Capítulo Único
Oi, meu nome é Hale Rhode, tenho 21 anos, sou ariana (não desistam de mim, voltem) não vai ser um período fácil, então posso convidar vocês para acompanhá-lo comigo? A julgar pelo silêncio, isso é um sim, uh?
v Acordei me sentindo nostálgica demais para simplesmente levantar da cama e enfrentar o primeiro dia de faculdade em meu segundo ano na Calgary, peguei meu celular e limitei-me em olhar as diversas fotos das férias recordando rapidamente a loucura que fora julho e agosto. Meu celular vibrou, uma nova mensagem de Thomas.
Thomas é sem dúvidas o meu único amigo de toda a faculdade, ao primeiro dia de aula do ano anterior fomos destinados pelo professor a criar um projeto o que, de fato, exigia nossa convivência ser extremamente necessária durante todo o ano letivo, a realidade é que, por mais extrovertida que eu fosse, não queria criar um vínculo tão forte em Calgary sabendo que voltaria para o meu estado, Minnesota, assim que terminasse a faculdade.
Podemos ver que minha tentativa não deu certo, ok? Ok
Thomas queria saber se eu iria para aula e para fazer um suspense não o respondi, tomei um banho rápido e fiz duas tranças em meus cabelos constatando o quanto aquele rosa pastel estava ainda mais desbotado depois do verão, enfiei meus pés no all star preto de todo dia e peguei minhas coisas saindo da residência que ocupava no Campus da faculdade.
Antes mesmo de entrar na sala, tinha absoluta certeza que meu amigo já estava lá me esperando. Estava entrando naquele bloco quadrado cheio de cadeiras e Thomas Barkley já estava sentando em seu lugar como imaginei, alternado entre o meio e fundo da sala, com a cabeça encostada na parede amassando os cachos do lado direto da sua cabeça. Ele não me viu entrar e logo se assustou quando soprei seus cabelos e o fiz desencostar a cabeça da parede, me olhou com cara de poucos amigos ou devo dizer, amigos nenhum? E me entregou a pasta que estava embaixo do seu braço com nossa grade sem dizer uma palavra. Ah, qual é?
— Bom dia para você também, nenenzinho! — eu disse e consegui lhe arrancar um sorriso horrível, mas ainda assim era um sorriso.
— O que houve? — eu perguntei mais curiosa do que preocupada. E bom, ele sabia disso.
— Achei que não fosse perguntar nunca, fofoqueira! — Thomas riu e antes que começasse a falar, apareceu na porta levantando a mãos para chamar sua atenção e abrindo um sorriso murcho constatando minha presença ali, me viu com as duas mãos envolta do rosto feito uma criança pronta para escutar qualquer que seja a história, eu sorri de volta toda animada, mas meu sorriso não o animava, não naquela manhã. Talvez, em nenhuma outra.
Barkley é o primo de Thomas e ambos dividem uma casa em University Heights. , como todos conhecem, é formado em turismo há 2 anos e é um dos guias turísticos mais requisitados do Canadá! Quando o grupo de turistas são jovens, ele sempre dá um jeito de arrastá-los para o Den & Black Lounge mais conhecido como The Den onde eu trabalho de Dj as quintas e de garçonete nos outros dias da semana. O The Den é um bar localizado dentro do Campus da faculdade e é um dos mais badalados e frequentados de Calgary, principalmente por jovens e universitários.
Vocês devem estar pensando, e daí quem se importa com o ?
FLASHBACK ON
Estava deitada na cama de concentrada, ouvindo a playlist de Panic! at Disco em looping infinito, eu já sabia as músicas de traz para frente e mesmo assim não cansava de ouvir e nem de cantar. E bom, felizmente ou infelizmente eu havia caído, novamente, nos encantos de . Thomas me avisou inúmeras vezes sobre esse envolvimento, e eu até lhe daria ouvidos se não fosse a cópia ainda mais bonita do vocalista da minha banda favorita.
Que culpa tenho eu se ele é a cara do Brendon Urie?
O refrão de King of the clouds estava por começar quando entrou no quarto e abaixou o som, o olhei por cima dos óculos de grau com a minha melhor cara de tédio e ele apenas entrou no quarto sem dar uma palavra e se deitou ao meu lado, espalhando meu cabelo rosa sob o travesseiro.
— Sabe , acho bom você abrir o bico, porque esse seu silêncio não vai nos levar a lugar nenhum e não vou passar minhas férias com você assim — eu falei olhando para o teto como se estivesse falando sozinha.
Silêncio.
— O que está te incomodando?
Perguntei e logo apoiei os cotovelos sobre a cama para poder olhá-lo, enquanto pelo seu semblante, podia ver que ele estava decidindo se falava ou não. Não queria pressioná-lo e nem exigir nada dele, entre nós dois, disparadamente eu queria ficar por ficar e queria que eu levasse o que tínhamos além. E pensando bem, era essa conversa que nós teríamos, outra vez.
Querem apostar?
— Nós vamos passar dois meses juntos, você não acha... — ele deixou a frase morrer e pensou em que palavra usar. — Que deveríamos começar a levar isso a sério?
— Não, não acho — eeu respondi seca, querendo adiar o máximo possível conversar sobre o mesmo assunto.
— Eu sabia que você falaria não! — soltou as palavras enquanto gesticulava com as mãos ainda deitado e eu já estava igual barata tonta rodando o quarto inteiro. Ele estava fingindo estar calmo e eu tão nervosa.
— Eu não vim para Calgary começar um relacionamento sério, ! — eu exclamei com todas as letras o que sempre tentei falar de forma sútil. — Gosto de ficar com você, gosto quando temos nosso tempo junto, mas... — pensei em como terminar a frase sem magoá-lo, mas ele me interrompeu levantando da cama e pegando um cigarro em cima de sua mesa de computador.
— Mas é só isso, né? — ele soltou a fumaça de cigarro para cima e continuou. — Para você sempre foi diversão! Você nunca se importou comigo de verdade, nunca gostou de mim e o fato de que passo muito tempo fora da cidade facilita, né? Facilita você a procurar outros caras, não é? Até o dia que eu volto e você finge que nada aconteceu! — estava com os olhos fixos em mim e ambos estavam uma mistura de raiva e decepção que ele sabia que iria vir de mim assim que eu abrisse a boca e confirmasse tudo que ele acabara de jogar na minha cara, eu tinha certeza que meus olhos tinham adquirido um tom de azul tão escuro de tanto que eu me esforçava para não derramar uma lágrima.
— Você achou que eu não soubesse, não é? E foi por isso que você não aceitou o pedido? Estava ficando comigo e com Tyler e obviamente prefere ele! — soprou essas palavras perto demais do meu ouvido fazendo-me recobrar a consciência. — Meu melhor amigo, ! — ele quase gritou essa frase que estava estalando na minha mente durante os últimos 7 dias.
“Seu melhor amigo”
— Sim, seu melhor amigo, e que belo melhor amigo, não é, ?! — declarei me afastando, eu podia não está certa, mas sem sombras de dúvidas o seu melhor amigo, em meu julgamento, estava ainda mais errado. Que tipo de melhor amigo é esse? Toda vez que estava longe demais de Calgary, ele aparecia simpático demais, receptivo demais e bonito demais, eu não podia negar, Tyler era um gato! Eu desviei dele durante seu último ano da faculdade e falhei miseravelmente em minha última semana de aula. As aparições de Tyler eram como perturbações.
— O cara estava dando encima de mim durante meses, ele te contou isso? Ele também te contou que todas vezes que você estava fora de Calgary ele apareceu como um maldito espírito? Que ele responde todos os meu stories, inclusive os que eu estou com você dando em cima de mim? Que ele foi parar na porta do meu quarto bêbado ou talvez não tão bêbado assim e eu caí na dele, assim como caí na sua! — eu bati a mão na testa duas vezes e respirei fundo. — Sempre os mesmos métodos, vocês são todos iguais! — eu ri, debochada. — E além do mais, eu sou solteira, faço da minha vida o que bem entender e não me importo mesmo!
Aquela frase era para ter saído sim ou talvez ter ficado guardada dentro da minha alma, porque a resposta que saiu da boca de , resumiu em desastre.
— Não me interessa ! — gritou e o quarto pareceu ficar minúsculo. — Eu odeio ter que fazer isso, mas você tem noção do que eu abri mão? Eu mal consigo ficar uma semana na cidade, eu ia ficar dois meses com você, dois meses porra! — a porta bateu e não era a do seu quarto e isso só me dizia que Thomas estava em casa e iria ouvir toda essa merda, eu queria chorar. Eu ia chorar. — Por que você tem que ser uma maldita egoísta igual a sua mãe?
E isso foi o estopim para que eu saísse correndo sem falar nenhuma palavra.
FLASHBACK OFF
— ?
— Já chega, ! — respondi e só me dei conta da besteira que havia falando quando vi a confusão no rosto de Thomas que estava a estalar os dedos na frente do meu rosto enquanto chamava meu nome.
— Me desculpa! — eu pedi e antes que ele fizesse qualquer pergunta, comecei a falar. — Você ainda não me contou o porquê de estar com essa carinha e falta de humor, hein?
Thomas riu e deitou sua cabeça em meu ombro.
— Meu aniversário está chegando e bom, você e nessa tensão não é algo que me deixa feliz ou confortável — Thomas declarou e logo depois me olhou — O que você fez foi ruim, o que ele te disse foi muito ruim. Mas tem como vocês darem uma trégua na ignorância no dia do meu aniversário?
— Tudo por você, nenénzinho.
E realmente, por Thomas, tanto eu quanto , faríamos tudo.
O aniversário de Thomas é em outubro, no dia de Ação de Graças, mas levando em conta que e eu só nos falávamos por pura educação desde o fatídico acontecimento em julho, tudo continuaria do mesmo jeito até seu aniversário, e seu medo era esse. Thomas ama o dia de ação de graças e também ama o seu aniversário, não poderíamos estragar isso de forma alguma. O meu plano era focar em um café da manhã surpresa e surpreendê-lo com uma bela mesa a noite para passar o dia de Ação de Graças e para que tudo isso funcionasse, meu contato com teria que ir além do que bom dia, boa tarde ou boa noite.
Digitei uma breve mensagem para dizendo que tinha urgência em falar com ele e com toda sua hostilidade, a mensagem fora visualizada e ignorada com sucesso, por horas.
Por mais de 2 horas.
Por mais de 4 horas.
“Estava no trabalho! Ainda é um assunto urgente? ”
A mensagem chegou e a conversa já estava aberta denunciando que a única coisa que eu havia feito o dia inteiro era abrir a conversa a cada segundo que escutava o barulho do celular com uma nova mensagem, esquecendo de que iria trabalhar até mais tarde hoje.
“É sobre o aniversário de Thomas, pode passar no The Den ainda hoje? ”
Novamente visualizada e ignorada.
Bufei frustrada e atravessei o salão voltando para o bar e me deparando com uma Isabela curiosa olhando para um canto específico no final dos milhares de banquinhos envoltos ao bar. Isabela trabalhava todos os dias comigo, não era uma amiga de fato, por ser tão reservada quanto eu, nossa convivência fluía muito bem e nunca ultrapassávamos o limite uma da outra, exceto quando tudo parecia desmoronar. Os cabelos cacheados de Isabela eram a coisa mais bonita que eu havia visto em toda a minha vida e assim como eu, todas as pessoas que paravam naquele balcão a elogiavam e o fato dela está com o olhar fixo em algo ou melhor, alguém, me fizera perguntar se era mais um dos bonitões que lhe fizera um elogio.
— Elogio, cantada ou você realmente tá de olho no bonitão ali? — cutuquei seu ombro e Isabela apenas balançou a cabeça fazendo que não e rindo em seguida.
— Ele nunca veio aqui! — afirmou. — Eu me lembraria de ter visto um homem bonito desse jeito até se fosse cega.
Eu ri de como Isabela era exagerada em suas falas e em como a nossa convivência me afetava, estava ficando tão exagerada quanto ela. Ficamos batendo papo por dez minutos ou mais, analisando todas as pessoas que estavam no The Den aproveitando que o mesmo estava vazio devido ao dia e horário, era uma quarta feira o dia que o movimento era bem fraco e mentalmente eu agradecia por isso, pois a quinta estava batendo na porta, e é o dia mais cheio e badalado. O homem bonito que Isabela olhava estava prestes a ir embora e antes mesmo que eu abrisse a boca para lhe avisar, a porta de madeira se abriu e revelou um , carregado apenas de seu mau humor, provavelmente por ter que falar comigo.
— Estou sobrando... — Isabela soprou em meus ouvidos, atravessando o balcão do bar indo para o salão apenas para me deixar acompanhada de tensão e . Ele se aproximou e não consegui decidir de fato sua expressão, apenas a auréola de mau humor que ele adquiriu toda vez que eu estava por perto, desde julho. sentou na banqueta redonda, que brilhava mais que os meus olhos quando recebia o salário no final da semana, em frente ao balcão do bar e antes que ele abrisse a boca para me desejar boa tarde, me adiantei.
— Boa tarde, . Cerveja, Uísque, Martini? — eu dei suas bebidas favoritas como opção, afim de amenizar toda a tensão e por sinal, ele percebeu.
— Se puder me acompanhar, acho que escolho a cerveja — ele me olhou esperando a minha resposta e fiz que não com a cabeça. — Então, um Uísque.
Preparei o Uísque de e lhe entreguei sem poder de fato focar na nossa conversa, servi clientes que pareciam ter brotado dos bueiros da UoFC e Isabela estava tão atarefada quanto eu, pedi mais dez minutos para e eles quase transformaram-se em trinta minutos, quando o movimento finalmente havia diminuído, lhe servi mais uma dose de Uísque e tagarelei até que pediu para que eu respirasse e falasse devagar.
— O aniversário de Thomas está chegando e bom ele não está feliz com... — eu mordi os lábios por dentro meio indecisa de usar a palavra “nosso relacionamento atual” e perder todo o foco da conversa. — Conosco. Digo, a gente está se falando apenas por educação e quando não estamos fazendo isso, de fato, estamos ignorando um ao outro ou sendo hostil e ele não quer isso em seu aniversário, entende? — limitou-se apenas em balançar a cabeça. Ah, a compreensão.
— Então além de dar uma trégua no dia de seu aniversário, queria lhe fazer um café da manhã surpresa e é dia de Ação de Graças e sabemos que ele adora! — eu falei empolgada e pela primeira vez naquele dia sorriu sincero, provavelmente de minha empolgação ao falar do assunto. — Não quero ultrapassar o seu limite e nem o limite da sua casa, mas gostaria muito de fazer isso para Thomas, o que você me diz além de balançar sua cabeça concordando?
— Tudo bem! — respondeu visivelmente desconfortável e fingindo uma falsa empolgação com tudo aquilo.
— Você pretende chamar muita gente? — ele sabia que Thomas não era de ter muitos amigos e sabia o quão antissocial eu poderia ser, mas através de seus olhos estava claro que para ele, a casa cheia seria bem melhor do que só nós três.
— Eu não pensei em chamar mais do que quatro amigos da faculdade e Isabela — Declarei. — Mas é Ação de Graças, não sei se irão comparecer — dei de ombros e logo me alertei de que já podia ter planos para aquele dia. — E bom, saí falando tudo isso e sequer perguntei se você já tinha planos para esse dia. Se você já tiver planos, dá nada não, viu?
— É claro que não tenho planos, — abriu um sorriso largo ao fazer essa declaração e eu soltei todo ar que nem percebera ter prendido. — Não acho que vamos ter companhia para o jantar além de nós mesmos, a maioria passa com a família — ele disse e eu logo concordei com a cabeça. — Mas para o café da manhã, aposto que se você chamar toda a faculdade, todos estarão lá.
estava totalmente certo sobre isso, o café da manhã se transformaria em uma festa e tão pouco se importariam com o fato de ser o dia de Ação de Graças, mas seria só um café da manhã e um dia de muito trabalho na cozinha ou de ifood para termos uma bela ceia a noite. Conversei com por mais quinze minutos apenas acertando como tudo seria organizado, o que ele precisaria fazer, organizar e principalmente pensar em algo para enganar Thomas e com tudo isso discutido, pagou por suas duas doses de uísque e foi embora com apenas um aceno de cabeça e um até mais, um até mais que só chegaria próximo ao aniversário de Thomas.
— Meu Deus, a tensão de vocês atingiu todo o bar! — Isabela veio até mim sem dar a volta no balcão, apenas sentou em uma das banquetas e continuou a tagarelar, tirando um pouco da minha paciência.
— Eu ainda me pergunto como você caiu na lábia do Tyler, tendo o aos seus pés. Sinceramente, o que diabos passou pela sua cabeça?
Todos os dias em que via Isabela essa pergunta saia de sua boca, as vezes ela queria realmente uma resposta e outras só queria tirar o pouco que restava da minha paciência. Esse era o caso de hoje.
— Quer ele para você? é o príncipe encantado do seu conto de fadas e não o demônio do meu conto de horror — respondi mau humorada. — Jamais daria certo, satisfeita?
— Não! — ela sorriu mostrando todos os seus dentes não se dando por vencida e dando a volta pelo balcão para ocupar o mesmo recinto que eu.
É hoje que a noite vai ser longa e matarei Isabela com todo o seu interrogatório.
— Se você me responder com sinceridade, eu juro, jurandinho que nunca mais pergunto sobre o que houve com você e Tyler e nem digo que você é apaixonada pelo até o Natal.
— Tudo bem, chata! — declarei, claramente vencida pelo cansaço dessa história.
Flashback ON
Era noite de Karaokê no The Den e se tem uma coisa que eu amava fazer era passar vergonha cantando. Quinta-feira, o dia de balada no The Den, consumia toda a minha energia me deixando só o pó da rabiola todas as sextas feiras, mas a última sexta do mês era dia de Karaokê e só essa simples palavrinha me fazia chegar mais do que radiante no trabalho, pouco se importando com a hora de fechar o lugar. O salão ainda estava bem vazio composto por um grupo de cincos amigos e Isabela conversando com todos animadamente, bati palmas para chamar sua atenção, como se fosse uma mãe autoritária que recolhia a filha aos seus devidos costumes, os rapazes riram e Isabela levantou o dedo do meio para mim assim como Tyler...
— Tyler? — eu arregalei os olhos e não consegui definir se estava feliz ou assustada ao vê-lo sentado naquela mesa. Tyler era veterano na faculdade e bastante conhecido, assim como todas as quatro cabeças que estavam na mesa com ele, tinham uma equipe de Hip-Hop e sempre estavam em batalhas e campeonatos. No meio do ano passado Tyler machucou o joelho em uma dessas batalhas e além de ter suspendido o ano da faculdade, ele ficaria um bom tempo sem dançar e consequentemente sem por os pés em Calgary, já que seus pais preferiram que ele fizesse o tratamento em sua casa, em Quebec. Mas Tyler aparecia por aqui feito um maldito espírito sem avisar a ninguém, mas dias do que deveria.
Conheci Tyler bem antes de , e eu o testei de todas as formas possíveis. Nas festas, na faculdade, no The Den e até em suas batalhas de Hip-Hop. Era um jogo bom de jogar, e eu me sentia com dezoito anos outra vez. No mesmo dia da batalha em que Tyler se machucou, foi o dia em que Thomas trouxe para o The Den, e eu finalmente conheci o primo de que ele tanto falava. E eu soube que não podia mais brincar com o pecado que era Tyler.
— Em carne e osso, meu amor! — ele respondeu tirando-me do transe de vê-lo ali de surpresa. A realidade é que Tyler jogou todas as suas cantadas e fichas encima de mim no ano passado. Ele era bom, devo admitir.
Agradável quando queria e insistente quando testado.
Uma sexta-feira.
De karaokê.
E muita bebida.
— Uaaau, olha quem voltou! — salei sinceramente animada e analisando seu corpo. Para Tyler estar ali bebendo, ele com certeza teve uma boa recuperação desde a última vez que o vi, que se me recordo bem, tinha pouco mais de três meses. — Para me atormentar — falei mais baixo e lhe dei um beijo na bochecha bagunçando seus cabelos ainda mais loiros e longos.
— Você fica um ano sem me ver e não recebo nem um “Estou com saudades”? — Tyler perguntou fazendo a mesa toda rir, inclusive Isabela.
— Exagerado… Não deve ter nem um mês, Tyler, poupe-me.
— Ela não teve tempo para isso — Isabela soprou e logo colocou a mão na boca se retirando da mesa e me deixando ali, com os olhos verdes de Tyler esperando uma resposta.
— Ah, meu bem, é a vida né? Sabemos como ela é... — foi o que me limitei a falar e corri para começar de fato a trabalhar.
O The Den foi ficando cada vez mais movimentado, por volta das 19h, já nem sabia quantas cervejas cada grupo de pessoas havia tomado e nem quantas músicas haviam cantado, a única coisa que eu tinha certeza é que a lista de música estampada na tela da tv duraria muito mais que uma hora. Isabela sairia às 21h e até 23h ou um pouco mais tarde do que isso, teria que me virar sozinha.
20h
21h
22h
— Hey, vem cantar! — era Tyler me chamando da mesa que estava sentado e com certeza não era a mesma mesa e nem as mesmas pessoas de cedo. Ele não estava nem com a mesma roupa, se querem saber. Caminhei até ele e soltei meu rabo de cavalo quando cheguei mais perto. — Não será a Ariana da minha vida hoje? — Tyler jogou a piada e bagunçou ainda mais o meu cabelo, alimentando a minha palhaçada.
— Hoje não, estou sem intenção de te seduzir! — eu disse rindo e peguei o microfone que estava próximo a mesa. — Para mostrar que estou feliz em te ver, eu deixo você escolher a música também.
— ? , é você? — Tyler colocou as duas mãos em cada lado do meu rosto para verificação.
— Eu vou desistir em 1, 2... — e antes que eu terminasse a contagem, Tyler ao invés de soltar meu rosto, iniciou um beijo. E a única coisa que pude notar antes de finalmente corresponde-lo, foi a agitação das pessoas ao nosso redor, como se estivessem esperando por aquilo desde o começo da noite ou melhor, desde o ano passado. Tyler riu entre o nosso curto beijo e me deu um selinho jogando uma intimidade que não existia, eu apenas ri de volta e o chamei de maluco em minha própria cabeça. Em algum canto do bar o grito de “cantem logo” tomou conta do lugar e então Tyler escolheu a música, mas não cantamos, ele entregou nossos microfones na mão de duas pessoas aleatórias que passaram pela gente e antes que ele iniciasse quaisquer conversas sobre o beijo, voltei ao trabalho e me permiti algumas garrafas de cervejas. Foi tudo um truque sujo, e eu caí.
O fim da sexta tinha finalmente chego e com ela, lá estava Tyler Smith, com aqueles olhos verdes focados em mim que nem o seu cabelo loiro sob os olhos, escondiam sua fixação, o meu caminhar de um lado para outro não o impediam de me seguir com o olhar. Minha respiração e postura entregavam o quanto eu estava incomodada e uma parte do meu cérebro que estava alcoolizada dizia que eu estava louca e ele estava mexendo no celular.
— Você não acha que está na hora de ir embora não, hein? — o olhei ao virar a cabeça por cima do meu ombro e deslizei a cerveja aberta pelo balcão — A saideira.
Por incrível que pareça, Tyler não reclamou, tomou sua cerveja e junto com o pagamento e mais uma quantia além do necessário de gorjeta, um bilhete.
“Te espero em casa”
Eu já tinha lido aquilo antes.
havia escrito isso para mim no dia em que nos conhecemos, na parede preta do The Den que servia de quadro. Balancei minha cabeça em total negação e com a certeza de que Tyler não estaria na porta do meu quarto.
Engano meu.
Lá estava ele.
— Você só pode estar brincando! — minha fala não saiu séria e nem de longe brincalhona. Tyler me entregou uma garrafa de cerveja aberta e me acompanhou assim que passei pela porta ainda sem olhar em seu rosto. — Você não vai dormir aqui — o informei e deitei na cama sentindo meu corpo afundar e minha cabeça obter um giro de 360° que nem julgava possível, até agora. Tyler tirou os meus tênis com a maior cuidado do mundo, fez alguma piada tosca sobre meu pé e chulé, que me fez dar um riso contido, antes de começar a massagear um de meus pés com avidez.
— Eu vou embora amanhã — ele fez uma pausa e só continuou a falar quando me sentei na cama e o olhei com a minha melhor cara de, “Mas você não acabou de chegar? ” — Eu vim para pegar o restante das minhas coisas e fazer minha transferência para Quebec. E eu não acho que vai ser legal passar as férias, sabendo que — ele deixou a frase morrer e parou de olhar para mim, o silêncio não me incomodava porque eu sabia perfeitamente o que ele iria dizer. Tyler estava considerando a amizade que tinha com e a sua briga interna estava externa para mim. Ele estava claramente ponderando os pós e os contra, em meio a tensão sexual que surgia entre nós dois.
e eu não namorávamos.
Eles eram amigos de anos.
Não era novidade que eles já tinham ficado com a mesma garota uma, duas ou mais vezes na vida.
Eu sentia uma atração fodida por Tyler e ele por mim.
Eu sentia culpa? Também.
Oh inferno, por que nós nos beijamos?
Ok. Respira.
Antes que Tyler pudesse reproduzir seus pensamentos em palavras, coloquei a garrafa de cerveja ao lado do pé da cama e tirei da cabeça qualquer consequência que a minha atitude poderia gerar futuramente.
— Noite de despedida! — falamos juntos.
FLASHBACK OFF
— Meu Deus, você realmente dormiu com ele! — Isabela afirmou mais alto do que o necessário e graças a Deus a música conseguiu abafar a sua fala.
— O parecia ser tão desapegado quanto a isso, não sei porque ele estava fazendo o durão com você — Isabela comentou essa parte bem mais baixo e levando em conta que ela os conhecia há mais tempo do que eu, jamais discordaria dela.
— Por que diz isso? — perguntei curiosa.
— Eles já namoraram a mesma garota e nunca houve briga — Isabela deu de ombros. — E sempre pega uma turista ou outra, ele não é do tipo namorar em casa até porque ele não fica por aqui. Já o Tyler, pegou metade da faculdade e namorou sério a outra metade — ela riu e eu ri junto, sabendo que estávamos incluídas.
— Isso não me soa bem, quero dizer, em voz alta — fiz que não balançando a cabeça antes de revelar o motivo de estar sendo tão frio comigo.
— me pediu em namoro um dia antes de viajar, um dia antes de tudo isso e bom — eu dei de ombros. — Eu não aceitei e ele acha que estou com Tyler ou escolhi Tyler, sendo que… Ele não acredita em mais nada que eu digo, essa é a conclusão.
Todo o caminho do The Den para casa foi um martírio, eu só conseguia pensar em e no porque dela ter ficado com Tyler e não ter me contado. Todo o problema estava em ficar sabendo pela boca dos outros, não fazia ideia se tudo que estavam falando era verdade e não conseguia dar credibilidade em mais nada que viesse de . Thomas por sua vez não me contava nada, no entanto também não defendia .
“Não acredite em tudo que falam, conversa com ela”
Foi tudo que ele me disse diante do acesso de raiva que tive umas três vezes durante a semana que passei na cidade. Essa história estava me tirando todo o foco. Eu nem costumava ligar quando Tyler ficava com alguma garota que eu já conhecia ou já tinha ficado, era sempre o contrário.
Ôh desgraça de mulher!
Não sabia que estava com tanta raiva até descontá-la na porta do hall de casa, escutando o barulho estrondoso quando a mesma fechou.
— Merda! — Resmunguei sabendo que Thomas iria aparecer de qualquer que seja o buraco para me infernizar sobre isso.
— Espero que quebrar a casa não esteja na sua lista de desejos — ele gritou provavelmente da cozinha ou qualquer cômodo próximo à ela. Abri minha boca tentando encontrar qualquer desculpa antes que ele viesse me perguntar o que houve. — O que houve? — acho que pensei por tempo demais.
— Nada, foi só a Pink. Eu estive com a — costumava a chamar de Pink por conta de seu cabelo rosa, particularmente ela amava, e dizia que jamais tiraria a rosa do cabelo com medo de eu parar de chama-la assim, no entanto, ela já poderia tê-lo feito. Mas o cabelo dela estava com aquele rosa pastel desbotado, e eu o amava assim, parecia que tinha nascido com ela.
— Vocês brigaram outra vez? — Thomas perguntou com um tom de curiosidade e talvez, pena. Eu apenas neguei com um gesto de cabeça e passei a mão pelos cabelos nervoso, decidindo mudar o assunto.
— Meus pais chamaram para passar o dia de ação de graças com eles — menti para Thomas, fazia parte do meu plano com a Pink. — Sei que é seu aniversário e tudo mais, só que eles estão bem insistentes dessa vez, vou ter que ir — declarei, colocando um pouco de pressão que se eu teria que ir, ele teria também.
— Olha eu não sei — Thomas começou — Não queria deixar a sozinha aqui e com certeza ela não está na lista de convidado dos seus pais e nem na sua — ele deu de ombros e eu com todo meu temperamento ruim, mais forçar a barra para que meu primo topasse, apenas lhe dei as costas e fui em direção ao meu quarto batendo a porta forte.
Fiz minha parte. Convença-o.
Enviei essa mensagem para e esbocei um leve sorriso ao ver o gif que ela havia me mandando dela mesma batendo palmas em resposta. Ela não existe.
E para minha sorte não era um daqueles vídeos do Instagram que somem em 24h ou só dá para ver uma vez e então eu perco a noite olhando o gif que me mandou e me amaldiçoo por isso algumas vezes e percebo que não adianta de nada. Quero mandar uma mensagem a ela, tenho a pergunta em mente e não me apavoro com isso, a resposta é o que me dá mais medo. Apesar da distância e o gelo, Pink me parece muito bem e ela não me trata com tanta indiferença como eu a trato e isso me faz pensar se para ela foi só uma eventualidade qualquer sem sentimentos. Mas merda, ela disse que gostava de mim, não disse? Minha cabeça se esforça demais para lembrar de todas as vezes em que ela disse isso, as memórias são quase vencidas pelo cansaço, mas Thomas está na porta e sei que ele vai falar algo e eu só espero.
— Devia mandar mensagem a ela e pedir desculpa — meu silêncio não fez com que Thomas fosse embora e então ele continuou. — , a está aqui para estudar e ter uma vida melhor, ela se mantém aqui e tem que mandar dinheiro para ajudar a avó dela já que a mãe dela infelizmente foi tomada por todo tipo de vício e se tornou uma egoísta, mas a não é assim e você sabe — a porta estava quase fechada e ele finalizou. — Faça isso até você sabe quando, vai fazer bem para vocês dois.
Thomas fechou a porta e ao invés de refletir sobre o que ele disse, ignorei totalmente, porque ele tinha razão.
Iria ficar duas semanas fora da cidade e uma semana procurando alguém para me substituir na empresa, e antes mesmo que esses dias chegassem, eu tinha certeza de que surtaria pelo fato de que eu não conseguiria ajudá-la com a festa e isso era o que menos me preocupava. A proposta de ser promovido veio em melhor hora, a questão é, que me deram a opção de mudar apenas de Estado ou de País e eu sinceramente não sabia se estava adepto para uma mudança tão drástica de clima, pessoas e pontos turísticos, trocar o meu frio canadense para a calorosa Califórnia, um caso a se pensar.
Mas como dizia Thomas: Você já aceitou, só não sabe o que aceitou.
Os 15 dias mais curtos da minha vida aconteceram e eu já tinha tomado a minha decisão, agora só me restava arrumar alguém que pudesse me substituir e meu perfeccionismo não me ajudava em nada.
Fiz toda uma pesquisa de campo com pessoas de níveis profissionais, alguns recém-formados, até que preferi voltar a minha faculdade e ofertar a vaga por lá, exatamente quando fizeram na minha contratação. Me encaminhei até a direção da Calgary e concederam um horário, para que pudesse apresentar a posposta em sala de aula e esperava muito que surgisse pelo menos de três a seis pessoas interessadas e eu milagrosamente gostasse de uma delas.
E o milagre veio.
A sala estava cheia, mais de aproximadamente trinta e cincos cabeças só obtive cinco para mim e ali mesmo os recrutei para outra sala explicando como seria o trabalho e pedi que fizessem um tour comigo pela faculdade e essa era o único teste, não tinha ninguém que conhecesse aquela faculdade tão bem quanto eu e quem me apresentasse até os lugares que muita gente não sabia da existência, era o candidato perfeito pra mim.
— Contratada! — eu estendi a mão para Sarah, mas ao invés de apertar minha mão ela me abraçou eufórica e eu só me fiz abraçar de volta enquanto ouvia seus trezentos “obrigada, obrigada” desesperados em meu ouvido.
— Me desculpa, — ela pediu envergonhada. — Mas eu estava realmente precisando disso, não tem noção de quanto está me ajudando!
— A julgar pela sua emoção! — dei de ombros e apontei para que seguíssemos para saída da faculdade.
— Você vai começar daqui duas semanas, mas quero te encontrar essa semana para acertamos tudo, mantenha o telefone ligado, ok? — Sarah concordou com um aceno de cabeça e entregou o celular para que eu anotasse meu número, retornando para dentro da faculdade feliz demais, mas não tão feliz a ponto de me distrair e não fazer enxergar me olhando com um cigarro na boca, o que era raro porque ela estava fazendo um esforço para se livrar de nosso vício em comum e até onde me lembro, só estava fumando aos fins de semana, não era o caso de hoje.
Faltavam apenas quatro dias para o dia de ação de Graças e também aniversário de Thomas, hoje nós iríamos ao The Den, pois consequentemente seria uma das últimas vezes que ele poderia se divertir com antes de “viajarmos”. Thomas não estava muito feliz, porém conformado e quando anunciei que Sarah iria com a gente e eu mostraria como era que fazia meu trabalho naquele bar, o humor de Thomas se alterou, mas de forma alguma ele fez pé para ficarmos em casa.
O The Den não estava totalmente cheio ainda, mas as mesas perto do bar não existiam mais, mesmo com as luzes coloridas e a movimentação das pessoas eu enxerguei ela atrás do balcão rindo com Isabela de alguma coisa e logo sumindo dali, olhei o relógio apenas para confirmar que ela logo começaria a tocar.
— Já contou a ela? — Thomas perguntou e eu neguei com a cabeça procurando Sarah pelo lugar e não a encontrando. — O que você está esperando, a gente voltar de viagem?
— Não Thomas, vou contar antes, tudo bem? — respondi já incomodado. Mal sabia Thomas que nossa viagem não existia e que havia adiantado a minha ida. — Vamos escolher uma mesa, peço algo agora ou esperamos a Sarah? — perguntei em tom amigável com a ideia de jogar o assunto anterior para fora, o que não adiantou muito com o murmúrio de Thomas dizendo tanto faz. Havia se passado muito mais que dez minutos quando Sarah finalmente se juntou a nós, a cerveja já estava em nossas mãos, o papo estava fluindo, Isabela veio falar conosco por mais vezes que o costume e em umas dessas vezes carregou Thomas para o balcão com ela. A música agitada não deixava as pessoas paradas em nenhum segundo, sempre dançando, sempre passando uma, duas, três pessoas e os esbarrões, e também o pedido de desculpa em seguida com o copo na mão, mas logo a agitação foi parada e eu sabia bem o motivo, sempre havia um momento em que perguntava quem estava indo à primeira vez no The Den e para minha surpresa Sarah levantou um de seus braços assim como um grupo de quatro cabeças, a luz de foco foi primeiro nas quatro pessoas e depois estava em nós.
A luz.
E os olhos atentos de .
“Venham para o Centro pessoal e tragam seus parceiros!”
Durante as últimas duas semanas do aniversário do Thomas, eu não parava de tagarelar um sequer segundo, interagia até demais com os clientes do The Den, fazia de tudo pra Thomas não suspeitar de nada, Isabela com certeza estava querendo me matar e bom, era o mais poupado, pra ele eu apenas mandava fotos do que tinha comprado e perguntava algumas coisas e não passava disso, vez o outra que tentava puxar assunto, logo o corte vinha “Estou trabalhando, te respondo mais tarde” mas a resposta nunca vinha. E eu iria matá-lo sem me importar, se algo desse errado.
— Dio mio Isabella! — eu quase gritei quando vi o Chopp derramando da caneca em suas mãos. — O que há com você?
— Hoje é quinta feira, você nem deveria estar atrás desse balcão, vá se arrumar! — respondeu ignorando totalmente a minha pergunta, mas ela estava certa, o bar estava cheio para caramba e eu só conseguia visualizar as pessoas que passavam pela porta de madeira, olhar de mesa em mesa me deixava tonta por conta das luzes coloridas que ambientavam o lugar.
Eu não costumava falar no microfone quando ia tocar, era sempre o básico perguntando quem estava a primeira vez no bar e os fazia ganhar algo ou passar alguma vergonha, mas hoje em especial deveria falar mais, porquê faltavam apenas quatro dias para a ação de graças. Depois de um bom tempo de música agitada, bar cheio e copos também, abaixei a música aos poucos e busquei o momento de fala.
— Quem é que está aqui pela primeira vez? Alguém? Mais alguém?
A luz focou em um grupo de quatro amigos ou mais, longe demais para identificar e o foco de luz voltou-se para um casal e eu preferia não ter seguido a luz, fechei os olhos com a ideia de apagar o cenário que minha mente criou automaticamente na minha cabeça.
A mesma mulher que estava com no portão da faculdade, sério?
Desviei meu olhar e foquei no meu trabalho mesmo que a vontade fosse sair de lá correndo e chorar, como uma criança de cinco anos faria quando lhe negam algo.
— Venham para o Centro pessoal e tragam seus parceiros! — falei vendo todos se aproximarem um pouco mais da pista de dança. — Hoje será diferente, afinal faltam apenas quatro dias para ação de graças e bom, acho que já podemos começar a agradecer, uh? — as pessoas gritaram em concordância, batendo seus copos e garrafas em um brinde simbólico, eu ri e simulei o brinde com minha garrafa de água sem perder o espirito da coisa. — Obrigado pelas memórias! — eu gritei antes de descer do palco e colocar Thanks for the memories do Fall out boy e despertar o lado emo de todos daquele lugar, eu adorava isso. E eles também.
— Amada! — Thomas falou assim que me viu, com os braços abertos esperando que eu me jogasse ali como sempre fazia, mas logo me lembrei de com a mesma mulher que estava na faculdade. Me incomodou e não foi pouco, uma parte de mim esperava conversar com e ver ele transformando nossa bandeira vermelha em branca, sempre teve jeito para isso, com todos.
Querido, e você a sacudiu
Você sempre teve jeito com as palavras
Por que você não pode explicar isso, então?
— Por que não me contou, Thomas? — a confusão em seu rosto foi nítida e eu queria matá-lo por ser tão sonso, na minha cara. — Sério?
— , ele — Thomas começou, mas logo foi interrompido pela presença de , Isabela e a mulher que até então eu não sabia o nome e nem sei se fazia questão de saber. Antes mesmo que qualquer um abrisse a boca, dei a desculpa de que precisar ir ao banheiro e até chegar no recinto não sabia que estava prendendo o ar e o choro, o reflexo dos meus olhos no espelho estavam marejados e em um tom de azul muito escuro e eu odiava encará-los assim.
— Não precisa ficar assim, cara bonita — a voz calma demais de Isabela adentrou o banheiro e eu fechei os olhos para não vê-lo no reflexo do espelho. — Thomas disse que ela vai trabalhar para e bom, ele veio mostrar como é.
— Eles estavam juntos na faculdade —argumentei.
— Óbvio, , cê acha que ele ia achar alguém para trabalhar com ele aonde? Parece que não conhece o .
— Ela é tão bonita!
— Hale Rhode! — Isabela chamou minha total atenção quando disse meu nome completo. — Se você quer enfiar na sua cabeça que está com ela, vou ser obrigada a jogar sua cabeça no espelho. Mas caso você queira continuar a noite e socializar com todos nós como a adulta que você é e depois tirar suas conclusões, estou te esperando aqui fora.
E com isso saiu do banheiro, porque ela sabia que não precisaria jogar minha cabeça no espelho.
— Tudo bem? — Thomas e perguntaram ao mesmo tempo e antes de responder, meus olhos voaram para as mãos de fazendo um carinho em meu pulso, apenas sacudi a cabeça em um sim, mas no fundo queria ter feito que não, para me aproveitar do toque de .
— Esta é a Sarah, você vai vê-la bastante por aqui, digamos que ela vai me substituir — deu de ombros e Sarah estava com seu rosto bonito e iluminado demais olhando para mim esperando a minha reação, meu sorriso com certeza saiu frouxo, mas mantive contanto.
— Prazer, e estou chocada de ver uma universitária da Calgary nunca ter frequentado o The Den.
— Eu vim transferida pra cá, não tenho muitos amigos que me façam sair, pra ser sincera.
— Mas me diz o que achou, animada para frequentar aqui quase toda quinta com ? — olhei para ambos sugestiva, mas isso não abalou , apenas houve uma pequena confusão no olhar da Sarah, mas ainda assim ela respondeu e engatamos todos em um papo, que uma vez ou outra, eu não estava muito atenta e fazendo de tudo para me manter ocupada e ajudando Isabela, enquanto não retornava para o meu posto de DJ o que não demorou muito e com a minha volta a despedida de ambos, até mesmo de Thomas, o que por um lado me deixou aliviada para terminar o dia em paz e tirar da minha cabeça um possível relacionamento entre e Sarah.
Finalmente os refrescos, ou nem tanto assim. Eu estava acordada ás 6h da manhã de um feriado, com uma bolsa enorme andando pelas ruas do Canadá com uma Isabela sonolenta reclamando do frio, de andar e de estar tão cedo, mas nosso amor por Thomas obrigava-a isso.
— Eu espero que o esteja acordado, se não essa surpresa vai por água baixo com você socando a porta daquela casa — Isabela comentou rindo e ela estava totalmente certa, e eu rezava para que isso não fosse uma premonição dela. E não foi.
Puta que pariu, como alguém consegue ser bonito antes das 7h da manhã?
— Uau! — isso veio de uma Isabela atrás de mim, com certeza tão impactada quanto eu.
estava com seu cabelo muito bem penteado pra trás, mesmo que algumas mexas insistissem em sair do lugar como sempre, sem camisa em um frio desgraçado que fazia aquela manhã, pelo menos para mim e Isabela, a calça moletom tão baixa que eu consegui ver suas entradas e provavelmente foi ali que eu me perdi e fique parada, levando um puxão de minha amiga para seguirmos em frente.
— Babe nele dentro de casa, no meio da rua está frio para cacete ! — sussurrou e em um pulo nós estávamos subindo os três degraus para darmos de cara com .
— Bom dia moças! — cumprimentou abrindo a porta e amostrando seu cigarro para que soubéssemos que não iria entrar agora.
— Então isso voltou a ser o seu café da manhã? — perguntei e ele apenas deu de ombros, apagando o cigarro todo sem graça e me seguindo para dentro da casa, da minha boca quase escapou um “muito que bem”, entretanto me contive com um sorriso abafado, colocando as coisas encima do sofá e já começando a tirar tudo que usaria para ornamentação, mesmo que fossem coisas simples.
Terminei de arrumar a mesa satisfeita de ter feito um bom trabalho, o bolo de chocolate que ele tanto amava estava ali e o brownie de doce de leite em forma de suborno para e Isabela me ajudarem a limpar tudo depois também. Nós tínhamos feitos muitos waffles, comprado croissant e donuts também, e uma variedade de cafés e isso era tudo que Thomas e tinham em comum e herdado da família, o vício em cafeína. Ah, em álcool também e tínhamos um licor de café por aqui. Tudo pronto e lindo. — Perfeito! — falei enquanto batia palmas e olhava orgulhosa.
— Agora é só esperar ele acordar, inclusive falta menos de uma hora para o pessoal chegar e é assim mendigas que vocês vão receber as pessoas? — questionou e eu apenas levantei a sobrancelha enquanto ele jogava uma toalha para cima de Isabela e ela não perdeu tempo indo para o banheiro, o bom era que sabia que a gente saiu da cama literalmente do jeito que dormiu e que aquela bolsa enorme era o sinal de que iríamos dormir lá também.
— Se quiser, pode se arrumar no meu quarto. — sugeriu enquanto subia as escadas e mesmo que eu tivesse indo atrás dele, não sabia se era uma boa ideia. Seu quarto estava mais bagunçado do que eu costumava me lembrar e a única coisa onde estava arrumado ali era sua mesa com o computador e seus desenhos, e um moletom que logo pegou e passou por sua cabeça saindo do quarto sem falar absolutamente nada e não precisava, eu sabia onde estava tudo ali.
Em menos de meia hora eu estava quase toda arrumada, a ansiedade estava queimando em mim e os pensamentos? Pensar sinceramente não era o que eu precisava no momento, mas cá estou com todos os pensamentos embolados sobre o que sinto por , o que quero e como isso poderia dar certo. é lindo mesmo sendo um fumante de merda que nem tenta largar, inteligente, desenha como se sua vida dependesse disso quando na verdade é apenas seu hobby, ama finis, karaokê, Arctic Monkeys, séries de gangster e filmes de guerra, basquete e pizza e muitas outras coisas, eu perderia dias falando sobre tudo que sei dele, mas balancei minha cabeça na frente do espelho tentando tirar todos esses pensamentos da cabeça e a única coisa que veio foram mais lembranças.
FLASHBACK
já estava há cinco dias na cidade e nós saímos todos os cincos, nos horários que encaixavam para mim, indo parar em bares, cinema, pontos turísticos, restaurantes e até um show de uma banda de rock que estava ficando conhecida, essa vida agitada fazia parte da gente e cá estava eu toda arrumada sem saber qual seria o destino de hoje, atravessando a porta do quarto de e nem sinal dele.
— ?
— Banheiro, Pink, já está arrumada?
— Hm, sim e para onde vamos? — perguntei a caminho do banheiro, falei baixo, mas o suficiente para que pudesse me ouvir, não respondeu. Encostei no batente da porta do banheiro a espera que saísse do banho e quando o fez, sua expressão não estava das melhores, eu poderia conhecê-lo há pouco mais que três meses e sabia muito bem quando havia algo de errado.
— Quer me contar o que houve? — ele se sobressaltou ao ouvir a pergunta e respondeu rapidamente que estava tudo bem.
Mas não estava.
— A gente pode ficar em casa hoje, conversar sobre coisas idiotas, jogar algo, comer e é isto — sugeri e ele repuxou um sorriso de lado concordando e eu o deixei no banheiro para vestir qualquer coisa além de uma toalha enrolada na cintura, me preparando para ficar confortável e espalhada naquela cama enorme e pedir uma pizza para nós, sempre era pizza.
— Pediu pizza? — foi a primeira pergunta de ao entrar no quarto e se ajoelhar ao lado da cama ficando na altura da minha cabeça que estava pra baixo, ele me deu um selinho demorado e depois lambeu minha bochecha rindo da minha cara de nojo. — Como você sabe que eu não estou bem?
— Não é difícil! — respondi e ajeitei minha posição na cama para que pudesse olhá-lo sem que fosse de ponta a cabeça.
— Mas não respondeu minha pergunta, cara bonita — ele deu um peteleco em meu nariz e veio para cama se juntar a mim, ainda esperando uma resposta.
— A sua cara muda e você está sempre sorrindo, quando você não está é preocupante. E, hm, quer falar sobre?
— Hm, hoje não, tudo bem? — e como eu disse, só de pensar sobre o assunto seu sorriso tinha sumido outra vez e estava tudo bem se ele quisesse falar e se não quisesse também, para o quarto não se encher de silêncio, mesmo que fosse o nosso silêncio confortável, estava me enchendo de perguntas bobas, mas ainda assim nossas.
— Eu não acredito que você errou a minha cor favorita! — eeclamei e ele tentou argumentar de todo o jeito.
— Você só vive com esse cabelo rosa e de roupas pretas, como eu saberia que era azul?
— Porque eu já te contei, next!
— Qual meu sorvete favorito? — perguntei.
— Cereja, baunilha e torta alemã com calda de caramelo! — respondeu tão rápido e certo que foi total irrelevante ter errado a cor.
— Se você errar essa, Pink, eu juro que como a pizza todo sozinho!
— Ai, lá vem!
— Minha banda favorita?
— Arctic!
— Filme?
— Nossa, pesado. Antigo ou novo? — perguntei.
— Os dois, vai anda!
— O Último Homem, Bastardos Inglórios e Os Últimos das Filipinas! — falei os três de uma vez e eu saberia dizer até uns seis, sem errar. — E eu acertei com propriedade!
— Você nunca viu o de Filipinas, como sabe? — perguntou com a sobrancelha arqueada.
— Porque você sempre fala que eu não assisti, inclusive, minha vez! — pensei e sem dúvidas, essa seria um pouco difícil para .
— Minha música favorita, da vida, essa eu quero ver — eu estava rindo, mas estava pensativo e com receio de errar, e ele erraria.
— Tempo na tela! — brinquei e comecei a fazer uma contagem regressiva para pressioná-lo a responder.
— I love you — respondeu, ao mesmo tempo em que o entregador de pizza havia chego e automaticamente nós olhamos um para outro e iniciamos uma corrida até a porta de entrada, o primeiro a chegar sempre era o que comia o último pedaço de pizza. sempre me deixava ganhar.
FLASHBACK OFF
Eu nunca soube se o “I love you” era de fato sobre a minha música favorita ou sobre mim. Ficar dentro desse quarto acabou comigo.
— Meu Deus, ! – falei comigo mesma e suponho que estava suando, só de pensar na possibilidade de falar isso em voz alta para em algum momento da vida. – Respira, inspira e não pira.
O mantra.
— Amiga, vem logo! — era Isabela e provavelmente todos os amigos de Thomas já estavam na casa. Éramos um total de 8 pessoas, sem contar com Thomas. Isabela, Jess, Camila, Sam, Alec, Ryan, e eu. Todos estavam com seus chapéus de festa na cabeça e eu me preparava com o lança confete em mãos já a espera do barulho da porta batendo e meu amigo xingando pelo som alto, porque sim essa foi a maneira mais eficaz que encontrámos para fazê-lo levantar da cama.
— SURPRESA! – todos gritamos assim que Thomas colocou os pés na escada, sendo banhado de confetes prateados.
Eu estava me sentindo confortável apesar de estar apenas na presença de , e como sempre estávamos escutando as músicas do gosto musical dela.
Sempre abusada.
— Essa eu conheço! — falei completamente animado, pois na maioria das vezes eu não conhecia a música, principalmente se fosse muito recente, lançou seu olhar desafiador para mim e eu sabia qual era o seu questionamento.
— É I don't want to, eu tenho certeza! — respondi sua pergunta silenciosa e pude ver o sorriso que eu sentia falta há meses estampado em seu rosto e toda sua euforia ao me abraçar sem nenhum receio.
— Eu não acredito que finalmente você conhece a música de um artista do Canadá que não seja o Justin Bieber, eu vou até aumentar! — ela estava para desfazer o abraço e correr para aumentar o som, mas eu a puxei de volta e a abracei com todo o sentimento de saudade que estava dentro de mim, soltou o ar de forma tão audível que o alívio dela era tanto quanto o meu, e eu queria falar tudo que estava guardado, que tudo ia ficar bem, que a amava, que podíamos consertar tudo, mas não consegui sequer abrir a boca, apenas desfiz aos poucos o abraço e nos demos um sorriso cúmplice, antes dela correr parar aumentar o som e gritar que iria colocar uma música que pudéssemos fazer um dueto, enquanto terminávamos os afazeres da cozinha.
Uma música, se transformou em várias, o que fez atrasar um pouco o serviço porque adorava uma performance sempre fazendo a vassoura, a escova, os talheres de microfone e isso era tão ela, tão único, pois não tinha nenhuma vergonha quando o fazia.
— Então quer dizer que eu dou uma saidinha para comprar vinho e vocês fazem isso aqui de festival, né, Dona ? — Thomas chegou batendo palmas enquanto estava literalmente cantando uma música qualquer da Ariana Grande nos primeiros degraus da escada.
— que pediu! — me acusou apenas dando de ombros e eu quis beija-la até que implorasse para parar. Só contive o riso. — Eu nunca vi uma pessoa demorar TANTO para comprar um vinho.
— Se fosse menos exigente eu teria encontrado o vinho no primeiro mercado e você sabe — Thomas reclamou e resmungou mais algumas coisas que não dei a menor importância quando ele assumiu meu posto de ajudante de , pelo menos foi o que pensei.
— Não sei onde você pensa que vai ... — cantarolou e antes que argumentasse com algo, minhas mãos já estavam cheias com toalha de mesa e todas essas coisas que se coloca ou na verdade, que a Pink quer na mesa.
— Isso está no forno desde quatro horas, não é possível que não esteja pronto! — estava morrendo de fome e qualquer coisa que eu pensava em pegar pra comer, falava que não e tudo só estava indo bem até agora por conta de Thomas, este que também estava me dando razão pela demora.
— Você tem certeza que precisamos esperar mais trinta minutos pra essa coisa ficar pronta? — Thomas perguntou logo emendando. — Mais uma taça desse vinho e eu não vou ver a cara do seu assado. — eu vibrei por dentro e considerando que Thomas estava bebendo desde seu café da manhã o diabo do licor de café e desde a tarde o vinho, ele não iria se demorar para nos dar trabalho.
— Tá, tá, tudo bem!
— SÉRIO? — Thomas e eu gritamos, comer é sempre motivo de alegria.
riu e sussurrou um "esfomeados" que ignoramos totalmente nos servindo e enchendo as taças de vinho novamente, mesmo emburrada, Pink se deu por vencida e começou a comer com a gente, sempre lembrando que comeríamos o seu assado e não poderia sobrar nada para o outro dia. E nós comemos, estava extremamente gostoso e ela estava tão orgulhosa de tê-lo feito que até se tivesse ruim, eu falaria que estava bom.
— Quem te ensinou a fazer isso? — Thomas perguntou e devo dizer que ele estava em seu terceiro pedaço, estava estirada no sofá dizendo que não conseguia ficar sentada e com a calça fechada, porém não parava de comer, nem de beber e nem de falar.
— Para ser sincera? — pude ver seus cabelos e o topo de sua cabeça no braço do sofá, enquanto decidia se falava a verdade. — Eu liguei pra minha avó né gente, isso não é óbvio?
— Ganhei! — eu gritei e Thomas deslizou o dólar pela mesa e tomou a dose de tequila que estava no centro da mesa.
— Eu não acredito que vocês apostaram sobre mim, seus cretinos! — a almofada que jogou foi total em Thomas e a guerra começou, nós parecíamos três crianças tendo uma noite agitada e feliz onde os pais não pedem para arrumar a bagunça, não mandam parar de brincar, gritar e todas essas coisas. Fazia tempo que não me sentia assim, com a sensação de infância, de pureza e a julgar pelo olhar e riso de e Thomas a sensação era a mesma.
— Pausa essa merda! — era Thomas com seu celular em mãos e acenando que iria atender longe da sala, sem perder tempo joguei as almofadas que estavam nas minhas mãos na Pink e fazendo um total estrago de taça quebrando e vinho no chão.
Em que momento da vida ela pegou essa taça de volta?
— FILHO DA PUTA! — ela gritou, mas não se mexeu e nem podia, estava descalça e havia cacos de vidro por todo lado, ao mesmo tempo que queria ajudá-la não parava de rir e por mais brava que estivesse seu riso estava lá.
— Machucou, me desculpa! — pedi quando finalmente controlei o riso e vi um resquício de sangue em um de seus pés, Pink expressou que não foi nada, só que pela sua cara estava doendo um pouco ou não era só aquele corte.
— Tem como você me tirar daqui logo?
— Apressada...
— Porra, , o caco ainda tá no meu pé!
— Desculpa! — já havia pedido desculpa a umas trinta vezes, havia realmente um caco em seu pé e ainda que bem pequenos, eram três cortes, e mesmo com a birra de que não precisava passar nada a obriguei sentar na cama para passar um remédio que não deixasse inflamar.
— Você não precisa fazer isso e nem pedir desculpas... — ela fez uma pausa ponderando se continuava com a sua fala. — Não por isso.
Eu abaixei os olhos na mesma hora, não podia manter contato visual com , ela saberia que eu estava escondendo algo, sempre sabia e admiro ela não ter me questionado sobre até agora.
Verifiquei o relógio e ainda faltava mais de uma hora para meia noite.
— Ainda é aniversário do Thomas, trégua, se lembra? — fez que sim com a cabeça e a relaxou em meu ombro em seguida. Mantê-la por perto sem nenhuma hostilidade não era difícil para mim, difícil estava sendo omitir, com uma boa noite que poderíamos ter, e devo assumir meu erro e egoísmo por ter escolhido uma boa noite com ela.
— Você está caindo de sono.
— Eu sei, !
— E por que não se deita?
— Porque estamos no seu quarto!
— Não me importo! — respondi sem dar tempo para argumentar e sem colaborar muito comigo a ajeitei na cama deitando ao seu lado e seus olhos estavam lá, procurando segurança, resposta, explicação ou qualquer coisa que a deixasse confortável em deitar na minha cama depois de meses.
— Está tudo bem — lhe disse e era tudo que ela precisava para me abraçar e sem receio a abracei de volta, eu conseguia sentir seu coração de tão forte que estava batendo, sua respiração um pouco ofegante e a intensidade do seu abraço, uma única lágrima escorreu em meu rosto sabendo que ela jamais me perdoaria por ir embora e não contar.
— Me desculpa, me desculpa de verdade! — eu pedi e beijei sua bochecha várias vezes, escutando sua risada abafada em meu pescoço.
— Posso te pedir uma coisa?
— Hm?
— Podemos conversar amanhã? — eu apenas suspirei e levei tempo demais pra responder a sua pergunta, com um simples e seco. — Podemos.
— Outra coisa...
— Está encrencada? — perguntei rindo e ela negou com a cabeça ainda atrelada a mim.
— Me beija?!
Soou mais como uma afirmação do que uma pergunta/pedido, ela estava tensa assim como eu, era palpável, e o calor que subitamente nos acometeu, imbatível. Meus olhos estavam focados em sua boca entreaberta esperando que eu a beijasse, soltava o ar calmamente apesar de estar claramente ansiosa pelo toque. Beijei sua testa delicadamente e preenchi todo o seu rosto com o mesmo gesto, calmo, delicado, amoroso e demorado. Rocei meus lábios nos seus ainda sem pretensão de iniciar o beijo.
— Olha para mim — pedi e meus lábios roçaram nos seus de tão próximos que estavam. — Tem certeza?
E ela me beijou, tendo a certeza do que queria, do que estava fazendo e que eu jamais a afastaria. Era quente e ao mesmo tempo doce e sutil, nunca tinha a beijado assim antes com tantas sensações e gostos.
Rápido demais. Mas eu não queria soltá-la agora.
Seu corpo
Sua respiração
Os lençóis
Seus gemidos
Seu suor
Seu gosto
Todo o amor
Tão entregue
Exausta
Tudo tão certo, na hora errada.
Os olhos de estavam atentos em mim e marejados ao mesmo tempo, e não de uma forma ruim pois ela escondia um sorriso através dele. Soltei a fumaça de cigarro pra cima dela e ofereci, ela tinha voltado a fumar e era visível que estava tensa, aceitou de bom grado não demorando a instalar a tensão no quarto entre nós.
— Nós podemos fazer isso dar certo, basta sermos honestos um com outro — e essa foi a última frase que ouvi de .
Ele não estava mais aqui, porém podia vê-lo em todo, TODO maldito lugar. estava em mim, no meu quarto, nos meus sonhos, nas mesas do The Den, nos corredores da faculdade, nas festas, em Thomas, em Isabela, em todo maldito gringo que aparecia junto com a Sarah, em cada barulho do celular de Thomas ou da casa.
Eu estava enlouquecendo.
Sim, vou atear fogo em todo o meu quarto (ah, ah, ah)
No primeiro dia eu fiquei completamente em estado crítico de negação, não poderia ter ido para outro país sem ao menos dizer adeus, sem se despedir, sem falar absolutamente nada. Meus pensamentos me jogavam pro dia anterior onde tudo estava bem e parecia realmente certo o nosso esforço para deixar Thomas feliz, e pareceu totalmente surreal quando lhe pedi uma chance para conversar.
Agora faz total sentido o porquê de ele ter concordado.
A conversa jamais existiria.
E aquela foi a nossa despedida, ele sabia.
No segundo dia eu deveria ter ido trabalhar, mas não aconteceu. O choro estava entalado na minha garganta, minha cabeça doía e qualquer sinal de vida possível que presenciei era o rosto de que eu via quando na verdade era só Thomas tentando me fazer reagir e sair de dentro do quarto de .
Eu obedeci, depois de incontáveis horas esperando uma ligação, uma mensagem, carta, sinal de fumaça, telegrama com uma explicação.
E lá se foram uma, duas semanas.
Vivendo no automático, na rotina.
Faculdade, The Den, dormitório e o que as vezes sempre era minha programação favorita, sair e dormir na casa do Thomas, eu não fazia mais.
Eu pintei toda a parte rosa do meu cabelo, em um momento de surto, pois até isto me fazia lembrar de . E uma mulher com problemas, acha que mudar o cabelo vai acabar com TODAS as suas preocupações.
— , ! — era Thomas com a sua vigésima quarta investida de saber como eu estava, se ainda estava triste ou chateada com ele e até quando isso iria durar. Não lhe dei atenção e segui para o meu quarto, sabendo que ele viria para ver a porta sendo batida mais uma vez. — Não bata! — Pediu desesperado e dessa vez, eu não bati.
— Me desculpa, jurou que te contaria e eu confiei nisso — eu fiquei em silêncio, não sei por quanto tempo, mas Thomas não pareceu se incomodar tão pouco acrescentou algo em sua fala. O único barulho do quarto era o isqueiro, do e que irônico, no qual eu estava acendendo e apagando em busca de alívio.
— Eu o amo, Thomas, você consegue entender? Por um tempo, muito tempo ,eu achei que não, neguei isso para mim mesma por tanto tempo que acreditei na minha própria mentira e agora? Ele não está aqui, só consigo me sentir usada e eu não sei lidar, Thomas! — eu quase gritei, de raiva, de medo, de dor, de amor. — Eu tô chorando o tempo todo, por dentro e por fora e me privando de tudo, porque até nas pequenas coisas eu o vejo e eu não quero esquecê-lo apesar dos meus míseros esforços.
— Você tem uma pasta no Google fotos apenas com fotos dele e de vocês juntos, eu não chamaria isso de esforço — Thomas debochou e isso me fez rir, ele não estava errado, eu não estava me esforçando em nada para esquecê-lo, eu não queria.
E sendo bem sincera, me apaguei ao sentimento de sofrer por falta dele pois era o que me deixava mais próxima de , mesmo que ele estivesse a tantos quilômetros de distância e sem ter deixado nenhum sinal de que poderíamos conversar.
Egoísta desalmado.
Isabela e Thomas estavam fazendo de tudo pra me deixar bem e bem eu estava, só não tão animada como eles, fazendo infinitos planos para os meses que restavam desse ano, e eu usava sempre meu único argumento que era: Vocês não sabem o dia de amanhã. E eles jogavam sempre na minha cara, com ar de deboche: Sabemos sim. Eu definitivamente os odiava, pelos menos até eles aparecem falando de como iríamos fazer esse Halloween.
Halloween sempre teve todo meu amor e dedicação. E minha alegria, meu eu, estava de volta com essa celebração. Nós enfeitamos a casa de Thomas e prometemos dar doces as crianças até o horário da festa no The Den e escolhemos duas fantasias para aquele grande dia e eu estava muito feliz de ter um squad onde poderíamos ir vestidos na nossa melhor versão de “ As Patricinhas de Beverly Hills” e não lembrar de nada no dia seguinte. Nós tivemos o feriado, o Remembrece Day (relembrar de todos os combatentes que faleceram em conflitos defendendo seu país) e era o dia em que você com certeza topava com alguém na rua usando broches em formato de papoulas, em respeito e apoio, era algo que sempre soube, mas confesso que não era muito a par, até conhecer e seu acervo de conhecimento sobre a guerra, por conta de livros, filmes, documentários. Ele amava.
— O quanto tem de limite nesse cartão, Thomas? — a julgar pela quantidade de coisas que havia em seu carrinho, mesmo sendo dia de Black Friday, Thomas estava levando coisas que não tinha a menor necessidade e que talvez nem fosse usar nesta vida.
— Você sabe que boa parte disso é para e minha mãe, né?
— Mentiroso! — falei rindo e tirando pelo menos uns 5 itens de seu carrinho, eram coisas completamente iguais apenas de cores diferentes e que bom, já tinha em sua casa. Thomas não reclamou, até ver Isabela e exigir que eu fizesse o mesmo em seu carrinho.
— Vocês são muito consumistas, eu quero ver como vão viver o restante desse ano e acho bom meu presente de Natal ser uma dessas bodegas que vocês compraram, viu?
— Sabemos, ... — responderam em tom de preguiça e eu só me fiz rir todo o caminho de casa, tentando adivinhar o que poderia ser meu daquele tanto de compras.
Eu estava trabalhando igual a um zumbi, depois das compras Isabela e eu trabalhamos até pouco mais que ás 3h da manhã e ás 11h deveria estar no The Den para receber os carregamentos, por que diabos peguei essa função justo nesse fim de semana? NUNCA fazia isso. Mesmo uma pobre zumbi de mau humor, passei a tarde bem e rindo com as poucas pessoas que estavam por aqui hoje, de ressaca e servir a única coisa que era pedida: tônica.
— Nem parece o mesmo lugar de ontem! — Isabela disse assim que chegou, com uma cara bem melhor que a minha e maquiada, inteira e maravilhosa e agradeci aos céus por ela não perguntar que caminhão havia me atropelado, nós só relembramos momentos do dia anterior e declaramos que teria uma hora de cerveja de graça, essa que ninguém queria beber.
— Por mim fazia The Den Black Friday Loungue uma vez no mês, só o caixa de ontem deu o que nós fazemos a semana inteira em dias normais — comentei em privado com Isabela vendo sua cara de espanto, sem acrescentar nada, além de: a comissão vem e uma dancinha horrorosa. Eu sentei e deixei oficialmente todo o serviço de servir mesas e socializar com clientes para Isabela que não reclamou, ela gostava dessa parte muito mais do que eu e não estava com cara de morta, pontos para ela.
Sarah estava aqui hoje e pela primeira vez depois de muitos dias, eu a via e não a transformei em um fantasma de e ao pensar isso, talvez alto demais a notificação que apareceu em meu celular me deixou paralisada.
Porque eu sinto saudades de nós juntos
E eu não posso nem mentir, eu preciso de você
Eu poderia pegar um voo, eu poderia arranjar o tempo
Eu sei que estou fora da linha
Eu posso te ver?
♥
A mensagem que havia recebido de desestabilizou todo o meu ser. Eu lia, relia e não sabia como reagir, como responder e se responder. Minha parte racional bloqueava o celular, enquanto meu coração gritava para deixar meu orgulho pra lá, jogar a mágoa fora mesmo que por umas horas, que nada funcionária enquanto tivéssemos pendências um com o outro. Guardei o celular no bolso apesar de querer gritar para todo mundo o conteúdo daquela mensagem, inclusive para Isabela.
— Sem euforia, , não perca o foco — falei para mim mesma, conforme as horas iam passando e eu ainda não sabia o que responder, a única certeza que eu tinha é que sairia correndo do The Den para falar com Thomas sobre o teor dessa mensagem, ele com certeza saberia o que dizer.
Saí do The Den sem ajudar Isabela para fechar, mesmo eu não abrindo o bico para ela sabia inteiramente que algo estava me deixando inquieta e por incrível que pareça não fez seu interrogatório para saber sobre o assunto. Estava chovendo, não era uma chuva torrencial, só uma chuva que particularmente combinava com tudo que estava bagunçando dentro de mim, levaria de dez a quinze minutos andando até a casa de Thomas e sentindo o frio, o vento, a chuva me lavando e me ajudando a pensar seja com coração ou racionalmente. A mensagem de ainda estava lá e isso para mim, era sinal de que ele ainda não havia se arrependido de tê-lo enviada.
Sorte a minha?
A porta estava trancada. A campanha mesmo que ligada e meu dedo apertando incontáveis vezes, não fez com que Thomas aparecesse e nem meus gritos que fizeram com que um de seus vizinhos pedisse silêncio. E eu me praguejei por não ter ligado antes.
Hoje eu era personificação da triste beleza. A pura inspiração do poeta, carregando o mais profundo sentimento de não saber se poderia falar "eu te amo". Estava tanto chorona quanto quieta, sentindo frio e fria, acomodada na noite escura e sozinha, se perguntando o que tem de tão bonito na melancolia, para que as pessoas passassem mais tempo sendo tristes do que felizes? E eu não queria me sentir triste assim. Não mais.
Peguei meu celular e enviei a única mensagem possível que poderia enviar para , anexando a foto da porta de sua casa.
E eu não quero me sentir triste assim
Baby, como eu esqueço de você se eu não quero?
Abri a câmera do celular e não sei por quanto tempo fiquei olhando o caco que eu estava. Eu diria péssima e se minha avó me visse, apenas diria para trocar a roupa molhada antes que pegasse uma gripe, eu ri comigo mesma e comecei a enfiar na minha cabeça que deveria ir para casa, ficar sentada em frente a porta de Thomas esperando que ele chegasse para ouvir meu chororô, já não fazia mais parte da programação e se fosse para sofrer de ansiedade à espera da resposta de , era melhor que eu fizesse isso quentinha e na minha cama.
— Você não vai ficar sozinha, eu estou aqui!
Me doía saber o quanto ficou mal, eu não estava muito diferente, só que não era sobre mim. Não deixei nenhuma abertura ou vestígio de que ela poderia entrar em contato comigo, entretanto qualquer toque ou mensagem em meu celular eu tinha esperança de que poderia ser ela, me chamando de egoísta, babaca, desalmado ou qualquer coisa dessas e sinceramente? Não me importaria.
E assim, se passaram semanas. Ela nunca me mandou uma mensagem e conforme Thomas me dizia que ela estava, entrar em contato a puxaria para trás principalmente com promessas que eu nem sei se poderia cumprir. Me ocupava de trabalho até no meu tempo livre para não cair na tentação de contatá-la e eu quase morria por dentro quando nem ela, Isabela ou Thomas postavam algo na rede social para que eu pudesse vê-la.
Isso não era saudável, sabia completamente. Mas por que trazer tudo à tona logo agora? parecia estar em seu estado de espirito de quando a conheci. Livre, sonhadora e feliz.
Ela não estava mais com seu típico cabelo rosa e agora estava usando ao natural, ondulado e foram poucas as vezes que a vi assim, é lindo e deixa seu rosto mais alegre. Eles se divertiram no Halloween tanto nas ruas, nas festas e dando doces. Não esqueceram da tradição “Remembrance Day” e eu estava orgulhoso, que finalmente meu bom gosto por filmes de guerras os deixaram atentos e respeitosos a data. E talvez eu não saberia como eles sobreviveriam os próximos meses com tantas e tantas compras feitas na Black Friday. Amava vê-los feliz, e uma parte gritante de mim estava pensando em como eu queria fazer parte disso e em um súbito momento de coragem, estava saindo de casa feito louco a caminho do aeroporto apenas com os documentos necessários para embarque, carteira e celular, se eu pensasse duas vezes, desistiria.
Porque eu sinto saudades de nós juntos
E eu não posso nem mentir, eu preciso de você
Eu poderia pegar um voo, eu poderia arranjar o tempo
Eu sei que estou fora da linha
Eu posso te ver?
Enviei para a mensagem, que na verdade era a letra de música da cantora que ela amava e eu, finalmente conhecia e gostava também.
E não era como se eu não quisesse ver a resposta, mas minha única opção era desligar o celular com medo de uma decepção.
Só queria vê-la.
Meu relógio parecia ter parado, os ponteiros com toda certeza estavam ruins. Todo o avião parecia estar dormindo ou ocupados demais em seus celulares e livros, eu? Eu era pura agonia olhando para todos eles, para o teto, tentando dormir e fazendo desenhos imaginários na poltrona da frente. Nem mesmo as coisas que servem durante a viagem acalmaram meus nervos e aceleraram a viagem que era apenas de TRÊS horas sem escala. Não ligar o celular foi inevitável e ao mesmo decepcionante, ainda não havia respondido.
Ela está no The Den, trabalhando.
Foi o mantra que obriguei a entrar na minha cabeça enquanto tentava entrar em contato com Thomas. Em vão.
— Ódio! — extravasei, alto demais atraindo olhares do qual eu não gostaria. Pedi um uber para o The Den, era certo de encontrá-la lá, ainda que eu ficasse do lado de fora esperando até a hora que fechasse. Tentei ligar para Thomas apenas me deparando com sua voz idiota.
“Se caiu aqui é porque não posso atender, deixe seu recado ou... Ah eu não vou ouvir mesmo”.
— Eu vou te matar — sussurrei. Minha segunda opção era Isabela, só que entre enfrentar uma raivosa e uma Isabela protegendo sua amiga, deixei pra lá. Foram mais vinte minutos de tortura até que eu chegasse ao The Den e o encontrasse fechado.
— Pode seguir — comuniquei ao motorista, adicionado uma outra parada e sendo surpreendido, finalmente por uma mensagem de . Relaxei o corpo no banco traseiro ouvindo minha respiração alta e sentindo meu coração a cada batida. Ela estava em casa, eu gostaria de chamar assim.
Mais perto do que nunca.
Minha cabeça era um vazio, pois tudo que havia planejado falar para nessas horas de loucura, desapareceu quando a vi, ainda pelo vidro do carro.
Encolhida
Molhada
Sozinha
E triste.
Meus olhos se encheram de lágrimas e não lutei para conter as que começaram a cair, a imagem de sentada em frente a porta parecia uma pintura, uma pintura bonita e triste, mas ainda assim uma obra de arte para quem poderia ver o que eu via.
Me aproximei devagar mesmo que meu coração e respiração estivessem como de um corredor de maratona, não queria assustá-la.
— Você não vai ficar sozinha, eu estou aqui!
Fim.
Nota da autora: Sem nota.
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02. Mercy | 11. Bad At Love | 10. Nintendo Game
Nota de Beta:
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