Postada em: 11/01/2018

Capítulo Único

Se você fosse um turista passando por uma cidadezinha no interior da Áustria com certeza conseguiria ver a Mansão Küning, rodeada por um campo de edelvaisses, deixando o campo branco por muitos kilômetros.
Ainda assim, a cor vermelha por ser de tijolos à vista se destacava naquela imensidão branca, verde e azul. No verão, um dos melhores lugares para se aproveitar o bom tempo era ali. E todos sabiam disso, mesmo que só jovens-adultos acabassem por invadir o lugar.
A família Küning já tinha passado por muito sofrimento, decidindo deixar a Mansão como um prédio tombado pelo governo, assim não precisariam mais se preocupar com a casa. Mas foi aí que ela ficou abandonada.
sentia que não devia estar ali. Mesmo assim, pulou a mureta que separava o lindo campo de edelvaisses da rodovia, e continuou andando, coletando umas flores no caminho, aproveitando a linda paisagem veraneira que presenciava.
Ela abriu a porta com mais facilidade do que esperava,levantando uma enorme quantidade de poeira e encontrando móveis detonados por conta de maus cuidados, além de uma grossa camada de poeira em todo canto da casa, que fazia seu nariz coçar.
Ela tossiu e abanou o ar com as mãos, numa pequena tentativa de fazer com que aquele ar parado e com cheiro de coisa abandonada saísse de perto dela. Inutilmente, porque só de olhar para a sala de estar já percebera que seria um longo dia para limpezas.
Ela colocou as flores em um vaso que ficava no pequeno hall de entrada, onde tirou seus tênis e seu casaco, podendo, finalmente conferir o resto da casa. A sala de estar parecia imune à passagem dos anos. O mesmo sofá continuava ali, da mesma forma, no mesmo lugar. Os tapetes, a mesinha de centro, tudo era muito antigo. O que quebrava o ar de casa antiga era a televisão que estava presa na parede, em cima da lareira.
Apesar do desgaste, tudo parecia igual ao que lembrava. Até mesmo a toalha da mesa da sala de jantar, o florido com girassóis, estava no mesmo lugar, do mesmo jeito. Só estava muito empoeirado.
Ela prendeu o cabelo e começou o trabalho de arrumar a casa abandonada. Era um trabalho que fazia todo ano, e gostava muito de fazer, fosse porque ela era apaixonada pela história da casa, ou porque esse trabalho era uma meta pessoal.
Começou tirando todas as toalhas de todas as mesas espalhadas pela casa, colocando na máquina de lavar que tinha escondido no porão. Lavou o chão, o banheiro inteiro, até lavou a seco os sofás e poltronas que estavam espalhados pela casa.
Foi um trabalho exaustivo, mas assim que a noite caiu, a casa já não estava mais empoeirada, já não tinha mais o cheiro de mofo e era a única que estava fedendo. Mas estava chegando a hora. Talvez tinha mais duas horas para terminar tudo.
Ela foi para a cozinha, abrindo sua mochila e tirando de lá uma bolsa térmica com carne já temperada dentro. Ela ligou o forno e colocou a carne lá dentro, para começar a assar. Também separou todos os legumes e o arroz que prepararia, e então subiu para tomar um banho.
Ela ligou o chuveiro, deixando a água gelada cair pelo corpo, aliviando seus músculos que estavam doloridos. Se espreguiçou, ouvindo alguns estalos nas costas e nos ombros. Achava que estaria cansada, que se fechasse os olhos ela dormiria, mas pela primeira vez ela se sentia animada com tudo aquilo.
Colocou um vestido rosa, delicado, com sapatilhas pretas. Deixou seu cabelo secar naturalmente e desceu, para terminar o preparo da janta. Sabia que faltavam poucos minutos para a loucura começar.
Ela estava na cozinha refogando os legumes, quando ouviu a porta da frente ser aberta. Sentiu a brisa que vinha de fora se misturar com o calor que o forno fazia a cozinha ter. E sorriu. Finalmente.
Ela sentiu mãos geladas tocarem seu rosto, a impedindo de ver. Sentiu o corpo tão gelado quanto as mãos se aproximar do dela, e uma voz rouca sussurrar em seu ouvido.
— Adivinha quem é! — a voz masculina a fez sorrir.
se virou, ficando de frente para o homem, sem mesmo se dar a chance de vê-lo, o beijando, antes mesmo de dizer algo. Ele sorriu para ela.
! — ela o abraçou. — Você nunca se atrasa.
O corpo dele estava gelado, mas ainda assim era delicioso sentí-lo tão próximo dela. O cheiro dele continuava o mesmo, não importava quantos anos já tinham se passado. Era um suave cheiro de edelvaisse.
— E você sempre vem! — ele a abraçou de volta. — E deixou a casa cheia de edelvaisses! — ele mostrou o buquê em sua mão. — Até parece que não estamos cercados por essas flores.
voltou a encarar o fogão, terminando de cozinhar os vegetais enquanto dava uma olhada em toda a casa, para ver se não tinha algum grupo de adolescentes planejando invadir o ambiente e fazer uma festa alternativa ali.
Ele desceu as escadas, observando a moça terminar de fazer a janta. Queria ser tão habilidoso quanto ela é, mas todas as vezes que ele tentou surpreendê-la foi um caos. Fogo para todo lado, pessoas gritando com ele.
— Será que não ficou muito exagerado? — ele perguntou, se aproximando da janela. — Digo, esse campo de flores.
— Você quem quis que fosse assim. — ela levantou as mãos. — Eu só sigo ordens. — e piscou para ele.
levou o jantar para a mesa, colocando a cerâmica apenas para dois. a ajudou, levando algumas garrafas de vinho e o assado. Seria uma longa noite, que sempre começava com um jantar.
— Você cortou o cabelo.— ele disse enquanto cortava a carne. — Ficou diferente. Gostei.
— Obrigada. — ela sorriu, servindo para os dois os legumes refogados.
— E o cheiro da comida está delicioso. — ele sorriu, pegando seu prato e dando uma garfada. — Como eu sinto falta dessa comida!
— Da minha comida ou de comida no geral? — ela se sentou, também começando a comer.
— Da sua comida, óbvio.
parecia estar se deliciando ali, o assado estava perfeito, assim como o resto da comida. não deixara de notar que ele parecia muito mais magro e muito mais pálido do que ele costumava ser. Seus ossos pareciam saltados, os olhos estavam fundos e com marcas roxas de quem não dormia bem.
— Você anda se alimentando?
— Claro que sim! — ele sorriu, mas desfez o sorriso assim que olhou para a moça. — Tá, talvez eu esteja bebendo só sangue. Mas é mais fácil de conseguir, e ninguém percebe porque estamos em guerra.
— Nós não estamos em guerra, . A Áustria não entrou em guerra nenhuma.
— Mas sempre tem algum massacre acontecendo aqui por perto. Ou um atentado na França, ou no Reino Unido. E é fácil ir para esses lugares conseguir o que eu quero.
— Você virou um andarilho? — ela havia parado de comer. — Talvez o melhor seria voltar a como as coisas eram antes. Amanhã eu dou uma ligada pros Küning e acertamos tudo para que essa casa não fique abandonada e você more nela.
— E eu vou me alimentar como? Com assados? Você sabe que eu preciso de sangue. E outra, eu não quero os Küning metidos nisso.
— Se não fosse pelos Küning você estaria morto!
, eu não quero discutir isso. Não agora.
— Não ! Você não pode ficar sumindo e voltando uma vez na minha vida e outra vez na minha morte! Eles são sua família, deixe eles ajudarem.
— Eles já ajudam muito não vendendo essa casa. — ele disse em muxoxo.
— Amanhã mesmo eu falo com eles. — ela bufou.
— Mande um abraço à todos. — ele sorriu, aquele mesmo sorriso irônico que tinha vontade de quebrar.
voltou a comer, prestando mais atenção nos sabores da comida que explodiam em sua boca, do que o sabor amargo que sentia por causa da conversa. também voltou a comer, mas não conseguia enrolar tanto quanto ela.
— Eu não virei um andarilho. — ele limpou a garganta para continuar. — Mas nas nossas condições, é um pouco difícil não viver de outra forma. — ele se levantou, se sentando ao lado dela. — Não vá falar com os Küning, a última coisa que preciso é dos meus netos vindo atrás de mim.
— Eles também te amam, sabia?
— Então você já foi atrás deles? — ele olhou desconfiado para ela.
— Eu meio que estou trabalhando para eles. — ela segurou as mãos dele. — Sabe como é, né? Família em primeiro lugar. — ele olhava para ela, reprovando o que estava falando. — A verdade é que Hanz me procurou, disse que tinha uma vaga como secretária. E eu aceitei. Eu preciso desse dinheiro. E ele é um bom chefe.
— É bom que te tratem bem, ou eu juro que faço uma pequena aparição para ele à noite…
— Ele ia adorar isso. — ela sorriu. — Eles sentem a sua falta, sabia?
— Mas eu não posso aparecer entre eles. Hanz já tem quanto? Sessenta anos? Imagina eu do lado dele e ele me chamando de avô. Não dá.
— Eles inventam alguma história. Um certificado de nascimento ali, alguma história triste e bum, você nem precisaria mais ter que ficar nessa casa.
— Eu achei que você gostasse dessa casa.
— Eu amo! Mas , você precisa entender que está se isolando de quem te quer bem. Só… Pense a respeito, tá bom? E não faça visitas ao Hanz, a não ser que você vá matar a saudade.
Ela deu um beijo em sua bochecha e voltou a comer. Todo o trabalho que tinha feito a deixara com fome. E também era uma boa forma para se perder em seus pensamentos e deixar considerar o que ela tinha acabado de contar.
O jantar acabou por ser silencioso. Esperavam dividir histórias de tudo o que tinha acontecido nesse último ano que passaram separados, mas já tinham se acostumado tanto ao silêncio e à solidão que nem se incomodaram por como acabou sendo.
— E como andam as coisas? — ele perguntou, enchendo sua taça novamente com vinho.
— Normais. E como foi esse último ano?
— Tudo parece tão diferente. — ele bufou. — Quando eu podia sair livremente durante o dia, as brigas eram por outros assuntos. Agora não tem como fugir das guerras e de ataques políticos. Parece o fim dos tempos.
— Não deve ter sido fácil.
— Nem um pouco! O tanto de crianças desamparadas, de corpos mutilados. É horrível. Eu sinto como se eu nem precisasse mais ir pro inferno. É só vivenciar ataques assim.
— Então… Sangue humano, heim?
— É. Foi a minha única alternativa. E lá é tão fácil por causa dos corpos, que nem parece que alguém sugou todo o sangue daquelas pessoas que já estavam mortas.
— Só toma cuidado. Da última vez que você bebeu muito sangue humano começaram um boato de um Chupa Cabra. Novamente! E eu não aguento mais ter que te acobertar!
Ela riu, e ele acabou rindo junto com ela. Todas as histórias e teorias malucas que teve que deixar ainda mais malucas para que ninguém acreditasse que um vampiro existia. Esse tipo de coisa deveria continuar pertencendo no imagnário da sociedade.
Sem contar que, das poucas vezes que vampiros tentaram falar com os humanos, acabaram que por seres expostos, como aconteceu com Drácula. Ele contou sobre suas fraquezas, e um autor colocou de forma que todo vampiro não sobreviveria se exposto ao sol. O que claramente era uma condição que só esse vampiro tinha, já que vampiros poderiam ser considerados criaturas noturnas, por serem mais ativo durante esse período, mas não necessariamente entrariam em combustão espontânea se entrassem em contato com a luz solar. Até porque a luz lunar também era solar, só que com menos intensidade.
observou se levantar com as louças, andando até a cozinha. Ele a acompanhou até o ambiente, enquanto começava a contar uma história engraçada desses últimos tempos. Era bom vê-la sorrindo. Ainda mais por ser apenas um dia a cada ano. Depois tudo se esvaíria novamente.
Ele a puxou para perto, a envolvendo em um abraço. Apesar de tudo, não sabia se contato físico era algo que ela gostava, já que ele sempre fora muito gelado. Mas pareceu confortável, ainda mais se envolvendo no abraço dele.
— Eu senti falta disso. — ela sorriu, caminhando para a sala de estar. — Por que não fazemos isso mais vezes mesmo?
— Porque é perigoso, e você pode se machucar? — ele se aconchegou no sofá com ela.
— Mas já fazemos isso por… Quanto tempo? Três anos?
— Quatro. — ele sorriu. — Quatro anos já.
— Tudo isso? — ela soou assustada. — Já se passou tudo isso? — então se sentou, olhando para ele. — Assim não dá, você está me enrolando, senhor! A gente não está em um relacionamento sério! Não dessa forma!
— Não? — ele perguntou rindo. — Então permita que eu te mostre.
Eles se levantaram, e a puxava pela mão pelos corredores, onde milhares de quadros estavam pendurados. Nem todos eram retratos de , alguns eram da enorme família Küning em seus dias gloriosos, mulheres com vestidos enormes e cheios de camadas, enquanto homens usavam ternos clássicos e soavam sérios.
— Você já se acostumou com essas pinturas. Mas sabe qual o grande problema dessas pessoas? Elas mentiam constantemente sobre quem eram, para poder se mesclar na sociedade. Essas mulheres sofreram muito, . E eu não quero que você passe por isso também.
cruzou os braços olhando para . Odiava parecer uma criança mimada, mas também queria ter certeza que estava fazendo as escolhas certas para a vida. Tem um encontro por ano parecia ser a coisa mais absurda para um casal.
— Você tá parecendo aqueles vampiros daquele livro, Crepúsculo. — ela bufou.
— E? — ele riu. — Antes parecer um galã do que a versão humana velha de um Chupa Cabra. — e deu de ombros.
— E não contar sobre você pros seus netos é bom por quê?
— A família agora é muito mais humana do que vampira. Não quero forçá-los a passar por isso também. A mentir descaradamente sobre esse primo distante que na verdade é o avô. Sem contar que, com a tecnologia de hoje, as pessoas tirariam fotos minhas e logo perceberiam que eu não envelheci nada. Daí encontrariam fotos minhas em mil e quinhentos e tudo o que eu menos quero é gente vindo atrás de mim. Com estacas de madeira, crucifixos, água benta e alho.
riu com . Todas as vezes que a sociedade europeia viveu uma histeria coletiva não acabou bem. Quando começaram a achar que vampiros os perseguiam, as pessoas começaram a abrir túmulos de famílias e colocar estacas de madeira nos corpos, a enterrar pessoas com alho, e continuar queimando pessoas, assim como fizeram na caça às bruxas.
— E como eles estão? — segurou a mão dele. — Essa parte da sua família.
— Acho que a grande maioria foi pra América do Sul. — ele riu. — Lá é quente, tem aquele clima tropical, e eles conseguem se mesclar melhor com as pessoas. Duvido que tenham ido pro extremo do continente, onde neva e é muito frio. Eles devem mesmo estar pelo Brasil, se fingindo de turistas. É a cara deles.
— E você tem vontade de ir pra lá?
— Claro que não! — ele riu. — É muito quente lá. Eu fui, logo no começo, mas não aguentei a temperatura. Prefiro ficar aqui.
— Você prefere ficar morando do Iraque, qual é o seu problema?
— Meu problema é poder te ver por pouco tempo. — ele sorriu, se aproximando de dando um selinho nela.
— Eu já falei, vamos conversar com o Hanz…
— Se eles fizerem isso, as pessoas perceberão o movimento na casa.
— Claro que perceberão! Eu me mudo pra cá!
— Longe de tudo?
— Não! Eu consigo trabalhar pela internet, esse novo meio de comunicação, que talvez você não conheça direito. — ela mostrou a língua para ele. — E então podemos viver aqui, só nós dois.
— Esse é o plano perfeito. — ele sorriu. — Mas, você acha que daria certo?
— A gente sempre pode tentar.
Ela aproximou seu corpo do dele. o beijando novamente. O sabor do vinho ainda estava em sua boca, mas ela percebeu que também sentia o gosto de ferro. a puxou ainda para mais perto, a envolvendo em seus braços, segurando seus cabelos pela nuca.
O calor que emanava o deixava mais à vontade naquele ambiente. Não importava quantas vezes ele voltava para essa casa, ainda se sentia um intruso nela. Mas , ela impedia que esse sentimento de intrusão o dominasse.
Mesmo que soubesse que estava errado, nunca dissera isso com todas as palavras. Ela sempre o acomodou, não importava o ambiente, ou o horário que ele aparecia. Ela era o lar dele, não qualquer prédio que pudesse ser construído. era mais sólida do que qualquer construção que ele já viveu.
E ela também o deixava tão à vontade nas intimidades dela, que se sentia triste por não conseguir fazer a única coisa que ela queria. Mas seria complicado e não queria ter que forçar outra pessoa a viver toda uma vida de incertezas de novo.
Ela o puxava para mais perto, enquanto os dois continuavam a se beijar. Talvez ela tenha mesmo sentido o gosto das misturas que tinha feito em sua bebida, mas nem isso ela reclamou. Ela o fazia se sentir seguro, algo que ambos não sentiam fazia muito tempo.
E ele continuava gelado, mesmo que tenha sugerido que acendessem a lareira, mesmo que ela morresse de calor. Os braços dele pareciam ser gelo revestido por uma fina camada de pele humana, mas não podia negar que não amava a sensação que a fazia ter.
Ele era tudo o que ela mais precisava, mesmo com os sumiços. Ela não queria estabilidade na vida dela, como imaginava. Ela queria estabilidade com ele, e não só poder ter um encontro por ano. E alguns que eles não contavam, por não ser na casa. Mas era tudo na vida dela. E ela não queria perdê-lo.
— Eu te amo, sabia? — ele sussurrou em seu ouvido.
— Eu também te amo. — ela respondeu, voltando a beijá-lo.
então se afastou dela, irrompendo o momento romântico que tinham. Sabia que aquilo era errado, mas não conseguia resistir à . A moça o olhava tentando entender se tinha acontecido algo para deixá-lo desconfortável. Aquelas palavras já foram ditas várias vezes pelos dois para o deixar nervoso daquela forma.
Suas mãos procuraram as dele como se apenas o contato delas já o acalmassem. Ele andou até um dos cômodos onde era capaz de encontrar uma tela branca esperando para ser pintada. Ele olhou para ela, e ela sorriu, se sentando na frente dela.
— Pinte-me como uma de suas francesas. — ela disse em tom cômico, forçando uma pose espalhafatosa.
— Argh, eu odeio quando você cita esse filme. — ele bufou, se sentando e olhando para tela.
Ao contrário do que se esperava, era comum essas mudanças de humor de . Só mais algo que já tinha se acostumado com o passar dos anos. Não era por maldade que ele fazia aquilo, mas ele mudava de assunto muito rápido ou ficava entediado muito mais fácil. Nunca terminara de ver aqueles filmes de super heróis pois são muito longos para ele conseguir se concentrar.
Ela apenas seguia o fluxo que tinha, e até gostava disso pois nunca se sentia entediada ou inativa, por causa das loucuras que ele tinha vontade de fazer no pouco tempo que ficariam juntos.
— Pra onde você vai? — ela irrompeu o silêncio. — Depois de hoje?
A mão dele se movia rapidamente entre a tela e as tintas, mas ainda assim a respondeu na mesma hora.
— Talvez Romênia. Quero ver dragões.
— Dragões? — ela pareceu surpresa. — Como eles são?
— Basicamente lagartos enormes. Mas são legais. Alguns deixam você se aproximar e fazer carinho. Outros são mais brutos e selvagens.
— Então você não quer nem tentar? Nem dessa vez? Nem falar com Hanz?

— Eu sei que é difícil pra você ter contato com outras pessoas. Mas achei que comigo seria diferente. — ela movia os braços de forma espalhafatosa. — Mas não me venha dizer que é, quando você já tem planos para amanhã e esses planos não são comigo.
Os olhos dela se enchiam de lágrimas. parou o que estava fazendo, se sentando ao lado dela na enorme poltrona, a abraçando. Ele a sentiu quente, tão real e tão próxima dele, que também sentiu seus olhos começando a arder.
— Que tal eu te mostrar a pintura? — ele sorriu. — Ficou linda.
se levantou, correndo até a tela e observando seus cabelos longos como usava uns dois anos atrás. Ela sorria no retrato, mas estava mais magra. Agora ela já tinha ganhado peso novamente, não parecia mais alguém doente, como sempre perguntavam à ela. E mesmo que ela estivesse, qual era o grande problema?
a abraçou novamente, e os dois foram enfim para o quarto, descansar depois do grande dia que tinha acontecido.
estava tão calma dormindo que desejava parar o tempo e viver aquele momento para sempre. Era tão difícil para ele deixar se levar por momentos como esse que sempre acabava voltando à mesma casa, para ver a pessoa que tanto amava.
Ele acabou por adormecer, e acordou com os raios de sol que vazavam pelas cortinas que batiam em seu rosto. Ele não se moveu até ficar incomodado pelo calor, se virando e esticando o braço, tentando alcançar , mas ela não estava mais na cama.
O coração de apertou, e ele se levantou assustado. Sentia as pulsações mais rápidas e fortes, assim como sentia o rosto ficando quente e os olhos ardendo. As horas passaram muito mais rápido do que ele sentira.
Esse era o grande problema, o final do dia deles, e o começo de um novo dia. Sempre pensara em como era poético falar que era um começo de um novo dia sem , mas no caso era só um de vários. Ele já estava acostumado com isso.
Ele desceu as escadas, percebendo que a casa estava novamente toda empoeirada. Qualquer sinal de que tinha passado grande parte do seu tempo limpando aquele lugar parecia ter sido em vão. Estava tudo sujo e nojento novamente.
O cheiro de pó o lembrava que também estava chegando a sua hora de partir. Talvez ano que vem ele não voltasse. Talvez ano que vem seria diferente, e ele não voltaria mais àquela casa, cheia de edelvaisses que ela tanto amava.
Ele parou no corredor, observando um dos retratos da parede onde uma moça de longos cabelos sorria para quem estivesse olhando para ela. O sorriso dela era brilhante, e ela fora capturada em um momento tão sublime. Ela parecia delicada, mas ao mesmo tempo muito forte, doce e brava, tudo ao mesmo tempo. Ele sorriu ao vê-la.
Embaixo da pintura estava escrito quem era, com uma data. Ele odiava ter que ler aquilo, mas era sempre o que o fazia voltar à realidade.

Küning
12/12/1990 - 05/09/2015




FIM



Nota da autora: Olá! Primeiramente muito obrigada por ler a fanfic! House of Memories começou como uma fanfic desse reboot de Ducktales, mas logo eu descatei da ideia para escrever essa, que eu gostei muito mais. haha Espero que vocês tenham gostado! Eu me senti muito na época que eu escrevia fanfics de Crepúsculo. Muito obrigada mesmo por ler! Lola





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