Capítulo Único
estralava os dedos no ritmo da música enquanto cantarolava baixo, animada por estar ali. Tomou um gole longo da cerveja que segurava e sorriu, observando as pessoas a sua volta conversando e dançando ao som de alguma banda underground de Nova Iorque – finalmente, Nova Iorque!
Apesar de perdida entre as músicas, luzes e goles longos de cerveja, ela percebeu prontamente quando um rapaz alto e sorridente sentou ao seu lado, pedindo uma cerveja ao bartender. Ela o olhou da cabeça aos pés, sem se importar se ele iria reparar na sua indiscrição. Puta merda, ela concluiu, ele era gostoso pra caralho. Ela riu consigo mesma e finalizou sua quarta cerveja com um longo gole, pedindo outra. Se repreendeu por uma fração de segundo por estar bebendo tanto, já que no dia seguinte deveria estar de pé e disposta as sete da manhã para fazer seu credenciamento.
era vocalista de uma banda de punk-pop desde sua adolescência. Ela e suas melhores amigas do ensino médio formaram a No Vacation como uma forma de se divertir e extravasar seus sentimentos, mas com o tempo o pequeno hobby acabou virando o centro de suas vidas. Agora, com vinte anos cada uma, finalmente haviam conseguido a chance de suas vidas: elas haviam sido classificadas – e ganharam todas as etapas até a final, que disputariam com mais duas bandas – de um grande concurso musical feito com a finalidade de promover novas bandas americanas. O prêmio para o primeiro lugar envolvia uma contrato de dois anos com a gravadora que financiava esse concurso, equipamento novo e um valor em dinheiro. É claro que todos os itens as interessavam muito, então estavam dando cento e cinquenta por cento de si mesmas nesse concurso. Suas companheiras de banda com certeza não ficariam muito felizes se soubessem que ela estava se embriagando naquele exato momento.
Quando o bartender voltou com sua cerveja, finalmente o rapaz ao lado deu uma boa olhada nela. E é claro que ela conhecia aquele olhar, não precisa sequer de confirmação, aquela era uma isca fácil.
- Aproveitando a noite? – ela perguntou sorrindo.
- Ao máximo. – riu – A música desse lugar é incrível.
- Você é daqui?
- Ah, não. Sou de Nashvile.
- Ah, a cidade da música?
- É o que dizem. – deu de ombros enquanto tomava um gole da cerveja – Morei por algum tempo em alguns lugares também, é sempre bom mudar de ares. Estou morando em Los Angeles há quase dois anos agora. A propósito, meu nome é . . – ele estendeu a mão que ela prontamente apertou, sorrindo.
- . – o rapaz retribuiu o sorriso – E o que o traz a Nova Iorque, a cidade dos sonhos?
- Trabalho, na verdade. E você?
- Também. Na verdade, nem deveria estar bebendo, tenho que acordar bem cedo amanhã. Mas é minha primeira vez na cidade, quis sair um pouco para conhecer os ares. Uma amiga indicou esse bar e acabei vindo com a promessa de apenas uma cerveja... E já estou na quarta.
- Bom, essa deve ser minha sexta da noite, eu estava em outro bar antes, então acho que estamos na mesma. – os dois riram e se encaram por alguns segundos, o ar cheio de pura tensão sexual – Por quanto tempo você vai ficar na cidade?
- Cinco dias, talvez um pouco mais se eu decidir aproveitar um pouco mais a cidade. Você?
- Uma semana. Talvez possamos nos esbarrar depois.
- Bom, quem sabe. Não sei quanto tempo livre terei, mas podemos trocar nossos telefones e conversar mais.
Entre risadas e assuntos completamente aleatórios, os dois acabaram bebendo um pouco mais do que deviam – bem mais do que deviam, na verdade. A tensão entre os dois apenas aumentava e começava a contar os segundos para poder tirar todas as roupas do rapaz e pular em cima dele, sentimento completamente recíproco. Descobriram que por mero capricho – ou favor – do destino, estavam no mesmo hotel e, bom, claro que decidiram dividir um táxi até lá, era a coisa mais óbvia a se fazer. Ainda no táxi, as coisas começaram a ficar complicadas: bastou um sorriso de canto de boca para que esquecesse seus limites e puxasse o corpo do rapaz em direção ao seu, começando um beijo ardente no banco de trás do táxi. Ela se sentiu um pouco mal pelo taxista, mas imaginou que ele estava acostumado com esse tipo de situação, além de que seu estado mental – absurdamente bêbada – não a deixava se importar tanto. Os dois quase não se aguentavam enquanto corriam até o quarto de , rindo e se beijando pelos corredores do hotel. Era impossível saber qual dos dois estava pior e naquele exato momento nenhum dos dois sequer cogitava lembrar dos compromissos do dia seguinte.
Entrar naquela suíte e se livrar de tantas roupas foi o maior alívio da vida de ambos. As risadas foram substituídos por audíveis gemidos e o quarto ficou completamente abafado e quente demais para os dois se aguentarem. E foi assim por horas e horas a fio, até que o excesso de bebida e cansaço fizesse com que os dois adormecessem sem qualquer preocupação em suas cabeças.
***
acordou com um barulho alto e irritante que fez sua cabeça instantaneamente latejar. Ela sentia um gosto amargo na boca e cobriu rapidamente a cabeça com o travesseiro enquanto rolava na cama, chocando seu corpo contra um objeto grande que se moveu prontamente, fazendo-a se assustar e jogar o travesseiro longe, abrindo os olhos sem reconhecer onde estava.
- Que caralho...?
O rapaz ao seu lado abriu os olhos, também confuso. Aos poucos, flashes da noite anterior começaram a surgir na mente dos dois, que finalmente reconheceram onde estavam e respiraram, aliviados, mas nem tão aliviados quando perceberam o sol intenso do lado de fora e lembraram de todos os seus compromissos para aquele dia.
- Quantas horas são? – ela perguntou enquanto esfregava os olhos e se levantava com pressa, catando as roupas pelo chão da suíte.
- Sete e quinze.
- Preciso correr para o meu quarto e me arrumar, já estou atrasada. – ela se vestiu com poucos segundos e rumou até a porta – Foi um prazer te conhecer, . A gente se esbarra por aí.
Ela saiu do quarto sem esperar uma resposta, sem deixar seu número de telefone e pouco se importando com a situação, já que suas colegas a matariam se ela se atrasasse mais um segundo sequer. E, obviamente, aquilo era muito mais importante que um homem qualquer, mesmo que ele tivesse sido uma das fodas mais memoráveis de sua vida. Logo ao sair do elevador ela percebeu que não havia pegado seus sapatos, mas apenas deu uma risada e correu para o quarto que dividia com a melhor amiga, , que já se encontrava pronta para sair do hotel, sentada na beirada da cama olhando seu celular.
- Parece que alguém teve uma boa noite, ein? – a amiga disse assim que ela entrou no quarto – Você parece um lixo.
- Eu me sinto um lixo. Preciso de um banho e analgésicos.
- Me diga que pelo menos você transou.
- Obviamente. Mas não conte para as meninas ou elas vão me matar.
- Seu segredo está seguro comigo, . – ela riu – Ele era gostoso?
- Ah, muito, muito mesmo. E por coincidência estava aqui no hotel também, então só precisei descer dois andares pra voltar.
- Que sorte, ein? Agora vê se toma um banho porque precisamos descer pra pegar o táxi em quinze minutos, no máximo.
tirou de si todo o cheiro de álcool e sexo da noite anterior no que parecia ter sido o banho mais rápido da sua vida e depois de um café forte – cortesia de -, vários comprimidos para sua dor de cabeça e óculos escuros para esconder sua cara de morte, as duas amigas desceram para o lobby do hotel para se encontrarem com o resto da banda e seguir até o local onde o credenciamento deveria ser feito.
***
Apesar de serem apenas três bandas, haviam outras pequenas competição acontecendo em paralelo, o que fazia com o que o credenciamente se tornasse uma pequena bagunça. É claro que era culpa dos organizadores, pois tudo poderia ter sido organizado de forma mais fácil, mas não havia qualquer sentido em reclamar naquele momento.
e se encontravam na fila para fazer o credenciamento da banda, enquanto as outras garotas resolviam outros pequenos problemas relacionados a performance delas dali dois dias. Não demorou muito para que começasse a se incomodar com a fila e bufar, sem paciência, coisa bem típica da garota, que não tinha muita paciência para burocracias.
- , você poderia ter deixado a Val vir no seu lugar, sei que odeia filas.
- Não é por isso que estou incomodada.
- O que foi então?
- está aqui.
- Ah.
era o ex-namorado otário que toda mulher infelizmente tem em sua vida. havia o namorado quando tinham dezessete anos, ele morava na cidade ao lado e os dois foram completamente apaixonados por um ano e meio, até que ele arrumou uma garota nova e terminou com ela por telefone. O ódio que a garota nutria pelo ex era tão profundo que ela ficava vermelha de raiva quando citavam o nome dele, o seu incômodo com a existência dele era fisicamente nítido.
Mas para o azar de , fazia parte da Beastie Boys, uma das bandas que concorreria com elas pelo grande prêmio naquela semana. não sabia absolutamente nada sobre a banda, apenas que o alvo do ódio mais mortal da amiga era o baterista. Ela também, na verdade, não se importava muito, ela sabia que sua banda era boa o suficiente – e merecia! – aquele contrato. Ela confiava em si mesma e nas suas garotas.
- Não deixa ele te incomodar, . Vamos acabar com a banda deles na apresentação e com certeza será o melhor gosto que você já sentiu.
- É, talvez sirva como algum tipo de vingança. Eu me sentiria muito bem com isso, não vou negar.
- Você vai se sentir, . Essa competição é nossa. – ela sorriu para a amiga enquanto entregava seus documentos para a mulher na mesa ao frente.
Ao lado delas, e um dos colegas de banda fazia o mesmo. Ele olhou rapidamente para elas, mas logo desviou o olhar ao perceber que o fuzilava mentalmente. O amigo dele, sem perceber nada, agia naturalmente e ria conversando com a senhora da mesa, que o olhava com simpaticidade.
O que não esperava, porém, era que um terceiro integrante apareceria, correndo, suado e com o cabelo todo bagunçado entregando suas coisas de última hora, sendo repreendido pelos amigos. Seu primeiro pensamento foi o quanto ele era bonito e sexy mesmo completamente esbaforido, mas de repente a intensidade da situação a atingiu e ela quase deixou tudo que segurava cair no chão, engasgando e tendo que inventar uma desculpa qualquer para .
era o terceiro integrante da Beastie Boys.
***
passou o resto do dia suando por cada canto do seu corpo e evitando todas as perguntas de sobre seu sórdido affair da noite anterior. A cada pergunta ela conseguia se engasgar, tropeçar nas palavras e mudar de assunto de forma suspeita e completamente estúpida. É claro que a outra garota estava ligeiramente desconfiada de que algo na situação não estava certo, mas apenas decidiu ignorar e culpar a ressaca da amiga.
Após passarem boa parte do dia resolvendo pequenas burocracias da competição, elas rumaram para o espaço destinado aos ensaios abertos. A terceira banda que estava na competição chamava-se Nasty Chase e estavam ensaiando no exato momento em que chegaram lá. Eles eram bons, muito bons, mas nada comparado a No Vacation. Simpática, conversou com os rapazes da banda, que acabaram ficando lá e assistindo boa parte do ensaio delas também.
Quase no final, os três integrantes da Beastie Boys apareceram, fazendo instantaneamente ativar seu modo fúria e largar seu baixo em um canto qualquer do palco. As outras garotas deram de ombros e riram, afinal, já era mesmo o final do ensaio, não fazia tanta diferença. Mas é claro que, no fundo, todas ficavam um pouco nervosas com a atitude extremamente infantil da garota.
O rancor dela pelo ex era completamente compreensível, afinal, ele havia sido extremamente desonesto e estúpido com ela, mas aquilo ocorre quase cinco anos antes, quando eram apenas dois adolescentes com mais hormônios do que inteligência de fato em seus corpos. Em resumo, todas pensavam que já havia passado da hora de parar de ter reações tão exageradas quando se tratava de . Obviamente ninguém tinha coragem de sequer tocar no assunto com ela, pois sabiam que invocariam uma fera que dificilmente seria controlada e isso era algo que ninguém queria ver.
juntou suas coisas e pegou sua mochila num canto, ficando um pouco para trás do resto da banda, que já se encontrava do lado de fora. Ela parou por um segundo para observar os rapazes e pôde perceber afinando cuidadosamente sua guitarra, seu cabelo ainda bagunçado e um sorriso de canto de boca – o mesmo que a enlouqueceu na noite anterior – nos lábios. Ela deixou um suspiro baixo escapar dos lábios e agradeceu por serem apenas alguns poucos dias de convivência, porque de qualquer outra forma ele a deixaria completamente louca. Antes de deixar o local, ela deu uma última olhada para ele e percebeu que ele também a fitava. Sem desviar o olhar, ele mostrou um sorriso e piscou, fazendo-a perceber que ele também já estava completamente a par da situação em que se encontravam: Completamente ferrados.
***
As garotas saíram para jantar e resolveram ir para um bar com os garotos da Nasty Chase logo após. , ainda morta da noite anterior e com a cabeça latejando, resolveu voltar para o hotel, tomar um longo banho de banheira e ter o sono de princesa que merecia. Logo ao entrar no quarto, jogou seu corpo na cama e checou seu celular por alguns segundos. Sem nada muito interessante, decidiu tomar seu banho.
Poucas coisas eram melhores no mundo do que uma banheira cheia de de água morna e perfumada, ela pensou. A única coisa que faltava ali era uma taça de vinho, porém ela sabia que seu corpo não tinha qualquer chance de sobreviver a mais álcool. deixou seu corpo flutuar na banheira por mais tempo que deveria, acabando por cochilar por alguns alguns minutos, que poderiam ter virado horas se não tivesse sido acordada por batidas estrondosas na porta. Irritada, ela se enrolou na toalha, imaginando que tinha resolvido voltar mais cedo e perdido a chave do quarto ou qualquer situação similar.
A garota quase caiu para trás quando se deparou com , ele mesmo, em carne e osso, em sua porta. Desgraçado.
- O que você está fazendo aqui?! – ela perguntou enquanto tentava esconder mais ainda o corpo na toalha – Você está louco?
- Calma, princesa. – ele riu – Só vim devolver seus sapatos, Cinderela. E não precisa ficar tão preocupada, não tem nada aí que eu não tenha visto noite passada. Posso entrar? – perguntou já colocando os pés dentro do quarto.
- Não, você não pode entrar. – respondeu nervosa – Obrigada pelos sapatos, agora, por favor, pode ir embora?
- E se eu não quiser? – ele disse dando alguns passos para perto dela, que sentiu seu corpo estremecer – Eu quero você, .
- Eu vou chamar a segurança, ou , ou...
- Ou? – ele colocou a mão no pescoço dela, passando os dedos levemente pelo seu pescoço e aproximava sua boca da orelha dela.
- ...
- Eu não consigo parar de pensar na noite passada. Você é maravilhosa.
- Isso é errado, se eles descobrirem... Estamos ferrados.
- Eu sei, . Eu sei. E é isso que me faz te querer ainda mais.
Após aquelas palavras, era completamente impossível resistir sequer mais um segundo ao rapaz. cobriu ferozmente a boca dele com a dela. Ele fechou a porta com o pé, puxou a toalha dela para baixo e após poucos segundos estavam na cama dela, sem roupas e sem sequer lembrar que existia um mundo inteiro lá fora que sequer poderia sonhar com a existência daquele casinho mais que sórdido.
***
Sem juízo qualquer da realidade ou qualquer noção de perigo, e continuaram se encontrando pelos cantos do hotel, completamente imerso numa pequena bolha sexual que criaram para si próprios. Elevadores, banheiros, qualquer lugar poderia sediar um dos seus pequenos encontros. As vezes rápidos, as vezes demorados, intensos, calorosos e sempre memoráveis.
se mostrava cada dia mais irritada com a atitude esquiva da amiga, além do fato de ter que ver o ex-namorado algumas vezes por dia Naquela noite performariam um grande show e teriam o resultado do concourso. Todos estavam uma pilha de nervos, exceto por , que sempre esbanjava confiança e bom humor, coisa que irritava ainda mais a melhor amiga.
Elas ensaiaram por algumas horas na parte da manhã e voltaram para o hotel com a promessa de descansarem e se prepararem para o gran finale. não parava de reclamar sobre como não queria ser obrigada a assistir a apresentação da Beastie Boys, sobre como não aguentava mais esperar a hora de finalmente voltar para casa e ficar longe dele. Tudo para ela era horrível, tudo intolerável e absurdo. respirou fundo, dizendo a si mesma por aguentar só mais umas horas e estaria livre.
Seu celular apitou e ela o pegou rapidamente, antes que pudesse vê-lo.
- Tá falando com o boy, é?
- Que boy, ?
- Sei que você tá de casinho com o gostoso do primeiro dia, nem vem. Você está sempre olhando o celular, toda furtiva e esquiva. Porque não chama ele pra sair com a gente?
- Você tá viajando, não tem casinho nenhum. É só minha mãe. – ela mentiu enquanto respondia uma mensagem bem sexual de , tentando não sorrir demais e levantar suspeitas.
- Não vejo motivo algum para você mentir pra mim, . Mas se acha melhor assim. Vou descer na recepção pra resolver algumas coisas e sair para comer, te vejo mais tarde.
agradeceu mentalmente por finalmente se livrar da reclamação sem fim da amiga e continuou conversando com , que tentava convence-la a subir para o seu quarto. Ela relutou – por longos dez minutos, afinal, ela era uma garota difícil -, mas logo estava no elevador indo em direção ao quarto dele.
- Você está linda. – ele disse sorrindo assim que ela entrou no quarto.
- Você disso toda vez que me vê. – ela riu.
- Você sempre está linda. – ele deu um beijo no pescoço dela, que revirou os olhos – Animada para hoje a noite?
- Com certeza. Vamos destruir vocês. – provocou.
- Só nos seus sonhos, Cinderela.
- está insuportável. Eu realmente gostaria que ela pudesse superar essa coisa com o e agir como uma adulta.
- Eu realmente não entendo o ponto disso tudo, já faz tanto tempo e, sei lá, agora eles são adultos. O sempre diz que queria dizer que sente muito, mas tem medo de que ela surte e o mate.
- É provável que aconteça, diga a ele para ficar longe.
sentiu seu celular tocou e viu o nome de Val na tela. Fez sinal com o dedo para que ficasse calado e atendeu rapidamente.
- Oi, Val.
- , você pode encontrar com a gente no saguão rapidinho? Só cinco minutos, precisamos ver uma questão de horários.
- Agora?
- É, é meio urgente. Prometo que são só cinco minutos.
- Ok, estou indo.
Ela jogou o celular no bolso de novo e suspirou, olhando decepcionada para .
- Eu preciso ir no saguão resolver alguma coisa relacionada a horários. Você pode esperar uns minutinhos?
- Na verdade vou descer também, preciso perguntar algo na recepção. Vou levar só alguns minutos também.
Os dois saíram do quarto, olhando antes se alguém conhecido estava por perto. Ao entrarem no elevador, sozinhos, os dois se olharam de canto de olho, já desejando o que estava por vir a qualquer momento. deu um beijo atrevido no rapaz, que agarrou a bunda dela com força e pressionou seu corpo contra a parede. Distraídos, se separaram as pressas quando o elevador se abriu, rindo bobos um para o outro. O que eles não perceberam era que estava parada na porta, olhando com os olhos arregalados para os dois.
- ?
- Eu não acredito que você fez isso comigo. – ela disse antes de virar as costas e correr na direção contrária ao elevador.
- Merda! Eu te disse que isso ia dar merda, .
- Me deixa falar com ela, eu...
- Não! Fica longe disso, eu resolvo. – ela disse frustrada.
A garota correu atrás da amiga, que andava sem rumo pelo hotel. Ela gritou pelo seu nome, pateticamente, algumas vezes, até que então ela finalmente parou e encarou com os olhos cheios de lágrimas.
- Eu não dou a mínima para qual seja a sua desculpa, . O que você fez é inaceitável! Além de serem nossos rivais na competição, você sabe muito bem tudo que eu passei na mão do ! Transar pelos cantos não era a escolha mais sábia a se fazer.
- , você está sendo irracional! não tem absolutamente nada a ver com seu passado com o e tão pouco eu! Eu gosto dele, estamos nos divertindo e isso não tem nada a ver com vocês dois, qual a dificuldade em entender isso?
- Meninas, isso está indo longe demais. – elas ouviram a voz de Val, ao longe, que estava acompanhada da útima integrante da banda, Jenny.
- A dificuldade é que você é minha melhor amiga, Cassadee, ou pelo menos eu pensei que era. Você deveria estar do meu lado e não do lado deles. É tão difícil achar outro pau pra ficar correndo atrás? Dentre tantos homens, por que ele?
- E isso importa? Eu escolho com quem quero me relacionar, não você! Já chega dessa história, já chega de , eu não suporto mais! Já fazem anos , já passou da hora de você crescer. Não vou deixar seu rancor adolescente atrapalhar a minha vida.
- Bom, boa sorte com seu novo namoradinho, então. Sou eu ou ela, meninas.
- O que?! – todas disseram praticamente juntas.
- Eu não toco se ela tocar.
- , seja razoável. Faltam horas para o concurso.
- Você estão com ela ou comigo? Acham que eu estou errada ou que ela está sendo uma traidora comigo?
- , eu... – Jenny começou e se encolheu, desviando o olhar, assim como Val.
- Já entendi. Boa sorte hoje a noite, você vão precisar.
- ! – Cassadee tentou chamá-la, mas a garota apenas virou as costas e saiu do hotel.
***
Faltavam exatamente trinta minutos para a No Vacation subir no palco, sendo a última banda a tocar. Naquele exato momento a Beastie Boys fazia um show impecável e mesmo com todos os acontecimentos do dia, não parava de olhar para ela enquanto tocava. Ela sorria, sem graça, tentando ao mesmo tempo esconder as lágrimas de preocupação e tristeza.
Ela tocaria guitarra no lugar de Val e a mesma tocaria o baixo, mas elas sabiam que isso mudava a dinâmica de tudo e que tinham poucas chances de fazer um show tão bom quanto planejaram e ensairam por meses. Elas fariam o seu melhor e esperariam que fosse o suficiente, mas vendo a performance das outras bandas, sabiam que as chances eram poucas.
Quando o show dos rapazes acabou, foi até ela e sentou-se ao seu lado, segurando sua mão com ternura. Ela sorriu para ele, tentando não chorar.
- Acho que no final das contas, vocês que vão destruir a gente. – ela riu amarga, já sem segurar as lágrimas.
- Hey, vai ficar tudo bem.
- Eu trabalhei muito duro nisso, . Eu tenho esperado, nós temos esperado, essa chance há anos. E eu estraguei tudo, tudo!
- Você não estragou tudo, . não está sendo nada razoável, você não fez nada de errado.
- Ela está certa, . Entre todos os caras de Nova Iorque, eu tinha que ficar com justamente o que é amigo do ex dela? – ela suspirou – Eu ferrei tudo. As meninas vão me odiar para sempre.
- Ei, ei! Não coloque palavras na minha boca, mocinha. – Val se intrometeu na conversa – Eu não odeio você e concordo com . não está sendo razoável, nada razoável. Talvez seja até melhor que ela não toque, estou cansada de tanto drama por causa de um peguete adolescente. – ela confessou – Vamos tentar dor o nosso melhor, sei que as circunstâncias não são as ideias, mas faremos o possível. Se não der certo, teremos outras oportunidades.
- Concordo com a Val, . Não se martirize, isso não é sua culpa.
- Tenho certeza que vocês vão arrasar, garotas. – disse – E estão chamando vocês no palco. É hora do show.
As garotas se levantaram e com um misto de nervosismo e animação, começaram a se preparar para entrar no palco. Quando Cassadee estava pronta para ir, segurou sua mão com força, a fazendo parar.
- Hey, só gostaria que soubesse que independente do que acontecer hoje a noite, não quero que isso acabe aqui. – ele sorriu e acariciou o rosto dela com a ponta dos dedos.
- Nem eu. – ela disse – Me deseje sorte.
Os dois se despediram com um beijo rápido e Cassadee correu para o palco, entregando completamente o seu corpo para a música.
***
- Agora, senhoras e senhores, teremos o grande prazer de anunciar o grande vencedor da noite. Foi um prazer ouvir vocês e poder trabalhar com artistas tão maravilhosos.
O dono da gravadora que promovia o evento fazia um breve discusso de agradecimento enquanto os integrantes das três bandas e fãs, amigos, família e demais pessoas que assistiam aguardavam ansiosos pelo resultado. Por debaixo da mesa onde se sentavam, segurava a mão de , ambos nervosos e de certa forma tentando esconder um pouco a proximidade dos amigos.
- Eu já nem me importo tanto com o resultado, pra ser sincera. – Val disse enquanto tomava um longo gole de sua cerveja – Eu aprendi hoje que tenho que ser mais cuidadosa com os amigos que escolho e com certeza treinar mais baixo. – deu de ombros – Se vocês ganharem, rapazes, será bem merecido. Menos o , continuo te odiando. – disse com um misto de sinceridade e brincadeira.
Todos da mesa riram e respirou fundo, sabendo que a amiga estava certa. De certa forma, no final das contas, tudo que viveram e aprenderam ali contava muito mais que o prêmio. Além disso, elas teriam outros caminhos e possibilidades de alcançar uma gravadora. A hora delas chegaria, ela tinha certeza.
- Nós podemos nos mudar para Los Angeles, sabe. Começar a gravar muitas demos, mandar para todas as gravadoras. Nós vamos conseguir. – Jenny disse, sorrindo.
- Quer dizer então que vai se mudar para perto de mim? – perguntou para , sorrindo.
- Quem sabe. – deu de ombros – É a cidade ideal para construir uma carreira artística.
- E, sem mais delongas, senhoras e senhores... – o homem continuou – A grande ganhadora da noite é...
...Nasty Chase!
Todos começaram a aplaudir e as outras duas bandas se entreolharam, incrédulas. Todos abafaram algumas risadas e, claro, aplaudiram também. levou a mão até o rosto e balançou a cabeça, incrédula com como a situação estava se desdobrando. Era isso, era o fim, elas haviam perdido o concurso que tanto almejaram, ensaiaram, lutaram. Mas por algum motivo, algo dentro dela a impedia de chorar. Ela olhou para , que sorria de uma forma confusa para ela enquanto parava de aplaudir e segurava suas duas mãos, sem se importar com as pessoas observando ao redor.
- Então... Los Angeles?
Apesar de perdida entre as músicas, luzes e goles longos de cerveja, ela percebeu prontamente quando um rapaz alto e sorridente sentou ao seu lado, pedindo uma cerveja ao bartender. Ela o olhou da cabeça aos pés, sem se importar se ele iria reparar na sua indiscrição. Puta merda, ela concluiu, ele era gostoso pra caralho. Ela riu consigo mesma e finalizou sua quarta cerveja com um longo gole, pedindo outra. Se repreendeu por uma fração de segundo por estar bebendo tanto, já que no dia seguinte deveria estar de pé e disposta as sete da manhã para fazer seu credenciamento.
era vocalista de uma banda de punk-pop desde sua adolescência. Ela e suas melhores amigas do ensino médio formaram a No Vacation como uma forma de se divertir e extravasar seus sentimentos, mas com o tempo o pequeno hobby acabou virando o centro de suas vidas. Agora, com vinte anos cada uma, finalmente haviam conseguido a chance de suas vidas: elas haviam sido classificadas – e ganharam todas as etapas até a final, que disputariam com mais duas bandas – de um grande concurso musical feito com a finalidade de promover novas bandas americanas. O prêmio para o primeiro lugar envolvia uma contrato de dois anos com a gravadora que financiava esse concurso, equipamento novo e um valor em dinheiro. É claro que todos os itens as interessavam muito, então estavam dando cento e cinquenta por cento de si mesmas nesse concurso. Suas companheiras de banda com certeza não ficariam muito felizes se soubessem que ela estava se embriagando naquele exato momento.
Quando o bartender voltou com sua cerveja, finalmente o rapaz ao lado deu uma boa olhada nela. E é claro que ela conhecia aquele olhar, não precisa sequer de confirmação, aquela era uma isca fácil.
- Aproveitando a noite? – ela perguntou sorrindo.
- Ao máximo. – riu – A música desse lugar é incrível.
- Você é daqui?
- Ah, não. Sou de Nashvile.
- Ah, a cidade da música?
- É o que dizem. – deu de ombros enquanto tomava um gole da cerveja – Morei por algum tempo em alguns lugares também, é sempre bom mudar de ares. Estou morando em Los Angeles há quase dois anos agora. A propósito, meu nome é . . – ele estendeu a mão que ela prontamente apertou, sorrindo.
- . – o rapaz retribuiu o sorriso – E o que o traz a Nova Iorque, a cidade dos sonhos?
- Trabalho, na verdade. E você?
- Também. Na verdade, nem deveria estar bebendo, tenho que acordar bem cedo amanhã. Mas é minha primeira vez na cidade, quis sair um pouco para conhecer os ares. Uma amiga indicou esse bar e acabei vindo com a promessa de apenas uma cerveja... E já estou na quarta.
- Bom, essa deve ser minha sexta da noite, eu estava em outro bar antes, então acho que estamos na mesma. – os dois riram e se encaram por alguns segundos, o ar cheio de pura tensão sexual – Por quanto tempo você vai ficar na cidade?
- Cinco dias, talvez um pouco mais se eu decidir aproveitar um pouco mais a cidade. Você?
- Uma semana. Talvez possamos nos esbarrar depois.
- Bom, quem sabe. Não sei quanto tempo livre terei, mas podemos trocar nossos telefones e conversar mais.
Entre risadas e assuntos completamente aleatórios, os dois acabaram bebendo um pouco mais do que deviam – bem mais do que deviam, na verdade. A tensão entre os dois apenas aumentava e começava a contar os segundos para poder tirar todas as roupas do rapaz e pular em cima dele, sentimento completamente recíproco. Descobriram que por mero capricho – ou favor – do destino, estavam no mesmo hotel e, bom, claro que decidiram dividir um táxi até lá, era a coisa mais óbvia a se fazer. Ainda no táxi, as coisas começaram a ficar complicadas: bastou um sorriso de canto de boca para que esquecesse seus limites e puxasse o corpo do rapaz em direção ao seu, começando um beijo ardente no banco de trás do táxi. Ela se sentiu um pouco mal pelo taxista, mas imaginou que ele estava acostumado com esse tipo de situação, além de que seu estado mental – absurdamente bêbada – não a deixava se importar tanto. Os dois quase não se aguentavam enquanto corriam até o quarto de , rindo e se beijando pelos corredores do hotel. Era impossível saber qual dos dois estava pior e naquele exato momento nenhum dos dois sequer cogitava lembrar dos compromissos do dia seguinte.
Entrar naquela suíte e se livrar de tantas roupas foi o maior alívio da vida de ambos. As risadas foram substituídos por audíveis gemidos e o quarto ficou completamente abafado e quente demais para os dois se aguentarem. E foi assim por horas e horas a fio, até que o excesso de bebida e cansaço fizesse com que os dois adormecessem sem qualquer preocupação em suas cabeças.
- Que caralho...?
O rapaz ao seu lado abriu os olhos, também confuso. Aos poucos, flashes da noite anterior começaram a surgir na mente dos dois, que finalmente reconheceram onde estavam e respiraram, aliviados, mas nem tão aliviados quando perceberam o sol intenso do lado de fora e lembraram de todos os seus compromissos para aquele dia.
- Quantas horas são? – ela perguntou enquanto esfregava os olhos e se levantava com pressa, catando as roupas pelo chão da suíte.
- Sete e quinze.
- Preciso correr para o meu quarto e me arrumar, já estou atrasada. – ela se vestiu com poucos segundos e rumou até a porta – Foi um prazer te conhecer, . A gente se esbarra por aí.
Ela saiu do quarto sem esperar uma resposta, sem deixar seu número de telefone e pouco se importando com a situação, já que suas colegas a matariam se ela se atrasasse mais um segundo sequer. E, obviamente, aquilo era muito mais importante que um homem qualquer, mesmo que ele tivesse sido uma das fodas mais memoráveis de sua vida. Logo ao sair do elevador ela percebeu que não havia pegado seus sapatos, mas apenas deu uma risada e correu para o quarto que dividia com a melhor amiga, , que já se encontrava pronta para sair do hotel, sentada na beirada da cama olhando seu celular.
- Parece que alguém teve uma boa noite, ein? – a amiga disse assim que ela entrou no quarto – Você parece um lixo.
- Eu me sinto um lixo. Preciso de um banho e analgésicos.
- Me diga que pelo menos você transou.
- Obviamente. Mas não conte para as meninas ou elas vão me matar.
- Seu segredo está seguro comigo, . – ela riu – Ele era gostoso?
- Ah, muito, muito mesmo. E por coincidência estava aqui no hotel também, então só precisei descer dois andares pra voltar.
- Que sorte, ein? Agora vê se toma um banho porque precisamos descer pra pegar o táxi em quinze minutos, no máximo.
tirou de si todo o cheiro de álcool e sexo da noite anterior no que parecia ter sido o banho mais rápido da sua vida e depois de um café forte – cortesia de -, vários comprimidos para sua dor de cabeça e óculos escuros para esconder sua cara de morte, as duas amigas desceram para o lobby do hotel para se encontrarem com o resto da banda e seguir até o local onde o credenciamento deveria ser feito.
e se encontravam na fila para fazer o credenciamento da banda, enquanto as outras garotas resolviam outros pequenos problemas relacionados a performance delas dali dois dias. Não demorou muito para que começasse a se incomodar com a fila e bufar, sem paciência, coisa bem típica da garota, que não tinha muita paciência para burocracias.
- , você poderia ter deixado a Val vir no seu lugar, sei que odeia filas.
- Não é por isso que estou incomodada.
- O que foi então?
- está aqui.
- Ah.
era o ex-namorado otário que toda mulher infelizmente tem em sua vida. havia o namorado quando tinham dezessete anos, ele morava na cidade ao lado e os dois foram completamente apaixonados por um ano e meio, até que ele arrumou uma garota nova e terminou com ela por telefone. O ódio que a garota nutria pelo ex era tão profundo que ela ficava vermelha de raiva quando citavam o nome dele, o seu incômodo com a existência dele era fisicamente nítido.
Mas para o azar de , fazia parte da Beastie Boys, uma das bandas que concorreria com elas pelo grande prêmio naquela semana. não sabia absolutamente nada sobre a banda, apenas que o alvo do ódio mais mortal da amiga era o baterista. Ela também, na verdade, não se importava muito, ela sabia que sua banda era boa o suficiente – e merecia! – aquele contrato. Ela confiava em si mesma e nas suas garotas.
- Não deixa ele te incomodar, . Vamos acabar com a banda deles na apresentação e com certeza será o melhor gosto que você já sentiu.
- É, talvez sirva como algum tipo de vingança. Eu me sentiria muito bem com isso, não vou negar.
- Você vai se sentir, . Essa competição é nossa. – ela sorriu para a amiga enquanto entregava seus documentos para a mulher na mesa ao frente.
Ao lado delas, e um dos colegas de banda fazia o mesmo. Ele olhou rapidamente para elas, mas logo desviou o olhar ao perceber que o fuzilava mentalmente. O amigo dele, sem perceber nada, agia naturalmente e ria conversando com a senhora da mesa, que o olhava com simpaticidade.
O que não esperava, porém, era que um terceiro integrante apareceria, correndo, suado e com o cabelo todo bagunçado entregando suas coisas de última hora, sendo repreendido pelos amigos. Seu primeiro pensamento foi o quanto ele era bonito e sexy mesmo completamente esbaforido, mas de repente a intensidade da situação a atingiu e ela quase deixou tudo que segurava cair no chão, engasgando e tendo que inventar uma desculpa qualquer para .
era o terceiro integrante da Beastie Boys.
Após passarem boa parte do dia resolvendo pequenas burocracias da competição, elas rumaram para o espaço destinado aos ensaios abertos. A terceira banda que estava na competição chamava-se Nasty Chase e estavam ensaiando no exato momento em que chegaram lá. Eles eram bons, muito bons, mas nada comparado a No Vacation. Simpática, conversou com os rapazes da banda, que acabaram ficando lá e assistindo boa parte do ensaio delas também.
Quase no final, os três integrantes da Beastie Boys apareceram, fazendo instantaneamente ativar seu modo fúria e largar seu baixo em um canto qualquer do palco. As outras garotas deram de ombros e riram, afinal, já era mesmo o final do ensaio, não fazia tanta diferença. Mas é claro que, no fundo, todas ficavam um pouco nervosas com a atitude extremamente infantil da garota.
O rancor dela pelo ex era completamente compreensível, afinal, ele havia sido extremamente desonesto e estúpido com ela, mas aquilo ocorre quase cinco anos antes, quando eram apenas dois adolescentes com mais hormônios do que inteligência de fato em seus corpos. Em resumo, todas pensavam que já havia passado da hora de parar de ter reações tão exageradas quando se tratava de . Obviamente ninguém tinha coragem de sequer tocar no assunto com ela, pois sabiam que invocariam uma fera que dificilmente seria controlada e isso era algo que ninguém queria ver.
juntou suas coisas e pegou sua mochila num canto, ficando um pouco para trás do resto da banda, que já se encontrava do lado de fora. Ela parou por um segundo para observar os rapazes e pôde perceber afinando cuidadosamente sua guitarra, seu cabelo ainda bagunçado e um sorriso de canto de boca – o mesmo que a enlouqueceu na noite anterior – nos lábios. Ela deixou um suspiro baixo escapar dos lábios e agradeceu por serem apenas alguns poucos dias de convivência, porque de qualquer outra forma ele a deixaria completamente louca. Antes de deixar o local, ela deu uma última olhada para ele e percebeu que ele também a fitava. Sem desviar o olhar, ele mostrou um sorriso e piscou, fazendo-a perceber que ele também já estava completamente a par da situação em que se encontravam: Completamente ferrados.
Poucas coisas eram melhores no mundo do que uma banheira cheia de de água morna e perfumada, ela pensou. A única coisa que faltava ali era uma taça de vinho, porém ela sabia que seu corpo não tinha qualquer chance de sobreviver a mais álcool. deixou seu corpo flutuar na banheira por mais tempo que deveria, acabando por cochilar por alguns alguns minutos, que poderiam ter virado horas se não tivesse sido acordada por batidas estrondosas na porta. Irritada, ela se enrolou na toalha, imaginando que tinha resolvido voltar mais cedo e perdido a chave do quarto ou qualquer situação similar.
A garota quase caiu para trás quando se deparou com , ele mesmo, em carne e osso, em sua porta. Desgraçado.
- O que você está fazendo aqui?! – ela perguntou enquanto tentava esconder mais ainda o corpo na toalha – Você está louco?
- Calma, princesa. – ele riu – Só vim devolver seus sapatos, Cinderela. E não precisa ficar tão preocupada, não tem nada aí que eu não tenha visto noite passada. Posso entrar? – perguntou já colocando os pés dentro do quarto.
- Não, você não pode entrar. – respondeu nervosa – Obrigada pelos sapatos, agora, por favor, pode ir embora?
- E se eu não quiser? – ele disse dando alguns passos para perto dela, que sentiu seu corpo estremecer – Eu quero você, .
- Eu vou chamar a segurança, ou , ou...
- Ou? – ele colocou a mão no pescoço dela, passando os dedos levemente pelo seu pescoço e aproximava sua boca da orelha dela.
- ...
- Eu não consigo parar de pensar na noite passada. Você é maravilhosa.
- Isso é errado, se eles descobrirem... Estamos ferrados.
- Eu sei, . Eu sei. E é isso que me faz te querer ainda mais.
Após aquelas palavras, era completamente impossível resistir sequer mais um segundo ao rapaz. cobriu ferozmente a boca dele com a dela. Ele fechou a porta com o pé, puxou a toalha dela para baixo e após poucos segundos estavam na cama dela, sem roupas e sem sequer lembrar que existia um mundo inteiro lá fora que sequer poderia sonhar com a existência daquele casinho mais que sórdido.
se mostrava cada dia mais irritada com a atitude esquiva da amiga, além do fato de ter que ver o ex-namorado algumas vezes por dia Naquela noite performariam um grande show e teriam o resultado do concourso. Todos estavam uma pilha de nervos, exceto por , que sempre esbanjava confiança e bom humor, coisa que irritava ainda mais a melhor amiga.
Elas ensaiaram por algumas horas na parte da manhã e voltaram para o hotel com a promessa de descansarem e se prepararem para o gran finale. não parava de reclamar sobre como não queria ser obrigada a assistir a apresentação da Beastie Boys, sobre como não aguentava mais esperar a hora de finalmente voltar para casa e ficar longe dele. Tudo para ela era horrível, tudo intolerável e absurdo. respirou fundo, dizendo a si mesma por aguentar só mais umas horas e estaria livre.
Seu celular apitou e ela o pegou rapidamente, antes que pudesse vê-lo.
- Tá falando com o boy, é?
- Que boy, ?
- Sei que você tá de casinho com o gostoso do primeiro dia, nem vem. Você está sempre olhando o celular, toda furtiva e esquiva. Porque não chama ele pra sair com a gente?
- Você tá viajando, não tem casinho nenhum. É só minha mãe. – ela mentiu enquanto respondia uma mensagem bem sexual de , tentando não sorrir demais e levantar suspeitas.
- Não vejo motivo algum para você mentir pra mim, . Mas se acha melhor assim. Vou descer na recepção pra resolver algumas coisas e sair para comer, te vejo mais tarde.
agradeceu mentalmente por finalmente se livrar da reclamação sem fim da amiga e continuou conversando com , que tentava convence-la a subir para o seu quarto. Ela relutou – por longos dez minutos, afinal, ela era uma garota difícil -, mas logo estava no elevador indo em direção ao quarto dele.
- Você está linda. – ele disse sorrindo assim que ela entrou no quarto.
- Você disso toda vez que me vê. – ela riu.
- Você sempre está linda. – ele deu um beijo no pescoço dela, que revirou os olhos – Animada para hoje a noite?
- Com certeza. Vamos destruir vocês. – provocou.
- Só nos seus sonhos, Cinderela.
- está insuportável. Eu realmente gostaria que ela pudesse superar essa coisa com o e agir como uma adulta.
- Eu realmente não entendo o ponto disso tudo, já faz tanto tempo e, sei lá, agora eles são adultos. O sempre diz que queria dizer que sente muito, mas tem medo de que ela surte e o mate.
- É provável que aconteça, diga a ele para ficar longe.
sentiu seu celular tocou e viu o nome de Val na tela. Fez sinal com o dedo para que ficasse calado e atendeu rapidamente.
- Oi, Val.
- , você pode encontrar com a gente no saguão rapidinho? Só cinco minutos, precisamos ver uma questão de horários.
- Agora?
- É, é meio urgente. Prometo que são só cinco minutos.
- Ok, estou indo.
Ela jogou o celular no bolso de novo e suspirou, olhando decepcionada para .
- Eu preciso ir no saguão resolver alguma coisa relacionada a horários. Você pode esperar uns minutinhos?
- Na verdade vou descer também, preciso perguntar algo na recepção. Vou levar só alguns minutos também.
Os dois saíram do quarto, olhando antes se alguém conhecido estava por perto. Ao entrarem no elevador, sozinhos, os dois se olharam de canto de olho, já desejando o que estava por vir a qualquer momento. deu um beijo atrevido no rapaz, que agarrou a bunda dela com força e pressionou seu corpo contra a parede. Distraídos, se separaram as pressas quando o elevador se abriu, rindo bobos um para o outro. O que eles não perceberam era que estava parada na porta, olhando com os olhos arregalados para os dois.
- ?
- Eu não acredito que você fez isso comigo. – ela disse antes de virar as costas e correr na direção contrária ao elevador.
- Merda! Eu te disse que isso ia dar merda, .
- Me deixa falar com ela, eu...
- Não! Fica longe disso, eu resolvo. – ela disse frustrada.
A garota correu atrás da amiga, que andava sem rumo pelo hotel. Ela gritou pelo seu nome, pateticamente, algumas vezes, até que então ela finalmente parou e encarou com os olhos cheios de lágrimas.
- Eu não dou a mínima para qual seja a sua desculpa, . O que você fez é inaceitável! Além de serem nossos rivais na competição, você sabe muito bem tudo que eu passei na mão do ! Transar pelos cantos não era a escolha mais sábia a se fazer.
- , você está sendo irracional! não tem absolutamente nada a ver com seu passado com o e tão pouco eu! Eu gosto dele, estamos nos divertindo e isso não tem nada a ver com vocês dois, qual a dificuldade em entender isso?
- Meninas, isso está indo longe demais. – elas ouviram a voz de Val, ao longe, que estava acompanhada da útima integrante da banda, Jenny.
- A dificuldade é que você é minha melhor amiga, Cassadee, ou pelo menos eu pensei que era. Você deveria estar do meu lado e não do lado deles. É tão difícil achar outro pau pra ficar correndo atrás? Dentre tantos homens, por que ele?
- E isso importa? Eu escolho com quem quero me relacionar, não você! Já chega dessa história, já chega de , eu não suporto mais! Já fazem anos , já passou da hora de você crescer. Não vou deixar seu rancor adolescente atrapalhar a minha vida.
- Bom, boa sorte com seu novo namoradinho, então. Sou eu ou ela, meninas.
- O que?! – todas disseram praticamente juntas.
- Eu não toco se ela tocar.
- , seja razoável. Faltam horas para o concurso.
- Você estão com ela ou comigo? Acham que eu estou errada ou que ela está sendo uma traidora comigo?
- , eu... – Jenny começou e se encolheu, desviando o olhar, assim como Val.
- Já entendi. Boa sorte hoje a noite, você vão precisar.
- ! – Cassadee tentou chamá-la, mas a garota apenas virou as costas e saiu do hotel.
Ela tocaria guitarra no lugar de Val e a mesma tocaria o baixo, mas elas sabiam que isso mudava a dinâmica de tudo e que tinham poucas chances de fazer um show tão bom quanto planejaram e ensairam por meses. Elas fariam o seu melhor e esperariam que fosse o suficiente, mas vendo a performance das outras bandas, sabiam que as chances eram poucas.
Quando o show dos rapazes acabou, foi até ela e sentou-se ao seu lado, segurando sua mão com ternura. Ela sorriu para ele, tentando não chorar.
- Acho que no final das contas, vocês que vão destruir a gente. – ela riu amarga, já sem segurar as lágrimas.
- Hey, vai ficar tudo bem.
- Eu trabalhei muito duro nisso, . Eu tenho esperado, nós temos esperado, essa chance há anos. E eu estraguei tudo, tudo!
- Você não estragou tudo, . não está sendo nada razoável, você não fez nada de errado.
- Ela está certa, . Entre todos os caras de Nova Iorque, eu tinha que ficar com justamente o que é amigo do ex dela? – ela suspirou – Eu ferrei tudo. As meninas vão me odiar para sempre.
- Ei, ei! Não coloque palavras na minha boca, mocinha. – Val se intrometeu na conversa – Eu não odeio você e concordo com . não está sendo razoável, nada razoável. Talvez seja até melhor que ela não toque, estou cansada de tanto drama por causa de um peguete adolescente. – ela confessou – Vamos tentar dor o nosso melhor, sei que as circunstâncias não são as ideias, mas faremos o possível. Se não der certo, teremos outras oportunidades.
- Concordo com a Val, . Não se martirize, isso não é sua culpa.
- Tenho certeza que vocês vão arrasar, garotas. – disse – E estão chamando vocês no palco. É hora do show.
As garotas se levantaram e com um misto de nervosismo e animação, começaram a se preparar para entrar no palco. Quando Cassadee estava pronta para ir, segurou sua mão com força, a fazendo parar.
- Hey, só gostaria que soubesse que independente do que acontecer hoje a noite, não quero que isso acabe aqui. – ele sorriu e acariciou o rosto dela com a ponta dos dedos.
- Nem eu. – ela disse – Me deseje sorte.
Os dois se despediram com um beijo rápido e Cassadee correu para o palco, entregando completamente o seu corpo para a música.
O dono da gravadora que promovia o evento fazia um breve discusso de agradecimento enquanto os integrantes das três bandas e fãs, amigos, família e demais pessoas que assistiam aguardavam ansiosos pelo resultado. Por debaixo da mesa onde se sentavam, segurava a mão de , ambos nervosos e de certa forma tentando esconder um pouco a proximidade dos amigos.
- Eu já nem me importo tanto com o resultado, pra ser sincera. – Val disse enquanto tomava um longo gole de sua cerveja – Eu aprendi hoje que tenho que ser mais cuidadosa com os amigos que escolho e com certeza treinar mais baixo. – deu de ombros – Se vocês ganharem, rapazes, será bem merecido. Menos o , continuo te odiando. – disse com um misto de sinceridade e brincadeira.
Todos da mesa riram e respirou fundo, sabendo que a amiga estava certa. De certa forma, no final das contas, tudo que viveram e aprenderam ali contava muito mais que o prêmio. Além disso, elas teriam outros caminhos e possibilidades de alcançar uma gravadora. A hora delas chegaria, ela tinha certeza.
- Nós podemos nos mudar para Los Angeles, sabe. Começar a gravar muitas demos, mandar para todas as gravadoras. Nós vamos conseguir. – Jenny disse, sorrindo.
- Quer dizer então que vai se mudar para perto de mim? – perguntou para , sorrindo.
- Quem sabe. – deu de ombros – É a cidade ideal para construir uma carreira artística.
- E, sem mais delongas, senhoras e senhores... – o homem continuou – A grande ganhadora da noite é...
...Nasty Chase!
Todos começaram a aplaudir e as outras duas bandas se entreolharam, incrédulas. Todos abafaram algumas risadas e, claro, aplaudiram também. levou a mão até o rosto e balançou a cabeça, incrédula com como a situação estava se desdobrando. Era isso, era o fim, elas haviam perdido o concurso que tanto almejaram, ensaiaram, lutaram. Mas por algum motivo, algo dentro dela a impedia de chorar. Ela olhou para , que sorria de uma forma confusa para ela enquanto parava de aplaudir e segurava suas duas mãos, sem se importar com as pessoas observando ao redor.
- Então... Los Angeles?
FIM!
Nota da autora: Sem nota.
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Outras Fanfics:
Falling For An Angel - Restritas/Bandas - McFLY/Em Andamento
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