Finalizada em: 18/03/2018

Capítulo I

O clima naquela manhã era agradável. O sol brilhava por entre as poucas nuvens e a brisa matinal refrescava o ambiente, balançando lentamente as folhas das árvores como se estas estivessem num tipo de dança sincronizada.
Num grande galho de uma destas árvores, Ben Solo permanecia sentado com uma das pernas levantada, onde apoiava um dos braços, deixando que a leve ventania bagunçasse seus fios negros. De lá, podia ver a clareira onde seus colegas geralmente se reuniam para meditar e treinar com seus sabres sob a orientação de Luke Skywalker.
Na outra mão, segurava o próprio sabre, porém sua atenção não estava nele e sim no horizonte, onde via o sol em sua plenitude. Suspirando, pensou em começar logo a sua meditação. Talvez isso aliviasse aquela agonia em seu interior. Sabia que não poderia mandar embora aquela voz bem no fundo de sua cabeça que insistia em lhe atormentar, seduzindo-o para o lado negro, mas espairecer a mente seria de grande alívio.
Segurando o sabre com mais força, resolveu descer. Todavia, antes de fazê-lo, pôde avistar a garota que acabara de chegar ao local lá embaixo, segurando a própria espada laser. Sem parecer tê-lo notado, ela parou no meio da clareira, ajoelhando-se na grama, deixando sua arma logo à sua frente. Em seguida, respirou fundo e fechou os olhos, se concentrando na Força.
Ben a observou por vários instantes. Os longos cabelos presos numa trança que caia pelo ombro direito, a capa bege que cobria a camiseta e a calça de tecido da mesma tonalidade, as botas escuras e sujas de lama graças à caminhada pela floresta. Sabia exatamente quem ela era. , uma das aprendizes mais poderosas de Luke.
Quando chegou para a academia, ela já estava lá e apenas ele conseguiu superar sua habilidade com a Força. Eram rivais e sempre estavam competindo para saber quem se sairia melhor, mesmo que indiretamente, afinal, Ben nunca teve coragem de conversar com ela como qualquer pessoa normal faria.
Na realidade, o jovem tinha como preferência manter-se sozinho, isolado dos outros colegas, pois achava que eles só atrapalhariam sua evolução. Porém, quando se tratava de , era diferente. Ben tinha uma grande curiosidade para saber mais sobre a garota e suas habilidades natas, ainda que nunca fosse admiti-lo em voz alta. O jovem aprendiz enxergava a luz dominar o interior da mais nova e isso o intrigava. Era como se não houvesse espaço para a escuridão e ela não parecia sequer se esforçar para isso.
Bufando, decidiu que seria melhor voltar mais tarde, quando todos os outros e o seu tio estivessem ali. Usou a força para ajudá-lo a descer do galho, pousando suavemente no chão. Colocou o sabre no cinto e, após olhar a menina pela última vez, lhe deu as costas, pronto para deixar a clareira.
- Eu sei que está aqui. – Ben parou de repente, assim que a voz serena chegou aos seus ouvidos.
Virando-se novamente para , a encontrou ainda de olhos fechados e franziu o cenho, pois achou que havia sido cauteloso o suficiente para passar despercebido.
- Eu posso senti-lo. – a resposta veio logo em seguida.
- Está lendo minha mente? – questionou, semicerrando os olhos.
- Não seria a primeira vez. – apesar do tom levemente zombeteiro, a postura da jovem continuava ereta.
- Não me lembro de lhe ter dado essa permissão. – continuou, descontente, tratando de bloquear os pensamentos.
- Me desculpe. – dessa vez ela soltou um riso anasalado, finalmente abrindo os olhos. – Mas não posso fazer nada se sua mente praticamente implora para que eu a leia.
Então ela o encarou e Ben Solo reconheceu a pureza em seu olhar. Sem precisar de qualquer meditação, apenas por sondar a luz que provinha dela, o rapaz sentiu certa paz lhe acolher. Temendo aquela sensação repentina de bem-estar que se instalou em seu peito, o garoto deu um passo para trás, se mantendo na defensiva.
- Isso não é verdade. – disse entredentes.
- Qual o problema? – um novo riso. – Eu não sou sua inimiga, Ben. Pelo contrário, se quiser, posso ser sua amiga.
- Não preciso de amigos. – rebateu rapidamente.
- Todos precisam de amigos. – a garota balançou a cabeça. – E você não é a exceção. Não importa quanto poder tenha, precisa de alguém ao seu lado.
- Como pode ter tanta certeza? – Ben deu um passo em sua direção.
- Bem, eu poderia explicar tudo o que já presenciei nesses meus poucos anos de vida. – ela mordeu os lábios. – Mas seria muito mais interessante te mostrar.
Ben Solo franziu o cenho diante daquelas palavras e ainda mais quando viu a mão de estendida em sua direção.
- Venha até aqui. – ela sorria de forma amigável. – Já que não gostou do fato de eu ter lido sua mente, talvez possamos ficar quites agora.
Ele hesitou por longos segundos, nos quais a garota permaneceu com a mão estendida. Finalmente, após constatar que não teria nada a perder, o rapaz caminhou até ela, mas não segurou sua mão, apenas se abaixou em sua frente.
Sem se deixar abalar, fitou o colega e sorriu mais uma vez. Apesar de nunca ter conversado com ele antes de forma direta, o admirava muito e tinha grande respeito pela rápida evolução que ele demonstrava ao utilizar a Força. No entanto, desde o dia que viu Ben Solo pela primeira vez, enxergou a escuridão dentro dele. Era forte e insistente, tentando a todo instante corrompê-lo.
A jovem primeiro sentiu medo. Mas logo depois veio a pena, pois ela conseguia ver também o quanto ele se esforçava para manter sua luz brilhando. Mesmo que não quisesse se intrometer, era inevitável. Cada vez que estava próxima a Ben, a menina se via abraçada pelo que havia nele e, quando percebia já estava lendo sua mente.
Ela queria ajudá-lo. Queria que Ben vencesse aquela batalha, mas antes precisaria de sua confiança. Por isso, naquele momento, lhe oferecia a oportunidade de vasculhar sua mente. Para que soubesse suas verdadeiras intenções.
Cautelosa, estendeu mais uma vez à mão para ele, o fitando nos olhos. O jovem Solo hesitou novamente. Porém, dessa vez resolver dar uma chance para ela. Segurou sua mão, recebendo um singelo sorriso como resposta. Após isso, levou a mão dele até sua testa, apoiando-a ali. Respirando fundo, a garota fechou os olhos e abriu seus pensamentos. Tudo o que ele precisava saber sobre ela.
Ben também fechou os olhos, imergindo no misto que eram os pensamentos de .
Primeiro, ele viu uma versão bem mais nova dela, numa grande sala mobiliada, cercada por várias pessoas. Sua família. Eles a amavam e ela sabia disso. Mas então, de uma hora para outra, ela estava sozinha no meio de uma grande floresta. Ele não soube como, apenas sentiu a solidão e dor da garota como um soco no estômago. Uma dor física de tão grande.
Mas então, ela não estava mais sozinha. Aos poucos, algumas pessoas foram aparecendo ao seu lado. Uma mulher, um homem, três crianças. Seus novos amigos que a acolheram. Mas os perdeu também e a dor aumentou.
A garota estava novamente sozinha no meio daquela mata, mas agora chovia. E a chuva perdurava, misturando-se às lágrimas da pequena. O tempo passou e ela cresceu sozinha. Porém, a lembrança de seus amigos e de sua família ainda estavam lá e foi o amor que demonstraram que fez a luz crescer cada vez mais em seu interior.
Em meio a todo aquele vazio, ela cambaleou sem saber para onde ir, porém, tropeçou num galho e caiu, o que fez seu pranto aumentar. Desconsolada, fincou os dedos no chão, agarrando a vegetação e a terra molhada com força. Estava perdida.
Então, quando achava que estava fadada à solidão, a garota viu uma luz em sua frente. Lentamente, ergueu o rosto, vendo um homem parado. Luke Skywalker, o seu salvador. Quando ele lhe estendeu a mão, finalmente soube que havia encontrado o seu caminho.
- Ele me encontrou num dos meus piores momentos. – de repente Ben ouviu. – O mestre Luke me fez enxergar que eu ainda poderia ter amigos, pessoas que se importavam comigo de verdade.
Confuso, o aprendiz olhou ao redor e percebeu que agora não apenas observava a cena, mas que estava lá no meio daquela floresta chuvosa. Ao seu lado, olhava para a mesma direção com os olhos cheios de lágrimas.
- Luke Skywalker me salvou. – ela disse por fim.
- Por que está me mostrando isso? – ele questionou.
- Para que saiba que enquanto continuar sozinho as coisas vão piorar. – se virou para o colega. – A escuridão se tornará cada vez mais forte e não vai conseguir resistir a ela.
- Como sabe... – abismado, se afastou dela alguns passos.
- Eu senti. – respondeu. – Desde o nosso primeiro encontro eu sinto a escuridão em você, Ben. E não posso simplesmente ignorá-la. Então, por favor, me deixe ajudá-lo.
O rapaz estava admirado. Sabia que qualquer um que fosse sensível à Força poderia identificar o que acontecia em seu interior, mas não completamente. Mas aquela garota. Ela parecia saber exatamente o que se passava. Ele podia ver a compaixão genuína em seus olhos, a sinceridade em cada palavra. De forma inconsciente voltou a se aproximar.
- Você... – murmurou, puxando o ar para os pulmões.
havia aberto sua mente para ele. Ela lhe mostrou os momentos mais importantes de sua vida, que a fizeram ser quem era. Agora era a sua vez. Ela oferecia ajuda para sua agonia e, estranhamente, Ben confiava nela. Não eram amigos, mas ela havia se oferecido para isso e, pela primeira vez, o Jovem Solo cogitou a oferta.
Ainda encarando o rapaz à sua frente, não percebeu o momento em que tudo em sua volta desapareceu, dando lugar para uma completa e sufocante escuridão. Sim, era apenas isso que havia, mais nada. Então, vinda de vários lugares ao mesmo tempo, uma voz começou a ecoar pelo ambiente. E era assustadora.
“Ben Solo, Ben Solo!”
A forma como aquela voz o chamava fez todos os pelos de sua nuca se arrepiarem.
Esse não é o seu lugar.
A voz continuou, cada vez mais alta.
Você não pertence à luz, é um filho da escuridão.”
“Você é o herdeiro das trevas, honre a sua herança.”
Atormentada, levou às mãos aos ouvidos, mas de nada adiantou. O som continuava a tomar tudo.
“Honre a memória de Darth Vader!”
Sem aguentar mais aquela tortura, encolheu-se, fechando os olhos com força. Por um segundo, aquilo surtiu efeito, mas logo a garota sentiu algo estranho à sua volta. Abriu as pálpebras novamente e quase deixou que um berro escapasse ao notar as mãos negras apalpando seu corpo, como se quisessem a dominar. Desesperada, tentou se livrar delas, mas, quanto mais se esforçava, mais elas se multiplicavam.
Sufocada, se concentrou em sua própria luz. Ela sabia que aquilo que presenciava provinha do interior de Ben e ela estava lá para ajudá-lo, não para se desesperar. Aos poucos se acalmou e tudo se tornou mais nítido. Ao seu redor, uma aura clara começou a irradiar e então as mãos a deixaram. Mais aliviada, olhou em volta e o encontrou.
Ben estava sentado no vazio, abraçando os próprios joelhos, enquanto as mãos negras o seguravam por todos os lados. Ele parecia concentrado, tentando se conter, mas era visivelmente desafiador.
Se apressando, a garota flutuou até ele, parando em sua frente.
- Ben... – ela o chamou suavemente e ele a encarou.
- ... – murmurou. – Me desculpe por isso, mas você disse que queria...
- Não é culpa sua. – foi rápida em dizer. – Apenas resista.
- É tão fácil falar, especialmente, quando tudo o que há em você é luz. – ele baixou a cabeça.
- Ben, isso não é verdade! – elevando o tom, se aproximou dele e segurou o seu rosto com as mãos. – E sabe por quê? Porque eu posso ver a sua luz. Eu posso ver e ela é tão forte quanto. Basta que escolha.
- Eu... eu não consigo. – o garoto se encolheu. – Isso é tão forte. Todos os dias essa tormenta, essa voz. Sinto que vou ficar louco a qualquer momento.
- Não, você não vai. – ela se aproximou. – Porque estamos aqui, eu estou aqui. E eu prometo que nunca, nunca vou te abandonar.
- Por favor... – a voz do rapaz saiu como um simples murmúrio.
Enquanto ainda se encaravam, suas imagens foram desfazendo-se lentamente, assim como a escuridão ao redor. A conexão mental estava terminando. Os dois jovens aprendizes haviam gastado muita energia para realizar tal proeza e agora precisavam de um tempo para descansar.
Ofegantes, abriram os olhos. Imediatamente, notou que assim como ela, Ben tinha o rosto molhado por lágrimas. A conexão havia sido profunda e cansativa, eles estavam à flor da pele. Deixando que ar escapasse pelos lábios, a garota não hesitou nem por um segundo antes de se lançar contra o colega, envolvendo-o num abraço apertado.
No começo, Ben permaneceu estático, com o maxilar travado e a respiração entrecortada. Mas logo cedeu. Ela havia visto a verdade, ele não tinha motivos para fingir. Devagar, subiu suas mãos até sua cintura, retribuindo o abraço. Automaticamente, sentiu uma corrente elétrica percorrer o seu corpo. Era como se estivesse com febre. Ainda assim, se sentiu reconfortado.
- Vai ficar tudo bem. – a garota murmurou em seu ouvido. – Eu prometo.
E mais uma vez ela lhe fazia uma promessa. E ele acreditava nelas. Era impossível não acreditar. Aquele abraço o havia deixado em êxtase, como se a partir daquele momento tudo fosse realmente melhorar.



Capítulo II

concentrou-se mais uma vez. Com os olhos fechados podia sentir cada coisa ao seu redor e a Força que existia em cada uma delas. O solo, as árvores, o rio que corria a pouca distância dali. Também havia os pequenos animais que habitavam a floresta. Tudo era vida e o prazer de contemplá-la era indescritível. Todavia, naquele momento, seu maior interesse estava na pessoa à sua frente.
Ainda de pálpebras cerradas, podia senti-lo a poucos metros, segurando seu sabre de luz azul numa posição de ataque. Ben Solo permanecia tão concentrado quanto ela e saber disso não era uma tarefa difícil.
Desde o dia em que haviam se conectado, na clareira, a capacidade de sentirem um ao outro havia aumentado. Não precisavam de palavras para compreender o que sentiam, pois suas mentes pareciam trabalhar em sintonia.
Como prometido, a permaneceu ao lado de Ben. Agora eram amigos. Ele havia se tornado um pouco mais sociável e até conversava com os outros colegas, o que foi uma surpresa para Luke. Quanto a , o ajudava todos os dias a meditar e mandar para longe a voz da escuridão.
Em certo momento, a garota percebeu um movimento vir dele. Respirando suavemente, abriu os olhos e o encarou. O jovem segurava o sabre com as duas mãos e o apontava em sua direção. Imediatamente, ela o imitou, ativando seu sabre-bastão vivo.
Com um leve sorriso, avançou até o companheiro de treino, mas este logo ergueu sua arma, bloqueando seu ataque.
- Boa tentativa. – ele disse, sorrindo de lado. – Mas sabe que não vai me derrotar com ataques diretos.
- Eu não teria tenta certeza. – imitando seu gesto facial, a padawan usou o outro lado do sabre, o obrigando a se inclinar para trás.
Ao perceber que perderia o equilíbrio, Ben girou o corpo, escapando do ataque da mais nova. Com agilidade, investiu contra a amiga e agora foi à vez dela se defender, parando a lâmina de plasma bem próxima ao seu rosto.
- Você é bem forte. – a garota observou. – Mas eu sou mais rápida.
Aumentando o sorriso, girou a espada contra a dele, fazendo sua lâmina pender na direção do chão. Em seguida, tentou desarmá-lo, mas Ben reagiu erguendo a mão livre e utilizando a Força para lançá-la para longe.
Com habilidade, a aprendiz conseguiu recobrar o equilíbrio e pousou suavemente a certa distância.
- Agora as coisas, finalmente, estão ficando legais! – girou o sabre entre os dedos com destreza, rindo de forma divertida.
- Você não perde por esperar. – o rapaz também girou o sabre e ergueu a mão livre, pronto para usar seus poderes.
Mais animados do que nunca, os aprendizes de Luke Skywalker continuaram o seu treinamento diário. Estavam tão concentrados um no outro que não notaram a certa distância o seu mestre a observá-los. O jedi o fazia desde o começo do treinamento. E não apenas aquele dia.
Luke havia percebido que, com o passar dos dias, seu sobrinho havia se tornado um pouco mais comunicativo. Não como Leia gostaria que ele fosse, porém, conseguia sentir a mudança em seu humor quando estava perto de . Era nítida a diferença, como naquele momento.
Entretanto, o mestre jedi temia aonde tudo aquilo poderia levar. Ben não costumava lidar bem com sentimentos, sempre fora um garoto muito sensível e qualquer coisa o abalava e isso era um prato cheio para que as trevas o tentassem. Quanto a , desde que a havia encontrado, percebeu a luz nela. Era quase absoluta.
Quando os dois jovens estavam juntos, porém, esses dois lados interiores, de certa forma, se equilibravam. A luz em Ben brilhava com mais intensidade. Em contrapartida, a escuridão dentro da garota também se expandia. Um influenciava o outro de forma quase inconsciente.
Suspirando, o homem fitou seus aprendizes por mais alguns segundos antes de voltar para o local onde os outros alunos se encontravam. Em sua mente, pensava em como poderia resolver a situação dos dois jovens sem que nenhum deles fosse prejudicado no caminho.

~o~


Depois de um dia puxado de treinamento e de algumas aulas sobre os caminhos da Força, Ben estava exausto. No momento, a única coisa que queria era tomar um banho e dormir. Entrou em seu quarto e deixou o sabre junto a outros pertences, caminhando até seu colchão. Deitou-se, soltando um longo suspiro, permitindo que a mente antes cheia, relaxasse. Em questão de segundos a figura de foi tudo o que conseguiu ver.
Era assim fazia certo tempo. Desde que haviam se tornado amigos, sua conexão aumentou e agora não sabia como se sentir a respeito dela. A única coisa que tinha certeza era de que, no fim do dia, seu sorriso seria a última coisa que veria antes de dormir.
Já havia perdido as contas de quanto tempo perdeu admirando a sua forma de andar, com tamanha graciosidade. Seu jeito meigo de falar também o cativava e, se pudesse, ouviria suas histórias horas a fio. O jeito como ela o fazia sentir paz. Nunca nenhuma garota mexeu com ele daquela forma.
Passando uma das mãos no rosto, sentou-se bruscamente, tendo raiva de si mesmo por um instante. Aqueles sentimentos o atormentavam. Sabia que não deveria criar esperanças quanto a um futuro ao seu lado. Ainda que Luke tivesse mudado certas doutrinas da Ordem Jedi, permitindo que estes se casassem, o jovem não acreditava que fosse digno do amor que poderia talvez lhe oferecer.
- Eu sou mesmo um idiota. – disse entredentes.
Contrariado, deixou que aqueles pensamentos deprimentes tomassem conta de sua cabeça. Em consequência, a voz maligna se tornou mais forte. Fechando os olhos com força, o jovem tentou ignorá-la, mas era praticamente impossível.
Sem mais suportar, deixou o lugar e, apressado, seguiu na direção da sala onde as aulas aconteciam. Sentindo o coração pulsar velozmente, travou o maxilar e chegou aos portões de madeira, os abrindo de longe com um movimento da mão direita. Enquanto adentrava o local, sentia a voz aumentar cada vez mais.
- Me deixe em paz... – murmurou entredentes.
Já ofegante, tentou alcançar um dos livros sobre uma das mesas, mas a tortura aumentou. Foi como se alguém gritasse contra seus ouvidos. Eram as mesmas palavras de sempre, mas pareciam vir acompanhadas de espinhos, que se cravavam em seus tímpanos.
Ben Solo, você pertence à escuridão, este não é o seu lugar!”
Desistindo, o garoto levou as mãos aos ouvidos, ajoelhando-se no chão frio. Tremendo, encolheu-se como se quisesse sumir dentro de si mesmo. Era tão doloroso, tão assustador. As trevas se aproximando cada vez mais.
O jovem não sabia mais quanto tempo suportaria. Mas então uma luz surgiu em meio a toda aquela escuridão e, imediatamente, ele a sentiu.
- Ben?! – a voz de preencheu todo o ambiente.
Ao avistar o colega no chão, a aprendiz correu em sua direção, se abaixando ao seu lado. Antes de qualquer palavra, o trouxe para seus braços, percebendo o quanto ele tremia.
- Está tudo bem agora. – disse enquanto afagava seus cabelos escuros. - Está tudo bem.
Desesperado, Ben agarrou sua cintura, afundando o rosto nos fios de seus cabelos que agora estavam soltos.
- ... é muito forte. – sussurrou, cerrando os dentes.
- Se concentre. – ela o orientou. – Lembre-se do que fazemos quando meditamos.
Com muito esforço, ele o fez. Se concentrou na luz. Mas não a sua e sim na dela. Como se esse fosse o antídoto que precisava, seus músculos relaxaram e o tremor diminuiu. Enquanto se concentrava na luz da garota, sentia a própria aumentar.
Ficaram ali por um longo tempo. Ben recobrando os sentidos e esperando que ele voltasse ao normal. Quando, finalmente, sentiu que tinha novamente o controle da própria mente, ele se desvencilhou do abraço, a encarando com certa dúvida.
- Como se sente? – a garota perguntou, visivelmente preocupada.
- Melhor... – murmurou, ainda com a mesma expressão.
- Algum problema? – ela estranhou.
- Como... como sabia onde eu estava? – questionou assim que sua mente clareou.
- Eu estava dormindo, mas então algum distúrbio na Força me fez despertar. – ela explicou. – Pensei em procurar o mestre Luke e saber do que se tratava, mas então senti que, o que quer que fosse, acontecia com você. E eu não esperei, eu apenas segui o seu rastro.
- E você me achou. – completou.
- Sim. – ela balançou a cabeça. – Não sei como explicar, mas é como se estivéssemos constantemente conectados. Apenas não sei o que isso poderia significar.
- Eu sei. – o rapaz afirmou.
De forma gentil, pegou a mão dela e a levou a altura de seus ombros, encostando primeiro seus dedos e depois a palma completa. Eram como metades de um todo, finalmente se unindo. Suas energias se conectando, a harmonia pairando em torno deles. E quando algo semelhante a uma corrente elétrica percorreu todo o seu braço, o olhou abismada, como se só agora compreendesse o que existia entre eles.
- Eu nunca pensei que pudesse me conectar assim com alguém. – o garoto disse. – Nunca me senti tão... apaixonado antes. Sim, acho que esse é o sentimento.
- Ben... – murmurou sem quebrar seu contrato visual nem por um segundo.
- É estranhamente assustador, eu sei. – ele passou a língua entre os lábios. – Foi assim que me senti ao descobrir tudo isso e foi ainda mais admitir.
- Não! – ela o interrompeu. – Não é isso.
- O que quer dizer? – perguntou confuso.
- É sim estranho, mas não porque eu tenha descoberto meus sentimentos e sim por saber que... – um sorriso surgiu em seus lábios. – Que sente o mesmo que eu.
- Quer dizer que... – a fala saiu carregada de surpresa.
- Ainda que eu achasse que nunca fosse sentir algo por mim além de amizade... – entrelaçou seus dedos com intensidade. – Não havia como ignorar nossa conexão.
Deixando que a respiração escapasse por entre os lábios de uma só vez, o jovem padawan ergueu sua mão livre, a levando de encontro ao rosto de . Quando sentiu a delicadeza do seu toque, ela fechou os olhos apreciando seus dedos deslizando por sua pele.
- Eu nunca planejei como as coisas seriam ao seu lado. – de repente ele disse, fazendo-a abrir os olhos.
- Isso não importa. – a garota apoiou sua mão sobre a dele. – Importa apenas que estejamos juntos.
Sorrindo de forma mínima, Ben se aproximou dela. Poderia, finalmente, fazer o que tanto desejava. Quando seus narizes se roçaram, fecharam os olhos quase ao mesmo tempo. Até mesmo as batidas de seus corações estavam em sincronia. E então, quando seus lábios finalmente se tocaram, para eles não havia mais nada.
Ben Solo, o jovem atormentado pela escuridão, finalmente sentiu paz. Uma paz absoluta que não soube como explicar. Enquanto sentia o calor da boca macia dela contra a sua, percebeu que poderia ser verdadeiramente feliz. E ele gostava da sensação que ela estava lhe dando.



Capítulo III

Os dias haviam se passado de forma apressada. Quando perceberam, o inverno chegou e com ele a neve. Rapidamente, as temperaturas baixaram e a floresta, antes verde, ganhou uma bela coloração esbranquiçada graças ao gelo que cobria a grama e as folhas das árvores.
Por conta do frio extremo, os aprendizes haviam passando a usar capas pesadas sobre suas roupas e saiam ao ar livre com menos frequência por conta das nevascas. Naquele momento, os jovens estudavam na biblioteca, lendo e fazendo anotações em seus cadernos. Luke os supervisionava de perto, os ajudando quando tinham alguma dúvida.
Enquanto conversava com um pequeno grupo a respeito dos cristais Kyber, o mestre Jedi ouviu uma gargalhada do outro lado do cômodo, olhando para lá. Juntos, e Ben liam o mesmo livro e enquanto o garoto tentava explicar o assunto, a menina o interrompia para fazer alguma piada. O jovem permaneceu emburrado por um tempo, mas logo se rendeu a ela, deixando que um riso mais contido escapasse.
O Skywalker, assim como todos os outros já sabiam o que acontecia entre os dois. Todavia, esse não era o problema e sim as consequências a longo prazo que essa união teria. Preocupado, o homem decidiu que conversaria mais tarde com o sobrinho sobre o assunto.

~o~


Quando a aula terminou, os jovens resolveram sair um pouco do templo e se reunir em volta de uma fogueira para tomar uma refeição, aproveitando que a neve havia parado de cair.
Ben permanecia sentado entre alguns colegas e conversava com um garoto que parecia saber muito sobre a Força. No entanto, vez ou outra olhava para a namorada. permanecia sentada a beirada da fogueira com mais algumas garotas, assando castanhas. Elas conversavam animadas e vez ou outra riam de algo que era dito.
Num desses momentos em que a fitava, Ben ouviu uma voz em sua mente. Mas não a que ouvia sempre. Daquela vez podia distinguir sem dificuldades a voz de Luke lhe chamando.
“Ben, venha até minha sala, agora. Precisamos conversar.”
“Estou indo.”
Respondeu após suspirar. Não era muito de conversar com o tio e não podia sequer imaginar o que ele teria a dizer. Pedindo licença ao garoto, seguiu para dentro das paredes da construção, subindo uma longa escada e avançando pelos corredores, até avistar uma das salas. Parando em sua frente, bateu na madeira e esperou. Não demorou a ouvir a permissão para entrar e logo o fez.
Assim que colocou metade do corpo para dentro, viu o mais velho parado perto de uma grande janela. De lá o jedi observava seus alunos em volta da fogueira ao ar livre.
- Tio Luke, queria conversar comigo? – deu alguns passos.
- Se aproxime, garoto. – o outro disse sem encará-lo.
Obedecendo, o jovem foi até o homem parando ao seu lado perto da janela. Imediatamente, também teve a visão dos colegas. Estes se divertiam, brincando na neve e rindo alto.
- É uma bela visão, não é mesmo? – o jedi perguntou.
- Sim. – respondeu, apesar de estar confuso.
- Após tanto tempo de escuridão, finalmente, a luz está conquistando seu devido espaço. – o homem continuou. – Esses jovens são o futuro da galáxia. Consegue entender isso?
- Sim. – o garoto respondeu, franzindo o cenho. – Apenas não entendo o motivo da pergunta.
Respirando fundo, Luke finalmente se virou para o sobrinho que permanecia sem entender suas intenções.
- Quando eu era mais jovem já fui tentando pelo lado sombrio da Força mais de uma vez, mas eu consegui resistir. – explicou. – A escuridão é forte, meu jovem, mas não podemos nos dar ao luxo de perder ninguém para ela.
- O que quer dizer? – a pergunta foi sincera.
- Sei que é um jovem muito inteligente e dedicado e também percebo que agora sua luz brilha com mais intensidade. – Luke disse. – E tenho conhecimento do motivo.
Ben mordeu os lábios ao perceber o rumo daquela conversa, mas deixou que o tio prosseguisse.
- é a responsável por isso. – o Skywalker uniu as mãos atrás do corpo, voltando a fitar os jovens lá em baixo.
O jovem Solo o imitou e viu para onde o outro olhava. estava de pé com alguns aprendizes mais novos ao seu redor. Estes observavam a menina levitar uma quantidade de neve com a ajuda da Força, fazendo com que o gelo girasse em espiral.
- Ela é um dos usuários da Força mais poderosos que já conheci. – o mestre disse. – Quando a encontrei, estava num de seus piores momentos, mas ainda assim a luz continuava a brilhar.
- A luz é muito forte nela. – Ben, observou.
- Sim, mas a escuridão também está lá, tentando encontrar uma forma de corrompê-la. – Luke voltou a encarar o sobrinho. – E existe uma situação que a coloca à prova constantemente.
O rapaz uniu as sobrancelhas sem conseguir decifrar aquela afirmação. Sempre que estava com , conseguia apenas sentir a sua luminosidade e mais nada. Não havia espaço para as trevas dentro dela e ouvir Luke dizer que havia uma possibilidade para que ela fosse para o lado negro era, no mínimo, estranho.
- Vocês estão apaixonados e essa conexão que vocês têm talvez não o deixe enxergar o que acontece com ela quando estão juntos. – o homem falou.
- A única coisa que sei é que sua luz tem influência direta em mim. – rebateu.
- Assim como a sua escuridão tem influência direta nela. – Luke foi direto.
Sem acreditar no que ouvia, o garoto deu um passo para trás com os olhos arregalados. Seu tio não poderia estar dizendo a verdade.
- Sei que pode parecer difícil de acreditar, mas esse é o motivo de se sentir bem ao lado dela. – o outro explicou. – Vocês estão em constante sincronia e é como se trocassem a escuridão e a luz entre si. Sua luminosidade aumenta, mas a dela diminui, dando lugar a uma maior escuridão. E a mente de não é tão resistente quanto a sua.
- Não... – murmurou, estupefato. – Eu a estou seduzindo para o lado sombrio?
- Não é consciente. - Luke balançou a cabeça. – Mas o melhor para os dois seria se manterem afastados, por hora.
- Mas... – fitou o tio, chocado. – Eu não posso simplesmente deixá-la. Ela é a minha luz em meio a tudo isso, ela me faz continuar na linha.
- Eu entendo o que esta sentindo. – tentou dizer, mas foi interrompido.
- Não, você não entende. – aumentou o tom. – Não faz ideia do que eu estou passando e agora quer tirar de mim minha única salvação.
- Ben, me escute! – Luke tentou mais uma vez, mas sem sucesso.
- Isso não tem nada a ver com você, tio Luke. – cerrando os punhos, sibilou. – Não tem nada a ver com ninguém, apenas com e eu.
- Você não entende o quanto isso pode a prejudicar. – ressaltou.
O jovem estava furioso e não queria mais ouvir o que o mais velho dizia. Sem mais palavras, deu as costas ao tio, caminhado até a saída. Antes, porém, o ouviu dizer uma última coisa.
- Lembre-se, Ben. – prosseguiu. – Ela também faz parte do futuro, isso depende apenas de suas decisões.
O ignorando, o garoto saiu da sala, batendo a porta com força. Sentindo o coração pulsar velozmente, correu até seu quarto, vasculhando seus pertences com pressa. Quando finalmente encontrou o que queria, levantou-se e correu para fora do templo, voltando para onde os jovens estavam.
Suas botas afundaram na neve, mas não parou. Apenas o fez quando a avistou no meio dos outros. Diminuindo os passos, apertou o objeto que trazia entre os dedos. Porém, antes de alcançá-la, olhou para cima, na direção da janela onde Luke estava antes, o encontrando no mesmo lugar.
Seus olhares se cruzaram e ele sabia o que o tio queria dizer. Ainda com raiva, voltou a atenção para e foi em sua direção. Ela ainda brincava com os menores, os ajudando a manipular a neve.
- ! – a chamou assim que parou às suas costas.
Todos olharam para ele, assim como a garota. Quando a viram se levantar, começaram a cochilar, soltando risadinhas animadas.
- Ben, algum problema? – ela se aproximou dele.
- Não. – sacudiu a cabeça negativamente. – Apenas... venha comigo.
Estendeu a mão para ela que sorriu e a aceitou sem qualquer hesitação. Puxando o ar para os pulmões, a conduziu para uma parte mais afastada da floresta para que tivessem privacidade.
Caminhavam de mãos dadas e falava vez ou outra sobre a neve e como tudo havia ficado mais bonito. Quanto a ele, apenas balançava a cabeça sem realmente prestar atenção às suas palavras. Quando achou ser o suficiente, parou e ela o imitou, ficando de frente para o namorado.
- E então, o que queria falar comigo? – a menina quis saber.
- Eu... – criando coragem, se aproximou mais e ergueu a mão, a abrindo para ela. – Queria te dar isso.
No segundo que viu o pequeno objeto na palma da mão dele, um sorriso largo estampou o rosto da garota. Era uma simples corrente prateada com um pingente de diamante tão singelo quanto, preso a ela.
- Ben... é lindo! – com cuidado, pousou sua mão sobre a dele.
Foi então que o garoto pôde entender o que seu tio havia dito. Naquele instante em que não precisava se apoiar na luz dela, podia ver o efeito que ele causava na jovem. Com um simples contato, a escuridão dentro dela se agitou, como se procurasse uma forma de escapar. Imagine então como as coisas deveriam ser quando conectavam as mentes para meditar.
Até aquele momento não havia se atentado a isso, percebendo o quão egoísta havia sido. Pensou apenas no próprio bem-estar e sequer pensou no que tudo aquilo poderia estar causando a ela. Respirando fundo, segurou a mão dela e deixou o colar entre seus dedos, os fechando sobre ele.
- Eu também quero dizer uma coisa. – falou mais baixo do que gostaria.
- Aconteceu algo? – a garota percebeu a hesitação em sua voz.
Ela o conhecia o suficiente para saber que ele não estava bem. Seu rosto estava mais sério do que o de costume e suas mãos suavam, apesar do frio de inverno.
- Ben, está tudo bem? – insistiu, o olhando nos olhos.
- Não, não está. – ele disse por fim.
- Por quê? – a jovem fez uma careta.
- Por minha causa. – resolveu não delongar o assunto.
- Como assim? – continuava sem entender.
- Eu estou fazendo mal a você. – respondeu de uma vez. – Achei que não, mas agora eu percebo que é verdade. Só de estarmos em contato, só de tocar em você, a sua escuridão cresce.
- De onde tirou isso? – um riso sem humor escapou dos lábios dela.
- Nós não havíamos percebido antes, pois nos concentramos demais em mim. – ele disse, passando a língua entre os lábios. – Eu pensei demais em mim mesmo e esqueci do seu bem-estar.
- Ei, eu estou bem. – dessa vez a garota sorriu, apoiando as mãos em seus ombros.
- Olhe para dentro de si mesma e esqueça de mim. – ele pediu. – Pelo menos uma vez.
Estranhando o pedido, se concentrou na própria força. Geralmente o fazia quando estava sozinha, mas na presença de Ben matinha sua atenção completamente nele, pois sabia que ele precisava de ajuda. Por isso, nunca havia percebido a oscilação da Força dentro de si, como agora.
A escuridão havia se tornado intensa como ela nunca presenciou antes. Nem mesmo quando perdeu todos que amava. E, automaticamente, soube que aquela era a influência do seu companheiro sobre si.
Temerosa, cambaleou para trás, fitando o vazio. Ver a escuridão tentar dominar outra pessoa lhe fazia mal, mas saber que isso acontecia a ela mesma era aterrorizante. Ofegante, apertou o colar que Ben havia lhe dado, sentindo o material sólido contra os nós dos dedos. Um leve tremor atingiu seu corpo e ela se encolheu, fechando os olhos e baixando a cabeça.
Era assustador, a jovem deveria admitir, todavia, logo aquele sentimento diminuiu e ela encarou o garoto à sua frente. Voltando a se aproximar dele, parou o mais próximo que pôde, mantendo seus rostos quase colados, a ponto de suas respirações se misturarem.
- Eu... eu não me importo. – foi à primeira coisa que ela disse após o baque. – E sabe por quê? Nós somos fortes e vamos superar isso.
- Talvez. – o aprendiz ressaltou. – Mas não enquanto continuarmos juntos.
- Ben... – arregalou os olhos. – Não!
- Me desculpe, eu apenas não posso permitir que você seja corrompida. – baixou o rosto.
- Eu não vou. – disse, o abraçando. – Por favor...
Apesar de querer apertá-la com toda a sua força e nunca mais soltá-la, ele permaneceu estático, apenas sentindo o calor que provinha dela. Era acolhedor, como um verdadeiro lar. Mas agora precisava ser sensato. Se pudesse protegê-la, o faria, não importava quais fossem os custos.
Ao perceber que ele não retribuía o abraço, se afastou com os olhos marejados e o encarou. Quando o rapaz a imitou, ela soube que ele não mudaria de ideia. Ele havia trancado seus pensamentos para ela, assim como os sentimentos. Ben Solo criara uma barreira mental entre eles.
- Então vai ser assim? – limpou uma lágrima solitária que escorreu pela bochecha. – Depois de tudo?
- Sim. – foi sua única resposta.
Desolada, a cerrou os punhos, fitando as botas afundando na neve. Tentava controlar as emoções, mas não tinha muito sucesso. Assim, sem mais nada para dizer, correu para longe dali, deixando um Ben destruído para trás.
Ele tentou rastreá-la, mas constatou que ela fizera o mesmo que ele, bloqueando a mente. Sabia que apenas o fato de estar em sua presença seria de auxílio para resistir à tentação. Mesmo assim, deixá-la havia sido doloroso demais. Sentindo a respiração pesar, levou a mão até o peito, tendo a sensação de que seu coração pararia de bater a qualquer instante.



Capítulo IV

A mulher permanecia sentada na beirada da cama, ao lado do garoto, que a encarava de forma curiosa. Como a boa mãe que era, respondia com paciência as muitas perguntas que ele sempre costumava fazer.
Naquele momento, Leia retribuía o olhar do filho de forma carinhosa, explicando da melhor forma que podia, o motivo de ele ter que ir para a academia Jedi de Luke. O menino compreendeu suas palavras, mas parecia não querer aceitar aquela decisão.
- Por que preciso ir? – o jovem balançou a cabeça. – Por que o tio Luke não pode me ensinar aqui mesmo?
- Ele tem outros jovens para cuidar, meu bem. – respondeu paciente. – Espero que entenda.
Ben não respondeu, apena acenou positivamente com a cabeça, fitando as próprias mãos sobre o colo. Apesar de ser jovem, logo entendia o que os adultos queriam lhe dizer e, ainda que muitas vezes não concordasse com eles, preferia não questioná-los além da conta.
Enquanto permanecia com a cabeça abaixada, não demorou a sentir sua mãe se aproximar, o abraçando pelos ombros, então ergueu os olhos para fitá-la.
- Você é um garoto inteligente. - a general riu levemente. – Logo vai aprender tudo que precisa e então estará de volta antes mesmo que perceba.
- Não é tão simples. – suspirou.
- Sim, eu sei, mas se concentre no que vai conseguir no fim de tudo. – Leia o apertou mais. – E, enquanto estiver lá, quero que guarde isso pra mim.
Pegando a mão do garoto, deixou entre ela um simples colar com pingente de diamante. O jovem Solo encarou a peça, levemente confuso, e então encarou a mãe, que sorria.
- O que é isso? – questionou.
- Meu pai me deu esse presente quando eu tinha mais ou menos a sua idade. Pode parecer um simples colar, mas é muito mais. – a mulher apoiou sua mão sobre a dele – Isso, meu filho, representa a nossa família e deve ser passado apenas para os que são de confiança, apenas para aqueles que estão diretamente ligados a você.
- E por que está me dando? – fitou a pedra com atenção.
- Porque você é o meu filho e estamos mais conectados do que possa imaginar. – a general Organa sorriu. – Espero que quando se conectar a alguém muito importante e que possa passar isso à frente.
Agora que entendia o significado daquela simples joia, o menino sentiu algo se remexer dentro de si. Era como uma força que o impelia a cumprir aquela pequena missão. Criar laços de confiança, dando cada vez mais significado ao pequeno objeto. Respirando fundo, apertou o pingente entre os dedos e voltou o olhar para Leia, que sorriu outra vez.
- Eu vou. – o pequeno Ben Solo disse com convicção. – Eu prometo.

Flashback –Off-

Assustado, Ben abriu os olhos de supetão, fitando o ambiente à sua volta. Não demorou a perceber que estava deitado em seu colchão, mas não conseguia se lembrar de como havia chegado ali. Sentou-se, passando a mão no rosto e suspirou cansado, decidindo entre voltar a dormir ou treinar.
Repreendendo aquele breve pensamento, se levantou, caminhado até suas coisas. Ele não podia diminuir seu ritmo, não se quisesse se tornar mais forte. Desejava se tornar um grande usuário da Força e descansar estava fora de cogitação. Vestiu sua roupa e calçou as botas, pegando o sabre em seguida. O colocou no cinto e deixou o lugar, pronto para mais um dia de esforços.
Enquanto seguia pelo corredor, pensava no sonho que acabara de ter. Recordava-se nitidamente do dia que sua mãe lhe deu o colar. Havia sido pouco antes de vir para a academia de Luke. Ele o guardou por anos, até que, finalmente, entendeu as palavras de Leia. Havia se conectado a de uma forma que não sabia descrever e por isso, mesmo que agora estivessem separados, tinha dado o colar para a garota para que ele próprio não esquecesse do quanto ela era importante.
Sabia que ele a influenciava para o lado negro, mas tinha esperanças de que um dia ela conseguiria controlar seu interior e estaria segura, assim poderiam ficar juntos outra vez.
Suspirando, o aprendiz virou o corredor que o levaria para a saída do templo. Uma mão permanecia apoiada no cinto perto do sabre, a outra, passou de maneira distraída nos cabelos escuros, os tirando dos olhos.
Ben sabia que era cedo, pois o sol ainda terminava de nascer. Seu tio já deveria estar acordado, mas os outros alunos não, pois as aulas só começam a partir das sete da manhã. Quanto a ele, preferia praticar sozinho, pois assim teria mais privacidade e menos incômodos.
Avançou floresta adentro e seguiu para a clareira onde costumava ficar. Ao chegar lá encontrou o silêncio de que tanto precisava. Não perdendo tempo, sentou-se, cruzando as pernas e endireitou a postura, fechando os olhos. Respirou profundamente pronto para esvaziar sua mente e iniciar uma meditação, porém, algo o fez perder a concentração.
Abrindo as pálpebras, o jovem olhou em volta, tendo a certeza de ter ouvido um ruído bem próximo. Curioso, se levantou e tirou o sabre do cinto, seguindo pelo caminho que achou ser o certo. Andou alguns passos e então ouviu o barulho mais uma vez. Era o som de algo sendo cortado. Franzindo o cenho, afastou alguns galhos para que tivesse a visão completa do que ocorria.
Ao fazê-lo, avistou a última coisa que gostaria, pelo menos naquele momento. permanecia parada na beirada do rio e segurava seu sabre-bastão com as duas mãos. Mantendo os olhos fechados, a garota se concentrava na Força, a usando para levitar algumas pedras que ficavam na beirada da água.
Ben engoliu seco, pois sabia que vê-la e não poder se aproximar era torturante. Desde o dia que deu o colar para ela, não haviam se falado diretamente, apenas quando precisam treinar ou estudar juntos. Luke tratava de os manter afastados o máximo possível, o que cada vez mais, causava raiva no garoto.
Ele entendia que tudo aquilo tinha como objetivo protegê-la, porém, o tio o tratava como se ele fosse o responsável pela má influência que causava nela, o que não era uma total verdade. Com atenção, viu quando continuou de olhos fechados e fez com que as pedras viessem até ela. Com uma destreza incomparável, a padawan cortou uma a uma, fazendo seus pedaços caírem sobre a grama.
Mordendo os lábios, Ben decidiu que havia visto demais. Deu dois passos para trás, pronto para partir, entretanto, foi obrigado a tirar a ativar a própria espada laser quando uma das pedras veio em sua direção.
Rapidamente a cortou ao meio e olhou para a garota, que agora permanecia parada, o encarando sem qualquer expressão.
- O que está fazendo aqui? – indagou.
- Nada. – respondeu apenas.
- Estava me espionando? – a garota franziu o cenho.
- Já disse que não estava fazendo nada. – ele revirou os olhos.
- Não é o que parece. – rebateu.
- Olha, eu vou voltar para minha meditação. – o jovem mudou de assunto, passando a língua entre os lábios. – Me desculpe por atrapalhar.
Sem mais palavras, deu as costas para a menina, mas ao ouvir um riso sem humor vir dela, parou.
- Claro... – disse sem qualquer alteração na voz. – Vai fugir mais uma vez. Por que ainda me surpreendo?
Se virando para ela, ainda encontrou o sorriso desenhando seus lábios, contrastando-se com o olhar cheio de tristeza. Perturbado, o garoto deu passos até ela.
- Eu não estou fugindo. – balançou a cabeça negativamente. – Estou protegendo você!
- Não preciso que me proteja! – a menina elevou o tom. – Eu sei me cuidar.
- Por que vai insistir nisso? – respirou fundo.
- Porque... – sem coragem de terminar a frase, cerrou os punhos com força.
Ela sabia que dizer o que sentia era difícil, mas era Ben Solo ali em sua frente, não havia porque temer. Respirando fundo, voltou a falar, sentindo todo seu interior em rebuliço, como uma chaleira com água fervente.
- Eu... eu quero você de volta! – decidiu ser sincera. – Quero, meu melhor amigo, meu namorado, quero você de volta, Ben.
Enquanto continuava falando, as pedras começaram a levitar ao redor da garota, assustando o jovem.
- Será que é tão difícil entender? – insistiu.
- Não podemos ficar juntos. – ele abaixou o rosto. – Não ainda.
- E quem disse isso? – questionou, cada vez mais furiosa.
- Luke... – respondeu apenas.
Arregalando os olhos, a menina deu um passo para trás. Ao mesmo tempo, as pedras desceram lentamente até o solo. respeitava Luke Skywalker mais do que qualquer outra pessoa, ele a havia salvado num momento crítico. Todavia, a ideia de mantê-los separados era dolorosa demais para aceitar. Desativando o sabre, caminhou até Ben, parando em sua frente.
- Talvez... - engoliu seco. - Talvez o mestre Luke esteja errado.
Então, passou pelo rapaz, deixando-o ali sozinho com seus pensamentos. Ainda sentindo o baque daquela declaração que jamais achou vir da , o jovem Solo olhou por onde ela ia a passos apressados.
Sentindo um estranho calor se apossar de suas veias, o garoto apertou o sabre ainda ativo com mais força. O coração acelerou e a respiração falha o obrigou a respirá-la boca. Sem conseguir controlar, a raiva dominou seu corpo e, num movimento rápido e feroz, desferiu um golpe contra a árvore ao seu lado, cortando seu tronco ao meio.
Seus músculos tremiam graças ao sentimento ruim e seu estômago embrulhou ao ver metade da árvore no chão. Havia extravasado a fúria da primeira maneira que encontrou e, incrivelmente, não se arrependia.
Enquanto ainda a observava, ouviu mais uma vez aquela voz insistente em sua mente. Dessa vez, porém, não tentou a repelir, mas a escutou com atenção.
“Você quer a garota ao seu lado.”
- Sim, eu quero. – respondeu antes de perceber o que fazia.
“Não importa quais sejam consequências.”
- Ela não pode se machucar por minha causa. – continuou a responder. – É o único motivo para mantê-la longe.
E se eu disser que pode tê-la?!”
- Como? – franziu o cenho, confuso.
“Faça o que eu digo e eu prometo que ninguém nunca mais irá separá-los. Nunca mais!”
- Nunca mais. – sussurrou, apoiando uma mão no tronco decepado, abaixando a cabeça.
Já havia conversado outras vezes com aquela voz misteriosa, porém, não sabia quem era o seu dono, apenas que este o instigava ao lado negro da Força, para que ganhasse mais poder. Todavia, nunca cedeu às suas investidas. Naquele momento, porém, ele poderia conseguir o que tanto queria.
Além do poder que, constantemente, lhe era prometido, poderia ter de volta. Ganharia o que mais queria de uma só vez e ninguém, nem mesmo Luke Skywalker, poderia impedi-lo de conquistar tais coisas.

~o~


O dia havia passado depressa. Luke ocupou-se com o treinamento de seus alunos, especialmente, com os mais novos que ainda não conheciam muito sobre as doutrinas Jedi.
Haviam passado a manhã e parte da tarde meditando e treinando movimentos de batalha na clareira que ficava um pouco além da entrada da floresta ao redor do templo e a maioria dos meninos e meninas gostavam de aprender.
Apesar de estar bastante atarefado, o homem sentiu falta de seu sobrinho e também de . Nenhum deles havia aparecido para as aulas nem para a meditação. Ainda que fossem seus melhores aprendizes, os jovens não costumavam faltar. Na verdade, sempre estavam entre os primeiros a chegar.
Estranhando aquele fato, o jedi decidiu procurá-los assim que os aprendizes terminassem com sua meditação. O que não demorou muito e logo Luke estava de volta ao templo com seus alunos.
Após se despedir deles, o Skywalker seguiu pelos corredores do lugar, buscando seus dois aprendizes. Após alguns minutos sentiu a presença de um deles na biblioteca. Adentrando o cômodo, encontrou recostada à janela aberta, fitando a paisagem lá fora.
Com uma breve análise, conseguiu perceber que a garota permanecia aérea, sem realmente prestar atenção no que via. Suas mãos cerradas sobre o parapeito e a postura rígida mostraram para Luke que ela não estava bem.
Se aproximou com cautela, parando ao seu lado, passando a observar o sol que começava a se pôr. A garota notou o mestre ao seu lado, porém, continuou na mesma posição. Ficaram ali por um bom tempo, em silêncio, até que Luke finalmente se pronunciou.
- Sei o que está pensando. – disse, chamando a atenção dela.
- Mestre Luke, por favor, já pedi para me avisar quando estiver lendo a minha mente. – suspirou.
- Não preciso ler sua mente para saber que acha que o que pedi para Ben foi injusto, minha jovem. – disse e ela o encarou.
A o fez por longos segundos, até finalmente desviar o rosto e fitar as próprias mãos.
- Eu não entendo... – balançou a cabeça negativamente. – Eu só queria ajudá-lo, então por que pediu que ele se afastasse?
- Você estava sendo seduzida pela escuridão dele. – o jedi explicou.
- Eu sei... – murmurou. – Mas... não poderíamos achar outra forma para resolver isso?
- Seu treinamento ainda não chegou ao fim, então sua mente ainda não tem a resistência que precisa para enfrentar uma tentação tão grande. – o homem disse.
- E quanto a Ben? – questionou confusa. – Ele também não concluiu o treinamento.
- É diferente. – Luke negou com cabeça.
- Diferente? – a garota se virou para ele. – Mestre Luke, o que há de diferente?
O Skywalker fitou a aprendiz, que o encarava com o cenho franzido. Soltando um suspiro cansado, fechou os olhos por alguns instantes, antes de falar.
- Apesar de vocês serem meus melhores alunos, Ben está num nível muito superior. – explanou. – Você começou seu treinamento vários meses antes, mas ele logo a alcançou e a superou.
- Isso é bem óbvio, mestre. – ela deu de ombros. – Ben tem mais destreza com o sabre do que qualquer um de nós.
- Sim, mas essa evolução não é só física. – o homem abriu as pálpebras. – A mente dele está quase pronta para o fim do aprendizado.
- Se ele está tão avançado, qual o motivo de sempre estar sendo tentado? – ela franziu a testa.
- Isso não tem a ver com a fraqueza de sua mente. – o jedi suspirou novamente. – Caso Ben escolha a escuridão, será por vontade própria e não por alguma influência.
- Não sei se posso concordar. – disse com firmeza e Luke a olhou levemente confuso. – Mestre Luke, por acaso já entrou na mente do seu sobrinho?
- Por que me pergunta isso? – questionou.
- Porque, se o fizesse, perceberia o tormento que ele tem que enfrentar diariamente. – passou a língua entre os lábios, continuando. – Eu fiz isso inúmeras vezes e, em todas elas, encontro uma voz estranha que o chama para a escuridão.
- Uma voz? - o Skywalker deu um passo em sua direção.
- Sim. – balançou a cabeça.
- E o que ela diz? – perguntou.
- Diz que ele não pertence a esse lugar, que é um filho das trevas. – a garota se encolheu ao lembrar das palavras. – Mas há uma coisa que a pessoa repetia com mais frequência.
- O quê? – agora, Luke já se encontrava muito próximo a ela, como se assim pudesse ouvir melhor.
- Honre a memória de Darth Vader. – as palavras saíram acompanhadas de um calafrio que atingiu ambos.
Assustado, o jedi, cambaleou para trás. Já havia sondado a mente de Ben algumas vezes, mas nunca conseguiu ouvir essa voz da qual falava. Havia visto a confusão e a dualidade do rapaz, mas nunca achou que seu lado negro estava sendo influenciado por algo externo.
Preocupado, voltou a prestar atenção na garota, que estava assustada com sua reação.
- Mestre Luke?! – ela o chamou.
- , onde ele está? – segurou os ombros da garota.
- Eu... eu não sei. – respondeu. – A última vez que o vi foi na beira do rio, hoje cedo.
Apressado, o mais velho se afastou dela, seguindo para a saída. Porém, parou quando ela o chamou novamente, a olhando por cima dos ombros.
- O que está acontecendo? – quis saber.
- Fique aqui até eu voltar. – o homem disse apenas.
Em seguida, se retirou, deixando uma confusa para trás. Só após algum tempo é que ela reagiu. Ainda sem entender a repentina perturbação de seu mestre, saiu da sala a passos largos.
Deduzindo que este fora para a floresta, seguiu para o portão principal do templo. Ao deixar o grande lugar, correu para a floresta, já vendo a escuridão começar a tomar conta de tudo ao redor. Ignorando o perigo de estar sozinha naquele matagal, entrou cada vez mais fundo pela vegetação, afastando os galhos que apareciam em seu caminho.
Com agilidade, conseguiu avançar até estar na beirada do rio. A brisa se tornara um pouco mais forte do que pela manhã e podia ouvir o barulho dos grilos vir de todos os lados. O som da água corrente era suave e a garota sentiu certa paz por estar em contato direto com a natureza.
Todavia, tal sentimento se esvaiu no momento em que viu o tronco de umas das árvores mais finas, no chão. Aproximou-se lentamente e a analisou melhor, levando uma mão aos lábios ao constatar que o corte havia sido feito com algo muito afiado, como um sabre.
- Ben... – sussurrou, mordendo o lábio inferior.
Erguendo os olhos, deparou-se com ainda mais cortes feitos nos outros troncos mais grossos. Desolada com as marcas deixadas por aquele ato de ira, ajoelhou-se, permitindo que o ar escapasse pelos lábios de uma só vez.
Por um minuto não soube como agir, porém, se lembrou de todas as vezes que já estiveram conectados, de como ele fazia de tudo para mandar aquela voz para longe. Ela sabia que ele estava dividido entre a luz e a escuridão e aquelas marcas nas árvores eram a prova disso.
Mas, caso Luke estivesse certo. Se ele tivesse mesmo o controle sobre suas decisões. Ainda que as trevas o atormentassem, o garoto decidiria por si mesmo o que fazer. O próprio Ben escolheria que caminho trilhar e ela tinha a plena certeza de que sua luz venceria.
Ainda abaixada, a garota agarrou o colar em seu pescoço, encolhendo-se e fechando os olhos. Ela ainda acreditava, não iria desistir de Ben Solo. Nunca.

~o~


O homem seguia apressado pelos corredores do templo, buscando pelo sobrinho que não via desde o dia anterior.
Desde o momento que Ben despertou a sua conexão com a Força, Luke soube que ele seria extremamente poderoso. O sangue Skywalker corria em suas veias e logo o garoto comprovou a teoria de seu tio.
No entanto, sempre houve algo mais. Primeiro Leia notou e, quando entrou em contato com o jovem, ele também. A escuridão seduzia Ben, deixando-o sobre uma corda bamba. E Luke não sabia mais por quanto tempo o sobrinho poderia se equilibrar.
Já havia sondado a mente dele, mas nunca encontrou nada semelhante ao que descrevera e isso era preocupante. A única explicação era a de que um ser muito poderoso mexia com a mente do jovem Solo e que este tinha a capacidade de se ocultar quando necessário.
Tendo raiva de si mesmo por não prestar mais atenção no garoto, virou no corredor onde os quartos ficavam. Fechando os olhos, sentiu o sobrinho. Ele dormia em seu quarto. Discretamente, entrou e o fitou deitado no colchão. Parecia sereno, mas então o jedi ergueu uma das mãos, entrando em sua cabeça.
A princípio não ouviu nada de mais. Todavia, agora que sabia o que a garota lhe dissera, forçou-se a se aprofundar mais na mente dele. Assim que o fez, sentiu outra presença ali. Parecia conversar diretamente com a subconsciência de Ben, mas tudo estava embaralhado.
Era de propósito, ele sabia. Por isso, usou ainda mais da Força e finalmente ouviu o que se passava em seu interior.
“Você pode ter o que deseja, apenas siga as minhas instruções.”
Estranhando aquela afirmação, Luke se aproximou mais do rapaz, continuando a sondá-lo.
“Venha comigo e não terá apenas o poder que deseja, mas a garota também será sua e ninguém mudará isso. Nem mesmo Luke Skywalker.”
Franzindo o cenho, o Jedi então ouviu algo que fez seu coração pulsar com mais velocidade.
“Ben Solo, você é poderoso, mas pode ser ainda mais. Pode ser como Darth Vader. Siga o seu destino, meu jovem. Seja meu aprendiz e honre a sua linhagem!”
Ao ouvir aquele nome novamente, Luke deu um passo para trás. Sabia o que Darth Vader representava, porém, esse não era o problema, mas sim a inclinação de Ben.
Ele concordava com o que aquela pessoa lhe dizia. Ele aceitava ser seu aprendiz se precisasse disso para conseguir o que queria. Se esse fosse o caminho para ter seu amor de volta e para honrar seu avô, então ele estaria disposto a ir com o estranho.
Ao ver aquela certeza rondar a mente de seu jovem aprendiz, Luke levou a mão até o quadril, retirando o sabre de seu cinto. Quando o ativou, imediatamente o lugar foi iluminado pela luz esverdeada da lâmina de plasma.
Apertando o cabo da espada laser, o homem avançou um passo. Aquele garoto já estava perdido. Ele havia escolhido a escuridão. Além disso, não permitiria que ele levasse no mesmo caminho. Agora sabia que aquela voz o havia induzido a escolher o lado negro e, caso a garota continuasse em contato com o estranho, também iria sucumbir ao mal.
Porém, antes que terminasse o que pretendia, a imagem da irmã veio em seu pensamento. Leia havia mandando o filho para lá, pois acreditava que Luke poderia ajudá-lo a superar tudo aquilo. Ela havia confiado nele. também acreditava que Ben poderia escolher o lado certo.
Então, por quê justo ele, que viu o próprio Darth Vader se redimir, duvidava disso? Como poderia desistir tão fácil do sangue do seu sangue?
Não, ele não desistiria. Iria fazê-lo mudar de ideia. Decidido, o homem se preparou para desativar a arma, porém, se surpreendeu ao ver o sobrinho, agora acordado, o encarando com espanto.
Ben olhava para o sabre nas mãos de Luke e sabia que sua intenção era matá-lo. O jovem conseguia ver isso nos olhos do mais velho. Mas ele não deixaria aquilo passar, estava cansado de Luke Skywalker.
Rapidamente, pegou o próprio sabre e o ativou no instante que o tio desferiu o golpe, o parando. Sem pensar duas vezes, usou a mão livre para manipular a Força, direcionando sua telecinese para as paredes atrás do Jedi.
- Ben, não! – Luke gritou, mas já era tarde.
O jovem fez com que as rochas desmoronassem sobre ele, cobrindo-o completamente. Enquanto a poeira subia, o garoto permaneceu estático, observando o estrago que havia causado. E, mais uma vez, não se importou.
Levantou, tirou a terra das vestes e continuou olhando para os escombros sem demonstrar qualquer indício de remorso. Seu tio havia tentado matá-lo e aquilo foi suficiente para que, finalmente, soubesse onde deveria estar.
- Hora de terminarmos isso. – apertou o sabre entre os dedos enquanto repetia as palavras que pairavam em sua mente.



Capítulo V

corria sem parar, refazendo o mesmo caminho de antes. Dessa vez, porém, seu desespero era ainda maior e isso a deixou afobada, fazendo com que se atrapalhasse com alguns galhos, que acertaram seu rosto.
Ao sentir a pancada, cambaleou para trás soltando um urro surpreso. Contrariada, levou a mão ao local atingido, sujando os dedos com o filete de sangue que escapava do arranhão.
- Droga... – murmurou, pensando no seu descuido.
Porém, isso não durou mais do que alguns segundos. No momento que um grito apavorado preencheu o ambiente, a padawan retirou o sabre do cinto, o ativando. Sem demora, voltou a correr, usando a luz da espada para guiá-la.
Ofegante, finalmente chegou aos arredores do templo, mas parou subitamente, deixando um gemido desolado escapar pelos lábios ao avistar a cena que se seguia. Tremendo, não conseguiu desviar o olhar dos escombros que antes era o majestoso templo onde Luke os treinava.
Tudo se resumia a restos de estrutura e o fogo os consumia sem piedade, crepitando e soltando uma fumaça escura e densa, que deixava o ambiente sombrio. Apesar da brisa que soprava, o calor das chamas era intenso e, de onde estava, a garota pôde senti-lo, o que a fez perceber que tudo era real.
Devastada, lançou-se ao chão, permitindo que lágrimas grossas escorressem pelo rosto que começava a se sujar de fuligem. Seu coração se despedaçava ao ver seu lar destruído de forma tão impiedosa, mas o que mais doía era saber quem havia causado tudo aquilo. Ainda que não quisesse aceitar, podia sentir a energia negra pairando sobre o lugar e esta lhe fazia mal.
A garota permaneceu ali, até que avistou algo ainda pior. Incrédula, se levantou aos tropeços e correu para mais perto dos escombros. Então, confirmou o que mais temia. Jogados como se fossem nada, jaziam os corpos dos alunos da academia Jedi. Desde os mais velhos até os pequeninos.
- Não... – soluçando, ela se ajoelhou ao lado de um garotinho e tocou seu rosto com delicadeza.
Mordendo o lábio inferior com força, reprimiu um grito que quase escapou. Com a garganta arranhando, se arrastou de um a um, constatando que estavam mesmo mortos. Já havia perdido as contas, quando sentiu uma mão agarrar seu pulso, a assustando.
- Fuja... – foi à única coisa que a garota que aparentava ter sua idade murmurou.
- O que... – a surpresa ainda se fazia presente em sua voz.
- Ele... ele está vindo... – a outra suplicou. – Saia... daqui... Saia...
continuou encarando a garota com os olhos arregalados. Enquanto suas palavras se esvaiam junto com suas últimas forças, a aprendiz não conseguiu sequer se mover. E quando a garota finalmente se foi, sua única reação foi chorar ainda mais.
Passando as mãos no rosto, não se importou quando o sujou com o sangue de sua colega. Na verdade, foi aquilo que lhe deu coragem para se levantar. Respirando fundo, agarrou o sabre e olhou em volta, buscando por Luke. Onde ele estava para permitir que tudo aquilo acontecesse?
Balançando a cabeça para os lados, avançou pelos pedaços de concreto, temendo encontrar o mestre num estado semelhante ao de seus alunos.
- Ele não está aqui. – de repente alguém disse.
No mesmo segundo, um calafrio lhe subiu pela espinha, pois ela sequer precisou se esforçar para reconhecer aquele timbre. Na verdade, antes que ele falasse, captou sua energia, mas esta parecia muito sombria, o que a fez hesitar antes de finalmente se virar em sua direção.
Ao fazê-lo, o encontrou a alguns metros e sua aparência estava completamente diferente. Ao invés das roupas tipicamente claras que os alunos usavam, havia uma completamente negra, cobrindo todo seu corpo, assim como luvas grossas da mesma tonalidade.
Sua expressão, que transmitia quase sempre serenidade ou apenas indiferença, agora estava carregada por conta do vinco entre suas sobrancelhas. Seus olhos transmitiam raiva e isso a assustou.
- Ben... – sussurrou, franzindo o cenho. – O que está fazendo?
- O que já deveria ter sido feito há muito tempo. – ele respondeu. – Mas percebi isso apenas agora.
- Você fez tudo isso por causa daquela maldita voz. – balançou a cabeça negativamente. – Esse não é você!
- Mestre Snoke apenas me mostrou a verdade. – o rapaz imitou seu gesto. – Agora sei quem realmente sou.
Snoke? Então aquele era o nome daquele ser desprezível que tanto o seduzia?
- Não... – se aproximou. – Esse... Snoke não sabe nada sobre você, eu sei.
- Eu sei que sabe. – ele também foi até a jovem. – É por isso que estamos ligados.
- O que... – murmurou, mas interrompeu a fala ao vê-lo estender a mão em sua direção.
- Venha comigo. – ele disse, deixando-a boquiaberta. – Venha comigo e ninguém irá ficar entre nós.
encarou a mão erguida por um longo tempo, antes de fitá-lo.
- Por que está fazendo isso? – segurou as lágrimas que ameaçavam escapar.
- Para que possamos ficar juntos. – o jovem respondeu convicto.
- Infelizmente... – mais uma vez ela olhou para a mão dele, logo voltando para seus olhos escuros. – Você está apenas quebrando o meu coração.
Ben franziu a testa diante daquelas palavras e sua confusão apenas aumentou quando deu dois passos para trás, sacando seu sabre. Ele não sabia como se sentir a respeito daquela ação.
- Você fez tudo isso por causa desse Snoke, mas eu não vou deixar que ele o influencie mais. – a luz do sabre reluziu. – Sei que pode fazer uma escolha melhor do que essa.
- Eu já escolhi. – o outro rebateu.
- Não, está enganado. – ela apertou o cabo com vigor. – E eu vou te mostrar.
Antes que o rapaz dissesse algo, ela avançou contra ele, disposta a pará-lo. Não queria matá-lo, mas se fosse necessário machucá-lo para que ele recobrasse os sentidos, então o faria. Não o deixaria sair dali, não o perderia para Snoke.
Ao perceber a intenção da garota, Ben pegou sua própria arma e a ligou, parando o golpe no último segundo. Mas não iria desistir fácil. Com rapidez, girou o corpo e usou a outra extremidade do bastão para acertá-lo e quase conseguiu, mas ele foi mais rápido e se desviou.
Parando ao lado direito dela, desferiu um golpe em seu braço, lhe arrancando um urro de dor. se afastou rapidamente, levando uma mão ao lugar lesionado.
- Sabe que não pode me superar. – ele disse. – É inútil!
- Eu não vou te deixar ir. – ela disse entredentes.
E mais uma vez avançou, segurando o sabre com as duas mãos. Usando de sua velocidade, desferiu vários ataques seguidos contra o jovem, que barrou cada um deles. Todavia, agiu diferente, se abaixando e dando uma rasteira em Ben, que se desequilibrou e caiu na grama chamuscada.
Rapidamente, ela foi até ele, apontando o sabre para seu pescoço quando este se apoiou nos cotovelos para encará-la.
- Já chega! – puxou o ar para os pulmões. – Mestre Luke disse que você pode escolher o caminho que quer seguir, então escolha o caminho certo, por favor.
- Luke Skywalker está morto! – o garoto berrou, fazendo a veia do pescoço saltar. – E quando estava vivo não sabia nada sobre mim!
esbugalhou os orbes ao ouvir suas palavras, mas antes que fizessem qualquer movimento, Ben foi mais rápido e ergueu uma das mãos até ela. Dessa vez, porém, usou a Força para jogá-la para longe, nos escombros.
Urrando graças ao impacto na região das costelas, a aprendiz tentou se erguer, mas parou ajoelhada quando viu outras pessoas se aproximando. Abismada, reconheceu os jovens que também eram alunos do Skywalker, todos vestidos de preto e com máscaras nas mãos. Todos traidores.
Uma garota se aproximou de Ben e lhe disse algo, dando a ele uma máscara que era diferente das outras. O rapaz disse algo para eles, que concordaram e se retiraram para algum lugar. Ben, foi o único que permaneceu e quando estavam mais uma vez sozinhos, olhou para ela.
- ... – chamou a menina com ternura. – Venha comigo... por favor!
Sentindo o coração pulsando furiosamente conta seu peito, a fechou os olhos, se negando a encará-lo. Mas logo voltou a erguer a cabeça quando ouviu passadas próximas. Ben Solo estava abaixado em sua frente, os deixando quase da mesma altura. Seus olhos negros reluziam ainda mais por conta das chamas e seus fios cheios se esvoaçam na direção do vento noturno.
Por um segundo, teve vontade de abraçá-lo e dizer que tudo ficaria bem. Que eles, finalmente, poderiam ficar juntos. Algo que ela desejava mais do que qualquer coisa. E quando a mão enluvada tocou o seu rosto, seu interior se remexeu inquieto, atiçando o seu lado negro.
A escuridão dentro de si latejava, procurando uma forma de engolir sua luz. Com Ben tão próximo, aquelas sensações se tornavam cada vez mais profundas. Segurando a mão dele entre a sua, suspirou fundo e o olhou profundamente.
Ben a mirava com atenção. Analisava cada mínimo detalhe entre seus movimentos, pois precisava saber o mais rápido possível o que diria, precisava dela mais do que pensou ser possível. A forma como ela o fazia sentir aquela palpitação no coração, como seu interior aquecia só por sentir o seu toque. Mas nada superou o que sentiu quando ouviu seu murmúrio.
- Eu amo você... – a garota disse baixinho.
- Como? – estava surpreso.
- Eu amo você! - ela repetiu pela segunda vez. – Mas... eu não posso ir.
- Por que não? – questionou.
- Porque não é o certo. – balançou a cabeça. – Eu acredito no poder da luz e isso não vai mudar.
Sem acreditar no que ela dissera, o rapaz retirou sua mão do seu rosto. Snoke havia prometido que ele a teria se seguisse suas ordens. Mas não havia cedido.
“Deixe a garota e venha até mim.”
De repente ouviu dentro de sua mente e fez uma careta inconformada. Pretendia contestar a ordem, entretanto, uma segunda instrução veio.
“A garota ainda será sua. Não agora, mas não tardará a acontecer. Apenas venha.”
Obedecendo seu novo mestre, o jovem Solo se levantou sem deixar de encarar . Viu as lágrimas molhando o rosto dela e respirou fundo. Ela não iria ceder, então restava seguir as palavras de Snoke. Não a teria agora, mas a teria em algum momento.
- Nós vamos nos ver novamente. – disse com firmeza. – E quando esse dia chegar, você vai ficar do meu lado.
- Como pode ter tanta certeza? – rebateu.
- Me prometeu que nunca me abandonaria. – o rapaz respondeu. – E eu ainda acredito em suas palavras.
A garota entreabriu os lábios ao relembrar do que havia dito. Verdadeiramente, seu desejo era nunca abandonar Ben Solo, mas as circunstâncias não colaboravam para isso. Vê-lo tão envolvido pela escuridão a deixava sem ação.
Não era forte o suficiente para salvá-lo. No entanto, aquilo era só o começo, eles tinham muito o que aprender e ela conseguiria se superar e assim o traria de volta para a luz. Ainda estática, voltou à realidade apenas quando o viu se mover.
Dando-lhe as costas, o rapaz resolveu acabar com aquele sofrimento momentâneo. Mordendo os lábios, seguiu para o ponto de encontro onde os outros jovens que escolheram o seu lado o esperavam para que fossem até Snoke.
Mas estava tão atordoado com aquela separação que se assustou ao sentir a Força ser usada contra ele. Sua reação foi tardia e não conseguiu impedir seu sabre de sair do seu cinto, indo de encontro a . Quando olhou para ela, a encontrou de pé, com o objeto entre seus dedos.
Ela ofegava e tinha certo brilho nos olhos que, para ele era desconhecido. Franzindo o cenho, fez menção de que se aproximaria, porém, suas palavras o pararam.
- Encontre uma nova arma. – a aprendiz disse sem se intimidar. – Você não merece esse sabre. Não por enquanto. Mas, quando voltarmos a nos encontrar, talvez eu o devolva.
Ben a mediu com os olhos por breves instantes, resolvendo que não valeria a pena lutar por aquele sabre. Não queria ter mais nada a ver com o mundo Jedi. Assim, apenas fitou pela última vez e, finalmente, a deixou ali indo de encontro aos seus aliados.
Em sua mente havia o forte pensamento de que, quando voltassem a se encontrar, tudo seria diferente.
Quanto a aprendiz, seu desejo era o mesmo. Enquanto via seu melhor amigo se afastar, sumindo em meio à escuridão da noite, apertou o colar em seu pescoço crente de que Ben voltaria atrás.
Eles estavam conectados, seus sentimentos eram grandes, e isso não mudaria tão facilmente. A forma como se sentiam um ao lado do outro, ninguém na galáxia saberia explicar.
Enquanto permanecia ali, parada em meio a todo aquele caos, soube que a sua fé a manteria de pé. Não importava quanto precisasse esperar. Durante esse tempo, se concentraria na Força, pois apenas desse jeito ficaria mais forte e poderia ajudar Ben Solo de verdade.
- Nos veremos em breve, Ben Solo. – disse, enquanto fitava o sabre dele em suas mãos.
A aprendiz de Luke Skywalker estava disposta a esperar, pacientemente, mesmo que aquele reencontro demorasse mais do que gostaria.





END!



Nota da autora: Hello, pessoas!
Estou aqui apenas pra ficar que essa é minha primeira fanfic do fandom Star Wars é que, apesar das dificuldades, foi muito legal escrevê-la. Eu tive essa ideia e precisava colocar no papel, pois o BEN/KYLO É MEU CRUSH SIM, COM LICENÇA! Njddhjkrdsvbmhfshrgrdkkl
Dei uma convulsão básica ali em cima, mas faz parte. Enfim, obrigada por ler! ;)



The Fire Soldier
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Dividida Entre Dois Mundos




Nota da beta: Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.


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