Capítulo Único

Dentre as luzes da vasta cidade dos anjos, o caos das buzinas dos automóveis e murmúrios de pessoas preenchiam a principal rua da Hollywood Boulevard. Sábados à noite eram perfeitos para uma boa balada, passeio casual ou até mesmo uma tranquila caminhada na calçada fama iluminada pelos holofotes locais, entretanto, naquela noite, a atenção virava-se toda para a grande festa em uma das coberturas mais cobiçadas da cidade, onde milhares de empresas jornalísticas se reuniam em comemoração a nova sede da TMJ, uma das maiores emissoras televisivas do país. De fato, era uma grande festa onde a exuberância ultrapassava os limites e a riqueza daquela gente ultrapassasse os bilhões de dólares, e era por tal questionamento que analisava mais uma vez seu longo vestido vermelho que chegava a ser justo até a cintura, deixando a longa saia esvoaçante quase chegar ao chão, deixando apenas uma fenda na perna direita para completar toda sua elegância.
— Tem certeza que estou vestida a caráter? Talvez eu devesse ter pego aquele vestido azul coberto de pedrarias. Seria mais elegante, não seria? — perguntou a morena quase histérica ao seu olhar novamente no espelho do elevador, encarando sua amiga e sócia pelo reflexo.
, é apenas uma festa e não seu encontro com a realeza, que por sinal, se fosse, esse vestido estaria super inapropriado. — comentou referente ao decote em V coberto pelas pedras brilhantes de um colar longo, dourado e delicado que caia sobre seu busto.
— Você acha que está indecente para a ocasião? Tá vendo, deveria ter pego aquele azul…
— Para você virar um cosplay de um globo de luz ambulante? De jeito nenhum, fingiria que nem te conhecia. — deixando um suspiro cansativo sair pela boca, virou em direção a amiga, esperando que ela fizesse o mesmo. — Se você não tirar essa paranoia da sua cabeça, eu juro que volto esses trinta e quatro andares sozinha e vou para casa. Já te disse, você está linda, está parecendo aquelas modelos de propaganda de perfume com aqueles vestidos maravilhosos. A moda hoje em dia é sutileza junto com glamour e não pedras sobre pedras.
— Se você diz…
— Pois digo mesmo, não passei quase seis anos da minha vida na seção de moda para vir uma aspirante da comunicação me dizer o que é ou não é certo. — ajeitou o batom vermelho antes de continuar. — Você é minha chefe e te respeito por isso, mas também é minha amiga e às vezes me tira do sério.
a olhou incredulamente, como assim ela que a tirava do sério? Era ao contrário e com certeza tinha mais provas contra a amiga do que tinha com ela. Toda sexta-feira insistia em sair mais cedo com a desculpa de que iria visitar os pais, mas na verdade se mandava para alguma festa e só retornava tarde da noite a ponto de diversas vezes, ter que ir atrás da garota para levá-la para casa. Seus atrasos constantes beiravam os dez a vinte minutos e nem por isso jogava na cara dela do quanto odiava aquilo. Se fosse em outra empresa, com certeza já estaria no olho da rua, mas não a demitiu não por causa de sua amizade, mas da eficiência que a mulher tinha como gerente da seção Moda & Beleza da revista Faces! Depois de ter conseguido a tão sonhada promoção e seu lugar no cargo de chefia geral, reorganizou todo o local, escolhendo os melhores para obterem os mais importantes cargos e não se arrependeu. Sua equipe era uma das mais cobiçadas do mercado e as vendas só subiam assim como a audiência do público. Entretanto, teve que guardar sua boa e bela resposta ao perceber que já havia chegado ao último andar lotado de homens engravatadas e mulheres elegantemente em seus longos vestidos. Um dos garçons logo parou ao lado das duas oferecendo-as uma taça de champanhe.
— Hum, e dos bons. Adoro! — comentou, erguendo a taça em direção a onde ambas fizeram um brinde, virando quase todo o líquido garganta abaixo.
— Para começar bem. — comentou. — Mas tenho que me controlar, é uma festa importante e não quero me descontrolar no meio de pessoas importantes. Embarcando na festa, conversas e risadas se misturaram entre os goles das bebidas e petiscos que iam aparecendo aos poucos. A música alta animava o ambiente onde um DJ não brincava em serviço. A brisa de Los Angeles agitava os fios de cabelos meio presos de enquanto a mesma conversava com um de seus antigos sócios que mudara de marca recentemente. Talvez um novo contrato fosse feito e ela mal via a hora da empresa crescer ainda mais. Assim que o rapaz se afastou, despedindo-se com um abraço um pouco mais íntimo, a atenção de voltou-se para o homem um pouco distante que fechava o círculo entre os três caras que ela tanto conhecia. Mas aquele quarto, ah, ela conhecia ainda mais. Dentro de um terno bem costurado e de coloração azulada escura impecável que contornava seu corpo encorpado, assim como seu topete bem alinhado e sua barba um pouco aparente, mas bem feita, o homem esbanjava aquele tão velho sorriso torto, que ela conhecia tão bem, com uma boa mistura de sarcasmo, enquanto descaradamente, a devorava com o olhar. Não sabia ao certo qual era daquela estranha sensação quente que iniciara em si, mas teve que manter a compostura ao perceber que o homem, agora, caminhava em sua direção.
— Não sabia que nessa festa aceitavam pervertidos, já estava quase chamando um segurança para te retirar. — comentou atiçando um riso galanteador do rapaz que logo colocou as mãos nos bolsos.
— É proibido olhar para as pessoas agora?
— Olhar, não sei, mas quase engolir a pessoa, é um tanto quanto invasivo. A menos que você seja algum predador, se já não é. — bebericou um pouco do vinho em mãos, mantendo o olhar o rapaz. — O que você quer aqui, ?
— Você tem uma imagem tão errônea de mim, , que não sei se fico chateado ou lisonjeado por ter, pelo menos, me construído em sua mente.
— O que você quer aqui mesmo? — continuou a mulher.
— Não posso vir elogiar as pessoas? — indagou ele de forma divertida. Por um instante, a feição séria e incomoda de foi se tornando mais leve ao perceber a boa vontade de , afinal, ele realmente apenas tinha se aproximado sem dizer muita coisa, só impôs sua presença, porém, a mesma não iria se culpar pelo modo como havia falado com ele, o conhecia muito bem a ponto de saber como era a índole de . Esperou então que ele continuasse cruzando os braços abaixo do busto, chamando a atenção do rapaz que logo aumentou seu belo sorriso, virando-se para . — Senhorita Cortez, verdes combinam bem com seus olhos, está deslumbrante e totalmente atraente.
— Obrigada, . — respondeu com uma certa desconfiança na voz. Assim como a amiga, a loira já sabia do típico papo do homem e principalmente a conturbada relação da empresa que ele chefiava com a que ela trabalhava. — Seja lá o que for isso…
— Apenas um sincero elogio. — ele respondeu, tornando novamente a olhar para dos pés à cabeça com um sorriso travesso nos lábios.
— Pronto? Já elogiou, já fez sua cena, marcou presença, agora pode dar o fora daqui? — indagou, impaciente, mas apenas riu, trocando o peso das pernas e ajeitando ainda mais sua postura ereta.
— Estamos na mesma festa, não há motivos para eu sair.
— Claro que tem. Preciso conversar sobre alguns trabalhos com minha amiga, coisa na qual não te pertence.
— Em uma festa? — arqueou a sobrancelha, bebericou o vinho na taça que pegara minutos atrás quando um garçom passou por perto. — Não é meio… inconveniente?
Ela não sabia por quanto tempo sua paciência aguentaria a intromissão de em sua vida. Mais paciência do que ela costumava ter a mesma estava tendo, se fosse anos atrás já teria explodido e o mandado para o quinto dos infernos, mas graças as suas aulas periódicas de Yoga e seu crescimento na empresa, havia aprendido a controlar seus estresses e surtos, afinal, a inconveniência estava presente em todos os lugares, principalmente em pessoas importantes no ramo. Não poderia perder grandes chances assim. Respirando fundo, pediu a todos os santos que afastasse o rapaz dali ou ela mesma faria a justiça com as próprias mãos.
— Eu vivo pelo meu trabalho, , achava que você sabia disso. Minha dedicação é o que mantém a minha empresa crescendo, ao contrário de certas empresas que só vai ladeira abaixo.
Que tinha sido uma indireta para ele, ah, ele sabia, tanto que seu semblante se fechou e um movimento rápido de passar as mãos entre os fios do cabelo, não se importando se bagunçaria ou não, entregou um certo incômodo com a fala da mulher que abriu um sorriso vitorioso. poderia ter toda elegância de uma mulher de negócios, mas também sabia como jogar sujo e incomodá-lo como ninguém. Mas não teve tempo de formar uma boa resposta, como nos velhos tempos, a presença de um velho conhecido surgiu entre o trio, chamando-os atenção.
— Sra. , Sr. , fico feliz de encontrá-los aqui. Uma bela festa, não é mesmo? — o velho de um enorme bigode pronunciou em um tom divertido, cumprimentando a todos.
— Sr. Marshall, que surpresa em vê-lo por aqui. — comentou com um tom mais íntimo, o que intrigou .
Sr. Marshall era um dos nomes mais reconhecidos na cidade, e mundialmente, principalmente na área televisiva onde costumava ser um importante homem entre as imprensas mundiais. Assim como sua importância era conhecida, a fama do “difícil de fechar contato” também era. Para agendar uma simples reunião era necessário ligar com quase um mês de antecedência e se ainda tivesse horário. Por essas e outras que só havia tido contato com o velho pouquíssimas vezes, mas ficou feliz ao perceber que ele ainda se lembrava dela. Mas ? Desde quando ele havia uma relação mais íntima com o cara?
— Ah, meu jovem, não é porque já ultrapassei a casa dos setenta que devo ficar preso em casa com o rabo pra cima. — disse gargalhando onde a risada de se juntou a dele. seguiu na mesma linha, só que de maneira um pouco forçada, jamais havia visto um lado tão… alterado, informal do velho. Talvez tivesse sido a bebida. Definitivamente era a bebida, pois ao final de um longo gole do champanhe, o homem tornou a falar. — Eu precisava realmente falar com vocês. Na quarta-feira terá uma coletiva de imprensa do novo filme que aquela mulher... qual é mesmo o nome dela?
— Lembra de alguma aparência? — questionou, educadamente.
—Scar… Joh…
— Scarlett Johansson? — completou.
— Isso! Ela mesma! — o velho aumentou o tom de felicidade. — E precisamos de mais duas empresas de jornalismo lá. Eu sei que vocês fazem um belo trabalho, então gostaria de saber se tem interesse de participar.
Se tinha interesse? Claro que ela tinha interesse! Ter uma entrevista de Scarlett Johansson como capa de primeira matéria era como ganhar na loteria! A atriz mal dava as caras ultimamente, seu contato era complicado e ter o acesso ao seu filme e mais informações sobre era uma dádiva do jornalismo. Ainda embasbacada com a proposta, logo se prontificou a responder ao homem, exibindo seu melhor sorriso.
— Seria um enorme prazer! Nem sei como agradecer ao senhor. — e no ato da felicidade, a mesma o envolveu em um abraço sendo recebida com um outro caloroso que foi notado pelo olhar torto de que observava a mão abusada do homem percorrer livremente pelas costas seminuas da mulher.
Soltando um alto pigarro, o mesmo tratou a responder:
— É uma grande oferta, até quando podemos entrar em contato para confirmar?
— Oh, até segunda à tarde tá ótimo. Podem ligar para Rachel que ela me passa a resposta. — Sr. Marshall respondeu, encarando . — Sei que irão fazer um belo trabalho. Agora, se me derem licença, tenho que comer algo antes que meu estômago vire uma mistura pura de vinho e champanhe. Até mais.
Quando o homem já se encontrava fora de seu campo de visão, a atenção de se voltou a voz fingida de que soava pelo local.
— Ai, senhor Marshall, seria um enorme prazer. O senhor também pode me levar para sua cama e oferecer diversas oportunidades, quem sabe com Chris Evans… hi, hi, hi.
— Você é uma decepção pro mundo da imitação.
— É por isso que eu sou empresário e Jornalista, e não ator.
— Com uma enorme dor de cotovelo.
— Se você diz… Mas não foi eu quem jogou charminho para encantar o velho. Você sabe que ele tem setenta e três, não é? Pode bater as botas em qualquer momento.
! Isso são coisas que você diz?! — questionou horrorizada, vendo o homem dar de ombros.
— É a verdade, apenas. E não é dor de cotovelo, até porque a oferta veio para mim também.
— Que você meio que recusou.
Ele negou com a cabeça.
— Apenas não fecho negócios com pessoas que contém alto nível de álcool no sangue. Se for realmente verdade, saberei amanhã. — e com pausa dramática, ele continuou. — Nossa, , achei que você fosse mais esperta, sabia. Mas bem, se me derem licença, tenho pessoas mais importantes para me socializar. Bom reencontrar vocês, garotas.
E com um sorriso presunçoso nos lábios, seguiu em direção ao bar, puxando papo com uma outra pessoa que, aparentemente, já conhecia, deixando uma de feição extremamente dura e fechada para trás.
Que inferno era aquele homem em sua vida.

***

Dentre os papéis expostos à mesa de vidro, uma tabela com diversos números e porcentagens era o motivo dos pesadelos recentes de . Com o crescimento da área de revistas digitais, a baixa venda dos exemplares em papel caíam dia após dia, a mudança da sua empresa para a área online havia sido drástica, praticamente do dia para noite onde o mesmo havia perdido noites de sono ao lado de - chefe da área de sistema da computação - finalizando o modelo de revista online ideal para que os leitores tivessem a mesma sensação de ler uma revista impressa. Sua ideia era não perder a essência e diversidade que sua empresa, Cover Girls, tinha há anos no mercado. Sua meta era superar os objetivos e melhorar a cada dia, mas parecia que seu sonho apenas era uma mera ilusão, tornando os dias piores do que um pesadelo.
— Como isso é possível? — bradou, dando um forte tapa na mesa que por um segundo, achou que fosse se espatifar em diversos pedaços.
— Sendo possível, mas não culpa a mesa, porque se isso quebrar serão mais gastos a empresa.
deu de ombros, passando as mãos firmes pelos fios de cabelo bem arrumado, desalinhando-os um pouco.
— Fizemos de tudo para deixar a revista com sua originalidade! Tudo! Pensamos muito mais além ao disponibilizar para diversas plataformas e ainda criamos um aplicativo! Aplicativo, ! — vociferou. — Me diz, o que precisamos?
— Hmm… Bem… — o loiro se ajeitou mais na poltrona confortante, cruzando as pernas de modo que seu tornozelo ficasse apoiado no joelho, mas sem o contato do sapato na calça para não sujar. — Talvez uma matéria realmente interessante? Olhe, … — se prontificou ao receber o olhar incrédulo e duro do amigo. — … não sou dessa área, você sabe bem. Deveria conversar com seus funcionários que são pagos para ir atrás de uma boa notícia, ou você poderia usar o seu poder de chefe famosinho e conseguir algo exclusivo.
— Mais do que já temos? Sabe como foi difícil conseguir uma entrevista com The Weeknd?
— Assim como foi difícil de conseguir com a Cardi B? — arqueou a sobrancelha de forma irônica, assim como sua voz saía. — Cara, pensa bem, esses são artistas que estão no auge? Sim, claro! Mas que sempre há entrevistas por ai. Você tem que pensar em alguém que raramente temos tanto contato e que há uma curiosidade por trás.
— Tipo quem? — perguntou o homem, um pouco impaciente. Respirando fundo, começou a andar de um lado para o outro na sala, enquanto era acompanhado pelo olhar pensativo de .
Já havia gastos todas das suas melhores ideias, principalmente no dia do lançamento da revista. Tinha sido uma luta conseguir uma entrevista com Shawn Mendes, principalmente após a pequena pausa na carreira. E, claro que a matéria havia estourado, milhares e milhares de fãs baixaram os aplicativos, conseguindo-o colocar no top 10 de mais visitados. As redes sociais não paravam e o aumento de leitores foi satisfatório, entretanto, assim como no mundo da fama, manter-se no auge era pior do que chegar lá.
— Que tal o ? — indagou. — Ele pode nos conceder uma entrevista, principalmente agora que está fazendo uma turnê mundial e recentemente criou um baita hit com a Billie Eilish.
negou com a cabeça.
— Esquece o , . Ele tá viajando, divulgando sua música ao redor do mundo, sem falar que foi sua revista que deu a notícia “O famoso DJ Maslow entrará em turnê nos próximos meses, participando de diversos festivais musicais, inclusive, na maior festa que ocorre mês que vem no Caribe”. — Schmidt anunciou de maneira como se fosse algo exclusivo, terminando sua performance com um olhar julgador do amigo. — O que foi?
— Jamais tente ser ator, por favor.
— Ei, eu tenho certificado! — retrucou.
— Agora sabemos o motivo de você estar trabalhando aqui. Mas assim como eu consegui a matéria... — se adiantou, antes que resolvesse criar suas mil desculpas, virando seu próprio advogado de defesa. Ele apenas queria achar uma solução, apenas. — … a também conseguiu.
— É vem… — revirou os olhos já sabendo o que viria a seguir.
Já era típico de atrelar o péssimo desempenho da revista a revista de , sempre a desculpa era de que ela escondia algo por trás para manter tantos olhos curiosos em suas matérias. Ele tanto falava que , sendo um péssimo ator como o amigo sempre fala, já havia gravado as típicas falas do moreno.
— É o que agora? — ergueu os braços ao alto. — Vai dizer que não é verdade.
— Como todas as vezes em que já conversamos isso e você me força a ser criador de conteúdo, sim! Toda vez que você cita problema de vendas, o nome vem logo em seguida. Parece aquelas paixões platônicas que não consegue se desprender. Supera a garota.
— Ficou louco? Eu não gosto dela!
— Mas parece. Porque diante de tantas revistas no mercado, somente a dela é o que te importa. Você repara demais nas coisas que ela faz, assim como ela faz com você.
— Porque sempre estamos em combate, Schmidt. Ela sempre está a um passo à minha frente. Se está em primeiro, estou em segundo. Se ela está em quarto, estou em quinto! Uma hora cansa!
— E você deveria se desprender disso e focar nos seus ganhos. A caça de cão e gato de vocês no passado já acabou, não quero ter que suportar novamente as inúmeras mensagens que você mandava todo santo dia. “A chefe a chamou na sala, será que é aumento só porque ela levou um cafezinho hoje de manhã?”, “Ela fica jogando charminho pros funcionários só para ser querida aqui.”, “, ela pegou a entrevista de hoje”. Puts, vocês eram chatos pra caralho na época do estágio.
— Eu precisava extravasar! Sabe o quão frustrante era não conseguir as entrevistas boas?
— Falou o único cara que conseguiu entrevistar a Rihanna antes da pausa dela, você tem noção do que é isso? Tá vendo, você sempre vê os ganhos dela e esquece dos seus, é como se quisesse sempre mostrar a ela algo.
— Você fala isso só porque é amigo dela também.
— Eu só fui fazer alguns serviços de computação lá, cara. E a garota me recebeu super bem, não tenho culpa se ela tem um bom papo e gosta de ser saudável, sabe como é difícil de encontrar pessoas assim?
— Pra ficar trocando receitinhas caseiras e como fazer um bom adubo com resto de comida? Que papo animador…
— Pelo menos ela não me enchia o saco antigamente. Porque se enchesse, eu precisaria de um psiquiatra para aturar vocês dois. — levantando-se, ele prosseguiu até a porta, continuando sua fala antes de abri-la. — Olha, , você sabe que eu te amo e sempre estarei ao seu lado. Passa a ver mais o seu lado ou assume tudo isso que você… meio que… sei lá, sente ai, essa confusão interna, ok? Você não disse que recebeu uma oferta no sábado?
— De um cara bêbado.
— Vai ver que ele tinha um por cento de sobriedade. Não custa nada ligar. E assim, não tenta surtar, ok? Porque eu não sei cuidar de empresa caso você bata as botas, e se comandasse aqui, esse local se tornaria um centro terapêutico com cheiro de essências e florais para acalmar os ânimos. Então, pensa bem.

***

Quarta havia chegado e com ele, a animação e empolgação de também. A mulher já havia perdido as contas de quantas vezes tinha chegado o celular para ver as horas, se todos os aparelhos estavam guardados e postos no devido lugar no carro e, se o roteiro de perguntas estava realmente ali. Teria poucos minutos para sua equipe entrevistar a tão sonhada Scarlett Johansson, momentos esses que teriam que ser aproveitados com juízo para que as perguntas mais importantes fossem respondidas. Já imaginava a quantidade de leitores e visualizações que sua revista teria naquela semana em diante, o sucesso estava batendo à sua porta, ela já estava sentindo.
— Será que dá pra parar de se olhar no espelho a cada segundo a ajudar aqui na organização aqui? — a voz estridente de a tirou de seus devaneios, trazendo-a para a realidade onde parte de sua equipe tirava algumas malas onde microfones e aparelhos de gravação estavam. — Você não vai conhecer nenhum Brad Pitt da vida para ficar se encarando a cada segundo neste espelho.
— Eu tenho que estar impecável na hora da entrevista, você mesmo sabe que imagem é tudo.
— Como se você fosse entrevistar a Scarlett, não é mesmo? — o banho de água fria que havia tomado pelas palavras da amiga foram mais geladas do que o normal, trazendo-a para a o fundo do poço da realidade.
Não, não seria ela que iria entrevistar uma de suas maiores influências no mundo artístico, ela não estaria cara-a-cara com Scarlett Johansson, fazendo perguntas e até mesmo soltando algumas piadas como nos velhos tempos de entrevistadora. Sua função agora ia muito mais além do que aparecer em frente às câmeras, ela chefiava uma revista por inteiro, uma empresa que só crescia no mercado e que possuía milhares de leitores fiéis. Mas ela amava todo aquele mundo, havia trabalho duro para chegar até onde chegou e se orgulhava por ter conquistado tanto, mas não negava que sentia falta da simplicidade de ser uma entrevistadora, de correr atrás de notícia e quase infartar por conhecer diversos famosos. Demorou um tempo para se acostumar e as tremedeiras sumirem, aos poucos tudo foi se encaixando em seu devido lugar.
, você não é paga para reclamar. — rebateu seguindo a amiga até a sala de espera.
— E muito menos sou paga para estar aqui. Eu deveria tá escrevendo artigos de moda e não sendo sua assistente. Mas eu, uma boa alma caridosa, me dispus a te acompanhar para acalmar seus ânimos, substituir sua assistente que está doente e evitar que pare na cadeia por matar o .
— Sua cara de pau, você só veio para ver se encontrava o Chris Evans por aqui.
— Casualmente, até porque eles são melhores amigos, não são?
— Mas não andam colados!
— Ei, eu sou sua amiga e ando colada contigo. Isso é uma indireta? — a mulher questionou com um falso fingimento na voz, causando um revirar de olhos em , mas a mesma nem conseguiu responder a amiga, já que seus olhos pousaram em um par de íris castanhas que chegava falando ao telefone em sua típica vestimenta de camisa e calça social e um sapato extremamente polido - como sempre.
Quando os olhos de se conectaram com o dela, um pequeno sorriso indecifrável se formou em seus lábios, mas para , aquele era o sorriso do diabo.
— Falando no diabo…
— Eu compartilho seu ódio pelo , mas pelo amor da moda, nunca vi uma camisa social super slim e ainda na cor vinho cair tão bem em um homem. — Incrédula, lançou um olhar severo a amiga que deu de ombros, cruzando os braços. — O que foi? Não é todo homem que consegue ser sexy, mas sem ser vulgar em uma camisa mais apertada.
novamente revirou os olhos, respirando fundo. Amber já estava começando a fazer falta, e como estava, principalmente em relação aos comentários inoportunos, como aquele. Sua assistente jamais elogiaria as pessoas na cara dura, principalmente se esse homem fosse .
O homem, agora, já caminhava em sua direção, preenchendo o vasto espaço da sala de espera, onde alguns produtores já se organizavam. Ryan, o entrevistador da equipe de , já estava mais calmo e na expectativa, passando as falas no canto da sala. Nem parecia que havia surtado horas atrás, as palavras de foram bem eficazes para o relaxamento do rapaz e ela gostaria de ajudar mais, porém, foi para que a mulher acabou indo logo após de ouvir um “não se matem”, de sua amiga.
— Quem é vivo sempre aparece. — a morena comentou, cruzando os braços na altura do busto coberto pela blusa social de branca.
— Já se fosse morto, eu me preocuparia. Não é legal conviver com zumbis. — disse o homem, retirando os óculos escuros do colarinho da blusa, o que claro, chamou a atenção de ao perceber que, devido ao tamanho dos músculos, estava tendo uma boa frequência na academia. — Já te disse que você fica bem de blazer? Deveria usar mais.
Ela arqueou a sobrancelha, tornando o olhar novamente a ele que lançava seu velho típico sorriso torto galanteador. Ah tá, como se ele achasse que tais técnicas iriam fazê-la baixar a guarda.
— Se você não usasse tanto essa sua boca para soltar tantos sarcasmos, eu até acreditaria em suas palavras. — completou , mas a mesma não o deixou falar nada, dando continuidade a sua fala. — O que está fazendo aqui?
— O mesmo que você? — respondeu de forma retórica.
— Ué, mas não foi você mesmo que disse que não era para confiar em pessoas bêbadas?
— Confiar, sim. Duvidar, nem tanto. Na segunda acabei entrando em contato com a secretária dele e parece que o velho cumpre mesmo a palavra mesmo chapado.
o repreendeu com o olhar.
— Mais respeito com ele, .
— Ah, desculpa, esqueci que você é próxima a ele. — O-o que você está insinuando? — àquela altura, já respirava fundo para não perder o controle ali mesmo e acabar sendo escoltada até o lado de fora por seguranças, seguindo o caminho da delegacia e logo após o do seu advogado para pagar a fiança.
Mas se divertindo da situação, apenas deu uma risada sem tirar os olhos da mulher que já começava a flamejar de raiva.
— Não falei nada, você que pensou em coisas erradas.
Semicerrando os olhos e negando com a cabeça, se aproximou, tomando uma postura superior.
— Você é idiota, sabia?
— Essa é minha melhor qualidade que você diz há… uns bons cinco anos.
Cinco anos que foram quase uma tortura na vida de . Se pudesse voltar no tempo, sabia como agir com o rapaz solitário em seu primeiro dia de estágio. Ela jamais teria oferecido ajuda para ele e muito menos dado diversos conselhos de como agir na empresa, por mais que ela tivesse apenas um mês estagiando por ali. Assim, ela jamais conheceria aquele ser do sorriso torto.
Antes que pudesse demonstrar sua indignação a , um homem extremamente alto e magro apareceu na porta que dava a sala de entrevista, anunciando os nomes das revistas de e , que rapidamente chamaram sua equipe para entrar.
— Estamos tendo que chamar de dois em dois, pois o nosso tempo está ficando curto e não queremos prejudicá-los, tudo bem? — o simpático rapaz explicava. — Enquanto a equipe de uma entrevista, o outro fica esperando. Espero que não tenha problema.
Ironia? Talvez sim, do destino principalmente por testar ainda mais a paciência de . Como se não bastasse, ainda teria que aturar por mais algumas horas. Trocando um rápido olhar, os dois responderam rapidamente.
— Claro que não.
O que acabou até mesmo assustado o jovem que saiu de cena.
— Ótimo, passar mais um tempo contigo. O que mais poderia dar errado? — brincou ao ver que já estava impaciente com toda situação.
E como dito, a resposta para sua pergunta veio logo em seguida quando avisaram que dariam uma rápida pausa de alguns minutos para que Scarlett pudesse ir ao banho.
— Obrigada pela boca grande. — a morena perguntou, retirando grosseiramente o celular da bolsa.
— Que funcionam muito bem em outros momentos. — ele rebateu e soltou um grunhido, respirando fundo.
— Não quero saber da sua vida sexual, .
— E quem disse isso? Nossa. — falou após uma rápida pausa. — Você está realmente...
— Me deixa, garoto.
Virando-se de costa para o moreno, travou sua atenção na timeline do seu Instagram enquanto esperava sua salvação com o nome Scarlett retornar e tirá-la daquele sufoco. Entre curtidas de fotos e visualizações em stories, percebeu a solidão no local ao olhar para atrás e não ter a presença de ali, o que era ótimo, já podia finalmente ter um minuto de paz sem azucrinações e citações embaraçosas do homem, mas por outro lado, seus olhos curiosos teimavam em rondar o local só para ver o que seu ex-companheiro de trabalho estava fazendo. Investigando a enorme sala onde todos os holofotes iluminavam o centro que abrigava duas cadeiras estilo diretor, a imagem de surgiu um pouco mais no canto esquerdo, na parte mal iluminada, onde até mesmo um pobre míope conseguiria perceber que o mesmo conversava com alguém. A mulher dava risada de algo, enquanto mantinha o olhar fixo nos olhos do homem, enquanto liberava um sorriso muito mais do que amistoso, sorriso na qual conhecia muito bem. Mas para ele sair dali e ir até a mulher, algo de importante ela tinha que ter. Por mais que não conhecesse tão bem , sabia que ele não se aproximava das pessoas por nada, algo ele queria, algo que com certeza ela teria, e não iria deixar com que ele saísse na frente, não mesmo. Se pensava que seu joguinho fosse funcionar ali, estava muito enganado, não quando ela estava no mesmo ambiente.
Aproximando-se como se não quisesse nada, parou ao lado do rapaz, colocando descaradamente o braço sobre os ombros dele, chamando sua atenção nada receptiva. Esbanjou logo um sorriso para a mulher perfeitamente arrumada, muito mais do que ela mesma, onde pela postura e elegância, soube de cara que era empresária da atriz.
— Desculpa interromper, mas é que não pude de deixar de vir aqui para lhe agradecer pela oportunidade. — comentou, esticando a mão para a mulher que no mesmo instante a cumprimentou de volta.
Por mais que soubesse que pessoas hollywoodianas, principalmente aquelas que possuíam um alto nível de importância na indústria, não fossem tão lá amigáveis, forçaria uma amizade com a mulher nem que fosse preciso. Não ia ser a base de jogo sujo que iria ganhar.
— Eu que agradeço a vocês pela disponibilidade, vai ajudar muito na divulgação do filme. — a mulher sorriu de volta. Bem, pelo menos ela parecia realmente ser simpática. — Bem, vou pegar uma água antes que a Sra. Johansson chegue.
— Não se preocupe. — disse logo em seguida, em uma rapidez jamais vista. — é um amor de pessoa, com certeza não se importaria de pegar uma água para você como forma de agradecimento, não é?
Se não tivesse tantas pessoas para testemunhar contra sua defesa em um assassinato, com certeza já teria dado sumiço no corpo de , fazendo-o desaparecer da face da terra e principalmente de sua vida. Como se não bastasse ter convivido por quase dois anos com a criatura, ainda tinha que aturá-lo em algumas festas e trabalhos quando ambos participavam, e sempre tinha que tirar sua paciência do sério. Era incrível! Mas um sorriso cínico formou nos lábios tomados pela cor vinho matte da garota, encarando a mulher à sua frente.
— Mas é claro, sem nenhum problema! Só precisarei da sua companhia já que não costumo vir muito por aqui, já você, sei que é o seu point. — mentiu na cara dura, dando alguns tapas no ombro do rapaz. — Já voltamos.
E puxando pelo braço, ambos seguiram em direção para fora da sala. Percebendo que não havia mais ninguém ao redor, se desfez das mãos de , ajeitando o colarinho da sua blusa enquanto a seguia.
— Você não suporta ver alguém conquistando algo. — informou com seu tom indignante.
— Não existe uma linha tênue entre conquista e jogo baixo, .
— E desde quando conversar é jogar baixo?
— Desde que não haja flerte. Porque pelo que sei, conversar é uma coisa, mas flertar é outra.
— Do mesmo modo em que você fez com o senhor Marshall?
parou bruscamente, o obrigando a parar também. Àquela altura já estavam na sala onde as bebidas ficavam e por sorte não havia ninguém.
— Ele só estava me abraçando, caralho! O que você tem contra abraços? É só porque eu não te abraço?
— Eu não tenho nada, . Meu único problema é com você que só faz criticar meu trabalho vinte e quatro horas por dia, sete dias na semana! — se estivessem em local público, uma plateia já teria se formado para ver a cena. Não chegava a ser grito, mas as vozes alteradas e altas, exalando a raiva e indignação pelas palavras só crescia a ira nos dois. — Sempre foi assim, desde o dia em que pisei naquela empresa.
— Eu te ajudei no seu primeiro dia! Eu elogiava cada conquista sua também! Fui educada em meio a tantos que cagaram e andaram para você, ingrato! Eu deveria ter lhe deixado se foder naquele lugar.
— Me deixasse, não pedi para você me ajudar.
Se os olhos mudassem de cor de acordo com o humor da pessoa, o vermelho teria tomado conta da íris de exibindo a intensidade de sua ira. Suas mãos se fecharam em um punho e seus dentes trincados mal abriam por nada. já havia visto diversas feições raivosas, mas nada que comparasse a intensidade do cenho franzido da garota. Por um segundo, pensou que sua morte fosse ocorrer ali, afinal, era um bom lugar para tal acontecimento já que não havia testemunhas ao redor. Uma cena de crime perfeita. Entretanto, apenas se aproximou e tal atitude fez com que ela percebesse uma pequena tensão instalada no homem a sua frente. A respiração de parecia ter parado no mesmo instante em que chegou mais perto, seus olhos fixaram-se nos dela e por alguns segundos, pôde jurar que os viu descendo até seus lábios, subindo rapidamente.
Mesmo inerte em pensamentos, a raiva de ainda era mais intensa, afinal, odiava ingratidões e principalmente com alguém que ela já ajudou.
— Que você se exploda com sua ingratidão, .
, você mal me conhece para falar algo de mim. — manteve a postura ereta, mantendo o contato olho no olho. — Você não sabe como eu sou.
— Você nunca teve o interesse de me conhecer!
— Não? — ele se afastou, mas dessa vez com um sorriso irônico nos lábios. — O que foi aquele convite para irmos a boate que meu amigo iria tocar, hein? Ainda estudávamos e você veio o seu “de jeito nenhum”. — disse com uma péssima imitação dela, que a fez revirar os olhos.
— Não venha com esse seu sarcasmo! Toda vez que me aproximava de você era como se tivesse um repelente envolto de si. Você se afastava, mal olhava para mim direito! — mal dando chance dele responder, ela continuou. — Não vou perder meu tempo discutindo isso com você. E se quiser, pega a água e leva para sua melhor amiga.

A entrevista com Scarlett foi um sucesso. O nervosismo de Ryan, o entrevistador, parecia ter sumido no ar, a leveza e naturalidade que tudo prosseguiu foi mais do que esperava e no final da manhã, tinha tudo o que precisava e muito mais: sua matéria principal da semana. Ainda teve que esperar um pouco, já que a equipe de havia sido primeiro do que ela, devido a isso, ela e sua equipe ainda organizavam os últimos detalhes quando finalmente apareceu ao seu lado.
— Mulher, você sumiu do mapa antes da entrevista. Pensei que havia desistido. — encostou-se na porta de vidro esperando a amiga terminar de organizar alguns papéis dentro da pasta, antes de seguirem caminho até o carro.
— Jamais, principalmente com empresas rivais. — a encarou, já sabendo de quem se tratava. — Apenas fui bater um papo com o nosso amiguinho.
— Ai, meu Deus, , não me diga que você escondeu o corpo dele! Sabe que isso pode dar cadeia?
— Você acha mesmo que irei arruinar tudo o que conquistei por conta dele? Se for pra matar, que seja encomendado. Outch! — seus dedos logo tatearam a parte do braço em que havia deixado um tapa, repreendendo com o olhar. — Você que começou.
— Mas não era para você concordar. Até quando vocês vão ficar nessa de cão e gato? Pelo amor de Chanel, vocês são adultos, já transam e pagam conta energia e água, chega dessa picuinha de adolescente.
— Se ele fosse grato pelas coisas que já fiz por ele. Acredita que ele teve a audácia de dizer que era pra eu ter deixado ele se foder na empresa? E toda minha bondade vai pra onde?
— Para a gratidão dele, você sabe que ele também já fez muito por ti. Lembra quando você sem querer quebrou a impressora da empresa e ele levou a culpa só porque aquele subchefe estava de marcação contigo?
torceu os lábios.
— Uma vez na vida.
— A real é que vocês não se conhecem, o que eu acho bem estranho pois trabalharam por quase um ano e meio juntos como estagiários, e quando conseguiram as vagas que vocês quase se mataram, literalmente, para ter, era um no norte e outro no sul. E, — continuou, ao ver que abrira a boca para contestar. — quando vocês saíram de lá e foram trabalhar em outros locais, ainda se encontraram e se encontram quase sempre. Se isso não é o destino falando algo, eu não sei o que pode ser. Mas bem, soube que ele conseguiu uma vaga na premier do filme, acho que ele tinha contato com alguém interno.
A feição incrédula de logo parou na direção de que ainda seguia convicta de sua afirmação. Como ela ousava a falar em destino com duas pessoas que mais trocavam farpas do que se adoravam? Era loucura, não havia destino e se houvesse, era para testar sua paciência. E sobre a vaga, bem, já era de se esperar de um cara que possuía mais encantos do que uma porção do amor.
De tanto que estava inerte em seus pensamentos e planos, mal havia se dado conta de que já estava no estacionamento, e muito menos que um par de olhos castanhos a encarava um pouco de longe, enquanto ajeitava também seus materiais no carro de apoio. Assim como na festa, traçava a mulher dos pés à cabeça até fixar seu olhar na altura do dela com uma feição mais misteriosa do que da vez em que se conheceram.
E se…
Com um forte suspiro, deixando todas suas frustrações soltarem-se de si, principalmente seu orgulho, caminhou até ele causando não apenas uma curiosidade em , mas também, principalmente, em .
— Me dá seu cartão de visita.
— O quê? — questionou confuso.
— Me dá seu cartão de visita. Você é empresário e jornalista, deve andar com pelo menos um e falar a famosa frase “entre em contato comigo”.
— Pra que você quer? — questionou, mas só a forma na qual o encarou, o mesmo sabia que não valia a pena questionar mais, afinal, também, já estava esgotado e sem paciência para discussões.
Retirou de seu bolso um pequeno cartão retangular nas cores preta, cinza e branco, entregando nas mãos de que logo guardou em seu bolso.
— Obrigada.

***

É uma péssima ideia, ! Péssima! O que deu em você? — Apenas ouvi seu conselho.
Conselho? Garota?! Eu só falei que vocês não se conheciam, apenas isso! — brincando com canudo de papel em seu copo, mexeu o líquido rosado antes de tomar um longo gole, ouvindo o suspiro frustrado de sua amiga do outro lado da linha. — Você já está bêbada, não está? — Acabei de chegar, . Estou no primeiro copo.
Que deve ter uma quantidade tão absurda de álcool que está alimentando esse seu plano sem sentido.
— Não vai acontecer nada, . — repetiu pela décima vez a resposta de forma arrastada, desejando que a amiga pelo menos colocasse confiança em seu plano. Não sabia ao certo o motivo do surto da amiga, sabia que não era pelo fato do convite, nunca foi uma pessoa de passar por cima das regras ou tentar algo com alguém. Ela era certinha demais e por mais que tivesse quase os mesmos traços, quando se tratava de uma conquista, ela ia até o inferno para conseguir. — Apenas uma saída, nada demais. Olha, tenho que desligar.
Que seu anjo da guarda tenha piedade de você e te ajude a não parar em uma cela hoje segurou o riso para não mostrar a diversão que estava sendo ao ouvir o desespero da amiga pelo celular. — , estou falando sério. Não tenho dinheiro para pagar fiança, então é melhor vocês segurarem a bola.
— Ok, mãe, divirta-se com sua Netflix.
Rolou os olhos pelo local observando o ambiente movimentado antes de desligar e pôr o celular em cima da pequena mesa alta posta na calçada de uma das ruas mais movimentadas de Venice. Sexta à noite e a tranquila rua, que pela manhã costumava ter mercados e padarias abertas, havia se tornado o próprio point de encontros noturnos. Era incrível como as pessoas tinham a capacidade de transformar o ambiente em algo propício para o tempo. Em cada esquina havia pelo menos dois ou mais bares temáticos. Luzes coloridas enfeitavam suas entradas chamando ainda mais a atenção, pessoas costumavam ficar do lado de fora bebendo devido a multidão que se encontrava do lado de dentro, curtindo a música e o ambiente. Assim era aquele bar em que estava. Havia por sorte encontrado uma mesa do lado de fora e ali ficou, seria mais fácil para ele encontrá-la e também, a brisa que vinha do mar, que se encontrava duas ruas próximas dali, estava delicioso, fazendo seus fios soltos balançarem de acordo com a intensidade do vento. A movimentação era tão grande que carros passavam com dificuldade por ali devido ao fluxo de pessoas, e foi entre a multidão que ela reconheceu o homem que ela mais se encontrara durante os dias e a última pessoa que ela imaginaria passar uma noite.
Ao contrário das diversas blusas sociais e gravatas de todos os tipos que se possa imaginar, estava aparentemente simples, mas ainda possuía sua essência de chamar atenção aonde passava, tanto que alguns olhares das pessoas confirmavam isso. Em toda sua vida e anos que o “conhecia”, jamais pensou que veria fora dos trajes sociais e principalmente, nunca imaginaria o quão bem ele ficava com seu verdadeiro estilo. Casaco de couro? Nunca imaginou uma peça daquelas em seu guarda-roupas, muito menos uma calça preta com rasgos no joelho ou um coturno que dava um charme jovial ao look. A blusa preta lisa talvez… E foi toda aquela composição e pensamentos aleatórios, junto com o olhar fixo e seguro que o homem possuía enquanto caminhava em sua direção que causaram um arrepio em sua espinha e um aceleramento estranho em seu coração.
O que eles iriam conversar? E se ficasse um clima estranho? Será que dava tempo de fugir? Não… seu olhar estava tão cravado nela que mais parecia que ele ia atacá-la. E outra, desde quando ela ficava nervosa ao lado dele?
— Preto é sua cor favorita? — proferiu a primeira coisa que veio em sua mente quando ele se juntou à mesa, ficando à sua frente.
— Não sabia que era vidente.
— Intuição feminina. — brincou, bebendo o restante da bebida como se sua fosse salvação. O álcool que a ajudasse aquela noite. — É tão certeira como um tarô.
— E você já jogou?
— Algumas vezes, só para matar algumas curiosidades, mas quem são elas para mudar o nosso destino, não é mesmo? — mas que merda ela estava falando?
Quem iniciava uma conversa daquela maneira? Talvez alguém que estivesse nervoso ou sem saber como o que falar? E por que estava tão nervosa assim? Argh, precisava de mais outra bebida, mas não queria enfrentar toda aquela multidão, não por agora. Enquanto continuava com sua conversa interna, a voz de soou entre os burburinhos de vozes dali, obrigando-a encará-lo.
— Livre arbítrio existe para isso, tanto que você pegou meu número e me mandou uma mensagem e ainda estou curioso para saber o motivo, já que dos seus olhos só saem ira quando me vê.
bufou, fixando seu olhar no pouco que conseguia encher do dele.
— Você não me dá escolhas, .
— Então por que me chamou aqui? Nada contra, é que não é muito comum duas pessoas que mal se conhecem e que não tem um interesse mútuo se encontrarem sexta à noite em um bar. — apoiando os cotovelos na mesa com seus braços cruzados, se aproximou de que olhava atentamente seus movimentos.
Queria saber da resposta, afinal, havia se surpreendido ao receber uma mensagem no dia anterior vindo dela, questionando se estaria livre na noite seguinte para uma saída. Sua mente então acabou entrando em um estado de “cientista” onde diversas teorias rondavam por ela e sem nenhuma resposta, até porque, a rixa que ele e tinham era de anos e não foi algo que um deles criou. A ambição de conquistar o pódio e ser o melhor no trabalho foi a causa daquele relacionamento conturbado, no início era sim solicita, o recebeu de bom grado e o informou sobre o funcionamento da empresa, tanto que a convidara na época para ir ao evento onde tocaria pela primeira vez como DJ, mas a resposta curta e fria de o fez perceber que, talvez, toda aquela simpatia fosse apenas para conquistar a confiança dos diretores. E não apenas isso, mas com o tempo, foi se mostrando além disso, onde por um lado, causou um brilho nos olhos do homem, achava incrível mulheres decididas e que lutavam pelo que queriam, eram inspiradoras, mas por outro lado, não deixaria com que ela ficasse com seu cargo, não depois dos diretores locais anunciarem uma promoção. Foi ali que a bomba explodiu e a guerra começou.
A atenção de ainda estava voltada para o homem à sua frente enquanto sua mente procurava por uma boa resposta que saciasse a curiosidade dele, porém, a tensão em sua face era nítida e foi com isso que conseguiu assimilar as coisas, e recuando, com um sorriso torto e travesso nos lábios, dando uma leve mordida na parte inferior, ele continuou:
— A não ser que você queira alguém para curtir à noite.
rapidamente sentiu suas bochechas queimarem e seus tomarem um outro caminho que não fosse aquela íris castanha que parecia um imã em si. Agradeceu mentalmente pela pouca luminosidade no local, não queria que tivesse mais um motivo para tirar sua paciência. Mas aquela noite estava estranha, jamais sentiu suas fortalezas desmoronarem a ponto de deixar o rapaz criar tanta confusão em si e sensações tão aleatórias. Se ele achava que ela ia conseguir desestabilizá-la com aquele papo duplo sentido e seu sorriso presunçoso e galanteador, estava muito enganado.
— Meu Deus, . Não quero “ir para cama” com você. Será que uma vez na vida você poderia parar de ter esses pensamentos indecentes?
— Mas eu não disse nada sobre sexo. — cruzou os braços, demonstrando tamanha diversão com aquela conversa. — Apenas falei curtir à noite. Meu Deus, , você quer tanto ir pra cama comigo? — ouvindo a péssima imitação de sua última fala, travou seus dedos em forma de punho antes que causasse algum atentado contra ele.
que a perdoasse, mas em poucos segundos já se via quebrando as regras e tendo sua noite finalizada entre grades. não estava ajudando em nada, e nem mesmo sua mente também estava. Era tanta sensação nova que chegava a ser angustiante não saber o que seu corpo e pensamentos queriam.
— Eu só te convidei para ver se a gente resolve isso, — fez um movimento com os dedos indicando os dois — acaba de uma vez! Porque agimos feito duas crianças lutando por um mesmo brinquedo quando estamos juntos. E querendo ou não, sempre estaremos juntos, porque é o nosso trabalho. Los Angeles é pequena e o quanto seria péssimo para as grandes empresas saberem que dois chefes vivem em pé de guerra e não sabem separar as coisas?
passou um tempo encarando , remoendo todas aquelas palavras proliferadas por ela antes de lançar o seu olhar para o céu onde algumas nuvens já se formavam. Los Angeles era tão instável quanto eles dois, e querendo ou não, ela estava certa. era uma pessoa incrível e não era de hoje que ele achava isso, tanto que o mesmo havia motivos para tentar uma aproximação com ela naquela época quanto para se afastar também. E ela estava certa, uma hora as coisas poderiam sair do eixo e acabar interferindo na carreira deles.
Respirando fundo, fechou os olhos, sentindo toda aquela brisa no ar, antes de jogar a atenção novamente a ela.
— Tudo bem, abaixo minha guarda. Sobre o que quer falar então? — franziu o cenho, lançando-lhe um olhar confuso. — O que? Vamos ficar aqui olhando um para a cara do outro?
— Não pensei exatamente nesse momento. — ele suspirou, assim como ela. — Tudo bem, qual sua outra cor favorita que não seja preto.
Ele a fitou com uma certa incredulidade. Sério que iriam conversar sobre cores? Não havia um papo melhor e mais… interessante para falarem ao invés de cores? Mas foi percebendo a seriedade no olhar de que ele deixou-se levar.
— Gosto de vermelho, mas depende. E você?
— Não tenho uma cor preferida assim, mas talvez azul… ou branco.
O silêncio pairou. O burburinho da rua misturado com a buzina e o som alto da música que saía de dentro do ambiente tomavam conta do local. Sem saber para onde exatamente olhar, encarou o interior do bar desejando por mais outra bebida, talvez ajudasse a clarear um pouco seus pensamentos e transformasse tudo aquilo mais natural.
— Ok, vamos fazer do meu jeito. Vamos entrar e beber algo. — a voz de a tirou de seu devaneio. Olhou novamente o interior o ambiente já imaginando o banho de cerveja que levaria pelas pessoas bêbadas. — Até te chamaria pra dançar, mas eu não já desisti dessa habilidade inexistente em minha vida. riu, surpreendendo-se até mesmo com sua atitude. — Mas eu quero beber, então…
Sem muita opção, pegou sua bolsa, passando pela lateral do corpo enquanto seguia na direção onde o homem apontava. Tendo-a em sua frente, pôde notar melhor como a mulher estava e sem sombra de dúvidas, ela estava deslumbrante. Na verdade, ela sempre foi, achava estonteante o modo como costumava combinar roupas e variar de estilo no trabalho, ao contrário dele que só variava a gravata mesmo. Mas desde a época do estágio, se mostrava amante da moda. Seu estilo era tão impactante que a imagem da mulher na última festa ainda rondava sua cabeça. Aquele vestido vermelho, tão vivo e esvoaçante que abraçava seu corpo e revelava suas curvas, suas costas nuas que lhe causaram um certo ciúme ao ver o senhor Marshall tendo aquele contato que o mesmo gostaria de ter tido. estava extremamente sexy e pronta para ocasião, assim como estava naquela noite, mas sem tantas partes expostas. A jaqueta jeans destroyed cobria suas costas e parava na mesma altura em que seu vestido, que ele supôs ser de tonalidade azul um pouco mais escura, terminava, moldando seu corpo. percebeu que estava prestando muita atenção em , principalmente quando a imagem dele tirando lentamente seu vestido enquanto deixava uma trilha de beijos na nuca da mulher surgiu em sua mente. O quão difícil seria aquela noite com ? Ele não sabia, porém, mal percebeu que já estavam na metade do caminho. Devido a quantidade de pessoas, permitiu-se colocar a mão na cintura da mulher para que a guiasse melhor entre as pessoas que se esbarravam, já alteradas. Pensou que ela fosse reclamar sobre sua atitude, já preparando uma boa resposta, mas a mesma não se importou. Seguiram até o bar onde pediram alguns shots de tequila e logo depois uma bebida, ficando por ali mesmo.
A melodia de Like I Would remixada do Zayn tomou o local, causando um alerta em que rapidamente pôs o copo no balcão, virando-se para .
— AI MEU DEUS, EU AMO ESSA MÚSICA!
A pronto, agora ele teria que vê-la dançar e provavelmente segurar sua bolsa ou vela, já que os caras adoravam aproveitar de momentos de dança para se aproximar.
— Você gosta da música ou do cantor? — ele questionou, vendo-a virar o copo em uma velocidade que o surpreendeu - e assustou, um pouco. — Você não…
— Os dois! Vem, vamos dançar!
— Qual parte do “habilidade inexistente em minha vida” que você não entendeu?!
— Todo mundo sabe dançar, !
— Eu não sou todo mundo e minha mãe tem como comprovar. Meus amigos têm como comprovar.
Àquela altura, seu corpo já estava sendo puxado para uma parte do salão que tivesse um espaço razoável para uma dança. o puxava, enquanto ouvia suas desculpas que soavam cada vez mais baixa devido a intensidade do som.
, sério, eu vou pagar mico. — ele insistiu. — Eu fico aqui de guarda, pode ser?
— Na-na-ni-na-não. Mexer pra um lado e para o outro todo mundo sabe! — se ele não soubesse que a mesma havia ingerido uma quantidade razoável de álcool, acharia estranho sua insistência, afinal, a cem por cento sóbria, ou melhor, a antiga apenas jogaria um foda-se e o largaria sozinho. Ou era o que ele achava que ela faria. Ao contrário disso, a mulher começou a se requebrar, cantarolando os versos da música. — So stop wasting all my time, messing with my mind...
não sabia para onde olhar, na verdade, não sabia o que fazer. Estava se sentindo um peixe fora d’água sendo o único ali que não movimentava o corpo e muito menos cantava, enquanto parecia estar em seu mundo particular da dança. Os movimentos que iam de um lado para o outro, balançando com o ritmo, misturado com a agitação em que seus braços se encontravam ao jogar os fios de cabelo para o lado dando uma visão perfeita do pescoço da mulher… Por um instante, tudo aquilo era o que os olhos do homem captavam, era como um imã, difícil de se separar e sua mente não estava ajudando em nada. não estava ajudando. A sensualidade que a mulher exalava era única, quer dizer, ela era única por completa. Com suas ações, sua personalidade, seu jeito de vestir, seu jeito de ser. Ele sempre tivera tal visão dela e foi essa construção de imagem que se tornou seu pior inimigo.
Como era possível gostar da pessoa que mais o odiava? E por anos, tipo, como? E por quê?
“Foda-se”
Foi o que pensou antes de segurar fortemente a cintura de e virá-la para si, encarando aqueles olhos que se mantinha em alerta por seu movimento espontâneo.
— Posso fazer do meu jeito agora? — ele sussurrou, aproximando seu rosto do dela. — seu olhar variava entre os olhos e lábios tão chamativos dela, lábios que ele estava se segurando há anos para provar e sentir cada canto, cada toque, cada sensação que causaria em si. — Posso?
Para , tudo ainda estava confuso, principalmente pela estranha adrenalina que começou a percorrer subitamente pelas suas veias, junto com a misteriosa sensação de tremedeira que seus joelhos se encontravam. Nervosismo? Não sabia, mas sabia que tudo ali parecia certo, e se soasse errado, que se foda, era apenas uma noite e… o resto era resto. Encarou rapidamente os lábios do homem que o deu a entender que sim, ele tinha total permissão de agir do jeito que queria, e encaixando melhor uma de suas mãos na cintura, enquanto a outra a puxava pela nuca, pôde matar seu desejo e da melhor maneira possível. O contato imediato atiçou o que mais temia, o desejo de tê-lo mais próximo, de senti-lo das maneiras mais inexistentes possíveis. Não somente pelo fervor que o beijo se encaminhava, mas também, os dedos atrevidos do homem por debaixo do casaco tocando sua pele desnuda pelo decote posterior do vestido lhe acariciavam com volúpia, prazer.
Sua infelicidade bateu à porta quando sentiu um pequeno espaço entre ambos e a respiração forte e descompassada à sua frente.
— Se esse é seu jeito de me odiar, poderia ter me avisado antes. — o tom baixo e arrastado da voz de foi o culpado pelo arrepio que percorreu sem piedade pela espinha de .
Desde quando ele possuía tanto controle com seu corpo? Desde quando beijar e sentir aquele toque que ainda percorria por suas costas parecia tão certo e prazeroso? Mas ele não seria o único que brincaria naquele jogo, não mesmo. Percorrendo sua unha pela nuca do homem, se aproximou de seu ouvido enquanto fazia caminhos e caminhos leves e sutis, causando um tremor nele.
— Não moro muito longe, talvez se…
Não foi nem ao menos necessário ela terminar, o sorriso travesso nos lábios de já lhe dava a resposta da pergunta.

A urgência de continuar o que tinham começado no bar ainda bem vivido. Por morar no mesmo bairro que ficava o bar, não demoraram muito de chegar à casa de que se situava próximo ao famoso canal de Venice. distribuía beijos e mais beijos na nuca da garota enquanto a mesma tentava focar em achar a chave correta. Estava sendo difícil, muito difícil com todo aquele êxtase em seu corpo. Ao conseguir abrir a porta e esticar seu braço em direção ao interruptor da sala, sentiu a mão do homem pousar contra a sua, baixando-a lentamente enquanto a direcionava vagarosamente até o centro da sala.
— Não é necessário ligar as luzes. — sussurrou no pé de ouvido de , deixando ali uma leve mordida que foi capaz de atiçar os pelos da morena.
— Pra não se arrepender ao me ver? — ela comentou, respirando fundo ao tentar controlar a voz diante do toque ardente das mãos dele em sua cintura.
Estava realmente de se concentrar em tudo, sua mente parecia estar unicamente focada em toda ação que ele fazia e como seu corpo respondia. Ah, não era justo, por mais que ela estivesse gostando e seu corpo desejando por mais, ele também tinha que “sofrer” um pouco, mas sabia que estava entregue ao momento e a risada levada, maliciosa, que ele deu diante de seu comentário, ainda em seu pé de ouvido foi a certeza dos seus pensamentos.
— Você acha que eu me arrependeria... — depositou um beijo no ombro direito dela. — ...de estar aqui… — um beijo no ombro direito. — ...com a mulher que mexe loucamente comigo... — voltou pro ombro direito, jogando parte do cabelo que cobria aquela para o outro lado. — … desde a época do estágio?
— O-o quê?
— Vai me dizer que você nunca percebeu nas minhas atitudes. No meu jeito de te olhar, encarar… — ele subia ainda mais a trilha de beijo.
O corpo de não respondia mais por si, estava anestesiado, enfraquecido, entregue ao prazer.
— V-você queria me derrubar, . Pegar o meu lugar…
— Jamais… — e chegando mais próximo ao ouvido dela, ele completou, segurando firmemente com uma de suas mãos a coxa dela. — … eu só queria sua atenção. Já que você me deu um fora de início. Mas..
O corpo de logo entrou em alerta quando sentiu o espaço preenchido antes por , se tornar um vazio. Suas mãos já não estavam mais fazendo o antigo trabalho, sua perna que agora formigava devido ao intenso toque não possuía mais seus dedos firmes. Virando-se rapidamente em direção ao homem, o encarou com a boca entreaberta deixando o ar do seu fôlego sair por ali em movimentos descompassados. Seu peito subia e descia ao mesmo tempo em que percebera que o de fazia o mesmo. Ambos estavam ofegantes, os olhos flamejando de desejo enquanto ele mostrava o seu melhor sorriso travesso, aquele sorriso que desejava tanto desfazer com o toque dos seus lábios, sorriso na qual já havia lhe dado dor de cabeça e saberia que dali em diante, se tornaria uma bela de enxaqueca.
Mesmo tendo a pouca luminosidade dos postes da rua, ela sentiu o olhar castanho do rapaz a admirar da cabeça aos pés. Não estava mais com sua jaqueta e sabe-se lá onde estava. Seu vestido estava totalmente à mostra, mas por que ela sentia que conseguia vê-la através daquelas peças? Era como se seu corpo estivesse despido a ponto de ser atacado. Estava esperando por isso, mas parecia que o jogo dele não era tão rápido.
— Mas…? — ela questionou e aos poucos, novamente, sentiu os dedos dele em si, segurando seu queixo enquanto elevava em sua direção.
— Mas eu preciso ver você dizendo que eu sou tudo o que você precisa nesse momento. Porque, de verdade, não sei o que você sente por mim… Eu posso lhe dizer com todas as palavras do quanto eu gosto de você, e que eu lembro dos seus elogios, dos detalhes que percebia em mim. Me passava uma segurança… Mas, como falei, não sei o que você sente por mim...
Nem ela mesmo sabia, quer dizer, ela sabia, mas negava. Negava que sentia um rebuliço no estômago ao ver aquele sorriso debochado quando a via. Negava que já conhecia quase todas as cores das blusas sociais que ele utilizava quando se encontravam. Negava que havia mandado a mensagem não somente para acertarem as coisas, mas para conhecê-lo melhor também. era charmoso, discreto, com um olhar mais penetrante do que raio-x e uma risada que lhe tirava o fôlego. Ela tinha um grande crush nele? Tinha. Mas como falar ou se abrir a uma pessoa que parecia querer sempre estar a um passo à frente de si? Era impossível, ela ansiava tanto pelo cargo na época como ele, eram rivais. Mas ali, naquele momento, não existia trabalho, não existia rivalidade nem nada. Tudo parecia mais do que certo e ela só queria acabar com aquela tensão sexual que exalava pelo local.
Antes mesmo de falar qualquer coisa, ele a interrompeu, chegando mais perto, fitando seus olhos.
— Ou melhor, eu quero que você me mostre.
E não foi preciso falar duas vezes. Com um sorriso lateral no rosto, se aproximou, puxando-o pela camisa e quebrando o espaço que suas bocas possuíam. Se o beijo no bar havia sido intensa, ali, o fervor e a excitação era apenas um só. O toque das línguas era um prazer, seu beijo era quente e urgente. Em poucos segundo, a camisa dele voou para algum lugar da sala, seu tronco nu dava liberdade para que as unhas de fizessem um caminho que deixariam marcas, mas, que lhe causou um intenso arrepio. As mãos do homem passeavam livremente pela cintura até chegar na parte da coxa de onde, com um impulso, seus pés cruzaram-se na cintura dele e suas mãos firmaram em seus glúteos.
O caminho até o quarto foi rápido, em segundos o corpo de já sentia o macio colchão em suas costas, enquanto o peso de estava em si, trabalhando no intenso contato daquele beijo, lhe tirando gemidos e uma noite de prazer.

***

Dois dias se passaram desde à noite em que ainda se perguntava se fora real ou não. Na primeira vez em que havia levado o fora de , jamais imaginou que anos depois a mesma abriria sua caixa gelada que chamava de coração e o deixaria explorar todo canto do seu corpo e pensamento. A cena, os gemidos, a voz de ainda não saiam de sua cabeça. Era um como um looping sem fim e não negava de que gostaria de repetir mais vezes, o problema era que desde aquela noite o contato de ambos foi escasso - por mais que ela havia deixado a entender que gostaria de encontrá-lo novamente - e era um bom, na verdade um ótimo sinal, mas aqueles dois dias foram totalmente estressantes para o homem que se preparava para cobrir a pré-estreia do filme da Scarlett Johansson. Graças ao seu papo intelectual na sua área e charme, havia conseguido uma vaga naquele evento concorrido e claro, por mais que ele não fosse entrevistar ninguém no tapete vermelho ou aparecer ao vivo, queria marcar presença e conversar com o maior número de agentes e empresários ali. Sua empresa finalmente havia dado um up e ele faria de tudo para continuar no pódio. Encostado em um dos pilares, um pouco mais afastado da multidão, pegou seu celular pensando em mandar uma mensagem para , mas seu olhar o alertou que não seria necessário. Ao longe, conversando com sua fiel e escudeira amiga , que parecia reclamar de alguma coisa, trajava uma das melhores combinações que ele já havia visto. Se terno e gravata em mulher já era elegante, nela estava um espetáculo. E ao perceber que ele a encarava, se despediu de antes de caminhar, em um sexy rebolado, até sua direção, fazendo-o morder os lábios automaticamente. Mas espera, como ela havia conseguido a participação ali já que era um evento vip? A empresária de Johansson havia o confirmado que não havia mais vaga e que ele era um caso especial. Sua feição logo se tornou curiosa e seu cenho franzido, o que foi bem percebido por que, com um sorriso confiante nos lábios, iniciou sua fala:
— Viu algo que não devia?
— Talvez…
— Que pena.
— Como conseguiu ter acesso ao evento, porque…
— Porque ele era exclusivo e não tinha mais vaga? — ela manteve o sorriso. — Eu sei, parece que eu sou especial, sabe…
— Você falou com ela no dia da entrevista?
se aproximou dele, ajeitando um pouco gravata, antes de segurar a barra do terno do rapaz, colando quase o rosto no dele.
— Claro que não. Nem tive tempo, apenas consegui o contato dela, mas não se preocupe. Vá curtir a festa.
E sem ao menos deixá-lo falar, se afastou, mas antes de sumir entre a multidão, virou-se para o homem e disse:
— Dá próxima vez, acorda mais cedo. Bloqueio por reconhecimento facial só funciona quando a pessoa não está no mesmo cômodo. Obrigada por facilitar minha vida com o contato.
A incredulidade estava estampada no rosto do homem. Ela havia acessado o celular dele enquanto o mesmo dormia e pego o contato da empresária de Johansson? Como ela ousava a usá-lo daquela maneira, como… Um bip lhe chamou atenção para a tela no celular.

Não me leve a mal, realmente curti nossa noite e mal posso esperar para a pós-party de hoje. Quer dizer, a nossa pós-party, caso não esteja magoadinho.
No amor e na guerra vale tudo.
Se quiser, podemos levar as coisas adiante, mas devagar...
Te vejo mais tarde no nosso vale tudo 💋





Fim.



Nota da autora: Quando se trata de Big Time Rush, meu coração fica aquecido.
Eu adoro essa música, ela é tão gostosinha de ouvir e a letra é maravilhosa, espero ter conseguido colocar o contexto dela na história!
Espero que tenham gostado, todo comentário é super bem vindo!! Obrigada pela famosa chance na leitura!
xx Mandie




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