Querido Diário 2
Por: Andy Jones || Beta: Mari Morgon || Revisado por: Letícia G.



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Despertei, ouvindo vozes ao longe. Uma delas, conhecida. A princípio, não a reconheci, mas foi questão de segundos até que o rosto dela aparecesse na minha mente. Tentei falar algo em resposta, ou até mesmo abrir os olhos, porém nenhum desses sentidos funcionaram, tive que me contentar em apenas escutar. Ao menos, minha audição funcionava. Procurei me concentrar no que as vozes conversavam e não estava sendo nada fácil. Parecia que só meus ouvidos trabalhavam, enquanto meu cérebro não queria colaborar com a compreensão das palavras. A cada segundo, ficava mais frustrado, e, desiludido, permiti que minha memória vagasse. A última coisa que me lembrava era de estar molhado, com uma forte dor na cabeça, enquanto ouvia a sirene de uma ambulância. E isso era tudo. Forcei mais um pouco, até que algumas partes do acidente começaram a voltar; o carro capotando e minha cabeça sendo lançada contra algo, causando um latejar agonizante, depois o rio, a água gelada, só que, a partir de então, as lembranças começam a falhar. Mesmo assim, ainda recordo dos olhos que me encaravam preocupados, sua mão se entrelaçando na minha...
Continuei vagando mais um pouco, tentando relembrar pequeninos detalhes, tentando descobrir onde eu falhara, enquanto dirigia, até que uma voz foi ficando cada vez mais lúcida. estava falando comigo. Silenciei meus pensamentos e, mesmo entendendo minimamente, me deliciei só de poder ouvi-la. Ela estava lendo algo, sua respiração estava calma e suas palavras estavam perfeitamente sincronizadas, como em um livro. Em certas partes, percebi que ela hesitava, ou soltava um murmúrio baixinho, como se estivesse arrependida. Outras vezes, pensei que estivesse chorando, porém ela logo recuperava a compostura e continuava a ler.
Após algum tempo, sua articulação foi atingindo uma elevação final. A essa altura, já havia compreendido do que se tratava o 'livro', provavelmente algo que ela escrevera mantendo nós dois como casal principal, citando desde nosso filho, , até o dia do infeliz acidente. Quatro meses já haviam se passado, como ela mesma falou, e eu estava em coma. De repente, se calou, soltando um pequeno soluço. Mas foi questão de segundos até que ela continuasse: - Amanhã seria uma última tentativa dos médicos de conseguir um milagre. - Meu estado era tão grave assim? Quero dizer, eu estava consciente, isso era um avanço, ou não era? Espantei minhas idéias, voltando a atenção para a finalização do texto. Era seu diário! Engraçado, nunca fora o tipo de escrever em diários, mas como eu costumava dizer, ela era uma caixinha de surpresas, a minha caixinha de surpresas. E a minha caixinha de surpresas estava triste por culpa minha. Porém, eu ia deixar para choramingar outra hora; nesse momento, o que mais queria, era acreditar que tudo ficaria bem. Não iria desistir da vida tão facilmente, prometi que seria um maravilhoso pai e esposo, e iria concentrar todas as minhas forças para cumprir essa promessa. Mesmo que tenha de cumpri-la no céu ou qualquer outro lugar para onde vão os mortos.
- , não sei se você entendeu o que eu quis dizer com esse diário. - Começou ela, interrompendo meus devaneios. - Ou se você está me ouvindo, mas basicamente quis pedir desculpas. Eu me arrependo de ter perdido praticamente metade dos nossos momentos juntos brigando, me arrependo de ter reconhecido seu valor somente agora. Só espero que não seja tarde demais. Eu te amo e ficar do seu lado basta para eu ser feliz.
Quis poder gritar para ela que também a amava, que ela não precisava se desculpar, que eu continuaria vivo por ela e por nosso filho, que eu também me arrependia de tê-la feito sofrer, de estar a fazendo sofrer, só que nenhum som saiu pela minha boca. Meus lábios nem sequer se mexeram. De repente, senti suas mãos pairarem no meu rosto, alisando de leve minhas feições e, então, sua boca depositou um carinhoso selinho na minha. Uma de suas lágrimas caiu sobre minha bochecha, denunciando seu choro. O que eu mais queria era poder secar cada uma delas, retribuir todo esse amor que ela estava demonstrando tão abertamente. Mas, por mais que eu me esforçasse, não conseguia nenhuma resposta do meu corpo. E, então, ela se afastou. Não sei descrever ao certo o que se passava comigo, era algo tão incomum que não desejo para ninguém. Ela sofrendo por mim, dizendo que me amava, chorando, me beijando; e eu, sem expressar nenhuma reação. Supliquei mentalmente para que aquilo tivesse um fim, ou talvez não aguentaria por muito tempo.
- O está tão crescido. - Ela foi mudando de assunto; pelo tom de sua voz, percebi que estava sorrindo. - Ele já até senta sozinho! E, semana passada, experimentei dar papinha para ele, pela primeira vez. No final, acabamos totalmente lambuzados.
Eu me diverti imaginando a cena, enquanto continuava a falar sobre nosso filho e de como ela estava na dúvida quanto ao uso do andador, se seria mais seguro ensiná-lo a andar usando métodos antigos ao invés dessa 'parafernalha de rodinhas', como ela mesma descrevia. E finalizou, confessando:
- Queria decidir isso com você. sente sua falta.
'Eu também sinto falta dele' quis dizer, mas, como sempre, minha voz morreu antes mesmo de chegar à garganta. Por um lado, estava feliz de ver que nosso filho estava crescendo, porém, pelo outro, sentia muito em não acompanhar esse desenvolvimento. Ainda lembro-me de meses atrás, quando estava grávida e nós fazíamos planos. Do dia em que cheguei em casa para jantar e um embrulho me esperava, o quão surpreso havia ficado ao constar que o presente em si era um par de sapatinhos que mal cabia na palma da minha mão; ou o primeiro ultrassom, quando vimos pela primeira vez nosso bebezinho; ou semanas depois ao descobrirmos que era um menino forte e saudável; da briga que fora até nós decidirmos pelo nome ... Mesmo assim, o fato mais marcante foi, com certeza, o nascimento dele. Eu estava no meio de um show em Londres, quando avisaram que a minha esposa estava em trabalho de parto, fiquei tão eufórico que, em vez de partir logo para o hospital, havia voltado ao palco e gritado no microfone 'MEU FILHO TÁ NASCENDO!'. Todos os guys foram comigo no carro, ao volante, enquanto os outros se ocupavam em me acalmar. Logo, já estava na sala de parto, podendo testemunhar as horas restantes do trabalho dos médicos. Fiquei o tempo todo ao pé da cama, sempre segurando a mão de minha esposa e pronunciando palavras de carinhos em seu ouvido, até que um grito mais forte saiu de sua garganta e uma cabecinha foi surgindo entre suas pernas. Continuei a murmurar incentivos a ela, ao tempo que o resto do corpinho ia aparecendo, e, com os olhos lacrimejados, recebi meu filho no colo. Ele era tão pequeno, cabia tranquilamente nas minhas mãos; a princípio, tive medo de machucá-lo de tão sensível que ele aparentava. Eu ria e chorava, emocionado demais para fazer qualquer coisa e, num impulso, toquei meus dedos de leve no peito delicado, me concentrando nos seus batimentos cardíacos. Eu e somos responsáveis por isso, pensava na hora. 'Posso ver também?' Ela havia indagado sarcasticamente com voz fraca, devido a exaustão. Eu lhe entreguei nosso filho, reparando, então, o quão linda ela estava. Pouco me importava sua aparência suada, seu sorriso maravilhado era muito melhor. Estávamos ambos encantados e abobados. Uma enfermeira qualquer se ofereceu para tirar uma foto, eu me aproximei das duas pessoas mais importantes da minha vida e sorri honestamente para o flash. Aquela era minha família.
- E não pense que só eu e sentimos saudades, seus companheiros de banda vêm aqui frequentemente perturbar os médicos por mais notícias. - Sua voz estava mais firme e menos alegre que antes. - Sem falar de sua família, óbvio, e suas fãs. Estas não param de enviar flores e cartas, muitas cartas. Esses dias chegou uma remessa do Brasil e, num momento de tédio, eu li todas. Está bem, quase todas, afinal eram muitas! Foi engraçado ver que, mesmo estando do outro lado do mundo, elas se preocupam com você e me apoiam como ninguém. Bem que você disse que as fãs brasileiras eram as mais calorosas, já entendi o porquê.
Flashbacks das minhas passagens ao Brasil passaram pela minha cabeça. Realmente, um dos melhores shows em anos de carreira. (n/a: não resisti RISUS). Mais alguns minutos se passaram, mas se manteve em silêncio. Eu também não saberia muito o que dizer se estivesse em seu lugar. Mesmo assim, queria continuar ouvindo sua voz. Foi, então, que comecei a escutar soluços descontrolados, ela estava chorando.
- , por favor... não sei exatamente o que eu tô pedindo, só sei que não consigo mais suportar isso. - Senti sua mão apertando a minha e me achei um inútil por não retribuir o enlaçar de seus dedos. Queria provar a ela que a escutei esse tempo inteiro. Uma ideia passou pela minha cabeça e, por mais impossível que parecesse, eu não fiz menção de desistir, afinal, o que eu tinha a perder? Voltei toda a minha atenção para aquela parte do meu corpo, me dediquei àquilo com toda a energia que eu sabia existir no meu organismo, só precisava reacendê-la. Repetia a mesma frase em pensamento, me auto incentivando. Não tive muita noção de quanto tempo perdi naquele processo, talvez horas, talvez segundos, até que, depois de muito tentar, consegui um movimento mínimo do dedo mindinho. Fiz uma verdadeira festa interiormente, eu havia conseguido! Fiquei tão extasiado, pena que não percebeu minha breve ação. E mais uma vez a frustração me atingiu. Mesmo assim, não iria me entregar facilmente. Comecei tudo de novo, com uma convicção maior, devido ao resultado que já tinha obtido. Eu me imaginava sentando na cama, surpreendendo-a e, então, colocaria seu cabelo atrás da orelha, sussurrando que tudo ficaria bem. Ou talvez, só a abraçasse carinhosamente, como há muito não fazia. Mil e uma outras cenas iam se formando na minha cabeça e a cada uma delas eu acreditava mais na minha capacidade. E foi envolto desse clima, que flexionei os dedos da forma que tanto ambicionei, entrelaçando tranquilamente nossas mãos. A princípio, pensei que ela não havia notado de novo, mas foi só a princípio.
- ! VOCÊ... SUA MÃO... EU...
continuou gaguejando, emocionada. Por enquanto, aquilo foi tudo que eu pude fazer, porém eu tinha certeza que em breve eu sairia deste hospital com minhas próprias pernas, pelas minhas fãs, pelos meus amigos, pelo , pela e por mim.




Fim.


nota da autora:

E aqui estou eu de novo (:
Primeiramente dedico essa short a >>todas<< que comentaram em QD suplicando segunda parte. Sinceramente, nunca pensei nisso mas como uma querida amiga disse: os comentarios inspiram a gente (por isso todas nós 'autoras' gostamos tanto dessas simples palavrinhas que vocês nos deixam) e então eu considerei a ideia. Enfim, obrigada a todas minhas leitoras.
Um beijo para cada uma de vocês e qualquer coisa @andresSassy :3
E um salve pra todas minhas aliens @saadias, @linenunes, @luizadr, @karlakatherine, @saas_ e @vanessa_geovana, a Stitch ama vocês RISUS

Outras shorts :3
Dancing On The Kitchen Tiles || Through Walk In The Sun

nota da revisora:

Oi, gente! Estou corrigindo essa fic.
Então, tentei tirar todos os erros, mas sei que não sou perfeita e posso ter deixado algum passar.
Caso isso realmente ocorra, peço que me avise rapidamente por aqui, que eu tentarei corrigi-lo.
Gracias! xoxo, Letícia G.

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