Capítulo Único

Bip.

Bip.

Bip.

Atordoada, abriu lentamente os olhos, seguindo o barulho que ouvia ao longe.

Bip.

A claridade a cegou momentaneamente, até que então seus olhos se acostumaram com o ambiente e ela olhou ao redor, percebendo que estava em um quarto de hospital. A garota respirou fundo, sem entender o que estava acontecendo.
- ?
Ela se virou rápido ao ouvir uma voz conhecida a chamar, deparando-se com , sentado ao seu lado com os olhos preocupados e surpresos. Eles se encararam por longos segundos – que pareciam ter sido horas – até terem coragem de finalmente falar alguma coisa.
- O que está acontecendo? O que você está fazendo aqui?
- Parece que eu ainda sou seu contato de emergência, afinal de contas. – riu, sarcástico – Vou deixar que os médicos expliquem. – ele disse, desviando os olhos para o outro lado do cômodo.

Bip.

Bip.

- Boa tarde, senhorita. Como está se sentindo? – um senhor alto a perguntou enquanto se aproximava e observava o monitor cardíaco que estava conectado a ela.
- Confusa. Por que eu estou aqui?
- Você teve uma parada cardíaca. Duas, para ser mais exato. – a garota o encarou, assustada – Você teve sorte. A combinação de álcool, heroína e xanax foi quase fatal para você, ainda mais levando em conta que você apresenta um quadro severo de desnutrição. Você está sendo alimentada com uma sonda, além de estarmos te dando algumas vitaminas para que recupere-se mais rápido e...
- Eu não quero nada disso, tire.
- Você precisa se não quiser morrer. Após as duas paradas, seu corpo está muito mais fraco. Vamos deixar você em observação por um tempo e também pedimos que um psiquiatra viesse te avaliar, tudo bem?
- Não, não está tudo bem. Vocês não podem tomar essas decisões por mim.
- Mas eu posso. – disse em um tom firme – E eu tomei.
- Enquanto isso, a polícia gostaria de ter uma palavra com a senhorita, estão esperando há alguns dias. Vou pêdi-los para entrar.
sentiu seu corpo inteiro estremecer, encarando com raiva. Além de confusa, estava cheia de raiva e medo. Falar com a polícia definitivamente não estava na lista de coisas que ela gostria de fazer naquele momento. Suspirou e sentou-se com dificuldade na cama enquanto a observava sem qualquer expressão no rosto.
- O que aconteceu naquela noite, ?
- O que?
- Você me ouviu.
- Eu não lembro. E também não te falaria, não te devo nenhuma satisfação.
- Não deve para mim, mas deve pra polícia. E caso você não se lembre, eu sou um advogado, posso tentar ajudar você. – ele respirou fundo, abaixando um pouco a guarda – Eu ainda me importo com você.
- Eu fui para uma festa com algumas amigas, nada fora do comum. – ela disse enquanto encarava a janela – Bebi algumas taças de vinho e tinha tomado muitos comprimidos durante o dia. As meninas começaram a cheirar e eu acabei indo também, eu já estava lá mesmo e eu... A última coisa que eu lembro é de me sentir mal e ouvir as meninas gritando e falando alto. E eu acordei aqui.
- Qual o nome delas?
- Eu prefiro não falar.
- Você precisa.
- Por que? Não vou queimá-las, são minhas amigas. E primeramente, por que a policia quer falar comigo?
- ... – ele passou a mão pelo cabelo, impaciente – Alguém morreu.
havia saído de casa um ano antes para correr atrás do seu sonho de ser uma grande modelo internacional. Parece clichê, mas na cabeça dela, tudo fazia perfeito sentido. Tudo parecia bem até que ela, finalmente, entrou para uma grande agência. E com ela vieram as cobranças pelo peso, os truques para emagrecer, as pílulas receitas a todo momento, as festas, as drogas, as melhores amigas.
- O que?!
- Uma garota chamada Amber foi achada morta e você desacordada ao lado dela naquela noite. As outras garotas sumiram e é por isso que precisam achá-las, precisam colher depoimentos e talvez elas possam ser acusadas de alguma coisa, já que a outra garota era menor de idade.
- Amber está morta? – sua respiração parou por alguns segundos e ela levou a mão até a cabeça, desnorteada.
- Se você não falar a verdade, você também pode ter problemas, .
- Mas...
- Se elas fossem suas amigas, não teriam deixado você sozinha lá, para morrer. – ela disse, frio e direto – Quem chamou a ambulância foi um rapaz que achou vocês por engano, você teve muita sorte.
- Elas me deixaram lá? – disse enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto.
- Sim. – ele concordou e não resistiu ao impulso de deixar que sua mão segurasse a dela, tentando acalmá-la de alguma forma – E isso tudo, , precisa parar. Você está pesando trinta e poucos quilos, isso é quase inumano. Você precisa de ajuda.
- Eu estou bem, .
- Não, você não está. Eu sei que você estava seguindo seus sonhos, mas se continuar assim, você vai morrer. , eu... – ele escondeu o rosto, tentando evitar que ela visse as lágrimas que se acumulavam – Você teve duas paradas cardíacas. Eu achei que ia perder você.
- Você não me odeia?
- Uma boa parte do tempo, sim, mas ver você nessa cama, desacordada por dias, foi devastador, . Você precisa ir para uma clínica.
- Você sabe que eu não vou.
- Se você não for, eu vou entrar na justiça para te declarar como incapaz. – ela abriu a boca, surpresa – Ainda somos legalmente casados, , eu posso tomar decisões por você se você estiver incapacitada, como por exemplo nos últimos dias. E eu amo você. Eu ainda amo você. Não vou deixar que você se destrua mais.
- , eu...
- Você vai para casa comigo. E depois, para uma clínica.
começou a chorar compulsivamente, sendo imediatamente abraçada pelo rapaz. Após longos minutos, ela começou a se acalmar e esfriar sua cabeça, assimilando todas as afirmações. Alguém havia morrido, uma amiga. E ela quase havia morrido também, largada ao lado do corpo de Amber com o coração quase parando. E suas amigas, as pessoas que ela jurava que dariam tudo por ela e que estariam com ela até o fim, foram as responsáveis por isso. Se fosse por elas, estaria morta ali.
- Eu quero ir pra casa, . – ela sussurrou – Eu amo você, eu sinto muito.
- Você vai ficar bem, ok? Vamos ficar bem. Mas agora, você precisa falar com a polícia, eles estão na porta.
- Tudo bem.
respirou fundo e encarou a porta, preparando-se para dar o primeiro passo em direção a sua nova vida, mais uma vez.

Bip.

Bip.





FIM!



Nota da autora: Querem falar comigo? Algum erro, comentário, elogio ou crítica? Podem me encontrar no meu Facebook e no meu email. xx





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