Capítulo único
Me and my truth, we sit in silence, mmm
Baby girl, it's just me and you
A casa parecia querer engolir null. O duplex estava todo encaixotado, exceto pelos móveis planejados, que, com suas linhas perfeitas, a lembravam do que tinha sido cuidadosamente arrumado, mas agora pareciam não ter a menor importância. Ela olhava ao redor e flashes de memória dela e null enchiam o lugar. Como tudo desmoronou? null descobrira que null tinha um caso com uma colega de trabalho e ele decidiu pelo divórcio para ficar com essa mulher, Sofia alguma coisa. Ela não se importou em guardar o nome dela inteiro.
Ela só queria que aquela porcaria de situação acabasse de uma vez por todas. Ela encarava o documento escrito “Acordo de divórcio” sob a mesa sem ter coragem de assinar. Ela respirou fundo e pegou um copo de uísque do bar. Ela virou a bebida de uma vez só, sentindo o líquido âmbar queimar sua garganta.
O que ele achava que estava fazendo? Deixar tudo para trás, como se nada tivesse valor? Não era apenas a traição que doía, mas a certeza de que ele havia escolhido algo, alguém, e que ela, de alguma forma, não se encaixa mais em sua vida. O amor, que antes parecia imbatível, agora estava despedaçado, e o único vestígio do que restava era o silêncio da casa.
Ela olhou para o documento novamente, os cílios segurando as lágrimas que manchariam o documento. “É só assinar”, pensou. Não queria que fosse tão simples, que ele tivesse o poder de decidir o fim, de anotar no papel o que já estava vivo dentro dela, no vazio que ele havia deixado. E ainda assim, ali estava ela, sozinha, com o copo de uísque e caixas espalhadas pela casa. Não importava mais. null respirou fundo e assinou o documento. Era o fim, estava divorciada aos vinte e cinco anos. Ela só pensava em um letreiro enorme de neon piscando na sua cabeça escrito FRACASSADA.
Foi então que ela viu o caminhão de mudanças estacionando na frente da casa. Ela respirou fundo e abriu a porta para os trabalhadores começarem a levar as suas coisas. O som dos trabalhadores enchendo o caminhão ecoava pela rua, um lembrete cruel e definitivo de que tudo estava realmente acabado. A casa, que um dia havia sido seu lar, agora estava sendo desmantelada, caixa por caixa. Era como se cada uma delas, cada uma que saía, fosse uma parte dela mesma que estava se afastando para sempre.
Ela tirou as chaves do carro do bolso, deu o novo endereço para o caminhoneiro e entrou no veículo dando a partida.
As rodas do veículo começaram a se mover lentamente, e ela seguiu em frente, sem olhar para trás, para o lugar que um dia chamara de casa.
O futuro estava à sua frente, e ela não sabia exatamente o que ele traria, mas, pela primeira vez em muito tempo, ela se sentiu pronta para descobrir.