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Finalizada em 26/11/2024

Prólogo


! — uma voz sobressaiu-se em meio ao caos, reverberando por entre o barulho constante de passos apressados, portas metálicas se fechando e conversas cortadas por ordens gritadas.
Sentada em um canto, null balançava os pés de forma distraída, os saltos plataforma raspando no chão enquanto ignorava completamente a confusão ao seu redor. Pessoas iam e vinham em um ritmo frenético, mas para ela, tudo não passava de uma música de fundo. A mulher mantinha-se focada nas próprias mãos, inspecionando suas unhas com o ar entediado de quem está mais preocupada com as cutículas do que com o ambiente ao redor.
A voz chamou novamente — ou seriam várias vezes? null não sabia e tampouco se importou. Sua concentração estava voltada para um único pensamento: definitivamente já estava na hora de fazer a manutenção das unhas de gel.
O som de passos firmes cortou o ambiente caótico, ressoando de maneira marcante mesmo entre o alvoroço. null, como se aquilo fosse uma trilha sonora feita sob medida, começou a cantarolar uma melodia sem sentido, distraindo-se enquanto o tempo escorria sem pressa.
Foi o ruído agudo e desagradável de metal enferrujado sendo arrastado que a tirou de seu devaneio. Com uma expressão levemente irritada pela interrupção, ela ergueu o olhar e encontrou uma policial corpulenta, de semblante impaciente, parada diante da cela.
— Alguém limpou a sua barra — anunciou a mulher, sua voz firme sobressaindo ao barulho ao redor.
null sorriu, um brilho malicioso iluminando seu rosto. Sem mais palavras, a policial abriu espaço para que ela saísse e gesticulou com a cabeça, indicando que deveria segui-la.
null saltitou pelos corredores como se aquilo fosse um passeio qualquer, os saltos de seus sapatos ecoando ritmadamente, misturando-se ao som constante e caótico que preenchia o ar.
A policial parou diante de uma sala pequena, mal iluminada, com paredes cobertas por placas de metal frio. No centro, um balcão desgastado separava null de um agente de meia-idade, com ombros curvados e uma expressão de tédio estampada no rosto.
O homem de aparência severa, com cabelos curtos e grisalhos, vestia um uniforme rígido que realçava sua postura autoritária. Seu rosto, marcado por rugas profundas, refletiam cansaço e indiferença acumulados ao longo de anos no serviço. Ele estava sentado atrás de uma mesa de metal, em um ambiente frio e pouco iluminado, típico de uma delegacia.
Diante dele, um saco plástico contendo nada mais nada menos que um par de óculos de sol e um batom, e mais uma vez ela exibiu um sorriso insolente, como se aquilo fosse a melhor coisa que ela pudesse pedir no momento. Sem levantar muito o olhar, o agente analisou uma papelada, colocando-as sobre a mesa com movimentos mecânicos, quase desinteressados.
null ? — perguntou ele, recebendo da mulher um aceno caloroso como resposta. — Esses são os seus pertences?
A mulher apenas assentiu com o mesmo sorriso deliberado estampado nos lábios.
— Assine aqui — ordenou o oficial, empurrando uma prancheta para ela à sua frente, que parecia alheia a formalidade e tensão do momento.
null obedeceu em silêncio, mas não havia tremor em suas mãos — apenas uma firmeza serena, quase desafiadora. Seus olhos brilharam com um misto de alívio e determinação enquanto assinava os papéis com um traço elegante e decidido.
O policial, cumprindo sua tarefa sem oferecer qualquer palavra de incentivo ou simpatia, deslizou os pertences para o lado dela com um gesto automático.
Ela pegou os itens com um cuidado quase teatral. Primeiro, os óculos de sol. Segurando-os por um instante, inspecionando as lentes como se verificasse a autenticidade de uma joia rara. Com um sorriso satisfeito, os colocou sobre a cabeça, ajustando as hastes com precisão.
Em seguida, sua atenção se voltou para o batom. null retirou a tampa com um estalo suave, girando a base com um toque elegante. Enquanto o policial observava, visivelmente desconfortável, ela se inclinou para o vidro de proteção que separava os dois e começou a aplicar o batom, usando o reflexo como espelho.
— Senhora, isso não é um desfile de moda — disse o oficial, mas a mulher nem pareceu notar.
O som do batom deslizando nos lábios parecia ecoar no silêncio constrangido da sala. O policial pigarreou, mas ela não se apressou um segundo sequer. Com movimentos precisos, finalizou a aplicação, esfregando os lábios suavemente e recuando para admirar o resultado no vidro.
— Perfeito — murmurou null, mais para si mesma do que para ele, enquanto guardava o batom de volta na sacola com um ar satisfeito.
O policial suspirou audivelmente, mas ela apenas lançou um sorriso radiante em sua direção, como se fosse incapaz de perceber qualquer irritação.
Sem olhar para trás, ela atravessou a sala com a confiança de quem sabe que o mundo lá fora é seu, e ninguém poderia pará-la.
A delegacia estava cheia, com o som de vozes ecoando em meio ao barulho de portas se abrindo e se fechando. Ela estava perto da recepção, finalmente livre após horas de espera. Seus cabelos estavam presos de maneira apressada, e sua expressão era uma mistura de alívio e cansaço, mas seus olhos mostravam que ainda mantinha a guarda alta.
Foi quando ele apareceu.
Ele entrou escoltado por dois policiais, as mãos algemadas para trás e o rosto marcado por uma expressão dura, que escondia qualquer traço de vulnerabilidade. Seus ombros estavam tensos, e sua postura rígida deixava claro que não cederia à humilhação do momento, mesmo com todos os olhares voltados para ele.
Quando seus caminhos se cruzaram, foi como se o ambiente inteiro diminuísse de intensidade. Ele a viu primeiro, parado por um instante ao passar pela recepção, enquanto o policial que o escoltava resolvia algo no balcão. Seus olhos a estudaram, percebendo a força tranquila em sua presença, algo que parecia destoar daquele lugar.
Ela notou o olhar dele e, por reflexo, ergueu a cabeça, encontrando seus olhos. Foi uma troca breve, mas carregada de algo inexplicável. Ele não parecia intimidante naquele instante, apenas um homem tentando manter alguma dignidade. Ela, por sua vez, não desviou o olhar de imediato, como se tentasse decifrar quem ele era e por que aquele momento parecia tão marcante.
O policial puxou o braço dele, e ele foi levado para dentro, mas não antes de lançar um último olhar para trás. Ela o acompanhou com os olhos, mesmo quando ele desapareceu pelo corredor, e por um breve instante, ficou parada, como se estivesse tentando entender por que aquele estranho a havia tocado de uma forma que ninguém ali conseguia. Foi só então que notou o seu próprio sorriso estampado em sua face.
Ao sair pela porta da delegacia, o mundo parecia mais amplo, mas na mente de null permanecia a imagem daquele homem algemado, que, por alguma razão, havia deixado uma marca em sua memória.
Enquanto caminhava pela calçada irregular, os saltos de null ecoavam de forma ritmada no silêncio da noite. O ar frio a envolvia, mas ela estava radiante, como se a libertação fosse mais que física — era uma reafirmação de quem ela era. Ainda assim, algo a incomodava.
A imagem daquele homem sendo arrastado algemado pela delegacia voltava à sua mente sem ser convidada. Não era apenas o ato em si; era o jeito dele, o olhar perdido, mas orgulhoso, como se desafiasse o mundo a quebrá-lo de vez. Ele parecia jovem, mas marcado, como alguém que já vira mais do que deveria para sua idade.
Ela ajustou os óculos de sol, mesmo que a escuridão os tornasse desnecessários. Continuou andando, mas sua mente vagava. Quem era ele? Qual teria sido sua história? Tinha sido a forma como olhou ao redor, procurando algo — ou alguém — antes de ser empurrado para dentro da cela que a deixara intrigada. null sabia como era aquele olhar. Ela mesma já o tivera.
Parou diante de uma vitrine qualquer, o reflexo lhe devolvendo sua imagem impecável. Passou o batom mais uma vez, uma distração automática. null mordeu de leve o lábio pintado. Deveria simplesmente seguir com a própria vida.
Mas, enquanto caminhava pelas ruas sem destino, os pensamentos se recusavam a dissipar. Suas mãos deslizaram pela armação dos óculos. Olhou seu reflexo no vidro, a expressão séria contrastando com sua aparência cuidadosamente montada.
Por um instante, imaginou o que ele estaria pensando agora, preso naquela cela fria. Será que ele teria alguém que se importasse? Alguém que fosse visitá-lo? E se ela fosse essa pessoa? A ideia era ridícula, claro. Ele era um estranho, e ela tinha acabado de sair da mesma prisão em que ele provavelmente ficaria. Mas algo dentro dela, uma voz pequena e persistente, insistia que ela sabia o suficiente sobre estar sozinha nesses momentos para não ignorar o que sentiu ao vê-lo.
Ela suspirou, cruzando os braços e mordendo o lábio inferior. Era loucura. Mas a imagem dele, daquele olhar vazio e ao mesmo tempo resistente, não a deixava em paz.
Com uma última ajeitada nos óculos e um sorriso torto que escondia a incerteza, null murmurou:
— Talvez só uma visita não mate ninguém.
Uma semana depois, na sala de espera da prisão, null cruzava e descruzava as pernas, o tecido do vestido azul se ajustando a cada movimento nervoso. O ar estava abafado, com um cheiro de desinfetante que não conseguia mascarar o ambiente pesado do lugar. As paredes cinzas, descascadas em alguns pontos, pareciam sussurrar histórias de quem já havia passado por ali antes.
Ela segurava a bolsa no colo, os dedos tamborilando sobre o couro brilhante, enquanto o coração insistia em bater um pouco mais rápido do que deveria. Era difícil dizer se era por ansiedade ou pela ironia de estar ali, de novo, mas dessa vez do outro lado.
O vestido, escolhido com cuidado, parecia destoar do ambiente. O azul vibrante era quase um ato de rebeldia contra a monotonia cinzenta ao redor. Os óculos de sol estavam empilhados sobre a bolsa, já que ali dentro eles não tinham utilidade, deixando seus olhos expostos — e, com eles, sua hesitação.
null tentou ignorar o relógio na parede que fazia cada segundo parecer uma eternidade. Ela se ajeitou na cadeira dura de plástico, olhando de relance para a pequena janela de vidro onde um agente preenchia papéis.
Quando chamaram o seu nome, null levantou-se de imediato, ajeitando o vestido azul com um gesto rápido e automático. Respirou fundo antes de seguir pelo corredor, onde o som abafado de passos e o eco distante de portas de metal se fechando marcavam o caminho.
Cada passo parecia mais pesado do que o anterior, e, quando chegou à cabine, sua respiração estava ligeiramente mais rápida. O espaço era pequeno, com a luz branca fria iluminando o vidro que a separava da cadeira do outro lado. O telefone preto pendia do gancho, e ela se pegou encarando-o por um instante, como se aquilo fosse um desafio maior do que deveria ser.
Do outro lado, ele já estava sentado, a postura rígida e o olhar cauteloso, mas curioso. Assim que a viu, algo no rosto dele mudou — uma leve surpresa, talvez? Ou apenas a quebra da monotonia que ele devia estar acostumado ali.
null se sentou, cruzando as pernas com um cuidado quase ensaiado, e puxou o telefone com firmeza. A tela de vidro entre eles refletia parte de sua figura, mas seus olhos estavam fixos nele.
— Oi — foi a única coisa em que ela pensou em dizer.
Ele sorriu como se ela tivesse dito algo engraçado.
— Oi — o tom de voz dele era baixo, mas ainda sim divertido como se ele pensasse em uma piada que apenas ele sabia.
A mulher engoliu em seco, tentando não deixar o temperamento tirar o melhor dela.
— Eu sou-
— interrompeu ele, com aquele maldito sorriso brincando nos lábios, fazendo com que o coração dela errasse uma batida.
Ela respirou fundo, subitamente nervosa.
null, na verdade — ela o corrigiu, mordendo os lábios sem graça. — Eu vi você entrando.
— Eu vi você saindo…
Eles se encararam por um momento antes abaixarem a cabeça e rirem sem graça. O homem fez um estalo com a boca, levantando o olhar para ela com seus olhos mais que intensos.
— Fiquei me perguntando se veria você de novo — disse ele, sua voz rouca, fazendo com que arrepios subissem pela espinha dela.
null apertou os lábios, resistindo ao impulso de desviar o olhar e fazendo o máximo manter a compostura.
— Você está vendo agora…
— Estou... — os olhos dele brilharam como uma joia rara.
Ela não conseguiu conter o sorriso tímido que insistiu em brincar em seus lábios. null passou a mão ansiosamente pelo cabelo, uma tentativa involuntária de ocupar as mãos e desviar a atenção do calor que subia pelo rosto.
A mulher não sabia o que dizer. Mas talvez isso não fosse um problema, porque aparentemente ele seria capaz de ficar simplesmente ali, olhando para ela, até que o tempo da visita se encerrasse. Essa consciência fez com que um frio estranho subisse na boca de seu estômago.
Ela ajustou o telefone na mão, tentando parecer mais confiante do que realmente se sentia. O vidro frio entre eles parecia amplificar a estranheza daquele momento, mas os olhos dele... os olhos de null tinham uma intensidade que tornava impossível desviar o olhar.
— Eu não deveria estar aqui — disse ela, soltando um suspiro nervoso. — Isso é tão estranho.
Ele sorriu, um sorriso lento e carregado de significados que ela não conseguia compreender.
— Um estranho bom.
Ela riu, o som saindo desajeitado, um leve ronco escapando do nariz.
— Mas definitivamente estranho — disse ela com a voz anasalada.
Ele riu junto, o som ecoando pela linha, mais caloroso do que ela esperava.
— Eu sou null — disse ele, como se de repente se lembrasse de que deveria se apresentar.
— Oi, null — respondeu null, desconcertada pela intensidade do olhar dele. — Como você tem andado?
Ele a estudou por um momento, umedecendo os lábios antes de responder.
— Eu tenho passado bastante tempo pensando.
Ela arqueou uma sobrancelha, incapaz de conter a curiosidade que estampava o seu rosto delicado.
— Sobre o que?
— Alguém que eu não tive o prazer de conhecer.
null sentiu o rosto corar, desviando o olhar.
— Eu não acredito em você.
— Por que não? — null perguntou, o sorriso dele voltando, preguiçoso e intrigante.
— Porque... — Ela mordeu o lábio, tentando encontrar uma resposta. — Parece coisa que você diria pra qualquer pessoa.
— Talvez. Mas eu duvido muito que você seja qualquer pessoa.
O comentário a pegou de surpresa, e ela não conseguiu evitar o frio na barriga. Tentando recuperar o controle, null mudou de assunto.
— Por que pegaram você? — perguntou, inclinando a cabeça.
Ele deu de ombros, o sorriso se transformando em algo mais travesso.
— Jogos de azar.
Ela balançou a cabeça, rindo baixinho.
— Claro que foi.
— E você? — devolveu ele, ainda com aquele olhar que parecia despir todas as suas defesas.
— Peguei um cartão emprestado... — disse ela, fazendo uma careta.
Ele soltou uma risada, genuína e divertida.
— Você tem olhos muito bonitos pra ficarem escondidos atrás das grades.
— É por isso que eu saí — brincou null, arrancando outra risada dele.
— O que você faz da vida? — perguntou ela, aproveitando o tom leve.
— Sou ator — respondeu ele, casualmente.
— Sério? Eu já te vi em algum lugar?
— Eu duvido muito.
Ela riu, cruzando os braços.
— Você deve ser bom por conseguir dar corda pra essa minha ladainha.
Ele sorriu de leve, quase envergonhado.
— Não por isso. Eu ouviria você o dia inteiro se pudesse.
null revirou os olhos, mas o brilho no olhar dele a desarmou novamente.
— Ouvi dizer na delegacia que você cantava o tempo todo — disse ele, o tom provocativo.
Ela arregalou os olhos, cobrindo o rosto com as mãos.
— Meu Deus, que vergonha!
— Mesmo quando eles disseram que você cantava bem?
— Eles não disseram isso.
null inclinou a cabeça, desafiando-a com o olhar.
— Você cantaria pra mim?
— Aqui? — Ela riu, surpresa.
— Eu não estou exatamente em posição de escolher o lugar — brincou ele, com um gesto para o ambiente ao redor.
null olhou para o teto, tentando evitar o olhar dele, mas sua expressão a fazia sentir como se estivesse sendo puxada para um redemoinho.
— Que tipo de música você gosta?
— Qualquer uma que saia da sua boca.
Ela estreitou os olhos, desconfiada.
— Desculpe, não tenho essa no meu repertório.
— Eu aposto que você tem uma voz linda.
— Como pode ter tanta certeza?
Ele sorriu, dessa vez algo mais suave, quase vulnerável.
— Porque eu não paro de pensar na sua boca.
null sentiu o calor subir pelo corpo, um calafrio percorrendo sua espinha. Ela mordeu os lábios, nervosa, mas não conseguiu evitar o sorriso que escapou.
— Eu não consegui parar de pensar em você desde aquele dia — ela disse, antes que pudesse se conter.
null inclinou-se para mais perto do vidro, os ombros relaxados, mas o olhar intenso, encontrando o dela por baixo das sobrancelhas como se buscasse algo que ela escondia.
— Eu não parei de pensar em você.
O silêncio que se seguiu parecia mais carregado do que qualquer palavra que pudesse ser dita. null não sabia como aquilo havia acontecido, mas pela primeira vez em muito tempo, sentiu algo que não sabia como definir. Algo que a fazia querer acreditar nele, mesmo que tudo dentro dela gritasse o contrário.
Eles passaram os minutos seguintes trocando palavras leves, conversando sobre coisas aparentemente banais — filmes antigos, pequenas histórias do passado que surgiam como fragmentos de vidas muito diferentes. null descobriu que ele tinha um humor afiado e uma habilidade quase desconcertante de transformar o ordinário em algo interessante. null, por sua vez, parecia fascinado com a forma como ela gesticulava ao falar, seu sorriso tímido, e o jeito despreocupado que escondia uma profundidade evidente. Por alguns instantes, o vidro entre eles parecia desaparecer, como se estivessem apenas duas pessoas comuns compartilhando momentos em qualquer outro lugar do mundo.
— Você parece o tipo de cara que vai quebrar meu coração — murmurou ela, o tom mais baixo, quase para si mesma. Por algum motivo que ela não entendia, as palavras pareciam simplesmente pular para fora da sua boca antes mesmo que concluísse o pensamento.
null encostou a testa no vidro, o olhar encontrando o dela por baixo das sobrancelhas.
— Eu jamais faria uma coisa dessas.
null respirou fundo, desviando o olhar para o teto por um momento, como se buscasse coragem nas rachaduras invisíveis do ambiente. O pedido que ele tinha feito antes ressoando em sua mente, havia algo na maneira como null a olhava, com uma mistura de expectativa e genuína curiosidade, que fazia parecer impossível dizer não. Ela apertou o telefone contra a orelha, tentando ignorar o nó que se formava em sua garganta. Quando seus olhos finalmente encontraram os dele novamente, algo dentro dela cedeu. Com um sorriso tímido e um leve corar nas bochechas, null deixou as primeiras notas escaparem de seus lábios, suaves e hesitantes, mas carregadas de uma sinceridade que fez o mundo ao redor desaparecer.
— Please, please, please don't prove I'm right — ela cantou baixinho, vendo um sorriso sincero estampar os lábios dele. — Please, please, please, don't bring me to tears when I just did my makeup so nice.

Please


Era uma tarde quente, o sol pendendo baixo no horizonte, tingindo o céu de um laranja suave. null estava sentada no capô de seu Dodge Magnum XE, a pintura preta já opaca pelo tempo, mas ainda com um ar de resistência. As pernas cruzadas, calçando botas de cano alto que batiam suavemente contra o metal, ela parecia calma, mas havia uma tensão em seus ombros. Seus olhos seguiam o movimento da entrada da cadeia, como se esperasse algo — ou alguém.
A porta do presídio estava a poucos metros, onde os guardas passavam de um lado para o outro, mas ela não tirava os olhos dali. O vento balançava seu cabelo, e ela se passou a mão por ele, sem pressa, como se se preparasse para algo maior. O casaco de pele rosa que null usava parecia completamente deslocado naquele cenário. A peça, extravagante e desafiadora, moldava seus ombros com um ar quase teatral, como se ela estivesse ali para fazer uma declaração, não apenas para esperar. O casaco parecia uma armadura, uma barreira entre ela e o mundo, mas os ombros tensos e o tamborilar impaciente de suas botas contra o metal revelavam que, por trás daquela excentricidade, havia um nervosismo que ela não conseguia disfarçar.
Não teve tempo o suficiente para pensar no que tinha feito. Mas o tempo que teve foi todo o que foi utilizado para aquela reflexão. As palavras se seguiram, as promessas, as risadas, os segredos compartilhados e, eventualmente, aquele laço estranho, indestrutível, que os uniu tomaram aquela decisão por ela antes que ao menos começasse a pensar naquilo. Então ali estava ela, esperando por ele.
Ela o havia visitado durante todo o tempo, mas sempre por trás de um vidro, com palavras gritando para serem ouvidas. Hoje, o encontro seria diferente. Hoje, ele sairia livre. Ela olhou para o relógio, marcando os minutos que passavam lentamente, até que ouviu um murmúrio vindo da porta de entrada. O som metálico de portas pesadas sendo arrastadas pelo chão cortou o ar, um barulho abafado, mas inconfundível. Seus olhos se fixaram na direção do som, esperançosos.
Foi quando ela o viu.
Alto, de postura ereta, sua presença instantaneamente chamava atenção. Seu rosto, exibindo traços fortes e marcantes, sem uma sombra de barba para disfarçar sua expressão pura e intensa. Os olhos, profundos e vibrantes, pareciam carregar a luz de um mundo que ele mal reconhecia, mas que agora parecia mais seu do que nunca.
Ele apareceu então, com a barba por fazer e um sorriso familiar. O tempo não tinha feito com que ele perdesse aquele brilho, mesmo com os dias difíceis atrás dele. Ela desceu do capô com um movimento rápido e natural, e entrou no carro com uma confiança tranquila, o som da porta se fechando ecoando no ar silencioso.
null caminhou em direção ao carro com passos decididos, a bolsa pendurada nas costas, balançando suavemente a cada movimento. Ao se aproximar, seus olhos encontraram os dela, que estavam fixos no caminho à frente, mas havia algo no ar entre eles, uma conexão invisível, uma troca que não precisava de palavras. O homem abriu a porta do carona e entrou com naturalidade, ajustando a bolsa ao lado de si. O som da porta se fechando foi suave, mas definitivo, como se marcasse o início de algo.
— Você demorou. Achei que tivesse resolvido ficar por lá de vez — null comentou, o tom descontraído, mas com um leve desafio no olhar.
Ele sorriu de lado, relaxando no assento, seus olhos ainda fixos nela, como se a cada movimento dela ele visse algo novo.
— E perder a chance de impressionar você? Jamais — null respondeu, os olhos brilhando com um toque de ironia.
Ela soltou uma risada baixinha, dando a partida no carro.
— Impressionar, é? — ela disse, a voz tranquila, mas com uma ponta de curiosidade, sem desviar a atenção do trânsito. — Não é todo dia que dou carona pra alguém que provavelmente tem metade da cidade atrás dele.
Ele arqueou uma sobrancelha, um sorriso travesso tomando conta de seu rosto.
— Metade? Tá exagerando. Só uns três caras... e nenhum deles tão interessante quanto você. — null comentou, a resposta saindo com a mesma confiança de sempre.
Ela sorriu de volta, os olhos focados na estrada à frente, mas a expressão suave dele não passava despercebida. O silêncio entre eles se estendeu por um momento, enquanto ela fazia uma curva.
— Eu não sabia que você ia aparecer... — null disse, quebrando o silêncio, o tom curioso. — Como ficou sabendo que eu seria liberado hoje?
Ela soltou uma risada, os dedos tocando levemente o volante enquanto se sentia um pouco desconfortável com a pergunta.
— Quem você acha que te tirou de lá? — ela perguntou, com um brilho malicioso nos olhos.
Ele piscou, claramente surpreso, e se virou para ela, a expressão incrédula no rosto.
— Como? — null perguntou, a voz cheia de surpresa.
null se remexeu no banco, desconfortável pela confissão, mas antes que pudesse falar algo, ele tocou seu joelho suavemente, chamando sua atenção com um gesto simples, mas íntimo.
— Não acredito que você fez isso. — ele disse, a voz quase rouca.
Ela olhou para ele, um sorriso enigmático nos lábios.
— Eu tava curiosa pra descobrir se você é tão charmoso solto quanto era preso. — null respondeu, o tom brincalhão, mas com algo mais profundo por trás da provocação.
Ele sorriu, um sorriso canalha que não podia ser ignorado, e ela revirou os olhos, tentando manter o controle.
— E aí, tô aprovado? — ele perguntou, com um olhar desafiador.
null não se deixou levar pela provocação e deu uma risadinha.
— Você ainda tá no banco de passageiro. Não se empolga. — ela disse, os olhos ainda fixos na estrada.
Ele relaxou ainda mais, colocando os braços atrás da cabeça, como se estivesse totalmente à vontade.
— Eu posso me acostumar com isso — disse ele colocando os braços atras da cabeça. — Ele disse, a voz tranquila, mas com um toque de brincadeira.
Ela riu, mas logo perguntou, ainda mantendo os olhos na estrada.
— E então? O que você quer fazer com a sua recém adquirida liberdade?
— Qualquer coisa que envolva você. — ele disse, a voz suave, mas carregada de um significado implícito.
Ela não pôde deixar de rir, o som leve e sincero.
null ficou em silêncio por um momento, como se estivesse ponderando algo. Seu olhar se perdeu por breves segundos, pensativo, antes de voltar a null, um sorriso voltando aos lábios, mas com um toque de algo que ela não soube decifrar.
— O que você acha de arrumarmos confusão? — ele perguntou, um sorriso malicioso se formando no rosto.
Ela sorriu, os olhos brilhando em uma excitação maliciosa.
— Agora você tá falando a minha língua. — null respondeu, seu tom beirando uma certa animação.
Ele fixou os olhos nos lábios dela por um momento, o silêncio entre eles carregado de uma tensão que só crescia.
— Era tudo o que eu queria. — ele sussurrou, a voz suave, mas cheia de desejo.
O fim da tarde passou sem pressa, com eles se conhecendo aos poucos. As conversas fluíam naturalmente, entre risadas e silêncios confortáveis. Enquanto o tempo parecia desacelerar ao redor deles, null e null se observavam, compartilhando histórias e descobertas, sem pressa de revelar tudo. O sol se despedia devagar, tingindo o ambiente com uma luz suave, e o clima entre os dois se tornava mais fácil, como se estivessem, finalmente, se entendendo. Era um momento simples, mas com algo mais profundo se formando, sem que fosse necessário apressar nada.
Horas mais tarde a noite estava fria, e a rua vazia se estendia sob uma neblina tênue. O casal caminhava em direção a um bar discreto, sem letreiro, apenas um pequeno número gravado na porta de madeira envelhecida. Eles trocavam olhares furtivos, como se soubessem exatamente o que estavam prestes a fazer, mas ainda assim, a tensão pairava no ar.
null vestia um vestido vermelho justo, com um corte elegante, mas ousado, seus saltos batiam suavemente na calçada, mas sua postura indicava que não era sua primeira vez em um lugar como aquele. null, ao seu lado, usava uma camisa polo preta, o cabelo impecavelmente arrumado, mas com uma expressão que misturava cautela e divertimento. Não trocavam palavras, mas a conexão entre eles era clara, como se estivessem perfeitamente sincronizados.
Ao entrarem no bar, o ambiente era opaco e abafado, com a fumaça de cigarro dançando no ar. O lugar parecia uma cápsula do tempo, uma mistura de elegância antiga e decadência. Algumas poucas mesas estavam ocupadas, mas os olhos atentos de todos os presentes pareciam mais focados no que acontecia nos fundos, em uma zona mais sombria. O som suave de jazz saía de um jukebox em um canto, enquanto o murmúrio de conversas abafadas preenchia o ar.
Eles se aproximaram do balcão, onde o bartender, um homem de semblante sério e olhos observadores, os olhou brevemente. null inclinou a cabeça ligeiramente para o lado, um gesto sutil, quase imperceptível. O homem atrás do balcão acenou, sem uma palavra, e então o casal passou por uma cortina de veludo vermelha, atrás do bar.
Ao atravessarem a cortina, o ambiente mudou instantaneamente. A luz era mais baixa, e o ar estava carregado com uma tensão palpável. O espaço era pequeno, ocupado apenas por uma mesa de pôquer, ocupada por figuras duronas e impassíveis, que pareciam dominar o ambiente em uma batalha de egos. Homens de rostos inexpressivos, com olhares endurecidos pelo tempo, estavam concentrados nas cartas. A fumaça dos cigarros se misturava ao cheiro de whisky e dinheiro sujo. As fichas se empilhavam lentamente, e os olhares se cruzavam, como se cada jogada fosse mais do que um simples movimento, mas um aviso silencioso.
null se aproximou da mesa, segurando a mão de null de forma carinhosa, criando uma conexão silenciosa entre os dois. Ao se sentarem, sua presença impôs uma tensão sutil, fazendo com que os outros ao redor da mesa os observassem com cautela. O jogo de poker, embora em andamento, era mais do que uma simples disputa de cartas — era uma batalha de poder, lealdades e intenções ocultas. A porta para aquele mundo clandestino estava ali, aberta, esperando por mais uma rodada de apostas arriscadas, onde o silêncio das cartas era mais eloquente do que qualquer conversa.
Na rodada que se sucedeu, null e null se prepararam para entrar no jogo. Com uma troca de olhares silenciosa, ambos sabiam que aquele momento não seria apenas uma continuação do que já estava em andamento, mas o início de uma nova dinâmica.
— Não pensei que fosse te ver tão cedo, null — um dos homens à mesa disse, com um sorriso malicioso.
null manteve-se calmo, sem demonstrar nenhuma reação imediata. Seu olhar gélido foi a única resposta que ofereceu à provocação.
— Sabia que você não ia ficar fora do jogo por muito tempo, null. Mas deve ser difícil manter o controle, quando o jogo é mais sujo do que você gosta, não é mesmo? — outro homem disse, fazendo um gesto com a cabeça, como se falasse mais do que simples pôquer.
null tensionou o maxilar, mas logo sentiu o carinho suave dos dedos de null sobre os seus como uma lembrança silenciosa de que ela estava ali, com ele. A mão de null, entrelaçada a sua sob a mesa era como uma âncora, segurando-o sob a tempestade turbulenta que parecia começar a se formar.
— Se fosse fácil, não seria interessante, certo? — a voz de null era suave, mas beirava um divertimento malicioso.
Os homens à mesa riram da ousadia dela, embora a tensão no ambiente permanecesse imutável.
O dealer começou a distribuir as cartas, interrompendo a tensão que havia sido criada pelas provocações dos gangsters. null e null, imperturbáveis, mantiveram sua postura tranquila e focada, enquanto os outros jogadores tentavam disfarçar a inquietação.
null encarou a sua mão e precisou fazer um esforço para não demonstrar a sua reação decepcionada com as suas cartas. Um sete de espadas e um três de paus. É, não conseguiria fazer muita coisa com isso. Precisou desistir logo na primeira jogada, aproveitando para assistir a rodada e sentir o clima da mesa para as próximas.
O que ele não esperava era que null era boa de jogo. Blefava e provocava como ninguém. Acabou ganhando a rodada apenas no psicólogo, fazendo com que todos os demais jogadores desistissem. No final as cartas da mesa foram dois setes, um três, um quatro e um nove. A mulher fez questão de exibir sua mão, que continha apenas uma trinca de sete, enquanto null teria vencido se não tivesse amarelado logo no começo.
No fim da primeira rodada, os homens estavam visivelmente irritados. null, com sua calma e habilidade, havia vencido de primeira, deixando-os desconcertados. Eles trocavam olhares rápidos, tentando disfarçar a frustração, mas o desconforto era evidente. O que deveria ter sido uma vitória fácil para eles, rapidamente se transformou em um golpe inesperado, e a confiança que antes exibiam começou a vacilar. null, sem demonstrar nenhuma satisfação excessiva, apenas ajeitou suas fichas, sua expressão serena, como se fosse o curso natural das coisas.
— Isso é o que eu chamo de sorte de principiante — comentou o dealer, recebendo um sorriso inocente da mulher em resposta.
Um deles, com um sorriso desdenhoso, olhou para null, levantando uma sobrancelha e perguntando, como se não houvesse preocupação em causar problemas:
— Então, null, a nova mocinha chegou para dar uma "mãozinha"? — ele olhou para null com desdém. — Deve ser bom ter alguém pra te fazer companhia enquanto você joga, né? Mas duvido que ela consiga fazer algo mais do que balançar os cabelos e sorrir.
null sentiu suas mãos se fecharem em punhos sob a mesa instintivamente.
O outro, mais audacioso, fez uma piada ainda mais cortante, virando-se diretamente para null:
— Ela deve ser boa em jogos, mas não esse tipo de jogo, não é? — ele riu com escárnio, claramente esperando que null ficasse irritada.
null, com um olhar imperturbável, se inclinou levemente para frente, encarando os dois com um sorriso sutil, mas carregado de desdém.
— Se acham que estou aqui para "entreter" alguém, estão completamente equivocados. Não sou uma distração para ninguém, e muito menos para vocês — ela disse com uma voz calma, mas afiada. — Mas se querem continuar com esse joguinho, fiquem à vontade. Eu sou boa em fazer pessoas pagarem pelo que falam.
Apesar de sua calma externa, o controle que ele exercia sobre si mesmo estava à beira de se romper. A ideia de ver os dois homens zombando dela, tentando desestabilizá-la, mexia com a paciência de null de maneira insuportável. Ele estava mais do que pronto para mostrar quem realmente controlava a situação, mas preferiu deixar null responder por si mesma. No entanto, uma parte dele queria avançar e silenciar aqueles idiotas com um simples gesto, fazendo-os perceber o erro de provocar alguém sob sua proteção.
Dentro de null, a raiva fervia, e se houvesse uma maneira de acabar com a provocação sem precisar fazer um escândalo, ele escolheria essa. Mas sua paciência estava se esgotando rapidamente. Ele não ia deixar que a falta de respeito dos dois homens se arrastasse por muito mais tempo.
A mulher resolveu fazer pouco caso da situação, apenas deu de ombros e pegou suas cartas sobre a mesa que tinham acabado de ser distribuídas pelo dealer.
O ar estava carregado de tensão, e as provocações anteriores haviam deixado uma marca na mesa. Cada jogador, agora mais cauteloso, olhava para as suas cartas com uma intensidade renovada. null e null, ambos com uma calma imperturbável, pareciam mais confiantes do que nunca, enquanto os dois gangsters, que tentaram os intimidar, agora estavam mais atentos, tentando decifrar o que aconteceria a seguir.
A primeira aposta foi feita com uma leve tensão no ar, e rapidamente o pote começou a crescer. O som das fichas sendo empurradas para o centro da mesa se misturava ao som do barulho das cartas sendo viradas. Quando a primeira carta da mesa foi revelada, o silêncio tomou conta da mesa, enquanto todos tentavam avaliar as implicações de sua chegada. null e null se entreolharam brevemente, suas mentes já trabalhando em conjunto, as jogadas seguintes prestes a revelar o verdadeiro poder de ambos no jogo.
A pressão estava aumentando, e cada um sabia que, a partir daquele momento, qualquer erro poderia custar caro. O poker não era apenas sobre as cartas; era também sobre saber quando atacar, quando se retrair e, principalmente, quando mostrar a verdadeira força.
O gangster, apesar de todas as provocações e da pressão crescente, manteve uma confiança visível durante toda a rodada. Mesmo quando null fez uma aposta agressiva, ele não parecia se intimidar. Com um sorriso arrogante, ele olhou para as cartas da mesa, avaliando cada movimento com cuidado. Sua expressão permanecia implacável, como se acreditasse plenamente que a vitória seria sua.
Quando a última carta foi revelada, ele não hesitou. Com um gesto rápido, empurrou um grande número de fichas para o centro da mesa, mirando diretamente em null e null. Seu olhar era calculista, como se estivesse esperando que um dos dois cometesse o erro de duvidar de sua confiança.
null, imperturbável, manteve sua postura firme, mas o gangster parecia ver em seus olhos apenas mais uma oportunidade para conquistar a vitória. Quando null fez sua aposta final, o gangster não demorou. Ele igualou com facilidade, seu sorriso se alargando, convencido de que sua mão superior o levaria à vitória.
O momento de tensão chegou ao ápice, quando as cartas foram reveladas. null, com sua combinação de cartas, conseguiu uma mão imbatível. Mesmo com a confiança inabalável do gangster, ele viu sua aposta dissipar-se no ar. Ele tentou disfarçar a frustração, mas a derrota estava estampada em seu rosto. A confiança que ele havia mantido durante toda a rodada se esvaiu rapidamente, substituída por uma fúria possessa.
null, com um sorriso sutil, recolheu suas fichas, e null observou o gangster frustrado, com um sorriso de canto.
— Sua vadia, desgraçada! — o homem berrou, puxando-a pelo braço.
Mas antes que null pudesse sequer reagir, tudo aconteceu em um piscar de olhos. null se moveu com a rapidez de um predador, sua expressão endurecida pela raiva que ele até então mantinha sob controle. Com um golpe preciso, o gangster foi jogado ao chão com um som surdo, o impacto ecoando pela sala.
null ficou de pé, ofegante, seus punhos cerrados e os olhos fixos no homem caído. A sala ficou em silêncio absoluto, exceto pela respiração pesada de null. Ele deu um passo para trás, posicionando-se ao lado de null como um escudo protetor, sem tirar os olhos do gangster.
null, apesar do choque inicial, se recompôs rapidamente. Ela olhou para o gangster no chão com um desprezo frio, antes de ajeitar calmamente o braço onde ele havia tocado, como se quisesse apagar qualquer vestígio de sua ousadia.
O silêncio pesado que se seguiu à reação de null foi quebrado de forma explosiva quando o segundo gangster, ainda sentado, se levantou abruptamente, derrubando a cadeira com um estrondo.
— Filho da puta! — ele rugiu, lançando-se em direção a null.
Antes que alguém pudesse dizer mais alguma coisa, o ambiente explodiu em caos. O gangster no chão se levantou cambaleando, limpando a boca ensanguentada com as costas da mão, e avançou na direção de null com um grito de fúria. Outros homens ao redor, aproveitando a tensão, começaram a gritar, alguns entrando na briga, enquanto outros tentavam sair de perto do tumulto.
null estava no centro do furacão, movendo-se com a precisão de alguém acostumado a resolver problemas com os punhos. Ele desviava de golpes com agilidade, revidando com força, cada soco calculado para desarmar seus adversários. Seu rosto estava rígido, focado, como se todo o barulho ao redor fosse apenas um pano de fundo para a dança mortal que se iniciou.
null, que até então mantinha uma postura impecável, não conseguiu esconder a frustração. Seu rosto ficou vermelho de vergonha, não pela briga em si, mas pela forma como ele havia desrespeitado não só o jogo, mas o momento que ela estava tentando controlar. Ela olhava para a confusão com um misto de irritação e desaprovação. Quando uma cadeira foi jogada para perto dela, quase a atingindo, ela se levantou abruptamente, empurrando a cadeira para trás, e soltando um suspiro pesado enquanto seus olhos faiscavam de raiva.
Enquanto null lutava, null cruzou os braços, observando a cena com o rosto fechado. Não havia nada de divertido ou admirável no caos que se desenrolava diante dela. Cada soco, cada grito parecia irritá-la mais. Quando um dos homens derrubou uma mesa próxima, fazendo fichas voarem pelo chão, ela fechou os olhos por um momento, tentando conter a frustração.
null pegou o copo de uísque que estava sobre a mesa, seu rosto uma máscara de frieza enquanto observava null derrubar mais um adversário com um golpe certeiro. Seus movimentos eram rápidos, letais, mas ela não parecia impressionada. Levando o copo aos lábios, tomou um pequeno gole, o gosto amargo do álcool combinando com o amargor que crescia dentro dela.
Sem dizer uma palavra, colocou o copo de volta na mesa com um toque firme e ajeitou o vestido. Seus olhos passaram por null e pelos homens no chão, como se pesasse o valor daquele caos, antes de se virar e caminhar em direção à saída. A expressão dela era dura, cada passo carregando sua desaprovação. Ela não olhou para trás. null, ainda no centro da confusão, parou por um instante ao perceber sua ausência, mas ela já havia desaparecido pela porta, deixando o ambiente sufocado pelo peso de seu silêncio.
Do lado de fora, o ar frio da noite parecia aliviar a tensão que null sentia. Ela puxou um cigarro da bolsa com movimentos calmos, acendendo-o com um isqueiro metálico que fez um leve clique na quietude da rua. O brilho da chama iluminou brevemente seu rosto, revelando uma expressão dura, quase contemplativa.
Ela deu a primeira tragada, soltando a fumaça lentamente enquanto começava a andar pelo quarteirão. Seus saltos ecoavam pela calçada vazia, um som ritmado que parecia acompanhar o fluxo de seus pensamentos. O gosto do tabaco se misturava ao resquício de uísque ainda presente em seus lábios, uma combinação que parecia refletir a mistura de raiva e frustração dentro dela.
Enquanto caminhava, null olhou para as vitrines escuras e os postes de luz que lançavam sombras longas pelo chão. Cada passo parecia ajudá-la a organizar os pensamentos, embora o rosto de null ainda pairasse em sua mente, junto com a cena de caos que ele havia provocado.
Ela deu outra tragada profunda, segurando a fumaça por um momento antes de soltá-la em um suspiro pesado.
— Idiota impulsivo... — murmurou para si mesma, sem esconder a irritação.
Ao completar a volta no quarteirão, apagou o cigarro contra a parede de tijolos de um prédio próximo, jogando a bituca no chão com um gesto decidido. null respirou fundo, erguendo a cabeça, pronta para entrar naquela droga de bar e enfrentar null novamente. Mas, ao virar a esquina, a visão dele a surpreendeu. Lá estava null, escorado sobre o capô do seu Dodge, os ombros caídos e a cabeça baixa, como se carregasse o peso de todas as escolhas erradas da noite.
Ele não parecia notar sua presença imediatamente, perdido em seus próprios pensamentos, as mãos apoiadas no metal frio do carro. Aquela postura desarmada, tão diferente de sua habitual confiança firme, pegou null de surpresa. Por um instante, a raiva que ela sentia foi atravessada por algo mais suave, algo que ela não queria admitir.
null parou a poucos passos de distância, estudando-o em silêncio. A tensão entre os dois ainda pairava no ar, mas ver null assim — tão humano, tão vulnerável — deixou-a dividida entre confrontá-lo ou simplesmente esperar que ele falasse primeiro. Ela cruzou os braços, como se tentasse proteger a si mesma da confusão que aquele momento despertava.
— Vai ficar aí parado a noite toda? — perguntou, sua voz carregada de um tom seco, mas não tão cortante quanto ela pretendia.
null ergueu o olhar lentamente, e por um momento, os olhos dele encontraram os dela. Havia ali um pedido de desculpas silencioso, mas ele parecia não saber como verbalizá-lo.
null ficou em silêncio por alguns segundos, seus olhos presos nos dela, como se tentasse encontrar as palavras certas para dizer. Ele finalmente suspirou, passando a mão pelos cabelos bagunçados, antes de desviar o olhar para o chão.
— Não era assim que a noite deveria ter acabado — murmurou, a voz grave e baixa, quase engolida pelo som distante da cidade ao redor.
null descruzou os braços, dando um passo à frente, mas mantendo uma distância calculada.
— E como você achava que ia acabar? — ela retrucou, o tom misturando irritação e exaustão. — Com você derrubando metade do bar e achando que está tudo bem?
null apertou a mandíbula, o peso de suas emoções claramente à flor da pele. Ele balançou a cabeça devagar, como se estivesse respondendo a si mesmo.
— Eu perdi o controle. — ele ergueu os olhos para ela novamente, com um misto de frustração e arrependimento. — Não queria que você tivesse que ver aquilo.
null hesitou por um momento antes de se mover. Havia algo em null, naquele instante, que parecia quase frágil, apesar de toda a força que ele demonstrara minutos antes. Com um suspiro, ela deu alguns passos à frente, aproximando-se dele.
— Deixa eu ver isso — disse ela, sua voz agora mais suave, mas ainda firme.
null franziu o cenho, surpreso pela mudança de tom, mas não resistiu quando ela ergueu uma das mãos para segurar o rosto dele. Seus dedos tocaram a pele levemente machucada no canto de sua sobrancelha, onde um golpe havia deixado uma marca roxa começando a se formar.
— Não é nada. — ele tentou desviar, mas ela o segurou firme, seus olhos fixos nos dele com uma intensidade que fez com que ele parasse.
— É alguma coisa, sim. — null analisou os pequenos cortes e arranhões que marcavam o rosto e as mãos dele, agora cobertas de leves manchas de sangue seco. Ela não parecia brava nesse momento, mas havia algo em sua expressão que misturava cuidado e irritação.
Com cuidado, ela tocou o lábio inferior dele, onde um corte fino se abria, mas null recuou um pouco, fazendo uma careta de dor.
Sem dizer uma palavra, ela se afastou rapidamente de null, indo até a porta do carona de seu carro. Ela puxou um lenço limpo do porta-luvas, o tecido branco contrastando com a escuridão da noite. Voltou para onde null estava, ainda encostado no capô do carro, com os olhos voltados para ela. Ele parecia mais cansado agora, os sinais da luta e da tensão em seu rosto.
— Você tinha mesmo que provocar o cara mais enorme do bar, não tinha? — null perguntou, pressionando o lenço com firmeza sobre o corte na sobrancelha dele.
— Ele tava pedindo — null respondeu com um sorriso torto, embora a dor o fizesse cerrar os dentes. — Não ouviu o que ele disse sobre você?
null parou por um instante, o olhar endurecendo, mas logo balançou a cabeça, voltando a cuidar do machucado.
— E você achou que quebrar a cara dele ia melhorar a situação? — ela retrucou, com a voz carregada de sarcasmo.
— Não sei se melhorou, mas pelo menos calei a boca dele — null encolheu os ombros, tentando parecer casual, mas o brilho nos olhos dela o desarmava.
— Você devia aprender a desviar, sabia? Não é tão difícil.
— E tirar sua chance de bancar a heroína? — Ele arqueou a sobrancelha, o tom provocador. — Nem pensar.
null soltou um suspiro, passando o lenço para outro corte no rosto dele.
— Heroína? Eu só tô tentando evitar que você sangre no meu carro.
null soltou um riso entrecortado, abafado pela dor, mas ainda assim carregado de um toque de humor. Ele balançou a cabeça, tentando aliviar a tensão no corpo, mas o sorriso ainda estava lá, nascendo de um lugar que ele não costumava mostrar.
— Fica quieto — ela o interrompeu quando ele começou a se mover, pressionando o machucado com mais firmeza. — Se continuar se mexendo, vai doer mais.
— Com esse carinho todo, nem parece que você quer me ajudar — ele soltou uma risada baixa, mas logo se arrependeu quando sentiu a pontada na costela.
null arqueou uma sobrancelha, a dor visível no rosto, mas ele permaneceu quieto, observando-a com um misto de curiosidade e cansaço.
— Talvez eu só goste de te ver sofrer um pouquinho. — null disse com um sorriso frio, sem tirar os olhos do trabalho. — É o mínimo depois da confusão que você causou.
null ergueu o olhar, estudando o rosto dela.
— Confusão? Achei que você tinha se divertido. Ou vai dizer que não gostou de ver aqueles caras engolindo as próprias palavras com a minha mão de brinde?
— Se isso foi divertido, você tem um conceito muito estranho de diversão.
— Talvez eu só tenha gostado porque você tava lá comigo. — ele respondeu, sua voz ficando mais suave.
null parou por um momento, a expressão dela oscilando entre irritação e algo mais difícil de decifrar.
— Você é um idiota, sabia? — disse ela, voltando a limpar o rosto dele com menos cuidado. — Um idiota que quase acabou morto.
— Mas não acabei. — null sorriu de canto, os olhos presos nos dela. — Tudo porque você tá aqui pra me salvar.
null bufou, tentando disfarçar o calor que subiu pelo rosto.
— Talvez eu não precise... — ele começou, mas a frase ficou no ar por um momento antes de completar, mais baixo: — Mas eu gosto de saber que você tá por perto.
null inclinou ligeiramente a cabeça, sem saber como reagir a seguir.
— Não era isso que eu tinha em mente quando você disse que queria arrumar confusão.
null riu, um riso baixo e abafado, sentindo a dor pulsar, mas não conseguindo esconder o sorriso que surgiu involuntariamente. Ele inclinou a cabeça, os olhos fixos nela enquanto ela ainda limpava os cortes em seu rosto.
— E mesmo assim você tá aqui. — ele continuou, sua voz mais séria. — Limpando meu rosto. Acho que isso diz alguma coisa.
Ela o encarou por um momento, segurando o lenço com mais força do que precisava.
— Diz que eu não sou tão esperta quanto pensei.
E mais uma vez ele riu, ignorando a dor.
— Ou diz que você gosta de mim mais do que tá disposta a admitir.
null não respondeu de imediato, apenas voltou a trabalhar no rosto dele com mais delicadeza, embora uma sombra de sorriso tivesse escapado por um breve instante antes de desaparecer. A tensão no ar parecia se intensificar a cada segundo, e embora ela tentasse ignorar, o sorriso de null, a maneira como ele a olhava, fez com que algo se agitasse dentro dela.
Quando ele a olhou de novo, com um sorriso no canto dos lábios, um olhar curioso e talvez um pouco desafiador, null não teve mais como conter o impulso crescente em seu peito. O que quer que tivesse começado naquela delegacia, no momento em que colocaram os olhos um sobre o outro pela primeira vez, finalmente transbordou.
Sem aviso, sem sequer pensar, ela se inclinou para frente. Seus dedos ainda seguravam o lenço, mas agora sua mão descansava ligeiramente sobre o peito dele. Ele parecia surpreso, mas não recuou. Pelo contrário, seus olhos brilharam com algo mais — talvez o mesmo desejo que ela não queria admitir.
null fechou os olhos, e antes que sua mente pudesse protestar, seus lábios encontraram os dele. Foi um toque suave no início, hesitante, como se ambos tentassem se ajustar ao momento inesperado. Ela sentiu o calor da boca dele contra a sua, o leve gosto de cigarro misturado com o suor que ainda marcava sua pele. Mas antes que pudessem perceber, o beijo se transformou em algo mais profundo, mais urgente, como se algo tivesse se quebrado entre eles. Ela sentiu o calor de null, o corpo dele respondendo ao seu de forma tão natural que parecia impossível que nunca tivesse acontecido antes.
Ela o puxou um pouco mais para perto, a mão dele tocando sua nuca com uma delicadeza que contrastava com a intensidade do momento. Ele a envolveu, os dedos tocando a pele dela como se estivesse absorvendo cada segundo daquele instante. null sentiu um arrepio percorrer sua espinha, a respiração acelerando enquanto ela se perdia naquele beijo.
Os lábios dele eram firmes, mas a pressão não era forçada. Era como se ambos estivessem se encontrando ali pela primeira vez, descobrindo um território que não sabiam que existia. A sensação foi avassaladora e, ao mesmo tempo, quase tranquila, como se o mundo ao redor tivesse desaparecido.
Quando finalmente se separaram, o silêncio foi denso, carregado de algo que null não sabia como nomear. Ela olhou para ele, o peito subindo e descendo com a respiração ofegante, tentando processar o que acabara de acontecer. null permaneceu ali, o olhar fixo nela, os olhos brilhando com uma intensidade que ela não sabia interpretar.
O momento entre eles foi interrompido de repente pelo som de algo batendo contra o carro. null se afastou imediatamente, o coração ainda batendo rápido, e olhou para null, seus olhos cheios de confusão e uma pontada de frustração. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, o som repetiu, vindo do porta-malas.
Ela franziu a testa, irritada, e caminhou até a parte de trás do carro, um rosnado de irritação escapando de seus lábios. A última coisa que ela queria era ser distraída por mais uma porcaria, ainda mais depois de tudo o que acabara de acontecer entre eles. Quando chegou ao porta-malas, ela se inclinou para olhar e congelou.
Lá, amarrado e visivelmente machucado, estava um dos caras do bar. O homem, que ela reconhecia como o mais agressivo dos dois, estava preso ali, com as mãos e os pés atados e o rosto cheio de marcas de socos. Ele parecia tonto, mas seus olhos estavam bem abertos, cheio de medo e raiva.
null ficou imóvel por um segundo, a raiva crescendo dentro dela. Ela não gostava de ver aquele tipo de cena, ainda mais depois da tensão de toda a noite, e agora isso? Ela respirou fundo, o corpo tenso, os punhos cerrados.
Ela olhou para null com uma frustração evidente, seus olhos fixos nele com uma fúria inominável. O som do batimento de seu coração parecia mais alto do que qualquer outra coisa ao redor. A visão do homem amarrado no porta-malas e a bagunça ao redor a fizeram perder completamente a paciência.
— Você tá de brincadeira com a minha cara.
null a olhou sem pressa de reagir. Ele estava mais tranquilo do que ela esperava, o sorriso de sempre no rosto, mas algo no jeito dele indicava que ele sabia que aquilo estava muito além do que deveriam ter se metido.
— Não tô brincando com ninguém, null. — Ele respondeu com um tom casual, como se fosse apenas mais uma situação a ser resolvida. — Você sabia que essa era uma possibilidade.
Ela parou bem na sua frente, os olhos furiosos.
— Eu sabia, mas não esperava que você fosse tão longe, null. — Ela falou, a raiva subindo como uma onda. — Isso é loucura! Você realmente acha que amarrar o cara e sair arrastando a situação assim vai me deixar de boa com tudo isso?
null não parecia tão surpreso com a explosão dela, mas o tom dele mudou, ficando mais sério. Ele sabia que, pela primeira vez, ela estava realmente brava de um jeito que não podia ser ignorado.
— Eu não sabia que ia ficar assim, null. — Ele disse, o tom mais baixo agora, como se estivesse tentando justificar o injustificável. — Mas o que você quer que eu faça?
null olhou para null, a frustração ainda queimando em seu peito, mas ao mesmo tempo, uma sensação de exaustão tomou conta dela. Ela não queria ficar sozinha. Não depois de tudo aquilo. O tumulto no peito dela não estava só na raiva, mas também em um desejo silencioso de que as coisas pudessem ser diferentes, de que ele pudesse ser diferente.
Ela deu um passo em direção a ele, a voz um pouco mais suave, mas ainda carregada de tudo o que não conseguia dizer.
— Me leva pra casa, null — ela pediu, quase como se fosse um alívio. Ela sabia que ele a entenderia, mesmo sem palavras. Era uma forma de pedir por mais do que uma noite sem confusão, sem caos. Ela queria distância daquele bar, do homem amarrado no porta-malas, de tudo o que ele representava. Mas, ao mesmo tempo, não queria ir embora sozinha.
null a observou por um momento, a expressão dele imutável. Algo em seu olhar indicava que ele entendia a fragilidade no pedido dela, mas também sabia o peso das palavras que ela não disse. Ele soltou um suspiro e, sem hesitar, fez um gesto para que ela entrasse no carro.
Ela entrou no carro sem dizer mais nada, sentindo um alívio incompleto ao se sentar no banco do passageiro. A porta se fechou atrás dela com um estalo seco, e o carro deu partida. Ela olhou pela janela, as luzes da cidade passando em borrões, a mente girando entre tantas coisas. Ela não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que não queria lidar com isso sozinha.
null dirigia em silêncio, seus olhos fixos na estrada. Ele não precisava dizer nada. null sentiu que as palavras não eram necessárias agora. Talvez não fosse sobre a briga. Talvez fosse sobre algo mais profundo, que ela não estava pronta para encarar. Ela estava cansada de brigar com ele, cansada de lutar contra o que eles eram um para o outro, mesmo que fosse complicado.
null, exausta e cheia de pensamentos conflitantes, fechou os olhos enquanto o carro seguia pela cidade. Apesar do cansaço, sua mente estava agitada, torcendo para estar errada e para que ele não quebrasse seu coração como tinha feito com os caras do bar naquela noite. Ela não sabia o que seria pior: se ele fosse o tipo de homem que sempre a decepcionaria ou se, ao contrário, ela descobrisse que estava se entregando a algo que não estava pronta para enfrentar. A sensação de incerteza pairava no ar, e, enquanto o carro cortava as ruas ela sentiu a sua consciência se esvair aos poucos até que fosse completamente tomada pelo sono.

Please


null acordou no dia seguinte com o cheiro de ovos mexidos e café queimado, uma mistura inesperada de aromas que a fez abrir os olhos lentamente. Olhou para o lado, e a cama estava vazia, o espaço ao seu lado desarrumado. Mas o que a deixou realmente desconcertada foi o fato de não reconhecer o quarto em que estava. As paredes tinham uma cor que ela não lembrava, o ambiente tinha uma mobília diferente, e até as cortinas pareciam estranhas. Um frio percorreu sua espinha enquanto ela tentava juntar as peças de sua memória.
Mas tudo o que havia em sua mente era null.
As lembranças da noite anterior começaram a voltar, mas estavam embaralhadas. Ela lembrou-se de null, da briga no bar, do carro, mas os detalhes estavam borrados, como se algo estivesse fora de lugar. Ou talvez ela só estivesse tentando não encarar a verdade do que havia acontecido.
O som de passos vindos do lado de fora a trouxe de volta à realidade. null engoliu em seco, ainda tentando processar a situação, e se levantou, decidida a descobrir o que estava acontecendo e onde, exatamente, ela estava.
Levou um momento para se recompor e, então, com um suspiro, se levantou da cama, os pés tocando o chão frio. Sabia que teria que enfrentar a situação mais cedo ou mais tarde, mas, por enquanto, se deixou envolver pela tranquilidade do momento, mesmo que ainda houvesse algo dentro dela que insistia em questionar o que viria a seguir.
null se levantou do quarto com passos lentos e cautelosos, sentindo o ambiente estranho ao seu redor. O corredor à sua frente estava em silêncio, exceto pelo leve som de algo fritando na cozinha, o único sinal de vida naquele lugar.
Ao se aproximar da cozinha, o cheiro de comida quente e café invadiu seus sentidos. Ela respirou fundo antes de se esgueirar até a porta, o coração batendo mais rápido. Quando a empurrou levemente, encontrou null de costas, de camiseta amassada e cabelos bagunçados, mexendo em uma panela. A visão dele, aparentemente tão à vontade e tranquilo, contrastava com o turbilhão de confusão que tomava conta de sua mente.
Quando ele percebeu sua presença, virou-se rapidamente. Seu sorriso apareceu com a mesma facilidade de sempre, mas dessa vez, não havia a provocação habitual. Algo parecia diferente, mais suave.
— Bom dia. — ele disse, com um tom de voz mais tranquilo, quase como se estivesse tentando medir sua reação.
null ficou parada na porta, observando-o por um momento. A confusão que ainda a consumia não diminuiu, mas ela tentou manter a calma.
— Esse é o seu jeito de pedir desculpas por ontem? — null perguntou, arqueando uma sobrancelha, olhando para ele com um olhar curioso, mas também desconfiado.
— Só se você for aceitar — null respondeu com um sorriso travesso, observando-a atentamente.
Ela sorriu de volta, um sorriso tímido, mas genuíno, e antes que pudesse dizer mais alguma coisa, ele se aproximou rapidamente, inclinando-se para lhe dar um rápido selinho. O toque foi breve, mas significativo, e ele se afastou rapidamente, observando-a com um sorriso cheio de significados.
— Não pense que vai ser sempre assim tão fácil — null disse, quase desafiando-o com o olhar, mas sem perder a leveza.
— Ah, eu jamais pensaria nisso — null respondeu, com um sorriso mais amplo, enquanto acenava com a cabeça em direção ao sofá da sala adjacente.
null seguiu o gesto dele e olhou para a caixa grande sobre o sofá. Com curiosidade, ela se aproximou e levantou a tampa. Seus olhos brilharam ao ver o casaco de lã verde, que era praticamente idêntico ao que ela usara quando foi buscá-lo na prisão, só que em uma cor diferente. Ela o puxou da caixa, sentindo a maciez do tecido, e por um momento, uma sensação de nostalgia a invadiu, misturada com surpresa.
Antes que ela pudesse reagir, uma presença quente e familiar a envolveu por trás. null envolveu em um abraço por trás, seus braços envolvendo sua cintura de maneira suave, mas firme. Ela sentiu o calor de seu corpo contra o dela e o sopro quente dele em seu pescoço, fazendo-a fechar os olhos por um momento. O toque era reconfortante, mas também despertava algo profundo nela, uma sensação de intensidade que ela não sabia como lidar.
null manteve o abraço, apertando-a levemente contra seu corpo, como se quisesse absorver aquele momento. Por um instante, a quietude no ar falou mais do que qualquer palavra poderia expressar. Ele fechou os olhos, respirando fundo antes de falar.
— Obrigado por me tirar de lá. — ele disse, sua voz baixa, mas firme. — Não sei como te agradecer por isso.
null estremeceu com as palavras dele, e uma onda de sentimentos conflitantes passou por ela. Ela se afastou um pouco, mas não o soltou, mantendo as mãos sobre os braços dele enquanto tentava organizar os pensamentos.
— Não por isso — ela disse, mordendo o lábio inferior. — Soltar você é a minha definição de arrumar confusão.
Ele a olhou nos olhos, um leve sorriso surgindo no canto dos seus lábios.
— Me parece um bom tipo de confusão.
null o encarou por um momento, o coração batendo mais rápido do que ela gostaria de admitir. Com um beijo carinhoso no topo da cabeça dela, null se afastou dela com a mesma calma de antes, voltando à cozinha sem pressa, como se aquele gesto fosse algo natural. O som de utensílios sendo usados, o leve tilintar de pratos e copos, preenchiam o espaço. null ficou ali, por um segundo, absorvendo a paz momentânea que parecia finalmente se instaurar ao redor deles.
null se sentou à mesa, os ombros finalmente relaxando à medida que o ambiente tranquilo ao seu redor a envolvia. As mãos ainda estavam levemente tensas, mas ela se permitiu um suspiro profundo, tentando deixar a ansiedade de lado. O cheiro reconfortante do café da manhã, simples, mas acolhedor, preenchia o ar. Pegou o garfo e, com um movimento lento, começou a comer. A comida quente oferecia uma sensação de normalidade, algo que ela precisava, algo que parecia raro em sua vida nos últimos tempos. Ela se permitiu aproveitar o momento, saboreando cada pedaço, sentindo-se, pela primeira vez em muito tempo, um pouco mais em paz.
Após um momento, ele interrompeu o silêncio.
— Então, conta mais sobre esse tipo de confusão que você falou. — null disse com a voz baixa, mas havia curiosidade ali, algo em seus olhos que a fazia sentir que ele realmente queria saber.
null olhou para ele, hesitou por um momento, e depois suspirou, como se finalmente tivesse decidido que talvez fosse hora de tirar o peso das costas.
— Não tenho uma relação boa com o meu pai. — explicou ela, com a voz um pouco mais tensa do que pretendia. — Sempre foi sobre imagem, sobre o que ele queria. Ele sempre me tratou como um acessório da família, nunca como pessoa. Ele tinha planos pra mim, sabe? Um noivado arranjado, uma maneira de fortalecer a imagem da nossa família.
Ela parou, o garfo parado no ar enquanto lembrava daquelas conversas com o pai. O desgosto ficou estampado no rosto dela.
— Então, um dia, eu simplesmente... decidi que não ia fazer parte desse jogo. Não ia ser só mais uma peça que ele empurrava no tabuleiro dele. — Ela forçou um sorriso, mas a amargura estava ali. — E então eu fiz o que qualquer pessoa sensata faria, né? Gastei todo o dinheiro do cara com tudo o que ele detestava. Destrui a imagem do meu pai e sua família perfeita, porque... eu sabia que isso doeria mais do que qualquer outra coisa.
Ela olhou para null, esperando por algum julgamento, mas em vez disso, ele apenas a observava em silêncio, como se estivesse digerindo cada palavra. Ele deu um gole na bebida, sua expressão impassível, mas ele parecia entender mais do que ela imaginava.
null ouviu em silêncio, seus olhos fixos nela, absorvendo cada palavra. O rosto de null estava tenso, mas havia uma honestidade crua em sua fala que o fazia respeitar ainda mais a complexidade dela. Quando ela terminou, ele não disse nada de imediato, preferindo dar-lhe o tempo para processar suas próprias palavras.
Ele tomou um gole da bebida, pensativo, e, por fim, falou, sua voz baixa e calma, sem qualquer traço de julgamento.
— Não posso dizer que entendo totalmente, mas... posso ver o quanto isso te custou. — Ele a observou com uma expressão suave, quase como se fosse possível ver através da fachada que ela mantinha. — Eu sei o que é ser controlado por alguém. Você fez o que achou que precisava fazer.
null se remexeu na cadeira, desconfortável com o rumo da conversa. Sentiu uma tensão crescente, como se as palavras que acabara de dizer tivessem aberto algo dentro de si que ela não estava pronta para explorar. Ela desviou o olhar para o prato à sua frente, tentando se concentrar em algo simples, qualquer coisa que a fizesse se sentir menos exposta.
Após um momento de silêncio ela fez um estalo com a boca.
null fez um estalo com a boca, olhando para null com um sorriso curioso enquanto tomava um gole de café.
— O que você vai fazer com o cara no porta-malas?
null, tranquilo, deu um pequeno sorriso enquanto mexia na comida do prato, sem pressa de responder.
— O que eu já fiz, você quer dizer?
Ela engoliu em seco, sentindo a tensão subir um pouco. Ele percebeu, mas não se apressou.
— Não se preocupe tanto — ele disse, dando-lhe um olhar descontraído enquanto tomava outro gole de café.
Ela se recostou na cadeira, ainda desconfiada, mas mantendo a calma.
— Me diga que você não colocou uma bala na cabeça dele — ela murmurou, com um tom mais baixo.
null riu, o som grave reverberando pelo ar enquanto ele a olhava com um sorriso divertido.
— Eu não sou esse tipo de criminoso — respondeu ele, divertidamente. — Na maioria das vezes.
Ela soltou um suspiro de alívio, não percebendo o quanto estava segurando a respiração. Com um sorriso sutil, null voltou a mexer na comida.
— Então o que você fez? — perguntou, agora mais curiosa, os olhos fixos nele.
Ele deu de ombros enquanto servia mais café, o ambiente ainda leve e descontraído.
— Dei a ele uma carona.
Ela franziu a testa, incrédula.
— Você o quê?
Ele soltou uma risada abafada, balançando a cabeça com diversão, enquanto se acomodava na cadeira novamente.
— Deixei ele na fronteira do estado com uma nota de um dólar.
null soltou uma gargalhada, jogando a cabeça para trás, sem conseguir segurar a diversão.
— Pelo menos ele não vai vir nos incomodar tão cedo.
null sorriu, satisfeito, e pegou um pedaço de bacon.
— Se ele aparecer de novo, pelo menos vai passar o recado de que não sou fácil de enganar.
Eles terminaram de tomar o café da manhã em silêncio confortável, apenas o som suave das garfadas e xícaras se chocando contra os pratos preenchendo o espaço entre eles. null se recostou na cadeira, observando null de longe enquanto ele se levantava e começava a lavar a louça.
Ela o observava com uma leveza nos ombros, algo que não sentia há muito tempo. Era estranho, mas agradável, vê-lo tão tranquilo, com suas mãos habilidosas cuidando da tarefa com naturalidade.
Ele movia-se com a mesma confiança com que enfrentava qualquer outro desafio, os músculos de seus braços tensos e visíveis a cada movimento. null não podia deixar de notar o contraste entre a maneira como ele lidava com a cozinha e a pessoa que ele era quando estava envolvido em confusão ou perigo. Havia algo cativante no modo como ele se entregava a momentos simples como aquele, de uma forma quase despretensiosa, mas ao mesmo tempo com uma presença tão intensa. Ela não podia evitar, os detalhes a atraíam mais do que ela gostaria de admitir.
O jeito como os fios de cabelo bagunçados caíam sobre a testa, os olhos intensos e divertidos, o sorriso quase imperceptível que escapava quando ele se virou para ela. Tudo nele parecia tão... perfeito, de uma maneira quase natural. Ele tinha aquela aura despreocupada, como se estivesse vivendo em um mundo onde nada o abalava, mas ao mesmo tempo havia algo inegavelmente atraente em sua presença.
Quando ele terminou de lavar, enxugando as mãos com um pano de prato, se virou para ela com um sorriso discreto.
— Você está me observando, não é? — perguntou, com um brilho de diversão nos olhos.
Ela riu baixo, um pouco envergonhada, mas não tentou esconder o sorriso que surgiu.
— Eu só estava admirando o quanto você consegue ser... surpreendentemente domesticado.
null deu uma risada leve, aproximando-se dela e, com um movimento suave, colocou uma mecha de cabelo dela atrás da orelha. O toque foi inesperado, mas tão natural, como se fosse algo que ele fizesse o tempo todo.
— É, eu sou um cara cheio de surpresas.
null olhou para ele, um sorriso divertido dançando em seus lábios enquanto sentia o calor do toque dele ainda na sua pele.
— Surpresas, é? — ela perguntou, tentando manter a compostura, mas sua voz saiu mais suave do que ela pretendia. Ela sentiu um calor crescente no peito, algo que ela não conseguia mais ignorar.
null deu um passo mais perto, os olhos fixos nos dela, e o sorriso dele se alargou com um toque de provocação. Ele se inclinou ligeiramente, como se quisesse tornar aquele momento ainda mais íntimo.
— Algumas são boas... outras, talvez nem tanto — ele disse, a voz rouca, sem pressa de se afastar.
null podia sentir a tensão no ar, algo pesado e ao mesmo tempo leve, como se o simples ato de estarem ali juntos fosse mais do que ela imaginava. Ela tentou desviar o olhar, mas seus olhos se encontraram novamente, e ela não conseguiu mais disfarçar o sorriso que surgia.
— Como você consegue fazer parecer tão fácil? — ela perguntou, curiosa, mas também um pouco desarmada. O jeito dele, a confiança e a proximidade, estavam mexendo com ela de uma maneira que ela não podia controlar.
null deu uma pequena risada, sua expressão suavizando, e ele se afastou um passo, mas o olhar dele ainda permanecia fixo nela.
— Porque eu sei quando uma pessoa está pronta para ser surpreendida... — ele disse, com um tom baixo e envolvente. Ele deu um pequeno passo para trás, deixando um espaço entre eles, mas ainda mantendo a atenção dela, como se fosse um convite para continuar naquele jogo de provocações.
Eles passaram a manhã flertando e trocando carinho pela casa de maneira descontraída, como se o tempo tivesse parado para eles. Entre risadas suaves, olhares intensos e toques casuais, o ambiente parecia cheio de uma energia elétrica, mas confortável. null o provocava de leve, e ele retribuía com um sorriso irreverente, como se cada gesto fosse uma dança silenciosa entre eles. Às vezes, ele a alcançava para ajustar uma mecha de cabelo ou para tocar sua mão de forma inesperada, e ela respondia com uma brincadeira ou um olhar que dizia mais do que palavras poderiam expressar. A manhã passou rápido, e apesar de todas as palavras não ditas, o vínculo entre eles parecia mais forte a cada gesto carinhoso e a cada sorriso compartilhado.
— O que acha de passarmos no banco e saímos para almoçar? — null perguntou, quando a manhã já chegava ao fim.
null levantou-se da mesa com um sorriso discreto, alongando o corpo antes de lhe lançar um olhar provocador.
— Achei que você nunca fosse perguntar — respondeu ela, um toque de diversão na voz.
Não muito tempo depois, os dois já estavam novamente no carro de null, seguindo em direção ao banco. O clima no carro era leve e descontraído, com a conversa fluindo facilmente entre eles. null dirigia com uma mão no volante e a outra descansando no banco, enquanto null a observava com uma expressão relaxada, às vezes lançando olhares furtivos para ela, como se estivesse tentando decifrar o que se passava em sua mente.
— Então, você tem planos depois do banco ou está apenas me levando para passear? — null perguntou, o tom brincalhão evidente em sua voz.
null deu de ombros, com um sorriso maroto.
— Quem sabe? Depende de como você se comportar.
null riu, o som leve e espontâneo, e logo ambos caíram em um silêncio confortável, apenas o som do carro e da rua ao fundo preenchendo o ambiente. Ela estava tranquila, mais relaxada do que poderia imaginar, e a sensação de estar com ele agora parecia ser a coisa mais natural do mundo.
null estacionou o carro em uma rua lateral, o motor ainda roncando suavemente enquanto ela desligava a chave. Ambos saíram do veículo e seguiram pela calçada em direção ao banco. O ar fresco da manhã os envolvia, e o som de seus passos ecoava levemente nas ruas tranquilas.
Enquanto caminhavam, null notou como o ambiente parecia calmo, contrastando com a energia que havia entre eles. null caminhava ao seu lado, seu olhar distraído, mas seus gestos tão próximos, quase como se estivessem em sintonia. O caminho até o banco foi curto, mas o tempo parecia desacelerar, como se aquele pequeno momento fosse significativo de alguma maneira.
null olhava para ele de vez em quando, com uma expressão curiosa. null a pegou espiando todas as vezes e deu um sorriso de canto, como se estivesse esperando alguma provocação ou comentário. Ela simplesmente sorriu de volta, sem pressa de quebrar o silêncio.
O casal entrou no banco, conversando de maneira descontraída enquanto caminhavam em direção ao caixa. null, com seu jeito tranquilo, segurava a mão de null, um sorriso fácil no rosto. Eles caminharam até uma das filas, mas, de repente, algo mudou. Ele se afastou dela abruptamente, um gesto tão rápido que a pegou de surpresa. Antes que ela tivesse tempo de reagir, ele deslizou uma arma de dentro do casaco e a apontou diretamente para o caixa, sem cerimônia alguma.
null ficou atônita, o frio na espinha a atingiu instantaneamente. No começo, ela não conseguiu processar o que estava acontecendo, um arrepio percorreu sua pele, mas sua mente insistia em tentar entender se aquilo era alguma brincadeira, algum tipo de encenação. Contudo, o grito de null, autoritário e repentino, cortou qualquer dúvida.
— Todo mundo no chão! Agora! — ele ordenou, sua voz carregada de tensão, ríspida e imperativa.
Ela, ainda sem acreditar, observava a cena com uma raiva crescente. Como ele poderia estar fazendo isso com ela? De novo. A vergonha se misturou com a raiva, uma vergonha amarga que a sufocava, como se estivesse de alguma forma envolvida naquele absurdo. A expressão dele estava tranquila, mas havia algo nos olhos que revelava uma tensão sutil. Ele mantinha o controle com uma facilidade aparente, mas o brilho intenso em seu olhar entregava a intensidade do momento, como se estivesse completamente focado, sem deixar transparecer qualquer hesitação.
Enquanto as pessoas ao redor começavam a se agachar apressadas, tentando se proteger, null ficou ali, de pé, olhando-o, incapaz de acreditar no que via. Seu corpo se encheu de uma fúria crescente.
Ela tentou controlar a respiração, mas a frustração a invadiu. Em um momento, ele se aproximou do caixa, pressionando o atendente com a arma e exigindo dinheiro. O som metálico do carregamento da pistola ecoou pelo banco, e null engoliu em seco, forçando sua mente a se manter focada, apesar da raiva que a consumia. Aquilo era insano. Seu olhar se fixou nele, ela queria gritar, queria expor sua revolta, mas estava paralisada, como se uma força invisível a impedisse de agir.
Enquanto ele lidava com o caixa, seus olhos permaneciam fixos e firmes, sem sinais de vacilo. Ele respirou calmamente, sua postura controlada e imperturbável. Como o perfeito e maldito criminoso que ele era.
A raiva dela cresceu como uma onda prestes a quebrar. Como ele ousava envolvê-la nisso? Como ele ousava fazer isso na frente dela? Ela sentiu vergonha do homem em quem acreditava, e essa vergonha a sufocou, transformando a paralisia em um impulso de querer ir embora dali, de escapar daquela cena absurda que não fazia sentido nenhum. Mas não podia. A situação estava fora de seu controle, e ela estava presa a uma realidade que não podia mais ignorar.
O som da arma sendo carregada mais uma vez interrompeu seus pensamentos. Ela engoliu a raiva, tentou respirar fundo, mas não havia como se livrar da sensação de estar vivendo um pesadelo. Ele estava ali, tão distante de quem ela imaginava ser, e ela não sabia o que fazer. A vergonha a queimava por dentro, mas o que ela sentia mais forte era a frustração. Ela queria explodir, gritar, sair correndo, tudo isso de uma só vez.
O funcionário do banco, claramente nervoso, começou a encher uma sacola com dinheiro, suas mãos levemente trêmulas, tentando manter a compostura. null observava em silêncio, ainda sem conseguir entender completamente o que estava acontecendo. Quando a sacola foi entregue, null a pegou com rapidez, guardando-a sem mostrar qualquer emoção no rosto.
Sem hesitar, ele se virou para null, pegando-a pelo braço de forma firme, mas gentil. O movimento foi rápido e seguro, como se ele soubesse exatamente o que fazer. null, tomada de surpresa, ficou sem palavras, mas antes que pudesse perguntar qualquer coisa, ele já a puxava na direção da porta.
Antes que chegassem ao carro, null parou abruptamente, puxando o braço dele.
— Que merda você tá fazendo? — ela perguntou, a voz cheia de incredulidade, o olhar fixo nele.
No instante seguinte, o som distante de sirenes cortou o ar, se aproximando rapidamente.
— Agora não, null — null respondeu, sua voz tensa, mas com uma calma calculada. — Os vermes estão chegando.
Sem mais palavras, ele a puxou novamente, e os dois correram em direção ao carro. Entraram rapidamente, e null ligou o motor com uma precisão quase automática. O carro arrancou, cortando a rua enquanto o som das sirenes se aproximava cada vez mais.
Eles dirigiram em silêncio por um tempo, as ruas passando rapidamente pela janela, com o som do motor cortando a quietude do carro. null estava em choque, as perguntas se acumulando em sua mente, mas ela não sabia por onde começar. null mantinha o foco na estrada, sua expressão séria, como se tudo o que tivesse acontecido fosse apenas mais um passo de um plano maior.
O carro deslizou pelas ruas da cidade, virando em algumas esquinas e evitando áreas mais movimentadas, como se ele soubesse exatamente onde estava indo. null o observava de soslaio, tentando processar o que tinha acabado de acontecer, mas a confusão em sua mente só aumentava.
— O que foi aquilo? — null perguntou, a voz carregada de raiva, os olhos fixos em null.
— Eu estava pegando o meu dinheiro de volta — ele respondeu, mantendo a calma, mas com uma leve tensão no tom.
— Isso tudo foi por dinheiro? — null retrucou, incrédula.
— Correção — ele corrigiu, com um sorriso sutil — Meu dinheiro.
null bufou, exasperada, seus olhos se estreitando.
— Se você precisava de dinheiro, podia ter me falado alguma coisa — ela disse, a frustração evidente na voz. — Como acha que eu te tirei da prisão?
— Com o seu charme? — null perguntou, levantando as sobrancelhas e sorrindo de lado.
Sem pensar, null deu um tapa nele, irritada. null deu uma risada baixa, ainda se divertindo.
— É brincadeira — ele disse, se recostando no banco. — Eu nunca iria me aproveitar de você, linda.
Ela o golpeou novamente, sem paciência.
— A gente poderia ter resolvido isso de outro jeito, sabe? — ela resmungou, a raiva transbordando.
— Ai! — ele se queixou, massageando o ombro. — null...
— Eu tô tão puta com você — null continuou, o rosto ainda contorcido pela indignação.
Ele segurou sua mão com um gesto suave, tentando acalmá-la.
— Ei, não era sobre o dinheiro, eu nem vou ficar com ele — disse null, a voz mais tranquila, embora ainda séria.
Ela parou, desconfiada, e o encarou de perto.
— Não vai? — null perguntou, ainda cética.
null riu, balançando a cabeça.
— Não — ele confirmou, com um sorriso, aliviando um pouco a tensão no ar.
— Então, que porra foi aquilo? — null perguntou, a frustração explodindo em palavras.
null passou a mão pelos cabelos, sem perder o sorriso, como se tudo estivesse sob controle.
— Aquilo foi um dinheiro sujo que eu consegui — ele explicou, com um brilho nos olhos. — Queria arrancar das mãos dele antes que ele transferisse pra outro lugar.
null ainda estava desconfiada, mas parecia que algo começava a fazer sentido. Mesmo assim, ela não estava completamente convencida.
— Ainda parece sobre o dinheiro — ela murmurou, cruzando os braços, a expressão de ceticismo não desaparecendo.
null parou o carro aos poucos, diminuindo a velocidade enquanto se aproximava de um banco nos arredores da cidade. null olhou pela janela, notando que o local parecia ainda mais afastado do que o anterior. Não havia muita movimentação ao redor, apenas alguns carros estacionados de forma dispersa. O banco era simples, com uma fachada que parecia quase invisível naquele canto isolado da cidade.
null colocou o saco de dinheiro no colo de null com um movimento firme, mas tranquilo. Ele olhou para ela com seriedade, como se fosse algo simples, mas importante.
— Coloque na conta de alguém que você ache que mereça — disse ele, a voz calma, mas carregada de um peso que ela ainda não entendia completamente.
null piscou algumas vezes, atordoada, tentando processar o que ele acabara de dizer. O som da respiração no carro parecia mais alto do que nunca, e ela demorou um segundo para conseguir reagir.
— O quê? — ela perguntou, a voz baixa e cheia de confusão.
null a encarou, o olhar fixo e sincero.
— Eu confio em você. — Foi tudo o que ele disse, a simplicidade da frase quase desconcertante.
Ela permaneceu em silêncio por alguns segundos, a mente girando enquanto pensava sobre o peso daquela responsabilidade. Sem dizer mais nada, ela pegou o saco, com as mãos ainda um pouco tremendo, e fez o que ele pedira. Sabia que, naquele momento, aquilo era mais do que um simples ato — era uma escolha que, de alguma forma, a conectava a ele de uma maneira que ela não conseguia explicar.
null entrou no banco com o saco de dinheiro firmemente em suas mãos, sentindo o peso da decisão em cada passo. A atmosfera fria e impessoal do lugar contrastava com o turbilhão de pensamentos em sua mente. Ela caminhou até o caixa, com a expressão séria, e fez o depósito, o som do dinheiro sendo contado ecoando em seus ouvidos como um lembrete do que acabara de acontecer. Quando terminou, saiu apressada, sentindo-se estranhamente aliviada, mas ainda desconfortável. De volta ao carro, entrou sem dizer uma palavra, os olhos mirando o horizonte enquanto a porta se fechava atrás de si.
null abriu o porta-luvas com um movimento brusco, seus dedos pressionando a trava com rapidez. Dentro, a arma estava exatamente onde ele havia deixado. Ela a pegou com firmeza, sentindo o peso frio e metálico do objeto, e, com um movimento ágil, apontou diretamente para null. Seus olhos, normalmente calmos, estavam agora imersos em uma fúria controlada, e a arma parecia refletir toda a tensão acumulada entre os dois. Ela respirou fundo, seus lábios apertados em uma linha fina, a mira fixa no peito dele.
— Começa a falar — ela disse, a voz tensa e autoritária.
null levantou as mãos, dando um sorriso descontraído, como se a situação fosse apenas uma brincadeira.
— Eu sou ator, você sabe — ele deu de ombros, mantendo o sorriso no rosto.
null, sem paciência, puxou a trava da arma.
— Desembucha — ela insistiu, a ameaça clara em sua voz.
Ele suspirou, o tom de brincadeira sumindo.
— Eu ajudava os caras do bar com alguns golpes uma vez ou outra. — ele começou, a expressão agora mais sombria. — E na última vez, eles me enganaram. Me fizeram dar um golpe em uma família que não merecia. Quando eu descobri, fiquei irado. Então, acharam que a melhor forma de me calar sem causar um estrago seria me colocando atrás das grades.
null manteve a arma firme por um momento, a mente corrida enquanto as palavras de null se espalhavam no ar. Ela o observava atentamente, tentando entender o peso daquelas revelações. O silêncio que se seguiu estava carregado, mas, à medida que ele falava, ela começou a sentir uma leve mudança em seu entendimento. A surpresa e a raiva começaram a dar lugar a uma compreensão crescente, uma sensação de que ele não estava apenas jogando com a vida dos outros, mas sim tentando corrigir algo maior.
Ela abaixou a arma lentamente, o gesto reflexo de uma decisão interna. As peças se encaixavam, e embora a situação ainda fosse incrivelmente complexa, ela não podia negar que algo dentro dela se suavizava. Ela entendia, talvez não completamente, mas de uma forma que fazia o peso da raiva ser menos sufocante.
— Então a gente se conheceu. — null completou, a tensão ainda no ar.
— A gente se conheceu. — null respondeu, mais sério agora.
— E a família? — perguntou ela, curiosa.
null deu de ombros e ligou o carro, começando a dirigir novamente.
— Vou dar um jeito de ajudar eles com dinheiro limpo. — ele respondeu, com uma leveza na voz, como se fosse algo simples de resolver.
null não pôde deixar de rir, sua raiva se dissolvendo por um momento.
— Você é um idiota, sabia? — ela disse, balançando a cabeça, sem conseguir se conter.
— Espero que você goste de idiotas — null respondeu, sorrindo de canto.
Ele colocou a mão sobre a perna dela, um gesto simples, mas carregado de significado. null entrelaçou as mãos com as dele, um sorriso suave se formando nos lábios dela.
— Parece que eu gosto — ela disse, a voz tranquila agora, como se a tensão entre eles tivesse diminuído.
null ligou o rádio do carro, o som suave preenchendo o espaço entre eles. A música, tranquila e descomplicada, parecia contrastar com a tensão ainda pairando no ar. null olhou para ele, observando sua expressão relaxada, como se nada tivesse acontecido.
— Agora nós vamos fugir? — null perguntou, a tensão ainda visível em sua voz.
— Fugir? — null repetiu, uma pitada de diversão na resposta. — Por acaso você tem vergonha de mim?
Ela revirou os olhos, claramente exasperada, mas seu tom foi firme.
— Aquilo lá não foi brincadeira, null.
Ele deu de ombros, a expressão relaxada como se estivesse falando sobre algo trivial.
— Eles não vão fazer nada, null — disse ele, com uma confiança desconcertante. — Aquele banco não passava de uma versão menor do que os políticos chamam de paraíso fiscal.
— Você realmente acha que tudo isso vai ficar bem? — Ela perguntou, a voz mais baixa, mas ainda com um toque de preocupação.
null manteve as mãos no volante, a melodia no fundo funcionando quase como uma máscara para o silêncio que surgia entre eles.
— Acho que tudo vai se ajeitar — ele respondeu com calma, sem tirar os olhos da estrada. — Sempre se ajeita, null.
O dia seguiu tranquilo, e aos poucos, a tensão que havia pairado entre eles se dissipou. null e null, agora mais à vontade, voltaram a se dar bem, como se os momentos difíceis tivessem sido apenas uma distração temporária.
Após o ocorrido, decidiram dar uma volta pela cidade. Passearam por alguns pontos turísticos, entraram em lojas e aproveitaram o tempo juntos sem pressa, apenas vivendo o momento e deixando o resto para trás. null começou a relaxar, deixando-se levar pela companhia dele, que parecia ter o poder de suavizar as tensões de sua mente.
Quando a noite chegou, o casal decidiu jantar em um restaurante, já recuperados das grandes emoções do dia. A tensão que havia pairado no ar pela manhã agora se dissipara, e os dois estavam prontos para aproveitar um momento mais leve. O restaurante tinha um ambiente aconchegante, com velas nas mesas e uma decoração rústica que transmitia uma sensação de acolhimento.
Enquanto o garçom os conduzia até a mesa, null deu um olhar para null, um sorriso genuíno nos lábios. Ela retribuiu com um sorriso, seus olhos ainda carregando uma faísca de diversão, mas também de uma certa serenidade que só o tempo e a convivência poderiam trazer.
— Eu acho que vou pedir algo simples hoje — disse null, sorrindo enquanto observava o cardápio — Nada de surpresas, só uma boa comida e um pouco de paz.
null olhou para ela com um sorriso brincalhão nos lábios.
— Não me diga que você está cansada de surpresas.
A mulher revirou os olhos teatralmente.
— Eu disse “hoje”, null — ela fez uma pausa dramática. — Preciso de um pouco de normalidade depois de... tudo isso.
Ele riu como se aquilo não passasse de uma piada.
— Está bem, está bem — ele levantou as mãos em rendição. — Sem mais surpresas. Só eu e você, em um restaurante comum, com uma refeição comum.
— Isso, exatamente o que eu preciso — null sorriu para ele, os dedos tamborilando sobre a mesa. — Só nós dois, um bom vinho e quem sabe o que mais essa noite possa nos trazer.
null a observou com um olhar que parecia mais profundo do que o habitual, como se tentasse decifrar algo nas entrelinhas do que ela havia dito.
— Claro, uma noite simples, sem surpresas... — ele disse, mas o tom da voz estava carregado de segundas intenções. — Mas, se você mudar de ideia, você sabe onde me encontrar.
null levantou os olhos do cardápio e o encarou, um sorriso malicioso se formando em seus lábios. Ela não podia negar que gostava do jogo que ele estava propondo.
— Está tentando me convencer a esperar algo mais, null? — perguntou ela, os dedos brincando com a borda da taça de vinho, como se estivesse saboreando a tensão crescente entre eles.
null riu baixo, seu olhar fixando-se nos dela com uma intensidade quase palpável.
— Eu diria que não precisa de muito para saber que a noite tem mais a oferecer do que só um jantar simples. — ele deu uma pausa, apreciando o momento. — E talvez, se você deixar, eu consiga tornar isso mais interessante do que você imagina.
null sentiu uma onda de calor subir por sua espinha. Ela sabia o que ele queria dizer, e não estava tão certa de querer ignorar a insinuante proposta que pairava no ar.
Antes que null pudesse responder, antes que a conversa pudesse continuar ou até mesmo que a noite tomasse qualquer outro rumo, o som de sirenes cortou o ambiente. Ela congelou por um segundo, seus olhos se movendo para a porta do restaurante. A visão que se descortinava ali não era o que ela esperava.
Do lado de fora, uma patrulha policial apareceu, com os carros parados em frente ao restaurante. Homens armados surgiram, se aproximando rapidamente da entrada. null sentiu seu estômago apertar. O coração dela disparou quando ela viu um policial entrar no restaurante, apontando o cano de sua arma diretamente para o homem a sua frente.
null não teve tempo de reagir antes que os outros policiais se aproximassem dele, fazendo com que se levantasse da cadeira. null ficou paralisada, os olhos fixos na cena, incapaz de acreditar no que estava acontecendo. A noite tranquila e a conversa provocante se desfizeram em um instante, substituídas por um pesadelo que ela não havia previsto.
null olhou para ela, os olhos fixos nos dela, como se o mundo ao redor não existisse mais. Quando os policiais começaram a empurrá-lo para a saída, ele se virou rapidamente, com um olhar sincero e vulnerável.
null... — ele começou, sua voz firme, mas baixa. — Eu... — ele fez uma pausa, como se quisesse encontrar as palavras certas, mas não queria perder tempo. — Não era para as coisas acabarem assim.
Ela se aproximou, sem pensar. Suas mãos tremiam um pouco enquanto ela tocava o rosto dele, quase como um reflexo. Seus dedos encontraram a pele quente de null, e sem dizer uma palavra, ela o segurou com força, como se aquela fosse a última coisa que pudesse fazer por ele. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto, seguida por outra, manchando levemente sua maquiagem.
— Por favor — ela murmurou, sua voz por um fio.
null inclinou levemente a cabeça, ainda olhando para ela com aqueles olhos que pareciam saber mais do que ele queria dizer. Ele tocou a mão dela que estava em seu rosto, segurando-a suavemente.
— Eu não me arrependo de te conhecer — ele disse, as palavras carregadas de uma sinceridade profunda, como se fosse a coisa mais importante que ele poderia dizer naquele momento. — Você... você foi o melhor de tudo. Não importa o que aconteça, isso não vai mudar.
null sentiu uma dor aguda no peito. As lágrimas continuaram a cair, sem que ela pudesse controlar. Ela não queria ver aquilo, não queria que tudo terminasse daquela maneira. Mas ali estava ela, segurando o rosto de null, sentindo o peso da despedida.
Com um último olhar, os policiais o puxaram para fora, e ela ficou ali, imóvel, abraçando o próprio corpo e sentindo as lágrimas escorrerem livremente. Ela queria correr atrás dele, gritar para que parassem, mas as palavras se perderam em sua garganta, e ela ficou lá, sozinha, vendo-o desaparecer pela porta.

Please


Lá estava null mais uma vez.
O sol se punha lentamente no horizonte, tingindo o céu de laranja suave e dourado, enquanto null estava encostada no capô de seu Dodge, com os braços cruzados e os olhos fixos na entrada da cadeia. O som das botas de cano alto batendo ritmadamente contra o metal do veículo era o único som que se ouvia, além do vento suave que mexia com seus cabelos. A aparência calma que ela exibia era uma fachada, pois por dentro estava em pleno turbilhão.
Ela não conseguia se concentrar em mais nada além daquilo — o tempo que passava enquanto esperava. O casaco de pele verde que usava, elegante e chamativo, parecia incongruente naquele cenário árido e cinzento. Mas era como se fosse uma armadura. Um gesto de resistência contra o que quer que estivesse prestes a acontecer. Afinal, aquele era o casaco que ele tinha dado a ela.
O que começou como um simples acaso se tornara algo mais. null sabia disso. Ela tinha se envolvido de maneira mais profunda do que imaginara, e agora ele estava prestes a sair. Ele, o homem que ela havia ajudado a tirar da prisão, agora estava, mais uma vez, a um passo de sua liberdade.
Os minutos pareciam se esticar, mas finalmente, o som metálico da porta da prisão quebrou o silêncio, fazendo com que os olhos de null se fixassem imediatamente na entrada. Ela prendeu a respiração, o corpo em alerta.
E então, ele apareceu.
Sua figura alta, de postura firme, dominava o ambiente. O rosto, com seus traços marcantes e a os músculos definidos, estava mais livre do que nunca. null vinha na direção dela, o sorriso familiar iluminando seu rosto. Ele parecia o mesmo, mas ao mesmo tempo, havia algo de diferente em sua presença — uma confiança renovada, uma leveza que não existia antes. Ele não havia se deixado abalar. Ela, por outro lado, não pôde evitar o aperto no peito ao vê-lo. O tempo, os dias de separação, pareciam ter só fortalecido aquele vínculo.
Apesar do sentimento que se agitava em seu peito, null não perdeu tempo. Deixou que a raiva que a consumiu pelos últimos dias a dominasse quando ela desceu do capô do carro e caminhou até null. Sem aviso, deu um tapa seco e forte em sua cara, o som ressoando no ar quente da tarde. A surpresa no rosto dele foi instantânea, mas ele não reagiu de imediato. null, com a respiração ofegante e o olhar fixo nele, o encarou por um momento. Não havia palavras, só o peso do gesto.
Sem esperar resposta, ela se virou e entrou no banco do carona, batendo a porta com força. Seu corpo estava tenso, mas a raiva agora parecia um pouco mais controlada, substituída por um silêncio denso e cheio de expectativas. Ela aguardava, os olhos fixos no horizonte, enquanto esperava que ele fosse se juntar a ela.
null se recuperou do susto, sua expressão se tornando mais fechada e mal-humorada. Ele tocou a bochecha onde o tapa ainda ardia, antes de dar um suspiro pesado e abrir a porta do motorista. Fechou-a com um pouco mais de força do que o necessário e se acomodou no assento, ajustando a posição com um gesto impaciente. Olhou para null com um olhar carregado de frustração, mas não disse nada. O clima entre eles estava tenso, o som do motor ligando ecoando no silêncio desconfortável.
Ele girou a chave, e o carro rumou para a estrada, o silêncio pesado entre eles, como uma presença quase palpável. null olhou para frente, sem fazer nenhum movimento, seus pensamentos ainda borbulhando em sua mente. A única coisa certa agora era que nenhum dos dois estava disposto a falar primeiro.
O dia passou devagar, carregado de um clima estranho, como se o ar ao redor estivesse carregado de algo não dito. A tensão entre eles era palpável, misturada com uma saudade silenciosa que só aumentava a cada hora que passava. Ambos estavam fechados em seus próprios pensamentos, sem querer ceder, mas claramente sentindo a ausência da conexão que haviam compartilhado antes. Era um jogo de olhares furtivos e silêncios prolongados.
No apartamento de null, null olhava pela janela, perdida nos próprios sentimentos, enquanto o som da chuva batia suavemente contra o vidro. A cidade parecia indiferente à sua turbulência interna, suas luzes e sons se misturando em um ritmo constante, como se nada tivesse mudado. Ela respirou fundo, tentando encontrar algum tipo de clareza em meio ao turbilhão que se formava dentro dela.
null estava na cozinha, mexendo em algo que parecia não ter muita importância. Ele também estava perdido em seus próprios pensamentos, a tensão entre os dois ainda muito presente, mas sem palavras que pudessem dissipá-la. A sensação de estarem distantes, mesmo estando fisicamente tão próximos, estava mais forte do que nunca.
null se virou para ele por um momento, mas, ao perceber que ele a observava de relance, desviou o olhar rapidamente, como se temesse que ele visse demais. O ambiente estava denso, carregado com tudo o que não haviam dito, com tudo o que ainda pairava entre eles, como um segredo compartilhado, mas não revelado. Ela não sabia o que faria a seguir, nem o que ele pensava. Só sabia que o silêncio parecia maior do que qualquer palavra que ela poderia dizer.
null, por sua vez, sentia uma frustração crescente, sem saber exatamente o que fazer com os próprios sentimentos. Ele queria, de alguma forma, se aproximar, mas a barreira invisível entre eles parecia intransponível. Ele se forçava a agir normalmente, mas a falta de palavras entre eles fazia a sala parecer menor, mais apertada. Tudo o que ele queria era encontrar uma forma de reverter o que havia acontecido, mas não sabia por onde começar.
Ambos estavam ali, no mesmo espaço, mas presos em um momento de impasse, sem saber qual seria o próximo passo.
Era um misto de raiva e saudade, como se os dois estivessem à beira de um abismo, mas não quisessem ser os primeiros a dar o passo que os faria cair. O silêncio pesado entre eles só aumentava com o passar das horas, uma barreira invisível que parecia ficar mais alta a cada instante.
No fim do dia, null não aguentava mais. A pressão dentro dela, o silêncio que se arrastava entre eles, as palavras não ditas, tudo estava se tornando insuportável. Ela já não podia mais suportar a tensão, as dúvidas e o peso de não saber o que viria a seguir. Era como se estivesse afundando em um mar de incertezas, e a cada respiração, a água subia um pouco mais.
Cansada daquele clima tenso e das palavras não ditas que pairavam entre eles, null decidiu que não podia mais adiar. Ela precisava de uma pausa, de algo que a fizesse se sentir viva novamente. Sem hesitar, foi até seu guarda-roupa e escolheu um vestido branco elegante que ela sabia que poderia fazer a diferença. Com as mãos rápidas, ela fez sua maquiagem, um olhar sutil, mas que trazia consigo uma energia nova, uma força que ela não sentia há dias. Antes de sair da casa, pediu a null educadamente que a encontrasse no galpão do teatro há algumas quadras de distância em algumas horas.
Sem mais palavras, null pegou sua bolsa e deixou o apartamento, saindo para o ar fresco da noite. O céu começava a escurecer, e ela sentia uma mistura de impaciência e determinação, como se aquele fosse o único caminho para resolver a tensão que os cercava. Ela sabia que aquela noite seria crucial para os dois.
Antes de encontrar null no galpão, null caminhou pelas ruas, com a mente turbilhonando. Ela respirava o ar fresco da noite enquanto a cidade parecia dormir ao seu redor, mas ela estava bem acordada, sentindo cada passo como um peso maior que o anterior. A rua estava tranquila, com poucas pessoas andando, e as luzes amarelas das lâmpadas refletiam nas calçadas úmidas da chuva que caíra mais cedo.
Ela parou em uma pequena loja de conveniência, entrou sem pressa e comprou algo para beber — talvez um café, talvez algo mais forte. A bebida quente nas mãos parecia um consolo temporário. null ficou ali por alguns minutos, absorvendo o ambiente, observando os detalhes ao redor. A correria do dia estava para trás, mas o peso das escolhas que ela havia feito ainda pesava em seus ombros.
Após o que parecia ser uma eternidade em silêncio, ela saiu da loja, ligou o cigarro e, com o olhar fixo no horizonte, caminhou mais algumas quadras. Ela sabia que tinha que ir ao encontro de null. Sabia que aquele encontro, aquele momento, mudaria algo entre os dois, e ela não estava certa do que esperar.
A certa altura, ela parou na esquina e olhou para o galpão do teatro à frente. A porta de metal, geralmente fechada e esquecida, agora parecia convidativa, como um local onde poderia, finalmente, deixar toda a tensão para trás ou talvez começar a confrontar o que havia entre ela e null. Ela sabia que precisava de respostas, e talvez, naquele galpão, encontrasse o que procurava.
Com um último suspiro, ela caminhou até lá, a mente ainda um turbilhão, mas a sensação de que algo tinha que ser resolvido logo prevalecendo.
Quando null entrou no galpão, a primeira coisa que notou foi o silêncio pesado que pairava no ar. O espaço estava vazio, exceto por algumas sombras longas, e as paredes de concreto refletiam a luz fraca da lâmpada. Ela avançou mais alguns passos, seus olhos finalmente se fixando nele.
null estava sentado em uma cadeira simples, virado para o sofá, com os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos entrelaçadas. Sua postura era de cansaço, mas havia algo mais profundo ali, um olhar distante e cabisbaixo que sugeria que ele estava mais imerso em seus próprios pensamentos do que em qualquer outra coisa ao seu redor. A regata branca que ele usava moldava seus músculos, deixando à vista os contornos de seu corpo, mas não havia arrogância em sua presença — era como se ele estivesse completamente absorvido no momento, sem perceber a entrada de null.
Ela não fez barulho ao se aproximar, mas, ao chegar mais perto, ele a percebeu. Levantou os olhos lentamente, seus olhos encontrando os dela com uma expressão mista de surpresa e algo que se parecia com um cansaço resignado. null permaneceu parada, observando-o por um momento, o que parecia ser uma eternidade.
Os minutos passaram em silêncio, até que ela finalmente se sentou de frente para ele. A tensão no rosto de null estava clara, seus olhos fixando os dela com uma expressão que parecia quase... vulnerável. Ele queria dizer algo, mas as palavras estavam presas. null notou o esforço dele, e, por um momento, ela se sentiu estranha, como se as peças do quebra-cabeça estivessem se encaixando sem que ela tivesse total controle sobre elas.
Ele quebrou o silêncio, sua voz suave, mas firme.
— Eu senti sua falta.
null sentiu um arrepio ao ouvir aquelas palavras, e algo dentro dela se quebrou. Ela não sabia o que esperava ouvir, mas não era isso. Era o tipo de confissão que ela não sabia como responder. Ela ficou ali, com os olhos fixos nos dele, tentando processar o impacto daquela simples frase. O tom de sua voz, a vulnerabilidade que ele demonstrava, fazia com que ela se perguntasse se, por um momento, ele também tinha se perdido, assim como ela.
Ela tomou um fôlego profundo, tentando encontrar as palavras certas para reagir. O que ela poderia dizer? Como responder a algo tão... direto, mas ao mesmo tempo tão carregado de sentimento?
— Eu também senti sua falta — ela finalmente respondeu, a voz um pouco mais suave do que ela gostaria, revelando mais do que queria que ele soubesse.
null não reagiu de imediato. Ele apenas a observava, seus olhos procurando algo em seu rosto, talvez uma pista do que ela realmente queria dizer. O silêncio entre eles se arrastou mais uma vez, mas agora era diferente. Havia algo novo no ar, uma tensão que não estava mais apenas entre os dois, mas dentro deles.
— O que eu posso fazer, null? — ele perguntou com a voz baixa, quase hesitante, como se temesse que qualquer palavra errada pudesse arruinar ainda mais o que já estava quebrado. — Me diz o que eu posso fazer pra resolver isso. Pra... fazer você confiar em mim de novo.
O silêncio se instalou mais uma vez entre eles, mas desta vez era mais tenso, mais carregado de emoções não ditas. null sentiu o peso da pergunta. Não era a primeira vez que ela se via diante de alguém esperando por uma resposta que poderia mudar tudo, mas desta vez a responsabilidade parecia ainda maior.
Ela o observou por um longo momento, os olhos de null buscando alguma indicação de como ele poderia consertar aquilo, e ela se viu à beira de algo. De uma escolha. Talvez uma escolha que não tivesse explicação, talvez um passo em direção a algo que ela mesma não compreendia completamente.
Ela suspirou, sentindo o peso das palavras que teria que dizer. Não sabia se estava pronta, se seria suficiente, mas sabia que ele merecia uma resposta.
— Não sei, null... — ela começou, a voz mais calma, mais firme do que ela imaginava. — Eu não sei se tem algo que você possa fazer agora. Eu... — ela parou, olhando para ele de forma intensa, como se estivesse tentando ler algo nas entrelinhas dos seus olhos. — Não é só sobre o que você fez, é o que você vai fazer. O que você escolhe fazer agora.
null ficou em silêncio, processando suas palavras. Ele não parecia aliviado, mas ao menos parecia começar a entender que as coisas entre eles não seriam resolvidas de forma rápida ou fácil. null sabia que ele queria mais. Queria saber como fazer tudo certo, mas talvez a resposta não fosse tão simples quanto ele queria.
— O que você quer que eu faça, então? — ele perguntou, sua voz agora mais determinada. Mas o tom ainda era suave, como se ele estivesse se abrindo mais do que queria admitir.
null não respondeu imediatamente. Ela se sentou, cruzando as pernas, o olhar fixo nele. Seu peito se apertava com o turbilhão de emoções conflitantes. Ela queria ser firme, mas ao mesmo tempo, tudo o que ela sentia parecia contraditório.
— Pra começo de conversa? — ela estalou os dedos, o som cortando o silêncio pesado entre eles. — Se for fazer algo estúpido de novo, não faça na minha frente.
null ficou em silêncio por um momento, os olhos fixos nela enquanto as palavras dela ecoavam no espaço entre eles. Ele sabia que, naquele momento, ela estava sendo direta, clara, e não havia espaço para mais desculpas ou explicações vazias.
— Não me faça te odiar — continuou ela.
— Essa é a última coisa que eu quero – respondeu null, a sinceridade evidente em sua voz.
null o observou por mais alguns segundos antes de falar novamente, sua expressão suavizando aos poucos com a saudade que apertava o seu peito.
— Então não quebre o meu coração.
As palavras pairaram no ar entre eles, um pedido simples, mas carregado de uma carga emocional que nenhum dos dois poderia ignorar.
null olhou para ela, o peso das palavras dela ainda ecoando em sua mente. Algo mudou no seu olhar, uma centelha de esperança surgindo onde antes havia apenas arrependimento. Ele respirou fundo, sentindo que talvez ainda houvesse uma chance, um caminho para recuperar o que parecia ter se perdido.
null percebeu a mudança. Ela viu a leveza nos ombros dele, a forma como seus olhos brilhavam um pouco mais, como se ele tivesse encontrado uma razão para continuar. Ela não pôde evitar um sorriso, suave, mas carregado de um entendimento silencioso. Não era perdão completo, não ainda, mas talvez, apenas talvez, fosse o começo de algo novo.
— Eu não vou — respondeu ele, decidido.
— Então, por favor, null, pare de me enrolar.
Por algum motivo, as palavras de null pareciam carregar algo a mais, algo que ele não conseguiu ignorar. Havia uma sutileza em sua voz, um tom que deixava entrever algo mais profundo, como se o que ela dizia fosse apenas a ponta do iceberg. null, observando-a com mais atenção, não pôde evitar um sorriso malicioso.
Algo na maneira como ela falava, como seus olhos brilhavam de um jeito enigmático, fez com que ele se sentisse intrigado. Ele inclinou-se ligeiramente para frente, como se estivesse considerando suas opções com mais cuidado, deixando o sorriso se alargar um pouco mais.
— Você tem uma maneira de dizer as coisas, null — ele comentou, a voz carregada de uma leve provocação.
null sentiu a tensão crescente entre eles, uma mistura de desconfiança e algo mais, algo que ele não conseguia definir, mas que o atraía. Ele sempre soubera que null tinha um jeito especial de mexer com ele, de fazer as palavras ganharem peso, e naquele momento, tudo parecia girar em torno daquela troca silenciosa.
— O que você realmente quer, null? — ele perguntou, a voz agora mais grave, o sorriso malicioso dando lugar a uma curiosidade que ele não podia mais esconder.
null, com as mãos atrás das costas, se aproximou dele com uma calma que contrastava com a intensidade do momento. Seus passos eram lentos, calculados, como uma predadora que se aproxima de sua presa, sem pressa, mas com a certeza de que cada movimento contava. null observava, o coração acelerando a cada passo que ela dava, o clima entre eles ficando cada vez mais carregado de uma tensão inexplicável.
Quando ela chegou mais perto, um sorriso enigmático apareceu em seus lábios. Ela desfez a pose, revelando o par de algemas que tinha escondido atrás de seu corpo. O som metálico das algemas caindo em suas mãos fez o estômago de null se apertar, e um arrepio percorreu sua espinha.
Ele não disse nada de imediato. Os olhos dele estavam fixos nas algemas, a mente correndo para entender o que ela queria com aquele gesto. Ela sabia exatamente o que estava fazendo — controlando o jogo, deixando claro que agora a dinâmica entre os dois tinha mudado. Não mais palavras vazias ou promessas inacabadas. Era ação, e null sentia a mudança no ar.
— Agora as coisas vão ser do meu jeito, meu amor — ela sussurrou suavemente ao pé de seu ouvido, fazendo seu coração disparar por um momento.
null levantou o olhar, encontrando os olhos dele com um brilho novo, mais intenso. A expressão no rosto de null era uma mistura de surpresa e algo que se parecia um fio de excitação. Ele sabia que, naquele momento, as coisas não seriam mais as mesmas. E, apesar de toda a tensão, ele não conseguia evitar um sorriso. Ela tinha conseguido despertá-lo de uma forma que ele não esperava.
Ele a encarou com intensidade, seu olhar carregado de algo entre rendição e desafio, e, com a voz suave, mas cheia de significado, disse:
— Meu coração é seu, null. Pode quebrá-lo da maneira que quiser.
null sorriu de forma predatória, seus olhos brilhando com uma mistura de poder e desejo. Com um movimento rápido, ela se aproximou dele e, sem dizer uma palavra a mais, prendeu os braços dele atrás do corpo com as algemas, os dedos ágeis e firmes. A sensação de controle a envolvia completamente, e ela podia sentir a tensão crescente entre os dois. O silêncio que se seguiu foi pesado, carregado de expectativa, enquanto null, preso, observava cada movimento dela com uma mistura de fascínio e rendição.
null sentou-se no colo de null, seus olhos fixos nos dele, profundos e intensos. Ela o observava com um sorriso enigmático, um sorriso que não oferecia respostas, mas que fazia os pensamentos de null se embaralharem.
Ele, por sua vez, estava imerso naquele olhar, como se, por um instante, tudo ao redor desaparecesse. Não havia mais o peso dos erros do passado ou as dúvidas sobre o futuro. Só havia aquele momento, aquela conexão silenciosa, onde ele sentia cada respiração dela, como se seu coração estivesse sincronizado com o dela.
null se inclinou para frente, sem desviar os olhos dos dele, e a tensão no ar se transformou em algo mais intenso. Seu corpo estava tão perto do dele que ela podia sentir a respiração dele acelerar. A mão de null deslizou suavemente até a nuca de null, puxando-o para mais perto. Então, sem mais palavras, ela o beijou.
O beijo começou suave, quase como uma promessa, mas logo se transformou em algo mais ardente, com um desejo claro que queimava entre eles. Ela o beijava com intensidade, cada movimento carregado de uma mistura de raiva e necessidade, como se fosse uma forma de confrontar tudo o que haviam vivido, mas também de finalmente se entregar ao que estava ali, no fundo dos dois.
As mãos dela, ainda firmes sobre os ombros de null, o mantiveram no lugar, enquanto ele, surpreso, não resistiu e deixou que a intensidade do momento tomasse conta. A troca de calor entre eles parecia consumir o espaço ao redor, e o silêncio se tornava ainda mais pesado, mais íntimo. Eles estavam terminantemente perdidos um no outro.
Antes que null pudesse protestar, ele sentiu os dedos ágeis de null agarrarem sua regata com força e partirem o tecido em dois, expondo sua pele. Eles se afastaram minimamente um do outro, ambos com as respirações descompassadas, os corações batendo mais rápido do que o normal.
null olhou para null, seus olhos se fixando nos dele, buscando algo, talvez uma confirmação, ou um sinal de que ele também sentia aquilo. null, com o rosto próximo ao dela, se limitou a lhe oferecer mais um daqueles sorrisos canalhas que faziam todos os pelos de seu corpo se arrepiarem.
Ela mordeu o próprio lábio inferior, escorregando uma de suas mãos até a pélvis dele, parando bem em cima do lugar que começava a se manifestar antes de começar a esfregá-lo contra o tecido. null fechou os olhos, deixando a respiração entrecortada sair por seus lábios, enquanto jogava a cabeça para trás.
null... — ele se viu quase implorando.
null umedeceu os lábios em um gesto sensual, encarando-o como se pudesse comê-lo vivo a qualquer momento. null tinha certeza de que o mesmo olhar estampava agora o seu rosto. A mulher dedilhou seus dedos sobre a pele desnuda dele, provocando uma sequência de choques de excitação que o percorreram da cabeça aos pés, antes de cuidadosamente se levantar do colo dele deixando-o com uma repentina sensação de vazio.
A súbita decepção logo foi substituída pela pulsação desenfreada do sangue em suas veias quando null se deu conta do que ela faria a seguir. Cuidadosamente, null levou as mãos ao cós de sua calça, desabotoando a peça com um som que era música para os seus ouvidos. Ele não conseguiu conter o sorriso malicioso que brincou em seus lábios vermelhos pelos seus beijos ardentes. Em pouco tempo, a mulher o livrou das calças que já tinham se tornado apertadas àquela altura, dando à sua cueca o mesmo fim desconhecido. null sentiu um calafrio atravessar o seu corpo completamente nu, enquanto ela o observava em o menor pudor.
— É uma pena que você não possa fazer o mesmo — provocou ela, seus lábios se movendo de uma forma tão convidativa.
null sentiu o pau latejar instantaneamente, soltando um gemido sôfrego ao olhar para ela.
null se colocou mais uma vez em movimento, tomando o seu tempo em passos tortuosamente lentos até sentar-se novamente sobre as cochas dele reduzindo a distância entre os dois a menos que nada. null soltou um suspiro audível quando sentiu a umidade dela sobre ele, fazendo-o perder a cabeça.
null conseguiu ouvir os próprios batimentos descompassados de seu coração no momento em que ela se inclinou aproximando seus lábios da orelha dele e depositando uma mordida sensual no lóbulo da sua orelha. null sorriu maliciosa para ele, como se tivesse notado a mesma coisa.
null envolveu o pau de null com as suas mãos quentes, posicionando-o entre as suas pernas exatamente em sua entrada quente e pulsante. Sem pensar duas vezes, ela desceu o corpo de uma só vez, arrancando de ambos um gemido alto e arrastado. null engoliu em seco, movendo-se sobre o colo dele em busca de mais prazer.
null, com ambas as suas mãos atadas, não tinha muito o que fazer além de morrer de prazer pelo ritmo provocante que ela ditava. null levou as suas mãos às costas dele, arranhando-as sem piedade, à medida que choramingava a cada investida de seu quadril sobre o pau dele. Ele conseguia senti-la se contrair ao redor dele à medida que o corpo dela estremecia, aproximando-o cada vez mais de seu ápice.
— Porra... — ela xingou baixinho, fazendo-o suspirar.
— Por favor — ele praguejou, sua voz rouca arrepiando-a até o último fio de cabelo.
As gotas de suor começavam a escorrer sobre a testa dela, proporcionando-o a visão mais excitante de todas, enquanto ela continuava com as quicadas firmes e decididas em busca do alívio que ambos tanto almejavam. null começou a esfregar o seu ponto de prazer, indicando que estava próxima de chegar ao ápice e null se permitiu relaxar sob o comando dela. Os movimentos de vai e vem aos poucos se tornaram descompassados, até que null soltou um gemido alto e prolongado no mesmo momento em que seu corpo estremeceu sobre o dele anunciando que tinha chegado lá. Em meio aos espasmos dos últimos movimentos dela, null sentiu seu prazer inundá-la, deixando-a ainda mais molhada.
Ambos estavam ofegantes, tentando recuperar o fôlego, em um movimento sincronizado com seus corações descompassados. Suas testas encostadas uma à outra à medida que sentiam finalmente as coisas se encaixarem entre eles. Um momento depois, null ergueu o rosto, encontrando os olhos brilhantes de null sobre o seu rosto acompanhados de um sorriso sincero. Imediatamente ele sorriu, selando os seus lábios em um gesto carinhoso e cheio de significado.
null soltou uma risada baixa, o som reverberando pelo galpão vazio. Sem dizer uma palavra, ela se levantou devagar, os olhos brilhando com uma mistura de diversão e algo mais provocador. null a seguiu com o olhar, confuso e intrigado, o corpo ainda tenso e as mãos algemadas atrás das costas.
Ela caminhou até uma pequena mesa encostada na parede, pegando algo que estava ali. Quando voltou, segurava um rolo de fita isolante preta. null arqueou uma sobrancelha, mas não teve tempo de dizer nada. Com movimentos rápidos e precisos, null rasgou um pedaço da fita e, com um sorriso satisfeito, pressionou-a suavemente contra os lábios dele, tampando sua boca.
— Assim está melhor — murmurou, inclinando-se para perto do rosto dele, os olhos fixos nos dele, enquanto uma nova onda de calafrios percorria o corpo de null.
Ela aproximou os seus lábios da boca selada dele e depositou sobre a fita um beijo casto, que deixou a marca de seu batom vermelho estampada sobre o material.
Ela se afastou, apreciando sua "obra", e cruzou os braços, parecendo saborear o controle absoluto que exercia naquele momento. null, por sua vez, lançou-lhe um olhar que mesclava incredulidade e diversão, como se dissesse que aquilo estava longe de ser o fim.
— Te espero em casa, amor — disse ela, virando-se de costas.
null deu meia-volta com um sorriso malicioso brincando em seus lábios. Saiu rebolando, seus passos ecoando pelo galpão vazio, o som de seus saltos pontuando a tensão que pairava no ar. Ela não olhou para trás, mas sentia o olhar de null queimando em suas costas, ainda mais intenso agora que ele estava preso ao próprio desejo e ao jogo que ela ditava.
Enquanto caminhava para fora, o coração de null batia em um ritmo acelerado, não por nervosismo, mas por uma excitação que vinha tanto da cena que havia acabado de deixar quanto da certeza de que, com null, cada momento era imprevisível. Aquecido e ansioso, seu coração carregava a expectativa do que viria a seguir — contanto que fosse ao lado dele, tudo parecia valer a pena.
Do outro lado do galpão, null apenas observava, preso à cadeira, os músculos ainda tensos, mas a expressão nos olhos sugerindo que ele mal podia esperar para ver onde null o levaria.



Fim.



Nota da autora: Pra quem já me conhece: Oi, Deus, sou eu de novo… Pra quem tá conhecendo agora: Oie, muito prazer!
Gente, que desafio foi esse? Vocês acabam de presenciar a minha primeira Ficstape, em plena semana de provas, fechamento de mês trabalhando na área comercial, em meio a vários processos seletivos, véspera de viagem e tantas incertezas. Tô muito feliz de conseguir entregar essa história pra vocês! Claro que provavelmente eu vou querer mandar alguma correção depois que ver a postagem, mas a gente releva!
Me diverti muito criando essa história nas semanas que se seguiram depois da divulgação do Ficstape. Fui completamente influenciada pelo meu docinho de coco o maior groupie da loirinha e aqui estamos nós. E sinceramente? Foi uma aventura.
Espero que vocês tenham se divertido lendo essa história tanto quanto eu me diverti escrevendo.
Obrigada a você que chegou até aqui e que venham mais histórias pra gente dividir daqui pra frente!
xXx Bleme




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