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Teenagers


Última atualização: 23/12/2017

Capítulo 115 – “HE WALKS AWAY THE SUN GOES DOWN”


andava de um lado para o outro, apreensivo. Os músculos doíam devido ao esforço que andava fazendo nesse final de temporada tenso e suado para ele, que precisava chamar a atenção de alguns técnicos da cidade. Trabalhou como nunca, e ao mesmo tempo pensava que ainda não era o bastante, duvidando de seus méritos e esforços como sempre. Porém, naquele momento o cansaço mental ultrapassava a exaustão de seu corpo, tamanho o esforço que fazia para interromper a enxurrada de pensamentos que circundavam por sua cabeça, sem parecerem querer se suavizar tão cedo. Sua vida realmente estava uma bagunça, e vários fatores contribuíam para isso.
estava namorando David Grenwood novamente. Ela faltou ao jogo do time para ficar com ele. Tudo bem que os dois tinham voltado a namorar e tudo o mais, mas o menino não conseguia enxergar a necessidade em parar de fazer as coisas rotineiras e abandonar as outras pessoas que se importavam tanto com ela para servir de companhia ao namorado. Faltar aquele jogo até que era compreensível para , se ela resolvesse faltar à final do campeonato, aí as coisas mudariam, e uma ansiedade invadia seu corpo quando pensava a respeito, porque ao mesmo tempo em que se recusava a acreditar que a garota seria capaz de tal desfeita, temia que acontecesse. Antes de toda a confusão com ela prometera a ele que veria a final do campeonato.
Desde uns dias para cá, tudo ficou muito estranho. Ele não se sentia bem perto de , era tomado por um desconforto que nunca tivera antes perto dela e não gostava de se sentir assim. Por isso, resolveu se afastar e descobrir se era só algo passageiro. Tinha plena consciência de que a menina entenderia aquele afastamento como um capricho de sua parte. Então, ele decidiu pedir para que ela ficasse longe dele. O garoto a conhecia bem o suficiente para saber que ela não se daria por vencida enquanto não descobrisse o porquê dele estar fazendo aquilo. Sabia que ela voltaria para tentar falar com ele. Não conseguiu trabalhar num plano melhor, por isso decidiu que se a situação se complicasse, somente fugiria.
Mas entre todas as tentativas de chamar atenção que o garoto imaginou que pensaria, se disfarçar de líder de torcida e arriscar quebrar alguma parte do corpo para ganhar a consideração dele realmente não tinha passado pela sua cabeça. só podia ser doida. No momento em que a viu escalando as meninas para subir ao topo da pirâmide, ele engoliu em seco e rezou para o que aconteceu não acontecer. Desde pequena a menina não era muito fã de altura. A reação despertada no garoto quando a menina caiu foi a esperada: o choque sentido por ele atingiu dimensões tão grandes que foi impossível se mover num primeiro momento. Vários pensamentos passaram por sua cabeça, e sentiu tanto medo naquele instante que foi difícil respirar. Logo em seguida, ficou bravo por ela ter agido tão irresponsavelmente, comovido por ter feito tanto só para chamar a atenção dele. Se pensasse mais, sentiria até mesmo um pouquinho de graça ao ver o quão desajeitada ela era ao tentar se manter em pé. E por último, o receio voltou com força. E depois que esse medo o corroeu por inteiro, saiu correndo e gritando para que todos que estavam na frente abrissem caminho.
Ao vê-la estendida no chão daquele jeito, o horror se instalou em seu olhar, mas a urgência de um atendimento era tão maior que fez o máximo para se controlar. Ele a pegou no colo com a maior cautela e quando o fez, sentiu-se como se fosse a pessoa mais frágil do mundo e ele tivesse que carregá-la com o maior cuidado para que nada saísse do lugar. Também ficou triste ao vê-la daquele jeito e uma onda de culpa tomou conta de seus sentidos, um peso gigante instalando-se em suas costas e causando mais desconforto do que as dores musculares, ou a falta sofrida pelo menino no primeiro tempo. A culpa de aquilo tudo ter acontecido era dele, se não tivesse tido essa idéia de que para as coisas melhorarem era melhor se afastar, a menina não teria feito uma loucura para chamar a atenção dele. Ele até podia ter falado com ela para que os dois se afastassem, mas devia ter dado uma explicação um pouco mais trabalhada em vez de sair correndo, antes de o jogo começar.
dormia na cama do hospital, os cabelos longos espalhados pelo travesseiro, emoldurando seu rosto e suavizando os hematomas adquiridos. Mais cedo, o garoto saiu do carro com ela em seus braços e andou rapidamente até uma cadeira de rodas no hospital. Os médicos foram rápidos levando-a até um quarto, onde tiraram várias radiografias. contou o que aconteceu e que ela queixou ter dor na perna, e mais tarde em um dos ombros
Depois de analisarem-na, um médico que parecia ter uns trinta anos disse que ela tinha deslocado o ombro e que ele podia voltá-lo para o lugar naquele momento. O menino respondeu que tudo bem, se era o melhor a fazer. Ela estava meio grogue devido aos analgésicos para dor e não conseguia manter os olhos fixos em nenhum rosto, pois esses se fechavam involuntariamente. Quando o médico começou a forçar o ombro de , ela gritou tanto que não conseguiu ficar dentro do quarto. Mesmo que o doutor fizesse um trabalho rápido, foi necessário apenas um pequeno toque para que a menina sentisse dor. Era uma tortura para ele observar aquilo, então foi até o corredor de espera para se sentar em uma das cadeiras frias e ligar para a Sra. , que disse que garantiu estar a caminho.
odiava hospitais, simplesmente não conseguia entrar dentro de um por livre e espontânea vontade. Era como um trauma, achava. Ele não queria ter que dizer para ela onde estava quando acordasse. A lembrança do temperamento da menina lhe divertiu, e foi capaz de confortá-lo minimamente. Naquele exato momento, ainda estava sentado naquela cadeira cinza que parecia ficar mais gelada à medida que o tempo ia passando. A Sra. mexia no celular ao lado dele, com seu cabelo dourado preso em um coque no alto da cabeça e os olhos azuis cansados. Apesar de suas maneiras frias e os traços mais sérios, era possível identificar muita semelhança entre mãe e filha, e fazia perfeito sentido que fossem aparentadas, ainda que em alguns pontos se diferenciassem dramaticamente.
-Ela já deve estar boa. – disse, quebrando o silêncio de mais de meia hora. Monique olhou para ele por baixo de seus óculos de armação preta como se só tivesse reparado na presença dele naquele momento. Ela dobrou um pouco as mangas de sua blusa social branca e tirou os óculos, colocando-os dentro de sua bolsa de couro. Provavelmente era nova, porque cheirava forte, e o nariz dele começava a coçar.
- é uma das pessoas mais irresponsáveis que eu já vi na vida. –ela soltou, a voz um tanto nasalada, talvez estivesse gripada. . –Onde já se viu isso? Ela mal sabe dar uma cambalhota.
-Na verdade, a culpa foi minha. –ela arregalou os olhos. se sentiu mal por , sabia que a mãe dela iria culpá-la pelo o que tinha acontecido. Ela de fato foi mesmo doida por ter feito aquilo, mas estava num estado meio frágil no momento, e um pouco mais de afabilidade não poderia ser um esforço muito grande para a mulher. Sentiu-se na necessidade de defendê-la. – Nós brigamos e ela tentou chamar a minha atenção fazendo isso.
A Sra. fechou os olhos, como se estivesse processando o que ele acabara de dizer. achou que quando ela os abrisse, o repreenderia de todas as maneiras possíveis.
-Querido, a culpa não é a sua, olhe o jeito que ela inventou de chamar sua atenção. Não se preocupe, vou lhe dar um bom castigo. Tirar seu cartão de crédito, talvez.
-Não faça isso. –ele se apressou em dizer. –Por favor, não desconte em . Foi uma coisa idiota de se fazer, mas não desconte nela.
-Você é um doce, sempre foi um jovem tão bom. – ela pegou no queixo dele. –Queria que a minha fosse como você, mais responsável.
-Ela pode ser. – respirou fundo, impaciente. Alguém precisava dizer aquilo para ela. –Só que ela precisará da sua ajuda. sempre diz que você é uma mãe ausente, e ela ficou triste quando pediu para fazer do quarto dela um escritório.
-É por isso que ela estava brava? Eu pensei que o sonho dela sempre foi morar na April Hall!
-E é, mas a sua casa ainda é a casa dela. E ela ainda é sua filha e você devia ser tão dedicada à ela quanto é às outras pessoas.
A Sra. virou-se para frente. então teve certeza de que ele provavelmente nunca mais falaria com ela depois daquilo, mas não ligou. Alguém de fora precisava falar aquilo, a menina não podia viver mais daquele jeito. Depois de mais um silêncio desconfortável, decidiu que era melhor ir embora. Mesmo preocupado com , ainda cumpriria o que disse e sairia de perto dela. Não queria que eles fossem amigos se ele não se sentia bem perto dela. E já que o médico tinha dito que estava tudo bem, não tinha nada mais para fazer ali.
se levantou e foi embora.
*
Capítulo 116 – “ I’ VE SEEN THIS ROOM AND I’ VE WALKED THIS FLOOR”


Sam correu para o outro lado da casa. Ela supostamente não deveria estar lá, mas a April Hall era tão vigiada quanto uma rua deserta.
Depois de suas visitas ao quarto do ex-namorado e de sua amiga , ela estava bastante satisfeita consigo mesma por ter conseguido chegar com impacto. Revivia o momento em que esteve no quarto de David milhares de vezes em sua cabeça, lembrando-se de cada expressão no rosto dele. Era óbvio que o garoto ainda gostava dela, ela pôde sentir sua respiração agitada e o jeito como ele ficou na defensiva até sua namorada ridícula chegar. O pouco que viu da garota foi o bastante para firmar seu desagrado. Ela era bonita até certo ponto, precisava reconhecer isso, mas nada muito chamativo. É claro que ficara incomodada ao encontrar uma menina no quarto de David, podia bancar a tranqüila e relaxada, mas Sam adoraria provocar mais para vê-la explodindo.
Resolveu que ficaria para a Sessão de Cinema. As pessoas já se amontoavam na enorme sala cheia de poltronas e muitas foram falar com ela, que se sentia como uma celebridade conversando com os fãs. Normalmente era assim que Sam se sentia, o que foi intensificado com o tempo que passou fora, durante o qual a curiosidade dos jovens ao seu respeito foi aumentando gradativamente. Ela olhou para o televisor. Eu ainda sei o que vocês fizeram no verão passado. Qual é, esse pessoal era tão medroso a ponto de não poder escolher um filme um pouquinho mais assustador?
Ela sorriu. O que fizera no verão passado era bem público para todos. Samantha costumava dar as melhores festas e fazer com que sua presença melhorasse todas. Ninguém sabia como nem porque, ela simplesmente conseguia tudo o que queria. Sempre.
-Ei! –ela gritou quando sentiu alguém trombando nela, seu corpo sendo lançado para frente com força. Deu alguns passos para trás, arrumando seu vestido branco e jogando os cabelos ruivos para trás. Quando viu na sua frente, um sorriso enorme brotou no rosto da menina. Ele vestia uma camiseta amarela, calças jeans desbotadas e meias brancas, que já deviam estar bem sujas embaixo. Seus cachos dourados estavam soltos, seus olhos verdes brilhavam como nunca e seus óculos de leitura – aquele que possuía desde sempre – estava pendurado na gola de sua camisa. Como sempre, perfeito. –Ai meu Deus, !
-Sam! –ele levantou as sobrancelhas, claramente surpreso, e um tanto confuso. –Uau. – a abraçou e envolveu seus braços fortes sobre ela, que o abraçou de volta. Finalmente uma recepção digna. Depois que a soltou, ele ainda estava meio abismado. –Você está... Ótima.
-Oh, obrigada, . –ela jogou charme. –E aí, como você está?
-Por aqui tudo bem, até onde eu sei. Está de volta mesmo?
-De volta à cidade, mas não para a April Hall. Por enquanto. –Sam sorriu. –E como vão as coisas com ?
-Terminamos já faz um tempo. –ele coçou a cabeça, como sempre fazia quando estava desconfortável com determinado assunto. –Vai ficar para a sessão de cinema?
-Que pena. Vou, você bem que podia ficar comigo.
Uma garota baixinha de cabelos ondulados e um rosto delicado se aproximou de e apertou o ombro dele, com um olhar tímido, como se tocá-lo fosse uma ousadia imensa. Ela olhou para Sam e abriu um sorriso simpático.
-Vamos deixar para a próxima. –ele disse olhando mais para a garota do que para ela. –Sam, essa é a .
-Olá. – falou. Até a voz dela era inocente. –É um prazer te conhecer.
-Deixe-me adivinhar, você também é caloura.
concordou com a cabeça e a menina soltou um riso. Qual era a da turma dos calouros daquele ano? Ela apostava que as outras duas meninas já estariam causando muita polêmica e que os outros três calouros eram bonitinhos.
-Parece que os calouros estão fazendo bastante sucesso esse ano. –Samantha comentou, lançando um olhar endiabrado para a outra. –Vocês formam um casal bonitinho.
-Ah, nós não somos... – disse meio sem graça. –Não somos namorados.
Mas a garota gostava dele. Ela nem a conhecia e já tinha percebido. Era tudo óbvio: o tom de voz dela mudou quando se referiu a , a mão em seu ombro, o jeito como ela passava a mão no cabelo meio que freneticamente para ajeitá-lo e como ela não ficou tão indignada quando Sam disse que eles formavam um casal bonitinho. Na verdade, ela só queria que alguém ficasse com para que não pudesse. A amiga sempre foi apaixonada por ele e ela gostava de enchê-la por isso. E Sam também nunca quis que conseguisse ficar com , porque assim ela não seria a única com um namorado que causava inveja em todas as garotas.
-Bom, já vamos indo. – falou. –A gente se vê.
-Você tem meu celular. Ligue quando quiser colocar o assunto em dia.
-Vou ligar.
-Foi um prazer te conhecer. – sorriu e acenou debilmente.
Samantha deu um sorrisinho e os dois se afastaram. Ela bem que podia ligar para quando quisesse também. Eles podiam, hum, colocar o assunto em dia.
Ela viu ao longe, em um dos sofás mais no alto. Estava ao lado de Angel e Ashley, e rodeada de garotas que pareciam ter ficado pelo menos vinte minutos procurando no guarda- roupa alguma coisa legal que parecesse despojada para a ocasião. Arqueando os ombros, andou elegantemente até onde a menina e suas amiguinhas estavam. sorria daquele típico jeito falso que ela bem conhecia. Uma vez, Sam dissera a que a amiga era lésbica depois que o garoto lhe perguntara se deveria pedi-la em namoro. Ele ficou muito confuso e decepcionado, mas disse que estava tudo bem. No mesmo dia, Sam tinha “acidentalmente” beijado David e dito que eles precisavam ser namorados imediatamente. Ele aceitou, é claro. Quando contou que tinha um novo namorado para , ela deu um sorriso que Sam nunca tinha visto antes e que no momento fora até meio sinistro. A partir daí, as duas começaram a competir uma com a outra feito malucas. E a maioria dos sorrisos que Sam conseguiu arrancar da amiga foi daquele tipo. Se era a nova Samantha, então só havia uma pessoa que conseguiria derrubá-la. A própria Samantha.
-Ei, meninas. –Sam falou surgindo na frente delas e impedindo-as de verem a televisão, onde passava o trailer de um novo filme de Aniston. Elas olharam lentamente para o que as havia tampado. E quando o fizeram, escancararam a boca. Com exceção de . –E aí, vão ter coragem de assistir ao filme?
-Oi, Samantha. – disse com a voz ponderada. Uau, , que autocontrole você adquiriu enquanto eu estive fora. Ela ficou um tempo em silêncio e Sam até pensou em falar alguma coisa para poder começar um assunto, mas decidiu esperar para vê-la se esforçando. Sabia que a menina se perguntava como ela ainda estava ali, e a observou refletir silenciosa e rapidamente sobre aquilo, até que pigarreou e jogou os cabelos escuros para trás. –Então, hum, você quer se sentar com a gente?
-Claro. –ela graciosamente se sentou ao lado de uma garota com grandes olhos azuis que a encarava de um jeito meio estranho. –O que vocês andam fazendo por aqui?
-Nada demais. –Hilary Collins entrou na conversa alegremente. Hilary tinha cabelos loiros cacheados e os olhos redondos cor de mel. Ela dispunha de uma perfeita cara de inocente, considerando que já devia ter dormido com quase toda a população masculina da April Hall. E seus pais ainda achavam que ela era santa. –Queremos saber é como você está indo. Como era o internato? Havia garotos bonitos por lá?
-Oh, o internato era legal. –ela fez pouco caso. Sam adorou o internato, porém tinha um lugar que ela adorava mais. –Às vezes um pouco monótono, porque estávamos no meio do nada. E isso às vezes podia ser uma droga quando o assunto era garotos. O problema é que por o lugar ser tão pequeno, todo mundo já tinha ficado com todo mundo. Quase não apareciam novidades, sabe? E os únicos garotos dos quais eu nunca me canso são os dessa casa aqui.
E naquele exato momento, Andrew King e Benjamin Parker passaram por elas. adorava os dois e as duas decidiram que eles seriam totalmente legais em seus conceitos. Era como se elas tivessem descoberto os dois jogadores de basquete da faculdade de medicina. Quando viram Samantha, Andrew gritou:
-Parece que é verdade, Ben! –ele sorriu, fazendo Ben sorrir também. –Nossa querida Sam está de volta mesmo.
-Finalmente. –Ben concordou e foi até onde ela estava para dar-lhe um beijo na bochecha. –Sentimos sua falta, linda. Você não andou me traindo enquanto esteve fora, andou?
-Traindo, eu? –Sam gargalhou. Apesar de não serem seus preferidos, ela amava aqueles dois. Andrew deu-lhe um beijo na bochecha que Ben não beijara. –Eu nunca seria capaz disso.
Os dois riram e se afastaram. olhava aterrorizada para ela, como se Andrew e Benjamin tivessem acabado de dar um tapa na cara dela. Mas fora basicamente aquilo mesmo. O fato de eles nem terem olhado na cara dela era o que mais divertia Sam. Porque aquilo a fazia ter certeza de que, mesmo que tivesse atingido o auge na sua ausência, ela ainda podia chegar lá e roubar a cena. E era assim que gostava.
-O que você achou de , Samantha? – perguntou com uma sobrancelha levantada. Sam riu com a pergunta provocativa.
-Fácil. –ela respondeu. –Fácil de pegar, fácil de largar e fácil de tirar do caminho.
-Nada que você não consiga. –Anne Turner, uma garota que quando estudava com ela era líder de torcida a encorajou. Anne era a mistura perfeita de orientais com mexicanos e parecia uma modelo.
-Eu já volto. – disse se levantando.
As meninas começaram a falar de Amanda Perez e Scott Mayer, um casal de namorados que estavam sentados na frente deles. Eles eram namorados há quase um ano e pareciam nunca conseguir manter as bocas muito afastadas por mais de meia hora. Sam observou caminhar com graça até a mesa onde estavam as pipocas e olhar em volta com desconfiança. Depois, pegou um pote cheio de pipocas e enfiou uma mão cheia delas na boca. Ela segurou o riso. Parece que não tinha adquirido tanto autocontrole assim.
-Peguei você. –ela disse com a boca perto do ouvido direito de , que deu um pulo. Quando viu que era só Sam, girou os olhos, colocando o pote de volta na mesa.
-Está me seguindo agora? – perguntou com a voz entre dentes. Como se só a presença de Sam já a deixasse meio intoxicada. –Eu posso comer o que quiser, tenho forma para isso.
-Eu sei que você tem, só estava brincando. Qual é seu problema?
-Meu problema? Você realmente não faz idéia?
Com o silêncio de Samantha, suspirou. É claro que ela sabia qual era o problema, só queria se passar por inocente.
-Se eu soubesse qual é seu problema, não estaria te perguntando qual é seu problema.
-O meu problema é que você voltou e está achando que tudo é como era antes. As coisas mudaram Samantha, coloque-se em seu lugar.
-É claro que as coisas não são como eram antes. E eu não estou tentando mudá-las. Só estou tentando voltar e me encaixar a essa nova situação. Era tudo bem mais fácil quando eu morava aqui e você não quer me deixar entrar.
-É claro que eu não quero te deixar entrar, Samantha! – gritou, atraindo alguma atenção, mas não tanta porque o som que o filme emitia naquele momento era alto. – E eu aposto que nem a sua irmã e nem David querem também. Tudo o que você fez foi nos machucar e nos causar problemas.
-Não fale assim. Por que não voltamos a ser amigas como éramos antes de eu ir embora?
-Isso não vai acontecer. –a menina se endireitou. –E antes de você ir embora nossa amizade já tinha acabado. Há muito tempo nossa amizade não existe mais e sabe muito bem disso.
Ela voltou às pressas para perto das meninas, deixando-a sozinha. E mesmo que estivesse disposta a ser intocável, aquilo na verdade a tocara.
*
Capítulo 117 – “CLIMBING OUT BACK THE DOOR, DIDN’ T LEAVE A MARK”


respirou fundo, e repetiu esse movimento mais duas vezes. A única explicação plausível para ela fazer o que estava prestes a fazer era que estava ficando doida. Começou a considerar com seriedade aquela opção, e imaginou que uma pessoa prestes a perder sua sanidade talvez não se desse conta disso. Porém, o que ela sabia?
Ei, vai para dar uma folga nos estudos e ficar para assistir ao filme?
Ela respirou fundo. a convidou para assistir a um filme de terror em uma sala escura Sabia que haveria outras pessoas ali, e mesmo com esse prévio conhecimento a idéia não parecia causar menos ansiedade na menina. Sabia que o menino tentaria alguma coisa, e negar isso para si mesma se mostrou uma tarefa tão falha e inútil que resolveu parar de tentar. Beijar tinha sido bom, não podia negar. Uma sensação curiosa a dominou, como se ela estivesse aos poucos sendo eletrocutada ou coisa do tipo.
Depois de pensar muito, decidiu que não conseguiria esperar mais. Ela e estavam no “tempo separados” e ele provavelmente não iria querê-la de volta, mas a garota sentia que precisava dele de volta imediatamente. Não poderia deixar que alguma menina simplesmente chegasse e o roubasse dela, antes que ela pudesse perceber o que acontecera. E era por aquele mesmo motivo que ela estava fazendo o impensável. Entendia que os problemas em seu relacionamento iam além de , mas sua decisão foi tomada e tida como um bom começo para uma futura reconciliação com .
Que tal um café amanhã? Tenho que fazer uma coisa hoje.
O hospital era um prédio branco com azul, no estilo moderno. Ele fora construído há dois anos e ela nunca entrara lá dentro. não era aquela pessoa que temia hospitais, mas não estava pulando de alegria por estar lá dentro. Ela entrou pelas portas automáticas de vidro – como as do aeroporto perto da casa de sua avó, aonde ela ia quase todo Natal – e foi até o balcão. Uma mulher que parecia que tinha rugas de idade no rosto e um cabelo loiro grisalho sorriu para ela, que se sentiu como se estivesse falando com uma das tias de sua mãe.
-Eu queria saber qual é o quarto de uma paciente. – a garota falou tentando soar o mais educada possível. –Mas eu não sei se ela já recebeu alta, chegou aqui hoje mais cedo. O nome dela é .
-Ela vai receber alta amanhã de manhã. –a mulher falou. Sua voz era aveludada e seu hálito cheirava café misturado com balas de gengibre e menta. –O que você é dela?
-Eu sou prima dela. – mentir assim não era algo tão difícil para a menina, que atuava nas mais diversas peças desde bem nova, e tinha o teatro como uma paixão que não conseguia largar. A não ser que seus compromissos na faculdade tornassem tudo mais corrido e ela tivesse que parar, é claro. Sempre teria os estudos como prioridade, e levava tudo muito a sério, pois sabia de sua importância. Nunca duvidou que soubesse disso também, porém o garoto era passivo demais em sua opinião. Por isso, persistia insistindo para que ele se resolvesse logo.
-Quarto 405.
-Obrigada.
correu para o elevador, onde esperou até chegar ao quarto andar. Ela estava meio insegura, até um pouco nervosa. Não sabia como seria recebida e aquilo meio que a preocupava. Na porta do quarto havia cinco cadeiras de metal enfileiradas uma ao lado da outra. Em uma delas, a Sra. cochilava com uma revista no colo. era bem parecida com a mãe, só que uma versão mais jovem e mais magra. O corredor estava praticamente morto, então resolveu entrar de uma vez. O suspense a matava, e mesmo receosa, sentia curiosidade para saber como seria aquela conversa, se é que ela iria acontecer.
O quarto dela era pintado num tom claro de lilás, dando um ar suave ao ambiente. Sua cama se encontrava bem no centro, onde dormia. Ao lado da cama dela, várias máquinas piscavam qualquer coisa. Em cima de uma mesinha de vidro, balões, ursinhos e rosas estavam dispostos, decorando o local. Ela não deixou de ficar surpresa ao observar aquilo tudo. Foi um tombo feio e tudo o mais, mas não era como se a garota estivesse em coma ou algo assim. Constatou que a menina era muito querida enquanto observava com cautela os presentes. possuía um cuidado extremo, tanto em seus passos, quanto em seus movimentos em geral. Até mesmo tentava não fixar o olhar em algo por muito tempo, como se estivesse ao lado de um leão adormecido, e qualquer movimento brusco que fizesse poderia acabar acordando-o.
tinha os cabelos dourados presos em um coque alto e seu rosto sempre impecável ainda parecia brilhante e perfeito. Uma inveja pequena se manifestou no coração da menina, mas não foi capaz de causar um ressentimento muito grande. Até em cima de uma maca, com uma camisola de hospital ela ainda conseguia parecer uma modelo de revista. O braço esquerdo dela estava enrolado junto ao seu corpo, com uma faixa branca. se perguntou se ela havia quebrado algum osso ao observar os hematomas em sua perna.
Em outra mesa estavam alguns remédios para dores musculares, enxaquecas e um remédio para dormir. Provavelmente ela tomara todos, fresca do jeito que era. A garota logo se culpou por esse pensamento, a situação da menina exigia um respeito maior. Depois que saísse do hospital poderia voltar a pensar assim. A televisão perto dos presentes estava ligada na E!, num volume quase inaudível. não gostava do tipo de programa que passava naquele canal, e acreditava ser uma perda de tempo enorme assisti-lo. Mas é claro que devia adorar.
Ela não queria acordá-la, então deu um passo para trás, preparando-se para ir embora. Mas seus esforços foram todos em vão quando trombou nas persianas da cortina, gerando um barulho irritante que acordou a menina instantaneamente, apesar de todos os remédios que ela devia ter tomado para dormir. Péssima hora para as medicações pararem de fazer efeito. suspirou, sabendo que o que viria a seguir provavelmente não seria agradável.
-O que foi isso? –ela murmurou, ainda sem abrir os olhos. Sua voz saiu grogue e trêmula, e parecia um tanto desorientada, como se uma música alta de heavy metal a tivesse acordado, em vez de um barulhinho na janela. Percebeu com amargura que até mesmo inconscientemente a menina era dramática.
subiu as persianas, dando uma vista para o corredor. Se aproximando lentamente da cama de , ela respirava meio rápido, mais nervosa do que imaginou que ficaria.
-. –ela disse com a voz meio baixa demais. E depois elevou o tom de voz. –.
-O que... – a menina olhou espantada para ela, com a testa enrugada. Um misto de surpresa, confusão, raiva e receio embaralharam as feições dela, que por um momento não soube o que falar. –O que você está fazendo aqui?
-Eu não quero incomodar. –ela coçou os cabelos claros, soando ridícula em sua cabeça. Pelo amor de Deus, , recomponha-se. Não precisava ser tola a ponto de sentir medo da garota, era só , qual seria a pior coisa que faria? De qualquer forma, estava em vantagem, pois a outra se encontrava deitada em uma cama, com um braço imobilizado e as outras partes do corpo provavelmente não funcionariam. –Eu só queria... Ver como você está.
Ela piscou, parecendo não entender.
-Por quê?
-Eu não sei, quando te vi caindo na escola... Pareceu bem feio, então... Acho que eu deveria ir, não sei o que estou fazendo aqui.
cerrou um pouco os olhos, meio desconfiada.
- não está aqui, ele foi comprar um Big Mac para mim.
-Eu sei que ele não está aqui, não vim por causa dele. Não precisa desconfiar dos meus motivos, garanto que eu não seria cruel o suficiente para tentar te sabotar enquanto você está nessa situação. Sei que é meio bizarro e nem acredito ainda que tive essa idéia louca.
precisou esperar que o olhar prolongado que a menina lhe lançou acabasse para que aquele desconforto diminuísse. Essa era uma das coisas que não suportava nela. Na maioria das vezes em que olhava para as pessoas, elas não conseguiam nem ter idéia do que ela estava pensando. E era assustador.
-Acho que não foi uma boa ideia. – disse, se virando para ir embora. –É melhor eu ir embora.
-Não, fique. – a outra fez uma careta estranha e ela se virou de volta para poder olhá-la nos olhos, atônita com aquela ordem. – Se quiser.
Ela andou bem devagar para a cadeira ao lado da cama e se sentou. Quando sua pele fez contato com o metal frio da cadeira, arrepios subiram por sua coluna. a olhava de um jeito curioso e decidiu que seria melhor falar alguma coisa logo, pois nada seria pior entre as duas do que um silêncio.
-Como você está?
-Já estive melhor. –ela respondeu com uma simpatia inesperada e deu um sorriso amarelo. Flagrou o olhar perplexo com o qual encarou a faixa em seu braço, de certo preocupada com sua saúde naquele momento. Será que sentia dor? –Eu não me lembro do que aconteceu direito.
-Não se lembra de ter caído?
-Eu me lembro de algumas coisas. Acho que possa ter desmaiado talvez de dor, não sei, mas tenho flashes de memória que mostram um carro. E eu me lembro de ter escutado minha mãe falando com o médico e de brigado com ela por ter me trazido ao hospital.
-Não foi ela quem te trouxe. – suspirou. –E o que aconteceu com seu braço?
-Eu não sei ao certo. Quer dizer, o médico colocou algum osso de volta ao seu lugar, e doeu tanto. Mal sinto meu braço esquerdo agora, mas acho que pode ser por causa dos mil remédios que tomei antes de dormir.
A menina soltou um riso, e ao mesmo tempo ficou surpresa por ter feito aquilo. Ela estava doida ou e ela realmente estavam tendo um diálogo? A garota que ela odiava desde a oitava série, a mesma que tinha roubado o namorado dela e que era arrogante demais para seu próprio bem, e o de todo o resto do mundo. Era com essa garota que estava conversando?
-Eu sinto muito por você.
-Não, eu mereci.
-Do que está falando?
-Ah, você sabe. Suas amigas são animadoras desde sempre, e em todos os ensaios que elas faziam já me viu lá alguma vez?
-Não.
-, eu não sou ginasta, morro de medo de altura. Só fiz aquilo porque queria chamar a atenção de . Nós brigamos e eu queria chamar a atenção dele.
-Por que vocês brigaram? –ela perguntou aquilo com naturalidade, como se elas sempre tivessem conversas daquele jeito. fixou os olhos nela por alguns segundos, aparentemente ponderando se seria prudente lhe contar ou não, e ao mesmo se perguntando os motivos da garota. – Não precisa dizer.
-Está tudo bem. Eu não sei o que eu fiz, ele só disse que queria ficar longe de mim, e eu queria saber o que fiz. Não me lembro de ter feito nada com ele, mas se tinha tanta certeza assim do que queria então eu acho que ele deve estar certo.
-Você não pode pensar desse jeito, precisa confrontá-lo novamente. E assim, eu te aconselharia a encontrar modos de intervenção menos radicais.
-É, seria melhor. – riu. –Acho que ele não vai me escutar. – por um momento a garota saiu do ar, como se os pensamentos que passaram por sua cabeça naquele momento fossem tão terríveis que a fizeram entrar numa bolha isolada. –Eu só... Só não quero perdê-lo assim. Meu Deus, eu não sei por que estou te contando isso.
A visão da menina tão debilitada e conversando com ela como se não se importasse o que acontecera previamente entre as duas a fez perceber que havia ali um pouco de carência. Era engraçado porque mesmo tendo tantos presentes em sua mesinha de cabeceira, era com que desabafava. Não era possível que não tivesse amigos, sabia que aquele não era o caso. Porém, às vezes era levada a imaginar que esses se sentiam intimidados pela garota, mesmo que sem querer em algumas ocasiões. É claro que não possuía conhecimento o suficiente para afirmar com certeza que aquele era o motivo principal, só que algo nela parecia fazer com que se afastasse emocionalmente de todos ao seu redor. Entedia porque se identificava com ela, essa característica era mais presente nele recentemente do que jamais fora.
-Nem eu, mas fico feliz que tenha contado. –sentindo-se menos inibida devido ao rumo que a conversa tomou, foi fácil para ela falar o que se segue. –Já que você me contou isso, vou te contar uma coisa. Você seduziu meu namorado. Só que por algum motivo, quando nós conversamos, não consigo te odiar.
olhou para as próprias mãos. ficou calada também, tentando assimilar o que ela mesma tinha acabado de dizer. Por mais inacreditável que fosse, depois que ela se escutou dizendo aquilo percebeu que era verdade. Queria muito odiá-la, queria muito mesmo. E se a largou para ficar com ela, provavelmente não era tão ruim assim. Não podia sentir raiva da pessoa à sua frente. não a traíra com , ele não tinha feito nada desleal, simplesmente a escolheu. E a única pessoa culpada naquilo tudo era . Ela finalmente entendeu. O problema do relacionamento dos dois era ela mesma. Nos últimos dias ela tinha virado uma pessoa completamente diferente e controladora. Possuía ataques de ciúmes frequentes e qualquer um diria que se encontrava prestes a surtar. É claro que queria só para ela, mas precisava ter lidado com aquela situação de um jeito melhor.
A outra abriu a boca lentamente e depois fechou. Ela fez aquilo mais duas vezes e depois fechou os olhos.
-Quer que eu saia? Está cansada?
-Não. –a voz dela saiu tremida. Ela pigarreou. –Você se lembra de quando a mãe de ficou doente e foi parar no hospital? Ele estava na minha casa e eu disse que não podia acompanhá-lo porque faria uma viagem e você foi correndo para o hospital?
-Sim, eu acho.
-Eu não tinha nenhuma viagem para fazer, menti para porque tenho trauma de hospitais. E nunca falei isso para ele, porque se eu contasse, sabia que ele provavelmente nunca mais falaria comigo. – isso não parecia do feitio do menino, mas ela entendia como era sentir medo de perdê-lo. –Eu queria saber o que estava acontecendo com a mãe dele, mas simplesmente não consigo ficar muito tempo em um hospital. Ver todas essas pessoas me deixa em pânico. Tenho sorte de não me lembrar de quando estava chegando, porque eu provavelmente surtaria. Já estou meio perturbada porque estou aqui a muito tempo.
-É sério?
-É, mas você não pode contar isso para ninguém. Ai meu Deus, você vai contar para todo mundo, não vai? – começou a se desesperar. –Eu não posso deixá-la fazer isso, já perdi o , não posso perder também.
-, nem se você quisesse poderia me impedir. – falou bem devagar e com calma, assustando a si mesma um pouquinho, para depois presenciar os dois pontos azuis no rosto da outra quase saltarem do rosto. –Não vou dizer nada. Eu poderia, somente para deixar claro, mas não vou.
-Não?
-Não. E não se desespere, não é grande coisa. provavelmente não ficaria tão abalado. A culpa não é sua se você entra em pânico só de ficar dentro de um hospital.
suspirou. Ela deveria se sentir vingativa por ter um segredo de e devia sair correndo para contar para o garoto. Faria isso, se fosse uma pessoa menos astuta. Não queria errar novamente com o menino, não quando enfim se deu conta de sua autossabotagem.
-Meu Deus, eu estou me sentindo tal mal agora. Eu não o mereço. –a menina falou e seus olhos se encheram de lágrimas. –Você é uma boa pessoa, . Não merecia ter passado pelo o que te fiz passar. Se tivesse uma garota tentando roubar meu namorado, eu ficaria irada também.
-O que você quer dizer com isso?
-Hum, eu não sei, eu...
-Srta. . –uma enfermeira disse na porta do quarto. –Terei que pedir para que sua amiga vá embora, você precisa descansar.
-Tudo bem. – se levantou. –Saio em um minuto.
-Não demore, por favor, eu já precisei dispensar o garoto que estava vindo para cá.
-Que garoto? – perguntou. Quando ela ia responder, um médico a chamou do outro lado do corredor e a mulher saiu rapidamente. –Bom, obrigada pela visita.
-Foi estranho. Mas é como se eu tivesse tirado um peso das minhas costas. –ela deu de ombros, e sentiu-se na obrigação de perguntar: - E como as coisas ficam agora?
-Eu não sei, vamos ver o que acontece.
-Tudo bem. – assentiu com a cabeça. –Acho melhor eu ir. E, ah, eu deveria te contar. Não desista de tentar falar com , foi ele que te pegou no colo no meio do campo e te trouxe aqui. Soube que ele foi embora só depois de ter certeza que você ficaria bem. Pelo jeito não é tão forte quanto parece.
sorriu para com compaixão e saiu do quarto, dando um singelo aceno de cabeça para a Sra. , que estava acordando em sua cadeira de metal. Ela andou rapidamente para fora do hospital e chamou um táxi. Abriu a porta do carro e se enfiou no banco de trás, sentindo um estranho alívio.
-Para onde? –o taxista perguntou.
Quando ia responder, um vulto chamou sua atenção. Bem na frente dela, estava encostado em seu carro esporte. Ele vestia a camisa do time de natação da escola e calça jeans clara. Seus cachos balançavam com o vento e ele tinha os braços cruzados na altura da barriga. Os olhos do menino miravam diretamente nela, com seus olhos penetrantes absorvendo cada detalhe de sua alma. Aquela sensação de sempre tomou conta de , e fez algo que ela não esperava. Foi um ato muito simples, mas que mudou um pouco as coisas para ela.
Ele deu um sorriso. Não um sorriso do tipo irônico, nem malicioso como o de quando ele a vira dentro da piscina da April Hall. Foi um sorriso sincero, um daqueles que ele sempre dava quando estava orgulhoso ou surpreso com ela. Então a garota se lembrou de a enfermeira dizendo que tinha dispensado um garoto que estava subindo para ver . Será que ele tinha escutado a conversa das duas? Será que viu que ela estava tentando começar do zero? Será que percebeu que ela de inicio fez aquilo por ele e que as duas acabaram se dando bem?
E como se lesse seus pensamentos, levantou a o braço, mostrando seu celular para a menina. O estômago de borbulhou, e não pôde deixar de olhar em volta para ter certeza que era com ela mesma. Olhou para o visor de seu celular, as mãos tremendo, e leu que possuía uma mensagem nova.
Sexta, depois da final do campeonato. Precisamos conversar.
ficou em choque.
-Para onde, moça? –o taxista insistiu já impaciente.
-Para a April Hall. –ela gaguejou.
E o motorista acelerou, saindo logo dali.
Capítulo 118 – “ LET ME LIVE THAT FANTASY”


não acreditava no que estava acontecendo. realmente a convidou para ir à sessão de cinema com ele? E realmente dispensou Samantha Johnson – que, pelo o que ela soube, era um tipo de – para ficar com ? Temeu que o menino considerasse aquilo um abandono e a pena que sentiu por deixá-la sozinha falou mais alto em sua decisão. Ela tentou afastar aqueles pensamentos pessimistas de sua mente, os dois estavam lá naquele momento, em um sofá para casal, deitados um ao lado do outro.
A menina deu uma olhadela para o lado e pôde vê-lo, com seus cachos dourados meio bagunçados e suas meias brancas sujas em baixo. O tecido que cobria seu dedão era tão desgastado que em qualquer momento rasgaria, e ela sorriu com isso, amando o fato de ele estar usando somente meias. Sua camisa colada era uma visão, e ele usava seus óculos, que na opinião de , o deixava tão atraente e com um semblante maduro. era maduro e às vezes ela se sentia uma boba perto dele.
-Se eu fosse ela, não faria isso. – disse com sua voz grossa e rouca, arrepiando os braços da menina, tamanha foi a sua surpresa por aquela repentina quebra no silêncio. Ele ainda olhava para a tela, mas parou porque percebeu que não estava prestando atenção no filme, e sim, nele. –O que aconteceu?
A menina se apressou em dizer:
-Não aconteceu nada.
-Tem certeza? –ele se virou de lado para ficar de frente para ela, apoiando o corpo no braço esquerdo, e somente conseguiu reparar que os dois estavam a centímetros um do outro. Um frio na barriga lhe atingiu, e ela logo tentou se recuperar. Estava parecendo uma pré-adolescente com seu primeiro amor. -Acho que você está com medo.
-Medo, eu? – riu, fazendo-o sorrir. Ela olhou para os dentes brilhantes dele e os cantos de sua boca se levantaram mais ainda. Caramba, até os dentes dele eram bonitos. Tudo em parecia tão original, ele não estava vestido de um jeito exagerado, seu modo de falar era único, e admirava tanto a inteligência sempre presente em seus comentários. Conversar com ele era instigante, e mesmo sendo ele uma pessoa tão culta, a menina pensava que se quisesse, qualquer assunto seria válido com o garoto. Ele realmente era autêntico, e aquilo fazia se sentir bem porque tinha certeza de que estava confortável, ali perto dela. –Eu aposto que já vi esse filme mais vezes do que todo mundo aqui. Adoro filmes de terror.
-Você adora filmes de terror? Não parece.
-O que quer dizer com isso?
-Quer dizer, você parece ser tão frágil. –as bochechas dele ficaram um pouco rosadas, e ele riu nervoso. Depois de olhá-la de cima para baixo, coçou os cachos, coisa que sempre fazia quando estava tenso. –Você parece ser tão delicada e é baixinha e mais nova do que eu. Sinto que depois desse filme, terei que tomar conta de você.
arregalou os olhos e aquele formigamento tomou conta de seu corpo novamente. Era como se a tranquilidade estivesse tão fora de seu alcance quando conversava com ele, como se estivesse sempre prestes a pular de um precipício, tamanha a ansiedade que tomava conta de seus sentidos. sentiu seu rosto enrubescer e se preocupou com a expressão de pavor que surgiu no rosto da menina. Falou algo que não deveria? Terei que tomar conta de você. Que exemplo de virilidade era ele. Como era idiota! Sentiu vontade de bater sua cabeça na parede por ter dito algo tão ridículo. Tentou consertar, e sem graça, sussurrou:
-Estranho, não é?
-, em uma das primeiras vezes que saímos juntos, fomos a uma lanchonete e acabamos assistindo a um jogo de rúgbi. Eu disse que gostava desde pequena e entendo mais o que está acontecendo nos jogos do que você. Sou uma narradora melhor no basquete também. Não sei se posso ser chamada de frágil.
-Eu não sei, eu só... –ele se virou para frente, claramente constrangido. –Esquece. Não sei nem porque falei isso, simplesmente saiu da minha boca.
-Ei. –ela colocou a mão no ombro dele, que se virou para ela como se tivesse tomado um choque. O espasmo foi tão grande que oscilou para frente, aproximando tanto os rostos dos dois que por um segundo achou que seus lábios se tocariam. Ela ficou vermelha e se afastou rápido, meio ofegante. O ocorrido foi tão inesperado que a menina quase esqueceu o que iria falar. Depois de alguns segundos perdida nos olhos dele , que pareceram duplicar de tamanho, ele deu um sorrisinho e ela começou a rir. –Foi fofo você ter dito isso.
se deu por satisfeito com aquelas palavras e virou para frente. Embora um pouco decepcionada por ele não ter feito nada, ela ainda se encontrava cética quanto a tudo o que acontecia naquele sofá, então não se importou muito em se virar para frente também e prestar atenção no filme. Ou pelo menos tentar.
-Você não sabe o que está acontecendo nos jogos mais do que eu. – falou depois de um tempo em silêncio, fazendo pular de susto. Ele começou a rir. –Te assustei?
-Um pouco. –ela respondeu com vergonha.
O sorriso dele ainda estava estampado no rosto, e não conseguia parar de encará-lo. Era como uma espécie de imã. Fale alguma coisa! Pare de encará-lo! Ande, fale algo logo e pare de encará-lo, meu Deus!
Ele parecia estar pensando em algo que não era relacionado ao filme, pois possuía um olhar distante. Até que resolveu segui-lo e notou quem ele encarava, que por acaso retribuía. , sua ex-namorada. Engoliu em seco, uma sensação ruim tomando conta de si e o coração parecendo até murchar. Ela não tinha realmente criado esperanças. Sentiu vontade de sair correndo dali e se trancar em seu quarto, mas não ficaria feliz com isso, portanto se obrigou a permanecer sentada ali. Mordeu o lábio com força, tentando não chorar pela decepção e contou até três bem devagar em sua cabeça, procurando aceitar em no máximo vinte segundos o fato do garoto ao seu lado não gostar dela. Se acalme, . O olhar dele se cruzou com o dela e ele abriu e fechou a boca, como se fosse falar alguma coisa. Por fim, disse:
-Ei, eu venho querendo te pedir um favor. Tive essa ideia meio louca. – a voz dele contava com um ar brincalhão, e, olhando de esguelha para , que tremeu de curiosidade, continuou. –Você, hum, não tem namorado, tem?
-Eu... – prendeu a respiração. O que ele queria dizer com aquilo? Que uma garota como ela é improvável de ter namorado? Que não a achava bonita o suficiente para ter um? Que ele achava que ela estava dando em cima dele constantemente? Que aquela era uma introdução para pedi-la em namoro? –Não.
-Isso é ótimo. Pode fazer um favor para mim? vem meio que me perseguindo e eu tento fugir dela de todo jeito, mas ela é como um pit bull. Então eu pensei se você não poderia... Bem, me dar uma ajuda. Só quando ela estiver perto, não se preocupe. Se for estranho e não quiser, tudo bem. – ele estava falando rápido demais e parou para pegar ar. ainda processava tudo. –Quer dizer, quando Sam disse que éramos um casal bonito, pareceu ser convincente para ela. É só por alguns dias, depois te deixo em paz. O que acha de tentar?
piscou três vezes, meio estática. Ela quase precisou se beliscar para ter certeza de que não estava sonhando. Ou alucinando, sei lá. a tinha pedido em namoro?Bom, quase isso.
-T- tudo bem. –ela por fim gaguejou.
-Beleza. – se inclinou e lhe deu um beijo na bochecha, onde queimou depois que seus lábios se afastaram.
*
Capítulo 119 – “SHE WILL BE LOVED”


se esticou no sofá. não podia se encontrar com ele na sessão de cinema porque estava ocupada ou por que achava que ele tentaria alguma coisa? Realmente queria tentar alguma coisa, mas parecia estar pressionando-a. Sabia que se quisesse ficar com aquela garota, precisaria ser paciente, era o preço a se pagar por se interessar por alguém mais nova, e por essa mesma pessoa acabar de sair de um relacionamento longo. Estava ciente dos sacrifícios e de todas as minúcias inclusas na situação, o problema era que não podia ser considerado o menino mais paciente do mundo.
-Oh, Jessica, assim você acaba comigo. –Bill Morris, um amigo de comentou num suspiro, referindo-se a uma garota perto deles. Os olhos estavam apontados para ela, porém era possível perceber que não possuíam foco, sua imaginação devia estar trabalhando, e seus pensamentos, longe dali. Jess era a ex-namorada gostosa dele que fazia de tudo para provocá-lo. –Eu estou começando a ficar arrependido de ter terminado.
-Você não disse que ela era a pessoa mais controladora e maldosa que já conheceu em sua vida? –perguntou, olhando com indignação para o amigo, para depois socar levemente o ombro dele. –Acorda, Bill.
-E ela é. Mas... –ele inclinou a cabeça para o lado, como uma criança. A menina estava deitada ao lado dos dois com sua outra amiga bonita e olhava de cinco em cinco minutos para a direção dele, só para ter certeza de que Bill ainda prestava atenção nela. –Olha pra ela, cara.
Ele tinha que concordar, qualquer um reconheceria a beleza dela uma vez que olhasse em seus olhos grandes e presenciasse seu sorriso bonito. sentiu um pouco de pena do amigo, que não poderia estar mais entregue à garota.
-Ei, . – parou ao lado dele e se sentou na ponta do sofá branco em que ele se sentava, assustando-o num ponto que não conseguiu nem falar. Bill soltou uma gargalhada do susto do outro e saiu para conversar com Beth, uma amiga de Jessica. O menino sorriu surpreso por vê-la ali. –Desculpa, péssima ideia chegar de fininho em alguém durante um filme de terror. Pelo menos cheguei à tempo para assistir.
-Deu tudo certo? –ele escorregou para o outro lado da poltrona, para que pudesse ficar confortável. Ela se aproximou dele e suas pernas se encostaram, junto com os braços. O cabelo dela cheirava bem, como se tivesse acabado de lavá-lo. –Você tinha que fazer alguma coisa, deu tudo certo?
-Sim, eu acho. –ela prendeu os cabelos claros num coque malfeito no alto da cabeça, fazendo com que o cheiro invadisse novamente suas narinas. Ele suspirou. Seus olhos azuis esverdeados voaram pela grande sala de cinema e pararam em um casal dando uns amassos. Ela sorriu, meio desconfortável. –Acredite ou não, e eu estamos numa boa.
Ele permaneceu imóvel por um segundo, para então olhar para ela, o rosto mostrando confusão.
-? Que ?
-Pare. –ela sorriu e o empurrou, fazendo-o começar a rir. –É verdade.
-É verdade que você está mentindo, isso sim.
-Eu juro. Não somos amigas, mas acho que pelo menos nós esclarecemos umas coisas. Eu pensei bastante depois que terminou comigo e percebi que a culpa não é cem por cento dela. Quer dizer, ela não o obrigou a beijá-la, certo? Ele também é culpado nisso.
-, o garoto falou com você que queria um tempo para decidir o que queria. E nesse meio-tempo ficou com . Desculpe por ter que dizer isso, mas ele só queria uma desculpa para beijar a . E não é para menos, muitos meninos tem esse desejo.
Ele a observou engolir em seco. Apesar de claramente não gostar do que ouviu isso não pareceu uma surpresa tão grande para ela. era esperta, provavelmente isso já passara por sua cabeça antes.
-Você tem? –ela encolheu os dedos dentro de suas sapatilhas azuis. Não sabia por que perguntou aquilo, só que quando o fez, percebeu que queria mesmo saber.
apertou os lábios. Era claro que ele já tinha pensado em ficar com , ela era encantadora. O fato de ter feito aquela pergunta o divertiu um pouco.
- é linda. –ele fez um biquinho. –Eu apenas não estou interessado nela no momento.
-Desculpa. Você deve achar que eu sou obcecada por ela e que esse é o meu único assunto. Recentemente eu tenho te usado muito como um ombro para chorar, não tenho?
-Bom, eu acho que você é sim meio obcecada por ela e que às vezes a deixa te intimidar. –ele deu uma risada fofa. –Mas não me importo em te ajudar.
-Obrigada. Vou tentar esquecer tudo isso, já está passando da hora. Você deve me odiar por ser um pé no saco, principalmente depois que eu manchei sua camisa toda de rímel.
-Não diga isso, eu gosto ainda mais de você depois que manchou minha camisa.
sorriu, sem graça. torceu para ter falado tudo certo daquela vez. Não queria pressioná-la, mesmo que fosse tal esforço exigisse muita energia dele. Ele na verdade não tinha paciência nenhuma e sempre o xingava por causa disso. Comparado ao outro – que era um poço de serenidade –, parecia uma criança de seis anos hiperativa. Ele não podia fazer nada, quando decidia algo, queria o mais rápido possível. Era por isso que se entendia tão bem com , ambos eram ambiciosos demais, e um pouco descuidados. Às vezes era como se fosse a versão masculina dela, e vice-versa. Sendo assim, precisava perguntar:
-Então você está disposta a esquecer de ?
-Ele disse que queria que conversássemos e fiquei bem animada com isso, pensando que finalmente colocaria um fim no nosso tempo. Mas enquanto estava vindo para cá, comecei a sentir muita raiva. Quer dizer, então ele me dispensa por um tempo e quando decide voltar espera que eu esteja disponível, só esperando por sua permissão?
abriu a boca para dizer que era isso que ele pensava desde o início, só que decidiu deixá-la chegar às suas conclusões por si mesma. Para o menino, se ela estivesse disposta a esquecê-lo, tudo bem. Ele e não precisaram fazer nada para os dois terminaram, terminou com porque a garota estava chata e porque parecia bem mais legal, basicamente. Foi péssimo da parte dele ter dado um tempo com a namorada só para poder experimentar um relacionamento com outra garota. Ele realmente esperava que, se decidisse ficar com no final, ela estivesse com os braços abertos, só esperando por ele? O que mais esperava, que a ex-namorada desse um sorriso e dissesse: “Nossa,você demorou!”. Talvez fosse prudente se mandasse um pedido de desculpas à outra, já que agora estão se dando bem. sentiu vontade de bater nele, pois o menino estava sendo um safado. Nem ele mesmo em seus tempos sombrios era daquele jeito. queria dizer tudo isso para , mas simplesmente não conseguiu. Ela iria ficar mais magoada do que já estava, e ele não gostou nada de vê-la sofrendo. A garota chegaria àqueles pensamentos sem a ajuda dele, se já não tinha chegado.
-Eu não sou um brinquedinho dele. – continuou. Era claro que ela ainda gostava dele. Parecia que sim. –Quero ensiná-lo uma lição.
-E como pretende fazer isso? –ele perguntou. É claro que ele sabia o que queria fazer e começou a ficar bem animado. Mas por outro lado, o fato de que só estaria usando-o não lhe deixava feliz.
Mas talvez ela começasse a gostar dele, ele poderia fazer isso. Quer dizer, precisava começar de alguma forma, certo? respirou fundo, tentando se acalmar. Qual é, cara. Ele estava pensando feito uma garota. Aquele comportamento se tornou normal para ele nos últimos dias. Não querendo pressioná-la, não querendo dizer nada de errado, conversando sobre o ex-namorado dela e deixando-a chorar em seu ombro. Por mais que não se importasse tanto com todas essas coisas, não era assim que normalmente agia. Precisava parar de hesitar e pensar demais.
Ele se inclinou na direção dela e colou seus lábios, sendo em seguida atingido por uma onda de deleite, cada canto de seu corpo comemorou satisfeito. passou a mão pelos seus cabelos e segurou sua nuca com força, provocando um suspiro de fascínio no menino, que nunca achou que gostaria tanto de ser tocado por alguém como gostou naquele momento, mesmo com um simples movimento. Sem parar de beijá-la um segundo, a ajeitou para que ela se deitasse no pequeno sofá e se deitou em cima dela.
Ela beijava muito bem. O menino beijou o lábio inferior dela e depois desceu seus beijos para o pescoço, esquecendo-se completamente de que não estavam sozinhos. estava fria, e o contato de sua boca quente com o pescoço frio dela foi como um choque térmico. Ela soltava suspiros pesados a cada beijo que ele dava em sua pele, e não deixava de pensar que ela sairia a cada segundo, dizendo que ainda não era a hora.
Mas ela não o fez. Voltou a beijá-la e suas bocas estavam em sincronia perfeita. Não era como se um estivesse num ritmo diferente do outro, não era como se um quisesse e o outro não. Finalmente parecia que os dois queriam a mesma coisa.
Capítulo 120 – “THEN WHO’ S THE JOKER? I GUESS I’M IT”


estava deitada com David em um colchão na sala de cinema. Alguém fez o favor de desligar o ar condicionado, e aquele lugar já estava começando a ficar abafado demais. Mesmo porque ela já tinha visto uns dez casais se pegando nos colchões da sala. Nojento.
O filme já estava quase acabando e Jason Byers comentara algo sobre eles assistirem outro. Enquanto várias pessoas se reuniram em uma roda para decidir qual seria o próximo filme que veriam, ela permanecia deitada com a cabeça no peito do namorado, tranqüila.
De qualquer forma, não era como se os dois estivessem prestando tanta atenção no que se passava naquela tela. Quer dizer, não faziam parte do grupo de casais empolgados com uma sala escura, mas de todo jeito ele não perdia a chance de beijá-la. David era simplesmente perfeito. Era atencioso e não se importava dos dois serem vistos juntos publicamente. Quer dizer, ele não se importava de outras garotas os virem. se sentia tão à vontade e tão bem que nem tinha pensado em mais nada. Ela realmente podia estar começando a gostar dele mesmo. Aquilo podia funcionar.
A única coisa que não a alegrou foi o fato de ter achado Samantha Johnson no quarto de David. Pelo o que Sofia a contou, eles já namoraram e Sam parecia não ter esquecido aquilo do mesmo jeito que David esqueceu. “Você deve tomar muito cuidado com ela.” – Sofia a instruíra dentro do carro, quando deu uma carona para ela poder ver o jogo. “Samantha pode ser muito insistente e eu acho que ela quer David de volta. Tome muito cuidado mesmo, . Não sei de ninguém que esse menino se afeiçoou da forma como foi com ela.”
estava confiante quanto àquilo. Bom, mais ou menos. Mas como agora era amiga de de novo, ela poderia ajudá-la. era uma espécie de gênio naquele assunto, ninguém melhor para lidar com garotas más como Sam. Por mais que soubesse que não era somente isso, sabia tratar com pessoas daquele tipo porque possuíam uma malícia maior. Ela conversou mais cedo com e ele disse que estava tudo bem com a garota. Isso a deixou tão aliviada que fez com que ela percebesse preocupação bem maior do que imaginara. não se surpreendeu pelo ato heroico dele, o garoto faria aquilo mais cem vezes se fosse preciso. Ela não sabia por que ele estava sendo um idiota, mas mesmo se tentasse, não pararia de se importar com da noite para o dia. Ela precisava falar com ele o mais rápido possível. E iria falar mais cedo, se não se encontrasse tão distraída passando o tempo com David. Na verdade, o namorado a mantinha bastante ocupada e ela não se importava. Pelo menos não estava perdendo seu tempo pensando em . Riu consigo mesma por pensar que alguma vez já perdeu seu tempo deixando que suas reflexões fossem direcionadas ao outro.
-O que foi? –David perguntou, inclinando sua cabeça para baixo para tentar olhá-la. Ele ficou com queixo duplo e deu uma risadinha. Era incrível que até daquele jeito ainda era adorável. –Não ria de mim.
-Você ainda consegue ser lindo assim. –ela deu um beijo no queixo dele, que sorriu, aproveitando a sensação. –Eu só estava pensando em , estou preocupada com ela.
-Pensei que seu amigo tivesse ligado para dizer que estava tudo bem.
-. – ficou desconfortável, percebendo que o garoto não pronunciou o nome de propositalmente, até porque sabia qual era. David se lembrava de que ele e tinham brigado na festa por causa dela, e sabia o motivo da briga também. Não conseguia dizer se era delicado da parte dele não dizê-lo, ou se era apenas por orgulho. –É, eu sei. O tombo dela foi feio, David.
-Tem certeza de que é só isso que está te incomodando?
-Tenho, por quê?
-Bom, pode ter sido impressão minha. Eu notei que você ficou meio esquisita depois que encontrou com Sam no meu quarto. Pelo jeito já sabe da nossa história.
-Hum, é, eu devo ter ouvido alguma coisa a respeito. – grunhiu. Ela realmente estava meio incomodada com aquilo, já não bastara ter que dividir com mais o mundo inteiro? Finalmente tinha seguido em frente, ela estava com um namorado novo, sabia que ganhava a aposta, e teria que suportar uma garota tentando roubar seu novo namorado? E principalmente –apesar dela tentar não pensar daquele jeito, mas não podia evitar –, sem David ela não ganhava a aposta. E não queria ser fraca. –Parece que ela voltou porque quer você de volta.
-Quem te disse isso?
-Não importa, David. É verdade que nunca gostou de ninguém como gostou dela?
-. –ele pigarreou, parecendo desconfortável, e a menina vislumbrou os milhares de pensamentos desordenados que devem ter invadido o cérebro dele. –Vou ser sincero com você, eu gostei de Samantha, mas a história não é só essa, e eu realmente não quero revivê-la. A única coisa que precisa saber é que tem mais do que o pessoal acha que sabe, apesar de ser claro para todos que ela foi importante para mim. Porém, foi um erro, como eu bem sei agora, e estou sendo lembrado hoje. Se estiver tudo bem por você, eu gostaria de não ter que falar sobre isso, só precisa confiar em mim quando digo que esse caminho está longe do que quero seguir.
ficou calada. Ela não esperava por aquela resposta. E não queria parecer chata, mas não conseguia deixar de sentir um pouco de ciúmes por causa do que ouviu.
-E se ela me quiser de volta, bom, eu lamento. Estou namorando outra pessoa agora. –ele lançou um olhar expressivo para ela. –Sam estragou tudo quando estávamos juntos, antes de ela ir embora eu já tinha parado de gostar dela.
deu um meio sorriso e David roçou seus lábios nos dela gentilmente, para aproveitar aquele contato ao máximo. A garota só podia estar louca se achava que o idiota do era melhor do que a pessoa sentada ao seu lado. A garota podia listar uma lista de coisas que David tinha e que seu ex-namorado não foi tão afortunado. David a tratava da melhor forma possível, enquanto ... Ele era um safado e a deixava louca. Não no bom sentido.
Não foi preciso tentar iniciar um beijo mais intenso, pois a luz se acendeu naquele momento e se separou rapidamente de David, assustada. Ele riu com a cara dela e brincou, dizendo que ela estava morrendo de medo do filme que acabaram de ver.
-Nada a ver. – sorriu amarelo, tentando parecer confiante. Ela que nunca mais ficaria parada em frente a sua cama, esperando que uma mão aparecesse de debaixo da cama e puxasse seu pé.
Os casais também foram interrompidos pela claridade. Jason correu até o aparelho de DVD, que ficava em um quartinho ao lado da sala para poder trocar de filme.
-Apague a luz! –uma garota loira gritou, o namorado ao seu lado. A camisa dele estava toda amassada e desabotoada.
-Para vocês terminaram o serviço? –Cody Duncan falou com sarcasmo na voz. –Obrigado, mas não, obrigado. Vão para o quarto.
-Onde está o reitor numa hora dessas? –Sofia perguntou olhando para a garota loira com censura. A menina deu de ombros. –O que há com todo mundo hoje?
-Não somos somente nós dois. –o namorado da menina se defendeu. –Olhe aqueles dois, até com as luzes acesas não se desgrudaram.
O pessoal começou a rir com o casal ao lado de se agarrando. Ela também deu um risinho abafado, até perceber quem era. Arregalou os olhos e o cachorro quente que comeu durante o jogo começou a querer voltar para fora de seu corpo pela garganta. Colocou a mão na barriga, como se assim seu estômago se desembrulhasse e sua vontade de vomitar pudesse cessar.
beijava – estava mais parecendo querer engolir a cabeça dele – . Ela estava por cima dele e repousava suas duas mãos na cintura dela. Ele tinha os fechados e nem percebeu o fato de ter se tornado o espetáculo principal. segurava sua nuca, passando as unhas pela raiz do cabelo dele, como sempre fazia. Ela piscou com força, tentando espantar as lágrimas que vieram e engolir o choro. Aquela típica sensação que a visitava quando via com outra garota voltou à tona. Seu estômago embrulhando, seu ânimo desaparecendo e a vontade de chorar surgindo. Tudo igualzinho. Vinha tentando lutar contra aquela sensação há meses e mesmo depois de ter terminado tudo com aquela emoção voltou para assombrá-la. Não devia estar sentindo aquilo. Quando olhou para o lado, não encontrou o namorado em lugar nenhum, e por um momento temeu que ele tivesse percebido sua reação. Ela o viu na salinha de projeção, ajudando Jason a rodar o filme. Ele avisou que iria lá? Provavelmente estava tão concentrada na pequena situação ali que nem dera ouvidos. Ao David. Seu namorado. A raiva tomou conta de seu corpo. achava que podia chegar ali ao lado dela e começar a beijar outra menina? Achava que ela iria ficar toda doida? Ela ficou, mas e daí? Ele não precisava saber. Pegou uma almofada e atirou na cabeça de , que caiu para o lado. A garota olhou para os lados, se perguntando quem tinha jogado aquilo. também olhou para o lado, meio espantado e confuso por todos estarem olhando para ele com tanta atenção.
-Calouro sortudo. – escutou um cara perto dela dizer para os amigos, que concordaram.
-O que foi, gente? – perguntou com um sorriso no rosto. –Até parece que vocês não estavam fazendo isso antes das luzes se acenderem.
Ela se levantou e foi pegar mais pipoca, e sentou no colchão, abotoando sua blusa e ajeitando o topete, que estava todo atrapalhado. Havia marcas de batom por todo seu rosto e um sorriso brincava no canto dos lábios. Quando os olhares dos dois se encontraram, fechou a cara. sorriu mais abertamente dessa vez, e ela respirou fundo. Não podia deixá-lo pensar que a atingiu. Passou o dedão pelo canto da boca, indicando a que ali estava sujo de maquiagem. Ainda sorrindo, ele limpou com as costas da mão e piscou para a menina. Os dois estavam a uns dois metros um do outro, mas parecia muito mais.
-Oh! –ele deixou escapar com sua voz meio rouca e seu sotaque irritante. –Há quanto tempo está aí?
girou os olhos.
-Boa tentativa, . –ela respondeu com a voz confiante. –Tenha um pouco mais de classe.
levantou as sobrancelhas, surpreso. Ela olhou para David e notou que ainda ajudava Jason. Depois de uns dois minutos, ele voltou e se deitou ao lado dela, que também repetiu o movimento. As luzes se apagaram e os trailers começaram a rodar. se encolheu. Mesmo orgulhosa por ter dado uma boa resposta a , não conseguia parar de pensar que sentiu aquela droga de tristeza de novo, ao vê-lo com . E sabia o que aquilo significava.
-Jason estava tendo problemas para arrumar o projetor. –David explicou, tirando-a de seus devaneios. –Perdi alguma coisa?
-Não. –ela disse com a voz meio estranha. –Não perdeu nada.
Capítulo 121 – “BOY, LET'S NOT TALK TOO MUCH”


perguntou pela terceira vez:
-Onde está o ?
-Falei para ele ir para casa. –a Sra. falou sem muita emoção na voz, como se tivesse resolvido não deixar o temperamento da filha lhe atingir. – Estava cansado demais.
-Por que você fez isso? –ela ficou nervosa, percebendo que não teria ninguém para acompanhá-la naqueles últimos minutos insuportáveis dentro daquele hospital. Precisaria sair e ver os doentes, os médicos andando de um lado por outro e tentar manter-se calma com a ajuda de ninguém. Não desconsiderou a presença da mulher ao seu lado, somente desprezou qualquer possibilidade dela servir como ajuda. A mãe dela não tinha direito de mandá-lo para casa. Mesmo a menina não estando muito animada para falar com qualquer pessoa, aquela decisão deveria ser tomada por ela mesma, preferia que permanecesse lá e a mãe fosse embora. Qualquer pessoa seria melhor que sua mãe, e se não poderia ser , a única pessoa pela qual ela ansiava ver naquele momento, teria que ser o outro. –Onde está ?
-Ele já foi embora há muito tempo, antes daquela garota chegar ele já tinha ido embora.
-E por que você o deixou ir embora?
-Porque ele precisava voltar para o jogo dele. Ou você queria que o garoto ficasse a noite inteira aqui? Ele já fez o suficiente. –ela parou um pouco, e pareceu refletir sobre algo. Surgiram duas marcas de expressão ao lado dos olhos da mulher, e a menina por um segundo presenciou em seu rosto as marcas que a idade fizeram. Sentiu uma sensação estranha percorrer seu corpo, mas não sabia ao certo explicar qual era. –Aquele garoto é um anjo, e está se tornando um homem maravilhoso.
olhou para a parede branca da sala de espera. Se a mãe dela estava tentando fazê-la se sentir melhor, com certeza aquele não era o caminho, mas o somente o fato de fazer aquela tentativa já foi o bastante para deixar a filha surpresa. O que diabos aconteceu? A Monique que conhecia não era assim.
-Você sente alguma dor? –ela perguntou com doçura na voz, sendo observada de perto pela garota e fingiu não notar. –Quer que eu mande comprarem alguma coisa em especial para você comer?
estava desconfiada. Lembrou-se do seu aniversário de sete anos, o dia fatídico em que sua avó morreu. A mãe dela lhe dera uma bicicleta nova, duas bonecas da coleção que ela queria e lhe levara para almoçar no Mc Donalds. Enquanto a filha devorava seu Mc Lanche Feliz, a mãe contou que sua avó tinha falecido. Possuía a imagem daquele dia presente em sua memória como se fosse ontem. Não gostava de pensar muito no assunto, por isso tratou de expulsar aquela memória para bem longe. Será que alguém morreu? não conseguiu disfarçar a preocupação. Depois de meditar consigo mesma por alguns segundos, chegou à conclusão de que provavelmente a mulher só se ligou que gostava da filha depois do acidente que ela passou. Saber que era preciso medidas tão drásticas para que a mãe se lembrasse de que possuía uma filha era um estimulante e tanto para o orgulho e felicidade da menina.
-Eu liguei para o seu pai e contei o que aconteceu. Ele está em Toronto, mas disse que você poderia ligar quando quisesse, e também lhe mandou um vale presente para você comprar qualquer peça de roupa que queira. –ela tentou dar um sorriso, que no início mais pareceu uma careta. Fazia muito tempo que a mãe dela não sorria para . Não aqueles sorrisos falsos do tipo que ela dava quando alguém ia fotografá-la, mas um sorriso mesmo. –Nós já podemos voltar para casa agora, Peter está lá embaixo esperando com o carro.
assentiu e se levantou, seu corpo todo dolorido e ela tinha alguns arranhões e ralados nas pernas. Seu rosto se contorceu de horror, pensando que teria que usar jeans até aqueles hematomas se cicatrizarem. Sua expressão tomou um nível ainda maior de pânico quando percebeu que ficaria com cicatrizes.
-Está sentindo alguma dor? Consegue andar?
A garota tentou andar e conseguiu, mesmo que de um jeito muito desengonçado. A enfermeira lhe ajudou a calçar o tênis que usava quando se vestiu de líder de torcida. A Sra. tinha deixado uma muda de roupas ao lado de sua cama, em uma cômoda do quarto do hospital onde havia balões e flores, com cartões de melhoras anexados. sentiu-se tão melhor quando viu todas aquelas coisas. Pelo menos ela não ficaria conhecida como a otária que não sabe ficar de pé numa pirâmide. Tentava não pensar na burrice que tinha feito, mas se aquilo serviu para chamar a atenção do menino, pelo menos não havia sido em vão.
-Meu corpo está meio dolorido, mas acho que tudo bem.
As duas andaram calmamente até o carro. Sua mãe apoiava a mão esquerda em suas costas, e aquele pequeno gesto fez com que a garota se sentisse um pouco melhor por estar dentro de um hospital. Enquanto ela conversava com a mulher por trás do balcão, na entrada do prédio, andou para o carro o mais rápido que pôde em sua condição para que não trombasse em nenhum doente. Ela odiava hospitais. Peter, um senhor que trabalhava para a família dela desde que a menina era pequena, a ajudou a entrar no carro. Encostou a cabeça no banco, esperando pela mulher.
A conversa que tivera mais cedo com rodava pela sua cabeça e ela não conseguia parar de pensar naquilo. Já experimentara aquele medo antes, mas depois daquela conversa, ela sentia muito mal. realmente amava , um amor muito maior do que o forte apreço que sentia, e sabia em seu íntimo que era difícil conseguir amá-lo daquela forma. Por mais que não pensasse muito a respeito, os dois estiveram juntos a vida inteira, era fácil afirmar que poucas pessoas poderiam se conhecer tão bem quanto aquele casal se conhecia. Ela sabia que atraí-lo seria difícil, os dois eram como... nem sabia explicar. Quando teve aquela briga com sua mãe, a chamou – a pessoa que supostamente odiava – para ir ficar com ele porque sabia que seria o melhor para o garoto. Isso provava o quanto ela gostava dele, e não conseguia imaginar um amor assim. O problema era que gostava de , gostava mesmo. Só não sabia se era o suficiente. Muitos fatores mostravam que era um par muito melhor para ele do que ela. , por exemplo, já estava acostumada a lidar com a Sra. e não surtava a cada vez que ia ao hospital com ela. Apesar de não querer reconhecer, ela sabia aquilo desde o início. Só estava tentando viver uma paixão, e escolheu o cara errado. Depois que surtou, ela percebeu o quanto era ruim quando a pessoa que você mais se importa não está mais com você. E ela tinha feito algo muito ruim com .
se sentiu tão bem quando lhe contou o que tinha feito por ela. Se ele ainda se importava com ela, por que tinha surtado? Sentiu como se o menino fosse o seu herói e aquilo a fez se encher de alegria, tamanha a esperança a visitou. Ter sido rejeitada daquela forma fez com que ela percebesse a dor de um desprezo, e pensou que se alguma vez – e sabia que sim – já foi responsável por causar infelicidade a alguém, então seu tombo foi muito merecido.
-Cheguei, Peter. –a Sra. entrou no carro e ajeitou o cabelo. O homem ligou o carro e perguntou se elas iriam direto para casa. –Você quer passar em algum lugar, ?
-Quero. –ela respondeu, tendo uma idéia. –Tenho que passar na casa de para ter certeza de uma coisa.
-Na casa de ? –a mãe dela fez uma careta. –Não, . Eu quis dizer se você quer que nós passemos em algum lugar para comprar uma comida, talvez. Já está tarde e precisa descansar. Não vai passar na casa dele.
-Mas é isso que eu quero nesse momento. É importante.


Depois de alguns minutos, parou na entrada da mansão dos . Ela mandou avisar que estava lá e andou confiante até o quarto de , que estava destrancado. Torceu para encontrá-lo em casa. Encontrou o menino deitado em sua cama, cochilando. sorriu ao vê-lo ali, lindo como sempre. Ele vestia uma blusa azul de algodão e uma calça de moletom preta, parecendo muito relaxado. Usava uma touca touca e ele respirava pesadamente. Ela fechou a porta atrás de si, girando a chave na fechadura. Tirando os sapatos com cuidado, foi caminhando silenciosamente até a cama dele, ignorando toda a dor no corpo que sentia. E deixando de lado o fato de sua cabeça estar quase pegando fogo. Ela subiu em cima dele e lhe deu um beijo no pescoço. abriu os olhos, assustado.
-! –ele suspirou, aliviado. –Você me assustou. O que está fazendo aqui?
-Eu vim te ver.
-Mas... Você não deveria estar na sua casa, de repouso? Como está seu ombro?
-Doendo. E sim, eu deveria estar em casa. –ela olhou nos olhos verdes dele, um pouco mais escuros que os de . Ela piscou, se perguntando o motivo de ter feito aquela comparação. –Eu só quero fazer uma coisa, é meu último pedido.
enrugou a testa, confuso. Ela não respondeu, em vez disso, colou os lábios dos dois em um beijo. A língua de tinha gosto de batata frita, e já que a médica o expulsou, imaginou que ele deveria ter comido o Big Mac que comprou para ela mais cedo. E lembrou-se então de que estava com fome, mas aquilo não importava no momento.
cuidadosamente inverteu as posições, ficando em cima dela e a beijando com mais intensidade. Ela tirou a camisa dele e seus dedos percorreram seu abdome e suas costas musculosas. Enquanto tirava a camisa de e beijava cada parte de seu pescoço e peito, ela entrelaçou as pernas na cintura dele, sentindo a adrenalina substituir um pouco a dor pelos machucados, e decidindo-se a aproveitar mais. Ele tomava cuidado para não machucá-la. sorriu enquanto o menino beijava o ombro machucado dela com delicadeza. Era como se alguém fizesse uma massagem ali, e ela se sentiu bem. Inclinou-se depois de pegar ar e voltou a beijá-lo novamente. respirava pesadamente enquanto ela beijava seu pescoço, o deleite escorrendo por todas as veias de seu corpo. Depois de um tempo assim, ele se esticou e apagou a luz.
Capítulo 122 – “HE CAME AROUND LIKE HE WAS DIGNIFIED”


olhou para , bem ao seu lado. Ela assistia ao filme com atenção, devorando sua pipoca. Ele sorriu, contente e orgulhoso por sua conquista, congratulando a si mesmo.
Mas não estava contente por ter dito o que dissera, o menino esperava uma reação bem pior do que ganhou, queria ver sangue. Por que ela não estava irritada? Ele não podia deixá-la vencer a aposta daquele jeito, já estava na vantagem pelo lance do restaurante, não aceitaria nada menos que uma vitória, por mais tolo que essa atitude o fizesse parecer. Levava apostas muito a sério, ainda mais aquelas que exigiam sua paciência. Sabia o que deveria fazer, só restava então que o fizesse. Já precisou pegar dois meses de castigo na escola quando mais novo por ter jogado ovos no carro de um professor, seus pais ainda o lembravam do trabalho imenso que tiveram ao tentar convencer a antiga professora de história do filho a não processar sua família, desejo que surgiu ao perceber que as cartas românticas que andara recebendo na época eram na verdade do garoto. O episódio em que quase machucou e por pouco impediu o que poderia ser um ferimento sério a ponto de proibi-lo de jogar futebol novamente também se pronunciava quando o menino resolvia se lembrar de todas as loucuras que fizera em nome de uma aposta. Era de conhecimento geral que as tratava como uma promessa. Na verdade, se fosse bem sincero consigo mesmo, ele não enganava a ninguém. Desde depois da Festa do Luar, quando viu David com pela primeira vez, algo dentro dele morrera, e não gostava nem de pensar no assunto, por isso, afastou aqueles pensamentos de sua cabeça. Porém, a visão que possuía ao seu lado do casal era um forte lembrete, e era impossível evitar a reflexão sobre o assunto, assim como não conseguia deixar de sentir o ciúme que a cena lhe provocava.
O problema era que não tinha certeza se seria capaz de manter um relacionamento com . Ele já tinha estragado tudo uma vez, quem garantia que não arruinaria de novo? Pensar daquela forma fazia com que sentisse raiva de si mesmo, mas era inevitável para o garoto a pergunta silenciosa se a aposta valia mesmo à pena. Temia já ter uma resposta para tal indagação, e isso o deixava mais nervoso do que a derrota eminente. estava deitada ao seu lado, esperando que ele a beijasse, praticamente pedindo, e tudo o que ele conseguia pensar era em deitada no peito de David Grenwood. A menina se virou para o namorado e disse alguma coisa em seu ouvido, ganhando um aceno de cabeça como resposta e ela se levantou num pulo, indo para a salinha de projeção. Alguma pessoa teve a idéia brilhante de deixar as pipocas e o refrigerante perto do aparelho de DVD. pigarreou, atraindo a atenção da garota ao seu lado.
-Eu vou pegar um pouco de pipoca.
-Você não quer a minha?
-Não precisa, quero uma só para mim.
Ele se levantou cambaleando e correu até a salinha onde entrou para fechar a porta atrás de si ao chegar. pensou em muitas coisas para falar, mas não conseguiu se concentrar direito. A menina estava de costas, servindo-se de refrigerante, aquele corpo maravilhoso que ele bem conhecia mais perto do que deveria dele, os cabelos longos espalhados pelas costas e os movimentos um tanto desajeitados.
-Eu pensei no que você disse. –ele enfim disse algo, fazendo pular de susto. Ela olhou para trás, mais pálida do que o normal, a expressão era a uma mistura perfeita de curiosidade e espanto. Olhou dele para a porta fechada e seu rosto assumiu um semblante impaciente. –Eu peço desculpas por minha falta de classe, mas consegui chamar sua atenção de novo.
-Por favor, não precisa continuar, me poupe.
-Estou mentindo? –ele riu, e girou os olhos, colocando a bebida em cima da mesa, para que não a derrubasse no chão. O garoto por um segundo pensou em não irritá-la tanto, pois ela podia muito bem resolver entornar o líquido nele, mas esse argumento não foi forte o bastante para fazê-lo perder aquela oportunidade. –O coitado do David até foi embora.
-Está falando da hora que ele levantou? Você saberia dizer quando, já que presta tanta atenção. – o orgulho que a menina mostrou ter sentido de suas próprias palavras o divertiu imensamente, e ele quase deixou escapar um sorriso carinhoso. Ela pareceu perceber sua fraqueza, porque em seguida se endireitou e respirou fundo. –Se quer saber, ele foi ajudar Jason com o filme.
-Mas foi embora, não foi? –ele se aproximou dela, até que os dois estivessem a centímetros um do outro. era muito maior do que , e teve que inclinar a cabeça para baixo para poder olhar para ela. Podia sentir sua respiração quente batendo em seu pescoço, e estremeceu por isso, seu coração se acelerando devido à vontade que sentia. Passou os olhos pelas pequenas sardas da garota, quase imperceptíveis e flagrou aquela cicatriz que ela possuía no maxilar quando se cortou em um dos primeiros encontros dos dois. O peito dela subia e descia rapidamente, e se não tivesse entendido seus motivos para deixar o copo que antes segurava em cima da mesa, vê-la tremer daquela forma definitivamente teria respondido a pergunta. A visão de tão nervosa fez com que quase perdesse a cabeça e a beijasse naquele segundo, tamanho foi desejo que se espalhou por seu corpo. Ele se inclinou até que sua boca estivesse bem próxima do ouvido dela. ficou estática, sem saber o que fazer. O garoto deu uma pequena mordida no lóbulo de sua orelha, só para poder aproveitar a sensação de causar tanto efeito na outra, já que sabia que não era tão forte quanto tentava ser ao se tratar de seu coração.
-Não quer acabar com isso logo? – sussurrou, as palavras parando na nuca dela, que respirava rapidamente e ainda estava sorrindo. Ela vai ceder.
Até que fechou os olhos com força. E quando os abriu, ele pôde ver um sorriso debochado em seu rosto. Droga.
-Já está desistindo? –ela perguntou. fechou o sorriso. –É tão difícil assim viver sem mim?
-Qual é, . Nós dois sabemos que você ainda é doida por mim, vou citar alguns exemplos que conformam isso. Na aula de artes, no restaurante, na sala de cinema... Parece que eu sempre sou sua atração principal, não é?
Como ela não respondeu, aquela foi sua deixa para continuar:
-Você nem consegue mais esconder, a aposta ficou desequilibrada. David sabe que ainda está apaixonada por mim?
Os cantos da boca dela se escancararam, e ele começou a se sentir mal por ter dito tanto. Era como se ela fosse começar a chorar. não queria fazê-la se sentir mal, só queria tentar convencê-la a voltar. Ele tinha estragado tudo de novo?
-Não se faça de bobo. –ela falou depois de um tempo. Sua voz saiu meio tremida, só que a expressão em seu rosto raivosa. Seu olhar era mortal e até meio sinistro. –Acha que eu não percebi que você está morrendo de ciúmes de David? Vamos, . De repente decide virar amigo dele? Esse é o seu máximo?
A ideia de que seus sentimentos pudessem ser claros para as outras pessoas aterrorizou o menino, que engoliu em seco, apreensivo.
-Você quer voltar comigo? –ela perguntou de um jeito provocador. –Nem mesmo consegue dizer isso. O seu jeito de tentar voltar comigo é me provocando?
não conseguiu dizer nada, e continuou a falar. Ela estava mesmo muito brava.
-Sabe por que você e David são tão diferentes? David sabe o que quer e não tem medo de assumir, ele gosta de mim e quer ter uma relação só comigo. –ela deu uma risada irônica que machucou os ouvidos dele. –E mesmo se estivéssemos em um relacionamento aberto, ele não ficaria com raiva se eu saísse com outros garotos, mesmo se fosse um amigo dele. Afinal, é isso que significa um relacionamento aberto, não é? Ele não é egoísta como você.
não acreditava que ela pensava daquele jeito. Por que nunca se queixou com ele? Se ela queria exclusividade quando os dois saíam, por que nunca tinha dito? Ele fez uma careta, sabendo que a dúvida mais certa seria o motivo de ele nunca ter escutado, e não o motivo de a menina nunca ter pedido.
-... –ele piou. Tinha que fazer algo rápido. –Você gosta de David?
Sua resposta foi firme e rápida, não sabia dizer se ela se prepara para tal questionamento ou se era porque realmente falava sério:
-Gosto.
-Mas vocês acabaram de se conhecer.
-E nesse pouco tempo ele já foi um melhor namorado do que você foi durante mais de cinco meses. –ela piscou meio distraída. –Ah. Nós não éramos namorados.
-Gosta dele mais do que gosta de mim?
-Eu... –ela parou. –Ah, você não enxerga mesmo, não é? Estou tentando te fazer enxergar que errou e você fica fazendo essas perguntas idiotas! Não consegue simplesmente admitir que errou?
se sentiu muito mal. Era muito ruim para ele saber que era assim que se sentia. Possuía urgência em descobrir se ela ainda estava apaixonada por ele, a possibilidade de não estar o deixou com medo, mesmo sem querer. Dominado por esses pensamentos, foi em direção à e a beijou. Os lábios dela eram tão macios e familiares que ele sentiu como se nada tivesse mudado. No começo, ela ficou meio chocada demais, mas depois correspondeu ao beijo. Ficou tão aliviado por ela ter correspondido ao beijo. colocou a mão atrás da cabeça dela e a beijou com mais intensidade, sentindo aqueles braços em seu pescoço e experimentando a felicidade que o alívio lhe trouxe dominar seu corpo.
-Ai, meu Deus! –escutou uma voz vinda da porta.
Os dois olharam para a direção da voz e rapidamente se separaram. Era uma garota ruiva, muito bonita, olhando boquiaberta para os dois.
Capítulo 123 – “ WHAT YOU DID IN THE DARK”


Sam não acreditava no que acabou de ver. Ela realmente viu – a namorada de David – traindo-o com outro garoto? Olhou em volta, temendo ser alguma pegadinha, uma pessoa não poderia ter tanta sorte. Não precisaria se torturar vendo os dois juntos enquanto esperava pelo término, que obviamente aconteceria uma hora ou outra, ela interferindo ou não.
-Eu não acredito nisso. –ela suspirou, tentando se contiver. A cena lhe causou tanto deleite que muito a ser dito, a menina não sabia por onde começar. – ! Não quer se explicar antes que eu vá correndo contar para o David?
A menina ficou boquiaberta e o garoto não disse nada, simplesmente ficou olhando de Sam para a amante. Ele provavelmente não se importaria nada se ela terminasse com David, Sam sabia disso pelo jeito apaixonado que a beijava. Analisou o menino, gostando do que via.
-N-não. – gaguejou e Sam riu determinada a fazê-la suar um pouco. –Não pode contar.
-Por que não? Você estava beijando este garoto... Ele não é seu namorado, é? Achei que seu namorado fosse o David.
-Ele não é meu namorado.
-Então você e David terminaram.
A voz da menina saiu embargada, e os olhos se encheram de lágrimas:
-Não.
-Entendo.
-Sam, por favor. Não conte ao David.
-Me dê um motivo para isso.
-O que está acontecendo aqui? – estava parada à porta. Ela olhou para o garoto, que estava no fundo da sala, ainda meio paralisado. –, o que está acontecendo aqui?
-! –Sam cantarolou. A outra olhou a olhou como se ela fosse um inseto nojento, só notando sua presença naquele momento. Samantha se sentiu mal. Depois da conversa que as duas tiveram, não pôde deixar de se sentir mal. Mas se pensasse bem, não precisava de . Quem precisa? –Lá se vai a privacidade.
olhou com súplica para Sam, implorando com os olhos para que ela não contasse à amiga. Ela provavelmente pensara que sairia correndo para revelar o segredo a David, e talvez fizesse aquilo mesmo, já que a viu com o menino – – há alguns minutos atrás, e receber essa notícia não a agradaria nem um pouco.
-Você não acredita no que eu acabei de ver. –Sam sorriu. – e esse bonitinho aqui estavam se beijando quando eu cheguei, acredita?
piscou algumas vezes, absorvendo lentamente as palavras jogadas no ar. deixou escapar um palavrão e limpou uma lágrima da bochecha, nervosa com aquela situação toda. Sam tampava a porta, e não fosse por isso, estaria bem longe dali. A menina girou os olhos. É claro que ela não gostava tanto de David para começar a chorar. Qual é, estava ali beijando outro cara. Enquanto David assistia ao filme, sua namorada tinha sua boca na de outro cara. Alguém lá em cima gosta muito de mim. olhou para .
-É verdade?
-Olha, , você não pode contar pro David. – implorou. –Eu não devia ter feito isso e se contar para ele, vai estragar tudo, ele vai terminar comigo.
-Seria bem trágico. –Sam fez biquinho. A menina ao seu lado olhou dela para , e depois para o garoto. Ela não parecia chateada por estar beijando a ex-namorada.
-Eu juro, me desculpe, eu não queria ter beijado o , foi um erro. – acrescentou e olhou para , buscando apoio. Mas ele não disse nada, mantinha a cabeça baixa. Ele gostava dela. Sam percebeu logo de cara que ele gostava dela.
-Jesus, relaxe, eu não vou dizer nada. – falou depois de um tempo. Sam arregalou os olhos. Como assim ela não ia contar nada? Até que entendeu: se contasse a David, ele terminaria com e Samantha poderia agir. E não queria que a amiga se desse bem porque estava com raiva dela. Tinha que ser por isso, qual seria a outra opção? A garota decidiu se calar pela bondade em seu coração? Ela não podia acreditar naquilo, era mesmo uma cretina. –E nem Samantha.
pareceu aliviada e deixou escapar um suspiro.
-O que você quer dizer com isso? –Sam perguntou, a raiva tomando conta de seu corpo. –Desde quando decide por mim o que eu vou fazer?
-, , vocês podem me deixar a sós com a Samantha? –ela perguntou com delicadeza. correu para fora da sala de projeção e lançou um olhar para , que o ignorou. Ele fechou a porta e ela deu um passo em direção a Sam, ficando próxima dela. era bem maior, e ela deu um passo para trás. –Acho melhor seguir meu exemplo.
-Ah, é? –Sam ergueu uma de suas sobrancelhas perfeitamente feitas. – Concordamos em discordar.
-Bom, eu sei que seu pai não sabe que você está de volta à cidade.
Sam arregalou os olhos. O Sr. Johnson não estava na cidade, mas se soubesse que Sam tinha voltado, ele faria um escândalo e a mandaria para um colégio interno mais longe do que o anterior. Ele simplesmente odiava a filha, e perto dele, a mãe não era ninguém para dar opinião, pois todo mundo morria de medo dele. Ela engoliu em seco, tremendo de raiva. não faria isso.
-Você não faria isso.
-Quer descobrir?
Sam ficou vermelha, e a menina parada na sua frente apenas deu de ombros, não parecendo tão feliz com seu movimento do que deveria estar. Se a outra apenas soubesse que ela tinha jogado verde.
-Samantha. – suspirou, com uma expressão entediada, como se achasse a amiga enfadonha. –Eu preciso repetir que as coisas mudaram enquanto você esteve fora, precisa aceitar que David agora está namorando .
-Parece que você finalmente conseguiu o que queria, não é? –ela apertou os lábios. –Melhorou em todos os quesitos possíveis, mas é incrível que nem mesmo assim voltou com você.
-Nunca precisei, não existe nada para ser aprimorado aqui. –ela desceu a mão pelo próprio corpo, referindo-se a si mesma. –E eu estou saindo com outra pessoa no momento.
-Quem, esse tal de ? Não sei se percebeu, mas ele estava aqui agora beijando outra menina. E enquanto ela estava toda preocupada com o namorado descobrir, ele estava calado, triste por terem sido pegos. Parece que ninguém gosta mesmo de você.
ficou um tempo calada.
-Você não sabe de coisa nenhuma. – uma fúria a atingindo com uma velocidade altíssima. –E a ameaça ainda está de pé. – ela ergueu o celular e tirou uma foto dela e de Sam, que enrugou a testa, se perguntando o que foi aquilo. –Agora eu tenho provas de que você está aqui.
-Você não se importa de ter te traído?
-Não somos namorados, não me interessa o que ele faz no escuro.
-Como queira. Sabe que David vai voltar para mim, certo? E aposto que também sabe que eu não vou precisar me esforçar para isso.
-Por mim tanto faz. –ela riu. –Pegue uma cadeira, vai tornar a sua espera mais confortável.
-Sabe que eu consigo tudo o que quero.
-Perfeitamente.
-Pensei que fossemos amigas.
-Samantha. – inclinou a cabeça, e Sam se sentiu um lixo.–Nós nunca fomos amigas.
-Tudo bem. –ela foi até a porta e saiu logo dali, deixando sozinha. Sam fervia de raiva.
Ela faria pagar, custe o que custar. Podia ser descoberta pelo pai e mandada até para um reformatório, mas não sairia dali sem dar o troco naquela traidora. estava certa, as duas realmente nunca foram amigas de verdade.
*
Capítulo 124 – “NOTHING’ S THAT BAD, IF IT FEELS GOOD”


Jonny estava sendo um idiota medroso. Ele ainda não tinha falado com Hanna e ainda estava fugindo dela como um garotinho. Já tentara sair com umas seis garotas naquele meio-tempo, mas não conseguia parar de pensar nela, e odiava aquela sensação. Será que...
Não. Não podia ser, podia? Era domingo à tarde, e ele estava enlouquecendo. As coisas andavam meio estranhas com o irmão. A chuva torrencial que caiu na sexta impediu que o jogo acontecesse, e ele foi adiado. Isso fez com que ficasse muito nervoso e voltasse a treinar feito um condenado. Viu o garoto se esforçar mais do que uma pessoa normal conseguiria e sua inquietação tomou proporções ainda maiores quando o nariz dele começou a sangrar, e ele foi obrigado a diminuir o ritmo pela mãe dos dois, que perguntou ao filho qual era o problema dele, apelando para saber o que acontecia com o menino. apenas apertou a compressa de gelo em seu rosto, sem deixar uma única palavra escapar de sua boca. Sabia que o irmão sentia a pressão do seu futuro nas costas, e entendia que o futebol estava diretamente associado à suas preocupações, porém não era somente aquilo que o incomodava.
nunca respondia àquela pergunta, mas Jonny sabia muito bem qual era o problema do irmão. Ele ouviu rumores e sabia que era tudo verdade. Sabia o motivo de o garoto ter feito o que fez. E suas suspeitas se confirmaram quando a mãe perguntou se podia chamar para conversar com e ele ficou branco, negando repetidas vezes. Jonny conhecia o irmão muito bem, e nunca deixaria que suas ações o enganassem. E era nisso que ele estava pensando quando a campainha tocou, tirando-o de seus devaneios. Ele deu um pulo do sofá e se levantou. Antes de ir atender, se olhou no espelho e ajeitou os cabelos negros. Jonny era muito parecido com o irmão, mas os dois eram diferentes em alguns aspectos. Não havia nenhum mais bonito do que o outro porque os dois eram diferentes o suficiente para não poderem ser comparados. A única coisa que dava um pouco de vantagem a era que ele era mais forte do que o outro. Física e mentalmente.
A semana se passou bem lentamente para ele. O feriado começou quarta, mas as escolas fizeram o recesso até a segunda. Praticamente ninguém ficou na cidade, com exceção da família . Os pais dele estavam cansados demais para viajar, e Jonny ficou irritado com aquilo no início, pois queria ir para a praia, mas acabou se conformando.
Quando abriu a porta, Hanna estava justamente parada do outro lado da porta, com um olhar confiante. Jonny a olhou de baixo para cima, quase não a reconhecendo. Ela usava uma calça preta de couro apertada e um top branco de seda, junto com muitas pulseiras de couro. Seu cabelo estava mais curto e ela usava óculos escuros também pretos, que combinavam com suas sandálias de salto alto, também de couro. Ela parecia uma daquelas motoqueiras dos filmes que ele assistia quando era mais novo. O garoto engoliu em seco, tendo como primeiro pensamento o quanto ela estava sexy.
-Hanna? –ele gaguejou. –O que... O que faz aqui?
-Bom, já que você anda fugindo de mim feito um garotinho, eu decidi ser a madura de relação e acabar com isso de uma vez. –ela falou. Sua voz estava diferente, fria e seca. Jonny se perguntou se ela estava muito brava. Numa escala de um a dez, quão brava ela estava? Seis? Sete? –Posso entrar, ou você não tem coragem de conversar feito uma pessoa normal e vai fugir e mandar a Jojo me dizer que está passando mal de novo?
Talvez dez. Onze. Doze.
-Entra. –ele abriu caminho para ela, que pisou duro até o sofá de couro preto da sala de estar. Os pais dele estavam dormindo dois andares acima e tinha saído com . Ele se sentou de frente para ela, em outro sofá branco menor do que aquele e desligou a televisão, onde passava algo sobre Christina Aguilera na MTV.
-Então. –ela pigarreou. Ele nunca tinha visto Hanna daquele jeito, era meio sinistro. –Não vai me dizer por que diabos você estava fugindo de mim? Foi você que me pediu em namoro, se sabia desde o inicio que não conseguiria se manter numa relação, por que começou?
-Eu posso explicar.
-Estou ouvindo.
-Bom, eu... Eu juro que não queria te magoar, foi por isso que eu me afastei. –Hanna levantou as sobrancelhas, como se aquela fosse a coisa mais absurda que alguém podia dizer. –Eu sei que não faz muito sentido se você for pensar. Na verdade, agora que eu disse em voz alta, parece a coisa mais besta e me deixa com cara de retardado.
-É, te deixa.
-Mas não foi com má intenção. Eu vou ser sincero.
-Finalmente.
Ele disse o mais rápido que conseguiu, quase não entendendo as próprias palavras:
-Você está viciada em sexo.
-O que?
-Acho que você me ouviu.
O menino observou um rubor subir do pescoço de Hanna até suas bochechas, espalhando-se por toda a sua face. Parecia envergonhada e atônita.
-Por que... Por que você não me disse?
-Bom, eu tentei! –ele falou alto. –Você não me deixava nem respirar! Eu me senti sufocado e comecei a fugir de você!
-Sabe, você é mesmo igual a seu irmão. Não conseguem enfrentar as coisas.
-Eu tentei te enfrentar, mas você estava me assustando.
-Então por que não terminou comigo de uma vez?
-Porque eu comecei a gostar de você mesmo. –ele disse, quase sussurrando. Ela virou seu rosto com tanta rapidez na direção dele que por um segundo ele temeu que a menina tivesse machucado o pescoço. Ter os olhos da menina vidrados nele daquela forma o intimidou um pouco, porém sabia que uma vez que começou a falar não conseguiria parar. –Hanna, eu sei que não temos muito tempo juntos, mas gosto muito de você. Em momento nenhum minha intenção era fazê-la pensar que sou indiferente. Gosto muito mesmo.
O olhar no rosto do garoto ao dizer aquelas palavras foi o bastante para convencê-la.
-É sério?
-Eu juro que se não fosse sério não diria isso. Até eu estou assustado com essa situação, mas é isso aí. –ele se levantou e foi até o sofá, sentando-se ao lado dela. Hanna o olhava com os olhos castanhos arregalados tão desamparados que Jonny se sentiu mais velho do que ela por um momento. Ela estava tão vulnerável naquele momento que ele pensou que finalmente a tinha convencido. –Me desculpa?
Ela assentiu com a cabeça. Jonny a beijou delicadamente, e passou as mãos pelos cabelos ondulados dela que iam até o queixo, enrolando-os nos dedos. Hanna tinha cheiro de morango. Ele beijou o ombro nu dela e enquanto a menina enroscava as pernas na cintura dele, ele a carregou para seu quarto, fechando a porta e trancando. Hanna desceu e o beijou novamente, levando-o até a cama. Jonny tinha um bom pressentimento, e um nervosismo que só tinha sentido uma vez, quando Mary Field deu uma bala para ele se anunciou. Ela era novata no jardim de infância e Jonny se apaixonou por ela no instante em que a vira. Ele amava as marias-chiquinhas dela e tudo o que a menina dizia.
Jonny ficou por cima dela e deu um sorriso. Hanna possuía a testa enrugada de confusão, e o menino encostou os lábios ali em cima.
-Pensei que você queria ir mais devagar.
-Eu quero. –ele respondeu ainda sorrindo. –Mas dessa vez tudo bem, estamos nos reconciliando. Só não veja isso como uma deixa, ok?
-Eu vou me controlar. –ela disse e deu um riso sem graça. –Me desculpe.
-Tudo bem, eu entendo que não estou na posição de fazer muitas exigências, e não quero que desconfie da minha virilidade, mas sabe como é, tente se controlar. Eu sei que é difícil porque eu sou lindo e tudo o mais...
-Não me faça ir embora.
-Eu não disse nada.
Eles riram. O garoto queria que ela fosse dele, não se importava de começar a gostar dela de verdade, porque queria ficar só com ela. Talvez, em um mundo louco, Jonny era mesmo mais forte do que .
*
Capítulo 125 – “ THEY ALL NEED SOMETHING TO HOLD ON TO”


-Quanta purpurina! –a Sra. exclamou, com o nariz enrugado. –Nem pense nesse, iria odiar.
sorriu amarelo. Desde que ela se sentiu vingativa a respeito de e beijou , percebeu com um aperto no coração que o menino não era tão mal assim. Ele era hilário e era sempre divertido ficar perto dele. Na verdade, sempre soube que ele era ótimo, mas não conseguia deixar de se sentir estranha ao admitir. Quer dizer, era tão diferente de .
Ela resolveu levá-lo para sua casa de campo, onde toda sua família gostava de ir aos feriados. sempre levava para lá e seus familiares já tinham se acostumado com ele, por isso ficou na duvida quando sua mãe deu a ideia de chamar . Além do mais, não sabia se seria apropriado levá-lo a um lugar onde estava toda a sua família. Mas ele pareceu feliz com o convite e ficou bem confortável diante de toda a situação. Quando os tios e tias perguntaram a se era seu namorado, o menino dava um sorriso e respondia que não, que eles ainda estavam se conhecendo. Nem quando perguntaram o que acontecera com ele se importou. Eles se divertiram andando de barco, passeando pela pequena vila perto da casa dos e assistindo filmes e mais filmes durante a noite. A garota não se sentiu pressionada hora nenhuma, e uma gratidão imensa pelo menino se alastrou em seu peito por ser tão compreensivo.
gostou da viagem, e pelo o que pareceu, também. Ela perguntava a ele se a mãe o estava aborrecendo, mas o garoto sempre dizia que ela precisava aprender a relaxar. A Sra. criara uma paixão inexplicável por ele, e parecia saber tudo sobre seus gostos pessoais e hábitos. Pelo menos achava que sabia, e isso estava começando a aborrecer a filha.
Era segunda de manhã e ela e a mãe resolveram ir comprar roupas. Mesmo tendo que matar aula, sabia que precisa de um vestido para o Baile de Natal, que estava chegando. Elas tinham circulado de loja em loja na Avenida 14 procurando sem parar. No último baile, a convidara de um jeito muito fofo. Ele contratara um cantor que ela gostava para cantar Dancing Queen. Fora engraçado porque o homem se vestira de mulher, na porta da escola.
, quer saber se você quer ir ao Baile de Natal com ele.” – ele dissera no final. surgiu do nada ao lado dela e a olhou com expectativa, junto com os adolescentes que assistiam. “Que pergunta idiota.” –ela falou rindo –“Claro, .” se lembrava nitidamente daquele dia, e só o fato de reviver aquele momento em sua cabeça já a fazia sentir aquela ansiedade e bem-estar que sempre sentia quando o menino olhava para ela. O Baile de Natal era conhecido como a festa em que os garotos precisam se esforçar para convidar as garotas, cada convite era mais legal do que o outro, mas a menina sempre iria preferir o seu.
Como os dois não estavam mais juntos e estava saindo com , a Sra. deduziu que os dois iriam juntos. nem sabia se iria ao baile. Ela não queria ir com para chegar lá e ficar nostálgica a respeito de , apesar de saber que aquilo iria acontecer se ela fosse. E seria errado, porque seu possível acompanhante não merecia isso.
-Sabe, mesmo que você não receba um convite desses planejados, não se preocupe. –a mãe dela falou analisando um vestido amarelo-claro. –Vai se divertir demais esse ano, é um doce.
fez que não escutou, fingindo muito interesse em um vestido preto e branco.
-Você precisa combinar a cor de seu vestido com a gravata dele. –a Sra. continuou. Ela estava empolgada. –Será que ele vai comprar algum presente? Isso me parece algo que ele faria. Imagine se...
-Mãe. – suspirou. –Eu acho que não vou ao baile.
-É claro que você não vai. –ela girou os olhos, dando uma risadinha.
-Eu estou falando sério, mãe.
-Por que está dizendo isso? –ela largou abruptamente o outro vestido que estava em suas mãos, colocando-as na cintura e levantando as sobrancelhas bem feitas. –Estávamos tão animadas. já deve até ter alugado um terno.
-Nós não estávamos animadas, você estava. – deu de ombros. –E ainda nem sabe desse baile.
-O que te fez ficar assim? Você sempre fica tão animada nessa época.
-Bem, isso foi antes.
-Antes?Antes do que? –a mãe dela estava decepcionada e até um pouco brava, mas então seu rosto demonstrou compreensão e ela relaxou, abaixando os ombros. –Ah.
abaixou os olhos. Odiava que as pessoas sentissem pena dela, odiava o fato de ter feito aquela bagunça, e mesmo nervosa com ele, mal podia esperar para estar em seus braços de novo.
Seu celular tocou, despertando-a de seus devaneios. Deu um pulo e procurou pelo aparelho dentro de sua bolsa de couro cor de champanhe. A mãe dela olhou com expectativa, provavelmente imaginando ser seu protegido. Mas era só Elisa, sua amiga do clube de teatro.
Um bonitão chamado está na plateia procurando por você, por que não avisou que os veteranos não apresentam mais? e estão sentados um ao lado do outro, mas ela está ocupada conversando com o bonitão.
ficou surpresa por estar na escola. Ela contara a ele que já tinha sido do clube de teatro e que fariam uma peça naquele mesmo dia, mas não poderia participar porque era veterana. deve ter pensado que ela ficaria para assistir mesmo assim e foi vê-la.
Era esse o plano de : ficar na escola e assistir à peça, e estaria lá se a mãe não tivesse a arrastado para uma loja cara de roupas para comprar um vestido para um baile no qual ela nem mesmo queria ir. A menina se aborreceu. ainda estava com ? Ele não havia dito que queria voltar com ela? Bom, só disse que os dois precisavam conversar, mas mesmo assim. Será que soube que ela tinha dado uma chance à e desistiu? Será que ficou bravo? fantasiou o momento em que ele descobriria um bilhão de vezes. Em sua imaginação, ficaria furioso e bateria no outro. sempre criou cenas parecidas em sua cabeça, por mais idiota que isso a fizesse parecer.
Ela não sabia o que o menino estava fazendo mais. E se ele se deu conta de que preferia a e só queria que os dois se encontrassem para dizer que tinha tomado uma decisão e que não ficaria com ela? E ? Ela não dissera que estava arrependida pelo o que fez com ? O que fazia com ? E o que ela estava fazendo, conversando com ? Já não bastava roubar o seu namorado, precisava roubar também? Ela ficou com um pouco de ciúmes. Mais do que isso, sentiu raiva dela. Ela acreditou em suas palavras na noite em que a garota fora ao hospital. Será que tinha sido tola o bastante para acreditar que estava falando a verdade e que realmente queria ser amiga dela?
Ela parou, se sentindo estúpida. Seu namorado já a tinha feito de boba e também, ela não aguentava mais aqueles dois.
-Hum, mãe, talvez eu deva ir com . – falou. –Pode ser divertido.
-Mesmo? –os olhos da Sra. brilharam.
-Acho que sim. Podemos comprar o vestido depois?
-Claro que sim! –ela deu um abraço em , esmagando-a.
-Certo. Agora, me leve ao colégio, por favor?
-Ao colégio? Por quê?
-Tem alguém me esperando.
Capítulo 126 – “A KICK IN THE TEETH IS GOOD FOR SOME”


escutou rindo ao seu lado. Por que ela não parava de conversar com aquele abusado do e prestava atenção na peça? Afinal, o que o cara estava fazendo lá?
Ele se inclinou um pouco para a esquerda em seu banco confortável, mas sentiu uma dor no quadril. Vinha treinando exageradamente enquanto esteve no acampamento de natação com seus amigos. Os seus pais já estavam até preocupados. Ele não se importava, sentia falta de nadar tanto quanto nadou naqueles últimos dias, e aproveitava ao máximo seus momentos dentro de uma piscina.
Depois que foi para o hospital e ele viu conversando com ela, algo dentro dele cedeu como se tivesse ganhado um banho de água fria. O que diabos ele tinha feito?
Ele e tiveram uma longa conversa na manhã seguinte à sua visita aos seus aposentos, quando ainda estavam enrolados nos cobertores do garoto. Eles conversaram sobre como agiu precipitadamente e admitiram o erro, além da tentativa de escapar de outras coisas, cometida por ambos. O surpreendente era que o ouviu com atenção e depois disse que pensava daquele jeito também. Ele então quis ir para o acampamento passar o recesso, na esperança de esfriar a cabeça e treinar para entrar no time da faculdade.
De início, já não tinha ido com a cara de . Depois que ele começou a azarar , definitivamente não estava entre suas pessoas favoritas. Qual era a dele? Queria se aproximar de quando o menino a namorava e quando ele estava com ao seu lado, queria se aproximar dela?
se virou para trás e viu Thabita, uma garota que fazia História com ele e que não era nada sutil em suas insinuações quando se tratava de seu gosto pelo garoto.
-Ei, Thabita. – chamou, num sussurro. Os olhos castanhos dela se arregalaram ao ver quem a chamara. Ela passou os dedos finos pelos cabelos loiros e se inclinou para frente, apertando os peitos. Ele fingiu que não viu.
-Olá, . –ela deu um olhar faminto para ele. –E aí?
-Você pode me fazer um favor?
-Um, dois ou três.
Ele riu, meio desconfortável. Depois de explicar três vezes, se virou para frente e fingiu estar prestando atenção em Elisa, uma secundarista que ele sabia ser amiga de . Tinha a consciência de que a garota amava teatro e que deveria estar assistindo à sua amiga no palco naquele momento. Onde ela estava? Ele olhou ao redor, mas não a encontrou.
-Ei, . –Thabita cantarolou e interrompeu sua conversa com para olhar para trás. O outro a acompanhou. –Pode, por favor, trocar de lugar com ? Ele está bloqueando a minha visão.
-Hã, estou no meio de uma conversa. –ela respondeu e olhou para ele, que disse que não tinha problema. –Tudo bem. ?
-Oi? –ele fingiu ter se assustado e olhou para como se só tivesse notado a presença dele naquele momento. –Oh. É Duncan, não é?
. –ele corrigiu, nem um pouco aborrecido. –Como vai?
Decidiu ignorá-lo:
-Você me chamou, ?
-Pode trocar de lugar comigo?
-Claro. –eles trocaram e se virou para . –Ela já se cansou de você.
ergueu uma sobrancelha e lhe deu seu melhor sorriso debochado. Ele esperou por um tempo para ter certeza que os dois não voltariam a conversar e se congratulou silenciosamente por ter pensado em algo tão eficaz para separá-los e ter o silêncio de volta.

Quando a peça acabou, os alunos começaram a se encaminhar para o refeitório e passou o braço pelos ombros de , guiando-a para a saída antes que pudesse perceber. Mas ele já os alcançara.
-! –chamou, desviando das pessoas. –Esqueceu seu caderno.
-Obrigada, . –ela pegou o caderno da mão dele e deu um sorrisinho típico. –Quer vir até o refeitório e almoçar com a gente?
-Ele não pode. – se apressou. o olhou como se ele tivesse dito que acabou de ver uma zebra voando. O menino deu de ombros. –Ele não estuda aqui.
-Hoje é permitido por causa da peça. –ela justificou. –Está cheio de pais e convidados aqui.
Que seja. Estava tentando livrá-la daquele cara, mas se ela não queria, tudo bem. Ele que não iria ficar ali. Os três pegaram um atalho para o refeitório, passando por uma área da escola que era cheia de armários. Não havia ninguém ali, a não ser os três e... E .
O vestido rosa de , junto com suas sapatilhas vermelhas e seu cabelo preso numa fita também vermelha a deixava tão delicada. E ela estava tão bonita. sorriu quando os olhos azuis meio esverdeados da garota se arregalaram de surpresa ao vê-lo. Era como se o mundo ao redor dos dois congelasse e ambos até pararam de andar. Por uma fração de segundo, era como se nada tivesse acontecido e os dois estivessem juntos. Ele se sentiu da mesma forma há alguns dias atrás, quando a viu sozinha na piscina da April Hall. Depois de alguns segundos – para o menino e mais pareceu uma eternidade –, pigarreou umas três vezes e ele pulou, saindo do transe.
pareceu ter se ligado também e correu para . O que fez em seguida quase fez ter um surto. Ela ficou na ponta dos pés e beijou .
-Que merda é essa? –escutou sua própria voz ecoar no corredor, tão alta, grossa e raivosa que nem pareceu ter saído dele. Assustado consigo mesmo, mas não o bastante para hesitar, se enfiou no meio dos dois. No rosto deles o espanto era enorme.
-. – disse, segurando-se na porta do armário amarelo atrás de si. –Não grite.
se aproximou dela e tocou seu ombro.
-Sai de perto dela. –ele gritou para .
-, se acalma. – falou com a voz trêmula.
Ele era uma pessoa bem pacífica e geralmente não ficava assim, mas estava descontrolado. A última vez que ficou daquele jeito foi quando soube da mãe dele. O problema de é que ele quase nunca ficava com raiva, e quando ficava se descontrolava demais.
-Cara, se acalma. – falou. –Você não é mais o namorado dela.
-E você, é? – perguntou com a respiração acelerada.
-Sou.
Os olhos dele se arregalaram.
-, não... – começou.
Mas ele já tinha ido para cima de .
*
Capítulo 127 – “ THEM OTHER BOYS DON’ T KNOW HOW TO ACT”


Alguns minutos antes, vagava por um corredor vazio do colégio, procurando por . A última vez que a vira fora na sessão cinema, quando teve a ideia estúpida de pedir que a garota o ajudasse quando estivessem na presença de . Era visível que havia pressionado a menina, que somente concordara para não parecer rude. Mesmo que soubesse disso, não queria voltar atrás, uma vez que aprovara. No início, ficou espantado por ter sugerido aquilo, mas depois percebeu que podia ser até uma boa ideia. A inocência no olhar e a timidez existente de uma forma cativante em seus atos fariam com que desconfiar dela fosse algo impossível. Pensou em seus motivos para resolver seguir em frente com aquele plano bolado tão subitamente, e soube qual seria a resposta que receberia se contasse para seu amigo, que estava convencido de que nele um afeto pela menina havia surgido. Claro que a considerava como uma ótima menina, bonita e acreditava que pensava em seus modos como adoráveis e cativantes. Nunca mostrou interesse por uma garota com aquele jeito manso, que aos poucos parecia tomar conta da situação. Era engraçado porque ela possuía essa maneira de ser, mas às vezes se encontrava agindo da mesma forma, e sentia-se idiota sempre que percebia. Não que estivesse interessado em , sabia que não estava, ela era somente uma boa companhia, diferente do que ele estava acostumado. A questão era essa: para o menino, uma mudança de ares naquele momento era mais do que bem-vinda.
Seu plano inicial para o feriado levar com ele para Santa Bárbara. Inspirados por suas histórias de verão, os primos de se juntaram para comprar uma casa de praia juntos. O amigo adorava surfar, mas nifer o convidara para ir viajar com ela. Ele se perguntou se não se sentia usado pela garota. Era claro que o garoto era uma distração para que ela esquecesse o ex-namorado. Mas, para , parecia que só o fato de estarem juntos e ter enfim conseguido o que queria já bastava. não acreditava que ele estava gostando de . O amigo sempre queria se superar, e talvez ela fosse mais um daqueles desafios malucos dele, o que seria bom, já que nifer obviamente possuía sentimentos intensos por .
Ainda assim, sua viagem não foi cancelada por falta de companhia, pois David concordou em ir com ele. Os meninos surfaram bastante e inventaram suas próprias combinações de coquetéis. À noite, eles iam às festas que aconteciam perto dali com os primos de , que estava cansado depois de estudar tanto nos últimos dias, por isso aquela viagem foi perfeita para ele, sobretudo porque tinha aquele lugar como seu preferido no mundo.
Ele decidiu fazer uma surpresa à e ir até sua escola. Porém, escolheu um dia em que acontecia uma peça. Ele teve a grande ideia de dizer a um funcionário que não precisava de ajuda para chegar ao auditório e se perdeu nos primeiros passos.
-Com licença, poderia dizer onde é o auditório? –perguntou quando uma garota passou por ele. Ela se virou bruscamente, fazendo seus cachos castanhos saltitarem.
-Você definitivamente não é daqui. –ela cantarolou com um sorriso no rosto. –Quem está procurando?
- . –a garota ergueu as sobrancelhas. –Você a conhece?
-É claro. Deixe-me adivinhar: você mora na April Hall.
-Sim.
-Jesus, que droga! –ela fez beicinho e ele se perguntou se ela não seria amiga de . –Essa garota é tão sortuda por ter entrado nessa casa. –o encarou, que sorriu sem saber o que dizer. –Aliás, meu nome é Jojo.
-. Você é amiga de ?
-Sim, nos apresentou há pouco tempo atrás. Essa garota é demais.
-É, ela é. –ele não podia discordar, era mesmo demais.
-É incrível como não se importa em sair fazendo amigos por aí, quando vê alguém que parece valer a pena, não se sente nem um pouco envergonhada ao fazer amizade, e também não sente medo de estar enganada.
O garoto ficou um tanto confuso com aquela descrição.
-O que?
-. Sempre com sua percepção aguçada, é como se tivesse um sexto sentido.
corou um pouco, percebendo com embaraço que ela não se referia a .
-Vou mandar uma mensagem dizendo que você está aqui. –ela disse, pegando seu celular e digitando ferozmente. –Pronto.
-Obrigado.
-E aí, você e estão juntos? –Jojo perguntou depois de um tempo em silêncio, um sorriso cheio de malícia cruzando seu rosto, mostrando seus dentes perfeitamente alinhados. Ele ficou na duvida, devia dizer para todos que tinha namorada ou só para ? Mas se dissesse apenas para ela, provavelmente a ex-namorada não acreditaria.
-Nós, hum, estamos saindo.
O menino se sentiu desconfortável, pois sabia que era observado minuciosamente.
-Jura?
-? –ele ouviu uma voz conhecida. estava parada ao seu lado a parecia surpresa, um brilho de fascínio em seu olhar. –O que faz aqui?
-Seu namorado veio te fazer uma surpresa.
enrubesceu violentamente, olhando para baixo enquanto sorria. acompanhou aquela reação com os cantos da boca erguidos discretamente. Ela se aproximou mais, ficou na ponta dos pés para dar um beijo na bochecha dele, que colaborou se abaixando um pouco.
-Ah, qual é. –a amiga dela guinchou. –Há quanto tempo vocês dois não se veem?
deu de ombros e respondeu antes da outra:
-Desde quarta, eu acho.
-Se eu tivesse um namorado e não o visse desde quarta, não seria tão seca assim.
-Jojo...
-Não. – a interrompeu. –Sua amiga tem razão.
Ele se curvou todo e deu um abraço apertado em , passando os braços musculosos pela sua cintura, consequentemente erguendo-a do chão um pouco. No inicio ela ficou parada, mas depois retribuiu o abraço. A menina cheirava ao mesmo perfume que sua irmã tinha.
-Hum, assim está melhor. –Jojo fez uma bola de chiclete na boca, dando um cheiro de canela ao ambiente. –Mas eu queria ver um beijinho.
-Jojo!
-Você é muito tímida, , é tão fofo. –ela apertou uma bochecha dela e saiu rebolando, depois de dar um sorrisinho para ele.
virou-se imediatamente para o garoto, apressando-se em dizer:
-Me desculpe por isso.
-Não se preocupe. – sorriu de lado. –Ela me ajudou a te encontrar, então não tenho nada a reclamar. Você quer voltar para a peça?
-Deus, não! –ela riu sem graça. –Aquela peça é provavelmente a que eu vi mais vezes na minha vida. Eu costumava assistir nifer iam ensaiando quando éramos amigas.
se movimentou devagar para que ele percebesse que devia segui-la e os dois começaram a andar lentamente. A bainha de seu vestido dançava sobre seus lhos, e para uma pessoa naturalmente baixinha, ficava ainda menor quando ao lado dele. Não sabia se deveria continuar com esse assunto, mas resolveu mencioná-lo:
-nifer gostava de teatro?
-Ela adora, fiquei sabendo que ficou arrasada quando parou de atuar para estudar.
-E você, tinha algum hobby?
-Bom, eu gostava muito dos esportes, mas confesso que não pratico nada há algum tempo, acho que engavetei essa parte da minha vida por um tempo. – ele arregalou os olhos. –Por que tanto espanto?
-É legal pensar que se interessa por todas essas coisas, e que nunca deixa de acompanhar. Mas jogar? Confesso que isso me deixa bem surpreso, garotas normalmente não investem muito tempo nessas coisas, não as que eu convivo. Quer dizer, você é uma menina.
-Eu não acredito que você disse isso. –ela parou dramaticamente, abrindo os braços de um jeito expansivo, e ganhando a atenção do garoto, que achava interessante presenciá-la se soltar aos poucos. –Não espera isso de mim por que eu sou uma garota? Em que século você vive?
-Não foi minha intenção, você só não parece ser desse tipo.
Ela estreitou os olhos e moveu suas mãos para o quadril.
-Tipo? E qual é meu tipo?
-Eu... Eu acho que só estou piorando as coisas, não é? –ele passou as mãos nos cachos, entendendo que ele calado seria o melhor cenário possível. – Melhor deixar pra lá.
-Estou brincando, . – riu. –E aí, você quer almoçar comigo? –ela perguntou e tocou o braço dele, depois de voltarem a andar. –Podemos ir àquela churrascaria que você gosta.
-Ah, você não vai acreditar no que aconteceu da última vez que fui até lá, me arrastou para um Projeto de Speed Dating.
-Sério? –a expressão no rosto da garota não era nem de longe a animada e divertida que ele imaginou que encontraria. –E você participou?
-Sim. –ele concordou com a cabeça. –Dá para acreditar? Acho que para uma pessoa se submeter a isso, ela precisa estar muito desesperada.
O silêncio vindo dela não pareceu lhe significar nada demais.
-, você precisava estar lá, as garotas estavam dispostas a me dizer a cor das roupas intimas delas, se eu perguntasse.
-Nossa. – finalmente olhou para ele. –E deu certo com alguma delas?
-Eu não queria nenhuma delas. –ele deu uma piscadinha para ela, que não soube como interpretar tão movimento. – Não posso trair minha namorada.
A menina corou levemente, fazendo com que o garoto risse. Ela era tão diferente, e ele se sentia tão a vontade perto dela. Os dois passaram por uma sala de aula do jardim de infância, onde havia vários desenhos de criança pendurados em um fio na parede. A sala cheirava a morango e um pouco a chulé. olhava atentamente para cada desenho, agradecida por ter onde mirar seus olhos.
-Podemos almoçar aqui na escola. –ela quebrou o silêncio. –Se não se importar.
-Onde é o refeitório?
-É por aqui.
Os dois escutaram um barulho e gritos femininos. Era a voz de ? correu em direção ao barulho e foi atrás dela sem pensar duas vezes. Quando viu nifer e rina tentando separar dois garotos de uma briga, ele levou um tempo maior que deveria para perceber que essas pessoas eram e . Sem ter tempo para raciocinar, correu para onde estavam e se enfiou no meio dos dois, levando alguns empurrões, mas como era mais forte que , sabia que poderia para-lo. Foram necessárias as três meninas para segurar , e ainda assim estava quase escapando. Ele tinha um arranhão que ia do meio da testa até perto dos cachos – que estavam todos atrapalhados – e o sangue contornava sua sobrancelha esquerda. Suas bochechas vermelhas completavam uma imagem bem assustadora quando juntas ao ódio que os olhos dele deixavam transparecer. Seu amigo cambaleou para frente, tentando escapar de . Uma gota de sangue caiu na mão dele, vindo do nariz de .
-Droga, ! –ele gritou. –O que tem de errado com você?
-Pergunta pra esse cara. – falou quase em tom de deboche, inclinando a cabeça para o lado em meio às tentativas de escapar. –Foi ele que veio para cima de mim.
-Isso não aconteceria se você aprendesse a calar a sua boca. – esbravejou, quase derrubando nifer e no chão. fez menção de ajudá-las, mas sabia que não poderia deixar seu amigo sozinho naquele instante. –Ninguém te chamou aqui.
-Sei de alguém que não se importa com a minha presença.
-Fique longe dela.
-nifer, pode, por favor, resolver isso? – olhou para , que estava estática, sem saber o que fazer. Por um momento sentiu pena, tão assustada que seu peito se encheria de arrependimento quando finalmente percebesse a bagunça em que havia se metido. Apesar disso, a raiva falou mais alto e seu único desejo era o de ver aquilo terminado. A garota não poderia ficar entre dois homens, precisaria escolher um logo. E mesmo que tivesse uma ideia de qual seria a sua escolha, sabia que seria melhor para todos os envolvidos se essa acontecesse logo. –nifer!
o olhou com complacência e tentou:
-, vá com e , eu levo o para a enfermaria.
-Não! –a garota se recuperou e respirou fundo, como se precisasse de uma quantidade de ar muito maior do que o ambiente ali oferecia. –rina, leve o para a April Hall. E o vem comigo.
ficou tão surpreso que nem tentou atingir outra vez. Ele a seguiu para outro corredor e rina suspirou quando se viu livre de um deles, relaxando então. Ela se se encostou ao armário, aparentando tristeza e cansaço.
-, é serio, esse cara é doido. – falou, recuperando seu fôlego enquanto encarava o amigo com preocupação. –Vamos conversar depois e eu explico tudo.
-Você não precisa me explicar nada. –ele puxou para que ela o guiasse até o refeitório. –Não sou seu pai.
*
Capítulo 128 – “ I’ M WEARING MY HEART ON A NOOSE”


empurrou as pesadas portas do Fourteen, uma lanchonete que imitava um estilo antigo, com mesas de madeira gasta e recentemente lustradas, com seus bancos azuis de veludo cobertos de plástico bolha já estourados, mas que ao trocarem por novos o barulho é semelhante com o de alguém soltando pum. As paredes ladrilhadas de granito azul e branco davam uma sensação de serenidade ao local, juntamente com o cheiro de panquecas e de suco de abacaxi com limão e era o lugar preferido dos alunos do da escola para almoçar, depois do White Clube e do Joke’s. Ele se sentou em uma das grandes mesas do fundo, ao lado de Evan, aquele calouro simpático de quem as meninas gostavam. Ao lado dele, Jorge Michael se levantou para colocar alguma música no jukebox do outro lado da lanchonete, parando para cumprimentar .
-E aí, cara? –Jackson Allen, seu amigo desde o jardim de infância gritou, enfiando um pedaço de panqueca de carne na boca. –Pronto para as provas?
-Nem um pouco. –ele deu de ombros. –Não tive tempo de estudar.
pediu seu almoço de sempre para uma garçonete baixinha com óculos de armação de tartaruga: panquecas com milho, queijo e suco natural de limão. Ele se apoiou nos cotovelos, pensando sobre as provas. Naquela semana seriam aplicados os testes finais, e ele estava nervoso. Não tinha estudado muito, e no feriado em que ficou em casa poderia aproveitado a oportunidade, mas se parasse por muito tempo pensaria em e a culpa tomaria conta dele de novo. Por isso, quando não estava dormindo, estava treinando e treinando, como um viciado. Quase podia escutar a voz de sua mãe dizendo que se ele não largasse o futebol, não entraria para a faculdade. Jonny dissera que estava tentando se matar igual à , por isso os dois eram tão parecidos, mas o ignorou.
-Cara, você está péssimo. –Logan Elis comentou, analisando as olheiras e a faixa enrolada na palma de sua mão esquerda. – Qual é sua opinião sobre dormir?
-Não enche. –ele respondeu sorrindo um pouco pelo fato de que Logan era tão idiota. –Ando tendo insônia.
-Sabe o que ajuda a relaxar? –Hanna perguntou depois de tomar um gole de sua Coca Cola. Ele não tinha notado que ela e Jonny estavam ali, ao lado de Teddy Neri e Marcus Lee. –Uma boa massagem. Por que não vai ao Beach Club?
-Não vá ao Beach Club. –Evan se apressou em dizer, com um sorrisinho de deboche no rosto. –A não ser que queira que um urso faça massagem em você.
-Cara, é verdade! –Teddy falou alto, batendo a palma da mão na mesa de madeira e fazendo seu copo de água pular. –Por que eles sempre contratam aqueles caras? Custa muito contratar uma mulher bonita e jovem que seja massagista?
- não precisa relaxar só os músculos. –Jonny intrometeu-se. –Ele precisa relaxar a cabeça dele, estou começando a ficar preocupado. – olhou para o irmão com os olhos verdes cheios de angústia, como se tentasse adivinhar o que pensava. –Ficaram sabendo que ele não para de treinar? Eu sei que treinar é importante, mas já está começando a ficar doentio. Uma vez, o nariz dele começou a sangrar de tanto correr e o único motivo pelo qual ele saiu da quadra foi que minha mãe o obrigou.
-É sério, ? –Marcus perguntou. –Cara, você vai ficar um caco. Vê se para com isso, porque, se não, quando o jogo de sexta chegar, não vai aguentar jogar.
-Quando treino, me mantenho afastado das coisas em que não quero pensar.
-E em que você não quer pensar, Super Homem? –Jorge perguntou, voltando ao seu lugar e se sentando de um jeito dramático que fez Hanna voar para a esquerda. enrugou o nariz. Desde que levara rina para o hospital, algumas pessoas começaram a chamá-lo de Super Homem, e aquilo era irritante. Não por causa do apelido, mas porque isso só o lembrava do que aconteceu e de... E de .
Uma música do Green Day começou a tocar dos alto-falantes e o garoto encarou o irmão, que o olhava de um jeito desafiador, como se dissesse: “Ande, , diga. Em que você não quer pensar?”. Era incrível como Jonny o conhecia bem, mesmo que não contasse as coisas para ele, de algum jeito o menino descobria, Deus sabe como.
-Oh Love, oh Love... –Jorge cantarolava distraído a música, junto com Teddy, que batucava a mesa com os dedos. –Won’t you rain on me tonight?
Logan ergueu os braços num gesto dramático e balançou o tronco para frente e para trás, colocando a mão sobre o peito como quem engasgava. Assim que se recuperou, fingiu uma crise de tosse, onde fez questão de adicionar:
- !
girou os olhos. Por incrível que pareça, ele não pensara muito em nos últimos dias. Quando ligou para a casa dela, na sexta passada, seu pai atendeu e disse que ela e a Sra. tinham ido para a casa de campo dos . Conhecia aquele lugar como a palma de sua mão, e sabia que o pai de arrastava a família para lá na primeira oportunidade que aparecia.
-Hum, não, acho que é mais loira do que a . –Jackson levantou uma sobrancelha, e o garoto se manteve calado, concentrando seu olhar no chão, na esperança de que se não falasse nada, os outros parariam de enchê-lo. – Cara, sai dessa. Se eu fosse você já tinha ficado com ela há muito tempo.
-Por que continua fazendo esse joguinho de criança? Não quer deixar as pessoas se perguntando o verdadeiro motivo de toda essa enrolação. –Marcus caçoou e ergueu as sobrancelhas sugestivamente. –A menina saiu correndo atrás de você e depois de despedaçou toda para chamar sua atenção.
Jorge suspirou.
-Droga, se eu tivesse uma garota dessas correndo atrás de mim, Super Homem, eu nem sei o que eu faria.
-Nada, porque você não teria uma gata dessas correndo atrás de você. –Evan falou, fazendo os outros rirem. Jorge olhou sério para ele, que levantou as mãos na altura dos ombros, como que se rendendo. –Não me olhe assim, é verdade.
-Podemos falar sobre alguma outra coisa que não seja minha vida? – perguntou frustrado. –E além do mais, vocês não sabem do que estão falando.
-Ficou nervoso? –Logan jogou uma batata frita na cabeça dele, que revidou com uma batata que roubou do prato de Evan. –Ei, você não quer começar uma guerra, quer?
-Não, ele não quer. –ele escutou uma voz atrás dele e se virou para ver quem era. A garçonete baixinha o olhava com um tom de censura, como uma mãe que acabou de ver o filho fazendo coisa errada. Ela colocou a panqueca e o suco na frente dele, junto com a conta, embaixo do prato branco de porcelana. –Meninos, não estão mais na idade, não acham?
-Me desculpe, Amélia. –Jorge colocou a mão no peito, como se estivesse realmente arrependido. –Isso não vai mais acontecer. Não se preocupe, vou tomar conta desses meninos.
-Ok, agora eu fiquei preocupada. –Amélia brincou, fazendo-os rir de novo.
-Estão de sacanagem comigo, é isso? –Jorge perguntou bravo. –Hoje por acaso é o Dia De Curtir Com A Cara Do Jorge?
-Não é, mas a gente bem que podia inventar esse dia. –Evan riu.
-Não, querido. –Amélia deu um tapinha na cabeça dele. –É só brincadeira. –ela deu sorriso, parecendo um esquilo. A mulher sempre os atendia quando eles iam para o Fourteen e seu filho estudava na mesma escola que eles, mas nunca conseguia se lembrar do nome dela, não era bom com nomes. Ela se curvou e disse no ouvido dele: –Você sabe que é meu cliente favorito.
-Ei! –Hanna gritou. –Eu escutei o que você disse!
Jonny perguntou:
-O que ela disse?
-Ela disse que Jorge era o cliente preferido dela.
-O que?! –Jackson colocou as mãos na cabeça, como se estivesse acabado de escutar um absurdo. –Eu achei que o que tínhamos era especial, Amélia.
-Cara. – olhou para ele, com a testa franzida. Os amigos dele eram tão estranhos. Ele começou a rir. –Amélia, pode pegar um pouco de orégano para mim?
-Claro, querido.
-, me diga por que você despachou Amélia. –Jackson cruzou os braços na altura da barriga e Jorge fez o mesmo.
-Ah, desculpe se interrompi o caso de paixão platônica de Jackson por uma mulher de meia-idade. –ele falou, fazendo os outros rir. –E me desculpe por interromper seu caso com uma mulher de meia-idade, Jorge. Eu sinto muito mesmo.
-Vá se danar, cara. –Jorge respondeu. –Mas tudo bem, eu te perdoo. Amanda Kings não iria gostar de mim se eu não perdoasse o meu amigo que fez besteira.
-Amanda Kings? –Hanna perguntou. –Aquela do silicone?
Amanda Kings era uma animadora de torcida que tinha colocado silicone há duas semanas e que não precisava. Não precisava mesmo.
-Não a chame assim. –Jorge a censurou. –Me faz parecer um safado.
-Bom, você é um safado. –Hanna jogou os cabelos loiros cortados na altura do queixo para trás. Jonny deu um beijo na bochecha dela, provavelmente orgulhoso pela namorada. sorriu. Ele não sabia que os dois tinham voltado, e ficou bem feliz pelo irmão. Pelo jeito finalmente teve coragem de contar para Hanna sobre o, hum, problema dela. –E isso é nojento.
-Han, você precisa arranjar uma garota para ele. –Jonny disse. –É como nos treinos exagerados, está ficando doentio.
-Por que você não fica com Amanda Kings? –Hanna sugeriu. –Não tem nenhum segredo, ela fica com qualquer um.
-Uau, vocês estão realmente me sacaneando hoje.
-Ai meu Deus, não foi isso que eu quis dizer. –ela fez uma careta e os garotos a reconfortaram, dizendo que Jorge estava sensível demais naquele dia.
Depois que uma garçonete que não era Amélia deixou o orégano na mesa, parou de prestar atenção na conversa dos amigos. Ele olhou em volta, reparando em cada um deles. Evan ainda era calouro, e era incrível como sua simpatia conquistava as pessoas.
Já os outros, Jorge, Jackson, Logan, Teddy e Marcus, eram amigos de e desde que ele tinha uns dez anos. Era muito tempo, e logo eles todos seguiriam caminhos diferentes. Sabia que no início podia dar certo manter contato com eles, mas aos poucos cada um seguiria seu caminho e provavelmente também faria aquilo. não queria que aquilo acontecesse. Mesmo tendo errado com o amigo, sentia a falta de. Eram amigos desde sempre, e sempre foram parceiros em tudo. Todo aquele sentimentalismo inesperado fez decidir que tentaria conversar com ele assim que chegasse à April Hall. Afinal, eram colegas de quarto, precisavam conversar em algum momento. Ele só não diria a o que estava pensando naquele momento, porque sabia que o amigo iria tirar uma com a sua cara, apesar de ser verdade.
analisou Hanna e Jonny. A conexão que possuíam existia antes de começarem a sair, por meio de uma amizade. Sempre soube que Han tinha uma queda pelo seu irmão, mas o medo de não ser correspondida provavelmente falava mais alto. A garota precisou aguentar comentários maldosos das colegas da idade do menino, além de ser caçoada pelos amigos de porque andava constantemente com um garoto mais novo. Isso não parecia incomodá-la mais do que a incentivava a passar cada vez mais tempo com Jonny. Os dois tornaram-se a metade um do outro, assim como algumas pessoas gostavam de pensar que ele e rina eram, e raciocinar dessa forma era um tanto estranho para o garoto. Ele respirou fundo, tentando afastar os pensamentos singulares sobre de sua cabeça e desejando muito ter uma bola de futebol para poder treinar e parar de pensar naquilo.
Carlos Miles, seu outro amigo de infância e que também estava no time, entrou na lanchonete e os sininhos tocaram. Os garotos olharam para ele, que começou a cantar exageradamente a música que tocava nos autofalantes. sorriu. Aquela melodia era antiga, e lembrava ser muito querida por rina e .
-No, no, no, no, don’t lie. .. -ele entoava, com os braços abertos e uma cara chorosa. Teddy o vaiou, junto com os outros. –Ah, gente, qual é. Eu poderia ficar milionário com a minha voz.
-Tudo bem. –Marcus fingiu concordar, passando as mãos pelos cabelos castanhos espetados. Ele era o único que já tinha terminado de comer e chegou para o lado, dando espaço para mais uma cadeira ser colocada entre ele e Teddy. –Puxe uma cadeira aí para você, Justin Bieber.
-Você é hilário, Marcus.
-É bom você achar, estou me espremendo pra você poder sentar com a gente.
-Não se preocupe Carlos, com esse seu rostinho ninguém vai ligar se canta bem ou não. –Hanna o confortou, lançando-lhe um sorriso bonito. –Sorte a sua que tem beleza e talento. Quer dizer, qualquer garota morreria pela sua atenção, sendo você famoso ou não.
-E aí, onde você estava? –Jonny perguntou, inclinando-se para frente, apoiando o queixo nas mãos e fingindo muito interesse. Seu irmão deixou escapar uma risada, quase entornando sua bebida da boca. O olhar que seu irmão lhe lançou foi o suficiente para que percebesse que não deveria tê-lo feito, pois o que veio em seguida foi a voz de Logan cantarolando:
-Alguém ficou com ciúmes.
-Não seja ridículo. –Jonny disse, entre dentes, as bochechas ganhando um leve tom rosado.
Hanna deu um beijinho em sua bochecha, fazendo com que a carranca diminuísse no rosto do namorado.
-Oh, que fofo.
Logan falou num tom sério.
-Devem ser os hormônios da pré-adolescência, eu também era bem ciumento.
-Vá à merda, Logan. –Jonny respondeu irritado, causando risos aos que estavam ao seu redor. –O que você estava fazendo mesmo, Carlos?
-Ah, Annie pediu ajuda com algumas coisas.
Annie era a namorada de Carlos há três anos, e sempre se perguntava como ele conseguia fazer um relacionamento durar por tanto tempo, ainda mais porque sua garota estudava em um internato do outro lado da cidade e eles se viam raramente. O amigo demorou um tempão para reconhecer que havia se afeiçoado à menina, mas quando admitiu para si mesmo, nada o deteve. Ele acordava no meio da noite querendo ligar para Annie e convidá-la para o Baile, só para ter certeza de que não haveria nenhuma possibilidade da menina estar comprometida com algum outro compromisso no mesmo dia. Era até meio estranho, mas ele conseguiu depois de tanto esforço.
-Você devia se casar com essa garota de uma vez. –Jackson suspirou e Marcus e Evan concordaram. –Não enjoa de ficar sempre com a mesma pessoa?
-Ela não é só minha namorada. –Carlos respondeu, dando de ombros. –Somos amigos, acho que é por isso que dá certo. Às vezes, quando vou visitá-la, passamos todo o tempo que temos conversando.
Legal. remexeu-se em sua cadeira, desconfortável, como se o assento estivesse infestado de bolinhas de gude.
-Ei, , o que há de errado com você? –Logan perguntou. –Pensando na rina de novo?
-Já chega, eu vou acabar com você. – gritou, jogando um monte de batatas nele.
Logan arregalou os olhos e começou a rir. Ele fez bolinhas com o guardanapo e jogou no amigo também, mas essas bateram na cabeça de Teddy, que se levantou e entrou para a briga. Aos poucos, conseguiram fazer todo mundo da mesa entrar naquela briga ridícula, até que foram expulsos da lanchonete.
*
Capítulo 129 – “ I’ M A HURRICANE”


Samantha Johnson relaxou nas espreguiçadeiras da April Hall. Vestia seu biquíni roxo e seus grandes óculos escuros que comprou depois que a ameaçara e ela ficou louca da vida. Toda vez que precisava relaxar a única coisa a fazer era um rodízio de compras. E nada melhor para fechar sua sessão de relaxamento do que mergulhar naquela piscina maravilhosa enquanto fingia estar tudo bem. Sabia perfeitamente que não conseguiria lidar consigo mesma se continuasse na desvantagem daquela forma. Era até como se estivesse perdendo para , mesmo que não existisse nenhuma disputa no momento.
Possuía motivos para ficar relaxada: seu retorno causara as reações esperadas, os problemas que possuía fora da cidade permaneceriam longe e sua viagem do feriado foi espetacular. Apesar de sentir falta de casa, uma oportunidade de ir para a praia nunca poderia ser desperdiçada, mesmo que não levasse ninguém consigo. Havia uma pessoa que gostaria de levar, porém aquela ainda não era a hora. A companhia de sua mãe e irmã para o litoral foi praticamente inexistente. Cada uma foi para um canto e ela praticamente nem viu a irmã, que, aliás, estava fugindo dela. Entendia a aversão que Liz possuía a seu respeito, e isso a irritava um pouco às vezes. Não que tivesse ficado sozinha, sempre conseguia se enturmar com algum grupo de amigos.
-Ei, Sam! –Naomi Young cantarolou se sentando ao lado dela e a tirando de seus devaneios. Os pensamentos da menina estavam longe, ainda se lembrando dos pés furando a areia da praia enquanto caminhava e das festas que foi. Um par de olhos castanhos ia e vinha em sua memória, como flashes de lembrança, e ela possuía a sensação de que eram sinônimos de problema. Sorriu consigo mesma por causa disso, e só parou quando o rosto da garota ao seu lado se encontrava perto demais. Ela e Naomi costumavam sair bastante quando Sam ainda morava na ali, e a observou erguer uma toalha e cobrir a espreguiçadeira. Ela tirou o vestido branco de algodão que usava por cima de seu biquíni marrom. Naomi parecia uma Barbie. –Senti sua falta.
-Eu também senti sua falta, lindinha. –sorriu sem mostrar os dentes, surpreendendo-se consigo mesma ao notar que estava sendo sincera. A presença dela era constante em sua vida, e podia dizer que sentia saudades de ter alguém animada como Naomi por perto. –A April Hall ficou muito chata sem mim?
-Você não faz ideia.
Samantha abriu a boca para falar mais, mas a fechou no segundo em que viu a irmã. Liz passou por elas com , a namorada de David. As duas foram até o outro lado da piscina e se sentaram para tomar sol. Sam sorriu, imaginando que as pessoas de sua família de fato possuíam um pouco de maldade. Deveria ter deixado um belo recado, se sua irmã tentava fazer amizade com a namorada do garoto que ela gostava. A menina nunca pareceu ser o tipo de pessoa engenhosa demais, que possuía planos um tanto maliciosos. Porém, ao vê-la ali, se divertiu com a situação, e decidiu que gostaria de fazer parte dela.
-Liz! – gritou. Liz olhou em tom de alerta na direção dela, sabendo a quem a voz pertencia, e quando a viu, fechou a cara. olhou de uma para a outra e fez o máximo para esconder uma careta, falhando miseravelmente. Sam correu para onde elas estavam e se sentou na ponta da espreguiçadeira onde a irmã acabara de deitar.
-Se importa? –Liz perguntou impaciente. –Está tampando o sol.
-Então, vocês duas são amigas? –Sam perguntou de um jeito provocador. a olhou como se quisesse que a garota explodisse logo. –Está tentando recompensar David pelo o que você fez?
Sua irmã tentou aparentar indiferença ao ouvir o nome do menino.
-Do que você está falando?
-Ah, você não contou para ela, ? Eu pensei que fossem amigas.
-Não precisa fazer isso, Samantha, está perdendo seu tempo. – resmungou. Ela tirou a toalha que estava enrolada no corpo, exibindo seu maiô vermelho com aberturas na cintura. Em seguida, fez um coque em seu cabelo liso e colocou seus óculos escuros estilo aviador. –Acho que sua espreguiçadeira estava mais confortável.
-Não seja assim. –Sam fez biquinho com seus lábios cor de rosa. –Eu só quero fazer companhia para a minha irmãzinha. Nós não ficamos juntas a tanto tempo e na viagem que nossa família fez ela tentou de tudo para não ficar perto de mim.
-Tenho certeza que você pegou a mensagem. –Liz deu de ombros. –Samantha, nós não somos amigas, e por mim tudo bem. Não precisa inventar coisas a respeito dela.
-Inventando, eu? –Sam colocou uma mão sobre o peito, como se a irmã fosse doida. Ela analisou , que estava claramente desconfortável. –Eu só estava dizendo que...
-Meninas. –ela ouviu uma voz grossa e rouca bem familiar gritando ao longe. Era maravilhosamente bem em sua camisa inexistente, seguido por e David. Os três foram até a mesa em que elas estavam num ritmo quase que em câmera lenta. O menino olhou de Sam para Liz, e depois de Sam para e depois de Liz para , parecendo confuso e um tanto apavorado, sabendo que era tarde demais para fugir.
-Ei, meninos. –Sam deu um gritinho. Ela olhou para , que vestia um vestido azul coberto de flores brancas por cima de um biquíni, que pelo o que ela podia ver da alça escapulindo pelo pescoço dela, também era azul. –É , certo?
-Isso. –ela deu um sorriso simpático. Sam lutou contra a vontade de torcer o nariz. tinha saído de – que era destemida, confiante e até um pouco cretina quando se tratava de conseguir o que queria, parecida com ela mesma. – para uma garota que irradiava luz do sol e parecia até ser feita de porcelana? E que, ainda por cima, era baixinha? –Oi, ! –ela olhou para Liz. –Desculpe, mas não nos conhecemos ainda.
-Essa é a Liz. –David se intrometeu, dando uma piscadinha para Liz, que riu. Oi? Sam não sabia se vomitava ou se gargalhava. Será que sua irmã poderia ser mais óbvia? Encaixou os olhos sobre a figura do garoto que realmente a interessava, gostando bastante do que via e fingindo não ter percebido a interação entre os dois.
-Estávamos falando sobre a sessão de cinema. –Sam percorria seus olhos verdes pelo menino, que vestia somente um calção branco. O cabelo dele estava penteado para trás, de uma maneira que um meio topete se formou, realçando seu maxilar.
-Não, nós não estávamos. –Liz se apressou em dizer, gerando um olhar de censura da irmã, o qual, nesse momento, a menina não apresentou dificuldades em ignorar. –Na verdade, Sam estava dizendo que precisava voltar para a mesa dela porque Naomi pode ficar com saudades.
-Oh, querida. –Sam soltou um riso falso. Liz podia muito bem parar de falar. –E aí, , o que você achou dos filmes que passaram ontem?
-Hum? – se assustou, como se nem mesmo estivesse naquele mundo. Samantha olhava de um jeito provocador para ela, que gemeu. –Estavam legais. Os filmes.
-Jura? –ela sorriu. –Você conseguiu prestar atenção no filme com o casal ao seu lado se agarrando daquele jeito?
abaixou os olhos azuis, com uma expressão devastada. O casal que estava ao lado dela era e. Bem, isso antes dele decidir ir para a sala de projeção.
-Vocês não vão acreditar no que eu vi ontem! –Samantha continuou, com uma voz animada. –Encontrei a Anna traindo o Brett. Dá para acreditar? – ficou mais branca do que o normal e olhou para a garota com súplica. –Imagine, você está assistindo tranquilamente seu filme sem nem imaginar que no quarto ao lado sua namorada está te traindo com outro, que aliás, é o ex dela! Pobre Brett.
-Sam. – grunhiu.
-Deve ser terrível, não acha, David?
-É claro. –ele franziu a testa. –Que papo é esse, Samantha?
-Só estou contando. Eu vi muita coisa ontem.
-Hum, eu e vamos até o Jason pegar churrasco. – disse, puxando para longe dali. Ele devia ter sacado que Sam estava planejando alguma coisa. Não era de se admirar, pois houve um tempo em que os dois eram bem próximos, uma amizade formada primeiramente em razão do interesse da garota por David. Mesmo que sua relação com ele fosse perturbada e nem sempre se comportava da melhor maneira do mundo, havia essa época em que podia confiar seus segredos ao menino, e sentia falta de tê-lo como amigo, sobretudo porque desconfiava que passasse longe de ser uma das pessoas favoritas dele atualmente.
-Eu não suporto esse tipo de pessoa. –Sam deu de ombros. –Que trai os namorados. Se você quer ficar com outras pessoas, é só terminar. Não se pode ter tudo, certo, gente?
-É. – concordou, sentindo uma inveja imensa de por ter conseguido escapar dali, e imaginando que o motivo pelo qual decidiu ficar longe era para não ser obrigado a escutar tamanha hipocrisia. A raiva teria dominado seus sentidos, não estivesse ela em estado de alerta, o pânico crescendo cada vez mais em seu peito.
-Que bom que vocês dois concordam com isso. –ela apontou para e David com um sorrisinho maligno no rosto. –Significa que nunca terão esse tipo de problema.
-David. – quase sussurrou. Ele voltou sua atenção à namorada, parecendo um tanto intrigado, mas não muito perturbado com a conversa. –Eu vou com Sam pegar o bronzeador dela emprestado.
-Tudo bem. –David deu um beijo na bochecha dela, e por um segundo Liz e Sam pararam meio estáticas, tendo um momento somente delas. sorriu amarelo e puxou Sam para a borda da piscina, deixando David com Liz.
Quando teve certeza de que ninguém ouviria, respirou fundo e olhou em volta mais uma vez.
-Eu já entendi o que você está fazendo. –ela falou, com as bochechas vermelhas. –Pode, por favor, parar com isso?
-Não sei do que está falando. –Sam enrolou uma mecha dos cabelos ruivos brilhantes no dedo indicador, sem se importar em esconder um sorriso.
-Não se faça de boba. –ela colocou as mãos na cintura. – me prometeu que nenhuma das duas falaria nada.
- prometeu, eu não prometi nada.
-Olha, eu não sei o que vocês duas combinaram, mas eu fui informada de que ninguém abriria a boca sobre esse assunto. – a menina estava tão nervosa que se esqueceu de ser educada. -Dá para cumprir com a sua parte do trato?
-Eu não ia falar nada. –Sam colocou as mãos na altura dos ombros. –Quer dizer, uma hora você vai ter que contar para o David o que fez, só estava te ajudando com isso.
-Muito obrigada. – agarrou o pulso dela, cravando suas unhas pintadas de vermelho sangue em sua pele. –Eu não preciso da sua ajuda.
-, você nem gosta de David. –ela puxou o braço e o analisou para ver se aquela animal tinha feito algum estrago em sua pele perfeita. Não. Sorte dela. –Eu não sei por que está com ele, se realmente tivesse algum sentimento, não teria feito o que fez. Está tentando provar alguma coisa?
-Você não sabe de nada, e não que eu precise me justificar,, mas gosto dele.
-Sei. –ela se afastou um pouco, não acreditando nem por um segundo. –Bom, que pena. Acho que devo te avisar que vai ficar decepcionada.
Sam sorriu e se virou de costas para , voltando para onde David estava. Era assim que as coisas tinham que ser, e ela não se importaria com os possíveis sentimentos da menina quando conseguisse seu ex-namorado de volta. Escutou um barulho atrás dela e foi se virar para ver o que era, quando avisto a imagem descontrolada da menina correndo na sua direção, como se estivesse tão possessa que não fosse mais capaz de agir racionalmente. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, ela já tinha sido empurrada para dentro da piscina.
A água gelada tomou conta de seu corpo, e em vez de refrescá-la, pareceu cortar sua pele. Quando chegou à superfície, seu olhar cruzou com o de , que parecia ao mesmo tempo assustada e orgulhosa de seu ato. Apesar dos olhos arregalados mostrarem surpresa, um singelo brilho aparecia ali, o qual não passou despercebido por Sam, que ficou boquiaberta. Tanta coisa passou por sua cabeça que por um momento não foi capaz nem de se mover. Pensou em todos os rostos surpresos que encontrou ao voltar, no olhar trocado pelo garoto e sua irmã, no fato de que a menina que a jogou na piscina era a namorada dele e por fim que ela estava dentro da piscina. Quando se deu conta da raiva que sentia, não admitiu continuasse parada.
-Socorro! –ela gritou, começando a fingir que estava afogando. Deu pulinhos na água e mergulhou um pouco, olhando com súplica para . –Câimbra!
-Ah, qual é. – riu. –Acha que eu vou cair nessa?
Sam continuou gritando por socorro, mas dessa vez mais alto ainda, dando seu máximo. Até que David apareceu atrás da namorada e levou um tempo considerável para assimilar a situação, permitindo que a menina mergulhasse por mais uns vinte segundos.
-Câimbra!
David logo pulou na água, esticando os braços e nadando com agilidade até onde a garota pedia por ajuda. Envolveu as pernas dela e a pegou no colo para que pudesse carregá-la com mais facilidade. A pele do garoto estava quente, e quando entrou em contato com a sua, gelada, Sam suspirou e fechou os olhos, o que assustou o menino, fazendo com que ele nadasse mais rápido. Sam foi levada para a borda da piscina e colocada com delicadeza no chão. Observou com os olhos meio fechados a imagem do garoto, os olhos claros e brilhantes um tanto transtornados, mas ao mesmo tempo pareciam serenos. Os pontinhos mais claros de sua íris contribuíam para que a expressão do olhar do menino nunca fosse facilmente decodificada. David pressionou seu peito com as mãos, para que ela pudesse jogar toda a água pra fora, e Sam fingiu tossir repetidas vezes para que ele tivesse certeza de que era real. Sentiu vontade de rir, mas fez o possível e o impossível para se conter.
-Você está bem? –ele gritou, e então não restou dúvidas de que estava um tanto desesperado. Quando dirigiu seu olhar para , encontrou namorada boquiaberta e com as sobrancelhas unidas de confusão. –Por que está parada aí? Chame alguém!
-Não precisa. –Sam fez a sua voz mais sofrida, reparando que a situação já chamara atenção demais. Ela olhou para David, que a encarava como se ela não soubesse do que estava falando. –Eu estou bem, eu acho.
-Consegue respirar normalmente? –Sam assentiu com a cabeça, passando as mãos finas pelos cabelos molhados. O garoto olhou para de novo, parecendo bravo. –Ela estava se afogando na sua frente e você não fez nada?
-Eu... não tinha certeza... pensei que era mentira... – gaguejou.
-Ia esperar ela morrer para ter certeza se era verdade?
-Não fique bravo com ela, David. –Sam fez biquinho e pegou levemente o pulso dele.
-Sam, ela estava olhando enquanto você pedia por ajuda!
-Eu não vejo motivo para ela ter me ajudado. – sorriu porque David a chamou pelo apelido depois de tanto tempo. –Quem você acha que me jogou?
-O que?! –seu rosto se contorceu numa expressão estranha, e cravou os olhos na namorada, como se implorasse que ela dissesse que era mentira. –Isso é verdade?
-Bom, é, mas... – começou a se justificar, a voz não saindo e as palavras fugindo, tamanho o choque que sentia.
-Nem tenta.
David se levantou e saiu de lá, deixando as duas sozinhas. possuía um olhar desolado no rosto e por um momento Sam achou que ela iria bater nela. Mas a garota fechou os olhos com força e falou:
-Eu não acredito que você fez isso.
-A culpa não é minha se me jogou na água e eu não sei nadar.
Ela riu e olhou em volta: nem sinal de David. Sam pulou na água de novo e mergulhou até o outro lado da piscina, onde Naomi a esperava com uma revista na mão. A água gelada dessa vez a refrescou, como ela esperava há dias.
Quando saiu da piscina e vestiu o roupão que Naomi a entregou, constatou que ainda a observava. Naomi jogou seus cabelos loiros para trás e retocou seu brilho labial de cereja.
-Ensinando uma lição para as calouras?
Samantha sorriu.
-Alguém precisa.
*
Capítulo 130 – “ DON’ T HANG YOUR HEAD, LOVE SHOULD MAKE YOU FEEL GOOD”


concordava que o que havia acabado de acontecer poderia lhe dar uma impressão muito ruim, mas não podia mais voltar atrás. Não conseguia pensar em um momento de sua vida em que algo parecido acontecera, já que avançar em alguém daquela forma nunca pareceu estar em sua capacidade. Talvez fosse estresse pré-testes finais, ou talvez possa ser os hormônios, as meninas sempre o usavam como desculpa, não poderia ser tudo invenção delas. Sentia como se não puísse mais controle sobre si mesmo, e nunca achou que se sentiria dessa maneira. O garoto se deixara levar pela raiva mais uma vez, era assustador. As besteiras que andava fazendo poderiam não ter mais concerto, e o medo de tal situação somente parecia incentivá-lo a fazer mais besteiras ainda. iria precisar de muito esparadrapo para poder emendar tudo aquilo.
o pegou pelo pulso sem muito cuidado e começou a guiá-lo até a enfermaria. Quando viu que ele já estava indo, soltou-o rapidamente e deu passos firmes sem nem olhar para trás para conferir era acompanhada mesmo. Como a porta da sala estava fechada, os dois tiveram que se sentar em duas cadeiras das que ficavam em frente à porta, onde a Sra. Gonzalez trabalhava. A Sra. Gonzalez era uma velhinha com cabelos brancos grisalhos na altura do queixo e olhos azuis calorosos, que trabalhava como enfermeira do colégio há anos, e mesmo já idosa, sabia perfeitamente como fazer seu serviço. nifer olhou em volta, esticando o pescoço para ver dentro da sala reserva, mas nenhum outro ajudante da mulher estava lá.
Ela respirou fundo, tentando se acalmar. A sala de espera estava tão silenciosa que temeu que escutasse seu coração quase pulando do peito. Quando ela fantasiou que ele ficaria tão irritado que bateria em , não passava disso. Uma fantasia. Nunca poderia imaginar que aquilo iria realmente acontecer. Estaria mentindo se dissesse que não havia gostado nem um pouco daquilo, a ideia de ter o garoto brigando assim por ela não era nada repugnante. Mas as coisas não podiam acontecer daquele jeito, apesar de seus sentimentos, não podia ceder facilmente. Ele cometeu um erro e ela precisava ensiná-lo uma lição.
-Está doendo muito? –ela perguntou enquanto tocava a campainha em frente à sala de reparos. direcionou seus olhos verdes para ela, sem virar a cabeça e engoliu em seco, lutando contra a vontade de desabar.
-Não. –o garoto respondeu jogando seus cachos para trás, pra que não se encostassem no sangue na sua testa, que temia em escorrer pelos dedos, e aquilo deixava meio que em pânico. – não é tão forte assim.
A menina assentiu com a cabeça e olhou impacientemente para a porta, como se pudesse fazer a Sra. Gonzalez abri-la mais rápido se concentrasse bastante. Como que por força da mente, a figura baixinha e serena da enfermeira apareceu em uma frestinha da porta. Ela varreu os olhos azuis por e depois por , arregalando um pouquinho os olhos.
-O que foi que aconteceu com você? –ela perguntou, encarando-o como se ele tivesse com um buraco negro no lugar do rosto.
-Eu tropecei perto do campo de futebol. –ele justificou. –Tem umas pedras bem pontudas lá.
-Sei. –ela torceu os lábios, não acreditando nem um pouco na desculpa que ele tinha inventado. A mulher foi para mais perto de e levantou o queixo dele com sua mão pequenina. Ela analisou bem o corte, estreitando os olhos um pouco. –Está ardendo? Você se sente tonto?
-Estou bem.
-Certo... Acho que não vai ser necessário dar pontos. Pode esperar um pouco? Estou com um calouro que acabou de sair de uma briga.
-Será que não tem problema? – perguntou, preocupada. A testa dele estava sangrando demais e ela não conseguia olhá-lo sem ficar aflita. olhou para ela com o canto dos olhos e os cantos de sua boca se curvaram para cima numa fração de segundo, movimento que a garota fez o máximo que pôde para ignorar, e certamente teria conseguido, não fosse o frio na barriga que sentiu. – Quer dizer, nenhum risco?
-Não. –ela procurou algo em seu avental branco, mas a única coisa que tinha lá dentro eram esparadrapos e um saquinho de papel cheio de agulhas. Ela entrou dentro da sala e voltou com um pano branco, que o entregou para colocar em sua cabeça. –O corte não está muito fundo, só um pouquinho grande. Esperem um pouco.
Ela voltou para sala de onde tinha saído, deixando os dois sozinhos novamente. olhou de esguelha para , que estava concentrado na porta que havia sido fechada há pouco. Um silêncio tomou conta da sala, deixando-a desconfortável. Tanta coisa estava passando pela cabeça dela naquele momento que aquele era a quietude mais barulhenta que ela já presenciara.
-Você pode ir, se quiser. –ele quebrou o silêncio e ficou aliviada por alguém ter dito alguma coisa. O menino sorriu. –Está tudo bem, já sou grandinho.
-Para com isso. –nifer disse séria. olhou para ela, finalmente inclinando a cabeça em sua direção. –Quer dizer, se olha no espelho, não está tudo bem.
-Claro que está, esse pano já impede que o sangue saia, e daqui a pouco a Sra. Gonzalez vai me ajudar a fazer um curativo, depois de me torturar com aquela sabonete de coco que eu odeio, mas por mim...
-. – o cortou, e sua voz tremeu ao dizer o nome dele. Fazia muito tempo que ela não o chamava de . Como podia fazê-lo entender que estava sendo um idiota? O motivo pelo qual terminou com ela, segundo ele, era que não a reconhecia mais. Mas o que ela conhecia não armaria toda essa confusão. –Não está tudo bem.
Observou o garoto abaixar a cabeça, parecendo entender finalmente o que ela queria dizer. Procurou por algum sinal de arrependimento ou de tristeza em seu rosto, mas ele parecia apenas cansado. O único barulho que escutava era o dos passos do pessoal da peça e ela sabia que deveria dizer algo sobre o que acontecia com os dois. Se pelo menos conseguisse falar alguma coisa.
-Então, meninos. –a Sra. Gonzalez enfiou sua cabeçinha de dentro da sala, dando um sorrisinho carinhoso. –Esse coitadinho aqui vai demorar. Não é muito certo da minha parte, mas estou sem meus ajudantes agora. Você não pode lavar a fazer o curativo para mim, nifer?
-Eu? –ela gaguejou. Não se considerava a melhor pessoa para isso, era desastrada, não conseguia cozinhar nada sem se queimar. Imagine fazer um curativo em alguém. Ela ia acabar enfaixando a si mesma na tentativa de cobrir o machucado de .
-É, querida. Não é difícil. Vocês podem usar a sala reserva.
-Tudo bem. –ele respondeu antes que tivesse a chance. A enfermeira deu um sorrisinho satisfeito e voltou ao trabalho. Ela olhou para de cara feia. –O que foi?
bufou e se levantou, indo em direção à sala reserva. Depois que se sentou na maca branca no meio da sala, ela fechou a porta.
A sala reserva era um quarto azul-claro com várias prateleiras de madeira cobertas com vidro e duas poltronas brancas em um canto. A maca ficava no meio, ao lado de uma cômoda na direita. Na esquerda, outra cômoda continha vários equipamentos médicos e ao pé da maca, onde estava sentado, uma mesinha cheia de outras coisas médicas ocupava o local. A sala tinha cheiro de sabonete de coco misturado com remédio, daqueles que a Sra. iam passava nos ferimentos de quando ela era criança.
estava sentado com a cabeça virada para o teto e o pano repousando em sua testa. Ele tinha as duas mãos nos lhos, como um garotinho se sentava quando vai ao médico. Ela mordeu a parte de dentro de suas bochechas para não sorrir. pegou o pulso de pela segunda vez no dia, com as mãos tremendo um pouco. Ele voltou a cabeça ao normal, fazendo o pano ensanguentado cair em seu colo.
-Não vou te machucar. –ela prometeu, enquanto pegava o pano da mão dele e jogava para o lado. assentiu com a cabeça, olhando-a nos olhos enquanto ela pegava outro pano limpo e molhado para limpar o machucado dele.
Enquanto passava o pano do jeito mais delicado que conseguiu na testa dele, ainda a encarava, e aquilo a desconcentrou. Ela pegou um pouco do sabonete de coco que ele odiava e deu um sorrisinho antes de passar no rosto dele, para se livrar do sangue seco. riu, e os sentimentos se misturaram no peito da menina.
Ela pegou uma gaze com um remédio para ferimentos e passou em cima do corte, e fechou os olhos. se sobressaltou desorientada por ele estar sentindo dor.
-Não precisa se preocupar comigo. – falou mais devagar que o normal, quase que em câmera lenta. Ou isso ou aquilo tudo estava acontecendo devagar demais na cabeça de . –Continue fazendo o que precisa fazer.
-Sabe, , nós nem estaríamos aqui se você não tivesse surtado. –ela mordeu o lábio inferior, surpresa por ter tido coragem de finalmente dar bronca nele.
-Nem precisa me dar sermão porque eu já sei que o que fiz foi errado. –ele abriu os olhos e a olhou de novo. desviou seu olhar para a mesa onde tinha deixado o pano com sangue dele. –Mas se eu precisei me machucar para que nós dois pudéssemos estar aqui agora, então não me arrependo do que eu fiz.
parou o que estava fazendo imediatamente, percebendo que tocar naquele assunto para ter outra coisa em que pudesse se concentrar não foi a melhor ideia de todas. Ela estava se agachando para pegar mais remédio, procurando onde a Sra. Gonzalez os guardava, e quando escutou dizendo aquelas palavras ficou estática. Seu estômago deu uma cambalhota e ela começou a ficar ansiosa. Quando seus lhos começaram a doer, se tocou que a encarava e que ela precisava continuar com o que estava fazendo.
-Não, você não pode fazer isso. –passou mais remédio na cabeça dele, que dessa vez manteve os olhos abertos. Sua voz soou ridícula, e sentiu vontade de sair correndo. –, você não podia ter batido no do jeito que bateu. Ele é meu namorado agora e esse assunto não te diz respeito.
-Então é verdade? –ele olhou tristemente para , que sentiu um aperto no coração ao concordar com a cabeça. O olhar do garoto mudou tão bruscamente que ela achou que ele começaria a chorar. Ela só queria chorar. –, e a mensagem que eu te enviei?
-Eu recebi. É uma pena, agora estou namorando outra pessoa.
-Mas eu pensei que...
-O que? –ela subitamente ficou brava. De repente, tudo o que sentiu nos últimos dias voltou à tona. Não podia ficar com pena de , ele precisava saber tudo o que ela estava pensando. –Pensou que eu aceitaria numa boa você terminar comigo para ficar com rina, e depois que tivesse experimentado, eu te aceitaria de braços abertos? Você não pode fazer isso, . E você não tem o direito de ficar bravo com por ele ter dito que é meu namorado.
-Eu não terminei com você para ficar com a rina, eu terminei porque você estava fora de si. O lance com a só aconteceu. E só pedi um tempo.
-Chame como quiser. O lance com o só aconteceu também. – olhou para ele, que realmente parecia triste. –E eu sei que eu comecei a ficar chata por causa do meu ciúme e que não estava muito compreensiva. Sei que não tenho encarado essa pressão toda do futuro muito bem. Mas isso não era motivo para você terminar comigo, nós precisávamos ter passado por isso juntos. Precisávamos ter discutido o que eu estava fazendo de errado para que eu pudesse tentar enfrentar.
-, você não escutava ninguém! Eu tentei te falar, como você não escutava, desisti.
-Você desistiu. –ela olhou para baixo. Ela se lembrava do dia em que tivera aquela conversa com ela, parecia ter sido há tanto tempo. E foi tão estranho, tão surreal. – Viu qual foi o nosso problema? Você desistiu, .
-Não é assim. Você entendeu errado... Eu nunca desistiria de você. –ele começou a se levantar para poder tocá-la, mas o empurrou de volta para a maca. –O que mais eu poderia fazer?
-Pois foi o que pareceu. Imagine como eu me senti triste e sem entender nada, e depois, quando soube da , me senti tão humilhada. –ela respirou fundo, tentando se acalmar. –Eu sei que ajudei a estragar nosso relacionamento, mas o que você fez foi muito mais errado.
-Eu sei. –ele olhou para baixo. levantou a cabeça dele para cima com a ponta dos dedos e colocou o curativo da forma mais delicada e rápida que conseguiu. –Será que algum dia você vai me perdoar por tudo isso?
-Eu já te perdoei, porque preciso te perdoar. –ela engoliu e a saliva queimou em sua garganta. O menino tentou olhar para ela com a cabeça levantada e acabou ficando vesgo. –Mas não sei se as coisas vão poder voltar a como eram antes. Quem garante que você não vai pular fora na primeira dificuldade que tivermos?
-nifer. –ele pegou os pulsos dela. –Não é como se fôssemos um casal recente. Não acha que nós já passamos por dificuldades o suficiente?
-Acho. E podemos passar por mais. – se soltou dele e foi para o outro lado do quarto para jogar algumas sobras no lixo. Encarou o garoto com um nó na garganta. –Mas você nunca pulou fora e nenhuma delas, e nunca ficou com outra dois dias depois.
-Não vai me perdoar por causa disso?
-Eu já falei que já perdoei.
-Então, como vai ser? Ficará me torturando por causa do meu erro?
-Foi isso que você fez durante esses dias. –ela deu de ombros. –Foi exatamente isso que você fez.
-...
-Não, eu acho melhor eu ir embora. Seu curativo está pronto, troque à noite.
Antes que ele pudesse responder, correu para o corredor do sétimo ano, passando pelo outro corredor de armários em que a briga acontecera há pouco tempo. O que ela tinha acabado de fazer era loucura, mas pelo menos falou tudo o que pensava. E naquele momento, ela pensava coisas demais para poder raciocinar direito.
*
Capítulo 131 – “IF GOD IS A DJ, LIFE IT’S A DANCE FLOOR”


só via um borrão preto na sua frente. Ele não sabia o que acontecia ao certo, será que tinha desmaiado? Não havia barulho nenhum em volta dele e ele nunca havia se sentido tão bem, mesmo que tudo o que enxergasse fosse um grande preto. Será que tinha morrido? Quando era mais novo, esse tipo de pensamento não era incomum a ele, e vez ou outra se pegava refletindo sobre como seria a vida após a morte. Lembrava-se do olhar preocupado de sua mãe, temendo que o filho estivesse com uma depressão ou algo parecido, mas era apenas uma criança que pensava demais. Inclusive Jonny tinha aquela teoria de que quando as pessoas morriam, elas viravam nuvens e era por aquele motivo que o céu possuía tantas nuvens.
De repente, ele viu alguma coisa. Começou por algo dourado, algo que ele não pôde identificar direito o que era, mas sabia que conhecia aquele brilho. Quando sua vista foi ficando menos borrada, percebeu que o objeto dourado na sua frente era cabelo. De rina. Ela estava deitada em sua cama, bem na sua frente. Ele olhou em volta e a luz do dia, que entrava em algumas partes descobertas pela cortina da janela, queimava em seus olhos. Como amanhecera tão rápido? Não fazia nem cinco minutos que fora dormir e quando abriu os olhos novamente, já era dia. E definitivamente não estava ali na hora que ele se deitou.
Até que o garoto começou a se mover, e seu cérebro entrou em estado de alerta, pois era como se não controlasse seus movimentos, como se fosse apenas um expectador. Mexia-se vagarosamente, semelhante a alguém embaixo da água. Quando estudou o corpo humano em Biologia, não era assim que havia aprendido. O que estava acontecendo? E por que estava tão próxima dele?
Ele se aproximou ainda mais e passou os braços em volta da menina, puxando-a para si. O rosto de se encostou a seu peito musculoso, com o nariz e a testa colados na pele dele. A garota estava quente, ao contrário de , e ele aproveitou a ocasião para se esquentar também. Era reconfortante ficar com em seus braços e ele até começou a pensar que estava gostando daquilo. pôde sentir os cílios dela batendo em sua pele. Ela inclinou a cabeça para cima para poder olhá-lo, sem entender direito o motivo daquele abraço tão caloroso. Ao ver seu rosto inclinado daquela forma, um olhar tão doce e confuso, o menino sorriu e falou:
-Bom dia.
-Bom dia... Por que esse carinho todo? –ela perguntou com a voz rouca, sem querer fazendo se arrepiar. O garoto não sabia lidar muito bem com aquele tipo de voz, e o som passando por seus ouvidos fez com que sentisse o efeito imediatamente.
-Você cuidou de mim. –ele disse simplesmente. sorriu e deixou ser abraçada, colocando seus braços em volta do pescoço dele.
O olhar prolongado que os dois trocaram causou algo estranho no menino. Ele não pensou direito: colou seus lábios nos da garota e começou a beijá-la. No início, ela ficou paralisada, sem saber o que fazer. Depois, beijou-o também. não queria parar, ele só... Queria. Ela passou as mãos pela barriga malhada de e ele subiu em cima dela, quase explodindo. Sua boca parecia ser a parte mais sensível de seu corpo naquele momento, pois a sensação que o toque macio dos lábios dela era enlouquecedora. Começou a beijar o pescoço da menina, percebendo que a respiração de rina passou de rápida para pesada em questões de segundos. se apertou mais contra ela, voltando a beijá-la. Sentia que ainda não estavam próximos o suficiente, e a ânsia de se aproximar mais ainda estava se tornando gigante. puxou os cabelos dele um pouco e ele começou a tirar a blusa que ela usava.
Ele não entendia nada do que estava acontecendo, só sabia que já tinha vivenciado aquele acontecimento. Era como se o cérebro dele tivesse gravado aquelas imagens e lhe mostrasse o replay. Até que tudo ficou preto novamente e depois seu quarto escuro voltou a seu plano de vista, junto com um grito.
-Que? –ele gritou, sem fôlego, depois de se levantar num pulo. Seu peito subia e descia rapidamente, mostrando sua respiração ofegante. Estava suado como se tivesse acabado de correr uma maratona. Jonny riu parado em frente a ele. –O que faz aqui?
Observou o irmão se aproximar.
-Cara, você está bem?
-Eu... – olhou em volta. Parecia tudo normal demais. Ele olhou para onde estivera, ao seu lado, na cama, lembrando-se então. Aquela lembrança acontecera depois da Festa do Luar, quando ela foi para a casa dele e os dois acabaram dormindo ali. O menino não sabia como nem porque, só sabia que se sentiu do mesmo jeito estranho que sentira quando ela tinha ido embora. –Eu tive um sonho estranho.
-Estranho? –Jonny curvou os cantos da boca para baixo e enrugou o nariz, com uma expressão enojada. Ele apontou com seu dedo indicador para o travesseiro de . –Estranho é quando você descobre que a comida na geladeira acabou antes que percebesse, quando você acha que viu alguma coisa que na verdade não viu. Mas isso... Isso foi perturbador.
-Do que está falando?
-Cara, eu passei pra ver se você animaria jogar boliche comigo e com Hanna, e quando chego, te encontro tendo um caso com seu travesseiro. No que diabos estava sonhando?
-Em nada. –ele passou as mãos pelo rosto, atordoado. O relógio de vidro do outro lado do quarto marcava nove e vinte da noite. Depois de treinar feito um doido, ele voltou para casa e caiu na cama. –Eu acho que estou ficando louco.
-Ah, é? –Jonny se sentou ao lado do irmão, com um sorrisinho no canto direito da boca. –Quem diria que meu irmão perderia a sanidade antes de mim, vai ser uma notícia e tanto na escola. – jogou seu travesseiro no garoto, que riu e deu um pulo para o outro lado da cama. –Não jogue essa coisa em mim, que nojo!
-Não enche.
-Cara, que tal colocar um nome nele? –Jonny apontou para o travesseiro e o irmão ergueu uma sobrancelha. –Eu sei exatamente o nome que você pode colocar.
-Qual?
-rina. Mas vamos todos chamá-la de .
O menino perguntou, mesmo sabendo que não era uma boa ideia.
-E por que esse nome?
-Porque era esse o nome que você estava chamando enquanto dava uns amassos no travesseiro. – arregalou os olhos e abaixou a cabeça com constrangimento. Jonny olhou para ele com um olhar de quem sabia das coisas, como o olhar que os pais dão para os filhos quando dizem que eles não podem falar com estranhos. –Eu já sabia que você era meio obsessivo, mas... Droga, essas imagens ficarão gravadas na minha mente para sempre.
-O que você quer dizer com obsessivo? Eu não estava sonhando com ela.
-Eu nunca disse que você estava. –ele começou a rir, como se tivesse desmascarado o irmão. mordeu as partes de dentro das bochechas. –O que acha que eu quero dizer? Sou seu irmão e te conheço muito bem. Você pode não saber justificar as coisas que faz, mas eu sei.
-Olha, eu não sei o que você está sugerindo, mas saiba que é uma bobagem. Se for o que estou pensando, se me conhecesse tão bem como diz, saberia que tem outra pessoa.
-? Ela também tem outra pessoa, assim como você.
olhou para Jonny como se ele estivesse ficando louco, o que provavelmente era o caso. Não era? Era. Os dois ficaram uns segundos num silêncio esquisito, o garoto não sabia o que fazer e o que dizer para poder negar a idéia idiota do irmão. Parecia que nada que dissesse poderia convencer o irmão do contrário. Um barulho de mensagem veio do bolso de Jonny e ele pegou o celular num movimento rápido. Depois de ler o que era, suspirou.
-Hanna está na porta, tenho que ir.
-Divirta-se.
-Eu vou. –ele se levantou e foi até o espelho da suíte de , para poder ajeitar alguns fios rebeldes de seu cabelo. –O que me diz?
-Sobre o que?
-Sobre o que eu acabei de dizer.
-Bom, eu acho que você está ficando louco.
-Quem sabe.
Quando o irmão foi embora, o menino respirou fundo, ainda processando o que tinha acabado de acontecer. Ele se levantou para pegar o controle remoto de sua televisão que ficava em frente à cama dele. O objeto estava em cima da escrivaninha e esticou o braço para pegá-lo, sem olhar direito o que fazia. Ele se assustou com um barulho de algo quebrando, e quando olhou para o chão, viu um porta-retratos.
Virou a moldura para cima e viu uma sua foto e de , aquela que tinha desde a sétima série, quando era completamente apaixonado pela garota. Olhou para a versão mais nova dele: mesmo rosto anguloso, mesmo cabelo preto liso e mesmos olhos verdes, porém, eles eram mais escuros quando ele era mais novo. Até os músculos eram notáveis, mesmo que fossem poucos. Quando olhou para rina, notou que ela tinha mudado menos ainda. Os cabelos loiros dela eram um pouco mais ondulados e seus olhos claros eram os mesmos inconfundíveis que tanto conhecia. A menina parecia mais inocente e seus traços eram mais leves por causa da idade. O da foto abraçava a pequena por trás e eles sorriam abertamente em frente ao colégio. Ele sempre tinha sido tão maior que ela.
Juntou os cacos de vidro do chão e os jogou na lixeira ao lado de sua escrivaninha, que cheirava a canela. O quarto todo dele cheirava a canela e ele começou a ficar meio tonto. Depois colocou a foto sozinha em sua escrivaninha, ao lado da foto que tinha com .
Sua mãe cantava uma música aos berros no andar de baixo, acompanhando o rádio ligado às alturas.
-If you love somebody, you should tell somebody... –ela berrava. Aquela música passava na rádio todos os dias. A mãe dele era uma das pessoas mais doces que ele já chegara a conhecer, mas ela realmente não cantava bem.
Ele se jogou na cama novamente e ligou a televisão, sintonizando-a no VH1. A mesma música passava naquele canal, e por incrível que pareça, estava na mesma frase irritante que a mãe dele estava cantando. O garoto desligou a televisão.
*
Capítulo 132 – “ COME PUT YOUR LIPS ON MINE AND SHUT ME UP”


cambaleou umas três vezes até parar em frente à porta de seu dormitório. Ele girou a maçaneta e enfiou a cabeça loira para fora de seu quarto, olhando desconfiado para o corredor vazio. Não poderia ser apenas impressão sua, sabia que havia ouvido batidas na porta.
-Quem era? –uma voz feminina perguntou de dentro do quarto. Era rina. Ela estava sentada de pernas cruzadas em cima da cama de , com um copo de uísque na mão esquerda e um leque na mão direita. –Você não está sentindo muito calor?
-Parece que foi impressão nossa. –ele respondeu dando de ombros e fechando a porta. Depois de cambalear de novo para a cama, ele se sentou ao lado de e deixou um riso escapar. –Será que nós dois estamos ficando doidos?
-É uma possibilidade. – riu, entornando o resto do conteúdo do copo na boca. Ela cheirava a morango e álcool, uma mistura inesperadamente boa. Os cabelos dourados presos em um coque atrapalhado no alto da cabeça faziam seu rosto redondo brilhar com a luz laranja do abajur que ficava em cima da escrivaninha dele. –Dizem que o álcool tem esse efeito, mas eu não saberia dizer.
O menino soltou uma risadinha. Depois de sua briga com , o arrastara para a April Hall e cuidara dele. Os dois ficaram um tempo conversando, até que ele achou uma garrafa de uísque que David guardou em baixo da cama de quando os três ficaram bêbados um dia que deveriam estar estudando.
só queria beber o máximo que conseguisse para tirar aquela sensação ruim de seu corpo, sentia todo o cansaço do mundo em suas costas. O que tinha acontecido mais cedo fora estranho e, acima de tudo, tinha sido rejeitado. Foi bom conversar com , porque ela aparentemente sentia a mesma coisa. Afinal, o cara com quem a garota saía recentemente provara ainda não ter esquecido a ex-namorada. E a ex-namorada resolveu ir com o ex-namorado para a enfermaria em vez de ir para a April Hall com . Ele não podia culpá-la, ela e precisavam conversar. Mas não conseguia deixar de se sentir meio rejeitado. Perguntava-se o que aconteceria em seguida, e esse pensamento lhe deixava nervoso.
O braço dele roçou no de , e ela realmente estava bem quente. Olhou para ela, esperando por alguma palavra. Só que a menina não disse nada, e aquele silêncio o deixava muito confuso. O mais estranho é que ela realmente não parecia estar muito chateada com o fato de ainda gostar de . Era como se ela já soubesse.
-Ei. –ele chamou, cutucando-a com seu dedo indicador. inclinou sua cabeça para a direção dele e o olhou atentamente. –Você não está triste?
-Pelo o que aconteceu mais cedo? –ela perguntou, encostando sua cabeça no ombro de . Ele ficou um tanto surpreso com o gesto, mas não fez menção de se afastar. Quando ele murmurou um “sim”, a garota suspirou. –Não. Por que você acha que eu insisti tanto para você vir almoçar comigo e com ?
-Espera. –ele a afastou, olhando atordoado para ela. O que? –Quer dizer que você sabia que ficaria irado quando me visse com nifer?
-É claro que eu sabia, é apaixonado por ela, qualquer um consegue ver isso. –como ele a olhava como se ouvisse palavras de uma pessoa insana, ela deu uma risadinha. –Não estou falando isso só porque bebi. Antes de decidir fazê-lo gostar de mim eu já sabia que ele gostava de .
-Do que você está falando?
-Qual é, . Você também sabia que ela não iria conseguir esquecê-lo.
-Eu...
-Olha, eu não armei para você nem nada. Eu queria fazê-lo gostar de mim desde o inicio, por isso te ajudei. Mas seria uma mentira se falasse pra você que achava que ia dar certo de verdade. Eu iria gostar se tivesse sucesso, mas gostei do tanto que avancei, e acho que você é como eu nesse assunto. Gostamos de um desafio.
-E por que você tem tanta certeza disso?
-Porque eu sei como é quando duas pessoas se gostam.
-O que você está dizendo? Cara, pare de beber imediatamente, você está tonta.
-Ah, eu estou. –ela começou a rir até engasgar. olhou para ela atônito. O que dizia fazia um pouco de sentido. –E seu travesseiro tem forma de bunda.
Ele riu.
-Como?
-Seu travesseiro tem formato de bunda. Seu apoio para o mouse também tem, e sua bola de basquete furada ali também tem formato de bunda. Você é uma pessoa bem perturbada.
Ele pegou o copo da mão da menina, quase derramando o líquido presente ali dentro. Não estava em boas condições motoras.
-Me dá isso aqui.
-Ei. –ela se aproximou dele e pôde sentir de novo o cheiro de morango misturado com uísque. –Sabe como eu sei que você não gosta de de verdade?
-Como? –ele ergueu uma sobrancelha. Parecia que seu quarto estava girando e o perfume que ela usava o deixou grogue. A cabeça dele doía um pouquinho, mas fora isso se sentia bem e livre e... Bêbado. Provavelmente não iria se lembrar de nada pela manhã.
-Porque eu aposto que não fará nada contra isso.
se inclinou mais ainda e a observou se aproximar. Ela colou os lábios dos dois num beijo tão lento que parecia que a língua dela se movia em câmera lenta. Ele arregalou os olhos e se afastou.
-O que é isso, ?
-Acho que você sabe. –ela sorriu com malícia e piscou com força. Não esperava por aquilo, e mesmo que a garota fosse muito bonita... Até que ele parou. Não tinha motivo para ele não fazer aquilo, tinha obviamente escolhido ficar com .
Ele a puxou pelo coque e a beijou de novo, dessa vez com mais força. A boca dela era quente e tão macia que chegava a ser assustador. passou os braços pelos ombros dele e subiu em seu colo, a parte molhada de álcool da manga de sua camisa esbarrando na nuca dele. beijou o pescoço dela e depois o ombro, dando uma risadinha de perto da clavícula, e temendo não conseguir terminar seu serviço ali. Ele agarrou o pescoço dela e passou a beijá-la novamente enquanto passava as mãos pelas suas costas, aproveitando o fato da menina se mexer do jeito certo e nas horas convenientes.
Depois de uma demorada sessão de beijos, ele se separou dela para poder pegar um ar. Sentia os lábios da garota em cima dos seus mesmo quando esses já haviam se afastado. Olhou para a boca inchada dela e sorriu mostrando os dentes, pensando que poderiam fazer aquilo mais vezes. E enquanto olhava para o teto de seu quarto, deitado em sua cama, começou a se perguntar o que diabos tinha acontecido ali. Não que não tivesse gostado.
subiu em cima dele, e ele levou um susto ao perceber que ela estava só de calcinha e sutiã de renda preta. ficou uns vinte segundos tentando raciocinar o que deveria ser feito em seguida, rindo ao notar que seu pensamento estava tão lento. Ela se curvou e lhe deu um beijo, para depois dar mais beijos no pescoço enquanto subia a camisa dele lentamente. Esse movimento foi o bastante para que ele se alertasse e declarasse com dificuldade:
-Antes que eu não consiga mais, acho melhor avisar que é melhor a gente não fazer isso, gatinha.
-Tem coisas piores nesse mundo que nós dois poderíamos fazer. –ela conseguiu arrancar a camisa dele e a jogou para longe. Num movimento quase que imperceptível, começou a desabotoar os botões da calça jeans dele. –E ninguém vai se lembrar disso amanhã.
continuou pensativo enquanto rina se movimentava. Ele achava que não era uma boa ideia porque parecia gostar dela, mas ele não estava saindo com ? Parecia em outra situação naquele momento, então não havia problema. Por isso, ele passou as mãos pelas costas da garota e desabotoou o sutiã dela, jogando-o no chão e a pegou pela cintura, colocando-a do outro lado da cama e subindo em cima dela.
-Bom. –ela sorriu. –Muito bom, .
Ele soltou uma risada.
-Ah, eu sou ótimo.
ia falar algo, mas ele a impediu, beijando-a de novo.
*
Capítulo 133 – “ DOES YOUR CONSCIENCE BOTHER YOU?”


-Esse não. – gritou para uma loirinha que tinha cara de sofrimento. –Quantas vezes eu já expliquei pra vocês?
Ela se sentou em uma cadeira branca que estava perto dela e largou sua prancheta roxa em cima da mesa de plástico branca provisória que estava na sua frente.
-Hoje o dia está péssimo para ser eu. –ela suspirou e apoiou a cabeça nas mãos, frustrada. Parecia que nada iria dar certo: o DJ não era nada conhecido, as comidas para os modelos... Onde estavam as comidas para os modelos?
Naquela terça de manhã, ela foi até um estúdio de fotografia que seu pai conseguiu alugado para que pudesse fazer seu trabalho extra, a fim de tirar uma nota boa em Fotografia e Publicidade. Já que vinha matando algumas aulas na faculdade, seu professor Jack a alertou no dia anterior que a garota podia repetir o ano se não aumentasse suas notas. Por isso, ela estava fazendo uma pequena revista com os modelos de roupa que Angel a ajudara a desenhar, e ela iria fotografar. Mas estava dando tudo errado. Os modelos profissionais ainda não tinham chegado, o DJ que ela contratara para a sessão de fotos desmarcara e ela precisou contratar outro menos conhecido. Pelo menos ele estava se saindo bem. O estúdio estava todo sujo e as pessoas que contratou não sabiam nem como pegar num cabo de vassoura direito. As roupas tinham chegado só pela metade e ela já estava quase tendo um ataque de nervos por causa de uma garota com óculos de armação preta que insistia em pedir a opinião dela sobre qual vestido ela deveria usar para o primeiro aniversário dela com a droga do namorado.
-, onde eu coloco esse manequim? –um garoto ruivo que parecia ter mais piercings na boca do que tinha no corpo inteiro a perguntou com pressa.
-Eu achei ter sido clara quando expliquei para cada um de vocês o que deveriam fazer. –ela gritou, com raiva. O garoto a olhou espantado, como se não esperasse por aquela explosão. Como eles não podiam esperar que ela explodisse quando não faziam o trabalho deles direito? Não estava pagando aquele preço para cada um de seus funcionários para que eles fossem lentos daquele jeito. Faltava pouco para perder a paciência e mandar todo mundo ir embora e fazer o trabalho sozinha, mas sabia que só pioraria. –Coloque no camarim número dois.
-A nova remessa de roupas chegou! –uma mulher de uns quarenta anos, alta e esbelta gritou. A menina não se lembrava de quem era, contratara tanta gente que tinha até perdido a conta das pessoas. –Srta. , tem uma garota aqui querendo falar com você.
-Comigo? – se levantou, ajeitando seu vestido jeans no corpo. Ela jogou o cabelo ondulado para trás e deu grandes passos até a porta do estúdio, passando por pessoas com vassouras, pessoas com mesas, com luzes e materiais para fotografar, maquiagens e o cabeleireiro bonitinho que ela tinha contratado. Suas botas de couro azul que iam até o lho escorregaram no chão molhado. –Ei, quem foi o imbecil que limpou aqui e se esqueceu de colocar a placa de chão molhado? –ela bufou.
Quando chegou à porta do estúdio, deu de cara com Liz Johnson, a irmã de Samantha. Fazia um tempo que ela não a via, mas a garota continuava do mesmo jeito: cabelos ruivos na altura do queixo, o rosto delicado e o corpo magrelo. Seu vestido estampado de alguma coisa que parecia um mosaico girou em sua cintura enquanto ela se virava na direção de . Seus olhos verdes estudaram o ambiente lá dentro e depois pararam no rosto dela. hesitou. Ela era a única pessoa do mundo que achava que Liz e Sam eram idênticas?
-O que você faz aqui? – perguntou e olhou do lado de fora, na rua, para ter certeza de que Sam não estava com ela. Graças a Deus não estava.
-Bom, eu estava na Avenida Contornada e reconheci o cara que estava trazendo suas roupas na van dele. Ele já trabalhou para o meu pai. Como eu estava vindo para a April Hall e o estúdio é praticamente ao lado, me ofereci para trazer isso tudo.
-Oh. – olhou para trás e viu seus funcionários carregando as araras de roupas para dentro dos camarins. Estudou Liz, esperando que ela pedisse algo em troca pelo favor, mas a menina não disse nada. –Você não devia ter feito isso, tudo deve ter amassado agora.
-Não, coube tudo no carro do meu pai, ele tinha me emprestado para que eu levasse pra lavar. Você devia me agradecer, pois do jeito que Morris estava dirigindo, ele só chegaria aqui na semana que vem.
piscou. Por que Liz estava sendo tão legal? Quando ela e Sam eram amigas, um dos passatempos preferidos delas era falar mal da garota, sobre como era ridiculamente apaixonada por David e como os dois nunca ficariam juntos. Um dia, as duas estavam entediadas na April Hall e queriam uma festa. O reitor dissera que não haveria festas naquele final de semana porque muitos funcionários estavam arrumando algumas coisas na casa. As duas ficaram o dia inteiro no quarto planejando algo para fazer e Sam sugeriu que fizessem uma brincadeira com a irmã. No início negou, mas depois acabou concordando. As meninas escreveram uma carta de amor para Liz fingindo ser David e colocaram em cima da cama dela. Elas espiaram escondidas no banheiro do quarto enquanto a garota ficara tão feliz que começara a dançar pelo quarto. Na carta dizia que ele queria encontrá-la na área da piscina à noite para que os dois finalmente deixassem de serem somente amigos. Quando David não apareceu e Liz foi procurar por ele, o encontrou no quarto de Sam, dormindo ao lado dela. se lembrava da expressão derrotada no rosto dela, e quando recordara de seus braços estendidos ao dançar uma música presente somente em sua cabeça, tão agitada por causa do suposto amor correspondido, não conseguira rir mais. Naquele corredor, quando a seguira até a frente do quarto de Samantha, apenas se sentiu mal por ter machucado tanto alguém.
Sempre fora uma idiota com Liz. Por que, em nome de Deus, a garota tinha feito um favor para ela e ainda não tinha pedido nada em troca? Não conseguia aquele gesto. Será que era uma armadilha e ela planejava se vingar de todas as coisas ruins que fizera? E se ela tivesse rasgado todas as roupas no caminho para o estúdio?
-Obrigada, eu acho. –ela olhou para Liz de um jeito desconfiado. O rosto dela não parecia nada maléfico, já que olhava com curiosidade para o que acontecia no estúdio atrás dela. –O que vai querer em troca?
-Do que está falando?
-Você trouxe isso para cá, não trouxe? O que vai querer em troca?
-Foi só um favor. –Liz deu de ombros e passou as mãos finas com as unhas pintadas de branco em seus cabelos ruivos lisos e depois nas bochechas, passando os dedos por cima de suas pequenas sardas. –Eu não quero nada em troca.
-Por que não?
-Porque eu não preciso de nada. –ela olhava para como se a menina fosse incapaz de entender as coisas direito. Mas a outra realmente não entendia o motivo dela não querer nada em troca. –O que você está fazendo aí dentro?
-Uma mini-revista com os modelos de Angel e os meus para um projeto.
-E vai ser uma sessão de fotos? –os olhos verdes escuros dela brilharam.
-Ah... – respirou fundo. Não era óbvio? Ela estava com pressa, não podia ficar dando papo para Liz Johnson na porta do estúdio. –Sim.
-Que legal. Precisa de uma ajuda?
O que ela queria? Primeiro, ajudou as roupas e depois queria ajudar lá dentro? Essa garota definitivamente queria uma sabotagem.
-Eu só quero ajudar, . –a menina falou. a olhou com atenção. Ela parecia estar sendo sincera, e mesmo que desconfiasse um pouco dela, já levou as roupas para lá, certo? Ela provavelmente era de confiança e foi bem útil. E não estava podendo dispensar pessoas assim. Abriu caminho para que Liz pudesse passar e a observou entrar quase que saltitando. –Isso é tão legal! O que eu devo fazer?
-Você vai ficar por conta da comida para os modelos. – a instruiu e se separou de Liz sem dizer mais nada.
Ela correu para o outro lado do estúdio e andou rapidamente até os camarins dos modelos, que ainda não chegaram. Enquanto checava se estava tudo em ordem e se as maquiagens permaneceram no lugar certo para que os maquiadores pudessem fazer seu trabalho rápido, seu celular tocou no bolso de seu vestido. Resmungou ao pegá-lo e leu a mensagem.
Espero que sua aula esteja fácil como a minha prova. Eu estava pensando, o que acha de ir ao Baile de Natal comigo? –Fred
sorriu, se esquecendo da raiva que sentira pelo telefone ter tocado. Ela e estavam saindo por uns dias e estavam se dando bem. Quando Samantha contou o que acontecera na sala de projeção da Sessão de Cinema, ela não pôde esconder sua frustração. Tudo bem que os dois tinham começado a sair recentemente, mas não conseguiu conter o ciúme. Era por aquele motivo que tinha levado para viajar com ela no feriado, e os dois se divertiram bastante.
Apesar de não gostar muito de bailes, a ideia de ir a um Baile de Natal a empolgou. Isso porque os Natais em sua casa eram sempre tão desanimados. Normalmente os pais trabalhavam e precisavam ir para outra cidade na noite de Natal, deixando-a sozinha. Era uma droga, por isso sempre acabava na casa de algum amigo.
Estou preparando aquela sessão de fotos, tudo sobre controle, claro. O baile pare legal.
O que mais incomodara era que sabia que estava com ela por um desses dois motivos: para esquecer ou para causar ciúmes na mesma. Poderia lhe faltar alguns atributos, só que sagacidade não era um deles. Apesar disso, não se importava muito, pelo menos tinha uma distração que não a fizesse pensar em e em como era ridícula a namorada nova dele, .
Ela se lembrou da conversa que tivera com quando eles foram jogar tênis juntos. Ele dissera para que seguisse em frente e deixasse o amigo fazê-lo também, porque seja lá quem o garoto conhecera, não estava feliz daquele jeito desde que terminou com . Ela não queria ficar marcada na vida de como a garota que o traiu com o melhor amigo. Será que o menino estava tão feliz ultimamente por causa de ? Será que ela o fazia mais feliz do que já fez? Será que isso realmente importava? Ela de repente percebeu que não, e tal percepção, tão repentina e natural a surpreendeu intensamente. Não se importava se estava namorando ou não. Seu erro na noite de pizza era algo mais relevante do que seus caprichos. Ela tentou imaginar ex-namorado beijando a doce para ver se aquilo a fazia ficar triste. E por incrível que pareça, não obteve o resultado esperado. Pela primeira vez em muito tempo não ficou triste pensando no menino com outra garota.
Ela se sentou no sofá do camarim, esgotada e imersa em seus próprios pensamentos. O lugar era um pequeno quarto que dispunha um sofá, uma mesa com um espelho na frente para que os modelos possam se arrumar, alguns cabides pendurados e uma mesinha com algumas garrafinhas de água. Sentia um cheiro de cosméticos no ar, e apesar dela sempre adorar o aroma, naquele momento lhe causou enjoo. Ela respirou fundo e tentou se acalmar. Ia dar tudo certo, só precisava relaxar. Afinal, ela era . Tudo o que organizava dava certo. Bom, quase tudo.
Um cara que parecia ter uns três anos a mais que a menina entrou no quarto. Não vestia nenhuma camisa e sua entrada repentina causou o devido impacto, fazendo com que ganhasse um olhar sobressaltado.
-Oh. –ele disse com sua voz grossa. A garota sorriu discretamente, afetada pela beleza do rapaz. –Eu não sabia que já tinha uma modelo nesse camarim.
Ela cerrou os olhos, se perguntando se ele sabia que ela era quem pagara por sua presença ali e só a estava bajulando.
-Na verdade, eu sou . –ela esticou a mão para que pudesse apertar a mão dele, que a cumprimentou com educação e com as sobrancelhas erguidas.
-Me desculpe, eu... –ele riu, agradando a menina por fazê-la chegar à conclusão de que o modelo de fato não sabia com quem falava. –Eu pensei que você fosse uma modelo. É um prazer conhecê-la, . Seu projeto é bem legal, é incrível que seja para a faculdade. Você podia fazer grandes negócios com isso.
-É mesmo? –ela jogou o cabelo para trás e sua franja grande caiu sobre seus olhos. –Bom, fico lisonjeada que você pensou que estou modelando.
-Você bem que podia ser uma modelo. –ele sorriu, analisando-a de cima para baixo. –Meu nome é Josh. Seu pai ligou para meu chefe ontem de manhã.
-Onde estão os outros modelos? – perguntou, o desespero voltando ao se lembrar do que ainda tinha para fazer. Não era possível que as pessoas chegaram. Só podia ser brincadeira: o estúdio estava imundo e desorganizado, não havia nem sinal da comida que encomendou, a iluminação não tinha sido colocada direito e a única coisa que estava pronta era o cenário. Só faltava o seu professor, Jack, ir até lá para ver como estava indo. Ótimo.
-Uma garota nos disse para que cada um fosse para um camarim.
-Uma garota? Que garota?
Antes que ele respondesse, saiu correndo da área dos camarins e foi para a parte central do estúdio. Ela ficou boquiaberta. O local até brilhava de tão limpo, as mesas foram colocadas nos lugares corretos, junto com os forros brancos de seda que ela não conseguia encontrar de jeito nenhum e os vasos de orquídeas rosa em cima de cada móvel davam um cheiro fenomenal ao lugar. A grande mesa retangular do bufê estava posta com os mais variados tipos de salgados, doces e bebidas. Percebeu algumas pessoas rearrumando os holofotes, dessa vez do jeito certo por uma equipe que não era a que tinha contratado. A equipe dela ajudava os modelos com as roupas e os encaminhava para onde eles precisavam ir. E faziam o trabalho direito. O que ela havia perdido?
-Ei, ! –ela escutou uma voz familiar chamá-la, e quando se virou para trás viu Liz andando com a sua prancheta roxa nas mãos. Ela exibia um sorriso grande que ia de orelha a orelha. –Estamos te esperando para começar.
-O que aconteceu aqui? –ela gaguejou. –Estava tudo um caos e... E desorganizado.
-Eu instruí os funcionários e chamei uns homens de uma loja de eletrônicos para consertar essa luz. A loja é aqui do lado. E liguei para Maria, a mulher do bufê, para apressá-la. Acontece que ela já estava aqui na porta, e eu organizei as comidas na mesa. Os modelos chegaram e eu os encaminhei para o camarim. E terminei de limpar isso aqui.
-Mas... Não se passaram nem quinze minutos.
-O que posso dizer? Sou bem rápida.
-Eu pensei que você quisesse me sabotar. –ela respirou fundo, sem acreditar no que via. Que tipo de pessoa fazia isso por livre e espontânea vontade, somente para ajudar? E como ela fez aquilo tudo tão rápido? Olhou em volta e respondeu com a voz falhando quando os modelos passavam cumprimentando-a.
-Sabotar você? –ela perguntou como se fosse o comentário mais estúpido que já tivesse escutado na vida. –Eu nunca faria isso, sempre te admirei. –Sam olhou para algo por cima do ombro de e levantou o polegar para o cara da iluminação. A menina franziu a testa. Liz me admira? –Sabe, você precisa aprender a relaxar.
continuou contemplando a menina, sem acreditar. O que ela estava dizendo? Por que fez aquilo tudo? Será que ela era do tipo de pessoa super-religiosa e que só queria fazer o bem no planeta? Será que ela trabalhava para a ONU e queria fazer do mundo um lugar melhor? O que levava uma garota a salvar a vida de outra – que já fizera tantas coisas ruins com ela – do nada?
-Suas amigas Angel e Ashley estão ali perto do cenário. Como eu disse, todo mundo está te esperando. –Liz falou com a voz calma, por cima da voz de Lady Gaga vindo do som. –E seu professor Jack está te esperando ali também. Pronta?
-Eu... Estou. –ela respirou fundo. –Muito obrigada, Liz. Não sei por que diabos você está aqui, mas, por favor, não vá embora. Vou ficar te devendo uma.
-Não se preocupe.
Liz empurrou para onde seu professor estava. Um modelo já a esperava sentado em um barco de madeira. Jack observava atentamente o estúdio, coçando a barba.
-Jack. – chamou e ele se virou para ela, que não conseguiu decifrar a expressão no rosto dele. –O que achou?
-Está tudo absolutamente maravilhoso, .
-Sério? –ela deu um gritinho esganiçado.
-Quando você disse que faria uma mini revista, eu pensei que fosse algo amador. Mas quando entrei aqui dentro e vi tudo isso... Parece uma sessão de fotos da Style, aquela editora de revistas daqui da cidade. Você realmente me impressionou muito, vamos só esperar para ver suas fotos.
-Bom... – se endireitou, e uma onda de confiança e bem estar a atingiu. Finalmente se sentiu como ela mesma, não como um clone de Samantha. Fitou o outro lado da sala, onde Liz conversava animadamente com uma modelo. A garota realmente era muito diferente da irmã, mas de um jeito muito melhor. Sabia exatamente como a recompensaria, e tinha a ver com David. –Prepare-se para se impressionar mais ainda.
*
Capítulo 134 – “ THE JOKE WAS ON ME”


estacionou seu carro na garagem da April Hall e andou um pouco apressada pelo estacionamento. Depois de ter deixado na escola para o último treino antes do campeonato – provavelmente não para ele, que do jeito que estava obcecado, treinaria mais vinte vezes até lá – e decidido que não queria ficar lá porque se entediava ao extremo quando assistia futebol, ela resolveu ir para a April Hall e procurar ou, talvez, Liz.
Sabia que precisava ir até David e pedir desculpas por não ter ajudado Samantha, mas ela ainda não tinha feito aquilo, e nem mesmo queria. A garota apareceu criando uma situação que só poderia ser elaborada por uma pessoa com a mentalidade de alguém de treze anos, e se o namorado não conseguia perceber isso, paciência. não queria ser a pessoa que o avisava e implorava pela sua confiança.
Deu voltas pelos carros, não deixando de se lembrar da vez que esteve ali e encontrou com, quando o garoto insinuou que deveria haver uma aposta. E, se ela fosse parar para olhar para trás, tinha sido um pouco imaturo da parte deles. Para quem queria sair logo do Ensino Médio, ela estava se comportando como uma perfeita adolescente imatura que queria fazer joguinhos com o ex-namorado. E mesmo sabendo que podia decepcioná-la novamente – porque ninguém muda tanto como ele supostamente mudou em tão pouco tempo. O menino estava jogando lenha na fogueira quando o assunto era a aposta, e aquilo para início de conversa já era uma prova de que não aconteceu nenhuma mudança significativa. Mesmo assim, a garota não podia fazer nada contra seus sentimentos. Era tão irritante, tinha algo em que inexplicavelmente a atraía de volta assim que ela tentasse esquecê-lo. Ele nem era tão especial assim, aos seus olhos o menino era um idiota.
-Olá, . –Sofia apertou os lábios depois de passar um pouco de seu brilho labial. Ela parecia estar de ressaca em plena terça-feira. –Como estão as coisas?
-Samantha Johnson é um tanto problemática, não? –ela pensou em voz alta. Sofia ergueu as sobrancelhas, imediatamente entendendo do que se tratava. Sam estava disposta a arruinar o relacionamento de David com , e já era uma questão de honra não deixá-la fazer isso. –Quando você me disse que eu precisava tomar cuidado com ela, não pensei que fosse sério assim.
-O que ela fez dessa vez?
-Ela fingiu estar se afogando na piscina para que David fosse salvá-la e depois colocou a culpa em mim por tê-la empurrado. Quer dizer, eu a empurrei, mas ela sabe nadar perfeitamente. Achei que as pessoas amadurecessem depois da escola.
-Sabe, , uma coisa que eu aprendi dividindo o quarto com é que com esse tipo de garota você nunca deve perder a cabeça. Porque se você perder estará fazendo exatamente o que elas querem.
-Como o conselho dos pais para não se zangar quando o irmão te irrita? – riu sem vontade. Que ótimo. Ela passou o Ensino Médio praticamente inteiro lidando com rina e agora precisaria aturar outra idiota mimada que tentaria roubar o namorado dela. Sofia sorriu amarelo. –Tudo bem. Vou falar com David.
Ela andou desajeitadamente para o quarto dele, que era dividido com . Depois de bater três vezes na porta, o namorado atendeu. Ele vestia calças de pijama e estava sem camisa, com seu cabelo todo bagunçado, mas de um jeito adorável. Em sua barriga ela viu algumas marcas de lençol e percebeu que o garoto parecia mais sonolento do que Sofia. Atrás dele a cama de estava arrumada.
-Podemos conversar? –ela perguntou meio hesitante. Ele a olhou de cima para baixo e deu de ombros, abrindo caminho para que ela entrasse. se acomodou na cadeira em frente à escrivaninha dele, sentindo a plástico gelado em sua pele e se arrepiando. –Quero me desculpar pelo que aconteceu ontem.
Ele inclinou a cabeça para o lado fazendo seu cabelo se dispersar mais ainda. Os olhos verde-oliva dele pareciam cansados e sua expressão estava abatida. Ele caminhou até o móvel depois de fechar a porta e encostou-se à mesa, ainda olhando para ela. ficou com aquele par de olhos a fitando daquela forma. Ele podia falar alguma coisa.
-Você está se sentindo bem? –ela continuou, começando a ficar preocupada. O garoto a cabeça, fazendo um não. –Está sentindo alguma coisa? Quer que eu chame alguém?
-Minha cabeça está me matando.
-Foi por isso que você não foi à aula? –ele assentiu com a cabeça. –Já tomou algum remédio?
- me deu um comprimido. –David deu de ombros. –Podemos, por favor, não ter essa conversa agora? Se eu escutar alguém falando o nome de Samantha mais uma vez, minha cabeça explodirá.
-Não quer que eu te leve ao médico? –ela lutou para esconder seu sorriso. Ele não dava a mínima para Samantha, ele só a queria longe dele. Assim como .
-Não precisa.
-O que quer que eu faça por você?
-Acho que só preciso dormir.
-Tudo bem, eu passarei aqui depois.
Ele deu de ombros e por um momento se sentiu mal por ter causado aquela confusão. David era tão legal, e naquele momento, tratando-a daquele jeito frio, era como se não fosse mais ele. Ela saiu do quarto e a raiva atingiu seu corpo: não podia deixar que outra relação amorosa desse errado em sua vida. Por isso, marchou até o quarto de Liz e bateu fortemente na porta.
-? –ela falou depois de engolir seu yakisoba e colocar sua caixinha de comida japonesa em cima de sua cama. A menina entrou no quarto e fechou a porta com força, fazendo um barulho irritante. –Ei, se acalma! O que foi?
-O que foi é que a sua irmã está ultrapassando os limites.
-Me diga algo que não sei. –Liz sorriu e quando fez uma careta para ela, fechou a cara. –Desculpe. Eu vi o que aconteceu ontem. David é burro mesmo, como ele pôde esquecer?
-Esquecer? Esquecer o que?
-Sam já foi campeã estadual de natação feminina. Mas ela parou quando era mais nova porque não queria que seus ombros se alargassem mais. –ela explicou com calma e arregalou os olhos. –É, isso aí. Sinceramente? Acho melhor você terminar de uma vez com ele, Sam sabe ser bem irritante. Esse incidente de ontem não foi nada.
-Você só pode estar doida se acha que eu vou terminar com ele.
-Por quê? –Liz colocou as mãos na cintura e uma mancha vermelha apareceu em seu pescoço, subindo devagar para as bochechas. –Porque ele serve para deixar seu ex-namorado com ciúmes? Por que você ficou magoada depois que te beijou só para deixá-la com raiva?
-Samantha te contou?
-Não foi preciso. –ela deu de ombros e chegou perto de , como se fosse bater nela. hesitou, com a respiração acelerada. –Qual é, você ao menos gosta de David? Aquele cara obviamente ainda gosta de você, para entrar em uma briga com o melhor amigo dele! Volte com ele e deixe David em paz. As coisas já eram complicadas antes de você chegar, não as torne mais difícil ainda.
-Você está falando besteira. E eu sei que só quer que eu termine porque gosta dele. – a raiva dominou os sentidos da garota com tamanha intensidade que não mediu mais suas palavras. –Mas vou te dizer uma coisa, Liz, ele não gosta de você. Se eu terminar com ele, o máximo que acontecerá é Sam conseguir o que ela quer.
-Saia do meu quarto.
-Eu preciso saber o nome do prédio da sua irmã.
-Saia daqui! –Liz berrou e empurrou , que praticamente voou para o outro lado do corredor, batendo seu braço com força na parede. Ela grunhiu com dor. –Eu te dou exatamente uma semana para você contar a ele. Se não contar, eu mesma conto.
Antes que pudesse responder, Liz fechou a porta com força e a garota escutou o barulho da chave sendo girada.
*
Capítulo 135 – “ YOU’ LL GET PUNCHED FOR THE LOVE CLUB”


possuía porta-retratos com fotografias dela e de pelo seu quarto, mas aquele em especial era diferente. Talvez pelo modo descontraído como ambos sorriam, pelo jeito que ele a segurava com tanto carinho ou pelo fato de que aquele dia fora maravilhoso. Ou talvez pudesse ser também pelo escrito atrás dele, onde o menino escrevera com sua letra meio irregular Sétima série, o melhor ano da minha vida, e escreva em baixo dele e para sempre. Vários fatores contribuíram para ela sentir o que sentiu quando reviu aquela foto na escrivaninha dele na noite da Festa do Luar. Ela até já tinha se esquecido daquele retrato e quando o viu, começara a rir sozinha. era tão meigo, ainda a guardava. Uma sensação de conforto percorreu seu corpo e ela se sentiu imensamente feliz, sem saber o motivo.
Nunca pensou que poderia querer causar algum tipo de sofrimento nela. Porque, se ele não percebia, era isso o que estava fazendo. Naquele momento, no quarto dele, olhando para a foto dos dois, ela se sentiu tão triste. A menina não se lembrava de como fora parar ali, sobretudo porque os dois não estavam se falando, mesmo que ele tenha levado-a para o hospital. De repente, o quarto dele começou a ficar abafado e era como se as paredes estivessem diminuindo. Ela começou a se sentir claustrofóbica e se encolheu no chão, com a cabeça apoiada nos lençóis cheirosos que a Sra. lavava semanalmente. Mas o cheiro de repente a sufocou também e ela seria esmagada a qualquer momento. Seu coração batia descontroladamente e o ar não chegava aos seus pulmões.
rina pulou. Suas costas estavam suadas e seu peito subia e descia com velocidade. Ela não estava em seu quarto. Sua cabeça doía bastante e se deitou novamente, não conseguindo manter-se sentada. Que sonho bizarro foi esse? Passou as mãos pelos cabelos, que estavam bagunçados e provavelmente embaraçados. Alguns raios de sol entravam pela cortina do quarto e a cama do outro lado do cômodo estava arrumada, sem nenhuma marca de corpo. Uma bola de basquete furada descansava perto da cama e começou a se perguntar que lugar era aquele. Ela olhou para a direita lentamente, e quando o fez se sobressaltou. estava ao lado dela, dormindo profundamente com a cabeça virada para o outro lado. Ele não vestia camisa, e quando colocou as mãos no peito, percebeu que também estava sem sua blusa, e pior ainda, sem seu sutiã. Ela ergueu o edredom dele para ter certeza de sua suposição e apertou os olhos ao constatar que era exatamente o que ela estava pensando.
-Merda. –sussurrou. Como aquilo aconteceu? E por que com ? Nada se encaixava direito e a noite passada era um borrão em sua mente.
Ela se lembrava da briga de com ele, mas depois disso a única recordação que possuía era a dos dois voltando para a April Hall. Por que ela fez isso? Não fazia sentido nenhum! Ela nem mesmo gostava de , não a ponto de fazer isso. O quanto ela bebeu na noite passada? E por que a cabeça dela parecia prestes a explodir? , rina? Ela iria matar aquele idiota, que se aproveitou dela num momento de sofrimento e...
-Merda, minha cabeça vai explodir. –ela escutou a voz dele murmurando. O menino se virou para o lado e quando a viu, sua reação foi basicamente a mesma. Ele se assustou tanto que quase caiu da cama. –O... Que?
-Eu também não sei. –ela olhou para ele, que tinha os olhos arregalados. Observou o olhar do garoto rodar pelo quarto e pelo seu corpo. –Você pelo menos usou...
-Espera. –ele se levantou, colocou sua cueca e foi até o banheiro. não conseguiu não encarar as partes descobertas do corpo dele antes vestir a cueca. O coração dela começou a bater rápido com a possibilidade dele não ter usado. Tomava pílula, mas mesmo assim. A cabeça dele apareceu de novo, com seus cabelos atrapalhados e a cara péssima. –Usei.
Ela suspirou de alívio e se enrolou no edredom de , se abaixando com dificuldade e pegando suas roupas no chão. Ele esfregou o rosto com as mãos, mas a menina não conseguiu pensar em nada mais, tamanho seu alívio.
-Nós bebemos tanto assim ontem?
-Provavelmente.
-Você veio para cá depois que o idiota do me bateu e depois a gente começou a conversar...
-Eu também só me lembro dessa parte.
-Por que isso aconteceu?
-Eu não sei, ! –ela gritou meio desesperada. Ele se assustou e pegou o travesseiro para usar como escudo, como se achasse que iria ganhar uma surra. –Desculpe.
-Olha, gatinha, eu gosto muito de você, mas...
-Eu sei! –ela levantou os braços e o edredom que cobria seu corpo escorregou um pouco, quase mostrando seus seios. Puxou de volta meio sem graça. –Não precisa falar nada. Vamos só esquecer que isso aconteceu, certo?
-Claro.
entrou no banheiro e colocou suas roupas, com pressa. Quando saiu, andava de um lado para o outro do quarto, com as mãos na cabeça e ainda de cueca.
-Eu não acredito que traí a .
-Você não a traiu, vocês nem estão juntos.
-Nós meio que estamos. – apertou as mãos com força e a olhou com os olhos azuis cheios de preocupação. Ele se jogou na cama e apoiou a cabeça nas mãos.
-Ei. – foi até ele e se sentou ao seu lado. Ela respirou fundo. Não sabia o que dizer. –Se acalma, não vou contar nada para ninguém.
-, esse não é o problema.
-Então qual é?
-Quando eu disse a que queria conquistá-la, ele disse que era uma ideia boba porque mesmo se desse certo, eu nem sabia se conseguiria manter um relacionamento com ela e que estaria estragando seu namoro com em vão. Eu disse que ele estava louco se achava que eu estragaria tudo, mas foi exatamente o que eu fiz.
começou a se sentir culpada. Mesmo que não fosse a intenção de , aquilo fez com que ela se sentisse mal. Naqueles últimos dias já tinha ficado com , , destruíra o relacionamento de sabendo que provavelmente no final ele voltaria com nifer e a pessoa que mais a importava no mundo não estava falando com ela Deus sabe por quê.
-Parece que eu sempre estrago as coisas. – continuou, com a cabeça baixa. –Eu já fui apaixonado por e estraguei tudo quando não consegui dizer a ela a verdade sobre como me sentia. Depois, fiquei com ela quando estava namorando . E mesmo que tenha sido porque ela disse que o garoto a desafiara e mesmo que eu estivesse bêbado, eu fiz mesmo assim. Talvez eu não sirva para ter um relacionamento, era mais fácil quando eu saía com as garotas sem compromisso nenhum.
-Não diga essas coisas. – colocou a mão direita nas costas dele. –, você é demais, assim como eu. –ele olhou para ela e deu um riso. –Nós dois somente perdemos tempo com as pessoas erradas.
- e não foram nossos pontos altos. Eu devia conversar com ela e mandá-la voltar com . Já devia saber que não ficaria com ela... Não consegui nem dizer que gosto de para ela.
-Que você gosta?
-Que eu gostava. –ele se corrigiu.
levantou as sobrancelhas.
-Vou fazer o certo dessa vez com . Espero que siga meu exemplo.
Ela deu um beijo na bochecha dele e saiu do quarto com o coração pesado.
não estava em seu quarto, provavelmente já tinha ido para a escola para os estudos pré- provas finais. Ela mandou uma mensagem para ele e foi para seu quarto se arrumar. Tinha que se sair bem naquelas provas, porque afinal, tinha uma faculdade para entrar.
*
Capítulo 136 – “ I’M SO SCARED ABOUT THE FUTURE”


- Bom, turma, eu darei a vocês um trabalho opcional, mas eu sugiro que façam. Quando chegar a hora de analisarem as universidades que querem estudar, eles sempre exigirão muito da sua capacidade de escrita, independente de qual curso vocês querem. –o Sr. Garcia falou, mexendo em uma pilha de folhas brancas sem pauta. Ele colocou os óculos em cima de sua mesa de madeira e se encostou a ela, varrendo os olhos pela sala enquanto analisava cada aluno. –Olhem, sou um professor de Matemática e se estou dando este conselho é porque ele é realmente necessário.
olhou para o lado e viu Jojo Marques, Maria Duncan, Trina Ângela e Hanna White em volta dela. Era tão bom poder chamá-las de amigas, e ao mesmo tempo era também tão surreal. Imagine, no início do ano não tinha quase nenhuma amiga, e estava se formando no Ensino Médio conhecendo melhor essas garotas legais, se aproximando das pessoas que sempre quis. Sem falar do fato de que parecia gostar dela, para sugerir que fizessem algo assim somente com a intenção de afastar .
Ao seu lado, balançava a cabeça no ritmo de alguma música que saía de seus fones de ouvidos brancos. Estava tão alto que ela não precisou fazer muito esforço para escutar os acordes de Sympathy for the devil. Quando ele viu que o olhava, deu uma piscadela. e pediram licença para o professor e se sentaram nas duas cadeiras vazias nos fundos da sala. sorriu para , que girou os olhos, não podendo conter o sorriso e olhou atenta para , que estava sentado do outro lado da sala com Logan Ellis. nifer iam prestava atenção em cada palavra que o Sr. Garcia dizia, provavelmente tentando ignorar a observando atentamente.
-Vocês terão que fazer um texto de no mínimo trinta e cinco linhas dizendo o que querem ser.
A explosão de reclamações e vaias da sala fez com que soltasse uma risadinha.
-Todo ano ele passa o mesmo texto para os veteranos. –Maria Duncan girou os olhos.
Logan gritou:
-Pelo amor de Deus, Sr. Garcia, que coisa mais idiota.
Fred bufou e o Sr. Garcia olhou para ele como uma coruja.
-Algum problema, Sr. ? –ele perguntou indo na direção dele, sem se incomodar com os outros comentários maldosos mais do que se atingiu pela singela demonstração de insatisfação do garoto. –Além de essa sua música estar alta demais. –ele ergueu a mão e entregou seu celular com má vontade. –Vocês, meninos, não podem ficar longe desses aparelhos.
-O Sr. Garcia fala como gente velha. –Jojo disse enquanto digitava uma mensagem de texto. Seus cachos tão perfeitos que pareciam de boneca balançavam enquanto ela ria das mensagens que recebia.
-Será mesmo que eu precisarei recolher os celulares de todo mundo? –o professor continuou, olhando severamente para Jojo, que guardou seu telefone dentro da bolsa. passou o olhar pelo cômodo. A maioria das pessoas parecia entediada ao extremo com aquela sessão de estudos, mas gostava de saber a visão dos professores sobre as universidades, sobre o que deveriam fazer para impressioná-las e sobre como seria a vida depois do Ensino Médio.–Sabem por que vocês não se interessam pelo meu assunto?
-A maioria aqui não tem maturidade o suficiente para se enxergar daqui a alguns anos. –nifer declarou de uma forma engraçada. achava que ela levava seu futuro curso de Direito a sério demais.
-Exato, Srta. iam. –a menina o viu sorrindo e mostrando seus dentes amarelos. Ele raramente sorria, e quando isso acontecia era meio assustador. sorriu e sorriu também. Era estranho ele estar babando daquele jeito quando na semana passada nem queria olhar na cara dela. Pelo menos o lance que ela tinha com o era simples. Tudo bem que eles ainda não eram namorados, mas ela esperava que fosse só uma questão de tempo. –Por isso acho que deveriam aceitar o desafio.
Algumas pessoas grunhiram. Pobre Sr. Garcia. Como eram veteranos, era o ano deles de fazerem os vídeos para o Anuário, onde falariam seus objetivos e o que queriam ser, além de terem que tirar fotos. As meninas vieram mais arrumadas do que o normal e os meninos colocaram suas jaquetas do time de futebol e de natação. gostava de finais de ano, mas estava começando a se sentir mal. Ela não se imaginava fora do colégio, do Ensino Médio. Era tão assustador pensar que nunca mais colocaria os pés naquele lugar para estudar! Sempre se imaginou saindo da escola, mas com esse momento tão próximo dela, não queria mais que acontecesse. Sentia-se desorientada.
-Vamos, Sr. . –o Sr. Garcia passou pela mesa de, e recebeu um sorrisinho cínico. –Eu sei perfeitamente que o senhor é um aluno muito rebelde, mas ao mesmo tempo provavelmente é uma das pessoas mais inteligentes que já vi.
Era verdade. era muito inteligente, mas não era um aluno muito aplicado. Ele não usava sua inteligência para coisas úteis, como passar nas provas.
-Talvez eu goste de ser rebelde. –Fred foi sarcástico e a turma começou a rir. O professor fez uma careta. –O que você quer de mim, Sr. Garcia?
-Estou te desafiando. A todos vocês. Quero esse texto aqui na minha mesa até o dia do Baile de Natal. Quem escrever o melhor texto ganhará cem pratas.
Os olhos castanhos de se arregalaram. Cem pratas por um texto? Ela entendia que o homem queria incentivar os alunos, mas aquilo pelo menos era permitido? A classe virou uma confusão e ele deu uma risada sinistra.
-Agora convenci vocês, não convenci?
O professor caminhou pela sala, parando ao chegar à mesa de . Ele devia ter uns quarenta e sete anos e ensinava Matemática e Redação. Era conhecido por normalmente ser rabugento e rígido, às vezes até meio tarado demais, mas já lera três de seus textos sobre o Comportamento Humano, e o achou ter uma mente brilhante. era sua aluna preferida, sem sombra de dúvida. Provavelmente porque houve uma época em que ela fazia questão de ser a queridinha de todos os professores, e o professor de Matemática não mudara desde aquela época. Ela olhou para ele enquanto jogava seu rabo de cavalo para trás.
-O que você quer ser, Srta. iam? –ele perguntou. levantou as sobrancelhas. –Como você se vê daqui a alguns anos? O que quer conquistar?
-Eu quero ser uma boa advogada. –ela respondeu sem hesitar. –Quero conquistar meus as pessoas que passarem pela minha vida e trabalho.
-Hum, interessante. E quanto à sua vida pessoal?
Praticamente todos os olhos da sala foram direcionados para e ele se afundou um pouco na cadeira, as bochechas rosadas. Mas pelo olhar triste e pelo fato de nem ter se virado e mostrado indiferença, percebeu que rina fizera uma bagunça.
-Bom, eu... –ela arqueou as costas, um pouco desconfortável. –Eu só quero estar junto de alguém que amo.
-Tudo bem, é uma boa resposta. Agora fale o nome de outra pessoa para que ela possa responder.
-Escolho a rina.
escutou as amigas de sussurrando e olhou de para . Ela não parecia maldosa. Estranho.
-Eu? – parecia só ter acordado para o mundo quando viu todos os olhos apontados para ela. Depois de alguns segundos pensando, seu rosto se iluminou. –Bom, eu sempre me vejo em uma praia, com pessoas me trazendo coquetéis e meu namorado do futuro fazendo massagem nos meus ombros enquanto eu cuido das minhas coisas. Pretendo ter a minha própria revista.
-Parece que você já tem tudo planejado. Já pensou no que fará se a vida como jornalista não der certo?
-Aí tentarei a carreira de modelo.
-Gatinha, eu não quero te desejar o mal. – Logan comentou. –Mas tomara que sua carreira de jornalismo não dê certo.
Essas palavras causaram algumas risadas, e o encarou de um jeito estranho.
-Você parece ter muitas exigências quanto ao comportamento das pessoas. Quer exigir algo em especial?
-Quero que me perdoem, seja lá pelo o que eu fiz. – olhou para a turma, que a observava com atenção. Ela sorriu e olhou para , que estava virado de costas. O sorriso dela se apagou. Era a única pessoa da sala que não olhava para ela, e ficou com pena. O menino se remexeu na cadeira, desconfortável. –E falando nisso, escolho o .
Ele arregalou os olhos. nunca fora sutil. Ele passou as mãos pelos cabelos e suas palavras foram responsáveis pela salva de aplausos e assovios em seguida:
-A nossa seleção me chamou para jogar futebol com eles.
-Nossa, , isso é muito impressionante.
-O problema é que eu não sei se quero jogar em vez de ir estudar, por mais que eu ame futebol.
-Você ainda tem tempo para se decidir. E quanto à sua vida pessoal?
fez que não e deu de ombros. Ele parecia bastante perturbado.
-Escolho o.
Fred colocou a mão sobre o queixo, fingindo estar pensando profundamente. Algumas pessoas riram e o Sr. Garcia girou os olhos. riu e imaginou se e tinham voltado a se falar.
-Você podia tentar a carreira de palhaço. –o Sr. Garcia o ironizou. –Porque aqui na sala você está bem engraçadinho.
-Eu faço o que posso. –Fred exibiu seu sorriso malandro e mexeu no topete. –Meu pai disse que eu posso trabalhar para ele até decidir o que quero fazer.
-É uma ótima forma de mostrar independência. –o homem caçoou sem escrúpulos. Não era segredo para ninguém que o professor não gostava do garoto, devido ao seu cinismo e ao fato de sempre tirar notas ótimas em suas provas sem nunca prestar atenção nas aulas. –Mas se é o que você quer fazer, tudo bem, ainda é jovem.
-Não faça graça com o trabalho do meu pai porque graças a ele sou rico de um jeito que o senhor nunca será.
-Tudo bem, chega. –o professor falou depois de um tempo, tentando cessar os risos. –O que você realmente quer, Sr. ?
-Quero que o almoço hoje tenha peixe, quero que minha mãe não tenha jogado fora meu par de meias favoritas, porque segunda ela, preciso parar de usar roupas destruídas. Quero tantas coisas que podemos ficar aqui o dia inteiro, mas se está perguntando no sentido pessoal da minha vida, sem se importar por um segundo na invasão de privacidade que está acontecendo nesse momento, bom... Quero confiança.
forçou uma crise de tosse e sorriu.
-Quero conquistar a confiança das pessoas.
-E você acha que merece essa confiança?
-Vou fazer o que puder.
-Será difícil.
-Eu adoro um desafio. –Fred sorriu e o Sr. Garcia também sorriu. riu baixinho, juntamente com outras pessoas no cômodo. finalmente falou a coisa certa. –Escolho a .
A garota sorriu, e pela sua postura, aparentemente já imaginava que seria a escolhida.
-Quero Biologia, só não sei o que farei com ela.
-Você tem muitas opções. E quanto à sua vida pessoal?
-Isso ainda não foi providenciado.
-Será ótima. –o professor deu um sorriso encorajador e percebeu que naquele dia em especial ele estava bonzinho demais, de um modo que ele nunca fora. –Quer apostar?
-Desculpe, Sr. Garcia, mas já estou no meio de outra aposta. – deu de ombros e viu rir sozinho. –Escolho o .
-Bom... – riu sem graça. –Algumas escolas já me garantiram uma bolsa por causa da natação. Estou pensando em experimentar alguns cursos para ver o que gosto, mas ainda não me vejo no futuro.
-E quanto à sua vida pessoal? Sua vida amorosa?
-Eu só quero que ela volte como era antes.
A porta da sala bateu e pulou. Quando olhou para a mesa de , ela não estava mais lá. piscou com força depois de olhar desolado para a cadeira vazia. O professor pigarreou e tentou fingir que não percebeu o clima estranho e silêncio pesado que se instalou na sala.
-Escolha alguém.
-Hum... – respirou fundo e olhou em volta. Seus lhos se encontraram com os da menina. –Escolho a .
-Eu não penso muito no futuro. –ela falou bem rápido, ainda desconcertada com a cena que acabara de presenciar. –Podemos pular a minha vez?
-Não pensa? –ele pareceu intrigado. –E como fará seu texto?
-Não faço ideia do que escrever.
-É geralmente daí que os melhores textos surgem.
O Sr. Garcia sorriu e tentou correspondê-lo, não sabendo exatamente o que aquilo queria dizer. Seu sorriso mais pareceu uma careta, e ela se afundou na cadeira, tentando focar no que os colegas diziam para não ter que pensar no futuro.
Capítulo 137 – “ I’ D SING TO YOU JUST ONE MORE TIME”


passou por Josh Fritz, um veterano que estava preparando seu convite especial para o Baile de Natal para Sara Lewis. Ela foi atingida por uma grande sensação de nostalgia. Um ano antes, estaria indo ao baile com , sem nenhuma preocupação. Como as coisas mudaram tanto em tão pouco tempo?
Depois de sair da sala do anuário, decidiu comprar alguma coisa para comer no Joke’s, que estava liberado por eles não estarem exatamente em horário de aula. Amanda Johnson andava ao seu lado tagarelando sobre como o convite que recebeu de Jackson Allen foi perfeito. estava feliz por ela, mas será que a menina não percebeu que não queria falar sobre aquilo? As duas atravessaram o corredor do nono ano, junto com mais vários veteranos que provavelmente também iam para o bar. Ela não estava com vontade de ir ao Baile de Natal, mesmo sabendo que seria sua última festa no colégio. Ainda mais depois daquela conversa que tivera com e depois do que ele dissera na aula mais cedo. Eu só quero que ela volte a como era antes, ele respondera quando o Sr. Garcia perguntou o que ele queria da vida amorosa. Depois que o ouviu dizer aquilo, saiu correndo para o banheiro sem nem pegar um passe e desatou a chorar. Ela sentia muito a falta dele, mas o menino tinha estragado tudo. E mesmo que gostasse de , tê-lo como companhia em seu último baile não parecia o ideal.
-Ei, . –Amanda estalou os dedos na frente dela depois de pararem para beber água. –nifer!
-O que foi? –ela gritou assustada.
-Se você não queria falar sobre o Baile, era só ter me dito. – bufou. Não era óbvio? Amanda parecia ofendida. Ela estudou o rosto da amiga por alguns segundos e tocou o pulso dela com carinho. –Olha, não se preocupe. Tenho certeza de que vai te convidar. É claro que ele ainda te ama, não viu como te olhava na aula do Sr. Garcia?
A garota deu um meio sorriso, tentando parecer bem. Ela queria tanto voltar no tempo para quando as coisas não tinham virado um caos e para quando ela conseguia controlar seu ciúme de uma forma saudável que não ajudasse a destruir a relação com o namorado. Quando ela conseguia medir sua ansiedade por causa da faculdade e não sobrecarregava o namorado com suas perguntas chatas que o pressionavam por não ter ideia do que fazer da vida. Não era como se precisasse decidir naquele exato momento, só porque ela sabia o que queria desde nova, não significava que o mundo inteiro fosse daquele jeito. Só porque ela tinha medo de perder o namorado, não significava que precisava virar uma idiota controladora.
Kimberly Carter, uma de suas amigas animadoras chegou correndo até elas, com seu sorriso bonito. quase não a reconheceu sem o uniforme das animadoras. Ela rodopiou até chegar bem perto das amigas, seus cabelos loiros voando.
-Que felicidade é essa? –perguntou. A menina não respondeu e passou o braço pelos ombros dela. –Kim?
-Ela terminou com o Carter. –Amanda explicou. Carter era o namorado dela há um ano, mas ela o pegou ficando com sua prima. Kim praticamente entrou em depressão, mas de repente não estava mais triste. levantou as sobrancelhas, surpresa. A menina sempre dizia que não poderia nem pensar em viver sem o garoto, mesmo que ele tivesse feito o que fez, porque era o amor da vida dela. –Esta manhã ela terminou tudo.
-É mesmo?
-Sim! –Kim deu um gritinho esganiçado. nifer não queria ser uma estraga prazeres, mas ela não deveria estar triste? –Estou feliz porque finalmente vou conseguir seguir em frente.
-E você ficou o dia inteiro saltitando assim?
-Não, Amanda. O que aconteceu foi que acabei de falar com Carter e ele me implorou de volta. Mas eu disse que ele não conseguiria contornar a situação, porque afinal, eu passei tempo demais presa nesse relacionamento. E eu não sei se no final valeu a pena, entendem?
-O que ele disse?
-Ele não aceitou, deve estar me procurando agora... Pedi a Cheryl que o distraísse, e que se quisesse dar em cima dele, também poderia.
-Uau. – suspirou. Era impressionante o fato de Kim ter conseguido seguir em frente. Ela olhou para o chão. Carter magoara Kimberly e ela botara um fim na relação deles. Será que não era isso que deveria fazer também? –Parabéns. De verdade, isso é ótimo.
-Eu me sinto nova, como outra pessoa! Isso é tão assustador.
Amanda riu e elas continuaram a andar até o pátio. De repente, os primeiros acordes de uma música bastante familiar atingiram seus ouvidos. Ela conhecia muito bem aquela melodia, e sentiu uma tristeza por escutá-la. Era Dancing Queen, a mesma música que o homem que contratara para ir até a escola cantara para convidá-la ao Baile de Natal. Ela caminhou desanimada até o pátio, de onde a música vinha. Algumas pessoas se juntaram em uma rodinha, e parou para observar de longe com as amigas. Ela não conseguia enxergar direito, mas pela voz conseguiu distinguir que era um homem que cantava com uma voz meio afeminada demais. Quando as pessoas na frente se viraram e a flagraram ali, abriram espaço para que a menina pudesse ver a apresentação. O espanto foi substituído por uma ansiedade que dominou o corpo dela e teve uma ideia do que estava acontecendo. O homem vestia uma peruca loira com mechas azuis, com uma faixa de seda vermelha no alto na cabeça, blusa de botões laranja com lantejoulas vermelhas por cima de seios falsos e calças jeans de boca de sino. As pessoas batiam palmas e cantavam no ritmo da música. olhou para as amigas, que pareciam estar pensando a mesma coisa que ela.
-Meninas...
-Shhh... –Kim virou o rosto dela na direção do homem que cantava. Ele viu que a atenção estava direcionada a e começou a andar na direção dela e dançar a sua volta. –Oh, meu Deus!
Amanda soltou uma risada nervosa enquanto a garota observava àquilo tudo estática. Estava mesmo acontecendo novamente? Sentiu as bochechas queimarem e um calor invadiu seu corpo, como se estivesse numa sala toda fechada, e não ao ar livre. Quando acabou de cantar, o homem voltou para o lugar inicial e respirou fundo, se curvando numa reverência. Depois que as palmas cessaram, ela olhou para os lados e percebeu que o pátio estava com mais do dobro de pessoas que estavam ali quando ela chegara. Engoliu em seco e o homem pegou o microfone novamente, energizado pelo som das palmas:
-nifer iam! –ele deu um gritinho agudo e algumas pessoas começaram a rir. Ela passou as mãos pelo cabelo, nervosa. Tudo era tão familiar, até o homem contratado parecia o mesmo. Os olhos claros dela piscaram rapidamente, só para ter certeza de que aquilo estava acontecendo de verdade. –Em nome de , te convido para ir ao Baile de Natal.
engoliu em seco e seu coração disparou. Era o mesmo convite brega, parado bem na sua frente para envergonhá-la novamente, justamente porque se divertia quando a via com vergonha. Ela já sabia o que estava acontecendo, mas aquele homem confirmando tudo só tornava as coisas mais excitantes. Seu estômago deu mil voltas e as suas amigas sorriam animadamente para ela, ao seu lado. As mãos dela começaram a tremer e de repente a atenção não estava mais nela, mas em algum ponto atrás de si. Quando se virou para trás, encontrou-se a centímetros de , seu rosto quase batendo no peito duro dele. Ele não estava ali quando ela olhou. Como ele faz isso? Ela respirou fundo, tentando se acalmar, mas não adiantou nada. O menino estava tão perto que ela temeu que ele escutasse seu coração quase pulando do peito. Os olhos das pessoas estavam todos direcionados a , esperando por sua resposta. Ela olhou em volta, completamente desconfortável. Mesmo acostumada com o teatro, nunca se sentia muito bem sendo o centro das atenções. tinha os olhos verdes brilhosos vidrados nela e esperava por sua resposta também. Ele cheirava ao sabonete que sua mãe mandava comprar para sua casa desde que ele tinha oito anos de idade. Seus cabelos estavam embaixo de uma touca, mesmo o tempo não estando mais favorável para usá-la. sempre amou suas toucas.
-... Não vai responder? –ele perguntou lentamente, como sempre. Se antes estava calmo, não estava mais. Uma ruga de preocupação apareceu no canto dos olhos dele e ele franziu sua testa, como um garotinho que pede aos pais um cachorro de Natal e ganha um não. A garota engoliu em seco novamente, olhando em volta. O silêncio era sufocante.
-Jeeeeennifer? –o homem vestido de mulher cantarolou e ela pôde escutar algumas pessoas murmurando com as outras.
estava ali, parado em frente a ela, pedindo-a para que os dois pudessem ir ao Baile juntos, um jeito de dizer que queria que tudo voltasse ao normal, a amava e que estava arrependido de tudo o que tinha feito. E como era lindo! Era como se nada nunca acontecera entre eles, e como se todos os problemas pelos quais passaram não existissem e como se aquela conversa na enfermaria também nunca acontecera. Era como se eles tivessem catorze anos novamente, e por um momento achou que tinham. Por um momento ela sentiu que só os dois estavam naquele pátio, mesmo sabendo que era observada por mais trinta pessoas. Respirou fundo. Ela tinha a impressão que tudo voltara ao que era antes. Mas não voltara. Apesar de amá-lo, fizera coisas que realmente a machucou, e ela também havia errado demais naquele relacionamento para simplesmente ignorar as falhas. Nunca esteve tão triste em sua vida como naquele momento em seu quarto na April Hall, depois que pediu um tempo. Pensou em Kimberly: ela disse que tinha seguido em frente. O relacionamento com durou muito tempo, mas acabou rapidamente. Será que os dois somente estavam juntos porque era a única realidade que conheciam? Por que estavam acostumados? Ela sabia que ele se sentira atraído por rina, afinal. Os olhos de se encheram de lágrimas.
-Não. –ela sussurrou. A expressão de mudou completamente. Os cantos de sua boca despencaram e seus olhos se arregalaram, cheios de espanto, tristeza, culpa e até mesmo indignação. Ela começou a se sentir enjoada e de repente não estava mais com fome. Na verdade, só de pensar no chocolate quente que pretendia tomar, seu estômago embrulhou e achou que fosse vomitar. As pessoas começaram a falar mais alto ainda, e o homem que cantara colocou as mãos na cintura, confuso. Provavelmente aquilo nunca acontecera com ele. –, eu não sei como você pôde pensar que era só vir até aqui e me convidar para o Baile de Natal que as coisas magicamente voltariam a ser como antes.
-Eu só queria que elas voltassem! – colocou as mãos na cabeça. Ele estava desorientado e passava os dedos pelo jeans freneticamente. se sentiu muito mal, mas não podia tentar convencer a si mesma de que estava tudo bem quando ela sabia perfeitamente que não era o caso. – Eu queria te convidar do mesmo jeito que te convidei da outra vez porque queria que soubesse que meus sentimentos não mudaram. Sei que te desapontei e já me desculpei por isso. Você diz que me perdoou, mas eu sei que não perdoou porque te conheço muito bem, querendo ou não.
-Você estragou tudo, eu estraguei tudo... E já tenho par para o baile. –ela não soube como conseguiu que saísse alguma voz de sua garganta por causa do bolo enorme que ali se formou. –Eu simplesmente... Não posso.
-Eu não acho que você convidou para o Baile. –ele suspirou e tentou esconder a raiva. Era incrível como o garoto a conhecia bem. –E mesmo que tivesse convidado, não é por isso que você não quer. Já entendi que não te mereço, só me diga que você não me ama mais e eu te deixo em paz.
-, não faça isso. –as lágrimas rolaram pelo rosto de nifer. Ele já estava inchado, provavelmente no final do dia viraria uma bola. Olhou em volta, pensando na cena que os dois causaram. A posição que o menino a colocara era muito ruim, e aquilo era injusto. Ela se virou para a multidão. –Não há nada mais para vocês verem aqui! Saiam! –quando as pessoas foram se afastando aos poucos, voltou-se para e limpou as lágrimas com as costas das mãos. –Você não tem o direito de fazer isso.
Ela saiu correndo, deixando-o lá imóvel. Dessa vez, não fez nada para impedir as lágrimas de caírem. Só queria sair dali rápido e ir para qualquer outro lugar onde as pessoas não a encarassem e pudesse respirar com facilidade. Suas amigas a seguiram, gritando para que esperassem, mas nifer não esperou. Ela se lembrou de como Kim parecia estar bem por ter finalizado as coisas com Carter. Era daquele jeito que ela deveria se sentir, e não como se algo dentro dela acabasse de morrer.
*
Capítulo 138 – “ DON’ T WALK AWAY WHEN I’ M TALKING TO YOU”


fechou a porta do quarto com força e se jogou na cama com seu pacote de salgadinhos. lhe lançou um olhar rápido e continuou lendo seu livro de capa azul..
- , você está mesmo lendo? –ele perguntou com escárnio. –O que foi que, em nome de Deus, eu perdi?
-Cale a boca, , estou ocupado. Preciso terminar esse livro até amanhã e acabei de começar.
-Já está escurecendo, por que não aproveitou o dia para ler?
-Eu passei o dia com uma ressaca enorme, e depois que finalmente não me sentia mais como se fosse morrer de dor de cabeça, fui até a piscina e nadei com .
-? –ele se surpreendeu. Às vezes se esquecia de que e continuavam amigos. Ele sempre achara que o amigo gostava um pouco demais dela para esquecê-la tão facilmente.
-Sim. Só uma coisa antes de eu voltar para minha leitura tediosa... Como vai sua namorada, a ?
corou e olhou para baixo. Algumas garotas o questionaram sobre e ele começou a se perguntar como diabos sua vida podia ser tão pública se ele não contava nada para ninguém. E ainda não tinha pensado direito sobre como falar para o amigo que pedira um favor para uma garota, que por acaso era ela se passar como namorada dele para que a sua ex não o importunasse mais. Era uma coisa meio difícil de se dizer, ainda mais porque tinha aquela ideia louca de que estava gostando de . Ele não sabia de onde o amigo tinha tirado aquilo.
-Tentei fingir que ela era minha namorada para que a parasse de me encher, e pedi a ela que entrasse na onda.
-Ah, qual é. – se inclinou e pegou um pouco dos salgadinhos do amigo. O garoto ia abrir a boca para reclamar, mas o outro foi mais rápido. – está ficando com . Você só queria uma desculpa para passar mais tempo com ela e poder chamá-la de namorada.
-Não seja ridículo, você sabe como ela é, a garota fica doida quando se trata de conseguir o que quer.
-Ela não parece muito determinada em te conquistar de novo, não acha? Quer dizer, qual foi a ultima vez que se insinuou para você?
-Hum, acho que na festa da pizza. – olhou para baixo. O amigo estava certo. Havia mesmo um tempinho que a ex-namorada não fazia algo, e conhecendo-a do jeito que conhecia, sabia que se ela realmente ainda o quisesse já teria feito uma confusão. –Antes que fale alguma besteira, eu não tinha pensado nisso ainda.
-É claro que não.
-É sério, não tinha mesmo.
-Não, eu acredito. – deu uma risada e se levantou para pegar um copo de água que estava em cima de sua escrivaninha. –Mesmo porque você devia estar ocupado demais babando pela menina.
fez uma careta para ele e quando ia xingá-lo, foi interrompido novamente. Quando abriu a porta, levou um susto. estava parada do outro lado com um sorriso nervoso. Ela vestia uma saia preta de lã e sua jaqueta de couro vermelha combinava com o laço no alto de usa cabeça. Ela deu passos desajeitados para trás e ele fechou a porta para que não precisassem contar com os olhos curiosos do amigo.
-, o que faz aqui? Já acabaram os estudos? –ele se lembrou dela ter comentado algo sobre eles terem que ir para a escola estudar para as provas finais. Observou a garota atentamente, sem deixar de reparar que ela estava muito bonita.
-Bom... Sim. Eu queria te fazer um convite, mas não sei se será muito apropriado por causa da nossa situação e tudo o mais, e se você não quiser ir, tudo bem, mas eu...
-. –ele riu, achando o nervosismo dela bonitinho. Aquelas pequenas demonstrações de sua personalidade o incitavam a querer descobrir mais. –Pode falar.
-É que temos essa coisa todo ano na escola que se chama Baile de Natal. E, hum, esse é meu último ano no colégio, então significaria muito se você aceitasse a ir comigo.
-Quer que eu vá ao baile da sua escola? –ele estava surpreso. A menina olhava para ele com um sorriso esperançoso e seus olhos castanhos se arregalaram. Ele deu um sorriso e sua voz saiu uma oitava mais grossa. –Claro, eu adoraria ir com você. Estou lisonjeado.
-Por quê?
-Porque você escolheu ir comigo em seu último baile da escola.
-Ah! –ela ficou vermelha, mas depois se controlou e riu. –Bom, você deveria ficar, precisei recusar vários convites no meu caminho até a sua porta.
-É mesmo? –ele perguntou e de repente queria saber se era mesmo verdade. E se assustou por se perguntar aquilo. –Aposto que o caminho nunca foi tão longo. Mas acho o mínimo que pode fazer é dizer não a todos, considerando que tem namorado.
riu e corou novamente, não conseguindo esconder sua surpresa. Ela olhou para ele, como se esperasse que falasse alguma coisa. Os dois ficaram alguns segundos se encarando e ele percebeu que ela estava meio envergonhada. Normalmente nunca lhes faltava assunto. Ela disse, depois de um tempo:
-E como vão as coisas no assunto ? Ela já sabe sobre seu comprometimento?
-? –ele engoliu em seco. Ele sabia que teria que contar para que aparentemente não estava mais interessada em tê-lo de volta, mas não queria fazer aquilo. Era uma desculpa para passar mais tempo com a garota, e ele não podia mentir, gostava de passar tempo com ela. –Oh. Eu acho que não está funcionando muito bem, ela não acreditou.
-Então vamos ter que fazê-la acreditar.
-Como?
somente sorriu e pegou seu telefone no bolso, ligando na câmera. Ela apontou o celular de modo que captasse perfeitamente os rostos dos dois. olhou para a menina, curioso, e ela deu um passo para frente, conseguindo deixar o outro nervoso de verdade. E então, achando coragem sabe-se lá de onde, puxou-o pelo colarinho da camisa até que ficasse na altura dela, de modo que ele se curvou todo, ficando corcunda. Ela sentiu sua respiração quente e olhou atentamente para seus olhos. nem piscava direito. Ele a observou colocar sua mão pequenina na nuca dele, levando-o até si. Quando os lábios dos dois se tocaram, o garoto demorou uns segundos para raciocinar o que estava acontecendo. Mas quando o fez, abriu a boca e agarrou a cintura de , passando sua língua numa velocidade nem tão rápida nem tão devagar pela boca dela, que tinha gosto de creme dental. Ele de repente se perguntou se não estava com um bafo horrível de salgadinhos e teve vontade de socar sua cabeça na parede por não ter enxaguado a boca antes de ir falar com ela. A sensação de seus lábios nos dela era ótima, e ele beijou seu lábio inferior e superior para depois beijá-la novamente, seus dedos afogados nos cabelos ondulados da garota. de repente se afastou e parou de filmar, mexendo em algo em seu celular para depois colocá-lo de volta no bolso. sorriu meio abobado. Aquilo tinha sido... Incrível. Ele iria dizer isso, mas ela o interrompeu.
-Ótimo. Agora sim acreditará.
A voz de estava trêmula e ela tentou ignorar seu coração batendo acelerado no peito. Ela teve uma sensação maravilhosa, de alegria e se sentiu inteira. Era insano tentar explicar o quanto desejara que aquilo acontecesse, e se sentiu triste por ser tudo uma farsa. Não podia acreditar que só a beijara porque era necessário. Mesmo que quisesse ajudá-lo, era demais para ela, porque realmente gostava dele. Quando essa percepção lhe atingiu, soube que precisava sair dali.
-Espero que dê tudo certo. –ela disse e começou a se afastar. ficou confuso. –Tenho que ir.
-Aonde você vai? Por que está indo?
-Eu estou atrasada.
-Para o que?
não respondeu. Ela o deixou sozinho no corredor, sem entender nada do que estava acontecendo. Ele respirou fundo, se perguntando por que ela surtara de repente. Ela devia se acalmar. E ele também.
*
Capítulo 139 – “ FOR YOU I’ D WAIT TILL KINGDOM COME”


Fred andou pela April Hall se rumo. Depois que o Sr. Garcia lhe ofereceu cem pratas, a idéia de fazer um texto não pareceu tão estúpida e enfadonha assim. Além do desafio, que já era motivo o bastante para o garoto. Ele estava ansioso desde que falara para o professor que estava no meio de outra aposta. Não sabia o motivo, mas aquilo fez com que pensasse sobre a relação dos dois. Pensou que nunca houve uma seriedade naquele relacionamento, não importava o sentimento que ambos possuíam. Naquele momento, por exemplo, ambos se encontravam no meio de uma aposta. Se eventualmente iriam acabar ficando juntos, por que não podia ser naquele momento? Ele nunca iria acreditar que realmente queria ter exclusividade com uma garota, só que seus pensamentos falavam por si mesmos. já o torturara o bastante para uma vida.
Ele entrou na sala de jogos e procurou por . Eles ficaram de se encontrar ali e já estava atrasado. Passou pelas mesas de sinuca, pelos tapetes de dança, pelo pequeno frigobar em cima da televisão, de onde podia escutar Fall Out Boy num tom alto, e quase escorregou no chão de mármore ao passar por uma poça de suco de laranja que alguém derramara. O lugar não possuía muitas pessoas, mesmo porque estavam todos numa semana de prova ou se preparando para elas. O garoto olhou em volta e nem sinal da menina. Decidiu que iria esperar sentado em um dos sofás verde-limão do fundo da sala, quando viu um alvo para dardos. Com um sorriso de lado, foi até lá e pegou o monte de dardos em um balde embaixo do alvo. Ele se afastou e lançou o primeiro, quase acertando no meio. Nas próximas cinco tentativas, errou o centro. Com um sorriso amarelo, pegou o próximo dardo, sem conseguir se concentrar direito. Ele colocou o dardo no rumo dos olhos e começou a mirar, estreitando-os. Quando ia jogar, algo veio por trás dele e acertou o centro do alvo, sem nem mudar de direção. O garoto se virou pra ver de onde aquela flecha intrusa tinha vindo e arregalou os olhos ao ver . Ela vestia seus jeans preferidos, aqueles com alguns furos nas coxas e nos lhos e seus cabelos pretos lisíssimos estavam soltos, sua franja caindo sobre o rosto.
-Você nunca foi muito bom nisso, não é mesmo,?
-Era uma das poucas coisas que você ganhava de mim. –ele riu com desprezo e ficou boquiaberta.
-Que mentira!
-É claro que é verdade, . Eu ganhava de você no videogame, no tênis, nas notas... Até mesmo nas apostas eu ganho.
-Ei, espere aí. Quem foi que disse que você está ganhando a aposta?
-Não é óbvio? E pensar que você é boa demais para mim.
Ele sorriu e olhou para baixo, as bochechas coradas. pegou alguns dardos e entregou a ela, que levantou a cabeça lentamente para entender o que ele dizia.
-Vamos lá. Quem ganhar, é o melhor.
-Só isso? Não ganha nada?
-Ganha a satisfação de ser o melhor.
-Tudo bem, prepare-se para perder, então.
-Você bem que queria.
Ele tirou todas as flechas do grande alvo e as jogou dentro do balde, dando passagem para que ela pudesse começar. jogou o primeiro quase no meio, dando-lhe uns bons pontos, que ela anotou no quadro pendurado na parede. Depois, lançou o seu ao lado do dela, porém um pouco mais longe. Ela deu um sorrisinho de superioridade e jogou o cabelo para trás. O segundo dardo foi acertado no meio e ela anotou seus pontos e os do adversário.
-Pode tirar esse sorrisinho do rosto, ainda faltam três jogadas.
-É adorável o fato de você ter esperança que vai ganhar.
Fred fez uma careta, mas sorriu por dentro. Ela o chamara de adorável sem nem perceber. Lutou contra as vontades que se apoderaram de corpo para que concentrasse no jogo. O menino se inclinou e jogou o próximo dardo, que passou bem perto do dela, no meio. Bufou e tirou todos os dardos do alvo enquanto ela anotava os pontos. colocou sua mão quente sobre o peito de, empurrando-o para trás. Ele olhou para a mão dela com um sorriso e ela logo a tirou dali, como se o peito dele pegasse fogo. Ignorando a risada irônica dele, a garota jogou sua flecha para o alvo, mas ela foi ao espaço mais longe do meio possível.
-Que droga. –murmurou e se satisfez, sabendo que a desconcentrara. E foi tão fácil. –Isso não é válido, você trapaceou.
-Eu! – o menino colocou a mão sobre o peito, uma sensação gostosa correndo pelo seu corpo, como sempre acontecia quando tinha a oportunidade de usar seu sarcasmo. –Foi você que começou a me tocar.
-Bom, sim, mas... –ela ficou constrangida. –Você fez isso com os olhos.
-O que?
Fred gargalhou e depois a observou ficar com raiva.
-Isso que você faz, olha para mim desse jeito e acha que eu vou me derreter toda. É isso que sempre fez e é extremamente irritante porque seus olhos são bonitos, e você sabe que eles são sempre problema e... E por que está se aproximando de mim?
começou a respirar rapidamente e naquele ponto, o garoto já estava quase encostado nela, com sua cabeça inclinada para baixo para que pudesse olhar em seus olhos. Ele sorriu ao reparar nas pequenas sardas dela, aquelas que só podiam ver se estivesse bem perto. Ela o encarava de um jeito tão vulnerável que ele se assustou por ter tanto poder sobre alguém. Não entendia ao certo como a situação poderia ser enxergada dessa forma aos olhos da menina, mesmo porque na verdade. Ele também se sentia fraco perto dela e sabia que não era o vencedor daquela aposta.
-...
-O que?
-Você está na minha frente.
olhou para frente e percebeu que estava tampando o caminho dele para o alvo. Com as bochechas rosadas e a cabeça baixa, murmurou um pedido de desculpa e saiu rapidamente do caminho. Provavelmente ela achara que ele a beijaria e ficara ali, parada, deixando... Uma luz se acendeu na cabeça de. Ela iria deixar. O que significava que queria beijá-lo sem nem saber se aquele era o caso. O que significava que ele ganhara aquela aposta. Jogou seu dardo bem no meio, dando um sorrisinho e escrevendo seus pontos no quadro. A garota foi depois dele e jogou o seu perto do meio, dando-lhe noventa pontos e o ultimo ela acertou bem no meio, de novo. Os dois oitenta pontos de foram anotados no quadro.
-Vamos somar. –ela disse. Fez as contas no quadro e esperou, batendo o pé contra o chão fingindo estar impaciente. Recebeu uma careta, responsável por um riso, e foi até perto do quadro para ver as contas. Quando viu o resultado, começou a rir e ficou vermelha de raiva. –Eu não acredito nisso. Por que você está rindo?
-Porque é engraçado.
-Não é!
-É claro que é, Srta. Sou profissional em jogar dardos. Conte-me mais dos seus méritos, agora que concluímos que seu talento nato permanece intacto. Quais são seus outros atributos?
girou os olhos e pegou o pulso dela, guiando-a para o sofá verde-limão perto de onde os dois estavam antes. Ele pegou duas latas de Soda no frigobar, entregando uma a ela.
-Eu sempre te digo isso, mas a única coisa que precisa é de relaxar. Você é muito tensa e quer medir todos os seus atos. Às vezes você precisa parar de tentar planejar ou controlar e se arriscar mais.
-Quem te deu o direito de me dar lições do moral? Não olhe para mim como se eu vivesse na defensiva,, não é...
-Está vendo só?
olhou para baixo. Ela sempre foi bastante preocupada com tudo e nunca dava um descanso a si mesma. Ouvia essas palavras do garoto já havia um tempo, e dizia que iria tentar, mas ambos sabiam que não conseguiria. Houve vezes em que tentou ensinar a ela alguns exercícios de yoga e sempre dizia que não conseguia fazer nada daquilo.
-Lembra do que eu te ensinei a fazer? –ele perguntou, colocando suas mãos na cabeça, nas têmporas. assentiu com a cabeça e tocou o mesmo lugar de sua cabeça enquanto fazia movimentos circulares e respirava fundo. –Isso não te relaxa?
-Sim.
Ele sorriu e olhou para a garota atentamente. Ela tinha os olhos fechados e sua expressão parecia finalmente calma. Pegou as mãos dela com uma delicadeza que não sabia possuir até aquele momento e as colocou no sofá. Com seus próprios dedos, começou a massagear as têmporas da menina, que abriu os olhos, alarmada.
-Respire fundo.
Ela fechou os olhos novamente, respirando fundo e tentando relaxar, mas sabia que ele a tocando não ajudava em nada. Afastou suas mãos dela e olhou para o chão. Era a sua vez de respirar fundo, porque não agüentava mais ficar sem ela.
-Meus parabéns.
-Hã? – enrugou a testa, alternando o olhar entre ele e o alvo de dardos, pensando que tinha algo a ver com o que eles acabaram de jogar, só que o menino não olhava para lá. Ele a olhava diretamente nos olhos e a garota se agitou. –Do que está falando?
-Estou te parabenizando, você venceu a aposta. Eu sou louco por você.
arregalou os olhos e seus pés começaram a formigar. Ela sentiu como se fosse vomitar a qualquer momento, tamanho o caos que tomou conta de seu corpo, e não soube o que pensar, fazer, ou o que dizer. Esperou tanto para que dissesse aquelas palavras! Será que ele queria dizer que não iria sair com mais ninguém? Que a queria só para si? Nunca falara assim antes, nem quando estavam juntos. Ela lutou contra sensação de sorrir porque seu sonho fora realizado. Lágrimas carregaram seus olhos e arregalou os olhos verdes. Foi o bastante para que ela ficasse triste. Ele não podia encará-la com esse olhar. esperara tanto para ouvir aquilo que até se esqueceu de que não podia ter certeza se era verdadeiro. Quer dizer, enquanto estava com ela, saía com mais várias e várias garotas. Ele inclusive estava saindo com naquele exato momento. Ela sentiu raiva.
-Fred, você é um covarde. Por que não disse antes? Eu esperava ansiosa para que dissesse essas palavras! Quando nós estávamos juntos, você não tem noção de quantas vezes eu quis que dissesse que gostava mesmo de mim, pelo menos uma vez!
-...
-Como tinha a cara de pau de me beijar quando fazia o mesmo com milhares de garotas? Pelo menos esperava vinte e quatro horas, ou saía da minha casa já atrasado para um de seus compromissos? Eu poderia até ter pegado herpes, seu nojento. Você diz isso agora, mas como espera que eu acredite depois de tudo? E quanto à ?
-Era só para te deixar com ciúmes, assim como você está saindo com David para me afetar. E funcionou, porque eu gosto mesmo de você. Se não gostasse, por qual motivo eu concordaria com essa aposta?
-Porque você é um jogador.
-...
-Não,. Nem tenta.
Ela começou a se levantar e o garoto se desesperou. Seu coração batia rápido. Ele estragara tudo? Foi atrás dela e pegou seu pulso mais uma vez. se virou para trás com as lágrimas correndo pelo rosto.
-Como faço para que acredite em mim?
-Você pelo menos consegue dizer?
-Dizer o que?
-Vamos lá,, não se faça de bobo. Sabe do que eu estou falando, nós dois não nos conhecemos ontem e tem muita coisa aqui.
-Eu...
-Diga. E aí eu acreditarei.
Fred engoliu em seco. Não era como se ele falasse aquilo com frequência. Olhou para ela, que esperava com o rosto tenso, mas ao mesmo tempo com uma ponta de esperança. Ele abriu e fechou a boca duas vezes, e era como se tivesse perdido a voz. Não conseguia fazer com que nenhum som passasse por sua garganta, era como se o ritmo descontrolado de seu coração tivesse atrapalhado suas cordas vocais. Parecia aquele pesadelo que algumas pessoas têm, no qual você está sendo perseguido, e por mais que queira não consegue se mover. Olhou para baixo e a viu assentir com a cabeça. se soltou da mão dele.
-Foi o que eu pensei.
Ela saiu marchando para longe dele e passou a mão pelo topete, tentando se acalmar. O jogo de dardos tinha empatado, mas parece que ele tinha perdido, afinal. Parabéns, .
*
Capítulo 140 – “I DON’ T WANT NO SCRUB”


Samantha Johnson pegou um pouco de bicarbonato e misturou com água, girando a colher bem devagar até que ele quase se dissolvesse. Ela se virou e deu uma olhada em David, que estava deitado sem camisa na sua cama, com os olhos fechados e tentando cochilar. A garota passara lá mais cedo e ele abrira só uma frestinha da porta, dizendo que estava com alguém e ela imediatamente pensou ser . Será que ele já a perdoara por ter deixado Sam sozinha quando ela supostamente estava se afogando? Então, ela esperou mais um pouquinho e voltou depois de umas horas. O menino estava deitado em sua cama sozinho quando ela entrou, e parecia muito abatido. Quando lhe perguntou o que acontecera, ele respondeu que não estava se sentindo bem. Então, não pensou duas vezes antes de decidir lhe servir de enfermeira. E não era como se ela estivesse reclamando.
-Ei, beba isso, eu acho que ajuda. –ela lhe ofereceu o copo e ele abriu os olhos lentamente, aceitando e entornando um líquido na boca. Ela deu um sorrisinho inocente e se sentou ao seu lado.
Seu vestido bordado lhe caía super bem e seus cabelos ruivos foram presos em um rabo, deixando os brincos de diamante de quatro quilates à mostra. Ela tirou seus sapatos vermelhos e os colocou ao lado da cama. Quando David terminou de beber, ele fez uma careta e entregou o copo para ela, que se esticou para deixá-lo em cima da cômoda. A menina estendeu a mão esquerda e arrumou o cabelo loiro dele para trás.
-Seu cabelo fica melhor assim. –ela percebeu que ele ficou tenso quando foi tocado, mas fingiu não ter notado nada. –Eu achei que estaria aqui cuidando de você.
-Ela tentou, mas não estamos nos falando.
-Por que não?
-Por causa do que ela fez com você ontem. É ridículo que tenha se comportado daquele jeito.
-É isso que dá sair com calouras.
- sempre pareceu tão madura.
Sam escondeu o sorriso. Quando ela e David namoravam, ele sempre dizia a que Sam era madura e que não era, mas o amigo afirmava que era ao contrário.
-Você nunca se interessou por uma garota mais nova antes.
-É verdade. Eu acho que tinha medo de que elas fossem imaturas e que fizessem caso com qualquer coisa errada que eu dissesse. E não é assim, o problema é que mesmo não tendo esse comportamento, tem muitas coisas mal resolvidas na vida dela. A relação dela com o ex, por exemplo. É loucura você ficar com alguém que sabe que ainda está apaixonada pelo antigo namorado?
-Um pouco. –Sam sorriu. –Talvez você só estivesse com pressa de ficar com uma pessoa. Por algum motivo acha que se ficar com ela, será uma distração para não pensar em outra.
David se mexeu na cama, desconfortável. Sam estalou a língua. Ela sabia que David ainda não a esquecera.
-Você se lembra de quando ficava doente e eu cuidava de você?
-Era um médico bem melhor que eu. –ela concordou e se aproximou mais dele, seu braço roçando no dele. –Você se lembra de quando nós fomos para a casa de em Santa Bárbara e surfamos e eu fiquei doente?
-Sim! –David se animou em sua cama. Ele mostrou seus dentes alinhados e brancos, e ela sorriu. Ele tinha cheiro de Tilenol misturado com o perfume que passava desde sempre e a garota conseguia sentir a respiração dele em seu nariz. – ficou tão animado porque você seria uma companhia para a enquanto ele surfava, mas você a deixou sozinha e foi surfar também.
-É, e você achou que conseguia ir para a Costa Leste nadando contra a correnteza.
-Isso porque você começou com essa ideia. Não foi sem motivo que pegou um resfriado depois! Sempre achava que era capaz de nadar qualquer distância e em qualquer lugar só porque era... –David arregalou os olhos. Sam engoliu em seco. Droga, por que ela foi falar aquilo? Samantha se sentiu estúpida por ter trazido aquele assunto à tona. Como ela foi burra! Estava tudo nas mãos dela, o menino sentia raiva de e não dela, e os dois começaram a ter uma conversa de verdade depois de meses e ela estragara tudo. Como pôde ser tão idiota? –Campeã estadual de natação.
Sam fechou os olhos e engoliu em seco novamente. David se distanciou dela e se levantou num pulo, colocando as mãos na cabeça de raiva e de dor.
-Deus. –ele suspirou e seus olhos se escureceram. Andou pelo quarto descontrolado, tentando achar palavras para dizer. A garota se levantou também, pensando que teria que tentar acalmá-lo. –Samantha, como você pôde ser tão baixa a ponto de fingir estar se afogando? Eu não acredito que fui tão idiota a ponto de esquecer que você não só sabe nadar como era campeã estadual de natação! E mesmo que estivesse com câimbra, isso não mereceu todo o escândalo.
-David, eu posso explicar.
-Não quero ouvir. Você me fez brigar com a minha namorada por nada, é mais imatura que ela.
-Tudo bem, eu fingi estar me afogando, mas sua namorada realmente me empurrou na piscina.
-Por quê? O que foi que você disse a ela?
-Eu não disse nada, só a verdade.
-E que verdade, Samantha?
-Que eu quero você de volta. Que foi por isso que eu voltei. –Sam se aproximou bem rápido dele e passou os braços pelo pescoço dele.
David olhou para ela alarmado, mas não fez nada para sair dali. Ela se inclinou um pouco até seus lábios roçarem o queixo dele. Ele olhou para os lados, como se dissesse em voz baixa que aquilo não era uma boa ideia. Ela sabia que era, e ele também. Se não soubesse, não estaria parado ali esperando que ela o beijasse. Era incrível o quanto eles eram feitos um para o outro, mesmo Sam fazendo besteira – no ponto de vista dela a besteira que ela fizera não era fingir um afogamento, e sim deixar que David descobrisse a farsa –, os dois ainda se gostavam.
Quando Sam ia acabar com a distância que os separava, ele se inclinou para trás e a porta se abriu ao mesmo tempo. estava do outro lado, com os olhos arregalados, inchados e o rosto mais branco do que o normal. Ela olhou de David para Sam, que deu um sorrisinho debochado. O garoto saiu de perto dela e se sentou novamente em sua cama.
-O que está acontecendo aqui? – esganiçou e correu para dentro do quarto, batendo a porta com força atrás de si. –David, o que é isso?
-Não era nada, Samantha só estava cuidando de mim.
-Quando eu me ofereci para fazer isso, a sua resposta foi que não precisava. Se você prefere a companhia dessa garota, então talvez eu deva sair para que os dois continuem o que estavam fazendo.
-Não seja ridícula, nós dois precisamos conversar. Samantha, se importa?
-Claro que não.
Sam foi até ele e lhe deu um beijo na bochecha, ignorando o olhar assassino de para ela. Não lhe importava o que aquela idiota achava, porque ela já sabia o que David pensava do relacionamento dos dois. E ele iria beijá-la se sua namorada não tivesse chegado. Era isso o que importava para ela.
*
Capítulo 141 – “DON’ T CARE WHAT IS WRITTEN IN YOUR HISTORY, AS LONG AS YOU’ RE HERE WITH ME”


e andaram pela loja inteira, prestando bastante atenção em cada vestido. A menina recebeu uma ligação da amiga, chamando-a para fazer compras, mas ao chegar lá nenhuma das duas conseguiu se concentrar direito. só conseguia pensar em , e revivia aquele momento em sua cabeça mais vezes do que poderia contar. Pensou tanto na sensação que percorreu seu corpo quando os lábios dos dois se tocaram, a vertigem causada pela sua falsa coragem ao sugerir aquelas coisas que seu corpo estava em constante estado de êxtase desde então. Era como se tivesse vivido uma cena de algum filme, e não se cansava de assistir. Ela decorou os gestos, frases, expressões e ainda sentia os lábios do menino como um sopro em seus lábios. Só de pensar em experimentar tudo aquilo novamente, as pernas da menina fraquejavam um pouco. Nunca pensou que teria a audácia de fazer tudo isso, e durante o beijo, houve um momento – quando beijou seus lábios com delicadeza e ela se arrepiou toda – em que teve a impressão de que havia algo mais ali e de que ele não queria somente usá-la para se livrar de sua ex-namorada doida. Mas obviamente era somente o que a garota gostaria que acontecesse, e não chegava a ser o caso.
-Você acha que vai gostar desse? – ela pegou um vestido roxo de seda longo e que provavelmente ficaria meio justo. largou a roupa que segurava e analisou bem a peça. Ela torceu o nariz e fez que não com a cabeça. –Que droga, eu acho melhor desistirmos.
-Podemos ir para outra loja.
-Não, , essa é a única loja que me deixam pegar qualquer vestido emprestado porque minha mãe conhece a dona. Não quero ter que ir para outro lugar e experimentar roupas que eu sei que serão caras demais para eu poder comprar só para me torturar.
-Não vamos deixar que isso vire um problema. – pegou o vestido que segurava e colocou de novo na arara. Ela puxou a amiga pela manga de sua jaqueta de couro e as duas saíram da loja enquanto a menina resmungava que não podia pagar por nada. Entraram em uma boutique do outro lado do corredor, e a garota sentiu um cheiro forte de perfume. Seus olhos captaram a imensidão de araras na sua frente, que iam até o segundo andar, conectado ao primeiro por uma escada grande, cujo corrimão foi emoldurado de flores. A impressão que teve foi que havia acabado de entrar em um universo paralelo, tamanho o tamanho e esplendor. As pessoas ali circulavam pelo lugar iluminado com graça, vestidas com roupas chiques e bonitas, todas de bom gosto. Pareciam concentradas nas compras que faziam, trocando sorrisos umas com as outras e conversando, dando ao local uma energia animada. Os olhos de se arregalaram ao ver a quantidade de cores de sapatos, bolsas, vestidos e ao constatar que todos os atendentes pareciam ter saído de uma capa de revista. –Eu compro qualquer vestido que você gostar.
O rosto da menina ficou branco.
-Sério?
-É claro, basta me dizer qual. Os vestidos dessa loja são muito mais bonitos.
-Nossa. Isso é muita gentileza sua, mas... É loucura, . Eu não posso aceitar.
-Não só pode como vai. E não tente discordar, eu posso ser muito insistente quando quero. Só porque não vou ao Baile não significa que você não pode ir linda para impressionar o .
concordou com a cabeça, abobada demais para conseguir formular argumentos sobre o quanto a ideia da outra era absurda. Uma pontada em seu peito fez com que acordasse um pouco, causada pelas palavras de . Desde que as duas saíram da sala do Sr. Garcia, recebera seis convites para a festa. Um garoto decorou todo o armário dela com flores. Outro utilizou seu violão e cantou uma música e outro pediu para as líderes de torcida que formarem a palavra baile com seus corpos. Teve o menino que fez mais uma serenata para ela enquanto andava pelo corredor dos veteranos, outro lhe deu uma bola de basquete autografada por um jogador famoso e o jogador aproveitou para perguntar na bola se ela não queria ir ao Baile com o garoto – a bola depois ficou com – e o último se vestiu de Super Homem e perguntou se ela não queria ser a sua Mulher Maravilha. recusou educadamente todos e pediu desculpas, dizendo que não pretendia comparecer de forma alguma. Depois do último convite, o que o garoto estava vestido de Super Homem, ela correu para o banheiro e se trancou em uma das cabines. a escutou chorar ali, mas ficou surpresa demais para perguntar qualquer coisa. Talvez fosse porque todos começaram a chamar de Super Homem depois que ele a levou para o hospital e ela se lembrou. se sentia mal por ela, o que o menino estava fazendo era loucura.
Mesmo satisfeitíssima – melhor impossível – com seu par, não conseguia deixar de imaginar como seria ter tantos admiradores assim. À medida que ia recebendo os convites, começou a reparar no comportamento da amiga. Ela não aparentava surpresa, e nem sorria com presunção quando recebia olhares de outros alunos curiosos. Não desprezava os meninos que tomaram a iniciativa, pelo contrário, tratava todos com decência e educação, mostrando lisonja diante deles. Atitudes assim faziam com que as pessoas a admirassem ainda mais, pois a reputação de intocável da garota falava alto sempre, e quando ela se mostrava emocionada com as homenagens que recebia, era como se tivesse várias facetas, tornando-a mais interessante ainda. Era como se já esperasse que coisas assim pudessem acontecer, e lidar com elas fosse como precisar cumprimentar os amigos dos pais nas reuniões que aconteciam em sua casa frequentemente.
Ela olhou para os vestidos de baile nas araras. Cada um era mais bonito do que o outro. Seus olhos brilhavam ao passar por eles, como se ela fosse uma garotinha numa loja de doces. também a ajudava a procurar, depois de ter dispensado uma atendente que perguntara do que elas precisavam, dizendo que não confiava no gosto delas.
-Sabe, você bem que poderia ir ao Baile também. – falou depois de um tempo, quase num sussurro. A garota olhou para ela surpresa e a outra deu um sorriso encorajador. –Você não precisa ir sozinha, qualquer um da escola iria gostar de te acompanhar. Por que não dá uma chance ao Logan Ellis? Ele conseguiu um autógrafo e tudo o mais.
-Eu não me sinto muito disposta.
-Ah, qual é , esse é o nosso último Baile de Natal como estudantes do Ensino Médio! Você precisa ir, mesmo não estando com quem quer no momento. Não pode deixar que te prenda desse jeito.
- não está me prendendo. Ele na verdade vem me dado muito espaço desde que me mandou ficar longe dele. –ela suspirou. –Eu não posso perder , . Eu não posso.
-Não vamos falar disso agora, tudo bem? Quem sabe se você não for ao Baile e tentar conversar com ele... Quem sabe dá certo e vocês voltam ao que eram antes?
-Não sei.
-Só me prometa que vai pensar.
Ela deu de ombros e assentiu com a cabeça e forçou um sorriso. Já era um começo. As duas passaram para as araras seguintes e ela continuou analisando os vestidos, tentando checar qual era o mais barato. passou o braço pelos ombros dela e deu um sorriso, seu cabelo dourado roçando na testa de .
-Você e no Baile, hein? –ela falou e levantou as sobrancelhas. não conseguiu não sorrir. Toda vez que alguém falava dele para ela era assim. –Ele já deve estar caidinho por você.
-Imagine. – abanou a mão. –Estamos com esse teatro para que a não fique no pé dele. Inclusive hoje eu o beijei. – ela observou os olhos da amiga se arregalarem. –Mas fico triste porque sei que ele só me beijou para que ela finalmente acreditasse que nós dois estamos juntos, coisa que não estamos... Bom, você me entendeu.
-Você não sabe. Talvez ele esteja se aproveitando da situação.
continuou andando, deixando-a pensativa. Isso bem que podia ser verdade. podia mesmo estar se aproveitando da situação, e ela também podia desejar que ele estivesse se aproveitando da situação. Sonhar não fazia mal nenhum. E os dois já tinham se beijado, eram meio que namorados e estavam passando muito tempo juntos ultimamente. Talvez ele realmente pudesse começar a gostar dela, quem sabe?
-Ei, o que acha desse? –ela se assustou ao ouvir a voz da amiga chamando-a de longe. andou em sua direção e se deparou com um vestido vermelho rodado com um decote em V e rendas na parte da saia, que davam um tom meio dégradé a peça. Ela sorriu. –Gostou?
-É perfeito.
-Por que não experimenta?
concordou e foi até um dos provadores, pendurando sua bolsa em um gancho na parede. Quando terminou de colocar seu vestido, se olhou no espelho. Tinha caído perfeitamente para ela, realmente acertou daquela vez. Um barulho saiu de sua bolsa e ela pegou o celular, animada.
Você saiu tão rápido hoje mais cedo que eu pensei ter feito algo errado. Eu não mordi sua língua, mordi?
A menina soltou uma gargalhada de deleite, deliciando-se com aquela mensagem de texto.
Não, você não mordeu. Te devo desculpas por sair daquele jeito.
Ótimo, você não sabe como estou aliviado! Está tudo bem, eu só fiquei preocupado. Nem deu tempo de te perguntar a cor do seu vestido para que eu possa combinar minha gravata.
sorriu. Mesmo que não a visse do mesmo jeito que ela o via, ele ainda a queria por perto e isso era uma desculpa para que eles passassem mais tempo juntos. Ela podia tentar fazê-lo gostar dela, se parasse para pensar no tanto que os dois já haviam progredido, veria que realmente tinha sido muita coisa.
Meu vestido é vermelho, acho que você vai gostar.
Isso nunca esteve em questão.
teve vontade de dar piruetas pela loja, mas se conteve. Ela saiu do provador para que pudesse vê-la no vestido e ela sorriu ao ver a amiga.
-! Você ficou linda!
-Obrigada.
-Ele vai amar, eu tenho certeza.
-Espero que sim.
*
Capítulo 142 – “THAT’ S WHAT YOU GET WHEN YOU LET YOUR HEART WIN”


David deu voltas pelo quarto. Sua cabeça doía bastante e ele estava começando a se sentir enjoado de novo, tendo aquela sensação que sempre tinha quando estava prestes a vomitar. Mordeu as bochechas com força, tentando afastar o mal estar. Não queria vomitar na frente de ninguém, principalmente se essa pessoa fosse do sexo feminino. Talvez estivesse começando a ficar doente. Procurou em sua mente se eles possuíam algum termômetro ali para que pudesse medir sua febre, mas a última vez que viu o que pertencia a sua mãe foi um dia antes de se mudar para a casa, junto com várias outras coisas que mais cedo ou mais tarde foram se perdendo.
olhava para ele com as mãos na cintura, uma expressão raivosa no rosto bonito. Ela jogou os cabelos para trás e bateu o pé esquerdo no chão, impaciente. Ele iria logo dizer o que estava acontecendo, mas de que adiantaria? Isso não mudaria em nada os fatos dos quais estava ciente, que não eram nem um pouco agradáveis. E para ele aquilo era um absurdo. Quer dizer, se a garota gostava tanto assim de , por que não simplesmente terminou com David e perdoou o coitado?
-Você não acha que eu mereço uma explicação? –ela insistiu, com a voz carregada de raiva. O menino soltou um suspiro pesado. Às vezes ele se esquecia de que ela era mais nova, mas naquele momento se lembrava muito bem. Os dois nem estavam se beijando. Tudo bem que a distância entre ele e Sam estava muito pequena quando a namorada chegou ao quarto e os flagrou, mas ele não fez nada de errado e ia se afastar dela se Sam fosse para cima dele. Aliás, já estava começando a se afastar quando chegou. –David! Não vai dizer nada?
-Que droga, , eu já disse que não aconteceu nada. Sam insistiu muito e eu concordei em deixá-la cuidar de mim, ela provavelmente se sentiu em dívida por todas as vezes em que eu cuidei dela doente.
-É. –ela tinha sarcasmo na voz. –Tenho certeza de que foi isso.
-Eu não te trairia, tudo bem? Não sou esse tipo de pessoa. Inclusive, já estava me afastando dela e se ela tentasse algo, receberia um não como resposta. É revoltante ver que você pensa ao contrário.
-Me desculpe, David. –a expressão dela mudou para arrependimento e ela fez um biquinho com os lábios, para depois se sentar na cama e puxá-lo para se sentar ao lado dela. –Eu acho que acabei perdendo a cabeça porque vocês têm um passado juntos, sabe? E depois de tudo o que me falaram sobre ela...
-Eu já te falei que você não precisaria se preocupar com isso. Como acha que eu me sinto quanto a ? Tenho muita inveja dele por saber que ele é amado tanto assim por alguém que também ama. E ele é um cara legal, se eu não tivesse que odiá-lo, eu o adoraria.
-Por que insinua que ainda tenho sentimentos por ? É claro que isso não é verdade. Se eu tivesse sentimentos por ele, não estaria com você, não acha? O que, pensa que estou com você só para fazer ciúmes nele?
-Eu nunca disse nada sobre isso. –David deu um sorriso triste ao confirmar sua hipótese. Gostava de , admirava a pessoa que havia conhecido, e sabia que um dos fatores que mais o atraiu foi a vulnerabilidade que a menina possuía. Só não sabia que havia um motivo para ela ser daquela forma era um menino cuja personalidade era tão marcante. era o tipo de pessoa memorável, dificilmente esquecida e altamente intimidadora, que invocava respeito, por mais que ele se comportasse como um babaca na maior parte do tempo que passava acordado. –Sabe o que mais me entristece?
-O que?
-Eu pedi para que confiasse em mim desde o inicio porque eu confiei em você.
-Eu te agradeço por isso, mas aonde quer chegar?
-Bom, eu queria dizer que confio em você, e que se tiver algo que queira me dizer, estou ouvindo.
-Que eu queira te dizer? – repetiu. A expressão dela passou de confusa para culpada e depois para amedrontada e depois para pensativa. David observou todas aquelas transformações calmamente, esperando que ela finalmente dissesse. A menina respirou fundo e olhou para ele, sorrindo. –Não. Não há nada que eu queira te dizer.
-Hum, tudo bem.
David então tentou seu último recurso. Ele chegou para mais perto dela e lhe deu um beijo rápido e urgente. Sua boca se espremeu contra a dela, que nem teve tempo de fazer nada. Ele se separou e a encarou por, que para ele pareceram, minutos. Bem longos. Ela olhava rapidamente para todos os lados ao mesmo tempo, como um sapo procurando por uma mosca. O garoto passou as mãos pelo rosto e respirou fundo, tentando se acalmar com a voz de Neil Young saindo de seu celular. Escutá-lo era como estar em casa, tendo em vista que o CD do homem era um dos mais frequentemente tocados por sua família, e desde que era pequeno se deliciava com suas músicas. Quando ficou velho o suficiente para lembrar seu nome, gravou uma lista de reprodução com o nome de casa, para que escutasse quando quisesse relaxar. Aquela melodia não condizia nem um pouco com o momento pelo qual passava, e ficou um pouco irritado ao constatar que a garota estava estragando aquilo.
-Eu te dei a chance de dizer, mas você não disse. Por quanto tempo achou que conseguiria esconder isso de mim? –ele estava incrédulo. Uma sensação ruim percorreu o corpo de e ela começou a sentir seu rosto queimando e os olhos enchendo-se de lágrimas, como sempre acontecia quando se desesperava. –Eu sempre achei que você ainda tinha sentimentos por e tentava convencer a mim mesmo de que não estava sendo usado para causar ciúmes nele. Eu te compreendi e prometi ter paciência com você, . Fingi que não reparava nas suas crises de ciúmes perto dele. Nós dois terminamos uma vez por causa disso, pois pensei que seria melhor acabar antes que prejudicasse muito um dos dois. Depois, resolvi te dar outra chance porque sei que não se esquece de alguém da noite para o dia. Mas te dei outra chance porque achei que estivesse mesmo disposta a esquecê-lo. Fingi que não vi quando você ficou observando e na Sessão de Cinema como uma coitadinha, dando a desculpa que fui ajudar Jason com o projetor. Eu fiz tudo o que poderia ter feito... E é isso que eu ganho em troca? Você sendo pega por alguma garota beijando seu ex-namorado enquanto eu me perguntava onde tinha se metido?
As lágrimas rolavam pelo rosto dela, mas David não se deixou abalar. Quando foi até o quarto dele e lhe contou o que sabia, ele ficou irado. E sua cabeça doía muito quando estava com raiva, de modo que achou que fosse desmaiar de dor de cabeça. Depois que a menina saiu, o garoto correra até o banheiro e vomitara. Quando Sam chegou a seu dormitório e se ofereceu para cuidar dele, David aceitou prontamente porque sabia que se não aceitasse provavelmente desmaiaria mesmo.
Os dois ficaram um bom tempo em silêncio e ele se perguntou se ela não iria falar alguma coisa, até mesmo tentar negar que aquilo mesmo aconteceu. Porém, a garota nem se moveu. Só ficou lá, chorando. David ficou com mais raiva ainda, sua cabeça dando pontadas de dor. Quando ele ia falar mais, ela gaguejou:
-Quem te contou?
-Quem me contou? Isso é realmente tudo o que você tem a dizer? – apoiou o rosto nas mãos e o menino não acreditou. Ela não ia falar nada mesmo? Nunca tinha sido traído na sua vida, e olhe que Samantha Johnson não era uma pessoa muito fácil. –Eu fico me perguntando, se você sempre gostou de , por que não o desculpou de uma vez na Festa do Luar e me disse a verdade? Eu não teria que perder todo esse tempo que perdi achando que você podia começar a gostar de mim. Não sei por que não pensei nisso antes de voltarmos.
-Me desculpe.
-Não, não desculpo. Diga-me uma coisa, você estava somente me usando para causar ciúmes em ? Você chegou a gostar de mim, pelo menos um pouco?
-Eu... Eu gosto de você... Quer dizer, me sinto atraída por você... Mas o ...
-Já entendi. Então você me usou.
-Me desculpe, mas não foi assim...
David olhou para outro lado e tentou tocá-lo com seus dedos finos, mas ele se levantou. O rosto dela estava vermelho e a voz saiu tão trêmula e baixa que o outro mal conseguiu entender.
-David, eu nunca quis te magoar, não queria que isso acontecesse de forma alguma, e tentei mesmo fazer esse relacionamento dar certo. Será que poderá me perdoar por isso?
-Eu não sei. A propósito, foi quem me contou o que aconteceu, ela achou que eu merecia saber a verdade. Você não?
-Eu...
-, eu deveria estar gritando com você, mas sinceramente acho que nem vale a pena. Por isso, se tem uma coisa que eu posso te aconselhar é que vá atrás de e se reconcilie com ele. O sentimento que um tem pelo outro é óbvio.
Ela assentiu com a cabeça, sabendo que não conseguiriam conversar mais por enquanto e saiu correndo do quarto. Quando já estava do lado de fora, seu celular tocou e viu que recebeu uma mensagem. Com as mãos tremendo, pegou-o com delicadeza e leu a mensagem.
Nós sempre fazemos besteiras quando somos movidos pela raiva. Por isso, nem tente vir ao meu quarto falar desaforos por eu ter contado a verdade para David. Ninguém nunca pode dizer que não penso nos outros, só fiz isso por Liz Johnson, a única de vocês três que realmente merece David Grenwood.
David saiu correndo para o banheiro, descarregando toda a sua dor de barriga no vaso do banheiro. Quando terminou, limpou sua boca e escovou os dentes, bochechando com enxaguante bucal de menta. Ele se sentiu menos enjoado, mas sua cabeça ainda doía. Mais ainda depois daquela conversa desagradável que teve com . Foi até seu armário e vestiu uma blusa laranja de lã, dobrando-a na altura dos cotovelos em cada manga. Ele trocou sua calça de pijama por uma jeans e calçou um par de tênis brancos.
O que Sam falara sobre ele estar procurando uma distração para não pensar em alguém específico era verdade e o pegou de surpresa por ser exatamente o que ele estava fazendo. Desde que descobrira que Liz gostava dele se forçava para pensar em outra coisa porque aquele assunto o deixava desconfortável, ainda mais pelos sentimentos encubados e esquecidos. Mas ela sempre o escutara tão bem e era sempre presente. Era sua confidente, a quem ele sempre poderia contar, gostando dele ou não.
Por isso, sem pensar em detalhes, pegou seu celular e discou o número dela, que estava na discagem rápida. O telefone chamou umas cinco vezes até que ela atendesse.
-David?
-Oi Liz. Onde está?
-Tentando acalmar uma amiga que está tendo problemas com o namorado.
-Parece dramático.
-Drama de Ensino Médio. –ela riu e David teve que concordar com cabeça, pensando que fizera a proeza de se meter em um drama desses. Bom, pelo visto não precisaria se preocupar mais com esse detalhe. –Ainda bem que já passamos dessa fase, não é mesmo, David Grenwood?
-Hum, eu consegui me meter em um sem nem estar no Ensino Médio mais. Você sabe, eu e minhas brilhantes ideias.
-Você sempre tem dessas. Se não tivesse, não o reconheceria.
-Nossa, obrigado.
-Não há de quê. Mas me diga, o que está rolando com você? Já melhorou?
-Na verdade, não. Estou custando a me manter em pé e acabei de vomitar, foram três vezes na última hora.
-Nossa, que atraente, David.
-Eu sei, por isso te liguei. Acha que pode se livrar de sua amiga e me levar ao hospital? Só para verificar se não estou com uma virose.
-Acho que isso pode ser providenciado.
-Mesmo?
-Chego aí em cinco minutos.
Ele desligou o telefone e caiu na cama.
*
Capítulo 143 – “DO YOU CARE, DO YOU CARE? WHY DON’ T YOU CARE?”


-Adivinha quem fará as últimas provas da sua vida no Ensino Médio a partir de hoje? – cantarolou tentando soar animada. Ela jogou os cabelos loiros para trás. –Adivinha quem irá ao Baile de Natal depois de amanhã com o namorado gostoso? E adivinha quem vai te ajudar a encontrar o vestido de baile perfeito?
-Poupe sua energia. – resmungou em sua cama, seu cabelo preto preso em um rabo de cavalo alto e desgrenhado, de modo que vários fiozinhos saíam pela sua cabeça. Ela tinha o rosto redondo, inchado e vermelho, assim como os olhos e tinha olheiras profundas embaixo dos olhos. Ela estava péssima e fechou a cara. A menina se levantou e passou as mãos pelo rosto, parecendo mais derrotada do que nunca. Sua camisola prateada de seda estava amassada e gasta. –Não vou ao Baile de Natal, portanto você não precisa se preocupar com meu vestido. E farei as provas, mas provavelmente pegarei recuperação, porque no estado que estou agora, não tenho cabeça para fazer prova nenhuma.
-O que foi que aconteceu?
A menina se sentou em cima da cama de e olhou para ela com os olhos carregados de preocupação. Parecia quando as duas eram amigas e a outra brigava com a mãe e depois contava tudo para , aos choros. A garota se sentava ao lado dela e escutava o que ela tinha a dizer enquanto segurava o cabelo dela para que as lágrimas não o molhassem. Típico dela se preocupar com isso. Logo em seguida, dizia que a mãe de só estava inconformada por ter uma versão mais bonita, jovem, inteligente, charmosa e cobiçada do que ela. A amiga sempre se alegrava quando dizia isso e normalmente elas iam ao Beach Club e descarregavam toda sua raiva bebendo sucos gelados com um pouquinho de álcool e flertando com o salva-vidas gato do clube ou com os meninos do tênis e do futebol. costumava jogar também, mas não houve uma ocasião em que estava na cidade e o encontrou. Eles podiam ter se conhecido em vários momentos por meio de , mas não, havia sido em uma viagem que fizeram.
contou a ela tudo que acontecera, desde a declaração de até o término com David, incluindo a parte de que contou a ele o que ela viu. As bochechas de outra ficaram rosadas.
- vai ter o que merece.
-Não faça nada, não é como se ela não estivesse certa, eu não deveria ter feito o que fiz com David, e Liz realmente merece ele mais do que ninguém. Ela está sempre presente, os dois conseguem se falar sem dificuldade nenhuma e se entendem com um olhar. Gostaria de ter isso com alguém.
-? – levantou as sobrancelhas com um sorriso. cruzou os braços embaixo dos seios e olhou aborrecida para o edredom de coraçõezinhos dela. –Eu não entendo. Por que vocês ainda não estão juntos?
-, o que você espera de um cara que não consegue dizer o que sente? Uma pessoa assim não consegue amar. Como eu posso confiar nele algum dia?
-Mas você o ama.
-Claro que sim, mas eu não posso negar que ele é um problemático, um conquistador, egoísta e covarde. E além do mais... Ele disse que é louco por mim, só que... Para quem mais já disse isso nessa semana?
-Ai, como você é burra! –ela colocou as mãos na cabeça. – , pare de se fazer de difícil, autopiedade não cai bem em você. O garoto que ama acabou de dizer o que sente! Do jeitinho meio estranho dele, mas ele disse. Eu sei que não conseguiu admitir com essas palavras, mesmo assim a mensagem foi que queria que ficassem juntos. E, obviamente, se você tivesse aceitado eventualmente o menino vai acabar dizendo, as pessoas não perdem seus medos do dia pra noite.
ficou calada. Os olhos dela se encheram de lágrimas e elas lentamente foram escorrendo, grandes e pesadas em seu rosto, sem emitir barulho nenhum. Ela fez biquinho. A garota sempre foi uma chorona, chorava ao assistir filmes, e em qualquer situação que a deixava emocionadas – que no caso, eram muitas. Ela também soluçava de desespero e de raiva. empurrou as mechas de cabelo dela para trás, para que não encostassem nas lágrimas. A menina olhou para ela e riu.
-Você não mudou nada. –ela olhou atentamente para a outra, que inclinou a cabeça. Sempre gostava de pensar que mudava constantemente, tentando se tornar melhor e melhor. Para ela era uma surpresa alguém dizer que ela não mudara nada, a única outra pessoa que tinha dito isso antes fora . –Eu sempre me perguntei como você conseguia ser tão querida, é loucura. E é por esse exato motivo que acho que deve deixar de bobagem e ir a esse baile.
-Oh. – respirou fundo, temendo que esse assunto não parasse de surgir. O tema Baile estava fora de cogitação para ela, por incrível que pareça. De tudo o que não sabia no mundo, o que ela sabia não podia ser mudado. não era do tipo de garota que faltava em festas, muito menos em bailes. Desde o meio do ano ela já pensava sobre o Baile de Natal, seu último no colégio. –Não esse ano, eu não estou no clima nenhum para bailes.
-Se você está dizendo isso por causa do , eu juro que vou te bater. Não sei o que deu nesse garoto, só sei que ele está fora de si. Talvez se for ao Baile e procurá-lo, ele irá ceder.
-Não é por causa de .
-Sei. –ela fez uma cara de quem não acreditava nem um pouco e a garota deu de ombros. –Vou fingir que acredito. E se não for ao Baile, quem é que vai pegar a sua coroa pra você na hora que ganhar como rainha do baile?
-Eu não ganharia como rainha do baile.
fez uma careta e sorriu. Ninguém tinha dúvidas de quem ganharia como rainha do Baile aquele ano, e no ano passado, e no ano retrasado... Quando ia abrir a boca, as duas foram interrompidas por uma esbaforida na porta. Os cabelos ondulados dela estavam presos em um coque e seu macacão marrom claro lhe caía bem, principalmente com as sapatilhas que ela escolhera. Pareceria adorável se não tivesse os olhos arregalados e o olhar desorientado.
-Meninas, eu estou surtando! –ela gritou. –Achei que ficaria numa boa por todo esse lance do ter me pedido como namorada de mentira e no começo eu fiquei. Mas depois que ele me falou que não acreditava nisso e eu tive a ideia mais louca da minha vida e o beijei, não consigo parar de pensar nisso.
-Por quê? Não era o que você queria? – perguntou.
-É claro que era o que eu queria. –a menina parecia desesperada, andando de um lado para o outro no quarto com as mãos na cintura. –Mas sabe qual é o problema? Ele só está me usando para fazer ciúmes em . E se soubesse que eu gosto dele? Provavelmente riria de mim.
-Espera, você disse que ele está te usando para fazer ciúmes em ? – se levantou também, ajeitando a pequena camisola no corpo e indo em direção a outra com o dedo indicador levantado. Ela empurrou até a cama e ela se sentou ao lado de , que observava tudo meio confusa. –Se deveria fazer de tudo para se certificar de que não está mais na dele, então ele provavelmente saberia que está ficando com .
torceu o nariz.
-Mas não falou que estava usando para fazer ciúmes em você?
-Sim, mas teoricamente eles estão juntos. Pelo menos é o que as pessoas que não sabem a verdade pensam. Eu tenho certeza de que não sabe que queria me deixar com ciúmes.
A expressão de se alterou completamente.
-Você está sugerindo que... Que está usando isso como desculpa para...
-Para se aproximar de você. Exatamente.
-Eu te disse que ele estava se aproveitando da situação! Ontem mesmo ele falou que não estava acreditando quando ele sabia perfeitamente que a menina nem deve se importar mais com ele.
As bochechas dela ficaram vermelhas e ela arregalou os olhos cor de avelã, com um sorriso de orelha a orelha. Não conseguindo se segurar, levantou-se e começou a pular em cima da cama. A portadora da mensagem começou a rir e se levantou num pulo, com medo de ser pisoteada. ligou o som em cima da escrivaninha de e começou a dançar no ritmo de Abba como uma idiota. A loira girou os olhos e foi até seu guarda-roupa para tentar escolher a roupa que usaria, apreciando o cd da banda que ela e a amiga costumavam escutar quando mais novas.
-Meninas, venham aqui! –a garota berrou e tampou os ouvidos. Ela deu uma risada nervosa. –Desculpe. Venham aqui e pulem, isso relaxa totalmente!
-Quantos anos você tem? –a outra fez mexeu no rabo, atrapalhando-o mais ainda. Ela não pareceu se importar. Seus olhos azuis acinzentados acompanhavam os movimentos de , que mais parecia uma criancinha saltitando porque ganhou uma bicicleta. –Não subo aí nunca.
-Você e estão muito rabugentas, tem que aprender a se soltar!
-Me soltar? – repetiu, virando-se abruptamente para trás, com as mãos na cintura, indignada. Do que ela estava falando?, se você estivesse passando pelo que estou passando, não conseguiria sobreviver. Eu perdi a pessoa...
-Mais importante no mundo para mim. – e repetiram com a voz monótona. continuou. –Nós sabemos, mas se você continuar pensando nisso o tempo todo, nunca vai sair dessa fossa. Uma hora vai se desculpar, é claro. Mas até lá... Viva um pouco.
inclinou a cabeça para o lado.
-Olhe quem está falando, a garota que não consegue namorar o homem que ama só porque as coisas não aconteceram exatamente do jeito que planejou. Por favor, querida, estamos falando de , esse é o melhor cenário possível. Eu não consigo deixar para lá, ? Não estou te vendo em cima dessa cama.
A menina deu de ombros e subiu em cima do leito e começou a dançar no ritmo da música, rindo. As duas dançavam como duas garotas de doze anos escutando aos Jonas Brothers. não estava com a mínima vontade de fazer aquela besteira, mas a partir do momento que foi desafiada as coisas mudaram. Subiu também e começou a mexer seu corpo.
-Aproveite enquanto ainda temos alguma desculpa para agir desse jeito! – riu descontroladamente por algum motivo não conhecido. Seus cabelos pulavam e ela era tão baixinha que se não fosse por seu tronco e quadris alguém acharia que ela realmente era uma garota de doze anos dançando ao ritmo dos Jonas Brothers. –Ninguém pode me julgar, até porque ninguém está vendo.
Depois que a música terminou e apertou o botão de replay, já estava cansada. No intervalo entre a terceira repetição, elas escutaram alguém bater na porta. Arrumando seus cabelos, ela desceu da cama rapidamente e foi até a porta.
-, você está de calcinha!
Mas ela já estava do lado de fora, com a porta fechada atrás de si. O corredor estava vazio, a não ser pela pessoa à sua frente. A mesma pessoa que possuía os cabelos pretos mais macios que a garota já tinha sentido e que às vezes gostava de colocar bonés de times virados para trás por cima deles por causa de sua paixão pelo esporte, os olhos mais verdes que ela já vira na vida, os músculos bem definidos e o cheiro inconfundível de canela.
Ele arregalou os olhos ao vê-la e se concentrou um pouco demais em suas pernas nuas. Olhando para os lados e completamente desconfortável e sem fala, achou que os dois poderiam ficar ali se olhando e sem falar nada até o mês que vem, se ninguém os interrompesse. Os olhos de dela se encheram de lágrimas e ela, hesitante, pegou a mão áspera de , com suas mãos tremendo. A mãozinha dela parecia tão pequenina perto da dele. Seu coração martelava e ele olhou com os olhos arregalados para o que ela fazia, como se estivesse com medo dela.
-Ei... –sua voz falhou e ela olhou para baixo, apertando a mão de com força. Ele não fez nada para tirá-la dali. juntou todas as suas forças e respirou fundo. Vamos lá, pensou consigo mesma. –Por que... O que está acontecendo?
O garoto olhou para baixo e lentamente afastou sua mão da dela.
-, não faz isso... Estou me torturando pra valer querendo saber o que foi que fiz de errado. Não faça isso, por favor, juro que se você ficar longe de mim, eu... Eu não sei o que faço. Não faça isso comigo.
tentou tocá-lo, mas ele deu um passo para trás. Sua expressão era fria e ela parecia estar olhando para um completo estranho. De repente, a raiva subiu pelo corpo de . Como estava vulnerável e despreparado, conseguiu empurrá-lo contra a parede do corredor com toda a força que tinha. Ele a encarou alarmado, como se realmente temesse que ela pudesse machucá-lo. A garota ficou na ponta dos pés e apontou para ele.
-Me diga agora o que diabos está acontecendo. Porque se não disser, eu juro por Deus que não te deixarei em paz até arrancar as palavras da sua boca. E você me conhece bem o suficiente para saber que não vou descansar até que você se explique.
Ela apertou os cotovelos no peito musculoso dele, que com um simples movimento inverteu os papeis e a colocou contra a parede, sem dizer nada, somente ofegante. pegou um braço de com cada mão e se inclinou até que ficasse frente a frente com ela. A menina podia sentir sua respiração acelerada no nariz dela e seu rosto bonito encarando o seu, com seus olhos praticamente soltando faíscas.
-Você sabe que eu sou mais forte que você.
Foi tudo o que ele disse. E sua voz não era a voz descontraída de sempre, era mais... Grossa. Mais fria. Era a segunda vez que ele usava aquele tom de voz com ela, a outra foi quando pediu para que o soltasse no dia em que eles brigaram. arregalou os olhos, ficando com medo do que ele poderia fazer e se assustando com a possibilidade de ter medo de . Ela soltou um grito de pavor e ele a apertou com força na parede, machucando-a. De repente, o menino olhou para os olhos dela, que estavam cheios de pavor e sua expressão se suavizou. Ele a soltou lentamente e soltou um gemido. As marcas de sua mão ficaram no pulso dela e de ele não parecia mais sinistro, só... Triste e confuso. E desorientado. Passou as mãos pelos cabelos, como se somente se tocasse do que fizera naquele momento. Aparentava estar muito assustado pelo que acabara de fazer.
-Me desculpe.
-Isso não é justo.
a olhou pela última vez e sumiu pelo corredor. apoiou a cabeça nas mãos e escorregou lentamente até que se sentasse no chão.
-Que grito foi esse?
e estavam paradas na porta do quarto e se assustaram ao vê-la daquele jeito. conseguiu colocá-la de pé, e depois de uns segundos de choque, ela contou o que aconteceu. apertou o ombro da amiga.
-Sinto muito.
-Já chega. – fez uma careta. –Vou falar com , se ele não te ouve, vai ter que me ouvir.
-Não se preocupe com isso. – arqueou os ombros e jogou seu cabelo para trás. Ela não sabia se nesse meio- tempo o garoto tinha se esquecido de quem ela era, mas ela era . Ela já subira uma pirâmide e sobrevivido ao momento em que os médicos colocaram seu osso de volta para o lugar no hospital. Isso tudo porque tentou chamar a atenção dele. –Ele pode me odiar por isso, mas está muito enganado se acha que isso acabou. Ele é meu, e se ele se esqueceu disso, hora de lembrá-lo.
*
Capítulo 144 – “IS HE EVERYTHING YOU WANTED IN A MAN?”


-Ei, ! –Sue Garcia, uma das moradoras da April Hall gritou. O menino girou os calcanhares no piso de granito do corredor da faculdade, balançando sua camisa vermelha que ele colocara com o jeans preto. Ele olhou para trás e Sue estava cercada de várias meninas, rostos conhecidos. Ela acenava com sua mão pálida e ergueu as sobrancelhas. –Venha tirar uma foto comigo!
Ele sorriu e concordou, indo até lá rapidamente, enquanto segurava seus cadernos e um estojo azul na mão. Acabara de fazer suas provas do dia e estava grato por finalmente poder almoçar. David esperava por ele na parte de fora do campus. Todo ano os alunos tinham aquela mania de tirar foto, e como nunca se animava com a ideia tomar a iniciativa, somente aparecia nas dos outros. Por isso, naquela manhã ele já tinha sido chamado para posar várias vezes por seus amigos e até mesmo por umas garotas que não conhecia direito. Mas aceitava mesmo assim, dando às meninas a alegria de aparecerem numa foto ao lado dele. Sue o cumprimentou com um beijo na bochecha e ele retribuiu com outro. As meninas olhavam para antenadas, como se o garoto estivesse prestes a falar algo que seria responsável pela paz mundial. O sorriso dele era grande.
-E aí, garotas? Como foram nas provas?
-Espero ter ido bem. –Sue era a única que conversava com naturalidade ali. Ela provavelmente já tinha se acostumado a lidar com a aparência desconcertante dele porque os dois moravam na mesma casa. As outras responderam algo parecido e se juntou a elas, passando o braço em volta da cintura de Sue e de outra garota loira enquanto uma morena tirava a foto. Depois de seu rosto começar a doer por manter seu sorriso congelado, elas se separaram dele. –Obrigada, !
-Não foi nada. –ele sorriu de lado, aquele hábito que tinha desde pequeno. Um sorriso de lado constante provavelmente faria pessoas normais parecerem meio idiotas, mas aquela era a assinatura dele, ele ficava lindo com aquele sorriso. As meninas riram como se ele realmente tivesse dito algo engraçado. –As fotos ficaram boas?
-Hum, você piscou em uma. –Sue riu. –Mas no resto ficou perfeito. Você é extremamente fotogênico, .
Ele riu e analisou as fotos que elas tiraram.
-Será que eu posso levar a celebridade para almoçar ou preciso marcar um horário exclusivo? –ele escutou uma voz familiar atrás dele e quando foi checar para ter certeza, era justamente quem imaginou. estava parada com as mãos na cintura, seu vestido rosa listrado de branco acentuava suas curvas e ela sorriu ao vê-lo encarando-a de cima a baixo. Ela estava bonita com seus cabelos escuros presos em uma trança e sorria sem mostrar os dentes. entregou a câmera para uma garota.
-Até mais, meninas. Vejo vocês depois.
Ele caminhou lentamente pelo corredor ao lado de , que praticamente desfilava ao andar, os sapatos fazendo barulho ao encostarem-se ao granito frio do chão. Ela analisou as unhas e olhou para ela.
-Já terminou as provas?
-Sim. E tive essa ideia louca de te chamar para almoçar enquanto estava entregando a prova.
-Dificuldade de pensar com clareza é um dos efeitos que eu tenho sobre as meninas.
sorriu e ajeitou a bolsa nos ombros.
-Estava muito ocupado com suas fãs? Aposto que esse tipo de coisa aconteceu o dia inteiro.
-A culpa não é minha se sou uma pessoa muito bonita.
-Não é bem isso, o negócio é que você é extremamente fotogênico. Isso ilude as garotas.
-Você está falando isso é porque ficou com ciúmes de me ver sendo adorado.
-Acha que estou com ciúmes? – colocou a mão no peito como se aquilo fosse um absurdo. Logo em seguida, começou a rir. girou os olhos. –Não é como se eu fosse caidinha por você, querido.
-É claro que é.
-Está mais para o contrário.
-Qual é, já vi o quanto você fica super protetora comigo quando o assunto são garotas. E não diga que é porque está olhando por mim, porque você não é faz o tipo amiga responsável. Na realidade, aprendi a ser irresponsável com você. – pegou a mão dela e a girou, como se os dois estivessem dançando. sorriu, surpresa. –E se o que estou dizendo é bobagem... Então não se importará de eu chamar uma garota para ir comigo almoçar também. David também vai, ele pode me arranjar um encontro.
-E quanto à sua querida ?
-Você disse que não era ciumenta.
-Pare com essa ideia ridícula.
-Tudo bem, tudo bem. Eu tecnicamente ainda estou com ela, mas logo não estarei mais. Ela e são um casal e eu não deveria ter interferido.
-Arrependido? –ela riu com maldade. –Nunca pensei que viveria o bastante para ver isso.
-Não seja assim, só acho que fiz besteiras demais.
-Você só fazia besteiras assim quando era apaixonado por mim.
-O que? – ficou branco e a menina gargalhou. Ele levantou as sobrancelhas. –Você...
-Sabia? É claro que eu sabia, . Mas nunca achei que pudesse dar certo.
-E por isso você decidiu ficar com o meu melhor amigo?
-Não, eu decidi que ficaria com para tentar esquecer outra pessoa. Você não é único que faz besteiras. Onde já se viu tentar apagar da sua cabeça alguém que também não consegue te desviar do pensamento? A solução para essas situações geralmente é bem simples, mas já percebi que nós dois costumamos complicar tudo.
ficou estático. Ele parou de andar e ela analisou seu rosto. Então quer dizer que também gostava dele? Uma onda de felicidade o atingiu.
-Meu Deus. Eu não acredito. , eu me fazia de idiota perto de você.
-Eu sei, e era tão bonitinho!
-Você é podre. –ele a empurrou de brincadeira e ela começou a rir. Ele olhou para , surpreso demais para saber o que dizer. –Onde vê tanta graça em me ver sofrendo?
-Não é isso, eu só gostava do fato de você ser apaixonado por mim. Era legal.
-E você também gostava de mim. Por que achava que nós dois não daríamos certo?
-Nós somos parecidos demais. Quer dizer, somos ambiciosos, bonitos demais, meio irresponsáveis, loucos quando se trata de conseguirmos o que queremos... Às vezes é como se você fosse minha versão masculina.
Ele riu.
-Que estranho pensar assim.
-Pois é, mas é verdade. Não fique triste pensando que eu não gostava de você, porque eu gostava. Eu era completamente apaixonada por você... Não foi a toa que aquilo que aconteceu na Festa da Pizza aconteceu.
arregalou os olhos. Aquilo não acontecera há pouco tempo. Se ela estava afirmando que fizera aquilo porque gostava dele mais do que como um amigo, então talvez quisesse dizer que...
-Não é engraçado como nós dois sempre acabamos na mesma? –ela sorriu. estava amável de um jeito diferente. –Podemos nos distanciar e brigar o máximo que conseguirmos, mas sempre acabamos nós dois, parece que estamos condenados, já percebeu?
-Já.
olhou para ela, que num movimento súbito, foi até ele e envolveu seus braços na cintura dele num abraço apertado. Ele passou os braços pelos ombros dela, permitindo-se ser abraçado. Sua cabeça batia no nariz dele e ela afogou o rosto no ombro do garoto. Com certeza ela conseguia sentir o coração dele batendo forte. Nunca pensou que fosse se submeter a uma situação dessas, mas o fato de ele gostar de era um assunto mal acabado em sua vida.
-Ei! –ele escutou a voz de David. Ele estava em frente a eles, com os braços cruzados. Seus cabelos estavam penteados para trás e em seu rosto uma expressão impaciente. –Será que dá, por favor, pra gente ir logo?
-Se acalma.
-Cara, eu estou com fome. Quando me pediu para esperar, não achei que precisaria assistir a essas cenas.
-Você sempre fica tão mal humorado quando está com fome. – girou os olhos. Ela se soltou de e andou até onde David estava, dando-lhe um beijo rápido na bochecha. –Aliás, como você está?
-Hum, Liz me levou ao hospital ontem.
levantou as sobrancelhas e deu um sorrisinho, o que levou a entender que tinha um dedo dela naquela história.
-O que aconteceu com você ontem?
-Eu não estava me sentindo muito bem, e depois que terminei com , achei que desmaiaria. Sorte minha que Liz estava por perto e me levou ao hospital.
-É, sorte sua. – olhou diretamente nos olhos verde-oliva dele. –Ela está sempre por perto.
David ficou desconfortável e os chamou para ir. Enquanto caminhavam até o carro de , o menino falou que já devia estar a caminho e que daria uma carona à Liz. lhe lançou um olhar malicioso quando ele disse que a convidara, mas ele ignorou. sorriu. Provavelmente ela queria empurrar Liz para David por causa de Samantha.
-É ótimo que você leve Liz, eu e ela precisamos fazer algo depois do almoço, de qualquer forma.
-O que? –David virou-se para trás abruptamente. Ele analisou cuidadosamente com os olhos estreitados, como se temesse que ela pudesse fazer alguma coisa a qualquer momento. –Desde quando você e Liz são amigas?
-Nem precisa começar a se desconfiar de mim, ela foi à minha sessão de fotos e se ofereceu para me ajudar. E eu percebi que ela é legal e até me senti um pouquinho mal por ter feito tudo o que já fiz.
Ele levantou as sobrancelhas e pareceu ter um pouco de dificuldade em acreditar. Quando chegaram ao carro dele, que estava estacionado em frente ao campus desde o dia anterior, colocou as mãos nos bolsos e percebeu que a chave não estava lá. Olhou em seu estojo, e nada. A garota suspirou.
-Diga que não esqueceu as chaves.
-Eu esqueci as chaves.
-, eu vou te matar! –David bufou e olhou com raiva para o amigo, que riu. O outro realmente ficava muito nervoso quando estava com fome. –Vamos ter mesmo que ir até a April Hall?
-Não é grande coisa, gente. A April Hall fica a menos de um quarteirão. Olha ela ali.
deu de ombros e o seguiu, enquanto David se arrastava atrás dos dois resmungando qualquer coisa. Quando chegaram, o garoto correu até seu quarto e o seguiu, juntamente com o amigo. Ele procurou em sua cômoda, mas não encontrou. Começou a procurar em suas roupas e mochilas e nada. David olhou nas coisas de e também não achou. procurou dentro do armário dele e bufou ao não obter sucesso.
-Eu não acredito nisso, . –ela colocou as mãos na cintura, olhando em volta para ver se avistava as chaves do carro. Eles iam almoçar no Brown House, uma churrascaria do outro lado da cidade. Portanto, ir andando não era uma opção. –Já procurou embaixo da cama?
-Não.
-Como você pode não olhar embaixo da cama? –ela rolou os olhos e se abaixou. desviou os olhos para qualquer lado que não fosse o corpo abaixado da menina, e David riu baixinho com isso. , ainda procurando embaixo da cama, mexeu os pés. –Não vire o rosto como se fosse um anjinho. –David riu mais ainda e as bochechas dele esquentaram. –Meu Deus, que bagunça está aqui embaixo, deve fazer séculos que ninguém limpa aqui. Você proíbe a faxineira de varrer embaixo da sua cama, por acaso? O que guarda de tão importante que...
A menina parou. Ela se levantou lentamente e tinha algo na mão, mas não conseguiu ver o que era. David olhou dele para ela, confuso. Ele se inclinou para ver o que ela segurava e ainda não conseguiu ver, já que amassava o objeto tão forte na palma de sua mão que ele não conseguiu distinguir o que poderia ser.
-? –chamou com cautela. Os olhos dela estavam escuros e olhava diretamente para um ponto na parede, com os cantos da boca tremendo e os cabelos começando a cair no rosto, mas ela não fez nada para tirar. Ele chegou mais perto dela. –, o que foi? Achou uma barata?
Sem dizer uma palavra, ela colocou o que estava segurando na mão de e se levantou. Ele abriu a mão e se deparou com um sutiã. Ele era preto e estavam escritas as letras AJ perto do fecho. A estampa era de algo parecido com gotas de água. O garoto enrugou a testa, perguntando-se como aquela coisa tinha ido parar ali e de quem era. Com certeza não era de , lembrava-se de vê-la pegando suas roupas no dia anterior. estava parada em um canto do quarto, os braços cruzados e com raiva em seu olhar.
-De quem é esse sutiã, ? –David perguntou. Ele chegou perto do amigo e pegou a peça da mão dele, como se estivesse analisando pegadas em uma cena de crime. O garoto não entendia. De quem era aquilo? E por que estava tão aborrecida?
-Eu não sei. –a menina ergueu a sobrancelha. –Eu juro que não sei! Não trouxe nenhuma garota para cá nos últimos dias. Faz um tempão que eu não durmo com ninguém, se querem mesmo saber.
-Seu idiota, sujo! – avançou nele e começou a esmurrá-lo. caiu no chão apavorado. Ela estava em cima dele e dava tapas fortes nas suas bochechas. –Entre todas as garotas do mundo, por que tinha que escolher essa? –ela tentou chutar a virilha dele, mas a impediu antes que fizesse. –Você fez isso só para se vingar de mim?
Ele não fazia ideia do que falava. Com muito custo, conseguiu se separar dela, e antes que fosse atingido novamente, David o ajudou, segurando seus braços com força. A menina estava eufórica e ofegante, seu cabelo todo atrapalhado e sua maquiagem borrada com as lágrimas quentes de raiva que queimavam em seu rosto.
-Eu não sei do que você está falando!
-Não se faça de bobo, eu sei exatamente o tipo de cara que você é, seu idiota!
-Juro que não sei do que ela está falando.
-Tudo bem, , explique para mim.
-Eu mandei fazer dois sutiãs no ano passado, os dois iguais. Não acho que outra pessoa teve a ideia de colocar as inicias do sobrenome no modelo do sutiã também! E teria que ser uma grande coincidência alguém ter os mesmos sobrenomes. O A é de . Só duas pessoas tem esse sutiã, e tenho certeza de que não dormi com você recentemente. Então só pode ter sido uma pessoa.
-O que significa o J?
-Significa Johnson.
David ficou tão chocado que soltou na mesma hora. arregalou os olhos azuis e olhou de para seu melhor amigo, que tinha uma expressão estranha no rosto e a garota parecia querer avançar nele a qualquer segundo.
-Isso mesmo, David. – concordou com a cabeça e começou a tentar negar, mas ela o interrompeu bem na hora. –Johnson, de Samantha Johnson.
*
Capítulo 145 – “THERE’ S NO ONE HERE WHO LOVES YOU LIKE I DO”


estacionou seu carro na porta do colégio, ajeitando seus cachos para trás enquanto saía do carro e batia a porta com força. Apesar de não estar com vontade nenhuma de ir para a escola e fazer suas obrigações na Corte – não possuía ânimo algum para fazer qualquer coisa –, cedeu porque era seu último ano na escola e seu prêmio de consolação era que isso enfim acabaria. A Corte era basicamente os quatro garotos e garotas que naquele ano só poderiam ser do último e penúltimo ano que foram indicados para Rei e Rainha do Baile de Natal. Eles escolhiam um par e faziam uma dança coreografada no meio do Salão, na noite do baile. Era meio ridículo e ultrapassado, mas ninguém podia ir contra as tradições da escola. Todos os anos aquele salão contava com ele, ou , e era sempre a mesma coisa. No ano passado, ganhara. No retrasado ganhara e no antes desse, ganhara, mas como ninguém o encontrou durante a coroação, entregaram o título a Logan. não dava a mínima para isso, e pelo o que parecia, os outros também não.
Depois que recusou seu convite, ele correu até a piscina da escola e fez o que sempre fazia quando estava frustrado: nadava. Permaneceu boas horas lá, até que ficou cansado o bastante para não conseguir nem levantar os braços direito. Quando flagrou Teddy Néri convidando , resistiu ao impulso de socar o rosto do menino, mas sabia que ele não tinha a ver com aquilo, e uma vez que estava solteira poderia fazer o que quisesse com quem bem entendesse. Solteira. Riu amargamente com o som irônico que aquela palavra tinha em sua cabeça.
O garoto nunca fora tão impulsivo em toda a sua vida. Nunca deixou que sentimentos o controlassem o bastante para fazer besteiras como a que fez com sua mãe, e sabia que a ex-namorada era uma das razões pela qual andava tão estressado. Havia muita pressão depositada em cima de todos os seus colegas, e mesmo que tivesse ajudado a aumentar o peso que sentia em suas costas, a única razão pela qual os garotos andavam pelos corredores com planos de convidá-la para sair poderia ser avistada por ele assim que olhasse no espelho. Com isso em mente, não lhe parecia tão esperto ter se deixado levar por suas aflições momentâneas.
Ele andou pelo pátio do colégio com pressa e passou pelo corredor dos veteranos assobiando. Seus tênis Nike faziam um barulho engraçado ao encostarem-se ao chão e a camisa do time de natação era sua marca registrada. Quando chegou ao salão, encontrou as outras pessoas conversando despreocupadas entre si. Dois professores e mais duas professoras de dança tentavam sincronizar a música nas grandes caixas de som, perto da mesa do DJ e os alunos estavam sentados nas mesas já prontas. O salão já havia sido preparado para sexta-feira, com as luzes quase prontas, mesas arrumadas, decoração impecável e, quando passou pela cantina, sentiu o cheiro dos quitutes sendo preparados para teste. Ele não pretendia comparecer à festa, mas seus amigos do time de natação o chamaram para ir com eles.
Olívia Jay e Hanna White conversavam em um canto. Normalmente as amigas de também eram indicadas. e seu irmão Jonny conversavam perto das meninas. Ele se sentou em uma cadeira vazia perto das outras pessoas. entrou no salão, e estava mais desleixado do que o normal.
-E aí? –ele cumprimentou com um aceno de cabeça, sentando-se ao lado dele. o encarou por um momento, como se tivesse se esquecido de que também era sempre indicado.
-Pessoal, estão faltando duas meninas. –a Sra. Gilles, professora de Biologia no Ensino Médio gritou com a voz animada. –Vamos só esperar que elas cheguem e logo começaremos o Baile.
-Falta a e mais uma. – escutou Olívia dizer. Ela jogou seus cabelos loiros para trás e deu um sorriso afetado. –Disseram que a outra era a , mas ela se recusou a ser indicada como Rainha do Baile. Portanto, não sei quem será.
sorriu. Era a cara de fazer uma coisa dessas, tinha pavor de todas essas coisas clichês como Rainha do Baile e dizia que as garotas que ligavam para isso possuíam problemas sérios de cabeça. Apesar do discurso desinteressado, ele sabia que quando mais nova, seu filme favorito era Pretty in Pink. E lembrava-se também do sorriso orgulhoso no rosto da menina ao ver Lindsay Lohan repartindo sua coroa para todas as garotas menosprezadas da escola, em Mean Girls. Ele sempre pensava que era capaz de fazer coisas assim. sempre foi aquela garota que tentava se fazer de durona, fingir que certas coisas não a afetavam. O menino não entendia por que ela fingia até para ele ser tão forte. Sempre a conheceu muito bem, e por conhecê-la tão bem sabia exatamente o que ela estava pensando naquele momento. Que ele estava fazendo uma bagunça na cabeça dela.
entrou no salão. Ela parecia meio desconfortável por estar ali e entrou atrás dela, concentrada em seu celular, parecendo muito mais à vontade que a amiga. Ela desfilou pelo salão em seus saltos Annabella, e vestia um top branco por baixo de sua jaqueta jeans que deixava metade de sua barriga à mostra. Suas calças jeans brancas cobriam suas pernas que provavelmente ainda tinham os hematomas do acidente. se sentou ao lado de sem nem olhar para , que a observava atentamente. Ela ficou de costas para ele e percebeu seus olhos cheios de água. andou na direção de e se sentou ao lado dele, dando-lhe um sorriso e mexendo no pano de mesa roxo.
-A Rainha do Baile finalmente chegou. – tocou o ombro dela com o dedo indicador. parecia desanimada e triste, como se estivesse tentando a todo custo manter a compostura. Ela deu um sorriso amarelo e deu de ombros. –O que foi que aconteceu com você?
Os olhos de se desviaram rapidamente na direção de . Os dois não eram amigos de infância? conversava com do mesmo jeito meio desanimado da menina ao lado de . Ele não parecia o cara descontraído que via pelos corredores da escola.
-Parece que nós dois estamos na pior.
- não quer voltar? – levantou a cabeça e finalmente olhou nos olhos verdes de , que fez que não com a cabeça. Os cantos de sua boca despencaram. –Eu sinto tanto, . De verdade. Eu causei essa confusão.
-Não se desculpe, a culpa não foi sua.
-Agora que todos estão aqui, levantem-se! –a Sra. Gilles deu um gritinho animado. Sua roupa de ginástica lilás ficava meio florescente nas luzes que começavam a ser testadas para a noite de sexta. –Podem ir escolhendo seus pares.
-Bom... – pigarreou. olhou para ele com o olhar distante. Ele seguiu o olhar dela e viu girando repetidas vezes. –Que ser meu par?
A menina voltou sua atenção a ele e abriu um sorriso bonito.
Jonny e Hanna White obviamente ficaram juntos e tomou as mãos de Olívia Jay. Um professor colocou o instrumental de Bitter Sweet Symphony e eles começaram a passar os passos para os alunos. A dança não era muito diferente de ano para ano, então não foi difícil pegar os passos. O menino colocou uma mão na cintura de , por cima da jaqueta, e pegou a mão dela com a outra enquanto a garota pousava sua mão no ombro dele. Ele a guiou de acordo com a dança e por uns segundos ela relaxou.
-Não sei o que está te chateando. –ele falou quase num sussurro e ela o encarou com atenção. Apesar deter uma ideia do que a incomodava, resolveu não dizer nada. Será que o fato de ter saído com atrapalhara na amizade dela com ? Será que não gostava de ? Ele sempre fora tão simpático com ele que nunca notara nada. –Mas vou te dar as instruções. Feche os olhos, concentre-se na música e eu te guiarei. Não precisa se preocupar em pisar em meus pés. Respire fundo o tanto de vezes que puder e concentre-se somente na música, deixe que ela controle seus movimentos.
concordou com a cabeça. Ela fechou os olhos brilhantes e começou a fazer o que lhe foi pedido. Alguém reiniciou a música e ele pôde escutar os primeiros acordes novamente. O violino chegando aos seus ouvidos era como um calmante, e tentou fazer o mesmo e se concentrar somente naquilo, como se nada ao seu redor estivesse errado e como se não houvesse nenhum estresse pré-provas e pré-faculdade. Ele fechou os olhos e imaginou que quem dançava com ele não era e sim, . Ela amava aquela música e ele também. Seus movimentos eram tão leves que sentiu que estava flutuando. Sua mãe o ensinara a meditar por meio da dança uma vez e desde então quando escutava música e estava estressado, sempre se acalmava. A menina pisou em seu pé e ele abriu os olhos em estado de alerta. Ela arregalou os olhos.
-Desculpe!
-Eu disse que não precisava se preocupar em pisar no meu pé. –ele começou a rir e a expressão dela se suavizou. –Você só acabou de estragar toda a energia que nos rodeava.
-Energia? –ela riu e suas bochechas coraram como sempre acontecia quando começava a rir. – , você parece meu massagista falando. E eu desconfio que ele fume maconha toda vez antes de trabalhar.
-Ei! –ele a girou e ela ficou meio tonta com o ato inesperado. –Não diga isso, minha mãe me ensinou a meditar pela música quando eu tinha uns treze anos e isso vem sempre ajudando muito.
-Você não deveria ser um dançarino muito bom, se ela precisava meditar enquanto te ensinava.
-Você devia me agradecer por te ensinar, estava dando certo antes de pisar no meu pé.
-Tem razão, obrigada por tentar fazer com que eu me sinta melhor. Você é um amor.
-O que foi que aquele cara ali fez? O que está acontecendo? –ele olhou para tentando ser discreto, mas levou um susto ao olhar em sua direção. olhava de para com a expressão fria. Seus olhos estavam escuros e seus músculos tensos. Ele parecia querer bater em , que desviou os olhos rapidamente. o puxou para longe dali e eles tentaram fazer os passos mais uma vez. –Parece que ele ficou bem irritado em me ver dançando com você.
-Eu não o entendo. Queria saber o que está acontecendo. Ele não quer me dizer, por isso já decidi o que farei. E eu sinceramente acho que você devia seguir meu exemplo.
-O que você fará?
-Bom, quando algo que você tentou fazer não dá certo, o que você faz? –ela inclinou a cabeça para o lado e ele deu de ombros. –Você tenta de novo.
sorriu.
-Vamos todos juntos agora! –a Sra. Gilles gritou e todos se aproximaram do centro do salão, cada um com seu parceiro ou parceira. –Quando a música começar.

Depois de mais uma hora e meia ensaiando, os professores liberaram os alunos e ele saiu esgotado do salão. o acompanhou até a saída do colégio, onde se separou dele e foi para o seu carro com e Olívia. desapareceu com Jonny e Hanna, e o menino caminhou lentamente até seu carro com preguiça. Ele olhou para cima e viu as estrelas no céu. Aquele dia passara tão devagar que se sentiu grato por estar finalmente acabando. Ele precisava voltar para a April Hall e dar mais uma revisada na matéria de História Avançada para o teste do dia seguinte e não sabia se aguentaria. Depois de fazer três provas, nadar feito um doido depois do almoço e dançar naquele salão, o menino se sentia esgotado.
-.
Ele se virou ao escutar uma voz masculina, mais grossa e menos rouca que a dele, e deu de cara com Mara. O som dele estava diferente da do normal e ele também parecia diferente, mais sério. inclinou a cabeça e se se encostou à caminhonete preta de .
-Como vai, ? Animado para seu grande jogo no sábado?
-Cara, o que faz com a ?
-Como assim, o que eu faço? Nós somos amigos.
-Ela me disse que tinham ficado.
-Sim, mas nós dois concordamos que foi um erro, agora somos somente amigos.
-Tem certeza? Porque pelo o que eu vi você estava muito íntimo dela no salão.
olhou para como se ele fosse louco. O menino se aproximou dele até que ficassem frente a frente. Os dois eram do mesmo tamanho, portanto ele estufou o peito para tentar parecer mais alto do que , e de certa forma, o intimidou um pouco, considerando que o outro era mais forte. respirava rapidamente e sua testa estava franzida.
-Eu juro que se você encostar um dedo nela...
-Cara, entre mim e não tem mais nada, e não tem chance nenhuma de acontecer de novo. Tenho uns problemas mal resolvidos com a minha ex-namorada. –ele se desencostou da picape de e saiu de perto dele. –Não te conheço muito bem, mas pelo o que sei você não é assim. E se está desse jeito por causa de , saiba que ela te deixou destruído.
-Aonde quer chegar?
-Em lugar nenhum, só não sei o que você está esperando.
-Esperando para que?
-Para acertar as coisas com ela. Aproveite que os dois querem, e isso eu te digo por experiência própria. Quando você pode perder a pessoa que mais ama fica desesperado como eu. Deve ser por isso que fez aquela loucura da pirâmide, agora eu entendo!
olhou para o lado com o olhar cheio de culpa.
-Quer dizer, olhe para você, cara. A garota está implorando para que converse com ela e eu aqui querendo uma chance para me aproximar de outra. Você não sabe como é sortudo.
-Não me sinto a pessoa mais sortuda.
-É porque você está desperdiçando sua sorte. E se eu fosse você, não faria isso. Porque uma pessoa não é sortuda o tempo inteiro, nunca se sabe quando sua sorte vai passar para outra pessoa, como por exemplo, para mim. Estou começando a me sentir bem sortudo, você devia se apressar.
riu e balançou os ombros. deu um tapa no ombro dele e saiu andando de volta para seu carro. O que falara fazia muito sentido, ela estava tão determinada e acertar as coisas com como ele estava com . Ele não sabia se era pelos mesmos motivos, mas sabia que tentaria de novo.
*
Capítulo 146 – “I’ VE SEEN A MILLION FACES AND I’ VE ROCKED THEM ALL”


se atirou na cama. Depois que deu carona para Jonny e Hanna até a casa de do menino, voltou para a April Hall, tomou um banho e se concentrou no texto mandado pelo Sr. Garcia. Ele pensou nas primeiras linhas: Na vida vivemos tantas experiências maravilhosas que fica difícil escolher uma preferida, mesmo porque sempre vem mais para nos surpreender. Do mesmo jeito que não conseguimos definir ao certo nossas experiências preferidas, também fica muito difícil definir o que as compõem: As pessoas. Não consigo pensar em uma maneira de descrever alguém com uma palavra somente.
Ele respirou fundo, amassando a folha e jogando o papel longe. Parecia um texto de uma menina de doze anos, e era orgulhoso o bastante para saber que ainda precisaria amassar muitos papeis antes que ficasse satisfatório. Possuía um discernimento impressionante, sempre foi bem esperto, desde pequeno. Apesar de suas atitudes nem sempre condizerem com seu avanço intelectual, o menino era inteligente demais para seu próprio bem. Queria fazer um texto que tratasse de pessoas, aprofundando em personalidades, seu objetivo principal desde sempre. Ele se interessava por indivíduos, não importavam quais, desde que pudessem lhe oferecer uma boa conversa. Mesmo que fossem poucas palavras, o garoto gostava de observar comportamentos e características das pessoas a sua volta. Ainda não sabia exatamente como relacionar com o tema pedido, mas faria tudo se encaixar no final. E não fazia ideia de como fazer isso, porque toda vez que começava a pensar em algo, seu cérebro voltava sua atenção para e como ele deveria escrever algo relacionado ao amor. Amor, ? te faz pensar em amor? , ele pensou consigo mesmo. Apesar de ser meio complicado para seu ego admitir isso, era verdade. o fazia pensar em amor e em quanto ele tocar seu rosto naquele exato momento. Ele só a queria de volta e rápido, mas provavelmente estragara tudo, como sempre.
Quando dançava com Olívia Jay no ensaio e de vez em quando observava fazer o mesmo com , percebeu que o amigo pisara muito menos na bola do que ele. O garoto sempre acertava quando o assunto era ela. Por isso, com muito custo, decidiu que falaria com ele. Se alguém a merecia, era ele, e não . Seria um porre precisar ver os dois juntos, e sabia que não seria o cenário perfeito para nenhum deles, porém, se era aquilo que queria, o menino precisava ir em frente. Além disso, gostaria de ter seu amigo de volta.
foi até a beirada da cama e inclinou o pescoço, ficando de cabeça para baixo, sua testa ficando vermelha aos poucos. Ele tinha uma teoria de que aquilo o ajudava a pensar. Naquele exato momento, abriu a porta do quarto com a cabeça baixa e entrou sem emitir um barulho sequer. Quando o viu naquela posição, se assustou e começou a rir.
-Ainda tenho aquela teoria. – justificou e ergueu as sobrancelhas pretas, surpreso por escutar aquelas palavras sendo dirigidas a ele. Normalmente, ele o evitava e nem ousava dirigir uma palavra para ele, apesar de parecer querer. –Sabe o que me irrita? Ficar um tempão de cabeça para baixo para no final eu só conseguir uma dor de cabeça.
-Você devia parar então, se não dá certo. – se sentou em cima de sua cama e tirou sua camisa verde escura, jogando-a na sua pilha de roupas sujas. –Se não funciona, por que insiste?
-Eu não disse que nunca dá certo. Na verdade, nas poucas vezes que acontece eu tenho ideias maravilhosas.
-Está tentando ter uma ideia genial para o texto que o Sr. Garcia pediu? É incrível o quanto você leva um desafio a sério.
-Você me conhece bem o suficiente para saber que sim. É irritante o fato de você não estar por perto me dizendo o que penso o tempo todo.
-Eu não faço isso.
-Ah, faz sim. E sabe o que era o pior? É que você estava certo em tudo o que dizia.
-Desculpe, . Por essas confusões que aconteceram e por ter batido em você. – soltou depois de um tempo calado. Quando o outro não respondeu, ele não falou mais nada também. Provavelmente pensou que aquela era uma deixa para enfim se desculpar.
-Você sabe que se não tivessem nos separado eu teria te dado uma surra, não sabe?
-Claro. – girou os olhos e começou a rir. –Todo mundo sabe que eu sou mais forte do que você.
-Sinto muito por essa ideia ridícula passar pela sua cabeça. – fechou os olhos e um vento frio veio da janela, batendo em sua barriga nua e o refrescando. Ele esticou os braços e passou os dedos pelo chão frio. –E me desculpe também por... Você sabe. Essas confusões.
assentiu com a cabeça e o garoto abriu os olhos para poder olhar para o amigo.
-Eu sei o que você sente por , e acho que devia falar com ela. Não quero ser uma pedra no seu caminho. Eu realmente acho que deve falar com ela.
-Sério?
-É, e eu acho que deve ir antes que eu mude de ideia e realmente tente ser uma pedra no seu caminho.
-Tudo bem. – riu. –Valeu, cara. É legal da sua parte.
-Só quero o melhor para ela, e o melhor para ela não sou eu.
ficou calado e esperou para que ele dissesse alguma coisa, mas não ouviu nada. Depois de ter certeza que ele não falaria mais nada, voltou a se sentar e pegou seu caderno. Ele já tinha uma ideia do que poderia escrever. Concentrou-se no seu papel e respirou fundo.
-Já que acha mesmo que é mais forte do que eu... – se aproximou dele e se sentou em sua cama. –Queda de braço, melhor de três.
-É impressionante o quanto você leva um desafio a sério. – imitou a voz grossa de , e, por causa de seu sotaque, ficou estranha. Ele riu e deu de ombros. –Só se você estiver pronto para perder.
*
Capítulo 147 – “HEART OF GOLD”


andou pela escola e parou perto dos bebedouros para olhar seu reflexo no espelho. Seu jeans skinny lhe caía super bem e o suéter verde neon combinava com seus sapatos de salto agulha – um presente de para ela se acalmar a respeito de . Não que tivesse ajudado muito. – e seus cabelos ondulados formavam cachos nas pontas. Ela estava adorável para uma garota que acabara de fazer três provas. Ela se inclinou e bebeu água.
Ao seu lado estava o anúncio dos indicados para o Baile de Natal daquele ano. , e Jonny e de um lado e , , Hanna White e Olívia Jay do outro lado e em cima das fotos um escrito em letras grandes dizia: Vote agora para o Rei e Rainha do Baile de Natal desse ano na Sala do Anuário! tinha um desejo secreto de pertencer à Corte, mas não podia ficar triste por não estar nela. Já conquistara tanta coisa! E o mais legal era que ela recebeu três convites para o baile, mas recusou porque possuía um par. Ficou lisonjeada por três garotos terem planejado um pedido especial somente para ela. E apesar de não ter ganhando um pedido especial, ela não se importava nenhum pouquinho. Porque seu par era justamente quem queria.
- , que inveja! –ela se virou para trás e deu de cara com Sebastian, um de seus novos amigos. Ele era tão lindo que se não fosse gay, todas as garotas provavelmente tentariam chamar sua atenção. –Olhe só para sua carinha pós-testes finais, queria que comigo fosse assim também.
-Obrigada, mas você está ótimo. – ficou encantada. Girou os calcanhares para trás e cumprimentou-o com dois beijinhos na bochecha. Ela sempre quis ter um amigo gay, e esperava que isso não fizesse dela uma preconceituosa que acreditava em estereótipos. –E seu par para o Baile, quem será?
-Bom, estou pensando em dar uma chance a Michael Fox. –ele levantou as sobrancelhas castanhas com um sorriso malicioso. A garota pensou bem e se deu conta de que Michael Fox era do time de natação, junto com . Ela não sabia que ele era gay. –O que acha?
-Acho que faz muito bem, nadadores normalmente não decepcionam.
-É o que eu sempre digo! Os músculos dele são uma loucura e me deixam parecendo um fracote. Eu juro que se fosse gay, estaria feito.
-Você vai ter que se contentar com Michael mesmo. – soltou uma risada e Sebastian revirou os olhos, rindo. –Você vai se divertir demais. Está nervoso?
-Espero que sim. Um pouco nervoso... Você nunca se sente nervosa antes de um encontro?
-Claro. – piscou, surpresa. Sebastian definitivamente não parecia ser o tipo de pessoa que ficava nervosa antes de um primeiro encontro, ou melhor, antes de qualquer coisa. O menino parecia sempre tão tranquilo e seguro consigo mesmo que aos olhos da menina, parecia um absurdo presumir que havia alguma insegurança ali. Era legal pensar que ele estava falando sobre aquilo com ela, isso significava que a considerava uma amiga. –Mas você consegue. Se estiver dando muito errado, coisa que eu acho que não acontecerá, pode me procurar e eu tento quebrar o gelo.
-Obrigado, , você é uma fofa. E quanto a você, quem será seu par para o Baile?
-Ele está na faculdade. Moro com ele na April Hall, o nome dele é .
-Eu sei quem é! Ele já foi do time de natação da escola. , que partido.
deu um sorriso envergonhado e os dois caminharam até onde uma multidão de gente estava parada. No pátio descoberto da escola, onde havia vários bancos e uma área cheia de árvores, alguns veteranos se encontravam ali e olhavam algo no céu. A garota escutou um barulho e olhou para cima. Um avião sobrevoava o perímetro da escola fazendo voltas e os ela escutou várias pessoas comentando que aquilo seria um convite para o Baile. De quem seria? Quem seria tão rico a ponto de contratar um pequeno avião somente para um pedido para o Baile? Ela olhou para os lados tentando encontrar alguém conhecido. e Maria Duncan sussurravam uma com a outra ali perto e os caras do time de futebol estavam todos ali, incluindo que era o assistente do treinador. conversava com Jackson Allen e outras pessoas do time, tentando ao máximo não fazer contato visual com .
E estava parado encostado em uma árvore, com as mãos no bolso e um sorriso engraçado no rosto. Ele olhava para cima como se estivesse assistindo à televisão e mascava um chiclete. Seus cachos penteados para trás conferiam uma maior visão do seu rosto e sua blusa amarela estava gasta. Ele olhou para quando percebeu que ela o encarava e deu uma piscadinha com o olho direito. A garota sorriu meio desconcertada. Entendeu no mesmo momento de quem era aquele pedido e para quem. Depois do convite fracassado de , ele provavelmente não tinha desistido e resolvera pedir para ir ao Baile com de outra forma. Ela murmurou:
-Parece que alguém apelou.
-O que? –Sebastian se virou abruptamente para ela, sua jaqueta batendo na cintura de , que respondeu não ser nada e ele suspirou. Ao longe, pôde ver pegando seu celular para começar a filmar. –De quem será que é isso? É um dos pedidos mais exagerados que já vi na minha vida.
-De alguém que está muito determinado a conseguir o que quer.
Naquele exato momento, o piloto acelerou o avião e uma faixa que estava pendurada em sua traseira se esticou com o vento e caiu bem lentamente, quase que em câmera lenta, até rodopiar algumas vezes no ar e cair no pátio da escola. Duas meninas correram para que não fossem atingidas pelo pano. A placa era branca e os dizeres em letras grossas e pretas foram visto com perfeição. Dizia: Baile? Maria correu para checar e do outro lado da faixa estava escrito o nome de . ficou boquiaberta. Ela olhou para trás novamente, juntamente com todos os veteranos. olhou para trás também, fingindo não ser para ele que todos olhavam. Sua boca se movimentava de um jeito engraçado enquanto mastigava o chiclete e ele tinha um sorriso travesso nos lábios. O piloto começou a se afastar, sendo filmado por alguns. Ela olhou em volta e não achou .
-Meu Deus, eu não acredito na sorte que tem! –Sebastian deu um gritinho e olhou em volta, os olhos cheios de preocupação. –E onde ela está?
-Não sei, parece que não está aqui.
pegou seu celular rapidamente do bolso de trás da calça e mandou uma mensagem para perguntando onde ela estava, seus dedos voando com tanta velocidade no teclado que a menina até se assustou por ter conseguido digitar tudo sem errar.
Na April Hall, por quê?
Ela engoliu em seco e se virou para trás, indo na direção de . Ele percebeu que não se encontrava mais na escola e sua expressão de decepção fez com que ficasse com pena dele. A tristeza do menino foi tamanha que ela temeu que ele começasse a chorar naquele exato momento. A frustração que provavelmente sentia devia ser imensa, imensurável. Ela se encostou à árvore ao lado da que ele estava e o garoto acompanhou seus movimentos com os olhos verdes para depois abaixar a cabeça.
-Ela foi embora mais cedo. –ela justificou e mostrou a tela de seu celular para ele, que assentiu com a cabeça e depois desviou o olhar, tentando ignorar todas as pessoas olhando para ele enquanto o pequeno avião se afastava. –Sinto muito, .
-Vocês duas voltaram a ser amigas? –foi tudo o que ele disse e sua voz estava mais rouca e ele falava mais devagar que o normal. teve vontade de abraçá-lo, mas não sabia se devia.
-Não.
Ele assentiu com a cabeça e mexeu em seus cabelos encaracolados. Olhou em volta e mandou as pessoas irem embora, dizendo que não havia mais nada ali. Ele a encarou agradecido, e recebeu um sorriso compreensivo. Algumas meninas quiseram falar com para dizer que se ele quisesse, podia levar alguma delas ao Baile e ele agradeceu meio constrangido.
-, sinceramente... Você não devia ficar esperando que as coisas se resolvam imediatamente. Quer dizer, essa situação toda de vocês dois aconteceu tão rápido que deve ser difícil para processar tudo. Devia dar um tempo à ela.
-Eu sei, eu só... –ele pegou um cigarro que estava solto em seu bolso e o acendeu com um isqueiro que encontrou em seu bolso de trás, colocando o cigarro na boca e dando uma tragada. franziu a testa. não era de fumar. –Eu tinha a esperança de que ela aceitasse em me dar uma segunda chance. Se eu esperar muito tempo, tenho medo de que as coisas fiquem complicadas demais, já que nossa vida vai mudar muito.
-Não seja ridículo. Vocês dois estão juntos desde sempre e com certeza ela ainda gosta de você. Ela já deve estar sabendo do que aconteceu agora, e aposto que ficará muito emocionada. Não tem como negar o amor de vocês dois, e depois de uma demonstração dessas, nem mesmo conseguirá ser tão teimosa.
Ele deu um sorriso amarelo e apertou o ombro de para depois começar a se afastar. Seu amigo de infância, James o aguardava não muito longe dali. Ela respirou fundo e gritou o nome dele. se virou para trás abruptamente e ergueu a cabeça. A menina correu até ele e arrancou o cigarro de sua boca.
-Isso aqui não vai te ajudar nunca. Espero que saiba disso.
Ele deu seu sorriso mais lindo.
-Eu sei. Obrigado, . Pelo jeito você ainda tem esse coração grande de sempre.
deu um beijo na bochecha dela e a deixou ali para se encontrar com James. A menina tocou onde ele a tinha beijado e pensou nas palavras dele. Pelo jeito você ainda tem esse coração grande de sempre. Ela ficou lisonjeada, achando-se desmerecedora desse elogio.
*
Capítulo 148 – “I CAN’ T FIGHT THIS FEELING ANYMORE”


e andaram lentamente em direção ao White Club, um restaurante e lanchonete que ficava perto da escola. O resto dos garotos estava indo para o Joke’s, mas o menino sentia que precisava falar com a amiga em particular. Eles se sentaram em uma mesa menor e quando uma garçonete morena chegou para anotar os pedidos, os dois pediram um hambúrguer para almoçar. Ele deu um pequeno gole em seu copo de Coca-Cola.
-Me senti mal por . –a boca dela formou um biquinho para depois beber seu refrigerante. Ela fez um coque em seu cabelo preto e tirou o cardigã rosa, ficando somente com uma camiseta por cima dos shorts. olhou em volta e viu vários alunos do colégio. –Ele está tão arrependido pelo o que fez.
-É, ele está. – suspirou, lembrando-se da conversa que tivera com na noite passada. O que ele sugeriu o pegou de surpresa, o garoto não sabia por que tinha ficado tão irritado em vê-lo com e isso fez com que pensasse que no ano passado, quem dançara com ela fora ele. E naquele ano, se não estivesse fazendo aquela confusão, os dois poderiam estar dançando juntos em seu último Baile no colégio. Ele ergueu as sobrancelhas, tentando mudar logo de assunto. –E aí, o que acha da vida na Corte?
olhou para ele com uma careta e riu. Ela bufou.
-Eu juro que quando me indicaram, achei que fosse brincadeira. Mas até que não é tão mal assim.
-É divertido. E pense que essa será a última vez.
-Eu não duvido que você ganhe como Rei do Baile quando nem estiver mais estudando aqui. O pessoal dessa escola tem uma paixão por você que eu não entendo.
sorriu meio constrangido e deu de ombros.
-Não me importo com essa coisa, só faço pela escola.
-Ah, para com isso. Eu sei que você adora toda a atenção que recebe.
-Atenção?
-Pare com isso. Sabe, você não precisa ter vergonha de admitir, eu no seu lugar, adoraria.
ficou sem graça e agradeceu mentalmente à garçonete por ter chegado com os hambúrgueres para os dois. Enfiou a comida na boca para não precisar falar nada. riu com o constrangimento dele. Ela deu uma mordida no seu hambúrguer e analisou o rosto do amigo com cuidado. Ele pôde escutar a voz de Bruno dos alto falantes do local e tamborilou os dedos no ritmo da música.
-Você nunca é tão calado assim. – quebrou o silêncio e mostrou sua comida para ela, que fez que não com a cabeça. –Não, a comida não serve como desculpa. Comigo você falava até de boca cheia para não nos faltar assunto. O que está acontecendo?
-Estou bem, só ando meio distraído.
A garota fez uma cara de quem não acreditava nem por um segundo e ele desviou o olhar rapidamente. Sabia que já que ela e voltaram a ser amigas, devia esperar por uma pergunta dessa vinda de mais cedo ou mais tarde. E o menino não saberia como responder, porque nem ele mesmo sabia o que estava fazendo.
-Você sabe que mais cedo ou mais tarde precisaremos conversar sobre isso, não sabe, ?
-Sobre o que?
-Você sabe exatamente do que estou falando.
-Olha, , com todo respeito, o que eu faço ou digo para não é da sua conta. Essas coisas são entre mim e ela.
-Pois não parece, já que você não diz para ela o que diabos está acontecendo. A garota pode não perceber porque está ocupada demais se perguntando o que fez para merecer ser tratada assim, mas eu sei exatamente o que está acontecendo com você e não tem nada e nem ninguém que irá me convencer do contrário. – tirou uma mecha de seu cabelo negro que caiu em seu olho e deu outra mordida em seu hambúrguer para depois beber mais refrigerante. respirou fundo, se preparando para o que ela diria. –A única coisa que me surpreende é o fato de você ser tão covarde a ponto de fazer isso. Sempre foi tão forte, . Achei que conseguiria lidar com seus sentimentos de uma forma melhor.
-Não sei do que você está falando.
-Não sabe? Então eu te perguntarei uma coisa... Explique-me por que está fazendo isso com . Afastando-se dela, mandando-a ficar longe de você e deixando-a pensando no que fez de errado.
olhou para o chão. Ele fez aquilo porque não se sentia mais bem perto da menina e queria se afastar dela para que aquela sensação ruim passasse. Ele sabia que não era uma teoria muito inteligente, mas era a que ele queria se agarrar àquele momento.
Ele se lembrava de uma vez em que os dois foram ao White Club e a garota o desafiou a comer o máximo de cookies que conseguia. O menino disse que só faria aquilo se ela fizesse também, mas negou, falando que não podia comer tanto doce. riu dela e falou que ela era uma fresca em relação à dieta, porque ela podia comer tudo o que quisesse e não engordava nem um pouquinho. deu de ombros, dizendo: “Você só está dizendo isso de mim porque sabe que não conseguirá comer nem meio cookie.” Ele se lembrava dela ter se sentido culpada depois que comeu dezesseis cookies e ficou com dor de barriga.
sentiu o vômito chegando à sua boca naquele dia e quando saiu correndo para o banheiro, foi atrás dele. Ele fechou a porta antes que ela conseguisse entrar. A menina precisou cantar bem alto uma música e tampar os ouvidos para que não o escutasse vomitando. “Não seja tolo.” – ela dizia. – “Eu só quero te ajudar, não é nada que eu já na vi.”. Depois de um tempo dentro do banheiro, ela ficou preocupada com o que acontecia com ele ali dentro. Ela batera na porta com força inúmeras vezes, mandando sair logo. Quando ele finalmente abriu, notou que seus olhos estavam vermelhos e que o garoto limpara as lágrimas rapidamente antes de abrir a porta para ela. O menino se encostou à parede fria do banheiro e contou à amiga que sua mãe “resolveu passar um tempo na casa dos pais” porque ela e o Sr. brigavam muito na época. Ela entrou dentro da cabine e o abraçou com força, fazendo carinho no peito dele porque não alcançava os cabelos direito.
-Não me sinto mais bem perto de . –ele finalmente soltou e quando o fez se perguntou se era realmente aquilo mesmo.
-Eu não acho que seja isso. – terminou sua comida e deu seu último gole no refrigerante. Ela se inclinou para frente até que ficasse mais perto de . –Eu acho que você é um covarde, que sempre foi apaixonado por e achou que a tinha esquecido, mas quando percebeu que não, ficou com medo de admitir para si mesmo.
-, o que está dizendo? – colocou a mão na cabeça como se aquilo fosse um absurdo. Ele então juntou toda a sua coragem e finalmente admitiu. –Não gosto de , eu gosto de...
-De mim, ? –ela o interrompeu e o menino afirmou com a cabeça, perguntando-se como ela já sabia. –Você não gosta, só quer gostar para poder convencer a si mesmo de que não gosta dela. Esse não é o típico caso que o menino percebe que foi sua amiga desde o início, vocês dois nunca foram somente amigos. Eu sei que você sabe disso e não quer admitir. Se não for isso, me explique o motivo você de repente ter ficado todo estranho. Quando te contei que amo o e você percebeu que eu não seria uma pessoa recomendável pra você tentar esquecê-la... Você ficou perdido, pensando no que faria. O jeito que você olha para , o jeito como a trata... É simplesmente diferente. Até quando fala dela não consegue esconder seu sorriso.
respirou fundo, pensando no que ela acabara de dizer. sorriu satisfeita consigo mesma por ter finalmente tido aquela conversa com ele. Alguém precisava dar um sermão naquele garoto logo. O celular dela tocou e ela ironicamente recebera uma mensagem de .
Nós duas precisamos ir à manicure hoje, também vai. Está marcado para daqui a meia hora, então venha logo me buscar na April Hall!
-É uma mensagem de , eu tenho que ir. Nós duas vamos juntas ao Baile de amanhã e saiba que ela está indo no intuito de falar com você. Esse é o único motivo pelo qual ela vai. O que você queria falar quando foi ao meu quarto, mas acabou trombando com ?
-Eu queria te dar uma carona pra escola.
-Hum, certo. Aposto que ficou com tanta vontade de agarrá-la naquele corredor que até mesmo se esqueceu do que iria falar comigo, não é mesmo? Você fez tanta força para não fazer nada com ela que acabou machucando-a.
-Eu não queria machucá-la.
-Mas você machucou, e já faz um tempo que está machucando.
Ele abaixou a cabeça e se levantou.
-Aquela garota ali está olhando para cá, qual é o nome dela mesmo?
olhou na direção que olhava e viu Angel Kudrow. Ela sorria para ele.
-Angel.
-Ah, foi essa a garota quem mandou ir de gatinha na festa do Gentleman Club.
O menino achou ter ouvido errado.
-O que?
-Achei que deveria saber.
No exato momento em que saiu, Angel caminhou com seus cachos saltitando na cabeça e sentou-se ao lado do menino. Ela tinha um sorriso de orelha a orelha e seu vestido florido dava mais alegria ainda a ela.
-Oi ! Fiquei sabendo que você estava aqui por um cara do seu time de futebol e pensei em vir até aqui te encontrar. O que acha de me levar ao seu Baile amanhã?
-Hum... – estava se segurando para não dar uma resposta brusca a Angel, mas se conteve. Ele se lembrava da menina ter dito, quando estavam no Gentleman Club: Eu até dei umas dicas legais sobre a roupa que ela vai usar hoje, só espere para ver, mas não pensou muito adiante. Ele não acreditava como Angel podia ter feito aquilo com . –Não, Angel, me desculpe.
-Não? –Angel pareceu tão surpresa que quase caiu da cadeira. Ela olhou ao redor e depois para , com a confusão estampada em seu rosto e os lábios franzidos. –Por que não?
-Porque qualquer garota que faz o que você fez com não é muito digna de amizade.
-Ah, qual é, ... Está falando da festa no Gentleman Club? Isso parece fazer séculos, e além do mais, eu nunca imaginei que a minha relação com alguém dependeria da minha amizade ou inimizade com uma garota.
-Bom, acontece que essa garota é diferente.
-Ela não precisa da sua proteção.
-Eu sei que não, ela não precisa da proteção de ninguém, mas eu protejo mesmo assim.
-Não seja bobo, por que se dar ao trabalho?
olhou para a parede branca, depois para as mesas e cortinas brancas e depois para tudo branco naquele lugar. Era meio claro demais, mas ao mesmo tempo dava um ar pacífico ao local. Angel olhava para ele esperando uma resposta e o garoto hesitou, mesmo sabendo exatamente qual era sua resposta. Ele pensou no que acabara de dizer e não gostava que o chamassem de covarde. E então, finalmente admitiu, não só para Angel, mas para si mesmo o que tentava evitar em todos aqueles dias:
-Porque eu a amo, porque eu sou completamente apaixonado por ela.
*
Capítulo 149 – “ANYTHING BUT ORDINARY”


Sam escorregou do seu banco no táxi e saiu do carro. Ela estava novamente na April Hall, e pelos seus cálculos, tudo ocorria exatamente como o planejado. Seu humor estava tão bom que até mesmo deu uma gorjeta para o motorista, e recebeu um agradecimento e um elogio à sua aparência. Sam não se importou em fingir estar envergonhada ao sair do carro e entrar rebolando na mansão. Ela acenou para a recepcionista, ciente de que seria reconhecida e que por isso não poderia ficar muito tempo. Passando pelo saguão e depois pela sala cheia de portas dos quartos e de escadas, ela correu até a sala de estudos, que era estrategicamente colocada no lado oposto à sala de cinema. Por nunca se importar o suficiente para ir até um cômodo diferente somente com o intuito de estudar, aquele lugar nunca foi muito conhecido pela menina. Quando entrou, viu duas mesas gigantes postas uma de cada lado da sala. No outro canto, duas fileiras de computadores estavam postas uma de frente para a outra. A sala estava até bem cheia, provavelmente por causa das provas. Sam odiava a época de provas. Não como a maioria das pessoas, que tinha preguiça de estudar, a garota ficava mal humorada de verdade quando os testes chegavam, e era bem mais propícia a fazer algo de errado. Passou por uma garota que assistia a um dos videoclipes de Seal pelos fones de ouvido, e se lembrou de uma parte de sua família que gostava desse tipo de música. Ela suspirou e foi até onde Naomi Young estudava com . Ele tentava ensinar a matéria para Naomi, mas ter um professor bonito como podia ser um tanto desconcertante.
-Oi, gente. –Sam cantarolou e se sentou ao lado dos dois. O menino a encarou surpreso e depois a cumprimentou com um beijo na bochecha. Sam sorriu, imaginando como seria beijá-lo de novo. Os lábios dele eram um dos melhores que já havia experimentado na vida, até seus beijos na bochecha eram ótimos. Era um tanto surreal o quanto ele era bom naquilo, e só de pensar a respeito a garota se agitava. Naomi soprou um beijinho para Sam. –Lamento muito por vocês estarem em sua semana de provas finais.
-Eu também lamento. –Naomi concordou e olhou para , que fez uma expressão preguiçosa. Ela olhou para Sam, como se um pensamento muito importante tivesse acabado de cruzar sua mente. Seria a primeira vez. –Espere, Sam, você não fará as provas finais?
Samantha desviou o olhar, pensando em uma resposta. Quando conseguiu uma vaga na faculdade para o próximo semestre, ela teria que dar um jeito de subornar o reitor para que não a reprovasse, porque Sam fugiu do internato antes que pudesse fazer a últimas avaliações, as que decidiriam se ela entraria ou não na faculdade. O reitor disse que daria a ela a chance de fazer as provas no final de fevereiro, mas Sam com certeza não passaria, já que faltava pouco para se esquecer de como era a sensação de tocar em um livro. Sua situação escolar estava meio delicada, mas ela não queria pensar sobre aquilo, porque quanto menos pensasse menor seria a chance de seu pai descobrir.
-Eu fiz as provas antes somente com a matéria que sabia. O internato me o ofereceu essa alternativa para que eu pudesse me mandar de lá o quanto antes.
-Você conseguiu fazer as provas finais com praticamente metade da matéria? Isso é muito impressionante. – sorriu educadamente, do jeito que ela sabia que ele sorria quando estava surpreso. –Você sempre foi muito inteligente.
-É verdade, Sam.
Sam sorriu e disse para que eles continuassem a estudar como se ela não estivesse ali. , a nova amiguinha de entrou na sala com uma loira ao seu lado. Os olhos escuros da menina brilhavam, e pareciam possuir um excitamento constante. Samantha direcionou seu olhar para a acompanhante da outra. Ela tinha cabelos ondulados longos e um rosto bonito. Sua calça de couro marrom ficou adorável com sua blusa branca de alcinhas. e ela conversavam animadamente enquanto seguravam alguns livros embaixo dos braços. A menina olhou para o lado e percebeu que Naomi olhava atentamente para o livro, mas seu professor não. Ele fitava , acompanhando todos os seus movimentos e Sam deu uma risadinha. desviou o seu olhar para ela, que levantou as sobrancelhas. Com as bochechas meio coradas, voltou sua atenção aos estudos.
o viu ali e deu meia volta para ir embora, mas a loira que estava com ela a empurrou em direção a ele. Meio desequilibrada, ela se sentou na frente do garoto, Naomi e Sam e deu um sorriso tímido. Sam acenou brevemente para ela e soltou um oi quase num sussurro. Quando ele levantou a cabeça e a viu ali em sua frente, deu um sorriso.
-! –ele foi até o outro lado da mesa e deu um abraço nela, para depois soltá-la e abraçar a outra garota. –Oi, , e aí?
-Eu e estamos esperando chegar para ir à manicure. –ela falou e sua voz era rouca. Mexendo em seus cabelos loiros, era como se nem tivesse notado a presença de Samantha ali.–Você vai adorar o vestido que usará amanhã, . Eu dei de presente para ela porque sabia que iria adorar. Vai me agradecer mais tarde.
-Eu aposto que gostarei. – voltou ao seu banco enquanto Naomi analisava como se fosse uma juíza. –Aluguei um smoking bem legal também.
sorriu.
-Seu vestido também é lindo, .
-Esse traje de gala todo é para o que? –Sam intrometeu na conversa, apoiando suas cabeças nas mãos e os cotovelos na mesa. a encarou para ela como se só tivesse visto a menina naquele momento, e depois disso, não a analisou como Sam o fez quando ela chegou. Ela parecia olhar através dela, como se fosse só uma cortina que tampava o que ela realmente queria ver. Isso fez com que a garota se sentisse incomodada.
-O Baile de Natal da nossa escola.
-Ah, claro. –Sam conhecia várias pessoas daquela escola e sabia que era um Baile fechado somente para os alunos e que cada um tinha o direito de levar um acompanhante se quisesse. Fazia muito tempo que ela não ia a um Baile. –Acho que nós duas não nos conhecemos ainda, meu nome é Samantha Johnson.
- .
Sam fechou seu sorriso falso. Ela com certeza já ouvira falar daquela garota, e teve que concordar com um pouco de amargura que ela era estonteante como as pessoas diziam. O celular de tocou e a menina a escutou falando com , que de acordo com o que a outra repetiu, já estava no tal salão de beleza. perguntou à Naomi se os dois poderiam continuar no dia seguinte, antes da aula começar e garota quase engasgou ao dizer que sim. Ele ofereceu para dar carona às meninas e os três saíram rapidamente. Sam se perguntou se David já tinha terminado com . Aparentemente sim, já que seu rosto não era nada amigável ao pedir que Sam saísse do quarto para que pudesse conversar com a namorada. A menina sentou-se ao lado de Naomi e a cutucou nas costelas.
-Essas calouras desse ano estão bastante diferentes, não acha?
-Diferente é uma escolha engraçada de palavra. –Naomi bufou enquanto olhava desolada para seu livro de História. Ela passou as mãos pelos cachos e olhou para Sam com um sorriso travesso. –Você bem que podia fazer alguma coisa, não acha?
-Eu podia, mas no momento estou ocupada com outra pessoa, e essa não é caloura.
-? –Naomi se inclinou para frente com um sorriso mais travesso ainda. Seus olhos brilhavam como se Sam fosse contar para ela a fofoca do ano, ou melhor, do século. –Meu Deus, eu juro que se vocês duas iniciarem uma guerra, a April Hall explode.
-Não importa quantas mansões eu tenho que explodir. –Sam olhou em volta e uns três garotos a encaravam com um sorriso no rosto. –Afinal, eu nem moro aqui mesmo.
-O que você já fez?
Quando ia responder, seu celular tocou e algumas pessoas olharam para ela. Uma monitora a encarou com censura e pediu para que desligasse o celular, mas ela fingiu que não ouviu. Pegou o telefone e colocou no ouvido.
-Samantha? –ela fez uma careta. Era a sua irmã, Liz. O que aquela idiota queria? –Eu odeio precisar ter um diálogo entre nós tanto quanto você, mas mamãe pediu que eu fizesse isso. Ela só queria confirmar se ainda está morando no Boulevard e no mesmo apartamento.
Sam ficou sem paciência.
-Ela sabe muito bem que ainda estou, por que esse interrogatório?
-Porque ela é a sua mãe e precisa saber onde você está morando. Não é porque passa o tempo inteiro na April Hall que more aí, caso não saiba.
-Eu sei, mas fico muito agradecida por me lembrar. Mesmo porque conversar com você é o ponto alto do meu dia.
-Pena que não posso dizer o mesmo.
Liz bufou e Sam deu uma risadinha debochada. Ela colocou seu celular em cima da mesa e olhou para Naomi, que esperava uma resposta.
-Bom, eu já comecei indo para o ponto fraco de .
-?
-É claro que não é . É a pessoa que está com ela todo o tempo, direta ou indiretamente: . Fui até o quarto dele e coloquei meu sutiã, um modelo que somente eu e temos porque ela mandou fazer assim quando éramos amigas. Depois eu peguei as chaves do carro dele, de modo que ele precisasse ir até o quarto. Se tudo aconteceu como o planejado e sabe do sutiã, ela deve estar quase batendo nele porque acha que ele dormiu comigo.
-E vocês dormiram juntos?
-É claro que não.
A menina soltou uma gargalhada e a parabenizou enquanto Sam deu um sorriso e checou as horas em seu telefone. Percebeu que tinha se esquecido de bloqueá-lo, e o fez no exato momento em que notou. Ela o colocou de volta na bolsa e entrelaçou seu braço no de Naomi, se levantando.
-Chega de estudos. Vamos fazer alguma coisa divertida.
*
Capítulo 150 – “TIME TO TIME YOU CROSS MY MIND”


andou pelo corredor fazendo o mínimo de barulho que conseguia, e, quando ia bater na porta do quarto de , alguém gritou seu nome e ele pulou de susto. Olhou alarmado para trás e Liz Johnson se aproximava dele rapidamente. Seus cabelos curtos e ruivos batiam no rosto e suas bochechas estavam coradas. Por coincidência, David saiu do quarto de Cody Duncan, que era na frente do de e espiou o que estava acontecendo.
-Oi, Dave. –as bochechas dela passaram de coradas para vermelhas e ele sorriu. Liz deu seus últimos passos até onde estava e respirou fundo. –Preciso falar com você e é muito importante. Ainda bem que te encontrei sozinho.
A expressão de David mudou.
-Aconteceu alguma coisa?
-Sim, eu estava conversando ao telefone com a minha irmã e ela achou que tinha desligado e continuou a falar com sua amiga. No início achei que falava comigo, mas depois percebi que não era. Ela disse que colocou seu sutiã embaixo da sua cama para que pensasse que você dormiu com ela.
ficou boquiaberto. Ele tinha se esquecido completamente que Samantha estava na cidade, e quando afirmou que aquele sutiã era dela, para ele pareceu loucura. David saiu do quarto dando passos firmes para longe do amigo. tentou convencer a menina de que não era nada do que ela estava pensando, que provavelmente fora Sam quem colocara o sutiã ali, mas ela não acreditou e ficou dizendo repetidas vezes que a surpreendeu. Era a terceira vez no dia que tentava falar com ela, mas sempre que pedia a Angel ou a Ashley para chamá-la, ele escutava se trancando no banheiro para depois as meninas dizerem que ela saíra.
-Eu sabia que essa garota tinha feito isso, só ela para tentar algo tão tosco. Achei que tínhamos ficado livres da Samantha para sempre quando ela foi para aquele maldito internato.
-Eu também pensei. –David murmurou e Liz olhou para ele com uma expressão estranha no rosto. Ela parecia querer falar algo e estar hesitando. Ele também notou, por isso, pegou o pulso dela. –O que é que você está escondendo?
-Nada. –Liz gaguejou e olhou para o chão. O menino olhou com censura para ela, que desviou o olhar para , que a encarou com os olhos azuis arregalados, como se insistisse para que ela dissesse logo. –Bom, eu meio que pedi ajuda à para mandá-la de volta para o internato.
-E como vocês duas farão isso?
-Vamos ao apartamento dela e tentaremos achar algo. Mas tem uma coisa. Alguém precisa distraí-la enquanto estivermos lá dentro.
-Tchau. –David se virou bruscamente e entrou rapidamente no quarto. Mas antes que pudesse fechar a porta, o puxou de volta e ele bufou de raiva. O garoto olhou para o amigo com súplica. David precisava fazer aquilo, depois que Sam fez brigar com ele, estava determinado a ajudar. –Por que eu?
-Você sabe exatamente o motivo.
-Eu não gosto da Sam.
-Você não precisa se casar com ela. –Liz não conseguiu disfarçar seu sorriso e sorriu de lado, de forma que ela ficasse envergonhada. –Só quero que a distraia. E pense que se fizer isso e se tudo der certo, vai se livrar de Sam pra valer.
-Pra mim parece bom. – concordou com a cabeça e David deu de ombros. Ele olhou para a porta do quarto de e virou-se novamente para Liz. –Como faço para que acredite em mim?
-Você tem testemunhas.
deu um sorriso grande e pegou Liz pela cintura, abraçando-a e girando-a em todas as direções. Ela começou a rir e David tocou o ombro dele, depois de uns segundos observando.
-Acho que devia falar com ela. –ele disse como se fosse sua mãe e estivesse xingando-o por comer doces demais. O menino a soltou e os dois se viraram para David, que deu uma risada sem graça e apontou com a cabeça para Liz. –Ela pode ficar tonta.
-Sei. – deu um sorriso malicioso e o outro fingiu que não percebeu.
-E então, não vai falar com ? –David perguntou novamente, tentando mudar de assunto o mais rápido que conseguia. concordou com a cabeça. –Bom, acho que devemos deixar vocês dois a sós, não devemos, Liz?
-Claro.
Liz se virou e começou a andar, enquanto David olhava para trás e fazia uma careta para . Tente ser menos óbvio, o menino gesticulou com os lábios. O amigo o fitou como se ele estivesse falando a maior besteira do mundo, e depois que os dois se afastaram, entrou no quarto sem nem bater e encontrou somente com uma calcinha e uma blusa parada próxima ao armário. Ele a olhou de cima para baixo com um sorriso, e a garota deu um riso.
-Sabe, é por isso que as pessoas educadas batem antes de entrar.
-Aposto que você já tinha ouvido tudo o que estávamos dizendo lá fora e só ficou de calcinha e sutiã porque sabia que eu abriria a porta e te veria assim.
-É muita coisa para apostar. – passou por ele e fechou a porta. Ela foi até onde o garoto estava parado e ficou bem perto dele. –Você pode estar errado.
-As chances de eu estar errado são tão grandes quanto as chances de você não estar aprontando alguma coisa.
-Pelo jeito você está certo.
-Em qual das duas afirmações?
-Nas duas.
deu um sorriso malicioso, e quando iria se esticar para beijá-lo, ele se desviou e se sentou na cama dela. Ela girou os olhos e o seguiu, sentando-se ao seu lado.
-Eu estava errada por não acreditar em você.
-Que pedido de desculpas satisfatório, .
-É o único que você vai receber.
-Vou me contentar com esse, mas quero que faça uma coisinha para mim.
A menina encostou-se à parede fazendo uma cara de preguiça e se afastou um pouco dela. Ele pegou a câmera de seu celular e focou em seu rosto bonito e diferente. Apertou “gravar”.
-O que?
-Quero que admita que é louca pela minha pessoa.
-Quem disse que eu preciso de suas desculpas?
-Eu sei que você precisa.
-Posso viver muito bem sem o seu perdão, acho que está com uma imagem muito satisfatória de si mesmo.
-Não foi o que pareceu agora, quando tentou me beijar.
-Eu não... Ah, que se dane. Eu era louca por você.
-Por você quem?
-Por você, .
Ele encarou a menina, os olhos cautelosos estudando cada parte de seu rosto, fixando-se em sua pele azeitonada, macia ao toque e depois em suas sobrancelhas grossas, que se franziam um pouco. Ao encarar os olhos levemente puxados dela, percebeu com o espanto mais deleitoso de sua vida que a garota estava sem graça. Observar envergonhada era como achar a sorte grande, levando em conta a raridade de que isso acontecia, principalmente se o responsável por tal reação era ele. O garoto obteve tanta satisfação com aquela imagem, não somente porque achava engraçado, mas também porque naquele momento, vendo a menina daquela maneira, envergonhada, mas não menos intimidante, pensou que ela nunca lhe pareceu tão à vontade. E por mais que a junção de tais características não fizesse sentido, aquela mistura de expressões antecedeu as sensações que ele experimentou logo em seguida. Com a cabeça anuviada, o garoto respondeu:
-Essa frase alguma vez vai voltar a ser dita? Com o verbo no presente, de preferência.
sorriu e tampou a câmera com a mão. O menino sorriu, sem tirar os olhos do rosto dela, e desligou o telefone, salvando a última gravação. Ela se aproximou dele, e quando ela já estava bem perto e ele podia sentir sua respiração na boca, a menina respondeu:
-Isso você terá que descobrir sozinho.
concordou com a cabeça, o estômago se incendiando com a possibilidade de encostar seus lábios nos dela novamente. Era como se havia passado muito tempo desde a última vez que o fez, e percebeu o quanto queria aquilo quando a menina se encontrava a centímetros dele. Quando estava quase acabando com seu tormento, lembrou-se de que precisava fazer uma coisa antes. Algo que era tão importante quanto o que ele estava prestes a fazer. Desviou o olhar do rosto da menina para a cadeira cheia de roupas no canto do quarto.
-Acho que deve ir falar com ela.
Ele acenou com a cabeça e correu até o quarto que dividia com , as passadas tão largas que teve a impressão que voou até ali. Era engraçado pensar na pressa que sentiu ao se mover, uma que não pensou que estaria presente, considerando o trabalho que teve para conseguir o carinho da menina. Quando bateu na porta, a própria pessoa por quem procurava atendeu. Ela tinha os cabelos presos em um coque e seu rosto estava abatido, como se tivesse vomitado a noite inteira. Na sua cama havia vários livros e cadernos com anotações um uma letra meio angulosa. A garota aparentou ter dificuldade para sorrir quando ele perguntou se podia entrar. ficou de pé perto da cama dela e esperou que a porta fosse fechada para que pudesse começar a falar.
-Eu gosto muito de você, . Saiba que mesmo que não fosse o certo, eu me diverti nos momentos que passamos juntos. E peço desculpas por interferir em seu relacionamento com .
Ela fechou os olhos ao escutar o nome dele e depois contemplou com o olhar cansado. Era como se a menina estivesse em outro mundo, e o garoto começou a se preocupar.
-Não foi culpa sua... Eu também gosto muito de você e não quero que paremos de conversar. Será que existe alguma chance de sermos...
-Amigos? Claro.
-Isso é ótimo.
foi até e lhe deu um abraço apertado, mas rápido. Ele sorriu de lado.
-Sabe, esse foi o término de namoro mais tranqüilo da minha vida. –ela começou a rir e tocou sua cabeça. –Acho de verdade que você deveria desculpar . Não gosto de te ver assim.
Ela concordou com a cabeça e saiu dali, fechando a porta com cuidado ao sair.
*
Capítulo 151 – “COMING HOME”


O dia do Baile era acompanhado de emoções. Havia as pessoas que estavam alegres, aquelas que possuíam o nervosismo como companheiro do dia e para outros significava o final do Ensino Médio, seja lá como isso fazia com que se sentissem. Garotas colocando seu vestido de Baile de Natal no corpo em frente ao espelho do quarto, girando de um lado para o outro e se perguntando se é realmente bonito, agendando horários em salões de beleza, ou tentando arrumar seus cabelos por si mesmas. Os garotos enrolando para alugar um terno enquanto comiam na churrascaria Brown House. Por algum motivo, toda a população masculina do último ano decidiu ir almoçar lá depois das últimas provas do ano, e talvez, para os sortudos, de suas vidas como estudantes de escola.
Mas existiam os que não eram veteranos, os que nem mesmo estavam no Ensino Médio. Aqueles que estavam na faculdade, como , David, e Liz. E os quatro faziam algo que se fossem parar para pensar, não era muito de pessoas que estavam na faculdade. Aliás, não havia uma categoria correta para quem invadia propriedades. Enquanto e Liz procuravam por qualquer coisa dentro do apartamento de Sam que a incriminasse, estava parado na porta do prédio quase cochilando no banco do motorista de seu carro. Ótimo trabalho. E apesar do que e Liz pensavam, para David, quem estava fazendo o trabalho sujo era ele, que precisava observar os vestidos que Sam experimentava em uma loja do centro e dizer se gostava ou não. O menino se sentia injustiçado ao fingir não perceber as tentativas nada sutis da menina de fazer com que ele a visse com a menor quantidade de roupa possível.
-Eca! – fez uma careta de nojo e chutou uma calcinha de Sam para longe, enquanto abria o armário de vidro da copa da casa e se deparava com castiçais, taças e pratos também de vidro. Ela viu um pedaço de papel lá dentro e o puxou rapidamente para ver o que era, mas era só papel higiênico. Ela bufou. –Sua irmã é pior do que um homem.
-Minha irmã é pior do que várias coisas e várias pessoas em várias modalidades diferentes. –Liz respondeu distraída enquanto abria o outro armário do outro lado da sala e se deparava com mais talheres. Ela não sabia de onde Sam tinha tirado tanto prato. –Eu nem sei como ela conseguiu fazer essa bagunça, quase não fica aqui.
Quando percebeu que seria inútil continuar procurando por alguma coisa naquela sala, correu para a cozinha, abrindo móveis e até mesmo a geladeira. Vamos, ela pensou, qualquer coisa. Encontrou várias comidas congeladas no freezer, sucos de frutas vermelhas com soja, manteiga light sem calorias, sorvete para diabéticos – apesar da menina não ser diabética – e queijo integral light. riu com deboche. Sam era uma fresquinha, só faltava seus ovos serem de uma galinha especial.
Estar no apartamento de Samantha, seu antigo apartamento, era, ao mesmo tempo, assustador e de certa forma, nostálgico. Assustador por motivos óbvios, e nostálgico porque as duas viveram bons momentos ali dentro. Mesmo que a amizade delas não acabara bem, houve uma época em que realmente se divertiam sem tentar superar a outra em tudo. Uma época em que Sam não sabotava e não dizia coisas sobre os peitos dela serem tão grandes que iriam assustar e o resto da população masculina. Qual é, , você devia fazer uma cirurgia. Está sendo vulgar sem ser sexy, era o que ela sempre dizia e fingia que não escutava.
Ela olhava para Liz, que estava parada ao seu lado usando um suéter vinho e calças jeans azuis apertadas nas coxas e largas no tornozelo. Seus cabelos ruivos que iam até o queixo foram presos numa faixa também vinho que fazia com que seu rosto delicado e redondinho se destacasse. A garota olhou para ela e fez que não com a cabeça.
-Está tudo bem. –Liz garantiu e caminhou até o quarto de Samantha, um dos dois últimos lugares que faltava para elas olharem. a seguiu, seus sapatos com pequenos saltos fazendo um barulhinho ao pisar no chão encerado. –A cozinha realmente não é um lugar muito indicado para esconder segredos. Minha irmã tem uma mente maléfica genial, ela não seria tão estúpida a ponto de esconder algo ali.
Quando as duas entraram no quarto de Sam, hesitou. Ela olhou para dentro do cômodo, percebendo que estava da mesma forma de sempre. Um armário branco grande que ia até o teto no canto do quarto, uma das portas dando para a suíte. Sam sempre se gabava pelo seu quarto ter uma “porta secreta” que levava ao seu próprio banheiro, enquanto tinha que usar o de visitas. A cama de dossel cor-de-rosa dela estava desarrumada e pilhas de roupas se espalhavam pelo chão. Uma estante que teoricamente precisava estar cheia de livros estava abarrotada de roupas, perfumes e fotos de Samantha. Abaixo, um espaço para televisão, onde uma televisão de plasma de quarenta e quatro polegadas estava ligada num volume bem baixo no VH1 e uma música do grupo TLC tocava. E as outras quatro cômodas dela estavam dispostas pelo quarto, uma em cada canto. Liz já estava lá dentro e procurava algo embaixo da cama, para depois se levantar com peças de roupa, lingerie e um pacote de preservativo vazio nas mãos. Ela olhou para por uns instantes.
-Você não vem?
A menina assentiu com a cabeça e revirou a cômoda ao lado esquerdo da cama dela, achando livros de escola que ela pensou que nem existiam nas coisas da garota, mais sutiãs, e-mails escritos pelo pai perguntando como iam as coisas no internato e se ela estava se comportando bem. as pegou e deu uma olhada, mas todas diziam basicamente a mesma coisa: para ela se comportar e tirar boas notas. Em uma das cartas ele dizia que ela poderia passar um recesso na casa deles na Holanda. Outras cartas estavam meio rasgadas, como se Sam estivesse com raiva na hora de lê-las.
-Samantha e meu pai eram bastante próximos. –Liz explicou surgindo atrás de , que deu um pulo de susto. Ela deu de ombros e voltou a procurar em outros lugares enquanto guardava as cartas. –Ela o idolatrava, mas aí foi crescendo e virando essa pessoa desagradável e meu pai começou a ficar super rígido com ela. Eu me lembro que nós três conversávamos por horas. –Liz deu um meio sorriso e se inclinou sobre o guarda-roupa da irmã, arrastando as roupas para os lados e procurando por qualquer coisa no chão. –E o trabalho do meu dele mudou, agora ele fica viajando sem parar. Deve se lembrar de quando eu contei para ela, você estava em nossa casa no dia. Antes de ir, ele disse que eu deveria observá-la e qualquer coisa que ela fizesse de errado ele deveria ficar informado. Eu nunca disse nada porque tenho medo do que Sam possa fazer comigo se descobrir, mas não agüento mais essa garota.
-Se te faz sentir melhor, ninguém mais agüenta a sua irmã. Eu tenho pena de David, que precisou ficar com ela. Onde será que eles foram?
-Não quero nem pensar.
Liz fechou a porta do armário e abriu a outra, indo para o banheiro. A voz dela era meio distante, mas pôde escutar o que ela dizia.
-Sabe, estar aqui é meio esquisito para mim também. Às vezes tudo o que eu quero é que as coisas voltem a ser como antes, como quando Sam era legal comigo e não ficava com os garotos que eu gostava só para me irritar. Se uma coisa me conforta é o fato de David se sentir a vontade para falar o que quiser comigo e me dizer que não quer Samantha de volta nem se receber mil pratas junto.
-Mas isso não te conforta por causa de Samantha. – deu um sorriso malicioso e depois se deu conta de que Liz era bem inteligente: ela primeiro conquistou a confiança de David para depois poder dar o primeiro passo. –Isso te conforta porque você é apaixonada por ele desde a oitava série.
Liz não respondeu. Por um segundo, pensou tê-la enfurecido, mas a menina logo voltou a falar:
-Você e são um caso complicado também.
-Eu e ?
começou a rir, mas instantaneamente se lembrou do que acontecera no dia anterior. Ela deu um pulo na cama de Sam e olhou para o teto, sorrindo de um jeito engraçando. é mesmo um idiota, ela pensou quando se lembrou dele pegando a câmera e a filmando. O pior de tudo foi que ela sentiu um frio na barriga ridículo quando perguntou se ainda havia uma chance dela gostar dele. E quando ele se aproximou para beijá-la, olhar para aqueles olhos azuis hipnotizantes dele fez com que ficasse com raiva por ele ser tão lindo. Sempre soube que os dois não eram somente amigos, mas o fato de que ele era bonito resolvia brincar com sua cabeça vez ou outra. Não era nada demais.
Liz concordou, entendendo aquele sorriso como uma resposta. Ela procurou nas duas últimas cômodas e não achou nada. Com o rosto vermelho de raiva, começou a respirar rapidamente. não sabia quem estava com mais pressa de que Samantha fosse embora: ela ou Liz.
-Liz, se acalma. Vamos para o escritório.
-Não vamos encontrar nada, o computador dela está estragado desde antes dela ir para o internato. E ela quase nunca usa aquele lugar.
deu de ombros e abriu a porta pesada o escritório. O ambiente cheirava a lavanda e era o único lugar da casa completamente arrumado, provavelmente pelo fato de Sam nunca ir lá. O tapete oriental estendido no chão estava meio empoeirado e a mesa de madeira carecia de uma limpeza. As persianas estavam abertas, possibilitando uma vista da cidade inteira da janela dela e fazendo com que o sol da tarde invadisse a sala. Sam se sentou na cadeira azul do outro lado da mesa e foi abrindo as gavetas rapidamente. Só pedaços de papel e canetas que não funcionavam mais.
-Não tem nada aqui. Não tem nada em lugar nenhum, .
-Essa garota sabe bem que deve esconder as coisas que interessam. Estamos ferradas.
-Ah, não! –Liz apoiou o rosto nas mãos como se fosse chorar e a menina desejou que ela não o fizesse. Quando ela tirou as mãos de lá, suspirou de alívio ao ver que seu rosto estava seco, somente suas bochechas possuíam um vermelho vivo. –Eu deveria saber que essa idéia não daria certo. Nós nem ao menos sabemos o que estamos procurando!
-Por que você simplesmente não liga para o seu pai e diz que Sam está na cidade sem a permissão dele?
-Não adianta. Provavelmente a única coisa que ele fará é deixá-la sem cartão de crédito. Nesse momento ele está em Toronto num congresso e não me dará atenção se não for algo grande.
bufou de raiva e começou a pensar no que elas fariam. Ela olhou para o relógio e engoliu em seco ao notar que já eram três e meia da tarde. David já almoçara e não conseguiria segurar Sam por mais tempo, ele já devia estar entrando em pânico. E não ligara nenhuma vez, será que ninguém passou por lá naquele tempo todo? Ela pegou o celular do bolso da frente do vestido e ligou para ele, que atendeu depois de vários toques.
-Hã? – resmungou no meio de um bocejo. pôde sentir as bochechas esquentando de raiva. Ela cerrou os dentes e Liz olhou para com curiosidade, se perguntando o que acontecera.
-Me diz que você não estava dormindo.
-Dormindo, eu? –ele deu um riso energético, mas sua voz o denunciou. –Gatinha, eu não dormiria nunca. Estava bem aqui no carro, escutando... Backstreet Boys?
-Porque você ama Backstreet Boys, não é mesmo, ?
-Estava tocando no rádio e eu escutei.
-Por que demorou a atender ao telefone?
-O volume estava alto e meu celular escorregou para debaixo do banco.
-Então, já que você estava acordado, me responda uma coisa. Por que não me viu acenando do outro lado da rua?
-Onde? Não estou te vendo aqui.
-Bom, eu estava voltando para o carro e a saia do meu vestido rasgou e minha calcinha ficou à mostra para o mundo. Tive que ir até o bar ao lado para perguntar onde ficava a loja mais próxima.
-Você foi a um bar sem a saia do seu vestido?
-Exatamente.
-Mas... – o menino parecia desesperado, até que parou de falar e suspirou. –Tudo bem, eu dormi, tá legal? Mas você não pode me culpar, acabei de fazer três provas e estou cansado.
-Eu também estou cansada, fiz as provas também. Todo mundo da faculdade está cansado, porque todo mundo fez as provas. Essa época do ano é época de...
parou e uma luz se iluminou na cabeça dela. Ela deu um sorriso de orelha a orelha.
-, você é um gênio!
-Eu sei disso.
Ela desligou o telefone antes que o menino pudesse falar mais alguma besteira e pegou Liz pelo braço. As duas saíram do apartamento rapidamente e enquanto desciam no elevador, a outra lhe perguntava o que estava acontecendo, mas não respondeu. As duas chegaram ao hall e encontraram o porteiro do prédio sentado do outro lado do balcão. Liz entregou as chaves para ele e agradeceu.
-Espere. – interrompeu antes que Liz se dirigisse a saída do prédio. Ela se inclinou sobre o balcão e deu uma olhada na estante onde eles guardavam as correspondências e foi direto para o espaço do apartamento de Sam, o qual ela conhecia de cor porque sempre sobrava para ela pegar a correspondência. –Liz, está se esquecendo de pegar as correspondências!
-Correspondências?
-Sim, a Sam te pediu para pegar as correspondências. Ou já se esqueceu?
-Ah! –Liz exclamou e olhou de esguelha para . O porteiro olhou meio desconfiado para ela enquanto entregava a carteira de identidade de Liz (que ela precisou dar a ele para confirmar que era irmã de Sam) e depois deu três envelopes para as meninas. –Obrigada.
As duas saíram do prédio e entraram no carro de , que tamborilava os dedos no volante ao som de Lopez. Ele sorriu para as meninas enquanto elas entravam e perguntou se acharam alguma coisa.
-Pode ligar para David e dizer que acabamos por aqui.
Ele assentiu com a cabeça e pegou o celular. As meninas abriram os envelopes. Um tinha a conta de energia elétrica, outro avisava Sam sobre um desconto numa loja de perfumes e o último era justamente o que precisava. A carta do internato. Dizia que Sam não fizera as provas finais e que praticamente fugira do internato. Dizia também que ela estava prestes a repetir o ano e que o senhor e a senhora Johnson precisavam tomar alguma providencia. Anexo à carta, o boletim vermelho de Samantha. Liz sorriu.
-Precisamos ir para a April Hall logo e mandar isso para o hotel do meu pai.
-David disse que os dois estão chegando ao apartamento. – avisou e deu partida no carro. –Vocês conseguiram o que?
-As notas dela. Vamos rápido, . Liz tem uma ligação a fazer.
*
Capítulo 152 – “SHE’ S GOT A SMILE THAT IT SEEMS TO ME, REMINDS ME OF CHILDHOOD MEMORIES”


entrou no salão da escola e percebeu que além das coisas dos dias anteriores – quando ele foi ensaiar –, havia uma grande árvore de Natal na entrada e as luzes finalmente funcionavam, dando tons esverdeados e vermelhos ao local. Flocos de neve de papel caíam do teto e ele ajustou seu terno preto mais uma vez. Sua mãe ajudara a ele e a Jonny a colocar gravatas vermelhas. O garoto penteou seu cabelo para trás com um gel de menta e passou vinte minutos lustrando seus sapatos também pretos. Jonny e Hanna, que antes estavam ao seu lado, sumiram de vista e ele olhou em volta, reconhecendo vários rostos.
Ao longe avistou seus amigos conversando, todos reunidos em dois sofás, um de frente para o outro e uma mesa no centro cheia de copos com refrigerante. Jackson, Evan, Jorge, Teddy e Marcus usavam ternos brancos, enquanto e Logan usavam ternos pretos. O treinador Duncan conversava com eles e seu terno, assim como o dos outros professores, era vermelho.
-Olha só quem chegou! –Jorge gritou enquanto entregava um copo de refrigerante para , que puxou uma cadeira e se sentou ao lado dos dois sofás. –Você sempre demora tanto para se arrumar, Cinderela.
-Não enche, eu tive que fazer o trabalho sujo desse sujeito ali. – apontou para , que deu um sorriso amarelo. pediu para que ele fosse ao quarto de e cancelasse os planos para o Baile. O amigo nem conseguia cancelar um encontro com uma garota, por isso foi. disse que tudo bem, que não poderia ir de qualquer forma. Ele deu graças a Deus por Angel não estar no quarto e saiu correndo para sua picape depois disso. –Acontece que eu tive que dizer ao par dele que ele não poderia mais vir com ela.
-E o que te fez dispensar um encontro?
-Ah, você sabe, Logan. – deu de ombros e como que por mágica, apareceu ali perto deles. Ela usava um vestido vermelho com uma pequena camada de renda em algumas partes. O traje era longo e não era possível ver seus sapatos. Os cabelos dela estavam presos em um rabo e seu rosto bonito estava à mostra. Hey Ya, do OutKast começou a tocar das grandes caixas de som espalhadas pelo salão. girou a cabeça na direção deles quando percebeu que todos a encaravam com sorrisos maliciosos. Ela olhou para o lado, fingindo não ser com ela. –É tudo uma questão circunstancial.
Antes de ele pedir para que fosse ao quarto de , contou a que não queria ficar com e que sabia que ela o amava. Desde que tivera aquela conversa com a amiga no White Club e depois com Angel, percebeu que aquela realidade ia martelando em sua cabeça. Seu corpo ansiava pela chegada de , não podia esperar para tomá-la nos braços e implorar por seu perdão. Ele não acreditava sua estupidez. Como foi fugir do que sentia, e pior ainda, magoar a garota porque gostava dela? Não fazia sentido.
De repente, ao lado de , ele pôde ver com quem ela conversava. tinha os cabelos mais lisos e seus olhos surrealmente brilhantes pareciam brilhar mais do que os brincos de diamante em suas orelhas. Seu vestido azul-claro tomara-que-caia também intensificava seus olhos. Seus sapatos prateados a deixavam mais alta, provavelmente batendo no nariz dele. engoliu em seco, uma sensação esquisita tomando conta de seu corpo. Suas mãos ficaram trêmulas e o nervosismo o atingiu com força. Temeu a reação da menina quando se desculpasse, e temeu que tivesse estragado tudo.
-, limpe a baba! –Marcus caçoou, entregando um copo vazio para o amigo e colocando-o embaixo da boca dele. Sem parar de olhar para a garota, deu um tapa no copo, que voou para longe e quebrou em mil pedacinhos. –Calma, cara, é só um copo!
- é tão corajoso no campo, mas não consegue levantar para ir falar com uma garota?
-Você não entende, Duncan. –o menino desviou seu olhar para o treinador, que estava encostado no sofá com uma expressão divertida no rosto. Seus amigos o encaravam do mesmo jeito, como se aquilo tudo realmente fosse engraçado. –Vocês não sabem o que está acontecendo.
Jackson tossiu.
-Cara, a escola inteira sabe que você mandou a ficar longe de você. O motivo, nós nunca saberemos. Mas sinceramente, não estou surpreso, você é meio lesado.
-Eu preciso dançar. –Evan se levantou e os outros o seguiram. –E Teddy precisa beijar alguma menina logo. As pernas dele já estão começando a tremer.
-Idiota. –Teddy deu um empurrão em Evan, que começou a rir.
olhou para , que deu um sorriso amarelo ao amigo. Ele fez uma careta.
-Parece que nós dois estamos na pior.
-Sabe qual é o seu problema? – soltou, sentando-se ao lado do amigo. O garoto pegou um copo de Soda e entornou na boca com tanta rapidez que se surpreendeu por ele não ter engasgado. – está ali implorando para que vá falar com ela e eu só quero a atenção de por pelo menos dois segundos.
Ele encarou o amigo, não compartilhando a mesma certeza dele de que a menina estaria tão receptiva.
-Auto-piedade não fica bem em você.
respirou fundo. dissera uma coisa parecida para ele. Apesar de todo mundo falar que só estava esperando que ele pedisse perdão, tinha medo de que ela ficasse irada demais pelo garoto ter se afastado e não aceitasse conversar mais. Ele sabia que não era a pessoa mais cabeça fria do mundo. Quando se lembrava das vezes que ela tentara falar com ele, sentia-se meio idiota. Pensar naquilo lhe causava tanta vergonha que parecia que seu cérebro sempre jogava tais imagens para longe. E no dia anterior, quando fora ao quarto de e pegou em sua mão, ele simplesmente se sentiu uma droga, tendo estupidamente que se segurar ao máximo para não beijá-la quando ela o empurrou na parede. Segurou tanto que acabou machucando-a.
Ele foi à direção de e ela logo o viu. Seus olhos se arregalaram e ele tentou não olhar para eles, ou senão hesitaria. Respirando fundo e tentando se acalmar, se aproximou dela. ergueu os olhos e deu um sorriso de lado ao vê-lo. Ele tocou a parte de dentro do pulso de , pensando consigo mesmo se ainda dava tempo de dar meia volta.
-Posso falar com você?
A menina piscou algumas vezes como se não tivesse entendido nada. Os pés dela se grudaram no chão e ela abriu a boca, mas não emitiu nenhum som. O garoto a fitou com expectativa até perceber que ela não iria dizer nada. pegou a mão dela com delicadeza e sentiu que sua palma estava suada. Ele a apertou para que parasse de tremer e hesitou, com um olhar espantado. Provavelmente pensou que o menino faria o que fez da outra vez, quando a machucou. Ele teve vontade de socar o próprio rosto por causa disso. Teve vontade de socar o próprio rosto por mais várias besteiras.
Guiando-a para um canto afastado onde as pessoas não o olhavam de um jeito curioso, os dois se sentaram em um dos sofás vermelhos, ele pensando no que diria. o olhou com os olhos grandes.
-Provavelmente você não vai querer falar mais comigo depois disso, mas eu preciso explicar que só fiz isso porque estava com medo de admitir para mim mesmo a verdade. Sei que parece a coisa mais idiota para se dizer, mas não consigo descrever para você... Não consigo explicar por que essa decisão pareceu fazer sentido quando fiz. Acha que consegue me perdoar?
-Isso depende. –ela de repente voltou à posição normal e analisou o rosto de com cuidado, não deixando de reparar no quanto ele estava bonito. –Qual é a verdade que você estava com medo de admitir para você mesmo?
Ele encarou a menina, um sorriso tomando conta do rosto. estava ali na sua frente, e de repente, se perguntou como nunca tinha contado aquilo para ela. Fitou sua boca, aquela que se abria num sorriso tão familiar e belo, e uma sensação gostosa entorpeceu seus membros. Ao olhá-la, sabendo que a menina estava receosa e magoada, mas ao ver que ela continuava com as sobrancelhas erguidas em tom desafiador, isso somente fez com que a inquietação aumentasse. Somente uma pessoa possuía aquele jeito encantador, que possuía suas falhas, mas que era único, e não foi nada difícil admitir o que veio em seguida:
-Que eu sou apaixonado por você.
Uma expressão surpresa atingiu o rosto dela, que lentamente abaixou a cabeça. Ela a apoiou em uma mão, como se o que tivesse dito lhe causara uma enxaqueca. Ele começou a ficar nervoso.
-Você me magoou muito, . –a voz dela estava calma, mas ele conseguia notar a tristeza. ergueu os olhos para ele novamente. –Eu fiquei me torturando para descobrir o que diabos eu tinha feito e você nem me disse o que era. Sabia que eu não iria te deixar em paz nem se me dissesse, mas me evitar porque gosta de mim? Que tipo de lógica é essa?
-Eu sei que foi idiota. Me desculpe.
-Hum... Sim. É claro. É claro que sim.
-Jura?
Ela assentiu com a cabeça e a abraçou com força, tomado por um alívio gigantesco. Ela o abraçou de volta, enterrando sua cabeça no pescoço dele. Quando o sentiu molhado, se afastou e olhou para ela, que chorava. Ele olhou desesperado para , que só deixava as lágrimas caírem.
-Não chore. –ele falou depressa, pegando a cabeça dela por trás com a mão direita e enterrando em seu peito, sem se importar se o molharia ou não. Colocou a mão nas costas nuas de e a apertou contra si, encaixando seu queixo no topo de seus cabelos dourados. passou as mãos pelos braços dela e levou suas mãos a boca, dando um beijo de leve, quase imperceptível. –Eu odeio quando você chora.
a puxou mais para si, beijando seu pescoço. estremeceu por uns segundos, mas depois relaxou. Ele depositou vários beijos pela pele dela, roçando o nariz ali vez ou outra e ela deu uma risadinha. olhou para e ele então não conseguiu mais se conter. Porém, quando ia alcançar a boca da menina, ela se virou.
- O que há de errado?
-... Eu não...
-O que, você não me ama?
-É claro que eu te amo, mas eu...
Ela apertou os lábios e entendeu. Ela não o amava daquele jeito. Será que ele demorara tempo demais para falar daquele assunto com ela e parou de gostar dele enquanto isso? Será que ela tinha outro? lhe assegurou que não havia nada entre os dois. assentiu com a cabeça, no exato momento em que os primeiros acordes de Island in the sun puderam ser ouvidos. A banda da escola já estava posicionada no palco e eles decidiram fazer um cover de Weezer. Fazia um tempão que ele não ouvia aquela música, porque lhe lembrava muito alguém com quem costumava dançá-la o tempo inteiro. o olhou no mesmo momento em que ele olhou para ela, que sorriu.
-Nossa música.
-Por favor, dance comigo.
Ela assentiu com a cabeça e riu. Ele a pegou pela mão e a guiou para a pista de dança, onde vários casais dançavam juntos. Colocando as mãos no pescoço dele, ela apoiou a bochecha no peito de , que a conduziu com os braços em volta de sua cintura. cheirava a morango e ele quase tremia de vontade de beijá-la. Mas, para o menino, aquele momento era incomparável. Ele fechou os olhos, e quando abriu de novo, o olhava com um sorrisinho no canto dos lábios. Finalmente, pôde ver seus lábios gesticulando enquanto ele levantava as mãos para cima de um jeito exagerado, fazendo-o rir.
Aqueles três minutos foram magníficos para ele. E antes que percebesse, a música acabou e se afastou dele. Ele a seguiu, colocando-se na frente dela.
-Ei! – deu um gritinho e logo depois abaixou o tom de voz. A garota olhou em volta, parecendo meio desconfortável. –Você não vai me dar uma chance?
-Eu não sei.
-Mas eu te amo.
-Eu também te amo. Só tenho que pensar um pouco, tudo bem?
Ele assentiu com a cabeça e ela se afastou, indo para perto de suas amigas que a encaravam com curiosidade. o fitou com a cabeça inclinada e ele fez que não com a cabeça. Ela deu um sorriso triste e deu de ombros.
*
Capítulo 153 – “EVERYTHING I FEEL RETURNS TO YOU SOMEHOW”


não sabia o que fazer. Ela olhou para o palco, onde a banda estava no intervalo para que os professores anunciassem o Rei e a Rainha do baile daquele ano. Quando Maria Duncan – a amiga de que sempre participava de Comitês – lhe contou que ela fora indicada à Rainha do Baile de Natal, imediatamente mandou que cancelassem sua indicação. Coisas como Rainha e Rei do Baile eram clichês e as abominava porque excluía as garotas não tão bonitas e não tão populares da escola. A menina não se considerava bonita, mas sabia que era conhecida por causa do clube do teatro e por causa de... Por causa de .
E ela recebera várias mensagens falando sobre o que acontecera na quinta-feira, mas não fazia idéia do que queriam dizer. Você e se acertaram depois do que ele fez? , Eu achei tão lindo que até sonhei com isso! , É uma pena você ter ido embora mais cedo, ficou tão decepcionado... Ela se corroeu de curiosidade, mas era orgulhosa demais para perguntar o que tinha acontecido. Até que recebeu uma mensagem de mais cedo, dizendo:
Eu acho que você deveria ver o que fez para você na escola e pensar duas vezes. Aqui estou eu implorando pela atenção de e você não aproveita a atenção de sobra que tem.
Anexo à mensagem, havia um vídeo. filmara todo o show do garoto, desde a parte em que ela chegara e o avião dando voltas até a parte em que cancela o pedido ao ver que a menina não estava lá e todos vão embora. Os olhos de se encheram de lágrimas. O que estava pensando? Ele só podia ser doido. Ela assistiu a aquele vídeo milhões de vezes e sempre deixava escapar um riso constrangido.
Ela se encostou a uma pilastra perto do palco, ao lado de Amanda Johnson. Ela e suas amigas falavam sobre algo que a garota não sabia o que era. Ela perdera o rumo da conversa há muito tempo. O baile todo se passou com ela andando pelo salão e dançando com suas amigas, sem muita animação. Ela vira várias vezes e ele estava sempre cercado de garotas. Belo sinal de arrependimento pensou com amargura e depois tentou tirar aquele pensamento da cabeça. Os ciúmes dela fora um dos problemas da relação dos dois.
Quando foi até seu quarto e terminou tudo, aceitou numa boa porque meio que já esperava que aquilo acontecesse. Ela, pessoalmente, não conseguiria ficar com o menino por muito tempo, mesmo sabendo o quão lindo e legal ele era.
Seu vestido de cetim rosa de babados lhe caía super bem e ia até seus joelhos. Seus cabelos estavam soltos e em forma de cachos e ela usava saltos Annabella também rosas. Os pés doíam de tanto dançar. As meninas a convenceram de se divertir e ela realmente achava que merecia se divertir em seu último Baile de Natal.
-Pessoal, atenção! –a diretora chegou ao palco e tocou no interfone repetidas vezes até que todos estivessem prestando atenção nela. Ou pelo menos fingindo prestar atenção. –Primeiramente, boa noite a todos. Eu gostaria de relembrar aos veteranos que a formatura de vocês será na quarta-feira e peço que todos escutem o que nosso colega Jackson Allen tem a dizer.
Como estava se preparando para aquela dança ridícula da Corte – a qual ele participava todos os anos – quem o substituiu no palco foi Jackson. Ele já tinha tirado o paletó branco do terno e estava somente com uma camisa social amarela creme. Seu sorriso era de orelha a orelha e seus dentes brancos brilhavam.
-Pessoal, eu só quero lembrar que a final do campeonato é amanhã. E queria que todos viessem para torcer pra gente! Vamos meter a p...
-Tudo bem, Jackson. –a diretora o interrompeu antes que ele terminasse a frase e ele saiu arrancando palmas de entusiasmo dos alunos. Ela arrumou seu vestido verde: outra coisa que achava brega era o fato dos professores usarem as cores do Natal. –Continuando, a escola estará aberta na segunda-feira e todos os veteranos serão bem vindos para resolver os detalhes de sua festa de formatura. Vamos anunciar o Rei e a Rainha do Baile, mas antes, a dança da Corte! Quero uma salva de palmas para Jonny , , , , Hanna White, Olívia Jay, e !
Os oito entraram no meio da pista de dança e se posicionaram com uma fila de cada lado. Os garotos ficaram uns ao lado dos outros e de frente para as garotas, que ficaram uma ao lado das outras. Todo ano aquilo acontecia, mas pelo menos eles tinham a decência de mudar a música e a coreografia. Só as pessoas que geralmente não mudavam. não estava mais de terno, mesmo que os professores provavelmente o falariam mal por causa disso. Sua camisa social preta provavelmente era Calvin Klein e sua calça risca de giz também preta fazia seus olhos ficarem mais verdes do que nunca. Seus cachos estavam penteados para trás e sorriu ao se lembrar da ocasião em que o menino a perguntou se tinha importância ele ir ao baile de touca. Enquanto e Jonny estavam sérios – Jonny talvez porque era a primeira indicação –, e pareciam estar mais a vontade do nunca, levando aquilo na brincadeira. levava tudo na brincadeira, se fosse pensar bem, mas mesmo assim. As pessoas bateram palmas, e quando elas finalmente cessaram, a música começou. Bitter Sweet Symphony. amava aquela música.
Ele caminhou lentamente em direção à garota que estava na sua frente, que por acaso era . Pegando a cintura dela com uma mão e a mão com a outra, os dois começaram a dançar como se estivessem flutuando. observou o quanto estavam confortáveis com a situação e inclinou a cabeça, intrigada. Só que ela não estava com ciúmes, por incrível que pareça. Até porque provara para todos que gostava de ao dançar de forma apaixonada com ele algumas horas antes. E quanto a ... Bem, acho que ele já provou o suficiente quem ele quer, pensou consigo mesma e não conseguiu não sorrir. A dança continuou e ela ficou deslumbrada ao ver como eles tinham feito um bom trabalho naquele ano. Alguns veteranos em volta dela se balançavam no ritmo dos violinos e algumas meninas até choravam.
Quando a música terminou, bateu palmas com vontade e deu um gritinho. Suas amigas também gritavam enquanto os oito se dirigiam lentamente ao palco. Os meninos ficaram de um lado e as meninas de outro, esperando que a diretora anunciasse logo.
-Vamos começar pela Rainha do Baile... De acordo com os votos, a Rainha do Baile desse ano é... –ela fez uma pausa e abriu um envelope com um Papai Noel no centro. parecia meio entediada e abafou o riso. Hanna e Olívia aparentavam nervosismo e estava confiante como sempre, sem perder a postura em nenhum momento. Ela sorria. – !
Que surpresa. arregalou os olhos como se estivesse realmente surpresa. Ela parecia bastante feliz e bateu três palminhas para depois dar um beijo na bochecha de cada garota indicada. O salão batia palmas para ela, que fez um sinal de modéstia com a mão. Os olhos dela se encontraram com os de , que se assustou. Ela sorriu para , que então sorriu de volta.
-Agora o Rei do Baile que vocês, alunos, escolheram é... –ela fez aquela pausa dramática e girou os olhos. varria seus olhos pela platéia, finalmente localizando-a. Ele inclinou sua cabeça para ela, que olhou para o lado, sua boca quase começando a tremer por conter seu sorriso. Ele estava tão lindo. –Jonny !
Os alunos – principalmente os homens – perto dela começaram a gritar e Jonny continuou olhando diretamente para Hanna White, sem entender porque ela pulava e lhe mandava beijos. o sacudiu pelos ombros e só então ele só tocou que ganhara. Ele deu um aperto de mão e depois um abraço nele, depois em , que deu um tapa de brincadeira na cabeça dele e depois em , que o girou como se estivessem em uma premiação de verdade. O modo como o menino fingiu um surto por Jonny fez as pessoas rirem.
A diretora entregou a coroa para , que a colocou na cabeça de Jonny. Depois Jonny colocou a outra coroa na cabeça dela e lhe deu um beijo na testa. A menina se inclinou para o microfone e respirou fundo antes de falar.
-Obrigada, pessoal, vocês realmente fizeram minha noite! É o meu último Baile de Natal e eu não poderia receber lembrança melhor que essa. –ela se virou para Jonny. –Parabéns, gatinho.
-Valeu gente, é mesmo incrível ganhar do meu irmão. –Jonny se inclinou e falou depois de . girou os olhos e começou a rir, junto com as pessoas. –E para os otários que votaram em mim para Rainha do Baile, vão se foder. Jackson, Logan, Jorge e Marcus, me encontrem na saída que aí verão quem é a Rainha do Baile. Ah, e parabéns, . Você está maravilhosa.
ouviu aplausos e eles foram ao centro da pista de dança para dançar uma música. Ela viu que os dois conversavam sobre algo sério, porque pela a primeira vez na vida ela viu o irmão de com a expressão completamente sóbria. assentia com a cabeça o tempo inteiro e Jonny parecia estar dando uma lição de moral a ela.
-Eu acho que está linda. –Amanda a cutucou nas costelas, e se assustou. Tinha até se esquecido de que suas amigas estavam ao seu lado. –Mas era você quem deveria estar ali dançando.
-Obrigada, mas não, obrigada. – sorriu amarelo e fez que não com a cabeça repetidas vezes.
-Você não gosta de atenção, não é mesmo?
-Não desse tipo de atenção.
Amanda sorriu de lado e aos poucos outras pessoas foram voltando para a pista de dança. ainda estava no palco e conversava com um garoto bonito da banda. O que diabos ele fazia ali? olhou em volta, percebendo que não era a única que o notara ali. Várias meninas estavam posicionadas ao lado do palco e os amigos do time de natação de esperavam pelo o que aconteceria.
-Oi, gente, meu nome é . –ele se pronunciou, como se ninguém soubesse o nome dele. Tinha um sorriso divertido no rosto e seus olhos brilhavam. –Parabéns Jonny e . Vou ser rápido no meu cover. –ele olhou em volta. enrugou a testa. cantaria? Ela sempre dissera a ele que sua voz era muito boa, mas ele nunca escutara. –Vou cantar Love Me Again, de John Newman, e queria dedicar essa canção a uma pessoa bem especial.
O estômago dela revirou e as bochechas dela instantaneamente ficaram vermelhas. Um holofote pairou sobre ela, iluminando-a no meio do Salão, encostada à pilastra. Vários murmúrios tomaram conta do lugar e as amigas dela se agitaram. seguiu a luz e sorriu ao vê-la, que tinha os olhos fechados e apertados. Ela abriu os abriu e viu que todos ainda olhavam para ela, inclusive .
-Ah, aí está você. Espero que gostem.
O baixo começou tocando e o menino pigarreou. Ele começou a cantar e sua voz rouca se espalhou pelo Salão, causando um arrepio nela. Ela escutou gritinhos e os amigos dele bateram palmas, encorajando-o. De repente, ele já estava cantando o refrão com tanta facilidade que se deslumbrou. Ele se mexia pelo palco como se realmente fosse um astro do rock e a garota começou a rir. Os alunos dançavam e cantavam com , que não parava de sorrir. Ele olhava para o Salão inteiro, e sua presença era bem definida. Jogava charme para a platéia, uma vez que percebeu que ganhou a todos. Ele então parou e só os instrumentos tocavam. deu uma risada envergonhada.
Ele voltou a cantar e deu uma risadinha antes da última vez que cantaria o refrão. Alguns flocos de neve caíam do teto e as bochechas de até começaram a doer de tanto que ela sorria. O menino acabou de cantar e até mesmo os professores aplaudiram de pé. A menina sentiu olhares sobre ela, provavelmente eles estavam se perguntando o que ela faria. agradeceu, saiu do palco e deixou que a banda continuasse. Uma roda de pessoas se aglomerou em volta dele, parabenizando-o, juntamente com várias garotas. tinha fãs pelo colégio – quando elas descobriram que ele ainda por cima cantava, deviam ter ficado histéricas. Ela deixou uma pequena lágrima escapar e limpou rapidamente, certificando-se de que ninguém veria. Sentia-se tão bem naquele momento que quase se esqueceu de tudo o que acontecera entre eles. Mas aí ela se lembrou do refrão da música: Pode me amar de novo? não podia amá-lo de novo. Porque ela nunca deixara de amar e tentar negar aquilo era besteira.
-Nossa, foi uma apresentação realmente maravilhosa.
Ela se virou para trás e viu . Ele vestia uma blusa rosa de botões que estava arregaçada até os cotovelos e uma calça social clara. Seus cabelos loiros formavam um topete que cheirava a gel masculino e seu rosto cheirava a loção pós-barbear. Ele sorria e ficou confusa.
-Oi, o que faz aqui?
- conseguiu me colocar para dentro. Disse que se ela não conseguiu te fazer sair do lugar, eu seria a pessoa quem conseguiria. Não consigo imaginar o motivo.
deu uma risada.
-E para onde quer que eu vá?
-Você está mesmo me perguntando isso? –ele colocou a mão na testa, fingindo estar decepcionado. –Por que ainda não se acertaram? Soube que ele incluiu homens vestidos de mulheres, um avião e agora uma música como pedido de desculpas. Acho melhor você desculpá-lo logo ou daqui a pouco ele compra um iate pra você.
-Você é um bobão, . Mas eu não sei...
-Essa lágrima que eu te vi deixar escapar diz que sabe muito bem. Vai lá, . Ou quer que eu te empurre também? Porque se quiser...
-Tudo bem, tudo bem.
riu e foi até , dando-lhe um abraço. Ele a apertou e depois a soltou, empurrando-a na direção do aglomerado de pessoas. andou confiante até o meio da rodinha, praticamente empurrando as pessoas que estavam em sua frente. Elas olhavam alarmadas na sua direção, e ela não se importou em dar uma explicação. Quando a viu, seus olhos se iluminaram. Ele acompanhou todos os movimentos dela até que já estivesse quase na frente dele e até que as pessoas se dispersassem.
-, o que você achou...
-Cala a boca, .
praticamente pulou nele, que cambaleou para trás aturdido e lhe deu um beijo. Quando as bocas dos dois se tocaram, seu estômago virou gelatina e ela quase delirou. Como sentiu falta daqueles lábios, que como sempre tinham gosto de hortelã. agarrou a cintura dela e a levantou para depois girá-la. Como sempre, as cabeças, bocas e línguas dos dois se moviam em perfeita sintonia, daquele jeito que somente pessoas feitas uma para a outra conseguiam fazer. Ela o beijou com mais intensidade, com urgência. Apoiou-se na ponta dos pés nos pés de para ficar na altura dele e ele riu com isso enquanto buscava o pescoço dela com as mãos. O menino agarrou a nuca dela sem muita delicadeza, mas não se importou, afinal, era o que a saudade causava. Ele a soltou um pouco e distribuiu milhares de beijos pelo rosto dela, descendo para o pescoço e não se importando com quem os olhava. deu uma gargalhada e ele sorriu involuntariamente, puxando o rosto dela de volta para perto de si e beijando-a novamente.
-Me desculpe. –ele se separou dela por uns segundos e arfou. Ela concordou com a cabeça e ele sorriu. –Me desculpe mesmo. Você gostou das coisas que eu fiz?
-Está tudo bem, a não ser pelo fato de você ser doido de pedra. –ela girou os olhos e riu, as bochechas rosadas do mesmo jeito que ficaram depois que ele terminou de cantar. –E o pior é que eu sou mais doida do que você, porque eu realmente te amo muito.
-Ei, como assim me amar é loucura? Eu sou super amável. –ele fez uma cara engraçada e sorriu. a abraçou forte e aproximou sua boca do ouvido dela. –Eu também te amo muito. Às vezes penso que sou meio obcecado por você, pra falar a verdade.
-Bobo.
-Eu te amo.
-Eu sei, por que acha que te perdoei? Comecei a me preocupar com o prejuízo financeiro que você poderia dar a sua família se continuássemos brigados por muito tempo.
gargalhou e ela o puxou para outro beijo. A garota sorriu no meio do beijo e a puxou de volta, não a dando nem tempo para respirar. Ele estava com saudade e provavelmente faria uso daqueles lábios a noite toda. Mas tudo bem, porque pretendia fazer o mesmo.
*
Capítulo 154 – “I SAW GOOD THINGS INSIDE YOU”


ficou satisfeita ao ver que sua amiga ganhara como Rainha do Baile. Ela também ficara satisfeita ao ver o que fez para . Mas nada se comparava ao que estava acontecendo com ela naquele Baile. A garota e estavam se divertindo tanto! Eles dançaram muito e os pés dela já doíam. E ele conversara com todas as amigas dela e fora muito educado. Os dois andavam pelo Salão enquanto procurava suas amigas para se despedir. O Baile já estava no final e o local se esvaziava.
-Você gostou?
voltou sua cabeça na direção dela e não disse nada por um momento. se preocupou. Será que ele não tinha gostado? Será que tinha achado colegial demais para ele? E se ele tivesse visto uma garota bem mais bonita que e não pôde aproveitar a chance porque se sentia obrigado a ficar com ela? Ela respirou fundo, tentando se acalmar. O garoto passou o braço pelos ombros dela e deu um sorriso.
-Foi demais. E você está linda.
corou e ele apontou com a mão que não estava em seus ombros para as amigas dela. Ele se apresentara para todos como seu namorado e ela sentia um frio na barriga toda vez que aquilo acontecia. Não seria ótimo se fosse verdade? Os dois foram até lá e depois que se despediram de todos, ele a guiou para seu carro.
-Você quer ir para algum lugar antes de termos que voltar para casa?
-Claro. O que tem em mente?
-Bom, eu não sei. Na verdade, esperava que você soubesse.
-Todos os lugares provavelmente já fecharam. – entrou no carro e se sentou no banco do passageiro, enquanto se sentava ao seu lado e analisava os alunos que andavam pelo estacionamento, a felicidade estampada em seus rostos. –Podemos ir para a April Hall e assistir a um filme. O que acha?
-Para a April Hall.
Enquanto dirigia, ligou o rádio e sorriu, ela adorava a música que tocava. Tamborilava os dedos pelo painel do carro no ritmo e sem querer cantou um pedacinho em voz alta. O menino olhou surpreso para ela, que tampou a boca com a mão rapidamente e ficou vermelha. Ele soltou uma risadinha.
-Ei, não pare por minha causa! Você gosta dessa música?
-Eu... Não. –ela abaixou os olhos. Normalmente não gostava que as pessoas soubessem que ela gostava daquela banda porque ela já tinha dezoito anos e sentia vergonha.
-Não precisa ter vergonha. Minha irmã, Gina, os adora e eu até sei umas músicas de cor por causa dela. Parece que é a única coisa que ela escuta.
-Você deve odiar ficar perto dela.
-Até que as músicas deles são legais. – olhou para ele surpresa, que deu uma risadinha sem graça. –Mas não deixe que David nem saibam que eu falei isso.
deu uma gargalhada e ele riu nervoso. Ela continuou cantando no ritmo da música e só sabia o refrão. Ele embolava algumas palavras, sua voz grossa parecendo a de um locutor de rádio. Quando os dois chegaram à April Hall, ela saltou do banco do passageiro, animada, e caminhou ao lado dele para dentro da mansão. Eles passaram pelos corredores de quartos e ele a guiou para a Sala de Cinema. Enquanto ela escolhia um dos sofás para se sentar – a sala estava completamente vazia –, ia até a salinha de projeção e colocava um filme para rodar. A tela passou de branca para preta e ela logo viu que eles assistiriam The Call.
-, tem certeza de que podemos assistir ao filme?
-Pagamos certa quantia todo mês para a April Hall, . Podemos fazer o que quisermos. –ele respondeu e se sentou em um sofá branco ao lado do dela, seu braço roçando no braço dela. olhou para ele, mas pareceu não ter percebido. –A não ser que essa seja uma desculpa... Porque você está com medo.
-Até parece! –ela pegou uma almofada e atirou no rosto de , que ficou boquiaberto e atirou uma de volta nela. –Não vamos começar uma briga antes do filme! Quando acabar resolvemos isso.
-Sim, senhora.
concordou com a cabeça e tentou relaxar em seu sofá, mas a presença do garoto ao seu lado a fazia sentir que precisava arrumar o cabelo de cinco em cinco segundos só para o caso dele resolver se virar para o lado. Ela estava agitada demais desde que ele a pediu em namoro de mentira. No dia da Sessão Cinema, quando ele a beijou no rosto, isso foi o bastante para começar com todo aquele nervosismo.
Ela olhou de canto de olho para ele, e para sua surpresa, também olhava de canto de olho para ela. se virou abruptamente para frente e focou a tela até seus olhos doerem. Mas não adiantou nada, o rosto do menino parecia um imã. Ela olhou para ele novamente, e dessa vez se deparou com um sorriso. Quando percebeu que ela tinha visto seu sorriso, fechou o rosto e olhou sério para a tela. sorriu consigo mesma, o rosto fervendo.
-Sabe, ... –ele falou, depois de um tempo e deu um suspiro. –Eu admiro muito a , mas em minha opinião a única pessoa que merecia essa coroa era você.
-O que?
-Eu acho que você estava radiante hoje.
-O- obrigada.
-Eu juro. –ele olhou em volta e viu um arame solto em um sofá estragado no canto. se levantou e pegou o arame. franziu o cenho, se perguntando o que diabos ele estava fazendo. Logo já tinha modelado o arame em uma forma circular e com três irregularidades. O estômago dela virou gelatina quando percebeu o que ele tentara fazer. Uma coroa. Ele se aproximou dela e se ajoelhou na frente de seu sofá, colocando a “coroa” em sua cabeça lentamente e com um sorriso aberto no rosto. –Aí está.
sorriu abobada.
-Isso é sério?
-É claro que é, .
Ela sorriu e agradeceu mais uma vez, sua voz falhando de tanta alegria. De repente, se lembrou do que dissera: Talvez ele esteja se aproveitando da situação. E no dia seguinte, confirmou que e supostamente estavam juntos e que provavelmente sabia disso. Depois que ela foi ao quarto dele e o beijou, o mundo ao seu redor pareceu ter congelado e ela não sabia de onde viera aquela coragem toda. Lembrava-se dele beijando seu lábio inferior e depois o superior, seus olhos verdes fechados de uma forma adorável enquanto ele o fazia. Fora o melhor beijo de sua vida, e durou tão pouco... Será mesmo que havia a chance de gostar dela?
Aquela destemida que o beijou era a mesma que ela gostaria e estava tentando ser. Ela ficou satisfeitíssima por ter conseguido ser essa , pelo menos por alguns minutos. Já era um bom começo e ela sabia exatamente qual era o próximo passo para ser essa . E tinha que ser naquele momento.
-... Eu queria saber... Acha que está desconfiando de alguma coisa?
Ele olhou para ela, a confusão estampada em seu rosto. Depois, levantou as sobrancelhas, mostrando que entendera. Pigarreou.
-Bom, eu não sei. Talvez precisaremos continuar tentando, você se importa?
-É claro que não.
Ele sorriu e voltou sua atenção ao filme, que já estava na metade. A menina nem acompanhava direito, por causa da confusão em sua cabeça. Vamos lá, , ela pensou.
-Quer dizer, , eu acho que não precisaremos mais fingir sermos namorados. Soube que e estão juntos.
-É mesmo?
-Sim, e eles estão juntos faz um tempão. E acho que você sabe disso.
olhou para a tela sem expressão nenhuma no rosto de depois fitou o chão com culpa no olhar. Só após uns três torturantes minutos, sua cabeça se voltou para .
-Me desculpe. Eu já sabia mesmo, mas... Hum, espero que não tenha te prendido e não tenha te impedido de sair com outras pessoas.
-Está tudo bem. Eu só preciso saber... Por que você fez isso?
-Eu... – engoliu em seco e depois se sentou no sofá, com uma expressão séria. olhou com os olhos arregalados para ele, que olhava para ela. –No início eu queria realmente espantar , mas depois essa se tornou uma desculpa para ficar perto de você. E eu gosto de ficar perto de você.
ficou decepcionada.
-Eu também gosto de ficar perto de você.
-Não, . –ele pegou seu pulso, forçando-a a olhar para ele novamente. Seus cachos loiros caíam um pouco sobre os olhos e ele tinha um sorrisinho no rosto. O estômago de revirou quando ela percebeu que ele estava se aproximando. –Eu gosto de você, gosto mesmo de você.
A menina achou que estava ficando doida. Ele realmente dissera aquilo? Com todas aquelas palavras? Ela pensou em várias ocasiões em que ele poderia dizer aquilo, mas nenhuma pareceu importar quando ele realmente dissera, em voz alta. Ela piscou várias vezes como se tivesse um tique nervoso e ele deu uma risadinha. A garota então percebeu que ficara tempo demais calada.
-Eu... Também gosto de você.
-É?
Ela assentiu rápido com a cabeça.
-Isso é ótimo.
Antes que pudesse responder, estava inclinando sobre seu sofá, com seus braços apoiados ao lado do corpo dela e seus lábios tocaram os de . Uma sensação de felicidade intensa atingiu seu corpo e ele a beijou mais forte, saindo de seu sofá e indo para o dela, ficando em cima dela. A boca dele era tão macia que ela achou que estivesse beijando algodão doce. Ela estava tão feliz que no meio do beijo deu um sorriso, sem se conter.
Para sua alegria, também sorriu antes de beijá-la novamente.
*
Capítulo 155 – “MORE THAN WORDS IS ALL I EVER NEEDED YOU TO SHOW”


David Grenwood recebeu uma ligação de sua mãe pedindo para que fosse para casa naquela noite. Ele já devia estar lá, mas, sinceramente, estava adiando o encontro com a mãe. O garoto sabia que era a sua mãe e tudo o mais, mas não tinha paciência para os caprichos dela, sem falar que as coisas não acabaram muito bem na última vez que se encontraram. Ele ainda estava com e falou para a mãe que tinha vergonha dela daquele jeito. E apesar de achar ter sido um pouco cruel demais, sabia que alguém precisava abrir seus olhos. Não tinha notícias da mãe desde então, e fazia um tempão desde a última vez que conversou com o pai, então se sentia na obrigação de ir para casa naquela noite.
- E aí, o que acha de ir para a casa da minha mãe comigo hoje?
David inclinou sua cabeça para , esperando por sua resposta. Os dois estavam no quarto de David e se deitou na cama de – que mandara uma mensagem para ele dizendo que iria para casa dele com a namorada, – desde que voltara do Baile de Natal da escola deles.
- Cara, da última vez que eu fui na sua casa sua mãe deu em cima de mim.
David bufou e colocou as mãos na cabeça. Ah, mãe, o que é que eu vou fazer com você? Apertou os lábios, envergonhado demais para dizer algo. deu uma risadinha e depois tossiu pela milésima vez. Paul McCartney cantava no rádio antigo dele, ao lado de sua cama. E por uns minutos tudo o que ele escutou foi a voz dele, até que o amigo tossiu. De novo.
- , você está bem?
- Estou, é só o perfume nas coisas do . Acho que tenho alergia.
- E por que você não saiu daí?
- Ah, cara, sabe quando você está tão desanimado e a cama está tão confortável que você não quer sair?
- Sei exatamente que tipo de preguiça é essa. No seu caso, se chama mulheres.
- O problema é que me ligou hoje pedindo que eu fosse até a escola dela e ajudasse a voltar com . Era o que ela merecia, e não eu. E mesmo que eu esteja de boa em relação a isso tudo, foi meio estranho para mim. Eu gostei dela.
- Hum, jura?
- É, cara. Por quê?
- Você sempre fica se torturando quando está gostando de uma garota, não é? E você tem esse hábito idiota desde que e começaram a namorar.
- O que está sugerindo?
- Que como todos esses rituais de tortura que você tem para se distrair da garota que está a fim, foi só outra distração, tanto ela como todas as outras garotas que você costumava sair esse tempo todo.
- Acha que eu gosto da ?
- Acho que vocês dois sempre tiveram uma relação conturbada, mas o fato de nunca definirem nada direito deixa as coisas no ar, e enquanto não acertarem isso, ela não vai sair da sua cabeça.
olhou para o chão e David soube então que estava certo. Era tão óbvio que ele gostava de , ele viu o sentimento do garoto crescer à medida que o tempo ia passando. E mesmo que seja mais complicado do que deveria, havia algo ali. Aquilo soava familiar para David. Ele se levantou rapidamente da cama e colocou uma blusa listrada com preto e branco e amarrou os cadarços de seus tênis. Quando abriu a outra porta de seu armário, viu uma embalagem cair da última prateleira. Ele abriu o papel de presente reluzente e deu uma olhada lá dentro. Pegou o conteúdo e viu uma touca verde-musgo na palma de sua mão. Era muito bonita. Soube que era um presente de assim que a viu, pois já elogiara as toucas do menino, e provavelmente ele resolveu lhe dar uma como um agradecimento por sua hospitalidade. Os dois ficaram amigos facilmente, e era bom tê-lo como colega de quarto.
- Ganhou um presente? – perguntou, se levantando com dificuldade da cama e indo até ele. Tirando a touca de sua mão, deu seu famoso sorriso de lado. – Por que ganhou uma touca?
- me deu, eu falei que gostava das dele.
- Ele parece ser um cara legal.
- Ele é.
David se encaminhou para a porta e perguntou uma última vez se não queria ir com ele para a casa de sua mãe, mas o amigo falou que não. Talvez o menino precisasse passar um tempo com a mãe. Talvez ela tivesse mudado depois que ele dissera tudo aquilo.
Pegando seu carro e dirigindo sem pressa, depois de uns minutos ele se viu diante do lugar. A casa de David tinha um toque francês, com pilastras e um cheiro característico de orquídeas. Ele subiu as escadas da frente a abriu a porta com a chave que trazia dentro do carro. Todas as luzes estavam apagadas e ele não escutou nada quando entrou lá dentro. Seus irmãos pareciam não estar em casa e nem seus pais. Ele notou alguns objetos faltando na grande estante no hall da casa, mas não parou para observar nada. A cozinha cheirava à queimado e ele andou até a sala com passos rápidos e cautelosos.
- Mãe?
Ninguém respondeu. Olhou pelos corredores e colocou a cabeça na fresta da porta que dava para a sala. Viu a mulher deitada no sofá. Ela tinha os cabelos num tom estranho de vermelho, presos em um coque frouxo no alto da cabeça. Não vestia aquelas roupas vulgares e estranhas que normalmente costumava usar, apenas um pijama de mangas cumpridas, apesar do calor. Seu batom estava borrado e marcas de rímel cobriam seu rosto. Ela tinha a cabeça encostada no braço do sofá e dormia num sono agitado. O menino tocou seu ombro com cuidado e se sentou ao seu lado.
- Mãe?
Regina Grenwood abriu os olhos verde-oliva lentamente e David notou que eles estavam vermelhos. Ele começou a se preocupar. Ela deu um sorriso fraco ao vê-lo e nem se moveu para cumprimentá-lo.
- Olá, David.
- Mãe, por que você está assim? Aconteceu alguma coisa?
- Assim, como? Essa é quem eu sou, querido. Uma tralha por dentro e por fora, não é mesmo?
David engoliu em seco, se sentindo culpado por ter falado aquelas coisas para a mãe no Marina Club. Ele queria que a mulher parasse de agir estranho, mas não queria magoá-la. E certamente não queria dizer nada do que falou, não de verdade.
- Me desculpe. Eu não devia ter dito aquelas coisas.
- Por que não? Não era como se estivesse errado.
- Não diga isso, mãe. Levante-se, vai, vamos assistir a um filme, fazer alguma coisa. Podemos chamar meu pai para assistir conosco, onde ele está?
- Seu pai foi embora hoje, David.
Os cantos da boca de David despencaram e ele fechou os olhos com força, uma decepção atingindo seu corpo. Ele advertira sua mãe diversas vezes de que se ela não mudasse de atitude, o pai se cansaria e iria embora. Eles andavam brigando muito e a Sra. Grenwood ainda dava em cima dos amigos do filho. O garoto apostava que se Jason, Liam e James - seus irmãos mais velhos – estivessem morando na cidade, ela também daria em cima dos amigos deles. Mas ele tinha esperança de que a mãe voltasse ao normal e que, assim, sua relação com o marido também voltasse. É claro que o pai não aguentaria tanto tempo.
Ele pegou os pulsos da mãe e a puxou para si, abraçando-a fortemente. Escutou uma fungada vinda dela e acariciou seus cabelos desgrenhados com a ponta do queixo. A última vez que a vira naquela situação fora quando sua avó morrera. E ele percebeu que fazia muito tempo que não via a mãe em seu estado normal. Por um momento egoísta, gostou que aquilo de seu pai ter ido embora acontecera porque a mulher voltaria ao normal.
- Eu sinto muito, mãe. Isso não é justo.
- É claro que é, eu mereci tudo isso.
- Não, não mereceu. Você só passou por algo que todo mundo da sua idade deve passar. –ele acariciou os cabelos dela. Nem todo mundo causava aquele efeito, mas David deixou essa parte de lado. – Todo mundo quer ser jovem para sempre.
A mãe de David o apertou em seu corpo, dando um sorriso triste e o menino se sentiu muito mal por ela. O casamento dos pais ter acabado já era algo que havia se conformado há um tempinho, e se sentir triste por isso não parecia fazer sentido naquele momento. Não mais do que a agonia que o visitou quando presenciou a mulher à sua frente tão ciente de seus erros. Por baixo de toda aquela besteira, ainda era a sua mãe, é claro. Ele se sentiu estúpido por achar o contrário.
A campainha tocou e David olhou para a mãe, limpando suas lágrimas e a sentando no sofá. Ele se levantou e caminhou lentamente até a porta, abrindo-a. Liz estava parada do outro lado, com as gotas de chuva começando a cair sobre seus cabelos ruivos que foram presos em uma faixa amarela na cabeça. Seu vestido também amarelo a fazia ficar radiante. Ele coçou a nuca e olhou para a menina com um olhar triste. Vê-la ali iluminou um pouco a situação, e sabia que se a chamasse se sentiria melhor. O problema era que aquele momento pertencia a sua mãe, e era nela que deveria focar.
- Liz, me desculpe, mas não é uma boa hora.
- O que foi que aconteceu?
- Meu pai se cansou da atitude idiota da minha mãe.
- Ele foi embora?
- Hoje.
Liz atravessou a entrada e passou os braços ao redor da cintura de David, que ficou surpreso com o gesto. Logo depois abaixou a cabeça e a apoiou no ombro da garota. Passou os braços pelo corpo dela e só então percebeu que estava cansado daquela situação toda. Quando ela o soltou, ele desejou que ela não o tivesse feito. Liz fechou a porta e olhou para ele por um momento.
- O que está sentindo?
- Eu não sei. – ele coçou a cabeça e se apoiou na parede. Ela pegou a mão dele e a apertou com força, e ele fechou os olhos ao relembrar o quanto o toque dela realmente o confortava. – Eu meio que já sabia que aconteceria.
- E ela?
- Está na sala.
Liz caminhou rapidamente para a sala onde a mãe de David estava e ele a seguiu, grato por ela estar ali. Mesmo que talvez não conseguisse fazer sua mãe se sentir melhor, era uma mulher e ele achava que elas entendiam aquela coisa melhor. O menino demorou um pouco para chegar à sala, e quando chegou, viu Liz abraçada com sua mãe, dizendo coisas em seu ouvido que não escutou. Regina assentia com a cabeça. De repente as duas estavam de pé, a garota segurando a mão da mãe e a guiando para a cozinha.
- O quê? – ele perguntou, espantado com a facilidade que ela convenceu sua mãe a sair daquele sofá. Liz olhou para ele enquanto guiava a mãe, como se ela não soubesse onde era a cozinha de sua casa.
- Vamos fazer panquecas.
- Mas, Liz, está tarde. Ela provavelmente não está com fome. - Ela não comeu nada o dia inteiro. – Liz deixou que Regina continuasse sozinha até a cozinha e chegou bem perto de David, dando-lhe um beijo na bochecha. – E, David, nunca está tarde para panquecas.
O menino olhou com os olhos arregalados para a menina, estupefato pela sensação que aquele gesto trouxe de volta. Pensou em como Liz iluminava os lugares pelos quais passava, sendo capaz de lidar com a sua família melhor do que ele mesmo. Mas era porque bastava uma pessoa que os conhecesse muito bem para colocar ordem no local, e ela os conhecia bem até demais. Conhecia bem a ponto de causar no menino um receio de que ela visse o que se passava pelo seu rosto e pela sua cabeça naquele momento. David parou por um momento e então esse medo foi embora como se nunca estivesse chegado. Percebeu que a garota saber o que se passava ali não era problema nenhum, e talvez porque já estava cansado demais, cansou-se também de lutar para que ela não soubesse.
David deu seu melhor sorriso e antes de pensar em outra coisa que não fosse o quanto Liz era incrível, puxou seu pulso e lhe deu um beijo, segurando seu rosto com as duas mãos e roçando seu nariz no dela com delicadeza. Liz pareceu ficar congelada no início, mas depois retribuiu seu beijo. Seus lábios tinham gosto de amêndoas e ele sorriu consigo mesmo, sabendo exatamente o que ela acabara de comer. Seu sorvete preferido, de abacaxi com amêndoas. Aquela coisa bizarra que a menina sempre dizia ser deliciosa. O garoto sentiu o coração acelerar ao refletir consigo mesmo o quanto ela era diferente, e... E então tudo desapareceu. Ele agarrou o pescoço dela e a puxou para mais perto, como se precisasse dela só para ele naquele exato momento, mais do que nunca. Com as costas da outra mão, acariciou o rosto dela devagar, notando que suas bochechas estavam muito quentes e vermelhas.
- Meninos?
A voz da mãe dele o fez parar com o que estava fazendo. Ela olhava para os dois com um pequeno sorriso e David ficou envergonhado. Liz o puxou para a cozinha e ele andou com passos lentos até lá, o coração ainda batendo forte.
*
Capítulo 156 – “A LOOK IN SOMEBODY’S EYES, TO LIGHT UP THE SKIES”


se olhou no espelho. Seu vestido de listas horizontais vermelhas e brancas combinava com seus saltos agulha. Seu cabelo estava preso em um coque no alto da cabeça e ela estava linda. Olhou para o lado e viu deitada em sua cama, encolhida em sua camisola. Ela agitava os dedos de uma forma engraçada.
- Tive outro sonho com .
- Ele se declarou ontem pra você, . Jura que ficou tão surpresa assim?
- Não sei. – os cabelos da garota estavam espalhados pelo travesseiro, e ela parecia uma criança. A aparência inocente que lhe visitou naquela manhã geralmente não se fazia presente com a menina. – Ele sempre esteve por perto.
- Exato. Eu me lembro quando vocês brincavam de namorar, ninguém acreditava que era somente uma brincadeira, nem mesmo vocês dois. Eu me lembro também da sua primeira menstruação, você estava na casa dele e ele ficou desesperado quando viu o sangue na sua calça branca.
se lembrava da amiga lhe contando que estava na casa de e ele ficou doido ao ver a calça dela. pediu que ele pegasse um absorvente da mãe dele, mas não sabia o que era isso e riu tanto quando ela lhe contou aquilo. rina soltou uma gargalhada.
- Por que você se lembrou disso agora?
- Não sei.
- Ele sempre foi tão atencioso comigo.
- E você não consegue viver um dia sem ele. Sua depressão demonstra isso.
- Não estou com depressão. Só estou triste.
deu de ombros e disse que Jonny falara para ela ir logo desculpar o irmão. A garota respondeu que não sabia o que ela estava esperando e quando retrucou Digo o mesmo para você, sua respiração acelerou. Dentro do seu carro, naquele sábado de manhã, ela ainda pensava em , nele dizendo que era louco por ela e que ela ganhara a aposta. A menina não sabia se isso era o suficiente. Será que estava sendo tola? O que as amigas disseram sobre ele não ter se declarado do jeito que ela queria fazia sentido. Nada nunca acontecia exatamente do jeito que ela planejava, e isso era normal. Ele podia eventualmente acabar dizendo aquilo, se ela desse uma oportunidade.

Entrando no ateliê da escola, percebeu que foi a última a chegar. Eleanor mandou que todos fossem lá para finalizarem o trabalho da última aula, o que incluía desenhar sem camisa. E a menina se surpreendeu por ela levar aquele trabalho a sério. Afinal, as aulas já tinham terminado e ninguém se importava de verdade com as aulas de artes. Nem . Ela gostava delas como uma distração, um hobby, mas não era como se fosse se formar naquilo. Havia somente sete alunos, quatro deles eram Jorge Mitchell, Teddy Néri, Marcus Lee e Evan hall, todos do time de futebol, amigos de e . Duas garotas eram animadoras de torcida e a outra era . Ela deu um sorriso para , que retribuiu. Depois olhou em volta. Não tinha nenhuma tela para ela, todas já estavam ocupadas.
- Nossa modelo chegou. –Marcus Lee falou e deu uma piscadinha para , que olhou para trás, se perguntando se ele realmente estava falando com ela. Modelo? – Eleanor!
Eleanor, a professora de artes deles, entrou na sala com um de seus típicos vestidos e sorriu para , que não estava entendendo nada.
- Bom dia, ! Como você já terminou seu desenho na última aula, pensei que poderia se servir de modelo para os meninos. Esses sete aqui estão precisando de pontos e eu disse que se fizessem esse desenho para mim poderiam ganhá-los. Você não se importa em ser modelo, se importa? Afinal, você é tão bonita.
- Oh, obrigada. – ficou lisonjeada, mas ao mesmo tempo um pouco decepcionada. Se ela seria a modelo, então não viria. E Eleanor a chamou somente para isso? – Bom, tudo bem.
- Ótimo! Acho que sabe o que fazer.
concordou e foi até o centro da sala, arrastando uma cadeira consigo. Ela se sentou e adotou uma posição confortável, suas costas no encosto da cadeira e as mãos cruzadas em cima das coxas, enquanto olhava diretamente para frente, tentando não rir. Nunca fora uma boa modelo.
O tempo pareceu se arrastar e ela de vez em quando olhava para seus colegas, que pareciam muito entretidos em seus trabalhos. Reparou que eles raramente olhavam para ela e achou estranho. De repente, começou a ficar meio desconfiada. A menina dirigiu seu olhar para Eleanor, que deu um sorriso de encorajamento. Ela respirou fundo. Talvez fosse impressão dela. Só porque ela precisa olhar mil vezes por segundo para o que desenhava, não queria dizer que as outras pessoas também eram assim.
- Pessoal, vamos dar um intervalo.
se levantou rapidamente, a fim de perguntar à o motivo dela estar ali. Sempre a achara uma boa aluna, não era o tipo de garota que precisava de uma atividade de Artes para passar de ano. Geralmente os atletas precisavam mais por causa da demasiada quantidade de horas que passavam treinando. Mas antes que pudesse fazer isso, Eleanor colocou a mão fina em seu ombro.
- Obrigada, . Está fazendo um ótimo trabalho. – ela olhou com os olhos castanhos arregalados para ela e a menina segurou a vontade de rir. Como se ficar parada e olhar para o nada fosse algo tão difícil. A professora deu um sorrisinho malicioso que a outra não entendeu. – Pessoal, por que não viram seus quadros para ? Assim ela poderá ver o que já desenharam.
Curiosa, olhou para as telas que foram viradas aos poucos. Uma ruga de confusão atingiu sua testa. Não tinha nada desenhado, somente grandes letras vermelhas. Ela demorou um tempo longo demais para perceber que formavam uma palavra. Três palavras. Uma frase. EU TE AMO. Estava escrito bem grande. Sua cabeça começou a doer e ela teve uma leve ideia do que aquilo tudo se tratava. Não, não pode ser...
A garota olhou para trás em busca da professora, mas ela já não estava mais lá. Olhou para as telas novamente, e lá estavam elas, formando aquela frase. Os alunos também tinham saído dali rapidamente. escutou um pigarro atrás de si e se virou para trás mais uma vez. E ali estava ele, todas suas suspeitas se confirmaram e ela de repente ficou nervosa. Suas pernas começaram a tremer e sentiu o controle que possuía sobre seu corpo se esvair aos poucos.
usava uma calça azul clara jeans desbotada e seu topete estava penteado perfeitamente, seu perfume invadindo seu nariz lentamente. Os olhos brilhavam e ele sorria abertamente. estava paralisada e quase se beliscou para ter certeza de que não estava sonhando. O menino deu dois passos na direção dela, que o acompanhou com os olhos azuis arregalados. Ele pigarreou pela segunda vez.
- Oi. – ele olhou para as pinturas e deu um sorriso divertido. Inclinou a cabeça para o lado, olhando nos olhos da menina. – O quê, esses quadros? São meus, tudo verdade.
Parecia que os lábios dela tinham se colado e suas pernas virado borracha. Ela sentia um formigamento na barriga, nas mãos, no corpo inteiro.
- O que foi, linda? Paguei a eles, se é isso o que quer saber, mas Eleanor não sabe disso, ela acha que todos fizeram por simples companheirismo. Mas quando é que Marcus faria algo sem que conseguisse ganhar um pouquinho em troca? Ele pode me amar pra porra, mas ainda assim...
Quando disse a ele que não conseguia falar aquelas palavras a ela porque era um covarde, não achou que ele levaria tão a sério. Ele continuou, parecendo se divertir com a imagem de paralisada.
- Penso que você ainda me acha covarde. Nossa, o não consegue dizer e por isso escreveu um eu te amo forçado só para que eu o perdoasse. Conheço essa sua cabecinha, é isso, não é? Sua mente está se esforçando para não se derreter. Porque eu sou bem digno de derretimento, eu sei, como resistir? A questão é que palavras nem sempre são suficientes, , ou até mesmo necessárias. As melhores coisas são as que não são ditas, mas eu não venho demonstrando muito também, então entendo o motivo que te levou a exigir isso de mim. É importante para mim do mesmo jeito, porque por mais que eu seja um babaca, não quero que em segundo nenhum você pense que eu não sinto o mesmo. Não estou dizendo que estou completamente mudado, mas te ofereço a promessa de que farei o meu máximo para tentar todos os dias. Sei que tem paciência, e tenho consciência do que eu significo pra você, e só de pensar nisso, eu quero... – ele se aproximou um pouco, mas hesitou. - Me desculpe, eu acho que não te mereço. Mas como nunca tive vergonha na cara, não me importo. Amo você mesmo assim.
olhava para ele maravilhada e só o que conseguiu fazer foi sorrir.
-Vamos lá, , eu sei que está surpresa, mas diga alguma coisa.
- P- pode dizer de novo?
- Eu te amo. – ele foi até ela e enlaçou as mãos ao redor de sua cintura. deu um beijo em sua testa, daqueles beijos maravilhosos dele. – Eu te amo.
Ela agarrou o pescoço dele e fez o que queria fazer há dias. Colou os lábios dos dois e deu um beijo tão forte nele que quase doeu. A menina murmurou um pedido de desculpas, para depois beijá-lo novamente. Ela se separou de e respirou fundo.
- Sabe, você é a pessoa mais irritante que eu já vi na minha vida. Não tem noção do quanto é irritante. Você é tão irritante, mas tão irritante que eu fico irritada só de olhar para o seu sorriso arrogante.
- E você com certeza é muito romântica.
- Me deixa falar agora, depois de ouvir seu discurso está na minha vez. Por mais que eu saiba que você é essa pessoa que é, e meu Deus, como eu sei, a única coisa pior do que ficarmos juntos é a gente não ficar junto.
- Obrigado?
A garota riu.
- A gente tem que ficar junto, .
Aquilo pareceu tê-lo pegado de surpresa, e ele deu um sorriso bobo. Como aquele que deu quando viu o desenho que tinha feito dele na aula. Ela não acreditava que acabara de dizer que a amava.
- Bom, eu amo te irritar. – ele falou com aquele sotaque sexy. – E você consegue me irritar também, mais do que imagina. Como quando estou tentando me declarar e você começa a dizer que sou um merda.
riu, as bochechas queimando.
- Não acredito que disse que me ama.
deu-lhe um pequeno beijo e depois sorriu.
- Eu acredito.
- É claro que acredita. Você não faz o tipo de pessoa que duvida de si mesmo.
- Não é por isso que eu acredito.
Se sentir amada por aquele menino foi uma sensação que nunca conseguiria comparar. Ter aquela certeza depois de tanto tempo esperando e desejando era indescritível. Somente o fato de ter feito aquilo tudo, e o que os dois passaram nos últimos dias foi prova de seu amadurecimento, e ela não podia ignorar tais evidências. Gostaria que os dois permanecessem juntos, para que crescessem juntos, e não ao contrário. Por isso, afundou a cabeça no peito do garoto e fechou os olhos, sabendo que estava tudo bem.
Capítulo 157 – “SHE TOOK THE MIDNIGHT TRAIN GOING ANYWHERE”


- Resta mais alguma mala, Srta. Johnson? – um carregador barbudo com um sorriso malicioso no rosto perguntou para Sam, que fez que não com amargura. – Partimos daqui à meia hora.

Ela andou sem vontade até uma Starbucks perto da pista onde seu jatinho sairia. Enquanto se sentava em uma das cadeiras geladas da cafeteria e esperava seu pedido chegar, cravou as unhas na mesa de madeira do lugar e respirou fundo, tentando manter a calma.
A menina recebera uma mensagem antes do almoço de seu pai pedindo para ligar para ele imediatamente. Fazia muito tempo que não recebia mensagens do pai e aquilo definitivamente a surpreendeu. Será que o homem iria se desculpar por ser tão rígido com ela? Os dois poderiam marcar de se encontrar e fazer as pazes, contanto que ele não soubesse que ela não estava no internato. Quando fez a ligação, escutou-o mais bravo do que nunca. Ele descobrira que ela não estava mais no internato e que tinha fugido. Depois de uma longa conversa com o diretor da escola, o homem concordou em Sam fazer as provas finais depois do Natal. Por isso, naquele momento a garota estava em um aeroporto perto do fim da cidade, se preparando para ter um ataque de raiva. Perguntou milhares de vezes quem tinha contado a ele, mas o pai não respondeu. Também não era como se ela não soubesse quem tinha sido. Encontrou seu apartamento todo bagunçado e sua caixa de correspondências vazia. Só um familiar tinha a autorização para entrar no lugar e pegar suas correspondências e ela sabia que Liz tinha armado para que fosse embora da cidade. Não podia acreditar que sua irmã idiota, certinha e esquisita tinha feito aquilo com ela. Esperaria uma coisa assim de , mas não da irmã. Mas ela que se cuidasse, porque Sam iria arranjar algum jeito para que pudesse se encontrar com Liz e dar o troco. O Natal estava chegando, afinal de contas.
Ela ajeitou sua jaqueta azul escura nos ombros e seu vestido branco com azul-safira na cintura, colocando os óculos escuros no alto da cabeça enquanto entregava o pagamento para a garçonete gorda que a atendeu e virava todo seu café em dois grandes goles. A raiva que ela sentia era tanta que mais cedo até chorou. E naquele momento, estava tremendo. Apesar de tudo, sentia muito medo do pai e do que ele poderia fazer. Quando perguntou a ele o que faria depois das provas finais, escutou que isso ainda seria pensado. E se o homem a mandasse para um lugar mais longe ainda? A vida dela era naquela cidade, ela não podia deixar se dar bem, não podia deixar David... Se ele não considerasse aquilo, sua vida estaria acabada. Sentia-se traída.
Samantha se levantou e foi para o balcão pedir mais um copo grande de café. A mesma garçonete olhou para ela com espanto quando ela pediu outro tão rápido e ela respondeu, com raiva:
- Cara feia para mim é fome. E, meu bem, pra você já chega de sentir fome, não acha?
A pobre mulher arregalou os olhos pretos e Sam a despachou. Ela trouxe mais um copo de café e Samantha o entornou da boca da mesma forma que fizera com os outros dois anteriores. Ela apoiou as mãos no balcão e a cabeça nas mãos, se sentindo tonta de repente. O aeroporto estava cheio de pessoas, provavelmente pela época do ano e algumas pediam para que ela saísse, já que não pediria mais nada, mas Sam as ignorava completamente.
- Que cara é essa, Samantha?
Quando ouviu seu nome, a menina se virou para trás rapidamente, jogando os cabelos para cima. estava parada na frente dela, radiante em seu macacão cinza e seus saltos plataforma laranja. Ela analisou Sam de cima a baixo com um sorrisinho no rosto. A garota queria perguntar como sabia que ela estaria ali, mas depois se deu conta. Era óbvio que tinha um dedo dela naquilo tudo. Como pôde ser tão estúpida a ponto de baixar a guarda? Ela cerrou os dentes.
- Me aguarde quando eu voltar, .
deu uma risada sarcástica.
- Quando você voltar? – ela se aproximou de Sam, que a observava com a respiração acelerada. – Acha mesmo que vai voltar?
- Vou te denunciar para a polícia, invadir propriedade alheia não é legal.
- É legal quando se está com um familiar do dono ao seu lado. Não é maravilhoso o fato de Liz querer que você vá embora tanto quanto eu? E tanto quanto David? Apesar de que os dois provavelmente querem pelo mesmo motivo. Eu espero que você saiba disso, Sam, não posso deixar que vá embora pensando o contrário, porque sua irmã e David se gostam há muito tempo, mas as complicações que você causou no caminho foram demais.
Sam se levantou.
- Não ouse falar isso. Se David está tão ansioso para eu ir embora, por que me chamou para sair ontem?
- Porque eu mandei. Porque você é tão idiota que eu sabia que se o garoto te chamasse para sair, aceitaria prontamente. David só foi uma distração para você não voltar para casa antes de pegarmos seu boletim. Falando nisso, acho que já está na hora de se dedicar mais.
Ela ficou boquiaberta. Não podia acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo.
- Você é podre.
- Não, Sam. Foi você quem fez todas aquelas besteiras enquanto ainda morava aqui. Como eu percebi que continuaria fazendo besteiras, fiz um bem a comunidade e estou te mandando de volta para aquele internato.
- Você acha que isso te faz melhor de alguma forma? Não seja boba, , essa insegurança que nós duas sabemos que você tem não vai sumir tão facilmente. nem te quer mais por causa dela.
- Isso não importa, porque eu também não quero mais nada. Não é ele que está me esperando no meu quarto.
- .
- Você me conhece tão bem! – ela deu um sorriso afetado e a menina se segurou para não bater nela. – Sam, você deveria ter me escutado no primeiro dia em que nos encontramos. Eu disse que as coisas mudaram.
- Aproveite enquanto dura.
- Mesmo se você conseguir voltar, eu vou ter minha amiga Liz para me ajudar a te mandar de volta.
- Ela é minha irmã.
- Eu aprendi tudo o que sei com você. Não aja como se gostasse de sua irmã, nós duas sabemos quem destruiu o relacionamento de vocês. Enquanto não pensar em algo, já que está cheia de promessas, vê se pega um livro e vai ler.
Antes que Sam respondesse, o mesmo carregador barbudo de antes a chamou na porta da cafeteria e ela se virou para ele com uma cara péssima. O homem hesitou um pouco, mas depois disse:
- Está na hora.
Sam tentou se equilibrar em seus saltos de doze centímetros e andou rapidamente para a pista onde o jatinho de seu pai a levaria de volta. Seus olhos estavam cheios de lágrimas e ela queria saltar daquele avião em movimento. Dando uma pequena olhada para trás, viu , que a acompanhava de longe. A menina sorriu e ela entrou no avião, acomodando-se em um dos bancos e olhou pela janela. ainda estava lá, observando silenciosamente enquanto a menina que costumava ser sua amiga ia embora.
Quando o avião já estava no ar, ela deu uma última olhada pela janela e olhou pela última vez, como fazia quando eram amigas e Samantha precisava viajar. Mas dessa vez, as coisas eram diferentes. Não era como quando Sam sempre ganhava e ficava em segundo lugar.
Porque nem em último lugar Sam estava. Ela estava em um avião, para bem longe dali.
*
Capítulo 158 – “YOU AND ME GOT A WHOLE LOT OF HISTORY”


e estavam atrasados. Já eram cinco e meia da tarde de sábado e toda a população do colégio estava nas arquibancadas do grande campo de futebol. A banda da escola tocava alguma coisa em algum lugar que ele não achou e as animadoras do outro time faziam sua apresentação de início de jogo no campo, enquanto o pessoal da outra escola se acomodava do outro lado do campo, nas outras arquibancadas. Os jogadores estavam provavelmente dentro do ginásio e ele e foram andando e procurando um espaço vazio. David Grenwood, seu colega de quarto, estava em um canto com uma garota ruiva que ele não conhecia, mas parecia conhecer, já que acenou. David usava a touca que lhe dera e apontou para ela, e o menino sorriu riu. Ao seu lado, conversava com uma morena que ele sabia se chamar , e logo sustentava uma conversa animada com e . Enquanto eles desciam, ele viu , e Jonny conversando com , que parecia bastante ansioso. Com seus dedos enlaçados nos de , foi até lá e a arrastou consigo.
- Ei, . – deu um rápido aceno de cabeça enquanto ele se aproximava. sorriu para suas amigas animadoras enquanto seguia o namorado. – Vai ficar para ver o jogo?
- É claro. – sorriu e apertou a mão de . – Boa sorte, cara.
- Obrigado. Vou dar meu máximo.
Era o que ele sempre fazia. e deixaram se preparar para o jogo que estava prestes a acontecer enquanto voltavam para as arquibancadas e procuravam com dificuldade um espaço para se sentarem. Depois que a menina decidiu esquecer o que aconteceu e lhe dar outra chance, o garoto se achou o cara mais sortudo do mundo, e sabia que não merecia aquela sorte. Ele não era digno daquele presente, mas também não devolveria de jeito nenhum. Os dois foram para a casa dele e puderam fazer tudo o que deixaram de fazer nos últimos dias loucos e cheios. Quando acordou com ao seu lado, usando somente uma camiseta velha do time de natação de , seu sorriso foi de orelha a orelha. Era como se nada tivesse mudado, mas ao mesmo tempo parecia que por causa do que aconteceu, eles estavam mais unidos do que nunca. E era bom pensar daquele jeito.
Ao se levantarem, os dois foram para a cozinha almoçar e uma surpresa boa o aguardava do outro lado da mesa. Sua mãe estava sentada e comia com vontade seu frango grelhado. Quando ela viu e juntos, seus olhos até brilharam de felicidade. As duas puderam colocar o assunto em dia enquanto o menino somente comia e observava , como se não houvesse mais nada que pudesse fazer naquele momento. E não era como se ele precisasse fazer mais alguma outra coisa. Porque ela era tão linda e conversava com tanto carinho com a mãe de , que finalmente saíra da cama e comentou que estava pensando em sair para dar uma volta com o Sr. . Parecia que as coisas estavam finalmente dando certo. Talvez a sorte de realmente tenha passado para . Ele localizou nas arquibancadas, conversando com e animadamente. Quando seus olhos se encontraram, ele apontou com a cabeça na direção de e deu de ombros.
- O que foi? – lhe perguntou, parando de andar de repente. Olhou para ela e só então percebeu que ele parara de andar antes dela. Os olhos azul-esverdeados de acompanharam o olhar dele e ela viu a menina. – Ainda está pensando sobre o negócio do ?
- Eu não entendo. Os dois sempre foram tão unidos.
- Também não sei. Talvez ela esteja muito magoada por causa do que ele fez. Eu também hesitei em te procurar porque isso me magoou muito.
- ... - Não, eu já disse que está tudo bem. Sem ressentimentos. Aliás, eu nem devia ter trazido o assunto à tona, me desculpe. - O fato de você estar se desculpando me irrita. Não tem nada com o que se desculpar, você é demais. – levou sua mão que segurava a dela até a boca, dando-lhe um beijo nas costas da mão. sorriu envergonhada enquanto ele olhava para ela com seriedade. – Vou fazer de tudo para recompensar o que aconteceu nesses últimos dias. Pode demorar o tempo que for, mas eu vou fazer de tudo para te recompensar.
- Não se preocupe com isso.
- Já estou me preocupando.
ia responder algo, porém, ele a interrompeu com um leve beijo nos lábios.
- Quando você fará o anúncio da Festa de Formatura?
deu de ombros e disse que provavelmente depois que o jogo terminasse. Ela concordou com a cabeça e os dois finalmente encontraram um lugar vazio para se sentarem. Durante o almoço daquele dia, o Sr. e a Sra. comunicaram a ele que conseguiram reservar o Beach Club para a festa de formatura dos veteranos e estava feliz em poder anunciar aquilo aos seus colegas. Depois de tudo o que passaram, podiam finalmente ter uma comemoração digna. Para ele era meio irreal ir à faculdade e de certo modo não queria sair do Ensino Médio, onde as coisas com certeza eram muito mais tranquilas. Ao contrário de – que não via a hora de sair dali – para ele aquela escola era como sua segunda casa, juntamente com aquelas pessoas. Como o texto que o Sr. Garcia mandou dizia ( ganhou o dinheiro), ele já sabia quem era ali. Encarou os cabelos claros e a boca naturalmente vermelha de . Seus olhos fitavam as animadoras dançando. Ela, às vezes, dava gritinhos de incentivo para elas, por serem suas amigas, e então olhava para como se nada tivesse acontecido. Ele sabia que a garota era contra todos os costumes de Ensino Médio, como jogos, líderes de torcidas, rei e rainha de bailes, mas quando ninguém olhava poderia ser mais fanática com isso do que os jogadores de futebol, ou do que as amigas de , que participavam de todos os tipos de Comitês da escola. Ele já a pegou discutindo com uma garota de outro colégio sobre como o time de natação e futebol da escola era melhor.
- Você ficaria uma gracinha como animadora de torcida. – disse abraçando-a pela cintura e depositando um beijo demorado em sua bochecha direita. sorriu. – E por um lado é bom que o Ensino Médio esteja no fim, assim as possibilidades de você ser líder de torcida são nulas.
- Qual é o problema comigo sendo líder de torcida?
- Nenhum, só que eu não acho que você deve ficar se submetendo a essas coisas.
- Essas coisas que você diz... Por acaso tem a ver com o uniforme das líderes de torcida?
- Não, ! – arregalou os olhos verdes e jogou seus cachos castanhos para trás, dando um sorrisinho. – Como acha que eu poderia pedir para que você não exponha suas pernas para o mundo?
- Você é um ciumento. Mas quer saber? Não se preocupe, porque as chances de eu ser líder de torcida são tão pequenas quanto as chances de a gente perder hoje.
- Eu acho que você está certa.
Os jogadores correram para o meio do campo, e olhando os garotos de longe, percebeu o nervosismo no ar. Ele passou os olhos pela multidão, que gritavam feito doidos enquanto o juiz não apitava. A menina ao seu lado mordia o polegar e tinha os olhos apertados, cheios de preocupação. Quem é que não liga para essas coisas?
agarrou a cintura dela e deu um beijo em sua testa. sorriu e o beijou de uma maneira suave, daquele jeito que ela só conseguia. E ele percebeu o quanto sentiu falta daquilo. Riu divertido.
- Obrigado por me dar uma segunda chance.
- Não me imagino fazendo outra coisa.
*
Capítulo 159 – “HERE WE COME, RIGHT BACK WHERE WE’VE STARTED FROM”


estava espantada. e , e , David Grenwood e Liz Johnson, e , Jonny e Hanna, e ... Parecia cercada de casais. Estava sozinha conversando com e enquanto procurava Angel Kudrow na porta da escola para que a garota pudesse ver ganhar e depois conversar com ele. Só por cima do meu cadáver, ela pensou.
A menina refletiu muito sobre o que lhe disse no Baile de Natal. Parecia que ela queria ouvir aquelas palavras há muito tempo. Era complicado entender o que sentia pelo garoto, uma vez que não tratava desses sentimentos tão abertamente como antes. Não seria problema nenhum afirmar seu amor por ele quando eram mais novos, mas no presente... era sua família. Não sabia direito como as coisas funcionavam, e nem o que deveria fazer, mas seu coração pulsava com a possibilidade. Estar em seus braços novamente nunca foi um pensamento tão urgente em sua cabeça. Não era por motivo nenhum que vez ou outra eles acabavam acordando juntos numa cama, ele esteve sempre presente, e sempre a tratou tão bem... Era a pessoa que mais gostava no mundo e ela não conseguia explicar ao certo o que acontecia com a sua pessoa quando se tratava dele, era somente... .
- Ei, quem é esse cara? – perguntou para , apontando para um garoto com sardinhas – que as meninas consideravam adoráveis – no rosto, olhos redondos e verdes. Seu cabelo liso loiro caía sobre seus olhos, completando um sorriso perfeitamente reto. Ela deu um sorrisinho.
- Esse é Evan hall. Ele é calouro.
- Um calouro? – perguntou interessado, fazendo um movimento com a cabeça como se o aprovasse. – Uau, impressionante. Ele é muito bom. Pode ser o próximo capitão, já que não estará aqui mais no ano que vem...
deu uma pequena cotovelada em , que fechou a boca rapidamente. Ela provavelmente o alertara de não mencionar o nome perto de , que ficou agradecida pela preocupação da amiga. Mas a garota não se importava que as pessoas falassem dele, mesmo porque já estava decidida do que faria. E também era meio impossível não pronunciar seu nome, eles estavam em um jogo no qual ele era o capitão do time. O celular de apitou pela milésima vez, e o menino o pegou e sorriu de lado ao ler a mensagem.
- , cara? – perguntou, espiando o telefone dele por cima de seu ombro. ainda olhava para o celular e revirou os olhos. – Ela está no mesmo lugar que você. Por favor, me digam que não vão virar aquele tipo casal chato que não conseguem permanecer cinco minutos longe um do outro.
- Nós estamos só saindo. E além do mais, se for para alguém formar esse tipo de casal, então não serei eu e , e sim, você e .
arregalou os olhos em indignação e as bochechas de coraram. assentiu com a cabeça.
- É verdade.
- Não acredito nisso! Você concordando com ... É por isso que você e não dão certo. – negou com a cabeça e seus cachos balançaram. – São iguais.
- pode ser muito mais jogadora que . – deu de ombros. – Você acredita que quando eu e David estávamos com e Liz na piscina da April Hall, ela reclamou do barulho com Sofia só porque estava com ciúmes?
- Foi quem reclamou? – David perguntou, surgindo Deus sabe de onde, com Liz ao seu lado. – Eu nem sei como não pensei nisso antes.
Eles começaram a rir e a contar mais façanhas de enquanto negava com a cabeça e contava sua versão das histórias. de repente não estava mais prestando atenção no que os outros falavam. Ela olhou para o campo e imediatamente viu . Ele estava com a camisa do time e um calção preto, seus cabelos um pouco desarrumados de tanto correr e os olhos verdes concentrados. A menina não fazia ideia do que estava acontecendo no jogo, mas por um momento pensou que se ela namorasse , não faria questão de acompanhar o jogo, só de ir para lá e olhar para ele já valia a viagem. Parecia que todo mundo queria que desse uma chance ao garoto: , , , e obviamente, Jonny. Quando os dois ganharam como Rainha e Rei do Baile de Natal – coisa que adorou quase tanto quanto o fato de ter dito o que disse –, ele passou a dança inteira falando sobre como o irmão era obcecado por ela e nunca a magoaria intencionalmente.
Os olhos do menino se desviaram de Teddy Néri e pararam nela por um segundo, bem no meio da arquibancada. Ele não olhara naquela direção nenhuma vez até aquele momento, mas a achou com tanta facilidade que era como se pressentisse a presença dela ali. Seu olhar rodou o corpo de até parar nos olhos dela, que encontraram os dele. E aquela sensação de vertigem a visitou mais uma vez, preenchendo sua cabeça com a mais clara lucidez. parou de encará-la e voltou sua atenção ao jogo e olhou para algumas calouras que ficaram animadinhas na frente delas. Um apito soou depois de um tempo e ela ainda observava o menino com atenção. Desviou sua atenção para , que pulava feito uma doida ao seu lado, para depois envolvê-la com seus braços pequenos. Logo depois , , David e Liz abraçaram e deram tapinhas em suas costas. Ela ria, sem saber o que estava acontecendo. A multidão ao seu redor gritava pra valer e a banda de sua escola começou a tocar. As líderes de torcida encheram o campo com coreografias e acrobacias ensaiadas enquanto todos os jogadores iam para lá também dançar junto com elas. dançava no meio de todos como se tivesse ganhado na loteria. Demorou tempo demais para a menina perceber que eles ganharam o campeonato.
gritou e começou a balançar ao ritmo da música, dando risada da bunda grande de balançando de um jeito exagerado. Ele pegou uma garrafinha e a explodiu em suas mãos, jorrando água para todos os lados. As animadoras trabalharam num salto em que Cheryl caiu no colo de no final. Logo depois, ela foi até Jackson e eles voltaram a dançar. No meio da música, somente os jogadores dançavam e foi a parte que as meninas foram à loucura. Quando o refrão repetiu e as líderes voltaram, a maioria dos alunos já estavam no campo comemorando. olhou para o lado e percebeu que também já estava lá. , , David, Liz e sem Angel – estavam ao seu lado e batiam palmas.
-Vai lá, ! – gritou e praticamente a empurrou para que ela fosse.
correu pelas arquibancadas, trabalhando para não cair e sair rolando escada abaixo. O menino estava no meio de uma roda segurando o troféu do campeonato e foi erguido pelos seus amigos do time. A garota sorriu contente por eles. O primeiro jogador que viu foi Evan hall, que conversava com umas garotas. Ela foi até lá e o abraçou, desejando parabéns. Evan pareceu meio surpreso por tê-lo abraçado, mas depois sorriu e agradeceu. Ela cumprimentou todos os amigos de , deixando Jackson por último. Era o amigo dele que ela mais gostava.
- Linda! – Jackson a ergueu no ar e a girou num abraço. Ela soltou uma gargalhada e ele deu mil beijos na cabeça dela, que sorriu e se soltou dele. – Ganhamos!
- Parabéns!
Ele deu um grito e riu. Ela achou e deu um abraço em cada um deles. O garoto sorria abertamente.
- Nada melhor para acabar o ano!
- Eu sei! Vocês viram o ?
deu um sorriso malicioso.
- Ele foi ao vestiário trocar de short. Tem medo que algo de ruim aconteça com seu short da sorte.
- Talvez você possa ajudá-lo a tirar.
riu com o comentário de e deu um sorriso para e para enquanto ia para o vestiário. As luzes estavam todas acesas e não parecia ter ninguém ali, a não ser por um dos chuveiros ainda pingar um pouco e pelo cheiro de vários desodorantes misturados. Ela escutou um barulho perto de uma das salinhas e viu quem tanto procurava. Ele usava somente um short diferente do anterior, as costas viradas para a porta. Seus cabelos pretos estavam molhados e tinha água em seu rosto e peito. Cheirava à canela, como sempre. A menina sentiu sua pulsação no pescoço e respirou fundo antes de falar.
- Ei, ! – gritou, e quando se virou e a viu, arregalou os olhos. Ela se aproximou dele porque o outro não pôde se mover. Seu peito malhado subia e descia rapidamente e ela percebeu o quanto ele estava nervoso. – Parece que ganhou outro jogo, hein? Nada melhor para terminar o ano.
- Eu...
- Você se lembra de algo que costumávamos fazer até termos uns onze anos de idade? – ela o interrompeu falando de uma forma tão casual e calma que ele até chegou a se assustar. Apesar de não querer falar em voz alta, sabia exatamente do que a menina falava. –Nós costumávamos fingir que éramos namorados, você se lembra?
Ele assentiu com a cabeça e a olhou tristemente com seus magníficos olhos verdes.
- Eu sabia perfeitamente que era só uma brincadeira, mas por algum motivo, a sensação da sua mão na minha, de você ao meu lado me olhando como se eu fosse a coisa mais importante do mundo, de você me abraçando de forma tão protetora quando algum garoto começava a me olhar... Você sempre foi tão maior que eu que se esticasse os braços me tampava inteira. – ela riu. – Eu me lembro que essa era a melhor sensação do mundo. Sabe, mesmo que eu tente eu nunca senti nada igual na minha vida. E olha que nós éramos crianças.
a olhou com os olhos marejados e mesmo que tentasse esconder, ela percebeu. se aproximou mais ainda dele e pegou seu pulso.
- Então... Será que eu posso sentir isso tudo de novo?
Ele assentiu com a cabeça.
- Eu não te olhava como se você fosse a coisa mais importante do mundo. – ele finalmente se moveu, caminhando os passos que faltavam para que ficasse bem na frente dela, sua barriga nua colada na barriga dela, que estava coberta por uma blusa fina azul escura. pegou o rosto dela com as duas mãos, tremendo levemente enquanto passava os polegares nas pontas de suas orelhas pequenas. – Você é a coisa mais importante mundo pra mim, eu te amo.
- Não acho que você um dia possa me amar mais do tanto que eu te amo.
- Você não acreditaria então.
Ela deu um sorriso e encostou seus lábios nos dela, primeiramente só para poder senti-los junto aos dela. passou as mãos pelos ombros, cotovelos até as mãos de e as apertou com força. Ele a beijou com mais intensidade depois disso, como se estivesse esperando por aquele beijo há anos. Os dois já tinham ficado algumas vezes, mas o garoto nunca a beijara daquela forma, e isso fez com que ela se arrepiasse. a guiou para uma pequena salinha, mais como uma cabine, onde havia um grande banco no meio e alguns armários de metal no canto da parede. Ele fechou e trancou a porta antes de se virar para e voltar a beijá-la. Ela passou as mãos pelo peito definido de e depositou-lhe um beijo molhado bem ali. Ele sorriu e beijou o topo da cabeça dela, para depois beijar seu pescoço e levantou lentamente a blusa de .
- Não vamos fazer isso agora. – ela parou de beijar sua pele e olhou para ele com os olhos arregalados. Ele não parou o que estava fazendo, depositando milhares de beijos em seus ombros e pescoço. – Tem milhares de pessoas te esperando lá fora. Provavelmente o técnico da faculdade quer falar com você.
- Isso não importa agora. Esperei tanto esse momento, , e você finalmente é minha de novo. Quem quer que queira falar comigo pode esperar.
Ela assentiu com a cabeça, entorpecida demais para sair dali. beijou seu pescoço e lentamente desafivelou seu sutiã rosa, que caiu no chão e por ali ficou. Ele se encaminhou para o banco duro e se sentou, colocando em cima dele. Ela passou as pernas por sua cintura enquanto dava outro beijo em , que passava as mãos pelas costas nuas dela com tanta delicadeza que lhe arrancou um suspiro. Estava trêmula como nunca esteve na vida. Parando um pouco o que fazia, passou os braços ao redor do pescoço de e se aproximou ainda mais dele, colando seus seios no peito dele e lhe dando um abraço apertado. Ela respirou pesadamente em seu pescoço e depositou alguns beijos na nuca de . A menina se sentia como se tivesse anestesiada e a única coisa que sentia fosse o toque dele. Depois de um tempo naquela posição, se afastou mais um pouco dele de modo que seus rostos estivessem frente a frente e lhe deu outro beijo.
E de repente, não havia mais em nada, somente .
*
Capítulo 160 – “DON’ T YOU FORGET ABOUT ME”


09:22
Bom dia, ! Meu nome é Amanda, da lavanderia. Queria dizer que seu terno já está pronto, pode pegar quando preferir.

10:02
Está acordado? Mamãe disse que quer sair com a gente hoje, já que é o dia da sua formatura. -Caroline

10:11
Cara, sua carteira está aqui em casa, mas não posso ir aí porque a tá me esperando dentro da minha banheira, sinto muito. -

13:30
, conseguiu pegar o terno? Estou por perto, quer que pegue pra você? -

13:37
! Onde você está? -Caroline

13:38
Olá, filho, estou com a sua irmã e eu e seu pai gostaríamos de te ver. -Mãe

14:15
ONTEM FOI LOUCO!!! -

14:17
Oi, , acho que hoje poderemos conversar melhor. Preciso lhe entregar o seu dinheiro como pagamento da aposta e gostaria de conversar sobre o futuro. Sua leitura sobre as pessoas e seu modo de ver as coisas me fascinou. -Sr. Garcia

14:25
Ligue para a , ela está querendo falar com você. -Jackson

14:44
? -

15:00
Mamãe e papai acham que você não quer vê-los. -Caroline

15:03
Você está vivo? -

15:12
Bebeu mais do que deveria ontem? -Evan

15:13
Está passando mal? -

15:15
Oi, , é o David. e pediram para agradecer por ontem e perguntaram se você vem na festa de hoje. -David

15:23
Oi! Queria saber se vai pegar a para ir à formatura, e se sim, que horas estão pensando em ir? Pensei em irmos ao mesmo horário para pegarmos lugares bons. -

16:00
Onde você está? -Caroline

16:10
!!!! -Caroline

16:16
Estou oficialmente preocupada. Chego aí em dez minutos. -

16:18
Oi, preciso que chegue um pouco mais cedo para as fotos. -

- Ai meu Deus, ele estava dormindo mesmo! – uma voz feminina alcançou os ouvidos do garoto, que abriu os olhos rápido, tamanho o susto que tinha levado. – , sua formatura começa daqui a praticamente uma hora!
Ele olhou para cima e se deparou com Sofia, a garota bonita que cuidava de tudo na April Hall. Seus cabelos loiros pareciam reluzentes demais, fritando seus olhos e fazendo com que o menino se encolhesse. Alguns flashes da festa insana da noite passada invadiram seus pensamentos e o menino suspirou de deleite. Pensou em como sua cama estava confortável e se perguntou onde estava . Ela não voltara com ele? Lembrou que deixou sua carteira na casa de , o que era um problema, considerando que não poderia pagar seu terno na lavanderia, e precisava dele para a formatura. A formatura. Ele pulou da cama tão rápido que sua vista escureceu e se sentiu tonto. As palavras da menina ao seu lado finalmente fizeram sentido, e o garoto correu pelo quarto, procurando sua blusa social e seus sapatos.
- Você viu a ?
- Não, mas ela deve estar indo para lá. me ligou e disse que todo mundo está te procurando. Disse que te ligou algumas vezes.
- Ninguém me ligou. – ele alcançou seu celular na escrivaninha e deslizou o dedo pela tela, que indicava inúmeras mensagens e mais de dezessete ligações perdidas. – Merda, merda.
- A noite passada foi tão boa assim?
Ele olhou para a menina e um sorriso se espalhou lentamente pelo seu rosto. Colocou os sapatos, apertou a calça risca de giz no quadril com um cinto e passou seu melhor perfume. Em seguida correu até o banheiro, lavou o rosto e penteou o cabelo. Sofia o puxou pelo pulso.
- Vem, eu te levo. mandou avisar que pegou seu terno.
sorriu com gratidão e pensou na namorada, uma sensação calorosa percorrendo seu peito ao se recordar da maciez de sua pele, do cheiro de seus cabelos e... Seus pensamentos foram interrompidos com um barulho de música eletrônica, que circulava em uma altura bem alta pela casa, varrendo os corredores. Viu várias pessoas andando, carregando escadas, balões, caixas de isopor cheias de cerveja e enormes amplificadores. Quando chegou ao hall de entrada, avistou algumas pessoas, entre elas David, montando algumas mesas de vidro redondas. O menino o viu e abriu um sorriso, mas não se aproximou devido às mãos ocupadas. voltou sua atenção à Sofia, que ditava algumas instruções ao resto das pessoas. passou e Sofia entregou uma prancheta para a garota, como se tivesse colocando-a no comando. Ele perguntou:
- O que está acontecendo aqui?
- O pessoal está preparando para a Confraternização de Casas. Receberemos uma visita de uma casa de outra cidade.
Os olhos de se arregalaram.
- Sério?
Sofia assentiu.
- Sim, e vai se acostumando. Essa é a sua vida agora, e o que está por vir vai te deixar louco. – ela riu. – Acha que vai se importar?
Ele olhou aquele festival de cores e pessoas ao seu redor. Sentiu a alegria e empolgação no ar, juntamente com o som das músicas e de risadas de algumas pessoas que tentavam empurrar um garoto na piscina. Um sorriso preencheu seu rosto.
- Nem um pouco.
*
Nota da autora: Oi, gente!
Esse ano foi muito louco pra mim por causa de vestibulares e tudo o mais, e acho que a primeira coisa a fazer é me desculpar por sumir por meses e agradecer a quem foi paciente comigo! A história já estava feita há bastante tempo, e por causa disso eu precisei mudar e acrescentar várias coisas. Eu era um pouco mais nova quando escrevi, e precisei modificar algumas partes que não se encaixavam direito e corrigir erros de português. Espero que tenham gostado tanto desses personagens quanto eu, já que viver suas vidas e imaginar suas experiências são situações que acontecem comigo até hoje. Meu objetivo desde o início foi apresentar personalidades diferentes, com pontos de vistas diferentes para uma mesma situação. Sei que são muitas pessoas e que alguns enredos ficaram mais desenvolvidos que os outros, mas eu não tinha um plano inicial quando comecei, só fui escrevendo e gostei do rumo que ela tomou por si só. Sendo assim, quando pensei em esticar a história um pouco mais, percebi que poderia sair muito do que eu tinha pensado originalmente, e por ser uma história que gosto bastante, não queria mexer muito.
Gostaria de agradecer pelo carinho das mensagens e dizer que eu não esperava que ninguém fosse ler, então entrar no site e ver esses comentários me enche de alegria! Criei essa história porque precisava colocar num papel tantas ideias na cabeça e espero continuar criando no futuro. Se alguém quiser entrar em contato comigo por e-mail, vai ser um prazer responder. Beijos para todas!


Fim



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