Postada: 20/12/2017
“Living easy, livin' free
Season ticket, on a one way ride
Asking nothing, leave me be
Taking everything in my stride”
(Highway to Hell - AC/DC)
’s P.O.V
Há exatos 5 anos entrei nessa jornada em busca de algo que pudesse dar algum tipo de propósito para a minha vida. Nunca fui do tipo fiel a alguma religião, mas sempre acreditei que há algo ou alguém que nos protege ao longo de nossa caminhada na Terra. Contudo, ao longo de todos esses anos me tornei um lobo solitário. Perdi minha família aos 8 anos num acidente de carro e fui encaminhado para um orfanato. Como todos nós sabemos, quanto mais velha a criança é mais difícil fica sua adoção, as famílias geralmente procuram por recém-nascidos ou crianças menores, que são consideradas mais fáceis de lidar. É sempre torturante lembrar de todos os natais em que eu corria pra janela do St. Anthony esperando finalmente aquela família feliz que me daria o lar que eu sempre quis. Como podem ver, eu nunca consegui essa façanha na minha vida. Aos 15 anos eu simplesmente admiti a “derrota” e esperei completar a maioridade pra fugir daquela realidade que não condizia com o futuro que eu queria pra mim.
Aos 18 eu saí do orfanato em busca daquilo que eu não tinha no orfanato: um lar. Quero deixar claro que com isso não quis dizer que eu era maltratado no St. Anthony, pelo contrário. As freiras sempre foram pessoas maravilhosas comigo e as agradeço por tudo que fizeram por mim - dentro do que era possível - acredito que sem elas as coisas teriam sido mais catastróficas. O que esperar de um adolescente sem família, com pouco dinheiro (dinheiro esse que consegui juntar participando de alguns eventos no orfanato) e sem ter pra onde ir? Isso mesmo, entrei no mundo do crime. Quando o dinheiro foi acabando, comecei cometendo alguns delitos, para manter o cubículo em que eu vivia. Até o dia em que conheci . O conheci no dia que a polícia quase me pegou furtando uma velhinha na praça. me ajudou a fugir e nesse meio tempo começamos a conversar. Contei toda minha trajetória de vida até então e que não aguentava a vida de merda que eu levava. Ao ouvir os meus lamentos, me fez uma proposta: a de entrar na gangue a qual ele era o líder. Com eles eu seria temido, não precisaria mais furtar velhinhas indefesas e teria um lugar melhor pra ficar que não aquele “apertamento” em que eu vivia.
Primeiro erro que cometi de verdade: dar ouvidos a um completo estranho. Eu escolhi participar daquilo e por muito tempo aquela vida, aquelas pessoas, aquele status me satisfez. Sete anos depois eu não era mais aquele adolescente magrinho que sofria todas as noites por não ter quem o acolhesse. Eu adquiri fama, me tornei braço direito de , mulheres aos montes e principalmente: dinheiro. Pra mim, aquela era a minha família e eu estava feliz. Bem, isso não é tão verdade assim. Todas as noites que eu conseguia chegar em casa, me perguntava - e continuo a me perguntar - se a minha mãe teria orgulho de mim. A resposta que sempre vinha era um grandioso NÃO.
Certo dia, pilotando pela cidade, nossa turma foi atacada por uma gangue rival, houve uma grande troca de tiros e fui baleado. A bala atingiu uma artéria importante e passei bastante tempo internado no hospital, entre a vida e a morte. Assim que obtive uma melhora considerável, os médicos decidiram me tirar do coma induzido no qual me mantiveram por todo o mês. A equipe médica me parabenizou, pois o meu estado era bem crítico e eu tinha conseguido a proeza de sobreviver. Ao sair do hospital, descobri que havia morrido no tiroteio e Jordan assumiu a liderança dos Sons of Silence*. Depois de todos esses acontecimentos tomei uma decisão na minha vida: largaria tudo aquilo e começaria algo novo em outro lugar. Recomeçar tudo, ter uma vida nova e ir atrás daquele que seria meu desígnio.
É difícil viver dessa forma, sozinho e recluso, mas foi a escolha que tomei há 5 anos. Nesse tempo entrei numa viagem para conhecer a mim mesmo, conheci muita gente interessante que me fez enxergar o mundo de um ângulo totalmente novo. Quando você se depara com os problemas das pessoas ao seu redor, e se coloca no lugar delas, passa a perceber o quanto os seus são pequenos obstáculos que a vida colocou e que você é mais do que capaz de ultrapassá-los.
A minha vida sempre foi repleta de altos e baixos. Por muito tempo foi difícil admitir que as escolhas que tomei no início da fase adulta eram totalmente destrutivas. Em determinado momento cheguei próximo a morte. Lembro que naquele momento alguém me disse que eu não perdi a minha vida, pois ainda não era a minha hora e eu tinha um propósito a cumprir na Terra. Mas qual é esse propósito? Percebi então que aquela frase clichê a qual vejo muitas pessoas se referirem faz muito sentido: “Muitas pessoas não vivem, elas apenas existem”. Era exatamente assim como eu costumava viver, apenas a existência. Um cara no auge da juventude, fazendo coisas escusas, cometendo pequenos delitos, bebendo e se drogando. Okay, você deve estar dizendo nesse momento que é dessa forma que os jovens - não todos - curtem a vida. Essa era a minha vida, vida essa que eu não desejo a ninguém, nem ao meu mais odioso inimigo. Olha, mais uma frase clichê que aprendi a gostar. Com o tempo percebi que o clichê, banal, trivial, todas aquelas pequenas coisinhas que eu considerava chatas quando apreciadas da maneira correta são as melhores coisas que podem acontecer no seu dia. E devemos ser gratos por isso, por que não?
[’s P.O.V. end]
“I've been everywhere
Still I'm standing tall
I've seen a million faces
And I've rocked them all”
(Wanted Dead or Alive - Bon Jovi)
12 de Março de 2012 - El Paso
Havia pouco mais de um mês que entrara em sua jornada de autoconhecimento. Três dias que estava instalado em El Paso, Texas. Não estava acostumado a uma cidade tão grande, pois nasceu e passou toda a sua vida em Rochester, cidade com pouco mais de 200.000 habitantes. Apesar de El Paso ser bem maior que a sua cidade natal, chamou atenção assim que chegou na região. Talvez por seu corpo coberto de tatuagens e sua altivez ao passar pelas pessoas. Ele ainda mantinha o ar de liderança por onde passava e de certa forma ainda transmitia medo em algumas pessoas. Estava se dirigindo a um pequeno bar próximo de onde estava hospedado quando uma cena chamou-lhe atenção. Um homem com pouco mais de 50 anos xingava e agredia uma moça por volta dos 20.
- Sua filha da puta! Onde está o resto do meu dinheiro? Está faltando 100 dólares do seu cachê da noite! - falou o velho com uma aparente cicatriz no pescoço.
- Desculpa, Paul! Meu filho está doente e eu preciso de cada centavo que for preciso para pagar o tratamento dele - respondeu a moça com a voz embargada.
- Estou pouco me lixando para o seu moleque! Resolveu engravidar porque quis, sua vadia imunda. Não tenho culpa se o otário do seu namorado é tão inútil quanto você e não sustenta essa criança - falava enquanto distribuía socos e tapas na moça, que agora tinha sangue escorrendo de seu nariz.
estava cansado de ver a mesma cena se repetindo. Desde quando entrou para os Sons of Silence, todas as noites ele presenciava algo do tipo. Normalmente ele não se envolve nessas questões alheias, entretanto, aquela cena mexeu com ele de certa forma. Correu em direção à briga e socou a face do homem, protegendo a moça jogada ao chão, que sangrava. O homem chamado Paul tentou revidar, mas prevendo o movimento segurou-o pelo pescoço e disse:
- Nunca mais se aproxime dessa mulher novamente, ouviu?
- ELA ME DEVE DINHEIRO!! - disse o homem, raivoso e claramente sob efeito de alguma droga.
- Não me interessa! Se eu souber que você está atormentado-a novamente, irei atrás de você nem que seja no quinto dos infernos. - ameaçou enquanto largava o pescoço de Paul.
O homem levantou-se do chão e pôs-se a correr o mais rápido que conseguiu para longe dali. ajudou a moça a se levantar e tentou secar suas lágrimas. A mesma, sentido ainda as dores dos socos que levou, o agradeceu:
- Obrigada, senhor! Sei que não é obrigação sua defender uma prostituta, mas aquele cara me tortura há tempos. Tenho um filho e ele precisa de cada centavo que ganho durante a noite trabalhando nas ruas.
- De nada e, pelo contrário, foi covardia da parte dele bater em uma mulher, independente do seu trabalho. Além do mais, está bem claro o quanto ele te explorava. A propósito, qual o seu nome? - perguntou , muito curioso sobre a história daquela menina.
- Eu me chamo e você?
- Me chamo , mas pode me chamar de . Estou de passagem pela cidade.
- Vê-se logo que não é da cidade. Faz dois anos que trabalho na mesma rua e nunca ninguém se importou em me ajudar. Na verdade, desde que me entendo por gente, ninguém se importou comigo.
- Por que diz isso? Você me parece tão jovem, não que eu seja muito mais velho que você, mas ao mesmo tempo você me transmite tanto sofrimento.
- Ah, tenho 22 anos, mas já sofri muito nessa vida. Vem, vamos sair daqui. Já está tarde e eu ainda não tive a oportunidade de uma boa refeição - convidou .
levou a um pequeno restaurante que ficava a poucas quadras de onde ele estava hospedado. Era um local simples, bem agradável e convidativo e o cheiro da comida, que pôde sentir assim que adentrou o recinto, era bastante delicioso. Enquanto se acomodavam em uma mesa ao fundo do restaurante, uma garçonete de aparência cansada pelo avançado da hora se aproximou deles com o cardápio e disse:
- Boa noite! Bem vindos ao Ohana’s, qual vai ser o pedido do casal?
- Boa noite! Gostaria de pedir o especial da casa - respondeu , ainda um pouco dolorida.
- Eu peço o mesmo e gostaria também de uma cerveja - respondeu , percebendo que a garçonete o encarava com um olhar questionador.
- Muito bem, trago os pedidos quando estiverem prontos - falou a garçonete e se afastou.
Enquanto a garçonete buscava seus pedidos, pediu licença para ir ao banheiro se limpar um pouco. analisou a menina com cuidado: era baixa, olhos claros, cabelo preto ondulado, seu corpo miúdo escondia tanta amargura com a vida que ele se perguntou como ela conseguia se manter forte mesmo quando a vida parecia querer derrubá-la no primeiro obstáculo.
A garçonete trouxe os pedidos ao mesmo tempo em que retornou a mesa, agora com o rosto mais sereno, limpo dos resquícios da maquiagem pesada que usava e do pouco sangue que havia saído do seu nariz. O cheiro bom de comida fez o estômago de ambos reclamar e passaram a comer vorazmente. Enquanto comiam, perguntou sobre a vida de :
- Ah, , já aconteceu tanta coisa comigo. Mas te resumindo: meu pai morreu quando eu tinha 10 anos em uma tentativa de assalto, infelizmente ele resolveu reagir e levou um tiro, morreu na hora. Aquilo foi um grande baque na minha vida, pois eu era muito apegada a ele, era uma pessoa maravilhosa que encantava a todos que o cercavam. Bem, 2 anos depois a minha mãe se casou novamente com um cara que aparentemente era legal. Com 6 meses morando na nossa casa, comecei a perceber atitudes suspeitas dele. Até que em uma noite em que a minha mãe precisou viajar pra visitar uma tia doente, ele me estuprou. Eu tinha apenas 13 anos e nunca tinha ao menos beijado na vida. Isso perdurou por mais dois anos. Dois anos em que ele me ameaçava dizendo que se eu contasse pra minha mãe, ele mataria nós duas. Não aguentando mais aquela situação, fugi de casa aos 16 anos.
- Caramba, , mesmo eu que sou órfão e passei por bastante coisa estou bastante perplexo com a sua história, ninguém merece passar por esse tipo de coisa, sinto muito.
- Sabe, eu já pensei em suicídio algumas vezes. A primeira quando ainda morava com a minha mãe e o embuste do marido dela. Por muitas vezes eu peguei uma lâmina e cogitei me cortar e acabar com todo aquele sofrimento. A segunda vez assim que fugi, quase me joguei da Brooklyn Bridge. Até que alguém me salvou, alguém que achei que nunca iria me decepcionar. Ele me deu casa, comida, me ajudou em todos os âmbitos. Depois de um tempo começamos a nos envolver, me apaixonei perdidamente e posso dizer que finalmente tive meu momento feliz, até descobrir que estava grávida.
- Já até sei o final dessa história - disse , um pouco exaltado ao ouvir a segunda parte da história de .
- Sim, . Ele me abandonou, abandonou a menina que ele dizia que amava. Abandonou a mãe do filho dele, pior, abandonou o próprio. Mas ele me deu o . E, Deus, se aconteceu algo de bom na minha vida foi o meu filho. Se eu ainda levanto e fico de pé todos os dias, enfrentando o mundo cão em que vivemos é por ele. E eu o ensinarei que não se mexe com garotinhas indefesas enquanto a mãe está viajando. O ensinarei que não se abandona um filho só por não se sentir preparado. O ensinarei que a vida não é fácil, mas que devemos ser fortes o suficiente para encará-la de frente e ele estará preparado para ultrapassar qualquer obstáculo que lhe impuserem.
- Quantos anos tem o seu filho agora?
- Três anos, e foi com ele que eu descobrir o significado do verdadeiro amor.
- Sabe, , tenho certeza que quando o pequeno tiver idade suficiente para entender o que ocorre ao nosso redor, ele perceberá o quanto a mãe dele é uma guerreira, sentirá o maior orgulho por ser seu filho.
Depois a conversa se estendeu por mais algum tempo com falando sobre a sua vida e de como havia decidido entrar numa jornada de autodescoberta, procurando sobre o verdadeiro sentido da vida. ouvia quietinha cada detalhe da vida de , questionava sobre alguns pontos. Por fim, a mesma teve que se despedir porque precisava descansar da noite tumultuada que teve e o pequeno chegaria em casa logo cedo pela manhã (da casa de sua amiga Jenny, que cuidava do pequenino todas as noites enquanto “trabalhava”). Antes de ir, se despediu e ela falou algumas palavras que deixaram reflexivo sobre algumas questões:
- , sei que és um viajante agora e que provavelmente nunca mais nos veremos. Primeiro de tudo gostaria de te agradecer por me defender e pela maravilhosa conversa que tivemos. Pude aprender algumas coisas com suas experiências, assim como espero que tenha aprendido com as minhas. Porque a vida é feita disso, aprendizagem. Não se martirize pelas escolhas que você tomou quando tinha a minha idade. Você precisava perceber que aquele caminho não era o certo, demorou um pouco e precisou de consequências mais sérias, mas você finalmente percebeu. Só por ter me defendido hoje já mostra o quão humano e empático você pode ser. Por fim, o sentido da vida é único, . Cada um de nós vai procurar um objetivo na vida para alcançar e que será diferente de todas as outras pessoas. Esses pequenos momentos que devem ser valorizados. Ajudar uma pessoa na rua, ver o sorriso do seu filho toda vez que te vê em casa, se sentir feliz ao ver um casal de velhinhos namorando na praça. Pra mim, esse é o verdadeiro sentido da vida. Espero de coração que encontre o seu objetivo.
observou se afastar pela porta do pequeno restaurante. Nunca ficou tão agradecido de ter defendido uma completa desconhecida em uma rua escura.
“What you don't have you don't need it now
What you don't know you can feel it somehow
What you don't have you don't need it now
You don't need it now
Was a beautiful day”
(Beautiful Day - U2)
07 de Outubro de 2017 - Los Angeles
Pouco mais de cinco anos atrás, iniciara uma busca pelo motivo divino que o tinha feito permanecer na Terra após seu período de coma e quase perder a vida. Ao longo dessa pequena jornada, ele viajou de uma costa à outra dos Estados Unidos. Conheceu o mais variado tipo de pessoas, desde crianças a pessoas da terceira idade. Pelas várias cidades que passou, teve algumas experiências que o tornaram a pessoa que ele é hoje. Hoje, sabe que os caminhos destrutivos que ele escolheu no passado de certa forma o engrandeceram. Sobreviver àquele tiroteio o fez enxergar que a vida é muito mais do que ter poder e dinheiro. É muito mais do que ter aquele emprego dos sonhos e ter uma vida financeira estável.
Viver é acordar todos os dias e ser grato por isso;
Viver é chegar em casa cansado e ser recebido pelas lambidas animadas do seu cãozinho;
Viver é correr no parque, parar para tomar sorvete e se animar em ver as crianças brincando;
Lições que ele aprendeu com uma jovem mãe e prostituta - uma verdadeira sobrevivente - que colocava sua vida em risco todas as noites para dar ao seu filho uma vida melhor do que ela teve. Depois daquela noite em El Paso, nunca mais teve contato com . Mas jamais esqueceria como aquela conversa, tarde da noite num pequeno restaurante da cidade, o ajudaria a nortear sua jornada dali pra frente.
♬ Always living life, living life, living just to please ♬
Fim.
Nota da autora: HELLO gentis *-*
Pra quem não sabe esse é meu segundo ficstape no site, minha segunda vez que escrevo um pouco mais sério, que pessoas "desconhecidas" estão lendo minhas histórias. Estou habituada a escrever histórias eróticas, então PERDOEM qualquer erro e espero receber o feedback de vocês. Não se acanhem em fazer críticas pq vou adorar que vocês participem das minhas histórias, okay?? Xero da May
Outras Fanfics:
I Want You Back - Awesome Mix - Guardians of the Galaxy
Nota da beta: É isso aí, minha gente, a vida é feita de decepções, de cometer erros, aprender com eles e seguir em frente. Todo dia é um tapa na nossa cara, um aprendizado sempre né. Adorei a fic, dá pra dar uma viajada e refletir bastante hahaha Parabéns, Mayara!!! Xx-A
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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