Capítulo Único
Em comparação a todos os anos de vida de , seus 21 anos deveriam ser os melhores. Deveriam, afinal, estava apenas no seu primeiro dia das férias do sonho em Fernando de Noronha, com seus melhores amigos e o melhor corpo que possuiu desde que nasceu.
Mas isso era uma ilusão de garotinha.
As crises existenciais pareciam chegar sem parar e ela se sentia muito confusa com o tipo de garota que havia se tornado... E com as coisas que andava fazendo. Não era do tipo de fazer alarde, mas também não conseguia guardar seus sentimentos por muito tempo. Talvez fosse por isso que passara quase duas horas seguidas em cima de sua prancha de surfe, ignorando o sol infernal que fazia e as ondas imensas. Uma insolação, às vezes, lhe faria bem...
Estava tentando se adequar a um padrão que não lhe agradava, estava tentando viver conforme acreditava que jovens adultas deveriam viver. Estava lá, surfando em um mar maravilhoso e empurrando o desespero com a barriga.
Literalmente.
A barriga era um assunto de extrema importância. Em um mundo onde ter ossos aparecendo era considerado “bonito”, uma menina com sobrepeso se sentiria, no mínimo, um monstro. , com sobrepeso e uma barriguinha que fazia dobras ao se sentar, sentia-se a próxima evolução dos mamutes. Tudo bem, tudo bem. Ela havia melhorado infinitamente! Saíra da obesidade e agora estava lutando contra o sobrepeso, mas ainda não parecia suficiente. Nunca parecia bom o bastante, por mais que tivesse emagrecido quase 25kg em dois anos.
Todas as idas à nutricionista, os R$20.000,00 que gastara em uma lipoescultura (e uma mamoplastia com silicone), sair do número 44 e ir para o 38 não parecia suficiente.
E tudo piorava quando Jeon resolvia abrir a maldita boca.
Essa era a parte onde “estar confusa com quem se tornara” aparecia. sempre, sempre, sempre dissera que não se rebaixaria por ninguém. Entretanto, lá estava ela, empenhando-se em emagrecer ainda mais para calá-lo. Já não deveria se incomodar com as piadinhas – elas aconteciam tinha 9 anos –, porém se incomodava. Incomodava-se porque, apesar dos apelidos ridículos e da constante brincadeira com seu corpo, no final do dia corria para ela.
E ela o recebia de braços abertos.
Era uma idiota, tinha certeza, só não achava a força necessária para rechaçá-lo.
-Você não deveria ficar tanto tempo lá, . Mais alguns minutos e seria engolida pelo mar ou morta queimada. – Aslı, sua melhor amiga, falou.
-As ondas estão maravilhosas, consegui finalizar duas tubulares! Em casa não tem esse milagre. – deu de ombros. – Acho que não peguei tanto sol...
-Eu sei, mas sua segurança vale mais que seis finalizações consecutivas em tubulares. – Aslı lhe entregou o protetor solar. – Estava te esperando para pedirmos algo para comer. Uma casquinha de siri ou um arroz de polvo, que tal?
- É melhor não comer muita coisa ou vai acabar sendo confundida com uma baleia-azul encalhada. – revirou os olhos ao ouvir a voz de . Quase conseguiu fingir que ele não estava ali. E quase pôde se esquecer do próprio corpo.
Mas não! tinha que lembrá-la. Ele era irritante de tantos modos!
Primeiramente, era coreano. Que diabos um coreano fazia no Brasil? Ainda mais surfando?! Tudo bem que se mudara quando novinho, mas... Já não deveria ter voltado para a Coréia? Ela nunca havia ouvido sobre um coreano surfar nem ter mechas claras no cabelo devido ao sol.
Segundamente, ele falava um português tão perfeito que a deixava com vergonha de suas gírias e vícios de linguagem. Qual era a necessidade?
Terceiramente, o filho da puta parecia um Adônis. Bronzeado, lindo de morrer, surfistinha com uma pinta de mauricinho, um corpo escultural, era bom em absolutamente tudo o que fazia... Sério! Até no que ele se considerava ruim, ele conseguia ser melhor que metade da população!
E beijava tão insuportavelmente bem.
-Ha, ha. – Aslı riu falsa, enquanto retirava sua roupa de surfar e ficava com seu mais novo biquíni. Ela preferia ignorar a existência do garoto, mas nunca era um sentimento recíproco. – Veio atrapalhar, ? Não deveria estar por aí sendo héterotopzeira com seus amiguinhos?
- Nossos amigos? – riu. – Vim chamá-las para comer; Thiago está nos esperando.
- Finalmente! Eu estou faminta!
- Mas, vai ter que pedir uma saladinha...
- Porque eu sou gorda, blá, blá, blá. – ela se levantou. – Porra , nos conhecemos faz 12 anos e até hoje você não trocou o disco?! Já perdeu o efeito.
-É porque você continua parecendo um mamute.
Apesar de o comentário doer, ela soltou uma risada cheia de vida.
Era um dom adquirido, sabia.
-Quem tá comendo não tá reclamando. – deu de ombros.
Aslı notou como endureceu a expressão e a postura, já não parecendo achar tão divertido suas próprias piadinhas. colocou a blusinha que fazia conjunto com o biquíni, seu short jeans e foi encontrar seus amigos com sua prancha, porque a praia tinha apenas uma barraca (Das Gêmeas), e lá era um pouco longe de onde estava surfando. Aslı esperou que ela estivesse mais distante e encarou o coreano.
- Você é um babaca da mais alta qualidade, . Juro que se gostasse de garotas também... Ah Deus, eu arrumaria alguém para ela te passar raiva.
- Ela já me passa bastante raiva com outros garotos, Aslı. Não precisamos de mais hormônios. – deu de ombros, ainda tenso.
- Quem sabe se você fosse menos canalha. – a turca rolou os olhos. – Você a está perdendo cada vez mais. Aliás, por mim, ela já tinha caído fora faz tempo.
- Você não sabe o que acontece quando estamos só nós dois, Aslı. Cuidado.
- Claro que sei, querido. Vocês fodem gostoso e com força. – ela o olhou, cínica. – Mas, acho que se esqueceu de algo: existem mais pirocas por aí... E pirocas que poderiam fazer muito melhor que você. – Aslı usou um tom delicado, porém um murro teria o mesmo impacto. quis esganar a melhor amiga.
- Eu sei. – confessou. – Ela está dormindo com mais alguém além de mim?
- Ah, você quase me pareceu inseguro. – Aslı levou uma mão ao coração, fingindo pena. Ele apertou os olhos. – lamento , mas também é minha melhor amiga.
Certo, não era o melhor momento para morrer de ciúmes. só precisava manter a calma e fingir que Aslı não queria criar um caso. Se estivesse com outros caras, ela teria lhe contado. não era uma garota de esconder suas emoções e vontades. Ele forçou um “dar de ombros relaxado” e seguiu Aslı para o bar.
Havia uma mistura de comidas na mesa, afinal, um grupo de 8 pessoas (com 5 garotos) comia bastante. Ela se sentou entre Thiago e Caíque, aproveitando para se escorar no primo. Tentando não deixar que as ofensas de a atingissem, se serviu com um pouco de tudo. Sua época de dieta havia passado, emagreceu 23 quilos e não precisava mais viver restringida. Tinha o corpo que sempre sonhou, mesmo pesando 66kg em um mundo onde suas amigas pesavam 49-52kg. Orgulhava-se da "pochetinha" que possuía, das pernas grossas e da bunda; na verdade, tinha muito mais orgulho de estar satisfeita consigo mesma. E mesmo que tivesse que repetir isso várias vezes como uma criança birrenta procurando reconhecimento, ela não queria se desmerecer. Estava orgulhosa e continuaria orgulhosa. Deveria continuar orgulhosa.
- Nós estávamos pensando em fazer o mergulho de apneia amanhã. – Doruk comentou.
- Eu ia amar! Imagine ver todos os animais... Nossa! Vamos! Vamos! – Aslı comemorou. – Eu vi várias fotos das pessoas que o fizeram, teve gente que conseguiu nadar com tubarões ou ver até enguias!
- Meu sonho é uma picar você. – Caíque provocou, levando um tapa da prima. – Ai , foi brincadeira! Aslı sabe que eu amo ela, não precisa ficar putinha.
- Para que fazer mergulho se vemos uma jubarte todo dia? – resolveu palpitar.
- Não era baleia-azul? – retrucou. – Ah, não, era um mamute.
- Pesando acima de 200 toneladas acho que não precisamos fazer distinção. – ele piscou.
Ela assentiu, enfiando um pedaço imenso de escondidinho na boca, mastigando no estilo Ana Maria Braga, fazendo um som intenso de satisfação.
- Cara, você deveria pegar mais leve com ela. não é mais gorda. – Thiago pulou em sua defesa. Infelizmente, a frase tinha aquela partícula "não é mais" que estragou tudo. Sua autoestima oscilou involuntariamente.
-Tá tudo bem, Thiago, eu não ligo. – ela deu de ombros. – Já falei que quem tá comendo não tá reclamando. Enfim, sobre o mergulho, eu topo muito participar. Seria irado!
ficou em silêncio, incomodado com o fato de ela sugerir sobre outras pessoas comendo. Confessava que era imaturo, mas um costume de anos parecia muito difícil de desapegar... Na verdade, era mais um impulso infantil que ele se arrependia logo depois. Quando tentou encostar em por baixo da mesa, ela se afastou discretamente e se levantou, usando a desculpa que ia com Caíque olhar o mergulho.
- Ele está sendo desagradável, prima. – Caíque a abraçou de lado, já longe dos amigos.
- Ele sempre é, Cacau. – sorriu meiga. – É só ignorar.
- Você faz parecer fácil, porém seus olhos perdem o brilho a cada brincadeira sem graça.
- Os olhos não conseguem esconder, mas nossa sorte é que não presta atenção em nada além do umbigo dele e do meu peso, né? – forçou uma risada.
- Acho que ele precisa de um chá de realidade, sabe? Tem um monte de garotos querendo uma chance com você... Aqui mesmo já vimos alguns te encarando, por que não prova para ele que peso não tem nada a ver?
- Porque não preciso provar nada para ninguém, primo. Mas, como estou me sentindo muito magnânima, vou pensar no seu caso. – ela riu de verdade. – Ah, ali a casa do mergulho! – bateu palmas. – Já imaginou se nadamos realmente com tubarões?!
- Eles vão ficar encantados com a sereia que você é. – Caíque piscou afetado.
- Puxa-saco do caralho. – gargalhou.
Ninguém vai a Fernando de Noronha procurar farra, porém o Bar do Cachorro era muito animado e o grupo resolveu que aquele seria o destino da noite. Quando ficou pronta, ela saiu para esperar as meninas na área da piscina. Repensou a decisão assim que notou o cabelo escuro com mechas claras (do sol) de . Ele era tão bonito que, mesmo de costas, fazia seu coração palpitar na garganta.
- Vai ficar parada aí ou vai sentar comigo? – a voz dele lhe deu um susto.
- Estou bem, aqui. – ela retrucou por reflexo.
se virou, notando que ela usava uma roupa muito chamativa. Era um vestido que parecia uma saia, mostrando seus ombros e sua barriga, mas, estava tão linda! Além disto, tinha uma tornozeleira com um búzio único, e ele sempre adorou vê-la com ela, não sabia por quê. Por um momento, precisou segurar a borda da cadeira para se impedir de levantar e puxá-la para si. Quando estavam sozinhos era tão difícil manter as mãos longe dela... Era complicadíssimo manter os olhos longe dela.
- Eu não mordo... Só quando você pede. – brincou.
“Mas machuca. E sempre sem eu pedir.”, ela pensou.
-Não quero me sentar; estou só esperando Aslı e Iara.
desistiu de ficar quieto, indo até ela. Quando se encararam e entendeu o que ele estava fazendo, deu um passo para trás. parou no lugar, saboreando a sensação amarga do movimento nada involuntário. Aquilo foi como tomar um caldo de uma onda bem na sua finalização. De muitas farpas trocadas, começou a compreender o efeito que elas estavam trazendo para os dois – mesmo que tardiamente.
- Eu peguei pesado hoje cedo. – falou baixo. – Foi sem querer.
- Ok. – ela assentiu, não parecendo acreditar nele.
- To falando sério, linda. Sou tão acostumado a encher seu saco que às vezes perco a noção do limite. – tentou tocá-la, mas puxou o braço e se afastou mais.
- Hoje eu não to afim, cara.
Cara.
Nada de "", nem "".
Apenas "cara".
reconheceu o gostinho amargo da rejeição e aceitou a derrota. Desde que a beijou no aniversário de Caíque (três meses atrás), ele deveria ter mudado sua conduta. Sabia que a atração que os dois sentiam era muito mais que carnal, porém o orgulho e o medo falavam mais alto. E talvez, depois de tantas pisadas na bola, ele a tinha perdido definitivamente. Alguma hora aquilo iria acontecer.
Mas qual era o medo que ele sentia? Que orgulho era esse que deveria ser maior do que o respeito por ? ainda não sabia explicar. Talvez tivesse medo da chacota dos amigos, por ter sempre implicado com ela e “do nada” estar de quatro pela garota. Orgulho, talvez, porque sempre fora muito arrogante e quase nunca conseguia pedir desculpas plenamente; quem dirá por tanta coisa errada.
Muito imaturo, era tudo o que conseguia se descrever no momento.
A assustadora ideia de que voltava a ser fora de alcance só aumentou quando chegaram ao Bar do Cachorro. Depois de dois drinks, ela se levantou e foi para a pista de dança, recebendo olhares de outros homens e até o convite para dançar forró com alguns deles. não tinha problema com recebendo olhares, na verdade, até gostava de saber que todo mundo conseguia compreender o quanto ela era linda... Mas, odiava a ideia dela agarrada em outro. E, bem, forró não se dançava afastado, não é?!
- Ao invés de ficar comendo com os olhos, por que não vai até lá e a chama para dançar com você? – Doruk ficou ao lado de , segurando sua cerveja com um sorrisinho irritante. Turco abusado, o garoto.
- Do que você tá falando? – ele pigarreou, tentando não parecer tão surpreso.
- Que eu sei o que rola entre vocês?! – Doruk ergueu uma sobrancelha. – Nossa , eu esperava mais, sinceramente! Cheio de esquemas, beijando várias bocas e mesmo assim, não consegue ter coragem de ser gentil com na nossa frente?
- É diferente. – ele se sentiu desconfortável.
- É diferente por que apesar de você pisar nela sempre, no fim, está lá de qualquer jeito? E o que vai acontecer quando ela não quiser ficar mais? – quis dizer que já estava acontecendo, e que ele se sentia um imbecil, mas preferiu se manter quieto. Não iria dar o gostinho da vitória para Doruk. – se eu fosse você, estaria muito preocupado com meu lugar na fila... Ela parece estar andando. – ele não teve certeza se foi uma pergunta ou uma afirmação, mas quando olhou novamente para , ela não estava na pista.– Onde está ? Onde está ? – Doruk cantarolou, irritando-o mais.
- Ora, seu turco abusado. – rolou os olhos. – Não ligo para onde ela esteja.
Foi traído por seus olhos analisando a pequena multidão. Com certeza estava estampado em seu rosto que procurava por alguém e que procurava com urgência.
sempre achou que o italiano nunca seria útil a menos que fosse à Itália, mas estava provando o contrário. No momento, sentia-se extremamente grata por ter largado mão do francês e mudado o curso de línguas, já que conseguia flertar com um italiano alto e charmoso no idioma nativo dele... Sem gaguejar ou precisar tentar o inglês.
O flerte evoluiu para uma sequência de beijos, que mesmo muito bons, não chegavam à mínima sensação de explosão que os de causavam nela. Talvez fosse o carma, ou talvez ela fosse tola demais. Felizmente, tudo serviu como uma bela distração.
Depois de jogar uma água no rosto e prender o cabelo em um rabo, saiu do banheiro feminino, pronta para voltar a dançar e se divertir mais. A noite tinha melhorado consideravelmente depois que três gringos pediram que lhe ensinassem forró, os beijos com o italiano... E aquilo só a fez se sentir bem. Após esmagar sua confiança, ela precisava ser bajulada.
A pior parte de tudo isto é que desejava estar com ele.
Por Deus, era tão fraca! Ele não precisava de mais que um beijo e um aperto firme na cintura para tê-la nas mãos (literalmente). Por isso havia se afastado mais cedo; estava cansada de bancar a sonsa, tímida e insegura. Se realmente quisesse ficar com ela, ele teria que se esforçar. Agora era sua vez de ficar por cima, mesmo que a única coisa que tivesse vontade era ficar por cima (ou por baixo) dele, transando.
Quando voltou para seus amigos, a encarou e não fez a mínima questão de parecer discreto. sentou-se entre Caíque e Iara, de frente para ele. Thiago havia pedido isca de peixe e outros drinks. Ela se ocupou em bebericar a caipirinha e fingir que nada tinha acontecido, apesar da boca rosada indicar tudo.
- Como ele se chamava? – Iara a cutucou com o cotovelo.
- Ele quem? – dissimulou.
- O boy que te beijou e não para de te encarar ali da mesa de gringos.
- Qual deles? – ergueu a sobrancelha, mas depois riu. – Brincadeira. Foi o Domenico. Muito simpático, inclusive.
- Claro que é. – Iara riu, lhe dando um tapa na coxa. – Você não perde uma.
- Quem perde tempo é relógio, amiga. Quem deixa passar é ônibus.
- E eu achando que você ia ser uma vadia tímida o resto da vida. – Iara balançou a cabeça em negação, expondo sua incredulidade.
- As tímidas só se fodem, daí resolvi abraçar essa grande parte de mim que é ser uma vadia. – suspirou dramaticamente, tomando um gole da bebida.
- Eu apoio mais que tudo. – Caíque ergueu o braço.
ergueu uma sobrancelha para ela, que fingiu não ver. Voltou a beber seu drink e começou a conversar com Iara. Como se quisesse provar um ponto, procurou o italiano que havia dançando e beijado (o segundo garoto) e sorriu lindamente, acenando com uma mão. No mesmo segundo, esticou o pé por baixo da mesa e tocou seu tornozelo. Ela apertou a taça discretamente, tentando não demonstrar nenhuma reação. O italiano sorriu em resposta, mas ela já estava mais atenta ao próximo passo de . Sem dispensar ambos, tomou um grande gole da bebida, deixando o canudo passear por seus lábios enquanto lambia a ponta dele. Parecendo entender a provocação, ergueu novamente a sobrancelha, um claro desafio à sua sanidade. Da primeira vez era fácil ignorar, mas a segunda já exigia um pouco mais dela. Deus, ele ficava tão sexy quando fazia aquilo!
se escorou na cadeira, suspirando contente.
- Está sendo uma noite bem agradável. – comentou.
parou de encará-la tão indiscretamente, porque, bem, já estava ficando nítido o quão interessado ele era. Mas, isso não fez com que diminuísse as provocações. Ela, na verdade, continuou sorrindo para o italiano imbecil, e bebendo sua caipirinha como se estivesse chupando seu (o dele, , no caso) pau.
Depois de três rodadas de drinks e algumas porções de comida, se levantou.
- Aonde vai? – Caíque se assustou com seu movimento repentino.
- Vou voltar para a pousada. Quero estar bem disposta para o mergulho amanhã.
Deixando um pouco de dinheiro na mesa, para ajudar na conta, saiu do bar à procura de um táxi. Havia tomado uma decisão importantíssima. Após fazer sinal para um carro, ela sentiu uma mão em sua cintura e sorriu minimamente. Os dois entraram e deram o endereço da Pousada Maravilha para o motorista. Eram quinze minutos de caminho, mas nunca pareceu um trajeto tão longo quanto àquela noite. tocou seu joelho e por lá ficou, observando as ruas de Fernando de Noronha.
Ele não sabia que luz divina havia baixado em , mas preferiu não fazer nenhum comentário, com medo que revertesse a situação. Ao chegarem à pousada, a ajudou a sair e entrelaçou sua mão na dela. O bangalô de era isolado, porque não podia dividir com as meninas, afinal, não queria atrapalhar o casalzinho. Mesmo que Aslı e Iara jurassem não fazer nada, ela se sentiria uma empata-foda e preferiu alugar um quarto, sozinha. conseguiu manter a compostura até trancar a porta. Ao som do click, ele a empurrou contra a madeira e tomou sua boca com a mesma urgência de sempre. Desesperado para deixar seu gosto ali.
Os beijos que trocavam eram muitas vezes desesperados e rápidos, porque geralmente tinham que fazê-los escondidos dos outros. No entanto, eles tinham o resto da noite a sós e tempo suficiente para poderem aproveitar com calma. se esforçou para se afastar minimamente, e começou a beijá-la no queixo, escorrendo até o pescoço e começando a marcá-la. enfiou a mão por dentro da blusa dele, tocando sua barriga com as unhas e deixando-o arrepiado. Ela gemeu baixo quando ele a mordeu, talvez pelos seus toques ousados, ou porque queria.
- Eu passei a noite toda achando que tinha te perdido. – sussurrou em seu ouvido, mordendo o lóbulo. – Mas então você começou a me passar ciúmes e eu soube que ainda tinha uma chance. – ele colocou seu rosto no rumo do dela, olhando em seus olhos. – E eu vou fazer isso valer a pena, linda. Porque você vale a pena.
Ela não sabia se estava arrepiada pelo beijo ou pela pequena confissão de . Seus sentidos entraram em colapso após ouvir aquelas palavras, deixando-a assustada com como aquilo mexeu com ela. Sentiu os dedos de nas suas costas, desfazendo os poucos botões que prendiam o vestido. Os dois se afastaram para se despir; logo depois de ter tirado a blusa, ele viu apenas de calcinha e congelou no lugar. Não que não gostasse da visão (longe disso), só não estava preparado para descobrir que ela esteve sem sutiã o tempo todo.
- O que foi? – ela sorriu minimamente.
- Você é tão linda, acho que estou sem reação. – ele murmurou rouco.
- Não sabia que você achava baleias bonitas.
- Eu sou um idiota, . – foi sincero.
- Isso eu já sabia. – ela se aproximou, caindo de joelhos. – e estou te dando uma chance para tentar me provar o contrário. – enquanto falava, abria a bermuda dele.
- Eu não mereço você. – ele balançou a cabeça, vendo-a descer suas últimas peças de roupa e empurrá-lo pela barriga, para que se sentasse na cama.
- Não merece mesmo. – sorriu. – Mas, não é como se eu conseguisse te ignorar.
Sem aviso, passou a língua pelo seu pênis semiereto, recebendo um grunhido em resposta. Ela ergueu os olhos, repetindo o mesmo movimento, de forma mais lenta. Ele puxou o ar, sentindo arrepios correrem pelo corpo. Observou, hipnotizado, enfiá-lo na boca, chupando a glande e rodopiando a língua por toda a extensão que conseguia engolir. Ele apertou o lençol, querendo muito ficar quieto, mas seus dedos coçavam para se emaranharem no rabo-de-cavalo que ela usava; suas mãos queriam ditar o ritmo e os movimentos para ela fazer. Felizmente, ele sabia que pararia no momento em que tentasse se impor. Sentiu as unhas grandes arranhando suas coxas e os arrepios se intensificaram. Ele soltou um gemido alto quando apertou seus testículos levemente, testando o espaço. tombou o corpo para trás, sucumbindo ao prazer, mas manteve-se apoiado nos cotovelos, não conseguindo tirar os olhos da cena maravilhosa que era o chupando.
-Se você continuar desse jeito eu vou gozar na sua boca. – avisou.
se afastou e deu um sorriso ladino.
- Não acho que você mereça. – ela apoiou as mãos nas coxas dele novamente. – A não ser que... Que você me deixe fazer uma coisinha. – pediu manhosa.
-Você pode fazer o que quiser comigo, sabe disso.
bateu umas palminhas, animada. Estava planejando aquilo desde a última vez que dormiram juntos, mas tinha muita vergonha de pedir. Porém, foi sincera ao falar para Caíque que estava cansada de ser uma vadia tímida. Já pisara em seu orgulho para ter , então iria abraçar todas as suas taras e começar a aceitá-las.
Voltou sua atenção para o boquete, querendo poder dar prazer à na mesma intensidade que esperava sentir. Ela guiou o pulso dele até o rabo-de-cavalo, sabendo que aquilo o deixaria extremamente feliz e excitado. não levou dois segundos para segurar o cabelo dela com força e assumir o controle da situação. Mantendo a cabeça dela parada, começou a fodê-la na boca. ergueu os olhos novamente e o brilho de luxúria foi muito mais do que ele aguentava; nunca estava preparado para vê-la tão linda e disposta quanto ficava no sexo.
- Posso? – perguntou rouco.
fez que sim, esperando gozar. Com uma estocada forte, quase a atingindo na garganta, se derramou. Ele observou lamber a boca, soltando uma risadinha. Sem que lhe desse tempo de aproveitar mais a cena, ficou em pé, retirando a calcinha. Ela passou uma perna de cada lado da coxa esquerda dele, molhou os dedos com saliva e deu uma pequena bolinada em seu clitóris, antes de sentar-se naquele músculo forte e delicioso. começou a se mexer, a fricção sendo tão maravilhosa que a fez gemer alto. Aquilo era muito melhor do que havia imaginado. Passando os braços envolta do pescoço de , continuou seus movimentos, mas perdeu um pouco de velocidade quando ele desceu o rosto e sugou um mamilo. Ela estava tão molhada e excitada que era difícil focar a atenção em apenas um lugar de seu corpo que queimava.
- Isso é a coisa mais sexy que eu vi atualmente, , mas, por favor, deixa eu te comer logo. – implorou, quase rugindo.
Apesar de ter amado o tom necessitado dele, ela não queria parar. Aquilo era sua fantasia e iria até o final. Balançando a cabeça em negativa, acelerou seu quadril e gemeu. Ele a imitou, mas era um som manhoso e necessitado.
- Se você flexionar a coxa eu termino mais rápido.
Os olhos de brilharam em antecipação. Ele encarou o ponto onde e sua perna se encontravam, sentindo um frio na barriga de prazer. Era incrível como qualquer coisa feita por ela se tornava um ato erótico intenso. Fazendo como foi instruído, contraiu seu músculo e viu revirar os olhos, tombando a cabeça para trás. Seus seios arquearam para frente, dando fim ao último resquício de autocontrole no coreano; ele levou as mãos até os montes arredondados e os apertou, chupando o bico e deixando pequenas mordidas que faziam arfar. Ela começou a tremer, suas unhas se fincando no ombro dele e indicando seu orgasmo. não esperou que terminasse de gozar, girou o corpo e a colocou deitada, tirando a coxa e substituindo com sua ereção. Quando entrou, suspirou aliviado, mas soltou um gritinho pela surpresa. Ele sorriu, colando a testa na dela e entrelaçando seus dedos. Não mentiu quando disse que faria aquilo valer a pena.
- Olha para mim. – pediu sem se mover. – Olha para mim, linda.
o encarou, corada.
- Preciso que você saiba o que faz comigo; você tem que entender que me deixa maluco e eu sou um idiota por sempre foder as coisas contigo.
- Gostaria que ao invés de foder as coisas, me fodesse. – ela falou baixo.
- Não, linda. Você não merece ser fodida; merece ser apreciada, cuidada, venerada.
- Então faça, . Não me interessa como nomeia isso, só... Faça.
A primeira estocada foi tão precisa que ela ficou sem ar. Só conseguia tocá-la do jeito certo, fazê-la se sentir certa. Naquele momento, enquanto os dois estavam juntos, não pensava no seu corpo, nos seus problemas, na relação complicada deles; ela apenas se concentrava em e em tudo de maravilhoso que a fazia sentir. Em quão desesperada por ele sempre fora, e parecia piorar com o tempo.
Encarando os olhos castanhos, começou a ir de encontro a ele, aumentando o prazer de ambos. Ainda estava sensível do orgasmo, e aquilo era suficiente para que ficasse faminta por outro. agarrou seu quadril, movendo-se com força e rapidez, o barulho das estocadas sendo mais alto que os grunhidos e arfados que soltavam. Ela escorreu as mãos pelas costas bronzeadas, depois subiu arranhando-a e embrenhando os dedos no cabelo macio, puxando-os por reflexo. estava tão inchado e ela estava tão molhada, tão apertada, que fez um esforço sub-humano para não machucá-la. Sua boca a marcou na clavícula, enquanto ele sussurrava o quão linda, perfeita, deliciosa e incrível era. Precisava fazê-la entender.
Seu polegar alcançou o clitóris e ele a bolinou, movendo-se em ondas, fazendo-a soltar um grunhido parecido com um choro. Ninguém jamais a faria se sentir tão bem, ninguém conseguiria tocá-la e amá-la como ele. Havia a estragado para todos os outros.
- ... – ela ofegou. – Por favor.
Ganhando um pico de adrenalina, ele a apertou contra si e estocou ferozmente, mal conseguindo manter os olhos abertos de tão bem que se sentia. Mas, queria vê-la gozar. Queria ter certeza que e ele estavam na mesma sintonia.
Apertando os lençóis e virando o rosto para o lado, se entregou aos espasmos e buscou por ar, enquanto seu corpo subia até o céu. Estava longe, mergulhada em um nirvana absoluto. Poucos minutos depois, ela sentiu tencionar e se preparou para o que aconteceria. A força com que a segurava deixaria marcas, mas nada era melhor do que tê-lo espalhado dentro dela. Era tanto gozo que escorreu pelas suas coxas, fazendo-a soltar uma risadinha enquanto ele ficava corado de vergonha. Parecia um virgem em um orgasmo precoce.
- Desculpa. – tentou limpar a bagunça.
- Esquece, não tem problema. – ela riu outra vez.
- Desculpa. – ele repetiu. franziu o cenho, apoiando-se nos cotovelos para enxergá-lo. Que diabos queria? – desculpa por tudo, pelas piadas ofensivas, pela imbecilidade... Eu sou tão idiota que estou surpreendido por você continuar aqui.
- Tudo bem, cara. – assentiu. – Você é imaturo, está tudo bem.
- Ouch. – ele levou uma mão no coração. – Estou falando sério, linda. Eu passei dos limites, fui um idiota e não mereço sua atenção, mas, por favor, não vai embora. Não foge de mim. Vamos resolver as coisas.
- Se você prometer que vai parar com isso...
passou o nariz pelo cabelo dela, deixando pequenos beijos. Ela estava grudada a ele, seu corpo feito na medida certa para se encaixar ali.
- Posso passar a noite aqui? – ele perguntou tímido.
- Pode ficar o tempo que quiser. – sorriu cansada.
- Isso é uma proposta indecente, linda. – brincou.
-Nada novo sob o sol. – ela passou a mão pelo cabelo dele, empurrando os fios para trás e se sentindo ridiculamente bem. – eu vou dormir em alguns minutos...
-Pode dormir, eu não vou fugir. – sorriu.
se aconchegou mais nele, absorvendo a sensação.
“Eu passei a noite toda achando que tinha te perdido.”
A voz de invadiu seu cérebro e ela quis sorrir tristemente. Porque aquilo era a verdade. Ele a havia perdido. Após essa viagem, e não existiriam mais.
●●●
2 anos depois, Florianópolis, Santa Catarina
empurrou a mala com os pés e se jogou na cama, exausta.
- E então? – Aslı se jogou na cama. – Me conta tudo! TUDO!
- Já te contei tudo durante o curso, sua maluca. – ela riu.
- Mas não tem o mesmo efeito que ouvir ao vivo, sabe?
- Larga de drama, não é como se você nunca tivesse ido até lá, sua turca abusada. Porém, posso afirmar que é realmente paradisíaco. Eu me fodi com o idioma no início, mas graças a você e seu irmão consegui melhorar. – piscou para a amiga. – acho que vou ter muita dificuldade em parar de repetir “Mashallah” ou “Inshallah”.
- Essa é minha parte favorita. – Aslı assentiu. – E o que eles disseram? Vão te querer de volta? Ou você vai ficar no Brasil?
- Não sei, eles não falaram mais nada. Ah, Aslı, foram dois anos sem meu país, deixe-me descansar um pouco e curtir esse calor brasileiro único.
- Se você não tivesse chegado quase às quatro da manhã, nós teríamos feito uma festa surpresa. Sabe, todo mundo está aqui para o carnaval.
- É, sei. – fechou os olhos, entendendo a indireta.
Aslı nunca falava de . Nunca, nem para dizer algo negativo sobre ele. O que sabia do garoto, ela havia descoberto por causa do primo ou por acaso. Bem, obviamente não queria falar com ela. O modo como as coisas terminaram não foi muito amigável – a não ser que excluir uma pessoa da sua vida (sem nem se explicar) seja considerado afável. Mas, não sabia como se afastar de sem que fosse radical e extremista. Ela jamais conseguiria deixá-lo ir com lembranças tão frescas de Fernando de Noronha; por isso, assim que chegou, conversou com seus pais e pediu para ir à fazenda da avó, onde pesquisou sobre o curso de turismo na Turquia, um que Aslı havia visto quando passou as férias com a família em Bodrum.
Dois longos anos após partir, ela estava de volta.
E deveria encarar a qualquer momento.
Manhã do outro dia, Florianópolis
Caíque e Thiago estavam esparramados em sua cama, enquanto ele tentava desesperadamente parecer tranquilo. Houve um breve período de desconforto logo que partiu, mas depois se empenhou em convencer os amigos que tudo continuava bem. Ele nem precisou explicar como e porque o assunto “” o deixava incômodo e sensível, visto que todos rapidamente se inteiraram da história.
Mas, agora era diferente.
estava de volta. Linda (se é que ele achava possível), bronzeada, e mais inteligente e madura do que estava preparado para aceitar.
E ele havia sido um imbecil 90% do tempo em que estiveram juntos.
Se tivesse conhecido alguém na Turquia, alguém que não fazia piadas escrotas sobre o corpo dela, alguém que a valorizava, será que seus amigos lhe contariam?
O mesmo medo que sentiu em Fernando de Noronha nunca passara. Talvez porque ela simplesmente havia provado que seu medo era real. a havia perdido. Mas, se em algum momento da festa de recepção dela, provasse que ele tinha alguma chance, se esforçaria para mantê-la. Não precisava perder outra vez.
Ignorando as risadas de Caíque por um vídeo no Instagram, ele tirou a pequena foto que revelara do passeio de mergulho e segurou um suspiro triste. Os dois pareciam tão felizes na foto, abraçados enquanto o barco seguia para o pedaço no mar que explorariam. tinha aquele sorrisão característico de quando fazia algo que gostava, brilhando mais que o sol no céu azul de Noronha. Ao virar a foto, a frase ainda o entristecia e despertava o mesmo arrependimento de antes.
“Se um dia você se lembrar de que na vida tudo passa, lembre-se que eu passei com uma vontade enorme de ficar.”
tinha certeza que uma bofetada doeria menos.
- Terra para . – Caíque estalou os dedos.
- O que foi? – ele o encarou.
- Minha prima chegou.
- Onde? – perguntou por reflexo.
- Ao Brasil, à Floripa, à casa de Doruk. – Caíque rolou os olhos. – Pare de fingir que não sabe. Você vai assim? Porque só falta a gente lá.
- Hm. – ele pigarreou. – O que tem minha roupa? Não posso usar bermuda?
- Não tem nada, mas pensei que você ia querer se arrumar mais. – Caíque riu. – Então se estamos todos prontos, vamos embora. Estou com saudade daquela vagabunda!
Eles estavam se olhando sem disfarçar. Provavelmente gravando na cabeça o rosto de cada um depois de anos, criando uma nova lembrança. Para a surpresa de , o cabelo de voltara a ficar preto e ele não estava mais bronzeado. O menino parado à sua frente não tinha nenhum indício do que deixara para trás. Ela não sabia o que dizer, como reagir, mas sentiu um aperto imenso no coração.
- Oi. – ele quebrou o silêncio. – Bem vinda novamente.
- Obrigada. – assentiu.
apertou os dedos, incerto se deveria tentar puxar assunto. Se uma pessoa te bloqueia nas redes sociais, isso talvez quer dizer que ela te bloquearia na vida real, certo?! Mas, antes mesmo que pudesse tomar uma decisão, Thiago voou sobre .
- Finalmente você voltou! Eu não aguentava mais ficar sem minha parceira de surfe.
- Mentiroso. – apertou a bochecha do amigo. – Você tem seu órgão vital que sempre te acompanha. – ela indicou com o queixo.
- Ele não surfa. – Thiago franziu o cenho, algo bem comum desde que anunciou que aposentaria a prancha. – Não mais.
- Não surfa mais? – deu uma tossida discreta, como costumava fazer quando estava desconcertada. – Lamento muito.
Sem conseguir esconder, ela o olhou com um questionamento evidente na testa franzida: “Por quê?”. desviou o olhar, pois não queria explicar que parara com o surfe por se lembrar dela a cada onda; porque estava se punindo por ter sido um bosta durante anos. Ignorando a conversa dos dois, ele passou direto para a cozinha, procurando alguma ocupação com Doruk.
- Por que você não mostra aquele poeminha meloso para ela? – Doruk encarou o amigo.
- O quê? – largou os tomates, que estava picando para o tira-gosto.
- É cara! O poeminha do “esqueça tudo e pegue minha mão”. – Doruk afinou a voz, fazendo gestos delicados. – o que fala sobre esquecer as lembranças tristes.
- Onde você o achou?
- Você realmente achou que eu ia ignorar qualquer coisa que lembrasse no seu quarto? – Doruk riu. – Juro, quem é que guarda textos românticos e poemas atrás de uma foto de casal? Você deveria ser mais esperto, .
- Ou você deveria respeitar a privacidade alheia, né.
- Bobagem. – Doruk abanou uma mão. – Enfim, estou falando sério. tem um coração puríssimo, ela vai compreender que você se redime por ser um filho da puta e te perdoará. Daí, você começa novamente com ela, só que sendo bacana.
- Você anda lendo muita fanfic, cara. Ou vendo aqueles seus dramas turcos.
- Ah, então você pretende ficar choramingando pelos cantos para sempre? Se voltar para a Turquia ela não durará dois meses solteira, sabe? O mercado de casamento turco é uma coisa bizarra, falo por experiência própria. – Doruk deu de ombros, sabendo que o gesto irritaria o amigo mais do que tudo.
- O que eu quero dizer é que minha participação no amor-próprio de jamais foi boa, e que ela está muito bem sem mim. Seria egoísmo meu querer atrapalhar tudo.
- Ou você poderia simplesmente provar para ela que não interessa o corpo, que você gosta de tudo sobre ela, independente da parte física.
- Ugh Doruk, é muito estranho te ouvir falando sobre amor. – encolheu os ombros, como se tivesse com nojo de algo.
- Quando você estiver namorando a eu vou te lembrar disso.
- Cala a boca. – soltou uma risada depreciativa, camuflando o tombo no coração só de imaginar o aceitando de volta.
A ideia de Doruk não era tão ridícula quanto imaginava, ele concluiu. realmente era uma garota maravilhosa e com um coração gigante, então talvez conseguisse desculpá-lo o suficiente para serem, no mínimo, amigos.
Enquanto esperava uma oportunidade para estar sozinho com , repassou as três pequenas estrofes na cabeça. As havia escrito quando estava chorando, em um misto de desespero, raiva e arrependimento. Machucara de uma maneira horrível, havia atingido mais do que o coração dela, havia mexido com seu amor-próprio. E isso era a maior covardia. A autoestima de uma pessoa é algo tão frágil e importante, que se sentia um escroto só de pensar em todos os “mamutes”, “baleias” e “gordas” que havia usado quando conversava com ela... Caramba, ele era um babaca da mais alta qualidade. Se pudesse retroceder até o dia em que se beijaram pela primeira vez, se pudesse juntar toda a coragem do mundo e dizer o quanto gostava de ficar com ela, de como tudo que envolvia “” era inexplicavelmente melhor...
- Oi. – ele tomou um sobressalto ao ouvir a voz dela.
- Oi.
- Posso me sentar aqui um minuto? Estou cansada da piscina. – apontou para o resto do sofá de quintal dos Savaş.
- O fato de você ter me bloqueado nas redes sociais atrapalha em algo? – perguntou por reflexo, se odiando logo depois. O questionamento ficava rondando sua cabeça, mas não era para ter perguntado daquele modo, naquele momento.
- Ora. – soltou uma risada depreciativa. – Peço desculpas, fui imatura.
Ele a encarou, surpreso. Por que ela pedia desculpas? Na verdade, era ele quem deveria estar ajoelhado implorando perdão por todas as burradas feitas.
- Acho que nessa categoria eu sou o vencedor. – sorriu sem humor.
- Oh, bem... Se insiste. – ela deu de ombros.
- Eu sinto muito, . – ele soltou, incapaz de segurar. Não sabia quando iria ter outra oportunidade de conversar com ela, quando teria coragem de conversar.
levou dois segundos para absorver a frase. Lamentar era desnecessário. chegara tarde demais, porém seu coração parou momentaneamente, quase cedendo à doçura de tais palavras. Infelizmente, havia um receio em acreditar nele. Não é que esperasse que tivesse mudado, aliás, não esperava nada mesmo, só que o pedido de desculpas a havia pegado desprevenida.
- Não se preocupe com isso, faz anos. – ela o confortou.
- Mesmo que faça, eu queria dizer que lamento muito. Fui um babaca por tanto tempo que me envergonho só de lembrar. – ele a olhou, esperando que acreditasse na sinceridade de seus sentimentos. – Confesso que achei que você nunca iria embora.
- Mas eu fui.
-Foi. – ele assentiu. – E me tirou o chão... Completamente.
ignorou o coração apertado. Aquele era um assunto tão cansativo, tão triste. Ela já não queria falar sobre como ficara magoada com tudo, sobre como ele havia esgotado toda sua reserva de autopreservação. Uma de suas amigas na Turquia lhe disse que o amor-próprio crescia quando outra pessoa te amava também, que não era preciso que alguém se amasse completamente para se apaixonar por outro. Infelizmente, preferia fazer as coisas do jeito Ru Paul: “se ame primeiro. Porque se você não se amar, como vai amar alguém?”. E ela estava passando por um caminho de renovação. Cada dia era uma pequena vitória. Cada olhada no espelho era uma sementinha de amor regada. Cada refeição feita sem peso na consciência era motivo de comemorar.
E ela tinha medo que atrapalhasse tudo.
Por mais que seu coração começasse a ceder, seu cérebro precisaria se manter forte.
- Bem, disso devo me desculpar. – ela forçou um sorriso. – Espero que já tenha recuperado o equilíbrio. – tentou brincar, ganhando uma risadinha.
- Achava que sim, até você reaparecer.
- Talvez devemos procurar um médico de labirintite...
- Ainda fico encantado com o fato de você ter uma resposta petulante para tudo que eu falo. – confessou. corou antes que tivesse a chance de virar o rosto.
- Ainda me admira que insistam em discutir comigo.
- Todos acham que você vai ser meiga e agradável, então não estão preparados para a língua afiada. – ele não tinha a intenção, mas ao falar de “língua” se lembrou do último beijo que deram, e todo o gelo que parecia derreter congelou novamente.
- Por mais que me emocione ver vocês dois conversando, vou precisar da minha prima por um momentinho. – Caíque surgiu de algum lugar, assustando ambos.
- O que foi, Cacau? – se levantou.
- Temos uma briga de galo para vencer, marmotinha.
- Ai meu Deus. – jogando a toalha onde esteve sentada, deu a mão para o primo, rindo. Era bom que ele a tirasse de perto de , ou sucumbiria.
Ao olhar para o relógio, suspirou. O sol nasceria e ele não tinha pregado o olho desde que voltara da casa de Doruk. Nem todas suas paixonites foram tão cansativas quanto esta... merecia o crédito por sempre fazê-lo perder o sono.
Depois de repassar praticamente todos os momentos com ela, principalmente os últimos, se deu por vencido. Estava na hora de colocar um fim nessa história. Chegava o famoso momento do “ou vai ou racha”. Ele pulou da cama, pegando a fatídica foto e seu post-it favorito com o pequeno poema, então seguiu para a porta, tomando cuidado para não acordar os pais.
ainda morava no mesmo bairro que ele – todos seus amigos moravam. Apenas duas ruas e um quarteirão o separavam, portanto não perdeu tempo andando. Ele correu. Era inútil esperar que estivesse acordada, mas isso não diminuiu a adrenalina. Quando chegou à recepção, seu coração martelava no peito.
- A , do décimo segundo andar, está aí?
- ? – o porteiro franziu o cenho. – O que está fazendo aqui a essa hora?
- Caraca Pinheiro, ainda é você? – sorriu aliviado. Tudo ficava mais fácil quando se era amigo do porteiro! – Achei que tivesse aposentado.
- Eu até quis, mas gosto muito daqui. – Pinheiro deu de ombros. – O que quer com agora? Ela chegou com a turca e subiram tem tempo.
- Eu imaginei. – ele assentiu. – Quando vier trazer Aslı, por favor, entregue isso aqui para ela. Não precisa dizer que fui eu, ela vai sacar na hora.
- Tudo bem. – Pinheiro pegou o envelope. – Agora vai para casa, garoto. Ainda não são nem seis da manhã! Os jovens de hoje em dia, viu...
O barulho de conversa foi a gota d’água. despertou em um estado de humor deplorável, apenas para encontrar sua mãe e Aslı batendo papo no colchão em que a amiga dormira na noite passada.
- Vocês comeram maritacas? – resmungou.
- Não, querida. Mas você comeu o pão que o diabo amassou, suponho. – Aslı riu. – Eu estava aqui falando para sua mãe sobre minha solteirice recém adquirida.
- Ah Deus, ela vai ficar nisso o dia todo, mãe. – coçou os olhos, ainda com sono.
- Não vou, porque diferente de vocês desocupados, eu preciso ajudar no almoço, já que a família está chegando hoje. – a turca se levantou. – E se você quiser sair à noite, eu preciso fazer aquela média né? Então saí da cama e me acompanhe até a portaria!
- Antes de ir, filha, seu pai foi buscar o jornal e Pinheiro tinha um envelope destinado à você. Eu o deixei no descanso de frutas, junto com as chaves.
- Já, já eu vejo. Valeu, mãe. – ela empurrou as cobertas e começou a se arrumar.
Aslı, em solidariedade à amiga, foi até a cozinha preparar algo para ela comer enquanto esperavam Doruk chegar para buscá-la. Vendo o envelope onde a mãe de tinha dito que havia deixado, ela o pegou e levou para o quarto junto com quatro bisnaguinhas rechadas de nutella e uma xícara de café forte.
- Aqui, peguei para você. – entregando a comida e o envelope, Aslı se jogou na cama.
- Valeu, miga. – mordeu um pedaço do pão.
- O que é que tem aí? Fala de quem é?
- Não fala nada. Peraí, vou abrir. – segurando o resto da bisnaga na boca, rasgou a curva do envelope e puxou o conteúdo para fora, engasgando logo depois.
Uau.
A mesma foto em que havia escrito o pequeno recado de despedida para estava com um post-it grande pregado. reconhecia a letra dele, mas não conhecia as frases ali. Aslı não disse nada, apesar de ter se tocado do que era, pois a cara que a amiga fez foi autoexplicativa.
I just wanted to make you smile
I wanted to do good
(So thanks) Believing in someone like me
Dealing with these tears and wounds
(So thanks) For becoming my light
For becoming the flower in the most beautiful moment in life
It’s okay, come on, when I say “one, two, three” forget it
Erase all sad memories
Hold my hand and smile
It’s okay, come on, when I say “one, two, three” forget it
Erase all sad memories
Smile holding onto each other’s hands
One, two, three
For a better day
Because we are together
Seus olhos arderam com a vontade de chorar. Isso eram estrofes de uma música? Ou ele teria escrito sozinho? Era algum poema de filme ou livro?
- ? Está tudo bem? Eu vou precisar matá-lo?
- Não. – negou, sentindo-se péssima. – Não para ambos.
- Você quer conversar sobre isso? – Aslı ajeitou a postura, cautelosa.
-Eu só queria entender por que diabos ele faz essas coisas, sabe? Por que ele torna tão difícil seguir em frente. – suspirou. – Eu jurava que estava tudo bem até por os pés no Brasil! E então, ontem, ele veio me pedir desculpas! Dizendo que havia sido um babaca e tudo mais... E agora esse poema, música, sei lá! Allah Allah, Aslı!
- Longe de mim defender e você sabe que eu torcia para ele tomar o maior pé na bunda seu, né?! Mas, desde que você foi para Bodrum... Ele apagou, entende? Nada do que fazíamos juntos ele participava. Surfe? Largou mão. Trilhas? Preferia só a academia. Resenhas na casa do Thiago? Inventava alguma desculpa para não ir. Redes sociais? Quase nunca entrava nelas. – Aslı segurou a mão da amiga. – nós sabemos que tem umas quantas cargas de culpa na relação de vocês, mas desde Noronha eu vejo ele agindo diferente. Lá ele fazia de tudo para te ver sorrir, ele não poupava esforços em te agradar. Talvez ele realmente tenha mudado, . Eu não estou falando isso só porque essa áurea nada auspiciosa atrapalha meu equilíbrio turco, miga.
Analisando verdadeiramente, teria que admitir que Aslı tinha um pouco de razão. O pré-Noronha jamais se incomodaria em lhe mandar um envelope com frases melosas. O pré-Noronha provavelmente teria jogado a foto fora, e quando a encontrasse depois de Bodrum, ele teria fingido que nada tinha acontecido e feito uma piada sobre como a Turquia a elevou de mamute para mamute internacional.
O grande problema estava nos “talvez”, no passado. Ela conseguiria embarcar em outro relacionamento com sem se lembrar do antigo? Conseguiria se amar e não se sentir inferior a ele? Saberia até que ponto tudo estava sendo saudável ou tóxico? Até onde conseguiria lidar com suas inseguranças e não o culpar por elas – porque nem tudo era culpa dele, afinal –? O mais importante: conseguiria perdoá-lo? Se perdoar?
- Olha, Doruk me mandou uma mensagem dizendo que está chegando. – Aslı a tirou dos pensamentos. – você fica aqui e, bem, se ajeita. Quando o almoço estiver ficando pronto, eu te ligo para ver se quer almoçar conosco, ok? Seus pais também estão convidados. – ela se levantou. – Até mais. Qualquer coisa me liga primeiro, viu?!
assentiu, confusa demais para se despedir educadamente da amiga.
Ela encarou a foto, observando como estava feliz ali. Verdadeiramente feliz. Satisfeita. Quando não havia piadas ruins sobre o corpo dela, ou brigas por motivos bobos, os dois trabalhavam tão bem juntos. Eram tão bons juntos. Seria possível serem bons outra vez? Eles conseguiriam construir algo em cima de amor, e não só de tesão e urgência?
Tudo seria diferente. não aceitaria mais críticas ruins como antes, ela não ignoraria se ele fizesse uma piada ridícula sobre seu corpo. Porque, na marra, havia aprendido a separar a tênue linha entre se amar e amar alguém. Querendo ou não, no final do dia, ela era sua única companhia, ela era sua casa. E que coisa horrível não gostar do lugar onde se habita! Então, se fosse realmente tentar algo com ele novamente, imporia limites. E se ele tivesse mudado, saberia aceitar. Reconheceria a necessidade dela em impô-los. A apoiaria.
Mas, inevitavelmente, só havia um modo de saber se tudo era verdade: tentando.
O barulho dos latidos de Boris deixou confuso. Por ser um beagle mais velho, o cachorro estava acostumado a dormir o dia todo e não fazia graça para quase ninguém, mas lá estava ele, latindo animado para alguma coisa. Ele desligou o som do quarto e calçou os chinelos, pronto para dar uma bronca no animal.
- Ei, Boris! – pôs a cabeça para fora da porta. – Boris! – ele ouviu o baque das patas gordas vindo em sua direção, e sorriu. – O que aconteceu, rapaz?
Mas, ao notar que ao lado do cachorro vinha alguém, seu coração levou um tombo.
- Desculpe, acho que ele ficou muito animado em me ver. – riu suavemente.
E jamais poderia culpá-lo por isso. estava ali. Linda, sorrindo e ali.
- Tudo bem, eu só estranhei porque Boris não faz festa para nada... E eu estou sozinho em casa, então... – coçando a nuca, encarou o chão.
- Encontrei seus pais na área de lazer. Sua mãe estava na piscina e seu pai jogando ping-pong. – coçou as orelhas do beagle. – eles me disseram que você estava aqui.
- Pois é. – ele assentiu. – Aceita, uh, uma água? Chá? Café?
- Não, não. – ela negou. – Eu vim conversar com você rapidinho.
- Ah... – fez o possível para não demonstrar que estava triste.
- Então... Eu recebi um envelope seu hoje... Na verdade, espero que seja seu, porque senão isso será uma situação bem embaraçosa. – corou. – enfim, o que tudo significa? Talvez eu tenha interpretado errado ou...
- Se o que você interpretou estiver na linha de “eu quero você de volta”, “eu quero fazer tudo certo com você”, “eu te amo”, então você entendeu certo.
Eu te amo.
Ele havia dito “eu te amo”. Havia dito primeiro.
One, two, three
For a better day
Because we are together
- 1, 2, 3. – assentiu, usando a estrofe do poema como guia.
não precisou de dois segundos para entender, sorrindo e abrindo os braços, esperando para tê-la entre eles novamente, de onde nunca deveria ter saído.
Mas isso era uma ilusão de garotinha.
As crises existenciais pareciam chegar sem parar e ela se sentia muito confusa com o tipo de garota que havia se tornado... E com as coisas que andava fazendo. Não era do tipo de fazer alarde, mas também não conseguia guardar seus sentimentos por muito tempo. Talvez fosse por isso que passara quase duas horas seguidas em cima de sua prancha de surfe, ignorando o sol infernal que fazia e as ondas imensas. Uma insolação, às vezes, lhe faria bem...
Estava tentando se adequar a um padrão que não lhe agradava, estava tentando viver conforme acreditava que jovens adultas deveriam viver. Estava lá, surfando em um mar maravilhoso e empurrando o desespero com a barriga.
Literalmente.
A barriga era um assunto de extrema importância. Em um mundo onde ter ossos aparecendo era considerado “bonito”, uma menina com sobrepeso se sentiria, no mínimo, um monstro. , com sobrepeso e uma barriguinha que fazia dobras ao se sentar, sentia-se a próxima evolução dos mamutes. Tudo bem, tudo bem. Ela havia melhorado infinitamente! Saíra da obesidade e agora estava lutando contra o sobrepeso, mas ainda não parecia suficiente. Nunca parecia bom o bastante, por mais que tivesse emagrecido quase 25kg em dois anos.
Todas as idas à nutricionista, os R$20.000,00 que gastara em uma lipoescultura (e uma mamoplastia com silicone), sair do número 44 e ir para o 38 não parecia suficiente.
E tudo piorava quando Jeon resolvia abrir a maldita boca.
Essa era a parte onde “estar confusa com quem se tornara” aparecia. sempre, sempre, sempre dissera que não se rebaixaria por ninguém. Entretanto, lá estava ela, empenhando-se em emagrecer ainda mais para calá-lo. Já não deveria se incomodar com as piadinhas – elas aconteciam tinha 9 anos –, porém se incomodava. Incomodava-se porque, apesar dos apelidos ridículos e da constante brincadeira com seu corpo, no final do dia corria para ela.
E ela o recebia de braços abertos.
Era uma idiota, tinha certeza, só não achava a força necessária para rechaçá-lo.
-Você não deveria ficar tanto tempo lá, . Mais alguns minutos e seria engolida pelo mar ou morta queimada. – Aslı, sua melhor amiga, falou.
-As ondas estão maravilhosas, consegui finalizar duas tubulares! Em casa não tem esse milagre. – deu de ombros. – Acho que não peguei tanto sol...
-Eu sei, mas sua segurança vale mais que seis finalizações consecutivas em tubulares. – Aslı lhe entregou o protetor solar. – Estava te esperando para pedirmos algo para comer. Uma casquinha de siri ou um arroz de polvo, que tal?
- É melhor não comer muita coisa ou vai acabar sendo confundida com uma baleia-azul encalhada. – revirou os olhos ao ouvir a voz de . Quase conseguiu fingir que ele não estava ali. E quase pôde se esquecer do próprio corpo.
Mas não! tinha que lembrá-la. Ele era irritante de tantos modos!
Primeiramente, era coreano. Que diabos um coreano fazia no Brasil? Ainda mais surfando?! Tudo bem que se mudara quando novinho, mas... Já não deveria ter voltado para a Coréia? Ela nunca havia ouvido sobre um coreano surfar nem ter mechas claras no cabelo devido ao sol.
Segundamente, ele falava um português tão perfeito que a deixava com vergonha de suas gírias e vícios de linguagem. Qual era a necessidade?
Terceiramente, o filho da puta parecia um Adônis. Bronzeado, lindo de morrer, surfistinha com uma pinta de mauricinho, um corpo escultural, era bom em absolutamente tudo o que fazia... Sério! Até no que ele se considerava ruim, ele conseguia ser melhor que metade da população!
E beijava tão insuportavelmente bem.
-Ha, ha. – Aslı riu falsa, enquanto retirava sua roupa de surfar e ficava com seu mais novo biquíni. Ela preferia ignorar a existência do garoto, mas nunca era um sentimento recíproco. – Veio atrapalhar, ? Não deveria estar por aí sendo héterotopzeira com seus amiguinhos?
- Nossos amigos? – riu. – Vim chamá-las para comer; Thiago está nos esperando.
- Finalmente! Eu estou faminta!
- Mas, vai ter que pedir uma saladinha...
- Porque eu sou gorda, blá, blá, blá. – ela se levantou. – Porra , nos conhecemos faz 12 anos e até hoje você não trocou o disco?! Já perdeu o efeito.
-É porque você continua parecendo um mamute.
Apesar de o comentário doer, ela soltou uma risada cheia de vida.
Era um dom adquirido, sabia.
-Quem tá comendo não tá reclamando. – deu de ombros.
Aslı notou como endureceu a expressão e a postura, já não parecendo achar tão divertido suas próprias piadinhas. colocou a blusinha que fazia conjunto com o biquíni, seu short jeans e foi encontrar seus amigos com sua prancha, porque a praia tinha apenas uma barraca (Das Gêmeas), e lá era um pouco longe de onde estava surfando. Aslı esperou que ela estivesse mais distante e encarou o coreano.
- Você é um babaca da mais alta qualidade, . Juro que se gostasse de garotas também... Ah Deus, eu arrumaria alguém para ela te passar raiva.
- Ela já me passa bastante raiva com outros garotos, Aslı. Não precisamos de mais hormônios. – deu de ombros, ainda tenso.
- Quem sabe se você fosse menos canalha. – a turca rolou os olhos. – Você a está perdendo cada vez mais. Aliás, por mim, ela já tinha caído fora faz tempo.
- Você não sabe o que acontece quando estamos só nós dois, Aslı. Cuidado.
- Claro que sei, querido. Vocês fodem gostoso e com força. – ela o olhou, cínica. – Mas, acho que se esqueceu de algo: existem mais pirocas por aí... E pirocas que poderiam fazer muito melhor que você. – Aslı usou um tom delicado, porém um murro teria o mesmo impacto. quis esganar a melhor amiga.
- Eu sei. – confessou. – Ela está dormindo com mais alguém além de mim?
- Ah, você quase me pareceu inseguro. – Aslı levou uma mão ao coração, fingindo pena. Ele apertou os olhos. – lamento , mas também é minha melhor amiga.
Certo, não era o melhor momento para morrer de ciúmes. só precisava manter a calma e fingir que Aslı não queria criar um caso. Se estivesse com outros caras, ela teria lhe contado. não era uma garota de esconder suas emoções e vontades. Ele forçou um “dar de ombros relaxado” e seguiu Aslı para o bar.
Havia uma mistura de comidas na mesa, afinal, um grupo de 8 pessoas (com 5 garotos) comia bastante. Ela se sentou entre Thiago e Caíque, aproveitando para se escorar no primo. Tentando não deixar que as ofensas de a atingissem, se serviu com um pouco de tudo. Sua época de dieta havia passado, emagreceu 23 quilos e não precisava mais viver restringida. Tinha o corpo que sempre sonhou, mesmo pesando 66kg em um mundo onde suas amigas pesavam 49-52kg. Orgulhava-se da "pochetinha" que possuía, das pernas grossas e da bunda; na verdade, tinha muito mais orgulho de estar satisfeita consigo mesma. E mesmo que tivesse que repetir isso várias vezes como uma criança birrenta procurando reconhecimento, ela não queria se desmerecer. Estava orgulhosa e continuaria orgulhosa. Deveria continuar orgulhosa.
- Nós estávamos pensando em fazer o mergulho de apneia amanhã. – Doruk comentou.
- Eu ia amar! Imagine ver todos os animais... Nossa! Vamos! Vamos! – Aslı comemorou. – Eu vi várias fotos das pessoas que o fizeram, teve gente que conseguiu nadar com tubarões ou ver até enguias!
- Meu sonho é uma picar você. – Caíque provocou, levando um tapa da prima. – Ai , foi brincadeira! Aslı sabe que eu amo ela, não precisa ficar putinha.
- Para que fazer mergulho se vemos uma jubarte todo dia? – resolveu palpitar.
- Não era baleia-azul? – retrucou. – Ah, não, era um mamute.
- Pesando acima de 200 toneladas acho que não precisamos fazer distinção. – ele piscou.
Ela assentiu, enfiando um pedaço imenso de escondidinho na boca, mastigando no estilo Ana Maria Braga, fazendo um som intenso de satisfação.
- Cara, você deveria pegar mais leve com ela. não é mais gorda. – Thiago pulou em sua defesa. Infelizmente, a frase tinha aquela partícula "não é mais" que estragou tudo. Sua autoestima oscilou involuntariamente.
-Tá tudo bem, Thiago, eu não ligo. – ela deu de ombros. – Já falei que quem tá comendo não tá reclamando. Enfim, sobre o mergulho, eu topo muito participar. Seria irado!
ficou em silêncio, incomodado com o fato de ela sugerir sobre outras pessoas comendo. Confessava que era imaturo, mas um costume de anos parecia muito difícil de desapegar... Na verdade, era mais um impulso infantil que ele se arrependia logo depois. Quando tentou encostar em por baixo da mesa, ela se afastou discretamente e se levantou, usando a desculpa que ia com Caíque olhar o mergulho.
- Ele está sendo desagradável, prima. – Caíque a abraçou de lado, já longe dos amigos.
- Ele sempre é, Cacau. – sorriu meiga. – É só ignorar.
- Você faz parecer fácil, porém seus olhos perdem o brilho a cada brincadeira sem graça.
- Os olhos não conseguem esconder, mas nossa sorte é que não presta atenção em nada além do umbigo dele e do meu peso, né? – forçou uma risada.
- Acho que ele precisa de um chá de realidade, sabe? Tem um monte de garotos querendo uma chance com você... Aqui mesmo já vimos alguns te encarando, por que não prova para ele que peso não tem nada a ver?
- Porque não preciso provar nada para ninguém, primo. Mas, como estou me sentindo muito magnânima, vou pensar no seu caso. – ela riu de verdade. – Ah, ali a casa do mergulho! – bateu palmas. – Já imaginou se nadamos realmente com tubarões?!
- Eles vão ficar encantados com a sereia que você é. – Caíque piscou afetado.
- Puxa-saco do caralho. – gargalhou.
Ninguém vai a Fernando de Noronha procurar farra, porém o Bar do Cachorro era muito animado e o grupo resolveu que aquele seria o destino da noite. Quando ficou pronta, ela saiu para esperar as meninas na área da piscina. Repensou a decisão assim que notou o cabelo escuro com mechas claras (do sol) de . Ele era tão bonito que, mesmo de costas, fazia seu coração palpitar na garganta.
- Vai ficar parada aí ou vai sentar comigo? – a voz dele lhe deu um susto.
- Estou bem, aqui. – ela retrucou por reflexo.
se virou, notando que ela usava uma roupa muito chamativa. Era um vestido que parecia uma saia, mostrando seus ombros e sua barriga, mas, estava tão linda! Além disto, tinha uma tornozeleira com um búzio único, e ele sempre adorou vê-la com ela, não sabia por quê. Por um momento, precisou segurar a borda da cadeira para se impedir de levantar e puxá-la para si. Quando estavam sozinhos era tão difícil manter as mãos longe dela... Era complicadíssimo manter os olhos longe dela.
- Eu não mordo... Só quando você pede. – brincou.
“Mas machuca. E sempre sem eu pedir.”, ela pensou.
-Não quero me sentar; estou só esperando Aslı e Iara.
desistiu de ficar quieto, indo até ela. Quando se encararam e entendeu o que ele estava fazendo, deu um passo para trás. parou no lugar, saboreando a sensação amarga do movimento nada involuntário. Aquilo foi como tomar um caldo de uma onda bem na sua finalização. De muitas farpas trocadas, começou a compreender o efeito que elas estavam trazendo para os dois – mesmo que tardiamente.
- Eu peguei pesado hoje cedo. – falou baixo. – Foi sem querer.
- Ok. – ela assentiu, não parecendo acreditar nele.
- To falando sério, linda. Sou tão acostumado a encher seu saco que às vezes perco a noção do limite. – tentou tocá-la, mas puxou o braço e se afastou mais.
- Hoje eu não to afim, cara.
Cara.
Nada de "", nem "".
Apenas "cara".
reconheceu o gostinho amargo da rejeição e aceitou a derrota. Desde que a beijou no aniversário de Caíque (três meses atrás), ele deveria ter mudado sua conduta. Sabia que a atração que os dois sentiam era muito mais que carnal, porém o orgulho e o medo falavam mais alto. E talvez, depois de tantas pisadas na bola, ele a tinha perdido definitivamente. Alguma hora aquilo iria acontecer.
Mas qual era o medo que ele sentia? Que orgulho era esse que deveria ser maior do que o respeito por ? ainda não sabia explicar. Talvez tivesse medo da chacota dos amigos, por ter sempre implicado com ela e “do nada” estar de quatro pela garota. Orgulho, talvez, porque sempre fora muito arrogante e quase nunca conseguia pedir desculpas plenamente; quem dirá por tanta coisa errada.
Muito imaturo, era tudo o que conseguia se descrever no momento.
A assustadora ideia de que voltava a ser fora de alcance só aumentou quando chegaram ao Bar do Cachorro. Depois de dois drinks, ela se levantou e foi para a pista de dança, recebendo olhares de outros homens e até o convite para dançar forró com alguns deles. não tinha problema com recebendo olhares, na verdade, até gostava de saber que todo mundo conseguia compreender o quanto ela era linda... Mas, odiava a ideia dela agarrada em outro. E, bem, forró não se dançava afastado, não é?!
- Ao invés de ficar comendo com os olhos, por que não vai até lá e a chama para dançar com você? – Doruk ficou ao lado de , segurando sua cerveja com um sorrisinho irritante. Turco abusado, o garoto.
- Do que você tá falando? – ele pigarreou, tentando não parecer tão surpreso.
- Que eu sei o que rola entre vocês?! – Doruk ergueu uma sobrancelha. – Nossa , eu esperava mais, sinceramente! Cheio de esquemas, beijando várias bocas e mesmo assim, não consegue ter coragem de ser gentil com na nossa frente?
- É diferente. – ele se sentiu desconfortável.
- É diferente por que apesar de você pisar nela sempre, no fim, está lá de qualquer jeito? E o que vai acontecer quando ela não quiser ficar mais? – quis dizer que já estava acontecendo, e que ele se sentia um imbecil, mas preferiu se manter quieto. Não iria dar o gostinho da vitória para Doruk. – se eu fosse você, estaria muito preocupado com meu lugar na fila... Ela parece estar andando. – ele não teve certeza se foi uma pergunta ou uma afirmação, mas quando olhou novamente para , ela não estava na pista.– Onde está ? Onde está ? – Doruk cantarolou, irritando-o mais.
- Ora, seu turco abusado. – rolou os olhos. – Não ligo para onde ela esteja.
Foi traído por seus olhos analisando a pequena multidão. Com certeza estava estampado em seu rosto que procurava por alguém e que procurava com urgência.
sempre achou que o italiano nunca seria útil a menos que fosse à Itália, mas estava provando o contrário. No momento, sentia-se extremamente grata por ter largado mão do francês e mudado o curso de línguas, já que conseguia flertar com um italiano alto e charmoso no idioma nativo dele... Sem gaguejar ou precisar tentar o inglês.
O flerte evoluiu para uma sequência de beijos, que mesmo muito bons, não chegavam à mínima sensação de explosão que os de causavam nela. Talvez fosse o carma, ou talvez ela fosse tola demais. Felizmente, tudo serviu como uma bela distração.
Depois de jogar uma água no rosto e prender o cabelo em um rabo, saiu do banheiro feminino, pronta para voltar a dançar e se divertir mais. A noite tinha melhorado consideravelmente depois que três gringos pediram que lhe ensinassem forró, os beijos com o italiano... E aquilo só a fez se sentir bem. Após esmagar sua confiança, ela precisava ser bajulada.
A pior parte de tudo isto é que desejava estar com ele.
Por Deus, era tão fraca! Ele não precisava de mais que um beijo e um aperto firme na cintura para tê-la nas mãos (literalmente). Por isso havia se afastado mais cedo; estava cansada de bancar a sonsa, tímida e insegura. Se realmente quisesse ficar com ela, ele teria que se esforçar. Agora era sua vez de ficar por cima, mesmo que a única coisa que tivesse vontade era ficar por cima (ou por baixo) dele, transando.
Quando voltou para seus amigos, a encarou e não fez a mínima questão de parecer discreto. sentou-se entre Caíque e Iara, de frente para ele. Thiago havia pedido isca de peixe e outros drinks. Ela se ocupou em bebericar a caipirinha e fingir que nada tinha acontecido, apesar da boca rosada indicar tudo.
- Como ele se chamava? – Iara a cutucou com o cotovelo.
- Ele quem? – dissimulou.
- O boy que te beijou e não para de te encarar ali da mesa de gringos.
- Qual deles? – ergueu a sobrancelha, mas depois riu. – Brincadeira. Foi o Domenico. Muito simpático, inclusive.
- Claro que é. – Iara riu, lhe dando um tapa na coxa. – Você não perde uma.
- Quem perde tempo é relógio, amiga. Quem deixa passar é ônibus.
- E eu achando que você ia ser uma vadia tímida o resto da vida. – Iara balançou a cabeça em negação, expondo sua incredulidade.
- As tímidas só se fodem, daí resolvi abraçar essa grande parte de mim que é ser uma vadia. – suspirou dramaticamente, tomando um gole da bebida.
- Eu apoio mais que tudo. – Caíque ergueu o braço.
ergueu uma sobrancelha para ela, que fingiu não ver. Voltou a beber seu drink e começou a conversar com Iara. Como se quisesse provar um ponto, procurou o italiano que havia dançando e beijado (o segundo garoto) e sorriu lindamente, acenando com uma mão. No mesmo segundo, esticou o pé por baixo da mesa e tocou seu tornozelo. Ela apertou a taça discretamente, tentando não demonstrar nenhuma reação. O italiano sorriu em resposta, mas ela já estava mais atenta ao próximo passo de . Sem dispensar ambos, tomou um grande gole da bebida, deixando o canudo passear por seus lábios enquanto lambia a ponta dele. Parecendo entender a provocação, ergueu novamente a sobrancelha, um claro desafio à sua sanidade. Da primeira vez era fácil ignorar, mas a segunda já exigia um pouco mais dela. Deus, ele ficava tão sexy quando fazia aquilo!
se escorou na cadeira, suspirando contente.
- Está sendo uma noite bem agradável. – comentou.
parou de encará-la tão indiscretamente, porque, bem, já estava ficando nítido o quão interessado ele era. Mas, isso não fez com que diminuísse as provocações. Ela, na verdade, continuou sorrindo para o italiano imbecil, e bebendo sua caipirinha como se estivesse chupando seu (o dele, , no caso) pau.
Depois de três rodadas de drinks e algumas porções de comida, se levantou.
- Aonde vai? – Caíque se assustou com seu movimento repentino.
- Vou voltar para a pousada. Quero estar bem disposta para o mergulho amanhã.
Deixando um pouco de dinheiro na mesa, para ajudar na conta, saiu do bar à procura de um táxi. Havia tomado uma decisão importantíssima. Após fazer sinal para um carro, ela sentiu uma mão em sua cintura e sorriu minimamente. Os dois entraram e deram o endereço da Pousada Maravilha para o motorista. Eram quinze minutos de caminho, mas nunca pareceu um trajeto tão longo quanto àquela noite. tocou seu joelho e por lá ficou, observando as ruas de Fernando de Noronha.
Ele não sabia que luz divina havia baixado em , mas preferiu não fazer nenhum comentário, com medo que revertesse a situação. Ao chegarem à pousada, a ajudou a sair e entrelaçou sua mão na dela. O bangalô de era isolado, porque não podia dividir com as meninas, afinal, não queria atrapalhar o casalzinho. Mesmo que Aslı e Iara jurassem não fazer nada, ela se sentiria uma empata-foda e preferiu alugar um quarto, sozinha. conseguiu manter a compostura até trancar a porta. Ao som do click, ele a empurrou contra a madeira e tomou sua boca com a mesma urgência de sempre. Desesperado para deixar seu gosto ali.
Os beijos que trocavam eram muitas vezes desesperados e rápidos, porque geralmente tinham que fazê-los escondidos dos outros. No entanto, eles tinham o resto da noite a sós e tempo suficiente para poderem aproveitar com calma. se esforçou para se afastar minimamente, e começou a beijá-la no queixo, escorrendo até o pescoço e começando a marcá-la. enfiou a mão por dentro da blusa dele, tocando sua barriga com as unhas e deixando-o arrepiado. Ela gemeu baixo quando ele a mordeu, talvez pelos seus toques ousados, ou porque queria.
- Eu passei a noite toda achando que tinha te perdido. – sussurrou em seu ouvido, mordendo o lóbulo. – Mas então você começou a me passar ciúmes e eu soube que ainda tinha uma chance. – ele colocou seu rosto no rumo do dela, olhando em seus olhos. – E eu vou fazer isso valer a pena, linda. Porque você vale a pena.
Ela não sabia se estava arrepiada pelo beijo ou pela pequena confissão de . Seus sentidos entraram em colapso após ouvir aquelas palavras, deixando-a assustada com como aquilo mexeu com ela. Sentiu os dedos de nas suas costas, desfazendo os poucos botões que prendiam o vestido. Os dois se afastaram para se despir; logo depois de ter tirado a blusa, ele viu apenas de calcinha e congelou no lugar. Não que não gostasse da visão (longe disso), só não estava preparado para descobrir que ela esteve sem sutiã o tempo todo.
- O que foi? – ela sorriu minimamente.
- Você é tão linda, acho que estou sem reação. – ele murmurou rouco.
- Não sabia que você achava baleias bonitas.
- Eu sou um idiota, . – foi sincero.
- Isso eu já sabia. – ela se aproximou, caindo de joelhos. – e estou te dando uma chance para tentar me provar o contrário. – enquanto falava, abria a bermuda dele.
- Eu não mereço você. – ele balançou a cabeça, vendo-a descer suas últimas peças de roupa e empurrá-lo pela barriga, para que se sentasse na cama.
- Não merece mesmo. – sorriu. – Mas, não é como se eu conseguisse te ignorar.
Sem aviso, passou a língua pelo seu pênis semiereto, recebendo um grunhido em resposta. Ela ergueu os olhos, repetindo o mesmo movimento, de forma mais lenta. Ele puxou o ar, sentindo arrepios correrem pelo corpo. Observou, hipnotizado, enfiá-lo na boca, chupando a glande e rodopiando a língua por toda a extensão que conseguia engolir. Ele apertou o lençol, querendo muito ficar quieto, mas seus dedos coçavam para se emaranharem no rabo-de-cavalo que ela usava; suas mãos queriam ditar o ritmo e os movimentos para ela fazer. Felizmente, ele sabia que pararia no momento em que tentasse se impor. Sentiu as unhas grandes arranhando suas coxas e os arrepios se intensificaram. Ele soltou um gemido alto quando apertou seus testículos levemente, testando o espaço. tombou o corpo para trás, sucumbindo ao prazer, mas manteve-se apoiado nos cotovelos, não conseguindo tirar os olhos da cena maravilhosa que era o chupando.
-Se você continuar desse jeito eu vou gozar na sua boca. – avisou.
se afastou e deu um sorriso ladino.
- Não acho que você mereça. – ela apoiou as mãos nas coxas dele novamente. – A não ser que... Que você me deixe fazer uma coisinha. – pediu manhosa.
-Você pode fazer o que quiser comigo, sabe disso.
bateu umas palminhas, animada. Estava planejando aquilo desde a última vez que dormiram juntos, mas tinha muita vergonha de pedir. Porém, foi sincera ao falar para Caíque que estava cansada de ser uma vadia tímida. Já pisara em seu orgulho para ter , então iria abraçar todas as suas taras e começar a aceitá-las.
Voltou sua atenção para o boquete, querendo poder dar prazer à na mesma intensidade que esperava sentir. Ela guiou o pulso dele até o rabo-de-cavalo, sabendo que aquilo o deixaria extremamente feliz e excitado. não levou dois segundos para segurar o cabelo dela com força e assumir o controle da situação. Mantendo a cabeça dela parada, começou a fodê-la na boca. ergueu os olhos novamente e o brilho de luxúria foi muito mais do que ele aguentava; nunca estava preparado para vê-la tão linda e disposta quanto ficava no sexo.
- Posso? – perguntou rouco.
fez que sim, esperando gozar. Com uma estocada forte, quase a atingindo na garganta, se derramou. Ele observou lamber a boca, soltando uma risadinha. Sem que lhe desse tempo de aproveitar mais a cena, ficou em pé, retirando a calcinha. Ela passou uma perna de cada lado da coxa esquerda dele, molhou os dedos com saliva e deu uma pequena bolinada em seu clitóris, antes de sentar-se naquele músculo forte e delicioso. começou a se mexer, a fricção sendo tão maravilhosa que a fez gemer alto. Aquilo era muito melhor do que havia imaginado. Passando os braços envolta do pescoço de , continuou seus movimentos, mas perdeu um pouco de velocidade quando ele desceu o rosto e sugou um mamilo. Ela estava tão molhada e excitada que era difícil focar a atenção em apenas um lugar de seu corpo que queimava.
- Isso é a coisa mais sexy que eu vi atualmente, , mas, por favor, deixa eu te comer logo. – implorou, quase rugindo.
Apesar de ter amado o tom necessitado dele, ela não queria parar. Aquilo era sua fantasia e iria até o final. Balançando a cabeça em negativa, acelerou seu quadril e gemeu. Ele a imitou, mas era um som manhoso e necessitado.
- Se você flexionar a coxa eu termino mais rápido.
Os olhos de brilharam em antecipação. Ele encarou o ponto onde e sua perna se encontravam, sentindo um frio na barriga de prazer. Era incrível como qualquer coisa feita por ela se tornava um ato erótico intenso. Fazendo como foi instruído, contraiu seu músculo e viu revirar os olhos, tombando a cabeça para trás. Seus seios arquearam para frente, dando fim ao último resquício de autocontrole no coreano; ele levou as mãos até os montes arredondados e os apertou, chupando o bico e deixando pequenas mordidas que faziam arfar. Ela começou a tremer, suas unhas se fincando no ombro dele e indicando seu orgasmo. não esperou que terminasse de gozar, girou o corpo e a colocou deitada, tirando a coxa e substituindo com sua ereção. Quando entrou, suspirou aliviado, mas soltou um gritinho pela surpresa. Ele sorriu, colando a testa na dela e entrelaçando seus dedos. Não mentiu quando disse que faria aquilo valer a pena.
- Olha para mim. – pediu sem se mover. – Olha para mim, linda.
o encarou, corada.
- Preciso que você saiba o que faz comigo; você tem que entender que me deixa maluco e eu sou um idiota por sempre foder as coisas contigo.
- Gostaria que ao invés de foder as coisas, me fodesse. – ela falou baixo.
- Não, linda. Você não merece ser fodida; merece ser apreciada, cuidada, venerada.
- Então faça, . Não me interessa como nomeia isso, só... Faça.
A primeira estocada foi tão precisa que ela ficou sem ar. Só conseguia tocá-la do jeito certo, fazê-la se sentir certa. Naquele momento, enquanto os dois estavam juntos, não pensava no seu corpo, nos seus problemas, na relação complicada deles; ela apenas se concentrava em e em tudo de maravilhoso que a fazia sentir. Em quão desesperada por ele sempre fora, e parecia piorar com o tempo.
Encarando os olhos castanhos, começou a ir de encontro a ele, aumentando o prazer de ambos. Ainda estava sensível do orgasmo, e aquilo era suficiente para que ficasse faminta por outro. agarrou seu quadril, movendo-se com força e rapidez, o barulho das estocadas sendo mais alto que os grunhidos e arfados que soltavam. Ela escorreu as mãos pelas costas bronzeadas, depois subiu arranhando-a e embrenhando os dedos no cabelo macio, puxando-os por reflexo. estava tão inchado e ela estava tão molhada, tão apertada, que fez um esforço sub-humano para não machucá-la. Sua boca a marcou na clavícula, enquanto ele sussurrava o quão linda, perfeita, deliciosa e incrível era. Precisava fazê-la entender.
Seu polegar alcançou o clitóris e ele a bolinou, movendo-se em ondas, fazendo-a soltar um grunhido parecido com um choro. Ninguém jamais a faria se sentir tão bem, ninguém conseguiria tocá-la e amá-la como ele. Havia a estragado para todos os outros.
- ... – ela ofegou. – Por favor.
Ganhando um pico de adrenalina, ele a apertou contra si e estocou ferozmente, mal conseguindo manter os olhos abertos de tão bem que se sentia. Mas, queria vê-la gozar. Queria ter certeza que e ele estavam na mesma sintonia.
Apertando os lençóis e virando o rosto para o lado, se entregou aos espasmos e buscou por ar, enquanto seu corpo subia até o céu. Estava longe, mergulhada em um nirvana absoluto. Poucos minutos depois, ela sentiu tencionar e se preparou para o que aconteceria. A força com que a segurava deixaria marcas, mas nada era melhor do que tê-lo espalhado dentro dela. Era tanto gozo que escorreu pelas suas coxas, fazendo-a soltar uma risadinha enquanto ele ficava corado de vergonha. Parecia um virgem em um orgasmo precoce.
- Desculpa. – tentou limpar a bagunça.
- Esquece, não tem problema. – ela riu outra vez.
- Desculpa. – ele repetiu. franziu o cenho, apoiando-se nos cotovelos para enxergá-lo. Que diabos queria? – desculpa por tudo, pelas piadas ofensivas, pela imbecilidade... Eu sou tão idiota que estou surpreendido por você continuar aqui.
- Tudo bem, cara. – assentiu. – Você é imaturo, está tudo bem.
- Ouch. – ele levou uma mão no coração. – Estou falando sério, linda. Eu passei dos limites, fui um idiota e não mereço sua atenção, mas, por favor, não vai embora. Não foge de mim. Vamos resolver as coisas.
- Se você prometer que vai parar com isso...
passou o nariz pelo cabelo dela, deixando pequenos beijos. Ela estava grudada a ele, seu corpo feito na medida certa para se encaixar ali.
- Posso passar a noite aqui? – ele perguntou tímido.
- Pode ficar o tempo que quiser. – sorriu cansada.
- Isso é uma proposta indecente, linda. – brincou.
-Nada novo sob o sol. – ela passou a mão pelo cabelo dele, empurrando os fios para trás e se sentindo ridiculamente bem. – eu vou dormir em alguns minutos...
-Pode dormir, eu não vou fugir. – sorriu.
se aconchegou mais nele, absorvendo a sensação.
“Eu passei a noite toda achando que tinha te perdido.”
A voz de invadiu seu cérebro e ela quis sorrir tristemente. Porque aquilo era a verdade. Ele a havia perdido. Após essa viagem, e não existiriam mais.
●●●
2 anos depois, Florianópolis, Santa Catarina
empurrou a mala com os pés e se jogou na cama, exausta.
- E então? – Aslı se jogou na cama. – Me conta tudo! TUDO!
- Já te contei tudo durante o curso, sua maluca. – ela riu.
- Mas não tem o mesmo efeito que ouvir ao vivo, sabe?
- Larga de drama, não é como se você nunca tivesse ido até lá, sua turca abusada. Porém, posso afirmar que é realmente paradisíaco. Eu me fodi com o idioma no início, mas graças a você e seu irmão consegui melhorar. – piscou para a amiga. – acho que vou ter muita dificuldade em parar de repetir “Mashallah” ou “Inshallah”.
- Essa é minha parte favorita. – Aslı assentiu. – E o que eles disseram? Vão te querer de volta? Ou você vai ficar no Brasil?
- Não sei, eles não falaram mais nada. Ah, Aslı, foram dois anos sem meu país, deixe-me descansar um pouco e curtir esse calor brasileiro único.
- Se você não tivesse chegado quase às quatro da manhã, nós teríamos feito uma festa surpresa. Sabe, todo mundo está aqui para o carnaval.
- É, sei. – fechou os olhos, entendendo a indireta.
Aslı nunca falava de . Nunca, nem para dizer algo negativo sobre ele. O que sabia do garoto, ela havia descoberto por causa do primo ou por acaso. Bem, obviamente não queria falar com ela. O modo como as coisas terminaram não foi muito amigável – a não ser que excluir uma pessoa da sua vida (sem nem se explicar) seja considerado afável. Mas, não sabia como se afastar de sem que fosse radical e extremista. Ela jamais conseguiria deixá-lo ir com lembranças tão frescas de Fernando de Noronha; por isso, assim que chegou, conversou com seus pais e pediu para ir à fazenda da avó, onde pesquisou sobre o curso de turismo na Turquia, um que Aslı havia visto quando passou as férias com a família em Bodrum.
Dois longos anos após partir, ela estava de volta.
E deveria encarar a qualquer momento.
Manhã do outro dia, Florianópolis
Caíque e Thiago estavam esparramados em sua cama, enquanto ele tentava desesperadamente parecer tranquilo. Houve um breve período de desconforto logo que partiu, mas depois se empenhou em convencer os amigos que tudo continuava bem. Ele nem precisou explicar como e porque o assunto “” o deixava incômodo e sensível, visto que todos rapidamente se inteiraram da história.
Mas, agora era diferente.
estava de volta. Linda (se é que ele achava possível), bronzeada, e mais inteligente e madura do que estava preparado para aceitar.
E ele havia sido um imbecil 90% do tempo em que estiveram juntos.
Se tivesse conhecido alguém na Turquia, alguém que não fazia piadas escrotas sobre o corpo dela, alguém que a valorizava, será que seus amigos lhe contariam?
O mesmo medo que sentiu em Fernando de Noronha nunca passara. Talvez porque ela simplesmente havia provado que seu medo era real. a havia perdido. Mas, se em algum momento da festa de recepção dela, provasse que ele tinha alguma chance, se esforçaria para mantê-la. Não precisava perder outra vez.
Ignorando as risadas de Caíque por um vídeo no Instagram, ele tirou a pequena foto que revelara do passeio de mergulho e segurou um suspiro triste. Os dois pareciam tão felizes na foto, abraçados enquanto o barco seguia para o pedaço no mar que explorariam. tinha aquele sorrisão característico de quando fazia algo que gostava, brilhando mais que o sol no céu azul de Noronha. Ao virar a foto, a frase ainda o entristecia e despertava o mesmo arrependimento de antes.
“Se um dia você se lembrar de que na vida tudo passa, lembre-se que eu passei com uma vontade enorme de ficar.”
tinha certeza que uma bofetada doeria menos.
- Terra para . – Caíque estalou os dedos.
- O que foi? – ele o encarou.
- Minha prima chegou.
- Onde? – perguntou por reflexo.
- Ao Brasil, à Floripa, à casa de Doruk. – Caíque rolou os olhos. – Pare de fingir que não sabe. Você vai assim? Porque só falta a gente lá.
- Hm. – ele pigarreou. – O que tem minha roupa? Não posso usar bermuda?
- Não tem nada, mas pensei que você ia querer se arrumar mais. – Caíque riu. – Então se estamos todos prontos, vamos embora. Estou com saudade daquela vagabunda!
Eles estavam se olhando sem disfarçar. Provavelmente gravando na cabeça o rosto de cada um depois de anos, criando uma nova lembrança. Para a surpresa de , o cabelo de voltara a ficar preto e ele não estava mais bronzeado. O menino parado à sua frente não tinha nenhum indício do que deixara para trás. Ela não sabia o que dizer, como reagir, mas sentiu um aperto imenso no coração.
- Oi. – ele quebrou o silêncio. – Bem vinda novamente.
- Obrigada. – assentiu.
apertou os dedos, incerto se deveria tentar puxar assunto. Se uma pessoa te bloqueia nas redes sociais, isso talvez quer dizer que ela te bloquearia na vida real, certo?! Mas, antes mesmo que pudesse tomar uma decisão, Thiago voou sobre .
- Finalmente você voltou! Eu não aguentava mais ficar sem minha parceira de surfe.
- Mentiroso. – apertou a bochecha do amigo. – Você tem seu órgão vital que sempre te acompanha. – ela indicou com o queixo.
- Ele não surfa. – Thiago franziu o cenho, algo bem comum desde que anunciou que aposentaria a prancha. – Não mais.
- Não surfa mais? – deu uma tossida discreta, como costumava fazer quando estava desconcertada. – Lamento muito.
Sem conseguir esconder, ela o olhou com um questionamento evidente na testa franzida: “Por quê?”. desviou o olhar, pois não queria explicar que parara com o surfe por se lembrar dela a cada onda; porque estava se punindo por ter sido um bosta durante anos. Ignorando a conversa dos dois, ele passou direto para a cozinha, procurando alguma ocupação com Doruk.
- Por que você não mostra aquele poeminha meloso para ela? – Doruk encarou o amigo.
- O quê? – largou os tomates, que estava picando para o tira-gosto.
- É cara! O poeminha do “esqueça tudo e pegue minha mão”. – Doruk afinou a voz, fazendo gestos delicados. – o que fala sobre esquecer as lembranças tristes.
- Onde você o achou?
- Você realmente achou que eu ia ignorar qualquer coisa que lembrasse no seu quarto? – Doruk riu. – Juro, quem é que guarda textos românticos e poemas atrás de uma foto de casal? Você deveria ser mais esperto, .
- Ou você deveria respeitar a privacidade alheia, né.
- Bobagem. – Doruk abanou uma mão. – Enfim, estou falando sério. tem um coração puríssimo, ela vai compreender que você se redime por ser um filho da puta e te perdoará. Daí, você começa novamente com ela, só que sendo bacana.
- Você anda lendo muita fanfic, cara. Ou vendo aqueles seus dramas turcos.
- Ah, então você pretende ficar choramingando pelos cantos para sempre? Se voltar para a Turquia ela não durará dois meses solteira, sabe? O mercado de casamento turco é uma coisa bizarra, falo por experiência própria. – Doruk deu de ombros, sabendo que o gesto irritaria o amigo mais do que tudo.
- O que eu quero dizer é que minha participação no amor-próprio de jamais foi boa, e que ela está muito bem sem mim. Seria egoísmo meu querer atrapalhar tudo.
- Ou você poderia simplesmente provar para ela que não interessa o corpo, que você gosta de tudo sobre ela, independente da parte física.
- Ugh Doruk, é muito estranho te ouvir falando sobre amor. – encolheu os ombros, como se tivesse com nojo de algo.
- Quando você estiver namorando a eu vou te lembrar disso.
- Cala a boca. – soltou uma risada depreciativa, camuflando o tombo no coração só de imaginar o aceitando de volta.
A ideia de Doruk não era tão ridícula quanto imaginava, ele concluiu. realmente era uma garota maravilhosa e com um coração gigante, então talvez conseguisse desculpá-lo o suficiente para serem, no mínimo, amigos.
Enquanto esperava uma oportunidade para estar sozinho com , repassou as três pequenas estrofes na cabeça. As havia escrito quando estava chorando, em um misto de desespero, raiva e arrependimento. Machucara de uma maneira horrível, havia atingido mais do que o coração dela, havia mexido com seu amor-próprio. E isso era a maior covardia. A autoestima de uma pessoa é algo tão frágil e importante, que se sentia um escroto só de pensar em todos os “mamutes”, “baleias” e “gordas” que havia usado quando conversava com ela... Caramba, ele era um babaca da mais alta qualidade. Se pudesse retroceder até o dia em que se beijaram pela primeira vez, se pudesse juntar toda a coragem do mundo e dizer o quanto gostava de ficar com ela, de como tudo que envolvia “” era inexplicavelmente melhor...
- Oi. – ele tomou um sobressalto ao ouvir a voz dela.
- Oi.
- Posso me sentar aqui um minuto? Estou cansada da piscina. – apontou para o resto do sofá de quintal dos Savaş.
- O fato de você ter me bloqueado nas redes sociais atrapalha em algo? – perguntou por reflexo, se odiando logo depois. O questionamento ficava rondando sua cabeça, mas não era para ter perguntado daquele modo, naquele momento.
- Ora. – soltou uma risada depreciativa. – Peço desculpas, fui imatura.
Ele a encarou, surpreso. Por que ela pedia desculpas? Na verdade, era ele quem deveria estar ajoelhado implorando perdão por todas as burradas feitas.
- Acho que nessa categoria eu sou o vencedor. – sorriu sem humor.
- Oh, bem... Se insiste. – ela deu de ombros.
- Eu sinto muito, . – ele soltou, incapaz de segurar. Não sabia quando iria ter outra oportunidade de conversar com ela, quando teria coragem de conversar.
levou dois segundos para absorver a frase. Lamentar era desnecessário. chegara tarde demais, porém seu coração parou momentaneamente, quase cedendo à doçura de tais palavras. Infelizmente, havia um receio em acreditar nele. Não é que esperasse que tivesse mudado, aliás, não esperava nada mesmo, só que o pedido de desculpas a havia pegado desprevenida.
- Não se preocupe com isso, faz anos. – ela o confortou.
- Mesmo que faça, eu queria dizer que lamento muito. Fui um babaca por tanto tempo que me envergonho só de lembrar. – ele a olhou, esperando que acreditasse na sinceridade de seus sentimentos. – Confesso que achei que você nunca iria embora.
- Mas eu fui.
-Foi. – ele assentiu. – E me tirou o chão... Completamente.
ignorou o coração apertado. Aquele era um assunto tão cansativo, tão triste. Ela já não queria falar sobre como ficara magoada com tudo, sobre como ele havia esgotado toda sua reserva de autopreservação. Uma de suas amigas na Turquia lhe disse que o amor-próprio crescia quando outra pessoa te amava também, que não era preciso que alguém se amasse completamente para se apaixonar por outro. Infelizmente, preferia fazer as coisas do jeito Ru Paul: “se ame primeiro. Porque se você não se amar, como vai amar alguém?”. E ela estava passando por um caminho de renovação. Cada dia era uma pequena vitória. Cada olhada no espelho era uma sementinha de amor regada. Cada refeição feita sem peso na consciência era motivo de comemorar.
E ela tinha medo que atrapalhasse tudo.
Por mais que seu coração começasse a ceder, seu cérebro precisaria se manter forte.
- Bem, disso devo me desculpar. – ela forçou um sorriso. – Espero que já tenha recuperado o equilíbrio. – tentou brincar, ganhando uma risadinha.
- Achava que sim, até você reaparecer.
- Talvez devemos procurar um médico de labirintite...
- Ainda fico encantado com o fato de você ter uma resposta petulante para tudo que eu falo. – confessou. corou antes que tivesse a chance de virar o rosto.
- Ainda me admira que insistam em discutir comigo.
- Todos acham que você vai ser meiga e agradável, então não estão preparados para a língua afiada. – ele não tinha a intenção, mas ao falar de “língua” se lembrou do último beijo que deram, e todo o gelo que parecia derreter congelou novamente.
- Por mais que me emocione ver vocês dois conversando, vou precisar da minha prima por um momentinho. – Caíque surgiu de algum lugar, assustando ambos.
- O que foi, Cacau? – se levantou.
- Temos uma briga de galo para vencer, marmotinha.
- Ai meu Deus. – jogando a toalha onde esteve sentada, deu a mão para o primo, rindo. Era bom que ele a tirasse de perto de , ou sucumbiria.
Ao olhar para o relógio, suspirou. O sol nasceria e ele não tinha pregado o olho desde que voltara da casa de Doruk. Nem todas suas paixonites foram tão cansativas quanto esta... merecia o crédito por sempre fazê-lo perder o sono.
Depois de repassar praticamente todos os momentos com ela, principalmente os últimos, se deu por vencido. Estava na hora de colocar um fim nessa história. Chegava o famoso momento do “ou vai ou racha”. Ele pulou da cama, pegando a fatídica foto e seu post-it favorito com o pequeno poema, então seguiu para a porta, tomando cuidado para não acordar os pais.
ainda morava no mesmo bairro que ele – todos seus amigos moravam. Apenas duas ruas e um quarteirão o separavam, portanto não perdeu tempo andando. Ele correu. Era inútil esperar que estivesse acordada, mas isso não diminuiu a adrenalina. Quando chegou à recepção, seu coração martelava no peito.
- A , do décimo segundo andar, está aí?
- ? – o porteiro franziu o cenho. – O que está fazendo aqui a essa hora?
- Caraca Pinheiro, ainda é você? – sorriu aliviado. Tudo ficava mais fácil quando se era amigo do porteiro! – Achei que tivesse aposentado.
- Eu até quis, mas gosto muito daqui. – Pinheiro deu de ombros. – O que quer com agora? Ela chegou com a turca e subiram tem tempo.
- Eu imaginei. – ele assentiu. – Quando vier trazer Aslı, por favor, entregue isso aqui para ela. Não precisa dizer que fui eu, ela vai sacar na hora.
- Tudo bem. – Pinheiro pegou o envelope. – Agora vai para casa, garoto. Ainda não são nem seis da manhã! Os jovens de hoje em dia, viu...
O barulho de conversa foi a gota d’água. despertou em um estado de humor deplorável, apenas para encontrar sua mãe e Aslı batendo papo no colchão em que a amiga dormira na noite passada.
- Vocês comeram maritacas? – resmungou.
- Não, querida. Mas você comeu o pão que o diabo amassou, suponho. – Aslı riu. – Eu estava aqui falando para sua mãe sobre minha solteirice recém adquirida.
- Ah Deus, ela vai ficar nisso o dia todo, mãe. – coçou os olhos, ainda com sono.
- Não vou, porque diferente de vocês desocupados, eu preciso ajudar no almoço, já que a família está chegando hoje. – a turca se levantou. – E se você quiser sair à noite, eu preciso fazer aquela média né? Então saí da cama e me acompanhe até a portaria!
- Antes de ir, filha, seu pai foi buscar o jornal e Pinheiro tinha um envelope destinado à você. Eu o deixei no descanso de frutas, junto com as chaves.
- Já, já eu vejo. Valeu, mãe. – ela empurrou as cobertas e começou a se arrumar.
Aslı, em solidariedade à amiga, foi até a cozinha preparar algo para ela comer enquanto esperavam Doruk chegar para buscá-la. Vendo o envelope onde a mãe de tinha dito que havia deixado, ela o pegou e levou para o quarto junto com quatro bisnaguinhas rechadas de nutella e uma xícara de café forte.
- Aqui, peguei para você. – entregando a comida e o envelope, Aslı se jogou na cama.
- Valeu, miga. – mordeu um pedaço do pão.
- O que é que tem aí? Fala de quem é?
- Não fala nada. Peraí, vou abrir. – segurando o resto da bisnaga na boca, rasgou a curva do envelope e puxou o conteúdo para fora, engasgando logo depois.
Uau.
A mesma foto em que havia escrito o pequeno recado de despedida para estava com um post-it grande pregado. reconhecia a letra dele, mas não conhecia as frases ali. Aslı não disse nada, apesar de ter se tocado do que era, pois a cara que a amiga fez foi autoexplicativa.
I just wanted to make you smile
I wanted to do good
(So thanks) Believing in someone like me
Dealing with these tears and wounds
(So thanks) For becoming my light
For becoming the flower in the most beautiful moment in life
It’s okay, come on, when I say “one, two, three” forget it
Erase all sad memories
Hold my hand and smile
It’s okay, come on, when I say “one, two, three” forget it
Erase all sad memories
Smile holding onto each other’s hands
One, two, three
For a better day
Because we are together
Seus olhos arderam com a vontade de chorar. Isso eram estrofes de uma música? Ou ele teria escrito sozinho? Era algum poema de filme ou livro?
- ? Está tudo bem? Eu vou precisar matá-lo?
- Não. – negou, sentindo-se péssima. – Não para ambos.
- Você quer conversar sobre isso? – Aslı ajeitou a postura, cautelosa.
-Eu só queria entender por que diabos ele faz essas coisas, sabe? Por que ele torna tão difícil seguir em frente. – suspirou. – Eu jurava que estava tudo bem até por os pés no Brasil! E então, ontem, ele veio me pedir desculpas! Dizendo que havia sido um babaca e tudo mais... E agora esse poema, música, sei lá! Allah Allah, Aslı!
- Longe de mim defender e você sabe que eu torcia para ele tomar o maior pé na bunda seu, né?! Mas, desde que você foi para Bodrum... Ele apagou, entende? Nada do que fazíamos juntos ele participava. Surfe? Largou mão. Trilhas? Preferia só a academia. Resenhas na casa do Thiago? Inventava alguma desculpa para não ir. Redes sociais? Quase nunca entrava nelas. – Aslı segurou a mão da amiga. – nós sabemos que tem umas quantas cargas de culpa na relação de vocês, mas desde Noronha eu vejo ele agindo diferente. Lá ele fazia de tudo para te ver sorrir, ele não poupava esforços em te agradar. Talvez ele realmente tenha mudado, . Eu não estou falando isso só porque essa áurea nada auspiciosa atrapalha meu equilíbrio turco, miga.
Analisando verdadeiramente, teria que admitir que Aslı tinha um pouco de razão. O pré-Noronha jamais se incomodaria em lhe mandar um envelope com frases melosas. O pré-Noronha provavelmente teria jogado a foto fora, e quando a encontrasse depois de Bodrum, ele teria fingido que nada tinha acontecido e feito uma piada sobre como a Turquia a elevou de mamute para mamute internacional.
O grande problema estava nos “talvez”, no passado. Ela conseguiria embarcar em outro relacionamento com sem se lembrar do antigo? Conseguiria se amar e não se sentir inferior a ele? Saberia até que ponto tudo estava sendo saudável ou tóxico? Até onde conseguiria lidar com suas inseguranças e não o culpar por elas – porque nem tudo era culpa dele, afinal –? O mais importante: conseguiria perdoá-lo? Se perdoar?
- Olha, Doruk me mandou uma mensagem dizendo que está chegando. – Aslı a tirou dos pensamentos. – você fica aqui e, bem, se ajeita. Quando o almoço estiver ficando pronto, eu te ligo para ver se quer almoçar conosco, ok? Seus pais também estão convidados. – ela se levantou. – Até mais. Qualquer coisa me liga primeiro, viu?!
assentiu, confusa demais para se despedir educadamente da amiga.
Ela encarou a foto, observando como estava feliz ali. Verdadeiramente feliz. Satisfeita. Quando não havia piadas ruins sobre o corpo dela, ou brigas por motivos bobos, os dois trabalhavam tão bem juntos. Eram tão bons juntos. Seria possível serem bons outra vez? Eles conseguiriam construir algo em cima de amor, e não só de tesão e urgência?
Tudo seria diferente. não aceitaria mais críticas ruins como antes, ela não ignoraria se ele fizesse uma piada ridícula sobre seu corpo. Porque, na marra, havia aprendido a separar a tênue linha entre se amar e amar alguém. Querendo ou não, no final do dia, ela era sua única companhia, ela era sua casa. E que coisa horrível não gostar do lugar onde se habita! Então, se fosse realmente tentar algo com ele novamente, imporia limites. E se ele tivesse mudado, saberia aceitar. Reconheceria a necessidade dela em impô-los. A apoiaria.
Mas, inevitavelmente, só havia um modo de saber se tudo era verdade: tentando.
O barulho dos latidos de Boris deixou confuso. Por ser um beagle mais velho, o cachorro estava acostumado a dormir o dia todo e não fazia graça para quase ninguém, mas lá estava ele, latindo animado para alguma coisa. Ele desligou o som do quarto e calçou os chinelos, pronto para dar uma bronca no animal.
- Ei, Boris! – pôs a cabeça para fora da porta. – Boris! – ele ouviu o baque das patas gordas vindo em sua direção, e sorriu. – O que aconteceu, rapaz?
Mas, ao notar que ao lado do cachorro vinha alguém, seu coração levou um tombo.
- Desculpe, acho que ele ficou muito animado em me ver. – riu suavemente.
E jamais poderia culpá-lo por isso. estava ali. Linda, sorrindo e ali.
- Tudo bem, eu só estranhei porque Boris não faz festa para nada... E eu estou sozinho em casa, então... – coçando a nuca, encarou o chão.
- Encontrei seus pais na área de lazer. Sua mãe estava na piscina e seu pai jogando ping-pong. – coçou as orelhas do beagle. – eles me disseram que você estava aqui.
- Pois é. – ele assentiu. – Aceita, uh, uma água? Chá? Café?
- Não, não. – ela negou. – Eu vim conversar com você rapidinho.
- Ah... – fez o possível para não demonstrar que estava triste.
- Então... Eu recebi um envelope seu hoje... Na verdade, espero que seja seu, porque senão isso será uma situação bem embaraçosa. – corou. – enfim, o que tudo significa? Talvez eu tenha interpretado errado ou...
- Se o que você interpretou estiver na linha de “eu quero você de volta”, “eu quero fazer tudo certo com você”, “eu te amo”, então você entendeu certo.
Eu te amo.
Ele havia dito “eu te amo”. Havia dito primeiro.
One, two, three
For a better day
Because we are together
- 1, 2, 3. – assentiu, usando a estrofe do poema como guia.
não precisou de dois segundos para entender, sorrindo e abrindo os braços, esperando para tê-la entre eles novamente, de onde nunca deveria ter saído.
Fim.
Nota da autora: Essa fanfic é um tesourinho para mim, porque fala de uma experiência própria. Espero que vocês nunca se anulem por alguém, mas que também saibam dar segundas chances, afinal, a maioria das pessoas merece uma.
Se você gostou, dê uma passadinha na minha outra fic (ela é short e finalizada).
Outras Fanfics:
09. Lady Luck [FICSTAPE #62 EXODUS]
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Outras Fanfics:
09. Lady Luck [FICSTAPE #62 EXODUS]
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