, estava pensando nas coisas mais absurdas. Riu consigo mesma do rumo que sua mente tomou daquela vez.
-Qual é a sua próxima aula?
-Artes, eu acho. Hum, eu devia ir.
-É. Você devia. –ela fez uma careta. –Está tudo bem?
-Sim. Eu só estou... Distraída.
deu um sorriso fraco e nada convincente e foi para o ateliê. A sala estava com as telas em formato de círculo e ela deduziu que eles fariam desenho de uma pessoa. Normalmente as garotas adoravam aquela atividade, porque os modelos contratados eram sempre extremamente bonitos. Ela se sentou em uma das cadeiras e esperou o resto das pessoas chegar. Havia alguns conhecidos dela ali, mas não estava sociável no momento. Eleanor, sua professora que devia ter uns trinta anos e era muito bonita e sempre optava por usar vestidos foi até o centro da sala e prendeu os cabelos castanhos ondulados em um coque malfeito no alto da cabeça.
-Bom dia, turma. –ela disse com um sorriso. –Hoje vamos fazer desenho de um modelo.
-Ainda sonho com o dia em que ela será a modelo. – escutou um garoto do time de futebol dizer e girou os olhos.
-Então, peguem o material que vão precisar. Antes de começarem, quero dar um aviso. Não aceitarei nenhum comportamento inconveniente por causa do modelo. Vocês já estão grandinhos o suficiente para trabalharem com seriedade. Alguma dúvida?
-Eu tenho, Eleanor. –um outro garoto do time de futebol falou. –Quando é que desenharemos uma mulher?
-Desenhamos uma mulher da última vez. Quem se sentir desconfortável ou não quiser participar da aula pode sair. –Eleanor ergueu as sobrancelhas, impaciente. –Não vou tirar pontos.
Os garotos se calaram, porque mesmo que estivessem prestes a desenhar um homem sem camisa, eles ainda poderiam olhar para a bunda da professora. Era tão patético. perguntou um pouco alto demais:
-Qual é o problema de vocês?
Eles olharam para e um deles riu.
- poderia ser a modelo.
-Nas faculdades de artes, as modelos ficam nuas. –outro completou.
-Vocês são tão idiotas. –ela riu.
Um barulho chamou a atenção da turma e Eleanor exclamou, apontando para a porta:
-Aí está o meu modelo!
prendeu a respiração e sua boca ficou no formato da letra O. Ela não podia acreditar que teria que desenhar ninguém mais ninguém menos que .
A sala virou uma confusão. Alguns garotos assoviaram e gritaram, e outros se negavam a desenhá-lo. Já as meninas ficaram empolgadas. foi até o centro da sala e a professora gritou para que todos ficassem quietos. Ele se sentou em um banco, seguindo as instruções que Eleanor lhe passava.
-Agora eu entendi. –um garoto com uma camisa Adidas soltou. –Está explicado o porquê de ter ficado toda indignada quando pedimos uma modelo mulher.
prestou atenção nele com uma expressão surpresa e só então passou os olhos pela sala. Quando os olhos dos dois se encontraram, o estômago de revirou e ele sorriu malicioso. tirou a camisa bem lentamente, sem tirar os olhos da menina. Algumas garotas começaram a sussurrar e ele apoiou o queixo na mão esquerda. Seus olhos verdes a fitavam e o garoto não movia um músculo. Ela absorveu cada detalhe de seu corpo e do topete que de longe cheirava à maçã. então levantou as duas sobrancelhas para ela, movimento que só percebeu. Ela se lembrou da aposta e que daquele jeito perderia. Girou os olhos e pensou em sair da sala, mas se o fizesse, pareceria fraca. Então tentou agir de forma mais profissional possível e só prestar atenção nele quando fosse absolutamente necessário. Porém, era muito difícil, praticamente impossível. Mesmo porque a olhava de dois em dois minutos. Era a segunda vez que aquilo acontecia em um só dia. Primeiro com David e depois com . Que maravilha, ela pensou com ironia. Ela era simplesmente uma tremenda de uma sortuda. Tentou ignorar a tremedeira em suas mãos e desenhar logo.
estava jogando sujo. Ele realmente tinha feito aquilo? Pesquisado os horários de e se oferecido para posar sem camisa? Isso era ridículo, e ela tinha certeza de que era tudo um truque dele.
-Pode se levantar agora, . –Eleanor falou depois de um tempo e lutou contra a vontade de olhar. –Vamos fazer um pequeno intervalo e eu vou ver o que já desenharam.
Enquanto Eleanor ia dando sugestões para os alunos, tentava encontrar os erros em seu desenho. Ela olhou discretamente para , que conversava com suas fãs. Enrugou o nariz e ele sorriu para ela antes de voltar a sua atenção para a ruiva com quem conversava. Ou para os peitos dela.
-Nossa, ! –a voz de Eleanor a assustou. A professora encarava com admiração para o desenhado pela menina. –O seu desenho ficou perfeito! Não tenho nada a acrescentar. Você é extremamente talentosa, sempre te disse isso.
-Obrigada. –ela agradeceu, surpresa.
-Pessoal, dêem uma olhada no desenho da . –Eleanor praticamente gritou e atraiu a atenção da turma. virou a cabeça rapidamente na direção dela e chegou mais perto, deixando as garotas falando sozinhas. –Reparem em como ela reforça as linhas, dando uma sensação tridimensional, bem mais real. Venho sempre dizendo para vocês fazerem isso? É como se ele estivesse se inclinando na direção dela, percebem isso? A forma que você retratou o garoto me parece fazer jus a sua personalidade, pelo o que eu já reparei. –a mulher soltou uma risada bem humorada. –Pessoal, reparem como desenhou os olhos de , parecem até brilhar. Esse olhar que você retratou parece até cortante.
-Já pensou em cursar Artes? –uma garota que não conhecia a perguntou e ela ficou lisonjeada.
-Não.
-É claro que o desenho dela ficou perfeito. –um amigo de gritou. –Olhe quem é o modelo!
ficou vermelha e Eleanor mandou que todos se sentassem e voltassem ao trabalho. A menina arriscou olhar para , que já não olhava mais para o desenho. Ele olhava para ela de uma forma que a fez sorrir. Não era de um jeito provocativo como o de antes, e sim de um jeito... Ela não sabia descrever. Era aquele olhar que fez com que se apaixonasse pelo garoto, em primeiro lugar.
Ele se sentou e ficou na posição de antes e finalmente relaxou. Só então ela se deu conta de uma coisa: se os dois apostaram quem imploraria o outro de volta, isso queria dizer que um deles uma hora iria perder. Ou seja, que eles iriam voltar de qualquer jeito. Isso a fez ficar feliz e nervosa ao mesmo tempo.
Mas queria mostrar a que ele precisava dela. Já tinha conseguido deixá-lo bobo e olha que ela não tinha nem começado a jogar. Hora de começar.
*
-Pode colocar essa mala ali perto da televisão. –Samantha Johnson disse para um empregado do prédio bonitinho que praticamente a comia com os olhos. Ele assentiu com a cabeça e Sam o despachou, sem tentar disfarçar que gostava da atenção.
O prédio Boulevard tinha uma vista de cobertura absolutamente maravilhosa. A primeira coisa que fez ao voltar para sua cidade foi voltar para a mesma faculdade, com um único pensamento na cabeça. É claro que eles iriam querer que ela voltasse, quase entraram em luto quando ela foi embora. Sam foi até o banheiro e se olhou no espelho. Seus cabelos ruivos formavam ondas perfeitas nos ombros e seus grandes olhos verdes brilhavam por baixo de seus óculos escuros que acabou de comprar.
Ela trancou a porta do prédio e caminhou até o ponto de táxi mais próximo. Um motorista gordo parou e a menina entrou, com seu vestido laranja tomara–que–caia rodopiando na altura das coxas.
-Para onde? –ele perguntou olhando para ela pelo espelho retrovisor do carro.
-April Hall, querido.
A menina passou uma camada de seu gloss vermelho em seus lábios macios. Tinha aquele brilho no olhar de alguém que acabou de ganhar alguma coisa. Não era possível citar muitas derrotas na vida dela, isso devido à sua personalidade insistente, teimosa, decidida e um tanto maldosa. É claro que o dinheiro que a família possuía também ajudava quando se tratava das conquistas da garota. Seu telefone tocou e ela atendeu com a voz amanteigada.
-Samantha Johnson. –ouviu a voz da mãe do outro lado da linha. A mulher tinha esse hábito irritante de sempre chamá-la pelo nome todo, como se fosse sua chefe numa empresa. Apesar disso, não era assim que ela a tratava. –Onde diabos você está?
-Já cheguei e deixei minhas coisas no Boulevard.
-Vai para seu antigo apartamento? Por que não tenta voltar para a April Hall? Tenho certeza que eles a aceitariam de volta.
-Eu não tenho tanta certeza. –Samantha bufou. Da última vez que falou com o reitor, ele parecia aliviado pelo fato de ela estar se mudando de cidade. Bom comportamento não constava no histórico da menina, e sabia muito bem que era a sua volta para aquela casa era um tanto improvável.
-Liz sabe que você voltou?
-Não. –ela sorriu maliciosamente. Pensar em sua irmã era um dos motivos pelos quais estava tão animada. Queria ver o olhar chocado no rosto dela, como seria sua reação? Suas bochechas pálidas se tingiriam de um vermelho vivo, cobrindo todas as suas sardas e não conseguiria dizer nada, porque Liz nunca sabia o que fazer quando ficava encurralada. –Será uma surpresa para todos.
-Tudo bem. Te vejo hoje à noite, sim?
-Vou tentar estar lá.
Antes que a mãe pudesse responder, ela desligou e o motorista anunciou que tinham chegado. A garota pagou e saiu do carro, dando uma boa olhada para a grande mansão à sua frente. Nada havia mudado, pelo menos não do lado de fora. Com passos firmes entrou dentro da casa, ignorando completamente a recepcionista gorda de sempre e fazendo o caminho que sabia de cor para o quarto da pessoa que era o motivo da sua volta. Sam passava pelas pessoas e deixava a maioria desconcertada. Era difícil esquecer Samantha Johnson. Quando finalmente chegou ao quarto que queria, não havia ninguém lá. Ela ficou vermelha de raiva.
-Sam?! – escutou uma voz e se virou. Liz estava parada perto dela, mais branca do que o normal. Um sorriso enorme se abriu no rosto dela, que ficou feliz consigo mesma pela previsão certíssima que fez a respeito da irmã.
-Maninha! –Sam cantarolou e lhe deu um abraço, passando os braços magros pelos ombros da menina, que continuava estática. O corpo de Liz estava gelado e parecia que ela iria começar a chorar em qualquer instante. A garota girou os olhos por causa da reação dramática da outra. Esperava pelo menos um abraço, quer dizer, fazia muito tempo que as duas não se viam, ela sentiu falta da menina. Teoricamente falando.
-O que faz aqui?
-O que, não ficou feliz em me ver?
-O que é que faz aqui? –ela repetiu, os dentes trincados e as palavras soando esquisitas quando jogadas no ar. Parecia impaciente.
-Liz! –ela fingiu segurar o choro e colocou uma mão sobre o peito. –Você me magoa desse jeito.
-Ah, para com isso. –Liz a afastou dela. –Samantha, você não me engana. Se voltou foi por algum motivo. Não diga que veio me visitar porque eu não caio nessa.
-Visitar, nada. Eu voltei pra valer.
-O que? – ela engoliu em seco, o ar de repente pareceu pouco demais. –Não pode estar falando sério.
-É claro que sim. Quando foi que eu menti pra você?
-Não seria humanamente possível lembrar de todas as vezes.
Sam ignorou esse comentário com um sorriso, não querendo discutir algo que sabia que era verdade. Nunca foi muito boa com a sua irmã, essa era uma coisa que não havia como negar. Observou o corredor vazio e se perguntou o que é que Liz estava fazendo ali. Se ouviu pelos corredores que ela estava de volta, com certeza teria corrido na direção oposta. A não ser que estivesse ali por outro motivo, e sabia muito bem qual era.
-O que faz aqui? Veio ver seu namorado?
-Ele não é meu namorado.
-Eu não acredito! –Sam fingiu estar decepcionada. É claro que Liz e David nunca seriam nada que bons amigos, nem precisava se preocupar com isso. –Eu te deixo sozinha por meses e você não aproveita a chance!
-Só estou indo devagar. E uma garota entrou na história.
-E você não lutou por ele. –ela fez uma careta. Já que a idiota da sua irmã não tinha agido, ia ser mais fácil ainda para ela. Não lhe incomodava o fato de Liz ser apaixonada por David desde que o conheceu, pois nunca teria nenhuma chance com o garoto. Era tão óbvio que ele não estava interessado em Liz, no segundo em que a conheceu, quando David e Liz já eram amigos há muito tempo, se apaixonou perdidamente por ela. –Você é tão fraca.
-Eu não acho que será uma boa ideia você ficar aqui.
-Mas eu não vou. Ficarei no meu apartamento, no Boulevard.
-Eu estou falando que não é uma boa idéia você ficar na cidade.
-Ah, Liz, essa é um decisão que já foi tomada. E onde ele está?
-Não sei. Ele faltou à aula.
-Parece que vou ter que voltar amanhã.
Liz bufou e saiu correndo. Sam riu da irmã mais nova. Seria divertido.
Uma garota magricela passou pelo corredor e quando a viu, falou ao telefone:
-É verdade, Sue. Samantha está de volta.
Sam sorriu. É, ela estava de volta. E sabia exatamente o que queria, ou melhor, quem queria. David Grenwood.
*
estava preocupada. a tratava como uma inimiga e ela não sabia o motivo. Parecia que uma pedra estava sendo apoiada contra seu peito, e em seu coração as emoções se confundiam. Estava confusa, com medo, raiva e triste. Não sabia o que se passava, e o modo inédito que o menino a tratava despertava um choque muito grande na menina. Quando foi parar na diretoria, ganhou somente detenção e não ganhou nenhum castigo, já que ela assumiu toda a culpa. Um pouco relutante, a diretora disse que aquele podia ser um caso de expulsão, mas não expulsariam pelo simples fato de que os pais dela eram um dos maiores colaboradores nas finanças da escola.
A garota não recebeu nenhum sinal de já havia alguns dias, e sentia falta da amiga. Por mais que a amizade das duas fosse nova, podia dizer que já se acostumou com a menina em sua vida. E estava mais estranha do que o normal.
saiu do banheiro e sorriu para ela, aquele mesmo sorriso que fazia qualquer uma suspirar. O garoto não precisava de muito para derrubar a sanidade de alguém.
-Não precisava ter me esperado.
-Eu fiz questão. –ela passou a mão no braço dele, sentindo os músculos dos ombros largos devido à natação. –Tenho que ir para a detenção.
-Você não vai. Eu não deixarei que assuma a culpa por mim.
-Acontece que eu já assumi e não há nada que possa fazer.
-Vou até lá, eu falo com eles. Falo com a diretora. – balançou a cabeça freneticamente, e a menina achou aquela cena adorável. As sobrancelhas dele se franziam de preocupação, e não parecia disposto a receber um não como resposta. –A ideia foi minha.
-, você é um amor. – se virou para ficar de frente para ele. Ela pegou o queixo dele e lhe deu um pequeno beijo, mas mesmo assim a sensação de adrenalina tinha tomado conta dela. –Mas a diretora me adora, ela não vai acreditar em você.
-Você pode pelo menos faltar à detenção.
-Não, vou acabar com isso.
-Tudo bem, só precisamos combinar de sair. Hoje à noite.
-Tipo um encontro? –os olhos de brilharam e um nervosismo percorreu seu corpo. Era surreal demais para ser verdade. Ele estava mesmo sugerindo aquilo? sorriu e segurou a cintura dela com as duas mãos, depositando um beijo em sua testa.
-É.
-Claro! Podemos ir ao Marina Club.
-Tudo bem. Te pego no seu quarto às sete.
deu outro beijo nele e saiu saltitando para a detenção. Era uma sala minúscula cheia de carteiras com alguns alunos e devia estar quase nevando pelo ar condicionado programado para soltar uma quantidade exagerada de ar frio. A menina olhou em volta e viu alguns rostos conhecidos. O Sr. Phillips, um velho que ensinava História da Economia e que já devia ter se aposentado, fez um gesto para se sentar.
Ela olhou para a sala mais um vez e viu cabelos pretos penteados para trás bem conhecidos. Era justamente o que precisava. Seus saltos marcaram com barulhos irritantes o piso de madeira recém encerado. Depois de se sentar atrás de , o cutucou. Ele parecia bastante concentrado na voz de Drake que saía de seus fones de ouvido – dava para ouvir de longe – que nem percebeu a presença dela. Quando se virou, seus olhos se arregalaram, as pupilas quase tampando as íris verdes. Ela tirou delicadamente o fone de ouvido da orelha dele, que seguiu seus movimentos com os olhos, os ombros subindo e descendo rapidamente. Ele estava nervoso, e a garota se perguntou o motivo e desejou que ele parasse de encará-la daquela forma estranha, pois começava a sentir a mesma ansiedade correr pelo seu corpo também. Não entendia o que estava acontecendo, mas parecia ter algum problema sério, e talvez isso justificasse seu comportamento louco.
-Oi. –ela sussurrou, jogando os cabelos dourados para trás e deixando seu ombro à mostra. O menino passou os olhos por lá, porém algo em sua expressão se parecia com raiva. –O que faz aqui?
Ele bufou.
-Detenção por causa da briga no Joke’s.
-Mas a diretora não tinha te liberado?
O menino deu de ombros.
-Ainda bem que está aqui. –ela continuou, encostando uma mão em cima do ombro dele, que o afastou dela imediatamente. hesitou, totalmente espantada com aquele movimento hostil. Sentiu o coração bater mais rápido e olhou para o garoto mais uma vez, só para ter certeza de que aquele era mesmo quem pensava que era. As próximas palavras saíram meio emboladas de sua boca. –De qualquer forma, tenho que falar com você.
-Pelo visto é o que está fazendo. Satisfeita?
-Por que está me tratando assim? –ela falou um pouco alto demais, fazendo com que as pessoas os olhassem alertadas. Não importava quem estivesse naquela sala, precisava saber qual era o problema de , e era bom que fosse algo muito grave para ele estar descontando nela, pela primeira vez na vida.
-Silêncio, . –O Sr. Phillips censurou com sua voz grossa.
se virou e voltou a colocar seus fones de ouvido como se nada tivesse acontecido. se encostou na cadeira, ansiosa. Estava ele agindo dessa forma com também?
Os próximos minutos passaram voando para ela, que depois de ficar bem aflita olhando para o menino por trás e tentando descobrir qual era a dele, dormiu com a cabeça encostada na mesa. Foi acordada algum tempo depois por algum cara do time de natação da escola.
-Ei, princesa. –ele a sacudia. –Acorda.
acordou rapidamente e olhou para a cadeira em sua frente. Estava vazia. já saía da sala e ela deu um pulo para ir atrás dele. Pegou seu braço para impedir que saíssem do lugar. Nem tanto, se fizesse um pouquinho de esforço a derrubaria no chão. Mas ele preferiu não fazê-lo.
-Dá para me soltar?
-Não. –ela apertou o braço do garoto, sentindo seus músculos rígidos, como se estivesse fazendo muita força. Estava se esforçando para não fazer algo que se arrependeria depois? Um começou a se pronunciar na menina, mas ainda lhe restava coragem. –Não enquanto não me contar o que eu fiz para você me tratar assim.
-Eu não estou te tratando diferente. – ele respirou fundo, impaciente, como se fosse necessário um tremendo esforço paraa aturar aquela conversa. olhou nos seus olhos verdes e ele recuou. Se não possuísse aquele lago nos olhos, talvez seria mais fácil de se livrar dela. Como não era o caso, decidiu que deveria acabar logo com aquilo. –Não vai rolar mais essa coisa.
-Essa coisa?
-É. Eu e você.
Ela riu.
-Do que está falando?
-Esse lance de amizade. Eu não quero mais ter nenhum tipo de interação com você, nunca mais.
ia rir novamente para mostrar que não tinha caído nessa, porém o olhar do menino era tão frio e suas palavras soaram tão ásperas e cruéis que não o fez. Seu rosto perdeu a cor e as batidas de seu coração ficaram irregulares.
-Para com isso. Não tem graça, .
-Eu não estou brincando.
De repente, a garota se sentiu num pesadelo, daqueles em que era perseguida por alguém e por mais que corresse, não conseguia sair do lugar. Ou daqueles nos quais se afogava, e ainda que nadasse o mais rápido que conseguisse, chegar à superfície parecia uma missão impossível. Os cantos do corredor pareceram mais próximos e o espaço se tornou estreito demais. Foi sempre assim? achava que não, desde pequena estudava ali e nunca... Encarou o menino à sua frente, e quando percebeu a seriedade em sua postura, seu rosto foi dominado por pontinhos pretos. Tudo em volta estava meio embaçado e preto, e a garota sentiu as pernas moles. não podia dizer algo assim e esperar que ela aceitasse numa boa, deveria descobrir o que se passava em sua cabeça. Tentou mais uma vez:
-Que droga, para.
-Porra, eu não estou brincando. –a voz dele aumentou pela primeira vez na vida com e ela entendeu que era sério. Uma onda de pânico invadiu o corpo dela e respirar se tornou difícil. O que diabos estava acontecendo?
-Isso é porque você descobriu que eu fiquei com ?
-Você não entendeu... O que?! –o rosto dele ficou vermelho. –Sai de perto de mim.
-Por que está fazendo isso?
-Porque decidi que será melhor assim.
-Você decidiu que será melhor assim. –os olhos dela se encheram de lágrimas e quase largou toda sua teoria para abraçá-la. –Não faz isso.
-Só me deixa em paz.
-...
-Solta meu braço, .
-Não..
pegou o braço dela com uma mão e tirou dele, sem muita delicadeza. Ele a deixou em um dos corredores da escola, chorando como um bebê e sem saber – nem acreditar – direito no que tinha acontecido.
*
-Então depois disso ninguém mais tocou no assunto? – perguntou à Liz. As duas tinham se falado bastante desde que Liz se apresentara para ela. Naquela tarde de segunda, quando deviam estar estudando para as provas finais, elas relavam na piscina aquecida da April Hall. O ambiente ganhou um tom alaranjado desde que chegou ali e entrou na água, e o clima não podia estar melhor. Quando se imaginou na faculdade, um momento daquele era exatamente o que tinha em mente. Ficar tranquila numa piscina num final de tarde com uma amiga, conversando sem se preocupar se os convidados de sua mãe a veriam de biquíni. Sabia que uma hora ou outra ficaria inquieta novamente, pois havia tanto no que pensar: faculdade, dinheiro para pagar as despesas, as festas de final de ano da escola, livros, onde compraria cadernos mais baratos e bonitos, faculdade...
estava meio perturbada desde que a beijara. A mãe dela sorria maliciosamente e jogava indiretas o tempo inteiro, fazendo a menina ficar nervosa. Ele agia como se nada tivesse acontecido e tentava desviar o assunto toda vez que a Sra. falava alguma coisa sobre /. Ela ficou grata por isso. Quando foi se despedir dela, depois de ter conquistado os adultos com seus inúmeros casos, o garoto somente lhe deu um beijo na bochecha e lhe lançou um olhar significativo, como se estivesse dizendo pense sobre o que aconteceu.
era lindo, sem dúvidas. tinha um fraco com pessoas bem humoradas, coisa que sempre foi. Mas o outro era engraçado demais, parecia sempre ter algo a dizer e acrescentar, e nunca aparentava fazer tanto esforço para tal. Além disso, era um doce. Sempre a tratava da melhor maneira possível, sabia que em qualquer momentoe estaria disponível, a única coisa que precisava fazer era chamar. Ele só tinha um problema: estava a fim de . Mesmo se tentasse, ela não conseguiria retribuir o que ele sentia. podia ser um príncipe, porém não era . Podia tentar, é claro que podia, só que não achava que obteria sucesso, e ainda estava cedo damais. Não ser namorada de era algo surreal, como se tivesse em outra vida, uma que não era a dela.
Liz pegou uma garrafa de água e bebeu o resto, tomando fôlego para voltar a falar.
-É claro que trocaram no assunto. Todo mundo queria saber porque Samantha Johnson havia ido embora. Ela era tipo o que movia essa casa, entende? Conseguia tudo o que queria se estalasse os dedos, adorava todo mundo enquanto eles podiam servir para ela. É frustrante, porque David era louco por ela. E mesmo que eu dissesse que ela era encrenca, ele parecia enfeitiçado. Sam não gosta de David, só gosta de ser querida.
A amiga arregalou os olhos, provavelmente assustada por ter falado tanto. imediatamente pensou em : era a mesma situação. e Samantha eram parecidas e David foi tão cego quanto estava sendo.
-Como foi que ela saiu?
-Meu pai descobriu quem Samantha é de verdade e a forçou a sair da cidade para uma faculdade longe. Se ele souber que ela voltou, vai virar uma fera.
-Essa é a sua chance, conte para ele e aposto que Samantha terá voltado pela manhã.
-Ele não está na cidade. Minha mãe é a fã número um dela, então não adiantaria nada falar para ela que minha irmã precisa ir embora.
-E você vai simplesmente observar enquanto a garota conquista David de novo? Visivelmente você é apaixonada por ele.
-Claro que não. –ela corou, passando as mãos molhadas pelas bochechas para que esfriassem. –Não há nada que eu possa fazer.
-Pode lutar por ele.
-, ou será ou será Sam.
-Você tem que lembrar a todos que gosta mais dele do que qualquer uma. E eu tenho certeza de que tem mais chance do que qualquer uma delas, conhece aquele menino de trás pra frente, pelo o que diz.
Liz respirou fundo. Sabia que estava tentando ajudar, mas era engraçado ela dizer aquilo quando deixou outra garota roubar seu namorado bem na sua frente. não conhecia Samantha Johnson e esperava não conhecer. Evitava pessoas como essas e depois da situação entre e , o seu gosto por meninas mimadas diminuiu mais ainda.
Até que uma sombra chamou sua atenção e ela levantou os olhos para ver o que era. Liz parecia tão surpresa quanto ela: David e estavam parados em frente a piscina, ambos vestindo seus calções de banho, parecendo tão surpresos quanto. olhou para Liz, que não soube o que fazer com os braços e tinha os olhos frenéticos, percorrendo o seu rosto, a piscina, David e a piscina novamente. não deixava nada a desejar quando se tratava de beleza, isso era evidente. sorriu com aquilo, até que percebeu que o menino olhava descaradamente para as suas curvas, e ela ficou vermelha. Sempre se considerou magra demais, e muito branca também. Nunca precisou impressionar nenhum outro garoto, portanto não sabia ao certo como agir. O que estava vestindo era bom o bastante? Pegou a si mesma querendo impressioná-lo, e ficou um tanto nervosa.
-Parece que elas tiveram a mesma idéia que a gente, . –David falou e sorriu para Liz, e pela reação da menina, aquele sorriso sempre era direcionado somente para ela. Antes que pudesse responder, David saiu correndo e pulou na piscina, jogando água para todos os lados. fez o mesmo e mergulhou na direção de , que absorvia cada detalhe e cada movimento dele, como se ele fosse uma cobra prestes a mordê-la.
-Oi. –ele disse chegando à superfície e jogando o cabelo para trás. Seu topete se destruiu, mas ela achou fofo o jeito como o menino tentava colocá-lo em pé de novo.
-Deixa eu te ajudar. – disse e tentou fazer os fios loiros de voltarem ao normal. Os cabelos dele eram macios e sedosos. A distância entre os dois estava perigosamente pequena e pelo jeito que ele a olhava ficou com medo de que tentasse beijá-la. O nervosismo aumentou na menina, que abaixou as mãos imediatamente e contou até dez mentalmente, respirando fundo em todos os números. Ela tinha que manter o controle da situação. –Sem sucesso.
-Droga.
riu, parecendo não ter percebido a confusão que tinha criado na cabeça de . Ele jogou o cabelo para trás.
-Ei, eu não quero interromper nem nada, mas eu e Liz desafiamos vocês. É pegar ou largar. E se eu fosse vocês, largava, pois Liz não brinca em serviço e tem canelas finas demais para aguentar o tranco.
jogou água nele e David começou a rir. A ruiva subiu nos ombros dele e olhou para os dois de um jeito desafiador.
-Você quer? –ele a perguntou e obteve uma resposta rápida.
-Acabar com eles? É claro.
riu e mergulhou para que subisse nos seus ombros. Ele a firmou segurando suas coxas e no início ela ficou meio incomodada com isso. e empurravam tão forte quanto David e Liz, e depois de quase meia hora de briga de galo, foram derrotados por uma derrubada a mais. Eles desceram, ofegantes, enquanto os vencedores comemoravam.
-Inacreditável. – grunhiu aborrecido.
-Perdedores! –Liz cantarolou saindo dos ombros de David.
-Eu e Liz somos altamente treinados para isso. Formamos uma dupla incrível.
Liz ficou vermelha com aquela última frase e ele deu um beijo na bochecha de , apertou a mão de daquele jeito que os meninos adoram fazer e saiu da piscina, esperando a amiga enquanto se enxugava em uma toalha de algodão. Liz despediu-se dos dois e saiu da piscina conversando com David, que tirou sua toalha das costas e colocou sobre os ombros da menina. ficou pensativa.
-Eles ficariam adoráveis juntos.
-Eu concordo, só que a situação entre os dois é mais complicada do que parece. –ele sorriu de lado. –E acho que o David está ligado naquela garota da sua escola, qual é mesmo o nome dela?
- .
-Eu entendo a Liz. –ele olhou para um pouco antes de continuar. –Sei como é gostar de alguém que te considera somente um amigo.
-...
-Não, eu sei. Desculpe.
Ele mergulhou a cabeça e fez o mesmo, olhando para por debaixo da água. Não queria magoá-lo e por isso não queria ficar com ele. Se ele começasse a achar que ela gostava dele – quando a única pessoa para ela era – e depois descobrisse a verdade, se chatearia.
-Mas é que eu gosto de você, . Sério.
Antes que pensasse em responder, uma voz feminina os interrompeu:
-!
desviou seu olhar para Sofia, aquela garota que os recebera quando foram conhecer a casa, que naquele momento parecia furiosa.
-O que? –ele perguntou na defensiva, como quando uma criança pergunta o que foi dessa vez, mãe?
-Essa é uma semana de estudos. Recebi várias reclamações dizendo que o barulho vindo da piscina estava atrapalhando, era para você servir de exemplo!
-David Grenwood e Liz Johnson também estavam aqui. – sorriu brincalhão, sem nenhuma piedade ao dedurar os amigos. –Eles faziam uns barulhos bem suspeitos.
-Caramba, !
-Tá, desculpa. Eu esqueci.
-Me acompanhe.
-Por quê?
-Para eu ter certeza que você estará em seu quarto, sem atrapalhar ninguém.
-Sofia, você não é minha mãe.
-Vai. – disse com um sorriso reconfortante. –A gente se vê amanhã?
-É claro.
cedeu e deixou absorta em seus pensamentos.
Ela ouviu um barulho perto dali e olhou para onde tinha vindo. Encostado à uma árvore alta, sobre a luz do crepúsculo ela pôde ver a imagem de um homem. Dezoito anos, exatamente. Vestia uma calça jeans preta e fumava um cigarro. Sabia que ele geralmente não fumava, mas por algum motivo desconhecido estava fumando. Sua regata verde combinava com os olhos e mostrava seus ombros largos e musculosos, típicos de um atleta. Seus cabelos estavam presos numa touca azul- esverdeada. O coração de acelerou, e ela teve a sensação. Aquela sensação. Ela começou a se perguntar há quanto tempo ele estaria ali, se tinha visto ou escutado o que tinha acontecido. Os olhos dele sugavam , que ficou praticamente hipnotizada, como sempre. Ele jogou o cigarro no chão e pisou com o pé direito, dando uma última e longa olhada para antes de voltar para a mansão. Ela ficou estática, porque, obviamente, aquele homem era .
*
-Não quero você dormindo tarde, amanhã tem aula. – escutou a mãe de falando com ela. Estava deitada em sua cama, cansada de tanto estudar. Decidiu que era o bastante para um dia. pingava um pouco embaixo de sua toalha minúscula e parecia querer desligar o telefone o mais rápido possível para poder se enfiar num chuveiro quente.
-Tá bom, mãe. –ela falou com desânimo normalmente ausente em sua voz. A garota soube imediatamente que algo estava errado. –Eu realmente preciso desligar.
observou a colega de quarto jogando o telefone em cima da cama e apoiando a cabeças nas mãos, para depois dar um bufada de aborrecimento.
-Está tudo bem? – perguntou meio baixo, com medo de iniciar uma conversa com ela, pois nunca sabia onde estava se metendo. Depois que as duas se afastaram, não era tão fácil assim manter um diálogo com a menina.
assentiu lentamente.
-Você precisa ter mais paciência com a sua mãe, ela só quer te ver bem e está se esforçando três vezes mais desde seu término com... Opa. Desculpe.
Ela olhou para por algum tempo, que achou que bateria nela. Mas a menina respirou fundo e voltou sua atenção para o tapete oriental que trouxera de casa. piscou. às vezes era tão estranha. Ela previu o problema dela: . Pelo o que sabia, ele tinha terminado e estava passando muito tempo com . É claro que queria a alegria da amiga, mas também é claro que não gostava dela do jeito que queria, ou o tanto que queria. Ele podia tentar, podia querer gostar de outra pessoa por raiva de –por que eles terminaram mesmo? – e depois de tudo perceberia que nada daria certo. Só estava se enganando. E à . mordeu o lábio com força, se culpando por pensar daquela forma.
-Hã, eu vou, hum, sair. –ela gaguejou, sem saber ao certo porque estava falando aquilo para , não iria ganhar nenhuma resposta, de qualquer forma.
caminhou rapidamente para o quarto de , fazendo as fivelas de sua calça jeans tilintarem como sinos. Ela olhava para o chão, uma mania que tinha quando estava com pressa. Trombou em algo duro e levantou os olhos para ver o que era. O tronco nu de sorria para ela, que se encolheu, ficando mais baixinha ainda. Ele exibia um sorriso de lado que a menina percebeu ser sua marca registrada, e usava somente uma calça jeans apertada e cheirava a um perfume delicioso. Era engraçado, porque se sorrisse daquele jeito que o menino sorria, provavelmente pareceria uma idiota, mas funcionava para ele.
- . –ele disse e lhe deu um beijo na testa. –Estudando bastante?
-Meu cérebro absorveu tanta informação que agora está inativo. Talvez seja por isso que eu trombei em você.
-Acontece com os melhores. Então, agora você é tipo um vegetal?
Ela riu e continuou encarando-a com um sorriso brincalhão. tinha um fraco com olhos, e os de eram azuis demais, quase como os de .
-Nós nem nos falamos ontem direito. –ele falou. –Como foi a viagem?
-Bem... Esclarecedora.
-Eu quero um esclarecimento do que está rolando entre você e .
-Não está rolando nada. –ela corou tanto que ficou com pena de tê-la deixado tão sem graça. –Não aconteceu nada...
-Mas você gosta dele.
-Eu? Não... Você, hum, eu não...
-Você gosta. –ele sorriu, balançando a cabeça positivamente. –Bom, vou parar de te encher. Era só isso que eu queria saber.
deu um beijo no mesmo lugar da testa de que tinha beijado antes e saiu rapidamente daquele corredor. Ela soltou um riso nervoso e andou o que faltava para chegar no quarto. dormia em sua cama com uns lenços amassados em volta e os cabelos loiros lhe cobriam o rosto. estava sentada no chão em frente à colega de quarto e parecia pensativa enquanto olhava para ela. Só com o segundo pigarro de que pareceu ter percebido sua presença. A garota se perguntou o que ela fazia tão perto de .
-Olá, . – sussurrou e se levantou para se sentar em sua cama. Ela fez um gesto para que a outra se sentasse também.
-O que deu em para ela dormir tão cedo?
-Você não soube? brigou feio com ela.
-?!
-Ele disse que não queria nem olhar para a cara dela mais.
-Por que?
-Vai saber.
Ela deu de ombros, parecendo preocupada. queria saber porque ela se importava.
-Mas é um doce, principalmente com ela.
-Isso prova que é para valer. é legal com todo mundo, mas com ... É diferente.
-Não parece. E como ela está?
-Bom, depois que a achei aos prantos nos corredores da escola, eu a trouxe para casa e ela não conseguia falar direito. Sinceramente, foi um pouco dramático demais, mas essa situação é surreal para ela. me explicou o que aconteceu e eu a deixei sozinha. Parece que chorou tanto que dormiu.
piscou, um pouco horrorizada. Não entendia porque fez aquilo.
-Como você conseguiu ajudá-la? Pensei que se odiassem.
-Decidimos trégua na semana passada. , um cara muito lindo, veio até aqui conversar com ela. Não consegui me concentrar direito quando expliquei que não estava bem. –ela riu, e piscou, perguntando-se se gostou de . –É brincadeira.
- veio aqui?
-Sim. Ele ficou preocupado, mas o convenci de que era só uma indigestão.
-Você consegue imaginar o motivo de ter feito isso?
-Não tenho idéia. perguntou se era porque ele tinha descoberto que ela ficou com e ele ficou mais irado ainda.
-Espera, o que? – ligou os pontos. Devia ser por isso que estava alterada daquele jeito e ela ficou com pena. Devia ter sido difícil para , terminar com o namoro e descobrir que o ex-namorado já estava com outra.
Não era possível que terminara com por causa de . Ele seria incapaz de gostar de alguma garota mais do que gostava de . Não seria?
Quando as amigas de lhe contaram que ela queria , ficou desconfortável, porém apoiou a amiga mesmo sabendo que quase nada aconteceria. era o maior desafio de , e ela se empenhava muito quando queria algo. Aquilo era atração, e não amor. Era por isso que se sentia mal por , que realmente o amava. Será que não enxergava isso? E se com certeza amava , o que tinha certeza que sim, surgia a pergunta do ano: o que diabos ele estava fazendo?
- falou que foram duas vezes até agora.
-Duas? – perguntou.
-Sim, eles iriam sair se ela não estivesse nesse estado. Eu mandei uma mensagem para ele contando que era só uma indigestão.
-Hum, eu acho que já vou.
não esperou nenhuma resposta e correu para seu quarto. Ela não sentia pena de – por incrível que pareça –. O que ela estava fazendo era injusto com e completamente maldoso da parte dela. Talvez agora ela veja como é perder a pessoa mais importante para você, pensou com amargura e se culpou por isso mais uma vez.
Quando chegou no quarto, encontrou a colega sentada na cama, de roupão de banho. respirou fundo e tentou ignorar o fato das duas não serem mais amigas. Precisava fazer o certo daquela vez.
-Sinto muito que esteja ficando com .
-O que? – gritou e ficou branca. Seus olhos pareciam querer sair para longe do rosto dela. percebeu que não sabia. Era um segredo.
E alguém tinha se metido numa encrenca.
*
David Grenwood estava decidido. Ele não tinha certeza se estava sendo um ingênuo idiota, mas ver na academia de manhã o deixou doido. Liz abriu a porta de seu quarto que cheirava fortemente ao seu perfume 212.
A familiaridade daquele lugar nunca deixava de causar um sorriso no rosto do garoto. Quando Liz se mudou para aquela casa, o menino a ajudou a decorar o quarto. Saiu às compras e gastou um bom dinheiro em tudo que pensasse que ela iria gostar. O papel de parede removível de margaridas em sua parte do cômodo foi resultado de quase uma tarde inteira andando por lojas de decoração para encontrar algo que o lembrasse dela instantaneamente. David enxergava a garota como um ponto de luz brilhante, alguém que sempre parecia iluminada, leal aos seus amigos até o fim e fiel ao que acreditava. Isso e seu jeito hippie de ser que era bem legal. Os CD’ s empilhados em sua escrivaninha surgiram de todas as ocasiões no Ensino Médio em que mataram aula para comprar seus álbuns preferidos. Compartilhavam um gosto irrefutável por música e gostava do fato da menina apreciar tanta diversidade, ela era praticamente uma enciclopédia musical. Os porta-retratos coloridos pendurados por um fio no teto eram feitos de material reciclado, e sua cadeira acolchoada com uma estampa verde foi um presente no qual a irmã de David ajudou a escolher. Foi preciso pagar uma pequena quantidade de dinheiro a mais, porém valeu à pena quando sentou nela e se deu conta do quão confortável era. Até mesmo o tapete da menina foi uma escolha dos dois, apesar de Liz ter pagado esse com seu dinheiro. Foi difícil – quase impossível – fazer com que ela aceitasse todos aqueles presentes, ela continuava repetindo que o garoto só podia ter enlouquecido de vez, mesmo que soubesse que para a família dele, aquela não foi uma quantidade exorbitante de dinheiro gasto. A amiga sentiu vergonha de tocar no assunto por um bom tempo, mas ele sabia que não poderia tê-la agradado mais com seu novo quarto. Liz sempre falava que possuía essa vontade de ter um lugar que pudesse chamá-lo de seu, nem que fosse metade de um dormitório na April Hall. Era difícil ter sossego em sua casa devido ao alvoroço que a presença de sua irmã causava por isso sua emoção foi gigante ao ver o que o amigo fizera.
O relacionamento dos dois já tivera sua fase complicada. Os sentimentos dele em relação a ela sempre foram incertos e fortes, porém houve uma época em que foi insuportável vê-la e não desejá-la, e tudo o que o menino queria fazer era tê-la somente para ele. Essa onda forte de desejo já o havia arrebatado algumas vezes, e a primeira vez que fez algo a respeito foi enquanto namorava Samantha. Apesar de querer dizer sim mais do que qualquer outra coisa no mundo, seu senso moral era maior do que sua vontade, e seu coração se despedaçou em mil pedaços quando precisou colocar o garoto em seu lugar e lhe chamar a atenção porque, afinal, ele era comprometido. Com sua irmã ainda por cima, uma pessoa que nunca se importou em ser ao menos cordial com Liz. Seria mais fácil para a menina seguir seu coração e ensinar uma lição à irmã, só que não o fez. David percebeu que era melhor que parasse com isso e com o tempo essas crises foram se amenizando. Eles funcionavam mais como amigos, e mesmo depois de Samantha ter ido embora, o rastro de problemas e danos morais que deixou para trás complicaram demais a situação. No início, o desconforto que sentiram só não foi maior porque não era possível, mas depois tudo foi voltando ao normal, e era assim que David preferia.
Sendo assim, decidiu que falaria com ela antes de qualquer coisa. Liz usava um vestido amarelo tomara –que –caia, que empinava seus peitos um pouco grandes demais.
-E aí? – ela perguntou olhando nos olhos dele, para depois se abaixar para sentar em sua cama, fazendo com que as pontas dos cabelos brincassem no queixo.
-Tenho que falar com você. –David queria ser breve, e se sentou ao lado dela. Sentia-se nervoso. –É importante.
-Aconteceu alguma coisa?
-Não, mas vai. –ele não sabia muito bem como falar aquilo. Liz olhava de uma forma preocupada para ele, com seus olhos verdes – bem parecidos com os dele – cheios de expressão. O menino de repente quis abraçá-la. Talvez porque seu olhar de cachorrinho perdido o comoveu, ou talvez porque queria aproximar aqueles peitos gigantes para perto de si. Ele piscou sete vezes, se sentindo estranho por ter pensado aquilo. –Você gosta de mim, não gosta?
-Jesus, é claro que sim. –as bochechas de Liz ficaram rosadas. –Você é meu melhor amigo.
-Não, quer dizer, você se sente atraída por mim? Eu sei que sente.
-David, eu não... Você pode ter entendido errado... O que aconteceu aquela vez...
-Entendido errado? Oh! –ele suspirou. Menos um problema. –Olha, você sabe que eu te amo, não sabe? É a melhor amiga que alguém pode ter, por isso que estou tendo essa conversa com você. Decidi voltar com .
Liz olhou para baixo e praticamente desligou. David a encarou enquanto esperava por uma resposta, tentando decifrar o que se passava com ela. Pelo menos foi sincero. Aquele era o tipo de conversa para a qual ele não prestava. Depois de um tempo de silêncio ele começou a ficar mais nervoso. Quando ia falar, Liz disse:
-Eu só quero que você seja feliz. –ela não olhou para ele para não gaguejar. –Se isso te fará feliz, vá em frente.
Isso não o convenceu. Não depois de um silêncio prolongado.
-É sério?
-Sim. Hum, você devia ir. Eu vou me encontrar com uma amiga na sala de jogos daqui a pouco.
-Você tem certeza? Não parece muito normal.
-Não me conhece? –ela forçou um riso.
-Tudo bem.
David beijou a bochecha dela e saiu do quarto animado. Ele cruzou o corredor até chegar ao quarto que queria e bateu na porta, se olhando no espelho do corredor. Sua blusa polo o sufocava.
-O que foi? –ele ouviu uma voz, que era de . Ela destrancou a porta e arregalou os olhos ao vê-lo. –David, o que você...
-, eu acho que devemos ficar juntos. –ele a cortou e os olhos azuis dela se arregalaram mais ainda. –De novo.
-Mas você não disse que não queria mais nada comigo? –ela gaguejou.
-Se eu não quisesse mais nada com você, não estaria na porta do seu quarto te implorando de volta.
olhou para o chão e David previu que ela recusaria por causa de . Aquele idiota que não percebia a droga que fez. Sentiu vontade de socá-lo.
-Vem aqui. – falou e ele deixou que ela o puxasse para si. Quando os lábios dos dois se tocaram, a adrenalina circulou pelo seu corpo, e foi o bastante para que a puxasse para si, pousando as mãos sobre seus quadris. Não importava o que tinha feito, ele não faria de novo.
*
jogou os cachos que caíam nos olhos para trás. Sua blusa marrom de lã o deixava com calor e ele presumiu que o verão estava chegando, o que fazia com que seu humor melhorasse muito, apesar de saber o que aquilo significava.
amava a estação, pois podia ir à Santa Bárbara ou qualquer outra praia para surfar, e geralmente conseguia arrastar e David com ele. O padrinho do garoto possuía uma casa em uma das praas, a qual ocasionalmente usava sem nenhum escrúpulo. O problema era que eles sempre causavam alguma confusão, normalmente incentivada pelos dois, mas nada que uns copos de bebida não ajudem a melhor o humor de . E sempre melhoravam, porque no dia seguinte acordava em um lugar que não sabia como havia ido parar. Houve uma ocasião em que o garoto despertou de seus sonhos ao sentir o mar gelado da manhã em sua cintura, e aquela não era uma lembrança muito boa, considerando o olhar reprovador das poucas pessoas que já estavam ali naquele horário para sua cueca, que por algum motivo desconhecido, era a única peça de roupa que ele vestia.
Decidiu que talvez não fosse uma boa ideia ir à Santa Bárbara naquele verão, teria que desviar da insistência de seus amigos.
Ele deu um tapa na máquina de comida. Era por isso que não gostava desse tipo de coisa, sempre falhavam com ele. Respirou fundo e murmurou:
-Droga.
-Eu odeio essas máquinas da faculdade, a comida é cara e extremamente ruim. –Heather apareceu ao lado dele, assustando o menino num nível que ele até pulou. As batidas de seu coração ficaram irregulares por causa do susto e ele inspirou, acalmando-se parcialmente. –.
-Ah. Oi. – sua voz saiu estranha, meio constragida. No início não se importou, mas logo não tinha ido com a cara dela. Sentia-se mal por tal opinião formada por ele sobre a garota, talvez estivesse julgando mais do que o necessário, porém algo nela não parecia muito amigável aos seus olhos. E não sabia como responder, porque não queria ser mal educado, mas também não queria abrir nenhuma brecha. –Entendo.
-Se entende, deve concordar, sim?
-Não. Eu odeio a máquina. –ele sorriu, mostrando seus dentes brancos perfeitamente alinhados. Imaginou que o humor funcionaria, era algo que aprendeu com . Sair de situações ruins ou embaraçosas era muito mais fácil se essas não fossem levadas tão a sério. –Mas os amendoins são deliciosos.
Ela enrugou o nariz:
-Essa fonte de gordura?
-Uma gordura deliciosa.
-Parece que nós nunca concordamos em nada.
-O que posso dizer? –o menino deu de ombros, os cachos mexendo em sua cabeça. –Somos duas pessoas bem diferentes.
-Eu não diria isso. Quer dizer, na primeira vez que te vi tive uma ótima impressão, porém agora tenho outra opinião.
ficou surpreso com a falta de sutileza dela, quase deixando escapar uma risada.
-O que quer dizer?
-Você parece ser culto e de bom gosto, mas sinceramente, aos meus olhos é completamente ignorante.
-Está me chamando de burro?
enrugou a testa e Heather deu um sorrisinho, jogando os cabelos para trás. Ele ficou com raiva, quando é que tratou aquela garota mal para que ela começasse a insultá-lo? Ninguém nunca o chamara de burro antes, isso era algo que ele definitivamente não era. Heather olhou para com superioridade. Qual é o problema dela? Queria atenção, era isso? Deveria estar bastante carente, para precisar tentar construir uma conversa – e falhar – com seus alunos. Certamente ser novata em um lugar era ruim e desafiador, porém não era assim que faria com os outros gostassem dela.
-Comer muita gordura nos faz engordar, obviamente. Depois não me pergunte por que sua silhueta é... avantajada.
As bochechas dele ficaram rosadas de raiva. Além de burro, era gordo? Chamá-lo de burro era a mesma coisa que chamar uma girafa de barata. Sem sentido e estúpido. Não tratava as pessoas com falta de respeito, e era sempre educado com todos os que conhecia, pois não gostava de tratar mal a ninguém, e esperava que tal cordialidade fosse retribuída. Não queria ser grosso, mas não ficaria ali em pé esperando que uma moça que nem conhecia o insultasse.
-Bom... –ele fez algo que normalmente não faria. Pegou a barra da camisa marrom e subiu até o queixo, olhando em volta para ter certeza de que não havia nenhum aluno ou professor por perto. Heather arregalou os olhos ao ver o abdome bem trabalhado e bronzeado dele, como o de um modelo. sorriu. –Parece que eu não tenho que me preocupar com isso, tenho?
Sem esperar resposta, o menino deu outro tapa na máquina e seu saquinho de amendoins caiu, talvez pela força depositada dessa vez. Ele o pegou e saiu dali o mais rápido possível, deixando Heather sozinha. Sentiu-se bem depois do que fez, e sabia que provaria sua importância para ela durante as aulas, se quisesse. Percebeu que foi um pouco arrogante, e perdoou a si mesmo por isso, pois odiava pessoas que se achavam melhores que as outras. Ela nem era tão inteligente assim. Ok, era, tinha que admitir. Era uma adulta formada em Direito que já recebera prêmios e ganhara muito dinheiro com os inúmeros casos, o exemplo de profissional que o menino queria ser. Mas definitivamente não era o exemplo de pessoa que queria ser. Quer dizer, Heather era bonita. Ele não costumava julgar as pessoas pela beleza, achá-las interessantes ou não por causa da aparência, mas a partir do momento em que a garota o aborreceu, não conseguia parar de pensar que ela tinha um ego enorme e que , por exemplo, não era uma pessoa insuportável e era muito mais bonita do que a prima. A partir do momento que esse pensamento lhe veio a cabeça, se perguntou por que ele veio. Recentemente, o fato de que seus pensamentos vez ou outra paravam na menina não podia mais ser considerado uma anormalidade. Até então achava estar interessado em , mas desde seu primeiro contato com Heather, ele se lembrou de quando o acompanhou até a lanchonete e assistiram um jogo de rúgbi. Não sabia o que pensar, a única coisa que sabia era que ela era tão interessante, e por algum motivo, não conseguia não parecer um imbecil quando a garota estava por perto. Culpava a si mesmo por sempre dizer algo idiota, ou não saber o que dizer.
Ele saiu do campus apressadamente. o esperava para almoçar no Brown House, uma churrascaria perto de sua casa. Pelo jeito as coisas com estavam dando certo, esse devia ser o motivo da ansiedade do amigo, já havia recebido cinco mensagens insistentes dele perguntando o motivo do atraso. O campus era praticamente ao lado da April Hall, e isso o obrigou a pegar um táxi até o restaurante onde o amigo o esperava. Ele deu o endereço ao motorista ligou para o outro.
-, cara! – praticamente gritou. O menino pôde escutar a voz de Dylan Morse e Cody Duncan no fundo. Eles falavam sobre garotas. –Vou colocar no alto falante.
-Que droga é essa? Você vai vir ou não? –Cody Duncan perguntou.
-Eu já estou a caminho. –ele disse e sua voz rouca ecoou pelo carro. –Heather conseguiu enrolar mais meia hora de aula.
-Se eu tivesse uma professora dessas, não me importaria em ter tempo a mais. –Cody riu. –Está um barulho insuportável, fala só com o .
-Acredite em mim, se ele tivesse uma professora igual à Heather, nem entenderia as palavras que ela usaria ao lhe chamar a atenção por olhar para a bunda dela, que é algo que Cody certamente faria. – caçoou, passando a mão pelo rosto, num gesto que evidenciava seu cansaço.
-, você ainda está no alto-falante. –o amigo revelou enquanto ria. arregalou os olhos e começou a rir.
-Mas é verdade.
-É claro que é. –Dylan concordou.
-Tudo bem. –ele esperou o barulho cessar para ter certeza que só estaria na linha. –, eu pensei que quisesse falar comigo.
-Eu queria. –ele respondeu. –Mas o lance é que eu mudei de idéia. Surgiu um imprevisto e chamei Cody e Dylan para me ajudarem.
-Que imprevisto?
-Você saberá.
-Do que você está...
Mas ele já tinha desligado. ficou nervoso, pensando no que tinha feito. Quando finalmente chegou e pagou o taxista, saiu do carro correndo. A Brown House era como um enorme chalé, porém mais sofisticado e mais barulhento. O menino atravessou a entrada de pedras brancas um pouco escorregadias pelo fato de ainda ter neve derretendo entre elas. Ele de longe sentia o cheiro de carne de boi e sorriu por estar indo comer churrasco.
Um cartaz chamou sua atenção. Chegou mais perto para ver e leu: Restaurante reservado para um Projeto de Speed Dating. Pelo o que sabia, Speed Dating era basicamente um rodízio de pessoas tentando conhecer outras pessoas num tempo determinado .Se o restaurante estava fechado, então como o amigo estava lá dentro? A não ser que ele estivesse participando.
Percebeu a situação em que se encontrava. Não acreditava que o amigo tinha metido-o naquilo. Estava prestes a dar as costas e ir embora quando escutou uma voz feminina atrás de si.
-Olá! –uma garota que parecia ter a idade dele disse com um sorriso gigante no rosto, que se intensificou ainda mais depois de ela dar uma boa olhada nele. Seus cabelos castanhos lisos estavam presos em um coque, acentuando suas sardas nas bochechas e sua boca cor de rosa. –Você deve ser , estou certa?
-Sim. Mas não se preocupe comigo, eu já estava de...
-Ótimo! –ela o interrompeu. A animação na sua voz era contagiante, mas não contagiou . –Estávamos só esperando por você.
-Me esperando? Para o que, exatamente?
-Ah, bobinho. –ela riu como se ele tivesse contado a melhor piada do universo. -Considere você e seus amigos sortudos por poderem entrevistar tantas garotas bonitas.
-Hã?
-A propósito, meu nome é Amanda. Vamos entrando.
Ela praticamente empurrou para dentro da churrascaria, onde ele viu muitas meninas sentadas em várias mesas diferentes, e na do centro Cody, Dylan e sorriam para ele, que engoliu em seco. Só podia ser brincadeira.
-Vou deixar que converse com seus amigos e quando estiverem prontos para começar, me chamem. –Amanda falou e saiu rebolando.
praticamente voou até a mesa que seus amigos estavam e foi observado por várias meninas, ficando mais desconfortável ainda. Sentou-se ao lado de e estava pronto para perguntar que loucura era aquela, quando o amigo o cortou.
-Aí está você, finalmente! –ele deu seu sorriso de lado. –Surpresa!
-O que é isso tudo?
-Isso é Speed Dating. –Cody explicou. –Somos os melhores amigos do mundo, por isso decidimos fazer um favorzinho para você.
-Mas eu não quero uma merda dessas, não preciso disso.
arregalou os olhos azuis.
-Olha a agressividade.
-Cara, sinceramente, você está encalhado. –Dylan foi sincero. –Não se sinta mal, você é bonito, eu te daria uma chance se fosse uma garota. A quanto tempo não faz...
O garoto fechouos olhos, se rendendo. Sabia que não sairia dali enquanto não fizesse o que os amigos pediam, e achou que seria melhor acabar com aquela situação de uma vez. Quanto mais rápido terminasse, menos tempo levaria para comer seu churrasco. Perguntou, nervoso:
-O que eu tenho que fazer?
-Converse. – instruiu. –Seja você mesmo, não é como se não fosse amado por todas as meninas da April Hall.
-Não estamos na April Hall, portanto tente não estragar tudo.
-Obrigado pelo voto de confiança, Cody. – foi sarcástico.
-Quer dizer que está dentro?
-Não, é claro que não. –fez sua última tentativa. –Essa é a coisa mais estúpida do mundo.
-Por favor, . – pediu. –Não vai te custar nada e você vai se divertir.
-Tá. –ele cedeu.
-Ótimo. Amanda! –Dylan gritou e a garota foi correndo para a mesa deles. –Estamos prontos.
-Meninos, vocês terão cada um dez minutos com cada garota e vão anotando quem gostaram mais. Toda vez que eu gritar, tem que trocar. Quando acabarem com todas, direi o que fazer. Certo? –Tassy disse com a voz frenética de antes. –Estão prontos?
-Que comecem os jogos. –Cody disse.
*
O namorado incrivelmente irritante de Caroline já estava deixando nos nervos. O jeito como falava fazia com que parecesse a supremacia da perfeição, como se fosse um anjo na Terra, e o menino apostava que na verdade era um safado, como todos os outros namorados de sua irmã. O nome dele era Tony Schneider e cursava algo complicado que ninguém normal conseguia lembrar o nome. A não ser, é claro, e seus pais. sempre soube que eles não eram o símbolo padrão de pessoas.
Sua relação com os pais era bastante complicada. Nas ocasiões em que bebia demais, quando se rebelava para o mundo e os dois quase estouravam seus ouvidos com tantos sermões sobre maturidade, sentia que os pais o odiavam. Obviamente não odiavam, mas ele não ficaria surpreso se odiassem. De todo jeito a culpa era dele.
Caroline o arrastou até um restaurante chinês com o nome de Chinatown, tudo bem original. Ela disse que o irmão devia a ela um almoço com a família e com Tony. E lá estavam eles, há mais de uma hora falando sobre o quanto Tony Schneider era genial.
com certeza era mais bonito do que ele, sem comparação. Conseguia a garota que quisesse, se não pela sua aparência, por sua facilidade de conversar com as pessoas e saber dizer o que elas queriam ouvir. Mas Tony era basicamente um gênio e ele não podia competir com isso, apesar da inteligência do garoto ser notável. Caroline não percebia que aquela situação era desconfortável para ele?
-Eu realmente acho que pensar no futuro é essencial para que comecemos a fazer metas. Quando criamos nossos próprios objetivos para nos encorajar, progredimos mais. – Tony declarou. estava encostado em sua cadeira, morrendo de tédio. Ele flertava com uma garçonete que provavelmente trabalhava em meio período ali para poder pagar a faculdade. Ela tinha uma corpo bonito, e era divertido observá-la caminhar pelas mesas e atender os clientes. Os pais estavam absortos na conversa e quando ele olhou para a irmã ficou surpreso ao ver que ela também parecia meio entediada. Sentiu vontade de rir.
-Você está certíssimo. –a Sra. falou com um sorriso nos lábios que acentuava suas pequenas rugas ao lado da boca. O cabelo castanho escuro dela havia sido recentemente cortado na altura dos ombros e ela dirigiu seus olhos verdes como esmeraldas – que eram idênticos aos de – para o filho. –Está vendo isso, ? Se perguntar à Tony porque ele é tão bem sucedido assim, tenho certeza de que a resposta seria algo como isso. Ele pensa no futuro. Aposto que quando estava na sua idade era focado em estudar para entrar na faculdade, e não ficava farreando por aí.
-Mãe. –ele se limitou a dizer. Quando conversou com Caroline, ele a alertou duas vezes que a única condição dele ir naquele maldito almoço era que os pais não iriam comentar nada sobre seu comportamento anterior. Mas é claro que eles não agüentariam ficar algumas horas sem falar sobre como o filho deles era uma decepção para a família.
-Sua mãe está certa, . –o Sr assentiu com a cabeça severamente. –Não ache que só porque nossa família é importante que você poderá passar em qualquer faculdade. - Hem, hem. – pigarreou meio alto demais para que a irmã percebesse que aquela era a hora de interferir. Ela saiu de seu mundo, alertada, e demorou para falar alguma coisa.
-Mãe, eu já contei sobre a reforma que estou planejando fazer no apartamento?
-Não, Caroline. Como pôde se esquecer de me contar isso?– a Sra. ficou empolgada. Ela amava reformas, construções, novos carpetes, papeis de parede, móveis, roupas, enfim, qualquer meio de gastar dinheiro era mais que bem vindo para ela.
respirou fundo e o pai o olhou como se dissesse que a conversa ainda não havia terminado. Ele olhou em volta. Na mesa ao seu lado, uma mulher grávida almoçava alegremente com um homem que parecia ser seu marido. Eles conversavam sobre a salada no prato dela como se fosse a coisa mais interessante do mundo. Com certeza era mais intrigante do que o que se passava em sua mesa.
Pensou sobre como um casal entrosado podia conversar à vontade com o outro sobre qualquer coisa. Nunca tivera uma experiência assim, ele era idiota demais para conversar com . Uma garota tão inteligente como ela apaixonada por alguém tão estúpido como ele. E ela claramente o queria de volta. A única coisa que ele precisava fazer era pedir. Porém, alguém era orgulhoso demais para fazer isso. Não aceitava o fato de ela ter dormido com o seu melhor amigo, além de depois ficar com David Grenwood. sabia muito bem o motivo de David ter terminado com , e mesmo assim não cederia.
Foi aí que algo realmente assustador aconteceu. Como se sua mente fosse uma espécie de imã, a imagem que viu na entrada foi justamente a da garota que não saía de sua cabeça.
vestia uma calça jeans apertada e uma blusa vermelha estampada com milhares de borboletas pretas. A blusa caía perfeitamente no corpo dela, como se tivesse sido feita para ela. prendeu a respiração quando a reconheceu, pois havia sido um presente dele.
Ela jogou sua franja grande para trás, sem nem perceber que estava sendo fitada com uma intensidade por que até dava medo. Atrás dela, David Grenwood sorria olhando para alguma coisa. Quando ele seguiu o olhar do menino para ver o motivo da satisfação, ficou chocado. As mãos dos dois estavam dadas e de longe ele podia ver seus dedos entrelaçados. Merda, só podia estar de brincadeira. Ela realmente queria causar ciúmes nele de novo com David? Estava enganando o pobre coitado. Da primeira tentativa –que deu certo –, quase perdeu a compostura de tanto ciúmes. E quando a garota beijou David, ele agradeceu mentalmente por tê-lo beijado no exato momento. Se ela não tivesse feito aquilo, ele provavelmente seqüestraria .
Sua experiência como modelo na aula de Artes só piorou a situação. No início ele estava tranqüilo e com sede de vingança, mas à medida que sentiu o olhar dela tão focalizado nele começou a se sentir nervoso, como se estivesse com medo de que olhasse tanto e percebesse o quão fraco ele era. E depois que viu o desenho mais do que perfeito que ela tinha feito dele, achou que ficaria louco. Precisava se controlar, vinha pensando demais nela. Só percebeu o quanto dependia de depois que ela deu um pé na bunda dele.
Os dois caminharam para uma mesa que ficava três mesas depois da dele. se sentou de frente para , e David, de costas. Depois de alguns minutos fitando-a de um jeito provocativo e pouco se importando se os pais percebessem, ela finalmente parou o que estava conversando com David e tomou um pouco de água.
Então ela o viu. E quando isso aconteceu, a menina arregalou os olhos, tamanha a sua surpresa. também ficou assim por uns segundos, mas logo parou. Ele sorriu maliciosamente e a expressão no rosto de voltou ao normal, mas ela ainda o encarava.
-Com licença. –ele falou com a garçonete que estava flertando. Ela o observava de um jeito lascivo e foi até ele ajeitando os cabelos tingidos de loiro no caminho. olhou para a família para ter certeza de que ninguém estava prestando atenção no que ele fazia. –Pode me trazer mais desse molho de ervas que vocês têm?
-Claro. –ela sorriu e foi correndo buscar mais do molho.
David olhava atentamente para o cardápio enquanto espiava , tentando ser discreta. Não demorou muito para a garçonete chegar trazendo o molho frio de ervas que ele pedira. esticou o a perna e a garçonete tropeçou nela, deixando o molho verde cair em cima do peito dele. Algumas pessoas olharam para a mesa dele, inclusive David e . Ela estava boquiaberta, e David parecia surpreso e preocupado por vê-lo ali naquele estado.
A mãe deu um gritinho e o pai apoiou a mão na testa. Ótimo, o Sr. culparia por aquilo. Ele realmente tinha sido o culpado, mas o homem não tinha que saber daquele detalhe. Caroline começou a rir e Tony olhou severamente para ela.
-Oh, meu Deus, me desculpe! –a garota disse entrando em pânico. Ela pegou um pano e tentou limpar a sujeira na camisa de , mas só espalhou mais ainda. riu.
-Tudo bem. –ele disse. –Não tem problema.
-Claro que tem! –a Sra. praticamente gritou. –, você é alérgico a essas ervas. Esqueceu disso?
-Oh, é verdade! –ele colocou as costas da mão sobre a testa, num gesto dramático e soltou uma risada. –O que eu faço agora?
-Você acha isso engraçado? –o pai dele perguntou com a testa vermelha, como ficava quando ele estava com raiva.
-Caroline também está rindo.
-Tire a camisa! –a Sra. disse rápido. levantou as sobrancelhas, como se essa fosse a coisa mais louca que ela pudesse dizer.–Vamos,tire agora.
-Mas mãe, estamos em público e... –ele foi interrompido por um grito da mãe, mandando-o tirar. –Já que insiste.
viu com o canto do olho que a atenção de ainda estava direcionada à ele. Tomou o cuidado de não olhar para lá porque também tinha a atenção de David. Puxou a barra da camisa o mais devagar que conseguiu, mas não deixando que aquela comida estranha caísse nele. Ele parou de rir quando percebeu que as pessoas voltaram às suas comidas. ainda olhava e aquilo bastou para ele. Ela devorava com os olhos cada detalhe do peitoral dele, como quando estava desenhando-o novamente. E droga, como queria que aquele fosse o caso.
O Sr. lhe emprestou seu suéter verde que vestia por cima da blusa social branca. E depois de mais alguns minutos, todos estavam terminando a sobremesa.
Seu celular vibrou no bolso, e ficou surpreso ao ver uma mensagem da irmã. Você pode querer enganar a quem quiser, mas a mim você não engana. Eu vi ali atrás.
Ele olhou para Caroline, que sorria para ele. Levantou as sobrancelhas, como se o que ela dissesse fosse loucura. está ali?
Não vem com essa, eu vi você pedindo o molho para a garçonete e sei que não se esqueceu da alergia. E vi um certo pé entrando na frente da coitada. Até que é bem esperto, você. Se queria chamar a atenção dela, então se saiu melhor do que podia esperar.
Obrigado, obrigado. Eu aprendi a ser esperto assim com a minha irmã.
Caroline girou os olhos e ficou orgulhoso. Se queria uma verdadeira aposta, era isso que ela teria. Ele deixou uma mensagem para dizendo para encontrá-lo à noite.
Chamou a garçonete de novo e ela foi correndo.
-Me desculpe novamente pelo o que aconteceu. –ela falou, com vergonha. –Por causa dessa falha faremos a sua parte da conta de graça.
-Obrigado, mas não se preocupe com isso, faço questão de pagar. E ainda te dar uma gorjeta, é claro. – agradeceu com um sorriso no rosto. –Posso te pedir um favor?
-Pode, claro.
-Entregue isso para aquela moça de blusa vermelha na mesa seis?
-Sim, sim.
-Mas coloque ali com bastante sutileza, tudo bem? – piscou para ela. –Não deixe o cara que está com ela ver.
Ela pegou a camisa que o menino estava usando e correu para a mesa onde estava. Colocou a peça no colo da menina, aproveitando a atenção de seu namorado voltada ao cardápio. Ele ficou satisfeito. Por hora era o bastante.
-Bom, pessoal, eu acho que já vou indo. –ele falou se levantando. –Meu professor de Química resolveu dar uma aula hoje à tarde. Até mais.
correu de lá de um jeito que não pôde vê-lo indo embora. O bilhete que ela leria dali a alguns minutos faria a despedida necessária. Eu sempre sou seu prato principal, não vou ser modesto. Só não olhe demais, porque uma boa aposta precisa ser equilibrada.
*
-Sou só eu que acho essa aula ridícula? –Jojo disse, suspirando. concordou com a cabeça, soltando uma risadinha abafada. –Eu e sempre matávamos todas as aulas do Sr. Garcia.
-Ele não para de olhar para os peitos de Hanna. –Maria observou, apontando para Hanna, que vestia uma camisa com um decote um pouco exagerado, considerando que ela estava em uma sala de orientação para prova numa plena tarde de terça. –Mas eu sinceramente não o culpo. Olha só essa janela, Hanna a deixou ridiculamente aberta.
Hanna olhou para Maria e por alguns segundos as meninas podiam jurar que ela falaria alguma maldade sobre como ela pelo menos tinha algo para mostrar, ao contrário da amiga. Mas ela simplesmente girou os olhos e voltou a prestar atenção no Sr. Garcia.
-Uau. – soltou. Também estava tentando prestar atenção na aula de Matemática, mas era meio difícil com mais três pessoas fofocando ao seu lado. Quatro, se você contar Sebastian, um garoto tão lindo que faz as outras garotas do mundo ficaram tristes pelo fato de ser gay.
Depois de falar aquilo, ela se surpreendeu por todos terem realmente prestado atenção nela. Com todos os olhos apontados para ela, a menina disse o que estava pensando.
-Parece que alguém quer provar alguma coisa.
-Acha que isso tudo é por causa de Jonny? –Sebastian sussurrou, fazendo com que as meninas se curvassem em uma rodinha sobre as carteiras.
olhou bem para Hanna. Ela tinha mudado o corte de cabelo, mudado as roupas e estava até meio ignorante. Se antes era uma garota romântica e descolada, agora se vestia com mais roupas de couro por dia que provavelmente teria em todo o seu guarda-roupa. Mas para ela, aquilo não era sinal que ela estava se rebelando ou coisa do tipo por Jonny estar ignorando-a completamente. Para , aquilo a fazia mais legal ainda.
-Provavelmente. – deu de ombros.
-Está vendo? –Jojo ergueu as sobrancelhas. –É nisso que dá sair com um garoto mais novo.
-Será que ele tem medo de não poder satisfazê-la? –Sebastian perguntou.
-É claro que não. – protestou. –Jonny não precisa nem se esforçar para fazer qualquer garota ao lado dele se sentir especial.
-Tudo bem, aí eu até acredito. –Jojo concordou olhando para de um jeito provocativo. –A família não costuma decepcionar, não é mesmo, ?
engoliu em seco e apertou os olhos.
-Jojo, não. –ela advertiu.
-O que? Qual é o problema?
enterrou o rosto nas mãos, apoiando os cotovelos em cima de seu caderno perfumado. Ela andava meio estranha desde o ocorrido com e até aquele momento ninguém tinha tocado no assunto ainda. abafou o caso, e pelo jeito também sabia, mas preferiu não falar à respeito.
não conseguiu prestar atenção no final da aula e quando deu por si, o sinal já havia batido, o que significava que teria um pequeno jogo de aquecimento. A menina não sabia porque diabos eles fariam um jogo insignificante no final do campeonato, já que a final estava chegando, mas só sabia que aquele era um motivo para todo mundo ir ao campo de futebol torcer de fundo de alma para o time da escola ganhar, mesmo que aquele jogo não mudasse em nada a pontuação do campeonato.
E ela só sabia que iria jogar. E que teria que sair dali o mais rápido possível. Mas antes que pudesse se mover no meio daquela grande multidão de pessoas andando vagarosamente em direção ao campo, ela se viu sendo puxada para um canto perto dos banheiros, onde não havia quase ninguém.
-O que você acha de ir assistir o jogo comigo em vez de com suas amigas? – perguntou sorrindo para ela.
relaxou. O garoto estava adorável em sua camiseta de botões branca que parecia ter sido comprada recentemente, já que sentia cheirava à roupa nova. adorava aquele cheiro. Ele segurava um livro de Biologia em uma mão e seu celular na outra. Alguém ligava para ele, mas quem quer que fosse não seria respondido. nem pareceu ter notado seu telefone tocando.
-Hum, qual é seu problema com minhas amigas? –ela perguntou. Algumas meninas davam uma ou duas olhadas para os dois ao passarem pelo corredor ao lado deles. as ignorou.
-Eu não tenho nenhum problema com suas amigas. –ele inclinou a cabeça para o lado e seus cachos castanhos escorregaram um pouco. –Mas acho que seria um locutor bem melhor que elas.
-É bom você estar certo.
-Confie em mim.
sorriu pela primeira vez desde o ocorrido. Ela decidiu chamar a briga que teve com assim, porque aí não teria que se lembrar o tempo inteiro que os dois brigaram feio e que ele a mandou ficar longe dele.
-Ah! –ele disse. –Você melhorou do que estava sentindo?
-Como?
- me disse que estava passando mal, você melhorou?
-Eu... Melhorei. Me sinto melhor.
Ela andou com ele até o campo, passando por suas amigas, que sorriram para ela. Mesmo com ao seu lado ainda não estava animada. Na verdade, só queria ir para a April Hall – porque ir para a sua casa e ter que agüentar sua mãe tentando convencê-la a apoiar a construção de um novo escritório no lugar de seu quarto não era uma opção para –e enfiar sua cara no travesseiro e dormir até o ano que vem.
Mas qual é. Ela estava com . não iria deixar uma pessoa colocá-la para baixo daquele jeito, mesmo que aquela pessoa fosse . Ela iria simplesmente ignorar e colocar um sorriso no rosto.
Eles se sentaram na arquibancada, perto dos amigos de . James olhava para trás toda hora para falar alguma coisa sobre como aquele jogo já estava garantido para o time deles e a garota começou a se sentir meio incomodada. Afinal, se queria ficar sozinho com ela, por que a levou para onde seus amigos estavam? Não fazia sentido. Ela esticou o pescoço e localizou suas amigas, que se sentaram perto das animadoras, que pelo o que ela sabia, eram amigas de . E suas hipóteses estavam certas quando ela a viu conversando com as líderes de torcida. parecia radiante, mais magra do que o normal, e seus cabelos brilhavam. Foi aí que ela entendeu o porque do menino não querer se sentar lá. Tudo bem que quisesse evitar a ex-namorada, mas... Ah, que se dane. Ele estava evitando e era isso que importava no momento.
Enquanto o garoto mantinha uma conversa sobre futebol com os amigos, a qual não queria participar, ela pôde ver o time esperando nos bancos perto do campo para começar a jogar. Jackson Allen conversava animadamente com . Sabia que eles eram amigos desde o jardim de infância, e gostava muito dele. estava sem camisa, só com o colete do time e um calção amarelo. Aparentava nervosismo e tinha a expressão preocupada, como sempre ficava antes dos jogos. Já conversara sobre isso com o garoto, que contou a ela os rituais que fazia antes de qualquer jogo. Lembrava as últimas técnicas passadas pelo treinador e, no mais, somente tentava ocupar a cabeça com alguma outra coisa. Já pensei em você várias vezes, ela ainda lembrava claramente do dia em que ele fez aquela confissão. Lembrou-se de ter se sentido honrada e importante. tinha esse poder de fazê-la se sentir dessa forma. engoliu em seco, tomando uma decisão. Precisava saber que droga estava acontecendo com aquele cara. E ela o faria falar, nem que tivesse que amarrá-lo com cordas em uma cadeira para isso.
-Ei, . – cutucou o ombro largo de nadador dele, que se virou abruptamente para a direção dela. –Como eu faço para entrar no campo agora?
-Pra que você quer entrar no campo? –ele perguntou, confuso.
-Eu preciso muito falar com uma amiga que está lá dentro. Ela é... Líder de torcida.
-Acho que você vai ter que esperar, . Quer dizer, o que tem para dizer que não pode esperar até o final do jogo, não é?
-É, você tem razão.
Ela olhou para de novo, aflita. O jogo era uma garantia de que ele não sairia correndo quando ela tentasse conversar. Jackson jogava a bola para , que devolvia com a cabeça ou com o peito. Os braços musculosos dele se moviam para cima e para baixo quando ele precisava se equilibrar, fazendo-a rir um pouco com o fato de ele ser desajeitado.
-Mas suponhamos que eu queira entrar lá dentro. –ela continuou. a olhou preocupado, provavelmente se perguntando o que estava acontecendo com ela. –Coisa que eu não quero. Eles me barrariam?
-Provavelmente não. Só que você não vai sair daqui, vai?
Ele levantou as sobrancelhas e quase derreteu. Ela deu um beijo na bochecha dele e os dois se sentaram porque o jogo iria finalmente começar.
-Não, não vou a lugar nenhum. –ela respondeu.
*
-Vamos lá, pessoal. – gritou. Ele ajudava o treinador a tomar conta do time naquela terça, como parte de seu castigo. As arquibancadas já estavam lotadas com alunos e jovens da outra escola que estava competindo. Um grupo de líderes de torcidas vestidas de azul, da outra escola, passou por ele. Algumas o encararam e sorriram e o menino começou a rir. –Não se preocupem de ganhar hoje, esse jogo não vale nada.
-É contra nosso maior rival. –Carlos Mileb pontuou. –Vai ser furada se a gente perder deles. Inclusive porque são uns idiotas metidos que tem líderes de torcida bonitas demais para eles.
-Pode até achar isso. – respondeu. –Mas o próximo jogo é a final do campeonato. Vocês preferem perder uma vez para eles ou perder todo o campeonato? Se se esforçarem demais, vão acabar com algum machucado ou ficarão cansados demais para jogar a final.
-Ele tem razão. –Logan Elis concordou.
-Tá, acho melhor eu dar uma última explicada para vocês sobre o planejamento que eu e Duncan fizemos.
-O deveria fazer isso, não? –Teddy Néri perguntou. –Quer dizer, ele é o capitão e tudo o mais.
-Não. – disse. Ele nem parecia estar prestando atenção direito na conversa, só quando escutou seu nome. Ou estava evitando falar qualquer coisa que não gostasse. Não que tivesse medo do garoto, sabia que era mais forte do que ele. É só que eles não estavam numa boa desde a Festa do Luar e a culpa era toda de . – pode falar.
-Ótimo. – falou sem nem olhar para o outro. Ele deu uma olhada nas anotações e desenhos que planejou com o treinador Duncan no dia anterior e respirou fundo antes de começar a falar. Explicou para os garotos o que deveriam fazer, e trocou os dois zagueiros, colocando Jackson atrás e deu duas bananas para que o goleiro comesse.
Ele deu uma olhada na multidão de pessoas, procurando por . Ela parecia não estar lá. Quando Duncan terminou de falar o que queria, os meninos puderam relaxar para poder finalmente entrar em campo.
-Diz aí, . –Marcus Lee, um veterano, como , soltou. –O que te fez ser assistente do Duncan?
-Castigo. – sorriu amarelo. –Preciso me voluntariar para algumas coisas, normalmente ajudo nas aulas do jardim de infância, sou assistente das professoras ou treinadores. O pessoal já está acostumado comigo, então não me importo tanto assim, tem coisas piores.
-Tem razão, eu me lembro de você ontem posando na aula de artes! –Logan riu, fazendo os meninos concordarem e começarem a rir do ocorrido. –Você estava levou bem a sério, parecia um modelo nessas sessões de fotos bizarras.
-Nada a ver. –Jorge discordou e se sentou em um banco que estava ao seu lado. Ele colocou a mão no queixo e olhou para o céu, como se estivesse muito concentrado nele. então percebeu que ele o imitava. –Ele estava mais para Sócrates.
-Eleanor nos deu uma bronca porque não aproveitamos a chance de desenhar você. –Carlos caçoou. –Como se eu fosse querer desenhar o .
-Eu garanto que as meninas gostaram muito. – sorriu de lado. –Foi um bom entretenimento.
-Principalmente a . –Marcus começou a rir. saiu de seus devaneios quando ouviu o nome da garota, olhando alertado para o menino. –Não me admira que ela tenha desenhado você com tanta perfeição, era o mínimo que ela podia fazer depois de te observar daquele jeito.
girou os olhos, mas algo em seu peito se manifestou, e ficou radiante. Não só porque estava claramente perdendo a aposta, era mais por saber que ela também gostava dele. Andou até o outro lado do campo, ainda procurando por ela no meio da multidão. Quando escutou alguns assovios e foi ver o que era, se deparou com . Ela vestia o uniforme das animadoras e levantou as sobrancelhas. Nunca tinha reparado que ela era líder de torcida. O Sr. Garcia não queria deixá-la entrar no campo, mesmo com a menina insistindo que precisava se juntar às outras. caminhou rapidamente até lá e cutucou o professor carruncudo, aquele homem tarado que parecia odiar seu emprego, a não ser pelas chances que tinha de olhar para os decotes das mulheres que circulavam pela escola.
-A precisa entrar. –ele falou e o professor olhou para ele como se fosse de outro planeta, ou como se o garoto o assaltasse. –Ou você quer que fique um buraco na coreografia?
Meio contrariado, o Sr. Garcia liberou a passagem e passou apressada. Ela foi em direção às cadeiras onde os meninos estavam sentados e Logan e Marcus olharam para ela com um sorriso.
-Ah! –ela parou e se virou para trás, ficando de frente para , que a seguiu. –Esqueci. Obrigada por me livrar do Sr. Garcia.
-Sem problemas. Eu não sabia que você era líder de torcida.
soltou uma risada rouca.
-Eu não sou.
A menina se virou, fazendo seus cabelos dourados voarem e foi em direção à . Ela o cutucou, mas quando o amigo a olhou, simplesmente se afastou e a deixou parada ali. Mas não por muito tempo, em cerca de segundos já estava correndo atrás dele, gritando coisas que não conseguiu escutar o que era.
Ele ficou assustado. nunca a tratara daquele jeito, nem por meio segundo.Devia ter acontecido algo realmente muito sério para ter feito aquilo. suspirou, sentia mesmo a falta do amigo. Sabia que provavelmente o clima entre os dois ficaria estranho se eles voltassem a ser amigos porque estava falando com e não com . Porém, era como se algo estivesse errado o tempo todo. Não ter o garoto para conversar sobre as coisas, ou até mesmo rir das bobagens que ele falava era estranho, e não achava – e nem queria – que se acostumaria com aquela ausência. Andou pensando sobre aquilo que aconteceu na Festa do Luar. Não podia culpar por ter dormido com . Quer dizer, a culpa também era dele, mas eles nunca falaram nada sobre não dormir com as ficantes do outro. Eles já tinham tido várias discussões sobre ter dormido com algumas ex-namoradas de .
-Cara, que tipo de doença mental seu amigo tem? –Jorge perguntou olhando para , e assustando, pois estava tão concentrado em seus pensamentos que por um momento se esqueceu de onde estava.
-Do que você está falando?
-Droga, ele está fugindo da . –Logan justificou. –Eu tento ficar com ela desde a oitava série.
Ele deu de ombros.
-Eu não sei o que aconteceu.
-Ei, treinador! – escutou uma voz feminina conhecida gritar. Era . Ela sorriu para ele e correu para abrir passagem para que entrasse. –Não sabia que você gostava tanto de futebol.
-Não a ponto de me voluntariar para ser assistente do treinador. – deu um beijo na bochecha dela, que sorriu. Ela soltou o coque de seu cabelo, fazendo os cabelos ondulados e escuros caírem sobre seu suéter azul. –Só estou cumprindo meu castigo.
-Isso não me surpreende. Posso saber o que fez para ganhar esse castigo?
-Bom, para começar eu matei aula. E depois eu briguei com um idiota que estava enchendo o Jonny, irmão do . Nada com o que se preocupar, estou quase acabando, de qualquer forma.
-Um castigo e tanto, hein? –ela sorriu e puxou um fio da blusa de frio do time da escola dele. –Ficar aqui dando dicas para esses garotos que são praticamente profissionais enquanto um bando de garotas rebola na sua frente. Imagino que você deve adorar.
-Não tenho nada a reclamar. – sorriu. –Principalmente depois dessa surpresa boa que você me fez agora.
Ele se lembrava de quando queria fazer o teste para entrar no time só por causa das líderes de torcida. o chamou de galinha, mas qual é. Não que soubesse jogar futebol. Ele sabia, mas não possuía um talento nato, assim como . Já fizera parte do time por um ano, mas saiu para poder praticar artes marciais, e era ótimo naquilo. Bem melhor do que no futebol.
-Está me cantando, ?
-Está funcionando?
começou a rir. não podia mentir, se sentia meio intimidado quando estava perto dela. Ela era tão cheia de si, assim como... Como ele mesmo. Mas era divertido, como um desafio para o garoto ser tão ou mais seguro do que ela. Pegou a mão dela, que sorriu e esperou para ouvir o que ele diria.
-E aí, o que acha de ir assistir um filme comigo?
-Hoje tem sessão de cinema na April Hall. – falou. –Talvez eu te encontre lá.
-Ah, vai bancar a difícil?
-É legal ver você se esforçando um pouco.
-Vamos lá, pessoal! –Duncan gritou. –Vamos jogar!
-Eu vou para a arquibancada. –ela disse e se afastou antes que pudesse dizer qualquer coisa.
observou o monte de garotos indo jogar e gritou boa sorte para seus amigos. lhe agradeceu com um sorriso e ele retribuiu. Era o primeiro contato dos dois em dias e realmente podia ser um começo.
Não podia deixar entrar no meio da amizade deles, mesmo que ele ainda gostasse dela. e eram amigos bem antes de , e começou a pensar em finalmente ceder. lhe lançou uma piscadela de onde estava e se animou. era com certeza interessante, e mesmo que um pouco desafiadora, ela foi até sua escola vê-lo, não foi?
*
estava tão feliz. Parecia que tudo o que queria estava finalmente acontecendo. Ela era amiga de e suas amigas gostavam dela. Ela tinha dito tudo o que pensava para seu pai, estava morando na April Hall e as coisas com pareciam ter progredido um pouco. Ela estava sentada na arquibancada da escola assistindo ao jogo de futebol do time de garotos lindos da escola e sentou-se ao lado de suas quatro novas amigas. Cinco, se você contar Sebastian.
-Ai meu Deus, Evan é tão bonitinho! –Olívia Jay deu um gritinho. –Eu queria tanto que ele não fosse calouro.
-Você pode ficar com ele mesmo assim. – falou, dando de ombros. –Qual o problema?
-Não, querida. –Sebastian deu um risinho. –Ela é tão bonitinha, não é, meninas?
-, fofa. –Jojo falou sorrindo. –Você não fica com calouros.
-Não? Por que não?
-Porque eles são calouros. –Sebastian disse dando de ombros. não entendia, queria perguntar qual era o problema de ficar com calouros. Decidiu ficar calada, pois temeu que eles a chamariam de idiota e diriam que ela não entendia nada. Mas realmente não entendia. Será que ficar com calouros era o mesmo que rebaixar o nível? Quer dizer, era isso que ela era na April Hall, uma caloura. Será que na faculdade as coisas também eram assim? –Mas você geraria bastante polêmica se ficasse com Evan. Quer dizer, provavelmente ninguém irá contra você.
-Isso funcionaria sem dúvida se eu fosse a . –Olívia disse tristemente. –Comigo, não sei.
Era verdade, estava sempre lançando moda. Na quarta série ela resolveu que iria para a escola com a maior quantidade possível de pulseiras nos braços, quase prendendo a sua circulação. Dizia que estava igual à Gwen Stefani, ou Avril Lavigne, e é claro que todas as meninas também almejavam essa semelhança, mesmo que as pulseiras fossem em formatos de bichinhos e que as mulheres que tanto queriam imitar provavelmente não usavam coisas assim. Um tempo depois, lançou a moda do animal de estimação, que era levar seu animal de estimação para a escola. Isso acabou dando errado depois, por razões óbvias. custou a entender que a diretora não ficou nada feliz com a sua ideia excêntrica, e sua opinião piorou mais ainda depois que seu labrador utilizou o tapete da sala da mulher como mictório. se lembrava de ter levado seu lagarto Eduardo para a escola. a chamou de “Seguidora de modinhas ridículas que não tem opinião própria” e as duas tiveram uma discussão. No final do dia, só restou e seu lagarto Eduardo. Naquele dia ela percebeu que era bem mais legal do que .
O celular de vibrou e ela não identificou o número que aparecia no visor de seu telefone. Apertou a opção para ignorar a chamada, mas a pessoa era bastante insistente.
-Quem é? –ela perguntou, tentando escutar quem estava do outro lado da linha. O barulho onde estava era intenso e ela não conseguia escutar nada do que se passava no telefone. Ela apertou o telefone contra o ouvido. Do outro lado da linha também estava bastante barulhento e ficou sem saber o que fazer. –Diga quem é e eu ligo depois, não consigo escutar nada.
-, é . –a voz dele ecoou do outro lado da linha, junto com a de mais umas dez meninas. Provavelmente devia ser Kristin e Hilary, duas amigas de e de que eram líderes de torcida. –Estou aqui em baixo, perto das cadeiras dos jogadores. Consegue ver onde estou?
analisou a multidão e varreu os olhos até as cadeiras brancas perto do campo, depois das arquibancadas e perto do ginásio. Alguns jogares reservas estavam sentados lá prestando atenção no jogo. estava em cima de uma cadeira e era meio difícil não vê-lo. Ele olhava para e balançava a mão direita tentando chamar a atenção dela.
-Você mudou de número? –foi o que ela conseguiu dizer. Qual é, a culpa não era dela. Não era todo dia que recebia uma ligação de .
-Meu celular está no concerto. Peguei o da minha irmã. –ele respondeu. –Escuta, você precisa vir pra cá. A é sua amiga, não é?
-Ela é minha amiga. – sorriu ao dizer aquilo. –Aconteceu alguma coisa?
-Eu não sei, ela está meio que surtando. Pode vir pra cá?
-Tudo bem. Espera só um pouco.
se levantou e falou para as meninas que iria ao banheiro. Ela estava surpresa por se importar a ponto de ligá-la, e ao mesmo tempo preocupada com . O que ela estava fazendo no campo? Era lá onde os jogadores ficavam, ela não teria motivos para entrar lá dentro, mesmo porque não gostava de futebol...
Ela então se tocou. devia estar lá por causa de , provavelmente suas tentativas de conversar com ele foram falhas. Mas que tipo de pessoa vai tentar conversar com um garoto no meio do jogo de futebol dele? já devia estar nervoso o bastante por causa do clássico que enfrentava, não possuía cabeça nenhuma para falar com naquele momento.
Abrindo caminho por entre a multidão, ela conseguiu chegar até lá com dois empurrões e várias cotoveladas. Driblou o Sr. Garcia e entrou no campo. correu até ela e a puxou pelo braço até onde estava sentada. A menina permanecia imóvel, só observava cada movimento de , que não parecia perceber, tamanha a sua concentração na partida.
-O que está acontecendo? –ela perguntou para , se sentando ao lado dela. –Por que está usando o uniforme das animadoras?
- te contou sobre o ocorrido. – respondeu sem nem se virar para ela. Uau, aquela briga realmente tinha tirado alguns parafusos da cabeça dela. –Eu vou fazer falar comigo.
-, é melhor você esperar. Ele está no meio do jogo e a final está chegando, provavelmente estará estressado.
-Não tenho nada a perder.
-O que está pensando em fazer?
-Sei lá, provavelmente gritar para ele quando eu estiver no topo da pirâmide.
-Pirâmide? Que pirâmide?
-Bom, a Kristin está passando mal. Alguém colocou alguma coisa estranha na vitamina dela. – deu um sorrisinho, dando a entender quem fez aquilo. –Eu estou substituindo. Vou poder forçá-lo a olhar para mim e falar o que diabos está acontecendo com ele.
-Você não sabe nada de ginástica, sabe? Alguma vez já montou uma pirâmide na sua vida?
-Não. – arregalou os olhos. –Mas isso não tem importância.
-Claro que tem, você pode se machucar! – gritou. só podia estar ficando doida. Ela queria gritar isso também, só que não queria contrariá-la. –Tem certeza?
-Como eu disse, não tenho nada a perder. Ai meu Deus. Foi o que pensou. Ela deixou sozinha e foi falar com , que se sentou por perto. Ele conversava com alguém por mensagens. A camisa do time lhe caía muito bem, e quando combinada com seu topete, fazia com que ela se lembrasse um pouco de John Travolta em sua juventude. simplesmente amava aquelas jaquetas. Ele sorriu para ela. Era tão surreal conversar com . Será que os dois eram amigos? , um dos caras mais lindos da escola e da cidade – e o um dos mais galinhas também, mas isso não importava – estava falando com ela. O mais inacreditável era que ele continuava falando com ela mesmo depois de tê-lo chamado de bêbado ridículo e dizer que tinha pena dele.
-O que está acontecendo com sua amiga? –ele perguntou inclinando a cabeça, apontando com o queixo para a outra.
-Eu sinceramente não sei. Só sei que ela talvez possa se machucar.
-Por quê? O que ela vai fazer?
-Uma besteira para chamar a atenção de . – piscou com força. Contar aquilo para o melhor amigo da vítima podia ser ou não uma furada. Os dois não estavam conversando, então provavelmente não faria nenhuma diferença. –Ela está bem mal depois que ele brigou com ela.
- realmente brigou com ela?
-Parece que sim, soube que ele estava quase explodindo de raiva.
-? Com raiva? De ? Que estranho, isso nunca aconteceu. – franziu a testa. Ele não conseguia imaginar o motivo do amigo estar agindo estranho assim. Mas se estava com tanta raiva a ponto de descontar em , então aquilo não podia acabar bem. –Alguém tem que impedi-la. Ela bebeu?
-Eu acho que não. Impedir a ? Pode tentar, se quiser.
sorriu amarelo, ainda meio incerto. esfregou uma mão na outra, nervosa. O primeiro tempo havia terminado e os jogadores saíram de campo. Estava na hora da dança de meio de tempo das animadoras. A garota saiu correndo até as cadeiras da frente, para perceber que a amiga não estava mais lá.
O que aconteceu a seguir foi bem rápido, porém ela teve a impressão que fora tudo em câmera lenta. Correu para mais perto do campo, onde as meninas faziam uma dança ritmada com e alguns outros jogadores. O time da casa ganhava por um gol. As meninas rebolavam de um jeito que para ela era sinistro. não se sentia muito bem rebolando de terminadas maneiras, e sempre ficava sem jeito quando as suas amigas começavam a fazer aquelas coisas. também rebolava, e por mais desajeitado que normalmente fosse, esse defeito parecia desaparecer quando dançava.
Até que a hora da pirâmide chegou. As meninas foram subindo umas nos ombros das outras e conduzindo até o topo. Ela estava tremia e se movimentava de um jeito estranho, parecendo prestes a cair. Seria preciso um pequeno movimento em falso para que caísse. Porém, por algum milagre divino, ela conseguiu subir até o topo. A cara de quando a notou ali foi definitivamente engraçada. Ele ficou tão chocado que parou de dançar. Ou estava surpreso pelo o que ela estava fazendo ou... Ok, ele estava surpreso pelo o que ela estava fazendo. E não do jeito bom. Ela vai cair, ela vai cair.
-Merda. – conseguiu ler os lábios dele de longe. O garoto olhava para cima com os olhos cerrados, como se fosse ele que estivesse a segurando e tomando cuidado para que não caísse.
No acorde final da música, se esticou e levantou os dois braços. Os braços tremiam e apesar de concentrada, o medo da queda estava estampado em seu rosto, porém por enquanto tudo sobre controle. A não ser o fato de que ela parecia uma senhora tentando se manter em pé depois de um tombo, nada demais. A garota começou a levantar lentamente a perna esquerda e observava com muita atenção. Ela não precisava fazer aquilo, já era mais do que o necessário. Não possuía técnicas e o que fazia era loucura, infantil e... Loucura. Provavelmente viu que conseguia se empolgou, mas no momento em que começou a subir a perna, soube que aquele seria o movimento que a faria cair. Os gritos eram altos, pois todos cantavam o grito de guerra do time, porém ninguém parecia perceber a tragédia que estava prestes a acontecer. A menina não conseguiu mais assistir: começou a se mover, procurando por para que ele acabasse com aquele caos.
Foi aí que ela se desequilibrou mais ainda e abalou toda a pirâmide. As meninas conseguiram se manter em pé e deram um sorriso constrangido para a platéia. não. Ela praticamente voou para frente e se esborrachou no chão. A queda dela foi tão lenta que pôde acompanhar perfeitamente o trajeto dela até a grama, com os olhos arregalados. A pirâmide não era imensamente alta, porém também não era baixa.
Sabia que precisava continuar se movendo, ir de encontro à amiga e ajudá-la, porém seu corpo congelou em pavor e não conseguiu sair do lugar. Parecia que o tempo havia parado, e até mesmo a música parou de tocar. Se quisesse, de certo conseguiria escutar uma mosca voando perto dela. Seu coração começou a bater rápido demais e alguém colou os pés no chão. Se fosse uma líder de torcida normal, provavelmente teria se levantado e voltado a dançar. Poderia ter torcido algum membro, ou ralado a pele em algum lugar.
não era uma líder de torcida, ela não sabia como cair, não sabia nada. E depois de uns dez segundos sem se mover, as pessoas se tocaram e foram até onde ela estava. também saiu correndo. Era como se alguém apertasse o botão play de um filme, e o murmurinho voltou, a voz do treinador Duncan sobressaindo na multidão, para que os meninos ajudassem a garota, e para que encontrassem a professora responsável pelos animadoras.
-! – berrou. Uma rodinha formou-se ao redor dela e todas perguntavam ao mesmo tempo se ela estava bem. A menina tinha os olhos fechados e soltou um gritinho de dor. –Silêncio! –ela gritou de novo e as meninas se calaram. –Você está me ouvindo? Onde está doendo?
abriu os olhos azuis lentamente, mas não falou nada.
-Ai meu Deus, alguém precisa levá-la para o hospital! –Anna Wilson gritou chorando. –Ela vai desmaiar!
-Cara, por que você está chorando? –Jorge perguntou. –Não dá para nenhum menino sair daqui, o jogo volta daqui a cinco minutos. Vocês meninas não conseguem carregá-la?
-Não, precisamos de um professor. –Kimberly Carter falou, agitada. Ela andava de um lado para o outro. –Vou chamar a Sra. Porter.
-Não adianta chamar nenhuma professora. – falou. –Provavelmente nenhuma vai conseguir carregá-la. Onde estão os professores? Jesus, ninguém percebeu que está quase desmaiando aqui? Será que ela quebrou alguma coisa?
-! – chegou correndo. –O que foi que aconteceu agora? , você consegue se mexer?
Ela soltou outro gemido e fechou os olhos de novo e as meninas em volta começaram a ficar aflitas. O choro de Anna se intensificu. olhou preocupado para e depois para , se perguntando o que eles fariam.
-Licença. –eles escutaram uma voz grossa atrás das meninas.
abriu caminho no meio da multidão e se alhou de frente para . Ele a analisou com cuidado, e e o olharam espantados, surpresos por sua súbita chegada. As meninas arregalaram os olhos, ansiosas para o que aconteceria.
-, você consegue se mover? –ele perguntou. Quando escutou a voz dele, abriu os olhos. Ela soltou outro gemido de dor e ele ficou meio preocupado. –Onde dói mais?
-Minha perna esquerda. –ela murmurou.
assentiu com a cabeça. Com cuidado com a perna dela, ele a pegou no colo, fazendo os cabelos loiros dela ficarem pendurados. O menino a analisou, para ter certeza de que tudo estava no devido lugar, antes de abrir caminho entre a multidão até a saída ao lado do ginásio.
Logan correu atrás dele e gritou:
-Espera, você não pode sair, !
-Coloca o Mason no meu lugar. –ele disse sem parar de andar.
o seguiu até fora da escola e assistiu enquanto ele a colocava no banco de trás de seu carro com cuidado. Ela estava chocada demais para falar qualquer coisa. O garoto abriu a porta do motorista e olhou para por alguns segundos.
Depois, entrou no carro e acelerou para o hospital mais próximo.
*
David estava vivendo uma lua de mel. Depois de sua visita ao quarto de , os dois praticamente não se desgrudavam, e seria uma mentira enorme dizer que não aproveitava cada segundo daquilo, sem se preocupar com os problemas exteriores, ou sem se preocupar com as questões anteriores enfrentadas pela menina.
Na noite anterior, deitado na cama dela, enquanto a cabeça da garota repousava em seu peito e o ouvido colado em sua camisa, escutando seus batimentos cardíacos, observava os cabelos negros dela espalhados pelo lençol, e só queria se mover para mexer neles, porém aquela posição estava tão boa que não queria estragar o momento. Seus pensamentos estavam tão agitados, que não sabia nem dizer qual deles era o responsável por mantê-lo acordado. Tornar-se ciente dessa situação em que se encontrava era uma forte fonte de energia. Quando aceitou seu pedido de reconciliação, os dois enfrentaram uma série de amassos, que terminou com a chegada inesperada de ao quarto. Segundo a namorada, a amiga passava por um momento muito difícil e era bom que tivesse saído do confinamento para comer alguma coisa. David foi compreensivo, mas por dentro se perguntava o que devia ter acontecido com ela para que perdesse o gosto por comida. Para David, um dos maiores crimes do universo é deixar de comer. Apesar de seu corpo mostrar o contrário, ele tinha um estômago furado e parecia sempre estar com fome. Quando analisava as opções de emprego, ele estava certo de que escolheria algo que combinasse por essa sua paixão. Acabou não optando por essa alternativa, mas sentia falta dos momentos em que passava boa parte do dia cozinhando para algum serviço de bufê da cidade. Ele tivera aquele emprego por anos e simplesmente adorava.
Além disso, era ótimo estar deitado com , que era sua namorada de novo, porém havia um problema. A cama dos calouros era bem menor do que a do resto da população da April Hall e estava bem apertado ali. Quando era calouro, reclamava o tempo inteiro sobre a cama ser tão pequena. Era sempre motivo de frustração na vida do amigo, que gostava de deixar suas companhias noturnas confortáveis.
-Cara, não é como se você fosse trazer uma menina para cá toda noite. –David costumava dizer. –Você nem conseguiria.
-E eu nem deixaria. – falou rindo. –Não quero ter que escutar falando as merdas que ele geralmente fala quando está tentando impressionar uma garota.
-Olha, funciona muito bem, tá bom? – se defendeu e os fez rir. Funcionava mesmo. –E não é por causa disso, eu só quero uma cama maior.
-Não sei por que a nossa cama é menor do que a dos outros. – choramingou. –Nós estamos chegando e eles precisam causar uma boa impressão. É por esse mesmo motivo que eles precisam dar camas maiores para nós, e não menores, é lógico.
era sempre o mais sensato, analisando as situações com lógica e questionando o que não considerava certo. Pedia uma explicação convincente quando não concordava com o que lhe era dito, como um bom advogado. era o mais descontraído e David o que tinha mais jeito com as pessoas. Não o mais conquistador, ele somente sabia como tratar as pessoas.
O outro motivo de sua inquietação era que escutava algumas fungadas vindas da cama de e não sabia se ela estava chorando ou se era somente uma gripe.
-? –sussurrou. –Você está chorando?
Como não obteve resposta, ele resolveu não tentar de novo. Talvez a menina quisesse ficar sozinha, ou pelo menos sentir que estava sozinha. Ou ela estava gripada mesmo e já deixou que o sono a vencesse. Ele tentou apenas relaxar e depois de um tempo conseguiu dormir.
Acordou atrasado para a aula no dia seguinte, surpreso por não ter despertado antes. Despediu-se da menina e correu até o campus. David disse à para encontrá-lo no Chinatown para almoçar.
Quando ela o viu, no meio-fio perto do restaurante, correu para seu encontro e lhe deu um beijo demorado. Logo em seguida, pegou a mão dele e o guiou para dentro do local. Aquele segundo movimento o deixou surpreso, não era algo que ele em geral fazia. Tomava aquela atitude vez ou outra porque sabia que a maioria das garotas gostava, mas ele mesmo não fazia muita questão de ficar de mãos dadas com as namoradas que tinha. Se fosse sincero consigo mesmo, ficou meio desconfortável. Foi por pouco tempo, pois ele logo esqueceu isso.
Encontrar dentro do restaurante não foi exatamente a melhor coisa do mundo. Precisava admitir: o garoto era um cara legal e era divertido ficar perto dele, mas David não conseguia não vê-lo como concorrência. No final, suas preocupações foram em vão, quase não olhou para ele. Pelo menos não viu nada.
Naquele momento ele estava no seu quarto, deitado em sua cama. Seu mais novo colega de quarto era um calouro chamado , que estudava na mesma escola que sua namorada. mencionou que haveria um jogo e por isso iria demorar um pouco, então supôs que o menino também estivesse lá. Ela disse que ficaria só um pouco e que depois voltaria para casa. Então, David resolveu terminar sua pesquisa logo para que pudesse chamá-la para a Sessão Cinema que aconteceria dali a algumas horas.
-Ei, David. –Sofia o chamou da porta. Ela sempre parecia estar por conta da April Hall, provavelmente porque sua família era um legado. –Não quer dar um tempo nos estudos?
-Oi. –ele disse dando um sorriso simpático que deixava qualquer garota balançada. –Por quê? Adiantaram a Sessão de Cinema ou os garotos amarelaram e não querem mais ver o filme de terror à noite?
-Nada disso. –ela sorriu e abriu mais um pouco a porta. –Tenho uma visita para você.
A menina então abriu a porta por completo e David ficou branco ao ver o que viu no corredor. Ele apertou os olhos com força, pensando estar ficando doido, esperava que lhe faltasse sanidade, era melhor do que se fosse verdade.
-David Grenwood. –Samantha Johnson cantarolou com aquela mesma voz meio arrastada de sempre, exibindo um sorriso de orelha a orelha.
Sam não havia mudado muita coisa, só estava melhor. Seus cabelos ruivos brilhavam mais do que nunca e parecia mais escuros, sua pele antes branca estava um pouco bronzeada, mas como sempre, impecável. Ela emagreceu mais ainda e seu quadril havia se alargado, Deus sabe como. E David não queria saber como. Ela vestia um vestido branco tomara que caia e seus sapatos de salto também brancos a davam um ar de famosa. O menino engoliu em seco, estupefato demais para pensar em dizer alguma coisa. Palavras eram inatingíveis para o garoto, e juntá-las numa frase pareceu algo sofisticado demais naquele instante.
-Não vai dizer nada? –ela perguntou, despertando-o de seus devaneios. Todas as lembranças com Sam passavam por sua cabeça e uma onda de sentimentos misturados veio à tona: ódio, tristeza, amor, êxtase e medo. David não conseguia raciocinar direito. –Achei que tivesse sentido minha falta, pelo visto todos aqui sentiram.
-É claro que sim, Sam. –Sofia disse e ele se perguntou se ela falava sério, notando também que a menina se demorou um pouco mais no quarto provavelmente porque queria presenciar aquele reencontro, a fim de contar para todos os curiosos mais tarde. –Bom, vou deixá-los sozinhos.
Ela fechou a porta e restaram somente os dois. Sam caminhou lentamente até a cama de David e se sentou ao lado dele, o cheiro familiar invadindo as narinas dele, que ainda se encontrava congelado. A menina deu uma espiada em seu notebook, mas foi interrompida na mesma hora, pois ele o fechou abruptamente, fazendo com que um sorriso se formasse no rosto dela.
-O que foi, por que está agindo desse jeito? –ela perguntou. –Não vai dizer nada? Eu até me esqueci de como é a sua voz. Mentira, isso eu definitivamente não me esqueci.
Quase não reconheceu sua voz ao perguntar:
-O que você está fazendo aqui?
David estava muito desconfortável. Samantha era sinônimo de problema, ele se lembrava muito bem do que tinha acontecido no dia que ela foi embora. Os dois tiveram uma briga e terminaram, e ela foi basicamente expulsa da casa. Ele já se apaixonou por Samantha, e não foi uma coisa muito simples. Ele tinha se apegado de verdade a ela e estava disposto a fazer qualquer coisa para poder tê-la. Acontece que a Samantha pela qual ele era apaixonado era uma versão criada pelo cérebro dele e David ficava muito aliviado em saber quem ela realmente era para não cometer os mesmos erros que já havia cometido.
Mas não era tão simples assim, só de vê-la novamente, depois de vários meses, já era meio surreal para ele. Era como se tivesse se lembrado de seus sentimentos e era como se tudo o que acontecera entre os dois não passasse de um sonho estranho. Os problemas em sua vida relacionados àquela família eram maiores que poderia contar.
-Eu pedi transferência na faculdade. –ela explicou e jogou seus cabelos para trás, criando uma onda ruiva perfeita enquanto eles se movimentavam. –Aquele internato não era para mim, resolvi voltar para casa. Sentiu minha falta?
-As coisas se acalmaram bastante depois que você foi embora.
-A April Hall nunca foi a mesma depois que eu fui embora. –Sam o analisou com muito cuidado e David se encolheu, com medo de que ela encarasse tanto e percebesse o que se passava pela cabeça dele. Se já não tivesse percebido. –E você deve ter ficado grudado na minha irmã depois que eu fui embora também.
-Por que diz isso?
-Eu sei que vocês dois sempre foram amiguinhos, mas deve ter precisado ficar muito mais tempo com ela do que o de costume. Quer dizer, ela foi a única parte de mim que restou, não é mesmo?
-Não diga isso, eu amo a sua irmã. –as palavras saíram de sua boca mais rápido do que pôde pensar sobre elas, e uma vez que foram jogadas para fora, resolveu não dar muita importância, caso o contrário, seria a cereja do bolo para que seu cérebro entrasse em colapso. –Não confunda as coisas, Samantha, eu fiquei aliviado quando você foi embora.
-Assim você parte meu coração. –ela colocou a mão sobre o peito e o menino girou os olhos. Samantha podia virar várias pessoas em menos de um minuto, desde que fosse de seu interesse. –Eu não acredito que disse isso.
-Ficar perto de você é como ficar perto de uma bomba armada.
-Mas você adora. –ela chegou mais perto dele e levantou sua mão, fazendo-o prender a respiração, observando cada movimento dela cautelosamente. Sam colocou a mão nos cabelos dele, perto da nunca e começou a acariciar ali. As unhas frias causavam arrepios no garoto, e não do jeito bom. –Eu vim para pegar o que é meu.
-Do que você está falando?
-Você sabe do que eu estou falando.
Sam se aproximou mais ainda dele, que não se moveu. Ela inclinou a cabeça e encostou os lábios frios no pescoço dele, que finalmente acordou, como se tivesse levado um choque. David correu para o outro lado do quarto e abriu as persianas, deixando a luz do final da tarde invadir o quarto. A risada que ouviu vinda da garota fez com que seu corpo formigasse de raiva.
-Samantha, eu terminei com você antes de ir embora, e não é porque está de volta que nós vamos voltar ou coisa do tipo.
-Pare de bancar o difícil, eu sei o quanto estava adorando.
-Não, isso não vai acontecer. Se eu ainda quisesse alguma coisa com você, teria te ligado ou coisa do tipo. Não quero começar de novo e ter todos os problemas que eu tive, não podemos e não vamos ficar juntos de novo.
-Por que você se lembra de somente das partes ruins? Qual é, David, eu sei que você ainda é apaixonado por mim. Se não é, negue agora. Vamos, quero ver.
Naquele exato momento, a porta se abriu e apareceu do outro lado. Ela vestia a mesma roupa de mais cedo, a qual o garoto elogiou, para depois observar um constrangimento aparecer no semblante da namorada, coisa que achou bonitinha. Olhou de David para Sam e antes que pudesse falar alguma coisa, o menino foi até ela e lhe deu um beijo na bochecha.
-Você chegou. –ele disse. –Entre.
entrou no quarto e manteve a postura enquanto era detalhadamente analisada por Samantha. David bufou. Sam possuía aquela mania horrível de intimidar as outras garotas olhando para elas como se fossem insetos e como se ela fosse boa demais para o resto do mundo. Era uma das coisas que odiava nela.
-Não vai me apresentar à sua amiguinha? –Sam perguntou com um sorrisinho no canto dos lábios. –Onde estão seus modos?
-, esta é Samantha Johnson, irmã de Liz. –David falou calmamente. Não deixaria Sam tomar controle da situação. A namorada tinha autocontrole, era educada e não parecia ser ciumenta. Do tipo que pira só de ver uma garota no quarto do namorado. Ela também não podia ser depois da relação aberta que teve com . Sam não a irritaria. –Samantha, essa é a , minha namorada.
Mesmo tentando disfarçar, as bochechas da menina ficaram vermelhas, um sinal de seu corpo para que os outros chegassem à conclusão de que havia ali um misto de surpresa e raiva. Ela mexeu nos cabelos ruivos, procurando alguma coisa para dizer. David sentiu-se orgulhoso por ter causado essa confusão em sua cabeça. Sam era tão acostumada a ter tudo o que queria, era ótimo vê-la descobrindo que o mundo não girava ao seu redor e que ele tinha seguido em frente.
-É um prazer te conhecer. – foi até ela e ergueu a mão esquerda para cumprimentá-la. Sam enrugou o nariz e David sorriu contente porque a garota não perdeu a elegância. –Eu não sabia que Liz tinha uma irmã, achei que se pareceriam mais.
-Já ouvi isso antes. –ela disse ignorando completamente a mão de , que logo abaixou a mão, se sentindo familiarizada demais com pessoas assim para ficar ofendida. –E você, de onde veio?
-Eu acabei de me mudar, sou caloura.
-Hum, vejo que o gosto de David ficou bem... Exótico. –ela sorriu. –Bom, eu já vou indo, ainda há várias pessoas que precisam descobrir que estou de volta.
-Sam estava em um internato. –David explicou e assentiu com a cabeça. –E agora ela voltou.
-E agora eu voltei. –Sam repetiu e um sorriso largo e brilhante foi crescendo em seu rosto demoradamente, como se aquela frase lhe causasse tanto deleite que precisava aproveitá-la ao máximo.
David respirou fundo, aliviado por ela ter finalmente ido embora. o olhava de um jeito estranho, provavelmente se perguntando qual era a daquela garota. Nem ele sabia responder ao certo. Mas o que sabia era que infelizmente conhecia Sam muito bem, e ela tinha saído da April Hall só por hora, iria voltar. Com certeza iria voltar.
*
tirou seu suéter azul e o jogou para cima. Ele caiu na cabeça Angel, que soltou um resmungo. Ela tinha acabado de voltar da escola de e decidiu não ficar para ver o jogo inteiro porque se sentia completamente entediada quando assistia a um jogo de futebol. Apesar de que ver se esborrachando no chão com certeza valeu a viagem. Isso ensinaria uma boa lição às outras animadoras, talvez assim tomassem mais cuidado com quem chamavam para participar de seu grupo. A preocupação lhe visitou por um momento, quando viu que a menina se recusava a se mover. Mas não devia ser nada demais, certo?
-Como foi lá? –Ashley perguntou passando um batom coral em seus lábios finos. O modo como ela o fazia lhe deixava parecida com uma cirurgiã, como se estivesse fazendo uma operação bastante complicada. –Conseguiu ver o ?
-Vamos nos encontrar hoje à noite na Sessão Cinema. –ela respondeu sorrindo. –Ele é assistente do técnico de futebol, o que achei uma pena, já que seria muito mais fácil admirá-lo se estivesse em campo.
-Você conseguiu ver o ? –Angel quis saber, animada. Desde que ficara com o garoto no Gentleman Club ela falava um pouco demais nele, e a pequena paciência de logo acabaria.
-Ele estava jogando. Meninas, vocês não vão acreditar no que aconteceu! estava no topo da pirâmide, aparentemente ela é líder de torcida. Uma não muito boa, por sinal, porque quando dei por mim, a menina tinha se esborrachado no chão.
-Meu Deus, ela se machucou? –Angel ficou preocupada, porém logo pigarreou. Ashley parecia confusa, como se não tivesse entendido nada que a amiga disse. –Quer dizer, bem feito.
-Eu sei lá se ela se machucou. – disse. –Mas adivinhe quem bancou o herói e a levou para o hospital? Essa vai para você, Angel.
-? –ela perguntou chorosa. –Que droga. Não dá para competir com isso, eles são amigos desde sempre.
-Eu acho que dá sim. –Ashley falou. –Ouvi dizer que ele brigou com ela. Ontem eu a vi na cozinha tarde da noite pedindo por um pote de sorvete. Ela não devia comer assim.
-Acho que você devia aproveitar, Angel. está esperando que alguém vá até ele e diga todas as coisas que quer ouvir.
abriu o armário em busca de algo para vestir na Sessão de Cinema. Ela pegou seu celular e leu a mensagem que Courtney Perez havia enviado há alguns minutos atrás, mas não ouvira por causa do barulho imenso que estava no campo de futebol. e estão juntos, ouvi que ele foi à casa de ontem com e a apresentou para sua mãe como namorada. Alguém sabe me dizer o que está acontecendo na April Hall?
deu um berro ao ler aquilo, não podia acreditar nas palavras à sua frente. As meninas olharam para ela espantadas. Como podia namorar ? No primeiro dia em que a viu, ela pareceu tão inocente e tão fácil de ser manipulada. Pareceu tão bobinha e tão caloura. Aquilo não estava certo.
-O que foi que aconteceu? –Ashley perguntou.
mostrou a mensagem para as meninas, que leram e depois se entreolharam. Ela arregalou os olhos pretos.
-Vocês sabiam?!
-Pensamos que era só um boato. –Angel deu de ombros. –Nem levamos a sério.
-Eu não acredito nisso, aquela baixinha com carinha de inocente é uma...
-Se acalme. –Ashley sorriu amarelo. –Você ainda nem sabe se é verdade.
bateu com força na porta de seu armário, os dedos protestando em dor. Sua respiração estava acelerada e ela era capaz de socar uma das meninas naquele exato momento. Ou nas duas.
-Opa, mas que gritos são esses? –uma voz veio da porta e ia gritar para ir embora porque ela não queria ver ninguém, até perceber de quem era aquela voz meio rouca. Ela conhecia muito bem aquela voz.
-Samantha? –Angel deu um gritinho desafinado.
Sam entrou no quarto e fechou a porta atrás de si. arregalou os olhos. O que diabos ela está fazendo aqui? Ela começou a ficar meio tonta e fechou os olhos um pouco para ver se assim se acalmava. Sam tinha no rosto radiante um sorriso de orelha a orelha que deu dor de estômago em .
O alívio que sentiu depois que Sam foi embora foi grande demais para ser medido. A amizade delas era marcada por brigas, competitividade, segredos, armações e mentiras. Aconteceu tanta coisa entre as duas que aquele relacionamento foi ficando cada vez mais perturbado e menos saudável. Qualquer coisa virava uma competição, até aquilo que ninguém nunca imaginaria que poderia ser disputado. Julgavam tudo importante e com isso foram perdendo várias coisas. Normalmente Sam ganhava em tudo e sempre ficava atrás, em segundo lugar, vivendo à sombra da perfeita Samantha Johnson. E ela não aguentava aquilo. Quando Sam finalmente se mudou para um internato bem longe dali, pôde começar do zero. A ansiedade que aquele modo de viver lhe causou foi responsável pelas dores de cabeça frequentes e cansaço, as consequências que a garota precisou aprender a lidar. sempre foi amigo dela e lhe ajudou a refazer sua vida, não sabia o que seria dela se não fosse por ele, principalmente naquela época. Então ela se tornara basicamente o que Sam era. Depois de tanto lutar para ser melhor do que a amiga, percebeu que queria era ser como ela, e conseguiu. Mas sua relação com ficou bastante complicada quando isso aconteceu, porque a menina já não era mais a mesma.
-O que diabos você está fazendo aqui? –perguntou, tentando controlar a raiva e o choque. A aspereza em sua voz foi notável. –E por que não está em um internato?
-Eu me transferi para uma faculdade daqui, queria voltar para casa. –ela respondeu e encostou-se à porta do quarto. –Sentiram minha falta?
Angel e Ashley estavam boquiabertas e não conseguia achar palavras. Ela não podia acreditar, sentiu vontade de chorar. Não era possível que iria começar tudo de novo, não queria que começasse tudo de novo. Sua vida melhorou tanto desde que Sam tinha ido embora, ela não podia voltar e mudar tudo, estragar tudo. Já tinha perdido Sam como amiga quando as duas começaram a competir por tudo e já tinha perdido quando ela ferrou com o namoro. Não queria nem pensar no que mais poderia perder se começasse tudo de novo.
-Uau. –Sam continuou, vendo que ninguém iria dizer nada. –Cansou-se de usar roupas?
se lembrou de que estava de sutiã. Ela pegou uma blusa rosa de ceda que achou no seu armário, a primeira que viu pela frente e a vestiu. Mesmo não sendo sua vontade, ela fantasiara aquele momento em sua mente milhares de vezes. O momento em que a amiga voltaria e veria no que tinha se transformado. E lá estava ela, mais bonita do que nunca e vestia calças jeans da coleção passada e sutiã. Ashley se inclinou e perguntou, os olhos brilhando de curiosidade:
-Vai voltar para a April Hall?
-Eu quero. –Sam fez biquinho. –Mas infelizmente acho que eles não vão me querer de volta. Não fui a garota mais comportada no semestre passado, não é mesmo?
-E onde você vai morar? –Angel perguntou. piscou várias vezes. Era só o que faltava, suas amigas idolatrando Samantha de novo.
-No meu antigo apartamento.
suspirou fundo. Antes de serem aceitas na April Hall, ela e Sam resolveram montar um apartamento no centro da cidade para não precisarem mais morar com os pais. Lembrava-se de como as duas estavam empolgadas com aquilo.
Sam sorriu e encarou , e as duas trocaram um olhar prolongado, aquele contato fazendo o estômago da menina revirar. Ela não podia passar por tudo aquilo de novo, não queria passar por tudo aquilo de novo. Pigarreou.
-Hum, então a gente se vê, Samantha.
-O que, está me expulsando? –ela perguntou inclinando a cabeça para o lado. Um sorriso debochado atingiu os lábios cor-de-rosa dela. –Eu devia te deixar um pouco sozinha, pra você poder analisar o que está acontecendo, parece que até agora não se tocou que eu estou de volta. Estou tão animada para sermos amigas de novo!
Sam se virou graciosamente para trás e saiu do quarto, batendo a porta de madeira com força. Ashley soltou uma risadinha nervosa.
-Eu não acredito que ela está de volta. –Angel disse, maravilhada.
-Nem eu. – suspirou.
*
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