Capítulo 1.
There's no feeling like this, If that isn't love...
“...” eu sacudia minha amiga. “, acorda!” cochichei desesperada e a empurrava.
“Ah , o que foi?” ela resmungou, colocando o travesseiro sobre seu rosto. Lancei um olhar impaciente a , que estava roendo as unhas de nervosismo ao meu lado.
Estávamos na casa de minha avó, e não eram menos do que uma e meia da manhã. Eu e estávamos nadando e reclamando da preguiça de , quando escutamos uma buzina vinda do lado de fora dos muros da casa.
Eu e nos entreolhamos assustadas, sabíamos quem era. Eles haviam nos ligado à umas duas horas atrás.
“Os meninos estão lá fora, !” falei impaciente e a vi levantar imediatamente da cama, toda descabelada. Previsível.
“O que?? Eles estão lá fora??” dizia afobada, enquanto andava de um lado para o outro naquele quarto de paredes amarelas.
“Sim , e se você falar mais alto, minha avó irá acordar e nós não iremos sair!” falei entre dentes, e minha amiga começou a trocar seu pijama pela roupa que usava antes de dormir. “Vamos...” cochichei e peguei a mão de , que enroscou seu braço no de .
Havia uma gigante janela no quarto, era mais uma porta de vido, que dava para uma sacada de pedra. Lá de cima era possível ver o
Pontiac do , e quatro garotos ao seu redor. É claro que meus olhos se prenderam em cima de apenas um. O sorriso brotou imediatamente em meu rosto.
“Hey garotas, desçam!” , escandaloso como sempre, gritou, me fazendo fechar a janela atrás de nós imediatamente.
“Cala essa boca, ! Quantas vezes eu tenho que dizer pra não gritar quando vir aqui?” eu estava cansada de avisá-lo, mas acho que ele estava bêbado demais para lembrar. Os outros garotos pararam de fazer barulho imediatamente.
“Vamos logo!” disse impacientemente feliz, e passou para o outro lado da grade da sacada.
Logo ao lado haviam outras grades com trepadeiras que enfeitavam a casa da minha avó. já descia por elas, e já estava a ajudando logo embaixo.
Depois foi a vez de , e era óbvio que estava animadinho para ajudá-la. Assim que ela chegou ao chão, os dois foram em direção ao carro juntos.
“Hey amigos, obrigada por quererem me ajudar!” protestei a quantidade de pessoas que me ajudariam a descer as trepadeiras. estava ocupado demais cochichando algo para , e e estavam fora do meu campo de visão.
Pude escutar a risada de alguém conhecido, e vi os cabelos de virem em minha direção.
“Venha, gordinha mimada...” ele fez uma careta e eu soltei uma risada cínica. Pulei a grade da sacada em direção às trepadeiras e as desci, com muita fobia, já que alem de alergia por aquelas plantas horríveis (na minha opinião elas deixavam a casa dez vezes mais rústica, mas vovó insistia que aquilo será a nova tendência), eu tinha um incrível medo de altura. O fato de que aquilo tinha apenas dois metros de altura não fazia diferença. Podia ser um degrau com 1 metro que ainda sim eu teria medo.
Quando eu estava a alguns palmos do chão, colocou as mãos na minha cintura e me ajudou a pular.
“Fique sabendo que eu ficarei dois dias sem comer por sua causa, ...” dei um tapa em suas costas enquanto íamos em direção aos outros, que conversavam escandalosamente. Não sei qual a parte do ‘
não façam escândalos’ ou ‘
calem a boca’ eles não entenderam. Meus amigos sofrem de algum grave problema mental, isso é obvio.
“Você sabe que suas gorduras são seu charme, ...” ele já disse encolhido, sabia que vinha mais tapas.
“Por isso você não namora ninguém, , você é um grosso!” dei um murro em seu braço. Os garotos começaram a rir e zoar o idiota, que me lançou um olhar totalmente assassino. “Um a um, . Estamos empatados...” falei rindo, dando um abraço em meu amigo.
“Deixa você comigo, ...” ele fez uma cara má e me soltou.
“Vamos logo, está nos esperando...” aquela voz me fez arrepiar.
Literalmente. Olhei para trás, e só ai vi que ele estava sentado no capo do Pontiac, com os braços cruzados e aquele olhar inexplicável, que só ELE tinha.
Ben me encarava na mesma intensidade, e o mundo sumiu a minha volta. Aquele par de olhos verdes e aquelas sardas quase invisíveis eram a combinação perfeita. Seu cabelo raspado na maquina 2 tinha um tom loiro escuro e um pequeno topete aumentava o charme. Ele usava uma jaqueta de couro preta por cima de uma regata branca, sempre soube muito bem como escolher as roupas que o deixam perfeito.
O irmão de normalmente era nosso motorista, mas agora ele definitivamente era mais do que isso. Meu coração sempre esquecia de bater toda vez que ele chegava perto de mim, quando eu digo sempre, significa desde quando eu brincava de bonecas com (prima dos ) em seu quintal. E toda aquela história de eu ser apenas a amiguinha de seus irmãos mais novos. Mas de uns tempos para cá, vejo que seu pensamento sobre isso vem mudando.
“Vamos entrando no carro, porque definitivamente o clima pesou aqui...” escutei vagamente a voz de de fundo dos meus pensamentos, seguido por ecos que eu adivinhei como sendo risadas.
Vi vultos passarem por mim, eram apenas borrões, já que a única imagem concreta era a de Ben a minha frente.
“Oi ...” sua voz, grave e grossa, soou como poesia. Eu provavelmente estava patética. Não, eu absolutamente
estava patética.
“O-oi Ben...” para completar a situação, eu gaguejei.
Não suportava mais olhá-lo, pois já estava tonta. Encarei minhas unhas com esmalte descascado, e o vi se aproximar. Claro que não ousei mudar a direção de meus olhos. Suas mãos tocaram meus cabelos, colocando minha franja atrás da orelha, e logo em seguida senti seus lábios quentes tocarem minha testa. Minhas pernas bobearam, e não sei aonde arranjei forças para continuar de pé.
“Vamos antes que esses animais destruam meu carro...” ele disse divertido. Sorri e o vi abrir a porta do carona para mim. “Saia daí , esse é o lugar da .” Ben deu um tapa na cabeça do garoto (o que fez seu boné amarelo voar longe) e passou por entre os bancos da frente em direção à parte de trás do carro.
estava no colo de (os dois sempre foram os mais avançados nesse sentido), fazia um escândalo dizendo que não iria no colo de , obrigando a sentar em seu colo.
“, eu não namoro ninguém porque provavelmente as garotas pensam que eu sou gay” disse entre dentes, totalmente desconfortável no colo do . Gargalhei.
“Eu acho que vocês são um casal magnífico!” falei divertida, escutando a risada escandalosa de todos a fundo. Ben ligou o carro e engatamos em direção à casa de .
Normalmente nossos finais de semana eram assim. Eu, e dormíamos na minha avó (já que ela era, com todo o respeito, mais lerda que meu meus pais, pois nunca percebia nossa ausência nas madrugadas), enquanto esperávamos os pais do saírem para algum baile, ou viajarem para Londres e deixarem a casa às traças. Em dias de sábado era inevitável sua virar o point da cidade, já que espalhava propositalmente o local da festa. Lá virava um verdadeiro palco para bailes.
De madrugada, os garotos pediam a Ben pelo carro, conseqüentemente ele ia junto, já que o Pontiac era sua namorada. sempre ficava no carona e eu ficava de vela no banco de trás.
Mas de uns tempos para cá, Ben vinha exigindo minha presença ao seu lado. Me sinto ilustre, obviamente. Isso soa clichê, mas Benjamin não era um garoto qualquer. Além dos seus vinte e três anos (enquanto eu e os outros tínhamos dezessete), um carro e um rosto indefectível, todas as garotas de Bolton sonhavam em um dia entrar naquele carro. Afinal, tudo o que elas queriam eram ser vistas com alguém de reputação tão impecável.
Eu me sentia incomodada com esse fato, já que isso geraria uma inveja sem tamanho para cima de mim, e eu não gosto nem de ser notada pelas crianças em festas de aniversário, imagina por um bando de promiscuas enraivecidas.
Despertei-me de meus pensamentos quando os Beatles invadiram o carro com
Can’t Buy Me Love.
“I DON’T CARE TOO MUCH FOR MONEEEEEY, MONEY CAN’T BUY ME LOOOVE” e Ben se juntaram à cantoria e em mais a voz de nenhum dos Beatles era ouvida.
Depois de quatro músicas, muita gritara e tapas, chegamos na casa do .
Ele morava em um dos condomínios mais nobres da cidade, e por coincidência era meu vizinho.
A música estava altíssima, os vizinhos o odiavam por isso. Os s sabiam das festas que acabavam com sua casa, mas como tem um incrível poder persuasivo, sempre se dava bem.
Todos nós saímos do carro preto reluzente em um pulo, e eu particularmente fui saltitante em direção àquele amontoado de pessoas. e apareceram do meu lado, e nós três fomos em direção à cozinha.
Jailhouse Rock explodia nas caixas de som espalhadas pela casa, e as garotas todas balançavam suas enormes saias coloridas, com os garotos as observando de longe.
pegou a garrafa de
Martini Rose que havia escondido para nós no faqueiro, enquanto eu pegava os copos.
“Acharam o Martini?” entrou gritando na cozinha.
“Sim senhor, chame os outros e peça Ben para trazer a tequila...” disse empurrando porta afora. Ele a fechou logo após, para evitar que estranhos entrassem ali. Sim, éramos um grupo de pessoas autista e supostamente drogadas, de acordo com os desocupados de Bolton.
Ben adentrou a cozinha com uma garrafa de tequila na mão, sendo seguido por , , , e uma desconhecida.
Provavelmente alguma garota que achou pelo caminho para passar a noite.
“Vamos logo!” falei impaciente, me levantei e abri a porta dos fundos da cozinha, que dava para a área de lazer.
Além de uma festa geral para ganhar dinheiro extra para nossas bebidas (sim, cobrava umas cinco libras de cada pessoa que entrava em sua casa), gostávamos da nossa festa particular.
A área era gigantesca. Um gramado gigante onde o senhor chamava os amigos para uma partida de futebol, uma churrasqueira com um imenso balcão em um quiosque, e a piscina imensa.
Me sentei em uma espreguiçadeira com , , sentou-se no chão com Ben, e se isolou na beirada da piscina com .
estava em outra espreguiçadeira com a desconhecida em seu colo. Devo frisar que ela era muito bonita. Usava uma saia rodada preta com bolinhas brancas até a canela, uma blusa branca colada em seu corpo seguida por uma faixa preta na cintura. Seus cabelos pretos estavam presos por uma fita de cetim, e sua maquiagem era de se invejar.
Parei de reparar na garota quando pediu por copos, fui entregar a cada um, e depois decidimos tomar a tequila primeiro.
Peguei um limão e um pouco de sal, coloquei uma dose, enquanto esperava os outros se servirem. O primeiro brinde era rotineiro e indispensável para nós.
“Que seja eterno enquanto dure!” falamos em coro antes de cada um morder o limão e jogar a tequila para dentro. Uma careta involuntária apareceu em meu rosto assim que senti minha garganta queimar. Era esse o nosso lema. Não acreditávamos no para sempre mas acreditávamos que cada momento que vivíamos era eterno. E vivíamos cada segundo de nossas vidas intensamente. E sempre juntos.
A musica de dentro da casa era escutada também por nós, e depois da quinta dose de tequila, e eu dançávamos
My Generation em cima das cadeiras.
Levantei a barra da minha longa saia amarela com as mãos e a balançava de acordo com o ritmo da música. fazia gestos engraçados enquanto dançava, arrancando risadas de todos ali.
“PEOPLE TRY TO PUT US DOWN, JUST BECAUSE WE GET AROUND, THINGS THEY DO LOOK AWFUL C C COLD, HOPE I DIE BEFORE I GET OOOOLD” Roger Daltrey encarnou literalmente em nossos corpos.
Pude perceber o olhar de Ben sobre mim, hipnotizado. Até pareceu parar de alisar sua garota.
Continuei dançando e inventando passos para a musica, sem me importar com os olhares, afinal o álcool me deixava desinibida.
“, desde quando você tem bunda?” escutei gritar e eu apenas lancei-o um olhar mortal.
Quando a musica acabou, não animei a dançar
Can’t Explain com .
Deixei minha amiga dançando sozinha com uma colher como microfone, e fui até o balcão do quiosque pegar um copo d’água.
“Não sei como você até hoje não se inscreveu para nenhum dos Dancing Days da cidade...” aquela voz me fez arrepiar, e só por esse fato, sabia que era Benjamin, afinal, que outro garoto tinha esse poder controlador apenas com a voz? Explicando,
Dancing Days eram os bailes dançantes anuais e um dos mais tradicionais da cidade, onde haviam varias modalidades de danças, tango, blues, salsa, bolero, rock.
Gargalhei e me virei de frente para o garoto.
“Tenho certeza que você ganharia de todas essas garotas aqui...” ele continuou.
“Bondade sua, ...” mesmo com álcool em excesso no meu cérebro, esse garoto ainda conseguia fazer minhas bochechas corarem. Ele havia tirado sua jaqueta, e agora a regata branca marcava perfeitamente seus músculos.
Vi seus braços fortes envolverem minha cintura, e meu coração palpitou fortemente contra meu peito.
Ben afundou seu rosto em meu pescoço, e tive a impressão de que ele aspirava meu perfume.
“Seu cheiro é bom...” ele disse delicadamente enquanto voltava a me encarar. Sorri tímida e vi sua mão sair da minha cintura em direção ao meu rosto. Ele acariciou minha bochecha carinhosamente com o polegar, me fazendo fechar os olhos automaticamente.
O senti aproximar do meu rosto, e tempo depois sua respiração bateu em minha boca.
“Se importa?” Ben perguntou fracamente, e eu ainda com os olhos fechados, neguei com a cabeça. Foi ai que senti seus lábios quentes e macios tocarem os meus, e esqueci o que era respirar. O cheiro dele me intoxicou, e eu precisei me apoiar em seus ombros para não cair.
Me senti desnorteada, tonta e... apaixonada.
Capítulo 2.
Baby close your eyes and listen to the music
drifting through a summer breeze
Por volta das seis e meia da manhã, Ben nos levou (eu, e ) de volta para a casa de minha avó. Isso porque eu estava praticamente dormindo no meio do gramado do campo de futebol. Pessoas normalmente ficam sociáveis e comunicativas depois de alguns goles.
Eu fico autista e totalmente anti-social. Certo, não totalmente, já que Ben me fez companhia a noite toda.
É ótimo conversar com ele. Por ser mais velho, seu papo é diferente dos que eu estou acostumada com , por exemplo. Ele tem uma visão mais ampla do futuro, leva as coisas um pouco mais a sério, diferente do restante de meus amigos.
Quando chegamos em casa, ele abriu a porta do carro para que eu descesse, me deu um beijo de boa noite e me pediu para sonhar com ele. Acho desnecessário pedir, já que obviamente eu sonharia.
Subimos a grade, pulamos na sacada, abri a janela que daria para o quarto.
Nós entramos dando risadas abafadas sobre nada, eu exclamava um ‘
shhh’ o tempo todo.
“Calem a boca, minha avó pode acordar...” eu cochichei rindo, vendo tropeçar sobre seus próprios pés.
“Ela já está acordada” de repente a luz do quarto foi ligada, e ai percebi que minha avó estava sentada no sofá que ficava num canto do quarto.
“Onde você estava, ?” sua voz era visivelmente seca e grossa. As meninas me olhavam desesperadas e eu não sabia o que fazer. Minhas mãos começaram a tremer de nervosismo e eu pensava no que dizer.
“Nós... Nós ficamos com fome e resolvemos ir no
Paddley Café comer alguma coisa...” falei a primeira coisa que veio a minha cabeça. A feição de minha avó me assustava, ela estava extremamente irritada.
“Não minta para mim, garotinha. As coisas podem ficar bem piores do que já estão! Pensa que não vi o Pontiac do seu amigo as deixando aqui?” sua voz já estava exaltada e eu dei um passo para trás, segurando a mão de minhas amigas, que tremiam igualmente a mim.
Sabíamos quais seriam as conseqüências se nossos pais soubessem que chegamos às seis da manha em casa, no carro de um garoto.
“Vovó, por favor...” eu involuntariamente comecei a chorar, pois sabia o que iria acontecer.
“Você me deixa sem escolhas, . É minha responsabilidade cuidar de vocês, o que os pais de e vão pensar de mim?” ela levantou bruscamente da cadeira. “Estou ligando para os pais de vocês agora.” Eu e as garotas suspiramos desesperadas ao mesmo tempo, e apertou meu braço.
“Vó, por favor, não faça isso!” supliquei. Sabia que não adiantava nada do que eu dissesse, então poupei as palavras. A minha família (assim como a das meninas) era muito tradicional. Cheia de regras, assim como a maioria de nossa época. Se você não cumprisse as regras, você era punido. Simples assim.
Já não me recordo as tantas vezes que fui punida por não cumpri-las.
E assim foi feito. Minha avó ligou para nossos pais, que apareceram minutos depois em sua casa. Os pais de estavam visivelmente irritados e foram bruscos ao levar minha amiga para casa. Os de pediram desculpa pela impertinência à minha avó, e sem uma palavra a levaram. Sabia que ela não sofreria tanto com as conseqüências, já que afinal, ela estava com o primo.
E eu? Bem, são nessas horas que desejei nunca ter nascido.
Meus pais chegaram em seu
Mercury Convertible
, e o primeiro a sair do carro foi meu pai. Ele estava com um
robe azul escuro por cima de provavelmente um pijama. Seus cabelos grisalhos estavam penteados para trás, como sempre, e seu bigode preto se destacava em seu rosto sereno. Ele tinha um charuto em suas mãos, e assim que entrou no hall da casa de minha avó, minha mãe veio logo atrás, seus longos cabelos presos em um coque, e uma expressão vazia, mas seus olhos eram cheios de desgosto, isso era visível.
“Obrigada por ter ligado, Carmen” minha mãe se dirigiu à sogra, mas sem tirar seus olhos de mim. “Vamos para o escritório” ela desviou seu olhar e passou por mim, indo em direção à sala atrás de nós. Assim que meu pai e eu passamos pela porta, ela a fechou.
O escritório estava do mesmo jeito que meu avô deixara antes de falecer. Estantes gigantescas sem espaço por entre os livros. Uma janela de vidro enorme, como a do meu quarto, ficava a fundo, e uma mesa de madeira rústica se encontrava no centro. Meus pais se sentaram nas duas cadeiras em frente à mesa, e quando eu fiz menção de me sentar também:
“Você fica em pé” minha mãe disse friamente, e eu continuei onde estava. Não ousei olhar em seus olhos. “O que você pensa que está fazendo com a sua vida, ?”
“O que a senhora quer dizer com isso?” falei calmamente, ainda sem mudar a direção dos meus olhares.
“Voltando para casa às seis da manhã, trazida ainda por um garoto! Não me importa o fato de ser um dos filhos do senhor , o que pensa que falarão de você?” sua voz começava a ficar alterada.
“Não me importa o que pensam...” continuei serena.
“Mas
me importa! Não quero que achem que minha filha é uma
vadia!” ela começava a gritar. Olhei boquiaberta para minha mãe, incrédula com o que dizia.
“Não exagere, Mary...” meu pai tirou o charuto para se pronunciar pela primeira vez.
“Não estou exagerando, John. É o que as pessoas pensam!” ela respondeu alterada, se virando para meu pai. Dirigiu-se a mim novamente. “Se você não se importa com a reputação sua e de sua família, alguém tem que se importar por você, . Você está ficando sem limites! E minha casa não tem espaço para rebeldes...” ela se aproximou de mim, e apontou o dedo em minha direção.
“Quer dizer que vai me expulsar?” Perguntei cínica.
“Quer dizer que você vai ficar sem ver seus amigos inconseqüentes por um bom tempo. Incluindo e Franco” ela respondeu entre dentes.
“Você não pode fazer isso!” falei mais alterada que o normal.
“Sim, , eu posso. E a menos que queria ficar sem seu carro, e sem vir à casa de sua avó por um bom tempo, acho melhor me obedecer” Mary continuou autoritária. Tive vontade de pular em seu pescoço, sem ligar pelo fato de que foi ela quem me deu a luz. Eu e minha mãe nunca fomos aquele exemplo de mães e filhas perfeitas dentro de quatro paredes, claro que em publico, ela como esposa de um dos donos da cidade, tinha que manter as aparências e fingir ser a mãe perfeita.
Sim, meu pai era um dos donos da cidade. Por ser dono da maior fabrica, a que inclusive mantinha a situação econômica e política estável dentro de Bolton. Então ele era um senhor de muito respeito, talvez era mais respeitado que o próprio prefeito. E eu, como filha pródiga dos poderosos da cidade, deveria me portar como tal. Deveria. Mas como nunca gostei de seguir padrões, minha mãe tentava de todos os meios me colocar na linha. Inutilmente, é claro.
Mary passou por mim elegante e superior, abrindo a porta do escritório, passando por minha avó e indo direto à saída da enorme casa.
“Vamos, minha filha...” meu pai colocou uma mão em meus ombros, me fazendo acordar dos meus pensamentos revoltantes. Olhei-o decepcionada. Meu pai nunca dizia algo quando minha mãe me punia, ele simplesmente se calava e me olhava afundar.
Ele deu de ombros e me guiou até a saída da casa, onde minha avó nos esperava.
“Boa noite, mamãe” ele deu um beijo na testa de sua mãe e saiu. Eu não me despedi, apenas olhei-a com o mesmo olhar que lancei a meu pai, e ela retribuiu como se pedisse desculpas. Tarde demais.
O caminho até a minha casa foi silencioso. Havia uma maré de repulsa entre mim e minha mãe. Eu estava com minha cabeça encostada no vidro gélido da parte traseira do carro, e o via embaçar de acordo com a minha respiração.
Assim que passamos pelo portão de bronze gigante e pelo jardim de extensão interminável, meu pai parou o carro em frente à nossa casa e entregou a chave ao motorista, para que ele o estacionasse na garagem.
Subi os degraus de pedra correndo, abrindo ferozmente as portas desenhadas de madeira, que dava lugar a um hall maior que o da minha avó.
O chão era tão bem encerado que eu podia ver minha imagem ao passar por ele. As paredes eram pintadas elegantemente em um tom bege, e logo a frente podia-se ver uma escada gigante e bifurcada, que dava para o segundo andar. Por baixo das escadas, haviam portas e portas, que davam para as duas cozinhas, para uma sala de jantar, uma sala de reuniões, a biblioteca, quartos dos empregados, sala de estar. Até hoje acho que não pude conhecer a casa inteira, de tão imensa que era. Eu achava exagerado, claro, por ser apenas eu, meu pai, minha mãe e minha irmã mais nova, Jamie. Certo que abrigávamos os empregados, mas não tinha necessidade de ter tantos.
“Meredith, leve até seu quarto, arrume sua cama e depois o tranque. Ela ficará lá dentro até dizer que irá se comportar a partir de agora. Ela não tomará café da manhã, leve apenas um chá e algumas bolachas a ela às três da tarde, e nada mais” Mary ordenou à minha criada assim que entregou seu casaco a ela. Meredith era minha segunda mãe. Talvez nem segunda, já que a considerava mais minha mãe do que Mary. Fora ela quem me viu andar pela primeira vez e ouvir minhas primeiras palavras.
Meredith me olhou assustada após as palavras de minha mãe e eu apenas dei de ombros.
“Não escutou, Meredith?” Minha mãe repetiu, grossamente.
“Sim senhora” a baixinha de no mínimo cinqüenta anos, respondeu rapidamente.
Subi uma das escadas com passos pesados, sem mesmo olhar para Mary. Ao fim da escada, havia uma nova bifurcação. Para os dois lados, havia milhares de portas, cada uma levava para um quarto, ou uma sala diversa. Virei para o lado direito, onde caminhei até chegar em uma das ultimas portas do corredor. Era uma porta bege e imensa. Abri-a.
Dei de cara com o meu velho quarto. Ele era imenso, outra coisa que pensava ser exagero. As paredes tinham um tom rosa claro, com persianas enormes, e quadros de diversos artistas espalhados por elas. Havia uma cama de casal no meio, com rendas que caiam sobre o teto, tampando-a. Uma escrivaninha enorme, com vários livros, bonecas da minha infância, retratos de meus amigos...
Mais em frente havia um closet e uma porta que dava para meu banheiro.
“O que você fez dessa vez, ?” Meredith me acompanhou entrando no quarto, enquanto eu coloquei minha trouxa de roupas em cima de um sofá ao lado da cama.
“Apenas cheguei em casa às seis da manhã no carro de Benjamin ” falei como se aquilo fosse a coisa mais banal do mundo, e para mim realmente era.
“Apenas? Você ainda acha isso pouco, ? Até parece que você não conhece sua família...” Meredith dizia rapidamente enquanto arrumava a minha cama. Até parece que eu ia dormir...
“Tanto faz...” desdenhei e logo que Meredith terminou, me joguei naquela cama fofa.
“Você subestima seus pais demais , um dia os castigos não serão apenas te trancar no quarto” a governanta parou de pé a minha frente com os braços apoiados na cintura e uma cara de brava.
“Até lá, estarei bem longe daqui, Meredith, fique tranqüila...” falei sem muita empolgação, e abri meu livro
Sonho de Uma Noite de Verão de Shakespeare, que eu havia começado a ler um dia atrás.
Eu via muito de mim na personagem Hérmia, onde seu pai a obriga a casar com Demétrio. Hérmia recusa-se a fazer a vontade do pai e por isso é ameaçada pela morte, conforme a lei ateniense que não dá à mulher direito de escolher o marido e pune com a morte a desobediência.
Eu não estava sendo obrigada a casar com ninguém, muito menos sendo ameaçada de morte. Mas eu sentia que toda a minha liberdade de escolha, e principalmente minha liberdade para viver, eram limitadas por meus pais. Hoje não era o primeiro castigo que eu levara. Já ficara sem comer por dias a fio. Eu me recusava a admitir que estava errada, afinal, eu não estava. Eu tinha o direito de viver minha adolescência conforme eu escolhesse.
Meredith saiu do quarto após recolher algumas roupas sujas no banheiro, e conforme minha mãe mandara, trancara a porta, seguido de um sussurro de desculpas.
Seria uma longa e tediosa tarde. Eu não diria o que minha mãe queria ouvir, logo eu não sairia dali. Teria tempo suficiente para terminar minha comédia, e quem sabe começar um novo livro.
Eu posso ser considerada como estranha. Enquanto minhas amigas lêem revistas de moda como
Elle ou
Vogue, e sonhavam em ser como Marilyn Monroe, eu lia livros que apenas nossos pais liam e sonhava com faculdade. De acordo com meus planos, eu passaria na Escola de Direito de Cambridge.
Perdi noção do tempo enquanto lia, mas provavelmente não eram três horas, já que Meredith ainda não havia trago meu lanche de consolo. Mas fui acordada de minha concentração com um barulho na janela.
“Psiiiu” escutei. Olhei para os lados procurando pela origem do barulho.
“Psiiu!” Mais um barulho pode ser ouvido, tinha certeza de que alguém jogando pedras na minha janela. Clássico.
Levantei-me depressa da cama, e coloquei um
robe, já que eu estava apenas de trajes íntimos, e abri a enorme janela do meu quarto. Dei de cara com e parados no jardim em frente.
“Que diabos vocês estão fazendo aqui?” falei baixo mas num tom bravo, olhando para os lados desesperada.
“ me contou o que aconteceu ontem!” disse alto e eu conseqüentemente fiz um gesto para que ele falasse baixo. “Desculpe, tenho que acostumar a sussurrar. Bom, ela me contou e conseqüentemente imaginamos que você estaria de castigo... Para variar...” ele e soltaram um risinho. Rolei os olhos.
“E daí, ? Não é a primeira vez que fico de castigo” falei impaciente.
“Isso é obvio, ...” ele disse rindo, e parando quando viu que falava alto de novo. Começou a cochichar. “Mas estamos de férias, e temos que comemorar!” ele abria os braços de um modo retardado, fazendo eu e rir.
“, nós já todos os dias, . E veja no que deu, estou engaiolada...” bufei e apoiei minha cabeça em minhas mãos.
“É para isso que estamos aqui, ” começou. “Um dia lindo de verão como esse você não pode ficar enfurnada nessa casa mal assombrada” ele fazia caretas enquanto dizia. “E vamos combinar que sem você as coisas ficam meio sem graças...”
“Own ! O problema é que... Você sabe, se Mary descobre...”
“Ela não vai, ! A trazemos antes do sol se pôr” prometeu.
“Anda, ponha uma roupa e pegue seu biquíni... Maiô... Seja lá o que vocês chamam aquilo” ele fazia gestos confusos com a mão. sempre atualizado.
“Okay, esperem um segundo!” Falei empolgada. Eu simplesmente amava fazer coisas escondidas e proibidas. Era tudo tão mais emocionante. Fui correndo para o closet escolher uma roupa. Se disse para pegar um biquíni, provavelmente iríamos à alguma cachoeira ou rio. Coloquei um short de cós alto, uma camisa branca e amarrei-a para cima do umbigo. Calcei minhas sapatilhas vermelhas preferidas e finalmente, coloquei um chapéu
breton branco sobre meus cabelos. Meu maiô estava vestido por baixo da roupa.
Antes de pensar em como sair dali, resolvi escrever um bilhete à Meredith. A mulher simplesmente enfartaria se entrasse em meu quarto e não me visse lá. Eu pediria que ela me acobertasse enquanto eu estava fora, ela sempre fazia isso, mesmo que isso custasse seu emprego. Ela era a favor de toda a minha filosofia de “curtir minha adolescência”.
Deixei o bilhete em cima da escrivaninha de madeira e fui em direção à janela novamente.
“Vocês pensaram em como eu vou descer?” Interrompi a conversa dos dois garotos lá em baixo. Eles se entreolharam. “Não me digam que...”
“Calma, . Nós somos gênios, claro que pensamos nisso” , o pseudo-gênio disse, com um sorriso enorme estampado no rosto. Ele acenou com a cabeça para , e este saiu do meu campo de visão, indo não sei onde. ainda sorria abobadamente e eu me indagava o que diabos esses dois armavam.
De repente apareceu com uma escada de madeira maior que si mesmo (e que mal conseguia carregar, devo frisar).
“Roubamos a escada do seu jardineiro” falou num tom infantil.
Rolei os olhos e esperei colocar a escada defronte à minha janela. Dei uma ultima olhada no quarto antes de descer por ela.
“Você chama isso de plano vindo de um gênio? Garotos, até um garoto de seis anos pensaria em algo assim...” falei assim que me ajudou a descer os últimos degraus.
“Oh , nós não tivemos muito tempo para pensar em algo genial, okay? Essa casa tem muitos seguranças, então tivemos que ser rápidos, e a pressa é inimiga da perfeição” tagarelava enquanto andávamos por entre os arbustos do jardim. “ caiu naquele galpão e fez o maior estardalhaço, ouvimos vozes e viemos correndo.
Provavelmente estão procurando por intrusos” ele dizia de peito estufado e eu parei imediatamente.
“Eles os viram?” perguntei desesperada.
“Não temos certeza... Na verdade acho que não, seus seguranças são bem bobões” disse abafando o riso. Segurei o meu, e voltei minha atenção para como sairíamos dali. Estávamos nos fundos de minha casa, onde havia uma imensa piscina, espreguiçadeiras e uma quadra de tênis mais a fundo. Não haviam saídas por ali.
“Você é um retardado, sabia ?” falei vagamente, coloquei meus óculos na altura do meu nariz enquanto observava o jardim. reclamava qualquer coisa e nenhum plano vinha na minha mente.
“Vamos ter que pular o muro, ...” disse. Certo, isso era obvio.
“Primeiro temos que passar pelos seguranças, ...” deu um tapa em sua cabeça. Pelo menos alguém pensava comigo.
“Vamos ter que passar pelos arbustos da lateral...” apontei para aquelas plantas que ficavam encostadas nos enormes muros.
“Arbustos me dão coceiras...” fez uma careta e olhou suplicante para mim.
“Sem mais opções, vamos” peguei em sua mão e fomos em direção aos muros laterais. Se passássemos por entre os arbustos, seria humanamente impossível de sermos vistos.
Quando chegamos na parte mais baixa dos muros que rodeavam a casa, e se abaixaram e apoiei-me com os pés em cima de cada um, dando impulso para que eu conseguisse pular. Eu quase caí ao chegar do outro lado do muro, e meus óculos saltaram para dois metros longe de mim. Em menos de dez segundos, os dois já me faziam companhia na calçada.
“Vou me coçar pro resto do dia” disse entre dentes enquanto tirava pedaços de folhas de seus cabelos. Ele vestia uma larga calça jeans e uma regata branca simples. , o que se vestia melhor em minha opinião, estava com uma calça igualmente larga, uma blusa preta colada em seu esbelto corpo, e uma boina cinza na cabeça, juntamente com um óculos aviador para completar seu charme.
“Pare de reclamar e vamos” repreendeu o amigo, e nós três fomos em direção ao seu conversível azul.
Estávamos na rodovia que saia da cidade. dirigia, eu estava ao seu lado e ia no banco de traz. Não parou de reclamar sobre como cada parte de seu corpo coçava irritantemente, até estragar uma música do Johnny Cash que tocava no rádio, ele conseguiu.
Eu adorava essa estrada. Tudo ao nosso redor era muito verde, e os campos de margaridas deixavam a paisagem ainda mais perfeita.
O vento insistia em bagunçar meus cabelos, enquanto os de continuavam impecáveis, provavelmente por causa do gel.
estava deitado nos bancos, enquanto eu e embalávamos uma conversa empolgante sobre música.
Meia hora depois, virou à direita num caminho para fora da rodovia. Era uma estradinha de terra, que guiava até dentro de uma densa mata.
“Falta muito, ?” perguntei curiosa, observando as grandes árvores. A floresta era bastante úmida, e eu segurei meu chapéu para que ele não voasse.
“Já estamos chegando...” ele disse com um pequeno sorriso, enquanto dirigia concentrado. se sentou novamente e apoiou os braços entre o meu banco e o de .
“Este lugar é o máximo. Eu e os garotos o descobrimos esses dias. O pessoal já deve estar ai...” disse esboçando aquele enorme e lindo sorriso em seus lábios. Eu amo o jeito como sorri, é tão verdadeiro e... feliz. Sorri de volta e voltei a prestar atenção as arvores e animais ao meu redor. Após alguns minutos, pude ver uma luz mais a frente, e a medida que chegávamos mais perto, pude perceber que a estrada acabava ali. Vi mais dois carros estacionados perto das arvores, onde também estacionou o seu.
Os meninos saíram do carro, e abriu a porta para que eu descesse também.
“Vamos!” disse ele empolgado, pegando na minha mão e seguindo para dentro da mata novamente.
Depois de uma caminhada de cinco minutos, eu pude ouvir risos histéricos de pessoas logo a frente. Passando por mais algumas arvores, vi um pequeno lago, onde meus amigos nadavam. Estavam , , e . Esperava ver outra pessoa em especial, mas ele não estava lá.
“Até que enfim, ! Achei que esses loucos tinham seqüestrado você!” gritou, e eu ri, olhando para os garotos do meu lado. “Anda, vem nadar!” ela ria, enquanto jogava água na mesma.
Comecei a tirar meu short, tirei meu chapéu e a camisa logo em seguida. Vi e também se despiram (com gritos histéricos de e a fundo) e fomos os três correndo em direção ao lago.
“Ai meu Deus, isso ‘tá muito alto!” eu gritava de cima da arvore, onde via meus amigos lá embaixo.
“Anda logo, ! Todos nós pulamos, e viu? Ninguém morreu!” gritava, mas nem assim eu me encorajei. Havia uma corda amarrada em um galho da arvore, e na ponta da corda estava amarrado um pneu. Todos meus amigos já haviam pulado, mas meu medo de altura era maior.
“Eu pulo com você, ” apareceu atrás de mim.
“Você é louco? Essa arvore quebra com dois obesos como nós!” falei histérica e rindo logo após.
“Obesidade aqui eu só vejo em você, agora deixa a frescura de lado e vamos” nem tive tempo de protestar ou reclamar. segurou firmemente em minha cintura com uma mão, e a outra ele levou até a corda. Deu um salto e voamos em direção ao lago. A ultima coisa que vi antes de cair, foi a cara de deboche dos meus amigos.
Dei um impulso para cima, voltando a superfície e respirando. e riam histericamente.
“Você precisava ver a sua casa de desespero, !” disse entre suas risadas.
“Há-Há, muito engraçado, . Um dia te coloco em um quarto muito escuro, sem luz nenhuma, e você vai ver como é bom sentir medo” ameacei. morria de medo de escuro, isso todo mundo sabia. Ele fechou a cara imediatamente e resmungou alguma coisa que não pude escutar.
Brincamos de ‘briga de galo’ (eu e ganhávamos todas), depois improvisamos um piquenique nas margens do rio.
“Certo, agora que todos estão de barriga cheia, é hora de vocês cantarem para gente” sugeri, guardando o resto das comidas dentro da cesta que havia trago. Os meninos concordaram, e foi rapidamente pegar os violões dentro do carro. Logo mais ele voltou e entregou um dos violões à .
Os quatro, , , e , faziam parte de uma banda, o McFly. Eles tocavam apenas por diversão, nós sempre fazíamos musicas juntos, até que um dia sugeriu que eles formassem uma banda. Eles gostaram da idéia, e desde então compõem suas próprias musicas.
Nunca fizeram shows por aí, sempre cantavam suas musicas apenas para mim e as meninas. Eles eram realmente ótimos.
“Essa aqui é só o esboço de uma musica que ainda ‘tô tentando escrever...” disse, começando a melodia de sua musica.
“Recently I've been
Hopelessly reaching
Out for this girl
Who's out of this world
Believe me”
As vozes dos garotos se combinavam em perfeita sintonia. Enquanto cantava, ele trocava olhares com os outros meninos, que vez e outra riam.
“She's got a boyfriend
He drives me round the bend
Cos he's 23 he's in the marines
He'd kill me
And so many nights now
I find myself thinking about her now”
Assustei-me um pouco ao ouvir esse trecho da musica. Apenas no trecho em que dizia “Porque ele tem 23 anos”... Era só coincidência, isso era obvio. Ben não era o único garoto com 23 anos na cidade, pensei. cantava de cabeça baixa, olhando atentamente para as cordas do violão, enquanto e trocavam olhares.
“Cos obviously she's out of my league
But how can I win
She keeps dragging me in
And I know I never will be good enough for her (no, no)
I never will be good enough for her.”
Eu particularmente estava amando a musica. E aparentemente, as meninas também, já que olhavam abobadas para e . Eu era fã da voz e das letras de , apesar delas serem totalmente o oposto do que ele era. Sempre cantava músicas com letras de amor, sobre uma certa garota, mas não era o tipo de homem apaixonado. Pelo que conheço do meu amigo, nunca namorara, dizia sempre que queria ‘curtir sua adolescência’ (não como eu, isso era óbvio). Nunca o julguei, só o chamo de mentiroso toda vez que ele termina de compor alguma canção.
“Vocês são ótimos!” bati palmas empolgada e dei um abraço em cada um.
Continuamos ali por mais um tempo, cantando músicas do Elvis junto com os garotos, e vendo o céu ficar cada vez mais escuro.
Quando o sol estava para se pôr, e me levaram para casa como prometido. Ajudaram-me a pular o muro, e eu fiz todo o trajeto de volta até o meu quarto, sem ser notada por nenhum dos seguranças fardados que rodeavam a mansão.
Meu quarto estava intacto, uma bandeja com bolachas em cima da cama. No bilhete que escrevi à Meredith, havia uma resposta:
“Meus cabelos estão ficando brancos mais rapidamente por sua culpa, .”
Ri e logo depois me joguei na cama, pegando uma bolacha da bandeja.
Ninguém seria capaz de me afastar daqueles seis. Nem Deus, nem mesmo minha mãe. Eu preferia morrer a me separar.
Capítulo 3.
I'm what you make me, you've only to take me, and
in your arms I will stay
Eu estava de castigo havia três dias. A única coisa que minha mãe permitia que eu comesse era bolachas com chá. Mas John sempre dizia a Meredith levar-me algo mais para eu me sustentar ao longo do dia.
Mary sempre entrava em meu quarto e perguntava se eu tinha algo para lhe dizer. Obviamente eu não tinha, muito menos ia ter. Ela já estava desistindo de mim.
me mandava cartas, contando sobre suas excitantes férias, de como ele e estavam quase namorando, contava novidades de , , ...
Nunca mencionava Ben, seu irmão. Esse também não me procurou. Não sei por que estava tão preocupada, afinal, foi só um beijo. Para mim, não fora somente isso. Mas eu não tinha a mínima idéia do que se passava na cabeça de alguém com 23 anos. Se fosse alguém como meus amigos, facilitaria.
Meus pensamentos foram dispersos assim que escutei alguém bater sobre a madeira da porta do meu quarto.
“Entre” falei distraída.
Mary deslizou elegantemente para dentro, impressionante como, apesar de seus quarenta e tantos anos, ela continuava tão jovial. Seus cabelos batiam um pouco abaixo dos ombros, e combinavam perfeitamente com seu tom cor de neve de pele. Seus olhos eram incrivelmente azuis e suas maçãs do rosto eram levemente rosadas.
Eu estava sentada em minha cama, com um novo livro em mãos, e minha vitrola invadia o quarto com a linda voz de Presley.
“Vejo que sua rebeldia não cessou...” Mary disse secamente, olhando-me severamente.
“Não sou rebelde, mãe...” bufei e fechei meu livro. Ela começou a andar de um lado para o outro. Seus saltos ecoando no chão de mármore, e sua saia esvoaçava ao longo de seus movimentos.
“Percebi que de nada adianta mantê-la aqui” aquele barulho de seus sapatos me irritava. “Resolvi libertá-la por enquanto. Entretanto, você terá que ir à festa de Charles hoje à noite” Mary falava com calma cada palavra. Ela sabia como eu não suportava sair com ela, já que eu era obrigada a fingir ser a filha perfeita da família perfeita. Fiz uma careta e fui repreendida.
“A não ser que queira continuar trancada durante todos os dias das férias de verão...” ela continuou com seu tom severo.
“Eu irei, mãe” falei irritada.
“Ótimo. Coloque seu Channel preto que comprei semana passada. Ficará esplendida” disse ela por fim, e deixou o quarto rapidamente, não me dando chance de protestar. Encostei minha cabeça atrás da cama e desejei que o tempo passasse muito devagar.
Eram sete da noite e Mary fazia maquiagem em mim. Eu estava mais irritada após ela ter quase esmagado meus órgãos vitais tentando fechar o zíper do vestido. Eu me mexia na cadeira, enquanto ela me dava tapas no braço.
Assim que terminou, levantei-me e fui em direção ao espelho embutido no guarda-roupa. Eu estava... apresentável. Meu vestido era de seda preto até os joelhos, uma faixa abaixo dos seios verde, e tomara-que-caia.
Mary havia feito um elegante coque em meus cabelos, e a maquiagem era igualmente bonita.
“Você está linda...” até me elogiando ela parecia grosseira. Minha mãe estava atrás de mim, e eu podia vê-la através do espelho. Sorri tímida, e ela logo desfez sua feição materna. “Estou te esperando no andar de baixo” e saiu do quarto.
Fiquei me encarando por alguns instantes, pontuando os defeitos até ficar deprimida, e desci.
Meus pais estavam sentados no sofá da sala de entrada.
“Você está deslumbrante, minha filha...” papai disse com um brilho diferente nos olhos. Corei. “Vamos.”
Seguimos até o carro onde o motorista nos aguardava.
A casa dos era tão grande quanto a nossa. Charles era o prefeito de Bolton, o que justificava seu tamanho. A fachada estava decorada com balões e faixas com números e um slogan “
Vote !”
Era a festa da nova campanha de reeleição do pai de .
Uma musica clássica era tocada a fundo por uma orquestra e haviam garçons zanzando com bandejas de champanhe e comidas estranhas.
“!” alguém gritou e antes que eu pudesse perceber que era, vi um chumaço de cabelos tampando minha visão. “Como eu estava com saudades!” me soltou e eu ajeitei o vestido em meu corpo.
“Eu também estava, ” falei meio desanimada, já que não estava com o mínimo de humor para festas. Ela cumprimentou meus pais e depois ignorou meu desanimo, me puxando pelo braço festa adentro. Ela tagarelava sobre seu romance com , contava que fora apresentada a seus pais e coisas do tipo.
Como sempre, ela estava linda. pegou duas taças de champanhe, sem se importar com o fato de que nossos pais estavam ali.
Minha cabeça virava para os lados a procura de alguém em especial. Eu o veria, era inevitável.
Minha amiga me levou para frente do palco improvisado, onde vi meus amigos sorridentes. foi o primeiro a correr em minha direção e me dar um abraço de urso. Ele me tirou do chão enquanto eu me debatia em seu colo.
“Oi boneca” ele disse animado, dando um beijo estalado em minha bochecha.
“Você é um brega, ” rolei os olhos e me soltei de seus braços. também veio em minha direção e me abraçou. acenou.
“Sentimos sua falta, . Ninguém consegue ser mais retardado que você... Nem mesmo o ” apareceu atrás de mim, passando um braço em meus ombros e o outro em .
“Te odeio, ” me livrei de seu braço e fingi-me emburrada. Os garotos embalaram uma conversa inútil, apenas para não perder o costume e eu fiquei totalmente distraída. Até o ponto em que eu o vi.
Ele conversava com
meus pais, com aquele sorriso lindo estampado em seu rosto. Ele estava vestido de um jeito tão sério e responsável, e mesmo assim ficava perfeito.
Ben gargalhava e dava tapinhas no ombro do meu pai. Hora e outra, percebi que elogiava minha mãe também. Corei quando me realizei do motivo para toda aquela bajulação. De repente, seu olhar rodou o enorme salão até parar sobre mim. Seu sorriso foi aberto novamente, e eu fiquei tão desnorteada que esqueci de sorrir de volta.
Ben pediu licença aos meus pais e veio caminhando a meu encontro. Seu andar era perfeito, o modo como suas pernas se moviam de um modo sincronizado era perfeito. Ele tinha o olhar fixo em mim e um pequeno sorriso nos lábios.
Assim que estava relativamente próximo, pegou minha mão e depositou um beijo de leve na mesma. O toque de seus lábios macios e quentes me fez tremer as pernas.
“Boa noite, princesa” se fosse dizendo, eu provavelmente diria novamente o quanto ele era brega, mas não era . Tudo naquela voz perfeita era lindo.
Era incrível como eu ficava sem ação diante de Ben. Talvez ele tivesse um poder hipnotizante ou algo assim.
“Noite...” sussurrei num tom distraído. Escutei alguém reclamar algo atrás de nós, mas eu estava despreocupada demais para saber quem era.
“Dançaria comigo?” ele sugeriu com um enorme sorriso e sobrancelhas arqueadas. Balancei a cabeça como um sim, me sentindo a patética dos patéticos.
Ben me conduziu ate o meio do salão, e senti dezenas de pares de olhos sobre nós. Não me importava, já que os meus estavam concentrados em apenas um.
Uma musica lenta e melosamente romântica tocava, e Ben continuava me conduzindo pelo emaranhado de pessoas. Paramos.
Suas mãos deslizaram do começo da minha nuca até minha cintura, e cada fio de pêlo do meu corpo se arrepiou. Sua outra mão tocou delicadamente a minha.
Graças às minhas aulas de dança no verão passado, eu não cometi nenhuma atrocidade. Nos movimentávamos de modo sincronizado, sua cabeça encostada na minha, e hora ou outra eu sentia seus lábios quentes sobre minha pele.
“Você está uma princesa, ” ele disse num tom suave e doce, bem perto do meu ouvido. Senti meu sangue queimar em minhas maçãs do rosto.
“Obrigada” sussurrei. Qualquer um ficaria sem palavras (e fôlego).
Tive vontade de perguntar-lhe por onde esteve nos últimos dias, o porquê de não ter me procurado, ligado ou ate mesmo mandado um bilhete pelo , mas minha garganta simplesmente se fechava, impossibilitando a saída de uma palavra sequer. Para piorar, suas mãos deslizavam carinhosamente pelas minhas costas.
“O que você fez essa semana?” arrisquei. Meu corpo agora estava mais próximo do de Ben, e eu já sentia correntes elétricas eletrocutarem meus ossos. Ele sorriu e seus lábios aproximaram do meu ouvido, e ele sussurrou;
“Pensei em você... Todos os dias” acho dispensável quaisquer comentário. Minhas bochechas queimaram, obviamente, e eu olhei para o chão em forma de timidez.
Continuamos movimentando em silencio. Eu esperava que ele não pudesse ouvir minha respiração descompassada.
“Posso te ver essa semana?” Ben pediu delicadamente. Era impossível recusar tal oferta. Bufei depois de lembrar do castigo estúpido em que me encontrava.
“Não posso. Estou de castigo” rolei os olhos.
“Esse não é mais um problema. Falei com seus pais e me responsabilizei pelo que aconteceu” ele mostrou todos seus dentes num sorriso impecável. “E pedi permissão para sair com você. Temos um passe livre...” continuou ele. Tive vontade de saltitar como uma criança, mas me contive com um sorriso.
“Como você conseguiu?” perguntei abobada, afinal, aquilo era uma proeza que eu nunca consegui em dezessete anos.
“Digamos que tenho meus charmes...” eu não poderia discordar.
Continuamos nos balançando, eu sentia seu perfume bagunçar os meus sentidos, e aquilo já me irritava. Ate que vi alguém cutucar Ben, mas por ele ser o dobro do meu tamanho, não pude saber quem era.
se virou, então vi que o encarava sem sorrir.
“Posso ter a mão da ?” escutei sua voz soar friamente. Ben também o encarou com a mesma intensidade. Não sabia o motivo, mas podia ver faíscas entre eles.
“Como quiser...” o mais velho finalmente disse, quebrando aquele clima tenso. Ben se virou para mim e fez um gesto cortês antes de me deixar ali com . Eu estava entendendo absolutamente nada.
“O que foi isso, ?” perguntei enquanto ele colocava sua mão em minha cintura.
“O que foi o quê?” ele fez cara de desentendimento e pegou minha outra mão.
“Não responda uma pergunta com outra” falei seca. Coloquei uma mão em seu pescoço e o vi se contrair. Não pude deixar de rir.
“Só te chamei para dançar, oras. Não vejo o problema nisso...” continuou ele inocente. Sua feição era angelical, e seus cabelos ajudava em sua inocência. Rimos juntos, e não nego que sua risada era incrivelmente contagiante.
“Certo...” concordei depois de cessar o riso.
“Você quer dar uma volta?” ele sugeriu nervoso. Sua voz tremia, assim como suas mãos em minha cintura. estava estranho. Concordei acenando a cabeça e ele me puxou pela mão ate fora do salão.
O jardim da casa dos era imenso. A mãe de era viciada em plantas, pode-se dizer.
soltou minha mão e começamos a andar lado a lado, em silencio.
“Você está bem?” coloquei a mão em seu ombro. Ele parecia chateado com algo. Eu e nunca fomos melhores amigos como eu e , mas não deixávamos de ser amigos, e eu me preocupava.
“Estou bem...” ele respondeu vagamente. Não olhava em meus olhos, encarava os próprios pés.
Estávamos no imenso gramado no fundo da mansão, onde grandes arvores e flores de todas as cores nos rodeavam. Mais à frente, havia uma ponte sobre um pequeno lago artificial. Paramos lá. Demorou um tempo ate que aquele silêncio constrangedor sumisse.
“Então...” falamos ao mesmo tempo.
“Você pode achar estranho, mas eu preciso te perguntar...” começou, e me olhou pelo canto do olho. Fiz um sinal com a cabeça para que ele continuasse. “Você está gostando do Benjamin?”
Em sua voz, o dome de Ben soou grotesco, com um tom de raiva. Não entendi, já que até onde eu sabia, os dois eram amigos. Hesitei antes de responder.
“Sim...” respondi simplesmente. Ele agora me encarava de frente, me deixando sem graça.
“Muito?” insistiu ele. Eu estava um pouco incomodada com essa curiosidade instantânea de .
“Acho que sim...” falei olhando para qualquer canto do jardim, menos para o rosto do garoto à minha frente. “Mas por que tanta curiosidade, ?”
“Bom... Só curiosidade, nada mais...” ele bagunçou seus cabelos. “Quero dizer... Somos amigos, não somos?” concordei com a cabeça.
“Então... Queria ficar por dentro do seu novo relacionamento!” completou ele sorridente.
“ ... Você nunca se interessou pela minha vida... Muito menos em meus relacionamentos! O eu está acontecendo de verdade?” perguntei desconfiada. ficava cada vez mais sem graça, e agora ele apoiava seus braços no suporte da ponte, encarando o lago.
“É só que... Eu não sei, , mas estou preocupado dessa vez...” ele respondeu brincando com os próprios dedos.
“Com o que, ?” me pus ao seu lado, de modo que ele pudesse me olhar. Ele o fez.
“Digamos que Ben não seja o melhor cara com garotas...”
“Eu conheço a fama de Benjamin, ” o interrompi.
“Então... Você pode se machucar... Ele pode te machucar...” ele me encarou profundamente.
“Mas o que te faz pensar que eu seja igual às outras garotas com que ele já saiu?” indaguei incrédula. Digamos que normalmente Ben não saia com meninas de melhores índoles de Bolton.
“Você não é igual à elas! Nunca! Esse é o problema, !” se adiantou, frenético.
“Pois eu não vejo problema algum, . Benjamin me trata extremamente bem, não há motivos para você estar o julgando dessa forma” me afastei, e comecei a andar em direção à casa novamente.
Escutei os passos de atrás de mim. Logo após, senti suas mãos envolverem meu braço, e ele me virar para si. Ficamos bastante próximos, para não dizer fundidos. Eu senti sua respiração bater furiosa contra meu rosto, e seus olhos me encaravam com uma expressão que confundi por sendo como raiva ou preocupação. Ou quem sabe os dois.
“Só me prometa que tomará cuidado” ele disse calmamente cada palavra. Eu fiquei um pouco confusa por conta de toda aquela proximidade, mas voltei a mim em segundos, me soltando de seu braço.
“Não preciso de seus conselhos, . Você é tão igual ao Ben. Para não dizer que é pior. Guarde-os para você” falei friamente, voltando a andar novamente, deixando o garoto ali, parado e sem ação.
Capítulo 4.
I said shake, rattle and roll
Eu curtia meu último mês de férias na piscina da minha casa, com a companhia de e . O sol ardente deixava minha pele vermelha. Eu sabia que aquilo arderia mais tarde, mas não me importava. A preguiça era maior.
Nós três usávamos óculos gigantes e chapéus com grandes abas. com um maiô ultima coleção da Dior, desenhado especialmente para ela. A garota fez questão de deixar isso claro. E eu estava com um biquíni branco e meu chapéu clássico.
Meredith havia nos trazido chá-gelado, e bebíamos enquanto conversávamos empolgadas sobre a volta às aulas. Eu nem tanto, já que previa como esse ano letivo seria extremamente cansativo graças à pressão de passar em uma faculdade. Acho que minhas amigas não se preocupavam muito com isso.
“, é essa semana que você sairá com Ben?” não sei como, mas o assunto caiu em mim. me encarava por trás do imenso óculos. Dei um grande gole no meu chá, tentando evitar aquela conversa. Não sei bem o motivo, mas era inevitável eu me sentir tímida ao falar sobre esse assunto.
“Sim...” respondi vagamente, com o intuito de que minha amiga não fizesse mais perguntas. Às vezes sua curiosidade não tinha limites. Ela soltou um grunhido empolgado, seguido de pequenas palmas. Dava a impressão de que aquele seria o meu primeiro encontro. Certo, talvez realmente fosse, mas não vinha ao caso.
“Vocês são o casal mais lindo de Bolton. Depois de mim e , é claro” disse convencida, com um enorme sorriso em seus lábios. Rolei os olhos.
“Não somos um casal, . Pare de ficar falando besteiras” virei meu rosto para encarar a piscina, rezando mentalmente que minha amiga parasse com seus comentários infelizes.
Mas é claro que ela continuou a tagarelar. Então resolvi moldar uma barreira invisível à prova de sons, impedindo que qualquer palavra de entrasse em meus ouvidos. Ela já estava acostumada a conversar sozinha de qualquer maneira, não faria diferença.
As meninas apenas foram embora quando o sol já não estava mais nos iluminando. Quando ele começou a se pôr, fomos para o meu quarto fazer nada de útil, o que era o usual.
Tomei um banho com a água dolorosamente fria. Cada respingo que tocava em minha pele me fazia soltar um gemido de dor. Eu me esqueci que preguiça é um pecado, e pecados geram conseqüências. Duvidava de que conseguiria colocar uma peça de roupa em meu corpo, mas Meredith me convenceu a colocar uma camisola de seda.
Deitei-me com muita dificuldade, e agradeci pelos lençóis serem igualmente de seda, o que fazia minha pele relaxar ao toque frio do tecido.
“?” escutei alguém sussurrar em tom desesperado, e eu sabia de onde aquele som vinha. De alguém que se encontrava abaixo da minha janela. Aquilo só podia ser brincadeira! Eu nem de castigo estava para precisar de algum dos meus amigos para me seqüestrar!
“?” o individuo insistiu. Desejei não ter escutado, e deixar a pessoa se esgoelando até cansar. Entretanto, pensei na possibilidade de ser algo importante. não apareceria a essa hora em minha casa se fosse algo sem importância, afinal, haviam inventado algo chamado telefone.
Com a mesma dificuldade que me deitei, me levantei. Parecia que minhas juntas haviam sito queimadas assim como minha pele. Devo me lembrar de ir com roupas para um banho de piscina da próxima vez.
Arrastei-me como uma lesma até a imensa janela, enquanto a pessoa insistia em gritar pelo meu nome. Ele nunca fora tão irritante.
Fiquei inevitavelmente surpresa ao ver a figura de parada em frente à minha janela. Ele parecia muito abatido, percebi que seus olhos estavam inchados e vermelhos apesar do escuro.
“O que aconteceu, ?” perguntei preocupada. Ele encarou os próprios pés, talvez não quisesse que eu o visse naquele estado deprimente.
“Você poderia descer aqui?” ele pediu em um tom choroso. Olhei para o relógio enorme pendurado na parede atrás de mim. Oito e meia. Acho que Mary não teria um ataque cardíaco se eu fosse ajudar um amigo desesperado.
“Espere um instante” murmurei antes de adentrar meu quarto novamente para pegar um
penhoar.
Saí do quarto rapidamente, desci a interminável escada, até chegar ao escritório de meu pai, onde eu tinha certeza de que ele estaria, lendo algum livro de sua biblioteca pessoal.
“Pai?” o chamei, e vi o mais velho tirar o charuto de sua boca.
“Sim, querida” ele respondeu carinhoso. Aproximei-me dele, até ficar de frente à mesa onde estava sentado.
“Lembra de ?” perguntei, e John assentiu. “Bom, acho que ele está com problemas e ele está na frente de nossa casa... Eu poderia chamá-lo para entrar, assim poderíamos conversar?” supliquei no melhor tom de voz que eu possuía. Era impossível me recusar qualquer coisa quando eu usava aquele tom. Meu pai franziu o cenho e eu aumentei minha expressão de suplica.
“Não acha muito tarde, filha?” ele perguntou olhando no relógio, mas com o mesmo tom carinhoso de antes.
“Sim papai, mas eu não lhe pediria se não fosse realmente importante...” falei apreensiva. Papai alisou seu bigode, ainda com uma expressão incerta, mas no final relaxou sua feição.
“Tudo bem, convide-o para entrar e vão para a sala. Mas não se demorem” ele concluiu e eu sorri, indo em sua direção a fim de dar-lhe um beijo estalado na bochecha.
O mordomo, Noel, foi em direção à porta principal e abriu-a para que eu passasse. Senti-me absurdamente aliviada quando senti um vento gélido soprar a minha face, fazendo com que a ardência desaparecesse por alguns instantes. Procurei por no jardim, até o ver sentado no gramado em frente ao meu quarto.
“Hey!” gritei e desprendeu sua atenção das roseiras ao seu lado e me olhou. Fiz um gesto com a mão para que ele viesse ao meu encontro, e assim o fez.
mantinha suas mãos nos bolsos de sua calça jeans, e vestia uma jaqueta bege para proteger da ventania. Ele realmente estava abatido e triste, e percebi que seus olhos estavam inchados por, definitivamente, chorar.
“Tem algum problema?” ele sussurrou antes de entrar pela grande porta.
“Nenhum” sorri e coloquei a mão em seu ombro, incentivando-o.
Ao passar pelo salão de entrada, olhou em direção ao meu pai e acenou, me seguindo até o sofá que ali tinha. Noel se ofereceu à fazer um chá, e foi em direção à cozinha.
“O que aconteceu, ?” perguntei assim que nos sentamos um do lado do outro. O garoto fungou antes de responder.
“É a ... , você sabe o que está acontecendo?” ele mantinha o tom desesperado e percebi que ele estava prestes a chorar. Não entendi muito bem sua pergunta.
Quero dizer, eu não sabia o que estava acontecendo com . Eu havia a visto hoje e não percebi nada de diferente para falar a verdade.
“Porque pergunta?” indaguei curiosa. fungou novamente.
“Ela está estranha, . Fui à sua casa antes de vir aqui, e ela foi tão fria que estava irreconhecível! E no final, ela ainda mandou eu sumir e parar de infernizar a vida dela!” ele já não segurava mais suas lagrimas, e tinha o rosto escondido entre suas mãos. Noel chegou à sala com uma bandeja e a depositou na mesinha redonda de centro. Servi-nos.
“Eu realmente não sei o que dizer ... Quero dizer, hoje ela estava normal aqui em casa... Tirano o fato de que não estava conversando muito. Mas isso é normal em TPM, por exemplo!” falei pensativa. “SIM! É TMP, !” disse com uma certeza na voz, mas no fundo eu estava incerta.
“Não estou muito certo sobre isso...” começou ele cabisbaixo. “Dessa vez foi diferente, . Ela realmente queria isso. Eu pude perceber...” bagunçou seus cabelos nervosamente.
“Eu vou conversar com ela por você, ...” prometi e logo o abracei, sentindo a manda do meu
penhoar se molhar com as lagrimas do meu amigo. Ele fez um movimento com a cabeça, concordando, e me apertou fortemente, o que me fez contrair já que eu era a nova
torrada humana .
“E eu preciso dizer... Você está um charme assim... Parecendo um pimentão...” ele ironizou em meio de lagrimas. Ri e dei um tapinha em sua cabeça.
Agora eu precisava descobrir o que acontecia com . Nunca pensei que ela pudesse agir dessa maneira com relação a , já que parecia ser tão apaixonada pelo mesmo.
Algo sério estava acontecendo...
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