FFOBS - 13. Without you, por Dudss

Fanfic Finalizada: 20/05/2018

Parte I

" Castillo: de imigrante ilegal à superestrela hollywoodiana" era a manchete na capa da revista que estampava uma foto minha. Não me importava muito com isso, mas mama sempre insistia para guardarmos cópias das revistas onde eu posava para a capa e agora temos mais de duzentas, com certeza. Apenas as revistas mexicanas eram emolduradas, porque minha mãe amava nosso país mais que qualquer coisa. Já eu, "amo a minha vida." Essa é a minha fala para todas as entrevistas que concedo. Não para ostentar ou para soar superior, mas porque é a verdade. Tudo o que eu quero, posso ter. A fama e o dinheiro me atraem porque cresci sendo uma imigrante ilegal nos Estados Unidos que mal tinha o que comer. Cinco anos era a minha idade quando minha mãe decidiu, junto com outros mexicanos que iria arriscar tudo e tentar a vida do outro lado da fronteira – no lado rico, no país das oportunidades. Pelo menos dez pessoas, somando eu e minha mãe, estavam amontoadas em um trem de carga com destino ao Texas, sem comer há dias. Todos investiram tudo o que tinham para termos a oportunidade de atravessar a fronteira no trem e não a pé, já que sabíamos que as chances de morrermos no deserto seriam altíssimas. Como previsto, todos sobrevivemos. Não digo que devo minha carreira à ex-patroa humanitária de minha mãe – agradeço muito a ela por ter nos ajudado com a papelada, mas foi o meu talento que me permitiu viver o sonho americano. Aos dezesseis, eu já era parte do clube de teatro da escola e fiz meu primeiro teste para uma série de TV. Obviamente, eu viveria a "amiga latina" e caliente louca para transar com um americano. Durante muito tempo fui a mesma personagem: Carmen, Mariana, María... Todas latinas que misturavam espanhol e inglês enquanto conquistavam os heróis com todo seu fuego mexicano. Felizmente, eles não me americanizaram a ponto de eu mudar meu nome ou esconder meu sotaque: é bom que os americanos saibam que latinos os servem, limpam sua sujeira, fazem suas malditas comidas mexicanas, mas que também estão no topo. Castillo entrou no seu país dentro de um trem de carga, babacas, e agora está concorrendo à um Oscar por viver Guadalupe, imigrante ilegal que atravessa o deserto com o filho em busca de uma vida melhor longe do marido abusivo.
? Tá aí? — me despertou de meu devaneio.
— Tô, sim. Diga, o que estava falando mesmo? — Pergunto, dando continuação à nossa conversa. Eu a conheci em meu primeiro papel na televisão – ela era minha amiga branca na série – e desde então, tornamo-nos inseparáveis. Enquanto minha carreira ascendia, decidiu largar tudo para estudar cinema e agora tem o sonho de viver atrás das câmeras.
— Estava dizendo que estou apaixonada por todos os vestidos que te emprestaram para o Oscar. Sério, não sei se prefiro o Dior ou o Dolce & Gabbana. — Uma das melhores coisas de estar concorrendo ao Oscar, é que todos querem me vestir. — Mas no que você estava pensando, hein?
— Já te contei sobre , certo?
... Você finalmente está ficando com alguém? — não prestava muita atenção em histórias tristes ou sérias demais, portanto tive que relembrar quem foi García.
— Não, . que veio comigo do México. Crescemos juntos. Já lhe falei sobre ele. — Expliquei e minha amiga ainda parecia confusa, mas não perguntou mais nada. — Enfim, sinto falta dele.
— Ora, você é Castillo! Nenhum cara com sua sanidade mental intacta iria negar um encontro com você! — Falou minha amiga, e muito provavelmente ela estava certa. O único problema era que era sim diferente. Ele tinha um código de ética e conduta próprio que era diferente do de qualquer outro homem – García não se vendia, não deixava suas crenças de lado em nome de ninguém. E isso era uma das melhores coisas sobre ele.
— Ele negaria um encontro comigo exatamente por eu ser Castillo, a atriz.
, há uma coisa que é comum em todos os seres humanos: nós queremos ser desejados. Ele pode até se fazer de difícil, mas no fundo sabe que você nunca mudou quem é.
— Eu nem tenho mais o contato dele. — Reclamei, já que haviam anos desde a última vez que nos falamos: eu ainda estudava no Texas. Eu ainda era comum, uma em milhares de imigrantes invisíveis. Em partes, eu até ficava feliz de saber que não se venderia por minha fama.
— Mas a verdadeira questão aqui, , é que você precisa escolher o que vai vestir no domingo! Precisa pensar em seu discurso, afinal, sabemos que você ganhará. Fale sobre a questão da xenofobia contra latinos. Eles vão te adorar ainda mais.
era meio preconceituosa às vezes.
— Não vou falar de uma questão que me afeta apenas para que meu povo me adore, . Falarei sobre isso porque é completamente sem lógica vocês acharem que são os únicos americanos e quererem nos expulsar de seu país quando a verdade é que carregamos os Estados Unidos nas nossas malditas costas latinas.
— Ai, calma! Você fica meio nervosa quando a gente fala dessa questão, né, ? Desculpa! Às vezes eu esqueço que você é mexicana também.
— Por que? — Perguntei retoricamente. — Mexicanos não passam o verão na Riviera Francesa e só vêm ao Bel Air para limpar casas e servir?
— Porra, ! Eu entendi que sou uma maldita xenofóbica, ok? Entendi, certo? Dá pra deixar pra lá? Eu só quero te ajudar, pelo amor de Deus!
Eu me levantei e fui até a adega na sala de estar, me servindo de uma dose dupla de bourbon. Como bom hábito ruim, era quase impossível de livrar-me desse, então apenas bebi um gole do destilado enquanto observava a tela de Picasso que adornava minha sala. Não entendo de arte, não me atrevo a opinar sobre o que estaria pensando o artista no momento em que pintou aquela tela, já que como artista, na maioria das vezes eu estou pensando nas coisas menos poéticas possíveis, como uma pausa para o lanche, porém, naquele momento eu pensava apenas em . O dinheiro e a fama eram minha religião - eu encontrava Deus nos flashs que transmitiam minha imagem para o mundo e a eternizavam, entretanto, quando se tem tudo o que deseja, começa-se a pensar em tudo o que o dinheiro não pode comprar.
— Você quer que eu o procure? — Perguntou , baixinho. Ela sabia que eu estava pensando nele.
— Por favor. — Sussurrei de volta, finalizando minha dose de uísque. Eu precisava ao menos ouvir a voz dele.

[...]


— Senhorita , há mais algum projeto para o próximo ano? — Perguntou um jornalista. Devido à indicação ao Oscar, nosso diretor desejou fazer uma coletiva de imprensa, uma vez que nossa vitória era quase certa.
— Oh, fui aconselhada a não citar nomes, mas creio que entenderão de qualquer forma. Estarei em dois episódios da série favorita do mundo. — Respondi, sorrindo. Obviamente a internet já estava cheia de chamadas do tipo " Castillo em Game of Thrones". Outros jornalistas já levantavam suas mãos para fazerem mais perguntas. Aceitei a da jovem que parecia mais desesperada por uma resposta.
, são verdadeiros os boatos sobre seu possível relacionamento com um jogador de futebol italiano? — Perguntou ela. Eu dei uma longa risada, imaginando quem inventou aquilo.
— Em meu coração há espaço para apenas um homem e garanto que ele não é europeu. Pelo contrário, veio do mesmo lugar que eu.
— Fale-nos o nome desse homem! Estão juntos agora? — Perguntou outro jornalista. Todos me olhavam com expectativa, inclusive o elenco de meu filme.
— Não estamos juntos há nove anos — Respondi, finalizando minha participação na entrevista coletiva. Deixei o resto para meus colegas enquanto pensava no homem que eu amava desde sempre. Em momentos como esses, penso em como as coisas teriam sido caso eu não fosse Castillo, caso eu estivesse fora dos holofotes. Eu sabia que a vida havia sido completamente injusta para ele e sua família. Quando deixei El Paso para trás, a família García ainda não tinha seus papéis, e apesar de não ter vivido isso, eu tinha conhecimento sobre como era a vida de um imigrante ilegal dos Estados Unidos: o medo de ser descoberto era como uma sombra que os acompanhava por todo lugar. Diferente do que se imagina, o medo não some quando atravessamos a fronteira – ele começa ali. As possibilidades que sonhávamos em espanhol eram destruídas em inglês. Comprar algo na Amazon era arriscado e passar perto da polícia era quase um teste de resistência. Eu sabia reconhecer um imigrante ilegal apenas porque já fui uma e temia que ainda não tivesse seus papéis. Temia pela vida, pela segurança dele porque apesar de estar no topo, eu entendia que a vida dele não era doce como a minha, mas é claro que ele jamais aceitaria qualquer auxílio vindo de mim. Eu possuía o contato de García havia dois dias e ainda não tive coragem de tocar o botão verde na tela do meu celular, afinal, não sabia o que a vida havia feito dele. Por sorte, a coletiva passou como um raio e eu finalmente pude fugir daquilo. Guadalupe, minha personagem, não exigiu um grande estudo ou adaptação. Eu já havia estado na pele dela, mesmo que criança, então não foi difícil me identificar. A atuação impecável de Castillo era possível por conta do trabalho que eu apelidei de mergulho: eu estudava sobre a personagem e por pelo menos um mês antes do início das filmagens, tentava viver como aquela pessoa. Quando descobri que viveria Guadalupe, passei um mês no México e foi aí que as memórias voltaram como uma tempestade de areia: vinham de todos os lados e me desorientavam. estava em todas elas.

Parte II

Quando eu finalmente tive coragem suficiente para ligar para , eu já possuía minha primeira estatueta do Oscar. Após toda a correria de entrevistas e sessões de fotos que eu concedi à imprensa na semana após a premiação, finalmente pude aproveitar o tempo livre antes do começo das filmagens do próximo filme que eu estrelaria. Meu telefone estava ali, estrategicamente posicionado na mesa próxima à piscina, esperando apenas que o contato com a água me encorajasse a discar o número que eu já havia decorado. Levaram horas para eu finalmente sair da água e pegar o celular, além de mais alguns minutos para que eu finalmente tocasse no botão que reiniciaria meu contato com García.
— Alô? — Perguntou uma voz grave do outro lado da linha. Eu lembrava de uma versão adolescente daquela voz.
— A-alô, você pode me ouvir? — Repliquei, já que não sabia o que dizer.
— Posso, sim. Quem é? — Perguntou , já meio sem paciência. Eu ri, o que provavelmente deve tê-lo deixado ainda mais puto, já que ele bufou. — Por acaso você está achando que sou idiota?
— Sou eu, — falei. Nunca escondi meu sotaque – costumo dizer que mantê-lo é uma forma de lembrar-me de que nunca serei uma estadunidense. — Sou eu, .
— Agora foi longe demais — ele falou. — Está achando que sou idiota, garota?
, sou eu. , quem segurou sua mão enquanto estávamos escondidos naquele trem. que não entendia matemática nem em espanhol. Sou eu, Castillo.
?
— Sim.
Sentei-me na espreguiçadeira e senti meu coração descompassado. De repente, era como se eu estivesse de volta no passado explorando El Paso ao lado de .
— Onde conseguiu meu contato, ? Pensei que sequer se lembrasse da minha existência. Faz anos.
— Eu nunca deixei de pensar em você, — confessei, num sussurro. Eu não pensava nele vinte e quatro horas por dia, mas nunca esqueci de fato o que García foi para mim: meu primeiro amor. — Eu sempre te amei.
— Eu também penso em você há nove anos. Te amo desde sempre, , mas infelizmente você levou tempo demais para se dar conta disso. Agora, você é Castillo, a latina mais bem paga da América e eu continuo sendo mais um ser invisível.
, eu só sou Castillo sem você. Contigo sempre serei .
— Minha está morta, .
— Por que está agindo assim? — Perguntei, quase permitindo que as lágrimas caíssem. Eu sabia que não iria aceitar meu contato depois de tantos anos de forma calorosa, mas dizer que eu estava morta? Assim era demais, até para ele.
, você era Mariana nos cinemas quando eu consegui meus papéis — explicou , e eu fiz as contas mentalmente. Havia pouco mais de um ano desde que Hasta Luego havia estreado. Não era possível. havia vivido por quase vinte anos como imigrante ilegal. Fiquei imaginando sua vida e meu coração apertou. — Você estava nas capas de revista enquanto eu vivia sozinho nesse maldito país. Chegava a ser bizarro! Para onde eu ia, via Castillo. Você era onipresente, mas não estava ali, não de verdade. Minha mãe não aguentou a vida aqui, sabe? Ela voltou para o México no mesmo ano em que você estreou na série de TV. Eu consegui achar alguém para me ajudar com a papelada ano passado e só agora estou dentro da lei. Se está com remorso por ter me deixado, pode ficar tranquila. Eu não preciso da sua pena e muito menos de seu dinheiro.
, não liguei porque sinto remorso — expliquei, mas não tinha uma explicação para oferecer. Durante muito tempo ser Castillo era mais do que suficiente para mim - passar férias em lugares paradisíacos e restritos, conceder entrevistas e ser a atriz latina mais bem paga dos Estados Unidos... Era tudo perfeito. Só que desde que comecei a me preparar para interpretar Guadalupe as lembranças da minha vida antes da fama me atingem e afetam o tempo inteiro.
— Por qual outro motivo Castillo se lembraria de mim? — perguntou, em tom de deboche. — Sério, . Pode achar outro jeito de fazer caridade. Não preciso do seu dinheiro e, se me permite, vou desligar.
! Espera. — Ele não desligou. Pude ouvir um suspiro e ele continuou ali, esperando que eu falasse. — Não estou me sentindo mal e nem quero te dar dinheiro. Já faço caridade o bastante por ora. Te procurei porque sinto sua falta, mas não irei me humilhar. Sinto algo a mais por você desde que me mudei para Los Angeles, sim, mas não irá morrer se você continuar a me humilhar. A única coisa triste que acontecerá é que serei obrigada a deixar no passado, já que só existe com .
— Achei que ela já estivesse no passado. — E desligou. Tentei inutilmente chamá-lo, mas o telefone estava mudo. havia feito sua escolha e eu devia respeitá-lo, certo? Porém, tudo o que se passava em minha cabeça eram todos os motivos pelos quais ele não deveria me rejeitar. O primeiro deles, era obviamente meu talento inegável, a fama brilhante como o sol e a vida doce como baunilha. Mas ele havia o feito com tanta frieza que era como se dissesse que eram esses mesmos motivos que o faziam não ter o menor interesse por mim.
Pulei na piscina e mantive-me submersa pelo máximo de tempo que consegui prender minha respiração. A grande verdade é que eu não estava acostumada a ser rejeitada, ainda mais por , que esteve comigo durante todos as dificuldades. Naquele momento, era como se , a filha da empregada, a garota latina que cresceu no lado obscuro do sonho americano estivesse prestes a morrer, cedendo seu espaço para a que tinha a fama como amante.
[...]
Era um dos dias mais quentes do ano quando voltei a ter contato com García. Eu estava tomando sol à beira da piscina enquanto lia o roteiro do meu próximo filme. Nele, eu viveria Teresa, uma garota do século dezoito. Aquele seria meu primeiro filme de época e eu estava ansiosa para conhecer a ambientação – já sabia que gravaríamos na França e Irlanda. Meu celular tocou e estranhei, já que eram poucas as pessoas que possuíam meu número - jornalistas e quaisquer outras pessoas que entravam em contato comigo o faziam por meio da minha assessoria. Apenas quando saí do sol pude perceber que o número na tela era o número de .
— cumprimentei, sem saber o que esperar daquele contato inesperado. Haviam semanas desde que ele confirmou a morte de .
— respondeu ele. — Me perdoe pelo modo como agi com você.
— Certo — respondi, ainda desconfiada. nunca foi do tipo que dá o braço a torcer.
— Eu senti sua falta, sabe? Mas você parece tão à vontade em tapetes vermelhos, em premiações. Eu assisto todos os seus filmes, até mesmo aqueles onde você chama os americanos de papi. Só agora eu assisti o Oscar. Fui um babaca por achar que você só pensa em si mesma. O seu discurso, em espanhol, sobre os imigrantes... Eu contei para todos que te conhecia e mais, que havíamos vindo juntos para cá e todos riram de mim.
— Eu não sei o que te fez acreditar que eu não era mais a garota que conheceu. , eu nunca esquecerei o que passamos naquele trem.
— É por isso que liguei para você hoje. Enquanto ouvia seu discurso foi como se você estivesse aqui em El Paso novamente. Desde então só consigo pensar...
— Na vida que teríamos vivido — dizemos, juntos. É impossível voltar atrás agora, mas sinto uma incontrolável nostalgia por uma vida que nunca tive.
— Sinto muito por não ter lhe procurado antes.
— Eu sei.
Silêncio. Toda a intimidade que tínhamos de repente, sumiu. Aquele garoto com quem eu dividia todos os meus sonhos, inseguranças, problemas e medos tinha sido substituído por alguém cuja conversa comigo era repleta de silêncios constrangedores.
— Como está sua vida? — Finalmente pergunto, com medo da resposta. Eu não conhecia mais como a palma da minha mão, mas não era preciso de muito para saber que aquela pergunta poderia soar mais esnobe do que realmente foi.
— Sabe como é, está indo. Continuo em El Paso, trabalho num restaurante. Não recebo prêmios ou um salário bom o suficiente para passar alguns meses nos Alpes Suíços, mas dá para viver. Gostaria de poder retribuir sua pergunta, mas sabe como é... Todo mundo sabe como vai sua vida.
— É, eu sei — Rio, já que sei que muitas pessoas por aí sabem minha comida favorita, o melhor livro na minha opinião, meu destino clichê para as férias. Todos sabem que eu curto música pop e que tenho dois cachorros da raça Corgi.
— Gostaria que fosse diferente — murmura ele. — Gostaria que tivéssemos vivido juntos o sonho americano. Dançaríamos mariachi* a noite toda. Mas agora que crescemos, nada é o que parecia ser.
... Eu também penso nisso. Mas ainda não é tarde. Eu estou aqui e você também.
, não é assim que o mundo real funciona, sabe? Nossas vidas são opostas, você jamais se acostumaria com o meu jeito de viver e tampouco eu me adaptaria à sua vida. Nós já fomos uma dupla e tanto, mas hoje não funcionamos mais como antes.
*Mariachi: gênero musical popular do México


Parte III

Não estava sendo fácil retomar o contato com . O cara conseguia ser teimoso como poucas pessoas que conheci na minha vida. Ele negou meus dois convites para vir até a Califórnia e me proibiu de ir vê-lo em El Paso. Meu trabalho era uma pauta desconfortável para ser discutida, portanto, era geralmente evitada e nossas conversas eram mornas. Falávamos mais sobre o passado que sobre o presente, já que evitava falar de sua vida também. O máximo que fiquei sabendo é que ele tem uma filhinha de quatro anos, o que me proporcionou um misto de emoções: eu estava ligeiramente enciumada pela mãe e extremamente curiosa para conhecer aquela chica. Nosso contato era feito unicamente por telefone e geralmente ficávamos pelo menos trinta minutos falando sobre o passado e imaginando como teria sido se eu não fosse Castillo. Não digo que trocaria tudo por ele, afinal, tudo o que conquistei foi com o trabalho que amo e trocar conquistas pessoais por pessoas é estupidez. Não quero que me entendam errado – não sou materialista como parece, mas a questão é que nossas conquistas são nossas para sempre. Já as pessoas, elas vêm e vão, como estações do ano. Elas podem nos marcar, podem nos amar genuinamente, mas ainda assim partirão. Castillo não deixará de existir sem García, porém uma parte dela, a parte infantil, será deixada e esquecida no passado, já que todos que a conhecem não passam de dois.
Amar , no auge de meus dezesseis anos era viciante. O amor dele me parecia fatal e a vida era linda, mesmo que não perfeita. Ser famosa nunca esteve em meus planos – entrei no clube de teatro apenas para me distrair e viemos para os Estados Unidos apenas para que pudéssemos ter uma vida melhor do que a que tínhamos no México, no entanto, a notoriedade veio sem aviso. De repente eu era conhecida por todos, amada por muitos e minha vida antes de interpretar María era passado. havia ficado no passado e agora, retomar nossa amizade é tão reconfortante quanto é assustador. Amá-lo era algo muito comum para mim e após tantos anos fazendo isso em silêncio eu já não sabia mais a quantas estava minha paixonite. Assim como ele, eu tinha estado com outros caras nesse período, mas nada sério. Porém, agora quando eu parava para pensar sobre meus sentimentos, o amor fatal e viciante me atingia novamente como uma onda, que me desnorteava e confundia. Nunca fui de acreditar em crendices, mas mama sempre falava sobre almas gêmeas – eu não sei bem se aceitava essa história, mas se fosse para eu ter uma alma gêmea na qual a minha própria alma estaria costurada pela eternidade, eu escolheria García.
Beberiquei um gole do cappuccino de chocolate – meu favorito – enquanto aproveitava o intervalo das gravações. Era um tanto quanto bizarro checar meu smartphone vestindo roupas típicas da França do século dezoito e aproveitando tal pensamento, tirei uma selfie que em segundos teve milhares de curtidas no Instagram. De certa forma eu entendia – aqueles números assustam. A fama assusta e eu sei disso porque a conheci cedo. Me surpreendi quando senti o celular vibrar. Era ele.
— Belo vestido — riu. — Porém não sei se existiam copos térmicos de papel no século dezoito.
— Sou uma viajante do tempo — falei, entrando na brincadeira. — Estava pensando em você.
— Eu lhe diria algo como "um dólar por seus pensamentos", mas o que é um dólar para Castillo? Então, sou digno de saber o que pensava sobre minha pessoa?
— Nada em específico... Só pensava no passado. No que fomos.
, só liguei para te falar um negócio. — Disse ele e subitamente fiquei aflita e feliz: ele me chamou de .
— Bem, fale.
— Eu quero te ver. Pessoalmente.

[...]



Quando meu voo aterrissou em Houston, duas semanas depois do término das filmagens na Europa, me esperava no aeroporto. Ele não aceitou ir para Los Angeles, então eu mesma fui para o Texas. Ele prometeu me procurar para que eu não ficasse exposta, uma vez que parecia já haver paparazzi me esperando no desembarque. Sentei no canto mais vazio do saguão e esperei por ele. Meu coração batia forte como as asas de um beija-flor, tamanha a ansiedade. Eu lembrava de ter tido aquela sensação apenas no dia do meu primeiro teste para a TV.
Como se fôssemos imãs, me virei no momento exato em que ele me viu, sorrindo. Ele ainda tinha os mesmos olhos brilhantes e sorriso com covinhas, agora cobertas por uma barba por fazer. Eu me mantive parada, sem saber o que fazer, e foi ele que tomou a iniciativa de vir até mim e me abraçar. Seu cheiro era igual ao do dia em que o vi pela última vez, seu toque permanecia o mesmo. Abraçá-lo ainda era natural para mim.
Castillo. Estou abraçando Castillo.
. Estou abraçando .
E ficamos assim por muito tempo. Nos separávamos para conferir se aquilo era real e então voltávamos ao abraço cheio de saudade e amor. Eu estava feliz ali e sabia que o sentimento era mútuo.
— Eu senti tanto a sua falta, — sussurrou ele, me apertando ainda mais. Eu aperto de volta, confirmando, fazendo das palavras dele, minhas. Porém, só uma coisa se passava em minha mente e eu precisava perguntar.
— Como vai ser? — Sussurro, ainda abraçando ele. Ele se afasta, segura meu rosto com as duas mãos e abre o sorriso mais lindo que eu já vi.
— Um dia de cada vez, . Temos muitos dias pela frente e esse é apenas o primeiro.
Eu sorrio de volta e de repente, Castillo e estão em harmonia. Todas as versões de mim em perfeita sincronia. Somos uma só, finalmente.


Fim



Nota da autora: Nem sei o que dizer aqui! Escrevi essa história em pouco menos de uma semana e apesar de tudo, curti bastante. Foi maravilhoso ter a chance de escrever uma história inspirada nesse HINO. Minha única observação sobre a fic é relacionada ao refrão: "Eles acham que eu tenho tudo / Eu não tenho nada sem você / Todos os meus sonhos e luzes significam nada sem você". Como vocês perceberam, a PP diz que JAMAIS trocaria suas conquistas por alguém. Tomei a liberdade de modificar essas partes, já que não é nenhum pouco legal perpetuar a ideia de que nossas conquistas valem menos que o famigerado amor romântico. É isso, espero que tenham gostado! Beijo




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