Capítulo Único
Era uma manhã estranha, meio nostálgica, desceu os degraus calmamente enquanto bebericava seu chá de hortelã, seguiu para a sala para pegar sua bolsa e outros itens que precisava levar para a confeitaria. Por mais que seguisse em frente e tentasse esquecer o passado, naquele dia o passado foi o que mais reinou em sua mente.
Enquanto caminhava em direção ao Strawberry, colocou seus fones de ouvido e deixou que a música guiasse seus passos em direção ao estabelecimento que passava grande parte de seu tempo todos os dias.
Ao chegar, foi direto para cozinha onde tinha que guardar algumas embalagens e repor alguns itens, antes de botar a mão na massa, literalmente. Quando terminou, colocou touca e luvas para iniciar o preparo dos doces.
Cortava os morangos com rapidez e precisão enquanto olhava rapidamente para todos os potinhos de vidro com os ingredientes devidamente separados e na medida correta. Sorriu ao observar a perfeição com a qual cortou cada morango. Olhou no relógio. Faltavam 40 minutos para abrir a confeitaria. Precisava se apressar.
Juntou todos os ingredientes e os deixou na batedeira, enquanto checava minuciosamente a receita no caderno de receitas escrito à mão. Depois disso, despejou o conteúdo na forma que já estava untada e a levou até o forno.
— Bom dia, ! — acenou Caleb, um jovem garoto e único funcionário do local além dela.
— Bom dia. Pode limpar as mesas para mim? — perguntou. — Eu preciso verificar o que falta no estoque, pois vou no mercado hoje.
— Tudo bem, chefe. Sem problemas. – Caleb sorriu e se encaminhou para trás do balcão, indo trocar de roupa e cuidar do que a mais velha pediu.
suspirou, o dia mal havia começado e ela já estava cansada. Passou os olhos em cada detalhe do local antes de seguir para o estoque. Era um espaço pequeno, porém, aconchegante. Os bolos, doces e cafés preparados ali eram bastante famosos no bairro em que vivia em Woking, cidade localizada na Inglaterra.
Essa fama havia começado há 5 anos, quando decidiu retornar de Liverpool e abrir o seu próprio negócio em sua cidade natal. mal podia acreditar quando viu o amigo surgindo em sua casa, inesperadamente, após anos sem vê-lo.
Começou a contar o estoque, ainda perturbada pelas lembranças do doce sorriso de enquanto se divertiam na cozinha de sua casa, ouvindo música e fazendo torta de morango, a favorita de . Ele amava muito morango. Se ele pudesse, faria com que o mundo inteiro fosse de morango e bem que gostaria de fazer isso por ele. Queria fazê-lo feliz.
Quando retornou para o balcão e os primeiros clientes começaram a entrar, enfiou um sorriso no rosto e passou a atendê-los com o máximo de profissionalismo.
Caleb cortou uma das tortas que havia preparado antes de abrir a loja e colocou nos potes indicados, iria resfriá-los até que chegassem na temperatura ideal para serem colocados na vitrine, onde os clientes apaixonados pelos doces da Strawberry, levariam embora, aos poucos, uma a uma.
Sentia-se orgulhosa de manter aquilo de pé mesmo que para ela não fosse a mesma coisa.
Só sabia quantas e quantas noites pensou em desistir de tudo e fechar, mas se o fizesse estaria traindo . Como poderia?
— Vim comer uma de suas tortas. Ninguém fala de outra coisa, preciso saber como o gosto é.
— O gosto é ótimo! É receita de família, foi minha mãe quem me ensinou. — respondeu orgulhoso, concentrado em organizar as formas para despejar a massa, mas suas bochechas ficaram vermelhas no instante em que percebeu que estava sendo filmado.
— Não fique com vergonha. — riu, enquanto observava o pequeno sorriso tímido que ele lhe lançou. — Você é uma graça.
— Você pode me achar uma graça, mas eu não posso te chamar de linda? Porque quando eu falo, você fica brava. — resmungou ele, pegando uma vasilha.
— Você pode. — Ela disse em um deslize, já que não era para ele ter ouvido e no mesmo instante, quase derrubou tudo o que estava em cima de seu balcão. — Me perdoe pela minha reação com você naquele dia, não foi das melhores, sei que estava apenas sendo gentil.
— Tudo bem. — falou simplista, tentando voltar a focar nas formas que precisavam ir ao forno, mas sem sucesso. A garota ainda o encarava, agora já sem o celular registrando a cena, apenas olho no olho. — !
— Você perdoa fácil demais. — Ela fez uma careta.
— O que quer que eu faça? Ignore você? — riu, debochado.
— Podia fazer eu implorar pelo seu perdão. — sugeriu.
— Você não é do tipo que se humilha, .
— Tem razão. Esquece. Continue perdoando as pessoas, mas seja um pouco mais firme com elas.
— Certo. Você lava a louça. — Ele deu as costas a ela para prosseguir com o que eu estava fazendo.
— O que? Mas, ...
— Sem essa de "mas, " — afinou a voz como uma forma de imitá-la, voltando ao normal em seguida. — Só vai provar dessa receita maravilhosa se me ajudar aqui e foi você quem acabou de dizer que eu preciso ser mais firme.
— Você é malvado! — Ela fez bico e a contragosto, começou a lavar os pratos.
— E você é linda! — provocou.
— Sou mesmo. — Piscou para e gargalhou em seguida. — Socorro! Eu não sei ser sexy.
— Não sabe mesmo. Nem todos tem esse dom de ser sexy a todo instante como eu. — brincou, colocando uma das formas de torta dentro do forno e já pegando uma colher para raspar a vasilha que havia utilizado.
Entretanto, a paz não durou mais do que dez segundos. passou um pouco do que estava em sua colher na bochecha de , fazendo-a grunhir e começar a persegui-lo em círculos por volta da mesa da cozinha, sem sucesso. Quando cansaram, se aproximou com um guardanapo e limpou a área que havia sujado com cuidado. Seu olhar se cruzou com o da garota e não conseguiram mais desviar, era impossível. Ficaram apenas se encarando e admirando cada traço um do outro.
se aproximou lentamente do rosto de e seu coração disparou de um jeito inexplicável. Quando estavam bem próximos, o celular de tocou e ele deu um rápido selar na testa da garota, antes de se afastar para atender. Foi como um estalo de realidade, onde voltou a si e ficou de olho nas coisas que estavam no forno.
Quando ele retornou, acabou sendo surpreendida por um beijo que seu amigo lhe deu na bochecha. Foi rápido, porém, duradouro o bastante para que ele encostasse seus lábios por completo e fizesse uma pequena pressão na área.
De maneira automática, assim que ele se virou, colocou uma de suas mãos em sua própria bochecha. Era como se ela pudesse sentir o beijo, como se os lábios macios de permanecessem ali para sempre, fazendo todo o seu corpo arrepiar.
Ainda estava tentando processar todos os últimos acontecimentos, quando foi surpreendida por , que segurava um garfo que continha um pedaço da torta de morango na altura dos lábios dela.
— Partilha desse pedaço de felicidade comigo?
O gosto do morango. ainda se lembrava das tardes chuvosas em que se enfiava nos braços de , colava seus lábios nos dele e faziam amor. Falando em amor, a amizade foi se tornando algo a mais junto com a safra de morangos, o que era irônico.
Quando voltou para Woking, os morangos estavam fora de época, ainda precisavam germinar e crescer para que os produtores pudessem os colher e colocá-los à venda.
Mesmo que também comprassem os morangos que contavam com a ajuda de alguns produtos específicos para crescerem mais rápido, sabiam que nada se igualava ao morango crescido em seu processo natural.
Assim, como o amor de ambos - que já existia graças a amizade de longa data, mas que germinou no tempo certo - a safra de morangos veio e muito bem. O primeiro "eu te amo" foi falado no mesmo dia em que as caixas de morango chegaram na casa de .
— Temos o bastante para fazer muitos doces, amor! – comentou empolgado.
— Sim. Agora os sabores vão ficar no ponto ideal. – o abraçou, lhe dando um selinho.
— Obrigado, amor. Obrigado por aceitar essa ideia maluca de abrir uma confeitaria comigo. Eu não poderia estar mais feliz. – sorriu.
— Eu te amo, . Estou do seu lado. Sabe disso. – respondeu antes de lhe roubar um beijo, fazendo com que o namorado risse em seus lábios devido a atitude repentina.
Quando voltou a si, estava no meio da cozinha, olhando para uma torta de morango que era, provavelmente, o doce mais famoso da confeitaria. Sua garganta deu um nó. Queria chorar, queria gritar, mas não podia. Estava no seu ambiente de trabalho e precisava se manter firme.
Era como se estivesse presa em uma narrativa que tinha começo e meio, mas nunca uma conclusão. Ela não conseguia encontrar um desfecho, porque era doloroso demais marcar um ponto final em coisas do passado.
Sabia que era necessário, mas ao mesmo tempo temia que nunca fosse capaz de fazer isso.
A vida e sua ironia.
Quando poderia imaginar que o doce que os uniu como um casal apaixonado, também seria o divisor de águas, um presságio do que viria a acontecer?
Seu toque era tão doce quanto a torta que comiam ao apreciar aquele momento. Um beijo em seu pescoço, outro em sua clavícula.
inebriada pelo cheiro cítrico que o outro tinha. As mãos bobas passeando pelo corpo um do outro. Corpos que se conheciam muito bem. Os suspiros, o som dos beijos estalados na sala. Ninguém podia ouvi-los, ninguém nem suspeitava do que acontecia ali naquele instante.
já estava no colo de , sentindo a animação do parceiro, com seus braços ao redor do pescoço do homem e gemendo o nome do mesmo em seu ouvido.
Uma a uma, as peças de roupa foram se espalhando pelo cômodo, enquanto eles iam esbarrando em tudo pelo caminho até chegar no quarto.
sentiu o colchão em suas costas e fitou os ombros largos de .
As pétalas de rosas enfeitavam sua cama, o cheiro de seu perfume favorito exalava no cômodo, a deixando entorpecida e tomada por uma luxúria única que dominava seu corpo. Ele a fascinava e fazia com que as estrelas refletissem em seu globo ocular.
Os gemidos ficavam mais altos à medida em que se exploravam com mais e mais intensidade. distribuiu beijos pelo corpo de até chegar na sua área sensível. Riu, se divertindo com aquilo e começou a estimulá-la, usando as mãos e os lábios. Não demorou para que ambos consumissem o ato, sentindo suas intimidades em contato, o suor se misturando, as palavras de baixo calão que só os deixavam mais e mais excitados.
Um gemido longo foi dado por ambos, que chegaram no ápice em momentos diferentes, porém, próximos. beijou a testa de e arranjou forças para sair da cama e jogar o preservativo fora, voltando para os lençóis apenas para pegar a namorada no colo, tudo para que pudessem tomar um banho juntos. Depois disso, se deitaram na cama, um tendo a companhia do outro e com seus corações batendo no mesmo ritmo e intensidade, como um só.
sempre fazia planos perfeitos de um futuro lindo juntos. O problema é que a realidade não funciona de acordo com o que a gente idealiza e ninguém avisa para as pessoas ao nosso redor que elas devem seguir o nosso script. Por isso, a vida nos surpreende.
A chuva da manhã seguinte só fez com que a vontade de permanecer na cama aumentasse, mas teria que sair mais cedo de casa para ir até a cidade vizinha buscar algumas frutas com os produtores rurais que eram seus fornecedores. Sua encomenda estava separada e queria voltar antes de abrir a confeitaria.
se preocupou ao olhar pela janela e ver a força da chuva e dos ventos. disse para que ela não se preocupasse e juntos tomaram o café da manhã, aproveitando para comer os últimos pedaços que haviam da torta de morango do dia anterior.
se despediu dando um beijo nos lábios de sua amada, que lançou seu melhor sorriso a ele, o sorriso que o namorado sempre lhe dizia que era irresistível.
disse um "eu te amo" e viu sair pela porta da sala e nunca mais voltar.
De olho na vitrine, fitava os bolos como se procurasse por algum resquício de defeito, mas na verdade, estava apenas se perdendo nas texturas, nas cores, como uma forma de acalentar seu coração que batia acelerado dentro do peito.
Medo.
Ela tinha medo de deixar suas verdadeiras cores saírem, que as pessoas vissem quem ela era de verdade. ficava ali, parada, imersa em um sono profundo e sem sair do casulo, como uma lagarta com medo de virar borboleta, com medo de voar.
Ela era puro medo.
Tinha medo de sentir de novo, medo de amar de novo, medo de viver de novo. Caminhava em círculos, presa num labirinto sem saída. Se sentia observada por vários olhares condenadores, que a despia, a batia, a violentava psicologicamente, para então, ela voltar à estaca zero.
Sem esperança. Apenas medo.
Um acidente.
O carro de derrapou na estrada molhada e capotou. Ele morreu na hora e em meio aos morangos que trazia em seu carro e que estavam em um número bem maior do que as outras frutas. passou a odiar morangos a partir desse dia.
Após o funeral de , foi furiosa para a Strawberry e quebrou tudo o que viu pela sua frente, até que sua raiva se transformou em choro e culpa.
A promessa que havia feito não poderia ser quebrada.
"— Vamos cuidar disso aqui juntos! — disse , animado ao observar a fachada de seu novo negócio. — Me prometa que não importa o que aconteça, você sempre irá cuidar da Strawberry com muito amor e me ajudará a manter esse sonho vivo.
— Eu prometo. O seu sonho é o meu sonho também. — sorriu e o abraçou."
Maldita promessa!
Com o tempo, Strawberry se tornou uma lembrança agridoce, um misto da vida que tinha quando estava vivo e quando o perdeu.
Sentada na cozinha da loja e folheando o caderno de receitas escrito pelo namorado - que era onde se orientava para fazer os doces, já que não seguia receitas de ninguém além de suas próprias -, se permitiu sorrir, se permitiu até a comer um morango, algo que só fazia para verificar se os doces preparados por si tinham chego no ponto ideal.
Ao cozinhar, ela se sentia próxima do namorado. Ela se conectava de tal modo, que podia sentir o cheiro cítrico que ele emanava e o gosto incrível de sua torta de morango invadir a sua boca. Quando deu por si, pegou um pedaço do doce que não comia desde que havia perdido o parceiro. Ao sentir a textura da torta em seus lábios, mesmo que ainda não tivesse dado a primeira mordida, foi transportada para uma sensação completamente familiar e acolhedora.
Era como se estivesse beijando os lábios de outra vez.
E, então, ela o beijou.
Sentiu o gosto que tanto lhe fazia falta e se permitiu imaginar ali, a beijando de volta. Seu coração se aqueceu de lembranças e seus olhos se inundaram de lágrimas. Nunca se esqueceria do sorriso de seu namorado, de seu cheiro acalentador e seus toques.
compreendeu, naquele instante, que nunca poderia odiar morangos, pois, odiar morangos era o mesmo que odiar e ela o amava de maneira profunda, com todo o seu ser e nunca deixaria de amá-lo.
Naquele mesmo dia, ao se despedir de Caleb e fechar o Strawberry, a mulher caminhou para casa cantarolando a sua canção favorita e carregando uma caixa da confeitaria debaixo dos braços.
Era uma torta de morango.
▧
— Terminei! — ergueu os braços animada e sorriu para , que lhe encarou cheio de expectativas. — Não acredito que depois de dois longos anos eu finalizei o meu terceiro livro. Não é demais, amor?
sorriu e foi para trás da cadeira dela, passando os braços sobre seus ombros em uma espécie de abraço e depositou um beijo no topo da cabeça da noiva.
— Estou orgulhoso de você meu anjo, mas sabe que terá que mudar os nossos nomes, né? A não ser que queira nos colocar como personagens do seu enredo. — riu depois de olhar a tela do notebook onde o arquivo estava aberto.
— É melhor deixar a gente fora disso, até porque, se quiserem fazer uma adaptação para o cinema, é certeza que os fãs vão pedir para que a gente interprete a nós mesmos e seria uma tragédia com o nosso nível atuação. — riu, acariciando o rosto dele. — Eu vou mudar os nomes, relaxa. Eu já pensei em tudo. É que estou tão conectada a você, que eu simplesmente não consigo escrever as minhas histórias sem colocar os nossos nomes nelas. Gosto de viver todas as aventuras ao seu lado, sejam histórias tristes ou felizes. Até na literatura, o meu personagem favorito é você, .
— Daqui há alguns meses, "Strawberry" estará nas prateleiras de todas as livrarias da Inglaterra e do mundo. — bateu palmas, empolgado.
Diferente da trama do livro, apesar de amar doces, não era confeiteiro, mas sim, violinista.
— Espero que seja um best-seller como os outros foram.
— E será meu amor, o que você escreve toca o coração das pessoas. — se inclinou e beijou com intensidade, o tipo de beijo que sempre fazia o coração da escritora disparar.
Rindo contra os seus lábios da amada antes de quebrar o beijo, lançou um olhar sapeca na direção de .
— O que foi? — questionou , sustentando o olhar.
— As de Londres não são tão boas quanto as de Woking, mas ainda assim, são gostosas. Como eu sabia que iria finalizar o seu livro hoje, pensei que a gente pudesse celebrar isso da maneira certa. — disse e lhe puxou pela mão, a guiando até a cozinha.
— Do que é que você está falando? — o seguiu mesmo estando confusa.
— Eu comprei uma torta de morango.
▣▣▣
A escritora, enfim, havia encerrado mais um de seus romances. Era um tanto quanto desafiador criar uma narrativa dentro de uma narrativa, poderia até ficar confuso, mas ela gostava de brincar com a cabeça de seus leitores.
Nada a divertia mais do que receber comentários em caixa alta de pessoas das mais diversas nacionalidades, todos expressando o seu ponto de vista, os seus surtos e seus agradecimentos nas redes sociais.
Apesar de todas as histórias românticas, que falavam da vida cotidiana e de como a pessoa especial pode ser encontrada nos lugares mais inusitados e nos momentos mais inesperados. Ela mesma nunca havia sido protagonista de algo assim, já havia se conformado com o fato de que nem todos encontram a sua metade da laranja.
Não era hipócrita. Havia momentos em que se sentia carente e sonhava em ter alguém para lhe acolher nos braços enquanto ficavam enfiados na cama, debaixo do edredom e protegidos do frio cortante que reinava no lado de fora de casa. Alguém que estivesse ali para ser seu parceiro de verdade, nos altos e baixos, que vivesse tudo tão intensamente quanto ela.
Mas assim como esses momentos vinham, eles também passavam feito vento que sopra numa tarde quente de verão, refrescando por alguns segundos antes de desaparecer por completo.
Ela adorava falar sobre o amor em suas diversas formas, mas, principalmente, o amor que faz com que duas pessoas aleatórias se conectem de tal forma, que seus caminhos passam a se entrelaçar e um se torna parte permanente da jornada do outro.
Era fascinada sobre o amor considerado clichê, o amor que dá certo e não o amor que se transforma em rancor e feridas que nunca cicatrizam. Ela já tinha experimentado o amor destrutivo e não pretendia voltar.
Se orgulhava de suas histórias e de poder, através dos livros, compartilhar uma parte de seu coração.
A ligação com seus personagens era tão forte, que a autora podia sentir tudo o que eles sentiam e em cada palavra escrita, as suas emoções se guiavam pelo enredo. Então, ela chorava, gargalhava, sorria e se entristecia a cada novo acontecimento criado por si.
Mas ao voltar para a realidade, estava solitária e o ciclo se iniciava novamente.
Escrever era o seu refúgio e era difícil aceitar a realidade de que, provavelmente, nunca iria ser a protagonista de algo tão genuíno e tão bonito.
Talvez, as pessoas estivessem certas quando lhe diziam que ela era sonhadora demais, iludida demais e que: "falar de amor, não é amar".
Talvez, a sua pessoa especial estivesse presa em uma das férias de verão que ela criou em uma de suas histórias, ou talvez ela apenas vivesse das mentiras que sempre acreditou.
Talvez, tudo fosse somente talvez e em meio a tantos questionamentos, fechou o seu notebook, pegou o seu casaco que estava atrás da porta e encarou as ruas frias de Woking para tomar um café e comer um pedaço de torta em um de seus lugares favoritos da cidade.
Talvez, a sua metade da laranja não fosse da laranja, mas sim do morango, que era de fato a sua fruta favorita.
Enquanto caminhava em direção ao Strawberry, colocou seus fones de ouvido e deixou que a música guiasse seus passos em direção ao estabelecimento que passava grande parte de seu tempo todos os dias.
Ao chegar, foi direto para cozinha onde tinha que guardar algumas embalagens e repor alguns itens, antes de botar a mão na massa, literalmente. Quando terminou, colocou touca e luvas para iniciar o preparo dos doces.
Cortava os morangos com rapidez e precisão enquanto olhava rapidamente para todos os potinhos de vidro com os ingredientes devidamente separados e na medida correta. Sorriu ao observar a perfeição com a qual cortou cada morango. Olhou no relógio. Faltavam 40 minutos para abrir a confeitaria. Precisava se apressar.
Juntou todos os ingredientes e os deixou na batedeira, enquanto checava minuciosamente a receita no caderno de receitas escrito à mão. Depois disso, despejou o conteúdo na forma que já estava untada e a levou até o forno.
— Bom dia, ! — acenou Caleb, um jovem garoto e único funcionário do local além dela.
— Bom dia. Pode limpar as mesas para mim? — perguntou. — Eu preciso verificar o que falta no estoque, pois vou no mercado hoje.
— Tudo bem, chefe. Sem problemas. – Caleb sorriu e se encaminhou para trás do balcão, indo trocar de roupa e cuidar do que a mais velha pediu.
suspirou, o dia mal havia começado e ela já estava cansada. Passou os olhos em cada detalhe do local antes de seguir para o estoque. Era um espaço pequeno, porém, aconchegante. Os bolos, doces e cafés preparados ali eram bastante famosos no bairro em que vivia em Woking, cidade localizada na Inglaterra.
Essa fama havia começado há 5 anos, quando decidiu retornar de Liverpool e abrir o seu próprio negócio em sua cidade natal. mal podia acreditar quando viu o amigo surgindo em sua casa, inesperadamente, após anos sem vê-lo.
Começou a contar o estoque, ainda perturbada pelas lembranças do doce sorriso de enquanto se divertiam na cozinha de sua casa, ouvindo música e fazendo torta de morango, a favorita de . Ele amava muito morango. Se ele pudesse, faria com que o mundo inteiro fosse de morango e bem que gostaria de fazer isso por ele. Queria fazê-lo feliz.
Quando retornou para o balcão e os primeiros clientes começaram a entrar, enfiou um sorriso no rosto e passou a atendê-los com o máximo de profissionalismo.
Caleb cortou uma das tortas que havia preparado antes de abrir a loja e colocou nos potes indicados, iria resfriá-los até que chegassem na temperatura ideal para serem colocados na vitrine, onde os clientes apaixonados pelos doces da Strawberry, levariam embora, aos poucos, uma a uma.
Sentia-se orgulhosa de manter aquilo de pé mesmo que para ela não fosse a mesma coisa.
Só sabia quantas e quantas noites pensou em desistir de tudo e fechar, mas se o fizesse estaria traindo . Como poderia?
Eu segui os seus passos
Achando que você
Soubesse onde ir
Achando que você
Soubesse onde ir
— Vim comer uma de suas tortas. Ninguém fala de outra coisa, preciso saber como o gosto é.
— O gosto é ótimo! É receita de família, foi minha mãe quem me ensinou. — respondeu orgulhoso, concentrado em organizar as formas para despejar a massa, mas suas bochechas ficaram vermelhas no instante em que percebeu que estava sendo filmado.
— Não fique com vergonha. — riu, enquanto observava o pequeno sorriso tímido que ele lhe lançou. — Você é uma graça.
— Você pode me achar uma graça, mas eu não posso te chamar de linda? Porque quando eu falo, você fica brava. — resmungou ele, pegando uma vasilha.
— Você pode. — Ela disse em um deslize, já que não era para ele ter ouvido e no mesmo instante, quase derrubou tudo o que estava em cima de seu balcão. — Me perdoe pela minha reação com você naquele dia, não foi das melhores, sei que estava apenas sendo gentil.
— Tudo bem. — falou simplista, tentando voltar a focar nas formas que precisavam ir ao forno, mas sem sucesso. A garota ainda o encarava, agora já sem o celular registrando a cena, apenas olho no olho. — !
— Você perdoa fácil demais. — Ela fez uma careta.
— O que quer que eu faça? Ignore você? — riu, debochado.
— Podia fazer eu implorar pelo seu perdão. — sugeriu.
— Você não é do tipo que se humilha, .
— Tem razão. Esquece. Continue perdoando as pessoas, mas seja um pouco mais firme com elas.
— Certo. Você lava a louça. — Ele deu as costas a ela para prosseguir com o que eu estava fazendo.
— O que? Mas, ...
— Sem essa de "mas, " — afinou a voz como uma forma de imitá-la, voltando ao normal em seguida. — Só vai provar dessa receita maravilhosa se me ajudar aqui e foi você quem acabou de dizer que eu preciso ser mais firme.
— Você é malvado! — Ela fez bico e a contragosto, começou a lavar os pratos.
— E você é linda! — provocou.
— Sou mesmo. — Piscou para e gargalhou em seguida. — Socorro! Eu não sei ser sexy.
— Não sabe mesmo. Nem todos tem esse dom de ser sexy a todo instante como eu. — brincou, colocando uma das formas de torta dentro do forno e já pegando uma colher para raspar a vasilha que havia utilizado.
Entretanto, a paz não durou mais do que dez segundos. passou um pouco do que estava em sua colher na bochecha de , fazendo-a grunhir e começar a persegui-lo em círculos por volta da mesa da cozinha, sem sucesso. Quando cansaram, se aproximou com um guardanapo e limpou a área que havia sujado com cuidado. Seu olhar se cruzou com o da garota e não conseguiram mais desviar, era impossível. Ficaram apenas se encarando e admirando cada traço um do outro.
se aproximou lentamente do rosto de e seu coração disparou de um jeito inexplicável. Quando estavam bem próximos, o celular de tocou e ele deu um rápido selar na testa da garota, antes de se afastar para atender. Foi como um estalo de realidade, onde voltou a si e ficou de olho nas coisas que estavam no forno.
Quando ele retornou, acabou sendo surpreendida por um beijo que seu amigo lhe deu na bochecha. Foi rápido, porém, duradouro o bastante para que ele encostasse seus lábios por completo e fizesse uma pequena pressão na área.
De maneira automática, assim que ele se virou, colocou uma de suas mãos em sua própria bochecha. Era como se ela pudesse sentir o beijo, como se os lábios macios de permanecessem ali para sempre, fazendo todo o seu corpo arrepiar.
Ainda estava tentando processar todos os últimos acontecimentos, quando foi surpreendida por , que segurava um garfo que continha um pedaço da torta de morango na altura dos lábios dela.
— Partilha desse pedaço de felicidade comigo?
O gosto do morango. ainda se lembrava das tardes chuvosas em que se enfiava nos braços de , colava seus lábios nos dele e faziam amor. Falando em amor, a amizade foi se tornando algo a mais junto com a safra de morangos, o que era irônico.
Quando voltou para Woking, os morangos estavam fora de época, ainda precisavam germinar e crescer para que os produtores pudessem os colher e colocá-los à venda.
Mesmo que também comprassem os morangos que contavam com a ajuda de alguns produtos específicos para crescerem mais rápido, sabiam que nada se igualava ao morango crescido em seu processo natural.
Assim, como o amor de ambos - que já existia graças a amizade de longa data, mas que germinou no tempo certo - a safra de morangos veio e muito bem. O primeiro "eu te amo" foi falado no mesmo dia em que as caixas de morango chegaram na casa de .
— Temos o bastante para fazer muitos doces, amor! – comentou empolgado.
— Sim. Agora os sabores vão ficar no ponto ideal. – o abraçou, lhe dando um selinho.
— Obrigado, amor. Obrigado por aceitar essa ideia maluca de abrir uma confeitaria comigo. Eu não poderia estar mais feliz. – sorriu.
— Eu te amo, . Estou do seu lado. Sabe disso. – respondeu antes de lhe roubar um beijo, fazendo com que o namorado risse em seus lábios devido a atitude repentina.
Quando voltou a si, estava no meio da cozinha, olhando para uma torta de morango que era, provavelmente, o doce mais famoso da confeitaria. Sua garganta deu um nó. Queria chorar, queria gritar, mas não podia. Estava no seu ambiente de trabalho e precisava se manter firme.
Era como se estivesse presa em uma narrativa que tinha começo e meio, mas nunca uma conclusão. Ela não conseguia encontrar um desfecho, porque era doloroso demais marcar um ponto final em coisas do passado.
Sabia que era necessário, mas ao mesmo tempo temia que nunca fosse capaz de fazer isso.
A vida e sua ironia.
Quando poderia imaginar que o doce que os uniu como um casal apaixonado, também seria o divisor de águas, um presságio do que viria a acontecer?
Derreti em seus lábios
Sentindo o chão sumir
Embaixo dos meus pés
As mãos unidas, as vozes emitindo um som de risada, graças a um filme que estavam assistindo na sala da casa de . Sentindo o chão sumir
Embaixo dos meus pés
Seu toque era tão doce quanto a torta que comiam ao apreciar aquele momento. Um beijo em seu pescoço, outro em sua clavícula.
inebriada pelo cheiro cítrico que o outro tinha. As mãos bobas passeando pelo corpo um do outro. Corpos que se conheciam muito bem. Os suspiros, o som dos beijos estalados na sala. Ninguém podia ouvi-los, ninguém nem suspeitava do que acontecia ali naquele instante.
já estava no colo de , sentindo a animação do parceiro, com seus braços ao redor do pescoço do homem e gemendo o nome do mesmo em seu ouvido.
Uma a uma, as peças de roupa foram se espalhando pelo cômodo, enquanto eles iam esbarrando em tudo pelo caminho até chegar no quarto.
sentiu o colchão em suas costas e fitou os ombros largos de .
As pétalas de rosas enfeitavam sua cama, o cheiro de seu perfume favorito exalava no cômodo, a deixando entorpecida e tomada por uma luxúria única que dominava seu corpo. Ele a fascinava e fazia com que as estrelas refletissem em seu globo ocular.
Os gemidos ficavam mais altos à medida em que se exploravam com mais e mais intensidade. distribuiu beijos pelo corpo de até chegar na sua área sensível. Riu, se divertindo com aquilo e começou a estimulá-la, usando as mãos e os lábios. Não demorou para que ambos consumissem o ato, sentindo suas intimidades em contato, o suor se misturando, as palavras de baixo calão que só os deixavam mais e mais excitados.
Um gemido longo foi dado por ambos, que chegaram no ápice em momentos diferentes, porém, próximos. beijou a testa de e arranjou forças para sair da cama e jogar o preservativo fora, voltando para os lençóis apenas para pegar a namorada no colo, tudo para que pudessem tomar um banho juntos. Depois disso, se deitaram na cama, um tendo a companhia do outro e com seus corações batendo no mesmo ritmo e intensidade, como um só.
sempre fazia planos perfeitos de um futuro lindo juntos. O problema é que a realidade não funciona de acordo com o que a gente idealiza e ninguém avisa para as pessoas ao nosso redor que elas devem seguir o nosso script. Por isso, a vida nos surpreende.
A chuva da manhã seguinte só fez com que a vontade de permanecer na cama aumentasse, mas teria que sair mais cedo de casa para ir até a cidade vizinha buscar algumas frutas com os produtores rurais que eram seus fornecedores. Sua encomenda estava separada e queria voltar antes de abrir a confeitaria.
se preocupou ao olhar pela janela e ver a força da chuva e dos ventos. disse para que ela não se preocupasse e juntos tomaram o café da manhã, aproveitando para comer os últimos pedaços que haviam da torta de morango do dia anterior.
se despediu dando um beijo nos lábios de sua amada, que lançou seu melhor sorriso a ele, o sorriso que o namorado sempre lhe dizia que era irresistível.
disse um "eu te amo" e viu sair pela porta da sala e nunca mais voltar.
De olho na vitrine, fitava os bolos como se procurasse por algum resquício de defeito, mas na verdade, estava apenas se perdendo nas texturas, nas cores, como uma forma de acalentar seu coração que batia acelerado dentro do peito.
Medo.
Ela tinha medo de deixar suas verdadeiras cores saírem, que as pessoas vissem quem ela era de verdade. ficava ali, parada, imersa em um sono profundo e sem sair do casulo, como uma lagarta com medo de virar borboleta, com medo de voar.
Ela era puro medo.
Tinha medo de sentir de novo, medo de amar de novo, medo de viver de novo. Caminhava em círculos, presa num labirinto sem saída. Se sentia observada por vários olhares condenadores, que a despia, a batia, a violentava psicologicamente, para então, ela voltar à estaca zero.
Sem esperança. Apenas medo.
Eu caí em pedaços
Um grão de areia carregado
Por marés
Estava no Strawberry trabalhando, quando recebeu a ligação do hospital pedindo que fosse para lá e que seu número era o primeiro na lista de contatos de . Desesperada, fechou tudo e correu para o Hospital Regional de Woking, já sabendo do que se tratava. Um grão de areia carregado
Por marés
Um acidente.
O carro de derrapou na estrada molhada e capotou. Ele morreu na hora e em meio aos morangos que trazia em seu carro e que estavam em um número bem maior do que as outras frutas. passou a odiar morangos a partir desse dia.
Após o funeral de , foi furiosa para a Strawberry e quebrou tudo o que viu pela sua frente, até que sua raiva se transformou em choro e culpa.
A promessa que havia feito não poderia ser quebrada.
"— Vamos cuidar disso aqui juntos! — disse , animado ao observar a fachada de seu novo negócio. — Me prometa que não importa o que aconteça, você sempre irá cuidar da Strawberry com muito amor e me ajudará a manter esse sonho vivo.
— Eu prometo. O seu sonho é o meu sonho também. — sorriu e o abraçou."
Maldita promessa!
Com o tempo, Strawberry se tornou uma lembrança agridoce, um misto da vida que tinha quando estava vivo e quando o perdeu.
Sentada na cozinha da loja e folheando o caderno de receitas escrito pelo namorado - que era onde se orientava para fazer os doces, já que não seguia receitas de ninguém além de suas próprias -, se permitiu sorrir, se permitiu até a comer um morango, algo que só fazia para verificar se os doces preparados por si tinham chego no ponto ideal.
Ao cozinhar, ela se sentia próxima do namorado. Ela se conectava de tal modo, que podia sentir o cheiro cítrico que ele emanava e o gosto incrível de sua torta de morango invadir a sua boca. Quando deu por si, pegou um pedaço do doce que não comia desde que havia perdido o parceiro. Ao sentir a textura da torta em seus lábios, mesmo que ainda não tivesse dado a primeira mordida, foi transportada para uma sensação completamente familiar e acolhedora.
Era como se estivesse beijando os lábios de outra vez.
E, então, ela o beijou.
Sentiu o gosto que tanto lhe fazia falta e se permitiu imaginar ali, a beijando de volta. Seu coração se aqueceu de lembranças e seus olhos se inundaram de lágrimas. Nunca se esqueceria do sorriso de seu namorado, de seu cheiro acalentador e seus toques.
compreendeu, naquele instante, que nunca poderia odiar morangos, pois, odiar morangos era o mesmo que odiar e ela o amava de maneira profunda, com todo o seu ser e nunca deixaria de amá-lo.
Naquele mesmo dia, ao se despedir de Caleb e fechar o Strawberry, a mulher caminhou para casa cantarolando a sua canção favorita e carregando uma caixa da confeitaria debaixo dos braços.
Era uma torta de morango.
— Terminei! — ergueu os braços animada e sorriu para , que lhe encarou cheio de expectativas. — Não acredito que depois de dois longos anos eu finalizei o meu terceiro livro. Não é demais, amor?
sorriu e foi para trás da cadeira dela, passando os braços sobre seus ombros em uma espécie de abraço e depositou um beijo no topo da cabeça da noiva.
— Estou orgulhoso de você meu anjo, mas sabe que terá que mudar os nossos nomes, né? A não ser que queira nos colocar como personagens do seu enredo. — riu depois de olhar a tela do notebook onde o arquivo estava aberto.
— É melhor deixar a gente fora disso, até porque, se quiserem fazer uma adaptação para o cinema, é certeza que os fãs vão pedir para que a gente interprete a nós mesmos e seria uma tragédia com o nosso nível atuação. — riu, acariciando o rosto dele. — Eu vou mudar os nomes, relaxa. Eu já pensei em tudo. É que estou tão conectada a você, que eu simplesmente não consigo escrever as minhas histórias sem colocar os nossos nomes nelas. Gosto de viver todas as aventuras ao seu lado, sejam histórias tristes ou felizes. Até na literatura, o meu personagem favorito é você, .
— Daqui há alguns meses, "Strawberry" estará nas prateleiras de todas as livrarias da Inglaterra e do mundo. — bateu palmas, empolgado.
Diferente da trama do livro, apesar de amar doces, não era confeiteiro, mas sim, violinista.
— Espero que seja um best-seller como os outros foram.
— E será meu amor, o que você escreve toca o coração das pessoas. — se inclinou e beijou com intensidade, o tipo de beijo que sempre fazia o coração da escritora disparar.
Rindo contra os seus lábios da amada antes de quebrar o beijo, lançou um olhar sapeca na direção de .
— O que foi? — questionou , sustentando o olhar.
— As de Londres não são tão boas quanto as de Woking, mas ainda assim, são gostosas. Como eu sabia que iria finalizar o seu livro hoje, pensei que a gente pudesse celebrar isso da maneira certa. — disse e lhe puxou pela mão, a guiando até a cozinha.
— Do que é que você está falando? — o seguiu mesmo estando confusa.
— Eu comprei uma torta de morango.
Fim
A escritora, enfim, havia encerrado mais um de seus romances. Era um tanto quanto desafiador criar uma narrativa dentro de uma narrativa, poderia até ficar confuso, mas ela gostava de brincar com a cabeça de seus leitores.
Nada a divertia mais do que receber comentários em caixa alta de pessoas das mais diversas nacionalidades, todos expressando o seu ponto de vista, os seus surtos e seus agradecimentos nas redes sociais.
Apesar de todas as histórias românticas, que falavam da vida cotidiana e de como a pessoa especial pode ser encontrada nos lugares mais inusitados e nos momentos mais inesperados. Ela mesma nunca havia sido protagonista de algo assim, já havia se conformado com o fato de que nem todos encontram a sua metade da laranja.
Não era hipócrita. Havia momentos em que se sentia carente e sonhava em ter alguém para lhe acolher nos braços enquanto ficavam enfiados na cama, debaixo do edredom e protegidos do frio cortante que reinava no lado de fora de casa. Alguém que estivesse ali para ser seu parceiro de verdade, nos altos e baixos, que vivesse tudo tão intensamente quanto ela.
Mas assim como esses momentos vinham, eles também passavam feito vento que sopra numa tarde quente de verão, refrescando por alguns segundos antes de desaparecer por completo.
Ela adorava falar sobre o amor em suas diversas formas, mas, principalmente, o amor que faz com que duas pessoas aleatórias se conectem de tal forma, que seus caminhos passam a se entrelaçar e um se torna parte permanente da jornada do outro.
Era fascinada sobre o amor considerado clichê, o amor que dá certo e não o amor que se transforma em rancor e feridas que nunca cicatrizam. Ela já tinha experimentado o amor destrutivo e não pretendia voltar.
Se orgulhava de suas histórias e de poder, através dos livros, compartilhar uma parte de seu coração.
A ligação com seus personagens era tão forte, que a autora podia sentir tudo o que eles sentiam e em cada palavra escrita, as suas emoções se guiavam pelo enredo. Então, ela chorava, gargalhava, sorria e se entristecia a cada novo acontecimento criado por si.
Mas ao voltar para a realidade, estava solitária e o ciclo se iniciava novamente.
Escrever era o seu refúgio e era difícil aceitar a realidade de que, provavelmente, nunca iria ser a protagonista de algo tão genuíno e tão bonito.
Talvez, as pessoas estivessem certas quando lhe diziam que ela era sonhadora demais, iludida demais e que: "falar de amor, não é amar".
Talvez, a sua pessoa especial estivesse presa em uma das férias de verão que ela criou em uma de suas histórias, ou talvez ela apenas vivesse das mentiras que sempre acreditou.
Talvez, tudo fosse somente talvez e em meio a tantos questionamentos, fechou o seu notebook, pegou o seu casaco que estava atrás da porta e encarou as ruas frias de Woking para tomar um café e comer um pedaço de torta em um de seus lugares favoritos da cidade.
Talvez, a sua metade da laranja não fosse da laranja, mas sim do morango, que era de fato a sua fruta favorita.
Fim.
Nota da autora: Mais uma história concluída com sucesso. Espero que vocês tenham gostado e não tenham ficado muito confusas hahaha ♥
Obrigada a organizadora desse ficstape maravilhoso, a beta, a scripter, a capista e todo mundo que fez parte desse projeto do Capital Inicial e ao FFOBS de um modo geral por proporcionar tantas histórias boas para a gente.
ME SIGAM NAS REDES SOCIAIS!
• Instagram: @sinnerwriterfics (Meu insta é 100% dedicado as minhas fanfics. Lá eu posto infos, trailers, vídeos especiais e trechos dos capítulos com breves espiadas do que vem por aí).
• Twitter: @sinnerwriter (aqui eu falo um pouco de tudo, mas pode chegar).
Leia as minhas outras histórias
Além do Paddock
13. Paranoid
Nota da scripter: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Quer saber quando esta fic irá atualizar? Acompanhe aqui.
Obrigada a organizadora desse ficstape maravilhoso, a beta, a scripter, a capista e todo mundo que fez parte desse projeto do Capital Inicial e ao FFOBS de um modo geral por proporcionar tantas histórias boas para a gente.
ME SIGAM NAS REDES SOCIAIS!
• Instagram: @sinnerwriterfics (Meu insta é 100% dedicado as minhas fanfics. Lá eu posto infos, trailers, vídeos especiais e trechos dos capítulos com breves espiadas do que vem por aí).
• Twitter: @sinnerwriter (aqui eu falo um pouco de tudo, mas pode chegar).
Leia as minhas outras histórias
Além do Paddock
13. Paranoid
Nota da scripter: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Quer saber quando esta fic irá atualizar? Acompanhe aqui.