Capítulo Único

respirou fundo enquanto endireitava a mochila nas costas e saía pelos grandes portões da fábrica onde trabalhava. Somando as horas extras, em três dias havia trabalhado cerca de quarenta horas. Exaustivo, como sempre, mas não havia outra escolha no momento, não havia outra saída. As contas precisavam ser pagas e o apartamento estava longe de ser adequado para o bebê que estava quase chegando. Com uma barriga de oito meses, sua noiva ainda trabalhava em lanchonetes e fazia todos os bicos que podia para comprarem mais móveis e tudo que o bebê fosse precisar. A vida não era fácil para os dois no momento e com apenas dezenove anos cada um, as possibilidades não pareciam sorrir para os dois.
Extamente sete meses antes, bateu em sua porta aos prantos com um teste de gravidez positivo em suas mãos. Os pais da garota, extremamente religiosos e contra o relacionamento, expulsaram-na no ato. Com algumas malas na mão, lágrimas e um bebê em seu ventre, se viu sem ter para onde ir ou qualquer saída para a situação. tinha uma vida confortável e pais que o apoiavam em tudo, exceto seu relacionamento com a garota tímida e desajeitada que morava em um dos piores bairros da cidade. Ele sabia que levá-la para sua casa nunca fora uma opção, mas se quisessem ter aquele bebê, precisavam pensar rápido.
E foi assim que, em uma quarta a noite, eles pegaram tudo que podiam colocar em suas malas e pegaram o primeiro ônibus que saía da rodoviária da pequena cidade onde moravam. tinha alguma dinheiro guardado e ele foi suficiente para alugarem um lugar pequeno e não muito confortável, mas que servia perfeitamente para os dois até então. O rapaz logo conseguiu um emprego em uma das fábricas da cidade e a moça trabalhava em restaurantes em lanchonetes, muitas vezes vários turnos seguidos. Agora, já no final da gravidez, não aguentava tantas horas em pé e andando servindo pessoas, mas ainda pegava alguns turnos e fazia o possível para ajudar com as contas. A vida não era fácil e tudo parecia cada dia mais apertado e complicado, mas eles eram felizes com a ideia de construírem sua família juntos.
Ou pelo menos era isso que o rapaz tentava dizer para si mesmo todos os dias. Ao andar pelas apertadas ruas da cidade, observava os rapazes da sua idade bebendo com os amigos, tendo encontros, voltando das aulas na universidade, jogando futebol ou qualquer outra coisa que não envolvia ltar peças pesadas o dia todo e ter que comprar móveis e roupas de bebê. O mundo parecia, cada vez mais, estar se fechando ao redor dele e tudo que ele mais queria às vezes era poder voltar para casa e voltar à vida que costumava levar antes. Tudo era tão fácil e simples.
A rotina parecia que, de certa forma, o sugava cada vez mais. Trabalho, trem, , dormir, trabalh, trem... Sua cabeça parecia que ia explodir a qualquer momento. Incontáveis vezes ele encarou sua mala com lágrimas nos olhos, incontáveis vezes ele ensaiou as conversas que poderia ter com .
Mas a garota sempre esteve lá, mesmo nos momentos difíceis, ele tentava lembrar a si mesmo. Quando ele decidiu adiar a ida a universidade, todas as discussões com os pais, todos os dias em que chegou do trabalho chorando ou todas as ligações da mãe que teve que recusar. E ela mesma lutava contra os próprios demônios – agora misturados com grandes doses de hormônios e dores -, ele observava todos os dias as tentativas falhas de comunicação com os pais, as lágrimas que ela tentava esconder dele toda vez que a mãe recusava uma ligação ou que seus pés doíam demais para ir trabalhar e ela se sentia inútil. Os dois lutavam batalhas bem diferentes, mas tinham uma coisa em comum: estavam juntos no meio de tantas dificuldades.
Mas, ainda sim, havia aquela parte da cabeça do rapaz que continuava a martelar as mesmas dúvidas e dores, as mesmas indecisões e medos. Eles haviam tomado a decisão certa? Aquilo tudo fazia qualquer sentido no fim do dia?
suspirou e abriu a porta do pequeno apartamento. Ele ouviu a voz melódica de cantarolando na cozinha apertada e logo a viu perdida entre sua grande barriga e alguns pratos. Sempre com um grande sorriso, a garota foi até ele e depositou um beijo suave em seus lábios.

- Eu fiz lasanha pro jantar. Tentei seguir uma receita da internet, vamos ver se deu certo. – ela riu enquanto acabava de colocar os pratos na mesa.

observou por alguns segundos a forma como ela se movia, o jeito como seus lábios se curvavam para cima mesmo que ele soubesse que suas costas doíam a todo o tempo que estava em pé, o jeito como seu cabelo bagunçado estava preso de lado e harmonizava perfeitamente com seu rosto delicado e lindo.
Ele caminhou até ela e a abraçou com força, respirando em seu pescoço com os olhos fechados. Ela o abraçou de volta com força e os dois ficaram assim por incontáveis minutos, apenas lembrando-se de todos os motivos pelas quais decidiram partir, todos os motivos que os trouxeram para aquela cidade e aquela vida. tocou a barriga dela com carinho e sorriu, beijando os lábios dela e segurando seu rosto entre as mãos.
Ele sabia, eram elas, elas eram o sentido de tudo aquilo. Sempre que o mundo ficava apertado demais, tudo que ele precisava era ir para casa e lembrar que, na verdade, o mundo dele estava bem ali, nas suas mãos, e não havia qualquer outra decisão que ele pudesse ter tomado que o completasse como as mulheres da sua vida faziam.





FIM!



Nota da autora: Querem falar comigo? Algum erro, comentário, elogio ou crítica? Podem me encontrar no meu Facebook e no meu email. xx





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