Capítulo Único

deu um grande sorriso enquanto virava mais algumas das pílulas em sua boca, virando o vidro também na boca de . Ele passou a garrafa barata de vodka para ela, que bebeu, ainda rindo de alguma estupidez que ele dizia. Os dois estavam deitados numa cama velha de um motel de beira de estrada, perdidos em algum canto do país há semanas – ou será que eram meses? Tudo com ele parecia um sonho, toda essa fuga incansável pelo país tinha um gosto delicioso de vitória e amor. Os dois já sequer se lembravam mais do que estavam fugindo, mas continuaram indo de canto em canto enquanto aquilo fizesse sentido para eles.
- Eu acho que se beber mais dessa merda vou vomitar. – reclamou, virando-se no eixo do seu corpo para sentar-se na cama.
- Ah, que isso, você já foi mais forte. – ele riu enquanto se sentava também para abraçá-la e depositar um beijo em sua nuca – Quando isso tudo acabar, eu prometo que vou te dar uma vida de rainha. A maior cama que eu conseguir achar, lençóis de seda e a porra toda.
- , você sabe que eu não quero e nem preciso de nada disso. Eu só preciso de você. - Ela virou-se para encará-lo e o rapaz beijou com paixão seus lábios. – Eu amo você.
- Eu também amo você.

***

Horas depois, acordou sentindo um gosto estranho em sua boca. Ela virou-se para o outro lado da cama, porém não estava lá. Ela mal conseguia manter seus olhos abertos e surpreedeu-se ao perceber que não conseguia se sentar na cama também. Sua respiração estava descompassada, suas mãos tremiam e ela não conseguia situar seu corpo no espaço em que estava. Rendeu-se a cama, de olhos fechados, enquanto se esforçava para respirar num ritmo parecido com o normal.
- ? – ela chamou com a voz mais alta que conseguiu, sem nenhuma resposta.
A garota começou a sentir seu estômago se contrair e teve que, rapidamente, juntar toda a pouca força que lhe restava para correr até o banheiro, deixando que todo o alcool e porcarias que estavam em seu estômago saíssem do seu corpo. Os tremores se intessificavam cada vez mais e ela deixou que seu corpo cansado caísse no chão, já que retornar para a cama não era uma opção no estado em que se encontrava. sentia o suor escorrendo pelo seu rosto e por toda a extensão do seu corpo e tentou, em vão, chamar novamente. Nada.
Ela iria morrer sozinha num banheiro de um motel, na beira da estrada de uma cidade que ela sequer sabia o nome. Ela mal tinha certeza se sabia o próprio nome mais. Seu corpo continuava a expulsar o conteúdo do seu estômago, numa tentativa frustrada de tirar o que lhe fazia mal. Mas era tarde demais e ela teve certeza disso quando sua visão começou a ficar turva e aos poucos a respiração ainda mais pesada e dolorosa, até sua consciência ir embora.

***

- ? Você está me ouvindo?
Sem entender ao certo onde estava, abriu lentamente os olhos, guiada pela voz doce que falava com ela. Tudo naquele quarto era muito branco e o cheiro de limpeza excessiva não deixava duvidas de que se tratava de um hospital.
Ela estava viva.
- Mãe?
- Ah, graças a deus, ! Você quase me matou do coração. – a mulher disse enquanto abraçava com força a filha, sendo repreendida pela enfermeira que tentava examiná-la – Como você está se sentindo, minha filha?
- Como se um caminhão tivesse passado por cima de mim. Onde nós estamos? O que aconteceu?
- Querida, eles encontraram você no banheiro, desacordada. Você teve sorte, muita sorte. Estamos perto de Nevada. – sua mãe segurou carinhosamente suas mãos – Vai ficar tudo bem.
- Onde está o ?!
- Querida...
- Mãe, onde está o ? – perguntou, nervosa.
- , faleceu há mais de um mês. Ele teve uma overdose de heroína, lembra-se?
- Do que você está falando, está louca? Eu estive com no último mês, estavamos viajando juntos, nós...
- Não, meu amor, não. Você esteve sozinha esse tempo todo, estávamos te procurando há semanas.
A cabeça de começou a rodar, nada parecia fazer sentido. As palavras que saíam da boca de sua mãe pareciam desconexas e não encaixavam-se em seus ouvidos. Ela olhou ao redor, percebendo a enfermeira a observando com pena enquanto sua mãe tentava lhe acalmar. Ela sentiu sua respiração descompassar e tentou se levantar, sendo impedida por um par de mãos que a seguravam forte enquanto ela se debatia e gritava, implorando para tirarem ela dali. Não demorou muito para que injetassem mais medicamentos em suas veias até que ela perdesse, mais uma vez, a consciência.

***

- Mãe, eu estou bem. Eu vou ficar bem. – disse enquanto sentia os braços da sua mãe ao seu redor – Obrigada por tudo.
- Eu sei que vai, , eu sei. Eu amo você.
- Eu também amo você, mãe.
As duas se separaram com meios sorrisos e com os corações um pouco apertados. Naquele dia, finalmente estava se internando para tratar sua dependência quimíca. Um grande passo que jamais teria sido possível sem o apoio incondicional da sua mãe.
Após acordar novamente no hospital, a garota precisou de alguns dias até conseguir aceitar e compreender tudo que havia acontecido. Ela havia passado semanas em uma espécie de surto causada por estresse pós traumático, resultado da morte de , seu namorado, em uma overdose de heroína. No fundo ela sabia que tudo o que acontecera naquelas semanas era apenas uma forma da sua mente tentar esconder toda a culpa e trauma pela morte ele, já que ela esteve com ele no mesmo dia e não fez nada para impedir que ele exagerasse tanto nas doses. De fato, ela estava lá quando ele começou a se sentir mal, mas ele pediu que ela não chamasse uma ambulância devido a quantidade de drogas que haviam na casa. Ela obedeceu e tudo isso resultou em sua fuga nas últimas semanas, no medo e nos delírios que eram uma mistura de drogas, alcool e estresse pós traumático. E tudo isso, toda aquela merda, havia a levado até ali, aquele momento, aquela clínica, sua mãe, planos.
Pela primeira vez na vida, tinha planos. Ela respirou fundo e observou a mãe segurar as lágrimas enquanto ela caminhava até a recepção e dava seu nome, sendo guiada então por um simpático rapaz até o interior da clínica.
E por mais uma vez ela respirou fundo, sorriu e disse olá para sua nova vida.





FIM!



Nota da autora: Sem nota.
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