- Volte aqui, null! - Gritava null, na chuva, com os pés descalços batendo na lama que se formava no chão da praça. A noite se estendia, escura e fria, e ela podia vê-lo ao longe, caminhando. Mas ele não respondia. Ela correu mais, até conseguir alcançá-lo.
Porém, quando conseguiu chegar perto o suficiente para uma conversa, não sabia o que dizer e ficou encarando as costas largas do garoto. Fechou os olhos e ficou sentindo o silêncio e a chuva, que já falavam tudo por si mesmos.
null parou e se virou para olhar a menina; seus olhos focaram os dela e ela tomou toda a coragem para falar tudo o que pensava:
- null, eu não odeio você, eu nunca odiei. Eu fiquei com raiva, triste, irritada. Não consigo entender por que você tem mesmo que ir. E a única razão de eu ficar desse jeito é porque eu não quero que você vá, eu não quero que você fique longe de mim, e eu não me importo com mais nada na minha vida que não seja você. Eu vou com você para o fim do mundo se for preciso; eu não me importo de largar a escola para isso; eu enfrento meus pais, enfrento o futuro, enfrento tudo só para poder acordar todo dia de manhã e ver você do meu lado.
Ela cobriu o rosto com as mãos e começou a chorar baixo. Sempre fora orgulhosa demais para dizer o quanto gostava dele. Todos os dias na escola que passavam juntos com os amigos não foram suficientes para ela dizer o que sentia, e, justo agora, quando ele havia ido à sua casa para dizer que estava indo embora para realizar sua primeira turnê com os outros amigos, ela havia decidido dizer tudo que queria. Quando ele foi se despedir, ela apenas disse que o odiava e o mandou ir embora, mas ele e ela sabiam muito bem que essa não era a verdade. Ele caminhou até ela e levantou o queixo dela com as mãos, fazendo-a encará-lo novamente.
- Eu não quero ficar sem você, e eu não vou. Se você disser que é minha, eu vou voltar, não importa para onde eu vá. Não são tantos meses assim, e eu e os caras vamos sempre vir aqui. Se a null e o null podem, nós também podemos. É só você dizer que sim.
null não respondeu. Apenas jogou seus braços ao redor do pescoço dele e o beijou como queria fazer há tanto tempo, com a raiva e o amor que sentia acumulados naquele beijo na chuva. Isso era um sim, ela aceitava esperá-lo, mesmo que estivesse com raiva por ele ir embora e largar a escola, já não importava mais. Eles eram parte um do outro, e podiam lidar com isso se os amigos também podiam.
Flashback
null, null, null, null, null e null estavam sentados na sua mesa de costume no refeitório da escola, quando null pediu a palavra. Ele subiu na mesa, fazendo todos olharem para ele.
- Caros amigos e amada namorada, tenho um comunicado a fazer. Nossa banda está evoluindo já faz uns três anos, e cá estamos, no final do segundo ano. É com grande orgulho que eu digo que estamos indo para a nossa primeira turnê. Claro que não é algo grande ou importante, mas o tio do null realmente acha que vai ser bom para a gente dar uma rodada para promover a banda, e vamos ficar três meses na estrada! - Ele levantou os braços, as pessoas que estavam no auditório riram, aplaudiram ou gritaram, os meninos ficaram vermelhos de vergonha e sorridentes, porém, a reação de null e null fora inesperada. null tomou a palavra:
- Isso quer dizer que meu namorado vai largar a escola e se lançar em uma aventura maluca para promover a banda dele em um ônibus pelas estradas do Reino Unido? Qual é a parte que eu devo comemorar? - Ela perguntou, sarcástica. null balançou a cabeça, concordando.
- Como eu fico sem o meu melhor amigo? - null perguntou, abraçando null. Eram melhores amigos desde pequenos e, no fundo, o garoto sempre gostara dela. null olhou para os dois com um certo ciúme no olhar; null, em seguida, pegou null no colo e a girou. Ele era realmente tímido com tudo, menos quando envolvia null. Apesar disso, ele nunca confessara a ela o que realmente sentia, e gostava de tê-la como amiga. Era melhor que arriscar e não ter nada dela, nem a amizade.
- Vocês duas, como amigas, deviam estar nos apoiando! - Disse null, exasperado.
- Apoiar essa loucura? O que te fez pensar que faríamos isso? - Perguntou null, batendo com a mão na cabeça do garoto. null desceu da mesa.
- Docinho, falaremos com vocês duas sempre que possível... - disse ele, abraçando a cintura da namorada.
Terminaram aquela conversa rindo dos tapas de null em null, e parecia que eles nunca haviam falado sobre ir embora...
Claro que null achava que desistiriam e não estava levando a sério. Bom, estava realmente enganada... End of Flashback
Quando partiram o beijo, null disse:
- Eu não pensei que levariam isso tudo adiante. Quando você apareceu agora pouco lá em casa me dizendo que estavam de partida, eu fiquei em choque e disse coisas que eu não queria.
null olhou para ela com um sorriso maroto no rosto.
- Adoro te ver brava. Você fica linda quando está vermelha de tanto gritar.
null riu.
- Você está prestando atenção no que eu estou dizendo, null? - Ela perguntou.
- Claro que estou. Eu presto atenção em tudo. O jeito que você mexe no cabelo quando está envergonhada, o seu sorriso, a sua risada alta, o jeito como você anda e quando você morde os lábios quando está nervosa. Ou quando seus olhos se enchem de água por alguma razão, exatamente como agora. Mas devo dizer que é muito bom saber que dessa vez eles estão assim por minha causa.
null riu, deixando as lágrimas escorrerem e se misturarem à chuva. Ele puxou-a para mais um beijo e, quando pararam novamente, ele encostou a sua testa na dela, de olhos fechados, sussurrou o primeiro "eu te amo" de muitos que viriam.
No dia seguinte, de manhã, null e null foram até a casa de null se despedirem deles. O tio de null estaria lá com o ônibus simples e alugado, onde eles entrariam, e elas só os veriam três meses depois. null abraçou a todos, apertou as bochechas de null e deu um beijo em null, o que deixou todos muito surpresos e animados, exceto null. Parecia que haviam jogado um balde de água gelada sobre ele e ele tivesse acordado de um longo sonho. Porém, nisso ninguém reparou no grande dia da despedida.
Os meses iam passando, a banda fazia cada vez mais sucesso e os meninos sempre voltavam. null e null estavam mais apaixonados que nunca. Porém, todos começaram a perceber a estranha ausência de null nas conversas, quando iam todos dormir na casa de null ou quando iam para a sorveteria, que era uma das poucas coisas que se tinha para fazer na pequena cidade em que viviam. Porém, quando perguntavam, ele desconversava e ia embora dando alguma desculpa idiota.
null e null passeavam pela rua de tarde e quem via apenas ficava se perguntando se algum dia na vida teria um amor como o dos dois. Estavam em perfeita sintonia. Brigavam às vezes, mas nunca durava muito tempo, porque eles não aguentavam ficar longe um do outro. Ele disse que queria levá-la a um lugar especial e eles foram de carro ao mirante que havia na pequena cidade, de onde podiam ver o pôr-do-sol e a cidade toda até a praia. De repente, ele parou e olhou para ela.
- Minha menina... - ele disse - eu sei que somos muito novos e que isso é loucura, mas...
null prendeu o fôlego e olhou para ele. null continuou:
- Você está no final do terceiro ano, você vai para a faculdade, eu tenho a banda e tudo mais... Mas eu sei que é com você que eu quero estar para o resto da minha vida. Pode parecer estranho e precipitado, e não é para acontecer depressa, mas da mesma forma...
Ele ajoelhou e tirou um anel do bolso, com um pequeno brilhante em cima.
- null null, quer casar comigo?
null ficou sem ação. Eles eram tão novos! A banda estava no auge, ela estava indo para a faculdade de Artes... Mas ele havia dito que não precisava ser depressa, podiam apenas ficar noivos por enquanto. E foi assim, com 19 anos de idade, que os dois traçaram o resto de suas vidas naquele mirante. Ou pelo menos eles achavam que haviam traçado.
- Sim - disse ela, sorrindo e o abraçando em seguida.
null estava radiante no dia seguinte, foi direto para a casa de null contar que estava noiva. Escalou o muro, como fazia desde criança, e entrou pela janela do quarto do melhor amigo. null estava sentado na cama, olhando para a parede com um caderno de composições na mão. Quando a viu, ele logo sorriu.
- Escrevendo novos sucessos? - Ela perguntou, entrando no quarto.
- Não consiguo escrever nada - ele disse e, de repente, o sorriso desapareceu do rosto dele. Lembrou-se de que não tinha razões para estar feliz em vê-la.
- Hey, que carinha é essa? - Ela perguntou.
null olhou para ela, balançou a cabeça e disse que não era importante. Perguntou a razão da ida dela a sua casa.
- Bom, eu não me lembro desde quando eu preciso de razões... - disse ela, rindo. - Mas hoje tem um motivo sim. EU ESTOU NOIVA!
O mundo pareceu parar naquele momento. null não enxergava mais nada na sua frente, só conseguiu gaguejar:
- Do null?
- Não, do pato Donald! CLARO QUE É, NÉ!
Ela correu e o abraçou, mas percebeu que ele não correspondeu.
- Não está feliz por mim? - Ela perguntou.
- Gostaria de estar, mas não estou. - Ele disse, pensativo.
null fez um olhar de quem não entendeu. null tomou coragem para explicar-lhe tudo.
- Não estou feliz porque, há muitos anos, no meu aniversário de oito anos, quando eu te vi naquele vestido azul, linda, eu decidi que você seria a garota da minha vida. E comecei a te olhar diferente. A gente se conhece desde que tinha cinco anos, e eu não sei como eu demorei até agora para te dizer o que eu penso desde que tinha oito. Eu sempre quis ser mais que seu amigo, mas você nunca me deu espaço para eu te dizer tudo o que eu sinto. A verdade é que eu amo você.
null não sabia o que dizer.
- null, eu...
- Não precisa dizer. - Disse ele. - Deixe-me sozinho, por favor.
null sentiu seus olhos se encherem de lágrimas.
- Não faça assim, por favor... Somos amigos, certo?
- Acho que não posso ser seu amigo. - Disse null.
null foi até a porta e saiu chorando. null ficou vendo-a sair pela porta, sabendo que ela não voltaria.
null foi para a casa de null, contou tudo à amiga. null não sabia o que dizer, mas dentro de si mesma ela já havia percebido tudo há um bom tempo, apenas não falara nada por medo das reações e das consequências. Depois de passar a tarde na casa da amiga chorando, null decidiu ir até a casa de null.
Chegando lá, bateu na porta. Um null de boxers e meias apareceu na entrada.
- Minha menina... - ele disse, beijando-a. Mas null estava desconcertada com o rapaz daquele jeito.
- Seus pais não estão em casa? - Ela perguntou.
null deu uma gargalhada alta, em seguida, deixou-a passar, fechou a porta e foram em direção ao sofá.
- Eles nunca estão aqui. Por isso ainda não contei que te pedi em casamento.
null deu uma risada nervosa. Então, ela estava sozinha com ele em casa. Mordeu o lábio, nervosa. Ele percebeu.
- Hey, por que essa cara? - Ele perguntou.
- Acabei de lembrar que eu fiquei de passar no null e...
null não a deixou terminar.
- Você está com medo de mim. Não acredito. - Ele começou a rir.
null olhou para ele brava.
- Não estou! - Ela disse, tentando ficar calma.
null parou de rir.
- Nunca te forcei a nada, e não é porque estamos noivos que eu te forçaria.
null olhou para ele. Ficaram em silêncio por um tempo, até ele se aproximar. null passou as mãos pelo pescoço dele e o beijou.
Não se deu conta que estava indo automaticamente para o sofá. null deitou por cima dela e partiu o beijo.
- Se você não quiser, nada acontece.
null não respondeu, apenas sorriu e o puxou para mais perto de si.
Na partida dos meninos, null se despediu de todos, sorrindo triste para null, que beijou sua testa.
- Até logo, null. - Disse ela. Ele sorriu, um sorriso tão triste que partiu o coração dela em pedaços. Como podia ter se esquecido assim dele? Ele havia sido o motivo de sua ida para a casa de null no dia anterior, e com tudo que havia acontecido, ela esquecera completamente do amigo. Imagens de tempos atrás passaram pela cabeça dela... Os dois brincando de pique-esconde, o dia em que conheceram null, o grupo de amigos foi crescendo através dos anos... Mas aquele menino que subia no peitoril da sua janela, com o olhar vivo e risonho, aquele que desde pequeno estava sempre perto dela, aquele com quem ela acampou no jardim a vida toda, aquele pequeno menino com quem ela tomava banho... Ele havia crescido. E a alegria dele sumira por trás dos olhos tristes de quem olha algo que deseja muito e não pode chegar perto. Sentiu vontade de alcançá-lo, abraçá-lo, mas ela sabia que isso só pioraria tudo.
null foi dar-lhe um beijo de despedida e ela sentiu uma enorme vontade de pular no colo dele e pedir que ele não fosse.
- Hey, que carinha é essa, minha menina? - Ele perguntou com aquele sorriso lindo que ela tanto amava.
- Não quero que você vá embora, não dessa vez. Estamos noivos e eu quero que você fique comigo, que você conheça meus pais, eu quero te ter aqui! Não quero te perder... - ela soltou aquilo tudo sem saber por quê. Ele riu e beijou a ponta do nariz dela.
- Eu volto, não vou te deixar. - Ele disse, entrando no ônibus. - Amo você.
Dizendo isso, ele desapareceu pela porta do ônibus e ela olhou naqueles olhos pela última vez.
De madrugada, o telefone tocou. null saiu debaixo da coberta, olhou para a mesinha de cabeceira onde uma foto dela e de null se encontrava em um porta retrato prateado. Sorriu de leve.
Levantou-se e atendeu ao telefone:
- Alô?
- null... - era null, com uma voz inconfundível de choro.
- O que foi, null? - null perguntou, nervosa.
- O ônibus dos meninos sofreu um acidente na estrada para Manchester. null me ligou há pouco tempo... Ele e null estão bem, mas null está muito ferido e null...
null não queria ouvir o resto.
- ... está em coma. - Terminou null, chorando.
null sentiu as pernas pesarem. Lágrimas escorriam de seus olhos.
- Vou pegar o carro. Ligue para o tio do null e peça exatamente a localização de onde eles estão. Estou passando aí.
Dizendo isso, null desligou o telefone. Pegou um casaco qualquer, a chave do carro, vestiu uma calça jeans e saiu para a noite chuvosa. Nada podia ter acontecido ao seu null, não ele...
Entrando no hospital, null reparou em null sentado, cortado na testa e nos braços. null estava com a perna engessada e o braço não parecia normal. null correu e abraçou o namorado, deixando as lágrimas caírem livremente pelo ombro dele.
- E null? E null? - Ela perguntou.
- null está acordado, mas vai ter que usar uma cadeira de rodas por alguns meses. Ninguém sabe sobre null, apenas sabem que ele está em coma e mais nada. - Disse null, enxugando algumas lágrimas.
null caiu no choro e foi correndo a uma enfermeira, que lhe disse exatamente onde era o quarto de null. Ele estava lá, deitado, com os olhos fechados. Ela segurou a mão dele; estava fria.
Olhou para o anel em seu dedo e desejou mais do que nunca olhar os olhos dele naquele momento. Atirou-se sobre ele, chorando.
null entrou no quarto e pôs a mão no ombro dela. Por muito tempo, null foi seu apoio durante o coma de null, que não passou tão rápido quanto o previsto...
null sentia dores na cabeça. Tentou abrir os olhos e não conseguia. Algo estava acontecendo, ele tinha certeza. Quando abriu os olhos, viu que estava em um quarto de hospital.
Duas pessoas choravam em cima de um garoto, não devia ser muito mais velho que ele. Olhou de perto: eram null e null!
Ficou preocupado, desviou os olhos para o garoto na cama e viu que era... ele!
Em seguida, algumas enfermeiras tiraram null da sala. Ele a seguiu, o que poderia fazer senão ficar perto dela? Ouviu os amigos conversarem sobre ele mesmo, isso o assustava. Ouviu o médico dizer que ele estava em coma... Então, isso explicava tudo.
- Quanto tempo ele pode ficar assim? - Perguntou null com a voz rouca.
- Infelizmente, não podemos dizer ainda. - Disse o médico. - Mas eu tenho uma boa notícia: o outro garoto está bem e está consciente, a enfermeira irá trazê-lo agora do quarto e poderão ir para casa. O motorista também foi salvo, mas ficará aqui por alguns dias. E seu outro amigo permanecerá aqui até sair do coma.
Os amigos não sabiam se ficavam felizes por null estar bem ou se ficavam tristes por null.
null olhou para os amigos, reparando em cada um deles... Sentiria tanta falta disso se não voltasse! Correu para o quarto onde estava o seu corpo, se jogou em cima e não se surpreendeu ao ver que passou direto pela cama e por si mesmo.
Sentiu o frio do chão do hospital no seu rosto, chorou suas lágrimas vazias e perdidas.
Não soube ao certo quanto tempo ficou ali, mas depois se levantou e decidiu ir atrás de null. Queria falar com ela de qualquer maneira e não importava o que precisasse fazer.
Saiu do hospital, caminhou pela rua escura até onde moravam na pequena cidade, sem sentir cansaço, sede, fome ou frio. Sentia-se apenas vazio.
Viu sua casa do outro lado da rua, seus pais entrando correndo no carro, sua mãe desesperada. Eles deviam ter acabado de descobrir... Agora parecia tão ridículo terem perdido tanto tempo com o trabalho.
Caminhou mais e chegou à casa de null. Passou pela porta fechada sem dificuldade; a sala estava escura. Subiu as escadas e viu null deitada na cama, chorando, null ao seu lado tentando consolá-la. Sentiu uma enorme vontade de abraçá-la, de mostrar que estava ali.
- null, o que vai ser de mim se ele não acordar mais? - Ela soluçava com as mãos no rosto.
- Temos que pensar positivo! O null vai sair dessa, você vai ver! - Disse null.
Mais tarde, null foi embora e null ficou sozinho com null chorando. Ele queria mais que qualquer coisa mostrar que estava ali, mas não conseguia! Deitou-se ao lado dela na cama e tentou abraçá-la, mas seus braços passavam por ela. Contentou-se em encostar de leve as mãos no rosto dela e teve vontade de recomeçar a chorar quando percebeu que nem a pele dela ele podia sentir.
Os dias foram se passando, os amigos não saíam de casa, a não ser para ver null, que estava mais triste que nunca por estar de cadeira de rodas e porque não havia visto null ainda. null apenas seguia null aonde quer que ela fosse, sentia que precisava fazer isso. Muitas vezes gritava para os amigos que estava ali, mas nenhum deles parecia notar. Às vezes, ele pensava que null tinha notado alguma coisa, mas em seguida a menina balançava a cabeça, como se para espantar os pensamentos.
Fora ir visitar null, null passava os dias no quarto chorando, e null desesperado para fazê-la parar de chorar, mostrá-la que estava ali. Assim, os meses foram se passando e ninguém havia percebido o que estava acontecendo com null...
null corria apressada para a casa de null. Bateu na porta.
- null, pare de moleza e saia logo daí! - Ela esmurrava a porta. Apertou o casaco contra o corpo, estava realmente frio.
- Que foi, null? - null abriu a porta, meio sonolento e preocupado.
- É a null, ela não está bem! - Disse null.
null foi correndo buscar um casaco, enquanto iam para a casa de null.
- Você a deixou sozinha? - Perguntou null.
- Não, o null está lá com ela. Ela me pediu para ir à farmácia comprar um teste de gravidez porque ela queria ter certeza se... - null parou de falar. null virou-se para ela.
- É verdade? - Perguntou ele, nervoso.
- Deu positivo, null. - Disse null, chorando. - Ela não consegue parar de chorar, está desesperada. null foi para lá assim que soube, eu vim aqui buscar você e o null. Ela precisa de apoio agora!
- O filho é do null? - Perguntou null, sabendo a resposta óbvia.
- Claro que sim, seu pateta! De quem mais seria? - Perguntou null, irônica.
Os dois buscaram null depressa, que saiu como um louco pela rua com as muletas. Ele já havia deixado a cadeira de rodas e em breve estaria totalmente recuperado.
null olhava null com o rosto no colo de null. Então era isso: ela estava esperando um bebê. Um filho dele!
- Preciso acordar... - ele pensou, agitado. - Não posso ver a minha vida acontecer sem mim! É a minha noiva, com o meu filho!
Cobriu o rosto com as mãos e viu que começava a chorar.
- Não posso ser mãe solteira, null! - Dizia null, chorando.
- Calma, eu vou estar aqui, você vai ficar bem... - dizia null.
- Eu estou com medo, null! Mas eu não vou tirar de dentro de mim a única lembrança viva que eu tenho do null... - ela chorava ainda mais.
null levantou-se e saiu correndo, passou por todas as portas, paredes e escadas. Correu pela rua e pela estrada vários quilômetros até chegar ao hospital onde estava o seu corpo. Seu pai e sua mãe estavam lá, desesperados, falando com o médico. null entrou no quarto e se viu: estava pálido, a barba e o cabelo começavam a crescer, mostrando que de alguma forma ele ainda estava vivo.
Ajoelhou e pediu a Deus que seus pais não autorizassem os médicos a desligarem as máquinas. No fundo, tinha esperanças de voltar. Gritou alto, com toda a força que pôde:
- EU ESTOU AQUI, DROGA! MINHA NOIVA ESTÁ GRÁVIDA, ESTOU A MESES EM COMA, NÃO POSSO TERMINAR ASSIM!
null chutou a porta com raiva. Ninguém podia vê-lo, ninguém podia ouvi-lo, tudo o que ele podia fazer era voltar para a casa de null e ver seu filho nascer sem um pai.
Olhou seus pais e viu a dor nos olhos de sua mãe. Sabia que ela não deixaria que desligassem as máquinas. Ainda havia uma esperança...
Os meses foram se passando, o nascimento de seu filho se aproximava. Todas as noites em que null não conseguia dormir, null deitava ao lado dela e, de alguma forma, sabia que ela sentia. Cuidou para que nada de mal lhe acontecesse, as dores nas pernas e no corpo eram enormes e ele sabia que ela estava sofrendo, mas, de certa forma, ela estava feliz por ter o filho dele.
Os pais dela ficaram chocados no começo com a descoberta, ela lhes contou que estava noiva de null, mas quando ele entrou em coma ela havia decidido não dizer nada.
- Minha querida... - dizia a mãe de null - um neto é sempre uma bênção! Podia ter nos dito antes...
As duas se abraçaram, chorando. null sorriu de leve. Pelo menos, tudo estava bem.
null era um melhor amigo incansável, fazia de tudo para vê-la sorrir. null ficava feliz por ver que, se ele não voltasse do coma, null teria pessoas com quem contar.
Uma noite, porém, os pais dela precisaram sair e null não estava lá. null estava sentada no sofá, acariciando a barriga, e null estava perto, como sempre. A garota começou a sentir muita dor, tentava alcançar o telefone e não conseguia. Caiu no chão.
- ALGUÉM, POR FAVOR! - Ela gritava com a mão na barriga. - MEU FILHO VAI NASCER!
null se desesperou. Correu até o telefone, mas não conseguiu ligar, pois não tocava nos objetos.
- ALGUÉM, AJUDA! - null gritou, sabendo que não adiantava. Abaixou-se e passou a mão na cabeça dela... Precisava fazer alguma coisa! Mas não podia deixá-la sozinha. Então, ele viu o celular dela em cima da estante, podia tentar pegá-lo, tinha que conseguir...
null tentou com todas as suas forças:
- Eu posso fazer isso, eu tenho que fazer isso...
Tentou até que conseguiu apoiar o celular nas mãos por alguns breves segundos, que foram suficientes para que o aparelho caísse no chão.
- null, por favor, você consegue alcançar! - Dizia null, desesperado.
null esticou a mão o máximo que pôde, atingindo o celular. Discou imediatamente para a ambulância, null ficou o tempo todo ao lado dela, acalmando-a até a ambulância chegar. Ela não podia ouvi-lo, mas sentia-se protegida de algum modo. E foi dessa forma que tudo deu certo.
- Michael, volte aqui! - Gritava null, correndo atrás do filho. Ele já estava com três anos, era exatamente igual ao null, em tudo.
De vez em quando, Michael olhava para o nada e sorria, null não entendia o porquê.
null e null haviam se casado e se mudaram para Londres para viverem suas vidas. null foi para a faculdade de Música, totalmente curado das sequelas do acidente. null ajudava null a cuidar de Michael, amava-a tanto a ponto de nunca dizer nada, estar sempre presente como um amigo.
null continuava a rondar sozinh, a cada aniversário, cada Natal, sempre atrás dos amigos. Todo mês, eles se reuniam e iam ao hospital em que null ainda estava, null sempre chorava.
Naquela tarde, estavam todos no hospital. null pensou na sua vida e se sentiu alegre. Tinha orgulho de todas as pessoas que haviam feito parte dela e tomou uma decisão.
Saiu do quarto e caminhou até sua mãe, que estava na sala de espera, envelhecida e triste conforme o tempo passava. A única coisa capaz de fazê-la sorrir era quando via Michael correndo e brincando.
null foi até a mãe e desejou de todo o coração que ela o escutasse:
- Mãe, desligue as máquinas, por favor. - Disse ele.
A mulher não pareceu ouvi-lo, porém, tremeu de leve.
- Mãe, desligue as máquinas, por favor. - Ele disse novamente.
A mulher começou a chorar e disse baixinho:
- Meu null não gostaria de estar vivendo assim. - Disse ela.
null sorriu, deixando as lágrimas caírem.
A mãe de null chamou o pai e os dois foram conversar com o médico. null sabia que tinha pouco tempo, então, entrou no quarto e foi se despedir dos amigos. Olhou para null e para null, que olhavam para o corpo dele na cama com expressões tristes.
- Eu desejo toda a sorte na vida de vocês, quero que sejam muito felizes. - Disse null, sorrindo para eles. - Vocês foram amigos maravilhosos e eu nunca vou me esquecer de vocês.
Inexplicavelmente, null começou a chorar e abraçou null. null virou-se para null:
- Termine a faculdade, entendeu? - Disse ele, rindo. - Você vai ser um ótimo músico, tenho certeza.
null deu um sorriso triste. null então olhou para null:
- Cuide da null. Case-se com ela. Não se esqueça desse pedido. - Disse ele. null balançou a cabeça de leve, seus olhos cheios de água.
Olhou para null chorando e percebeu que essa seria sua despedida mais difícil. Então, sorriu e virou-se para o seu filho, que segurava a mão da mãe e olhava diretamente para ele, sorrindo. De alguma forma, Michael via o pai e null soube disso desde que o menino completara um ano.
- Michael... Diga a minha menina que eu vou sentir falta do sorriso dela. Diga a ela que eu estou contando os minutos para vê-la de novo. Diga a ela que eu sei, quando ela me abraça, que eu não posso viver sem ela. - Disse null, enxugando as lágrimas.
Michael ficou triste por um momento, estendeu a mãozinha para o pai. null sorriu e abaixou-se, olhando nos olhos do filho, exatamente iguais aos seus:
- Apenas diga que eu a amo.
Michael deu um sorriso, puxou a blusa da mãe que chorava. null abaixou-se do outro lado do filho e null viu o rosto dela de perto, pois estava abaixado também. Sorriu ao ver que, quanto mais o tempo passava, mais linda ele a achava.
- O que foi, meu anjo? - Perguntou null.
- Mamãe, o papai me pediu para te dizer que você é a menina dele e que ele ama você.
null ficou em estado de choque. Abraçou Michael com toda a força, chorando compulsivamente. null se levantou, vendo null ir até null e pôr a mão no ombro dela. null sorriu: sabia que os dois se casariam e que null cuidaria de Michael como se fosse seu filho.
O médico entrou na sala com os pais de null, contou que desligaria as máquinas. null pegou o filho no colo, exasperada, e levantou-se, dizendo que eles não podiam fazer isso.
- Meu filho não gostaria de ficar assim. - Disse o pai de null.
null olhou seu corpo na cama, mais velho, com os cabelos compridos e a barba crescendo mais. "Eu seria assim, se ficasse mais velho", pensou ele.
null não queria deixar que as máquinas fossem desligadas, chorava e dizia que não podiam fazer isso, mas por fim desistiu de lutar. O médico foi até a cama e fez o que devia ser feito.
null começou a sentir que estava indo embora. Sentiu-se leve e feliz, sabia que agora não ficaria mais rondando pela vida como um fantasma. Sentiu uma luz muito forte e a última coisa que viu antes de ir embora foi o rosto do seu filho no colo de null.
O tempo passou, null pediu null em casamento. Depois de refletir muito, ela aceitou. null estava grávida, null não podia estar mais feliz...
null virou agente de uma banda iniciante, teve muito sucesso e, durante a turnê da banda no Canadá, conheceu uma garota chamada Jackie, os dois começaram a namorar. Michael crescia feliz com null e null, algum tempo depois, ganhou uma irmãzinha chamada Holly.
Todos estavam felizes e viviam suas vidas. Sempre que estavam com algum problema ou ficavam tristes, olhavam para o céu e, de alguma forma, sentiam-se protegidos. Alguém estava lá em cima olhando por eles.
Fim.
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Nota da autora:
Segunda fic minha no site... Que emoção! *-*
Bom, espero sinceramente que vocês tenham gostado... Opiniões, comentários, sugestões e xingamentos, eu estou aberta a ouvi-los.
Quero dedicar essa fic para a primeira pessoa que ouviu as minhas idéias sobre isso, quando ainda era apenas um esboço na minha cabeça... Uma das minhas melhores amigas e uma irmã, Andressa. Obrigada por ter escutado tudo no telefone naquela noite e por ter chorado, me mostrou que eu fui capaz de fazer algo realmente comovente. Amo você, Dessa!
Isa, obrigada por ter me aturado te pentelhando para scriptar! Eu sei que eu posso ser extremamente chata quando eu quero...
Amo você!
Obrigada também à todo mundo que me ouviu quando eu falava sobre isso. Vocês foram muito pacientes!
É isso gente... Comentem por favor, significa muito! :D
Pra quem quiser ler as outras fics que eu tenho aqui:
Charlie's Life, Número 345 e My Life Without You