Capítulo Único
O bar estava cheio e como de costume, já tinha virado mais garrafas de cerveja do que podia contar. Ela tinha acabado de se mudar para Amsterdam, não conhecia ninguém na capital holandesa e sua situação não era das melhores. Após se divorciar de Charlie, percebeu que nada mais a prendia em Rotterdam, e ficar lá só pioraria as coisas. Mas assim que percebeu que na nova cidade ela também estaria sozinha, a solidão resolveu dar as caras de vez. tinha uma bagagem e tanto, mágoas de sobra e muita culpa guardada para si, e ainda assim sabia que o ideal seria procurar uma ajuda profissional e não fizera.
olhou ao seu redor, rostos desconhecidos demais para que ela pudesse sequer puxar uma conversa. Na verdade, ela não tinha nada para falar mesmo. Na sua percepção, sua vida ia de mal a pior e não conseguia fazer nada para mudar sua situação. Às vezes, ficava o dia todo deitada em sua cama dormindo, quando conseguia se animar um pouco, ela passeava pela cidade e comia uma torta de maçã sozinha; mas quando chegava à noite, a solidão lhe abraçava com toda a sua força e se entregava a mais uma noite de insônia, acolhida pelos seus piores pensamentos.
— Opa, cuidado! — sentiu uma mão forte segurar seu braço, evitando que ela fosse de encontro ao chão.
— Eu sei me cuidar. — Ela respondeu, tentando se soltar de quem quer que fosse.
— Você está bem? — ergueu o rosto, mas de qualquer forma ela não conhecia.
— Não, só preciso ir pra casa. — Quando fez menção de dar mais um passo, ela tropeçou e quase caiu de cara no chão. Por sorte, o rapaz que a segurava ainda, foi rápido o suficiente para evitar que o pior acontecesse. Sem se importar, ele transpassou o braço da mulher pelo seu ombro e a segurou firmemente pela cintura. já trocava os pés e, com certeza, não conseguiria chegar em casa naquele estado.
— Onde você mora? — Ele voltou a perguntar, e, por um segundo, conseguiu pensar e dizer o seu endereço. — Eu sou , e vou levar você pra sua casa, ok? — Ela balançou a cabeça concordando, mesmo sabendo que não lembraria de nada no dia seguinte.
trabalhava como enfermeiro, mas na sua noite de folga resolveu aproveitar da melhor maneira possível, indo a um dos bares da cidade. Porém, quando viu que a mulher mal conseguia se manter em pé, ele sabia que precisava ajudá-la. Não demorou muito para que os dois estivessem em frente ao prédio de , e como ela estava com uma bolsa pequena, não foi difícil adivinhar que a única chave que havia ali dentro era do apartamento. Acostumado a cuidar de pessoas, devido a profissão que exercia, sabia que o melhor a fazer era dar um banho em , mas a mulher estava pesada e não conseguia se manter em pé. Ele se sentia — e sabia que estava sendo — um intruso dentro do apartamento dela, mas não tinha muito o que ser feito. Ou ele deixava ela jogada no sofá naquele estado, ou tentava fazê-la melhorar e cuidaria dela naquela noite. Ele acabou optando pela segunda opção. Com certo esforço, conseguiu colocar debaixo d'água, e ela pareceu acordar devido ao susto do contato com a água.
— Quem é você? O que está fazendo aqui? — Ela se encolheu, abraçando a si mesma, mas bateu com as costas na parede quando deu um passo para trás.
— Só estou te ajudando, está tudo bem. - Ele tentou tranquilizá-la, mas permaneceu desconfiada. - Eu vou fazer um chá pra você, tome um banho para melhorar.
Ela não sabia quem era ele e nem porquê estava ali, mas acabou fazendo o que pediu. Ainda cambaleando ela conseguiu tirar a roupa molhada e tomar um banho rápido, quando saiu do banho, viu uma muda de roupa em cima da cama. Naquele momento percebeu que realmente queria ajudá-la, afinal, a troco de quê ele faria algum mal a ela e ainda deixaria um pijama separado para ela vestir, não é mesmo?
— Ei, qual o seu nome?
— . — Ela respondeu com certa dificuldade.
— Como se sente, ? — estava sentada na ponta da cama, os cabelos úmidos soltos pingavam pelas suas costas. se abaixou, conseguindo enxergar o rosto da mulher.
— Enjoada, péssima. — Ele entregou a xícara com cuidado para ela tremia um pouco, mas com toda a paciência do mundo, ajudou-a a beber o líquido quente.
— Você quer me contar o que aconteceu? — Ele perguntou, cauteloso.
encarou os olhos verdes de , ele tinha um semblante calmo e isso acabou tranquilizando-a de alguma forma. Deixou que as lembranças daquela noite lhe invadissem novamente, o motivo de ter ido ao bar, de estar bêbada daquele jeito e ter um estranho lhe ajudando, o motivo de estar morando numa cidade nova, onde não conhecia ninguém e nem conseguia fazer amigos. E, principalmente, lembrou de Brandon. Automaticamente seus olhos se inundaram, e voltou a chorar. Colocou pra fora toda a dor que sentia, ela não chorava apenas por Brandon, mas por tudo que tinha transformado da sua vida. Ela não se reconhecia mais, e essa era a pior parte. Quando sentiu os braços de ao redor do seu corpo, chorou ainda mais. Ela nem o conhecia, não conseguia lembrar o seu nome, e ele ainda estava ali ajudando-a como se fosse seu melhor amigo.
— Vai ficar tudo bem. — Ele abraçou-a mais um pouco, até que os soluços dela diminuíssem. ajeitou na cama, ela ainda estava sob efeito de álcool e aquela noite tinha sido mais longa do que o planejado.
— Há um ano atrás, eu sofri um acidente de carro. Meu irmão de sete anos estava comigo no carro, mas ele não sobreviveu, e a culpa é toda minha. Se eu tivesse prestado atenção no trânsito, se não tivesse atendido o telefone, se Charlie não estivesse bêbado e brigando comigo, se naquele dia eu tivesse ido visitar minha mãe, ele ainda estaria aqui. — escutava tudo atentamente, ele sabia que ela precisava contar para alguém, e ele era a única pessoa no momento. — Alguns meses depois eu fugi. Fugi do meu casamento fracassado, fugi da minha família, da cidade que eu morava, do meu antigo emprego. Nada mais me prendia naquele lugar, mas não tem nada que me prenda aqui também. Não há nada que me faça querer continuar viva.
— Nós sempre temos alguém por quem lutar, . — estava deitada de lado e encarava o rosto de .
— Eu não tenho mais. — Ela bocejou, fechando os olhos em seguida. — Você vai estar aqui amanhã?
— Vou, agora precisa descansar. — Ele apertou a sua mão, num gesto carinhoso e esperou que a mulher dormisse de vez para sair do quarto.
pegou no sono de vez, o corpo e a mente cansados de mais uma batalha perdida. ficou na sala do apartamento, pensando no quanto aquela mulher estava sofrendo, e por mais que não a conhecesse, ele também já havia se sentindo assim. Conhecia aquele tipo de dor, e sabia que a única coisa que o ajudou a sair desse momento obscuro foi a terapia. também precisava, talvez ela só não tivesse forças para encarar. Porém, depois do que ela contou naquela noite para , ele sabia que ela precisava de um empurrãozinho.
Quando acordou, na manhã seguinte, a dor de cabeça logo deu as caras e ela não conseguiu evitar soltar um gemido de dor. Levantou da cama, e percebeu que havia um copo com água e um remédio na cômoda ao lado, sem exitar tomou o remédio. Mas assim que saiu do quarto, percebeu o cheiro forte de café exalando por todo cômodo, então sabia que o que acontecera na noite passada não tinha sido um sonho.
— Oi. — Ela se sentou na pequena mesa da cozinha, sentindo-se envergonhada por estar naquela situação, mesmo que estivesse na sua própria casa.
— Oi, como está se sentindo? — entregou uma xícara de café para .
— Com dor de cabeça e um pouco enjoada ainda. — Ela tomou um gole da bebida, e aquele café estava ótimo. Isso que ela nem gostava daquela bebida. — Ahn… qual o seu nome mesmo?
— . . — Ele respondeu, sentando-se na frente de .
— Desculpe, , não quero ser grossa, mas acho melhor você ir embora. — soltou uma risada baixo.
— Eu sei, , eu já vou. Só queria ter certeza que você iria acordar bem hoje. — Ele sorriu para a mulher, e mais uma vez sentiu que podia confiar naquele homem.
— O que eu te falei ontem a noite?
— Você me contou sobre o acidente com o seu irmão. — Ele foi direto, ela assentiu ainda pensativa. — Você já pensou em conversar sobre isso com uma profissional?
— Não tenho coragem.
— E se eu for com você? — Ele segurou a sua mão de forma carinhosa. — Eu sei que não nos conhecemos direito e que a situação também não foi das melhores, mas você precisa conversar com alguém. Essa culpa não é sua, .
— Por que está fazendo isso? Nem nos conhecemos direito, você mesmo disse.
— Quando te vi no bar cambaleando, eu senti que precisava te ajudar e agora mais do que nunca, eu sinto que esse é o meu papel aqui. Eu sei o que é carregar uma culpa que não é minha, e ninguém merece isso. Você se mudou pra cá pra ter uma vida nova, não foi? — Ela balançou a cabeça concordando, seus olhos já estavam marejados. — Então você precisa ir atrás dessa vida nova.
— Eu não sei por onde recomeçar. — dobrou os joelhos em cima da cadeira e abraçou as pernas, enterrando seu rosto ali, envergonhada por ter que admitir isso em voz alta.
— Se eu te levasse numa consulta com uma terapeuta, você iria? — perguntou, receoso com a reação da mulher e com medo que ela pudesse expulsá-lo de sua casa.
— Eu já pensei tantas vezes em ir, acho que realmente não tenho mais escolha. — Ela confessou.
— Você vai se sentir mais leve depois, vai te fazer bem, tenho certeza. — ficou em silêncio por alguns minutos, encarando .
A vida de estava de cabeça para baixo há mais de um ano, e apesar de não aguentar mais viver aquilo, ela também não sabia o que fazer para mudar. Talvez, naquele momento, ela estivesse tendo a oportunidade de conseguir mudar, de conseguir voltar ao trabalho e ter, pelo menos, algumas noites tranquilas. Ela sabia que a dor ainda a acompanharia, mas ela precisava se acostumar com aquele sentimento, o que ela não precisava é que ele a dominasse e a impedisse de viver.
— Tudo bem, eu vou. — sabia que estava fazendo a escolha certa, e ter alguém que pudesse ajudá-la naquele momento estava sendo essencial.
Um pouco mais tarde, não foi embora, como estava previsto no início daquela manhã. Ao contrário do planejado, ele ficou com e a acompanhou até a consulta com a doutora Brown no período da tarde. torcia muito para que aquilo desse certo, ela não saberia se algo de ruim acontecesse com ela, afinal, nem conhecia direito. Assim que chegou ao consultório, o seu corpo travou ao pensar na possibilidade de contar todos os seus maiores medos a uma estranha; embora tivesse feito isso na noite passada, ela ainda tinha a justificativa de que estava sob o efeito de álcool. Agora parada na porta do consultório, não havia álcool que a fizesse falar, ela precisava fazer isso por vontade própria. Deu uma última olhada para , que a esperava na sala recepção, e ele sibilou um “vou estar aqui”. respirou fundo e entrou na sala.
Quando entrou naquela sala, sabia que não seria o momento mais fácil da sua vida, mas depois de tudo que vinha passando, ela sabia que era para o seu próprio bem. A conversa com a terapeuta foi dolorosa, embora não tenha contado tudo sobre a sua vida, conseguiu contar o que vinha a incomodando. E tinha razão, assim que saiu do consultório e encontrou-o do mesmo jeito que ele tinha tido que ficaria, ela sabia que ele só queria ajudar. Talvez, no meio de toda aquela loucura que vinha sendo a sua vida, ela estava tendo uma nova chance. Estava começando a se dar uma nova chance.
— Agora eu, realmente, preciso ir. Tenho plantão hoje a noite. — disse, quando pararam em frente ao prédio que morava.
— O que você faz? — Ela perguntou, curiosa.
— Sou enfermeiro. — Então tudo fez sentido na mente de . Principalmente o jeito em que ele cuidou dela na noite passada. — Eu anotei meu telefone no seu celular, desculpe. Mas se precisar de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, pode me ligar.
— Você já fez muito por mim, . Obrigada, de verdade.
— Você tem um novo amigo agora. Amsterdam é linda demais para se viver sozinha.
Pela primeira vez no dia, conseguiu sorrir. Aliviada por ter com quem conversar, por não se sentir tão solitária naquela enorme cidade, e por saber que agora teria um suporte para retomar a sua vida. Abraçou ao se despedir do novo amigo, tendo certeza que voltaria a vê-lo muito em breve. Dessa vez, ela estava disposta a não se deixar levar pela sua mente e seus medos. Tudo ficaria no passado, do jeito que tinha que ser.
olhou ao seu redor, rostos desconhecidos demais para que ela pudesse sequer puxar uma conversa. Na verdade, ela não tinha nada para falar mesmo. Na sua percepção, sua vida ia de mal a pior e não conseguia fazer nada para mudar sua situação. Às vezes, ficava o dia todo deitada em sua cama dormindo, quando conseguia se animar um pouco, ela passeava pela cidade e comia uma torta de maçã sozinha; mas quando chegava à noite, a solidão lhe abraçava com toda a sua força e se entregava a mais uma noite de insônia, acolhida pelos seus piores pensamentos.
— Opa, cuidado! — sentiu uma mão forte segurar seu braço, evitando que ela fosse de encontro ao chão.
— Eu sei me cuidar. — Ela respondeu, tentando se soltar de quem quer que fosse.
— Você está bem? — ergueu o rosto, mas de qualquer forma ela não conhecia.
— Não, só preciso ir pra casa. — Quando fez menção de dar mais um passo, ela tropeçou e quase caiu de cara no chão. Por sorte, o rapaz que a segurava ainda, foi rápido o suficiente para evitar que o pior acontecesse. Sem se importar, ele transpassou o braço da mulher pelo seu ombro e a segurou firmemente pela cintura. já trocava os pés e, com certeza, não conseguiria chegar em casa naquele estado.
— Onde você mora? — Ele voltou a perguntar, e, por um segundo, conseguiu pensar e dizer o seu endereço. — Eu sou , e vou levar você pra sua casa, ok? — Ela balançou a cabeça concordando, mesmo sabendo que não lembraria de nada no dia seguinte.
trabalhava como enfermeiro, mas na sua noite de folga resolveu aproveitar da melhor maneira possível, indo a um dos bares da cidade. Porém, quando viu que a mulher mal conseguia se manter em pé, ele sabia que precisava ajudá-la. Não demorou muito para que os dois estivessem em frente ao prédio de , e como ela estava com uma bolsa pequena, não foi difícil adivinhar que a única chave que havia ali dentro era do apartamento. Acostumado a cuidar de pessoas, devido a profissão que exercia, sabia que o melhor a fazer era dar um banho em , mas a mulher estava pesada e não conseguia se manter em pé. Ele se sentia — e sabia que estava sendo — um intruso dentro do apartamento dela, mas não tinha muito o que ser feito. Ou ele deixava ela jogada no sofá naquele estado, ou tentava fazê-la melhorar e cuidaria dela naquela noite. Ele acabou optando pela segunda opção. Com certo esforço, conseguiu colocar debaixo d'água, e ela pareceu acordar devido ao susto do contato com a água.
— Quem é você? O que está fazendo aqui? — Ela se encolheu, abraçando a si mesma, mas bateu com as costas na parede quando deu um passo para trás.
— Só estou te ajudando, está tudo bem. - Ele tentou tranquilizá-la, mas permaneceu desconfiada. - Eu vou fazer um chá pra você, tome um banho para melhorar.
Ela não sabia quem era ele e nem porquê estava ali, mas acabou fazendo o que pediu. Ainda cambaleando ela conseguiu tirar a roupa molhada e tomar um banho rápido, quando saiu do banho, viu uma muda de roupa em cima da cama. Naquele momento percebeu que realmente queria ajudá-la, afinal, a troco de quê ele faria algum mal a ela e ainda deixaria um pijama separado para ela vestir, não é mesmo?
— Ei, qual o seu nome?
— . — Ela respondeu com certa dificuldade.
— Como se sente, ? — estava sentada na ponta da cama, os cabelos úmidos soltos pingavam pelas suas costas. se abaixou, conseguindo enxergar o rosto da mulher.
— Enjoada, péssima. — Ele entregou a xícara com cuidado para ela tremia um pouco, mas com toda a paciência do mundo, ajudou-a a beber o líquido quente.
— Você quer me contar o que aconteceu? — Ele perguntou, cauteloso.
encarou os olhos verdes de , ele tinha um semblante calmo e isso acabou tranquilizando-a de alguma forma. Deixou que as lembranças daquela noite lhe invadissem novamente, o motivo de ter ido ao bar, de estar bêbada daquele jeito e ter um estranho lhe ajudando, o motivo de estar morando numa cidade nova, onde não conhecia ninguém e nem conseguia fazer amigos. E, principalmente, lembrou de Brandon. Automaticamente seus olhos se inundaram, e voltou a chorar. Colocou pra fora toda a dor que sentia, ela não chorava apenas por Brandon, mas por tudo que tinha transformado da sua vida. Ela não se reconhecia mais, e essa era a pior parte. Quando sentiu os braços de ao redor do seu corpo, chorou ainda mais. Ela nem o conhecia, não conseguia lembrar o seu nome, e ele ainda estava ali ajudando-a como se fosse seu melhor amigo.
— Vai ficar tudo bem. — Ele abraçou-a mais um pouco, até que os soluços dela diminuíssem. ajeitou na cama, ela ainda estava sob efeito de álcool e aquela noite tinha sido mais longa do que o planejado.
— Há um ano atrás, eu sofri um acidente de carro. Meu irmão de sete anos estava comigo no carro, mas ele não sobreviveu, e a culpa é toda minha. Se eu tivesse prestado atenção no trânsito, se não tivesse atendido o telefone, se Charlie não estivesse bêbado e brigando comigo, se naquele dia eu tivesse ido visitar minha mãe, ele ainda estaria aqui. — escutava tudo atentamente, ele sabia que ela precisava contar para alguém, e ele era a única pessoa no momento. — Alguns meses depois eu fugi. Fugi do meu casamento fracassado, fugi da minha família, da cidade que eu morava, do meu antigo emprego. Nada mais me prendia naquele lugar, mas não tem nada que me prenda aqui também. Não há nada que me faça querer continuar viva.
— Nós sempre temos alguém por quem lutar, . — estava deitada de lado e encarava o rosto de .
— Eu não tenho mais. — Ela bocejou, fechando os olhos em seguida. — Você vai estar aqui amanhã?
— Vou, agora precisa descansar. — Ele apertou a sua mão, num gesto carinhoso e esperou que a mulher dormisse de vez para sair do quarto.
pegou no sono de vez, o corpo e a mente cansados de mais uma batalha perdida. ficou na sala do apartamento, pensando no quanto aquela mulher estava sofrendo, e por mais que não a conhecesse, ele também já havia se sentindo assim. Conhecia aquele tipo de dor, e sabia que a única coisa que o ajudou a sair desse momento obscuro foi a terapia. também precisava, talvez ela só não tivesse forças para encarar. Porém, depois do que ela contou naquela noite para , ele sabia que ela precisava de um empurrãozinho.
Quando acordou, na manhã seguinte, a dor de cabeça logo deu as caras e ela não conseguiu evitar soltar um gemido de dor. Levantou da cama, e percebeu que havia um copo com água e um remédio na cômoda ao lado, sem exitar tomou o remédio. Mas assim que saiu do quarto, percebeu o cheiro forte de café exalando por todo cômodo, então sabia que o que acontecera na noite passada não tinha sido um sonho.
— Oi. — Ela se sentou na pequena mesa da cozinha, sentindo-se envergonhada por estar naquela situação, mesmo que estivesse na sua própria casa.
— Oi, como está se sentindo? — entregou uma xícara de café para .
— Com dor de cabeça e um pouco enjoada ainda. — Ela tomou um gole da bebida, e aquele café estava ótimo. Isso que ela nem gostava daquela bebida. — Ahn… qual o seu nome mesmo?
— . . — Ele respondeu, sentando-se na frente de .
— Desculpe, , não quero ser grossa, mas acho melhor você ir embora. — soltou uma risada baixo.
— Eu sei, , eu já vou. Só queria ter certeza que você iria acordar bem hoje. — Ele sorriu para a mulher, e mais uma vez sentiu que podia confiar naquele homem.
— O que eu te falei ontem a noite?
— Você me contou sobre o acidente com o seu irmão. — Ele foi direto, ela assentiu ainda pensativa. — Você já pensou em conversar sobre isso com uma profissional?
— Não tenho coragem.
— E se eu for com você? — Ele segurou a sua mão de forma carinhosa. — Eu sei que não nos conhecemos direito e que a situação também não foi das melhores, mas você precisa conversar com alguém. Essa culpa não é sua, .
— Por que está fazendo isso? Nem nos conhecemos direito, você mesmo disse.
— Quando te vi no bar cambaleando, eu senti que precisava te ajudar e agora mais do que nunca, eu sinto que esse é o meu papel aqui. Eu sei o que é carregar uma culpa que não é minha, e ninguém merece isso. Você se mudou pra cá pra ter uma vida nova, não foi? — Ela balançou a cabeça concordando, seus olhos já estavam marejados. — Então você precisa ir atrás dessa vida nova.
— Eu não sei por onde recomeçar. — dobrou os joelhos em cima da cadeira e abraçou as pernas, enterrando seu rosto ali, envergonhada por ter que admitir isso em voz alta.
— Se eu te levasse numa consulta com uma terapeuta, você iria? — perguntou, receoso com a reação da mulher e com medo que ela pudesse expulsá-lo de sua casa.
— Eu já pensei tantas vezes em ir, acho que realmente não tenho mais escolha. — Ela confessou.
— Você vai se sentir mais leve depois, vai te fazer bem, tenho certeza. — ficou em silêncio por alguns minutos, encarando .
A vida de estava de cabeça para baixo há mais de um ano, e apesar de não aguentar mais viver aquilo, ela também não sabia o que fazer para mudar. Talvez, naquele momento, ela estivesse tendo a oportunidade de conseguir mudar, de conseguir voltar ao trabalho e ter, pelo menos, algumas noites tranquilas. Ela sabia que a dor ainda a acompanharia, mas ela precisava se acostumar com aquele sentimento, o que ela não precisava é que ele a dominasse e a impedisse de viver.
— Tudo bem, eu vou. — sabia que estava fazendo a escolha certa, e ter alguém que pudesse ajudá-la naquele momento estava sendo essencial.
Um pouco mais tarde, não foi embora, como estava previsto no início daquela manhã. Ao contrário do planejado, ele ficou com e a acompanhou até a consulta com a doutora Brown no período da tarde. torcia muito para que aquilo desse certo, ela não saberia se algo de ruim acontecesse com ela, afinal, nem conhecia direito. Assim que chegou ao consultório, o seu corpo travou ao pensar na possibilidade de contar todos os seus maiores medos a uma estranha; embora tivesse feito isso na noite passada, ela ainda tinha a justificativa de que estava sob o efeito de álcool. Agora parada na porta do consultório, não havia álcool que a fizesse falar, ela precisava fazer isso por vontade própria. Deu uma última olhada para , que a esperava na sala recepção, e ele sibilou um “vou estar aqui”. respirou fundo e entrou na sala.
Quando entrou naquela sala, sabia que não seria o momento mais fácil da sua vida, mas depois de tudo que vinha passando, ela sabia que era para o seu próprio bem. A conversa com a terapeuta foi dolorosa, embora não tenha contado tudo sobre a sua vida, conseguiu contar o que vinha a incomodando. E tinha razão, assim que saiu do consultório e encontrou-o do mesmo jeito que ele tinha tido que ficaria, ela sabia que ele só queria ajudar. Talvez, no meio de toda aquela loucura que vinha sendo a sua vida, ela estava tendo uma nova chance. Estava começando a se dar uma nova chance.
— Agora eu, realmente, preciso ir. Tenho plantão hoje a noite. — disse, quando pararam em frente ao prédio que morava.
— O que você faz? — Ela perguntou, curiosa.
— Sou enfermeiro. — Então tudo fez sentido na mente de . Principalmente o jeito em que ele cuidou dela na noite passada. — Eu anotei meu telefone no seu celular, desculpe. Mas se precisar de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, pode me ligar.
— Você já fez muito por mim, . Obrigada, de verdade.
— Você tem um novo amigo agora. Amsterdam é linda demais para se viver sozinha.
Pela primeira vez no dia, conseguiu sorrir. Aliviada por ter com quem conversar, por não se sentir tão solitária naquela enorme cidade, e por saber que agora teria um suporte para retomar a sua vida. Abraçou ao se despedir do novo amigo, tendo certeza que voltaria a vê-lo muito em breve. Dessa vez, ela estava disposta a não se deixar levar pela sua mente e seus medos. Tudo ficaria no passado, do jeito que tinha que ser.
Fim
Nota da autora: Eu sempre soube que o Joe foi um anjo que apareceu na vida da Jenna, e ter escrito esse spinoff deles foi muito gostosinho. Eu amo tanto essa amizade que não consigo nem explicar. Se você quiser conhecer um pouco mais da relação desses dois, vou deixar o link da história original aqui embaixo, mas lembrando que esse momento se passa antes da Jen conhecer o pp na fic original. Espero que tenham gostado, até a próxima <3
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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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