Capítulo Único
Eu dava passos lentos e curtos, tentando ao máximo adiar a chegada na esquina seguinte. Estava naquilo há quase dois meses e parecia que aquela sensação só piorava a cada encontro, o que me fazia querer adiar o quanto pudesse.
A esquina chegou e com ela uma rua curta sem saída, no final estavam as portas duplas de vidro e o enorme letreiro informando que a “ – Academia de Danças” ficava ali.
Eu havia chegado e agora não tinha como voltar atrás.
Não que tivesse alguma solução, pois faltava pouco mais de um mês para a competição e eu e meu parceiro precisávamos finalizar a coreografia e ensaiar o máximo que pudéssemos. Eu já tinha furado em dois ensaios na semana anterior – não pelo motivo da tensão de hoje, mas no fundo foi um alívio não ter que lidar com a situação – e agora tínhamos que compensar o tempo perdido.
Finalmente cheguei à entrada, esticando a mão empurrei um lado das portas de vidro. Logo em frente, a mesa da recepção não estava vazia e Carla, a recepcionista, me lançou um sorriso carinhoso e um aceso de boas-vindas. Sorri de volta e caminhei sem pressa até o banheiro feminino.
As sapatilhas pretas foram deixadas de lado hoje, com poucos treinos restantes até o dia da apresentação eu tinha que me acostumar a fazer a coreografia com o sapato que usaria na ocasião, uma sandália preta de salto médio, minha preferida para o ritmo que dançaríamos. A calça jeans e a regata que usava deram lugar ao vestido preto com as pontas soltas e prendi meu cabelo em um coque não tão apertado, nem tão frouxo.
Não consegui fazer nada disso tranquilamente. O nervosismo me consumia por completo, as mãos suavam e tremiam levemente e minhas pernas estavam fracas. Não sabia mais o que fazer para parar aquela situação.
Peguei o celular e olhei a hora, percebendo que ainda tinha quinze minutos até o treino. Eu sabia que ele estava em aula naquele momento e não resisti em ir até a sala dar uma espiada.
De trás da porta eu já pude ouvir uma música comum para o ritmo que ele ensinava. Meu coração batia forte pela ansiedade e antecipação de quem veria em pouco segundos. Tentando fazer o mínimo de barulho possível, apoiei minhas mãos na porta e a empurrei devagar, abrindo e fechando rapidamente. Logo ao lado da porta tinha um banco de madeira comprido e me apressei par sentar e poder assistir a aula sem incomodar ninguém.
Haviam quatro casais de alunos, separados com um espaço considerável e divididos em fileiras de dois. Eu não conhecia nenhum deles, e a julgar pelas expressões um pouco confusas e assustadas, essa devia ser uma de suas primeiras aulas. Ah, que saudade eu tenho das aulas em grupo. Era uma época tão mais tranquila, era tão divertido ter a sala cheia e poder criar novas amizades. Claro que eu ainda me divertia com os treinos e escolhi meu melhor amigo como parceiro, mas ainda assim o sentimento não era o mesmo de uma turma junto.
Aquele grupo treinava no momento apenas as expressões coreográficas, o que era muito comum nas aulas de ritmos específicos, principalmente naquele: tango. Por ser uma dança que requer muito da expressão fácil dos envolvidos e por se tratar de um ritmo sensual, as coreográficas requeriam muito mais que o contato visual do casal, era preciso que os rostos afirmassem o que seus corpos estavam dizendo.
Other dancers may be on the floor
Dear, but my eyes will see only you
Only you have that magic technique
When we sway I go weak
E lá estava ele, no meio da sala. De repente tudo ao meu redor desapareceu, eu só conseguia enxergar ele. Seu reflexo aparecendo em todos os espelhos das quatro paredes do ambiente, as sobrancelhas levemente unidas em sua expressão que eu apelidei de “concentração coreográfica”, ele sempre faz quando está analisando algum aluno reproduzir algo que ele ensinou no momento.
Eu era apaixonada por desde o dia em que o conheci. Me lembro exatamente como foi, cerca de dois anos atrás. Depois que eu assinei o contrato das aulas de dança com a Carla na recepção, ele saiu de uma das salas e veio até nós para conversar com a recepcionista e atualizá-la sobre alguma coisa da qual não prestei atenção. Pois naquele instante meu coração acelerou e eu não conseguia tirar os olhos dele. Ele era o homem mais lindo que eu tinha visto em toda a minha vida.
Mas naquele momento, eu pensei que era apenas um crush passageiro. Ledo engano.
Sem que eu percebesse ou entendesse, com o passar do tempo esse crush evoluiu e se tornou uma paixão verdadeira, daquelas de sofrer por não poder tê-lo.
Por que não posso tê-lo? Vou te dar apenas três principais motivos:
Primeiro, ele era muito mais velho que eu, com 15 anos de diferença entre as idades. Não que esse fosse um problema para mim, mas minha família é daquelas conservadoras e meus pais teriam um infarto se ao menos soubessem que eu sou apaixonada por ele, imagina se tivéssemos algo? Eles morreriam e voltariam para me matar e me levar junto.
Segundo, ele é meu professor. Uma relação assim, contando com a o primeiro motivo, não é bem vista por boa parte da sociedade. E lembra da minha família conservadora? Acho que me deserdariam na hora em que soubessem.
E terceiro, ele era completamente respeitador e dedicado à sua profissão, ou seja, era provável que nem ele aceitaria (mesmo que quisesse) aquela relação pois, possivelmente, iria contra os seus princípios éticos.
Tudo isso eu já sabia desde o momento em que percebi que estava começando a me apaixonar. Mas, eu consegui deixar para lá? Claro que não! O universo nunca conspira ao meu favor nesses momentos.
Eu não conseguia esquecê-lo. Não adiantava ficar com outros, focar a energia e pensamento em outra coisa, no fim eu sempre acabava pensando nele e o quanto gosto dele.
Mas, havia um motivo para isso também. Um que acende meu coração sempre que estamos juntos: era possível sentir a tensão entre nós em cada segundo que passávamos no mesmo ambiente, eu juro que consigo sentir uma vibração de desejo vindo dele sempre que dançamos juntos. Até o , meu parceiro, me disse que via claramente as faíscas que saiam de nós.
Ainda assim, eu nunca tive coragem para dizer a ele. Eu tinha medo de ser rejeitada e isso fazer com que nossa relação como aluna/professor fosse prejudicada, o que não podia acontecer de jeito nenhum, já que as orientações dele são essenciais para as coreografias que eu e o apresentamos. Eu não podia estragar todo o meu futuro nessa carreira ao me declarar.
- Senhorita ?
A voz grossa e aveludada me chamou. Por um instante, pensei que estava em um sonho, sendo chamada pelo meu anjo.
I can hear the sounds of violins
Long before it begins
Make me thrill as only you know how
Sway me smooth, sway me now, give me more
- Senhorita , está me ouvindo?
Dei um pequeno pulo no banco ao acordar para a realidade e encarar a frente da sala. Todos os casais estavam virados para o fundo, na minha direção, e pude ver um sorriso tímido no rosto de .
Ele também não colabora não é mesmo? Por que tinha que ser tão perfeito?
- Ah, oi senhor . Sim, estou ouvindo. – Respondi finalmente. – Posso ajudar em algo? – Me levantei e alisei a saia do vestido, fingindo desamassá-lo mesmo o tecido sendo aqueles que não amassavam.
- Na verdade, pode sim. Eu gostaria de fazer uma demonstração com uma coreografia para que eles vejam a expressão coreográfica em prática. Você poderia dançar comigo?
Como era de costume, meu coração disparou quando me dei conta de que dividiríamos um “palco”. Era sempre uma explosão de sentimentos e sensações quando dançamos juntos.
Sem conseguir me expressar em palavras, apenas sorri e com passos curtos diminui a distância entre nós, parando ao seu lado.
Ele cheirava bem como sempre, mesmo com o suor corporal. Acho que é alguma coisa que deuses conseguem fazer para ficarem tão cheirosos mesmo depois de horas de exercícios.
- Bom, gente, será uma mistura de uma coreografia antiga que nós dois já conhecemos com um pouco de improviso, diferente de vocês que farão uma coreografia ensaiada. Mas, é principalmente nas danças improvisadas que devemos utilizar as expressões coreográficas para transmitir o sentimento que vem junto com a dança. Tentem prestar atenção em nossos rostos e em nossos movimentos ao mesmo tempo, lembrem-se do que falei no começo da aula: o tango é uma dança que representa um jogo de sedução, então devemos expressar o cortejo e a rejeição nos momentos certos, combinando com os passos utilizados na coreografia.
Ao terminar, foi em direção ao rádio na lateral esquerda da sala para colocar a música.
Eu estava como sempre deslumbrada. Um dos motivos de me apaixonar por ele é a forma como ele demonstra conhecimento na arte da dança e em como ele é um professor magnífico. consegue transmitir o amor que sente pelo que faz em sua dança e o amor que devemos sentir em seus ensinamentos. Aquilo o deixava ainda mais maravilhoso.
Ele estava de volta e se posicionou na minha frente, mas de costas para mim, encarando os alunos que estavam ansiosos pela demonstração. O perfume bem mais forte agora, sério, como ele consegue? Seu dedo indicador tocou levemente as costas da minha mão direita, ao mesmo tempo em que a música começou, me indicando qual era a coreografia e qual era meu primeiro passo. Só com esse toque mínimo, todos os pelos do meu corpo eriçaram.
Ai senhor, aquela era uma das coreografias mais hot que eu tinha aprendido no tango. Esse universo não colabora mesmo né?
Respirei fundo tentando puxar junto com o ar, um pouco de confiança para fazer isso sem pirar.
A dança começou com meu braço direito subindo pela lateral do seu torso e parando no meio do seu peito, e eu claramente aproveitei para tocá-lo o mais firme que podia para sentir seus músculos resultantes de tantos anos de dança. Sua mão encontrou e cobriu a minha, o aperto era tanto vigoroso quanto suave. O tronco de se moveu lentamente para a esquerda me conduzindo junto, ao mesmo tempo em que o aperto em sua mão se soltou e eu pude mover a minha pelo caminho de volta parando em suas costas. Neste momento, ele se inclinou para a direita e eu joguei meu corpo para a esquerda, dando um passo para o lado me afastando dele. Meus braços estavam esticados, meu rosto virado para o dele e meu pé direito apoiado atrás do pé esquerdo dele, posição que nos prepara para o próximo passo da coreografia. Nossos olhares ainda não se encontravam, os dele em diagonal focavam na região da minha cintura e os meus não tinham ele à vista, dentro da coreografia este ainda era o momento inicial do cortejo, sem muito contato entre o cavalheiro e a dama.
Passei meu pé direito pela frente do dele, aproveitando a batida da música para dar um passo longo para poder pegar impulso e rodar no mesmo lugar com a ajuda das mãos de que agora estavam em minha cintura. Eu estava de frente para ele e suas mãos seguravam meu torso firmemente, me conduzindo a inclinar devagar o corpo para a direita junto com ele. Abri os braços novamente, dessa vez indicando rendição por parte da dama.
Like a flower bending in the breeze
Bend with me, sway with ease
When we dance you have a way with me
Stay with me, sway with me
então levou a mão esquerda até o meu braço, próximo ao ombro, e o pressionou levemente para baixo, ao mesmo tempo em que sua outra mão que estava em minha cintura me empurrou para o lado, movimento com o qual o cavalheiro consegue fazer com que a dama entenda que o próximo passo será um giro. E assim eu fiz, durante o giro diminuindo a abertura dos meus braços. As mãos de estavam firmes em minha cintura, guiando o giro, e ele travou o aperto para me indicar que tinha que parar. Ao finalizarmos, minhas mãos foram para seu pescoço e seu braço procurando por apoio, e ele deu um passo mínimo à frente, aproximando ainda mais nossos corpos e rostos.
O primeiro contato visual na dança aconteceu e eu não pude deixar de notar quanta falta sentia de encarar aqueles olhos tão lindos, cheios de brilho. Nossas respirações rápidas se encontravam fazendo com que meu queixo ficasse mais aquecido.
Nós dois giramos duas vezes para o lado esquerdo, os pés se entrelaçando como era típico das danças de tango. Um terceiro giro foi emendado no segundo, mas agora eu girei sozinha me movendo para a esquerda. Uma das mãos de apoiou as minhas costas quando finalizei o giro abrindo os braços e me inclinando alguns centímetros para trás, me equilibrei ao manter os pés afastados, o esquerdo dando sustentação atrás e o direito na frente. Em contraste, o equilíbrio de se dava com as pernas cruzadas uma de frente à outra. E assim o passo terminou.
As mãos dele me conduziram para a frente e juntos demos dois passos, eu andando de frente e ele na lateral, ao fim ele me puxou para perto de si e assim paramos um de frente para o outro novamente. Dessa vez nossos rostos não estavam apenas próximos, estavam a milímetros de distância. Pude ver nos olhos de as chamas do desejo subirem. Ou talvez fosse apenas o reflexo dos meus olhos.
Sua mão esquerda subiu pela minha costela, mas parou ali, elas tremiam pela primeira vez desde que o conheço. Para seguir a coreografia, ele devia continuar subindo a mão até encontrar a minha e me conduzir. Mas isso não aconteceu. Na verdade, eu pude sentir seus lábios tocarem os meus minimamente, quase como uma cócega.
Mas então, ele se afastou devagar e com calma, as mãos se soltando do meu corpo. Seu rosto em total pânico por um segundo e então a expressão de professor voltou e ele sorriu para os alunos, que eu de repente lembrei que estavam na sala e nos assistiam. Toda a cena durou poucos segundos então provavelmente nenhum deles notou a tensão. Era o que eu esperava.
Todos falavam ao mesmo tempo, lhe fazendo perguntas sobre a apresentação. Eu congelei onde estava e só consegui me mover quando ouvi a porta batendo com força e rapidamente virei meu rosto encontrando , meu parceiro, nos encarando envergonhado.
- Ah, me desculpem! Estou atrasado e ouvi a música de tango, então achei que já estavam na nossa orientação – ele disse coçando a cabeça tentando disfarçar.
- Imagina, eu que me desculpo por ultrapassar o tempo com a classe. – falou. – Bom, gente, estamos sem tempo hoje. Mas prometo responder todas as dúvidas na próxima aula. Até mais!
Os alunos foram até o canto em que suas bolsas estavam, pegaram e logo saíram da sala, se despedindo de nós três que ficaríamos.
pigarreou para chamar minha atenção e de , que se aquecia em uma das barras na lateral.
- Vocês me dão licença por um minuto? Preciso ir lá fora, eu já volto. – disse saindo com passos rápidos da sala.
- Nossa, ele está estranho. Tremendo um pouco. O que aconteceu? – perguntou, saindo da barra e pegando sua garrafa d’água.
- Ele quase me beijou. – Joguei a bomba, ainda sem acreditar. E com a surpresa, o coitado do meu amigo cuspiu toda a água que bebia.
A orientação terminou após duas horas e eu podia dizer com certeza que foi meu pior ensaio. Eu não conseguia me concentrar, ficava relembrando nossa dança e a investida que ele dera. Não era possível que eu tinha imaginado aquele quase beijo.
Ele está a fim de mim! Não há mais como negar. Ou como nós dois fingirmos que não existe nada, isso precisa mudar.
- Nos vemos na próxima orientação casal – o professor disse com um sorriso fechado. Ele evitou olhar diretamente para mim desde o começo da nossa aula, o que era um indício claro do seu desconforto.
e eu fomos até nossas bolsas próximo da porta e nos preparamos para sair da sala.
- Até mais, professor – se despediu, abrindo a porta e me dando passagem.
- Ah, senhorita ? – disse após sorrir e acenar para meu parceiro. – Poderíamos conversar por um instante?
Meu coração pulou no peito no mesmo instante. O que será que ele queria falar?
Concordei com a cabeça e me afastei de porta. se despediu e antes de virar me encarou, seus olhos pingavam malícia e ele levantou a sobrancelha indicando o que eu tenho certeza que o seu pensamento dizia “vai que é sua, amiga”. Eu revirei os olhos para ele em resposta, mas tinha um sorriso malicioso ao mesmo tempo.
estava parado no meio da sala, de braços cruzados e com olhos que encaravam cada canto do ambiente, menos a mim.
- Então, o que queria falar? - perguntei.
Os olhos dele finalmente encontraram os meus e transmitiam tranquilidade e determinação. Eu não tenho certeza do que isso pode significar.
- Na verdade, era sobre a orientação de hoje. Eu percebi que você estava bem dispersa e errou passos simples. Eu sei que passou duas semanas doente e talvez seja isso, mas eu queria que você me ajudasse a entender se tem algum outro motivo?
Eu respirei fundo como nunca tinha feito antes. Tentando juntas forças para o que precisava fazer.
Não dava mais para levar isso adiante, precisávamos de um ponto final. Eu precisava de um ponto final. Chegou ao ponto de interferir o futuro da minha vida profissional, e eu não podia permitir. Esse concurso é um dos mais decisivos em minha carreira como dançarina e eu tinha que focar toda a minha atenção nele.
- Não dá mais, eu preciso falar. – eu disse, jogando a mochila no chão, próximo a porta, e me aproximei dele com passos firmes. – Sim, , tem outro motivo para eu não estar totalmente focada nessa droga de apresentação. Você! Você é o bendito motivo.
Ele deu um passo para trás, suas sobrancelhas arqueando e os olhos arregalando, assustado com meu inédito tom agressivo.
- Eu? Mas...
- Você! Com esse sorriso ridiculamente maravilhoso, esse corpo dos deuses que me faz ter todo tipo de pensamento impróprio, os olhos que brilham com desejo toda vez que me vê, o modo como fala com os alunos e ensina essa arte tão bonita, com essa voz... ah, essa voz que me faz derreter toda vez que o escuto. O fato de você ser um dançarino fabuloso e me fazer viajar para outro universo sempre que dançamos juntos, seu toque macio e firme ao mesmo tempo, me conduzindo numa coreografia linda e intensa...
Eu comecei minha fala ainda de forma agressiva, falando alto e um pouco alterada. Era o meu interior finalmente se libertando e eu precisava me expressar daquela forma para que ele entendesse o quão verdadeiro era. Ao fim, regulei o tom da minha voz e me acalmei. Parada de frente para ele, guiei meus olhos até os dele e tentei ao máximo transmitir naquele olhar tudo o que eu sentia no momento.
- O problema é eu estar apaixonada por você e não poder fazer nada a respeito. Por ter a consciência da dificuldade que seria estarmos em um relacionamento, ou de simplesmente conseguir com que você se renda à um. Não adianta você tentar negar, , eu consigo sentir que você me quer tanto quanto eu te quero. Mas, eu sei que você tem essa maldita honra que não te deixa se entregar e...
E, ele me beijou. Os lábios dele preencheram os meus com urgência, sua língua adentrando minha boca e encontrando a minha de imediato, uma de suas mãos foi para a minha cintura e a outra para minha nuca, me puxando para mais perto a fim de intensificar mais o beijo. No automático, passei minhas mãos pelo seu torso até chegar em suas costas úmidas pelo suor.
Não foi nada como eu imaginei que seria. Foi muito melhor. O melhor beijo da minha vida. Era delicado e intenso na medida certa, era macio e firme, e seu hálito e gosto pareciam menta.
O beijo continuou por alguns minutos e eu não queria que o momento acabasse, mas então, diminuiu o ritmo até finalizarmos com pequenos selinhos e afastou o rosto minimamente, segurando meu rosto com as duas mãos e encostando as nossas testas. Eu me recusei a abrir os olhos, com medo de que tudo fosse apenas uma imaginação.
- ... Eu sempre senti algo por você. E agora... agora, você conseguiu. – disse ofegante, por causa do beijo.
- O que eu consegui? – perguntei num sussurro, ainda sem coragem de abrir os olhos.
- Que eu me apaixonasse por você. Conseguiu me fazer esquecer todos os meus códigos de honra por você. Eu quero estar com você, . E estou disposto a enfrentar o mundo para podermos ter um relacionamento.
Meu coração pulou mais forte no peito, dessa vez não mais de ansiedade ou nervoso, mas de felicidade.
- Nós vamos fazer isso dar certo, sei que vamos – respondi, abrindo os olhos e o encontrando ali, em carne e osso.
Era tudo real. Meu sonho finalmente se tornou realidade.
- Nós vamos. E seremos muito felizes.
Era tudo o que eu mais queria.
Make me thrill as only you know how
Sway me smooth, sway me now
A esquina chegou e com ela uma rua curta sem saída, no final estavam as portas duplas de vidro e o enorme letreiro informando que a “ – Academia de Danças” ficava ali.
Eu havia chegado e agora não tinha como voltar atrás.
Não que tivesse alguma solução, pois faltava pouco mais de um mês para a competição e eu e meu parceiro precisávamos finalizar a coreografia e ensaiar o máximo que pudéssemos. Eu já tinha furado em dois ensaios na semana anterior – não pelo motivo da tensão de hoje, mas no fundo foi um alívio não ter que lidar com a situação – e agora tínhamos que compensar o tempo perdido.
Finalmente cheguei à entrada, esticando a mão empurrei um lado das portas de vidro. Logo em frente, a mesa da recepção não estava vazia e Carla, a recepcionista, me lançou um sorriso carinhoso e um aceso de boas-vindas. Sorri de volta e caminhei sem pressa até o banheiro feminino.
As sapatilhas pretas foram deixadas de lado hoje, com poucos treinos restantes até o dia da apresentação eu tinha que me acostumar a fazer a coreografia com o sapato que usaria na ocasião, uma sandália preta de salto médio, minha preferida para o ritmo que dançaríamos. A calça jeans e a regata que usava deram lugar ao vestido preto com as pontas soltas e prendi meu cabelo em um coque não tão apertado, nem tão frouxo.
Não consegui fazer nada disso tranquilamente. O nervosismo me consumia por completo, as mãos suavam e tremiam levemente e minhas pernas estavam fracas. Não sabia mais o que fazer para parar aquela situação.
Peguei o celular e olhei a hora, percebendo que ainda tinha quinze minutos até o treino. Eu sabia que ele estava em aula naquele momento e não resisti em ir até a sala dar uma espiada.
De trás da porta eu já pude ouvir uma música comum para o ritmo que ele ensinava. Meu coração batia forte pela ansiedade e antecipação de quem veria em pouco segundos. Tentando fazer o mínimo de barulho possível, apoiei minhas mãos na porta e a empurrei devagar, abrindo e fechando rapidamente. Logo ao lado da porta tinha um banco de madeira comprido e me apressei par sentar e poder assistir a aula sem incomodar ninguém.
Haviam quatro casais de alunos, separados com um espaço considerável e divididos em fileiras de dois. Eu não conhecia nenhum deles, e a julgar pelas expressões um pouco confusas e assustadas, essa devia ser uma de suas primeiras aulas. Ah, que saudade eu tenho das aulas em grupo. Era uma época tão mais tranquila, era tão divertido ter a sala cheia e poder criar novas amizades. Claro que eu ainda me divertia com os treinos e escolhi meu melhor amigo como parceiro, mas ainda assim o sentimento não era o mesmo de uma turma junto.
Aquele grupo treinava no momento apenas as expressões coreográficas, o que era muito comum nas aulas de ritmos específicos, principalmente naquele: tango. Por ser uma dança que requer muito da expressão fácil dos envolvidos e por se tratar de um ritmo sensual, as coreográficas requeriam muito mais que o contato visual do casal, era preciso que os rostos afirmassem o que seus corpos estavam dizendo.
Dear, but my eyes will see only you
Only you have that magic technique
When we sway I go weak
E lá estava ele, no meio da sala. De repente tudo ao meu redor desapareceu, eu só conseguia enxergar ele. Seu reflexo aparecendo em todos os espelhos das quatro paredes do ambiente, as sobrancelhas levemente unidas em sua expressão que eu apelidei de “concentração coreográfica”, ele sempre faz quando está analisando algum aluno reproduzir algo que ele ensinou no momento.
Eu era apaixonada por desde o dia em que o conheci. Me lembro exatamente como foi, cerca de dois anos atrás. Depois que eu assinei o contrato das aulas de dança com a Carla na recepção, ele saiu de uma das salas e veio até nós para conversar com a recepcionista e atualizá-la sobre alguma coisa da qual não prestei atenção. Pois naquele instante meu coração acelerou e eu não conseguia tirar os olhos dele. Ele era o homem mais lindo que eu tinha visto em toda a minha vida.
Mas naquele momento, eu pensei que era apenas um crush passageiro. Ledo engano.
Sem que eu percebesse ou entendesse, com o passar do tempo esse crush evoluiu e se tornou uma paixão verdadeira, daquelas de sofrer por não poder tê-lo.
Por que não posso tê-lo? Vou te dar apenas três principais motivos:
Primeiro, ele era muito mais velho que eu, com 15 anos de diferença entre as idades. Não que esse fosse um problema para mim, mas minha família é daquelas conservadoras e meus pais teriam um infarto se ao menos soubessem que eu sou apaixonada por ele, imagina se tivéssemos algo? Eles morreriam e voltariam para me matar e me levar junto.
Segundo, ele é meu professor. Uma relação assim, contando com a o primeiro motivo, não é bem vista por boa parte da sociedade. E lembra da minha família conservadora? Acho que me deserdariam na hora em que soubessem.
E terceiro, ele era completamente respeitador e dedicado à sua profissão, ou seja, era provável que nem ele aceitaria (mesmo que quisesse) aquela relação pois, possivelmente, iria contra os seus princípios éticos.
Tudo isso eu já sabia desde o momento em que percebi que estava começando a me apaixonar. Mas, eu consegui deixar para lá? Claro que não! O universo nunca conspira ao meu favor nesses momentos.
Eu não conseguia esquecê-lo. Não adiantava ficar com outros, focar a energia e pensamento em outra coisa, no fim eu sempre acabava pensando nele e o quanto gosto dele.
Mas, havia um motivo para isso também. Um que acende meu coração sempre que estamos juntos: era possível sentir a tensão entre nós em cada segundo que passávamos no mesmo ambiente, eu juro que consigo sentir uma vibração de desejo vindo dele sempre que dançamos juntos. Até o , meu parceiro, me disse que via claramente as faíscas que saiam de nós.
Ainda assim, eu nunca tive coragem para dizer a ele. Eu tinha medo de ser rejeitada e isso fazer com que nossa relação como aluna/professor fosse prejudicada, o que não podia acontecer de jeito nenhum, já que as orientações dele são essenciais para as coreografias que eu e o apresentamos. Eu não podia estragar todo o meu futuro nessa carreira ao me declarar.
- Senhorita ?
A voz grossa e aveludada me chamou. Por um instante, pensei que estava em um sonho, sendo chamada pelo meu anjo.
Long before it begins
Make me thrill as only you know how
Sway me smooth, sway me now, give me more
- Senhorita , está me ouvindo?
Dei um pequeno pulo no banco ao acordar para a realidade e encarar a frente da sala. Todos os casais estavam virados para o fundo, na minha direção, e pude ver um sorriso tímido no rosto de .
Ele também não colabora não é mesmo? Por que tinha que ser tão perfeito?
- Ah, oi senhor . Sim, estou ouvindo. – Respondi finalmente. – Posso ajudar em algo? – Me levantei e alisei a saia do vestido, fingindo desamassá-lo mesmo o tecido sendo aqueles que não amassavam.
- Na verdade, pode sim. Eu gostaria de fazer uma demonstração com uma coreografia para que eles vejam a expressão coreográfica em prática. Você poderia dançar comigo?
Como era de costume, meu coração disparou quando me dei conta de que dividiríamos um “palco”. Era sempre uma explosão de sentimentos e sensações quando dançamos juntos.
Sem conseguir me expressar em palavras, apenas sorri e com passos curtos diminui a distância entre nós, parando ao seu lado.
Ele cheirava bem como sempre, mesmo com o suor corporal. Acho que é alguma coisa que deuses conseguem fazer para ficarem tão cheirosos mesmo depois de horas de exercícios.
- Bom, gente, será uma mistura de uma coreografia antiga que nós dois já conhecemos com um pouco de improviso, diferente de vocês que farão uma coreografia ensaiada. Mas, é principalmente nas danças improvisadas que devemos utilizar as expressões coreográficas para transmitir o sentimento que vem junto com a dança. Tentem prestar atenção em nossos rostos e em nossos movimentos ao mesmo tempo, lembrem-se do que falei no começo da aula: o tango é uma dança que representa um jogo de sedução, então devemos expressar o cortejo e a rejeição nos momentos certos, combinando com os passos utilizados na coreografia.
Ao terminar, foi em direção ao rádio na lateral esquerda da sala para colocar a música.
Eu estava como sempre deslumbrada. Um dos motivos de me apaixonar por ele é a forma como ele demonstra conhecimento na arte da dança e em como ele é um professor magnífico. consegue transmitir o amor que sente pelo que faz em sua dança e o amor que devemos sentir em seus ensinamentos. Aquilo o deixava ainda mais maravilhoso.
Ele estava de volta e se posicionou na minha frente, mas de costas para mim, encarando os alunos que estavam ansiosos pela demonstração. O perfume bem mais forte agora, sério, como ele consegue? Seu dedo indicador tocou levemente as costas da minha mão direita, ao mesmo tempo em que a música começou, me indicando qual era a coreografia e qual era meu primeiro passo. Só com esse toque mínimo, todos os pelos do meu corpo eriçaram.
Ai senhor, aquela era uma das coreografias mais hot que eu tinha aprendido no tango. Esse universo não colabora mesmo né?
Respirei fundo tentando puxar junto com o ar, um pouco de confiança para fazer isso sem pirar.
A dança começou com meu braço direito subindo pela lateral do seu torso e parando no meio do seu peito, e eu claramente aproveitei para tocá-lo o mais firme que podia para sentir seus músculos resultantes de tantos anos de dança. Sua mão encontrou e cobriu a minha, o aperto era tanto vigoroso quanto suave. O tronco de se moveu lentamente para a esquerda me conduzindo junto, ao mesmo tempo em que o aperto em sua mão se soltou e eu pude mover a minha pelo caminho de volta parando em suas costas. Neste momento, ele se inclinou para a direita e eu joguei meu corpo para a esquerda, dando um passo para o lado me afastando dele. Meus braços estavam esticados, meu rosto virado para o dele e meu pé direito apoiado atrás do pé esquerdo dele, posição que nos prepara para o próximo passo da coreografia. Nossos olhares ainda não se encontravam, os dele em diagonal focavam na região da minha cintura e os meus não tinham ele à vista, dentro da coreografia este ainda era o momento inicial do cortejo, sem muito contato entre o cavalheiro e a dama.
Passei meu pé direito pela frente do dele, aproveitando a batida da música para dar um passo longo para poder pegar impulso e rodar no mesmo lugar com a ajuda das mãos de que agora estavam em minha cintura. Eu estava de frente para ele e suas mãos seguravam meu torso firmemente, me conduzindo a inclinar devagar o corpo para a direita junto com ele. Abri os braços novamente, dessa vez indicando rendição por parte da dama.
Bend with me, sway with ease
When we dance you have a way with me
Stay with me, sway with me
então levou a mão esquerda até o meu braço, próximo ao ombro, e o pressionou levemente para baixo, ao mesmo tempo em que sua outra mão que estava em minha cintura me empurrou para o lado, movimento com o qual o cavalheiro consegue fazer com que a dama entenda que o próximo passo será um giro. E assim eu fiz, durante o giro diminuindo a abertura dos meus braços. As mãos de estavam firmes em minha cintura, guiando o giro, e ele travou o aperto para me indicar que tinha que parar. Ao finalizarmos, minhas mãos foram para seu pescoço e seu braço procurando por apoio, e ele deu um passo mínimo à frente, aproximando ainda mais nossos corpos e rostos.
O primeiro contato visual na dança aconteceu e eu não pude deixar de notar quanta falta sentia de encarar aqueles olhos tão lindos, cheios de brilho. Nossas respirações rápidas se encontravam fazendo com que meu queixo ficasse mais aquecido.
Nós dois giramos duas vezes para o lado esquerdo, os pés se entrelaçando como era típico das danças de tango. Um terceiro giro foi emendado no segundo, mas agora eu girei sozinha me movendo para a esquerda. Uma das mãos de apoiou as minhas costas quando finalizei o giro abrindo os braços e me inclinando alguns centímetros para trás, me equilibrei ao manter os pés afastados, o esquerdo dando sustentação atrás e o direito na frente. Em contraste, o equilíbrio de se dava com as pernas cruzadas uma de frente à outra. E assim o passo terminou.
As mãos dele me conduziram para a frente e juntos demos dois passos, eu andando de frente e ele na lateral, ao fim ele me puxou para perto de si e assim paramos um de frente para o outro novamente. Dessa vez nossos rostos não estavam apenas próximos, estavam a milímetros de distância. Pude ver nos olhos de as chamas do desejo subirem. Ou talvez fosse apenas o reflexo dos meus olhos.
Sua mão esquerda subiu pela minha costela, mas parou ali, elas tremiam pela primeira vez desde que o conheço. Para seguir a coreografia, ele devia continuar subindo a mão até encontrar a minha e me conduzir. Mas isso não aconteceu. Na verdade, eu pude sentir seus lábios tocarem os meus minimamente, quase como uma cócega.
Mas então, ele se afastou devagar e com calma, as mãos se soltando do meu corpo. Seu rosto em total pânico por um segundo e então a expressão de professor voltou e ele sorriu para os alunos, que eu de repente lembrei que estavam na sala e nos assistiam. Toda a cena durou poucos segundos então provavelmente nenhum deles notou a tensão. Era o que eu esperava.
Todos falavam ao mesmo tempo, lhe fazendo perguntas sobre a apresentação. Eu congelei onde estava e só consegui me mover quando ouvi a porta batendo com força e rapidamente virei meu rosto encontrando , meu parceiro, nos encarando envergonhado.
- Ah, me desculpem! Estou atrasado e ouvi a música de tango, então achei que já estavam na nossa orientação – ele disse coçando a cabeça tentando disfarçar.
- Imagina, eu que me desculpo por ultrapassar o tempo com a classe. – falou. – Bom, gente, estamos sem tempo hoje. Mas prometo responder todas as dúvidas na próxima aula. Até mais!
Os alunos foram até o canto em que suas bolsas estavam, pegaram e logo saíram da sala, se despedindo de nós três que ficaríamos.
pigarreou para chamar minha atenção e de , que se aquecia em uma das barras na lateral.
- Vocês me dão licença por um minuto? Preciso ir lá fora, eu já volto. – disse saindo com passos rápidos da sala.
- Nossa, ele está estranho. Tremendo um pouco. O que aconteceu? – perguntou, saindo da barra e pegando sua garrafa d’água.
- Ele quase me beijou. – Joguei a bomba, ainda sem acreditar. E com a surpresa, o coitado do meu amigo cuspiu toda a água que bebia.
A orientação terminou após duas horas e eu podia dizer com certeza que foi meu pior ensaio. Eu não conseguia me concentrar, ficava relembrando nossa dança e a investida que ele dera. Não era possível que eu tinha imaginado aquele quase beijo.
Ele está a fim de mim! Não há mais como negar. Ou como nós dois fingirmos que não existe nada, isso precisa mudar.
- Nos vemos na próxima orientação casal – o professor disse com um sorriso fechado. Ele evitou olhar diretamente para mim desde o começo da nossa aula, o que era um indício claro do seu desconforto.
e eu fomos até nossas bolsas próximo da porta e nos preparamos para sair da sala.
- Até mais, professor – se despediu, abrindo a porta e me dando passagem.
- Ah, senhorita ? – disse após sorrir e acenar para meu parceiro. – Poderíamos conversar por um instante?
Meu coração pulou no peito no mesmo instante. O que será que ele queria falar?
Concordei com a cabeça e me afastei de porta. se despediu e antes de virar me encarou, seus olhos pingavam malícia e ele levantou a sobrancelha indicando o que eu tenho certeza que o seu pensamento dizia “vai que é sua, amiga”. Eu revirei os olhos para ele em resposta, mas tinha um sorriso malicioso ao mesmo tempo.
estava parado no meio da sala, de braços cruzados e com olhos que encaravam cada canto do ambiente, menos a mim.
- Então, o que queria falar? - perguntei.
Os olhos dele finalmente encontraram os meus e transmitiam tranquilidade e determinação. Eu não tenho certeza do que isso pode significar.
- Na verdade, era sobre a orientação de hoje. Eu percebi que você estava bem dispersa e errou passos simples. Eu sei que passou duas semanas doente e talvez seja isso, mas eu queria que você me ajudasse a entender se tem algum outro motivo?
Eu respirei fundo como nunca tinha feito antes. Tentando juntas forças para o que precisava fazer.
Não dava mais para levar isso adiante, precisávamos de um ponto final. Eu precisava de um ponto final. Chegou ao ponto de interferir o futuro da minha vida profissional, e eu não podia permitir. Esse concurso é um dos mais decisivos em minha carreira como dançarina e eu tinha que focar toda a minha atenção nele.
- Não dá mais, eu preciso falar. – eu disse, jogando a mochila no chão, próximo a porta, e me aproximei dele com passos firmes. – Sim, , tem outro motivo para eu não estar totalmente focada nessa droga de apresentação. Você! Você é o bendito motivo.
Ele deu um passo para trás, suas sobrancelhas arqueando e os olhos arregalando, assustado com meu inédito tom agressivo.
- Eu? Mas...
- Você! Com esse sorriso ridiculamente maravilhoso, esse corpo dos deuses que me faz ter todo tipo de pensamento impróprio, os olhos que brilham com desejo toda vez que me vê, o modo como fala com os alunos e ensina essa arte tão bonita, com essa voz... ah, essa voz que me faz derreter toda vez que o escuto. O fato de você ser um dançarino fabuloso e me fazer viajar para outro universo sempre que dançamos juntos, seu toque macio e firme ao mesmo tempo, me conduzindo numa coreografia linda e intensa...
Eu comecei minha fala ainda de forma agressiva, falando alto e um pouco alterada. Era o meu interior finalmente se libertando e eu precisava me expressar daquela forma para que ele entendesse o quão verdadeiro era. Ao fim, regulei o tom da minha voz e me acalmei. Parada de frente para ele, guiei meus olhos até os dele e tentei ao máximo transmitir naquele olhar tudo o que eu sentia no momento.
- O problema é eu estar apaixonada por você e não poder fazer nada a respeito. Por ter a consciência da dificuldade que seria estarmos em um relacionamento, ou de simplesmente conseguir com que você se renda à um. Não adianta você tentar negar, , eu consigo sentir que você me quer tanto quanto eu te quero. Mas, eu sei que você tem essa maldita honra que não te deixa se entregar e...
E, ele me beijou. Os lábios dele preencheram os meus com urgência, sua língua adentrando minha boca e encontrando a minha de imediato, uma de suas mãos foi para a minha cintura e a outra para minha nuca, me puxando para mais perto a fim de intensificar mais o beijo. No automático, passei minhas mãos pelo seu torso até chegar em suas costas úmidas pelo suor.
Não foi nada como eu imaginei que seria. Foi muito melhor. O melhor beijo da minha vida. Era delicado e intenso na medida certa, era macio e firme, e seu hálito e gosto pareciam menta.
O beijo continuou por alguns minutos e eu não queria que o momento acabasse, mas então, diminuiu o ritmo até finalizarmos com pequenos selinhos e afastou o rosto minimamente, segurando meu rosto com as duas mãos e encostando as nossas testas. Eu me recusei a abrir os olhos, com medo de que tudo fosse apenas uma imaginação.
- ... Eu sempre senti algo por você. E agora... agora, você conseguiu. – disse ofegante, por causa do beijo.
- O que eu consegui? – perguntei num sussurro, ainda sem coragem de abrir os olhos.
- Que eu me apaixonasse por você. Conseguiu me fazer esquecer todos os meus códigos de honra por você. Eu quero estar com você, . E estou disposto a enfrentar o mundo para podermos ter um relacionamento.
Meu coração pulou mais forte no peito, dessa vez não mais de ansiedade ou nervoso, mas de felicidade.
- Nós vamos fazer isso dar certo, sei que vamos – respondi, abrindo os olhos e o encontrando ali, em carne e osso.
Era tudo real. Meu sonho finalmente se tornou realidade.
- Nós vamos. E seremos muito felizes.
Era tudo o que eu mais queria.
Sway me smooth, sway me now
FIM.
Nota da autora: Oiii! Essa música sempre me inspirou a escrever algo com dançarinos e tentei ao máximo transmitir isso na fic. Espero de coração que tenham gostado assim como eu adorei escrevê-la!
Obs.: Para quem gosta de assistir, essa é a coreografia da apresentação que o casal faz pra classe. A descrição na fic é até 00:31 do vídeo, mas recomendo assistir tudo pois é lindo demais.
Até a próxima!
Outras Fanfics:
Long Fics
Bless Myself [Outros/Finalizada] |
Obs.: Para quem gosta de assistir, essa é a coreografia da apresentação que o casal faz pra classe. A descrição na fic é até 00:31 do vídeo, mas recomendo assistir tudo pois é lindo demais.
Até a próxima!
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