FFOBS - 01. Alexandria, por Naty M.

Finalizada em: 10/11/2019

Capítulo Único

“If we find ourselves with a desire that nothing in this world can satisfy, the most probable explanation is that we were made for another world” C.S. Lewis

São Paulo, 05 de dezembro de 2019
olhava para o espelho se perguntando se aquela roupa era adequada ou bonita o suficiente para sair. Não sabia o que era uma roupa típica de festa além daquelas que via nas fotos das suas amigas de escola. Usava um short preto com uma blusa dourada que comprou tem muito tempo, mas nunca pareceu adequada para nenhum lugar, era muito brilhante, o tipo de compra compulsiva para se arrepender assim que colocar dentro do armário. Finalmente teria alguma utilidade.
Só conseguia pensar o quanto parecia estranha, não normalmente ela mesma daquele jeito. O cabelo loiro, normalmente enrolado nas pontas, estava totalmente liso. A maquiagem parecia relativamente boa porque estava suave, a tentativa de pesada a fez parecer ter um olho machucado, então decidiu não arriscar mais além, mas ainda parecia errada, como alguém que há 1 km se pode notar a inadequação ou a falta de costume com aquilo, uma impostora. Ignorou essa sensação e tentou ser positiva, hoje seria o dia de diversão, decidiu no início da semana e manteria o pensamento, um dia que a faria se sentir mais como qualquer pessoa de 21 anos e menos como o peixe fora d’água que se sente toda vez que pensa nas suas experiências comparadas a de todo mundo. Talvez hoje finalmente conseguisse ficar com alguém, ou rir o suficiente para fazer aquela semana horrível ter valido alguma coisa. Dançar em algum lugar que não o próprio quarto.
Hoje, seria um dia para fazer amigos, ser sociável e aprender a ser menos estranha e mais como qualquer outro jovem do planeta.

Ainda era cedo e a casa de festas estava meio vazia, estava encostada em uma coluna esperando a chegada de Cristina, uma menina de um período superior que começou a conversar há algum tempo, ela a convidou para hoje e disse sim. Era a primeira festa da faculdade que ia, não tinha arranjado companhia antes e se não era extrovertida com amigos ou pelo menos conhecidos, sozinha não era melhor, não era do tipo que conseguia falar facilmente com desconhecidos ou se enturmar facilmente, então normalmente ficava em casa ou saia para comer com Letícia, sua prima, realmente a vida acadêmica era o auge da vida como todos diziam que seria. Estar quase na metade da faculdade e essa ser sua primeira vez em um lugar assim dizia muito sobre isso.
Estava ali fazia meia hora quando viu uma morena com cabelos até os ombros na entrada, era Cristina com um vestido preto e curto, no meio de duas outras meninas que nunca viu antes, elas eram altas, ambas de short e blusas de tonalidades parecidas, já pareciam confortáveis, cumprimentaram metade das pessoas presentes na entrada. foi em direção a elas acenando, tentando se fazer visível ao ambiente mais cheio. Cristina a viu e também foi em sua direção, gritou um oi e a abraçou forte.
— Eu não acredito que realmente veio, pensei mesmo que ia furar como foram das últimas duas vezes. — ok, talvez aquela não fosse sua primeira tentativa, mas era a primeira vez que realmente aparecia, e para ser sincera, a morena a chamou quase no primeiro dia que conversou de verdade com ela e ainda não se sentia totalmente a vontade com ela, não que fosse agora, mas progresso aconteceu. — Estou tão feliz, deixa eu te apresentar, essas são Mariana e Samanta, elas estudaram comigo no ensino médio e nunca conseguiram me largar depois disso.
Amigas do ensino médio? Isso era legal, o grupo que achava ter no seu, na verdade tinha interesses limitados as 5h e pouco passadas juntas todos os dias. Depois da formatura, só haviam saído duas vezes, ambas iniciadas e incentivadas por ela, qualquer contato a mais que tentou parecia imposição, e na verdade se sentia como um incômodo ao sempre começar conversas quase unilaterais. Agora, sabia que a dificuldade em si era mais relacionada a ela, do que entre eles, se as fotos que via no instagram indicavam alguma coisa.
— Prazer, , eu estudo jornalismo junto com a Cris. — elas se cumprimentaram e começaram a conversar, aquele estilo de conversa entre pessoas que se conhecem tem muito tempo e outra que não entende metade da conversa. Conforme o tempo passava, as palavras ficavam mais escassas e a dança se tornou mais presente. As outras meninas pareciam bem envolvidas pela batida e pelo clima, nem tanto, ela primeiramente não tinha muito jeito para isso e rebolar a fazia se sentir um pato desengonçado, em segundo, era interessante ver gente que via todos os dias em um lugar completamente diferente, todos pareciam normais, mas ainda assim, não bem como ela os pintava diariamente.
Um dos meninos das suas aulas fumava alguma coisa que não era cigarro na área aberta, irônico considerando como ele parecia certinho e conservador em sala, não parecia o perfil dele. Outro dançava como se fosse um profissional, ela pensava nele como alguém ainda mais tímido que ela mesma, aparentemente estava errada, ou só nunca o vira em seu ambiente de conforto.
Um casal se beijava descontroladamente em um canto. Hum... sempre teve a impressão que eles não se suportavam, outro erro. Algumas das meninas da sua sala dançavam acompanhadas de caras desconhecidos, outras conversavam, riam e dançavam. Tinha os com copos de cerveja que iam reabastece-las a cada poucos minutos ou que viravam seja lá o que tinham na mão, não sabia que metade daquele pessoal sequer bebia daquele jeito.
Na verdade, aparentemente não conhecia o comportamento de quase ninguém com quem estudava, não uma surpresa considerando o convívio limitado a conversas sobre assuntos da aula ou a série popular do momento que mantinha. Bom, parou de encarar os outros e foi atrás de algo para beber, talvez assim parasse de só olhar e analisar meio mundo e aproveitasse mais, afinal era esse o objetivo da noite.

Algumas horas depois, se encontrava completamente suada e já um pouco aérea demais. Depois do segundo copo de cerveja, tinha visto que tinha a capacidade de dançar, ou deixara de se importar em como aparentava em quanto fazia. Até que se divertira de verdade até ali, mas já estava cansada para ser honesta e agora, sentada na primeira cadeira que encontrara, não havia muitos naquele lugar.
Cristina sumia e voltava o tempo todo, as amigas dessa desapareceram na multidão havia um tempo. Agora estava sozinha, cansada e com vontade de ir embora. Conversou com alguns caras ao longo da noite, dançado com um, mas nada além disso. Muita gente já tinha passado mal e sido carregado para fora, talvez para casa ou um hospital dependendo do caso. Todo o resto também estava alterado, talvez ela fosse a mais sóbria ainda que numa névoa, levando em conta que parou há um tempo para chegar normal em casa.
Estava quase dormindo encostada na cadeira quando Cris reapareceu sorrindo animadamente, ela parecia bem ou quase.
— Não vai acreditar quem está se pegando perto da escada, Samanta e Leandro. Eu não acredito que aquela vadia finalmente conseguiu. — Cristina apontou para um lugar escuro há alguns metros dali, não dava para visualizar muito bem de onde elas estavam. definitivamente não era acostumada a palavra vadia direcionada a amigas, mas elas tinham se chamado e outras assim a noite toda, então era menos estranho agora. Seu cérebro não estava com funcionamento suficiente para lembrar quem era o tal de Leandro da história, então só sorriu e agiu entusiasmada como se tivesse todas as informações sobre o assunto.
— Sério? Que bom para ela, alguém tem que se divertir.
— Não é? Ela é afim dele desde o viu pela primeira vez, mas ele tinha namorada e ela tem aquela história de não se envolver com cara comprometido. Porém, ele veio sozinho hoje e anda assim tem um tempo, a namorada dele ‘tá’ viajando segundo boatos, não vai voltar tão cedo, e eu sei que ela queria algo, então disse que ela devia consolá-lo com o fim do namoro e tal. — as palavras eram animadas ainda que saíssem um pouco emboladas. demorou um pouco para fazer sentido em sua cabeça.
— Como assim consolar? Pensei que a namorada estivesse viajando, como passamos disso para término?
— Ele ainda tem namorada, só que ela não está aqui e ele anda aproveitando um pouco, então eu disse pra Samanta que ele estava solteiro, sabia que não ia fazer nada se pensasse que ele tinha algo sério, e ela precisa tirar o cara do sistema e ir aproveitar outros. — as palavras saiam orgulhosas, como que saídas de um plano brilhante.
— Nossa, ela não vai ficar chateada quando descobrir? Se ela queria algo tem tento tempo, talvez quisesse mais do que seja lá o nome para o que está acontecendo. — Cris balançou a cabeça como se aquilo fosse uma das coisas mais idiotas que já ouvira, talvez fosse mesmo, levando em conta que aquela era a amiga dela de anos, não de que a conhecia a menos de um dia.
— Claro que não, ela ficará feliz que finalmente aconteceu, só precisou de uma mentirinha para o incentivo. E ela só quer ‘pegar ele’, não casar nem nada do tipo. Além disso, se não fosse ela, ele ia atrás de outra como fez das últimas vezes, pelo menos agora ela está feliz e eu não vou ter que ouvir sobre ele mais uma vez. — aceitou a resposta, fazia sentido por enquanto.
Alguns minutos depois viu um cara alto saindo de mãos dadas com Samanta, não o reconheceu até uma das luzes da casa ir diretamente ao seu rosto. O choque veio, o Leandro da história era um cara dois períodos na sua frente, só trocara algumas palavras com ele, porém como a maioria das pessoas da sua faculdade, o tinha nas redes sociais. Ele não tinha uma namorada de algo que você sabe que tem data de validade, na verdade, pelo o que viu há algum tempo, ele tinha uns 5 anos de namoro, um número impressionante para alguém da idade deles. O instagram e Facebook eram recheados de fotos deles juntos e declarações de amor, na verdade, sempre teve a impressão dele ser o cara mais apaixonado do planeta. Sentiu uma sensação meio ruim no estômago, não relacionada a bebida, do tipo que sentia quando via algo errado acontecendo, não apareceu antes porque pensava em um casal hipotético que mal se conhecia ou com nada realmente sério, mas meu Deus, ela sempre pensou neles como O casal, como o tipo de relacionamento que desejava ter.
Samanta e Leandro se beijaram mais uma vez e se separaram, com ela vindo na direção da cadeira com um sorriso enorme no rosto, como se tivesse acabado de ganhar na loteria.
— Eu não acredito que finalmente aconteceu! Foi melhor do que eu imaginava, ele é tão gentil e beija muito bem. — Samanta abraçou Cristina quase pulando, não parecia que tinha tirado ninguém do seu sistema, mas talvez fosse só a euforia da noite e de acontecer algo que queria há muito tempo.
— Viu? Eu falei que ia ser ótimo, agora você pode superar sua fase crush profunda e focar em caras melhores. — a voz de plano brilhante continuava ali.
— Como assim superar? Agora eu tenho uma chance.
— Não realmente uma chance, ele ‘tá’ solteiro, mas só por hoje e até a namorada dele voltar, foi isso que eu quis dizer quando falei que ele ‘tava’ livre hoje, realmente está. Mas o importante, é que finalmente aconteceu, aquela regra de cara comprometido não fazia muito sentido se quem deve alguma coisa é ele, se a namorada dele é idiota o suficiente para acreditar ou confiar nele, isso já não é contigo. — Cristina riu com gosto, também ainda que parecesse um pouco errado por dentro, rir de uma menina que todo mundo dizia ser um amor, mas bem aquele não era o problema dela agora e Cris não disse aquilo por mal, só estava tentando animar a amiga.
Samanta continuava abraçada a Cris durante essa conversa, o sorrido animado de antes sumiu. Das recordações daquela noite, lembra de ter pensado que o rosto dela não parecia o de alguém feliz por ter ficado com um menino bonito por quem sempre teve uma queda, mas alguém quase com o coração partido, como se tivesse descoberto mais sobre duas importantes para ela naquela noite.
Ainda assim, o abraço continuou por um tempo e elas ficaram juntas pelo resto da noite, como as melhores amigas que eram.

No quase um ano que se veio depois desse dia, vieram outras festas e saídas semanais de e Cristina, as duas eram uma dupla sempre vista na faculdade. Onde uma estava, a outra também ia. Leandro ficou noivo uns dois meses depois daquela festa, o anúncio aparecia em todas redes sociais possíveis e imagináveis. Mas toda vez que ia sozinho, sempre ficava com alguém diferente, existiam fotos dele com várias garotas circulando em grupos e contas fechadas, na verdade, existia um boato de um vídeo de sexo dele com Paola (não a namorada dele) rodando entre todos da sua sala. Diziam que o vídeo foi feito sem o conhecimento da participante feminina, talvez ela até hoje não soubesse sobre a existência dele. Mas quase todo mundo do círculo de Leandro viu aparentemente. Nunca chegou na mão de , mas ela sabia o nome e o rosto da menina envolvida. Paola não era nem sequer da mesma universidade, mas os cochichos sempre a seguiam pelos cantos, a maioria não muito lisonjeiro.
Quando a viam, Cristina sempre soltava um comentário afiado e inespecífico o suficiente para Paola não saber do que se tratava. Cris ainda era amiga de Leandro, ou pelo menos quase a irmã perdida dele de tanto tempo que passavam juntos, ria das histórias dele toda vez, a maioria sobre as fotos ou vídeos das suas escapadas e o que fazia para sua namorada nunca nem sonhar com elas, o cara era realmente um especialista em mentiras e se fazer de desentendido. Ainda assim, a amiga morena nunca soltou um comentário afiado sobre ele ou para ele na presença de , ainda que ele fosse o culpado e responsável pela situação, não era um lado que a antiga introvertida gostava, mas ninguém era perfeito e Cristina tinha as suas qualidades. Ela era uma amizade que buscou por muito tempo. As risadas, piadas internas, saídas constantes não só quando faltavam opções. Enfim, a inclusão. Por isso, sempre olhava por cima do ombro para os defeitos, não sentia que podia repreendê-la também, mesmo nas ocasiões merecidas, não ia ajudar em nada de qualquer jeito.
Mariana aparecia em um evento ou outro, sempre a alegria da festa, era muito parecida com Cristina, ainda que mais próxima da outra parte do trio (agora quarteto). Samanta nunca mais foi em algum lugar que podia encontrar Leandro e parecia distante e contida em torno das amigas de escola, não gostou muito sobre o que começava a perceber sobre elas, os risos, as mentiras e os comentários engraçados que sempre escondiam uma ponta de veneno. A queda realmente foi embora quando conseguiu enxergar bem, o abraço como melhores amigas também ficou mais raro. Talvez a vida adulta as tivesse mudado, ou sempre foram assim, de qualquer jeito, Samanta preferiu manter seu espaço, ainda que não ficasse totalmente distante.

estudava há algumas horas quando finalmente resolver dar uma pausa e mexer no celular, estava finalmente tirando 1/3 do assunto acumulado de jogo para poder sair mais tarde sem peso na consciência. Os livros de leitura atrasados estavam na estante intocados há meses, uma companhia constante agora esquecida e substituída com novos interesses.
Ligou o Wi-Fi e várias mensagens começaram a surgir de Letícia, sua prima. Na verdade, todos os grupos que participava também pareciam com uma movimentação estranha.
A primeira mensagem que leu era de Letícia e dizia: eu sabia que aquela garota era má notícia. Seguida de um print de um tweet de Cristina:
“A vaca metida a puritana não sabe como manter a boca calada, mas ela esquece que se ela começa a falar, eu também posso: a thread”
Depois apareciam fotos também publicadas por ela de Samanta. Uma esta aparecia de calcinha e sutiã, claramente bêbada em cima de uma cama que parecia a de Cristina, e o que parecia como vadia escrito em batom vermelho sobre o busto. Já tinha visto aquela foto antes, Cris disse que tinha sido uma piada e Samanta acordou possessa da vida “sem nenhum senso de humor” como a morena a descreveu na época. Pensava que a foto tinha sido apagada há tempos, não era uma piada engraçada nem bem-vinda.
Outra foto era uma dela e de Leandro se beijando na fadada festa. Com a legenda: não conseguiu mais do que isso e agora resolveu ser uma vadia vingativa. Todo o resto estava repleto de mais xingamentos e exposição de segredos. Como a mãe de Samanta nunca ligou para ela ou sobre o relacionamento dela com a família. Sobre caras que ficaram com ela e nunca tiveram coragem de assumir nada sério com ela, mesmo que segundo Cristina “parecesse um cachorrinho correndo atrás”. Tinham mais fotos não felizes e legendas piores ainda. Cada print mostrava dezenas de curtidas e vários retweets. ficou algum tempo em choque se perguntando qual a origem de tudo aquilo, as duas não eram tão próximas como antigamente, mas Cristina falava dela com carinho ainda que debochasse da vontade de ser boa moça falsa da outra.
Talvez o choque maior fosse da malícia explícita de tudo que Letícia lhe mandara, não conseguia pensar em algo que justificasse uma atitude assim, era humilhação gratuita demais, ódio para uma pessoa antes descrita como irmã. ligou para Letícia tentando afastar a confusão, criar algum sentido naquilo tudo.
— O que ‘tá’ acontecendo? Por que a Cristina ‘tá’ realizando a caça as bruxas pela internet?
— Bom, você não tem twitter e não deve ter entrado em nenhuma rede social para ver a confusão. Eu comecei a seguir o pessoal que tu anda um tempo atrás. Ontem, a Samanta publicou alguma coisa sobre não querer ser mais álibi de ninguém e depois disse que ‘tava’ cansada de ficar calada sobre o que está errado. Aparentemente, ela se aproximou de alguém chamada Paola nos últimos tempos, contou sobre um vídeo para ela, não tenho detalhes exatos sobre isso, mas parece que é um sextape, e disse que o Leandro mostrou para todo mundo e ela devia saber sobre isso. Ela também falou com a namorada dele e falou sobre todas as vezes que ela viaja, ele a trai com todo mundo que pode, não sei se também mostrou o vídeo, mas boatos que sim. Tem mensagens circulando em todo o canto de gente sobre a situação. Eu não estava entendendo direito, mas a história completa chegou até a minha faculdade — vale ressaltar que as duas não eram do mesmo curso, muito menos da mesma universidade. — Eu não tinha feito a ligação sobre quem era quem, até a Cristina fazer aquelas postagens, aparentemente ela ficou muito chateada da Samanta dar com a língua nos dentes e resolveu aplicar algum tipo de punição.
— Mas elas eram melhores amigas! — tentava entender as informações, mas essa frase ficava piscando como que em um outdoor com letras brilhantes. E dai que Samanta tivesse dado com a língua nos dentes? Falado na cara das pessoas envolvidas numa situação que todo mundo sabia tudo sobre menos as protagonistas, não era como se fosse algo absurdo, e, para ser honesta, mesmo já tinha pensando em dizer algo sobre, ninguém merecia ser enganada daquele jeito.
— Aparentemente, não mais, ela deve ser bem mais amiga desse tal de Leandro, que inclusive já postou uma foto com a namorada dele dizendo que a ama e nada nunca vai conseguir separá-los, antes disso fez um tweet com aquele emoji pegando fogo logo antes daquela thread horrível, Cristina até postou uma foto antiga dos três juntos, dizendo estar com o seu casal preferido da vida, acho que eles devem ter feito aquilo juntos, não sei se a namorada sabe ou se perdoou, ou não acreditou.
A cabeça de girava, aquilo era demais, tudo isso pelo garoto sonso? Queimar uma amiga de anos por algo assim? Que se dane, existiria qualquer tipo de razão que tornaria aquilo justificável?
— Eu te disse logo que a conheci, aquela Cristina não presta, ela exala veneno, e sabe se ela fez isso com a Samanta, imagina o que ela faria contigo ou qualquer outro que fizesse algo não do gosto dela? — Talvez Letícia estivesse certa, não sabia bem como poderia ser amiga de alguém que fizesse algo assim, mas ela já era não é? Leandro não era uma companhia inexistente, saiam todos juntos, mesmo depois de saber tudo sobre ele, era um amigo de Cris, então parecia justificável. Agora nem tanto, já não conseguia olhar para o outro lado. E se Cristina fazia algo assim com Samanta, ela era mesmo sua amiga? Ou amiga de qualquer um na verdade? Aquilo não era nem se quer uma defesa definitiva para Leandro, era um barril de pólvora, dando audiência para um assunto que ia morrer sozinho sem repercussões maiores. (não que tivessem pensado nisso antes de postar).
Quando alguém queima uma pessoa assim, não é uma palavra que saiu errado ou uma piada de mau gosto que se passa por cima, não é uma raiva momentânea. Para ir atrás de tudo isso, é premeditado, organizado demais para não se pensar nas consequências. E um atestado sobre quem Cristina realmente era, apesar dos momentos bons ou felizes.
Agora, só conseguia ouvir as frases daqueles tweets com o som da voz de Cris, alta demais, carregada de deboche e veneno de uma forma que nunca notou antes, ou apenas ignorou.

Nas horas seguintes, mergulhou no mundo do twitter como não fazia há anos. Conseguiu ter uma ideia mais precisa de todo o quadro e agora estava possivelmente enojada. A linha do tempo de toda a confusão começava com Samanta dizendo “Cansei de dar cobertura para cobra”, e pelo o que o resto comentava, ela realmente seguiu a frente com isso. Toda a faculdade tinha postado #exposedparty como uma forma de piada, várias pessoas que sempre parecerem legais xingavam Samanta, compartilhavam as fotos e ao mesmo tempo ainda foram ao twitter de Leandro para deixar outros comentários desagradáveis, ainda que em menor número (essa última parte, irônico no mínimo). A namorada dele (será? Ela excluiu suas redes e qualquer coisa vinda de Leandro não era bem confiável), que se chamava Clara também foi pega no fogo cruzado. Apesar de as únicas partes com detalhes realmente públicos serem da thread, não existiam mais segredos. Todos sabiam sobre as traições (como se a maioria não soubesse antes), o vídeo e outras coisas inventadas.
“Clara também trai o Leandro, então na verdade tá todo mundo de igual para igual”
“Soube que o vídeo na verdade é um ménage, dizem que a tal de Samanta também está nele”, com o seguinte comentário: “Sério? Me disseram que é a namorada”.
Tudo o que todo mundo comentava era sobre essa história, quem nunca soube do vídeo agora sabia (ele pelo menos não se tornou totalmente público), quem nunca soube quem era qualquer um dos envolvidos, agora achava saber todos os detalhes da vida deles. E todos, sem exceção, tinham uma opinião.
“MDS, a vadia do vídeo finalmente descobriu que é vadia filmada para a posteridade”.
“GENTE, a corna finalmente descobriu que é corna, mas ela não acreditou #temquesofrermesmo”.
“PQ ALGUÉM SE METERIA NO RELACIONAMENTO ALHEIO? Será que ninguém aprendeu que quem se ferra é quem abre a boca?”
“É sério que a namorado do Leandro não sabia de nada? Eu pensava que o relacionamento deles era aberto, tem fotos circulando por todo canto”
“a menina tentou queimar os outros e teve a vida exposta, fazer o que, a gente fala o que quer, ouve o que não quer”.
“Vadia”, “Vaca”,
eram tweets destinados a Paola, Samanta e Cristina cada uma por uma razão que parecia justificável para o locutor dela.
“Burra”, “Idiota”, “Corna”, eram sobre Clara, que nem se quer tinha uma conta.
Todos tinham uma opinião sobre algo que não lhes envolvia, e tirando Cristina, as realmente atingidas estavam caladas em meio às vozes que gritavam. Samanta não disse ou postou nada depois da thread. Paola também não, provavelmente processando como uma noite que não significou nada para ela teve uma dimensão tão grande, se tornou tudo quando não devia ser nada. Leandro agia como se nada tivesse mudado, só postou foto com os amigos e aquilo sobre a namorada, apesar de ser, talvez, o centro do furacão, era como se nada daquilo o tivesse afetado, e talvez realmente fosse verdade.

Depois de tentar colocar sua cabeça em ordem, se encontrava na porta da casa de Cristina, não ia conseguir falar sobre isso por telefone e precisava de respostas, de alguma justificativa, alguma parte perdida da história. Porque se não existisse, então para quem ela realmente revelou quase tudo sobre si? A pessoa dos momentos que olhou para o outro lado ou a que estava com ela em todos os outros momentos?
Tocou a campainha e esperou, antes de apertar de novo e novamente, até ouvir os passos de alguém em direção a porta. Ouviu alguém gritando já vai e Cristina abriu a porta com uma expressão exasperada.
— Qual a pressa? — sua cara melhorou quando viu que era, a cara meio raivosa e exasperada de antes, sumida, como se nada tivesse acontecido. — Ainda bem que é você, eu não aguentaria mais nenhum sermão, Mariana já me encheu o suficiente. Entra.
Com a certeza que a seguia, Cristina foi andando em direção ao sofá da sala, se jogou e agarrou um travesseiro.
— O estresse desnecessário que a Samanta me causou é inacreditável, nunca soube que aquela idiota era capaz disso. — e essas foram as primeiras palavras sobre o assunto que ela suspirou, como se estivesse recebendo a pior parte da barganha. Era um pouco inacreditável, nem precisou tocar no assunto e Cris sempre gostou de levar a discussão para onde a beneficiaria.
— Você está estressada? Sério? Eu ainda não entendi nem o propósito daquela postagem, e sim eu a vi inteira e, como sabe, nem twitter eu tenho. O que você tem a ver com isso, então Samanta resolveu falar a verdade para alguém que deveria saber, e daí?
— Falar a verdade? Ela se meteu com um amigo meu em uma história que não a envolvia. — falou com uma ultrajada e como se isso fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Ela veio com uns papos muito estranhos uma semana atrás que se sentia culpada, descobriu umas coisas a mais sobre ele e achava a história com a Paola errada, que ela era uma garota legal e não sei o que. Eu disse para ela para não se meter nisso, que o vídeo nem se quer rodou na mão de muita gente, e eu saberia se tivesse rolado porque o vídeo rodou meu grupo dali falaria nada. Samanta simplesmente surtou quando eu falei do grupo, é uma coisa boa, era algo completamente controlado, nada para se surtar. — começava a entender melhor de onde Samanta tinha explodido, não acreditava nas palavras que ouvia. Sério?
— Espera, grupo seu? Como em um que você foi aleatoriamente colocada ou o seu grupo mesmo? — ainda dava opções como se alguma fosse mais aceitável. Cristina a olhou estranhando, não entendeu de onde veio a pergunta, qual a diferença?
— Bom, não fui quem criou, mas todos sabemos que eu nunca sou enfeite de nada. Leandro costumava compartilhar as coisas separadas para cada amigo, eu disse pra ele para colocar todo mundo junto pra não perder tempo, quer que eu te coloque falando nisso? Sinto que perde muita piada interna ficando por fora disso.
Em outros momentos, isso talvez fosse motivo de alegria, mas agora era só irreal. ficou um pouco quieta antes de responder, a única coisa que conseguia pensar era “Sério?”.
— Eu não quero fazer parte de um grupo de pornô caseiro, pelo amor! — Cristina a olhou ofendida e ia retrucar antes de ser cortada. — Eu quero saber em qual mundo o que você acabou de me falar, faz sentido com fazer uma fogueira moral para cima de uma das suas melhores amigas?
— Primeiro, a gente nem era tão próxima assim, talvez na década passada, e eu defendo os meus amigos! — aquilo soou no mínimo estranho, francamente hipócrita. — É verdade! Leandro é uma das pessoas mais próximas do mundo para mim, eu não ia deixar ela tentar acabar com o relacionamento dele, pensei que se a Clara a visse como a garota rejeitada que pensou que um beijo ia mudar algo, ela precisava ver a imagem inteira dela, para não acreditar em tudo. Clara precisava de contexto, eu felizmente forneci.
— Tem uma foto deles lá!
— Ahh, o Leandro confirmou essa parte, ‘tava’ bêbado, foi um erro, nada demais que a menina nunca conseguiu superar e agora queria acabar com a vida dele. Ele veio com a ideia, e eu pensei, por que não? — talvez fosse ainda pior do que o imaginado, tudo isso para salvar um namoro que já não tinha a mínima condição de existir plenamente?
— Por que não? Você viu que isso ‘tá’ circulando por todo canto? Você nem se quer era próxima desse menino há dois anos atrás, ele era no máximo seu colega! Você conhece a Samanta por anos! Eu não consigo acreditar na metade da sua linha de raciocínio, é demais. Se você não tivesse dito nada, tudo se resolveria, nada disso era necessário. Agora todo mundo acha que sabe sobre tudo, tão xingando a Samanta como se ela fosse a pior bruxa da história! Nem o seu precioso Leandro saiu intacto, porque todo mundo sabe o porquê dessa thread sua. Tudo o que fez foi criar atenção e veneno para uma situação.
— Ah, por favor. É bom pra ela aprender a não se meter com quem ‘tava’ quieto. Daqui a três meses ninguém vai lembrar ou se importar pro resto, só do que tem fotos e frases circulando e até isso depois não será nada. Tudo vai ficar bem e todos terão aprendido suas lições. — Como poderia errar tanto sobre alguém? Ou querer tanto o tipo de amizade companheira e presente sem o seu sangue que aceitou a primeira versão distorcida com algum interesse por ela?
— Realmente, todo mundo aprendeu a sua lição, eu aprendi a minha. Talvez um ano atrasada, porque eu devia ter notado na nossa primeira festa a verdadeira sacana manipuladora que era. Eu to fora, cansei, eu não preciso apoiar alguém que faz isso para qualquer um, ainda mais para alguém que antes você dizia ser como uma irmã. Hoje o irmão é o Leandro, talvez amanhã seja outro. Talvez ele te queime amanhã, ou você a ele, ou então a mim.. Mas eu não quero saber de nada disso, seja lá o tipo de relação que a gente tinha: colegas, amigas, não sei, não é o tipo certo para mim.
Cristina olhou espantada para uma indo embora pela porta, aquela seria a última conversa de verdade que as duas teriam talvez por muitos anos. Felizmente não houve tempo nem história para fotos comprometedoras entre elas, se não aquele não teria sido o fim. Mas foi, o máximo que se veriam depois disso seria pelos corredores da faculdade, mais posteriormente nem isso, a cidade ainda era muito grande para as duas se perderem uma da outra sem nunca se encontrarem de novo.

Depois da quebra de amizade mais dramática da história de , alguns dias depois com o endereço de Samanta, ela foi visitar alguém que talvez precisasse de companhia.
— O que você está fazendo aqui? Cristina mandou alguém para ver se fez um estrago suficiente? — Samanta não parecia muito feliz em ver o rosto de uma menina conhecida como uma das melhores amigas do seu maior erro, como agora chamava Cristina.
— Eu não tenho nada a ver com isso, sério. Eu só passei aqui para saber como está. Se precisa de alguma coisa, se tem algo que eu possa fazer para tornar essa ‘merda’ melhor. — a resposta surpreendeu a dona da casa, nem Mariana tinha passado com ela, o máximo que fez foi ligar dizendo o quão terrível foi a atitude da outra parte do antigo trio. Ainda assim, aparentemente, as outras duas ainda eram melhores amigas, Samanta adivinhou não ser tão “terrível” assim para nada ter mudado entre elas, ou talvez ela não fosse tão importante como a aprovação da abelha rainha. Então, talvez fosse cautelosa sobre qualquer coisa dita em qualquer conversa nos próximos tempos, todo mundo foi testemunha em como colocou sua confiança nas pessoas erradas, mas caramba, ela queria conversar com alguém que não estivesse falando mal dela. Por isso, deu espaço para e a convidou para dentro.
As duas não tinham tanto em comum assim, mas foi bom falar e ser ouvida. Não era para ser o começo de nada concreto, mas tardes naquele apartamento com conversas e companhia se tornaria uma ocorrência comum, cotidiana. Bem-vinda.

Nos anos seguintes a tudo isso, Paola conseguiu fazer o vídeo sumir com uma pressão de um processo imenso para cima de Leandro. Clara terminou com ele não muito tempo depois de conseguir assimilar tudo e entender exatamente onde havia se metido, agora continuava com as suas viagens e só preocupada em ter uma boa vida e sair do meio de escândalos, ter paz.
Leandro e Cristina? Bom, eles namoraram um pouco depois do ‘escândalo’ (parece algo tão banal para se chamar assim, mas teve um impacto equivalente a isso na vida de todos), até se envenenarem demais e depois contar tudo de ruim que sabiam um sobre o outro para quem pudesse ouvir. Todos comentaram isso na época, com as próprias opiniões supremas, tão altas como a da primeira vez, tão apagadas pela próxima grande fofoca como ela também.
aprendeu o tipo de amizade que sempre quis com a garota que antes era só a convidada da menina que ela queria ser realmente próxima. Samanta se aproximou de alguém que realmente a defenderia e a apoiaria em todas as situações possíveis. Jogando jogos de verdade e segredos que sempre ficariam entre elas e não para o mundo todo. Essas duas construíram o caminho de volta para quem gostariam de ter ser tornado antes, acharam um pouco da paz quando pararam de tentar caber num mundo de uma pessoa bem diferente delas mesmo.


Fim



Nota da autora: Oi gente, tudo bem? Espero que vocês tenham chegado até o fim e gostado, foi um pouco difícil fazer essa história, porque no início eu queria colocar romance (como toda boa fic que eu amo), mas nenhum lugar realmente se encaixava e essa música sempre foi para mim muito mais sobre relações não românticas e sobre tudo o que falamos na internet sem saber todo o contexto, achando que sabemos de tudo, não apenas a versão que foi revelada. Sobre como destruímos as coisas, sem pensar muito sobre, achando estar certo e justificado. No final, resolvi focar só nas relações de amizade dos personagens e como eles lidam e as tratam em meio a tudo. Alguns foram bem, outros nem tanto. Bom, espero que gostem e comentem. Beijos e qualquer coisa só chamar no Instagram e Twitter.





Outras Fanfics:
08. For now
06. Under Pressure (Ficstape Symptons – Ashley Tisdale)

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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