Capítulo Único
Percebendo que aquilo havia finalmente acabado, respirou fundo e saiu de cima do homem que era quase uns cinquenta anos mais velho que ela. Ele sorria enquanto respirava alto, o coração descompassado. Ela não poderia ser mais grata por aqueles velhos não aguentarem mais que dez minutos de foda e a deixarem em paz rápido. Ela foi até a varanda enquanto vestia seu vestido e acendeu um cigarro caro, acompanhado por uma taça de uma bebida cara e azul. Sorriu para a grande e iluminada Los Angeles a sua frente, pensando em como tudo na sua vida estava exatamente onde ela queria, mas como ao mesmo tempo a de dezoito anos achava tudo aquilo bem mais excitante e fácil.
Ela estava acostumada – até demais – com homens velhos e chatos, porém cheios de dinheiro. E era exatamente isso que ela procurava no momento: dinheiro, rios e rios de dinheiro e a vida de luxo que ela sonhara desde garotinha. Ter que foder alguns caras decrépitos era só um pequeno atalho para isso. O homem que se encontrava na cama já se vestia enquanto terminava sua bebida e seu cigarro. Ela se virou para ele entediada, jogando o que restou do cigarro para trás.
- Pode me pedir um Uber? – ela disse em um tom neutro – Preciso ir para casa.
- Sem problemas, .
Não demorou muito para seu Uber chegar. Como precisavam de total descrição – assim como a maioria dos seus clientes, ele era casado – ele não desceu junto com ela, apenas se despediu com um beijo no rosto e um sorriso.
- Obrigada, John. Mesmo horário semana que vem?
- Como sempre, querida.
- Onde você esteve, ? Vamos nos atrasar! – April gritou assim que ouviu a porta do apartamento gigante onde as duas moravam se abrir.
- Trabalhando, obviamente. Vamos nos atrasar pro que exatamente, April?
- Pro baile beneficente do St. Jonas. Não vai me dizer que esqueceu?
- Porra, puta que pariu!
largou sua bolsa no sofá e correu para o banheiro, ligando o chuveiro enquanto a amiga se maquiava em frente ao espelho. É claro que ela havia se esquecido, como sempre. Naquela noite ocorreria um dos maiore eventos do ano, o baile beneficente para o hospital St. Jonas. Todas as grandes figuras – boas e ruins – da cidade e estariam lá e elas, é claro, não ficariam de fora. Com todos os seus contatos e influências, seus nomes já estavam na lista VIP do evento.
- Eu me arrumo em cinco minutos, vai pedindo um Uber aí. – disse enquanto se enrolava na toalha e começava a se maquiar – Melhor, vai no quarto e escolhe um vestido. A coisa mais cara que você ver na sua frente é a coisa certa a se escolher. E sapatos, meus Loubotin’s de preferência.
- Só porque eu não quero me atrasar, eu te ajudo dessa vez. Mas você me deve uma, ein?
- E você sabe que eu sempre pago, não é?
Com um pouco mais dos prometidos cinco minutos, estava pronta e as duas esperavam por seu Uber na porta do prédio, comentando sobre como essa noite seria apenas sobre diversão e nada de trabalho, para variar um pouco a rotina
sorria enquanto ouvia April contar alguma besteira de sua vida. Desatenta, ela observava ao redor do salão de festas absurdamente luxuoso, procurando por alguém com menos de cinquenta anos e quem sabe um sorriso bonito. Ela virou o resto do conteúdo da sua taça na boca e pegou outra com um garçom que passava ali.
- Eu não aguento mais ver gente velha, April. É demais pedir por um cara que tenha menos de quarenta? Ou menos de cinquenta eu já aceito.
- E que não seja casado, urg.
- Ah, não, pra isso eu não dou a mínima. Só queria fazer sexo, sabe? Sexo de verdade. Puta merda, tô numa abstinência fodida.
As duas riram e continuaram bebendo e observando tudo e todos ao redor, até que finalmente pôs seus olhos no grande troféu da noite.
Ele era alto, muito mais alto que ela mesmo com o salto gigantesco que usava, e as tatuagens cobriam grande parte do seu corpo que era visível, já que ele usava um smoking que provavelmente custava o valor do apartamento delas – que não era nada barato -. Estava parado na entrada da varanda, que provavelmente era a área de fumantes, e conversava de forma séria com um homem bem mais velho que ele. E por falar em idade, ele com certeza não passava dos trinta. passou a língua pelos lábios e sorriu.
- April, você sabe quem é aquele?
- O das tatuagens? – concordou com a cabeça – .
- ? Tipo Michael .
- Exatamente, é o filho dele. Agora controla os negócios, já que o pai bateu as botas.
- E como eu não conhecia ele até agora, me explica?
- Não sei, todo mundo conhece ele. Está interessada? – a garota arqueou as sobrancelhas e apoio o rosto em uma mão, cotovelo na mesa.
- Talvez.
- , você sabe que não sou de pirar com essas coisas, mas fontes confiáveis já me disseram que esse cara é treta das grandes.
- Que tipo de treta?
- Olha, a gente sempre tá metida com coisa merda, eu sei, mas a família comanda todo tipo de coisa ilegal e perigosa aqui. Desde corridas ilegais até tráfico.
- Mas eu só quero dar pra ele, April. – ela disse, choramingando – Sem contar que, olha pra gente, não somos exatamente as rainhas da legalidade né?
- , você sabe bem o que faz. Só toma cuidado, tá?
- Eu sempre tomo, amiga. – ela piscou e novamente pegou outra taça com um garçom que passava.
caminhou em passos largos até onde estava, arrumando o cabelo no lugar e o vestido no corpo. Ela não sabia exatamente o que iria dizer, mas ela sempre falava a coisa certa no momento certo, então não se preocupava muito com isso. Ela se encostou na lateral, determinada a esperar o momento certo para chegar perto, até porque ele ainda conversava com o homem de antes e pelo seu semblante, parecia um assunto sério. Ela reparou que ele parecia profundamente entediado, apesar de sério. Ela deu uma risada entre os lábios e nesse exato momento ele virou a cabeça e seus olhos se encontraram com os dela. Com a taça na boca, levantou as sobrancelhas como um comprimento, tomou um longo gole da bebida e limpou os lábios com a língua. O rapaz devolveu o comprimento, arqueando as sobrancelhas e levantando seu copo cheio de whisky. O homem que conversava com ele olhou para trás, procurando quem estava comprimentando e em seguida também comprimentando a garota, que sorriu de volta. Passado poucos minutos, o homem apertou a mão do rapaz e saiu rumo ao outro lado do salão. Satisfeita, esvaziou seu copo na boca pela milésima vez na noite e sorriu, sedutora, enquanto observava seu objetivo de desejo se aproximar.
- Acho que te devo um agradecimento. – ele disse ao parar em frente dela, seu perfume forte preenchendo completamente o ar ao redor dos dois.
- Te salvei de uma enrascada?
- Quase isso. – ele riu – Ainda não consegui me acostumar com tantas conversas de negócios. Bom, que falta de educação a minha, nem sequer me apresentei.
- Sei muito bem quem você é, . Todos sabem.
- Eu sei, mas eu não sei o seu, linda. – ela sorriu, percebendo que ele já estava exatamente onde ela queria.
- . Muito prazer. – ela estendeu a mão e ele a pegou prontamente, deixando um beijo no topo dela.
- O prazer é todo meu. O que faz aqui, numa festa tão chata? Você não parece ser do tipo de formalidades.
- Não tenho muita escolha, negócios são negócios. Bom, você também não, a julgar pelas tatuagens e até mesmo sua idade.
- Acho que estamos no mesmo barco. – ele sorriu e parou um dos garçons, pegando outro copo cheio de Whisky. o imitou e também pegou um dos copos. – Uma mulher que bebe Whisky?
- Não bebo qualquer Whisky… - ela disse se aproximando da orelha dele – Só os que realmente valem a pena. – sussurrou em seguida.
- … Você é realmente algo, garota. – ele sorriu e bateu seu copo no dela, virando-o com um gole. Novamente, ela o imitou – Você é daqui?
- Não, sou de Nevada.
- Imagino que já frequentou bastante Vegas, então.
- Na verdade não, me mudei para Los Angeles muito nova. Mas não nego que desde então já visitei Vegas algumas vezes, todas muito divertidas.
- Posso dizer o mesmo das minhas idas até lá. Mais um copo? – ela concordou e ele pegou dois copos, a entregando um.
- E você, , - ela pronunciou lentamente o seu nome – é daqui?
- Sim, sou daqui.
- Conheci seu pai, era um bom homem.
- Não sei qual a sua definição de bom, mas não posso discordar – riu amargamente – Ele foi um bom pai, no fim das contas. Devo tudo a ele.
- Pelo menos você teve sorte com a família, a minha sempre foi uma pequena desgraça. Não que seja algo que valha a pena falar sobre, ahn? Passado sempre no passado.
- E o presente a ser brindado. – ele completou e pela segunda vez bateu os copos dos dois – O que você acha de levarmos essa festa para outro lugar?
- Se for sua cama, mal posso esperar. – ela riu, sacana – Você estava certo, eu também não sou o tipo de pessoa que gosta desses ambientes formais. A bebida boa me encanta, mas dispenso o resto, exceto é claro, você. – piscou.
gostava de mulheres gostosas e diretas, assim como . Coberta de tatuagens e com um vestido de matar qualquer um com um par de bolas entre as pernas, ela não poderia ter aparecido em momento melhor. E, bom, se ela não queria esperar, quem diria ele? Aquela festa estava insuportável. Ele amava, sim, a ideia de ficar com tudo que era do seu pai, mas a parte burocrática e social lhe dava tédio. Essa era a verdade.
Do momento em que pegou o carro com o manobrista até chegar a sua casa, que não ficava longe de onde estavam, não lhe deu um minuto de sossego. Fosse com aquele sorriso atrevido, fosse colocando uma das mãos na sua perna e se aproximando perigosamente da sua intimidade. Ela era o pecado em forma de mulher, concluiu antes mesmo de chegarem até sua casa.
Mal abriu a porta e pulou em cima dele como uma leoa. Sua língua deixava um rastro de fogo por onde passava, assim como suas mãos ágeis e curiosas.
- Você não perde tempo, ahn? – ele disse rindo enquanto ela desabotoava o paletó dele e jogava longe.
- Se você soubesse há quanto tempo eu não sou fodida de vedade, você me entenderia.
- Você, gostosa desse jeito?
- Você não acreditaria se eu contasse. – ela riu enquanto jogava o próprio vestido longe e via como ele a comia com os olhos.
o empurrou com força em cima de um sofá próximo dos dois, subindo e cima dele e colocando uma perna de cada lado do corpo. Ela começou a movimentar o corpo lentamente em cima do dele, forçando sua intimidade contra a ereção dele. gemia em sua boca, segurando sua bunda com força e puxando-a em direção a ele. Ela era gostosa pra caralho, era a única coisa que ele conseguia pensar enquanto desabotoava o sutiã dela e dava de cara com seus mamilos com piercings deliciosamente perfeitos. Ela sorriu para ele e arqueou as costas, dando-lhe uma visão magnífica.
- Não poderia ser mais agradecido por sua pressa. Estou tendo uma visão maravilhosa agora.
- Ah, eu também, querido. – ela disse enquanto observava o torço do rapaz, coberto por tatuagens. Ele era perfeito demais para ser real. – Eu realmente preciso sentar no seu pau tipo, agora.
- É todo seu.
Ela riu e abaixou a cueca dele com pressa, jogando sua calcinha longe. Ela segurou o pau dele com a mão, posicionando-o na sua entrada e mexendo-o em movimentos circulares, fazendo-o sentir como ela já estava absurdamente molhada com apenas poucos minutos de preliminares.
- Acho que esse foi o sexo mais rápido que já consegui sem ter que pagar. – ele disse segurando um gemido e ela riu alto pela ironia da situação.
- E vai ser o melhor da sua vida, te garanto.
Ela tirou a mão e sentou devagar no membro dele, deixando-o lhe penetrar até o último milimitro. Ela subia e descia enquanto movimenta os quadris no ritmo de uma música que tocava apenas em sua cabeça. tinha as duas mãos em sua cintura, sentindo o ritmo dela e gemendo entre os lábios. aumentava a velocidade gradualmente enquanto deixava sons cada vez mais altos escaparem de seus lábios.
- , para. – fez uma careta e disse de repente, fazendo ela riu – ...
- Ah, a gente já só começando, querido. Eu ainda nem dei meu melhor! – sorriu atrevida enquanto continuava sentando nele.
- !
E o grito desesperado dele foi a ultima coisa que ela ouviu antes de sentir uma pancada forte na cabeça e perder todos os sentidos.
acordou com uma dor insuportável na cabeça e sem fazer ideia de onde estava. Ela tentou mover a mão para palpar a própria cabeça e ver o que havia de errado, mas não conseguiu movê-la. Abriu os olhos desesperada e viu que estava algemada num quarto com a luz baixa e completamente desconhecido. Provavelmente um porão, pensou enquanto tentava não se desesperar. Ela respirava fundo repetidamente e olhava ao redor, até que seus olhos se encontraram com os de um rapaz familiar do outro lado do cômodo.
- Oi. – ele disse, baixo – Você está bem?
- O que diabos está acontecendo aqui? ? – ele confirmou – Onde eu estou?
- No porão da minha casa.
- E por que eu estou algemada? Por que nós dois estamos algemados? Isso é algum tipo de joguinho sexual ou sei lá? Se for, eu não estou gostando nenhum pouco, seu doente! - Não, isso não é coisa minha. Quem dera se fosse. – ele suspirou – Fiz merda, tentei fazer negócios com gente que eu não deveria ter tentado e, bom, cá estamos nós. Inclusive, estamos no porão da minha casa. Filhos da puta, minha própria casa! – ele gritou com raiva e cuspiu no chão – Eu sinto muito por você ter sido envolvida nisso, eles me pegarem de guarda baixa.
- Peraí, deixa eu ver se eu entendi. Eles me bateram enquanto eu estava em cima de você, me desmaiaram e prenderam a gente aqui – ele concordou – Puta merda, eu devia ter ouvido a April, ela sempre está certa? - Quem?
- Minha melhor amiga, April. Ela disse pra eu tomar cuidado porque você era dos ruins.
- É, ela estava certa. – ele riu.
- Eu só queria uma trepadinha, uma trepada, . – ela disse segurando as lágrimas e ao mesmo tempo rindo - Um pinto que não tivesse o triplo da minha idade me fodendo! Eu disse pra April: Amiga, hoje não vamos falar de trabalho, hoje eu quero trepar. Era pra ser meu dia de folga, era pra ser tranquilo, por que diabos eu fui escolher você? Porque você tem que ser tão gostoso, desgraçado? - Bom, sinto muito. – ele riu, achando graça da situação toda – Confesso que fiquei em duvida sobre vários elementos do seu desabafo, mas acho que não quero te irritar mais perguntando.
- Só me responde uma coisa, . Eu vou morrer?
- Olha, acho que estamos com sessenta ou setenta por cento de chance de morrer. – ele deu de ombros – Mas a notícia boa é que minha casa é preparada para esse tipo de coisa, então temos algumas possibilidades de planos de fuga.
- E você já tem um plano?
- Err... Mais ou menos. E tenho mais más notícias.
- MAIS? Por que estar algemada num porão com uma possível concussão na cabeça não é suficiente, né? – foi então que ela de fato começou a chorar.
- Ei, não chora, sério, vou dar um jeito. Pelo menos te tiro daqui, ok? Você não tem nada a ver com isso.
- É fácil pra você falar, você lida com a possibilidade de morrer todo dia por estar envolvido com essas merdas. Eu no entanto só queria dar.
não sabia se ria dos lamentos sexuais da garota ou se a consolava porque sabia que ela, de fato, estava desesperada e tentando esconder isso falando de sexo. Ele conhecia bem o perfil do desespero nesse tipo de momento e como ele se manifestava de formas estranhas.
- Bom, pelo menos eles me vestiram. – ela concluiu, tentando parar as lágrimas de jorrarem – Qual a sua ideia de plano, ahn?
- Bom, tem armas e dinheiro em todos os cômodos. Um de nós precisa conseguir sair daqui e pegar. São só dois deles.
- Eles não vão te deixar sair, você sabe. E eu, querido, não vou matar ninguém por você.
- Você não vai fazer nada por mim, . Vai fazer porque precisa sobreviver. Apesar de você não ter nada com a situação, você sabe o que está acontecendo aqui, o que faz de você uma testemunha. E sabe o que acontece com testemunhas, não sabe?
respirou fundo e novamente, segurou as lágrimas. Ela nunca pensou na sua vida que se veria presa num porão com um bandido milionário ridiculamente gostoso e que, diga-se de passagem, estava algemado só de cueca. Uma visão do inferno em todos os sentidos bons e ruins naquele momento. Ela já não sabia se estava triste, desesperada, com medo ou com tesão – afinal, aqueles cinco minutos de sexo não saciaram em nada sua vontade. E, sim, ela também se sentia um pouco problematica por estar pensando em sexo com sua morte tão iminente. Sua cabeça latejando estava ali para a lembrar que aquilo tudo estava longe de ser uma brincadeira de mau gosto.
- Você sabe atirar? – perguntou olhando-a nos olhos, sério. - Eu nunca atirei em ninguém, se é o que quer saber. – ela disse em um tom baixo – Eu já atirei em latinhas quando era mais nova, meu padrasto me ensinou.
- Homem sábio.
- Ele era um nazista de merda. Tenho tanto ódio dele, que... – ela balançou a cabeça e afastou a lembrança – Eu não quero atirar em ninguém, .
- Você não precisa matá-los, apenas machucá-los o suficiente para que possamos fugir. Com duas ligações deixo um avião nos esperando.
- Avião?
- Você não acha que vamos sobreviver se ficarmos aqui, acha?
E pela segunda vez, caiu no choro. E dessa vez um choro pesado, cheio de soluços e medo. Ela não poderia – e nem conseguiria – abandonar toda a vida que havia construído naquela cidade. Seu apartamento, suas coisas, April. Tantos anos para construir uma vida, um império, para ver tudo acabar por causa de uma transa. Era bem a cara dela, na verdade.
- Eu vou ter que deixar toda a minha vida para trás, então? Tudo que eu construi, tudo que eu lutei, tudo... – ela não conseguiu falar, continuando a chorar.
- , eu... Eu sinto muito, de verdade. Não era mesmo pra isso ter acontecido com você aqui, nunca pensei que fariam isso assim, hoje. Eu sei que dinheiro no mundo pode comprar sua vida de volta, mas eu juro que quando sairmos daqui você vai ter tudo o que quiser.
A garota ouviu atentamente e concordou, pensando que aquilo era, na verdade, o mínimo que ele poderia fazer por ela depois de enfiá-la naquela merda de situação. Ela se deitou no chão, tentando deixar sua respiração no ritmo novamente.
- Qual o nosso plano? – ela perguntou após longos minutos de respiração funda.
- Você pede para ir ao banheiro. Como você não tem muito a ver comigo, eles não vão negar isso e nem negar tirar suas algemas para que possa fazê-lo. Dentro do armário tem um fundo falso com uma arma e um pacote com documentos, dinheiro e um celular. Você pega a arma e consegue trazer o resto pra mim e do resto eu cuido. Será que consegue fazer isso?
- Existe uma remota possibilidade, tipo, um por cento, que eu consiga. Mas se não tentar, vou morrer de qualquer jeito, não vou? – ele sorriu, triste, e ela suspirou pela milésima vez nas últimas horas – Então temos uma porra de um plano. É isso. Eu vou atirar em pessoas. – Ela disse, inconsolável.
- Agora só precisamos esperar eles voltarem. – concluiu, olhando para o teto.
concordou e continou deitada. Fechou os olhos e tentou descansar para tentar amenizar a dor insuportável da sua cabeça, mesmo lembrando perfeitamente da sua mãe lhe falando que não se devia dormir após bater a cabeça. Bom, talvez fosse melhor morrer assim do que ser executada por traficantes – ou o que quer que os homens que a estava predendo fossem.
abriu os olhos e, tristemente, percebeu que tudo aquilo infelizmente não era um pesadelo. Engoliu o choro e se sentou, vendo a fitando com o olhar cansado. Sem qualquer noção de quanto tempo havia se passado, a única coisa que ela conseguia sentir era o gosto amargo de bebida na sua boca e a dor ainda presente na parte de trás da cabeça.
- Eles ainda não apareceram? – ela perguntou baixo.
- Não, mas não devem demorar. Já fazem umas dez horas que estamos aqui, pelas minhas contas. Estou começando a ficar seriamente com fome.
- Eu já nem sei mais o que estou sentindo.
Dez horas eram muito tempo, muito mais do que ela pensou que poderia ter se passado. Apesar de já saber o que estava acontecendo ali, agora de fato ela começava a perceber que as chances de sair dali eram extremamente baixas. Uma tristeza incontrolável tomava conta da garota, que não conseguia parar de pensar em todas as coisas pela qual já havia passado na vida – e todas pela qual jamais iria passar.
- Você já pensou em todas as decisões que já tomou e tentou se ver em outro lugar agora? – ela perguntou com lágrimas nos olhos.
- Eu nunca tive muitas escolhas, meu pai sempre fez todas elas. E eu nunca quis nada muito diferente, na verdade.
- Pois eu já. Eu cresci numa família do interior de Nevada, sabe. Meu pai se mandou quando eu nasci e minha mãe era uma religiosa compulsiva que acabou casando com um policial neonazista. Ele batia muito em nós duas. Descobri que estava grávida com dezessete anos e tive que fugir de casa porque se ele descobrisse, me matava. - E seu filho...? – ele perguntou, atento a história dela.
- Não existe. Eu fiz um aborto assim que consegui sair do estado. Conheci April, minha melhor amiga, que me ajudou com tudo e ajuda até hoje. Ela me trouxe pra cá, me apresentou um mundo de luxo que eu nunca pensei que conheceria e... Cá estou eu. Presa num porão prestes a morrer. E pensar que talvez eu poderia estar numa casa, com meu filho de quatro anos, talvez um marido, um cachorro, um quintal, eu... - Isso não parece nada com você. – disse com um meio sorriso. - Ser prostituta também não se parecia nada comigo quando comecei isso tudo. Mas o dinheiro faz coisas estranhas com a gente, . Eu sempre quis ser rica e isso, sim, combinava comigo. Luxo, jóias, tatuagens caras. Foi um caminho fácil até o topo.
- Agora entendi melhor a parte sobre transar com gente velha. – ele riu e então ficou sério, de repente – Meu pai batia muito na minha mãe, também. Eu me lembro de ouvir pela porta quando tinha seis, sete anos. Ela gritava muito e eu chorava tanto... Mas acho que me acostumei, pelo caminho. Minha mãe morreu quando eu tinha doze anos, câncer de mama. Uma parte de mim ficava aliviada por ela não ter mais que aguentar tudo naquela casa, mas a maior parte de mim sentia ódio por ver meu pai fingindo que havia sido o melhor marido do mundo.
- Eu te entendo perfeitamente, . Vivi grande parte da minha vida assim e, honestamente, gostaria que meu padrasto também estivesse morto. Pelo menos eu morreria em paz, sabendo que minha mãe nunca mais precisaria aguentar as humilhações dele.
A conversa dos dois foi interrompida por uma porta se abrindo estrondosamente e revelando um homem alto e corpulento. Eles jogaram uma garrafa d’água nos pés de cada um deles.
- Eu preciso muito ir ao banheiro. – praticamente sussurrou.
- O que?
- Banheiro. Preciso usar o banheiro. – ela disse mais alto.
O rapaz a olhou de cima a baixo e provavelmente concluiu que ela não representava nenhuma ameaça, levantando-a então do chão com praticamente uma mão. olhou para , desesperada ao perceber que jamais conseguiria lutar contra aquele homem.
Ele a tirou do porão rapidamente e a largou dentro do banheiro. Ela olhou para ele com os olhos tristes e mostrou as mãos.
- Não consigo usar o banheiro assim. Por favor.
Comovido, ele soltou as algemas e deixou-as em cima da bancada. viu-o fechar a porta e ela de fato usou o banheiro, percebendo que precisava urgentemente. Ligou a torneira e deixando o barulho da água tomar o banheiro, ela abriu a porta do armário e conseguiu localizar o fundo falso, vendo todos os itens que mencionou. A arma tinha um silenciador, o que a deixava mais aliviada de certa forma. A arma já estava carregada e nas suas mãos, ela só precisava destravá-la e atirar. Ela respirou fundo e disse para si mesma que aquela era a hora perfeita para usar sua pose de garota durona e cheia de si. Respirou mais algumas vezes, destravou a arma e abriu a porta.
Ela não pensou antes de atirar, apenas apertou o gatilho e segurou o próprio grito de horror. Ela nunca na vida imaginou que acertaria em cheio o peito do homem, que caiu no chão sem conseguir falar nada. Ela correu par ao banheiro, pegou o resto das coisas na gaveta e segurando as lágrimas, pegou a chave das algemas da mão dele e saiu correndo para o porão, tentando não ter uma crise de pânico ou desmaiar. Suas mãos tremiam tanto que a arma quase caía no chão.
sorriu, o sorriso mais lindo e aliviado que ela já vira na vida, quando ela entrou no porão, tremendo dos pés a cabeça.
- Acho que eu o matei. Puta que pariu, , eu matei alguém. Vou ser presa, eu...
- Calma, , respira fundo. Abre essas algemas, me dá essa arma e vai dar tudo certo.
estreitou os olhos quando, de repente, um pensamento extremamente coerente lhe veio a cabeça. Quem lhe garantia que aquele homem não iria matá-la? Ele mesmo disse que ela era uma testemunha ali e que ela sabia muito bem o destino de testemunhas.
- O que me garante que se eu entregar essa arma você não vai me matar e fugir sozinho?
- Eu te prometi. E eu não tenho motivos para te matar.
- Eu sou uma testemunha! Você mesmo disse que testemunhas morrem, ! – ela disse apontando a arma para a cabeça dele, ainda tremendo – Me dê um motivo para não atirar em você e fugir com isso tudo.
- Eles vão te achar! Eles vão te achar e te matar. , você não precisa mais sujar suas mãos hoje. Eu vou te ajudar, eu prometo. Por favor, , use a cabeça. Eles vão perceber logo que um deles está morto, precisamos ser rápidos.
A garota respirou fundo e olhou para o pacote que havia jogado no chão, cheio de dinheiro e sabe-se lá mais o que. Olhou para a arma que tremia nas suas mãos, para o rapaz algemado de joelhos e para o sangue salpicado em suas roupas.
Pensou em sua mãe, em April, em seu filho jamais nascido.
Ela não iria morrer assim.
Sua história não podia acabar ali.
Sem pensar mais em nada, ela puxou o gatilho.
Epílogo
1 ANO DEPOIS
- Sem açúcar, por favor. – respondeu, sorridente, ao rapaz que lhe servia seu café da manhã em uma pequena padaria no subúrbio de Paris.
Podre de rica e cheia de luxo, ter que largar sua vida para trás foi apenas um detalhe no montante. Ela se lembrava de chegar até April com as mãos sujas de sangue e o coração aos pulos, fazendo as malas sem tempo para explicar de fato o que havia acontecido. E sentia falta da amiga, claro, todos os dias. Mas havia começado a construir uma nova vida para si: Sem prostituição, sem crime e ainda sim, cheia de tudo de bom que a vida poderia lhe oferecer. - Você poderia ter pedido o meu também, querida. – ela ouviu uma voz masculina a chamar e cumprimentou o rapaz com um beijo rápido nos lábios.
- Nunca sei como quer seu café, querido. Sem contar que você está atrasado, disse que só iria tomar um banho há quase uma hora atrás, .- o rapaz riu e pediu seu café ao garçom, sentando-se de frente para e sorrindo gentilmente.
também se lembrava de atirar na parede ao lado de , sem coragem para matar a única pessoa além de April a qual ela havia confessado sua vida. Ele se livrou as algemas com a ajuda dela e com poucas horas eles estavam a caminho da europa com passaportes falsos e milhares de planos. E, claro, esses planos não eram conjuntos. Mas uma coisa levou a outra e a solidão fez o caminho dos dois se cruzarem de forma tão repentina e curiosa que eles não conseguiram sair de perto um do outro.
E, ah, claro, o sexo era ótimo. Perfeito, se levassem todas as relações que já tiveram em conta.
Os dois sorriram um para o outro enquanto tomavam seus cafés e conversavam sobre o dia, o tempo e as amenidades da vida. É claro que eles jamais se imaginariam ali, juntos, um ano após quase morrerem em um porão onde eram desconhecidos. Agora, não enxergavam a vida sem o outro ao lado e isso era extremamente curioso, já que ela mesma o havia questionado naquele porão sobre se ele já havia imaginado como seria sua vida se tivesse tomado outras decisões. E ele imaginava todos os dias. É claro que estava certa naquele dia: ele realmente iria matá-la, ela era uma testemunha e pouco significava na vida dele. Mas olhando para os olhos cheios de lágrimas dela e suas mãos trememendo, ele não conseguiu, assim como ela não conseguiu atirar nele. E assim os dias se passaram, as semanas, os meses.
E um ano após ali estavam, em um café em Paris, como se nunca tivessem planejado matar um ao outro para fugir e profundamente apaixonados, como dois adolescentes. E, ah, claro, transando pra caralho, várias vezes por dia, todos os dias, para a alegria e satisfação de . E a única coisa que eles queriam era que o resto do mundo continuasse a se esquecer deles e que eles jamais se esquecessem um do outro.
FIM
Nota da autora: Você quer ver como eu imaginei os personagens dessa história? Corre aqui e confere! :}
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Outras Fanfics:
Falling For An Angel - Restritas/Bandas - McFLY/Em Andamento
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