Capítulo Único
Scarlet entrava correndo pela casa, já estava em cima da hora para sua aula de balé. Cumprimentou sua mãe rapidamente e dirigiu-se ao seu quarto para pegar a bolsa que continha as coisas que ela usaria para ir à academia. Desceu as escadas, pegou uma maçã e se dirigiu a saída, mas foi parada por um grito de sua mãe.
— Ei, mocinha! Não vai almoçar? – ela lhe olhava, preocupada.
— Mãe, agora não dá, esqueceu que hoje eu tenho balé? – ela já segurava a porta pronta pra sair.
— Uma maça não irá te sustentar, Scar! – a mãe ralhava com ela, preocupada com sua alimentação. – Ainda mais depois de um dia cansativo no colégio.
— Eu como qualquer porcaria no caminho. Beijo! – Scar bateu a porta e se foi. A mãe só balançou a cabeça negativamente.
A garota andava apressada pelas ruas da cidade, não poderia se atrasar, pois hoje seria o teste para o musical Alladin, e ela queria muito o papel de Jasmine.
Do outro lado da rua encontrava-se , o garoto andava com seu skate pela calçada, distraído, enquanto escutava uma música qualquer em seu Mp3, – sim, ele ainda tinha um, aquilo era relíquia - adorava andar pelas ruas daquela cidade com seu skate, mesmo não sendo o correto, porque se algum guarda o pegasse ele se daria bem mal.
decidiu atravessar a rua, queria olhar a loja de instrumentos musicais, precisava dar uma olhada nos preços das guitarras, a sua estava pedindo aposentadoria.
O que ele não esperava era que uma garota que andava extremamente rápido não o visse com o seu skate, e esbarrasse com toda força nele. Acabou que os dois se trombaram fortemente e a garota levou a pior, caindo no chão de bunda.
— Que merda! – ela soltou um grito. se assustou.
— Me desculpe, eu não te vi – ele a ajudou a se levantar, pegou a sapatilha da garota que havia caído e a entregou. A garota rapidamente a pegou da mão dele, sem lhe encarar.
— Deu pra perceber, fala sério. Presta mais atenção, cabeção! – a garota respondeu brava, e continuou o seu caminho.
— Eu, hein... que garota mais mal educada! — sussurrou. Ele ameaçou andar, quando pisou em algo. Olhou para baixo e viu que era um celular. Pegou o aparelho na mão e constatou pela foto da tela de bloqueio que era da garota. – Moça, seu celular! – ele gritou, mas Scarlet já estava bem longe.
Ele tinha que devolver o celular dela, pelo menos se acontecesse algo assim com ele, com certeza ele gostaria que a pessoa devolvesse. Mas, como ele devolveria o aparelho dela se o celular estava bloqueado e ele não conseguia acessar a tela de contatos? Como uma luz, ele lembrou-se de algo, a sapatilha da garota, pelo modelo com certeza era de balé. Ele só precisava achar alguma academia pela região para devolver o objeto a ela. Viu uma banca de jornal e decidiu perguntar:
— Ei, moço, você sabe onde tem alguma academia de balé ou dança por aqui? – o jornaleiro franziu o cenho, tentando se recordar de algo.
— Olha, tem uma aqui na quinta avenida. – o senhor apontou com uma das mãos a direção que deveria seguir.
— Tá certo, muito obrigado – o garoto sorriu. Continuou sua caminhada até achar o lugar. Com certeza era mais luxuoso que tudo o que ele já havia visto. Viu uma recepcionista e decidiu por perguntar.
— Boa tarde, moça! Aqui vocês têm aulas de ballet? Ou qualquer dança que tenha que usar aqueles tipos de sapatilhas estranhas? – a moça prendeu o riso com a pergunta do rapaz.
— Boa tarde, temos aulas de ballet. Inclusive está em andamento – ela lhe olhava curiosa, ele não tinha modos e nem jeito de que gostava desse tipo de dança.
— Hãn, certo, só precisava mesmo dessa informação. Ah, você conhece essa garota? – ele pegou o celular da menina e mostrou a foto da tela de bloqueio para ela. – Ela perdeu o celular, gostaria de devolver.
- Sim, eu conheço, inclusive ela está aqui neste momento – ele assentiu e decidiu esperar na recepção, uma hora a garota sairia de lá e ele devolveria o objeto para ela.
***
— Estou tão orgulhosa de vocês! Todos foram muito bem. Com toda a certeza eu terei grandes dificuldades em ter que escolher o casal que fará o Alladin e a Jasmine. Lembrando que temos muitos outros papéis de grande equivalência no musical, ok? Estão dispensados.
Os alunos se retiraram do local apressadamente. Tudo o que Scar queria era conseguir o papel de Jasmine, havia treinado tanto para tal, seria injusto se outra garota roubasse o seu lugar. Guardou suas coisas, calada e resolveu que iria embora, mas antes precisava dar uma olhada em suas redes sociais, desde a hora que havia saído do colégio que não tinha visualizado.
Procurou pelo celular, mas não o encontrava de jeito nenhum, sentiu que o coração estava na garganta com o nó que se formou no local. Tudo o que passava em sua cabeça era que aquilo não podia estar acontecendo, seu celular era novo. Decidiu revirar a bolsa, mas não o encontrou. Onde poderia tê-lo deixado? Passou a mão por seu rosto e sentiu que lágrimas o molhavam, estava muito ferrada.
Respirou fundo, juntou suas coisas, e saiu porta a fora da sala com uma tristeza maior do que tudo. Sentiu-se muito burra, onde teria o perdido? Passou a catraca do local cabisbaixa, parecia que tinha perdido um pedaço de si.
levantou-se quando viu que várias pessoas saiam do local, deduziu que a garota estaria no meio, olhava atentamente, a procurando. Viu uma garota tristonha saindo do local, estava em dúvida se era ela, olhou para a tela de bloqueio do celular para confirmar e teve a certeza.
— Ei, garota! – ele lhe chamou a atenção, Scarlet o olhou, mas não o reconheceu, quem poderia ser? Era um rapaz muito bonito, mas tudo o que ela conseguia reparar eram nas roupas horríveis e de extremo mau gosto que o rapaz utilizava, ela com toda a certeza não conhecia ninguém que se vestisse tão mal e ainda andasse com um skate debaixo do braço.
— Sim? – fez uma careta quando ele se aproximou dela.
— Acho que isso é seu... – o garoto mostrou o celular para ela. Scarlet tomou o aparelho da mão do rapaz, o analisando minuciosamente, olhou a tela de bloqueio e quando viu sua foto quis pular de alegria.
— Sim, é meu! Muito obrigada – ela sorriu verdadeiramente pela primeira vez naquele dia – Como achou?
— Bom, de nada... É que a gente se trombou hoje mais cedo e eu fui perceber que seu celular tinha caído depois que você tinha disparado e já estava longe. – ela o olhou, surpresa e arrependida, tinha o tratado tão mal e o rapaz era muito simpático.
— Nossa... E como descobriu que eu faço ballet aqui? – ela lhe questionou, curiosa.
— Suas sapatilhas. Elas caíram no chão àquela hora, então deu para perceber. Portanto, eu procurei saber onde tinha uma academia de ballet para te devolver.
— Uaaaau! – ela exclamou estupefata — E eu fui extremamente grosseira com você. Ai, meu Deus, me desculpe, de verdade! Eu te agradeço muito, muito mesmo por ter devolvido o aparelho, minha mãe me mataria se eu o perdesse. – ela o olhava, agradecida, estava tão feliz que abraçou o rapaz, o pegando de surpresa. Ele acabou por retribuir o gesto.
— Ah, não foi nada – ele sorriu sem graça quando eles se separaram.
— Não diminua seu gesto, você me esperou por mais ou menos três horas, quem faz uma coisa dessas em pleno século XXI? – ele coçou a nuca, desconcertado – Qual é o seu nome, herói?
— Meu nome é e o seu? – ele sorriu levemente.
— Meu nome é Scarlet. Vamos indo? – ela apontou a porta para que eles saíssem logo do local, temendo que fosse vista com uma figura daquelas, o que as pessoas falariam? Ele concordou. – Então, , eu preciso fazer algo pra te agradecer... – ela olhou o rapaz enquanto caminhavam. Tinha o achado bem bonito, apesar das roupas dele.
— Não precisa, por favor. Eu não fiz pensando em recompensas, fiz porque achei que era o certo, e o que eu gostaria que fizessem por mim, caso acontecesse comigo. – ele comentou aquilo e Scar o achou adorável.
— Você é muito fofo... – ela confidenciou. O rapaz acabou por rir com a cara que a garota fez quando percebeu que tinha falado alto. Eles pararam de caminhar na esquina da academia. – Ai, que vergonha! – ela riu, sem graça.
— Na verdade, você pode fazer sim algo por mim – a garota o olhou apreensiva com o pedido que o rapaz faria – Passar o seu número pra mim...?
— Mas é claro que eu passo – ela sorriu largo, enquanto anotava seu número no celular dele. – Qual o caminho você vai seguir?
— Eu vou virar agora para a direita – ele passou a mão pelos cabelos – E você?
— Eu vou para lá – apontou a esquerda – Mas foi um prazer te conhecer, e mais uma vez muito obrigada.
— De nada, e eu vou te chamar no whats – ele caminhava de costas enquanto falava com ela.
— Demorou, chama sim. – ela sorriu sincera e acenou para o rapaz que estava com um sorriso enorme em seu rosto.
***
foi tranquilamente pra casa, com um sorriso no rosto que significava dever cumprido, tinha feito sua boa ação do dia e de quebra tinha faturado o telefone de uma garota linda, que demonstrou ser bem educada no final das contas. Abriu a porta e se deparou com um furacão:
— ! Estávamos te esperando por três fucking horas! Você escutou! Três fucking horas! — a garota apontava o dedo na cara dele e caminhava enquanto falava, se aproximando cada vez mais dele, até que ele estivesse encurralado na parede com ela o pressionando. conseguia ser bem intimidadora quando queria. — Eu quero uma explicação plausível, seu merda!
fez uma careta, o garoto havia esquecido que naquela tarde eles tinham ensaio da banda a qual faziam parte. era a baixista e ficava no vocal e na guitarra.
— Eu... É estava fazendo uma boa ação, fui devolver o celular de uma garota que tinha o perdido – ele coçou a nuca, desconcertado.
— Claro, e você demora três horas pra fazer essa tarefa simples... – a garota o fuzilava.
— Ela tinha aula de ballet, eu fiquei esperando pra devolver, e acabou que a hora foi passando e deu no que deu...
— Você tem celular pra quê? – ela deu um tapa ardido no rapaz.
— Ai, ! – ele passava a mão no local alisando para ver se aliviava a ardência. – Meu celular descarregou – ela arqueou a sobrancelha – É sério, mano! – a garota suspirou fundo.
— Eu fiquei muito preocupada contigo... Babaca! – ele sorriu achando graça do jeitinho dela.
— Agora eu tô aqui — abraçou-a e deu um beijo em sua testa. A garota prendeu a respiração, era sempre assim quando demostrava algum tipo de carinho para com ela. Não era fácil ser apaixonada por seu melhor amigo.
— Sai, ! – ela o empurrou de leve, queria evitar aquelas sensações – Os meninos já foram, só eu fiquei te esperando... – Eles ensaiavam no porão da casa de .
— Porque me ama muito – bagunçou o cabelo dela, e apertou suas bochechas. Ela deu um tapa de leve na mão dele.
— Convencido! – se afastou dele e pegou a bolsa que estava em cima do sofá, pronta para ir embora. – Fui!
— Espera, ai! Vamos jogar uma partidinha de fifa? – ele a olhou suplicante.
— Não tô afim, vou embora. – ela segurou a alça da bolsa de maneira firme.
— Você nunca recusa uma partida de fifa... Qual é, !
— Eu tô no ódio contigo... Odeio esperar as pessoas e você sabe bem disso! – ele revirou os olhos. Como era difícil.
— Já disse que não fiz por mal, quantas vezes eu terei que repetir?
— Nenhuma, porque eu tô indo embora. – ela já segurava a maçaneta.
— ... – ele fez a carinha do gato de botas – Por favor.
— Vai se fuder, , essa cara não me abala, não. Nem adianta! Amanhã nos vemos – e bateu a porta deixando um garoto frustrado do lado de dentro.
***
Cadê você, ?
Enviada às 06:40
, eu tô preocupado, você tá bem? Enviada às 06:45
??? Enviada às 06:48
O dia amanheceu, andava de um lado para o outro, já eram 06h50min da manhã e nada de , com certeza ela não iria para a aula hoje, caso contrário estaria ali para tomar café com ele e para irem juntos a escola. O engraçado daquilo era que ela não tinha mandado nenhuma mensagem avisando. Resolveu ir sozinho, durante o caminho decidiu mandar uma mensagem de bom dia a Scarlet, tinha que se fazer lembrar, afinal de contas.
Bom dia para a garota que me acha muito fofo!
xx .
Enviada às 06:55
Sorriu e guardou o celular. Não demorou nem cinco minutos e já estava na porta da escola, vantagens de quem morava na rua debaixo do local. Foi um dos últimos a entrar na escola. Encontrou Raphael um pouco mais a frente e gritou o garoto, que logo ouviu e esperou o amigo se aproximar.
— Hey, dude! Você tá bem? Nem apareceu para o ensaio ontem, a ficou brava... – Raphael fez um toque de mãos com enquanto falava.
— É, eu sei. Cheguei em casa e ela estava lá, pronta para me bater... – coçou a barba que estava começando a aparecer em sua face.
— Ela quando quer mata um! – eles riram, por fim – Afinal, o que aconteceu contigo? — eles voltaram a caminhar em direção à classe, eles faziam a primeira aula juntos.
— Vou resumir a história pra ti: esbarrei em uma garota, o celular dela caiu, ela foi embora, reparei que ela fazia ballet porque eu vi a sapatilha dela que acabou caindo da bolsa com o encontrão. Descobri onde ela fazia as aulas, esperei que acabasse, devolvi o aparelho e pra fechar com chave de ouro consegui o número dela – esfregou as mãos uma na outra.
— Nossa, que história – os dois adentraram a sala e se sentaram no meio dela, lugar de costume deles. – Cadê a foto dela? Tem ai?
— Claro – o rapaz puxou o celular, colocou na tela do contato da garota e mostrou para o amigo, aproveitou e viu que Scarlet não havia respondido a mensagem dele, mas também não tinha visualizado – Ela é hot, dude!
— Dá pra perceber, olha o tamanho desses peitos! – apontou para o decote da foto – Não perde a oportunidade.
— Sem dúvidas – eles riram maliciosos. – E a ? Ela te avisou que não viria? Fiquei esperando até 06h53min e nada.
— Cara, ela não me falou nada, provavelmente deve ter ficado doente, sei lá.
— Sim, mas ela sempre manda uma mensagem ou sinal de fumaça dizendo que aconteceu alguma coisa, tô preocupado. – ele encarava a tela do celular -Vou ver se depois da escola passo lá.
O professor de física entrou na sala, e cumprimentou a todos, Rapha antes de virar-se para frente encerrou o diálogo.
— Me espera que eu vou com você. – assentiu e começou a prestar atenção no professor.
***
esperava Raphael sair da aula de biologia para que os dois fossem juntos para o intervalo. Quando viu andando despreocupadamente pelo corredor, ficou confuso.
— ! — a garota não o escutou, ele segurou em seu braço. Ela parou e o olhou com um sorrisinho de lado — Achei que não tivesse vindo...
— Pois é, cheguei bem cedo hoje... — ela arqueou a sobrancelha.
— Por que não passou em casa?
— Porque eu não quis, ! Simples assim.
— Você é foda, ! Eu fiquei te esperando, quase perdi a hora da aula!
— Estamos quites então — ele revirou os olhos, conseguia ser tão infantil quando queria.
— Céus... – ele a abraçou apertadamente. fechou os olhos, o perfume dele entrou em suas narinas, tudo o que ela queria era não terminar aquele contato nunca.
— ? Você veio – Raphael interrompeu aquele momento de forma repentina assustando os dois, que se separaram abruptamente.
Raphael a abraçou de lado e bagunçou o cabelo dela levemente. Ela fez um pequeno bico.
— Não bagunça o meu cabelo, Rapha! – ela beliscou a barriga dele – Eu só me vinguei do , o deixei esperando, agora eu tô mais leve – a garota suspirou. revirou os olhos. O celular dele apitou, era Scarlet, ele faltou rasgar o sorriso que tinha no rosto.
Não pode envergonhar a coleguinha, haha! Bom dia!
Enviada às 09:43
Eles chegaram ao refeitório, Raphael ficou incumbido de pegar a comida dele e de , já que disse que não queria nada. digitava freneticamente no celular, às vezes sorria animadamente. o observava com o cenho franzido.
— O que tanto tem no seu celular, baby?
— Sabe a garota do celular? - assentiu - Ela me passou o número dela, estamos conversando. – tentou disfarçar a face de desgosto, mas foi uma tarefa bem difícil.
— Ah, então você faturou o número dela no fim. Previsível... – ele lhe olhou, com um sorriso lindo no rosto, era difícil demais resistir a aquele belo sorriso — Vai sair com ela? – ela murmurou.
— Bom, ela é diferente, . Ela é muito linda, toda delicada... Essa é para casar – ele brincou. revirou os olhos.
Raphael trouxe a comida dos dois, eles comeram em silêncio, enquanto não conseguia sair daquele celular. O sinal bateu indicando que eles precisavam voltar.
Foram calados até suas respectivas salas, ansiosos para o bater do último sinal, aquele que indicaria o fim das aulas.
***
— Filha, está bonita, onde pretende ir? – a senhora questionava Scarlet que se perfumava no quarto e dava os últimos retoques na maquiagem.
— Vou encontrar o garoto que achou meu celular. Lembra que eu te contei a história? – ela sorriu.
— Sim, eu me lembro. Hum... possível namorado? – a mãe lhe questionou, curiosa.
— Claro que não, mãe! Ele não faz o tipo que eu namoraria...
— Oras, mas por quê? — sua mãe perguntou, confusa.
— Porque ele é pobre, não tem estilo, é brega, roqueiro, eu já disse que ele é pobre? – a garota ria de lado, enquanto balançava a cabeça. Julia lhe olhava chocada, não esperava que a filha tivesse esse tipo de preconceito.
— Scarlet, nós também não somos ricas! Se você estuda naquele colégio é graças a uma bolsa! – sua mãe lhe repreendeu.
— Eu sei, ok?! Não preciso que me lembre, mãe! – ela respirou fundo – Só que eu tenho como meta de vida arrumar alguém que tenha mais dinheiro que eu! Julgue-me, mãe, mas eu não quero ser pobre minha vida inteira – aquelas palavras da filha eram como facadas pra ela.
Quando Julia havia pedido a bolsa de estudos a sua melhor amiga, que era dona do colégio visava que Scarlet tivesse bons estudos para conseguir ser aceita em uma boa faculdade. Nunca pensou que aquele mundo pudesse fazer tão mal a ela.
— Scarlet, eu não te criei para escutar esse tipo de coisa... Seu pai e eu batalhamos para te dar uma vida agradável, somos pobres e nem se fôssemos ricos desprezaríamos alguém por sua classe social.
— Mãe, eu não estou desprezando ninguém. Eu só disse que não namoraria um cara assim, agora ficar é outra história! Fui! – bateu a porta e deixou sua mãe falando sozinha.
Espero alguns minutos até avistar com sua calça jeans, dois números a mais, surrada, all star imundo e com uma blusa de alguma banda que Scarlet não conseguiu identificar. A garota respirou fundo, odiava o jeito que o garoto se vestia, mas não conseguia negar que ele era lindo.
— Olá, herói! – ela sorriu enquanto recebia o rapaz, o abraçou fortemente. O cheiro do garoto entrou em suas narinas. – Vamos para algum lugar que você goste, me surpreenda! Afinal de contas, eu consegui o papel de Jasmine! – ela propôs, já que provavelmente onde ele a levaria não teria ninguém que ela conhecesse.
— Olá! Bom, eu pensei da gente ir ao Kissebre, lá é um bar muito legal, que toca música ao vivo. Ah, e parabéns pelo papel – ele sorriu lindamente para ela. A garota sorriu agradecida. Ela nunca tinha ouvido falar do lugar, com certeza era seguro ir.
— Só vamos, meu bem! – ela começou a andar em sua frente, enquanto o rapaz a seguia.
Chegaram ao local, como Scarlet previra era um bar bem fora dos padrões que conhecia, o local era imundo, em sua concepção. Fico extremamente aliviada, já que sabia que ninguém da elite de seu colégio frequentaria ali.
Eles passaram pela entrada, sentaram-se em uma mesa, logo o garçom lhes trouxe o cardápio para que escolhessem o que gostariam de consumir. Scarlet optou por uma água sem gás, uma coca cola.
Conversaram sobre diversos assuntos, Scarlet contou ao rapaz onde estudava, perguntou a ele do que gostava, quais eram seus objetivos, enfim conheceram-se um pouco mais. O grupo que tocava ali começou a dedilhar o começo de Always do Bon Jovi, sem pensar duas vezes chamou Scarlet para dançar com ele. Ela aceitou de imediato. Scarlet ficou surpresa de como sabia dançar bem... no que aquele garoto não era bom?
E nos embalos da música Scarlet encostou seus lábios nos do rapaz, um beijo quente surgiu dali, as mãos de alternavam entre os cabelos dela, e sua cintura, já a garota, ora bagunçava os cabelos dele, ora arranhava sua nuca. Tudo o que Scar pensava era que o beijo do rapaz era muito bom, e que se repetiria aquela ficada com toda a certeza.
Dois meses depois...
— , eu nunca pensei que você estivesse tão de quatro pela garota – Brian riu. Só estavam ele e no porão, por enquanto. Eles tinham ensaio marcado para aquele dia.
— Ela é um diferente bom... eu não sei explicar, mas ao lado dela eu me sinto bem. – ele sorriu, sem graça.
— Dá para perceber... Mas vem cá, você avisou a ou Rapha que ela viria ao ensaio de hoje?
— Achei que não tivesse problema, então não avisei. Você vê problema nisso? — ele questionou o baterista, estava apreensivo.
— Bom, por parte do Rapha não, mas a é meio temperamental, então eu não sei como ela reagiria com a presença da garota.
— O que tem a , Brian? – a garota chegou de supetão, assustando aos dois.
— Nada, ué, estava só perguntando onde você estava que ainda não tinha chegado. – ele murmurou, não seria ele o porta voz daquela notícia. Ela se jogou nos braços do garoto, enquanto sorria.
— Estava com saudades de ti, coisa linda! – apertou as bochechas do amigo.- Brian era dois anos mais velho que e Raphael, e três de diferença com . O garoto não estudava mais no colégio, havia se formado ano passado, mas era o baterista da banda que possuíam. Sempre que podia, mesmo trabalhando o garoto ia aos ensaios
— Isso dói, porra! – ele tirou as mãos da garota de suas bochechas – Também estava com saudades – ele admitiu, enquanto bagunçava o cabelo da amiga.
— Gostaria de saber qual é o fetiche de vocês com meu cabelo? – ela abraçou demoradamente. Quando fazia tal ato gostava de demorar, amava estar nos braços do garoto. Brian sussurrou enquanto o amigo abraçava que ela estava de bom humor, juntou as mãos em forma de agradecimento.
Rapha em seguida apareceu, cumprimentou a todos os amigos e eles iniciaram o ensaio, teria uma apresentação no festival em três meses, tinham que estar bem afinadíssimos caso quisessem ganhar.
Enquanto ensaiavam Around The World de RHCP*, foram interrompidos pelo som da campainha. Rapidamente largou o instrumento musical, subiu as escadas correndo e foi atender, sabia quem era. Sorriu lindamente quando viu Scarlet parada do lado de fora, a puxou para dentro e lhe deu um selinho bem demorado.
— Como você está? – o garoto a questionou enquanto brincava com os dedos dela, já que tinham as mãos parcialmente dadas.
— Eu estou bem, , e você? – ela o questionou enquanto roubava um selinho do rapaz.
— Estou bem melhor agora – ele riu enquanto a puxava para as escadas que davam no porão.
— Tão cliché isso ai... parece aquelas cantadas fuleiras – ele riu gostosamente, balançando a cabeça negativamente.
— É a verdade – ele sorriu, chegaram ao porão de mãos dadas, causando um grande impacto em , que estava ajustando a afinação do baixo. – Gente, essa é a Scarlet, a garota que eu tinha dito a vocês. – lhe media dos pés a cabeça, e não conseguia entender como poderia se sentir atraído por ela.
— Por que você não me avisou, !? – a garota rosnou. Estava muito irritada, sabia da existência dela, mas não queria vê-la, aquilo era um desaforo, ela o amava e vê-lo com outra a quebrava em inúmeros pedaços.
— Ah, eu achei que não tivesse problemas e...
— Mas tem, ! Que porra! – Scarlet já não tinha gostado daquela garota, quem ela pensava que era para tratá-la daquela forma?
— Qual é o seu problema!? – Scar a confrontou. Raphael resolveu intervir antes que aquilo desse alguma merda.
— A é tímida! Tem vergonha que assistam aos ensaios, o problema não é com você – ele sorriu, disfarçando a situação.
— Ah, mas fique tranquila, queridinha! Eu nem entendo dessas coisas – Scar sorriu forçadamente, sabia sim que o problema era sua presença, já que se tivesse bazucas nos olhos, ela com certeza estaria morta.
— Olha aqui, eu odeio... – Rapha a interrompeu. Ele tinha o conhecimento que Alice odiava ser chamada de querida, então evitou o que veria a seguir. — , para com isso... – Raphael sussurrou em seu ouvido, enquanto massageava seus ombros.
Tudo o que pensava era que não tinha estômago para ficar no mesmo ambiente que Scarlet, ver o olhar que direcionava a ela estava acabando com sua sanidade. Estava louca de ciúmes, e o pior era que não podia demonstrar aquilo, e por segurar todo aquele ódio lhe estava dando vontade de chorar.
— Bom, eu acabei de me lembrar que minha mãe pediu para que eu voltasse mais cedo hoje... Fui! – a garota respondeu com um fio de voz, guardou seu baixo no estojo, e se direcionou a saída.
— , você não tinha dito nada... – Brian questionou inocentemente.
— Eu lembrei agora – não conseguiu olhá-lo para responder ao questionamento. Jogou o instrumento nas costas e já estava pronta para sair do porão.
— , espera! – era , mas a garota não o respondeu. Não conseguia, só queria sair dali para poder chorar em paz.
— Puxa que pena ela ter que sair... – Scarlet fingiu tristeza – Mas, eu quero te escutar cantar...
sorriu, preparando-se animadamente para cantar para sua musa inspiradora.
— O som vai ficar estranho sem o baixo, então não leve muito a sério! – ela assentiu, animada.
***
— Oi, Rapha! – a garota sorriu alegremente ao rapaz, que estava parado na porta de sua casa, com seu instrumento musical nas costas – Entra – ela abriu mais a porta dando passagem ao rapaz. – Mãe, o Rapha chegou, tô subindo pro quarto para praticarmos uma cifra nova.
— Oi, Rapha – a mãe gritou da cozinha, o rapaz repetiu o gesto da mais velha, gritando o cumprimento – Porta do quarto escancarada, – Raphael riu alto, já revirou os olhos. Não era como se estivesse pretendendo transar com o garoto, já se fosse ... quem sabe?!
A garota se jogou na cama, enquanto o rapaz se sentava em um puff e babava em alguns pôsteres que ela possuía pendurados na parede, dentre eles o que mais gostava sem dúvidas era o de Red Hot Chilli Peppers, influência pesada na banda que eles possuíam.
— E então? Qual será a música da vez? – o garoto perguntou enquanto Alicia pegava seu baixo e conectava a caixa amplificadora. Fez o mesmo com a guitarra do rapaz, abaixou o som para não enlouquecer a mãe que estava no andar de baixo.
— Eu dei uma olhada na cifra de The Zephyr Song do Red Hot, acho que a gente consegue dar conta... Dá uma olhada na cifra – ela pegou a folha impressa e passou ao rapaz, que olhou e começou a dedilhar a guitarra, tentando fazer o que lhe era designado.
— Eu acho que consigo, só vou precisar treinar um pouco.
— Ah, sim claro. Creio que o Brian consiga dar conta também. Queria que tocássemos essa música no festival! — O festival mencionado era um que acontecia todos os anos no fim do ano que promovia novas bandas para terem a chance de gravarem um single e ficarem famosas.
— Mas e o ? – Rapha questionou-a. Todos tinham que estar na mesma página caso quisessem acrescentar algo no repertório deles.
— Foda-se o ! – a garota respondeu mal humorada.
— Ei, ei, ! O cara faz parte da banda, mano! – Rapha tentou defender o amigo.
— Percebe-se bem como ele se importa com a banda, não participa de um ensaio há semanas! Só pensa naquela menininha dele – desdenhou, com cara de nojo.
— Não seja injusta, o cara só faltou algumas vezes e...
— Cala a boca, Raphael, não o defenda. Quando ele vem pros ensaios, nem presta atenção só sabe sorrir igual um idiota olhando para o celular, tá de corpo presente, mas a cabeça? Bem longe... – o garoto quis rir, mas segurou a risada.
— Você tá com ciúmes dele! – não era uma pergunta.
— Ah, para! Lógico que não, ele tá pouco se fudendo pra gente, só tô falando o que eu vejo – ela fez pouco caso do que ele dizia, mas era a mais pura verdade.
Depois que assumiu estar apaixonado por Scarlet, sofria muito, o garoto não prestava mais atenção as coisas que eles costumavam partilhar e eles não tinham mais tanto contato como era antes.
— Você gosta dele, né? – Raphael a questionou. A garota de repente ficou pálida.
— Claro que gosto, é meu melhor amigo. Que pergunta – ela desconversou, incomodada.
— Eu não disse nesse sentido, e você sabe disso. – ele sorriu, esperto – Olha, , você disfarça bem, mas seus olhos brilham quando olham pra ele... – a garota sentou-se na cama para aliviar o impacto das últimas palavras de Rapha.
— Hãn... nada a ver, Raphael. Para com isso – a garota umedeceu os lábios, não olhando nos olhos do amigo.
— Ok, você não quer confessar, tudo bem. – ele sentou ao lado da amiga, e a abraçou de lado – Só quero que saiba que quando estiver confortável para falar com alguém sobre o que sente, eu estou aqui, tudo bem? – ele a encarou firmemente, ela desviou o olhar.
— Não vou precisar, já que não sinto nada diferente por ele, mas obrigada. – ela se aconchegou em seus braços. No seu íntimo ela sabia que poderia contar com Rapha, mas não se sentia confortável para tal, não ainda.
Ficaram abraçados ali por um tempo, até cortar aquele momento, levantar-se e pegar seu baixo para ensaiar.
— Vamos ensaiar, por favor? – ele sorriu do jeito repentino dela de mudar de assunto, mas decidiu pegar a guitarra e ensaiar contigo.
— 3, 2, 1 – eles começaram a tocar juntos, até a parte do vocal — Fly away on my zephyr, — Raphael gostava quando cantava, mesmo a amiga insistindo que cantava mal. — I feel it more than ever, And in this perfect weather... – Rapha acabou errando – Vamos lá, de novo!
E assim passaram a tarde toda ensaiando, com muitos erros, mas grandes acertos.
Rapha já tinha ido embora, estava jogada no sofá, era por volta das 19h00min, sua mãe alisava seus cabelos, como a garota gostava de estar ali. Agora era ela e sua a mãe, ela havia perdido seu pai fazia dois anos para um infarto fulminante. Com o falecimento dele, ela ficou ainda mais apegada à mãe e a mãe a ela. , Raphael e Brian a ajudaram a passar por essa grande perda.
quase dormia no colo da mãe, quando seu celular vibrou de forma insistente.
Como você e o Rapha ensaiam sozinhos e não me chamam?
Enviada às 19:13
Traíra, agora ele é seu melhor amigo!? Enviada às 19:13
Mentira, sou eu ainda! Né? Enviada às 19:13
Diz que é, ! Enviada às 19:14
Vamos dar uma volta de skate? Enviada às 19:14
Caralho, , olha a porra desse celular... Enviada às 19:14
Ela sorriu com aquelas mensagens, pensando em como era idiota. O garoto tinha ciúmes da amizade de Raphael e , temia ser trocado por ele.
— Mãe, o me chamou para dar umas voltas de skate... Eu posso ir? – ela perguntou a mãe com o olhar suplicante.
— Essa hora, meu amor?! – a mãe perguntou, preocupada.
— Eu prometo que no máximo às 22h00min eu tô de volta?! Deixa, mãezinha! – a mãe suspirou fundo, concordando com a cabeça.
— 22h00min! Amanhã você tem aula – a garota concordou, deu uma rápida olhada no espelho, ajeitou o cabelo e respondeu a mensagem de .
Calma, homem! Eu topo, passa aqui em casa! Enviada às 19:23
Não demorou mais que dez minutos e já estava ali.
— Cuidado, ! Por favor – a mãe recomendou, preocupada. – Oi, !
— Oi, tia Dafne! – ela sorriu, e deu um beijo na bochecha da mais velha.
— Pode deixar, mãe! – caminharam até a porta e começaram a andar de skate por ali mesmo.
— Parece que alguém lembrou que tem amigos... – alfinetou o rapaz, enquanto estava uns dez passos a frente descendo a ladeira de sua rua.
— Para de ser dramática, vejo você todo o santo dia, ! – ele sorriu de lado, enquanto tentava alcançar a garota – E que história é essa de você ter chamado só o Rapha para o ensaio? Eu e o Brian também fazemos parte da banda!
— Idiota! Eu não chamei o Brian porque era um ensaio curto, não tinha como eu colocar a bateria dele no meu quarto – ela respondeu como se fosse óbvio – E você? – ela desdenhou — Bom, não te chamei porque pensei que não tivesse interessado... – ele finalmente a alcançou e puxou seu braço levemente, a fazendo desequilibrar e parar o skate, com o ato ela acabou batendo em seu peito. Ela piscou, aturdida. Ele lhe encarou profundamente.
— ... – ele sussurrou – Eu me interesso por tudo o que tem a ver com você e a banda.– ele lhe olhou, aquele olhar abalou o psicológico dela.
— Ok, , não está mais aqui quem falou... – ela sussurrou, soltando-se dele, aquela proximidade não estava lhe fazendo bem.
Chegaram ao local, no qual geralmente praticavam e deram algumas voltas com o skate pela pista que tinha ali. absorta em pensamentos, só pensava em e aquele momento que tinha rolado há instantes, queria ter coragem para falar de seus sentimentos, mas não podia, tinha medo de perder a amizade dele.
— ! – se aproximou da garota, e a despertou dos devaneios dela – Você está estranha, o que há?
— Nada — ela balançou a cabeça negativamente – Rapha e eu treinamos The Zephyr Song do RHCP – ela resolveu tirar os holofotes dela.
— Essa música é foda! Boa escolha – ele sorriu para ela – Prometo pegar a cifra e praticar. – ela assentiu.
— É o mínimo, baby... é o mínimo. – ele sorriu levemente pra ela.
— ... preciso de uma opinião sua... – ele coçou a nuca, desconfortável.
— Minha?
— Vem, vamos sentar ali. — ela sorriu meigamente enquanto os dois se sentavam em um banco que havia no local, para a galera que assistia os skatistas praticarem.
— Diga, baby! – ele estava bem tímido, diferente do habitual e ele nunca ficava tímido com , ali tinha.
— Você é mulher, entende dessas coisas... – ele parecia incerto.
— Eu acho que ainda sou mulher mesmo – ela riu, zombando dele – Fala, porra!
— Eu quero pedir a Scarlet em namoro, eu pensei em... – depois que escutou a palavra namoro, nada do que ele falava era assimilado. Sentiu como se fossem golpes no estômago, era uma dor absurda, que ela nunca imaginou sequer que existiria. Sentiu que choraria ali há qualquer momento. Decidiu que tinha que ir embora.
— Eu preciso ir – ela levantou-se abruptamente do banco e saiu, esquecendo-se do skate que estava no chão.
— , espera! – ele tentou gritar, mas a garota já corria feito louca, as lágrimas lhe cegando. Ele ficou confuso, o que será que teria acontecido com ela?
A garota corria, achava que estava sem rumo, até perceber aonde tinha ido parar, de frente para a casa de Raphael. Ele seria o único que poderia lhe entender naquele momento, aquilo nunca pareceu tão certo.
Tocou a campainha do rapaz, enquanto tentava, inutilmente limpar as lágrimas de seu rosto que teimavam em cair, estava aflita, enquanto torcia mentalmente que quem abrisse aquela porta fosse seu amigo. A porta se abriu, e para a sua sorte, era Raphael ali, com uma face extremamente assustada por se deparar com naquele estado.
— Meu Deus, o que houve!? – ela nada disse, apenas o abraçou fortemente, chorando cada vez mais.
O rapaz com certa dificuldade fechou a porta, passou com pela sala, sua mãe o olhou preocupado e sibilou “o que houve?” o garoto apenas deu de ombros e sibilou a mãe que a levaria até o quarto, a mãe dele assentiu. Chegaram ao local, Raphael a conduziu a cama, no qual aguardou pacientemente que a garota conseguisse proferir uma palavra qualquer. Depois de um significativo tempo, apenas disse:
— Ele vai pedi-la em namoro – aquelas cinco palavras bastaram para que Rapha compreendesse do que se tratava, sem muito o que fazer ele lhe abraçou forte.
— Eu tô aqui, ! Eu tô aqui – ele sussurrava no ouvido da garota, tentando de alguma forma acalmá-la.
***
aguardava Scarlet do lado de fora do colégio dela, queria fazer uma surpresa para a garota, tinha passado até na floricultura para comprar rosas vermelhas, sabia que ela amava, queria surpreendê-la. Para estar ali naquele horário o rapaz tinha faltado à escola. Aproveitaria aquele momento para pagar um sorvete para a garota, mostrar a aliança e pedi-la em namoro. Estava com medo de não ser o certo, havia pedido a opinião de exatamente para ter uma noção, mas a garota tinha evaporado, e ignorava as chamadas e mensagens que o garoto mandava. Hoje, ele tentou ir a casa dela, mas a mãe dela havia lhe dito que já tinha ido para escola. Ele não entendia o que poderia ter acontecido, decidiu que assim que fosse embora do encontro com Scar ele passaria na casa dela para tentar entender o que tinha ocorrido com ela.
olhava o relógio, ansioso, só faltavam cinco minutos para que Scar saísse de lá, suas mãos suavam muito. Agora ele entendia o que eram aquelas benditas borboletas que as pessoas diziam sentir no estômago. Seria hoje que daria um passo importantíssimo em sua vida.
A sineta tocou, respirou fundo, passou as mãos pelo cabelo, ajeitou o ramalhete de flores e posicionou-se no portão de entrada do colégio dela. Viu várias garotas passando, mas nada dela.
Scarlet vinha devagar acompanhada de suas amigas, quando uma delas começou a rir em tom de deboche.
— Nossa... alguém avisa para aquele garoto comprar roupas do tamanho dele? Que coisa horrenda! – Cecília comentava com Vivian e Scar.
— Quem será a infeliz que receberá aquelas rosas murchas? — Vivian completou a fala da amiga, rindo alto.
— Quem em sã consciência compra rosas para alguém? É muito cafona, no mínimo tinha que ser um carro – Scarlet destilou o veneno com as amigas. Elas riram em puro escárnio.
— Concordo, amiga! Um carro é muito mais adequado... Mas a julgar pelos trapos que ele veste, com certeza é pobretão.
À medida que iam se aproximando Scarlet tinha a impressão de conhecer aquele garoto. Não, não podia ser... Era o que ela pensava quando percebeu que quem estava ali na porta era . A garota estava pálida.
— Meninas, é... eu esqueci o livro de história na sala, preciso ir buscar! – ela já ia se retirando, quando Vivian segurou seu braço.
— Não esqueceu, não, bobinha. Você esta segurando ele no seu braço. – olhou seu braço e se xingou mentalmente. Se ela fosse vista ao lado dele, aquilo acabaria com sua reputação, e de quebra perderia as amizades das garotas e seria zoada eternamente.
— Ah, é... que loucura – deu sorrisinho sem graça, as meninas lhe olharam confusas – Esse teste de matemática me deixou sem neurônios – inventou uma desculpa, e as garotas assentiram.
Aproximava-se cada vez mais do portão e sentia que queria que aquele chão se abrisse para que ela pudesse se esconder. a avistou e acenou para ela, que fingiu que não o viu, abaixando a cabeça para fitar os livros em seu braço.
— Ai, meu Deus! Ele está acenando em nossa direção – Vivian cutucou Scarlet e Cecilia, a última riu sem acreditar.
achou que ela não o tinha visto, por isso acenou novamente, mas nada de Scarlet lhe olhar. Esperou pacientemente até que ela se aproximasse. Scarlet olhou para o outro lado, mas já era tarde demais...
— Scarlet! – ele segurou seu braço com um sorriso de tirar o fôlego. – Oi, meu amor! — As suas amigas lhe olhavam com os olhos arregalados. Tudo o que a garota queria era morrer. Tentou se desvencilhar do aperto no braço, porém foi inútil.
— Me solta! – ela sabia que tinha que pensar rápido, a soltou no susto – Você está louco! Eu já disse que eu não quero nada com você!
— Hãn? Do que você tá falando? – ele tinha a confusão explícita em seu olhar. Vivian e Cecilia assistiam aquela cena caladas. Como a cena era incomum, acabou que todas as pessoas que passavam aproximavam-se de forma que foi se formando um círculo em volta deles.
— Vai embora e me deixa em paz! – Scarlet lhe encarava enfurecida, um olhar que jamais conheceu.
— Eu não entendo, ontem estávamos bem. – ele respirou fundo – Saímos no sábado e...
— Mentiroso! Nunca que eu sairia com uma pessoa como você... – sentiu um soco no estômago quando escutou aquelas palavras. Ele estava magoado, confuso, mas não deixaria que ela o humilhasse na frente de todas aquelas pessoas.
— Eu não sei por que você esta agindo assim, mas eu não admito que me chame de mentiroso e me trate com desdém! Nós saímos sim juntos e não foram poucas às vezes. – ele respondeu, autoritário.
— Claro que saímos sim, nos seus sonhos mais íntimos. Eca! – algumas pessoas riram do que Scarlet disse. Ele lhe olhava impassível.
Scarlet respirou fundo, sabia que assim que proferisse aquelas próximas palavras estaria ferindo o coração do rapaz, mas aquilo era preciso, não tinha nada para oferecer a ela, ela precisava de alguém que lhe desse a situação financeira que merecia.
— Eu nunca teria nada com você! Olha essas roupas surradas, esse cabelo ensebado, esse skate que a qualquer momento pode cair a rodinha... E essas flores? Com toda a certeza foram colhidas na semana passada. Meu bem, se olhe bem no espelho, eu sou muita areia pro seu caminhãozinho velho!
não teve tempo de resposta já que Scarlet andava apressadamente para longe do rapaz, ela tinha a respiração cansada, esperava que tivesse claro para as pessoas que eles nada tinham.
— Quem era ele, Scarlet? – Vivian questionou-a enquanto tentava acompanhar os passos rápidos que ela dava.
— Um garoto ridículo que acha que pode ter algo comigo. Pobrezinho – ela explicou, forçando um sorriso debochado.
— Ele falava com tanta propriedade, Scar! Quase acreditei... – Cecilia comentou.
— Pra você ver, é o preço por ser linda, ter que lidar com esse tipo de gente. – as garotas riram de sua fala. Ela deu uma última olhada para trás e viu parado no mesmo lugar, com as flores na mão, sentiu seu coração apertar quando viu a carinha que ele fazia para ela.
O que tinha feito de errado? Por que ela pareceu tão fria? O que se passava na cabeça dela? Eram muitas das dúvidas que possuía em sua cabeça. Ela havia lhe deixado sem palavras. Algumas pessoas riam da cara dele, outras lhe olhavam com pena, tudo o que ele queria era sair dali.
Ele jogou as flores no chão, e saiu sem olhar para trás, tamanha vergonha que sentia. Sentia-se humilhado. Pensou em procurar a única pessoa que lhe ajudaria naquele momento, mas tinha medo de não ser bem recebido, dela estar com raiva dele sem ele mesmo saber o motivo.
Parece que naquele dia provou duas coisas que a maioria dos apaixonados já sentiu pelo menos uma vez na vida: borboletas no estômago e um coração partido.
***
— ? – a mãe de abriu a porta, surpresa por ver o garoto cabisbaixo, diferente do que sempre o via.
— Dona Dafne, a tá por ai? – ele teve dificuldades para se expressar, devido ao nó na garganta que tinha por segurar a vontade de chorar.
— Não, ela deve estar chegando... Está tudo bem? – a mãe questionou, preocupada. Primeiro chegara ontem com os olhos inchados, de tanto chorar, ela perguntou o que acontecia, a filha desconversou. Agora aparecia com uma cara estranha...
— Está sim, tia...— ele respondeu, a mulher percebeu que não conseguiria arrancar nada do garoto, por isso deixou para lá – Posso esperá-la no quarto dela?
— Pode, mas já sabe, portas escancaradas! – riu levemente em concordância, só dona Dafne para arrancar um riso leve dele. Deu um beijo na bochecha dela e subiu as escadas para o quarto da garota.
***
Raphael aguardava na porta da sala de aula guardar seus pertences da aula de química, ela havia pedido que eles fossem juntos para casa, para que pudessem conversar já que no intervalo não puderam, pois Jenny, a ficante de Raphael, passou o horário com eles.
— Finalmente, donzela! – Rapha brincou quando pegou a mochila da amiga e jogou em suas costas juntamente com a sua, como o cavalheiro que era. Se a garota não fosse tão apaixonada por , Raphael seria com certeza uma boa opção.
— Idiota, não ia guardar minhas coisas correndo só porque você estava com pressa. — ela ralhou com ele – E a Jenny?
— Ela vai embora sozinha, depois eu passo na casa dela.
— Mas ela não ficou com ciúmes ou algo assim? — questionou, preocupada. Não queria que o amigo se prejudicasse, já que quem sempre ia embora com ela era .
— Eu acho que não, ela sabe que você é minha amiga, e que eu sou o substituto oficial do , então… — ele fingiu mágoa.
— Raphael, pelo amor de Deus! — ela deu um tapinha nele — Para já com isso, você é meu melhor amigo, também é, mas cada um tem seu jeito diferente de ser. Você é aquele tipo de amigo que mesmo você estando triste ou acabado te alegra, topa tudo o que te chamarem, tem riso fácil, aguenta minha TPM sem reclamar ou jogar piadinhas… São tantas qualidades que eu ficaria o dia inteiro enumerando. O importante é que eu amo você! E sem você minha vida seria extremamente sem graça! — ele lhe abraçou apertado. Separaram-se e recomeçaram a caminhada.
— Deveria registrar esse momento. abrindo seu coração! — ele riu levemente, enquanto a garota revirava seus olhos — Qual é, você nunca expõe seus sentimentos.
— Raphael, tô me expondo demais contigo — saíram da escola e caminhavam pela rua — Ontem te contei o meu maior segredo.
— Ah vá! Quem não sabe que você é louca, louquinha mesmo pelo ?! — a garota sentiu as bochechas esquentarem.
— Xiu...Cala a boca, alguém pode te escutar. — ela sussurrou olhando para os lados.
— Ok, desculpe. — ele riu abafado da careta que ela fazia — Ah, e por falar nisso você está melhor?
— Não, dói pra porra, Rapha! Saber que eu terei que ver ele a beijando, abraçando, trocando carinhos, confidências, enfim, me deixa extremamente triste.
— Talvez eles não deem certo — ele sorriu abraçando-a de lado, enquanto caminhavam.
— Eu não posso contar com isso, eu preciso esquecer e tentar seguir em frente.
— Eu concordo, é preciso. Se você tivesse tido coragem de se declarar…
— E correr o risco de perder a amizade dele? Não, não obrigada. — ela mexeu o dedo indicador de forma que se entendesse o não.
— E como você vai fazer quando ele estiver namorando ela? Por que de acordo com você isso acontecerá logo.
— Eu não sei… Se ele estivesse com uma garota bacana seria mais fácil de engolir, mas não, ele tá com uma patricinha ridícula!
— ! — ele a repreendeu.
— Eu não fui com a cara dela. Aquela ali é uma sonsa…
Já estavam chegando à casa da garota.
— Você está com ciúmes, não vou relevar sua opinião. — bagunçou o cabelo dela, que deu um tapa em sua mão.
— Ridículo! — ela apertou a barriga do rapaz — Não é só ciúmes, eu percebi.
— Aí! Sua monstra! — ela riu da cara que ele fazia.
Chegaram ao portão dela e sorriram um para o outro.
— Vê se pede a Jenny em namoro, ela é uma boa garota.
— Vou pensar sobre isso — ele devolveu a mochila pra ela, deu um beijinho na testa dela e se foi.
Ela entrou em casa, jogou a mochila no sofá da sala e dirigiu-se para a cozinha.
— Boa tarde, mãe! — deu um beijinho nela enquanto bisbilhotava o que tinha na panela. — Tô com fome.
— Boa! Novidade, filha — a mãe sorriu pra ela - O está no seu quarto…
— Ele o quê? Ah não, mãe! Eu disse que era para você dizer eu não estava.
— Eu disse, mas ele não tá bem, filha, por isso o deixei te esperar no seu quarto.
— Ele não tá bem, mãe?! — perguntou, com um fundinho de preocupação, no fim ele ainda era seu melhor amigo. — Se bem que hoje ele nem foi pra escola...
— Sim, bebê. Ele até veio aqui de manhã, perguntar de você, você já tinha ido para a escola — a garota assentiu — , ontem você apareceu com olhos inchados, hoje ele vem cabisbaixo, o que acontece?
— Já disse que é impressão sua, eu não chorei ontem… — ela desconversou.
— Eu não vou me conformar com essa resposta e você sabe disso. Mas por agora eu não vou insistir porque o rapaz tá lá no seu quarto. Vai lá, mas já sabe…
— Porta escancarada. — a garota riu, era sempre assim.
— Boa menina.
A garota saiu da cozinha e subiu devagar as escadas, não queria olhar pro tão cedo, sabia que estudavam na mesma escola, mas ela já tinha tudo arquitetado, tinha os locais ideais para se esconder dele, mas não esperava que sua mãe lhe pregasse aquela peça.
No último degrau, ela respirou fundo, contou até dez e entrou em seu quarto. Viu o garoto com um olhar extremamente triste, preocupou-se.
— O que houve, baby? — ela o questionou enquanto se aproximava dele, sentando em sua cama.
— Tá doendo tanto… — ele soprou aquelas palavras, não entendeu.
— Como assim? — ela tinha a confusão no olhar.
— Ela me humilhou na frente daquele colégio inteiro, ela acabou comigo — ao término da frase as tão temidas lágrimas foram impossíveis de serem seguradas. Ele não conseguia mais parar de chorar, era uma dor tão grande que ele sentia que tinha dificuldades para respirar.
Sem dizer nada o abraçou fortemente. Essa vida era bem engraçada, ontem quem chorava e recebia consolo era ela, hoje o causador de seu choro estava sendo consolado por ela. Ela simplesmente guardou sua dor no bolso, pois sabia que precisava absurdamente dela.
Depois de minutos abraçados ele parou de soluçar, ela viu que aquele momento ele responderia suas dúvidas
— Como foi isso? Eu não entendo… — lhe olhava perplexa.
E ele contou tudo, desde o início daquele dia, ouvia atentamente, sem o interromper, aguardava pacientemente que o discurso dele acabasse para que ela expressasse sua opinião.
— E foi isso. — ele terminou o relato.
— Ela tem vergonha de você, do relacionamento de vocês. Quando você apareceu de surpresa na porta do colégio dela a expôs. Que garotinha escrotinha!
— Vergonha de mim? — parecia que mais facadas tinham sido enfiadas em seu coração.
— Infelizmente, sim. Ela não tinha o direito de fazer isso com você, vou dar uma boa lição nela. — já se levantava pronta pra acertar as contas com Scar quando sentiu longos dedos segurarem seu pulso.
— Não, eu não quero que você vá atrás dela, não quero vê-la nunca mais. Eu tô tão magoado... – sua voz embargou ao fim da fala.
— Ei, eu tô aqui, e não vou te abandonar. Não tenta segurar mais esse choro, o deixe vir com força, só assim você, de alguma forma, se sentirá melhor. — ela acarinhou o rosto dele, e sentiu quando algumas grossas lágrimas rolaram.
E ele chorou, chorou muito, não tentou se segurar mais. A mãe de subiu as escadas, fitou os dois no canto da porta abraçados e os deixou, quando o clima amenizasse ela os chamaria para almoçarem.
***
Os três saíram para o intervalo daquela manhã, dessa vez quem buscaria os lanches era , que aparentava estar melhor, mas ainda sofria calado. Já fazia uma semana que ele provou o gosto de ter seu coração partido em mil pedacinhos.
— Então quando você vai parar de enrolar a Jenny e pedi-la em namoro? – cutucava Raphael para que tomasse alguma atitude com a menina.
Eles sentaram-se à mesa, de modo que estava de frente para o rapaz.
— Olha, a Jenny é uma garota legal, mas eu não sei se quero algo assim agora... É complicado – ele gesticulava enquanto falava. Jenny encontrava-se do outro lado do pátio, sentada com seus amigos.
— Você não gosta dela? – lhe olhava, curiosa.
— Gosto, mas... – ela o interrompeu.
— É complicado. Você nunca consegue me explicar nada com nexo, meu Deus! Você nem chama mais a menina para passar o intervalo com a gente.
— Ela que quis assim – ele se defendeu.
— Você também não faz nenhum esforço para convencê-la do contrário. – Raphael revirou os olhos, não gostava que a conversa fosse para esse lado. Viu se aproximando com os lanches e teve uma ideia.
— Você não tem moral pra falar de mim. – ele a cutucou.
— Ué, por que não? – ela lhe olhava com um sorriso confuso.
— Não se faz de sonsa, você ama o , mas não se declara. – ela sentiu as bochechas esquentarem.
— Raphael, pelo amor de Deus, de novo isso? – ela lhe olhava brava. estava a alguns passos da mesa – Eu amo o , amo muito mesmo, mas eu não posso me declarar pra ele e arriscar perder a nossa amizade, eu sei que não é reciproco. – arregalou os olhos quando escutou o que dizia, estava perplexo.
— Você o quê, ? – jogou a bandeja na mesa e sentou-se ao lado de Raphael. A garota sentiu a boca seca, os olhos queriam saltar de seu rosto, sentiu que desmaiaria a qualquer momento. Pra ela aquilo não podia estar acontecendo.
— Epa, acho que é minha deixa. Fui – os dois estavam presos em seus próprios olhares então nem viram quando Raphael levantou-se da mesa.
Ela sentia dificuldade para respirar, aquele olhar sobre ela, lhe deixava desconfortável, então a única reação que teve foi correr, correu atrás dela e facilmente a alcançou.
— ... – ele a olhou, curioso. Não esperava que sua melhor amiga nutrisse sentimentos por ele, aliás, ele nunca tinha percebido nada e aquilo lhe frustrava. Desde quando ela sentia isso por ele?
A garota estava em choque, ele os conduziu até o murinho da escola, para que pudessem conversar melhor, já que estavam parados no meio do corredor, ela se deixou ser levada.
— É verdade? – ele optou pela obviedade queria entender desde o começo. Ela respirou fundo, estava chateada. Não queria que descobrisse dessa forma, maldito Raphael!
— Sim... – ela o respondeu, olhando para qualquer canto daquele pátio, menos para os olhos penetrantes do rapaz.
— Uaau – ele exclamou, visivelmente surpreso – Desde quando você...? – ele se sentia sem graça de repetir as palavras que escutara há pouco.
— Uns três anos, não sei dizer ao certo – ela sussurrou, sentindo que as bochechas explodiriam a qualquer momento de tão quentes que estavam.
— , é muito tempo! – ele procurou seus olhos, mas não os encontrou. – É por que você achava que não era recíproco?
— Por que eu já estava na friendzone, você saiu com várias meninas, todas lindas e tal, eu achei que nunca teria chance.
— Você deveria ter arriscado, o mínimo que você poderia escutar de mim seria um não.
— Eu não suportaria essa rejeição, . Você não entende... – ela suspirou, enquanto entrelaçava uma mão na outra em seu colo.
— É, eu não entendo mesmo – ele olhou para ela – Talvez se você tivesse dito dos seus sentimentos, tudo poderia ter sido bem diferente... – ela finalmente o encarou, perplexa.
— O que está insinuando? Que me daria uma chance? – ele capturou os olhos do rapaz pela primeira vez, desde que iniciaram aquela conversa.
— Eu não sei, talvez, . As coisas estão muito doloridas ainda pra mim, eu nunca pensei que uma decepção amorosa doesse tanto.
— Ah, dessa dor eu conheço com propriedade – ela sorriu, triste.
— Eu devo ter feito você sofrer tanto – ele olhou para o alto – Que merda, !
— Sim, muita merda, baby – ela deixou uma lágrima escorrer – Se eu pudesse escolher, eu não teria me apaixonado pelo meu melhor amigo. – ele limpou a lágrima do rosto dela, e o acariciou.
— Agora tudo faz sentido, você ter saído da pista correndo depois que eu contei que eu pediria a Scarlet em namoro. Céus! – ela assentiu com a cabeça.
— Sim, aquele dia eu revelei ao Raphael, cheguei aos prantos na casa dele. Ele já sabia, eu só confirmei mesmo.
— Certo, como sempre o Raphael tem sempre que saber das coisas antes – ele revirou os olhos.
— Idiota – ela sorriu.
Ficaram um tempo calados, até quebrar o silêncio.
— , eu quero tentar – ela piscou os olhos, levemente confusa.
— Tentar o quê?
— Eu e você, você e eu – ele gesticula enquanto apontava para si e para ela. A garota arregalou os olhos.
— ...? Não brinca assim comigo – ele sorriu para ela, enquanto ela o encarava, boquiaberta.
— Eu não estou brincando... eu só te peço um tempo, um tempo para que eu me acostume com a ideia, e que eu consiga ajeitar as coisas por aqui – apontou para o próprio coração — Você me espera? Me espera para eu estar pronto pra você?
— Espero – ela sorriu, o sorriso mais lindo que já vira – Quem esperou todo esse tempo, espera mais um pouco.
Eles sorriram um para o outro e se abraçaram apertadamente, belos recomeços surgiram naquela tarde.
Alguns dias depois...
se perfumava, retocava o batom rosa que havia pegado emprestado de sua mãe, alisou sua roupa que era um short jeans e uma baby look preta, com um all star branco para finalizar. Acabou deixando que sua mãe passasse um lápis preto e um rímel em seus olhos. Olhava-se no espelho com dúvidas, ela tinha medo de não aprovar. Sim, hoje seria o primeiro encontro de verdade dos dois.
— Mãe, você tem certeza que não está exagerado? – ela olhava sua imagem, e torcia os lábios.
— Você está linda. – Dafne lhe olhava encantada — Entenda que a maquiagem não tirou a sua essência, filha – a garota assentiu. Nessas horas queria ter amigas para lhe ajudar com essas coisas, já que para mãe o filho era sempre bonito.
Foi despertada de seus devaneios quando a campainha tocou, sentiu que o seu coração sairia pela boca, estava muito nervosa. entrou na residência e cumprimentou sua mãe e aguardou pacientemente enquanto a menina não saia do quarto. olhou-se mais uma vez no espelho, contou mentalmente até três e desceu as escadas devagar. Viu que mexia concentrado em seu celular, então decidiu o cumprimentar.
— Oi, baby – ele largou o aparelho e ficou surpreso com aquela versão de em sua frente. Ela estava encantadora e ele decidiu que também gostava dessa versão dela.
— O-oi, – ele sorriu, apreensivo, parecia que não, mas também estava nervoso naquele momento.
A mãe de observava a cena sorrindo, mas calada. Estava achando a coisa mais fofa ver o encabulamento dos dois, que antes daquilo tinham uma intimidade e tanto.
— Vamos? – ela assentiu, e abriu a porta para que ela passasse, mas não sem antes se despedirem da mãe da menina. – Você está bem bonita – sorriu para ela.
— Ah, é obrigada – ela respondeu de forma sem graça. Sentia-se estranha naquela dinâmica. – Você também.
— Não há de quê e obrigado. – ele coçou a nuca, desconcertado.
— , decorou a música RHCP? O festival já é semana que vem! – ela o alertou, preocupada.
— Sim, senhorita. Tudo na ponta da língua e da mão – eles riram. Mas a conversa se encerrou ali. Ambos queriam puxar assunto, mas a situação em si os deixava sem graça.
Foram caminhando, já que o restaurante que havia feito reserva era bem próximo da residência da menina. Chegaram ao local e foram encaminhados a mesa que tinha sido reservada, fizeram seus pedidos, comeram a entrada e o prato principal e o silêncio instaurado estava difícil de ser quebrado, até ter uma atitude.
— Chega – ela bateu na mesa assustando o rapaz – Sou eu, , . Precisamos agir normalmente, pelo amor de Deus!
— Mas, , como começaremos do zero se agirmos normalmente? – ele largou os talheres e a fitou.
— Eu não sei... mas nesse clima estranho é que não dá para ficar – ela o fitou.
— Você tem completa razão, tá bizarro! – ele sorriu – Que tal a gente sair desse restaurante e comer cachorro quente?
— Demorou! – ele chamou o garçom e pediu a conta, insistiu, mas decidiu que quem pagaria a conta seria ele, e assim foi feito.
Caminharam até encontrarem uma barraquinha de cachorro quente, pediram o maior que a moça fazia, pegaram coca cola para acompanhar, pagaram e sentaram em uma pracinha para comeram seus lanches.
— Me deixa comer em paz, – ele tacou um pedacinho de papel, perturbando-a. Ele já havia terminado, mas comia mais devagar, e sempre a perturbava por isso. – Caralho, !
— Não tô fazendo nada... – ele sorriu, inocente – A gente podia ter trago os nossos skates, né? Essa noite tá propicia.
— Faz sentido, mas minha mãe nunca permitira que eu saísse com você em nosso “primeiro encontro romântico” com skates nos braços. – ele sorriu, desconcertado.
— Cara, eu não sabia como encarar sua mãe, que vergonha – ele sentiu o rosto esquentar só de lembrar. – ela riu alto.
— Ai, que fofo! – ele tacou mais um pedaço de guardanapo nela – Idiota, se você tacar de novo vai se arrepender.
— Ah, é? Eu pago pra ver – cortou mais um pedaço, fez uma bolinha e acertou a cabeça da amiga.
largou o lanche na mesa e pulou em cima do rapaz, forçando que ele se deitasse na grama, colocou uma perna de cada lado do corpo dele e começou a fazer cócegas nele.
— Mulher, você vai me matar - ele ria alto, enquanto ela fazia mais cócegas nele – ... eu vou mijar nas calças. – ele respondia entre risos, enquanto ela se divertia com a situação.
— Pede desculpas, e eu paro – ela sorriu malignamente, enquanto trabalhava com as mãos.
— Des... – ele aproveitou a distração dela, e inverteu as posições, agora ele estava por cima. – E agora, quem tem que pedir desculpas?
— Você ainda – ela sorria lindamente, foi quando percebeu que o cantinho da boca dela estava sujo de ketchup.
— Tá sujo aqui ô – ele apontou para o lugar e passou o polegar ali, limpando. o encarava enquanto ele limpava o local, já lhe fitava sério.
Ele foi se aproximando da menina, estava bem próximo quando encostou suas bocas. O coração de parecia que sairia de seu peito. Ele passou a língua por todo o lábio dela, pedindo passagem que logo foi concedida pela garota. Ele a beijou lentamente. estava completamente entregue, apaixonada, parecia um sonho estar beijando . Ele a apertou mais em seus braços, não queria interromper aquele momento de forma alguma. Separaram-se sem ar, com as respirações ofegantes.
— , se eu soubesse que você beijava tão bem, já tinha experimentado – ele riu, e lhe deu um selinho demorado. Já a garota, sorriu sem graça.
— Parece um sonho... eu tenho medo de acordar – ela confidenciou sem graça.
— Não é um sonho, e para provar minha tese vou ter que te beijar de novo – ele deu selinho – E de novo – mais um selinho – E de novo – selinho. Ela ria entre os beijos.
Ficaram ali, naquela praça se beijando, brincando, rindo, descobrindo sensações que antes eram desconhecidas por eles.
— Nunca pareceu tão certo – complementou, beijando mais uma vez a garota.
Cinco anos depois...
— Meu amor, dorme um pouquinho, sim? – Scarlet tentava acalmar seu bebezinho, que estava com seus cinco meses, mas a tarefa estava bem difícil.
A ambição havia lhe colocado naquela situação, tinha engravidado de um rapaz que havia conhecido na faculdade, era bem rico, mas comprometido, e quando ele descobriu que ela estava grávida disse que não era dele e a largou. Ela precisou acionar a justiça para que a paternidade fosse reconhecida, a conseguiu, ele pagava a pensão, mas não quis ficar com ela e não fazia questão de ver a filha. No fim, morava com sua mãe, havia trancado a faculdade e assim que o bebê tivesse mais idade ela teria que arrumar um emprego.
Finalmente, depois de muito chorar a pequena Melinda se acalmou e dormiu, Scar a levou até o quarto, no qual ficava o berço da garota e a depositou lá com todo o cuidado possível para não acordá-la.
Foi para a sala e se jogou no sofá, estava extremamente cansada, querendo ou não, Melinda lhe desgastava muito. Olhou para o celular que piscava incessantemente e viu que ele vibrava com o nome de Vivian, decidiu por atender.
— Finalmente me atendeu, Scar — Vivian sorriu do outro lado da linha.
— Mel não queria dormir, vi que o celular estava tocando agora. Por que me ligou? – Scarlet voltou a deitar-se no sofá, fechou os olhos.
— Liga a TV agora – Vivian a alertava em súplica.
— Mas por quê? – Scarlet lhe perguntava, curiosa.
— Ai, voltou do comercial, só liga, ok? O número do canal é o 325. Beijos – Scar sorriu da forma afobada de Vivian, mas decidiu seguir o conselho da amiga ligando a TV no número indicado.
Viu do que se tratava, e sentiu-se arrependida no mesmo momento, odiava ver qualquer coisa relacionada a aquela banda ou principalmente ao vocalista dela.
— Mas você e namoram há quanto tempo, ?— o apresentador questionou ao casal que estavam sentados a sua frente, do lado direito dele estava Brian e do lado esquerdo ao casal Raphael.
— Faremos cinco anos mês que vem – o público gritou em animação enquanto batiam palmas.
— Uaaau, muito tempo, mas vocês pensam em casar? – eles se olharam, e sorriram um para o outro.
— Casamento é uma mera formalidade, estamos morando juntos há três anos, mas em breve nos casaremos sim com tudo o que temo direito – respondeu, e entrelaçou sua mão com a da garota.
Scarlet se emburrou olhando aquela cena, há contar do tempo que eles estavam juntos foi um pouco depois do dia que ela havia “terminado” com ele. Sabia que a garota sentia algo por ele, a julgar pela recepção que tinha recebido dela quando havia ido assistir ao ensaio da banda. Palavras como sonsa, mosquinha morta e traiçoeira passavam pela cabeça de Scarlet.
— Raphael e Brian, para vocês, como é ter que conviver com esse casal no dia a dia?
— É bem tranquilo – Brian foi o primeiro a responder, como sentia-se tímido na frente das câmeras era bem monossilábico.
— São muito mela cueca ,Roger – o público ria alto – É baby pra cá, baby pra lá... Mas dá pra conviver – deu um soquinho de leve no braço do melhor amigo.
— Agora vamos falar de música... O novo single de vocês Sk8er Boy, é primeira vez que um single inteiro é cantado por você, não é, Alice?
— É sim, Roger, os garotos insistiram muito para que eu o cantasse, e eu pensei por que não, né? – apresentador assentiu, sorrindo.
Se arrependimento matasse Scarlet estaria mortinha, fora longe, quem diria que aquela bandinha de garagem faria tanto sucesso? Se ela tivesse tido paciência, compreensão quem estaria ao lado dele seria ela.
— Essa música foi composta por você e , correto? – a garota concordou – Então essa música é verídica? O conheceu mesmo essa garota?
— Sim, a música é verídica. Quer falar, ? – ela o questionou, enquanto todos os olhavam em expectativa, loucos para conhecerem um pouco mais do novo single.
— Quero. – ela o fitou – Bom, a garota existiu mesmo e ela quebrou o meu coração em mil pedacinhos, mas eu não guardo nenhum ressentimento. Na verdade, eu queria agradecer a ela, se não fosse por ela eu nunca perceberia a mulher maravilhosa e espetacular que eu tinha ao meu lado. – deu um selinho casto em , que sorria de uma forma fofa. – Então muito obrigado! – ele finalizou lançando uma piscadela para a câmera.
Scarlet desligou a televisão furiosa, mesmo de longe, ainda conseguia lhe perturbar. Curiosa, pegou seu celular e entrou na ferramenta de busca, digitou o nome da música e pediu a letra. Leu o conteúdo dela espumando de raiva com as alfinetadas que a letra possuía.
A raiva lhe consumia muito que acabou tacando vários objetos no chão, esquecendo-se que uma Melinda adormecia no andar de cima, acabou por acordar a menor, que gritava em forma de choro por sua mãe, ela suspirou fundo, contou mentalmente e subiu as escadas rapidamente para acudir o bebê.
— Pronto, meu amor. A mamãe voltou, acalme-se – ela pegou a garota no colo, sentou-se em uma cadeira e se pôs a amamentar o seu bebê.
Depois de cinco anos, de alguma forma, com classe, havia conseguido se vingar de Scarlet. Já Scar daria tudo para ser naquele momento... É, havia desperdiçado sua chance, uma lágrima escorreu por um de seus olhos.
This is how the story ends
É assim que a história termina
Too bad that you couldn't see
É uma pena que você não pôde ver
See the man that boy could be
Ver o homem que aquele garoto poderia ser
There is more than meets the eye
Há mais do que aquilo que se percebe à primeira vista
I see the soul that has in insid
Vejo a alma que está por dentro
— Ei, mocinha! Não vai almoçar? – ela lhe olhava, preocupada.
— Mãe, agora não dá, esqueceu que hoje eu tenho balé? – ela já segurava a porta pronta pra sair.
— Uma maça não irá te sustentar, Scar! – a mãe ralhava com ela, preocupada com sua alimentação. – Ainda mais depois de um dia cansativo no colégio.
— Eu como qualquer porcaria no caminho. Beijo! – Scar bateu a porta e se foi. A mãe só balançou a cabeça negativamente.
A garota andava apressada pelas ruas da cidade, não poderia se atrasar, pois hoje seria o teste para o musical Alladin, e ela queria muito o papel de Jasmine.
Do outro lado da rua encontrava-se , o garoto andava com seu skate pela calçada, distraído, enquanto escutava uma música qualquer em seu Mp3, – sim, ele ainda tinha um, aquilo era relíquia - adorava andar pelas ruas daquela cidade com seu skate, mesmo não sendo o correto, porque se algum guarda o pegasse ele se daria bem mal.
decidiu atravessar a rua, queria olhar a loja de instrumentos musicais, precisava dar uma olhada nos preços das guitarras, a sua estava pedindo aposentadoria.
O que ele não esperava era que uma garota que andava extremamente rápido não o visse com o seu skate, e esbarrasse com toda força nele. Acabou que os dois se trombaram fortemente e a garota levou a pior, caindo no chão de bunda.
— Que merda! – ela soltou um grito. se assustou.
— Me desculpe, eu não te vi – ele a ajudou a se levantar, pegou a sapatilha da garota que havia caído e a entregou. A garota rapidamente a pegou da mão dele, sem lhe encarar.
— Deu pra perceber, fala sério. Presta mais atenção, cabeção! – a garota respondeu brava, e continuou o seu caminho.
— Eu, hein... que garota mais mal educada! — sussurrou. Ele ameaçou andar, quando pisou em algo. Olhou para baixo e viu que era um celular. Pegou o aparelho na mão e constatou pela foto da tela de bloqueio que era da garota. – Moça, seu celular! – ele gritou, mas Scarlet já estava bem longe.
Ele tinha que devolver o celular dela, pelo menos se acontecesse algo assim com ele, com certeza ele gostaria que a pessoa devolvesse. Mas, como ele devolveria o aparelho dela se o celular estava bloqueado e ele não conseguia acessar a tela de contatos? Como uma luz, ele lembrou-se de algo, a sapatilha da garota, pelo modelo com certeza era de balé. Ele só precisava achar alguma academia pela região para devolver o objeto a ela. Viu uma banca de jornal e decidiu perguntar:
— Ei, moço, você sabe onde tem alguma academia de balé ou dança por aqui? – o jornaleiro franziu o cenho, tentando se recordar de algo.
— Olha, tem uma aqui na quinta avenida. – o senhor apontou com uma das mãos a direção que deveria seguir.
— Tá certo, muito obrigado – o garoto sorriu. Continuou sua caminhada até achar o lugar. Com certeza era mais luxuoso que tudo o que ele já havia visto. Viu uma recepcionista e decidiu por perguntar.
— Boa tarde, moça! Aqui vocês têm aulas de ballet? Ou qualquer dança que tenha que usar aqueles tipos de sapatilhas estranhas? – a moça prendeu o riso com a pergunta do rapaz.
— Boa tarde, temos aulas de ballet. Inclusive está em andamento – ela lhe olhava curiosa, ele não tinha modos e nem jeito de que gostava desse tipo de dança.
— Hãn, certo, só precisava mesmo dessa informação. Ah, você conhece essa garota? – ele pegou o celular da menina e mostrou a foto da tela de bloqueio para ela. – Ela perdeu o celular, gostaria de devolver.
- Sim, eu conheço, inclusive ela está aqui neste momento – ele assentiu e decidiu esperar na recepção, uma hora a garota sairia de lá e ele devolveria o objeto para ela.
— Estou tão orgulhosa de vocês! Todos foram muito bem. Com toda a certeza eu terei grandes dificuldades em ter que escolher o casal que fará o Alladin e a Jasmine. Lembrando que temos muitos outros papéis de grande equivalência no musical, ok? Estão dispensados.
Os alunos se retiraram do local apressadamente. Tudo o que Scar queria era conseguir o papel de Jasmine, havia treinado tanto para tal, seria injusto se outra garota roubasse o seu lugar. Guardou suas coisas, calada e resolveu que iria embora, mas antes precisava dar uma olhada em suas redes sociais, desde a hora que havia saído do colégio que não tinha visualizado.
Procurou pelo celular, mas não o encontrava de jeito nenhum, sentiu que o coração estava na garganta com o nó que se formou no local. Tudo o que passava em sua cabeça era que aquilo não podia estar acontecendo, seu celular era novo. Decidiu revirar a bolsa, mas não o encontrou. Onde poderia tê-lo deixado? Passou a mão por seu rosto e sentiu que lágrimas o molhavam, estava muito ferrada.
Respirou fundo, juntou suas coisas, e saiu porta a fora da sala com uma tristeza maior do que tudo. Sentiu-se muito burra, onde teria o perdido? Passou a catraca do local cabisbaixa, parecia que tinha perdido um pedaço de si.
levantou-se quando viu que várias pessoas saiam do local, deduziu que a garota estaria no meio, olhava atentamente, a procurando. Viu uma garota tristonha saindo do local, estava em dúvida se era ela, olhou para a tela de bloqueio do celular para confirmar e teve a certeza.
— Ei, garota! – ele lhe chamou a atenção, Scarlet o olhou, mas não o reconheceu, quem poderia ser? Era um rapaz muito bonito, mas tudo o que ela conseguia reparar eram nas roupas horríveis e de extremo mau gosto que o rapaz utilizava, ela com toda a certeza não conhecia ninguém que se vestisse tão mal e ainda andasse com um skate debaixo do braço.
— Sim? – fez uma careta quando ele se aproximou dela.
— Acho que isso é seu... – o garoto mostrou o celular para ela. Scarlet tomou o aparelho da mão do rapaz, o analisando minuciosamente, olhou a tela de bloqueio e quando viu sua foto quis pular de alegria.
— Sim, é meu! Muito obrigada – ela sorriu verdadeiramente pela primeira vez naquele dia – Como achou?
— Bom, de nada... É que a gente se trombou hoje mais cedo e eu fui perceber que seu celular tinha caído depois que você tinha disparado e já estava longe. – ela o olhou, surpresa e arrependida, tinha o tratado tão mal e o rapaz era muito simpático.
— Nossa... E como descobriu que eu faço ballet aqui? – ela lhe questionou, curiosa.
— Suas sapatilhas. Elas caíram no chão àquela hora, então deu para perceber. Portanto, eu procurei saber onde tinha uma academia de ballet para te devolver.
— Uaaaau! – ela exclamou estupefata — E eu fui extremamente grosseira com você. Ai, meu Deus, me desculpe, de verdade! Eu te agradeço muito, muito mesmo por ter devolvido o aparelho, minha mãe me mataria se eu o perdesse. – ela o olhava, agradecida, estava tão feliz que abraçou o rapaz, o pegando de surpresa. Ele acabou por retribuir o gesto.
— Ah, não foi nada – ele sorriu sem graça quando eles se separaram.
— Não diminua seu gesto, você me esperou por mais ou menos três horas, quem faz uma coisa dessas em pleno século XXI? – ele coçou a nuca, desconcertado – Qual é o seu nome, herói?
— Meu nome é e o seu? – ele sorriu levemente.
— Meu nome é Scarlet. Vamos indo? – ela apontou a porta para que eles saíssem logo do local, temendo que fosse vista com uma figura daquelas, o que as pessoas falariam? Ele concordou. – Então, , eu preciso fazer algo pra te agradecer... – ela olhou o rapaz enquanto caminhavam. Tinha o achado bem bonito, apesar das roupas dele.
— Não precisa, por favor. Eu não fiz pensando em recompensas, fiz porque achei que era o certo, e o que eu gostaria que fizessem por mim, caso acontecesse comigo. – ele comentou aquilo e Scar o achou adorável.
— Você é muito fofo... – ela confidenciou. O rapaz acabou por rir com a cara que a garota fez quando percebeu que tinha falado alto. Eles pararam de caminhar na esquina da academia. – Ai, que vergonha! – ela riu, sem graça.
— Na verdade, você pode fazer sim algo por mim – a garota o olhou apreensiva com o pedido que o rapaz faria – Passar o seu número pra mim...?
— Mas é claro que eu passo – ela sorriu largo, enquanto anotava seu número no celular dele. – Qual o caminho você vai seguir?
— Eu vou virar agora para a direita – ele passou a mão pelos cabelos – E você?
— Eu vou para lá – apontou a esquerda – Mas foi um prazer te conhecer, e mais uma vez muito obrigada.
— De nada, e eu vou te chamar no whats – ele caminhava de costas enquanto falava com ela.
— Demorou, chama sim. – ela sorriu sincera e acenou para o rapaz que estava com um sorriso enorme em seu rosto.
foi tranquilamente pra casa, com um sorriso no rosto que significava dever cumprido, tinha feito sua boa ação do dia e de quebra tinha faturado o telefone de uma garota linda, que demonstrou ser bem educada no final das contas. Abriu a porta e se deparou com um furacão:
— ! Estávamos te esperando por três fucking horas! Você escutou! Três fucking horas! — a garota apontava o dedo na cara dele e caminhava enquanto falava, se aproximando cada vez mais dele, até que ele estivesse encurralado na parede com ela o pressionando. conseguia ser bem intimidadora quando queria. — Eu quero uma explicação plausível, seu merda!
fez uma careta, o garoto havia esquecido que naquela tarde eles tinham ensaio da banda a qual faziam parte. era a baixista e ficava no vocal e na guitarra.
— Eu... É estava fazendo uma boa ação, fui devolver o celular de uma garota que tinha o perdido – ele coçou a nuca, desconcertado.
— Claro, e você demora três horas pra fazer essa tarefa simples... – a garota o fuzilava.
— Ela tinha aula de ballet, eu fiquei esperando pra devolver, e acabou que a hora foi passando e deu no que deu...
— Você tem celular pra quê? – ela deu um tapa ardido no rapaz.
— Ai, ! – ele passava a mão no local alisando para ver se aliviava a ardência. – Meu celular descarregou – ela arqueou a sobrancelha – É sério, mano! – a garota suspirou fundo.
— Eu fiquei muito preocupada contigo... Babaca! – ele sorriu achando graça do jeitinho dela.
— Agora eu tô aqui — abraçou-a e deu um beijo em sua testa. A garota prendeu a respiração, era sempre assim quando demostrava algum tipo de carinho para com ela. Não era fácil ser apaixonada por seu melhor amigo.
— Sai, ! – ela o empurrou de leve, queria evitar aquelas sensações – Os meninos já foram, só eu fiquei te esperando... – Eles ensaiavam no porão da casa de .
— Porque me ama muito – bagunçou o cabelo dela, e apertou suas bochechas. Ela deu um tapa de leve na mão dele.
— Convencido! – se afastou dele e pegou a bolsa que estava em cima do sofá, pronta para ir embora. – Fui!
— Espera, ai! Vamos jogar uma partidinha de fifa? – ele a olhou suplicante.
— Não tô afim, vou embora. – ela segurou a alça da bolsa de maneira firme.
— Você nunca recusa uma partida de fifa... Qual é, !
— Eu tô no ódio contigo... Odeio esperar as pessoas e você sabe bem disso! – ele revirou os olhos. Como era difícil.
— Já disse que não fiz por mal, quantas vezes eu terei que repetir?
— Nenhuma, porque eu tô indo embora. – ela já segurava a maçaneta.
— ... – ele fez a carinha do gato de botas – Por favor.
— Vai se fuder, , essa cara não me abala, não. Nem adianta! Amanhã nos vemos – e bateu a porta deixando um garoto frustrado do lado de dentro.
, eu tô preocupado, você tá bem? Enviada às 06:45
??? Enviada às 06:48
— Hey, dude! Você tá bem? Nem apareceu para o ensaio ontem, a ficou brava... – Raphael fez um toque de mãos com enquanto falava.
— É, eu sei. Cheguei em casa e ela estava lá, pronta para me bater... – coçou a barba que estava começando a aparecer em sua face.
— Ela quando quer mata um! – eles riram, por fim – Afinal, o que aconteceu contigo? — eles voltaram a caminhar em direção à classe, eles faziam a primeira aula juntos.
— Vou resumir a história pra ti: esbarrei em uma garota, o celular dela caiu, ela foi embora, reparei que ela fazia ballet porque eu vi a sapatilha dela que acabou caindo da bolsa com o encontrão. Descobri onde ela fazia as aulas, esperei que acabasse, devolvi o aparelho e pra fechar com chave de ouro consegui o número dela – esfregou as mãos uma na outra.
— Nossa, que história – os dois adentraram a sala e se sentaram no meio dela, lugar de costume deles. – Cadê a foto dela? Tem ai?
— Claro – o rapaz puxou o celular, colocou na tela do contato da garota e mostrou para o amigo, aproveitou e viu que Scarlet não havia respondido a mensagem dele, mas também não tinha visualizado – Ela é hot, dude!
— Dá pra perceber, olha o tamanho desses peitos! – apontou para o decote da foto – Não perde a oportunidade.
— Sem dúvidas – eles riram maliciosos. – E a ? Ela te avisou que não viria? Fiquei esperando até 06h53min e nada.
— Cara, ela não me falou nada, provavelmente deve ter ficado doente, sei lá.
— Sim, mas ela sempre manda uma mensagem ou sinal de fumaça dizendo que aconteceu alguma coisa, tô preocupado. – ele encarava a tela do celular -Vou ver se depois da escola passo lá.
O professor de física entrou na sala, e cumprimentou a todos, Rapha antes de virar-se para frente encerrou o diálogo.
— Me espera que eu vou com você. – assentiu e começou a prestar atenção no professor.
esperava Raphael sair da aula de biologia para que os dois fossem juntos para o intervalo. Quando viu andando despreocupadamente pelo corredor, ficou confuso.
— ! — a garota não o escutou, ele segurou em seu braço. Ela parou e o olhou com um sorrisinho de lado — Achei que não tivesse vindo...
— Pois é, cheguei bem cedo hoje... — ela arqueou a sobrancelha.
— Por que não passou em casa?
— Porque eu não quis, ! Simples assim.
— Você é foda, ! Eu fiquei te esperando, quase perdi a hora da aula!
— Estamos quites então — ele revirou os olhos, conseguia ser tão infantil quando queria.
— Céus... – ele a abraçou apertadamente. fechou os olhos, o perfume dele entrou em suas narinas, tudo o que ela queria era não terminar aquele contato nunca.
— ? Você veio – Raphael interrompeu aquele momento de forma repentina assustando os dois, que se separaram abruptamente.
Raphael a abraçou de lado e bagunçou o cabelo dela levemente. Ela fez um pequeno bico.
— Não bagunça o meu cabelo, Rapha! – ela beliscou a barriga dele – Eu só me vinguei do , o deixei esperando, agora eu tô mais leve – a garota suspirou. revirou os olhos. O celular dele apitou, era Scarlet, ele faltou rasgar o sorriso que tinha no rosto.
— O que tanto tem no seu celular, baby?
— Sabe a garota do celular? - assentiu - Ela me passou o número dela, estamos conversando. – tentou disfarçar a face de desgosto, mas foi uma tarefa bem difícil.
— Ah, então você faturou o número dela no fim. Previsível... – ele lhe olhou, com um sorriso lindo no rosto, era difícil demais resistir a aquele belo sorriso — Vai sair com ela? – ela murmurou.
— Bom, ela é diferente, . Ela é muito linda, toda delicada... Essa é para casar – ele brincou. revirou os olhos.
Raphael trouxe a comida dos dois, eles comeram em silêncio, enquanto não conseguia sair daquele celular. O sinal bateu indicando que eles precisavam voltar.
Foram calados até suas respectivas salas, ansiosos para o bater do último sinal, aquele que indicaria o fim das aulas.
— Filha, está bonita, onde pretende ir? – a senhora questionava Scarlet que se perfumava no quarto e dava os últimos retoques na maquiagem.
— Vou encontrar o garoto que achou meu celular. Lembra que eu te contei a história? – ela sorriu.
— Sim, eu me lembro. Hum... possível namorado? – a mãe lhe questionou, curiosa.
— Claro que não, mãe! Ele não faz o tipo que eu namoraria...
— Oras, mas por quê? — sua mãe perguntou, confusa.
— Porque ele é pobre, não tem estilo, é brega, roqueiro, eu já disse que ele é pobre? – a garota ria de lado, enquanto balançava a cabeça. Julia lhe olhava chocada, não esperava que a filha tivesse esse tipo de preconceito.
— Scarlet, nós também não somos ricas! Se você estuda naquele colégio é graças a uma bolsa! – sua mãe lhe repreendeu.
— Eu sei, ok?! Não preciso que me lembre, mãe! – ela respirou fundo – Só que eu tenho como meta de vida arrumar alguém que tenha mais dinheiro que eu! Julgue-me, mãe, mas eu não quero ser pobre minha vida inteira – aquelas palavras da filha eram como facadas pra ela.
Quando Julia havia pedido a bolsa de estudos a sua melhor amiga, que era dona do colégio visava que Scarlet tivesse bons estudos para conseguir ser aceita em uma boa faculdade. Nunca pensou que aquele mundo pudesse fazer tão mal a ela.
— Scarlet, eu não te criei para escutar esse tipo de coisa... Seu pai e eu batalhamos para te dar uma vida agradável, somos pobres e nem se fôssemos ricos desprezaríamos alguém por sua classe social.
— Mãe, eu não estou desprezando ninguém. Eu só disse que não namoraria um cara assim, agora ficar é outra história! Fui! – bateu a porta e deixou sua mãe falando sozinha.
Espero alguns minutos até avistar com sua calça jeans, dois números a mais, surrada, all star imundo e com uma blusa de alguma banda que Scarlet não conseguiu identificar. A garota respirou fundo, odiava o jeito que o garoto se vestia, mas não conseguia negar que ele era lindo.
— Olá, herói! – ela sorriu enquanto recebia o rapaz, o abraçou fortemente. O cheiro do garoto entrou em suas narinas. – Vamos para algum lugar que você goste, me surpreenda! Afinal de contas, eu consegui o papel de Jasmine! – ela propôs, já que provavelmente onde ele a levaria não teria ninguém que ela conhecesse.
— Olá! Bom, eu pensei da gente ir ao Kissebre, lá é um bar muito legal, que toca música ao vivo. Ah, e parabéns pelo papel – ele sorriu lindamente para ela. A garota sorriu agradecida. Ela nunca tinha ouvido falar do lugar, com certeza era seguro ir.
— Só vamos, meu bem! – ela começou a andar em sua frente, enquanto o rapaz a seguia.
Chegaram ao local, como Scarlet previra era um bar bem fora dos padrões que conhecia, o local era imundo, em sua concepção. Fico extremamente aliviada, já que sabia que ninguém da elite de seu colégio frequentaria ali.
Eles passaram pela entrada, sentaram-se em uma mesa, logo o garçom lhes trouxe o cardápio para que escolhessem o que gostariam de consumir. Scarlet optou por uma água sem gás, uma coca cola.
Conversaram sobre diversos assuntos, Scarlet contou ao rapaz onde estudava, perguntou a ele do que gostava, quais eram seus objetivos, enfim conheceram-se um pouco mais. O grupo que tocava ali começou a dedilhar o começo de Always do Bon Jovi, sem pensar duas vezes chamou Scarlet para dançar com ele. Ela aceitou de imediato. Scarlet ficou surpresa de como sabia dançar bem... no que aquele garoto não era bom?
E nos embalos da música Scarlet encostou seus lábios nos do rapaz, um beijo quente surgiu dali, as mãos de alternavam entre os cabelos dela, e sua cintura, já a garota, ora bagunçava os cabelos dele, ora arranhava sua nuca. Tudo o que Scar pensava era que o beijo do rapaz era muito bom, e que se repetiria aquela ficada com toda a certeza.
Dois meses depois...
— , eu nunca pensei que você estivesse tão de quatro pela garota – Brian riu. Só estavam ele e no porão, por enquanto. Eles tinham ensaio marcado para aquele dia.
— Ela é um diferente bom... eu não sei explicar, mas ao lado dela eu me sinto bem. – ele sorriu, sem graça.
— Dá para perceber... Mas vem cá, você avisou a ou Rapha que ela viria ao ensaio de hoje?
— Achei que não tivesse problema, então não avisei. Você vê problema nisso? — ele questionou o baterista, estava apreensivo.
— Bom, por parte do Rapha não, mas a é meio temperamental, então eu não sei como ela reagiria com a presença da garota.
— O que tem a , Brian? – a garota chegou de supetão, assustando aos dois.
— Nada, ué, estava só perguntando onde você estava que ainda não tinha chegado. – ele murmurou, não seria ele o porta voz daquela notícia. Ela se jogou nos braços do garoto, enquanto sorria.
— Estava com saudades de ti, coisa linda! – apertou as bochechas do amigo.- Brian era dois anos mais velho que e Raphael, e três de diferença com . O garoto não estudava mais no colégio, havia se formado ano passado, mas era o baterista da banda que possuíam. Sempre que podia, mesmo trabalhando o garoto ia aos ensaios
— Isso dói, porra! – ele tirou as mãos da garota de suas bochechas – Também estava com saudades – ele admitiu, enquanto bagunçava o cabelo da amiga.
— Gostaria de saber qual é o fetiche de vocês com meu cabelo? – ela abraçou demoradamente. Quando fazia tal ato gostava de demorar, amava estar nos braços do garoto. Brian sussurrou enquanto o amigo abraçava que ela estava de bom humor, juntou as mãos em forma de agradecimento.
Rapha em seguida apareceu, cumprimentou a todos os amigos e eles iniciaram o ensaio, teria uma apresentação no festival em três meses, tinham que estar bem afinadíssimos caso quisessem ganhar.
Enquanto ensaiavam Around The World de RHCP*, foram interrompidos pelo som da campainha. Rapidamente largou o instrumento musical, subiu as escadas correndo e foi atender, sabia quem era. Sorriu lindamente quando viu Scarlet parada do lado de fora, a puxou para dentro e lhe deu um selinho bem demorado.
— Como você está? – o garoto a questionou enquanto brincava com os dedos dela, já que tinham as mãos parcialmente dadas.
— Eu estou bem, , e você? – ela o questionou enquanto roubava um selinho do rapaz.
— Estou bem melhor agora – ele riu enquanto a puxava para as escadas que davam no porão.
— Tão cliché isso ai... parece aquelas cantadas fuleiras – ele riu gostosamente, balançando a cabeça negativamente.
— É a verdade – ele sorriu, chegaram ao porão de mãos dadas, causando um grande impacto em , que estava ajustando a afinação do baixo. – Gente, essa é a Scarlet, a garota que eu tinha dito a vocês. – lhe media dos pés a cabeça, e não conseguia entender como poderia se sentir atraído por ela.
— Por que você não me avisou, !? – a garota rosnou. Estava muito irritada, sabia da existência dela, mas não queria vê-la, aquilo era um desaforo, ela o amava e vê-lo com outra a quebrava em inúmeros pedaços.
— Ah, eu achei que não tivesse problemas e...
— Mas tem, ! Que porra! – Scarlet já não tinha gostado daquela garota, quem ela pensava que era para tratá-la daquela forma?
— Qual é o seu problema!? – Scar a confrontou. Raphael resolveu intervir antes que aquilo desse alguma merda.
— A é tímida! Tem vergonha que assistam aos ensaios, o problema não é com você – ele sorriu, disfarçando a situação.
— Ah, mas fique tranquila, queridinha! Eu nem entendo dessas coisas – Scar sorriu forçadamente, sabia sim que o problema era sua presença, já que se tivesse bazucas nos olhos, ela com certeza estaria morta.
— Olha aqui, eu odeio... – Rapha a interrompeu. Ele tinha o conhecimento que Alice odiava ser chamada de querida, então evitou o que veria a seguir. — , para com isso... – Raphael sussurrou em seu ouvido, enquanto massageava seus ombros.
Tudo o que pensava era que não tinha estômago para ficar no mesmo ambiente que Scarlet, ver o olhar que direcionava a ela estava acabando com sua sanidade. Estava louca de ciúmes, e o pior era que não podia demonstrar aquilo, e por segurar todo aquele ódio lhe estava dando vontade de chorar.
— Bom, eu acabei de me lembrar que minha mãe pediu para que eu voltasse mais cedo hoje... Fui! – a garota respondeu com um fio de voz, guardou seu baixo no estojo, e se direcionou a saída.
— , você não tinha dito nada... – Brian questionou inocentemente.
— Eu lembrei agora – não conseguiu olhá-lo para responder ao questionamento. Jogou o instrumento nas costas e já estava pronta para sair do porão.
— , espera! – era , mas a garota não o respondeu. Não conseguia, só queria sair dali para poder chorar em paz.
— Puxa que pena ela ter que sair... – Scarlet fingiu tristeza – Mas, eu quero te escutar cantar...
sorriu, preparando-se animadamente para cantar para sua musa inspiradora.
— O som vai ficar estranho sem o baixo, então não leve muito a sério! – ela assentiu, animada.
— Oi, Rapha! – a garota sorriu alegremente ao rapaz, que estava parado na porta de sua casa, com seu instrumento musical nas costas – Entra – ela abriu mais a porta dando passagem ao rapaz. – Mãe, o Rapha chegou, tô subindo pro quarto para praticarmos uma cifra nova.
— Oi, Rapha – a mãe gritou da cozinha, o rapaz repetiu o gesto da mais velha, gritando o cumprimento – Porta do quarto escancarada, – Raphael riu alto, já revirou os olhos. Não era como se estivesse pretendendo transar com o garoto, já se fosse ... quem sabe?!
A garota se jogou na cama, enquanto o rapaz se sentava em um puff e babava em alguns pôsteres que ela possuía pendurados na parede, dentre eles o que mais gostava sem dúvidas era o de Red Hot Chilli Peppers, influência pesada na banda que eles possuíam.
— E então? Qual será a música da vez? – o garoto perguntou enquanto Alicia pegava seu baixo e conectava a caixa amplificadora. Fez o mesmo com a guitarra do rapaz, abaixou o som para não enlouquecer a mãe que estava no andar de baixo.
— Eu dei uma olhada na cifra de The Zephyr Song do Red Hot, acho que a gente consegue dar conta... Dá uma olhada na cifra – ela pegou a folha impressa e passou ao rapaz, que olhou e começou a dedilhar a guitarra, tentando fazer o que lhe era designado.
— Eu acho que consigo, só vou precisar treinar um pouco.
— Ah, sim claro. Creio que o Brian consiga dar conta também. Queria que tocássemos essa música no festival! — O festival mencionado era um que acontecia todos os anos no fim do ano que promovia novas bandas para terem a chance de gravarem um single e ficarem famosas.
— Mas e o ? – Rapha questionou-a. Todos tinham que estar na mesma página caso quisessem acrescentar algo no repertório deles.
— Foda-se o ! – a garota respondeu mal humorada.
— Ei, ei, ! O cara faz parte da banda, mano! – Rapha tentou defender o amigo.
— Percebe-se bem como ele se importa com a banda, não participa de um ensaio há semanas! Só pensa naquela menininha dele – desdenhou, com cara de nojo.
— Não seja injusta, o cara só faltou algumas vezes e...
— Cala a boca, Raphael, não o defenda. Quando ele vem pros ensaios, nem presta atenção só sabe sorrir igual um idiota olhando para o celular, tá de corpo presente, mas a cabeça? Bem longe... – o garoto quis rir, mas segurou a risada.
— Você tá com ciúmes dele! – não era uma pergunta.
— Ah, para! Lógico que não, ele tá pouco se fudendo pra gente, só tô falando o que eu vejo – ela fez pouco caso do que ele dizia, mas era a mais pura verdade.
Depois que assumiu estar apaixonado por Scarlet, sofria muito, o garoto não prestava mais atenção as coisas que eles costumavam partilhar e eles não tinham mais tanto contato como era antes.
— Você gosta dele, né? – Raphael a questionou. A garota de repente ficou pálida.
— Claro que gosto, é meu melhor amigo. Que pergunta – ela desconversou, incomodada.
— Eu não disse nesse sentido, e você sabe disso. – ele sorriu, esperto – Olha, , você disfarça bem, mas seus olhos brilham quando olham pra ele... – a garota sentou-se na cama para aliviar o impacto das últimas palavras de Rapha.
— Hãn... nada a ver, Raphael. Para com isso – a garota umedeceu os lábios, não olhando nos olhos do amigo.
— Ok, você não quer confessar, tudo bem. – ele sentou ao lado da amiga, e a abraçou de lado – Só quero que saiba que quando estiver confortável para falar com alguém sobre o que sente, eu estou aqui, tudo bem? – ele a encarou firmemente, ela desviou o olhar.
— Não vou precisar, já que não sinto nada diferente por ele, mas obrigada. – ela se aconchegou em seus braços. No seu íntimo ela sabia que poderia contar com Rapha, mas não se sentia confortável para tal, não ainda.
Ficaram abraçados ali por um tempo, até cortar aquele momento, levantar-se e pegar seu baixo para ensaiar.
— Vamos ensaiar, por favor? – ele sorriu do jeito repentino dela de mudar de assunto, mas decidiu pegar a guitarra e ensaiar contigo.
— 3, 2, 1 – eles começaram a tocar juntos, até a parte do vocal — Fly away on my zephyr, — Raphael gostava quando cantava, mesmo a amiga insistindo que cantava mal. — I feel it more than ever, And in this perfect weather... – Rapha acabou errando – Vamos lá, de novo!
E assim passaram a tarde toda ensaiando, com muitos erros, mas grandes acertos.
Rapha já tinha ido embora, estava jogada no sofá, era por volta das 19h00min, sua mãe alisava seus cabelos, como a garota gostava de estar ali. Agora era ela e sua a mãe, ela havia perdido seu pai fazia dois anos para um infarto fulminante. Com o falecimento dele, ela ficou ainda mais apegada à mãe e a mãe a ela. , Raphael e Brian a ajudaram a passar por essa grande perda.
quase dormia no colo da mãe, quando seu celular vibrou de forma insistente.
Traíra, agora ele é seu melhor amigo!? Enviada às 19:13
Mentira, sou eu ainda! Né? Enviada às 19:13
Diz que é, ! Enviada às 19:14
Vamos dar uma volta de skate? Enviada às 19:14
Caralho, , olha a porra desse celular... Enviada às 19:14
— Mãe, o me chamou para dar umas voltas de skate... Eu posso ir? – ela perguntou a mãe com o olhar suplicante.
— Essa hora, meu amor?! – a mãe perguntou, preocupada.
— Eu prometo que no máximo às 22h00min eu tô de volta?! Deixa, mãezinha! – a mãe suspirou fundo, concordando com a cabeça.
— 22h00min! Amanhã você tem aula – a garota concordou, deu uma rápida olhada no espelho, ajeitou o cabelo e respondeu a mensagem de .
Calma, homem! Eu topo, passa aqui em casa! Enviada às 19:23
Não demorou mais que dez minutos e já estava ali.
— Cuidado, ! Por favor – a mãe recomendou, preocupada. – Oi, !
— Oi, tia Dafne! – ela sorriu, e deu um beijo na bochecha da mais velha.
— Pode deixar, mãe! – caminharam até a porta e começaram a andar de skate por ali mesmo.
— Parece que alguém lembrou que tem amigos... – alfinetou o rapaz, enquanto estava uns dez passos a frente descendo a ladeira de sua rua.
— Para de ser dramática, vejo você todo o santo dia, ! – ele sorriu de lado, enquanto tentava alcançar a garota – E que história é essa de você ter chamado só o Rapha para o ensaio? Eu e o Brian também fazemos parte da banda!
— Idiota! Eu não chamei o Brian porque era um ensaio curto, não tinha como eu colocar a bateria dele no meu quarto – ela respondeu como se fosse óbvio – E você? – ela desdenhou — Bom, não te chamei porque pensei que não tivesse interessado... – ele finalmente a alcançou e puxou seu braço levemente, a fazendo desequilibrar e parar o skate, com o ato ela acabou batendo em seu peito. Ela piscou, aturdida. Ele lhe encarou profundamente.
— ... – ele sussurrou – Eu me interesso por tudo o que tem a ver com você e a banda.– ele lhe olhou, aquele olhar abalou o psicológico dela.
— Ok, , não está mais aqui quem falou... – ela sussurrou, soltando-se dele, aquela proximidade não estava lhe fazendo bem.
Chegaram ao local, no qual geralmente praticavam e deram algumas voltas com o skate pela pista que tinha ali. absorta em pensamentos, só pensava em e aquele momento que tinha rolado há instantes, queria ter coragem para falar de seus sentimentos, mas não podia, tinha medo de perder a amizade dele.
— ! – se aproximou da garota, e a despertou dos devaneios dela – Você está estranha, o que há?
— Nada — ela balançou a cabeça negativamente – Rapha e eu treinamos The Zephyr Song do RHCP – ela resolveu tirar os holofotes dela.
— Essa música é foda! Boa escolha – ele sorriu para ela – Prometo pegar a cifra e praticar. – ela assentiu.
— É o mínimo, baby... é o mínimo. – ele sorriu levemente pra ela.
— ... preciso de uma opinião sua... – ele coçou a nuca, desconfortável.
— Minha?
— Vem, vamos sentar ali. — ela sorriu meigamente enquanto os dois se sentavam em um banco que havia no local, para a galera que assistia os skatistas praticarem.
— Diga, baby! – ele estava bem tímido, diferente do habitual e ele nunca ficava tímido com , ali tinha.
— Você é mulher, entende dessas coisas... – ele parecia incerto.
— Eu acho que ainda sou mulher mesmo – ela riu, zombando dele – Fala, porra!
— Eu quero pedir a Scarlet em namoro, eu pensei em... – depois que escutou a palavra namoro, nada do que ele falava era assimilado. Sentiu como se fossem golpes no estômago, era uma dor absurda, que ela nunca imaginou sequer que existiria. Sentiu que choraria ali há qualquer momento. Decidiu que tinha que ir embora.
— Eu preciso ir – ela levantou-se abruptamente do banco e saiu, esquecendo-se do skate que estava no chão.
— , espera! – ele tentou gritar, mas a garota já corria feito louca, as lágrimas lhe cegando. Ele ficou confuso, o que será que teria acontecido com ela?
A garota corria, achava que estava sem rumo, até perceber aonde tinha ido parar, de frente para a casa de Raphael. Ele seria o único que poderia lhe entender naquele momento, aquilo nunca pareceu tão certo.
Tocou a campainha do rapaz, enquanto tentava, inutilmente limpar as lágrimas de seu rosto que teimavam em cair, estava aflita, enquanto torcia mentalmente que quem abrisse aquela porta fosse seu amigo. A porta se abriu, e para a sua sorte, era Raphael ali, com uma face extremamente assustada por se deparar com naquele estado.
— Meu Deus, o que houve!? – ela nada disse, apenas o abraçou fortemente, chorando cada vez mais.
O rapaz com certa dificuldade fechou a porta, passou com pela sala, sua mãe o olhou preocupado e sibilou “o que houve?” o garoto apenas deu de ombros e sibilou a mãe que a levaria até o quarto, a mãe dele assentiu. Chegaram ao local, Raphael a conduziu a cama, no qual aguardou pacientemente que a garota conseguisse proferir uma palavra qualquer. Depois de um significativo tempo, apenas disse:
— Ele vai pedi-la em namoro – aquelas cinco palavras bastaram para que Rapha compreendesse do que se tratava, sem muito o que fazer ele lhe abraçou forte.
— Eu tô aqui, ! Eu tô aqui – ele sussurrava no ouvido da garota, tentando de alguma forma acalmá-la.
aguardava Scarlet do lado de fora do colégio dela, queria fazer uma surpresa para a garota, tinha passado até na floricultura para comprar rosas vermelhas, sabia que ela amava, queria surpreendê-la. Para estar ali naquele horário o rapaz tinha faltado à escola. Aproveitaria aquele momento para pagar um sorvete para a garota, mostrar a aliança e pedi-la em namoro. Estava com medo de não ser o certo, havia pedido a opinião de exatamente para ter uma noção, mas a garota tinha evaporado, e ignorava as chamadas e mensagens que o garoto mandava. Hoje, ele tentou ir a casa dela, mas a mãe dela havia lhe dito que já tinha ido para escola. Ele não entendia o que poderia ter acontecido, decidiu que assim que fosse embora do encontro com Scar ele passaria na casa dela para tentar entender o que tinha ocorrido com ela.
olhava o relógio, ansioso, só faltavam cinco minutos para que Scar saísse de lá, suas mãos suavam muito. Agora ele entendia o que eram aquelas benditas borboletas que as pessoas diziam sentir no estômago. Seria hoje que daria um passo importantíssimo em sua vida.
A sineta tocou, respirou fundo, passou as mãos pelo cabelo, ajeitou o ramalhete de flores e posicionou-se no portão de entrada do colégio dela. Viu várias garotas passando, mas nada dela.
Scarlet vinha devagar acompanhada de suas amigas, quando uma delas começou a rir em tom de deboche.
— Nossa... alguém avisa para aquele garoto comprar roupas do tamanho dele? Que coisa horrenda! – Cecília comentava com Vivian e Scar.
— Quem será a infeliz que receberá aquelas rosas murchas? — Vivian completou a fala da amiga, rindo alto.
— Quem em sã consciência compra rosas para alguém? É muito cafona, no mínimo tinha que ser um carro – Scarlet destilou o veneno com as amigas. Elas riram em puro escárnio.
— Concordo, amiga! Um carro é muito mais adequado... Mas a julgar pelos trapos que ele veste, com certeza é pobretão.
À medida que iam se aproximando Scarlet tinha a impressão de conhecer aquele garoto. Não, não podia ser... Era o que ela pensava quando percebeu que quem estava ali na porta era . A garota estava pálida.
— Meninas, é... eu esqueci o livro de história na sala, preciso ir buscar! – ela já ia se retirando, quando Vivian segurou seu braço.
— Não esqueceu, não, bobinha. Você esta segurando ele no seu braço. – olhou seu braço e se xingou mentalmente. Se ela fosse vista ao lado dele, aquilo acabaria com sua reputação, e de quebra perderia as amizades das garotas e seria zoada eternamente.
— Ah, é... que loucura – deu sorrisinho sem graça, as meninas lhe olharam confusas – Esse teste de matemática me deixou sem neurônios – inventou uma desculpa, e as garotas assentiram.
Aproximava-se cada vez mais do portão e sentia que queria que aquele chão se abrisse para que ela pudesse se esconder. a avistou e acenou para ela, que fingiu que não o viu, abaixando a cabeça para fitar os livros em seu braço.
— Ai, meu Deus! Ele está acenando em nossa direção – Vivian cutucou Scarlet e Cecilia, a última riu sem acreditar.
achou que ela não o tinha visto, por isso acenou novamente, mas nada de Scarlet lhe olhar. Esperou pacientemente até que ela se aproximasse. Scarlet olhou para o outro lado, mas já era tarde demais...
— Scarlet! – ele segurou seu braço com um sorriso de tirar o fôlego. – Oi, meu amor! — As suas amigas lhe olhavam com os olhos arregalados. Tudo o que a garota queria era morrer. Tentou se desvencilhar do aperto no braço, porém foi inútil.
— Me solta! – ela sabia que tinha que pensar rápido, a soltou no susto – Você está louco! Eu já disse que eu não quero nada com você!
— Hãn? Do que você tá falando? – ele tinha a confusão explícita em seu olhar. Vivian e Cecilia assistiam aquela cena caladas. Como a cena era incomum, acabou que todas as pessoas que passavam aproximavam-se de forma que foi se formando um círculo em volta deles.
— Vai embora e me deixa em paz! – Scarlet lhe encarava enfurecida, um olhar que jamais conheceu.
— Eu não entendo, ontem estávamos bem. – ele respirou fundo – Saímos no sábado e...
— Mentiroso! Nunca que eu sairia com uma pessoa como você... – sentiu um soco no estômago quando escutou aquelas palavras. Ele estava magoado, confuso, mas não deixaria que ela o humilhasse na frente de todas aquelas pessoas.
— Eu não sei por que você esta agindo assim, mas eu não admito que me chame de mentiroso e me trate com desdém! Nós saímos sim juntos e não foram poucas às vezes. – ele respondeu, autoritário.
— Claro que saímos sim, nos seus sonhos mais íntimos. Eca! – algumas pessoas riram do que Scarlet disse. Ele lhe olhava impassível.
Scarlet respirou fundo, sabia que assim que proferisse aquelas próximas palavras estaria ferindo o coração do rapaz, mas aquilo era preciso, não tinha nada para oferecer a ela, ela precisava de alguém que lhe desse a situação financeira que merecia.
— Eu nunca teria nada com você! Olha essas roupas surradas, esse cabelo ensebado, esse skate que a qualquer momento pode cair a rodinha... E essas flores? Com toda a certeza foram colhidas na semana passada. Meu bem, se olhe bem no espelho, eu sou muita areia pro seu caminhãozinho velho!
não teve tempo de resposta já que Scarlet andava apressadamente para longe do rapaz, ela tinha a respiração cansada, esperava que tivesse claro para as pessoas que eles nada tinham.
— Quem era ele, Scarlet? – Vivian questionou-a enquanto tentava acompanhar os passos rápidos que ela dava.
— Um garoto ridículo que acha que pode ter algo comigo. Pobrezinho – ela explicou, forçando um sorriso debochado.
— Ele falava com tanta propriedade, Scar! Quase acreditei... – Cecilia comentou.
— Pra você ver, é o preço por ser linda, ter que lidar com esse tipo de gente. – as garotas riram de sua fala. Ela deu uma última olhada para trás e viu parado no mesmo lugar, com as flores na mão, sentiu seu coração apertar quando viu a carinha que ele fazia para ela.
O que tinha feito de errado? Por que ela pareceu tão fria? O que se passava na cabeça dela? Eram muitas das dúvidas que possuía em sua cabeça. Ela havia lhe deixado sem palavras. Algumas pessoas riam da cara dele, outras lhe olhavam com pena, tudo o que ele queria era sair dali.
Ele jogou as flores no chão, e saiu sem olhar para trás, tamanha vergonha que sentia. Sentia-se humilhado. Pensou em procurar a única pessoa que lhe ajudaria naquele momento, mas tinha medo de não ser bem recebido, dela estar com raiva dele sem ele mesmo saber o motivo.
Parece que naquele dia provou duas coisas que a maioria dos apaixonados já sentiu pelo menos uma vez na vida: borboletas no estômago e um coração partido.
— ? – a mãe de abriu a porta, surpresa por ver o garoto cabisbaixo, diferente do que sempre o via.
— Dona Dafne, a tá por ai? – ele teve dificuldades para se expressar, devido ao nó na garganta que tinha por segurar a vontade de chorar.
— Não, ela deve estar chegando... Está tudo bem? – a mãe questionou, preocupada. Primeiro chegara ontem com os olhos inchados, de tanto chorar, ela perguntou o que acontecia, a filha desconversou. Agora aparecia com uma cara estranha...
— Está sim, tia...— ele respondeu, a mulher percebeu que não conseguiria arrancar nada do garoto, por isso deixou para lá – Posso esperá-la no quarto dela?
— Pode, mas já sabe, portas escancaradas! – riu levemente em concordância, só dona Dafne para arrancar um riso leve dele. Deu um beijo na bochecha dela e subiu as escadas para o quarto da garota.
Raphael aguardava na porta da sala de aula guardar seus pertences da aula de química, ela havia pedido que eles fossem juntos para casa, para que pudessem conversar já que no intervalo não puderam, pois Jenny, a ficante de Raphael, passou o horário com eles.
— Finalmente, donzela! – Rapha brincou quando pegou a mochila da amiga e jogou em suas costas juntamente com a sua, como o cavalheiro que era. Se a garota não fosse tão apaixonada por , Raphael seria com certeza uma boa opção.
— Idiota, não ia guardar minhas coisas correndo só porque você estava com pressa. — ela ralhou com ele – E a Jenny?
— Ela vai embora sozinha, depois eu passo na casa dela.
— Mas ela não ficou com ciúmes ou algo assim? — questionou, preocupada. Não queria que o amigo se prejudicasse, já que quem sempre ia embora com ela era .
— Eu acho que não, ela sabe que você é minha amiga, e que eu sou o substituto oficial do , então… — ele fingiu mágoa.
— Raphael, pelo amor de Deus! — ela deu um tapinha nele — Para já com isso, você é meu melhor amigo, também é, mas cada um tem seu jeito diferente de ser. Você é aquele tipo de amigo que mesmo você estando triste ou acabado te alegra, topa tudo o que te chamarem, tem riso fácil, aguenta minha TPM sem reclamar ou jogar piadinhas… São tantas qualidades que eu ficaria o dia inteiro enumerando. O importante é que eu amo você! E sem você minha vida seria extremamente sem graça! — ele lhe abraçou apertado. Separaram-se e recomeçaram a caminhada.
— Deveria registrar esse momento. abrindo seu coração! — ele riu levemente, enquanto a garota revirava seus olhos — Qual é, você nunca expõe seus sentimentos.
— Raphael, tô me expondo demais contigo — saíram da escola e caminhavam pela rua — Ontem te contei o meu maior segredo.
— Ah vá! Quem não sabe que você é louca, louquinha mesmo pelo ?! — a garota sentiu as bochechas esquentarem.
— Xiu...Cala a boca, alguém pode te escutar. — ela sussurrou olhando para os lados.
— Ok, desculpe. — ele riu abafado da careta que ela fazia — Ah, e por falar nisso você está melhor?
— Não, dói pra porra, Rapha! Saber que eu terei que ver ele a beijando, abraçando, trocando carinhos, confidências, enfim, me deixa extremamente triste.
— Talvez eles não deem certo — ele sorriu abraçando-a de lado, enquanto caminhavam.
— Eu não posso contar com isso, eu preciso esquecer e tentar seguir em frente.
— Eu concordo, é preciso. Se você tivesse tido coragem de se declarar…
— E correr o risco de perder a amizade dele? Não, não obrigada. — ela mexeu o dedo indicador de forma que se entendesse o não.
— E como você vai fazer quando ele estiver namorando ela? Por que de acordo com você isso acontecerá logo.
— Eu não sei… Se ele estivesse com uma garota bacana seria mais fácil de engolir, mas não, ele tá com uma patricinha ridícula!
— ! — ele a repreendeu.
— Eu não fui com a cara dela. Aquela ali é uma sonsa…
Já estavam chegando à casa da garota.
— Você está com ciúmes, não vou relevar sua opinião. — bagunçou o cabelo dela, que deu um tapa em sua mão.
— Ridículo! — ela apertou a barriga do rapaz — Não é só ciúmes, eu percebi.
— Aí! Sua monstra! — ela riu da cara que ele fazia.
Chegaram ao portão dela e sorriram um para o outro.
— Vê se pede a Jenny em namoro, ela é uma boa garota.
— Vou pensar sobre isso — ele devolveu a mochila pra ela, deu um beijinho na testa dela e se foi.
Ela entrou em casa, jogou a mochila no sofá da sala e dirigiu-se para a cozinha.
— Boa tarde, mãe! — deu um beijinho nela enquanto bisbilhotava o que tinha na panela. — Tô com fome.
— Boa! Novidade, filha — a mãe sorriu pra ela - O está no seu quarto…
— Ele o quê? Ah não, mãe! Eu disse que era para você dizer eu não estava.
— Eu disse, mas ele não tá bem, filha, por isso o deixei te esperar no seu quarto.
— Ele não tá bem, mãe?! — perguntou, com um fundinho de preocupação, no fim ele ainda era seu melhor amigo. — Se bem que hoje ele nem foi pra escola...
— Sim, bebê. Ele até veio aqui de manhã, perguntar de você, você já tinha ido para a escola — a garota assentiu — , ontem você apareceu com olhos inchados, hoje ele vem cabisbaixo, o que acontece?
— Já disse que é impressão sua, eu não chorei ontem… — ela desconversou.
— Eu não vou me conformar com essa resposta e você sabe disso. Mas por agora eu não vou insistir porque o rapaz tá lá no seu quarto. Vai lá, mas já sabe…
— Porta escancarada. — a garota riu, era sempre assim.
— Boa menina.
A garota saiu da cozinha e subiu devagar as escadas, não queria olhar pro tão cedo, sabia que estudavam na mesma escola, mas ela já tinha tudo arquitetado, tinha os locais ideais para se esconder dele, mas não esperava que sua mãe lhe pregasse aquela peça.
No último degrau, ela respirou fundo, contou até dez e entrou em seu quarto. Viu o garoto com um olhar extremamente triste, preocupou-se.
— O que houve, baby? — ela o questionou enquanto se aproximava dele, sentando em sua cama.
— Tá doendo tanto… — ele soprou aquelas palavras, não entendeu.
— Como assim? — ela tinha a confusão no olhar.
— Ela me humilhou na frente daquele colégio inteiro, ela acabou comigo — ao término da frase as tão temidas lágrimas foram impossíveis de serem seguradas. Ele não conseguia mais parar de chorar, era uma dor tão grande que ele sentia que tinha dificuldades para respirar.
Sem dizer nada o abraçou fortemente. Essa vida era bem engraçada, ontem quem chorava e recebia consolo era ela, hoje o causador de seu choro estava sendo consolado por ela. Ela simplesmente guardou sua dor no bolso, pois sabia que precisava absurdamente dela.
Depois de minutos abraçados ele parou de soluçar, ela viu que aquele momento ele responderia suas dúvidas
— Como foi isso? Eu não entendo… — lhe olhava perplexa.
E ele contou tudo, desde o início daquele dia, ouvia atentamente, sem o interromper, aguardava pacientemente que o discurso dele acabasse para que ela expressasse sua opinião.
— E foi isso. — ele terminou o relato.
— Ela tem vergonha de você, do relacionamento de vocês. Quando você apareceu de surpresa na porta do colégio dela a expôs. Que garotinha escrotinha!
— Vergonha de mim? — parecia que mais facadas tinham sido enfiadas em seu coração.
— Infelizmente, sim. Ela não tinha o direito de fazer isso com você, vou dar uma boa lição nela. — já se levantava pronta pra acertar as contas com Scar quando sentiu longos dedos segurarem seu pulso.
— Não, eu não quero que você vá atrás dela, não quero vê-la nunca mais. Eu tô tão magoado... – sua voz embargou ao fim da fala.
— Ei, eu tô aqui, e não vou te abandonar. Não tenta segurar mais esse choro, o deixe vir com força, só assim você, de alguma forma, se sentirá melhor. — ela acarinhou o rosto dele, e sentiu quando algumas grossas lágrimas rolaram.
E ele chorou, chorou muito, não tentou se segurar mais. A mãe de subiu as escadas, fitou os dois no canto da porta abraçados e os deixou, quando o clima amenizasse ela os chamaria para almoçarem.
— Então quando você vai parar de enrolar a Jenny e pedi-la em namoro? – cutucava Raphael para que tomasse alguma atitude com a menina.
Eles sentaram-se à mesa, de modo que estava de frente para o rapaz.
— Olha, a Jenny é uma garota legal, mas eu não sei se quero algo assim agora... É complicado – ele gesticulava enquanto falava. Jenny encontrava-se do outro lado do pátio, sentada com seus amigos.
— Você não gosta dela? – lhe olhava, curiosa.
— Gosto, mas... – ela o interrompeu.
— É complicado. Você nunca consegue me explicar nada com nexo, meu Deus! Você nem chama mais a menina para passar o intervalo com a gente.
— Ela que quis assim – ele se defendeu.
— Você também não faz nenhum esforço para convencê-la do contrário. – Raphael revirou os olhos, não gostava que a conversa fosse para esse lado. Viu se aproximando com os lanches e teve uma ideia.
— Você não tem moral pra falar de mim. – ele a cutucou.
— Ué, por que não? – ela lhe olhava com um sorriso confuso.
— Não se faz de sonsa, você ama o , mas não se declara. – ela sentiu as bochechas esquentarem.
— Raphael, pelo amor de Deus, de novo isso? – ela lhe olhava brava. estava a alguns passos da mesa – Eu amo o , amo muito mesmo, mas eu não posso me declarar pra ele e arriscar perder a nossa amizade, eu sei que não é reciproco. – arregalou os olhos quando escutou o que dizia, estava perplexo.
— Você o quê, ? – jogou a bandeja na mesa e sentou-se ao lado de Raphael. A garota sentiu a boca seca, os olhos queriam saltar de seu rosto, sentiu que desmaiaria a qualquer momento. Pra ela aquilo não podia estar acontecendo.
— Epa, acho que é minha deixa. Fui – os dois estavam presos em seus próprios olhares então nem viram quando Raphael levantou-se da mesa.
Ela sentia dificuldade para respirar, aquele olhar sobre ela, lhe deixava desconfortável, então a única reação que teve foi correr, correu atrás dela e facilmente a alcançou.
— ... – ele a olhou, curioso. Não esperava que sua melhor amiga nutrisse sentimentos por ele, aliás, ele nunca tinha percebido nada e aquilo lhe frustrava. Desde quando ela sentia isso por ele?
A garota estava em choque, ele os conduziu até o murinho da escola, para que pudessem conversar melhor, já que estavam parados no meio do corredor, ela se deixou ser levada.
— É verdade? – ele optou pela obviedade queria entender desde o começo. Ela respirou fundo, estava chateada. Não queria que descobrisse dessa forma, maldito Raphael!
— Sim... – ela o respondeu, olhando para qualquer canto daquele pátio, menos para os olhos penetrantes do rapaz.
— Uaau – ele exclamou, visivelmente surpreso – Desde quando você...? – ele se sentia sem graça de repetir as palavras que escutara há pouco.
— Uns três anos, não sei dizer ao certo – ela sussurrou, sentindo que as bochechas explodiriam a qualquer momento de tão quentes que estavam.
— , é muito tempo! – ele procurou seus olhos, mas não os encontrou. – É por que você achava que não era recíproco?
— Por que eu já estava na friendzone, você saiu com várias meninas, todas lindas e tal, eu achei que nunca teria chance.
— Você deveria ter arriscado, o mínimo que você poderia escutar de mim seria um não.
— Eu não suportaria essa rejeição, . Você não entende... – ela suspirou, enquanto entrelaçava uma mão na outra em seu colo.
— É, eu não entendo mesmo – ele olhou para ela – Talvez se você tivesse dito dos seus sentimentos, tudo poderia ter sido bem diferente... – ela finalmente o encarou, perplexa.
— O que está insinuando? Que me daria uma chance? – ele capturou os olhos do rapaz pela primeira vez, desde que iniciaram aquela conversa.
— Eu não sei, talvez, . As coisas estão muito doloridas ainda pra mim, eu nunca pensei que uma decepção amorosa doesse tanto.
— Ah, dessa dor eu conheço com propriedade – ela sorriu, triste.
— Eu devo ter feito você sofrer tanto – ele olhou para o alto – Que merda, !
— Sim, muita merda, baby – ela deixou uma lágrima escorrer – Se eu pudesse escolher, eu não teria me apaixonado pelo meu melhor amigo. – ele limpou a lágrima do rosto dela, e o acariciou.
— Agora tudo faz sentido, você ter saído da pista correndo depois que eu contei que eu pediria a Scarlet em namoro. Céus! – ela assentiu com a cabeça.
— Sim, aquele dia eu revelei ao Raphael, cheguei aos prantos na casa dele. Ele já sabia, eu só confirmei mesmo.
— Certo, como sempre o Raphael tem sempre que saber das coisas antes – ele revirou os olhos.
— Idiota – ela sorriu.
Ficaram um tempo calados, até quebrar o silêncio.
— , eu quero tentar – ela piscou os olhos, levemente confusa.
— Tentar o quê?
— Eu e você, você e eu – ele gesticula enquanto apontava para si e para ela. A garota arregalou os olhos.
— ...? Não brinca assim comigo – ele sorriu para ela, enquanto ela o encarava, boquiaberta.
— Eu não estou brincando... eu só te peço um tempo, um tempo para que eu me acostume com a ideia, e que eu consiga ajeitar as coisas por aqui – apontou para o próprio coração — Você me espera? Me espera para eu estar pronto pra você?
— Espero – ela sorriu, o sorriso mais lindo que já vira – Quem esperou todo esse tempo, espera mais um pouco.
Eles sorriram um para o outro e se abraçaram apertadamente, belos recomeços surgiram naquela tarde.
se perfumava, retocava o batom rosa que havia pegado emprestado de sua mãe, alisou sua roupa que era um short jeans e uma baby look preta, com um all star branco para finalizar. Acabou deixando que sua mãe passasse um lápis preto e um rímel em seus olhos. Olhava-se no espelho com dúvidas, ela tinha medo de não aprovar. Sim, hoje seria o primeiro encontro de verdade dos dois.
— Mãe, você tem certeza que não está exagerado? – ela olhava sua imagem, e torcia os lábios.
— Você está linda. – Dafne lhe olhava encantada — Entenda que a maquiagem não tirou a sua essência, filha – a garota assentiu. Nessas horas queria ter amigas para lhe ajudar com essas coisas, já que para mãe o filho era sempre bonito.
Foi despertada de seus devaneios quando a campainha tocou, sentiu que o seu coração sairia pela boca, estava muito nervosa. entrou na residência e cumprimentou sua mãe e aguardou pacientemente enquanto a menina não saia do quarto. olhou-se mais uma vez no espelho, contou mentalmente até três e desceu as escadas devagar. Viu que mexia concentrado em seu celular, então decidiu o cumprimentar.
— Oi, baby – ele largou o aparelho e ficou surpreso com aquela versão de em sua frente. Ela estava encantadora e ele decidiu que também gostava dessa versão dela.
— O-oi, – ele sorriu, apreensivo, parecia que não, mas também estava nervoso naquele momento.
A mãe de observava a cena sorrindo, mas calada. Estava achando a coisa mais fofa ver o encabulamento dos dois, que antes daquilo tinham uma intimidade e tanto.
— Vamos? – ela assentiu, e abriu a porta para que ela passasse, mas não sem antes se despedirem da mãe da menina. – Você está bem bonita – sorriu para ela.
— Ah, é obrigada – ela respondeu de forma sem graça. Sentia-se estranha naquela dinâmica. – Você também.
— Não há de quê e obrigado. – ele coçou a nuca, desconcertado.
— , decorou a música RHCP? O festival já é semana que vem! – ela o alertou, preocupada.
— Sim, senhorita. Tudo na ponta da língua e da mão – eles riram. Mas a conversa se encerrou ali. Ambos queriam puxar assunto, mas a situação em si os deixava sem graça.
Foram caminhando, já que o restaurante que havia feito reserva era bem próximo da residência da menina. Chegaram ao local e foram encaminhados a mesa que tinha sido reservada, fizeram seus pedidos, comeram a entrada e o prato principal e o silêncio instaurado estava difícil de ser quebrado, até ter uma atitude.
— Chega – ela bateu na mesa assustando o rapaz – Sou eu, , . Precisamos agir normalmente, pelo amor de Deus!
— Mas, , como começaremos do zero se agirmos normalmente? – ele largou os talheres e a fitou.
— Eu não sei... mas nesse clima estranho é que não dá para ficar – ela o fitou.
— Você tem completa razão, tá bizarro! – ele sorriu – Que tal a gente sair desse restaurante e comer cachorro quente?
— Demorou! – ele chamou o garçom e pediu a conta, insistiu, mas decidiu que quem pagaria a conta seria ele, e assim foi feito.
Caminharam até encontrarem uma barraquinha de cachorro quente, pediram o maior que a moça fazia, pegaram coca cola para acompanhar, pagaram e sentaram em uma pracinha para comeram seus lanches.
— Me deixa comer em paz, – ele tacou um pedacinho de papel, perturbando-a. Ele já havia terminado, mas comia mais devagar, e sempre a perturbava por isso. – Caralho, !
— Não tô fazendo nada... – ele sorriu, inocente – A gente podia ter trago os nossos skates, né? Essa noite tá propicia.
— Faz sentido, mas minha mãe nunca permitira que eu saísse com você em nosso “primeiro encontro romântico” com skates nos braços. – ele sorriu, desconcertado.
— Cara, eu não sabia como encarar sua mãe, que vergonha – ele sentiu o rosto esquentar só de lembrar. – ela riu alto.
— Ai, que fofo! – ele tacou mais um pedaço de guardanapo nela – Idiota, se você tacar de novo vai se arrepender.
— Ah, é? Eu pago pra ver – cortou mais um pedaço, fez uma bolinha e acertou a cabeça da amiga.
largou o lanche na mesa e pulou em cima do rapaz, forçando que ele se deitasse na grama, colocou uma perna de cada lado do corpo dele e começou a fazer cócegas nele.
— Mulher, você vai me matar - ele ria alto, enquanto ela fazia mais cócegas nele – ... eu vou mijar nas calças. – ele respondia entre risos, enquanto ela se divertia com a situação.
— Pede desculpas, e eu paro – ela sorriu malignamente, enquanto trabalhava com as mãos.
— Des... – ele aproveitou a distração dela, e inverteu as posições, agora ele estava por cima. – E agora, quem tem que pedir desculpas?
— Você ainda – ela sorria lindamente, foi quando percebeu que o cantinho da boca dela estava sujo de ketchup.
— Tá sujo aqui ô – ele apontou para o lugar e passou o polegar ali, limpando. o encarava enquanto ele limpava o local, já lhe fitava sério.
Ele foi se aproximando da menina, estava bem próximo quando encostou suas bocas. O coração de parecia que sairia de seu peito. Ele passou a língua por todo o lábio dela, pedindo passagem que logo foi concedida pela garota. Ele a beijou lentamente. estava completamente entregue, apaixonada, parecia um sonho estar beijando . Ele a apertou mais em seus braços, não queria interromper aquele momento de forma alguma. Separaram-se sem ar, com as respirações ofegantes.
— , se eu soubesse que você beijava tão bem, já tinha experimentado – ele riu, e lhe deu um selinho demorado. Já a garota, sorriu sem graça.
— Parece um sonho... eu tenho medo de acordar – ela confidenciou sem graça.
— Não é um sonho, e para provar minha tese vou ter que te beijar de novo – ele deu selinho – E de novo – mais um selinho – E de novo – selinho. Ela ria entre os beijos.
Ficaram ali, naquela praça se beijando, brincando, rindo, descobrindo sensações que antes eram desconhecidas por eles.
— Nunca pareceu tão certo – complementou, beijando mais uma vez a garota.
A ambição havia lhe colocado naquela situação, tinha engravidado de um rapaz que havia conhecido na faculdade, era bem rico, mas comprometido, e quando ele descobriu que ela estava grávida disse que não era dele e a largou. Ela precisou acionar a justiça para que a paternidade fosse reconhecida, a conseguiu, ele pagava a pensão, mas não quis ficar com ela e não fazia questão de ver a filha. No fim, morava com sua mãe, havia trancado a faculdade e assim que o bebê tivesse mais idade ela teria que arrumar um emprego.
Finalmente, depois de muito chorar a pequena Melinda se acalmou e dormiu, Scar a levou até o quarto, no qual ficava o berço da garota e a depositou lá com todo o cuidado possível para não acordá-la.
Foi para a sala e se jogou no sofá, estava extremamente cansada, querendo ou não, Melinda lhe desgastava muito. Olhou para o celular que piscava incessantemente e viu que ele vibrava com o nome de Vivian, decidiu por atender.
— Finalmente me atendeu, Scar — Vivian sorriu do outro lado da linha.
— Mel não queria dormir, vi que o celular estava tocando agora. Por que me ligou? – Scarlet voltou a deitar-se no sofá, fechou os olhos.
— Liga a TV agora – Vivian a alertava em súplica.
— Mas por quê? – Scarlet lhe perguntava, curiosa.
— Ai, voltou do comercial, só liga, ok? O número do canal é o 325. Beijos – Scar sorriu da forma afobada de Vivian, mas decidiu seguir o conselho da amiga ligando a TV no número indicado.
Viu do que se tratava, e sentiu-se arrependida no mesmo momento, odiava ver qualquer coisa relacionada a aquela banda ou principalmente ao vocalista dela.
— Mas você e namoram há quanto tempo, ?— o apresentador questionou ao casal que estavam sentados a sua frente, do lado direito dele estava Brian e do lado esquerdo ao casal Raphael.
— Faremos cinco anos mês que vem – o público gritou em animação enquanto batiam palmas.
— Uaaau, muito tempo, mas vocês pensam em casar? – eles se olharam, e sorriram um para o outro.
— Casamento é uma mera formalidade, estamos morando juntos há três anos, mas em breve nos casaremos sim com tudo o que temo direito – respondeu, e entrelaçou sua mão com a da garota.
Scarlet se emburrou olhando aquela cena, há contar do tempo que eles estavam juntos foi um pouco depois do dia que ela havia “terminado” com ele. Sabia que a garota sentia algo por ele, a julgar pela recepção que tinha recebido dela quando havia ido assistir ao ensaio da banda. Palavras como sonsa, mosquinha morta e traiçoeira passavam pela cabeça de Scarlet.
— Raphael e Brian, para vocês, como é ter que conviver com esse casal no dia a dia?
— É bem tranquilo – Brian foi o primeiro a responder, como sentia-se tímido na frente das câmeras era bem monossilábico.
— São muito mela cueca ,Roger – o público ria alto – É baby pra cá, baby pra lá... Mas dá pra conviver – deu um soquinho de leve no braço do melhor amigo.
— Agora vamos falar de música... O novo single de vocês Sk8er Boy, é primeira vez que um single inteiro é cantado por você, não é, Alice?
— É sim, Roger, os garotos insistiram muito para que eu o cantasse, e eu pensei por que não, né? – apresentador assentiu, sorrindo.
Se arrependimento matasse Scarlet estaria mortinha, fora longe, quem diria que aquela bandinha de garagem faria tanto sucesso? Se ela tivesse tido paciência, compreensão quem estaria ao lado dele seria ela.
— Essa música foi composta por você e , correto? – a garota concordou – Então essa música é verídica? O conheceu mesmo essa garota?
— Sim, a música é verídica. Quer falar, ? – ela o questionou, enquanto todos os olhavam em expectativa, loucos para conhecerem um pouco mais do novo single.
— Quero. – ela o fitou – Bom, a garota existiu mesmo e ela quebrou o meu coração em mil pedacinhos, mas eu não guardo nenhum ressentimento. Na verdade, eu queria agradecer a ela, se não fosse por ela eu nunca perceberia a mulher maravilhosa e espetacular que eu tinha ao meu lado. – deu um selinho casto em , que sorria de uma forma fofa. – Então muito obrigado! – ele finalizou lançando uma piscadela para a câmera.
Scarlet desligou a televisão furiosa, mesmo de longe, ainda conseguia lhe perturbar. Curiosa, pegou seu celular e entrou na ferramenta de busca, digitou o nome da música e pediu a letra. Leu o conteúdo dela espumando de raiva com as alfinetadas que a letra possuía.
A raiva lhe consumia muito que acabou tacando vários objetos no chão, esquecendo-se que uma Melinda adormecia no andar de cima, acabou por acordar a menor, que gritava em forma de choro por sua mãe, ela suspirou fundo, contou mentalmente e subiu as escadas rapidamente para acudir o bebê.
— Pronto, meu amor. A mamãe voltou, acalme-se – ela pegou a garota no colo, sentou-se em uma cadeira e se pôs a amamentar o seu bebê.
Depois de cinco anos, de alguma forma, com classe, havia conseguido se vingar de Scarlet. Já Scar daria tudo para ser naquele momento... É, havia desperdiçado sua chance, uma lágrima escorreu por um de seus olhos.
É assim que a história termina
Too bad that you couldn't see
É uma pena que você não pôde ver
See the man that boy could be
Ver o homem que aquele garoto poderia ser
There is more than meets the eye
Há mais do que aquilo que se percebe à primeira vista
I see the soul that has in insid
Vejo a alma que está por dentro
Fim!?
Nota da autora: Gente, eu simplesmente amei escrever esse ficstape, e eu escrevi em menos de um mês, mas a ideia foi fluindo, foi fluindo lindamente hahah!
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Outras Fanfics:
I Won't Forget You
Originais/Finalizada
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