v FFOBS - 06. Do You Remember?, por Ceci M.

Última atualização: 03/11/2017

Capítulo 1


Era a terceira, quarta, possivelmente a quinta vez somente naquela semana que Lourdes, a secretaria, passava pelo saguão do edifício em que o escritório de Richard e via aquela cara conhecida sentada no sofá, esperando algo acontecer. Meses haviam se passado. Eles se cumprimentavam com um sorrisinho constrangedor e seguiam os seus destinos.
Seguia seu caminho e enquanto se ajeitava em sua mesa para começar mais um dia de trabalho pesado, Richard passou por ela.
- O que temos para começar o dia? - perguntou com aquele ar superior que exalava da sua presença.
Eram anos como advogado em Phoenix, sempre entre os 5 melhores. Para afrontá-lo a pessoa tinha que ter coragem e por isso, todo mundo no escritório passou a ve-lo de outra forma desde que a sua filha, , gritou independência. Apesar de que depois desse episódio, ninguém mais havia tido nenhuma notícia sobre ela.
Muitos boatos corriam sobre seu destino, que havia sacado uma boa quantia da conta do pai e ido viver do outro lado do mundo, sem contato algum com as pessoas dali. Que Richard havia a internado em uma clínica para descapacitados mentais e, inclusive, alguns ousavam acusar o pai de assassinato, pois se havia alguém que podia cometer o crime perfeito, esse alguém seria o advogado que livrou da prisão dezenas de pessoas que deveriam viver o resto das suas vidas na cadeia.
- Hoje é o último dia do prazo de apelação do Sr. Mott – Lourdes o observou acenar com a cabeça.
- E o que mais?
A mulher ficou em dúvida se devia avisar, mas o homem do saguão havia deixado bem claro que não sairia sem uma notícia e desde então, continuava vindo todos os dias pontualmente. Dava pena.
- continua vindo, mas agora espera no saguão.
- Esse moleque não vai desistir?
- Dr, não seria melhor o senhor pelo menos dispensá-lo? - a secretaria deixou seu compadecimento falar mais alto – Ele não parece que vai se dar por vencido tão facilmente.
- Pois por mim ele fica lá até o fim da vida. - Deu dois tapinhas na mesa e seguiu enfadado para seu escritório.
Mas em um dia desses, Richard teve que acompanhar um cliente até o saguão de entrada, para colocá-lo dentro de um táxi, pois se tratava de uma pessoa importante e teve que encarar aquilo que estava fugindo.
levantou correndo do seu lugar para alcançá-lo.
- Senhor , por favor! - não queria perder tempo e foi direto ao assunto – Eu só quero saber como ela está.
Sem dar muita atenção, Richard fez o seu caminho em direção ao elevador, mantendo sua cara séria. o seguiu insistentemente, implorando para que algo saísse da boca do senhor, então fez uma última apelação.
- Eu sei que o que fizemos foi errado, mas eu preciso saber que nada aconteceu com ela. Eu já paguei por estar com ela, o senhor já tirou todas as minhas oportunidades profissionais na cidade e agora também me tira a mulher por quem me apaixonei. - por um segundo, Richard se voltou com seu ar de vitória para olhar a cara de alguém derrotado por suas ações – Eu nunca mais vou voltar a vê-la, prometo. Só preciso saber como ela está.
- Garoto, não sei de onde você tirou essa ideia de que eu fiz eles te demitirem – disse cínico – mas já que você está me jurando que não vai mais vê-la, digo que está muito bem.
suspirou em um misto de alívio e raiva. Por que ela não o procurou para dizer isso? O deixou cozinhando durante semanas e desapareceu.
- E por que sou uma pessoa cristã, tenho um amigo que está procurando um ajudante na cozinha. - Richard entregou um cartão para o homem destroçado a sua frente – Ele pode te ajudar.
ficou encarando o cartão na sua mão, enquanto o senhor subia no elevador.
Ele nunca mais ouviria falar dessa família.


Capítulo 2


tirou seu toque blanc e o jogou em cima da mesa de metal, quase pondo a perder o seu famoso beef wellington. Estava cansado aquele dia, não era normal se sentir assim, mas precisava de um descanso. De um tempo só para ele.
- Chef, mais um pedido de bouf bourguignon e dois pennes à moda.
- Michel, você fica responsável por essa merda. - apontou ameaçadoramente para o seu sub-chef - Se alguma coisa queimar ou se alguém vier reclamar, não quero nem ver a sua cara desconjuntada na minha frente!
Saiu sem dar explicação, deixando a todos com uma cara de espanto com a grosseria gratuita. Não que fosse o cara mais simpático e o chefe mais querido de todos, isso ele estava longe de ser, mas costumava apenas ser direto, sem ofender a ninguém. O que transformavam seus ataques de nervos em uma fonte de medo constante. Ninguém sabia quando ou quem ele xingaria de uma próxima vez. Apesar dos elogios que seus pratos recebiam, trabalhar em sua cozinha desencadeava um ataque de ansiedade nos mais acostumados cozinheiros.
que agora havia virado gerente do restaurante do amigo tentou manejar a situação.
- Bom, gente, relevem – ele tentou a diplomacia - como vocês viram não é um bom dia e vai ficar ainda pior, então, por favor, peço que todos respirem fundo e rezem para que o tempo passe mais rápido.
- O que aconteceu? - uma outra cozinheira perguntou apreensiva.
- Nada que vocês precisem se preocupar, coisas da administração. - Desconversou indo atrás do amigo.
O encontrou na parte dos fundos, perto da área de descarregamento, fumando desesperado um cigarro como se fosse a única coisa que o pudesse relaxar naquele momento.
- Puta que pariu, . Não trata esses diabos dessa maneira, que sobra para mim depois.
- É para isso que eu te pago essa merda de salário - disse grossamente – só tem gente estúpida nessa cozinha, ninguém competente. A Jessica queimou um arroz hoje. QUEIMOU UM ARROZ. Que tipo de cozinheiro queima a porcaria de um arroz?
- Se você pegasse mais leve com eles, talvez não ficassem tão tensos.
- Se não querem pressão, podem ir trabalhar numa lanchonete. - desdenhou.
- Bom, preciso que você se mantenha tranquilo hoje. - suavizou a voz, esperando mudar o clima.
- Que merda aconteceu agora? - respondeu explosivo, já sabendo que nenhuma notícia boa poderia vir desse tom calmo do amigo.
Sem dizer uma palavra, apenas o entregou uma carta já aberta fazendo com a que a testa de imediatamente se enrugasse, abriu a carta e passou seus olhos pelas letras à sua frente. Tinha que ser um pesadelo ou uma brincadeira de muito mal gosto.
- Que filho da puta! - socou a parede, sentindo o arrependimento correr pela ferida que se abriu com o movimento, logo depois esfregou o papel na cara de – Assédio moral? ASSÉDIO MORAL? Que esse idiota está falando? Que culpa tenho eu se ele é um molenga sem cérebro que não sabe cortar uma cebola em cubos?
- Bom – ia começar o mesmo discurso de sempre, depois que tratava mal algum funcionário e sobrava para ele contornar a situação, mas com aquele papel em mãos, nenhuma palavra adiantaria – Você já sabe que até demorou muito para uma dessas chegar.
sentou-se na porta, apoiando a cabeça nas mãos, em um claro descontentamento com o rumo que sua vida havia levado. Sabia exatamente quando tinha tomado esse caminho, mas não poderia voltar atrás. Quem poderia seguir sendo o mesmo depois de ter passado anos esperando que o telefone tocasse, ouvindo aquela voz macia dizer que estava de volta e queria vê-lo para continuarem de onde foram obrigados a parar? Ao mesmo tempo, cultivou a mágoa de alguém que não era capaz de perdoar fácil. havia feito sua escolha, a escolha mais fácil, como se ele pudesse esperar algo diferente dela com uma família como aquela, que quase o fez perder toda a sua vida profissional para depois se fingir de bom samaritano lidando uma oportunidade.
Se odiava por ter a aceitado, se sentia humilhado por isso. Precisou das migalhas de uma pessoa que o detestava para ser quem é hoje. Não importa quanto tempo havia passado, esse começo não foi esquecido pelas suas conquistas. Pelo seu contrato que dizia que era sócio-proprietário de um dos melhores restaurantes de Phoenix, aclamado pela crítica especializada. Ou mesmo sua conta bancária que nunca mais havia visto a cor vermelha.
- Já se passaram 7 anos, . Quando que você vai voltar a ser aquela pessoa de antes?
- Não é mais sobre ela, .
- Claro que é, idiota! Sempre foi, sempre vai ser. Claro que milhões de coisas aconteceram no caminho, mas nada disso realmente é o problema. Sempre vai ser ela, não importa o que você me diga.
- Eu preciso beber. - se levantou determinado.
- Beleza, vai para casa. Eu tomo conta aqui.
jogou a parte de cima do seu uniforme no colo de e dali mesmo saiu, sem voltar à cozinha.

O carro velho havia sido substituído por um utilitário do ano e o velho apartamento que dividia com os amigos se transformou em uma espaçosa casa em um condomínio fechado onde famílias perfeitas da alta classe média da cidade morava.
Foi direto para o minibar que ficava em um canto da sala, sentou-se no sofá e de lá nunca mais saiu, perdido nas memórias de 7 anos atrás, quando conheceu e todo seu mundo desandou. Não saber por que ela decidiu desaparecer da sua vida depois de meses jurando que seriam para sempre nunca entrou na sua cabeça, mesmo depois da promessa que fez a seu pai de que nunca mais a procuraria. Como ela pode ser tão ingrata a esse ponto?
Arrependimentos, atrás de arrependimentos. Se tornou uma poça de amargura e nem ao menos sabia como sair dela ou mesmo se queria de verdade, às vezes pensava que estava ali apenas por que achava divertido sofrer, essa autopunição lhe caia bem.
O copo de uísque ainda tinha alguma coisa dentro, quando o deixou caí no tapete, sendo levado pelo sono pesado do álcool.

Ele olhava pelo canto dos olhos o banco do carona, enquanto dividia sua atenção com a estrada que os levariam para a casa dos pais de Pat, perto do rio Salgado a uma hora e meia de Phoenix. Era verão e todos estavam sedentos por um pouco de água gelada.
batucava levemente os dedos na porta, no ritmo da música, ainda um pouco desconcertada com a turma barulhenta que vinha atrás, mesmo , que a fazia rir e era tão expansivo. Ele imaginava se ali seria mesmo o lugar dela, pois seus olhos deixavam transparecer um pouco do ressentimento.
- Você já esteve lá? - puxou assunto, tentando quebrar o gelo.
- Já sim! - ela sorriu.
- Eu amo aquele lugar. Vou te levar no meu cantinho especial.
- Ew, . - fez uma cara engraçada, rindo dos seus próprios pensamentos – Não quero conhecer o lugar que você leva todas as suas garotas.
Ele sorriu de volta balançando negativamente a cabeça.
- Vai dizer que nunca levou ninguém lá?
- Não. - respondeu um pouco envergonhado.
deu um pulo para beijá-lo na bochecha. Logo após, seu celular tocou. Ela apenas viu quem era e desligou, para escrever uma mensagem de texto que foi atrapalhada por outra chamada ignorada.
- Que saco! - bufou desligando novamente.
- O que foi? - perguntou preocupado.
- É só a Ursula pegando no meu pé, nada de mais.
- Ela ainda não aceita que eu sou a melhor coisa que você vai ter em toda a sua vida? - ele tentou dar um tom de humor a situação.
- Melhor? - fez uma cara de falsa pensativa – Hm… Acho que melhor é um pouco demais, não?
fingiu de ofendido, enquanto ela continuou olhando o celular.
- Não é isso. É que agora ela está ameaçando contar para meu pai.
Ele colocou sua mão sobre a dela.
- Esquece isso por esse fim de semana. Pensa só em quanto de erva a gente vai poder fumar em apenas dois dias, sentindo a água corrente do rio geladinha nas nossas costas.
Às vezes ele pensava em por que eles continuavam juntos, mas desistia de buscar uma explicação quando seus corpos se encontravam. Parecia que nada poderia os separar. Tudo seria suficiente para vencerem qualquer batalha que viesse pela frente.



Capítulo 3


A cabeça pesada fez todo o corpo se tensionar. Abrir os olhos necessitou de muito mais esforço que o habitual e quando despertou um pouco mais, tateou a mesa a seu lado em busca do celular. Grunhiu ao sentir a dor no braço que se espalhou pelo corpo pela junção: dormir no sofá + estar velho. Os olhos focaram na dela para saber as horas e encontraram milhares de diferentes notificações de chamadas perdidas, mensagens recebidas e posts de redes sociais que esquecia de silenciar.
As ligações se dividiam entre e o restaurante, que ao final era a mesma coisa.
- Merda. - reclamou ao se dar conta da hora, já havia passado da 1 da tarde, imaginou a loucura que deveria estar a cozinha, como habitualmente ficava na hora do almoço.
Já não bastava ter uma vida amorosa digna de pena, também colocaria tudo a perder na sua vida profissional? Se repreendeu mentalmente, tentando sair de casa o mais rápido possível. Focaria no real problema que havia em sua frente, a demanda do seu ex-funcionário.
Com a ressaca persistente, decidiu pegar um táxi para ir ao trabalho. Deu uma olhada no espelho antes de sair e teve pena de si mesmo, estava com uma aparência destruída.

Em pouco mais que meia hora, se esgueirou pela cozinha do restaurante querendo passar desapercebido, iria direto para e depois para o advogado acertar os pormenores daquela ação absurda.
- Boa tarde, Chef! - Jessica disse simpática, sem parar de cortar as cebolas.
- Se for boa, te digo mais tarde – respondeu grosseiramente. - Michel, não destrua esse restaurante. Não é por que não estou aqui hoje que você pode pensar que é a sua cozinha medíocre.
- Ok, Chef! - Michel disse condescendentemente.
Ao lado da cozinha, havia um escritório onde ficava grande parte do tempo para fazer os balanços diários, entrar em contato com os fornecedores e cuidar do restaurante para que se mantivesse em boa saúde financeira.
não sabia lidar com números, gostava de administrar, mas apenas a sua cozinha, nenhum outro lugar. Até mesmo as contas de casa, quem o ajudava era . Ele era um grande responsável pela manutenção do sucesso que tinha e se sentia aliviado de poder contar com alguém que sempre fora seu amigo.
O restaurante tinha outro sócio, Nicholas, que entrou apenas como financiador, com quem se via obrigado a dividir os lucros, pois ele possuía 51% das cotas da empresa. e Nicholas se conheceram havia mais ou menos três anos, enquanto trabalhava em um outro restaurante muito reconhecido da cidade. Nicholas viu em uma grande oportunidade de expandir seus negócios, o que se tornou uma verdade incontestável, mas como bom investidor oportunista, Nicholas se distanciou do ramo alimentício para focar em outras areas, deixando todas as decisões para , vindo apenas esporadicamente sacar o cheque dos rendimentos, fruto do trabalho individual de e sua equipe.
Isso tornou o relacionamento deles estranho, chegando a ponto de Nicholas ameaçar a retirada das suas cotas, o que condenaria a empresa, já que o seu porte não permitiria que houvesse apenas um sócio-proprietário e encontrar outro investidor demandaria tempo que poderia acabar com todo o reconhecimento que havia conseguido como Chef de cozinha.
Nicholas era um tipo detestado por todos no restaurante. Quando resolvia aparecer era apenas para dar ordem sem sentido que logo após eram ignoradas ou canceladas por ou .
Pensar nisso, levou a ter calafrios. Era muito problema, não queria ocupar sua mente com mais esse, tinha fé que surgiria uma oportunidade e mandaria Nicholas ir chupar um cacto.
Abriu a porta e logo recebeu o olhar de repreensão de , que se segurou para não falar nenhuma besteira, pois logo na cadeira a sua frente estava Garrett, o advogado do restaurante, um homem com seus 40 anos de idade e de uma segurança e persuasão surpreendentes.
- Finalmente, quem faltava! - suspirou aliviado, fazendo uma cara séria em seguida – Já estava a caminho da sua casa. Precisamos conversar muito sério.
engoliu seco, se o gerente dizia que era sério, então era seríssimo.
- Boa tarde, . - Garrett o saudou – me atualizava das notícias, mas não diria que é tão grave quanto o Sr. mostra ser.
- Boa tarde, Garrett. Eu realmente ia passar mais tarde no seu escritório, mas vejo que meu gerente se adiantou.
- Esse funcionário o senhor escolheu bem. - o advogado fez uma piadinha, fazendo os outros dois homens sorrirem amarelo. - Já expliquei mais ou menos o que aconteceu no pedido da ação para ele, mas o senhor chegou numa boa hora.
- Por favor, me explique tudo o que pode acontecer. Que diabo esse desgraçado está pedindo?
- Bom… Sendo direito, ele pede um total de 1 milhão de dólares, entre indenizações e direitos não reconhecidos.
A raiva que sentia apenas aumentou ao ouvir aquela cifra absurda. E à medida que Garrett explicava cada passo, só aumentava. Seriam duas audiências, uma preliminar que aconteceria dali a uma semana, apenas para uma possibilidade de acordo e caso não houvesse nenhuma, seria marcada uma nova audiência onde o juiz entrevistaria as testemunhas de cada parte e então, era aguardar uma sentença.
- Nós não trabalhamos de forma bagunçada, Garrett. Tenho certeza que dará todos os documentos e recibos referentes ao caso. Quando qualquer funcionário saiu ou é despedido, pagamos tudo corretamente. - explicou.
- Sim, o Sr. já me forneceu as cópias que solicitei, mas o principal problema é em relação ao assédio moral, .
- Que diabos é isso? - perguntou sem paciência.
- Em linhas gerais, o direito entende que é submeter o trabalhador a uma humilhação ou situações constrangedoras de forma sistemática e repetitiva no ambiente de trabalho. Sua principal característica é a degradação deliberada das condições de trabalho em que prevalecem atitudes e condutas negativas dos chefes em relação a seus subordinados, constituindo uma experiência subjetiva que acarreta prejuízos práticos e emocionais para o trabalhador e a organização.
Um silêncio pairou pelo ar ao ouvir aquela explicação detalhada. e sabiam que quanto a isso poderiam vir várias queixas, mas não esperavam que fosse tão sério a ponto de fazê-lo ter que rever o seu comportamento ou arruinar seu trabalho.
- O senhor já trabalhou em uma cozinha, Garrett? - iniciou sua explicação – Não há lugar mais estressante no mundo, vivemos de rapidez e agilidade. Todos os pratos devem estar pronto em até 15 minutos, ninguém gosta de esperar sua comida chegar em um restaurante. Todos os clientes querem seus pedidos rápido e temos que prepará-los, sem esquecer da nossa qualidade. Então, há sim gritos, há sim muita pressão. Viver daquele lado não é para qualquer um, posso assegurar isso.
O advogado o encarou preocupado com a situação.
- Eu vou precisar ter uma conversar com seus funcionários, se me permitem. Preciso averiguar melhor a situação.
- Por favor, Garrett, mantenha a discrição. Você sabe como funcionários podem ser difíceis – pediu – não queremos nenhum escândalo agora que provavelmente teremos que sacar uma boa quantia do caixa para esse processo. Não quero colocar ainda mais em risco a saúde financeira desse lugar.
Garrett os assegurou que nada sairia dali e manteria os holofotes longe do processo, mas nada podia garantir que o outro lado usasse as armas que tivessem para atrapalhar.


Capítulo 4


A semana passou rápido demais, quase num piscar de olhos, segundo . Mal pregou os olhos, agoniado e ansioso para estar de frente ao juiz e ver o que aconteceria. Se preocupava com a repercussão que isso tomaria entre seus funcionários, sabia que não era o melhor chefe do mundo no quesito relação interpessoal, mas acreditava que não podia fazer nada sobre isso. Se não agisse daquela maneira, nada andaria.
Mal havia pregado o olho na noite que se passou, porém dessa vez não poderia enrolar e chegar a hora que quisesse, teria que estar no fórum às 8h, sem atrasos. Era o que o advogado o havia dito, pelo menos, e tinha sido tão categórico ao dizer que se não chegasse na hora marcada, perderia o caso imediatamente. Isso o deixou mais ansioso.
Mas estava em tempo e chegou ao fórum 15 minutos antes do previsto.
- Bom dia, ! - Garrett estendeu a mão, o cumprimentando. - Tudo bem?
Respondeu com uma careta, deixando transparecer seu cansaço.
- Não se preocupe, hoje será muito tranquilo.
- O que eu tenho que dizer? - perguntou tenso.
- Nada. Hoje é apenas a tentativa de um acordo.
o olhou indeciso. Talvez fosse melhor fazê-lo e acabar logo com isso.
- Garrett – o chamou com um certo receio – Eu sei que o não concorda, mas estive pensando e quero tentar um acordo, o que você acha?
- É você que manda. Eu estou aqui para seguir os seus desejos, se você quiser tentamos, se não quiser, vamos em frente para ganhar! Qual o valor que você tem em mente para uma proposta?
- Acho que 50 mil dólares para a gente virar a página é razoável.
Garrett acenou com a cabeça, dizendo que era sim um valor até elevado para uma primeira proposta, mas que acreditava que findaria o caso, sem grandes consequências para nenhum dos lados. Perguntou ainda se via o funcionário no enorme saguão que estavam sentados esperando serem chamados para a sala de audiência e ele apontou para um jovem desconfiado que estava em pé em um canto.
A conversa entre Garrett e o funcionário não durou muito tempo e logo, com um sorriso no rosto, o advogado retornou com um ar vitorioso.
- Sua preocupação está próxima de terminar.
O sorriso d Garrett fez respirar aliviado com a notícia. Não aguentaria passar mais uma semana sem dormir.
Após pouco mais de 20 minutos, ouviram o nome do restaurante ser chamado e seguiu sob o olhar curioso de todas as pessoas no recinto. Algumas podiam não saber quem era ele, mas o nome do restaurante jamais passaria despercebido.
Logo Garrett apontou para onde deveria sentar e assim ficou em frente ao seu funcionário. Controlou seu ódio mortal naquele momento, pensando que tudo terminaria em questão de minutos.
- Onde está seu advogado, Sr. Gomez? - as juras de mortes foram interrompidas pela voz séria do Juiz, que estava sentado logo a frente, com uma cara de poucos amigos, com a pergunta ao funcionário.
- Não sei, excelência – respondeu quase inaudivelmente, visivelmente com medo. - Ela disse que estaria aqui.
- Pois, é bom o senhor ligar urgentemente para ela ou terminarei a audiência agora mesmo, não posso dar continuidade sem a presença do seu advogado. - o juiz jogou a caneta na mesa, se recostando na poltrona e se direcionando para a escrivã a seu lado – Darei apenas 5 minutos. Pode contar aí, Darlene.
Aqueles foram possivelmente os 5 minutos mais tortuosos que havia passado em um bom tempo. Ele que não rezava, começou a apelar para as forças divinas para que o advogado não aparecesse e toda vez que o ex-funcionário mirava descontente para o celular, seu peito se enchia com um pouco mais de alívio.
- Bom, não há mais muito o que fazer aqui, Sr. Gomez. - o juiz fez uma expressão de falsa pena e quando ameaçou levantar-se da cadeira, como em um rompante, a porta se abriu com uma mulher esbaforida.
Sem se dar conta que havia mais ninguém na sala, a mulher chegou nervosa, pedindo mil desculpas pelo atraso. Agarrada a sua mão, havia uma criança alheia às agonias da mãe.
- Bom tarde para a senhora também, Dra LeClaire.
- Me desculpe, excelência. Tive um pequeno problema com a babá da minha filha, meu marido teve que ir a uma audiência de custódia, não ia deixar minha filha em uma penitenciária, não é mesmo? - explicava a mulher rapidamente, enquanto acomodava a filha em uma das cadeiras dos ouvintes e depois se sentava a mesa com os outros advogados.
- Quase que a senhora perde a causa do seu cliente, pelo seu comportamento. - o juiz começou a repreende-la – Entenda, Dra, que aqui existem regras. Seus problemas pessoais você deve deixar separado dos seus trabalhos. Também tenho os meus e aqui estou, cumprindo com meu dever.
Sem se importar muito, a mulher apenas concordou rapidamente, rolando levemente os olhos para que ninguém percebesse.
Mas percebeu.
Ele estava em choque, mas percebeu. Desde o momento em que ela entrou, tudo ficou completamente mudo e sem sentido. Começou a se perguntar o que havia feito em vidas passadas para pagar o preço nessa.
Era ela. Em carne e osso. A garota que desapareceu há 7 anos. Sua namorada que fugiu. . Ali, na sua frente, a acusando de assediar moralmente um de seus ex-funcionários.
- Mas podemos começar, excelência. Os senhores têm algum a - engasgou e emudeceu ao ver do outro lado da mesa a olhando atônito e confuso.


Capítulo 5

Não houve acordo.
se recusou a fazê-lo quando se deu conta quem estava ali à sua frente. Tantas perguntas corriam por sua cabeça que nem ele sabia por onde começar. Só sabia que não mais faria acordo nenhum.
Ele sentiu uma mágoa misturado com um pouquinho de esperança que o tirou do centro da sua sanidade, passou o resto da audiência se segurando para não gritar tudo o que estava preso dentro de si pelos últimos anos. Sete anos. Era uma vida, materializada objetivamente naquela pequena criança sentada atrás dela.
Como que ela pode casar e ter filhos, enquanto ele ficou ali, estático, esperando sabe-se lá o que?!
Claro que tentou falar com ela após a audiência, mas tudo o que conseguiu foi um breve:
- Desculpe, mas eu preciso falar com meu cliente. - tão frio, tão direto que o deixou embasbacado no meio daquele fórum, sem reação.

- Ela tava ali, com uma aliança no dedo e uma criança a tirar colo e eu não pude fazer nada. - explicava indignado o que aconteceu a , que ouvia atentamente enquanto dividiam um copo de uísque no escritório do restaurante. - Sou um fudido mesmo.
O amigo apenas o escutava, sem querer opinar nessa reviravolta que a vida preparou para o outro.
- E agora?
- Agora… - repetiu desacreditado – Agora eu tenho outra audiência daqui a um mês e meio. Vamos tocar o barco como se nada tivesse acontecendo.
O silêncio pairou entre eles, como se duvidassem que poderia seguir em frente diante dos novos acontecimentos, mas antes que pudessem refletir, um tipo de bochechas sobressaliente surgiu de supetão.
- Eu deixo de vir algumas semanas e você quer destruir essa espelunca?
- Você tá louco, cara? - levantou, indo em direção a Nicolas, para o afrontar. - Como você fala assim do seu restaurante?
- Meu? - Nicolas riu escandalosamente – Vocês nem se dão o trabalho de avisar que isso aqui está indo por água abaixo e ainda querem dizer que é meu? Não.
e se entreolharam se lembrando da decisão que tomaram em deixar Nicolas de fora desse novo problema que havia surgido. Pensavam que seria melhor deixá-lo afastado desse problema, para que as coisas não piorassem entre eles, mas, aparentemente, a cara de Nicolas dizia que aquela não tinha sido uma boa escolha.
- Por quanto tempo vocês achavam que iam conseguir me esconder essa causa milionária, seus imbecis? Eu sou dono daqui, . Não você. Aprenda o seu lugar. - o bochechudo tirou o celular do bolso e mostrou para eles. - Já está por toda parte!
pegou rapidamente o objeto e deixou a boca se abrir, espantado com o que lia. ‘Assédio Moral: por detrás de um dos melhores restaurantes de Phoenix’, dizia a chamada da matéria jornalística e continuava, em seu corpo, ‘como o restaurante do Chef pode fechar as portas por causa do tratamento aos seus trabalhadores na cozinhar e veja ainda, como evitar o assédio moral no ambiente de trabalho’.
Aquele era o seu fim.
- Nicolas… - se explicaria, porém foi interrompido pelo sócio.
- Não, . Eu to saindo dessa sociedade.
- Você não pode! - replicou impulsivamente.
O restaurante constituía uma empresa pequeno porte, mas pelo seu faturamento, não poderia se tornar de um único sócio. Era preciso que mais de uma pessoa estivesse nesse negócio e apesar ser um terrível coproprietário, Nicolas era um mal necessário.
- Estou resolvido, meu advogado resolverá toda a papelada até o fim do mês, não quero meu nome junto ao seu. - disse grosseiramente e deu as costas para ir embora.
se jogou na cadeira, deixando seu corpo afundar. Ele estava perdido de uma vez por todas.


Capítulo 6


As horas simplesmente não passavam, os dias pareciam que tinham 32 horas e todas as vezes que o advogado e o contador de Nicolas atravessavam a porta do restaurante, tinha cada vez mais a certeza que havia perdido o controle total da sua vida.
Isso quando não era seu próprio advogado insistindo em uma reunião com o ex-funcionário no escritório da advogada dele. Ou seja, no escritório de . Queria mandar Garrett passear por fazer essa oferta, mas ele não tinha culpa, já que não sabia do seu passado e muito menos de Phoenix ser uma pequena província, então, estava apenas se preparando mentalmente para aquele encontro.
estava na cozinha, sozinho, cortando cenouras antes de sair. Ainda era cedo, nenhum funcionário ainda estava ali, exceto que chegava cedo para receber as verduras e carnes do dia, mas ele não o incomodava, pois sabia quando o amigo precisava ficar só.
- Bom dia, Chef. - Michel cumprimentou, fazendo quase cortar os dedos de tão concentrado que estava.
suspirou fundo, percebendo o peso do seu mundo nas suas costas e colocou a faca no balcão.
- Não está cedo? - perguntou olhando o relógio na parede, se dando conta que já estava quase no seu horário de sair também.
A verdade é que se lembrava muito bem da época quando ainda não era Chef, sabia o quanto de trabalho tinha e quanta bronca aguentou. Desde que abriu o restaurante, não queria seus funcionários sobrecarregados, gostava de cumprir horários e não segurava ninguém além do seu turno sem uma necessidade urgente.
- disse que eu poderia usar a cozinha para experimentar novas receitas. Te atrapalho?
- De maneira nenhuma. Fico contente em saber que você está sempre buscando melhorar ainda mais, Michel. - disse sinceramente.
- A meta é ocupar o seu lugar, Chef. - brincou mostrando um sorriso enorme, demonstrando a admiração que sentia.
queria retribuir aquele sentimento e se esforçava o máximo possível para passar o que sabia, mas aquele momento, só conseguia pensar em todos os seus problemas. O que resultou em um esticado dos lábios, numa tentativa falha de sorrir em resposta.
- – Michel disse sério, preocupado com a reação do outro – A gente ouve muita coisa que acontece por aqui e só queria pedir em nome de todos os funcionários para ser sincero conosco também. Não nos deixe saber o que está passando quando for tarde demais.
- Pode deixar, Michel. Não vou deixar nenhum de vocês na mão.
acenou com a cabeça, deixando-o sozinho na cozinha.

Não era o mesmo endereço em que havia estado anos atrás esperando na recepção por alguma notícia de , era em outra área comercial, em um prédio tão enorme quanto aquele, mas não era o mesmo.
Imaginou que o escritório do pai dela tivesse mudado de local, mas depois que se apresentou a recepção e a porta do elevador abriu, revelando uma placa enorme que dizia Linder & LeClaire advogados associados que levantou algumas dúvidas em sua cabeça.
Logo a recepcionista indicou o lugar da sala de reunião, em que todos já estavam o esperando. O olhar de foi logo ao encontro de , era inevitável, mas logo vinha a repulsa ao ve-la exatamente da forma que tanto fugia quando se conheceram. Para , era uma pessoa fraca que não sabia lutar pelos seus ideais.
- Que bom, – Garrett ficou contente em vê-lo na reunião – Estava aqui contando que houve um mal entendido durante a primeira audiência e que nós temos uma proposta de acordo.
- Fico muito satisfeita em colocar um fim nessa demanda e podermos seguir nossas vidas. - comentou sem esboçar qualquer reação. - Acredito que é isso que todos queremos, não é?
a olhou confuso, claro que não seria assim, a quem ela estava tentando enganar?
- Não é, não. - disse rapidamente. - Garrett, como eu disse na audiência, não tenho nenhuma proposta. Deixe que o juiz decida, não é isso que vocês queriam?
- … - seu advogado tentou interromper, sem nenhum sucesso.
- Não vou ter que pagar de qualquer jeito? Não é isso que vocês pensam? Então, vão lá, tentem arrancar tudo de mim, não há muito sobrando mesmo! - e se virou para o seu ex-funcionário – Seu egoísta. Não venha me dizer que eu cometi qualquer crime, não. Eu sei muito bem que te tratei da forma como era necessária, não tenho culpa se você é um fraco que não sabe ouvir uma reclamação. E você, , o que você quer? Não me trate como desconhecido quando você sabe muito bem que me deve explicações!
Os outros dois assistiam sem entender a cena, enquanto a boca de abriu em surpresa por um instante, mas logo fechou-se para que tomasse uma atitude.
- Ok, esse comportamento é mais do que reprovável, não deixarei mais nenhum minuto o senhor e meu cliente na mesma sala. Agora, Dr Garrett, quem não fará nenhum acordo sou eu. Por favor, leve seu cliente e mande-o se recompor.
Garrett se levantou, acenando desconcertado. Não havia muito o que ele poderia fazer, além de tirar dali.
- O que você está fazendo, ? - o advogado o parou no meio do corredor, já distante da sala de reuniões.
- Não posso, ok? - disse agoniado – Esse acordo não vai sair, não posso deixá-la vencer. Preciso que você ganhe essa causa, mais do que nunca.
- Você sabe o problema que arranjou agindo daquela forma?
- Eu sei, Garrett, mas preciso de você do meu lado. Você pode fazer isso?
- Vai me dar mais trabalho depois dessa cena, mas claro que posso. - respondeu confiante. - Você quer uma carona?
- Não, tudo bem. Eu vim de carro. - já estava visivelmente mais tranquilo do que quando entrou naquele escritório, mas ainda precisava aproveitar a oportunidade de estar ali.
Despediu-se de Garrett, sem transparecer o que faria a seguir. Deixou-o ir e sem pensar duas vezes, retornou para o escritório de . Ela o escutaria e ele arrancaria uma explicação dela, de uma maneira ou de outra.


Capítulo 7


- O que você está fazendo aqui? - se assustou quando viu passar pela sua porta.
- O que eu deveria ter feito no momento em que soube que você estava na mesma cidade que eu!
Ele chegou perto da mesa dela, sem desviar o olhar. Os dois se encararam, fazendo sair faíscas dos olhos. E não eram das mágicas e boas, eram desafiadoras. Era o ressentimento sobressaindo.
- Por que, ? - perguntou observando a aliança brilhar na mão esquerda dela.
Não era preciso nada elaborado, os dois sabiam que aquelas três palavras eram carregadas de perguntas desnecessárias em voz alta. Parecia uma pergunta simples, mas ambos sabiam que não era.
- Valeu a pena fugir para ser sócia de um grande escritório? - ele continuou – A vida que você tanto fugia está te fazendo feliz agora?
- Por favor, . Por favor! - ela sentou-se, deixando claro a sua derrota naquela guerra de olhares. Estava visivelmente cansada e aquela não era a conversa que queria ter – Não posso responder nada agora, os interesses do meu cliente devem vir em primeiro lugar.
- Dispense-o! - ele reagiu imediatamente, fazendo parecer tudo muito fácil – Há muitos advogados nessa cidade e com certeza, ele não fará falta na sua grande pasta de clientes. Eu fiquei te esperando por meses, esperando uma notícia sua, qualquer sinal de vida e você seguiu sua vida, sem sequer lembrar que eu passei por ela. Você me usou. Como você pode fingir que nada aconteceu? Me diz, como consegue agir assim?
voltou a olhar fundo nos seus olhos, que agora brilhavam de uma forma diferente, mais triste. Ela abriu a boca para falar algo, mas desistiu no meio do caminho. Não queria fazer aquilo com ele.
- E-eu preciso… - falou com a voz embargada, porém logo retomou a posse profissional e ameaçou – Se você não sair imediatamente, chamarei a segurança.
pensou duas vezes antes de sair dali, mas não viu saída.

O restaurante passou a ser alvo de um novo ataque, grupos trabalhistas e sindicatos formaram um grupo de protesto conta empresas que desrespeitavam seus empregados e todos os dias apareciam na porta do lugar, gritando palavras de ordem e espalhando mentiras.
pedia para que eles respeitassem a propriedade, mas nada daquilo servia e o que viu foi os pedidos de clientes diminuírem a cada dia que passava. Ele não conseguia suportar aquilo então, simplesmente, deixou de ir para a cozinha. Apenas saia de casa e se trancafiava no escritório do restaurante pensando em como salvaria a sua empresa, mas sem ter nenhuma ideia de onde começar.
Ele ouviu a batida na porta, sendo aberta logo em seguida. Era com uma cara de culpado.
- Mais péssimas notícias? - deduziu, sem transparecer qualquer emoção.
- O advogado de Nicolas andou trabalhando bem. - estendeu uma carta em direção ao amigo, que leu cuidadosamente – A junta comercial foi informada, temos 10 dias para pagar as cotas e incluir um novo sócio ou…
Relutantemente, completo a frase em voz alta.
- Teremos que fechar. - apoiou a cabeça entre as mãos, desapontado.
- Você sabe o que tem que fazer agora, não é?
- Está todo mundo aí? - perguntou se referindo aos funcionários.
- Sim, estão só esperando eu abrir as portas.
se levantou, se enchendo de coragem e indo para o centro do salão principal.
- CHEGUEM TODOS AQUI, POR FAVOR! - gritou, para que ressoasse por todo o estabelecimento.
Em poucos segundos, cozinheiros, copeiros, garçons estavam reunidos ao seu redor, prestando atenção ao que falaria. As olheiras de denunciavam o tipo de notícia que viria a seguir.
- Eu queria que vocês soubessem que eu tentei... Como vocês todos já sabem, estamos sendo processados por um ex-colega nosso e por isso estamos sendo atacados por esses… sindicatos – se segurou para não chamá-los como queria – Como está claro, isso afetou diretamente nossa clientela e nossos ativos diminuíram drasticamente, mas eu tinha certeza que isso seria superado, no entanto outra situação surgiu e agora precisamos de tempo para resolvê-la.
- Você está nos demitindo? - Jessica perguntou sem meias palavras.
- Não. - respondeu com segurança – pelo menos nesse primeiro momento. Eu ainda não desisti desse lugar, nem nunca irei. Então, a partir de hoje estou dando férias a todos vocês. É o tempo que o processo termina e eu tenho que arranjar um novo sócio, pois Nicolas está saindo e levando tudo o que lhe pertence.
- E se não se resolver? - um garçom pessimista questionou.
- Então estaremos todos na fila, dando entrada no nosso seguro-desemprego no dia seguinte. - forçou uma risada sem graça com sua piadinha. - vai conversar os detalhes com vocês e não vou pedir para ninguém esperar esse tempo em casa, sei que vocês tem famílias e contas para pagar. No que eu puder, ajudarei. Disponibilizo meu telefone pessoal para darem como referência, assim como escreverei quantas cartas precisarem.
Rapidamente, tentando esconder a sua frustração com aquelas notícias, correu para dentro novamente, deixando responder toda e qualquer dúvida que surgiria depois daquele aviso.
Ele não abriria o restaurante.
Era a primeira vez que isso ocorria, nunca havia imaginado essa possibilidade. Nunca havia precisado imaginar essa possibilidade, até aquele momento, para tudo existia uma saída. Tudo o que rodava em sua mente era como pôde acabar com seu negócio tão rapidamente. E a coincidência de ser exatamente no momento em que voltava de alguma forma a sua vida.


Capítulo 8


Dessa vez se assegurou de chegar cedo à audiência e tanto ela quanto não perdiam a oportunidade de se encarar, eles sabiam que deveriam se manter afastados, no entanto, ele a viu caminhar em sua direção tão segura de si, do mesmo jeito que a assistiu vir em sua direção na festa em que se beijaram pela primeira vez.
Apesar de tudo, ela ainda o encantava.
Era quase o mesmo flashback, com a diferença que ela não parou a sua frente e o beijou, fazendo-o acordar de um sonho, se virou para que estava ali para testemunhar ao favor do restaurante.
- Eu morrendo de medo de fazer trinta anos e você só melhorou com o tempo, como é isso? - não se intimidou, abraçando com todo o carinho possível.
Ele ficou sem saber como responder, mas deixou o seu jeito cativante falar mais alto e retribuiu o gesto carinhoso.
- Você sabe bem o meu segredo. - mostrou o isqueiro, numa clara indicação de que não era do cigarro normal que estavam falando. Os dois riram. - E você por onde esteve todo esse tempo?
- Estudando, casando, tendo uma filha. Não necessariamente nessa ordem. - explicou – Mas faz pouco mais de um ano que voltei a Phoenix.
- Você fez falta – olhou de relance para .
- Vocês também fizeram. - olhou para os pés, desconcertada com a declaração – A vida deu uma volta e eu só pude acompanhá-la como espectadora.
Antes que a conversa alongasse, as partes foram chamadas para iniciar a audiência, então e seu advogado entraram, sendo seguidos por e seu cliente.
Novamente eles estavam frente a frente, sendo obrigados a controlar seus ânimos.
- Boa tarde, senhores. - o juiz chamou a atenção – Sou obrigado pela lei a perguntar mais uma vez, alguma proposta de acordo?
Os advogados responderam negativamente em uníssono.
- Então passaremos às oitivas. Primeiro ouviremos a parte autora, depois a parte ré e então, ouviremos as testemunhas.
O juiz não fez muitas perguntas para a parte autora, porém os nervos começaram a florescer em a cada minuto que chegava mais perto de começar a fazer as perguntas a ele. Os sentimentos fervilhavam dentro de si, estava tentando se controlar, mas as mãos suadas indicavam que não estava sendo tão fácil.
- A representante da parte autora gostaria de fazer alguma pergunta à parte ré? - O juiz questionou.
- Excelência, gostaria de saber se o restaurante já esteve envolvido em algum outro processo contra um empregado antes. - tentava manter a pose profissional, mas não conseguia aceitá-la fugindo dos seus olhares.
- Não. - disse entre dentes, se segurando.
- Como é o tratamento do chef de cozinha com os funcionários?
- Eu sou o chefe de cozinha mesmo que seja difícil de acreditar, – respondeu cheio de orgulho – e te digo que trato a todos como devem ser tratados, mas às vezes não deveria porque o que mais existe é gente mal-agradecida por aí.
engoliu seco pensando se deveria continuar com aquilo, porém precisava.
- Saberia dizer porque o Sr. Gomez foi despedido? Qual teria sido o motivo?
- Claro que sei, foi para isso que você foi embora, ? Para fazer perguntas óbvias?
- Senhor , esse é o primeiro aviso. Atenha-se as perguntas e trate a doutora de forma profissional ou serei obrigado a tomar as medidas necessárias. - o juiz ameaçou.
Garrett agarrou na mão de , pedindo-o para controlar-se e responder apenas as perguntas de forma objetiva.
- Eu o despedi por sua incompetência. Ele não conseguia fazer uma coisa sem estragar tudo, não podia ficar com alguém assim. Aí ao invés dele estudar e melhorar, vem chorar numa sala de audiência.
- Sem mais perguntas, excelência. - aproveitou a pausa de para interrompê-lo.
Garrett estava tenso com os rumos daquela audiência, mas pensou que podia ficar um pouco mais aliviado quando as testemunhas do autor entraram e deram seus depoimentos sem nenhum momento constrangedor.
O problema foi quando sentou no banco das testemunhas, em favor do restaurante e após dizer seu nome, profissão, o interrompeu.
- Excelência, vou pedir a contradita da testemunha por envolvimento pessoal com o representante da empresa.
Com aquilo, estava impedindo de testemunhar no processo, o que era extremamente prejudicial para a defesa de . Afinal, era quem lidava com os funcionários, era ele quem tinha aproximação, fazia pagamentos e ajeitava a todos. Ele deixaria claro o tratamento humano que os empregados recebiam, mas agora tudo havia sido colocar na lixeira.
- Excelência, o senhor não pode aceitar. - Garrett respondeu prontamente – O Senhor é o gerente da empresa, é ele o responsável pelos funcionários. Seu depoimento é crucial.
- A senhora tem alguma prova a apresentar? - o juiz perguntou com uma cara séria.
- Claro. - delicadamente retirou da sua pasta algumas polaroides e as passou para o juiz – Essas são fotos que datam de pelo menos 7 anos atrás, antes mesmo dos Senhores e trabalharem juntos no restaurante.
O juiz repassou para e , fotos em que podia-se ver até mesmo nelas. Da época em que era o passageiro oficial do carro antigo de , em que os três se divertiam pela noite, vivendo as histórias que contariam às seus netos, onde os dias eram dourados e nada importava.
Mas viu essa atitude como uma punhalada nas costas. Como ela teve a ousadia de usar seus melhores dias contra ele? Era a pergunta que repassava em sua cabeça.
- Sou eu e o Senhor , sim. - respondeu também se sentindo traído.
- Se ela vai usar essa carta, excelência, - se pôs de pé, apoiando as mãos na mesa, em punhos fechados. O seu rosto vermelho indicava a raiva que estava sentindo. – então ela também não deveria estar aqui!
O dedo de foi direto no rosto de e ela o fechou por um momento, se sentindo arrependida com o que estava fazendo. Garrett tentou conter o estrago, mas não conseguiu.
- Ela também está nas fotos, inclusive, algumas tiradas por ela mesma. Não tem nada que impeça ela de estar aqui?
- Por favor, . Não confunda as coisas. - pediu em um tom de voz delicado. - Nossos problemas pessoais nada tem a ver com esse processo.
- Como não, ? - ele berrou indignado – Foi você que trouxe nosso passado para essa mesa e você nem tem coragem de falar uma palavra comigo! Eu esperei tanto e você voltou para quê? Tirar o que é mais importante de mim.
O juiz deu uma bronca, que foi ignorada por que continuou seu desabafo.
- Eu fiz uma promessa a seu pai que não ia te procurar, mas eu passei meses te esperando. Indo todos os dias naquele maldito escritório e nunca ouvi nada de você. Nada. Nenhuma ligação, uma carta para dizer que estava bem. Na-
- SENHOR , O SENHOR SE SENTE AGORA OU SERÁ PRESO POR DESACATO.
O juiz levantou-se, chamando toda a atenção para si. Garrett agarrou pelos ombros para que ele se sentasse imediatamente e como uma criança birrenta, se afundou na cadeira cruzando os braços.
Dali continuaram a ouvir as outras testemunhas.


Capítulo 9

Apesar do fiasco da audiência, não sossegou em correr atrás de um novo investidor. Bateu à porta de todos os seus conhecidos, e dos conhecidos deles. Onde havia a mínima chance de alguém o receber, estava lá.
Porém, apesar dos testemunhos dos atuais empregados do restaurante terem sido maravilhosos e manterem acesos uma esperança de que tudo daria certo, não era assim que as pessoas alheias ao negócio pensava.
A reputação de estava acabada.
E tudo que lhe restava era sentar no seu grande sofá, ouvindo música e bebendo seu uísque.
A campainha tocou, arrancando um pequeno resmungo de , por ser obrigado a sair do seu conforto. A cada passo se perguntava por que precisava abrir a porta, poderia ignorar o que quer que viesse, não esperava ninguém.
Com sorrisos que tomavam seu rosto, e Michel estavam na porta, esperando que a abrisse e mesmo a cara de desanimo dele, não tirou a felicidade das suas caras.
- Bom, temos uma ótima proposta para fazer. - entrou, sem esperar qualquer cerimônia por parte do amigo. - Pode entrar, Michel.
Ainda assim, Michel olhou para , esperando uma permissão que foi dada através de um movimento de boas-vindas com a mão.
- A única proposta ótima que poderiam me fazer é dizer que vocês serão meus novos sócios. - rolou os olhos enquanto fechava a porta e retornava para seu lugar, sem largar seu copo.
e Michel se mantiveram em pé, o mirando.
- Na verdade, é isso mesmo. - Michel contou, agora um pouco em dúvida se teria sido uma boa ideia.
se engasgou com a novidade.
- Como assim? Do que vocês tão falando.
- É isso mesmo, sentou, dando dois tapinhas nas duas costas – Queremos ser seus sócios!
contou que Michel o procurou, perguntando o que poderia ser feito para ajudar e por fim, com as economias dos dois, teriam dinheiro suficiente para ocupar o lugar de Nicolas no negócio.
Mas não concordou com aquilo, não podia deixar o amigo e seu funcionário aplicarem todo o dinheiro, sem saber se conseguiria salvar o restaurante. Era um risco muito grande para ele e não conseguiria se perdoar se tudo desse errado.
- A gente sabe os riscos, . - Michel explicou – Mas mesmo assim gostaríamos de tentar. Seu nome tem história na gastronomia de Phoenix e não pode deixar se abater por um problema, nós três teremos força para aguentar e superar o que vier!
Antes que pudesse negar novamente, a campainha tocou novamente. Era Garrett também com um sorriso no rosto. Ele entregou uma papelada em suas mãos e o mandou olhar diretamente a última página, que obteria a resposta que estava procurando. então se deu conta para o que lia, era a sentença do processo trabalhista e apesar das 27 páginas de fundamento, a única frase que importava era a última: pedidos julgados totalmente improcedentes.
pediu uma explicação, assim, Garrett confirmou: o restaurante havia ganhado a ação e não devia nenhum centavo ao funcionário. Aquilo acendeu uma luz em e finalmente, ele sorriu como há muito não vinha fazendo.
- Caso você queira, podemos entrar com um processo civil contra o funcionário e as associações pelos danos causados a sua empresa.
- Claro, aproveita e faz um novo contrato social, pois tenho dois novos sócios!
Kenendy já estava preparado com um champagne e o estourou, comemorando as boas notícias.

Estavam todos ansiosos, preparando o restaurante para sua reabertura, depois de um mês fechado. , Michel e não haviam parado de trabalhar desde que a nova sociedade havia se formado e aproveitaram para mudar um pouco a cara do espaço.
Mas finalmente, tudo havia se reorganizado e agora estavam dando apenas os últimos retoques para que voltassem a funcionar, como jamais deveriam ter parado.
olhava orgulhoso ao seu redor, sem acreditar que por fim, tudo deu certo. Porém seu sorriso se desfez quando viu que uma mulher batia desesperadamente na porta, chamando seu nome.
Era .
Com sua energia inabalável.
- Pode deixar, eu abro. - disse para que já estava quase abrindo.
Ele abriu e sem pedir licença, entrou.
- Você não pode fazer isso! - gritou, balançando um papel ao ar – O Sr. Gomez não tem condição de arcar com os prejuízos e você sabe, !
- Então que não tivesse feito o que fez. Quem vai pagar por tudo o que vocês me causaram, ?
- Por favor. - suplicou, se aproximando.
- Não, . - se afastou – Eu quase perdi a coisa mais importante da minha vida, você acha que eu deixarei tudo ir assim? Não. Cansei de ser usado como saco de pancadas pelas pessoas, agora eu preciso atacar também.
Ela não retrucou. Apenas o encarou com um olhar perdido, de quem havia feito a coisa errada.
- Me desculpa. - disse se sentando em uma das mesas próximas. - Eu fugi, sem olhar para trás e quando pude, achei que era tarde de mais para voltar, então tentei seguir minha vida, mas aqui estou eu.
Então, sem que precisasse pedir, começou a contar o que ocorreu. Que seu pai a enviou para a suiça, para terminar seus estudos, no entanto, se afastou completamente da sua família, com quem nunca mais falou também.
- Eu quis voltar para você, . - deixou escapar umas lágrimas – Mas ao invés disso, me mantive inerte e casei. Eu nunca achei que fosse tão covarde assim, mas escolhi a saída mais fácil. Pensei que fosse melhor para a minha filha, mas não era.
- O que você quer me contando isso agora, ? - questionou exasperado. Não queria ouvir aquela história.
- As nossas escolha fáceis cobram um preço muito grande. E eu estou pagando ele agora. Casei com um grande advogado que foi chamado a trabalhar como sócio de um amigo do meu pai, aquele nome grande na porta do escritório não é por minha causa, não sou ninguém, voltei para essa cidade que achei que nunca mais pisaria os pés e isso cobrou as minhas dívidas, meu casamento começou a se desfazer desde o dia em que nossa mudança foi anunciada. Talvez meu marido soubesse que seria inevitável te encontrar e ele me proibiu de dizer a verdade se eu quisesse casar, mas não poderia manter isso longe de você mais tempo. Se passaram 7 anos, e não existiu um dia em que eu quisesse pegar o telefone para ouvir você me desejando boa noite ou que tudo acabaria bem…
não estava entendendo aonde queria chegar e perde a paciência.
- O que você quer tanto me dizer, ?
Sem dizer mais nada, ela vasculhou sua bolsa atrás de sua carteira e quando a achou, sacou uma foto e entregou a . Era a menininha que havia acompanhado na primeira audiência, a filha dela.
- Você é o pai da minha filha.




FIM(?)



Nota da autora: Olá, gente bonita! Espero que tenham gostado dessa história que parecia que não ia ficar pronta nunca hahahaha E ainda por cima termina assim! A continuação são no proximo ficstape do The Maine, no cd Pioneer com a música Like We Did (Windows Down) e trará de forma mais profunda esse reencontro, prometo! Enquanto isso, a gente pode imaginar o que nosso PP pensar dessa ideia de ser pai.



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Nota da beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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