Capítulo Único
Abrir os olhos e se deparar com o marido ao seu lado era uma das coisas favoritas de . Ele estava tão sereno com a cabeça afundada no travesseiro e o rosto revelava algumas pequenas pintas que pareciam constelações. Ela amava cada detalhe. Embora, estivessem envelhecendo e não fossem mais os mesmos de anos antes, ele ainda lhe causava as mesmas borboletas no estômago.
Correu seus dedos livremente entre os cabelos emaranhados e permitiu-se encostar a ponta do nariz nos fios para sentir o cheiro. Depois deixou um beijo carinhoso em sua testa, o que fez o mesmo murmurar algo ainda completamente imerso no sono. Sorriu. Ele era tão lindo!
E, então, veio o nó na garganta.
Ela sempre teve que lidar com a insegurança, não era um sentimento novo para , ainda mais estando por tanto tempo com alguém famoso, mas parecia que nos últimos meses aquilo estava a engolindo de uma maneira ainda mais forte.
Ela sabia bem o problema, ela já o tinha identificado no primeiro momento em que se sentiu aflita: envelhecer.
Apesar de se manterem longe dos holofotes ao máximo, a vida de tinha um glamour que ela não fazia parte, por mais que o acompanhasse muitas vezes. Por ser um ótimo ator, ele era requisitado para estar presente em grandes projetos, bastava tê-lo no elenco para ser considerado um oscar material, pois todo mundo valorizava o seu talento e sabia que ter seu nome no elenco chamava a atenção. E por participar de grandes trabalhos, estava sempre ao lado de ótimas atrizes, grandes símbolos de beleza, ícones que eram capa de revista. Sempre com seus cabelos perfeitos e pele sem manchas, muitas vezes mais novas do que ele, outras vezes mais velhas, mas todas impecáveis.
tinha amor próprio, se cuidava, fazia o seu melhor para se manter bonita para si mesma, mas era muito difícil não pensar que o tempo estava a alcançando, que em quatro anos atingiria os 40 e iria se cansar dela, iria buscar alguém mais jovial, alguém sem marcas de expressão no rosto e com um físico mais atlético, com um corpo curvilíneo e sem gorduras, que o deixaria duro somente de olhar.
Ela não tinha como competir com as estrelas de cinema, com as musas das passarelas e as deusas do palco.
Ela não tinha como competir com o tempo.
Na noite anterior, tinha ido ao BAFTA, concorria na categoria de “melhor ator”. A ideia era acompanhá-lo, mas Amelia, filha do casal, tinha ficado doente dias antes e apesar de já ter melhorado, usou isso como uma oportunidade de escapar do evento, alegando que sentia que não seria uma boa deixar a menina com os avós.
Ficou em casa com Amelia entre seus braços e assistindo o marido pela TV.
Ele a telefonou quando saiu de lá, dizendo que iria tomar um champanhe com os colegas de elenco na after party, mas que não iria demorar para voltar para casa. Ela o mandou se divertir. havia vencido como melhor ator e merecia comemorar após tantos meses se dedicando para dar vida a um personagem complexo.
Depois que Amelia dormiu, decidiu adiantar um pouco de seus projetos. Ocupar a mente, a fazia não pensar em coisas que a machucavam.
Ela trabalhava em uma editora, fazia diagramação de revistas e livros, passava boa parte de seu tempo sentada na frente de um computador criando logos, fazendo ilustrações, acrescentando detalhes em páginas para chamar atenção do leitor e adicionar uma nova informação no caso das revistas, ou ajudar na imersão de mundos incríveis criados por autores talentosos nos livros mais prestigiados dentro do selo em que trabalhava.
Na época em que ela e se conheceram, ela já trabalhava na editora, mas ainda era parte de uma das equipes de criação de uma revista de natureza e não a chefe de arte da segunda maior revista da editora, bem como a responsável pela diagramação dos principais livros.
Ela devia muito a Louise - sua amiga de longa data e “chefe” - por ter meio que juntado os dois.
Sentiu-se um pouco intimidada assim que colocou os pés na frente da mansão, que até então era desconhecida para si, apesar de conhecer o proprietário. Se perguntava como havia parado ali e pensava seriamente em retornar para dentro do carro, mas as mãos de Louise a agarraram em seu braço direito e soube naquele instante que não havia como voltar atrás.
Louise Jones era um espírito livre e de sorriso fácil. As duas se conheceram na universidade através de colegas em comum e bastou apenas alguns encontros em bares para que desenvolvessem uma amizade forte, que superou a formatura e os diferentes caminhos que seguiram.
Jones vinha de uma família muito bem-sucedida e que tinha negócios na área de finanças, caminho que a loira também escolheu para si e provou ser uma das melhores no ramo. Ainda estava em ascensão na empresa, mas não tinha dúvidas de que a amiga iria ser a chefe de uma das filiais de seu pai muito em breve. Além disso, Louise havia se tornado uma das donas da editora em que trabalhava, sendo proprietária de 70% das ações.
A verdade é que nunca imaginou ter alguém como Louise em sua vida. A garota quebrou todos os estereótipos que tinha de pessoas ricas. Ela não era esnobe, não achava que era o centro do universo e reconhecia seus privilégios. amava como a amiga podia estar na cobertura do prédio mais luxuoso e em seguida sentar na calçada do centro da cidade com alguns amigos e desconhecidos para beber cervejas, ouvir música de artistas de rua e se permitir se envolver pelo ambiente sem julgamentos. Ela gostava de estar com as pessoas, de ouvir suas histórias e apreciar cada segundo do agora seja como fosse.
a admirava.
Enquanto deixava que a amiga lhe guiasse pela enorme casa, olhava tudo com grande fascínio. Mesmo que trabalhasse o triplo do que já estava trabalhando, jamais poderia ter um imóvel como aquele. Inclusive, achava um tanto quanto exagerado ter algo tão grande, mas sabia que era mais do que esperado essa percepção da parte dela, já que vinha de uma realidade muito diferente.
Quando se aproximaram de um grupo de pessoas que conversavam alto - provavelmente pelo efeito do álcool que estavam ingerindo -, a primeira pessoa que notou foi William Doncaster, que era o grande motivo de estarem ali, porque além de ser a sua mansão, era o seu aniversário.
— Louise Jones e . Vocês vieram! — falou animado, indo de braços abertos na direção das duas e cumprimentando-as.
— Eu não iria perder seu aniversário por nada nesse mundo, sabe disso — Louise comentou sorrindo. — Isso é pra você! Sei que somos adultos e geralmente não trocamos mais presentes, mas senti que precisava dar algo para o meu melhor amigo. Esse presente é meu e de , sem ela eu não teria conseguido. Deixe para abrir quando estiver sozinho, assim vai conseguir apreciar com calma.
Will pegou o embrulho e abriu um enorme sorriso, estava muito grato por ter ambas em sua vida.
— Vocês nunca falham em me surpreender. Obrigado por isso, de coração — disse as abraçando de novo. — Eu vou guardar o presente em um lugar seguro. Enquanto isso, divirtam-se. Bebam alguma coisa, se misturem com a galera. Eu já volto!
— “Se misturem com a galera”. Claro, eu, superdesconhecida, vou chegar no meio de um bando de atores, cantores e modelos como? — colocou uma das mãos na cintura e fitou Louise, que parou um dos garçons que circulavam na festa, pegando dois drinks e dando um para a amiga.
— Primeiro, você bebe — disse dando um longo gole e esperando fazer o mesmo. — Segundo, basta ser um ser humano normal e dizer “oi”. Não tem segredo. Vem comigo que não tem erro, amiga.
Se não fosse por Louise, a sabia que as chances de ficar sentada em algum sofá aleatório era enorme. Ela gostava de conhecer pessoas novas, só não sabia como iniciar conversas.
Ao chegarem no jardim externo, onde a maioria das pessoas se encontrava, deixou que Louise guiasse o caminho e quando deu por si estava enfiada no meio de um roda com alguns dos atores mais famosos do momento e entre todos os grandes nomes, lá estava um dos que ela mais nutria simpatia: .
Ela não o conhecia de verdade, mas bastou assistir algumas entrevistas para que se interessasse pela personalidade simpática, engraçada e ao mesmo tempo enigmática do rapaz.
— Oi, eu me chamo , mas pode me chamar de . É um prazer conhecê-la — ele estendeu a mão e se perguntou em qual momento ela foi parar na frente dele. Ao sentir as mãos de Louise em seus ombros, já soube a resposta.
— Oi. Eu digo o mesmo, é um prazer conhecer você. Eu me chamo , mas pode me chamar de — ela se apressou para apertar a mão do ator e no momento em que seus olhares se cruzaram, foi impossível conter o sorriso que surgiu instantaneamente em seus lábios.
Ele tinha um ímã, algo contagiante do qual era impossível não ficar encantada. Talvez, fosse a forma em como umedecia os lábios com sua língua e passava a mão no cabelo de uma maneira tão discreta que poderia passar despercebido pelos mais distraídos, mas naquele instante, estava reparando em cada detalhe do homem.
Não era típico dela prestar tanta atenção assim, mas não podia evitar.
Após cumprimentar as outras pessoas da roda, voltou a ficar do lado de Louise e o grupo engatou uma conversa animada. Alguns minutos depois, quase sem descrição alguma, foi pega de surpresa quando Louise lhe cutucou na barriga levemente.
— Sai daqui e vai até a mesa do buffet — ordenou.
— Por que eu iria na mesa do buffet? Eu não tô com fome. Ai! — rebateu e sentiu um beliscão no quadril. — Tá maluca?
— Menina, deixa de ser tapada. O tava olhando para você durante todo o tempo, só você não viu, porque tava muito ocupada fazendo um mega esforço para não reparar nele. Agora, ele tá lá se servindo e é o momento perfeito.
— Momento perfeito para quê? Caralho, Louise Jones! — protestou novamente ao sentir mais um beliscão da amiga, que já a empurrava para fora da roda em que se encontravam.
— Puxa um papo com ele. Pergunta como tá a vida, quais são os planos. Sei lá, garota! Aproveita esse momento e também já que você não tá com fome, pode pegar alguns petiscos para mim, porque eu aceito. Agora vai! — a dispensou balançando uma das mãos.
— Você é muito folgada, Louise Jones — reclamou.
— É um favor que eu tô te fazendo. Você ainda vai me agradecer um dia! — falou em um tom de voz mais alto para que , que já caminhava rumo a mesa do buffet, pudesse escutar.
apenas se virou para mostrar o dedo do meio para a amiga, voltando para a sua trajetória inicial logo em seguida, enquanto ria da expressão que a loira havia feito. Duvidava muito que fosse conseguir abrir a boca e iniciar um diálogo com o . Por sorte, nem precisou.
— Vejo que não sou o único que está com fome por aqui — sorriu, apoiando na mesa o prato que segurava e observou o rosto da garota.
— Na verdade, eu vim pegar algo para a folgada da Louise comer, mas tá tudo tão visualmente apetitoso, que acho que vou acabar me rendendo — lançou um olhar para antes de voltar a focar nas comidas que estavam na sua frente. Afinal, prioridades.
— Essa definitivamente é a melhor decisão que você poderia ter tomado, o chefe responsável por esse buffet do Will, sabe fazer uma comida de qualidade sem precisar apelar para aqueles pratos chiques que tem mais nome do que sabor — comentou ele, já aproveitando para indicar os seus favoritos. — Esse é ótimo, mas coma com moderação, porque causa gases e em um ambiente como uma festa pode ser embaraçoso. Falo por experiência própria.
— Peidou onde não devia, ? — perguntou, já rindo.
— Sim e foi terrível — coçou a nunca, acompanhando o riso da garota. — Ainda mais, porque foi em um evento repleto de pessoas importantes do cinema e não deu pra segurar. Acho que é por isso que até hoje, eu não fui chamado para trabalhar nos mesmos projetos de quem estava ao meu redor naquele dia.
— Você é a vergonha da profissão, — disse gargalhando, sendo acompanhada por ele.
— Talvez, eu seja mesmo.
Eles estavam no auge de sua juventude. Ambos na casa dos 24 anos quando se conheceram. Ela subindo posições na editora e ele conquistando papéis cada vez maiores no cinema. , de fato, não poderia prever que a história dos dois iria se desenrolar a partir daquela festa.
Observando a luz externa que batia nas cortinas do quarto, criou coragem para se levantar da cama e quando o fez, notou o casaco do marido jogado em cima da cômoda. Quando pegou a peça e a trouxe para perto do nariz, sentiu um cheiro adocicado, típico de perfumes femininos.
Suspirou.
Não era a primeira e nem a última vez que iria sentir um cheiro como aquele nas roupas de . Era normal que muitas atrizes o cumprimentasse com um abraço, então, às vezes o cheiro ficava.
Pelo menos, era isso o que ele dizia e era nisso que ela acreditava.
Mas e se em uma dessas várias vezes, o cheiro nas roupas do marido fosse na verdade de alguém que ele encontrava entre as longas viagens que fazia durante o trabalho? Ou alguém que ele optava por passar um tempo junto, ao invés de ir para a after party após as premiações e eventos VIP em que era convidado?
A insegurança não era novidade para , era até normal que existisse com ele sendo uma figura pública, entretanto, nunca a havia consumido tanto como nos últimos dias.
Ela estava surtando ou estava simplesmente abrindo os olhos ao se questionar sobre coisas que nunca teve dúvidas antes?
Ela entendia que os dois precisavam conversar, mas ao mesmo tempo isso a frustrava. Sabia exatamente o que ele ia dizer.
— Você é a pessoa mais especial da minha vida. Você conquistou meu coração completamente e eu só tenho olhos para você. Eu te amo e isso nunca vai mudar. Bota isso na sua cabeça.
puxou a namorada para seus braços, lhe acolhendo e tentando mostrar para ela que todos os seus medos não precisavam existir. Ele a amava e sabia como seu estilo de vida afetava a todos que se relacionavam com ele. tinha uma luz própria que ele jamais gostaria de ver se apagando. Faria qualquer coisa para proteger a garota, que deixava algumas lágrimas escaparem enquanto o apertava mais forte.
— Eu sei que você me ama, . Mas é impossível não se comparar com as mulheres que te cercam, é difícil lidar com os comentários maldosos na internet. Eu sinto que a qualquer momento você vai se cansar de mim — soluçou.
— Eu não vou a lugar algum, ok? Eu prometo a você — beijou o topo de sua cabeça.
— Não prometa coisas que você não sabe se pode cumprir.
— Isso eu sei que eu posso. O tempo vai te mostrar que eu falo sério.
Tempo.
Seria essa a tal crise dos 30 que sempre ouviu falar?
Nunca havia pensado sobre envelhecer antes. Sobre todas as coisas que uma simples palavra como essa acarretam.
Você começa a perceber que não vai viver para sempre à medida que vê uma nova geração chegando e crescendo. mal podia acreditar que seu sobrinho mais velho já estava na universidade e que sua pequena e doce Amelia já ia completar cinco anos.
Era estranho notar as mudanças hormonais e como seu rosto estava com algumas espinhas teimosas, que insistiam em aparecer sempre nos mesmos lugares. A oleosidade também havia aumentando e todos os dias tinha que passar uma loção facial para regular a situação.
Anualmente realizava exames gerais para saber se estava tudo bem com o seu corpo, tinha histórico de câncer na família e era sempre melhor prevenir do que remediar. Caso desenvolvesse algo, o quanto antes ficasse sabendo, melhor seria para combater o problema.
Também havia as constantes consultas na ginecologista, pois havia deixado de usar anticoncepcional, por causa de diversos problemas hormonais que o constante uso das pílulas havia causado em seu corpo. Fazia pouco tempo que tinha começado a usar um dispositivo intrauterino, o que facilitou a sua vida em muitos aspectos. Admirava a maneira em como participava de sua saúde íntima, sempre querendo entender como as coisas funcionavam no corpo feminino, algo que ela sabia bem que nem todo parceiro se preocupava em conhecer. Ele a enchia de perguntas, às vezes, até repetia de tempos em tempos o mesmo assunto, mas ela não se importava em responder novamente.
— Um beijo pelos seus pensamentos — sussurrou no ouvido de , a surpreendendo e fazendo a mesma pular de susto.
— Puta que pariu, ! Você nunca muda, não é mesmo? — riu, sentindo os braços dele envolverem sua cintura.
— Eu sempre fui arteiro, faz parte do meu charme — sorriu, acariciando o rosto da esposa. — Por que você tá toda pensativa? Tava parada olhando pela janela da cozinha faz um tempão.
— Tá passando uma retrospectiva do nosso relacionamento na minha cabeça. É maluco pensar que já estamos juntos há tanto tempo.
— 12 anos te aguentando, credo! — mordeu a bochecha de .
— Ah, é? Pois então, Sr. , faça o seu café da manhã sozinho — se desvencilhou de seus braços e rumou para a porta.
— Não seja dramática, Sra. . Eu estava brincando e você não pode me deixar sem seu incrível café da manhã. Ninguém faz a comida que você faz. Tenha piedade — juntou as mãos, se ajoelhando no meio do cômodo. — Se você continuar me ignorando, eu vou ter que apelar para os métodos de atuação e começar a chorar no meio da cozinha.
— Não faça isso! Na última vez que você inventou de chorar, deixou a Amelia extremamente assustada — estendeu a mão para , balançando a cabeça em completa negação diante da cena, se segurando para não rir. — Você não é o palhaço, é o circo inteiro. Levanta! Você... !
Os braços do marido a puxaram para baixo, fazendo ela cair em cima dele. Ambos no meio do chão da cozinha, rolando e rindo como dois adolescentes.
A água que estava no fogão, já havia começado a ferver e os preparos do café da manhã estavam todos pela metade, mas isso não era o importante no momento.
sabia no instante em que pusera os pés na cozinha naquela manhã, que algo não estava certo com a sua esposa. Na verdade, fazia um tempo que ele vinha notando algumas mudanças de humor em , além de uma expressão de evidente preocupação que se tornara uma constante.
Tentou fingir que não havia notado nada, na esperança de que ela pudesse procurar por ele e se abrir sobre o que sentia. Não queria ser invasivo, não queria assustá-la, mas havia chego em um ponto em que ele sabia que se não desse o primeiro passo, as coisas entre os dois poderiam se complicar.
Quando se está com alguém por tanto tempo, há momentos em que você precisa agir e se tornar a rocha, a fortaleza da outra pessoa em uma situação de fragilidade.
Era isso que queria sempre ser para : seu porto seguro.
girou seu corpo ficando em cima da esposa, sem soltar seu peso sobre ela. Encarava seus olhos de maneira profunda, com um braço apoiado no chão, enquanto o outro estava posicionado próximo da cabeça de , possibilitando que sua mão pudesse acariciar os cabelos dela.
— Você vai me dizer o que tá se passando nessa cabecinha? — ele questionou a esposa, observando a forma em como ela evitava seus olhos. — Olha para mim. O que é que tá te incomodando, amor? Foi alguma coisa que eu fiz?
— Não. Sim... Eu não sei — suspirou pesadamente. — Eu tô pensando em tanta coisa, tô insegura com tanta coisa, mas não é nada que a gente já não tenha conversado antes. Eu sei exatamente o que você vai dizer para me confortar.
— Não importa que a gente já tenha conversado sobre isso antes, se é algo que está te incomodando, então, precisamos conversar novamente e você sabe disso.
— Eu não quero agir como uma paranoica, — levou as mãos ao rosto, sentindo as lágrimas salgadas escorrerem por suas bochechas.
Ela podia ver a animação de enquanto o mesmo gesticulava animado ao falar no telefone com Gillian Scherer, atriz que fazia o seu par romântico em um novo filme. A ruiva de olhos verdes era uma das pessoas mais simpáticas que já teve o prazer de conhecer em Hollywood. Além disso, todo ano ela aparecia na lista de pessoas mais bonitas do mundo e com todo o mérito.
Enquanto terminava de tomar seu suco, sentia seu corpo se afundar na espreguiçadeira da família cada vez mais. Maldita baixa autoestima que decidia atacar em momentos felizes.
Estava um dia lindo e ensolarado, ela estava na beira da piscina vendo o homem que amava desfilar sem camisa pelo jardim, mas não conseguia evitar a crescente vontade de diminuir a si mesma cada vez que via gargalhar com as coisas que Gillian dizia.
Longe dela pensar em rivalidade feminina, ela sabia bem que não era a única mulher no mundo e que sempre teria mulheres em seu círculo de amizade fosse ele famoso ou não.
Sua psicóloga já havia dado todas as ferramentas para que ela entendesse a base de seus problemas. Era o bullying do passado, problemas familiares, o fato de ter tido primeiras experiências em momentos que para a maioria das pessoas já tinha acontecido em fases muito anteriores do que quando aconteceu com ela.
A maioria perdera a virgindade antes dos 18 anos. Ela perdeu com 25 anos, com , que também foi o seu primeiro namorado.
E o curioso é que ela não tinha medo ou receio de transar antes, apenas não tinha acontecido, entretanto, durante muito tempo se sentia presa em um universo à parte cada vez que saía com os amigos e todos comentavam de suas aventuras sexuais, ou falavam de seus peguetes. Ela ficava em silêncio, escutava e dava a atenção necessária, afinal, eles eram seus amigos e estavam compartilhando algo da vida deles, assim como sempre a ouviam quando ela falava de suas séries e livros favoritos - mesmo que não vissem ou lessem os mesmos conteúdos que ela -, ou quando se empolgava falando sobre uma partida eletrizante de basquete do seu time do coração. Seus amigos eram gentis e acompanhavam a maneira enérgica em que ela falava do esporte.
O problema era a própria que se achava atrasada em tudo, que ainda ouvia ecoar as vozes do passado dizendo o quão não boa o bastante ela é.
era paciente.
Ele sabia da história dela, sabia dos medos, das incertezas.
Ela sabia que ele a apoiava incondicionalmente e a encorajava a encarar de frente todos os seus demônios.
também sabia do quanto havia evoluído, mas entendia que era um processo longo e uma batalha diária e que, às vezes, ela não iria vencer.
Finalizou seu suco, se levantando apenas para colocar o seu copo em uma mesa próxima. Seu olhar foi rapidamente para a piscina ao notar a gritaria que os irmãos de haviam iniciado por conta de uma brincadeira com bola. Quando voltou a focar no namorado, ele já estava a poucos passos dela.
— A Gillian é hilária! Mal posso esperar para encontrar com ela na segunda-feira. Temos tantas ideias para os nossos personagens. Além disso, como eu estava te contando antes, na última quinta tivemos uma sessão de fotos e a gente deu risada do começo ao fim. Principalmente, quando tivemos que nos apoiar em um banquinho e ele quebrou bem na hora que o fotógrafo capturou o momento. Achamos que a foto ia ficar horrível, mas ficou tão espontânea que seria um erro não usá-la. Depois das fotos, a gente foi jantar em um restaurante incrível, que eu não conhecia. Preciso te levar lá!
E era assim com Gillian, Stacy, Dominika, Angelique e tantas outras. Sempre garotas incríveis, independentes, bem-humoradas, inteligentes e lindas. Extremamente maravilhosas. O tipo de mulher que , assim como tantas outras mulheres, cresceram querendo ser.
O papo do amor próprio e se aceitar como é, começou a se tornar uma pauta mais corriqueira no dia a dia e nas redes sociais, quando ela estava na faixa dos 18 anos, mas ainda em passos de bebê.
Foram anos e anos com referências muito restritas. Ela não se via em ninguém, então, se projetava em mulheres que ela nunca poderia ser. Só havia um padrão correto de mulher e não condizia com a maioria da sociedade.
Também havia o famoso ligar o foda-se para a opinião dos outros, que era muito fácil na teoria, mas não funcionava de maneira simples na prática, porque há muito mais em jogo do que o puro ato de ignorar tudo e a bagagem que ela carregava consigo de anos antes tinha uma ímã para essas situações.
Felizmente, aos poucos, foi abandonando algumas bagagens pelo caminho, até restar apenas uma mala de mão que insistia em ficar com ela. Por mais que despachasse, por mais que fingisse esquecer em algum aeroporto da vida, bastava fazer check-in para um novo voo e lá surgia a mala de mão, pronta para se fazer presente nas ocasiões menos favoráveis.
Às vezes, quando ela se encontrava no meio de uma estação de trem em horário de pico, a mala se abria espalhando todas as feridas, que desnorteadas, se arrastavam umas contra as outras no meio da multidão na esperança de permanecerem juntas até encontrarem o caminho de volta, afinal, o campo emocional de era tudo o que elas conheciam.
Os caquinhos se juntavam até ficarem como um só, porém, repletos de lacunas como numa colagem de papéis rasgados, que em seus riscos e ausências carregam fragmentos incompletos do que outrora já foi inteiro.
— Amor. Hey, não chora — confortou . Ele sentiu seu coração apertar dentro do peito. Passou os polegares na bochecha da esposa e sentou-se, puxando-a para seus braços de maneira amorosa.
— As coisas estão ficando diferentes, . Eu não sou a mesma de anos atrás. Eu tô envelhecendo. Os cabelos brancos estão cada vez mais presentes, as marcas de expressão mais evidentes, meus hormônios cada vez mais malucos. E então, surgem essas garotas jovens e lindas, brilhando com seus 20 anos e corpos esculpidos e elas te cercam, te abraçam, te veneram. E por mais exercícios que eu faça, por mais cremes que eu passe, por mais que eu tente me manter eu mesma, ainda assim, eu sei que eu não tenho mais 20 e poucos anos — fungou, sem coragem de olhar para o rosto do marido. — E eu sei que eu posso confiar em você, mas ao mesmo tempo, eu me pergunto se não apareceu alguém mais interessante, mais engraçada, mais bonita no meio do caminho, que te faça ter uma vida dupla. Eu sempre convivi com essa sombra de que você vive cercado de mulheres maravilhosas e parece que a cada ano ela fica maior. Eu vejo o modo em como você é sempre prestativo e cheio de sorrisos, como se diverte quando fala com algumas delas no telefone.
— , meu amor. Você acha que eu não passo pelo mesmo? Não acha que eu tenho os mesmos questionamentos e inseguranças? Eu também tô envelhecendo e mesmo que aos olhos de Hollywood eu ainda seja um “rostinho bonito”, eu também lido com os cabelos brancos que indicam a passagem do tempo, os pés de galinha no canto dos olhos que parecem aumentar a cada dia. Mesmo que eu me exercite regularmente, as dores físicas, que são consequências normais após algumas cenas de ação, ficaram mais intensas. Além disso, há toda uma nova safra de atores mais jovens, mais galãs e que atraem mais público, o mesmo público que eu atraía a 10 anos atrás — entrelaçou os dedos com a esposa e pode sentir o olhar dela sobre si, como se estivesse analisando o seu rosto, embora ainda mantivesse a cabeça apoiada em seu peito. — E sim, estou cercado de mulheres maravilhosas e talentosas, mulheres que entram em listas das mais sexys do mundo, mas eu não tenho uma relação com elas, eu tenho com você. Além disso, eu também vivo com o constante medo de te perder e isso existe desde que começamos a ficar juntos.
— Como você acha que eu poderia simplesmente ir embora? — questionou desacreditada.
— Pelas mesmas razões que você acha que eu poderia ir embora — rebateu contraindo os lábios e olhando para o rosto que tanto amava. — Que você vai se cansar de mim, vai se cansar de ter que lidar com a mídia, com a minha ausência, principalmente, em datas importantes. Que um dia você vai tocar a minha pele e ela será mais áspera, mais flácida, mais repleta de marcas que não são possíveis de impedir que surjam. O medo de que em algum momento você vai olhar para mim e seus olhos não vão mais brilhar ao me ver.
— Isso seria impossível — disse ela, tocando o rosto de com carinho. — Você continua o mesmo cara que sempre se destaca na multidão aos meus olhos. Podemos estar cercados de pessoas, eu só vejo você.
— E o mesmo vale para mim quando se trata de você. Onde quer que a gente esteja, você sempre é a única que tem a minha total atenção. Tente se ver mais através dos meus olhos, que eu tentarei me ver mais através dos seus. Pode ser?
ergueu o dedo mindinho, como uma promessa de criança que indica toda a pureza e inocência de um ser que ainda não conhece a maldade do mundo. riu baixinho do gesto do marido e entrelaçou seu dedo mindinho com o dele, sentindo um beijo tenro ser depositado em sua testa.
Antes que criassem coragem para se levantar do chão, o som de passos rápidos de um pequeno ser tomaram conta do cômodo e logo, Amelia estava jogada em cima dos pais.
— Bom dia, meu amor! — beijou a bochecha da filha, que abraçava o pescoço do pai.
— Bom dia! Eu quero café da manhã! — falou alto e fazendo um biquinho.
— Estamos no meio do processo e alguém aqui precisa escovar os dentes, hein? — abanou as mãos na frente do rosto, forçando uma tosse e deitando seu corpo no chão. — Soldado abatido pelo bafo!
Os três riam, enquanto Amelia tentava assoprar o rosto de .
— Eu tenho uma proposta — falou com os joelhos apoiados no chão e olhando para a pequena. — O que acha de ir escovar os dentes com o papai enquanto eu termino o café? Prometo que assim que voltar, já vai estar tudo no seu prato favorito.
— E eu vou poder comer um pedaço de bolo de chocolate também? — juntou as mãozinhas.
— Você está muito mal-acostumada, mocinha. Culpa do seu pai. Mas se tomar todo o seu café, acho que posso providenciar um pedaço de bolo. Combinado? — Abriu os braços.
— Sim! — respondeu se jogando no colo da mãe para abraçá-la com amor.
Quando todos se levantaram, segurou em uma das mãos de Amelia e antes que deixassem a cozinha, ele depositou um breve selinho nos lábios da esposa e em seguida analisou o seu rosto, gravando cada detalhe em sua mente. De certa forma, ele se sentia aliviado por não ser o único preocupado com o que o tempo poderia causar em suas relações e até na visão que tinha de si mesmo.
A vida é feita de uma série de momentos que formam as horas, os dias, os meses e os anos. Não tem como pausar, como acelerar, ou retroceder. É um filme que roda sem a opção de adicionar filtros e cortes com trilhas sonoras espalhafatosas. Os momentos formam o passado esquecido, as recordações que revisitamos e o presente que morre em cada instante. São esses fragmentos que nos moldam, que nos tornam quem somos com todos os risos, choros, medos, incertezas e paranoias.
não era perfeita. não era perfeito. Eles eram dois estranhos que se conheceram, se apaixonaram e passaram a dividir as suas imperfeições para que pudessem aprender a evoluir juntos. Nunca teriam as respostas para todas as suas perguntas, mas tinham um ao outro e uma família maravilhosa. E isso bastava.
— Você é a pessoa mais especial da minha vida. Você conquistou meu coração completamente e eu só tenho olhos para você. Eu te amo e isso nunca vai mudar — usou a mão livre para acolhê-la em quase abraço.
— Eu te amo, . Obrigada por a cada ano envelhecer ao meu lado.
Correu seus dedos livremente entre os cabelos emaranhados e permitiu-se encostar a ponta do nariz nos fios para sentir o cheiro. Depois deixou um beijo carinhoso em sua testa, o que fez o mesmo murmurar algo ainda completamente imerso no sono. Sorriu. Ele era tão lindo!
E, então, veio o nó na garganta.
Ela sempre teve que lidar com a insegurança, não era um sentimento novo para , ainda mais estando por tanto tempo com alguém famoso, mas parecia que nos últimos meses aquilo estava a engolindo de uma maneira ainda mais forte.
Ela sabia bem o problema, ela já o tinha identificado no primeiro momento em que se sentiu aflita: envelhecer.
Apesar de se manterem longe dos holofotes ao máximo, a vida de tinha um glamour que ela não fazia parte, por mais que o acompanhasse muitas vezes. Por ser um ótimo ator, ele era requisitado para estar presente em grandes projetos, bastava tê-lo no elenco para ser considerado um oscar material, pois todo mundo valorizava o seu talento e sabia que ter seu nome no elenco chamava a atenção. E por participar de grandes trabalhos, estava sempre ao lado de ótimas atrizes, grandes símbolos de beleza, ícones que eram capa de revista. Sempre com seus cabelos perfeitos e pele sem manchas, muitas vezes mais novas do que ele, outras vezes mais velhas, mas todas impecáveis.
tinha amor próprio, se cuidava, fazia o seu melhor para se manter bonita para si mesma, mas era muito difícil não pensar que o tempo estava a alcançando, que em quatro anos atingiria os 40 e iria se cansar dela, iria buscar alguém mais jovial, alguém sem marcas de expressão no rosto e com um físico mais atlético, com um corpo curvilíneo e sem gorduras, que o deixaria duro somente de olhar.
Ela não tinha como competir com as estrelas de cinema, com as musas das passarelas e as deusas do palco.
Ela não tinha como competir com o tempo.
Na noite anterior, tinha ido ao BAFTA, concorria na categoria de “melhor ator”. A ideia era acompanhá-lo, mas Amelia, filha do casal, tinha ficado doente dias antes e apesar de já ter melhorado, usou isso como uma oportunidade de escapar do evento, alegando que sentia que não seria uma boa deixar a menina com os avós.
Ficou em casa com Amelia entre seus braços e assistindo o marido pela TV.
Ele a telefonou quando saiu de lá, dizendo que iria tomar um champanhe com os colegas de elenco na after party, mas que não iria demorar para voltar para casa. Ela o mandou se divertir. havia vencido como melhor ator e merecia comemorar após tantos meses se dedicando para dar vida a um personagem complexo.
Depois que Amelia dormiu, decidiu adiantar um pouco de seus projetos. Ocupar a mente, a fazia não pensar em coisas que a machucavam.
Ela trabalhava em uma editora, fazia diagramação de revistas e livros, passava boa parte de seu tempo sentada na frente de um computador criando logos, fazendo ilustrações, acrescentando detalhes em páginas para chamar atenção do leitor e adicionar uma nova informação no caso das revistas, ou ajudar na imersão de mundos incríveis criados por autores talentosos nos livros mais prestigiados dentro do selo em que trabalhava.
Na época em que ela e se conheceram, ela já trabalhava na editora, mas ainda era parte de uma das equipes de criação de uma revista de natureza e não a chefe de arte da segunda maior revista da editora, bem como a responsável pela diagramação dos principais livros.
Ela devia muito a Louise - sua amiga de longa data e “chefe” - por ter meio que juntado os dois.
Sentiu-se um pouco intimidada assim que colocou os pés na frente da mansão, que até então era desconhecida para si, apesar de conhecer o proprietário. Se perguntava como havia parado ali e pensava seriamente em retornar para dentro do carro, mas as mãos de Louise a agarraram em seu braço direito e soube naquele instante que não havia como voltar atrás.
Louise Jones era um espírito livre e de sorriso fácil. As duas se conheceram na universidade através de colegas em comum e bastou apenas alguns encontros em bares para que desenvolvessem uma amizade forte, que superou a formatura e os diferentes caminhos que seguiram.
Jones vinha de uma família muito bem-sucedida e que tinha negócios na área de finanças, caminho que a loira também escolheu para si e provou ser uma das melhores no ramo. Ainda estava em ascensão na empresa, mas não tinha dúvidas de que a amiga iria ser a chefe de uma das filiais de seu pai muito em breve. Além disso, Louise havia se tornado uma das donas da editora em que trabalhava, sendo proprietária de 70% das ações.
A verdade é que nunca imaginou ter alguém como Louise em sua vida. A garota quebrou todos os estereótipos que tinha de pessoas ricas. Ela não era esnobe, não achava que era o centro do universo e reconhecia seus privilégios. amava como a amiga podia estar na cobertura do prédio mais luxuoso e em seguida sentar na calçada do centro da cidade com alguns amigos e desconhecidos para beber cervejas, ouvir música de artistas de rua e se permitir se envolver pelo ambiente sem julgamentos. Ela gostava de estar com as pessoas, de ouvir suas histórias e apreciar cada segundo do agora seja como fosse.
a admirava.
Enquanto deixava que a amiga lhe guiasse pela enorme casa, olhava tudo com grande fascínio. Mesmo que trabalhasse o triplo do que já estava trabalhando, jamais poderia ter um imóvel como aquele. Inclusive, achava um tanto quanto exagerado ter algo tão grande, mas sabia que era mais do que esperado essa percepção da parte dela, já que vinha de uma realidade muito diferente.
Quando se aproximaram de um grupo de pessoas que conversavam alto - provavelmente pelo efeito do álcool que estavam ingerindo -, a primeira pessoa que notou foi William Doncaster, que era o grande motivo de estarem ali, porque além de ser a sua mansão, era o seu aniversário.
— Louise Jones e . Vocês vieram! — falou animado, indo de braços abertos na direção das duas e cumprimentando-as.
— Eu não iria perder seu aniversário por nada nesse mundo, sabe disso — Louise comentou sorrindo. — Isso é pra você! Sei que somos adultos e geralmente não trocamos mais presentes, mas senti que precisava dar algo para o meu melhor amigo. Esse presente é meu e de , sem ela eu não teria conseguido. Deixe para abrir quando estiver sozinho, assim vai conseguir apreciar com calma.
Will pegou o embrulho e abriu um enorme sorriso, estava muito grato por ter ambas em sua vida.
— Vocês nunca falham em me surpreender. Obrigado por isso, de coração — disse as abraçando de novo. — Eu vou guardar o presente em um lugar seguro. Enquanto isso, divirtam-se. Bebam alguma coisa, se misturem com a galera. Eu já volto!
— “Se misturem com a galera”. Claro, eu, superdesconhecida, vou chegar no meio de um bando de atores, cantores e modelos como? — colocou uma das mãos na cintura e fitou Louise, que parou um dos garçons que circulavam na festa, pegando dois drinks e dando um para a amiga.
— Primeiro, você bebe — disse dando um longo gole e esperando fazer o mesmo. — Segundo, basta ser um ser humano normal e dizer “oi”. Não tem segredo. Vem comigo que não tem erro, amiga.
Se não fosse por Louise, a sabia que as chances de ficar sentada em algum sofá aleatório era enorme. Ela gostava de conhecer pessoas novas, só não sabia como iniciar conversas.
Ao chegarem no jardim externo, onde a maioria das pessoas se encontrava, deixou que Louise guiasse o caminho e quando deu por si estava enfiada no meio de um roda com alguns dos atores mais famosos do momento e entre todos os grandes nomes, lá estava um dos que ela mais nutria simpatia: .
Ela não o conhecia de verdade, mas bastou assistir algumas entrevistas para que se interessasse pela personalidade simpática, engraçada e ao mesmo tempo enigmática do rapaz.
— Oi, eu me chamo , mas pode me chamar de . É um prazer conhecê-la — ele estendeu a mão e se perguntou em qual momento ela foi parar na frente dele. Ao sentir as mãos de Louise em seus ombros, já soube a resposta.
— Oi. Eu digo o mesmo, é um prazer conhecer você. Eu me chamo , mas pode me chamar de — ela se apressou para apertar a mão do ator e no momento em que seus olhares se cruzaram, foi impossível conter o sorriso que surgiu instantaneamente em seus lábios.
Ele tinha um ímã, algo contagiante do qual era impossível não ficar encantada. Talvez, fosse a forma em como umedecia os lábios com sua língua e passava a mão no cabelo de uma maneira tão discreta que poderia passar despercebido pelos mais distraídos, mas naquele instante, estava reparando em cada detalhe do homem.
Não era típico dela prestar tanta atenção assim, mas não podia evitar.
Após cumprimentar as outras pessoas da roda, voltou a ficar do lado de Louise e o grupo engatou uma conversa animada. Alguns minutos depois, quase sem descrição alguma, foi pega de surpresa quando Louise lhe cutucou na barriga levemente.
— Sai daqui e vai até a mesa do buffet — ordenou.
— Por que eu iria na mesa do buffet? Eu não tô com fome. Ai! — rebateu e sentiu um beliscão no quadril. — Tá maluca?
— Menina, deixa de ser tapada. O tava olhando para você durante todo o tempo, só você não viu, porque tava muito ocupada fazendo um mega esforço para não reparar nele. Agora, ele tá lá se servindo e é o momento perfeito.
— Momento perfeito para quê? Caralho, Louise Jones! — protestou novamente ao sentir mais um beliscão da amiga, que já a empurrava para fora da roda em que se encontravam.
— Puxa um papo com ele. Pergunta como tá a vida, quais são os planos. Sei lá, garota! Aproveita esse momento e também já que você não tá com fome, pode pegar alguns petiscos para mim, porque eu aceito. Agora vai! — a dispensou balançando uma das mãos.
— Você é muito folgada, Louise Jones — reclamou.
— É um favor que eu tô te fazendo. Você ainda vai me agradecer um dia! — falou em um tom de voz mais alto para que , que já caminhava rumo a mesa do buffet, pudesse escutar.
apenas se virou para mostrar o dedo do meio para a amiga, voltando para a sua trajetória inicial logo em seguida, enquanto ria da expressão que a loira havia feito. Duvidava muito que fosse conseguir abrir a boca e iniciar um diálogo com o . Por sorte, nem precisou.
— Vejo que não sou o único que está com fome por aqui — sorriu, apoiando na mesa o prato que segurava e observou o rosto da garota.
— Na verdade, eu vim pegar algo para a folgada da Louise comer, mas tá tudo tão visualmente apetitoso, que acho que vou acabar me rendendo — lançou um olhar para antes de voltar a focar nas comidas que estavam na sua frente. Afinal, prioridades.
— Essa definitivamente é a melhor decisão que você poderia ter tomado, o chefe responsável por esse buffet do Will, sabe fazer uma comida de qualidade sem precisar apelar para aqueles pratos chiques que tem mais nome do que sabor — comentou ele, já aproveitando para indicar os seus favoritos. — Esse é ótimo, mas coma com moderação, porque causa gases e em um ambiente como uma festa pode ser embaraçoso. Falo por experiência própria.
— Peidou onde não devia, ? — perguntou, já rindo.
— Sim e foi terrível — coçou a nunca, acompanhando o riso da garota. — Ainda mais, porque foi em um evento repleto de pessoas importantes do cinema e não deu pra segurar. Acho que é por isso que até hoje, eu não fui chamado para trabalhar nos mesmos projetos de quem estava ao meu redor naquele dia.
— Você é a vergonha da profissão, — disse gargalhando, sendo acompanhada por ele.
— Talvez, eu seja mesmo.
Eles estavam no auge de sua juventude. Ambos na casa dos 24 anos quando se conheceram. Ela subindo posições na editora e ele conquistando papéis cada vez maiores no cinema. , de fato, não poderia prever que a história dos dois iria se desenrolar a partir daquela festa.
After all of these nights laying right by your side
(Depois de todas essas noites deitado ao seu lado)
How could my brain make me feel so far?
(Como meu cérebro poderia me fazer sentir tão distante?)
Observando a luz externa que batia nas cortinas do quarto, criou coragem para se levantar da cama e quando o fez, notou o casaco do marido jogado em cima da cômoda. Quando pegou a peça e a trouxe para perto do nariz, sentiu um cheiro adocicado, típico de perfumes femininos.
Suspirou.
Não era a primeira e nem a última vez que iria sentir um cheiro como aquele nas roupas de . Era normal que muitas atrizes o cumprimentasse com um abraço, então, às vezes o cheiro ficava.
Pelo menos, era isso o que ele dizia e era nisso que ela acreditava.
Mas e se em uma dessas várias vezes, o cheiro nas roupas do marido fosse na verdade de alguém que ele encontrava entre as longas viagens que fazia durante o trabalho? Ou alguém que ele optava por passar um tempo junto, ao invés de ir para a after party após as premiações e eventos VIP em que era convidado?
A insegurança não era novidade para , era até normal que existisse com ele sendo uma figura pública, entretanto, nunca a havia consumido tanto como nos últimos dias.
Ela estava surtando ou estava simplesmente abrindo os olhos ao se questionar sobre coisas que nunca teve dúvidas antes?
Ela entendia que os dois precisavam conversar, mas ao mesmo tempo isso a frustrava. Sabia exatamente o que ele ia dizer.
— Você é a pessoa mais especial da minha vida. Você conquistou meu coração completamente e eu só tenho olhos para você. Eu te amo e isso nunca vai mudar. Bota isso na sua cabeça.
puxou a namorada para seus braços, lhe acolhendo e tentando mostrar para ela que todos os seus medos não precisavam existir. Ele a amava e sabia como seu estilo de vida afetava a todos que se relacionavam com ele. tinha uma luz própria que ele jamais gostaria de ver se apagando. Faria qualquer coisa para proteger a garota, que deixava algumas lágrimas escaparem enquanto o apertava mais forte.
— Eu sei que você me ama, . Mas é impossível não se comparar com as mulheres que te cercam, é difícil lidar com os comentários maldosos na internet. Eu sinto que a qualquer momento você vai se cansar de mim — soluçou.
— Eu não vou a lugar algum, ok? Eu prometo a você — beijou o topo de sua cabeça.
— Não prometa coisas que você não sabe se pode cumprir.
— Isso eu sei que eu posso. O tempo vai te mostrar que eu falo sério.
Tempo.
Seria essa a tal crise dos 30 que sempre ouviu falar?
Nunca havia pensado sobre envelhecer antes. Sobre todas as coisas que uma simples palavra como essa acarretam.
Você começa a perceber que não vai viver para sempre à medida que vê uma nova geração chegando e crescendo. mal podia acreditar que seu sobrinho mais velho já estava na universidade e que sua pequena e doce Amelia já ia completar cinco anos.
Era estranho notar as mudanças hormonais e como seu rosto estava com algumas espinhas teimosas, que insistiam em aparecer sempre nos mesmos lugares. A oleosidade também havia aumentando e todos os dias tinha que passar uma loção facial para regular a situação.
Anualmente realizava exames gerais para saber se estava tudo bem com o seu corpo, tinha histórico de câncer na família e era sempre melhor prevenir do que remediar. Caso desenvolvesse algo, o quanto antes ficasse sabendo, melhor seria para combater o problema.
Também havia as constantes consultas na ginecologista, pois havia deixado de usar anticoncepcional, por causa de diversos problemas hormonais que o constante uso das pílulas havia causado em seu corpo. Fazia pouco tempo que tinha começado a usar um dispositivo intrauterino, o que facilitou a sua vida em muitos aspectos. Admirava a maneira em como participava de sua saúde íntima, sempre querendo entender como as coisas funcionavam no corpo feminino, algo que ela sabia bem que nem todo parceiro se preocupava em conhecer. Ele a enchia de perguntas, às vezes, até repetia de tempos em tempos o mesmo assunto, mas ela não se importava em responder novamente.
— Um beijo pelos seus pensamentos — sussurrou no ouvido de , a surpreendendo e fazendo a mesma pular de susto.
— Puta que pariu, ! Você nunca muda, não é mesmo? — riu, sentindo os braços dele envolverem sua cintura.
— Eu sempre fui arteiro, faz parte do meu charme — sorriu, acariciando o rosto da esposa. — Por que você tá toda pensativa? Tava parada olhando pela janela da cozinha faz um tempão.
— Tá passando uma retrospectiva do nosso relacionamento na minha cabeça. É maluco pensar que já estamos juntos há tanto tempo.
— 12 anos te aguentando, credo! — mordeu a bochecha de .
— Ah, é? Pois então, Sr. , faça o seu café da manhã sozinho — se desvencilhou de seus braços e rumou para a porta.
— Não seja dramática, Sra. . Eu estava brincando e você não pode me deixar sem seu incrível café da manhã. Ninguém faz a comida que você faz. Tenha piedade — juntou as mãos, se ajoelhando no meio do cômodo. — Se você continuar me ignorando, eu vou ter que apelar para os métodos de atuação e começar a chorar no meio da cozinha.
— Não faça isso! Na última vez que você inventou de chorar, deixou a Amelia extremamente assustada — estendeu a mão para , balançando a cabeça em completa negação diante da cena, se segurando para não rir. — Você não é o palhaço, é o circo inteiro. Levanta! Você... !
Os braços do marido a puxaram para baixo, fazendo ela cair em cima dele. Ambos no meio do chão da cozinha, rolando e rindo como dois adolescentes.
A água que estava no fogão, já havia começado a ferver e os preparos do café da manhã estavam todos pela metade, mas isso não era o importante no momento.
sabia no instante em que pusera os pés na cozinha naquela manhã, que algo não estava certo com a sua esposa. Na verdade, fazia um tempo que ele vinha notando algumas mudanças de humor em , além de uma expressão de evidente preocupação que se tornara uma constante.
Tentou fingir que não havia notado nada, na esperança de que ela pudesse procurar por ele e se abrir sobre o que sentia. Não queria ser invasivo, não queria assustá-la, mas havia chego em um ponto em que ele sabia que se não desse o primeiro passo, as coisas entre os dois poderiam se complicar.
Quando se está com alguém por tanto tempo, há momentos em que você precisa agir e se tornar a rocha, a fortaleza da outra pessoa em uma situação de fragilidade.
Era isso que queria sempre ser para : seu porto seguro.
girou seu corpo ficando em cima da esposa, sem soltar seu peso sobre ela. Encarava seus olhos de maneira profunda, com um braço apoiado no chão, enquanto o outro estava posicionado próximo da cabeça de , possibilitando que sua mão pudesse acariciar os cabelos dela.
— Você vai me dizer o que tá se passando nessa cabecinha? — ele questionou a esposa, observando a forma em como ela evitava seus olhos. — Olha para mim. O que é que tá te incomodando, amor? Foi alguma coisa que eu fiz?
— Não. Sim... Eu não sei — suspirou pesadamente. — Eu tô pensando em tanta coisa, tô insegura com tanta coisa, mas não é nada que a gente já não tenha conversado antes. Eu sei exatamente o que você vai dizer para me confortar.
— Não importa que a gente já tenha conversado sobre isso antes, se é algo que está te incomodando, então, precisamos conversar novamente e você sabe disso.
— Eu não quero agir como uma paranoica, — levou as mãos ao rosto, sentindo as lágrimas salgadas escorrerem por suas bochechas.
Ela podia ver a animação de enquanto o mesmo gesticulava animado ao falar no telefone com Gillian Scherer, atriz que fazia o seu par romântico em um novo filme. A ruiva de olhos verdes era uma das pessoas mais simpáticas que já teve o prazer de conhecer em Hollywood. Além disso, todo ano ela aparecia na lista de pessoas mais bonitas do mundo e com todo o mérito.
Enquanto terminava de tomar seu suco, sentia seu corpo se afundar na espreguiçadeira da família cada vez mais. Maldita baixa autoestima que decidia atacar em momentos felizes.
Estava um dia lindo e ensolarado, ela estava na beira da piscina vendo o homem que amava desfilar sem camisa pelo jardim, mas não conseguia evitar a crescente vontade de diminuir a si mesma cada vez que via gargalhar com as coisas que Gillian dizia.
Longe dela pensar em rivalidade feminina, ela sabia bem que não era a única mulher no mundo e que sempre teria mulheres em seu círculo de amizade fosse ele famoso ou não.
Sua psicóloga já havia dado todas as ferramentas para que ela entendesse a base de seus problemas. Era o bullying do passado, problemas familiares, o fato de ter tido primeiras experiências em momentos que para a maioria das pessoas já tinha acontecido em fases muito anteriores do que quando aconteceu com ela.
A maioria perdera a virgindade antes dos 18 anos. Ela perdeu com 25 anos, com , que também foi o seu primeiro namorado.
E o curioso é que ela não tinha medo ou receio de transar antes, apenas não tinha acontecido, entretanto, durante muito tempo se sentia presa em um universo à parte cada vez que saía com os amigos e todos comentavam de suas aventuras sexuais, ou falavam de seus peguetes. Ela ficava em silêncio, escutava e dava a atenção necessária, afinal, eles eram seus amigos e estavam compartilhando algo da vida deles, assim como sempre a ouviam quando ela falava de suas séries e livros favoritos - mesmo que não vissem ou lessem os mesmos conteúdos que ela -, ou quando se empolgava falando sobre uma partida eletrizante de basquete do seu time do coração. Seus amigos eram gentis e acompanhavam a maneira enérgica em que ela falava do esporte.
O problema era a própria que se achava atrasada em tudo, que ainda ouvia ecoar as vozes do passado dizendo o quão não boa o bastante ela é.
era paciente.
Ele sabia da história dela, sabia dos medos, das incertezas.
Ela sabia que ele a apoiava incondicionalmente e a encorajava a encarar de frente todos os seus demônios.
também sabia do quanto havia evoluído, mas entendia que era um processo longo e uma batalha diária e que, às vezes, ela não iria vencer.
Finalizou seu suco, se levantando apenas para colocar o seu copo em uma mesa próxima. Seu olhar foi rapidamente para a piscina ao notar a gritaria que os irmãos de haviam iniciado por conta de uma brincadeira com bola. Quando voltou a focar no namorado, ele já estava a poucos passos dela.
— A Gillian é hilária! Mal posso esperar para encontrar com ela na segunda-feira. Temos tantas ideias para os nossos personagens. Além disso, como eu estava te contando antes, na última quinta tivemos uma sessão de fotos e a gente deu risada do começo ao fim. Principalmente, quando tivemos que nos apoiar em um banquinho e ele quebrou bem na hora que o fotógrafo capturou o momento. Achamos que a foto ia ficar horrível, mas ficou tão espontânea que seria um erro não usá-la. Depois das fotos, a gente foi jantar em um restaurante incrível, que eu não conhecia. Preciso te levar lá!
E era assim com Gillian, Stacy, Dominika, Angelique e tantas outras. Sempre garotas incríveis, independentes, bem-humoradas, inteligentes e lindas. Extremamente maravilhosas. O tipo de mulher que , assim como tantas outras mulheres, cresceram querendo ser.
O papo do amor próprio e se aceitar como é, começou a se tornar uma pauta mais corriqueira no dia a dia e nas redes sociais, quando ela estava na faixa dos 18 anos, mas ainda em passos de bebê.
Foram anos e anos com referências muito restritas. Ela não se via em ninguém, então, se projetava em mulheres que ela nunca poderia ser. Só havia um padrão correto de mulher e não condizia com a maioria da sociedade.
Também havia o famoso ligar o foda-se para a opinião dos outros, que era muito fácil na teoria, mas não funcionava de maneira simples na prática, porque há muito mais em jogo do que o puro ato de ignorar tudo e a bagagem que ela carregava consigo de anos antes tinha uma ímã para essas situações.
Felizmente, aos poucos, foi abandonando algumas bagagens pelo caminho, até restar apenas uma mala de mão que insistia em ficar com ela. Por mais que despachasse, por mais que fingisse esquecer em algum aeroporto da vida, bastava fazer check-in para um novo voo e lá surgia a mala de mão, pronta para se fazer presente nas ocasiões menos favoráveis.
Às vezes, quando ela se encontrava no meio de uma estação de trem em horário de pico, a mala se abria espalhando todas as feridas, que desnorteadas, se arrastavam umas contra as outras no meio da multidão na esperança de permanecerem juntas até encontrarem o caminho de volta, afinal, o campo emocional de era tudo o que elas conheciam.
Os caquinhos se juntavam até ficarem como um só, porém, repletos de lacunas como numa colagem de papéis rasgados, que em seus riscos e ausências carregam fragmentos incompletos do que outrora já foi inteiro.
And the more that I show you the more I’m afraid
(E quanto mais eu te mostro, mais eu tenho medo)
That you’re going to wake up
(Que você vai acordar)
And realize that I’m not the one that you thought I was
(E perceber que não sou aquele que você pensou que eu era)
— Amor. Hey, não chora — confortou . Ele sentiu seu coração apertar dentro do peito. Passou os polegares na bochecha da esposa e sentou-se, puxando-a para seus braços de maneira amorosa.
— As coisas estão ficando diferentes, . Eu não sou a mesma de anos atrás. Eu tô envelhecendo. Os cabelos brancos estão cada vez mais presentes, as marcas de expressão mais evidentes, meus hormônios cada vez mais malucos. E então, surgem essas garotas jovens e lindas, brilhando com seus 20 anos e corpos esculpidos e elas te cercam, te abraçam, te veneram. E por mais exercícios que eu faça, por mais cremes que eu passe, por mais que eu tente me manter eu mesma, ainda assim, eu sei que eu não tenho mais 20 e poucos anos — fungou, sem coragem de olhar para o rosto do marido. — E eu sei que eu posso confiar em você, mas ao mesmo tempo, eu me pergunto se não apareceu alguém mais interessante, mais engraçada, mais bonita no meio do caminho, que te faça ter uma vida dupla. Eu sempre convivi com essa sombra de que você vive cercado de mulheres maravilhosas e parece que a cada ano ela fica maior. Eu vejo o modo em como você é sempre prestativo e cheio de sorrisos, como se diverte quando fala com algumas delas no telefone.
— , meu amor. Você acha que eu não passo pelo mesmo? Não acha que eu tenho os mesmos questionamentos e inseguranças? Eu também tô envelhecendo e mesmo que aos olhos de Hollywood eu ainda seja um “rostinho bonito”, eu também lido com os cabelos brancos que indicam a passagem do tempo, os pés de galinha no canto dos olhos que parecem aumentar a cada dia. Mesmo que eu me exercite regularmente, as dores físicas, que são consequências normais após algumas cenas de ação, ficaram mais intensas. Além disso, há toda uma nova safra de atores mais jovens, mais galãs e que atraem mais público, o mesmo público que eu atraía a 10 anos atrás — entrelaçou os dedos com a esposa e pode sentir o olhar dela sobre si, como se estivesse analisando o seu rosto, embora ainda mantivesse a cabeça apoiada em seu peito. — E sim, estou cercado de mulheres maravilhosas e talentosas, mulheres que entram em listas das mais sexys do mundo, mas eu não tenho uma relação com elas, eu tenho com você. Além disso, eu também vivo com o constante medo de te perder e isso existe desde que começamos a ficar juntos.
— Como você acha que eu poderia simplesmente ir embora? — questionou desacreditada.
— Pelas mesmas razões que você acha que eu poderia ir embora — rebateu contraindo os lábios e olhando para o rosto que tanto amava. — Que você vai se cansar de mim, vai se cansar de ter que lidar com a mídia, com a minha ausência, principalmente, em datas importantes. Que um dia você vai tocar a minha pele e ela será mais áspera, mais flácida, mais repleta de marcas que não são possíveis de impedir que surjam. O medo de que em algum momento você vai olhar para mim e seus olhos não vão mais brilhar ao me ver.
— Isso seria impossível — disse ela, tocando o rosto de com carinho. — Você continua o mesmo cara que sempre se destaca na multidão aos meus olhos. Podemos estar cercados de pessoas, eu só vejo você.
— E o mesmo vale para mim quando se trata de você. Onde quer que a gente esteja, você sempre é a única que tem a minha total atenção. Tente se ver mais através dos meus olhos, que eu tentarei me ver mais através dos seus. Pode ser?
ergueu o dedo mindinho, como uma promessa de criança que indica toda a pureza e inocência de um ser que ainda não conhece a maldade do mundo. riu baixinho do gesto do marido e entrelaçou seu dedo mindinho com o dele, sentindo um beijo tenro ser depositado em sua testa.
Antes que criassem coragem para se levantar do chão, o som de passos rápidos de um pequeno ser tomaram conta do cômodo e logo, Amelia estava jogada em cima dos pais.
— Bom dia, meu amor! — beijou a bochecha da filha, que abraçava o pescoço do pai.
— Bom dia! Eu quero café da manhã! — falou alto e fazendo um biquinho.
— Estamos no meio do processo e alguém aqui precisa escovar os dentes, hein? — abanou as mãos na frente do rosto, forçando uma tosse e deitando seu corpo no chão. — Soldado abatido pelo bafo!
Os três riam, enquanto Amelia tentava assoprar o rosto de .
— Eu tenho uma proposta — falou com os joelhos apoiados no chão e olhando para a pequena. — O que acha de ir escovar os dentes com o papai enquanto eu termino o café? Prometo que assim que voltar, já vai estar tudo no seu prato favorito.
— E eu vou poder comer um pedaço de bolo de chocolate também? — juntou as mãozinhas.
— Você está muito mal-acostumada, mocinha. Culpa do seu pai. Mas se tomar todo o seu café, acho que posso providenciar um pedaço de bolo. Combinado? — Abriu os braços.
— Sim! — respondeu se jogando no colo da mãe para abraçá-la com amor.
Quando todos se levantaram, segurou em uma das mãos de Amelia e antes que deixassem a cozinha, ele depositou um breve selinho nos lábios da esposa e em seguida analisou o seu rosto, gravando cada detalhe em sua mente. De certa forma, ele se sentia aliviado por não ser o único preocupado com o que o tempo poderia causar em suas relações e até na visão que tinha de si mesmo.
A vida é feita de uma série de momentos que formam as horas, os dias, os meses e os anos. Não tem como pausar, como acelerar, ou retroceder. É um filme que roda sem a opção de adicionar filtros e cortes com trilhas sonoras espalhafatosas. Os momentos formam o passado esquecido, as recordações que revisitamos e o presente que morre em cada instante. São esses fragmentos que nos moldam, que nos tornam quem somos com todos os risos, choros, medos, incertezas e paranoias.
não era perfeita. não era perfeito. Eles eram dois estranhos que se conheceram, se apaixonaram e passaram a dividir as suas imperfeições para que pudessem aprender a evoluir juntos. Nunca teriam as respostas para todas as suas perguntas, mas tinham um ao outro e uma família maravilhosa. E isso bastava.
— Você é a pessoa mais especial da minha vida. Você conquistou meu coração completamente e eu só tenho olhos para você. Eu te amo e isso nunca vai mudar — usou a mão livre para acolhê-la em quase abraço.
— Eu te amo, . Obrigada por a cada ano envelhecer ao meu lado.
But baby I love you
(Mas, amor, eu te amo)
And baby I’d love to not be
(E, amor, eu adoraria não ser)
Paranoid
(Paranoico)
Fim.
Nota da autora: AAAAAAAAH!!! FIM DA MINHA PRIMEIRA FICSTAPE NO FFOBS!!! *Comemora* \O/
No momento em que li a letra dessa música, a sinopse da história já veio inteira na minha cabeça e conforme fui escrevendo encontrei o caminho que queria seguir.
Essas pequenas “paranoias” são coisas que permeiam a mente de todos nós de vez em quando. Acredito que eu tenha conseguido trazer certos tópicos importantes de uma maneira sutil e espero que vocês tenham gostado.
Deixo meu obrigado a todo mundo que leu, a organizadora desse ficstape maravilhoso, a beta, a scripter e a capista, todo mundo que fez parte desse projeto do Lauv e ao FFOBS de um modo geral por proporcionar tantas coisas boas para a gente ♥
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