Capítulo 14.
I’m free as a bird
Certo.
O que eu faria agora...
Estava defronte aos portões de bronze da mansão, de olhos fechados e respirando profundamente, aspirando o máximo de ar que meus pulmões conseguiam em uma inútil tentativa de me acalmar. Eu realmente não sabia o que faria. Pensei em até voltar para a casa rindo e dizer: “AHÁ! Te peguei, Marry!” e lhe dar alguns tapinhas nas costas. Obviamente eu não o faria.
Moraria debaixo de alguma ponte ou nos becos de Bolton, pedindo esmola em semáforos e envergonhar Marry ainda mais. Seria engraçado, entretanto.
Mexi nervosamente em meu cabelo e desci minhas mãos para minha testa, forçando-me a pensar em uma solução.
Arrumei a alça da mochila em meu ombro, e coloquei meus pés para andarem em direção à qualquer telefone público próximo.
Na verdade, meu desespero meu fez praticamente correr pela White River Street. Ainda era relativamente cedo e as donas-de-casa aguavam seus jardins enormes, aproveitando enquanto o inverno não chegava para arrasá-los. Também aproveitavam o momento para xeretar a vida das outras moradoras. Essas riquíssimas donas-de-casa – as quais não tinham nada para fazer além de rezarem para que seus maridos enriquecessem mais – competiam entre si sobre quem possuía o jardim mais verde, com as flores mais caras e coloridas, o jardineiro mais bonitão... Aproveitavam essa época já que, no inverno rigoroso do Reio Unido, tudo fica debaixo de neve e os jardineiros tiram suas folgas.
Algumas me olharam com certa curiosidade, criando hipóteses sobre meu estado físico aparente: roupas largadas e uma feição desesperada. Isso me fez apertar ainda mais meu passo.
Dois quarteirões para frente encontrei um típico telefone público londrino e não tardei a entrar dentro da cabine vermelha. Coloquei uma libra no lugar indicado e pensei por alguns instantes antes de discar um número.
Eu não poderia ligar para . Sua mãe não era muito diferente da minha, além de serem grandes amigas. Imagine eu, chegando em sua residência de mala, cuia e um espírito rebelde? Ligaria para Marry desesperada, e esta me buscaria com um rifle em mãos.
Não podia ligar para . Isso era óbvio.
Jamais ligaria para . Razões óbvias, idem.
e eram boas opções...
Disquei então um número que veio em minha mente e aguardei atenderem.
“
Alô?” escutei uma voz do outro lado que fez minhas pernas perderem um pouco de controle e minhas mãos tremerem. O desespero enfim tomou conta de mim.
“?” sibilei vacilante. Eu piscava freneticamente.
“
?” o garoto perguntou, e pude a surpresa em seu tom. “
Você está bem?” seu tom mudara para preocupação.
“E-eu... Eu não sei! Eu estou confusa, acabei de sair de casa, Benjamin estava lá e Marry...” comecei a falar sem pausas, atropelando todas as palavras.
“
Espere. Benjamin estava em sua casa?” o tom era de incredulidade. Impressionante como ele podia mudar suas emoções a cada instante.
“Estava!” bufei ainda raivosa. “E então eu saí de lá imediatamente! Mas... Agora não sei o que fazer e...”
“
Onde você está?” o garoto me interrompeu, impaciente.
“No telefone público da White River com a Major Avenue.”
“
Certo, estou indo te buscar. Não saia daí, entendeu? ” soou autoritário e desligou o telefone sem escutar minha resposta.
Eu não tinha para onde ir, de qualquer maneira.
Em menos de vinte minutos, vi estacionar sua
moto lentamente perto da calçada que eu estava sentada.
Usava uma jaqueta de couro preta, um jeans com um rasgado no joelho e nos pés, um
All Star igualmente surrado. Tirou seu capacete – o qual não me deixava ver seu rosto por tampá-lo totalmente e o pequeno vidro da frente ser esfumaçado – ofuscando meus olhos com aqueles cabelos . Eles, obviamente, estavam mais bagunçados que o normal devido ao capacete, mas era incrível como continuava... Indefectível. Sua testa estava enrugada e suas sobrancelhas arqueadas, deixando claro seu aborrecimento. Perfeito.
Saltou de sua moto e veio em minha direção sem olhar para mim. Olhava para trás, sabia que à algumas quadras era minha casa e, quem sabe, procurava por um carro conhecido. Bufou e me encarou assim que chegou à poucos centímetros de mim. Não se sentou, por isso tive que olhar para cima para poder vê-lo, mas arrependi no momento seguinte que os feixes de luz começaram a irritar meus olhos.
“O que aquele filho da mãe queria?” disse entre dentes e uma enorme vontade de rir me abateu. Ele ficava um tanto quanto charmoso naquele estado...
“Olá para você também, ” falei descontraída, vendo-o relaxar os músculos logo após. Suspirou alto e se sentou ao meu lado no meio-fio. Ficamos em silencio alguns instantes.
“Não vai me contar?” ele disse irritado, mas com um singelo sorriso.
“Não sei o que ele queria. Saí de casa antes que ele pudesse dizer qualquer coisa” adiantei, e um leve desespero me dominou novamente. Eu – quase – havia esquecido que era uma sem-teto agora.
“Hum” não pareceu se convencer e começou a me encarar desconfiado, talvez tenha percebido meu desconforto. Levei a mão até minha nuca, esfregando-a nervosamente.
“Bem, na verdade eu meio que... Fugi... Não foi exatamente uma fuga, já que falei em alto e bom som à Marry que estava saindo de casa para nunca mais voltar...” ri nervosa sem encarar . Estava envergonhada por ser parecer tão infantil. Qualquer pessoa pensaria isso de mim.
Senti os olhos do garoto sobre mim, analisando-me cautelosamente.
“Então agora você é uma sem-teto?” ele disse divertido. Não achei graça, mas não me manifestei.
“Basicamente” falei simplesmente, ainda sem o encarar.
“Como aqueles jovens rebeldes que andam aparecendo na Tv?” percebi que ele se esforçou para conter um riso. Acho que seria um ótimo alvo para eu descarregar minha raiva daquele dia.
Apenas dei de ombros.
Vi, pelo canto do olho, abrir e fechar a boca, tentando dizer algo.
“Admiro você, ” falou, dessa vez sério. Virei meu rosto sutilmente em sua direção, sem aparentar muito interesse, mas curiosíssima para saber o porquê dele me admirar.
“Claro, há muito o que se admirar em uma sem-teto rebelde” disse sarcástica, voltando a encarar uma casa qualquer à minha frente. se aproximou um pouco mais de mim.
“Eu falo sério. São poucas as pessoas hoje em dia que têm coragem de enfrentar algo que pareça errado... A maioria só consente...” ele se explicou, ainda com os olhos fixos em mim.
Senti-me lisonjeada, devo admitir. Não tinha pensado por esse lado, para mim, eu era apenas uma patética riquinha, mimada e rebelde.
“A maioria tem onde morar...” rebati, relembrando-o da minha situação. riu. Rir da desgraça alheia realmente nos faz bem.
“Já falou com ?” ele sugeriu.
“A mãe dela é melhor amiga de Marry...” respondi alheia, já chegando à conclusão de que eu estava encurralada. ficou em silencio, pensativo. Provavelmente chegara à mesma conclusão que eu. Bolton Bridge, aí vou eu.
“Você poderia... Você sabe...” ele pigarreou. Arqueei as sobrancelhas, incentivando-o a continuar. “Sabe... Passar um tempo comigo... Quero dizer, na minha casa...” vi suas bochechas corarem e meu estômago afundar. Imagine eu, , vivendo sob o mesmo teto que ! Parecia, ao mesmo tempo, uma ótima e absurda idéia. Mas vamos combinar, eu não tinha muitas opções...
“Não sei, ...” mostrei minha indecisão. Seria muito inconveniente da minha parte aceitar. Mudar toda a rotina da família, abusar da hospitalidade, comer, gastar energia elétrica...
“Vamos, ... Onde você pretende ficar?” ele pareceu apreensivo. Dei de ombros e o garoto passou seus braços pela minha cintura. Não nego que encolhi e senti minhas bochechas inflamarem.
“Não vou incomodar?” perguntei um pouco tímida, ainda incerta.
“Nunca” ele disse simplesmente, me encarando profundamente.
“Mas e seu pai?” rebati, procurando motivos para rever sua proposta. Eu queria aceitar, em contrapartida, meu bom senso me reprimia.
“
Seria um prazer receber a filha do grande John em minha humilde residência.” ele forçou uma voz grave que, no caso, presumi ser de seu pai, o senhor Lewis.
“Eu... Eu prometo que ajudo nas despesas até encontrar um apartamento para mim...” cedi. Parecia-me uma coisa descente a se fazer, se era para eu aceitar. levantou os braços e gritou
Aleluia! para o nada.
“Não se preocupe com essa parte ” ele disse após cessar algumas risadas. “Você pode ficar o tempo que quiser” assim que terminou sua frase, não me agüentei, tive que envolver meus braços em seu pescoço, apertando-o contra meu corpo em um abraço forte. Senti uma intensa gratidão naquele momento. Há um tempo atrás, seria a ultima pessoa a qual eu esperaria – ou pediria – ajuda.
“Muito obrigada, . De verdade” apertei-o mais ainda mais. Ele pareceu responder, já que suas mãos continuavam firmes ao redor da minha cintura e sua respiração batia quente no meu pescoço.
Não sei quanto tempo ficamos daquele jeito, mas foi suficiente para não querer largá-lo tão cedo.
cheirava tão bem... Não usava perfume, mas exalava um cheiro de sabonete de lavanda entorpecente.
Meu rosto estava mergulhado em seu pescoço e, sem ter controle sobre meus atos, depositei um sutil beijo no local. No mesmo instante, vi se encolher um pouco e não contive um sorriso.
E então, após alguns segundos, ele lentamente moveu seu rosto, e eu fui obrigada a deslocar o meu de seu pescoço.
Meus olhos, que antes estavam fechados, se abriram vagarosamente e deram de cara com os de , que estavam cerrados,entretanto continuavam intensos e penetrantes.
Minha respiração falhou e eu me perguntei por que diabos esse garoto conseguia me deixar assim apenas com um olhar. Era insano! Inexplicavelmente insano!
Meu coração acelerou subitamente e batia tão forte contra meu peito que, pela nossa proximidade, tinha certeza que poderia escutar. Engoli seco.
Vi uma das mãos do garoto virem de encontro com a minha bochecha e acariciar sutilmente a mesma, me fazendo fechar os olhos automaticamente. Meu estômago afundava em nervosismo.
Era estranha aquela sensação. Assustadora, na verdade. Parecia que eu poderia ter um ataque cardiovascular a qualquer momento!
Algo dentro de você pulsa intensamente, fazendo sua respiração falhar, suas mãos suarem ou tremerem, e às vezes os dois. Sua boca saliva, suas pernas parecem que não vão te agüentar por muito tempo, e é praticamente impossível encarar certos olhos e se manter em sã consciência.
Mas como de costume, algo a fundo dispersou minha atenção. Dessa vez me fazendo saltar quando percebi que o barulho era uma buzina conhecida: a do Pontiac.
“Oh meu Deus” exclamei baixinho, vendo se levantar bruscamente, com uma feição para poucos amigos.
Benjamin saiu do carro batendo a porta brutalmente e veio, com a mesma expressão de , em nossa direção.
“, sua mãe está desesperada” Ben disse curto e grosso, encarando , o qual mantinha seus olhos fixos no garoto alto de topete bem moldado e olhos incrivelmente azuis. “Venha comigo, por favor.”
Aquilo não me parecia um pedido ou uma súplica. Era mais uma ordem.
“Ela não vai a lugar nenhum com você, Benjamim” disse vorazmente, fechando as mãos em punho.
“O que está fazendo aqui afinal, ?” disse com desaprovação, olhando dos pés à cabeça num ato de superioridade.
“Não lhe interessa, . Apenas vá embora daqui, pois não irá com você” manteve-se firme diante do mais velho. Ben soltou uma risada cínica e estridente.
“E quem vai me impedir de levá-la?
Você?” ele se aproximou ameaçadoramente e, pelos punhos, pude perceber que a paciência de estava por um triz.
“Se for preciso...” respondeu entre dentes, vendo Benjamin se aproximar cada vez mais de onde estávamos. se posicionou à frente de mim, como se quisesse me proteger de um mal que se aproximava.
“Não seja tolo, . Aquela ameaça de tempos atrás não foram suficientes pra você?” Benjamin disse em um sussurro, tentando não me fazer escutar. Talvez pensasse que eu não sabia. Isso me irritou profundamente, e eu nunca havia sentido tanto ódio quanto naquele momento.
“Você vai ter que fazer melhorar suas chantagens para me afastar de .” se aproximou do garoto, e vi que os dois estavam a poucos centímetros um do outro. Aquilo não era bom.
E de repente, num piscar de olhos, vi sendo afastado com um murro em cheio em seu rosto, fazendo-o cambalear e bater em sua moto.
“!” gritei automaticamente e fui em direção do garoto, totalmente desesperada. Ele não parecia ter sentindo coisa alguma, já que levantou imediatamente e foi na direção de Benjamin, dando-lhe um soco no rosto de volta.
Instantaneamente, um desespero enorme tomou conta de mim. Não havia coisa que mais me tirava do sério que uma briga.
Antes que eu pudesse pensar em fazer algo – apesar de não ter idéia alguma – Ben atingiu a barriga de , fazendo-o encolher de dor.
“PAREM VOCÊS DOIS!” berrei mas nenhum pareceu escutar. Eu estava completamente invisível naquele antro de ódio.
se recompôs e empurrou Ben contra a porta do Pontiac de forma tão brutal, que pude escutar o vidro da janela trincar.
“Eu poderia ficar o dia inteiro te dando uma surra sem ao menos me cansar, mas prefiro gastar meu tempo de maneiras melhores, como tratando
do jeito que ela merece ser tratada” disse entre dentes, mantendo firmemente Benjamin contra o vidro rachado do carro. “E eu vou fazer de tudo para que isso aconteça, e então é melhor que você fique longe dela” o garoto terminou num tom extremamente ameaçador. Mas é claro que Benjamin não deixaria barato.
“Espera, ... Espera só eu acabar com você” Ben disse no mesmo tom. “Eu vou fazer de
tudo para que
nada dê certo pra você.”
“Pode tentar de tudo, . Você nunca vai conseguir acabar comigo, porque quem já está acabado aqui é você. E agora eu repito” pareceu apertar Ben ainda mais contra o vidro, e eu vi que ele poderia quebrar a qualquer momento. “Fique-longe-dela.”
E então o soltou, dando as costas imediatamente e agarrando minha mão, me levando em direção à moto. Eu estava totalmente alheia àquela situação, não sabia o que falar, como agir, eu não tinha certeza se tudo tinha sido real e se eu realmente escutara todas aquelas palavras, tantas as vindas de Benjamin quanto as de se arriscando para me proteger. Ou o que fosse.
Ele subiu na moto e eu fiz o mesmo, colocando o capacete e em um segundo, a moto já estava arrancando e deixando a imagem de Benjamin furioso para trás.
A casa de era em um lugar bem distante da cidade. Na verdade era um sítio simples afastado de tudo e de todos. A família de sempre fora muito simples, sem muitas frescuras ou luxos. Pouco para eles era suficiente para serem felizes. Regalias demais nunca era sinal de coisa boa.
Então assim pegamos a rodovia principal de saída de Bolton.
O vento batia com mais intensidade que antes devido à alta velocidade em que a moto andava. Eu havia colocado um casaco antes, justamente para não morrer congelada.
Aquele ruído do vento em meus ouvidos e jogando meus cabelos bruscamente para trás, me dava uma sensação incrível, nunca antes sentida por mim, de liberdade.
Minhas mãos estavam firmemente postas na cintura de , apertando-o como nunca contra mim. Mas naquele instante, permiti-me soltá-lo e meus braços abriram-se como se eu pudesse pegar vôo a qualquer momento.
Gritei.
Gritei toda a repressão antes entalada em minha garganta, dando lugar a uma nova sensação. Eu era livre. E não havia sentimento melhor do que aquele.
Talvez a presença de melhorasse - muito - as coisas.
E então gargalhei.
Eu estava realmente feliz. Feliz como nunca! Todas aquelas emoções novas e confusas não me martirizavam nem um pouco, apenas aumentavam meu gosto por aventuras. Viver intensamente, esse era meu novo lema. Bem vindos ao
Carpe Diem.
Pelo retrovisor pude ver sorrindo abertamente, mostrando sua satisfação. Eu podia ver a alegria transbordar de seus olhos e aquilo me contagiava ainda mais, se é que era possível.
As árvores passavam rapidamente por nós, todas com copas imensamente verdes, transformando aquela estrada em um lugar reconfortante.
Envolvi novamente com meus braços e recostei meu queixo em um de seus ombros, observando os riscos amarelos pintados no asfalto passarem abaixo de nós em uma velocidade incrível. Olhei no velocímetro da moto: 120 quilômetros. E eu não me importava. Pediria para que ele até aumentasse mais a velocidade. Era visível a quantidade de adrenalina que percorria minhas veias, misturada com uma dose incrível de endorfina e serotonina.
Estava tudo maravilhosamente maravilhoso.
O caminho até o sítio de durou exatos vinte minutos. Quinze minutos de asfalto e os outros cinco de estrada de terra, e admito que o medo tomou conta de mim novamente com aquele monte de buracos e pedregulhos. A paisagem de árvores mudara para um vasto capim onde certo gado pastava. E mais à frente eu pude avistar um casebre de madeira pintado todo de branco no meio do gramado. Uma rede estava presa em dois pilares na pequena varada, dando àquele lugar um toque ainda mais aconchegante. Não havia barulhos de carros, nem aquele cheiro forte que saía dos escapamentos, nem lojas amontoadas. Era tudo limpo... Natural...
Um pequeno lago podia ser visto mais adiante e me lembrei de certa vez ter sido traga por John para pescar ali... Ele e o senhor eram grandes amigos desde sempre.
Eu contei exatamente onze cachorros enquanto a moto ia perdendo velocidade.
Cachorros de todas as raças, cores e tamanhos, os quais vieram correndo em direção do dono assim que ele recostou sua moto em uma cerca que separava a casa do vasto pasto dos bois.
“Hey Bradock!” disse sorridente ainda em cima da moto. Bradock era um cachorro enorme da raça
boxer e fiquei até assustada quando o mesmo pulou e ficou em cima de suas duas patas traseiras, fazendo-o ficar do tamanho de .
Os outros dez cachorros pulavam ao nosso redor, latindo e abanando seus rabos para chamar nossa atenção.
desceu da moto e me deu a mão para eu fazer o mesmo.
Uma vergonha enorme me abateu obviamente, e eu empaquei onde estava enquanto continuava andando.
“Hey!” ele me gritou assim que notou a minha ausência. Eu olhava para o meu tênis desgastado e apertava firmemente as alças da minha mochila, repensando no que eu estava prestes a fazer. Talvez tudo não passava de um engano. Eu não poderia abusar da bondade de e seu pai dessa maneira! Não era certo!
“O que foi?” se aproximou de mim e perguntou apreensivo, me olhando docemente. Fraquejei. E isso me fez pensar que tudo aquilo era realmente uma péssima idéia. Aquele frio na barriga não era normal, e eu tinha certeza de que pioraria se eu continuasse ali mais um segundo.
“Nada...” me rendi àqueles olhos. Era impossível não se sentir tranqüila quando
eles me encaravam. Eu poderia ficar perdida neles e recusar ajuda para me achar novamente.
então estendeu sua mão e continuou a me encarar apreensivo. Olhei-a e um milhão de coisas passaram pela minha cabeça. E um bilhão de sentimentos. Eu não os entendia. Nenhum romance explicava o que eles eram, e eu nunca tive a mínima noção do que eles seriam.
Segurei sua mão e vi um sorriso abrir em seu rosto, me fazendo abrir um sem pensar duas vezes.
Andamos a passos largos em direção a casa com os cães aos nossos calcanhares. Subimos os quatro degraus da frente e alcançamos a porta. Assim que a abriu, um cheiro delicioso invadiu minhas narinas e fez meu estomago roncar.
“Pai?” chamou pelo senhor Lewis mas sem receber resposta.
Passei os olhos pelo interior da casa. Estávamos em uma salinha com dois sofás, uma estante em frente dos mesmos com uma grande vitrola, entretanto sem televisão. e seu pai não eram chegados em modernidades.
Não haviam paredes separando aquele cômodo da cozinha, havia apenas um balcão de pedra.
“PAI?” chamou mais alto, indo já em direção ao corredor mais à frente. De repente vimos um homem aparecer como um vulto atrás de nós. Ele tinha cabelos e bigodes grisalhos, era alto e seu corpo era atlético para sua idade. Usava uma calça jeans rasgadas no joelho e suja de terra, uma camisa xadrez vermelha e uma botina marrom com manchas de lama nos pés.
“! Como é bom te ver!” o pai de disse com uma expressão verdadeira de felicidade. Eu percebi pelo seu enorme sorriso.
O senhor veio de braços abertos em minha direção, me dando um forte abraço ao chegar perto de mim, rindo feliz em meu ouvido.
“É bom te ver também, senhor ” falei sincera, retribuído o abraço na mesma intensidade.
“Como você está bonita!” o mais velho disse me analisando dos pés a cabeça. “Até mais do que costuma comentar...” falou por fim e pela minha expressão totalmente envergonhada – juntamente com minhas maçãs do rosto avermelhadas – ele riu. Olhei para e o garoto olhava para os pés, tão tímido quanto eu. Sorri singelamente. Senhor Lewis pigarreou.
“Bem, disse que estava indo te buscar não sei onde, então tratei de fazer um almoço especial para você” ele depositou uma mão em meu ombro direito e começou a me conduzir até a cozinha. Novamente olhei o garoto de relance e este deu de ombros, rindo.
“Não precisava se incomodar, tio Lewis” a cada hora que passava eu ficava ainda mais envergonhada com a minha
falta de vergonha por abusar de toda aquela hospitalidade.
“É um prazer receber a filha do grande John em minha humilde residência. Isso é o mínimo que posso fazer” tio Lewis rebateu apreensivo, como se estivesse me dando um sermão.
“Exatamente o que eu disse” entrou no clima do pai, me fazendo rolar os olhos.
“Espero que goste de purê de batata. É a minha especialidade” pai deu uma piscadela.
“Adoro” sorri e vi tio Lewis rir satisfeito.
“Pai, a vai passar uns tempos aqui em casa...” nem ao menos pediu ou esperou eu ir a algum outro lugar para que ele pudesse pedir permissão ao pai. Quis morrer.
“Isso vai ser ótimo!” o mais velho nem ao menos perguntou o porquê, simplesmente começou a bater palmas. Se eu fosse ele, me expulsaria dali por ser tão abusada. “Leve-a ao antigo quarto de sua irmã” dirigiu-se ele a . “Sinta-se à vontade, ” sorriu abertamente, me fazendo relaxar meus músculos do ombro gradativamente.
Então segui pelos outros cômodos da casa, passando por um pequeno corredor com diversos quadros relativamente abstratos pendurados. Mais tarde eu os observaria de perto...
Então no fim daquele estreito corredor, abriu uma porta de madeira, dando lugar a um pequeno quarto. Era perfeito. Uma cama, uma escrivaninha, um guarda-roupa e uma janela para a vasta natureza daquele sitio. Eu não precisava de mais nada.
Joguei minha mochila – que por falar nisso já pesava em meus ombros tensos – na cama e fui observar a vista da persiana. Um vento percorreu meus cabelos, fazendo-me inspirar o máximo de ar que meus pulmões podiam agüentar. Os cachorros brincavam livremente pelo pasto, correndo atrás de galinhas e eu podia até escutar o senhor Lewis gritar com os mesmos da cozinha.
Olhei pelo meu ombro e vi colocando uma roupa de cama em cima da escrivaninha.
“Aqui tem toalha, lençol, essas coisas...” ele mexeu despreocupado nos cabelos, deixando-os ainda mais desarrumados.
“Muito obrigada ... De verdade” sibilei gratificada.
“Pare de agradecer, . Você é de casa agora” ele respondeu no mesmo tom apreensivo do pai a minutos atrás, sorrindo logo após.
Olhei para meus pés e o vi se aproximar, tirando uma mexa de cabelo que tampava meu rosto e colocá-la atrás de minha orelha. Como a típica covarde que eu era, não fui capaz de olhá-los nos olhos, entretanto pude sentir seus lábios quentes tocarem minha testa.
“Vou te deixar um pouco a sós com seu novo aposento. Daqui a pouco te chamo para o almoço...” o garoto disse quase num sussurro e saiu do
meu novo quarto logo após.
O almoço foi de longe o mais engraçado da minha vida. Tio Lewis era o maior palhaço e me fazia jorrar suco para fora da boca toda vez que me fazia rir. Falou mal da família real britânica – chamando-os de parasitas – do ridículo ideal-político bipolar dessa nova geração, falamos de Lord Byron à Shakespeare – assunto que me interessou e me fez falar mais que a língua – enfim, aquele tipo de conversa cultural e com fundamentos.
Depois da refeição, e seu pai se ofereceram a me mostrar toda a extensão do sitio, contando casos do mais novo em cada canto do lugar, incluindo algumas que envolviam meu pai e eu. Um fato que eu ao menos lembrava, certa vez fui me aventurar pelo lago congelado pelo inverno rigoroso, patinando e fazendo piruetas sobre ele. Até que pulei sobre uma parte não tão rígida e cai sobre a água extremamente gélida e quem pulou imediatamente para me salvar, fora – seguido de meu pai.
Enquanto o senhor Lewis contava, observava a grama que pisávamos, os pássaros que voavam, os patos que nadavam no lago, tudo para evitar o contato com meus olhos indagadores sobre ele a cada palavra de seu pai, o qual falava subjetivamente de uma paixão de infância que tivera por mim. Ao invés de me sentir envergonhada, senti uma profunda curiosidade em saber se era verdade.
E após longos minutos – que passaram rápidos até demais – vimos o sol se pôr, dando lugar a um céu ofusco e cheio de pontinhos brilhantes, então nos dirigimos à casa novamente. Tio Lewis nos preparou um sanduíche rápido e enquanto comíamos, escutávamos um vinil antigo do Louis Armstrong e a casos da juventude do pai de . Eu estava vidrada em todas as histórias que o mais velho contava sobre a segunda Grande Guerra, a qual participou, e sobre o que fazia para não ficar maluco ou se matar como seus grandes companheiros de batalhas fizeram.
Hora e outra eu podia sentir os olhos do filho sobre mim, e quando via que o mesmo mudara o rumo de seu olhar, tratava de observá-lo.
No final da conversa, recolhi os pratos e os levei até a cozinha, lavando-os em seguida – e escutando e o pai resmungarem e quase me baterem para tirar a louça de minhas mãos.
“Anda, vamos dormir” me empurrava para fora da cozinha e não escutava aos meus protestos. Aquilo era o mínimo que
eu podia fazer!
“Você também não facilita pra mim, né !” falei entre dentes assim que ele me empurrou para dentro do quarto.
“Ah, pelo amor de Deus, ! Você é nossa visita” o garoto disse com o cenho franzido numa expressão de braveza.
“Mas você disse que eu sou de casa” rebati e dei de ombros. Qual seria sua resposta agora?
“E você por acaso lavava os pratos na sua casa?” ele questionou, e ao invés de
fazê-lo ficar sem graça, que ficou assim fui eu.
“Peste” rolei os olhos e lhe dei um murro em seu braço, fazendo-o rir e se encolher.
Um silêncio se instalou no cômodo assim que nossas risadas cessaram, então eu tratei de procurar algo para fixar os meus olhos.
“Boa noite, ” se aproximou do meu rosto, e enquanto eu esperava por um simples beijo na bochecha, senti aqueles lábios familiares tocarem o canto da minha boca e meu coração palpitou como nunca havia feito antes.
Eu assustei. Assustei com os milhares de sentimentos que formigaram em meu corpo no mesmo segundo. Não seria capaz de descrevê-los.
Quis fugir.
Quis agarrá-lo.
Meu coração acelerava;
E depois parava bruscamente.
Fiquei sem ar;
E depois ofegante.
Era tudo certamente errado.
Estava tudo confusamente claro.
No momento em que o garoto se afastou e olhou-me com ternura, tive coragem de encará-lo de volta pela primeira vez em tempos e cheguei à uma conclusão: estava colocando minha vida de cabeça para baixo.
E naquela noite, ele invadiu meus sonhos.
Invadiu meus sentimentos.
Invadiu meu coração...
Capítulo 15.
Take me to your heart
Acordei confusa e, por alguns segundos, estranhei o lugar em que me encontrava. Mas nos outros instantes, todos os acontecimentos do dia anterior passaram pela minha cabeça rapidamente, e então suspirei.
Levantei-me lentamente e espreguicei. Arrumei a cama e em seguida fui em direção ao banheiro que havia me apresentado, o qual era em frente ao meu quarto.
Quando cheguei no batente da porta, percebi que o garoto estava lá dentro apenas com uma toalha amarrada em sua cintura e arrumava o cabelo - se é que passar a mão insistentemente por ele para deixá-lo bagunçado se chamava arrumação.
Fiquei estática.
Eu já vira o tórax de descoberto milhares de vezes, mas nenhuma delas me atraiu tanto quanto aquela. Eu obviamente estava o vendo com olhos diferentes. Eu não negaria isso a mim.
Seu corpo era incrível. Indefectível é a palavra certa. Assim como o todo que consistia aquele garoto. Seu abdome era perfeitamente moldado pelos tantos esportes que praticava, seus braços eram relativamente fortes e se contraiam à medida que ele os dobrava para levar até a cabeça.
Enfim, eu estava babando. Literalmente babando. Minha boca entreaberta mostrava minha fascinação e eu me peguei pensando se todos os dias eu acordaria com aquela visão. Eu seria feliz para o resto da vida...
Como se percebesse que alguém o observava, olhou em minha direção naturalmente, fazendo-me assustar e em um ato infantil corri para dentro do quarto. Como eu era patética, não me canso de repetir. Ao invés de disfarçar e fingir que não havia percebido sua presença ali, fui criança a ponto de me esconder.
Comecei a mexer em minha mochila, procurando algo que eu nem ao menos sabia o que era, apenas para simular um falso auto-controle.
Senti que ele havia entrado no quarto, mas obviamente não ousei olhá-lo. Minha vergonha era maior do que à vontade de observar aquele corpo perfeito novamente.
“Bom dia ” disse o garoto com um senso de humor incrível, e eu sabia que ele estava se segurando para não rir da minha situação ridícula.
“Bo-bom dia...” cocei minha nunca e continuei a (fingir) procurar qualquer coisa na mochila. v
“O que está procurando?” indagou ele,ainda com aquele sorriso na voz.
“Er... Minha escova de.. de dentes...” falei a primeira coisa que me veio à cabeça e dessa vez o escutei dando um risinho.
“Não seria essa que está no bolso da sua bermuda?” apontou para a peça de roupa no meu corpo, a qual realmente continha minha escova. Eu simplesmente devia aprender a mentir melhor. Então meu estômago se afogou em minha mácula.
“Oh! Achei!” ri nervosa, pegando a escova do bolso da minha bermuda e balançando-a no ar. “Obrigada ...” falei rapidamente e passei pelo garoto numa velocidade incrível até chegar ao lavabo.
Tratei de colocar a pasta dental na escova e a enfiei na boca para que eu não soltasse nenhuma outra baboseira que pudesse me deixar ainda mais envergonhada.
“Venha tomar café depois que terminar ai, okay?” o escutei falar vagamente, já que fiquei encarando a privada ali perto. Apenas chacoalhei minha cabeça e o garoto me deixou a sós com a minha ignomínia.
Quando eu finalmente cheguei na cozinha, levei um novo susto ao ver John (sim,
meu pai) sentado no sofá da saleta dos .
“Pai?” eu demonstrei surpresa, mas na verdade eu estava incrivelmente feliz por vê-lo. Eu havia saído de casa tão impulsivamente que nem ao menos tive tempo de me despedir ou dar uma explicação.
“Oh, minha pequena” o homem se levantou ligeiramente do sofá e veio em minha direção, abraçando-me fortemente em seguida. Retribui com toda a força que eu tinha e senti que a qualquer momento eu poderia desabar em choro ali mesmo. “Você quase me matou do coração, querida” John continuou, colocando minha face entre suas duas enormes mãos e me analisou, como se procurasse alguma coisa errada.
“Me desculpe, papai. Eu simplesmente perdi a cabeça e ainda não tive tempo de pensar em tudo que aconteceu...” falei sincera, deixando uma lagrima indesejada rolar pela minha maçã do rosto. John novamente me envolveu com seus braços e uma vontade gritante de voltar para casa com ele me abateu. Não que eu fosse uma ingrata ou que quisesse voltar a morar no mesmo teto que Marry, mas aquele homem na minha frente era tudo de mais importante que eu tinha na vida, e agora que repensei em tudo que eu havia feito, deixá-lo sem nenhuma explicação me pareceu um ato imperdoável.
“Meredith me contou tudo o que aconteceu. Eu mesmo estou pasmo com sua mãe, ela está totalmente pirada! A mulher surtou de vez!” meu pai fazia tudo aquilo parecer uma grande piada com aquele tom de voz despreocupado e eu não pude conter um riso debochado. “Discutimos muito no dia. O que ela fez simplesmente passou dos limites! Já falei com meu advogado, ele está preparando os papéis do divorcio agora mesmo...” ele continuou, mas meu coração apertou naquele instante. Eu havia escutado direito? Escutei mesmo a palavra divórcio?
“O-o que?” meus olhos arregalaram e senti uma falta de ar repentina. Certo, eu não suportava Marry em alguns aspectos, mas aquela mulher não deixava de ser minha mãe! E eu não queria ver minha mãe e meu pai separados!
E por minha culpa! “O senhor não pode fazer isso por minha causa, pai!” alterei minha voz sem ao menos perceber, e em instantes, já estava andando de um lado para o outro totalmente descontrolada.
“Filha, isso não é por sua causa! Quero dizer, em parte é, mas eu já venho pensando nisso há muito tempo! Isso só foi mais um motivo para eu ter certeza de que não agüento mais as loucuras de Marry!” ele colocou as mãos sobre meus ombros, me fazendo parar e olhá-lo nos olhos. “Isso é uma coisa natural filha... E além do mais, divórcios estão na moda...” o homem deu de ombros fazendo-me questionar sua sanidade mentalmente. Após alguns segundos refletindo, simplesmente ri e cheguei à conclusão de que toda a família era louca. Cada louco com sua mania. Ou moda.
Tio Lewis nos chamou para tomar um cafezinho e comer cookies, então meu pai e eu nos direcionamos a mesa no centro da sala. Tomamos café tranqüilamente, eu ria sem parar das piadas sem graça de John e Lewis, cada uma era pior que a outra. Meu pai me pediu para voltar para casa, mas eu o convenci que não voltaria mais, que eu finalmente havia encontrado um rumo e uma nova motivação para minha vida: ser independente. Apesar dos meus dezessete anos, me achava responsável o suficiente para viver a minha própria vida. Ele concordou comigo e se ofereceu para me ajudar a achar um apartamento o quanto antes, apesar da insistência do senhor para que não tivéssemos pressa, que eu poderia ficar ali o quanto eu quisesse. Mas eu simplesmente não queria colocar o fardo das minhas ações inconseqüentes nos ombros de mais ninguém.
No meio da conversa, comentou sobre um churrasco que aconteceria ali no sitio naquele mesmo dia, então meu pai ofereceu carona até a cidade para que pudéssemos comprar os suprimentos necessários e pegaria cada um dos nossos amigos em suas respectivas casas, já que John estava de caminhonete.
Então após estarmos bem servidos, ligou para , , e para que se preparassem para buscarmo-los. Os demais convidados viriam depois das duas da tarde.
Partimos na caminhonete vermelha de John até Bolton escutando Jerry Lee Lewis em um volume estrondoso, seguido da voz de meu pai em cada música.
“Certo, então vamos” colocou a ultima caixa de cervejas na carroceria da e todos os seis pularam na mesma.
“Todos prontos?” John perguntou com a cabeça para fora da janela e todos nós concordamos.
Estávamos em frente ao mercado principal da cidade, e havíamos comprado dez caixas de cerveja e alguns petiscos. Um boi já havia sido preparado no sítio e a função de assá-lo ficaria para o senhor .
“Prontos!” gritou e bateu no capo de latão. Meu pai então engatou a caminhonete e no outro segundo já estávamos em movimento.
Nós seis, , , , , e eu respectivamente, estávamos sentados na beirada da carroceria e sentíamos o vento cortante passar pelas nossas faces enquanto bagunçava bruscamente nossos cabelos.
“Aumenta o som aí, tio !” gritou e meu pai imediatamente aumentou o volume, e reconheci
Shake, Rattle and Roll imediatamente. Todos nós gritamos no exato momento e não tardamos a cantar, juntamente com nosso rei e com toda voracidade de nossa alma.
Não há como explicar toda aquela áurea boa que nos rondava, especialmente quando estávamos juntos. Separados, sempre tínhamos a sensação de que algo faltava, alguma parte de nós estava incompleta.
E quando nos encontrávamos, podia ser cinco minutos ou cinco anos, que nada entre nós mudava. Era sempre aquela mesma alegria, a mesma gritaria, a animação, os assuntos totalmente desconcertados e sem sentido algum, ou quando resolvíamos levar algo a sério, falávamos desde política a estudos.
“
I SAID SHAKE, RATTLE AND ROLL! SHAKE RATTLE AND ROLL!” gritávamos com toda a avidez que conseguíamos, fazendo até John entrar em nosso clima e cantar junto.
Uma observação que devo fazer, é sobre as trocas de olhares constantes entre e eu. Eu já não conseguia evitar ou me controlar. Eu havia me tornado descarada mesmo. Não tinha culpa se somente agora eu havia reparado no quão fascinante aquele garoto era. Eu me surpreendia mais e mais a cada minuto que passava, cada palavra sua dita era um mistério a ser desvendado, cada olhar me causava uma sensação diferente, cada sorriso me fazia delirar... Principalmente aquele sorriso que dançava apenas no canto de seus lábios, fazendo com que apenas pequenas partes de seus dentes aparecessem. Apesar daquele onde todos eles apareciam em uma gargalhada estrondosa era realmente encantador...
“TIO JOHN, PARE A CAMINHONETE!” um grito de nos fez parar de cantar no mesmo momento e todos olharam-na assustados. Meu pai obviamente freou o veículo bruscamente, e saiu rapidamente do mesmo.
“O que foi, meu amor?” segurou a garota pelos ombros, totalmente desorientado pelo grito que sua namorada havia dado.
“Olhe só aquele bezerro!” apontou para um animal deitado na beira do acostamento do asfalto. Todos nós olhamos na direção em que ela apontara.
“, não acredito que você nos deu esse susto para mostrar um bezerro!” disse furioso, com o tom de voz totalmente alterado.
“Olhe só a cara dele! Olhe como ele está abatido... E sozinho!” ela fez uma cara de total pobre-coitada, fazendo-nos todos quase perder o controle com a garota. tinha essa incrível mania ambientalista de sentir extrema pena de animais isolados, maltratados e afins. Mas nos assustar daquela forma fora realmente loucura.
“E daí? É a lei natural da vida! Alguns animais nasceram para viver sozinhos!” rebateu, fazendo gestos bruscos com a mão.
“Não seja tolo, ! Bois e vacas não nasceram para viverem sozinhos! E este pobre bezerro está sem sua mãe e seus amigos! Olhe como está desnutrido!” ficou de pé e agora os dois engataram uma discussão totalmente sem nexo e , , , John e eu ficamos apenas assistindo àquela cena absorta. Aqueles dois eram realmente loucos.
“Como você sabe? É capaz de ler mentes de bezerros? Espero que não possa ler a minha, porque estou xingando você de todos os nomes possíveis nesse momento!” continuava com seus gestos expressivos e estava ficando vermelho de tanto falar.
“Respira, ” disse alheio, achando total graça daquela cena. e estavam discutindo sobre um bezerro. E nós parados no meio de uma rodovia. Morreríamos e o bezerro continuaria ali desnutrido e sozinho.
“Vamos logo levar a droga do bezerro com a gente” cochichou aos que não estavam discutindo e então nós pulamos da carroceria sem que ao menos os dois inúteis notarem nossa ausência. John veio atrás totalmente empolgado com nossa idéia benfeitora.
Assim que chegamos perto do bezerro branco cheio de manchas pretas, o mesmo se assustou mas não teve forças para se levantar e fugir. Sorte a dele é que queríamos ajudá-lo.
John se abaixou junto com os outros três garotos e todos fizeram um esforço para levantar o animal e colocá-lo na carroceria.
Meu pai até voltou a dirigir e os benditos, e , continuavam a discutir, mas agora sobre vegetarianismo.
“CÉUS, O QUE ESSE BICHO ESTÁ FAZENDO AQUI?” berrou após olhar o animal desnutrido deitado ali no meio.
“Estamos salvando essa pobre alma” disse com uma feição imaculada. se encolheu no canto, com medo de que o pobre bezerro pudesse atacá-lo. Mas a situação do bichinho era realmente de dar dó.
“Oun, pobre bezerrinho” se agachou e acariciou a cabeça do animal, que estava estatelado e parecia mal conseguir abrir os olhos.
“A partir de hoje ele é o nosso mascote” disse animado, olhando de um e um para analisar nossas feições.
“Acho uma ótima idéia” eu opinei, totalmente alegre com o fato de termos um mascote. Era uma idéia bastante original. E o animal no final das contas precisava de ajuda mesmo...
“Temos que arranjar um nome pra ele...” fez uma cara de pensativo, como se procurasse no fundo de sua mente um nome – provavelmente sem nexo – ao bezerro. “Que tal Churrasquinho?” ele arregalou os olhos feliz, totalmente cheio de si pelo super nome. Que na verdade era totalmente maldoso.
“ESTÁ LOUCO? QUER COLOCAR O NOME DO
BEZERRO DE CHURRASQUINHO?” resmungou como previsto, dando um tapa estralado nas costas de do namorado.
“Voto pelo Churrasquinho” levantou a mão, recebendo um olhar furioso de . Deu de ombros.
“Dois votos pro Churrasquinho” foi a vez de desaforar nossa amiga, deixando-a cada vez mais vermelha de raiva.
“Agora são três” disse alheio, sem ao menos encarar . Todos olharam para mim ansiosos.
“?” me pressionou e o olhar assassino dela me deu medo. Se eu votasse pelo Churrasquinho – que era realmente engraçado – me mutilaria. Se eu não votasse, os meninos me mutilariam. Eu seria esquartejada de qualquer maneira, então que se danasse.
“Seja bem-vindo, Churrasquinho” sibilei olhando para o bezerro que agora tinha os olhos fechados, e tudo que escutei foram os gritos graves dos garotos em vitória, e percebi a cara de esterco que minha melhor amiga fez.
O sítio já estava lotado. Havia pessoas em todos os lados, na beira do lago, em cima das porteiras, dentro do curral...
Tio Lewis e John se divertiam enquanto assavam uma carne de carneiro e bebiam, e meus amigos e eu estávamos sentados na grama jogando
‘Eu não bebo’ com tequila. O jogo era simples: cada um trocava de nome com outra pessoa, por exemplo, eu trocava de nome com o , o trocava de nome com o , o trocava de nome com o , o trocava de nome com a , a trocava de nome com o , e o trocava de nome comigo.
“O não bebe, quem bebe é o ” eu disse com um copo de tequila na mão. No caso, a teria que responder, já que ela havia trocado de nome com o . Se o menino respondesse, ele teria que beber a tequila.
Obviamente eu estava perdendo. Antes de termos começado a brincadeira, já havia bebido quatro latinhas de cerveja com meu pai, então as coisas começavam a ficar confusas. Eu sempre respondia quando alguém dizia meu nome, ou esquecia de responder quando diziam o nome do . Já havia perdido a conta de quantos copos eu já havia virado.
“O não bebe, quem bebe é a ” disse, e como meu cérebro já estava todo atrapalhado, fui incapaz de lembrar que agora eu era o .
“A NÃO BEBE!” gritei bem alto, levantando o copo para cima e deixando gotas de tequila caírem em e que estavam do meu lado.
“EU SOU A !” gritou me dando um empurrão e me fazendo cair no ombro de . Todos nós disparamos a rir e eu tampava meu rosto de vergonha pela minha ‘tontura’.
“VIRA! VIRA! VIRA! VIRA!” todos começaram a gritar e eu mandava língua de volta.
“Enche essa merda!” gritei e entreguei o copo a , que colocou tequila até o final do pequeno copo. Virei todo aquele liquido garganta abaixo, sentindo-o rasgá-la e queimar meu estômago no final. Não contive a careta após ingerir aquela bebida amarga. Estávamos bebendo-a pura, sem sal ou limão.
“A não bebe, quem bebe é o ” disse e eu deitei minha cabeça no ombro de . Fechei meus olhos e no momento seguinte desejei não o ter feito. Tudo girava na velocidade da luz e cheguei a sentir meus pés saírem do chão.
“!” todos gritaram e eu abri meus olhos assustada, sentindo minha mente rodar ainda mais veloz.
“MERDA!” bufei após perceber que eu havia esquecido de responder. “Vocês estão fazendo de propósito” fiz uma cara – bêbada – emburrada enquanto enchia meu copo rindo.
“Você é quem está fazendo de propósito, alcoólatra” ela disse após terminar e me entregou a bebida novamente. Meu estômago embrulhou assim que senti o cheiro da tequila invadir minhas narinas e tive que prender minha respiração para ser capaz de jogar todo aquele álcool novamente para dentro de mim.
“AAH!” gritei enraivecida após o gosto amargo me invadir novamente, e fiz menção de levantar-me dali, caindo em cima de na mesma hora.
“Calma ai, !” o garoto disse rindo enquanto eu envolvia seu pescoço com meus braços, totalmente fora de mim.
Havia esquecido até do fato de que meu pai estava ali, mas ele provavelmente estava pouco importando já que estava no mesmo estado que eu.
“Chega pra você, né?” forjou uma cara de brava e eu simplesmente peguei a garrafa da bebida que estava no meio da roda, levantei rapidamente e saí correndo, escutando os risos misturados a gritos logo atrás de mim.
“Volte aqui com essa garrafa, sua alcoólatra!” gritou, e percebi que agora todos corriam atrás de mim, enquanto eu não era capaz de parar de rir ou realizar como eu estava conseguido correr.
Estávamos no meio do pasto verde, o céu extremamente azul acima de nós e eu nada via além de borrões na minha frente.
“AAAAAAAAAAH” escutei um berro atrás de mim, e sem eu ao menos poder fugir, meu corpo estava no ombro de , o qual agora corria feito louco.
Senti que eu poderia cair, voar, regurgitar, desmaiar, tudo ao mesmo tempo. O álcool que eu havia ingerido há minutos foi todo para minha cabeça e eu nunca me senti tão bêbada em toda a minha vida. Deixei a bebida cair na grama, e no mesmo instante a pegou e começou a virar o liquido puro.
ainda corria comigo em seu ombro, enquanto eu me debatia e implorava para que ele parasse, entretanto não conseguia parar de rir.
O garoto foi diminuindo a velocidade e no momento seguinte me colocou deitada na grama, deitando-se ao meu lado de imediato.
Eu mantinha meus olhos fechados, mas ainda ria sem motivo. Minha barriga já começava a doer.
“Acho que nunca fiquei tão bêbada na minha vida...” falei com dificuldade e abri meus olhos lentamente, sentindo a luz do sol fazê-los doer.
“Você já ficou sim. Mas é que sempre fica bêbada demais para perceber” o garoto disse alheio, também tropeçando nas palavras e rindo logo após de dizê-las.
Era possível escutar meus amigos gritando a fundo. Virei um pouco minha cabeça para trás e pude vê-los correndo atrás de a fim de pegar a garrafa de tequila da mão do garoto.
Soltei uma risada e movi meu rosto na direção que o de se encontrava, pegando aqueles olhos intensos me encarando. Eu estava totalmente fora de mim, isso eu não podia negar. Ainda via tudo embaçado e desfocado, mas aqueles olhos continuavam a me dar medo e a perfurar toda minha alma. Eu tinha a certeza absoluta que podia ler minha mente tamanha era a força que seus olhares tinham sobre mim. Talvez ele também pudesse me controlar...
“Você sabe o que eu estou pensando, não sabe?” perguntei, encarando-o profundamente e sentindo o álcool me confundir a cada segundo.
“Bem que eu queria...” o garoto respondeu embaralhado, deitando-se de lado e apoiando sua cabeça em uma das mãos. “No que você está pensando?” ele perguntou baixinho, franzindo o cenho e esperando pela minha resposta.
Eu, em sã consciência, ficaria calada, coraria e sairia correndo. Mas toda aquela cena estava muito engraçada a meu ver, e uma coragem – ou tolice – incrível me dominava. Eu poderia ficar eternamente alcoolizada.
“Penso que você é lindo” falei sem pensar e sem me arrepender, observando cada traço do rosto de , analisando-o com uma audácia que nunca tive antes. Vi um sorriso singelo e quase imperceptível brotar no canto de seus lábios perfeitos e convidativos e não evitei falar mais. “Seu nariz é lindo” passei a ponta do meu dedo em toda extensão de seu nariz perfeitamente esculpido sob medida para ele. “Seus olhos são os mais lindos que eu já vi...” falei quase em um sussurro, subindo meu dedo sobre as pálpebras do garoto, o qual as fechou no exato momento, me deixando traçar o desenho de seus olhos. “Abra-os” sussurrei assim que terminei de examiná-los, e vi o garoto obedecer em seguida. Eram definitivamente os mais lindos que eu já vira em toda a minha vida. Eu cheguei à conclusão de que queria sempre aquele olhar sobre mim. Que não sentiria mais intimidada sobre eles, que iria devolver toda a intensidade depositada em mim.
Naqueles olhos haviam coisas que eu não podia entender, segredos que eu desejava desvendar, desejos que eu queria realizar, pensamentos que eu queria escutar... Eles eram misteriosos, não me respondiam os milhares de questionamentos que pulsavam na minha mente.
“No que você está pensando?” foi minha vez de querer saber. Já que eu não podia lê-lo de maneira alguma, poderia ao menos escutar vindo dele mesmo.
Vi fechar os olhos e suspirar profundamente. Ficou em silêncio por longos minutos e uma agonia persistia em me abater.
“Nesse momento tudo está confuso...” ele disse tão baixinho que tive que me esforçar para ouvir. “Mas eu posso te afirmar uma coisa... Você é o pensamento constante da minha mente...” disse num sussurro e abriu os olhos lentamente. Não sei se era a bebida... Não sei se eram aqueles olhos em cima de mim... Mas tudo desapareceu em um segundo. Minhas emoções estavam embaralhadas então não seria capaz de descrevê-las com a devida complexidade que elas mereciam. Engoli seco.
“...” chamei-o com toda a força que meu ser permitia, e ainda me pareceu pouco. Meus olhos se fecharam sem minha permissão e minha respiração descompassada começava a me entorpecer.
“Sim...” escutei o garoto responder no mesmo tom calmo e palpitante que eu. Senti minha respiração vacilar novamente e um gemido indesejado sair da minha garganta.
“Você também anda sendo meu pensamento constante...” tirei aquele peso de cima de mim, que andava me torturando nos últimos tempos. Eu admiti naquele momento, não só para mim, mas como para o torturador. Não tinha mais como fugir daquilo que eu sentia mas negava sentir. Não tinha mais como ignorar o frio na barriga constante, as gotas de suor que caiam da minha mão ao escutar sua voz, do coração querendo partir as costelas...
Naquela hora, minha coragem havia se fugido para algum lugar longe, então não fui capaz de abrir meus olhos. Mas pude escutar o garoto soltar uma risada baixinha.
Antes que eu pudesse protestar, ele disse:
“Você não tem idéia do quão bom é escutar isso de você...”
Eu apenas sorri, sem entender muito bem o que aquelas palavras significavam.
Ainda de olhos fechados, senti a mão do garoto encostar-se à minha, e envolvê-las de tal maneira que pareciam peças encaixadas de um quebra-cabeça.
No instante seguinte, senti seus lábios tocarem de leve a minha mão. Repetiu o movimento algumas vezes, dando vários beijos na mesma e me entorpecendo ainda mais.
Aquele garoto estava fazendo minha razão se embaralhar de uma forma absurda, bagunçando meus sentidos e minhas emoções de uma forma já irreversível. Era tudo novo, confuso, abstrato, intenso...
“O que você está fazendo comigo?” minha voz vacilou. Eu precisava daquela resposta. Eu precisava de ajuda. Ajuda para entender tudo que estava acontecendo.
“O que você sempre fez
comigo” o escutei responder. Sua voz estava perto, seu hálito de tequila misturado com menta batia no pé do meu ouvido. Nossas mãos entrelaçadas tocavam nossos troncos, mostrando o quão próximos estávamos.
Senti seu nariz tocar o meu. Senti seus lábios roçarem os meus. Senti minha respiração embaralhar com a sua. Senti minha mão livre envolver seu rosto com firmeza. Senti meus olhos abrirem e encontrarem os seus a postos para me encarar com veemência. Deixei-o lê-los e perceber que eu esperava uma atitude sua, que eu queria senti-lo de uma maneira diferente. Sim, eu queria aquilo com todas as forças da minha alma.
Nossas testas se encostaram. Vi seus olhos se fecharem e seus pulmões soltaram um suspiro agonizante. Com algum estimulo inexplicável, juntei nossos lábios de uma vez. Meus dedos entrelaçaram em seus cabelos e meu corpo foi empurrado contra o dele com força.
Em meio de um suspiro, movimentei minha cabeça de modo que nossos lábios também se movimentassem.
A língua do garoto invadiu minha boca, tocando a minha em seguida e fazendo o desejo borbulhar em meu sangue.
Nada pensava naquele instante, queria apenas aproveitar aquele momento, sentir todas aquelas correntes elétricas faiscarem cada parte do meu corpo...
Meu peso caiu sobre , fazendo-o deitar totalmente na grama, sem ao menos partirmos nossa boca.
Eu estava inconsciente. Mergulhada em desejo e paixão. Fogos de artifício agitavam meu estômago. Minha boca parecia tão perfeitamente encaixada na do garoto que era difícil até lembrar de respirar.
Minha mão grudada em sua face nos separou, e eu depositei um leve beijo naqueles lábios perfeitos e vermelhos.
Palavras fugiam da minha mente na hora de tentar descrever aquele momento, meus sentimentos embaralhados eram incapazes de me fazer entender o que se passava dentro de mim, e meus olhos ficados nos de palpitavam por respostas.
Selei nossos lábios mais uma vez. Suspirei, deixando extravasar a tensão do meu coração.
Olhei para o garoto novamente e a surpresa saltava de suas órbitas. Podia sentir – por cima dele – seu peito movendo rapidamente para cima e para baixo, ofegante.
Eu não sabia o que falar. O álcool havia me abandonado há muito tempo.
Prevenindo-me de ter que dizer qualquer coisa, deitei-me novamente na grama ao seu lado, mais especificamente sobre seu tórax. Entrelacei nossas mãos novamente e escutei seu coração palpitar fortemente contra seu peito, fazendo um sorriso se abrir indecentemente em meus lábios.
Era aquilo. Não precisávamos de palavras. Nossos atos falavam por si sós.
Capítulo 16.
Baby, if you’ll give me all of your love
Minha cabeça latejava. Minha têmpora palpitava fortemente, me fazendo levar a mão até a testa e apertá-la fortemente na inútil tentativa de fazê-la parar de doer. O quarto rodou algumas vezes e uma ânsia me invadiu.
Lembrete: exagerar na tequila nunca é bom. E não havia ressaca pior do que a dessa bebida, definitivamente.
Levantei lentamente tentando evitar uma dor maior, mas fracassei. Olhei para os lados. Não tinha a mínima idéia de como havia parado ali. Não me lembrava de ter entrado no quarto, de ter colocado minha camisola, não lembrava de...
CÉUS! O que eu havia feito ontem? Fora um sonho ou eu realmente havia beijado ?
Meu estômago revirou com a possibilidade e no instante em que percebi que não seria capaz de guardar todas aquelas coisas ruins dentro de mim, corri em direção ao banheiro, batendo a porta ferozmente e me joguei no chão em frente à privada. Joguei tudo aquilo que me fazia mal para fora, sentindo um gosto terrível em minha boca logo após.
Lembrete: nunca mais beber tequila. Ou beber tequila e beijar impulsivamente as pessoas.
“
? Tá tudo bem ai?” escutei a voz de vindo do outro lado da porta. Meu estômago se voltou contra mim novamente e não pude conter o vômito novamente.
“
?!” o garoto repetiu, batendo insistentemente na porta. Eu jamais sairia dali novamente. Era meu lar permanente a partir daquele momento.
Bati em minha cabeça, inconformada com a minha burrice. Eu beijei o !
Eu havia o beijado! Beijei o garoto que vivia sobre o mesmo teto que eu!
“
, vamos lá, me responda!” seu tom de preocupação era perceptível. Cheguei à conclusão que eu seria a pessoa mais infantil – se já não era – se não encarasse aquela situação com maturidade. Lide com seus atos e as conseqüências dele. Ninguém mandou você ser uma bêbada louca e impulsiva.
Levantei-me do chão e fui em direção a pia para escovar os dentes e tirar aquele gosto horrível da boca. Joguei água fria em meu rosto, a fim de acordar definitivamente e me dar um pouco de razão para encarar toda aquela situação.
Com que cara eu o olharia? O que eu diria?
Eu estava perdida... Era melhor começar a procurar um apartamento naquele instante ou dormir no curral com o Churrasquinho e companhia.
“Oi... Eu estou bem...” falei com a voz vacilante assim que abri a porta do banheiro e vi um apenas de samba-canção, fazendo meus pensamentos se embaralharem ainda mais.
“Tem certeza?” ele me encarou profundamente, procurando a verdade em meus olhos. Será que eu era tão previsível assim?
Afirmei com a cabeça e andei a passos largos até o quarto, fechando a porta com força em seguida.
Fechei uma pálpebra contra a outra fortemente. Eu queria que tudo desaparecesse. E que no momento seguinte em que eu abrisse meus olhos, eu repararia que tudo não passava de um sonho confuso e sem nexo.
Os abri. Merda. Eu realmente estava perdida.
Eu queria esquecer tudo que havia acontecido, mas a cena de com seu corpo semi-nu estava dificultado.
O cheiro dele parecia estar grudado em mim desde ontem, seu beijo perseguia cada pensamento pacífico meu, o som do seu coração batendo contra seu peito batucava em meu ouvido, e seus olhos me impediam de ter qualquer razão naquele momento. Eu podia sentir todas as sensações de ontem ao fechar os olhos. E meu coração dançava inquieto dentro de mim.
Eu na verdade não queria esquecer. Queria guardar aquela cena – por mais distante e obliqua que me parecia – para sempre.
“
Venha tomar café, ” ouvi novamente a voz grave do garoto me chamando do lado de fora do cômodo. Eu realmente não teria paz. Eu jamais seria capaz de esquecer.
Suspirei profundamente e vesti um jeans de cós alto e uma camisa branca, a qual amarrei as bordas até o umbigo.
Abri a porta e fui em direção à cozinha em passos vacilantes e indecisos. Encarar sóbria não seria uma tarefa fácil.
“Bom dia” ele disse sorridente assim que coloquei os pés no cômodo. O garoto fazia algumas panquecas e aquele avental o caíra incrivelmente bem.
“Dia...” falei simplesmente, sentando-me na mesa e mantendo cabeça baixa. cantava uma musica que não pude reconhecer, demonstrando total alegria naquele dia. Eu poderia fazer o mesmo se a timidez não estivesse me controlando.
Notei que tio Lewis não se encontrava ali, o que me fez afundar em discórdia por ter que encarar sozinha.
“Fiz panquecas de banana. Espero que goste” ele veio em minha direção com uma frigideira na mão, e colocou a comida em um prato posto à minha frente. Sorri vergonhosamente enquanto ele colocava uma panqueca para si e sentava na cadeira oposta a mim.
“Hoje tem festa na casa do ” disse alheio, e percebi sua tentativa de quebrar aquele clima pesado entre nós.
“Hm” enfiei um grande pedaço de panqueca na boca, evitando ter que dizer – ou fazer – qualquer besteira.
A vontade de olhá-lo estava me consumindo por dentro e tudo aquilo me parecia uma tortura horrível. Ao mesmo tempo em que tudo parecia muito errado, uma sensação de que era mais que o certo me atordoava.
Eu odiava essa bipolaridade.
“...” me chamou após alguns minutos constrangedores e silenciosos, onde escutávamos apenas o barulho dos talheres trincando nos pratos.
“Sim?” respondi alheia, tentando não transparecer meu nervosismo.
“Sobre ontem...” gelei. Meus músculos travaram no mesmo instante em que as palavras do garoto atingiram meus ouvidos.
“Esqueça ” falei imediatamente, interrompendo qualquer oração que possivelmente sairia da boca dele. “Nós dois estávamos bêbados, não devemos levar em conta esses atos inconseqüentes. Você me chamou para morar aqui, e para isso dar certo, não devíamos ter feito o que fizemos ontem. Está errado!” eu vomitei as palavras em uma velocidade incrível, ficando até mesmo sem ar. Coloquei uma mão em minha testa, esfregando-a nervosamente.
Eu estava lutando contra mim mesma dizendo aquelas palavras. Tive vontade de sair correndo daquela casa e morar debaixo de uma ponte só para repetir o acontecimento da noite anterior.
Meu coração parecia chamar por ele, meus lábios formigavam para ir de encontro com os dele...
não disse uma palavra. Não me encarava também. Sua cabeça estava escorada no pulso e seu olhar direcionado ao centro da mesa. Uma expressão vazia em sua face, a qual triturou todos meus órgãos vitais. Parecia que quanto mais eu queria remediar aquela situação, mais besteiras eu fazia. Eu merecia morrer, essa era a grande verdade universal.
“Me desculpe” falei em meio de um suspiro. “Eu só estou muito confusa, . Tente entender. São milhares de coisas acontecendo ao mesmo tempo ultimamente, e o que eu menos preciso no momento é de uma complicação a mais...”
“Eu entendo. Fique tranqüila, . O que eu menos quero é tornar as coisas mais difíceis pra você...” ele disse, ainda encarando o centro da mesa.
Abaixei minha cabeça, me sentindo uma total idiota. Como eu poderia tratá-lo daquela maneira? Que tipo de pessoa eu era?
Terminei de comer minha panqueca e levei minha louça até a pia, lavando-a em seguida. Totalmente sem graça, fui silenciosamente até o quarto em que estava hospedada. Joguei-me na cama, de modo que meu rosto ficasse totalmente escondido pelo travesseiro.
Eu não sabia o que fazer, e estava cansada de não saber de nada. Cansada de não saber definir meus sentimentos, de não saber o que eu realmente queria. Cansada de ser tão racional a ponto de esquecer minhas emoções.
Você é uma verdadeira idiota, meu subconsciente me dizia, e não havia como negar.
Após alguns minutos me martirizando, fui em direção à janela – que antes estava fechada – e a abri. O sol radiante invadiu todo o quarto e uma paisagem em especial chamou minha atenção.
sentado debaixo da copa de uma grande árvore, com os joelhos dobrados apoiando uma folha de papel, uma caneta em uma mão e um cigarro na outra. Bradock deitado ao seu lado fazia força para manter os olhos abertos.
O garoto deu uma tragada profunda e encostou a cabeça no troco da planta, fechando os olhos em seguida.
Instigava-me o que ele poderia estar pensando. Provavelmente me amaldiçoava em pensamento, ou simplesmente procurava por um momento de paz, sem minhas palavras sem nexo para atordoá-lo.
Abriu os olhos e expirou a fumaça do tabaco, começando a escrever algo na folha de papel em suas pernas. Colocou o cigarro em seus lábios, e ao mesmo tempo em que escrevia, inspirava o fumo. Ele parecia ainda mais charmoso daquela maneira misteriosa.
Seu rosto nada aparentava como sempre, e uma vontade louca de poder ler o que escrevia me abateu. E outra de correr em sua direção e agarrá-lo novamente, sem pudor algum. Entretanto me contentei a observá-lo de longe, sozinho em sua abundante perfeição.
“Obrigada, . Até na festa” entreguei o capacete a ele e fui em direção aos grandes portões da casa de . Escutei o motor da moto roncar e soltar uma grande quantidade de fumaça assim que ganhou movimento.
Eu havia combinado com minha amiga de nos aprontarmos juntas para a festa na casa de , enquanto os garotos arrumavam todos os preparativos.
A minha tarde fora bastante silenciosa e torturante. e eu não trocamos mais palavras durante o dia todo e eu me arrependi de ter dito tanta coisa. Mas era melhor daquele jeito. Daqui uns dias eu arranjaria meu apartamento e tudo mudaria.
O porteiro me deixou entrar e eu trilhei o caminho conhecido por entre os jardins até a entrada principal da casa. me esperava na porta com um grande sorriso e me abraçou fortemente assim que estávamos a poucos centímetros de distância.
“Como está, cachaceira?” ela disse entre risos enquanto me empurrava para dentro da casa.
“Se melhorar estraga” falei irônica e aos risos, já subindo as escadas em direção ao quarto da garota. Nenhum sinal da mãe de e eu agradeci mentalmente por isso. Com todos os conflitos internos eu não seria capaz de escutar todas as baboseiras moralistas e me comportar educadamente. E o que eu menos precisava naquele momento era que fosse proibida de andar com a filha revoltada dos .
Minha amiga me emprestaria uma roupa de festa, já que tudo o que eu havia levado da minha casa eram roupas velhas.
No mesmo tempo em que nos trocávamos, me contara que todos haviam visto a minha cena com e ficaram radiando de felicidades. Bem que eu escutei vários gritos exaltados enquanto nos beijávamos... Contou também que eu adormeci no peito do garoto de tão alcoolizada que estava, e o mesmo me carregou em seu colo até o quarto, me deitando
com todo o carinho e cuidado do mundo, de acordo com as palavras da minha amiga.
Claro que não pude deixar de sorrir abobadamente e meu coração saltou só de lembrar de tudo
“Não vai acontecer de novo, ” falei um tanto desapontada, sabendo que não precisava fingir seriedade perto dela. Eu poderia ser sincera e demonstrar o quão chateada eu estava com aquela situação.
“Pare de besteira, ! Por que não?” me perguntou inconformada enquanto terminava de colocar uma meia-calça nas pernas.
“Não é certo, ” falei um pouco alheia, procurando alguma roupa que me agradasse no guarda-roupa da garota. “Eu estou sob o mesmo teto que ele, o que você espera disso?” perguntei, pegando um
vestido vermelho e preto e colocando-o em frente ao meu corpo.
“Um amor louco, intenso e selvagem” ela forjou uma cara sonhadora, me fazendo cair na risada e jogar uma almofada em sua cabeça.
“É disso que eu estou falando! O que eu não preciso agora é algo louco ou intenso e muito menos selvagem!” comecei a me despir para colocar a roupa escolhida. era realmente uma sonhadora louca, aquelas típicas mocinhas de livros românticos.
“Você é muito boba, isso sim. Eu com um garoto louco por mim daquele jeito, estava feita!” ela se jogou na cama. Rolei os olhos.
“Você tem um garoto louco por você para começar. E outra, não é louco por mim. Foi uma coisa de momento , tire essa ilusão da sua cabeça” eu queria
me convencer de que aquilo era tudo ilusão, apenas para não ter que encarar o fato de ser uma idiota e estar correndo de algo que era tudo o que eu sonhava.
“Não vou mais discutir com você. Quando se realizar da burrada que está fazendo, a gente conversa” se deu por vencida e agradeci mentalmente por não ter que me torturar com aquele assunto por mais algum tempo. Se já não bastasse toda a minha alma se revoltar contra mim, agora também se rebelava. Era melhor deixar tudo como estava, e em questão de minutos eu já teria esquecido o assunto.
Assim eu esperava.
A casa estava lotada, como era de se esperar. Todas as festas que os quatro garotos lançavam eram sempre um sucesso. Não havia um adolescente que perderia se embebedar e dançar loucamente quando eram chamados. A geração inconseqüente.
Havia um grupo bratinado¹ no jardim de entrada da mansão, os quais fumavam haxixe em um
bong.
Reparei que estava sentado na roda do tal grupo e pegou o bong das mãos de um garoto alto, roupas desgastadas e de rastafari no cabelo. Inalou a fumaça de dentro do objeto, jogando a cabeça para trás com uma expressão de total prazer.
“Já começou” sibilou entre dentes, enquanto reparávamos no movimento antes de entrarmos.
Ao passar os olhos pelo movimento da rua, totalmente alheia, meus músculos travaram assim que avistei um carro conhecido.
Aquele
carro que sempre me passava serenatas em minha casa estava estacionado em frente à casa de .
Tentei digerir aquela informação, um possível porquê daquele veiculo estar ali, mas nada veio em minha mente. Não fazia sentido ele estar ali, afinal, não tinha conhecimento de nenhuma pessoa que fosse do circulo social do meu amigo e que possuísse aquele carro.
“!” puxei-a pelo braço e apontei em direção ao veículo.
“O que tem?” ela perguntou desentendida.
“É o carro que sempre me passa serenata!” eu gritei, totalmente chocada e nervosa.
Escutei soltar um gritinho chocado e apertou minha mão. Olhei-a desesperada e ela me devolveu igual.
Ela me puxou pelo braço e passamos rapidamente pelo jardim e adentrando a casa. A
música estridente pulsava das caixas de som, uma luz vermelha fora colocada no teto, deixando aquele ambiente ainda mais boêmio.
“DO YOU LOVE ME?” gritava enquanto passava por entre as pessoas. Eu andava na ponta dos pés e esticava o pescoço a procura de um rosto desconhecido. Eu teria que achá-lo! Era como se minha vida dependesse daquilo. Eu precisava conhecer aquele que melhorava minhas noites.
Vi George Stuart, o galã da Windsor School e primo de vir com dois copos de bebidas em nossa direção, empurrando-as em nossas mãos. George era realmente bonito. Alto, cabelos ligeiramente loiros e bagunçados, olhos verdes e um corpo admirável. Sua camisa branca estava aberta e a gravata envolvia seu pescoço, dando-o um ar ainda mais descolado.
“Como estão, garotas?” ele gritou, passando um braço em meu ombro e o outro no de . Senti seu hálito forte, com uma mistura de álcool e erva.
“Muito bem” minha amiga respondeu, tomando toda a vodka no copo em um só gole, dando um rugido logo após. “MAIS!” ela gritou veemente, levantando o copo para cima e indo em direção ao bar.
“Que animação é essa?” George fez uma careta confusa, ainda olhando se afastar. Eu também não sabia o que havia acontecido com minha amiga, então simplesmente dei de ombros. me assusta às vezes.
“Onde está todo mundo?” perguntei, não vendo um sinal nos meus amigos ali no hall da bagunça. Tudo que pude ver era um emaranhado de pessoas loucas. Garotas em cima das mesas, outros fumavam narguilé num tapete ali perto, os garotos corriam atrás das garotas, nada de muito diferente.
“Ali fora, para variar” o garoto apontou para a varanda com a cabeça e eu rolei os olhos. Obvio, meus amigos tinham essa incrível mania de não se misturarem. Não que fosse frescura, nós simplesmente preferíamos curtir isoladamente.
Fui em direção aos fundos, com George ao meu alcance. Dei um grande gole na bebida que ele me dera e meus olhos continuavam ágeis, passando por todos os cantos da casa. Nenhum sinal de um estranho candidato.
“RAFINHA!” escutei alguém gritar pelo meu nome e um corpo escurecer minha visão com um abraço.
“Como vocês são rápidos!” falei após sentir o bafo de cerveja de em meu rosto. O garoto tinha os olhos confusamente bêbados e imaginei que eles estariam bebendo desde a hora que viera para arrumar os preparativos.
“Sempre somos. Agora é a hora da bêbada mestre se juntar à nós” ele disse me puxando pelo braço e me levando à beira da piscina, onde todos da turma estavam sentados em torno de um bong como o que vi na entrada da casa.
estava inalando a substancia e vi uma expressão de prazer e relaxamento tomar conta de seu rosto. Soltou um grito logo após. Vi uma caixa de isopor ao lado do garoto e presumi que havia (muitas) bebidas ali dentro.
Tomei rapidamente todo o álcool do meu copo e fui rapidamente em direção à caixa, enchendo-o novamente de vodka pura.
[coloquem essa música para tocar agora]
“Oh, você só pode estar brincando!” gritei assim que A voz invadiu meus ouvidos. “).toUpperCase()), EU TE AMO!” apontei para meu amigo, que estava do lado da vitrola que tocava a musica. O garoto riu e veio em nossa direção.
Vi todas as pessoas de dentro do cômodo se movimentarem lentamente de acordo com a musica. Umas garotas se moviam sensualmente para os meninos, outras simplesmente se mexiam sozinhas, curtindo o som abalar seus sentidos.
“
Well, since my baby left me, I found a new place to dwell” cantei lentamente, seguindo a voz do meu Rei e movendo meus quadris de acordo com os acordes do piano. Fechei meus olhos e deixei-a simplesmente me levar.
“
It's down at the end of lonely street at Heartbreak Hotel” minhas mãos percorriam meu corpo involuntariamente, e eu não tinha a mínima noção de como as pessoas estavam me vendo naquele momento. Eu queria apenas sentir aquela música tomar conta de mim.
Tomei mais um grande gole da vodka, sentindo-a rasgar minha garganta como sempre.
Senti um cheiro forte de maconha ali perto e vi um baseado entre os dedos de . Apenas estendi minha mão e o garoto entregou o fumo a mim.
Fechei os olhos e traguei o quanto pude do fumo enrolado em papel de palha e estendi-o de volta para .
Meus quadris continuavam a se movimentar e eu pude sentir que estava flutuando. Não contive um sorriso em meu rosto, seguido de uma gargalhada. Tudo estava mais leve, suave, e tive a certeza de que nada poderia me afetar naquele momento.
Senti duas mãos envolverem minha cintura em movimento e logo em seguida, um corpo sendo colado ao meu. Meus sentidos estavam totalmente vagos, mas o sexto me dava a certeza de quem estava ali. Seu cheiro era inconfundível. Seu toque era único.
Se antes meu coração já palpitava confuso, agora ele queria sair do meu peito, de tão forte que batia.
Seu corpo se movimentava na mesma sincronia que o meu, e eles pareciam se encaixar perfeitamente.
Sua respiração falha batia de segundo em segundo no meu pescoço descoberto.
Meu corpo tinha vontade própria, minha mente havia sido completamente embaralhada pelo efeito do baseado e eu simplesmente cedi às vontades do meu coração escandaloso.
Envolvi os braços de – os quais permaneciam firmes envolta da minha cintura – e entrelacei nossas mãos. Joguei minha cabeça para trás, encaixando-a no ombro do garoto. Estava tudo cada vez mais embaralhado, e meu corpo ficava cada vez mais leve. Tive medo que a gravidade pudesse me tirar dos braços de .
“
You make me so lonely baby” o escutei sussurrar bem próximo do meu ouvido, fazendo todos os cabelos da minha nuca se arrepiarem. “
I get so lonely, I get so lonely I could die” depositou alguns leves beijos por trás da minha orelha, e o toque de seus lábios úmidos e quentes me fez delirar. Tive medo de não ter controle sobre minhas ações nos próximos minutos.
“Por que está fazendo isso comigo?” me permiti sussurrar, ainda de olhos fechados e sentindo sua boca me causar sensações incríveis. Escutei o garoto soltar um riso abafado pelo meu pescoço.
“Eu sou um tremendo egoísta, ” ele disse no mesmo tom, apertando-me ainda mais contra si. “Eu simplesmente não consigo ficar longe de você...” sibilou calmamente, beijando meu ombro dessa vez. Cravei minhas unhas em suas mãos.
“Mas... Não é certo” as palavras pareciam ser um mero suspiro. Milhares de coisas passavam pela minha cabeça, mas elas simplesmente me pareciam confusas demais. Minha língua estava mole, o que dificultava ainda mais minha tentativa de falar.
“Se fosse errado, meu coração não estaria dizendo que isso é a coisa mais certa da minha vida...” outro beijo. Me encolhi.
Por mais tonta e confusa que eu estivesse, suas palavras encaixaram-se em mim perfeitamente. Meu corpo gritava para ficar perto do dele, minhas mãos imploravam para estarem entrelaçadas nas dele, meus lábios pulsavam pelos dele.
“Me prova que isso não é errado...” sussurrei, virando-me de frente à ele, encarando o mar de perfeição que eram aqueles olhos.
olhou para nossas mãos ainda entrelaçadas, e levou a minha direita até seus lábios. Depois, simplesmente me deixou ali sozinha, totalmente confusa e absorta, sentindo meu coração se debater contra mim. Falou algo para , e , os quais riram e o seguiram para dentro da casa. Passaram pela multidão e subiram a escada que ficava no meio do hall. Encarei , que estava visivelmente bêbada e totalmente bratinada, e ela simplesmente gargalhou. Impressionante como lombrados² são incrivelmente felizes.
Meu olhar passava ansioso pelo salão, encontrando apenas pessoas incrivelmente animadas. Nenhum sinal dos garotos. Meus pés já batiam impacientes contra o chão.
Resolvi acabar com aquela vodka em meu copo e colocar mais. Ela pelo menos me acalmava.
Após longuíssimos cinco minutos – que não só pelo efeito do baseado, realmente pareciam longos – vi uma movimento dos garotos dentro da sala. Apertei meus olhos para ver melhor, mas enxergava apenas alguns borrões.
Algumas pessoas se afastaram, rodeando os garotos. E eu ainda não descobrira o que diabos eles estavam fazendo.
Vi subir em cima do sofá com uma guitarra em mãos, assim como e . estava de pé com uma
máquina fotográfica mãos. Eu não entendi aquela cena muito bem, até escutar falar em um microfone improvisado.
“Olá pessoal” ele disse e todos gritaram e levantaram seus copos para o ar. “Estou aqui apenas para cantar uma musica especial para a garota mais linda dessa festa” gritou e olhou em minha direção. Meu queixo foi até o chão e minhas mãos tremeram. Vi correr em minha direção e dar me dar um leve empurrão. Todos da sala direcionaram seus olhares à mim, me deixando extremamente envergonhada.
começou os primeiros acordes de uma musica que eu ainda não havia reconhecido, e corri para dentro do hall, empurrando qualquer pessoa que se pusesse na minha frente sem a menor educação.
“l send you red roses by the dozen
I’ll call you sweet little things like turtle dove
I’ll whisper pretty things in your ear
The kinda things a girl likes to hear
Baby, if you’ll give me all of your love”
Ele começou com aquela música animada, e assim que cheguei à uma distancia relativamente próxima, não contive um grito surpreso e alegre.
I’ll bring you pounds and pounds of chocolate candy
To prove it’s you that i’ve been thinking of
Tear up all the pictures i own of every pretty girl i’ve ever known
Baby, if you’ll give me all of your love”
cantava e olhava diretamente em minha direção, com um sorriso dócil e maroto ao mesmo tempo, enquanto suas mãos ágeis tocavam a guitarra. Pude perceber os olhares incrédulos garotas ao meu redor, mas eu pouco me importava. Minha atenção estava totalmente voltada para o garoto perfeito à minha frente.
“I’ll take you dancin’ every night until you’re ready to drop
I’ll kiss your sweet red cherry lips until you holler stop
Every night i’ll serenade you ‘neath your window
If you need me just a whistle and i won’t need a shove
I’ll hug you squeeze you tight as i can
It ain’t gonna be no one-night stand
Baby, if you’ll give me all of your love”
Os flashes da câmera de eram constantes, e hora ou outra se dirigiam à meu rosto atônito. Eu não sabia se ria, se gritava, se pulava – nos braços de – se cantava... Todos ao meu redor dançavam loucamente – a não ser certas meninas que ainda me olhavam chocadas, provavelmente se mordendo de inveja por ter um garoto como cantando para mim – e tudo o que eu queria era me jogar em seus braços.
“If you will give me, if you will give me all your love”
Eu definitivamente daria tudo, tudo o que ele quisesse.
Não tive controle sobre meus atos, e assim que colocou a guitarra em cima do sofá, me vi correndo em sua direção e pulando em seu colo.
“Você não pode ser lindo desse jeito” eu disse, vendo os flashes de baterem sobre nós. Eu não me importava. Que esse momento fosse registrado não só em minha mente, como nas fotos.
As mãos do garoto envolveram minha cintura fortemente, e eu – com o pouco espaço que me restava – segurei seu rosto em minhas mãos.
Com sua face a milímetros de mim, sibilei:
“A partir de hoje, meu amor é todo seu” sussurrei e juntei nossos lábios sem pedir permissão.
Todas as sensações do primeiro beijo, por mais que o álcool percorresse minhas veias, bombardearam-me de uma vez só. Já não conseguia explicar a força com a qual meu coração pulsava dentro de mim, o frio cabuloso que meu estômago passava, os milhares de impulsos nervosos que percorriam cada parte do meu corpo, fazendo-me levar alguns choques elétricos ao longo dos segundos.
Nunca me senti tão leve, tão viva, tão completa... Tão livre. Em eu tinha minha expressão de liberdade... Eu acabara de chegar àquela conclusão.
“Me leve para casa...” falei após partir – com muito esforço – nossos lábios. “Quero dizer, para sua casa” ri baixinho.
soltou um risinho e me apertou ainda mais contra seu corpo, afundando seu rosto em meu pescoço. O senti respirar profundamente e soltar o ar ali mesmo, fazendo-me contrair.
“Isso está acontecendo mesmo ou eu fumei demais e estou delirando?” ele perguntou divertido. Não contive o riso.
“Bom, se não for real eu devo ter fumado tanto quanto você e só me lembro de ter dado um simples trago” envolvi meus dedos em seus cabelos e os puxei levemente, fazendo carinho.
Estávamos em cima de um sofá e não nos importávamos. Haviam dezenas de pessoas ao nosso redor e não nos importávamos. Nada parecia importar, tudo parecia muito banal...
Senti uma de suas mãos vagarem pelo meu braço lentamente até chegar na minha mão, agarrando-a firmemente. Suspirou.
“Vamos” me encarou com ternura antes de descer do sofá e me ajudar a fazer o mesmo.
Pessoas e mais pessoas batiam em seu ombro enquanto ele passava por elas, riam e o parabenizávam, enquanto eu mantinha minha cabeça baixa, totalmente tímida perante aquela situação. Temia que os olhares ferozes das garotas me matassem... Ou tirasse de mim.
Já no jardim, após andar rapidamente pelo hall e chegar aos risos, caminhamos de mãos dadas até a calçada. Procurei por sua moto tão conhecida por mim, mas nenhum sinal dela.
“Onde está sua moto?” perguntei alheia, vendo-o mexer em um dos bolsos da jaqueta de couro.
“Não estou de moto” ele disse simplesmente, com um pequeno sorriso escondido em seus lábios. Olhei-o confusa. , então, simplesmente puxou-me pela mão e continuou a andar pela calçada. Eu continuava absorta e confusa.
“, como pretende nos levar embora?” perguntei curiosa, rindo de sua expressão divertida. O garoto andava muito rápido e eu já estava sem fôlego por tentar acompanha-lo.
Após algumas passadas, parou de andar subitamente e tirou de dentro do casaco uma chave de um carro. O vi então andar em direção a um veículo. Congelei. Soltei suas mãos enquanto o via encaixar a chave na fechadura do carro. Senti minhas pernas bambearem e minha cabeça girar.
Eu realmente havia fumado mais do que devia e não me lembrava por isso. Eu estava tendo um delírio, essa era a única explicação.
“O que foi?” ele disse marotamente, com um sutil e divertido sorriso na face. Analisava minha expressão totalmente chocada com delicadeza.
“Esse... Esse carro... É... Seu?” as palavras pareciam ser mais difíceis de serem ditas do que nunca e eu pensei ter pedido o poder da fala. Um nó havia sido feito em minha garganta. Olhei para o lado, dando de cara com a placa do veiculo, apenas para constatar que aquilo era uma verdadeira alucinação. Eu estava certa. Era
o carro. balançou a cabeça negativamente, me deixando ainda mais confusa.
“É do meu tio, na verdade. Mas eu sempre o pego para dar voltas à noite...” ele disse se aproximando de mim lentamente.
“Dar voltas... Aonde?” me atrevi a perguntar, enquanto o garoto continuava a se aproximar e me deixar cada vez mais tonta.
“Eu costumo sempre parar em frente a uma casa...” ele continuou maroto, com os olhos penetrados nos meus. Estremeci.
“E o que você faz?” minha voz saiu num sussurro. O rosto de estava a milímetros do meu, e falar alto me pareceu extremamente desnecessário. Eu tinha certeza que, há essa altura do campeonato, ele já podia escutar a zona que meu coração fazia dentro de mim.
“Tento mostrar à uma pessoa o quão difícil parece ser não me apaixonar por ela...” seus lábios sussurraram próximos aos meus, calando todas as dúvidas que eu possuía até aquele momento.
era o autor das serenatas.
era quem me dava paz em noites turbulentas.
era quem me acalmava após me rebelar com Marry.
Era por ele que meu chamava o tempo todo, mesmo nos momentos em que eu me forçava a não escutar...
Capítulo 17.
This time the girl is gonna stay for more than just a day
“Bom dia...” eu disse ainda sonolenta assim que vi atrás do balcão com uma frigideira em mãos.
“Bom dia” ele respondeu todo sorridente. Não pude deixar de reparar em seu físico semi-nu, de boxers e sem camisa, com apenas um avental tampando seu tórax.
Um barulho do lado de fora me despertou do transe, e pela porta aberta, vi o senhor gritar e correr atrás de uma galinha.
“Não se assuste. Ele está correndo atrás do nosso almoço” o garoto sussurrou perto de mim, e eu nem havia percebido sua proximidade. Beijou minha bochecha e fez aquele local formigar de uma maneira intensa. Assim como meu estomago e minhas mãos.
“Dormiu bem?” me perguntou.
Muito bem, na verdade, pensei.
“Aham” falei simplesmente. Ele não podia saber que eu demorei duas horas para conseguir dormir. Rolava e rolava na cama, pois não conseguia afastá-lo dos meus pensamentos e poder dormir em paz. E quando finalmente peguei no sono, foi ele quem me perseguiu em meus sonhos. Seria ridículo. Ele pensaria que eu era uma criança de dez anos. Ou menos.
“Qual vai ser a programação de hoje?” me arrisquei a perguntar, seguindo-o até a cozinha e recostando meus ombros na bancada que separava este cômodo da sala.
“Os garotos estavam pensando em ir para Dover acampar...” disse, concentrado nos bacons que fritava.
Fazia tempos que não acampávamos nas praias de Dover. Era quase que um ritual, ou uma parada obrigatória nem que fosse uma vez ao ano.
Eu ia vez ou outra, quando conseguia convencer Marry a me deixar dormir na casa de .
“Mas que galinha danada!” tio Lewis entrou na sala, totalmente descabelado e com a ave se debatendo em suas mãos.
Não contive minha gargalhada ao ver aquela cena. O pai de era a pessoa mais louca e divertida que eu já havia conhecido.
“I’M A LITTLE SHOOK UP BUT I FEEL FINE” gritávamos dentro do fusca vermelho de . Estávamos todos apertados, estava quase em meu colo. Mas tudo estava bem. Espaço nunca foi um problema para a gente, de qualquer maneira.
batucava o volante do fusca de acordo com as batidas da musica e ora colocava a cabeça para fora do automóvel e cantava para o nada ora dava um trago em um baseado que estava passando de mãos em mãos.
Estávamos em plena estrada, com nada exceto o asfalto à nossa frente.
Nossas mochilas estavam amontoadas no porta-malas, entretanto não levávamos nada mais que o necessário. Duas barracas, lanternas, repelentes, blusas de frio e roupa de banho. Não precisávamos de nada mais que isso.
Eu estava um pouco tonta, e tomei isso como desculpa para recostar minha cabeça no ombro de . Não havíamos, ainda, comentado sobre o dia anterior. Ou feito nada como no dia anterior. Mas aquele clima constrangedor não pairava sobre nós. Quando fosse a hora, tocaríamos no assunto, naquele instante simplesmente não víamos necessidade nisso. Parecia que um podia ler isso no outro. Eu não precisava perguntá-lo ou olhá-lo para saber que ele me entendia. E aquilo me assustava.
Ele fazia um leve cafuné em meu ombro descoberto – já que eu usava um tomara que caia florido – e eu senti que poderia adormecer ali a qualquer instante.
“Senti que seremos os candelabros dessa viagem, ” disse fingindo disfarce, e nos olhando pelo canto do olho. olhou para trás pelo retrovisor e gargalhou alto.
“Quero ser a vela do e da . e são chatos demais, só beijam e não conversam. ODEIO CASAIS ASSIM” gritou bem alto, fazendo , que por acaso beijava , mostrar o dedo do meio ao garoto.
“Vamos deixar os dois excluídos e formar um verdadeiro lustre para e ” disse finalmente, batendo na minha perna e me fazendo rir de leve devido a sonolência.
Alguma musica da radio tomou-lhes a atenção, mas naquela altura do campeonato, eu já não prestava atenção. Adormeci.
Senti leves beijos tocarem minha testa e me perguntei se aquilo era um sonho. Como era bom sentir o toque dos lábios de sobre a minha pele.
“Acorda, linda. Chegamos” o escutei sussurrar em meu ouvido, e só então percebi ser tudo realidade. Não reclamei, aquilo era ainda melhor que um sono.
Sorri sutilmente e me levantei de seu ombro, me espreguiçando logo após. e já saiam do carro, assim como e . Olhei pelo vidro e percebi que estávamos na praia, e eu a reconhecia completamente. O
farol de Chadwick estava lá adiante como eu me lembrava, com aquelas largas listras vermelhas.
Levantei o banco da frente e sai do veiculo, sendo seguida por . Tínhamos que descer uma
ladeira por entre as falésias da praia, até que chegássemos a uma
escada e descêssemos. Era um caminho cansativo, mas que valia totalmente a pena.
Os garotos já corriam feito loucos pelas pedras da
praia quase deserta, tirando as camisas pelo caminho e jogando-as pelo ar. Ri da cena e involuntariamente comecei a correr, agarrando a mão de e arrastando-o comigo. Os garotos jogavam água em , a qual chiava e ria ao mesmo tempo. pegou-a pelas pernas e a jogou no mar logo em seguida, despertando risadas de todos.
Eu via a cena de longe, e à medida que eu me aproximava do mar, meu sorriso ia alargando.
Assim que meus pés tocaram as águas gélidas do mar, uma onda de calmaria me dominou e uma felicidade ainda maior me contagiou ao ver que minha mão ainda estava grudada à de . O garoto havia tirado a camisa – fato que não posso deixar de citar – e corríamos com dificuldade até o resto da turma.
Parecíamos um bando de crianças, já que jogávamos água para cima ou uns nos outros. A alegria era visível ali, e tenho certeza que, até mesmo quem assistia a cena de longe, era contagiado com nossa infantilidade.
Vi afundar a cabeça de dentro d’água e os dois começarem uma batalha sobre quem afogava mais o outro. havia me colocado em suas costas, assim como fizera com , e agora começávamos a brincar de briga de galo. Quando e terminaram sua batalha, começaram a torcer por cada casal. obviamente – ou não – gritava para que eu derrubasse , e fora obrigado a gritar pela outra amiga.
“VOU TE POR NO CHÃO, VADIA!” eu gritei, forçando minhas mãos contra as de , fazendo-a rir das caras e bocas que eu fazia.
“VAMOS LÁ, !” escutei a voz de ao meu lado, o que me estimulava cada vez mais.
“AAAAAAAAAH!” gritei assim que coloquei todas minhas forças na mão para, finalmente, derrubar minha amiga e .
“YEAAAAAAAAAAAH!” gritava animado. “SOMOS OS MELHORES NA BRIGA DE GALO!” ele berrava para a praia inteira ouvir, inclusive apontava para algumas pessoas que observavam.
“O ROUBOU!” um totalmente furioso e engasgado acabara de levantar debaixo d’água.
“Oh, vamos lá, , aceite a derrota! Não seja tão maricas!” contrapôs, rindo debochadamente do outro garoto que tossia constantemente. não estava diferente.
“Você me paga” forçou uma cara ameaçadora, nos fazendo gargalhar ainda mais da situação.
O sol já se punha e as pessoas da praia começavam a ficar cada vez mais escassas. Vez ou outra um casal caminhava à nossa frente, ou velhinhas passeavam com seus cães.
Estávamos sentados eu, , e , enquanto e tinham ido comprar bebidas num boteco do outro lado da falésia. Conversávamos alheios sobre assunto nenhum, já que nossos papos – na maioria das vezes – nunca fazia sentido.
“, por que você não pega os violões?” sugeriu, apontando com a cabeça para os
cases que estavam à dez metros de distância.
“Por que você nunca os pega e sempre sugere para eu pegar?” falei meio brava.
“Ah, vamos lá, você é a mais gordinha da turma, logo tem que pegar as atividades mais pesadas” ele respondeu, dando de ombros. Não me contive e dei um murro relativamente forte em seu ombro. “Outch!” se encolheu.
Ri e me levantei indo em direção às nossas coisas e recolhi os dois
cases dos violões dos garotos. Luau sem musica ao redor de uma fogueira não é luau. Entreguei-os aos meninos, enquanto via se aproximar com engradados de cerveja em cada uma das mãos.
Não pude deixar de observá-lo.
Sorria abertamente de alguma (bobagem) coisa que havia dito. Como seu sorriso era perfeito... Era aquele tipo que você vê e não consegue
não rir junto. Os fracos feixes de luz que ainda persistiam batiam em seu rosto, fazendo com que ele fechasse sutilmente os olhos, a fim de protegê-los.
Ainda estava sem camisa e, só de olhar para seu tórax, me faltava ar nos pulmões.
Presumo que o garoto percebeu que estava a observá-lo, já que direcionou seus lindos olhos à mim. Percebi um sorriso bem singelo brotar no canto de seus lábios, o que fez meu estômago revirar – como se isso fosse uma novidade – e virar o rosto para qualquer outra direção. Ele me pegou observando seu físico! Vergonhoso...
Colocaram as cervejas em uma caixa de isopor cheia de gelo, e claro, cada um já pegou a sua.
O sol já quase não dava sinais de vida, tudo que se podia ver era um pequeno riso laranja ao fundo do oceano.
Era a hora de montar as barracas. Fora uma verdadeira bagunça, já que não tinha a mínima noção de como montar uma e derrubava os ferros dela toda hora que tentava fazer algo direito. Até que cansamos de remontá-la e mandamos a garota sentar. Depois de – no mínimo – uma hora, muitas risadas e sacrifícios, as duas barracas estavam perfeitamente montadas. Já haviam feito uma fogueira, e agora estávamos sentados em torno da mesma, escutando e afinarem os violões.
“Certo, a gente vai tocar uma música que o compôs há uns dias atrás...” anunciou e começaram a tocar os primeiros acordes da canção. Eu estava totalmente entusiasmada para escutar a nova musica de . Não só por ser
dele, mas eu simplesmente ficava toda animada quando envolvia os garotos tocando.
“Well I met this girl, just the other day,
I hope I don't regret, the things that I said now
And when we're laughing and joking with each other now,
I’m glad I met this girl, She didn't walk away,
I think she was impressed and was having a good time,
And when we're laughing joking with each other,
Spending all our time together...”
me cutucava ao longo da musica, mas eu não precisava dela para ficar atônita diante dela. não me olhava, mantinha sua atenção nas cordas, mas eu encarava os movimentos de sua boca ao longo da canção, sentindo o mundo todo sumir de repente, e restar apenas nós dois.
“When she walks in the room my heart goes boom!
Ba ba ba ba ba da ba,
I tried to take her home but she said,
You're no good for me...”
Eu estava totalmente sem palavras. Eu não poderia ser tão egocêntrica a ponto de pensar que aquela musica era direcionada a mim, mas em decorrência dos recentes acontecimentos, tudo me fazia acreditar que sim. Eu queria acreditar que sim.
“She's got a pretty face, such a lovely name,
I don't want my friends to see, they might take her away from me,
She's one I won't forget, in a long long long time,
Now I really want the world to see,
That she is the one for me”
Ele era perfeito até cantando. Queria descobrir um jeito que ele não era tão indefectível... Chegava a ser irritante. Eu me pegava a pensar o que diabos ele encontrou em mim, enquanto ele poderia ter a garota que quisesse com aquela perfeição.
“The first time that I saw her she stole my heart,
And if we were together, nothing could tear us apart”
Nothing could tear us apart, repeti aquele verso na minha mente. Eu concordava. Algo dentro de mim gritava, dizendo que nada seria capaz de nos separar. Quero dizer, todo aquele bombardeio de sentimentos por eram tão recentes, mas ao mesmo tempo, tão intensos, de uma forma que nunca havia sentido igual. A cada instante, cada sorriso, cada palavra, uma nova onda de emoções me acertava, me deixando ainda mais confusa. Eu não entendia tudo o que estava sentindo, justamente por nunca tê-los sentido antes, e isso me assustava muito. Eu, às vezes, pensava que tudo aquilo era um exagero, que eu não poderia sentir tudo o que eu sentia por uma pessoa em tão pouco tempo. Não era racional. Não era possível.
Alguns fios da franja de caiam sobre seus olhos concentrados, dando-lhe uma feição angelical. Seus dedos ágeis continuavam a tocar, e sua boca a cantar. Sua voz era tão linda que eu poderia escutá-la para sempre.
“When she walks in the room my heart goes boom,
Ba ba ba ba ba da ba
I tried to take her home but she said you're no good for me
Ba ba ba ba ba da ba”
Fui a primeira a bater palmas, assim que eles terminaram os acordes da canção. olhou-me meio cabisbaixo, como se esperasse pela minha aprovação. Sorri abertamente e vi suas bochechas corarem, o que era algo totalmente novo. Eu nunca – ou talvez quase nunca – vira envergonhado, ou sem graça por algum motivo. Achei uma graça.
“Agora vou tocar uma para o meu moranguinho” disse com um biquinho, fazendo suspirar ao meu lado. Começou os acordes de
I’ve Got You, a musica que ele sempre tocava para a namorada, a qual nunca enjoava de escutá-la. E sempre tinha as mesmas reações de euforia, detalhe.
agora tocava olhando para mim, com aquele conhecido ‘pequeno-sorriso’ nos lábios, o qual me fazia delirar. Hora e outra olhava para as cordas do violão, voltando a me encarar no mesmo instante.
Eu bebia minha cerveja tranquilamente – quando me lembrava – e os garotos ao meu lado ( e ) fumavam um baseado, para variar. Davam a desculpa que esse mundo era muito repressor e que precisavam de uma válvula de escape. Diziam também que lhes inspiravam mais... já confirmara essa afirmação.
Vez ou outra eu tragava, apenas para relaxar e entrar no clima retardado dos meus amigos.
Confesso que já nem prestava atenção na musica que cantavam. Eu estava mais preocupada em reparar nos movimentos que a boca de fazia a escutar
I’ve Got You pela milésima vez. Eu já a sabia de cor e salteado, de qualquer maneira.
Cantaram mais algumas musicas, de Elvis à Little Richard, enquanto os loucos (digo, e ) pulavam e dançavam. , ainda encantada pelo namorado, mexia-se lentamente de um lado para o outro. Eu queria tirar dali e levá-lo para algum lugar onde pudéssemos ficar a sós.
E, do nada, vi meus amigos correndo em direção ao mar, tirando suas roupas – sim, inclusive as partes de baixo – e adentrarem o mesmo aos gritos. Até mesmo havia entrado no meio da loucura.
“YEAAAAAAAAAAAAAAAH!” os escutava gritar em liberdade, e pela escuridão, não era capaz de saber o que estavam fazendo. Tive vontade de tirar as roupas e correr em direção ao oceano, mas no momento seguinte vi que eu não estava sozinha. Pensei que aquele seria o momento perfeito para ficar sozinha com .
O silencio predominava entre nós, sem ser algo que nos incomodava. Na verdade ele às vezes era muito bem vindo.
“Quer dar uma volta?” o garoto disse calmo, e então encarei sua face. Não havia luzes além da que vinha do farol e do luar, mas ainda sim podia ver o brilho de seus olhos. Acenei com a cabeça e peguei a mão estendida de . O menino me ajudou a subir as escadas, subindo logo em seguida e então começamos a andar pela ladeira. Se eu olhasse para o lado, me depararia com, além da linda paisagem do oceano, meus amigos nus gritando feito loucos lá em baixo.
Chegamos ao topo da falésia onde se encontrava o farol. Devo admitir, aquela
vista parecia muito mais bonita à noite.
As ondas do mar estavam calmas e a lua era perfeitamente refletida nas águas.
me conduzia em direção ao farol, e rapidamente já estávamos dentro do mesmo, subindo as escadas espirais.
O garoto abriu uma porta, a qual deu em um quartinho vazio. Eu pude sentir o cheiro de mofo, o que nos deixava chegar à conclusão de que ninguém vinha ali há muito tempo. Havia uma cama empoeirada no canto de uma parede, uma escrivaninha no canto de outra, com uma lamparina em cima da mesma e vários papéis amarelados. Um banheiro podia ser visto também mais a frente.
À medida que pisávamos no assoalho de madeira, podíamos escutá-lo ranger, e um sentimento de que poderíamos cair a qualquer momento me assombrou, me fazendo apertar ainda mais a mão de .
Finalmente chegamos a uma sacada. Ela tinha a mesma vista da falésia, só que ainda mais ampla. Lá em baixo, as ondas batiam fortes contra o paredão de pedra, e eu podia sentir alguns respingos e um forte cheiro de oceano nos abater. As grades da sacada foram visivelmente corroídas pelo sal do mar, o que as tornava enferrujadas e dava àquele local, um cenário ainda mais rústico e bonito.
“O que achou?” me perguntou apreensivo, encarando a imensidão a nossa frente.
“É tudo muito lindo...” respondi sincera. Não tinha como tudo ficar mais perfeito. Vi um sorriso abrir no rosto dele, e me perguntei quando eu pararia de ficar hipnotizada por cada sorriso seu.
se sentou e foi só ai que percebi que estava com um violão em mãos, o qual ele recostou na parede. Sentei-me junto a ele.
O silêncio caiu sobre nós novamente, permitindo-nos escutar apenas as ondas se quebrarem e, de longe, nossos amigos gritarem.
Repentinamente, senti a mão de pegar a minha, e colocá-las uma sobre a outra como se estivesse as medindo. Se fosse isso, perceberia que minha mão era duas vezes menor que a dele.
“?” chamei-o, tirando sua atenção de nossas mãos.
“Sim?” ele respondeu imediatamente. Respirei fundo.
“O que você sente por mim?” tirei toda a coragem do meu ser ao fazer essa pergunta. Eu precisava saber. Eu precisava saber se ele sentia o mesmo que eu, precisava entender aquilo que sentia, inclusive.
riu baixinho e olhou para frente. Não entendi muito bem essa sua reação, mas continuei apreensiva por sua resposta.
“Você acreditaria...” ele começou baixinho e depois respirou fundo. Olhei-o curiosa. “Se eu dissesse que meu coração acelera só de ouvir seu nome?” finalmente me encarou. Me encarou tão profundamente que me fez sentir um pouco tonta. Era como se ele procurasse uma verdade em meus olhos. Tremi quando meu cérebro digeriu suas palavras.
Como o efeito de ação e reação, o meu coração acelerou. Se eu fosse taquicardia ou algo assim, já estaria morta e poderiam prender como culpado.
“É isso que eu sinto, . Não consigo te demonstrar de outro modo que não seja esse” ele disse, diminuído seu tom de voz gradativamente, à medida que se aproximava do meu rosto.
Colocou uma de suas mãos em minha nuca, e a outra envolveu minha cintura. Só de sentir seu cheiro tão perto de mim fez minha cabeça delirar.
Meus olhos se fecharam rapidamente, e eu esperava ansiosa para sentir seus lábios se chocarem contra os meus.
Entretanto, esperei em vão.
Primeiramente, senti seu hálito quente em meu ombro, fazendo cada parte minha arrepiar. Seus lábios úmidos me tocavam tão suavemente que me faziam suspirar e meu peito subir e descer rapidamente devido a minha respiração totalmente falha.
Sua boca foi subindo em uma velocidade vagarosa, passando demorada pelo meu pescoço e indo em direção à minha orelha.
“
I just can’t help believin’ when she smiles up soft and gentle with a trace of misty morning and the promise of tomorrow in her eyes” o escutei sussurrar com aquela voz esplêndida em meu ouvido, enquanto suas mãos passeavam livremente por minhas costas.
Minha boca estava entreaberta, esperando apenas o momento em que encontraria com a de . Eu estava delirando. Aquela voz me fazia delirar. Aquelas mãos me faziam delirar.
“
I just can’t help believin’ when she’s lying close beside me and my heart beats with the rhythm of her sighs. This time the girl is gonna stay for more than just a day” minhas mãos cravaram em seus cabelos, e como um ato de suplico, puxei seu rosto para mais perto do meu, fazendo com que nossas bocas finalmente se chocassem.
Aquela boca sim, me fazia delirar. Fazia todo o mundo abaixo dos meus pés desaparecer. Fazia com que nada mais existisse além de nós dois.
puxou-me mais para perto de si, de modo com que nossos corpos se chocassem. Não era um beijo calmo. Era mais tendencioso que o primeiro, entretanto, sem perder sua doçura. Sua língua brincava com a minha, fazendo com que eu tivesse o desejo de nunca mais separá-las por se darem tão bem.
Minhas mãos puxavam os cabelos do garoto levemente, fazendo-o soltar sua respiração pesada pelo nariz. Já as suas mãos apertavam minha cintura veemente, como se quisesse juntar ainda mais nossos corpos se fosse possível.
Após alguns minutos a minha necessidade por oxigênio irritante me forçou a separar de . Estávamos ofegantes, pude perceber. Soltávamos o ar de nossos pulmões de forma totalmente desajeitada
.
Minhas mãos ainda estavam grudadas em seus cabelos, e as dele se mantinham firmes em minha cintura. Nossos narizes colados.
Peguei sua mão livre e levei-a lentamente em direção ao lado esquerdo do meu peito. Eu queria que ele sentisse o que era capaz de fazer comigo.
“Uau” falou em um suspiro e não contive o riso falho. Meu coração batia totalmente atrapalhado, e a culpa era toda e exclusivamente dele.
“Pois é...” debochei. Não me contive em selar nossos lábios em um beijo rápido.
“Por que isso não aconteceu antes, ?” quis saber. Abri meus olhos e dei de cara com os dele, instigantes e curiosos. Suspirou.
“Porque antes não era a hora, ” ele respondeu simplesmente. “Porque talvez antes não fosse tão certo como agora...” completou. Sorri.
estava certo. O agora nunca me pareceu tão certo antes...
Capítulo 18.
You're just a natural born beehive filled with honey to the top
Morar com passara a ser uma tarefa difícil. Por uma razão lógica, não nos expúnhamos em frente ao seu pai, apesar de termos a absoluta certeza de que ele sabia de alguma coisa. Então passamos a dar alguns beijos escondidos nos momentos em que tio Lewis não estava em casa, ou saia para pescar ou qualquer outra coisa relacionada. Beijávamos-nos quando ele não estava olhando, e disfarçávamos rapidamente quando chegávamos a um fio de sermos pegos. Estava um tanto quanto divertido... Toda aquela aventura... E convenhamos que tudo que é escondido e/ou perigoso é muito mais excitante.
Já havia se passado uma semana desde o ocorrido no farol e nada parecia ter mudado. Toda a paixão continuava, e cada vez mais intensa.
Pegava-me de minuto a minuto a pensar em . Na escola não conseguia me concentrar, pois contava as horas para vê-lo. Até já havia encrencado comigo, dizendo que não agüentava mais escutar o nome de . E eu não me cansava de pronunciá-lo.
Naquele dia, nós havíamos combinado de ir ao
autocine naquela noite, o qual passaria o suspense
Um Corpo que Cai, estrelando James Stewart e Kim Novak, dirigido por Alfred Hitchcock, o gênio do suspense.
me buscaria na escola e de lá iríamos para a praça Bergan, onde aconteceria o cinema ao ar livre.
“Até mais, ” me despedi de minha amiga assim que o sino da escola tocou, liberando-nos para irmos embora. Eu não via a hora de encontrar ...
Sai correndo pelos jardins da Ladywood com os cadernos em mãos, ultrapassando e esbarrando qualquer garota que se pusesse em meu caminho sem ao menos me desculpar.
“!” gritei assim que o vi de braços cruzados e escorado sobre seu carro charmosamente velho. Num impulso joguei os cadernos no chão e pulei em seu colo, chamando a atenção de meio mundo que passava ali. Atraindo inclusive os olhares repressores dos pais das
puras garotas.
Dei milhares de selinhos no garoto, vendo sorrir entre eles. Eu estava morrendo de saudades, e nem parecia que nos vimos de manhã, quando ele me deixou no colégio.
“Vamos?” ele disse após eu cessar meus beijos. Simplesmente concordei com a cabeça e pulei de seu colo. abriu a porta do carona para que eu entrasse e foi para o lado do motorista em seguida. “Só não vale ficar com medo durante o filme, hein?” ele me olhou apreensivo antes de dar partida no carro.
“Eu não tenho medo” rolei os olhos. “E afinal, eu tenho você pra poder agarrar se acaso ficar, não é mesmo?” encarei-o sugestiva. O garoto riu.
“Sempre” ele piscou e deu partida no carro, que fez um barulho estrondoso antes de ganhar velocidade.
“Meu Deus!” falei chocada, assim que descobri que Madeleine estava possuída pelo espírito de sua avó, Carlotta. A cada minuto do filme, eu ficava mais e mais tensa. Apesar de estar ali do meu lado, eu não conseguia desgrudar os olhos do telão. Havia em torno de quatro fileiras de carros na nossa frente, então tínhamos uma ótima visão. Senti beijar meu pescoço, mas não dei muita atenção, já que estava vidrada no filme.
“Vamos prestar atenção, !” sussurrei entre dentes, um pouco irritada com a falta de interesse do garoto. Então ele se afastou e – fingiu – passou a prestar atenção na tela em sua frente.
Passados cinco minutos, ele começa a me beijar novamente.
“Mas que fogo, hein?” forjei uma cara brava, fazendo-o rir abafadamente em meu pescoço.
Não tinha como
não ceder aos encantos de , então simplesmente me deixei levar.
A boca do garoto passou a descer pelo meu ombro, e foi ai que me lembrei de estarmos em um lugar público.
“! Tem pessoas ao nosso redor! E dezenas delas!” empurrei-o bruscamente.
“Ah, vamos lá, . Acha mesmo que estão prestando atenção na gente?” ele fez uma cara de extremo cachorro sem dono. Olhei para os lados e reparei que todos mantinham seus olhos grudados à tela, como antes eu mantinha os meus.
Corei levemente, vendo que eu não teria outra opção a não ser me entregar à lábia de .
Quando o garoto viu que havia vencido, sorriu abertamente e me puxou para perto dele.
“Vem cá, emburradinha” ele fez uma voz fofa e começou a distribuir beijos por toda minha face, me fazendo rir.
Após a crise, passou a me observar. Observava-me tão profundamente que chegava a me deixar tímida. Passou, então, as pontas de seus dedos sobre minhas maçãs do rosto, fazendo com que meus olhos se fechassem involuntariamente. Em seguida, pude sentir seus lábios irem de encontro aos meus, fazendo com que todo o meu ser se revirasse, como se fosse a primeira vez. Tudo com ele parecia a primeira vez.
se debruçou um pouco sobre mim, fazendo com que o espaço sobre nós fosse mínimo. Nosso beijo foi ganhando intensidade ao longo dos segundos e eu já sentia minha respiração ficar falha. Uma de minhas mãos puxava-lhe os cabelos de leve, enquanto a outra se posicionava firme em suas costas bem definidas.
voltou sua atenção ao meu pescoço, beijando-o veemente e me fazendo suspirar inconscientemente. Ele sabia que ali se concentrava meu ponto fraco e sabia como se aproveitar disso.
Suas mãos não se decidiam entre minha coxa ou minha cintura e isso estava me deixando aflita. Até que elas, agora em meu cós, começaram a subir gradativamente e um susto me atingiu.
“Hey!” afastei-o com força, vendo-o me olhar assustado. Meus olhos estavam arregalados de horror. Quero dizer, eu jamais havia chegado naquele nível de intimidade com alguém antes!
“Me... Me desculpe, ” ele disse tão assustado quanto eu após recuperar seu fôlego. “Eu me precipitei, desculpa de verdade!” ele parecia desesperado.
Não o encarava, talvez eu tivesse vergonha... Chame-me de tola se quiser, eu apenas não estava acostumada com aquele tipo de situação!
“Eu é quem peço desculpas, ... Por ser tão infantil” desabafei, encarando meus dedos que brincavam com a barra da minha saia.
“Nunca, ! Você não é infantil! É só que... Não consegui me controlar” tocou meu queixo, de modo que eu o encarasse. “Isso não vai mais acontecer, tudo bem?” me olhava apreensivo. Sorri sutilmente.
“Eu quero que aconteça...” falei totalmente corada e sem graça. Ele me olhou surpreso. “Só que com o tempo... Se é que me entende...”
“Eu te entendo, linda” falou finalmente, compreensivo, e depositou um beijo minha testa. “Vamos voltar nossas atenções ao filme, certo?” e eu concordei com a cabeça. Então pulei para seu banco, de modo que pudéssemos terminar de assisti-lo bem juntinhos. Encostei minha cabeça em seu peito, o qual se movia ainda descompassado.
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