Eu estava no quarto reservado para mim no andar que estava minha família. Pela janela, podia-se ver que estava tudo pronto para o grande dia. O lugar que tínhamos reservado estava lindo com a decoração do casamento ao ar livre como ela queria e os bancos de madeira já estavam posicionados em fileiras para cerimônia. As cores preto e branco predominaram, mas eu podia notar alguns traços coloridos; cada detalhe tinha sido escolha dela. Saí um pouco daquele canto do quarto e me dirigi a outra janela onde eu podia ter visão da recepção que aconteceria depois do casamento em si, e as minhas duas horas de espera tinham sido gastas entre ir de uma janela a outra e me arrumar. Eu estava esperando o momento que eu iria descer as escadas e me posicionar com a minha mãe ao meu lado e caminhar até o altar; se a senhorinha não passasse mal outra vez isso aconteceria em poucas horas. Ela estava mais nervosa do que no dia do casamento dela - eu poderia apostar. Me assustei quando a porta do quarto abriu de repente e revelou o pai da mulher que eu tanto amava; meu sogro. Ele parecia calmo, mas eu tinha certeza de que ele estava quase do mesmo jeito que meus pais no geral.
- ! Parabéns por esse grande dia. Eu vim aqui te oferecer carona, caso queira fugir. - ele disse simplesmente. Nossas gargalhadas preencheram o lugar e ele me abraçou. Se tinha alguém capaz de me deixar tranquilo, aquele alguém era Jim Williams.
- Muito obrigado, Jim! - eu balancei a cabeça negativamente. - Eu amo muito aquela louca. Não fugiria por nada.
- Eu já fiz a minha parte meu rapaz. - ele sorriu minimamente.
- Ela caçaria nós dois.
- Com toda certeza.
- Eu nem consigo acreditar que esse dia chegou.
- Agora ela será parte de você. -Jim me encarou mais sério e eu pude notar o quão importante aquele contato era para ele.
- Eu a amarei até o resto da minha vida. - eu disse enquanto sustentava o seu olhar. Jim era um ótimo pai, viúvo há alguns anos, ele cuidava das meninas sozinho e eu o admirava muito.
- Eu só passei para ver como você está. Sei que seu pai está vindo aqui de hora em hora, contudo um apoio a mais é sempre bom.
- Meu pai está tentando acalmar a minha mãe agora, ela está mais nervosa do que todos.
- É normal. Você é o menininho dela.
- Eu estou contando os minutos para o grande momento.
- Você é um ótimo rapaz, . Bem vindo à minha família oficialmente. - Jim me abraçou mais uma vez antes de sair e me deixou sozinho outra vez.
Aquela conversa tinha aquecido meu coração. O apoio do pai da minha futura esposa era algo muito importante. Desde o começo Jim e Ruby, a irmã mais velha de , sempre me acolheram e eu só tinha a agradecer por estarem com a gente na concretização de um sonho. Ao passo que o tempo ia passando e a movimentação no andar de baixo aumentava, eu senti que precisava falar com a . Ela era sempre confiante, talvez pudesse me passar um pouco da sua tranquilidade. Abri a porta do quarto com cuidado e algumas pessoas que trabalhavam ali passavam apressadas. Virei o corredor e subi uma escada que daria para o andar de cima; ela era bem estreita.
Pelo que eu me lembrava o quarto da era em cima do meu, indicando assim, que eu tinha que continuar a andar. Escutei vozes conhecidas vindo de um quarto a alguns metros de onde eu estava e me escondi atrás de algumas plantas gigantes, nem sabia que tinha habilidade para isso. Me espremi entre a parede e as plantas a fim que passar o mais despercebido possível, mesmo que eu achasse ser a última coisa que eu conseguiria com aquela roupa de gala avaliada em milhares de dólares que corria o risco sério de sujarem. Escutei passos apressados pelo corredor e as vozes os seguiram, então eu saí do meu esconderijo e quase infartei com a Ruby me encarando.
- O que você está fazendo nesse andar? - ela me encarou com um olhar questionador.
- Eu estava procurando o banheiro. - disse a primeira coisa que veio a minha mente. Ela me olhou dos pés a cabeça, ao passo que eu ficava mais nervoso.
- No seu quarto tem banheiro. É uma suíte, esqueceu?
- Bem, acontece que… - fui interrompido por Ruby enquanto tentava elaborar outra desculpa.
- Eu sei que você está procurando o quarto da .
- Eu não estava. - Tentei desconversar.
- É a segunda porta, só continuar a seguir.- ela disse sorrindo em minha direção.
- Obrigada Ruby. Te devo uma. - a abracei rapidamente e segui para o quarto indicado.
- Não demore muito! Ela não vai ficar muito tempo sozinha. - virei na sua direção e acenei com a cabeça.
Continuei a andar e quando cheguei a porta senti o meu coração quase sair pela boca. Eu me mantive calmo o dia inteiro, mas era a minha noiva que estava do outro lado da porta. Dei duas batidinhas e escutei passos se aproximando.
-Não abra toda, sou eu. - eu disse fechando os olhos. Não poderia ver a noiva antes da hora.
- Você e suas superstições. Pode vir aqui, mas não pode me ver. - escutei o riso se misturar a sua fala.
- Alguém no relacionamento tem que acreditar nessas coisas.
- Estava esperando por você. - ela disse e eu senti a sua mão segurar a minha. Meu corpo reagiu no mesmo momento, ainda que uma porta nos separasse.
- Eu senti que tinha que te ver, acho que já sei o porquê.
- Você não está me vendo. - ela disse zombeteira.
- Você me entendeu, .
- Sabe o que eu lembrei? - ela perguntou mudando de assunto.
- O que você se lembrou?
- Do nosso primeiro encontro.
- Eu estava doido, tinha passado a noite toda querendo te beijar.
- Você era muito lento . - ela disse enquanto ria. Eu podia imaginar o quão brilhosos seus olhos estavam com aquela lembrança.
- Então eu te levei na sua casa com o carro emprestado do e você me perguntou se eu queria entrar.
- Calma lá, você está se esquecendo do mais importante. - ela disse com seu jeito provocativo; típico de uma mandona.
- Você estava procurando a sua chave, então eu te beijei. Me perguntou se eu queria entrar, mas não me esperou responder e me puxou pra dentro . - eu disse me lembrando do quanto eu demorei pra sacar que a procura da chave era um pretexto.
- Eu pensei que ficaria mais umas duas horas procurando uma chave que eu já sabia onde estava.
- Você está exagerando.
- Você sempre diz isso quando estou dizendo a verdade.
- Eu já te compensei pela minha lentidão. Não demorou nadinha para pedi-la em casamento.
- Realmente. Você tem razão.
- Acho que está na hora. - eu disse.
- A Ruby e as madrinhas vão me matar se me encontrarem aqui.
- Ruby sabia que você viria também.
- Eu sei , mas ela disse para não demorar.
- Então nos vemos no altar. - ela apertou a minha mão e beijou o meu rosto.
- Espero que a minha bochecha não tenha ficado marcada. Eu seria linchado pelos convidados.
- Não sei de nada . - ela riu.
Soltei a sua mão e esperei o barulho da porta se fechando para abrir os olhos. Suspirei como um adolescente que tinha acabado de encontrar a garota que gostava no corredor da escola e fui me afastando do quarto de . Refiz o caminho até a escada e quando virei o corredor para ir até meu quarto, encontrando meu pai saindo do mesmo.
- Estava te procurando. A cerimonialista disse que chamou e ninguém atendeu.
- Estava no banheiro.
- Alguém já te disse que suas desculpas são péssimas? - meu pai negou com a cabeça.
- Já. - respondi segurando o riso.
- Sua mãe está esperando lá embaixo. Você vai entrar daqui a trinta minutos.
- Trinta minutos? Como o tempo passou tão rápido? - perguntei realmente surpreso.
-Sempre no mundo da lua, . - ele disse. - Agora vamos andando temos que repassar tudo outra vez. - ele continuou a falar enquanto me abraçava de lado.

***

Eu já estava no altar esperando a hora que apareceria com Jim. Ao meu lado estavam , e Greg com suas respectivas namoradas e esposas. Ruby e Oliver, seu marido, estavam logo depois de e do outro lado e a mulher fazia um joinha para mim. Nada mais justo do que os padrinhos serem os nossos irmãos e amigos.
Escutei uma música suave começar a tocar e duas primas de que tinham um pouco mais do que sete anos entraram jogando pétalas de rosas no tapete enorme que ia até mim.
Um tempinho depois a marcha nupcial começou e meu corpo se arrepiou por inteiro; a hora tinha chegado. Um filme de todos os nossos momentos passou na minha mente e os meus olhos lacrimejaram. O nosso primeiro encontro, o dia em que conheci o Jim e o dia em que a passou o natal comigo e com a minha família pela primeira vez, quando saímos com os caras e quando ela aceitou meu pedido de namoro e de casamento. Ela parecia uma rainha, seu vestido branco parecia que tinha sido feito pensando em cada centímetro do seu corpo e as rendas a deixavam com um ar ainda mais angelical. Uma visão veio em minha mente; nós dois com sessenta e cinco anos e ela ainda me perguntando "Quando você soube pela primeira vez?" e eu respondendo que sempre soube. O pôr do sol como plano de fundo tinha ficado perfeito como ela tinha planejado e eu só conseguia pensar em como a amava. Quando despertei, ela já estava perto o bastante para que eu pudesse reparar em cada detalhe e gravar o seu sorriso na minha direção em modo de repetição para quando tudo acabasse e fossemos deitar a noite. Estendi a mão para Jim, mas ele preferiu me abraçar, estava tão emocionado quanto meus pais sentados na primeira fileira. O juiz iniciou a cerimônia e eu chorei só algumas vezes com as suas palavras, enquanto os olhos de ficaram vermelhos e levemente molhados. Ela apertava a minha mão e sorria abertamente. O momento da troca de alianças chegou e eu não pude deixar de me emocionar ainda mais quando Theo e Hope; filhos dos nossos irmãos entraram de mãos dadas segurando uma caixinha de madeira enquanto uma música suave tocava. A caixinha foi entregue ao juiz e o mesmo a abriu. fez os seus votos, tirando várias lágrimas da minha mãe e se Jim e eu me segurava para não chorar mais, estava parecendo um tomate. O juiz então se dirigiu a mim.
- , chegou a sua hora. - ele disse de forma brincalhona. - Pode dizer seus votos. Eu me afastei um pouco de e peguei um pedaço de papel um pouco amassado do meu bolso. Com todas as coisas que sonhei acontecendo, aquelas palavras que eu tinha colocado naquele papel, não eram mais capazes de descrever um terço do que eu estava sentindo e então me lembrei de todos os flashes e conversas que tive antes da cerimônia e comecei a falar.
- Desde o primeiro dia em que eu te vi, eu soube que era você e quando estivermos bem velhinhos e você me perguntar isso, eu vou dizer o mesmo. Vivemos a maior parte das nossas vidas procurando por algo que nos dê sentido para continuar e que encha nossos dias de cor. Você pintou os meus dias com todas as tonalidades do amor e hoje eu tenho a sorte de estar em preto e branco com você. - eu apontei para as nossas roupas e ela sorriu de lado, limpando uma lagrima solitária. - Juro na frente de todos os nossos amigos e familiares que nunca haverá outra pessoa e prometo que vou te amar pelo resto da minha vida. Eu espero poder retribuir todo esse amor e benção que você trouxe para minha vida te fazendo feliz todos os dias. Sinto que sou um grande sortudo. Eu te amo. - me abraçou apertado e eu senti minhas lágrimas rolarem pelo meu rosto também.
- Eu também te amo. - ela disse num sussurro.
- Pelo poder a mim investido, eu os declaro casados. - escutei o juiz ao fundo, ao passo que beijava a minha então esposa.

Nota da autora: A história foi bem curtinha, mas eu gostei muito de escrever. Eu amo essa música e quando li a letra eu só pensei em um casamento bem fofo. Espero que vocês tenham gostado.❤❤



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