They don't give a shit
Por Bibia B.
Capítulo 27
encarava o teto sobre sua cabeça, totalmente compenetrada em seus pensamentos, sem a menor vontade de levantar daquela cama e sair do quarto para encontrar os outros. Seu estômago contraiu assim que ela pensou que teria que encarar mais cedo ou mais tarde.
O dia anterior tinha superado todas as suas expectativas, ela nunca chegara a imaginar que seria tão desastroso como foi. já não sabia mais quem era certo e quem era errado, se havia alguém certo e alguém errado. Nunca vira tão verdadeiro e tão amargo ao mesmo tempo, as palavras dele a atravessou como balas perfurando seu peito.
Ela era a vilã da história. Sempre fora.
E o pior de tudo, ela gostava.
sentiu sua mão ser segurada e virou o rosto, encarando , deitado ao seu lado, olhando o teto e com os dedos da mão esquerda presos nos dela.
- Sua mão tá gelada - ele comentou sereno, fazendo-a bufar. Por que não estava lhe passando um sermão ou algo do tipo?
- É o ar condicionado.
- Você nunca gostou muito de ar condicionado - desgrudou os olhos do teto, pousando-os no rosto da amiga.
Mas o gosta, era o que ela queria lhe rebater, mas tais palavras lhe soaram tão patéticas que ao menos chegaram a ser pronunciadas.
- Faz falta - respondeu desanimada, dando de ombros.
- É estranho você assim, e não ele.
A garota riu amarga. Carma era uma merda.
- Então ele tá... Bem? - não quis parecer interessada, mas sua voz saíra afobada demais para não demonstrar qualquer tipo de alteração.
- Não bem, bem. Mas tá melhor que você.
- Ei! - ela riu e deu-lhe um tapa no braço.
- É sério, , você tá um lixo, eu nem ao menos te reconheci quando você abriu a porta.
- Eu estou bem... - foi tudo o que ela conseguiu dizer.
balançou a cabeça em concordância e eles ficaram calados novamente, aquele silêncio amigável e cheio de significado, que fazia-os sentir como se não tivessem parado de falar.
gostava disso em . Eles eram tão próximos que o garoto não precisava sequer olhá-la para perceber quão erradas as coisas estavam, e também não era necessário falar. Essa era a parte que mais gostava. A falta de conversa.
Por mais irritante que aquela ausência de diálogo pudesse chegar a ser, às vezes era tremendamente necessária.
Como agora.
- Eu não vou falar sobre isso - falou.
- Eu não espero que você fale - deu de ombros e a garota franziu o cenho.
- Então por que batatas você veio?
- Por nenhuma! - ele a olhou divertido - Não gosto de batatas.
- ! - lhe deu uma cotovelada e ambos gargalharam.
Silêncio mais uma vez.
- Você acha que eles vão se incomodar se eu virar o ano no meu quarto?
- Você é patética.
- Eu sei - ela suspirou, tomando impulso e sentou na cama.
As coisas em volta giraram mais do que o normal. fechou os olhos, lembrando-se de que não havia ingerido nada durante todo o dia.
- Seria legal se você se arrumasse logo. Todo mundo já deve tá lá na praia - continuou deitado, mas agora a olhava.
- Ainda são dez horas! - ela gritou de dentro do banheiro.
- Ainda? - o garoto levantou os braços, balançando-os no ar - Você quer dizer "já", não é?
A garota não respondeu de imediato. sentou na cama impaciente, por que ela estava demorando tanto? Era só colocar uma roupa mais decente do que um pijama com estampa do macaco loco e pronto!
- Bateu a cabeça na privada e tá sangrando até a morte? - ele gritou e riu.
- Com certeza. E quem tá falando com você é um fantasma.
- Não gosto de fantasmas - fez um bico, logo o transformando numa expressão abobalhada.
saía do banheiro com os cabelos num rabo de cavalo alto, um short curto jeans e com uma bata branca, caindo em seu ombro com desenhos de fios dourados por toda a extensão de seu tecido.
A maquiagem prata e fraca feita em sua face destacava os olhos bem marcados pelo lápis preto.
- Acho legal você lembrar de respirar, .
Ele sorriu e pôs-se de pé num pulo, fazendo uma reverência exagerada e oferecendo-lhe o braço. riu e encaixou seu braço direito no braço esquerdo dele, começando a andar em direção à porta do quarto.
Ao colocar os pés na areia da praia e olhar em volta, percebeu que não haviam sido sé eles a terem tal idéia. Tinham no máximo mais cinco fogueiras e cinco família na mesma área.
Ela andou até , depois de parar ao lado dos garotos. Ainda não tinha notado no local.
- OI, GATA! - a cumprimentou com um abraço e lhe ofereceu um copo de cerveja.
aceitou-o agradecida e se aproximou.
- Parece que trouxemos um pouco de Londres com a gente - ela apontou pra o céu.
levantou os olhos de seu copo e olhou o clima nublado. Seu estômago deu um pulo e ela tomou um gole grande.
- Certas coisas nunca parecem mudar - comentou alheia e piscou os olhos pelos presentes, pulando assim que viu o casaco familiar. - e ... - lançou um olhar sugestivo para as duas.
gargalhou.
- Ah, isso mudou.
Quanta ironia.
Uns acabam, e outros começam. Maldito ciclo.
- Quanta mudança - viu Tom se aproximar com os outros.
- Não gosta de mudanças, ?
- Depende de quais sejam, Fletcher. Algumas são necessárias.
a olhou e deu uma risada sarcástica, tomando o resto da sua bebida num gole só.
Um pingo de água caiu na cabeça de e ela olhou para cima, começando a sentir várias gotas tocaram seu rosto.
A chuva fina começou a cair e olhou para com um sorriso zombado nos lábios.
- Péssimo clima.
gargalhou.
Literalmente.
e já tinham reaparecido quando eles perceberam que não tinham a menor idéia de que horas eram. A chuva tinha se intensificado à tal ponto que ninguém conseguia olhar os ponteiros do relógio de pulso.
- Já é Ano Novo? - gritou e as meninas se entreolharam.
Ah, qual o problema em uma brincadeirinha?
- JÁ! - gritaram em uníssono, não fazendo a menor idéia do horário.
Os garotos começaram a gritar e elas se olharam outra vez, rindo. saiu correndo e pulou nas costas de , gritando com eles. fez uma careta e andou até os dois, empurrando das costas dele, fazendo-a cair embolada na areia. Todos riram mais ainda.
- Acho melhor você ir lá - falou para e apontou pra um canto, onde encarava os amigos, sorrindo. Sozinho.
engoliu em seco e sentiu frio. Era o clima e a chuva, claro.
- Não vou te deixar sozinha. Vai que você decide beber.
- Ah, , dá um tempo e vai logo falar com ele!
Deus, como sabia mandar!
Bufando e com as pernas instáveis, a garota andou lentamente até onde ele estava.
- Posso falar com você?
a olhou por uns segundos e depois voltou a encarar os amigos. Ele apertava o copo de bebida com mais força que o necessário.
Péssima idéia.
- Eu não tenho nada pra falar com você - ele disse seco.
- Mas eu tenho com você.
Mais silêncio.
- Isso tudo é uma droga, ! - ela gritou, abrindo os braços.
Seu copo caiu na areia aos pés do garoto e ele a olhou.
- Você quem pediu por isso. Não eu.
- Você nem ao menos me olha!
Ele sorriu sarcástico.
- Não vejo necessidade pra tanto.
sentiu seu estômago ser removido pela décima vez na noite. Seu coração começou a bater mais que o necessário.
- Será que dá pra a gente ser ao menos amigos? - ela berrava, enquanto toda a água que caía sobre os dois levava seus pensamentos embora. Ela já estava ficando sem palavras - ! Eu gosto de você! De verdade e... Se a gente tentar a gente pode...
- A gente já tentou, ! Milhares de vezes, e olha onde a gente tá!
- Mas... - gritou de algum lugar mais atrás, a fazendo parar antes de terminar sua frase - Você era meu melhor amigo, e você mudou! Você mentiu.
- É isso que sua mente lhe diz? Então você já tá pra lá de esquizofrênica!
- Não ouse me chamar disso! Seu... Seu delinqüente!
- Arranje palavras melhores, - riu irônico.
- Arranje uma vida melhor, .
- Acho que essa frase tá sendo dita para a pessoa errada.
A chuva pareceu começar a cair mais forte e mais pesada. sentiu uma vontade enorme de abaixar a cabeça e vomitar. Mas ela não podia, porque seu corpo parecia preso, estranho, não parecia ser seu. estava na sua frente, falando as coisas que ela sempre desejou ouvir para que pudesse se desligar dele, as únicas palavras que eram capazes de fazer ela ter coragem de parar de amá-lo.
Naquele momento seu coração não parecia estar em pedaços, porque ele não parecia sequer estar lá! Não havia movimento algum em sua caixa toráxica. não parecia nem respirar.
Talvez fosse esse o primeiro passo para tirar de dentro de si.
A próxima coisa que ela sentiu foi o impacto de sua mão no rosto do garoto, e as coisas pareceram voltar ao normal.
Seu coração voltou a se debater dentro de seu peito, sua respiração entrava e saía a cada dois segundos, e sua mão ardia.
Ela havia estapeado .
Os olhos dele estavam cravados nos dela, mas ela não o olhava. não o via, não o ouvia e não o sentia. Seu corpo estava oco. Ela estava oca. Os últimos anos passaram em flashes pela sua mente, fazendo-a se perguntar se todo o amor, todo o sofrimento, todos os obstáculos enfrentados, se tudo isso valera a pena.
Não para acabar dessa forma, ela pensou.
Não para acabar no ódio, na violência, em palavras vazias, em pessoas vazias. Não, esses não eram eles, essa não era sua história. Quem diabos eram essas duas pessoas gritando na chuva em pleno Ano Novo? Quem eram essas duas pessoas que tentavam acabar com algo infinito na primeira noite do possível melhor ano de suas vidas?
É, talvez o silêncio seja mesmo um som assustador.
A voz de soou de novo ao longe, ficando cada vez mais alta e trazendo os dois à realidade.
Todos os outros estavam agora entre eles. Um por um, eles iam abraçando e lhe dizendo coisas emboladas demais para serem possíveis de entender.
Mas os olhos de continuavam ali, a encarando.
- É o nosso ano, porra! Nosso ano, - gritava enquanto abraçava a amiga afetuosa(alcoolica)mente.
- É, , nosso ano.
Uma mentira ou outra não fazia diferença quando tudo parecia perdido e seu chão começava a sumir.
De novo.
Pela possível última vez.
Capítulo 28
O aeroporto estava calmo, nada como cento e cinqüenta pessoas embarcando ao mesmo tempo com aquelas roupas de verão e toda a loucura delas falando ao mesmo tempo em todas as línguas imagináveis. Não, o local estava deserto. Os homens e mulheres que trabalhavam para as vias aéreas conversavam tranquilamente atrás dos balcões de check-in, e uma voz soava do alto falante anunciando o próximo vôo para Londres. Tom foi o primeiro a se levantar, chamando a atenção de todos os outros 7 que autistavam nas cadeiras envolta da mesa do pequeno café no saguão do aeroporto.
tinha sua cabeça encostada no ombro de , e seus olhos fechados passavam a idéia de que ela estava perdida em seus próprios sonhos. Mas ela não dormia, e se dormisse, tinha certeza que sonhar não seria a primeira coisa que aconteceria. Já haviam se passado alguns dias desde que ela provara o significado dessa palavra doce.
- Essa é a nossa deixa, vamos acordando todo mundo ai! - Thomas falou num tom mais alto, empurrando o ombro da namorada levemente, fazendo-a acordar.
soltou um palavrão, porque havia lhe batido para que acordasse. sorriu enquanto abria os olhos.
- Eu não tenho mais espírito para milhões de horas num avião! - falou manhosa.
- Eu não tenho mais é bunda pra agüentar milhões de horas num avião - reclamou, sacudindo seu corpo e colocando-se em pé num pulo - Ainda não acredito que temos que fazer as malas assim que chegarmos - sua voz tinha um misto de animação e desespero que fez os outros rirem.
levantou-se também, colocando uma mão no ombro do amigo.
- Pelo menos você não tem que trabalhar na segunda. - ela sorriu derrotada para ele, que fez uma cara de pena, envolvendo os ombros dela com um braço só.
- Sem Austrália pra você?
- Sem Austrália pra mim.
- Pra mim também! - berrou, levantando os braços e a olhou feio.
- Fala baixo, pirralha - ele bateu na testa dela, fazendo-a dar-lhe um tapa no ombro.
Uma discussão começou a se formar entre os dois e virou-se pra , tentando sorrir amarelo. Haviam se passado dois dias desde a conversa na virada do ano. Ela e não haviam decidido nada, a garota não sabia se ainda tinha pelo menos o seu amigo, ou se ao olhá-lo teria que começar a ver um espaço vazio. Ela não sabia nada. As coisas ficaram apenas no vácuo e nos últimos dois dias eles tentaram se evitar ao máximo, trocando apenas as palavras necessárias entre si, como "bom dia", "obrigada" e "até mais".
Era estranho - para ambos - de um dia para o outro não falar mais com a única pessoa qual queriam falar antes. Era estranho para se olhar no espelho e finalmente conseguir ver a si mesma com clareza. Estranho e asqueroso. Ela ainda não acreditava como havia conseguido criar tal personalidade e achar que estava certa ao mantê-la. De um dia para o outro sua vida começou a parecer tão errada, que ao ir dormir, ela desejava que fosse tudo um sonho, e que quando acordasse, escutasse gritando do andar de baixo que as malas estavam prontas e que era hora de irem para Londres.
Nunca é tarde para começar de novo.
Só é tarde para querê-lo.
- 23D - disse em voz alta, quando saía do seu check-in com a bolsa pendurada no ombro e a passagem na mão. levantou os braços.
- 23A. - os dois sorriram e o garoto olhou envolta - Quem é o B?
- Eu - se aproximou com uma careta - Posso sentar no corredor? Eu enjôo fácil.
- Sem problemas - e responderam em uníssono e se aproximou bufando.
- Eu não quero sentar com o . Ele dorme a viagem inteira.
- Também não é assim, - antes que pudesse perceber, já havia dito tais palavras. a olhou sorrindo e ela corou - Digo, não é como se o ronco dele fosse tão alto ou coisa do tipo.
- O ronco dele é alto, não é? - riu - Eu sei que você tinha pensado isso.
- E agora você lê pensamentos? - balançou a cabeça divertida e sentiu suas bochechas voltarem à temperatura normal - De qualquer forma, boa sorte com o .
- Deus, eu estou perdida - a amiga resmungou e andou na direção onde apertava num abraço, fazendo com que ele a soltasse e o começou a puxá-lo pela camisa até o portão de embarque.
sorriu com a cena. olhou para trás e seu olhar encontrou com o dela, que ainda sorria. Os dois sustentaram o contato por alguns segundos, antes do garoto sorrir e voltar a olhar pra frente, depois de quase cair com mais um puxão de . sentiu seu coração voltar a bater mais forte e desfez o sorriso em seu rosto, sentindo-se mais alerta do que antes. Ela e poderiam estar sem se falar, mas aquele sorriso com certeza havia sido algo, por mais simples que parecesse.
Era uma possível volta em relação à comunicação dos dois. Afinal, não é demais pedir para que as coisas se tornem toleráveis, verdade?
- Vamos? Eu tô morrendo de vontade de comer aquela comida de avião! - parou ao lado dela com e passou a mão na barriga, fazendo as duas rirem.
- Não seja mal educado, - sorriu e se cruzou os braços com os dele, para que pudesse se apoiar melhor - Você precisa fazer um regime.
- Não, eu não preciso nada.
- Precisa sim - eles começaram a andar e sorriu com o desentendimento - , diz pro que ele precisa fazer um regime.
- , você precisa fazer um regime.
- Aaah, cara! - ele fez uma cara murcha enquanto andavam e as duas riram mais ainda, fazendo com que Tom e que vinham mais atrás perguntarem o motivo pra tanta alegria.
Vai ver que o fato de a atmosfera começar a parecer bem melhor que a de horas antes fosse motivo suficiente.
Por enquanto.
Já faziam alguns minutos que todos tinham ficado em silêncio e deduzira que tinham caído no sono. Ela revirou sua bolsa, pegando o iPod e o ligou no volume máximo, fazendo com que a música exalasse dos fones e entrasse em seu ouvido de forma feroz, quase os machucando. Ela não ligava se isso fosse parecer masoquista demais, se machucar havia virado rotina para ela desde que se entendia por gente. virou-se na poltrona ao seu lado e fez uma forma engraçada com a boca, que fez com que ela sorrisse boba para o amigo adormecido.
Algumas pessoas tinham uma família desde sempre, outras construíam uma, e algumas simplesmente eram encontradas... agradecia enternamente por ter sido encontrada por eles assim que chegou em Londres com . Nenhum dos sufocos que passara desde o começo por ser amiga e/ou namorada dos caras do McFly a fariam se arrepender de ter ido àquele show quase cinco anos atrás, de ter se envolvido com e , de ter tido milhões de brigas e ameaças de morte com ou de ser a melhor amiga de Tom. Nada do que os fãs, as revistas, ou qualquer outra pessoa pudesse ou tivesse falado sobre seu relacionamento com eles mudaria a forma qual ela se sentia em relação aos seus meninos. havia encontrado uma família ao lado deles e das garotas, e nenhuma dor era significativa perto disso, perto deles.
Masoquismo de repente, parecia fichinha.
Inconscientemente a imagem dela no parque deitada ao lado de um homem de meia idade, com um rosto borrado, mas um sorriso que lhe rasgava o rosto, cantando uma música baixa com sua voz rouca, e a risada harmônica de uma mulher que a embalava em seus braços, fazendo com que ela exalasse aquele aroma de flores que apenas as mães exalam. A roz rouca do homem ao seu lado pareceu mais alta, e sentiu que estava fechando os olhos com mais força do que deveria.
Mães... Pais...
Ao abrir os olhos e encarar o teto - agora escuro - do avião percebeu que durante todo aquele tempo havia adormecido. As imagens de um passado distante ainda pareciam se materializar em sua frente toda vez que fechava os olhos, como em flashes. Flashes de algo que não deveria ter sido revirado, algo que deveria ficar onde estava. Enterrado. No passado.
Um impulso vindo de trás fez com que o corpo da garota fosse para a frente e ela estendeu os braços para que não desse de cara com a poltrona seguinte.
Mas que diabos...
- Psiu! - dessa vez um som vindo de trás atrapalhou seus pensamentos - ! Eu sei que você está acordada. Psiiiiiiiu!
Era ? Ah meu Deus, era ! O que céus ele queria com ela? E por que ele estava a chamando como se nada tivesse acontecido e eles fossem amigos desde sempre... Eles ainda eram amigos, não eram? Aquela pergunta ainda pairava sobre a cabeça dela desde a noite antepassada, enquanto eles eram encharcados pela chuva e ouviam os gritos de ano novo.
Ele ainda eram ao menos amigos?
- Caralho, pode me responder?
Ela bufou, fechando os olhos impaciente. chutou sua poltrona outra vez.
- Quê, ? Até onde eu me lembro, você não tem direito algum de ao menos falar comigo.
- Não sabia que tinha uma lei que especificasse isso.
- Desde quando você precisa de uma lei pra ficar longe de mim?
- Eu estou entediado.
- Tenho cara de passatempo?
Um riso fraco veio da poltrona de trás.
- Quer mesmo que eu responda?
bufou outra vez e conteve a vontade de olhar para ele pelo espaço entre sua poltrona e a de .
- Eu não quero ficar longe de você... - parecia nervoso. Sua voz saiu trêmula e sorriu por isso, ele merecia se sentir assim, afinal de contas - Não que eu queira voltar ou coisa do tipo... Droga, ! Eu não quero conversar sobre isso assim, dá pra a gente ir pra umas poltronas lá atrás?
- E depois você me molesta? Eu não. - ela disse irônica e foi a vez dele bufar.
- Não é como se você fosse chorar ou coisa do tipo, é?
- Qual é, ! Chega um ponto ao qual você cansa de chorar por coisas banais.
As palavras saíram de forma automática, fazendo com que se arrependesse de tê-las dito assim que o fez. Droga! Não havia prometido mudar? Não poderia começar a agir que nem uma imbecil, e muito menos agora, com querendo reatar ao menos a amizade.
Se não mudasse logo, ela acabaria sem nada.
Seu estômago doeu e ela sentiu um calafrio percorrer seu corpo ao lembrar-se sobre seu conceito de família. continuava lá, apesar de tudo.
- Vamos logo com isso. - ela disse com uma cara de poucos amigos, e levantou-se sem encará-lo, passando com cuidado por e percorrendo o corredor vazio do avião.
A única iluminação vinha das pequenas luzes em seqüência no teto do corredor. A maioria das capas das janelinhas estavam fechadas e as que permaneciam abertas revelavam o céu de um azul escuro, sem estrelas, que ao ser observado por muito tempo, fazia com que sentisse calma. Era quase possível respirar o ar puro e gelado que deveria percorrer o lado externo da aeronave.
sentou-se numa poltrona da última fileira do lado esquerdo, sentindo os pulmões mais leves e a cabeça fresca. Fechou os olhos tentando permanecer calma e sentiu quando sentou na poltrona ao lado da sua, ainda em silêncio. Um ronco fez-se ouvir ao longe.
, definitivamente.
Os dois sorriram e se olharam.
- Desculpa por te fazer sofrer. - disse simplesmente.
- Desculpa por ser uma vaca. - segurou o riso, e o garoto gargalhou. - Não ria, , eu estou tentando ser sincera aqui!
- Ah cara, você deveria ter visto seu rosto ao se chamar de vaca - ele ria abertamente e balançou a cabeça em negação.
Permaneceram quietos um tempo, sem saber o que falar, ou talvez sem ter o que falar. Aquele tipo de sinapse que parecia ter se instalado entre os dois era suficiente para que transmitissem tudo o que precisavam saber. Palavras eram desnecessárias. Eles eram complexos demais para se comunicarem através delas. Nem mesmo um olhar era suficiente.
Eles eram mais intensos que isso.
- Eu estou com fome - sussurrou de forma engraçada e ela sorriu, sentindo-se mais aquecida por dentro.
Estava tendo o seu amigo de volta.
Senhoras e senhores tripulantes, estamos iniciando o serviço de bordo, onde serviremos comidas e bebidas, e no qual vocês poderão solicitar os acessórios necessários para que tenham um bom descanso. Quem estiver interessado nos alimentos, por favor, abaixe a tampa da mesa à sua frente, obrigado.
A voz do comissário de bordo apareceu e desapareceu num piscar de olhos e eles escutaram mais uma vez.
- Já era hora! - a cabeleira dele se tornou visível entre as poltronas vazias, e o garoto olhou para trás, achando os outros dois o encarando. - Eu ainda tô dormindo ou algo do tipo? Porque vocês dois tão sentados juntos e eu acabei de ouvir sobre comida.
e riram, acordando os outros, e se levantaram para voltar aos seus lugares anteriores.
- Vocês estavam se agarrando? - ainda perguntava quando sentou ao seu lado e abaixou a mesa em frente. - Isso é tão típico de vocês dois...
- ... - ela falou o interrompendo e o amigo a olhou curioso.
completou a frase da garota.
- Cala a boca.
Capítulo 29
As coisas estavam exatamente da forma qual ela havia as deixado. A toalha ainda em cima da cama, dois casacos jogados na poltrona durante a indecisão sobre o qual levar, a cortina da sacada aberta, deixando que o frio e pesado vento do inverno londrino entrasse, balançando-a de um lado para o outro de forma consideravelmente... Surreal. Pela visão periférica, podia ver ela se movimentando, e enquanto andava pelo quarto desfazendo sua mala, houve vezes em que ela podia jurar que confundia o movimento da cortina com o movimento de alguém. Como se ela soubesse que alguém estava se aproximando. Ou que simplesmente estivesse lá.
O ar que entrava e saia dos seus pulmões parecia trazer-lhe uma sensação de prazer e clareza, como se ao fazer todo o trajeto dos órgãos respiratórios na ida e na saída, tivesse desintoxicando o organismo de algo que antes a fazia se sentir doente. Talvez tivesse sido a conversa breve e cheia de significados que tivera com no avião que de certa forma pareceu tirar um bloqueio em sua garganta. Era engraçado como agora havia se tornado mais fácil para ela admitir como isso lhe trazia um bem estar enorme sem se envergonhar disso. Amar nunca fora um erro, então por que ela teimava em tratá-lo assim?
Mas havia prometido a si mesma que dessa vez faria dar certo. Que mudaria. Afinal, já tinha perdido , não tinha?
A gente só dá valor ao que tem, quando perde.
Frases clichês caem como uma luva em certas situações.
apenas se deu conta de que estava encarando a mala vazia quando escutou batidas na porta do quarto. Por quanto tempo tinha ficado ausente?
- Posso entrar? - pediu, ainda do lado de fora e concordou com um murmúrio, mas que a amiga ouviu, pois segundos depois já estava dentro do quarto e fechava a porta com cuidado para não fazer barulho algum. deu as costas, carregando a mala pesada até o closet. - O Tom já dormiu e eu aproveitei a deixa que ele não tava pegando no meu pé pra vim conversar com você.
- O Tom anda mesmo um pé no saco ultimamente. - falou aérea, tentando levantar a mala numa altura que a encaixasse na prateleira de cima. - Merda pesada. - resmungou.
- Vai uma ajudinha ai? - entrou no closet e viu a amiga toda espremida tentando guardar a mala e olhando pra seu reflexo num dos espelhos que tinham ali, se perguntou como diabos poderia oferecer sua ajuda. Mas não custava tentar, certo? Era bom ser educada e prestativa com seus amigos. Principalmente antes de levantar um assunto, digamos que, desconfortável.
- Não. Eu consigo.
- Ok... Eu queria falar com você, - ela parecia delicada. sorriu sarcástica, de costas pra . Qual pode ser o assunto? Oh, claro, o único que as pessoas sabem conversar comigo!
- Eu meio que deduzi, quando você falou que se aproveitou do Thomas ter dormido pra vir FALAR comigo e tudo o mais. - com um empurrão, ela conseguiu que a mala entrasse desajeitada na prateleira e fechou a porta rapidamente, antes que algo desastroso acontecesse. Olhou para a amiga. - Manda brasa.
- Seria legal se a gente sentasse. Eu não sei se você sabe, mas eu tô carregando um ser humano dentro de mim, não é legal passar horas em pé de bobeira por ai.
- Nossa! Horas? Você quer conversar, ou refletir sua vida? - sorriu e puxou pela mão, de volta para o quarto e em direção à cama de casal que ela percebeu, assim que se acomodou na mesma, que mantinha uma mistura de dois cheiros. Sentiu seu coração palpitar com a imagem de dormindo em sua mente. - Pronto, você já está acomodada, ou quer que eu te empurre pra você rolar pro outro lado?
a olhou sarcástica.
- Estou bem, obrigada.
- Ainda estou esperando - sorriu.
- O que?
- O coelhinho sair de debaixo da cama e a gente começar a tomar chá. - ela revirou os olhos e a olhou assustada. - A conversa, , a conversa! Foco, gordinha, foco!
- Se você me desse tempo pra pensar, talvez eu já tivesse começado a falar. Meu Deus, quem é a grávida aqui, , eu ou você? - a ignorou e puxou dois - dos muitos - travesseiros que tinham por ali, ficando mais confortável e então, preparou seu melhor olhar maternal (ela, enfim, já estava ficando boa naquilo! Pelo menos era o que o Tom lhe dizia) e se dirigiu de novo à - Eu meio que estava, preocupada com você, sabe como é. E a gente não teve oportunidade de parar pra conversar só nós duas depois daquilo tudo entre você e o e eu tenho sérias opiniões sobre as atitudes de ambos!
- Quais seriam, mamãe? - perguntou carinhosa, tentando esconder a pequena irritação pelo fato de estar, de uma forma ou de outra, se intrometendo em sua vida.
Ela era sua amiga, sua irmã. Tinha esse direito.
- Te juro que quando as meninas bateram na porta do meu quarto e disseram que tinha dormido com elas, e chorado a noite inteira eu fiquei... Com raiva de você. - parecia envergonhada ao admitir aquilo, e sentiu um afeto enorme pela amiga por isso. Queria que ela ficasse com raiva! Muita raiva! Não achava que merecesse algum tipo de consideração. - E depois quando a gente ficou mais de uma hora na porta do seu quarto e você não respondia eu meio que me toquei que não tinha sido uma briga que nem antes. Que você não tinha expulsado ele do quarto por arrogância como das outras vezes. Que dessa vez era sério e então eu comecei a me preocupar.
Ela parou um pouco pra tomar um ar e olhou . As duas sorriram e tomou as mãos da amiga na sua.
- Sabe como é sentir a dor de alguém em si mesmo? Como é ver alguém sofrendo e sofrer por isso também? Durante toda a minha vida eu fui assim com você, e isso não mudou depois que a gente veio pra cá. Mas naquela manhã foi diferente. Eu não estava sentindo só a sua dor, como também a dele, e ainda uma minha. A culpa por ter te julgado antes, pensando que você tinha feito algo de errado, até que eu chegasse à sua porta e percebesse que não foi bem assim. - agora tinha adquirido um tom vermelho escarlante e quis sorrir mais ainda.
Eu te entendo, amiga..., quis dizer. Mas as palavras não saíram. Sabia que não poderia falar agora, que ainda não tinha acabado.
- Parecia que eu estava perdendo o ar, e eu conseguia sentir as meninas do meu lado perderem o ar delas também. E ai escutamos um barulho, deduzindo que você já tinha despertado, seja lá do que fosse, e batemos mais uma vez. - ela parou de novo e franziu o cenho - Eu nunca tinha te visto daquela forma. Você parecia tão... Ausente. Não o ausente que fica às vezes, quando tá pensando ou algo do tipo. Mas um ausente preocupante. Parecia que você tinha saído de seu corpo. Toda aquela energia que emanava de você tinha acabado. Era como se você estivesse... - ela engoliu em seco. - Morta.
- Eu estava... De certa forma. - sussurrou e dirigiu o olhar para seu colo, incapaz de encarar a amiga.
- Eu sei. E você não era a única! tava no mesmo estado mais cedo, e foi quando eu comecei a me tocar. Mas acho que eu só conclui o pensamento hoje mais cedo, depois da reconciliação de vocês no avião.
- Nós não nos reconciliamos! - falou ainda distante, e então correu os olhos em direção aos da amiga. - O que você quer dizer com "comecei a me tocar"? Começou a se tocar do quê?
- Eu acho que eu sei por que terminou com você, .
prendeu a respiração.
Mas ela já não sabia? tinha deixado bem claro os motivos naquela noite. Ela estava sendo uma infeliz e ele não queria mais aquilo para si mesmo, simples! Então por que sentia aquele caroço voltar a se formar em sua garganta e sua respiração aumentar de ritmo, assim como os batimentos cardíacos? Porque seu corpo estava respondendo de uma forma como se o que fosse falar, não iria ser exatamente no que ela acreditava?
- Ele fez isso por você.
Por mim? Por mim? Por mim? POR MIM?
Em sua cabeça, essa mesma pergunta ecoava várias e várias vezes e esperava que a amiga pudesse continuar para que parasse de odiar . Por que raios ele teria feito tudo aquilo por ela? Ah, claro, porque dizer tudo aquilo que ele disse e depois deixá-la em estado deplorável era a melhor forma de fazer algo por ela.
Não, não tinha feito aquilo por ela, concluiu. estava alucinando, as grávidas sempre acabam fantasiando mais do que deviam e era isso que estava acontecendo agora. estava no meio de uma gravidez e tudo o que menos precisava era de exemplos provando que o amor nem sempre é o mais forte.
Essa era a verdade.
Pelo menos era o que achava da verdade.
- Claro, e você está grávida do saci pererê! - explodiu.
encolheu os ombros e a olhou, com um olhar de repreensão.
- Isso não é uma frase que possa te ofender, . Não precisa me olhar assim - ela continuou amarga.
- Por que você está agindo como se quisesse ser a culpada? Eu estou aqui de boa vontade pra te falar que o fez tudo aquilo pra te poupar, e quem sabe você possa tirar um pouco do peso das suas costas, e você vem gritar comigo como se a verdade machucasse os seus ouvidos. Adivinha só, ? Ignorar a verdade nunca vai ser suficiente.
- Mas será possível? - gritou, sem medo de descontrolar. Deus, como ela queria ter gritado antes! - Será que você não consegue entender? Ou eu que não consigo entender vocês? Porque minha vida inteira eu ouvi vocês me dizendo que eu era a culpada de tudo, que eu agia de forma ridícula e quanto eu decido tomar consciência de todas essas porcarias, você vem gritar comigo porque eu ESTOU AGINDO DA FORMA CERTA?
- Você não está agindo da forma certa AGORA.
- Não, . O fato é que pra vocês, eu não ajo da forma certa nunca.
As duas se calaram e sustentou o olhar, voltando a respirar de forma normal.
- Se eu perder o meu filho, a culpa é sua.
- Então você quer escolher como eu vou fazer isso? A idéia de te empurrar da escada me agrada bastante.
Elas se encararam de novo e deixaram um sorriso tímido tomar conta dos seus rostos.
Patéticas.
- Ele fez isso porque não estava dando certo, . Ele queria que você parasse de tentar mudar, por mais que não mudasse, que você parasse de se adequar a ele. fez isso pra que você conseguisse encontrar alguém como você e pudesse ser feliz sem se importar com diferenças. Ele não foi egoísta, não fez isso por si mesmo. Não mudou a forma de agir quando o assunto é você. fez o mesmo de sempre. Te colocou em primeiro lugar, sem se importar se você era a única que parecesse certa pra ele, porque tudo que ele mais queria era que alguém parecesse certo pra você.
desviou os olhos de , sentindo sua visão embaçar, e encarou a cortina que ainda balançava, sentindo aquela presença mais forte do que antes. Como se fosse irromper pela mesma, somente de boxers e dizer que os outros estavam fazendo bagunça na piscina e que queria descer.
Era quem ela sentia. Era ele de quem ela sentia falta.
Com a voz fraca, deixou que as palavras de entrassem em sua mente e começassem a fazer algum sentido.
- Só que nunca percebeu que ele era o certo pra mim.
E voltou a olhar a amiga, sorrindo fracamente e se perguntando o que tinha feito para merecer alguém como em sua vida.
Nada, foi a conclusão à qual chegou.
tinha arriscado sua felicidade, e ela simplesmente nunca tinha feito nada por ele.
Capítulo 30
- Eu não sei exatamente qual o problema nisso tudo! Digo, não é como se isso fosse prejudicar tanto assim a revista.
dirigia calmamente seu carro na rodovia, em direção ao seu condomínio. estava sentada e calada no banco do passageiro, quieta desde que elas tinham deixado o trabalho.
- Vocês não vão sentir tanto assim a minha falta - continuou, parando em um sinal e virando-se para olha a amiga - Qual é, !
- , você faz todas as fotos no meu andar e olha que isso é só a parte de moda! Imagina no lance todo...
- Não é como se eu fosse a melhor fotógrafa de lá.
- Você é a melhor fotógrafa de lá - bufou e encarou a paisagem que passava rapidamente pela sua janela assim que o automóvel voltou a andar - Sua vida inteira foi lá! Se tá sem saco pra fotografar, eu tenho certeza que ninguém se incomodaria de ter você de volta como colunista... Ainda não entendi o porquê nisso, .
- Porque eu quero tentar uma vida fora da TOTP, simples - o carro virou para entrar no condomínio e o porteiro analisou-o, antes de permitir a passagem - Tá me entendendo?
deu de ombros, voltando a bufar.
- Tanto faz.
As duas voltaram a se calar, enquanto dirigia entre as ruas. Ela não continuaria a bater na mesma tecla, não iria mudar em nada na forma qual estava agindo por causa de sua decisão. Desde cedo elas estavam naquela discussão e nenhuma das duas mudaria de opinião tão cedo, então era mesmo mais aconselhável que o assunto se encerrasse. Era só um trabalho, por Deus!
- Chegamos - sorriu, desligando o motor e puxando sua bolsa em seguida, saindo do carro - Por que diabos todas as luzes tão apagadas?
Ela passou os olhos pelas janelas escuras, estranhando o fato de estarem assim.
- Não deve ter ninguém em casa - apareceu do lado da amiga, procurando algo em sua bolsa - Droga, cadê a merda do celular? PÁRA de tocar, desgraçado!
- Não... A gente tem sempre que deixar as luzes ligadas, senão as gatas ficam meio tresloucas - ainda olhava a casa, confusa - Aposto que eles tão chapados, fazendo merda no escuro. O que várias pessoas fazem sozinhas no escuro?
- Sexo - reapareceu com o celular em mãos - Ou suruba, tanto faz. A gente vai entrar ou não? Eu tô com frio.
- Ok...
As duas andaram pelo caminho de pedrinhas que cortava o jardim e levava até a porta da frente, e colocou a sua chave no buraco da maçaneta, olhando para enquanto destravava e abria a porta.
- Quem era no telefone?
- Hm... - hesitou e olhou o interior vazio da casa, deu um passo para dentro, ficando mais à frente e obviamente de costas para a amiga - Minha mãe.
- Mas hein?
deu um passo para ficar ao lado dela, mas as duas acabaram se sobressaltando com um barulho alto.
Alto não, estrondoso.
Uma descabelada apareceu rindo.
- Vocês chegaram! Tô com larica.
As duas se entreolharam rindo. Depois de acender a luz, passou com um braço sobre os ombros de , tentando guiá-la até a cozinha. , ainda rindo com a cena, tirou seu sobretudo e jogou-o juntamente com sua bolsa em cima de uma poltrona, observando atentamente o estado da sala.
Estava um lixo.
- , a tá por ai? - ela gritou, indo até as escadas.
- Não! - a voz de soou pela casa - Porra, ! É pra você comer a comida, não o MEU DEDO!
- Certo... - riu, chegando no corredor do segundo andar - ?
Ela deu mais alguns passos chamando pela amiga, até que a porta do quarto de Tom, no final do corredor, se abriu e a cabeça de um descabelado e sorridente apareceu.
- Oi, fofa. Vem cá!
- Ai meu Deus - riu, se aproximando - Vocês não vão fazer nada de ilegal comigo ai dentro não, né?
- Bem que você queria que eu fizesse algo de ilegal com você - ele sorriu malicioso e ela parou em sua frente, rindo sem graça.
- !
revirou os olhos e puxou-a de vez pelo braço, fazendo com que ela adentrasse no quarto e fechando a porta logo em seguida.
Se achava que a sala estava um lixo, então o quarto de Tom precisava desesperadamente de reciclagem. Ela não conseguia imaginar como eles poderiam ter transformado um lugar tão limpo e arrumado naquele estado em tão pouco tempo! Naquela mesma manhã, antes de sair para trabalhar, tinha deixado a casa em ordem e agora ela estava totalmente de cabeça pra baixo.
Ela riu, pensando que não ajudaria nem um pouco em arrumar aquilo tudo.
- O que vocês andaram fazendo nessa tarde pra deixar o meu lar assim? - brincou, andando até a cama e sentando ao lado de um suado e sem camisa, que lambeu sua bochecha enquanto ria loucamente - Eca, ! Seu porco.
- Nosso lar, obrigado - Tom, que estava no chão do quarto de frente para a televisão, ao lado de , jogando vídeo game, levantou um dos braços e depois pausou o jogo, virando-se para olhar a recém chegada - Você viu a lá embaixo? Ela foi me buscar outra água.
- MENTIRA! ELA FOI TE BUSCAR OUTRA CERVEJA! - berrou e depois deitou no chão, gargalhando.
riu e olhou , que se aproximava também rindo, e percebeu que o rosto do garoto estava levemente rosado. Provavelmente por causa da bebida.
- Ela tá com larica - respondeu simplesmente e jogou seu corpo na cama, encostando a cabeça num dos travesseiros e fechando os olhos.
riu de forma inquieta do lado dela, mas não se importou. Era estranho passar o dia inteiro trabalhando enquanto todos os seus amigos estavam por ai se divertindo. Agora, ali jogada em meio aos travesseiros, seu corpo lhe parecia tão cansado que ela deixou que sua mente fosse se desligando do barulho que havia envolta aos poucos. Precisava tanto de uma boa noite de sono...
- Espera! Como ela tá com larica se ela nem fumou? - escutou exclamar depois de um tempo e abriu os olhos, vendo que agora ele e Tom jogavam algo no vídeo game, e não estava mais no quarto.
- , cala a boca e joga logo, que eu tô esperando minha vez - ela olhou pra o lado e percebeu que estava ali deitado, com o rosto muito próximo ao seu, a respiração muito próxima à sua...
O cheiro engraçado dele - uma mistura da hortelã de sempre com cigarros e cerveja - fazia com que seu coração pulsasse mais forte e ela desejou que pudesse fechar os olhos e virar o corpo na outra direção para que dormisse mais uma vez. Mas não conseguia desgrudar seus olhos dele.
Sem perceber que estava sendo observado, virou o rosto na direção da garota e sorriu ao sentir os olhos delas cravados nos seus. Sorriu mais ainda quando a face dela adquiriu um tom rosado, por ter sido pega o observando. Ela estava adorável de uma forma que ele não a via fazia tempos... Ele mordeu os lábios, ainda com seus olhares presos, sentindo todos os seus músculos implorarem para que pudessem entrar em contato com a pele dela.
- Meu estômago roncou - disse de repente e ele riu, sentindo seu corpo relaxar. - É sério, eu tô morrendo de fome!
- Então desce e come algo.
- Mas eu tô com preguiça.
Ela observou a forma qual cerrou os olhos, entendendo seu papo e segurou a vontade de rir quando o garoto voltou a falar.
- Eu não vou descer pra pegar nada pra você, muito menos te levo nas costas ou coisa assim.
- Aw, ... - ela falou manhosa e chegou seu corpo mais perto do dele, tentando agir de forma natural e totalmente sem segundas intenções, mas as palmas de suas mãos começaram a suar assim que ela viu os olhos dele se desviarem para o espaço entre eles que havia diminuído.
Péssima idéia, pensou consigo mesma. O que menos precisava era que pensasse que ela estava tentando uma reaproximação ou coisa do tipo. O combinado era serem apenas amigos, certo?
- Saco. Deixa que eu vou sozinha - ela resmungou, tentando esconder seu nervosismo e desceu seu corpo da cama, passando por Tom e lhe dando um tapa na cabeça, ele apenas soltou um palavrão alto, ainda sem desviar sua atenção do jogo - Ótimo! - voltou a reclamar, indignada pela falta de atenção e andou até a porta do quarto.
observou cada movimento da garota e sentiu seu coração acelerar quando ela saiu de cara feia por não ter nenhuma atenção voltada para si. Aquilo o fez sorrir. Um pouco, mas fez. Mesmo que isso parecesse louco, ou masoquista, demais, era bom saber que ainda tinha um pouco da velha e egocêntrica por ali. Assim como era bom saber que ela não estava mudando por completo.
O que ele menos queria naquele momento era olhar para sua garota e não reconhecê-la.
respirou fundo antes de afastar-se de e encostar seu corpo na borda da piscina, fechando os olhos e esperando que tudo parasse de rodar e começasse a fazer algum sentido.
Ela gostava quando tudo rodava, mas essa circunstância tinha suas exceções, e agora seu estômago gritava por uma.
Abriu os olhos e viu e discutindo algo banal. tentava segurar a garota para que ela não batesse no amigo, enquanto e Tom riam descontroladamente.
- Sejam úteis - escutou gritar e depois rir embriagado quando mandou-o se foder. - Ah, ok. , dá uma mãozinha aqui.
Ela riu, mas não se mexeu. Seu estômago continuava em alerta vermelho.
- Foi mal, mas eu tô meio que vomitando aqui - respondeu ainda rindo e tentando sair da piscina.
Sua cabeça girou algumas vezes antes dela conseguir ficar em pé do lado de fora e começar a pular, rindo e com frio.
- Tá malucaaaa? - Tom gritou da piscina, a garota lhe deu língua.
- Saaaco! Tô com frio.
- Te esquento - respondeu e fez menção de sair da água.
riu, estendendo a mão em frente ao corpo, fazendo sinal para que ele parasse.
- Não se dê ao trabalho - respondeu rápida e ele franziu o cenho.
Não era ela quem queria voltar?
- Outch - falou perto de seu ouvido e o olhou carrancudo, fazendo-o rir mais ainda - Quer ver algo ultra legal?
- É ultra gay também?
- AAAHH, bem que você ficaria feliz se fosse - ele riu e o acompanhou, então, num segundo, apoiou-se na borda e saiu da piscina, andando em direção à amiga.
observou enquanto puxava e sussurrava algo, fazendo-a rir. De repente ele sentiu a garganta secar e olhou envolta, procurando sua garrafa de cerveja. Mas não foi a garrafa que ele achou. estava abraçada à e os corpos dos dois balançavam de um lado para o outro.
Droga, agora ele ficaria com ciúmes do também?
- Viu como se faz as coisas, ? - o escutou gritar e viu uma extremamente vermelha o encarando.
- Vi também a cara da atrás de você.
Todos viraram-se para olhar e , paradas e rindo na porta da cozinha, que dava para o quintal onde eles estavam.
soltou e correu até as amigas, que começaram a berrar, porque ela estava molhada.
- Xuxuuuu! - Tom gritou chamando a namorada, que se afastou de , chegando perto dele.
- Fala, Fletcher.
- Entra aquiii! Muito frio - ele fez um bico, fazendo-a rir e sentar na borda, colocando os pés dentro d'água - Naah... Mais!
- Aprende a falar, moleque! - ela continuou rindo e deu um tapa de leve na cabeça dele, fazendo-o sorrir e beijar o joelho dela - Você está bêbado, Tom.
Ele riu e beijou o outro joelho de forma carinhosa, fazendo com que o sorriso divertido dela ficasse suave.
- Sem problemas - deu de ombros e puxou de vez, provocando-lhe gritos quando entrou na água gelada.
- Canadá! - berrou, fazendo todos rirem.
a abraçou, quase virando a cadeira de tomar sol onde estavam.
- Muito frio, gordinha - ela o olhou feio e beliscou sua barriga - Ai! Isso dói, .
- Ótimo - virou-se para a cadeira onde e Tom estavam sentados - Uma música.
- I kissed a girl - Tom respondeu prontamente e riu.
- Wonderwall.
- Sem Oasis, ! - berrou e ela o olhou irônica.
- Não vou falar uma do McFly - pegou uma das cervejas que e traziam da cozinha e bebeu um grande gole - Quem disse que eu gosto de alguma?
- Eu tenho uma boa lista com algumas que você deveria gostar - riu e sentou, de costas pra ela, encostado em suas pernas.
Ela riu e bateu em sua nuca.
- Cala a boca, cabeção.
- Não calo.
- Cala sim.
- Não calo!
- Ok, uma pessoa - interrompeu os dois.
- Qualquer uma menos o - disse emburrado.
- - Tom disse, dando de ombros.
Ela sorriu boba e esticou os braços para apertar as bochechas dele.
- AAAAHH! Sobrou, Fletcher - riu e lhe deu um tapa - Caraca, se eu te escolher como minha pessoa, você pára de me bater?
- Não - sorriu - Sakura.
- É um desenho! - falou alto e o repreendeu - Quê? Falei a verdade.
deu língua e olhou para .
- Ok, ... Sua pessoa?
- - ele respondeu simplesmente.
Todos arregalaram os olhos e riu.
sentiu sua garganta queimar e rezou para que não vomitasse. Qual era o problema de ? Terminava, brigava, pedia pra voltar com a amizade e agora começa com esses papos... Ela não tinha mais cabeça e muito menos coração pra tudo aquilo! Ela estava indo de acordo com as regras dessa vez, ele não tinha direito algum de começar a fazer essas coisas!
Droga, nem bêbados eles eram sensatos.
- Só porque a gente não tá mais junto não quer dizer que ela não seja a pessoa mais importante pra mim - deu de ombros.
A bebida entra e a verdade sai.
sentiu sua boca coçar.
também era sua pessoa.
- Quem quiser bater no , levanta a mão - falou e todos levantaram os braços, inclusive ele mesmo.
Capítulo 31
Liberdade é uma palavra simples. Com um conceito simples e uma formação simples. Mas suas conseqüências são tremendamente devastadoras. Uma vez que você se liberta de algo, você tem que aprender a viver sem aquilo, acostumar-se que sua vida não tem mais nada a ver com isso, e tentar seguir sem se prender à algo.
Para muitos, liberdade consiste em fazer e ser o que e quem quiser. Para , liberdade era independência. Algo totalmente sem significado no momento. Ela nunca se sentira tão depende como se sentia agora. Nunca.
- O telefone ta tocando, ! Atende pra mim! – Tom gritou da cozinha, junto com barulho de panelas caindo e um xingamento baixo. – Puta que pariu, esse caralho, filhas da...
sorriu, enquanto se levantava do sofá e andava até a base do telefone sem fio, que tocava sem parar, começando a causar uma leve irritação.
- Alô! – ela pôs o fone no ouvido e voltou em passos lentos ao sofá onde estava. Péssima mania de não conseguir fazer duas coisas ao mesmo tempo! – Alô-ô. Tem alguém ai?
A porta da frente abriu num estrondo, fazendo com que a garota se sobressaltasse e olhasse para a mesma, vendo um sorridente entrar no hall e em seguida fechá-la.
- E ai, duende? – ele deu um peteleco na testa da amiga e franziu a testa. – Por que você ta com esse telefone no ouvido?
- Porque eu estou falando com alguém! Pelo menos eu acho que estava, sei lá... – desencostou o telefone da orelha e apertou o botão de desligar, ainda o olhando confusa. – Ligaram, mas ficou mudo depois que eu atendi.
- Vai ver era um trote – deu de ombros – Nós somos famosos, isso acontece o tempo inteiro.
- Vocês são famosos. – ela o corrigiu com um sorriso amarelo e colocou o aparelho preso no elástico da calça moletom. – Não eu.
- Claro que você é! – revirou os olhos e passou seu braço pelo da amiga, a conduzindo até a cozinha – Você tira fotos muito fodas e todas as revistas te querem!
- Até parece.
- Não parece. É.
gargalhou e – que estava sentada na bancada – olhou os dois entrarem no cômodo e apontou com a cabeça para Tom, encostado no fogão, tentando mexer em várias panelas ao mesmo tempo.
- Vai uma ajuda ai? – gritou e sentou ao lado de , que o olhou com raiva, ele encolheu os ombros e abaixou o tom de voz. – Quê?
- Não, , eu não quero sua ajuda, porque a disse que eu não sou capaz de fazer um pudim, mas eu vou mostrar pra ela que é pura mentira e que eu sei fazer pudim sim, porque pudim é muito bom e se eu gosto de comer, eu também gosto de fazer e...
- Ok, garotão, nós já entendemos. – o cortou, prendendo a risada.
- Eu tentei avisar! – revirou os olhos e observou a quantidade de panelas nas quais o amigo mexia.
- Deus! Ele sabe que não precisa de tantas panelas, muito menos de tantas coisas pra fazer pudim, certo?
deu de ombros e riu.
- Eu só passei aqui pra chamar vocês lá pra casa, mas tá de brincadeira? Aqui tá muito melhor!
- Claro, eu estou aqui.
- Oh, , cala a boca!
Os três riram e Tom deixou cair uma das colheres que segurava, soltando mais xingamentos que antes e fazendo com que os três se encolhessem. O telefone tocou mais uma vez e o puxou do moletom.
- Aaaaaalô, casa dos Fletcher! - cutucou a cintura dela e tentou mexer em seu pescoço, enquanto tentava afastar seu banquinho de uma forma que não a fizesse cair e desequilibrar o telefone em seu ombro. – Parem com isso, animais! Alôô! Cara, eu já não agüento mais isso! Será que você ai ta me achando com cara de idiota? NÃO responda, !
revirou os olhos e empurrou , que cutucou com mais força, fazendo com que ela caísse para trás do banco alto onde estava sentada. Ainda rindo, a amiga se abaixou e tomou o telefone das mãos dela.
- Fletcher falando!
Tom deixou mais duas colheres caírem e e colocaram as mãos na barriga de tanto rir.
- Geeente, que saco! Esse povo não tem mais educação hoje em dia não? – resmungou e apertou o botão, desligando o telefone e o jogando pra . – Da próxima vez, você atende.
- Por que eu? Eu nem moro aqui!
- Então rapa fora! – buscou apoio no banco e se levantou num pulo, olhando pra Thomas outra vez. – Ai meu Deus, Fletcher, eu não vou te deixar ficar ai fazendo essa merda toda errada pra eu ter que comer depois...
Tom olhou pra trás, com o rosto extremamente vermelho e apontou uma - das muitas - colheres que tinha em mãos para a amiga.
- Se você se aproximar, eu te juro que não me responsabilizo por meus atos!
- Nossa, Fletcher. Me mijei.
- É sério, .
- Não, é sério digo eu, eu não quero morrer por intoxicação! - ela andou na direção dele e tomou a colher de sua mão. Tom a olhou assustado e saiu correndo do fogão, indo na direção da sala. - Thomas Fletcher, seu maricas, volte aqui AGORAAAAA!
- , pára de ser criança! - disse num sussurro cansado e se levantou do banco - Tom? Tom, vem pra cá, ela não vai bater em você.
bufou e andou até onde estava sentada antes, ainda com a colher na mão, balançando-a na vertical.
- Fale por si mesma.
- Vocês não crescem não?
- A única coisa que cresce no Tom é cabelo - deu de ombros e riu, logo depois se assustando com o telefone que voltou a tocar. - Ai, minha santinha da piriquitinha apertada, me dá isso, , eu vou mandar esse desgraçado tomar no...
- Não! Eu atendo. - estufou o peito e apertou o botão do telefone, o colocando na orelha - Alô, , xerife supremo do planeta Plutão falando.
- Ele sabe que Plutão não é mais um planeta? - Tom sussurrou no assento ao lado de e a garota se segurou na bancada, para não cair de susto.
Olhou para o amigo e levantou a colher, ameaçando bater. Ele levantou outra que tinha em mãos - maior que a dela - e fez uma cara maliciosa. Eles se encararam mais alguns segundos, até que a garota percebesse que estava em desvantagem e jogasse sua colher no chão, encostando o rosto no balcão, derrotada.
- E o lá sabe de alguma coisa? - olhou o amigo sarcástica e o viu gargalhar.
- , meu caro! Como andam suas meias hoje? - pausa, todos olham pra ele - AAAAAAAAAHAHAHAHAHA! Entendo, entendo. Não, o lance do xerife foi só pra assustar - outra pausa, e se olharam - É que tinha um maluco ligando pra cá. É, passando trote porque a não é famosa. - se inclinou para dar um tapa em , mas Tom bateu no braço dela com a colher - Ai, fica calma, sua duende problemática, eu tava brincando, eu hein. - outra pausa, deu dedo pra Tom e revirou os olhos, voltando a prestar atenção em - Não, é a doente mental da tentando me bater. Perai, , cadê você? - outra pausa, e solta uma gargalhada. - Então entra, jumento!
Um barulho vindo da sala, indicou que alguém tinha aberto a porta e a fechado, e então passos foram se tornando mais altos. voltou a falar.
- Na cozinha.
entrou na cozinha da casa com o telefone sem fio de sua própria residência e um sorriso idiota nos lábios.
- Caraca, o que todo mundo tá fazendo aqui?
- Não sei, dude. - falou, ainda no telefone.
revirou os olhos pela décima vez naquela manhã.
- Vocês são retardados ou o quê? Desliguem os telefones!
- Não! Só porque você não é famosa, acha que pode mandar nos outros. - sorriu irônico e outro barulho vindo da sala interrompeu o possível tapa que ia dar em sua cabeça.
Harry apareceu ofegante e sorridente, olhando para cada um ali dentro.
- Nossa! O que todo mundo tá fazendo aqui?
riu e tomou o telefone de sua mão, desligando-o e virando-se pra Harry.
- Todo mundo tá sempre aqui.
- É que o Tom gosta de bancar a mulherzinha anfitriã - fez um coração com a mão e gargalhou.
- Eu só vim porque acabou a cerveja lá em casa - Harry deu de ombros.
- Sempre modesto - Tom fez um joinha com a mão e segurou o rosto dele para que ele a olhasse - Quê? Quer um beijo? Vem cá, vem!
Ele segurou a nuca dela e a garota fez uma careta, virando o rosto e gargalhando.
e se entreolharam e ele fez uma cara cínica.
- Oi? Me beija! - todos os olharam e segurou o riso - Me beija? Me beija!
- Ok, . Isso foi nojento.
- Aaah, me beija! - ele fez um bico e lhe deu um tapa, rindo.
Oh, Deus, por que ele tinha sempre que fazer essas brincadeirinhas nos piores momentos? riu um pouco mais, imaginando o quão vermelho seu rosto deveria estar e deu as costas aos outros, andando até o fogão e desligando todas as bocas ligadas e com panelas que Thomas mexia anteriormente.
Party time is over.
- Eu preciso trabalhar - ela disse, mais tranqüila, voltando a encarar os amigos - Alguém tem que ganhar dinheiro nessa casa! - levantou as sobrancelhas, a fazendo bufar - De forma não-famosa. Eu tenho um photoshoot pra fora da TOTP! Alguma nova boyband que vai bater esses tais de McFly... Sabe como é, quanto mais velho você fica, mais velha sua música fica também.
piscou pra os amigos e andou até a porta da cozinha, mas antes escutando a voz desesperada de .
- O que ela quis dizer com isso? Nossa música não tá velha! Ai meu Deus.
O plano inicial era chegar em casa, trocar de roupa, se enfiar dentro do edredom e fechar os olhos, pedindo 20 vezes antes de dormir que a agência não ligasse na manhã seguinte marcando um segundo ensaio. tinha perdido mais tempo do que pensara no trabalho daquela tarde - que acabou tomando também a sua noite - e sua cabeça ainda parecia martelar de toda a bebida da noite anterior. Até agora seu telefone só havia tocado pra mostrar através de mensagens o quão insatisfeitos estavam seus amigos - que não têm o que fazer - pelo fato dela estar trabalhando até tarde. Muito tarde.
O relógio do carro marcava meia noite e vinte quando o estacionou em frente à casa e respirou fundo, encostando a cabeça no banco. Dia longo, dia longo, era tudo o que conseguia pensar. Mas um som alto chamou sua atenção. Todas as luzes da casa estavam acesas também. Oh, não. Eles estavam dando uma festa.
A porta estava destrancada e a sala abarrotada, afinal, quem diabos perderia uma festa dada na casa de um McFly e por um McFly? Algumas garotas a cumprimentaram assim que ela entrou e sorriu simpática, andando em passos rápidos até a escada antes que encontrasse alguém mais conhecido ainda. Isso implicaria em ter que ficar acordada até mais tarde, e seu corpo definitivamente não estava programado para aquilo.
a esperava sentada no último degrau.
- Como foi o trabalho?
piscou os olhos mais vezes do que o necessário e passou pela amiga sem ao menos a olhar. Sabia que aquilo seria suficiente para a convencer a ficar na festa.
- Cansativo - respondeu brevemente e escutou a outra suspirar. Pôs a mão na maçaneta e ouviu outro suspiro. Contou até cinco. - Eu estou morta, .
- Parece que todos estão - cantou sarcasticamente e tomou um gole da bebida em seu copo.
virou-se para encará-la e soltou a maçaneta de sua porta, andando relutante até a amiga e sentando ao seu lado.
Solidariedade em momentos como esse eram uma droga.
- O que aconteceu, florzinha?
- Até que enfim alguém perguntou! Porque, sabe, parece que ninguém se importa com o que aqui está pensando! Ou sentindo - ela tomou outro gole e encarou um casal que quase se fundiam no sofá da sala.
riu.
- Eca.
- Eu que o diga. Se escutar uns barulhos antes de entrar no quarto, deve ser o com uma loira peituda qualquer. - completou amarga.
Ótimo, pensou, era tudo o que eu precisava! traçando alguma prostituta na minha cama.
- Ok, acho que vou dar um tempinho por aqui - decidiu, tirando o copo da mão da amiga e tomando um gole grande. Aquilo era bebida ou água? Estava fraco demais para algo que ingeria em momentos de exclusão. - Vai me contar o porquê do drama ou não?
- não tá aqui sei-lá-porque, não quer nem ao menos cheirar acetona! E bem... Os outros são garotos. Sabe como é, com pintos, aqueles que eu não posso...
- Entendi. Eu já entendi - sorriu a cortando e tomou o que sobrava do copo, entregando-o para , que a olhava confusa - Acho melhor você conseguir alguma coisa mais forte, e garantir logo um dos quartos de hospedes. Não se preocupe que se o tiver com alguém no meu quarto eu faço questão de jogar pela janela.
- E desinfetar os lençóis!
sorriu e se levantou, beijando a testa de .
- Tenha certeza disso. - ela riu, mas parou, antes de continuar o caminho até o seu quarto - Mas vocês não estavam... Sei lá, juntos de novo?
sorriu tristemente e fez um movimento com as mãos, como se não se importasse.
- Você sabe como é... A coisa é aos poucos, sem compromisso.
concordou, sem entender porque os amigos faziam tanta cerimônia.
- Só não seja burra que nem eu - completou, antes de sorrir mais uma vez e andar até seu quarto, esperando que não tivesse ninguém o ocupando.
Mas não estava lá. Tudo continuava da mesma forma qual ela tinha deixado na mesma manhã.
Cumprindo o plano inicial, se deitou na cama, depois de todo um processo de relaxamento e apagou a luz.
Não estava escuro o suficiente. Nem quieto o suficiente. Não só o ambiente, como também sua mente. Milhares de pensamentos pareciam de repente brotar e era impossível não parar para refletir.
Seu cérebro e seus ossos gritaram em agradecimento quando o telefone tocou, na base em cima do criado mudo ao lado da cama.
- Alô? - atendeu, rezando para que fosse engano, ou alguém com quem pudesse gritar todas aquelas coisas que vinha pensando nos últimos dias.
Mas o telefone estava mudo, da mesma forma qual ficara mais cedo.
- Tem alguém ai? - como em resposta, pôde escutar uma respiração do outro lado da linha e, inconscientemente, fechou os olhos, deixando sua mente ser preenchida - dessa vez - pela imagem de um homem com 45 anos, um sorriso encantador e uma barba no ponto, pronta para que fosse feita. Ela quase podia sentir seu hálito de hortelã que tanto fazia lhe lembrar batendo em seu rosto e entrando pelo seu nariz. Seu pai estendeu a mão para tocá-la e abriu os olhos outra vez, ainda sentindo o telefone pressionado contra o ouvido e a respiração vinda do outro lado da linha. - Por favor, não ligue de novo.
Após desligar o telefone, ela pôde escutar o barulho de algo se quebrando no andar de baixo. E, se não soubesse que estava tendo uma festa ali, poderia jurar que era seu coração, fazendo aquilo que ela jamais imaginaria que estivesse com alguma condição de fazer outra vez. Se partir.
Capítulo 32
Tudo na vida são escolhas.
Escolha da roupa qual vestir para ir trabalhar, para ir ao parque, sair com amigos, descer até a cozinha ou para sentar na sacada do quarto. Escolha do que pensar, no momento qual pensar, na certeza de se pensar. E na vontade.
Na vontade de escolher para que seja possível viver.
deixou que sua cabeça pendesse para o lado e encarou o sol à sua frente, nascendo dentre as nuvens cor de abóbora.
Escolhas eram uma merda.
- ? - alguém falou de dentro do quarto, mas ela não se sentiu capaz de responder, então apenas fixou mais ainda seus olhos nas cores que surgiam no horizonte, pensando em como as veria todas as vezes que piscasse os olhos de novo nos próximos vinte minutos - Você tá ai?
- Sacada - sua voz saiu sem permissão, mas ela não se importou.
apareceu pela porta de vidro e então já estava sentado ao seu lado no chão frio.
- Tudo bem?
- Bem o que? - ela o olhou confusa.
- Você está bem? - ele sorriu simpático e desviou o olhar para o nascer do sol, e logo depois voltando a olhá-la de novo - E tudo bem eu vir aqui falar com você? Quer dizer, somos amigos, não somos?
- Muitas perguntas - suspirou e escutou rir baixindo ao seu lado. - Posso responder depois?
Ele a olhou e sorriu. Aquele sorriso doce, sincero, sereno. Dele.
(n/a: aconselho colocarem para carregar: Nothing Like You and I - The perishers)
sentiu seu coração aumentar o ritmo de batimentos e tentou manter sua respiração uniforme. O que menos precisava agora era mostrar o quão ele ainda a afetava, por mais forte que isso fosse. Deus, será que aquilo não passaria nunca? Todos os seus pêlos que se arrepiavam e seu corpo que entrava em alerta sempre que estava por perto... Será que isso não passaria nunca?
Mas ela não queria que passasse. Pois perder todas essas sensações significaria perder . Perder uma parte de si mesma.
O céu continuava limpo e lindo, com o Sol querendo aparecer cada vez mais. A brisa gélida que batia nos corpos dos dois em silêncio dava à a mesma sensação que ela imaginou ao olhar para a parte exterior do avião. Aquele era um daqueles momentos.
Ela não precisava pensar no que queria ou não perder e se iria ou não perder. Pelo menos não agora. Era bom não ter tanto drama assim em sua vida. Era isso! Ela tinha que eliminar todo o drama de sua corrente sanguínea, tinha que pôr tudo pra fora. E logo.
Olhou para ao seu lado, que encarava o céu e respirou fundo antes de falar.
- Eu acho que meu pai está tentando me procurar.
We spent some time together, walking
(Nós passamos algum tempo juntos, andando)
Spent some time just talking
(Passamos algum tempo apenas conversando)
About who we were
(Sobre quem nós somos)
franziu o cenho e fez menção de pegar em sua mão, mas afastou-a rapidamente, pigarreando antes de falar.
- Eu não esperava por isso. - seu olhar estava preso no de . Ela queria dizer que também não esperava que isso um dia fosse acontecer, mas a forma qual ele a olhava não permitia com que ela emitisse som algum, como se ainda não tivesse terminado. Assim como acontecera com Camilla, dias antes. - Não sei o que te falar.
Ela sorriu amigável e bateu seu ombro no dele.
- Não precisa falar nada. Eu só não queria guardar essa hipótese pra mim mesma.
- É uma hipótese - ele considerou, balançando a cabeça e a olhou sorrindo. - Mas não quer dizer que precisa ser.
- É, acho que não.
You held my hand so very tightly
(Você segurou minha mão apertado)
And told me what we coul be
(E me contou sobre o que nós poderiamos)
Dreaming of
(Estar sonhando)
- Posso falar uma coisa também? - perguntou sério.
sentiu seus pêlos da nuca se arrepiarem, mas tentou ignorá-los.
- Hm... Pode.
- Esse chão tá suuper frio e as canecas com chocolate quente que eu trouxe e encondi atrás de mim já tão começando a me queimar e jajá ficam frias - ele fez uma cara de dor e a garota riu. - Então será que dá pra você pegar ai e me poupar do sofrimento?
- E perder você conseguindo uma queimadura de 15º grau? Não mesmo!
Ele a cerrou os olhos para ela e gargalhou, afastando as costas dele com as mãos e pegando as duas canecas que estavam ali.
- Eu realmente precisava disso - comentou sorrindente e percebeu o olhar satisfeito que ele lhe lançou, fazendo com que ela sorrisse mais ainda.
There's nothing like you and I
(Não há nada como você e eu)
- Não quero falar sobre isso - ela falou de repente, depois de tomar um gole de seu chocolate e dando mais uma olhada no Sol que já aparecia um pouco.
- E se eu quiser? - a olhou, desafiador.
- Ah, me poupe, você sabe que se eu quisesse, eu te quebrava num segundo!
- Tá me chamando de fraco, ?
Ela sorriu cínica.
- Jamais!
- Eu não sei o que eu fiz pra te merecer - ele resmungou e tomou um pouco de seu próprio chocolate. sentiu seu sorriso ficar rígido, mas o manteve, ele não precisava perceber nada. - Eu aqui tentando te entender e te ajudar, e você tirando uma com minha cara - ele fez uma careta e ela sorriu mais relaxada - Não sorri, lerda.
We spent some time together, drinking
(Nós passamos algum tempo juntos, bebendo)
Spent some time just thinking
(Passamos algum tempo apenas pensando)
About days of joy
(Nos dias de alegria)
- Você é uma boa pessoa, ! - ela falou rindo e encostando sua cabeça no ombro dele.
Por alguns segundos, pareceu sentir o coração dele acelerando, assim como o seu tinha feito alguns minutos atrás e sorriu ao considerar tal possibilidade.
- Claro que eu sou - riu também, convencido e tentou olhá-la sem conseguir mexer seu próprio pescoço direito - Sou um bom amigo também?
- Sempre foi. - respondeu num suspiro e fechou os olhos.
Depois de alguns segundos, sentiu alguém balançar seu ombro.
- Ei! Você não dormiu não, né? AAAH, nem invente de chorar, !
gargalhou, mas continuou de olhos fechados.
- Não vou. Chorar me deixa cansada.
As our hearts started beating faster
(Enquanto nossos corações começaram a bater mais rápido)
I recalled your laughter
(Eu lembrei da sua risada)
From long ago
(De muito tempo atrás)
- Não gosto quando você chora - ele disse numa careta, e passou as mãos pelos cabelos dela.
começou a se perguntar se o motivo para ele não gostar de quando ela chorava era porque ele era sempre o motivo que provocava o choro.
- Eu gosto disso - ela disse, sem medo. Eles estavam sendo amigos, e ter assim tão perto de si era tão bom. - Não só do carinho. Mas dessa nossa amizade.
- Eu também - ele falou e então começou a gargalhar. - Nós poderíamos ser como pegadas na areia.
- Pegadas na areia, ? - ela o acompanhou, rindo. - Não arranjou nada melhor não?
- Pensa comigo! Não importa quantas vezes o mar nos apague. Nós sempre aparecemos, não importando como. Sempre estaremos lá.
There's nothing like you and I
(Não há nada como você e eu)
Era uma boa metáfora.
Caía como uma luva.
- Você pensa, às vezes.
- Eu penso sempre - coçou o ombro e se afastou, encarando-o séria.
- Não, você não pensa.
Eles se olharam por alguns segundos e voltaram a rir. Era tão fácil sorrir quando estavam juntos. Tão bom.
Talvez não valesse a pena esquecê-lo, ou superá-lo. Afinal, mesmo já tinha dito. Eles sempre estarão lá.
Como pegadas na areia.
We spent some time together, crying
(Nós passamos algum tempo juntos, chorando)
Spent some time just trying
(Passamos algum tempo apenas tentando)
To let each other go
(Deixar o outro partir)
- Vamos! - ele pôs-se de pé num pulo e estendeu a mão para que ela a pegasse, mas apenas o olhou confusa. - Comer uns chocolates, eu preciso repor a glicose.
- Aw não! Eu vou engordar - ela fez bico e se espremeu mais contra a parede.
- Claro que não, sua lerda, se ninguém ver, as calorias não contam - disse alegre.
mordeu os lábios, segurando a risada.
- Quê?
- Quem te disse isso? - ela já fazia idéia de quem poderia ter sido - Foi o Tom, não foi?
- Aham! - ainda a olhava sem entender porque a garota estava com aquela cara de riso. - O que foi, porra?
- E você acreditou, ?
- Claro! - ele fez uma cara indignada e se permitiu rir, estendendo a mão para a dele, ignorando totalmente as correntes elétricas que percorreram as mãos de ambos com o toque.
- Depois vem dizer que pensa.
I held your hand so very tightly
(Eu segurei sua mão apertado)
And told you what i would be
(E eu te contei sobre o que eu poderia)
Dreaming of
(Estar sonhando)
- Pára de me xingar, senão não come chocolate nenhum! - falou, enquanto a puxava para fora do quarto, que se encontrava iluminado pelo Sol que já tinha nascido lá fora.
Eles ao menos viram o tempo passar.
- Quem disse que eu quero comer?
- Claro que você quer. Você é esfomeada.
riu sarcástica e deu um tapa nele, enquanto ele terminava de arrastá-la para fora, fechando a porta logo depois.
A voz da garota ecoou pelo corredor, agora, silencioso.
- Muito engraçado, .
There's nothing like you and I
(Não há nada como você e eu)
So why do i even try?
(Então por que eu ainda tento?)
There's nothing like you and I
(Não há nada como você e eu)
Capítulo 33
estava sentada à sua frente e falava sem parar, gesticulando mais do que o necessário e soltando umas risadinhas discretas vez ou outra. encostou mais o rosto nas almofadas e observou rolar no chão, rindo e depois soltar um berro.
Queria rir, queria concordar com o que a amiga havia dito, mas sua mente estava desligada demais pra isso. Fechou um pouco os olhos, prometendo a si mesma que era apenas para descançar.
- ! Não durma - jogou uma pipoca nela, que abriu os olhos e viu as amigas a encarando - Qual o seu problema?
- , como sempre - respondeu por ela, deitando de barriga para cima no carpete - abriu o bocão e disse que o tinha saído com uma garota semana passada.
- Isso não é verdade - disse calma.
Não, não era. Pelo menos não totalmente.
Já tinham se passado duas semanas desde a volta de Barbados e eles seguiam com o mesmo plano de serem apenas amigos. Ela trabalhava mais do que o necessário e ele saía mais do que o necessário. Não que ela devesse se importar com isso, afinal, ele tinha sua vida e eles não tinham ficado nenhuma vez, o que a assustava mais do que o normal.
Eles nunca terminavam e não ficavam. Nunca.
Pra tudo se tem uma primeira vez.
- Eu pensei que vocês tavam numa boa - a olhou com a expressão confusa - Digo, você contou pra a gente aquilo da sacada e tals.
- É! Imaginei que ia ficar beleza e vocês voltariam a se pegar pelos cantos que nem antes - riu, achando que tinha algum tipo de humor na sua fala.
Bem, não tinha, mas também riu. Riu pela ironia, já que ela também chegara a pensar isso.
Tola.
- Nah - deu de ombros - Foi só uma conversa. Acho que a gente só se falou mais duas vezes naquela semana.
- Só? - fez um barulho com a boca e todas ficaram em silêncio. fechou os olhos outra vez, mas logo sentiu outra pipoca a atingir - Você tá na minha casa, sua vadia! Não ouse dormir.
Ela riu.
- Eu tô cansada, me deixem.
- De quê porra você está cansada? Têm séculos que você não sai com a gente!
- Culpe meu trabalho, não eu - se mexeu no sofá, procurando uma posição mais confortável - Fiquei até tarde no telefone com o .
- Por falar em ... E ele e a ? - sentou mais ereta no chão e olhou furtivamente para - O que é que tá rolando entre eles, afinal?
- Hm... Nada demais. Até onde eu sei, eles só se gostam e se beijam.
- Se gostam, se gostam... Ou, sabe como é? - perguntou de um jeito infantil e e se entreolharam divertidas.
- Eles gostam de ficar, mas acho que a coisa ainda tá mais pra a amizade - concluiu.
- Isso porque é uma idiota - soltou e riu, concordando com um balanço de cabeça.
fixou um ponto na estante da sala e depois voltou a olhar as amigas. Sorriu, imaginando dormindo inocente em seu próprio apartamento.
- Ih, coitada, nem tá aqui pra se defender - riu mais, guardando todos os pensamentos sobre isso pra si mesma.
- E daí? Melhor que a gente pode falar à vontade.
concordou e virou-se para . As duas começaram a falar coisas nada a ver e ao mesmo tempo, fingindo entender tudo aquilo.
A outra riu e levantou-se - relutante - do sofá. Era sua deixa.
- , vem comigo? - pegou sua bolsa e olhou para a amiga, que ria com .
- Nops. O Tom disse que passava aqui pra me pegar.
Ela concordou e deu um beijo na testa de , virando-se para em seguida.
- Se ele não vier, me liga.
Com um beijo na testa da outra amiga, virou-se para a porta do apartamento de , escutando gritar antes de conseguir sair.
- Se ele não vier, eu arranco o pintinho dele!
O telefone começou a tocar e mudou seu corpo de posição, afundando mais nos travesseiros. O toque continuou por um tempo, mas logo parou, fazendo-a suspirar aliviada e tentar lembrar do sonho que estava tendo há alguns minutos.
Suas pálpebras já estavam pesadas de novo, quando a porta de seu quarto se abriu e ela pôde escutar passos em sua direção.
- Gordinha? - Tom a cutucou rapidamente, ela apenas resmungou - Vamos lá, , acho que você não vai perder de ver isso.
- Tommy... - ela resmungou outra vez e sentiu a cama abaixar.
Abriu os olhos e viu o amigo ao seu lado, a olhando seriamente.
- Quê? - perguntou atordoada.
Ele sorriu e beijou-a na testa, entregando-lhe o telefone em seguida.
- Pra você - disse simplesmente antes de se levantar e sair meio hesitante.
Demoraram alguns segundos até que ela se desse contar do aparelho ao seu lado e o tomasse em mãos.
Mãos suadas, trêmulas. não sabia o porquê de estar assim, simplesmente sentiu seu estômago afundar e seu sistema nervoso entrar em colapso.
Encostou o telefone na orelha, antes que explodisse.
- Alô?
Uma estática, e então o som de algo caindo. pôde escutar um palavrão e quase vomitou.
- Desculpa, a base caiu. Mas esse garotinho que atendeu o telefone é bem corajoso, huh? Quase me ameaçou de morte quando falei quem era.
Os ouvidos dela poderiam explodir que ela não sentiria, nem se importava. Seu coração se debatia tão forte e alto contra sua caixa toráxica que o barulho estava incomodando-a. Estava doendo.
Ela sentiu uma vontade ridícula de rir, chorar e gritar ao mesmo tempo.
Então ele veio, o derrame a obrigando a falar a única palavra que ela imaginou nunca mais usar para se dirigir à essa pessoa.
- Pai. - não era uma pergunta.
Capítulo 34
- Vejo que você não esqueceu.
Mas que porra, ela não tinha esquecido! Por mais que quisesse e tentasse, ele ainda era seu pai. Por Deus, como você poderia esquecer seu próprio pai?
- Eu ainda tenho seu sangue - ela falou fria e o escutou rir.
- E meus olhos. Minha personalidade também.
bufou, controlando a repulsa que passou a sentir de si mesma naquele momento.
- O que você quer? - perguntou calma, tentando ignorar as vozes que gritavam em sua cabeça.
"Desligue o telefone!", "Grite com ele!", "Ele não tem direito algum de falar com você depois de ter abandonado-a!", era o que elas gritavam, as vozes. Mas as ignorou. Precisava saber por que ele tinha ligado.
Maldita curiosidade.
- Falar com você - ele respondeu e sua voz adquiriu um timbre de quem sorria. não queria imaginá-lo sorrindo - Umas... Coisas vieram me acontecendo nos últimos tempos e eu só... Queria falar com você. Você ainda é minha filha, no final das contas.
Infelizmente.
- Que aconteceu? - ela tentou parecer desinteressada e totalmente casual. Mas sua respiração estava descompassada demais para ser algo normal - Perdeu tudo? Tá falindo ou coisa do tipo? Acho que a sua empresa não deu certo, no final das contas.
Final das contas... Quais contas? Tudo o que ela mais queria era não ter nada a ver com esse homem. Mas a coisa se tornava extremamente difícil quando tudo o que se sabe sobre a vida foi ensinado por ele.
- Ah, também viu isso? - ele perguntou divertido.
- Meio difícil não ver, quando tudo o que se observa pela rua são panfletos com seu sobrenome - aquele que ela fizera questão de tirar de seu próprio registro na primeira oportunidade que tivera - E seu rosto está em quase todos os comerciais do canal 6. quase perdeu o filho dia desses, quando viu. Sua empresa tá dominando o mundo.
Houve uma pausa breve. Breve o suficiente para que percebesse que tinha falado o que não devia.
Informação demais.
- está grávida? ?
Droga, pensou.
- Hãn... É. Está - respondeu incerta - Onde você mora, afinal? Todos no Reino Unido sabem que ela tá grávida de um McFly.
- Itália.
- Hã?
- Eu moro na Itália, . Só sabia que ela era famosa por um programa de culinária.
Ela não sabia se sorria ou se chorava.
Deus, ele tinha dito seu nome! E por mais que não quisesse admitir, aquilo fez com que um calor reconfortante se espalhasse pelo seu corpo.
- Hmm, a Itália parece ser legal - ela comentou, sem saber o que falar - Olha, foi... Emocionante, falar com você de novo. Mas eu tenho que desligar, de verdade.
- Sem problemas. Também foi bom falar com você - não tinha sido exatamente isso o que ela quis dizer... - Posso te ligar de novo? Podemos marcar algo...
- Mas você não mora na Itália? - o interrompeu, não queria pensar na possibilidade de vê-lo depois de tantos anos.
- Na verdade, nesse momento eu estou em Londres. Vim pra te ver - a voz dele tinha uma certa cautela, e o xingou mil vezes por estar tão perto - Então... Podemos nos encontrar?
- Eu - respirou fundo. Ah, que se dane! - Preciso desligar.
Sem esperar resposta, ela apertou o botão off do telefone e jogou-se contra os travesseiros, tentando decidir qual tipo de suicídio seria mais rápido e menos doloroso.
Capítulo 35
Agradável. O dia estava sendo consideravelmente agradável, o clima estava consideravelmente agradável... Era um dia gracioso.
Certo. Até parece.
- , anda logo! - bateu mais uma vez na porta da casa do garoto e bufou ao escutá-lo pedir para esperar - Eu não vou esperar porra nenhuma. Tira esse rabo dai a-go-ra!
Houve um certo barulho e segundos depois a porta se abriu e um extremamente arrumado e perfumado apareceu. Ela o olhou intrigada.
- Certo... Pra quê tudo isso? Até onde eu lembro, a gente só ia no cinema.
- Eu tenho um lugar pra ir. Depois. - ele pareceu um pouco constragido ao dizer aquilo. mumurou um "hm" e os dois seguiram lado a lado pela calçada. - Como andam as coisas? O Tom me contou sobre o lance de quarta-feira, do seu pai e tudo o mais.
- Ah, isso - ela sorriu sem graça.
Não havia contado à sobre o telefonema. Na verdade, só Tom e sabiam, e consequentemente , já que Tom não matinha a boca quieta.
- Não vou mentir que achei estranho você não ter me contado - eles pararam em frente à casa de para esperá-lo e corou, fazendo lembrar do quão agradável ele era - Digo, você sabe que pode contar comigo, não sabe? Não existem só o e o Tom nesse mundo...
gargalhou, enquanto apertava mais o sobretudo contra seu corpo, poderia jurar que seu nariz estava vermelho pelo frio.
- Você não precisa ficar com ciúmes, - ela falou divertida.
- Não estou.
- Então tá - soltou uma risadinha, mas logo voltou a encará-lo. Deveria ao menos uma explicação, certo? - Olha...
- Desculpa pela demora - apareceu ofegante e arrumado. Sorrindo mais do que o normal - Atrapalhei alguma coisa?
- Não - apressou-se em dizer e começou a andar na frente deles - Vamos no seu carro, . Cansei de dirigir.
Não houve muita diferença dentro do carro. Mesmo com o aquecedor ligado, a atmosfera continuava fria. não sabia se estava começando a adoecer ou se o clima entre eles estava lhe causando essa impressão.
- Vocês não estão com raiva de mim, né? - ela perguntou de forma infantil. a olhou pelo retrovisor e riu no banco da frente ao lado do amigo - Então falem comigo! Se todo mundo fica calado eu acho que não querem falar, e se não querem falar é porque tão chateados ou sei lá.
- Você quem não quis me falar nada - falou normalmente, encarando o pára-brisas em sua frente.
- Eu pensei que você não tivesse com raiva.
Ele deu de ombros.
- Não estou - aquilo poderia virar um slogan " nunca está nada para nada" - De verdade.
Bela verdade.
- Pff - ela resmungou - Agora as pessoas ficam com raiva por eu não compartilhar meus problemas...
- Já disse que não tô com raiva.
- Até parece.
- De que vocês tão falando? - parou o carro na fila para entrar no estacionamento do shopping e os encarou - Não tô entendendo porra nenhuma.
- O lance do pai dela - respondeu.
colocou a cabeça entre os bancos, olhando para um amigo e depois para o outro.
- Você sabe? - perguntou olhando agora para , que parava o carro na vaga mais próxima à entrada - Todo mundo sabe tudo da minha vida.
- Deixa de drama. Eu fiquei sabendo... - riu - E não tô com raiva por você não ter me contado, justamente porque eu já sabia que me falariam, de qualquer forma.
Mas não é legal, pensou. Não era a melhor sensação saber dessas coisas pelos outros. Ela não respondeu o que ele havia dito, já que, de repente, começou a se sentir culpada por não ter compartilhado isso com todos. Mas ela tinha esse direito, não tinha? Não era obrigada a falar tudo sempre, mesmo que estivesse tentando mudar, se abrir mais... Certas coisas simplesmente não precisavam ficar sendo remexidas assim.
- Odeio o Tom - bufou, quebrando o silêncio.
e colocaram as toucas nas cabeças, tentando não chamar tanta atenção. Algumas pessoas os olhavam de esgueira, curioso ou quase os reconhecendo. bufou mais uma vez, pensando no quanto queria encontrar as amigas e sair de perto daqueles dois inúteis que só chamavam atenção.
- Por que você odeia o gordinho? - perguntou e sorriu para uma garota, que arregalou os olhos e tapou a boca.
e se entreolharam e riram. Viram e paradas, conversando em frente ao cinema.
- Ah, porque ele é um fofoqueiro dos infernos.
- Quem é um fofoqueiro dos infernos? - perguntou rindo e deslizou discretamente para o lado de .
- Tom - ele, e responderam em uníssono.
- Ah, ele contou pros meninos do seu pai? - levantou as sobrancelhas.
Meu Deus, tinham colocado aquilo em um Outdoor?
- Gente, o que eu faço com esse menino? - riu e beijou a bochecha de , mas logo virando-se para olhá-la.
- Ignore! Tom não agüenta ser ignorado.
Todos riram e balançou a cabeça.
- Bem que eu queria, mas fica meio difícil quando a gente mora na mesma casa.
deu um tapa de leve na cabeça dela, fazendo-a voltar a rir.
- Quê?
- Não seja bitolada - ele praticamente berrou, fazendo os outros rirem também.
- Ah, olha só quem fala.
- Dá pra pararem de brigar? A gente ainda precisa comprar os ingressos! - entrou no meio dos dois e saiu puxando até a bilheteria.
e e se entreolharam e fizeram uma careta imitando .
- Dá pra parar de rir? A gente ainda precisa comprar os ingressos! - elas fizeram a voz fina e pegaram cada uma em um braço de , o arrastando até o casal mais à frente, enquanto ele se retorcia em meio às risadas.
- Foi uma bosta! - falou, enchendo a boca de pipoca enquanto saía, junto aos amigos, do cinema.
- Eu concordo - falou e tomou o pacote da mão do amigo, que a olhou feio - Que é, horrível?
avançou nela, que gritou e deixou a pipoca cair no chão, fazendo os outros três rirem.
- Eu gostei - deu de ombros - A mulher que fazia a principal era bem gostosa.
- Você só gostou por isso também, né? - apertou a barriga dele num beliscão e o garoto negou fervorosamente com a cabeça.
- Não, não, também teve a história!
riu, enquanto ajudava a pegar o pacote de pipocas do chão.
- Ah, cala a boca, você nem sabe qual a história - suspirou e o garoto fez cara de culpado - Cretino.
Na volta pra o estacionamento, começou a tentar explicar de uma forma que não desse muito na cara que ela precisava ir para a casa de , então teria que voltar com os garotos e . Fingindo não perceber os reais motivos da amiga, concordou em deixar em casa enquanto os outros dois iriam para o condomínio no carro de . Depois de mais um tempo conversando e tentando convencer a não voltar para comprar um sorvete, eles se dividiram e entraram nos carros, seguindo rumos diferentes ao deixarem o estacionamento.
- Então vocês vão abandonar a gente depois de amanhã... - quebrou o silêncio que se instalara.
, que estava no banco de trás, se moveu e concordou com a cabeça. continuou calada, tentando ignorar o fato de que havia se esquecido completamente que os amigos já estavam indo para a Austrália para gravar o cd.
Ela estava começando a se acostumar à volta daquela vida sem problemas de todos e de repente lá estavam eles, partindo pra mais uma aventura. E lá estava ela, ficando em casa e trabalhando como uma louca, com milhões de pensamentos martelando em sua cabeça. Ela sabia que se sentia da mesma forma, não era como se elas tivessem sido deixadas para trás só porque ficariam na Inglaterra, mas era um sentimento extremamente ruim ver seus amigos saírem numa viagem legal para o outro lado do mundo e saber que você terá que ficar em casa, atendendo suas ligações e tentando fazer com que a felicidade seja maior que a tristeza.
ainda não tinha trabalhado muito bem essa sua parte, então, ainda haviam certas mudanças a serem feitas nesse quesito.
Fique feliz por seus amigos, pensou consigo mesma e soltou um sorriso nada convincente contra o vidro do carro, enquanto via a chuva fina começar a cair.
- Caraca, eu realmente não queria ficar presa aqui, trabalhando - voltou a falar e parou de tentar sorrir, virando-se para prestar atenção na conversa.
- Nem me fale. Se eu quiser sair daquela revista com créditos, tenho que trabalhar que nem uma maluca agora.
Aquilo fez bufar e apertar mais forte o volante. Ela ainda não admitia totalmente aquela idéia maluca de deixar a Top Of The Pops.
- Aposto que vocês nem vão perder nada demais. Eu e os caras vamos passar todo o tempo dentro do estúdio - pareceu se lamentar - Não que eu não goste de gravar, mas enche o saco quando tem um marzão de Sydney lá fora.
- Como se vocês não fossem enrolar pra poder ir pra esse marzão - riu - Não tenha compaixão por nós, .
- É, nós não gostamos de pessoas que têm bom coração.
- Isso, gostamos de pessoas más.
Elas se entreolharam e riram, enquanto fazia um barulho com a boca, no bando traseiro.
- Vocês são estranhas, isso sim.
- Guarde suas opiniões pra si mesmo, , você ainda está dentro do meu carro - falou divertida, fazendo uma curva fechada que fez cair do banco de trás e ter um ataque de risos. - E use o cinto de segurança, não quero que você quebre meu pára-brisas com seu cabeção, se der uma voada aqui pra frente.
Ele deu língua pra a amiga, voltando a sentar no bando e massageando a bunda.
- Quase quebrei meu baço - exclamou indignado.
- Caramba! Esses meninos precisam parar de falar coisas sem nem saber o que elas são - disse, mais indignada ainda, e riu - Sério, um dia desses o disse que tinha rido tanto que o pâncreas dele tinha doído e convenhamos, por acaso sabe o que raios é um pâncreas?
- Provavelmente ele achou que era parecido com um animal. Pâncreas, Pantera... Sacou?
soltou uma risada irônica de onde estava.
- Essa foi sem graça, .
- Cala a boca, você ainda tá no meu carro.
O garoto fechou a cara e as duas voltaram a rir, começando a falar sobre as coisas estúpidas que os amigos falavam, enquanto tentava lembrar do máximo de coisas possíveis que elas tenham dito, pra que ele usasse. Numa possível ocasião. Quando ele não fosse o zoado da vez.
Ou seja, nunca.
O carro parou na frente da casa de e os três desceram rapidamente, enquanto a água da chuva caía mais forte do que antes.
- Então lá vou eu - falou e deu um beijo na bochecha de .
acenou e sorriu pra a amiga, que lhe mandou o dedo do meio de volta e saiu correndo em direção à porta da casa.
- Que menininha mal educada - ele falou rindo e balançando a cabeça.
o acompanhou e apertou os braços contra o corpo.
- Ok, acho que também vou pra casa, ficar parada na chuva não é o meu forte - ela sorriu pra o garoto e então virou-se para seguir o caminho de sua casa, mas sentiu uma mão segurar seu braço e voltou a olhar , que a segurava e tinha um sorriso bobo nos lábios - Quê?
- Vem aqui pra casa, preciso de ajuda pra arrumar a mala.
Ela sentiu uma onda elétrica percorrer seu corpo com o toque dele naquele frio e debaixo daquela chuva. Analisou melhor os olhos azuis que continuavam a encará-la e apenas fez com que ele soltasse seu braço, concordando com um aceno de cabeça, o que fez com que ele sorrisse e então atravessaram a rua correndo, tentando não cair com o peso dos casacos molhados.
- Caramba, eu decididamente não vou sentir falta dessas chuvas - disse, enquanto tirava seu casaco e andava até a cozinha - Tira essa roupa molhada e vem aqui pra trás, .
- Ok.
tirou os tênis e as meias e dobrou a barra da calça jeans, depois tirou o sobretudo e uma blusa de manga comprida, ficando apenas com uma camiseta lilás fina e básica que vestia por baixo de tudo. A chuva havia sido tão forte que até essa blusa havia sido molhada. Prendeu os cabelos num rabo de cavalo desajeitado e equilibrou todas as vestes nos braços, seguindo o mesmo caminho que tinha feito há alguns minutos, passando pela cozinha e chegando até a área de serviço, onde ele parecia confuso enquanto mexia num saco de sabão em pó.
Ela riu e se aproximou.
- Problemas por ai? - jogou suas roupas em cima de um cesto e pegou o potinho de medir da mão dele - Quantas roupas?
- Um jeans, dois casacos e três camisas.
De uma vez só, ela mergulhou o copinho no saco e pediu para que ele separasse as roupas coloridas das brancas, colocando cada uma num compartimento diferente da máquina de lavar. Ela despejou o sabão e mexeu em mais algumas coisas, depois bateu uma mão na outra e olhou para , percebendo que ele estava somente de boxers.
Mordeu os lábios e desviou o olhar do abdômen dele, segurando sua própria blusa.
Ele riu, feliz por vê-la desconfortável diante dele seminu.
- Deveria ter trocado de roupa antes, agora essas suas roupas vão ficar sem lavar! - ele apontou pra as roupas no corpo dela e tentou focalizar apenas seu rosto, sem deixar que o olhar descesse para o resto do corpo.
Por Deus, quantas vezes ela já o tinha visto de boxers, ou até mesmo sem nada? Estava agindo que nem uma adolescente com os hormônios à flor da pele!
- Sem problemas, eu lavo em casa - concordou com a cabeça e virou-se, fazendo o caminho de volta pra a cozinha - Vou pegar algo pra vestir, e venha que você também, senão vai pegar uma doença e vai estragar completamente sua viagem.
- Sim, mamãe.
Ela fez uma careta, dando um tapa no braço dele e os dois riram, no caminho até o quarto do garoto.
- Quero essa blusa! - ela berrou animada e pegou uma boxer azul clara, correndo até o banheiro.
riu, balançando a cabeça e andou até o closet, com um sorriso rasgando o rosto e o corpo mais leve. Estava se sentindo um idiota por estar tão feliz apenas com a presença de ali, mesmo sendo só amigos. Aquela sensação era extremamente boa.
Depois de trocar de roupa e se enxugar, puxou duas malas de uma prateleira e as jogou abertas no chão. Abriu umas gavetas e tirou bolos de roupa, jogando-os alternados em ambas as malas. Parou após escutar uma risada do canto do quarto.
- ! Isso daqui tá uma bagunça! - se aproximou rindo e pegou um bolo de roupa que tava nas mãos dele - Quase me esqueci como você é péssimo nisso - exclamou divertida e sentou com as pernas cruzadas entre as malas, tirando as roupas de dentro delas e separando-as entre camisas e shorts - Tem trezentas calças aqui dentro! Você tem noção de que não vai precisar de calças na Austrália, não tem?
- Hãn... Eu só tava fazendo minhas malas - levantou os braços em sua defesa e a garota riu.
- Você estava bagunçando as malas, isso sim. Senta ai na cama que eu assumo isso aqui!
A obedecendo, andou até sua cama de casal e jogou-se na mesma, deitando de bruços, com a cabeça levantada e apoiada nos braços, observando enquanto a garota dobrava de forma concentrada suas camisas e jogava umas ou outras numa pilha à parte, fazendo uma careta em desaprovação. Seu olhar se perdeu no corpo dela, em como ela parecia tão vulnerável e pequena dentro de suas roupas.
- Você tá parecendo uma criança - escutou ela comentar, mas apenas sorriu, sem desviar seu olhar - Pára de olhar pra os meus peitos, !
- Eu não tava olhando pros seus peitos - ele riu e encarou o rosto dela, fazendo-a sorrir da cara de bobo que ele fazia.
- Sei...
- Hm, você não quer conversar?
- Eu não disse que não queria conversar.
- Você sabe que eu não tava falando nesse sentido - rolou duas vezes na cama e voltou à posição original, encarando de novo e percebendo que a garota agora dobrava suas bermudas com as sobrancelhas franzidas - Ah, desculpa.
- Não, sem problemas - o olhou e lhe deu um sorriso fraco, porém sincero, voltando a olhar para as bermudas - Eu só não esperava que ele viesse me procurar agora, sabe? Tudo o que eu tenho tentado fazer nas últimas semanas é me focar nessa vida de agora e deixar um pouco todo esse passado pra trás.
ignorou o aperto que sentiu no peito, enquanto pensava se ele mesmo estava incluso nesse passado, e apenas concordou com um aceno de cabeça, mostrando que estava prestando atenção.
- Então o próprio passado vem e começa a encher o meu saco - ela suspirou e o olhou rápido, voltando a sorrir - Bem, mas nós não nos falamos desde aquele dia, e mesmo eu sabendo que ele não vai desistir tão fácil, fico mais aliviada por ele não ter me procurado logo depois do telefonema. Eu realmente estava histérica.
- O Tom comentou essa parte - falou engraçado e os dois riram - Ele disse o porquê disso tudo?
Ela deu de ombros, colocando cuidadosamente um montinho de bermudas dobradas num espaço consideravelmente pequeno da primeira mala. As camisas de ocupavam um senhor espaço! Será que tinha colocado demais?
- Falou algo como... Estar passando por umas coisas no momento. Não entendi direito.
- Hm - fez um barulho com a boca e voltou a falar - Você não se preocupou?
Aquela pergunta a pegou desprevenida. parou o que estava fazendo e encarou o garoto, deitado na cama e com a expressão de interessado. Percebera que não tinha parado pra pensar nisso, na verdade, não havia o feito porque já sabia a resposta de tal pergunta, só não queria admitir pra si mesma. Eram muitas as coisas que não admitia à si mesma, mas que no final de tudo, sempre acabava admitindo para . Sempre pra ele.
- Acho que sim.
Ele concordou com a cabeça mais uma vez, sabendo que já havia extrapolado nas perguntas e voltou a observá-la organizando suas roupas.
Sorriu, por ter conseguido fazer com que ela admitisse aquilo, sorriu por tê-la ali naquele momento, sorriu porque sorrir parecia uma das únicas coisas que era capaz de fazer.
- Eu te amo - deixou escapar.
Não estava arrependido, muito menos assustado. Era isso que seu sorriso demonstrava e era isso que ele sentia uma necessidade enorme de dizer pra ela desde a briga horrível que tiveram ao terminar tudo em Barbados.
parou o que estava fazendo mais uma vez e o olhou nos olhos. Olhou no fundo daquele brilho azulado, daquela pupila que a fazia tremer sempre que cruzava com a sua. O encarou e lembrou de uma vez que ele havia lhe dito as mesmas palavras e ela simplesmente dissera que eram mentira.
Não, não eram. Mentiras não faziam com que seu coração pulsasse freneticamente como estava agora. Mentiras não faziam com que ela se sentisse completa e calma, no lugar de nervosa e sem paciência.
- Eu também te amo - respondeu simplesmente.
Ambos sorriram, porque sabiam que era verdade. Sorriram porque se sentiam bem no meio daquilo tudo e porque tinham certeza que aquilo não iria atrapalhar em nada no recomeço da amizade. Sorriram porque as lembranças lhe vieram à mente e a saudade bateu com força no peito.
voltou seu olhar para as roupas e continuou dobrando-as, ainda sorrindo. fechou os olhos e soltou um riso baixo.
- Somo uns idiotas, não somos? - ele perguntou divertido e abriu os olhos, vendo-a concordar com a cabeça e colocar mais um monte de bermudas na mala.
- Com certeza.
Eles se encararam de novo e ela soltou uma gargalhada, fazendo com que ele a acompanhasse sem nem ao menos perceber.
Capítulo 36
Uma batida forte começou e gargalhou, enquanto ria de um extremamente bêbado tentando lembrar do nome da música.
- Desista, , você não vai lembrar - falou, dando tapinhas leves em suas costas, consolando-o.
- LOSER! - berrou e ela e gargalharam alto, jogando as cabeças para trás.
Era o lugar que costumavam ir quando não tinham o que fazer. Nem ao menos sabiam o nome, apenas costumavam chamar de "O Antro do Ant", que por sinal, tinha ido ao banheiro com Tom e ainda não voltara.
Os quatro garotos, mais e pegariam um vôo logo depois do almoço do dia seguinte para Sydney e de última hora, Antony - um dos muitos amigos - ligara falando as palavras mágicas.
Despedida. Bebida. Pub.
E lá estavam eles, sentados em volta de uma mesa sem nem ao menos saber como chegaram ali. Tão típico.
- O que você não consegue lembrar, queridooo? - chegou rindo e sentou-se no colo de , passando os braços envolta de seu pescoço e começando a beijar a mesma área.
- Hm... - resmungou, bebendo um gole de sua cerveja e fechando os olhos - Não lembro.
riu e colou sua boca na dele. As outras garotas se entreolharam.
- Mais uma cerveja - sugeriu e levantou o braço de forma engraçada e totalmente desorientada.
levantou-se para acompanhá-las e as três saíram em direção ao bar.
Tinham muitas pessoas. Pessoas bêbadas, pessoas sãs, pessoas que estavam ali simplesmente para comemorar e pessoas que usavam o lugar e suas bebidas para afogar qualquer tipo de mágoa existente. poderia olhar para cada uma dessas pessoas e veria que tinha a capacidade de se encaixar em cada uma dessas categorias. O que tornava tudo aquilo mais engraçado, por mais macabro que fosse. Não valeria à pena encarar as coisas pelo lado ruim, a vida não era feita somente de coisas que não valiam à pena.
- nos contou que você ficou chateada com algo que o disse - começou a falar assim que elas chegaram no balcão e virou-se para pedir as bebidas ao barman - E então, você vai contar pra a gente o que foi ou não?
- Esses meninos tão me saindo mais fofoqueiros do que já foram um dia - riu e recebeu sua nova garrafa de cerveja.
- Até parece que você não conhece o , é só dar umas garrafas de cerveja e ele já está falando mais do que a mãe do - deu de ombros, fazendo rir.
- A mãe do não fala demais - disse, sorrindo, e desviou o olhar das amigas para a pista de dança.
- Você vai falar ou não? Eu já estou quase bêbada e se você não falar agora, eu não quero escutar toda a história pela amanhã. Ela não sabe como contar as coisas.
- EI!
- Desculpa, fofa, verdade pura.
lançou mais um olhar indignado para e voltou-se para a outra amiga.
- Dá pra você falar ou não?
- Ele disse que me ama, ok? Nós estávamos na casa dele ontem e ele do nada disse que me ama! - voltou a olhar as amigas, sentindo sua garganta mais seca e tomou um gole enorme de sua bebida - E eu disse que amava ele também, porque eu amo!
- E você tá assim por que ele disse que te ama?
- Não, - ela bufou e olhou agoniada para os lados, sem saber como falaria o que queria dizer - Eu tô assim porque ele disse que me amava ontem, mas você sabe onde ele tá hoje? Porque eu sei. Porque ele esqueceu de algum encontro estúpido na noite estúpida que disse que ainda me amava e agora está lá, com não-sei-quem que ficou muito chateada por ele ter esquecido o encontro. Ele não tá aqui pra se despedir de mim e de você, porque ele tá ocupado demais fazendo as pazes com o novo amor da vida dele!
- Por Deus, se controle.
- Não diga para eu me controlar, , você não tem idéia do quão indignada eu estou - ela apontou o dedo no rosto da amiga, mas logo o abaixou, voltando a beber mais um pouco. - Eu não estou assim porque ele tá saindo com alguém. Eu tô assim porque poxa, ele não disse que me amava? Então porque abriu mão despedida pra ficar com alguém que eu espero não ter tanta importância assim?
- Você tá fazendo uma tempestade num copo d'água, amiga - pôs uma mão no ombro dela e concordou com um aceno de cabeça - Ele te ama. Estando aqui ou não, ele te ama. E eu tenho certeza que já já o aparece aqui...
- Com a outra!
- Dá pra me escutar? Eu não sei qual dos retardados fez a idiotice de te contar isso, provavelmente o - bingo! - Mas, cara, ele tá tentando ser uma boa pessoa com essa garota, seja lá quem ela for, e a gente não vê isso todo dia, principalmente vindo do . Você deveria estar orgulhosa.
- E de qualquer forma, eles tão indo pra a Austrália amanhã, não é como se ele fosse lembrar dela quando voltar. Mas ele vai lembrar de você - completou com um tom de obviedade.
Por mais hipócrita que fosse, aquelas palavras a fizeram se sentir melhor.
Levando o gargalo da garrafa à sua boca mais uma vez, tentou preencher com o que sobrava de sua cerveja aquele vazio no peito que vinha sentindo de uns dias pra cá, sempre que se deixava levar por aqueles sentimentos dos quais todos reclamavam. Ela não deveria se sentir bem por saber que esqueceria da tal agora assim que eles embarcassem para outro continente, já que, até onde havia percebido, a garota nova parecia gostar dele.
Mas aquele era seu . Era sempre uma exceção.
- Que se dane, preciso de outra cerveja - ela deu de ombros, fazendo as amigas rirem e lhe estendeu sua garrafinha de água - Sai daí, tô com cara de quem quer água?
- Tente algo mais forte - deu de ombros, a olhando divertida - Cervejas já não preenchem o seu vazio. Vodcas são melhores, confie em mim.
- Quem disse que eu preciso preencher vazios? - arqueou uma das sobrancelhas e fez um movimento com a mão para o barman, indicando sua cerveja e ele se movimentou do outro lado do balcão - Vai brincando, vai. Fala isso porque o ainda não te arranjou nenhuma cratera.
gargalhou e lhe fez um joinha.
- Obrigada, você é minha melhor amiga.
As três ficaram caladas por alguns segundos, enquanto observavam ao longe e cambalearem bêbados enquanto se beijavam andando até um canto do pub.
- Que fogo - resmungou baixinho.
- Inveja, querida? - elas se viraram para ver Tom e Antony se aproximarem - Não se preocupe, já cheguei.
- Que falta de fogo - voltou a resmungar e Tom fez uma careta, fazendo todos rirem. - Antony, esse bar tá uma merda.
- Não, , você não tá bebendo, por isso que tá uma merda - o rapaz deu de ombros, mostrando sua covinha e a garota bufou, pensando por quantas covinhas mais sua vida seria atormentada - Pergunte pra as outras duas se isso daqui não tá legal.
- Claro que elas acham que tá! Elas bebem mais do que respiram - guinchou e Tom riu, sentando num banquinho ao lado da namorada - Infelizes, o que tão achando disso aqui?
e a olharam. A primeira sorriu de forma maliciosa e apontou para um cara mais ao lado.
- Estou adorando, diga-se de passagem.
deu de ombros.
- Mesma coisa - olhou para a outra garrafa que tinha acabado de esvaziar - Preciso de mais ou vou começar a achar isso daqui um porre.
- Você não vai beber mais, oww! Dá um tempo, pinguça - tirou a garrafa vazia das mãos dela e pegou em sua mão, diminuindo o tom de voz - , e garota loira desconhecida entrando no recinto, que tal uma visita na pista de dança?
Ela não queria olhar. Não queria ver de mãos dadas com outra.
Sorrindo para a amiga, apertou a mão dela e as duas saíram saltitantes em direção ao centro do local, balançando os corpos de acordo com o ritmo e rindo. rebolou exageradamente e fez uma pose de quem dava tapas em sua bunda. As duas riram e sem querer, o olhar dela pausou nos amigos, próximos ao bar.
E, incrivelmente, não doeu. Pelo menos não tanto
parecia não ter sentido a sua falta e conversava animadamente com Antony e Tom, enquanto a garota se sentava em um banco ao lado de , que a olhou simpaticamente.
Ela era bonita, não mais que Jennifer, mas com certeza mais bonita que qualquer outra que já tenha apresentado aos amigos. Tinha os cabelos num loiro natural e ondulado, olhos verdes, quase castanhos e um jeito tímido de falar. pôde perceber que seria fácil simpatizar com ela, e não custaria nada tentar. Pelo menos não naquela noite. Eles estavam indo embora no outro dia, não é?
Desviou os olhos do local, quando viu virar-se para se aproximar da ficante e olhou sorrindo pra , tentando mostrar que estava tudo bem.
- Bonita, não é? - a amiga perguntou, hesitante e gargalhou, concordando com a cabeça. Talvez fosse legal levar aquilo numa brincadeira. - Porra, se o não olhar pra cá agora, eu vou agarrar aquele carinha de verde.
- Eu agarraria o carinha de verde! - lançou um olhar para um cara ao seu lado e abriu a boca indignada.
- Já basta você ter namorado com o , , não quero mais de uma baba sua.
- Sem problemas - riu e pegou o copo da amiga, dando um longo gole e sentindo seus dedos das mãos ficarem dormentes. - Quero ficar bêbada, amiga.
- Nem pense nisso, você é um porre bêbada.
lhe devolveu o copo e começou a pular, balançando a cabeça e sentindo seu sangue começar a circular queimando.
- , pára! Não balança sua cabeça, merda.
Ela parou de pular e olhou a amiga à sua frente. As duas ficaram em silêncio se olhando e então voltaram a rir.
- Nem fiquei.
- Claro - rolou os olhos e tomou o resto de sua bebida - Você precisa beber algo forte e depois balançar a cabeça.
- Então vamos pro bar - ela pegou na mão de , que a segurou firme, sem deixar que saíssem do lugar - Qual é? A gente nem tá mais dançando.
Sem maiores reclamações, deixou-se ser arrastada em direção a onde os outros estavam. parecia tentar convencer Tom de algo e Antony tinha sumido outra vez, deixando e a garota nova e loira no vácuo.
Bem, eles não estavam no vácuo, eles estavam se beijando, mas procurou ignorar isso e abriu seu melhor sorriso quando parou em frente à eles.
- E ai, galerinha - exclamou animada e parou de falar, a olhando rapidamente - Qual é a da discussão?
- Tom tá dizendo que eu posso tomar cervejas sem álcool.
- Claro - Thomas revirou os olhos - Elas são sem álcool.
- Não acredito que sejam totalmente - deu de ombros e a olhou agradecida - Conheço alguém que já ficou bêbada com cervejas ditas sem álcool - ela apontou discretamente para .
- Mentira! - a outra gritou.
parou de beijar a loira no mesmo instante em que escutou o grito de ao seu lado. Endireitou o corpo e a olhou de esgueira, vendo que a menina gritava algo com e Tom, fazendo rir e o olhar.
- Hey, , desocupou? - ela disse alegre e se aproximou, estendendo a mão para a menina ao lado do amigo - Prazer, .
- Prazer, Bridget.
parou o que estava fazendo e olhou para os três, pegando a última parte da conversa.
Péssimo nome, pensou consigo mesma e sorriu, dando dois passos para ficar ao lado de .
- E aiii, - ela riu e se inclinou para dar dois beijinhos na bochecha dele, que a encarou confuso - Não vai apresentar?
Ela não queria soar falsa, então tentava ao máximo deixar que a animação das bebidas ingeridas tomassem conta de seu corpo, a transformando numa pessoa mais simpática.
- Hm... - pareceu desconfortável antes de abrir um sorriso fraco - Bridget, essa é a , ... Bridget.
- - a garota sorriu enquanto apertava a mão de Bridget - Pode me chamar de - a loira sussurrou um tímido "ok" e virou-se para - Dá pra você me pegar uma bebida agora ou eu vou precisar chamar o ? - ela virou-se de novo para , que continuava sem entender todo aquele bom humor - Cadê ele, afinal?
- Foi procurar vocês - ele respondeu lentamente.
Bridget puxou sua camisa e ele a olhou, ela sorriu e beijou levemente seus lábios. desviou os olhos.
- Certo, ... Pode apressar o processo ai?
- Cerveja? - a amiga virou a cabeça para olhá-la, antes de voltar sua atenção para o cara do bar.
- Não. Vodca.
riu e fez os pedidos, vendo - em seguida - acompanhar os movimentos de uma extremamente animada, que corria até no outro extremo do balcão.
- MEU AMORR! - ela pulou nos braços do amigo, que riu e segurou-a pela cintura, a arrastando consigo até onde os outros estavam.
- Hey, garanhão, tudo em cima? - deu bateu sua mão na de e soltou , que colocou os pés no chão um pouco cambaleante e rindo mais que o necessário - Prazer, .
Bridget sorriu tímida outra vez e disse seu nome. segurou a vontade de vomitar, aquela garota parecia uma retardada social! O que raios tinha visto nela?
- Toma sua bebida, esburacada - apareceu sorrindo e empurrou um copo na mão de , que a olhou irônica.
- Vejam só, agora a mocinha está de bom humor, ninguém sabe porque.
- Eu sei! - levantou um braço e puxou com o outro, beijando os lábios da menina suavemente, fazendo-a sorrir mais ainda. - Vim te pegar, gracinha.
- Que termo xulo, - deu um tapa no amigo e olhou solidária pra - Amiga, ele veio aqui pra beijar a sua boca.
Os outros quatro riram, deixando a garota sem entender bem tudo aquilo.
- Acho que vou acabar levando você também, bebadazinha.
- Ew, , sem remembers - estendeu os braços para afastá-lo.
- Larga de ser burra! Não foi esse o sentido do pegar - girou os olhos e virou-se para o garoto ao seu lado - Por que veio me pegar, lindo?
- Porque amanhã é segunda e você tem uma reunião com sua chefe - respondeu sorridente e deu-lhe outro selinho.
sorriu, porque era uma das poucas vezes que os via assim desde que eles tinham começado a se enrolar.
Olhou automaticamente para e percebeu que ele também olhava os amigos, o garoto desviou o olhar instantes depois e cravou-o no de . Ela sorriu, tentando fazer com que suas mãos não tremessem e tomou um gole de sua vodca com soda.
- Não, eu não tenho - percebeu que manteve um tom de quem tentava não se estressar e deu um beijinho na bochecha de .
- Claro que você tem! Sua chefe ligou mais cedo quando você tava tomando banho e... - colocou as mãos na boca do garoto ao mesmo tempo em que e Tom pararam de conversar e olharam para os dois.
foi o primeiro a falar.
- Hmm... Quando ela tava tomando banho, né? - ele brincou com a voz cheia de malícia e mordeu o copo, se controlando para não sorrir.
Estaria tudo bem se ela sorrisse da situação, certo? Não era exatamente por causa de que ela iria rir. Pelo menos para os outros não iria parecer. Mas ela não sorriria, não! Ela queria que visse o quão incomodada ela estava com o fato de ele ter levado outra garota com ele naquela noite.
- Por que você não estava no banho com ela, ? - Tom perguntou inocente e lhe deu um tapa - Ah, , pára com isso! Até parece que ninguém sabia que vocês já tavam se comendo.
mudou do tom vermelho que tinha adquirido para o púrpura e riu assim que ela escondeu o rosto em seu pescoço.
- E até parece que você não queria que ele tivesse no banho com você! - completou e riu, pois sabia exatamente que queria aquilo.
Era tão a cara dela querer esse tipo de coisa e não admitir.
- Tem certeza que você não quer ir embora agora? - voltou a perguntar e mexeu no corpo da garota, que não queria desgrudar do seu pescoço. - Eu não vou te arrastar até sua casa desse jeito, !
- É, pelo menos passe as pernas envolta do corpo dele - deu uma piscadinha para o amigo e gargalhou alto.
- Vocês são um saco! - tirou o rosto do pescoço de e olhou para os amigos, incrivelmente vermelha - Vamos, . Vamos fazer o que você quiser no meu apartamento!
- UUHH! - os outros quatro se olharam e exclamaram em uníssono.
Tom puxou o rosto da namorada.
- Vamos fazer o que eu quiser também hoje no nosso ninho do amor?
deu um sorriso irônico e beijou-o levemente nos lábios, antes de falar.
- Não, querido, vamos fazer o que eu quiser.
Tom pareceu não se incomodar com essa condição, apenas dando um sorrrisinho sacana e puxando para um beijo mais intenso. olhou para ao seu lado, que falava algo para Bridget, bufou e imaginou como teria que voltar pra casa, já que sua carona deu a entender que estaria ocupada demais para querer que fosse no mesmo carro que o seu.
- Hey, ! - ela gritou assim que viu o amigo se levantar e pegar na mão de .
Sorriu involuntariamente. Ainda era extremamente fofo e inesperado ver os dois assim!
- Diz, chatisse - ele riu e lhe deu um tapa, logo sorrindo para a amiga.
- Dá pra vocês me deixarem em casa antes de irem fazer sei-lá-o-que na casa da ? O Tom e a vão ter uma noite selvagem!
- Mas ela não tá grávida? - levantou as sobrancelhas e sorriu sem mostrar os dentes, de forma irônica.
- Você realmente acha que isso vai atrapalhar?
Ele negou com a cabeça, fazendo as duas meninas rirem e disse que ia avisar algo ao , mas que voltaria logo e as pegaria ali no bar. concordou e puxou pela mão, de volta para onde estavam com os outros. Ela pensou ter visto mais uma vez e a nova garota loira se beijando, mas ignorou e pediu três garrafas de cerveja ao barman.
- Três? - sentou num banquinho ao lado de onde a amiga estava em pé e apoiou o rosto nas mãos - Nesse lance do seu ciúme o meu álcool foi pro beleleu! Tô mais sóbria que... Algo muito sóbrio.
riu.
- Eu te dou uma das minhas - ela estendeu uma garrafa para , que sorriu em agradecimento e tirou a tampinha, levando o gargalo à boca. fez o mesmo e quando parou de beber, percebeu que já tinha tomado metade do conteúdo - Que horas é a sua reunião amanhã?
riu e botou a mão na boca para não cuspir cerveja.
- Você realmente acha que eu tenho uma reunião? Aposto que o inventou pra me levar em casa!
- Aaah - fez uma cara de quem tinha entendido perfeitamente e bebeu o que sobrava de sua garrafa - Então vai com a gente pra o aeroporto?
- Yeep! Se eu não fosse, iria dar trabalho com o lance dos carros, né.
abriu outra Heineken e fez as contas mentalmente. Ela, Tom, , e no seu carro. Sobrariam e e eles definitivamente não iriam querer ir de carro e deixar para ela ou tirá-los do aeroporto mais tarde.
- Realmente.
As duas ficaram caladas por algum tempo e viram arrastar Tom pra a pista de dança, sobre os protestos do mesmo. Pela visão periférica, viu pular um banco e sentar no que estava ao seu lado. Tentou fingir que não percebera e continuou rindo dos amigos mais à frente, que esbarraram em e extremamente bêbados e agora riam com as mãos no joelho.
se aproximou sem que ela nem ao menos percebesse. Estava tão focada em evitar que se assustou quando colocou a mão em seu ombro e avisou que já estavam indo.
- Vocês já vão? - perguntou, também levantando.
- Vamos, eu supostamente tenho uma reunião amanhã - girou os olhos, indicando discretamente, mas ele percebeu.
- Ei! Eu não tava brincando.
- Tudo bem, , tudo bem, eu te entendo.
Ele bufou inconformado e riu.
- E você, ? Por que já tá indo?
- Se eu não for agora, não vou mais. Tô sem carro! - ela olhou o garoto rapidamente e percebeu que Bridget não estava mais lá.
- Eu te levo em casa, fica ai!
- Naah, , relaxa! Você tá acompanhado - ela tentou fazer com que tais palavras não soassem da forma que realmente eram pra soar, mas pareceu captar algo, pois juntou as sobrancelhas num sinal confuso e apontou o dedo pra trás.
- A Bridget? Ah, , qual é! Até parece que eu vou dar bobeira e deixar você voltar cedo pra casa em dia de festa só porque tô acompanhado.
sentiu a cutucando e sorriu amarelo.
- Já disse, , relaxa! Vou com eles mesmo, tá? - ela se aproximou e beijou a bochecha do menino, vendo, ao se afastar, que Bridget se aproximava. - Foi um prazer te conhecer. - disse o mais simpática possível e fez um movimento com a cabeça, num cumprimento à distância.
Afastou-se sem dar a abertura para uma resposta e pôde escutar a garota perguntando para .
- Eles já vão embora?
Andou até onde e estavam e os viu acenar para onde ela tinha acabado de vir. Postou-se ao lado da amiga e ficou calada todo o caminho enquanto eles se espremiam para sair do pub. O ar do lado de fora não estava tão mais frio do que a garota lembrava estar algumas horas atrás, antes de entrarem, então não houve um grande choque, uma vez que ela já estava acostumada com a temperatura. Londres poderia ser tão chocante até mesmo pra quem vive lá há anos!
- ! - escutaram alguém gritar mais atrás.
segurou no braço de , fazendo com que ambas continuassem andando. fez um sinal rápido com a cabeça e voltou-se para o lugar de onde a voz tinha vindo. continuou com os dedos colados no braço da amiga, a arrastando até chegarem ao carro trancado de , estacionado alguns metros da entrada do pub.
- Mas que porra...? - começou a falar, passando a mão pelo local onde fora apertada minutos atrás - Você sabia que tem uma força sobrenatural quando quer?
deu de ombros e virou o que restava na cerveja contida na garrafa que ainda segurava.
- chamando por seu homem, querida. Contatos demais com ele por uma noite! - sua voz tremeu propositalmente no final, fazendo rir.
- Oh - ela virou-se e viu conversando com , que mantinha Bridget ao seu lado, calada e quieta como sempre - Ela parece um souvenir, não é?
riu.
- Você é tão maldosa quando meio-bêbada - comentou divertida.
- Sério! Sou mil vezes você, amiga - deu um tapinha camarada no ombro de , que a olhou, sorrindo agradecida e jogou a garrafa vazia longe.
Por alguns segundos, ela jurou sentir sua cabeça vibrar e sua vista sair de foco pela milésima vez na noite, mas não deu tanta importância, já estava indo embora, de qualquer forma. Estar bêbada, meio bêbada ou completamente bêbada já não fazia a menor diferença.
- Como você lida com isso? - se encostou no carro e deu um gole na garrafa, passando-a para em seguida.
As duas continuavam com os olhares fixos no casal que conversava com a apenas alguns metros de distância.
- Eu não lido - sorriu depois de um gole e limpou a boca com o peito da mão, sentindo sua cabeça girar levemente e as palavras se materializarem em sua frente, para que fossem escolhidas - Isso que lida comigo.
Ela viu passar um braço envolta dos ombros da garota e então ela sorrir para ele, enquanto ainda falava algo rápido, fazendo-o rir.
Não tinha nada com o que lidar. Era só o . Seu . Eles não precisavam lidar com a dor, ou com os fatos. Uma hora ou outra isso tudo teria que lidar com eles.
Capítulo 37
Esperar nunca fora seu forte. Tal como perdoar, se desculpar e - muitas vezes - chorar. Com o tempo havia aprendido a ser uma pessoa forte, tinha passado e visto tantas coisas que lhe passaram um pouco de como era todo esse lance de realidade, e nesse lance - com certeza - não tinha a mínima abertura para se deixar ser fraca. Então, ela não sabia porque estava fazendo aquilo, pelo menos não exatamente. Havia deixado os meninos no aeroporto duas horas atrás, acompanhado até a casa dela e então simplesmente puxou o celular e discou um número que tinham deixado num recado na sua secretária eletrônica na última noite.
Fora mais fácil conversar com seu pai dessa vez do que da última. Talvez tenha sido o fato de que na semana anterior tudo aquilo tinha lhe pegado de supetão, num ato supreso, algo que ela nunca pensara em esperar. Também pode ter sido pelo fato de que nessa situação fora ela a pessoa que o procurou, o que não dava, exatamente, aberturas para se sentir insegura, surpresa ou arrependida. Ela tinha que fazer aquilo uma hora ou outra. Era só questão de tempo para que tomasse coragem.
A viagem dos garotos lhe pareceu uma ótima situação corajosa. Teria que passar por aquilo sozinha, teria que confiar em si mesma e parar de depender dos outros. Depender dos outros estava fora de cogitação.
Ela apertou os braços contra o corpo e remexeu-se, observando a grande roda gigante à sua frente. Sorriu para si mesma e fechou os olhos por alguns segundos, tentando aproveitar aquela paz repentina.
Repentina e rápida. O som de passos fizeram com que seus músculos se contraíssem e seus olhos se abrissem mais uma vez.
- Desculpe pela demora - olhou enquanto seu pai falava, sorria e parecia indeciso se sentava ao seu lado ou se continuava em pé.
- Tudo bem - ela se viu falando depois de alguns segundos - Eu estava aqui perto, de qualquer forma.
Mentira. A casa de não ficava ali perto. O Heathrow talvez, mas não o apartamento de .
Admitir que chegara cedo por conta de seu nervosismo idiota não lhe parecia a opção mais atraente.
- Fiquei sabendo que aqueles meninos viajaram hoje - Phillip continuou e decidiu por se sentar no outro extremo do banco onde ela estava. pôde ver que tinha um rapaz atrás dele o tempo inteiro - Austrália, huh?
- É... Por algumas semanas - tentou sorrir, mas seus olhos continuaram grudados no desconhecido. Ele lhe lembrava alguém.
- Esse é Frederick - seu pai falou e ela sentiu seu coração pular ao escutar tais palavras.
Não exatamente por escutar as palavras e sim pela forma qual elas foram ditas, pois Phill já tinha usado aquele mesmo tom para se referir à garota.
Ela o olhou, serena, enquanto seus batimentos voltavam a diminuir de frequência.
- Seu filho?
- Seu irmão - Phillip concordou, nem um pouco surpreso pelo fato dela ter notado isso.
riu e bufou ao mesmo tempo, cruzando os braços em frente ao corpo e grudando os olhos na London Eye.
- Eu não tenho irmãos.
- Ele tem seu sangue.
- Eu não tenho irmãos - ela repetiu, dessa vez de forma mais feroz e o encarando com firmeza - A não ser que você inclua Tom e os outros nisso.
- Eu estou aqui, sabiam? - Frederick se pronunciou pela primeira vez - Me descupe, eu sei quem você é, sei tudo o que você fez e faz - ele apontou a cabeça para , que levantou uma das sobrancelhas - Sei que anda com os garotos da banda famosa e umas garotas que são metidas nesse meio também... Não é como se eu quisesse ser seu irmão.
- Então não seja - ela voltou a rosnar e sorriu cínica - Não vejo necessidade em ser. Na verdade, nem sei porque você está aqui, eu liguei pro Phillip, eu marquei um encontro com o Phillip. Se soubesse que ele precisava de um pirralho como acessor, teria desistido e deixado vocês voltarem para o lugar de onde vieram!
Frederick deu um passo à frente e o Phill inclinou seu corpo.
- Fred...
- Não - soltou uma risada divertida, sem tirar os olhos do meio-irmão - Você quer me bater? Bata, eu posso bater em você a qualquer minuto.
- Não sei se você percebeu, mas você é uma garota - Fred deu outro passo à frente. - E fraca.
- Não me chame de fraca - fez menção de se levantar, mas seu pai foi mais rápido e segurou seu braço, fazendo com que ela voltasse a se sentar.
- Por Deus, parem de ser idiotas - ele bufou e fixou-se ao lado da filha, ainda segurando seu braço como forma de garantia - Eu vim aqui pra falar algo sério, a última coisa que preciso é de todos os portadores do meu DNA brigando por ai.
fechou os olhos com firmeza, ainda sentindo o sangue correr rápido em suas veias e sua cabeça girar um pouco pela força que usou ao trincar os dentes e manter a mandíbula apertada. Quem a visse assim iria achá-la patética, uma garota idiota com os nervos à flor da pele tentando descontar toda a sua frustração numa demonstração de raiva. Tudo o que menos precisava agora era começar a reafastar as pessoas de si. Talvez tenha sido esse pensamento que a fez ligar para o pai horas atrás, e não a desculpa que deu à si mesma de que estava apenas adiantando o inevitável.
Droga, aquilo a pegou de surpresa. Ainda sentindo o toque da mão de Phillip em seu braço, desvencilou-se e olhou na direção contrária. Era isso! Por mais covarde, ridículo e nojento que seu pai tivesse sido 19 anos atrás, ele ainda era seu pai e ela ainda precisava dele. Ela sabia que precisava dele, só não tinha se dado conta ainda e vê-lo entrando em sua vida de uma hora para outra a desesperou de duas formas. Uma parte lhe dizia para conservá-lo e a outra dizia para afastá-lo novamente. estava começando a ficar cheia de tudo aquilo, ela mesma já estava se confundindo em seus próprios sentimentos!
- Eu sei que você me ligou para que nos encontrássemos e pudéssemos conversar - Phillip falou e a garota o olhou, respirando de forma calma e controlada - Mas eu não posso falar o que eu queria te contar desde que vim pra cá assim, do nada. Não é tão simples.
- Você já fez tantas coisas não-tão-simples na sua vida sem se importar se estava as fazendo rápido demais ou não... - ela sorriu amargurada - Pra quê começar a se importar agora?
- Será que você poderia de ser assim por um minuto? Cara, já se passaram 19 anos, SUPERE ISSO! - Frederick gritou, já sem paciência e o olhou assustada e equivocada - O cara tá aqui, te procurando, pedindo desculpas e dizendo que tem algo importante pra te falar e você continua que nem uma menininha de birra, fala sério!
- Quantos anos você tem? - perguntou, assustando o meio-irmão.
- Dezessete.
- Me fala uma coisa, Frederick, você tá indo pra a faculdade agora, né? Já imaginou como seria ir pra seja-lá-qual-for a faculdade qual você quer ir sem o Phill do seu lado, te orientando e falando que não vai atrapalhar na sua decisão, te apoiando e tudo o mais? Porque eu fiz tudo isso sem ele, as únicas memórias que eu tenho dele são de quando eu tinha quatro anos, antes de acordar e descobrir que meu pai tinha ido viajar e não ia voltar mais - Fred a observou curioso, porque de repente, não parecia mais com raiva, ou confusa, ou qualquer um dos outros sentimentos e reações que tinha demonstrado até agora, era algo diferente... Algo como mágoa - Agora pegue todas as lembranças que você tem dele e tente apagar. Tente imaginar você fazendo tudo isso sem ele e com uma mãe depressiva e alcóolatra.
Ela pausou, olhou o pai, olhou o meio-irmão, e sorriu indiferente, estendendo uma mão na direção do menino.
- Prazer, essa sou eu. .
Frederick olhou a mão estendida, sem saber o que fazer. aumentou o sorriso, dessa vez achando graça da forma envergonhada qual ele tinha adquirido depois de escutá-la falar.
- Pode apertar minha mão, eu não mordo - ela riu e Frederick sorriu de lado, apertando sua mão brevemente. Ao ter o contato rompido, levantou-se e fechou os botões abertos do casaco - Acho que eu já vou pra casa. Quando vocês decidirem me contar pra quê tudo isso, me liguem.
- Eu não quero te contar do nada, ...
- Não me importa - ela cortou o pai e o olhou exasperada - Não me importa! Eu cansei de joguinhos, se você quer que eu me apegue de novo à você pra que depois me abandone, pode ir tirando o cavalo da chuva, isso não vai rolar. Quando você quiser falar o que diabos veio me falar, ai sim eu vou parar de drama, sentar e escutar.
Com um aceno de cabeça, ela passou por Freddie e começou a andar na direção que lembrava ter estacionado o carro.
- Eu vou deixar a empresa pra você.
parou e virou-se para olhar o pai, tentando absorver as palavras que ele acabara de jogar-lhe.
- Eu tenho câncer, você é minha filha mais velha - ele continou, mas o encarava sem reação alguma - Eu vou morrer, , e eu vim aqui pra lhe dizer que tudo o que eu tenho vai ser seu.
Já estava escuro quando estacionou o carro dentro da garagem e desligou o motor, ainda com milhões de pensamentos a rodeando e deixando-a atordoada, extremamente confusa. Soltou um suspiro alto, como se estivesse sem respirar até aquele momento e encostou a testa no volante, com os olhos fechados e tentando esvaziar a mente. Como se esvaziar a mente num momento como aquele? Como poder arrancar da sua cabeça o simples fato de que seu pai está morrendo?
Seu pai estava morrendo.
Ainda era difícil acreditar, imagine como seria desacreditar! Sempre que as coisas pareciam começar a se estabilizar, vinha algo e deixava tudo de cabeça para baixo mais uma vez!
- ? Você chegou? - escutou alguém chamá-la e abriu os olhos.
- ? - perguntou confusa. O que a amiga estaria fazendo ali?
apareceu pela porta que dava para o interior da casa, ela tinha uma das gatas em uma mão o controle remoto na outra. Sorria de um jeito tão divertido que se esqueceu por alguns segundos que sua vida antiga tinha voltado à tona. Por alguns segundos ela quase acreditou que estava sorrindo daquela forma porque tinha provocado e agora correra para , na esperança de que a amiga a salvasse de uma lambida na bochecha.
Mas não estava ali.
- O que você está fazendo ai? - quebrou o silêncio, franzindo o cenho sem entender porque a amiga ainda estava dentro do carro.
- O que você está fazendo aqui? - devolveu a pergunta e ambas riram.
- Lá em casa tava chato e sozinho - a amiga deu de ombros e virou-se para voltar de onde tinha vindo.
abriu a porta do carro, acionando o alarme uma vez que já estava do lado de fora e fechara a porta, e começou a andar atrás dela.
- Você tem uma cadela em casa, , não estava exatamente sozinha.
- Oh, por falar nisso, eu trouxe a Sol comigo - girou o rosto e deu um sorriso rápido pra , fazendo-a balançar a cabeça, sem acreditar naquilo.
- Isso daqui vai virar um zoológico - murmurou e jogou-se num sofá assim que chegaram na sala - Deu comida pra as gatas?
- Acho que se eu der mais, elas explodem! - riu e soltou a gata que estava em sua mão, andou até o sofá onde a amiga estava e sentou ao seu lado - A propósito, eu não sei por onde a Aurora anda.
- Sem problemas - deu de ombros - Às vezes ela some. Contanto que sua cachorra da cara amassada não tenha dado uns creus nela, tá tudo bem.
riu e deu um tapa em . As duas ficaram caladas e encararam a televisão. Depois de algum tempo sem falar nada e só prestando atenção na imagem, adivinhou qual filme era e torceu o nariz, mudando de canal.
- Ei! Eu queria assistir o final daquilo.
- , me poupe, esse é o pior filme que já fizeram da Mulher Gato! - escutou-a bufar, mas ignorou, ainda mudando os canais, procurando algo que a distraisse.
- Onde você estava? Pensei que ia vir pra casa e dormir a tarde inteira.
parou de zapear e olhou a amiga. Engoliu em seco e pousou o controle no espaço ao lado.
- Com meu pai.
- Seu pai?
Ela confirmou com a cabeça e as duas voltaram ao ficar em silêncio. encarou todos os pontos da sala, antes de voltar a falar.
- Como foi?
- Eu descobri por que ele veio me procurar - aquilo fez com que se sobressaltasse, virando o corpo e olhando com os olhos arregalados - Não é o melhor motivo, sabe como é.
- Não entendi.
O pior em tudo aquilo não era convencer a si mesma de que era verdade. O pior em tudo aquilo era permitir que sua própria boca soltasse aquelas palavras para que os outros também fossem forçados a acreditar.
- Eu vou ficar com tudo o que ele tem - voltou a arregalar os olhos e desviou seu olhar da televisão, encarando a amiga e respirando fundo - Ele tem câncer de pele, ... Meu pai vai morrer e me procurou pra dizer que tudo vai ficar no meu nome.
continuou calada e as duas continuaram se encarando. não sabia o que esperar, não sabia se tinha contado aquilo simplesmente porque era ou se esperava alguma palavra de consolo, ou que a amiga a desmentisse e dissesse que era tudo uma brincadeira. Mas não aconteceu nada disso. apenas a olhou com aquela expressão de quem não sabia o que falar, e percebeu que tinha um pouco das duas intenções em tudo aquilo.
No fundo ela sempre esperava que houvesse consolo.
- Vai ficar tudo bem, não vai? - ela não agüentou o silêncio e quebrou o contato ocular, virando o corpo de lado e encostando a cabeça no ombro da amiga, voltando a prender os olhos na televisão.
O que dizer para uma das pessoas que mais lhe importam quando tudo só parece ficar pior? O que dizer pra alguém que só precisava de coisas que dessem certo, mas parece só receber o oposto?
suspirou, e apoiou sua cabeça em cima da de , também cravando o olhar num ponto qualquer da tela de plasma.
Como dizer pra sua melhor amiga que talvez nada melhore e que sua vida está prestes a mudar completamente?
- Tá tudo bem, . Tudo vai ficar bem.
Capítulo 38
escutou a porta ser fechada e encostou o corpo com força na cadeira, pensando em como editaria tantas fotos em tão pouco tempo quando tantos pensamentos atormentavam sua mente. As coisas estavam acontecendo de uma forma tão rápida e desconexa que ela tinha esquecido completamente sobre seu trabalho. Se não fosse por lhe acordando à tapas dizendo que se atrasaria, ela ainda iria estar em sua cama nesse momento, e não na sua sala, no prédio da TOTP, depois de receber a notícia de que teria que editar as fotos de um photoshoot para o final daquela mesma tarde. Por Deus, ela nem sabia onde estavam as tais fotos!
Suspirou pesado e fechou os olhos, tentando lembrar em qual gaveta tinha colocado a pasta com as malditas fotos, mas tudo que lhe veio em mente foi a conversa que tivera com o pai na manhã do dia anterior e rostos, os rostos de seus amigos. Ela sentia tanta saudade que às vezes parecia difícil respirar, e olha que eles só tinham saído há um dia.
- ?
abriu os olhos e viu a cabeça de aparecendo por uma fresta da sua porta. Sorriu, contente por um rosto amigo, e sorriu de volta, entrando na sala e seguindo para sentar na cadeira em frente à mesa da amiga.
- Então, a que devo sua bela visita? - perguntou, ainda sorrindo.
- Tédio! Terminei minha matéria desse mês e pensei em vir aqui perguntar se você não queria dar um tempo pra ir tomar um café - fez uma careta e apontou pra uma pilha de papéis em cima da mesa - Me parecem bem estressantes!
- Você não tem idéia do quanto - deu uma olhada rápida nos papéis acumulados e logo voltou sua atenção à - Obrigada por me salvar, amiga.
A outra apenas sorriu e pegou sua bolsa em cima de uma das cadeiras, seguindo para fora da sala.
A cafeteria não era muito longe dali. Geralmente, quando as duas estavam no horário de almoço ou tinham minutos a mais para descançar, elas corriam para a Starbucks mais perto e perdiam alguns minutos batendo papo, comendo e bebendo, mas era começo de ano e as matérias andavam tão corridas que elas tinham que cortar ao meio suas pausas obrigatórias para que pudessem fazer o trabalho bem feito. Ou seja, sem Starbucks em horário de trabalho, tendo de se conformar com os cafés servidos na lanchonete do térreo.
- O já te ligou? - perguntou assim que elas entraram no elevador.
perdeu alguns minutos olhando para o painel e a amiga entendeu que isso era um sim.
- não me ligou.
- Ele deve tá ocupado...
- Mas o Tom me ligou! - tentou demonstrar animação e as portas se abriram. Quarto andar. - Tá tudo bem, o não é mais obrigado a me ligar nem nada do tipo, eles chegaram cansados. - as duas sorriram para uma mulher de meia idade que entrou no elevador e as portas voltaram a se fechar - Na verdade, o Tom só queria saber se a casa ainda tava inteira e avisar que o avião não tinha caído.
- O disse que ia te ligar - falou afobada e riu.
- Amiga, como se aqueles infelizes não fossem enrrolados. - ela deu de ombros e as duas saíram do elevador - Eles devem me ligar mais à noite, não sei. - fez uma careta para si mesma - Ah, tanto faz! Eu tenho tanto trabalho pra hoje que nem vou lembrar que eles existem.
- Eu queria não lembrar que eles existem, mas adiantei tudo e tenho a tarde toda livre - levantou as sobrancelhas, incrédula, e movimentou a cabeça, confirmando - Não tenha a mínima idéia do que vou fazer. Ali, vamos sentar naquela mesa.
Elas andaram até uma mesa perto da grande janela de vidro, por onde era possível ver todo o movimento da rua e pediram seus cafés assim que a garçonete se aproximou. ainda parecia incomodada com alguma coisa, olhando pra os lados a todo momento e um pouco tensa demais. franziu a testa, confusa por a amiga estar assim. O que diabos estava acontecendo que ela não sabia?
- Tá tudo bem? - ela perguntou em voz baixa tentanto não chamar atenção das poucas pessoas nas mesas próximas - ! - a olhou e sorriu - Tá tudo bem?
- Tá! Quer dizer, não... Awn, , eu não fui na sua sala só pra te chamar pra tomar um café - fez uma careta desapontada e olhou pra baixo, fazendo sorrir mais ainda.
Afinal, o que restava a fazer? Sorrir havia se tornado o ato mais natural e apropriado nos últimos dias.
- O que foi, amiga? - ela batucou os dedos na mesa e olhou para o balcão antes de voltar a falar - Por que você tá inquieta?
- Por sua causa! - levantou os braços e bufou, suspendeu as sobrancelhas com um ar de diversão e a outra riu - Ok, não soou como eu esperava, mas você entendeu.
mexeu a cabeça de um lado para o outro, pesando as palavras que tinha escutado.
- Eu estou te deixando agoniada?
- É! Quer dizer, não exatamente. Sua situação tá me deixando assim e o fato de eu não saber como te ajudar com toda essa merda!
- - sorriu - Você não precisa me ajudar. Além de quê, não tem como você me ajudar. Só o fato de você ter me escutado e estar do meu lado já é o bastante, acredite, não é como se eu esperasse que você fosse me aparecer com uma solução pra tudo isso ou uma cura pra o câncer!
- Eu não sou tão esperta a esse ponto - falou emburrada e as duas riram - Sério, desculpa por não parecer que eu quero ajudar, é só que eu não sei como. Mas eu me preocupo.
- Arran, e por acaso, tem um jeito muito cativante de dizer isso - fez uma cara irônica e a amiga lhe deu língua - Eu não estou com muita fome, se você quer saber...
- Não, querida, eu não quero saber, e eu te chamei pra tomar um café, não pra comer.
- Chata - bufou e sentiu algo vibrar - Ops, acho que alguém lembrou de mim.
Sorrindo, ela abriu a bolsa que estava em seu colo e remexeu um pouco antes de achar o aparelho celular, que ainda vibrava e tinha o nome estampado na tela. continuou sorrindo e mostrou o aparelho à , que soltou uma gargalhada.
- Antes tarde do que nunca! Faz meu pedido? Vou aproveitar a deixa e ir ao banheiro.
mordeu os lábios e concordou com um aceno de cabeça, abrindo o flip e encostando o eletrônico no ouvido.
- Alô - tentou parecer casual, mas jurou ter sentido a própria voz tremer ao escutar a si mesma.
- Alô, fofa! Tudo em cima por ai? - a voz de pareceu tão leve e próxima que mal parecia sair de um celular - Aqui faz tanto calor que você não tem idéia! O não pára de reclamar que a não sai do sol, doidera.
- Imagino - a garota riu e fez um sinal para a garçonete, que se aproximou - Já fizeram algum progresso ou tão só de perna pra cima?
- Mas que calúnia! - exclamou e fez um barulho estranho com a boca, sabia que ele deveria estar passando a mão livre pelo cabelo nesse exato momento - Nós estamos adquirindo um pouco de conhecimento local.
- Hm. Sei. Quantas você já catou?
- Não cato ninguém, gatinha, sou só seu.
sentiu suas bochechas esquentarem e pigarreou ao perceber que a moça que trabalhava no café já se encontrava parada ao seu lado.
- Dois capuccinos com chantilly - disse enquanto tapava o celular e assim que a atendente se afastou, ela tirou a mão, colocando uma mexa de cabelo atrás da orelha com a outra - Desculpe, , eu tava falando com a garçonete, o que você tinha dito mesmo?
- Nada demais, deixa pra lá - ele ficou em silêncio por alguns instantes - Como tão as coisas por ai?
Era o momento que ela esperava evitar, mas que nunca conseguia.
- Normais. Muito trabalho, tenho umas fotos pra editar que não tenho a mínima idéia de onde estão, me chamou pra tomar um café e eu falei com meu pai ontem.
Ela tentou parecer casual falando aquilo. Quem sabe se prendesse ao fato de que ela estava tendo problemas com seu trabalho, e não trabalho com seu pai problemático.
- Você o quê? Deus, , mas que merda, como você não me conta isso? - praticamente gritou e escutou um barulho do outro lado, em seguida alguém falando - Não, não foi nada, , pára de encher o saco - o som de passos abafados deu a entender de que o garoto estava subindo escadas e fez uma cara feia pra quando a viu se aproximar - Espera um minuto, tá?
- Uhum - ela concordou e sentou-se à mesa, franzindo a testa sem entender - Longa conversa, algum problema?
- Não - a amiga negou com a cabeça e ajudou a garçonete, que chegava com os pedidos - Posso presenciar mais um drama.
- Bom saber - soltou uma risadinha, mas logo ficou séria ao perceber a linha muda - ? Você ainda tá ai?
- Tô sim, tô sim... Ai droga, derrubei essa merda da , ela vai cortar o meu pescoço...
- ? Tá tudo bem?
- Tá, sem problemas! - escutou um barulho estranho e logo tudo voltou ao silêncio - Pronto, agora pode me contar o que aconteceu?
- Ain, , mas que drama! Eu liguei pra ele logo quando saí do aeroporto pra resolver logo tudo isso e a gente se encontrou na London Eye, conversamos, eu descobri que tenho um irmão adolescente muito irritante e só.
- Só? Sem drama familiar dessa vez? Ah, cara, eu já ia preparar a pipoca! - fez uma voz indignada e a garota riu - Não, sério, o que ele queria?
- Nada demais - mordeu o lábio e olhou pra , que lhe encarava com um olhar de repreensão - Voltar a ter contato, sabe como é.
- Sei... E você?
- Acho que tudo bem, talvez eu tenha julgado ele por anos demais. Eu já sou uma adulta agora, não sou? Posso voltar a falar com ele numa boa, não é muito legal guardar mágoas.
- Espera um minuto, fofa, acho que tá rolando uma lágrima de orgulho pela minha bochecha agora, tenho que parar pra limpar.
- Ah, cala a boca! - soltou outra risada e tomou um gole de seu capuccino. fez um movimento de corte com a mão a fazendo voltar a rir - Olha, , eu tenho que desligar agora, você conhece o humor de quando ela é ignorada. A gente se fala depois?
- Sem problemas. Manda um beijo pra ela, e eu te ligo mais tarde, pode ser? - sorriu e fez um barulho com a boca em concordância, a voz de em seguida soou tão doce que ela podia jurar que o garoto sorria - Tudo bem então. Promete ligar pro seu pai?
- ...
- Promete? Marquem de sair hoje. Se conheçam, ora bolas!
Ela riu outra vez e pousou a xícara de volta no pires.
- Vou tentar. Promete trabalhar um pouco e garantir algum dinheiro, fama e fãs insanas?
sorriu e balançou a cabeça ao escutar a conversa.
- Sempre.
escutou o barulho da linha sendo desligada e fechou o celular, o jogando de forma prática e rápida de volta à bolsa.
- Certo, posso perguntar agora ou tenho que esperar um pouco? - perguntou depois de tomar o último gole de seu capuccino e a olhou sobre sua própria xícara, que estava de volta à sua mão - Não me olhe desse jeito, , não vai fazer com que eu seja menos dura com você.
- O que você queria que eu fizesse? - perguntou alto e logo olhou envolta, se certificando de que não tinha atraído atenção e baixando o tom de voz - O que diabos você queria que eu fizesse? Que dissesse pra ele, no meio da tarde, pelo telefone, que meu pai acabou de me dizer que vai bater as botas e me deixar milionária?
- Bilionária. E sim, você poderia muito bem fazer tudo isso, uma vez que o seu relacionamento com o foi por água abaixo porque você não falava nada! - as duas continuaram se encarando e fechou os olhos com força, respirando fundo antes de voltar a falar - Olha só, eu entendo seus motivos, amiga, de verdade, eu te conheço, por mais difícil que seja, mas o que você fez agora não foi legal. Você mentiu!
- Eu não menti - negou e fez cara feia.
- Claro que mentiu! Você disse que não tinha nada demais, você falou que só tinham acontecido aquelas coisas e mais nada, isso foi mentir! Agora, qual vai ser a história que você vai inventar pra contar a ele que seu pai tá doente, huh? - levantou o braço e apontou pra a janela - Vai dizer que vocês marcaram de fazer compras e enquanto você tava no provador ele simplesmente te falou? Vai dizer que ele marcou um jantar e te contou tudo? Porque você vai precisar de um álibi enorme pra conter todos os detalhes que o vai pedir.
balançou a cabeça e evitou olhar para a amiga. A verdade que todas aquelas palavras exalavam a estava sufocando e a deixando totalmente desconfortável. Ela sabia que estava certa em tudo o que acabara de falar. Sabia que tinha agido de forma hipócrita e completamente impulsiva ao não dizer a o que estava passando. Mas o que não entendia era que já estava sendo difícil demais para parar ao seu lado e tentar ter uma conversa normal com ela sem que note a forma qual a amiga a olhava, como se estivesse com medo de que ela entrasse em colapso a qualquer momento, um olhar de pena. Se já se preocupava demais com coisas insignificantes, imagina só se ele soubesse que a garota estava passando uma dessas! Ele nem ao menos pararia para escrever músicas ou gravar, a ligaria a todo o momento e iria querer saber até mesmo dos horários os quais ela foi ao banheiro. Sem nenhum progresso musical nisso tudo.
O que não tinha percebido naquilo tudo é que não estava agindo de forma egoísta. Ela estava poupando a si mesma de se sentir mal pela forma qual os outros a tratariam e também tentando não atrapalhar no trabalho deles, naquilo pelo qual eles tinham atravessado meio mundo. estava cheia de perturbar a vida dos outros com seus dramas.
- Olha só, eu não tô falando isso só pelo - voltou a falar, ainda olhando para o movimento na rua - Será que você não consegue entender o quão inútil eu estou me sentindo? , eu te vejo com esse olhar perdido, sem saber o que falar, o que fazer, o que pensar! Você nem ao menos está conseguindo trabalhar direito e eu sei o porquê de tudo isso e não tenho como ajudar! - tentou falar algo, mas a cortou, desviando o olhar da rua e pousando-o sobre o rosto da amiga. Ela tinha os olhos marejados e uma feição triste que fez com que o coração de se jogasse contra suas costelas por saber que era a causa disso - Será que você não entende que, se o ou os outros souberem eles podem tentar ajudar?
- Não é um bicho de sete cabeças, - sorriu e passou uma das mãos sobre a toalha que forrava a mesa - Ele vai morrer, só isso. Eu posso lidar com a morte, todos nós podemos.
balançou a cabeça num movimento negativo e limpou algumas lágrimas que caíam.
- Você ainda não entendeu, não é? - falou com a voz embargada e arriscou um sorriso, só obtendo um fracasso - Você sempre conseguia me tirar do sério e dizer que eu era a lenta e ingênua do grupo e agora é você quem não entende - ela sorriu irônica e prendeu seu olhar marejado no de - , seu pai mora na Itália, ele tem uma família lá, a sede da empresa lá... Será que você ainda não entendeu? - negou com um aceno de cabeça - Você acha realmente que ele vai querer que você fique aqui em Londres enquanto ele morre em Veneza e então você recebe uma ligação contando tudo? Ou acha que vai administrar as coisas por telefone ou deixar tudo na mão do seu irmão de 17 anos? - fez um cara confusa e intensificou o olhar, prendendo a respiração ao falar o que estivera pensando na última noite - Você acha realmente que vai continuar morando em Londres?
Eram sete e meia quando fechou a janela no computador e puxou a última foto da impressora profissional, colocando o papel fotográfico recém-imprimido junto aos outros na pasta e colando um post it já escrito antecipadamente na frente. Respirou fundo ao perceber que não restava mais nada e apertou o botão de desligar do notebook, esperando até que a tela ficasse completamente preta para que o colocasse em sua pasta.
Espreguiçou-se ao levantar da cadeira, colocando a bolsa em um ombro, a mala com o notebook na outra e a pasta de fotos na que sobrava. Desviou dos móveis e - sem saber como - viu-se fora de sua sala. Talvez não estivesse em casa dormindo e topasse ir dormir na casa grande mais uma vez, não queria ficar sozinha. Mas talvez devesse. A conversa de hoje mais cedo ainda estava fresca e talvez as duas precisassem de mais um tempo para pensar, assim como das outras vezes, tudo estava acontecendo rápido demais para que desse tempo que todos respirassem.
Deixando as fotos numa caixinha de acrílico pendurada ao lado da porta do escritório de seu chefe, girou os calcanhares e dirigiu-se ao elevador, agradecendo pelo dia ter finalmente acabado. Não via a hora de chegar em casa, preparar algo rápido, tomar um copo de chá e deitar no sofá para ver um pouco de televisão. Ela estava se sentindo tão cansada que talvez até deixasse as gatas dormirem em sua cama essa noite.
Foi quando ela já estava no carro no caminho de casa que escutou seu celular tocar. Levou um susto, pois esquecera que tinha o tirado do vibratório e não esperava um barulho naquele volume. Por sorte, mais alguns metros à frente o próximo sinal tinha acabado de fechar e parou nele, puxando o freio-de-mão e pegando o celular de dentro da bolsa o mais rápido que pôde.
Não reconheceu o número na bina.
- Alô - atendeu casualmente, equilibrando o celular no ombro e tirando o freio-de-mão e pisando no acelerador, fazendo o carro voltar ao movimento.
- Filha?
sentiu o coração dar um solavanco e mordeu os lábios, tentando permanecer totalmente atenta ao trânsito. Nunca andar de carro e falar ao telefone tinha lhe aparentado ser algo tão complexo.
- Oi - ela respondeu simpática - Tudo bem?
- Tudo, tudo sim... E você? - Phillip perguntou e, antes que a filha tivesse oportunidade de responder, já a cortou, com a voz afobada e claramente ansiosa - Olha, eu te liguei porque eu ia descer pra tomar um chá com o Frederick e, não sei, passou pela minha mente que talvez você também quisesse.
Eu também quero, deixou-se pensar e sorriu, ainda se sentindo meio insegura por estar deixando o pai entrar em sua vida daquela forma. Mas tinha dito que tudo bem, certo? O que teria de mal nisso? Ele parecia realmente precisar dela e realmente arrependido. Todos merecem uma segunda chance.
Disso entendia muito bem.
- Pode ser. Eu tô saindo do trabalho agora, se você me disser em qual hotel vocês estão eu posso passar e levar a gente pra um lugar legal.
- Nós estamos no Hilton Paddington.
Claro que estavam.
- Ok, tô passando ai em 20 minutos, estejam na portaria - foi breve, desligando o celular e jogando-o no banco do passageiro.
Ela teria que correr mais um pouco para chegar lá em 20 minutos, mas não seria problema, e trânsito parecia concordar com suas expectativas.
Phillip e Frederick estavam parados do lado de fora do hotel, conversando casualmente. buzinou levemente para chamar atenção e os dois andaram até o carro, entrando o mais novo no banco traseiro e seu pai no banco do passageiro. Ela respirou fundo quando as duas portas foram fechadas.
- Vocês já jantaram? - perguntou com um sorriso e seu pai a olhou contente.
- Na verdade não, estávamos esperando que você nos indicasse um lugar.
Ela riu, e concordou com a cabeça, voltando a fazer o carro andar.
- Nós podemos ir no Nobu, é logo aqui na rua de trás e a comida é ótima - sugeriu e olhou para Fred pelo retrovisor, vendo o garoto dar de ombros - Tudo bem pro senhor?
Ao olhar o pai, toda a onda de medo voltou a percorrer-lhe. Ele sorria satisfeito e feliz. Mas ele iria morrer! Ela estava ali, de frente do seu pai completamente feliz e sabia que não aproveitaria aquilo. Talvez fazer tudo aquilo não fosse tão fácil quanto pensara.
Ela parou o carro em frente ao Nobu e desceu junto com os outros, o manobrista apareceu num passe de mágica e sorriu-lhe de forma cordial. Ela devolveu o sorriso, entregando a chave e andou até o pequeno balcão para pegar o papel.
- Woah - escutou a voz de Fred mais atrás e prendeu um sorriso, voltando ao lugar o qual tinha deixado os dois.
- Eu pensei que você ia trazer a gente pra uma lanchonete, não pra um restaurante desse porte.
sorriu.
- Sem problemas, você paga.
Eles riram e andaram em direção à entrada. virou-se para olhar os manobristas atrás, mas nenhum deles olhavam para os três, nenhum deles tinha notado o enorme passo que ela acabara de dar, ninguém notara que ela estava tentando construir uma família.
Capítulo 39
passou o copo de café que segurava em uma das mãos para a outra e se abaixou para pegar uma das sacolas que Fred tinha deixado cair. Ele andava mais à frente, apontando para a vitrine de algumas lojas e soltando piadinhas para o pai, que ria e concordava apenas com um aceno de cabeça. balançou a sua própria e sorriu displicente, eles pareciam duas crianças! Com um suspiro, ela voltou a andar para que pudesse acompanhá-los, sentindo-se meio que uma babá. Babás teriam um trabalho tremendo com aqueles dois!
- Frederick - ela chamou quando já estava mais próxima e o meio-irmão virou-se para olhá-la - Presta atenção, moleque, você deixou isso cair.
O garoto sorriu e pegou a sacola, dando de ombros.
- Eu tinha comprado pra você mesmo, não ia fazer tanta diferença se eu perdesse.
sorriu sarcástica e deu um tapa de leve em sua cabeça, fazendo-o reclamar com uma careta. Onde ele tinha aprendido a ser assim? Ele deveria ser um garoto educado, e não um irônico respondão.
Deus, ele era tão ela!
- Certo, acho que vocês já perderam muito tempo na Harrods, e eu realmente preciso ir trabalhar - olhou para o pai, que concordou.
- Sem problemas, nós estamos tomando muito o seu tempo...
- Não, não é isso! - ela sorriu, tentando não passar essa idéia - É que uma banda vai gravar hoje em um dos estúdios e eu preciso tirar as fotos, toda aquela história.
- Eu posso ir?
parou de andar e olhou para o meio-irmão.
- Eu te disse que quero fazer fotografia também, . Posso ir com você?
Ela mordeu o lábio e procurou na memória alguma clausula na empresa que impedisse a ida de familiares ao trabalho ou coisa do tipo, mas mesmo que houvesse, ela não achou motivo algum para que não pudesse levar Frederick consigo. Era uma fotógrafa competende e a equipe a adorava, ninguém se incomodaria com uma pessoa a mais observando tudo.
Bem, ela se incomodaria. Não que não estivesse gostando da manhã que tivera com os dois, pelo contrário, estava sendo divertida e realmente proveitosa. Depois do jantar na noite antepassada ela percebeu que eles eram melhores do que poderia imaginar e não dar uma chance a tudo isso seria completamente estúpido de sua parte. Mas também precisava de um tempo para si. Seu trabalho era um tempo pra si, deixar Frederick e seu pai fazerem compras com ela, jantarem ou ligarem para ela era uma coisa. Levar um deles ao trabalho era algo completamente diferente. Era real, era a confirmação de que eles estavam mesmo entrando em sua vida.
- Tudo bem - ela viu-se correndo mais um risco e tentou não se importar demais - O hotel é aqui perto, nós deixamos o Phillip e seguimos pra lá, pode ser?
O garoto concordou com a cabeça e os três seguiram para onde o carro estava estacionado. A mente de trabalhava à mil por hora, tentando descobrir como lidaria com Fred e o fato de que ele estava se infiltrando de verdade em sua vida.
- Então, como isso funciona? - Frederick falou assim que tirou o carro da frente do hotel, depois da saída de seu pai - Esse lance que você vai fazer agora, como é que funciona?
- Você não sabe? Pensei que queria fazer fotografia - sorriu sem o olhar e pôde o escutar bufando - Ok, eu entendi, Frederick, eu entendi. A coisa é simples, eu trabalho pra essa empresa que tem um programa de televisão, revista e tudo o mais, e eu tiro fotos pra ela.
- Mas você é exclusiva?
- Hm, não mais - fez uma careta pra si mesma - Eu pedi pra tirar minha exclusividade quando anunciei que ia sair. Mas não fiz muitos trabalhos pra fora de lá não.
- Desde quando você decidiu sair de lá?
olhou rapidamente pra Fred e logo voltou a prestar atenção no trânsito.
- Quase um mês. Você sabia que eu comecei lá como colunista? - ela sorriu e viu ele concordando com a cabeça - Eu tinha transferido meu curso de fotografia de Edimburgo pra Londres e fui lá só pra conseguir um estágio, mas eles acabaram me oferencendo uma coluna pequena. Na verdade, eu achava que quase ninguém lia, era um daqueles tipos de notas no início da revista, tipo show do mês, viagem do mês, dica do mês... Essas coisas - o garoto fez um barulho com a boca para indicar que estava escutando e ela sorriu abobada. tinha essa mania de fazer barulhos com a boca - Então quando eu terminei a faculdade, mostrei meu currículo e consegui três meses de teste, depois eles me contrataram de vez e com mais ou menos um ano me tornaram exclusiva de lá.
- Certo, historinha legal, mas ainda não entendi aonde você quer chegar.
Por alguns segundos - incrivelmente - tinha esquecido como Frederick poderia ser irritante.
- Eu pensei que como tinha começado lá e conquistado toda uma carreira na Top of The Pops, não iria querer sair. Mas acho que com o tempo, quando a gente vai crescendo e amadurecendo, nada se torna suficiente - ela fez outra careta, era estranho contar sua história pra alguém que normalmente deveria saber tudo isso. Quer dizer, ele era seu irmão, ou meio-irmão, tanto faz - Não que eu ache lá pouco demais ou coisa assim, nunca! É um ótimo trabalho com ótimas pessoas... Mas eu quero mais pra mim, sabe?
Frederick concordou com um aceno de cabeça e ficou mais quieto do que antes, apenas olhando pra fora da janela.
- A culpa não é minha, sabia? - ele falou depois de um tempo.
o olhou, confusa.
- Quê?
- A culpa não é minha. Do papai ter te abandonado - Frederick ainda olhava para o lado de fora e sentiu a garganta secar - Ele ainda não conhecia minha mãe quando te deixou, então, não sinta isso que você tá sentindo por mim.
- O que você tá falando?
O que diabos aquele garoto estava falando? O coração de acelerou e ela viu o prédio ao longe. Acelerou um pouco mais o carro, para que chegassem mais rápido e evitasse aquela conversa.
- Eu sei que você tá tentando ser legal, mas eu não sou tão idiota assim, . Querendo ou não você acha que eu sou o motivo pra o velho ter saído de casa. E olha, eu agiria da mesma forma que você - ele parou de olhar para o lado de fora assim que o carro parou. Cravou seus olhos no da irmã e tentou parecer o mais calmo possível - Eu só quero que você saiba que eu não tenho nada a ver com isso, então o seu problema não é comigo.
- Frederick - ela falou tranquila e deu um sorriso amarelo - O meu problema não é com ninguém mais além de mim mesma. Então, vamos trabalhar?
Ele concordou com um aceno de cabeça e os dois abriram as portas, respirando fundo ao mesmo tempo em que sentiram o ar em movimento bater em seus rostos trazendo aquela sensação de alívio.
andava à frente, cumprimentando algumas pessoas e sorrindo para outras. Assim que chegaram à entrada, a garota cumprimentou - alegremente - o segurança e parou, pegando sua bolsa e começando a procurar algo lá dentro. Depois de alguns segundos ela tirou um saquinho de onde saíram dois crachás, entregou um para Frederick e colocou o outro em seu próprio pescoço.
O garoto leu a palavra "Visitante" escrita em seu próprio crachá e voltou a olhar para o segurança, que sorria para a garota e abria a porta para que os dois passassem.
O stúdio em si não era muito grande. A porta dava para um corredor comprido com várias portas, tendo seu final em uma curva para outro corredor, e do outro lado a entrada para uma escada.
- Certo... Aqui embaixo são os camarins e dobrando aquele corredor você chega até a lanchonete, lá em cima é pra onde nós vamos - sorriu divertida e piscou - É onde toda a magia acontece.
- Isso é basicamente o que eu digo do meu quarto - Fred brincou e os dois riram, seguindo até a escada.
- Essa escada vai dar em outro corredor, onde têm várias salas pra os técnicos, inclusive uma pra mim, a fotógrafa, e no final ele tem uma porta pra o cenário onde a gente vai gravar, o bom em tudo isso é que não corre risco de nenhum artista idiota se perder.
- Quem se perderia numa coisa dessas?
riu e eles chegaram no corredor, ela andou até a segunda porta onde tinha uma plaquinha com algo escrito e sorriu pra o meio-irmão enquanto a abria.
- Acredite, você não vai querer saber quantas vezes já se perdeu em um stúdio.
- Eu não sei como você consegue conviver com caras como eles - Frederick riu e se sentou num sofá que tinha por ali, andou até um canto onde tinham vários acessórios fotográficos e colocou no chão uma maleta que estava em suas mãos - Tipo, os caras são bons, eu não vou mentir, eles fazem uma ótima música.
- É, baby, eles fazem - sorriu divertida e ele lhe deu dedo, fazendo-a gargalhar.
- Mas, de verdade? Eles parecem uns gayzinhos - Fred levantou os braços e colocou atrás da cabeça, observando a sala onde estava - Você tem talento, tem jeito pra a coisa, e agora vai ter a nossa empresa! Não vai precisar mais desses idiotas te enchendo.
- Vai com calma, Olwash, eles continuam sendo a família que seu pai não foi.
Frederick balançou a cabeça, como se estivesse analisando o que ela tinha dito e andou até um frigobar no canto, abrindo-o e pegando uma cerveja.
- Olwash... Olha que forte, isso sim é um sobrenome, que você poderia ainda ter. , quando você assumir tudo isso, quando você vir a dimensão do dinheiro, do poder. Vou te dizer uma coisa - ele sorriu e bebeu um gole da bebida, usando em seguida a mão qual segurava a garrafa para apontar na direção dela, que o olhava com as sobrancelhas erguidas - Você não vai nem lembrar quem ou o quê é McFly.
- Não, seu imbecil, deixa eu te dizer uma coisa - se levantou e colocou as mãos na cintura, o olhando incrédula - Eu não estou nisso por causa do dinheiro, ok? Foda-se a porra do seu dinheiro e do seu sobrenome, eu não faço questão alguma disso tudo. Eu trabalho nisso, eu convivo com essas pessoas porque eu gosto, porque isso faz com que eu me sinta bem - ela passou uma mão pelo rosto, sentindo a irritação começar a extrapolar. O que diabos aquele garoto tinha na cabeça? Ele não tinha a mínima idéia do que estava falando - É por essa razão que eu permiti que você viesse até aqui, Frederick, por essa razão que eu estou falando com o Phillip como se visse ele todos os finais de semana e brincando com você como se tivéssemos crescido juntos. Porque vocês têm o meu sangue e, pela lógica, também deveriam fazer com que eu me sinta bem - houve uma batida na porta, mas nenhum dos dois desviou o olhar, a garota sorriu cínica - Seu pai está morrendo, idiota. Faça o favor de não estragar isso.
Ela andou até a porta e a abriu. Um cara com óculos escuros sorriu para ela, que apenas fez uma careta.
- As coisas já estão no chão, você não precisa de ajuda, certo? Já estou indo pra o stúdio - virou-se e indicou com a cabeça o sofá onde Fred ainda estava sentado, olhando-a com a boca encostada no gargalo da garrafa de cerveja - E tome a bebida do garoto, ele é menor de idade.
Dito isso, saiu da sala e bateu a porta com força, tentando tirar de sua mente as imagens das possíveis mortes que poderia proporcionar ao meio-irmão.
Faziam 30 minutos que eles estavam dentro do carro. batucava os dedos no volante no ritmo da música que tocava na rádio e escutava, vez ou outra, Frederick cantarolar baixinho. Eles não tinham se falado direito desde a discussão horas atrás, lhe dirigia a menor quantidade de palavras possíveis, com medo de o garoto a atacar novamente, e ele simplesmente não vira mais necessidade de trocar alguma palavras com a meia-irmã. Não lhe parecia conveniente.
- Ainda falta muito? - escutou depois de mais alguns minutos.
Virou-se para olhar e Fred encarava os carros parados no engarrafamento, com uma das mãos na janela. Ele virou-se e olhou para ela.
- Ainda falta muito pra chegar no hotel? - repetiu a pergunta de forma infantil. apenas negou com a cabeça - Aqui é sempre tão engarrafado assim?
- Nesse horário quase sempre. Já virou rotina, eu mal sinto.
- Em Veneza é tão mais simples - ele resmungou e voltou a olhar pela janela - Você vai gostar de lá.
- Parece ser um lugar bem bonito - sorriu, e os carros andaram um longo trecho, a deixando mais calma - Talvez eu visite você com frequência, se você prometer se comportar e agir como gente civilizada.
Frederick riu.
- Como assim me visitar? - ele perguntou confuso e o olhou - Tá ficando maluca ou o quê?
Um carro buzinou no fundo deles e apertou o acelerador, começando a andar normalmente e dobrando na esquina seguinte, se livrando do engarrafamento no qual estava.
- É, quando tudo isso acabar e tudo o mais... Vai ver eu vá algumas vezes pra lá e te visite. Algo de mais nisso?
- Caramba, você pode ser realmente burra às vezes, não é?
- Você não cansa de me xingar?
- Você não cansa de ser ingênua?
sentiu um solavanco no estômago e lembrou das palavras de na lanchonete, dias atrás. Você sempre conseguia me tirar do sério e dizer que eu era a lenta e ingênua do grupo e agora é você quem não entende, foram as palavras dela. Mas o que não entendia? O que ela estava deixando passar naquilo tudo que deixava o nervo de todos tão à flor da pele?
O carro parou em frente ao hotel e Frederick abriu a porta, mas a garota segurou seu braço, impedindo que ele saisse e fazendo-o a olhar.
- Olha, tem algo nisso tudo que eu não sei? - ela perguntou, sentindo a respiração mais rápida cortar seus lábios e caírem na noite.
- Eu não sei o que você sabe ou deixa de saber, . Não tenho como responder isso. - ele se soltou do braço dela e desceu do carro, fechando a porta num estrondo. Os dois continuaram se encarando por mais alguns segundos como de costume e Frederick voltou a falar - Mas se tiver algo que você queira saber, eu posso te contar.
Ela concordou com a cabeça e voltou para a frente do volante, mas teve outro lampejo.
- Frederick! - quase gritou e o garoto virou-se para olhá-la outra vez - Diz pro Phillip que da próxima vez eu ligo pra ele.
O garoto concordou e fez um aceno com a cabeça, andando em passos rápidos até a porta do hotel, como se tivesse medo de que pudesse lhe fazer outra pergunta. Como se tivesse medo de dar as respostas.
tirou o carro de frente do hotel e pegou a rota para chegar em casa. Sua cabeça martelava e procurava os motivos, procurava saber, procurava razões. Por que as pessoas estavam falando coisas daquele jeito? Por que agia como se soubesse de algo, mas tivesse medo de falar? Por que diabos o seu coração parecia querer se suicidar cada vez que batia contra suas costelas e ela não tinha a mínima noção do por quê?
O carro parou no sinal vermelho e olhou a cor intensa, sentindo-a penetrando em sua mente. Pensou na Inglaterra, na Grã-Betanha, em Londres, em como gostava de tudo aquilo, em como tinha construído toda a sua vida ali, seus amigos ali. O sinal mudou para o amarelo e os pensamentos de se perderam. Seus olhos saíram de foco e de repente tudo pareceu entrar em sua mente de uma vez só. Então o sinal ficou verde. Por um segundo ela se sentiu estúpida, sentiu-se a pessoa mais estúpida do mundo por não ter notado aquilo desde o começo. A pessoa mais estúpida por ter rido de e dito que ela estava cansada e preocupada demais com o que não deveria. Estúpida por ter bloqueado algo tão claro. Ela sabia, todo o tempo ela sabia, só não queria admitir à si mesma. Ela teria que ir embora, droga ela teria que... Não! A idéia era insuportável demais para que sequer fosse permitido se pensar.
Uma buzina soou tão alta que fez seus ouvidos tremerem. deu-se conta de o sinal ainda estava aberto e ela não tinha se mexido. Apertando o pé contra o pedal do acelerador, ela entrou na próxima esquina à esquerda, mudando completamente seu rumo e sentindo sua visão começar a embaçar. A imagem de Veneza não saía de sua mente. O rosto preocupado e choroso de , a expressão incrédula de Frederick... Todos estavam esperando que ela fosse a primeira a entender, mas ela já tinha entendido e só estava esperando o momento certo para que a queda fosse menor.
Mas a queda nunca é menor ou menos dolorosa. Não importa o assunto, o momento, a razão. Toda queda é alta, toda aterrissagem é dolorosa, por mais suave que pareça. Tudo que implique manter seus pés no chão sempre leva uma parte sua. Sua crença.
chegou na casa de em tempo recorde. Sem saber como, nem onde, estacionou o carro, ela desceu às pressas apertando o botão do alarme e passou num raio pela portaria, sem nem ao menos se identificar. O elevador já se encontrava no hall, ela apertou o número 10 e passou as mãos pelo rosto, enxugando as lágrimas e tentando não soluçar. Assim que o elevador se abriu, correu até uma das duas portas do corredor e apertou o botão da campanhia.
Seu coração estava comprimido, lhe faltava ar, lhe faltava chão.
atendeu a porta com a cara sonolenta e confusa. Seus olhos se arregalaram de espanto e logo em seguida de compreensão, abrindo os braços para que a abraçasse. Mas ela não abraçou. Ela não se moveu, porque ela não achava que pudesse ter essa capacidade. Porque cada músculo de seu corpo congelara ao ver a amiga parada a olhando e ao perceber que teria que deixar tudo aquilo.
- Você percebeu, não foi? - perguntou solidária e a amiga concordou com um aceno de cabeça - Já era a hora. Eles sabem que você descobriu?
negou com a cabeça e respirou fundo, dando dois passos para dentro do apartamento e olhando para de forma intensa e desesperada.
- Eu preciso da sua ajuda - foi tudo o que conseguiu dizer.
Capítulo 40
- Eu ainda não acredito que você me convenceu de fazer isso, . Eu tenho um trabalho, não tenho a vida ganha que nem você! - resmungou enquanto andava, tentando não esbarrar nas outras pessoas. riu - Não ria, imbecil, você é muito sem noção.
- Ah, , por favor, não me diga que você não gostou de eu ter feito isso - ela sorriu pra a amiga e puxou a mala com mais força - Até parece que se eu não tivesse feito, você não teria. Eu não dava mais três semanas pra você ter me puxado que nem eu fiz.
- Imbecil - voltou a resmungar e as duas continuaram a andar em silêncio por mais alguns segundos - Você ligou pra quem?
- .
- , ? Porra, você não faz nada certo? - riu de novo e a amiga bufou - Você é uma imprestável e eu te odeio. Muito.
deu de ombros. Nenhum dos insultos sem fundamentos de iriam tirá-la de seu humor. Ela sabia que tinha feito a maior loucura da sua vida nas últimas 16 horas. Descobrira que teria que se mudar para a Itália em um espaço de tempo que - com certeza - seria o mínimo possível (considerando o estado de saúde de seu pai), largara seu emprego, quase fez com que sua amiga perdesse o emprego dela, tinha feito uma ligação para o outro lado do mundo e pegara um avião. Agora ela estava andando pela área de desembarque com uma extremamente reclamona e sentindo um calor gostoso passando por seu corpo. Talvez fosse por causa do tamanho da coisa que fizera, ou simplesmente porque o clima da Austrália era completamente agradável.
Sorriu consigo mesma, satisfeita.
Estava na Austrália.
- Tira essa cara de idiota, , eu sei que você tá gostando.
- Mas não deveria - resmungou, mas logo sorriu levemente - Ok, eu estou gostando. Ca-ra-ca, você viu os caras gatos que desceram atrás da gente? - ela virou o corpo pra trás, para ver se conseguia enxergar os tais homens e logo voltou à posição original - Eles sumiram, mas quem se importa?! Devem ter váários desses espalhados por aqui.
- E você vai ter muito por aqui também - sorriu divertida pra a amiga, que tentou fazer uma careta.
- Perda de tempo.
- Sei - deu uma cotovelada sacana em , que a empurrou de volta, e as duas começaram a rir.
Quem precisava se preocupar com alguma coisa mesmo? Elas estavam na Austrália, todo o resto poderia esperar.
As duas estavam preocupadas demais em tirar da mente o que viera acontecenedo na vida de nos últimos dias que acabaram - no fundo - nem se incomodando de ter que deixar a Inglaterra e passar duas semanas com os amigos na Austrália. sabia que tinha sido uma decisão precipitada, mas era a única solução que encontrara. Não poderia ficar parada em casa, esperando a hora de ir embora e deixar todos sem explicação! A única coisa que precisou fazer foi pedir para a acompanhar, ligar pra explicando tudo (tudo mesmo), comprar as passagens por telefone e jogar quase todo o guarda roupa dentro de duas malas.
Ela só precisava ficar perto de suas pessoas o máximo possível e tudo ficaria bem.
- Será que vocês podem não chamar atenção por todo lugar que passam? - elas escutaram uma voz e viram de braços cruzados as encarando com um sorriso no rosto - O quê? O calor queimou os miolos de vocês? Venham me abraçar, vacas!
berrou e largou as malas no chão, correndo para abraçar . sorriu e tentou equilibrar suas duas bagagens tamanho GG e correu até onde as outras duas estavam. Ela sorria de orelha à orelha e sentiu uma paz indescritível a invadir assim que a abraçou e perguntou se ela estava bem.
- Tudo vai ficar bem - respondeu calma e olhou em volta - Você contou pra a ?
concordou com um aceno de cabeça e voltou a sorrir.
- Ok... Agora não me diga que você veio até aqui sozinha, porque eu não acredito. Qual foi a pobre alma que você arrastou até aqui pra nos trazer, ?
- Não fale como se eu fosse uma má pessoa! Não tenho culpa se essa cidade é completamente confusa e me impede de dirigir direito - se defendeu rapidamente e deu um tapa na testa de - Vamos, imbecil, vá pegar suas malas inúteis que o tá te esperando no carro.
Pegando as malas que tinha largado no chão e fingindo total controle, se apressou e começou a andar em passos curtos e rápidos até a saída. e riram, e a primeira elevou a voz:
- Pode correr, ele não vai ver daqui! - lançou-lhe o dedo do meio, ainda de costas, mas apressou o passo. balançou a cabeça, sorrindo, e virou-se para a outra amiga, que pegou uma de suas malas - Agora você vai me contar como conseguiu esse puta bronzeado em uma semana?
- Tente passar 12 horas por dia sem fazer nada, com os meninos enfurnados num estúdio e uma grávida no seu pé - bufou e deu de ombros - O sol foi a única coisa que me restou.
riu e elas passaram pelas portas automáticas. O sol forte a pegou de surpresa, fazendo-a quase fechar os olhos, desacostumados a tanta claridade.
- Nossa, então eles tão mesmo levando isso à sério?
- Não mesmo. A não ser que o que você chama de levar a sério seja passar dois terços do tempo que eles têm pra gravar jogando ping pong, mas é legal de ver eles arranjando briga porque um roubou do outro, você sabe como é - concordou com um aceno de cabeça e uma van mais à frente buzinou - Ops, esse é o . Enfim, mas o lugar cansa, dai eu fico mais na praia.
- Então a praia é realmente boa?
Nesse instante a porta do motorista abriu e um extremamente preto e alegre saiu de lá de dentro. Ele puxou com um dos braços e a abraçou da forma mais forte qual ela achou ser possível agüentar, a deixando sem fôlego.
- Puta merda, , eu ainda quero respirar - o empurrou rindo e parou para olhá-lo - Fiu fiu, você tá uma gostosura.
- HEY! - apareceu de trás dele com as mãos na cintura - Você já teve sua vez, contente-se com o .
- Egoísmo mata - respondeu com uma careta e as duas riram. a empurrou.
- Certo, sem mais conversas, vamos logo que tá na hora do almoço e eu tô morrendo de fome.
- Como é a casa? É grande? Tem piscina? Tem quintal? Quantos andares? - começou a perguntar alguns minutos depois de eles terem saído do aeroporto.
, que estava no banco de trás com , deu um chute no banco a qual a amiga estava sentada, fazendo-a soltar um gritinho.
- Pára de ser pé no saco!
- tá de mau humor porque não foi o quem veio pegar vocês - sorriu pelo retrovisor e mostrou o dedo do meio - Você deveria me tratar bem, bonitinha, eu fiz o favor de vir te pegar e você está com saudade de mim.
- Claro, como se você também não tivesse com saudade de mim - fez uma voz de desdém e virou-se para a janela. Os outros três que estavam dentro do carro riram do comportamento infantil da garota.
Ela continuou com os olhos grudados em cada detalhe da cidade por onde passavam, cada pessoa, cada casa, a forma como eles se vestiam, sem casacos, despojados... E quando o carro chegou na parte litorânea e começou a andar em frente à um dos calçadões tudo o que se podiam ver eram pessoas de biquíni carregando pranchas, com óculos de sol... Tudo aquilo que sabia que nunca veria em Londres e da qual tinha a maior vontade de ver, de viver. Ela sorriu animada e virou-se pra .
- Você aprendeu a surfar?
a olhou assustada e começou a rir no banco da frente.
- Tá me achando com cara de surfista? - perguntou sarcástica e riu, negando com a cabeça e olhando para o amigo que dirigia a van.
- , quero aprender a surfar! O disse que vocês tavam adquirindo conhecimento local... - ela parou de falar ao ver rir - Ah, qual é, até parece que alguma australiana gata e malhada vai querer um sem sal que nem o , eu pensei que ele tava falando de surfe!
- Amiga - colocou uma mão no ombro de , fazendo com que ela a olhasse - Você é gata e malhada e arrasta um caminhão pelo .
- Não arrasto um saquinho de areia, quanto mais um caminhão - a garota bufou e balançou o ombro para tirar a mão de - Então vocês tavam mesmo explorando a terra?
- Você acha que a gente teve tempo pra explorar a terra? - perguntou com as sobrancelhas erguidas e eles pararam em um sinal, estava totalmente alheia da conversa, observando os garotos sem camisa que andavam por ali - Eu explorei muita terra australiana - ele continuou a falar, olhando para a menina ao seu lado e rapidamente o que encarou.
- Você o quê, ?
- Estava vendo se você tava prestando atenção, esperta - ele fez uma expressão divertida e voltou a dirigir assim que o sinal abriu - E não, , nem se a gente quisesse... e conseguem ser tão chatas que a gente perde a vontade - voltou a encará-lo e estampou um sorriso amarelo no rosto - Vontade que eu nunca tive, fique claro.
- Tanto faz, quero surfar - resmungou de novo e afundou mais um pouco no banco.
- Mas que menina chata, eu hein - reclamou e batucou os dedos no painel do carro - Já tá chegando?
- Quase - respondeu e apontou pra um supermercado - Um dia a gente apostou com o e o Tom que se eles não conseguissem ficar mais de 2 horas na piscina depois das 10 e sem o aquecimento, eles viriam até aqui só de boxers e andando - ela deu um sorriso sacana e olhou para - Acredite, o dono do lugar expulsou os dois e eles tão com lindos calos nos pés.
Todos riram e bateu palmas rapidamente.
- Ai que ótimo, tem piscina! Mas e ai, já tá chegando?
- Não - revirou os olhos.
Ela parou pra olhar pra os lados alguns segundos e tamborilou os dedos mais uma vez.
- E agora?
- Não.
- Hm... Agora?
- Dá pra ficar calada? - perguntou e deu outro chute no banco da amiga.
- Ai, eu não sabia que a Austrália era tão graaande - respondeu sarcástica.
- E eu não sabia que seu cérebro era tão pequeeeno - chutou-a outra vez e levantou o braço.
- Ah, cara, eu sabia.
Ninguém agüentou e até as duas garotas, que antes discutiam, começaram a rir. No caminho até a casa apontou alguns dos lugares pra os quais eles já tinham ido, citando os melhores e os que eles não deveriam nem pensar em voltar. O carro seguiu o caminho ainda na extensão do litoral e começou a se perguntar por quantas praias eles já tinham passado. Depois de um tempo a van entrou em uma rua, saindo da frente do mar e começou a subir um pouco, então ela deduziu que eles já estavam chegando.
Ai Deus, eles já estavam chegando.
Durante todo o percurso até ali ela não tinha parado pra pensar direito. No avião, estava chocada, triste e inconformada demais e ali no carro, do lado dos dois amigos que não via há duas semanas, não conseguiu pôr em ordem nenhum outro pensamento que não fosse alegre ou saudoso. Mas ela sabia que isso não ia durar muito, porque falara com no telefone antes de comprar as passagens. Ela sabia a história, também já deveria saber, sem contar com . E todas elas, com certeza, se perguntavam quando todos os outros saberiam.
sentiu algo bater em seu ombro e deu de cara com , que ria e apontava pra frente. A garota olhou sem entender e quase soltou um grito quando viu a casa de andares na qual o carro ia parando, com um pequeno gramado na frente e duas pessoas sentadas no degrau da porta. Aquilo só fez com que ela sorrisse mais ainda à medida que seu coração acelerava e as palavras lhe faltavam.
e pararam de conversar assim que viram o carro estacionar e o olharam sorridentes. foi a primeira a descer, correndo enquanto o carro não havia parado direito, a fazendo tropeçar e quase cair. Os dois amigos riram e ela correu até eles, gritando coisas indecifráveis e enchendo a bochecha de de beijos. precisou dar outro empurrão em para que ela conseguisse descer. Seu cérebro ainda trabalhava rápido demais, tentando administrar toda aquela saudade e a felicidade de ver os amigos.
Ela andou - quase correndo - até e empurrou , fazendo a garota reclamar e em seguida começar a gritar quando parou pra observar direito. ignorou totalmente.
- Ai, que saudade de você, duendezinhooo - ela reclamava no ouvido de enquanto ainda o abraçava, fazendo-o rir.
- Pára de gemer, , deixa isso pra quando a gente chegar no quarto.
A garota riu e o soltou, dando um soquinho em seu braço.
- Você tá mais moreno.
- Você tá mais branca.
Ela piscou, tentando ser sensual e fez um biquinho.
- São seus olhos - os dois riram e voltou a sentir alguém lhe cutucando. Girando os olhos em fastio, ela virou o corpo para a direção qual tinha sido chamada - Vocês amam me tocar, né?
- OLHA ISSO! - gritou e apontou pra .
- Oi, - falou e sorriu.
não sabia se chorava, gritava, abraçava a amiga ou se continuava ali, apenas a olhando. Como em uma semana uma barriga pôde crescer tanto? a olhava divertida e tinha uma das mãos nas costas, da mesma forma que as grávidas fazem. se perguntou se todas agiam assim porque deveriam ou se era uma mania de quem carregava um feto no ventre por nove meses e não agüentava mais dores nas costas. Mas só tinha o que? Três meses? E a barriga dela já estava ali, aparecendo, dando aquele ar de mulher grávida, fazendo se derreter apenas em olhá-la.
- AAAAAI MEU DEEEUS! - ela gritou e passou as mãos pela barriga da amiga - O que esses seres andaram dando pra você comer? Hormônio? AHHH, você tá enorme!
- Nossa, obrigada, você é muito delicada - voltou a rir, mas ainda a olhava espantada.
- AHHHHH!
- , você pode calar a boca agora.
- AAAAAAAAAH!
- Puta merda, você tá me escutando?
- AHHHHHH!
- Ela tá parecendo a - cochichou com , que riu da amiga.
- VOCÊ VIU O TAMANHO DA BARRIGA DA ? - virou pra os dois amigos que ainda estavam na porta do carro.
- Sabe, é isso que acontecem com as pessoas grávidas. Ficam chatas e crescem a barriga - respondeu sarcástica.
- Tome cuidado com o - deu um tapinha no ombro de , fazendo todos rir - Esperemos 9 meses pra ver se é gravidez ou gases.
- Ei - gritou, os olhando - Eu estou aqui, sabiam?
- E ai, cara? - balançou a cabeça enquanto ia se aproximando.
rolou os olhos e parou do seu lado, dando um beijo em sua bochecha e o fazendo sorrir.
- Eu já disse, , você já pode parar de me abraçar e entrar pra ver os outros - resmungava com o rosto pressionado no ombro de , que ainda a abraçava forte e falava coisas com uma voz de bebê - Cacete, me solte, sua chata!
a soltou e lançou um olhar magoado em sua direção, fazendo revirar os olhos e lhe dar um abraço de lado simpático e inofensivo. Tudo bem, quatro já foram. Só faltavam mais dois.
Depois de perguntar a um dos que já estavam ali por onde andava os outros, e depois de ser claramente ignorada pelo bate papo entre casais - e com e -, deu de ombros e começou a andar até a porta que se encontrava entreaberta. Não era como se ela estivesse invadindo a casa nem nada do tipo, pelo amor de Deus, era a casa de seus amigos, era onde ficaria pelas próximas semanas. Então por que raios ela estava sentindo seu corpo querer hesitar, pedindo pra parar, a cada passo dado?
Admitir que era medo de dar de cara com os olhos azuis pelos quais esteve ansiando ver talvez lhe parecesse desesperador demais, simplesmente não era de seu feitio admitir tamanha coisa, mesmo que para si mesma. Seus pensamentos, por vezes, eram tão fortes e altos que ela julgava que fossem possíveis de se escutar pelas outras pessoas que estavam ali. Ela não queria que todos escutassem seu coração gritando à cada batida o nome de . Não queria que eles soubessem que era o rosto dele a única coisa qual faria com que ela deixasse todas essas coisas de lado para aproveitar o momento ali. Não queria porque, mesmo sentindo tudo isso, soava patético até mesmo aos seus ouvidos. E talvez, com uma parcela mínima - ou não - de chances, todos já soubessem disso.
Tentando convencer a si mesma que estava sendo idiota para deixar a si mesma se sentir dessa maneira, empurrou mais a porta para que fosse possível sua passagem e observou os detalhes do lugar. As paredes tinham tons claros e a mobília era de um tom meio escuro, mas o lugar estava, definitivamente, bem decorado, para o lar de seis pessoas bagunceiras nos últimos sete dias. Ela continuou a andar pelo corredor de entrada, passando o dedo indicador da mão direita por um dos móveis e se surpreendeu ao não sentir nenhuma sujeira se acumulando ali. Sorriu consigo mesma e voltou a olhar para frente assim que sentiu a atmosfera mudar. Toda aquela reta que tinha percorrido tinha finalmente chegado em um lugar.
Todos os seus músculos pareceram travar e sentiu a mão, que antes estava estendida para olhar o dedo, ser abaixada automaticamente. Seu coração deu um salto e ela sentiu seus lábios se moverem em um sorriso, naquele sorriso. Poderia suspirar aliviada, se fosse capaz de coordenar suas próprias ações, mas a única coisa qual foi capaz de fazer foi continuar estática, apenas observando a cena que se seguia em sua frente.
estava ali. Ele estava em pé a menos de 5 metros de distância de frente à um balcão e com uma expressão de irritação em seu rosto. Ele encarava algo do outro lado do lugar, um lado que não chegava ao campo de visão de , e apontava o dedo naquela direção, falando algumas palavras rudes que ela não foi capaz de codificar. Ela não estava ao menos codificando sua própria respiração!
Como se pudesse escutar o que ela acabara de pensar, desviou sua atenção do ponto desconhecido e pousou seu olhar sobre . De forma casual e descontraída, como se tivesse escutado alguém chamar seu nome. mordeu os lábios, pensando na possibilidade de seu coração estar mirabolando numa altura maior do que a estipulada. Foram alguns segundos se encarando e em seguida a garota não enxergava mais nada. Uma camiseta verde limão estava colada contra seu rosto e braços apertavam seu corpo, enquanto ela ainda continuava estática, com os braços pendendo ao lado das pernas e os pensamentos sendo rodados lentamente. Aquele não era o cheiro de . Ela também sabia que ele não usava aquela camisa - por menor atenção que tenha dado à suas roupas nos últimos 20 segundos. Mas ela conhecia aquele cheiro, também sentira uma falta desesperada daquela fragrância, como sentira das outras quatro que expirara anteriormente.
- Tom - suspirou finalmente, fechando os olhos à contragosto e quebrando o contato visual com , passando os braços envolta do corpo do amigo e escondendo o rosto em seu ombro - Eu senti tanto a sua falta...
- Eu também, fedorentinha, eu também - ela escutou Tom falar e soltou uma risadinha ao escutar o nome do qual ele a estava chamando. Não se importava, ele poderia xingar de todos os nomes, mas não se importava! - Eu fiquei realmente assustado quando a me falou ontem que você e a tinham pegado um avião pra cá assim, tão do nada - Tom a soltou e fixou seus olhos castanhos e completamente, extremamente e exageradamente expressivos nos dela - Aconteceu alguma coisa?
Ai céus, por que Tom tinha sempre que vir com a pergunta que fodia tudo?
- Deixa pra depois - respondeu ainda em voz baixa e voltou a abraçá-lo, dessa vez com os olhos abertos e colocando seu olhar sobre mais uma vez.
Tom entendeu e apenas concordou com um aceno de cabeça. Virou-se para olhar e encontrou o amigo também parado olhando para da mesma forma qual ela olhava para ele. Thomas sabia que tinha se passado apenas uma semana desde a última vez que os dois tinham se visto, mas também sabia que os sentimentos e a forma qual os amigos se encontravam ainda os deixava meio confusos. Com um sorriso de lado e se sentindo mais feliz por ter visto e confirmado que ela estava bem, ele começou a andar até a porta, querendo deixar os dois tontos sozinhos e a fim de checar se estava tudo bem também com .
sentiu Tom se afastando, mas continuou parada. Não sabia como agir. Queria correr e abraçá-lo, queria dizer que estava passando por tantas coisas que só ele entenderia e amenizaria, queria dizer que sentira tanta a falta dele que mal pensara que poderia agüentar. Mas talvez não fosse o certo. Tudo bem que todas essas atitudes pudessem ser razoavelmente aceitas também entre amigos, mas nada entre ela e seria levado como entre amigos quando envolvia tantos sentimentos e tantas necessidades. Eles não estavam mais juntos, deixar a si mesma continuar sentindo essa estúpida dependência do garoto era completamente inaceitável.
Pensou em tirar a cara de idiota apaixonada do rosto e o cumprimentar com um simples "e ai, , pegando muitas?", mas lhe parecia totalmente inapropriado. Eles não estavam se tratando como amigos de balada ou algo mais zoado. lhe telefonara três vezes desde que tinha ido para a Austrália, tá legal que e também lhe ligaram, e eles não eram amigos-amores que nem , as conversas deles dois eram tão cheias de coisas subentendidas. Deus, como ela odiava as coisas subentendidas nesse instante!
Sem ao menos notar, já tinha dado um passo em sua direção. afastou as dúvidas de sua mente e o olhou, vendo em seu rosto estampadas as mesmas perguntas que estavam passando pela sua cabeça. Ela sorriu, achando graça por isso e se deixando mostrar um pouco de felicidade em vê-lo. sorriu de volta, sentindo a tensão de seus ombros diminuir e as chances dela começar a gritar com ele irem pro espaço.
- Tudo bem? - ela o escutou pergunta e fechou os olhos, confirmando com um aceno de cabeça.
Seria coisa de apaixonada e boba se ela dissesse que apenas seu tom de voz fizera com que seu estômago parecesse despencar?
Eles sorriram mais uma vez, deixando transparecer um pouco de vergonha e mais felicidade. escutou algumas vozes se aproximando e uma mão encostando em suas costas, fazendo um impulso para que ela fosse jogada na direção de .
- Parem de ser maricas e se abracem - disse e colocou um pouco mais de força, fazendo o corpo de pender sobre o de e o garoto a segurar.
Os outros que vinham mais atrás riram das caras de bobos dos dois e se apressou a voltar a ficar em pé, olhando divertida para . Ele deu de ombros e sorriu de forma safada, fazendo-a gargalhar e dar um tapa de leve em seu braço.
Dane-se o seu rosto, que ardia desesperadamente, e o seu sangue, que corria como em uma maratona por suas veias. estava ali, seus amigos estavam ali, tudo ficaria bem.
- Então - atraiu a atenção de todos, ela esfregava uma mão na outra e mantinha as sobrancelhas erguidas, acompanhada de um sorriso sapeca no canto de seus lábios - Agora que os animais se juntaram... Qual vai ser a macacada?
Todos explodiram em risos e a garota ficou com a cara atônita, jurando que dessa vez tinha dito tudo certo.
Capítulo 41
passou correndo pela cozinha e pôde escutar berrar alguma coisa do lado de fora, fazendo-a rir. Ela viu o amigo, todo molhado, dobrar no corredor em direção às escadas e balançou a cabeça, voltando a prestar atenção no limão que cortava. Segurou a faca com mais firmeza e cortou o último pedaço daquele. Suspirou e jogou dentro de uma vasilha vazia ao lado, pegou outro limão que tinha lavado e o colocou em sua frente, cortando-o ao meio.
- Hey, você.
sobressaltou-se com a voz e acabou deixando uma banda maior que a outra. Irritada, levantou os olhos pra parado em sua frente e sorrindo abobalhado.
- O que você quer, ? Acabou de estragar a minha obra de arte com os limões - ela retrucou, voltando a encarar o corte mal feito e pensando em como cortaria de outro jeito para que os pedaços ficassem iguais.
- Tanto faz, quando a gente for usar eles ninguém vai tá nem prestando atenção se o pedaço tá menor ou não - fale por si mesmo, pensou. dava um escândalo tremendo quando o limão não era suficiente pra a dose que ela tinha tomado - Enfim, você viu pra onde o correu?
- Escadas - ela respondeu ainda sem olhá-lo e o garoto se esticou sobre o balcão para beijar-lhe na bochecha, saindo em seguida, seguindo os mesmos passos antes feitos por - Mereço.
- Resmungando sozinha? - outra voz a assustou, fazendo-a cortar outro pedaço errado.
- Pelo amor de Deus, será que ninguém vai me deixar trabalhar em paz? - ela reclamou e olhou para Tom, que puxava um banco e sentava do outro lado do balcão, ficando de frente pra ela - O que você quer, Thomas? Os meninos correram lá pra cima.
Tom deu de ombro, pegando um dos pedaços mal cortados, colocando-o na boca e sorrindo para . Ela riu do sorriso de boca fechada dele, balançando a cabeça de um lado pra o outro e afastando o limão feio, pegando outro ainda intacto. Viu Tom tirar o pedaço da boca e tentar acertar o lixeiro que estava atrás dela. Caiu fora.
- Depois eu pego - ele fez uma careta e voltou a encarar a amiga - A que se preocupe com eles e a molhação pela casa, você tem que ver como ela se irrita com isso - riu e o olhou rapidamente, depois voltando a sua atenção ao que estava fazendo - Gostou da casa?
concordou com um aceno de cabeça.
- Porra, larga esse azedume e olha pra mim! - Tom tentou fazer pose séria e riu, voltando sua atenção para o garoto e soltando a faca.
- Sim, querido Fletcher, adorei a casa, adorei o lugar, o sol, adorei tudo - ela sorriu simpática e ele fez uma expressão satisfeita.
- Muito bem... E quando você pretende me contar por que você decidiu vir assim do nada?
Ótimo, ela pensou, já tava demorando. suspirou e baixou o olhar pra a faca, colocando-a dentro da pia e jogando os pedaços bem e mal cortados dentro da vasilha onde os outros estavam.
- Quando eu achar que tá tudo bem pra eu contar - ela colocou a vasilha de lado e olhou pra o amigo - Não tem nem três horas que eu cheguei aqui, Fletcher, não me pressione.
Tom arregalou os olhos e levantou as mãos, num ato divertido.
- Não tá mais aqui quem falou - eles se encararam e riram, levou a vasilha até a geladeira - E quando você pretende ficar com o ?
- Quando você pretende parar de perguntar o que eu pretendo? - ela virou-se depois de fechar a geladeira, o encarando com as sobrancelhas erguidas.
- Você tá fugindo do assunto! - Tom fez uma voz esganiçada e a garota começou a rir.
andou até onde ele estava e puxou um banco, sentando-se ao lado dele. Colocou os cotovelos sobre o balcão e encaixou o rosto sobre as mãos. Como diria a Tom quando ela pretendia ficar com se nem ela mesma sabia? Quer dizer, ela não tinha nem idéia se ia mesmo rolar.
- Eu não tô fugindo do assunto - bufou ao ver a cara irônica que o amigo tinha feito e reprimiu um sorriso - Você sabe, as coisas tão meio estranhas entre a gente e tudo o mais.
- As coisas estão estranhas... - Tom balançou o corpo de um lado pro outro, fazendo um movimento engraçado com as mãos e riu - ...entre vocês e tudo o mais. Fala sério, ! Antes era só um olhar pro outro e no outro minuto vocês tavam se amassando num canto!
- As coisas não são mais como antes, Tom - ela sorriu amarelo com o canto da boca e deixou o rosto apoiado em sua só mão, começando a fazer desenhos no balcão com a outra - A gente terminou, tipo, pra valer. Foi bem feio e você viu, a gente nem consegue agir como amigos direito! Imagina só voltar a ter alguma coisa.
- Pra vocês é mais fácil voltar a ter alguma coisa do que fingir serem só amigos - balançou a cabeça, ponderando as possibilidades e Tom continuou a falar - É meio estranho ver a e o juntos e não ver você e o ! Assim... e o ? Nunca que eu ia imaginar!
riu e concordou com a cabeça, virando-se para olhar o amigo, que também usava um dos dedos pra fazer desenhinhos sobre o balcão.
- Você não quer ficar com ele? - Tom parou o que fazia e sentiu as bochechas esquentarem - Aw, você tá vermelhinha! Você quer!
- Ah, cala a boca, seu idiota - ela empurrou ele com um dos ombros e os dois começaram a rir - Eu não sei o que fazer.
- Relaxa, . Deixa as coisas rolarem, vocês vão se resolver, você vai ver - Thomas sorriu confiante e ela concordou com um aceno de cabeça.
Barulhos de pessoas correndo assustaram os dois, que viraram pra olhar na direção da escada. dobrou o corredor correndo, com a cara incrivelmente vermelha e sem conseguir controlar a risada, apareceu segundos depois, no mesmo estado, mas com a cara dividida entre a raiva e a diversão. arqueou as sobrancelhas quando os dois passaram como uma bala por ela e Tom e cruzaram a porta na direção do quintal.
As meninas começaram a gritar segundos depois.
- Acho melhor a gente ir salvar esses sem cérebros - Tom deu um pulinho, se levantando e chamando a amiga com um movimento de cabeça.
- É... - fez uma careta e imitou Tom, dando um pulo pra sair do banco - Mas se o ainda tiver com aquela cara de psicopata, eu nem chego perto.
Já estava começando a anoitecer quando encostou sua cabeça no ombro de e fechou os olhos, cansada. Eles estavam sentados nas cadeiras de tomar sol do quintal desde a hora que ela e chegaram e já tinham esgotado quase todo o estoque de cerveja que os meninos tinham comprado na noite anterior. O vento batia levemente em seus corpos, levando um pouco embora todo aquele calor que era possível sentir durante o dia, deixando o clima extremamente agradável.
- Acho que eu quero um casaco - resmungou, sentada do outro lado de e apertou os olhos, ao perceber que estava quase dormindo - Não sabia que fazia esse friozinho aqui à noite.
- Eu estou definitivamente pensando em me mudar pra cá - disse animada e deu uma cotovelada em Tom, que a olhou - O que você acha?
Ele enrrugou a testa, a olhando de forma estranha.
- Tá maluca?
Todos riram e fechou a cara, começando a resmungar sobre como o namorado era insensível. abriu os olhos e desencostou de , sorrindo para o amigo e ficando de pé, chamando a atenção de todos.
- De verdade, gente, eu tô ficando com sono...
- Você tá na Austrália, meu bem - sorriu e piscou - Aqui não existe sono.
- É, bem, mas eu estou! Ahh, vocês parecem um bando de velhos sentados bebendo o dia inteiro. Eu quero sair, música, pessoas! - ela agitou a mão no ar e os meninos riram.
- Tem certeza que você tá com sono? - perguntou, a olhando de forma engraçada e lhe mostrou o dedo do meio - Ok, ok, a gente pode ir naquela boate que a gente foi no primeiro dia...
- Step Inn! - berrou e deu um tapa em sua testa.
- Slip Inn, imbecil.
- Blabla Inn - girou os olhos - Então, vamos?
- Meu Deus, seu humor tá uma maravilha, né? - a encarou e riu, fazendo joinha pro amigo - Quem faz o jantar?
- A gente janta fora - começou a se levantar e estendeu a mão pra ajudar , que estava sentada na cadeira ao seu lado - Tem um monte de restaurante naquela área.
Os meninos concordaram e cada um começou a levantar. observou enquanto eles combinavam como iam fazer as coisas e andou lentamente até o lado de , que também não se manifestava, apenas observando. A amiga a olhou assim que ela parou ao seu lado e as duas perceberam que pensavam a mesma coisa. Eles estavam ali há só uma semana e já se familiarizaram com o lugar... Será que também seria fácil quando fosse embora?
- Você contou pro Tom? - perguntou de súbito e se assustou, olhando envolta para ver se alguém prestava atenção.
Estavam todos ocupados demais com o passatempo da noite.
- Não, eu disse que ia esperar uma hora melhor - ela encolheu os ombros - A gente acabou de chegar, se eu contasse logo pro Tom ele ia ficar todo "você tem que aproveitar o máximo todo esse tempo, blablabla" e tudo o mais. Não ia ser natural.
concordou com um aceno de cabeça e passou um dos braços envolta do ombro de , a abraçando de lado.
- Tudo bem, amiga. Só tente não pensar nisso.
concordou e as duas sorriram uma pra a outra, voltando suas atenções à , que berrava e vinha na direção delas.
- Não toque em mim, , você está me passando muito medo hoje - e olhou feio e ele fez uma careta.
- Fresca. Enfim, já decidimos! A gente vai jantar num restaurante e ir direto pro Step Inn...
- SLIP Inn! Você tem merda na cabeça, ? SLIP INN, PORRA! - gritou de onde estava e a ignorou.
- Então vocês mulheres têm que ir logo tomar banho, porque vocês demoram muito pra ficar bonitas e tudo o mais.
- Se toque, seu duende de quintal, eu já sou bonita de nascença - continuou o olhando feio e reprimiu uma risadinha.
- Certo... Olha, , eu não queria te dizer isso, mas... - ele se aproximou da amiga e passou a mão por um de seus ombros, acompanhou o movimendo com um olhar de nojo que estava quase fazendo gargalhar - Você não deveria acreditar em tudo que o fala, sabia?
- Olha, , se você não quiser que eu quebre seus ovinhos e te deixe sem fazer filhinhos, tira suas mãozinhas do meu ombrinho antes que leve um chutinho - falou com os dentes trincados e tirou a mão do ombro dela na mesma hora, a encarando com uma sobrancelha erguida.
- Maluca - ele resmungou e deu as costas, andando até onde os outros estavam.
e soltaram gargalhadas altas da cara que ele tinha feito e correu até ele, pulando em suas costas.
- Brincadeirinha, coisinha mais linda da tia .
- Saaai, malucaaaa!
Os dois cambalearam até perto da piscina e deu um berro quando ameaçou a jogar se ela não saísse de suas costas. riu mais um pouco dos amigos e andou até onde os outros estavam, parando ao lado de , que a olhou de esgueira e fez uma careta. Ela sorriu de volta e esperou que eles terminassem de resolver o que quer que fosse para que pudesse fazer as perguntas que queria. Quando Tom ameaçou começar a falar de como o lugar era bem freqüentado, ela percebeu que se não falasse agora, eles continuariam com o papinho sem graça até que o assunto fosse se desviando.
- Hm, eu vou ficar naquele quarto com a mesmo, né? - ela aproveitou pra perguntar, depois de cortar o namorado e dizer que ele não precisava se preocupar com as pessoas que freqüentavam o lugar - O quarto que a gente deixou as malas e tudo o mais...
- É - concordou e fez uma cara engraçada, se desculpando - Desculpa, amiga, mas a casa não é tão grande assim e a única solução seria colocar uma de vocês pra dormir na sala.
riu e negou com a cabeça.
- Até parece que eu tenho problemas em dividir um quarto com a .
- Até parece que ela vai realmente passar muito tempo naquele quarto - comentou, dando uma cotovelada em , que corou levemente, fazendo todos rirem - Ei, , tá subindo agora?
- Medo de subir sozinho, ?
- Claro, morro de medo de escadas - ele cerrou os olhos pra ela, que sorriu maliciosa.
- Querendo ficar sozinho comigo, ? - falou, tentando ser engraçada e não corar, mas suas bochechas esquentaram levemente e seu coração deu um pulo.
Ela estava sendo ousada. Isso era bom.
- Certo, , dá pra a gente subir ou não?
riu, e sentiu uma cutucada em sua cintura. Tentando ignorar, sem saber se tinha sido ou Tom (ou quem sabe os dois!), ela assentiu e deu tchau pra os outros, pedindo a pra avisar à que ela já tinha ido para o quarto se arrumar.
Os dois seguiram em silêncio pra dentro da casa, enquanto esfregava os braços, tentando afastar a pequena corrente de vento frio que passava. Não era nada comparado ao clima durante o dia em Londres, mas ela estava de short e blusa regata, então um vento - por mais fraco que fosse - estava longe de passar despercebido.
viu que ela estava arrepiada e sorriu de lado, na dúvida se o motivo era por estar ao lado dele ou o vento que tinha os atingido. Talvez fosse pretensioso demais de sua parte pensar que ela estava se arrepiando apenas pelo fato de estar ao seu lado. Ou não. Ou sim. Ele balançou a cabeça pra afastar os pensamentos e percebeu que o encarava.
- O que? - perguntou, parando na ponta da escada, ela sorriu boba e balançou a cabeça, quase da mesma forma que ele tinha feito segundos antes.
- Nada, eu só perguntei se o lugar era legal, mas você parecia em outro mundo.
sentiu suas bochechas corarem e tentou não sorrir.
- Desculpa, eu tava viajando.
- Sem problemas.
Eles continuaram a subir a escada e quando chegaram ao corredor parou na primeira porta, onde era seu quarto com . ainda teria que seguir mais um pouco, seu quarto era na última porta da extensão.
- É bom - ele disse de repente, fazendo com que a garota se sobressaltasse - O bar. É bom.
Ela sorriu.
- Ah, sim, bom saber - concordou calado e deu as costas, fazendo sinal de que tinha que ir pra o quarto. virou-se em direção à sua porta, mas desistiu e chamou pelo rapaz - Hm... ?
parou onde estava e virou somente a cabeça para olhá-la.
A luz que iluminava o lugar incidiu exatamente sobre seu rosto e seus olhos azuis quase a cegaram. piscou algumas vezes, tentando encarar aquele rosto - considerado por si mesma - perfeito sem que fizesse seu coração tentar perfurar seu tórax e cair no chão.
- A gente tá bem, não tá? - ela perguntou hesitante, franzindo a testa para mostrar sua confusão.
Uma vozinha dentro de sua cabeça começou a falar o quão infantil ela estava sendo fazendo tal pergunta, mas a garota ignorou. Fixando seu olhar naqueles olhos que pareciam ler seus pensamentos.
O garoto sorriu.
- Me diga você, nós estamos?
Oh, Deus, ela pensou. Maldito e essas coisas que faziam ela sempre parecer a estúpida da vez. Sentindo seu estômago dar um giro de 360º, sorriu de volta.
- Eu digo que estamos.
- Então nós estamos - ele sorriu de novo, dessa vez mais amplo e obviamente animado - Nos vemos mais tarde - dito isso, seguiu seu caminho até sua porta.
demorou alguns segundos até que descobrisse para que lado girava a maçaneta. Não que as portas na Austrália fossem feitas ao contrário, era só a forma qual seu cérebro costumava trabalhar quando estava perto de . Reverso.
O lugar não era só bom, como tinha descrito antes de saírem de casa, tinha o achado simplesmente fantástico! Ela não sabia se o motivo era porque já no jantar ela tinha tomado umas taças de vinho exageradamente cheias e agora estava enchendo a bexiga de cerveja, ou se realmente tinha achado o lugar fantástico. Era uma mistura de barzinho com nightclub e uma música alta e ritmada tocava, fazendo com que ela mexesse os pés conforme a batida. Não era conhecida, deveria ser de alguma banda australiana famosinha da qual nunca tinha ouvido falar.
Ela já tinha ouvido falar de alguma banda australiana, de qualquer forma?
riu ao seu lado e a olhou. A amiga balançava a cabeça concordando com algo que tinha dito e se segurava no balcão do bar para que não caísse do banco. girou o seu acento para que ficasse de frente às amigas e levantou as sobrancelhas.
- Que é que tá pegando?
- não agüentou ficar sem engolir o e correu até o outro lado do bar - apontou pra o outro lado do balcão, depois da área onde os barmans circulavam, onde os meninos estavam sentados de frente para elas e conversavam alguma coisa animada, fazendo-os rir de forma escandalosa. estava sentada no colo de , falando alguma coisa no ouvido do garoto, que concordava fervorosamente.
mordeu os lábios, tentando não desejar fazer o mesmo com o .
- Traidora - resmungou enquanto tomava outro gole da cerveja.
- Eu quero ir ficar com o meu namorado também - fez um bico e colocou o copo com metade da Coca-Cola em sua frente - E eu não quero beber Coca.
- Experimente não engravidar - piscou em sua direção e girou os olhos.
- Claro, vou tentar lembrar disso na próxima vez.
ignorou o comentário sarcástico da amiga e cravou seus olhos em , que parara de rir e também a encarava. colocou sua garrafa vazia sobre o balcão e começou a observar os dois. mexia os lábios rapidamente, sibilando coisas que ela não conseguia entender, mas que parecia compreender completamente, porque segundos depois ela abriu um largo sorriso e mandou-lhe um beijo no ar. sorriu e ia chamar a atenção da amiga para dizer algo, quando sentiu alguém parar em sua frente. Ela levantou os olhos e deu de cara com um dos barmans parados em sua frente, segurando uma nova garrafa de cerveja e um guardanapo.
levantou as sobrancelhas com um ar divertido e deu um cotovelo em para que ela olhasse. O barman riu e deixou a cerveja com o guardanapo em cima do balcão.
- Diretamente do outro lado do bar - ele disse e piscou.
As meninas soltaram uma risadinha e corou.
- Obrigada - agradeceu em voz baixa.
A cerveja não tinha nada demais, era a mesma que ela vinha tomando desde que chegaram, Carlton alguma-coisa. O guardanapo que lhe chamou atenção. Ela sentiu passar por trás e sentar no banco do outro lado. As três cabeças se juntaram e abriu o guardanapo, escutando uma risada conhecida ao longe, mas meio distorcida por causa da música.
Te vejo na pista de dança.
Era tudo o que tinha escrito e tudo o que precisava ter. Não tinha assinatura, mas todas as três sabiam quem era, não por causa da letra, elas só... Sabiam.
Sem olhar para o outro lado do balcão, tirou a tampinha da garrafa que já tava frouxa e deu um gole. Ela viu pelo canto do olho mandando um dedo para a outra direção e a risada ecoou de novo.
- O que isso significa? - perguntou, virando-se para a amiga - Te vejo na pista de dança? É o que? Um tipo de código pra vocês se comerem no banheiro?
colocou a mão na boca pra evitar a tosse, enquanto ria. Seu rosto ficou vermelho ligeiramente e ela ficou satisfeita de poder disfarçar por ter se engasgado. Mas que porra? Ela nunca tinha vergonha de , por que começar a ter agora?
- Quer dizer que ele vai encontrar ela na pista de dança - rolou os olhos - Se ele quisesse comer ela no banheiro, ele escreveria "te encontro no box do banheiro".
- Mas pra quê ele quer encontrar ela numa pista de dança?
- Pra dançar?
e se encararam por um tempo, até rir.
- Vocês poderiam parar de discutir minha vida sexual, por favor?
- VOCÊS VÃO TRANSAR NA PISTA DE DANÇA? - berrou e arregalou os olhos, começou a rir escandalosamente.
- Caramba, o seu cérebro é pequeno mesmo, né? - bufou e se virou, pensando em dar uma espiada em antes de parar pra interpretar o bilhete. Se é que tinha algo a se interpretar.
Mas ele não estava lá. O banco onde antes estava sentado se encontrava vazio. Os meninos ainda riam de alguma besteira e e se agarravam no banco, mas nenhum sinal de . Afinal, qual era o problema dele? Primeiro ele terminava, depois vinha querendo ser amiguinho, dizia que a amava, aparecia com outra, dava um de sex simbol no corredor e agora lhe mandava indiretas e sumia da vista? O que raios ele tinha na cabeça?
- Acho melhor você ir dançar - a voz de a tirou de seus pensamentos e a encarou confusa - Acho digno você ir dançar!
Ela lançou um olhar mais à frente e lá estava , no meio de várias pessoas, parado a encarando. No meio de umas 20 pessoas que balançavam seus corpos de forma exagerada e arritmada, permanecia parado apenas encarando com um sorriso no canto dos lábios.
engoliu a saliva, pensando em umedecer a garganta, mas ela continuou seca. Deus, sabia mesmo seduzir quando queria.
- Porraaa, vai logo - a empurrou e ela ficou em pé num pulo.
Seu olhar cruzou com o de e os dois sorriram. Seus pés começaram a se mover na direção do garoto sem que ela ao menos percebesse. Era como se ele a atraísse, como se seus corpos implorassem por mais contato, por menos distância. Ele a chamava e ela não estava nem ai se naquele momento seu corpo o obedecia completamente. Ela era dele e isso não era novidade pra ninguém.
(n/a: pra quem quiser acompanhar com a música, coloca pra tocar: Take Me On The Floor – The Veronicas)
The lights are out and I barely know you
(As luzes estão apagadas, e eu mal o reconheço)
We're going up and the place is slowing down
(Nós estamos nos animando e o lugar está diminuindo o ritmo)
I knew you'd come around
(Eu sabia que você viria)
parou seu corpo em frente ao de e ele passou as mãos por sua cintura. Ela queria fechar os olhos, queria aproximar seu rosto do dele e colar seus lábios, sugar seu ar, sentir sua essência, preencher todo aquele vazio que veio sentindo alguns meses antes, o vazio que tinha se aprofundado nos últimos dias.
A respiração dele bateu em seu rosto e ela levantou o olhar, encontrando o dele. Os dois sorriram cúmplices. Aquela não era a hora, aquela decididamente não era a hora.
You captivated me, something about you has got me
(Você me cativou, algo em você me capturou)
I was lonely now you make me feel alive
(Eu estava sozinha, mas agora você faz com que eu me sinta viva)
Will you be mine tonight?
(Você vai ser meu essa noite?)
Com a mão ainda na cintura dela, fez com que seus corpos se aproximassem mais e colocou os braços em volta do pescoço dele, sentindo o ritmo da música aumentar, entrando em um possível refrão. Ela mexeu o quadril de um lado pra o outro com o garoto a acompanhando e sorriu ao perceber que os pêlos da nuca dele estavam arrepiados.
Take me on the floor
(Me leve para a pista)
I can't take it any more
(Eu não consigo mais aguentar)
I want you, I want you, I want you to show me love
(Eu quero, eu quero, eu quero que você me mostre amor)
Just take me on the floor
(Só me leve para a pista)
I can give you more
(Eu posso te dar mais)
You kill me, kill me, kill me with your touch
(Você me mata, me mata, me mata com o seu toque)
Era isso, era simplesmente isso. O corpo de colava no seu e sentia o sangue correr mais rápido e queimar mais forte. Dane-se o álcool! Nenhuma sensação chegava sequer aos pés dessa, os choques que percorriam seus braços e pernas lhe davam a impressão de que ela poderia ceder a qualquer minuto, mas seu corpo ainda se mexia, acompanhava a música, se modelava de acordo com o de .
Com o mesmo sorriso de antes, aproximou o rosto de sua orelha e sussurrou algo incompreensível. Ela não se deu ao trabalho de entender, deixou que um suspiro saísse de seus lábios em concordância e por um minuto se sentiu patética por deixá-lo tomar conta de suas emoções daquela forma. Mas isso já não dependia mais de si mesma, seu corpo agia de acordo com a vontade de e quando ele colou os lábios no lóbulo de sua orelha, mordeu o próprio lábio inferior, sentindo seu estômago se contorcer.
My heart is racing as you're moving closer
(Meu coração está acelerando enquanto você se aproxima)
You take me higher with every breath I take
(Você me leva ao alto com cada suspiro que eu dou)
Would it be wrong to stay?
(Seria errado ficar?)
Eles afastaram um pouco os rostos e pôde ver como ele também estava vermelho e arfando. Aquilo fez com que ela sorrisse, o sorriso dela fez com que ele sorrisse. apertou mais a cintura dela e fez uma cara maliciosa. A garota gargalhou e encostou o rosto em seu ombro, ele voltou a movimentar o corpo de acordo com a música, voltando - também - a brincar com o lóbulo da orelha dela.
One look at you and I know what you're thinking
(Um olhar pra você e eu sei o que você está pensando)
Time's a bitch and my heart is sinking down
(O tempo é uma vadia e meu coração está afundando)
You turn me inside out
(Você me coloca ao avesso)
levantou a cabeça e o afastou levemente, buscando ar. a olhou confuso... Tinha feito algo de errado? Ela passou os olhos pelo salão e não conseguiu encontrar os amigos, mas tinha certeza que eles estavam presenciando toda a cena. Deus, ela não podia ficar com ! Não podia! Ela iria embora e ficar com ele agora seria um erro, um tremendo erro! O que as meninas pensariam dela? O que ela pensaria de si mesma quando seu sangue parasse de correr e seu coração diminuísse o ritmo?
Take me on the floor
(Me leve para a pista)
I can't take it anymore
(Eu não consigo mais aguentar)
I want you, I want you, I want you to show me love
(Eu quero, eu quero, eu quero que você me mostre amor)
Just take me on the floor
(Só me leve para a pista)
I can give you more
(Eu posso te dar mais)
You kill me, kill me, kill me with your touch
(Você me mata, me mata, me mata com seu toque)
O refrão voltou a tocar e as pessoas aproximaram seus corpos e, de alguma forma, isso pareceu tomar mais espaço, sentiu seu corpo ser empurrado de volta ao de e o garoto segurou seus pulsos firmemente, encarando seus olhos e fazendo com que ela parasse de respirar sem ao menos perceber.
I wanna kiss a girl
(Eu quero beijar uma garota)
sorriu e não teve como não acompanhar.
I wanna kiss a girl
(Eu quero beijas uma garota)
Dessa vez ele cantou junto com a música e ela sentiu que seus pulsos já tinham sido soltos.
I wanna kiss a boy
(Eu quero beijar um garoto)
I wanna...
(Eu quero...)
mexeu os lábios, sibilando o I wanna e os dois voltaram a sorrir.
I wanna kiss a girl
(Eu quero beijar uma garota)
I wanna kiss a girl
(Eu quero beijar uma garota)
I wanna kiss a boy
(Eu quero beijar um garoto)
I wanna...
(Eu quero...)
Qual era o mal nisso, afinal?
Ela passou as mãos pelo rosto do garoto e sentiu todo o seu corpo relaxar em agradecimento. fechou os olhos e voltou a puxá-la pela cintura.
Na na na na nana nana
apertou o corpo dela contra o seu e aproximou seus rostos. sentiu a estática entre os lábios e deixou que seus olhos se fechassem também.
Foda-se os outros.
Foda-se seu pai.
Foda-se a Itália.
Na na na na nana nana
Ela apertou a nuca dele com as unhas e sorriu de satisfação quando ele se arrepiou mais uma vez, o lábio dele pressionou o dela e ela agradeceu mentalmente por apertar sua cintura contra a dele com tanta força. Ela percorreu o cabelo dele com a outra mão e deixou que seus lábios se abrissem quando a língua dele pediu passagem. Sentiu cada centímetro de seu corpo que era tocado por ele pegar fogo, sentiu os pensamentos que enchiam sua cabeça simplesmente serem apagados e aquele gosto de hortelã preencher sua boca. Deixou que a preenchesse, sentindo todo aquele turbilhão de sentimentos explodir dentro de si mesma.
Fodam-se todos.
Take me on the floor
(Me leve para a pista/Me leve ao chão)
Capítulo 42
Um barulho vindo do corredor fez com que abrisse os olhos. Ela encarou a cortina da janela fechada, e piscou duas vezes, tentando se situar. Imagens da noite passada vieram em sua mente e ela mexeu a perna, tocando em outro corpo que, decididamente, não era o seu.
Que não seja , pensou consigo mesma.
Não era.
respirava silenciosamente, os cabelos bagunçados e a boca levemente aberta. sorriu e passou os dedos pelos cabelos dele, pensando de onde tiraria forças para viver sem aquilo. Fechou os olhos segundos depois, sentindo-se culpada por se ter permitido pensar em tal assunto naquele momento. Ela tirou suas mãos de onde estavam e aproximou seu rosto do dele, roçando o nariz na bochecha do garoto, fazendo ele se mexer e formar uma careta no rosto.
- Vai dormir mais? - se viu fazendo tal pergunta, mesmo já sabendo a resposta.
apenas concordou com a cabeça e fez um bico com os lábios. riu e beijou-o rapidamente.
- Vou descer - sussurrou com a boca ainda contra a dele.
Ele segurou-a pela nuca e soltou um gemido baixo, ainda de olhos fechados.
- Fica comigo.
- Tô com fome, - ela resmungou baixinho, tentando parecer séria.
- Deixa seus lábios aqui como garantia.
riu e deu-lhe outro beijo, se afastando antes que começasse a mudar de idéia, escutou ele resmungar mais alguma coisa enquanto levantava, mas tentou não dar importância. Ao se levantar, percebeu que estava somente com a parte de baixo de sua lingerie e sorriu sozinha, correndo os olhos pelo quarto em busca de seu sutiã. Ela achou-o ao lado da porta da suíte, jogado embaixo de uma blusa da Volcom de , pegou os dois e vestiu-os, saindo à procura de uma boxer pelas gavetas e pegando uma das que tinha dado à ele de natal.
Deu uma última olhada no garoto antes de abrir a porta. Ele tinha voltado a dormir, dessa vez tomando conta de quase toda a cama de casal. balançou a cabeça, ainda sentindo o sorriso estampado em seu rosto e girou a maçaneta, abrindo a porta e entrando no corredor.
Sentiu seu corpo esbarrar no de outra pessoa assim que a porta se fechou.
- Ops - ela riu e olhou pra cima, enquanto sentia duas mãos a segurarem pelos ombros.
- Hm, fugindo, ? - a olhava sorrindo e deu língua, fazendo-o rir - Bom saber que meu querido não passou a noite desacompanhado.
- Estamos aí pra isso - piscou e os dois riram outra vez - Acordou agora?
concordou e coçou a nuca.
- Minha barriga tá gritando por comida, tá afim?
- Pergunta idiota - ela fez uma careta e cruzou seu braço no do amigo, o guiando escada à baixo.
Os degraus pareciam mais escuros do que na tarde anterior e se perguntou se eles tinham voltado tão sujos na noite passada para terem o deixado naquele estado. Ela não se lembrava de nada, absolutamente nada! Lembrava-se de dançar com , do cheiro dele invadindo seu sistema, de seu corpo perdendo a sensibilidade a cada toque, e do gosto que a boca dele tinha. O mesmo de sempre, o mesmo que ela fingia esquecer para que ele pudesse lembrá-la... Também sabia que eles tinham ficado se beijando na pista de dança mais um tempo. Alguns minutos, ou horas, não sabia ao certo, o tempo não lhe parecia ter tanta importância assim. Depois tinha a vaga lembrança de que tinha aparecido depois de um tempo, extremamente alterada, rindo demais e gritando coisas como "já era hora!" e "felicidades, quando vai vir o próximo mcbaby?", e então bebidas, muitas bebidas, muitas garrafas, muito contato entre seus lábios e os de , entre os lábios dele e seu pescoço, entre seus lábios e a orelha dele... Basicamente sua lembrança era baseada em contatos.
Ela sorriu ao perceber que a encarava.
- Quê? - perguntou quando eles já chegavam na cozinha.
- Vai ficar ai pensando em como o é bom na cama?
- Você está com ciúme? - riu e eles viram um de costas e agachado, com a parte da frente do corpo completamente dentro da geladeira - Hey, , pega um leite pra mim.
Ele fez um legal com o dedão e voltou a mexer em algo, a olhou com as sobrancelhas erguidas.
- Estou tentando manter sua pureza.
- , você tirou minha pureza alguns anos atrás.
- Ui - soltou uma gargalhada e se virou, equilibrando em uma mão queijo, presunto e um pote de requeijão cremoso, e na outra a caixa de leite - Essa doeu em mim, meu caro. , posso tirar sua pureza também?
- Estúpido - riu e se sentou em frente ao balcão - Meu excesso ou falta de pureza não é da conta de vocês.
- Dougiezinho tá dando conta do recado, é? - fingiu limpar lágrimas embaixo dos olhos - Meu garoto.
deu língua ao amigo e abriu a caixa de leite, encostou a cabeça no balcão e andou até o armário, pegando um prato e um copo. Ele deixou o copo na frente de , que agradeceu e o encheu de leite. levantou a cabeça, seu rosto meio amassado pelos breves minutos que tinha passado com ela pressionada contra o mármore.
- Eu quero um sanduíche também - ele falou, apontando pra .
- Legal - o outro respondeu, enquanto cortava as bordas do pão.
- Meu pão, .
- Cara - largou a faca, dando uma mordida no sanduíche e falando de boca cheia - Faça você mesmo, que gay.
bufou, mas não se mexeu. deu a volta no balcão e se jogou no sofá da sala, atrás de onde os amigos estavam sentados, pegando o controle e ligando a televisão em qualquer canal. bebeu o último gole de leite, largando o copo.
- Vocês não tão curiosos? - ela ainda tinha a voz rouca de sono e uma expressão confusa - Digo... Sobre eu ter vindo pra cá.
Certo, aquilo fora totalmente inesperado.
não estava planejando tocar nesse assunto tão cedo. Só o pensamento de contar aos meninos sobre isso lhe causava arrepios, era cedo demais! Mas a forma qual eles estavam agindo nesse momento pareceu disparar algo em seu cérebro e as palavras simplesmente jorraram de sua boca.
Então, a única coisa que parecia vir em sua mente era: Por que não?
- Tanto faz. Não tanto, na verdade - deu de ombros, esticando os braços e se levantando.
observou ele andar até o sofá e sentar ao lado de , que riu e a olhou.
- Você deve ter aprontado alguma coisa - disse simplesmente.
- Por que eu teria aprontado alguma coisa? - levantou as sobrancelhas, cruzando as pernas.
- Porque é o que você sempre faz.
- Eu não apronto alguma coisa.
- Você faz as coisas - riu de novo - Dá no mesmo.
Ela balançou a cabeça, fechando os olhos. Ia ser mais complicado do que pensara.
- Não fui exatamente eu - ela soltou a respiração e não deixou que sua mente procurasse uma saída pra aquilo. Já tinha começado, agora iria acabar - Foi mais ou menos o meu pai...
- Então é de família? - a olhou rindo, mas logo desfez o sorriso quando percebeu que ela ainda o encarava séria - O que aconteceu, ?
Nada, eu só vou ficar muito rica em muito pouco tempo, ela pensou e conteve a vontade de rir. Se risse de seus próprios pensamentos macabros, passaria a idéia errada aos meninos e eles não conseguiriam a interpretar com seriedade depois.
- Eu me sinto uma dramática tendo que falar isso - sorriu e balançou a cabeça, sem jeito - Mas eu não poderia não contar pra vocês.
- Certo, agora você me deixou preocupado - desligou a televisão e inclinou o corpo pra frente, na direção da amiga, sua testa franzida expressando claramente a preocupação contida.
- Vocês sabem que o meu pai veio me procurar, não sabem? - eles concordaram com um aceno de cabeça, sem falar nada, e prosseguiu - Eu falei pra vocês que achava que ele só deveria tá se sentindo culpado, ou que estava falindo e queria ajudar, ou alguma coisa que... Não sei, que ele precisasse de mim, sabem? Mas não de um precisar sério e sim daquele precisar tipo, querer se aproveitar.
- Ele não queria se aproveitar - falou, sem nenhuma entonação de questionamento em suas palavras.
balançou a cabeça confirmando, mesmo assim.
- Era meio que uma necessidade de verdade, e por mais sério que pareça ser, que exija que eu seja, eu simplesmente não... - fechou os olhos, passando as mãos pelo rosto e suspirando. Não podia chorar. Prometera a que não choraria quando fosse contar aos outros, que seria forte, pra eles verem que ela estava convicta do que falava - Eu não sei como lidar com uma coisa dessas, de verdade, meninos, eu não tenho a mínima idéia de como agir! Então a primeira coisa que me passou pela cabeça foi que eu tinha que ver vocês e me sentir melhor, me permitir pensar mesmo que... Que eu não tenha uma saída ou coisa do tipo.
- , - se levantou e andou até a amiga, a abraçando. encostou a cabeça no ombro dele e fixou os olhos em , que ainda a encarava, dessa vez sem expressão alguma - O que aconteceu? Você só tá deixando a gente cada vez mais agoniado!
Ela se afastou e fingiu sorrir, não se sentiu contente e se sentou no banco ao seu lado, onde estava antes. Segurava uma de suas mãos e tinha seus olhos atentos, assim como os do amigo no sofá.
- Eu não sei como falar isso pra vocês - tossiu, limpando a garganta e procurou encarar algum ponto da sala que não lhe tornasse possível perceber a reação de nenhum do dois - Meu pai tem câncer de pele. Muito avançado, já passou pros órgãos e não tem mais como operar, nem tratamento ou quimio...
- Ele vai...? - não completou a pergunta, arregalando os olhos quando a viu concordar silenciosamente - Meu Deus, !
- E tem mais - sorriu amarga e abaixou os olhos para seu colo, onde uma de suas mãos brincava com a barra da boxer de - Ele quer que eu me mude pra a Itália pra cuidar de tudo.
- MAS HEIN? - deu um pulo, parando em frente a ela e com os olhos arregalados.
o olhou assustada. Esperava que eles ficassem calados, que eles xingassem seu pai de todos os nomes, que dissessem que ela não poderia ir, que não deveria ir. Nunca passara pela sua mente que eles teriam energia pra fazer um escândalo ou coisa do tipo.
- Shiiu! Não acorda o , cacete! - ela falou entre dentes e semicerrou os olhos.
- Ele ainda não sabe? - negou e arregalou ainda mais o olhos, voltando a falar alto - Você tem merda na cabeça, ? Que caralho!
- ! Dá pra falar baixo? Mas que porra, eu não deveria ter contado pra vocês - ela se levantou com a cara fechada e o rapaz se apressou em puxá-la para um abraço.
- Não, não, desculpa, é só que... - passou as mãos pelos cabelos dela e fechou os olhos, tentando absorver. Mas que merda era aquela? - Caraca, isso não pode tá acontecendo!
- É... - eles escutaram uma voz e se deram conta de que havia se levantado. Ele continuava com o mesmo rosto inexpressivo e um pouco pálido. Seus olhos estavam desfocados e ele dava a ligeira idéia de desconforto - Talvez você não devesse ter contado mesmo - ele sussurrou e passou pelos dois, dobrando no corredor que levava aos dois quartos do térreo.
e se encararam e a garota sentiu as lágrimas virem à tona. O que raios tinha acabado de fazer?
- Calma, - voltou a abraçá-la e fixou o ponto de onde o amigo sumira minutos antes - Dê tempo à ele, ele só tá confuso.
balançou a cabeça e escondeu o rosto no peito nu de , o que a teria feito rir e mandado ele se vestir que nem gente, se não estivesse tão cansada e farta para pensar sobre isso.
- Até quando eu vou ter que dar um tempo, ? Até quando?
abriu os olhos rapidamente, sentindo o peito subir e abaixar com grande freqüência, de acordo com sua respiração. Não conseguia lembrar com o que estivera sonhando, mas tinha certeza de que não queria voltar a dormir tão cedo.
Mexeu-se desconfortavelmente e sentiu uma pontada no pescoço, que pendia em cima do encosto do sofá. Massageando o lugar cuidadosamente, ela fixou seus olhos em , adormecido de forma tronxa ao seu lado. Reprimiu o riso e pôs-se de pé num pulo, ainda segurando o pescoço dolorido. Tinha que lembrar-se de nunca mais adormecer sentada naquele sofá.
Um murmurar de vozes lhe chamou atenção e parou no início da escada, desistindo de subir e indo até a área externa, de onde o barulho parecia mais alto.
estava sentada na cadeira de frente para a porta. Ela segurava uma xícara em suas mãos e ria de algo antes dito. Seus olhos pousaram sobre e seu sorriso permaneceu.
- Bom dia! Estávamos justamente fofocando sobre ontem à noite - ela disse animada e uma cabeça surgiu na cadeira à sua frente.
olhou a recém chegada de forma divertida.
- Sua cara está péssima - disse simplesmente.
- Meu pescoço tá pior - gemeu e deu a volta nas cadeiras, sentando num sofá do outro lado - Esse sofá é péssimo.
- Esse ou o que você tava largada na sala com o ? - franziu o cenho e gargalhou.
- A reconciliação foi tão ruim que o te expulsou da cama?
- Não seja idiota - mostrou a língua e a amiga levantou as sobrancelhas.
- Então foi boa? Fantástica? Fenomenal?
- Por acaso o não está te dando uma rotina sexual satisfatória, pra que você se interesse pela minha? - sorriu com o canto dos lábios e mordeu os lábios, tentando não se meter na conversa.
- Não meta o nisso.
- Eu meto o onde eu quiser.
- Esse negocio de meter o namorado dos outros onde quiser não dá em coisa boa - falou em voz baixa e as outras duas riram.
- Não tenho tanta certeza assim se não é coisa boa, - piscou um dos olhos e fez uma cara de indignada.
- !
As três gargalharam alto e deu de ombros, esfregando os braços com as mãos e olhando pra o céu, onde um sol baixo e fraco brilhava. Não deveriam passar das 10 da manhã... Por que elas estavam acordadas tão cedo?
- Os meninos vão pra o estúdio nestante - voltou a falar, como se lesse os pensamentos da amiga - Será que a gente deveria acordar eles?
- Não acho que o vá reclamar da gente tirar ele daquele desconforto - deu de ombros e concordou, vendo se levantar.
- O tava acordado desde cedo, ele disse que ia tentar dormir quando eu saí, mas não sei se conseguiu... - a voz da garota foi morrendo assim que ela pousou os olhos sobre . mordeu o lábio inferior, sentindo-se levemente tensa - Ele me disse que você contou sobre o lance da Itália.
- Pelo amor de Deus - fechou os olhos e murchou os ombros, suspirando e lembrando-se do que acontecera algumas horas atrás - Eu não quero falar sobre isso, chega de drama! Eu vim pra cá pra desestressar, não pra ficar remoendo.
- Eu não quero remoer isso. Por mais que ache que você deveria conversar com a gente - franziu o cenho, enquanto falava calmamente. concordou com um aceno de cabeça e fez menção de falar algo, mas a cortou - Eu só acho que a gente deveria conversar sobre o . Ele não ficou muito bem com isso tudo.
- Não era como se eu esperasse que ele ficasse - respondeu, tentando não encarar a amiga - Olha, , eu não tô exigindo que ninguém aceite tudo isso. Se vocês já me achavam dramática e com uma vida louca o suficiente antes, quanto mais agora! Não me importo se ele reagiu daquela forma, ele tem todo o direito, mas eu ficar lembrando disso e falando sobre isso com vocês não vai fazer com que ele aceite mais rápido.
- Eu sei - falou simplesmente e virou-se em direção à porta - Então é melhor irmos acordar os meninos e a hermafrodita da . Você perdeu a cena de ontem à noite! - ela rapidamente colocou um sorriso no rosto e fez um movimento com a mão para que as amigas a seguissem - Enquanto você tava na pista se agarrando com o , ela bebeu demais, subiu no banco e começou a dizer que tinha um pinto.
- Fala sério - gargalhou, seguindo-a e colocou a mão em seu ombro.
- chorou a noite inteira.
riu e seguiu as duas amigas até a sala, onde seguiu até o sofá e se abaixou, pronta para dar um berro no ouvido do garoto adormecido ali. deu um pulo do sofá, enquanto continuava em pé ao seu lado, rindo. balançou a cabeça e virou-se para .
- O que a gente vai fazer hoje? Não tô muito afim de ficar vendo eles no estúdio.
- A gente pode ir pra a praia - ela deu de ombros, fazendo uma expressão de dúvida.
- Nós vamos pra a praia? - a voz de se pronunciou e as duas se viraram.
sorriu divertida.
- Nós, meninas, vamos para a praia. Vocês, meninos, vão ralar as bundinhas e ganhar algum dinheiro!
- Isso mesmo - concordou - Alguém precisa pagar as compras que eu faço no cartão do e a conta do meu abuso no celular do Tom.
- Você compra alguma coisa com seu próprio dinheiro? - o garoto perguntou com as sobrancelhas erguidas e a amiga negou - O que você faz com ele, então?
- Rasgo e dou descarga.
lhe mostrou o dedo médio e as outras duas riram. Eles combinaram mais alguma coisa rápida e decidiram subir para acordar o restante do pessoal. Foram necessários alguns segundos para convencer de que ela tinha que perturbar o sono sagrado de Tom, mas ela logo cedeu, apenas com a condição de que pudesse ver acordando . O amigo concordou e os dois rumaram rindo até o segundo andar.
- Não riam tão alto, vocês vão acordar o ! - reclamou, vendo os amigos sumirem no topo da escada, fazendo mais barulho do que o necessário - Infelizes.
Bufando, virou-se para , que fez um sinal com a mão de que estava indo para o quarto e saiu nas pontas dos pés pelo corredor, indo para seu quarto com no primeiro andar. Depois que perdeu a amiga de vista, suspirou e começou a subir as escadas para o segundo andar sozinha. Começou a pensar nas várias formas qual poderia acordar . Bem, tinha sempre a opção de acordar ele com beijinhos, ou pulando em cima dele, ou gritando - como fizera com minutos atrás - ou... Ela parou em frente à porta do quarto e colocou a mão na maçaneta. Por que estava se preocupando tanto com a forma qual acordaria ele? Era só acordar e pronto, oras! Não tinha tempo pra perder com bobagens, o garoto precisava ir trabalhar e ela tinha que ser uma boa namorada e...
parou antes de empurrar a porta destravada e arregalou os olhos. Ela não era namorada dele! Eles só tinham ficado na noite passada e ela já estava voltando a agir como se eles fossem namorados! Eles não eram assim. Sempre que ficavam voltavam ao status de amigos até que rolasse de novo. mordeu o lábio e pensou consigo mesma se amigos acordavam uns aos outros com beijos. As imagens de Tom e passaram por sua mente e ela balançou a cabeça para afastá-las. Decididamente não.
Mas antes que ela pudesse se afastar, uma força do lado de dentro do quarto puxou a porta e a maçaneta escorregou de suas mãos, levantou o olhar, assustada e deu de cara com sem camisa, vestindo apenas uma calça e usando a mão que não abrira a porta para enxugar os cabelos molhados e arrepiados com uma toalha. O coração da garota começou a bater loucamente em seu peito e ela prendeu a respiração, totalmente confusa sobre como agir e ainda estática pela cena de seu garoto tão... Lindo. Suas entranhas pareceram se contorcer quando sorriu e a mente de começou a trabalhar a mil por hora, decidindo o que fazer.
Sem ao menos notar, ela lhe lançou um sorriso de volta e observou enquanto ele se abaixava e depositava levemente um beijo em seus lábios, fazendo com que os mesmo começassem a formigar, pedindo por mais, assim que o contato cessara.
- Bom dia - falou animado e ainda o encarava - ? Tudo bem?
Ela balançou a cabeça, concordando e arriscou-se a falar, duvidando, porém, que saísse algum tipo de voz.
- Tudo - escutou-se dizer e sorriu mais uma vez, tentando esquecer toda a bobagem que pensara minutos atrás - É só que eu tinha vindo pra te acordar, mas pelo visto você foi mais rápido.
sorriu e passou as mãos pelo rosto da garota à sua frente, segurando-o e o inclinando para si.
- Desculpa por isso - falou baixinho e negou num movimento de cabeça, sorrindo somente com os lábios - Já tomou café?
- ! Já são 10:30 e vocês precisam chegar no estúdio às 11!
- E onde é que eu ser impedido de tomar café entra nisso tudo?
colocou as duas mãos na cintura e o encarou séria. Será que ele não tinha escutado nada do que ela dissera?
- Você não tem tempo pra comer! - ela falou com a voz esganiçada e o garoto riu, tirando as mãos do rosto dela e voltando para dentro do quarto - É melhor você colocar logo uma camisa e descer, senão vocês vão se atrasar, ...
Todos os esforços pareciam em vão. continuava a andar do banheiro para o closet do quarto como se não escutasse a garota. bufou e andou até a cama, com pisadas fortes e claramente irritadas, jogou-se de barriga para cima e braço abertos e encarou o teto. Era tão difícil bancar a mãe dele, às vezes.
- O que você acha que eu devo usar? Bermuda ou uma calça mesmo? Se bem que aqui tá calor pra caramba e você só colocou essa calça na mala... - resmungava do closet e pôde escutar o barulho de gavetas sendo abertas e algo sendo remexido - Eu tenho certeza que deixei aquela bermuda azul em algum lugar por aqui, mas que merda, se o tiver pegado, eu juro que eu raspo todo o tipo de cabelo que possa existir no corpo dele.
- iria agradecer por isso. Tente algo mais doloroso - falou, ainda sem tirar os olhos do teto e escutou outra gaveta bater.
- Ah, você ainda tá ai? Pensei que tinha tido um ataque de raiva e descido.
- Muito engraçado, .
Ela escutou a risada dele e olhou para baixo, vendo-o se aproximar da cama, ainda sem camisa, mas vestindo uma bermuda de cor clara. Ele segurava o que parecia uma camiseta em uma de suas mãos e sorria de forma maliciosa em sua direção. riu e desviou o olhar de volta ao teto assim que começou a sentir as pernas de colarem nas suas, que pendiam para fora da cama.
- O que você quer, ? - perguntou prendendo riso e sentiu o peso do corpo dele sendo jogado sobre o seu.
havia subido em cima de na cama, colocando cada uma de suas pernas envolta do corpo dela e usado apenas a mão qual segurava a camisa para apoiar na cama, levando a outra até o rosto da garota e deixando-a ali. Ele sorria, dessa vez de forma mais suave e passeava os olhos por cada parte do rosto dela.
- Você.
fez um barulho estranho com os lábios, ignorando o calafrio que subiu por sua espinha ao escutar tais palavras.
- Piegas - disse simplesmente e pendeu a cabeça para o lado, rindo.
- Você é bem exigente, não é? - ele perguntou, descendo a mão até o pescoço dela e mordeu o lábio inferior, concordando - O que acha de eu boicotar essa gravação e a gente passar a tarde inteira aqui... Só eu e você, você e eu, matando a saudade - abaixou o rosto e mordeu levemente a orelha da garota, fazendo com que ela se segurasse para não deixar escapar um suspiro. Não se renderia tão facilmente - O que me diz?
- Te digo... - começou a falar, mas mordiscou o lóbulo de sua orelha com um pouco mais de força e ela sentiu as palavras se perderem. O riso baixo dele ecoou pelo quarto e ela pigarreou, voltando a falar - Te digo que a gente já fez isso ontem.
- Não, não fizemos. Ontem a noite a gente tava tão bêbado que não aproveitamos da forma que devemos - ele virou o rosto, começando a mordiscar a outra orelha - Temos que fazer as coisas com mais calma, aproveitar mais, sabe como é...
- Quem disse que eu quero fazer alguma coisa lenta com você, ? Sai de mim! - brincou e ele voltou a rir, afastando seu rosto do dela e a olhando no olhos.
- Você ficou muito difícil nessas últimas semanas.
- Vai dizer que você não gostou? - a garota piscou e reprimiu uma risadinha debochada, vendo-o manear a cabeça antes de responder.
- De certa forma frustrante... - voltou a aproximar seus rostos e pôde sentir aquele hálito bater contra sua face e fazê-la perder os sentidos - Mas muito mais estimulante.
- Bom saber que eu ainda te estimulo - ela disse, já com os olhos fechados e sentiu a boca dele se aproximar da sua.
- Você não tem idéia do quanto - seus lábios roçaram-se e esqueceu completamente de qualquer compromisso no estúdio ou tarde na praia com as garotas, levou uma de suas mãos aos cabelos ainda úmidos do garoto e pressionou mais o lábio dele contra o seu, escutando-o gemer levemente em agradecimento por isso.
Aquilo a fez sorrir.
desceu a mão do pescoço dela até sua cintura e apertou o local, fazendo todo o resto do corpo de se contrair e pedir por mais, mais pressão, mais contato, mais ele. Atendendo o pedido subentendido, passou a mão por baixo da cintura dela, fazendo com que seu quadril fosse elevado e pressionado contra o dele. puxou os cabelos do garoto, afastando o rosto dele do seu e mordeu o lábio inferior dele.
Aquilo o fez sorrir.
Quando ele deslocou a mão de seu quadril e alcançou a barra da blusa longa - dele mesmo - que ela usava, um barulho de batida na porta soou pelo quarto, fazendo-os bufar enviesados, mas sem se desgrudar. Então a batida ecoou mais uma vez, e outra, e desgrudou seus lábios dos do garoto, que a olhou confuso. Ela riu e o empurrou levemente fazendo com que caísse ao seu lado da cama e exclamasse um palavrão baixinho.
- Segura a onda ai - ela falou pra ele e sentou-se na cama, ajeitando o cabelo e elevando o tom de voz - Pode entrar.
A porta se abriu e colocou a cabeça pra dentro, parecendo ligeiramente constrangido e com o ar de que estava se divertindo.
- Interrompi?
- Não - apressou-se em dizer e ouviu bufar - O já tava descendo pra tomar café, não era, fofo?
resmungou alguma coisa incompreensível e endireitou-se na cama, sentando ao lado dela e encarando com olhos de lince, o que só fez com que o amigo parecesse se divertir mais ainda.
- Ah, preciso falar com você, .
- Tudo bem - a garota sorriu e deu um tapinha nas costas de - A gente se vê lá em baixo.
Ele bufou outra vez e pôs-se de pé, saindo rapidamente do quarto e quase derrubando quando cruzou com ele na porta. Ele olhou para , rindo e ela deu de ombros.
- Pode entrar, .
tentara esconder a animação em sua voz por ter o amigo ali, mas pareceu totalmente em vão, pois um segundo depois que fechou a porta e adentrou no cômodo, o sorriso em seus lábios desapareceu e sua postura ficou incrivelmente ereta e séria enquanto ele andava até onde a amiga estava. Sentou-se ao seu lado sem falar nada e encarou as mãos, sentindo o clima pesar.
- Veio aqui pra gritar comigo ou dizer que finalmente me entendeu? - ela ousou perguntar, ainda sem encará-lo.
- Nenhum dos dois - dera de ombros e chutou o ar - Eu não estou te amando mais nesse momento só porque descobri que você vai embora.
fez um careta e o olhou rápido.
- Nessa situação seria mais fácil se você não me amasse por motivo algum - sua voz adquiriu um tom inocente e sorriu.
- Eu estou muito chateado. Sério. Não se engane por eu estar sorrindo, eu sou retardado naturalmente e sei disso - os dois riram e ele voltou a falar, re-indireitando os ombros - Só vim aqui pra te dizer que se eu passar uns dias sem falar direito com você, não é porque eu te odeie, e sim porque eu te amo demais pra te ver ir embora.
Como ela pudera arranjar amigos tão perfeitos assim? Com um aceno de cabeça, concordou e evitou que seus olhos se enchessem de lágrimas. Passou um de seus braços envolta do pescoço do garoto e o abraçou com toda a força que tinha.
- Eu te amo muito, . Muito mesmo - sua voz saiu abafada devido ao fato de que escondia o rosto no ombro dele. passou as mãos pelos cabelos dela.
- Eu também te amo muito, . Muito. E por isso mesmo eu não quero que você passe todos esses dias aqui com essa cara triste e falando sobre isso com os outros pelos cantos. Eu quero que você se divirta, certo? E ignore meu mau humor.
concordou e afastou-se dele, sorrindo de orelha à orelha e sentindo que talvez suas lágrimas tivessem secado por algum tempo.
- Tudo bem.
- Isso quer dizer que eu posso ir pra a praia com vocês? - o garoto acompanhou seu sorriso e girou os olhos, se levantando da cama e andando em direção à porta - Hey, ! ! Ah, qual é! Ninguém quer gravar hoje! A gente quer ver vocês de biquíni.
- Cresça, . Cresça - disse e fez um movimento com a mão, sumindo ao dobrar no corredor.
Capítulo 43
- Tomem cuidado! - pediu, dando um beijo no namorado - Não quero meu filho sem pai nem tios antes mesmo de nascer!
- , me poupe, nós vamos pro estúdio! A única possibilidade de a gente morrer é se eu engolir um microfone ou uma baqueta.
- Fique longe das minhas baquetas, Fletcher! - ele escutou um grito do banco de trás, seguido de risadas.
- Por favooor - fez um bico e Tom a puxou para outro beijo.
- Prometo não engolir nada.
A garota sorriu e desceu do banco traseiro, incrivelmente corada e arrastando uma de cara feia.
- Vamos?
- Você já tomou sol, ? - perguntou, apontando para seu rosto.
riu maldosa e fingiu não escutar a pergunta, enfiando o rosto na janela da porta pela qual saíra momentos antes.
- , pare de engolir o e venha logo! - ela gritou e as meninas escutaram alguém resmungar - O caralho! , afaste essa caneta de minha cara e... , DA PRA VOCÊ SEPARAR ESSES DOIS ANTES QUE ELES FAÇAM UM FILHO?
- mal comida - cochichou com e Tom, com o rosto na janela do carro eles viram a amiga lhes mostrar o dedo médio.
Ainda sob várias reclamações, conseguiu com que saísse do carro e se postasse junto às outras, com a cara amarrada e os lábios vermelhos e ligeiramente inchados.
- Quero solos lindos - sorriu para , que se inclinou sobre e beijou a garota.
- Tudo por você - ele piscou.
- Não roube minhas idéias - Tom resmungou.
- Tudo por você, Tom, não sobre você.
- Minha idéia.
- Cresça, Fletcher.
- MINHA ID--
- Dêem um tempo - Fletch falou do banco do motorista - Desculpem, meninas, mas nós estamos atrasados.
sorriu e mandou um beijo ao homem, que balançou a cabeça com ar divertido.
- Cuida bem deles, Fletch.
A garota se afastou do carro e acenou, colocou a cabeça na janela, gritando à plenos pulmões.
- NÃO PEGUE UMA INSOLAÇÃO!
escondeu o rosto no ombro de .
- O me envergonha.
Os meninos fecharam as janelas e o carro arrancou, subindo a rua e sumindo de vista. As quatro ficaram paradas por alguns minutos, com o ar de que estavam pensando no que fazer a seguir.
foi a primeira a se pronunciar, bufando e dando as costas às outras, andando até a areia. desencostou a cabeça do ombro de e deu uma cotovelada em , fazendo um movimento com a cabeça que indicava , mais á frente, estendendo uma canga amarela na areia branca. concordou e puxou o braço de .
- Vamos nos divertir, grávida.
As três sorriram e deram os braços, saltitando e jogando areia até onde a outra amiga já estava deitada.
- Aaai, bando de infelizes! - balançou o braço para tirar a areia.
pegou a sua canga dentro da bolsa e começou a estendê-la ao lado da de , parando assim que viu tirando a blusa.
- Vai pra onde? - perguntou, ainda a olhando.
- Pro lixo, brincar - fez uma cara sarcástica e gargalhou, também tirando a blusa - Pra o mar, zinha, nem lembro a última vez que fui numa praia.
- Tá com inveja da minha cor - sorriu e levantou os braços, mostrando a cor dourada de fazer inveja.
- Não me faça lhe dizer o que você tem que fazer com essa sua cor... - apontou um dedo na direção dela e deixou o short escorregar pelas pernas, levantando uma de cada vez para tirá-lo.
- Será que eu trouxe minha câmera? Os meninos vão ficar satisfeitos com umas fotos de vocês nesses trajes - enquadrou a bunda de com um quadradinho feito com os dedos e fez o som de "clic" com a boca - Quem sabe eles acabem se inspirando pra músicas mais... Sensuais.
- Isso mesmo - fez um joinha e colocou suas roupas já dobradas na bolsa, em cima de sua canga - Tire muitas fotos e olhe muito, quem sabe um dia você consiga uma que nem a da gente.
Muito engraçado, resmungou e pegou uma câmera digital, feliz por ter levado-a. puxou um dos braços de e começou a falar algo muito rápido sobre como a barriga dela estava enorme e como ela tinha que passar protetor solar direito, ela abria o pote enquanto dizia isso, e antes que qualquer uma notasse, já tava espalhando a gosma branca na barriga da amiga, sorrindo loucamente e murmurando coisas baixinho.
- Ownti, titia, você vai ser lindinho, tá? E você tem que ser homem, porque eu tenho que mostrar pra o Tom o quão ruim ele se veste - fazia voz de criança enquanto falava com a barriga da amiga e espalhava o protetor solar - Ele vai ver como você vai ficar feio com as roupas que ele escolher e vai vir me chamar chorando pra eu sair com você. Não é, neném, não é? Olha só, não deixa os seus cérebros dos seus tios -
- ! - berrou rindo - Vai ser menina, pára de falar idiotices.
- Como você sabe isso? Eu sinto que vai ser menino - balançou a cabeça com ar de esperta e a amiga estreitou os olhos.
- Não é você quem tem que agüentar essa barriga 24 horas por dia, 7 dias por semana, então não é você quem tem que sentir nada!
- Ainda bem que não sou eu, olha só pra os seus hormônios!
- Vocês não iam entrar no mar? - levantou os óculos escuros bem à tempo de impedir uma resposta mal criada.
sorriu concordando e deu um puxão em , fazendo-a parar de passar protetor em sua barriga. As duas colocaram os óculos junto às bolsas e saíram correndo em direção ao mar. levantou os braços e começou a gritar coisas sem nexo, fazendo se esforçar para não parar de andar enquanto ria exageradamente. gritava coisas como idiota e débil mental, tirando várias fotos e ignorando as risadas histéricas de ao seu lado.
- Pára de agir que nem uma louca, a gente tá num lugar público! - se aproximou, baixando os braços de e a empurrou para perto do mar.
A água topou nos pés da garota e ela deu um gritinho.
- Ai meu Deus, isso tá muito geladaaa!
revirou os olhos.
- Ridícula. Você me constrange! Nunca viu mar não? - cerrou os olhos pra a amiga e lhe mostrou o dedo médio, dando as costas e entrando mais na água - E ainda é mal educada!
- Não vejo a hora de você ter logo esse filho e seus hormônios voltarem ao normal - resmungou e abaixou-se, fazendo uma careta enquanto a água molhava o resto do corpo - Ai, mas é um geladinho tão bom.
Ignorando o comentário de , adiantou-se e andou um pouco mais, dando um mergulho rápido e sentando na areia, deixando só a cabeça pra o lado de fora e sustentando-se com as duas mãos ao lado do corpo no caso de uma onda bater. Ela parou olhando pra a amiga e jogou um pouco de água em sua direção, que acabou batendo em seu abdômen, fazendo-a soltar um gritinho e rir depois.
- Entra logo, , depois você nem sente o frio.
mordeu o lábio inferior e repetiu as mesmas ações que tinha feito minutos atrás, tremendo um pouco assim que parou ao lado dela.
- Sei de nada. Ainda tô com frio.
- Você tá muito insuportável - revirou os olhos e se inclinou pra ajeitar o biquíni. fechou os próprios e virou o rosto pra o sol - tá gostando daqui?
- Tá - deu de ombros - Vocês parecem bem preocupados em saber se a gente tá gostando daqui - ela completou com uma risadinha e virou-se para olhar a amiga - Qualquer lugar estaria ótimo com tanto que a gente se divertisse, você sabe disso.
- Eu sei, eu sei - abaixou a cabeça, olhando pra a água do mar e assoprando um pouco, formando umas ondinhas circulares - É estranho a gente junto e eu... Grávida - ela fez uma careta e gargalhou - É sério! Eu não vou dizer que eu não me imaginava grávida, porque eu imaginava, mas não agora.
- Se as coisas saíssem sempre como você imaginava, não iria ter a mínima graça.
- Eu não tô achando elas engraçadas agora.
a olhou com o cenho franzido.
- Quer dizer que você não tá gostando da gravidez?
- Que dizer que eu não tô gostando de você ir embora - falou, levantando a cabeça e olhando pra e na areia, que se levantavam e apostavam corrida até o mar.
parou, se abaixando pra pegar a toalha que havia caído e colocou as mãos nos joelhos, tentando respirar. parou mais à frente e entortou o pescoço, vendo que a amiga tinha ficado pra trás. Ela deixou que e continuassem andando e conversando e esperou até que se recuperasse e andasse até ela.
- Falta muito? - perguntou assim que alcançou .
- Acho que não. A gente já passou daquele mercado, lembra? - ela perguntou e cruzou o braço com o da amiga - Respira fundo que a gente tem que ter fôlego pra bater naqueles imbecis quando chegarmos em casa.
- Eu ainda não acredito que a gente tá voltando pra casa andando. Eu odeio andar.
- Você odeia tudo, . Não é como se isso fosse uma novidade pra a gente - respondeu mais à frente e revirou os olhos.
- Eu estou ignorando a amiga grávida, então isso não me afetou.
- Alguém diz pra ela que a partir do momento em que--
- ! - falou com a voz esganiçada e riu - Relaxem, acho que esse sol tá mexendo com a cabeça de vocês.
As duas bufaram e se afastou de , andando mais à frente e com a cara fechada, claramente irritada. Mais atrás, continuava a andar em silêncio ao lado das duas amigas, tentando ignorar a leve dor que vinha de seus pés e a fazia querer sentar a cada passo dado. Falta pouco, disse a si mesma e começou a se xingar por ser uma pessoa tão sedentária.
Olhou para , que mantinha uma das mãos na cintura e olhava para baixo enquanto andava. , ao lado, parecia se arrastar e querer sair correndo assim que possível.
Ela não podia ser mais sedentária que as amigas, podia? riu consigo mesma e sentiu seu peito doer ao notar o que fizera. Estava agindo como antes, tentando enxergar o defeito dos outros maior que o seu para que não se sentisse culpada demais por tê-los.
Merda, ficar calada nunca era uma boa saída. Decididamente não era a hora de pensar, muito menos pensar demais.
- Acho que eu não quero mais sair hoje - falou depois de um tempo, já havia voltado a andar ao lado das três e parecia mais calma - Vou chegar tão cansada em casa que eu não tenho coragem nem de pensar em me arrumar!
- Nem eu - deu de ombros, agradecendo por alguém ter quebrado o silêncio - Acho que os meninos vão voltar tão cansados que também não vão querer saber de nada.
- É... - suspirou e continuou a andar, mas levantou a cabeça rapidamente e sorriu - Poderíamos fazer um luau!
- Não acho que a patrulha da praia vai gostar muito se a gente fizer uma fogueira e ainda deixar cacos de cerveja pela areia - balançou a cabeça e franziu a testa, olhando pra ela.
- Patrulha da praia? Isso existe?
- Sei lá, mas deve ter alguma coisa parecida, não é?
e riram e elas voltaram a ficar em silêncio, avistando a casa mais à frente. Não tinha carro nenhum na entrada da garagem, o que queria dizer que , , e Tom ainda não tinham chegado do estúdio. E talvez ele até demorassem.
- E ai? Se a gente for fazer, vamos ter que comprar mais bebidas, só tem um engradado de cerveja - falou destrancando a porta e suspirou pesado.
- Eu vou ligar pra o e dizer pra eles comprarem quando tiverem vindo. Não vou lá andando nem que me paguem - tirou o celular da bolsa e a jogou num sofá, seguindo para as escadas.
e se entreolharam com as sobrancelhas erguidas.
- Até parece que a gente ia pagar alguma coisa pra ela.
olhou-se no espelho mais uma vez, dobrando e desdobrando as mangas do casaco preto de que lhe cobria até os joelhos, deixando apenas um pouco da bermuda jeans à mostra. Ainda com o olhar preso nas mangas do casaco, a garota começou a pensar no quão estranho era aquele clima mais frio que arrebatava a cidade à noite. Maluquice, pensou consigo mesma, mas logo sorriu, imaginando como seria perfeito morar em meio àquela loucura.
Nunca vai ser possível, lembrou a si mesma e jogou os braços ao lado do corpo, exausta sem razão alguma e decidindo por deixar as mangas, compridas demais, desdobradas. Encaixou as sandálias de borracha legais que tinha comprado durante o dia e fez seu caminho para fora do quarto. A escada não era muito longe do cômodo onde a garota estava anteriormente. Assim que atingiu seu topo ela pôde escutar a risada familiar que dançava do andar inferior e chegava aos seus ouvidos. Sorriu sozinha ao sentir seu peito inflar e todo o seu corpo ser aquecido.
Já havia descido quase todos os degraus quando entrou em seu campo visual. Jogado com as pernas abertas e os braços no encosto do sofá em frente á escada, também usava um de seus casacos e uma bermuda qualquer. Ria de algo que não conseguia ver e tinha duas cervejas, uma em cada mão. Ela não sabia dizer qual era a marca, talvez alguma australiana pela qual ele e os garotos estivessem começando a viciar.
Desceu os degraus que restavam e finalmente teve a atenção de seu garoto voltada para si. correu os olhos por toda a extensão do corpo de , analisando cada pedaço da garota, por mais cobertos que eles estivessem, não importava, com roupa, sem roupa, com pouca ou muita, seria sempre agradável observar a forma qual parava de andar, com uma perna levemente dobrada e a outra esticada, as mãos na cintura e o olhar divertido na face.
Ele devolveu o olhar e bebeu um gole de uma das garrafas que segurava, voltando sua atenção para , que estava em pé atrás do balcão onde tinha um refrigerador cheio de bebidas. O garoto mexia em um isopor enorme e cheio de gelo, vez ou outra colocando uma garrafa de bebidas variadas. Ele falava algo ao mesmo tempo em que ria e olhava para num intervalo de tempo, para checar se o amigo estava prestando atenção ao que ele dizia. Ao ver parada na escada ao lado, ele sorriu e deu de ombros, fazendo-a sorrir, pois sabia que seu papo com havia se perdido naquele momento.
- Boa noite - falou, andando até e beijando-lhe na bochecha. sorriu e passou uma mão na bochecha da menina, que gritou ao sentir os dedos gelados dele em sua face, fazendo-o gargalhar - imbecil.
Ainda resmungando, ela virou-se para e ele sorriu sapeca, estendendo uma das garrafas que segurava em sua direção. andou até o sofá onde ele estava e parou alguns centímetros à sua frente, perto o suficiente apenas para pegar a cerveja oferecida.
- Noite - finalmente respondeu, ainda com o mesmo sorriso no canto dos lábios.
revirou os olhos, rindo levemente e mergulhando para beijar-lhe rapidamente.
- Você é tão inofensivo, .
- Você é tão ingênua, .
Ela rolou os olhos e o puxou pela mão, colocando-o de pé num segundo.
- Estamos indo lá pra fora, - a garota avisou, enquanto já chegava à porta que levava aos fundos da casa.
- Quer uma ajuda ai, cara? - perguntou casualmente e levantou as sobrancelhas.
- Certo... Como se você fosse mesmo ajudar.
riu.
- Sou uma pessoa educada.
- Na frente da .
desfez o sorriso e mostrou o dedo do meio, fazendo o amigo gargalhar e o puxar com mais força para o lado de fora.
Os outros cinco estavam sentados num pequeno pedaço de grama que o quintal oferecia, formando uma meia roda enquanto Tom dedilhava algo no violão, fazendo e rirem. estava deitado, apontando algo para o céu enquanto falava e , que estava do seu outro lado, revirava os olhos a todo minuto, falando algo vez ou outra, fazendo contorcer o rosto numa careta e dar um tapa de leve nela.
- , ali não é constelação nenhuma, é só uma estrela, você precisa de mais de uma pra ter uma constelação - escutou falar, enquanto se aproximava e sentava do outro lado dela, recebendo um olhar suplicante - , diz pro que uma constelação tem mais de uma estrela.
- , uma constelação tem mais de uma estrela - ela e falaram em uníssono, fazendo revirar os olhos.
- Mas eu vi no Discovery Channel que...
- Você ainda tá falando sobre isso? - parou de prestar atenção em Tom e virou-se para encarar o namorado e os amigos - , querido, dê um tempo.
O garoto bufou de forma infantil, fazendo todos rirem e saiu de dentro da casa, cambaleando enquanto trazia o isopor enorme nos braços. Conseguiu colocá-lo no centro da roda e andou até onde estava.
- Eu pensei que isso seria um tipo de Luau - comentou, dando uma mordida num pãozinho e tentando manter a boca de Tom longe dele.
- É, luais não são na praia? Com areia e tudo o mais? - perguntou e foi jogada em cima de , por um que pedia espaço pra se sentar ao lado de - Ai, seu ogro.
ignorou a reclamação e puxou-a, a aconchegando entre suas pernas. sorriu e encostou a cabeça no peito do garoto, levantando o olhar e rindo ao ter a visão dele de cabeça para baixo. balançou a cabeça, sorrindo, e lhe deu um selinho.
- Olha como eles são lindos - cutucou e fez um movimento com a cabeça na direção de Tom e , que riam enquanto comiam os bolinhos e davam beijinhos intercalados - Eu consigo imaginar o casamento deles - ela comentou, com a imagem completamente criada em sua mente.
Ela se desencostou um pouco do garoto e observou os amigos em volta, cada um absorto em seus próprios momentos.
- E se a gente se casasse?
riu e encostou a cabeça no peito dele, reconfortando-se entre as pernas do mesmo.
- E se nós tivéssemos filhos? - voltou a perguntar - E se...
A frase dele se perdeu, havia entrelaçado os dedos de uma de suas mãos em uma das dele.
- E se a gente parasse de fazer planos? - foi a vez dela falar - Planos me dão calafrios.
Planos lhe davam certezas. tinha medo de certezas. Aprendera a ter.
- Eu posso enumerar as coisas que te dão calafrios - falou divertido.
sentiu a respiração dele bater em sua nuca e fechou os olhos para memorizar tudo aquilo. Tudo aquilo do qual sentiria falta. Aquilo que ela não sabia se voltaria a ter e/ou sentir um dia. Ela queria cada pedaço de em sua memória para que fizessem-na esquecer das certezas que a tirariam dos braços dele.
- Você pode enumerar tantas coisas sobre mim... - sussurrou e sentiu os braços dele a apertarem com mais força - Você me conhece melhor do que eu mesma.
concordou baixinho.
Talvez fosse bom que ele não soubesse que ela iria embora. Isso dava às coisas um toque natural, sem aquele gostinho de despedida.
Essa era outra coisa que queria marcada em si. O seu de sempre.
- E se você fosse minha pra sempre?
- , sem planos.
- É sério, . E se a gente... - ele parou o que falava e a rodou, para que seus corpos ficassem frente à frente - Quer casar comigo?
Ela riu.
Lá vinha e as milhões de coisas que não podia fazer com ela. Casar estava no topo dessa lista.
- Claro, e nós vamos ter 11 filhos, 4 cachorros e...
- - ele segurou o rosto dela com as mãos e sentiu todo o sangue que circulava por sua face desaparecer - Eu tô falando sério. Quer casar comigo?
desfez o sorriso divertido que estava em seus lábios e encarou os olhos dele. Os olhos azuis, límpidos, livres de qualquer tipo de dúvida. não estava brincando, planejando algo pra um futuro distante, não estava agindo como antes. Aquilo era sério, era o que ele queria e - sentiu seu estômago despencar e seu coração ser arrancado de seu peito - era justamente a única coisa qual ele não poderia ter. Não agora, quando ela precisava deixá-lo.
- Não seja tolo - desviou seu olhar do dele e virou o corpo para a posição de antes, agradecendo por não ter mais que encará-lo ou ele seria capaz de ver tudo o que estava sentindo apenas em seu olhar - Nós não podemos nos casar, .
- Por que não?
suspirou.
- Porque você já está casado - disse simplesmente e sentiu o peito dele se afastar de seu corpo rapidamente. Ela riria, se não estivesse com tanta vontade de chorar - Não é isso que você pensou. Eu só quis dizer que... Olha só pra tudo isso, ! Vocês acabaram de se tornar independentes, vocês tão começando a carreira de verdade agora - voltou a virar o corpo e encarar o rosto confuso dele, tentando ao máximo sorrir sem demonstrar sua tristeza por ter que falar aquilo - Vocês vão viajar pelo mundo, vão conquistar milhares de fãs...
- E eu quero você ao meu lado em cada um desses lugares - disse, a puxando para mais perto de si e abraçando-a contra seu peito.
sentiu o ar de seus pulmões acabarem e expirou lentamente, tragando juntamente com o ar aquele cheiro que tanto amava e tinha para si.
- Mas você não pode. A gente não pode se casar - ela afastou o rosto do peito dele, mas ainda permanecendo abraçados e escutou os acordes de violão começarem - Eu não quero ser casada com alguém que é na verdade casado com o trabalho e não comigo.
- Essa é a desculpa que você tá me dando? Que não vai se casar comigo pelo meu trabalho?
- Não é uma desculpa - balançou a cabeça e quis dar um soco em si mesma por fazê-lo pensar tal coisa - Eu não quero discutir por isso, .
- Nós não estamos discutindo! É só meio constrangedor receber um não ao pedido de casamento que eu fiz pra a pessoa que eu mais amo.
Ela sorriu e beijou levemente os lábios do garoto, sentindo os ombros dele relaxarem.
- Nós não precisamos nos casar pra provar que a gente se ama.
- Mas seria legal se isso acontecesse! - sorriu sapeca e ela lhe deu um tapa.
- Então é isso? Você só quer casar comigo por que seria legal, ? - riu da cara que ele fez e tentou adquirir um ar sério - Casar não é o mesmo que criar um cachorro.
- Você tem razão, criar um cachorro é muito mais difícil e requer mais compromisso - inflou o peito e fez a garota rir mais ainda - Vem, vamos dançar.
Num só movimento, ele se pôs de pé e ofereceu a mão à , que olhou envolta, percebendo que e cochichavam algo num canto enquanto e dançavam a música lenta que Tom tocava no violão. Ela sorriu para , ao lado do amigo, que deu uma piscadela e então voltou a olhar para à sua frente, segurando sua mão sem ao menos pensar duas vezes.
Eles andaram até o lado do outro casal e envolveu a cintura de com os braços. Ela colocou os dela envolta do pescoço do garoto e encostou sua cabeça em seu ombro, fechando os olhos e sentindo o cheiro dele voltar a impregná-la, sentindo-se levemente tonta e completamente feliz.
- Por que você não criaria um cachorro comigo? - perguntou sem pensar e escutou ele rir baixinho em seu ouvido.
- Porque requer compromisso, já disse. Se você não quer casar comigo, não tem chances de a gente criar um cachorro.
- Isso não faz sentido - ela riu e enfiou o rosto na volta do pescoço dele, ainda se sentindo tonta e feliz.
- Pra mim faz - deu de ombros e riu novamente - Mas não se preocupe, fofa, eu plantaria uma árvore com você.
riu sarcástica e ele a fez afastar o rosto de seu pescoço, fazendo-a girar num contraste sem nexo à música, o que causou algumas risadas à Tom. puxou-a de volta à onde ela estava antes e voltou a se sentir aquecida.
- ?
- Hm - ele suspirou, com queixo levemente apoiado na cabeça dela.
- Eu criaria um cachorro com você.
O silêncio voltou a se instalar e se sentiu estranha ao perceber que não era do tipo constrangedor. Ela sentiu também a respiração do garoto aumentar e beijou-lhe o pescoço, fechando os olhos e percebendo que ele voltava a respirar normalmente.
- Nós podemos ir comprar amanhã?
Ela riu e se afastou, fazendo-o girá-la mais uma vez, logo voltando para os braços dele, como sempre acontecia e como ela esperava que sempre acontecesse. Mas ela não respondeu, assim que voltou a pousar seus braços firmemente em volta da cintura dela, simplesmente fechou os olhos com mais força e desejou fervorosamente que sim. Que eles pudessem.
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