Por: Cá L. Judd



Cap. 1


O corredor de cimento entre os prédios era extenso e largo. Prédios de um lado, uma rampa, alguns outros prédios, um corredor largo e extenso, mais prédios do outro lado – só que num nível elevado. Assim era formado o condomínio. Numa das pontas do corredor havia uma escada de tijolos rústicos pra um dos prédios; na outra ponta, uma escada de ardósia pros prédios elevados, escondida por entre os muros. null estava sentado com null na escada de tijolos. Os dois eram “vizinhos” desde que se conheciam por gente; null morava sozinho há um ano e pouco e null ainda morava com os pais.
‘Cara, estou te falando. Eu vi ontem’ null insistiu na história que tinha contado pro outro.
‘Você pirou, dude. Eu não vi nada’ null abanou a mão no ar.
‘Você passou o dia todo fora de casa ontem, nem se quisesse teria visto alguma coisa. E eu pirei coisa nenhuma! Concordo que ela até parecia miragem de tão bonita, mas era de verdade. Eu vi quando ela desceu do carro e... ’
‘E ajudou na mudança. Depois ela sumiu nas garagens e não apareceu mais’ null completou a narrativa ‘Cara, ela devia ser só uma conhecida dos novos moradores. Ela não deve ter se mudado pra cá... isso se ela existe mesmo’
‘Eu quero só ver. Quero só ver se você encontrar com a garota no elevador quando estiver indo pro colégio. Daí você vem me dizer quem é o pirado aqui’ null disse com ar superior.
null apoiou os cotovelos no degrau de cima e olhou pro lado com os olhos cerrados por causa do sol; olhou pro portão no fim da rampa de carros que dava acesso ao corredor.
Um carro entrou pelo portão e virou pro outro corredor que tinha lá embaixo. Sob os prédios ficavam as garagens e as entradas pros blocos de apartamentos. Eram três blocos na parte onde null morava, um prédio pra cada bloco. null morava num prédio por onde se chegava subindo a escada de tijolos.
‘Duvido que essa garota exista mesmo’ null disse do nada, ainda olhando pro lado ‘Você está inventando tudo isso pra me impressionar, null’ concluiu rindo. null rolou os olhos e olhou pro fim do corredor.
Então ela apareceu. Tinha acabado de descer as escadas de ardósia e estava virando no corredor. Parecia mais bonita do que quando ele a vira pela primeira vez. Estava de bermuda jeans, all star, uma blusinha preta e óculos escuros. Ela olhava pro lado, pros carros na garagem, e pareceu nem notar que null, sentado na escada na outra ponta do corredor, estava a observando descaradamente. O garoto levou um tempo pra se recuperar do choque, então cutucou null no braço.
‘Tem certeza que ela não existe? Porque ela me parece bem real agora’ ele falou baixo.
‘O que disse?’ null perguntou e ia olhar pro amigo, mas deteve a cabeça no meio do caminho quando seu olhar encontrou a garota que andava no meio do corredor.
Ela estava se aproximando e null podia ver cada passo que ela dava em câmera lenta. Os cabelos dela, amarrados num rabo de cavalo, balançavam continuamente atrás da cabeça e os braços se moviam levemente ao lado do corpo. null engoliu em seco, tamanha a beleza da garota, e sentiu uma sensação estranha e engraçada no estômago acompanhada de uma palpitação acelerada do coração. Ele quase não conseguia acreditar que aquela garota era real, e o mais interessante é que ali, em carne e osso, ela parecia muito mais bonita do que segundo a descrição de null. Então, de repente, foi como se o tempo voltasse a correr normalmente quando a garota pegou um molho de chaves no bolso da calça e virou numa parte do corredor. Ela sumiu atrás de uma das pilastras da garagem e a última coisa que os dois garotos viram foi um relance dela abrindo a porta pra salinha de recepção onde ficavam os elevadores e as escadas do bloco um. O bloco de null.
‘Não...’ null disse lentamente. null olhou pro amigo e riu da cara de bobo dele.
‘Então eu sou pirado, não sou?’ perguntou ainda rindo.
‘Cara, não dá pra acreditar numa coisa dessas... ela é linda demais! E mora no meu prédio, no meu prédio!’ ele exclamou sem esconder a alegria ansiosa que estava sentindo.
‘Da próxima vez não desconfia de mim, valeu?! Eu não costumo mentir quando falo de uma beldade desse tipo’
‘Mas você mentiu sim. Você disse que ela era bonita, não linda desse jeito. Ela parece mesmo de mentira, dude’
‘Ih, deslumbrou’ null balançou a cabeça e riu.
‘Não estou deslumbrado, mas não vejo mal algum em tentar ser um vizinho mais amigável e simpático’ ele fez cara feia pro amigo e levantou do degrau.
‘Eu não quero nem ver onde isso vai parar’ null também levantou.
‘Cala a boca, idiota. O que tem de mais eu querer conhecer a menina? Vai dizer que você também não quer?!’ null arqueou uma sobrancelha.
‘Me deixa fora disso, ok? Concordo que ela é linda e parece realmente incrível, mas é bom não criar muita expectativa’
‘Olha quem fala! Quem estava aqui há minutos atrás, tagarelando sem parar sobre uma tal garota que tinha visto ontem era você, meu caro. Se alguém aqui criou alguma expectativa esse alguém não fui eu’ null disse começando a se indignar com o que o amigo dizia ‘E o que quer dizer com “é bom não criar muita expectativa”?’
‘Ué, quero dizer isso mesmo, que não é bom criar muita expectativa. A garota pode ter namorado ou sei lá... vai que ela é lésbica’ ele encolheu os ombros e outro fez uma careta. Os dois começaram a rir.
‘Sinceramente, menos pior ela ter namorado do que ser lésbica’ null disse ‘No namorado a gente pode dar um jeito, mas ia ser complicado reverter a opção sexual dela’
‘Bem complicado’
‘Mas enfim, eu não estou tão interessado assim nela’ ele disse e recebeu um olhar incrédulo de null ‘Certo, estou bem interessado’ null riu ‘mas também não vou sair correndo atrás da garota logo de cara’
‘Vai com calma, dude. Ela pode não ser tuuudo isso que parece’ null alertou ‘Depois eu não quero ver amigo meu se lamentando por aí’
‘Acredite em mim, null, eu não vou me lamentar’ null disse muito seguro de si ‘E você bem sabe que eu sou um cara paciente’
‘Não sei de nada e não quero saber. Você que se vire sozinho com a sua deusa’ null deu de ombros ‘Minha opinião se resume a beleza dela, só’
‘Ah, fica quieto’ ele riu.
‘Bom, boa sorte pra você. Agora eu tenho que ir pra casa’
‘A gente se vê, dude’ ele ergueu a mão num aceno e desceu o resto da escada enquanto null subia pra ir pro seu prédio.
null abriu a mesma porta que a garota tinha aberto minutos atrás e apertou o botão do elevador, que não demorou a chegar. Ele morava no quinto andar, apartamento 18. Em cada andar havia quatro apartamentos, os dois elevadores e mais duas escadas. null recebera o apartamento dos pais quando completou dezesseis anos. Quando fez dezessete, null ganhou um carro. Toda manhã, ele ia de carro pro colégio que ficava a uns quinze minutos de casa. Fora isso, a única coisa que ele fazia era tocar pra frente uma banda que tinha com os amigos.
No capacho em frente à porta do apartamento, null encontrou um envelope amarelo. Ele já até sabia o que tinha ali: era o dinheiro enviado pelos pais, que agora moravam no centro da cidade. O que eles mandavam era suficiente pro filho pagar as contas, gastar no que fosse necessário e no desnecessário também. null entrou no apartamento, jogou o envelope em cima da mesa de jantar da sala e deitou no sofá, ligando a televisão.
Era domingo, não havia muito que fazer além de morgar. Morgar e... Pensar. Pensar na garota que ele tinha visto, pensar no quanto ela era bonita, pensar que talvez ela estivesse mais próxima do que ele podia imaginar. E se ela estivesse no apartamento do lado, ou no da frente? null sentou no sofá e quase foi até a porta. Então ele riu e deitou novamente. Mesmo que ela estivesse em um dos dois apartamentos, o que ele poderia fazer no momento? Nada. Só podia esperar uma oportunidade pra descobrir onde a garota estava morando e pra conhecê-la também. Era isso, esperar. E pensar mais um pouco.

null terminou de arrumar as roupas no novo armário e parou pra olhar o quarto. Não era tão grande quanto o quarto que tinha na sua antiga casa, mas era aconchegante e agradável exatamente pelo seu tamanho mediano. Na verdade, o novo apartamento não era dos maiores que ela já tinha visto, mas era um ótimo lugar pra morar. A sala era ampla e a cozinha também, havia duas suítes, um lavabo e uma lavanderia pequena acoplada na cozinha. null sentou na ponta da cama e ficou rodeando o quarto com os olhos. Seu olhar se demorou num mural de metal, onde ela mesma, no dia anterior, tinha afixado com imãs algumas fotos. Fotos de quando era pequena e morava no Brasil, das amigas de lá. Fotos de quando se mudou pra Nova Iorque, quando morou em Miami, em Barcelona, em Paris, fotos das férias na Itália, na Grécia e na terra natal. Agora ela estava na Inglaterra. Não era um lugar muito desconhecido porque ela já passara dois meses lá, de férias na casa da prima, e graças a isso conseguia se localizar e passear tranqüilamente sem se perder pela pequena cidade onde estava morando agora. A única pessoa com quem podia contar por lá era exatamente sua prima, null, que saíra do Brasil e se mudara pra lá há cinco anos.
Sim, a prima era a única com quem poderia contar, afinal os pais de null nem paravam em casa direito. Eles eram diretores de uma importante empresa multinacional, por isso tinham saído do Brasil dez anos depois que a filha nasceu e, nos sete anos seguintes, se mudaram pra vários lugares diferentes. Tinham que se mudar pro lugar onde eram solicitados e acabavam levando a filha junto. null nunca gostou muito da profissão dos pais. Primeiro porque realmente gostava do Brasil, país onde havia nascido; segundo porque nunca tinha tempo suficiente pra arranjar um grupo verdadeiro de amigos nos países onde ficava, devido ao pouco tempo que permanecia no mesmo lugar; e terceiro porque seus pais nunca tinham tempo pra ela. null era filha única e ganhara tudo o que pedira na vida, mas não tinha o que realmente queria: uns minutos de atenção dos pais. Mas ela já estava acostumada com isso, dezessete anos vivendo assim foi tempo suficiente pra fazê-la se conformar com a ausência deles.
null sentou na cama e suspirou, passando a mão na colcha e pensando no dia seguinte, quando começaria a estudar no colégio mais próximo de sua nova casa. Ia entrar no meio de Abril, mas ela também já estava acostumada com isso. Com as mudanças freqüentes, null sempre estava trocando de colégio também. O segundo ano, por exemplo, ela tinha começado em Barcelona e concluído em Madrid, onde começara o terceiro, que tentaria concluir agora na Inglaterra. Se bem que null não acreditava que ficaria tempo suficiente na Inglaterra a tempo de concluir aquele ano de estudo. Seria mais capaz que se mudasse nas férias de julho e concluísse o terceiro ano na Holanda, ou no Canadá. Quem sabe na China ou na Índia. null riu pensando em si mesma vestindo as roupas típicas das mulheres indianas; seria algo cômico.
Mas, bem no fundo, ela não via nada de cômico ou divertido na sua vida. O que queria mesmo era ficar em um lugar só, onde poderia ter amigos verdadeiros como tinha no Brasil, onde poderia terminar seus estudos e fazer uma boa faculdade. Aquela sim parecia uma realidade na qual onde ela seria feliz por completo.
‘Quem sabe um dia...’ null disse, tentando não tirar de si mesma as poucas esperanças que tinha. Ela balançou a cabeça, rindo ironicamente dos seus pensamentos, e deitou na cama. Ficou apenas encarando o teto iluminado pela luz do sol que vinha da janela, concluindo afinal que sua vida não passava de uma inconstante sem fim.

Cap. 2


null estacionou o carro perto dos portões e entrou no colégio. Não demorou muito pra encontrar os amigos sentados na mureta do pátio cheio e foi até eles.
‘E aí, caras? Tudo certo?’ perguntou encostando-se a mureta.
‘Tudo mais que certo, null’ null respondeu com o olhar perdido num ponto do pátio. null reparou que null e null também estavam olhando pro mesmo lugar.
‘Tá tudo certo mesmo?’ ele franziu a testa, estranhando quando os amigos sorriram.
‘Claro, cara. Tudo... lindo’ null falava de um jeito meio sonhador e null resolveu olhar pro mesmo lugar pra onde os amigos olhavam.
O garoto entendeu o porquê daquele sorriso imbecil estampado na cara dos amigos assim que olhou pra uma mesinha no pátio. A garota do prédio estava lá, sentada na mesinha, conversando com uma outra garota, que estava de costas pra null e ele não conseguiu reconhecer quem era. Mas ele não deu a mínima importância pra isso, a única coisa que lhe importava era aquela garota sentada na mesinha. Aquela garota que estava com uma calça bailarina, tênis e camiseta branca, que sorria e passava as mãos pelos cabelos, que segurava uma pasta e arrumava as alças da mochila nas costas. Ela parecia muito diferente das outras garotas no pátio, que usavam saia colegial, blusinha branca e salto alto, mas talvez isso só colaborasse pra sua beleza. Ela tinha estilo próprio, um pouco menos feminino, mas próprio e isso a destacava das outras.
‘Eu disse que ela era linda’ null comentou leviano, cortando os pensamentos de null e dos outros.
‘Até parece um...’ null começou. null se virou pros amigos e sentiu uma estranha formigação nos punhos.
‘Será que dá pra parar de babar nela?’ ele perguntou grosseiro.
‘O que é bonito é pra ser apreciado’ null encolheu os ombros.
‘Não liguem, isso é ciúmes’ null disse e null fez cara feia pra ele.
‘Não estou com ciúmes, só acho que vocês podiam ser mais discretos’ disse querendo que os amigos parassem de olhar pra garota o mais rápido possível.
‘Vai dizer isso pros outros’ null apontou com a cabeça pra frente e null se virou pra olhar.
Ele cerrou os olhos quando viu a maior parte dos garotos que estavam no pátio olhando a garota na mesinha. Ela parecia ser o centro das atenções naquela segunda-feira e, talvez, não deixasse de ser o centro das atenções por muito tempo. É claro que o fato de ser nova no colégio contava muito pra isso, mas null teve a sensação de que a beleza dela contava mais e isso não o deixou muito contente. Não estava gostando de toda aquela... Concorrência.
‘Hunf’ ele apenas bufou, sem se dar conta do tipo de pensamento que teve.
‘... Anjo’ null por fim concluiu a frase, perdido nas palavras.
‘Patético’ null resmungou baixo. null não ouviu, mas percebeu que o amigo não estava muito bem humorado com tudo aquilo e resolveu colaborar com ele.
‘Vamos parar de admirar a garota e resolver assuntos mais importantes’ disse e os outros olharam pra ele ‘Quando vamos marcar o próximo ensaio?’
‘Onde vamos ensaiar, essa é a pergunta’ null corrigiu ‘A garagem da minha casa não está mais disponível, meu pai comprou carro novo’
null viu que os amigos finalmente estavam entretidos com outra coisa e ficou um pouco mais satisfeito com isso. Ele deu mais uma olhada na garota antes de prestar real atenção no que os amigos falavam. Agora ela estava balançando a cabeça e rindo de alguma coisa que a outra devia ter lhe falado. Ele não resistiu e sorriu.
‘Tudo bem pra você, null?’ a voz de null perguntou, parecendo muito longe dali.
‘Ãh?’ null virou pros amigos com cara de desentendido ‘Desculpem, não prestei atenção’
null abafou uma risada por saber em quê ou, na verdade, em quem o amigo estava prestando atenção, e os outros dois apenas balançaram a cabeça.

‘Não estou brincando, null. Isso é sério, acho que meu namorado é gay’ null repetiu.
‘Por que... por que acha isso?’ null perguntou entre risos.
‘Não sei, ele olha de um jeito muito estranho pros meus amigos e até pros amigos dele! Eu nem ligaria se fosse assim com as mulheres, mas com homens?! Ah, pra mim isso só significa uma coisa’ null balançou a cabeça.
‘Isso deve ser implicância sua’
‘Que nada, quando eu te apresentar ele, você vai ver só. Michael é gay, estou te falando’
‘Se você está tão convicta disso, por que não separa dele logo?’ null perguntou mais séria, encarando a prima, que encolheu os ombros.
‘Eu não sei. Já tentei várias vezes, sem brincadeira, mas ele sempre vem com aquele jeitinho todo meigo...’ disse com doçura.
‘É só você pensar que é jeitinho de gay e pronto’ null riu.
‘Ewww!’ null fez careta e fingiu sentir calafrios ‘Toda hora eu tento tirar isso da minha cabeça, mas não dá. Toda vez que eu estou perto de algum garoto e ele está comigo, eu fico reparando no jeito que ele olha pro outro garoto e parece tão... tão...’
‘Gay’ null concluiu pela prima e riu mais alto.
‘Nem me fale’ null suspirou e abanou a mão ‘Mas deixa isso pra lá por enquanto. Me conta mais de você’
‘Não tem mais nada pra contar’ ela ergueu os ombros. Tinha chegado mais cedo no colégio a pedido da prima pra que elas pudessem matar as saudades e agora já devia fazer uma meia hora que as duas estavam ali no pátio, conversando.
‘Claro que tem! Você nem me contou dos namorados’ null disse curiosa e cutucou a prima na cintura.
‘Eu não estou namorando, se é isso que quer saber. Você sabe que eu vivo me mudando e agüentar um namoro a distância é que eu não vou’ null disse. Uma vez já tentara fazer isso, mas o namoro não durou mais de um mês depois que ela se mudou e aquela era uma experiência que ela não queria repetir mais, se fosse possível.
‘Essas viagens dos seus pais acabam com a sua vida social’ null se sentiu triste pela prima. Devia ser péssimo ficar se mudando toda hora.
‘Eu nem sei mais o que é ter uma vida social decente, então nem sinto falta disso’ ela mentiu. Claro que sentia falta de ter um grupo de amigos com quem pudesse estar sempre que quisesse, como quando era pequena e morava no Brasil. Lá era tão bom, as crianças com quem ela costumava brincar moravam perto da sua casa e era ótimo passar tardes inteiras na rua.
Até os dez anos, null pudera aproveitar a sua infância, mas depois disso perdera o contato com os amigos antigos e crescera se mudando constantemente, perdendo também a noção do que era ter amigos de verdade. O máximo que ela conseguira nos outros países por onde passara era um grupinho restrito que servia apenas pra passar o intervalo das aulas nos colégios. Até então vivera parte da sua adolescência curtindo noites inteiras em casa ou saindo sozinha às vezes, mas nunca aproveitara realmente.
‘Mas agora você vai ver, null. Eu vou te apresentar pras minhas amigas e a gente não vai nos desgrudar mais’ null disse, tentando reanimar a prima que parecera cabisbaixa por um instante.
‘Claro... daí, depois de uns três meses, eu me mudo e então nós não nos veremos mais’ null sorriu com o canto da boca ao ver a prima fazer cara de quem se compadece ‘Obrigada por tentar, null. Mesmo’
‘Eu não vou só tentar, prima. Vou conseguir, ouve o que estou te dizendo’ null piscou pra outra e a abraçou.
O sinal estridente do colégio tocou, anunciando o começo das aulas e fazendo as primas se soltarem do abraço.
‘Em que sala você está?’ null perguntou empolgada. Também estava no terceiro ano e torcia pra que a prima tivesse caído na mesma sala que ela.
‘3° alguma coisa... 3°A, eu acho’ null respondeu e a prima a pegou pela mão, sorrindo.
‘É a minha! Vem, eu te mostro onde fica’ disse e as duas saíram apressadas pelo pátio.
‘Dá pra ir mais devagar?’ null perguntou rindo, ao ver que null quase corria de tão empolgada que estava ‘Você vai acabar baten...’
Ela nem terminou de falar. O que ela previra acabou acontecendo: null, apressada do jeito que estava, acabou esbarrando em um garoto e o fez derrubar os cadernos e livros que segurava pro amigo que estava abaixado, amarrando os tênis.
‘Foi mal’ null se virou pro garoto e levantou uma mão, em sinal de quem pede desculpas.
‘Sem problemas’ null disse dando um meio sorriso e null levantou na hora em que ouviu o amigo dizer algo.
null sorriu e voltou a olhar pra frente, puxando a prima mais uma vez, sem dar tempo pra que ela olhasse direito pros garotos. Também não deu tempo pra que null apreciasse a beleza da garota que foi puxada pela outra, a garota que chamava a atenção de todos, a garota do seu prédio.
‘Você viu isso?’ null perguntou pra null, que estava com o olhar perdido no lugar onde as garotas tinham sumido.
‘Vi’ ele disse simplesmente.
‘Como eu não reconheci que a garota que estava falando com a sua deusa era a null?’ null questionou mais a si mesmo do que ao amigo, vendo que o outro não prestava muita atenção no que acontecia ao seu redor ‘null null... minha deusa conhece a sua’ ele disse e sorriu bobamente.
null gostava de null desde a primeira vez que a vira, ainda quando os dois não tinham mais que onze anos de idade. Fora no segundo dia de aula da quinta série que ele vira aquela garotinha extrovertida, capaz de conquistar qualquer um com apenas um simples sorriso. Ela nunca dera realmente importância pra ele; null desconfiava até que ela não sabia nem mesmo seu nome, isso porque já haviam estudado durante três anos na mesma sala, mas mesmo assim ele nutria seu sentimento e alguma esperança também. Então, no primeiro ano do colegial, null viu null beijando um garoto perto dos portões do colégio. Os amigos precisaram segura-lo pra que ele não avançasse no garoto. Semanas depois, null descobriu que null estava namorando o tal rapaz, e chegou até mesmo a descobrir o nome do seu concorrente: era Michael Ross, um garoto de 20 anos que cursava Medicina numa faculdade pequena da cidade. Mas, apesar desse namoro de null, null nunca deixou de gostar dela e nem desistiu, sempre achando que um dia ou outro teria sua chance de conquistá-la.
‘Hey caras, o que estão esperando?’ null chegou perto dos amigos e os fez acordar de seus pensamentos.
‘O sinal tocou faz uma era. Melhor irmos pra classe se não quisermos perder a primeira aula’ null disse.
null pegou os cadernos e livros que ainda estavam no chão, os entregou pra null e os quatro garotos seguiram pra sala do 3°D. Quando entrou na sala, null correu o olhar pelo lugar, procurando sua “deusa”, como null dizia. Mas, com tristeza, null constatou que a garota nova não estava lá. Então ele apenas foi se sentar com os amigos, naturalmente nas carteiras do fundo, tendo a certeza de que não prestaria muita atenção na aula que estava prestes a começar.

‘Achei que suas amigas estariam aqui’ null murmurou pra null, que estava sentada ao seu lado no fundo da sala. A professora já tinha começado a aula e as duas tinham que falar baixo se quisessem conversar.
‘Ah não, elas acabaram ficando na outra sala esse ano. Estão no 3°D’ a prima respondeu no mesmo tom de voz ‘Sabe aquele garoto em quem eu esbarrei agora pouco?’
‘Yep. Que tem ele?’
‘Está no 3°D também, ele e uns amigos dele’
‘Ele me pareceu bem legal, e é bonitinho também’ null comentou. null lhe lançou um olhar rápido antes de voltar a olhar pra professora na frente da sala.
‘Você achou mesmo?’ perguntou.
‘Achei. A propósito, qual o nome dele?’
‘Não faço nem idéia, mas acho é Billy, Bob... sei lá’ null deu de ombros.
‘Vai me dizer que você nunca conversou com ele?’ null arqueou uma sobrancelha, olhando de esguelha pra prima.
‘Não. Estudo com ele desde a quinta série, mas acho que nunca falei com ele nada além do essencial’ null disse pensativa.
‘E o que seria o essencial?’
‘Foi mal’ ela respondeu simplesmente e null teve que abafar uma risada.

Cap. 3


‘Foi a coisa mais idiota que eu já ouvi alguém dizer’ null ria durante o intervalo.
‘Você veio do Brasil?’ null perguntou imitando o garoto que lhe fizera a mesma pergunta minutos atrás, dentro da sala de aula.
‘Vim, por quê?’ null imitava a prima.
‘Tenho um tio que mora lá. Ele fala espanhol muito bem’ null disse o mesmo que o garoto e as duas desataram a rir.
‘Podemos saber o motivo de tanta alegria?’ uma garota se aproximou das duas, acompanhada de uma outra. null abriu um sorriso e segurou null pelos ombros.
‘Isso fica pra depois, babes. Agora eu quero que conheçam minha prima, null null’ disse e null sorriu timidamente.
‘Ela está bem diferente das fotos que você mostrou pra gente, null’ uma delas disse ‘Ah, eu sou null null’ e cumprimentou null com um beijinho na bochecha.
‘Sou null null’ a outra repetiu o gesto de null ‘E fique tranqüila, você está ainda mais bonita agora’ riu.
‘Obrigada’ null agradeceu meio encabulada.
‘Está na Inglaterra desde quando?’ null perguntou.
‘Desde sábado só, terminei de arrumar as coisas ontem’
‘Nossa, mas quando você fez a matrícula no colégio?’
‘Na verdade quem fez minha matrícula foi a secretária da empresa onde meus pais trabalham. Me mudei pra cá porque eles tinham assuntos pra resolver na filial que tem por aqui e, como não tiveram tempo de cuidar da minha matrícula, quem acabou arranjando tudo foi a secretária’ null explicou.
‘E está gostando do colégio?’ null perguntou.
‘Bom, até agora sim’ null deu uma olhada em volta, reparando nos alunos que andavam pelo pátio durante o intervalo ‘Não conheço quase ninguém, mas o pessoal me parece bem legal’
‘Nem todos são o que parecem ser, null’ null disse sabida ‘E você não conhece quase ninguém só por agora, porque quando começar a andar com a gente vai fazer muitas amizades’
‘Digamos que nós somos bem queridas nesse colégio’ null sorriu.
‘As pessoas gostam da gente, só isso’ null comentou humildemente, tentando dar um ar mais simples ao que as amigas diziam.
null deu apenas um meio sorriso, sentindo que seria um pouco complicado conviver com as amigas da prima. Ela não gostava muito daquele negócio todo de popularidade e, pra falar a verdade, não era muito chegada nos programas que as “populares” costumavam fazer. Passear no shopping e passar o dia todo no salão de beleza não estavam entre seus programas favoritos. Ela podia até agüentar aquilo de vez em quando, mas seria capaz de trocar tudo por uma tarde inteira jogando vídeo-game. As suas roupas, ela notou, poderiam dizer mais que ela própria: enquanto a prima e as amigas estavam de saia e salto, ela usava calça e tênis. Isso era um sinal de que ela destoava do grupinho de garotas ali.
‘Gente, estava pensando e o que vocês acham de dar uma passadinha no shopping hoje à tarde?’ null perguntou animada. null fez uma careta discreta, mas null percebeu e franziu a testa olhando pra ela.
‘Algum problema, null?’ questionou.
‘Ah não, é que...’ null não sabia como explicar direito.
‘Se eu ainda conheço bem a prima que tenho, posso dizer que null não é muito chegada nisso’ null veio em socorro da prima ‘E, sinceramente, acho que vai ser interessante se a gente aprender algumas coisinhas com ela. Não seria nada mal se trocássemos nossos banhos de loja por umas idas até a pista de skate’ disse naturalmente.
null sentiu que poderia abraçar a prima em agradecimento, mas apenas sorriu pra ela e ficou observando as expressões das outras duas garotas. Elas pareciam estranhamente surpresas com a atitude de null, então null sorriu de repente.
‘A pista vive cheia de gatinhos, seria ótimo dar um pulinho lá às vezes’ disse se adaptando rapidamente a situação.
‘Erm, pode ser’ null disse meio relutante ainda ‘Às vezes, mas... e a passadinha no shopping hoje?’ perguntou olhando quase suplicante pra null, que riu.
‘Esse pode não ser um dos meus passeios prediletos, mas eu também sou garota e compras não fazem mal a ninguém. Acho que posso aturar isso uma vez ou outra’ disse e null sorriu no mesmo instante.
‘Você é muito eclética, null. Gostei disso’ comentou e as outras riram.
As quatro sentaram numa das mesinhas mais próximas e estavam conversando sobre as aulas que tinham tido até então quando null avistou um rosto conhecido no pátio. Ela tocou no ombro da prima imediatamente.
‘Olha ali, null. Aquele não é o garoto em quem você esbarrou hoje mais cedo?’ perguntou apontando discretamente pra uma mesinha mais longe, ocupada por quatro garotos que riam.
‘Ele mesmo’ null confirmou ‘Hey meninas’ ela chamou pelas outras ‘vocês sabem o nome do mané ali?’ perguntou. null e null olharam pra trás, procurando pela mesinha pra qual null apontara antes.
‘Bom, tem muitos manés ali, mas eu não sei o nome de nenhum’ null riu.
‘Mas vocês estudam na mesma sala que eles’ null disse, um tanto inconformada.
‘Aquele é null null’ null falou de repente ‘Viram o que deu um tapa na cabeça do outro? O nome dele é null null’
‘Como é que você sabe?’ null perguntou surpresa. null achou aquilo meio estranho, mas não disse nada. Oras, null era da mesma sala que o tal null, parecia ser óbvio o modo como ela descobrira o nome do garoto.
‘Ele respondeu uma pergunta que a professora de Álgebra fez hoje. Quando ele ergueu a mão, a professora o chamou pelo nome’ null respondeu e voltou a olhar pras amigas.
‘Bom, mas não é dele que queremos saber o nome’ null disse ‘É do outro, do que recebeu o tapa’
‘Nem idéia’ null deu de ombros e se virou pras amigas também. null apenas fez uma cara de indiferente.
‘Por acaso vocês tem alguma coisa contra eles?’ null não agüentou e soltou a pergunta. null riu.
‘Não, não é isso’ respondeu ‘É que eles são uns dos poucos que nunca vieram falar com a gente e nós, bom, nós nunca fizemos questão da amizade deles’
‘Por estarmos na mesma sala que eles esse ano, isso pode até mudar’ null comentou ‘Mas sei lá, já estamos na metade de Abril e nada mudou’
‘A real é que eles não são muito populares, não tanto quanto nós’ null explicou melhor ‘A única popularidade deles veio porque os quatro formam uma banda e já tocaram em alguns eventos do colégio, mas nada muito grande realmente’
‘Vocês são confusas demais, cara’ null disse ‘Mas, me digam, tem mesmo uma pista de skate nessa cidade?’ e todas riram.

‘Então a null finalmente falou contigo?’ null perguntou.
‘É cara!’ null confirmou contente.
‘Nossa, que progresso’ null disse sarcástico e deu mais um tapa na cabeça do amigo ‘Ela só te pediu desculpas por ter trombado contigo no pátio, não foi nada de mais’
‘Acho que agora ela sabe que eu existo’ null disse, ignorando o tapa e o comentário de null. null riu.
‘Olha cara, eu até te entendo’ disse e olhou pro outro lado do pátio ‘Eu sei que vi ela poucas vezes e que nem falei com ela ainda, mas aquela garota não sai da minha cabeça’
‘Percebe-se’ null olhou na mesma direção que o amigo ‘Elas são realmente bonitas, não são?’ perguntou se referindo as garotas sentadas na mesinha.
‘Demais’ ele disse perdido em mais um dos sorrisos da sua “deusa”.
‘E vocês são realmente idiotas, não são?’ null riu alto ‘Caras, babem menos e tomem alguma atitude’
‘Ah claro, já que é tão fácil assim vai lá você’ null apontou a mesinha com a cabeça. null não disse nada e nem se moveu. null baixou a cabeça, desviando o olhar.
‘Ela se juntou com as populares, nunca vai olhar pra mim’ ele disse e suspirou desesperançoso.
‘Paciência, meu rapaz’ null deu uns tapinhas nas costas do amigo ‘Não esqueça que você tem uma carta na manga’
‘Há, me diga qual’
‘Você mora no mesmo prédio que ela, isso pode ajudar pelo menos um pouco’ null disse.
‘Bom, é alguma coisa’ null concordou com a cabeça ‘E você nem é tão loser assim’
‘É, se pensarmos bem até que não somos os piores daqui’ null disse, olhando em volta ‘Vejam aqueles, são bem piores do que nós’ apontou com a cabeça e os outros olharam.
Perto da cantina havia um grupinho de nerds. Todos com livros da mão, provavelmente discutindo alguma fórmula de Física enquanto esperavam o lanche, normalmente natural, ficar pronto. null riu.
‘Realmente, nós não somos os piores daqui’ disse.
‘Mas também não somos os melhores’ null apontou pra outro lado do pátio, onde o time de futebol americano estava encostado numa parede, conversando com umas garotas mais novas e se exibindo pra elas.
‘Eles gastam a popularidade deles com garotas do primeiro ano?’ null franziu a testa ‘Que ridículo. Se eu fosse um deles, não perderia tempo com as mais novas’
Assim que ele disse isso, um garoto moreno do time desencostou da parede e foi até a mesa onde as garotas estavam sentadas. null sorriu assim que o garoto chegou perto e apontou pra “deusa” de null. Pelo jeito ela estava sendo apresentada ao rapaz.
‘Eles perdem tempo com as mais novas porque já têm as mais velhas na mão’ null comentou com uma leve amargura na voz. Os outros apenas concordaram e ficaram observando o resto da cena em silêncio. null tinha levantado do seu lugar e ido até a cantina, então o moreno aproveitara pra sentar por um momento e continuar jogando seu charme na novata. null estava fuzilando o rapaz com os olhos, sem perceber.
‘O colégio marcou algum evento próximo?’ null perguntou de repente. Os outros olharam pra ele.
‘Por quê?’ null franziu a testa.
‘A gente podia fazer um showzinho pro pessoal. Isso sempre dá um gás novo na nossa popularidade’ ele disse simplesmente. null riu.
‘Sem dúvidas. E acho que não seria nada mal se impressionássemos um pouquinho certas pessoas desse colégio’ disse.
‘É, é uma boa’ null concordou e se levantou ‘Vamos trocar uma idéia com o diretor, quem sabe ele não arranja alguma coisa de última hora pra gente’ disse e os quatro saíram do pátio, andando e conversando até a diretoria.

Na hora da saída, null estava com os amigos perto dos portões do colégio. Naturalmente ele voltaria pra casa de carro, então podia demorar o quanto quisesse pra ir embora. Estava distraído discutindo sobre o que o diretor tinha dito em relação ao show.
‘Não sei, ele sempre elogiou a gente das outras vezes. Acho que ele vai arrumar um jeito’ null disse.
‘O Sr. Irving estava tão ocupado com aquela porcaria de telefonema que eu duvido muito que ele tenha sequer notado quando eu entrei na diretoria pra falar com ele’ null repetiu o que já tinha dito minutos atrás.
‘Mas ele sempre arranja uns motivos sem noção pra dar alguma festa no colégio’ null encolheu os ombros.
‘O que não se faz pra arrecadar uns fundos a mais, não é?’ null levantou as sobrancelhas e os outros riram ‘E ele disse que te daria uma resposta quando, null?’
‘No final des...’ null não concluiu a frase, começando a viajar em outros pensamentos quando viu quem estava saindo do colégio.
A “deusa” saiu acompanhada das mais novas amigas, conversando animadamente. Ele ouviu null dizer alguma coisa, mas não entendeu, apenas deduziu que fosse algo engraçado porque as outras riram. Os cabelos da novata balançaram quando ela riu. Um sorriso imbecil cresceu no rosto de null.
‘Cara, você ainda está nesse planeta?’ null sacudiu null pelos ombros. O garoto virou a cabeça lentamente pro amigo.
‘Me chamou?’ perguntou confuso.
‘Eu não acredito que você estava sonhando acordado de novo’ null balançou a cabeça, incrédulo.
‘E qual o problema nisso?’ null perguntou. Como null estava antes, ele olhava pras garotas, mais precisamente pra null, que agora falava no celular.
‘Isso é demais pra mim. Definitivamente demais’ null passou a mão pelo rosto ‘Estou caindo fora’ acenou e saiu de perto. null nem disse nada, deu tapinhas nos ombros dos amigos e saiu na direção oposta de null.
‘Um dia eles vão sentir a mesma coisa, dude’ null encostou o cotovelo no ombro de null.
‘Talvez...’ o outro disse, ainda meio perdido em pensamentos ‘Vamos, melhor irmos pra casa’ ele pegou a chave do carro no bolso da calça. Como era costume, daria carona pra null, já que moravam no mesmo condomínio.
Antes de entrar no carro, null teve uma idéia repentina. Tirou o celular do bolso e, fingindo que estava mexendo em alguma coisa nele, tirou discretamente uma foto da sua “deusa”. Ele entrou no carro, travando a porta, e olhou o resultado do seu impulso fotográfico. Claro que aquela não era uma das melhores imagens que ele poderia conseguir, mas bastava. A garota estava com a cabeça meio de lado, com umas mechas do cabelo sobre o rosto, e estava sorrindo. null achou que seria capaz de fazer qualquer coisa pra que aquele sorriso, um dia, fosse pra ele.

Cap. 4


‘Realmente, linda’ null devolveu o celular pra null depois de ver a foto que ele tirara da novata.
Os dois estavam sentados na escada de tijolos. Normalmente era onde eles ficavam depois de chegar do colégio: null estacionava o carro em sua vaga, eles jogavam as mochilas no pé da escada e ficavam sentados nos degraus; costumavam passar um bom tempo ali, trocando idéias.
‘Agora eu vou passar pro computador e mandar revelar em papel fotográfico depois’ null deu mais uma olhada na foto antes de guardar o celular no bolso.
‘O que está pensando em fazer, meu amigo?’ null perguntou rindo ‘Pretende montar um mural de fotos da garota?’
‘Quem sabe’ null encolheu os ombros. null balançou a cabeça.
‘Melhor eu calar a boca, assim evito te dar mais alguma idéia maluca’ riu.
‘Você tem idéia do quanto isso é sério, cara?’ null perguntou olhando pro amigo ‘Aquela garota nem olhou pra mim, não falou comigo, mas é como se ela me tivesse na mão. Eu faria qualquer coisa que ela me pedisse algum dia’
‘O pior é que tenho’ null colocou a mão no ombro do amigo, em sinal de compreensão ‘Enquanto elas nem sabem que nós existimos, nós sonhamos em ouvi-las dizendo que nos querem’
‘Isso porque não fazem nem dois dias que eu a vi pela primeira vez! Se continuar assim, acho que vou pirar’ null passou a mão pela testa.
‘Posso reservar uma vaga pra você no hospício, então?’ null perguntou olhando pra frente. null deu uma olhada no amigo antes de olhar pra mesma direção que ele.
Lá vinha ela. Como no domingo, ela tinha acabado de descer a escada de ardósia e estava caminhando pelo meio do corredor. A mochila jogada nas costas, a pasta segura entre o peito e o braço, o cabelo balançando, o olhar de lado. Não tinha como reparar nos dois garotos sentados na escada e muito menos ver que um deles estava sorrindo. Mas o que importava ela reparar ou não? Nem por isso null parou de sorrir, nem mesmo quando ela sumiu atrás da porta do bloco um.
‘Acho que ela vem a pé e entra pelo portão de cima’ null comentou apontando pros prédios em um nível acima dos outros.
Havia duas entradas pro condomínio. Uma pela rua de baixo, que era por onde null entrava com o carro, já que morava em um dos prédios dali; e uma pela rua de cima, que era usada pelos moradores que moravam nos prédios elevados. Provavelmente, a garota adentrava o condomínio pela entrada de cima, por ser mais prático pra quem vinha a pé do colégio.
‘É... deve ser’ null concordou levianamente.
‘Vai ser isso todo dia?’ null perguntou pro amigo.
‘Isso o quê?’
‘Nós dois plantados aqui, então ela aparece na curva da escada e vem caminhando no corredor enquanto você baba sem nem ser notado’ null disse como se narrasse uma cena muito empolgante, fazendo gestos com as mãos ‘Vai ser isso todo dia?’ repetiu a pergunta, colocando as mãos no colo de novo.
‘Não sei, mas se for eu não ligo’ null encolheu os ombros, finalmente desviando o olhar da porta do bloco um ‘Acho que nunca vou enjoar de olhar pra ela’
‘Eu tinha uma prima que era meio pirada sabe? Vou ver com a minha tia se ela ainda tem o telefone do hospício’ null brincou rindo.
‘Aproveite e se interne lá também, porque, convenhamos, não é normal gostar da mesma garota durante anos e anos mesmo sabendo que ela nem liga pra você’ null arqueou uma sobrancelha.
‘E é normal gostar de uma garota que você viu duas ou três vezes na vida?’ null cruzou os braços. Os dois ficaram quietos por um minuto.
‘Somos pirados, é isso’ null concluiu e eles riram da própria situação.

null mal terminou de comer o miojo que preparou pra si mesma e ouviu o celular tocando na sala. O aparelho funcionava em qualquer parte do mundo, bem apropriado pra vida instável da garota.
To no portão do seu condomínio, na entrada de cima. Se já estiver pronta, sobe pra gente poder ir ao shopping. As garotas estão comigo no carro. Beijos
‘Há, que ótimo’ null ironizou pra si mesma depois de ler a mensagem enviada pela prima e saiu correndo pelo apartamento.
Tinha sido pega desprevenida. Tudo bem que combinara de ir ao shopping naquela tarde com as novas amigas e com a prima, mas pensou que fosse beeem mais tarde, e não meia hora depois de ter chegado em casa. Só tivera tempo de comer o macarrão! Ela escovou os dentes e trocou de roupa o mais rápido que pode. Trancou rapidamente o apartamento, vendo de relance o número 20 prateado brilhar na porta quando ela deu meia volta e se virou pra pegar um dos elevadores, mas pra poupar tempo, decidiu não esperar pelo elevador e acabou descendo os cinco andares de escada mesmo. Deixou a porta da recepção bater atrás de si e começou a andar rapidamente pelo corredor entre os prédios. Mal sabia ela que estava sendo, mais uma vez, observada por dois garotos que ainda estavam sentados na escada de tijolos.
Antes de virar na curva da escada de ardósia, ela deu uma olhada rápida pro fim do corredor e quase não subiu o primeiro degrau. Teve a sensação de que conhecia os rostos distantes que viu de relance, mas não se ateve muito a isso. Subiu as escadas correndo e a rampa da outra parte do condomínio também.
Perto do portão por onde saíam os carros, estava estacionado um veículo amarelo gema, engraçadamente chamativo. null fechou o portão do condomínio e foi até o carro, tendo certeza de que era de quem ela pensava.
‘Demorou hein’ null comentou ao volante, dando partida assim que a prima entrou no carro e fechou a porta.
‘Achei que vocês viriam mais tarde’ null disse, vendo null e null acenarem pra ela pelo retrovisor ‘Muito discreto o seu carro, null’
‘Diz se não combina com ela’ null brincou.
‘Assim fica mais difícil alguém bater no meu carrinho lindo’ null encolheu os ombros enquanto dirigia e as outras riram.
‘Hey gente, vocês sabem se algum daqueles garotos que estavam naquela mesinha no pátio hoje, durante o intervalo, mora no meu prédio?’ null perguntou, lembrando dos rostos que vira antes de encontrar com as outras garotas.
‘Está falando dos manés?’ null indagou. null apenas ergueu a mão e fez positivo.
‘Bom, nós nunca saberíamos algo do tipo’ null colocou a cabeça entre os bancos da frente ‘Não sabemos muita coisa sobre eles, realmente. Você mesma viu, estudamos no mesmo colégio que eles e já ficamos durante alguns anos na mesma sala, mas nem o nome das criaturas nós sabemos’
‘Mas por que o interesse, hein prima?’ null perguntou, virando numa curva.
‘Não é interesse’ null negou ‘É que, quando estava subindo pra encontrar com vocês, vi uns garotos sentados numa escada do prédio e achei que já tinha visto eles no colégio. Um deles me lembrou um pouco aquele com quem você trombou de manhã’
‘Ah, mas você viu de longe. Não deve ser ele’
‘Mudando de assunto’ null interrompeu ‘Você ligou pro Michael e disse que não ia poder passar a tarde com ele hoje, null?’
‘Liguei’ ela respondeu indiferente ‘Ele não disse nada, só falou pra gente marcar de sair no fim de semana porque ele quer conhecer minha prima’
‘Podíamos ir naquele barzinho que tem no centro, o Gas. Sábado é um bom dia, o que acham?’ null sugeriu e null apenas assentiu com a cabeça, prestando mais atenção no trânsito ‘Prepare-se, null’ continuou, olhando pra outra ‘Você vai conhecer o homem da null’
‘Ou, como preferimos chamar agora, o homo da null’ null disse, esticando o braço entre os bancos pra poder ligar o rádio do carro. Todas riram, até mesmo null.

Cap. 5


Até o final da semana, os dias passaram normalmente. null já estava completamente adaptada a sua rotina morando na pequena cidade inglesa; agora tinha mais amizades no colégio e chegava até mesmo a cumprimentar alguns vizinhos do prédio. Enquanto isso, null curtia cada breve momento em que via a garota por quem se encantara; durante aquela semana ele conseguira tirar mais fotos dela, sempre muito discreto, e aproveitara cada minuto que passava sentado na escada pra poder observar o ir e vir da garota pelo prédio. Normalmente só a via quando ela estava voltando do colégio, apenas umas duas vezes a vira saindo do prédio em horários diferentes. null estava se tornando o amigo mais fiel de null, por ser o único que melhor entendia os sentimentos do amigo.
‘Eu sei que é difícil, cara. Eu sei que é’ null dizia, dando tapinhas no ombro de null, que estava encostado na mureta do pátio antes do sinal tocar na manhã de sexta-feira.
‘Eu preciso arrumar um jeito, null’ null suspirou entristecido, olhando pra cantina, onde a novata, que nem era mais tão novata assim, estava com as amigas ‘Preciso arrumar um jeito de falar com ela’
‘Faça como a null’ null sugeriu ‘Trombe com a garota no meio do pátio e depois peça desculpas, pelo menos um “Foi mal” você vai dizer’
‘Eu não quero dizer só um “Foi mal”... eu quero conversar com ela. Quero saber tudo sobre ela, ou pelo menos seu nome’ ele disse num tom quase desesperado.
‘Bom, pergunte pra uma das amigas dela’ null estava jogando uma bolinha de papel pro alto e segurou a bolinha pra falar ‘Obviamente elas sabem o nome da garota. Ou então pergunte pra um dos outros populares desse colégio’
‘Se você tiver contato com algum deles, nos apresente, por favor’ null olhou pra null, que apenas encolheu os ombros antes de voltar a brincar com a bolinha. Os quatro ficaram calados por uns segundos.
‘Alguém me arranja o telefone dela?’ null perguntou de repente.
‘Cara, você mesmo acabou de dizer, você não sabe nem o nome da garota!’ null exclamou ‘Do que ia adiantar ter o telefone dela?’
‘Eu não sei... mas eu seria capaz de ligar pra ela a qualquer hora’ null argumentou.
‘Você tem algo muito melhor do que um simples telefone’ null comentou enquanto amassava a bolinha, tentando deixá-la mais redonda ‘Você sabe onde ela mora e isso, até hoje, não ajudou em nada. Não é a porcaria de um número de telefone que vai ajudar’
‘Eu... eu só não sei mais o que fazer’ ele baixou a cabeça e passou a mão na nuca.
‘Você nunca fez nada, esse é o problema’ null disse simplesmente e arregalou os olhos ao ver que null o encarava de uma forma desaprovadora ‘Que foi?’
null precisa de alguém que o ajude, e não que o deixe mais pra baixo ainda’ null franziu a testa.
‘Eu só disse a real, fala sério’ null jogou a bolinha no lixo mais próximo.
‘Erm, por que a gente não para de falar nisso?’ null perguntou, tentando aliviar um pouco o clima ‘Não vai adiantar nada a gente passar a manhã toda nos lamentando’
‘Vamos pra sala’ null levantou a cabeça e olhou mais uma vez pra cantina, mas não encontrou quem procurava ‘Eu não quero mais ficar aqui’
‘Melhor irmos mesmo’ null concordou e, assim que disse isso, o sinal tocou.
‘Ótimo, nossas horas de martírio vão começar’ null disse sarcástico.
‘Mais algumas não vão fazer diferença pra mim’ null deu de ombros e os outros acharam melhor não dizer mais nada. Apenas foram pra classe.

No meio da segunda aula, a inspetora do colégio apareceu na porta do 3°A e interrompeu a explicação da professora de História.
‘Preciso de null null na sala do diretor, agora’ a mulher chamou.
Sob um olhar curioso dos outros alunos e depois de ver a professora acenar com a cabeça, permitindo sua saída da sala, null levantou e foi até a porta.
‘Srta. null, tenho algumas coisas pra fazer agora. Será que a senhorita poderia chamar o Sr. null null no 3°D pra mim?’ a inspetora pediu aos cochichos pra null assim que a garota se aproximou ‘O diretor quer vê-lo também’
‘Ahn, sem problemas’ null concordou, fechando a porta da sala às suas costas. A inspetora apenas deu um sorriso mecânico e saiu andando pelo corredor entre as salas, indo pro pátio.
Enquanto ia até a sala do 3°D, null ficou pensando no que poderia ter feito de errado pra ser chamada na sala do diretor. Ela não tinha quebrado nenhuma norma do colégio, não tinha batido em ninguém e nem desrespeitado algum dos funcionários. A garota deu duas batidinhas na porta com uma plaquinha indicando “3°D”. Ela ouviu alguém resmungar um ‘Entre’ e abriu a porta, deixando um espaço suficiente apenas pra colocar a cabeça dentro da sala.

null estava com a cabeça baixa, nem prestava muita atenção na aula. Pra ele, era mais interessante passar o tempo vendo as fotos que tinha tirado da garota dos seus sonhos. Às vezes ele abafava uma risada ao ver uma foto em que a garota tinha saído com uma cara engraçada, outras vezes ele apenas sorria ao apreciar o sorriso dela. De repente, ele sentiu alguém cutucar-lhe a nuca e percebeu que a professora não estava mais falando. Então ele levantou a cabeça e viu o que achou que não podia ser real. O que ela estava fazendo ali?
‘Com licença, professora’ null pediu e a professora apenas assentiu com a cabeça, então ela continuou. null achou a voz dela incrivelmente doce ‘Me pediram pra chamar null null. O diretor quer vê-lo’
As cabeças de todos os alunos se voltaram pra onde null estava sentado, até mesmo a professora o encarou. O garoto tinha uma expressão abobalhada na cara e nem piscava. O que ninguém sabia é que ele estava tentando assimilar o que tinha acabado de ouvir e, quando conseguiu fazer isso, finalmente abriu a boca pra falar.
‘E-eu?’ perguntou apontando pra si mesmo. Ele nem sabia de onde tirara coragem pra falar alguma coisa, apenas sentia seu coração bater tão forte que achou que poderia explodir. null, que estava sentado atrás dele, cobriu o rosto com as mãos e balançou a cabeça, decepcionado com a reação patética do amigo.
‘Bom, se você chama null null, acho que é você sim’ null disse simplesmente, contendo o riso ao perceber que o menino parecia embaraçado.
‘Erm... erm...’ null não conseguia falar mais nada. Como assim ela estava conversando com ele? Aquilo era algum tipo de pegadinha?
‘O senhor quer fazer o favor de sair da minha sala e seguir a senhorita aqui?’ a professora perguntou séria, apontando pra porta.
null achou melhor não tentar responder mais nada. Apenas levantou da carteira e saiu da sala como e professora tinha pedido. Quando fechou a porta, ele viu que a garota já estava alguns passos à sua frente, então deu uma corridinha pra poder acompanhá-la. Mas, mesmo andando ao lado dela e tendo uma boa chance pra poder puxar algum papo, null não conseguia pensar em nada pra dizer. Os dois ficaram calados até chegar na frente da porta da diretoria. A garota bateu na porta e a abriu antes mesmo de obter resposta.
‘A senhorita primeiro’ o diretor disse lá de dentro e olhou pra null ‘Nos falamos depois, Sr. null’
null viu a garota entrar na diretoria e a porta se fechar na sua cara. Ele se virou e sentou em uma das cadeiras estofadas que ficavam fora da diretoria. Ficou alguns instantes pensando no que tinha acabado de acontecer: ele finalmente tivera uma oportunidade pra conversar com a garota dos seus sonhos e deixara essa chance lhe escapar por entre os dedos. null achou que seria capaz de se bater e realmente foi; o garoto não se conteve e deu um tapa forte na testa. Então, repentinamente, ele teve uma idéia. null levantou e encostou o ouvido na porta da diretoria. Pelo jeito a conversa não tinha começado há muito tempo e era o diretor quem falava.

‘Bem senhorita, a secretária do seu pai me ligou ontem, perguntando se a senhorita estava...’
‘Pode me chamar de você’ null não se conteve e corrigiu o homem, já de idade um tanto avançada, que estava sentado a sua frente.
‘Prefiro tratar meus alunos de um modo mais formal, se é que me entende’ o diretor disse calmamente ‘E eu não me importaria se você se dirigisse a mim como “senhor”’
‘Desculpe, senhor’
‘Sem grandes problemas’ ele balançou a cabeça ‘Mas então, continuando, a secretária do seu pai me ligou ontem pra perguntar se a senhorita estava recebendo o tratamento merecido no nosso colégio’ disse.
null entendeu tudo na hora e até se sentiu burra por não ter entendido antes. Era sempre assim quando se mudava pra um país diferente: a secretária do pai ligava no novo colégio perguntando se null estava sendo tratada como merecia, então os diretores chamavam a garota e lhe perguntavam se estava satisfeita com o colégio, se queria trocar de sala, se alguém a andava importunando, se poderiam fazer alguma coisa a mais por ela... Só faltavam lhe oferecer um auxiliar que pudesse fazer os deveres e trabalhos por ela! null não gostava disso, sempre acabava se irritando porque não se achava melhor do que ninguém. Não era porque seus pais eram diretores de uma empresa multinacional e pessoas consideravelmente influentes na sociedade que ela devia ser tratada como superior. E null sabia muito bem que os diretores só lhe ofereciam alguns “privilégios” por interesse próprio, afinal agradar a filha de alguém importante hoje pode trazer benefícios profissionais ou pessoais amanhã. Isso irritava null profundamente e a garota não se lembrava de uma vez que aquelas conversas com os diretores não tivessem terminado com ela batendo a porta da diretoria, furiosa. Até porque ela poderia fazer o que quisesse, os diretores não ousariam castigar a filha de empresários importantes.
‘Hoje eu lhe chamei aqui’ o diretor continuou depois de uma pausa longa ‘pra perguntar como a senhorita se sente no nosso colégio. Como foi essa primeira semana de aula?’
‘Tranqüila’ null respondeu prontamente ‘senhor’ completou depressa.
‘Que bom’ ele sorriu satisfeito ‘Estão todos lhe tratando bem?’
‘Muito bem, senhor’
‘Ótimo, ótimo’ ele balançou a cabeça afirmativamente ‘Será que não há nada que possamos fazer pela senhorita? Porque, é claro, que eu não gostaria de causar aborrecimentos aos seus pais nem dar-lhes motivo pra se preocupar em como a senhorita está sendo tratada e...’
‘Desculpe senhor, mas eu não faço questão de nada’ null o interrompeu, já irritada com aquela babação de ovo que parecia não ter fim ‘Gostaria apenas de ser tratada como qualquer outra das alunas porque, de fato, sou uma garota normal como elas’
‘Não estou dizendo que não é’ o diretor apressou-se em corrigir a impressão que deixara ‘Claro que a senhorita é uma garota normal, mas...’
‘Olha, eu não quero ser tratada como superior porque não sou melhor do que ninguém aqui. Independente do cargo que meus pais ocupam na empresa onde trabalham, acho que devo ser igualada aos outros alunos. Não é minha posição social que vai me diferenciar dos outros que estudam aqui’ ela disse tudo rapidamente, sem dar tempo pra interrupções.
‘Senhorita, eu...’ o diretor parecia pasmo diante do comportamento da garota. null se levantou.
‘Quer saber do que mais? Ligue pros diretores dos outros colégios onde eu estudei e pergunte o que eles ganharam e o que mudou na vida deles a partir do dia em que tentaram me tratar como uma aluna “especial”, se é que podemos colocar assim’ ela disse ousada e fez aspas ‘Se não quer realmente aborrecer meus pais, esqueça que eu sou filha deles’ completou.
O diretor se levantou também quando viu null se dirigir até a porta, mas antes que pudesse dizer alguma coisa, recebeu um olhar gélido da garota acompanhado de...
‘Tenha um bom dia, senhor’ ela fez questão de enfatizar.

null sorria mais e mais a cada palavra que ouvia sair da boca da garota, do outro lado da porta. Então ela realmente era diferente das outras; o tom que usava pra falar tinha um “quê” de rebeldia e, pelas próprias palavras dela, a garota parecia muito humilde, não querendo se aproveitar da influência dos pais pra ter algum tipo de vantagem sobre os outros. null gostou ainda mais dela só por isso. Nunca teve real atração por meninas que se achavam melhores que os outros; achava isso ridículo.
De repente, o garoto se sobressaltou. Passos estavam se aproximando da porta e ele correu pra sentar na cadeira onde estivera antes. Ele olhou espantado pra garota assim que ela apareceu ao seu lado depois de bater a porta.
‘Desculpe se ele descontar em você a raiva que deve estar sentindo agora... E, de qualquer jeito, boa sorte’ ela disse e sorriu com simplicidade pra ele, saindo de perto e fazendo o caminho de volta pras salas.
null demorou um pouco pra levantar e entrar na diretoria. Quando se sentou na frente do diretor, ele ainda pensava no sorriso dela e lamentava interiormente o fato de que o diretor não mencionara o nome dela nenhuma vez, pelo menos nenhuma vez na parte da conversa que ele tinha ouvido.
‘Então Sr. null’ o diretor disse e null olhou pra ele. Teve vontade de rir ao ver que o homem realmente não parecia muito bem humorado. O diretor chegou mais perto da escrivaninha ‘Vamos falar sobre o possível show da sua banda...’ e o garoto se empertigou na cadeira, interessando-se instantaneamente.

Cap. 6


null se olhou no espelho de corpo inteiro que ficava perto do guarda-roupa no seu quarto e estranhou o próprio reflexo. Era sábado e ela ia sair com as amigas e com a prima. Iam encontrar com o namorado de null, o tal Michael, num barzinho no centro da cidade chamado Gas. Como já era noite, null tinha terminado de se arrumar depois do banho.
Ela deu uma voltinha em torno de si mesma e riu do movimento que o vestido fez. Há muito tempo ela não vestia uma roupa desse tipo e estava achando graça no visual bem produzido. null usava um vestido preto, que chegava até um pouco mais abaixo dos seus joelhos, e sandálias de salto pretas. A maquiagem estava um pouco mais carregada do que o normal e a bolsa preta levava um gloss e um lápis de olho reserva, coisa que null nunca tinha por perto se precisasse e também com que nunca se preocupara. A garota ainda estava se admirando no espelho, curiosa e engraçadamente, quando ouviu o celular tocar dentro da bolsa. Era mensagem de null, dizendo que já estava esperando a prima na entrada da frente do condomínio. null guardou o celular de novo e saiu de casa.
Assim que abriu a porta, seus olhos encontraram um envelope branco no capacho da porta. Ela abaixou pra pegar a correspondência, que por sinal era a conta de luz, e franziu a testa ao ler o nome da pessoa a quem a conta estava endereçada: null null.
‘Ah não, não pode ser’ null comentou consigo mesma e deu uma olhada no endereço marcado no envelope.
Era aquela mesma a rua, aquele mesmo o bloco, mas o apartamento era diferente. No envelope estava marcado 18 e null olhou pra frente. Do outro lado do pequeno corredor do quinto andar ela viu as portas do apartamento 17 e 18. A garota riu baixo com a absurda coincidência e foi até a porta com o número 18 prateado. Ela deixou a correspondência no capacho e deu meia volta. Antes de entrar no primeiro elevador que abriu suas portas, null deu mais uma olhada na porta do apartamento e balançou a cabeça, ainda achando graça naquilo.

null estava cochilando no sofá e acordou quando ouviu uma risada e uns “toc toc's” ressonarem em algum lugar próximo. Parecia barulho de salto alto batendo em piso frio. Ele coçou a cabeça e já ia pro banheiro quando o telefone na sala tocou e ele resolveu atender.
‘Alow’
‘Hey dude, tudo beleza?’ null reconheceu a voz de null do outro lado da linha.
‘Tranqüilo, e aí?’
‘Também. Seguinte, o null acabou de me ligar porque está entediado e sugeriu que a gente desse uma passada naquele barzinho onde vai ser o show, pra conhecer o ambiente e tal... o que acha?’
No dia anterior, o diretor chamara null pra dizer que conhecia o dono de um barzinho no centro da cidade e que o cara tinha aceitado ceder o lugar pra que os garotos pudessem se apresentar. Eles não seriam pagos por isso, mas era quase um show profissional. A oportunidade de tocar pra gente que fosse mais do que um bando de alunos do colegial parecia realmente boa e os garotos aceitaram na hora. E eles já tinham até ouvido falar do lugar, mas não o conheciam.
‘Opa, por mim tá fechado’ null concordou. Seria bom dar uma passada no barzinho antes do dia do show, pra que a banda pudesse analisar o ambiente e também dar uma olhada no pessoal que costumava freqüentar lá. Mesmo porque null não estava a fim de ficar sem fazer nada em casa.
‘Beleza. Vou ligar pro null, daí ele passa na casa do null e os dois vão pra lá. Tu me leva, cara?’ null perguntou, acostumado com as caronas do amigo.
‘Na boa. Vou tomar um banho e te espero na garagem’ null disse ‘Em meia hora estou lá embaixo’
‘Ok, a gente se vê daqui a meia hora então. Té mais!’
null se despediu rapidamente e jogou o telefone em cima do sofá, correndo pra dentro do banheiro. Se não se apressasse acabaria chegando à garagem uma hora após do combinado. Depois do banho, quando terminou de calçar os tênis, null saiu de casa. Assim que abriu a porta, além de sentir um delicioso e doce perfume invadi-lo quase por completo, ele viu a conta de luz que deveria ter sido entregue mais cedo no capacho em frente à porta. Ele pegou o envelope e o jogou em cima do sofá antes de trancar a porta e ir apertar o botão pra chamar o elevador, pensando que o porteiro devia ter se atrasado na entrega das correspondências.

‘Fico feliz em finalmente conhecê-lo’ null disse sorrindo pro moreno alto parado na sua frente ‘null falou muito de você’ olhou pra prima, que segurava firmemente no braço dele.
‘Espero que bem’ o rapaz que tinha se apresentado como Michael sorriu. null sentiu uma estranha pena dele; o coitado mal podia imaginar que sua namorada vivia desconfiada que ele fosse homossexual.
‘Você acha que eu saio por aí difamando meu próprio namorado?’ null perguntou num tom um pouco ofendido e muito convincente, olhando pra Michael, que balançou a cabeça negativamente e deu um beijo no queixo dela.
‘Bem, acho melhor nos sentarmos, não?’ null, que estivera apenas observando a cena ao lado de null, sugeriu.
‘Se encontrarmos uma mesa’ null ergueu os ombros olhando em volta.
Realmente, o Gas estava meio cheio. A maior parte da mesa estava ocupada por grupos de adolescentes e as cadeiras que estavam vazias no momento só tinham sido abandonadas daquele jeito porque seus ocupantes estavam lotando a pista de dança, que era agitada por músicas eletrônicas seqüenciais.
null estava percorrendo os olhos pelo lugar, o observando mais atentamente quando jurou ter visto rostos conhecidos num relance antes de ser puxada pra uma mesa. Ela olhou pra mão que estava em volta do seu braço e depois pra cima.
‘Eu ainda sei andar por conta própria’ disse e null a soltou.
‘Desculpe, achei que você não tinha ouvido quando null a chamou pra que fossemos sentar’
null não respondeu nada, mesmo porque realmente não tinha ouvido a prima chamar pelo seu nome. Estivera mais ocupada analisando o ambiente e tentando reconhecer os rostos que vira perto da entrada do bar. Ela apenas copiou o gesto de null e sentou numa cadeira da mesa vaga mais próxima, onde os outros já tinham se acomodado.
‘O pessoal do colégio costuma vir aqui?’ null perguntou de repente, logo depois que Michael se levantou dizendo que precisava ir ao banheiro.
‘Bom, sempre tem alguém conhecido por aqui’ null disse ‘Por que a pergunta?’
‘Ah, não... nada... achei ter visto alguém, mas devo ter me enganado’
‘Francis costuma vir aqui às vezes’ null comentou como se não quisesse nada, mas o efeito foi quebrado quando null lançou um olhar rápido pra prima. null riu. Francis era o moreno que tinha jogado seu charme nela no primeiro dia em que ela fora pro colégio, ou pelo menos tentado jogar seu charme.
‘Francis não faz muito meu tipo’ ela disse calmamente ‘Duncan me pareceu mais interessante’ concluiu no mesmo tom tranqüilo. Riu porque, dessa vez, as meninas não lhe lançaram apenas olhares, mas a encararam curiosíssimas.
‘Mas você nem falou com ele’ null argumentou meio surpresa.
Era verdade. Enquanto Francis fora conversar todos os dias daquela semana com as garotas, às vezes acompanhado de um ruivinho chamado Stuart, o garoto que fora apontado como sendo Duncan ficara encostado numa das paredes do pátio com os outros garotos do time de futebol americano. Normalmente ele ficava observando enquanto Francis conversava descontraído com as garotas; os olhares de null já haviam se encontrado algumas vezes com os dele e ela tivera que reprimir o riso ao ver que o rapaz sempre parecia sem graça quando isso acontecia.
‘Nem por isso ele deixa de ser bonito, deixa?’ null viu as outras negarem com a cabeça na mesma hora. Duncan tinha cabelos loiros, olhos incrivelmente verdes, uma boca tentadora e um porte físico de dar inveja a qualquer outro garoto e, somando cada fator, ninguém podia simplesmente dizer que ele era feio.
‘Já vi que você tem bom gosto, sugar’ null deu uma piscadinha pra null, que recebeu um beliscão no braço que estava apoiado na mesa ao lado de null.
‘Coisa de família, acredito eu’ null disse toda convencida e as outras riram. null se levantou da cadeira.
‘Vou procurar o bar e pegar algo pra beber’ avisou.
‘Quer que eu vá junto?’ null ofereceu ‘Aqui está bem cheio e você não conhece o lugar direito’
‘Tranqüilo, eu me viro sozinha. Volto logo’ ela disse e saiu andando pro meio da pista, evitando esbarrar em muitas pessoas e tentando enxergar alguma coisa entre as pessoas que estavam ali. Na verdade, ela estava mais interessada em rever aqueles rostos que pensara já ter visto antes do que em encontrar o bar propriamente.

‘Acho que nós já ficamos parados o suficiente’ null disse num tom entediado ‘Vamos procurar uma mesa’
‘Hey, acho que demos sorte!’ null exclamou apontando pra uma mesa que acabava de ser desocupada e não estava muito longe deles. Os quatro garotos apressaram o passo até lá, pra evitar que alguém chegasse antes, e se sentaram. null deu uma olhada em volta.
‘Público bom, ãh?’ disse quando percebeu que a pista de dança estava cheia.
‘Vê o palco ali?’ null perguntou, apontando pra uma direção acima das cabeças das pessoas na pista. Os outros olharam.
Mais pro fundo estava um palco de tamanho considerável. Esta noite estava ocupado pelas pick-ups de um DJ que as controlava, mas no próximo sábado, se tudo desse realmente certo, estaria ocupado pelos instrumentos e pelos componentes do McFly.
‘Acho que vai ser legal’ null comentou.
‘O dono daqui vai confirmar quando?’ null perguntou olhando pra null.
‘No começo da semana que vem, foi o que o diretor me disse’ o outro respondeu.
‘Vamos tocar alguma coisa nova?’ null cruzou os braços em cima da mesa.
‘Seria bom porque alguém do colégio provavelmente vai estar aqui’ null considerou.
‘Podíamos tocar uma que já tocamos no colégio e uma nova’ null sugeriu.
‘Eu acho que seria legal um cover também’ null opinou ‘Uma música conhecida é bom pro pessoal entrar no clima’
‘É, acho que é uma boa mesmo’ null concordou com a cabeça ‘A gente começa com um cover, passa pra música nova e finaliza com uma antiga. O que acham?’
‘Por mim tá tudo certo, mas... alguém tem uma música nova?’ null perguntou arqueando as sobrancelhas. Os outros negaram ‘Foi o que eu pensei’ e riu.
null e null encolheram os ombros e começaram a discutir sobre um possível cover que seria bom de fazer. null chamou null pra que eles fossem pegar umas bebidas e os dois saíram de perto da mesa. null estava olhando distraidamente pros lados enquanto andava, observando as pessoas do local, quando viu uma imagem de alguém que parecia se destacar entre todo o resto do pessoal. Mais uma vez ela não reparava nele, mas o importante é que ele reparava nela e seria impossível deixar de reparar.
A garota estava lá, com o vestido preto bem soltinho, a franja presa no alto da cabeça deixava o rosto dela mais livre. null achou que todo o ambiente estava ficando preto como o vestido dela e, por um instante, sentiu seu coração bater muito rápido, rápido até demais. O que ele mais queria era sair dali e ir abraçar a garota, mas não tinha condições de fazer isso graças às pernas que pareciam não querer sustentá-lo mais. Pra poder se manter em pé, ele segurou no ombro de null com força. null, que estava parado ao lado do amigo, esperando uma fila de pessoas sair da sua frente, olhou meio espantado pra null.
‘Que foi cara?’ perguntou. Ao ver que o amigo estava com o olhar perdido, ele procurou ver o mesmo que null estava vendo.
A garota continuava parada no mesmo lugar, então alguém passou na frente dela e ela sumiu. Mas houve tempo suficiente pra null vê-la e entender o porquê de null parecer tão admirado.
‘Linda, pra variar’ null concluiu voltando a olhar pro amigo.
‘Era... era ela mesma?’ null quase gaguejou, ainda olhando pro mesmo ponto ‘Ela estava aqui?’
‘Acredito que ela ainda está aqui, meu amigo’ null disse ‘Deve estar por aí com as amig...’ ele não terminou de falar. Se a garota que null tanto admirava estava lá, então null também devia estar. Muito provavelmente acompanhada pelo namorado, null acrescentou essa pequena nota ao seu pensamento.
‘Eu quero encontrá-la, null’ null cortou o raciocínio do amigo ‘Eu preciso falar com ela, mostrar a ela que eu existo!’ ele exclamou com uma voz um tanto angustiada.
‘Olha cara, antes de você sair por aí procurando ela que nem um doido, vamos dar uma passada no bar. Você não me parece muito bem, melhor tomar alguma coisa e se acalmar’ null sugeriu e null, mesmo parcialmente contrariado, concordou com a cabeça. Então os dois continuaram andando pelo caminho que estavam fazendo, null praticamente conduzindo null que continuava segurando no ombro do amigo.
Quando chegaram no balcão do bar, null pediu dois Martinis e ficou aguardando enquanto o barman, que atendia mais meia dúzia de pessoas, fosse buscar as bebidas. null sentou em um dos poucos banquinhos desocupados perto do balcão e respirou fundo, tentando organizar os pensamentos na sua cabeça. Ele sentiu um perfume doce no ar e pôde jurar pra si mesmo que já tinha sentido aquele cheiro antes, mas ele não se concentrou muito nisso. Estava mais empolgado com a visão da garota no meio das pessoas. Ele queria encontrá-la, queria falar com ela... Precisava falar com ela. Mas talvez fosse mais fácil tentar conversar com ela no colégio do que ali, naquele barzinho lotado. E a única coisa que ele precisava pra tomar essa atitude era inventar uma boa desculpa pra chegar nela ou tomar vergonha na cara e criar coragem pra correr atrás do que queria. E como queria!

‘Já ia sair pra te procurar’ null estava sentando novamente quando null voltou à mesa com um copo de batida na mão.
‘Nossa, demorei tanto assim?’ null arqueou as sobrancelhas e sentou, dando um gole na sua bebida.
‘Achei que você soubesse o quanto a sua prima é desesperada’ Michael, que já tinha voltado à mesa, disse num tom brincalhão. null lhe lançou um olhar descontente e ele fez bico ‘Estou brincando, amor’ disse e beijou a namorada na bochecha.
null tossiu, afastando o copo rapidamente da boca. Ela não pudera deixar de pensar que a expressão de Michael quando ele fez aquele bico fora realmente muito gay e precisou prender o riso, com isso acabou engasgando com a bebida. null olhou preocupada pra ela.
‘Tudo bem, null?’ perguntou.
‘Tudo, só que... argh, desceu pelo lado... errado’ ela respondeu com a voz falha e lágrimas nos olhos por causa das tossidas.
‘Ah, isso sempre acontece comigo’ Michael comentou simplesmente ‘É um saco’
‘Hum... É’ null concordou e resolveu mudar de assunto antes que risse na cara do rapaz ao lembrar mais uma vez do motivo do engasgo ‘Bem... e cadê as outras?’ perguntou ao notar que as cadeiras de null e null estavam desocupadas.
‘Foram dançar’ null disse ‘Você deveria ir também, null. Dançar é sempre bom e, quem sabe, você não encontra alguém interessante por aí?’
null teve uma repentina sensação que a prima estava interessada em se livrar dela pra poder ficar mais à vontade com o namorado, mas não teve tanta certeza disso quando viu null lançar um olhar duvidoso a Michael quando este encarou demoradamente um rapaz magro que passou pela mesa deles. null deu uma olhada pra pista e pensou em ir dançar, mas o que viu a seguir não a animou muito: null e null estavam no meio da pista, acompanhadas de dois garotos que conversavam com elas ao pé do ouvido. null não estava a fim de ficar de vela nem na mesa com sua prima e o namorado nem na pista com null e null mais seus novos amigos. Ela também não estava muito a fim de dançar sozinha e muito menos de sair procurando alguém pra conversar. Então teve uma “idéia”.
‘Não estou com muita vontade de dançar agora. Aliás, estou me sentindo meio mal’ disse no tom mais convincente possível, fazendo uma pequena careta de enjôo.
‘Alguma coisa com a bebida?’ null olhou pro copo de batida.
‘Ah não, acho que não. Na verdade eu já não estava me sentindo muito bem em casa, eu não devia ter vindo. Melhor eu ir embora...’ ela continuou encenando. Se sentia um pouco insatisfeita por ter que ir embora tão cedo, mas entre ficar abandonada em um lugar onde todos estavam se divertindo e ficar sozinha em sua casa, ela preferia mil vezes sua casa.
‘Se não se sente bem, isso é o melhor a fazer’ Michael disse ‘Quer que eu te leve?’
‘Não precisa se incomodar, Michael’ null se levantou e pegou a bolsa, deixando a sua bebida na mesa ‘Eu sei onde tem um ponto de táxi por aqui. As férias com a null me ensinaram muitas coisas’
‘Quer que eu te acompanhe, prima? Se você está passando mal não é muito bom ficar sozinha’ null fez menção de se levantar, mas null levantou a mão e ela se acomodou novamente.
‘Não quero estragar a noite de ninguém. Bom, mandem beijos à null e null por mim. Foi ótimo conhecê-lo, Michael’ ela sorriu pro rapaz, que retribuiu o sorriso, e então olhou pra prima ‘Nos vemos no colégio, null’ mandou um beijinho no ar pra prima e deu meia volta, tomando rumo pra saída do Gas. null viu a prima sumir entre as pessoas e olhou pra Michael. O rapaz apenas encolheu os ombros e beijou a namorada.

null olhou no relógio: era quase meia-noite, mas nem por isso ele deixou de seguir null pelo barzinho que começava a se esvaziar pouco a pouco. null não se importava com as horas, imaginava apenas que devia fazer cerca de meia hora que estava percorrendo todo e qualquer espaço do barzinho onde pudesse pisar, sempre com os olhos atentos, esperando ver uma linda garota de vestido preto aparecer na sua frente a qualquer momento.
‘Cara, já faz quarenta minutos’ null disse enquanto continuavam andando. Ele tinha insistido em acompanhar null na busca, afinal tinha seus próprios interesses nisso ‘Nós já andamos pelo lugar inteiro. Olhe, eu juro que já vi aqueles dois ali’ ele apontou pra uma mesa onde um casal estava se beijando; era a terceira vez que ele via aquela cena e aquelas pessoas.
‘A gente já vai voltar pra mesa, espera só um segundo’ nos últimos quinze minutos, era isso que null sempre repetia quando o amigo reclamava de alguma coisa.
null ia retrucar quando viu um vulto passar por ele apressadamente e sentiu uma dor no ombro. O vulto tinha batido nele ombro com ombro, foi o que concluiu quando ouviu uma reclamação aguda.
‘AI!’ a voz feminina exclamou.
null olhou pra pessoa que tinha quase o derrubado e ele achou que, mesmo sem ter batido em nada de novo, poderia cair no chão no momento em que encarou aquele rosto tão conhecido seu.
‘Foi mal’ null passava a mão no próprio ombro e pareceu não reconhecer o garoto com quem trombara dias atrás no colégio. Ela se virou e já ia retomar seu caminho quando null teve um impulso. Era hora de ser homem.
‘O que você tem contra mim pra ficar me batendo toda hora, hein null?’ ele perguntou de repente, tentando parecer o mais tranqüilo possível. Ao ouvir seu sobrenome, null virou pra ele de novo e o encarou por um tempo. Depois de alguns minutos, que pareceram vários anos pra null, a garota riu.
‘Não te reconheci... mas, enfim, não é nada contra você’ ela disse como se já o conhecesse e não como se nunca tivesse trocado nenhuma palavra com o garoto cujo nome ela nem sabia ‘Desculpe, estou um pouco apressada. Até mais’ ela acenou e saiu dali rapidamente, indo na direção do bar.
null levou um tempo até assimilar as informações. Ele mal podia acreditar que null tinha falado com ele. null null, céus! Não interessava se ela ainda não sabia o nome dele, mas pelo menos eles tinham trocado mais que duas palavras e isso era um progresso considerável. Quando null finalmente entendeu o que tinha acontecido, ele sorriu sozinho e saiu andando pra procurar null, que nesse meio tempo tinha se afastado dali. Mas null o encontrou primeiro.
‘Ela não está mais aqui’ null disse quando null olhou pra ele ‘Eu achei a mesa onde as amigas dela estão, mas ela não está lá. Quem fazia companhia pras garotas era o tal Michael, mas nem me pergunte sobre a null porque não vi nem sinal dela. As duas devem ter ido embora juntas’
null ainda está aqui’ null disse e null franziu a testa ‘Eu acabei de esbarrar nela e... e eu falei com ela!’ ele sorriu encantado. null balançou a cabeça.
‘Eu queria ter a sua sorte, meu amigo’
‘Bom, não foi nada realmente pra eu me gabar, mas pelo menos não foi só um “Foi mal” dessa vez’ null levantou as sobrancelhas e segurou no ombro do amigo ‘Vamos cara, vamos voltar pra mesa. O null e o null devem estar reclamando da nossa demora, se é que já não foram embora’
‘Eu não vou ficar aqui por muito tempo, null’ null avisou ‘Estou meio cansado, acho melhor voltar pra casa’
‘Ok, eu vou contigo. Vamos só falar com os outros dois então nós vamos embora’
null concordou com a cabeça e saiu andando atrás de null, refazendo o caminho até a mesa onde estavam sentados com os amigos antes.

Cap. 7


‘Meu, não acredito que você vai deixar de sair com a gente por causa disso’ null fez cara feia pra prima quando pararam perto dos portões do colégio. Era horário de saída na segunda-feira.
null, eu já te disse’ null começou, cansada de ter que repetir a mesma justificativa desde que dissera que não poderia sair com as primas e as amigas naquela tarde ‘Meus pais nem param em casa e se eu não fizer as compras ninguém vai fazer. As coisas lá em casa estão acabando e eu vou passar no mercado hoje mesmo. Vou aproveitar que tem um lá perto do meu prédio’
‘Seus pais bem que podiam contratar uma empregada hein’ null comentou.
‘Pra quê?’ null encolheu os ombros ‘Pra ter que demiti-la no mês que vem, quando eles decidirem que vão se mudar de novo? Pra isso?’ ela franziu a testa. As garotas trocaram olhares e foi null quem soltou a pergunta.
‘Você não vai se mudar mês que vem, vai?’
‘Bom, não...’ ela respondeu e viu as outras sorrirem ‘Mas não vou ficar o resto da vida aqui, tenho certeza disso’ o sorriso das outras murchou um pouco.
‘E é por isso mesmo que você tem que aproveitar!’ null exclamou, tentando argumentar ‘Sai com a gente hoje, null. Você pode fazer as compras na quarta ou, sei lá, de noite’
‘Se eu pudesse ficar sem nada pra comer eu até adiaria, mas tem que ser hoje mesmo. Sinto muito, o passeio fica pra outro dia’ ela encolheu os ombros acenando pras garotas e saiu andando pela calçada. null viu a amiga virar na esquina e olhou pras outras.
‘Coitada da null, ter que bancar a dona-de-casa não deve ser legal’ disse.
‘Ela tem que cuidar da casa, porque se não fizer isso ninguém mais faz. E ela também precisa de um tempo pra se acostumar com nosso jeito’ null defendeu a prima.
‘Ela precisa de um tempo e eu preciso de uma manicura agora’ null disse, olhando pras unhas. As outras riram.

null fechou a porta da recepção. Já fazia bastante tempo que voltara do colégio, tempo suficiente pra conversar com null na escada, subir em casa pra almoçar e agora descer pra escada de novo. Quando ele sentou no degrau costumeiro, null já estava lá, lendo um gibi.
‘Você não cansa dessa história?’ null perguntou ao ver que o gibi era do Batman. null vivia lendo aquilo.
‘Não. Sempre aparecem umas mulheres gostosas aqui’ null riu.
‘Eu me interesso mais pelas que são feitas de carne e osso, não pelas de tinta e papel’ null disse e null bateu na cabeça dele com o gibi.
‘Batman entende de mulheres, quem sabe ele não nos dá umas dicas?’
‘Vai nessa’ null balançou a cabeça ‘Mas será que você pode largar essa porcaria agora? Temos coisas importantes pra decidir’
‘Tipo?’ null perguntou, deixando o gibi de lado.
‘Tipo as músicas que vamos tocar no show’
‘Ah sim. Cara, eu não sei direito’ null deu de ombros ‘O que achou da sugestão do null hoje?’
‘Que sugestão?’ null arqueou uma sobrancelha.
‘Ele sugeriu um cover dos Beatles no intervalo hoje. Você não ouviu?’ null franziu a testa. null coçou a cabeça.
‘Erm... não. Eu estava... distraído’ disse. null riu.
‘Claro, olhando pra null, sei como é. Mas, enfim, o que acha de Beatles? O null gostou da idéia e eu acho uma boa também’
‘Certo, Beatles. Que música?’
‘Hum, pensei em Help’
‘Cool’ null fez positivo ‘O problema são as outras...’
‘Acho que Saturday Night é uma boa, a gente já tocou no colégio e o pessoal gostou’
‘Ok, mas e a música nova?’ null perguntou. null balançou a cabeça.
‘Nem idéia’
null copiou o gesto de null e olhou pra frente, pensativo. De repente seus pensamentos foram interrompidos quando a garota apareceu no corredor. Ela estava cheia de sacolas de mercado e parecia fazer certo esforço pra agüentar todas aquelas compras enquanto ainda sustentava o peso da mochila nas costas. null estava observando quando sentiu um tapa na cabeça e olhou pro lado.
‘Vai lá e ajuda ela, cara’ null sugeriu ‘A garota deve estar se matando pra carregar tudo aquilo’
‘O-o quê?’ null perguntou meio abobado ‘Você acha mesmo? Acha que eu devo?’
‘Anda logo!’ null exclamou impaciente e deu um empurrãozinho nas costas do amigo.
null levantou da escada meio destrambelhado e lançou um olhar descontente pra null antes de olhar pra frente. A garota já tinha chego na metade do corredor, mas estava parada, curvada sobre as sacolas que tinha deixado no chão. Pelo jeito ela tentava arrumar as sacolas nas mãos de um jeito que pudesse continuar a levá-las sem fazer muito esforço. null foi até ela.
‘Oi, hum...’ ele começou e por um segundo perdeu as palavras quando a garota olhou pra cima e o encarou ‘Eu estava, bem... querajudacomascompras?’ perguntou emboladamente e sentiu que estava ficando vermelho. null riu.
‘Traduz pra mim?’ ela pediu e foi a vez de null rir. Ele se sentiu um pouco mais tranqüilo pra continuar ali.
‘Desculpe, perguntei se você quer ajuda com as compras’
‘Ah, acho que não vai precisar’ ela ficou de pé e colocou as mãos na cintura, olhando pras sacolas ainda no chão.
null respirou fundo, procurando manter a calma, e sentiu um perfume doce que reconheceu na hora. Era o mesmo cheiro que sentira no corredor do prédio e no bar também. Era delicioso.
‘Eu só preciso chegar até a recepção, depois eu pego o elevador e beleza’ ela concluiu. null demorou um pouco pra pensar, ainda distraído com o perfume dela.
‘Bom, o elevador está em manutenção’ disse. Ele mesmo tinha subido pro apartamento e depois descido de escada já que os elevadores não estavam funcionando. null o encarou e ele sentiu como se estivesse sendo examinado. De repente ela franziu a testa e apontou pra ele. null viu que a mão dela estava vermelha, provavelmente pelo peso das compras.
‘Espera aí, você é null null, não é?’ ela perguntou intrigada.
‘Sou’ ele confirmou ‘Você foi me chamar na sala de aula semana passada, pra conversar com o diretor’
‘Nossa, é verdade! Eu bem que achei que conhecia você de algum lugar’ ela sacudiu o dedo e riu ‘E seu nome... ah claro! Eu deixei uma conta de luz no seu capacho no sábado’
‘Deixou?’ null arqueou uma sobrancelha, lembrando da conta atrasada.
‘Deixei. O porteiro colocou na frente da minha porta, mas estava endereçada ao apartamento 18. Eu moro no 20’
‘Mora???’ ele arregalou os olhos e quase gritou a pergunta, tamanho seu espanto. Claro que ele sabia que eles moravam no mesmo prédio, mas ele nunca imaginara que ela poderia estar tão perto assim.
‘Moro’ ela respondeu simplesmente e olhou pras sacolas ‘Bom, já que os elevadores não estão funcionando acho que vou aceitar sua ajuda’ ela voltou a olhar pra ele ‘Se não for incomodar, claro’ completou.
‘De jeito nenhum’ ele negou com a cabeça e pegou a maior parte das sacolas.
‘Eu agüento mais do que isso, sabe?’ ela disse quando pegou as sacolas que ele tinha deixado: lá só tinham as coisas mais leves. null riu.
‘E eu sei ser cavalheiro, sabe?’ e os dois riram, indo até a porta da recepção.
Antes de entrar no prédio, null olhou pra escada onde estava sentado e viu null rindo e fazendo positivo pra ele. null apenas fez um movimento com a cabeça e passou pela porta que null segurava aberta.
‘Muito pesado aí?’ ela perguntou quando ainda estavam no segundo lance de escadas.
‘Que nada’ null mentiu, sentindo os dedos começarem a formigar e praguejando os elevadores mentalmente ‘Mora aqui faz muito tempo?’ ele perguntou, tentando esquecer dos três lances que ainda faltavam e querendo saber mais sobre a garota. Nem o nome dela ele sabia ainda!
‘Nop, faz menos que duas semanas. E você?’
‘Desde os cinco anos de idade. Sozinho, desde os dezesseis’
‘Ah, você mora sozinho?’ ela o viu afirmar com a cabeça enquanto subia o terceiro lance de escadas na frente dela ‘Bom, eu moro praticamente sozinha. Meus pais não param em casa, quando chegam já é quase madrugada e saem de manhã muito cedo’
‘E você sente falta deles?’
‘Já senti mais, agora eu meio que me acostumei. Até gosto disso, pelo menos não tem ninguém pra me encher o saco em casa’
‘Mas e nos finais de semana?’
‘Nos sábados eles trabalham também e nos domingos saem sozinhos. Eles sabem que eu sei me virar e não se importam se eu também saí ou se estou em casa limpando a cozinha’ null suspirou. null ficou quieto, pensando se aquela era uma situação realmente agradável.
Os dois não falaram mais nada até chegarem na frente da porta do apartamento dela. null abriu a porta e passou com suas sacolas. null ficou no corredor, esperando que ela voltasse pra pegar o que sobrou da compra, afinal não tinha sido chamado pra entrar. Depois de um tempo, ela voltou, sem a mochila do colégio nas costas, pegou o resto das sacolas e sumiu dentro do apartamento novamente. null continuou parado no mesmo lugar. null apareceu mais uma vez e encostou-se ao batente da porta, olhando pro garoto.
‘Bom, acho... acho que eu vou pra casa’ ele disse sem saber mais o que poderia dizer ou fazer.
‘Eu te convidaria pra entrar, mas isso está uma baderna e eu não quero passar vergonha’ ela apontou pra trás, indicando o interior do apartamento. null riu.
‘Sei como é, acho que faz uns seis meses que não organizo meu apartamento’
‘E de seis em seis meses é um bom período entre uma arrumação e outra?’
‘Bom, eu não aconselho. Depois de três meses você vai demorar meia hora pra achar um par de tênis. Tipo, um pé pode estar embaixo da cama e o outro foi parar em cima da geladeira sabe-se lá porque’ ele encolheu os ombros e ela gargalhou. null sorriu ao vê-la rindo; era bonito.
‘Agora já sei onde procurar meus tênis quando eles sumirem’ ela disse e estendeu a mão pra ele ‘Desculpe, não me apresentei ainda. Sou null null’
‘Encantado em conhecê-la’ ele sentiu o braço tremer de leve quando sua mão tocou a dela ‘Um nome bonito pra uma garota mais bonita ainda, bem apropriado’ disse sorrindo ao soltar da mão dela.
‘Obrigada’ null sorriu envergonhada.
‘Não por isso’ null colocou as mãos nos bolsos, reprimindo a vontade de segurar aquela garota e abraçá-la forte. Ela tinha um sorriso lindo, era simpática, engraçada, educada e absurdamente bonita. O que mais ele poderia querer?
‘Ouvi falar que você e seus amigos têm uma banda, é verdade?’ ela perguntou.
‘Você ouviu falar de mim? No colégio?’ ele arregalou os olhos e ela franziu a testa.
‘Ouvi. Por quê?’
‘Alguém fazer um comentário sobre mim que não seja pra me humilhar ou zombar de mim é quase um milagre. A maioria das pessoas me considera um loser’ null passou a mão pelos cabelos, sem graça ao admitir sua falta de popularidade pra uma garota que realmente queria impressionar. Mas uma hora ou outra ela saberia, se é que já não estava sabendo, afinal ela andava com as populares. Ao ver a garota rir, ele franziu a testa ‘Isso não é engraçado’
‘Eu sei que não, mas seus cabelos são’ null rira do jeito que ficaram os cabelos dele quando o garoto passou a mão por eles.
‘Está horrível demais?’ ele passou as mãos pelos cabelos de novo, tentando ajeitá-los.
‘Não, está bom. É só você parar de mexer’ ela disse e ele encolheu os ombros, voltando a colocar as mãos nos bolsos ‘E eu não acho que você seja um loser, pelo menos você não parece com um’
‘Isso é um consolo, obrigado’ ele sorriu simplesmente. null riu.
‘Disponha. Agora, se não se importa null, eu preciso entrar e guardar as compras antes que o iogurte estrague ou a carne descongele’
‘Você está pronta pra morar sozinha. Nem eu penso nisso às vezes’
‘Um dia você aprende’ ela disse e os dois riram ‘Olha, obrigada pela ajuda com as compras. A gente se vê por aí, dude’ null deu um soquinho no ombro dele antes de entrar e fechar a porta.
null encarou a porta trancada e depois olhou pro ombro, no lugar onde ela tinha batido. Ele deu meia volta e parou na frente da escada.
‘Ela disse “dude”?’ null perguntou pra si mesmo, em voz baixa, descendo os primeiros degraus.

‘Isso foi surreal!’ null exclamou assim que sentou ao lado de null, que aguardava pacientemente pela volta do amigo enquanto lia seu gibi.
‘Falou com ela? Como foi? Qual o nome dela? Qual o apartamento dela?’ null largou o gibi de lado e disparou a perguntar.
‘Claro que falei! Tipo, ela é...’ null começou a fazer gestos com as mãos, procurando as palavras certas, mas estava difícil encontrá-las.
‘Ela é...?’ null repetiu, vendo a demora do amigo pra falar.
‘Tudo o que eu esperava!’ ele respondeu sorrindo ‘ Cara, eu queria ter falado mais com ela, sei lá’
‘E o que mais?’
‘Ela mora no apartamento 20! Cara, no 20! Eu moro na frente dela, tem idéia disso?!’
‘E o nome?’ null indagou ‘Você perguntou o nome dela, certo?’
‘É null. null null’ null praticamente cantarolou o nome dela, enunciando-o como se fosse uma palavra mágica ‘E ela lembrou de mim! Lembrou de mim, de quando foi me chamar na sala de aula’
‘Bom, e o que mais? Vocês falaram sobre o quê?’
‘Não tivemos tempo pra conversar muito. Sei que fazem menos de duas semanas que ela se mudou e que ela mora com os pais, mas é como se morasse sozinha porque eles vivem trabalhando e não param em casa nunca’
‘E o que você acha que ela achou de você?’ null riu com as próprias palavras ‘Quero dizer, ela pareceu gostar de você?’
‘Bom, não sei. Ela já ouviu falar que temos uma banda... isso ajuda?’ null levantou as sobrancelhas. null mexeu a cabeça.
‘Acho que sim. Normalmente garotas gostam de músicos’ disse e deu de ombros.
‘Hum, certo... ela também disse que eu não pareço um loser’
‘Idiota, você disse que era um loser?’ null perguntou e balançou a cabeça ao ver null confirmar ‘Ah cara, isso não é bom. Se bem que, tecnicamente, nós não somos os maiores losers daquele colégio e... talvez seja bom ela pensar que você não tem cara de loser. Enfim, ela disse mais alguma coisa?’
‘Bem, ela achou o meu cabelo engraçado’ null disse, coçando a cabeça. null riu.
‘Não sei se isso seria um bom sinal, talvez sim porque garotas gostam de caras engraçados. Mas não sei se elas gostam de caras com cabelos engraçados, então...’
‘Isso não está ajudando, ok?!’ null disse sério e null ficou quieto ‘E, cara, seria o bastante pra mim se ela dissesse simplesmente três palavras. Seria... mágico’ concluiu, sonhador. null deu um tapa na cabeça dele.
‘Você está falando como um imbecil, cala a boca’ e riu ‘Sério, vamos ver como vai ser agora. O que ela disse quando vocês se despediram? Ela te abraçou ou algo do tipo?’
‘Ela mal me conhece, claro que ela não ia me abraçar. Mas bem que eu gostaria que isso acontecesse porque...’ ele começou a se perder em pensamentos de novo até que viu null fazer cara feia, então achou melhor voltar a falar sério ‘Enfim, ela me agradeceu pela ajuda com as compras, me deu um soquinho no ombro e disse “A gente se vê por aí, dude”. Foi isso’
‘Dude? Ela te deu um soquinho no ombro e disse “dude”?’ null riu ‘Cara, essa garota não é de verdade. Ela é cômica’
‘Ela é incrível!’ null exclamou contente, então teve uma idéia repentina ‘null, o que você vai fazer agora?’
‘Bom, acho que voltar pra casa e morgar até de noite’ null pegou o gibi, o enrolou e guardou no bolso da bermuda ‘Por quê?’
‘Estou com umas idéias na cabeça e preciso que você me ajude a organizá-las melhor. Acho que isso pode ajudar na nossa música nova’
‘Que música nova? Nós bem que precisamos, mas não temos uma música nova’ null disse, sem entender direito o que o amigo queria dizer.
‘Nós ainda não temos uma música nova’ null ficou em pé e lançou um olhar significativo pra null ‘Ainda

Cap. 8


(NA.: seria legal deixar carregando I Wanna Hold You)

‘Shiu, olha lá!’
‘Acho que vai começar’
‘Que nada, ainda falta muito’
As pessoas mais próximas de null não paravam de conversar e se empurrar dentro do Gas naquele sábado. E o movimento de jovens parecia bem maior já que, ao invés dos DJ's costumeiros e suas pick-ups, quem ocuparia o palquinho naquela noite seriam os garotos de uma banda adolescente. Os cartazes afixados nos postes das ruas e a faixa na fachada do Gas diziam apenas o nome da banda: McFly, mas isso era mais do que suficiente pra que as pessoas espalhassem o boato de que a banda dos garotos que estudavam em um dos colégios da cidade se apresentaria naquele barzinho. A própria null ficou sabendo que a banda era composta pelo tal null null e os amigos dele.
Quando finalmente conseguiu arranjar uma mesinha perto do palco, null sentou com as amigas e com a prima – Michael não pudera ir junto – e ficou esperando até o show começar. As pessoas continuavam conversando e ela só ouvia partes das conversar porque eram tantas vozes juntas que estava difícil até mesmo distinguir as palavras. Ela olhou no relógio e viu que ainda faltava meia hora pro show, então resolveu ir pegar alguma coisa pra beber. Assim que pediu sua usual batida no balcão do bar, null sentiu alguém segurar seu braço e virou pra trás.
‘Eu sabia que te conhecia de algum lugar’ um garoto forte e de cabelos loiros sorriu pra null ‘Acho que já deve ter me visto também ou ouvido falar de mim. Sou Duncan, amigo do Francis’ disse e estendeu a mão.
‘Claro que ouvi falar de você!’ null sorriu e apertou a mão dele ‘Legal te conhecer. Sou...’
null null, eu sei. Francis sempre fala de você pra mim’ ele colocou as mãos nos bolsos, meio sem jeito diante daquela garota que tanto lhe chamava a atenção no colégio.
‘Espero que fale bem’ ela disse e ele riu.
‘Sem dúvidas’ Duncan deu uma piscadinha pra ela e sorriu.
‘Hey Duncan!’ uma garota loira apareceu ao lado dele e segurou em seu braço ‘Estava te procurando até agora, achei que tinha sido engolido por esse povo todo’
‘Eu sei me cuidar, ok?!’ ele olhou sério pra garota e depois pra null ‘null, essa é Susan, uma amiga minha. Ela estuda lá no colégio também’
null teve a impressão de que Susan fez uma pequena careta quando ouviu a palavra “amiga”, mas devia ser só impressão mesmo. Susan sorriu exagerada e falsamente – dessa vez não foi só impressão – quando apertou a mão de null.
‘Você é a garota nova no colégio, não é?’ Susan perguntou encarando null como se a avaliasse.
‘Yep. Bem, mas não sou tão nova assim... já faz duas semanas que estudo lá, acho que um bocado de gente já me conhece’ null respondeu da forma mais educada possível. Não estava gostando daquele olhar de Susan. Duncan riu.
‘Um bocado de gente? Você anda com garotas bem populares, praticamente o colégio inteiro te conhece ou pelo menos sabe seu nome’ ele disse.
‘Ah, eu não sou tão popular assim, até porque não gosto muito disso’ null deu de ombros ‘Não faz meu tipo’
Susan arqueou uma sobrancelha e Duncan abriu a boca pra falar algo em sua defesa, já que era um dos populares também, mas não teve tempo.
‘Duncan, estou com sede. Vamos pegar alguma coisa pra beber’ Susan disse e fez Duncan virar pro balcão do bar.
null balançou a cabeça e ficou olhando pro palco, segurando sua batida intacta. De repente, algumas pessoas começaram a se agitar e então quatro garotos subiram no palco. O olhar de um deles se cruzou com o de null e ele sorriu. null o cumprimentou do mesmo jeito que sempre fazia quando encontrava com ele no condomínio – sim, porque agora ela sempre reparava que ele e um amigo estavam sentados na escada no final do corredor – ou no colégio: ela ergueu as sobrancelhas e sorriu brevemente. null null se virou pra conversar com os amigos e então null deu um gole na sua batida. Duncan parou ao seu lado, com um copo de vodka na mão.
‘Animada pro show?’ ele perguntou.
‘Ah sim, claro. Me disseram que eles são bons’ ela respondeu.
‘Eles são mesmo. Já tocaram algumas vezes numas festas do colégio e foi legal’ Duncan comentou. Susan apareceu do nada e parou do outro lado de null.
‘O quê? Batida?’ ela perguntou olhando incrédula pra garrafa que null segurava. null olhou pro copo de tequila que Susan estava segurando e depois pra cara dela.
‘Isso mesmo’ disse simplesmente ‘Algum problema?’
‘Você devia beber alguma coisa mais forte. Vamos, troque comigo’ Susan estendeu seu copo.
‘Deixa ela beber o que quiser, Susan’ Duncan repreendeu a garota.
‘Não, tudo bem Duncan’ null disse, pegando a tequila de Susan e entregando pra ela sua batida ‘Acho que um pouco mais de álcool não vai me matar’
‘É assim que se fala’ Susan deu mais um sorriso falso e olhou pro palco ‘Acho que vai começar’
Realmente, o show ia começar. Um dos garotos chegou ao microfone que estava mais na frente e sorriu pro público, que estava de pé aguardando ansiosamente pela hora em que eles iam começar a tocar.
‘Ela está te incomodando?’ Duncan perguntou, se referindo a Susan e falando perto do ouvido de null, pra poder ser ouvido no meio daquela agitação toda.
‘Ah não, claro que não. Está tudo bem’ null se virou pra Duncan e se deparou com aqueles olhos verdes mais próximos do que ela imaginara. Ela corou e sorriu antes de dar um gole na tequila. A bebida desceu rasgando pela garganta de null e ela voltou a olhar pro palco, evitando que Duncan visse que seus olhos estavam lacrimejando. O garoto voltou a falar com ela, mas ela não prestou atenção. Seu estômago estava queimando.

null estava em cima do palco e conseguiu visualizar null pela segunda vez. Ele estreitou os olhos quando viu um garoto falando alguma coisa no ouvido dela. Era um garoto popular do colégio, ele sabia, mas não conseguiu lembrar o nome dele, só conseguia pensar que queria ver aquele cara o mais longe possível de null. A raiva foi tanta que ele enroscou os pés nos fios sobre o palco. Tom olhou feio pra ele antes de falar ao microfone.
‘Boa noite pessoal’ ele cumprimentou e algumas pessoas gritaram ‘Bom, somos o McFly e vamos divertir vocês um pouquinho essa noite. Pra começar...’
Ele mesmo fez a contagem e as primeiras notas de Help animaram o público.
null conseguiu se livrar dos fios e olhou de novo pra null. Viu que ela estava rindo de alguma coisa. Por muito pouco ele não errou um trecho da música.

‘Beatles é ótimo, mas eles podiam ter tocado alguma coisa mais nova ou uma música deles, não acha?’ Duncan perguntou.
‘Não!’ null riu ‘Eu amo Beatles!’ disse e deu um último gole na sua tequila. Susan apareceu com um outro copo no mesmo instante.
‘Vodka pra você, sugar’ Susan disse e tirou o copo vazio da mão de null e lhe entregou o outro ‘Vi que sua bebida estava acabando e resolvi trazer mais uma’
‘Ahn, obrigada... eu acho’ null franziu a testa olhando pro copo quase cheio de vodka.
‘Não é porque você gosta de se embebedar, Susan, que tem que obrigar os outros a se embebedarem também’ Duncan repreendeu a garota pela segunda vez, falando mais alto.
‘Não tem problema Duncan, eu não sou criança’ null tranqüilizou o garoto e voltou a olhar pro palco. Help já tinha terminado e ela nem percebera.

‘Bom’ Danny falava no microfone ‘agora uma música nossa. Essa se chama I Wanna Hold You’ disse e uma música começou a ser tocada.

‘Tell me that you want me baby
(Me diga que você me quer baby)
Tell me that it's true
(Me diga que é verdade)
Say the magic words and I'll change the world for you
(Diga as palavras mágicas e eu destruirei o mundo para você)
Not before the broken hearted
(Um exército de corações partidos)
Marching through the streets
(Marchando pelas ruas)
Every cities burning to the ground under your feet
(E toda a cidade esta queimando debaixo de seus pés)

I wanna hold you
(Eu quero te abraçar)
My skies are turning black
(Meu céu esta ficando preto)
Feels like a heart attack
(Sinto como um ataque cardíaco)
(And I) do anything you ask
(E eu – faria qualquer coisa que você pedir)
I wanna hold you bad
(Eu quero muito te abraçar)

Melt the polar ice caps baby
(Eu derreteria as calotas polares baby)
Watch them flood the earth
(Assistiria elas inundarem a Terra)
I'd do anything to show you what your love is worth
(E eu faria qualquer coisa para mostrar que seu amor tem valor)
Won't you show me your devotion?
(Você não me mostrará sua devoção?)
Heal my aching heart
(Cure meu coração dolorido)
It's like a neutron bomb explosion tearing me apart
(É como uma explosão de bomba atômica acabando comigo)’

null viu null dançando ao lado daquele mesmo garoto. Às vezes ela dava um gole na bebida que estava segurando e sorria ou então trocava algumas palavras com o tal garoto. Aquilo estava incomodando null e ele sentiu um conhecido formigamento nos punhos.

‘I wanna hold you
(Eu quero te abraçar)
My skies are turning black
(Meu céu esta ficando preto)
Feels like a heart attack
(Sinto como um ataque cardíaco)
(And I) do anything you ask
(E eu – faria qualquer coisa que você pedir)
I wanna hold you bad
(Eu quero muito te abraçar)

Attention please,
(Atenção, por favor)
we interrupt this program,
(interrompemos esse programa)
with some disturbing news,
(com alguma noticias perturbantes)
world wide evacuation,
(uma evacuação mundial)
we're going to lose,
(nós vamos perder)
we've pulverised the nation,
(eles vão pulverizar a nação)
I guess it shows that's just the love you do
(Eu acho que isso mostra o que o amor pode fazer)

I wanna hold you
(Eu quero te abraçar)
My skies are turning black
(Meu céu esta ficando preto)
Feels like a heart attack
(Sinto como um ataque cardíaco)
Do anything you ask
(Faria qualquer coisa que você pedir)
I wanna hold you bad, bad, bad
(Eu quero muito, muito, muito te abraçar)
Do anything you ask
(Faria qualquer coisa que você pedir)
I wanna hold you bad
(Eu quero muito te abraçar)’

As pessoas gritaram quando a música terminou. null deu um berro e Duncan assoviou. Ela riu e terminou de beber a vodka. Mal tinha tomado o último gole, Susan apareceu com outro copo e, antes mesmo que a garota falasse alguma coisa, null pegou a bebida e virou metade de uma vez. Susan riu, mas Duncan franziu a testa.
‘Melhor ir com calma’ ele alertou.
‘Já me acostumei, gatinho’ null piscou pra ele e começou a dançar a próxima e última música que o McFly tocava. Duncan balançou a cabeça e começou a dançar junto a ela.
null estava esvaziando seus copos cada vez mais rápido e assim que terminava uma dose, Susan aparecia com outra e lhe entregava. Duncan nem dizia mais nada, às vezes olhava feio pra Susan, mas ela não se importava e ia pra perto do balcão do bar de novo. Em seqüência, as bebidas vinham e a variedade era grande, das mais leves às mais pesadas: tequila, cerveja, uísque, Smirnoff, Martini, vodka, Marguerita... null não sabia mais que música estava sendo tocada e nem o que estava bebendo, só engolia o que lhe traziam e continuava dançando.

‘Acho melhor eu ir procurar a null’ null gritou pra null, que aplaudia de pé assim que o show terminou. Os garotos no palco estavam agradecendo.
‘É, faz tempo que ela sumiu’ null concordou com a cabeça ‘A gente fica aqui te esperando’
‘Volto logo... acho’ null disse e saiu andando por entre as pessoas que agora dançavam uma música qualquer que tinha sido colocada pra tocar.

‘Cara, isso foi muuuito bom!’ null exclamou largando uma garrafa de Smirnoff, vazia, no balcão do bar. Do nada, ela começou a rir.
‘Acho que você bebeu demais’ Duncan olhou pra ela atentamente, então levantou a cabeça e começou a procurar alguém ali por perto ‘Eu vou matar a Susan’
‘Tá de boas, Duncan’ null abanou a mão e olhou pro palco. Viu null descer por último e ir pro meio do público ‘Olha, eu vou ali na pista e já volto ok?!’
‘Não quer que eu vá contigo?’ Duncan perguntou preocupado ‘Você não parece bem’
‘Estou ótima’ ela fez positivo e balançou a cabeça. Sentiu-se meio tonta, mas andou o mais firme que pôde até a pista. Estava olhando ao redor quando sentiu um toque no ombro. Virou-se pra ver quem era.
‘Hey, beleza?’ null perguntou sorridente ‘Te vi lá perto do bar, não sabia que você vinha aqui hoje’
‘Ah, eu vim com minhas amigas... não podia perder o show, não é?!’ ela disse e ele riu.
‘O que achou?’
‘Foi muito bom! Aquela segunda música foi ótima, mesmo!’ null exclamou animada até demais ‘E Beatles, cara. Eu amo Beatles!’
‘Sério?’ ele sorriu ao ver a garota confirmar com a cabeça. De repente, null deu dois passos pra um lado e segurou num braço do garoto. null segurou no cotovelo dela e se preocupou quando a viu apertar os olhos ‘Tá tudo bem? Quer sentar?’
‘Não, tá beleza’ ela abriu os olhos e balançou a cabeça. Sentiu-se tonta de novo e suas mãos estavam começando a esfriar conforme ela sentia a vontade de vomitar chegando.
null! Hey, null!’ alguém quase gritou.
null olhou pra trás e viu a prima meio longe, se aproximando com dificuldade entre as pessoas. Ela piscou algumas vezes e olhou pra null de novo. Era visível a preocupação dele, ela tentou sorrir pra acalmá-lo, mas não conseguiu. Estava nauseada e não conseguia pensar direito, a tontura estava cada vez mais forte e suas pernas não estavam mais tão firmes.
null?’ null chamou. A voz dele parecia vir de longe.
Ela piscou mais vezes e viu o rosto dele entrar e sair de foco. Do nada, null sentiu uma vertigem muito forte e apertou a camisa de null com toda a força que tinha. Começou a ver as coisas girarem e escurecerem ao seu redor, então fechou os olhos numa tentativa de diminuir a tontura. Inesperadamente, ela desabou.

Cap. 9


null! null!’ null gritou se ajoelhando ao lado do corpo desmaiado da garota.
As pessoas que estavam mais próximas pararam de dançar ao ouvirem o grito de null e fizeram praticamente uma roda em volta da garota caída, tudo pra poder ver o que estava acontecendo. null abriu espaço entre um casal que estava meio abraçado e tampou a boca com as mãos quando viu sua prima no chão.
‘Deus do céu!’ Duncan exclamou, aparecendo ao lado de null. Ele correu até null e agachou do outro lado dela.
‘O que aconteceu?’ null ajoelhou perto da prima e colocou a cabeça dela no seu colo.
‘Ela estava falando comigo e, de repente, caiu. Desmaiou!’ null estava desesperado. Segurava nos pulsos da garota, sentindo sua pulsação fraca e olhando seu rosto branco feito papel. Duncan sacudiu o corpo dela pela barriga.
null! Acorda, acorda’ ele repetiu ‘Acorda, por favor’
‘Ela não vai acordar assim, seu imbecil’ null disse nervoso. null deu um tapa no braço de Duncan, que parou de sacudir null. ‘Você estava com ela, não estava?’ null questionou Duncan ‘Lá perto do bar, durante todo o show’ ele estreitou os olhos ‘O que você fez com ela?’ perguntou rilhando os dentes. null olhou pra Duncan, intrigada. O garoto pareceu um pouco confuso, então arregalou os olhos.
‘Susan! Foi a Susan! Ela praticamente embebedou a null, toda hora trazia uma bebida diferente’ ele disse e olhou pra null, que continuava imóvel no chão. As pessoas em volta estavam em silêncio, ouvindo a conversa quase gritada dos outros, até a música parecia mais baixa pra que eles pudessem ser ouvidos ‘Isso não deve ter feito bem pra null, por isso ela desmaiou’
‘Susan?’ null franziu a testa ‘Susan não é sua ex-namorada, Duncan?’
‘Ela mesma’ ele respondeu.
‘E por que você não a impediu?’ null quase gritou, indignada ‘Você poderia ter feito ela parar! Por que não fez isso?’
‘Eu tentei, mas a null não me deixou fazer nada. Ela simplesmente pegava as bebidas e tomava’
‘E o que a Susan queria com você? Achei que vocês tinham terminado!’ null exclamou e então bateu na própria testa ‘Céus, ela deve ter feito isso de propósito. Claro, ela achou que você estava com a null, ficou com ciúmes e resolveu fazer alguma coisa pra se vingar. Aquela... aquela...’ ela procurava o xingamento mais “adequado” que pudesse usar pra expressar sua raiva.
‘Caraca, o que aconteceu?’ null, que até então só olhava pra null e ouvia os outros dois falarem, escutou uma voz conhecida, então ergueu a cabeça. null tinha conseguido abrir espaço entre as pessoas e estava ali perto, com uma expressão de surpresa no rosto.
‘Aquela...’ null ainda tentava encontrar a palavra certa. null olhou pra ela e abriu um pouco a boca, mais surpreso do que estava antes ‘Aquela vadia biscateira filha de uma puta!’
‘Melhor tirarmos ela daqui’ null disse, ignorando completamente o que os outros diziam ou poderiam dizer.
‘Vamos pra minha casa’ null pareceu esquecer de Susan por um momento.
‘Não. Eu moro no mesmo prédio que ela, podemos ir pro meu apartamento’ null sugeriu e olhou pra null, que concordou com a cabeça.
‘A bolsa dela está na mesa e a chave do apartamento dela deve estar dentro, mas os pais dela podem estar em casa e eu não acho uma boa idéia deixá-los preocupados’ ela disse passando as mãos pelos cabelos de null e olhou pra null. Percebeu que ele estava preocupado e queria ajudar ‘Acho que o melhor é ir pro seu apartamento mesmo, se não for incômodo’
‘Claro que não é’ ele disse simplesmente.
‘Eu vou junto’ Duncan se manifestou.
‘Nem pensar’ null fuzilou o rapaz com os olhos.
‘Você fica aqui’ null apoiou null ‘Isso tudo é culpa da bruaca que é sua ex-namorada e, de certa forma, culpa sua também’
‘Certo, eu fico’ Duncan ficou de pé ‘Fico e mato a Susan’ disse e saiu de perto, procurando Susan por entre as pessoas que estavam ali.
‘Vamos no meu carro’ null tirou as chaves de dentro do bolso e estendeu pra null, que continuava parado no mesmo lugar, só observando a cena ‘Você dirige, cara?’
‘Ok’ null concordou simplesmente e pegou as chaves, vendo as mãos do amigo tremerem. Sabia que ele devia estar preocupado com null, afinal gostava absurdos dela.
‘Vamos logo, pelo amor de Deus’ null pediu.
null pegou null no colo e ficou em pé. O corpo dela estava mole e sua cabeça pendeu pra trás. null sentiu os braços continuarem a tremer quando encarou o rosto dela, ainda muito branco; os olhos estavam fechados e a boca meio aberta. Ele engoliu em seco, sentindo a preocupação invadi-lo mais uma vez, e firmou os braços. null se levantou.
‘Vou pegar a bolsa dela e já volto’ disse e saiu.
As pessoas abriram espaço pra que ela corresse até a mesa onde as amigas provavelmente ainda esperavam por ela. null e null saíram por esse mesmo espaço, indo em direção a saída do barzinho.
‘Não devemos avisar os caras que estamos indo embora mais cedo?’ null perguntou pra null, lembrando dos outros garotos.
‘Eu não vou avisar ninguém, null’ null respondeu firme e seriamente, sem hesitar ‘Eu vou levá-la embora daqui’
null não disse mais nada e nem pensou duas vezes. Depois poderia ligar pros outros e explicar o que tinha acontecido, por hora era melhor ficar ao lado de null.

null trancou a porta do apartamento de null enquanto o amigo deitava null no sofá. null achou uma almofada, colocou sob a cabeça da prima e sentou na beirada do sofá. null agachou ao lado da cabeça de null, que estava virada pra ele, e tirou uma mecha de cabelo que estava no rosto dela. Sentiu o coração apertar ao encarar o rosto inexpressivo da menina inconsciente.
‘Eu vou ligar pros caras e avisar que viemos pra cá’ null disse baixo. Pegou o telefone de null e foi pra cozinha.
‘Ela já deveria ter acordado’ null murmurou passando a mão sobre a de null.
‘Já’ null concordou simplesmente, sem desviar o olhar do rosto ainda pálido daquela garota que continuava sendo tão bonita aos seus olhos.
‘Você não acha que... seria possível um...?’
‘Não, espero que não’ null não permitiu que null concluísse a frase quando se deu conta do que ela estava pensando. A idéia de que null pudesse ter entrado em coma alcoólico o aterrorizava e ele não queria nem pensar ou citar essa hipótese assustadora.
Eles ficaram em silêncio durante alguns minutos, ouvindo a respiração lenta de null e a observando atentamente, esperando que a qualquer minuto ela despertasse. null voltou pra sala, colocou o telefone na base e parou ao lado de null, com os braços cruzados.
‘Faz mais de meia hora que ela está assim’ ele comentou do nada. null mexeu com a cabeça. null suspirou.
‘Essa minha prima... sempre me dando sustos’ ela disse num tom entristecido. null e null trocaram olhares surpresos.
‘Prima?’ null perguntou ‘Você é prima dela?’
‘Sou’ null afirmou calmamente.
‘Beleza é coisa de família’ null murmurou pra si mesmo. null olhou pra ele.
‘Disse alguma coisa?’
‘Ah não, nada’ ele negou com a cabeça. A garota deu de ombros e voltou a olhar pra prima.
null tinha apenas trocado aquele olhar com null e logo voltara a encarar null. Ele sentia o desespero voltando e implorava mentalmente pra que a garota deitada no sofá acordasse logo. null mordeu a boca e passou os dedos levemente pelo rosto dela. Por uma fração milagrosa de segundo, ele teve a impressão de ver a boca de null mexer, mas não foi real. null continuava imóvel e não dera o mínimo sinal de consciência.
‘Eu não agüento mais!’ null exclamou e ficou em pé ‘Nós temos que fazer alguma coisa’ ela olhou pra prima e pensou um pouco, então lhe ocorreu uma idéia repentina ‘Você tem acetona aqui?’ perguntou pra null, mas foi null quem falou.
‘Acetona? Aquele negócio pra tirar esmalte?’ ele franziu a testa. null olhou pra ele ‘Bom, acho que meu amigo não passa esmalte’
‘Ah não, claro que não’ null balançou a cabeça, se sentindo burra ‘Só preciso de alguma coisa que tenha um cheiro forte, tipo vinagre ou... ou álcool’
null não disse nada. Levantou de onde estava e correu até a cozinha. Começou a fuçar nos armários procurando uma das duas coisas que null tinha pedido. Quando voltou correndo pra sala, estava segurando o vinagre que tinha encontrado antes de procurar o álcool nos armários da lavanderia. null tirou o vinagre das mãos dele e o destampou. Então sentou na beirada do sofá de novo e colocou a abertura da garrafa embaixo do nariz da prima. null, que respirava tranqüila, inspirou o cheiro forte do líquido e, de repente, apertou os olhos e mexeu a cabeça. null sentiu o coração mais leve quando viu a garota se virar pro encosto do sofá e tampar o rosto, se escondendo da luz da sala.
null?’ null chamou, tampando o vinagre e o colocando no chão ao lado do sofá ‘null?’ repetiu mais alto.
‘Cala a boca, null’ null resmungou ‘Minha cabeça está doendo’
‘Ninguém mandou beber demais. E eu bem que disse pra você comer alguma coisa antes de sair de casa’ null disse, mas não estava brava. Parecia aliviada e tinha até um ar risonho na voz.
null virou de barriga pra cima e tirou as mãos do rosto. Sentiu a luz incomodar um pouco, mas não fechou os olhos. Ela olhou pra prima e depois pro lado, franzindo testa ao ver um garoto que não lhe era estranho, mas não que sabia o nome, e null null, parados olhando pra ela. null sorriu.
‘Como está?’ ele perguntou.
‘Onde estou, essa é a questão’ null disse se sentindo confusa.
‘Você está no meu apartamento’ ele disse ‘Lembra do que aconteceu no Gas, depois do show?’
‘Eu fui falar com você...’ ela começou, fazendo esforço pra pensar e sentindo pontadas na cabeça por isso ‘Então a null me chamou e eu me segurei em você porque estava tonta... daí ficou tudo escuro’
‘Da próxima vez eu não vou mais deixar você ir buscar bebidas em bar nenhum’ null disse ‘E muito menos cair nas armadilhas daquela Susan’
‘Essa Susan... ela ficava empurrando as bebidas pra cima de mim e me fazendo tomar tudo aquilo’ null coçou a cabeça e sentou no sofá ‘Acho que eu experimentei tudo que tinha naquele bar’
‘Você bebeu Martini?’ null se manifestou pela primeira vez desde que ela acordara ‘Cara, eu bebi da outra vez e achei meio...’ ele parou de falar quando null e null olharam feio pra ele. null riu, mas não muito alto porque fazia a cabeça doer mais ainda.
‘Quem é você?’ ela perguntou apontando pra ele.
null null. Eu diria que é uma satisfação conhecê-la, mas nessas condições...’ ele encolheu os ombros. null sorriu e olhou pra prima.
‘Tudo a ver com Billy, não acha null?’ ela riu de novo quando viu a prima corar e lhe lançar um olhar do tipo “cala a boca”. null e null se entreolharam sem entender nada. null olhou pra null.
‘Certo, null null e...?’ ela arqueou as sobrancelhas.
null null’ o próprio respondeu simplesmente.
‘Meus salvadores’ null brincou ‘Eu só queria entender porque desmaiei’
‘Você misturou muita bebida diferente’ null explicou ‘Isso nunca dá muito certo. E, bom, acho que você não está acostumada a beber tanto assim’
‘Desde os quinze anos eu não tomo um porre’ null riu ‘Provavelmente porque não gostei de ficar de ressaca depois’ ela deu de ombros, indiferente.
‘Você só precisa comer alguma coisa e dormir bastante’ null levantou ‘Vamos, melhor você ir pra casa’
‘Se quiser eu faço alguma coisa pra comer’ null se prontificou, querendo que a garota ficasse mais tempo ali até ele ter total certeza de que ela estava bem mesmo.
‘Ah, não precisa. Eu tenho mesmo que ir pra casa e acho que se comer vou acabar vomitando. Sabe, não quero sujar a sua casa’ null respondeu humildemente e ficou em pé. Sentiu-se tonta, mas conseguiu se manter firme. null encolheu os ombros.
‘Tipo, eu limpei ontem, mas não faz mal’ disse e todos acabaram rindo.
‘Valeu null, mas eu preciso dormir’ null passou a mão na testa, onde as pontadas de dor eram mais agudas ‘Obrigada pela ajuda meninos, estou devendo essa a vocês’
‘Que isso, não foi nada’ null balançou a cabeça.
null tem razão, estamos devendo essa. Realmente, obrigada’ null sorriu. null ficou vermelho e sentiu como se a língua tivesse enrolado dentro da boca, porque não conseguia dizer mais nada.
‘Será que você pode...?’ null olhou pra null e apontou pra porta do apartamento.
‘Ah claro’ ele andou rapidamente até a porta e a abriu.
‘Boa noite’ null acenou pra null, que apenas ergueu a mão, e saiu do apartamento.
‘Até mais, null’ null sorriu parando na frente de null, que segurava a porta aberta ‘E, olha, o show de vocês foi bom de verdade. Eu não disse aquilo só porque estava bêbada ok?!’ ela riu.
‘Fica bem’ null disse simplesmente e sorriu. null concordou com a cabeça e foi atrás de null, que procurava as chaves do apartamento da prima na bolsa dela.
null fechou a porta, mas antes conseguiu ouvir null rindo e null dizer algo como ‘... bêbada, não vai abrir essa porta nunca. E se você vomitar na minha cara eu te mato’. Ele olhou pra null, que estava feito uma estátua no mesmo lugar.
‘Doideira’ null concluiu, balançando a cabeça.
‘Surreal’ null sentou no braço do sofá e colocou no colo a almofada onde, minutos antes, a cabeça de null estava deitada ‘Espero que ela melhore’
‘Ela vai melhorar’ null disse ‘Hey dude, to caindo fora também. Se cuida’ ele deu um tapinha no ombro de null antes de sair do apartamento como as garotas tinham feito.
null deitou no sofá e enfiou o rosto na almofada. Pôde sentir o perfume de null misturado com um leve cheiro de bebida impregnado na almofada. Ele sorriu automaticamente.

Cap. 10


Domingo de tarde; null estava quase dormindo no sofá, assistindo um programa inútil de televisão. Pra variar os pais tinham saído e ela estava sozinha em casa. A campainha tocou e null se arrastou até a porta pra atender. Quando viu quem era pelo olho-mágico, ela correu até o quarto. Ainda estava de pijamas e não pretendia atender null null naquele estado; ele mal a conhecia, o que ia pensar? Ela pegou uma calça e jogou uma jaqueta por cima da camiseta do pijama e foi atender a porta.
‘Olá’ cumprimentou sorridente ‘Que surpresa’
‘Erm, queria saber como você está e... espero não estar incomodando’ null disse sem graça.
‘To ótima! De manhã ainda estava com dor de cabeça, mas já passou’ ela abriu um pouco mais a porta ‘E você não incomoda. Quer entrar?’
‘Ah não, valeu’ ele coçou a cabeça. Queria muito entrar, mas tinha combinado com os amigos de darem uma passada na pista de skate pra trocarem umas idéias ‘Tipo, eu quero’ admitiu e ela riu ‘só que os caras devem estar me esperando lá na pista de skate que construíram no parque novo. Até o null já deve ter ido, isso porque ele mora aqui’
‘Putz, eu queria conhecer essa pista’ ela disse animada, então percebeu que parecia até estar se convidando pra sair com eles e emendou ‘Acho que vou com as garotas na semana que vem’
‘Suas amigas não parecem gostar muito de passear em pistas de skate’ os dois riram ‘Não quer vir comigo? Assim eu te apresento pros outros e você já fica conhecendo a pista’
‘Ah não, sério não precisa’ ela negou com a cabeça ‘Eu vou atrapalhar vocês, deixa quieto’
‘Se eu estou convidando é porque não vai atrapalhar’ ele insistiu. null o encarou por alguns minutos até que o garoto sorriu.
‘Certo, pode esperar um minuto?’
‘Até cinco’
null foi pra dentro de casa rindo. Trocou de roupa mais uma vez - mantendo apenas a jaqueta - pegou o skate que guardava em cima do armário, desligou a TV na sala e saiu do apartamento. Quando trancou a porta e se virou pra null, viu que ele estava de olhos arregalados encarando o skate que ela segurava.
‘O que foi?’ ela riu.
‘Tá brincando que você sabe andar de skate’ null arqueou uma sobrancelha. null negou com a cabeça.
‘Sei desde os sete anos, aprendi quando ainda morava no Brasil’
‘Você morava no Brasil???’ ele arqueou a outra sobrancelha. null riu apertando o botão do elevador.

Quando chegaram na pista, null já sabia praticamente de toda a infância de null e vice-versa, se bem que a vida dela fora muito mais agitada que a dele. Os dois chegavam a parecer até amigos de muito tempo atrás, rindo e zombando um do outro. null mal cumprimentou os garotos que ainda não conhecia, null e null, e já foi pra pista que estava mais vazia. null sentou no banco com os amigos.
‘Você vai ganhar essa garota’ null deu tapinhas no ombro de null, que sorriu.
‘Ela é maravilhosa’ ele disse abobalhado, acompanhando com o olhar o vai e vem de null na pista, entre alguns outros skatistas.
‘É muito bom que você se aproxime dela, assim nós temos chances com as amigas dela’ null riu maroto.
‘Meu interesse é na prima dela, ponto’ null sorriu ‘É como eu disse, beleza é coisa de família’
‘Eu não tenho interesse nas amigas dela’ null deu de ombros, indiferente.
‘Pode não ter interesse, mas duvido que reclamaria se ficasse com uma delas’ null disse.
‘Eu não sou louco, sabem?’ null disse e todos riram.
null apoiou os cotovelos nos joelhos e ficou prestando atenção somente na pista e em null, nem ouvia mais o que os amigos estavam falando. Queria só ficar olhando aquela garota que era tão simpática e risonha. Ele sorriu quando ela passou numa velocidade mais lenta, amarrando os cabelos e fazendo careta pra ele. Sorriu porque ela continuava linda mesmo fazendo caretas, porque ela o conquistava mais a cada segundo que passava, porque ela prendia sua atenção mais do que qualquer outra, porque seu coração acelerava todas as vezes que conversava com ela. Sorriu simplesmente porque, ao olhar pra ela, tinha sensações que nunca tivera antes. Ela era diferente de todas.
‘Caracas! Isso foi animal!’ null exclamou quando null fez uma manobra complicada como se fosse a coisa mais simples do mundo.
‘Ela manja hein’ null comentou admirado.
‘Seja mais discreto, cara’ null deu uma cotovelada em null ao ver que o amigo não tirava os olhos da garota.
‘Não consigo’ null encolheu os ombros e null riu.
Pouco mais de uma hora depois, null cansou. Ela devolveu pro instrutor da pista a proteção que tinha pegado emprestada e foi falar com os garotos, que começaram a disparar elogios. null apenas sorriu, sem ouvir o que os amigos diziam.
‘Tava linda’ ele disse simplesmente. null riu.
‘Talvez estivesse, agora estou um nojo’ ela largou o skate no chão e tirou a jaqueta. O dia não estava quente, mas passar mais de uma hora andando de skate e vestindo uma jaqueta dá calor.
‘Não exagera’ null disse. Ela realmente não estava um nojo, nem suada estava.
‘Fale por você, null. Ela fede’ null brincou e os outros riram. null jogou a jaqueta na cara dele, rindo também.
‘Quero ver você fazer tudo o que eu fiz e continuar todo perfumado, docinho’ ela disse colocando as mãos na cintura.
null jogou a jaqueta de volta e deu língua pra ela, que ria enquanto null e null ovacionavam. null estava quieto, só observando os amigos, sentindo pontadinhas de ciúme ao ver que eles riam e se divertiam com null. A garota notou que ele estava quieto demais e parou na frente dele.
‘Que cara é essa, hein null?’ ela perguntou. null levantou a cabeça e olhou pra ela.
‘Cara de quem está com fome’ ele inventou rápido e ela riu.
‘Aí, a gente podia dar um pulo no McDonald's que tem aqui perto’ null sugeriu.
‘O que acha?’ null perguntou pra null, que amarrou a jaqueta na cintura e pegou o skate que tinha largado no chão.
‘Vão vocês’ ela disse ‘To indo pra casa’
‘Ah, mas já? Come on, custa nada comer um lanche com a gente’ null disse. null olhou meio feio pra ele.
‘To cansada, prefiro ir pra casa agora’
‘Deve estar mesmo’ null comentou ‘Depois de ter dado um show aí’
‘Bobagem, não foi nada’ ela abanou a mão e riu ‘O lanche fica pra outro dia, quem sabe’ ela encolheu os ombros.
‘Tem certeza?’ null perguntou.
‘Absoluta’ null abaixou um pouquinho, segurou no rosto do garoto e estalou um beijo na bochecha dele ‘Obrigada pelo passeio’ disse e se levantou ‘Até mais, meninos’ ela acenou pros outros e se distanciou.
‘Não quer uma carona?’ null gritou.
‘Não precisa’ ela gritou de volta, acenando mais uma vez, e colocou o skate no chão. Tomou impulso e foi embora nele.
‘Você está vermelho’ null disse olhando pra null e rindo da expressão abobalhada estampada na cara do amigo.
‘Ele está é apaixonado’ null comentou rindo também.
null abriu a boca pra falar, mas nenhum som saiu. Então ele apenas sorriu enquanto os amigos ainda riam. Sem dúvidas aquela tarde fora bem proveitosa.

Cap. 11


Na segunda-feira, null entendeu o que a prima quis dizer quando falou: “A única popularidade deles veio porque os quatro formam uma banda”. Logo de manhã, no pátio do colégio, os garotos do McFly foram assediados por grupinhos de meninas que, provavelmente, viram o show deles no barzinho ou apenas ficaram sabendo do show por alguém ou pelos cartazes e faixas espalhados em alguns pontos da cidade. As meninas não paravam de sorrir pra eles, muitas delas nunca nem tinham olhado na cara dos quatro e tomavam um ar superior quando passavam por eles, mas agora estavam praticamente se jogando aos pés dos...
‘McGuys, é assim que estão chamando eles agora’ null disse, encostada numa parede perto da cantina no horário do intervalo.
‘Ninguém os chamava assim quando os showzinhos eram aqui no colégio e só, mas agora que eles se apresentaram até em barzinho, hunf...’ null bufou e nem concluiu a frase.
‘Ih gente, deixa eles’ null deu de ombros enquanto abria uma embalagem de Ruffles ‘Se eles estão famosinhos agora, eles têm mais é que aproveitar mesmo’
‘Concordo’ null disse simplesmente ‘Já volto’ avisou e saiu andando em direção aos banheiros. Enquanto andava, viu um grupinho de garotas cochichando, olhando pra ela, e reconheceu Susan entre elas. A garota parecia estar com um ar superior. Já bem perto dos banheiros ela reconheceu outra pessoa ‘Hey Duncan!’
null!’ Duncan exclamou sorrindo e se afastou dos amigos, indo até ela ‘Como vai?’
‘Ótima, e você?’
‘Bem também. Olha, eu queria pedir desculpas pelo que a Susan fez no sábado’ ele colocou as mãos nos bolsos ‘Eu conversei seriamente com ela e ela disse que não vai mais fazer isso e que não foi de propósito’
‘Relaxa quanto a isso, Duncan’ null abanou a mão. No domingo à noite tinha conversado com null e a prima dissera tudo o que pensava; agora null entendia porque Susan tinha feito tudo aquilo e, de certa forma, chegava até a compreender a garota ‘O ciúme pode cegar as pessoas e obrigá-las a fazer coisas que não fariam jamais. Foi isso que aconteceu com a Susan’
‘Ahn?’ Duncan franziu a testa, confuso.
‘Eu fiquei sabendo que a Susan é sua ex-namorada, então imagino que ela fez o que fez porque ficou com ciúmes quando viu você conversando comigo’
‘Hum é... bom, pode ser’ ele balançou a cabeça ‘Eu só queria que ela entendesse que nós terminamos e que não tem chance de volta. Só que ao invés de se afastar de mim, ela resolveu ficar praticamente me seguindo, como se isso pudesse me fazer voltar atrás e mudar de idéia’
‘Ih, se ela está te seguindo é melhor eu ir embora então. Não estou a fim de ser vítima dela de novo’ ela brincou.
‘Ah não, ela não vai fazer mais nada contra você’ Duncan disse rapidamente. null olhou pra onde Susan estava com as amigas e percebeu que a garota parecia irritada agora. Riu e voltou a olhar pra Duncan.
‘Estou brincando, eu sei que ela não vai fazer nada. Mesmo porque não tem motivo pra ela ficar com ciúmes de você quando eu estou por perto, afinal nós nem nos conhecemos direito’
‘Bom, erm... podemos nos conhecer então’ ele passou a mão pelo cabelo ‘Podemos sair no final da semana pra conversar um pouco, se você quiser’
null emudeceu. Não estava esperando por isso e agora não sabia o que fazer. Sua primeira reação foi corar. Então ela respirou fundo, pensando no que o garoto dissera, e sorriu.
‘Seria ótimo, por que não?’ ela encolheu os ombros. Duncan levantou as sobrancelhas.
‘Sério?’
‘Claro’ ela respondeu rindo e ele sorriu.
‘O que acha de sexta à noite então?’
‘Sem problemas’
‘Ah, ótimo! Será que você pode me passar seu telefone?’ ele pediu pegando o celular no bolso da calça ‘Assim eu te ligo pra pegar seu endereço e combinar o horário, porque aqui no colégio é rolo e tal’
null passou seu número de celular achando graça no quanto Duncan parecia contente.
‘Então eu te ligo no meio da semana e a gente acerta tudo, ok?’ ele perguntou pela terceira vez. null riu.
‘Certo. A gente se vê, Duncan’ ela deu um beijo na bochecha dele antes de se afastar pra finalmente poder ir ao banheiro.

‘Odeie aquele cara mais um pouco vão sair fagulhas dos seus olhos’ null brincou com null.
‘Não enche’ null bufou e null deu de ombros, voltando a falar com a garota que estava ao seu lado.
Desde que vira null atravessando o pátio em direção aos banheiros, null a seguira com o olhar e, claro, não ficou nada contente quando viu a garota parando pra conversar com o tal Duncan. Por que ela estava dando trela pra ele? O cara tinha uma parcela de culpa no desmaio dela lá no Gas, ela devia ignorá-lo no mínimo, mas não... Lá estava ela, conversando e rindo ao lado dele. Até mesmo um beijo na bochecha o panaca ganhou. Era absurdo! null estava com os olhos cerrados e não prestava mais atenção nas garotas que estavam próximas, conversando com seus amigos, agora ele só tinha olhos pra uma garota e pra uma cena. Quando viu Duncan pegar o celular, ele rilhou os dentes, sentindo uma raiva crescer dentro de si. Finalmente null se afastou de Duncan, mas isso não fez com que null se acalmasse: ele ainda sentia raiva de Duncan por ele estar se aproximando de null.
‘Cara, ela já foi. Acorda!’ null chamou a atenção do amigo mais uma vez, dando um tapa na cabeça dele.
‘Já disse, não enche null’ null disse olhando feio pro amigo.
‘Ele devia estar pedindo desculpas pelo que aconteceu no Gas, só isso’ null disse numa tentativa de acalmar null, mas não adiantou porque ele continuou com a mesma cara.
‘Claro, e daí ele pegou o celular dela pra poder mandar uma mensagem depois pedindo desculpas mais uma vez, como se não bastasse conversar com ela’ null disse irônico ‘Ah, fala sério, você sabe que não foi por isso!’
‘Ela não é propriedade sua, null!’ null exclamou, achando aquilo tudo muita burrice do amigo ‘Portanto pode conversar e sair com quem quiser’
‘Eu não me lembro de você ter pensado assim quando viu a null beijando o Michael nos portões do colégio’ ele arqueou uma sobrancelha vendo o amigo murchar um pouco.
‘Aquilo foi diferente...’
‘Não, não foi. E agradeça por não ter precisado me segurar pra me impedir de socar aquele almofadinhas’ null bufou saindo de perto. Ele nem reparou em que direção estava indo quando trombou com alguém ‘Olha por onde anda’ ele disse grosseiro, sem ver em quem tinha esbarrado.
‘Eu não sabia que as garotas te deixavam nesse humor todo, null’ null disse calma e viu o garoto arregalar os olhos e corar quando a encarou.
‘Me desculpe, eu não quis ser mal educado’ null se apressou a pedir desculpas, falando num tom mais simpático. Afinal estava com raiva de Duncan, não de null ‘Eu te machuquei?’
‘Ah não, não foi nada’ ela balançou a cabeça ‘Parece que todo mundo gostou do show de sábado, pelo menos elas ali gostaram’ ela apontou pra trás dele, onde os outros meninos ainda estavam cercados por dois grupinhos de garotas. null nem olhou, apenas deu de ombros.
‘É bom que o pessoal tenha gostado, mas eu não curto muito esse lance de meninas histéricas correndo atrás de mim’ ele disse. null riu.
‘Quanta humildade da sua parte’ disse em tom de brincadeira ‘Bom, to indo nessa. Tenho que pegar meu lanche antes que o sinal toque. Até mais, null’ ela acenou e saiu andando. null ficou parado a vendo ir em direção à cantina até que, depois de ela ter dado uns poucos passos, um pensamento lhe ocorreu.
‘Hey null!’ ele chamou alto. A garota parou e se virou pra ele, que andou até onde ela estava. null emudeceu quando a encarou.
‘Quer falar comigo?’ null perguntou, quebrando o silêncio.
‘Quero’ ele respirou fundo e colocou as mãos nos bolsos. Pensou um pouco e concluiu que estava agindo feito um imbecil e que era melhor falar logo ‘Estava pensando e, bom, nós moramos no mesmo prédio e eu sei que você vai pra casa a pé então... não quer uma carona pra casa mais tarde?’
‘Ah, não sei...’ null passou as mãos pelos cabelos, mais uma vez sem saber o que fazer. Aquele era o dia dos garotos tomarem algum tipo de atitude inesperada por acaso? ‘Eu não quero atrapalhar você, sabe?’
‘Você não vai me atrapalhar, sério. Só que vai precisar agüentar o null, porque eu costumo dar carona pra ele também’ ele ergueu os ombros.
‘O problema vai ser agüentar você’ ela riu quando null abriu a boca, parecendo surpreso ‘Brincadeira. Bom, se não vou atrapalhar... acho que te vejo na hora da saída’
‘Claro! Nos vemos na hora da saída então’ ele sorriu feliz.
‘Ok, até lá’ ela sorriu de volta e saiu andando mais uma vez.
null ficou parado no mesmo lugar até o sinal tocar. Ele suspirou, pensando que ainda teria que agüentar mais três aulas até o horário da saída do colégio.

‘Ô Sr. Desespero, vai com calma valeu?!’ null disse andando atrás de null, que quase corria em direção à saída do colégio. Mal o sinal tinha tocado e os dois saíram voando da sala, sem nem se despedir direito dos outros amigos.
‘Ela já deve estar lá fora e se nós demorarmos muito é provável que ela vá embora a pé mesmo’ null apressou ainda mais o passo, ignorando as reclamações de null, e finalmente parou nos portões do colégio.
Ele olhou em volta, mas nem sinal de null ou das amigas dela. Ela não estava encostada nos muros, nem nos portões e também não estava na calçada nem do outro lado da rua. null parou ao lado do amigo e também olhou em volta.
‘Corremos à toa, idiota’ disse e deu um tapa na cabeça de null.
‘Caracas, vocês se amam hein’ os dois ouviram uma voz risonha atrás deles e se viraram.
null estava ali, rindo, e bem mais pra trás dela null, null e null vinham conversando e andando até os portões.
‘Achei que não ia encontrar vocês aqui, agora’ ela disse ‘Não faz nem cinco minutos que o sinal tocou’
‘Resolvemos nos apressar hoje’ null lançou um olhar discreto pra null.
‘Bom, se vocês quiserem ir agora’ null encolheu os ombros ‘Eu já me despedi das meninas’
‘Ah, ok. Vamos então’ null disse e os três foram até o carro dele, estacionado ali perto.
‘Carro legal’ ela comentou distraída antes de entrar no automóvel.
‘Se ele soubesse dirigir seria ótimo’ null brincou, se acomodando no banco de trás. Normalmente ele ia no lugar do passageiro, mas resolveu ceder seu lugar rotineiro a null. null franziu a testa.
‘Eu sei dirigir’ disse.
‘Ah sabe... bem mal, aliás’ null riu ‘E você, null? Sabe dirigir?’
‘Sei sim e, modéstia a parte, bem melhor que muito homem por aí’ ela riu quando null balançou a cabeça, ligando o carro ‘Aprendi ano passado, quando morava em Madrid. Pensei em tirar habilitação aqui na Inglaterra, porque a minha de Madrid não vale nada fora de lá, mas não sei se vale a pena’ ela deu de ombros. null olhou de esguelha pra ela, enquanto dirigia.
‘E por que não valeria?’ ele perguntou.
‘Não sei por quanto tempo vou continuar morando aqui’ ela olhava pra fora, pela janela. null e null se entreolharam pelo retrovisor, mas não falaram nada, esperando que ela continuasse ‘Tirar carteira de habilitação aqui seria perda de tempo já que semana que vem eu posso estar me mudando pro Japão...’
null olhou pra null com os olhos arregalados, espantado com a idéia de que na semana que vem ela poderia estar indo embora. Quando ele lembrou que estava dirigindo e olhou pra frente de novo, precisou frear com tudo quando viu que o semáforo estava vermelho. O carro parou no meio da faixa de pedestres e, se não fosse pelo cinto de segurança, os três dentro do veículo teriam voado pelo pára-brisa. null sentiu o coração ir à boca e voltar com o susto que levou.
‘Deus do céu, null! Você precisa voltar pra auto-escola’ ela disse quando conseguiu se recuperar do choque.
‘Quer nos matar, cara?!’ null disse alto entre alguns xingamentos que, por questão de educação, resmungava no banco de trás.
‘Foi mal, foi mal’ null segurava o volante com força, meio paralisado pelo susto ‘Eu não vi o farol, desculpem’
‘Vou te comprar uns óculos’ null disse nervoso.
‘Realmente, vocês se amam’ null brincou.
‘Você que pensa’ null balançou a cabeça, fazendo a garota rir, e andou com carro quando viu o semáforo ficar verde ‘E que negócio é esse de ir pro Japão, hein null?’
‘É como eu te disse quando estávamos indo pra pista de skate lá no parque, meus pais vivem se mudando de acordo com o trabalho deles. Se semana que vem eles resolverem ir pro Japão ou sei lá pra onde, eu vou junto’ ela voltou a olhar pela janela ‘Eu não quero uma carteira de habilitação que não vai servir pra nada daqui a alguns dias, obrigada’
‘Bom, e quem garante que você não vai passar o resto da sua vida morando aqui?’ null perguntou numa tentativa de acalmar seus pensamentos ainda assustados com a hipótese de perder a garota que ele tanto queria ter.
‘E quem garante que vou?’ null olhou pra ele, arqueando as sobrancelhas ‘Agora, será que você pode ir mais rápido?’ ela riu. Por causa do susto, null estava dirigindo muito devagar: o carro estava na primeira.
‘Pois é, queremos chegar em casa hoje ainda’ null disse.
‘Agradeça pelo fato de que meu carro não tem um botão de eject, null’ null acelerou um pouco o carro, passando pra segunda ‘Porque senão você já era’ ele completou fazendo cara feia pro amigo pelo retrovisor. null gargalhou.
‘Ah, cala a boca’ null riu se jogando pra frente, entre os dois bancos, pra poder ligar o rádio ‘Hum, vamos ver o que temos aqui’ ele disse mudando de estações. Parou em uma que estava tocando alguma música da Vanessa Hudgens ‘Bom, já que temos mulheres na área...’ ele deu de ombros, olhando rapidamente pra null, e voltou a sentar direito no banco de trás.
‘Desculpem senhoritas, mas eu não vou ouvir isso’ null riu e começou a mudar as estações. null sorriu.
‘Essa mulher é diferente’ disse pra null, que apenas deu de ombros.
‘Claro, a diferença é que eu tenho bom gosto’ null disse e os garotos riram. Ela parou numa rádio que tocava Blink 182.
‘Você não escuta isso quando está com as suas amigas, escuta?’ null perguntou surpreso.
‘Digamos que eu sei ser bem eclética, sugar’ ela abriu a janela do carro ‘Se não se importam’ ela aumentou o volume do rádio e começou a acompanhar a música batendo os dedos na porta do carro, com a mão pra fora da janela. null arregalou os olhos, ainda mais espantando com aquilo. null viu a cara que o amigo fazia pelo retrovisor e apenas sorriu satisfeito, continuando a dirigir.
Naquele dia, null não ficou conversando com null na escada. Assim que os três chegaram do colégio, ele subiu direto pro apartamento, acompanhando null. Essa rotina nova se repetiu nos outros dias da semana.

Cap. 12


Na sexta-feira, null levou o skate pro colégio e, no intervalo, perguntou se null poderia deixá-la no parque ao invés de em casa. O garoto obviamente não viu problemas e, pra poder ir junto com ela, disse pra null que não poderia dar carona pra ele. null até reclamou de ter que ir embora a pé, mas entendeu o amigo. null só queria passar mais tempo ao lado de null; o máximo de tempo possível, na verdade.
‘Então vai dar mais um show na pista hoje, não é null?’ null perguntou no horário da saída, quando null se aproximou dos portões do colégio.
‘Ah, que nada’ a garota colocou as mãos nos bolsos da calça. Novamente ela fugia dos padrões de vestimenta das outras meninas, a não ser pela blusinha baby look, porque de resto: a calça jeans era pelo menos um número maior que o necessário e o all star estava detonado.
‘E nem nos chamou pra ver hein’ null disse. null olhou torto pro amigo, não gostando nem um pouco da simpatia dele.
‘Ué, lá é público não é? Apareçam quando quiserem’ null deu de ombros e null quase riu da cara que os amigos fizeram.
‘Mas, bom, a gente quer ver você treinando’ null disse.
‘Claro’ null concordou ‘e não aquele bando de manés que nem sabem porque estão lá’
null encarou os amigos seriamente. Que negócio era aquele de ficar elogiando null sem parar? Eles estavam tentando conquistá-la por acaso? Há, que ótimo, agora seus amigos iam tirar null dele?!
‘Eu nem sou tão boa assim’ null continuou negando seu talento. null balançou a cabeça.
‘Que maravilha, além de tudo ela é modesta’ ele riu, sem perceber o olhar espantado e irritado que null lhe lançou ‘Mas bom, acho que vou...’
null, estamos indo ok?!’ uma voz feminina interrompeu null. Os quatro garotos e null olharam pra ver quem estava falando; era null, parada um pouco longe deles e acompanhada por null e null.
‘Certo, até mais. Beijos’ null respondeu acenando.
‘Se cuida. Eu te ligo amanhã pra saber como foi o... bem’ null deu uma risadinha, copiada pelas amigas ‘você sabe. Até’ acenou e virou as costas.
‘Tchau!’ null disse de repente. Os amigos o encararam assustados. null olhou pra ele por cima do ombro.
‘Tchau’ ela disse simplesmente, sorrindo e voltando a se virar pra acompanhar as amigas que já iam em direção ao seu carro.
‘Eu não sabia que vocês tinham se falado desde o meu desmaio no Gas’ null disse olhando pra null.
‘Nós não nos falamos’ ele encolheu os ombros ‘mas não custa nada ser educado’ concluiu e todos riram, exceto null que estava interiormente intrigado com o comentário de null. Ela ia ligar no sábado pra saber como foi o quê? A curiosidade fez com que ele esquecesse até as dúvidas que estava tendo em relação ao comportamento dos amigos quando estavam próximos de null.
‘Eu sinto muito elas não conversarem com vocês’ null disse ‘Esse negócio de popularidade é tão idiota’
‘Agradeça por não sofrer com isso’ null fez cara de coitado e null o imitou. null riu.
‘Se eu não andasse com elas, não seria popular e duvido muito que sentiria falta disso’ disse. null sorriu com o canto da boca.
‘Você não é como elas’ ele disse simplesmente.
‘Quem sabe eu não faço com que elas fiquem um pouquinho mais parecidas comigo?’ ela sugeriu encolhendo os ombros.
‘Eu te agradeceria pelo resto da vida’ null comentou distraído e se arrependeu ao ver null o encarar com uma expressão de surpresa.
‘Algum motivo em especial pra isso?’ ela perguntou curiosa. null coçou a cabeça, sem graça.
‘Tem, tem um motivo sim’ null afirmou no lugar do amigo, vendo que ele não falaria nada em relação a isso tão cedo ‘Quem sabe um dia o null te explica melhor’
‘Ah, não, não estou pedindo explicações’ null negou com a cabeça ‘Eu nem conheço vocês direito, não precisam me contar nada’ disse humildemente. Afinal, ela não falava muito com eles, a não ser com null e null, com quem conversava durante todo o caminho de volta pra casa. Com null e null ela falava menos, apenas no horário da saída quando os meninos se encontravam nos portões do colégio. Mas, por mais que brincasse e risse com eles quando conversavam, ainda assim não se sentia amiga deles o suficiente pra ficar conversando sobre assuntos particulares.
‘Nós não temos segredos de estado’ null deu de ombros.
‘Mesmo assim...’
‘Outro dia eu te conto, null’ null sorriu, mais descontraído ‘Agora vou pra casa, pretendo chegar lá antes do jantar’ disse e todos riram.
‘To caindo fora também’ null avisou. null concordou com a cabeça.
‘Também. Bom treino, null’ ele disse.
‘Valeu’ a garota sorriu pros garotos que já se afastavam, seguindo cada um o rumo de suas casas.
‘Pro parque agora?’ null perguntou pra ela, que apenas concordou com a cabeça, animada.

‘Você vai cair’ null avisou, sentada num banco depois de passar quase duas horas treinando na pista.
‘Não vou não, eu sei o que estou fazendo’ null tomou um impulso maior e saiu andando no skate da garota. Há tempos ele não andava de skate e já tinha perdido a prática, mas jurava que ainda sabia fazer alguma coisa.
‘Olha os degraus!’ ela disse mais alto, mas não a tempo. null não viu um degrau pequeno e por pouco não caiu. O skate foi parar longe e ele pulou pro lado, evitando se estatelar no chão.
‘Mas você viu’ ele dizia sentando ao lado da garota, depois de ir buscar o skate ‘eu só caí porque não vi o degrau, não foi porque eu me desequilibrei’
‘Claro que não, imagina’ null balançou a cabeça, rindo ‘Quando você for se arriscar assim de novo, me chama ok?! Daí quem sabe eu te dou umas aulinhas’
‘Falou a expertnull riu, fazendo gestos com as mãos ‘Da próxima vez que eu quiser alguém pra me esculachar, eu te chamo’
‘Não se faça de coitado’ ela pôs a língua pra fora e ficou olhando pra pista em frente, observando o pessoal que ia e voltava.
null fingia olhar pra pista também enquanto, na verdade, lançava olhares de rabo de olho pra null. Ele gostava de olhar praquela garota, gostava de conversar e rir ao lado dela, gostava quando ela brincava com ele, enfim, gostava cada vez mais dela.
‘Ei, vou pegar alguma coisa pra beber’ ele disse apontando pra pequena lanchonete que ficava mais adiante no parque ‘O que vai querer?’
‘Pega uma água só’ null já ia colocar a mão no bolso da calça jeans pra pegar o dinheiro, mas null a impediu, segurando em seu braço.
‘Eu pago’ ele disse ‘Gelada né?’
null apenas assentiu com a cabeça e o garoto se distanciou. Por alguns segundos ela ficou olhando enquanto ele caminhava. Aquele era um garoto legal, divertido e educado. Ela mal o conhecia, mas já tinha grande simpatia por ele e sentia até mesmo que poderiam ser bons amigos. null sorriu e deitou no banco de barriga pra cima, fechando os olhos por causa dos raios de Sol que iam direto no seu rosto. Quando null estava voltando com duas garrafinhas de água, ele parou a certa distância do banco onde a garota estava deitada e ficou olhando pra ela. Daquele jeito ela parecia ainda mais diferente e mais bonita. Ele chegou perto.
‘Sua água’ disse simplesmente. null colocou um braço sobre a testa, fazendo sombra sobre parte do rosto, e abriu os olhos.
‘Valeu, null’ ela agradeceu sorrindo e pegou a garrafinha que ele lhe estendeu. null sentou num espaço pequeno do banco.
‘Eu não ligo se você me chamar de null’ ele disse abrindo a sua garrafinha. null riu.
‘Eu posso tentar’ disse levantando um pouco a cabeça pra poder dar um gole na água. Ela encostou a cabeça no banco de novo, deixou a garrafinha no chão e fechou os olhos.
null olhou pro rosto dela, mais uma vez iluminado completamente pelo Sol. Deus, como ela era linda!
‘O null gosta de uma das minhas amigas?’ null perguntou interrompendo o raciocínio do garoto. null pensou um pouco.
‘O que te faz pensar isso?’ ele devolveu.
‘Você me respondeu com outra pergunta, isso significa que ele gosta’ ela concluiu sozinha.
‘Devia ter me avisado que era adivinha’ ele comentou. Ela riu.
‘Eu não sou, mas sei interpretar as respostas e as reações das pessoas. Então ele gosta de uma delas, não é?’
‘Bom, sim’ null deu um gole na água ‘Ele gosta da null’ completou. null abriu os olhos e levantou a cabeça.
‘Ele gosta da minha prima?’ perguntou surpresa. null riu vendo a cara dela.
‘Yep, desde a primeira vez que a viu’
‘Céus’ ela bebeu um pouco de água e deitou a cabeça ‘ele está com problemas’
‘Ele sabe’ ele disse e os dois riram ‘mas nem por isso ele desiste dela. Ele nunca desistiu, nem quando soube que ela estava namorando. E, sinceramente, acho que nunca vai desistir’
‘Até alguns dias atrás a null achava que o nome dele era Billy’ null lembrou rindo ‘Bom, pelo menos agora ela já sabe o nome dele’
‘É um avanço’ null encolheu os ombros e deu outro gole na água.
‘Logo ela vai saber muito mais que o nome dele’ ela disse sorrindo, com os olhos entreabertos.
‘O que você pretende?’ ele perguntou rindo ao encarar aquele rosto bonito com uma expressão tão travessa.
‘Andar com vocês’ ela respondeu simplesmente ‘Se não for incomodar, claro’
‘E por que iria?’ ele arqueou uma sobrancelha.
‘Veja, vou fazer isso pro bem do seu amigo. A null é minha prima, não vai querer perder contato comigo no colégio e então, se eu estiver com vocês, ela também estará’ null explicou ‘Por isso vou andar com vocês’
‘Eu estava me referindo à parte do incomodar’ null disse.
‘Ah, certo’ ela riu ‘Bom, não sei. Talvez vocês não queiram andar com uma garota chata como eu. Isso pode denegrir a imagem de vocês’
‘Que imagem?’ ele riu da sua própria situação. null cutucou as costas dele com o tênis.
‘Não fala assim’ ela disse séria e virou o rosto, abrindo os olhos pra olhar pra pista.
‘Ninguém se importa com quem estamos andando, null’ ele balançou a cabeça ‘As pessoas simplesmente esperam pra ver qual de nós vai ser o próximo a ser mandado pra diretoria ou então ficam nos apontando como os caras que não passam de perdedores idiotas’
‘Vocês são mais do que isso, só que o pessoal daquele colégio é obtuso demais pra enxergar ou reconhecer o tipo de garotos que vocês são de verdade’ ela disse naturalmente.
‘Você não nos conhece realmente...’ null começou. null sentou de repente, mantendo as pernas na mesma posição.
‘E quem daquele colégio conhece?’ perguntou encarando o garoto. Como ele não disse nada, ela continuou ‘Talvez ninguém nunca tenha se preocupado em conhecer, mas eu me preocupo’
Eles ficaram em silêncio. null olhou fundo nos olhos dela e não enxergou compaixão ou pena, mas sim compreensão e amizade. Então teve a certeza de que seu sentimento por aquela garota era de verdade e que ele não tinha se enganado a respeito dela. Ela era mesmo tudo o que ele podia esperar, até mais.
‘Você é diferente dos outros’ ele comentou reprimindo a vontade de abraçar e beijar aquela garota que o estava invadindo naquele momento.
‘Espero que isso seja uma qualidade ou algum tipo de elogio’ ela disse.
‘É’ null afirmou simplesmente. null sorriu.
‘Que bom’ ela bebeu outro gole de água e deitou novamente ‘Então, voltando ao assunto’ ela começou ‘Você acha que o null vai se incomodar se eu der um empurrãozinho no relacionamento entre ele e a minha prima?’
‘Primeiro, não tem relacionamento entre eles’ null disse e os dois riram ‘Segundo, o null anda precisando de uma boa ajuda, então duvido que ele vá reclamar se você bancar o cupido’
‘Certo, veremos o que posso fazer por ele’ null disse pensativa ‘Mas eu não garanto nenhum resultado ok?!’
‘Não importa, você está no caso’ ele disse de um jeito engraçado, fazendo a garota rir.
‘Obrigada senhor’ ela disse. null olhou pra ela com uma sobrancelha arqueada.
‘Confio em você, agente 001’ ele engrossou a voz.
‘Putz, 001?’ ela fez cara de decepção e eles desataram a rir.
As duas horas seguintes passaram assim: com os dois conversando, brincando e rindo, o que era agradável pra ambos já que assim eles poderiam se conhecer melhor. Era agradável especialmente pra null, que estava tendo a chance de passar mais tempo com a garota que o fazia perder a noção do resto do mundo.
‘Ai... ai Deus’ null tentava recuperar o fôlego depois de rir sem parar de uma piada absurdamente engraçada que null tinha contado ‘Certo, essa foi boa...’ ela conteve um novo ataque de risos quando se lembrou de algo ‘Ah caramba, que horas são?’
‘Quatro e meia da tarde’ null respondeu dando uma olhada no relógio. Ele se assustou quando viu a garota levantar do banco rapidamente ‘Que foi?’
‘Eu tenho que ir embora’ ela disse pegando sua mochila que estava jogada no chão ao lado da do garoto. null se levantou.
‘Bom, se você vai, eu também vou’
‘Não precisa’ ela negou com a cabeça, colocando a mochila nas costas ‘Se quiser pode ficar e aproveitar o resto da tarde aqui’
‘Sozinho?’ ele arqueou uma sobrancelha jogando a própria mochila nas costas ‘ Não, obrigado. E outra coisa, eu te trouxe, eu te levo. Nós moramos no mesmo prédio e eu não vou deixar que você volte pra casa de skate de novo’
‘Você é muito chato, sabia?’ ela brincou pegando o skate no chão.
‘No nosso caso, os opostos não se atraíram’ ele disse e os dois foram na direção da saída do parque, rindo.

‘Valeu pelas risadas, null’ null disse quando ela e o garoto saíram do elevador e pararam no corredor do quinto andar.
‘Finalmente conseguiu dizer meu nome’ null brincou. Ela pôs a língua pra fora.
‘Sério, obrigada pela companhia’ ela disse sorrindo ‘Você sabe como divertir alguém’
‘Vê? Eu não sou tão ruim quanto as pessoas pensam’
‘Eu sempre soube disso, desde que te conheci’ ela continuava sorrindo e isso fez null se sentir aquecido por dentro ‘Sinceramente eu acho que as pessoas se impressionariam se te conhecessem melhor’
‘É bom saber que pelo menos uma pessoa pensa assim’ ele disse verdadeiramente agradecido.
‘Um dia eu não vou ser mais a única’ ela disse de uma forma doce, o que fez null sentir aquela vontade de abraçá-la e beijá-la crescer novamente. null pegou suas chaves no bolso da calça ‘Bom, eu tenho que ir pra casa. Até mais’ ela beijou o garoto na bochecha e se virou pra porta do apartamento 20. null engoliu em seco, desejando não se arrepender mais tarde do que estava prestes a dizer.
‘Não quer ir pra minha casa?’ ele perguntou. null se virou pra ele, que tomou coragem pra continuar ‘Bom, não sei, a gente podia comer alguma coisa e conversar um pouco mais ou ver um filme’ uma sensação de “você é um imbecil ou o quê?!” estava começando a tomar conta dele até que a garota sorriu.
‘Eu realmente adoraria, null’ ela disse muito gentil e null sentiu o coração ir à boca ao pensar que poderia passar mais algumas horas ao lado da garota ‘mas hoje eu não posso’ ela completou com cara de quem sente muito. O coração de null escorregou e voltou ao seu devido lugar ‘É que eu vou sair, sabe?’ ela continuou, tentando se justificar.
‘Eu entendo’ ele balançou a cabeça, tentando ser o mais compreensivo possível ‘Hoje é sexta, você já deve ter marcado alguma coisa com as suas amigas ou com a sua prima...’
‘Na verdade foi com o Duncan’ ela soltou. null sentiu o coração escorregar mais pra baixo e ir parar em algum lugar perto do fígado.
‘Então você vai sair com ele?’ perguntou sem saber o porquê, talvez numa tentativa de ouvir uma resposta negativa.
‘Vou’ ela afirmou inocentemente, sem nem imaginar que estava acabando com as poucas esperanças do garoto.
‘Vai ao Gas?’
‘Pode ser’ ela ergueu os ombros.
‘Vai na casa dele?’ null não tinha a mínima idéia do motivo de estar especulando sobre o encontro dos dois, as perguntas apenas saíam da boca dele.
‘Talvez’ ela respondeu simplesmente.
A mente de null interpretou aquele simples “Talvez” como sendo um: “É, talvez eu vá mesmo. Qual é panaca?! Duncan é bem melhor do que você e merece que eu vá na casa dele. Você não passa de um perdedor, não é bom o suficiente pra mim”. Certo, ele sabia que null não tinha dito nada disso, mas foi o que ele se pegou ouvindo e se sentiu péssimo por isso.
‘Mas, por que as perguntas?’ null quebrou o silêncio e cortou os pensamentos de null.
‘Nada não. Divirta-se’ ele disse forçando um sorriso e se virou pro próprio apartamento.
null deu de ombros, imaginando que o garoto apenas estivera um pouco curioso e nada mais, e voltou sua atenção pras chaves na maçaneta da sua porta.

Cap. 13


‘Será que vocês podem parar de falar nisso?’ null pediu meio impaciente ‘Já é segunda-feira, eu saí com o Duncan na sexta. Pelo amor de Deus gente, isso já foi faz tempo!’
‘Nós não vamos parar de falar nisso não senhora’ null negou com a cabeça.
‘Pelo menos não até você nos dar mais detalhes’ null disse.
‘Gente, acorda’ null estalou os dedos na frente da cara das amigas ‘eu já contei tudo que tinha pra contar’
‘Ela contou tudo mesmo, null?’ null perguntou. null, que até então estava apenas rindo da conversa das outras, confirmou com a cabeça.
‘Ela disse pra vocês a mesma coisa que ela me disse quando eu liguei pra ela no sábado’ disse.
‘Hum, então está bem’ null ergueu os ombros. null levantou os braços.
‘Aleluia! Vão me deixar em paz’ comemorou e colocou as mãos nos bolsos.
‘E como é que vai ser daqui pra frente, hein null?’ null perguntou.
‘Como assim?’
‘Priminha querida’ null começou a explicar ‘você ficou com o Duncan quando vocês saíram. E como vai ser agora? Vocês vão continuar saindo? Vão ficar mais vezes?’
‘Ou vão namorar?’ null adicionou mais uma possibilidade. null riu.
‘Ih gente, que precipitação. Eu fiquei com ele uma vez, talvez fique mais vezes, talvez não. Sei lá o que vai acontecer, vou deixar rolar’ ela disse tranqüila.
‘Vou te dar um conselho’ null abraçou null pelos ombros ‘Aquele ali’ disse e apontou discretamente pro lado do pátio onde Duncan estava reunido com os amigos, esperando o sinal tocar ‘eu não dispensaria não’
‘Eu já pensaria duas vezes antes de, por exemplo, namorar com ele’ null tirou o braço de null de cima dos ombros de null pra colocar o seu próprio ‘Veja bem, ele tem uma ex-namorada que ainda não se tocou que ele não quer mais nada com ela e você já sabe do que aquela garota é capaz. Eu acho que é meio, digamos, arriscado namorar com ele’
‘Eu discordo de vocês’ null deu um tapinha na mão de null, que recolheu o braço ‘Acho que quem tem que decidir o que vai fazer ou deixar de fazer é a minha prima’ disse e segurou no ombro de null, que estava apenas ouvindo os conselhos das amigas ‘Ela sabe o que é o melhor pra ela, portanto, deixem que ela decida sozinha’
‘Estraga prazeres’ null deu língua e as outras riram.

‘Ela me acha um idiota’ null encolheu os ombros.
‘Cala a boca’ null riu.
‘Se ela te achasse um idiota’ null começou ‘ela não teria dito o que disse lá no parque’
‘É, aquele negócio de se “preocupar em conhecer melhor” foi forte’ null concordou. null tinha contado quase tudo que tinha acontecido no parque na sexta-feira, exceto a parte em que null se comprometera a ajudar null a se aproximar de null.
‘Dane-se, ela saiu com o Duncan, não comigo’ null balançou a cabeça ‘Provavelmente depois de sexta ela o conhece melhor do que conhece a mim’
‘Isso não significa que ela o ache melhor do que você’ null disse tentando animar o amigo, mas null baixou a cabeça.
‘Eu não sou bom pra ela’ ele concluiu entristecido.
‘Ela disse isso por acaso?’ null perguntou.
‘Disse’ ele levantou a cabeça e viu os amigos o encarando surpresos ‘Bom, não diretamente, mas foi o que eu entendi. Poxa, ela topa sair com o Duncan e talvez até ir à casa dele, mas não aceita passar mais algumas horas comigo. Obviamente eu não sou bom pra ela, enquanto ele é’
‘Interpretar mal as coisas que ela diz e levar tudo pro lado negativo não vai ajudar muito, sabe?’ null disse. null concordou com a cabeça.
‘Cara, você precisa ser mais confiante e, principalmente mais persistente’ aconselhou.
‘É, seja como o null’ null começou segurando no ombro de null ‘não desista nunca. Não vê? Ele gosta da mesma garota há seis anos, mesmo sabendo que ela tem namorado e não liga a mínima pra ele’ concluiu sorrindo. null fez cara feia, mas foi obrigado a concordar com a cabeça novamente.
‘Bom, meu exemplo não é dos mais animadores, mas...’ ele deu de ombros ‘Fazer o que, não é? Tentar esquecer a null eu já tentei, várias vezes aliás, mas vocês bem sabem que eu não consegui’
null teve vontade de dizer pro amigo que agora ele ia ter ajuda pra ao menos se aproximar um pouco de null, mas continuou calado, remoendo sua tristeza consigo mesmo.
‘Come on, cara’ null continuou apoiando o amigo ‘Eu gosto da null faz seis anos e não desisti até hoje, você gosta da null faz um mês e já está fraquejando’
‘Você sabe ser mais forte do que isso’ null deu uma palmadinha nas costas de null, que suspirou e olhou pra sala onde null estava entrando com a prima, enquanto as outras duas garotas iam pra outra sala, visto que o sinal já ia tocar.
‘Eu acho que preciso ser mais forte’ ele disse tentando se reanimar.
‘Bola pra frente, dude’ null disse ‘Afinal, se ela saiu com o mané do time de futebol, você também tem chances. Um mané a mais, um mané a menos, não vai fazer diferença’
‘Às vezes você devia calar a boca pra evitar falar besteiras demais, cara’ null balançou a cabeça, olhando seriamente pra null, e eles começaram a rir.
‘Vamos pra sala, daqui a pouco o sinal toca’ null avisou e os quatro tomaram o rumo da classe do 3°D.
null ia mais pra trás, seguindo os amigos. Ele aproveitou que os outros estavam distraídos e pegou o celular no bolso. Assim que o abriu, deu de cara com o rosto sorridente de null no visor; aquela imagem era fruto de mais um de seus vários impulsos fotográficos. No celular ele tinha algumas fotos dela, mas todas mesmo estavam no seu apartamento; reveladas em papel fotográfico, elas foram muito bem guardadas numa caixa de presente que ele encontrou no armário. Ali devia ter cerca de cinqüenta fotos, todas tiradas sem que null soubesse nem desconfiasse. Fazia quase um mês que a garota estava na Inglaterra e, todos os dias no colégio, null aproveitara pra tirar várias e várias fotos da menina, agradecendo quase todos os dias por ter gastado tanto dinheiro no celular com câmera de ótima resolução. Nem os amigos sabiam mais disso, eles achavam que null tinha parado com essa paranóia de fotógrafo, como eles mesmos diziam. Mas nada feito, null continuava a fotografar null todas as vezes que era possível, sempre com muita discrição. Na sexta-feira mesmo, enquanto a garota estava entretida na pista com seu skate, ele aproveitara pra fotografá-la. null ouviu o sinal do colégio tocar e sorriu pro visor do celular antes de guardá-lo no bolso da calça e entrar na sala de aula.

‘Então teve prova de Física?’ null perguntou pra confirmar.
‘É, e eu me ferrei’ null bufou, ajeitando os livros dentro do armário do colégio.
‘E pelo jeito não vai cair nada do que eu estudei’ null concluiu desgostosa.
‘Não sei, mas acho que não fui tão mal’ null fechou seu armário.
‘Quanto acha que tirou?’ null perguntou pra ela.
‘Sei lá, no máximo 8’ ela respondeu fazendo pouco caso de si mesma e levou um tapa da prima por causa disso ‘Ei, que foi?!’
‘Nerd’ null resmungou fechando a porta do seu armário e todas riram.
‘Não tenho culpa se puxei o lado inteligente da família’ ela retrucou e teve que sair correndo em seguida, fugindo de mais tapas da prima. Ela ria olhando pra trás, vendo null fazer gestos de que ia esganá-la depois. null desacelerou o passo e olhou pra frente, depois de virar no corredor que dava acesso ao pátio. Viu quatro garotos conhecidos encostados numa parede e foi até eles ‘Hey dudes’ cumprimentou sorrindo quando se aproximou. Os garotos olharam pra ela.
‘Como está, null?’ null perguntou educado.
‘Ótima, null’ ela respondeu no mesmo tom que ele, fazendo uma pequena reverência. null riu ‘Já tiveram aula de Física?’
‘Nop’ null negou com a cabeça.
‘Por quê?’ null indagou.
‘Prova, meus queridos, prova’ null disse e todos eles fizeram caretas ‘Mas eu não duvido da capacidade mental de vocês, então acho que vão se sair bem’
‘Você deveria duvidar’ null disse rindo. null pôs a língua pra fora.
‘E vocês deveriam ser mais confiantes’ disse ‘ou pelo menos mais estudiosos’ e riu com eles ‘Novidades?’
‘Nosso querido null tem uma’ null deu uns tapinhas no ombro de null ‘e das boas’
‘Diz aí’ ela pediu interessada. null sorriu.
‘Se você for ao Gas nesse sábado, vai ter o prazer e a honra de ver mais um show do McFly’ ele contou todo cheio de si.
‘O prazer e a honra?!’ null repetiu rindo e balançou a cabeça ‘Céus, que pretensão. Mas, enfim, parabéns meninos. Sem dúvidas estarei lá pra ver vocês’
‘Ow cabeça!’ alguém gritou e os cinco se viraram pra ver quem era. null e as amigas chegaram perto.
‘Que vocabulário é esse, hein null?’ null perguntou surpresa.
‘Ah, cala a boca’ null abanou a mão rindo, e se virou pros garotos ‘Bom dia, rapazes’
‘Bom dia’ null cumprimentou antes de todos os outros, abrindo um enorme sorriso. null também sorriu, não tanto quanto ele, claro.
‘Acho que já os conhecem, não é?’ null perguntou pra null e null, apontando pros garotos. As duas ficaram meio sem jeito.
‘Como vai, null null?’ null perguntou pro respectivo garoto, que se surpreendeu ao constatar que a menina sabia seu nome.
‘Muito bem’ ele conseguiu responder ‘Você é null null, certo?’ a garota simplesmente sorriu, confirmando. null olhou pra null.
‘Desculpe, mas...’ ela ergueu os ombros. null sorriu porque já esperava por isso.
null null’ ele disse e estendeu a mão, que a garota apertou ‘Prazer em falar com você pela primeira vez na vida, null null’
null abafou uma risada ao ver a amiga ficar vermelha ao soltar a mão do garoto. Ela olhou pra null e viu que o garoto parecia meio surpreso ao ver aquela cena.
‘Parece que meu plano vai dar certo’ ela cochichou pra ele, que apenas sorriu.
‘Bom, null’ null começou depois de ficar encarando null durante uns bons minutos ‘eu e as meninas estávamos indo até a cantina, você vem?’
‘Talvez depois’ null respondeu ‘Vou conversar mais um pouco com eles’
null deu de ombros e já ia se virar com as amigas pra irem pra cantina quando, de repente e pra espanto tanto dos garotos quanto de null, null falou:
‘Preciso ir na cantina também. Importam-se se eu for com vocês?’ perguntou e corou um pouco logo em seguida. null negou com a cabeça, olhando pra ele por cima do ombro, e então o garoto correu pro lado dela.
null está ficando esperto’ null comentou ao ver o amigo se afastar conversando com as garotas. null concordou com a cabeça.
‘Nosso garoto está crescendo’ disse e os dois riram. null lançou um olhar significativo pra null, que entendeu. Sem avisar nada, eles correram até a cantina.
‘Eu achei que ia ser mais difícil fazer com que eles se aproximassem’ null disse.
‘Idem, mas pelo visto eles resolveram colaborar’ null deu de ombros, colocando as mãos nos bolsos e olhando pra garota ‘Então, como foi o fim de semana?’
‘Tranqüilo’ ela respondeu simplesmente. null viu que ela não tinha percebido o ponto exato onde ele queria chegar e resolveu ser mais direto.
‘Se divertiu com Duncan?’
‘Ah, sim’ ela disse entendendo ‘Foi divertido sim’
‘Não que isso seja da minha conta’ ele esclareceu antes de continuar fazendo perguntas pra ela ‘mas onde vocês foram?’
‘Em um...’ ela começou, mas parou de falar quando uma mão segurou levemente no seu ombro. null e null olharam pro lado.
‘Olá’ Duncan cumprimentou sorrindo. null mirou a mão do outro garoto sobre o ombro de null e depois olhou pro rosto da garota. Ela estava sorrindo.
‘Oi, Duncan!’ null disse ‘Não falou comigo hoje de manhã, hein’
‘Não falei porque não te vi’ ele justificou rapidamente ‘Achei que tivesse chegado atrasada. Amanhã eu falo, pode deixar’ assegurou e a garota riu.
‘Relaxa, estou brincando’ ela abanou a mão e percebeu que null devia estar se sentindo completamente excluído da conversa ‘Já conhece o null, Duncan?’
‘Só de vista’ Duncan deu um breve sorriso pra null, que retribuiu com um simples aceno de cabeça ‘É um dos tais McGuys, não é?’
‘Sou’ null respondeu secamente. Viu null e null voltando e agradeceu mentalmente por isso, pelo menos não seria obrigado a agüentar aquele almofadinhas sozinho.
‘Ei’ null disse quando os meninos chegaram perto, com um pacote de Ruffles cada um ‘eu vou querer essas batatas’
‘Aproveita que estamos bonzinhos hoje’ null riu passando a Ruffles pra ela. null olhou pra Duncan.
‘Alow’ cumprimentou distraído e voltou sua atenção pras batatinhas. Duncan olhou pra eles com certo desdém imperceptível e se virou pra null de novo.
‘Então babe, vim perguntar se você não quer sentar ali na mesa, comigo e com os outros caras’ ele apontou pra trás, indicando uma mesinha do pátio onde mais alguns atletas estavam sentados ‘Daí você leva as suas amigas e sua prima também’
‘Ah não, Duncan’ null devolveu a Ruffles pra null e olhou pra Duncan ‘Valeu, mas eu vou ficar por aqui mesmo’
‘Vai ficar com eles?’ Duncan não se conteve e franziu a testa, surpreso com a resposta dela.
Eles são meus amigos. E, sim, vou ficar aqui’ ela confirmou calmamente. null sorriu intimamente ao ouvir aquilo. null e null prendiam o riso ao ver a cara que Duncan fazia.
‘Hum, certo’ ele disse visivelmente desconcertado ‘Nos falamos depois?’
‘É, acho que sim’
‘Ok, até mais’ Duncan acenou e saiu andando até a mesinha onde os amigos dele estavam.
null deu de ombros e pegou o pacote de Ruffles da mão de null de novo. Quando olhou pra ele viu que o garoto a encarava parecendo espantado. Ela olhou pra null e null e viu que eles a encaravam da mesma forma.
‘Eita gente, que foi?’ ela perguntou desentendida.
‘Alguém já te disse que você é diferente dos outros?’ null arqueou uma sobrancelha. null lançou um olhar rápido pra null, que se viu dizendo aquilo pra garota.
‘Já’ ela respondeu ‘e também me disseram que isso é um elogio, então, obrigada’ e sorriu colocando uma batata na boca.

‘Se você não parar de falar dele, eu juro que enfio a tua cabeça na privada e dou descarga’ null disse rindo enquanto arrumava os cabelos na frente do espelho do banheiro feminino do colégio, no horário da saída.
‘Eu não posso fazer nada se o garoto é simpático’ null deu de ombros, inocente.
‘Eu até concordo’ null disse sentada na bancada das pias ‘mas também não precisa ficar repetindo milhares de vezes o que ele te disse’
‘Admita null’ null saiu de uma das cabines e foi lavar as mãos ‘você adorou conhecer o garoto’
‘Não digo que adorei’ null disse rapidamente ‘mas é sempre bom fazer novas amizades’
‘Sinceramente, nunca imaginei que passaríamos um intervalo inteiro ao lado deles’ null pulou pro chão e se olhou no espelho.
‘Espero que isso se repita mais vezes, sério’ null sorriu ‘Eles são caras legais, merecem uma chance’
‘E têm uma banda!’ null exclamou empolgada, secando as mãos numa toalha de papel.
‘Eu não ficaria com null null só porque ele tem uma banda’ null soltou sem pensar. null olhou surpresa pra ela.
‘E quem falou em ficar?’ null perguntou antes de null. null corou e não respondeu.
‘Nenhum deles tem jeito de gay, isso já é um ponto positivo’ null concluiu dando de ombros e saiu do banheiro. As outras se entreolharam e foram atrás dela.

Cap. 14


(NA.: seria legal deixar carregando Met This Girl)

O Gas estava cheio como de costume, ou até mais. null espiava o público por trás das cortinas do palco. Ele esperava apenas por uma pessoa e não ficaria tranqüilo até que ela chegasse.
‘Cara, ela falou que vinha, então ela vem’ null ria da preocupação do amigo.
‘É dude, relaxa aí’ null apoiou e null concordou com a cabeça.
‘Fica calmo, ainda faltam uns minutos pro show. Logo ela chega’ disse.
null não respondeu nada pros amigos, continuou apenas olhando pra entrada do barzinho, esperando que a qualquer minuto ela entrasse. Então, finalmente, ela entrou. Ele sentiu o coração acelerar ao vê-la tão bonita. null estava com uma calça jeans mais apertada do que as que ela costumava usar, uma blusinha rosa-choque e salto alto. null não sabia se ela ficava mais bonita daquele jeito, bem feminina, ou quando não se arrumava tanto, usando roupas mais largas. Se bem que, pra ele, ela era simplesmente linda, não importando como estava vestida.
‘Ela chegou’ null disse devagar. null, que estava sentado no chão, levantou rapidamente.
‘E a null? Veio também?’ perguntou. null confirmou com a cabeça e fechou a cortina.
‘Veio e, pra sua sorte, sem o namorado’ disse. null sorriu.

‘Então Michael não pôde vir de novo?’ null perguntou assim que as quatro garotas conseguiram se sentar.
‘Não’ null respondeu indiferente ‘Disse que tinha que estudar porque tá em época de provas e tal’
‘Medicina é um lixo’ null riu ‘mas dá futuro’
‘Hey, vou pegar alguma coisa pra beber porque aqui dentro está um forno’ null avisou ‘Alguém vem comigo?’
null ergueu o braço e as duas se levantaram, indo pro bar. null chegou sua cadeira mais perto da prima.
null, você não liga realmente se o Michael pode sair ou não com você?’ ela perguntou direta. null olhou pra ela e pensou um pouco antes de responder.
‘Bem, não é que eu não ligue realmente’ disse devagar ‘Tipo, eu gostaria que ele estivesse aqui, por exemplo’
‘Você gosta dele?’ null viu a prima franzir a testa, intrigada e confusa ‘Digo, gosta de verdade? Como namorados mesmo?’
‘Gosto’ ela respondeu firme ‘Michael é um cara legal, simpático e me trata bem’ disse sorrindo ‘o problema é que eu tenho algumas desconfianças quanto... ah, você sabe’ e abanou a mão ‘Mas sabe, se ele terminasse comigo acho que eu ficaria bem mal’
‘Se ele suspeitar que você tem esse tipo de desconfiança a respeito dele, ele não vai pensar duas vezes antes de terminar’ null disse bem sincera.
‘Eu sei disso’ null concordou com a cabeça.
‘Então você também sabe que ele não gostaria nada de saber que a própria namorada pensa que ele é gay, ele sendo ou não’
‘Sei’ ela concordou novamente ‘e é por isso que às vezes eu penso que seria melhor terminar com ele. Eu não acho justo continuar com o Michael tendo essas dúvidas a respeito dele, é errado... se, depois de terminar com ele, eu descobrisse que ele realmente é gay, eu acho que não veria problemas nisso’ concluiu.
‘Talvez vocês pudessem ser bons amigos’ null sugeriu como consolo pra prima.
‘Seria ótimo’ null disse esboçando um leve sorriso ‘Mas eu não deixaria de ficar mal caso terminasse com ele. Poxa, são quase dois anos namorando com ele...’
‘Eu imagino como deve ser, mas esqueça isso agora. Aliás, eu nem deveria ter tocado no assunto’ null disse, meio arrependida. A prima negou com a cabeça.
‘Não tem problema, null. Acho que eu precisava mesmo conversar sobre isso com alguém, até mesmo pra clarear as idéias’
‘Espero ter ajudado’ ela disse sorrindo pra reanimar a prima.
A música que estava tocando antes no barzinho parou e as pessoas começaram a aplaudir. null e null ficaram de pé quando perceberam que os garotos do McFly estavam subindo no palco. null também estava aplaudindo quando viu os garotos olharem na sua direção e da prima. Ela sorriu e acenou pra eles, que apenas retribuíram o sorriso. Dois deles pareciam especialmente sorridentes.
‘Boa noite’ Danny cumprimentou ao microfone. Algumas pessoas gritaram ‘Bom, vamos começar com Met This Girl’ disse e uma música agitada começou.

‘Well I met this girl, just the other day
(Bem eu conheci essa garota ainda outro dia)
I hope I don't regret the things that I said now
(Eu espero que eu não me arrependa das coisas que eu disse agora)
And when we're laughing joking with each other now
(E quando nós estávamos rindo e brincando um com o outro agora)
I'm glad, I met this girl
(Eu estou feliz, eu conheço essa garota)
She didn't walk away
(Ela não fugiu)
I think she was impressed and was having a good time
(Eu acho que ela se impressionou e estava se divertindo)
And when we're laughing joking with each other
(E quando nós estávamos rindo e brincando um com o outro)
Spending all our time together...
(Passando todo o nosso tempo juntos...)

When she walks in the room my heart goes boom!
(Quando ela entra na sala meu coração faz boom!)
Ba ba ba ba ba da ba
When she walks in the room my heart goes boom!

(Quando ela entra na sala meu coração faz boom!)
Ba ba ba ba ba da ba
I tried to take her home but she said:

(Eu tentei levar ela para casa, mas ela disse)
“You're no good for me”
(“Você não é bom para mim”)’

null e null estavam se esforçando pra prestar mais atenção no que estavam fazendo em cima do palco do que nas duas garotas que dançavam animadas perto das mesinhas. Elas não paravam de sorrir e, às vezes, faziam movimentos exagerados e riam uma da cara da outra. Era engraçado, e até um tanto bonito, ver.

‘She's got a pretty face, such a lovely name
(Ela tem um rosto bonito, um nome encantador)
I don't want my friends to see
(Eu não quero que meus amigos vejam)
They might take her away from me
(Eles podem tirar ela de mim)
She's one I won't forget, in a long, long, long time
(Ela é a única que eu não vou esquecer, por um longo, longo, longo tempo)
Now I really want the world to see
(Agora quero realmente que o mundo inteiro veja)
That she is the one for me
(Que ela é única para mim)

When she walks in the room my heart goes boom!
(Quando ela entra na sala meu coração faz boom!)
Ba ba ba ba ba da ba
When she walks in the room my heart goes boom!

(Quando ela entra na sala meu coração faz boom!)
Ba ba ba ba ba da ba
I tried to take her home but she said:

(Eu tentei levar ela para casa, mas ela disse)
“You're no good for me”
(“Você não é bom para mim”)’

The first time that I saw her she stole my heart,
(A primeira vez que eu a vi ela roubou meu coração)
And if we were together, nothing could tear us apart
(E se nós estivéssemos juntos, nada poderia nos separar)’

null estava adorando a música, era realmente ótima. Por um momento, ela parou de dançar e olhou pras pessoas em frente ao palco. Todo mundo estava agitado e empolgado com a canção do McFly. Ela olhou pro palco e viu null olhando pra ela. null sorriu, feliz por simplesmente os meninos estarem fazendo sucesso.

‘When she walks in the room my heart goes boom!
(Quando ela entra na sala meu coração faz boom!)
When she walks in the room my heart goes... Boom!
(Quando ela entra na sala meu coração faz... Boom!)
I tried to take her home but she said:
(Eu tentei levar ela para casa, mas ela disse)
“You're no good for me”
(“Você não é bom para mim”)

When she walks in the room my heart goes boom!
(Quando ela entra na sala meu coração faz boom!)
Ba ba ba ba ba da ba
When she walks in the room my heart goes boom!

(Quando ela entra na sala meu coração faz boom!)
Ba ba ba ba ba da ba
I tried to take her home but she said:

(Eu tentei levar ela para casa, mas ela disse)
“You're no good for me”
(“Você não é bom para mim”)’


Ba ba ba ba ba da ba
Ba ba ba ba ba da ba
Ba ba ba ba ba da ba
Ba ba ba ba ba da ba
Ba ba ba ba ba da ba
Ba ba ba ba ba da ba
Ba ba ba ba ba da ba
Ba ba ba ba ba da ba’


O público gritou e a banda emendou outra música sem demora. null e null resolveram sentar novamente, meio cansadas.
‘Cara, eles são ótimos mesmo!’ null exclamou alto pra poder ser ouvida.
‘Eu aposto que eles ainda vão fazer muitos outros shows aqui’ null disse confiante, no mesmo tom de voz que a prima ‘E, se bobear, quem sabe até em outros lugares também’
‘Eu gosto cada vez mais desses meninos!’ null chegou perto da mesinha quase gritando. null vinha atrás dela, segurando três garrafas de cerveja.
‘Hmm, e eu nem precisei pedir hein’ null riu pegando uma cerveja de null. Ela viu quando a prima olhou torto pra bebida ‘Relaxa null, eu tenho juízo’
‘Claro, juízo que a Susan roubou de você há alguns dias atrás’ null disse pegando a outra garrafa e as duas riram.
‘Então, null’ null olhou pra amiga ‘você dizia que gosta cada vez mais dos meninos. Que bom, quer dizer que está mudando seus conceitos?’
‘Bem, não digo deles’ null encolheu os ombros, meio sem saber o que dizer e como dizer ‘mas da banda deles. Poxa, as músicas são incríveis e eles realmente sabem o que estão fazendo lá no palco’
‘Não, eles são músicos sem saber o que estão fazendo’ null ironizou e levou um tapa da amiga.
‘Quantas cervejas vocês beberam?’ null perguntou arqueando a sobrancelha e todas riram.

Quando o show terminou, os garotos da banda desceram do palco e fizeram uma média pelo barzinho antes de se livrarem dos “fãs” e procurarem a mesa das meninas.
‘Ahá!’ null exclamou quando finalmente encontrou a mesinha que estava procurando com os amigos ‘Eu disse que estava desse lado’
‘Oi pra você também, null’ null disse rindo.
‘Boa noite’ null disse sorrindo charmoso. null corou e passou a prestar mais atenção a sua cerveja do que ao garoto.
‘Eu jurei ter visto a null por aqui’ null comentou distraído.
‘Ela foi pegar mais umas cervejas pra gente’ null informou. null franziu a testa.
‘Relaxa’ null disse, imaginando as preocupações do garoto ‘logo ela está de volta, e nós não vimos nenhuma Susan por aí’
‘Melhor assim’ null disse e ela riu.
‘Por que não puxam umas cadeiras e sentam aqui com a gente?’ null sugeriu. null arregalou os olhos.
‘Sério que podemos?’ ele perguntou num tom surpreso ‘Nós não vamos acabar com a imagem de vocês, populares?’
‘Ou nos querem aqui apenas pra espantar os caras que conseguem ser mais losers que nós quatro juntos?’ null entrou na onda do amigo.
‘Será que vocês podem parar de se fazer de coitados e ir buscar as cadeiras logo?’ null perguntou rindo. Os garotos riram e saíram caçando cadeiras desocupadas.
‘Depois do show que eles deram, acho que não vão mais ser considerados losers’ null comentou com as amigas.
‘Bom, o pessoal esqueceu bem rápido do primeiro show’ null disse, lembrando da fama que eles tiveram na segunda-feira, mas que logo foi esquecida nos outros dias.
‘Só que ninguém achava que eles voltariam a se apresentar num dos barzinhos mais freqüentados da cidade’ null deu um último gole na sua cerveja ‘Agora vamos ver se alguém vai esquecer o segundo show também’
‘Se quisermos falar com eles na segunda-feira, vamos ter que pegar lugar na fila. A mulherada do colégio vai cair matando em cima’ null rolou os olhos.
‘Nossa, tudo isso de ciúmes deles?’ null arqueou uma sobrancelha.
‘Shiu!’ null colocou o indicador na frente da boca e abaixou o dedo bem na hora em que os garotos voltaram, cada um trazendo uma cadeira.
‘Então, qual é o papo?’ null perguntou animado. As meninas se entreolharam e prenderam o riso.
‘Música’ null ergueu os ombros ‘Aliás, parabéns pelo show. Acho até que foi melhor que o primeiro’
‘Bondade a sua’ null disse modesto.
‘Hey garotas!’ null disse alto quando chegou na mesa, com quatro cervejas na mão. Ela olhou pra todos que estavam sentados ‘Eita, acho que errei de mesa, não era pra esses garotos estarem aqui’ disse de uma forma engraçada e todos riram ‘Se perderam enquanto iam pro camarim, por acaso?’ ela perguntou sentando ao lado de null e distribuindo as cervejas pras amigas.
‘Nop, na verdade passamos aqui pra distribuir uns autógrafos’ null brincou. null olhou seriamente pra ele, então pegou um guardanapo que estava num montinho sobre a mesa e entregou pro garoto.
‘Se importa de autografar aqui mesmo?’ ela perguntou sorrindo e todos riram ‘E, se puder, anote seu número de telefone também, ok?’ pediu fazendo null ficar vermelho, mas não porque estava rindo.
‘Vocês precisam se acostumar com esse negócio de autógrafo e panz’ null disse.
‘Se vocês continuarem fazendo shows aqui, não demora muito e já tem fã-clube’ null abriu sua cerveja.
‘Imagino que vocês seriam as fundadoras, certo?’ null perguntou rindo.
‘Iludido’ ela disse dando um gole na cerveja. null pôs a língua pra fora.
‘Não sei se vamos fazer mais shows aqui’ null comentou ‘O que acha, null?’
‘Ah, não sei’ null encolheu os ombros ‘Talvez sim. O Sr. Irving disse que faríamos esse segundo show porque o dono daqui do Gas gostou realmente da nossa banda e que, se o segundo fosse tão bem sucedido quanto o anterior, talvez nós pudéssemos nos apresentar mais algumas vezes’
‘Hum, então relaxem’ null disse ‘O show de vocês foi ótimo, com certeza o cara vai querer que vocês se apresentem mais vezes’
‘Concordo’ null balançou a cabeça afirmativamente, tentando abrir sua garrafa de cerveja ‘Não vêem? O Gas tá lotado e muita gente deve ter vindo aqui só pra ver o show de vocês, que foi bem comentado da primeira vez’
‘Seria bom se fizéssemos outros shows’ null começou ‘assim nós ficamos mais conhecidos e tal, mas seria melhor ainda se recebêssemos pelas apresentações’
‘Vocês estão fazendo show de graça?’ null franziu a testa, meio indignada. null confirmou com a cabeça.
‘Exatamente, babe’ ele disse ‘E duvido que se fizermos mais um show o cara vai querer pagar alguma coisa’
‘Ah gente, mas vocês tem que levar em consideração que não são uma banda muito conhecida ainda’ null encolheu os ombros.
‘Só que pensa no quanto o dono do Gas deve estar lucrando hoje’ null ainda lutava pra abrir a cerveja. null pegou a garrafa da mão dela.
‘Se aqui continuar lotando assim, uma hora ou outra o cara vai ter que nos pagar alguma coisa’ ele disse e devolveu a garrafa aberta pra garota, que apenas sorriu em agradecimento.
‘Mas vocês também hein, mal começaram a carreira e já estão virando uns belos duns mercenários’ null disse rindo. null olhou pra ela.
‘Eu preciso ganhar dinheiro desde cedo, babe. Senão, como é que eu vou poder te dar uma vida decente no futuro?’ ele perguntou astucioso. null corou, ficando absurdamente sem graça, e bebeu um gole grande da cerveja. null desviou o olhar e sorriu de lado ao ver a reação da garota.
‘Então gente, alguém quer dançar?’ null disse a primeira coisa que veio à sua cabeça. Seu único intuito era tirar a prima daquela situação constrangedora e null aproveitou a deixa, se levantando rapidamente.
‘Ahn, mais tarde’ null disse e null concordou. null deu de ombros e foi com a prima pra pista.
‘Eu não estou com a mínima vontade de dançar’ ela cochichou pra null ‘Olha o sacrifício que eu estou fazendo por você’
‘Obrigada, mas... cara’ null colocou a mão na testa ‘ele disse mesmo aquilo que eu ouvi?’
‘Disse’ null confirmou simplesmente enquanto procurava um espaço entre as pessoas onde pudesse parar e dançar sem que ninguém esbarrasse nela toda hora.
‘Ai céus...’ null balançou a cabeça e foi seguindo a prima.

Cap. 15


null não tinha mais idéia do assunto que estava sendo discutido, não ouvia mais as músicas que estavam tocando e não sabia quem ainda estava sentado ou quem tinha saído da mesa. A única coisa na qual ele estava interessado em saber era onde null estava. Claro, ele sabia que ela tinha ido dançar, mas não conseguia ver a garota no meio das outras pessoas na pista. E ele queria vê-la dançando. null estava esticando o pescoço pra tentar enxergar null quando null apareceu. Ele olhou pra garota, esperando ver null, mas null estava sozinha.
‘Cansou de dançar?’ null perguntou pra ela. Apenas ele, null, null e null ainda estavam na mesa. null e null tinham ido dançar também.
‘Depois de levar uma seqüência de cotoveladas, acho que qualquer um cansa’ null disse com naturalidade e null riu.
‘E a null?’ null não se acanhou em perguntar.
‘Disse que ia dar um pulo no banheiro e depois vinha pra cá também’ ela respondeu e se virou pra null ‘null, se importa em ir buscar alguma coisa pra eu beber?’
‘Pode ficar aqui, cara’ null disse quando null fez menção de levantar da cadeira ‘Eu e a null vamos lá no bar agora. O que vocês vão querer?’
‘Cerveja’ null disse.
‘Água mesmo, com gelo’ null pediu simplesmente enquanto massageava o lado do corpo onde, provavelmente, a cotovelada tinha acertado.
‘Martini’ null disse. null assentiu com a cabeça e saiu de perto com null.
‘Então’ null começou, olhando pra null, mas foi interrompido antes mesmo de continuar. O celular da garota estava tocando e ela pediu pra que ele esperasse um momento.
‘Alô’ null atendeu ‘Ah, oi Michael’ cumprimentou sem emoção. null virou o rosto, fazendo cara feia, e null fingiu que nem estava ali ‘Hum, sim. Ah, mas não precisa vir pra cá não’ ela disse rapidamente. null olhou de esguelha pra ela ‘Não, não é isso. É que eu já estou indo embora, seria perda de tempo... ok? Certo... até, beijos’ despediu-se e guardou o celular na bolsa de novo, balançando a cabeça ‘Michael tem umas idéias às vezes’
‘Hum, Michael?’ null perguntou se fingindo de desentendido.
‘É, meu namorado. Ele queria vir pra cá, vê se pode!’ ela disse como se fosse um absurdo. null franziu a testa.
‘Mas, bem, qual o problema nisso?’
‘Ele disse que não viria pra cá hoje porque precisava estudar e dormir cedo’ ela contou ‘Agora ele liga dizendo que já terminou de estudar e que estava pensando em dar um pulo aqui. Hunf, ele que fique em casa e durma cedo’ ela bufou insatisfeita. null percebeu que null estava se esforçando muito pra reprimir um sorriso.
‘First time, you've got me babe’ null chegou na mesa cantando um trecho da música que estava tocando naquela hora. null olhou pra ela.
‘Achei que esse tipo de música não fizesse o seu estilo’ ele disse.
‘Se não pode vencê-los, junte-se a eles’ ela deu de ombros apontado pro pessoal que estava na pista. Ele riu.
‘Esqueci que você é uma garota eclética’
‘Demais’ ela fez positivo e se sentou ‘E cadê o resto do povo?’
‘O null e a null acabaram de sair pra buscar alguma coisa pra beber’ null respondeu ‘Agora, os outros...’ e encolheu os ombros, olhando pra null.
‘Acreditem ou não, a amiga de vocês convenceu o null a ir dançar’ null disse.
‘Nada como um bom poder de persuasão’ null encolheu os ombros e todos riram. null e null voltaram com as bebidas e as distribuíram.
‘Dá um gole?’ null pediu pra null depois que ele bebeu um pouco do Martini. O garoto entregou a taça pra ela.
‘Quer descobrir os meus segredos?’ perguntou com uma sobrancelha arqueada quando ela ia beber bem no mesmo lugar que ele.
‘Depende... que tipo de segredos você guarda?’ ela sorriu com o canto da boca. null encolheu os ombros.
‘Descubra você mesma’ ele disse simplesmente. null olhou pra taça e pensou em beber de outro lado, mas tomou um pequeno gole ali mesmo.
‘Não reclame quando eu desvendar seus mistérios’ ela disse devolvendo a taça pra ele.
‘Só se eu puder desvendar os seus também’ null sorriu marotamente.
‘Você não seria capaz disso, null. Nunca’ ela piscou pra ele e pescou com um palitinho a azeitona que estava no fundo da taça. null olhou pra null ‘Não sei qual era o problema com seu Martini, null. Pra mim, esse está ótimo’
‘Concordo plenamente’ null levantou a taça antes de beber o resto do Martini e null riu, colocando a azeitona na boca.
‘Ei, ei, ei!’ null exclamou chamando a atenção ‘Olhem aquilo ali’ disse apontando pra pista. Os outros olharam e se espantaram com o que viram. null e null estavam dançando uma música eletrônica praticamente colados um no outro. null pareceu falar alguma coisa no ouvido de null e a menina riu.
‘Eu não sabia que ela era tão cara de pau’ null cochichou pra null.
‘Que nada, ela é safada mesmo’ a outra cochichou de volta e as duas deram risadinhas.
‘Esse é meu garoto’ null disse orgulhoso e null riu, dando um tapa no braço dele.
‘Cada um com a sua sorte’ null deu de ombros e null concordou com a cabeça. null e null apenas trocaram olhares.
‘Pelo menos alguém está aproveitando bem a noite’ null tomou um gole da sua cerveja. null olhou pra ela. ‘Não por isso’ ele disse e levantou ‘Vamos dançar’ e puxou a menina pela mão, guiando-a pra pista. null e null viram os amigos próximos e se distanciaram um pouco, o que fez null rir.
‘Como são discretos’ ela comentou balançando a cabeça.
‘Hunf, um monte de gente dançando e eu aqui’ null fez careta ‘Alguém vai pra pista, dançar comigo?’ perguntou. null olhou rapidamente pra ela.
‘Achei que você não queria levar mais cotoveladas’ ele disse intrigado.
‘Seria melhor do que ficar aqui. E eu não quero ir dançar sozinha no meio daquele monte de casais ali’ ela encolheu os ombros. null olhou de esguelha pra null e viu que o que o amigo mais queria era ficar sozinho com null, então se levantou.
‘Certo, vamos dançar então’ ele disse sorrindo. null levantou no mesmo ato e foi levando o garoto pra pista ‘Mas já vou avisando, eu não sei dançar muito bem’ foi a última coisa que null e null ouviram antes dos outros dois sumirem no meio das pessoas.
‘Eu não imaginei que passar um intervalo ao lado de vocês mudasse a atitude delas a esse ponto’ null comentou com null, ainda sem acreditar muito que as amigas e a prima, que nem sabia os nomes dos garotos, agora estavam conversando e até mesmo dançando com eles como se fossem grandes amigos de anos atrás.
‘Nós temos o poder de mudar a opinião das pessoas’ null disse com naturalidade e ela olhou pra ele.
‘E por que só usaram nas minhas amigas?’ perguntou ‘Deviam usar no colégio inteiro’
‘Sabe, não queremos gastar nosso poder em vão’ ele disse fazendo a garota rir ‘E talvez nosso talento musical já seja o bastante pra fazer todos mudarem de opinião’
‘Bem, se não todos, pelo menos as meninas’ ela encolheu os ombros.
‘Seria o suficiente’ ele disse de uma forma sacana e riu quando null arqueou as sobrancelhas.
‘Cachorro’ ela disse simplesmente e os dois riram ‘Olha, depois dessa acho que vou reconsiderar a hipótese de me tornar sua amiga’ disse e pegou a taça de Martini. null olhou sério pra ela.
‘Desconsidere o que eu disse, então’
‘Medo de perder minha amizade?’ ela sorriu levemente e esvaziou a taça ‘Não se preocupe, eu não faria isso. Acha mesmo que eu correria o risco de perder minha carona pra casa?’
‘Interesseira hein’ ele arqueou uma sobrancelha e riu. Os dois ficaram quietos por uns minutos, olhando pro pessoal que dançava.
‘Você é um garoto incrível, null’ null comentou de repente e olhou pra ele ‘Um ótimo amigo, de verdade’ ela sorriu e null retribuiu o sorriso, mesmo sentindo uma pontada no peito quando ouviu a palavra “amigo” ‘Olha, eu vou ao banheiro e já volto’ ela deu um beijo na bochecha dele e saiu de perto. null engoliu em seco e ficou olhando pra cadeira vazia dela, se perguntando até quando seria apenas um ótimo amigo.

Cap. 16


‘Eu também vi, e nem é tão ruim assim’ null disse. null negou com a cabeça.
‘Foi um dos piores filmes que já assisti’ disse.
‘Meu, não tem a mínima graça’ null encolheu os ombros.
‘Não posso opinar quanto a isso, ontem a única coisa que eu vi antes de dormir foi uma panela de miojo’ null disse.
‘Que vida emocionante a sua, cara’ null disse e todos riram. Era quinta-feira de manhã e os quatro garotos estavam conversando sobre um filme que tinha passado na televisão na noite anterior. null estava com eles, esperando pelas amigas que ainda não tinham chegado no colégio.
‘Na sexta que vem vai estrear um filme no cinema. Parece bom’ null comentou.
‘Como chama?’ null perguntou. null ia começar a falar do filme quando alguém tocou no braço dela.
null?’ perguntaram. Ela olhou pra trás e se deparou com sua prima. null estava com os olhos meio inchados e olheiras visíveis, o que deixou null preocupada.
‘Tá tudo bem, null?’ ela perguntou segurando no ombro da prima.
‘Mais ou menos... pode vir comigo, por favor?’ null pediu. null concordou rapidamente e olhou pros garotos, que apenas observavam as duas.
‘Eu tenho que ir, com licença’ disse.
‘Se precisar de ajuda...’ null começou e null viu a preocupação estampada no rosto dele ‘Pode chamar a gente’
‘Obrigada, null’ ela sorriu em agradecimento e saiu de perto, levando a prima em direção aos banheiros.
‘Aconteceu alguma coisa’ null concluiu. null bufou.
‘Conta uma novidade’ disse aborrecido ‘Se alguém fez mal pra ela, eu juro que mato’
‘Calma, cara’ null disse ‘Provavelmente ela brigou com o namorado’
‘O que não seria nada mal pra você, convenhamos’ null comentou rindo. null deu de ombros e se sentiu intimamente envergonhado em pensar nessa possibilidade com alegria.

‘Certo, agora me conta o que aconteceu’ null disse assim que entraram no banheiro feminino. null encostou-se à bancada da pia e soluçou, mesmo sem chorar.
‘Eu estou com uma cara péssima, não estou?’ perguntou se olhando no espelho grande na parede. null concordou sem nem ligar pra isso.
‘É, está com cara de quem chorou a noite inteira. E, se isso realmente aconteceu, eu quero saber o motivo’
‘Michael...’ null disse baixo e null pôde prever o que ouviria a seguir ‘Ele... terminou comigo’
‘Ah, null’ null abraçou a prima, que soltou mais alguns soluços e deixou duas ou três lágrimas escorrerem pelo rosto ‘Por que isso? Quando foi?’
‘Ele foi na minha casa, ontem à tarde... não era mais como antes’ ela falava com a voz engrolada ‘Nem tudo estava tão bem... devíamos ser amigos’
‘Acho que eu entendi’ null disse quando a prima soluçou mais alto ‘Ele foi na sua casa ontem e disse que o namoro de vocês não estava indo muito bem, que não se tratavam mais como antes e que era melhor serem apenas amigos, certo?’
‘É... ah droga, eu disse que ficaria mal quando ele terminasse comigo’ null choramingou. null acariciou a cabeça da prima.
‘Olha, eu não sei se isso foi o melhor que ele poderia ter feito, mas pelo menos vocês vão continuar como amigos. Eu sei que é complicado ser amiga de um ex-namorado, mas você mesma disse que seria ótimo ser amiga dele caso terminassem. Agora’ ela partiu o abraço e enxugou com os dedos as poucas lágrimas que a prima tinha deixado escapar ‘você precisa ser forte e continuar com a sua vida normalmente’
null... você não acha que’ null fungou ‘ele me trocou por outro, acha?’
‘Ah, que bobagem! Claro que não’ ela negou rapidamente ‘E não pense mais nisso, ok? Ele terminou com você e não foi por causa de outra ou de outro, foi porque não estava dando mais tão certo e ponto final’
‘É, é isso’ null respirou fundo e olhou pro espelho ‘Meu Deus, essa não sou eu!’ exclamou espantada com a própria aparência. null riu.
‘Acho que você já está melhor, só precisa dar um jeito nessa cara e está pronta pra outra. Você consegue acabar com essas olheiras sozinha?’
‘Claro, só preciso encontrar a minha base’ null mexia na mochila, procurando pelo estojinho de maquiagem que sempre levava consigo.
‘Ótimo. Então acho que vou lá fora dizer pros meninos que está tudo bem por aqui’
‘Certo. E... erm... agradeça ao null por mim, pela ajuda que ele ofereceu’ ela disse sem graça.
‘Pode deixar, eu agradeço’ null sorriu ‘Nos vemos daqui a pouco’ e saiu do banheiro.

‘Como ela está? O que aconteceu afinal?’ null perguntou rapidamente quando null se aproximou dos garotos novamente. Ela riu.
‘Eita, quanta preocupação da sua parte, null’ disse e, como previra, o garoto ficou vermelho e sem graça. null lançou um olhar engraçado pra null, que encolheu os ombros e continuou ‘null está bem. Não foi nada grave, realmente’
‘Ela brigou com o namorado por acaso?’ null perguntou direto. null arqueou uma sobrancelha.
‘Bem, podemos dizer que foi mais grave que isso, visto que ela não brigou com o namorado, mas sim terminou com ele’ ela respondeu devagar e olhou de esguelha pra null. Os outros meninos não se contiveram e fizeram o mesmo. Todos perceberam que null lutava o quanto era possível pra conter sua alegria em receber aquela notícia, se bem que os cantos da boca dele pareciam apontar pra cima, num leve esboço de sorriso.
‘Hum, terminou?’ null perguntou tentando desviar a atenção dos outros.
‘Na verdade’ null olhou pra ele ‘ele terminou com ela, mas isso não vem ao caso. Ela ficou abalada com o término do namoro, que já durava quase dois anos, e por isso ficou naquele estado’
‘Acho que qualquer um ficaria’ null franziu a testa, pensativo ‘Passar quase dois anos ao lado de uma pessoa não é pouco’
‘Não sabia que você era tão compreensivo, null’ null comentou e todos riram, uma oportunidade pra null extravasar seu contentamento ‘Bem, enfim, foi isso que aconteceu. Agora, eu queria pedir pra vocês não comentarem nada a respeito disso, ok? Finjam que eu apenas disse que ela estava bem, que nada sério tinha acontecido e só. Eu não sei se ela gostaria de saber que eu contei... mas, eu achei que seria bom se pelo menos um de vocês ficasse sabendo antes que ela mesma decidisse contar’ ela encarou null por um tempo, deixando o garoto sem saber o que fazer, então sorriu quando o sinal tocou ‘Bom dia pra vocês’ e saiu, indo pra sala de aula.
‘Eu não sabia que estava tão na cara assim que eu gosto da null’ null comentou inocentemente, sem saber que null sabia disso por outros meios. null abaixou a cabeça e null segurou no ombro de null.
‘Então null, não quer matar uma aula pra comemorar o fim do namoro da null?’ sugeriu e os quatro garotos seguiram pra classe rindo.

‘Está melhor?’ null perguntou pra prima quando sentou na carteira ao lado dela.
‘Um pouco, mas minha cabeça está doendo’ null respondeu passando a mão na testa ‘Você viu as outras?’
‘Não. Achei que você tivesse encontrado com elas depois que saiu do banheiro’
‘Sugar, eu estava no banheiro até agora, fazendo milagres com base e pó compacto’ null apontou pro próprio rosto, que tinha uma aparência muito melhor, e as duas riram.
‘Será que elas não vêm hoje?’ null perguntou estranhando. null deu de ombros.
‘Devem apenas ter se atrasado um pouco. Acho que vou ligar e...’
‘Melhor não’ null interrompeu abaixando a voz e apontando discretamente pra professora que tinha acabado de entrar na sala.
‘Certo, acho que uma mensagem basta’ null pegou o celular e, escondendo-o ao lado das pernas, começou a digitar uma mensagem rápida ‘E os garotos? Falou com eles, explicou o que aconteceu?’
‘Eu só disse que estava tudo bem e que não tinha acontecido nada realmente grave’ ela mentiu ‘Sabe, só pra tranqüilizá-los um pouco’
‘Hum, eles estavam preocupados?’ null franziu a testa.
‘Claro! Você mesma viu a cara com que estava quando foi falar comigo, imagina só... eles devem ter pensado que alguém tinha morrido ou coisa do tipo’ ela disse e a prima riu baixo ‘Eu mal cheguei perto deles e o null já disparou milhares de perguntas’ ela contou propositalmente. null olhou pra prima.
‘Mesmo?’
‘Yep’ null confirmou simplesmente e sorriu quando viu a prima levantar as sobrancelhas e encolher os ombros, voltando a digitar as mensagens.

No intervalo, null e null encontraram com as amigas, que tinham realmente se atrasado e acabaram chegando no horário da segunda aula. As quatro foram conversar com os meninos e null aproveitou pra contar sobre o término do namoro. Pro contentamento de null, os garotos fizeram perfeitos papéis de desentendidos e ouviram tudo como se não tivessem sido informados antes. null e null, que não sabiam da história, pareceram meio chocadas.
‘Nunca imaginei que o Michael terminaria com você um dia. Isso é estranho’ null disse balançando a cabeça.
‘Pode contar com a gente pra qualquer coisa, amiga’ null sorriu pra null, que estava com cara de quem ia começar a chorar de novo a qualquer minuto.
‘Bom, não nos falamos há muito tempo, mas...’ null coçou a cabeça, visivelmente sem jeito ‘Acho que posso dizer o mesmo. Precisando, estamos aí’
‘É, ainda mais se estiver precisando rir um pouco. Sabe que isso é com a gente mesmo’ null disse de um jeito engraçado e todos riram, até null.
‘Obrigada, gente’ ela agradeceu sorrindo de leve ‘Eu vou ficar bem’
‘Acho que você só precisa de um tempo pra se acostumar com tudo e tal’ null opinou e recebeu um olhar surpreso dos amigos ‘Que foi?’
‘Pensei que o sensível e compreensivo fosse o null’ null disse e todos riram.

null...?’ null chamou quando já estavam no meio do caminho, indo pra casa no carro de null. A garota olhou pro banco de trás.
‘Eu’
‘Você sabe se a sua prima tem algum compromisso pra sexta-feira que vem, à noite?’ ele perguntou devagar, incerto do que estava fazendo. null olhou pro amigo pelo retrovisor.
‘Bom, acho que não’ null respondeu franzindo a testa, estranhando um pouco a pergunta ‘Por quê?’
‘Hum, será que você e ela não... não querem ver o filme do qual você falou, comigo e com o null?’ null viu null arregalar os olhos pelo retrovisor, mas não se importou. Queria sair com null, mas não podia fazer isso sozinho. Não ainda. null entendeu o que o garoto queria e resolveu ajudar.
‘Eu acho que seria muito bom’ ela disse e viu null sorrir ‘Vou falar com a null amanhã e depois te digo o que ela achou, ok?’
‘Ótimo!’ ele confirmou contente e, pensando um pouco, achou que seria bom dar uma justificativa pro convite repentino ‘Sabe, é que eu acho que seria uma boa a null se distrair. Assim ela não pensa tanto no fim do namoro e se diverte um pouco’
‘Claro, ela vai se divertir muito com um filme de terror’ null disse com um ar de riso e se ajeitou no banco, voltando a olhar pra frente. null engoliu em seco.
‘Bem, é uma distração, não é?’ ele encolheu os ombros, constrangido.
‘Sem dúvidas’ ela concordou e trocou um olhar rápido com null, contendo o riso.

Cap. 17


Na semana seguinte, na sexta-feira, exatamente às oito horas da noite, a campainha do apartamento de null tocou. Ela abriu a porta já sabendo quem encontraria ali.
‘Boa noite, null’ ela sorriu e ele fez o mesmo ‘Espera só um minuto, preciso colocar os sapatos e pegar minha bolsa. Já volto’ avisou e foi pra dentro do quarto de novo, deixando a porta de casa aberta, caso o garoto quisesse entrar.
null deu uma espiada dentro do apartamento. A sala era quase igual à dele, fora o fato de que estava mais arrumada. Ele viu mais duas portas e deduziu que fossem dar na cozinha e no lavabo. Um corredor curto levava até os quartos, como no seu próprio apartamento. null encostou-se ao batente da porta e ficou esperando até que null voltasse, o que não demorou mais que cinco minutos.
‘Pronto’ a garota apareceu novamente e saiu de casa ‘E o null?’
‘Deve estar na garagem, esperando pela gente’ null respondeu apertando o botão do elevador enquanto null trancava a porta.
‘Depois vamos buscar a null?’ ela perguntou e ele assentiu com a cabeça ‘Certo. Bem, espero que o filme seja bom, não estou a fim de sair nesse frio à toa’ disse vestindo uma jaqueta jeans pra combater o vento forte da rua.
‘Você não vai sair à toa’ null disse abrindo a porta do elevador. null entrou e ele a seguiu ‘É por uma boa causa’ ele apertou o botão da garagem.
null vai ficar me devendo essa’ ela disse e os dois riram.

Cinco minutos antes do filme começar, quando todos já estavam em silêncio dentro da sala de cinema, null resolveu que queria comer pipoca. null achou que seria uma boa ir junto com ele, assim deixaria null e null sozinhos por alguns minutos. Ela pediu pra prima dar um toque no seu celular caso o filme começasse e ela e null não tivessem voltado com as pipocas. Agora já fazia quase quinze minutos que null estava fora da sala de cinema e ela começava a achar que ninguém daria toque nenhum no seu celular.
null, esquece as pipocas’ null pediu pro garoto que estava na fila extensa ao seu lado. Como era estréia do filme, o cinema estava cheio e parecia até que todas as pessoas que iriam ver a próxima sessão tinham decidido comprar pipoca justamente naquela hora.
‘Nós já estamos na metade da fila, null. Não custa nada esperar mais um pouco’ null disse tranqüilo.
‘O filme já deve ter começado...’
‘Quem se importa?’ ele perguntou baixo, pra si mesmo, despreocupado com o filme.
‘... E a safada da null nem me ligou’ ela continuou a falar, ignorando o garoto e olhando no celular mais uma vez pra ver se não tinha mesmo nenhuma chamada perdida.
‘Ela deve estar ocupada com outra coisa’ ele disse mais alto. null riu.
‘Foi por isso que você quis comprar pipocas, não foi? Pra deixá-los sozinhos’
‘Exato, e também foi por isso que você veio comigo’ null disse sorrindo.
‘Você é esperto’ ela disse balançando a cabeça e ele riu ‘não tem como negar’
‘Eu sei das coisas, babe’
‘Só não seja tão pretensioso, por favor’ ela pediu rindo. null apenas encolheu os ombros e os dois deram um passo à frente quando a fila andou um pouco ‘Já vi que vamos perder o filme’
‘Nós não seremos os únicos’ ele disse ‘ou acha que aqueles dois lá dentro estão realmente vendo o filme?’
‘Se o null foi esperto uma vez na vida e tomou alguma atitude, acho que não’ ela respondeu e sentiu o celular no bolso da calça jeans vibrar ‘Epa, será que a null lembrou que nós existimos?’ ela riu e pegou o celular. Estava escrito “Duncan” no visor e ela achou estranho, mas atendeu ‘Alô’
‘Hey docinho, como está?’ a voz grossa de Duncan perguntou do outro lado.
‘Bem, e você?’ ela viu null franzir a testa ao ouvir aquilo e tampou o bocal do celular ‘Não é a null’ sussurrou e destampou o bocal quando ouviu Duncan falando.
‘Bem também. Nem falei com você direito no colégio esses dias, já estava ficando com saudade’ ele disse de uma forma carinhosa, o que fez null sorrir ‘Então, estava pensando, não quer sair comigo hoje à noite? Eu sei que está meio frio, mas a gente podia ir tomar um café, o que acha?’
‘Seria ótimo, mas hoje eu não vou poder. Acontece que eu nem estou em casa, vim no cinema com a minha prima. Só atendi o celular porque estou no banheiro’
null franziu a testa ao ouvi-la mentindo. Primeiro ela dissera pra pessoa com quem conversava ao telefone que tinha ido ao cinema apenas com a prima, agora mentia sobre estar no banheiro e não na fila da pipoca. E pelo jeito a pessoa devia ter convidado ela pra sair, foi isso que null concluiu ao ouvir “Seria ótimo, mas hoje eu não vou poder”. Afinal, com quem ela estava falando?
‘Poxa, que pena’ Duncan disse pra ela, num tom meio chateado ‘Bom, então que tal amanhã à noite?’
‘Por mim tudo bem’ null concordou contente.
‘Ótimo. Nos vemos amanhã então, docinho’
‘Ok, até lá. Beijos’ ela se despedia e riu ‘Pode deixar. Boa noite, Duncan’ e desligou.
null evitou olhar pra ela. Não gostou de ouvir o nome “Duncan” quando ela desligou. Não queria que ela falasse mais com ele, muito menos que saísse com ele. Aliás, por que o tal Duncan tinha o telefone dela e ele não? null fechou a cara sem perceber, perdido nos seus pensamentos cheios de ciúme.
null! null chamou estalando os dedos e null olhou pra ela. Percebeu que a fila tinha andando mais alguns passos e que ele continuara parado no mesmo lugar.
‘Foi mal, não vi’ ele disse quando voltou a ficar ao lado da garota ‘Então Duncan te ligou?’ ele acabou soltando a pergunta. null pensou um pouco antes de responder, tentando entender porque null tinha interesse nisso.
‘É, ligou’ ela disse ‘Queria sair comigo hoje à noite’
‘Hum, segundo encontro. Parece que o negócio é sério então’ ele disse tentando esconder o desdém que tinha na voz. Ela riu.
‘Ah não, nada a ver. Estamos só saindo juntos, só isso’ disse erguendo os ombros ‘E nem sei se vai passar disso’
‘Por que não?’ ele perguntou interessado no que ela dissera.
‘Bem, eu não sei até quando vou morar aqui na Inglaterra, não quero me envolver demais com alguém pra, quem sabe, ter que terminar tudo na semana seguinte’ ela respondeu meio cabisbaixa. Ele não disse nada e os dois ficaram em silêncio, esperando que a fila andasse mais um pouco. null não gostou da resposta dela porque, se era esse mesmo o motivo de ela não ficar com Duncan, então ela também não ficaria com ele.

‘Já faz um tempinho que o filme começou e eles ainda não voltaram’ null disse em voz baixa ‘Acho melhor eu dar um toque na null’ e pegou o celular, mas o aparelho desligou sozinho um segundo depois na sua mão ‘Que ótimo, acabou a bateria’
‘Eu nem trouxe o meu’ null disse no mesmo tom de voz que ela ‘Mas, olha, relaxa’ ele olhou pra ela e colocou a mão sobre a sua. null sentiu os pêlos do braço arrepiarem e tentou se manter calma ‘Eles já devem estar voltando, não podem sumir’
‘Eu não me preocupo com o que eles não podem fazer, mas sim com o que eles podem’
‘Bom, quanto a isso eu não posso garantir nada’ ele encolheu os ombros e ela abafou o riso ‘As pessoas podem fazer muitas coisas quando estão sozinhas’
‘Ah claro, tipo o quê?’ ela disse levando na brincadeira.
‘Quer mesmo saber?’ ele sorriu malandro. null viu aonde o garoto queria chegar e sentiu o estômago gelar. Não sabia se estava pronta pra ficar com outro garoto, afinal fazia apenas uma semana que tinha terminado seu namoro com Michael. Ela engoliu em seco.
‘Talvez... mais tarde’ disse arqueando uma sobrancelha, esperando que ele entendesse o recado. null encolheu os ombros e voltou a prestar atenção no filme, ainda sorrindo. Afinal, aquele não tinha sido um fora, não por completo.

‘Eu quero uma pipoca grande e... não, não. Uma pipoca média e uma Coca-Cola média também’ o único rapaz que estava na frente de null e null na fila parecia bem indeciso quanto ao seu pedido ‘Espera’ ele disse pro atendente, que já não sabia mais o que fazer. Sempre que ia pegar o pedido do rapaz, ele mudava de idéia ‘troca pra uma Coca grande. E me dá também um pacotinho do M&M's. Não, M&M's não, eu quero...’
‘Ô meu querido’ null perdeu a paciência e cutucou o rapaz no ombro. Ele se virou pra ela ‘Eu estou a quase meia hora nessa fila e sei que você também, então colabora né! Decide logo as porcarias que você vai querer comer e pede de uma vez, assim todo mundo compra as coisas mais rápido e sai daqui bem feliz e contente, falou?!’
O rapaz ficou olhando pra ela, boquiaberto, durante uns segundos. Quando ela cruzou os braços, começando a se impacientar novamente, ele se virou pro atendente e confirmou o pedido anterior, incluindo o M&M's mesmo. Depois de alguns minutos ele se afastou levando seu pedido e, finalmente, foi a vez de null e null.
‘Duas pipocas grandes, com manteiga, e duas Cocas grandes também’ null pediu e se virou pra null ‘Você podia ter levado uns tabefes por ter falado daquele jeito com aquele cara, sabia?’
‘Ele não se atreveria a bater numa mulher’ null respondeu rolando os olhos ‘e, de qualquer jeito, você me defenderia se ele tentasse encostar um dedo em mim’
‘Quem te garante?’ ele arqueou uma sobrancelha e sorriu, achando graça na suposição dela porque estava certíssima.
‘A maioria dos homens gosta de uma boa briga, ainda mais quando é pra salvar uma dama indefesa de um cara mau’ ela disse de um jeito cômico, o que fez null rir.
‘Bem, não vou dizer que você está completamente errada’ ele se virou pro atendente enquanto a garota ria ‘Certo’ disse depois de pegar o pedido e pagar ‘acho que já podemos voltar pra sala e tentar ver o resto do filme’
‘Hey’ ela pulou na frente dele quando o garoto estava indo pra sala de cinema. Ele parou ‘olha, estava pensando, o que acha de deixar aqueles dois assistirem o filme sozinhos? Aposto que eles nem vão sentir nossa falta’
‘Você é má, null’ null balançou a cabeça e eles riram ‘Ok, vamos ficar por aqui, depois inventamos uma desculpa qualquer praqueles dois’ ele concordou se sentindo feliz por dentro porque, além de dar mais tempo pra null ficar sozinho com null, ele também estaria se dando mais tempo sozinho com null ‘Só que você vai ter que agüentar comer um balde grande de pipoca e tomar toda essa Coca’ ele avisou ‘Eu comprei tudo grande pra dividir entre nós quatro, mas como os outros não vão nem sentir o cheiro da manteiga na pipoca, nós dois vamos ter que detonar tudo sozinhos’
‘Por acaso você está me achando muito magra e quer me engordar um pouco?’ ela perguntou rindo.
‘Você quem sugeriu que ficássemos aqui’ ele encolheu os ombros e riu junto a ela. Como o cinema ficava no shopping da cidade, no andar da praça de alimentação, os dois saíram de lá e sentaram numa mesinha perto da porta. A praça de alimentação não estava muito cheia e uma música ambiente estava tocando.
‘Nós temos mais’ null consultou o relógio ‘quase duas horas até o filme terminar. O que vamos fazer?’
‘Achei que tivesse alguma coisa em mente’ null pegou um punhado de pipocas e colocou na boca.
‘Hum, podemos ficar aqui e conversar sobre milhares de coisas, grande parte delas serão futilidades, claro’ ela falava de um jeito engraçado e ele sorria ‘até que fiquemos de saco cheio um do outro. Daí vamos entrar num assunto que gere uma pequena discussão, então começaremos a brigar e...’ ela parou pra pensar em como terminaria aquela fantasia toda. null teve uma idéia marota.
‘Depois de um tempo nos cansaremos de discutir, acabaremos nos beijando e fim’ ele disse na maior cara de pau, sorrindo malandro. null sentiu o estômago revirar quando ouviu aquilo e encarou o garoto seriamente por uns segundos. Depois de conseguir organizar seus pensamentos e concluir que aquilo tudo não passava de brincadeira, ela riu.
‘Bom, eu tinha imaginado uma guerra de pipoca e até uma explosão suspeita da praça de alimentação, mas se você prefere imaginar um final mais pacífico’ ela encolheu os ombros e ele gargalhou.
‘É, acho que eu prefiro’
‘Em todo o caso, tudo isso não passa de uma suposição’ ela pegou algumas pipocas ‘Não significa que vá realmente acontecer’
‘Eu não sei se ficaria de saco cheio de você’ ele colocou um canudinho num dos copos de Coca ‘Bem, talvez’ disse em tom de brincadeira.
‘Eu não sei se te beijaria. Talvez’ ela riu e colocou as pipocas na boca.
null mordeu a boca e ficou olhando pro rosto da garota, enquanto ela observava as pessoas que andavam pela praça de alimentação. Ele queria muito acreditar que ela tinha falado sério, mas a risada que ela deu depois não deixava que ele se iludisse.

‘Eu gostei, não é dos melhores, mas é bom’ null comentou enquanto seguia null pra fora da sala de cinema.
‘Uh, bem emocionante. Estou tremendo até agora’ null mostrou a mão meio trêmula pra ele, que riu.
‘Pensei que gostasse de filmes de terror’
‘Ah, e eu gosto, muito até. Mas isso não significa que eu não tenha medo’ ela explicou.
‘Então você gosta de sentir medo?’ ele perguntou franzindo a testa.
‘Bem, tem pessoas que se divertem sentindo medo quando estão numa montanha-russa. Eu me divirto sentindo medo numa poltrona de cinema’ ela encolheu os ombros.
‘É, faz sentido’ e os dois riram.
‘Ih, cadê aqueles dois hein?’ null colocou as mãos na cintura, vendo que a prima e null não estavam na fila pra comprar pipoca ‘Eles não voltaram pra dentro da sala e também não estão aqui fora’
‘Vai ver aconteceu alguma coisa, eles não puderam entrar e foram andar pelo shopping, ou sei lá’ null disse ‘Vamos ver na praça de alimentação, quem sabe eles estão lá’
null concordou com a cabeça e os dois saíram do cinema. Não precisaram nem procurar muito, logo viram null e null sentados numa mesinha próxima. Eles estavam rindo de alguma coisa.
‘Que bonito hein!’ null chegou perto dos dois com os braços cruzados ‘Saem pra comprar pipocas e não voltam mais, ham’
‘E pelo jeito ainda comeram todas as pipocas’ null riu olhando dentro de um balde de pipocas, por sinal, vazio.
‘Então, por que não voltaram lá pra sala de cinema?’ null perguntou. null olhou pra null, esperando que ela tivesse uma boa desculpa, porque ele mesmo não tinha.
‘É que assim’ null, pro alívio de null, começou a tentar se explicar ‘A fila pra comprar pipoca estava bem grande e nós acabamos demorando mais que o esperado, quando conseguimos comprar tudo e fomos voltar pra ver o filme, o tiozinho que estava conferindo as entradas não deixou que a gente voltasse lá pra sala. Então resolvemos ficar aqui fora e esperar por vocês’ ela terminou respirando fundo porque tinha falado tudo rapidamente. null e null trocaram olhares, como se avaliassem entre si se o que null tinha contado era suficientemente convincente.
‘Certo’ null concluiu por fim ‘Tiveram que esperar muito aqui?’
‘Pouco menos de duas horas’ null respondeu esvaziando seu copo de Coca. null olhou pra prima.
‘E a senhorita, hein? Por que não me ligou quando o filme começou?’ perguntou séria.
‘Acabou a bateria do meu celular e o null não trouxe o dele’ null disse.
‘Bem, acho que já podemos ir embora então’ null se levantou. null fez o mesmo.
‘Não querem dar uma passeada pelo shopping?’ null sugeriu e olhou no relógio ‘Ainda são onze da noite e eu não estou a fim de voltar pra casa’
‘Oh gente’ null olhou pra null e null ‘por favor, vamos ficar. Tem um sapato tão lindo que eu vi numa loja daqui outro dia e eu só estava esperando uma oportunidade pra comprar. Vamos ficar vai, pelo menos pra eu comprar o sapato’
null e null concordaram, rindo junto a null de como a garota pedia pra que ficassem. Os quatro saíram da praça de alimentação e foram procurar a tal loja onde tinha o sapato que null tanto queria.

Cap. 18


(NA.: seria legal deixar carregando The Guy Who Turned Her Down)

Era sábado da outra semana e o McFly ia fazer mais um show no Gas. Faltava cinco minutos pro show começar e null começava a ficar impaciente. null estava espiando por trás das cortinas e tinha dito que null ainda não chegara, apesar de null, null e null já estarem ocupando uma das muitas mesinhas. Esse era o motivo da impaciência de null, ele queria que null estivesse lá. Não porque fosse tocar mais uma música que fosse inspirada nela, mas simplesmente pelo fato da sua presença.
‘Ela ainda não chegou?’ null perguntou pela vigésima vez seguida.
‘Não, cara, ainda não’ null deu a mesma resposta de sempre.
‘Relaxa null, ela não vai faltar ao nosso show’ null disse tentando acalmar o amigo.
‘Hunf, quem te garante?’ null bufou ‘Ela pode muito bem estar com o Duncan e esquecer que vamos fazer show hoje à noite’
‘Ah cara, não viaja’ null balançava as pernas, sentado num amplificador. Ele se virou pra null ‘E as outras?’
‘Na mesma’ null deu de ombros e fechou a cortina ‘Sentadas, sozinhas’
‘Elas devem saber por que a null não apareceu até agora’ null disse pensando rápido ‘Acho que eu vou dar um pulo na mesa delas e...’
‘Não vai nada’ null interrompeu o amigo ‘Dude, o show já está pra começar, você precisa ficar aqui’
‘É, cara’ null concordou ‘sossega um pouco’
null, mesmo contra sua vontade, aceitou o que os amigos diziam e ficou esperando com eles os poucos minutos que faltavam pro show começar. Quando chegou a hora e eles subiram no palco, a primeira coisa que null fez foi olhar pra mesa onde as meninas estavam sentadas. Pra sua decepção, null não estava lá.

O show chegava ao fim. A última música já estava na metade quando null por fim apareceu na mesa das meninas. Por sorte null não a viu chegar, senão, sem dúvidas, ele teria feito alguma merda em cima do palco. null estava de mãos dadas com Duncan.
‘Oi gente’ ela cumprimentou a prima e as amigas ‘Desculpem não ter chegado antes, mas Duncan demora mais que uma mulher pra se arrumar’ disse fazendo Duncan encolher os ombros, sem graça, e as meninas rirem.
‘Escuta essa música, null. É linda!’ null disse com os olhos brilhando. null concordou com a cabeça e olhou pro palco, ouvindo a outra metade da música.

‘'Cause you look like (a beauty queen)
(porque você parece com - uma rainha da beleza)
Sucked in by (your tractor beam)
(Atraído pela - sua máquina de atração)
And you know I
(e você sabe que eu)

I can't believe I've found the girl who turned my life around
(eu não acredito que encontrei uma garota que mudou minha vida)
She suddenly came on to me, pinned me down on the ground
(ela de repente veio até mim, me deixou no chão)
I could have pushed away but I didn't know what she'd say
(eu poderia ter tirado ela da minha cabeça, mas eu não sabia o que ela poderia ter dito)
And I'm glad I'm not the guy who turned her down
(e estou contente de não ser o cara que deixou ela mal)

The years go by (as the years go by)
(os anos se passam – enquanto os anos passam)
I wonder why (start to wonder why)
(Eu imagino o porquê – começo a me perguntar por que)
She had come to me (ba da ba bah)
(ela chegou até a mim)
So glad that she met me (ba da ba bah)
(tão feliz que tenha me conhecido)
And life without you baby just don't know where I would be
(e a vida sem você, babe, apenas não saberia onde eu estaria)

I can't believe I've found the girl who turned my life around
(eu não acredito que encontrei uma garota que mudou minha vida)
She suddenly came on to me, pinned me down on the ground
(ela de repente veio até mim, me deixou no chão)
I could have pushed away but I didn't know what she'd say
(eu poderia ter tirado ela da minha cabeça, mas eu não sabia o que ela poderia ter dito)
But I'm glad I'm not the guy who turned her down
(Mas eu estou feliz que eu não sou o cara que deixou ela mal)
Yeah I'm glad I'm not the guy who turned her down
(Yeah eu estou feliz que eu não sou o cara que deixou ela mal)
Yeah I'm glad I'm not the guy who turned her down
(Yeah eu estou feliz que eu não sou o cara que deixou ela mal)’

null aplaudiu com o resto do público enquanto os garotos agradeciam no palco. Ela viu null olhando pra null várias vezes, mas resolveu não comentar nada. Sabia que aquela música tinha tudo a ver com a situação da prima, Michael e null, mas seria muito mais interessante se null descobrisse sozinha. Duncan foi buscar umas cadeiras, sendo avisado por null que os garotos da banda também sentariam com eles, e logo voltou trazendo mais cadeiras do que parecia capaz de carregar.
‘Gente, não demora muito e esses meninos vão ficar famosos’ null comentou depois que todos se sentaram.
‘Bom, por aqui parece que eles já são’ Duncan disse vendo as pessoas mais próximas elogiarem a banda sem parar.
‘Mas eles ainda vão ser mais que isso’ null disse confiante. null concordou.
‘Também acho. Eles têm tudo pra fazer sucesso’ disse.
‘Olha, se eles lançarem CD, eu juro que vou ser a primeira a comprar’ null disse sorrindo, ainda empolgada com a última música. Os outros riam quando os garotos da banda chegaram na mesa.
‘Boa noite todo mundo’ null cumprimentou animado, sentando rapidamente na cadeira ao lado de null. null e null ocuparam outras duas cadeiras, mas null não sentou em lugar nenhum. Continuou em pé, olhando pra null e Duncan sentados lado a lado. Ótimo, ela tinha aparecido pra ver o show, mas precisava ser com aquele playboy?
‘Como sempre, parabéns pelo show’ null disse sorrindo.
‘Sinceramente caras’ Duncan começou e foi só então que os outros garotos perceberam a presença dele ali. null deu uma olhada rápida em null e viu que o amigo não parecia estar vivenciando um dos seus melhores momentos ‘eu não cheguei a ouvir nem uma música inteira hoje, mas pelo que já vi no colégio, vocês realmente estão de parabéns’
‘E aquela última música? Tão bonita’ null comentou contente. null esqueceu de null e olhou pra ela.
‘Que bom que gostou’ ele disse sorrindo ‘Digamos que ela é, hum, especial’
‘Percebe-se’ null disse mais baixo. null ouviu e olhou pra ela, corando. Ela riu e olhou pra null, que continuava parado no mesmo lugar ‘Não vai se sentar, null?’
‘Vou’ null respondeu simplesmente, com uma voz estranha. Ele sentou na última cadeira vazia, por azar ao lado de Duncan, e continuou olhando pra null ‘Você perdeu o começo do show?’ perguntou.
‘Ah, foi sim. Mas foi só porque sessão atrasou e o filme terminou mais tarde do que devia’ ela contou, mas ao ver null franzir a testa, percebeu que aquilo não deveria fazer o mínimo sentido pra ele ‘É que eu fui ao cinema com o Duncan’ explicou rindo.
A expressão de null não mudou e pode-se até dizer que ficou pior, mas null não notou e virou o rosto pra conversar alguma coisa com a prima. Com desgosto, null percebeu que Duncan estava se entrosando aos poucos com o resto do pessoal, aparentemente até mesmo com os outros garotos. Pra tentar se distrair um pouco, null entrou na conversa de null e null, que discutiam alguma coisa sobre uma nova banda americana. Na verdade, ele nem sabia muito bem sobre o que os outros falavam, estava mais ocupado com seus pensamentos odiosos em relação à presença de Duncan. Ele não achava uma boa continuar ali, porque não sabia até quando suportaria o playboy sem ameaçar armar uma confusão, mas também não queria ir embora e deixar que Duncan ficasse ainda mais à vontade ao lado de null do que já parecia estar. null acabou se decidindo por ficar e fingir que Duncan não estava na mesa conversando com seus amigos, sentado ao seu lado e, ainda por cima, cheio de graça pra cima da garota que ainda não era sua.

Uma hora depois, todos na mesa estavam rindo de uma história aparentemente cômica que Duncan contara. Todos exceto null, que achava que iria vomitar se continuasse ouvindo a voz daquele almofadinhas por mais meia hora seguida.
‘Gente, o papo está ótimo, mas eu não estou a fim de passar o resto da noite sentada aqui’ null disse se levantando ‘Com licença, a pista me chama’ e se afastou. Não demorou meio segundo e null foi atrás dela.
‘Hey docinho’ Duncan passou o braço atrás dos ombros de null assim que null e null também levantaram e foram dançar. null achou aquilo um abuso, mas continuou calado. null olhou pra Duncan ‘Vamos dançar?’
‘Claro’ null concordou sorridente e os dois foram pra pista, perto de onde os amigos estavam. null seguiu os dois com o olhar, sentindo os punhos fecharem no colo.
‘Hum, acho que vou pegar alguma coisa pra beber’ null disse e saiu andando em direção ao bar. null deu uma olhada rápida pra ver onde ela estava indo e depois olhou pra null. Os dois estavam sozinhos na mesa.
‘Não está gostando disso, não é cara?’ ele perguntou. null finalmente parou de olhar pra pista de dança e encarou o amigo.
‘Disso o quê?’ perguntou grosseiramente.
‘Do Duncan aqui e tal. Não está gostando, não é?’
‘Nada a ver, é que...’ null tentou negar e mentir pro amigo, mas não conseguiu. Aproveitou que estavam sozinhos na mesa e resolveu falar logo ‘Não, não estou mesmo! Esse cara é um idiota, ele é patético, pelo amor de Deus! Fora que ele fica fazendo um monte de gracinhas todas só pra se mostrar pra null. E agora que ele colocou o braço atrás dos ombros dela’ ele franziu a testa chegando mais pra frente na mesa, completamente indignado ‘Você viu aquilo? Que absurdo!’
‘Absurdo por quê?’ null estava muito calmo. Ele compreendia o ciúme de null porque já tinha percebido que o amigo gostava de null, mas nem por isso ia deixar que null visse absurdos onde não havia ‘Cara, ele está saindo com ela, nada mais normal. E a null não passa de sua amiga’
‘Ela é só minha amiga’ ele se viu obrigado a admitir ‘mas você sabe que eu gosto dela de outro jeito, de verdade’
‘Disse bem, eu sei que você gosta dela’ null apontou pra si mesmo ‘Eu e os caras, mas e ela? Ela sabe que você gosta dela de verdade?’
‘Claro que não’ ele respondeu fazendo cara feia.
‘Pois aí é que está o seu problema’ null apontou pro amigo ‘Se ela soubesse que você gosta dela, talvez nem estivesse com esse tal Duncan e talvez você não precisasse se morder de ciúmes. Do que adianta eu e mais meio mundo de gente saber que você gosta dela sendo que ela mesma não sabe? Pensa nisso cara’ concluiu. null ia falar alguma coisa, mas fechou a boca quando null voltou.
‘Caramba, está complicado alcançar o balcão do bar. E o barman nem abriu a cerveja pra mim’ ela reclamou sentando-se e entregando a garrafa de cerveja pra null ‘Faz favor?’
‘Hum, vou ao banheiro’ null resmungou se levantando ao ver o amigo sorrir pra garota e pegar a cerveja da mão dela. Ele saiu de perto da mesa e chegou a muito custo até a porta do banheiro masculino, mas acabou nem entrando. Não queria ir ao banheiro, queria apenas sair da mesa. Ele deu meia volta, pensando em pegar alguma coisa pra beber no bar, mas parou no meio do caminho ao ver uma cena que o fez petrificar no lugar.
No meio da pista, entre muitas pessoas que estavam dançando, null estava parada, com os braços entrelaçados em volta do pescoço de Duncan, beijando-o. null sentiu como se o tempo tivesse parado e seu coração também. Ele não queria acreditar no que estava vendo, mas null e Duncan estavam bem na sua frente, e aquilo não podia ser fruto da sua imaginação ciumenta. O que ele mais queria era sair dali, tirar aquela imagem da sua cabeça e ir pra bem longe dos dois, mas seus pés não se moviam. Ele continuava paralisado, apenas olhando, como se estivesse esperando o minuto exato em que seu pesadelo acabaria e cada coisa voltaria pro seu devido lugar: Duncan fora do Gas e null sentada na mesa, conversando e rindo com os amigos. Quando viu a mão de Duncan subir pelas costas da garota, null engoliu em seco e sentiu como se um caco de vidro estivesse descendo pela sua garganta. Ele nem reparou quando uma mão segurou seu ombro.
‘Hey cara!’ null chamou alto e null olhou pra ele, finalmente conseguindo tirar os olhos de cima de null e Duncan ‘Tá tudo bem?’
‘Vou pra casa’ null disse rouco e, quase correndo, saiu em direção à porta do Gas.
null franziu a testa, vendo o amigo sumir no meio das outras pessoas, e olhou pro mesmo lugar pra onde null olhava minutos antes. Então ele entendeu o que tinha acontecido. null vira algo que, provavelmente, não estava preparado pra ver: a garota que ele amava ficando com outro cara que não era ele. null soube no mesmo instante que o amigo não estava bem e que não ficaria tão cedo.

null trancou a porta e se jogou no sofá da sala. Durante longos minutos, ele ficou revivendo a cena na sua cabeça: null beijando Duncan, null beijando Duncan, null beijando Duncan... Repetidamente a mesma coisa, dolorosamente a mesma visão. Ele fechou os olhos e escondeu o rosto nas mãos, mas nem assim aquelas imagens saíram da sua cabeça. Ele passou as mãos pelos cabelos e entrelaçou os dedos atrás da cabeça. Respirando profundamente, null não agüentou e deixou que algumas lágrimas teimosas escorressem pelo rosto. Ele não queria ter visto null com outro, não queria que aquilo tivesse acontecido, não queria que ainda estivesse acontecendo, não queria se sentir mal, não queria chorar de raiva ou decepção. null tratou de engolir o choro, passou as mãos com força pelo rosto, enxugando as lágrimas, levantou do sofá e foi pra cozinha. Precisava beber alguma coisa, precisava esquecer de tudo.

Cap. 19


A cabeça dele latejava mais e mais conforme a campainha tocava. Ele se revirou no sofá e colocou uma almofada em cima da cabeça, tentando abafar o som, mas não obteve sucesso. O som continuava alto e a cabeça insistia em latejar. Ele levantou do sofá e foi atender a porta, cambaleando sonolento e trôpego.
‘E aí cara, como é que tá?’ null perguntou assim que a porta foi aberta.
‘O que você acha?’ null disse grosseiramente e voltou a se jogar no sofá, colocando a almofada sobre a cabeça mais uma vez. null encostou a porta e sentou no outro sofá. Viu algumas garrafas de cerveja espalhadas pelo chão e entendeu o que havia acontecido desde que o amigo voltara pra casa.
‘Tomar um porre não vai te ajudar a conquistar a null’ disse seriamente. null mexeu as pernas no sofá, mas não disse nada ‘Ela está com o Duncan, aceite isso’
‘Eu não vou aceitar!’ null respondeu alto e devagar. Sentiu uma pontada forte na cabeça e diminuiu um pouco a voz ‘E, mesmo que ela esteja com ele, os dois não precisam ficar se agarrando na minha frente’
‘Eles estavam apenas se beijando, nada mais normal. E porque ela haveria de se esconder de todo mundo quando vai ficar com ele? Cara, ela não sabe que você gosta dela, não vai ficar escondendo de você o fato de estar gostando de outro’
‘Ela não gosta dele’ null resmungou ‘Só estão juntos porque...’
‘Porque se gostam e ponto final’ null disse logo ‘O quê? Vai dizer que ela só está com ele porque não teve outra escolha?!’
‘Ela teria escolhido a mim se soubesse o quanto eu gosto dela’ ele afirmou tentando se mostrar confiante.
‘Se você tem tanta certeza disso, por que não conta logo pra null que gosta dela?’ null perguntou cansado daquele drama todo que o amigo estava fazendo.
‘Vai embora, minha cabeça está doendo’ null tentou mudar de assunto.
‘Há, que beleza, nem você sabe por que não conta pra ela de uma vez’ null riu irônico.
‘Eu não preciso contar, uma hora ou outra ela vai saber’ ele virou de barriga pra cima no sofá e tirou a almofada de cima da cabeça ‘Não sei como ela ainda não descobriu, está tão na cara...’
‘Pode estar na cara pra quem sabe que você gosta dela, mas você tem que entender que a null te considera só um amigo, nada mais. Ela nunca vai descobrir que o seu sentimento por ela é diferente se tudo continuar do jeito em que está’ null explicou recuperando um pouco a paciência.
‘Nada vai mudar até que ela descubra, assunto encerrado’ ele disse e fechou os olhos ‘Caso você não tenha mais nada pra dizer, pode ir embora. Eu ainda quero dormir’
‘Se é assim que você prefere’ null ergueu os ombros e levantou do sofá ‘De qualquer jeito, já sabe não é? Precisando de ajuda, estamos aí’ disse e saiu do apartamento do amigo.
null virou no sofá, escondendo o rosto da luz, numa tentativa de voltar a dormir, mas não passou nem cinco minutos que null foi embora e a campainha tocou novamente.
‘Você sabe que está aberta, null!’ ele falou alto, ainda de olhos fechados, deduzindo que null provavelmente tinha voltado pra lhe passar mais algum sermão.
‘Encontrei com null no corredor e ele me disse que você não estava de bom humor’ uma voz conhecida disse calmamente. null abriu os olhos e olhou pra porta. null acabara de entrar no apartamento ‘mas eu resolvi passar aqui assim mesmo’
‘O que veio fazer aqui?’ ele seguiu a garota com o olhar, vendo-a sentar no mesmo lugar onde null estivera minutos atrás.
‘Digamos que eu estranhei o modo como você foi embora do Gas ontem, então, como eu sou muito curiosa, decidi vir ver o que tinha acontecido mesmo’ ela respondeu de um jeito engraçado. null se segurou pra não rir. Não estava disposto a voltar a tratá-la com simpatia tão rapidamente ‘null disse que você estava cansado por causa do show e que também não estava se sentindo muito bem, mas eu acho que se fosse esse o real motivo de você ter ido embora de repente, você teria avisado pra mais gente, e não só pro null’ ela apoiou os cotovelos nos joelhos e deu uma olhada pelo chão da sala ‘Hum, você não estava se sentindo muito bem no Gas, mas pelo jeito se sentiu muito bem aqui. Pelo menos bem o suficiente pra esvaziar algumas garrafas de cerveja’
‘Parabéns, você ganhou’ null disse sarcasticamente e sentou no sofá, se sentindo tonto pela velocidade com que fizera isso. A garota olhou pra ele ‘Eu menti, fui embora ontem porque não estava mais a fim de continuar no Gas. Contente?’
‘Se esse fosse o motivo, null não teria mentido no seu lugar. Ele teria simplesmente dito que você queria ir pra casa’ ela concluiu inteligentemente. Ele franziu a testa.
‘Eu tinha os meus motivos, você não precisa saber quais eram eles’ disse num tom mal educado. null se espantou um pouco com a atitude dele, mas resolveu dar um desconto, afinal ele tinha bebido.
‘Bem, eu sou sua amiga, mas você não é obrigado a me contar tudo se não quiser’ ela levantou do sofá e foi pra cozinha. null a seguiu, com a cara fechada.
‘O que pensa que vai fazer?’ ele perguntou ao vê-la abrir um armário.
‘Você tem chá?’ ela fechou o armário e abriu outro ‘É bom beber um pouco de chá quente quando se está de ressaca. Teve mais efeito pra mim do que uma xícara de café amargo’
‘Eu não quero beber chá. Quero ficar sozinho na minha casa e dormir sem ninguém pra me perturbar ou mexer nos meus armários’ ele não estava gostando de tratá-la mal daquele jeito, mas, de certa forma, ela merecia... Pelo menos no seu ponto de vista.
‘Não, acho que você não tem chá’ null fechou um outro armário e se virou pro garoto ‘Quer dormir? Vá dormir então. Vou dar um pulo no mercado, comprar um chá e volto daqui a pouco. E eu agradeceria muito se você não trancasse a porta’ e saiu da cozinha.
null ouviu a porta de entrada bater levemente e foi pra sala. Mal podia acreditar que null estava ignorando completamente os maus modos dele e fazendo o possível pra ajudá-lo. Aquela garota realmente não existia. Sentindo a consciência pesar um pouco, null resolveu deixar a porta destrancada e foi pro quarto. Jogou-se na cama depois de tirar a camisa, sem pique nem pra fechar as cortinas. O relógio em cima criado-mudo marcava dez e meia da manhã. Assim que null voltasse, ele poderia acordar e, quem sabe até mesmo, pedir desculpas.

Ele ouviu barulho de vidro batendo e levantou a cabeça. O quarto estava escuro e a única claridade era a de um mínimo facho de luz que vinha de uma fresta aberta da porta. null desenrolou o cobertor das pernas e saiu do quarto. Encontrou null na sala, recolhendo as garrafas vazias de cerveja que ele tinha deixado espalhadas pelo chão.
‘Seu chá está no microondas’ ela pegou uma última garrafa e olhou pro garoto ‘Eu fechei as cortinas do seu quarto pra claridade não te incomodar, espero que não tenha problema’ disse. null negou com a cabeça, sentindo pequenas pontadas na nuca, mas não se importou ‘Vou só colocar essas garrafas no lixo e já estou saindo, não se preocupe’
‘Ah, não... não precisa ir embora’ ele se colocou na frente da garota quando ela ia pra cozinha ‘a não ser que você queira, claro’
‘Eu não quero te incomodar, só isso. Você mesmo disse que queria ficar sozinho, sem ninguém pra te perturbar. Pois bem, acho que eu já fiz o que podia, então melhor eu ir embora’ ela disse humildemente, se desviando dele e entrando na cozinha.
‘Olha’ ele se escorou no batente da porta da cozinha ‘eu não queria ter te tratado daquele jeito. Eu...’
‘Você estava alterado por causa da bebida, entendo’ ela deixou as garrafas numa sacola ao lado do lixo e olhou pra null. O garoto estava com os cabelos bagunçados, sem camisa e com o aspecto de quem não dormia a uma semana inteira. Apesar de gostar dos cabelos dele bagunçados, null achou que aquela chegava a ser uma cena deprimente.
Ele coçou a cabeça e achou melhor deixar tudo como estava. Se ela entendia daquele jeito, ele não ia dizer que, além da ressaca, havia outro motivo pra tê-la tratado tão mal.
‘É, foi isso. Eu nunca fico de bom humor quando estou de ressaca’ ele confirmou ‘Você só está tentando me ajudar e, sinceramente, eu não acho que esteja merecendo a sua ajuda’ ainda tinha mais pra dizer, mas emudeceu ao ver a garota se aproximando dele. Não, ela não ia fazer o que ele pensava... Ia? null parou na frente dele. O menino engoliu em seco e passou a mão pelos cabelos, nervoso.
‘Você não está com uma aparência muito boa. Acho melhor você beber o seu chá e dormir mais um pouco’ ela disse segurando no ombro dele e sorriu. O toque dela causou um arrepio nas costas dele ‘Amanhã nós conversamos’ e saiu da cozinha. null ficou parado no mesmo lugar por uns segundos, então, quando ouviu a porta de entrada abrindo, foi até a sala. null estava prestes a sair do apartamento.
‘Fica e me faz companhia?’ ele perguntou. A garota olhou pra ele, que ficou sem graça e mordeu a boca. null mexeu a cabeça um pouco pro lado, olhou pro corredor do prédio e depois pro garoto. Ela balançou a cabeça, rindo, e encostou a porta.
‘Gosta de torradas?’ perguntou. null apenas sorriu com o canto da boca e os dois foram pra cozinha.

Cap. 20


‘Achei que você estava puto com ela’ null disse com a testa franzida, minutos depois de null se afastar dele e de null.
‘Não estou puto com ela’ null negou com a cabeça, vendo a garota ir falar com as amigas. O negócio é que, pra retribuir a gentileza de null no domingo, null resolvera dar uma carona de ida até o colégio pra ela. null não entendeu nada quando entrou no carro do amigo e viu a menina, e ainda não entendia.
‘Sinceramente, desde que você conheceu essa garota, você mudou cara’ null segurou no ombro do amigo e balançou a cabeça ‘e não sei se foi pra melhor. Você está confuso demais, eu não te entendo’
‘Ela me tratou bem ontem, mesmo eu não merecendo. Não tenho motivos pra estar puto com ela’ null explicou ‘Eu estou puto é com ele’ disse franzindo a testa e apontando pra null. null olhou pra ela e viu Duncan abraçando a menina.
‘Ih colega, acostume-se com cenas assim’ null voltou a olhar pro amigo ‘mesmo porque você já viu coisa pior. Um simples abraço nem se compara aos dois se beijando’
‘É, eu já vi coisa pior e não quero ver de novo. Por isso mesmo estou puto com esse cara’ ele bufou ‘Esse almofadinhas tinha que sair da cola da null’
‘Sinto te desanimar cara, mas duvido que isso vá acontecer tão cedo. O tal Duncan não vai dispensar assim, tão rápido, uma garota como a null’ null ergueu os ombros. null e null se aproximaram dos amigos.
‘E aí, caras? Beleza?’ null perguntou. null apenas assentiu com a cabeça.
‘Então, do que estavam falando?’ null levantou as sobrancelhas.
null e Duncan’ null resmungou com voz de desdém. null riu.
‘Esses dois vão longe’ disse. null olhou pra ele com a cara fechada.
‘Isso se não terminar em namoro’ null comentou ‘É, porque eles pareciam muito íntimos lá no Gas e...’ ele parou de falar quando null olhou pra ele com a mesma cara ‘Ah, esquece’
‘Eu não quero saber se eles pareciam íntimos, nem no que vai terminar ou começar’ null disse rilhando os dentes ‘Aliás eu dispenso qualquer comentário que seja a respeito dos dois. Se forem falar da null, tudo bem, mas não quero saber do playboy, a não ser que ele tenha sumido da face da terra ou coisa parecida’
‘Sim senhor’ null concordou com a cabeça e os outros fizeram o mesmo.
‘Eu quero que esse idiota se dane. Não é porque ele está momentaneamente com a null que eu vou desistir dela’ ele disse decidido ‘E, pra falar a verdade, é exatamente a partir de agora que eu vou fazer de tudo pra ficar com ela. Eu amo essa garota, não vou entregar ela de mão beijada pra um imbecil de marca maior’
‘Senti firmeza agora hein’ null disse rindo.
‘Tá certo você, null’ null apoiou o amigo ‘Quando a gente quer muito uma coisa, temos que lutar por ela’
‘E é isso que eu vou fazer. Mas, agora, mudando de assunto, como vão as coisas com a null?’ ele perguntou mais calmo, olhando pra null, que coçou a cabeça.
‘Na mesma, cara. Bem, obviamente um pouco melhor agora que eu pelo menos converso com ela, mas é só’
‘E vocês?’ ele olhou pros outros, que franziram a testa sem entender ‘Como vão as coisas com as garotas?’
‘Que isso dude, não tem nada demais’ null abanou a mão e por um breve momento pareceu chateado com alguma coisa.
‘Nós nos aproximamos delas por causa de você e do null’ null disse ‘mas não estamos interessados em ninguém não. Estamos de boa, pelo menos eu estou’
‘Estar de boa significa farrear por aí sem ter que se amarrar em ninguém?!’ null riu dos amigos ‘Isso não tem nada a ver com estar interessado em alguém ou não. Vocês sabem que eu gosto da null há anos e nem por isso deixei de viver minha vida. Eu fiquei sim com outras garotas, mesmo elas não chegando nem perto da que eu queria de verdade’
‘Falou bonito, dude’ null fingiu enxugar uma lágrima e começou a rir junto a null.
‘Quero só ver o que vai acontecer conforme forem se aproximando mais e mais das garotas’ null disse ‘Talvez não passem mesmo da amizade, mas elas são realmente cativantes, é difícil resistir’
‘Ih cara, achei que teu negócio fosse só com a null’ null comentou ainda rindo ‘e não com todas ali’
‘Meu negócio, como você diz, é só com a null sim’ null afirmou ‘mas nem por isso eu deixo de reparar no quanto as amigas dela são bonitas e simpáticas’
‘Você e o null estão melosos demais pro meu gosto’ null fez careta.
‘Não é melosidade’ null dizia quando o sinal tocou. Os quatro começaram a andar em direção à sala ‘É a verdade’
‘Cara, vai escrever uma poesia’ null disse e todos riram.

‘E aí, null?’ null perguntou pra prima aproveitando a oportunidade que elas tinham pra conversar durante a aula. Tinham um trabalho em dupla pra fazer.
‘E aí o quê?’ null continuou entretida com uma reportagem política que a professora tinha passado pra que elas lessem como parte do trabalho.
‘Larga esse lixo’ null tirou o papel das mãos da prima, que olhou meio indignada pra ela ‘To querendo saber do Duncan’
‘Que tem o Duncan?’
‘Até agora a pouco ele estava com a gente no pátio, coisa que ele nunca fez antes, só pra ficar perto de você’ null dizia como se fosse a coisa mais importante do mundo ‘Quero saber se vocês estão tendo algo sério’
‘O que eu e ele temos, null, foi o que você viu no Gas’ null disse paciente ‘Nós saímos juntos, ficamos de vez em quando, e é isso’
‘E vai ficar só nisso?’ null arqueou uma sobrancelha.
‘A cara que você faz quando está curiosa é cômica’ ela disse de um jeito risonho que fez null mostrar a língua ‘Ah, bem, eu não sei. O Duncan me trata bem, é realmente um garoto maravilhoso, mas acho que ainda não sinto nada muito forte por ele’
‘E o que você acha que sente por ele?’
‘Não sei, às vezes eu penso que sinto por ele o mesmo que sinto pelo null’ ela disse pensativa, meio confusa e incerta. null arregalou os olhos.
‘Oh não, não diga que você está gostando do null!’ exclamou tentando manter a voz o mais baixa possível.
‘Claro que não’ null negou rapidamente, rindo baixo pela reação da prima ‘O que eu quero dizer é que pelo null eu sinto um carinho muito grande, sabe? Como se eu o conhecesse há anos e nós fossemos melhores amigos. Acho que pelo Duncan é quase a mesma coisa’
‘Ah certo, só que no caso do Duncan você coloca em prática aquela frase conhecida de “amigos também beijam”’ null fez aspas e rolou os olhos ‘Nem vem com essa, null. O que você sente pelo Duncan deve ser bem diferente do que você sente pelo null, senão você já teria ficado com o null também’
‘Não, acho que não teria’ ela cruzou os braços, pensativa ‘É que assim, quando eu converso com o null ou mesmo quando eu olho pra ele, eu o vejo realmente com um melhor amigo, quase como um irmão’
‘Tá louca?! null, por Deus, não faz nem dois meses que você conhece o null. Você não pode tê-lo como um irmão tão rápido assim’
‘O tempo não altera meu sentimento por ele’ null concluiu e pegou a reportagem de volta, tornando a se concentrar na leitura. null balançou a cabeça, incrédula, e decidiu que, por hora, o melhor mesmo era fazer o trabalho.

Cap. 21


‘Ain't it good to know you've got a friend? You've got a friend’ null cantava animada quando o McFly terminou mais um show no Gas, no sábado daquela semana.
‘Shiiiu!’ null a repreendeu alto e as duas riram.
‘Ô null’ null chamou ‘Por que o Duncan não veio hoje mesmo?’
‘Sei lá’ null sacudiu os ombros ‘A última vez que falei direito com ele foi na quarta-feira, no colégio. Depois disso, vocês viram, ele não foi falar comigo nem no intervalo’
‘Isso porque nós estávamos com eles’ null disse apontando pros meninos da banda que desciam do palco. null bufou.
‘Se foi por isso, Duncan está agindo feito bobo. Eu não tenho culpa de ter um grupo de amigos diferente do dele. E, fala sério, ele não é alérgico aos garotos, é?!’
‘Ele é popular, não gosta dos garotos’ null encolheu os ombros. null olhou pra ela.
‘Eu sou popular e gosto dos garotos’ disse.
‘Corrigindo, você é popular e aprendeu a gostar dos garotos. E isso foi graças a mim’ null apontou pra si mesma rindo quando a prima mostrou a língua.
‘As pessoas mudam’ null comentou simplesmente.
‘Se as pessoas agissem do jeito correto, elas não precisariam mudar’ null ergueu as sobrancelhas e tomou um gole da cerveja que tinha pegado no bar. As outras se entreolharam sem dizer nada.
‘Eu contei pra vocês que vi o Michael ontem?’ null perguntou quebrando o silêncio estranho. As amigas olharam pra ela.
‘Aonde isso?’ null perguntou.
‘No shopping. Eu fui comprar um presente pro meu pai, porque semana que vem é aniversário dele, e vi o Michael andando por lá’ null contou ‘Ele estava com uma garota’ complementou indiferente.
‘Nossa!’ null arregalou os olhos, espantada.
‘Pelo visto você não se importou’ null disse olhando pra null, que concordou com a cabeça ‘E isso é muito bom, afinal significa que você não está mais nem aí pra ele’
‘Não está mais nem aí pra quem?’ null chegou na mesa dela, acompanhado pelos amigos. Como elas já sabiam que eles se sentariam lá, dessa vez arranjaram uma mesa com oito lugares exatos.
‘A curiosidade matou o gato’ null brincou.
‘Mentira que eu ainda to vivinho’ null piscou sentando ao lado da garota, que ficou vermelha rindo dele.
‘Qual era o assunto?’ null perguntou tomando um gole da cerveja de null.
‘Você não corre o risco de morrer, null. Nem é tããão gato assim’ null disse em tom de brincadeira e pegou sua cerveja de volta. null fez bico enquanto os outros riam.
‘Tadinho, tem gosto pra tudo’ null disse numa tentativa de consolar o garoto, mas isso só fez com que os outros rissem mais ainda.
‘Deixando o null de lado’ null disse ‘e matando a curiosidade de vocês ao invés do gato, estávamos falando sobre o Michael’
‘HEIN?!’ null olhou imediatamente pra ela, nem percebeu que tinha falado um pouco alto demais.
‘Exatamente o que você ouviu, null. Falávamos sobre o Michael, meu querido ex-namorado’ null confirmou, usando um tom levemente irônico nas últimas palavras. null fez uma careta discreta.
‘Minha prima viu Michael no shopping ontem’ null disse ‘Ele estava com uma garota’
‘Cara rápido’ null comentou baixo. null ouviu e deu uma risadinha.
‘Nada mais normal’ null sacudiu os ombros ‘Já faz quase um mês que terminamos o namoro e, mesmo que fizesse só um dia, ele pode ficar com quem quiser a partir do momento em que não está mais comigo’
‘Que bom que você pensa assim’ null comentou mais aliviado interiormente. null simplesmente sorriu.

‘Ah null, larga de manha’ null disse puxando o garoto pela mão.
‘Daqui a pouco alguém vai pisotear a gente’ null reclamou se desviando de uma garota que agitava os braços enquanto dançava ‘e eu nem estou com tanta sede assim’
‘Eu não posso fazer nada se o null acabou com a minha cerveja e sumiu por aí só pra não vir pegar outra’ ela disse quando eles chegaram no bar. Foi logo pedindo duas cervejas.
‘Você poderia ter vindo sozinha’ null sentou no único banquinho vazio perto do balcão.
‘Correndo o risco de ser agarrada por algum bêbado?’ ela arqueou uma sobrancelha ‘Não, obrigada’
‘Hum, então eu estou fazendo o papel de guarda-costas?’ ele girou no banquinho, fazendo a menina rir. Parou de frente pra ela.
‘Na verdade, seria mais como um escudo. Se um bêbado viesse me agarrar, eu te jogaria pra cima dele, então, no caso, ele agarraria você’
‘Que maldade comigo’ ele fez cara de coitado puxando ela pela mão. null deixou-se levar e ficou com o corpo entre as pernas dele. Não se importou com isso, eles eram apenas amigos.
‘Aposto que você não reclamaria se fosse uma mulher bêbada que te agarrasse’ ela piscou.
‘Depende da mulher’ ele levantou as sobrancelhas, encarando profundamente a menina. Ela estava perto dele, assim como ele queria e tentara fazer com que ficasse durante aquela semana toda. Até aquele dia não tinha obtido resultado nenhum, mas quem sabe aquele sábado era seu dia de sorte ‘Você está pretendendo ficar bêbada hoje?’
‘Cala a boca’ ela riu pegando uma das garrafas abertas de cerveja que o barman tinha acabado de deixar sobre o balcão. null tinha escutado aquela mesma risada todas as vezes que jogara uma indireta na garota nos outros dias da semana. Era sempre a mesma risada de quem estava levando tudo na brincadeira.
‘Ah não, hoje você não fica bêbada, afinal a ex-namorada do seu namorado não está aqui pra te embebedar’ ele disse num tom incomodo.
‘Nem me lembre disso’ ela rolou os olhos ‘e Duncan não é meu namorado’ completou bebendo um gole da cerveja.
‘Pensei que fosse. Sábado passado eu vi vocês se, hum, se...’
‘Beijando’ ela disse por ele.
‘É. Aqui no Gas’ ele confirmou e pegou a outra cerveja.
‘E o que tem isso?’ null ergueu os ombros ‘Eu e o Duncan não temos nada, estamos só curtindo. Desde quarta-feira eu não falo com ele, nem no colégio. Agora, não me diga que você acha que ele não ficou com nenhuma outra garota durante esses dias’ ela riu irônica ‘Hoje mesmo, ele deve estar em algum outro bar, com alguma outra garota, sem dúvidas’
‘E como você se sente em relação a isso?’ ele perguntou interessado.
‘Eu não sinto nada. Ele curte a vida dele, eu curto a minha. Eu já te disse que não sei se vou ficar realmente com ele, por causa daquelas merdas de mudanças minhas’ ela respondeu indiferente.
‘Hum, certo. Mas, então, você não se importa se ele ficar com outras garotas?’
‘Não. É como eu acabei de falar, ele curte a vida dele e eu curto a minha’ ela respondeu simplesmente.
‘E desde quando você anda curtindo sua vida hein, mocinha?’ ele estreitou os olhos. null riu.
‘Desde quando eu saio com as minhas amigas, sem o Duncan’
‘Preciso sair mais com vocês então, pra cuidar de você pra ele’ ele brincou. Ela franziu a testa.
‘Você não faria isso por ele’ disse.
‘E por que não?’
‘Por simplesmente não gostar dele’ ela respondeu e bebeu um gole de cerveja. null arqueou uma sobrancelha, espantado com o tato da garota pra perceber isso.
‘Não achei que estivesse tão na cara assim’ disse. Ela gargalhou.
‘Mas está. O negócio é que você não fala dele com, digamos, muito ânimo. O motivo disso eu não sei, mas, enfim, seja mais discreto null’ ela bateu o indicador no peito dele, que riu.
‘Serei, pode deixar’
‘Vamos voltar pra mesa. Daqui a pouco alguém sai pra me procurar’ null fez menção de se afastar e null a puxou pela mão novamente.
‘Ninguém vai sair pra te procurar, você está comigo’ ele piscou e sorriu marotamente.
‘Esse é o problema, estou justo com você’ ela riu.
‘Por que é um problema? Eu não sou um cara que ofereço perigo, sou?’ ele arqueou uma sobrancelha, sorrindo com o canto da boca. null mordeu o lábio quando sentiu os joelhos dele tocando seus quadris.
‘Não, não acho que você seja’ respondeu depois de alguns segundos encarando o garoto ‘mas talvez só porque está sóbrio’ disse rindo.
‘Então vamos continuar sóbrios’ ele colocou sua garrafa de cerveja em cima do balcão e fez o mesmo com a dela ‘e ver o que acontece’
‘Oh oh, acho que você não está tão sóbrio quanto eu imaginei’ ela riu e tentou recuperar a garrafa de cerveja. null segurou na mão dela e a puxou pra mais perto, fazendo com que os rostos ficassem próximos e os narizes se encostassem. Ela o encarou seriamente ‘null, não faz isso. Você é meu amigo, isso não é certo’
‘Eu discordo, mas você é quem sabe’ ele disse praticamente sussurrando. null respirou fundo quando sentiu a respiração dele no seu rosto. Ela não estava agüentando a proximidade, não sabia o que fazer. Acabou fechando os olhos e deixando sua boca encostar na dele.
null sentia cheiro de cerveja e um perfume doce. Por um tempo, deixou apenas que as bocas ficassem encostadas, na espera de alguma reação da parte da garota. Não queria forçá-la a nada. Mas, depois de uns segundos daquele jeito, ele não agüentou mais. Segurou na cintura da menina e a beijou como desejara fazer desde o dia em que a vira pela primeira vez. Por incrível que pareça, null não se assustou com a atitude dele e simplesmente correspondeu. Ela segurou com as duas mãos na nuca do garoto e sentiu as mãos dele deslizando nas suas costas, o que lhe causou estranhos calafrios. null sentia as pernas meio trêmulas e null abraçou a menina com força. Ela separou as bocas e os dois ficaram se encarando, respirando profundamente, ainda meio abraçados. null mal podia acreditar no que tinha acabado de acontecer, e sua única vontade era voltar a beijar a garota à sua frente. Ele ia aproximar o rosto do dela novamente quando eles ouviram uma risada conhecida. Ao ver null se aproximar, null se afastou de null, se desvencilhando dos braços dele, e encostou-se ao balcão do bar, pegando sua garrafa de cerveja. Um segundo depois, null chegou perto deles, acompanhada de null.
‘Gente’ ela encostou-se ao balcão ao lado de null ‘vocês acabaram de perder uma boa’
‘O que houve?’ null perguntou passando a mão pelos cabelos. Estava nervoso pelo que tinha acabado de acontecer. null olhou discretamente pra ele e tomou um gole grande de cerveja.
null confundiu um cara com o null’ null ria contando ‘Chegou dando um soquinho no ombro do cara. Quando o cara virou pra ele, null simplesmente pediu desculpas. Mas o cara estava bêbado e queria bater nele’
‘Se não fosse pela null, que chamou um segurança, o null estaria com o rosto bem prejudicado agora’ null também ria ‘O null fez uma cara de desespero quando o cara avançou pra cima dele que ai meu Deus’
‘Pelo menos ninguém saiu machucado’ null deu de ombros.
‘Onde estão os outros?’ null perguntou quando sua cerveja terminou.
null e null estão na mesa’ null respondeu enquanto null tentava chamar a atenção do barman para conseguir mais duas cervejas ‘null e null devem estar dançando, mas eu não tenho certeza. Faz tempo que eles saíram da mesa’ disse e olhou de esguelha pra null, que apenas sorriu.

Cap. 22


‘Estou cansada de dançar null, vamos parar um pouco’ null pediu sentindo as pernas começarem a doer.
‘Tem certeza? Nós estamos longe da mesa’ null tentava enxergar a mesa onde estavam sentados antes, mas estava impossível ‘e as músicas realmente boas começaram só agora’
‘Você quer dizer que as velharias começaram só agora’ ela riu. O DJ parecia ter cansado de tocar as músicas modernas e começara com uma seqüência de canções mais antigas, dos anos 80 pra baixo.
‘Ah, não reclama. Muitas músicas são legais’ ele disse e riu ao ver a menina fazer careta ‘Certo, vamos procurar a mesa então pra você poder sentar um pouco’
null sorriu e pegou na mão dele. Os dois não deram nem três passos quando null estacou no lugar.
‘Que foi?’ null olhou pra ela.
‘Você está ouvindo?’ null perguntou ‘A música... é All My Loving’ disse sorridente. null prestou atenção e reconheceu o comecinho da música dos Beatles ‘Essa música é linda’
‘Achei que não gostasse dessas velharias’ ele riu. A garota pôs a língua pra fora.
‘Essa música é exceção’
‘Ainda quer se sentar ou prefere dançar comigo?’ ele perguntou sorrindo charmosamente. null mordeu a boca num sorriso tímido.
‘Com esse sorriso você me convence’ disse. Ele deu uma piscadinha rindo e puxou a garota pra mais perto. Ela encostou o queixo no ombro dele e foi seguindo seus passos. Sentiu as mãos dele rodearem sua cintura e viu umas garotas que estavam ali perto olhando pra ela e cochichando ‘Eu não sabia que dançar com um McGuy causaria isso’ ela disse baixinho.
‘Quê?’ ele perguntou na mesma voz que ela, sem entender.
‘Pelo visto vocês já têm um pequeno fã-clube por aqui e, no momento, algumas das suas fãs estão me fuzilando com os olhos’ ela explicou e deu uma risadinha.
‘Fã-clube? Nós já tocamos algumas vezes aqui, mas não é pra tanto’ ele disse rindo.
‘Ah, não sei, mas que aquelas meninas estão falando de mim, estão sim’
‘Não ligue, elas devem apenas estar te invejando pelo privilégio que você está tendo nesse momento’ ele disse cheio de si. null desencostou o queixo do ombro dele e o encarou.
‘Privilégio?’ ela franziu a testa ‘Então é um privilégio dançar com você?’
‘Bom, se não for privilégio, pelo menos é algo que elas gostariam de estar fazendo no seu lugar’ ele encolheu os ombros, vendo uma garota mirando null pelas costas com uma cara de desprezo.
‘Coitadas’ null disse olhando de esguelha pra uma outra garota de cara fechada ‘vão ficar só na vontade’ e deu uma risadinha maldosa.
‘Vão é?’
‘E não?’ ela voltou a encará-lo com uma sobrancelha arqueada.
‘Se você diz’ null disse. Ela sorriu satisfeita, o que fez o menino rir ‘Eu não entendo como Michael foi capaz de deixar uma garota incrível como você’ ele viu null corar e de alguma maneira se sentiu contente com isso ‘Eu nunca faria uma bobagem dessas’
‘Não faria?’ ela perguntou muito baixo. null negou com a cabeça, sentido o estômago dar voltas. Ele sabia que aquele era o momento do tudo ou nada.
‘Se eu tivesse uma oportunidade de ficar com você, depois de seis anos escondendo meus sentimentos, eu não te deixaria jamais’ ele disse sincero. A garota mordeu a boca, sem entender muito, mas não precisou ouvir explicações quando viu o rosto de null se aproximando do seu. Ela apenas fechou os olhos e deixou-se levar pela boca dele na sua.

null me mandou uma mensagem e disse que está indo embora com null’ null disse guardando o celular no bolso da calça. null terminou de beber sua cerveja.
‘Que ótimo, null levou o carro. Agora só temos o carro do null pra voltar pra casa’ ele disse.
null veio no carro dela, trazendo a null. Eu vim com o meu pra poder dar carona pra null’ null contou ‘Ainda temos três carros, é o suficiente’
‘Pode esquecer o carro da null’ null disse rindo ‘Duvido muito que ela volte a tempo de irmos embora todos juntos’
‘Será?’ null perguntou mais baixo pra amiga. null apenas encolheu os ombros e as duas deram risadinhas. null, que estava acertando as contas com o barman, voltou.
‘Não sei vocês, mas eu estou cansado’ disse ‘Alguém quer uma carona?’
‘Vou ligar pro null e ver se ele vai embora agora’ null pegou o celular e discou o número de null.
‘Podem ir vocês dois, se quiserem’ null disse olhando de null pra null ‘Qualquer coisa eu dou uma carona pro null aqui’
‘Tem problema me levar pra casa?’ null olhou pra null. Desde que null e null tinham aparecido no bar, os dois tinham evitado um pouco de se falar e trocar olhares. Não estavam sabendo muito bem como lidar com aquela situação, apesar de null ter visivelmente tentado chamar a atenção de null a maior parte do tempo, falando e rindo alto.
‘De forma alguma, você sabe’ null balançou a cabeça, tentando não pensar no que poderia acontecer quando ficassem sozinhos novamente. A garota deu um meio sorriso.
‘Bem’ ela se virou pra null ‘eu já vou indo, amiga. Até mais’
‘Juízo vocês dois’ null deu um beijo na bochecha da amiga e piscou pra null ‘Cuida dela hein null’
‘Pode deixar’ null retribuiu a piscadinha e riu ao ver null balançando a cabeça.
‘Cuidado com o null, null!’ null alertou a amiga quando estava se afastando dela. Viu null rir e null voltar. Ela e null ainda conseguir escutar null gargalhando ao lado de null.
null brigou comigo por ter ligado’ ele dizia rindo ‘falou que não vai embora conosco agora. Acho que ele estava ocupado’ completou e null riu com ele. null e null estacaram no lugar e se entreolharam.
‘Você acha que...?’ null arqueou uma sobrancelha.
‘Vai saber’ null ergueu os ombros ‘mas pelo jeito sim’
‘Já estava na hora do null tomar alguma atitude’ ele disse sorrindo marotamente e os dois riram, voltando a andar em direção à saída do Gas.

null ria quando null desligou o celular. O garoto guardou o aparelho no bolso da calça e olhou pra ela.
‘O que foi?’ perguntou.
‘Você não precisava ter gritado assim com o null’ ela disse rindo ‘Coitado, como ele ia saber?’
‘Não gosto que me atrapalhem quando estou num bom momento’ ele deu uma piscadinha a fazendo rir mais ‘ainda mais quando eu esperei por esse momento durante seis anos’
‘Eu nunca imaginei, null’ ela ficou mais séria ‘Você sempre esteve tão distante de mim, nunca demonstrou nada’
‘Quem se mantinha longe de mim era você, mas eu não podia fazer nada quanto a isso. Eu não tenho culpa se não sou popular’ ele deu de ombros humildemente. null sorriu e passou a mão pelo rosto dele.
‘Você não era popular, agora veja’ e olhou ao redor. O garoto fez o mesmo e viu um bocado de meninas encarando os dois que estavam parados no meio da pista ‘Elas devem estar querendo me matar pra poderem me substituir depois’
‘Ninguém mandou você ficar com um rock star em público’ ele riu com a cara que ela fez.
‘Não exagere, sugar. Você ainda não é um rock star’
‘Certo, mas ainda assim, ninguém mandou você ficar com um semi-rock star em público’ ele disse sério e ela riu.
‘Então, se eu for ficar com você, vou ter que me acostumar a ser motivo de inveja?’ perguntou arqueando uma sobrancelha. null sorriu ao ver que havia uma possibilidade de ficar com ela novamente.
‘É, acho que vai’ disse.
‘Hum’ ela o abraçou e lhe deu um beijo na bochecha ‘talvez eu possa me acostumar com isso’ e sorriu quando ele a abraçou mais forte.

‘Close your eyes and I'll kiss you. Tomorrow I'll miss you’ null cantava baixinho, pra si mesma, encarando a rua através da janela fechada do carro. null dirigia em silêncio, perdido em pensamentos.
De certo modo, ele ainda não conseguia assimilar muito bem o que tinha acontecido no bar. Certo, ele e null tinham ficado, finalmente ele conseguira ficar com a garota com que tanto sonhava. Mas, e agora? O que mudaria entre eles depois daquele beijo? Ela poderia muito bem fingir que não o conhecia, se tornar uma popular esnobe e ficar pro resto da vida com o maldito Duncan. Ou então ela poderia se declarar pra ele, dizendo que aquele beijo era algo que ela esperava desde que falara com ele pela primeira vez e então os dois poderiam ficar juntos pro resto da vida...
‘O que vai acontecer agora?’ null perguntou olhando pra null.
‘Ahn?!’ null franziu a testa, sem ouvir o que ela dissera. Estava ocupado demais com seus sonhos particulares ‘Desculpe, o que disse?’
‘Perguntei o que vai acontecer agora’ ela disse e voltou a olhar pela janela. null entendeu, ela estava com as mesmas dúvidas que ele.
‘Em relação a...?’ ele se fez de bobo só pra ver o que ela diria. A garota riu.
‘Não se faça de bobo, eu te conheço, sei que você sabe do que eu estou falando. O que vai acontecer agora?’
‘Hum, certo’ ele disse e tamborilou no volante, pensando no que dizer ‘Bem, não sei’ admitiu.
‘Foi o que eu imaginei’ ela disse calma ‘Acho que somos maduros o suficientes pra lidar com isso numa boa’ disse pensativa. null olhou de esguelha pra ela, esperando ouvir o que mais ela tinha a dizer ‘Eu não imaginei que isso aconteceria, mas não vou fingir que não aconteceu. Só quero te pedir pra não comentar com ninguém, pelo menos por enquanto. Pode fazer isso por mim?’
‘Creio que sim’ ele respondeu. Ocorreu-lhe rapidamente a idéia de revelar a ela sobre seus sentimentos, mas por algum motivo estranho e desconhecido pra ele mesmo, null ficou calado quanto a isso.
‘Certo. Bom, de qualquer forma, vamos continuar levando nossa vida normalmente’ ela suspirou aliviada. No fundo, tinha medo de que aquele acontecimento abalasse o relacionamento dos dois, mas como ela mesma dissera: eles eram maduros o suficiente pra resolver tudo numa boa. E a amizade com null era algo que ela não queria perder por causa de um beijo imprevisto e nem por qualquer outra coisa ‘Acima de tudo nós somos amigos, nada vai mudar isso’
‘Exato’ ele afirmou simplesmente, olhando fixamente pra frente. Não estava contente com sua situação atual e nem com o que tinha acabado de ouvir, mas aquele infeliz motivo estranho e desconhecido continuava a impedi-lo de mudar alguma coisa. Por que não conseguia simplesmente falar o que sentia? Que droga!
‘Ótimo’ null sorriu satisfeita e ligou o rádio do carro ‘Agora, o que eu quero ver é como os outros vão lidar com certas coisas’ disse enquanto mudava as estações de rádio.
‘Hein?’ null perguntou sem entender de quem ela estava falando.
‘Falo da minha prima e do null. Quero ver como eles vão ficar agora’ ela explicou e deixou numa rádio onde coincidentemente estava tocando All My Loving. null olhou pra garota e ambos riram. null recostou a cabeça no banco e voltou a olhar pela janela. Sim, estava certa. A amizade deles não se deixaria abalar por um beijo que não passara de um...

Cap. 23


‘ACIDENTE DE PERCURSO?’ null berrava de nervosismo. null se encolheu no sofá da casa da prima ‘UM PEQUENO ACIDENTE DE PERCURSO?’
‘Pelo amor de Deus, não faça escândalo’ null pediu fazendo gestos com as mãos. Era domingo à tarde e ela resolvera passar na casa de null, já que não tinha nada pra fazer no apartamento e a prima estava sozinha.
‘Ah cara, você ficou com o null. Onde você estava com a cabeça quando fez isso?’ null sentou no sofá, passando a mão na testa. null bufou indignada.
‘Olha quem fala! Eu fiquei com o null, mas e você?’ perguntou estreitando os olhos. null olhou espantada pra ela.
‘Eu o quê?’
‘E ainda por cima dá uma de cínica’ null atirou uma almofada na prima e riu nervosa ‘Você ficou com o null!’
‘O queeeeeee? Eeeeeeeu?’ null segurou a almofada e apontou pra si mesma.
‘Ah, cala a boca!’ null abanou a mão ‘Você pensa que me engana? Eu sei que você ficou com o null ontem, no Gas’
‘Ele... ele contou?’ null perguntou mordendo a boca. null desatou a rir.
‘AHÁ! Eu tinha certeza! CER-TE-ZA!’
‘Tá, tá bem, eu fiquei com ele. Feliz?’
‘Quem tem que estar feliz é você, não eu. Venhamos e convenhamos, o null é classe A’ null riu e cruzou as pernas em cima do sofá ‘E então, como foi?’
‘Maravilhoso’ null disse com os olhos brilhando ‘Ele é realmente uma graça’
‘Óbvio, ainda mais estando com você, de quem ele gosta há não sei quantos anos’
‘Você sabia disso???’ null jogou a almofada na prima, que deu uma risadinha ‘Sua danada, sabia e não me disse nada!’
‘Foi null quem me contou, e eu prometi ficar calada’ null explicou ‘Aliás, eu nem deveria ter contado pra você que fiquei com o null ontem, até porque pedi pra ele não contar pra ninguém’ ela coçou a cabeça, meio desapontada consigo mesma, e encarou a prima seriamente ‘então trate de fingir que não sabe de nada, ok?!’
‘Minha boca é um túmulo, mas agora, voltando ao assunto’ null começou ‘O que você vai fazer em relação ao null?’
‘Hum, nada?’ null arqueou uma sobrancelha, irônica.
‘Como assim nada?’ a prima perguntou exasperada ‘Vai simplesmente fingir que nada aconteceu, é isso?’
‘Não, bom... quase isso. Eu sei que aconteceu, ele sabe, é o suficiente. Ninguém mais precisa saber’ null riu de si mesma ‘bom, ninguém além de você, pra quem eu fofoquei agora. Mas, enfim, vai ficar por isso mesmo. Eu e ele vamos continuar sendo amigos, numa boa, como se realmente nada tivesse acontecido’
‘Você acha que vai conseguir manter a amizade com ele numa boa?’
‘Sinceramente? Acho que sim. É como eu já tinha te dito uma vez, eu considero o null como um melhor amigo, quase como um irmão’
‘Por acaso, se você tivesse um irmão, ficaria com ele como ficou com o null?’ null arqueou uma sobrancelha. null pôs a língua pra fora.
‘Claro que não, e não finja que não me entendeu. O que eu quero dizer com isso é que meu sentimento por ele é uma coisa mais fraternal e que não passa disso. O beijo foi o que eu disse que foi, um pequeno acidente de percurso’
‘Ok, ok. Mas agora me conta, o que você sentiu quando ficou com ele?’ null perguntou se empertigando no sofá. null se mexeu meio desconfortável.
Não tinha parado pra pensar no que sentira ao beijar null até porque não achou que sentira nada anormal... A não ser pelos calafrios e tremores nas pernas, mas isso não era nada demais. Era?
null?’ a prima a chamou, vendo que ela demorava pra responder ‘E então?’
‘Ah, sei lá null. Não senti nada demais’ null encolheu os ombros. ‘Tem certeza?’
‘É claro que tenho. Tô falando, foi normal’ garantiu rapidamente. null assentiu com a cabeça.
‘Certo, certo. E, hum, ele beija bem?’ perguntou fazendo uma clássica cara de curiosa. null riu e tentou mudar de assunto, começando a especular sobre null e a prima. Vendo que não arrancaria mais nenhuma informação da prima, null decidiu contar por completo como passou sua noite de sábado ao lado de null.

‘Foi isso cara’ null voltou pra sala do apartamento, entregando uma latinha de Coca-Cola pra null, que estava sentado num dos sofás ‘Eu e ela ficamos até às três da manhã no Gas’ concluiu se esparramando na poltrona.
‘Você é um cara de sorte, meu amigo’ null abriu a latinha e tomou um gole do refrigerante ‘Finalmente conseguiu ficar com a garota que ama. Deve estar se sentindo o cara mais feliz do mundo’
‘Ah, nem tanto. Eu serei o cara mais feliz do mundo se puder continuar com a null’ null sorriu idiotamente ao se imaginar namorando a garota e bebeu um gole do seu próprio refrigerante. Olhou pra null, que fitava os joelhos ‘Mas e você, cara? Veio pra cá porque disse que precisava conversar com alguém. Qual o problema?’
null’ o outro respondeu suspirando. null balançou a cabeça.
‘O que houve? Você resolveu se declarar e ela te bateu, foi isso? Ou ela te bateu mesmo sem você se declarar?’
‘Eu a beijei’ null disse simplesmente e sorriu de uma forma mais idiota do que null fizera antes.
‘O QUÊ?’ o amigo arregalou os olhos e sentou direito na poltrona, espantado com o que acabara de ouvir ‘Você a beijou? Como assim?’
‘Não vai me dizer que não sabe como se faz isso’ null olhou pra null e os dois riram.
‘Ah cara, você me entendeu. Quero saber como foi’
‘Foi... do nada’ null disse franzindo a testa ‘mas foi incrível’ e sorriu.
‘Deve ter sido mesmo, pra você estar com essa cara de bobo aí’ null riu ‘Mas e aí? Ela não te bateu depois não?’
‘Cara, você quer que ela me bata, não quer?’ e eles riram ‘Não, ela não me bateu. Na verdade eu meio que deixei por conta dela. Fui dando umas indiretas, sabe como é, e depois meio que cheguei junto’
‘E aí?’ null perguntou ansioso.
‘Ela disse que não era pra eu fazer nada, que nós éramos amigos e que não era certo’ null sorriu ao lembrar da expressão da menina ‘Eu cheguei mais perto dela e disse que discordava mas que era ela quem decidia. Ela simplesmente fechou os olhos e encostou a boca na minha. Eu deixei tudo assim por um tempo até que não agüentei mais e beijei ela’
‘Quanta pressão, cara’ o outro disse rindo ‘Por que você não a beijou de uma vez?’
‘Eu gosto de verdade dela null, gosto muito. E por isso mesmo não quero forçá-la a nada, entende? Se for pra acontecer, que seja naturalmente’
‘Isso foi lindo’ null zombou fingindo-se emocionado. null sacudiu os ombros.
‘Pode zoar cara, eu não ligo. Eu sei o que se passou comigo e posso dizer, nas suas palavras, que foi lindo’ e os dois riram.
‘Mas e agora, dude? O que acha que vai acontecer?’ null perguntou.
‘Eu ainda não sei, na verdade’ null balançou a cabeça ‘null disse que nós devemos seguir nossa vida normalmente, porque nós somos amigos e nada pode mudar isso’
‘Enfim, o que ela quis dizer foi que vai ignorar o que aconteceu e continuar sendo somente sua amiga’ null concluiu tomando um gole de Coca. null concordou.
‘É, eu também entendi isso. Apesar de ela ter dito que não vai fingir que nada aconteceu, eu acho que ela vai. Até porque ela me pediu pra não comentar nada com ninguém, portanto finja que eu não te contei nada. E também não conte isso pra mais ninguém, nem pros outros caras’
‘Certo, certo, pode deixar. Então, no fim das contas, vai continuar tudo na mesma?’
‘Parece que sim’ null encolheu os ombros e bebeu um pouco do refrigerante ‘pelo menos da parte dela. Agora, quanto a mim, bem, você deve imaginar’
‘Vai continuar investindo nela, não é?’ null perguntou e viu o amigo afirmar com a cabeça ‘Está certo, dude. Não pode desistir fácil não. Vê o que aconteceu comigo? Depois de seis anos a garota da minha vida finalmente me deu uma chance’
‘Sinceramente null, eu não quero esperar seis anos pra ficar com a null. Eu admiro a sua persistência cara, mas eu já tive a null uma vez, ontem, e não pretendo esperar seis anos pra ter de novo’ null disse firme.
‘Mas, desculpe perguntar, e se ela resolver ficar com o tal Duncan? Mesmo depois disso’
‘Bem, quanto a isso eu não vou ter muito que fazer, mas eu sou capaz de garantir que Duncan não vai ficar com ela por muito tempo caso isso aconteça’
‘Hum, é, parece que não mesmo’ null riu ‘Cara, mudando de assunto, você acha que eu devo ligar pra null?’ ele perguntou meio constrangido. null riu.
‘Liga, dude. Convida ela pra sair. Hoje tá frio, mas nada que um café não resolva’ disse e sorriu maroto ‘Bom, um café e uns beijos, claro’
null concordou rindo e foi até a mesinha do telefone, puxando na agenda do celular o número que null tinha passado pra ele ontem. null ficou olhando pra null enquanto ele esperava alguém atender do outro lado. Sentiu uma pontinha de inveja do amigo. Por que as coisas com null não poderiam ter sido como foram com null e null? Eles simplesmente poderiam estar juntos agora.
‘Alô. null?’ null perguntou quando pareceram finalmente atender. null viu o amigo sorrir ‘Bem e você? Aaah, eu também estava’ e sentou no braço do sofá, passando a mão pelos cabelos. null bebeu um gole do refrigerante ‘Olha, estava pensando, quer tomar um café comigo? O carro do meu pai está aqui, eu posso te buscar... hum, quinze minutos?’ ele olhou pra null, que riu e levantou do sofá, deixando a latinha de Coca sobre a mesinha de centro. null sorriu fazendo positivo pro amigo ‘Vou pegar um casaco e já estou indo praí. É, acho que preciso. Uhum, certo, eu sei onde é. Até mais, beijos’ e desligou.
‘Você está me trocando por ela’ null disse se fazendo de ofendido ‘Vou me lembrar disso, ok?!’
‘Sinto muito, docinho, mas você não me ouve mais, nada é como antes’ null balançou a cabeça ‘Eu preciso procurar novas amizades, novos caminhos, seguir minha vida’ e os dois caíram na risada.
‘Bom encontro, cara’ null deu tapinhas nas costas do amigo.
‘Por que não liga pra null agora? Podia convidar ela pra ir ao cinema, sei lá’ null sugeriu ‘É uma boa investida’
‘Não, vamos dar tempo ao tempo’ null disse paciente ‘Mesmo porque eu tenho que passar no mercado agora. Acabou o meu miojo’
‘Boas compras então, dude. A gente se vê’ null disse abrindo a porta do apartamento. null deu mais um tapinha no ombro do amigo e foi apertar o botão do elevador.

‘Owwwn cara, que fofo!’ null disse toda sorridente, colocando o telefone na base. null calçou os tênis e levantou do sofá.
‘Então vai sair com o null?’ perguntou sorrindo também ‘Que bom, prima, que bom’
‘Que ótimo, isso sim! E você?’
‘Eu? Eu nada, eu vou pra casa porque logo o null tá por aí’ null pegou o blusão branco de moletom que tinha deixado no braço do sofá e vestiu. null cruzou os braços.
‘E cadê o Duncan pra te ligar numa hora dessas?’ perguntou arqueando a sobrancelha. null riu.
‘Duncan deve estar curtindo a vida dele sozinho. Esquece ele por enquanto’
‘Então você deveria ir curtir a sua também’ null apontou pra prima, séria ‘Já que aquele babaca resolveu te ignorar por causa dos amigos que você tem, saia com outro babaca, mas que pelo menos não te ignora’
‘Outro babaca?’ null franziu a testa, desentendida.
null null’ null respondeu e riu. null balançou a cabeça.
‘Eu não vou sair com ele, null. E ele não é um babaca, deixa de besteira. Eu vou é pra casa’ disse puxando o zíper do blusão pra cima. A prima sorriu meio compadecida.
‘Certo, se você prefere assim. Eu até convidaria pra sair comigo e com o null, mas...’
‘Mas eu não sou castiçal pra segurar vela, exatamente’ null disse e as duas riram ‘Agora vai, vai se arrumar que o null chega a qualquer momento’
‘Ih, é melhor eu ir mesmo. Mais tarde eu te ligo, ok?!’ null deu um beijo na bochecha da prima e correu pro quarto pra trocar de roupa. null balançou a cabeça e foi abrir a porta da casa.

Cap. 24


Ela estava perto de casa, andando contra o vento gélido do anoitecer. Sorria sozinha, feliz pelo fato de ver sua prima tão animada, diferente de quando ela terminou o namoro com Michael. null acabou dando um ânimo novo pra null, o que era ótimo. null queria ver a prima feliz e sabia que ao lado de null, que a amava tanto, ela seria mais do que feliz. Ela já ia descer a rua pra depois virar na próxima esquina e entrar no condomínio quando lembrou que precisava comprar alguma coisa pra comer aquela noite. Os pais já deviam estar na casa de um sócio numa cidade vizinha, onde iriam jantar, e ela não passava no mercado a um bom tempo. Pensou que seria mais prático se pedisse uma pizza, mas estava tão perto do mercado. Não custava nada entrar lá e pegar alguma coisa, nem que fosse um ou dois pacotinhos de miojo. null voltou alguns passos e entrou no pequeno mercado.

null estacionou o carro na calçada mesmo. Não pretendia demorar, ia só pegar alguma coisa prática de fazer. Ele desceu do carro e correu pro mercado, indo direto pro corredor dos famosos “instantâneos”. Mal virou no corredor e estacou no lugar. null estava agachada na frente de uma gôndola, com dois copinhos de macarrão instantâneo. Ela parecia escolher qual levaria. null sorriu e foi andando até a garota, parando silenciosamente ao lado dela.
‘Quer ajuda?’ perguntou numa voz grossa. null olhou pra cima e sorriu ao reconhecer o garoto.
‘Caramba, que susto’ ela ficou em pé ‘Não sei qual eu levo. Qual seria mais adequado pra uma noite de domingo fria é solitária?’ perguntou rindo e olhando de um copinho pro outro.
‘Hum, não precisa ser solitária se você não quiser’ ele disse quando uma idéia lhe ocorreu de repente. A garota o encarou confusa ‘Não quer jantar lá em casa?’ convidou corajosamente.
null voltou a olhar pros copinhos de macarrão, pensativa. Não sabia se era certo aceitar aquele convite depois do que acontecera no dia anterior. Por outro lado ela imaginava que null não tentaria repetir a dose, não depois do que conversaram dentro do carro dele.
‘Bem, acho que é melhor do que ficar sozinha’ ela disse por fim e ele sorriu.
‘Eu prometo não ser muito chato e você pode ir embora quando quiser, não vai nem precisar andar muito’ disse.
Os dois riram indo pra ponta do corredor, na direção dos caixas e da saída do mercado. null ia mais atrás quando lembrou que tinha que devolver os copinhos. Ela correu de volta até a gôndola. null olhou pra trás. Por um momento ele apenas ficou sorrindo, observando as roupas dela. O blusão que a menina vestia era tão grande que ia até metade das coxas dela, cobrindo grande parte da calça jeans cuja barra dobrava embaixo do all star preto.
‘Ei!’ ele chamou alto, acordando do seu pequeno transe quando viu null abandonar os copinhos na gôndola. A garota olhou pra ele ‘Traga isso de volta. Eu não sou cozinheiro profissional, meu bem’ disse. null pegou os copinhos de volta e correu até ele, rindo.

‘Você não é cozinheiro profissional, mas seu macarrão instantâneo fica mais gostoso que o meu’ null disse rindo. null deu uma piscadinha pra ela.
‘Eu tenho meus truques, babe’ disse maroto. Os dois estavam sentados no chão da sala de null, comendo macarrão instantâneo, bebendo refrigerante e assistindo Friends.
‘Eu ainda não acredito que isso está reprisando’ null apontou com o garfo pra televisão ‘Deve ser a vigésima vez que eu vejo esse episódio do macaquinho’
‘Eu nem ligo’ null deu de ombros ‘Isso é cômico’
‘Não quando você já sabe tudo que vai acontecer’ ela riu ‘Acho que a última vez que assisti eu ainda morava em Los Angeles’
‘Você não tinha me dito que morou em Los Angeles, só falou de Miami’
‘É que em Los Angeles eu passei menos de três meses, nem contou muito’ ela disse indiferente. null tomou um gole de refrigerante e olhou pra ela.
‘Você nunca pensou em simplesmente não acompanhar seus pais nessas mudanças freqüentes que eles fazem?’ perguntou. null ficou olhando pro macarrão dentro do potinho e suspirou.
‘Bem, já. Na verdade eu nunca gostei de ficar me mudando sempre, chega uma hora que você fica de saco cheio’ ela disse num tom meio chateado, mexendo com o garfo no macarrão ‘Mas sabe como é, eu sou menor de idade, ainda tenho que acompanhar meus pais’
‘Que eu saiba, se eles permitirem que você fique no país, você não precisa ir com eles’ ele disse pensativo.
‘Você não está errado, mas meus pais pensam que essas mudanças constantes são boas pra minha educação, porque obrigatoriamente eu acabo aprendendo um pouco da língua de cada país por onde passo. E acho que eles também imaginam que eu vá arrumar um emprego como o deles, então devem achar que eu preciso me acostumar com essa vida maluca que eles levam’
‘Sinceramente, eu acho que já teria pirado com tudo isso’ null balançou a cabeça. null riu e olhou pra ele.
‘Às vezes eu acho que vou ficar louca se tiver que me mudar mais uma vez, mas eu sempre acabo aceitando a decisão dos meus pais’
‘Como você acha que seria sua vida sem todas essas mudanças?’ ele perguntou tomando um gole de refrigerante.
‘Não sei, mas eu sempre me imaginei morando no Brasil’ ela sorriu com o canto da boca ‘viveria lá até ter idade pra fazer faculdade. Como meu sonho é entrar em Harvard ou Princeton, então eu sairia do país e estudaria em lá. Acho que essa seria a única mudança que eu faria em toda a minha vida’
‘Bom, é algo bem menor comparado ao que seus pais fazem’ ele disse e ela riu.
‘Sem dúvidas’ concordou colocando uma garfada de macarrão na boca ‘Ah, olha só’ disse apontando pra televisão ‘espera só pra ver o que vai acontecer agora...’
null olhou pra TV e os dois caíram na risada com a cena do seriado. Ele olhou pra garota e sorriu. Certo, quando pensara em passar mais tempo sozinho com null, não era exatamente aquela cena dos dois comendo macarrão em copinhos e vendo Friends na televisão que lhe veio na cabeça, mas estava sendo bom do mesmo jeito. Contanto que null estivesse ao seu lado, qualquer minuto, fazendo o que quer que fosse, seria bom.

‘Saaaaaaaaaaaaaiê’ null gritava, apertando todos os botões do controle do vídeo-game ‘Aaaaah maldição, agora você vai ver!’
‘Nããão! Hey, isso foi golpe baixo’ null reclamou vendo seu boneco cair no chão.
‘Eu acertei a barriga, nem vem’
‘Foi nada! Foi direto na cabeça!’
‘Mas foi na de cima’ ela disse e eles desataram a rir.
Os dois ainda estavam sentados no chão. Os copinhos de macarrão e as latinhas de refrigerante foram esquecidos de lado e a mesinha de centro foi empurrada pra um canto pra que os dois tivessem mais espaço pra jogar. null estava encostado no sofá, com os joelhos pra cima, tentando pela quinta vez dar uma revanche em null, que estava de pernas cruzadas, com as costas encostadas nos joelhos do garoto.
‘Dessa vez vai ser pra valer hein’ null avisou ‘Você vai tombar de novo, e de novo, e de novo’
‘Só se você roubar de novo, e de novo, e de novo’ null disse concentrado.
null, isso é Mortal Kombat. Como é que eu posso roubar?’ ela perguntou rindo. Ele deu de ombros e continuou concentrado no jogo ‘Agora...’ ela sorriu maldosa, se preparando pra dar um fatality.
‘Não, de jeito nenhum’ ele largou seu controle de lado e rapidamente esticou os braços pra pegar o dela. Como a garota estava bem na frente dele, não foi difícil fazer isso. null viu o controle sair das suas mãos e olhou pra trás, indignada.
‘Mas que sacana!’ gritou pulando em cima do garoto, que largou o outro controle rindo sem parar enquanto a menina lhe fazia cócegas ‘Isso é pra você aprender, seu bandido’ ela disse e trocou as cócegas por tapinhas.
‘Bandido não’ ele segurou as mãos dela, que desequilibrou e caiu pro lado. null foi pra cima dela e começou a retribuir as cócegas ‘eu só fui um pouquinho esperto’
‘Ban-di-do!’ ela insistiu entre risadas escandalosas e ele fez mais cócegas. null estava quase chorando de tanto rir ‘Pára, null... eu tô ficando... sem ar’ ofegou gargalhando. null riu da cara vermelha dela e parou com as cócegas, rolando pro lado.
Eles se entreolharam, jogados no chão, e riram um do outro. null virou a cabeça pro lado, rindo, e viu seu controle. Ela o alcançou e olhou pra null.
‘Olha e aprende, gatinho’ disse. null olhou pra televisão e viu seu boneco cair depois de levar o fatality que ela prometera. null desatou a rir de novo, sentando e se encostando ao sofá ‘Tudo isso pra eu te ganhar! Depois de tudo isso eu ainda te venci! Loser!’
‘Não joga na cara, falou?!’ ele disse ofendido, mas riu com ela em seguida. Olhou pra televisão e viu o “Game Over” piscando na tela. Olhou pra null e viu que ela tentava recuperar o fôlego, com o rosto escondido nos braços sobre o sofá. Ainda deitado, se arrastou pra mais perto da garota e deu dois puxões no blusão dela. null olhou cansada pra ele.
‘Se você começar tudo de novo, eu te mato’ disse.
‘Você acha mesmo que eu tenho pique pra isso?’ ele perguntou rindo. Ela sorriu e deitou ao lado dele ‘Você me humilhou no vídeo-game hoje, fato’ disse passando o braço sob os ombros dela. null riu e encostou a cabeça no peito dele ‘Acho que vou pegar uns dias pra praticar’
‘Não pense que vai se igualar a mim, porque não vai’ ela disse olhando pro teto como ele ‘mas, se você praticar bastante, quem sabe eu te deixo ganhar na próxima’
‘Próxima só no ano que vem’
‘Medroso’ ela disse e os dois riram. null dobrou o braço que estava sob a garota e começou a brincar com o zíper do blusão dela. Levou um tapinha na mão ‘Por que você não mexe no teu nariz?’
‘Porque meu nariz não tem zíper’ ele falou simplesmente a fazendo gargalhar. Voltou a brincar com o zíper, abrindo um pouco do blusão e voltando a fechá-lo.
‘Quer fazer o favor de manter meu blusão fechado? Não tem nada pra você ver aí’ ela olhou pra ele, que arqueou uma sobrancelha.
‘Como assim nada?’ perguntou. null deu um beliscão na barriga dele ‘OUTCH! Foi só uma pergunta’
‘Quieto, null! E você entendeu o que eu quis dizer’ ela voltou a olhar pro teto, ajeitando melhor a cabeça no peito dele. null deu uma risada e continuou brincando com o zíper. Respirou fundo e sentiu o perfume doce da menina. Sorriu se sentindo satisfeito por estar onde estava e com quem estava.

null acordou sentindo um movimento na parte de trás da calça. Já estava pensado em dar um soco em null, mas quando abriu os olhos viu que a mão dele estava em cima da sua barriga e não na sua bunda. Ela abafou uma risada ao se tocar que seu celular devia estar vibrando. Pegou o aparelho no bolso da calça antes que ele começasse a tocar, se mexendo o mínimo possível.
‘Alô’ atendeu falando baixo.
‘Liguei quinhentas vezes na sua casa e ninguém me atende’ null disse meio brava do outro lado da linha.
‘Hum, meus pais devem ter resolvido passar a noite na casa do tal sócio’ null resmungou. null bufou.
‘Eles são meus tios, mas que se danem. Onde você está a uma hora dessas?’ perguntou. null levantou um pouco a cabeça. O vídeo-game ainda estava ligado e o “Game Over” continuava piscando. Ela olhou as horas no vídeo-cassete inutilizado; eram quase três da madrugada.
‘Caramba, deve fazer mais de uma hora que estou dormindo’ disse mais pra si mesma do que pra prima, voltando a deitar a cabeça. null mexeu o braço em cima dela, mas não acordou.
‘Dormindo aonde?’
‘Na casa do null’ null respondeu simplesmente.
‘Como é que é?’ null perguntou devagar ‘Por que diabos você está na casa do null, às três madrugada, dormindo?’
‘Acho que três da madrugada é um horário bem próprio pra se dormir’ null disse calmamente.
‘Eu sei disso, mas... o que você está fazendo na casa dele nesse horário?’ null colocou a mão na testa ‘Ah caramba, não vá me dizer que você ficou com ele de novo’
‘Claro que não’ null deu uma risadinha, achando graça na reação da prima ‘Olha, amanhã eu te explico o que aconteceu, ok?!’
‘Me explicar?’ null franziu a testa ‘Como assim? Tem alguma coisa pra explicar?’ perguntou com a voz começando a ficar esganiçada.
‘Cala a boca’ null disse rapidamente, prevendo que a prima poderia começar a gritar a qualquer minuto e acabar acordando null com isso. Olhou pro garoto e viu que ele continuava dormindo tranqüilamente ‘Se você gritar vai acordar o null’
null está dormindo com você?’ null sussurrou arregalando os olhos ‘Deus do céu! O que vocês fizeram?’
‘Vai dormir, null’ null riu baixo ‘Amanhã a gente conversa’
‘Mas...’
‘Bom final de noite e até amanhã’ null desligou não só a ligação como o celular também, evitando que a prima tornasse a ligar.
Ela tirou o braço de null de cima da sua barriga e sentou no chão. Passou a mão pelo rosto e tentou ajeitar o cabelo. Ela bocejou ainda sonolenta e olhou pro garoto. Ele mexeu com a cabeça e continuou dormindo. null ficou com pena de acordá-lo. Levantou, desligou o vídeo-game e a televisão e pegou a chave de casa que deixara em cima da mesa de jantar na sala. Destrancou a porta do apartamento dele e saiu, encostando-a e foi pro seu próprio apartamento. Não percebeu que estava sorrindo ao fechar a porta.

Cap. 25


‘Você devia ter me acordado ontem’ null repetiu quando estacionou na frente do colégio. null abanou a mão, saindo do carro.
‘Esquece isso, null’ disse. Ele bateu a porta e foi atrás dela.
‘Mas você devia, nem que fosse pra me mandar ir pra cama. Minhas costas estão me matando’ ele reclamou mexendo o pescoço. Ela riu.
‘Depois eu faço uma massagem, tá bom assim?’ perguntou. null sorriu malandro.
‘Gostei da idéia’ disse. null deu um tapinha nele.
‘Cala a boca’ disse balançando a cabeça enquanto o menino ria. null chegou correndo perto dos dois.
‘Ué, o null não veio com vocês?’ perguntou com a testa franzida.
‘Bom dia pra você também, null’ null sorriu. null rolou os olhos.
‘Bom dia, bom dia. Mas e o null?’
‘Ele ligou pro null hoje de manhã e disse que não viria no colégio’ null contou ‘Parece que pegou gripe ou coisa do tipo’
‘Deve ter ficado muito no sereno ontem’ null comentou. null corou levemente, fazendo os dois rirem.
‘Eu não tenho culpa. Foi ele quem quis passear no parque depois de tomar café’ ela disse naturalmente.
‘Pelo jeito vocês ficaram até bem tarde na rua’ null disse e de repente apontou pra prima ‘Ahá! Então foi por isso que você me ligou ontem às três da madrugada’
‘Ela te ligou?’ null perguntou olhando pra null, com a testa franzida.
‘Ligou. Por que acha que eu acordei?’
‘Aliás, isso me lembra uma coisa’ null segurou no braço da prima ‘Nós temos que conversar’
‘Acho que vejo vocês mais tarde’ null riu e deu um beijo na bochecha de null antes de se afastar das duas e ir até null e null, que estavam sentados na mureta do pátio. null arrastou a prima até uma mesinha vazia. null viu null e null sentadas numa outra mesinha e apenas acenou pra elas, antes de se sentar de frente pra prima.
‘Certo, vamos aos fatos’ null disse.
‘O que quer saber?’ null perguntou entediada, já sabendo o que ouviria em resposta.
‘Quero saber o mesmo que queria ontem. Vamos, me diga’ null arqueou uma sobrancelha ‘o que estava fazendo na casa do null ontem?’
‘Eu encontrei com o null no mercado e ele me convidou pra jantar na casa dele, nada demais’ null disse com simplicidade. null bufou.
‘Nada demais, aham’ resmungou pra si mesma ‘Certo, certo. Vocês jantaram mesmo?’
‘Macarrão instantâneo, se quer saber’ null riu.
‘E depois?’
‘Terminamos de assistir Friends e começamos a jogar vídeo-game. Mortal Kombat, pra ser mais precisa’ ela contou ainda se divertindo com o interrogatório que a prima estava fazendo ‘Eu venci todas as partidas, até a que ele tentou roubar’
‘Ele tentou roubar em Mortal Kombat?’ null franziu a testa. null concordou.
‘Tentou. Ele tirou o controle de mim. Eu fiquei indignada e pulei em cima dele’
‘Pulou???’ null arregalou os olhos.
‘Pulei e comecei a bater nele. Então ele foi pra cima de mim, me fazendo cócegas’ null contava vendo a prima arregalar os olhos mais e mais ‘Quando ele parou, eu recuperei o controle e ainda ganhei a luta do vídeo-game. Depois a gente dormiu no chão da sala’ terminou erguendo os ombros. null estava de boca aberta e balançou a cabeça.
‘Concordo que não houve nada de anormal. Você falando assim parece que realmente foi só uma noite inocente de vídeo-game e macarrão instantâneo que dois amigos passaram juntos, mas... você não acha que essa sua aproximação com o null está indo longe demais?’ perguntou titubeante ‘Digo, depois de vocês terem se beijado e tudo mais’
‘Tudo mais o quê?’ null franziu a testa ‘Cacete null, não aconteceu nada. Quantas vezes eu vou ter que repetir que o null é como um irmão pra mim?!’
‘Ih, tá bom, tá bom’ null levantou as mãos ‘Não precisa ficar nervosa. Se você diz que é só isso que sente por ele, eu acredito’
‘Melhor assim’ null bufou e cruzou os braços em cima da mesinha. O sinal do colégio tocou e as duas levantaram, indo pra sala de aula ‘Agora me conta, como foi seu passeio com o null?’ perguntou. null abriu um sorriso tão largo que null acabou rindo da cara de boba apaixonada da prima.

‘Cara, fala baixo. Você vai me deixar surdo com essa gritaria’ null ria trancado dentro de uma cabine no banheiro masculino. Ele tinha pedido pra ir ao banheiro na segunda aula pra poder ligar pra null e contar o que havia acontecido na noite anterior.
‘Como você quer que eu fale baixo? Você me conta que a menina dormiu na sua casa e não quer que eu expresse minha empolgação?’ null disse, diminuindo um pouco a voz anasalada por causa do resfriado.
‘Não tem porque se empolgar tanto, não aconteceu nada demais. Nós só passamos um tempo a mais juntos’ null disse simplesmente.
‘Bem, ao menos ela não está te evitando ou coisa do tipo, não é?’
‘Ah, com certeza não. Ela agiu naturalmente ontem, como sempre’ null suspirou ‘Mas, você sabe, ela está seguindo aquele lance de “somos amigos acima de tudo” e tal’
‘Seguinte dude, não reclama’ null riu ‘Sério, você está se aproximando cada vez mais dela. Mesmo que seja apenas como um amigo, já é um ponto positivo. E ela não está fugindo nem nada, outro ponto positivo. O negócio é continuar assim e ela vai acabar se tocando que você sente algo diferente’
‘Você acha?’ null perguntou nervoso, passando a mão pelos cabelos.
‘Claro’ null afirmou e espirrou. Os dois riram ‘Foi mal cara. Enfim, ela não é boba, uma hora ou outra ela tem que sacar os seus sentimentos reais’
‘Ah, não sei, não sei. Não seria melhor eu contar tudo de uma vez por todas?’ null perguntou incerto.
‘Olha cara, se ela sentir a mesma coisa que você, isso vai ser ótimo, mesmo. Mas, se ela não puder corresponder, isso vai acabar com a amizade de vocês e você vai acabar perdendo a chance de ficar ao lado dela nem que seja apenas como amigo. É bom pensar bem antes de fazer qualquer coisa do gênero’
‘É, você tem razão, mesmo porque eu não acho que ela vá corresponder. Ah cara, que saco! Por que as coisas não podem ser mais fáceis?’
‘Relaxa dude, e pensa que um dia você ainda vai conseguir ficar com a null. Pode demorar o quanto for, mas você vai conseguir. Veja o meu caso! Demorou seis anos, mas finalmente eu posso ficar com a garota de quem eu sempre gostei’ null disse sorrindo. null riu.
‘Você tem sorte, muita sorte, pode acreditar’ ele olhou no relógio e saiu da cabine ‘Olha null, eu tenho que desligar agora. Já faz quase quinze minutos que eu saí da sala, todo mundo deve estar pensando que eu estou com disenteria ou coisa do tipo’ e os dois riram ‘Depois eu dou uma passada aí, ok?’
‘Certo cara, vai lá. Até mais tarde’
‘Até’ null guardou o celular no bolso da calça, ajeitou os cabelos na frente do espelho e saiu do banheiro.

‘Dá pra calar a boca e parar quieto?’ null perguntou rindo.
‘Tá doendo!’ null reclamou encolhendo os ombros e fazendo careta. Ela deu um tapa no braço dele e o garoto voltou com os ombros na posição normal.
‘Eu sei, mas você precisa ficar quieto pra melhorar’ ela disse apertando os ombros dele. null estava sentado numa mesinha do pátio e null estava em pé atrás dele, tentando aliviar sua dor nas costas, o que estava difícil visto que ele não parava de resmungar e se mexer.
‘Isso é culpa sua’ ele disse emburrado.
‘Repete isso e eu quebro você inteirinho’ ela ameaçou apertando os ombros dele com mais força.
‘AI! Tá, eu juro que fico calado, mas vai com calma aí’ ele pediu fazendo a garota rir.
‘Isso está romântico’ null comentou rindo, voltando da cantina com os outros. null deu um sorrisinho sem graça, olhando torto pra amiga.
‘E aí, null’ null cutucou a garota com o cotovelo ‘tem como fazer uma dessas em mim?’
‘Deixa de ser folgado’ null disse enquanto os outros riam.
‘Hum, então a mordomia aí é só pro null é?’ null cruzou os braços. null deu uma risadinha.
‘Ou vocês param de gracinhas’ null olhou feio pra todos eles, exceto pra null que também não parecia contente com a brincadeira dos outros ‘ou vão ser obrigados a ouvir o null reclamar de dor pelo resto da vida, porque eu vou acabar com as costas dele’
‘Pô gente, colabora aí né!’ null protestou e todos riram.
‘Mudando de assunto’ null disse antes que alguém fizesse mais alguma piadinha ‘O que vão fazer nas...’
null!’ um grito meio nervoso interrompeu null e Duncan se aproximou da mesinha, sob o olhar de todos ‘null, o que está fazendo?’ ele perguntou com os braços cruzados, olhando pra garota.
‘Conversando com os meus amigos?’ null disse ironicamente. null prendeu uma risada.
‘Eu sei. Me refiro a isso’ Duncan apontou pras mãos de null, que ainda estavam sobre os ombros de null.
‘Ah, null está com dor nas costas’ ela respondeu muito calma ‘Por quê? Algum problema?’
‘Hum, sei. E será que nós podemos conversar?’
‘Claro’ ela cruzou os braços, encostando de lado na cadeira de null. null, null, null e null se entreolharam e saíram de perto rapidamente. null e null continuaram onde estavam. Duncan olhou feio pra eles e voltou a encarar null.
‘Eu pensei que nós estávamos juntos’ ele disse num tom meio chateado, meio irritado. null olhou de esguelha pra null, que estreitou os olhos.
‘Bem, talvez nós estivéssemos, isso se você não tivesse me ignorado durante cinco dias’ ela disse.
‘Eu estava com os meus amigos! Você podia ter ido falar comigo’
‘Eu também estava com os meus amigos’ ela concordou com a cabeça ‘e acho que foi exatamente por isso que você não foi falar comigo’
‘É, talvez tenha sido por isso’ ele admitiu a contra gosto. null se mexeu na cadeira, desconfortável ‘E por que você não foi falar comigo?’
‘Bem, pelo visto você não gosta mesmo dos meus amigos. Pois então, já pensou na possibilidade de eu não gostar dos seus?’ ela arqueou uma sobrancelha. Duncan arregalou os olhos.
‘Mas... por que você não gosta dos meus amigos?’
‘E por que você não gosta dos meus?’ ela franziu a testa. Duncan abriu e fechou a boca duas vezes, sem resposta. null balançou a cabeça, impaciente ‘Se você quer mesmo ficar comigo, vai ter que aprender conviver com os meus amigos, então eu também vou aprender a conviver com os seus, numa boa. É assim que as coisas funcionam, Duncan’
‘Hunf... depois a gente conversa’ ele disse por fim e saiu de perto, voltando pro canto do pátio onde estava com o resto do time de futebol.
‘É, depois que você procurar um médico da cabeça e resolver seus problemas mentais’ null soltou o comentário. null o encarou seriamente e ele sorriu sem graça ‘Erm, desculpe’ encolheu os ombros. Ela riu.
‘Não tem problema’ ela disse simplesmente ‘Acho que ele precisa mesmo de um médico da cabeça’
‘Fala sério, qual o problema em conviver comigo e com os caras?’ null perguntou com a testa franzida ‘A gente fede por acaso?’ e os três riram.
‘Nem todo mundo consegue se adaptar a pequenas mudanças tão rapidamente’ null disse ‘Por exemplo, muita gente daqui do colégio ainda não se acostumou com o fato de que nós, meninas, estamos andando com vocês agora’
‘Poxa, mas nós nem somos mais tããão perdedores assim’ ele encolheu os ombros ‘Bem, pelo menos as pessoas nos tratam melhor do que antes. Isso graças aos shows, claro’
‘Provavelmente boa parte dos alunos deve pensar que nós estamos andando com vocês em busca de mais popularidade ou coisa do tipo’ null disse rolando os olhos.
‘O que é mentira, visto que vocês não precisam de mais popularidade’
‘Eu preciso’ null apontou pra si mesma e riu ‘Não que eu faça questão, claro, mas eu não sou uma das mais queridinhas do colégio. null e as outras é que são’
‘Você anda com a gente, claro que é uma das queridinhas’ null disse. null negou.
‘Não sou não’
‘E por que não?’
‘Porque eu me misturei com os meninos primeiro’ null respondeu encolhendo os ombros.
‘Não diga isso. Não me deixe ficar com a sensação de ter acabado com a vida social de alguém’ null disse se fazendo ofendido e os três riram.

Cap. 26


‘E aí cara, beleza?!’ null cumprimentou assim que a porta do apartamento foi aberta.
‘Surpresa’ null riu pela cara de espanto de null e seguiu null até a sala.
null ia vir sozinho, mas a gente resolveu vir te encher o saco também’ null entrou no apartamento com null, null e null atrás dele. null fechava a fila.
‘Como você está?’ ela perguntou meio envergonhada. null estava com cara de acabado por causa da gripe, mas pareceu melhorar um pouquinho ao ver a garota ali.
‘Resfriado e espantado com essa visita em massa’ ele encolheu os ombros e ela riu ‘Vamos, vamos pra sala’ ele encostou a porta do apartamento e foi com ela até a sala, onde os amigos estavam acomodados ‘Então cambada, o que vieram fazer aqui?’ ele perguntou sentando no sofá.
null já falou, viemos te encher o saco’ null riu. null sentou no braço do sofá, ao lado de null.
‘Vocês vieram encher o saco, eu vim ver se ele estava melhor’ ela disse passando a mão pelo cabelo de null, que sorria satisfeito ‘Afinal, eu tenho uma pequena culpa nisso’
‘Vocês mulheres’ null balançou a cabeça ‘estão sempre acabando com a nossa saúde. Não vêem o estado das minhas costas? Culpa de quem? null’ ele apontou pra garota, que lhe deu um tapinha no braço. Todos riram.
‘Hey cara’ null chamou null ‘O que você tem pra beber?’
‘Deve ter cerveja e refrigerante na geladeira, pega lá’ null disse indicando a porta da cozinha. null levantou e null fez o mesmo.
‘Você só tem duas mãos, null. Acho melhor eu ajudar’ ela disse e os dois foram pra cozinha.
‘Então gente’ null começou e todos olharam pra ela ‘voltando ao assunto interrompido na hora do intervalo’
‘Graças ao quebra-pau da null e do Duncan’ null comentou. null olhou feio pra ela.
‘Não foi um quebra-pau. Nós conversamos civilizadamente, se quer saber’ ela disse.
‘Hum, até a hora em que estávamos lá, o Duncan parecia bem disposto a quebrar um pau’ null riu.
‘Ele só queria conversar’ null rolou os olhos.
‘Boiei’ null olhava de null pros outros, sem entender nada ‘Alguém explica?’
‘Não tem nada pra explicar’ null disse no lugar de null e olhou pra null ‘O que você estava dizendo mesmo?’
‘Retomando mais uma vez, o que vocês vão fazer nas férias?’ null perguntou.
‘Dormir’ null voltava pra sala rindo. Ele e null despejaram as latinhas de cerveja e de refrigerante na mesinha de centro e sentaram no chão.
‘Por que a pergunta?’ null olhou pra amiga, pegando uma Coca-Cola.
‘Ah, sei lá. Falta pouco pras férias de meio de ano e, bem, eu não estou muito a fim de ficar só dormindo’ null encolheu os ombros e todos riram.
‘Alguma coisa em mente?’ null perguntou.
‘Eu esperava que algum de vocês tivesse’ ela disse. Os outros se entreolharam pensativos. null olhou pra prima e viu que o que ela pretendia era algo como uma interação entre os oito, pra que eles pudessem se aproximar mais. null sorriu, pensando rapidamente.
‘Bem’ ela começou e todos olharam pra ela ‘podíamos viajar’
‘Quê?’ null arregalou os olhos ‘Você quer dizer, todos nós? Os oito, viajando juntos?’
‘É, exatamente isso. Nós oito’ ela confirmou. null piscou várias vezes, olhando pra ela.
‘Você está de brincadeira com a gente, não está?’ ele perguntou incrédulo. null negou com a cabeça. null olhou pros garotos e viu que eles não pareciam acreditar muito na proposta de null.
‘Eu acho uma ótima idéia’ ela se pronunciou, esticando o braço pra pegar uma cerveja na mesinha. Viu todos os olhares se voltarem pra ela ‘Ah gente, qual é?! Eu acho mesmo’
‘É, também acho’ null apoiou a amiga ‘Poxa, já faz um tempinho que a gente se aproximou, superando esse negócio de popularidade e tal. Seria legal passarmos as férias juntos’
‘Ah cara, não acredito que ouvi isso’ null balançou a cabeça ‘Eu preciso beber alguma coisa’ ele pegou uma cerveja na mesinha. null rolou os olhos enquanto todos riam.
‘Gente, isso é sério’ null disse ‘O que acham da idéia da viagem?’
‘Ok, vocês não estão mesmo brincando’ null disse rindo ‘Bem, sinceramente, eu acho ótima’
‘Conta uma novidade’ null disse e o amigo pôs a língua pra fora. null corou e se sentiu idiota por isso. null sorriu.
‘Todo mundo de acordo então?’ ela perguntou animada. Os outros concordaram com a cabeça.
‘Milagres não acontecem todo dia, temos que prestigiar essas raras ocasiões’ null riu ao levar um tapa na cabeça depois de dizer isso ‘Ei, brincadeira’
‘E pra onde vamos?’ null perguntou.
‘Praia?’ null arqueou uma sobrancelha. null fez careta.
‘Todo mundo vai pra praia e no final das contas acaba sendo um saco’ ela disse.
‘Aff, nem me fale, ter que agüentar aquele bando de farofeiros’ null rolou os olhos, bebendo um gole da cerveja de null.
‘Certo. Talvez fosse melhor um lugar que lote menos’ null comentou.
‘Casa de campo?’ null sugeriu pegando uma latinha de cerveja.
‘Mato e insetos’ null disse fazendo careta. null tirou sua cerveja da mão dela.
‘Ar puro e tranqüilidade, exatamente’ ele disse e todos riram.
‘Eu acho uma boa’ null disse e null concordou com a cabeça.
‘Ok, casa de campo então’ null concluiu ‘Mas, onde e por quanto tempo?’
‘Isso depende das nossas condições financeiras’ null disse devolvendo a cerveja que null lhe entregara pra que ele abrisse.
‘Podemos procurar alguma coisa na internet’ null encolheu os ombros, bebendo um gole da cerveja.
‘É uma boa, mas não hoje’ null disse e todos olharam meio decepcionados pra ela. Todo mundo estava começando a se empolgar realmente com a viagem e queriam decidir tudo o mais rápido possível ‘Ah gente, fala sério, eu quero almoçar’ e todos riram.
‘Beleza, a gente decide o que falta decidir num outro dia então’ null disse levantando do sofá ‘Todo mundo gosta de comida chinesa?’


‘A gente podia arrumar uma casa tipo assim’ null comentou apontando pra televisão, onde o filme O Quarto do Pânico passava. null deu um tapa na cabeça dele.
‘Isso não é no campo, besta’ ela disse rindo.
‘Pra que uma casa assim, null?’ null perguntou ‘Ah, não vai me dizer que é só pra você se trancar nesse quarto com alguém’
‘Uuuuh, com quem?’ null sacaneou o amigo.
‘Pô null, colabora’ null disse e todos riram quando o garoto ficou vermelho.
A sala de null não estava na mesma organização de antes. Havia caixinhas de comida chinesa e latinhas de cerveja e refrigerante espalhadas pelo chão, onde null, null, null e null estavam esparramados. null tinha se acomodado num sofá com null e null estava deitada no outro, com a cabeça em uma almofada no colo de null.
‘Galera, vou pra casa’ null esvaziou uma última latinha de cerveja.
‘Somos dois’ null disse.
‘Vão à pé, porque eu não vou dar carona pra ninguém não’ null disse rindo.
‘Eu também vou. null’ null olhou pra amiga ‘você leva a gente?’
‘Nop’ null negou e riu ‘Vou ficar aqui e ajudar o null a arrumar a bagunça que vocês fizeram’ ela disse. null sorriu e beijou a menina de leve.
‘Sei que vai ficar ajudando’ null disse e todos riram. null ficou corada e null a abraçou, rindo.
‘Amanhã vai ter mais gente faltando no colégio’ null comentou ‘Gripe é uma doença que pega muito fácil, ainda mais se as pessoas ficam se beijando aí’
‘Pára de botar pilha, null’ null deu um tapinha no braço do menino.
‘Enfim, quando a gente vai terminar de resolver o lance da viagem?’ null levantou do chão. null esticou o braço pra que ele a ajudasse a levantar também.
‘Seria bom se resolvêssemos até o final dessa semana’ ela disse.
‘É, falta duas semanas pro mês acabar e se adiarmos muito isso não vamos encontrar nenhuma casa vaga’ null concordou se levantando. null fez o mesmo.
‘Alguém tem alguma coisa pra fazer no sábado?’ null perguntou sentando no sofá. Os meninos se entreolharam.
‘Temos ensaio’ null disse ‘Por quê?’
‘Sei lá, pensei que todo mundo podia ir na minha casa pra gente ver isso’ ela sacudiu os ombros ‘mas se vocês têm ensaio, eu e as meninas resolvemos isso’
‘Por mim tudo bem, eles não iam ajudar em nada mesmo’ null levantou de repente do chão quando null a puxou com mais força e ela quase caiu em cima dele ‘Cavalo’ disse e todos riram da cara que o garoto fez.
‘Certo, sábado à tarde na minha casa, meninas’ null disse.
‘Não sei se vocês sabem, garotas, mas nós não somos dos mais ricos, então não arranjem nada muito caro, ok?!’ null disse.
‘É, por favor hein’ null pediu rindo.
‘Faz o seguinte’ null começou ‘amanhã cada um diz com quanto pode colaborar, assim nós temos uma idéia do quanto podemos pagar no aluguel de uma casa de campo’
‘Mas por quanto tempo vamos ficar lá?’ null perguntou.
‘Já dissemos que isso depende de grana, meu bem’ null segurou no ombro dele ‘Se nós pudermos pagar um mês inteiro, a gente fica um mês inteiro’
‘Ah não, eu não ouvi isso’ null balançou a cabeça e olhou pra amiga ‘Você está mesmo disposta a passar um mês numa casa de campo? Gente, alguém me belisque!’ e todos riram quando null fez careta.

Cap. 27



‘Mano, olha essa que demais!’ null exclamou empolgada, apontando pra tela do computador onde estava a foto de uma casa de campo enorme. null encarou a amiga seriamente.
‘Mano? Que palavreado é esse?’ ela perguntou com a testa franzida ‘Céus, você está andando demais com aqueles garotos’ e as outras riram. Era sábado e as quatro meninas estavam no quarto de null, pesquisando na internet uma casa de campo onde pudessem ficar.
‘Essa deve ser muito cara’ null disse fechando a página do anúncio on-line ‘Se for pra passar só um dia, nem vale a pena’
‘Verdade’ null concordou sentada na cama, devorando uma embalagem de Pringles ‘A gente tem que arranjar uma casa pra passar no mínimo uma semana’
‘Aqueles moleques não vêm mesmo pra cá?’ null perguntou sentando na cama ao lado da amiga.
‘Talvez’ null disse enquanto procurava outra casa ‘Eles disseram que iam começar o ensaio mais cedo e que se não acabassem lá muito tarde dariam um pulo aqui’
‘Todos eles?’ null, que estava sentada numa cadeira ao lado de null, olhou pra amiga.
‘Sei lá’ null sacudiu os ombros ‘acho mais provável só o null e o null, já que eles moram aqui perto’
‘Aqui perto? O null mora na frente do seu apartamento’ null riu indicando a porta do quarto. null pegou um punhado de batatinhas.
‘E o null no outro prédio’ ela completou. null concordou com a cabeça e espirrou em seguida ‘Ih, pegou gripe é?’ e todas riram.
‘O que acham dessa aqui?’ null perguntou. As amigas olharam pro computador.
‘Parece boa’ null opinou ‘Muito cara?’
‘Não sei, mas não deve ser das mais baratas’
‘Hum, uma suíte, quatro quartos, dois banheiros, cozinha, sala de estar’ null lia o texto embaixo da foto ‘Tem lareira e piscina. Caracas, pra mim é perfeita’
‘Pelo jeito tem que ligar pro dono pra saber sobre o preço e panz’ null disse.
‘Pega o...’ null ia pedir pra prima pegar a extensão do telefone no criado-mudo quando seu celular tocou em cima da escrivaninha. Ela pegou o aparelho e atendeu sem nem ver quem era pela bina ‘Alô’
‘Oi docinho’ Duncan cumprimentou educado do outro lado da linha. Desde a segunda-feira no colégio, eles não tinham se falado mais. Talvez ele estivesse exatamente ligando pra terminar de resolver as coisas ‘Tudo bem?’
‘Tudo, e contigo?’ ela viu as meninas a encarando curiosamente, mas não disse nada.
‘Mais ou menos. Olha... eu queria muito conversar com você’ ele disse sem jeito ‘Você tem alguma coisa pra fazer amanhã de tarde?’
‘Não, nada’ ela negou simplesmente. Ouviu a campainha tocar e foi atender a porta, vendo que as meninas não o fariam ‘Por quê?’ perguntou ainda no celular.
‘Quer dar umas voltas comigo? Sei lá, a gente pode ir a qualquer lugar, só pra conversar’ ele disse.
‘Hum’ null abriu a porta do apartamento e sorriu ao ver null e null ‘olha, espera um minuto’ ela tampou o bocal do celular ‘As garotas estão no meu quarto, podem entrar’ disse. null deu um beijo na bochecha dela e foi com null pro quarto da menina, que encostou a porta do apartamento e sentou no sofá, voltando a falar no celular ‘Oi, então... ah, não sei, pode ser’

null, null e as garotas estavam conversando sobre a possível casa de campo onde poderiam passar as férias quando ouviram a risada alta de null vindo da sala. null olhou pra porta aberta.
‘Com quem ela está falando?’ perguntou. null sacudiu os ombros.
‘Vai lá saber’ disse ‘Suponho que seja com o Duncan’
‘Ele não falou mais com ela desde segunda, não é?’ null perguntou pra amiga.
‘Não. Agora deve estar ligando pra pedir desculpas ou coisa do tipo’ null respondeu no lugar da outra. null e null se entreolharam, apenas ouvindo a conversa das meninas.
‘Ele parece ser ciumento demais, mas acho que vale a pena’ null disse rindo.
‘Ah sim, ele é gatinho’ null encolheu os ombros e viu null olhar feio pra ela ‘Ok, você é mais’ e riu dando um beijo de leve na boca dele.
‘Acho que ele só ficou com um pouco de ciúmes quando viu a null fazendo massagem no null’ null comentou distraída. null levantou do chão onde estava sentado.
‘Erm, vou beber água, já volto’ disse e foi pra cozinha. Passando pela sala, ele viu null sentada no sofá, sorrindo. Ela olhou pra ele, que desviou o olhar rapidamente e entrou na cozinha.
‘Olha, preciso desligar agora, tenho umas coisas pra resolver’ ele ouviu null dizendo ao telefone ‘Até amanhã então, beijos’
null fingiu estar procurando um copo pra poder beber água quando ouviu a menina levantar do sofá. Ele estava com o rosto escondido atrás de uma porta de armário quando null chegou na cozinha.
‘Os copos estão no outro armário, se é isso que quer’ ela disse. null fechou o armário e foi procurar no outro ‘Vocês terminaram o ensaio bem cedo hein’
null disse que estava mal e queria terminar logo’ ele foi pegar a água no filtro, sem olhar pra ela ‘acho que ele só queria vir pra cá e ver a null’
‘Aqueles dois se entenderam bem rápido, não foi?’ ela perguntou e ele apenas fez um barulho estranho com a boca cheia de água, concordando ‘Eu fico feliz por eles’
‘Idem, mas... e você?’ null colocou o copo na pia e olhou pra ela ‘Já se entendeu com o Duncan?’
‘Ah, bom, ainda não’ ela passou a mão pelos cabelos, se sentindo meio desconfortável com a pergunta. Que idiota estava sendo, não tinha porque se sentir daquele jeito. null era seu amigo, provavelmente queria saber daquilo porque se preocupava com ela ‘Eu vou sair com ele amanhã, pra gente poder conversar’
‘Hum’ ele fez outro barulho com a boca.
‘Mas deixa isso pra lá, não é importante’ ela abanou a mão. null quis acreditar que realmente aquilo não tinha importância pra ela ‘As meninas mostraram a casa que a gente estava vendo?’
‘Mostraram. Achei muito boa’ ele disse simplesmente. null sorriu.
‘Vamos voltar lá pro quarto, eu vou ligar pro dono e tentar arrumar ela pra gente’ ela disse e saiu da cozinha. null engoliu em seco, passando a mão pelo rosto. Sentiu-se repentinamente desanimado e com vontade de ir pra casa, mas apenas seguiu a menina.

‘Uma semana’ null disse pros amigos assim que desligou o telefone. Depois de muita conversa e persuasão, ela e o dono da casa de campo chegaram a um preço final de aluguel ‘Uma semana, é o que nós podemos pagar’
‘Puta merda, só isso?’ null perguntou com a boca cheia de Pringles.
‘A casa é grande, considere’ ela disse largando o telefone em cima da escrivaninha e indo sentar no chão, ao lado de null.
‘Eu acho uma boa’ null disse ‘A casa parece ótima e cabe todo mundo lá’
‘Por mim tá fechado’ null apoiou sem real animação ‘A gente só precisa conversar com os outros caras’
‘Aqueles dois vão aceitar qualquer coisa, mesmo que a gente arranje um barraco pra ficar’ null disse e todos riram. null sentou direito na cama.
‘Já que tá quase tudo decidido, eu vou pra casa’ disse se levantando. null fez o mesmo.
‘Eu vou contigo, amiga’
‘Ah meninas, fiquem aí vai’ null disse ‘A gente pode pedir uma pizza e ficar fazendo nada até de noite’
‘Não quero pegar gripe, obrigada’ null disse olhando pra null e null, que simplesmente riram ‘Sério, eu ainda tenho uns deveres do colégio pra fazer’
‘Eu também tenho, mas que se dane’ null encolheu os ombros, indiferente.
‘Falou e disse, sugar’ null riu e deu um beijo na menina, que estava sentada no chão a sua frente. null mostrou a língua, olhando pros dois.
‘Mal começou e já está me enjoando’ ela riu ‘Vamos null, vai abrir a porta pra gente sair’ disse. null levantou do chão e parou na porta do quarto.
null, tire esses dois do meu quarto ok?!’ disse apontando pra null e null, que ainda estavam se beijando. null apenas concordou e null foi abrir a porta do apartamento pras amigas.

Perto da meia-noite, null ficou sozinha em casa. Ela sentou no sofá, olhando pras duas caixas de pizza em cima da mesinha de centro e as latinhas de refrigerante, e ficou pensando na noite que tinha passado com os amigos. Sentia-se feliz pelo fato de ter visto a prima tão contente ao lado de null, que parecia mais apaixonado que nunca. Mas, por outro lado, estava um pouco confusa em relação a null. De alguma forma, ela tinha a estranha sensação de que o menino não agira normalmente depois de saber que ela ia sair com Duncan. null não riu nenhuma vez enquanto eles viam uma comédia na televisão, nem sequer um sorriso ele deu quando foi pra casa. Pra tentar organizar seus pensamentos quanto a isso, null repetiu mentalmente que aquilo tudo devia ser fruto da sua imaginação maluca. Ela balançou a cabeça recolhendo as caixas de pizza e foi pra cozinha, começando a se preocupar mais com o seu encontro com Duncan no dia seguinte do que com o humor de null.

Cap. 28


null desceu do carro de Duncan e seguiu o garoto pra dentro da lanchonete. Lá dentro não estava muito cheio e Duncan guiou null até uma mesa no fundo do lugar. null sentou na frente dele e o encarou.
‘Você falou que queria conversar, mas ficou mudo quase o caminho inteiro’ ela disse. Duncan deu uma tossida, se preparando pra falar o que queria.
‘Olha null, eu sei que a gente não saiu muitas vezes, mas quando saímos foi ótimo pra mim. Cara, você é uma garota maravilhosa, realmente especial, e eu não quero fazer as coisas do jeito errado. Eu me sinto muito bem ao seu lado, mas às vezes eu fico confuso, principalmente quando te vejo com os seus amigos’
‘Por que isso?’ ela perguntou.
‘Eu não sei direito. As meninas tudo bem, mas aqueles garotos... eles não me passam confiança, sabe?’ ele balançou a cabeça ‘Eu não consigo ficar perto de você e deles sem me sentir desconfortável. Aquele dia no Gas mesmo, por mais que parecesse que eu estava me divertindo com eles, eu não via a hora de sair daquela mesa. Eu gosto de ficar contigo, mas não com eles por perto. Você me entende?’
‘Eu até posso te entender’ ela disse compreensiva ‘mas eles são meus amigos, Duncan, e eu não vou trocá-los por nada’
‘Eu sei e não estou pedindo pra que você faça isso’ ele negou rapidamente ‘Só estou dizendo isso pra que você entenda as minhas atitudes e meu desconforto perto deles. É por isso que eu não falo mais com você no colégio, porque você sempre está com eles’
‘Não foi só dentro do colégio que você me ignorou. Poxa Duncan, você poderia ter me ligado’
‘Eu estava confuso, não estava pensando direito, fiquei com medo de dizer alguma coisa errada. Desculpe’ ele disse sem graça. null sorriu com o jeito dele.
‘Certo, tudo bem’ disse.
‘Eu achei que você devia saber dessas coisas, por isso quis conversar’ ele respirou fundo, parecia aliviado ‘Sei que coisas assim podem atrapalhar o nosso relacionamento, mas como já está tudo esclarecido, eu... eu não sei, eu queria muito ficar com você, mesmo’
‘Bem, você foi sincero comigo, eu vou ser contigo. Você é um cara legal e divertido Duncan, eu também gostei de sair com você, mas como você disse essa implicância com os meus amigos pode atrapalhar qualquer coisa que a gente tenha em comum. Por exemplo, nessas férias eu vou viajar com o pessoal’
‘Como assim com o pessoal?’ ele arqueou uma sobrancelha.
‘Exatamente o que você entendeu Duncan, o pessoal são as meninas e os garotos também’ ela o viu abrir a boca pra falar, mas ergueu a mão e ele fechou a boca, esperando que ela continuasse ‘Vamos passar uma semana viajando, nós oito. Como eu sei que você desconfia dos garotos, na verdade sem ter um motivo real pra isso, eu não sei se vai ser uma boa a gente firmar alguma coisa agora’
‘M-m-mas por que não?’ ele perguntou nervoso. Gostava de verdade daquela garota, não queria ficar sem ela. Seria injusto, ainda mais se fosse por causa dos amiguinhos dela.
‘Eu vou viajar com meus amigos, provavelmente você vai viajar com os seus. Não quero que você fique desconfiando de mim enquanto estou viajando e nem que faça nenhuma besteira por causa dessas desconfianças bobas’
‘Ah, ok, você está certa. Não seria legal se isso acontecesse mesmo’ ele riu nervoso ‘Eu gosto muito de você null e confio em você, o problema está nos seus amigos’
‘Se você não aprender a confiar neles...’ ela ergueu os ombros.
‘Eu sei, eu sei, não vai dar certo’ ele disse balançando a cabeça. null viu que ele não sabia o que fazer e achou isso bonitinho. Pegou nas mãos dele que estavam sobre a mesa.
‘Podemos resolver isso depois da minha viagem, Duncan? Eu acho que seria melhor, assim nós temos um tempo pra pensar e tudo mais’
‘É, seria melhor assim mesmo. Mas, olha...’ ele passou a mão pelos cabelos loiros. Ela sorriu ‘você me promete que vai se comportar lá?’
‘Duncan!’ ela disse rindo e ele riu também.
‘Certo, brincadeira. Eu só queria que você pensasse bem no que eu te disse porque é sério, null. Eu gosto muito de você, quero realmente ficar contigo’ ele deu um sorriso incrivelmente encantador, que fez a menina sorrir também.
‘Eu vou pensar, pode deixar’ ela disse o tranqüilizando.
‘Ótimo. Hum, bem’ ele olhou pro balcão da lanchonete e depois pra ela novamente ‘quer pedir alguma coisa pra comer?’ e ela riu.
‘Eu até estou com fome, mas não posso ficar. Preciso ir embora, combinei de passar na casa da minha prima nesse horário’ ela mentiu. O que queria mesmo era ficar sozinha, quem sabe caminhar, pensar um pouco.
‘Ah, ok então’ ele levantou da mesa e os dois saíram da lanchonete. Pararam ao lado do carro dele ‘Vamos, eu te levo até lá’
‘Não precisa, eu vou a pé mesmo’ ela disse e viu ele fazer uma cara de “tem certeza?” ‘é sério, eu vou a pé. Não é muito longe’
‘Se você prefere assim’ ele encolheu os ombros e aproximou seu rosto do dela, numa tentativa de lhe beijar os lábios. null foi com a cabeça pra trás.
‘A gente não combinou que ia resolver isso depois da minha viagem?’ ela perguntou.
‘Ah, por favor, só um’ ele pediu fazendo uma cara meiga.
‘Nop’ ela negou rindo ‘Isso é sério’
‘Ok, ok’ ele balançou a cabeça e, numa rapidez incrível, estalou um beijo na boca da menina antes de entrar no carro. Olhou pela janela e viu a cara surpresa que ela fazia.
‘Safado’ ela disse devagar. Duncan riu e mandou um beijo, ligando o carro. Ela ficou parada na calçada até que o carro dele sumisse na esquina. null deu meia volta e começou a caminhar, sem um rumo certo. Ela só precisava pensar em tudo que tinha acabado de ouvir.

null estava sentado no banco de concreto do playground abandonado. Era sempre pra lá que ele ia quando precisava pensar ou quando estava confuso. Dessa vez ele estava lá porque não sabia mais o que fazer em relação à null. Cada dia gostava mais dela, mas parecia cada vez mais difícil contar sobre isso a ela. Na verdade era aí que estava seu maior problema: contar a ela. Ele não sabia se seria o melhor a fazer ou se aquilo acabaria com a amizade dos dois. Ele queria tanto que as coisas fossem mais simples, mais fáceis de resolver.
‘Que coincidência você aqui’ ele ouviu e virou a cabeça. null se sentou ao seu lado e sorriu pra ele.
‘Acho que posso dizer o mesmo’ ele disse e ela riu, olhando pro playground ‘O que veio fazer aqui?’
‘Não sei’ ela encolheu os ombros ‘Eu estava andando e vim parar aqui’
‘Problemas?’ ele perguntou. null negou com a cabeça.
‘Não, na verdade acho que só preciso pensar um pouco’ disse. null olhou pro playground.
‘Eu sempre venho aqui quando preciso pensar. Bem, pelo menos desde que isso aqui foi abandonado’
‘Parece um lugar tranqüilo’ ela disse e olhou pra ele ‘Então, também está precisando pensar? Espero não estar atrapalhando’
‘Ah não, não tem problema. Eu acho que nem tenho mais o que pensar mesmo’ ele encolheu os ombros ‘Parece que quanto mais eu penso, mais confuso eu fico’
‘Sei como é isso. É uma droga’ ela riu e colocou as mãos nos bolsos do blusão. null olhou pra ela e sorriu ao reparar que ela vestia o blusão branco.
‘Também está confusa?’ perguntou.
‘Mais ou menos. Eu só estou precisando assimilar certas coisas, decidir outras’ ela disse ‘mas eu não sei por que estou me preocupando com isso agora. Eu tenho tempo pra pensar, foi isso que ficou resolvido. E eu nem sei por que essa confusão toda, foi tão bom ouvir aquilo’ ela dizia mais pra si mesma do que pra ele.
‘Não espera que eu entenda o que você quer dizer, espera?’ ele perguntou de uma forma engraçada. Ela riu e olhou pra ele.
‘Desculpe, viajei. É que estava conversando com o Duncan até agora a pouco e o papo com ele me deixou meio assim’ ela colocou os pés em cima do banco e abraçou os joelhos. null voltou a olhar pro playground, se sentindo mal em ter que olhar pra menina enquanto ela falava sobre Duncan ‘Ele me disse umas coisas que, tipo, claro que eu gostei de ouvir, mas outras coisas me deixaram meio confusas’
‘O que ele te disse?’ null perguntou secamente. null ficou corada, sem jeito de contar o que Duncan lhe dissera, ainda mais pra null, com quem já tinha ficado. Ela baixou a cabeça, se achando idiota mais uma vez por estar agindo assim. null era seu amigo, um grande amigo, se preocupava com ela, nada mais natural ele querer saber daquelas coisas. null percebeu que ela ficou quieta ‘Não precisa falar, se não quiser’ disse no mesmo tom seco. Ela olhou pra ele de novo.
‘Ah não, tudo bem. Hum, Duncan me disse que gosta de mim, de verdade, que quer ficar comigo à sério e... bem, você entendeu’ ela riu envergonhada. null concordou com a cabeça, sentindo seu estômago revirar tanto que achou que poderia vomitar se abrisse a boca pra falar alguma coisa ‘Mas depois ele disse que havia algumas coisas que, digamos, o atrapalhavam de ficar perto de mim. Foi isso que me deixou confusa porque, se eu ficar com ele, não sei como ele vai lidar com esses... hum, obstáculos’ ela disse sem graça, se sentindo mal por estar tratando seus amigos como obstáculos na sua vida amorosa.
‘Você vai ficar com ele?’ null perguntou sentindo as mãos suarem frio. Passou as mãos pelo cabelo, nervoso.
‘Bem, não’ null disse e olhou pro balanço do playground que estava se mexendo com o vento. null reprimiu um suspiro de alívio ‘Pelo menos não até voltarmos de viagem’ ela concluiu. null esqueceu do alívio que sentira segundos atrás e teve vontade de se bater. Como fora tolo ao pensar que Duncan desistiria de null tão fácil assim.
‘Hum, espero que você se acerte com o Duncan’ ele mentiu tentando ser o mais convincente possível.
‘Vamos dar tempo ao tempo e ver o que acontece’ ela disse e levantou do banco, andando com as mãos nos bolsos pelo playground. null apoiou os cotovelos nos joelhos e seguiu a menina com o olhar. Ela sentou no gira-gira, sorrindo ‘Você já teve vontade de voltar a ser criança?’
‘Já’ ele disse simplesmente. Não se conteve e sorriu olhando pra ela. Era assim, ele não conseguia ficar mal por muito tempo ao lado dela.
‘Eu sei que isso pode parecer patético’ ela disse rindo e passando a mão pelo brinquedo ‘mas as coisas são mais fáceis quando somos crianças. Acho que tudo se torna mais fácil porque o “talvez” e o “não sei” não existem quando somos pequenos, é simplesmente sim ou não’
‘Verdade’ ele concordou. Viu null fechar os olhos, segurando no gira-gira, e sorrir como uma criança faria. Uma brisa leve fez o cabelo dela balançar no ar. Ele sorriu mordendo a boca, contendo a vontade de levantar e abraçar aquela menina.
‘Hey null’ ela chamou abrindo os olhos. Ele levantou as sobrancelhas ‘está com fome?’
‘McDonald's?’ ele sugeriu.
‘Hmm, melhor do que macarrão instantâneo hein’ disse de uma forma engraçada. null abriu a boca, irônico.
‘Absurdo, absurdo’ disse balançando a cabeça e os dois riram. Levantou do banco ‘Vamos, eu pago’ ele a chamou com a mão. null pulou do gira-gira e foi correndo até ele.
‘O que tem pra fazer hoje?’ ela perguntou desinteressadamente enquanto saíam do playground.
‘Quer me quebrar no vídeo-game mais tarde?’ null olhou pra ela, que sorriu contente ao retribuir o olhar.
‘Ah cara, você é demais sabia?!’ ela estalou um beijo na bochecha dele e voltou a olhar pra frente. Ele sorriu sentindo as bochechas incharem e uma sensação engraçada na barriga. Abraçou a menina pelos ombros, caminhando com ela pela calçada, com o pensamento fixo de que nada poderia dar errado se ela estivesse ao seu lado.

Cap. 29


Na sexta-feira da outra semana, a maior parte dos alunos do colégio estava quase pirando. Era época de provas por causa do fim do semestre e se tornou algo muito comum encontrar alunos estudando em qualquer parte do colégio. Os adolescentes andavam pelos corredores carregando livros, liam anotações na hora do intervalo e da entrada, enfiavam a cara nos cadernos durante as trocas de aulas. Qualquer minuto que tivessem livre era utilizado pra dar mais uma revisada nos cálculos de Álgebra ou na tabela periódica de Química.
‘Que saco! Isso nunca vai entrar na minha cabeça!’ null reclamava lendo um livro grosso de História. null riu da amiga, balançando as pernas, sentada numa mesinha do pátio, comendo tranquilamente uma maçã.
‘Relaxa sugar, não é tão difícil quanto parece’ disse calma ‘e pare de dizer que isso não vai entrar na sua cabeça, porque é aí que não entra mesmo’
‘Nerd dos infernos’ null resmungou.
‘Eu não tenho culpa se minha capacidade mental é maior que a de vocês’ null disse toda cheia de si e levou um tapa no braço ‘Ei, estou só brincando’
‘A gente não vai usar isso pra nada!’ null disse apontando pro livro que null lia.
‘Nunca se sabe’ null encolheu os ombros, mordendo mais um pedaço da maçã. Sorriu ao ver os garotos se aproximando ‘Hey guys, como vão?’
‘Como você acha?’ null apontando as olheiras sob os olhos ‘Ficamos estudando até tarde na minha casa ontem, tudo isso por causa dessas provas imbecis’
‘Elas te contaram sobre a prova de Inglês?’ null perguntou apontando pra null e null, que estavam concentradíssimas na leitura do livro e nem prestavam atenção nos outros.
‘Nop, acho que estão mais entretidas com História nesse momento’ null disse ‘O que houve em Inglês?’
‘Uma desgraça’ null disse abraçando null, que deu um risinho e olhou pra ele.
‘Tão mal assim?’ ela perguntou. Ele concordou fazendo careta.
‘Aquela velha maldita!’ null xingou a professora ‘Nada do que ela nos mandou estudar caiu na prova’
‘O que vocês têm agora?’ null perguntou.
‘Educação Física, graças a Deus’ null disse rindo ‘E vocês?’
‘História, claro’ ele respondeu olhando null e null que liam um texto comprido sobre a Alemanha ‘Ainda bem que estudamos na casa do null ontem’
‘História é nossa última aula’ ela comentou tentando recuperar sua maçã, que null acabara de roubar.
‘E você não estuda não?’ null perguntou pra null.
‘Não preciso, null vai me passar cola’ disse e o menino riu.
‘Mas ela também não está estudando’ null disse olhando pra null, que dava tapinhas em null enquanto ele ria.
‘Nerds como ela não precisam estudar’ null disse encolhendo os ombros.
‘Cara, o negócio é pensar que hoje é o último dia de tortura’ null disse passando a mão na testa ‘e depois, finalmente, férias!’
‘Yeah man! Sete dias numa casa de campo, sem se preocupar com provas ou notas’ null disse os dois bateram as mãos num high-five. null soltou um grito.
null, saco, vai morder o dedo da sua avó!’ ela reclamou com o nó do dedo indicador dentro da boca.
‘Desculpa, sério! Eu achei que era a maçã, não seu dedo. Desculpa, desculpa, desculpa’ ele disse e tentou abraçar a menina, mas ela se desvencilhou.
‘Nem vem, pode cair fora’ ela disse e ele fez bico, arrependido. Ela riu rolando os olhos ‘Tá bem, vem cá’
null e null se entreolharam ao ver null abraçar null e começar a fazer cócegas nela, mas não disseram nada. Na verdade eles fingiam que não sabiam de nada, nem comentavam isso entre si porque tanto null quanto null tinham pedido segredo. O sinal do fim do intervalo tocou. null fechou o livro de História e olhou pros amigos.
‘É agora’ disse se levantando da mesinha. null olhou pro livro fechado e depois pra amiga.
‘Hitler se suicidou quando mesmo?’ perguntou coçando a cabeça, fazendo todos rirem.

Quando o último sinal tocou, o barulho nos corredores foi ensurdecedor. A maioria dos alunos gritava animadamente, comemorando as férias de meio de ano. null saiu da sala andando tranquilamente, com uma null nervosa atrás dela.
‘O que você respondeu na última questão?’ null perguntava pra prima, roendo as unhas ‘Eu fiquei em dúvida e acabei chutando a última opção. Espero que esteja correta’
‘Está’ null afirmou simplesmente, rindo. Viu os amigos saindo da outra sala e se juntou a eles.
‘Ah cara, mal posso acreditar que estamos livres desse colégio’ null disse agarrando null por trás.
‘Por pouco tempo, infelizmente’ null disse.
‘Melhor do que nada’ null encolheu os ombros.
‘Como foram em História?’ null perguntou andando ao lado de null.
‘Moleza’ ela disse sorrindo ‘E vocês?’
‘Uma merda’ null resmungou. null olhou espantado pra ela.
‘Olha a boca suja’ disse e todos riram quando ela mostrou a língua.
‘Hey galera’ null chamou a atenção dos amigos enquanto eles andavam em direção a saída do colégio ‘Quando vamos viajar?’ perguntou. Todos olharam pra null, que era quem tinha cuidado do assunto com o dono da casa.
‘Seguinte’ ela começou ‘o cara disse pra gente ir na primeira semana, porque na terceira ele vai alugar pra um outro grupo de pessoas’
‘Caramba, ele precisa de uma semana pra botar a casa em ordem?’ null perguntou surpreso ‘Ele acha que nós somos o quê? Um bando de animais?’ e todos riram.
‘Então a gente já vai nesse domingo?’ null perguntou. null concordou com a cabeça.
‘Exato. E já vou avisando, o lugar é meio longinho. Acho que dá umas quatro ou cinco horas de viagem, porque na verdade a casa fica numa outra cidade’ ela disse.
‘Como é que a gente vai?’ null perguntou.
‘Podíamos dividir’ null sugeriu ‘Quatro num carro, quatro em outro’
‘Meu carro está a dispor de vocês’ null disse. null olhou pra prima.
null?’ chamou. null olhou pros amigos, que estavam esperançosos.
‘Ah não, eu não vou dirigir cinco horas e ninguém vai encostar o dedo no meu carro’ disse balançando a cabeça ‘Podem tirar o cavalinho da chuva’
‘Tudo bem’ null disse ‘ainda tem meu carro’
‘Beleza, vão quatro no carro do null e mais quatro no do null então’ null concluiu.
‘E como é que a gente vai fazer com negócio de comida e tal?’ null perguntou.
‘O cara disse que vai abastecer a casa pra uma semana pra gente, coisa que ele já incluiu no preço’ null respondeu ‘Mas vocês sabem né, se alguém quiser beber cerveja ou coisa do gênero por lá vai ter que levar a parte. O cara é dono de casa de campo, não de um bar’ ela encolheu os ombros e todos riram.
‘A gente se encarrega da bebida’ null disse e os outros meninos concordaram.
‘E que horas a gente vai?’ null perguntou.
‘Eu não tô a fim de acordar cedo e pegar estrada de madrugada, não mesmo’ null disse séria.
‘Melhor de noite então’ null sugeriu ‘Lá pelas nove?’
‘Ok’ null disse.
‘Todo mundo na frente da minha casa, domingo às nove, certo?’ null disse e todos concordaram, animados.

Cap. 30


‘Acho que eu esqueci alguma coisa’ null dizia parada na calçada, em frente à casa de null, no domingo.
‘Contanto que não seja a sua mala’ null disse e riu ao levar um tapa da prima.
‘Nossa, vocês não sabem o saco que foi pra convencer meu pai a me deixar ir’ null disse pras amigas. Os garotos estavam conferindo o caminho que fariam segundo as informações que null passara.
‘Sério?’ null perguntou ‘Os meus deixaram numa boa’
‘Meu pai começou a implicar quando eu disse que os meninos iam também’ null revirou os olhos.
‘Eu tive que ligar pros meus pais pra avisar porque, vocês sabem, eles não param em casa nunca’ null contou ‘Eles estavam se preparando pra uma reunião de negócios na hora, nem devem ter ouvido o que eu falei. Por isso deixei um bilhetinho’
‘Ah, então tá beleza’ null abanou a mão.
‘Se eles olharem na porta da geladeira, tudo bem’ null encolheu os ombros e elas riram.
‘Hey gente’ null chamou ‘vambora?’
As meninas concordaram e todos foram pros carros. As malas já estavam nos porta-malas. Tinha ficado decidido que null, null e null iriam no carro de null e os outros iriam no carro de null. null mal entrou no carro e colocou no rádio seu CD do Blink 182 pra tocar. null, sentada no banco de trás com null, fez cara feia.
‘Aaah null, sem tortura’ ela protestou.
‘Você está em minoria aqui, então fica quieta’ null gritou do banco da frente, aumentando o volume da música. null riu e null beijou null, tentando consolar a menina.

null’ null diminuiu o volume do rádio ‘o carro do null não deveria estar na frente do nosso?’
‘Nosso não, meu’ null disse rindo ‘É, deveria, mas vai ver que eu o ultrapassei e nem vi. Hey casal’ ele disse olhando pelo retrovisor pra null e null, que interromperam um beijo ‘dá pra ver se o carro do null está aí atrás?’
‘Hum’ null olhou pra trás, mas não viu nada além da escuridão da estrada ‘Nop, nem sinal’
‘Por quê?’ null perguntou se recostando no banco e puxando a garota, que deitou a cabeça no peito dele.
‘Porque o carro dele devia estar perto do meu’ null disse. null olhou pra ele com os olhos cerrados.
‘Você entrou naquela saída à esquerda que estava no mapa?’ ela perguntou séria.
‘Ué, você não viu não?’
‘Você sabe que eu estava trocando o CD’ ela arqueou uma sobrancelha ‘Então, entrou lá ou não?’
‘Claro’ ele respondeu tamborilando no volante.
‘Mentira!’ null gritou no banco de trás. null riu e selou a sua boca na da garota, antes que ela falasse mais alguma coisa.
‘Entrou ou não?’ null arqueou a outra sobrancelha.
‘Tá bem, tá bem, não entrei’ null disse e viu a menina mirar um tapa na cabeça dele ‘Desculpa, eu esqueci de olhar no mapa, foi mal mesmo’ disse rapidamente. null baixou a mão.
‘Pelo menos você sabe onde nós estamos?’ perguntou.
‘Bem, não’ ele disse ‘mas deve ter algum retorno por aqui’
‘Desculpa falar cara, mas tu nunca vai enxergar um retorno nesse breu todo’ null disse olhando a estrada escura pela janela ‘nem com os faróis ligados’
‘Valeu dude’ null disse irônico.
null null’ null disse entre dentes, cruzando os braços ‘não me diga que nós estamos perdidos’
‘Certo, nós não estamos perdidos’ ele disse calmamente.
null! Larga de ser mentiroso’ ela disse alto dando um tapa no braço do menino, que se encolheu.
‘Ei, você disse pra eu não dizer que estamos perdidos, eu fiz o que você pediu’ disse. null e null riram no banco de trás, mas null continuou com a cara fechada.
‘Muito engraçadinho, há há’ ela zombou sarcástica e virou a cara pra janela ‘Seria ótimo se essas suas gracinhas levassem a gente pro caminho certo de novo’
‘Meu bem, tenha calma’ ele disse devagar ‘A gente vai encontrar um retorno, estou te dizendo’
null apenas bufou, sacudindo os ombros, como se dissesse “acho bom mesmo”. null e null balançaram a cabeça e voltaram a se beijar, se ajeitando no banco de trás pra ficarem mais confortáveis durante o resto da viagem. null tentou ignorar o casal no banco de trás e continuou dirigindo, olhando pra frente e quase rezando pra que na próxima curva da estrada houvesse uma placa indicando um possível retorno. Poucos minutos depois, o carro começou a desacelerar sozinho. null olhou pra null quando ouviu o motor falhando.
‘O que está havendo?’ ela perguntou preocupada. null olhou no painel do carro e fez uma careta, o que deixou a menina mais preocupada ainda ‘O que está havendo, null?’ ela repetiu.
‘O combustível está acabando’ ele respondeu falando baixo, temendo ouvir um berro em seguida. E foi exatamente o que ele ouviu.
‘O QUÊ?’ null berrou. null e null pularam no banco, assustados.
‘O que foi?’ null perguntou olhando pra prima ‘O que há agora?’
‘Você não abasteceu antes de viajarmos, não é?’ null cerrou os olhos, olhando pra null seriamente. O menino negou com a cabeça, lentamente. Ela passou a mão pela testa ‘Meu Deus. Ah meu Deus, meu Deus’
‘Por que estamos parando?’ null perguntou ao perceber que o carro estava cada vez mais lento.
‘Eu vou te esganar null null!’ null gritou se segurando pra não pular no pescoço do garoto.
‘Ó, seguinte’ null olhou pros amigos no banco de trás, pelo retrovisor ‘o combustível do carro está acabando e, provavelmente, vamos parar daqui a alguns metros. Mas, pelo amor de Deus, tenham calma’ ele emendou ao ver a cara desesperada que null fazia.
‘Tenham calma, essa é boa’ null rolou os olhos ‘Você fez a gente se perder, depois acaba o combustível do carro, só porque você foi irresponsável ao ponto de não abastecer antes de viajarmos, graças a isso nós vamos ter que parar no meio do nada e você ainda quer que tenhamos calma?’
‘É’ null disse simplesmente e levou um tapa no braço.
‘Me poupe’ ela cruzou os braços e voltou a olhar pela janela.
‘Olha, não adianta nada estressar agora’ null disse em defesa do amigo, mas desistiu ao ver o olhar aborrecido que null lançou sobre ele ‘Ok, eu calo a boca’
‘Vamos esclarecer umas coisinhas aqui’ null ajoelhou e colocou a cabeça entre os bancos da frente ‘Primeiro, eu não vou descer pra empurrar o carro caso precise. Segundo, se a gente encontrar algum lugar pra abastecer...’
‘Só por milagre’ null resmungou baixinho. null fingiu não ouvir e continuou falando.
‘... eu não vou querer seguir viagem hoje. Terceiro, parem de brigar porque isso não vai resolver nada!’ disse quase gritando na orelha da prima.
‘Ouviu?’ null olhou pra null, com um ar vitorioso. null lhe lançou um olhar maligno e o menino voltou a olhar pra frente. null voltou a sentar direito no banco de trás e null a abraçou. Quinze minutos depois, o carro quase nem andava mais. De repente, null soltou um grito, apontando pra frente.
‘Luz! Olhem, tem alguma coisa iluminando a estrada!’ ela disse se empolgando com isso. null e null olharam por entre os bancos. Realmente, havia luz na estrada.
‘Será que tem algum doido que mora nesse fim de mundo?’ null perguntou.
‘Espero que sim’ null disse esperançosa ‘null, não tem como andar mais rápido não?!’
‘Se eu acelerar, o combustível vai acabar mais rápido’ null disse.
‘Acelera logo!’ null gritou e null não pensou duas vezes antes de obedecer. Ela, null e null colaram os rostos nas janelas do carro, olhando pro lado de onde vinha a luz que iluminava a estrada.
A luz vinha de um casarão, com pelo menos uns quatro andares. Naquela luz amarelada, o casarão não tinha o melhor dos aspectos, mas na situação em que eles estavam, qualquer coisa estava valendo. null parou no acostamento, bem na frente do casarão. Havia mais três ou quatro carros estacionados ali. Os quatro jovens desceram do carro e correram pra dentro do casarão, que tinha as portas abertas. Chegaram numa espécie de hall, com um balcão de madeira escura, uns sofás velhos e uma escada. Uma senhora apareceu atrás do balcão.
‘Pois não, jovens?’ ela disse sorrindo amavelmente. null olhou pros outros, que pareciam apreensivos. null segurou com força no braço de null. null encarou a senhora respeitavelmente.
‘Hum, boa noite’ disse ‘O combustível do nosso carro acabou e nós precisamos de algum lugar pra, pelo menos, passar a noite. A senhora sabe aonde podemos conseguir isso?’
‘Aqui mesmo, na minha hospedagem’ a senhora disse balançando a cabeça ‘Por acaso eu tenho dois quartos vagos, um no segundo e outro no terceiro andar’ ela se virou, pegou dois molhinhos de chaves que estavam pendurados na parede e os colocou em cima do balcão ‘Acho que seria perfeito pros casais’
null deu uma risadinha e escondeu o rosto corado atrás do ombro de null, que sorriu rolando os olhos. null olhou pra null, que fingiu não ouvir essa última parte e continuou encarando a senhora atrás do balcão.
‘Bem, eu acho que nós vamos aceitar’ ela disse e null concordou, pegando as chaves no balcão ‘Creio eu que não podemos ficar aqui de graça, certo?’
‘Vocês devem estar cansados, amanhã vemos isso’ a senhora sorriu novamente, do mesmo jeito que antes.
‘Ok’ null retribuiu o sorriso como cortesia ‘Nós vamos buscar nossas malas e voltamos logo’
A senhora apenas assentiu com a cabeça e os quatro saíram da tal hospedagem, correndo até o carro.

Cap. 31


A escada da hospedagem rangia a cada passo que eles davam. Finalmente chegaram no quarto andar. null esperava ficar no mesmo quarto que sua prima, mas, sem ela ver, null passou discretamente a chave do quarto no terceiro andar pra null. Quando ela parou no corredor do segundo andar e olhou pra trás, abriu a boca, surpresa ao ver null e null subindo mais um lance de escadas correndo e sorrindo marotamente.
‘Mas o que...?’ null largou suas malas no chão e colocou as mãos na cintura, indignada.
‘Será que você pode andar?’ null perguntou indicando com a cabeça a porta do quarto 7, mais pro fim do corredor, que era onde eles iriam ficar. A garota rolou os olhos e o seguiu até lá. null abriu a porta do quarto e os dois adentraram.
Sem dúvidas o quarto era bem abaixo das expectativas, isso porque eles já não esperavam muito devido as condições precárias da hospedagem. Parecia muito pequeno, empoeirado e malcuidado. A cama de casal estava coberta por uma antiga colcha de crochê e as portas do armário antigo davam a impressão de que iriam cair a qualquer momento. null largou as malas no pé da cama e foi ver o banheiro, escondido atrás de uma porta com uma maçaneta completamente destruída pela ferrugem. Era aparentemente limpo, embora minúsculo. null agradeceu cem vezes por não precisar tomar banho. Ela encostou a porta e foi sentar na cama. null tinha deixado as outras malas também no pé da cama e procurava alguma coisa dentro do armário antigo.
‘Eu ainda não entendi porque tenho que dormir aqui com você’ null disse com a testa franzida. null tirou a cabeça de dentro do armário e olhou pra ela.
‘Desculpe, mas foi null quem pediu a chave pra mim’ ele encolheu os ombros. Ela levantou da cama e foi até a única janela que havia no quarto. Abriu uma fresta da cortina e só viu escuridão.
‘Que saco!’ ela resmungou fechando a cortina com força. O varão pendeu pra um lado e null se afastou da janela rapidamente, achando que a cortina ia cair em cima da sua cabeça, mas por sorte isso não aconteceu ‘Fala sério, esse lugar é o ó! E tudo por culpa sua’ ela disse apontando acusadoramente pra null, que engoliu em seco ao ver o quanto ela estava nervosa.
‘Olha, é sério, eu sinto muito’ ele disse sinceramente. A menina fingiu ignorar e sentou na cama novamente, olhando pro chão. Ele coçou a cabeça e foi sentar ao lado dela ‘Eu admito, esqueci de olhar no mapa e achei que o combustível que tinha no tanque do carro ia ser suficiente pra gente viajar, falha minha. Só que você tem que entender que foi sem querer. Você acha que eu queria estar aqui, perdido nesse fim de mundo, me abrigando num lugar totalmente desconhecido?’
‘Eu sei que não’ ela disse a contra gosto ‘mas não deixa de ser sua culpa’
‘Eu não tô discordando de você, mas a única coisa que posso fazer agora é pedir desculpas’ ele disse e passou o braço pelos ombros da menina, numa tentativa frustrada de abraçá-la. Frustrada porque null levantou da cama e começou a andar pelo quarto. null balançou a cabeça e ficou olhando pra ela.
‘Que horas são?’ ela perguntou secamente. Ele olhou no relógio de pulso.
‘Meia-noite’
‘Três horas na estrada pra vir parar nessa espelunca’ null balançou a cabeça, passando a mão pelo rosto, e agachou ao lado da sua mala ‘Não sei você, mas eu vou me trocar e dormir. Quem sabe isso tudo não passa de um pesadelo e, quando eu acordar, vou descobrir que ainda é domingo de manhã’ ela arrancou uma muda de roupa de dentro da mala e foi pro banheiro. null se encolheu quando a menina bateu a porta.
‘Que merda que eu fiz’ ele concluiu pra si mesmo, voltando a mexer dentro do armário antigo.
Quando saiu do banheiro, null encontrou null estendendo dois cobertores no chão, ao lado da cama, em cima de um tapete puído. Ela franziu a testa.
‘O que está fazendo?’ perguntou.
‘Arrumando minha cama’ o menino respondeu e olhou pra ela. Ficou alguns segundos apenas olhando ela de pijamas: uma calça de moletom rosa e uma regatinha preta. Até daquele jeito ela ficava bonita ‘Por quê?’
‘Como assim sua cama?’ ela guardou na mala aberta a roupa que tinha trocado.
‘Aposto que você não quer que eu durma na mesma cama que você’ ele disse rindo e pegou um dos dois travesseiros que estavam sobre a cama de casal.
null rolou os olhos e foi pra perto da janela tentar arrumar o varão que continuava pendido. null jogou o travesseiro sobre os cobertores e, aproveitando que a menina estava de costas pra ele, começou a tirar a roupa pra dormir. null ouviu um barulho de zíper e olhou pra trás por cima do ombro. Sentiu o rosto esquentando subitamente ao ver que null estava tirando a calça e virou o rosto pra janela de novo. Ela piscou com força, tentando impedir sua mente de criar algum tipo de imagem que a deixasse ainda mais sem graça, e voltou sua atenção pro varão da cortina novamente. null deixou as roupas jogadas no chão mesmo e olhou pra garota.
‘Você não vai conseguir arrumar essa bodega, pelo menos não hoje. Deixa pra lá’ ele disse vendo os esforços inúteis que ela fazia pra recolocar o varão na posição certa. null respirou fundo e virou lentamente pra ele. Mordeu a boca por dentro ao ver que o garoto estava só de samba-canção.
‘Vou te dar um pijama de Natal, pode esperar’ ela disse tirando a colcha de cima da cama, e mantendo seu olhar sobre a colcha ao invés dele. null riu ao ver que a menina estava sem graça.
‘Eu gosto de dormir assim. Posso apagar a luz?’
null apenas concordou com a cabeça, deitando na cama e se ajeitando embaixo dos lençóis. Ao menos não estavam cheirando a mofo, ela pensou agradecida. null apagou a luz do quarto e foi ao banheiro. null rolou na cama e ficou olhando pra porta do banheiro. Viu a sombra de null quando ele saiu e apagou a luz do banheiro. Fechou os olhos e fingiu que estava dormindo. A única coisa que null tinha pra se cobrir era a velha colcha da cama, por isso mesmo ele preferiu dormir sem coberta. Deitou em cima dos cobertores, o que não ajudou muito porque ele podia sentir o chão duro de tão finos que eram os cobertores, e virou de lado, fechando os olhos. Cinco minutos depois, um barulho alto e uma risada histérica vieram do quarto de cima, fazendo null e null gargalharem, imaginando se quem estaria naquele quarto eram null e null. Aos poucos, eles ficaram em silêncio de novo. null virou de barriga pra cima e abriu os olhos. Ficou encarando o teto escuro do quarto durante uns bons minutos.
null...?’ ela chamou baixinho.
‘Eu’ null disse rapidamente.
‘Você tem certeza que quer ficar aí no chão?’
‘Bem, querer eu não quero’ ele riu, se mexendo em cima dos cobertores ‘mas eu sei que você também não quer que eu durma aí, então deixa pra lá. Tá tudo bem’
‘Pode dormir aqui’ null sentou e acendeu o abajur velho no criado-mudo. Foi até a beirada da cama e viu null olhando pra ela ‘Digo, nós somos amigos, não tem problema. E você vai ficar com dor nas costas se dormir nesse chão’
null, sério, não precisa. Eu vou te incomodar e...’
‘Ó, pra falar a verdade, não acho que esse colchão seja muito melhor que o chão, mas é só isso que temos’ ela encolheu os ombros ‘E aproveita que eu estou sendo boazinha, até esqueci que estou puta da vida contigo’ e ele riu, levantando.
‘Ok então, chega mais pra lá’ ele disse abanando a mão. Ela sorriu e rolou pro lado, deitando e se cobrindo novamente. null desligou o abajur, pegou seu travesseiro e deitou ao lado dela, fazendo questão de manter o máximo de espaço possível entre os dois. Não queria deixar a menina numa situação desconfortável ‘Realmente, esse colchão é um lixo’ ele reclamou se mexendo na cama, procurando uma posição mais confortável pra ficar. null riu.
‘Não reclama, ok?! Eu já falei, é o que nós temos, e não me faça lembrar de quem é a culpa por isso’ disse.
‘Certo, certo, não está mais aqui quem falou’ ele riu e colocou um braço atrás da cabeça. Ficou ouvindo a respiração tranqüila da menina ao seu lado até pegar no sono.

O barulho começou com um zumbido. null se mexeu na cama e abriu os olhos com dificuldade quando uma música baixinha começou a tocar. Ainda era noite, ela constatou, porque nenhuma luz entrava pela janela do quarto. Quando a música tocou um pouco mais alto, ela reconheceu o toque do seu celular e foi mais pra beirada da cama, tateando o criado-mudo do seu lado. Conseguiu encontrar o celular.
‘Alow’ atendeu bocejando.
‘Amiga’ a voz do outro lado da linha era de null ‘onde você está? Já são duas da manhã, faz uma hora que nós chegamos na casa. Tentei ligar pra null, mas só cai na caixa postal. Cadê você e os outros?’
‘Hum, vocês já chegaram?’ null perguntou coçando os olhos ‘Encontraram as chaves? Como é aí?’
‘Encontramos, estava embaixo do tapetinho na varanda, que nem o cara falou pra ti. Ah cara, a gente só viu a parte de dentro, e parece boa mesmo. É grande e está bem organizada, apesar de não estar lá muito limpa, mas quanto a isso a gente dá um jeito depois. O pessoal está arrumando as coisas no quarto e pediram pra eu ligar pra saber onde vocês estão’
‘Então... aconteceram uns probleminhas e nós só vamos chegar aí amanhã’
‘Só amanhã?’ null espantou-se ‘Mas o que houve?’
null fez o favor de ferrar com a nossa vida’ null disse baixinho.
‘Eu ouvi isso’ null resmungou ao seu lado, dando sinal de que estava acordado. Ela riu.
‘Então null, amanhã eu explico melhor’ disse ao celular ‘mas fica tranqüila porque, apesar dos problemas, tá tudo bem com o pessoalzinho aqui’
‘Ok amiga, mas qualquer coisa liga ok?!’ null disse ‘Até amanhã’
‘Pode deixar. Beijos’ null desligou e colocou o celular no criado-mudo de novo.
‘Eles já chegaram?’ null perguntou se mexendo. null tateou no colchão até encontrar o braço do menino e deitou mais perto dele. null sentiu os pêlos do braço ficarem em pé.
‘Já. null disse que o pessoal está arrumando as coisas nos quartos. Espero que eles tenham o bom senso de colocar meninos no mesmo quarto que meninos e meninas no mesmo quarto que meninas’ ela disse.
‘Hum, não sei se todos gostariam disso’ ele disse a fazendo rir.
‘Do jeito que seus amigos são pervertidos, acho que não mesmo’
‘Que absurdo’ e os dois riram.
‘Que hora nós vamos acordar amanhã?’ ela perguntou.
‘Provavelmente assim que o sol raiar porque, pelo jeito, essa cortina não vai prestar pra nada amanhã de manhã’
‘Hunf, vai ser cedo então’ ela se ajeitou na cama, ao lado dele ‘Boa noite, null’
‘Boa noite, null’ ele sentiu a cabeça dela encostar no seu ombro e sorriu, fechando os olhos.

Cap. 32


A claridade estava vindo direto na sua cara. null passou a mão pelo rosto, bocejou e abriu os olhos. O quarto estava claro e tinha um aspecto menos pior diante disso. Não parecia tão pequeno ou empoeirado. null olhou pro lado e sorriu instantaneamente. null continuava dormindo ao seu lado, encolhida sob os lençóis, com a cabeça sobre seu braço. Ele passou a mão pelos cabelos dela e lhe deu um beijo carinhoso na testa. A menina abriu os olhos devagar e sorriu.
‘Bom dia’ ela disse e olhou pra janela ‘Hum, sol demais’ e puxou o travesseiro, cobrindo o rosto com ele. null riu e cutucou-a na cintura.
‘Vamos preguiçosa, nós precisamos ir. Ou você quer passar o resto da semana aqui?’ ele disse e riu mais ainda quando ela jogou o travesseiro pro lado e sentou na cama num pulo.
‘Deus me livre’ null balançou a cabeça ‘Pretendo sair daqui o mais rápido possível. Vai, coloca a sua roupa e eu vou me trocar’ ela levantou da cama, pegou a roupa dentro da mala e foi pro banheiro.
null virou pro lado e deitou a cabeça no travesseiro em que ela escondera o rosto antes. Sorriu sozinho, se sentindo absurdamente bem somente pelo fato de ter acordado ao lado da menina que ele realmente amava. Certo, eles tinham dormido e apenas dormido, mas acordar e ver null ali, tão perto, do seu lado, era mais do que suficiente pra fazê-lo feliz.
null!’ ele ouviu alto. Tirou a cabeça do travesseiro e olhou pra porta do banheiro. null estava parada com as mãos na cintura, já trocada e segurando o pijama ‘Eu falei pra você se vestir, e não pra voltar a dormir’ ela disse séria. null voltou a deitar a cabeça no travesseiro, rindo.

‘Ainda bem que você trouxe dinheiro reserva, null’ null dizia dentro do carro, colocando o cinto quando null deu a partida ‘Senão nós não teríamos como pagar a estadia na hospedagem’
‘Íamos acabar indo lavar pratos na cozinha’ null disse rindo, abraçada a null.
‘Foi ótimo nós termos encontrado aquela hospedagem pra ficar’ null disse ‘mas eu ainda não entendi. Por que diabos uma velha construiria uma hospedagem na beira da estrada, no meio do nada?’
‘Devia ter perguntado pra ela’ null riu ‘Ah cara, sei lá, provavelmente o número de gente que se perde por essas bandas é grande então a velha achou que seria uma boa construir um lugar pra que os perdidos ficassem’
‘É, o número de incompetentes que não seguem o mapa como o null deve ser grande mesmo’ null disse e os outros riram. null deu línguas.
‘Sorte que aquele outro cara que estava hospedado lá tinha um galão de gasolina extra’ null disse.
‘Sorte mesmo’ null concordou ‘porque se não fosse por ele nós não teríamos como sair de lá com o carro’
‘Ô gente’ null virou no banco, olhando pra trás ‘como é que era o quarto de vocês?’
‘Nojento’ null riu fazendo careta ‘Ah, estava meio empoeirado e a pia do banheiro estava toda enferrujada. E o de vocês?’
‘Bem, a cortina quase caiu na minha cabeça, acho que isso já dá uma idéia’ null encolheu os ombros e todos riram. null olhou pra null pelo retrovisor.
‘Vocês ouviram um barulho alto à noite? Nós achamos que era do andar de vocês’ disse. null começou a rir e null ficou vermelho.
‘Erm, foi minha culpa’ ele admitiu sem graça ‘Eu fui colocar nossas malas dentro do armário e a porta despencou’
‘Bem que eu achei que conhecia aquela risada histérica’ null disse olhando pra prima, que apenas concordou com a cabeça enquanto ria.
‘Você não pagou pelo estrago do móvel, pagou?’ null perguntou pro amigo.
‘Claro que não. Acho que até foi bom, pelo menos aquela velha vai ter que comprar um armário novo agora’ null disse rindo. null balançou a cabeça e se ajeitou no banco, voltando a olhar pra frente.
null me ligou ontem’ ela disse ‘O pessoal estava arrumando as coisas nos quartos, disseram que a casa é realmente muito boa’
‘Eu acho que me mataria se fosse como aquela hospedagem’ null comentou finalmente parando de rir.
‘Nem fale’ null rolou os olhos.
‘Liga o rádio aí, null’ null pediu. null pegou umas caixinhas de CDs no porta luvas do carro.
‘Nada daquelas músicas estranhas hein’ null disse logo ‘Por favor, eu mereço ouvir alguma coisa decente’
‘Relaxa prima’ null disse tirando um CD da caixinha ‘Vamos ouvir algo melhor do que Blink’
‘E o que é?’
‘The Who’ ela disse simplesmente. null tampou os ouvidos e os outros riram.

A casa de campo era bonita como na foto do anúncio on-line, rodeada por árvores altas que formavam uma floresta densa. Podia-se realmente dizer que ficava no meio do mato, porque não havia nenhuma outra casa por perto. null estacionou atrás do carro de null e ele, null, null e null desceram do carro. Na frente da casa havia uma varanda grande, com duas redes penduradas nas pilastras de pedra rústica, mesmo material de que era feita a casa por fora. Os quatro entraram e cumprimentaram os amigos, logo indo ver o resto do lugar. A sala de estar era grande e havia uma pequena divisória que separava a parte da televisão da parte da lareira. As oito portas que ficavam num corredor extenso levavam à cozinha, aos banheiros, à suíte e aos quartos. Na cozinha ficava a mesa de jantar e uma porta que dava acesso ao fundo da casa, onde se encontrava uma piscina grande e uma área coberta, com churrasqueira e uma mesa de sinuca.
‘Gente, isso daqui é o que há’ null comentou deslumbrada, voltando com as amigas pra sala, já que os garotos ficaram nos fundos da casa, analisando a mesa de sinuca.
‘Parece bem melhor quando se está aqui do que pelo anúncio. Tem até TV a cabo!’ null disse animada ‘Ainda não sei como a gente conseguiu alugar por um preço tão baixo’
‘Pois é, isso porque o cara realmente abasteceu a casa. Tem comida pra mais de uma semana aí’ null disse.
‘Nossa, ainda bem que vocês falaram em comida’ null bateu na própria testa ‘A gente tem que tirar as malas e as bebidas de dentro do carro, né null?’
‘Vamos então, porque pelo jeito aqueles garotos não vão fazer isso tão cedo’ null disse.
‘Estão encantados com aquela mesa de sinuca’ null disse acompanhando as amigas pra fora da casa.
‘Como se nunca tivessem visto uma na vida’ e todas riram.
‘Mas, mudando de assunto’ null disse ‘Que probleminhas aconteceram ontem, hein null?’
‘Já disse, null ferrou com as nossas vidas’ null riu abrindo o porta-malas do carro de null ‘Ó, o negócio foi o seguinte’ ela começou a contar o que acontecera no dia anterior enquanto elas levavam as malas pra dentro.
O resto da segunda-feira passou enquanto os oito limpavam a casa e terminavam de arrumar as coisas nos quartos, sendo que a suíte ficou vazia porque lá havia apenas uma cama de casal enquanto nos outros quartos havia camas de solteiro. As meninas ficaram encarregadas de limpar a parte de dentro da casa e os meninos, obedecendo ordens delas, a parte de fora. Quando eles estavam limpando a piscina, null empurrou null na água e a limpeza acabou virando bagunça.

Cap. 33


Ele estava cambaleando sonolento quando trombou em alguém na porta do banheiro.
‘Desculpe’ null falou bocejando.
‘Sem problema’ null disse e saiu andando pro quarto.
null olhou pra ela e franziu a testa ao ver que a menina estava de pijamas. null saiu de um outro quarto do mesmo jeito que a amiga. Acordar numa casa de campo e ver as meninas populares do colégio andando de pijamas pelo corredor era algo que null nunca imaginou que aconteceria em toda a sua vida. Ele riu e entrou no banheiro. Lavou o rosto pra acordar um pouco e foi pra cozinha. null e null estavam tomando café da manhã.
‘Dia’ null disse pegando uma torrada em cima da toalha da mesa. Os dois só mexeram com a cabeça ‘Acordados há muito tempo?’
‘Nada’ null negou ‘Deve fazer uns quinze minutos, mas eu só acordei porque a null foi me chamar no quarto’ ele disse apontando pra garota.
‘Tinha um inseto estranho do lado da cama da null e ela estava quase entrando em desespero. Eu não ia matar aquela coisa, então tive que chamar alguém’ null se explicou inocente.
‘Por Deus, era só um grilo’ null disse rindo.
‘Ah, como é que eu ia saber?!’ ela encolheu os ombros, fazendo o garoto rir. null pegou outra torrada e saiu da cozinha, indo pro fundo da casa. Encontrou null sentada na beira da piscina, ainda de pijamas como suas amigas, segurando uma xícara de café.
‘Bom dia’ ele disse indo sentar ao lado da menina. null olhou pra ele e voltou a encarar a água.
‘Também acordou cedo porque tinha alguém dando chilique no seu quarto?’ ela perguntou calmamente. null gargalhou.
‘Não!’ ele disse rindo ‘Por que a pergunta? Não foi a null que teve ataque por causa de um grilo, no quarto em que ela está com a null?’
null fez praticamente a mesma coisa comigo’ ela disse e balançou a cabeça ‘Acordei ouvindo uns barulhos estranhos e, quando olhei pro lado, me deparei com ela pulando na cama, tentando se livrar de um pernilongo’ e riu.
‘Eu ainda não entendo como você pode ser tão diferente e, mesmo assim, se dar tão bem com elas’ ele disse terminando de comer sua torrada.
‘A afinidade superar qualquer tipo de diferença, null’ ela disse e tomou um gole do café que estava na xícara. null apenas concordou com a cabeça. Os dois ouviram um grito de dentro da casa e correram pra ver o que estava acontecendo. Não tinha sido nada demais, um mosquito pousara na canela de null e ela achou que era uma aranha.

null’ null chamou a prima, desligando o fogão ‘vai chamar o null e o null e avisa que o almoço já está pronto. Aqueles dois passaram a manhã toda na piscina, devem estar com fome’
null concordou e saiu da cozinha, deixando null terminar de arrumar a mesa enquanto null ia chamar null e null, que estavam tentando conectar na televisão da sala o vídeo-game que tinha levado. Ela encostou-se ao batente da porta e ficou olhando os garotos na água. null estava sentado na escadinha da piscina e parecia contar quanto tempo null conseguia ficar debaixo da água, porque null estava tomando fôlego perto da borda.
‘Hey vocês dois’ ela chamou e os meninos olharam pra ela ‘null pediu pra avisar que o almoço está pronto’
‘Foi ela quem cozinhou?’ null perguntou meio espantado.
‘Foi, mas tudo bem’ ela riu quando os dois fizeram caretas ‘ela fez macarrão’
‘Macarrão ou miojo?’ null arqueou uma sobrancelha e os três riram. null olhou pra null e deu uma piscadinha marota pro amigo antes de olhar pra null de novo.
‘Ô null, vem aqui’ ele chamou com a mão. A menina franziu a testa, estranhando ‘Vem aqui, é sério’
‘O que quer, null?’ ela deu alguns passos, mas tomou o cuidado de não se aproximar demais da piscina.
‘Caraca, vem cá’ ele chamou rindo. null rolou os olhos e foi até ele, agachando na borda da piscina.
‘Que...’ ela começou, mas não teve tempo de terminar. null a puxou pelo braço, fazendo com que ela mergulhasse na água. Ele e null desataram a rir. Quando null voltou com a cabeça na superfície, ele nadou o mais longe possível dela ‘Seu filho da mãe’ ela disse devagar, tirando o cabelo molhado do rosto.
‘Desculpe, mas eu tinha que fazer isso com alguém’ null disse rindo. Viu que ela ia nadar na sua direção e saiu pela borda da piscina, correndo pra dentro da casa.
‘O null vai me pagar, ah vai sim’ null disse nadando até a escadinha, onde null continuava rindo. Ela colocou o pé no primeiro degrau e esperou que null lhe desse passagem, mas ele nem se mexeu ‘Ô inteligência, dá pra dar uma licencinha aí?!’
‘Não, acho que não’ ele negou com a cabeça.
null, eu preciso sair daqui’ ela disse.
‘Hum, tem sempre a borda da piscina e...’
null!’ ela colocou as mãos na cintura. Acabou escorregando no degrau e caiu de costas na água. null ria quando ela emergiu ao conseguir pisar no degrau novamente ‘Isso não tem graça’ ela disse emburrada.
‘Não pra você’ ele disse e mexeu a cabeça pra um lado, olhando pra menina. O rosto e os cabelos dela estavam quase tão molhados quanto a roupa dela. null se sentiu meio sem graça ao perceber o jeito como ele estava olhando pra ela e agradeceu mentalmente por estar usando uma camiseta preta.
‘Será que você pode parar de ficar me olhando e dar licença pra eu sair da piscina?’ ela perguntou interrompendo os pensamentos dele. null apenas sorriu e a menina rolou os olhos ‘Pára de me encarar e faz o que eu pedi, por favor’
null a encarou por mais uns segundos e, de repente, colocou as mãos nas costas dela e a beijou. null ficou realmente surpresa porque não esperava por aquilo de jeito nenhum, mas, apesar do espanto, ela reagiu. Segurou o rosto do menino com as duas mãos e ele apertou o tecido molhado da camiseta dela. Ao que os dedos de null tocaram as costas de null por debaixo da camiseta, os joelhos dela vacilaram e ela desequilibrou no degrau. Novamente caiu de costas na água, mas dessa vez levou null junto. Dentro da água, ela viu o garoto se afastar e aproveitou a chance pra emergir e nadar até a escadinha. Quando a cabeça de null apareceu na superfície, null já tinha saído da piscina e corria pra dentro da casa, encharcada. null sorriu e mergulhou de novo, tentando refrescar os pensamentos.

null passou pela cozinha correndo e quase levou um tombo por isso quando derrapou um pouco no chão. Os amigos, que já estavam almoçando, disseram alguma coisa quando ela passou por eles, mas ela não ouviu. Foi direto pro banheiro e se trancou lá dentro. Segurou nas bordas da pia e olhou pro espelho do armarinho de parede. Seu rosto estava molhado e vermelho. Ela balançou a cabeça, fechando os olhos, e começou a pensar no que tinha acabado de acontecer. Era a segunda vez que tinha ficado com null, mesmo depois de tanto dizer pra prima que considerava o garoto como a um irmão. Obviamente achava aquilo estranho, mas, de alguma forma, não achava errado. Ela não se sentia mal ao ficar com null, pelo contrário... Na verdade ela não sabia muito bem o que sentia, mas com certeza não era algo ruim. Ela pensou no arrepio que percorreu sua espinha minutos atrás e lembrou de um outro beijo, de um outro garoto. O rosto de Duncan veio na sua mente e ela sorriu levemente. null abriu os olhos e encarou mais uma vez seu reflexo no espelho. Respirou fundo, um pouco mais calma ao lembrar dos amigos com quem tinha ficado só por brincadeira ou acaso quando era mais nova. Era isso, ficar com null era apenas um acaso do destino, nada sério, nada errado. Ela sorriu pro espelho e respirou fundo mais uma vez, saindo do banheiro. Os amigos continuavam almoçando tranquilamente e null estava se servindo do macarrão quando ela entrou na cozinha. Os olhares de todos se voltaram pra ela.
‘Aconteceu alguma coisa, null?’ null perguntou preocupada ‘Está se sentindo bem?’
‘Muito bem’ null sorriu calma, pegou um prato e o estendeu pra null. O garoto, ignorando completamente os pensamentos da menina em relação ao acontecimento anterior, simplesmente sorriu e pegou o prato dela, servindo o macarrão.

De noite, enquanto todos estavam conversando na sala, null estava sentado na borda da piscina, com a água molhando suas pernas até seus joelhos. Ele observava, quieto, as ondinhas que fazia na água quando mexia os pés. Seus pensamentos estavam longe, relembrando o gosto de um beijo que ele sentira recentemente. Ele estava tão perdido nas suas lembranças que não viu nem ouviu quando null foi até ele e sentou ao seu lado.
‘A água está fresquinha’ ela disse. null olhou pro lado e viu a menina enxugando na camiseta o dedo indicador. Ela olhou pra ele ‘Por que não está lá na sala, com os outros?’
‘Não tem sentido você me perguntar isso sendo que também não está lá com eles’ ele disse.
‘É, você tem razão’ ela riu ‘mas eu não estou lá só porque você não está’
‘Quanta consideração’ ele riu também.
‘Então, me diga, por que não está lá?’
‘Eu só queria pensar um pouco’ ele disse encolhendo os ombros ‘Só isso’
‘Se quiser ficar sozinho, eu volto lá pra dentro’ ela apontou a casa. null negou.
‘Não precisa’ disse e voltou a olhar pra piscina ‘eu gosto da sua companhia’
‘Me sinto lisonjeada, obrigada’ ela sorriu e cruzou as pernas ‘null e null desistiram de tentar conectar o vídeo-game na televisão e null estava tentando quando eu saí da sala’ ela disse distraída.
‘Eles ainda não conseguiram?’
‘Nop’
‘Bando de imprestáveis’ ele disse de uma forma engraçada, balançando a cabeça. null gargalhou.
‘Que horrível você é, falando mal dos seus amigos. Vou confiar menos em você agora’
‘É uma decisão inteligente’ ele disse e riu quando a menina lhe deu um tapa no braço.
‘Bobo’ ela esticou as pernas e mergulhou até os joelhos na água, como ele ‘Ui! Está fresquinha demais’ e os dois riram. Ficaram quietos por uns minutos, balançando os pés dentro da água. null respirou fundo e sentiu no ar que aquele era um momento de decisões.
null’ ele chamou devagar. A menina sentiu o estômago revirar, tendo um pressentimento em relação ao que ele pretendia falar.
null, escuta’ ela começou. Ele olhou pra ela, mas ela continuou olhando pra piscina ‘você é meu amigo, eu gosto de você e me sinto bem quando estou contigo. O que houve entre a gente há um tempo e se repetiu hoje não vai atrapalhar em nada no nosso relacionamento’ ela disse e olhou pra ele. null sorriu quando seus olhos encontraram os dela. O que ela dizia não era exatamente o que ele queria ouvir, na verdade não chegava nem perto, mas ele ficou contente e aliviado pelo simples fato de ela não querer se afastar dele ‘Quando as coisas têm que acontecer elas simplesmente acontecem, isso é o destino’ ela encolheu os ombros e sorriu ‘Por isso eu acho que nós devemos deixar acontecer e continuar com a nossa vida, apenas esperando pelo que pode acontecer daqui pra frente’
null simplesmente sorriu e os dois sorriram, voltando a olhar pra piscina. Ele ficou pensando nas palavras dela e concluiu sozinho que podia até estar tendo sorte em relação ao seu destino, mas que não poderia largar tudo nas mãos dele. null não apenas esperaria que as coisas acontecessem, mas sim faria com que acontecessem.

Cap. 34


‘Seu cão sarnento’ null disse e todos riram. Era tarde de quarta e os oito estavam na sala, revezando os controles do vídeo-game que null – por questões de sorte segundo null, null e null – conseguira conectar na televisão.
‘Eu não tenho culpa se sou melhor que você’ null disse rindo.
‘Você está roubando!’ ela reclamou alto.
‘Ô inteligência, não tem como roubar nesse jogo’ ele retrucou.
‘Agradeça por ele não ter tirado o controle da sua mão’ null disse e riu quando null mostrou a língua.
‘Aquilo foi uma tática de defesa’ null se justificou.
‘Você tem que ser mais rápida pra apertar os botões’ null disse tentando ajudar null.
‘Discordo’ null balançou a cabeça ‘Você tem que apertar todos os botões de uma vez só, null. É bem mais fácil assim’ e todos riram.
‘Vamos ver se vai ser mais fácil você me vencer assim quando for nossa vez de jogar, docinho’ null disse esfregando as mãos.
‘Sinto dizer, mas seu boneco vai beijar o chão’ null disse e null o puxou pela camisa de repente.
‘Tenta ganhar de mim pra ver o que te acontece’ ela disse entre dentes. null arregalou os olhos, espantando, enquanto os outros morriam de rir.
‘Gente, eu não agüento mais ficar aqui’ null disse com a voz meio rouca graças aos gritos que ela deu, torcendo a favor de null – segundo ela, só pra provocar null – ‘Alguém quer sair comigo pra caminhar?’
‘Eu vou’ null disse prontamente ‘mas não dá pra esperar eu terminar de jogar aqui?’
‘Isso vai demorar séculos, null’ null abanou a mão, levantando do sofá. null levantou também.
‘Eu vou contigo amiga’ disse. null olhou pras duas.
‘Mas vocês vão caminhar aonde?’ perguntou ‘Aqui não tem lugar pra onde ir, é só mato!’
‘Então’ null encolheu os ombros ‘nós vamos andar pelo mato’
‘No meio daquela floresta?’ null franziu a testa.
‘Yep’ null confirmou simplesmente.
‘Gente, isso é perigoso, não acham?’ null disse olhando pras amigas ‘Vocês podem se perder por lá’
‘Nós não vamos nos perder. Antes que anoiteça nós voltamos, prometo’ null assegurou ‘Bom, tchau pra vocês. Divirtam-se com o vídeo-game e tentem não se matar’
‘Até mais tarde’ null acenou pros amigos e saiu da casa acompanhada por null.
null ficou olhando as meninas saírem pela porta, meio preocupado. A floresta era densa e, mesmo de tarde, podia ser perigosa. Mas em questão de segundos ele esqueceu suas preocupações ao ouvir null berrando um palavrão quando null finalmente a venceu.

Os raios vermelhos do sol do entardecer passavam por entre os ramos das árvores e iluminavam o caminho cheio de pedras, folhas e galhos. Fazia cerca de duas horas que null e null estavam caminhando pela floresta. Vez ou outra elas paravam pra ver alguma coisa e por isso nem sempre continuavam num caminho reto.
‘O sol já está se pondo, null’ null disse quando elas retomaram a caminhada depois de terem parado pela décima vez pra apreciar uma flor em botão ‘Não acha melhor nós voltarmos?’
‘Talvez seja uma boa idéia’ null disse, mas continuou caminhando em frente ‘Eu prometi que voltaríamos antes de anoitecer’
‘Exatamente por isso. Se escurecer e nós não tivermos voltado, o pessoal vai ficar preocupado. E eu já estou começando a ficar cansada’
‘Nós podemos parar pra descansar agora e depois fazer o caminho de volta’ null sugeriu.
‘Espera’ null disse e as duas pararam de caminhar ‘Está ouvindo? Acho que é barulho de água’ ela disse animada ‘Eu estou com sede. Vamos andar mais um pouco e ver de onde está vindo o barulho. Talvez haja um rio por aqui, ou uma cachoeira’
‘Ok, vamos caminhar mais um pouco então’ null concordou sem ver problemas nisso ‘mas se não encontrarmos nada, nós voltamos’ e as duas voltaram a andar.

Na casa, a tarde passou rapidamente, com os seis jogando vídeo-game, gritando, rindo, xingando e se divertindo. Perto das oito da noite, null jogou o controle de lado, depois de vencer null numa luta longa, e olhou pra janela. Levantou do sofá de um pulo só ao ver que estava escuro lá fora.
null e null já deveriam ter voltado’ ele disse preocupado. Os amigos olharam pela janela e concordaram.
‘Será que elas se perderam?’ null perguntou apreensiva.
‘Espero que não’ null disse.
‘São quase oito horas’ null disse olhando no relógio.
‘Deve fazer umas cinco horas que elas foram caminhar’ null disse pensativo.
‘Não seria melhor se a gente fosse procurar por elas?’ null sugeriu. null negou com a cabeça.
‘Vamos esperar mais um pouco, cara. Talvez elas tiveram que parar pra descansar e por isso estão demorando mais do que o previsto’ disse tentando acalmar o amigo.
‘Mas já está escuro, null’ null disse melosa ‘Eu concordo com o null, nós deveríamos ir procurar’
‘Vamos esperar mais um pouco’ ele repetiu.
‘Agora são quase oito da noite’ null começou ‘se der dez horas e elas não tiverem aparecido, a gente tenta ligar no celular’
‘Duvido que alguma delas tenha levado celular’ null disse desdenhando.
‘É uma opção’ null encolheu os ombros ‘Não custa tentar’
‘E se elas realmente não tiverem levado celular?’ null perguntou.
‘Saímos pra procurar, está decidido’ null disse firme. Os outros concordaram. null sentou novamente no sofá e ficou olhando pra televisão, ainda preocupado. Claro que também se preocupava com null, mas ele se culparia muito mais caso acontecesse algo a null só porque ele não tomara nenhuma atitude.

null, eu estou cansada. Vamos parar aqui’ null disse sentando num tronco de árvore. null sentou ao lado da amiga.
‘Você quem quis procurar de onde vinha o barulho de água. Nós fomos longe demais e acabamos sem encontrar nada’ disse meio chateada ‘E o pior é que já escureceu’ ela olhou pro alto e viu pedaços de céu estrelado entre as copas das árvores ‘Melhor nós voltarmos agora’
‘Vamos descansar um pouco’ null pediu ‘depois nós podemos ir’
‘Ah, não sei’ null balançou a cabeça ‘depois vai ficar mais escuro’
null, já está escuro! Vamos descansar um pouco vai, por favor. Eu não agüento mais andar’
‘Tá bem, mas só um pouco’ null consentiu ainda meio relutante ‘Já é noite e o pessoal deve estar preocupado, não quero demorar muito mais tempo por aqui’
‘Quinze minutos não vão fazer diferença’ null abanou a mão ‘E se eles estivessem realmente preocupados, viriam nos procurar’
‘Nós não estamos perdidas, não tem porque alguém vir nos procurar’ null disse franzindo a testa. null olhou em volta.
‘Tem certeza que não estamos perdidas?’ perguntou. null repetiu o gesto da amiga e se sentiu intimamente preocupada quando percebeu que não tinha certeza do lado pra onde deveriam ir se quisessem voltar pra casa ‘Você não sabe como voltar, não é?! Nós deveríamos ter marcado o caminho, agora estamos perdidas aqui’ null se lamuriou, baixando a cabeça. null abraçou a amiga pelos ombros.
‘Nós vamos encontrar o caminho de volta, só precisamos ter um pouco mais de calma’ disse tentando acreditar mais em si mesma do que nas evidências contrárias ao seu redor.

null estava imóvel no sofá, olhando fixamente pra televisão. null embaralhava e reembaralhava um baralho que tinha trazido de casa. null e null estavam numa luta silenciosa de vídeo-game e null e null estavam quietas no outro sofá, assistindo a luta deles dois. null olhou no relógio, era nove e meia. A preocupação com null estava aumentando. A cada segundo ele esperava ouvir null entrando pela porta da casa de campo, com null logo atrás, ambas sorrindo e bem. Mas ele já estava ficando impaciente, não queria mais esperar, queria levantar e ir procurar pelas meninas. De repente, ouviu a porta de entrada da casa bater e olhou rapidamente pra ela, mas foi só o vento que fez a porta fechar. Ele percebeu que null também tinha olhado pra porta como ele. Os dois se entreolharam, mas não disseram nada. null voltou a encarar a televisão. Sentiu os olhos arderem. Seu corpo estava ficando pesado por causa do sono que dava seus primeiros sinais.

null ouviu o vento uivar entre as árvores e sentiu frio. Não tinha noção do tempo porque não levara o relógio de pulso consigo, mas imaginava que devia ser perto das dez da noite. Ela e null tinham retomado a caminhada, seguindo um caminho incerto que elas esperavam que lhes levasse de volta pra casa de campo.
‘Eu não agüento mais’ null reclamou sentando no chão, ao pé de uma árvore. null olhou pra ela. ‘Vamos null, nós mal começamos a caminhar novamente’ disse tentando reanimar a amiga ‘Aposto que logo vamos chegar na casa’
‘Não adianta mentir, null’ null disse cobrindo o rosto com as mãos ‘Nós estamos longe da casa, eu sei disso, você também sabe’
‘Ok, nós até podemos estar longe, mas não vai ajudar nada se ficarmos parando toda hora’
‘Eu não agüento mais!’ null choramingou gritando ‘Meus pés estão doendo, eu estou com sede e com fome. Não quero mais andar!’
‘Eu também estou com sede e com fome’ null admitiu ‘Meus pés também estou doendo, eu preciso ir ao banheiro e tomar um banho. Eu faria de tudo pra poder deitar na minha cama e dormir agora, mas eu tenho que continuar andando. É a única coisa que podemos fazer agora, andar na tentativa de voltar pra casa de campo’
‘Não consigo, null. Eu não consigo mais’ null negava com a cabeça ‘Eu preciso comer alguma coisa, preciso dormir’
‘Não tem nada pra comer por aqui’ null constatou olhando em volta e sentou aos pés de uma outra árvore, de frente pra amiga ‘Podemos ficar por aqui e descansar mais um pouco, mas não podemos parar de vez’
‘Tanto faz, eu só quero descansar um pouco mais’ null encostou a cabeça no tronco da árvore e fechou os olhos, sentindo-se muito cansada.
null encolheu as pernas e abraçou os joelhos, olhando em volta. Estava começando a se sentir mal pelo fato de estar perdida no meio daquela floresta. Ela não sabia onde estava, não tinha nem noção do caminho de volta e estava assustada com isso. O que ela mais queria era voltar pra casa de campo e pra perto dos seus amigos. Ficou imaginando se eles já teriam dado por falta dela e de null. Esperava que sim, e esperava também que algum deles tivesse tido a idéia de ir procurá-las. Acabou dormindo com a testa apoiada nos joelhos, na espera ansiosa de ouvir a voz de algum de seus amigos. Mal sabia ela que todos na casa de campo estavam dormindo jogados na sala, cansados de ver as horas passarem.

Cap. 35


O sol não raiou. O dia seguinte amanheceu frio e nublado. As nuvens cinza pareciam ameaçar chuva. null acordou sentindo frio. Abriu os olhos e viu muita neblina na sua frente. Levantou sentindo as pernas bambearem de fraqueza e sacudiu null pelos ombros.
‘Que é que há?’ null perguntou ainda cansada.
‘Vamos null, nós precisamos voltar pra casa’ null disse. null ficou em pé, se apoiando na árvore.
‘Que horas você acha que são agora?’ perguntou. null olhou pro céu que aparecia entre as folhas.
‘Sei lá, mas deve ser muito cedo. O sol nem raiou ainda. Talvez agora seja cinco ou seis da manhã’
‘Você acha que estamos longe?’
‘Acho que não muito, não sei’ null balançou a cabeça e começou a andar por um caminho qualquer. null a seguiu.
‘Estou com fome’ disse ouvindo o estômago roncar ‘Não sei se vou agüentar andar muito’
‘Nós devíamos ter trazido uma garrafinha de água’ null comentou sentindo a boca seca enquanto falava ‘A sede está apertando, isso nos deixa mais fracas ainda’
‘Alguém devia ter vindo nos procurar’ null disse olhando pros lados, como se esperasse ver algum de seus amigos sair de detrás de uma árvore a qualquer momento ‘Será que eles se esqueceram de nós?’
‘Claro que não’ null negou rapidamente ‘Talvez eles já estejam nos procurando, mas nós ainda não nos encontramos. Eles devem estar seguindo um caminho diferente’ disse. null apenas concordou.
As duas andavam firmes, crentes de que a cada passo que davam estavam mais perto da casa de campo, mesmo sem saber se o caminho que seguiam era o correto. Depois de uma meia hora de caminhada, null e null começaram a se apoiar nas árvores, fracas pela falta de alimento e líquido. null ouviu null chorando baixinho. Teve vontade de chorar também. Na verdade estava quase começando a entrar em desespero, embora mantivesse a expressão calma. Num momento, chegou a parar de andar, jurando ter ouvido uma risada conhecida, trazida pelo vento frio que vinha contra elas. Parecia de null. Ela pensou no menino e sentiu um nó na garganta. Pensou na prima e deixou uma lágrima rolar pelo rosto. Pensou nos outros amigos, nos seus pais, em Duncan, e começou a chorar silenciosamente.
‘Eles estão nos procurando’ null disse fungando, cortando os pensamentos de null ‘Estão sim. Eles estão por aqui, só não nos encontramos ainda. Mas nós podíamos gritar, talvez eles nos ouvissem... é’ ela dizia pra si mesma ‘Se gritássemos, eles descobririam onde estamos’
‘Não adianta gritar’ null disse balançando a cabeça, sentindo o rosto molhado pelas lágrimas.
‘Não adianta, não’ null continuou conversando consigo mesma ‘É, não adianta, acho que não’
‘Nós estamos perto, eu sei’ null mentiu tentando parecer confiante e firme, mesmo sabendo que a voz estava embargada e sentindo as pernas vacilarem cada vez mais.
‘Eu estou com frio’
‘Nós estamos perto’ null repetiu ‘Vamos chegar logo’
‘Mentira’ a outra discordou em voz baixa. null fingiu não ouvir. Simplesmente continuou andando, com a cabeça erguida, buscando confiança onde só via medo.

null acordou assustado. Tivera um pesadelo envolvendo null, mas não conseguia se lembrar direito. Sentou no sofá e passou a mão pelo rosto. null, null e null estavam jogados no chão da sala, cada um em um canto, dormindo. null e null estavam sentadas no sofá, também dormindo. null levantou e olhou pela janela. O céu estava cinzento e parecia ventar frio lá fora. Ele olhou no relógio que marcava sete da manhã. Sentiu uma onda enorme de preocupação percorrer seu corpo, causando-lhe arrepios. Pensou em null no meio da floresta. A menina devia estar com sede, com fome, frio e cansada. O peito dele apertou. null agachou ao lado de null e sacudiu o amigo.
null! null! Acorda cara’ disse falando meio baixo. null resmungou alguma coisa e abriu os olhos.
‘Que é?’ perguntou.
‘Nós precisamos procurar as meninas’ null disse ficando em pé e null se levantou rapidamente.
‘Elas ainda não voltaram?’ perguntou preocupado. null negou com a cabeça ‘Caracas!’
‘Pelo amor de Deus, null! Vamos logo’ null disse e correu até a porta da casa.
‘Espera cara’ null disse vendo o amigo abrir a porta. Sabia que ele devia estar preocupadíssimo com null, mas os dois não podiam simplesmente sair por aí procurando pelas meninas ‘Vamos acordar os outros e decidir o que fazer. Sair correndo não vai adiantar em nada’
‘Decidir o que fazer?!’ null falou meio alto. null se mexeu no sofá e null levantou do chão, com a cara amassada.
‘Que houve?’ ele perguntou bocejando.
null e null ainda não voltaram’ null respondeu e null bufou, impaciente com toda aquela demora. null levou uns segundo pra processar a informação e depois arregalou os olhos.
‘Então o que estamos esperando? Vamos procurar por elas, caramba!’ disse decidido ‘Só estamos perdendo tempo parados aqui’
‘Melhor acordarmos os outros’ null disse ‘eles vão querer ir junto’
‘Então vamos logo!’ null disse. Os três foram chamar os que continuavam dormindo. null mal acordou e começou a chorar, preocupada com a prima. Quando eles saíram da casa e encararam a floresta densa e coberta de neblina, null sentiu o aperto no peito doer.

‘Acabou, null, acabou’ null choramingava, se arrastando apoiada nas árvores.
‘Só mais um pouquinho’ null não parava de repetir fungando ‘Estamos chegando. Só mais um pouquinho’
‘Nós não vamos mais voltar. Não vamos ver ninguém’ null balançou a cabeça e soluçou alto ‘Acabou. Estamos perdidas aqui pra sempre. Acabou!’
‘Só mais um pouquinho’ null continuava a dizer. No ponto em que estavam, ela começou a achar que as árvores estavam mais espaçadas, mas perdeu as esperanças, pensando que devia estar imaginando coisas, tamanha a sede, a fome e o frio ‘Estamos chegando...’
‘A gente estava no carro... vindo pra cá e... ele cochichou’ null balbuciou sorrindo fracamente ‘Disse que eu era a garota... a garota mais bonita que ele já vira... disse que achava que gostava de mim’
‘Só mais...’ null se apoiou num tronco de árvore, meio que ignorando a amiga, apesar de estar ouvindo o que ela dizia. Franziu a testa e viu alguma coisa mais à frente. Sentiu um pontinho de esperança crescer dentro do peito ‘A casa... tem que ser a casa’
‘Será que é verdade?’ null perguntou sonhadora ‘Porque talvez... talvez eu goste dele e...’ ela balançou a cabeça ‘Eu estou cansada, quero ir pra casa’ disse olhando pra null, seguindo-a com dificuldade ‘Não agüento mais’
‘Vamos null’ null disse tentando reanimar a amiga ‘Só mais um pouquinho. Eu juro, estamos perto. Eu sei que estamos’
null começou a soluçar. null sentiu as lágrimas escorrerem pelo rosto de novo. A visão estava embaçada, mas ela viu uma abertura maior entre as árvores. Lembrou quando entrou na floresta e sentiu um arrepio, e dessa vez não era de frio. Ela foi se segurando nas árvores até chegar aonde queria, ouvindo os passos de null vacilarem mais pra trás. Quando null se agarrou na última árvore que viu no caminho, ela quase não acreditou no que estava vendo. null estava parado há poucos metros dela.
‘Deus do céu, até que enfim’ ela ofegou correndo desesperada até o garoto e praticamente se jogando nos braços dele. null ficou meio assustado, mas sentiu um alívio imenso quando viu a menina.
‘Ah null!’ ele disse abraçando-a com força. Ele sentiu como se um peso enorme estivesse sendo retirado das suas costas ‘Você voltou... achei que não ia mais pra casa. Eu devia ter ido procurar você mais cedo’
null! null!’ null gritou aparecendo entre as árvores. null olhou pros lados e viu que os amigos estavam lá também. null estava abraçada a null, chorando e, pelo jeito, null tentava acalmar uma null igualmente chorosa. Ao ver null, null correu até ela e a abraçou. Não teve tempo de dizer nada porque a garota, num impulso, colou seus lábios nos dele. De repente, null entendeu tudo que tinha ouvido null balbuciar enquanto elas ainda andavam pelo mato. Era de null que null estava falando. null simplesmente sorriu e afundou o rosto no peito de null. Ele beijou o topo da cabeça dela.
‘Não faz mais isso comigo’ null pediu falando baixo ‘eu fiquei tão preocupado’
‘Tá tudo bem agora, null’ null disse calma. Ainda estava com fome e sede, mas ao rever seus amigos, chegou a se sentir muito menos cansada que antes.
‘Claro que não está. Você deve estar morrendo de frio, de fome...’ ele passou as mãos pelos braços gelados dela, sentindo a menina tremer um pouco ‘Vamos pra dentro’
null se soltou dele e concordou com a cabeça. null abraçou a menina pelos ombros e os dois deram meia volta, indo pra casa. null viu null andando ao lado de null, vestindo a jaqueta que o garoto estava usando antes. A amiga parecia constrangida, mas também tinha uma expressão muito menos cansada. Ela sorriu quando null olhou pra ela e corou. Apesar do que pudesse ter acontecido, estava tudo bem de novo.

‘Vocês deviam ter voltado quando começou a escurecer’ null disse quando null e null terminaram de explicar porque tinham demorado tanto pra voltar e, no final das contas, se perdido.
As duas estavam sentadas no sofá em frente à lareira acesa, enroladas num cobertor e tomando sopa. Assim que entraram na casa, foram tomar banho e colocar roupas mais quentes, enquanto null e null faziam alguma coisa pra elas comerem.
‘Foi minha culpa’ null disse balançando a cabeça.
‘Claro que não foi’ null negou ‘Não foi culpa de ninguém e vamos esquecer isso. O que passou, passou’
‘Exatamente’ null disse. Estava sentada entre as amigas no sofá, enquanto os outros ocupavam o chão ‘O que importa é que vocês estão aqui’
‘E nem aconteceu nada grave’
‘Mas podia ter acontecido’ null disse ‘Vocês estavam no meio de uma floresta enorme. Foi muita sorte terem encontrado o caminho certo’
‘Poderiam ter tomado outro caminho e ido parar ainda mais longe da casa’ null disse sentindo calafrios ao pensar nessa possibilidade.
‘Mas nós encontramos o caminho certo e estamos aqui. Como a null disse, é isso que importa’ null terminou de tomar sua sopa e olhou pros amigos ‘Agora, podemos saber por que vocês demoraram tanto pra ir nos procurar?’
‘É, ham. Essa é uma boa pergunta’ null disse franzindo a testa. null começou a explicar e os outros apenas concordavam com a cabeça. null e null repararam que null era o único que não fazia nem falava nada. As duas se entreolharam, mas não disseram nada. O mais incrível era que todos pareciam ter esquecido o beijo que null lascara no garoto há pouco tempo atrás.
‘Nós íamos ligar nos celulares de vocês quando desse dez horas e, se caso não conseguíssemos falar com vocês, sairíamos pra procurar’ null dizia.
‘Celulares?’ null arqueou uma sobrancelha ‘Por que eu teria levado meu celular pro meio daquele mato todo?’
‘Pergunte pro null’ null disse apontando pro menino ‘Foi ele quem deu essa idéia. Celulares, hum’ ela revirou os olhos e null deu língua.
‘Era uma possibilidade de falar com vocês’ ele disse encolhendo os ombros.
‘Tudo bem null, dessa vez passa’ null abanou a mão e todos riram.
‘Então’ null continuou ‘nós esperamos até umas nove e meia, mas depois acabamos dormindo na sala’
‘Que folga, tsc tsc’ null balançou a cabeça e riu ‘Não faz mal gente, no fim acabou dando tudo certo’
‘Ainda bem’ null disse e todos concordaram. null bocejou.
‘Hum, acho que essa sopa me deu sono’ ela se descobriu e levantou do sofá, com o prato de sopa na mão ‘Com licença gente, porque eu vou dormir’
‘Uh, somos duas’ null disse se levantando. null pegou o prato de sopa da mão das duas.
‘Depois eu levo lá na cozinha’ disse.
‘Obrigada, prima’ null sorriu e acenou pros amigos ‘Tchauzinho pra vocês e, já fica avisado, se alguém me acordar, morre’ e todos riram. null e null seguiram as meninas com o olhar quando elas foram pros quartos. Eles se entreolharam e balançaram a cabeça, voltando a prestar atenção na conversa dos outros.

null cansou de ver null e null se amassando no sofá e null brigando com null por causa de uma luta no vídeo-game. Resolveu sair da casa. Encontrou null sentado num dos degraus da varanda, então foi sentar ao lado do amigo.
‘Dia estranho, não acha?’ null perguntou olhando pro céu ainda nublado. null concordou com a cabeça, também olhando pro céu.
‘Até demais’ disse.
‘Você esperava que ela fizesse aquilo?’
‘Ahn?!’ null olhou pro amigo, com a testa franzida, sem entender.
‘Digo, você esperava que a null te beijasse?’
‘Ah’ null voltou a olhar pro céu ‘bem, não sei na verdade. Quando estávamos vindo pra cá, eu disse umas coisas pra ela dentro do carro. Acho que surtiram efeito, sei lá’
‘Que coisas você disse?’
‘Disse que ela era a garota mais bonita que eu já tinha conhecido, coisas desse tipo... disse que achava que gostava dela’ null contou. null olhou pra ele.
‘E você gosta mesmo dela?’ perguntou intrigado.
‘Gosto’ null sorriu idiotamente ‘Sabe, lá no Gas, quando eu e ela dançávamos juntos, normalmente a gente conversava bastante. E, tipo, ela é demais! Cara, ela é realmente encantadora e às vezes nem parece uma popular enjoadinha. Ela é completamente diferente do que parece ser, ela é muito melhor. Você me entende?’
‘Você ainda pergunta?’ os dois riram ‘Claro que eu entendo, entendo perfeitamente. Você sabe como eu me sinto em relação à...’ null não terminou de falar. Ouviu uma tossida e ele e null olharam pra trás. null estava parada na porta da casa.
‘Desculpe interromper vocês dois, mas erm, null, será que você pode sair por um instante?’ a garota pediu visivelmente sem jeito ‘Eu queria falar com o null... hum, a sós’
‘Sem problemas’ null levantou, deu duas palmadinhas no ombro do amigo e entrou na casa. null sorriu em agradecimento e foi sentar ao lado de um null muito vermelho.
null passou reto pela sala e foi pra cozinha. Encontrou null bebendo água, virada pra pia. Ele sorriu encostando-se ao batente da porta.
‘Achei que você ainda estivesse dormindo’ disse. null deixou o copo na pia e virou-se pra ele.
‘São quase cinco da tarde, null. Acho que já dormi o suficiente’ ela riu ‘null também já acordou, a cama dela estava vazia quando eu saí do quarto’
‘É, eu sei. Ela está lá fora, na varanda, conversando com o null’
‘Sério?’ ela arqueou as sobrancelhas, curiosa, fazendo null rir ‘Ah, bom, eles precisavam mesmo conversar’
‘Ainda mais depois do que ela fez’ ele disse rindo ‘Aquilo foi algo completamente inesperado’
‘Concordo’ ela disse e foi até a porta da cozinha ‘A porta de entrada está aberta?’ ela perguntou cochichando. null esticou o pescoço no corredor e arregalou os olhos. null franziu a testa e também esticou o pescoço no corredor. Olhando pra entrada da casa, ela viu null e null se beijando, sentados nos degraus da varanda, exatamente na direção da porta. null olhou pra null e os dois voltaram com as cabeças pra dentro da cozinha, se segurando ao máximo pra não rir muito alto.



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