They don't give a shit
Por Bibia B.

Capítulo 1

Estava latejando, seu maldito joelho latejava loucamente enquanto ela tentava colocar em sua própria cabeça que aquilo ia acabar. Olhou em volta e percebeu que as pessoas estavam ficando desfocadas, não sabia se era pelo fato de que estava com os olhos pouco abertos ou se a bebida das horas anteriores estava fazendo efeito. Pensou ter escutado lhe gritar algo, mas pareceu longe demais para receber alguma importância. Ela precisava sentar. Agora.
Se lhe perguntassem, ela não saberia dizer ao certo como achou aquele sofá, ou se não se importava com os olhares que um garoto no outro extremo da sala lhe lançava. Apenas recebeu um cigarro que alguém passou e ao tragar pôde constatar que não era um cigarro normal. Sentiu seu corpo relaxar sob o efeito da erva e sorriu sozinha.
- ! - escutou alguém gritar seu nome e se deu conta que estava em sua frente.
Deixou uma risada escapar. A dor que voltava a percorrer o seu corpo quase a fez gemer e sua garganta queimou pedindo por mais álcool. Fez um esforço e pressionou os lábios antes de falar.
- Seus cabelos estão engraçados, .
- Você está bêbada.
- E? - ambas se olharam e riram.
a puxou por um dos braços e deixou-se ser arrastada, naquela altura a única coisa que a menina podia desejar era ficar totalmente desacordada para se livrar de toda aquela maldita dor sem motivos que percorria seu corpo.
- O chegou e você mal falou com ele, desde quando você ta bebendo? - perguntava calmamente enquanto lutava para que a amiga subisse as escadas da casa de Tom, a levando para seu quarto.
- Você não bebeu. - falou alto, rindo em seguida de seu pensamento sem noção. estava falando coisas sérias demais para ter ingerido algum tipo de bebida. Franziu a testa. - Por que você não bebeu, ?
- Porque a festa acabou de começar. - a amiga respondeu em um tom óbvio.
Entraram no quarto, trocaram a roupa de e ela se enfiou debaixo das cobertas. Tudo em perfeito e total silêncio. Até que ouviram a porta se abrir com um barulho alto, atraindo suas atenções.
- Que merda, . Você não pode maneirar nem mesmo na festa de volta da turnê do SEU namorado? - perguntava em voz alta e fechou a porta do quarto indo em seguida sentar ao lado da amiga.
- estava bebendo com ela antes dos outros chegarem. Vocês sabem como os dois são quando estão juntos...
- Um mais irresponsável que o outro - completou com um suspiro.
Todas ficaram em silêncio, sentindo o stéreo da música dar a gostosa sensação de vibração.
- Ele não é meu namorado - disse e todas rolaram os olhos. - Bem que eu queria.
- Bem que todos nós queríamos, amiga. Mas vocês são retardados e bêbados demais para ter tempo de serem maduros. - falou passando os dedos nos cabelos de .
- Eu não estou bêbada!
- Claro que não.
As três riram e bufou irritada. Odiava quando a contrariavam, odiava quando não conseguia controlar o que dizia quando bebia além da conta, ela poderia estar com o pensamento o mais longe possível dali, mas tinha plena noção do que lhe falavam. Só não sabia responder com coerência.
- Ele estava agarrando uma ruiva peituda.
- Porque você tava fumando e rindo da fumaça no sofá! E ops... - descontrolou. - Nem falou com ele quando ele chegou.
- Cala a boca, - disse simplesmente. - e desçam logo antes que seus preciosos rock stars sigam o caminho do .
escutou as amigas bufarem, mas apenas fechou os olhos e enrolou-se mais ainda no cobertor. Em seguida as escutou saindo e fechou os olhos tentando ignorar todo o barulho e a efervescência de seu estômago.

Abriu os olhos lentamente e teve um impulso de levantar, mas lembrou que talvez não lhe trouxesse um sentimento melhor. A única lembrança que tinha do final da noite passada era da conversa com as amigas antes de adormecer, o resto era um complexo borrão de onde ela conseguia tirar alguns nomes. Álcool, erva, joelho, McFly, e . Aquelas últimas palavras fizeram seu estômago revirar.
Odiava quando estava alegre demais para comemorar e acabava perdendo o controle, odiava quando estragava algo importante para seus amigos por causa de seus impulsos, aquilo já estava começando a virar rotina.
Olhou melhor o quarto em qual estava e sorriu com a parede em sua frente, onde haviam recadinhos de todas as pessoas que ela gostava. Seu olhar passou pelo de e ela o ignorou, pousou sobre o de . "Hey, gatinha do parque. Vamos ali atrás da árvore? ;) HAHAHAHAHA, EU SOU DEMAIS. Te amo, :* Gostosão, ". Ela gargalhou e sentiu sua cabeça girar.
"Péssima idéia", pensou, "cadê o Tom?".
- Tom? - gritou. - Thomas, eu quero uma aspirina!
Ninguém parecia responder. Aquilo era estranho, desde que havia ido morar com o amigo, ele sempre atendia ao primeiro grito. Sorriu mais uma vez e contou até 10 antes de levantar. Prendeu o cabelo em um rabo de cavalo e desceu as escadas desejando ter calçado os pés antes, o chão estava congelando. Depois de ir no quintal, sala de televisão e cozinha, constatou que não havia ninguém na casa. Pensou em ir no estúdio, mas se eles estivessem lá, as meninas estariam pela casa, atrapalhar um ensaio era o mesmo que pecar. Pecar feio.
Depois de achar um pacote de Cookies perdido no armário e encher um copo de leite depois de cheirá-lo várias vezes, pegou o telefone da bina, sentou no sofá e discou o número do celular de Tom, caixa postal. Ligou pro de , chamou uma, duas vezes e ele atendeu.
- , merda, PÁRE DE GRITAR COM OS OUTROS E ME ESCUTE! - ela gritou rindo e ouviu o garoto gargalhar.
- Desculpa, , mas eles não querem me deixar falar com você. - aquilo era tudo que não precisava ouvir, ela pensou. - Quer dizer, eu não tava falando nesse sentido.
- Relaxa, . - tentou parecer normal. - Onde diabos vocês estão que me deixaram sozinha?
- Na casa do . - e lá estava outra coisa que ela não queria ouvir.
- Tá legal, manda um beijo pra todo mundo. Tchau.
tentou ao máximo não pensar que não a queria lá, mas parecia ser inevitável. Todos haviam ido, e tinham a deixado em casa, DORMINDO. Eles sabiam o quanto ela odiava perder tempo dormindo enquanto todos estavam fazendo algo produtivo. não a queria lá, foi a única conclusão na qual chegou. E ela merecia aquilo, céus, como ela sabia que merecia aquilo. Só não era hora de admitir que estava errada.
- Você poderia não ter sido ignorante! - falava andando de um lado pro outro no quarto de . As duas tinham subido antes dos outros voltarem da casa de , no final da rua. Era a hora do sermão.
- Eu não fui ignorante. Aposto que o nem ligou.
- Esqueça o ! pensou que você não queria ir pra lá.
Ela olhou a amiga.
- Ele disse isso?
- Você sabe que ele não precisa dizer.
Amizades de longa duração eram uma merda. e tinham praticamente nascido juntos. Algo dentro dela dizia que se um dia casasse com ele, passaria uma longa temporada na casa dos dois. "Mas que porra de pensamento é esse, ?".
- Eu pensei que ele não me queria lá, .
A amiga bufou e sentou do seu lado na cama. Cobriu o rosto com as mãos e começou a rir. a olhou sem entender nada.
- Vocês são uns merdas, sabia? - ambas sorriram.
- É o que todos dizem.
Escutaram uns xingamentos e risadas escandalosas. Eles tinham chegado. gritou alguma coisa difícil de entender e elas escutaram a xingar de todos os nomes possíveis. Levantaram e desceram rindo ao ver que estavam todos envolta de um vaso quebrado na sala.
- Que merda, ! Eu dei esse vaso pro Tom. Você é uma idiota.
- A culpa não é minha se você coloca esse vaso estranho em lugares fáceis de quebrar, !
- Claro, porque eu ia imaginar que você entraria em casa nas costas do e ia dar uma de dançarina de hula hula.
Todos prenderam a risada e o rosto de parecia mais vermelho do que nunca. O vaso nem era tão bonito assim, pensaram.
- Dá um tempo, , você compra outro. - disse do topo da escada e todos a olharam, ela sorriu. - Olá, animais.
- Pensei que não daria o ar da sua graça. - Tom lhe cumprimentou com um beijo na bochecha.
- Pensei que tinha tirado as aspirinas da sua gaveta de cuecas, odeio enfiar a mão lá... - ela fez cara de nojo e todos riram, Tom lhe deu um tapa de leve na cabeça.
- Irritante.
- Imbecil.
se meteu no meio dos dois, puxando o namorado pra a cozinha.
- Ok, branquelo, vamos providenciar algo para alimentar as crianças.
Todos que estavam na sala se olharam e notou a ausência de alguém.
- Opa, cadê o duendezinho? - perguntou.
- Quem? - riu, seu estômago revirou ao ouvir sua risada.
- O , . - ela falou brincando e ele lhe sorriu.
- Saiu com uma puta - falou e entrou na cozinha.
Todos se olharam e fingiu espirrar.
- Ci-úme!
Todos gargalharam e seguiram a menina até a cozinha, onde ela mandou o dedo do meio pra .
Tom e estavam discutindo algo sobre o que fazer, miojo de galinha caipira ou de camarão. O estômago de embrulhou de novo ao pensar na comida e ela sentiu uma rápida ânsia. Apertou rapidamente o copo que estava na sua frente na bancada. O movimento não passou despercebido por .
- Tudo bem?
Ela o olhou e viu que ele estava mesmo preocupado.
- Ressaca. - sorriram e ela fez uma careta engraçada antes de falar - Hm... Desculpa por ontem, e bem... Hoje.
- Sem problemas. - ele se inclinou para beijá-la e ela esquivou.
- Não escovei os dentes hoje.
E o arrependimento veio no mesmo instante em que deixou aquilo escapar. O garoto gritou com cara vitoriosa.
- não escovou os deeeeeeeeentes!
- Porca. - .
- Nojenta. - .
- Imunda. - Tom
. - Toma vergonha. - disse por fim e jogou uma casca da banana que comia na amiga, provocando mais risadas.
- Acho uma boa deixa pra você ir escovar seus belos dentes. - cochichou e ela lhe deu um tapa de leve ao se levantar.
- Te mato, .
- De beijos?
A garota já estava na porta da cozinha quando virou-se e respondeu com desdém.
- Não, de dor mesmo.
Ele fez uma cara sacana, ela lhe enviou o dedo do meio e seguiu para seu banheiro no patamar de cima.
Enquanto subia as escadas aqueles pensamentos que invadem nossa mente no momento mais inoportuno lhe surgiram. Mês que vem fariam 2 anos que ela estava morando com Tom, consequentemente 4 anos que conhecia a todos. Nossa, como o tempo passa rápido! Forçou a memória para lembrar se tinha sido ou quem havia ido com ela ao show dos garotos em sua primeira turnê, estava começando no rumo do jornalismo e tinha acabado de se mudar de Edimburgo com , havia conseguido um emprego em uma revista jovem, conhecendo então , e como seu quinto trabalho no local, ela teria que escrever uma pequena nota sobre a banda que estava dominando as garotas inglesas, McFly.
No camarim, conheceu além dos garotos, , que estava namorando com . "Quantos séculos eles namoraram mesmo?", pensou consigo mesma já no quarto, indo para sua suíte. Sorriu levemente e colocou pasta de dente na escova, abrindo a torneira em seguida, ações automáticas que ao menos mereciam sua atenção, ela ainda estava repassando seu passado por sua mente.
O que tinha de engraçado na história toda é que havia sido que tinha lhe chamado pra sair e pedido telefone no camarim, estava namorando na ocasião! Seis meses depois, eles chegaram à decisão que a amizade era melhor, terminando o relacionamento. cuspiu na pia e franziu a testa. Talvez se ainda estivesse com , as coisas tivessem ficado mais fáceis depois. Após romperem foi como uma sucessão de desastres na vida da garota. Sua mãe, com quem vivia, fugiu de casa depois de vender tudo que tinha valor para comprar bebida, incluindo a casa. Depois de muito tentar, ela e não se agüentaram sob o mesmo teto e com as insistências de , acabou indo morar com o garoto, que estava saindo da casa que dividia com os outros três.
Aí que entrava a parte da dúvida se houvesse continuado namorando com . Talvez se ainda estivessem juntos, ela não tivesse ido pra casa de , e então não teria se apaixonado por ele, e não teria criado as confusões entre o garoto e a namorada. E até dela com ela mesmo. Aquela merda de conflito interno que sempre via na televisão mas nunca desejava à si mesma. Mas também não tivesse se mudado para a casa de Tom no começo do ano, e ficado com quando ele terminou o namoro. E depois, e depois, e bem...Depois. Sorriu enquanto já descia as escadas. Quantos namoros de curta duração tinha tido com o menino mesmo? Quantas vezes havia saído nas revistas como eterno affair do jovem McFly? Droga, como aquilo era bom! A sensação que todos sabiam que ele era dela e de mais ninguém.
Ao chegar no quintal, estavam todos na beira da piscina, à exceção de , que passava algo na churrasqueira. Ali, de longe, nem parecia que ambos tinham tantos problemas.
- , você está vermeeelha! - gritou e ela parou de encarar o garoto, sem graça.
- Cala a boca.
E então lembrou-se de quem estava com ela quando viu pela primeira vez, lembrou pois a amiga tinha feito o mesmo comentário em relação à suas bochechas. Era .

Capítulo 2

tocou algumas vezes a campainha, mas não houve resposta, tentou automaticamente a fechadura e a porta se abriu. Era incrível como e Tom nunca trancavam as portas da frente. Entrou e dirigiu-se rapidamente para a sala de estar, porém estava vazia. Franziu o cenho estranhando aquilo. Tom sempre acordava cedo, e não tinha dado a hora de ir trabalhar. Parou perto das escadas e então escutou vozes altas. Bufou e girou os olhos, os dois com certeza já estavam brigando.
- Família? - gritou e as vozes pararam.
- Na cozinha! - ouviu a resposta e caminhou até o local.
estava sentada na bancada, tinha a cara levemente velha e uma expressão de raiva, Tom estava de costas para a entrada da cozinha, mexendo em algo no fogão. O garoto caminhou até onde a menina estava e sorriu docemente pra ela, beijando o canto de seus lábios. - Bom dia, Fletcher! - falou alto para que chamasse sua atenção.
Tom virou-se e estava com uma cara pior que a de . O que diabos eles estavam discutindo? O garoto andou até o outro lado de e sentou-se ali, deixando o amigo entre ele e a garota. Se alguém pegasse uma faca, seria possível cortar aquela atmosfera com total facilidade.
Não era a coisa mais estranha do mundo os dois brigarem, na verdade era algo bem dentro da rotina daquela casa. Todos os motivos mais banais para provocar uma briga era capaz de os tirar do sério. Nesses momentos que todos agradeciam por existir. A garota tinha aquele poder incrível sobre o namorado e uma certa habilidade de passar um bom sermão à amiga. agradeceu mentalmente por ela não estar lá.
pegou uma das mãos da garota e acariciou de leve.
- Por que essas caras de bunda?
- É a única que eu tenho, fofo. E além do mais, se eu quiser que essa carinha fofa - e apontou para o próprio rosto - Fique de férias no final da semana, eu tenho que começar a suar desde cedo, yey!
Ele riu do sarcasmo da menina e uma vontade súbita de a abraçar invadiu seu corpo, ao inclinar-se em sua direção, ela deu um giro e se dirigiu à Tom.
- Não me espere pro jantar. - disse secamente e ele apenas concordou com um murmúrio.
Então ta bom, nem queria abraçá-la mesmo, pensou com frustração. Coçou a cabeça desconcertado e voltou à posição inicial.
- Posso saber onde você vai estar?
olhou para e buscou em seu rosto algum sinal de irritação, ciúme ou algo que a motivasse a soltar uma mentirinha construtiva. Nada. Tudo que conseguiu achar foi a rotineira expressão de curiosidade.
- Sair com as meninas. - respondeu num suspiro só, e começou a andar até a saída do cômodo.
- Apareça no pub mais tarde! A gente vai ta lá.
Ela concordou e eles escutaram a porta da frente sendo fechada.
- Um beijo pra você também, amor. - comentou sarcástico e Tom gargalhou, recebendo um tapa em seguida.

A batida da música embalava o corpo de todos e enquanto as meninas caminhavam entre as pessoas que pulavam e dançavam de corpo colado poderiam jurar que sentiam a pulsação forte do sangue em suas veias. Aquilo tudo era muito contagiante. Chegava a ser perigoso.
Desviando para que não fosse atingida pelo copo de cerveja entornado de um bêbado, apertou mais forte a mão de na sua e a puxou, pois finalmente tinha achado a mesa com os garotos, que para o milagre de todas, não tinham sequer sinal de fãs os rodeando naquela noite. Ótimo, pensaram.
- Hei, McFly! - exclamou já visivelmente mais alegre e os garotos riram.
- Já, ?
Ela deu de ombros e chamou pra ir com ela no bar, a amiga concordou após dar um beijo no seu namorado e perguntou se queriam algo.
- Uma cervejinha pra esquentar. - piscou e riu alto.
- Hoje eu acompanho a .
As duas primeiras saíram na luta contra a multidão em direção ao bar e as outras duas sentaram ao lado de , que estava bastante concentrado demais em algum ponto no meio das pessoas, com certeza pensando em qual cantada usaria na garota que deveria estar secando agora.
Ela olhou para o outro lado da mesa onde bebia calado e olhava para os lados como se estivesse esperando alguma coisa. Ele percebeu o olhar da garota depois de algum tempo e simplesmente sorriu verdadeiro. Era isso, pensou, hoje não era dia de ficar. Ela lhe mandou um beijo e se virou para receber sua bebida de uma alegre que falava algo sobre um garoto extremamente lindo que havia conhecido no bar. sorriu dos comentários da amiga e acompanhou seu sorriso com um próprio, era inevitável não sorrir quando ela também o fazia. Deus, como estava linda naquela noite!
- Hey . - falou animado e apontando para algo atrás dele - Aquela não é a sua garota?
e ele viraram-se no mesmo momento para encara uma menina de estatura média com cabelos castanhos até o ombro e um rosto bonito. Ok, lindo! Mesmo já sabendo o que aconteceria em seguida, ficou surpresa ao ver a garota sorrir em direção à mesa deles e caminhar até o local. Desviou o olhar, sabia o que viria em seguida também.
- É... acho que é. - respondeu antes da menina de rosto e cabelos bonitos chegar e beijar levemente seus lábios. Ele olhou rapidamente para que já conversava algo com alegremente e bebia longos goles em sua cerveja. - Meninas, essa é a Jen, Jen essas são minhas vidas. - a garota sorriu simpática e todas sorriram de volta, com exceção de , que a deu dois beijinhos já que estava ao seu lado.
Na quinta garrafa, enjoou da cerveja e passou a pedir vodca sendo acompanhada por . No terceiro copo as duas já gargalhavam alto e cantavam sem vergonha alguma os garotos bonitos que passavam. Todos riam loucamente já visivelmente embriagados. Um garoto bonito tocou o ombro de e a cantou com voz alta. A menina sorriu abertamente e piscou pra .
- Uh Uh, Darling! - ela brincou e riu sexy pro garoto.
- Não acha que está atrapalhando não? - uma voz veio do outro lado da mesa. estava claramente com raiva e isso só fez aumentar o sorriso de . - Elas estão acompanhadas aí, falou?
O garoto bonito desculpou-se e se afastou indo atrás de uma menina que passou dançando com a amiga. se virou para o amigo indignada.
- Que merda, ! O cara era um xuxu.
- Ah, tanto faz. - deu de ombros e se levantou sem encarar . - Vamos dançaaaaaaaaaaaaaaaaaaaar, ! Tem mais gatinhos por lá!
riu e olhou os amigos na mesa, seu olhar caiu sobre e Jen se beijando.
- Ok! - levantou-se num pulo.
- EU TAMBÉM VOOOOOU. - uma extremamente bêbada tentou se levantar, mas a puxou de volta.
- Nem sonhe, você fica por aqui.
Ela fez cara feia pro garoto e todos riram. As outras duas seguiram para a pista de dança lotada.
Jen falava algo de forma rápida e apenas concordava com um aceno de cabeça, havia tentado parar de entender o que ela falava depois dos primeiros dez minutos de conversa. A garota era legal, e bonita, mas falava demais, como se estivesse desesperada para que ele não a esquecesse no outro dia ou algo do tipo. "Tarde demais querida", pensou e logo depois sorriu para ela, que sorriu radiante e o beijou de forma rápida e doce. Se ele pudesse escolher, teria se apaixonado por ela desde que a conheceu mais cedo, mas as coisas não eram assim tão fáceis, muito menos a garota qual ele era apaixonado era fácil. Passou seu olhar pela mesa e não encontrou em lugar algum. Seu coração apertou, onde ela havia se metido?
Encontrou a garota dançando ao lado de . Ela sorria alegre e mexia os quadris no ritmo da batida e de forma sincronizada à amiga ao seu lado. O braço direito estava erguido acima de sua cabeça, segurando um copo quase vazio de bebida. Uma onda de angustia percorreu seu corpo e ele se perguntou o porquê de não estar lá dançando com ela. Aquela sim era a sua garota.

Capítulo 3

Duas semanas. Faziam exatamente duas semanas desde que tinha sido visto com Jen, duas semanas e 2 dias que ele e não ficavam. 1 semana inteira que ele saía nas revistas flagrado de mãos dadas com a "garota do pub". Aquilo a estava irritando profundamente. Não havia uma revista que não tivesse feito algum comentário em relação a ela. "Por onde anda ?". Nem a própria sabia.
Fisicamente ela estava na cozinha, fazendo o almoço para os meninos que chegariam logo mais com e . Fisicamente, ela deveria estar ouvindo o que tagarelava, e fisicamente, ela não deveria ter exagerado na medida do sal na lasanha.
- Merda - xingou baixinho e desligou o forno, virando-se para a amiga. - Alguma crítica nova?
terminou de ler a matéria e gargalhou de forma escandalosa. ergueu as sobrancelhas e a amiga finalmente falou.
- Escuta essa! "Há aproximadamente uma semana, nosso McFly é flagrado com uma garota baixinha e forçada à simpatia pelas ruas de Londres. Todos andam se perguntando por onde anda a ex-colunista da TOTP e atual fotógrafa da mesma, . Ao ser interrogado com a nova garota na saída de um restaurante esse domingo, respondeu nossa pergunta sobre o paradeiro de sua eterna 'amiga' com um simples: ' anda muito ocupada, mas nos vemos com freqüência, ela é minha melhor amiga, vocês sabem'. É, , sabemos tão bem seu nível de amizade com ela, quanto sabemos que assim que as ocupações da garota acabarem Jennifer Blake sumirá da mesma forma que apareceu. Puff!"
- Que cooobras! - gargalhava e a amiga lhe olhou com repreensão.
- Fala sério, . Aquela garota é uma mosca morta. Deve tá com o até agora porque deve fazer tudo que ele quer na cama.
- Se é que eles foram pra cama, né! Que puritana. - gargalhou do comentário. - Vai ver ele está ocupado demais tentando tirar as roupas dela que nem se importa com o que falam sobre essa coisa dos dois.
- Vai saber.
As garotas se calaram e puderam escutar um barulho de portas de carro fechando e várias risadas. Eles haviam chegado. abriu a revista na página da matéria e piscou pra , que apenas gargalhou da provocação planejada pela amiga. Suspirou algumas vezes e fez o mesmo desejo em sua mente. "Que o não tenha trazido a Jen, que o não tenha trazido a Jen...".
- Que cheiro boom, minha gente. - entrou correndo na cozinha e quase derrubou ao lhe dar um beijo na bochecha.
e o garoto vinham logo atrás falando alto fazendo sobressaltar, quase derrubando o pano em sua mão.
- , que merda. Eu já disse, eu não posso controlar tudo o que a revista fala, eu só edito a parte de moda. MO-DA. E me desculpe queridinho, mas você não tem estilo algum pra um dia aparecer por lá!
- Eu tenho né, ? - perguntou e estapeou sua cabeça.
- Claro que tem, querido. O único.
Tom estava entrando na cozinha na hora e mandou um dedo pelas costas da amiga, que fez gargalhar e virar-se para a comida.
- Quem vai arrumar a mesa? - perguntou e todos começaram a gritar.
- EU PEGO A COMIDA, EU PEGO A COMIDA! - pulava pela cozinha e gritava protestando.
- , cala a boca..., ainda vai demorar um pouco aqui. - falou calma e ele sorriu.
- Sem problemas, eu espero. - olhou pra os amigos - Qual é a de vocês? Vão trabalhaaar.
Cada um se dividiu entre forrar a mesa, colocar pratos, talheres e afins. Os outros dois ficaram em silêncio na cozinha enquanto o resto trabalhava. observava cada um pegando as coisas e uma vez ou outra mandava-os ter cuidado com os novos pratos da casa. Percebeu que nem e nem haviam ido. Eles não conseguiam entender que compromisso é compromisso? A garota bufou lentamente e olhou ao seu lado, rodando em uma das cadeiras longas da bancada, como uma criança. A felicidade dele a incomodava, por que ele não poderia simplesmente estar insatisfeito com a nova ficante? Desligou o molho e dividiu seu conteúdo em três pequenos potes.
- Psiu, a comida tá pronta, vem cá!
Ele desceu e andou até ela com um sorriso largo.
- Nossa, que gostoso.
- Que criança, ! - ela riu e ele lhe deu língua.
- Eu tenho muita fome, ok? Nosso filho precisa ser alimentaaado, fofa!
- Hm, e a Jen tá de acordo com esse nosso pequeno tesouro?
Ela riu forçado e ele deu de ombros sorrindo.
- Ela não tem que pensar nada. Digo... - a olhou, e ela evitou seu olhar, pegando os potes de molho. - Nós não somos namorados nem nada do tipo.
- Não? - arqueou uma sobrancelha e andou até a porta da cozinha - Lê a matéria aberta na revista aí, .
Ela escutou ele andando e foi até a mesa na sala, deixando os potes de molho no local, espichou a cabeça pelo cômodo e pôde ver os outros assistindo TV na sala ao lado. Andou em passos largos de volta pra a cozinha.
- E ai?
- NOOOSSA! - ria e falava (lê-se: gritava) ao mesmo tempo. - Eles são pessoas bem... - riu de novo e fez uma careta. - Críticas.
Com uma gargalhada, ela andou até o garoto e deu um tapa em sua bunda.
- Pára de história e pega lá a lasanha.
- Mas não é história. Muita tempestade num copo d'água pra mim, . - ele dizia pegando a comida do forno.
- E você fala como se não adoraaasse um drama.
- Não li mentira alguma nessa matéria... - ela franziu o cenho e ele prosseguiu. - Quem sabe ela suma quando você se desocupar.
estreitou os olhos e o fitou com o olhar confuso.
- Eu já estou desocupada, . Uma semana sem trabalhar, estou gozando de uma vida de morgação.
O sorriso doce que lhe fazia tremer os joelhos iluminou o rosto dele e agradeceu por estar encostada na pia.
- Então acho que já passou da hora dela sumir. - falou simplesmente antes de sair com o prato de lasanha e alterando a voz para chamar os outros.
"Quem diabos ele pensa que é?", assim que desapareceu pela porta rapidamente virou-se, deitando a cabeça na superfície da pia gelada. Seu coração batia tão forte que chegava a ter medo das outras pessoas que estivessem na casa também o ouvisse. Ele não tinha direito algum de brincar assim com ela! Ao mesmo tempo que se enfurecia pela forma qual jogava com a situação dos dois, um alívio percorreu seu corpo. Então a outra sumiria, ela teria seu de volta. Sorriu sozinha e olhou a revista jogada na sua frente. Jennifer Blake sumirá da mesma forma que apareceu...

Todos tinham terminado seus pratos há trinta minutos. Tinham duas travessas de lasanha vazias na mesa, cercado de várias taças de sobremesa e um pote de sorvete quase vazio. mexia no que antes era seu sorvete de morango e que agora era calda pura, enquanto os outros conversavam distraidamente sobre besteiras.
estava na cabeceira, com e envolta. Ela gargalhava alto de algo que as duas contavam e gesticulava demais quando tentava falar, era uma cena bem engraçada e incrivelmente bonita de se ver. Tom estava do lado da namorada e ao seu lado, os dois discutiam algo sobre como seria o esquema do primeiro CD independente e estava ao lado de , sendo ignorado. Pra variar.
Olhou pra mais uma vez e voltou a sentir aquela vontade de abraçar a menina. Mas que merda, será que ele não podia se controlar nem mesmo quando estava tentando algo sério com outra pessoa? Puxou o celular e tinham 2 chamadas não atendidas de Jennifer. ' fez um almoço e quase me obrigou a vir, você sabe. A gente se vê à noite?', digitou e enviou em seguida.
Não estava em seus planos passar mais do que a noite do bar ao lado da garota. Mas ela lhe pareceu tão doce que ele pegou a si mesmo se perguntando por que não. E lá estava ele. Tentando. E vendo o quanto era difícil tentar se interessar por alguém que não fosse . Era assim todas às vezes desde que ele sentiu seus pêlos arrepiarem quando ela gritou que estava apaixonada por ele e logo em seguida foi morar na casa de Tom. E continuou sendo assim quando eles ficaram depois. E nas vezes incontáveis quais namoraram. Ele sempre sentia como se algo o puxasse para a garota.
Uma menina nova a cada rompimento. Uma necessidade nova a cada volta, e um novo motivo pra outro termino. Às vezes o cansava a forma qual sua vida girava em torno da garota. Era irritante o grau de sua dependência.
De um minuto para o outro e Tom levantaram num pulo das cadeiras e saíram correndo gritando sobre um jogo do Liverpool. pulou da mesma forma e disse algo como.
- Steven Gerrard é hot. - e saiu correndo por onde os outros dois haviam ido.
O celular de vibrou. A bina indicava que era Jen ligando.
- Yep! - atendeu tentando mostrar entusiasmo e um barulho alto vinha do outro lado.
- , eu preciso de você. - ele escutava a garota dizer, mas o barulho continuava atrapalhando.
- Quê? O que aconteceu? Você está bem?
- Eu estava pensando em ir na London Eye, sabe. Ver o pôr do sol... QUE MERDA, CARA, NÃO TA VENDO QUE EU TAMBÉM TO MACHUCADA E TO NO TELEFONE? - Jennifer gritou e ele se desesperou. O que havia acontecido? Ela estava machucada? - Desculpa, tinha um senhor gritando comigo. Mas é que ta chovendo, e tinha aquela lama na pista e a última coisa que eu lembro foi do carro derrapando e então eu acordei de frente pra um poste e com cortes pelo rosto... - escutou um soluço. - Eu não tinha mais pra quem ligar, me desculpa por atrapalhar sua tarde...
¬- Calma, respira, vai ficar tudo bem. Eu to indo praí.
- Mas você não sabe onde eu to... E é perda de tempo, um guincho já tá vindo e...
- É só eu seguir a avenida principal até a London, eu vou te achar, Jen. Não saia daí. Beijo.
e olhavam sem entender para a sombra de preocupação no rosto do garoto. Ele se levantou e olhou pras amigas, ainda pensando onde tinha largado as chaves do carro, no sofá ou na cozinha.
- A Jennifer teve um acidente, eu preciso ir até lá.
levantou e arregalou mais ainda os olhos.
- Eu... Ela precisa de mim. - suas palavras eram em direção à ao seu lado, mas seu olhar estava em .
- Tudo bem. - disse e a amiga se mexeu inquieta ao seu lado - Ela deve ta passando por uns mals bocados por lá... Faz sentido.
Ele concordou com a cabeça, seu olhar não tinha saído do lugar de antes.
- O que está esperando?
Ele finalmente olhou e sorriu de leve. Suas chaves estavam no seu bolso!
- Eu volto.
arrastou a cadeira de volta ao lugar e começou a andar em direção à sala. Ao passar pelo garoto, ele a escutou sussurrar.
- Eu não me importo.

Capítulo 4

O relógio do microondas marcava 7:20 PM. havia saído três horas atrás e ainda não tinha dado sinal de vida. sentia que podia ser sufocada a qualquer instante. A chuva do lado de fora parecia só piorar e ela agradeceu por não estar sozinha.
- Tom ligou, os meninos e ele estão na casa do - entrou na cozinha e fez careta. Folgados! - Mas ainda nenhum sinal do .
A amiga apenas murmurou em concordância e sorriu.
- Obrigada por ficar aqui comigo, .
- Sem problemas - pegava algo na geladeira e ainda fitava o nada, tentando manter sua mente na conversa e não em . - Eu também já não pretendia voltar para casa hoje - acrescentou corada.
sorriu. era em geral uma pessoa bastante fechada. Poucas coisas a faziam transmitir seus sentimentos claramente. Tom era uma delas. Chegava a ser impressionante o poder que um tinha sobre o outro. suspirou sentindo uma pontada de ciúme em seu peito.
- Não acho que você deveria se importar com o .
olhou a amiga, mas logo em seguida desviou o olhar.
- Eu não me importo.
- Fala sério! Ele é a única pessoa com quem você tem coração além de si mesma.
- Isso é uma mentira! - ela desmentiu rindo e estapeou sua testa.
- Você gosta dele. - não era uma pergunta.
não comentou nada, apenas seguiu fitando uma linha de formigas em cima da torneira e a amiga bufou após perceber que não escutaria nada em troca. Um barulho alto e a porta da frente foi fechada num estrondo. As duas garotas na cozinha se sobressaltaram e olharam para a entrada do cômodo, elas estavam amendrontadas demais para se mexerem.
entrou encharcada no local e riu de seu próprio nervosismo.
- Que bosta o tem na cabeça? Eu estava completamente encharcada e ele simplesmente não me deixava entrar na maldita casa dele. - ela dizia rápido demais enquanto tirava os casacos molhados e grudados em seu corpo. - Mas não, ele e os outros imbecis estavam ocupados demais ajudando o a cuidar da Jen.
fechou os olhos com força e franziu o cenho olhando de uma para a outra. MAS É CLARO, como podia ser tão burra?
- Que merda ta acontecendo aqui?
encarou as duas com a expressão confusa no rosto.
- O , ué. Parece que ele salvou a Jen e está na casa do fazendo alguns curativos. - ela olhou pra a cara vermelha de indignação de - Quê? Vocês não sabiam?
- Aparentemente só EU quem não sabia - encarou e se dirigiu à porta da cozinha.
As duas à seguiram com os passos largos.
- E você queria que eu falasse o que? "Desculpa, amiga, mas está na casa do cuidando da peguete dele, ta? Mas não dá piti, beijos". Fala sério, , cresce! - as falas sairam da boca de com uma rapidez incrível a fazendo se arrepender depois.
- Eu realmente preferia saber que ele está com a garota dele em vez de ficar aqui, tendo um ataque pensando que poderia estar morto! - falar aquelas palavras em voz alta era mais doloroso do que apenas pensá-las.
- Espera, desde quando você se preocupa com o ? - perguntou confusa, e girou os olhos começando a subir as escadas.
Era inacreditável.

Estava com os olhos fortemente fechados e os pensamentos longe há quase uma hora, quando escutou vozes vindas do corredor. Por que elas não poderiam simplesmente calar a boca por um instante? Aquilo tudo era irritante demais para ser suportado, poluição do som naquela casa parecia mais uma exigência do que uma proibição. Ela realmente precisava de avisos de "Não pertube", concluiu após escutar batidas na porta. Murmurou para que entrassem e viu um vulto desajeitado adentrar no local e pular em sua cama.
- ! - a garota exclamou rindo enquanto ele saia de cima da mesma. - O que você quer, docinho?
- Que você desça para jogarmos strip poker!
- Não acha que estamos grandes demais pra isso?
Ele sorriu malicioso.
- Ai é que está a graça, duendezinha!
gargalhou escandalosamente e estapeou o amigo. Algumas coisas nunca mudavam, e algo a dizia que aquele espírito pervertido dos garotos os perseguiria por toda a vida.
- E o quer se desculpar por te deixar preocupada - os dois fizeram uma careta - Não que eu acredite que você estivesse, fala sério.
Ela forçou um sorriso e tentou se levantar, mas uma perna do garoto ainda estava sobre seu corpo.
- , se você quiser que eu chute sua bunda no poker e você coloque os documentos pra fora, eu vou precisar que primeiro saia de cima de mim.
Os dois riram e escutaram uma voz vinda da porta do quarto.
- Hm, malícia! - estava parado escorado no portal e sorria maroto. - Vim ver porquê os ajudantes do papai noel demoravam taanto.
- Estávamos esperando a rena! - falou divertido tirando seu corpo de cima da amiga, que riu - Mas nossa espera acabou!
mandou um dedo pro amigo e em seguida fez um gesto com o dedo indicador chamando .
- Desce logo, querida. Queremos começar a suruba.
- Oba! - ela correu pulando até o amigo, prendendo suas pernas na cintura dele e beijando sua testa - Adiamos, muchacho!
- Odeio pessoas sádicas - comentou alto ao sair do quarto, fechando a porta.

e Tom estavam nos sofás jogando algo no video game e as meninas estavam num outro canto conversando. E Jennifer estava incluída nessas meninas, assim como outra garota que concluiu ser amiga dela. Seu estômago revirou de forma brusca e ela se perguntou se foi assim que a ex de se sentiu quando ela deu uma de intrusa na vida de todos. "Mas você não é mais namorada dele, sua imbecil". Apertou mais as pernas envolta do corpo de assim que sentiu que estava escorregando. Ele sorriu pra ela que lhe deu um tapa.
- Olá fundidos! - os cumprimentou e arregalou os olhos.
- Não fala assim.
- Eu disse FUNdidos, idiota! Não FOdidos. - a amiga balançou a cabeça sorrindo amarelo. - Quanta vontade, .
- Quanto ciúme, .
lhe deu dedo e virou-se voltando sua atenção à conversa. gargalhou alto e cutucou com o cotovelo.
- Ganhou, ganhou.
Ele apenas balançou a cabeça em negação e andou até onde os garotos estavam. Tom deu um grito afeminado quando os dois se aproximaram e largou a garota em cima dele.

- SEU MARICA!
derramou um pouco da cerveja em sua blusa quando começou a rir de forma frenética do grito de , que fez com que se encolhesse. e estavam apenas de sutiã com seus jeans, de blusa e calcinha e para a surpresa de todos, estava intacta.
- Puta sorte, . - exclamou de seu canto e ela deu de ombros, tomando mais um gole de sua bebida.
- Quando a pessoa tem o dom, ela tem, .
Ele bufou e se encolheu mais em seu canto. Todos os meninos estavam apenas de boxers e , que tinha acabado de sair do jogo por negar ficar pelado pela terceira vez na noite, estava sentado no sofá com Jennifer e a amiga que haviam negado participar do jogo.
- Vamos, , mostre-nos o que você tem. - gritou e os outros deram gritos sacanas a fazendo corar levemente. - Fala sério, ele quase não tira a roupa. Eu já cansei de ver os brinquedinhos de vocês.
- Quando tem o dom, ele tem, . - falou piscando e lhe estapeou.
- Seu filho da puta imitão!
continuava no sofá com as outras duas garotas intrusas no local e já começava a se arrepender de ter ido ali. Ouvir os amigos zoando de seu corpo nu era mil vezes melhor do que escutar a conversa fútil de ambas ao seu lado. Chegava a se perguntar como alguém conseguia falar tanta merda em tão pouco tempo. Era impressionante! Mereciam um prêmio, ele pensava.
Mas foi enquanto ele observava uma grosseria de com que escutou algo que não lhe agradou nenhum pouco.
- Eles são pessoas bem legais, mas eu não gostei daquela lá. - ele pôde notar que a amiga de Jen, Britany, havia apontado para alguém na roda. - A tal . Você sabe das histórias dela com o , não sabe?
- Hm, sei sim... - Jennifer mantinha um tom baixo enquanto a outra parecia não ter medo de que a escutassem.
- Então, ela e a tal têm esse jeito meio arrogante, ignorante... Não sei. São fechadas demais. Mas ela é pior, percebo que tem aquele quê proposital. - virou-se para a duas que nem ao menos perceberam o movimento dele - Não duvido nada de que ela esteja fazendo o máximo pra te manter fora do grupo.
- Bem, ela com certeza tem os próprios motivos que não vêm ao interesse de vocês.
As garotas se sobressaltaram ao escutar falar, mas Britany manteve a expressão cínica em seu rosto. Deus, como era insuportável! Ela acabara de insultar as melhores amigas dele e uma das donas da casa e nem mesmo assim se mostrava arrependida. Viu pelo canto de olho se remexer inquieto no lugar onde estava, fazendo-o duvidar de que estivesse ouvindo.
Voltou sua atenção à elas e pensou em como explicaria sem falar demais. Poderia optar também simplesmente por não falar. Ninguém entendia , só ela mesma, e em alguns momentos algum deles conseguia captar algo, mas mesmo assim, era uma questão de tempo e junção das peças para conseguirem entender a mente dela. Era uma garota tão complicada que chegava a ser irritante.
- Não gosto da forma qual ela olha o . - Jen começou meio sem jeito - Quero dizer, parece que em certos momentos ela poderia simplesmente o comer ali mesmo, sem ao menos se importar com os outros.
- Bem, não é como se ela fosse se importar, sabe... Se pudesse comê-lo ali mesmo. - disse rindo - Eles nunca se importam com nada quando estão juntos. Na verdade, eles nunca se importam com nada quando mantêm essa ligação.
- Ele parece gostar muito dela, mesmo quando nem ao menos toca em seu nome. Mas você consegue sentir toda aquela excitação quando as coisas se resumem à ela, como se ele fosse o cachorrinho chorando pelo dono. Queria que ao menos ele sentisse um quarto disso por mim.
- Verdade - o garoto suspirou e encarou o amigo mais uma vez, mexia os dedos das mãos de forma impaciente. Com toda a certeza que escutava aquela conversa. - Na real, o problema é ela. Sempre foi. Quando eles estão juntos, ela sempre provoca algo pra terminarem. Quando estão separados, sempre arranja motivo pra não voltarem. E quando tão com outras pessoas - ele pausou e fez uma careta. - Isso a deixa realmente como uma maluca. Ela já é bem esquisitinha normalmente. Mas quando vê com outra... Ela me assusta.
Britany riu com desdém.
- faz o de bonequinho, essa é a verdade. - falou na lata e Jen fez um barulho estranho com os lábios.
- não é assim, ok? Ela só é complicada. - a voz de estava exasperada e ele olhava para o canto onde estava de forma suplicante, mas o garoto estava de costa para os três. - Ela passou por muita coisa e... Er, não é fácil pra ela lidar com essas coisas, principalmente se implicam em prendê-la.
O silêncio dominou e foi a vez de Jennifer encarar as costas do garoto antes de falar.
- Bom, pelo menos eu não confundo ele. - a encarou.
- Hm, também não é como se vocês fossem namorados ou algo do tipo...
Silêncio mais uma vez. havia parado de se mexer no local onde estava e suspirou aliviado ao perceber pelas expressões delas que dali não seria dita mais nenhuma palavra. Talvez fosse melhor assim. Não, com certeza era melhor assim. Falar demais era a cara do garoto, e ele não queria dar mais informações que o necessário. Seu objetivo era deixar bem claro que e tinham algo e que a amiga não era daquela forma que elas diziam que fosse. Tá, talvez ela pudesse até ser uma vaca sem coração às vezes, mas tudo tinha seu motivo, mesmo sendo um bando de motivos medíocres e sofridos.
acabou percebendo que se tivesse escolha, odiaria profundamente naquele momento. Ela não tinha o direito de fazer o que faz com seu melhor amigo, mas a amava! Ela também era sua melhor amiga! Céus, como aquela situação era horrível. Ver sofrendo mais e mais e mantendo as aparências, como se não houvesse diferença alguma. Censurou a si mesmo ao se pegar pensando em seu amigo como um brinquedinho dela. Não, eles poderiam não ter a certeza de que ela o amava, mas seu caráter não era tão ridículo ao ponto de brincar com .
Ela se importava com ele. No fundo sabia que se importava com . Suspirou outra vez, observando Jen sentar sorrindo ao lado do amigo e ele lhe retribuindo com outro sorriso forçado mas logo lançando seu olhar no local procurando , que ria de e pulava derramando mais cerveja pelo carpete. Ele sorriu. É, sua amiga tinha coração, porque no fundo fundo não só ele, como todos sabiam que era a única pessoa com a qual ela se importava.

Capítulo 5

Era possível escutar as vozes distantes, mas seus sentidos ainda não o permitiam distinguí-las. passou a mão pelo espaço ao seu lado na cama e se arrepiou ao sentir as pontas de seus dedos tocarem uma outra pele. Tentando reconhecer o toque, ele puxou o outro corpo para o seu e abriu os olhos. Controlou-se para não fazer barulho. Ela estava ali ao seu lado, Jennifer.
Mordeu o lábio e esperou seus batimentos voltarem ao normal. Por um momento imaginou ser outra pessoa ao seu lado. O que diabos Jennifer estava fazendo ali?
Tentou aumentar a distância que ele mesmo havia diminuido entre os corpos e se levantou levemente, tentando não fazer barulhos altos demais. Percebeu, assim que saiu de baixo das cobertas, que estava nu. Pegou suas boxers do chão e vestiu-as num só movimento, saindo do quarto em seguida.
Ao chegar no alto da escadaria da casa de Tom, sorriu com a cena de e se estapeando e cantando (gritando) alto qualquer música do The Click Five que saía das caixas de som. Elas tentavam limpar a sala que estava estúpida de pratos sujos, garrafas vazias e manchas, muitas manchas.
Tom mataria a todos!
- ! Eu te dei dez tapas, você me deu onze. - gritava e lhe deu outro tapa. - QUE PORRA! Tenha respeito, idiota.
Ela apenas gargalhou e voltou a esfregar algo no carpete que o garoto pensou, divertido, ter sido causado pela mesma. Suspirou e desviou o olhar que ainda estava nela. Havia dormido com Jennifer na noite anterior e agora estava ali, pensando em , pra variar.
Mordeu os lábios e começou a descer as escadas, chamando atenção das que limpavam a sala.
- A noite foi boa, hein. - provocou e ele riu, dando um tapa de leve na testa da garota ao passar à caminho da cozinha.
- Não vou ajudar a limpar. - disse simplesmente.
- Ótimo. - deu de ombros.
Virou-se ao escutar a voz dela e pôde ver sua expressão de desgosto. Sorriu de lado antes de sumir pela porta.

"Prepotente!", gritou em pensamentos assim que o perdeu de vista.
- E eu pensando que a sonsa era puritana - falou baixinho e fez uma cara engraçada.
- Tá brincando! Ela dá pra ele há séculos.
Aquilo a havia atingido feio, seu estômago parecia ter explodido. Claro que dormia com outras! Ela não era ingênua. Mas sabia também que Jen o conhecia desde a época na qual eles ainda ficavam. Pensar que provavelmente dormia com as duas ao mesmo tempo fazia querer vomitar.
Ao voltar para a sala, ele encontrou as três ocupando todo e qualquer espaço confortável no sofá e poltronas dali.
- Posso sentar aqui? - bateu na coxa de , que estava sentada na poltrona mais próxima à televisão.
e dormiam num sono leve e reprisava um episódio qualquer de Friends, apenas murmurou concordando. Só quando o aroma corporal do garoto invadiu suas narinas que ela deu-se conta do quão próximos estavam.
Seus olhos percorreram cada centímetro da curva do pescoço que estava a dois dedos de seu nariz. mantinha apenas a televisão em seu campo visual, mas podia sentir o olhar da menina sobre ele. Sua pele ardia de prazer por estar recebendo atenção. Tirou os olhos de Chandler e os colocou no rosto dela. Sorriu ternamente, e observou enquanto ela mordia levemente o lábio inferior, vendo um sorriso sendo transmitido por seu olhar. sabia ser bastante expressiva. Às vezes.
Assim que voltou sua atenção ao programa, ela colocou seus braços envolta do corpo do garoto, enterrando seu rosto nas costas nuas dele. Deus, como adorava o toque da sua menina!
sentiu-se quente, protegida, sentiu-se dele. Cada parte sua que entrava em contato com a dele parecia pedir por mais. Seus corpos interagiam perfeitamente. A química era incontestável.
A boca dela já estava aberta, ela o faria. Perguntaria o porquê de tudo aquilo, de tanta demora para que os dois se ajeitassem mais uma vez. Ele então, só precisaria virar o rosto e colar seus lábios nos dela. Aquela seria uma resposta mais do que suficiente e agradável à ambos.
Mas sua boca não se movimentou, as palavras não foram ditas e seu momento acabou assim que a aquela voz irritante fez seus tímpanos vibrarem.
- Já estou indo, . - Jennifer falou.
Não foi preciso quebrar o contato entre o rosto e as costas nuas para saber que ela estava parada em frente à ambos e não gostava nem um pouco da situação. Mas nem e muito menos se mexeram. Eles não queriam, não podiam. A eletricidade existente no toque era mais forte, os deixava embriagados.
- Hm... - ele fez força pra falar, mas tendo tão próximo de si não o fazia ter suas reações na mesma velocidade. - Ok, então. Até mais?
Jen bufou e inclinou-se, dando um beijinho estalado nos lábios de . sentia o corpo dele enrijecer naquele momento, então ele não queria beijá-la? Sorriu automaticamente e em seguida fez-se o barulho da porta da frente sendo fechada. pressionou mais ainda seu corpo contra o de , a fazendo desencostar sua cabeça das costas dele, colocando-a agora em seu ombros, assim como ele fazia com a própria, ainda sentado em seu colo. Ela gargalhou quando o corpo dele relaxou soltando um suspiro alto de alívio. : 1 x Jennifer: 0.

Capítulo 6

dormia em seu quarto e os garotos estavam no quintal. Um tempo sem presença feminina também era sempre bem vindo. O que não mata, engorda, verdade?
- Mas ninguém supera minha - Tom dizia em meio à gargalhadas.
fez uma careta assim que começou a pensar.
- É difícil escolher - disse finalmente. - Acho que a Jen empata com a , mas querendo ou não, ganha.
Todos concordaram silenciosos até murmurar:
- em último.
E então puseram-se a rir.
- Nossas amigas são gostosas - concluiu e eles concordaram com movimentos de cabeça.
- A Jen não é minha amiga - torceu o nariz e o olhou, sabia o porquê daquela reação, a conversa de noites atrás ainda devia enfurecer o amigo. - Ela tem uma personalidade irritante.
- Meu bebê, também tem uma personalidade irritante e ela é nossa amiga.
lhe deu um tapa.
- O assunto agora é a Jennifer, Tom, não . Acalma os hormônios um pouco aí.
os ignorou, virando-se para o outro amigo.
- Você gosta dela?
deu de ombros.
- Não dessa forma, mas seria legal se eu pudesse. Ela é uma pessoa boa pra mim, sabe. Melhor do que a .
O outro apenas balançou a cabeça mostrando que o entendia e levantou-se indo para a cozinha a fim de evitar esse assunto. Já cansara de tentar convencer aos outros e a si mesmo que a amiga não agia por mal.
No quintal, Thomas juntou as sobrancelhas mostrando-se confuso.
- Você não devia falar dela assim, cara. Você não a entende, não entende seus motivos loucos.
- E sinceramente, já desisti de tentar. - o estômago de revirou ao cuspir aquelas palavras. Era mentira pura. Ele tentava a entender mais do que tentava respirar, se possível.
- Não seja ignorante, ! Cansei da burrice de vocês. não é fácil, mas você também não coopera.
- Eu não sou o cachorrinho dela, Fletcher.
Escutou alguém bufar e voltou sua atenção para onde estava. Vermelho e claramente irritado com o rumo qual a conversa tinha tomado. Eles já estavam julgando ambos! Deus, como aquilo o irritava, será que não podiam agir que nem adultos pelo menos uma vez? A brincadeira acaba quando a coisa passa a ser séria.
Desde o namoro de ambos, dois anos atrás, e pareciam mais uma só pessoa em corpos diferentes. invejava profundamente aquela ligação entre sua garota e seu amigo.
pigarreou e finalmente falou, era visível o quanto ele tentava manter sua voz baixa e calma. Ele dava medo.
- Não seja egoísta, .
- Ela pode e eu não? - seu tom beirava a incredulidade. Injustiça, pensou. - Ela não é santa!
- Bem, não é ela que está de namorinho com outra por aí. Normal é você sair, se envolver com outras garotas, e não trazê-las para a mesma casa de , agindo como se isso não incomodasse à todos. Por mais gostosa que Jennifer seja.
- Não vou parar minha vida por causa dela.
- Mas você quer parar a dela por sua causa - maldita mania seus amigos tinham de afirmar as coisas, não havia nenhuma entonação de dúvida em sua fala.
Naquele exato momento desejou poder odiá-la. Mas o único sentimento que identificou foi culpa. Nem ao menos um terço do que havia dito era verdade! Ele era seu cachorrinho, e pararia sua vida por ela se pedisse.
Suspirou e deitou em sua espreguiçadeira.
Ela pediria, e ele não agüentava mais esperar.

corria, mas não sentia seus pés tocarem o chão, era difícil dizer se de fato estava mesmo correndo ou se flutuava próximo ao solo. Não importava, aquilo a fazia sentir-se livre de uma forma qual nunca foi. Assim que permitiu que o ar preenchesse seus pulmões (respirar não parecia ser algo necessário) escutou vozes, gritos, a puxando de volta para a realidade.
Ela lutou para não despertar, o vento em seus cabelos a convencia de que, se pudesse, viveria assim para sempre. Nunca cansaria. Agarrou-se ao sonho o mais forte que pôde, mas as imagens se distorciam e ficavam cada vez mais distantes. Vozes lhe pareceram mais nítidas e uma frase, um grito, invadiu sua tranqüilidade. "Não seja egoísta, !"
Então os olhos de se escancararam. Nem mesmo em seus sonhos a deixava em paz.
Im-pres-sio-nan-te.
Uma vez de olhos abertos, sentiu sua testa molhada de suor e seu corpo queimando internamente, deu-se conta também de que suas mãos agarravam o edredom com tamanha força que lhe surpreendeu suas unhas não terem feito dano algum. Encostou de forma mais confortável suas costas no emaranhado de travesseiros e se permitiu relaxar. Assim que seu corpo parou de queimar, levantou-se e foi ao banheiro escovar os dentes.
Ao voltar, viu o celular tocando em cima de uma das prateleiras do quarto. Olhou no identificador antes de apertar o botão verdinho no teclado do aparelho. Era .
- Choore - sua voz ainda estava meio rouca, o que fez a amiga rir do outro lado da extensão telefônica.
- Amigaa, acorde, tome um banho e venha aqui em casa! - mantinha seu tom autoritário.
- Hm, ok.
- Me escutou, ? AGORA. - e então a linha ficou muda.
Aqueles picos do humor da amiga a assustava, assim como a mania de se esconder em casa que tinha em alguns dias, assustava também. Estavam ali uma pela outra sempre, se ajudavam e aquilo animava a amizade. Era sempre engraçado de vê-las gritando uma com a outra e se estapeando, mas logo em seguida já abraçadas. Elas eram estranhas e sabiam disso.
Calçou as pantufas de porquinho que havia lhe dado no Natal passado (na ocasião, ela disse que era pra matar a saudade quando o outro porquinho, Tom, estivesse em turnê), saiu do quarto e desceu as escadas enquanto amarrava os cabelos num rabo-de-cavalo no topo da cabeça. Encontrou na cozinha.
- Olá, duendezinha.
apenas murmurou de volta e lhe beijou a bochecha, pegando o leite na geladeira. Já com seu lanche em mãos, arriscou olhar para fora. Lá estavam os outros três, semi-nus, deitados para o sol de óculos escuros. Quietos demais, pensou.
Parou seu olhar sobre o corpo de , sentindo um calor repentino percorrer o seu próprio. Bebeu um gole do leite. Virou-se para e sorriu, saindo em direção à sala.

Tom gritava para que se enxugasse antes de entrar na casa, mas não lhe deu ouvidos, estava com fome demais para dar algum valor aos ataques de dona-de-casa do amigo.
Quando começou a abrir os armários procurando algum tipo de biscoito que lhe agradasse, escutou o barulho de televisão e ficou confuso. Estavam todos lá fora, na piscina.
Andou até a sala, mas parou abruptamente assim que viu os cabelos da menina espalhados pelo braço do sofá, sendo a única coisa pertencente à ela visível. Por um momento havia esquecido que ela estava na casa também. Seu coração acelerou, mas ele desejou que se normalizasse, não queria que o escutasse pulsando por ela. Não queria que percebesse o quão seus sentimentos ainda lhe eram vulneráveis.
Pensou que estivesse dormindo, considerando a forma qual estava quieta, e tomando um impulso, aproximou-se alguns passos. Ela mantinha seu olhar fixo na televisão, mas pelo canto de seu olho, notava o movimento na entrada do cômodo. Ótimo, agora estava sendo espionada! Assim que ele se aproximou com mais rapidez, ela virou-se para o encarar e os olhos de ambos transmitiram surpresa. Ela pensara que era apenas o Tom!
- Achei que estivesse dormindo. Desculpa se te assustei.
balançou a cabeça em negação, seu olhar no corpo do garoto, percorrendo o caminho que a água fazia em seu tórax...
- Aqui em cima, fofa - fez um movimento com as mãos atraindo sua atenção e a fazendo corar, voltando a olhar a televisão.
Ele apenas andou até o outro extremo do sofá e sentou-se, com um largo sorriso orgulhoso estampado em seu rosto. Fez uma rápida nota mental de que deveria andar mais sem camisa e molhado.
Deu uma olhada na menina ao seu lado mais uma vez e reprimiu o riso. Ela estava visivelmente incomodada com aquele estado. Controlou-se para não lhe perguntar o porquê dela não avançar já que mal conseguia controlar sua respiração. Então uma imagem de Jennifer veio em sua mente, mas ele logo a afastou. Não era hora de pensar nela, não com ali.
- E então, er... Como foi sua noite ontem? - odiava gaguejar na frente dela.
- Normal, jantei com as meninas, depois saímos e me deixou em casa.
Ele também odiava a serenidade em sua voz, por mais que ela transparecesse estar nervosa, era só abrir a boca e as palavras formavam frases como se as mesmas fossem repetidas todos os dias. Aquilo só deixava mais confuso. Tentou parar de divagar um pouco e prestar atenção na conversa, senão iria parecer um retardado.
- Hm, não vi a por aqui.
deu de ombros.
- Ela não dormiu aqui. Ficou de amasso com o Tom e depois foi pra casa.
O tom em sua voz atraiu o olhar dele, tinha um quê de algo que não conseguia distinguir. Por segundos quase chegou a conclusão de que estava com inveja de e o amigo. "Impossível", pensou.
- Eles vão se casar, o Tom e a - falou e a garota riu. - É tão legal ter alguém assim em nossa vida.
O estômago de revirou e ela evitou mais ainda encará-lo.
- Não é como se você não tivesse - ela disse e não negou, se exasperou. - Digo, você tem a Jennifer...
- Ela vai voltar pra Califórnia próxima semana.
- Hm... E você ta bem nisso tudo?
Ele riu e ela finalmente o olhou. Seus olhos brilharam e ela se odiou por isso.
- Eu não gosto dela, - "gosto de você", era o que queria completar e exatamente o que a garota queria ouvir. - Vai ser chato, mas sem problemas.
Antes que pudessem dizer algo, o refrão de Too Close for Comfort começou a tocar e correu rindo para atender seu telefone do lado da televisão.
- Merda! Tô indo, tô indo. - a escutou resmungo e no mesmo instante já estava de volta. Beijou-lhe na bochecha.
- Tenho que ir, antes que me corte o pescoço.
Sem ao menos esperar resposta, correu até a porta com o casaco e chave do carro em mãos. Só então ele viu o quão arrumada ela estava. Sua boca abriu-se levemente e assim que piscou, ela havia sumido.

Seu corpo estava completamente relaxado, ela quase não sentia a textura do copo que segurava, ou os cutucões que lhe dava enquanto conversavam. Perdera o assunto da conversa minutos atrás, apenas concordava com a cabeça entre um gole e outro.
A pulsação da música parecia ser a mesma do sangue correndo em suas veias. De repente, parecia que ela tinha vários corações espalhados pelo corpo. Aquilo a fazia rir, tudo a fazia rir.
Pensou ter visto no meio da multidão algumas vezes, mas ignorou. Não sabia se era pelo álcool ou se realmente não se importava. Fazia alguma diferença? Sentiu lhe puxarem pelo cotovelo.
- Vamos ali? - lhe perguntou.
percorreu o olhar pelo local, chegava com uma morena bonita de olhos verdes. Era isso?
- Mentira que você tá com incomodada com o , ! - a amiga a olhou com repreensão.
- Me poupe, . Você vem ou não?
deu de ombros e a seguiu até o banheiro. não tinha ido? Já no interior, seguiu para um dos reservados e a garota se encostou na pia, fechando os olhos rapidamente.
Escutou as risadas de :
- Você está bêbada.
- Você também! - as duas riram.
- Quer comparar?
Não, ela não queria. Deu um tapa na bunda da amiga e elas andaram de volta à saída. Seus olhos se arregalaram ao ver encostado na parede em frente à porta. Ele a estava esperando? Sorriu involuntariamente.
tossiu prendendo a risada:
- Tô voltando - e sumiu no meio da multidão.
o encarou.
- Qual o problema? - sua voz saiu suave.
"Merda!". Nem quando queria ela conseguia se controlar? Queria ser fria com , não era difícil, ela fazia isso sempre que desejava, mas naquele momento o corpo não lhe obedecia. Parecia agir por vontade própria, respondendo a cada sinal de , e não seus.
- Vim te procurar - suas palavras eram extremamente calmas, estava bêbado.
- Que merda, ! Por que você tem que encher meu saco sempre que tem oportunidade? - gesticulava. Muito. - Vai atrás da Jennifer!
Ele deu uns passos em sua direção e ela recuou encostando na parede. O álcool queimava em suas veias, sua garganta queimava pedindo mais gritos, ela queria gritar, mas sua boca simplesmente não se abria. Seu corpo voltou à inercia.
- , cala a boca.
Assim que se deu conta, o menino já havia colado seus corpos. Deus, como aquilo era bom! "Não, não pode ser bom", pensou, "empurra ele, . EMPURRA ELE, PORRA!". Mas ela não empurrou. Sentiu a língua dele passar por seus lábios e eles se abriram dando passagem. O que diabos ela estava fazendo? "Beijando", pensou mais uma vez, sorriu de seus próprios pensamentos.
sorriu também ainda com os lábios colados nos dela. Aquilo era errado, MUITO errado. Mas ele não estava nem aí para os erros, quando se tratava dele e de , tudo parecia certo.
Colocou uma das mãos no cós da calça dela, quase fazendo de ambos os corpos um só, com a outra puxou-a pelo pescoço aprofundando mais ainda o beijo. Soltaram um murmúrio baixo juntos, fazendo-os voltar a sorrir.
Seus lábios ficariam inchados, tinham plena consciência daquilo. Mas naquele momento, nada do que estavam fazendo parecia saciar a vontade que tinham um do outro. Ela puxou-lhe os cabelos da nuca e mordeu seu lábio. Ele apertou mais sua cintura contra a dele, desceu a outra mão para a barra da blusa que ela vestia. Suas mãos estavam trêmulas, e frias. Aquele toque foi o bastante para fazê-la despertar.
- Mas...que...MERDA? - estava ofegante, mas parecia mais sóbria que antes. - Você é idiota? Sai de mim, !
afastou-se sem questionar, com uma expressão vazia no rosto. Não sabia o quanto sentia falta daquilo até sentir o gosto da menina em seus lábios mais uma vez, estar com era completamente diferente de ficar com Jen. Era real.
O silêncio vindo dele já estava piorando o estado de nervos de . Se ela estivesse completamente sóbria, desejaria que ele dissesse que foi um erro, então iria acabar facilitando para ela colocar isso em sua própria cabeça também. Mas sem dar-se conta, em seu interior ela estava desejando arduamente que ele tivesse gostado, que pedisse por mais. Ela precisava beber, mas BEM longe de dessa vez.
- Tá bom, , eu te desculpo - ironizou.
franziu o cenho:
- Não vou me desculpar, foi bom!
A língua da menina enrolou no meio da fala.
- Foi, eu sei... Ai, droga! Esquece isso, . Volta pra sua garota, falou?
O que diabos ela estava fazendo?, ele pensou. Eles tinham acabado de se fundir na parede do banheiro, ela gostou, e agora manda ele esquecer? Foi a vez do sangue do menino queimar.
- Você tem que parar de ser egoísta e se ouvir também, porque às vezes, seus gostos podem ser iguais aos dos outros. Ao contrário do que você pensa, não é bom ser diferente.
- Claro, então vou deixar você enfiar sua língua em minha garganta SÓ PORQUE VOCÊ QUER?
- Bem diferente do que acabamos de fazer, uh? - sentiu um impulso súbito de esbofeteá-lo.
- Nós dois queríamos, . Agora só você quer.
Eles se encararam por um tempo, ele foi o primeiro a falar.
- Você sabe que um dia eu não vou mais querer, não sabe? - ela concordou com a cabeça e seus olhos arderam.
- Talvez acabe se tornando mais fácil de superar - ele também concordou. - Pra mim.
Então a cena ficou incrivelmente lenta e o ar insuportável. Os olhos de arderam querendo deixar as lágrimas rolarem, mas ela manteve-se fria e amaldiçoou toda a bebida ingerida. sentiu um misto de nojo e pena. Como poderia gostar daquilo? Dela!
Não disseram mais nada. Ele foi em direção à mesa e ela ao bar. Ambos desejando tirar o sabor que ficara em suas bocas.

Observando a mesa dos amigos, do local onde estava, manteve seus olhos em o tempo inteiro. Quando voltou sua atenção ao lugar depois de pegar sua nova bebida das mãos do barman, perceber que ele já não estava lá. Levantou-se e se embaralhou no meio da multidão.
- Os ETs te devolveram? - lhe perguntou engraçada quando chegou. Ambas sorrindo abobalhadas.
- Neem - gargalhou um pouco. - Quero ir pra casa, quem se candidata a me levar?
- EU LEVARIA! - gritou com o braço no ar ao lado de Tom. - Mas, você sabe, eu nem sei o que é cerveja e vodca aqui - ela riu e o namorado beijou-lhe na bochecha.
A coisa tava feia mesmo.
- tava bem. Mas ela saiu por aí... - Tom começou.
- Com um CARA - e terminou amargo.
riu e olhou com a acompanhante. Eles pareciam normais.
- , minha bosta - falou rindo e ele também riu a encarando. - Quer me levar em casa?
Ele olhou a garota com a qual estava:
- Quer ir?
remexeu-se ao lado de .
- Também quero ir - disse e lhe olhou concordando, mas logo voltando sua atenção à sua companhia mais uma vez.
- Eu fico. Minhas irmã ta por aqui, tenho que voltar com ela.
O garoto concordou e beijou-a rapidamente, levantando e chamando as outras duas com acenos de mão. Elas o seguiram caladas atravessando o mar de pessoas do pub.
De mãos dadas com , mas seguindo com apenas o olhar, o perdeu já próximo a saída.
- Merda - xingou baixo e puxou a amiga para a saída. O achariam no estacionamento.
Dito e feito. Ao chegarem no lado de fora, avistaram ele conversando com mais duas pessoas. Um casal. e Jen. soltou um gritinho animado, chamando a atenção deles. Os olhares de e se encontraram, mas ela logo desviou, andando na direção do carro de .
Já sentada no banco traseiro, os olhou à distância e percebeu que não pôde identificar um sentimento predominante em . Seu olhar tinha um misto de desespero, curiosidade e raiva. Ela relaxou, encostando a cabeça no apoio e sentindo a pulsação contínua de seu corpo, acompanhando o frenesi que a última tônica ingerida a fazia sentir. O que quer que ele estivesse sentindo ou pensando, não dava a mínima.

Capítulo 7

Ela estava acordada e consciente, mas não queria abrir os olhos, o sonho que tivera (senão pesadelo) ainda a assustava. Não estava em sua casa, tinha plena certeza disso. Percebera assim que recobrou os sentidos, aquela não era sua cama e aqueles travesseiros não eram os seus. Faltavam no mínimo cinco para se igualar à quantidade que havia em sua casa.
Abriu os olhos com medo do que encontraria. Saíra com e depois do pub na noite passada. Pensou nas garrafas vazias na sala da casa do amigo, e seu medo aumentou. Beber sozinha com os dois era suicídio! Ela poderia estar agora na cama de uma dançarina do Club de Strip para lésbicas.
Respirou aliviada ao ver que estava no quarto de hóspedes da casa de . Levantou-se e andou até a porta do closet e depois procurou a parte onde eram guardadas suas mudinhas de roupa. Abrindo-a encontrou duas saias verdes, um biquini preto e duas camisas e boxers de que agora eram suas (furto). Fez uma nota mental, precisava reabastecer o estoque de roupas dele. Pegou uma das camisas Hurley e uma boxer verde com ursinhos.
- Na casa do , Thomas! Hm, não sei - falava no celular quando saiu do quarto, e deparou-se com saindo da porta em frente. Ali não era o quarto do ? E a amiga estava vestindo uma camisa dele? Arregalou os olhos - Chama todo mundo e vem pra cá, tchau, Tom!
Elas se encararam e corou, prendeu o riso. O mundo estava mesmo de cabeça pra baixo. Desceram juntas para a cozinha e tentava desesperadamente arranjar uma forma de se livrar das perguntas da amiga, mas era inevitável, estava apenas tentando se iludir.
- Que é que foi aquilo?
a olhava de forma engraçada, aquela cena em si era engraçada. ! Saindo do quarto do !
- Não aconteceu nada, te juro.
- Você não precisa me jurar nada, - enrrugou a testa, mas queria rir. - É que é tudo bem engraçado.
- Eu sei.
Ambas se encararam por alguns instantes e começaram a gargalhar.
- Você ficou com o ontem? - perguntou quando pararam de rir.
fez uma careta.
- Urrun - mas completou assim que a amiga fez menção de sorrir. - Não é motivo pra ficar alegre! Foi COMPLETAMENTE errado.
- Vocês são errados. - deu de ombros.
Escutaram um barulho na porta e calaram-se. Vozes foram se aproximando e e entraram na cozinha.
- Oláá - parou ao olhar e em seguida olhou que movimentou os lábios num "te explico depois".
apontou pra .
- Hey, camisa do - olhou . - Hey... Minha camisa?
A atmosfera começou a ficar tensa, amaldiçoou a si mesma várias vezes por estar com aquelas roupas, tudo o que menos queria era um motivo para falar com . Simplesmente sorriu-lhe amarelo, saiu da cozinha em silêncio e com passos largos. Todos ficaram calados escutando suas passadas na escada.
- O que foi isso? - perguntou desentendida e um de cara amassada apareceu na porta.
- Vocês fizeram alguma coisa com a ? Ela quase me batia no corredor.
Todos deram de ombros e ele sorriu pra , fazendo-a corar. Passou por ela com um sorriso no canto dos lábios.
- Bonita blusa.

estava em um canto da sala jogada no sofá ao lado de e Tom, e deitado no tapete de barriga pra cima, com sentada ao seu lado, e e Jennifer sentados numa mesma poltrona em outro ponto da sala, estava na outra poltrona ao lado. tinha subido algumas horas antes e ninguém teve a mínima disposição de ir checá-la. Na real, todos tinham um pouco de medo de como a garota agiria depois do incidente da camisa mais cedo. Ela precisava de um tempo sozinha, deduziram.
- Eu ainda ando meio curiosa sobre esse novo CD - começou a falar enquanto mexia na barra da camisa de , a qual ela vestia. - Só faltam dois meses até o ano novo, e aí vocês vão pra essa merda de Austrália - os meninos a olhavam carinhosos. - Não me olhem assim, seus imbecis. Vocês vão ficar lá todos tipo, sexo, drogas e rock'n'roll!
Tom gargalhou.
- Sem sexo para mim, .
- Isso mesmo - a namorada bateu em seu braço e ele revirou os olhos sem que ela notasse. - Mas pra isso, eles têm que ter músicas! Vocês já têm pelo menos alguma idéia da inspiração do que vão tocar nesse albúm?
deu de ombros:
- Nossas vidas - concordou com um sorriso - Ou seja, vocês.
Tom gargalhou mais alto assim que se engasgou com (aparentemente) nada, depois do que ouviu. corou ao lado de , lembrando-se da última música que seu ex-namorado havia lhe escrito, alguns meses atrás.
- The Heart Never Lies? - perguntou acanhada e a olhou curioso, também vermelho por causa do ataque que tivera.
- É oficialmente a primeira música que nós escrevemos pro cd - falou sorrindo e a amiga corou mais ainda.
- Ah...
e trocaram olhares cúmplices e sorriram, era ridículo ver os amigos separados e agindo que nem idiotas, mas era bem engraçado ver o quão eles não sabiam esconder seus sentimentos em certos momentos. mexeu sua mão direita e percebeu que estava entrelaçada à de Tom, apertou-a e sorriu para o namorado, que retribuiu o ato. Ela se perguntou quanto mais demoraria esse joguinho deles, e tinham que se resolver de uma vez por todas.
Lembrou-se de e e virou a cabeça, encarando as escadas, será que deveria ir falar com ela?
- Eu to preocupada com a - disse também com o olhar na escada.
- Ela com certeza dormiu, você sabe como ela é quando fica chateada - tentou tranquilizá-la, e a garota lhe sorriu docemente, concordando com a cabeça.
sentiu uma pontada em seu peito lembrando de como fora idiota beijando-a na noite passada. Estava claro para ambos que havia sido bom, mas foi um ato terrivelmente errado nas circunstâncias as quais se encontravam. Ele a havia beijado ontem a noite e ali estava, com outra garota sentada em seu colo e com seus braços envolta de sua cintura.
- Isso daria uma boa música. - Tom comentou divertido e bufou.
- Já basta She Falls Asleep.
- Então vocês realmente se inspiram em suas garotas para escrever as músicas? - Jen interrompeu animada.
corou, lembrando-se de e do número de músicas que já havia escrito para a garota. Olhou-a e confirmou.
- Nossa, então quem se matou por vocês? - ela perguntou assustada e todos riram.
a olhou irônica.
- Eles são músicos, querida. Se inspiram, mas não são obrigados a escreverem a música como uma história.
Jennifer ficou vermelha, sem graça, e fitou a amiga com um olhar repreensivo. Tentou consertar as coisas.
- Mas é claro que têm aquelas músicas que a gente escreve letra por letra o que a gente tá sentindo, sem inventar alguma coisa fictícia. - disse sorrindo e Jen o beijou na bochecha.
- EU tenho uma música sabia? - falou e Jen a olhou curiosa - All About You. Assim sabe, não é querendo me gabar, mas meu branquelinho escreveu pra mim.
e rolaram os olhos e Tom sorriu orgulhoso. mandou um dedo para , que o ignorou e começou a contar a história de como havia ganhado a tal música do namorado. olhou divertido e esse sorriu, escutando a amiga se gabar.

havia acordado alguns minutos atrás e estava fuçando o quarto de quando escutou um barulho vindo do corredor. Xingou baixinho e imaginou o quanto o amigo a amaldiçoaria se a encontrasse em seu quarto. Fechou os olhos com força quando escutou passos se aproximando e a porta rangendo ao ser aberta. Mas a voz que escutou não era a que esperava.
- Olha você aqui. Tá todo mundo te procurando lá embaixo - escutou a voz tímida de e abriu os olhos o encontrando parado em frente à porta.
- Acabei dormindo.
- Hm...
Eles se encararam por um tempo e então deu um passo entrando no quarto. sentou na cama ainda sem olhá-lo e ele sentou ao seu lado, com os olhos presos nos detalhes do local.
- tem um bocado de coisas legais por aqui - comentou displicente e a garota sorriu.
- Eu dei a maioria dos enfeites. nunca gostou muito de arrumar a casa.
- Bem sei... - ambos riram e a atmosfera foi ficando mais leve. - Desculpa pelo beijo de ontem.
- Sem problemas - ela respondeu rápida e sentiu seu rosto esquentar.
- A verdade é que eu subi pensando que nós dois poderiamos conversar um pouco.
- Nós já estamos conversando, .
A verdade é que ela não queria conversar nada com ele, pelo menos não agora. Sabia muito bem qual seria o assunto e não tinha a menor vontade de falar sobre seus sentimentos, se é que ela tinha certeza alguma do que estava sentindo naquele momento. Tudo o que acontecia entre eles era muito confuso, essa era a única coisa qual gostaria de falar. Que é tudo confuso, que eles são confusos, que eles se confundem. Mas parecia não achar as palavras certas para transmitir isso ao garoto. Apertou os lábios e fitou o rosto dele de perfil, era tão lindo...
- É que as coisas são tão confusas. - ele encarou enquanto a mesma falava. - Uma hora nós estamos bem, na outra você está se amassando com uma menina. Depois vocês estão ficando sério, mas você vem e me diz que ela vai sumir... E bem, pela última vez que chequei, ela continua aqui.
Ele concordou em silêncio. Nem mesmo ele mesmo se entendia.
- E ontem... Você me beijou, ! Não foi a coisa mais certa a se fazer quando sua namorada vai embora amanhã - fez uma careta ao escutar a palavra "namorada", e teve que reprimir um sorriso. - Eu sei que posso ser uma vaca e egoísta, mas poxa, não corrompe essa sua bela alma por minha causa.
"Tarde demais", ele pensou. Mas apenas a encarou e sorriu o mais sincero que pôde.
- Te beijei porque eu senti vontade de beijar, nós não aprendemos a controlar nossos impulsos quando queremos algo um do outro - ela concordou e ele prosseguiu. - Continuo não me arrependendo mesmo tendo sido errado. Também nunca menti pra você, tudo que eu falo é o que eu sinto no momento.
Então ele queria mesmo que Jennifer sumisse, pensou consigo mesma, mas apenas naquele momento, quando ele estava com . Ela calou-se e esperou que ela se pronunciasse. Mexeu os pés inquieto e a olhou.
- Bom, seria bem legal agora que você tirasse sua máscara de durona, parasse de me dar sermão e dissesse o que você realmente tá sentindo.
gargalhou fitando a parede e o olhou rápido.
- Trinta segundos, ok? Prometo que vou me esforçar - sorriu. - Eu gosto de você, . Mas as coisas mudam de acordo com as ações, nós não somos mais os mesmos de seis meses, ou um ano atrás. Só porque ainda agimos do mesmo jeito não quer dizer que pensamos do mesmo jeito.
- Eu... - o garoto fez uma careta e continuou - Eu gosto de você também.
Ela agradeceu por não ter dito que a amava. Sabia que não podia duvidar disso. Sabia que também o amava, mas certas coisas não precisavam ser ditas. Sentimentos demais expostos poderiam acabar soando como uma mentira. Quão mais subentendidas as coisas fossem, mais reais seriam para ela. Custava acreditar quando aquilo saia em forma de som pela boca alheia.
- , eu já estou indo. - uma voz veio da porta, chamando a atenção de ambos.
Jen estava parada no portal do quarto de . Seu olhar inexpressível, estava claro que havia escutado a última parte da conversa, se não ela toda.
- Se você ainda se importar, eu te espero no aeroporto amanhã - dito isso, saiu porta a fora.
levantou-se num pulo.
- Preciso ir - disse exasperado e o peito de doeu ao ver o quanto ele se importava com a outra.
Ele começou a andar em direção à saída do quarto quando parou. não o encarava, mas sentia que ele queria dizer algo, só não conseguia escolher as palavras. Ela pensou se o que ele tinha a dizer era tão horrível assim.
- Eu escrevi uma música - o garoto disse por fim. - Falling in Love.
- Qual a história? - a conversa mantinha o tom casual, ambas as vozes não continham emoção alguma.
- O cara deseja ter se apaixonado por uma garota que não está perto dele agora, mas que poderia ter sido boa pra ele.
concordou com a cabeça como se pudesse vê-la. Em seguida ele saiu do quarto e ela deixou seu corpo desabar sobre a cama, tapando o rosto com as mãos num gesto cansado. Por que estava se permitindo ser tão sensível? Mordeu o peito de sua mão esquerda e sua cabeça pesou. Aquela seria a primeira música que escutaria de para outra que não fosse ela. Isso soava mal aos seus ouvidos.

Capítulo 8

As pessoas andavam calmas e era realmente divertido as observar e tentar adivinhar seus pensamentos. Minutos atrás, tinha rido sozinha ao imaginar que um cara gordinho estava pedindo um cheeseburguer, e acabou atraindo olhares de pessoas que estariam possivelmente a taxando de louca. Aqueles eram bem fáceis de adivinhar os pensamentos. Mas também tinham os olhares mais jovens, meninas de 15, 16 anos passavam por ela e cochichavam algo com suas amigas, bem, aqueles também eram fáceis de adivinhar.
Aquilo a fazia lembrar . Será que ele estaria aproveitando as últimas horas com a namorada antes dela viajar naquela tarde? Perguntou-se também o porquê de suas ações nas últimas semanas, nem ela mesma vinha se suportando. Não sabia como ainda tinha amigos.
Seu celular vibrou, era .
- Oi amiga - ao terminar de falar sentiu seu nariz esfriar e apertou mais o sobretudo em seu corpo.
- , cadê você? Tom disse que não te vê desde ontem quando você subiu cedo pra dormir e o tá quase enlouquecendo querendo falar com você.
Ela não sabia como ainda estava ali, viva. Seu coração provavelmente já tinha praticamente saído pela boca, seus sentidos ficaram mais aguçados. tinha mais efeitos sobre ela do que qualquer um poderia imaginar. Efeitos os quais ela desejavam arduamente não sentir.
- ? - perguntou após alguns minutos de silêncio.
- Eu tô na rua... Não tô me sentindo muito bem, precisava pensar - disse simplesmente e a amiga concordou - Que horas o avião da Jen sai? Diz pra ele ir lá pra casa depois da partida que a gente conversa. - quanto mais tarde, melhor.
- Ele quer falar com você antes da Jennifer viajar.
só podia ser masoquista. Tinha plena certeza disso.
- Eu só preciso de um tempinho pra mim mesma, . - suspirou e olhou o céu nublado que parecia acumular mais nuvens a cada minuto.
Não queria que sua vida ficasse assim, um bando de problemas acumulados por medo de os encarar, um dia ela teria que colocar para fora, teria que chover.
- Diz pro não se preocupar, eu apareço antes de irem pro aeroporto.
- ?
- Hm...? - escutou suspirar ao telefone, mas não queria responder nada agora - Depois a gente conversa melhor, amiga.
Assim que desligou o telefone, apertou seus braços contra seu corpo e observou mais uma vez a movimentação da rua, encostou-se na porta de seu carro e fixou seu olhar em um casal de crianças que brincava no parque à sua frente. Duas mulheres, que aparentavam serem suas babás, conversavam e os observavam de longe. Ela segurou o impulso de desejar voltar a ter essa idade e fechou os olhos com firmeza, não poderia começar a agir e até mesmo pensar que nem uma boba agora. Não, era hora de ser mais forte do que antes. Mas os pensamentos não paravam de lhe ocorrer. E se fosse embora com Jennifer? E se ele desistisse dos dois? E se a conversa que ele queria ter com ela era pra dizer que não queria mais que os dois ficassem? Uma onda súbita de medo lhe percorreu e ela tentou se odiar por ser como era, mas era em vão, aquela era sua pessoa, e se odiar estava longe de cogitação.
Ainda com os olhos fechados, sentiu o vento frio bater, mas já não sentia seu corpo tão vulnerável como antes, sentia-se de certa forma aquecida e protegida ali, no meio da rua, poderia ficar naquela posição o dia inteiro, se possível. Mas eram os pensamentos que a incomodavam. Permitiu-se enxergar mais uma vez e seus olhos continuaram fixos nas criancinhas. Suspirou alto e tirou as chaves do carro do bolso. Só mais uma volta e então ela ia se permitir, iria fazer chover.

Já passavam das 3 horas da tarde quando estacionou o carro em frente à casa de . O vôo de Jennifer saía às 4 e meia, se não lhe falhava a memória. Queria não ter muito tempo para conversar com o garoto, queria não ter muitas coisas para ouvir.
Travou o carro e andou em direção à porta, girou a maçaneta e ela estava aberta. Estava tudo escuro, mas ela sabia que não estava vazia, sentia a presença de ali. Respirou fundo e andou através da sala, percebeu a silhueta dele perto do sofá, a pouca luz que entrava pelas cortinas iluminava seu rosto aos poucos. Ele parecia sério.
- Pensei que você não iria vir.
Ela suspirou.
- Eu não queria. - estavam ambos calmos, e ele concordou com um aceno de cabeça - Não sei o que você pode ter pra me falar agora. Você nem mesmo deveria estar aqui comigo... Não depois de ontem.
Flashes do que aconteceu na noite passada passaram pelas mentes de ambos, e falou.
- Você deveria se ouvir as vezes. - ele fez uma pausa e os cantos de seus lábios se torceram num sorriso - Intimida as pessoas.
agradeceu pela pouca iluminação, sentia suas bochechas corando.
- Eu tenho esse efeito nas pessoas - brincou e ambos riram. - Você não vai se atrasar?
- Eu não preciso ir se você não quiser que eu vá. - suspirou pesado e a encarou.
- É melhor você ir, . - ela sentiu que poderia chorar a qualquer momento. Mas não ali, não na frente dele.
- É só pedir, . Você sabe que é só pedir - havia dor em sua voz, estava claro que o pedido não só se tratava daquela tarde.
fechou os olhos, sentindo as palavras do garoto perfurarem seu peito. Pela primeira vez estava se permitindo atingir por sua dor.
- Eu não vou pedir, . Cansei de ser egoísta. - abriu os olhos e os olhares se encontraram mais uma vez, ela desviou - Acho melhor você ir, tem alguém que precisa mais de você do que eu.
Ela sabia que era mentira. Ambos sabiam que era mentira. Mas para que mudar as palavras se elas já foram ditas? Pela primeira vez, um não consertou o outro, eles apenas provaram de suas dores. Se tornaram vulneráveis.
- Eu te amo. - falou em voz baixa, o coração dela deu um pulo.
- Não, você não ama. - ele estava a ponto de protestar, quando prosseguiu - Você não tem a menor noção do que está falando, . E não tem o menor direito de fazer isso, pelo menos não quando tem outra pessoa te esperando e desejando ouvir essas mesmas palavras sem significado que você acabou de me dizer.
- Elas têm significado!
- Não pra mim.
O silêncio seguiu e não percebeu quando uma lágrima escorreu de seus olhos até que ela chegasse em seu lábios e trouxesse aquele gosto salgado. O garoto sorriu em meio à tanta tristeza.
- Eu poderia guardar esse momento pra sempre, sabe? Você assim, falando essas coisas, não sendo você mesma... Chorando. Essa é a minha , não aquela menina que não se importa com os outros. - deixou um riso triste escapar e começou a se mexer. - Eu tenho que ir de qualquer forma... Você fecha a porta?
Ela balançou a cabeça concordando e beijou-lhe na testa.
- Você não vai embora, vai? - perguntou, se xingando por dentro, por ter deixado aquela pergunta sair. Estava sendo uma fraca!
- Eu não vou a lugar algum.
- Então você não precisa me guardar, sabe. Acho que não pretendo ir a lugar algum também.
Ambos sorriram.
- É coisa de momento, você entende.
É, ela entendia. Quando a pior parte passava, parecia que tudo entre eles acabava se tornando coisa de momento.
- Você não deveria...?
- É, eu já vou.
Mas ele não se mexeu. estava ficando incomodada, não agüentaria mais tempo naquele estado. Virou-se e colocou uma de suas mãos abaixo dos olhos e a outra na boca, limpando as lágrimas e abafando o soluço. Por que doía tanto chorar? Sentiu que ele iria lhe tocar no ombro, mas arranjou forças e balançou a cabeça em negação, ainda de costas para ele. Então escutou passos e a porta se fechando. Ela precisava sair daquele lugar.

Capítulo 9

Seria um pássaro ou um cachorro? encarava a janela onde continham vários pingos d'água, causados pela chuva forte que caía do lado de fora. Tom fazia pipoca na cozinha e o som e cheiro da comida começava a tomar conta da sala. A garota ainda encarava várias gotículas tentando adivinhar sua forma, quando o amigo voltou equilibrando duas tigelas e dois copos, também grandes, de refrigerante. Sorriram um para o outro.
- Já escolheu o filme? - Tom perguntou sentando ao seu lado no sofá, jogou a manta azul sobre ele também. - Valeu.
- Guerra dos Mundos - dera de ombros.
Ele fez uma careta, não entendia a fixação louca da amiga por Tom Cruise.
- Tudo bem - o filme não era tão ruim, pensou - Vamos ver quantas falas do Ray você decorou.
Ela deu-lhe uma cotovelada e eles puseram-se a rir, apertou o play, vibrando por uma tarde sem preocupações, apenas sendo ela mesma e sem lembrar dos problemas que a perseguiam.

acabara de desligar o telefone e corria apressada para desligar sua máquina de lavar roupas, que se debatia incessantemente na área de serviço de seu apartamento.
Ao desligar e abrí-la, tirou uma peça surrada e que parecia exalar o mesmo cheiro (sim, cheiro, pois era bom!) de antes, apesar de ter passado por várias etapas do processo de limpeza. Era a camisa de .
Lembrou-se da forma a qual se beijaram noites atrás, um beijo forte, mas doce e sem segundas intenções, o que era incrível considerando o estado alcoólico em que ambos se encontravam. Os dois não se gostavam, pelo menos não dessa forma. Ela o queria, e ele também a queria, algo muito simples, na verdade, uniram apenas o útil ao agradável. Foi isso que dissera a na noite em que todos saíram para levar Jen no aeroporto, e à minutos atrás no telefone.
- SOL! - gritou, e sua cachorrinha pug entrou na área rebolando. sorriu instantaneamente. - Cuida da casa, mamãe vai sair.
Afagou a cabeça da pequenina bola de pêlos, e levantou-se ainda com a camisa firme em sua mão. Pegou as chaves e as colocou em sua bolsa, tirou o casaco de trás da porta. Estava com aquele olhar determinado em seu rosto, e pedia arduamente que estivesse em casa.

Tinham dois pacotes de massa de bolo em sua frente. ainda segurava o telefone sem fio em suas mãos, havia desligado-o há pouco tempo (falava com ) e lhe veio à mente a súbita idéia de cozinhar, um bolo, especificamente. Só ainda não conseguia decidir de qual sabor seria.
Desde que havia recebido suas férias do programa de culinária, qual apresentava à terças e quintas em canal aberto para toda a Inglaterra, tinha passado o seu tempo com as amigas ou com o namorado. Agora ali estava ela, em casa, uma cozinheira profissional sem saber o que cozinhar. Ótimo!
O telefone, ainda em sua mão, voltou a tocar. suspirou aliviada e olhou em sua bina. Era o Tom!
- Ooi, amor - atendeu com um sorriso largo nos lábios.

Mário corria feliz em seu carrinho quando a campainha da casa de tocou o assustando. Alguns carros ultrapassaram o seu e ele soltou um xingamento entre os dentes trincados. A campainha soou novamente e ele pausou o jogo, impaciente. Andou à passos largos até a porta, a abrindo em seguida.
- !
Ela estava linda, pensou. Enxarcada e sorridente, notou que seus olhos brilhavam e ela não estava (ou ao menos parecia) nem aí para a chuva que caía e a molhava cada vez mais.
- Hã... Desculpa, quer entrar? - ele perguntou ainda meio atordoado com a visão.
entrou ainda sorrindo e agradeceu por estar tão quente e confortável ali. Tirou o sobre-tudo molhado e jogou-o num canto para que diminuísse seu fluxo de água. Olhou , que sentava no sofá e apontava o lugar ao seu lado, tímida, ela obedeceu.
- Desculpa se eu atrapalhei, hm, alguma coisa - olhou o jogo pausado e sorriu mais - Eu vim trazer sua camisa. Obrigada.
Seu nervosismo estava visível pela maneira educada a qual estava agindo, aquele não era o seu eu normal! entortou o canto dos lábios num sorriso.
Ao abrir a bolsa, notou o quanto a blusa estava molhada. Havia saído de seu prédio com ela em mãos!
- Ooops - exclamou rindo e ele a acompanhou.
- Eu ponho pra secar, relaxa.
- Hm... ok.
Se encararam ainda sorrindo. Ela corou. A campahia tocou outra vez e fechou os olhos irritados.
- Todo mundo decidiu me visitar hoje? - reclamou, fazendo a garota gargalhar - Tom?
Thomas entrou apressado na casa e fechou a porta que acabara de abrir. O outro apontou para a menina no sofá.
- SABIA QUE VOCÊ TAVA AQUI! - gritou sem fôlego, havia corrido de sua casa até a do amigo - Todo mundo... lá em casa... filme.
- Respire antes, Fletcher - pediu docemente.
Tom a olhou impaciente e apoiou suas mãos no joelhos, exalando uma grande quantidade de ar. Arrumando sua postura, depois de alguns minutos, e se entreolharam curiosos sobre o que ele queria tanto falar.
- enlouqueceu! - ele gritou gesticulando muito - Digo, nós íamos morgar a tarde toda assistindo uns filmes. Mas, cara, de repente ela começou a falar do Tom Cruise, mas não foi pouco não, foi tipo, SEM PARAR - Tom parecia mais desesperado a cada segundo - Então eu liguei pro meu xuxuzinho, sabe. mas PORRA, agora tão AS DUAS babando no ator, na MINHA CASA.
soltou um gritinho e os dois a olharam assustados. Ela correu até seu casaco e o vestiu em questão de segundos.
- Qual o filme?
- Guerra dos Mundos... - Tom respondeu com medo de sua reação, e ela gritou mais uma vez.
- Puuuuta que pariu, tô indo pra lá!
- ! - chamou quando a garota já estava na porta - Vai pra lá que a gente vai pegar o .
- O ? - Tom lançou um olhar de esgüela. Como assim? A estava em casa!
- É, ou você vai aguentar três maníacas!
O amigo suspirou e deu de ombros. Não podia evitar que os dois se encontrassem, eles eram melhores amigos! E bem, sem a Jen...
- FLETCHER! Acorda e vamos na casa do .

Batidas constantes em sua porta fizeram com que ele despertasse. Coçou os olhos com força e estreitou-os enquanto forçava sua memória em busca das lembranças do sonho que acabara de ter. As batidas ficavam mais fortes e o garoto passou a escutar gritos também, e... estava chovendo?
Levantou-se num pulo, e uma tontura quaso o levou ao chão. Tomou alguns segundos e após se recompor, correu até a porta.
- Que merda, ! Você tava desmaiado aí dentro?
gritava enquanto ele e Tom entravam na sala enxarcados. reprimiu um sorriso.
- Vocês bem que mereciam um banho, né? - brincou. Tom o fuzilou.
- Vamo lá pra casa, as meninas tão lá. A gente tá vendo filme.
- Tom Cruise - completou e fez uma careta.
- Eu nem queria mesmo - disse dando de ombros enquanto caminhava até seu quarto para trocar de roupa.
Os outros dois sorriram.

A chuva parecia nunca parar. Suas gotas, agora juntas formando uma pequena correnteza no asfalto, produziam formas de acordo com a intensidade qual os novos pingos iam caindo.
empurrou o flip de seu celular e apertou a rediscagem, o nome de com uma foto de amabas preencheu a tela pela quinta vez. A amiga lhe dissera que estava na casa do namorado, dissera também que logo arranjaria uma forma de ir buscá-la em seu trabalho. Mas já haviam se passado 40 minutos!
Recuou mais um pouco na calçada, protegendo-se pelo prédio qual acabara de sair. O teatro estava fechado agora, o ensaio havia acabado e ela negara todas as caronas oferecidas. Burra.
Xingou todas as gerações possíveis de e pôs-se a pensar como se chamaria em grau de parentesco o tio do tatatatata(...)raneto dela, então escutou uma buzina. Assim que voltou a pensar em como iria se redimir com a amiga, a janela do carro abaixou e seu coração se debateu com força em seu peito. Era .
Puta que pariu.
- Entra aí! - o garoto gritou para fazer-se ouvir em meio à chuva.
- Não, tá vindo me pegar.
- Não, ela não está, . Estão todos na casa do Tom e da vendo filme, me mandaram vir te pegar e irmos para lá.
Puta que pariu, .
- Eu não vou - respondeu simplesmente - Pode ir, eu pego um táxi.
revirou os olhos, quanta teimosia pra uma pessoa só!
- Nenhum táxi vai rodar nessa chuva, e os que estiverem com certeza não rodam por aqui.
- Espero a chuva passar então! - gritou impaciente.
- Que merda, , você sabe que não tem escolha.
Não, ela não tinha. Como era idiota! Idiota, idiota, idiota! Apertou mais o casaco em seu corpo, tirou seu olhar do rosto do garoto e vagou-o pela avenida alagada. Céus, Londres estava um caos! Não havia nenhuma pessoa ou carro em um raio de no mínimo dois quilômetros. Quantas quadras separavam aquele local de sua casa? Chegou à rápida conclusão de que eram muitas. Ah, que se danasse! Fechou os olhos com força e saiu de onde estava, começando a andar na outra direção em passos largos.
Pensou ter escutado gritar, mas ignorou na incerteza, agora fazia mais barulho que antes. As gotas chicoteavam em seu cabelo fazendo sua cabeça doer levemente. Ao apressar o passo, sentiu algo molhado bater em seu corpo e se deu conta de já estava enxarcada.
Deu um pulo ao sentir algo gelado pressionar seu cotovelo e fazer força para que ela se virasse.
- Entra, por favor.
Sua voz falou e em meio à toda aquela água, sua garganta estava àspera, seca.
- Você está molhada!
- E daí? - falou com certa dificuldade.
- Você não gosta de estar molhada - falou docemente.
Maldito. Por que ele tinha que conhecê-la tão bem?
- Eu não quero ir com você, .
- Você não tem outra escolha.
- Isso é uma merda.
Ele não respondeu à esse comentário.
- Você é um estúpido.
- Eu já sei disso o suficiente.
Sua voz era calma, suave, sentiu uma vontade imensa de socá-lo por vê-lo assim enquanto ela mesma estava totalmente o oposto.
- Você disse que ia me deixar em paz. Que merda, , me deixa em paz!
A última parte da frase saiu num grito. Ambos agradeceram a chuva, assim não correriam o risco de serem flagrados, estava tudo fechado, longe da região residencial.
O peito de subia e descia devido ao esforço e ao nervosismo, seu corpo parecia derreter com a intensidade qual a olhava enquanto aquela chuva caía sobre os dois.
Sua respiração normalizou e ela sentiu segurar sua mão. Fechou os olhos inconscientemente àquele toque, desejando que continuasse, mas que ao mesmo tempo fosse rompido, porém ela não moveu um músculo.
- Vamos, hora de ir para casa.

Capítulo 10

Aquela velha sensação de êxtase percorria todo o seu corpo, como se suas veias estivessem preenchidas por ar, e não sangue. Aquilo era bom, era extremamente bom. Lhe dava a impressão de estar flutuando. A sala estava empilhada de gente, gente que havia instalado um equipamento de som no hall, gente que bebia como peixes de boca aberta, gente que dançava em cima dos móveis, gente a qual ela ao menos sabia o primeiro nome. Aquilo era obra de , sabia disso sem ao menos lhe dizerem.
Haviam também vários isopores em cantos estratégicos da casa, eles eram separados de acordo com seu teor alcoólico, divididos em várias cores. cambaleou até o verde, seu favorito. Se alguém lhe perguntasse nesse exato momento sua cor preferida, seria verde e todas as suas cores derivadas. Inclusive aquela bebida de mesma cor qual estava despejando em seu copo vermelho no mesmo instante. Olhou a tonalidade forte do recipiente e crispou os lábios.
- Você precisa saber de uma coooooisa - lhe puxou rindo abobada, ela deve ter passado por um dos isopores verdes.
Aquilo fez sorrir, mas logo voltou à seriedade quando viu o copo amarelo da amiga.
- Eu preciso é de um copo verde. E por que diabos o seu é amarelo e o meu é vermelho? - exclamou indignada, fazendo a outra gargalhar.
- Cala a boca, idiota, e me escutaa! Tem um bando de gente se reproduzindo no seu quarto!
arregalou os olhos pra .
- QUÊ? Merda! Eu disse pra você trancar os quartos principais.
deu de ombros e começou a caminhar (ou pelo menos tentar) em direção às escadas de sua casa. Mas logo foi interrompida por uma extremamente vermelha que gritava a alguns metros de distância com um telefone celular estendido em sua direção. O álcool no estômago da garota revirou, temia que fosse o que estava pensando.
- ! - gritou mais uma vez, agora em sua frente. - Acho melhor você atender.
Ela tomou o celular de suas mãos e entregou-lhe seu copo.
- Alô? - perguntou temerosa e um rosnado veio do outro lado da linha.
- QUE HISTÓRIA É ESSA DE FESTA EM MINHA CASA?
- Puta que pariu, ! - exclamou pra amiga, ignorando um Tom furioso que ainda reclamava.
- Isso já tá é virando meu sobrenome. - falou raivosa e sumiu no meio das pessoas desconhecidas.
- VOLTA AQUI, PORRA! PORCARIA, VACA... - xingou com raiva e voltou sua atenção ao amigo - Escuta aqui, Thomas Michael Fletcher, essa casa também é minha e eu tenho direito de fazer festa ou o que seja aqui tanto quanto você.
- EU NUNCA DEI UMA FESTA QUANDO VOCÊ ESTAVA EM TURNÊ!
- Acho que isso se deve ao fato de eu nunca ter entrado em turnê, querido... - comentou sarcástica e pegou um copo qualquer em cima de um móvel, que fossem pro inferno as doenças que poderiam ter ali!
- Se quando eu voltar tiver qualquer coisinha, umazinha sequer, quebrada, você vai se ver comigo, tá me ouvindo ?
- Tô, mãe. Beijo, bom show.
Encerrou a ligação e desligou o celular de logo em seguida, colocando-o em um dos bolsos de sua saia. Tomara que ele ainda estivesse lá amanhã, ou ela teria problemas feios. Bebeu um longo gole do conteúdo de seu copo novo, mas nem ao menos sentiu seu gosto, apenas a ardência gostosa em sua garganta. Trincou os dentes e lembrou dos seres se acasalando em seu quarto. Poderia deixá-los continuar e dormiria no quarto de Tom, se é que seria capaz de chegar até lá, subir as escadas naquele momento já lhe parecia horrível, imagina mais tarde. Tomou outro gole e sua garganta ao menos respondeu tal ato, e ela pôde sentir o gosto doce da vodca que sempre tomava com em botecos, a qual nenhum dos outros gostava. Sorriu boba e apareceu puxando-a pelo braço agora sorridente. Ok, depois ela mandaria detetizar seu lençóis.

O leite recém esquentado qual bebia a fazia sentir-se melhor. Mas o cheiro que exalava dos cômodos principais da casa ainda faziam seu estômago embrulhar. havia acordado mais ou menos uma hora atrás e encontrara um bilhete de e avisando que tinham saído para trabalhar, e foi obrigada a andar até o armazém do condomínio para comprar algo comestível. Agora estava sentada na bancada da cozinha, o único lugar da casa qual havia tido coragem de limpar. Ela podia não se importar muito com a bagunça, mas comer no lixo não era seu forte.
apareceu na porta com uma careta em seu rosto e um forte cheiro de banho. Por alguns segundos sentiu-se imunda, mas logo depois afastou tais pensamentos e deu uma mordida em seu sanduíche. A amiga sentou ao seu lado e leu o recado deixado pelas outras duas. Sua careta continuava visível.
- Essa casa fede - disse simplesmente, fazendo rir. - Aqui tá o único lugar habitável.
- Eu tive que limpar, comer com cheiro de álcool e vômito não dava - concordou - Olha, , eu preciso de ajuda pra arrumar tudo isso antes das 18:00 horas, se o Tom pegar a casa nesse estado...
- Relaxa, - ela bebeu um gole do leite da amiga e a olhou feio - Eu ajudo.
Ela apenas concordou e terminou seu lanche, deixando as coisas em cima da bancada para que a amiga também comesse, subiu correndo até seu quarto (que estava incrivelmente limpo e com cheiro bom) e tomou um banho rápido, vestindo uma calça moletom e uma blusa regata, iria se movimentar bastante, o frio passaria batido assim que a limpeza começasse.

- Eles não chegaram!
A voz de soava histérica no saguão do aeroporto. e estavam sentadas nas poltronas, ambas com o rosto em mãos e cabeça latejando. andava, desesperada, entre as pessoas que saíam do vôo recém chegado.
levantou os olhos quando uma descabelada apareceu em sua frente.
- Esse era o último vôo de hoje com alguma ligação com Liverpool.
voltou a fechar os olhos ao escutar tais palavras. Naquele momento poderia jurar que conseguia escutar o coração acelerado da amiga e senti-lo se contorcendo de dor assim que ela falou. Sentia tudo aquilo pois era o que se passaria em seu organismo se ela não estivesse em choque.
Passou um de seus braços pelos ombros de , a abraçando assim que a amiga começou a soluçar, aquelas também eram sua lágrimas não derramadas. Ligara para todos, todos eles, menos . Seu coração reagiu pela primeira vez, dando um pulo e causando um frio em sua barriga ao lembrar-se do garoto. Sabia que seu telefone estaria desligado também.
- Vou ao banheiro - anunciou, soltando , que se levantou também.
- Eu vou com você.
Ela apenas concordou com a cabeça. Quanto menos falasse, melhor. Pegou o celular em sua bolsa e jogou-o para .
- - falou simplesmente.
Todas entenderam.
As duas não trocaram palavra alguma no caminho e nem quando chegaram ao banheiro.
O barulho da água correndo preenchia o lugar. Com a cabeça encostada na parede, era possível escutar toda a movimentação da água nos canos da construção. Aquilo distraía . estava em frente à pia com o rosto molhado e os cabelos no mesmo estado, agora presos num coque frouxo. Tentava sorrir em frente ao espelho, mas sua palidez estava evidente, era algo perturbador.
não a olhava, encarava o chão no qual estava sentada e de tempos em tempos pressionava sua cabeça contra a parede num ato de desespero. Era a mais calma das quatro, para quem não a conhecesse, mas seus olhos estavam desfocados e havia emagrecido três quilos. Três quilos em dois dias! Quem eram eles para fazer isso com ela?
- Quero vomitar.
andou até um dos reservados e em segundos o cheiro de vômito invadiu o banheiro. Ela sentiu a raiva tomar conta de si quando escutou começar a chorar ainda em um dos boxes.
Era para eles terem voltado dois dias atrás, pensou, mas não voltaram. Também não mantinham os celulares ligados e ninguém sabia nada sobre eles. Aquilo estava afetando elas como uma doença. Era tudo uma bela merda.
O chão estava gelado, seu sangue estava gelado, seu coração parecia não bater. escondeu o rosto em suas mãos e assim que fechou os olhos, grossas lágrimas escorrendo por debaixo de suas pálpebras. Deus, como estava preocupada!
- ?
estava parada em sua frente agora, com menos pálida ao seu lado. enxugou as lágrimas e levantou-se num pulo só.
- ligou - a garota sentiu o ar lhe escapar enquanto falava - Parece que eles compraram as passagens erradas e estão em algum aeroporto na Nova Zelândia.
- OCEANIA?
Eles decididamente eram imbecis.
- Vamos para casa - parecia fraca - Por favor.
E eles decididamente estavam fritos.

Capítulo 11

Foram as piores 12 horas de ida da sua vida. Doze horas pensando em , doze horas escutando um Fletch estressado, doze horas tentando se distrair, mas sem conseguir tirá-la de sua mente. fodia sua vida.
Agora eles dormiam em poltronas desconfortáveis esperando o vôo para casa sair.
- Elas estão putas, cara. Eu disse que desligar os celulares não seria uma boa. - sentou ao lado de - A estava histérica de tanta preocupação. A ! Preocupada comigo, dá pra acreditar?
- ? Mas eu mandei você ligar pra ! - Tom soava estressado de seu canto, estava cansado, com sono, com fome e com saudades.
- Bem, ela não atendeu. Pelo que entendi, ela tava no banheiro com a . Passando mal.
- Qual delas? - perguntou sentindo seu coração pular de dor e felicidade ao mesmo tempo. Ela estava preocupada com ele!
- Qual delas? - Tom repetiu a pergunta. Nunca se desculparia por fazer sofrer.
deu de ombros também preocupado.
- Acho que as duas - sua voz saiu baixa.
Fletch os chamou para embarcar e e Tom se olharam solidários, logo se abraçando.
- Andem, suas bichas! - reclamou ainda meio sonolento enquanto passava por eles, os fazendo sorrir.
suspirou e pegou sua mochila do chão.
Seriam as piores 12 horas de volta da sua vida.

A casa estava escura. estava escura. O rosto de ficaria escuro assim que ela pusessem suas mãos nele. Maldito.
Uma luz forte invadiu o cômodo assim que ela achou o interruptor. A sala estava impecável. Uma ira tomou conta de seu corpo e sua vontade era de deixar tudo da mesma forma qual estava dias atrás, depois da festa.
Sua garganta apertou pedindo álcool.
- Vou ao banheiro - escutou dizer, mas não lhe deu tanta importância.
Com uma mão, puxou a bolsa e andou lentamente até a porta que dava para o quintal. Seus pés pareciam pesar toneladas. Agradeceu por ter um pescoço, não sabia como ou onde sua cabeça estaria nesse momento se ele não a mantivesse presa ao resto do corpo. Parecia ter sido aterrada.
a aterrou.
Desejou que ele tivesse morrido, como pensara. Assim não se sentiria tão mal por se importar com ele. Talvez esse fosse todo o problema, afinal de contas. Vai ver ela só queria não se importar.
- Você não deveria fazer isso - assustou-se ao ver que estava sentada ao seu lado nos degraus - O cigarro, eu quero dizer. Os meninos já já chegam e você sabe que o Tom odeia eles fumando aqui.
Acendera um cigarro e não tinha ao menos notado. Estava ocupada demais sendo egoísta. Ela não se importava com isso. Era ela.
- Preocupada com o , ? - perguntou enquanto amassava o filtro de nicotina num canteiro ao lado.
sorriu.
- Eu só pensei que eles tinham morrido.
- Mas não morreram. - deu de ombros.
- Eu sei.
Se permitiram ficar em silêncio por alguns segundos.
- Eu também pensei isso - confessou fitando suas próprias mãos.
Precisava fazer as unhas.
Precisava relaxar.
Precisava de ar.
- Acho que vou dormir - declarou enquanto se levantava, permaneceu imóvel - Se quiserem podem dormir aqui, os quatro devem dar uma passada nessa casa primeiro de qualquer forma.
concordou sorrindo e lhe sorriu fracamente, virando-se em seguida. Quem sabe teria sorte e não acordaria tão cedo.
Um vento gelado havia feito com que a garota despertasse. Sentiu-se um pouco incomodada ao tentar mudar de posição e perceber que não estava sozinha em sua cama. Abriu os olhos e viu e ao seu lado, virando-se para a direita encontrou de barriga para cima encarando o teto.
- Faltam quantas horas? - perguntou em voz baixa.
desgrudou os olhos do teto e os direcionou à . A ansiedade estava estampada neles. A ansiedade estava estampada em cada músculo tenso de seu corpo. estava à beira de um colapso.
- Acho que só umas duas agora.
- Você dormiu?
- Um pouco.
concordou com um murmúrio e com certa dificuldade, sentou-se na cama, dentro do espaço limitado qual tinha para si. Não era fácil dividir uma cama com mais três pessoas, mas para ela era costume, as amigas sempre dormiam ali quando tinham festas ou algo do tipo, e acreditem, ela acordava de uma forma BEM pior do que a qual estava naquele momento.
Se bem que poderia até se igualar. Foi quando descobriu que sua dor também tinha ressaca.
Então se odiou por ser tão estranha. Ou humana. Tanto faz! Ela não gostava da mesma forma.
- Não é melhor acordar as outras?
remexeu-se um pouco e logo estava sentada também.
- Eu acordo. Seria bom se fizesse alguma coisa comestível, vomitou ontem o dia inteiro - a amiga disse enquanto, preocupada, fitava a outra dormindo.
Vomitando? teve uma vaga lembrança de pálida em frente ao espelho do banheiro do aeroporto, e em seguida ela falando que vomitaria, depois então o cheiro invadindo todo o ambiente. Lembrou-se também dela praticamente correndo ao banheiro assim que chegaram em casa mais cedo. Será que ela havia vomitado também enquanto as outras dormiam? suspirou pesado não achando nada justo as coisas pelas quais elas estavam passando.
Pelo menos agora eles estavam bem. Estavam voltando para casa.

- Então ela se virou pra mim e disse: ", meu amor, esse Chanel está fora de moda, ÚLTIMA ESTAÇÃO". COMO AQUELA VACA DISSE AQUILO DO MELHOR CHANEL JÁ LANÇADO?
e riam escandalosamente dos gestos que fazia durante sua história. tentava acalmar a amiga, dizendo que não importa a estação, todo Chanel é Chanel.
- Mas eu ainda prefiro Armani - acrescentou engraçada e escondeu o rosto nas mão, despejando lágrimas de tanto rir.
- Idiota - resmungou fazendo um gesto obsceno para a amiga.
Então elas ouviram o carro estacionando em frente à casa e o barulho das malas sendo arrastadas. O som do cascalho pisado fez com que se distraísse por alguns instantes, mas logo apertou seus dedos envolta do braço de . Era o barulho da porta.
As quatro estavam em silêncio, tornando possível escutar a oração em voz baixa de quando abriram a porta. Eles estavam se preparando para ouvir. deu-se conta de que seu estômago não estava preparado para vê-los. Céus, ela iria vomitar.
sentia os olhos das amigas procurando os seus, mas ela os manteve presos em sua meia cinza com estrelas rosas. Seus pensamentos vagavam sobre como elas estavam desbotadas e já não eram como antes, mas a garota continuava amando aquele parzinho intacto ali em seus pés. se pegou desejando ser uma meia.
Ninguém se mexeu. Os garotos pareciam esperar e elas pareciam adiar. foi a primeira, andando a passos largos até a sala. encarou as amigas e logo a seguiu. mirou ainda agarrada em seu braço, como uma criancinha indefesa.
- Pronta, amiga?
- Não - sua voz saiu forçada.
sorriu solidária e a guiou até a sala.
Um caos, uma merda. Uma bagunça, um vazio.
Não era possível organizar tudo o que estava acontecendo ali. Tudo que pensava era sobre sua vontade de vomitar e a de levar ao sanatório. Ela estava frenética.
Tom se encolhia num canto enquanto a namorada gritava furiosa um misto de insultos, advertências e várias, várias palavras saudades.
não deu-se conta de no local. Na verdade, ela o estava evitando assim que percebeu o estado histérico da amiga. que queimasse no inferno, precisava dela.
Puxando consigo e ainda sentindo os olhos de sobre si, as duas abraçaram rapidamente enquanto ela chorava de forma violenta chacoalhando todo o corpo e balbuciando coisas sem sentido. tentava acalmar Tom inutilmente.
- , me larga! Eu preciso ver como ela tá!
o encarou. Os olhos dele carregavam uma dor imensa. Ela não foi capaz de encará-lo por muito tempo. Tom sabia ser expressivo ao extremo. Aquilo era demais pra ela.
- Não se aproxime, Fletcher - falou ainda sem encará-lo.
desviou seu olhar da parede e fixou seus olhos na garota. Aquilo fez com que estremecesse, mas continuasse sem olhá-lo. Ele percebeu rotineiro tom frio na voz dela, misturado com um tom machucado. Ele fechou os olhos absorvendo seu timbre e matando uma saudade inevitável. Isso só tornava tudo mais difícil pra garota, que tentou ao máximo não o encarar e continuar focada no drama do outro casal, que pelo menos dessa vez, não era ela e .
descontrolou-se nos braços de .
- Eu estou grávida, seu idiota. Estou esperando um filho seu!
Puta que pariu, .
Então num piscar de olhos o coração de estava em seus pés e seu cérebro parou de ser oxigenado. Tom estava hiperventilando no outro canto da sala, mas ela não deu a mínima. sentia que poderia desmaiar à qualquer instante. Uma mão tocou-lhe no ombro e ao virar-se encontrou os olhos azuis de a encarando.
Merda.
Mexeu os ombros visando quebrar o toque entre as peles que lhe transmitiam pequenas correntes elétricas. Já bastava toda a confusão em seu estômago, cabeça e pernas, ela não precisava sensibilizar mais ainda a si mesma. Assim que se viu livre da mão de , disparou escada acima. Sua primeira parada foi no banheiro, ela vomitou tudo o que havia comido e até mesmo o que não comeu. Permitiu a si mesma chorar enquanto isso. O que diabos estava acontecendo com a vida deles?
A sensação da água que ela havia jorrado em sua boca para tirar o mal gosto antes de ir para a cama deitar-se foi tudo o que ela foi capaz de sentir além da confusão e de seu chão sumindo. não queria que o chão sumisse, a única coisa que precisava desaparecer era ela mesma. E talvez . E a maldita música que ele fez para outra. E a ânsia em seu estômago. E a gravidez de .
Quem sabe se contasse até três tudo voltaria ao normal.
Um.
Dois.
Três.

Capítulo 12

O nome dele era Charlie. O nome de sua bunda era Sam, pelo menos era assim que a chamava nos últimos minutos quais admirava o barman. Deus, como ele era quente.
- Você pode parar de encará-los? - perguntou ao seu lado - A bunda, e o cara.
- Dá um tempo, - ambas sorriram quando Charlie se aproximou delas no balcão.
namorava, não. estava sóbria, não. estava grávida, não.
Era isso. Ela tinha todos os motivos que precisava.
Sorriu de forma provocante ao rapaz e ele deu uma piscadela, indo atender outras pessoas.
Oh, Charlie seria dela.
- Tom está demorando - reclamou impaciente.
queria dar-lhe algo com álcool para que se acalmasse, mas aquilo mataria seu sobrinho. É, álcool estava fora de questão.
- Eles estão ensaiando até tarde. Relaxa. - pausou para tomar um gole de sua vodca com água gaseificada de limão, sentindo aquela sensação boa percorrer seu corpo - As meninas que tão demorando... VÁ SE FODER! - ela gritou para um cara que passou apertando sua bunda - Nojento.
gargalhou segurando sua coca cola.
- não vem. Ela não fala com desde sexta.
Oh, claro. O dia que os garotos voltaram de viagem, o dia da confusão.
O estômago de embrulhou e ela pediu um refrigerante, deixando sua outra bebida de lado.
- deve ta dormindo, como sempre - suspirou alto e Charlie reapareceu com sua coca.
- Sua bebida, madame.
- Obrigaada, Charles. Vou precisar.
- Charlie - o homem a corrigiu.
- Hm, ok... Charlie. - ela falou sorrindo.
Ele sorriu divertido. O som de seu nome sendo pronunciado por ela naquele estado semi bêbado a tornava mais interessante ainda aos seus olhos. Ela queria ser mais interessante aos olhos dele. Era um puto jogo de interesses. Pelo visto os dois sairiam ganhando.
Por enquanto.
tossiu alto.
- Eles chegaram.
Foi como se tudo então tivesse parado, o que de certa forma era verdade. Todos haviam parado para admirar os recém chegados que iam na direção das garotas. Todos queriam um pedaço de um McFly. Bem, não queria.
Pelo menos não tanto assim.
Ela desviou seus olhos para o barman ao seu lado e desejou que ele não os quisesse de forma alguma. Tremendo desperdício se um pedaço de carne como ele fosse gay. Perda total. E depois ela nunca se perdoaria por ter flertado com ele.
apareceu ao seu lado, dando um beijo estalado no canto de seus lábios. Ele cheirava à hortelã, isso a fazia querer colocá-lo na boca.
"Não, controle-se", disse a si mesma, e quando se deu conta seu barman gostosão já havia sumido.
- Oi, fofa. - falou animado.
Ela queria socá-lo.
filho da puta.
- Oi, - tentou colocar toda a frieza disponível em sua voz.
- Cadê as outras, afinal?
- Aah, não sei - respondeu indiferente ainda procurando Charlie atrás do balcão.
- ? - a chamou, ela continuou o ignorando. - ? !
- Caralho, !
Como era tão complicado fazer as coisas quando ele tava ali. Por que não podia simplesmente sumir de sua frente? Ela o encarou e reparou em como seus olhos estavam intensos, perfurando sua alma como de costume, fazendo com que seus pêlos nos braços se arrepiassem. mordeu o lábio ainda o encarando, estava claro o estágio no qual se encontrava, mas também estava claro que naquela noite não o estava acompanhando. Hoje era dia de ficar. Mas não pra ela.
Não com Charlie e sua voz sexy estampada em sua mente como um carimbo permanente.
Ou semi. Tanto faz. Já havia tomado drinks demais para começar a achar que ele era o amor da sua vida. Isso sim seria permanente. Como .
Bosta! que fosse à merda.
- Preciso de ar. Vou dar uma volta - ela se levantou, o barman não estava ali - Onde estão o e o ?
- Foram se arrumar antes de vir - ele levantou-se também num pulo animado - Vou com você.
- Não, você não vai. Sem guarda-costas pra mim hoje.
Bingo!
permaneceu onde estava e virou-se, fazendo seu caminho no meio das pessoas com o coração batendo loucamente pelo atrevimento que teve ao dispensar daquela maneira. Puta que pariu, por que ela tinha que se sentir mal sempre que o deixava de lado? Não era isso que ele sempre fazia? A deixava de lado? desejou desesperadamente que ele sentisse a mesma dor no peito toda vez que o fizesse.
Encontrou Charlie perto dos banheiros, ele conversava com duas garotas. Ou duas putas, como preferir.
- Sem chances pra vocês - resmungou pra si mesma e andou na direção dele - Hey.
Charlie desviou os olhos das meninas na sua frente e abriu um largo sorriso assim que visualizou ao seu lado. Ela sentiu-se satisfeita. Adorava ser o centro das atenções, e Charlie parecia colocá-la num pedestal. Isso só fez com que seu interesse por ele crescesse. Deus, como ele era tentador.
- Pensei em vir te procurar. Não tem ninguém no bar, preciso de mais bebida.
gritava contra o som alto da boate. Charlie inclinou-se para falar em seu ouvido.
- Engraçado, porque meu expediente acabou e o cara das 2:00h já deveria ter entrado.
Mi-co.
- Hm... ok - seu rosto estava tão vermelho quanto um pimentão, como fora capaz de cometer um erro desses?
Era o álcool. Só podia. Sorriu amarelo, sem sair do salto. nunca saía do salto na frente dos outros. Por mais que esses outros a fizessem sair de toda a roupa que ela estava vestida.
- Charlie, a gente vai ou não? - uma das garotas (putas) falou tentando tirá-lo dali.
Vaca.
suspirou e deu as costas a eles, precisava voltar para o bar e ter sua dose de diária. Seu coração bateu mais forte ao pensar nisso. Talvez a noite não estivesse totalmente perdida.
- Hey - Charlie a chamou, puxando-a pelo braço, colando seus corpos. Ela o olhou atordoada - Vem, eu te pago uma bebida.
Ela sorriu automaticamente ao escutá-lo, colocando uma mão em seu pescoço e o puxando pra mais perto. Os lábios de Charlie estavam quentes e carnudos, mas o coração dela voltou ao ritmo normal assim que saiu de sua mente. Bem, só o coração, porque o contato seguinte da língua de Charlie contra seus lábios pedindo passagem e suas mãos grandes e fortes apertando a cintura dela contra seu corpo fazia seu corpo responder imediatamente. De uma ótima maneira.
Talvez a noite não estivesse totalmente perdida mesmo. Nenhuma parte dela.



Capítulo 13


caminhava de um lado para o outro na cozinha e gritava com ela sobre os cuidado com os pratos novos que Tom e tanto amavam. revirava uns DVDs de Tom atrás de algum que prestasse.
estava na merda. Como sempre.
Havia se passado uma semana desde que ficara com Charlie na noite do bar, e eles tinham se visto apenas uma vez, um café, uma conversa, um selinho quando chegou e outro quando ele a levou até o carro. Ela havia visto no homem algo que a atraía, algo BEM físico, por assim dizer, mas o rapaz estava lhe saindo mais meloso do que tudo. Onde estava toda aquela masculinidade do uma-transa-de-uma-noite-eu-não-te-ligo-e-você-corre-atrás-de-mim? Talvez o nome que ela havia dado ao lance tivesse estragado tudo. Merda! Maldita moda de nomes grandes.
Ele havia ligado pra ela dois dias depois e a chamado para o café, e agora ele a ligava todos os dias simplesmente pra bater papo. Ela não queria isso! Queria que Charlie a ligasse nervoso uma semana depois, dizendo que precisava dela, e implorando pra mais uma chance de colar seu corpo no dela e sentir seu cheiro, tocando todo o seu corpo...Pois é, ele não fez isso. E voltou à estaca na qual sentia que a única pessoa que poderia querê-la no mundo era .
, , . Até mesmo o nome do rapaz fazia seu coração pulsar mais forte. Como ela odiava aquilo! Odiava depender dele e agradecia por conseguir esconder tanto assim sua dependência. , , . Olha que nomezinho chato...
- é um nome legal! - soltou um grunhido de descontentamento ao escutar falar aquilo, as outras amigas riram - Não disse? É só falar nele que ela acorda. Querida, nós estamos precisando de uma mãozinha sua aqui. Pode sair do país das maravilhas?
- Eu estava na merda, ok?! - ela respirou fundo começando a ficar entediada.
- Você estava pensando no .
não respondeu, e soltou um gritinho a abraçando.
- Minha amiga estava pensando no fofinho dela!
- Me poupe, .
- Eu estou demonstrando afeto, .
as interrompeu impaciente.
- Oi, eu preciso de ajuda de como eu vou chamar essa coisa aqui - falou apontando pra a barriga, fazendo rir do seu tom indignado.
Sua barriga ainda não era perceptível, tinha apenas 3 semanas, mas havia incorporado um instinto materno impressionante. Mais do que antes, agora ela parecia a mãe de todos ali. sorriu automaticamente ao encará-la, por que as grávidas ficam tão adoráveis? nunca foi adorável!
- Eu gosto de Samantha!
- Bingo - concordou.
fez uma careta indignada pedindo ajuda a com o olhar.
- Ela vai ser o que? Uma bruxa?
- Abracadabra! - gritou e todas riram. Tom entrou na sala.
- Bruxas são legais..
- Não a nossa filha, amor - falou autoritária e ele apenas concordou andando até a cozinha. A garota colocou um bolinho de queijo em sua boca e pensou outra vez - Edward é charmoso.
- Adooooro... - começou, mas foi logo cortada por .
- E ele vai nascer com quantos anos? 100?
Tom gargalhou encostado no portal da porta da cozinha e bufou irritada.
- O filho é meu, droga!
- Thomas, ajuda aqui - pediu, mas o amigo apenas voltou à cozinha.
Ótimo. Aguentar a estressada era o fim!
- JONAS!
- Não preciso de nomes da roça que me lembrem Edimburgo, .
- Ah, - ela choramingou - Era o nome do meu paquerinhaa!
- Oh, céus! Tudo que menos preciso agora é um filho com o nome de alguém que você comeu.
- Ele era bom? - brincou e lhe deu um pedala.
Alguém gritou do lado de fora da casa e todos riram. deve ter colocado fogo em alguma panela de novo. Pobres panelas. riu para , e deu-se conta de que ambas pensavam o mesmo.
Ele precisava dela.
odiava a forma qual suas amigas eram burras à vezes. Como a de para engravidar, ou a de para fingir que esqueceu o , ou até mesmo a de de não se apaixonar por ninguém. A burrice dela ao renegar já era o bastante, as outras não precisavam contribuir com as delas!
- Bem...eu tenho um nome - se pronunciou.
- Eu gosto de Lindsay!
- Sem drogadas, . quer falar.
Tom entrou na sala e sentou-se ao lado da namorada. Ela sorriu ao sentir a mão dele em seu ventre.
- Michael. Eu gosto de Michael.

Já era a terceira vez que Angel, de Jack Johnson, soava do celular na cômoda ao lado da cama. Talvez fosse a distância entre ambos os móveis, ou a preguiça de mover seu corpo até o aparelho, ou até mesmo o fato de ser , não tinha a mínima vontade de atender. A música parou, mas logo voltou a tocar.
Merda, era um merda.
- Hm - a garota murmurou impaciente, havia um barulho ao fundo, algo distante.
- ...
Era o mar! estava na praia? Com aquela chuva que caía?
- Oi, lindo.
- Não fala nada, ta? Só me escuta - ele fez uma parada para respirar, e sentiu seus próprios pulmões se encherem com a quantidade de ar tomada pelo garoto. Era uma sensação engraçada. - Não gosto disso de não te ter, de nunca saber quando você é minha ou do mundo, mesmo sabendo que você nunca é de fato minha. Às vezes te procurar parece tentar pegar fumaça com as mãos - ele engoliu em seco e foi possível escutar, talvez pelo fato de estar com o telefone super-pressionado contra seu ouvido - Não é uma sensação boa. Eu gosto de te ter.
- ...
- Deixa eu terminar.
Onde ele queria chegar? Acabar com ela de uma vez? Se quer que eles fiquem, que diga de uma vez, mas conversinhas sensíveis eram golpe baixo nesse momento.
- Por que a gente não pára de joguinho e volta ao que era antes? Eu cansei de dar um tempo.
- Que dizer...
- Quero você só minha de novo, e eu só seu. Nem que pra isso a gente tenha que se casar! Eu não me importo, eu caso com você quantas vezes for possível.
- Não diga tolices.
- Não sou tolo!
Sim, ele é. tinha um sorriso em seu rosto e poderia imaginar o que estava no rosto dele também, poderia materializar em sua frente um enxarcado falando no telefone e olhando para o seu nublado, gritando contra o vento e sorrindo do silêncio que ela conseguia fazer. Aquele era um momento deles. Só deles. Ninguém podia o tirar deles.
Aquilo fazia o amor que a garota sufocava em seu peito crescer como nunca. Fazia seu coração doer de burrice.
- Você promete que vai lembrar disso amanhã? - tinha os olhos fechados e rezava para que ele não estivesse bêbado ou fosse apenas uma brincadeira, ela estava abrindo o coração pra ele mais uma vez, droga!
- Prometo. Eu vou.
- Enquanto você lembrar, eu vou ser sempre sua.




Capítulo 14


Era Natal. Na verdade, era próximo ao Natal, mas aquela energia já contagiava a todos. Era um daqueles momentos os quais estar perto de lhe causava problemas. Ele estava frenético!
e saltitavam sorridentes falando qualquer baboseira enquanto apontava pra toda e qualquer vitrine, fazendo comentários desnecessários. não estava no mesmo lugar mental que eles, então apenas balançava a cabeça e sorria para o amigo, estava distraída, longe.
Ela não queria estar no shopping comprando presentes de Natal. Ela mal tinha idéia do que ia comprar de Natal para sua mãe! Quanto mais pra os seus amigos. Na real, só queria estar em casa, ao lado do telefone esperando ligar da casa dos pais dele, onde havia ido para garantir a viagem do feriado antes deste mesmo acontecer. Era adorável esse lado família do garoto.
- Não vou dar presente pra o Tom - comentou alto mais na frente e chamou a atenção de , para que a garota também ouvisse - Será que um filho não é o bastante?
Sua voz estava mesmo indignada. Os outros três gargalharam atraindo mais atenção do que deviam. se escondeu em e falou com .
- Tenha gêmeos e já vai garantir o Natal do ano que vem.
A grávida cutucou a própria barriga, que já começava a notar.
- Vamos, fofo, se divida e faça a mamãe economizar a bunfunfa!
Os amigos riram mais uma vez.
Será que se engravidasse de , também ficaria livre do presente de Natal? Ela suspirou enquanto observava os amigos entrarem numa loja. Não tinha a menor idéia do que dar de presente para o namorado.
Namorado.
Fazia tempos que ela não o chamava assim, e era tão bom, mesmo com todo um pacote de horríveis conseqüências que vinham junto. Continuava sendo bom. Ela não se importava, ter só pra ela mais uma vez, e ainda mais a oportunidade de ser uma pessoa melhor para ele já era sensacional. Como um viciado recebendo sua droga. Droga, droga, droga. , , .
Mas todo o amor que sentia naquele momento não ia solucionar o que a estava incomodando. Sua cabeça estava bloqueada para idéias.
Merda!
- Se eu der um brinco de ouro pra , fica muito na cara?
encarou , que agora estava ao seu lado, pensativo. Seus sentimentos também floresciam na época natalina. era em si, bem estranho, e agora era um estranho obcecado por . A garota sorriu.
- Ela vai amar.
Ele a olhou sorridente e saiu feliz para comprar a jóia.
Angel começou a tocar em sua bolsa.
- Oi, amor - todo o tom de estresse havia sumido de sua voz.
- Fofaaaaaaa, comprei seu presente! E aqui ta friiiiiio!
Um sorriso duro se formou em seu rosto.
Minta, minta, dizia para si mesma.
- Eu também, fofo! - sua voz soou um pouco histérica.
Porra, ele ia perceber.
- Você não comprou, verdade?
Bingo! Ela poderia lhe dar uma bola de cristal agora.
- Oh, ...
- Você sabe que se não comprar agora vai se esquecer, não sabe?
- Mas eu não sei o que comprar-ar - fez sua voz infantil, tentando não estressá-lo tanto.
- Eu quero meu presente, .
Ele era tão irritante às vezes.
suspirou alto, encarando o teto do shopping, pensando em alguma coisa útil que pudesse comprar para . Ainda conseguia escutar a respiração dele do outro lado da linha. Pegou-se desejando essa respiração em seu rosto. Estava com tanta saudade que quase podia sentir seu cheiro!
- Se eu te der cuecas, você se importa? - soltou de uma vez.
Ele gargalhou.
- Você promete tirá-las depois?
não tinha a menor idéia do quanto ela se contentaria em poder tirar as que ele estava usando agora mesmo.
riu e pressionou o aparelho contra seu ouvido, como fazia sempre que o queria sentir mais perto de si. Mania infantil.
- Quando você volta? - ela perguntou num tom baixo.
- O desespero pra tirar minhas cuecas já é tanto assim?
- ! Você é impossível...
Ambos riram, e escutou alguém conversando com ele ao fundo, tanto o garoto quanto a outra pessoa falavam coisa incompreensíveis. Ela franziu o cenho. Ele voltou a falar com ela.
- Tenho que desligar agora.
- Quem era ai com você?
Ele demorou um pouco pra responder.
- Ninguém importante.
- Você quer que eu acredite - não era uma pergunta.
Ele suspirou impaciente. Quem deveria estar impaciente naquilo tudo era ela.
- Se eu tiver te colocando chifres, você vai sentir, .
Ele era muito irritante às vezes.
- Infantil!
- Ciumenta.
- Que saco, . Vai logo, vai! Pode desligar agora.
- ...
Ambos continuaram calados, mas sabiam que nenhum dos dois havia desligado.
- Eu só vou sair com uns amigos - ele comentou na defensiva, sua voz ainda tinha o tom irritado.
- Eu só estava curiosa, você sai com quem bem entender, eu não mando em você.
Ele suspirou pela milésima vez.
- Pensei que agora fosse minha namorada.
- Pensei que você já soubesse como eu ajo. Você pode sair com quem bem entender, . Só me avise quando não estiver mais afim de me ver.
Seu peito doeu ao dizer aquelas palavras. Estava tentando ao máximo expor sempre seus sentimentos e fazer tudo dar certo daquela vez. Mas o garoto sabia como irritá-la.
- Isso é idiotice. Se você pedir pra eu não sair, eu fico em casa a noite inteira.
mordeu o lábio. Odiava quando ele falava que se ela pedisse, ele faria tudo. Ela queria que ele fizesse as coisas sem que ela precisasse pedir!
- Vai se divertir, fofo - sua voz saiu mais calma, não queria que o coitado deixasse de se divertir - Só seja prudente, está muito cedo pra eu ganhar fama por ai.
Ele gargalhou, e de repente não queria mais tanto assim falar com o namorado.
- Olha, o ta me enchendo o saco pra eu ajudar ele com o presente da . - mentiu, logo se arrependendo - Me liga antes de dormir?
- Se eu já tiver chegado...
Ridículo.
- Tá, ok, beijo.
desligou o telefone antes que ele conseguisse falar algo mais. Era patética a forma qual não conseguia controlar seu ciúme, tinha que maneirar, a forma qual ele interagia com sua frieza era realmente estranho.
Deixando para depois a compra de seus próprios presentes, concordou quando todos preferiram ir direto para suas casas e jantar lá mesmo. Estavam cansados demais para um jantar no shopping em hora de pique, haviam mais pessoas que os reconheceria do que antes.
seguiu sozinha em seu próprio carro para seu apartamento. deu carona às outras duas, até a casa de e Tom, onde estava morando havia algum tempo. Aquilo estava sendo bem útil para ambas, que odiavam ficar sozinhas. E agora que todos os meninos decidiram ver suas famílias antes do Natal (com exceção de ) a casa estava mais abandonada do que nunca.
voltou ao estado astral todo o caminho para o condomínio. Sua cabeça estava a mil! Voava de , à noite que ele teria com os amigos, aos presentes de Natal que teria que comprar, e voltavam para . Deus, ela estava enlouquecendo! Pra que tanta preocupação por coisas tão insignificantes?
- Não quer entrar para comer, ? - perguntou enquanto fechava a porta do carro dele, já do lado de fora de casa.
- Dessa vez eu passo, vocês me cansaram! Só preciso de um bom banho e uma boa cama.
- Gay - murmurou quando ele já havia partido o carro e ela abria a porta de casa com a amiga.
gargalhou e andou até a cozinha, gritando se queria algo para comer também. Ela recusou automaticamente e andou até as escadas, sua mente ainda estava meio por fora de tudo.
- Você ta bem, amiga?
Se ela estava bem?
A pergunta ficou no vácuo por um bom tempo. Ela não se sentia bem, mas não tinha motivos para não estar bem. Droga, tudo era tão complicado, e a única coisa que ela conseguia entender era que precisava de ao seu lado. Agora!
Quando sua felicidade depende de algo, e isso parece estar escorregando de suas mãos, o desespero parece ser pouco, o choro parece ser pouco, o choque parece fichinha.
Ela precisava de . Era só.
- Não - respondeu simplesmente - Eu odeio por não estar aqui! Mas que merda, eu to me sentindo um lixo e nem ao menos sei o porquê!
crispou os lábios. Sabia muito bem como era se sentir vazia, e querer ter algo ao seu lado quando é o mais impossível de se conseguir em tal momento.
- Você nunca pareceu se sentir assim em relação à ele.
fechou os olhos com força, amaldiçoando a si mesma por ser como era.
- Eu só nunca demonstrei.
concordou em silêncio, e se remexeu inquieta.
- Ele te ama, amiga. Ele vai voltar pra você.
Mas que droga, ela sabia daquilo! Mas era tão difícil entender que seu surto preciso-de-meu-namorado estava acontecendo agora?
- E eu nem ao menos sei o que comprar de Natal pra vocês - escondeu o rosto nas mãos - Meus hormônios estão uma droga.
- Bem sei.
Ambas riram e mandou um beijo para a amiga, seguindo para o quarto.
Deitou-se na cama sem ao menos se despir, puxou o celular do bolso traseiro de seu jeans e digitou uma mensagem rápida pra o namorado.
Ocupado? Cinco segundos depois, o aparelho ainda em sua mão começou a vibrar. O nome de estava estampado na tela. Um sorriso se estampou no rosto da garota.
- Oi, ném - ele atendeu fofo.
Ela teve vontade de chorar. Odiava TPM, odiava ficar longe de .
- ... - ela começou e ele continuou calado, era possível ouvir sua respiração forte do outro lado - Eu estou com saudades...
- Eu também, - sua voz estava baixa, com o tom que sempre adquiria quando eles tinham seus momentos casais, ela agradeceu mentalmente pelo fato das palavras do garoto terem soado sinceras.
- Você sabe que eu te amo, não sabe? Assim, muuuuito! - o que diabos estava acontecendo com ela? As palavras saíram de sua boca sem ao menos ter chance de se controlar.
Não estava arrependida. Desconcertada um pouco, mas não arrependida.
Ele riu e sua voz saiu distorcida, como se o telefone estivesse colado contra sua boca. sentiu como se seus lábios pudessem tocá-la. Deus, como era patética!
- Eu também, fofa... Mas ainda quero minhas cuecas.
Ambos riram calorosamente e ela girou na cama, imaginando o sorriso malicioso no rosto do namorado.
bobão.



Capítulo 15


Alguém já lhe disse que o silêncio é um barulho assustador?
Não era preciso abrir a janela para saber que estava nevando, notava-se através do ar gelado que entrava pelas frestas da porta da sacada. Aquilo faria qualquer um flutuar. Mas os pés de estavam firmes ao chão, quer dizer, seu corpo estava bem preso na cama. Um toque quente de uma mão carinhosa que fazia movimentos circulares em sua barriga nua a mantinha aquecida. a mantinha em si.
Ele costumava lhe falar sobre como o silêncio o aterrorizava, só para mantê-la falando, e poder ouvir sua risada quando a garota repetia que ele já lhe dissera aquilo milhares de vezes. Era engraçado como duas pessoas inconstantes aderiam à uma rotina quando juntos.
Mas ela, a rotina, estava sendo quebrada agora. Nenhum dos dois ousava falar, estavam submersos demais em seus próprios mundos. Submersos um no outro.
O relógio da mesinha de cabeceira apitou, anunciando meio-dia. remexeu impaciente os pés enroscados com os da namorada e fez um barulho indignado com a boca. sorriu, mas continuou imóvel e silenciosa. Sua mente ainda trabalhava, estava longe de seu corpo. Ela não tinha a menor noção de como havia conseguido sorrir.
Ações assim já haviam se tornado automáticas perto de .
- Posso dormir mais 30 minutos?
Não, ele não podia. Hoje era véspera de Natal. Eles tinham que levantar para almoçar dali à uma hora com os outros, e então começaria o longo dia de arrumação da casa enquanto os meninos tomavam vergonha e iam comprar os presentes de última hora.
Era sempre assim. Sempre. Malditas rotinas.
- Você não comprou os presentes, ! – despertou do seu transe e virou seu corpo, ficando de frente para o dele.
O garoto sorriu e tocou os lábios brevemente nos dela.
- Eu comprei o seu.
bufou.
- E ainda falta o de mais meio mundo! Até eu já comprei os meus, – todos os anos eram as mesmas brigas pelo atraso, e mesmo assim nunca mudava.
Olhando por esse lado, eles não eram tão inconstantes quanto pensavam. Pelo menos não nesse sentido.
- Que tiveram um bom uso, aliás – brincou com um sorriso no canto dos lábios e a namorada sentiu a pele esquentar.
As boxers azuis celeste com estampa de ursinho haviam sido o presente adiantado de Natal de para . E agora elas estavam em algum lugar pelo chão do quarto dela, talvez brincando com as outras peças de roupa perdidas por ali. Ursinhos podem ser tão crianças.
Ela sorriu em meio aos pensamentos bizarros e beijou-o na ponta do nariz.
- Te deixo dormir 20 minutos enquanto eu tomo banho e me arrumo.
E lá estava ela quebrando a rotina de chutá-lo da cama.
sorriu feliz.


A temperatura da água do chuveiro estava perfeita. Ela caía em seus músculos e lhe causavam um relaxamento instantâneo, dispersava seus problemas num piscar de olhos. Seu banho era seu mantra, assim como o sono de era o mantra dele.
Ninguém consegue sobreviver sem vícios e maus hábitos. Ninguém. E decididamente não seria a primeira exceção.
- ANDA LOGO, PORRA! – a porta do banheiro vibrou assustadoramente e alguém berrou do outro lado.
Num reflexo, desligou o chuveiro e seu corpo ficou estático por conta do susto. Seu cérebro voltou a trabalhar depois de alguns segundos, processando a voz.
- Tom? – perguntou confusa.
Mas foi quem respondeu.
- O já ta tomando banho em outro banheiro. Anda logo pra a gente almoçar, !
Ela conseguiu escutar várias vozes e risadas de homens ao fundo e imaginou quantos deles estavam reunidos em seu quarto. Uma luzinha de perigo se acendeu em sua mente. Homem era um bicho alarmante, e homens neanderthais como seus amigos eram piores ainda.
Depois de alguns segundos as vozes se tornaram mais claras. Ela se deu conta de que podia escutá-los.
- Deus, esses dois são mais preguiçosos que a ! – continuou a reclamar.
A risada estridente de soou ao longe.
- Imagina só como a coisa tava boa.
Ela ligou o chuveiro para terminar o banho, sentindo a temperatura se elevar alguns graus.


Ao sair do banheiro já vestida, de cabelo seco e perfumada, encontrou um clã sentado em sua cama. , Tom, e estavam empoleirados em meio aos lençóis bagunçados e riam de forma demente (como sempre) de alguma coisa possivelmente engraçada. Ou pervertida.
Ela apreciava a cena de seus meninos em seu habitat natural quando notou uma juba castanha à mais na cama.
Espera! Castanha?
- BOURNE?
Os cinco garotos pararam o que faziam e a olharam. Todos ficaram estáticos ao vê-la tão simples e tão linda. Mas apenas dois deles sorriam. Pela primeira vez, não reparou na forma qual sorria que fazia todos os pêlos de seu braço se eriçarem, nem em como seu olhos repuxavam no canto quando isso acontecia. Não com a saudade apertando no peito e o sorriso de James tão escancarado em sua direção.
Fala sério, era o sorriso do James!
- Cadê o gambá que ficava na sua cabeça? – ela quebrou o silêncio com a pergunta que martelava em sua mente. simplesmente amava o cabelo antigo de James.
riu (lê-se cospiu) em Tom, que lhe mandou um dedo em xingamento e Bourne deu um pulo da cama.
- Dá pra você me cumprimentar de forma decente ou ta difícil?
Quais os tipos de problemas mentais que ela tinha?
Eles se abraçaram longamente, e James começou a contar piadas no ouvido da garota, prendendo-a com o braço ao redor de seu pescoço, a fazendo se contorcer de tanto rir. Era impossível não rir com James por perto. Quer dizer, bastava você olhar pra ele que já estava rindo! O garoto era uma figura.
- Você já pode largar ela, Bourne – duas vozes soaram em uníssono.
Uma garota loira e estonteante estava ao lado de na cama do quarto. Era Gabriela Arciero.
O coração de parou mais uma vez. Eram surpresas demais pra um Natal só. Eram surpresas demais pra um dia só! Ou 10 minutos!
Seria o Natal da sua vida.
- GABRIEEEEELAAA.


Os setes desciam as escadas felizes, e discutia com e sobre em qual restaurante iriam, quando Gabriela chamou suas atenções.
- Hm... Espero que não tenha problema, mas eu trouxe uma amiga esse ano – ela estava visivelmente sem graça, e lhe sorriu sincera.
- Amiga? É mulher? – estava eufórico. o estapeou.
- Fica na sua que a ta aqui.
Ele ficou na dele. Gabriela riu e voltou ao foco da conversa. Um sorriso animado surgiu em seu rosto.
- Então, todo mundo já conhece ela, menos vocês aqui... Ela é bem bonita. E legal. E faz o tipo de vocês.
- Não sei se preciso de outra pessoa fazendo o tipo do fez bico e a beijou na bochecha.
- Meu tipo é você, fofa.
Eles já estavam na entrada da sala, e podiam escutar as vozes das meninas conversando mais à frente. logo pôde ver uma cabeça de cabelos castanhos à mais que pertenciam à garota nova.
Num estranho lapso, seu coração apertou e automaticamente sua mão apertou mais a de . Ele a olhou de canto de olho, mas a garota continuava encarando as meninas à sua frente, com o coração num aperto frenético. O que diabos estava acontecendo?
- Tudo bem? – ouviu sussurrar, mas não foi capaz de responder por falta de voz e porque Gabbi saltitou à frente de todos naquele exato momento.
- Esses são...
Ela começou as apresentações e ficou estática, saindo um pouco de órbita. A garota era mais bonita do que ela esperava, e vestia os tipos de roupa que chamaria a atenção de qualquer um dos meninos que estavam naquela sala naquele momento. Mas alguém já havia atraído a atenção da garota de cabelos castanhos.
Seus olhos fixaram-se em .
- e – seus sentidos voltaram ao ouvir seu nome na apresentação.
Os músculos de suas bochechas forçaram um sorriso e os olhos da garota nova brilharam ao escutar o nome de seu namorado. O sorriso amarelo parou na metade do caminho.
- ... Essa é a Samantha.






Capítulo 16


Calor. Muito calor. A sala estava mais parecida com o inferno. E estava de frente ao próprio capeta.
- Fofaa! Vem escutar a história da Sam, parece aquela vez em que você jogou as chaves na cabeça do Tom e...
Oh, agora ele chamava a garota nova de Sam? Detestável, pensou. continuou falando algo sobre o tal conto que Samantha tinha narrado, mas lhe deu as costas, andando em passos largos até a cozinha, sem nem ao menos perceber a careta que o namorado fizera ao notar seu descaso. O que diabos estava de errado com ela essa noite?
Tudo.
- Meu Deus, que bicho te mordeu, ? - Tom estava encostado na pia da cozinha com uma taça de vinho numa mão e o cenho franzido ao ver a expressão raivosa no rosto da amiga.
- O Satanás.
- Sério? - ele perguntou brincalhão, tomando um gole da bebida antes de sorrir para ela - Eu seempre quis conhecer alguém lá de baixo.
- Você já conheceu, Thomas - se aproximou do garoto e pegou a taça de suas mãos, tomando um grande gole e devolvendo-a em seguida - Samantha Who?, está lá fora.
- Samantha quem? - piada sem graça. Muito álcool no organismo de um Fletcher.
- Esqueça. Idiota.
Tudo o que menos precisava naquele momento era de alguém que lhe dissesse o quanto Samantha poderia ser legal, e engraçada e mais dez mil coisas que sequer compensavam o fato dela não desgrudar os olhos de a noite inteira. Aquilo estava levando à loucura. Por quanto tempo mais ela teria que agüentar aquilo? Era Natal, pelo amor de Deus!
- Samantha é uma vaca.
Tom riu de forma embriagada e passou a bebida para ela, que bebeu o que restara na taça, logo sentindo sua garganta coçar pedindo mais. O calor continuava insuportável, quem sabe com uma boa dose de vinho seu corpo não viraria cinzas de uma vez?
- Ela não tirou os olhos do nem mesmo pra respirar - Tom disse com ar de esperto, cerrou a mandíbula.
- Bem sei.
- Até que eles dariam um bom casal!
- Oh, sério? Me morda, Fletcher.
O garoto aproximou sua boca do braço da amiga, que o afastou em meio a tapas.
- Deus, eu estava brincando, seu imbecil! - eles riram e encheram as taças mais uma vez. A mente de voltou à . Merda! Ela precisava se desligar. Passou seus olhos pela cozinha duas vezes completas antes de falar novamente - E cadê a ?
- Na sala com os outros. Parece que o fato de eu beber demais no Natal a está incomodando já que ela não pode beber, porque tá de bucho cheio.
gargalhou, já sentindo seu corpo mais leve que antes. Adorava a sensação do álcool percorrendo toda a sua corrente sanguínea.
- Bem que ela queria se livrar do bucho nesses momentos, uh?
Com apenas um aceno de cabeça concordando, Tom voltou a ocupar sua boca com a bebida, fazendo uma careta quando percebeu que precisava encher a taça novamente.
- Temos que sofrer para sermos felizes, verdade?
Talvez fosse o estado embriagado qual o garoto se encontrava, ou apenas o fato de que ele não falou aquilo apenas para bancar o filósofo, e sim porque no fundo acreditava naquilo. Mas tais palavras soaram tão verdadeiras que perderam o original sentido de zombaria. E atingiram em cheio.
Como não saberia que tinha que sofrer pra ser feliz se até o exato momento ela só havia sofrido? Em certos momentos chegava a julgar o mundo tão injusto consigo mesma que chamava-se de hipócrita após se lembrar de quantas pessoas pelo mundo se encontravam em situações bem piores. Eram nessas pessoas que ela se focava no momento.
Tentava fazer sua mente divagar até os meninos da Uganda que a banda ajudava. Ou no povo que morava na rua, não só no Reino Unido, como em todo o mundo. E foi inevitável pensar na vida de alguém abandonada pelo pai, pela mãe, e socorrida pelos amigos.
encarou seu próprio corpo no reflexo do microondas entre um gole e outro e agradeceu pela primeira vez nesses muitos anos por ter seus amigos ao seu lado. Talvez o vinho a deixasse menos egoísta.
Ou fosse apenas o início da perda de seus sentidos pela falta de glicose.
Ou a dor que batia em seu peito ao imaginar seu com a piranha no cômodo ao lado.
Ou nenhum deles fossem tão egoístas tal qual pareciam.
Ninguém é estranho, e sim mal compreendido. Ninguém é egoísta, e sim mais conservador.
Todos eles eram super conservadores.
Às vezes, quando a vida lhe tira tudo o que você estava acostumado a ter e em troca lhe entrega tudo o que pode existir de melhor, mas que precisa ser cultivado... Você não questiona, só cultiva. Cultiva com todo o seu coração e espera que isso lhe dê frutos.
E então reza para que os frutos não sejam que nem quem os cultivou.
- Eu não quero que o fique com a Sam - foi o que escapou de sua garganta, assim como as lágrimas escaparam de seus olhos, sem que ao menos se desse conta.
- A garota sem coração se importando uma vez na vida! Eu realmente precisava filmar isso.
- Cala a boca, Fletcher.
Os dois ficaram calados por um tempo e Tom passou um braço envolta do corpo mole da amiga, puxando-a para mais perto, num abraço fraternal. Ela era como uma irmã para ele, e vê-la assim, tão indefesa quebrava seu coração.
- Desculpa por ser um estúpido e viver brigando com você, ok? - ele sussurrou ainda a abraçando - Mas é que você passa tão mais tempo sendo essa armadura tão forte que eu me esqueço de como você é assim, pura essência - oh, merda! Por que Tom tinha sempre que bancar o sensível nas horas que não deveria? Mais lágrimas escaparam dos olhos de , mas seu cérebro parecia não querer ordenar para que elas parassem, seu corpo estava entrando no velho estado de êxtase depois de muito álcool - Eu gosto da sua essência. Você parece mais minha irmã assim.
Empurrando o corpo dele delicadamente, se afastou e lhe sorriu de forma doce e sincera, sentindo seus músculos da bochecha doerem por tal esforço, seu corpo insistia em falhar seus comandos, e ela teve a impressão que a língua sairia de sua boca assim que tentou falar.
- Eu não sou sua irmã, idiota.
Ele riu e a abraçou mais uma vez.
sentiu suas pernas cederem ao abraço, e sua mente começar a apagar aos poucos. Quantas taças havia tomado mesmo?
- Bem que você queria que não fosse - ele riu.
entrou gargalhando com na cozinha no instante em que parou de sentir o chão sob seus pés e sua visão ficou completamente negra. Como num zumbido distante, as vozes pareciam frutos de sua imaginação, uma vez que já não enxergava e mal tinha forças para mover-se.
- O que aconteceu? - uma voz desesperada foi se aproximando, junto com o barulho fino, igual ao atrito de saltos no piso de cerâmica - Quanto ela bebeu, Tom?
- Provavelmente o mesmo que eu - ele riu de novo e sentiu tontura. Talvez eles estivessem se balançando!
Então braços mais resistentes a envolveram e ela teve certeza de que não estava mais de pé, um cheiro chegou à suas narinas, indicando que seu olfato continuava ali.
estava ali.
- Eu vou levar ela para o quarto. , avise aos outros que ela passou mal e mande levar o Tom também, ele parece ir pra o mesmo caminho.
- Hm... Ok. - a voz trêmula de soou mais longe que a de , e quis sorrir, mas a parte de sua mente que ainda trabalhava estava ocupada demais processando o fato de que estava ali, e não na sala com Samantha. - Tem certeza que consegue levá-la sozinha?
- Sem problemas - foi a última coisa que ela escutou antes de todos os seus sentidos falharem.
É, sem problemas.





Capítulo 17


Era possível escutar uns barulhos ao longe, mas também era possível ignorá-los. Tudo o que sua cabeça menos precisava naquele momento era barulho. não tinha a mínima noção do que fizera depois da ceia na noite passada, mas tinha a leve impressão - a partir da dor pulsante em sua têmpora - de que não fazia tanta questão assim de saber.
Lembrava de passar um bom tempo com uma taça de vinho na mão (ou teriam sido várias?), lembrava também de Tom lhe dizendo algo sobre estar com raiva por não poder beber, mas o resto era um total e completo flash de cenas embaçadas e complexas. E oh! É claro, tinha Samantha.
Sua cabeça pulsou um pouco mais forte ao lembrar-se desse fato, e ela reprimiu um grito, além de não querem forçar demais o seu corpo para qualquer reação, ela também sentia que sua garganta estava fragilizada demais para deixar passar algum tipo de som. Nunca imaginara que o vinho poderia lhe causar tantos danos.
Ou seu estúpido estado emocional.
A vida poderia ser uma bela merda quando ela queria. Era a única coisa da qual sabia que entendia nessa vida, merdas. Merdas e .
Belo avanço.
Tentou fazer seu cérebro mandar um comando para que seu corpo mudasse de posição, mas a única coisa que conseguiu foi que sua cabeça girasse na direção oposta, encarando a porta para a sacada com a cortina perfeitamente fechada, não deixando nenhum raio de sol ultrapassar.
Sem ao menos perceber, dessa vez foi enviado ao seu cérebro um comando para se levantar, e quando deu-se conta, ela já estava cambaleando e voltando à cama.
- Merda!
Será que nem ao menos seu corpo lhe respondia quando ela pedia as coisas? Teria que ser sempre tudo baseado em malditos impulsos? Aquilo já estava cansando!
Na tentativa que se seguiu, conseguiu equilibrar o peso de seu corpo sobre suas pernas e caminhou até o banheiro, sentindo como se houvesse um abismo em seu estômago. Não, abismo não! Abismo é tipo, borboletas no estômago. A sensação que percorria seu corpo era mais tipo, um buraco de quem bebeu muito e não comeu nada. Mas até onde ela sabia, ela havia comido muito, e bebido muito também.
Talvez fosse a imagem da garota nova de cabelos castanhos e estilo despojado, que a fazia lembrar tanto Jennifer, e secara a noite passada que a fazia se sentir assim, tão... Enojada.
Deus, ela precisava vomitar!
A vontade passou quando a água quente caiu sobre seu corpo, e a sensação de dormência percorreu seus músculos, ela poderia ficar ali pra sempre. Não se importaria.
Mas ela não ficou. 40 minutos depois estava descendo as escadas e o barulho que era ignorável de seu quarto, acabou se tornando convidativo, assim que ela se aproximava mais de sua origem.
- Bom dia.
, , e estavam sentados no chão, com vários dvds espalhados pelo tapete. Todos a olharam sorrindo quando a garota lhes desejou bom dia.
- Tá melhor, duendezinha? - fez uma voz infantil e revirou os olhos, no outro extremo do circulo que eles formavam. sorriu.
- Um pouco. Minha cabeça só projeta aquela merda de eco sempre que eu escuto algum barulho, mas sem problemas.
No mesmo instante todos os quatro taparam as bocas e teve uma vontade súbita de apertá-los até que deixassem de ser fofos. Mas, bem... Não foi isso que ela conseguiu fazer. Essa simplesmente não era ela. A garota que aperta seus amigos por eles serem fofos, quero dizer.
- Idiotas - resmungou sorrindo e saiu em direção à cozinha, deixando que eles continuassem escolhendo os filmes.
Na verdade, ela só estava procurando algo. Não é necessário que seja pronunciado o nome de tal objeto-de-felicidade para que saibamos o que era.
estava na cozinha com Tom.
- Oi, gatos - ela cantarolou animada, entrando no cômodo. Os dois a olharam receosos.
- Você tá bem? - Tom foi o primeiro a se aproximar.
lhe abriu mais um sorriso ao notar sua preocupação. Em menos de vinte minutos seus amigos já haviam lhe feito sorrir sendo que menos de duas horas atrás, quando acordou, ela sentia como se seu mundo estivesse preto e branco.
- É claro que eu tô, dãr! - ela bateu de leve na testa dele e Tom fez uma careta de dor - Só não lembro direito das coisas, mas maravilha.
Ele riu e deu um beijo em sua testa antes de voltar para o fogão.
se aproximou depois, sorrindo de uma das formas mais doces as quais ela já tinha o visto sorrir.
Naquele momento fodido, com aquela cabeça fodida, e o cheiro fodido de várias comidas que eles tentavam fazer e aquecer no fogão, se sentiu mais leve e plena. Pela primeira vez em quatro anos, ao olhar sorrindo ela se perguntou como conseguiu sobreviver sem aquilo por tempos. Não só o sorriso de seu namorado - o que decididamente era o principal, decididamente - mas todo aquele amor que todos sentiam por ela. Toda a fraternidade e aquela coisa recíproca pairando pelo ar.
Ela era uma fodida sortuda por ter tudo aquilo em sua vida.
- Bom dia, - um sorriso também abriu-se em seu rosto a medida que a distância entre os dois era extinguida - Obrigada.
Não era preciso mais nada.
Com uma mão em seu rosto e outra em sua cintura, aproximou sua boca da dela ainda sorrindo. Sentindo toda aquela eletricidade percorrer os dois corpos fazendo-os sentir como se houvessem milhões de corações espalhados por suas veias, músculos e ossos. Todos batendo pela mesma pessoa.
Eles causavam faíscas. Arrepios. Sorrisos e dormência. Ela ao menos tinha idéia de como conseguia ficar de pé quando estava com seu corpo tão próximo ao do garoto. Ele fazia com que seus sentidos se voltassem todos para ele.
E então como nas outras milhares de vezes, e em meio às milhares de sensações, ela sentiu o calor dos lábios de sobre os seus e o coração dele acelerar e começar a bater no mesmo ritmo que o dela assim que pousou suas mãos delicadamente em seu peitoral.
Foi um beijo simples. Doce. Sem língua, sem malícia. Eram apenas sentimentos.
E todos eles tinham certeza absoluta que estavam onde queriam estar, sentindo o que queriam sentir.
E nem Samantha, ou Jennifer nenhumas os tiraria aquilo.



Capítulo 18


O cheiro de óleo entrava pelas narinas de , fazendo com que suas glândulas produzissem saliva e seu estômago se remexesse, inquieto e faminto. Ela mexeu mais uma vez nas batatas fritas que torravam na panela e virou-se, dando as costas para o fogão.
remexia em algo num armário mais à frente e cantarolava com um sorriso que rasgava seu rosto de forma abobalhada. A visão de sua amiga feliz fez sorrir também. E ela não duvidava nada de que estivesse com o mesmo sorriso, nesse mesmo instante, na sala. Depois que as brigas tornaram-se algo freqüente, dia 25 de dezembro acabou se tornando o único dia no qual os dois podiam se tratar bem sem se sentirem culpados por tal fraqueza.
Tudo um monte de besteira, na opinião de . Eles se amavam e não tinham motivo nenhum para que não ficassem juntos de uma vez. Só o orgulho.
Maldito orgulho.
- Vocês decidiram que filme a gente vai ver? - ela perguntou voltando sua atenção para as batatas - E por que diabos a gente não pediu McDonalds ou sei lá... Fritar batata é um saco.
riu.
- disse que não quer nada industrializado.
fez uma careta e desligou o fogo, sacudindo a panela enquanto andava até a amiga, que segurava uma travessa forrada com papel-toalha.
- Era só colocar mais sal e mais ketchup do lado dela que ela nem perceberia a diferença - riu, ajeitando algumas batatas e andando pra fora da cozinha, enquanto ainda falava, tentando equilibrar os vários copos de refrigerante com as latinhas de cerveja numa só bandeja - Nem o moleque no útero dela ia notar a diferença.
- Eu não teria tanta certeza, ele vai ser filho da .
- Hello - riu e as duas chegaram na sala - Ele vai ter os genes do Tom também.
- Que tem meus genes?
pegou algumas batatas da travessa que acabara de colocar em sua frente e enfiou na boca do namorado com uma cara irritada.
- Nada, Thomas, coma. Só coma.
riu e puxou para que sentasse ao seu lado no sofá. Deixando apenas o lugar ao lado de um sorridente para , que se acomodou sem nem ao menos reclamar.
- Ok, , agora passa essa porcaria pra cá! - exclamou com os braços estendidos.
- Heeey! - riu, tentando bater no amigo, mas com entre os dois - Mais respeito, eu quem fiz essa porcaria.
- Ok, então. , você poderia me passar esse pote com uma massa amarela tóxica feita pela ?
- Heeeeeey!
curvou-se de forma protetora, segurando a travessa contra seu corpo, e tentava se levantar do sofá para alcançá-la, mas o segurava com umas das mãos, e a outra tentava prender a namorada, para que ela não avançasse no amigo.
- Fofa, coopere, eu sou forte e gostoso, mas vocês me cansam.
- Ele xingou minha comida! - ela berrou.
- MAS QUE MERDA, EU QUERO ESSAS BATATINHAS.
- Eu não vou te dar elas, , coma a batatinha entre suas pernas.
- Tom, segura bem sua namorada porque eu realmente vou dar um soco nela e... , SOLTA MINHA CAMISA!
- Não sou eu, é o .
riu e soltou a namorada, que parecia se divertir vendo esticar toda a camisa tentando chegar até que mantinha uma discussão com o mesmo.
- , eu não vou te soltar, cara. Você quer bater na ! Ela está grávida, seu imbecil.
- Grávida nada, ela é um monstro, ela tá comendo minhas batatas.
o olhou raivosa e encarou Tom, que conteve o riso. Seus amigos eram mesmo imbecis.
- Ah, tanto faz.
Uma vez que o amigo o soltara, levantou-se, indo em direção ao sofá onde estava com Tom. Ela deu um pulo, ainda com a comida e saiu berrando.
- FOI QUEM FEZ, FOI A QUEM FEZ, NÃO QUEIRA COMER, VOCÊ VAI MORRER! - a encurralou nas escadas. ria no sofá. Idiotas - MORRER, PORRA! ME LAAARGA!
Num movimento sem esforço, ele a pegou nos braços, jogando-a sobre seu ombro, fazendo a travessa com as batatas cair no chão num estrondo.
- NÃO! Minha comiiiida, .
Ele fingiu que não escutou e a jogou de volta para o lado do namorado.
virou-se para e .
- Hm, quem vai colocar o DVD?
encarou a tela preta da TV de plasma e depois .
Eles sorriram cúmplices.
- EU NÃO COLOCO O FILME! - gritaram em uníssono.

Seus olhos abriram com certa dificuldade, todo o seu corpo doía e sua cabeça pulsava. Havia tido um pesadelo.
A sala estava escura e a televisão mostrava os créditos subindo e descendo. Todos também dormiam.
sentiu algo sob si quando tentou se mover, mantinha os dois braços envolta de seu corpo. Sua respiração era lenta e compassada, a pouca luz que entrava pela janela iluminava seu rosto, fazendo-a perder o fôlego sempre que o olhava.
Era como um ataque cardíaco. Um doce ataque cardíaco.
resmungou algo do outro lado de e se remexeu, fazendo os outros dois se mexerem também.
Se continuasse assim eles iriam...
- Merda!
...Cair.
As pernas da garota estavam presas com as do namorado e um de seus braços embaixo de seu corpo. Droga, aquilo havia doído.
- Cara, vocês dois são muito chatos - resmungou se sentando no tapete, passando a mão na cabeça - Isso vai inchar.
- Você quem derrubo a gente, imbecil - falou mais alto e foi a vez de se mexer em seu canto - , seu braço tá me incomodando.
Ela bufou e saiu de baixo dele, ajeitando seu corpo para que ficasse de barriga pra cima. Só então - com os olhos pregados no teto e os ouvidos alienados dos outros - ela escutou a chuva lá fora.
Estava de assustar.
passou seu braço sobre os ombros dela como antes, a puxando para seu peito. O corpo de se aqueceu e ela levantou a cabeça para olhá-lo. Um sorriso iluminava o rosto do garoto e ela prendeu a respiração, rezando para que seu coração se comportasse normalmente e ele não escutasse seus batimentos fora de controle.
Outro ataque cardíaco.
- Hmm - ela resmungou ao sentir seu bolso vibrar.
Visivelmente infeliz por estar fazendo aquilo - o que só fez o sorriso de aumentar - ela saiu do abraço do namorado e sentou-se, puxando o celular.
Número desconhecido.
- Alô?
- Senhorita ? ? - uma voz extremamente educada e feminina soou do outro lado da linha.
O estômago dela deu cambalhotas. Aquilo não parecia bom.
- Sim, sou eu.
- Eu falo do Hospital St. Mary, ligamos para lhe informar que sofreu um acidente automobilístico e precisamos da sua presença... - a encarava preocupado, ou pelo menos era o que ela achava. Sua expressão facial deveria estar uma merda, ou pelo menos era o que ela achava. A única certeza que tinha era que precisava de ar. E de estimulo. Seu coração estava parando - Imediatamente.



Capítulo 19


Nada fazia sentido naquele momento.
Talvez nada nunca tivesse feito.
nunca pensara muito sobre morte ou algo que se aproximasse a isso. A referência mais próxima que teve de tal experiência havia sido com sua mãe, e ela nem sequer tinha morrido! Pelo menos não na prática.
Mas agora era diferente. Agora o buraco em seu peito era maior do que quando encontrara a casa vazia ao voltar do trabalho, descobrindo - semanas depois - que sua mãe a tinha vendido antes de se mandar. Agora era muito diferente. Não era uma pseudo-mãe alcoólatra e drogada que a havia abandonado, e sim , sua melhor amiga . Aquela que agia como sua mãe, filha e irmã ao mesmo tempo, e que agora estava numa sala de cirurgia com algumas costelas e uma perna quebrada. E não tinha a menor idéia de como as coisas estavam realmente.
Droga! Ela não sabia como se sentir. Não sabia se corria dentre aqueles corredores enormes e brancos, ou se procurava se esconder numa das milhares escadarias do enorme prédio, ou se somente chorava.
Ela simplesmente não sabia.
Sentada na cadeira num canto separado dos garotos, se encolhia abraçada com suas próprias pernas e com a cabeça vazia. Ou seu corpo vazio, como preferirem. Pra ela nada mais fazia diferença. Nem a mão de que apertava a sua fortemente ao mesmo tempo que chorava baixinho na cadeira ao lado.
Era como se ela não estivesse lá.
Terrivelmente egoísta e terrivelmente verdadeira.
Terrivelmente ela.
- Preciso de ar - disse num suspiro e ordenou que seu corpo levantasse antes mesmo de responder.
Aquele lugar e aquelas pessoas a estavam sufocando.
Com passos largos e fortes, provocando um barulho irritante no piso por causa dos saltos, andou até o elevador mais próximo, e então até a saída principal do St. Mary. Deus, como aquele hospital era enorme! Parecia que iria a engolir a qualquer momento. Ela odiava hospitais.
Chegando do lado de fora, ela foi recebida com uma bafada de ar cortante. Não tinha a menor idéia de quanto estava a temperatura e nem mesmo de quanto tempo fazia que estava chovendo. Talvez desde quando saíram de casa. Ou até mesmo desde antes, quando dormiam.
Não importava. Parecia que sempre estivera assim, que sempre chovia. Sempre.
Com um suspiro pesado, o ar saiu de sua boca e condensou ao atingir a parte exterior. Com um movimento lento e cansado, ela tirou de sua bolsa um maço de cigarros, pegando um e o equilibrando entre seus lábios, enquanto procurava - ainda como se estivesse em câmera lenta - o isqueiro jogado naquela bagunça. Ela não desistiu até que o encontrou. Incrível como nunca desistia! Sua vida era um drama imenso e lá estava ela, fodendo seu pulmão para se sentir melhor.
Irônico.
- Sabia que o príncipe William e o príncipe Harry nasceram aqui?
sobressaltou-se ao escutar a voz de Tom ao seu lado, não havia sequer notado a presença do amigo.
- É... Eu ouvi falar - uma vez com o cigarro aceso, ela o tragou e enfiou a ponta do sapato numa pequena poça d'água à sua frente.
- E sabia também que a cada cigarro que você fuma, mais células de seu pulmão vão sendo danificadas e é proibido fumar em hospitais e...
- Thomas - ele a olhou pela primeira vez desde que deixaram a casa e desejou que ele não o tivesse feito. Também havia dor estampada em seus olhos agora vermelhos. Muita dor. Ela deu um pequeno sorriso sarcástico, sabia muito bem como ele estava se sentindo - Eu já sei dessas curiosidades o suficiente, ok?
O garoto apenas concordou com um aceno de cabeça e voltou a observar os carros passando, espirrando a água das poças para todos os lados.
Era dia de natal e mesmo assim o movimento em Paddington continuava impressionante.
- Eu sempre quis morar nessa área, talvez quando o bebê nascer a gente se mude pra cá - sua voz estava cansada, e continuou com os olhos fixos em seu sapato e sua poça particular, tragando loucamente o cigarro enquanto a voz do amigo entrava em seus ouvidos - Esse hospital é realmente grande e talvez a gente precise de algo assim depois que o moleque nascer. Você sabe, com e como tios postiços ele vai ter motivos suficientes para se ferir. Bastante.
Aquilo quase fez com que ela sorrisse. Quase. Não que ela não o quisesse, digo, Tom estava realmente se esforçando para manter um diálogo e ele parecia estar no mesmo estado deplorável que ela. Era injustiça a garota não se esforçar.
- Mas você sabe o que dizem, a Vila McFly é o melhor lugar para se ter filhos atualmente - tentou mudar seu tom de voz, para entrar na brincadeira, encostando-se na parede ao lado do amigo, que sorriu levemente.
- Claro, muitas crianças já nasceram lá! - ele tinha um tom irônico que fez sorrir.
- Ué, você nunca ouviu falar de e seus 40 filhos?
Eles se encaravam e riram brevemente, mas sendo o bastante para os deixar ofegantes em meio à atmosfera úmida.
- não gostaria de ouvir - Tom disse num suspiro, enquanto recobrava o fôlego. sorriu mais uma vez.
- Com certeza.
O silêncio voltou a se instalar entre ambos. Os olhos do garoto continuavam presos no tráfego, e tentava aproveitar a sua última tragada. Jogando logo em seguida o cigarro no chão e pisando-o com a ponta do sapato molhado.
- Silêncio é um barulho assustador - ela suspirou e, sem nem ao menos pensar, sentou-se no chão úmido.
- Já disse o quão agradáveis você e o estão sendo juntos dessa vez? - ele sorria de forma doce para a amiga, quase extinguindo a aparência preocupante de sua face. Mas a tensão continuava em seu rosto. Era possível senti-la.
- Já disse como você fala que nem um velho às vezes?
- Me faz parecer inteligente - ele deu de ombros - Levanta desse chão sujo, sua porca.
- Me faz parecer humilde.
Eles sorriram um pro outro mais uma vez, e Tom estendeu-lhe a mão.
- Você não é humilde, . Agora, vamos entrar porque eu não consigo mais sentir minhas pernas direito, e meu corpo tá apitando algo como...
- "Tom congelando".
- Exatamente!
Ela segurou sua mão e, tomando um impulso, levantou-se.
- Seria bom demais pra ser verdade.
Com a bolsa apertada num lado do corpo, e seu braço colado no de Tom do outro lado, seguiu de volta para o interior do prédio, agradecendo mentalmente que ele tivesse tido aquela idéia assim que se deu conta que perdera a sensibilidade da ponta dos dedos. Sequer notara como estava frio lá fora.
- Hey - fez esforço para sorrir quando sentou em seu colo na cadeira.
Ela não precisava de seu sorriso, muito menos de sua falsa felicidade para alegrá-la. Tudo que mais precisava era sentir o calor do corpo dele juntou ao seu e aquela sensação de que tudo vai ficar bem que sempre sentia quando estava ao seu lado. A mesma sensação que sentiu - e tentou transmitir - quando ele a envolveu com seus braços e encostou o rosto em seu ombro, chorando baixinho.
Foi como se os papéis tivessem sido invertidos! era quem mais precisava dela naquele momento, e não ela dele.
Com as próprias lágrimas nos olhos, apertou o corpo do namorado contra si e deu-lhe leves beijos no pescoço, enquanto sussurrava baixinho uma música calma, buscando acalmá-lo. Se tinha alguém o qual ela não tinha a menor idéia do tamanho do sofrimento naquele momento, esse alguém era . Ele e eram tão... Um só. Como irmãos. era o irmão que nunca tivera, era quem lhe impunha freios - por mais incrível que pareça - quando todos queriam fazer baboseiras. O que ele sentia pela amiga não tinha como pôr em palavras.
Era imensurável.
Assim como a dor que preenchia aquela sala.
Assim como o choro que saía da boca de todos ali.
estava abraçada com num canto do chão, sem se importar se estavam passando frio ou não. fazia um barulhos esquisitos com a boca, enquanto mantinha as mãos nos olhos com os cotovelos apoiados nos joelhos, provavelmente chorando. Tom falava com no telefone, tentando acalmá-la em casa e ao mesmo tempo acalmar a si mesmo.
Nada fazia sentido naquele momento.
Talvez nada nunca tivesse feito.


Capítulo 20

As coisas às vezes podem ser tão confusas quanto podem se tornar claras. Num piscar de olhos.
Doze horas atrás, estava chorando e escutando o namorado - junto com os amigos - chorarem numa sala de espera de um hospital, imaginando que sua melhor amiga estava num estado horrível, com várias costelas quebradas e uma perna.
Agora, ela estava deitada no sofá do quarto enquanto dormia na cama ao lado, depois de rir muito com - que não ia embora nunca - e . Apenas uma costela e uma perna quebrada, sem falar nos pequenos cortes pela extensão dos braços, mas nada muito feio ou alarmante. parecia uma drogada ainda sob o efeito da droga.
Veja bem, ela poderia estar dormindo agora. Mas se fosse possível ver seus olhos, seria notável o brilho que eles emanavam. Toda aquela experiência de quase-morte parecia a ter revigorado. Como se depois de passar por todo esse sufoco, ela decidisse que queria viver mais, e intensamente.
Ok, como se nenhum deles não fizessem isso. Talvez não agora, no momento adulto, mas eles já haviam feito muito disso na vida. Muito mesmo.
sentia uma falta desesperada dessa época.
- Cheguei, pode ir pra casa se quiser, você parece quebrada - entrou tentando não fazer barulho no quarto do hospital, e sentou ao lado de , assim que ela ajeitou seu corpo dando espaço para que o amigo o fizesse - tá no banheiro, mas a cara dele também não me engana.
Ela não tinha como responder àquilo sem que sua resposta saísse um "sim" ou qualquer coisa com o mesmo significado. Seu corpo parecia estar numa dormência eterna e seus olhos já começavam a se fechar automaticamente. Mas a verdade é que ela não queria sair do lado da amiga, pelo menos não agora. Ela sentia como se fosse perder algo ao afastar-se de .
- É sério, , você precisa descansar. A e o Tom devem chegar nestante também.
- Você não precisa? Digo, descansar? - sua voz estava rouca e as frases eram mal formadas. Céus, ela precisava dormir um pouco!
- Nops - bateu na porta chamando a atenção dos dois - Já tá indo, cara?
- Tô - ele olhou dormindo sentada e sorriu - Vem comigo, amor?
- , ele tá falando com você! - a cutucou, atrapalhando seu cochilo - Mas se você quiser me dar o como presente de natal atrasado, eu não vou reclamar.
Ela riu baixo e beijou-o na ponta do nariz antes de levantar.
- Se contente com os lenços que eu te dei, .
- Claro, mais três pra minha coleção. Você me fez muito feliz.
- Bom saber.
acenou para um amigo, sussurrando um "voltamos mais tarde" e pegou na mão da namorada, a guiando entre os corredores.
- Eu juro que estava pensando numa ótima noite, Tom e montando guarda aqui, a casa só nossa... – ele começou a falar assim que saíram do elevador e o olhou sorrindo.
- Não sei se você lembra, fofinho, mas você ainda tem casa. O que quer dizer que se nós fossemos para lá, nos colocaria num estado de solidão também.
ergueu as sobrancelhas e com a mão desocupada, passou os dedos em movimentos contínuos pelo campo de visão dela.
- Você realmente tá com sono? Porque tá falando difícil demais pra mim.
- Ah, cala a boca.
Ambos sorriram e juntaram mais os corpos, passando pela recepção, indo em direção à saída ao mesmo tempo que viram os corpos de e Tom se aproximarem também de mãos dadas e próximos.
- E ai, gatos? – brincou, assim que se aproximaram e pararam de andar, ficando frente à frente. – Como as coisas tão lá em cima?
- não desgruda nunca – falou num soluço e os três riram.
- Já era de se esperar.
- Tirando isso ela tá realmente muito bem, rindo e tudo o mais. – completou – Mas ela já se cansou das baboseiras que o fala pra impressioná-la e acabou dormindo.
- Quem não dormiria? – Tom perguntou irônico e eles voltaram a rir. – Cara, leva logo a pra casa, porque ela tá dormindo em pé.
Ao escutar seu nome, abriu os olhos com dificuldade e encarou os dois amigos à sua frente com os olhos cerrados, tanto pelo sono, quanto pela indignação.
- Eu não estava dormindo! – ela retrucou, com a voz ainda rouca, para Tom, que apenas sorriu.
- Claro que não, você só estava brincando de esconde-esconde sozinha.
empurrou levemente o garoto para o lado, quando a amiga deu um passo à frente, fazendo menção de quem iria avançar nele. a prendeu mais perto de si pelo pulso.
- Acho melhor levar ela pra casa antes que esses dois se matem.
- Pelo menos nós estamos num hospital.
- Tchau, – eles riram e se mexeu impaciente. O sono a deixava insuportável. – Tchau, Fletcher. Boa sorte com Cola .
- Valeu.
Ainda relutante, conseguiu andar sem tropeçar durante todo o caminho até o carro e metade do trajeto até a casa, manteve-se consciente, conversando sobre banalidades com . Mas assim que pararam no terceiro sinal, ela fechou os olhos e então tudo ficou escuro, tranqüilo.
Foi acordada com o barulho da porta de sendo fechada e assim que recobrou a consciência sentiu alguém puxar-lhe para trás e só se deu conta que a pegava no colo, quando sua cabeça pendeu sobre o tronco rígido do garoto, obrigando-a a fechar os olhos mais uma vez e inalar aquele cheiro intoxicante.
Foi a última coisa que ela sentiu antes de voltar à escuridão, à tranqüilidade.

Não foi barulho algum que a acordou dessa vez, muito menos a falta dele. Talvez seu sono tivesse apenas se esgotado. não tinha costume de acordar sem motivos, mas naquela manhã seus olhos se abriram sozinhos e encararam um leve feixe de luz que desenhava uma linha dourada no chão, atravessando a espessa cortina da porta de sua sacada.
Vai ver tenha sido a tal luz que a havia acordado, nunca se sabe.
A cama estava vazia, a não ser por seu próprio corpo, e aquele pode ter sido outro motivo para tê-la feito despertar. Desde que reatara com , havia dormido poucas noites desacompanhada em seu quarto. estava sempre se fazendo presente.
O chão não estava tão frio quanto costumava ficar nessa época do ano, então não se importou em colocar os pés descalços nele ao levantar-se. Quando chegou ao banheiro, percebeu que estava de pijamas e não mais com as roupas da noite passada. Sorriu consigo mesma imaginando o trabalho que o namorado tivera para trocar-lhe as roupas enquanto ela se encontrava praticamente em coma.
- Bom dia! – a cumprimentou assim que ela entrou na cozinha.
Os cabelos do garoto estavam mais bagunçados do que o normal e seu rosto trazia traços de cansaço, porém felicidade, ele parecia bastante animado essa manhã. Aquilo fez sorrir.
- Bom dia, duendezinho. Cadê meu café da manhã? – ela perguntou feliz e fez uma careta, se aproximando com um prato de panquecas.
- Desculpa, , mas o já tá no hospital.
Ela riu e o garoto deixou o prato com a comida em sua frente, dando um beijo em sua testa e depois andando até a geladeira.
- Não foi você quem fez isso, né? Porque tá bom, de verdade. E cadê todo mundo?
- E alguém lá abandona aquele hospital? Eu fiquei aqui porque voltei com sono e aproveitei pra te esperar acordar e a gente ir junto.
- Hm – colocou outra garfada de panqueca na boca – Sem brincadeiras, não foi você quem fez isso, foi?
- Não, . Agora cala a boquinha e come, ok?

Os corredores estavam menos vazios naquela tarde do que na tarde anterior, o que era um alívio para eles. Já bastava estarem passando por uma situação nada confortável e ainda serem reconhecidos em corredores de hospitais e ter que responder às perguntas de por que estarem ali não era exatamente o que eles mais precisavam naquele momento.
Aquilo fez lembrar de algo.
- Ei, vocês não têm nenhum show ou algo do tipo não? Digo, as férias são só em Janeiro!
a olhou engraçado e apertou o botão, chamando o elevador.
- Bem, faltam quatro dias pra Janeiro e eu não lembro de nenhum show que tenham marcado nesse meio tempo.
- Você nunca lembra.
Um apito baixo e as portas se abriram, revelando um elevador vazio. Os dois entraram e apertaram o botão do primeiro andar. cantarolou Broccoli, e voltou a falar.
- Faz tempo que eu não vou num show de vocês. – aquilo pegou de surpresa. vivia dizendo que não gostava de ir aos shows e ver aquelas fãs agarrando seus amigos como se fossem conseguir levá-los para a cama na mesma noite. Era muita pretensão!
- Você nunca fez muita questão – ele deu de ombros e as portas se abriram.
- Você tá com alguma coisa contra mim hoje, não está? Olha, , não fui eu quem comeu o último pedaço daquela torta da sua geladeira semana passada, eu juro, foi a com aqueles malditos desejos e...
- Eu sabia que tinha sido ela – praticamente gritou e algumas enfermeiras os olharam torto. Os dois riram baixo e o garoto passou o braço sobre os ombros da amiga – Nada contra você, duendezinha, no próximo show eu desço do palco e subo com você nas costas, ok?
riu e os dois abriram a porta do 134.
Estavam todos em silêncio e mantinha uma cara carrancuda. segurava sua mão, abrindo e fechando a boca a todo instante, como se estivesse prestes a falar algo, mas acabasse desistindo. e se entreolharam e então voltaram o olhar para as pessoas no quarto, pigarreando alto para chamar suas atenções.
foi a primeira a falar.
- , diga a eles que eu não quero! Eu tenho esse direito e eu não quero que vocês a procurem.
A garota apertou-se mais contra o corpo de e o olhou confusa. Ele mantinha o mesmo olhar.
- O que você não quer? – ela perguntou em voz baixa e Tom deu um passo à frente com aquele olhar cauteloso, como se estivesse lhe pedindo calma.
- A gente acha melhor falar com a mãe de . Sobre isso e tal – ele falou baixo.
A garota sentiu os braços que envolviam a cintura de ficarem tensos e olhou de Tom para , de cabeça baixa no sofá, de para , ao seu lado com uma expressão desgostosa, de para , preocupado ainda apertando a mão de contra a sua, de para .
Ela demorou um pouco ali. a olhava simples, suplicando para que ela analisasse. Mas que merda! Será que eles não viam que não tinha nada o que analisar?
Então dirigiu seu olhar para , na cama, com um olhar furioso que seria capaz de matar todos naquela sala apenas com a força de seu pensamento. Seus olhares se encontraram e não havia novidade alguma no que enxergou ali, era tudo o que ela havia visto na cara inconformada de e aquilo que ela mesma pensava.
- Peraí – sua voz finalmente saiu, debochada junto com um sorriso sarcástico, tentando olhar todos ao mesmo tempo – Vocês só podem estar brincando.


Capítulo 21

- É difícil pra mim, será que você não entende?
- Mas, ...
- , eu simplesmente não posso, não eu - o olhou com os olhos vermelhos e abaixou o tom de voz ao perceber que havia se remexido na cama ao lado.
os olhou com cara feia e se aproximou.
- E ai? Eu fico aqui essa noite, se vocês quiserem. falou que não estava sentindo muita dor antes de dormir e o vai precisar de ajuda amanhã pra levar ela pra casa - concordou, mas permaneceu com os olhos no corpo adormecido da amiga, vagando hora para o gesso em sua perna quebrada, hora para seu rosto tranqüilo. - Ele não vai embora, de qualquer forma. - completou, soltando uma risadinha e a olhou feio do sofá onde estava.
- Tudo bem, acho melhor a gente ir. ?
Ela o olhou, agora mais calma e sorriu brevemente, abraçando a amiga e seguindo o namorado para a porta.
- Beijo, - Sua voz saiu fraca e manhosa, quando o amigo retribuiu suas palavras com um beijo solto no ar. Em seguida, ela e já andavam pelos corredores longos do hospital, indo em direção ao elevador da ala leste. - Não é tão simples quanto parece. - voltou a falar, sua voz ainda fraca ecoando pelo elevador vazio.
- Eu sei, eu sei, mas ela pode querer saber.
- Mas não de mim, !
Ele permaneceu calado, e os dois seguiram com passos rápidos, já no térreo, em direção à saída do prédio.
O ar continuava frio, mas não chovia que nem dois dias atrás, a temperatura ainda era baixa, mas com menos umidade, o que acabava tornando toda aquela situação mais agonizante. Como eles poderiam querer que chegasse para a mãe de depois de quatro anos sem ao menos manter contato e lhe falar como se tivessem se visto ontem "Olá, Sra. , desculpa te incomodar hoje, e ter incentivado sua filha a se rebelar contra a senhora, saindo de casa e não se comunicando durante anos, mas eu tive que vir lhe contar que sofreu um acidente e quebrou uma perna e uma costela. Só isso mesmo, achei que gostaria de saber."? Era muita cara-de-pau. Mais do que sequer imaginava que tivesse! Ela poderia ser tudo, menos isso. A mãe de não queria contato com a garota qual havia tirado sua filha de casa, assim como a garota não queria contato com a mãe que mantinha presa em casa sua melhor amiga. Simples. Não seria ela aquela que iria dar a notícia e pronto!
- Por mim, ela nem ficaria sabendo. Vocês não têm a mínima noção do que a sofria nas mãos daquela mulher, ela não merece nem saber como anda um fio de cabelo da filha - Sua voz saía amargurada, e a testa estava encostada contra o vidro gelado do carro, enquanto encarava sem foco as luzes dos postes que passavam voando por eles. permanecia calado, naquele maldito silêncio, no maldito som assustador. - Eu não me arrependo de ter ajudado a fazer o que fez, mas a mãe dela não pensa da mesma forma que eu. E assim, você sabe que eu não me dou bem quando o assunto se trata de figuras maternas.
- Minha mãe te adora.
sorriu ao lembrar-se da mãe do namorado.
- Sua mãe é normal, . - Mais silêncio, se remexeu e encarou o perfil de , atento ao trânsito. - Se vocês querem tanto que a mãe dela saiba, tudo bem. Mas não vai ser por mim.
- Não é questão de querer - Ele parecia escolher bem as palavras, para não machucá-la com o que tentava expressar. Aquilo deixou-a assustada, será que ele realmente achava que ela era tão repulsiva ao ponto de não querer fazer aquilo por pura maldade? - É questão do que é certo. E o que não é certo é deixar uma mãe desinformada sobre a filha, principalmente numa situação dessas.
- Tudo bem.
O carro dobrou na Vila McFly e não parou na entrada conhecida da casa a qual a garota morava com Tom, andou mais alguns metros com seu automóvel e o estacionou em frente à estrutura de sua casa. Ambos abriram as portas e desceram ainda em silêncio. esperou até que o namorado emparelhasse o corpo dele ao seu e segurou sua mão, sorrindo de lado para ele, que lhe retribuiu prontamente.
Palavras não eram necessárias. Palavras nunca eram necessárias quando tinham um ao outro. E eles tinham. Talvez não só naquele momento, talvez para sempre, ou talvez eles não se importassem com o tempo dessa vez.
Toda a residência estava escura e acendeu a luz da sala, andando devagar até o sofá e retirando seus sapatos, soltando em seguida um suspiro de alívio. Com o olhar, acompanhou em seu trajeto à cozinha e quando o garoto desapareceu, voltou sua atenção aos próprios pés, pegando o direito gentilmente e o massageando nos lugares que estavam mais doloridos de tanto que havia andado de um lado para o outro nos últimos dias. Malditos últimos dias.
- Também não é para ficar tensa - A voz de soou mais perto e quando se deu conta, ele já estava sentado no chão à sua frente, com um copo d'água em mãos.
- Não estou.
- Não queria fazer você lembrar da sua mãe - Ele fez uma pausa e analisou o rosto dela cuidadosamente - Desculpa.
- Eu tô bem, , de verdade. É só cansaço.
Ele sorriu maroto e descansou o copo ao lado, depois de acabar com o líquido em seu interior, e pegou o pé da garota dentre suas mãos. Ela sorriu agradecida e encostou o pescoço do encosto do sofá, fechando os olhos e aproveitando a massagem que o namorado fazia em seus pés, lhe trazendo um alívio instantâneo. Não pelo fato de estar fazendo efeito quanto às dores, mas sim porque a estava tocando. Era sempre assim, cada toque parecia extasiá-la.
- Você é bom nisso - Ela comentou ainda de olhos fechados e escutou ele gargalhar. Desencostou o pescoço levemente abriu os olhos, o encarando com um sorriso safado - Sabe no que você é bom também?
- Hm... Não. - já não massageava mais seu pé, uma de suas mãos estava na coxa da namorada e a outra repousava ao lado do corpo da garota, no sofá, seus rostos estavam emparelhados e seus narizes quase faziam contato, obrigando ambos respirarem o mesmo ar.
- Cínico. - sussurrou antes de encostar seus lábios nos dele, arfando alto assim que eles quebraram o contato. Quase todo o corpo do garoto estava sobre o seu agora.
- O quê? Eu nunca me beijei!
- ! - Ela gargalhou e puxou-o pela nuca, grudando novamente suas bocas, dessa vez utilizando as línguas, que se movimentavam sincronizadamente, como se fizessem aquilo desde sempre, como se tivessem sido feitas para aquilo.
Ele pressionou com mais força sua mão na coxa dela e com a outra, envolveu sua cintura, fazendo com que os dois corpos saíssem do sofá e caíssem - sem causar barulho algum - no carpete. Um barulho os fez entender que o copo qual ele bebia água anteriormente havia saído rolando pela sala. gargalhou ainda com os lábios contra os dela e com as mãos em seu corpo.
Num giro, ele posiciona seu corpo sobre o dela e lança seus lábios ao pescoço da garota, fazendo-a gemer baixinho enquanto mordia os próprios lábios, à fim de se controlar, pousando suas mãos geladas na barriga quente e protegida - pela camisa - de , sentindo ele contrair o abdômen assim que as peles entraram em contato. Ela sorriu e ele desceu os beijos para sua clavícula, voltando a arrancar-lhe suspiros, enquanto se apressava para tirar a camisa dele de forma rápida e sensual. Totalmente fracassada e desnecessária, uma vez que em cinco segundos a camisa já havia sido jogada do outro lado do cômodo pela impaciência do garoto. mordeu o lóbulo da orelha dele, fazendo com que fosse a vez dele a reagir com sons a tal contato e prendeu suas pernas envolta da cintura dele.
- Quarto. Cama. - Foi tudo o que saiu da boca dele entre um beijo e outro, e ela apenas concordou apertando suas pernas com mais força ainda.
Vasos foram ao chão e os corpos - que agora poderiam ser interpretados como um só - esbarravam-se constantemente nas paredes em seu trajeto. Antes mesmo de cruzarem a porta do quarto, as calças de já haviam deslizado entre suas pernas e atingido o chão.
segurava numa mão o cinto dele e na outra os cabelos curtos do namorado, de uma maneira qual afastou seus rostos em meio à uma mordida no lábio inferior do garoto, sorrindo satisfeita. Adorava estar no comando.
- Adoro suas calças dois números à mais. - brincou quando ele a jogou na cama, com o corpo vestindo apenas as boxers xadrez sobre o dela, totalmente vestida. - Acho que temos alguém em desvantagem aqui.
- Eu gosto assim.
gargalhou, tirando a blusa de num único movimento rápido e mordendo o umbigo dela, a fazendo fechar os olhos mais uma vez. As mãos dele deslizaram para o zíper da saia dela e ele inclinou-se para beijar sua orelha, entre mordidas, sussurrando arfante.
- Vamos fazer um transporte por osmose.
Foi a vez de gargalhar e ver sua saia nova ser jogada ao lado da cama, sem sentir pena alguma, além daquela que ainda percorria seu corpo. A de ter deixado ainda com suas boxers.
Quando o garoto deslizou os dedos pelo feixe do sutiã da garota, o som de Green Day invadiu o quarto, e ambos se olharam sorridentes. Tom era um maldito viciado.
- Ignore Billie Joe - sussurrou no ouvido dele. - Ignore o idiota do Thomas. Meu sutiã precisa de uma surra.
E ele teve sua surra, o sutiã dela, quero dizer. deslizava suas mãos pelo colo da namorada enquanto ela deslizava suas pernas pelas dele, levando junto suas boxers, acabando com qualquer pedaço de tecido que pudesse restar no corpo do garoto. Ela gemeu alto, quando ele continuava a beijar seu corpo, em parceria com suas mãos que se encarregavam da calcinha dela.
Suas bocas foram as armas usadas para manter o silêncio, que eles julgavam tão assustador, controlado. Seus corpos se moviam perfeitamente, assim como suas línguas, seguindo a velha tese de feitos um para o outro que havia se tornado cada vez mais vulgarizada ao passar do tempo, mas que para eles se encaixava perfeitamente nesses momentos, assim como seus corpos. Perfeitamente.
A voz de Billie Joe ao começo de outra música chegou aos ouvidos de ao mesmo tempo em que seu corpo ia chegando ao mais perfeito êxtase.

I walk a lonely road The only one that I have ever known Don't know where it goes But it's home to me and I walk alone

deixou que seu corpo pendesse sobre o da garota, e ela passou as mãos nos cabelos dele, enquanto ele fazia movimentos circulares com o dedão de forma carinhosa em sua cintura, onde antes ele pressionava com tanta força que não se importava se causaria marcas. O que eram marcas perto do que ela sentia quando estava assim, com seu garoto?
Talvez ela continuasse em sua própria estrada solitária, talvez ela continuasse sentindo aquilo como realmente seu, mesmo não sabendo ao certo onde aquilo fosse levá-la. E talvez sua vida continuasse assim, cheia de "talvez!" e quase sem nenhuma certeza. Mas há muito tempo, ela tinha se dado conta de algo. Por mais que ela sentisse tudo isso. Ela não estava mais sozinha.
Ela tinha as meninas, ela tinha os meninos, ela tinha . Ela tinha sua família. Só sua, em sua estrada solitária e desconhecida.





Capítulo 22

Desde o momento em que passamos a tomar consciência de todas as coisas ao nosso redor, nos é ensinado o valor da amizade e o papel importante dos amigos em nossas vidas. Assim como queremos que eles estejam sempre lá quando precisarmos, é necessário que estejamos lá quando eles precisam. Mesmo que isso implique em apenas... Compras.
A manhã havia começado extremamente tolerável. O péssimo clima que pairava pela cidade nos últimos dias havia dado lugar ao suportável e até mesmo agradável clima do inverno londrino.
Péssimo dia para compras, entretanto. Mas não seria uma pequena indisposição climática que faria desistir de seu tão esperado dia. Ela estava grávida, não estava? Nunca contradiga mulher grávida. Ainda mais se ela for .
- Não gosto de fazer compras - resmungou em frente à uma prateleira de fraldas - Qual delas eu marco?
- Claro, você não gosta de fazer compras e eu sou uma ajudante do Papai Noel! - brincou e a olhou com os olhos brilhando - Era uma brincadeira, , eu não sou ajudante do Papai Noel.
murchou os ombros e todos riram. andou até onde estava e apontou para um pacote azul bebê.
- Marca esse. E nós não estamos fazendo compras - ela comentou e fez um barulho de concordância algumas prateleiras adiante - Nós estamos fazendo minha lista para o chá de bebê.
- Eu nem gosto de bebês!
- Você parecia gostar bastante quando a pediu pra você vir no lugar dela hoje cedo - sorriu maliciosa e riu.
- E, cara, se você não gostar desse bebê, o Tom te chuta da banda!
balançou a cabeça exageradamente.
- Isso! Meu namorado te chuta.
fez uma careta e virou-se novamente para a prateleira em sua frente. Qual era o problema deles? Ele não tinha o direito de ficar de mau humor?
Dando mais uma olhada nas 7 marcas de fraldas diferente a sua frente, o garoto sorriu malicioso e usou o entiquetador em sua mão, marcando todos os pacotes possíveis. Vamos ver o que ia achar daquilo!
Sorrindo vitorioso, ele passou os olhos pelo produto ao lado. Chupetas.
- Eu vi isso! - parou ao lado dele, rindo - Caralho, , você marcou umas trinta chupetas agora!
- Chupetas nunca são demais - ele riu também, dando de ombros.
- São se eu não quiser que meu filho tenha os mesmo dentes que os seus! - apareceu ao lado dos dois, fazendo-os pular de susto - Por que eu fui inventar de trazer vocês? Deixa que eu desmarco essa bagunça!
- Ei! Meus dentes são bonitos!
Ela fingiu não o escutar e passou sua própria máquina, desmarcando os produtos e então voltou para onde estava com . e se entreolharam maliciosos e apontaram as maquininhas para as chupetas.
- Chupetas nunca são demais - repetiu e riu, o ajudando a marcar tudo de novo.
- Ok, pra onde a gente vai agora?
- Ursinhos! Crianças adoram ursinhos!
- , você tem noção do tamanho da sessão de pelúcias daqui?
Ele a olhou e seus olhos brilhavam. Meu Deus, onde ela havia se metido?
- Não vai ser ela quem vai pagar mesmo - ele deu de ombros.
- Tá, quem marcar mais paga sorvete pro outro?
- O meu é de baunilha e... - começou e parou ao ver que a amiga já estava correndo pela loja - , VOLTA AQUI! NÃO VALE ROUBAR, VOCÊ VAI ME PAGAR DOIS SORVETES!

- Por que vocês não me chamaram? Eu queria fazer isso também!
Os cinco - , , e - andavam pelo shopping em busca de outra loja, depois de terem sido expulsos da anterior, porque e estavam assustando as clientes com a forma, e quantidade de produtos, que selecionavam.
- , cresça! - resmungou e ele lhe deu língua. continuava calada. - Gente, já tá na hora do jantar, e eu tô cansada e tenho que terminar de fazer minhas malas pra amanhã... Será que dava pra a gente ir embora?
- Por mim tudo bem.
- Por mim também.
- Por mim também.
- Por mim não! - quase berrou e todos pararam - Vocês não conseguem levar nada a sério? Mas que porra! Era pra ser uma coisa séria, marcar os presentes e pronto. Mas nãããão, e o tinham que ser os crianças e acabar com tudo! - eles ainda estavam estáticos e a garota pausava para respirar, numa tentativa inútil de acalmar-se - E eu pensando que o que me daria problemas.
- Claro, sempre eu! - reclamou ofendido e o empurrou.
- É, sempre você!
Assim que o garoto abriu a boca para revidar, o celular de começou a tocar atraindo a atenção de todos. Salva pelo gongo, ela pensou ao pegar o aparelho e examinar a bina.
.
Sorriu contente e afastou-se alguns passos. Não falava com o namorado desde cedo da manhã, quando saiu da casa dele apressada porque a ligava a todo momento para que andasse logo. Estava quase sentindo saudades do cheiro dele, da voz, de tudo.
- Alô, txuras! - atendeu brincalhona.
- Aleluia, pensei que ia ficar o dia inteiro sem nem ouvir sua voz.
rolou os olhos e sentou num banco, olhando os amigos discutindo ao longe e sorrindo.
- Sem dramas, . A coisa aqui deu em problema.
- O que o fez? - ele perguntou e os dois riram. Pobre .
- Naaada! Eu e o extrapolamos, mas nada demais, você sabe como a se estressa fácil.
- Hm... Sei. - parou de falar e fez um barulho com a boca - Então, hoje a noite, minha casa ou a sua?
- ! - ela berrou rindo e algumas pessoas olharam para a cena, fazendo-a se recompor - Ok, mas hein?
- Odeio os dias em que você tá santa.
- Cala a boca! - riu de novo - Você na sua casa e eu na minha. Porque amanhã iremos viajar e eu tenho que arrumar minha mala linda.
O garoto exclamou um palavrão do outro lado da linha e foi possível escutar algo caindo no chão. franziu o cenho.
- Tá tudo bem ai? , não me diga que você esqueceu de fazer as malas!
- Não, tão feitas!
Mas é claro que não estavam! nunca tinha responsabilidade o suficiente para esse tipo de coisa. Aquilo fazia sentir-se como uma babá.
- É melhor você fazer logo, .
- Vai dar uma de mãe pra cima de mim?
- Vai brigar comigo por causa disso?
Houve uma pausa onde os dois respiraram fundo, antes de prosseguirem.
- E se eu quiser? - ele perguntou com uma voz trêmula. Deus, ele não queria brigar! - Não posso?
- Bem, eu não quero. - ela falou tranqüila, já sabendo onde aquilo iria dar.
- Claro, e já que você não quer, a gente não briga.
- Quando um não quer, dois não fazem, ! - aquilo já estava ficando irritante.
- Não seria quando não quer, ninguém no mundo faz?
Ok, aquilo estava ridículo. Ele deveria ter bebido muito uísque ou algo assim, mas não seria quem ficaria ali para receber toda a reclamação em um dos momentos fracos dele.
- Interprete como quiser.
- Vou me lembrar disso.
Um, dois, três segundos... Silêncio. mexeu os pés impaciente e pensou em fechar o flip do aparelho, imaginando que o garoto já tinha desligado e que estava esperando algo - que poderia ser um pedido de desculpas, ou coisa do tipo - em vão. Mas um suspiro veio do outro lado da linha e ela prendeu a respiração. suspirando nunca era coisa boa. O saco dele já havia enchido também, imaginou.
- Me liga quando chegar em casa? Preciso falar melhor com você - parecia mais calmo.
- Tudo bem.
- Então tá.
Silêncio.
- ?
- Oi.
- Faz as malas.
Ele riu, e o coração dela pareceu relaxar.
- Tudo bem.

Aquela conversa tinha sido estranha demais. Ela e não brigavam ou discutiam desde o último namoro e de repente ele voltava a agir que nem um idiota pra cima dela? Ela estava tentando mudar ali! Pelo menos estava tentando. E ele? Estava fazendo o que?
Aos olhos de , nada.
O carro de parou em frente à casa e bateu no ombro da amiga, fazendo-a submergir de seus pensamentos e sorrir amarelo de volta.
- Oi?
- Chegamos, . Tudo bem? - parecia preocupada.
- Tô, só cansada. Preciso dormir!
concordou e as duas saíram do carro.
- Estejam prontas às 5! Nosso vôo é 7 horas. - alertou e colocou a cabeça pra fora da janela, dando um beijo na testa de cada uma.
soltou um beijo no ar e arrancou com o carro, parando duas casa em frente.
sentiu como se tivesse acionado o botão automático. Sentia falar e sabia que resmungava de volta, mas de uma hora pra outra seu corpo pareceu ficar tão cansado, que ela ao menos tinha noção de seus próprios movimentos.
Ao passar pela sala teve a impressão de Tom ter lhe alertado sobre uma ligação de e algo relacionado a , mas ela continuava sem absorver nada.
Quando entrou no quarto, encontrou sua mala pronta ao lado da poltrona e lembrou-se que tinha feito ela no dia anterior, antes de ir ao hospital visitar ! Droga, ela havia dispensado por motivo algum?
Porque pensar em lhe lembrava algo, mas nada exatamente específico? Droga, sua cabeça estava muito pesada! Como tinha deixado a exaustão lhe dominar tão rapidamente?
Talvez da mesma forma qual seu corpo pendeu cansado na cama e seus olhos se fecharam, adormecendo no mesmo instante.
Automaticamente.



Capítulo 23

Ainda estava escuro quando o celular começou a vibrar ao lado do travesseiro de , fazendo-a despertar à contragosto. Ao tentar movimentar-se e com a idéia de ignorar o aparelho celular, ela deu-se conta de que ainda estava com a mesma roupa qual saíra ontem - o que incluía as botas em seus pés! - e talvez ainda até mesmo maquiada.
Vou ficar uma velha, pensou consigo mesma e virou o corpo sobre a cama, fazendo com que fosse enrolada pelo edredom. O celular parou e voltou a vibrar no mesmo instante, fazendo-a suspirar pesado.
Quem seria uma hora daquelas? O vôo só sairia dali a duas horas, ela ainda tinha tempo pra dormir!
- Alô! - atendeu rude, com a voz rouca e fraca.
- Você sabia que me deixou preocupado? Eu pedi pra você me ligar quando chegasse em casa, ! Já são três horas da manhã - a voz de saiu do aparelho e abriu os olhos instantaneamente.
Oh. Puta. Merda.
Havia esquecido completamente de .
- Ah, relaxa - ela começou, com a língua ainda embolada do sono - Eu tô bem, não tô? Agora me deixa dormir, fofinho, a gente se fala no caminho pra o aeroporto.
- Eu pedi pra você me ligar porque eu tinha uma coisa importante pra te falar, , será que você lembrou disso? - a ignorou.
Oh, Deus, ela só queria dormir mais uma horinha, seria pedir demais? Será que não poderia esperar mais um pouquinho? Ele esperou a vida inteira, mais alguns minutos não seriam demais, afinal, o mundo não gira em torno dele mesmo, não é?
- Não dá pra esperar algumas horinhas até a gente se ver?
- Pra você tudo pode esperar, não é? Não, , eu não posso esperar! Não quando eu tô chorando desde às quatro horas da tarde tentando falar com a única pessoa que eu quero falar no momento e ela simplesmente esquece de mim!
- O que aconteceu? - mudou o tom para preocupada. chorando?
- Não, agora você não tem tempo pra mim. Acho que posso esperar mais algumas horas chorando se eu ainda precisar de você.
- ...
- Minhas malas já estão prontas.
Dito isso, a voz do garoto sumiu e o tu tu tu da linha retomou seu lugar.
jogou-se na cama, ainda com o celular em mãos, e agora com a cabeça pulsando fortemente, mas não de sono. Por que diabos ela foi esquecer de ? Eles não tinham discutido mais cedo? Então por que raios ela foi esquecer de ligar pra ele justamente nesse momento? Ele não estava bem, seu não estava bem e tudo que ela conseguia fazer era continuar agindo que nem uma vaca.
Ser ela mesma podia doer. E doía, na maioria do tempo. Não só nela.
Com a pulsação ainda forte, desistiu de dormir e pôs-se de pé ao lado da cama, observando todo o quarto para ver o que faria primeiro.
Um banho, pensou e no caminho para a porta do banheiro, pegou a roupa que havia separado e deixado em cima da mala e entrou no cômodo. Seu banheiro era extremamente branco, em si, mas com um toque de vermelho elétrico em toda a sua decoração. Tudo ali era vermelho. Toalhas, escovas de dente, quites de maquiagem, secador, saboneteira... Tudo.
tirou a roupa rapidamente, observando-se no espelho e em seguida pulou no box, ligando o chuveiro e entrando de cabeça e tudo. Talvez aquilo melhorasse todo aquele peso que ela parecia sempre carregar. Tinham horas em que chegava a pensar se sua cabeça cairia do pescoço, de tão pesada que ficava.
Assim que começou a passar o segundo shampoo, a porta escancarou-se e uma com a mão na boca entrou correndo, destampando o vaso sanitário e então vomitando.
- Obrigada por vir fazer isso no meu banheiro - agradeceu irônica e a amiga a olhou.
- O Tom tá tomando banho no nosso e se eu vomitasse na frente dele, ele começaria com aquele discurso sobre como eu não posso viajar e tudo o mais. - ela deu descarga, arrancando mais alguns resmungos de , pela água fria e sentou-se no chão - O ligou pra ele. A coisa parecia séria... Aconteceu alguma coisa?
fechou os olhos com força debaixo da água e demorou alguns segundos para responder. fez aquele barulho impaciente com os lábios que costumava fazer. Será que todos ali tinham as mesmas manias? Maldita convivência!
- Não.
- Não o quê?
- Não aconteceu nada demais, - ela tentou manter a voz firme, sempre sabia quando havia algo errado.
- Vocês não discutiram nem nada do tipo? Nem nada aconteceu com ele?
- Até onde eu sei... - começou, desligando o chuveiro e puxando a toalha que estava pendurada no vidro do box - Está tudo bem.
parou alguns segundos a observando e em seguida deu de ombros, se levantando e enxaguando a boca rapidamente na pia.
- Só achei estranho você ter acordado cedo. Ontem parecia que ia desmaiar!
apenas conseguiu sorrir em resposta e a amiga saiu do banheiro e logo em seguida do quarto, fechando a porta com força.
Tinha que estar tudo bem com . Ele era sempre o dramático, não era? Com certeza não teve nada de mais e assim que os dois se encontrarem iria ficar tudo bem. Sempre ficava. Ainda meio pertubada, andou até a roupa em cima da pia e tirou sua lingerie, a vestindo rapidamente e logo em seguida a blusa baby look da gap e uma calça jeans clara. Pegou o All Star amarelo no armário, junto com uma meia tentando equilibrar tudo numa mão só, e com a outra puxou a mala, saindo do quarto.
No corredor, esbarrou com um Tom sem camisa, fazendo com que sua mala caísse com um baque surdo no chão.
- SEEEEEEEEEEU cabelo tá ridículo, Fletcher - Tom brincou e revirou os olhos.
- Deus, páre de chorar pra me ter em sua família, Thomas - ela riu e pegou a mala no chão, continuando a andar para a escada.
- Você sabe que é - ele deu de ombros.
- Só porque sua mãe insistiu muuuuito.
- Aquela traidora.
- TOM! PARE DE ENCHER O SACO DA E TRAGA SEU TRASEIRO PRA CÁ AGORA, VOCÊ ABRIU A MINHA MALA PRA QUÊ? - gritou de algum lugar.
- Boa sorte, garanhão - riu e terminou de descer as escadas, depois de ver o amigo dar passos lentos para o quarto.
Depois de deixar a mala do lado do sofá e os tênis na frente, ela subiu de volta para o quarto pra pegar uma escova de cabelo. Parou um pouco ainda dentro do quarto, tentando se lembrar de algo que tivesse esquecido e voltou à sua mente. Merda! Era pra ter lembrado noite passada, não agora.
Lembrou do celular em cima da cama, e colocou-o no bolso, saiu do quarto com a escova já em contato com o cabelo. O shampoo novo estava finalmente fazendo diferença, sorriu ao perceber que o cabelo tinha ficado mais macio, mas deu um pulo ao entrar na sala e encontrar sentado no sofá com o All Star nas mãos.
- AAAH! - gritou, deixando a escova cair e a olhou assustado - Quer morrer, imbecil? Que suuusto!
- Tá nervosinha demais pro meu gosto. Já ficou sabendo da mãe do , né? - a olhou ressentido e jogou o All Star no chão - Foi só um susto, , não precisa se preocupar, ela já tá indo pra casa e...
- O que... Como assim sabendo da mãe do ?
Seu estômago pareceu, em partes, despencar, ao passo em que ela se tocava da idiotice que havia feito.
Mas por que céus uma parte de si lhe dizendo que ela estava certa? Que porra de consciência era essa?
- ! Alô-ô - passou a palma da mão aberta pela frente dos olhos da amiga e ela piscou duas vezes, o olhando confusa. - Pensei que você tinha entrado em coma, ou sei lá... Mas enfim, ele não te contou?
- Na...
Antes que ela pudesse terminar, a porta se escancarou e e entraram rindo, fazendo com que fechasse a boca e se sentasse no sofá outra vez. sentou ao seu lado e pegou uma meia, colocando-a no pé direito e depois fazendo o mesmo com o esquerdo. Sua cabeça continuava longe, e agora, mais pesada do que nunca.
- Não, , cala a boca! - riu e sentou entre e , ambos calados - Quem morreu?
O estômago de se contorceu mais uma vez e ela fez uma careta, começando a calçar o par de All Star. olhou cada um dos dois, ainda calados, e então , que parecia ter parado de rir no mesmo instante em que ela fizera a pergunta. Ops, a atmosfera também estava uma merda.
- Falei algo errado?
- Vou pegar um copo de leite - levantou-se e andou até a cozinha, parando ao lado da porta de molas, e encostando as costas na parede.
Fechou os olhos com força e escutou as vozes que vinham do cômodo anterior.
- Uma parada com a mãe do .
- Abalou a ?
se calou e pôde imaginar ele olhando sugestivamente, que começou falando devagar.
- Na verdade, eu acho que ela nem sabia.
- Oh.
Ninguém comentou mais nada depois disso, e sabia que não comentariam. A partir dali eram outros 500. Eram os 500 dela e de , e entre os dois ninguém tinha a coragem, ou sanidade, de se meter.
Ela permaneceu alguns segundos ainda encostada à parede, esperando que sua respiração se normalizasse e que os picos de sua consciência - o justo, que dizia o quão errado ela tinha agido, e o outro lado que insistia em estar lá, o que sempre a colocava à frente de tudo, e que sempre vencia - parassem de gritar em sua mente. Ela iria enlouquecer. Depois de abaixar-se e amarrar o cadarço de um dos pés, ela deu dois passos até a geladeira, com esperança de achar algo comestível, ou acabaria vomitando.
Mas sua trajetória foi interrompida por um som. O que de fato não seria estranho para uma casa de músicos. Porém, o som da porta sendo movimentada e em seguida o silêncio instantâneo lhe foram suficiente para que soubesse quem havia adentrado no local sem ao menos virar-se. havia chegado.
Fingindo não ter escutado o ruído, a garota andou até a geladeira, encontrando apenas algumas maçãs e um leite que deveria estar vencido, juntos com uns pedaços de pizza e sushi da semana passada. Pegando uma maçã, ela virou-se ainda evitando algum tipo de contato visual, e puxou um banquinho alto da bancada, dando uma mordida na fruta e em seguida girando-a em suas mãos, como se fosse um dos mais interessantes objetos, mantendo seu olhar compenetrado no ato de girá-la.
sabia que se não falasse nada, ficaria em pé diante dela até o minuto em que alguém entrasse na cozinha e dissesse que já estava na hora de ir para o aeroporto. Ele sabia que poderia suportar o silêncio por todo aquele tempo. Mas não ela, não a garota que havia ficado ao seu lado e pegado suas manias.
Até algum tempo atrás, usaria aquela frase que já estava ficando manjada entre eles, a de que o silêncio pode ser um barulho e ainda por cima, assustador! Mas de uns tempos pra cá, ele havia sentido a volta da de antes, e talvez o silêncio tivesse virado seu melhor refúgio. De algo que o assustava, tornou-se suportável e agora... Uma necessidade.
- Me desculpa - precisou de alguns minutos para processar as palavras que saíam da boca da namorada.
Ela estava pedindo desculpas, enfim. Nenhum dos dois parecia acreditar em tal momento.
- Eu não sabia que era... Você sabe, tão sério e tudo o mais.
- Não tinha como você saber - ele falou e o olhou aliviada. Ele estava a perdoando então? - Mas só porque não tinha como você saber não quer dizer que nunca vai ser algo sério. Você era a única pessoa que eu queria falar no momento e eu parecia ser a última pessoa na sua lista de prioridades.
Ela abriu a boca algumas vezes, mas não conseguiu falar nada. Chegou a sentir que iria explodir em lágrimas, mas controlou-as. Não seria fraca a tal ponto.
- Às vezes parece que eu sou o bobo e você a rainha. Só eu pareço ser útil pra você, como se só você precisasse de mim.
- ...
- Eu tô de cabeça cheia, fofa. É melhor você sair daqui antes que eu acabe falando uma besteira. - concordou com um aceno de cabeça e se levantou, jogando a maçã, que havia sido mordida apenas uma vez, no lixo. Seu apetite se fora. - A gente se fala no carro, pode ser?
Ela apenas concordou com a cabeça outra vez, como se tivesse sido programada para tal ato, e saiu da cozinha ainda sem encará-lo. já estava na sala quando ela passou por lá, o que queria dizer que todos já haviam se reunido e eles sairiam em alguns minutos. Ela precisava dar um jeito em seus olhos, choraria em alguns instantes.
Tudo o que se pôde ver foi seu borrão, atravessando a sala em direção à escada.
- Tudo bem, ? - escutou perguntar já quando subia a escadaria.
- Só vou pegar meu casaco.
Então ela apressou o passo, e passou a mão pelo rosto, enxugando as malditas, insistentes e indesejáveis lágrimas.




Capítulo 24

O clima só parecia piorar a cada minuto que transcorria, parecia que toda a estabilidade adquirida no dia passado havia sido jogada pela janela. apertava o casaco contra o próprio corpo e se esforçava para que seu lado esquerdo não topasse em , que se encontrava como uma pedra sentado ao seu lado. Não haviam trocado sequer uma palavra desde o ocorrido na cozinha, e ele dissera que era melhor só conversarem no carro, mas ali estavam os dois. Lado a lado, e completamente mudos.
- Então né, é melhor vocês dois pararem de falar ai atrás, porque porra, esse barulho todo tá me incomodando! - fingiu estar com raiva usando seu tom de ironia, quando o carro parou num sinal fechado e virou o corpo no banco do passageiro, para observar o casal sentado no bando traseiro.
- Tudo bem ai?
- Tudo - responderam em uníssono, e então se calaram.
levantou as sobrancelhas e olhou para , que deu de ombros em sinal de desistência. O silêncio durou mais cinco segundos, até que o carro de parasse ao lado do de , fazendo com que não só os quatro o olhassem, como também todos que estavam presentes. O automóvel pulsava de tão alto que o som estava, pelo vidro traseiro, dava pra ver e , se movimentando de forma engraçada, como se tentassem dançar no ritmo da batida enquanto sentadas, e pelo vidro do passageiro, era notável a boca de Tom se abrindo e fechando de forma brusca, como se ele tivesse tentando conversar com alguém em meio à todo aquele barulho. Ou talvez ele estivesse cantando junto com a música. Vai entender.
- E ainda dizem que não querem chamar atenção - resmungou, segurando o riso.
- Idiotas - soltou no mesmo tom, e então os quatro dentro do carro silencioso começaram a rir.
Assim que os carros pararam no estacionamento de Heathrow, abriu a porta e fez menção de sair, mas pegou-a pelo braço.
- Tá maluca, é?
Ela o olhou sem entender e abriu sua porta, saindo do carro e andando até o lado da amiga, mas antes passando pelo fundo, de onde abriu a mala e tirou uma muleta.
- Ah, eu não vou usar isso! Vocês estão loucos ou o quê? - ela resmungava enquanto segurava seu braço e a puxava para fora do carro - , não ouse fazer isso comigo! Eu conheço cada podre sobre você com os mínimos detalhes, de primeira mão. Se você ousar me fazer usar isso...
- Você vai se recuperar melhor e não vai ficar com uma perna torta que nem uma garota tagarela de perna torta. - ele completou, ajeitando a muleta no braço da amiga, para que ela ficasse em pé da forma certa e se afastou alguns passos, para observar como tinha ficado, como se tivesse feito uma obra de arte ou coisa assim.
- Não me olhe desse jeito, idiota! Eu não sou uma retardada.
- Alguém chegou de mau humor-or! - apareceu rindo, com Tom ao seu lado e lhe mandou o dedo do meio - , páre de ensinar essas coisas pra essas meninas, cara!
- Eu não ensinei nada, foi a .
o olhou indignada e lhe mostrou o dedo de xingamento também. riu ao seu lado e a garota tentou não sorrir.
- Toma vergonha, . Você é o único mal educado aqui. - ela deu um tapa na nuca do amigo, fazendo-o gritar, e olhou para Tom - Cadê a mãe do seu filho e a idiota da amiga dela?
Tom olhou para os lados e deu de ombros, murmurando algo como "acho que foram no café", que fez com que rolasse os olhos em fastio.
- Peguem as malas, vou comprar chiclete. - ela apontou pra e deu as costas, começando a andar, mas parou assim que lhe chamou.
- Eu vou com você! - ele falou alto, assim que o olhou e então sorriram um para o outro.
- ! Eu quero sentar com você - gritou mais atrás.
apenas levantou o polegar em concordância e sorriu mais ainda, quando voltou a andar e percebeu que havia entrelaçado os dedos nos seus. Talvez nem tudo estivesse perdido naquela manhã cinzenta.

- Eu disse que queria chiclete de canela, , não de menta!
- Mas você sempre compra de menta.
- Mas dessa vez eu queria de canela, qual o problema?
- , será que você não pode parar de reclamar uma vez na vida e agradecer por eu ter ido lá comprar essa porcaria.
- Não, não posso, , porque-você-comprou-errado - ela falou cada palavra pausadamente e bufou, olhando para os lados em socorro.
- O casal não vai parar de brigar ai não? Eu pensei que vocês já tinham voltado para o mel - reclamou e jogou as carteiras de identidade cada uma para seu dono - Check-in feito, e me obrigou a colocar você com ela, .
a olhou com um bico e as duas garotas riram. puxou-o pela mão e os dois começaram a andar até onde os outros estavam esperando. Algumas garotas que estavam por perto ficaram olhando pra os oito com caras curiosas, reconhecendo os meninos e quem sabe até mesmo as meninas. pegou o capuz do casaco que vestia e colocou-o em sua cabeça. , ao seu lado, riu ao ver uma menininha se aproximando da mesma.
- Você não é a namorada dele? - a garotinha perguntou e riu mais ainda.
- Hm... Sou. - tentou responder, enquanto seu rosto mudava de vermelho para roxo, e então para azul.
- Eu adoro vocês! Minha irmã diz que não gosta, porque vocês sempre acabam, mas eu amo quando sai na revista de fofoca que vocês tão juntos.
riu e continuou apenas sorrindo, seu rosto ainda estava muito quente. Tinha esquecido como era ser reconhecida como namorada de .
- Ei, menininha! Você não me conhece também não? - cutucou a garota e apontou para si mesma.
A menina olhou com atenção. Sorriu depois de alguns segundos, mostrando seus dentes pequenos e brancos, que contrastavam com seu cabelo loiro e liso, comprido e extremamente sedoso. pegou-se pensando que queria que sua filha fosse assim.
- Você é aquela mulher que faz a Dorothy no teatro!
sorriu e se agachou pra falar com a garota, já menos envergonhada.
- Ela também já namorou com o .
- ?
- Uhum.
- Eu não lembro disso.
- Ainda bem - resmungou e a cutucou, fazendo-a rir. Ela meio que queria que a menina a lembrasse como ex namorada de , ou até mesmo seu grande amor. Menos, , menos. ela pensou consigo mesma - Tem muito tempo, você nem deveria falar naquela época.
- Eu sempre falei - a menininha retrucou, com a carinha irritada.
- BRIDGET! NOSSO VÔO JÁ VAI SAIR! - a voz de uma mulher soou pelo saguão, e ficou em pé novamente.
- JÁ VOU, MAMÃE! Tchau, mandem um beijo pra os outros e da próxima vez eu quero uma foto - Bridget acenou enquanto se afastava correndo e os três se entreolharam.
- Por que as crianças de hoje em dia parecem adultos?
e deram de ombros e continuaram andando, com em seu encalce. Os outros cinco estavam parados em frente ao portão de embarque, e parecia segurar uma totalmente instável, que falava algo de forma brusca com .
Quem os visse de longe, iria pensar que eram loucos, pela forma qual se vestiam, com roupas demais, escondendo o rosto com tudo o que podiam, numa roda, gritando e xingando uns aos outros. , que estava aprendendo alemão, havia pegado uma mania feia de sempre posta sobre stress soltava alguma palavra alemã, fazendo parecer que ela estava sempre xingando.
- , se você continuar me chamando de imbecil em alemão, eu arranco seu filho com um facão - chegou apontando o dedo pra a amiga e segurou a risada - E vamos entrar logo nesse avião que eu tô morrendo de sono.
- Sim, senhor - todos responderam com uma continência fazendo-o o bufar.
sorriu e mordiscou a bochecha do namorado, antes de - junto com os demais - se dirigirem ao portão de embarque.

A aeromoça havia acabado com o discurso sobre os cuidados durante o vôo, quando e encaixaram seus cintos e desligaram seus iPods, esperando a decolagem para que pudessem se acomodar de forma mais confortável.
- Pensei que você ia reclamar pedindo pra sentar com o - comentou enquanto agarrava um dos braços das poltronas. Decolar deixava seus nervos à flor da pele.
- Será que a gente poderia, por favor, não falar nele? Parece que vocês só sabem falar comigo sobre o . Eu tenho uma vida, sabia? - fez uma careta e sentiu alguém chutando sua poltrona.
- Obrigado, docinho! - a voz de soou amarga e as duas gargalharam, junto com Tom, que estava sentado com o amigo nas poltronas de trás. - É tão bom ter uma namorada que me ama tanto assim.
- Eu sei - piscou pra e desceu o encosto da poltrona assim que percebeu que o avião havia ganhado estabilidade no ar. A amiga ao seu lado pareceu relaxar enquanto puxava a bolsa da parte de baixo da poltrona. - Enfim, durmam, garotos. Eu e teremos uma conversa extremamente feminina agora.
Os dois resmungaram e espiou entre as poltronas, vendo Tom pegar um caderninho com uma caneta e cutucar , começando a cochichar algo. Ela sorriu e virou-se para que mexia em algo na carteira.
- E então... - seu sorriso se estendeu, ganhando um quê de malícia - Vamos falar sobre .
se sobressaltou, deixando um talão de cheques cair e soltou uma gargalhada gostosa.
Agora a amiga que a agüentasse. Elas teriam muitas horas para debater o assunto.




Capítulo 25

Tinha sol, muito sol.
Tinham pessoas, muitas pessoas.
Mas pela primeira vez em uma década, não se sentiu perdida, sufocada, sem saída. Pela primeira vez, ela simplesmente não os via. Talvez fosse todo aquele lance de deixar as pessoas em plano de fundo e concentrar-se em si mesma. Podia ser qualquer coisa, mas ela não se importava e não entendia, muito menos buscava fazê-lo.
Tinha sol, muito sol.
Tinham pessoas, muitas pessoas.
E ela não dava a mínima. Para nada.
- Eu acho minha pele sensível demais pra tudo isso, parece que essa bola amarela vai me derreter a qualquer momento! - resmungava enquanto saía do hotel junto à namorada - Nós deveríamos ter escolhido outro lugar. Barbados é tããão ano passado!
gargalhou, ainda com os olhos pregados na revista em suas mãos
- A bola amarela se chama sol, . E Barbados é melhor que a Disney.
- O Tom gosta da Disney!
- O Tom gosta de muitas coisas, mas nem por isso nós temos que fazê-las.
parou de andar e a olhou indignado. Apenas alguns passos à frente notou sua ausência e parou também, girando o corpo para encará-lo.
- Quê? - perguntou com uma sobrancelha erguida. continuou imóvel.
- E o que eu gosto, onde fica?
Deus, qual era o problema com ele? Eles já estavam ali, todos acomodados, pra quê tanta implicância?
- Tanto faz - ela deu de ombros, rolando os olhos em fastio.
abriu a boca por uns segundos, mas então tornou a fechá-la. Com um movimento cansado, ele passou a mão direita sobre os olhos e deu as costas, começando a andar na direção oposta.
- Aonde você vai? - gritou, o rosto contorcido em confusão.
- Qualquer lugar - a resposta veio sem ao menos estar acompanhada de um rosto. continuava se afastando e aumentou o tom de voz.
- Como assim? ! - suspirou exasperada - Merda.
Ele realmente sabia como ser irritante às vezes.
Com passos largos, começou a caminhas no trajeto contrário ao que o garoto seguira. Finalmente o sol e todas aquelas pessoas estavam começando a lhe encher o saco.

Qual era o mistério por trás de toda aquela forma de agir? tinha sempre que pôr defeito em tudo, sempre implicando, nunca satisfeito com nada. Céus! Será que ele não tinha noção do quanto aquilo a tirava do sério?
estava sentada num dos banquinhos do bar e sorria descaradamente para o barman de meia idade. Aquilo afastou de seus pensamentos passados. Algo estava errado ali. Ao ver a amiga acender um cigarro e inclinar o corpo maliciosamente para frente, ela apertou o passo e começou a pensar numa bebida trabalhosa. Uma vez paralela a , ela puxou o banco ao lado e atrai a atenção dos dois.
Abriu o melhor sorriso disponível.
- Gostaria de algo bem forte... Com uísque! Algo bem forte com uísque, por favor. - usava um tom de voz suave e a olhou desconfiada.
- Desculpe, senhorita, mas... Esse é um bar simples... De apoio e... Nós não temos! Uísque, quero dizer - o homem parecia suar e estar levemente atordoado.
sorriu ainda mais imaginando o tamanho do decote de que ficara à mostra assim que ela se inclinou para que pudesse provocar tal efeito no homem. Buscou o crachá dele com o olhar e o achou na parte superior do peito direito.
Charlie.
Ironia filha da puta.
- Olha, Char... - ela proferiu e o olhou entre os cílios - Eu acabei de brigar com o idiota do meu namorado e preciso de um uísque. Puro.
- Mas...
- Dê um jeito. - sua voz mudou de suave para autoritária e o barman encolheu os ombros, sumindo pela porta dos fundos em seguida.
a olhou com a boca aberta.
- Mas que... ! Minha noite! - reclamou indignada e rolou os olhos.
- Me poupe. Agora conta logo que a múmia já deu o fora, qual o problema? - ela tomou-lhe o cigarro e deu um trago, voltando a encarar a amiga depois de não receber resposta - Quê? Ele tem o dobro da sua idade! Você não está tão desesperada assim.
- Ok! - bufou e endireitou o corpo, olhando para os lados antes de voltar a falar - Eu e o nos arranhamos.
- Vocês brigaram? De novo?
- Ah, qual é! O me veio com aquele papo furado de trocar de assento e eu troquei. Você sabe, a está um saco com esses hormônios e tudo o mais e eu não pensei que fosse ser tamanho sacrifício sentar ao lado dele por algumas horinhas. A gente tava começando a se aturar de novo... - ela parou e olhou para os lados mais uma vez, claramente desconfortável - Mas eu claramente tinha esquecido que o é uma merda com toda essa implicância e ele começou a... Dar em cima da aeromoça, não sei...
- E você ficou com ciúme? - típico.
- NÃO! - algumas pessoas olharam para a garota depois do grito e passou os olhos envolta de onde estavam mais uma vez. sorriu mais ainda do nervosismo da amiga. Deu a última tragada no cigarro e soltou o filtro, fazendo-o cair no chão. prosseguiu, ainda sem encará-la - É só que eu não gosto de homens sacanas. E eu não gosto do .
- Eu sabia.
Ambas riram.
- Enfim, esqueçamos do burro que amarramos no poste - a olhou confusa e balançou a mão pedindo-a para esquecer a piada mal formada - Que lance foi esse de "briguei com meu namorado"? Eu pensei que você só ia ser grossa e mandar ele passear um pouco.
Foi a vez de olhar para os lados.
- Na verdade foi com o idiota do meu namorado, e é... Eu e o discutimos. Eu acho.
- Vocês discutiram, ou você brigou com ele?
parou de olhar as pessoas em volta e encarou a amiga.
A resposta parecia pairar ao lado de sua cabeça. Nunca um sim havia lhe incomodando tanto. Pela primeira vez, percebeu o quanto lhe custava admitir que era a errada, e - por mais irônico e confuso que isso soasse - pela primeira vez não lhe parecia certo se sentir assim.
Qual era o problema com Barbados e todas essas "primeira vez"?
Seu hímen ainda estava ali? Ótimo, uma a menos.
- Você sabe como eu não agüento quando ele começa com drama e tenta bancar a vítima! Eu não consigo... E não... Simplesmente não sou eu e... Ah, eu acabei sendo ignorante, ou indiferente, algo assim.
- Como se eu pudesse esperar algo mais sutil de você!
- Aw, , me poupe.
Ela levantou-se e colocou as mãos no bolso do short curto que estava vestida, fez menção de se afastar e a olhou.
- Ei, pra onde você vai?
- Andar. Por quê?
levantou as sobrancelhas.
- Que uísque?
- O que você pediu pra o Charlie trazer! , onde anda sua cabeça?
. Essa era a resposta.
Essa era sempre a resposta.
- Ahn, tanto faz. Fica, você brigou com o .
- Eu não preciso beber só porque briguei com o !
- - colocou uma mão no ombro da amiga e sorriu sincera - Você tava dando em cima de um cara de 40 anos. Acredite, fique com o uísque.
E, sem esperar resposta, virou o corpo na direção do mar e começou a andar. Lá estava ela, andando sozinha em Barbados. De novo.

(n/a: pra quem quiser acompanhar com a música, coloca pra carregar: Rehab – Rihanna ft. J. Timberlake)

Já estava escuro quando parou seu corpo em frente à porta do quarto. Havia andado na praia a tarde inteira e não vira mais ninguém conhecido. Se tivesse sorte, continuaria assim. Ao encaixar a chave-cartão no leitor da porta, ela começou a desejar repetitivamente que estivesse no quarto de um dos meninos jogando Xbox ou bebendo. Ou os dois.
Toda a esperança foi por água abaixo quando o barulho da televisão chegou aos seus ouvidos, uma vez que estava dentro do quarto.
- ?
A voz de pareceu perfurá-la. E lhe trouxe aquele estado já conhecido.
O doce ataque cardíaco estava de volta. Ele nunca parecia ir.
- , é você? - a voz de soou mais clara dessa vez, ele havia desligado a televisão.
Perfeito, ela pensou. Toda a sua experiência e conhecimento no quesito fez seu corpo entrar em alerta. Ela sabia o que estava por vir, e aquilo a assustava.
- So-sou - ela gaguejou, andando lentamente para sair do corredor de entrada do quarto.
estava sentado na cama, e parecia que acabara de fazê-lo, o controle remoto ainda estava em mãos e o rosto continha uma serenidade inexplicável, nunca antes existente em sua face quase pálida.
Aquele não era seu .
- Nós precisamos conversar - ele falou simplesmente.

Baby, baby
(Baby, baby)
When we first met I never felt something so strong
(Quando nos conhecemos eu senti algo tão forte)
You were like my lover and my best friend
(Você foi como minha amante e minha melhor amiga)
All wrapped in one with a ribbon on it
(Tudo embrulhado e erolando em uma fita)
And all of a sudden you went and left
(E de repente você se foi)


suspirou sem ao menos se dar conta e seu ato atraiu o olhar do garoto. Ele a encarou por uns segundos com a face ainda inexpressiva. Ela não queria ter que olhar para o rosto do namorado e nem ao menos reconhecê-lo. Seus olhos continuaram presos na parede até que sentira que os de já não lhe perfuravam mais.
- Nós precisamos, . Dessa vez não é só querer, você não pode fugir disso.
Ela o encarou, mas o garoto olhava para as próprias mãos agora.
- E o que te faz pensar que eu vou fugir?
Ele a olhou e desviou os olhos para a cabeceira da cama atrás dele. Deus, aquilo estava começando a se tornar infantil demais.
- É o que você sempre faz - pareceu dar de ombros.
piscou fortemente e respirou antes de falar, alternando seu olhar entre a cabeceira e o nariz do garoto. Nem mesmo o nariz dele ela conseguia olhar por muito tempo! Deus, seu corpo inteiro parecia temer cada palavra que ele poderia falar.
- Eu estou aqui agora, não estou? Não vou fugir, .
- Péssima hora pra tomar essa decisão. - ele finalmente a olhou nos olhos.
Seu peito doeu. Todo o seu corpo pareceu tremer e ela pôde ler nos olhos dele o que não queria. Pôde ver naquela expressão desconhecida o que mais temia.
Ela estava o perdendo. De novo.

I didn't know how to follow
(Eu não soube como seguir)
It's like a shock that spun me around
(Foi como um choque que me atingiu)
And now my heart's dead
(E agora meu coração está morto)
I feel so empty and hollow
(Eu me sinto vazio e oco)


- O que você... Como assim?
- Eu não posso mais manter essa relação, . Não quando eu sou o único que parece interessado em mantê-la - a voz calma que saía da boca de parecia deixar cada vez mais tonta. - Você falou. Você prometeu. Você me disse que ia tentar mudar! E adivinha? Durante todos esses meses eu tentei me enganar e enganar a todos dizendo que você tinha mudado. Mas você não mudou.
- Isso não é verdade - sua garganta parecia estar bloqueada, lutava contra as próprias palavras - Você sabe que isso não é verdade, !
- Sei?
Agora todo o seu estômago parecia ter sido tomado pelo buraco negro que havia começado em seu coração. Estava sendo pior do que as outras vezes. Então, como num banho de água fria, ela percebeu. estava terminando dessa vez. Ele tinha o controle. E ela era o carrinho de pilha prestes a explodir.
- Eu pensei que soubesse - ela sussurrou, baixando o olhar para os próprios pés.
- Eu também cheguei a pensar. Por uns momentos. Mas não é fácil, eu não posso continuar sendo o mesmo de dois anos atrás! Não é tão fácil assim, não dá... Você tem que crescer, .
Bum!

And I'll never give myself to another the way I gave it to you
(E eu nunca me entregarei a ninguém da forma que eu me entreguei a você)
You don't even recognize the ways you hurt me, do you?
(Você nem ao menos reconhece as formas qual me machuca, reconhece?)
It's gonna take a miracle to bring me back
(Vai ser necessário um milagre para me trazer de volta)
And you're the one to blame
(E você é a única culpada)
And now I feel like....oh!
(E agora eu me sinto como... oh!)


- Crescer? Eu tenho que crescer? - ela aumentou o tom de voz, inconformada e aproveitando a deixa pra virar o jogo - Não sou eu que saio fazendo merda por ai! Ficando pelado em shows e arrotando em programas de televisão ao vivo ou só falando "peitos" como se essa fosse a única palavra que você soubesse falar!
- Personalidade, ! Personalidade! - a voz dele agora estava no mesmo patamar que o dela e aquilo a assustou. nunca gritava, não com ela. - Uma coisa é eu ter uma personalidade com senso de humor, outra coisa é eu não levar nada a sério! Porque é disso que a gente tá discutindo agora! Levar as coisas a sério, e eu levo! O problema aqui é você, o problema é sempre você e toda essa sua crise "sou-o-centro-do-mundo-todos-me-amem-e-me-adorem".
- Eu não sou assim! Nós não somos assim! Nós não estamos discutindo, . - ela o olhou suplicante, pela primeira vez, lá estavam eles com os papéis invertidos - Por favor, ...
- Como você pode saber o que nós somos se você nem ao menos sabe o que você é?

You're the reason why I'm thinking
(Você é a razão pela qual eu estou pensando)
I don't wanna smoke on these cigarettes no more
(Eu não quero mais fumar desses cigarros)
I guess that's what I get for wishful thinking
(Eu acho que é isso que eu ganho por ilusões)
Should've never let you enter my door
(Nunca deveria ter deixado você entrar pela minha porta)


O quarto entrou em silêncio. não respondeu. Ela sabia quem era, só que era terrível demais para admitir até pra si mesma.
- Eu não posso... - sobressaltou-se ao escutar a voz de e o encarou - Eu não consigo mais manter essa relação sozinho.
- Então diga! - ela se ajoelhou na cama e jogou suas mãos fechadas em punhos contra o peito dele, as lágrimas escorriam sem vergonha alguma - DIGA, PORRA! DIGA! DIGA QUE VOCÊ NÃO ME AMA MAIS, DIGA!
- Eu não consigo - sussurrou, segurando os pulsos da namorada que batiam fervorosamente em seu corpo - Eu não consigo - ela colocou mais força em cada investida e ele fechou os olhos, ainda segurando-a - EU NÃO CONSIGO! EU TE AMO, QUE MERDA!

Next time you wanna go on and leave
(Da próxima vez que você quiser ir em frente e me deixar)
I should just let you go on and do it
(Eu deveria simplesmente deixar você ir)
'Cause now I'm using like I bleed
(Porque agora eu estou me aproveitando da forma como sangro)
It's like I checked into rehab
(É como eu entrei na reabilitação)
And baby, you're my disease
(E, baby, você é a minha doença)


parou de bater e abriu os olhos.
Nada se distinguia em sua visão. Tudo era um incrível borrão cinza e ela soltou seus pulsos das mãos - já afrouxadas - de . Afastou o corpo do dele e engatinhou de costas até que de súbito, seu corpo despencou da cama e ela caiu num baque surdo no chão. se moveu para frente, mas foi rápida, arrastando-se até que as costas topassem na parede e então escondeu o rosto nos joelhos, com os olhos ainda jorrando lágrimas e a garganta com um caroço maior do que antes.
- Me desculpa, fofa - ele falou lentamente e sua voz soou esmagada. sabia que se pudesse enxergá-lo agora, veria o seu de volta. Mas aquilo já não parecia importar. Pra quê ter algo de volta se ele já não parece ser mais seu? - Eu não posso mais com isso. Não posso mais amar por nós dois.

Damn, ain't it crazy when you're loveswept?
(Droga, não é uma loucura quando você está completamente apaixonada?)
You'd do anything for the one you love
(Você faria qualquer coisa por quem você ama)
'Cause anytime that you needed me I'd be there
(Porque a qualquer hora que você precisar de mim, eu estaria lá)
It's like you were my favorite drug
(É como se você fosse minha droga favorita)
The only problem is that you was using me
(O único problema é que você estava me usando)
In a different way than I was using you
(De um modo diferente do qual eu usava você)
But now that I know it's not meant to be
(Mas agora que eu sei que não era pra dar certo)
I gotta go, I gotta wean myself off of you
(Eu preciso ir, eu preciso me livrar de você)


Um barulho vindo da cama alertou-a de que ele havia se levantado. Ainda com o rosto escondido nos joelhos, escutou passos se aproximando e sua voz pareceu funcionar.
- Saia, - ela foi clara e os passos pararam - PRONTO! VOCÊ JÁ FEZ, A GENTE NÃO TÁ MAIS JUNTO! AGORA ME DEIXA EM PAZ, SAI DAQUI!
- Desculpa - escutou ele sussurrar antes dos passos se afastarem e a porta bater.
Apertando a face contra as pernas, ela deixou um soluço alto e forte escapar de sua boca. Seu peito já havia explodido, sua cabeça já havia explodido, seu corpo parecia uma massa cósmica.
As palavras de rodavam em sua mente e ela perguntou à si mesma se, afinal de contas, aquilo ia ter fim.
O sofrimento, ela quis dizer. Porque ela e estavam mais acabados que seu corpo - sua massa cósmica -, e lá estava outra primeira vez em Barbados.
Porque, pela primeira vez, ela não conseguia enxergar uma volta. Parecia o fim.

I gotta check into rehab
(Eu preciso entrar na reabilitação)
'Cause baby you're my disease
(Porque, baby, você é a minha doença)





Capítulo 26

Uma luz repentina fez com que recobrasse a consciência do pesadelo que tivera. Suas costas estavam doendo e seu corpo inteiro queimava, como sempre acontecia quando sonhava com algo não muito bom. Ela não atreveu-se a passar o braço pelo espaço ao seu lado na cama, pois sabia que estaria vazio. Lembrava-se muito bem de tudo que acontecera na noite passada, e aquela cena e aquelas palavras pareciam continuar a atormentá-la até mesmo agora que estava acordada.
Ao abrir os olhos, ela percebeu que não havia fechado a cortina do quarto. Na verdade, não havia sequer vestido um pijama ou algo mais confortável para dormir. Aquilo já estava começando a virar rotina.
Ainda sem olhar o espaço vazio, levantou-se e tirou a blusa, deixando-a caída no chão e se agachando para abrir a mala que estava ali. Foi então que deu-se conta de que somente sua mala se encontrava no quarto. Sem mais nenhuma mala azul enorme e quase completamente vazia. Sem nenhuma mala que ela mesma precisou incentivar para que fosse arrumada. Sem nenhuma mala que contivesse o nome de em sua etiqueta de identificação escrita com as letras da garota.
Nada.
Tentando ignorar tal fato, ela pegou um biquíni e uma saída e andou até o banheiro, banhando-se rapidamente para que fosse possível evitar pensamentos indesejados e trocou de roupa. Já pronta e sentada na cama com as mãos cobrindo o rosto, tentou pensar no que faria dali pra frente. Ela não tinha a mínima idéia do que idealizar ou até mesmo de como agir. Sua cabeça e seu peito estavam completamente vazios. Ocos.
Houve uma batida na porta e uma voz soou do outro lado.
- , somos nós. A gente pode entrar? - a voz de tornou-se audível e murmurou algo que as três, que estavam no lado externo, entenderam como um consentimento, adentrando no cômodo - Amiga, você tá bem?
Ela sorriu sarcástica e encarou as três à sua frente.
- Ultimamente é a única coisa que sabem me perguntar.
- Ultimamente é a única coisa que nos resta a perguntar - revidou, recebendo olhares de repreensão de e - nos contou. Eu já deveria saber que tinha algo errado quando você falou da discussão ontem.
- Foi tudo besteira dele, vocês sabem como o é - sua voz saía fraca e sem vida. tentou melhorar seu estado, mas estava fragilizada demais para colocar sua máscara, esse tipo de coisa levava tempo - Ele veio com aquele mesmo papo de sempre e a gente decidiu parar de se enganar. Ninguém vai mudar nessa merda e a gente só se machuca e...
- Você tá tentando convencer a gente disso, ou tá tentando convencer a você mesma? Porque sinceramente, é o que tá parecendo.
encarou depois de tais palavras, e sem nem ao menos pronunciar-se, deixou que seu corpo caísse, deitando na cama com os braços abertos e os olhos fixos no teto.
- A gente cansou.
Nenhuma das três falou nada, todas sabiam que esse dia ia chegar. O dia em que os dois cansassem de tentar e se conformassem que por mais amor que sentissem um pelo outro, as personalidades não cooperavam. Que por mais certos que pudessem estar, eles não eram perfeitos como pensavam ser. Pelo menos não juntos.
- Ele dormiu no nosso quarto ontem - começou - Deitou na cama com a e não falou nada. A gente meio que já esperava por isso.
- Urrun - balançou a cabeça concordando, não sabia o que pensar - Eu acho que também esperava. Só não agora! Ele me pegou completamente desprevenida.
- Os papéis foram invertidos pelo menos uma vez então - sentou na cama ao lado da amiga e passou as mãos por seus cabelos - É a primeira vez que ele tem força pra terminar tudo, não é?
- É... - concordou, e fechou os olhos, tentando aproveitar o carinho fraterno que as três que estavam ali tentavam oferecer - Eu não sei como vou encarar ele.
- Da mesma forma que sempre encarou, oras! O que tem de diferente agora? - deu um passo a frente e sentou do outro lado. continuou parada e muda.
- Tem tudo de diferente agora, . Tudo! - suspirou e sentou-se, olhando do outro lado do quarto - Dessa vez parecia ser mais certo do que das outras, dessa vez eu sei que eu e ele sentimos o mesmo, parecia realmente que a gente ia conseguir. - ela pausou e encarou os pés, antes de dizer num sussurro - Dessa vez parecia pra sempre.
suspirou alto e andou, parando diante de e se ajoelhando, tomando as mãos da amiga, atraindo o olhar de todas para tal ato.
- A gente tá aqui - ela disse num outro suspiro, e engoliu em seco, sentindo a ardência nos olhos.
- É tudo que eu mais preciso.

O sol estava muito forte quando saiu do hotel junto com as meninas, depois de passar uma maquiagem para esconder sua erupção de sentimentos. Ela não podia se deixar ficar sensível. Não agora, não depois de ser a mesma pessoa egoísta por anos. Por mais que quisesse ter seu de volta, ela não se permitiria passar a idéia de que, de alguma forma, estava apodrecendo por dentro pelo fato de não o ter mais. Ele não merecia nem mesmo isso dela, não depois de dizer que ela não havia se esforçado. Quem ele pensa que é pra falar essas coisas?
Como ainda tinha o gesso na perna, as outras três tinham que, muitas vezes, parar para esperar que a amiga as acompanhasse. Numa dessas paradas, as quatro se depararam com uma cena que demoraria um longo tempo para ser bem vinda. não sabia se todo o calor emanado do sol estava começando a afetá-la agora, mas de repente seu chão pareceu girar e ela precisou segurar o braço de para que não caísse.
- que vinha mais atrás - parou ao lado da amiga, com os olhos arregalados a observando, estava incrivelmente pálida, com o semblante de quem vira um fantasma.
- , o que aconteceu? - perguntou preocupada e e a olharam com repreenssão.
Ela então direcionou seu olhar mais a frente e pôde ver , conversando com uma garota alta, loira e seminua.
- Merda!
recompôs-se assim que percebera que havia notado a presença delas ali, e deu as costas para tal cena, mas antes vendo pela sua visão periférica que o (ex) namorado havia praticamente pulado para longe da desconhecida com quem conversava.
Menos mal, ela pensou, voltando a sentir a maldita ardência nos olhos, menos mal? Até parece.
- Vamos embora daqui - ela sussurrou para , que ainda a ajudava a ficar em pé - Agora.
- Não dá mais tempo, ele tá vindo pra cá.
- Pra cá? O que raios ele vai fazer aqui? Ele não deveria querer ficar longe de mim ou algo do tipo? - olhou impaciente pra trás e pôde ver se aproximando.
Ele não parecia afetado. Ele não parecia ao menos abalado. Ele não parecia nada.
apertou automaticamente o braço da amiga, inconformada. Como ele poderia estar perfeitamente bem enquanto ela parecia ter sido atropelada por um caminhão? Deus, toda aquela preocupação ia fazer com que ela tivesse um derrame cerebral.
- Oi, meninas - a voz de dançou pelas correntes de ar, chegando aos ouvidos de como música. Ela se controlou para não fechar os olhos - , posso falar com você... Um minutinho?
Todas olharam para ela. olhava para ela.
tentava não olhar para nenhum deles.
Ela sentiu o caroço voltar para sua garganta e engoliu em seco, contando até 5 antes de voltar a falar.
- Não.
- Mas...
- Não, . Eu estou ocupada, e acho que já falamos tudo o que tínhamos para falar... Ontem - ela parou, pegando mais ar e então tentou olhá-lo. Droga, como aquilo doía! - Eu já escutei tudo o que precisava escutar e acho que não preciso falar mais nada pra que você saiba que eu concordo.
enrugo a testa, confuso. As outras meninas também a olharam sem entender.
Então colocou o seu coração na palma da mão e o apertou. Apertou até que sangrasse.
- Você também não mudou e nunca vai mudar. Talvez a gente devesse parar de se enganar, de qualquer forma. Eu nem ao menos conseguia nos ver juntos daqui a cinco anos!
Mentira, mentira, mentira! Era tudo o que queria gritar, porque ela conseguia se ver morando na mesma casa que ele, com três cachorros, um bebê correndo pelo gramado e todos eles sentados nas cadeiras de sol na beira da piscina bebendo e rindo. Era tudo tão real e tão próximo, que às vezes ela conseguia sentir o cheiro da grama, quando se imaginava deitada no gramado ao lado de à noite, quando todos estivessem dormindo. Rindo de mãos dadas e apontando pra as estrelas.
Pura fantasia. Como ela tinha deixado sua mente chegar à tal ponto?
- Você é doente - a voz de cuspia arrogância.
apertou encravou mais ainda suas unhas no braço de e sentiu seus joelhos estremecerem bruscamente. Ela iria cair a qualquer momento, seu corpo parecia não ter mais resistência alguma. O que diabos estava fazendo? Aquelas palavras já estava começando a soar baixas demais, até mesmo pra ela.
- Já se tocou do que você tá tentando fazer, ? Você tá tentando fazer parecer que é você quem está me dando o fora e não eu quem tô dando o fora em você. Você e toda essa sua hipocrisia tão tentando se colocar por cima pra que no final, quando você for dormir, sua consciência, se é que você tem alguma, pese e faça você me querer de volta.
- Cala a boca, . Você não sabe do que tá falando - colocou o corpo entre o garoto e as amigas e o olhou severa.
- Eu sei o que eu tô falando, , e todas vocês sabem também. Mas eu não vou mais ficar nesse meio, eu não vou mais sofrer pra que ela não sofra! Você não é de ferro, - ele completou, olhando-a nos olhos.
O contato visual foi sustentado por ambos. não a encarava com ódio, ou raiva que nem eram expressados em suas palavras. Seus olhos transmitiam mágoa, dor. Ela não era a única sofrendo naquilo tudo, no final das contas.
- Eu pensei... - ela fez força para que sua voz saísse, diluindo o caroço que parecia ter se instalado permanentemente em suas cordas vocais - Pensei que, sei lá... Você me amasse.
- Pois é - a olhou antes de virar-se - Acho que eu também não sou de ferro.
As quatro o observaram se afastar e então as amigas olharam para , que ainda encarava o espaço - agora vazio - onde tinha estado segundos antes. As pessoas em volta continuavam a andar. Algumas sozinhas, outras acompanhadas. Conversando, ou simplesmente imersa em pensamentos. Cada uma em sua vida, em seu mundo, ninguém notara que o mundo de outro alguém tinha desmoronado naquele mesmo instante diante de seus narizes.
Mas que merda toda era aquela? Porque de repente parecia ter tomado coragem para falar tudo o que estava engasgado durante anos? E porque eram coisas tão... Deus, ela não podia ser tão horrível quanto ele havia descrito! Não, não podia. Não podia ter lhe causado tanto mal pensando em si mesma. Os outros não viviam dizendo que a única pessoa com quem ela tinha coração além de si mesma era ? Então por que ele não enxergava isso? Por que para ele parecia que ela não dava a mínima?
Ou será que na verdade, isso tudo era o que ela pensava que acontecia quando tudo seguia da forma qual dissera?
Deus, ela não podia ser assim. Não, ela não podia.


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