Capítulo Único

- Padre, eu acho que o perdi.
apertou o terço entre as mãos enquanto deixava as palavras escorregarem duramente para fora da sua boca, como se espinhos tentassem prendê-las pelo caminho até o mundo real. Mas ela não podia mais esperar e não conseguia mais guardar aquilo só para si mesma. Engoliu as lágrimas pela milésima vez naquele mês, fechando os olhos com força e segurando o terço junto ao peito.
- O que você quer dizer, minha filha?
- Eu o perdi. Deus, padre. Eu o perdi…
- Você não pode perder Deus, querida. Você sabe que ele sempre estará com você.
- Então me diga, padre, me diga onde ele está enquanto meu marido está fodendo a professora de ballet da nossa filha de sete anos?
Naquele momento a mulher não suportou mais e deixou as lágrimas jorrarem pelo seu rosto, um soluço audível saindo dos seus lábios. Ela enxugou os olhos com a manga da blusa, deixando o terço cair no chão e assustando ao padre que ouvia tudo atentamente do outro lado do confessionário.
- Deus está sempre presente, mas não pode interferir no nosso livre arbítrio, minha filha. Mas Ele vê por todos nós e guarda ao seu lado todos aqueles que possuem bom coração e seguem Suas leis.
- Eu estou tão cansada, tão cansada… Eu ouço as pessoas sussurrando, eles sabem de tudo, estão me ridicularizando pelos cantos, eu os ouço falando de mim e me humilhando pelas costas.
Sem esperar muitas respostas, poucos minutos depois se levantou da confessionário e deixou a igreja, mantendo sempre sua pose pomposa e nariz em pé. Ela sabia que não deveria esperar muito daquele padre e inclusive sabia bem que sempre que alguém se confessava com ele, meia hora depois a cidade estava falando do assunto. Pois bem, se já estavam falando dela, que falassem a verdade, agora pelo menos ela estava em paz com Deus.
A mulher dirigiu até sua casa, já sem lágrimas no rosto. Pôde ver de relance que haviam algumas chamadas perdidas no seu celular, mas sequer o pegou para checar. Sua paciência naquele dia estava quase abaixo de zero. Eram oito e quarenta e cinco quando ela entrou em casa e pendurou o casaco pesado no cabide ao lado da porta. Ouvindo sons vindos da cozinha, ela imaginou que o marido traidor estava em casa naquele dia.
- Bom dia, amor. - ele disse ao vê-la entrar pela porta da cozinha - Você pode buscar a Jenny no ballet hoje? Tenho uma reunião às quatro e não posso me atrasar.
- Claro. - respondeu sem encará-lo, enchendo uma xícara de café e sentando-se na mesa - Mas não se esqueça que tenho Yoga até as nove hoje e não posso faltar de novo.
- Não estou esquecendo, minha reunião não vai passar das seis. Só precisamos discutir alguns detalhes técnicos.
Ela concordou em silêncio e não demorou muito para que o marido deixasse a casa, despedindo-se com um beijo demorado na bochecha dela. Ela limpou seu rosto assim que ele saiu e respirou fundo enquanto ia tentar viver mais um dia cheio e complicado de sua vida.
...

respirou fundo, retocou em batom e rumou para fora do carro, vendo logo a grande fachada espelhada da academia onde sua filha de sete anos dançava duas vezes por semana. Dois dias pareciam pouco, mas aparentemente eram o suficiente para que a vagabunda da professora seduzisse seu marido e o levasse para cama dela. Bufando de raiva, ela entrou no local e procurou Jenny com os olhos. A pequena garota estava sentada num canto, tirando as sapatilhas com ajuda da professora. Desgraçada.
- Ei amor, você se divertiu hoje?
- Sim, mamãe! - respondeu sorrindo enquanto a mãe a pegava no colo e lhe dava um beijo demorado na bochecha.
- Posso conversar com você por um segundo? - ela disse séria para a professora, que sorriu e concordou sem sequer imaginar do que se tratava - Vou só deixar a Jenny no carro.
Ela fez exatamente o que havia dito e pediu a filha para se comportar enquanto voltava para dentro da academia. Ela sabia bem que não conseguia disfarçar o quão brava estava, seus olhos estavam saltados e seu rosto vermelho. A professora, Ursula, mostrou-lhe uma feição preocupada.
- Está tudo bem, ?
- Eu sei o que você está fazendo. - ela disse com o tom de voz baixo - E eu não vou deixar isso barato.
- Do que você está falando? - perguntou assustada ao notar a hostilidade da outra mulher.
- Ah, você não vai se fazer de desentendida, por favor, né! Todo mundo sabe, Ursula.
- , você está me assustando. O que todo mundo sabe?
- Que você está dormindo com o MEU marido! - levantou o tom de voz, chamando a atenção das outras mães presentes ali.
- O que? Você está louca?
- Louca quem está é você, achando que eu ia deixar tudo isso acontecer bem debaixo do meu nariz e só ignorar. Eu não nasci ontem. Posso não ter um par de peitos siliconados iguais os seus, mas tenho dois punhos fortes que estouram esse silicone de merda com um soco. Então se eu fosse você, ficaria longe da minha família, para sempre. - Ela ajeitou a bolsa no ombros e enxugou as lágrimas que se formavam nos olhos - Passar bem, Ursula.
Ela sequer esperou a resposta da mulher, que ficou parada de boca aberta observando-a enquanto saía do local e rumava até seu carro. Ela entrou e sorriu para Jenny, que a esperava pacientemente em sua cadeirinha no banco de trás.

- Você está bem, mamãe?
- Eu estou ótima, meu anjo. Vamos pra casa?
mostrou seu sorriso mais belo e sincero para a filha e então deu a partida, rumando para casa. Pelo menos o marido idiota não estaria lá para deixá-la com ainda mais raiva apenas por existir. Ela respirou fundo enquanto se livrava de toda a raiva que direcionara a Ursula e limpava sua mente para se preparar para sua Yoga.
...

respirou fundo enquanto deixava seu corpo cair sobre a cama, suas pernas ainda bambas e o peito tremendo devido ao coração acelerado. Ela soltou uma risada baixa pela fresta entre os lábios e ouviu atentamente enquanto o homem ao seu lado acendia um cigarro. Sentada na cama, ela o encarou por longos segundos e ele sorriu, sarcástico.

- Acho que isso é bem mais exercício que Yoga, ahn? Seu marido jamais desconfiaria vendo esse corpo em perfeita forma. - riu, tragando o cigarro.
- Não que ele veja e você sabe bem disso. - ela deu de ombros e riu.
- As pessoas estão comentando. - o rapaz disse após alguns segundos de silêncio, com um semblante sério e preocupado.
- Sobre?
- O seu marido estar te traindo com a professora de ballet da sua filha. Isso é verdade?
- Onde você ouviu isso?
- Algumas mães estavam falando enquanto foram buscar suas filhas da aula hoje. Não pude deixar de ouvir.
- Bom, eu me confessei com o padre e sabia que ele logo espalharia para as beatas da cidade. E também tive uma conversinha com a professorinha e talvez algumas mães tenham escutado. - ela tirou o cigarro da mão dele com um sorriso e deu um longo trago - Eu prefiro que seja eu a pedir o divórcio.
- Então você finalmente vai se separar dele? De verdade?
- Talvez. Se o peixe morder a isca. - ela devolveu o cigarro e levantou-se da cama, procurando suas roupas no chão - Não que eu possa cogitar estar com você publicamente, você sabe.
- Mas não seria uma ótima vingança? Ele fodeu a professora de ballet, você fode o professor de natação.
- Ainda existe muita água para correr nesse rio, querido. Vamos dar tempo ao tempo… - ela se aproximou e beijou os lábios dele com calma - E acho que minha Yoga acabou. Te vejo na quinta?
- Sempre.
A mulher acabou de se vestir e correu para seu carro, dando partida e rumando para sua casa. Apesar do coração ainda disparado, ela se sentia calma e concentrada. sempre sabia exatamente o que fazer e quando fazer. Sua vida funcionava exatamente como ela queria e no ritmo que ela queria. Se ela teria que virar uma pobre coitada e corna, que fosse. Não abriria mão do dinheiro nem do papel de mulher exemplar que ela sempre sonhou protagonizar dentro daquele mundinho burguês. Virando a esquina ela preparou sua melhor cara de desespero, deixou as lágrimas escorrerem e engoliu o sorriso pretensioso que tinha vontade de dar. Aquele desgraçado ia se arrepender por cada segundo do resto de sua vida por ter traído ela, pensou enquanto deixava as lágrimas escorrerem ainda mais e escancarava a porta com um grito raivoso.




FIM!



Nota da autora: Sobre esse final só tenho a dizer: usem a imaginação de vocês. ;) Quer ler outras fanfics minhas? É só entrar na minha página aqui do ffobs (link lá pra baixo) e se aventurar!
Querem falar comigo? Algum erro, comentário, elogio ou crítica? Podem me encontrar no meu Facebook e no meu email. xx





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