Outras acreditam ser pelo destino.
Ainda há quem acha ser graças aos amigos, internet, festas entre outros.
Também existe quem crê que um filho pode uni-los.
Mas todos temos que concordar que a mentira é a única que pode separá-los. "
CAPÍTULO 23 - Can you feel it?
Caso queira, coloque para carregar
Um mês depois...
Jade colocava um garfo com macarrão enrolado com molho na boca. A observei enquanto lavava a louça. A pia era bem maior no novo apartamento em que estávamos morando em Londres. Jade respondia bem ao tratamento que podia não curar, porém amenizar seu problema. Algumas coisas haviam mudado no último mês.
Jade e eu nos mudamos para Londres para continuar o tratamento alternativo para sua leucemia enquanto esperamos o doador. Luke e eu estávamos bem de novo. Melissa sumira com seus filhos, simplesmente não estava em casa, nem atendia telefonemas. Tudo estava correndo perfeitamente bem.
Terminei de secar a louça e ouvi um barulho na sala. Jade correu em direção à porta. Eu já sabia quem era. Fui até lá e Jade estava pendurada de ponta cabeça por .
estava conseguindo demonstrar afeto e cada dia se transformava num pai. Eu não podia exigir muito dele, mas ele se mantinha presente na vida de Jade. Como deveria ser, como ela sonhou. Apesar de ter sido sob circunstâncias tão ruins, estava começando a entender o que é ser pai. E por acaso ele teria escapatória?
- Jade, você acabou de jantar!
Chamei sua atenção enquanto ria dos dois, que pareciam duas crianças. Jade realmente era e , bom... com certeza era uma criança.
Jade ficou de pé e abraçou o pai. passou a mão em seus cabelos os bagunçado.
- Tem comida? Vim de uma entrevista e estou com fome.
- Eu deveria deixá-lo com fome por conta de seu comportamento nada educado.
Ri daquilo. revirou os olhos e sentou no sofá ao lado de Jade.
Fui até a cozinha pegar algo para ele comer. Talvez eu estivesse sendo boazinha demais mesmo. Talvez ele merecesse. Merecer não, nunca mereceria nada, mas eu faria por ele. Faria muitas coisas por ele. Por quem ele é. Sim, ultimamente não estávamos brigando tanto quanto antes, brigávamos sempre que podíamos, mas aquela fase de ódio e rancor havia passado. Não saberia dizer em que fase estávamos ou o que estava acontecendo. Eu só vivia aquilo.
Voltei à sala e entreguei seu prato.
- Massa? Comi macarrão no almoço!
- Pois então fique com fome! Que ideia!
- Não falei que não iria comer. Mamãe maravilha.
Lancei-lhe um olhar irritado. Eu odiava quando me chamava daquilo. poderia mudar tudo, menos seu sarcasmo, seu humor negro e suas piadinhas maldosas. Porém eu estava viva, então poderia conviver com aquilo.
- Mamãe, acho que vou para a cama. Desculpa não ficar muito tempo com você, .
- Tudo bem, pirralha.
piscou para Jade, que se levantou e me deu um beijo de boa noite. A vi caminhar pelo corredor em direção ao seu quarto. Era um bom apartamento, luxuoso e grande, pelo menos para mim. Os dois quartos e varanda ficavam no andar de cima. Em baixo uma cozinha branca com cinza. A sala era bege. O tom da sala era marrom e bege praticamente. O sofá era branco em frente a uma televisão enorme. Fui até o sofá e me sentei ao lado de que comia o macarrão sem muita vontade.
- Não estava com fome?
- Estava, não estou mais.
Céus. com certeza era uma criança. Uma criança daquelas bem mimadas e nojentas.
- Como foi a entrevista?
- Foi boa. Mas na verdade não fui só à entrevista. Eu tive uma reunião para resolver algumas coisas, e tenho notícias.
Levantei uma sobrancelha. parecia feliz, então não era uma coisa ruim.
Continuou calado. Talvez me ver curiosa era uma dádiva para seu orgulho. puxou um maço de cigarro do bolso, aqueles de sempre. E já ia o levando a boca.
- , já te disse que não gosto que fume aqui.
- A Jade está dormindo.
Bufei derrotada. Por que eu ainda tentava consertá-lo? acendeu o cigarro e então perguntei.
- E então, qual é a notícia?
- Vou voltar a fazer shows.
- , isso é incrível!
Disse sorrindo. Eu realmente estava feliz por ele. Era sua vida, faria bem a ele.
- Acalme-se não vou entrar em uma turnê louca pelo mundo. Farei uma apresentação num festival em Los Angeles. E vocês vão me ver lá.
- Los Angeles? , não posso ir com Jade para lá e...
- Cala a boca, . Vocês vão. Como eu dizia, ficaremos em minha ilha na costa oeste. Será bom para ela tirar umas férias. E você... Bem nós estaremos em uma ilha sozinhos.
- Tudo bem. Mas precisamos falar com o médico dela.
pôs o prato na mesa e apagou o cigarro. Sem mais, nem menos atacou minha boca. Permiti que sua língua invadisse minha boca, sedenta. Sim, havia esquecido de mencionar esse detalhe. Luke e eu voltamos, porém não consegui expulsar de minha vida ou de meus pensamentos constantes. Não havia nada em que eu pensava mais do que aquele homem infernal.
Era um vício. Ultimamente eu fingia orgasmos com Luke. Porém os alcançava facilmente com e isso não me permitia parar. Eu me sentia culpada, sim. Mas não como antes. Principalmente porque aquilo que estava acontecendo, não era mais como antes. Ultimamente, eu não dormiria em paz sem saber se estava bem.
Ele não se importava muito, mas se importava com o meu bem estar também. E além do fato de ser a pessoa que estava comigo nas horas difíceis. Era ele quem me fazia esquecer que eu tinha uma filha de cinco anos, prestes a fazer seis, que tinha leucemia.
Só ele.
Por isso eu me entregava. Não tinha mais motivos para fingir um rancor, que já não existia há tempos.
se deitou sobre mim no sofá. Suas mãos adentravam minha camiseta. E eu sentia calafrios, como sempre senti e talvez sempre iria sentir.
- Jade. Jade pode vir aqui a qualquer momento.
pareceu não me ouvir. Calou-me com outro beijo caloroso. Minhas mãos estavam em seus cabelos e eu os puxava. Seu polegar fazia movimentos circulares em minha cintura. Ouvi meu celular tocando em cima da mesa. Pus minha mão sobre ele e então soltou meus lábios resmungando. Atendi sem ver quem era.
- Alô?
- Minha flor. Como está?
Fechei os olhos, aflita. Não era uma sensação muito boa, atender seu namorado enquanto está se agarrando com seu amante, ou seja lá o que fosse.
- Estou bem e você?
continuou na mesma posição, e me observava ao telefone. Sua expressão era curiosa. Talvez ele quisesse saber quem era.
- Estou bem. E Jade?
- Está. E as coisas aí como estão?
estava um pouco impaciente. Soltou um suspiro e passou a beijar meu pescoço. Cravei minhas unhas em seu braço. A tentativa era pará-lo, a conclusão foi atiçá-lo. colocou a mão sobre meus glúteos e apertou. Quase soltei uma risada no telefone. Eu não prestava atenção em nada do que Luke falava. Não tinha como.
segurou minha coxa e a pôs sobre sua cintura. Senti meu corpo arder, ao sentir nossas intimidades tão próximas, apesar da roupa.
Ouvi um silêncio do outro lado da linha e deduzi que Luke havia acabado.
- Sim. Estou com saudade. Mas você pode me ligar amanhã? Não posso falar agora.
- Tudo bem, amor. Te amo.
- Tá. Beijo.
Desliguei o telefone e não tive nem tempo de o pôr na mesa. grudou seus lábios nos meus. Sorri ao sentir seus lábios de volta. Eu nunca iria enjoar deles. Ou dele por completo. Talvez aquilo estivesse indo longe demais.
O celular despertou e então abri os olhos, assustada. Eu tinha de levar Jade para consulta. Bocejei cansada. Eu havia dormido tarde.
fora embora aproximadamente uma da manhã. Sentei-me na cama e me espreguicei. Ainda fazia frio, mas não tanto quanto os últimos dias.
Calcei uma pantufa qualquer que estava ali e fui até o banheiro.
Jade já estava pronta. Esperávamos apenas o táxi, para nos levar até o hospital.
- Se quiser pode assistir TV, enquanto esperamos, filha.
Jade apenas ligou a televisão e se jogou no sofá. Ouvi a campainha soar. Na verdade, eu esperava uma ligação. Talvez o taxista quisesse ir ao banheiro ou coisa assim.
Abri a porta calmamente e senti tudo desmoronar no momento em que meus olhos cruzaram com os da pessoa à minha frente.
Eu provavelmente estava pálida. Meu coração batia forte e eu não sabia o que sentir exatamente.
- Oi, .
- Oi, mãe.
Eu disse gaguejando.
- Posso entrar?
- Claro.
Dei passagem para que ela entrasse. Havia muitas perguntas para fazer, coisas para dizer, porém eu não faria.
Vi minha mãe parar e observar Jade, elas nunca tiveram contato. Eu não tive contato direto, desde que fiquei grávida.
Minha mãe estava com os cabelos dourados e curtos. Seu rosto estava envelhecido, mas nada exagerado. Seus olhos verdes continuavam os mesmos. Jade não percebeu o olhar de minha mãe sobre si. Eu também não sabia como agir. Era como um animal feroz e raro. Qualquer ação poderia fazê-lo atacar ou fazê-lo fugir. Por isso continuei quieta e deixei que observasse Jade.
Alguns segundos depois, Jade olhou para onde estávamos e deu de cara com minha mãe. Ela sabia que era sua avó, por que eu já havia mostrado fotos, porém eram fotos de anos atrás. Mesmo assim Jade a reconheceu. Jade era esperta, até demais.
- Oi.
Jade soltou sem graça. Minha mãe chegou mais perto e se sentou no sofá ao lado.
- Posso me sentar aqui?
Jade apenas confirmou com a cabeça.
- Você é a mãe da minha mãe, não é?
- Sim. Sou sua avó.
Jade sorriu. Ela estava feliz. Perdera muita coisa ao descobrir sobre sua doença, porém ganhou muitas outras. Coisas que não se dá para comprar.
Jade num ato puro e inesperado, abraçou minha mãe. Senti algumas lágrimas se formarem em meus olhos ao observar a cena. Meu coração estava quente. Aquilo me fazia feliz. Minha mãe parecia ter a mesma reação que eu. Vi que secava os olhos ao soltar-se do abraço. Talvez nem ela estivesse esperando por aquilo. Logo depois se levantou e veio até minha direção.
- Obrigada por me receber. Como ela está?
- Como sabia que estávamos morando aqui? Como sabe dela? O que veio fazer aqui?
Soltei num impulso. Afinal, eu não era totalmente a errada da história. Ela havia me abandonado, oras. Fez assim como meu pai.
- Apenas sei. Precisava vir aqui, precisava a conhecer. Antes que algo...
- Não termine essa frase, por favor. Nada vai acontecer à minha filha. Não precisamos de você. Criei Jade sozinha, sem você, sem meu pai, sem o pai dela. Hoje ela está doente, no entanto tem a mim e ao pai. Eu nunca a deixaria.
- Eu entendo o que está sentindo, . Levei muito tempo para voltar, levei tempo para perdoar. Senti-me traída quando você engravidou. Por que nunca me contou que esperava um filho de ? Por que não contou a ele?
- Então o fato de minha filha ter um pai rico mudaria os fatos? Por favor, mãe. Não quero discutir na frente dela.
- Não quero discutir. Não vim aqui para isso. Você pode Me... Perdoar-me?
Aquelas palavras me acertaram mais forte do que um tiro. Eu sabia como era difícil para minha mãe dizer aquelas palavras.
Eu não sabia como reagir. Então minha mente fez o trabalho por mim. Antes que eu pudesse perceber, eu estava chorando. Em prantos.
Senti seus braços me envolverem. Deixei que me abraçasse. Aquilo doía tanto. Jade olhava do sofá a cena. Talvez com a mesma sensação que senti ao ver as duas no mesmo gesto. Eu continuei chorando em seu ombro por um bom tempo.
Como eu precisava daquele abraço. Como eu precisei daquilo todo esse tempo. Como eu havia suportado tudo sem minha mãe?
Ela me fazia uma falta enorme. Eu podia sim, fingir que não. Disse a mim mesma que nunca a perdoaria e não nos falaríamos mais. Porém ali estava eu, chorando em seus braços. Chorando pela dor que senti todo esse tempo em silêncio, chorando pela dor que eu escondia. Escondia de mim mesma. E agora ali estava ela, transbordando em meus olhos.
Ouvi-a fungar. Ela também chorava. Talvez soubesse se controlar melhor que eu, mas chorava. Eu não era a única que sofri, talvez ela tenha sofrido até mais. Eu não sabia nada sobre sua vida nos últimos cinco anos.
Soltei-me de seus braços e a encarei, seus olhos estavam vermelhos como os meus e seu rosto inchado. Eu ainda soluçava um pouco. Sequei as lágrimas do rosto. Elas continuavam descendo, então apenas sequei e depois sequei e sequei. Tentei falar, mas foi em vão. Eu não conseguia nem parar de soluçar.
Jade foi até a cozinha e me trouxe um copo de água. Agradeci com um sorriso. Bebi a água calmamente, tentando parar de soluçar. Respirei fundo.
A encarei mais uma vez. Olhei em seus olhos. Senti seu pedido de perdão por meio de seus olhos. Vi o quão verdadeira ela estava sendo. Eu não podia culpá-la. Não podia julgá-la.
- Sim. Eu... Perdoo. E você? Me. Perdoa?
- Sim. Perdoo, minha filha. Desculpe-me ter demorado a vir. Desculpe-me ter percebido tão tarde que nada que você faça, me fará deixar de te amar. Nunca deixei de te amar. Eu apenas fiquei magoada. Senti-me traída. E então não tive coragem de te procurar. Mas então eu soube que você precisava de mim. Deixei meu orgulho de lado, , e vim aqui. Arranjei dinheiro só para te ver. Eu precisava te ver. Ver minha neta.
- Obrigada.
Sorri. Eu ainda derramava algumas lágrimas, mas nada como antes. Jade estava abraçada a mim. Senti meu celular vibrando. Olhei e era uma mensagem da companhia de táxi, avisando que estavam ali.
- Mil perdões, mas precisamos ir para a consulta agora.
Eu disse calmamente. Peguei a mochila de Jade e fui até a porta onde as duas esperavam. Então tive uma ideia.
- Você vem conosco?
Vi o sorriso se formar no rosto de minha mãe. Naquele momento eu a convenci que havia a perdoado. E convenci a mim mesma também.
's pov.
Abri os olhos e fechei rapidamente devido a luz do sol que invadia o quarto. Alexis ainda dormia pesadamente.
Abri os olhos devagar até me acostumar com a claridade. Esfreguei o rosto e bocejei.
Queria voltar a dormir, porém precisava resolver as coisas da viagem. Iríamos pela noite quase madrugada para ser mais claro.
Levantei-me sem fazer barulho e observei o corpo nu de Alexis na cama. Alexis era a mulher que todos os homens desejavam. Sim, eu a desejava, mas não aguentava sua presença.
Mantínhamos aquele relacionamento falso apenas pelo dinheiro. Apenas pela publicidade. Apenas por causa daquele maldito contrato. E eu não via hora de acabar. Não que eu estivesse preso a ela. Porque eu podia transar com quem quisesse e com ela de brinde. Mas ter que aguentá-la nos últimos dias não estava fácil.
Alexis dava surtos de ciúmes por causa de Jade. Alegava que eu estava me envolvendo com aquilo e iria acabar prejudicado. Mas o que eu poderia fazer? Minha filha tinha a merda de uma doença! Ela queria o quê?
Fui até o banheiro e escovei os dentes. Tomei uma ducha morna logo depois, enrolei-me na toalha e saí do banheiro.
Alexis ainda dormia. Peguei uma calça, uma boxer e um cigarro na mesa. Vesti a roupa e fui até a varanda fumar.
Sentei em minha poltrona branca e olhei a vista. Londres era linda. Traguei o cigarro e senti a sensação de alívio que aquele maldito me trazia. Lembrei-me da época em que só o cigarro não me saciava.
Eu ainda tinha algumas recaídas. Ainda sentia vontade de voltar para aquela vida. Não porque me fazia bem, eu sabia que não. Sim porque eu gostava da sensação de não ter problemas. De esquecer daquilo tudo. Mesmo que por alguns segundos, mas eu não podia recair de novo. Não agora que eu estava tão perto de voltar com aquilo que eu mais amava fazer. A única coisa que ninguém podia tirar de mim, pois se pudessem, já teriam levado há muito tempo.
Olhei o horizonte, eu gostava de um pouco de paz às vezes. Na realidade, eu não sabia o que eu gostava de verdade. Nunca fui o tipo de pessoa que tem crise de identidade, ou que sofria por não ser aquilo que gostassem que eu fosse. Para mim não fazia diferença. Eu não me importava com nada. Enquanto eu pudesse sentar em minha casa de luxo, fumar meu treasure, e cantar todas as noites, eu aguentaria qualquer coisa.
Ultimamente eu estava agindo como um veado. Sim, um veado daqueles bem molengas. Todo o ocorrido com Jade causara aquilo. Eu simplesmente não sabia dizer o porquê. Não entendia por que me preocupava tanto, por que de repente virei uma espécie de pai, macho alfa ou algo do tipo. Eu só deixava aquilo acontecer. Permitia-me sentir.
E então tinha . Aquela mulher me enlouquecia. Era extremamente irritante, mas não do mesmo jeito de Alexis. era diferente. Eu não conseguiria passar mais de cinco minutos sozinho com ela sem agarrá-la e se ela não sentisse isso também, eu faria à força. Era incontrolável, ela sabia tanto quanto eu. Aquelas pequenas férias nos faria bem. Eu só não sabia como lidaria com e Alexis sob o mesmo teto.
Até então eu agia como idiota e ignorava as duas. Mas agora era diferente. Tudo estava mais forte, mais intenso, mais incontrolável. Comecei a ver uma imagem de um ménage com as duas. As duas se estapeando enquanto eu entrava e saia em cada uma.
Ri de meu pensamento estúpido. Pensando bem era melhor ficar só com . Por mais conturbada que fosse nossa relação como seres humanos conscientes, a parte inconsciente, selvagem, erótica, era perfeitamente compatível. Era como se eu não me encaixasse em nenhuma outra, apenas nela. Soube isso da primeira vez em que transamos. Quando ainda éramos novos.
Naquela época eu era um drogado de merda e achava que cantava alguma coisa. A sensação que senti quando estive dentro dela da primeira vez era única e não senti a mesma coisa até transar com ela de novo. E de novo, e de novo.
Quando lembrei que ela era 'ela', putz! Vi que ainda tinha sorte na vida.
Contudo, nunca imaginei estar na situação que me encontrava. Nunca pensei que nossas vidas estivessem ligadas. Eu queria só sexo. Só isso. Mas não poderíamos nunca mais sumir um da vida do outro, e não era só por causa do quão bom éramos gemendo o nome do outro enquanto chegávamos lá. Tinha algo mais.
Tinha Jade. Tinha a maldita preocupação com as duas. Tinha aquela sensação estranha de quando eu olhava em seus olhos e sentia tudo revirar por dentro. Aquilo me prendia. Enfeitiçava-me.
Apertei a ponta do cigarro no cinzeiro, apagando-o. Voltei para dentro. Voltei para minha vida medíocre.
Alexis já estava de pé e provavelmente já estava na cozinha, gritando com alguma das empregadas. Alexis sempre achava que mandava na casa e em mim. Ela estava tão errada.
Parei de pensar aquelas porcarias de veado e fui tomar café da manhã.
Eu esperava dentro do carro. Alexis e Ernest estavam junto comigo.
- Elas estão chegando.
Olhei na direção em que Ernest apontava. e Jade andavam em direção ao carro.
O jato já estava a nossa espera. Aquele era o meu preferido. Eu gostava de chamá-lo de plaisir -prazer em Francês-. Porque era o que eu geralmente usava para dar festas, ou voar para Ibiza comendo vadias até lá.
Saímos do carro. Jade vestia uma calça branca e um casaco preto cheio de pedras brilhantes espalhados. Era praticamente uma princesa ou eu estava ficando gay demais.
usava uma calça preta, botas e uma camisa branca estampada. Estava linda como sempre. Não linda como eu gostava quando estava nua e sexy. Linda como uma mulher, uma dama. era delicada e sexy ao mesmo tempo, dependia de qual ângulo você a via. E eu era o único que a via totalmente sexy. Adorava quando ela saia de si e começava a falar coisas sem pensar, coisas que ela até se arrependia depois. Mas ela dizia, e como dizia.
- Olá.
Ernest respondera. Alexis e eu ficamos em silêncio. Quando eles estavam por perto, eu não agia da mesma forma que agia com elas, quando éramos só nós três. Sorri rápido para as duas.
- Vamos.
Ouvi o piloto gritar das escadas de meu Boeing. Subimos no avião, enquanto alguns empregados levavam nossas coisas. Era uma noite fria, mas não tanto. Eu estava ansioso para passar esses dias em Los Angeles. Estava ansioso para voltar aos palcos.
Sentei na minha poltrona e fechei os olhos. Eu queria dormir um pouco. Não vi nada, mas ouvi os murmúrios do resto das pessoas ali se acomodando. Cacete! Será que não podiam fazer silêncio?
- Vocês podem fazer silêncio, por favor!?
Pedi grosso. Todos pararam para me encarar e continuaram o que faziam. Bufei. Eu realmente havia perdido minha moral. Lembrei de uns fones que eu deixava ali debaixo e por sorte eles estavam ali. Coloquei-os sob os ouvidos e tentei ficar em silêncio para tirar um cochilo.
Eu havia pegado no sono por alguns minutos.
Abri os olhos e todos também dormiam. Eu estava sem sono agora. Aquilo parecia alguma praga. Eu sempre perdia o sono. Não me lembrava mais de como era dormir tranquilamente. Principalmente agora que tudo estava um caos total. Talvez Los Angeles me desse algum refrigério.
Levantei e fui buscar um copo de whisky. Bebi com gelo de pé mesmo. A bebida descia queimando e gelando minha garganta ao mesmo tempo. Eu adorava aquela sensação.
Voltei para meu lugar e observei aquelas pessoas que não sairiam de minha vida tão cedo. Jade e dormiam abraçadas. Alexis estava com o rosto coberto e Ernest tinha uma expressão fechada, talvez devido a algum pesadelo. Deitei minha cabeça e fechei os olhos.
Eu mal esperava para chegar na minha mansão e pôr as mãos em . Pensava em tudo o que poderíamos fazer naquela ilha. Alexis e Ernest só ficariam nos dois primeiros dias e então seríamos apenas nós. Bom, Jade também ficaria, mas ela não era problema.
Ouvi um barulho e abri pela metade um dos olhos. havia levantado, estava indo ao banheiro. Fechei os olhos de novo. Seria muita audácia ir até lá? Apenas o pensamento me excitava. Provavelmente iria relutar, falar que alguém poderia nos pegar e bla, bla, bla. Mas no fim eu conseguiria o que queria. Então por que não?
It's late in the evening Glass on the side
I've been sat with you For most of the night.
(Já é tarde da noite Deixei o copo de lado
Fiquei sentado com você Quase a noite toda)
Levantei-me, fazendo o mínimo de barulho. já estava lá dentro. Provavelmente a porta estava trancada.
Fui até a cabine onde ficavam as coisas para segurança e encontrei facilmente a chave de emergência que abria o banheiro. Sem que eu percebesse, um sorriso de canto e totalmente pervertido surgiu em meus lábios.
Oras, eu não podia evitar. Aquela mulher era deliciosa demais. Minhas mãos coçavam para tocá-la. Girei a chave devagar para que ela não percebesse. Abri a porta do mesmo jeito.
lavava as mãos de cabeça baixa, então não me viu pelo espelho. Fechei a porta atrás de mim. Se eu estava emitindo algum som, ele era inaudível.
E então ela levantou a cabeça e quase soltou um grito ao se deparar com meu reflexo. Num ato rápido tampei seus lábios com a mão e a prensei contra a parede.
- Shhh. Deixe para gritar em alguns minutos.
não reagiu. Não estava tentando me empurrar nem nada. Tirei a mão de sua boca, e sorri maliciosamente.
- , por favor, pare de agir inconsequentemente. Você sabe que alguém pode aparecer aqui e...
- É incrível como eu ouvi até sua voz falando isso, antes mesmo de dizer.
- É porque sabe que gosto das coisas certas.
Soltei um riso. Aquilo era um tanto irônico.
- Você gosta das coisas erradas. Você provavelmente está excitada só de pensar no que faremos aqui. Saber que estaremos transando a alguns metros de todos, te faz delirar.
- Só não quero problemas. Alexis me odeia.
- Alexis odeia todo mundo. E além do mais eu decido o que fazemos ou não. E não a Alexis.
- ...
- Vamos, ... Você tem certeza que não quer? Então você volta para lá e faço isso aqui sozinho.
Descolei nossos corpos. Claro que eu não queria desgrudá-los. Só fiz aquilo para passar a culpa para , que já estava colada em mim de novo.
Agora eu era quem estava na parede.
- Como você faz?
- Como assim como eu faço?
- Como consegue me descontrolar? Fazer-me dizer não a mim mesma e dizer sempre sim a você? Como consegue fazer isso comigo?
- Como consegue deixar que eu faça o que quero com você? Isso não te frustra? Não te faz se sentir uma vadia?
- Sim.
Ela respirou fundo, e abaixou o olhar.
- Por que acha que prefiro me sentir como uma vadia, a estar longe de você?
Sorri. Eu provavelmente estava duro a aquela altura, e não parávamos de falar. Seus lábios me chamavam. Cheguei bem perto deles, mas sem tocá-los.
Ignoring everybody here We wish they would disappear So maybe we could get down now
(Ignorando todo mundo aqui gostaríamos que eles desaparecessem Para que pudéssemos começar nossa festa agora)
- Não me importo com o que pensa. Importo-me com o que fazemos.
Toquei seus lábios e a empurrei contra a parede de novo, provavelmente teria machucado suas costas pelo impacto.
Realmente não era a intenção machucá-la, mas eu não desgrudaria nossos lábios famintos para pedir desculpas.
Segurei suas duas mãos e as levei para o alto de sua cabeça.
Mordi seu lábio inferior, e os puxei com um sorriso malicioso.
Beijei seu pescoço com a maior vontade do mundo. Seu perfume doce me deixava praticamente louco. Seria interessante deixar uma marca ali.
Comecei a dar chupões fortes em sua pele sensível. Era quase difícil fazer aquilo na pele tão delicada de . Mas eu não me importava em deixar seu pescoço inteiro roxo, se fosse necessário.
Desci minhas mãos devagar passando lentamente por seus braços levantados. Sua pele era macia e convidativa.
Droga! Tudo naquela maldita mulher me chamava. Minha sorte era não ter permissão aos meus pensamentos. Ela iria abusar do poder se descobrisse que seus olhos faziam meu coração disparar sempre que eu os encarava. Que tocar sua pele me deixava bem e tranquilo, mas ao mesmo tempo nervoso e desesperado. Que quando eu achava uma de suas roupas em minha casa eu levava até meu nariz para sentir seu cheiro. Que eu a achava linda e sexy. Que eu ia ao delírio só de pensar em beijar seus lábios vermelhos.
Que eu amava vê-la nua e sendo minha. Que era só com ela que eu atingia um orgasmo tão maravilhoso que me causara dependência.
Por isso era melhor deixar que ela pensasse que a encarava como uma vadia qualquer. Eu tinha vantagens.
I don't wanna know If you're getting ahead of the program
I want you to be my lady And to hold your body close
Take another step into the no-man's land For the longest time,
lady
(Não quero saber Se está seguindo as regras Quero que seja minha, senhorita. E para manter seu corpo mais perto Dê mais um passo em direção ao proibido. Já faz muito tempo que quero, senhorita)
Minhas mãos estavam em sua cintura fina e eu apertava o local. Subi os beijos por seu pescoço, queixo até os lábios. Beijei-os com vontade. Subi as mãos até seu rosto delicado e segurei-o entre minhas mãos grandes.
Nossas línguas se embolavam e faziam movimentos rápidos e desesperados. Era como se nossa mente quisesse ser devagar e aproveitar o momento, mas o corpo queria ser rápido e chegar até onde queríamos chegar.
Desci minhas mãos até sua camisa e pausamos o beijo para que eu a retirasse. Fitei seus seios cobertos por um sutiã vermelho. Sorri involuntariamente e voltei para seus lábios. Pousei minhas mãos sobre o fecho do sutiã e soltei-o.
Levei minhas mãos até seus ombros e empurrei as alças lentamente e delicadamente e deixei que ele caísse sozinho em nossos pés. Levei minhas mãos que estavam em suas costas até a frente.
Arfamos juntos quando envolvi seu par de seios com as mãos. Aquela sensação era deliciosa. Para um homem tocar os seios era como se você dissesse: 'Essa é minha'. E disso eu já não tinha dúvidas.
Massageie-os enquanto nos beijávamos. Meu membro já incomodava por falta de espaço. Não tínhamos muito tempo então decidi não prolongar muito. Teríamos a semana toda.
Com muito sacrifício tirei as mãos de seus seios deliciosos e abri o fecho da calça que vestia. Parti o beijo e então me abaixei levando a calça junto, devagar. Olhei em seus olhos que estavam pegando fogo. Passei as mãos sobre suas coxas e beijei o local. Fiz uma trilha de beijos por sua coxa e subi até sua intimidade.
Depositei um beijo no local coberto pela calcinha. Mordi a barra da mesma e a levei com os dentes. Fui abaixando devagar, até chegar na metade de sua coxa. O resto, tirei com as mãos.
- Não faça isso.
Olhei para cima e dei um sorriso pervertido.
' Não faça isso.' Se ela soubesse que essa era a frase que mais me encorajava...
I need you darling Come on set the tone. If you feel you're falling Won't you let me know
(Preciso de você, querida Venha, defina o tom. Se sentir que está se apaixonando Não me deixe saber)
Coloquei minhas mãos em seu quadril. Aproximei o rosto de sua intimidade e respirei fundo sentido seu cheiro.
Apertei seus quadris. Depois coloquei as mãos em sua virilha, e afastei suas pernas. Olhei para cima e estava de olhos cerrados e se segurava na pia ao lado. Aquilo era divertidamente excitante.
Dei um selinho leve sobre sua intimidade. Passei a língua em toda extensão. Senti seu calor. Senti seu sangue pulsar em minha língua.
Passei minha língua sobre seu clitóris e passei a movê-la em círculos. Ouvi soltar o ar pesado. Música para meus ouvidos. Continuei os movimentos circulares.
Olhei para seu rosto vermelho. Sua expressão era de tortura. Suas mãos estavam inquietas, como se implorasse para tocar em mim também. Aquilo era uma de minhas partes favoritas. Ver o quanto eu a enlouquecia, descontrolava, a deixava fora dos eixos, fora de seus padrões.
E não podia fazer nada a não ser se entregar. A não ser entrar no jogo. Era tão raro encontrar dois seres que podiam exercer poder sobre o outro, mesmo contra sua vontade, a ponta de esquecer tudo e apenas viver aquele momento, mesmo sabendo do arrependimento que viria a seguir.
Comecei a pressionar a língua em seu clitóris. A deslizei devagar até sua entrada, e adentrei com minha língua.
gemeu entre os dentes e senti seu corpo contrair, inclusive as paredes de sua intimidade. Continuei os movimentos de vai e vem com a língua dentro dela.
Meu membro poderia explodir a qualquer momento, tão grande era minha excitação. Mas vê-la daquele modo, valia todo o esforço.
If you love me, come on, get involved Feel it rushing through you, from your head to toe
(Se você me ama, venha, se envolva Sinta isso percorrer seu corpo, da cabeça aos pés)
estava nas pontas dos pés e movia o quadril involuntariamente sobre meu rosto suado. Tirei minha língua de dentro dela, e fiquei a passando em volta de seu clitóris, apenas.
Ouvi seus gemidos pedindo por mais. Continuei torturando-a. Como eu adorava aquele jogo. Ter poder sobre alguém era maravilhoso, principalmente se esse alguém fosse . Será que ela não entendia?
Toda aquela história de ódio, de mentiras, me excitava. Sempre fui contraditório. Quando eu via que não era pra ir, eu ia. Quanto mais eu odiava, mais me atraía. Quando ouvia um não, aí que eu faria de tudo pelo sim. E com ela não seria diferente.
Tentei lutar no começo, por orgulho, talvez. Afinal, guardava o mesmo sentimento de ódio que eu. Eu só iria atrás se visse sinais de que ela não resistiria. E quer sinal mais forte do que segurar o rosto de uma mulher agressivamente, e ver em seus olhos desejo?
Sim, vi desejo exatamente no dia em que nos reencontramos. Lá naquela reunião estúpida. Assim que toquei seu rosto para impor quem mandava, vi sua contradição. Ela explodia de raiva e talvez até sentisse dor, mas não importava, ficara desestabilizada pelo meu toque. Desde então a vi cada dia mais baixando a guarda, até que consegui. Consegui o que queria e conseguia cada dia mais. Era como se fosse um troféu, não entenda mal. Negócios são negócios.
- ... ... Por... Favor.
Sing Oh oh oh, oh oh oh Louder Oh oh oh, oh oh oh Sing Oh oh oh, oh oh oh
(Cante Oh oh oh, oh oh oh mais alto Oh oh oh, oh oh oh Cante Oh oh oh, oh oh oh)
gemia incessantemente o meu nome. Eu ouvia o esforço de falar baixo em sua voz, ela estava se controlando bem. Eu queria seu descontrole total. Ouvi-la gritando. Porém eu colocaria tudo em risco, já que havia pessoas dormindo a alguns metros, pessoas do tipo que não poderiam saber de nossa existência ali.
Tirei a boca de sua intimidade. Olhei para cima e ainda tinha os olhos cerrados, e tinha uma linha fina de suor escorrendo por entre seus seios.
Se eu já estava totalmente ereto, aquela cena me fez chegar ao nível máximo de ereção. Tão deliciosamente linda. Tão sexy. Tão vulnerável. Tão desejável.
Rocei os lábios subindo. Passei por sua virilha, barriga, passei pelo meio de seus seios, até chegar em seus lábios.
- O que achou do presentinho?
Perguntei ironicamente. Eu sabia que talvez ela nem conseguisse falar.
- Não fez mais... Do que sua obrigação.
Ri em seus lábios. Seu tom parecia totalmente não convincente. E seu cansaço era visível, talvez palpável. Ri mais uma vez. era tão boba às vezes. Palavras não eram nada em vista de ações. Sempre fora assim conosco. Afinal, se eu fosse medir palavras estaríamos tendo uma briga mais estúpida do que a que temos normalmente.
- Não me convenceu.
- Algum dia te convenci de algo?
- Talvez.
- O que por exemplo?
- Me convenceu de que quando estou por perto, você se transforma. E não liga para nada ao seu redor. Gosto dessa atitude, uso sempre.
- Talvez esteja certo, talvez eu não tenha precisado te convencer disso, é meio óbvio.
- Vou encarar como elogio.
Ri mais uma vez. respirava um pouco melhor agora e também tinha um sorriso no rosto. Ambos tínhamos sorrisos maliciosos, nada puros. Passei as mãos por seu rosto. fechou os olhos.
Em um momento senti tudo desmoronar. Aquela cena era totalmente diferente de tudo. Era quase ingênua. Deixei minhas mãos em seu rosto. estava de olhos fechados e sorria. Uma sensação de desespero tomou conta de mim e então tirei minhas mãos de seu rosto bruscamente.
Que merda havia acontecido ali? Por que raios toquei seu rosto de uma forma um tanto carinhosa? Por que fechou os olhos como um anjo? E por que hesitei em tirar minha mãos dali e acabar com aquela palhaçada?
abriu os olhos e então procurei espantar aqueles pensamentos. Assim que seus olhos encontraram os meus senti um arrepio. Era como se eu estivesse com vergonha. Vergonha de ter agido daquela forma, tão diferente.
Sem pensar muito ataquei seus lábios. Eu queria voltar a beijá-los e queria esquecer aquilo, apagar da mente e continuar o que fazíamos antes.
Queria estar dentro dela, sem pensar nela.
This love is ablaze I saw flames from the side of the stage
And the firebrigade comes in a couple of days
Until then, we got nothing to say And nothing to know
But something to drink And maybe something to smoke
(Esse amor é uma fogueira Vi chamas na lateral do palco
E os bombeiros chegarão daqui alguns dias
Até lá, não temos nada a dizer E nem a saber
Mas talvez algo para beber E algo para fumar)
Minhas mãos estavam em sua cintura e eu apertava o local como sempre gostava de fazer. colocou a mão por baixo de minha camisa e senti um arrepio ao sentir sua mão delicada tocar meu abdômen.
passou a arranhar de leve o local. Ela estava tentando me provocar, e estava conseguindo. Soltei sua cintura e pausei o beijo rapidamente para tirar a camisa. Sem aquele pano incomodo, voltamos a nos beijar. Envolvi seus seios novamente.
Eu nunca me cansaria daquilo. Desci os beijos até seu pescoço, fiquei ali um pouco e então desci até seus seios. Empurrei um contra o outro e passei os lábios sobre eles. Rocei os lábios por baixo, pelos mamilos, um de cada vez. Passei a língua no meio. E então beijei os dois, sem pressa.
Suas mãos que estavam em meus ombros desceram até minha calça. tentava abrir o botão e o zíper sem muito sucesso. Voltei para seu pescoço e ombros. Pousei minhas mãos sobre as suas em minha calça. tirou as mãos e pude fazer o que ela tentava. Tirei a calça e empurrei a para longe. Não parei de beijar seu pescoço nesse processo.
Colei nossos corpos de volta e pude sentir o corpo de estremecer ao sentir meu membro por baixo da boxer, tocar sua intimidade. Não me senti diferente. Suas mãos foram com pressa até o elástico da boxer. A senti apertar a barra da boxer e morder meu lábio inferior. Como eu estava desesperado para estar dentro dela o mais rápido possível!
Parecendo ter ouvido meus pensamentos, abaixou minha boxer deixando meu membro livre daquele único tecido que nos separava. passou a mão pelo meu membro e arfei em seu pescoço. Ela não podia fazer aquilo. Eu não aguentaria, não agora. Segurei atrás de suas coxas. Levantei a fazendo ficar sobre meu membro. A levei até a pia e a sentei ali. Ela soltou um gritinho baixo, a pia estava gelada, mas ela não se incomodou.
O dinheiro era algo tão bom, que te permitia ter um banheiro digno para fazer sexo em seu jato particular.
Coloquei-me entre suas pernas, sem descontinuar o beijo e as carícias. Posicionei-me em sua entrada e comecei a introduzir meu membro devagar, mas apenas em sua entrada. Tirei, depois coloquei de volta. Sim, eu queria rasgá-la por dentro, mas deixá-la louca antes disso. Em resposta ao meu estímulo, gemia em protesto.
- Para. Por favor...
Assim que ouvi, parei os movimentos. Eu sabia que não era aquilo que ela queria dizer, por isso fingi que não entendi, e parei os poucos movimentos que eu fazia.
- Quer mesmo que eu pare?
Falei em seu pescoço.
- Não. Pare de... Demorar.
Parei de beijar seu pescoço e levantei o rosto para vê-la. tinha os olhos fechados, apertados. Aquela imagem era de dar pena. Porém eu ainda via diversão naquilo.
- Peça mais um pouco.
- . Por favor. Você também quer.
- Não vou mentir. Mas me diga...
Coloquei meu membro de volta em sua intimidade. Penetrei devagar, indo até o fundo dessa vez. abriu os olhos devagar e tinha a boca um pouco aberta. O suor escorria por seu rosto, e chegava até seu corpo colado ao meu. Seus seios estavam imprensados contra meu tórax. Eu estava quase chegando ao orgasmo, só de vê-la daquele modo, e eu nem estava me movimentando dentro dela.
- Diga, você quer que eu te leve ao paraíso assim? Lá no fundo?
Let it go until our roads are changed Singing "We Found Love" in a local rave, no. I don't really know what I'm supposed to say But I can just figure it out, then hope and pray
(Desapegue, até que nossos caminhos mudem Cantando "We Found Love" em uma rave local, não. Não sei ao certo o que deveria dizer Mas posso descobrir, então espere e reze)
abria e fechava os olhos. Eu sabia que minha voz rouca poderia fazê-la facilmente enlouquecer. Eu usava e abusava desse pequeno detalhe.
- Sim... Mostre do que é capaz.
praticamente gemeu a frase. Ouvir aquilo foi o estopim para que eu começasse a me movimentar. Mantive meu membro lá dentro, sem tirar um momento. Apenas fazia movimentos ágeis. Fazia movimentos para cima e para baixo, sempre o mais fundo que eu conseguia chegar. O ar era quente, tudo estava quente naquele momento.
Meu sangue pulsava por todo o meu corpo. A sensação de prazer se alastrava por todo meu ser. Eu não encontraria lugar melhor para estar, ao não ser ali, dentro de . Nossos corpos unidos, se movimentando naquela onda de calor e prazer. O prazer que me proporcionava era extasiante. Meus problemas sumiam, meu dia melhorava. Tudo dependia daquele contato.
segurava em meu pescoço e movia os quadris de encontro ao meu. Meus olhos estavam fechados, apertados.
Eu segurava em sua cintura e a puxava mais pra perto. Quando nossos corpos se encontravam, era como se houvesse terremotos.
gemia, e eu também soltava alguns, já que não podia demonstrar o quanto aquilo era maravilhoso para mim. Talvez fosse só um orgulho bobo, talvez não, quem se importa? Eu estava ficando cansado, mas não tinha em mente parar. Poderia ficar ali até amanhã. também parecia exausta e estava prestes a chegar ao seu ponto.
Eu a conhecia perfeitamente bem. Sabia exatamente quando ela estava prestes a ter um orgasmo, quando estava estressada, triste, alegre, quando queria fazer sexo comigo até o fim do mundo, mas não conseguia tomar a iniciativa. Quando precisava de mim. Eu simplesmente sentia. Era como se estivéssemos conectados, e eu entendesse tudo apenas por seu olhar ou tom de voz.
era complicada, tinha uma personalidade forte e era teimosa. Era como eu. Mas ao mesmo tempo era totalmente o contrário do que sou. Mas naqueles momentos, quando estávamos ligados um ao outro, pertencíamos um ao outro. Éramos um só. Não tínhamos uma filha, não tínhamos relacionamentos, não tínhamos contrato, não tínhamos diferenças, não tínhamos uma história.
Éramos somente e , nos entregando ao mesmo tempo, sem disputa, sem mentiras.
E como aquilo era agradável.
I told her my name and said "it's nice to meet you"
Then she handed me a bottle of water filled with tequila
I already know that she's a keeper Just from this one small
act of kindness, I'm in deep If anybody find out I meant to
drive home But I drank all of it now not sober enough, we just
sat on the couch One thing led to another Now she's kissing my
mouth
(Disse o meu nome, e falei "prazer em conhecê-la" Então ela me deu uma garrafa de tequila
Já sei que ela é uma que me mantêm. Só com esse pequeno ato de bondade, já me apaixonei.
Estou ferrado se alguém descobrir que ia dirigindo pra casa
Mas bebi a garrafa toda. Não sóbrios o bastante, nos sentamos no sofá
Uma coisa levou à outra Agora ela está beijando minha
boca)
Nossos corpos roçavam um no outro, gotas de suor se misturavam. Meu membro ia até o fundo de seu canal, em uma velocidade incrível. Às vezes até eu me surpreendia com minha capacidade.
Meu fôlego era nulo, naquele momento e tinha certeza que o de também.
apertou meus ombros com força e relaxou o corpo. Em seguida relaxei e ejaculei dentro dela.
Podia sentir o cansaço, poderia até tocá-lo. Minhas pernas estavam bambas e eu realmente precisava sentar, mas permaneci ali. Meu rosto estava apoiado em seu pescoço e sua cabeça estava apoiada na minha. Nossas respirações estavam aceleradas e nossa frequência cardíaca poderia dar energia para um carro se mover.
Não me retirei de dentro dela. Nossos corpos ainda estavam quentes e suados. Seus seios comprimidos em meu tórax ainda me causavam arrepios. levantou a cabeça, e depositou um selinho doce sobre meus lábios entre abertos. Sorri.
- Santo anticoncepcional.
riu e abriu os olhos encarando os meus. Seu olhar era cansado e entorpecido, porém aquele brilho estava lá.
- Preservativos te incomodam?
Perguntou séria, como se realmente estivesse interessada no meu conforto.
- Não diria que incomodam, mas sem nada é bem melhor.
Respondi sincero. abaixou a cabeça e a apoiou sobre meu peito. Afastou o quadril do meu me retirando de dentro dela. Depois voltou a unir totalmente o corpo.
Suas mãos estavam em meu peito e eu tinha os braços em volta de seu corpo e dedos entrelaçados em suas costas. Era quase uma cena boba de filme. O silêncio era cabível, quase um elemento para tornar o filme, um recorde de bilheteria.
Nossas respirações foram acalmando aos poucos. Não estávamos com pressa, porém deveríamos estar.
Can you feel it?
All the guys in here don't even wanna dance
Can you feel it?
All that I can hear is music from the back
Can you feel it?
Found you hiding here
So won't you take my hand, darling
Before the beat kicks in again
Can you feel it?
(Consegue sentir?
Todos os caras aqui nem querem dançar
Consegue sentir?
Tudo o que eu ouço é a música lá do fundo
Consegue sentir?
Te achei aqui escondida
Então pegue a minha mão, querida
Antes que a batida comece de novo
Consegue sentir?)
- Meu cabelo está bom assim, ou devo cortar?
Eu realmente não sabia dizer o motivo da minha pergunta sem noção. Ela simplesmente saiu da minha boca. Sabe quando você pensa alto? A questão é que eu nem estava pensando naquilo.
- Está perfeito de qualquer jeito.
falou contra meu peito. Obviamente eu tiraria sarro de sua pronunciação tão inocente e distraída.
- Me acha perfeito de qualquer jeito, ?
- Vá a merda, .
.
grunhiu ainda sem mover um músculo. Soltei uma risada fraca. Eu ainda tinha uma certa necessidade de descanso, mas estava tão confortável aquela situação toda, que me manter ali era mais prazeroso, digamos assim.
- Eu acho isso de você. Acho que você é perfeita de qualquer jeito. Desde o modo como fica quando transamos ou como fica quando brigamos. Até quando está acordando com aquela cara horrível e as olheiras.
Soltei um riso no fim da frase. finalmente levantou o olhar e eu desejei que não o tivesse feito. Nossos olhos se encontraram por uns 10 segundos e então a beijei.
Movimentos calmos e delicados.
Afinal, o que eu estava fazendo? Que merda era aquela? Descolei nossos lábios, fazendo com que me acompanhasse até perceber que eu estava desfazendo o beijo. Encarou-me por um curto tempo e então se levantou. Não era minha intenção descolar nossos corpos. Era um imã. Mas eu estava estragando tudo. Estava transformando aquele momento em algo romântico, provavelmente. Essa era a última coisa que queria. Não queria ver falando sobre amor e afeto.
Quando ela começava a falar sobre Jade e todo o amor de mãe que sentia, meu estômago embrulhava. Não que eu não a amasse, mas ouvi-la falar daquilo não era muito agradável para mim.
- Vou pegar minhas roupas e saímos.
disse recolhendo algumas peças de roupa enquanto cobria suas partes íntimas com outras. Ri de seu constrangimento.
- Por que diabos está com vergonha de mim?
Perguntei ainda rindo um pouco. se levantou e olhou em minha direção. Ela não parecia branda.
- Você acaba de praticamente me humilhar. Desprezar-me. Queria o que, ?
- O quê?
Perguntei assustado tentando prender o riso. Só me faltava essa, devia estar na TPM.
- Você acabou de parar de me beijar! Você sabia se eu queria parar? Você nem fez questão de pensar se eu estava gostando, ou me sentindo bem! Você deve ter enjoado e então decidiu que seria legal me deixar saboreando o vento!
- , você é completamente louca. Pare com isso, por favor. Não estrague tudo.
- Estragar tudo o que, ? O que é tudo para você? Transarmos escondidos? Termos uma filha com uma droga de doença no sangue e mesmo assim transarmos toda vez em que nos vemos? Ou trair nossos companheiros? Isso é o tudo pra você?
Definitivamente, TPM.
conseguia ser tão chata. Ela era perfeita também em ser chata. Chatice era uma das modalidades na qual ela executava com perfeição.
- Aonde quer chegar com isso? Hoje não estou a fim de te irritar, então me avise quando essa discussão boba acabar.
Recolhi minha boxer e a coloquei. Sentei-me sobre o sanitário e a observei vestindo a roupa. parecia que iria explodir a qualquer minuto. Ou chorar. Assim que ela terminou de se vestir, fui em sua direção e segurei suas duas mãos. E a guiei até encontrar a parede. não olhava de jeito nenhum para mim.
- Você estava gostando? Desculpe-me.
Depositei um selinho em seus lábios assim que terminei de falar. continuou com a mesma expressão raivosa.
- Tudo para mim é a sensação única que você me proporciona. Não sei o que é, mas ao seu lado me sinto melhor. E adoro te tocar, te beijar e ouvir seus gemidos. Adoro ver sua cara horrível quando acorda também. E acho que não enjoarei disso nunca. Tirei suas dúvidas?
I need you darling Come on set the tone If you feel you're
falling Won't you let me know
Oh oh oh, oh oh oh (sing)
If you love me, come on, get involved Feel it rushing through
you, from your head to toe
(Louder) oh oh oh, oh oh oh
Preciso de você, querida Venha, defina o tom. Se sentir
que está se apaixonando Não me deixe saber
Oh oh oh, oh oh oh (cante)
Se você me ama, venha, se envolva sinta isso percorrer seu
corpo, da cabeça aos pés
(Mais alto) oh oh oh, oh oh oh)
não conseguiu não sorrir. Ainda era um sorriso tímido, mas era um sorriso.
- Algumas.
Ela respondeu me fazendo rir e quebrando aquele clima estranho.
- Vou recolher minhas roupas e então podemos sair.
E assim o fizemos.
CAPÍTULO 24 - Sometimes happens
Meus olhos se abriram lentamente, dando visão à claridade que invadia o quarto. Jade dormia pesadamente ao meu lado. Era uma cama macia, esplendidamente macia. O colchão devia ser preenchido de frações de nuvem ou algo tão divino quanto.
Abri os braços me espreguiçando devagar. O pensamento invadiu minha mente assim que me tornei consciente. ocupava parte de meus pensamentos. Tanto ruins como bons. E esse era meu erro. Os pensamentos bons. Pensamentos bons, quando transbordavam na mente, iam involuntariamente para o coração. Ir para o coração não era um bom sinal. Peguei-me diversas vezes sorrindo abobalhada, enquanto lavava louça. Lavava louça e meus pensamentos pairavam até . Isso era... Não. Definitivamente não. Não era. Eu saberia reconhecer. Eu reconheci assim que pus os olhos em Luke. Mas eu senti algo muito mais forte assim que pus os olhos em , na televisão. Será que o que eu sentia por ele quando não o conhecia, era superior ao que senti quando, o conheci verdadeiramente?
Definitivamente não. Eu odiei com todas as minhas forças. Jurei morrer ao ter que ser bondosa com ele. Mas aqui estava eu. Sorrindo abobalhada pensando em seus olhos e seu sorriso. Meu coração acelerou um pouco quando ouvi o toque de meu celular. Era como se eu estivesse cometendo um pecado sujo, e então Deus aparecesse e dissesse: "menina má".
Talvez fosse isso que ele pensasse. Atendi o celular. Era Luke.
- Alô?
- Minha flor?
- Sim.
- Qual é exatamente seu endereço em Londres?
- Por que quer saber?
- Pare de ser curiosa. Qual é?
- Quem me garante que não tem um maníaco segurando uma arma na sua cabeça, exigindo que peça meus dados?
- Você é terrivelmente teimosa. Estou indo para aí. Juntei um dinheiro extra. Devo chegar pela noite.
- Não estou em Londres.
Putz, eu havia esquecido de avisar a Luke que estava com minha família feliz em LA.
- Como assim não está em Londres?
- Estou em Los Angeles. se apresentará hoje. Viemos tirar uma espécie de férias em sua ilha.
- Ah... Eu já tinha comprado a passagem. Iria fazer uma surpresa pra vocês.
Aquela velha e estranha pontada de dor. Eu diria que estava me acostumando com ela, se isso não fosse mentira. Eu ainda me sentia péssima pelo que fazia a Luke. Então tive uma péssima idéia.
- Mandarei um jato. Você vem para cá e assiste ao show conosco.
- Acha que ele não se importa?
- Ele nem precisa saber. Eu tenho controle sobre algumas coisas.
- Tudo bem, eu acho.
Resolvi tudo o que tinha para resolver sobre a viagem inesperada de Luke até onde estávamos. não soube de nada, em momento algum. Aliás, não se dirigiu à mim em momento algum. Alexis estava sempre em seu encalço. E ele agia estranho quando estava num lugar junto a nós duas. Ele simplesmente nos ignorava. E isso me deixava um pouquinho furiosa. Mas lembrava que apenas tratávamos e tínhamos uma filha doente juntos. Isso não significava nada. não me devia satisfações, nem nada parecido.
Havíamos almoçado como uma família feliz. Que tipo de ciclo era aquele? O astro do rock problemático. Sua sorridente filha com leucemia. A mulher que dera à luz a sua filha de um modo ruim, razão de hoje ter leucemia, a mesma que também é sua amante, prostituta particular e grátis também. E sua noiva paranoica e possessiva. Só de pensar em Luke naquele meio, meu estômago embrulhava. Ele chegaria pouco antes do show, isso daria tempo para que e Luke não se cruzassem.
- Querida! Está na hora de tomar seus remédios.
Ouvi passos no segundo andar. Jade passara rapidamente pela escada de madeira branca. A casa era um pouco menos luxuosa do que a de Londres. Talvez a decoração rústica nos iludisse, como se dissesse “Esse pedaço de tronco no meio da sala foi mais barato que o lustre de cristal da sala de Londres, acredite” Mesmo que tenha sido talvez até mais cara, eu apostaria. Jade esperava enquanto eu recolhia os remédios certos para àquela hora. Lancei-lhe um olhar e Jade mexia no nariz distraidamente.
- Filha, mexer no nariz é falta de educação.
- diz que posso fazer o que eu quiser e mandar as pessoas para um lugar, ele não me disse qual.
- Não deveria seguir os conselhos de seu pai.
- Mas é a pessoa mais legal que conheço.
" é a pessoa mais legal que conheço." Eu me perguntei sobre o que era ser legal na cabeça de Jade. Resolvi tomar uma atitude.
- Querida...
Jade me olhou automaticamente. Senti um certo receio, quanto aquilo. Mas era o certo a fazer, não era?
- Querida, não me importo mais se chamar de pai. Sei que a fiz se acostumar a chamá-lo de , mas sei que foi bobeira. Ele é seu pai, ele é um pai.
- Tudo bem.
Jade tinha uma expressão confusa, como se aquilo não fosse problema para ela. Chamar de pai ou não faria diferença para ela, desde que tivesse seu pai junto a si. Talvez eu achasse que ela via aquilo como um problema. Talvez eu criasse problemas demais, para coisas simples. Talvez eu me preocupasse demais com problemas, que nem mesmo existiam. Olhei para Jade, que voltara a limpar o nariz.
Jade era tão forte. Tão diferente de mim. Afinal, ela tinha uma doença. Crianças com leucemia não ficam cansadas demais e dormem o dia todo? Fui enganada pela mídia? Ri de mim mesma. Eu enganava as pessoas pela mídia. Quando foi que parei de me sentir mal com isso?
Seis da tarde. Estávamos a caminho do local aonde voltaria aos palcos. Luke estava no carro. Luke, eu e o motorista para ser precisa. Jade não viria, pedido do médico. Ficou em casa com uma babá contratada às pressas. E ali estava eu no carro com Luke Hamilton. Qual foi a última vez em que ficamos sozinhos?
- Estou feliz de estar aqui.
- Sim.
Respondi automaticamente. Não era isso que eu queria dizer. O que eu queria dizer?
- É, sim. Estava com saudade de Jade também. E de você.
- Nós também, amor.
- Pensei em irmos jantar depois do show.
- Ótima ideia.
- ... Deixa.
- O que? Agora fala.
- Você continua estranha. Você se tornou uma estranha.
- Bom saber que não sou a única que penso isso.
- Me desculpe tocar nesse assunto.
- Tudo bem. Só estou exausta com tudo. Já fez um ano desde tudo isso? Um ano? Tem quase um ano. Mas é pouco. Tudo aconteceu em pouco tempo. Estou louca. Desequilibrada.
- Imagino que sim.
Voltamos ao silêncio. Luke parecia se atrapalhar com o carro sofisticado, alugado. E quando Luke fazia uma coisa, não conseguia fazer outra.
Dentro de alguns minutos chegamos ao local. Entramos pelos fundos, já que assistiríamos pelos bastidores. Passamos por várias pessoas. Procurei por Alexis ou Ernest, mas não os encontrei. E então quem eu menos esperava encontrar estava na minha frente segurando uma garrafa de água e olhando atentamente para minha mão e a de Luke, entrelaçadas.
- , onde ficaremos?
continuou fitando nossas mãos e não me respondeu.
- Luke Hamilton. Admiro seu trabalho grandemente.
Luke soltou minha mão e a estendeu para , que o ignorou.
- O que ele faz aqui?
olhava para mim agora. Seu olhar tinha um certo ódio. Era esse o motivo de eu não querer cruzar com ele. Aquele momento me fez lembrar de nosso primeiro contato depois de descobrir sobre Jade. Aquela mania de ignorar as pessoas a qual ele tinha uma adversidade.
- Luke estava indo para Londres. Pedi que viesse até aqui.
- Por que não me avisou nada?
- Por favor... Não comece.
- Você chama alguém que eu nem conheço para meu show? Isso é muita audácia não, ?
- Me desculpe pelo inconveniente. Vamos embora.
Luke se meteu. lançou-lhe um olhar mortífero. O que seria capaz de fazer com raiva? Até onde chegaria?
- Ela não vai a lugar algum.
então virou as costas e foi em direção ao seu camarim. Luke e eu continuamos parados, estatelados. O que acabara de acontecer? Aquilo era... Ciúmes? estava com ciúme? E se estivesse, como explicaria isso a Luke?
- Acho melhor eu ir. Vá falar com ele, ele pode descontar em Jade depois.
não descontaria em Jade. Mas eu deveria falar com ele. Deveria saber se aquilo era realmente um ciúme bobo. Eu estava curiosa.
- Não vá embora. Te encontro depois. Vou até lá.
- Tudo bem. Vou procurar alguém para mostrar onde ficaremos.
Deixei Luke ir. Fui em direção à sala aonde havia entrado. Pensei em bater na porta, mas não precisava. Girei a maçaneta e encontrei sentado em uma prateleira fumando. Assim que meu corpo todo estava dentro, fechei a porta atrás de mim.
- Essa saia te deixa sem bunda, jogue fora.
- O que foi aquilo?
Ignorei seu comentário estúpido e tentei soar o mais ríspido possível. Queria que ele sentisse minha raiva. Ela não existia na verdade, eu até gostara de sua atitude.
- Aquilo o quê?
- Por que agiu daquela forma com Luke? Estava com ciúmes, merda?
- Não seja ridícula, . Não estamos no ensino médio disputando garotas.
- Era o que parecia.
- Mas não era, o que era.
deu uma tragada e soltou a fumaça em minha direção. Agora ele havia voltado ao normal. Aquele sarcástico, que ironizava qualquer palavra. O que soltava fumaça no meu rosto para me irritar. O que eu sadicamente adorava. - Você estava com ciúmes, isso é ridículo.
- Não sinto ciúmes. Não preciso disso.
se pôs de pé e foi até a porta e a trancou. O acompanhei com os olhos, girando o corpo. agora parara na minha frente a uma distância intimadora. O tipo de distância em que eu sentia seu aroma e me enfeitiçava. Havia um sorriso de canto em seus lábios. Um sorriso sujo. colocou alguns fios atrás de minha orelha e então pôs o cigarro na boca. Com as duas mãos pôs meus cabelos para trás. Ele parecia àqueles cabeleireiros malucos que te fazem sentir medo, mas no fim sempre acertam. começou a jogar meu cabelo para trás, desfazendo o partido de lado. Ele continuou com uma mão só, enquanto a outra ele pegava o cigarro e jogava no chão. Eu teria dormido com o toque de suas mãos em meus cabelos, se eu não estivesse desejando seus lábios.
então abaixou o olhar para os meus e parou. Em questão de milésimos estávamos prensados na porta nos beijando. Suas mãos agarradas em meus cabelos e as minhas em seus braços. O beijo era desesperado e quase dolorido. cortou o beijo num ato brusco. E ainda segurando meus cabelos me olhou nos olhos.
- Ele te beija assim?
Não tive tempo de pensar e então tornara a me beijar. Sua língua se unia a mim tão deliciosamente. deveria providenciar alguns clones seus. Não era justo com as mulheres do mundo nunca beijarem uma boca como aquela. Pensando bem, não era justo comigo, não ser a única a beijar aquela boca. puxou mais meus cabelos me fazendo levantar a cabeça e então beijou meu pescoço. Eu já estava ofegante. Como eu era patética.
desceu suas mãos até meu decote e abriu os botões, deixando meu busto a mostra. Ele então voltou a segurar meus cabelos e aos meus lábios. Somente tocando-os disse:
- Ele sabe o que fazer com seus seios?
Mais uma pergunta retórica. desceu roçando os lábios lentamente até meus seios cobertos pelo sutiã e parte da camisa. abriu o fecho frontal e sorriu. Suas mãos envolveram meus dois seios. Meu corpo ardeu. Era como se eu tivesse uma febre muito forte. passou a beijá-lo. Transferiu as mãos até minha cintura e se deliciou com meus seios. Minhas mãos estavam em seus cabelos. Eu tentava tirar forças do inexistente para puxá-los, mas minhas mãos estavam trêmulas. segurou minhas duas mãos e as levou para o alto de minha cabeça. Subiu passando sua língua pelo local onde passara até chegar em meu rosto.
- Ele te faz arrepiar assim?
Foi até minha orelha e mordeu meu lóbulo. Fazendo meu corpo arrepiar.
- Ele te deixa molhada em meros minutos?
Suas mãos desceram passando pelos meus braços, passando pelos meus seios, cintura, quadris e coxas. colocou as mãos em baixo de minha mini saia e a empurrou para cima. Sem que eu esperasse, colocou uma mão dentro de minha calcinha. Aquilo fazia meu sangue borbulhar e implorar por ele dentro de mim. passou um dedo em minha intimidade e então tirou. Levou a mão até meu rosto. Seus dedos estavam molhados pelos meus fluidos corporais.
- Ele sabe seu gosto?
levou o dedo até seus lábios, e passou a língua lentamente. Prensou seu corpo de volta ao meu. Segurou meus ombros e manteve o rosto próximo ao meu. Nossos olhos estavam em um mundo paralelo, onde só existiam eu e ele.
- Tão inocente...
selou nossos lábios e fechei os olhos.
- Se ele não te faz sentir metade do que eu faço, então você não é dele. Você é minha.
Mais um selinho.
- Se você é minha, não preciso sentir ciúme de você.
- Não sou sua. Sou de Luke.
- Não, você não é. Pode ter sido um dia. Mas não é mais. Por que ainda insiste nesse relacionamento?
- Eu o amo.
- Não vou perguntar de novo.
- Por que eu deveria deixá-lo, se você continuaria com Alexis?
- Disse que você é minha. Não disse que sou seu.
Eu queria atirar em seu rosto. Aquilo era a mais pura verdade. Eu era de , mas não era e nunca seria meu.
- Isso não me importa. Não te quero.
riu sobre meus lábios.
- Não?
Ele disse rindo. Eu havia falado algo tão estúpido. Eu o queria. Meu corpo o queria. Minha mente só pensava nele. Queria ele só para mim.
- Bom show.
Sorri e então uni nossos lábios num beijo nem tão calmo, nem tão agressivo.
Os braços de Luke estavam ao meu redor. Éramos como um casal de adolescentes assistindo ao show da banda de garagem favorita. entraria logo após essa última música.
- Eles são realmente bons.
Luke gritou.
- Hã?
- Eles são ótimos!
- Sim!
Luke tivera que gritar ao meu ouvido.
Bebemos um pouco de cerveja no intervalo. Já estávamos de volta para o tão esperado show de . Aquele com quem eu estava me agarrando há alguns segundos. passou por nós, sem que eu percebesse. Antes de entrar lançou um sorriso quase cúmplice para mim. Luke nem notara. De repente as luzes se acenderam e podia se ouvir pessoas se esgoelando.
tinha uma guitarra pendurada. Ele se agarrou ao microfone e começou a cantar. Quando a música realmente começou, ele passou também a tocar a guitarra. Luke vibrava ao som de uma música conhecida de Eu estava ali paralisada, observando seus detalhes, os pequenos. O modo como sua voz rouca era melodiosa e sexy. O modo como ele se movia naquele palco. O modo como apoiava as mãos no microfone. Será que lavara as mãos depois de colocá-la em minha intimidade? Isso não importava. Foi ali, nos braços de Luke que eu percebi. Eu era de E aquilo. Aquilo era sim. Definitivamente era.
Estávamos no carro indo em direção à algum restaurante aberto aquela hora.
- Creio que não conseguiremos encontrar um bom lugar nessa altura do campeonato.
- Aham.
Estacionamos o carro e entramos no restaurante. Tinha um aspecto antigo, e uma luz avermelhada.
- Vamos nos sentar naquela ali.
Fui até a mesa a qual Luke apontou. Sentei-me na cadeira de madeira.
- Vamos comer algo leve, está tarde.
- Claro. É... Eu tenho uma notícia para te dar.
- Sim?
Mantive os olhos fixos no cardápio enquanto Luke falava. Uma garçonete chegou perto e fiz sinal avisando que ainda estava escolhendo.
- Sabe aquele emprego que eu fui rejeitado? Aquele no norte da Escócia?
- Lembro. Você o queria como ninguém.
- Fui chamado. Querem me contratar.
- Luke, isso é ótimo!
Eu estava feliz por ele. Luke nunca recebia o reconhecimento que merecia.
- Não vou aceitar. - Como não? É seu sonho.
- Vou juntar um dinheiro e me mudar para Londres. Preciso ajudar você e Jade.
Não. Não. Não. Não faça isso comigo. Não posso fazer isso com você. Isso não.
- Não precisamos. Estamos bem, Luke, sério.
- Acho que podemos nos acertar aqui. Arranjo um emprego e então moramos juntos. Pago o aluguel.
- Luke, não vou deixar você vir. Você vai aceitar o emprego.
- Não vou. Vou fazer isso por você. Você merece.
Minha cabeça quase explodia. Será que era a hora certa? Ou deveria eu deixar Luke viver uma vida chata em minha função sendo traído? Não poderia fazer isso com ele. Não podia mais fazer isso. Esse era o limite.
- Luke, dormi com .
Só me dei conta do que falei, depois de soltar. Luke franziu o cenho. Talvez ele até achasse graça, mas não entendia porque eu estava brincando numa hora dessas. - Dormi. E foram várias vezes. E gostei. Gostei de transar com ele. Gosto de transar com ele. Gosto de você e não vou deixar que destrua sua vida por minha causa. Você merece alguém melhor.
- Isso.Isso não pode... Vocês?
Luke parecia confuso. Estava muito confuso. Eu também estaria. Eu também estava.
- Você o odiava. Isso era um disfarce?
- Talvez eu ainda o odeie. Mas é mais fraco do que o desejo. Céus, não quero falar disso com você. Xingue-me, conte ao mundo quem eu sou. Bata-me.
- Você deveria saber que não sou o tipo de cara que faz isso. é.
- é.
Os olhos de Luke se desviaram do meu. Aquilo doía mais do que eu imaginava. Eu queria que ele fosse o cara grosso e estúpido que era. Queria que ele me humilhasse. Era isso que eu merecia. Luke limpou uma lágrima antes que pudesse cair. Porém eu, fraca e inconsequente, deixei algumas escaparem. Eu estava arrependida. Eu me arrependi de ter estragado tudo com Luke. O que eu fiz?
- Espero que um dia possa me perdoar. Mas não te peço isso. Luke não me respondeu. Seu olhar estava fixo no mesmo ponto. Seu maxilar estava tenso.
- Vou aceitar o emprego. Não me procure. Quando eu quiser falar com Jade eu ligo. Quando eu quiser.
- Luke, por favor....
Minha voz saiu estrangulada. Eu estava tremendo. Estava preste a desabar em prantos.
- Luke, me desculpe. Desculpe-me. Não quis fazer isso com você. Eu queria que houvesse um meio de...
- Chega, . Acabou. Fique com ele. Seja feliz. Tenha orgasmos.
Luke se levantou e deixou uma quantia em cima da mesa. Não me movi. Deitei a cabeça na mesa e pus os braços em volta, como uma criança faz quando quer dormir na aula.
Meus olhos provavelmente ficariam inchados. Eu não conseguia parar de chorar. Eu sentia tanto. Sentia mesmo. Mas eu não podia me dar ao luxo de prender Luke a mim. Não havia mais sentimento. Não havia mais “aquele" sentimento.” E Luke precisava de alguém que sentisse. Eu era uma vadia. Uma vadia mesquinha. Hipócrita. Grossa. Estúpida. me merecia. Mas eu merecia primeiro.
CAPÍTULO 25 - We could. But should we?
- Meu amor, você tem que tomar. Se você está bem agora, é graças a eles.
- É chato.
- Eu sei que é chato. Mas precisa me ajudar. Certo?
Jade ficou em silêncio. Terminei de dar seus remédios e então subimos para nos trocar. prometera um passeio por sua ilha. Desde ontem ainda não tinha visto nada daquele paraíso fechado. Desde ontem, tudo o que eu via era escuridão.
Luke fora embora. Liguei, deixei mensagem, mas como esperado, ignorou. E eu merecia aquilo, só que... Eu estava preocupada, é claro. Afinal estávamos em Los Angeles, não em Fife. Aquilo eram os Estados Unidos, não a pequena Escócia. Na Escócia ninguém se perdia, não tinha espaço para isso. Mas ali, ali sim. Ali você sumiria e ninguém daria falta. Eu achava Londres grande e assustadora, porém mudei meu conceito com respeito a lugares grandes e assustadores, assim que pus os pés na cidade dos anjos.
Eu entendia essa expressão agora. Era um lugar mágico. Era outono, mas o Sol ainda irradiava. As folhas caídas davam um aspecto superior a qualquer outro lugar que se atrevia a chamar aquela estação de outono. Era uma cidade desenhada por anjos. Talvez fosse essa a razão do nome da cidade.
- Mãe? Vamos tomar banho?
- Não sei, filha. Acho que está um pouco frio, não?
- Não. Eu quero tomar banho. E se tiver uma praia muito linda?
- Tudo bem. Bote o biquíni na sua bolsa então.
Terminamos os afazeres e fomos esperar .
Ele fora levar Alexis até o avião para voltar para Londres. tinha uma pista de pouso em sua ilha. E eu ainda me surpreendia com sua riqueza e poder.
- Vamos?
entrou pela porta usando uma regata preta e jeans preto, claro.
- Pai, quero tomar banho.
- Tudo bem.
Olhei em sua direção e lançou-me um olhar. Ele havia percebido que Jade o chamara de pai. Levantei-me sem dizer uma palavra e passei por ele e Jade, que dividiam o peso de uma bolsa. passou a frente de nós e nos guiou pelo caminho afora da mansão.
Fiquei para trás quieta. Jade e conversavam animadamente. Aquela cena era linda, se não me causasse tantos problemas e sofrimento, eu diria que era a cena perfeita.
Lembrei de Luke, seu modo de tratar Jade, era como de um pai. Ele tinha carinho e paciência. era diferente. Não era um pai ruim, mas não era como Luke. era aquele tipo de pai que dá doce o dia inteiro para a criança. E Jade, apesar de tudo, o amava. Eles realmente se amavam, do jeito único e esquisito deles.
Chegamos a um lugar que ainda estava totalmente verde, apesar da estação das folhas secas. Havia um riacho convidativo.
- Vamos ficar aqui. Não aguento mais andar.
realmente parecia cansado. Forrei uma toalha para sentarmo-nos e todos desabamos no chão, como crianças depois de um dia no parque.
- É lindo, .
- Eu sei. Gosto de vir para cá.
Olhávamos a queda d'água atentamente, como se nos hipnotizasse. Jade passava protetor solar, apesar de não ter luz do Sol, graças à sombra das árvores ao nosso redor.
- Aonde eu boto o biquíni?
Se estivesse desde o início, Jade não teria vergonha de estar nua em sua frente. Mais uma das coisas que eu havia a privado.
- Vamos ali atrás das árvores.
Ajudei Jade a vestir o biquíni da Pink Pie com babados lilás e rosa. Voltamos e aplaudiu a filha ao vê-la desfilar com o biquíni.
Jade riu e foi direto para a água. Sentei-me de volta ao lado de . Ainda estávamos em silêncio. Eu não estava me sentindo bem, ainda me sentia mal por Luke.
- Poderíamos vir aqui mais tarde.
- Por quê?
- Digo, eu e você.
- Não, obrigada.
riu. Irritei-me um pouco com o fato de rir, como se ele soubesse tudo de mim. deitou ao meu lado e passou a mexer na barra de minha camisa verde xadrez.
- Queria que relaxasse.
- Estou relaxada.
- , você não precisa fingir nada para mim.
- Terminei com Luke.
- Finalmente.
Lancei-lhe um olhar fuzilante. percebera que seu comentário tolo, não me agradara nem um pouco.
- Desculpe. Mas fico feliz com essa notícia, não posso negar.
- E por quê? Que diferença isso faz para você?
- Não gosto de dividir você com alguém.
Meu coração acelerou e provavelmente eu estava vermelha como um tomate.
Então eu estava certa. Com certeza eu havia sido tão estúpida a ponto de acabar me apaixonando por , sem que eu percebesse. Eu sabia que estava apaixonada, porque não me importava se ele estava mentindo, era simplesmente bom ouvir palavras como aquelas.
- Como sempre, te livrando dos problemas.
- Obrigado.
ironizou. Olhei para ele. Continuava brincando com a barra de minha camisa. Eu queria um abraço. Precisava de um abraço seu. Mas aquilo, não ocorreria. A única vez em que me confortara com um abraço, foi quando ele também precisava de conforto. Quando descobrimos a doença de Jade.
Deitei ao seu lado. Nosso rosto estava próximo. Eu queria beijá-lo, mas ao invés disso ficamos nos olhando. Como se nossas almas conversassem. Elas se entendiam, nós não. Aproximei-me mais, até estar tão próxima, a ponto de não ter volta, aquele ponto em que meus olhos já se fecharam. E então o beijei.
Calmamente. Sem mãos. Somente nossos lábios se movendo lentamente, sem pressa. Sem necessidade sexual. Aquele beijo que dávamos às vezes num momento de inconsciência. Aquele beijo raro, que tínhamos tanto medo.
Não eram os beijos quentes e o sexo que ascendiam o sentimento nas pessoas. Eram os beijos calmos, os toques das mãos, os olhares. E eu estava totalmente tomada.
Soltamos os lábios devagar, ao mesmo tempo.
- Jade.
- Jade.
Olhamos ao mesmo tempo e Jade ainda brincava no rio, jogando água para o alto. Ela nem parecia uma criança doente.
- Por que escolheu o nome Jade?
- Bem, Jade é uma pedra preciosa verde, assim como os olhos dela e tem um significado um tanto especial. Tem a ver com força, facilidade para enfrentar obstáculos. E é isso que ela é. Ela lutou para nascer e...
Minha voz falhara.
- E agora luta para viver.
- , vai dar tudo certo. Logo, logo, ela fará o transplante.
- Eu sei. Eu espero, mas tenho tanto medo.
não disse nada. Segurou minha mão. Aquilo não era um abraço, mas fez grande parte de minha dor ir embora.
estava fazendo algo com alguns amigos seus de Los Angeles enquanto eu e Jade assistíamos televisão. Jade amava CSI e eu às vezes me perguntava se era um programa apropriado para uma menina de seis anos. Porém Jade estava adepta à filosofia que era um tanto quanto inapropriada. "Faça o que quiser e mande as pessoas para algum lugar". Era difícil convencer Jade do contrário.
- Filha, não acha que está tarde? Vamos deitar.
- Mãe, não estou cansada. E eu quero esperar meu pai pra mostrar aquele desenho que eu te falei que fiz.
- Tudo bem. Vou deitar aqui do seu lado e se eu dormir não me acorde.
Me encostei ao sofá bege e macio da sala. Meus olhos pesaram e em alguns minutos, estava eu dormindo.
- ?
Acordei assustada com uma mão balançando meu ombro. Olhei para cima e vi .
- Desculpa se cheguei tarde demais.
Olhei em volta, tentando me situar e Jade dormia ao meu lado.
- Ela queria te encontrar acordada.
a segurou no colo e passou a caminhar em direção ao segundo andar. Continuei no sofá, esfregando os olhos.
Logo estava de volta. Senti-me um pouco constrangida, já que vestia uma pequena camisola de seda preta com bolinhas brancas.
- Está com fome?
- Não. Já comemos.
parecia cansado. Seu cabelo estava um pouco desgrenhado e usava uma camisa dos Rolling Stones.
O segui até a cozinha. pegou duas taças e colocou vinho tinto nelas.
- Tome.
me entregou a taça, e me perguntei se eu queria ou não vinho, mas já estava o levando a boca, antes que eu pudesse terminar de indagar.
- Conseguiu fazer tudo o que queria?
- Sim. Só fui encontrar alguns amigos. Beber um pouco, comer algumas prostitutas.
Cuspi o vinho sem querer. Não deveria ter feito isso, mas ouvir aquilo havia me dado ânsia de vômito. Como ele podia? Como podia ser tão podre? E agora gargalhava.
- Estou brincando. Desculpa, não pude resistir.
- Quando estiver em um buraco pedindo ajuda, não te ajudarei. Vou achar que é mais de umas suas brincadeiras idiotas.
- Se acalme, não toquei em nenhuma outra mulher, juro.
se aproximou com as mãos levantadas, como um criminoso. Não consegui guardar o riso. ao estar próximo, pôs as mãos em meu quadril.
- Quando você vai crescer, ?
Não era uma pergunta com raiva, era mais uma piada. Já que todos eram cônscios de que aquilo nunca aconteceria. apenas deu de ombros.
- Sabe, não vejo tanta graça em outras mulheres. É claro que se eu encontrasse uma mulher nua em minha cama, me chamando eu transaria com ela. Mas prefiro você.
sorriu de lado. Estava um pouco vermelho. Já eu... Será que ele ouvia meu coração gritar? Eu me sentia uma adolescente boba. fazia carinho em meu quadril com o polegar. Fazendo círculos suaves.
- Você é louco.
- Eu sei. Nasci com esse defeito, querida.
- E está vermelho.
- Foi o Sol que tomei hoje, não seja boba.
Sorri e coloquei os braços em volta de seu pescoço. tocou meus lábios e demos início a um beijo. Nossas línguas tão conhecidas, sabiam a coreografia de cor. Eu me transportava para algum outro lugar. Um lugar bom, um lugar onde eu sentia paz, mesmo que por segundos. soltou o beijo devagar, levando meu lábio inferior entre os dentes consigo.
- Durma comigo.
- O que exatamente quer dizer com isso?
- Quando fizermos sexo, quero que seja na minha cama. E depois fique lá, não tem porque se esconder aqui.
- Quem disse que vou fazer sexo com você?
- Estou esperando por isso o dia todo, não se faça de difícil agora.
Não pude deixar de rir. É claro que eu gostaria de passar a noite ao seu lado. Precisava disso, os dois precisavam honestamente. mas Jade desconfiaria, ou não entenderia.
- Não posso. E Jade?
- Jade é nossa filha, , ela ficaria feliz de nos ver juntos, não triste. E além do mais, acordamos mais cedo e ela nem vai perceber que não dormiu lá.
- Não sei, não, .
- Não vou implorar, o que decidir eu respeito.
Era realmente uma proposta tentadora. Estar sozinhos nos dava essa vantagem. Eu estaria sendo burra se não aceitasse.
- Tudo bem.
abriu um sorriso. Não era totalmente limpo, porém não era totalmente maldoso. Era um sorriso meio . Depois disso voltamos a nos beijar, e esquecemos completamente da taça de vinho. Não estávamos mais sedentos daquela bebida, mas sim de um ao outro. beijava meu pescoço e suas duas mãos apertavam meus glúteos. Seus ombros eram diversão nas minhas mãos. Eu os apertava com minhas unhas medianas.
desceu as mãos para minhas coxas e tomei impulso para que ele as colocasse sobre sua cintura. desajeitadamente foi me carregando em direção à escada. Eu sentia vontade de rir, aquela situação era tecnicamente nova.
Não tínhamos liberdade para nos agarrar pela casa, e ali estávamos. Eu sabia que deploraria por isso, afinal era o que eu fazia. Seguia meus desejos e me arrependia depois, mas não agora. Com um pouco de dificuldade chegou até o segundo andar. Ainda me carregando, fomos até seu quarto e então me jogou em sua cama.
Eu estava sorrindo. Aquilo era tão bom. Aquela sensação seja ela qual fosse, era boa. se livrou de sua camisa e subiu devagar até mim.
Fora uma noite incrível. Prazer era pouco em relação ao que dávamos um ao outro. Era uma espécie de prazer além do normal. Suas mãos me davam calafrios, meu corpo respondia a cada ação sua, cada sussurro, cada beijo.
Por fim, apenas beijava meu pescoço, e alisava meu corpo nu, até cairmos no sono.
- Bom dia, meu amor. - Bom dia, amor. O que teremos para o café?
- Apenas nós dois.
- Preciso comer, .
- Estou brincando, alguém trará nosso café. Não se preocupe. Não sairemos dessa cama por nada.
- Mas e Jade?
- Jade?
parecia confuso, talvez agoniado. Meu coração começou a acelerar. Por que raios ele relutava em dizer o que faríamos com Jade?
- Jade está morta, . Enquanto passávamos a noite, não ouvimos seus gritos e então ela agonizou até a morte, sozinha, não lembra?
Levantei num pulo. Meus olhos estavam transbordando água. E eu gritava, sim gritava de dor. De desespero, agonia, culpa. Culpa. Eu devia morrer. Fui em direção à janela que refletia um lindo Sol no quarto.
- Não faça isso, . Perdoe-me.
Olhei em seus olhos, não derramava uma gota de lágrima. Aquilo em seu rosto era... Era um sorriso? Antes que eu pudesse pensar sobre a hipótese, Alexis invadira o quarto e me empurrou.
Ao chegar no chão rapidamente, senti meus ossos doerem, eu não estava morta. Não consegui me mexer. E então havia pessoas rindo de mim por toda parte. Tudo ficou escuro.
Abri os olhos, assustada. Minha respiração estava ofegante e meus batimentos acelerados. Ainda sentia a sensação ruim do pesadelo. Mas então respirei fundo, buscando calma. Estava tudo bem.
dormia como uma pedra. Estávamos na famosa conchinha, seu nariz em minha nuca descoberta, pernas dobradas atrás das minhas, dobradas da mesma forma e curiosamente segurava meus seios. Senti-me protegida. E então aquela sensação ruim finalmente passou.
Com delicadeza tirei suas mãos de meus seios e devagar me virei para seu lado encarando-o. estava sereno, leve. Suas expressões eram quase alegres. Seus cabelos desgrenhados caiam sobre seu rosto. Sua respiração era leve. Seu rosto era lindo, perfeito. Eu sabia que a perfeição não existia, porém no dia que existisse seria o modelo perfeito.
É como dizem bonito por fora, feio por dentro. Não que fosse uma pessoa má, ele não era. Ele só era... Difícil. Uma pessoa difícil de se lidar, talvez até ele mesmo não soubesse como lidar consigo mesmo.
Mas ali, dormindo ao meu lado, tão perto. Seu calor me transferindo calor, sua respiração se misturando à minha, sua pele em contato com a minha, ele era lindo das duas formas.
Era um anjo. Assim como Jade. dormindo era Jade em versão masculina. E eu... Céus eu estava parecendo uma adolescente idiota. Sim, daquelas rebeldes sem causa que não escutam conselhos da mãe. Daquelas que gostam do perigo e de provar para todos que é dona do nariz. Daquelas que querem o cara errado, o namorado bad boy da melhor amiga, daquelas que não se importam com as consequências e depois se arrependem de tudo que fizeram. Que quando chegam à minha idade, percebem o quanto eram estúpidas, o quanto não sabiam da vida e que deviam ter ouvido seus pais. Eu estava agindo assim, só que meu caso era bem mais complexo.
Meu nariz tocava o seu. Passei a mão por seu rosto e o contornei com os dedos suavemente, tentando não acordá-lo. Tirei devagar os cabelos de seu rosto adormecido e fiz carinho com o polegar em círculos em sua bochecha.
Eu o queria bem. Queria que nada de ruim o acontecesse, seria meu fim. Encostei meus lábios em seu queixo e depositei um selinho no local. Subi um pouco e beijei seus lábios. Fiquei alguns segundos alisando seu rosto e selando nossos lábios, bem lentamente, até que abriu os olhos devagar.
O encarei e ele me encarou de volta. Nossos olhares eram fixos e tensos. Era a primeira vez que eu me sentia confortável em olhar diretamente nos olhos de alguém. Principalmente esse alguém, sendo .
Percebi que não havia outro, que de todo jeito, e todos os defeitos, era ele. Eu pertencia a ele, meu coração pertencia a ele e mais ninguém. Não saberia dizer se eu já o pertencia desde a primeira vez em que o vi, ou se havia conquistado aquela posição sem esforço. Sem esforço porque não fazia questão em me conquistar, ou ao menos tentar. Eu simplesmente não resistia a ele.
- Estou... Apaixonada, .
Disse olhando em seus olhos, tentando mostrar minha sinceridade. apertou-me mais contra seu corpo. Meu coração acelerava freneticamente.
- ... . Não faça isso comigo. Não me iluda. Você sabe, nós sabemos que isso tudo...
fez uma pausa e então passou seus dedos por meu rosto, descendo para meu pescoço, seios, cintura e parou em meu quadril.
- Isso é apenas desejo. Estamos apenas ardendo em desejo.
- Meu coração. Ele...
pôs um dedo em meus lábios, me calando. Talvez eu não devesse ter dito aquilo. Talvez não fosse a hora certa, talvez não fosse o certo.
- Esqueça isso. Vamos manter o que temos. Manter nosso desejo, não confunda.
Era como se alguém dirigisse um carro e então batesse em meu peito. Provavelmente pela dor foi um caminhão.
me puxou para perto e enterrei meu rosto em seu peito. Não queria que visse as lágrimas que se acumulavam em meus olhos. Ficamos assim por um tempo. Tentei não pensar naquilo, tentei não sentir aquilo. Como eu poderia não pensar na pessoa que me tem nua em seus braços? Eu teria que aprender a conviver com o fato de sentir por o que ele não sentia por mim. Eu já havia aprendido a lidar com ele, mas isso era um obstáculo maior.
Me levantei devagar. Saí cuidadosamente dos braços de , sem que ele acordasse. A luz invadia o quarto e eu sabia que era a hora de ir, ou eu sabia que nem deveria ter ficado. Meus olhos estavam um pouco inchados, pelas poucas e silenciosas lágrimas que saíram. Não consegui dormir, não consegui parar de pensar no ocorrido. Para , não significava nada, para mim tudo.
Em silêncio recolhi minhas roupas e fechei a porta do quarto com cautela. Vesti a calcinha e a camisola e fui na ponta dos pés até o quarto onde Jade dormia serena.
Deitei-me ao seu lado percebendo algumas dores no corpo, e no coração. Dores tais que levariam um tempo para serem sanadas.
CAPÍTULO 26 - Poison humans
Jade olhava pela janela ao meu lado e o sorriso em seu rosto continuava intacto desde que saímos de Los Angeles. As nuvens ficavam mais densas e escuras a medida que nos aproximávamos de Londres, era como anoitecer.
estava sentado à minha frente e mantinha os olhos fechados, porém eu sabia que não estava dormindo. O avião era um completo silêncio e talvez essa fosse a principal vantagem de viajar num jato particular.
Em poucos minutos pousamos em Londres, automaticamente sendo sugados para a rotina de volta. Jade saía na frente carregando apenas sua mochila preferida enquanto eu e saíamos atrás mais silenciosos do que um funeral. Nosso último dia em LA fora assim, não trocávamos muitas palavras e nem ficara em casa. Talvez isso tudo tenha se dado graças à minha estupidez de falar sobre sentimentos com a pessoa mais idiota do mundo.
Entramos no carro ainda quietos e fomos ouvindo algumas músicas no rádio até chegarmos em meu apartamento.
- Obrigada pela viagem, .
Lhe disse de pé antes de entrar no prédio. tinha os olhos fixos em algum ponto qualquer, menos em mim.
- É uma pena que não pudemos ficar mais tempo, mas foi bom de qualquer forma.
- Sim. E você foi incrível no show. Na verdade essa era a segunda vez em que eu te assisti.
- Sério? Desde quando éramos mais novos?
- Oras, você acha que eu ia num show seu depois de tudo? Depois de Jade eu me forcei a não ter nenhuma notícia sobre você, mesmo que tivesse que sacrificar televisão e Internet.
- Entendo.
Voltamos ao silêncio irritante. Percebi que Jade estava sentada na escada da entrada da portaria, e parecia cansada.
- , vou subir. Nos vemos amanhã.
- Tudo bem.
Sem nenhum cumprimento passei por , porém ele segurou meu braço me fazendo voltar à atenção para ele.
- Você tem algum problema? Por que está agindo assim?
- Sério? Sério que nem passou pela sua cabeça o motivo?
- Não sei, foi algo que eu fiz?
- Me dê licença.
Soltei-me de sua mão facilmente e fui em direção à Jade sem olhar para trás. Segurei sua mão e a guiei adentro. Jade acenava freneticamente para o pai logo atrás. Logo estávamos no elevador, enquanto os empregados levavam nossas malas no elevador de serviço. As vezes eu me sentia mal por, digamos, ter empregados. Era como se eu fosse melhor que qualquer pessoa, mas eu não era. Eu não os pagava com meu salário de um trabalho suado, e sim graças à minha própria filha. Graças a uma mentira. Eu nem lembrava mais como era viver uma realidade. Viver uma vida simples e sem preocupação.
A intenção de ao nos levar para L.A era o descanso, porém voltei com fadiga emocional. Aonde eu estava com a cabeça, quando pensei em falar que estava apaixonada por ?
Aonde eu estava com a cabeça quando me deixei apaixonar por ele? Aonde eu estava com a cabeça quando aceitei entrar nessa tramoia louca e inconsequente? Qual era meu objetivo mesmo?
Eu não tinha essas respostas, porém a única resposta certa era que eu estava completamente perdida. Perdida numa estrada de mão única, sem acostamento ou placa indicando um retorno a 20 km. Procurei dispersar meus pensamentos olhando para Jade.
Sua força me trazia força. Jade era minha vida, minha energia, minha razão de viver ou sobreviver. O amor que sentia por ela era incondicional. Às vezes eu me pegava pensando nas coisas que eu sacrificaria por ela, ou o que eu poderia ter feito para sua vida ser a melhor.
Já estávamos adentrando o apartamento, e então Jade se jogou no sofá e ligou rapidamente a televisão. Passava especial de my little pony no discovery kids.
Então tudo fazia sentido. A ansiedade de chegar em casa, o desespero para abrir a porta, a despedida distante e ligeira com o pai. Tudo era devido ao maldito desenho. Talvez esse fosse o segredo de sua força. Se preocupar com um desenho bobo, mas não com o câncer que carrega no corpo. Eu deveria passar a me preocupar mais com a conta bancária cheia que me proporcionava do que me preocupar com o que significo para ele. E isso era simples, nada.
Eu não significava nada. E então aqui estou eu, voltando pro mesmo assunto massante. Me levantei e fui até a cozinha pensar em algo para almoçamos, mas a única coisa que vinha em minha mente era o número do restaurante indiano fixado no quadro de tarefas. Sim, eu tinha um quadro de tarefas na cozinha. Peguei o celular para discar o número e pedir a comida, entretanto visualizei três chamadas perdidas de um número desconhecido. Quem seria? Talvez minha mãe.
Apertei para discar o número automaticamente, ouvindo os efeitos sonoros do aparelho de acordo com as ações tomadas. Algum tempo depois o telefone chamava e levou alguns segundo até atenderem.
- Alô. Estou ligando porque me ligaram desse número mais cedo.
- Oi, .
. Meu coração acelerou e senti calafrios ao ouvir e automaticamente saber de quem era. Só não sabia discernir se era algo bom ou ruim.
- Por que está me ligando, Melissa?
- Queria saber como você está, como Jade está. Soube da doença.
- Pois é, estamos bem. Você saberia que estamos bem se estivesse ao meu lado quando eu precisei. Mas você é assim, não é? Só aparece quando precisa de alguma coisa. A propósito você está atrás de dinheiro ou fama?
- , você não entende. Eu me preocupo com você, sempre me preocupei. Mas eu tive que ir.
- Estou farta de você, Melissa! Não vou passar o resto da vida te perdoando. Não dá!
- Por favor... Eu tive que ir. Não posso te dizer o motivo. Mas eu tive.
- Vá se ferrar!
Ainda pude ouvir o som de sua voz distante pedindo para que eu não desligasse, porém o fiz. Eu tinha tanta coisa na cabeça, não podia pensar em Melissa agora. Talvez depois eu voltasse atrás como sempre fiz, mas eu estava cansada. Cansada de me preocupar com os outros, quando eles mesmo não estão interessados na própria vida. Peguei o celular novamente e disquei o número do restaurante.
xx
Jade segurava minha mão enquanto a agulha fina penetrava sua pele mais fina ainda. Seus olhos estavam apertados assim que o sangue começou a entrar na seringa. Eu acreditei que Jade se acostumaria com os exames de rotina depois de tanto tempo, mas ela não se acostumava. Sempre ficava triste quando tínhamos que ir até lá fazer seus exames, toda semana. Ainda não havia doador e isso ainda me agoniava.
Jade respondera ao tratamento bem, porém ele não era sua cura, apenas um alívio. Eu me sentia tão incapacitada, tão miserável e inválida. Mas seu sorriso, sua esperança me fazia acreditar que tudo ficaria bem no final.
não viera conosco, aliás voltara à estaca zero de afeição em relação a mim. Nem mesmo ao sexo ele mostrava interesse. Não que eu sentisse falta, mas Jade percebera a ausência do pai.
- Mãe, pode comprar um pirulito na loja de doces depois?
- Claro, querida.
- Mãe, eu também queria saber quando não vai mais precisar ficar vindo aqui. É chato.
- Eu sei que é chato, meu amor. Mas precisamos vir aqui ver se está tudo bem com você. E o doutor sente saudades de você.
- Ele pode muito bem me visitar em casa.
- Creio que pode, mas você não vai querer atrapalhar o trabalho dele, né?
- Não, tudo bem. E mais uma coisa, mãe, por que meu pai não veio hoje?
- Seu pai está ocupado ultimamente. Ele tem muitas coisas pra fazer agora que voltou a fazer shows.
- Eu queria ter visto o show dele.
- Ele é seu pai, você pode pedir pra ele fazer um show particular quando for lá em casa. O que acha?
Uma expressão de felicidade e ansiedade tomou o rosto de Jade. Ela parecia bem interessada na ideia que acabei de dar.
- Mamãe, como não tinha pensado nisso? Vou ligar pra ele e pedir assim que chegarmos em casa. Depois vou gravar um vídeo e mandar pra Rachel e pra Julie. Elas vão morrer de inveja do meu pai.
- Tudo bem, meu amor. Mas não acho legal você mandar um vídeo só pra causar inveja. Elas devem ficar felizes por você ter seu pai.
- É, isso também.
Ri de seu falso contentamento. Jade me fazia rir. Nas coisas mais bobas e raras. Eu não poderia escolher uma filha melhor.
Abri a porta e nos jogamos no sofá. Era um pouco cansativo todo o processo de ir até o centro de Londres e passar horas no hospital fazendo procedimentos médicos. Liguei a televisão e estava passando um filme qualquer de comédia do Adam Sandler. Deixei Jade vendo e fui até a cozinha preparar o jantar.
Fiz ensopado de peixe com batatas. Jade não gostava muito de peixe, porém sempre insisti em manter uma alimentação equilibrada, então Jade apenas comia de tudo, mesmo contra vontade.
Comemos em frente à televisão assistindo um outro filme do Adam Sandler, provavelmente era maratona. Ou era seu aniversário ou ele tinha morrido. Jade ria das piadas mais engraçadas até as mais bobas. Eu nem conseguia prestar atenção no filme.
Estava um pouco frio, não tanto, mas não era um clima agradável quanto o de Los Angeles. Quando eu lembrava de Los Angeles, lembrava não só das coisas boas, mas principalmente do pior momento. Principalmente da minha ingenuidade.
- Filha, vou tomar um banho pra relaxar. Você fica bem aí?
Jade apenas assentiu com a cabeça e então me levantei e fui até meu quarto pegar alguns sais de banho. Enchi a banheira com água quente e deixei que os sais fizessem seu efeito. Tirei a roupa e entrei. Meus músculos relaxaram de acordo com que eu punha cada parte na água devagar. Quando estava deitada, meu corpo imerso na água quente e relaxante, fechei os olhos. Comecei a massagear as têmporas. Aquilo era relaxante, porém eu sentia falta de algo.
Era como se eu precisasse de algo para estar totalmente bem, totalmente calma, totalmente completa. Meu corpo sentia falta de . Meu coração sentia falta de . Tudo só ficaria bem se eles estivesse naquela banheira, ou qualquer outro lugar comigo. Havia três dias que não o via e parecia uma eternidade. E tudo era culpa minha. Culpa minha e da minha burrice.
Céus como eu estava apaixonada por aquele homem desgraçado.
Meu coração ardia, doía. Aquilo era tortura, mais uma das minhas torturas diárias. Será que algum dia eu seria feliz? Eu era feliz sem saber. Eu tinha meu emprego, tinha Luke, minha filha tinha uma vida normal. E eu não dei o mínimo valor. Senti meus olhos encherem de lágrimas, lágrimas transbordando dor e sofrimento. Por que eu?
Abri os olhos na cama fria. O celular tocava alto e irritantemente. Olhei no visor e era o número de minha mãe. Sorri de alívio.
- Oi.
Eu disse rouca tentando disfarçar que eu estava dormindo minutos antes.
- , como estão as coisas?
- Bem, obrigada.
- Eu estava pensando se não poderíamos fazer um jantar em família. Eu, vocês, seu pai. O que acha?
- Mãe, não somos uma família feliz. é apenas o pai de Jade. E além do mais não é bom alarmar a mídia assim.
- Querida, seria algo pequeno. Na casa de mesmo. E eu preciso apresentar alguém a ele.
- Quem?
- Meu noivo. Não te disse sobre ele, não é?
- Não, você esqueceu esse detalhe da sua vida.
- Desculpe, não quis te encher. Você faria esse jantar por mim?
- Vou ver o que posso fazer por você.
- Obrigada, filha. E eu preciso de passagem também. Até mais.
- Tá bom.
Desliguei o celular e fechei os olhos novamente. Eu queria agradar minha mãe, mas como eu convenceria a fazer um jantar em família?
's pov
Saí correndo do banheiro com uma toalha nos quadris e o cabelo pingando água. Consegui pegar o celular antes que desistissem de ligar.
- Alô.
- Pai.
- Oi, filha. Como você está?
- Estou com saudade, papai. E eu quero que você faça um show particular pra mim.
- De onde você tirou essa ideia, menina?
Sem que eu percebesse eu estava rindo ao ouvir a voz doce de Jade e suas exigências para um show particular.
- Tudo bem, eu faço. Eu te ligo quando der, está bem?
- Tá bom. Pai, antes de desligar, a minha mãe quer falar com você.
Meu coração disparou no momento em que ouvi a voz de .
- , preciso de um favor. Minha mãe pediu para que fizéssemos um jantar em família. Eu queria muito fazer isso por ela. Acha que dá?
- Voltou a falar comigo, é?
Ri ironicamente. era fraca. Não precisava esperar muito para que ela não aguentasse mais.
- Não estou falando com você. Estou pedindo um favor em nome da minha mãe.
- Sua mãe é tão gostosa quanto você? Porque se for, não sei se vai dar certo.
A ouvi suspirar perdendo a paciência do outro lado da linha.
- , você vai poder ceder um jantar com meus pais e você, ou tá difícil?
- Por que eu deveria?
- Porque você está em desvantagem comigo.
- Ops. Tudo bem, mamãe maravilha. Quando será esse jantar?
- , eu não estou brincando. Nem estou a fim de ouvir suas piadinhas idiotas. Então pare.
- Perguntei quando será o jantar.
- Amanhã, acha que dá?
- Tudo bem. Amanhã a noite não tem nada programado.
- Até lá.
- Até. Espera, , não desliga.
- O que é?
- Nada, só queria ver se ainda tenho poder sobre você.
- Vai pro inferno!
Tirei o celular da orelha rindo. Não deveria existir alguém mais idiota do que eu, provavelmente.
Voltei pro banho e debaixo do chuveiro ouvi o barulho na porta. Tirei a água dos olhos e vi Alexis fechando a porta por dentro.
- A água está quente?
- Obviamente.
Alexis apenas sorriu e então abriu o fecho do vestido e o mesmo deslizou por seu corpo desnudando-o. Alexis abriu o box e entrou me fazendo revirar os olhos.
- O que você quer?
Alexis se aproximou de mim e pôs os braços ao redor de meu pescoço.
- O que você acha que eu quero? Você é meu noivo.
- Você sabe que não somos noivos. Sabe que não sinto nada por você a muito tempo.
- E nem eu por você. Só quero sexo.
- Eu também adoro sexo e você o torna bem mais fácil, mas não estou no clima agora. Sai daqui.
- ... ... ... Você não sabe do que eu sou capaz. Se você ousar me deixar, eu juro que faço da sua vida um inferno.
- Não vou te deixar.
- E quanto à sua vadia particular?
- Não vou te deixar por causa dela. Mas não vou deixar de transar com ela por sua causa. Como sempre fiz.
- Você sabe que ela não é igual as outras. Você não visitava a casa das outras, não as levava pra sua ilha em LA. Não tinha uma filha com elas, . Abra seus olhos.
- Estão abertos, querida, estão bem abertos. E você sabe que tudo que faço é por Jade, não por .
- Assim eu espero, querido.
Alexis apertou meu membro me fazendo gemer, não de prazer, mas de dor. E então saiu com minha toalha. Se fosse há um tempo atrás eu nunca recusaria sexo com Alexis, era maravilhoso, mas eu não conseguia mais sentir vontade com outra a não ser .
Isso me dava medo às vezes. E se resolvesse ir embora e não me quisesse mais?
Your mind is not your own
Your heart sweats, your body shakes
Another kiss is what it takes
You can't sleep, you can't eat
There's no doubt, you're in deep
Your throat is tight, you can't breathe
Another kiss is all you need
(As luzes estão ligadas, mas você não está em casa
Sua mente não é a mais sua
Seu coração soa, seu corpo treme
Outro beijo é o que precisa
Você não consegue dormir nem comer
Não há dúvida, você está no fundo
Sua garganta está apertada, você não consegue respirar
Outro beijo é tudo que você precisa)
Abri a porta da entrada e não encontrei ninguém. Subi até o quarto, coloquei uma camisa social azul-marinho e um pouco de perfume. Desci as escadas e ouvi barulho vindo da sala de jantar. Filhos da mãe, começaram o jantar sem mim. Entrei na sala de jantar assustado e me assustei mais ao reconhecer os rostos ali.
Jade, .
e Alexis estavam próximas. E algumas outras pessoas que provavelmente eram os pais de . A única coisa que passava por minha mente era: O que diabos Alexis estava fazendo ali?
- Me desculpe pelo atraso. Sou .
- Eu sei, querido.
Uma mulher com cara de cinquentona sorriu para mim, imaginei ser a mãe de .
Sentei-me ao lado de Alexis.
- Quem te convidou?
- Essa é minha casa, meu amor.
Alexis passou os braços sobre meus ombros e beijou minha bochecha. Lancei-lhe um olhar sério. Afinal, o que eu havia perdido?
- , eu sou Monica, a mãe de . Esse é meu noivo, Gilbert. E esse é o pai de e essa é sua mulher. É um prazer.
- Pra mim também, sr. .
- É um prazer mesmo conhecer a família da minha garotinha. Tenho Jade como se fosse minha filha. E é um amor. Penso em até chamá-la pra ser minha dama de honra, pois eu e vamos nos casar.
Alexis soltou me interrompendo.
- É Alexis, quando alguém fica noivo é porque eles vão se casar. Acho que todos sabem disso.
- Não seja bobo, querido. Vamos nos casar ainda esse ano. Foi isso que eu quis dizer.
Aquilo só poderia ser brincadeira. Quando eu pensava que as coisas não poderiam piorar, Alexis tem um surto. Casar? Casar já era demais.
- Estamos atrapalhando alguma coisa?
finalmente se pronunciou. Seu olhar injuriado me fez desejar que não o tivesse. Isso sempre acontecia quando eu tinha que estar no mesmo lugar que as duas. Era umas das piores experiências.
- Não, querida. Estou tão feliz que não me canso de falar sobre o casamento e o bebê.
- Bebê? Que bebê, Alexis?
- O nosso, oras. Desculpe eu não queria te contar assim. Eu devia ter esperado. Mas escapuliu.
Olhei para Alexis incrédulo. Como? Como ela podia ser tão falsa, cínica e hipócrita. E tinha .
estava ouvindo todo aquele circo. E ela já estava com raiva de mim, e eu não poderia viver sem por perto. Simplesmente não poderia.
oh, yeah
It's closer to the truth to say you can't get enough
You're gonna have to face it
you're addicted to love
(Você gosta de pensar que você é imune às coisas,
oh, sim
É mais perto da verdade dizer que não consegue o suficiente
Você terá que encarar isto
Você está viciado no amor)
- O que exatamente você está fazendo aqui?
explodiu. Aquilo estava ficando interessante.
- Vai pedir o dízimo para ? Quanto? 1 milhão? E você, mãe? Já avisou pro que o Gilbert é um produtor musical e quer um favor? Afinal, foram somente essas as suas intenções de fazer esse jantar, não é?
- ...
- Chega, mãe! Chega todos vocês! E vocês dois, por favor vão para um quarto!
apontou para mim e para Alexis que estava pendurada em meu pescoço beijando-o. Olhei em seus olhos e ela parecia cansada e realmente triste.
E então saiu da sala de jantar sem dizer mais nada.
- Perdoem-me, vou resolver isso.
Ao levantar senti a mão de Alexis me segurando, porém ignorei e levantei.
não estava na sala de visitas.
Fui até o quarto, a cozinha, jardim e nada dela. Ouvi um barulho de estouro longe e então soube exatamente aonde ela estava. Fui correndo até ao salão de tiro. E como previsto estava ali segurando uma arma apontada para o alvo.
- , isso é perigoso, e você não está usando os equipamentos de proteção. Largue isso.
então virou-se para mim e apontou a arma. Senti meu corpo gelar. Não porque estava com medo dela, mas sim de sua inexperiência.
- , o que está fazendo?
- Vou te matar e então tudo isso acaba.
Parecia que uma espinha de peixe havia passado abaixo da minha garganta. Ela não seria capaz, seria?
Antes que eu pudesse ter um ataque do coração, abaixou a arma e colocou no chão levantando as mãos em sinal de paz.
- Não sou tão estúpida a ponto de fazer isso.
- O que está havendo? Por que deu aquele surto?
- Estou cansada, , cansada de ver Alexis praticamente fazendo um boquete em você em pleno jantar. Cansada de ter que olhar pra sua cara de imbecil. Estou cansada das pessoas só me procurarem por interesse. Estou cansada de sentir!
Ela aumentou a voz e naquele momento eu já sabia aonde essa conversa terminaria.
- De sentir meu coração disparar quando te vejo. E estou cansada das mentiras em que você me enfiou. Eu queria sair na rua e poder andar sem câmeras atrás de mim. Queria poder ser a mãe da minha filha e não a tia! Queria que o doador da minha filha aparecesse logo. Quero minha vida de volta. E queria poder desejar você longe.
disparava energicamente. Cada palavra proferida era como uma faca entrando em meu corpo. Era como se eu fosse culpado por sua infelicidade. Mas era tudo culpa daqueles malditos dias em Los Angeles.
You're runnin' at a different speed
You heart beats in double time
Another kiss and you'll be mine, oh
A one track mind
You can't be saved
Coz oblivion is all you crave
If there's some left, left for you
And you don't mind if you do
(Você vê os sinais, mas não consegue lê-los
Está correndo numa velocidade diferente
Seu coração bate em dose dupla
Outro beijo e você será meu, oh
Uma mente fechada
Você não pode ser salvo
Porque o esquecimento é tudo que você busca
Se há algo que resta, resta para você
E você não se importa se sim)
- E como você acha que eu deveria me sentir, ? Eu abri meu coração pra você. Eu falei sobre o que eu sentia e você me jogou no lixo. Estou cansada de ser apenas uma vadia que faz sexo grátis com você. Será que você não entende?
- E o que você quer que eu faça, ?
- Nada, . Esqueça-me. Deixe-me sair de uma vez da sua vida.
Não disse nada. tinha algumas lágrimas nos olhos e lá no fundo eu também queria derramar algumas. Eu tinha um nó na garganta e também estava cansado de tudo aquilo. E eu não queria perdê-la.
andou até a porta e então corri e a impedi de sair, ficando na frente.
- Para.
levantou os olhos marejados até os meus e ela parecia um anjo, o mais puro dos anjos. E eu não poderia... Não poderia mais afastá-la.
- , eu também... Também sinto.
- Sente o quê? Desejo?
Ela disse irônica, não tanto quanto eu poderia ser, mas chegava perto.
- Não. E eu não estou apaixonado por você, . Eu... Eu sinto algo diferente, mais forte, não sei o que é. Algo que nunca senti. Sinto isso por você e por Jade. E são as únicas pessoas das quais sinto isso.
estava calada e parecia nem ter ouvido o que acabara de dizer em alto e bom som. Nem eu mesmo tinha noção do que acabara de fazer.
- , eu não sei o que faria se algo acontecesse com vocês duas. Isso não é paixão. E que se dane se você me achar viado. Eu sinto, droga. Você é, sempre foi e sempre será a única que me fez sentir isso. Você entende?
- ...
Segurei seu rosto bruscamente e então a beijei. Eu estava sentindo falta de beijá-la. Eu necessitava daquilo. Necessitava daquilo todos os dias de minha vida. Eu necessitava daquele beijo e daquele toque todos os dias, até o fim dos tempos. Escocesa maldita.
Soltei nossos lábios contra sua vontade e analisei seus olhos. não tinha o mesmo olhar de antes. Aqueles olhos rancorosos deram lugar a um olhar singelo e apaixonante.
oh,yeah
It's closer to the truth to say you can't get enough
You're gonna have to face it
you're addicted to love
Might as well face it, you're addicted to love
The lights are on, but you're not home
Your will is not your own
You're heart sweats, your teeth grind
Another kiss and you'll be mine
(Você gosta de pensar que você é imune às coisas, oh, sim
É mais perto da verdade dizer que não consegue o suficiente
Você terá que encarar isto
Você está viciado no amor
Poderia encarar muito bem, você está viciado no amor
As luzes estão ligadas, mas você não está em casa
Sua vontade não é mais sua
Seu coração soa, seu dente range
Outro beijo e você será meu)
- Por que não?
- Temos um contrato. E eu dependo de você. Não me orgulho de usar uma mentira, mas se contarmos a verdade agora, eu não sei o que poderia acontecer. E eu não posso arriscar tudo, não agora. Por favor, você entende?
Pausei um pouco o diálogo e fechei os olhos. Era difícil ver sua íris oscilar de acordo com que minhas palavras eram soltas, como cacos de vidro que iam a cortando por dentro lentamente. Era difícil. Difícil falar de sentimentos. Difícil provar que não poderíamos ficar juntos, por uma escolha minha. Era difícil carregar aquela culpa.
- Você entende o porquê de não ter dito nada antes? Entende o motivo de eu sempre te afastar, quando te queria o mais perto possível?
- Você acabou de dizer que me ama. Você disse...
levou os dedos aos meus lábios, tocando-os levemente. Talvez estivesse querendo provas de que aquilo era a realidade. Eu também as almejava.
- , você ouviu o que eu disse?
continuou inerte à conversa. Sua expressão era quase perturbada mentalmente. Um misto de fantasia e assombro fosse talvez a melhor maneira de descrevê-la.
Suspirei quebrantado. Por que raios ela não podia amenizar a situação? Que merda! Esse era uma das principais razões pelas quais eu não amava as pessoas. O amor cansa, te consome, te enfraquece, te torna um imbecil, um tapado, um obtuso. E eu... Eu gosto de fumar, beber, transar, dinheiro. Mas agora eu também amava, e isso exigia uma certa devoção exclusiva.
- Tudo bem, . Eu entendo. Eu vou manter o segredo e me assegurar de que minha família também mantenha.
Então deixou que sua cabeça caísse sobre meu peito. Acomodei minhas mãos em seus cabelos que cheiravam à flores.
- E quanto a nós. Mantemos nosso segredo.
emitiu. E elevou o olhar até o meu novamente.
- Acha que aguenta? Não posso te oferecer nada. Apenas... Você sabe.
- Por mim tudo bem.
Um sorriso se formou em seu rosto e tudo se iluminou. Seu sorriso me trazia paz, me trazia esperança e alívio. Ela tinha tanto à me oferecer. Sua presença me fazia um homem melhor ou pelo menos não tão ruim quanto eu era.
- Cacete! Mas que merda!
Soltei e então transformou o sorriso em confusão.
- Isso é tão frustrante, , tão frustrante.
Passei as mãos pelos cabelos, irritado, e depois segurei seus ombros, ofegante. Eu ainda me sentia um total fracasso desde que não pude fazer nada para que o transplante de Jade fosse feito rapidamente.
- O que foi? Do que você está falando?
- De mim. Eu... Eu tenho dinheiro, tenho tudo que preciso. Eu dou alegria ou qualquer coisa que seja por meio da música às pessoas, eu dou dinheiro para meus empregados, dou minha presença a eventos e minha figura à mídia. Eu dou tudo de mim para todos . Mas eu não sou capaz de dar uma bosta de um transplante pra minha filha ou uma relação saudável à mulher que me deu ela. Eu sou um merda! , eu faço tudo por todos, mas não posso dar o que as únicas pessoas com quem me importo necessitam. Isso é cáustico.
oh, yeah
It's closer to the truth to say you can't get enough
You're gonna have to face it
you're addicted to love
Might as well face it, you're addicted to love
(Você gosta de pensar que você é imune às coisas, oh, sim
É mais perto da verdade dizer que não consegue
o suficiente
Você terá que encarar isto
Você está viciado no amor
Poderia encarar muito bem, você está viciado no amor)
Retirei as mãos de seus ombros e as levei ao meu rosto, derrotado. Minhas mãos ardiam em minha face e naquele momento eu aspirei uma morte lenta e dolorosa do que sentir aquilo. Aquilo que me atormentava por tanto tempo. Desde o dia em que percebi que eu não era o dono do mundo e minha filha, não a filha de qualquer um. Minha filha poderia morrer e eu não podia fazer nada em objeção. Nada.
E então me lembrava do dia em que estupidamente fiz uso da heroína. Supus que iria me aliviar, me fazer esquecer, e fez, no entanto no outro dia percebi o quanto aquilo era errado e ferraria tudo o que havia lutado todo esse tempo fora da reabilitação. E então naquela situação o desejo voltou. Eu a queria.
Queria mais do que qualquer coisa e não importava o quanto aquilo me destruiria. Como me destruiu uma vez. A queria correndo em minhas veias e me trazendo o orgasmo mental e então a sedação. Maldito seja Charles Romley Alder Wright.
- , você nos dá o que precisamos. Eu não preciso andar de mãos dadas ou de fotos de casais pela Internet. Eu tenho você. E quanto à Jade, vamos achar o doador em breve, é só questão de tempo. Não é sua culpa.
Terceira gaveta, entre as meias e gravatas nunca usadas. A chave estava na carteira? Sim, na carteira. Eu tinha certeza de que elas estavam lá.
- , me deixe só. Apenas volte e diga que fui fumar.
Saí do salão de armas a deixando totalmente desnorteada, contudo, não me seguiu.
Subi as escadas tentando me desvencilhar das vozes na cabeça e das paredes se fechando contra mim. Entrei em meu quarto escuro e fui até o closet.
Na terceira gaveta, entre as meias e as gravatas nunca usadas, encontravam-se seringas preenchidas pela droga.
Peguei a chave em minha carteira, no bolso de trás da calça surrada. Com as mãos trêmulas posicionei a chave na fechadura. Fechei os olhos por alguns segundos.
Eu deveria? Não deveria? Só mais uma dose não me tornaria dependente de novo, só traria o alívio que eu precisava, certo?
Ou não?
Alexis's pov.
Só se ouvia o som do encontro do piso de porcelana e meu salto alto Roberto Cavalli por todo o corredor. Cheguei até a porta e deduzi ser a certa. Tirei os óculos escuros e apertei a campainha. Esperei um tempo e então apertei de novo.
O som daquela porcaria era estridente e irritante. Alguns segundos depois do segundo toque o rosto tão familiar apareceu por trás da porta. Sem precisar de um convite entrei na sala. Havia alguns homens bem trajados e logo percebi que estava interrompendo uma reunião.
- Alexis, o que você está fazendo aqui agora?
- Preciso falar com você. Desculpa se interrompi algo.
- Fala logo então pois estamos tendo uma reunião, se seus neurônios não lhe deixaram captar.
- Sempre engraçado, querido.
Fomos até um outro quarto vazio. O quarto tinha uma mesa coberta por uma toalha de seda preta e diversos emblemas religiosos de todos os tipos. Senti um calafrio ao me deparar com as coisas contidas naquele recinto. Mantive a compostura e fui direta ao ponto.
- Ele está apaixonado.
- Você veio aqui pra falar sobre ? Isso é algum tipo de piada?
- Precisamos fazer alguma coisa! Ele não pode ficar com ela. Não desse jeito. Isso atrapalharia tudo! Como você não vê?
- Ela não pode, ou você não quer?
- Já te falei que só me importo com o dinheiro.
- Saia daqui, Alexis! Se você fizer qualquer coisa que interfira nos meus planos, vou acabar com você! Não me importa se nos temos algo, juro que acabo com você.
- Você deveria me ouvir mais.
- Eu ouço, Alexis, esse é o meu problema.
Ele abriu a porta para que eu saísse, no entanto permaneci ali.
- Já falei que isso pode sim interferir nos seus planos. Você não acha que ele pode sei lá, desistir de tudo?
- Alexis, errei em ter deixado você dar sua opinião quanto ao que faríamos com a Melissa. E agora ela fugiu. Você quer mais algum argumento? Porque tenho vários.
- Pra mim já chega! Estou indo.
Saí finalmente do quarto enquanto ele bufava. Ouvi o barulho da porta se fechando bruscamente atrás de mim e então me dirigi até a porta da saída.
- Te vejo amanhã.
Antes que pudesse me virar para sair o homem que cheirava à hortelã e charuto me surpreendeu com um beijo um tanto quanto agressivo. Senti o calor emanar de seu corpo. Aquele homem era terrivelmente teimoso, ganancioso, vingativo e alguns atributos a mais. Porém ele me levava à loucura nos mais diversos sentidos que se possa imaginar.
- Hm não vou te perdoar só por isso.
Pronunciei ao me desvencilhar de seu abraço.
- Vá se ferrar, Windhoc.
- Já estou ferrada, meu amor, já estou.
Mandei um beijo no ar e então caminhei em direção ao elevador. Ouvi a porta batendo e então mais uma vez o único ruído audível era o dos meus saltos.
Ele era teimoso, porém eu era muito mais. E eu faria algo a respeito daquele romance de merda, a se faria.
.
's pov
Jade segurava minha mão firmemente ao andarmos pelo shopping local. Eu segurava um copo pela metade de cappuccino, e procurava pela primeira lixeira para jogá-lo.
- Mãe, vamos ali! Vamos por favor!
Jade me puxava pelo braço em direção a uma loja de brinquedos. Sem muita opção de desistência, entramos na loja entupida de olhos, cabelos artificiais e peças. Jade logo soltou-se de minha mão e foi de encontro à ala feminina. Joguei o copo na lixeira da loja e senti meu celular vibrar.
O visor mostrava o nome de . Sorri e ao mesmo tempo senti meu coração acelerar nitidamente.
- Oi.
- Estou aqui. Aonde vocês estão?
- Em uma loja de brinquedos.
Olhei em volta procurando pelo nome da loja, antes imperceptível.
- S & G toys, ao lado da fonte de água.
- Tudo bem, estou indo.
desligou o celular antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.
estava estranho ultimamente, não que ele fosse uma pessoa normal e equilibrada. Simplesmente concluí que depois de nossa conversa e do raro e tão precioso momento em que disse o que sentia, iríamos ficar bem.
Talvez eu estivesse enganada. Com nada era previsível, nada era concreto, nunca estável. Eu havia me libertado do fantasma que era ser não correspondida, porém agora eu estava pisando em ovos. Nunca sabia o que dizer ou como agir com , como seu eu soubesse como fazer isso antes, como se eu fosse saber algum dia.
Olhei ao meu redor e percebi uma boneca antiga, era um dos brinquedos com que brinquei na infância. Olhar aquele brinquedo me trouxe uma sensação nostálgica, mas, ao mesmo tempo, dolorosa. A menina com que eu brincava estava por aí, sabe-se Deus aonde. Senti um aperto no peito como de costume. Eu sentia que deveria proteger e ajudar Mel, já que a mesma não fazia isso. No entanto, como poderia eu guiar alguém que não se deixa se guiar? E como guiar, quando se precisa de um guia?
Era tudo muito complicado, tudo muito delicado. O que eu tinha na cabeça ao me envolver com pessoas tão difíceis e impossíveis?
Senti uma mão no ombro e quase derrubei a boneca que segurava nas mãos. estava ali e dois de seus simpáticos seguranças ao seu encalço.
- Oi.
Apenas disse e o observei.
estava lindo e exalando um perfume inebriante como sempre. Usava uma camisa social amassada preta com caveiras brancas estampadas por todo o tecido, calças jeans pretas e sapatos pretos. Seus cabelos estavam presos numa espécie de coque largo, nada feminino.
Seu rosto estava pálido e notava-se a existência de algumas olheiras, mas nada que afetasse sua beleza divina.
- Nunca vi seu cabelo assim.
- Está um pouco grande, corto?
- Não, gosto assim.
Sorri timidamente. Me dei conta do simples e tão significativo diálogo trocado entre nós. não pedia opinião sobre o cabelo para qualquer um, ou para alguma pessoa sequer.
- Então, aonde está Jade?
- Ali, na parte feminina.
Apontei para aonde Jade se encontrava e notei que a porta da loja estava trancada e algumas pessoas tiravam foto do lado de fora, além dos próprios funcionários que disfarçaram ao sentir meu olhar sobre eles.
se retirou e foi até Jade. Aquela cena era tão anormal e normal ao mesmo tempo. Pessoas queriam um fio de cabelo que fosse de , e lutavam por isso. Isso era anormal. Porém aquilo era tão normal, porque fala sério! Era .
era incrível, era tudo o que um homem queria ser. Será que as pessoas imaginavam como ele era realmente? Será que ficariam desapontadas com suas mentiras? Ou passaria despercebido, já que ele era nada mais nada menos do que .
Para mim ele era apenas . O cara com quem eu tinha uma filha, o cara que me levava à loucura, o cara que me tirava do sério, o cara das roupas pretas e cigarro dourado nos lábios, o cara do sorriso intenso e covinhas ternas, o cara das múltiplas personalidades, o cara mais irritante e estúpido do planeta, o cara que carregava uma culpa sem ter culpa de nada, o cara que tinha um coração, o cara que eu amava.
Ser uma figura pública era a última coisa em que via nele.
Jade e voltavam de mãos dadas até mim.
- Mãe! Meu pai falou que vai me dar um pônei!
- Nós moramos em um apartamento, Jade.
- Um pônei de brinquedo, .
- Só que em tamanho real!
Olhei em volta procurando o tal pônei. E então lancei-lhes um olhar confuso.
- Não está na loja. Vou mandar alguém fazer.
Pude ver os olhos de Jade brilhando ao ouvir as palavras que emanavam dos lábios do pai.
- Tudo bem, Sr. Hollywood.
riu ao ouvir a menção de seu apelido adquirido por mim, no início de tudo.
Era até difícil de acreditar o quanto nos odiávamos. Talvez eu nunca o tenha odiado, talvez eu odiava quem eu achava ser ele.
- Tudo bem, podemos ir agora? Estou com fome.
então tirou uma caixa de trás das costas e fiquei imaginando como não a percebi antes. Foi até o caixa pagar pelo brinquedo e claro tirou fotos e deu autógrafos. Senti um certo medo ao encarar a multidão formada do lado de fora. Os seguranças foram na frente e fomos logo atrás. Agora estava mais claro, porque precisávamos de dois. Jade estava entre mim e e eu tentava acalmá-la. Enquanto passávamos pela multidão, ouvi gritos, pedidos de casamento, flashes, muito empurra-empurra, e alguns gritos dos próprios seguranças pedindo espaço.
se manteve calmo e calado. Não deu autógrafo, nem sorriu para foto. Assim que conseguimos nos desfazer de toda aquela gente enlouquecida, fomos ao restaurante no shopping. Sentamo-nos em uma espécie de local vip no restaurante, para que pudéssemos comer sossegados.
- Acho que nunca presenciamos uma como essa. Tinha muitas pessoas lá.
- Bom, com vocês talvez não. Já tive que passar por mais de mil pessoas.
- Céus, agora entendo o motivo de ser assim.
- Assim como?
levantou uma sobrancelha e Jade nos observava com aum sorriso no rosto, como se aprovasse algo. Será que Jade sabia sobre nós? Estava tão nítido assim?
- Você sabe como você é.
riu de lado e voltou a olhar o cardápio. Jade também sorriu. Eu diria que sorriu um sorriso reflexo do pai.
- Do que você está rindo, menina?
- Nada, mamãe. Só acho vocês dois engraçados.
levantou os olhos rapidamente prendendo um riso. Porém meu olhar era um pouco assustado. Por que Jade nos achava engraçados? E por que aquela frase saiu como que dirigida a um casal.
- Sua mãe é um pouco sem graça e chata, mas eu compenso.
e Jade riam enquanto eu fingia ter raiva dos dois. Assim que pararam de rir, coloquei a taça de água na boca e bebi.
- Vocês estão namorando?
Por mais cliché que soasse, me engasguei com a água ao ouvir o que acabara de sair da boca de Jade. Joguei todo o conteúdo da bebida que estava em minha boca para fora. E então eu estava tossindo como louca, sem ar e vermelha como um tomate.
- De onde você ouviu isso, filha? Foram suas colegas?
perguntou enquanto eu ainda tossia e procurava ar.
- Não. Eu só percebi. E também pelo modo que a mamãe reagiu agora...
- Bem, Jade, a reposta é não. Não estamos namorando, apenas estamos nos dando bem.
- Eu me dou bem com muitas pessoas e não é assim.
Consegui um pouco de ar e ao mesmo tempo o perdi novamente ao ouvir o que acabara de dizer.
- Podemos mudar de assunto?
Disse com a voz falhada, como se eu tivesse acabado de me afogar.
- Mas você gosta do meu pai, mãe?
- Jade! Isso não é pergunta que se faça!
- Mas... Você gosta ? Você não respondeu.
disse com um sorriso de lado sarcasticamente. Aonde ele estava tentando chegar, afinal?
- Oras, é claro que gosto. Ele é seu pai, e... E somos amigos.
- Não, mãe, gosta como namorado?
Massageei as têmporas enquanto pensava em uma resposta que não nos comprometesse. Olhei nos olhos de e então ele moveu a cabeça me indicando que era para falar. Seu sorrisinho cínico permanecia ali.
- Não. Não gosto dele como namorado. É diferente. Não é como amigo, mas não é como namorado. Entendeu?
- Eu não entendi. Você entendeu, Filha?
Jade moveu a cabeça negativamente, balançando seus cachos dourados.
- Eu gosto. Gosto do seu pai. Gosto do jeito que você disse, mas ele não é meu namorado. Satisfeitos?
Jade e riram entre si, como se fossem cúmplices.
- Perdi alguma coisa?
Questionei apontando para os dois que pareciam estar num episódio de Pink e o Cérebro fazendo planos infalíveis.
- Podemos comer agora.
soltou, ainda se divertindo de meu constrangimento.
Céus, aquilo era mais difícil do que quando o disse da primeira vez. Jade parecia estar satisfeita, como se já soubesse tudo o que disse.
Algum tempo depois comemos o jantar delicioso e saímos do shopping, com menos dificuldade do que da loja de brinquedos anteriormente.
Jade cochilava no banco traseiro e e eu seguíamos em silêncio no caminho para casa. Eu não me pronunciava, pois não sabia o que exatamente dizer, então era melhor ficar muda.
- Às vezes penso. Imagina se ela tivesse que fazer quimioterapia? Não sei se aguentaria vê-la perder os cabelos.
afirmou, quebrando o silêncio. Ele tinha em certa parte razão. Talvez Jade não parecesse com uma criança doente devido a isso. O tratamento alternativo utilizado, não era tão agressivo quanto uma quimioterapia. Mas por outro lado ele estava errado.
- Mas talvez ela já estivesse curada. Não sei, talvez ela não estivesse correndo riscos.
- , o problema dela só se resolve com transplante. O qual não posso dar.
- , não podemos dar, mas e daí? É nossa culpa? Talvez minha, mas sua não.
- Sua culpa? Sou eu quem deveria fornecer isso!
elevou um pouco a voz e apertou os dedos no volante coberto por uma capa de couro vermelha.
- , eu quem enfraqueci a saúde dela. Fui eu que tomei remédios para... Para que ela...
- Eu sei, mas não é sua culpa.
- Então temos de lidar com isso. Não posso voltar ao passado e seu dinheiro não pode nos trazer a vida. Temos que aprender a lidar com isso, se quisermos que dê tudo certo.
- Tudo bem, me desculpe por entrar nesse assunto.
Observei a rua passando rápido pelo vidro da janela. Luzes e mais luzes passavam como flashes. Eu sentia falta da Escócia às vezes. Sentia falta de uma vida tranquila e sossegada. Sentia falta de meu emprego, meu patrão e meus colegas deixados lá.
Às vezes eu mantinha contato com alguns, mas ninguém era o mesmo. Todos me tratavam diferente e muitos nem falavam comigo por ter mentido sobre ser mãe de Jade quando eu era sua tia. Se eu pudesse contar apenas para todos...
As únicas pessoas que sabiam a verdade eram meus pais e Melissa. Eram os únicos que não contariam para uma revista de fofoca, pelo menos eu acreditava nisso. Tantas coisas para pensar, tantos problemas para resolver. Eu nem conseguia lembrar como era minha vida sem isso.
- No que está pensando?
Mais uma vez quebrou o silêncio. Seu tom de voz sempre era tão firme e confiante. Era como se tudo o que saísse de sua boca fosse a verdade, por que ninguém diz mentiras com tamanha confiança.
- Pensando na Escócia.
- É bom pensar mesmo, está perdendo seu sotaque.
- Não estou, não. E mesmo assim sotaque é a última coisa que me faz falta.
- O que exatamente te faz falta?
Me virei em sua direção o observando. tinha os olhos fixos na estrada. Ponderei minha resposta e então fui o mais sincera possível.
- Sinto falta do verde. Sinto falta das pessoas. Sinto falta de uma vida normal. Do meu emprego, dos poucos amigos. Sinto falta de viver.
- Se pudesse voltar. Faria tudo diferente? Digo, continuaria mentindo para Jade sobre mim para sempre, nunca me procuraria?
parou no sinal e seus olhos se encontraram com os meus. Meus lábios, provavelmente estavam entre abertos. Eu não sabia o que responder. Na verdade eu não sabia o que eu escolheria. me deixara desconcertada.
Abri e fechei a bocas várias vezes, contudo nada saíra. sorriu, uma espécie de sorriso compreensível e talvez derrotado. O que ele queria de mim, afinal?
- Vamos, . seja sincera.
- Não sei. Isso é muito complexo para se responder assim. Há muito a se perder, como há muito a se ganhar.
- Quais seriam os ganhos?
arecia uma pergunta mais simples e não exigia todo um processo psicológico.
- Sossego. Paz. Tudo menos o que estou vivendo agora.
- E as perdas?
Essa era mais fácil ainda, só era difícil de se admitir. - Acho que... Você, . A única coisa de bom foi você. E ao mesmo tempo a pior coisa que já me aconteceu foi você. Consegue me entender?
- Putz, podia falar que voltaria no tempo e não me procuraria.
- Pediu que eu fosse sincera.
Sorri singela. mantinha os olhos na pista, porém era tão intenso como se me analisasse.
- E você? O que você ganhou e perdeu com isso tudo?
pareceu não me ouvir, já que sua expressão era nula. Quando já faria a pergunta novamente, ele passou a dizer algo.
- Acho que compartilhamos a mesma angústia. Você me trouxe muitos problemas e dor de cabeça. Me faz ser um idiota e ser um pai, algo que sempre abominei. Mas ao mesmo tempo vocês duas me salvaram. Salvaram minha carreira. Salvaram minha vida. E eu não mudaria nada.
Senti meus olhos arderem um pouco ao ouvir suas palavras. Nunca o vira ser tão sincero. Coloquei a mão sobre a sua, que pousava sobre a marcha. E a acariciei levemente.
- E claro não teria uma mulher tão gostosa só para mim.
Quebrando o clima enunciou rindo. Também ri, mesmo que minha reação correta fosse ficar ofendida. Mas sabia que aquilo era para acabar com toda aquela atmosfera íntima e sentimental demais, que tanto se escusava.
Logo chegamos ao meu apartamento. levou Jade adormecida no colo até meu andar. Abri a porta e lhe colocara na cama. Esperei na sala, tirando as botas que vestia nos pés gelados.
- Está dormindo e devidamente aquecida, madame. Mais algum pedido?
Ri de seu bom humor, tão raro. Me levantei descalça e fui até a porta abri-la para .
Olhei para trás e vi apoiado no encosto do sofá, brincando com uma pirâmide egípcia que enfeitava a mesa de telefone. nem se movera do lugar e percebi que ele não estava disposto a ir embora.
- Expulsando as visitas, ? Que coisa feia. O que sua mãe acharia disso?
continuava entretido com o objeto decorativo com um sorriso de canto irônico. Suspirei, no entanto sorrindo. Caminhei em sua direção e peguei a pequena pirâmide de suas mãos, sentindo calafrios ao tocá-las.
- Visitas mexendo nas coisas da casa, ? Que feio. O que sua mãe pensaria sobre isso?
- Acredito que se ela estivesse viva e se importasse com o que acontece na minha vida, diria que não sou exatamente uma visita.
Sorri. E então a pirâmide estava no chão.
lançou os braços fortes em minha cintura unindo nossos corpos e lábios bruscamente. Sem que eu pudesse me permitir dizer não, em pouco tempo já estávamos nus desfrutando o prazer alheio no chão da sala.
CAPÍTULO 27 - When you are low, you are low.
continuava o mesmo. Em nenhum outro momento ouvi dizer eu te amo. Apesar disso, agora eu sabia que seu modo de me tratar não era só porque queria sexo e sim um real interesse. A rotina de Jade continuava a mesma. Exames, remédios, my little pony, paparazzis. E eu... Bem eu também continuava a mesma, à disposição de Jade e . Era como se minha vida fosse reservada para os dois, e eles sugavam todas a minhas forças ainda existentes. Eu sentia que deveria fazer algo a respeito. Algo que eu precisava fazer, por mim.
Encarei o celular em minhas mãos. Apertei o botão para desbloquear e a claridade quase me cegou. Disquei aquele número desconhecido e esperei ser atendida do outro lado da linha. Chamou, chamou e nada. Tentei mais uma vez, o mesmo processo. E então depois de alguns toques a voz tão familiar respondeu.
- .
- Mel.
Seu tom de voz era de gratidão e parecia estar feliz pela ligação, mesmo que escondesse a surpresa, devido a minha ligação repentina.
- Obrigada por ligar. Saber que está com raiva de mim, me deixa com raiva de mim.
- Não estava com raiva. Nunca tive raiva de você. Tenho raiva da sua falta de juízo.
Ouvi um riso baixo do outro lado da linha. A ligação não estava lá essas coisas, havia muito chiado. No entanto sentia-se a intensidade daquela conversa.
- Você sabe que é complicado. Sabe que minha vida não é um mar de rosas.
- A minha também não, Melissa. Você mais do que ninguém sabe o que passo, e ainda assim eu não saio por aí me drogando e sumindo.
Um silêncio incomodo se instalou. Talvez não devesse ter dito aquelas coisas, talvez devesse ter dito desde que éramos mais novas.
- Você sempre foi mais forte que eu. Sempre foi a minha cabeça, minha consciência.
- Fui enquanto pude. Não posso mais, Mel. Tenho muitas coisas na minha vida. E você na sua.
- Eu sei.
Melissa suspirou e voltamos ao silêncio. Para mim não importava as burradas que Melissa fazia, ou o modo como agia imaturamente. Melissa era Melissa e eu a amava. Talvez eu estivesse fadada a amar pessoas problemáticas. Talvez esse fosse o meu entretenimento, já que eu não tinha, nem nunca tivera uma vida muito social. Era tão irônico.
- Lembra quando trabalhávamos naquele pub, e uma lésbica falou que queria casar com você e te levar para conhecer o mundo?
- Lembro. Era uma proposta tentadora, uma pena eu ser hétero.
Rimos em uníssono. Há quanto tempo não ríamos juntas? Há quanto tempo eu não ria de verdade? A sensação nostálgica me trouxe paz. Era bom lembrar daquela época em que minhas preocupações eram tirar boas notas, comprar o novo álbum do The Seasons, arrumar meu quarto e mostrar todo o ódio que sentia por meu pai ter me abandonado. Melissa na época, tinha problemas maiores que os meus, porém agia como se não os tivesse, ela simplesmente trazia mais problemas para a própria vida.
- Sinto falta dessa época. Sinto falta de você, Mel.
- Também sinto sua falta, . Sinto mesmo, você é a única pessoa nesse mundo que se importa comigo.
A sinceridade em suas palavras ficavam claras pelo tom de falar. Melissa costumava ter vários tons de voz, um para cada situação. Nervosismo, mentira, medo, alegria. Cada uma delas era uma entoação diferente. Eu conhecia cada uma delas, e talvez fosse por isso que eu era a única pessoa que podia ajudá-la, pois eu era a única que sabia do que ela precisava, sem palavras.
- Vamos esquecer isso. Agora me diga, como está sua vida?
- Ah, Mel... Está tudo um verdadeiro caos.
- Jurava que estava tudo indo de vento em poupa.
- Não, quem me dera.
- Então o que está te afligindo?
Parei para pensar no que realmente estava me afligindo. Eu estava tão acostumada a pensar na minha vida atual de um modo negativo, que nem me lembrava do motivo. Eu só sabia que nada estava bem.
- Bom. Estou apaixonada por . E..
- Espera, o que eu perdi? Você o odiava. Até te dei dicas de como se aproveitar dele.
- Eu sei, mas aconteceu. Tentei evitar, mas não consegui.
- Ual. E ele sabe?
- Sim. Eu o disse.
- E?
- Bom ele sente o mesmo. Talvez não melancolicamente como eu, mas disse que sim e espero que seja verdade.
Melissa estava muda. Provavelmente chocada com minha revelação. Talvez não cresse muito na última parte, afinal eu era , apenas a chata e ranzinza de sempre. E ele era , o mulherengo, o astro do rock problemático, o ex drogado, aquele que não se importava com nada ou ninguém. Era difícil de acreditar mesmo, olhando por esse ponto.
- Realmente muitas coisas mudaram desde que fui embora.
- Afinal, por que você foi embora, Melissa?
Do outro lado da linha Melissa se manteve em silêncio. Aquilo me torturava. Cada vez em que ela complicava minha vida, já tão complicada.
- Eu simplesmente não posso te dizer, . Por favor vamos mudar de assunto.
Assenti em silêncio e então lembrei que ela não podia ver minhas ações.
- Tudo bem. Me diga como estão as crianças.
- Estão bem, . Estão bem. E Jade? Como anda o problema dela?
Imaginei como os filhos de Melissa estariam. Provavelmente maiores do que da última vez em que os vira. De repente me veio à mente o fato de que Jade simplesmente não tinha amigos, a não ser pelos amigos imediatos que fazia por alguns minutos nos lugares que presenciávamos.
Essa era uma das vantagens de ser criança. Já eu praticamente fazia inimigos mais rápido do que amigos. O que será que havia de errado comigo?
Pensei em sua pergunta e respondi quase que automática como vinha fazendo a um tempo diante da mesma pergunta diversas vezes
. - Ela está bem, reagindo ao tratamento alternativo. Porém, tudo depende do transplante ainda estamos esperando o doador compatível.
- Você tem certeza que o sente algo por você? Ou pela própria filha?
Espantada por sua pergunta repentina e quase acusadora, ponderei e respondi com quase certeza. Ainda era quase.
- Creio que sim, Mel. Por que a pergunta?
- Ele é podre de rico, por que não conseguiu esse transplante ainda? , raciocina!
- Para, Melissa! Nunca mais repita isso!
Senti minha respiração vacilar, e meu olhos arderem. A menção de Melissa de que não se importava, que permitiria que a filha ficasse a espera de um transplante por pura negligência, me embrulhou o estômago. Eu não suportaria ouvir alguém falar mal dele. Alguém que não o conhecia de verdade. Alguém que não era eu.
- Me perdoe, mas não diga algo que não sabe. O tipo de médula de Jade é um tipo raro. Precisamos esperar por um doador, pode ser que ele não tenha nascido ainda ou não saiba sobre o seu tipo. Não tem nada a ver com dinheiro e isso acaba com .
Melissa ficou em silêncio. Ouvi apenas sua respiração de encontro com o aparelho celular. Meu coração batia forte, não sabia se havia pegado pesado demais com Mel, isso era algo que eu tinha de praticar para a vida toda.
- Você gosta dele. Você gosta muito dele.
Dessa vez eu é que fiquei em silêncio. Eu diria que sim? Mas que não era tanto assim? A quem eu queria enganar? E então quebrando minha linha de raciocínio ela continuou.
- Cuidado.
Gelei ao ouvir o tom em união à exortação proferida. Eu sabia, sempre soube que deveria tomar cuidado. Sempre soube que tudo aquilo sempre fora um risco, mas ninguém nunca havia me falado isso. Ninguém nunca havia me falado nada a respeito, ninguém se importava. Ninguém sabia, ninguém nunca quisera saber. Eu na verdade não tinha ninguém para contar, a não ser Melissa, apesar de todas as complicações de nosso relacionamento.
- Eu sei. Melissa, eu tenho tanto medo.
Minha voz saíra falha. Uma vontade imensa de chorar e desabafar se instalava na minha garganta.
- Eu tenho medo que ela se vá. Eu tenho medo que ele me deixe. Tenho medo de perder tudo. E é tudo tão frágil, como se eu não tivesse como impedir.
Uma lágrima finalmente caiu de meu olho direito. Melissa estava quieta e me ouvia atentamente, provavelmente revirando os olhos em resposta ao meu surto emocional. "Será que ela tá grávida?" Ela deve ter se perguntado. Porém continuei. Precisa pôr aquilo para fora.
- Melissa, é minha culpa. Minha culpa. Por que eu não procurei assim que ela nasceu? Por que eu fui tão imatura e quase matei minha filha ainda na barriga? Por que eu fui me envolver com ele naquele maldito dia? Naquela maldita boate?
Agora eu soltava soluços baixos, e limpava as lágrimas que caíam direto para minha orelha fazendo cócegas em meu rosto.
- Eu poderia ter evitado tudo. Mas sou uma burra. E agora eu tô aqui sem uma vida. Sem nada. Sem nada!
- , calma.
Melissa disse num tom baixo e relaxante. Parei de falar e respirei fundo, uma, duas, três vezes. Eu estava ficando um pouco descontrolada e descontando meus problemas em Melissa.
- querida, eu sinto muito se está passando por tudo isso. Não passava pela minha cabeça. Só quero que saiba que eu te amo. Farei qualquer coisa por você e por Jade. Nunca se esqueça disso, ouviu?
Melissa parou por um segundo para ver se eu estava mais calma e então percebendo meu silêncio, continuou.
- Sei que erro. Nossa, eu erro pra cacete. Mas faço de tudo para consertar meus erros. Nunca vou deixar vocês se machucarem. Nunca. Tudo o que aconteceu no passado, tudo o que fizemos no passado e hoje sofremos a consequência de nossas mentiras, no fundo nos amadureceram.
Eu já havia parado de chorar, apenas dava alguns soluços baixos e ouvia atentamente suas palavras com o celular colado ao ouvido. Meu coração estava batendo forte, porém não de raiva ou dor agora. Eu estava tocada com aquelas palavras sinceras.
- Então não se culpe. Você não é culpada de nada, você não merece nada pelo que está passando. Você é a mulher mais forte que eu conheço.
- Obrigada, Mel. Você é a pessoa mais legal que eu conheço.
Falei com a voz falha e Melissa soltou uma risada do outro lado, quebrando toda a tensão. Eu tinha razão no que dizia. Melissa era e sempre seria a pessoa mais legal que eu conhecia. Porque ela simplesmente sabia ser agradável, linda e popular mesmo estando no fundo do poço.
- Está se sentindo melhor agora?
- Sim.
Eu respondi entre risos. Suspirei e esfreguei os olhos um pouco pesados devido ao sono e ao choro. Puxei o edredom para cima, cobrindo a cabeça.
- O que você tem feito pra se manter aí?
- A mesma coisa. Assim que me mudei com as crianças, eu consegui emprego num salão de beleza no shopping.
Ouvi o descontentamento em sua voz. Melissa assim como eu não terminou a faculdade. Ela trancou a matrícula assim que começou a ter problemas com seu vício nas drogas. Nós não falávamos mais sobre isso. Eu não sabia se Melissa ainda era dependente. No entanto eu torcia por dentro para que não.
- Ai, Mel, como eu queria terminar a faculdade. Você não sente falta?
- Sinto, claro. Principalmente por que eu não tenho um gato rico para me sustentar.
Melissa alfinetou e riu. Eu não ri, pois não gostei muito de sua piadinha de mau gosto e tinha certeza que Melissa sabia que eu não gostaria mesmo antes de fazê-la. Porém fez mesmo assim, visto que ela bom, ela é Melissa Moresby.
- Você sabe que eu não queria me formar por dinheiro.
- Isso tá na cara, afinal, ninguém faz sociologia pensando em ficar rica. Na verdade nunca entendi essa sua obsessão com esse curso.
Ninguém nunca entendeu. Nem eu mesma entendia ao certo. Tudo o que eu sentia era que eu deveria fazer algo a respeito. Eu queria poder ajudar quem passou pelo mesmo que eu. Eu escolhi fazer sociologia pelo abuso sexual que sofri na infância pelo amigo do meu pai. Isso ainda me incomodava. Eu queria criar algo grande, queria poder ajudar todas as crianças que passaram pelo que eu passei calada, porém tudo mudou assim que decidi ir assistir o show dos The Seasons, no maldito dia em que meu pai ofereceu isso pela milésima vez como pedido de desculpas, por ter nos deixado por anos a fio.
Provavelmente Melissa ainda acreditava que eu engravidei propositadamente. Eu não tive, e muito menos agora eu não teria coragem para contar, apesar de que isso não faria a mínima diferença agora. Como eu era idiota naquela época? Inventei isso, mesmo sem saber que eu realmente estava grávida por acidente, só para que Melissa achasse que eu tinha alguma audácia. Hoje eu sentia nojo de mim e tudo o que fui capaz de fazer para tentar impressionar os outros. Sentia nojo de todas as mentiras que inventei, e fui imposta e que me levaram até aqui.
- Mas eu ainda penso em voltar, quero terminar meu curso.
Mencionei e um barulho no corredor me chamou a atenção.
- Se é o que quer deve seguir seus instintos.
Melissa incentivou e então vi a porta do quarto se abrir me deixando um pouco assustada. Assim que vi a silhueta de Jade em meio à escuridão me acalmei.
- Uma coisa que você precisa ter, , é força de vontade.
- Sim. Mel, vou desligar agora, tudo bem? Jade acordou.
Jade se dirigiu aos pés de minha cama sonolenta, esfregando os olhos e fungando.
- Tudo bem, dê um beijo nela por mim.
- Darei.
Desliguei o celular e a puxei para meu colo.
- O que foi, filha?
- Minha cabeça tá doendo. Posso dormir aqui?
Jade disse em tom choroso. Aninhei seu corpinho quente junto ao meu. E acariciei seus cachos redondos, perfeitos e macios.
- É claro que sim, meu amor.
Jade me abraçou e fechou os olhos com força como se procurasse afastar algo ruim. Em meu colo, passei a balançar seu corpo levemente e a cantarolar como fazia quando era menor. A sensação de trazer acalento era algo mágico, era algo tão maternal. Eu não podia perdê-la. Não poderia. Não suportaria.
Passei uma mão de leve sobre seus cabelos e senti a textura suave e o cheiro de camomila que eles exalavam. Delicadamente passei meus dedos por seu rosto, fazendo carícias em sua testa, bochecha, nariz e queixo. Seu rosto agora estava mais sereno e um sorriso se formou no meu, ao olhar para minha filha em meus braços, quase adormecida. Ela era tão forte e tão sensível ao mesmo tempo. Desci os dedos acariciando seus ombros cor de neve até seu braço. Observei a dobra de seu braço aonde se encontrava a veia que se fazia exames e tomava medicamentos. Estava roxa. Passei os dedos sobre o local sentindo um aperto no peito. Em meio de toda aquela cor branca, ali estava totalmente roxo. Apertei os olhos, sentindo lágrimas se instalarem. Ainda era difícil aceitar que minha filha, minha filhinha, que saiu de dentro de mim, estava doente. Estava com uma doença que botava a vida dela em risco.
A vida dela poderia acabar a qualquer momento e isso me destruía a cada segundo, como se eu estivesse no meio do oceano e cada onda me empurrasse mais para o fundo. Era extremadamente difícil sentir isso, passar por isso. Não poder fazer nada, era como se a vida dela fosse areia entre meus dedos. O vento levava devagar e eu não podia fazer nada, a não ser observar e tentar segurar alguns grãos. O que seria de mim sem Jade?
Apenas a imagem de mim no funeral de minha própria filha, chorando sobre seu pequeno caixão, me desesperava. Ao visualizar tal pesadelo algumas lágrimas caíram sobre seu corpo. Observei as três gotas de lágrimas largas no pano fino de seu pijama. Fechei os olhos, depositei um beijo em sua testa e me encostei na parede atrás da cama, segurando o maior tesouro que eu tinha em meus braços. Fechei os olhos e respirei fundo. Pensei em mim, pensei em Jade, pensei em . Pensei em nós três naquela ilha em Los Angeles felizes, como uma família. Afinal, éramos uma família, apesar de tudo.
Eu molhava os dedos na língua para passar as páginas do livro. Era uma tarde sossegada. Jade estava com para algum tipo de publicidade. Ultimamente eu não sentia receio de deixar Jade a sós com , eu confiava que ele não a faria mal e a protegeria de qualquer um que o quisesse fazer. Para mim era um alívio, pois assim eu tinha um tempo apenas para mim. Ainda assim eu me preocupava, pois não era a pessoa mais responsável do mundo, longe disso. Peguei o celular para ligar e ver se estava tudo bem, no entanto, ouvi uma batida na porta. Desisti de meu primeiro ato, para atender a porta.
Olhei pelo olho mágico e um frio se instalou em minha espinha. Era Alexis em toda sua exuberância e arrogância. Abri a porta temerosa e devagar.
Alexis observava inerte algum detalhe na parede do corredor do prédio e me ignorou.
- Alexis! O que faz aqui?
Soltei rápido como um rato com medo. Alexis continuou olhando para longe, observando tudo ao seu redor.
- Não posso tomar uma xícara de chá com minha amiga?
Ela finamente me encarou e eu desejei que não o tivesse feito.
- Belo apartamento. gosta mesmo de você, querida.
Meu coração congelou ao ouvir seu discurso ameaçador. Tentei parecer o mais calma possível, porém era muito difícil fazê-lo quando a noiva louca do homem que você ama está na sua casa, com uma postura um tanto ameaçadora.
- Não vai preparar nosso chá, ? Vocês não tem educação na Escócia?
Me afastei da porta indicando que era sua deixa para entrar. Ela entrou com a mesma postura observadora de antes. A diferença é que agora ela estava dentro do meu apartamento. O que eu deveria esperar?
- Vou até a cozinha. Já volto.
Eu disse como uma empregada, obedecendo suas ordens. Teoricamente era como se eu fosse.
- Faça isso.
Alexis se sentou no sofá e pegou um porta retrato de Jade de cima da mesa e passou a observar. Com muito medo, me dirigi à cozinha e com as mãos trêmulas preparei um chá de morango.
A vontade de colocar uma pitada de veneno não era pouca, porém seria o meu fim junto. Voltei até a sala e lhe entreguei uma xícara de chá. Sentei-me na poltrona, eu não sentaria ao seu lado. Alexis sempre fora intimadora, mesmo quando não queria ser. Ela simplesmente era. Coisa que eu nunca seria. Ela tomou um gole do chá colocou a xícara sobre a mesa de centro. Apesar de suas atitudes nada agradáveis, Alexis não era o tipo de mulher que se passa despercebida. Seus cabelos ruivos formavam ondas perfeitas, seus lábios volumosos davam destaque a seu rosto fino e seus olhos verdes-esmeralda, cintilavam como o veneno de uma cobra. Era um tanto estranho tê-la ali em meu apartamento simples e não tão grande. Sua presença exigia um lugar luxuoso e digno. Tomei um gole do meu chá enquanto esperava por um pronunciamento de sua parte.
E então de pernas elegantemente cruzadas dentro de uma saia justa lilás e uma camisa de um pano fino preto ela disse as palavras que eu tanto temia.
- Quero que se afaste de . Acabe com essa palhaçada.
Alexis manteve a expressão fria e distante desde que chegou. Eu arregalei os olhos e senti minhas mãos suarem.
- Alexis, você sabe que temos um contrato e tem Jade...
- Você sabe que não é disso que estou falando.
A mulher me interrompeu com certa arrogância, que considerei ser irrelevante. Eu sabia do que ela estava falando. Eu só não queria acreditar que fosse aquilo.
- O que você quer que eu faça?
Proferi derrotada, quase que num suspiro. Alexis riu ao ver meu estado desolado.
- Você vai acabar com tudo. Dizer que não quer mais nada. Jade vai continuar nos servindo como marketing, afinal, temos um contrato, . Lembra?
Minha cabeça estava baixa e eu senti meus olhos arderem.
Aquilo não poderia ser real. Eu não conseguia acreditar. Porém eu não precisava fazer aquilo.
- E se eu não fizer? E se eu desfizer o contrato?
Alexis soltou uma risada sinistra e senti meus pelos se arrepiarem. Ela me dava medo, isso eu não podia negar.
- Se você não fizer o que eu mandei, , eu mato sua filha. Eu mato Jade, antes que o câncer o faça.
Alexis se levantou e andou em direção a mim com as mãos na cintura.
- Eu acabo com sua vidinha medíocre, sua escocesa de merda.
- nunca deixaria!
Disse em alto e em bom som, entretanto tremendo por dentro. Suas palavras e ameaças estavam me transformando em uma criança com medo do escuro. Era coisa demais para arriscar. Mais uma vez Alexis soltou uma gargalhada, e secou uma lágrima que se formou em seus olhos verdes de tanta alegria.
- , querida. é apenas uma criança. Uma criança perdida. Ele não é dono do mundo de verdade.
Sem que eu percebesse meus olhos estavam inundados e eu não podia conter lágrimas salgadas que caiam sobre meu rosto e me faziam soluçar. Eu estava chorando como uma criança. Eu havia perdido . Eu não podia arriscar a vida de Jade.
- Tá bom! Eu faço!
Eu gritei esfregando o rosto, sem controle algum sobre o choro. Alexis estava sorrindo e de braços cruzados. Olhei em seus olhos e ela não tinha um pingo de compaixão. Percebi que tomei a decisão certa. Ela seria sim capaz de tirar a vida de Jade, e eu não poderia deixar.
- Pobre . Pobre . Não deveriam ter se apaixonado. Vocês estão no meio de mentiras, dinheiro, contratos, da mídia. Não tem espaço para o amor.
Ela pegou sua bolsa de cima do sofá e andou em direção à porta, enquanto eu ainda chorava com a cabeça sobre as pernas.
- Você é inexperiente, mas poxa, ele já deveria saber que a mentira é a ponte entre o amor e a ambição.
Ela chegou até a porta e a abriu. Tirou um batom da bolsa e olhando no espelho no corredor passou-o sobre os lábios.
- No caso de vocês, a ponte será demolida. E o prazo é até hoje.
Ela então saiu e bateu a porta. Eu permaneci ali olhando para aquela porta que ela acabara de sair e levar o resto de minha pouca felicidade.
CAPÍTULO 28 - Sweet death
Alexis não deixaria barato, não faria aquilo de um modo simples. Eu tinha que me lembrar que eu é que era a intrusa na história. Mas a presença de me fazia tão bem, me confortava. Eu estava apaixonada, talvez até amasse mesmo aquele poço de egoísmo.
Me peguei sorrindo ao memorizar sua figura em minha mente. Fechei os olhos, e fixei os poucos bons momentos que tivemos como um filme em meu consciente. Senti o arrepio ao lembrar de seu toque em minha pele, senti o sangue ferver ao lembrar do quanto era teimoso e me tirava do sério facilmente. E então uma lágrima escapou ao lembrar que daqui em diante tudo o que eu teria seriam apenas lembranças daquilo que um dia foi a minha ruína e o meu sucesso ao mesmo tempo.
Fui até o banheiro e lavei o rosto. Precisava estar firme, não podia chorar, ou despencar, ou voltar atrás. A vida de Jade estava em jogo, e isso não era uma opção.
- Você consegue. Pare de ser boba. É só um homem.
Falei boba para meu reflexo.
- não é o amor da sua vida, , você sabe que isso nem existe. Você só está apaixonada, encantada.
Continuei me incentivando. Sorri para o espelho tentando espantar a expressão de sofrimento que estava instalado em meu rosto desde a visita de Alexis. Sequei o rosto e ouvi a campainha. Meu coração acelerou instantaneamente. Eu sabia que havia chegado a hora, só não queria que tivesse chegado.
Abri a porta encontrando Jade e com sorrisos largos no rosto. Jade me abraçou enquanto puxava um cigarro do bolso.
- Mamãe, ganhei essa pulseira.
Esticou o braço revelando uma pulseira dourada com alguns pingentes de diversos animais.
- E foi de graça, não é pai?
Jade encarou o que me levou a tal ação conjunta.
- É que você é tão especial que se você usar isso, filha, todas as meninas vão querer uma igual. Por isso te deram.
- Não é incrível, mãe?
Sorri para Jade. Até então era como se eu nem estivesse ali.
- Filha, pode ir pro seu quarto rapidinho?
- Mas eu quero ficar aqui.
- Não, Jade, vá para o quarto. Quero falar com o seu pai. E vá agora.
Jade fez uma expressão emburrada e foi andando em direção para o quarto.
em compensação estava sorrindo com o cigarro nos lábios, mas não era um sorriso comum e sim aquele seu sorriso único e mal intencionado.
- Não é o que você está pensando.
O cortei antes que algo acontecesse e me fizesse esquecer de meus objetivos.
- Não seja boba, . Eu te conheço. O que é? O que está te afligindo?
Ele disse sem dar muita importância. Tragou o mesmo cigarro dourado de sempre e soltou a fumaça devagar.
- Não é nada comigo. É conosco. É melhor entrar.
O dei passagem para entrar, já que ainda estávamos na porta.
- , não quero mais isso. Essa vida de ficar fazendo sexo com você às escondidas.
- Você quer o quê? Quer que eu desmanche o noivado com a Alexis?
disse calmamente. Cada segundo que se passava era como uma agulha que afundava mais e mais, aspergindo não sangue, mas ácido, para que a dor fosse ainda maior.
- Não, . Eu não quero você.
finalmente levou a sério aquela conversa e permaneceu imoto. O silêncio preencheu a sala. A única movimentação era a fumaça que subia devagar do cigarro em sua mão rente ao corpo.
coçou a testa com a mesma mão, lançando uma quantidade de fumaça em meu rosto, me fazendo tossir. Esperei uma posição sua. Ele tragou o cigarro e sua expressão ficou confusa. Suas sobrancelhas estavam unidas e ele tinha o rosto levemente virado para a esquerda.
- Você tá terminando comigo?
Ele disse naquela expressão. Apontando para mim. Fiquei extremamente nervosa, e estava um pouco temerosa diante de sua reação não tão esperada. Porém me mantive firme.
- Sim. Eu quero viver minha vida. Quero viver com um homem que me faça mulher de verdade.
Eu disse esperando que ele ficasse tão raivoso que saísse sem nem se despedir, porém sua reação fora totalmente inesperada. Em questão de segundos me empurrou contra a parede e segurou meu rosto firme com sua mão livre. Ele apertava tanto que eu chegava a sentir dor e medo. Mas sentir seu perfume, e ver seus lábios de tão perto estavam praticamente inibindo a dor. Havia tanto tempo que esse não dava as caras.
- Você me traiu, ?
Ele perguntou num tom extremamente autoritário e rude.
- Não, , nunca te traí. Aliás, só se trai quando se tem um relacionamento.
deu a última tragada no cigarro e o jogou no chão de minha sala, pisando em cima. Soltou a fumaça toda em meu rosto, me fazendo fechar os olhos.
- Você é uma ingrata. Uma vadia ingrata!
apertou ainda mais meu rosto e com sua outra mão segurou meu pescoço, mas não tão apertado quanto em meu rosto.
- , não me machuque.
Eu disse calma, tentando acalmá-lo.
- Você não quer que eu te machuque? Então explica tudo pra mim, vagabunda!
Suas palavras me feriam mais que suas mãos. Aquilo doía tanto, tanto. Olhei para a foto de Jade em cima da mesa e me lembrei que não podia retroceder, não podia, apesar de querer simplesmente abraçá-lo e dizer que tudo era mentira, que eu era louca por ele.
- , por favor, vá embora. Não quero mais ver você.
Disse derrotada. arregalou os olhos e vi fogo em seus olhos lindamente . Ele apertou meu pescoço, me deixando com muito medo. Tentei soltar suas mãos em vão. Porém ele mesmo o fez pouco depois. Respirei fundo e abaixou a cabeça e socou a parede ao lado de minha cabeça. - Droga, ! Merda! Cacete! Sua Filha da mãe! Piranha! Merda! Cada palavra que saía, ele socava a parede com muita raiva. Por um momento imaginei se ele estava descontando o que queria fazer comigo naquela parede. E eu queria me defender, dizer que não era nada daquilo, que ele não tinha o direito de me tratar assim, mas isso só prolongaria aquele martírio.
O universo com certeza conspirava, sim eu sabia. Eu sabia que não seria tão fácil. poderia me xingar, me bater, mas eu suportaria, menos o que viria a seguir.
colocou as mãos em meus ombros e a cabeça em meu peito. E então eu senti. Aquela gota de lágrima salgada, ardeu em minha pele mil vezes pior do que o ácido que fora convertido do meu sangue. E parecia uma sincronia, assim que sua lágrima me atingiu meus olhos produziram um número de fluídos lacrimais cem vezes maior.
Deixei escapar.
- Para favor... Por favor , não me deixe.
levantou a cabeça e pude ver claramente seus olhos vermelhos e expressão de horror. Eu sabia que estava vendo o meu reflexo claro.
colocou as duas mãos entre minhas bochechas e tocou meus lábios. Mas não beijou apenas deixou nossos lábios unidos com o sal.
- , eu te amo.
Até então eu apenas soltava lágimas, porém assim que ouvi suas palavras esperadas a tanto tempo, desabei.Como eu queria ouvir aquilo. Como eu esperava por aquilo.
Envolvi seu pescoço e demos inicio a um beijo desestruturado. Eu chorava e soluçava, mas ao mesmo tempo não conseguia parar de beijá-lo. Céus, eu o amava! Amava tanto que não conseguia deixá-lo. Não conseguia vê-lo desolado. Suas palavras ecoavam em minha mente. Suas palavras foram um veneno. O mais doce veneno que eu poderia ingerir, e se aquilo era a morte, a morte era torturante e doce em total sincronia.
Soltei nossos lábios. Era a hora de partir. já havia ficado tempo demais, tinha posses demais, como jamais outro teve ou teria algum dia.
Olhei em seus olhos que silenciosamente me pediam para não fazer aquilo, mas não me impediriam de fazer. Pousei uma mão sobre sua bochecha molhada, colocou sua mão sobre a minha. Seus cabelos estavam bagunçados e seu rosto praticamente desfigurado, porém sua beleza implausível era de se deixar qualquer um sem palavras, como sempre fora. Ou talvez eu simplesmente visse coisa demais.
- ...
Tentei falar, mas seus olhos praticamente se contorceram. Eu estava me contorcendo por dentro, com extrema aflição, comiseração, um extremo pesar tomava conta de todo o meu ser, como um demônio que se apossava da minha desvalida existência. Tomei fôlego e me lembrei novamente da imagem de Jade em um caxão.
- ... Por favor, você tornou isso. Tão. Difícil.
Minha voz falhava inúmeras vezes, contudo me forcei a continuar com aquele massacre mútuo.
- É o melhor para os dois, você sabe. Temos uma filha, tivemos nossos momentos de prazer, mas agora... Acabou. Temos que crescer.
A imagem de um funeral infantil não saía de minha mente, era a única coisa que me separava de , a única.
devagar se afastou e jogou os cabelos para trás. Secou as lágrimas que ainda residiam em seu belo rosto com as mãos. Permaneci encostada na parede, não queria me mover, não queria falar, só queria expirar. Ele então caminhou até a porta, mas antes de sair se virou.
- Por favor, nunca mais se dirija a mim.
Assim que ouvi o barulho da porta se fechando pude finalmente por o resto de angústia e frustração para fora por meio do choro.
Alexis estava certa, era uma criança. Uma criança que sofre ao saber que não é dono do mundo. Sempre culpei por ter feito de minha vida um inferno, mas quem na verdade era a culpada da história era apenas eu. Derramei litros de lágrimas e solucei inúmeras vezes sentada no chão observando seu cigarro dourado apagado ao meu lado.
Ouvi algum som e então vi Jade aparecer na sala desolada ao me ver naquele estado. Ela foi até mim e me abraçou. Seus bracinhos me trouxeram conforto e finalmente pude ver com clareza que tudo aquilo que havia feito fora por ela, e eu não teria feito nada diferente.
- Mamãe, o que houve? Meu pai brigou com você?
Jade me perguntou ingênua. Balancei a cabeça negativamente, estava soluçando demais para conseguir falar.
- Tudo bem. Vocês vão fazer as pazes logo, logo.
Eu sabia que não era verdade, mas deixei-me iludir pelo consolo de minha filha.
's POV.
- Não, essa merda não está certa.
Me levantei da poltrona preguiçosamente para colocar a maldita estrela no lugar certo na árvore de natal gigantesca que Alexis havia comprado.
- É aqui, como pode ser tão burra?
- Como pode ser tão ogro?
Alexis replicou como de costume. Voltei a me sentar na poltrona e ler o livro que ainda estava pela metade.
A casa estava aquecida, e das janelas se via as enormes camadas de neve deixadas pela nevasca da madrugada.
Ascendi meu Treasurer e continuei minha leitura, apesar das vozes irritantes de Alexis e suas amigas lindas e burras, como ela. Será que algumas delas já havia contado sobre terem feito sexo com o noivo da amiga? Provavelmente não, eram burras.
- Senhor , devo mandar o Patrick buscar Jade à que horas?
Fui mais uma vez interrompido por Hellen, minha empregada. - Não sei, Hellen, talvez sete, oito.
- Senhor, preciso de um horário preciso.
- Oito.
Falei bufando. Todo assunto que envolvesse Jade e sua mãe me irritava. Ouvi que ela dissera que deixaria Jade passar o natal comigo, pois achava mais importante para a família. Tanta bobagem, como podia ser tão estúpida? Tão mesquinha? Tão vagabunda? E eu? Como pude ser tão tolo a ponto de pensar que eu a amava? Oras, eu amava meu dinheiro, meu cigarro, minha bebida, um bom sexo e minha filha. Não precisava de mais nada, e me odiava por pensar que eu estava necessitando de algo mais, de alguém ao meu lado, de uma mulher. Aquilo era tudo fogo no rabo.
- , vá se aprontar para o banquete. Todos já foram.
Alexis me pegou de surpresa sentando-se em meu colo, e massageando meus ombros.
- Depois podemos ter um banquete natalino lá em cima.
Alexis disse soltando uma fita na parte de cima de seu vestido dourado e deixando à mostra parte de seus seios fartos.
- Estou sem calcinha também.
Disse em meu ouvido, colocando as pernas uma de cada lado do meu corpo. Sorri enquanto dava uma última tragada, para depois apagar no cinzeiro ao lado.
Alexis passou a beijar meu maxilar, e então meus lábios. Desci uma mão, a coloquei dentro de seu vestido e então toquei sua intimidade. Alexis suspirou assim que sentiu meu toque. Eu não a tocava fazia tempos. Eu não tocava outra mulher fazia tempos.
Massageei rapidamente seu clítoris e então introduzi dois dedos em sua intimidade, fazendo-a gemer e me fazendo rir.
Havia pessoas que eu nem mesmo sabia da existência naquela mesa decorada com coisas natalinas extravagantes. Alexis sempre organizava os jantares e cuidava da lista de convidados. Porém ela convidada todas as suas amigas, sua família e o mundo espiritual. Ali só havia meus avós paternos, minha única tia e meu primo travesti, representando meus familiares vivos. Querendo ou não eram as únicas pessoas que sobraram da pequena família . Meus avós maternos e pais haviam morrido. E bom eu só tinha uma tia, e seu filho não gostava da mesma fruta que eu, então aquela família terminava em Jade.
Minha menininha estava deslumbrante. Vestia um vestido vermelho, seus cabelos estavam cheios de cachos feitos à mão. Todos ficaram admirados com sua beleza.
Jantamos com toda a falsidade de sempre, como se o natal unisse as pessoas. Eu continuava com o mesmo buraco no peito. Querendo ou não eu era vazio, e nada mudaria isso. Assim que todos deixaram a mesa, me despedi dos convidados e levei Jade até seu quarto. Paramos na porta e pedi que ela fechasse os olhos.
- Não pode abrir. Nada de trapaças, hein?
- Tá bom, pai.
Abri a porta e a guiei até lá dentro.
- Pronto, pode abrir.
Vi seus olhos brilharem ao ver algumas caixas embrulhadas e uma réplica em tamanho real de uma das personagens de My little pony, que eu simplesmente não recordava o nome.
- Meu Deus! Papai! É a Apple Jack! Eu não acredito!
Ela disse incrédula, olhando para o presente e para mim, sem muita reação.
- Obrigada, pai! Você é o melhor pai do mundo! Eu te amo!
Jade me abraçou, e me abaixei para poder abraçá-la melhor. Aquela era a melhor sensação do mundo. Naquele momento eu percebi que não precisava de dinheiro, cigarros, bebidas, nem sexo, apenas de Jade para ser feliz. Ela era a chave de minha felicidade, minha única esperança para ser feliz. Eu a amava tanto e faria qualquer coisa, eu entregaria a minha vida por aquela garotinha chata.
- De nada, minha filha. Eu te amo muito mais.
Aquilo sim era natal.
CAPÍTULO 29 - It's a new year, but an old problem
's POV
A gaveta estava repleta de lembrancinhas compradas na feira artesanal de natal do rio Tâmisa, mas não havia ninguém a quem dá-las. Tirei uma calcinha preta para vestir, e pensei se aquilo poderia ter algo relacionado com a onda de azar que rondava minha vida. Afinal, existiam muitas superstições a respeito do ano novo, porém sempre fui uma pessoa um tanto cética para acreditar nesse tipo de coisa.
Coloquei o vestido que comprara especialmente para a ocasião. Seria a primeira vez em que eu e Jade assistíamos à queima de fogos Londrina ao vivo.
Olhei-me em meu espelho, e vi meu corpo magro. Eu havia emagrecido desde que me mudara para Londres. Todas as coisas que eu estava passando tiravam meu apetite, e a tendência parecia só piorar. O vestido preto de cetim tinha mangas longas, apertadas, e caía perfeitamente em meu corpo. Ao certo ele deveria mostrar algumas curvas por ser justo, porém eu as havia perdido junto de minha sanidade. Meus cabelos formavam ondas e estava partido ao meio. Minha maquiagem era simples: batom vinho, sombra marrom, rímel e blush para disfarçar minha expressão morta, apesar das olheiras ainda serem aparentes. Calcei botas pretas de salto, e por cima coloquei meu sobretudo vinho com renda. Não havia nevado aquela noite, nem ventava. Peguei a carteira prata de cima da cama e saí do quarto.
Jade estava na sala assistindo algum especial de fim de ano da Abc. Jade tinha os cabelos presos em um coque, e usava um vestido azul cintilante digno da realeza que nos cercava. Por cima um sobretudo branco de pelúcia e um cachecol azul escuro. Seus pés estavam envolvidos por botas pretas com detalhes e brilho. Em seus olhos havia uma sombra fraca, apenas para indicar um brilho e nos lábios gloss rosa. Jade era uma inspiração para as meninas britânicas e era uma ordem estar sempre bem vestida.
Alexis dissera que deveríamos estar lá antes da meia noite, e mandaria um carro para nos levar.
- Vamos, filha.
Jade fingiu não me escutar. Ela não aceitava muito bem o fato não poder estar com os pais no mesmo lugar. Acontece que desde que decidi acabar tudo com , não tivemos nenhum contato, nem por telefone. Quem se encarregava de resolver as idas e vindas de Jade entre nós era ninguém menos do que Alexis.
Alexis estava mais nojenta do que sempre fora, ultimamente. Alegava uma gravidez que todos pareciam desconfiar, enquanto eu tinha certeza de que era falsa. e Alexis se casariam em breve, e sim, isso me corroia.
- Jade, desligue a Tv, vamos para o carro.
Jade bufou como uma adolescente e desligou a televisão apertando o controle com força e brutalidade. Fingi não perceber sua má criação. Desde que Jade ficara doente, evitava brigar com ela sobre coisas tão bobas, decidi que seria só quando necessário.
Já estávamos no carro em movimento a caminho do local. estaria lá, e Alexis também. Seria a primeira vez que eu veria novamente. Eu sentia tanta saudade, e ao mesmo tempo tanto ódio. Como ele poderia ser tão estúpido e pensar que eu não o queria mais? Ele deveria ter desconfiado, deveria ter investigado. Mas ele era orgulhoso demais para algo assim, ao invés disso, ele simplesmente me excluiu de sua vida, passou a fazer tudo para me ignorar, me fazer sentir mal.
- Olha, mãe, quanta gente!
Jade me trouxe de volta à realidade, e então olhei para a janela, havia milhares de pessoas acumuladas, como ratos em seus ninhos. Havia também muitos paparazzis, pois os artistas britânicos participavam daquela tradição. Será que eles esqueciam-se de que eles eram apenas humanos tentando ver um arco-íris de fogos no céu com suas famílias? Será que não mereciam um pouco de paz, pelo menos ali? Suas vidas já eram um inferno, e eu sabia isso muito bem pelo tempo em que convivi com e algumas pessoas do ramo.
- Senhora , existe uma área vip bem em frente ao London eye. Só que não temos como levá-las de carro, então o segurança irá com vocês até lá.
- Tudo bem.
Respondi com um pouco de medo de enfrentar toda aquela multidão. Jade e eu saímos do carro e dois seguranças estavam do lado de fora nos esperando. Assim que saímos houve vários flashes e as pessoas começaram a empurrar. - Por favor, parem! Ela é uma criança, seus imundos! Parem!
Eu gritei enquanto passávamos entre toda aquela gente.
- Vocês não têm filhos?!
Tentei cobrir o rosto de Jade dos flashes com minha carteira, olhei para cima e o London eye parecia ainda tão distante. O segurança à minha frente pedia que me acalmasse e apenas ignorasse, no entanto eu não conseguia. Aquilo era tão errado. Até um tempo atrás eu e Jade esperaríamos horas para ser atendidas em qualquer lugar, e hoje não podíamos nem andar pelas ruas em paz. Para mim todo aquele glamour, e paparicação era um inferno. Jade até gostou no início, mas logo enjoou.
- Por aqui, por favor.
O segurança entoou e abriu uma faixa que nos separava das pessoas normais. Jade e eu entramos correndo, e finalmente pudemos respirar, mas ainda assim era bem cheio ali dentro. Olhei ao redor e havia algumas pessoas finas, outras intelectuais, alguns famosos fáceis de reconhecer, algumas pessoas soberbas, e eu e Jade. Esperamos até que o segurança que nos acompanhava encontrasse Alexis.
Pouco tempo depois, avistei Alexis se aproximando. Ela usava um vestido de linho branco, e um sobretudo bege aberto por cima. Nas pernas uma meia-calça de renda e sapatos de salto fino. Seu rosto estava carregado de maquiagem e seus cabelos ruivos, impecavelmente lisos.
- Olha, olha se não são minhas duas escocesas preferidas?
Assim como eu, Jade permaneceu calada. Alexis chegou mais perto e passou a mão na cabeça de Jade com total desdém.
- Alexis, estamos aqui para passar um tempo juntas, não quero brigas, só quero assistir os fogos com minha filha.
- E quem falou em briga, minha querida? É ano novo, vida nova. E além do mais, estou esperando um bebê, não posso me irritar.
Alexis passou a mão sobre a barriga lisa. Chegava a dar nojo, o modo como ela manipulava aquilo. Eu sabia que era mentira, ela sabia que era, e mesmo assim insistia em manter aquela mentira sem sentido.
- já pediu para ver o exame? Afinal, você deve ter adulterado algum para convencê-lo.
- Não toque no nome do pai do meu filho. E sabe que tem um filho dele aqui. Um filho que vai nascer em berço de ouro, e receber muito amor e carinho do pai, logo nos primeiros meses. Afinal, eu não preciso de mentiras para convencer a me dar dinheiro, querida.
Eu não saberia dizer se era seu olhar irritantemente irônico, ou suas palavras absurdas que me fizeram ficar tão nervosa. Porém eu poderia estrangulá-la, bem ali, por qualquer um dos dois motivos. Bufei e em seguida, para mais aborrecimento surgiu atrás de Alexis.
Got a big shot deal
And thrown it all away, but
But I'm not too sure
How I'm supposed to feel
Or what I'm supposed to say, but
O milionário disse
Que conseguiu um grande negócio
E jogou tudo pro alto, mas
Mas não tenho muita certeza
De como eu deveria me sentir
Ou o que eu deveria dizer, mas
resmungou para Alexis antes que percebesse minha presença ali. Assim que seus olhos se encontraram com os meus, meu coração disparou como uma máquina.
Eu não sei, não tenho certeza, não tenho muita certeza de como é se sentir
- Oi, minha filha, você está linda!
se abaixou e a abraçou, fechando os olhos ao fazê-lo.
- Você também, papai.
Infelizmente realmente estava lindo. Seus cabelos estavam maiores do que da última vez em que o vi, estavam partidos de lado. Ele usava uma camisa cheia de desenhos e um sobretudo preto por cima, nas pernas e pés o mesmo de sempre. E seu cheiro, seu cheiro me faria ir até ele e beijá-lo e dizê-lo o quanto o amava, o quanto suportaria todas suas falhas para estar ao seu lado.
And I miss you, love
Ao lidar com isso todo o dia E eu sinto sua falta, amor
'Cause I'm coming in
With what I wanna say, but
It's gonna hurt
And I love the pain
A breeding ground for hate, but
Abra espaço para a vítima
Porque estou chegando
Com o que eu quero dizer, mas
Isso vai doer
E eu amo a dor
Um solo fértil para o ódio, mas
- Está mesmo, não acha, ?
Alexis soltou com um sorriso sínico no rosto, criando um clima bem desconfortável.
- Sim, está.
Respondi desanimadamente e lançou um olhar confuso para Alexis que se divertia internamente. Senti-me totalmente deslocada ali, se eu pudesse me esconderia em algum lugar, mas não era essa uma opção. pôs as mãos nos ombros de Alexis que acariciava sua barriga vazia.
- Vamos para nosso lugar.
Alexis pegou uma de suas mãos e beijou-a provocando-me. Procurei fingir que não percebia toda aquela situação péssima. me encarou como se estivesse criando coragem para algo.
- , leve Jade para lá, quero ficar com minha filha por perto.
Apenas assenti percebendo sua luta interna para se dirigir a mim, não queria a tornar mais difícil.
Andamos em direção ao lugar reservado para nós. jogava os cabelos para trás e seu aroma ficava mais forte.
To handle everyday
Like the one that just past
In the crowds of all the people
Eu não sei, não tenho certeza, não tenho muita certeza de como é se sentir
Ao lidar com isso todo o dia
Como aquele que apenas passa
Em multidões com tantas pessoas
Minhas mãos estavam geladas e dormentes assim como meu nariz, seria muito ruim enfrentar uma chuva agora. Senti outro pingo de água em minha bochecha.
- Vai chover.
Falei para o casal abraçado à minha frente, porém eles pareceram não ouvir.
- Vai chover!
Falei mais alto, os fazendo virar e instintivamente olhar para o céu.
- Todo ano chove. Temos guarda-chuvas.
Alexis respondeu voltando a andar. Continuei o trajeto em silêncio, até encontrarmos Ernest.
I've no respect for you
And I miss you love
And I miss you love
Lembre-se hoje
Eu não tenho nenhum respeito por você
E eu sinto sua falta, amor
E eu sinto falta do amor
Ernest se aproximou e depositou um beijo em meu rosto e logo após fez o mesmo com Jade.
Finalmente encarei a enorme roda gigante, que reluzia sobre o rio. Estávamos bem perto, era o privilégio do dinheiro e da fama. Em poucos minutos as gotas de água se tornaram mais finas e aumentaram em quantidade. Logo todos pegaram seus guarda-chuvas, muitos negros, outros coloridos. Eu e Jade ficamos debaixo de um que fora cedido por Ernest.
Ouvi um barulho alto e o relógio marcou a tão esperada meia noite. De repente uma enxurrada de fogos tomou o céu e tudo se foi. Todas as preocupações, aflições, desconfortos, diferenças. Todos ali paravam naquele momento para se maravilhar com as cores no céu, que mais parecia magia.
Fazia muito frio e agora chovia com intensidade, porém ninguém iria embora até aquele momento mágico acabar. Por um segundo, sem querer, desviei os olhos do céu e como uma sincronia também.
But I hate the way
I'm supposed to love you back and
It's just a fad
Part of the, teen, teenage angst brigade
Eu amo o jeito que você ama
Mas eu odeio o jeito que
Eu deveria te amar de volta e
É apenas um capricho
Parte da brigada da angústia da adolescência
Nossos olhos se encontraram por dois segundos.
Eu contara.
I'm not, not sure, not too sure how it feels
To handle everyday
Like the one that just past
In the crowds of all the people
Eu não sei, não tenho certeza, não tenho muita certeza de como é se sentir
Ao lidar com isso todo o dia
Como aquele que apenas passa
Em multidões com tantas pessoas
Eu contara.
Os dois segundos mais verdadeiros de todo aquele tempo. Foi como se não esperasse que eu o olhasse e eu também não o esperava. Com isso, não estávamos usando nossas armaduras. Estava claro no nosso olhar, por aqueles dois míseros segundos que tudo o que sentíamos ainda estava ali. E que sofríamos igualmente. E então no terceiro segundo voltamos a encarar o céu brilhante.
I've no respect for you
And I miss you love
And I miss you love
Lembre-se hoje
Não tenho nenhum respeito por você
E eu sinto sua falta, amor
E eu sinto falta do amor
Estava claro no nosso olhar, por aqueles dois míseros segundos que tudo o que sentíamos ainda estava ali. E que sofríamos igualmente. E então no terceiro segundo voltamos a encarar o céu brilhante.
Remember today
I've no respect for you
And I miss you love
And I miss you
Lembre-se de hoje
E eu não tenho nenhum respeito por você
E eu sinto sua falta, amor
E eu sinto falta
Acendi algumas velas aromáticas pelo banheiro e apaguei a luz. Entrei na banheira com água quente e deitei minha cabeça. Eu precisava cada dia mais de algo para relaxar, e o Alprazolam não estava mais dando conta.
Fechei os olhos devagar. E como sempre a imagem de vinha em minha mente. Seus olhos confusos e magoados naquela noite do dia primeiro ficaram marcados em mim. E toda vez em que fechava os olhos, eu me lembrava daquilo, há uma semana.
But I hate the way
Eu amo o jeito que você ama
Mas eu odeio o jeito que
Seus olhos confusos e magoados naquela noite do dia primeiro ficaram marcados em mim. E toda vez em que fechava os olhos, eu me lembrava daquilo, a uma semana atrás. Cada dia se tornava mais difícil evitá-lo.
I'm supposed to love you back
Eu deveria te amar de volta
- Alô.
- .
Era Alexis, e sua voz não estava extremamente arrogante.
CAPÍTULO 30 - If you're a weak person, you do terrible things
Alexis's POV.
Um dia antes...
Passei a escova pelos cabelos e notei alguns fios que caíam conforme escovava. Bufei irritada com aquilo. Passei a mão sobre meu roupão de seda branco jogando-o pelo chão. Olhei meu rosto um tanto pálido no espelho. As coisas pareciam não fazer tanto sentido. Quem eu era, afinal? Qual era minha função? Eu era especial para alguém?
Na verdade só duas pessoas me interessavam. E eram as únicas duas pessoas que me faziam refletir sobre ser ou não especial para alguém. Ou então talvez fosse apenas à gravidez. Passei as mãos repletas de anéis de pedras e quilates sobre minha barriga ainda pequena. Eu sabia que havia vida ali dentro, não precisava de nenhum exame para me dizer. Eu me lembrava da noite em que me tocara depois de tanto tempo, e pela última vez.
It's getting me down my love
Like a cat in a bag, waiting to drown
This time I'm comin' down
Todo esse papo de envelhecer
Está me deixando deprimido
Como um gato numa sacola, esperando para afogar
Dessa vez eu vou ter um colapso
Levantei-me e peguei a xícara de café com marshmallows. Eu deveria evitar essas coisas agora na gravidez.
Quantos meses eu tinha de gestação? Talvez realmente fosse a hora de ir a um médico. Deixei a xícara sobre a mesa e fui em direção ao banheiro. Fechei a porta, prendi o cabelo, tirei as joias e deixei minha calcinha e sutiã cair. Entrei na banheira com água cristalina, e aroma de pêssego. Coloquei alguma música calma para tocar em meu celular enquanto eu procurava relaxar. Eu tinha que organizar algumas coisas para essa semana, e lidar com esse tipo de coisa certas vezes cansava. Fechei meus olhos devagar e movi minhas mãos sobre a água, fazendo-a se movimentar. Enjoei da música e peguei o celular para dar pause.
Ao olhar para o aparelho senti vontade de finalmente ligar para minha mãe e contar as novidades. E assim o fiz.
- Oi, Alexis.
- Oi, mãe! Como você está?
Perguntei interessada, enquanto fazia desenhos de círculos em meus joelhos visíveis sobre a água.
- Estou bem, e você, querida?
- Bem, mãe. Tenho uma novidade.
Mordi os lábios e pousei uma mão sobre a barriga. Eu não sabia qual seria a reação de minha mãe devido nossa relação, no entanto prossegui.
- Estou grávida.
Eu esperava um riso ou algum sermão, mas só recebi o silêncio de minha mãe.
- Oh, querida, espero que tenha feito algum exame para confirmar antes de criar esperanças como da outra vez.
- Eu fiz!
Menti. Eu não precisava de nenhum exame estúpido, eu sabia que tinha um filho prestes a nascer dentro de mim. Eu sentia isso. Uma mulher sabe.
- Tudo bem, Alexis, não estou dizendo que não. Sendo assim, fico feliz.
- Obrigada. e eu vamos nos casar.
Mais uma vez minha mãe ficara em silêncio. Aquilo já estava me tirando do sério.
- Querida, você sabe que não te ama e...
- Ele me ama sim! O que está falando?!
Respondi furiosa. Como ela ousava dizer que não me amava?! Ele amava. Amava sim. Ele só precisava entender que me amava, e eu era a mulher da vida dele.
- Alexis, só está em um relacionamento com você para manter a aparência de bom moço para a mídia. Querida, não quero que se magoe.
- Mãe, eu não vou me magoar. Sei que começamos o noivado para abafar algumas coisas, mas eu sinto que ele me ama agora. Principalmente pelo bebê.
Sorri lembrando que eu teria um filho de . Eu daria um filho a ele, e ele não teria mais que ficar babando por Jade. Ele não sofreria no dia em que ela fosse. E eu não precisava que enxergasse isso agora, com o tempo ele veria. Eu só precisava manter o controle, manter longe e tudo ficaria bem.
- Tudo bem, querida. Vamos esquecer esse assunto. Você sabe o que faz, certo?
- Sim, é claro. E você vem me visitar quando a criança nascer?
- Querida, eu adoraria, mas sabe que tem uma ordem do juiz para ficar longe de mim, não sabe?
É claro, eu havia me esquecido. Eu e minha mãe não nos víamos há anos porque ela havia aberto um processo contra mim, já que eu havia a agredido.
Desde então nunca nos vimos pessoalmente, a não ser em tribunais. Ironicamente minha mãe tinha medo de mim.
- Perdão, eu havia esquecido. Mas tudo bem, eu te envio fotos. Por onde você está?
- Estou na Alemanha. Estamos organizando um desfile para essa noite.
- Ah sim, boa sorte.
- Obrigada, querida, vou desligar.
Desliguei o celular e me recordei do natal onde tudo aconteceu.
As you lay down on your side
Now the drugs don't work
They just make you worse
But I know I'll see your face again
Now the drugs don't work
They just make you worse
But I know I'll see your face again
Eu espero que você pense em mim
Quando você deita no seu lado da cama
Agora as drogas não fazem mais efeito
Só te deixam pior
Mas eu sei que verei seu rosto de novo
Agora as drogas não fazem mais efeito
Só te deixam pior
Mas eu sei que verei seu rosto de novo
Mas ele não ligava.
Enquanto isso mamãe bebia e se divertia com suas amigas na festa de natal, no andar de baixo.
A cada hora que passava eu chorava cada vez mais. Eu precisava tanto que meu pai me ligasse para dizer que me amava. Eu precisava tanto que alguém me amasse. Minhas unhas criavam marcas em minha mão, conforme eu apertava, e eu já não conseguia tirar líquido do corpo, para produzir lágrimas.
Foi então que minha cabeça começou a dor, de tal modo que a apertei entre minhas mãos. Lembrei-me de quando ele nos deixara.
"É tudo culpa sua, Alexis!"
Ele estava errado, não era minha culpa, era da minha mãe. Tudo era culpa da mamãe. Se ela não tivesse sido uma piranha, e meu pai não tivesse a encontrado na cama com outro, ele nunca teria me deixado. Ele ainda me amaria. Ela era a causa de tudo. Raciocinei.
'Cause I passed down my old street
And if you wanna show, then just let me know
And I'll sing in your ear again
Now the drugs don't work
They just make you worse
But I know I'll see your face again
Mas eu sei que estou numa maré de azar
Porque eu passei por minha velha rua
E se você quiser mostrar, então me avise
E eu cantarei no seu ouvido novamente
Agora as drogas não fazem mais efeito
Só te deixam pior
Mas eu sei que verei seu rosto de novo
- Venha se divertir conosco, querida.
Mamãe disse. E em questão de segundos eu estava agarrada em seu pescoço. Eu apertava tão forte, que suas veias saltavam para fora. Suas amigas desajeitadamente tentavam me impedir, mas estavam bêbadas demais para conseguir antes que eu a deixasse inconsciente.
Assim que elas conseguiram me desgarrar do pescoço de minha mãe, olhei para minhas mãos e as marcas em seu pescoço formadas por elas. Todas estavam em estado de choque para ter alguma ação. Fui a primeira a tomar alguma, e corri em direção ao porão escuro. Assim que me sentei em minha poltrona rosa de infância, voltei a chorar. Eu não queria tê-la matado, eu só queria que ela pagasse por ter feito aquilo com meu pai e comigo.
Só queria que ela pagasse.
Lembrei-me de como aquela noite no porão fora fria e solitária. Minha mãe não havia morrido, mas assim que tomara consciência do ocorrido, ela não me queria mais por perto.
Morei com a tia Sue até a faculdade, e então conheci Ernest, que viu toda a minha sede para negócios e dinheiro. E assim conheci . Cheguei a pedir desculpas para minha mãe, que aceitou, porém ainda tinha medo de ocorrer mais um daquele terrível episódio. Se eu soubesse... Ah, se eu soubesse o que meu pai me faria, teria feito tudo tão diferente.
Just like you said, you leave my life I'm better off dead
All this talk of getting old
It's getting me down my love
Like a cat in a bag, waiting to drown
This time I'm comin' down
Now the drugs don't work
They just make you worse
But I know I'll see your face again
'Cause baby, ooh, if heaven calls, I'm coming, too
Just like you said, you leave my life, I'm better off dead
Porque querida, se o céu chamar, eu vou também
Como você disse, deixe minha vida e estarei melhor morto
Todo esse papo de envelhecer
Está me deixando deprimido
Como um gato numa sacola, esperando para afogar
Dessa vez eu vou ter um colapso
Agora as drogas não fazem mais efeito
Só te deixam pior
Mas eu sei que verei seu rosto de novo
Porque querida, se o céu chamar, eu vou também
Como você disse, deixe minha vida e estarei melhor morto.
Depois de eu estar cheirosa, e belamente vestida, desci para falar com . Ele precisava sentir meu perfume.
- Onde está, ?
Perguntei para alguma empregada imprestável.
- Ao certo não sei, senhorita. Mas a última vez em que o vi ele estava no salão de armas.
Não me dei ao trabalho de agradecê-la, já que era sua obrigação. Andei até o salão de armas, que estava destrancado.
Eu amava ouvir o barulho de meu salto naquele chão.
- ? ?
And I'll sing in your ear again
Mas você quiser me mostrar apenas basta me dizer
E eu cantarei no seu ouvido novamente
Eu poderia ter usado uma para estourar os miolos de e Jade. Como não pensei nisso antes?
- ?
Perguntei ao abrir a porta do local aonde praticava tiro ao alvo.
They just make you worse
But I know I'll see your face again
Agora as drogas não fazem mais efeito
Só te deixam pior
Mas eu sei que verei seu rosto de novo
- Pensei que não estivesse aqui.
Falei irritada, por não me responder. Mas assim que cheguei mais perto notei que estava de olhos fechados.
- ?
estava dormindo?
Yeah, I know I'll see your face again
Yeah, I know I'll see your face again
Yeah, I know I'll see your face again
Sim, eu sei que verei seu rosto de novo
Sim, eu sei que verei seu rosto de novo
Sim, eu sei que verei seu rosto de novo
Sim, eu sei que verei seu rosto de novo
Assim que assimilei o que aquilo era, entrei em desespero.
- ! ! Alguém! Socorro!
Gritei desesperada. havia se drogado, usado heroína. E não estava simplesmente dormindo.
Peguei o celular em seu bolso e com as mãos extremamente trêmulas e liguei para uma ambulância.
- O que houve, Senhorita?
Alguém entrou no lugar, em desespero.
- Droga! Ele está morrendo! Não está vendo!
A empregada passou em minha frente e colocou a mão no pescoço de , provavelmente para ver os sinais vitais. Não a impedi.
- Ele tem sinais vitais, mas está tendo alguma depressão respiratória. Precisamos de reforços, rápido.
A mulher gorda começou a fazer uma massagem cardíaca em seu peito, e apenas observei perplexa.
- Ele está tendo uma overdose.
Falei derrotada, para mim mesma.
Senti lágrimas descendo sem esforço. E se morresse? Como eu não pude perceber que ele se tornou dependente de novo?
O observei e seu corpo tremia periodicamente.
- Por favor, , não morra.
Assim que a mulher parou de fazer o que estava fazendo para ajudar, deitei em seu peito, senti seu coração batendo devagar e seu corpo inteiro tremendo.
- Vou ir lá fora para esperar pelos paramédicos.
Apenas assenti. Eu estava fraca demais para lutar, para mandar algo. Eu só queria que ele vivesse. Droga! Não era pra ele morrer!
Ele não podia morrer!
- , não morre! Não morre!
Eu gritei com seu corpo inconsciente e totalmente tomado pela maldita droga. Continuei chorando até ouvir o barulho das sirenes da ambulância.
Seu corpo estava frio, e seus lábios sempre tão avermelhados, roxos.
Em um piscar de olhos havia várias pessoas naquele local, e já estava em uma maca, entubado. Eu estava um pouco atordoada, porém procurei manter a calma e agir como uma mulher equilibrada. Entrei na ambulância e fui até o hospital segurando sua mão que vez ou outra tremia junto a todo seu corpo. Aquilo era uma cena horrível de se ver.
Algum tempo esperando do lado de fora do quarto o doutor que estava encarregado de cuidar dele se dirigiu a mim.
No more, no more, no more, no more, no more
I'm never coming down, I'm never going down
No more, no more, no more, no more, no more
Eu nunca irei cair, eu nunca irei cair
Não mais, não mais, não mais, não mais, não mais
Eu nunca irei cair, eu nunca irei cair
Não mais, não mais, não mais, não mais, não mais
CAPÍTULO 31 - If you're a weak person, you do terrible things
's POV.
Um dia depois...
Eu ainda não sabia o que levara Alexis a me ligar tão aleatoriamente.
- O que você quer, Alexis?
- Preciso que traga Jade até o hospital.
Alexis falou séria. Por um momento fiquei preocupada.
- Por quê?
- sofreu uma overdose, . Está internado. Com sorte eu o encontrei a tempo de salvá-lo. Ele está acordado, e quer ver Jade.
Meu coração parou.
sofreu uma overdose.
Essa era a única coisa que se passava por minha cabeça. Eu havia perdido todo o ar. Não conseguia raciocinar direito.
- , não é hora para draminha seu, traga Jade o mais rápido possível.
Antes que eu pudesse responder algo, Alexis já havia interrompido a ligação.
Fiquei perplexa por um tempo e meus olhos ainda estavam arregalados. Assim que consegui entender que aquilo era o mundo real, saí da banheira depressa. O chão estava escorregadio, e quase caí. Coloquei a primeira roupa que vi e um casaco por cima. Corri para o quarto de Jade que brincava distraidamente com algumas bonecas.
- Jade, coloque um casaco, temos que ir para o hospital agora.
- Mas, mãe, eu estou brincando agora, e não é dia de exame.
- Não é pra você. Seu pai está internado, ele teve um problema.
Falei enquanto pegava um casaco qualquer em seu armário.
Assim que ouviu minhas palavras, Jade arregalou os olhos e pude sentir sua preocupação.
Em pouco tempo já estávamos no hospital, e esperávamos por Alexis, que logo surgiu em meu campo de visão. Ela parecia realmente abatida com aquilo tudo.
- Vocês estão aí. Vamos.
Começamos a caminhar por onde Alexis nos guiara. Pelas janelas do hospital dava para ver milhares de pessoas com cartazes de melhoras, e outros com câmeras. Assim que chegamos a uma porta com número de 696, Alexis parou.
- É aqui.
Ela nos olhou por um momento, como se nos desejasse mortas.
- Mas só ela entra. Você não tem permissão para vê-lo.
Alexis disse se referindo a mim. Ela só podia estar brincando? E a parte de não fazer draminha?
- Alexis, quase morreu! Eu mereço ao menos vê-lo!
- Não! E além do mais, ele não quer te ver.
Ela disse abrindo a porta e praticamente empurrando Jade para dentro do quarto.
Jade's POV
Alexis me empurrara para dentro do quarto, mas para mim nada importava naquele momento. Eu nem estava mais prestando atenção no que elas falavam.
Enquanto elas brigavam pelo meu pai, ele precisava de mim.
Caminhei lentamente até a cama aonde ele dormia. Estava frio naquele quarto, e meu queixo começou a tremer.
Assim que cheguei perto, observei meu pai tão leve. Parecia muito comigo. Seus olhos tinham olheiras muito roxas, e ele estava todo suado apesar do frio que fazia no quarto. Não quis o acordar, eu só queria estar ali ao seu lado, saber que ele estava bem, que estava vivo. Então comecei a cantar uma canção baixinho para ele.
When I was about to fall, you caught me.
When I was about to cry, you brought me a smille.'
Olhei para ele com os olhos cheios de lágrimas.
Eu havia escrito aquela música boba para ele, mas nunca havia cantado. E agora eu estava cantando, enquanto ele não podia ouvir.
E então só vinha na minha mente: como deve ter sido difícil para os meus pais, quando me viram assim. Eu sabia que eu tinha uma doença sem cura.
Minha mãe podia mentir para mim o quanto ela quisesse, mas eu sabia que precisava de alguém para doar algo para mim, eu ouvi. Mas como eu não tinha e eu iria morrer a qualquer hora. Eu iria fazê-los sofrer, e isso seria a pior coisa do mundo.
Toquei sua mão e encostei meu rosto molhado nela. Eu com certeza era uma bebê chorona. Mas é que eu não queria perder meu pai, eu não queria morrer. Só queria poder viver bem, ser feliz.
Provavelmente minha agitação fez com que meu pai acordasse, porque ele estava acordado agora.
Olhei para seu rosto e seus olhos se abriram devagar, e então correram até mim.
Abri um sorriso triste, tentando parar de chorar. Ele sorriu para mim e apertou a minha mão.
- Que bom que veio.
Ele disse com a voz extremamente rouca e seca. Pensei em oferecer um pouco de água, mas não sabia se ele poderia tomar.
- Não me deixe papai.
Falei sem pensar, mas era aquilo que meu coração gritava. Vi seus olhos se apertarem, e então lágrimas saírem pelos olhos fechados.
- Não chore, pai. Fique feliz, vai ficar tudo bem.
Eu sabia que não. Sabia que ele estava doente. Mas eu precisava acalmá-lo e não deixá-lo mais triste.
- Tudo bem, filha, estou chorando de felicidade.
Ele abriu os olhos vermelhos e molhados, fungou o nariz e continuou.
- Venha, suba aqui.
Papai me chamou para subir na cama. Não pensei duas vezes e dei impulso para subir. Assim que me aninhei em seus braços, o abracei fortemente.
- Eu te amo, papai.
- Eu te amo, minha filha.
Dissemos um para o outro sinceramente.
Eu amava meu pai de todo coração, e faria de tudo por ele. Eu fiz minha mãe procurá-lo, e faria de um tudo para estar com ele agora. Ele podia ter defeitos, mas era meu pai. E eu o amava exatamente do jeito que ele era.
Ficamos assim por um tempo, apenas em silêncio como costumávamos fazer sempre. Eu adorava o perfume que meu pai usava, e mesmo ele estando em uma cama de hospital, ele ainda era o homem mais cheiroso e bonito do mundo.
Olhei para seu braço que estava ligado ao soro e vários outros medicamentos.
- É chato, né?
Ele estava de olhos fechados, no entanto abriu quando ouviu minha voz e logo entendeu o que eu quis dizer.
- Muito, não sei como você aguenta.
- Não conte pra minha mãe, mas eu levo sempre uma canetinha e desenho embaixo do travesseiro.
Contei o que eu fazia para me distrair quando tinha que tomar as doses dos remédios no hospital, ou passar o dia fazendo exames chatos.
Papai riu fracamente.
- Com quem você anda aprendendo essas coisas, sua pirralha?
Levantei os ombros e sorri, como se estivesse insinuando que era ele. Era bom vê-lo sorrir. Mas assim como tudo que é bom vai embora rápido, meu pai logo começou uma série de tosses.
Desci da cama preocupada com o que eu deveria fazer. O aparelho começou a apitar e de repente papai estava vomitando no chão. Fiquei um pouco nervosa.
Em poucos segundos haviam várias pessoas no quarto. Algumas mexiam no fio de dosagem, outras seguravam recipientes para que ele vomitasse. Meu pai começou a tremer e suar, mas parou de vomitar por um tempo. Assim que um homem se deu conta de que eu estava assistindo toda aquela cena, me mandou sair do quarto.
Quando fechei a porta encontrei minha mãe sentada no chão. Mamãe levantou os olhos até mim e provavelmente ficou confusa com minha expressão assustada.
- Aconteceu algo? Ele está?
- Sim, ele só... Ele está vomitando e... Tremendo.
Eu disse triste. Minha mãe se levantou e me abraçou.
's POV.
Eu abraçava Jade fortemente. Só não sabia dizer se era para consolá-la ou para receber consolo. Era tão difícil saber que eu não estava ao lado dele, num momento como esse. Droga! Por que era tão fraco? Por que ele tinha que voltar a se drogar? Por que eu me sentia tão culpada? Tudo parecia tão errado.
Nos sentamos no chão ao lado da porta mais uma vez, e então as pessoas que estavam no quarto saíram, deixando sozinho, e me deixando com uma enorme tentação de entrar. Jade já estava aqui fora, antes do tempo de visita acabar.
Alexis só voltaria para buscá-la. Se Jade me concedesse esse tempinho eu ainda poderia ver , pensei.
- Querida?
Mordi o lábio inferior apreensiva. Eu não tinha plena certeza se ela aceitaria meu pedido.
- Posso usar o resto dos seus minutos para ver seu pai? Antes que Alexis chegue?
Jade pareceu ponderar minha proposta. É claro que eu não queria tirar seu direito de ver .
- Tá bem, mamãe. Mas por favor, não brigue com ele.
Senti algo perfurando meu coração ao ouvir suas palavras doces e preocupadas. Eu não sabia ao certo, qual seria a reação de ao me ver ali, mesmo assim me levantei e abri a porta devagar.
Os barulhos de meus passos se misturavam aos aparelhos no quarto e quase não eram perceptíveis. estava com o rosto virado para a janela e nem ao menos percebeu minha presença. Assim que fechei a porta, ele se virou me encarando.
Seus olhos , estavam vermelhos e embaixo havia olheiras roxas. Seu rosto estava pálido, e incrivelmente mais magro desde a última semana em que o vira na festa de ano novo. Seus lábios estavam secos, e escuros, diferente da vermelhidão que os presenciava. Meus olhos lacrimejaram um pouco ao observá-lo naquele estado tão sem vida.
parecia ainda tentar discernir minha presença no local.
This is the final time
So, did I make you happy?
Because you cried an ocean
And there's a thousand lines
About the way you smile
Written in my mind
But every single word's a lie'
Essa é a última vez.
Então, eu te fiz feliz?
Porque você chorou um oceano,
Mas há milhares de linhas,
Sobre o jeito como você sorri,
Escritas na minha mente,
Mas cada palavra é uma mentira.)
Caminhei devagar até sua cama branca. Havia alguns aparelhos ligados a ele, e tudo aquilo criava um nó em minha garganta.
- Por que você voltou a usar heroína, ?
Falei com cautela, não queria causar estresse para nós dois. Já estávamos em cacos para brigar.
- O que está fazendo aqui? Quem te deu permissão para entrar?
Por algum motivo eu não consegui explicar a razão de estar ali. Eu nem sabia o motivo de estar ali.
- , por favor, pare.
- Parar? Eu tenho direito de escolher quem pode ou não entrar aqui!
- Mas eu precisava ver você. Precisava saber se estava tudo bem.
soltou uma risada alta e sarcástica. Então abriu a boca algumas vezes, no entanto não emitiu som algum.
Aproximei-me mais para tocar sua mão, e mostrar que ainda me importava com ele, apesar de tudo aparentar que não.
observou todos os meus atos, enquanto eu os concluía.
Eu não tinha pressa para sair daquele quarto, não enquanto houvesse algum tipo de ressentimento. Ou então enquanto egoistamente eu não me sentisse tão culpada por sua overdose.
- Foi proposital? A overdose?
Toquei sua mão. deixou que eu sentisse seu calor por alguns segundos até que retirou sua mão de debaixo da minha.
- Não.
- , por quê? Explique-me só o motivo de você ter tido essa recaída.
Recolhi minha mão envergonhada. Ele realmente parecia não querer algum tipo de reconciliação. Seus olhos não demonstravam o mesmo que absorvi na virada do ano. Eles aparentavam algo frio, algum tipo de culpa e confusão.
- Você acha que é assim, não é? Alguém decide se livrar de um vício, de uma praga, e no outro dia está livre. Mas não é, .
olhou para a janela pensativo. Não pareceu realmente intencional sua overdose. Ele só parecia estar perdido.
But you can take the bluest sky and turn it grey
I swore to you that i would do my best to change
But you said don't matter
I'm looking at you from another point of view
I don't know how the hell i fell in love with you
I'd never wish for anyone to feel the way i do'
(Eu nunca quis que tudo terminasse desse jeito,
Mas você consegue transformar o céu mais azul em cinza.
Eu jurei pra você que eu faria meu melhor para mudar
Mas você disse que não importava.
Estou olhando pra você por um outro ponto de vista,
Eu não sei porque diabos me apaixonei por você.
Nunca desejaria para alguém se sentir do jeito que me
sinto.)
Senti um aperto em pensar em sendo forçado a ficar preso em um lugar e passar por procedimentos dolorosos. também parecia angustiado ao lembrar dos fatos e pensar que teria que passar por algo parecido novamente.
- Eu sentia dor constante, . Nada passava a dor que supria meu corpo, e fora a dor aqui dentro.
bateu no peito.
- E então vinham as crises de abstinência. Eu sabia que o remédio era simplesmente injetar uma dose nas veias, ou cheirar qualquer coisa, mas eu não podia ceder. Não depois de tudo aquilo.
Conforme ele falava eu sentia vontade de eliminar sua dor, não de causar mais. Eu sabia que eu lhe causava dor, mas eu não tinha noção da dimensão. Meus olhos brilhavam, e eu já enxergava tudo embaçado por lágrimas, que eu não ousava soltar.
- Até que eu consegui. Eu consegui. Eu me sentia vivo novamente. Eu voltei a sentir prazer. Mas me tiraram tudo o que eu mais amava. Minha música, . Eu não pude voltar a cantar.
- , eu sinto muito.
- Eu me senti inútil. E então veio você e Jade. Isso mexeu comigo desde o primeiro dia, você sabe. E então quando eu aprendi a amar Jade, ela contrai uma doença mortal. E eu não posso fazer nada.
Observei uma lágrima escorrer meio de lado, saindo de seu olho esquerdo.
Ele estava desabafando. Talvez em anos ele estivesse desabafando. Meus braços estavam cruzados e mantinha meus lábios presos entre os dentes para não chorar.
- Eu perdi minha filha para uma doença. E então veio você. Eu dei tudo o que tinha a você, eu me entreguei a você. E você me disse que não me queria mais. Disse que...
Showing me the light
Was this supposed to happen?
I'm better off without you
So you can leave tonight
And don't you dare come back
And try to make things right
'Cause i'll be ready for a fight'
(Esse é um sinal do céu,
Me mostrando a luz?
Isso era pra acontecer?
Eu estou melhor sem você,
Então você pode ir hoje à noite,
E não ouse voltar
E tentar fazer tudo dar certo,
Porque eu estarei pronto para brigar)
Era como se o que havia dito há segundos, fosse algum tipo de palavra especial que tira alguém do transe de uma hipnose.
Meu rosto estava todo molhado por uma enxurrada de lágrimas, e estava vermelho. Eu me senti tonta, e trêmula. Coloquei as mãos no rosto tentando abafar os sons que saíam de minha garganta, mas era inválido.
também estava chorando.
- Por que você fez isso comigo, ?
Parecia que as paredes iriam desmoronar a qualquer momento em cima de nós. Era tanta pressão, tanta culpa, tanta dor, tanto demais para somente nós dois.
- , por favor...
Foi à única coisa que eu consegui dizer.
- Eu vi, . Eu vi nos seus olhos, naquele dia. Eu vi que era mentira. Então por que me deixou? Só me diga...
Eu sentia vontade de morrer.
"Eu ainda te amo. Te amo mais do que qualquer coisa, exceto por Jade. E Alexis disse que se ficássemos juntos, ela mataria Jade. Eu sei do que Alexis é capaz. Por isso fiz isso com você, mas eu te amo. Te amo mais do que qualquer coisa exceto por Jade. Ass: .
." Escrevi minha nota de suicídio mentalmente enquanto chorava intensamente.
- Eu juro, eu... Eu mudo.
Cada palavra embargada no choro, me feria como facadas.
- Se é minha personalidade, eu mudo. Nós podemos sair de Londres. Ir para um lugar distante de tudo. Começar uma vida nova, nós três.
Sua voz estava mais rouca que o normal e falava pausadamente, sendo interrompido por soluços. Abri dois dedos para entreolhar seu rosto. Ele mantinha os olhos fechados apertados, como se estivesse com dor. E ele estava. Nós estávamos. Nós estávamos desfalecendo aos poucos. Nós três.
Precisávamos de um socorro, e rápido.
- Por favor, , fique comigo. Eu não consigo me livrar dessa merda sem você... Não consigo assim. Não dá!
- , por favor... Não faça isso comigo.
Eu disse retirando fôlego de algum lugar antes de ser interrompida por soluços e mais lágrimas.
But you can take the bluest sky and turn it grey
I swore to you that i would do my best to change
But you said don't matter
I'm looking at you from another point of view
I don't know how the hell i fell in love with you
I'd never wish for anyone to feel the way i do'
(Eu nunca quis que tudo terminasse desse jeito,
Mas você pode transformar o céu mais azul em cinza.
Eu jurei pra você que eu faria meu melhor para mudar,
Mas você disse que não importava.
Estou olhando pra você por um outro ponto de vista,
Eu não sei porque diabos me apaixonei por você.
Nunca desejaria para alguém se sentir do jeito que me
sinto.)
Andei até a porta rapidamente antes que eu voltasse lá, o abraçasse forte e ficasse ao seu lado. Para minha infelicidade dei uma última olhada para antes de fechar a porta. Seu corpo tremia, e ele chorava incessantemente com os olhos apertados, sua mão ainda estava levantada como se tentasse me alcançar e o aparelho apitava. E então fechei a porta ainda aos prantos e com um buraco no peito.
And you said, and you said, and you said (do)
'Cause you said it don't matter (i do)
And you said, and you said, and you said (i do)
And you said, and you said, and you said (do)
'Cause you said it don't matter
And you said, and you said, and you said
And you said, and you said, and you said
'Cause you said it don't matter
And you said, and you said, and you said
And you said, and you said, and you said
'Cause you said it don't matter'
(E você disse, você disse, você disse,(eu sinto)
E você disse, você disse, você disse,(eu sinto)
E você disse que não importava.(eu sinto)
E você disse, você disse, você disse,(eu sinto)
E você disse, você disse, você disse,(sinto)
Você disse que não importava
E você disse, você disse, você disse,
E você disse, você disse, você disse,
E você disse que não importava.
E você disse, você disse, você disse,
E você disse, você disse, você disse,
E você disse que não importava.)
- Você fez o que eu disse para não fazer. Espero que tenha isso em mente.
Assim que terminou de falar, Jade deu língua para Alexis. Ela não era desse tipo, mas pelo jeito estava estressada e magoada demais ao ver os pais assim para aguentar Alexis.
Já eu, apenas estremeci. Eu sabia exatamente o que suas palavras significavam.
CAPÍTULO 32 - In the dark, the only thing you can see is your pain
Ultimamente eu levava horas para conseguir dormir, e horas para me levantar. Meus olhos sempre amanheciam inchados, pois eu sempre chorava pela noite. Eu tinha pesadelos atrás de pesadelos, sentia como se houvesse algum tipo de metal extremamente forte que fendia meu coração, e o mesmo caía sobre mim exercendo grande peso em minha cabeça.
Esfreguei os olhos lentamente, tentando criar coragem para me desvencilhar do edredom. Por fim, me sentei na cama e o visor do celular já marcava 11:00 am. Suspirei recriminando minha própria incompetência, ao ser uma mãe que acorda às onze horas. Minha vida era frustrante. Tanto no sentido amoroso, familiar, social, financeiro, como pessoal. Tudo parecia revelar que eu simplesmente me tornara tudo o que sempre odiei.
Se escondi a paternidade de Jade por tanto tempo é por que não queria tirar vantagem disso, e era exatamente o que eu estava fazendo. E além de tudo, machucando a única pessoa que parecia se importar em todo aquele meio de mentiras.
Coloquei os pés para fora, sentindo o ar gélido envolvê-los rapidamente. Calcei as pantufas e fiquei de pé. Andei até a janela e afastei a cortina para olhar a vista. Londres estava coberta por neve. E não era algo ruim de ver. Não estava nevando no momento, então havia crianças brincando pela neve, pessoas fotografando vários pontos turísticos que, sem que eu desse o real valor, era privilegiada por avistá-los de minha janela.
Observei algumas famílias que se divertiam, muitas com o primeiro contato com a neve. Notei um casal, em especial, que estava sentado em um banco enquanto uma menina com uma touca na cabeça, mas sem indícios de cabelos saindo pelos lados, brincava na neve em sua frente.
Sem que eu quisesse pensei em Jade, e em . O quão mais valiosa era Jade do que aquela menina para receber um transplante antes? Ou então, Jade não era valiosa o suficiente para ser feliz com seus pais juntos brincando na neve em uma manhã de inverno?
O que eu não daria para ter a vida daquela família a qual observava, e o que eles não dariam para ter uma vida como a nossa? Eram muitas coisas a se ponderar. E não podíamos ter tudo o que queríamos. Mas por que nada nunca dera certo para mim? Até as coisas boas eram para me trazer mais problemas, por quê?
Fechei a cortina e me dirigi até a cozinha para tomar café. Depois de pronto coloquei o café pronto em minha xícara vermelha. Eu a usava desde que morava na Escócia, provavelmente era um dos poucos objetos que não foram substituídos depois de nos mudar para Londres. Sentei-me à mesa para tomar meu café calmamente, enquanto lia algumas notícias no jornal. Antes que pudesse terminar de ler a primeira página, meu celular despertou, alertando a hora de Jade tomar um comprimido. O que era bem complicado, já que Jade não conseguia engolir comprimidos com facilidade.
- Querida, é aquele.
Disse depois de entrar em seu quarto ainda escuro e me abaixar ao seu lado. Jade cobriu o rosto com uma almofada.
- Filha, vamos, você precisa tomar.
Um tempo depois Jade pareceu se convencer de que não havia outra escolha, a não ser engolir logo o remédio.
- Tá, me dá logo.
Entreguei o comprimido em sua mão delicada e o copo de água na outra. Jade colocou-o na boca e bebeu vários goles da água, mas como sempre não conseguiu engolir. Fui até a cozinha pegar mais água, e simplesmente espatifei o copo no chão, ao notar a presença de Alexis em minha sala de estar.
- O que houve, mãe?
Ouvi Jade gritar do quarto.
- Nada, querida. Fique no quarto, não venha para cá, está cheio de vidro.
Alexis que antes estava encostada na parede com uma mão em sua cintura fina, caminhou em minha direção, me fazendo estupidamente andar para trás.
- Você mente bem, mas pra quem mente para o mundo inteiro, mentir para sua filha não deve ser difícil.
Ela parou.
- O que está fazendo aqui? E como entrou?
- Não, você não deixou aberto. E é incrível como consegui encontrar tantas coisas suas no closet de .
Alexis mexeu em sua bolsa de mão, e me fazendo arregalar os olhos tirou uma calcinha minha de lá.
- Essa daqui veio do mesmo lugar que a chave.
A mulher amedrontante jogou-a no chão em nossa frente. Eu me senti totalmente envergonhada e humilhada ao presenciar aquilo. Então era isso que ela queria? Humilhar-me? Fazer eu me sentir “a outra”?
- Você é realmente o pior tipo que já conheci. Eu juro, eu tentei te oferecer apenas dinheiro. Mas você quis mais, você queria meu noivo, você queria roubar ! E pra quê? Fazê-lo voltar para esse estado deplorável?
- Eu nunca quis...
- Pare de se fingir de vítima, . Você queria minha vida, queria meu noivo, meu dinheiro, minha casa.
Não. Não. Não. Eu só queria que Jade conhecesse , só isso. Era só isso não era? Ou eu... Mudei meu foco?
Olhei em volta. Eu estava discutindo com Alexis sobre mais uma vez depois de encontrá-la em meu apartamento, digamos que de luxo, pois ela encontrara a chave que tinha para entrar aqui quando quisesse. Por que eu ainda mentia para mim mesma? Eu queria , queria dinheiro, e tudo isso na verdade pertencia à Alexis. Eu era nada mais, nada menos que a outra.
- Mas quero que fique claro, não vou fazer nada com Jade. Pode ficar despreocupada quanto a isso, mas ainda temos um trato. Não mexo com sua felicidade, se não mexer com a minha.
- Obrigada.
A única coisa que pude fazer foi agradecer. Afinal, a responsável por colocar a vida de Jade em risco era minha.
- Espero que tenha entendido.
Alexis virou-se de costas e pegou seu sobretudo que estava sobre meu sofá e foi embora sem dizer mais uma palavra. Eu apenas encarei aquela calcinha branca no chão, jogada com toda a minha dignidade. A recolhi e joguei no lixo. Em seguida, respirei fundo, peguei outro copo de água para levar até Jade.
Assim que cheguei no quarto ela estava adormecida de novo com o comprimido quase dissolvido em sua mão.
- Querida.
A balancei de leve, para despertá-la. Jade acordou assustada, e então sorri. Assim que viu o copo em minhas mãos ela se lembrou do que eu estava fazendo ali, e então revirou os olhos.
Já estava escuro e o dia havia sido tedioso como todos. Jade e eu saímos para ir ao supermercado e encontramos alguns fãs seus, depois voltamos para casa. E se não fosse Alexis, teria sido um dia calmo e chato como outro.
Jade brincava na casa de uma vizinha e eu pesquisava algumas coisas no laptop. Depois de presenciar os efeitos da heroína na vida de eu acabei me interessando pelo assunto. Acabava sempre pesquisando sobre dependentes dela e algumas outras drogas específicas.
Pensar nesse assunto sempre me fazia lembrar de Melissa.
Nos artigos que eu lia alertava sobre como os amigos exercem uma grande influência quando ajudam o dependente. Mas não estava mais no meu poder ajudar Melissa, assim como não estava com . E eu sinceramente não poderia carregar um fardo tão pesado como os deles, eu não aguentaria.
Fiquei rolando a tela por um tempo sem ler nada pensando em Melissa. Antes que eu mudasse de ideia, ao pensar em tudo o que Melissa fazia de errado, peguei o celular e disquei seu número, ou pelo menos o último pelo qual nos comunicávamos. Eu precisava desabafar.
Ouvi os bipes e então caiu na caixa postal. Pensei em desligar, mas esperei para gravar uma mensagem. Ás vezes era bom falar com Melissa sem ouvi-la.
- Melissa, sou eu, . Eu sei que não ligo muito, mas eu senti muita vontade de falar com você. Aconteceu muita coisa desde que nos falamos. E uma delas é que eu e não nos falamos mais. Eu ainda o amo, bom eu descobri que o amo e não suportaria vê-lo infeliz. E o motivo de ter o deixado foi que...
Parei de falar um pouco para colocar os pensamentos em ordem, afinal, era difícil falar tantas coisas ruins de uma vez.
- Bem, Alexis ameaçou a vida de Jade caso eu continuasse com . Mas então não reagiu muito bem e voltou a usar... Bem... Ele voltou a se drogar por isso.
Era bem mais difícil falar os fatos, do que apenas saber que eles são reais.
- Mel, ele teve uma overdose e... E fui vê-lo, não resisti. Ele me pediu para voltar... Me pediu para...
Eu nem sabia mais por que estava falando aquelas coisas. Aquilo era tão deprimente, e só estava me fazendo lembrar tudo. Fazendo-me lembrar de meus pesadelos. Do rosto de esgotado, chorando me implorando para ficar. De seu rosto quando eu o deixei pela segunda vez.
- Ele queria uma vida nova. Ele disse que mudaria por mim.
Minha voz estava totalmente distorcida pelo nó em minha garganta. Eu já não sabia se aquela mensagem era uma boa ideia, pois só deixaria Melissa preocupada.
- Mas eu não pude, Mel. Não pude, e eu tive que deixar ele lá sozinho. Foi a coisa mais dolorosa que já fiz. Eu estou me sentindo um lixo. Eu precisava tanto de você aqui comigo. Alguém que sabe de tudo, e me entende. Nossa eu...
Eu havia começado a chorar desde a primeira menção do nome dele. Eu era tão fraca, tão patética que chegava a dar vergonha. Eu tinha tantos problemas na vida e a única coisa que eu fazia era chorar e chorar.
- Ai, Mel, é tão difícil. Eu queria ter alguém para poder me apoiar. Enfim, me desculpe por estar enchendo sua cabeça com mais coisas, é que eu precisava... Sei lá, desabafar. Eu te amo.
Desliguei o celular e comecei a rir em meio ao choro. Eu ria porque era tudo tão cômico. Era tão ridículo como tudo terminara, que eu sentia vontade de rir de mim mesma. Talvez eu só estivesse pagando por todas as minhas mentiras.
Alexis's Pov.
A cadeira era macia, mas para mim era como se eu estivesse sentada em uma pedra. Talvez pelo fato de eu estar como um pedra em cima dela enquanto ouvia um sermão deprimente sobre minha tentativa efetiva de separar e .
- Quantas vezes? Quantas vezes, Alexis, eu te disse para não interferir? Quantas vezes falei para parar com esse ciúme estúpido, e não interferir em meus planos?
Ele ditava raivoso enquanto colocava o velho whisky em seu copo recheado de gelo. Eu sentia vontade de quebrar aquele copo em sua cabeça. Ele não conseguia entender.
- Você já parou para pensar, que você poderia ter estragado tudo? E se você tivesse que cumprir sua palavra e realmente matar a menina? Estaria tudo arruinado.
- Eu sabia que não precisaria disso, ela iria ceder.
Rebati em tom firme.
- Mas e se não? Hein? Se você estragasse tudo? Eu mesmo, Alexis, eu juro que eu mesmo apertaria seu pescoço tão forte até seu último fôlego.
Eu mais do que ninguém sabia que ele seria capaz. Eu sabia que ele sentia algo por mim, eu poderia jurar que sim, mas sabia que sentia algo muito mais forte pelo poder.
- E como ficou sabendo disso?
Seu corpo borbulhou ao som de sua gargalhada. Eu não me lembrava de ter posto tanto humor naquela pergunta, mas com certeza ele havia notado algum.
- Você pensa que eu sou bobo, não é?
Observei-o tomar um gole de sua bebida antes de me responder.
- Eu sei onde Melissa está, eu não sou idiota. Eu não a deixaria sem vigilância, obvio que não. Vagabunda ingênua! E eu também tenho seu celular grampeado, ou seja, sei de todas as suas conversas. Até mesmo que ela tem recebido uns trocados com um disque sexo barato.
- Um disque sexo?
Perguntei rindo do modo como Melissa era tão desprovida de sorte. Um disque sexo? Céus, ela era imunda. Tempo depois de meu deboche, notei que ele não ria junto comigo. Ainda estava em clima de discussão.
- Por fim, sua querida escocesa decidiu abrir o jogo para a amiga viciada. Ela contou que você a fez ficar longe de . Sinceramente, a mensagem dela era bem tocante. Senti até nojo de você.
- Oras, me poupe! Diferente do que você pensa, eu não sou uma idiota. Eu sei muito bem o que faço, se fiz isso tinha algum motivo, e esse motivo se foi. Agora está tudo bem e eu não mexi nos seus planos.
- Motivo? Se o seu motivo para pôr em risco tudo o que venho fazendo se encaixar em todo esse tempo, é um ciúme bobo e doentio por aquele cantor drogado de merda que é o , eu não permitirei que esteja viva quando tiver um motivo maior.
- É você que está com ciúmes e não admite!
Levantei-me da cadeira e coloquei as mãos sobre o balcão. Sua cozinha tinha cheiro de óleo e hortelã, e aquilo me fazia enjoar, mesmo assim continuei.
- Você ficou com raiva, pois estou grávida de , e não de você!
Ouvi a mesma gargalhada que ecoaram segundos antes, ao perguntar algo, que aos seus ouvidos era estúpido. Dessa vez eu me mantive em uma expressão fechada. Eu sabia que estava falando a verdade.
- Por Deus, Alexis, você precisa de um psiquiatra. E eu não tenho ciúme nenhum de você, e muito menos você está grávida daquele filho da mãe.
- Estou sim, e dessa vez não é igual da outra, em que pensei estar grávida de você, e que você praticamente já me obrigou a fazer um aborto. Dessa vez é de verdade. E é de um homem de verdade!
Eu não percebi que estávamos tão próximos, mas estávamos o bastante para que o homem em minha frente esbofeteasse o lado esquerdo de meu rosto.
Assim que senti a ardência de seu tapa, levantei a mão para revidar, porém fui impedida por suas mãos fortes e pesadas.
- Nunca mais faça isso!
Cuspi em seu rosto próximo.
- Nunca mais diga que não sou homem de verdade! Você pediu por isso!
Eu ainda massageava minha face e meu interior, que também fora atingido. Mas a dor permanecia ali, constante.
- Você acha que eu não sinto nada, não é? Que suas palavras não me machucam. Mas sim, elas machucam. E desculpa desapontá-lo, eu sinto.
- Sente? Sente mesmo? E falou que iria matar a filha de ?
Suas palavras nunca foram tão irônicas. Procurei pensar em algo bom para falar, mas falei o óbvio.
- Quem é você para falar isso?
- Bom, você acha que eu não sinto nada, certo? Está correta, eu não sinto. Eu não sinto nada mesmo. Eu até mataria seu filho, se ele existisse.
- Qual foi o momento em que decidi estar ao seu lado?
- Quando viu a quantia de dinheiro e fama que te ofereci, sua estúpida.
Eu não tive uma resposta. Eu estava magoada, não podia negar. Talvez eu estivesse ficando mole demais por causa da gravidez. Talvez eu precisasse voltar a me focar no que realmente importava. Meu poder. Ninguém me dizia o que fazer, e se existia uma hora certa para dizer adeus para aquela menina irritante e sua mãe, era essa.
- E já que esclarecemos isso, saiba que se algo no seu planinho der errado, serei o primeiro a te fazer cair.
Voltei a sentar na cadeira de cozinha. Eu provavelmente estava mais pensativa, e com muito mais ódio no coração. Eu iria ter minha criança e queria que nascesse em um lar sem problemas. E era por isso que eu deveria manter meus planos.
Assim que eu tivesse chance, eu mataria Jade. Mataria e fugiria para onde ninguém pudesse me achar.
's Pov.
Jade estava um pouco exausta depois de passar o dia no shopping. Eu precisava de algumas coisas para a cozinha e ela não perdera a oportunidade de me pedir brinquedos.
Enquanto eu preparava um bolo de chocolate para comermos depois do jantar, ela brincava em seu quarto. A cozinha estava uma bagunça e tinha farinha por todos os lados. Meu avental de cozinha preto estava branco, sujo de farinha. Eu realmente não era uma cozinheira muito organizada.
Assim que joguei a massa mole no tabuleiro, pronto para ir para o forno, ouvi a campainha tocar.
- Droga!
Eu realmente não poderia atender alguém naquele estado.
- Jade! Abre a porta, por favor!
Gritei e ouvi barulho de resmungos. Jade odiava quando eu a tirava da brincadeira para fazer algum favor.
- Jade, a porta!
Não precisei chamar a terceira vez. Ouvi passos forçados de Jade se dirigindo à porta, indignada. E então inseri o bolo no forno, e tentei me limpar.
- Tia!
Ouvi Jade exclamar animadamente. Tia? Quem seria? Bom pelo menos não era alguém que fizesse com que Jade apenas abrisse a porta e voltasse para o quarto correndo, sem ao menos dizer oi.
Ouvi sons de vozes de crianças, e logo já sabia quem era. Ashley, a vizinha de baixo, provavelmente viera pedir para eu olhar suas crianças. Tirei o avental sujo por fim e fui em direção à sala de estar.
Logo tive visão das pessoas em minha sala. Não era Ashley, e nem suas crianças.
- Melissa? Eu... É... Que surpresa.
Eu havia gaguejado por algum motivo. Talvez Mel me fizesse gaguejar em sua presença. Ela havia mudado, seus cabelos negros estavam curtos e suas roupas não pareciam de uma adolescente rebelde, pelo contrário, ela estava usando um vestido. E coturnos, mas ainda era um vestido laranja.
Sem dizer nada Melissa se dirigiu a mim e me abraçou.
- Recebi seu recado.
Cochichou em meu ouvido, porém a sala inteira pôde ouvir.
Eu estava um pouco perplexa por sua presença ali, por isso agia tão roboticamente.
- Querida, fiquei tão preocupada.
Mel segurou minhas mãos em um ato meloso. As crianças que já não se viam há tanto tempo, estavam um pouco constrangidas por toda aquela situação.
- Obrigada por ter vindo, Mel, eu... Eu não estava esperando mesmo.
- Eu vim porque você precisa de mim. Vim para te animar. Vamos arranjar uma babá para ficar com as crianças e vamos sair.
Olhei para seus lindos filhos, que eram todos maiores que Jade, apesar de serem mais novos. Dirigi-me a cada um para dar um beijo em suas cabeças.
- Eu acho que tudo bem. Vou ligar para alguém.
Ainda me sentia um pouco desconfortável por aquilo. Por minha causa Melissa viera até aqui. Mas como veio para cá? E por que veio, se por tanto tempo nem ao menos me dissera seu paradeiro?
Fui em direção até meu quarto pegar meu celular, e ouvi alguns passos atrás de mim. Assim que entrei no quarto me virei para Melissa.
- Por que veio? Você estava sumida todo esse tempo, e só agora aparece? Pode explicar?
- Imaginei que iria pensar justamente nisso. Você não tem jeito, .
. Cruzei os braços mostrando que ainda exigia uma explicação para seu sumiço e aparecimento repentino.
- Eu estou morando aqui na Inglaterra. Em Nottingham para ser mais exata. Vim de metrô.
- Nottingham? Nottingham, Melissa? A cidade de Robin Hood? Você traz seus filhos para morarem em Nottingham? Você está louca? É uma cidade muito perigosa!
- Eu não tenho condições para morar em Londres como você, , cai na real.
Percebi que havia me exaltado quanto às suas decisões. Melissa estava naquela posição defensiva, e não era isso que eu queria.
- Me desculpe. Mas se estava todo esse tempo tão perto, por que nunca veio?
- , eu... Eu estou sendo perseguida.
- Está o quê? Por quem, Melissa?
Perguntei incrédula. Por que raios Melissa estava sendo perseguida? Assim que me perguntei mentalmente à resposta me acertou em cheio. Drogas. Ela sempre se enfiava em problemas por isso.
- Não posso te dizer, . Não posso, mas é a mesma pessoa que sempre me perseguiu. Desde...
- Desde que você começou a se drogar. Você ainda está devendo, Melissa? Você apareceu na televisão e em jornais! É claro que a pessoa iria te achar!
Melissa riu desgostosamente, como se eu tivesse falado algo bem bobo e inocente.
- Nunca pude me esconder dessa pessoa, querida, em questão de segundos ele saberá onde estou. Ele está muito mais perto do que você imagina e não é porque estou devendo.
- É por que então? Melissa, está me deixando assustada.
- Coisas, negócios. Eu não posso te contar, meu bem, me perdoe. Mas quando vi que precisava de mim desisti de me esconder. Uma hora ou outra ele me acharia, era melhor que fosse em uma situação propensa para mim.
- Mas?
Pronunciei sem muita expectativa, e então Melissa segurou novamente minhas mãos e balançou a cabeça negativamente. Entendi que aquele assunto estava acabado. Melissa estava sendo perseguida por alguém, e resolvera aparecer por mim. Senti meu coração bater forte, ela estava se arriscando por mim. Aquilo realmente me fez sentir um pouco viva novamente.
Abracei Melissa, finalmente encarando sua visita como minha recuperação.
- Obrigada por vir.
Melissa e eu estávamos no táxi em direção a um pub para nos divertirmos um pouco. As crianças estavam com Dulce, uma mexicana com cara de freira, que trabalhava como babá e sempre ficava com Jade, quando eu precisava de seus serviços. Claro que tive que pagar um pouco a mais por mais três crianças.
Melissa me convencera a sair para espairecer um pouco. Nada como uma noite e bebidas para nos curar, disse ela. No fundo eu só queria ficar em casa como eu fazia todo santo dia, mas por outro lado eu talvez realmente precisasse daquilo. Esquecer-se de tudo seria bom, pelo menos por algumas horas. Eu só não tinha ninguém que me fizesse tomar a iniciativa, alguém como Melissa por perto.
Eu imaginava como minha vida seria plenamente chata e sacal se Melissa não estivesse nela. Provavelmente, eu seria de algum clube de nerds traumatizados no ensino médio, e na universidade seria a pessoa que todos adorariam enfiar a cabeça no vaso sanitário. Se eu não conhecesse Melissa nunca conheceria nada sobre o mundo em que vivemos. Nem mesmo gostaria de bandas como os The Seasons, provavelmente iria ouvir música clássica ou algo que meus avós veneravam.
Se eu não conhecesse Melissa, eu nunca teria tido Jade. Se Melissa não tivesse me feito ir até aquela mesa e falar com , tudo estaria completamente diferente hoje. Mas eu não mudaria nada. Não mudaria os fatos.
Olhei para o lado e Melissa olhava atenta para a janela e o mundo brilhante que era Londres à noite. Melissa sempre ficava encantada com a beleza da cidade, para mim já era tão normal. Nos fazendo sair de nossos transes o taxista parou no endereço que demos. Saímos do carro e pagamos pelo táxi. Dali, andamos em direção ao Red Lion, um dos melhores pubs de Londres. Melissa segurava meu braço enquanto andávamos, isso parecia até surreal.
A noite estava agradável, não fazia tanto frio, mas nada que não precisássemos de um bom sobretudo por cima de vestidos combinando. Entramos no local atraindo um pouco de atenção. Sentamo-nos em bancos, em frente ao balcão. Era como se fosse uma regra para todos os ingleses, se você se senta em mesas, você só quer beber um pouco com seus amigos, mas se você se senta no balcão, está querendo se divertir e fazer amizades. E bom, era isso o que Melissa estava me proporcionando naquela noite.
- O que vai querer?
- Cerveja e você?
- Cerveja.
Rimos ao perceber o mesmo gosto por cervejas. Quando éramos jovens nunca nem sequer pensaríamos que estaríamos juntas bebendo cerveja.
- Duas Ola Dubh, por favor.
Pedi ao barman que estava mais próximo.
- Saímos da Escócia, mas a Escócia não sai da gente.
Melissa manifestou uma piada quanto à cerveja escolhida, e rimos em uníssono. Parecia que tudo estava bem. Finalmente.
Bebíamos nossas cervejas enquanto conversávamos sobre nossa vida problemática.
- Sinto muito mesmo por .
- Obrigada, Mel.
Melissa mais do que ninguém poderia entender o que passava, e como eu me sentia em relação a tudo aquilo.
- Eu realmente sinto como se tudo fosse desabar sobre minha cabeça a qualquer momento, sabe? É como se eu fosse à única pessoa que pode salvá-lo, mas não posso fazer nada.
- Se eu ver a Alexis por aí, te juro que acabo com ela.
Gargalhamos juntas. Eu não me importaria nem um pouco se Melissa fizesse isso. Enquanto ainda ríamos, parte pela frase de Melissa, outra parte pela quinta garrafa da cerveja negra escocesa, senti uma cutucada no ombro.
Virei-me ainda com um sorriso no rosto.
- Olá, senhoritas, podemos pagar uma bebida para vocês?
Fiquei quieta, e olhei para Melissa que antes de me entender pelo olhar já estava respondendo aos dois homens que nos galanteavam.
- Claro, como se chamam?
Lancei um olhar recriminador para Melissa que fingia nem perceber minha presença ali.
- Eu sou William e esse é meu irmão...
- Harry?
Melissa os interrompeu com uma piada bem sem graça sobre o nome de um dos homens loiros e fortes que realmente se assemelhavam com os dois príncipes ingleses. Os dois riram, provavelmente forçadamente.
Já eu ainda tentava entender o que estava acontecendo ali.
- Desculpe desapontar, mas o meu nome é Gregory.
- É um prazer, William e Gregory, o meu é Melissa e essa é minha amiga .
Sorri sem graça para os dois que se sentaram ao nosso lado. Realmente não era por aquilo que eu estava esperando. Em meus planos estavam apenas eu, Melissa e algumas cervejas. Mas Mel ainda era Mel.
- Vocês são daqui?
O irmão que estava sentado ao meu lado perguntou para nós duas e Melissa rapidamente respondeu.
- Na verdade somos da Escócia, mas moramos aqui.
- Em Londres mesmo?
Dessa vez o interrogatório passou para o do lado de Melissa.
- Sim.
Respondi rápido. Eles não precisavam saber onde Melissa morava, principalmente com um louco a sua procura.
- Que interessante. Bem, você não me é estranha, .
Que legal, era realmente maravilhoso ouvir aquilo.
- Bem, você provavelmente deve ter me visto algumas vezes na televisão ou revistas. Eu sou tia de Jade , filha de .
- Ah sim, isso mesmo. Eu sou um grande fã dele. É verdade que ele está internado em uma clínica de reabilitação de novo?
- Não, ele... Ele está se tratando em casa, não foi nada grave.
- Vocês não são repórteres, certo?
Melissa perguntou, provavelmente me livrando daquele assunto depressivo.
- Não, nós somos...
- Só um minuto preciso ir ao banheiro, vamos, Melissa.
Interrompi William e arrastei Melissa até o banheiro.
- O que é isso? Eu não estou interessada em homem nenhum, Melissa! Não era para ter aceitado.
- , a única maneira de esquecer é encontrando um outro alguém.
- Não, Melissa, não quero.
- , meu bem, por favor, você está melhor assim. não é a pessoa certa para você. Queria que se mantivesse longe dele e de toda aquela gente esnobe.
- Eu sei que não! Sei que deveria, mas não posso.
Abaixei o tom ao exprimir a última frase. Eu realmente não podia, era o pai de Jade, não era um canalha qualquer que eu encontrei em uma boate.
- Eu não consigo simplesmente esquecê-lo, não é algo assim.
- Oh, , você sabe que eu quero o melhor para você, não sabe?
- Eu sei, mas...
- Apenas se permita a isso, pare de pensar um pouco, e viva. Você precisa disso.
Pensei um pouco no que Melissa falava. Eu realmente precisava viver um pouco e esquecer tudo. Oras, eu tinha vinte e seis anos, eu precisava mesmo me permitir e sentir algumas coisas, além de dor e sofrimento.
- Tudo bem, vamos voltar para lá.
Voltamos para nossos lugares, e pedi perdão pela demora.
Bebemos mais algumas cervejas e conversamos com os dois irmãos que nos acompanhavam. No final da noite, os dois insistiram para pagar a conta, porém não pude permitir algo assim. Eles estavam de carro e então nos levaram até meu apartamento.
- Você mora num lugar ótimo, .
- Obrigada.
Agradeci a William. Eu estava sentada no banco da frente enquanto Melissa e Gregory sentavam-se atrás. Não ousei olhar para os dois, já que não queria saber o que estavam fazendo.
- Enfim, esse é nosso adeus. Mesmo assim vou ligar para marcarmos algo para o próximo fim da semana.
- Tudo bem, foi muito bom conhecer você e seu irmão.
Falei enquanto tirava o cinto. Minha cabeça estava baixa, porém senti sua mão segurar meu queixo a levantando até seu olhar.
- Foi ótimo.
William aproximou o rosto do meu, e eu sabia o que ele estava com a intenção de fazer. Meu coração acelerou e eu não consegui pensar em mais nada, a não ser na imagem de em prantos com a mão esticada enquanto eu saía de seu quarto de hospital.
- Não!
Empurrei seu peito, e ele se afastou, assustado.
- Eu... Eu... Desculpe-me.
Abri a porta do carro assustada e corri em direção à portaria do apartamento. Assim que cheguei lá dentro, vi Melissa vindo em minha direção, esbaforida.
- O que houve?
- Eu não posso, não consigo.
- Por quê? Por que, ?
- Eu amo , não consigo pensar em outro homem.
O desapontamento e pena estavam estampados no olhar de Melissa. E eu era mesmo digna de pena.
Melissa saiu e foi até o carro se despedir dos rapazes enquanto eu ainda estava sentada no sofá da entrada. A recepcionista me observava como se quisesse me ajudar, mas provavelmente não sabia como. Apoiei minha cabeça nas mãos sentindo uma pressão em minha cabeça. Melissa logo estava de volta.
- , amiga, você precisa esquecer o .
Melissa falou se aproximando e sentou-se ao meu lado.
- Você precisa lembrar que acabou. Vocês não podem mais ficar juntos, e você não pode passar o resto da sua vida se lamentando.
- Mas eu não consigo, tá legal?
Falei ríspida, levantando a cabeça. Melissa estava um pouco assustada com minha reação, mas continuou com seu empenho em me ajudar.
- Você precisa sair com outro cara, , precisa se apaixonar por outro alguém. Ou pelo menos fazer sexo.
- Eu não sou você, Melissa! Não faço isso.
- O que você está querendo dizer com isso? Está insinuando alguma coisa?
Melissa se levantou e cruzou os braços em frente ao seu peito.
- Só estou dizendo que me sinto mal, seria como uma traição.
- Oras, , pare de ser hipócrita! Sua relação com iniciou à base de traições. Tanto da sua parte como da dele! E você ainda quer ser a santinha da história?
Melissa mencionava meus defeitos energicamente, quase atraindo atenção para nossa conversa. Minha cabeça doía, e Melissa me irritava com cada palavra que saía de sua boca, apesar de ser apenas a verdade.
- E agora olha pra você? Você está magra, não passou nenhuma maquiagem para sair e está aí criando desculpas para não seguir em frente, quando essa é sua única escolha!
Melissa bufou em uma expressão cansada e se sentou de volta ao meu lado. Eu mantinha a mesma expressão derrotada de antes.
- Me desculpe, tá bem? Eu só quero seu bem. Quero que você possa ser feliz longe de toda essa gente.
Melissa me abraçou e então senti uma enorme vontade de chorar.
- Você deveria sair daqui, reconstruir sua vida. Esquecer tudo isso e ser feliz.
- Eu não posso... Jade... Jade ainda está em tratamento. E não posso tirá-la de , não assim.
Melissa apenas passou a mão em meus cabelos como forma de consolo. Deixei que uma lágrima escorresse pelo meu rosto. Melissa estava certa, eu precisava esquecer . Nós nunca mais ficaríamos juntos e eu estava apenas adiando essa verdade para mim mesma. Mas era a hora de superar. Era hora de apagar de minha vida e principalmente do meu coração.
CAPÍTULO 33 - A Remedy
Jade disse apontando para uma loja de brinquedos. Não importava o que estivéssemos procurando, Jade sempre arrumaria tempo para querer brinquedos.
- Não, Jade, já está ficando escuro e daqui a pouco vai chover. - Mas, mãe! Por favor.
Jade usara a típica voz de pedir por algo. Mas eu não poderia ceder hoje, ainda tínhamos muito a fazer antes do anoitecer.
- Jade, meu amor, precisamos comprar seu vestido. Não podemos parar para comprar outras coisas agora.
- Ai, tá bom.
Jade bufou e se contentou, me fazendo rir.
Continuamos andando por entre lojas e lojas até encontrar o vestido que agradava Jade. Um vestido branco, bordado com pedras em cima e a saia com diversas camadas de tule e flores bordadas na ponta. Atrás havia um enorme laço preto de cetim. Jade ficara semelhante a uma princesa da Disney.
- O que achou?
- Eu adorei! Mas quero uma coroa.
Uma coroa a transformaria realmente em uma princesa. E esse era seu primeiro aniversário em Londres, Jade merecia a festa dos sonhos e era isso que estávamos a proporcionando. A festa seria em um hotel luxuoso de Londres, decorada com o tema de princesas diversas. Jade pedira que o tema fosse My Little Pony, mas já havia sido tema de suas duas últimas festas de aniversário.
Assim que voltamos para casa, Jade quis vestir o vestido novo.
- Meu amor, ele é branco. Você vai acabar sujando.
Jade provavelmente estava ficando irritada com minhas negações, no entanto, fora para o quarto sem bater os pés. Sentei-me no sofá descarregando todo o cansaço de um dia de compras. Eu estava cansada nesses últimos dias pré-festa de Jade. Senti meu celular vibrar e um número desconhecido chamava.
- Alô?
- ?
- Sou eu.
Era uma voz masculina, mas eu realmente não conseguia me lembrar.
- Não está reconhecendo, não é? Sou eu, William.
- Claro, William. Como está?
Fiquei surpresa ao saber quem era. Não imaginava que ele ligaria após meu vexame.
- Estou ótimo. Queria saber se estará livre no final de semana?
- Hm. Desculpe-me, William, mas minha filha estará fazendo aniversário na próxima semana, estou um pouco atarefada.
- Tudo bem, quando tiver um tempo poderíamos sair.
- É claro, é só essa semana mesmo.
- Até mais, .
Permaneci com o celular na orelha ouvindo os bipes que o aparelho fazia após o fim da ligação. Se eu realmente quisesse, eu poderia ir, a verdade é que havia dado uma desculpa, pois não queria encontrá-lo. Não queria o encontrar, pois eu tinha medo, depois de tudo, eu ainda tinha medo de tirar de meu coração.
Após pôr Jade para dormir e tomar um chá quente, deitei em minha cama sentindo todos os meus músculos rígidos doerem até relaxarem. Era tão ruim dormir solitária, era estranho aquele espaço todo faltando na cama.
Só a ideia de uma noite assim poderia causar certa solidão em qualquer um, mas para mim era apenas mais uma noite torturante. Um apanhado de horas gastos em um sono que na realidade não me restauraria, nada poderia me restaurar. E com esses pensamentos, peguei no sono, e com eles ainda presentes, como monstros em baixo da cama, abri meus olhos piscando algumas vezes enquanto ouvia o toque do despertador.
Subíamos pela escada, degrau por degrau enquanto ouvíamos pessoas falando e gesticulando. Aquele lugar era magnífico, mal podia esperar para comemorar o aniversário de Jade naquele local. No entanto, por hora ainda estávamos fazendo os preparativos necessários para a festa.
- Não acha que deveríamos contratar alguém para cuidar de Jade na festa?
- Não se preocupe, Ernest, Jade não é o tipo de criança que exige atenção dobrada, ela ficará bem.
Ernest parecia realmente preocupado com Jade, e comigo também. Ele provavelmente sabia de minha situação com e estava tentando ajudar.
Após longas conversas chatas sobre bolo, doces, bolas e cada detalhe da festa, estavam apenas eu e Ernest na sala, e não pude evitar.
- Ernest, posso te perguntar algo? Não tem nada a ver com isso.
- Sim, claro, .
Ponderei um pouco minhas palavras antes de soltá-las. Depois de alguns segundos criei coragem.
- Você acha que e eu poderemos algum dia ficar juntos? Eu digo, como uma família.
Ernest pareceu pensativo por alguns segundos.
- Conheço há muitos anos, . Ele nunca teve família, não saberia como lidar. Eu e já fomos muito amigos antes disso tudo, e nunca vi ser o tipo de cara familiar, mas também nunca o vi tão rude e afundado como hoje em dia. E não digo só pelas drogas, mas acho que isso é algo que só depende de vocês.
- Fui eu quem terminou tudo com ele, na verdade, nunca tivemos nada. Então não há nada que eu possa fazer. Só queria ver seu ponto de vista masculino.
Ernest esboçou um sorriso simpático enquanto piscava um olho, que realçou seus pés de galinha, que ao contrário do que se possa pensar, o tornavam mais charmoso.
Charmoso. Essa era a palavra para descrever Ernest, talvez misterioso também.
- Sinta-se a vontade.
Foi minha vez de sorrir-lhe, não tão simpática quanto ele, contudo me esforçando ao máximo. Meu sorriso não era muito aberto, meus olhos não eram tão brilhantes, eu não atraía.
Pode-se dizer que eu era a típica mulher "sem sal". Por algum motivo eu não era. Eu nunca havia sido igual aos outros, em assuntos sociais. Se eu estivesse em um filme colegial, eu seria do grupo das mais populares do ensino médio. Seria, pois desde que nasci, as pessoas mais populares, por algum motivo desconhecido, sempre se aproximavam de mim. Sempre, sem exceção.
Um grande exemplo era Melissa. Mas de qualquer forma isso nunca importara em minha vida, pois eu sempre era aquela do grupo que faz o trabalho de todos. Aquela apagada, a única solteira, a única que usava outra cor além de rosa e analisando bem, talvez esse fosse o motivo de tantos contatos populares. Eu nunca fui uma concorrente, nunca intimidei alguém. E era isso que me tornava uma mulher "sem sal".
Mas por algum motivo desconhecido, não era assim aos olhos de .
Jade cantarolava a canção como se fosse a música tema de algum desenho favorito seu e não um dos clássicos da Aretha Franklin emitidos pelas caixas de som presas na parede da sala. Enquanto isso eu movimentava os quadris ao ritmo da música, em frente ao balcão da cozinha cortando uma cenoura em cubinhos.
- Querida, pegue as batatas na geladeira, por favor?
Jade foi até a grande geladeira prata e me entregou um saco de batatas frescas para a sopa.
- Mãe, você não vai colocar aquele negócio verde que eu não gosto não, né?
- Pimentão? Eu deveria, mas não vou só pelo seu aniversário.
Jade vibrou como se tivesse vencido alguma coisa. Ela ainda estava com o curativo no braço, que fora colocado na última coleta de sangue, um dia anterior.
- Você não vai tirar isso, não é?
Apontei a faca para o local e depois percebi que não foi muito prudente apontar uma faca para ela. Jade apenas franziu a testa.
- Tá doendo, e isso puxa minha pele na hora de tirar.
- Tudo bem, mas até semana que vem quando voltarmos lá, você precisar tirá-lo, viu?
Soltamos uma risada que durou pouco. Logo voltei a cortar os legumes e Jade a desenhar o quer que esteja desenhando.
- Jade, eu estive pensando... Acho que agora que já nos acostumamos com toda a mudança e as idas ao médico diminuíram, você pode voltar a estudar, ou até mesmo ter um professor particular. Que tal?
- Ai, mãe! Mas se está tudo bem, pra que eu vou estudar? Quando eu melhorar, eu volto.
Ri de seu raciocínio lógico que visava seu interesse em não estudar. Eu não poderia contar com o transplante para voltar a levar uma vida normal. Poderia levar anos até aparecer um doador, e eu tinha certeza de que Jade não gostaria de estar se formando com mais de vinte anos.
- Nada disso, mocinha. Eu ainda vou resolver qual das duas opções é a melhor, mas esse ano você vai voltar a estudar.
Jade apenas revirou os olhos. Percebi que o som havia parado de tocar, e fui até a sala colocar outro CD.
Enquanto revirava a caixa de CDs à procura de algo que nos agradasse, ouvi a campainha tocar. Já estava escurecendo, então eu não fazia ideia de quem poderia ser. Abri a porta com a surpresa de encontrar Joseph, chofer de Alexis.
- Pois não?
- Oi, senhorita . A senhorita Alexis me enviou aqui, pois o senhor queria que Jade passasse a noite lá, já que amanhã cedo ela fará as fotos para a festa.
- Alexis não me disse nada, e as fotos estavam marcadas para de tarde...
- Bem, são ordens dela. Parece que tiveram que mudar o horário para mais cedo.
- Tá bem, ligarei para ela.
- Tudo bem, estarei lá em baixo.
Fechei a porta confusa. Por que Alexis mandaria o carro direto, antes de me contatar? Peguei o celular no bolso e busquei seu nome na agenda para ligar.
- .
- Alexis, qual é o horário das fotos amanhã?
- Oito e meia, querida.
- Não era à tarde?
- Joseph ainda não chegou aí? Tivemos que mudar para mais cedo.
Irritei-me um pouco com aquilo. Como ela tinha a audácia de mudar o horário das fotos da minha filha?
- Tá bom, Alexis. Mas assim que acabar traga-a direto para cá. Temos muitas coisas para fazer amanhã.
- Para onde mais eu a levaria? É claro.
Desliguei e guardei o aparelho. Fui até a cozinha, aonde Jade ainda se mantinha concentrada desenhando.
- Mudança de planos. Vá se arrumar, você vai dormir no seu pai. As fotos vão ser de manhã.
Jade parecia um pouco desanimada agora. Desceu lentamente da cadeira e foi para seu quarto, eu a seguia.
Arrumamos algumas roupas para as fotos e para Jade se trocar dentro de uma mochila grande, o mais rápido que conseguimos. Descemos e Joseph já nos esperava com a porta aberta.
- Até mais, querida. Tire fotos lindas, e se comporte.
- Tá bom, mamãe, tá bom.
Dei um beijo em sua bochecha rosada e um abraço, antes que ela entrasse no carro. Subi de volta para meu apartamento lentamente. Agora que Jade não estava, não teria tantos motivos para fazer uma sopa para nós duas.
Fui até a cozinha e guardei os ingredientes para outro dia. Sentei-me no sofá, cansada, de mais um dia estressante. Jade fazia falta quando ia para casa de . Se eu já me sentia solitária com a presença dela, sem ela era como se só existisse a mim, em todo o mundo. E isso, olhando de uma percepção negativa, não era legal.
Liguei a televisão para ver alguma coisa estúpida que estivesse passando por algum canal. Isso entraria na minha lista de coisas que me faziam uma mulher "sem sal". Não ter paciência para ver televisão. Sempre as mesmas histórias, os mesmos realitys shows, os mesmos talk shows, as mesmas celebridades.
Em minha opinião a pior coisa já criada para o meio do entretenimento eram canais de fofocas de celebridades. Até porque convenhamos, são programas que tem o objetivo de flagrar as celebridades fazendo coisas de humanos. E então eles retratam aquilo como algo ruim, ou bom demais.
'Paul Mcartney foi visto com a cueca aparecendo.'
'Chris Martin jogou o papel de bala no lixo, e não no chão.'
' tem uma filha.'
Humanos apenas. Todos humanos como qualquer outro, querendo ter uma vida normal e sendo impedidos por pessoas que sustentam suas vidas às custas do que os artistas fazem. Patético.
Acordei de minhas reflexões e percebi que não tinha mesmo, nada para ver na televisão. Fui até meu quarto procurar alguns DVD's de filmes antigos.
- Droga! Esqueci os remédios.
Murmurei para mim ao reparar a caixa de remédios de Jade em cima de meu criado mudo. Peguei o celular para ligar novamente para Alexis, apesar de não ser muito agradável ter que ouvi-la mais de uma vez no dia. Apenas apertei o número que já estava nas últimas ligações e no primeiro toque, caiu na caixa postal. Fiz algumas tentativas, mas percebi que o celular não estaria disponível nem tão cedo.
Suspirei, pois sabia que só me restaria uma opção. Infelizmente era uma emergência, eu não poderia arriscar a saúde de Jade por orgulho meu e de , mas bem, ele não sabia disso.
Olhei novamente para o visor do celular, respirei fundo algumas vezes e então apertei para chamar o número intitulado com seu nome. Alguns bipes de chamadas e então caixa postal.
Ele não atenderia. Ele não cederia. Não de novo.
Tentei ligar mais uma vez contrariando meus instintos e mesmo sabendo que ele não queria atender. Dessa vez só deu caixa postal. Tentei então ligar para o telefone residencial, mesmo sabendo que tinha reconhecedor de chamadas. Nada.
Eu o conhecia, não o julgaria por aquela atitude. Mas lá no fundo, no fundo eu queria pelo menos ouvir sua voz. Mesmo que fosse para me chamar dos nomes ruins que ele quisesse, ele já havia feito isso antes.
No entanto, eu tinha que levar aqueles remédios e só tinha um jeito, a não ser indo até lá. E assim o fiz.
- .
Falei alto perto do interfone no grande portão de entrada da mansão . A noite estava congelante, principalmente porque sua casa ficava no meio de uma floresta.
Provavelmente não sabia que eu estava ali, já que quem quer que fosse que me atendeu abriu os portões. Esperei até que os portões se abrissem, e entrei pelo caminho de pedras e grama verde escuro até estacionar o carro. Caminhei até a entrada, esfregando as mãos. Eu havia esquecido as luvas. Continuei andando até chegar à grande casa. Entrei pela porta da frente e não vi nenhum sinal de ninguém. Fui até a cozinha e perguntei por Alexis.
- Não está, querida, já saiu faz tempo.
Eu nunca imaginei que iria preferir encontrar Alexis a , e isso era tudo o que eu implorava internamente.
Voltei à sala e percebi que não tinha nenhuma voz ativa para implorar algo. descia as escadas e justamente seus olhos encontraram os meus. Seus cabelos estavam jogados para trás abaixo de uma touca cinza e ele vestia uma camisa branca de manga longa que fazia par com calças pretas justas.
- Eu só vou deixar o remédio de Jade aqui, eu me esqueci de mandar na hora em que ela veio. Já estou saindo.
Apressei-me em dizer antes mesmo de descer as escadas. Quase joguei a caixa de medicamentos em cima da mesa perto da poltrona e corri em direção à porta.
- Você está usando drogas? Está chapada?
Parei na porta de vidro e antes de abri-la me virei lentamente para um de braços cruzados ao fim da escada.
- É claro que não, do que você está falando?
- Do que você está falando?
frisou a palavra 'você' e continuou no mesmo lugar de antes, com a mesma distância e expressão seca. Ele estava especialmente bonito de touca e uma camisa clara.
- Não queria nem te encontrar, só vim trazer o remédio de Jade. Foi isso que quis dizer, que não precisava me expulsar ou algo do tipo.
franziu a testa e coçou o queixo. Ainda mantinha um braço que cruzava até o outro.
- Não faz sentido, Jade nem está aqui. Foi isso que eu quis dizer com a minha pergunta.
- Como?
Passei a mão sobre os lábios assustada. Senti minhas pernas tremerem um pouco só com a hipótese de algo ruim. Mas talvez fosse só a falta de atenção de .
- Jade não está comigo. Ela veio para cá. Você mandou um carro buscá-la, pois o horário das fotos mudou para a manhã.
Continuei, ainda esperando que ela surgisse por ali. pareceu se preocupar.
- Tenho certeza que não fui eu, e os horários não mudaram.
Alexis! Céus! Assim que pude raciocinar sobre os fatos me ligando, percebi que tudo fora algum plano de Alexis. Mas para quê?
Ela me prometera. Ela não seria capaz... Seria?
Em instantes meu fôlego se perdera, e tudo o que se passava em minha mente eram imagens de um pequeno caixão que me assombravam por tanto tempo. Senti que ia desabar.
- Alexis! Alexis... Alexis quer...
- Do que está falando, ? Droga! Está me assustando.
Senti minhas pernas vacilarem. Tudo começou a ficar escuro e passei a procurar o chão que fugia de meus pés. Em questão de segundos senti os braços de me sustentarem. Eu estava fraca demais, eu tentava falar, mas minha boca somente abria. falava algo e estava bravo me segurando em seus braços, mas eu não conseguia entendê-lo.
Senti que estava morrendo, talvez estivesse mesmo. Talvez fosse o melhor para todos.
Alguns minutos depois abri meus olhos devagar e encarei o lustre de cristais da sala de estar de . Levantei o tronco rápido e senti minha cabeça latejar. aparecia vindo da cozinha segurando um copo de água vindo em minha direção.
- Se eu soubesse que seus desmaios demoram só um minuto te deixaria no chão.
- Não temos tempo para isso, idiota, você não entendeu. Jade corre perigo.
Disse me levantando, cambaleante, e tirando o copo de suas mãos. Finalmente me senti melhor e apta para sair à procura de Alexis e Jade.
- O que quer dizer?
- No caminho eu te digo, mas só precisamos achar Alexis. Eu tenho certeza que estão juntas.
Eu realmente deveria ter vindo de luva. Minhas mãos estavam suadas e eu apertava meus dedos e respirava pesadamente. Desde que entramos no carro, e eu não havíamos dito sequer uma palavra.
- Como pretende achá-la?
corria, em velocidade acima do permitido nas placas.
- Pelo gps do carro. Estão todos conectados. Agora pode me explicar o motivo de Alexis ser perigosa para Jade?
Olhei para a janela de seu luxuoso Zenvo prata. Eu precisava contar-lhe a verdade. Contar o quanto Alexis era psicopata, e que ela fora o motivo de tudo entre nós. Ela não poderia mais me fazer mal, afinal, ela já estava o fazendo naquele momento.
- , Alexis vem me chantageando faz um tempo. Mas não com dinheiro, ou coisas do tipo.
Ele se mantinha atento à pista e ao gps que mostrava algum lugar que eu não fazia ideia de onde era.
- E eu tive que ceder. Tive que fazer isso, não tive escolha. Por que ela ameaçou que iria matar Jade, iria matar Jade se... Se eu fizesse algum contato com você.
apenas estreitou os olhos e parecia procurar algo em sua mente. Provavelmente estava ligando os fatos. Seu silêncio estava me destruindo internamente. Mas suas mãos apertadas ao volante me causavam certo receio.
- Está dizendo que tudo foi culpa de Alexis?
Finalmente olhou para mim. Ele estava magoado.
- Está dizendo que por nossa culpa Alexis pode estar tentando matar Jade nesse exato momento?
Arregalei meus olhos ao ouvir suas palavras tão duras, mas que não deixavam de ser a mais pura verdade. Tudo estava um caos, sim. Alexis estava louca, Jade estava em perigo, eu estava em cacos, no fundo do poço. Mas no fim de tudo, tudo era nossa e única culpa.
Senti meus olhos arderem ao entender a realidade de que Jade poderia morrer. Poderia morrer nas mãos de Alexis, ou então pela doença. Ela estava sujeita àquilo, mas eu não via a realidade como algo que poderia mesmo acontecer. Sempre achamos que essas coisas nunca vão acontecer com a gente, mas elas aconteciam, estavam acontecendo.
- Que merda, ! Que merda!
socou o volante.
- Por que foi me ver então? Por que colocou a vida dela em risco?
Eu estava com o rosto apoiado no porta-luvas e não me importava de molhar aquele carro com minhas lágrimas. Virei o rosto para e ele também tinha algumas que faziam seus olhos brilhar.
- Você sofreu uma overdose, . Minha culpa, eu sabia que era minha culpa. Eu só...
Não consegui terminar a frase. Levei as mãos ao rosto para abafar os sons que insistiam em sair de minha garganta sem o mínimo esforço. Eu era tão fraca. Sempre chorando, sempre fazendo o papel de coitada. Nunca queria levar a culpa por nada. Patética.
Depois de alguns minutos de silêncio e soluços, pegou o celular e o pôs junto a sua orelha. Observei seu ato quieta.
- Eu quero prestar queixar de sequestro. Sim. Eu estou indo para o local, quando eu chegar para onde eu ligo? ... Tudo bem, obrigado.
desligou e jogou o celular pelo carro.
- Como sabe que vai encontrá-la? E se ela não estiver lá?
- Apenas fique quieta, por favor, . Você já contribuiu bastante para isso.
Assenti e fiquei quieta novamente. Não era fácil lidar com tudo aquilo na minha cabeça de uma vez. parou o carro em uma espécie de parque natural vazio. Tiramos o cinto e saímos do carro depressa.
- É aqui que estava indicando. Precisamos pensar aonde ela poderia estar.
- Vamos nos separar e então cada um vai por um caminho.
- Ótimo, vou ligando para a polícia.
Era uma boa estratégia, afinal, o lugar era em círculo e não era muito grande. Mas estava tão frio.
Eu estava agindo provavelmente graças à adrenalina, já que minhas forças já haviam se esgotado. Peguei meu celular e enquanto mantinha uma mão no bolso do casaco com a outra iluminei parte do parque que não era lá muito iluminado.
- Ela não está aqui.
Senti-me totalmente impotente ao imaginar que aquele seria um lugar muito improvável para Alexis trazer Jade e matá-la.
Estávamos apenas perdendo tempo e era minha culpa. Tudo sempre fora minha culpa. Tropecei em um amontoado de galhos e quase caí. Patética.
Patética. Patética. Patética. Patética.
- Patética! Patética! Você é Patética!
Gritei em meio aos soluços e lágrimas. Meu fôlego era nulo. Eu estava correndo, chorando e gritando ao mesmo tempo. Estava desfalecendo. Agachei no chão por um momento e deixei minha cabeça cair.
- Jade, onde você está?
Murmurei e levantei voltando a correr. Eu precisava encontrá-la, precisava salvá-la. Se ela não estivesse ali, estaria em outro lugar e eu tinha que achar. E então corri, corri, corri. Até que vi um carro. Era o carro de Alexis. Sorri.
A esperança era algo engraçado. Tudo poderia estar uma tragédia, e realmente não ter jeito. Mas assim que você cria uma gota de esperança, parece que tudo ainda tem solução. E por pior que parecesse, por pior que fosse a cena que eu encontraria eu continuei correndo em direção aquele lugar esperando ver Jade viva. E agora eu corria muito mais rápido do que antes. Agora sim eu estava agindo graças à adrenalina.
Assim que cheguei perto diminui o passo e vi Alexis, sentada de costas no chão. O chão estava todo esburacado, como se ela tivesse tentado cavar um buraco, mas não havia tido força o suficiente para fazê-lo. Alexis estava suja de terra, e assim que tive uma visão melhor naquela escuridão, vi o corpo de Jade estirado em sua frente. Levei uma mão até a boca na tentativa de abafar meu grito que chamou sua atenção.
- NÃOOOOO! O QUÊ? O QUE VOCÊ FEZ?
Gritei indo em direção a ela como um animal. Alexis se levantou e não pensei em outra coisa a não ser ir até o corpo de Jade.
- JADE! JADE! FILHA!
- Ela não pode te ouvir.
Coloquei a mão em seu peito e pude sentir seu coração bater. Aquilo foi tudo o que eu precisava para levantar e atacar Alexis.
- EU VOU TE MATAR! O QUE FEZ COM ELA?
Gritei segurando seu pescoço enquanto Alexis usava as mãos para tentar se livrar de meu aperto.
- FALA! SUA LOUCa! EU VOU TE MATAR!
Alexis não falava nada apenas tentava não me deixar sufocá-la. Eu tremia da cabeça aos pés. Eu poderia realmente matar Alexis naquele momento, ainda estava sob efeito da adrenalina.
- Solte ela.
Ouvi a voz de e num impulso soltei o pescoço de Alexis que sem pestanejar correu para longe de nós.
se aproximou depressa e abraçou a filha. Olhei para minhas mãos, e para o corpo pequeno de Jade. Por um momento, pensar em ver seu corpo sem vida me fez agir como louca. Eu a amava mais do que tudo e seria capaz de matar, por Jade. Andei até os dois e cai de joelhos como um atleta exausto no fim da maratona.
- Me perdoe.
Falei enquanto acariciava as bochechas de Jade, adormecida. O silêncio daquele parque deserto e quase sede de um homicídio hediondo, foi tomado por sirenes da policia britânica. Em um ato sem intenção, e eu levantamos nossos olhares até se encontrarem. E tudo o que nossos olhares diziam naquele momento era: Alívio.
CAPÍTULO 34 - Burials and Kisses
- Sei que café de hospital é ruim, mas...
Entregou-me o copo e se sentou na poltrona do outro lado da cama.
- Como você está?
Perguntei sem olhá-lo.
- Já estive melhor com certeza.
Voltamos ao silêncio. ainda vestia as mesmas roupas que usava quando saímos de casa em busca de Jade. Nós vestíamos as mesmas roupas, na verdade. Os dois levaram a atenção à porta que se abria e dois oficiais bem trajados da polícia entraram no quarto.
- Temos algumas notícias.
Tanto como eu nos levantamos e fomos até os dois homens à nossa espera.
- A suspeita está foragida, nenhum sinal dela pelas redondezas até o momento. Mas há algo sobre aquele local que ficarão interessados em saber.
O outro segurava uma folha e interrompeu o colega.
- Aquele lugar já fora local de um crime. Há muitos anos atrás, mais precisamente quando Alexis tinha oito anos. A própria, fora encontrada enterrada no mesmo local somente com a cabeça para fora. Ela passou a noite inteira ali. Ninguém sabe quem cometeu o crime, e ela afirmava, na época, que não sabia quem era. Quando abrimos sua ficha, encontramos o caso aberto.
- Curiosamente, ela estava tentando fazer com sua filha, Sr. , o que fora feito com ela na infância.
Eu não sabia o que pensar. Nunca iria imaginar Alexis em uma situação como aquela.
parecia incomodado com a notícia.
- Entraremos em contato assim que tivermos mais informações.
Os dois nos cumprimentaram e saíram pela porta. Eu e permanecemos no mesmo lugar. Estávamos um pouco chocados.
- Você sabia?
- Ela nunca contou nada do passado. Não conversávamos sobre essas coisas .
falou cruzando os braços. Olhei para Jade e vi Alexis na mesma situação. Alexis era louca.
Alexis's Pov.
Segurava o celular firmemente tentando não vacilar na voz com o movimento do ônibus.
- Oi, Alexis.
- Oi.
Por um momento tudo ficou branco em minha mente. Segurei no banco da frente tentando me manter firme.
- Estou ligando para me despedir.
- Como assim?
- Ainda não está sabendo o que eu fiz?
- Não. Qual foi a merda que fez agora, Alexis?
Sua voz ficara ríspida ao falar meu nome. Senti meu coração, pulmão e estômago arderem.
- Tentei matar Jade. A polícia está atrás de mim. Estou indo embora.
- Não moverei uma palha por você. Eu te avisei.
- Eu sei. Estou indo embora, vou ter meu filho em paz.
Houve um silêncio do outro lado da linha, e quando eu estava pronta para chamar seu nome, ele se pronunciou.
- Alexis, você não está grávida.
- Não ouse...
Senti lágrimas escorrerem por meu rosto instantaneamente. As pessoas viviam me dizendo aquilo. Sempre tentavam me convencer do contrário. Mas eu, e somente eu, sabia o que acontecia dentro de mim.
- Aonde pretende ir, afinal?
- Não sei. Mas só quero estar longe de tudo, dos seus planos. Estou cansada.
- Você precisa de ajuda, Alexis.
- Adeus.
Desliguei o celular ainda sentindo vontade de ouvir sua voz. Queria ouvir a voz de também. Queria ouvir a voz de meu pai. Queria que meu filho tivesse uma família, o que nunca tive. Pousei minha mão sobre a barriga e olhei para a janela que mostrava uma Londres molhada. Encostei minha cabeça na mesma e fechei os olhos.
Flashback 17 anos atrás...
- Acorde. Alexis, acorde!
Abri os olhos sonolenta, e assustada, com a luz da lanterna de meu pai.
- O que é, papai?
- Quem é aquele homem na minha cama?
- Que homem, papai?
Meu pai segurou firme em meu braço e me levou até o quarto aonde ele e minha mãe dormiam, quando ele não estava viajando a trabalho. Abri a porta devagar e por uma fresta vi minha mãe dormindo e havia um homem ao seu lado. Eu nunca o vira. Mas mamãe parecia dormir mais feliz do que nas noites em que dormia sozinha.
- Quem é?
- Não sei, papai. Posso voltar pra cama?
Ainda me arrastando pelo braço meu pai me conduzia escada abaixo. Perto da nossa tradicional e enorme árvore de natal havia algumas malas que ele provavelmente deixara ali ao chegar mais cedo para o natal.
Chegamos até a garagem e meu pai me pôs em sua picape. Sentei no banco de trás e analisava minha camisola de ursinhos enquanto meu pai colocava algumas coisas que faziam muito barulho na parte de trás do carro.
Sem dizer uma palavra meu pai entrou e deu partida.
Eu estava com tanto sono que em alguns segundos andando na estrada eu já estava dormindo. Eu sempre dormia quando estava no carro.
- Venha!
Meu pai gritou me acordando num susto. Ele me pegou no colo e me colocou no chão. Estávamos em um parque meio abandonado. Estava tão frio, que eu tremia o queixo enquanto esfregava as mãos nos braços tentando aquecê-los.
Aquele lugar era escuro e não havia casas por perto, mas havia um banco de madeira velho por perto. Sentei-me ali enquanto meu pai pegou uma pá e começou a cavar um buraco na grama verde escuro.
- Por que estamos aqui, papai?
Meu pai não respondeu. Ele começou a urrar conforme introduzia a pá no solo úmido.
- Vagabundas!
Ele gritava alto diversas vezes. Olhei em volta com medo de alguém estar ouvindo. Eu imaginava se Courtney ou Rita vissem meu pai gritando feito louco ali, iriam rir de mim até o fim do período escolar.
- Alexis, venha aqui!
Meu pai gritou por último e fui até ele. Havia um enorme buraco cavado na horizontal, como um túmulo.
- O que é isso, papai? Está tudo bem?
Meu pai limpou o rosto sujo de terra com a mão suja de terra, o que não fizera sentido para mim.
- Você deveria ter tomado conta da sua mãe. Deveria cuidar da casa enquanto eu estava fora, Alexis.
Eu não sabia o que responder. Será que ele estava falando dos brinquedos que deixei atrás do sofá?
- Você infelizmente terá que pagar. Terá que ser castigada. Vai ser castigada por ter deixado sua mãe me trair.
Papai disse sério. Senti meu corpo, já gelado, gelar ainda mais. Papai nunca me dera castigo algum, mas se eu havia feito algo de errado, deveria obedecer.
- Tá bem, pai. Mas vamos para casa, estou com frio.
Meu pai acenou a cabeça negativamente.
- Seu castigo é aqui.
Assim que ouvi suas palavras, senti uma pancada forte na cabeça e antes de apagar vi o rosto de papai com lágrimas.
's Pov.
Jade assoprou as velas com vontade. Todos em volta aplaudiram seu entusiasmo.
Apesar da festa cheia de pompa ter sido cancelada por motivos maiores, Jade usava sua roupa especial de princesa.
Naquela mesa só havia pessoas que deveriam estar ali. De última hora resolvemos trazer as amigas de Jade da Escócia para vir celebrar junto. Ela estava mais feliz do que nunca e parecia que tudo o que vivenciou há alguns dias não passava de um pesadelo, apesar de Jade não se lembrar de nada.
- Só lembro quando no carro a tia Alexis me deu suco e depois eu dormi.
Disse ela, ao ser questionada. Seu rosto estava em vários jornais e os paparicos não poderiam ser maiores. Mas no fim todos estavam preocupados.
e eu ainda não havíamos conversado sobre nós. Apenas ficávamos juntos para resolver todo o processo jurídico e do aniversário, mas era como se aquela barreira entre nós tivesse sido quebrada, pelo menos.
- Você fez um pedido?
Disse Naleigh ansiosa ao lado de Jade.
- Fiz, mas não vou contar.
De imediato, todos começaram a cantar no famoso ritmo: 'conta, conta, conta'.
- Pedi que minha família fique unida.
As crianças debocharam do pedido de Jade, já os envolvidos ficaram quietos. Eu apenas abaixei a cabeça sem graça. estava quieto. Talvez nunca tenha ido a uma festa infantil, talvez estivesse apenas cansado. Parecia longe.
O clímax da festa seria uma noite de meninas na casa de . Por mais que parecesse fora do comum, cedera a casa para uma festa do pijama. Nada mais justo, depois de sua noiva louca tentar matar Jade.
- Assim que ela for embora, me avise antes. Posso estar na rua.
Disse enquanto saíamos da cozinha.
- Tudo bem, eu aviso.
disse com os braços para trás se balançando um pouco. Parecia um adolescente.
- Deixei os horários e os remédios em ordem, a force se ela não quiser tomar, .
- Certo.
- Me ligue se acontecer algo.
- Claro.
Revirei os olhos e bufei. Não acreditava no que iria dizer a seguir.
- Só vai ficar falando isso? Quando vamos resolver nossa situação?
riu e levou uma mão em punho até a boca como se fosse tossir.
- Nossa situação?
Levantei uma sobrancelha indignada com o modo irritante e infantil que estava agindo.
- Oras, você sabe do que estou falando. Não temos mais Alexis no caminho.
- Pois é, não temos.
ainda ria. Estava me sentindo uma idiota ali. era bem mais alto que eu e isso só me diminuía mais.
- , estou indo.
Falei me virando, e segurou meu braço. Olhei para ele séria. Aquilo estava começando a me irritar. ainda se divertia com minha idiotice.
- Não terminamos.
- Então fala alguma coisa. Você está agindo como um idiota.
balançou a cabeça em negativo, rindo, com os olhos fechados; coçou a cabeça.
- Tanto tempo comigo, , e não sabe que eu sou idiota?
- Disso eu tenho certeza agora.
Alfinetei. segurou meus dois braços. Ele ria, e como ria. Não fazia mais som, mas às vezes se movimentava. me empurrou contra o batente da porta da cozinha vazia, e chegou tão perto que fiquei reparando os detalhes que senti tanta falta. Eu senti falta de seu perfume, seu sinal em relevo abaixo do canto esquerdo dos lábios, seus lábios nem tão finos nem tão grossos vermelhos e um pouco para fora, sua sobrancelha masculina, seu cabelo bagunçado que cheirava a maçã. E seus olhos, ah seus olhos eram minha perdição. Sua íris que mesclava os tons das cores me faziam suspirar sempre que aquele par de olhos encontrava os meus.
surpirou aliviado. Ele parecia tão aliviado ali. Eu estava também.
E então ele sorriu e fechou os olhos. Eu sorri também, mas meu sorriso não era mágico como o dele.
Suas covinhas apareceram. Eu senti falta delas também. E então as beijei. Beijei uma de cada lado. Beijei sua testa, bem entre as sobrancelhas, beijei suas pálpebras que cobriam a parte mais irresistível de seu corpo.
ainda segurava meus braços rentes a parede, e não parecia que iria soltá-los. Mas eu não precisava deles naquele momento. Beijei seu pescoço, e beijei a ponta de seu nariz o fazendo rir de olhos fechados.
Parei para observá-lo. Ele parecia outra pessoa. Parecíamos. Não me lembrava nada daquele furioso, que acreditava que não poderia ser amado. Ele era amado. Tão amado, tão amado. Ele abriu os olhos e corei um pouco por ser pega o observando tão abobalhada.
- Acabou?
disse baixo. Eu não disse nada, não me movi.
- Minha vez.
Sua fala fazia com que seu hálito convidativo batesse em meu rosto. Fazia-me querer mais e mais.
sorria e eu também. tocou meus lábios tão delicadamente que não sabia dizer se ele estava tentando ir devagar, ou com medo de me machucar. Mas era bom. Eu senti falta de seu beijo como se fosse água. Mas aquele beijo era tão calmo que parecia novo. Parecia que estávamos nos conhecendo agora. Que acabara de me deixar na porta de casa depois de um encontro.
estava tentando não me machucar. Estávamos feridos, como soldados que acabaram de chegar de uma guerra. Era tudo muito novo. Estávamos nos beijando sem pressa, sem medo, sem pensar em sexo. Era aquele beijo, o beijo sem sexo que ás vezes me dava. Era um beijo puro. Mas sua língua se movia devagar reconhecendo a minha. segurou meu rosto. Com os braços livres, os pousei em seu pescoço.
Sua nuca, como senti saudade de sua nuca. Eu estava de volta à vida. Depois de estarmos satisfeitos com o primeiro beijo, deixamos os lábios livres ao mesmo tempo.
- Me perdoe. Por favor, diga que me perdoa.
riu movendo os lábios que ainda tocavam os meus.
- Você não fez nada.
- Fiz. E eu sinto muito, eu...
- Ei, você acha que eu preferia que você tivesse colocado a vida de Jade em risco?
Balancei a cabeça dizendo não.
- Apesar de você ter posto tudo a perder depois, mas você é um pouco impulsiva mesmo.
- Idiota.
Soltei contra seus lábios, rindo, e dei um soquinho de leve em seu ombro. Estava me sentindo tão leve.
- Mas agora está tudo bem. Não temos mais com o que nos preocupar.
Balancei a cabeça de novo.
levou os lábios até os meus. Dessa vez ele não estava sendo nem um pouco delicado, estava faminto.
Suas mãos não estavam paradas em um só lugar. Elas desciam até minha cintura, meus quadris. Apertavam meus glúteos.
Seu beijo apressado e a pressão que fazia em meu corpo indicava que aquele era um beijo pré sexo. E sexo era uma das coisas que foram acrescentadas na lista de coisas que senti falta.
levantou uma perna minha até seus quadris. Ele apertava firme minha coxa, e mantinha o mesmo ritmo no beijo. Eu não ficava atrás, também agarrava seus cabelos e às vezes os bagunçava.
beijava meu pescoço também, e passava as mãos apressadas por dentro de minha camiseta fina.
- Droga, como senti falta...
falou sem fôlego enquanto subia as mãos e tirava minha camiseta. Notei que eu já estava de sutiã na cozinha enquanto beijava com vontade meu pescoço me fazendo fechar os olhos. Mas havia um quarto acima cheio de crianças.
- . Vamos. Quarto.
Falei pausadamente. buscou minha boca de volta sorrindo. Segurou minhas duas pernas e as ergueu em seus quadris. Subimos as escadas sem olhar. Ás vezes batia em algum lugar, ou esquecia de andar. Mas o importante é que chegamos ao quarto sem sermos flagrados. E aquele beijo, bom aquele beijo com certeza significava sexo, e mais de uma vez.
CAPÍTULO 35 – Sweet dreams
Havia tempos que eu não dormia bem, ou acordava bem. Não era outro dia qualquer em minha vida medíocre, era um bom dia, um ótimo dia. Abri meus braços sorrindo com os olhos fechados. Céus, como aquela cama era macia. Um barulho estranho saiu de minha garganta quando me espreguicei e ri.
já havia levantado, não estava ali, mas seu cheiro rondava o quarto inteiro. Eu sabia que ele não havia levantado por ter que ir para casa depois de apenas alguns amassos em meu colchão frio. Eu sabia que ele não iria a lugar algum, que ele passara a noite ali ao meu lado porque quis, e queria passar mais noites. Eu sabia que Jade estava no outro quarto bem e feliz. Era como se tudo estivesse em equilíbrio. Um equilíbrio que eu nem sabia que necessitava para viver.
Sentei-me na cama e agarrei um travesseiro de . Enfiei meu rosto ali, respirando fundo. Havia uma fresta na cortina que deixava um raio de Sol escapar para dentro do quarto. Apesar do Sol, ainda fazia frio naquela manhã e eu usava apenas calcinha. Mas isso era a única coisa incomoda naquele momento, o qual eu me sentia finalmente leve.
Vesti um hobbie de que ficava pendurado em um gancho perto da cama. Fui até seu banheiro e percebi que nunca havia entrado no banheiro de antes. Era tudo preto.
O chão e as paredes de mármore negro brilhavam que quase me cegavam. A banheira era um modelo antigo, talvez feita sob encomenda, pois também era preta. Havia no teto um lustre que parecia uma água-viva de cristais, era a única coisa clara ali, além do espelho. Abri uma gaveta embaixo da pia à procura de pasta de dente e comecei a revirá-la.
Achei duas camisinhas fechadas, vários refis de barbeador e uns anéis masculinos.
- É isso que homens guardam em seus banheiros?
Falei para mim mesma. Depois de mais uma busca achei a pasta de dentes em uma prateleira acima da banheira, o que não era muito higiênico, já que dividia o local com uma esponja de fibras úmida.
Senti-me limpa e cheirosa. Eu havia usado até um perfume que julguei ser de Alexis, já que era rosa e o frasco tinha formato de maçã. Depois de espirrar o líquido, me perguntei se perceberia e acharia aquilo estranho.
Coloquei a mesma roupa que havia usado na noite anterior. Pensei seriamente em vasculhar as roupas de e vestir uma camisa preta sua e andar por aí apenas usando isso, mas era adolescente demais para mim. Talvez audacioso demais, íntimo demais. Por isso, aqui estava eu usando roupa de festa, de manhã.
Fui até o quarto de Jade para checar. Abri a porta bem devagar, e todas dormiam como se fossem pedras. Fechei com o mesmo cuidado para não acordá-las e desci procurando por . Fui até a cozinha, até o jardim, à biblioteca e nada.
Por fim fui até aonde esperava quase que certamente encontrá-lo. Seu salão de tiro ao alvo.
I don't wanna go another day
So I'm telling you exactly what is on my mind
Seems like everybody is breaking up
Throwing their love away
But I know I got a good thing right here
That's why I say, hey!
(Não quero esperar outro dia
Então estou te dizendo exatamente o que está na minha mente
Parece que todos estão se separando
Jogando seu o amor fora
Mas sei que tenho uma coisa boa bem aqui
E é por isso que eu digo, Hey!)
Passei por todas aquelas armas atrás de vidros e entrei na sala avistando .
Ele usava óculos de proteção e protetores auditivos. Estava com uma calça de moletom cinza e uma camisa branca com a frase: " Você precisa tirar o leite de uma vaca se quiser chocolate quente ".
- Comprei há alguns meses e nunca pratiquei.
falou notando minha presença ali. Eu parecia estar em outro universo e então ele havia me trazido de volta. Franzi a testa sem entender do que ele falava.
- A besta*. Eu comprei faz um tempo, e uau! Ela é incrível.
Falou empolgado, depois mirou no alvo longe e acertou a cor azul. Sorri ao vê-lo feliz como se fosse uma criança com seu brinquedo novo. Cheguei mais perto e fiquei o observando atirar as flechas de aço em arcos diferentes. O barulho não era tão incômodo como era com armas de fogo, por isso não me fez falta o protetor no ouvido.
mordia os lábios assim que mirava, e quando atirava os soltava. Fazia isso como um ritual.
- Me deixa tentar.
riu e tirou os óculos.
- Sério?
- Parece que você está em um parque de diversões. Quero ver qual é a sensação.
riu de novo.
- Não vai sentir nenhuma diferença. Nenhum prazer.
Dei de ombros mesmo assim. Coloquei os equipamentos e se pôs atrás de mim. Segurou minhas mãos e fiquei com vontade de me virar e agarrá-lo, mas seria muito ridículo e desesperado. Não tínhamos mais pressa.
posicionou minhas mãos nos pontos certos da arma, e praticamente arcou com o peso do objeto.
- Certo. Você só precisa pôr seu campo de visão bem aqui.
Ele arrumou então a minha cabeça. Confesso que me senti poderosa olhando por aquele visor.
- Agora tudo que tem a fazer é puxar com força o gatilho.
soltou minhas mãos devagar e tive que manter a arma no lugar que ele deixou, mas sendo totalmente falha. Assim que não o senti me sustentar, minhas mãos começaram a tremer. Mas ainda era bom segurar aquele objeto bruto que me fazia sentir um ser dominante. Tentei mirar meu olho esquerdo no alvo do meio, e então apertei com força o gatilho.
Assim que a flecha escapou da besta me assustei e me apoiou para que eu não caísse. Coloquei a arma em cima do balcão que nos separava dos alvos e então procurei aonde atirei.
- Não foi tão ruim.
apontou para aonde eu havia atirado. Na parede. Ri de mim mesma e não pôde deixar de aproveitar o momento para caçoar de mim.
- Parece tão fácil quando você faz.
- As coisas são mais fáceis para mim, desculpe, mamãe maravilha.
falou mostrando todos os dentes. Suas covinhas se moviam conforme seu rosto se contraía para rir. Dei um tapa em seu braço e ri também.
Agora eu estava de frente para ele e jogou os cabelos para trás, enquanto eu observava cada detalhe e movimento seu. Ele devia estar notando como eu estava abobalhada naquela manhã, mas a questão é que eu estava mesmo. Era como se tudo não passasse de um sonho bom. Um sonho muito bom, só que eu geralmente não tinha sonhos bons, não sabia como agir em um.
Nobody gonna love me better
I must stickwitu forever
Nobody gonna take me higher
I must stickwitu
You know how to appreciate me
I must stickwitu my baby
Nobody ever made me feel this way
I must stick with you
(Ninguém vai me amar melhor
Eu tenho que ficar com você para sempre
Ninguém vai me levar mais alto
Tenho que ficar com você
Você sabe como me agradar
Eu devo ficar com você meu amor
Ninguém nunca me fez sentir desse jeito
Tenho que ficar com você)
- Vai passar o dia aqui?
Disse me puxando para si pela cintura. Pensei em responder sua pergunta, mas ele afastou os cabelos de meu rosto com as duas mãos, depois as colocando sobre minhas bochechas, me puxou para um beijo calmo.
- Eu não sei. Talvez.
Falei me desvencilhando de seus lábios. continuou beijando meu rosto me fazendo rir.
- Você está bem? Está bem com isso tudo?
- Nunca estive tão bem.
Não precisei pedir uma segunda confirmação, era visível em seus olhos. voltou a unir nossos lábios com a pressão de uma nuvem. Deixei meus dedos deslizarem tamborilando por seus ombros sobre a camisa.
Depois de partir o beijo, passou a mão sobre meus cabelos juntando-os para trás, formando um rabo.
- , me fale sobre sua família.
Imaginei ser o momento certo para esse tipo de assunto. Ele não pronunciou nenhuma palavra até enrolar meu cabelo em um coque, que se desfez assim que soltou.
- Minha família? O que quer saber sobre minha família?
- Qualquer coisa. Você nunca me disse nada sobre. Nunca me senti livre para perguntar.
coçou a cabeça e por um segundo me senti arrependida pela pergunta feita. Talvez se ele nunca havia me falado sobre, seria porque ele não queria me falar.
- Bem vamos começar por meus pais.
Ele segurou minhas mãos e as levou para suas bochechas quentes.
- Eu nunca os conheci. Morreram em um acidente de carro, um bêbado maluco atingiu o carro, e eles morreram na hora. Eu tinha meses, não sei quanto.
Aquilo me soava familiar.
- A instituição Could be you. Ela é algo relacionado com isso?
balançou a cabeça positivamente.
- Então não é só mais um modo de ganhar dinheiro fácil?
- Oras, , que tipo de homem pensa que sou? Acha que eu seria capaz de manipular as pessoas para me dar bem?
Revirei os olhos rindo e apertei as mãos contra sua bochecha. Seus lábios formaram um biquinho, que não pude deixar de dar um selinho.
- Continue, seu bobalhão.
- Fui criado por meus avós maternos. Mas bem, eles dois também morreram quando eu tinha 14 anos.
tirou minhas mãos de sua bochecha e as apoiou em seus ombros. Fiquei brincando com seus cabelos que estavam chegando até ali.
- Eu fiquei meio revoltado, sabe? Fui morar com meus outros avós, no norte da Inglaterra. Foi terrível ter que mudar tudo de repente. Mas lá eu comecei a me interessar por música.
- Daí você conheceu Lennon, Newt, Zack e Leroy na escola e formaram a The Seasons para um trabalho escolar. As pessoas gostaram da apresentação que pediram que fossem tocar em festas e blá, blá, blá. Eu era sua fã, .
riu, mas eu não.
- Negativo. Eu conheci Ernest na escola. Ele era mais velho, mas acabamos nos tornando amigos. O trabalho não exigia ser da mesma turma, era algo para a escola toda. Ernest estava na banda no início, mas eu ia para os ensaios junto e acabava cantando. Eles acharam que eu era um vocalista melhor e substituíram Ernest por mim. Ele ficou uma fera de início, mas depois ficou tudo bem.
- Não acredito que as revistas teens mentiram para mim esse tempo todo. E a propósito eu achava que você vivia com sua tia.
soltou um riso pelo nariz, que fez com que eu também risse da situação.
- Eu vivi um tempo, no período que fiquei famoso. Mas meu primo decidiu ser drag queen e queria que eu o fizesse famoso também.
- Você deve um favor para ele, creio eu.
Apontei o incriminando e riu.
ria o tempo todo.
- Mas voltando ao Ernest, como ele se tornou seu empresário? Não é meio louco?
- Bem, chegamos agora em um ponto obscuro da minha adolescência. Ele desistiu da carreira de cantor, mas continuava gostando da música. Nossa banda estava começando a ficar conhecida, e éramos chamados para tocar em eventos e bares. Com o passar do tempo, Ernest terminou a escola, e não éramos mais tão amigos.
coçou a nuca, piscou algumas vezes e jogou o cabelo para trás.
- Tem certeza de que quer saber disso?
Acenei a cabeça afirmando sua pergunta.
- Mas ele, bem ele vez ou outra frequentava os lugares em que tocávamos. Ele levava maconha e cocaína para usarmos antes do show. Era tipo um ritual, para relaxar.
- Que coisa idiota.
Interrompi. levantou uma sobrancelha e voltou a falar.
- Nós às vezes usávamos todo o dinheiro que ganhávamos na noite para pagar as drogas. Depois de um tempo, não era só isso. Ele nos levava outras drogas variadas. Eu me sentia bem com elas, . Me sentia livre, como me sinto com você. Eu esquecia que era um adolescente idiota sem família e sem amigos.
- O resto da banda? Não eram seus amigos?
- Eles eram amigos, mas não eram tão meus amigos assim. Nós vivíamos brigando por tudo. Foi aí que Ernest voltou para minha vida. Ele passou a ser meu amigo de novo. Meu único amigo. Na época ele já cursava faculdade de marketing então prometi a ele que entregaria a banda em suas mãos quando se formasse. Tudo aconteceu ao mesmo tempo. Nós nos apresentamos na televisão pela primeira vez e assinamos contrato com ele. A partir daí ficamos famosos, eu comecei a encher a cara, pegar vadias, e ser dependente de heroína. Fim.
Fitei seus olhos SCRIPT>document.write(verdes) e pensei no do passado.
Até um tempo atrás eu trocaria esse de agora por aquele que me engravidou, mas naquele momento não. Aquele era um idiota, não que esse não fosse mais, ele era um homem agora, meu homem. Eu não o trocaria por aquele menino de uma noite só.
I don't wanna go another day
So I'm telling you exactly what is on my mind
See the way we ride in our privated lives
Ain't nobody getting in between
I want you to know
That you're the only one for me
When I say
(Não quero esperar outro dia
Então estou te dizendo exatamente o que está na minha mente
Veja o jeito que nós caminhamos
Em nossas vidas pessoais
Ninguém vai se meter entre nós
Quero que você saiba que você é o único para mim
Quando eu digo
- Caramba! Nunca imaginei que estaria assim, com uma mulher aqui.
soltou, me acordando dos pensamentos.
- Nunca trouxe outra além de mim aqui?
- Alexis era a única que tinha acesso, mas odiava esse lugar. E não, nunca trouxe. Aqui é como se fosse um lugar de refúgio para mim, não queria marcá-lo com lembranças de mulheres que iam embora na manhã seguinte.
- Mas já estive aqui.
sorriu. Era um sorriso carinhoso e jovem, quase infantil.
- Se eu pudesse teria uma lembrança de você em cada canto dessa casa.
Não poderia ouvir algo tão reconfortante e ficar quieta. Aproximei nossos lábios lentamente até tocá-los. Beijei-o diversas vezes até aprofundar o beijo e adicionar carícias. segurava firme minha cintura por debaixo da blusa, e então começou a fazer movimentos circulares leves com o polegar.
Nobody gonna love me better
I must stickwitu forever
Nobody gonna take me higher
I must stickwitu
You know how to appreciate me
I must stickwitu my baby
Nobody ever made me feel this way
I must stick with you
(Ninguém vai me amar melhor
Eu tenho que ficar com você para sempre
Ninguém vai me levar mais alto
Tenho que ficar com você
Você sabe como me agradar
Eu devo ficar com você meu amor
Ninguém nunca me fez sentir desse jeito
Tenho que ficar com você)
- Sua vez.
soltou seus lábios dos meus.
- Minha vez de quê?
- Sua história de vida.
Minha história de vida era uma porcaria. O que iria contar a ele? Eu não tive um pai por perto, fui mãe solteira ainda jovem e era pobre?
- Vejamos. Meu pai não foi presente. Minha mãe foi uma boa mãe até aí. Depois que eu já estava criada meu pai apareceu, e pagou minha viagem para Londres pra assistir ao show do The Seasons. Bem ele pagou o hotel pra ficarmos perto de vocês também, não me julgue.
riu e senti suas mãos mexerem na minha cintura.
- Lá eu conheci um cara bem idiota, e engravidei dele sem querer. Depois eu quis morrer, mas não contei nada pra ninguém. Minha mãe me expulsou e não falou comigo até um tempo atrás. Eu tive minha filha e coloquei o nome dela de Jade, depois ela me infernizou até eu levá-la para conhecer o pai. E aí ele ainda era um idiota, mas eu não pude deixar de me apaixonar por ele.
Pensei em contar tudo para . Contar sobre minha infância e sobre o que eu me lembrava dela. Contar sobre como eu ainda sentia medo, quando lembrava daquele maldito homem entrando no meu quarto. Mas estava tudo tão bem e eu não queria estragar aquele momento em que parecia tão confortável e aberto.
- Bela história.
jogou os cabelos para trás. Se eu pudesse ficaria por ali aquela manhã inteira. Ouvindo piadas sujas ou sentindo seus toques em meus cabelos. Tudo parecia estar em perfeita ordem.
And now ain't nothing else
I can need
And now I'm singing
'Cause you're so, so into me
I got you
We'll be making love endlessly
I'm with you
Baby, you're with me
(E agora, não há nada mais
que eu possa precisar
E agora, eu estou cantando
Porque você está tão, tão apaixonado por mim
Eu tenho você
Nós estaremos fazendo amor eternamente
Estou com você
Amor você está comigo
Jade brincava no quarto enquanto eu assistia TV na sala. A luz da sala estava apagada e meu cabelo embaraçado. Era o típico dia de não fazer nada. Eu pediria pizza para o jantar. Eu me sentia bem como há tempos não sentia. Era um novo recomeço. Eu ri. Quem poderia prever há um ano atrás tudo isso? Toda essa mudança? Ou então apenas alguns meses, quando tudo estava desabando, e eu sentia vontade de morrer todos os dias, que agora eu estaria tão bem. Era realmente inacreditável.
Ouvi a campainha, e fui atender um pouco irritada. Eu não queria ser incomodada, não agora. Mas não era um incômodo que estava ali.
- O que foi?
- Vem, chame a Jade, vamos jantar.
estava bem vestido. Digo, camisa social e calça preta. Provavelmente esteve envolvido com algo do trabalho. Reparei que eu vestia um moletom velho e meu cabelo estava bem bagunçado. Senti vontade de esconder meu rosto.
- Você não pode chegar na casa das pessoas dando ordens, moço.
- É sempre bom tentar.
Àquela altura nós riamos de qualquer coisa. Talvez fosse a felicidade. Era como uma pessoa que nunca comeu chocolate e então come pela primeira vez. Ela quer o tempo inteiro.
So don't you worry about
People hanging around
They ain't bringing us down
I know you and you know me
And that's all that counts
So don't you worry about
People hanging around
They ain't bringing us down
I know you and you know me
And that's, that's why I say
(Então não se preocupe
Com as pessoas à volta
Elas não vão nos separar
Eu te conheço e você me conhece
E isso é tudo que importa
Então não se preocupe
Com as pessoas à volta
Elas não vão nos separar
Conheço você e você me conhece
É por isso, é por isso que digo
- Vou me arrumar. Entre.
entrou e me deu um beijo rápido segurando minha bochecha. Aquilo parecia tão estranho de certo modo. Ás vezes agíamos como um casal, mas não éramos um casal, eu não saberia dizer o que éramos.
se sentou no sofá e olhou para a Tv. Acendi à luz.
- Você quer algo? Café? Vinho?
- Não. Quero que vá logo.
Grosso. A sensação estranha havia passado.
- Jade? Querida?
- Oi.
Jade virou a cabeça.
- Seu pai está aí. Nós vamos jantar. Vá se arrumar.
Jade imediatamente largou as bonecas no carpete e correu passando por mim. Ouvi gemidos de dor de na sala. Provavelmente Jade pulara em cima dele.
Fui até meu quarto e tirei depressa aquela roupa. Notei que alguns pelos insistiam em nascer nas minhas pernas então raspei com um barbeador mesmo. Eu não sabia aonde iríamos, mas não deveria ser um lugar barato. Procurei ser o mais rápida possível. Em uns quinze minutos eu já estava com um vestido amarelo justo, salto vermelho e maquiagem fraca. Peguei meu sobretudo preto, a bolsa e saí, para ver Jade.
- Querida, já está pronta?
Bati na porta. Não ouvi resposta então entrei. Encontrei Jade assustada escondendo algo atrás de si.
- O que estava fazendo?
- Nada.
Ela se apressou em dizer.
- O que você tem aí, Jade? Me fale.
- Nada, mamãe!
- Jade, não grite comigo, está me ouvindo?
Fiquei realmente preocupada com o que diabos aquela menina estava escondendo.
- Vamos me mostre o que tem aí.
Jade bufou e então levou a mão até a frente segurando uma paleta de sombras minha.
- Eu queria passar maquiagem.
Senti vontade de rir, mas aquilo era algo sério. Mas não tão sério que eu precisasse ser dura com ela. Sentei-me ao seu lado na cama.
- Filha, você é muito nova pra usar maquiagem. Eu deixo você usar gloss, e até sombras em ocasiões especiais, mas meninas na sua idade ficam feias de maquiagem.
- Mas eu já fiz sete anos.
- Eu vou te contar um segredo. Talvez você nem precise usar maquiagem, pois você já é muito bonita. A mamãe usa, porque eu sou velha e feia. Você nunca vai ser.
- Você não é velha e feia, mamãe.
Jade riu.
- Eu acho que o papai te acha bonita, acho que ele gosta de você.
Fiquei um pouco atordoada com seu comentário, mas não tinha porque esconder aquilo dela.
- É acho que sim, filha, mas não conte pra ninguém.
Jade sorriu e afirmou com a cabeça.
Fomos até que fumava na janela da cozinha.
- Vamos?
se virou, apagando o cigarro e sorrindo.
Nobody gonna love me better
I must stickwitu forever
Nobody gonna take me higher
I must stickwitu
You know how to appreciate me
I must stickwitu my baby
Nobody ever made me feel this way
I must stick with you
(Ninguém vai me amar melhor
Eu tenho que ficar com você para sempre
Ninguém vai me levar mais alto
Tenho que ficar com você
Você sabe como me agradar
Eu devo ficar com você meu amor
Ninguém nunca me fez sentir desse jeito
Tenho que ficar com você)
* Arma com aspecto semelhante ao de uma espingarda, com um arco de flechas adaptado a uma das extremidades de uma haste e acionado por um gatilho, o qual projeta virotes (dardos similares a flechas, porém mais curtos).
CAPÍTULO 36 - Killer Love
entregou o dinheiro ao garçom, mas não levantamos.
Eu tinha as mãos cruzadas sobre a mesa e apoiava o queixo nelas. Em algum momento comecei a sorrir sem ao menos me dar conta do que se passava em meu rosto. Naquele ponto eu nem me importava mesmo em parecer feliz e satisfeita, eu estava feliz e satisfeita. me olhou engraçado, como se perguntasse o motivo de minhas feições alegres. Eu poderia dizer que era por conta do vinho, ou da boa comida que comemos, mas não era esse o real motivo.
- Não posso estar feliz por finalmente estarmos todos bem?
riu.
- Eu não disse nada.
também sorria. Talvez o mesmo sorriso que o meu, e pelo mesmo motivo. Olhei para Jade que rabiscava uma revistinha que ganhara do próprio restaurante. Ela parecia tão concentrada que podíamos ir embora, sem que ela percebesse.
- Você gostou da comida, Jade?
Ela levantou os olhos um pouco assustada com minha pergunta repentina.
- Sim, mais ou menos. Eu não gosto desses legumes verdes.
- Quer dizer o pimentão, né?
- Isso, mãe.
Jade falou voltando sua atenção para o papel. que observava a conversa se meteu, o que eu achei muito apropriado, já que ele era o pai.
- Pimentão não é um legume, Jade. É um fruto.
Ela foi interrompida novamente e riu. Eu também ri, mas não entendeu os risos.
- O que foi? Não é?
- Sim, , mas Jade chama tudo que é verde de legume.
- Não faz sentido.
Levantei os ombros. Eu sabia que não fazia, mas era algo que ela poderia ajustar conforme fosse crescendo, eu não precisava obrigar Jade a chamar um pimentão de fruto. Há coisas na vida que você simplesmente deixa seus filhos fazerem, pois você sabe que conforme eles forem amadurecendo eles irão aprender. Para mim a questão do pimentão era uma. Ou quando Jade era bem pequena e falava palavras em sua própria língua, não havia motivo para mudá-la, apenas esperar que ela crescesse, e então ela cresceu e aprendeu.
- Não sei se já falei isso, mas você está linda hoje, .
piscou com o olho direito como um menino. Eu nem estava usando algo tão especial, me pegara de surpresa. Mas se ele me dizia que estava linda, eu me sentia a mulher mais linda do mundo.
- Obrigada, sr. . Você também não está nada mal.
Falei fazendo uma careta de dama da alta sociedade, com direito a dedinho mindinho para segurar a xícara de chá.
- Vamos não se acanhe, senhorita, pode me dizer o quanto sou incrível.
- Sr. , me sinto afrontada por sua indagação. Perdão, mas terei que jogar esse chá quente em sua linda face.
Fiz um movimento como se estivesse jogando algo na cara de com o dedo mindinho levantado. Rimos como dois bobos.
- O que vocês estão fazendo?
Jade nos olhava como se estivéssemos brincando de algo e havíamos esquecido de chamá-la. Rimos mais ainda como bobos.
- Céus, esse vinho realmente me afetou, vamos embora antes que eu faça algo mais patético.
- Ops, você já fez o seu possível com essa imitação de rainha Elizabeth com problemas gástricos.
Coloquei as mãos tampando o rosto como uma criança. Ainda ríamos baixo.
Tirei a mão das bochechas e pousei uma sobre a de , que instantaneamente virou a palma para cima e entrelaçou os dedos nos meus. Nossos olhos se encontraram, e eu deixei que ele visse tudo em meu olhar. acariciava minha mão com o polegar, e sua mão era tão macia que me dei conta deque essa era provavelmente a primeira vez em que nossas mãos se tocavam assim, num ato tão singelo, como dois namorados apaixonados.
- Sua mão é macia.
Falei sem saber o porquê. sorriu, e eu senti vontade de tocar suas covinhas.
- Vamos embora, quero muito te beijar.
Arregalei os olhos e os desviei para Jade, que por sorte estava em um universo paralelo, aonde só existia ela e a tal da revista.
- O que tem? Ela é a única que pode saber de tudo.
indagou e depois chamou a atenção de Jade, se aproximando de seu ouvido para dizer algo.
- Sim, ela está.
Jade me olhou como se me julgasse. E voltou a orelha até .
- Eca, pai.
Jade começou a rir quase que histericamente, como se houvesse lhe contado a melhor piada de todos os tempos.
- O que disse a ela?
- Perguntei se você estava bonita hoje, e aí falei que queria muito te dar um beijo.
era mesmo inacreditável. Ri do ocorrido, apesar de ter mostrado minha contradição.
Levantamos todos e saímos do restaurante, deixando uma boa gorjeta e depois fomos em direção à Range Rover de . Agora as únicas mulheres que ele levava naquele carro, eram eu e Jade. Irônico, não?
- Jade, queria te dizer que estou muito feliz que usou a palavra ‘Eca’ para expressar o que pensa sobre beijos. Continue assim para sempre.
segurava a mão de Jade e tinha o rosto virado para ela enquanto falava. Respirei fundo com aquilo.
estava sendo pai, e um pai muito bom. Se não estivéssemos em público eu teria o abraçado e dito o quanto tenho orgulho dele. Eu sentia meu coração cheio de vida, como se ele por muito tempo estivesse parado, e agora o sangue voltava a circular. Também sentia umas borboletas bobas no estômago.
Entramos no carro e deu partida, xingando um paparazzi que estava no meio do caminho. Enquanto o carro percorria Londres, ouvíamos um cd antigo do U2 que eu encontrara outro dia no carro de .
Eu sussurrava a música rente ao vidro da janela, formando uma mancha no local, já se empolgava e batia as mãos em punhos no volante conforme à batida da música.
- Jade dormiu?
perguntou quando estávamos parados em um sinal, se virando para trás me fazendo virar a cabeça também. Jade dormia como uma pedra no banco de trás. voltou a atenção para a estrada depois que o sinal já estava verde.
- Na última consulta, a doutora dela me sugeriu que eu a colocasse para fazer alguma atividade. Nada de muito esforço; algo tipo balé, pintura, artesanato...
- Artes marciais.
quebrou minha linha de raciocínio, me fazendo rir.
- Como eu dizia. Eu também pretendo contratar um professor particular pra ela.
- Por mim tudo bem. O que você decidir eu aceito, afinal eu não entendo muito dessas coisas.
Disse , um pouco sem jeito.
- Você está sendo um ótimo pai.
Coloquei minha mão sobre seu ombro, o que pareceu um pouco estranho, e nada do que eu queria passar.
Em pouco tempo chegamos até meu apartamento.
estacionou o carro numa rua ao lado. - Não vou poder ficar, amanhã logo cedo estarei indo.
iria para Nova York, se encontrar com algumas pessoas e resolver sobre sua volta aos palcos.
- Tudo bem, .
Ele tirou o cinto e se aproximou de mim segurando meu rosto. Afastei-me, e apontei para Jade que não falaria só ‘eca’ ao ver os pais sem roupa se agarrando na sua frente.
- Não vou fazer nada, só vou te dar um beijo, eu juro.
falou rindo se aproximando de volta até juntar nossos lábios. Coloquei as mãos em sua nuca e o puxei para mais perto. Eu senti vontade de desfazer o beijo e soltar um ‘eu te amo’, mas não consegui.
Talvez eu devesse ter feito, antes de sermos surpreendidos por um clarão, que fez com que nos soltássemos às pressas.
E lá estava ele.
Um homem na frente do carro segurando seu instrumento de trabalho, tão destrutivo quanto uma arma. Uma câmera.
Ficamos os três em estado de choque, até que o paparazzi começou a correr. em uma velocidade alta, abriu a porta e correu atrás do homem que tinha uma foto de beijando a tia da filha dele, eu.
A luz do meu futuro está escurecendo
Por causa do meu amor infantil, perdi meu caminho em um caminho de sonhos
O veneno da minha ambição, afiei minha faca todos os dias
Mas por causa da minha ganância incontrolável,
Minha faca tornou-se aborrecida
Eu sei tudo
Este amor é outro nome para o diabo
Eu permaneci ali intacta enquanto observava agarrar o homem pelo colarinho da camisa. Senti minhas mãos suarem um pouco e a cabeça começar a girar. De repente aquele carro parecia pequeno.
Avistei socando com força e ferocidade o rosto do homem que se agarrava à camisa de . Olhei para trás e Jade dormia feito uma pedra.
Com as mãos tremulas soltei o cinto e abri a porta indo em direção aos dois. Nesse momento estava sobre o homem inconsciente no chão, e continuava a dar-lhe socos agressivamente. Tive medo, mas não saberia dizer por quem.
Não segure a mão dela
Eu gritei mas me desviei da minha consciência.
Enquanto os dias passam, sinto a realidade aguda
Há sangue vermelho do despedaçamento pela realidade
Eu nunca pensei que
A ganância se tornaria a trombeta que anunciava o inferno
Respire
Minha respiração está acabando.
- , PARE! VAI MATÁ-LO! ! ESTÁ ME OUVINDO?!
parecia estar em um universo paralelo enquanto eu gritava como louca observando a cena de longe. Não era nada agradável, não, era perturbador. Continuei a caminhar até chegar onde os dois estavam.
- ! Que merda! Solte ele!
Minha voz provavelmente ecoava falha e com aspecto de desespero, afinal era o que eu sentia. Mas eu precisava fazer algo, ser forte, ser consciente.
Fecho meus olhos todas as noites de realidade retorcida
A caixa de música da tragédia ecoa
Mas para ser livre desse crime
É impossível esquecer e desistir
Porque esses lábios eram muito doces
Eu joguei meu futuro longe porque eu estava bêbado em namorar
Quando acordei, eu estava cercada por minas terrestres
Rodeado por olhares das pessoas que não podem ser tocadas
Grito por um milagre nesta realidade
(Rewind)
Foi loucamente bom
Eu era um idiota viciado em doçura
Sim, um idiota
Não queria soltar a mão do demônio
- , meu bem. Por favor, pare...
Os cabelos dele balançavam e se agarravam a seu rosto conforme ele se movia. Ele estava calado, mas seus olhos estavam arregalados e ele mantinha os lábios presos nos dentes assim como quando estava tendo um orgasmo. Ele tinha sangue por todos os lados.
Coloquei minhas mãos sobre seus braços, que aos poucos não batiam mais com tanta força. Desci minhas mãos até encontrar as suas e uni-las. Olhei para minhas mãos e elas estavam sujas de sangue, assim como as de .
Poderia ser um pouco presunçoso pensar em mim mesma naquele momento, mas aquilo tudo era bem irônico. Afinal, assim que dei minhas mãos a , elas se tornaram tão sujas como as dele. Os problemas dele se tornaram meus, seus pecados se tornaram meus também.
Too bad but it’s too sweet
It’s too sweet it’s too sweet
Too bad but it’s too sweet
It’s too sweet it’s too sweet
Too bad but it’s too sweet
It’s too sweet it’s too sweet
Too bad but it’s too sweet
It’s too sweet it’s too sweet
Tão ruim, mas é tão doce
É tão doce é tão doce
Tão ruim, mas é tão doce
É tão doce é tão doce
Tão ruim, mas é tão doce
É tão doce é tão doce
Tão ruim, mas é tão doce
É tão doce é tão doce
Mantive minha mão junto à sua, enquanto ouvíamos sirenes se aproximando.
Em pouco tempo havia vários policiais no local e apontavam armas para nós.
- Mãos para o alto, e você moça, para o carro!
O policial gritou, e então soltei nossas mãos obedecendo-o.
Dei uma olhada para que parecia perdido em meio a aquilo tudo, e para o rosto do paparazzi que estava irreconhecível. Andei até o carro, e quando me virei vi sendo empurrado contra uma viatura, até que um policial imenso tampou meu campo de visão.
- Para onde estão levando ele?! O que vai acontecer?!
- Moça, espere dentro do carro, por favor. Nós já vamos falar com a senhora.
It’s too evil
It’s too evil
It’s too evil
Yeah it’s evil
É muito malvado
É muito malvado
É muito malvado
Sim, é malvado
Quando consegui ver, o carro estava partindo. Entrei no carro, derrotada. Esfreguei o rosto nervosa, com as mãos vermelhas. Aquilo realmente havia acontecido?
Olhei para trás e Jade dormia como uma pedra, mas havia virado de lado.
CAPÍTULO 37 - Scary
Já passava das quatro da manhã e nenhuma notícia de . Eu já havia pagado a fiança e esperava para vê-lo. A noite anterior fora terrível. Nunca em meus piores pesadelos pude imaginar ver em uma situação como aquela, nunca me passara pela cabeça que ele seria capaz de... De matar alguém. Senti minhas mãos tremerem ao lembrar-me do ódio em seus olhos. Não saberia dizer se conseguiria encarar aqueles mesmos olhos de novo, ou que suas mãos me tocassem de novo depois de derramar sangue. Mas como eu poderia me olhar no espelho novamente sabendo que o motivo de tal ato, era eu?
Sentia-me tão suja quanto , me sentia repugnante. Se eu pudesse fazer algo, se somente houvesse alguma maneira de apagar a noite anterior, eu o faria.
As horas passavam, e eu mal conseguia piscar os olhos, quanto mais dormir. Minha mente estava em dentro de uma cela, talvez coberto de remorso? Mas e se não?
- Sr. . Dentro de algumas horas Sr. será liberado. Você pode ir vê-lo agora.
Um homem branco como um queijo e franzino falou de longe.
Continuei sentada. não poderia esperar que eu fosse até ele de braços abertos. No entanto assim que vi seu rosto pálido, o fiz. O segurei firme em meus braços. não pareceu sentir conforto ou ao menos estar ali.
- Você vai acabar comigo.
Falei perto, segurando seu rosto com minhas duas mãos. Olheiras roxas e um cabelo desgrenhado o faziam parecer que estava ali há um mês. Meus olhos se encheram de lágrimas, minha respiração ofegante.
- Céus, . O que você fez?
Ele permanecia calado, nitidamente muito abalado. Meu coração doía, voltara a doer como doeu por todo esse tempo. Eu teria algum dia paz?
Eu ainda o encarava, mas seus olhos se mantiveram baixos todo o tempo, minhas mãos que seguravam seus ombros desceram lentamente até encontrar suas mãos. Um mover de dedos foi o suficiente para que o medo se alastrasse. moveu involuntariamente um ou dois dedos que tocavam os meus, e de repente aquilo me fez soltar suas mãos num pulo. Era como se naquele momento a ficha estivesse começando a cair. O homem que eu amava, o pai de minha filha, havia matado alguém. Havia matado alguém por minha causa.
O guarda fez sinal para que eu saísse e deixasse só, novamente. Ele permaneceu imóvel enquanto eu me afastava.
E naquele momento notei que vê-lo tão derrotado, era meu ponto mais fraco.
Estávamos dentro do carro, e ainda assim os flashes me cegavam. Demorou um pouco até despistá-los.
- Acho que deveria ver isso, .
Disse Ernest, que ocupava o banco da frente e me entregando uma folha de jornal.
Em apenas uma folha havia a foto de nosso beijo, imagens de batendo no fotógrafo e depois sua foto no caixão rodeado por pessoas chorando. Minha mente desabou.
Como poderia defender ? Como poderia querer que fosse absolvido de seu crime tão facilmente só por seu dinheiro? Isso iria contra meus princípios, por maior que meu amor por ele fosse. Mas eu não o deixaria, por mais que a cena ainda estivesse acesa em minha mente.
Ernest colocou a mão no ombro do amigo que tinha o olhar perdido na trama do couro do banco do carro.
- Vamos resolver isso, não vamos te deixar ir pra prisão.
Então seria isso? "Vamos livrá-lo, pois é famoso"? Ótimo.
Eu olhava pela janela o Sol fraco, que tocava poucas das superfícies que alcançava. Abri a janela para sentir um pouco de vento, talvez fosse tudo o que eu precisava.
inesperadamente colocou sua mão sobre a minha que repousava no espaço entre nós. O olhei imediatamente, ele ainda tinha o olhar perdido, mas então seus olhos agora cinzas encontraram os meus. Não desviei. Mergulhei na sensação de calma que encontrar seus olhos me traziam.
Não saberia dizer quanto tempo levou, ou se alguém falara conosco, tudo o que fizemos foi manter nossos olhos conectados até que o carro parasse e nos desse um choque de realidade, de que nossas vidas estavam fadadas à desgraça. Algum tipo de maldição, algo vindo de berço, algo nos perseguia constantemente, relutante quanto a qualquer resquício de felicidade que poderíamos ter.
Jade não se acostumava com pílulas, talvez nunca fosse.
- Mãe, quando vou parar de tomar essas coisas? Já me sinto bem.
- Enquanto estiver com essa maldita doença!
Respondi irrefletidamente. Notei seu olhar abaixar, como quem recebe uma notícia ruim, e bem, era o que eu havia acabado de lhe dar.
- Me desculpe, meu amor, não quis dizer isso. Logo você não precisará tomar nenhum desses remédios.
Jade tomou o copo de água de minhas mãos e engoliu o remédio sem reclamar mais. Passei a mão por seus cachos bagunçados e em tantas horas não havia sentido nada tão reconfortante.
Subimos para o quarto, cada uma para o seu. Jade dormiria em seu quarto, e eu dormiria com .
Fechei a porta atrás de mim e antes de fazer qualquer barulho observei com as costas nuas fumando na janela. Senti meu nariz arder, e meus olhos quererem lacrimejar, mas não cedi. Eu sentia muito por tudo o que fazia passar, afinal, eu não era a única a sofrer. Andei devagar até a cama e me deitei encarando o teto. Logo percebeu minha presença, apagou o cigarro e a luz e se deitou ao meu lado, sem tocar-me. Fechei os olhos cansados, céus eu estava muito cansada. Tudo o que eu queria naquele momento tão silencioso era emergir em um sono profundo. Não reclamaria se nunca fosse acordada.
- Está com medo de mim?
disse em um tom calmo, me fazendo abrir os olhos e direcioná-los para os seus.
- É nisso que tem pensado?
Perguntei franca. Nenhum de nós moveu um centímetro do corpo.
- A maior parte do tempo.
- Não sinto medo de você.
virou para mim e se aproximou colocando sua mão em minha bochecha.
- Mesmo sabendo que esse sou eu? Que eu nunca machucaria você ou Jade, mas mataria qualquer um que fizesse mal a vocês? Isso não te afastaria de mim?
Por um segundo, apenas um segundo me perguntei o que havia de errado comigo. Como eu conseguia amar uma pessoa como ele?
- eu te amo. Mas agora eu não dizer se isso é o certo, eu quero dizer, eu deveria deixar de te amar depois do que vi? Seria esse o certo a se fazer?
tirou as mãos de meu rosto e virou para o lado, ficando de costas para mim. Continuei quieta, sem entender sua reação.
- Eu não sei o que há de errado comigo.
Ele falou com a voz baixa, quase inaudível, quase um choramingo. Eu não o respondi, eu não sabia o que dizer. No entanto depois de uns cinco minutos ele virou de frente para mim novamente.
- Eu amo você. Me perdoa por não ser quem você merece, eu amo você demais.
Pus minha mão sobre a sua, que tremia, a levei até meus lábios, e a beijei.
- Você é muito mais do que eu poderia pedir, meu bem, você é minha vida.
Falei como se falasse com Jade. Sorri. juntou nossos lábios lentamente. Um beijo suave e reconfortante foi o ponto máximo para que meu coração soubesse por completo que eu o amava a cada gota de sangue que circulava em mim. Cada vez que meu coração batia era seu nome que ecoava dentro de mim, todos os impulsos que eram enviados ao meu cérebro continham uma imagem sua, era um ciclo vicioso e delirante. Não havia uma condição que me faria deixar de amá-lo, nenhuma.
Suas mãos se uniram às minhas, entrelaçando-se. Seus beijos passaram para meu pescoço, e eu me perguntava se em algum momento me senti mal naquele dia.
CAPÍTULO 38 - The wind and a thunder
- Sra. , gostaria de mais alguma coisa?
- Obrigada, Celine, estou satisfeita.
Levantei-me rapidamente, e levei comido um pedaço de queijo. Segurei o roupão que vestia enquanto subia as escadas. Ouvi o telefone do quarto de < tocar e corri para que ele não despertasse. Não havia ninguém no quarto, mas o telefone não parou de tocar.
- ? O telefone está tocando.
Falei para o vento, e me atrevi a atender ao telefone, afinal, o mundo todo já sabia que estávamos juntos.
- Alô.
A linha estava em silêncio, mas era perceptível uma respiração do outro lado.
- Alô? Isso é alguma brincadeira?
Ainda em silêncio. Desliguei antes por medo. apareceu no quarto assim que desliguei.
- , alguém havia ligado, um número restrito. A pessoa não disse nada.
coçou a cabeça sem mostrar muita preocupação.
- Deve ser algum repórter estúpido.
Senti-me aliviada com sua resposta, ou talvez fosse sua presença.
- Como você está?
me sorriu e chegou mais perto. Senti seu delicioso aroma entrando em meus pulmões e me trazendo todas as sensações que sempre me faziam ter, e todas as boas lembranças que trazia à tona. Toquei seu tronco nu.
- Estou bem melhor. Ainda sinto um pouco de medo de acabar na prisão, mas nada que vá me impedir de viver bem.
- A culpa não te afeta mais?
Desenhei círculos em seu peito com a ponta dos dedos.
- Não penso mais nisso, então não.
Vi a sinceridade, e seus motivos em seus olhos. Eu poderia não aceitar tanto o fato de que achava que matar aquele homem não era tão grave, mas ainda sim não o via como um vilão, pelo contrário. Envolvi meus dedos em seus cabelos bagunçados.
- Me sinto segura com você.
riu.
- Há um ano você tinha medo.
- Nunca tive medo de você, sabia do que era capaz e do que não.
Beijei seus lábios levemente depois de falar. Sorrimos com os lábios juntos, nossa respiração era única. Acariciei seu rosto, notando depois de tanto tempo como ele era lindo. Ultimamente não tinha tempo para simplesmente o olhar e admirar.
- Tenho que me encontrar com meu advogado. Vocês ficarão bem aqui?
Acenei com a cabeça, esperava ter um dia tranquilo.
não era o mesmo, não que tivesse piorado, mas com certeza perdeu um pouco a alegria que tinha quando sentiu pela primeira vez o que é ser pai, ou a sensação maravilhosa de ser amado. Eu poderia dizer que também havia perdido um pouco daquele brilho inicial. Parecíamos um casal de idosos bem resolvidos agora que tudo estava tão simples para nosso relacionamento.
As notícias sobre os supostos crimes de abafaram um pouco as sobre nosso caso, no entanto era algo bem comentado nas redes de fofocas. Contudo eu me sentia livre. Agora não precisávamos esconder o que havia entre nós, ainda assim não era totalmente livre para chamar minha própria filha de minha.
" SCRIPT>document.write(Styles), tem um caso com a tia de sua própria filha"
Era isso o que aparecia nas manchetes. Apoiei minha cabeça sobre a mesa. Me sentia bem e ao mesmo tempo estava tão confusa, tão frustrada.
Levantei-me bruscamente e fui até seu closet. Escolhi uma camisa preta de e então a vesti. Andei pelo quarto de olhos fechados. Coloquei um pouco de whisky no copo com gelo, depois fui até a caixa de som e a liguei em um volume altíssimo. Tocava uma música eletrônica de uma playlist qualquer. Subi na cama macia de e passei a saltar sobre ela.
Alguns respingos da bebida caíram na cama, mas eu não me importei, eu precisava me sentir nova de novo. Quanto mais eu pulava e sentia meu corpo cansar, mais eu sentia energia, uma energia que me faltara durante todos esses últimos dias. Eu não me importava se a música estava alta e se a letra falava sobre sujeiras, eu estava tão envolvida que nem percebi entrar no quarto.
Quando abri os olhos percebi um risonho me encarando. Parei de pular, mas a cama ainda se movia me fazendo cair.
- Sinto falta. Sinto falta de como éramos antes, tão rebeldes e imprudentes. Perdemos isso?
com braços cruzados, riu de fechar os olhos e arquear as sobrancelhas. Sua covinha permanecia intacta, como se fosse um menino ali na minha frente.
- Você está querendo dizer que estou perdendo minhas qualidades? Minhas qualidades masculinas?
- Não, mas não temos mais tempo, ou talvez energia.
olhou para baixo e mordeu os lábios. Me pegando desprevenida em seu colo, desceu as escadas me segurando.
- , o que está fazendo?
Falei mais rindo do que pronunciando algo. desceu até a sala e então foi até a garagem, ainda me segurando em seu colo. Me preocupei se algum dos empregados havia visto minha calcinha por baixo da camisa que eu vestia. me colocou no banco do carona do Range Rover. Eu me sentia uma adolescente boba com aquela roupa e um sorriso no rosto. Assim que o portão abriu deu partida em direção a algum lugar que eu não fazia ideia qual seria.
- Aonde vamos?
- Não faça perguntas, .
Coloquei as mãos sobre a boca. Não podia discordar que eu já estava louca para agarrá-lo naquele momento. usava uma camisa social branca com os botões abertos. Observei seu abdômen perfeitamente definido. Mordi os lábios porque sabia que ele era só meu. Toda sua beleza, seu corpo que faria qualquer uma lhe desejar, era só meu. Coloquei a mão em sua coxa. não desviou os olhos da estrada, mas sorriu maliciosamente.
Apertei sua coxa e depois pus minha mão dentro de sua calça e fiz o mesmo em seu membro.
- Vou ter que parar o carro em qualquer lugar mesmo?
Continuei segurando seu membro, o que para ele pareceu ser uma resposta afirmativa. estacionou o carro em um deck abandonado perto da praia. Tirou o cinto e então passei uma perna por ele e sentei em seu colo, ainda com a mão no mesmo lugar. Comecei a fazer movimentos de vai e vem devagar. fechou os olhos e cruzou as mãos atrás de sua cabeça. Tirei a mão dali e acariciei seu peito descoberto, depois beijei cada parte de seu tronco. colocou as mãos em minha cintura apertando a camisa, e então a puxou para cima descobrindo meus seios. me puxou para ele contra minha vontade, eu não queria que fosse tão rápido.
Ele passou então a beijar meus seios com vontade, senti meu corpo todo agradecer aquilo. Agarrei-me em seus cabelos, e apertava minhas costas.
- Era isso que tinha em mente?
elevou os beijos até que chegassem em minha boca.
- Não, ainda tenho uma surpresa.
Sorri olhando o fogo que agora voltava para seus olhos . Senti meu de volta. Aquele despreocupado com pensamentos alheios. Aquele que me fazia ir à loucura. Parecia loucura, mas quando tudo o que eu tinha era aquele , eu queria um responsável e cuidadoso. Mas quando finalmente o tive, tudo o que queria era o mesmo que eu não conseguia domar. Seus beijos eram como uma máquina do tempo que me levava de volta ao começo.
Cantávamos como se o mundo todo pudesse nos ouvir. Eu balançava os braços e ria como uma criança. Apesar de estar dirigindo, estava totalmente envolvido com a música e a boa energia que nos rodeava. Eu deveria lhe agradecer por me fazer sentir tão viva?
- Consegue ver aqueles filhos da mãe?
Olhei para frente, e havia alguns repórteres, olhei para sem entender. E então ele acelerou o carro em direção à eles e quando todos notaram sua presença, abriu os vidros. Eles vieram como urubus em cima de uma carne morta.
- Querem ouvir o que eu tenho a dizer?
abriu a porta e saiu do carro, permaneci ali assustada.
- Estão vendo aquela mulher ali?
apontou para mim, eu mal conseguia o enxergar com tantos flashs em meus olhos.
- Ela é a mãe da minha filha!
batia no peito como se fosse o macho alfa de alguma tribo.
- Ela não é tia, merda nenhuma! É mãe da minha filha, fizemos nossa filha juntos. E que se dane se falarem que não assumi minha filha quando nasceu, que se dane se acharem que menti esse tempo todo. Eu menti mesmo! É aquela mulher ali de verdade que eu amo, não uma qualquer da mídia. Eu amo !
falou com os braços pro alto. Os repórteres quase tentaram arrombar o carro, e provavelmente estavam machucando , mas ele parecia estar no oceano sendo levado para lá e para cá. O puxei para dentro, e com muita dificuldade fechou a porta dando partida com o carro sem se preocupar em atropelar alguém.
- !
Eu não conseguia parar de sorrir. Ele gargalhava mexendo o corpo inteiro. A música continuava alta, mas ele cantava mais alto agora.
Chegamos logo em casa, e já estava escuro. Tudo estava quieto e silencioso até chegarmos. gritava pela casa que me amava e que Jade era nossa filha.
Eu ainda não conseguia parar de sorrir... até entrarmos no quarto para ver Jade.
Havia sangue na cama.
Vi tudo escurecer.
Corremos em sua direção, mas ela estava desacordada.
- Deus! Chame uma ambulância!
Falei para que estava em choque. Alguns dos empregados apareceram e me ajudaram a limpar o sangue em seu rosto. Há quanto tempo ela estaria ali? Por que ninguém foi ver como ela estava? Por que eu não estava ali? Ao invés disso, estava satisfazendo meus caprichos, como sempre.
A ambulância apareceu em pouco tempo, e então lá estávamos nós. Os dois dentro de uma ambulância e nossa filha desmaiada. me abraçava forte, mas não era o suficiente para apagar a dor, ou a culpa.
CAPÍTULO 39 - Can't be strong anymore
Jade estava na sala de cirurgia fazia poucas horas, eu sabia que sim, mas em minha mente soava como uma eternidade. Eu ouvia sons que por muitas vezes não eram reais, ouvia meu nome. Por diversas vezes ouvi um chamado desesperado de Jade por mim. Minhas entranhas ardiam como se houvessem ateado fogo dentro de mim. Eu não podia perder meu bem mais precioso.
- No que está pensando?
perguntou. Ele estava ao meu lado todo esse tempo. Não pronunciava uma palavra. Não emitia som ou fez sequer algum gesto, estava intacto.
- Em nada, na verdade é o que tenho tentado pensar.
Ele continuou quieto.
- Por que a pergunta?
- Queria saber se o mesmo que está passando pela minha cabeça também passa pela sua.
- E o que é?
Perguntei em um tom baixo, porém realmente interessada na resposta.
- Quero tentar. Acho que devemos tentar ter outro bebê.
se virou para mim como alguém que acaba de ter uma invenção brilhante.
- , não quero esperar. Não quero viver pensando que não fiz tudo que pude para salvar minha filha. Talvez só um irmão possa ser compatível com ela.
Fechei os olhos devagar. Lentamente levei a palma da mão ao seu rosto. Senti por um momento seu calor humano, e a paz que eu sempre buscava em seu ser. Senti seu medo. Ouvi a voz de Jade. E só então consegui soltar meus lábios para pronunciar algo.
- Eu estou com medo, estou com tanto medo.
Caí em seu peito. Soltei as lágrimas presas. Senti seu coração bater tão depressa, tão descompassado. Seus braços me envolveram com tanta força que quase me senti sem fôlego.
- Eu não quero que ela morra, . Por favor, não a deixe morrer. Eu te imploro!
Minhas palavras se misturaram com a saliva e a coriza. Isso já não importava mais, não importava como elas soavam, eu só queria por para fora. Só queria gritar pro mundo ouvir que eu queria ver minha filha crescer assim como toda mãe tem direito, e que aquilo não era justo. Eu não merecia aquilo! Céus, não.
- Eu não... Eu juro.
segurou meu rosto firme me fazendo encarar seu rosto desfigurado. Ele mordia seus próprios lábios tão forte que pareciam sangrar. Tudo em seu rosto era dor. Nossa dor. Suas lágrimas pareciam riachos sem fim.
- Ela vai, nós vamos ficar bem. Você me entende?
Acenei, pois sabia que sim, eu tinha que acreditar que sim.
me abraçou novamente e pude ver as pessoas ao redor ressentidas com o que lidávamos, sem ao menos nos conhecer.
- É complicado dizer, Sr. , quanto tempo durará. Pode ser um dia assim como pode ser um ano, você me entende?
- Entendo.
- Podemos dizer que drenamos todo o líquido tóxico que se acumulou próximo da médula dela. Infelizmente só precisamos esperar para que o corpo dela se recupere do colapso e acorde do coma.
- Obrigado, doutor.
Nos levantamos e saímos. Ficamos parados por um tempo na porta do consultório. Era isso? Seguiríamos nossas vidas intercalando os dias para visitar nossa filha de seis anos em coma?
- Vá para casa, tome uma ducha, descanse um pouco.
Neguei, eu não queria sair de perto dela, ou dele. segurou meu rosto, como fez pouco tempo atrás.
- Meu amor, você precisa ir. Eu prometo que tudo que vou fazer agora é dar meu máximo para que Jade fique bem, mas preciso de você ao meu lado. Sem você eu não tenho forças para lutar por ela. Vá, descanse. Eu cuido dela.
Com um beijo na testa nos despedimos.
Entrei no elevador agarrada ao meu casaco, e depois esperei pelo carro atrás da porta de vidro do hospital tão familiar.
CAPÍTULO 40 - Are we trying?
- Talvez devêssemos esperar mais tempo, , seu julgamento é hoje, e isso pode implicar nas vendas.
- Não importa, só quero assinar isso e ir embora daqui.
Todos viam que estava incapacitado para tomar decisões, grandes ou pequenas. No entanto, ele vinha insistindo para que tentássemos outro bebê, pela possibilidade de poder realizar o transplante, mas era uma decisão tão difícil. Um bebê? Em um momento tão crítico? Além da incerteza de não saber se seria compatível com Jade.
- , saiba que se você assinar esse contrato com a nova gravadora agora, você não vai conseguir o lucro esperado.
- Eles estão me pressionando, merda! Me deixa assinar isso pra eu ir embora desse maldito lugar!
bateu na mesa causando um estrondo na sala e assustando todos os presentes.
Segurei sua mão tentando acalmá-lo. Eu não sabia bem qual dos problemas o estava deixando tão estressado, afinal eram tantos.
- Tudo bem, assine aonde indiquei.
A sala estava em total silêncio, tudo o que se podia ouvir eram as respirações tensas.
Assim que terminou de assinar os papéis, sem ler algum, nos levantamos e saímos da sala de reuniões. Era hora de irmos ao tribunal, e tudo o que eu conseguia pensar era na possibilidade de ir preso por homicídio. Ele vestia um blazer preto e uma camisa vinho por dentro, seu cabelo estava penteado e suas olheiras bem cobertas com corretivo. Ultimamente era raro vê-lo assim, e não em moletons velhos e olhos fundos arroxeados. Caminhamos até a saída de mãos dadas, sempre de mãos dadas, era o que nos dava força.
Ao sairmos encontramos Arnold, o advogado de e o carro à nossa espera. acendeu um cigarro e entramos no carro.
Havia perdido Jade, e agora ? Isso não parecia ser um castigo justo. Talvez eu realmente merecesse ser castigada, mas era difícil ver aqueles que eu amo sendo castigados junto.
Finalmente o grupo de lordes da corte de recursos voltou ao tribunal para então dizer o que o júri decidira sobre o futuro de . Eu o observei nas cadeiras à minha frente, ele parecia desnorteado e um tanto desiludido. Cruzei os dedos como se fosse ter algum efeito positivo, mesmo que eu não acreditasse nesse tipo de coisa. Era como se eu estivesse de mãos e pés atados e eu realmente estava.
- Declaro o réu culpado de homicídio privilegiado, quando o agente comete o crime sob pressão emocional, por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, de acordo com o artigo 133° parágrafo 17. Sendo assim possuindo direito à redução de pena para 5 anos de prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas, prestação pecuniária aos familiares da vítima de 5 mil libras por mês durante 3 anos, interdição temporária de bens jurídicos por tempo indeterminado, e terapia acompanhada também por tempo indeterminado. A quebra de qualquer uma das condições acarretará em reclusão do réu. Esse caso está encerrado.
Fechei meus olhos em alívio. não iria pra prisão, apesar de estar totalmente preso à lei nesse ponto, mas o importante é que estaríamos juntos.
Ouvi algumas das testemunhas, provavelmente familiares do homem morto chorando. Para eles aquilo significava derrota. Talvez em outro momento da vida eu achasse que merecia ir ao menos uns dias pra cadeia, mas eu não podia ser hipócrita e dizer que eu preferia uma sentença diferente. Quando me tornei assim? Seria eu uma pessoa fria e sem empatia agora? Pisquei os olhos rapidamente, não era o meu foco, fazer uma autoanálise no momento.
Assim que todos saíram do tribunal, se levantou e o esperei em sua direção. Ele deixou seus braços caírem sobre meus ombros, como se fosse um peso que carregava consigo por muito tempo e finalmente encontrara alguém para ajudá-lo.
- Está tudo bem, vamos ficar bem. Eu te disse que iríamos conseguir, não disse?
- Estou acabado, .
suspirou entre meus cabelos que provavelmente cobriam seu rosto.
- Do que exatamente está falando?
- De tudo.
Ele levantou o rosto para me olhar. Seus olhos encontraram os meus.
- Minha carreira. Estou fracassado, não há mais quem compre. Não há mais alguém que admire minha música, não há sequer música.
Passei a mão sobre seus cabelos arrumados. Suas covinhas apareciam mesmo sem que ele estivesse sorrindo neste momento, e seus lábios pareciam a porta de um lar aconchegante.
- Isso não importa. Quem gosta da sua música sempre vai gostar, você é uma lenda, . E sempre terá ao seu lado sua maior fã, pra quem você pode fazer shows particulares.
Vi seus lábios se contraírem em um sorriso mesmo que contra sua vontade. Passei o polegar por suas covinhas até o canto de seus lábios. Eu também sorria, e me sentia um pouco menos pesada do que antes. Às vezes apenas um pensamento positivo pode nos fazer entender o valor das coisas, ou talvez não dar tanto valor pra coisas que na verdade nunca importaram. O abracei com vontade, pois estava com vontade, depois nos beijamos dentro daquele lugar horrível porque queríamos.
Enquanto descíamos as escadas ouvi meu nome, pensei ser só mais uma das vozes que vinha ouvindo recentemente, quando ouvi mais uma vez. Olhei em volta e vi Melissa atrás de uma pilastra.
- Meu Deus! Melissa!
Corri em sua direção quase a derrubando com meu impacto.
- O que faz aqui?
Perguntei surpresa, notando seu estado desanimado. Seus olhos pareciam tão fundos, e seus cabelos estavam mais curtos, na altura dos ombros.
- Queria saber como você estava com toda essa situação.
Apontou para que acenou. Fiz sinal para que ele pudesse ir sem mim, e então me voltei para Mel.
- Fiquei sabendo de tudo, fiquei tão triste por você. E Jade como está?
- Jade está em coma Melissa.
Falei seca. Não era bem o assunto que eu queria falar sobre, agora que estava me sentindo um pouco otimista. Melissa arregalou os olhos como quem ouve a pior notícia do mundo.
- O que aconteceu? Por que não fizeram o transplante ainda?
- Ela teve algumas complicações na médula, e o corpo entrou em colapso, digamos assim. E sobre o transplante, ainda não encontramos doador.
- O quê? Isso é um absurdo!
Eu sabia que não era, afinal a gente não podia obrigar as pessoas a serem doadoras, ou então ter controle sobre como o DNA de sua filha será.
- tem pensado em ter outro bebê.
- Isso é ótimo.
Parecia tão fácil quando se falava assim.
- Mas eu ainda não decidi sobre isso, afinal é uma outra vida que estarei colocando nesse mundo, e é como se eu estivesse tendo um filho por motivos egoístas, sei lá.
- Tá brincando, ? Você é rica, pode muito bem colocar mais um ser neste mundo e fora que você já fez isso antes, engravidou de Jade só pra provar algo pra si mesma. Dessa vez é uma causa nobre.
Fiquei confusa por um momento, até entender o que ela queria dizer com aquilo. Pensei em explicar para Mel que na verdade eu havia mentido e que eu havia engravidado de Jade puramente por acaso. Mas eu estava tão desgastada e aquilo não era assunto para o momento.
- De qualquer forma, é um ser vivo, mas conforme os dias passam, eu sinto que essa é nossa única chance.
- Não perca essa chance, não se arrependa de algo que poderia ter feito por sua filha.
Melissa falava com clareza e segurava minhas mãos. Olhei para baixo desviando de seu olhar cuidadoso. Devíamos ao menos tentar?
lia algo em seu ipad enquanto eu rolava pra lá e pra cá sem conseguir esquecer a conversa com Melissa. Nessa altura eu já estava aceitando melhor a ideia de termos um bebê simplesmente para usar as células-tronco do cordão umbilical, que poderia ou não ser compatível com Jade. Eu não havia dito para , mas já estava há um bom tempo sem tomar anticoncepcional e isso facilitaria caso tomássemos nossa decisão, ou melhor, caso eu tomasse a minha decisão.
- ?
Ele desviou os olhos para mim esperando que eu me pronunciasse, o que levou certo tempo.
- Acho que devemos tentar.
- Você se refere ao bebê?
Enquanto perguntava deixou o aparelho ao lado da cama, e se acomodou melhor ao meu lado.
- Sim. Acho que é a nossa chance, estou confiante.
pareceu um pouco surpreso de início, mas então sorriu. Talvez isso fosse acabar logo, toda essa tortura, todo esse sofrimento. E Jade ganharia um irmãozinho.
Ele continuou me olhando sorrindo enquanto eu o sorria de volta, e a cena se tornou até engraçada, pois nenhum dos dois disse mais nada por um longo período.
- Quando disse que devemos tentar, se referia à agora?
Soltei uma gargalhada, que quem ouvisse pensaria ter saído de uma pessoa super alegre e de bem com a vida.
- Por que não? Faz tempo que não tomo anticoncepcional.
- Ótimo.
disse mexendo em meus cabelos, que a essa altura estavam bagunçados, depois se levantou da cama.
- Você me espera um segundo?
Acenei com a cabeça e ele foi correndo até o banheiro. Sentei-me na cama macia e bocejei, percebendo que estava com um pouco de sono. Espreguicei-me e continuei esperando , que demorava. Enquanto o esperava tirei a blusa e fiquei só de calcinha, mas me arrependi um pouco já que o quarto estava frio.
Passaram-se alguns minutos e surgiu me encarando sentada embaixo dos edredons. Ele se jogou na cama me fazendo pular e segurou meu rosto me beijando.
- Tem tanto tempo que não fazemos isso, que eu acho que perdi meu jeito.
Ri de sua frase boba.
- perdeu o jeito com as mulheres?
Perguntei irônica, esperando uma resposta à altura.
- Minha querida , estou tentando demonstrar minha humildade aqui. No entanto, eu disse que acho, mas tenho certeza de que estou errado, quer apostar?
- O que eu quiser?
- O que quiser, desde que seja um método que te faça engravidar.
Olhei para os lados realmente refletindo em sua proposta. Havia, claro, algumas coisas que me davam mais prazer do que outras. esperava sentado em minha frente brincando com algumas mechas de meu cabelo, enquanto eu analisava, até chegar em uma decisão.
- De costas.
Ele franziu as sobrancelhas como se eu tivesse dito algo estranho.
- Não anal, mas de costas.
Desvencilhei-me dos edredons e sentei em seu colo. Coloquei meus braços em volta de seu pescoço e ele apertou minha cintura nua com as duas mãos. Dei-lhe selinhos, até iniciarmos um bom beijo, que tanto me fazia falta.
subiu as mãos até minhas costas e levou os polegares até meus seios, parecia que era a primeira vez que ele tocava-os. Estávamos tão imersos em problemas que havíamos perdido todo o tempo para nos saciar de um ao outro.
Deixei que o beijo se partisse naturalmente, mas empurrei seu tronco nu, e então me levantando um pouco virei de costas e voltei a sentar em seu colo. prontamente afastou meus cabelos e levou os lábios até minha nuca me fazendo sentir um prazer enorme. Suas mãos circundavam minha barriga e seus lábios tocavam minha nuca, e então meus ombros, minhas costas. Meus olhos estavam fechados e eu sentia vontade de tê-lo dentro de mim.
- Eu adoro seu cheiro, sua pele, seus seios, suas costas, tudo em você.
falou em meus ouvidos me fazendo revirar os olhos e arquear um pouco as costas. Levei minhas mãos até seus cabelos, segurando-os. Suas mãos cobriram meus seios me fazendo soltar baixos gemidos. apertou-os por um pouco e então desceu as mãos até a lateral de minha calcinha tirando-a. Virei o rosto para o lado procurando por seus lábios que se uniram aos meus devagar.
Desci as mãos até o cós de sua calça de moletom e a abaixei tanto a calça quanto sua boxer. já estava excitado e senti seu pênis tocar minhas costas, no mesmo instante correu calafrios por todo o meu corpo. Ele beijava meu pescoço com todo o carinho e paixão do mundo, suas mãos estavam nas minhas. Levantei meu quadril gentilmente e sentei sobre seu membro permitindo a penetração.
Levantei e sentei devagar algumas vezes, mas então começou a se mover junto. Aos poucos os movimentos foram se tornando mais intensos e repetitivos. Era bom ouvir sua respiração ofegante e gemidos, tão próximo do meu ouvido. Meus dedos estavam entrelaçados em seus cachos e suas mãos apertavam minhas coxas. Eu não sei se era sua presença e minhas costas ou algum ponto que havíamos atingido com aquela posição, mas eu estava sentindo um prazer totalmente novo, que me fazia morder os lábios e mesmo já cansada aumentar cada vez mais nossos movimentos.
Senti uma gota de suor deslizar na curva de minha coluna, e então seu peito batendo contra minhas costas. Logo o orgasmo chegou pra mim, e fora tão forte que eu não conseguia nem respirar direito. Soltei alguns gemidos involuntariamente e sorri, logo depois soltou um gemido longo e alto e parou de se mover. Acho que nós dois não tínhamos capacidade de nos mover mais um segundo, estávamos exaustos e completamente extasiados.
Assim que respiramos um pouco melhor me levantei e me joguei sobre os lençóis, fez o mesmo. Virei meu rosto para ele que sorria de olhos fechados e tinha algumas gostas de suor escorrendo pelo rosto.
- Uau!
Foi a única palavra que eu disse antes de nos cobrirmos e dormirmos de mãos dadas.
CAPÍTULO 41 - Madness
- O teste de farmácia deu negativo, mas hoje o exame de sangue fica pronto.
Enxuguei um pouco do esmalte do pincel e passei mais uma camada.
- É estranho fazer essas coisas depois de tanto tempo.
- Imagino.
Melissa riu do outro lado. Ela tinha mais experiência em gravidez do que eu, com certeza. Mas era como se fosse algo totalmente novo para mim, dessa vez eu esperava por resultados positivos, diferente de quando descobri sobre Jade.
- Estamos tentando sempre que temos tempo de estar em casa.
- Ew! Isso soa como uma obrigação, .
- Claro que não. Mas antes quando estávamos em casa só pensávamos em dormir. No entanto, voltar a ter uma rotina sexual tem nos feito bem, apesar do cansaço.
- Espero que sim, é como dizem, não deixe a chama apagar.
Ri de seu comentário. Mel sempre falava as coisas mais inusitadas que me faziam rir.
Terminei com meu lado manicure e observei suas mãos pequenas com as unhas rosa. Ela parecia tão frágil ali naquela cama, me senti tão mal. Às vezes Jade não parecia ter os problemas que tinha, nem a idade que tinha, mas quando caía a ficha, ela era só uma criança inocente. Passei a mão sobre minha barriga imaginando que uma vida se formava ali.
- Desculpe, meu anjo. Me perdoe por não ter sido uma mãe boa pra você, me desculpe por ainda não ser.
Eu esperava que ela estivesse escutando. Eu sentia que ela podia escutar, eu esperava que ela pudesse me perdoar. Nada poderia tirar da minha consciência que aquilo era culpa minha, que tudo o que fiz para que ela... Morresse na barriga, estava a afetando agora.
Era como uma traição. Como se agora, se eu tivesse uma boa gravidez com todo o cuidado, fosse errado, pois por um motivo tão egoísta com ela havia sido diferente. Eu me culparia por toda a minha vida.
- Você quer abrir?
perguntou segurando o envelope com o resultado do exame. Eu estava apreensiva.
- Não.
Com um largo sorriso esperançoso no rosto abriu o envelope como se já soubesse que daria positivo e que aquela cena ficaria gravada para sempre. Mas em questão de instantes seu sorriso desapareceu.
- Negativo.
Era como se você trabalhasse para alguém e no fim seu pagamento não estava ali, era essa a sensação que eu tinha. parecia estar bem mais desapontado do que eu.
- Vamos continuar tentando, meu bem, só passaram algumas semanas, talvez eu não estivesse fértil.
- Não faz sentido, eu...
coçava a cabeça nervoso, eu realmente esperava que aquilo não fosse o afetar, mas parecia já estar afetando. apertou o rosto com as mãos forte e grunhiu.
- , se acalme, essas coisas são assim.
Então ele deu um tapa em seu próprio rosto.
- , meu amor, se acalme. Se alguém o ver desse jeito pode pensar que está sendo agressivo e te denunciar, por favor, vamos para casa.
- Que se dane! Que merda! Que inferno! Todo mundo vá pra um maldito inferno!
chutava a mesma parede e algumas pessoas começaram a se juntar em volta de nós. Eu estava ficando nervosa. estava fora de si, de novo.
- Eu não sirvo nem pra fazer um filho! Eu sou um merda! Podem vir, me matem!
abriu os braços como se houvesse alguém apontando uma arma para ele, mas não havia.
Talvez fosse o que ele queria, talvez fosse o que todos queríamos. Alguém disposto a sujar as mãos e acabar com tudo aquilo. Eu sabia o quanto doía para , mas às vezes era duro de ver, de encarar.
- Ei, leve-o para casa, ou podemos levá-lo para ver um psiquiatra.
Alguém falou distante.
- Está tudo sob controle, obrigada.
Fui até um pouco sem jeito e o abracei. As pessoas ao nosso redor se dispersaram e então andamos até a saída em silêncio.
Dirigi até nossa casa em silêncio, assim que entramos, subiu para o quarto e eu fui até a cozinha tomar uma taça de vinho, que sempre me ajudava a relaxar.
- Como ela está?
Ernest perguntou me assustando com sua presença na cozinha.
- Está do mesmo jeito. Estão tentando fortalecer o sangue, mas ela está muito fraca.
- Isso não é bom.
Concordei e dei mais um gole. Ernest continuava ali parado como se esperasse mais alguma coisa.
- Posso te perguntar uma coisa?
Soltei sem pensar.
- Claro.
- Quando vocês eram mais novos, alguma vez foi agressivo?
- Bem, você conhece , mas sem motivos nunca. Ele foi agressivo com você?
- Não céus, não. Mas ultimamente o estresse tem afetado muito ele.
Ernest pareceu pensar em minha pronunciação. Não sabia se eles ainda eram tão próximos para tratar desse assunto com ele, mas com quem mais eu falaria?
- passou por muita coisa ultimamente, em toda sua vida na verdade. Acho que é o jeito que ele tem de pedir ajuda.
- Tenho medo de que ele volte a se drogar.
Era apenas uma das inúmeras coisas que passavam em minha mente ultimamente. Estaríamos enlouquecendo?
Abri os olhos assustada com um pesadelo. Ainda sentia a sensação ruim do sonho, mas não lembrava o que se passara nele. Notei que já havia levantado, então me espreguicei na cama e levantei devagar.
- Viu o ?
Perguntei para Claire que limpava a escada.
- Senhor saiu cedo, senhora ).
Franzi o cenho confusa. Para aonde ele teria ido? E seria seguro que ele saísse?
Tentei ligar para seu celular diversas vezes, mas ele havia desligado, o que me fez ficar extremamente preocupada. Minhas mãos começaram a suar. Eu já pensava no pior que poderia ter acontecido. E o pior é que eu não fazia ideia do que seria o pior que seria capaz, isso me dava medo, muito medo. Me troquei rápido e saí para procurá-lo, mas antes que fosse preciso dei de cara com sentado próximo a piscina no jardim.
- !
Gritei ainda nervosa, e corri em sua direção. Ele não virou para mim.
- , meu Deus, fiquei preocupada. Aonde estava?
Ele segurava um papel amassado nas mãos e mantinha os olhos fixos na água.
- Meu amor, você está me assustando. O que você tem? Pode me contar?
Senti que estava falando com uma pessoa tão frágil que poderia se quebrar com qualquer toque, e talvez realmente estivesse assim. Talvez tudo poderia se quebrar com simples toques.
Me agachei ao seu lado e esperei que ele reagisse. Quem diria que eu era a última a me manter sã? Depois de um tempo, me entregou o papel que ele tinha nas mãos.
Comecei a ler e logo notei que era algum tipo de exame de hormônios masculinos. Conforme meus olhos foram descendo e ligando um ponto ao outro, finalmente obtive a resposta do porquê ele agira daquela forma, e o porquê também de eu não estar grávida.
Me sentei ao seu lado. Seu corpo estava frio apesar de estarmos sob o Sol. Segurei sua mão e apoiei minha cabeça em seu ombro. E ficamos assim por um bom tempo, ou pelo menos, pareceu.
CAPÍTULO 42 - Sleep little child
É engraçado pensar um pouco em si mesma quando você tem milhares de coisas para se preocupar, e você se preocupa, mas é como se às vezes sua mente se desligasse do mundo ao redor, sobrando só seu corpo sem vida e ela. Talvez fosse nesses momentos em que grandes filósofos tiravam conclusões e sentidos para a vida. Não existia alguém são, alguém que não tinha nenhum resquício de insanidade. Às vezes eu observava algumas pessoas no hospital e analisava sua dor, usando uma escala. Quanto aquela pessoa está sofrendo em relação a mim? Eu nem sabia o que tinham, ou pelo que passaram por suas vidas, mas sempre parecia tão inferior, o nível de sofrimento dos outros em comparação ao meu. Sempre iria parecer que o mundo estava contra mim, por mais que eu soubesse que o eu que eu tanto estigmatizava era insignificante para o resto das pessoas.
Massageei meus ombros sentindo os nódulos formados ali, eu poderia pagar por uma massagem relaxante, mas eu não suportaria a ideia de ter alguém tocando meus problemas.
Senti um arrepio com o ar gélido que acabara de entrar e então abri os braços sentindo aquela sensação estranha. Meu corpo pedia que eu me retirasse dali, mas eu insisti em tornar aquela sensação de frio e arrepios em algo permitido.
estava em uma sessão intensa com seu terapeuta e eu estava sozinha em casa.
Minha casa.
Pareceria loucura se eu contasse para alguém que há algum tempo eu não suportava a ideia de estar no mesmo local que , ou ao menos tinha sua presença em minha vida. criara uma espécie de necessidade em mim, algo como que se eu não o tivesse em meus braços, eu não poderia prosseguir com uma vida normal. De imediato me veio uma imagem sua na mente, e então fechei os olhos. Seus olhos olhavam para cima e sua boca estava entreaberta, seus dentes brancos na frente e amarelados atrás se mostravam conforme seu sorriso se abria. Suas covinhas se formavam em perfeita sincronia. A esquerda era mais aparente do que a do lado direito hoje, e suas marcas de expressão faciais estavam suaves. Seus lábios cor de maçã do amor se afinavam cada vez mais. Seus cabelos balançavam, por pouco não cobriam seus ombros largos. Suas mãos fortes tocavam as minhas num gesto singelo, seu polegar acariciava meu pulso, e eu repetia seu movimento. Não senti a necessidade de beijá-lo por mais que fosse algo tão natural quanto abrir os olhos de manhã, mas eu apenas observei seu rosto com sua pele branca límpida.
Eu sorria, aquele meu sorriso bobo que às vezes trocávamos de manhã ao acordar quando tudo parecia um sonho. Ouvi o toque de meu celular.
- Alô?
Eu podia ouvir sua respiração do outro lado, e isso se repetia praticamente todo dia, me fazendo temer cada vez mais.
- Eu gostaria que você parasse de me ligar, já tenho problemas o suficiente para ficar me preocupando com quem quer que você seja!
Depois de cuspir minhas palavras desliguei o celular sem esperar por uma resposta, que retoricamente eu sabia que não viria.
Fechei os olhos novamente, mas não estava mais em meus pensamentos.
Alexis's P.O.V
A noite parecia tranquila, e a lua estava gigante no céu. Passei uma última camada de gloss vermelho nos lábios e me senti pronta.
- Querida Elizabeth, hoje iremos visitar sua irmã.
Toquei minha barriga para que ela sentisse meu afeto. Ás vezes Elizabeth se mexia tanto, mas hoje ela estava calma. Era como se ela soubesse, como se sentisse que tudo iria ficar bem novamente. Pisquei algumas vezes para o espelho e então fui em direção à porta. Desci devagar, eu sabia que não podia arriscar a saúde de meu bebê, ficaria tão desapontado. Segurando-me ao corrimão desci as escadas do prédio antigo e nojento.
Sr. Manfreud deu-me um sorriso assim que passei por sua confeitaria semi fechada, seus macaroons eram os melhores. Melhores dos que os de Paris? Talvez. Senti o vento balançar meu vestido ao caminhar pela cidade. Era um vestido de flores vermelhas como sangue, que fora feito especialmente para mim, um desenho que tornava perceptível Alexander Mcqueen como estilista.
Entrei no táxi gélido e dei as instruções.
- Se me permite dizer, e sem desrespeito algum, a senhorita está muito bonita. Tem certeza que me deu o endereço correto? Esse lugar é um hospital.
- Eu sempre estou linda. Continue dirigindo, e sem mais perguntas.
- Correto.
Ora essa. Estou muito bonita para um hospital? Eu era bonita demais para estar entre qualquer um desses seres repugnantes chamados pessoas, isso não é nenhuma novidade.
Dentro de alguns minutos estávamos parados em frente ao local, desci do carro sem olhar para trás. Passei pelas portas automáticas e fui até o balcão de informações, e fiz uma sessão de perguntas, eu precisava saber tudo, o quarto, horários, a medicação.
- Senhora, infelizmente não posso lhe dar essas informações. Se a senhora quiser visitá-la, pode voltar amanhã no horário que já mencionei antes.
- Claro, vou voltar com certeza. Ligarei para o pai dela.
Elizabeth deveria estar tão triste por ter sido impedida de ver a irmãzinha.
- Querida, ainda vamos subir, fique tranquila.
Fui até o elevador e apertei o andar de onde a menina estaria. Somente eu e Liz no elevador. E assim que a porta se abriu, senti uma doce adrenalina no sangue. Os corredores também estavam vazios. As coisas sempre eram tão fáceis para mim.
's P.O.V
Horas antes...
olhava para as paredes vazias. Talvez para mim fossem só armas bonitas, para ele era parte de sua vida. Desde que fora julgado, perdera sua licença para posse de armas de fogo.
- Meu bem, vamos para a cama.
- Eu não entendo, parece que tá tudo desmoronando, . Não tenho mais vontade de viver.
- Não diga isso, é uma fase de nossas vidas, tempos bons virão, você verá. Eu sei que nada do que eu diga vai te fazer sentir melhor, mas é a verdade que me forcei a acreditar. A vida não é isso , a vida é boa, mas tem momentos ruins.
- Obrigado, meu amor.
me abraçou de lado. Fiquei ali ao seu lado, os dois sentados naquele salão enorme e vazio.
- Será que faz eco?
- O quê?
riu de minha pergunta inusitada. Dei um grito para comprovar minha teoria, e eu estava certa.
- Faz tanto tempo que não escuto minha voz em um eco.
estava sorrindo.
- Sua vez.
Ouvimos o eco de sua voz. Era algo tão pequeno e bobo, mas se nos fez rir que mal teria?
Enquanto tomava banho, abri o laptop para checar meus e-mails. Nada de muito interessante, a não ser por um remetente desconhecido. Abri o e-mail imaginando já com o conceito de que seria perda de tempo.
", se eu fosse você, não confiaria em deixar sua filha no hospital sozinha está noite."
Isso era tudo. Meu coração acelerou um pouco, mas estava ciente que poderia ser apenas uma brincadeira de mau gosto.
- Harry?
Ele estava saindo do banho na mesma hora, seus cabelos pingavam.
- Tenho algo para te mostrar, mas não se desespere.
chegou mais perto e tomou o laptop de minhas mãos bruscamente. Notei seus olhos deslizando de um lado para o outro depressa. Ele largou o aparelho em cima da cama e pegou o celular. Ele estava nervoso, mais do que eu.
- Vamos nos acalmar, talvez tenha sido alguém que descobriu meu e-mail e quis nos assustar.
- Não importa, eu não posso arriscar. Não posso mais.
Deixei que ele ligasse para o hospital. Me sentei de volta na cama e então senti uma coisa muito estranha, era como se algo de muito errado estivesse acontecendo. Senti vontade de desmaiar. fazia algumas perguntas de modo rude ao celular, mas meus ouvidos tinham zumbidos enormes para que eu me concentrasse em suas palavras.
- Alguém esteve lá, uma mulher!
- O quê?!
- Eu não sei, , alguém esteve lá e fez perguntas sobre ela há alguns minutos.
- Meu Deus, vamos lá, eu não vou dormir se não puder vê-la agora.
colocou um moletom preto, enquanto eu pegava um sobretudo. Quantas vezes saímos de casa tão as pressas? Quantas vezes para o mesmo hospital?
Em pouco tempo já estávamos dentro do carro e dirigia como um alucinado, se aqueles guardas o vissem agora, teriam um bom motivo para prendê-lo de novo. Senti-me fora de meu corpo, como se aquilo não estivesse acontecendo. Os sons em meus ouvidos se tornavam mais fortes a cada segundo.
Assim que chegamos ao hospital corremos em direção ao elevador. Um segurança tentou nos barrar, mas por um milagre dos céus, não o matou, mas mostrou o crachá de acesso para o quarto de Jade. Entramos no elevador e pareceu uma eternidade até chegarmos ao oitavo andar. A porta se abriu e corremos em direção ao quarto. Minha cabeça girava.
Alexis's P.O.V
Abri a porta lentamente, e os sons de aparelhos médicos funcionando se tornaram mais altos. Lá estava ela, tão sensível, tão frágil, tão tóxica. Andei até seu leito, e ouvi os sons de meu próprio salto agulha que se misturavam com os sons dos batimentos cardíacos de Jade como uma bela melodia. Eu poderia passar horas dançando ao som de nossa sincronia.
- Creio que seu pai nunca lhe mencionou sua irmãzinha. Pois é, você não é mais a preferida, nunca foi. Você foi só uma peça descartável nas nossas vidas, garotinha.
Cuspi as palavras em seu rosto doce e pálido. Ela era tão linda, suas formas eram tão parecidas com as de que quase me parecia um pecado tirar sua vida, mas não havia lugar para as duas. Logo Elizabeth estaria em nossas vidas, e não teria mais tempo para a pobrezinha.
- Espero que não leve isso para o lado pessoal, você me foi bem útil. Mas eu não posso mais permitir que você viva, não mais. Você estragou minha vida!
Gritei as últimas palavras num tom mais alto, mas não quis parecer descontrolada, tudo estava sob meu controle, como sempre fora e sempre seria.
Toquei a seringa frágil dentro de meu sutiã. Agarrei-a e puxei para fora. Estava na hora. Nem mais um suspiro.
- Chega!
Furei o cateter do soro que ela fazia uso, com a agulha afiada. Parecia que todos estavam dispostos a me ajudar.
- Pode soar clichê, mas não vai doer nada, eu prometo.
Dei um pulo sem ao menos sair do lugar ao ouvir o estrondo que a porta fez.
Eles estavam lá. E então estávamos nos encarando.
estava parado de um lado com as mãos fechadas em punhos e ao seu lado com as mãos levantadas como se fosse conseguir algum acordo de paz ou algo tão patético quanto. Eu ainda segurava a seringa, mas não fiz nenhum movimento, não queria que visse aquela cena, ele não merecia, por mais que fosse para seu próprio bem.
- Alexis, se afaste dela, por favor.
Que voz linda que era a sua. Eu estava com tanta saudade de ouvir sua voz. Não era aquilo que eu queria ouvir, mas ao menos ouvir seus lábios pronunciando meu nome já me fazia sentir bem.
- Elizabeth nunca ouviu sua voz, assim tão perto.
Eles continuavam parados, como duas estátuas. Era até um pouco divertido.
- Do que você está falando?
- De nossa filha, Harry, oh desculpe, você queria escolher o nome?
parecia sem chão. Não era bem assim que eu queria dar a notícia, mas algumas coisas não saem como o planejado.
ameaçou andar e então coloquei a outra mão na seringa pronta para injetar o veneno. E então ela parou. Eu estava amando esse joguinho, poderia ficar assim por um bom tempo.
- Sim, Alexis, eu gostaria de poder escolher o nome de nossa filha.
- Você nunca esteve ao meu lado quando precisei! Ficou com essas duas sanguessugas!
- Me perdoe, só ficarei com você agora, eu prometo.
achava que eu era algum tipo de psicopata burra? Eu sabia que ele estava mentindo, ele não se importava conosco. Nunca me ligou para saber se eu estava viva, e agora diz que abandonaria as duas por mim? Ótimo.
Dei um sorriso de canto para os dois e então me virei para terminar aquilo. Já estava ficando chato.
Passamos toda nossa vida em busca de um pouco de amor, e quando o encontramos não podemos deixar que pessoas ruins nos tirem nosso direito de ser feliz. era minha felicidade, como nunca outra pessoa fora. Nunca houve um alguém que se importasse, e por mais que eu me enganasse indo para cama com outros, sempre seria meu amor verdadeiro, e ele sabia disso.
Sabia que era o único que poderia me machucar, me ferir por dentro. tinha o poder de me destruir, pois me via em meu lado mais vulnerável. E eu diria que foi isso que aconteceu.
Assim que me pus a realizar meu plano, apontou uma arma para mim e atirou em minha mão me fazendo largar o objeto. Senti uma ardência terrível e caí no chão. Nada poderia doer mais do que saber que era tão capaz de me machucar, e ali caída no chão gemendo de dor observei os dois em ridículas lágrimas se agarrando à menina inconsciente. Nada poderia doer mais do que comprovar que nem eu, nem Liz, éramos algo para Harry, não tínhamos espaço algum em sua vida.
Eu não consegui ouvir o que falavam, mas algumas pessoas entraram no quarto e parecia tão nervoso. Eles me levantaram e então olhei nos olhos do homem que eu amava.
- “Eu sou estéril.”
Eu não pude ouvir, mas li seus lábios, os quais eu conhecia muito bem.
Deixei que me levassem dali.
Deixei que mexessem em minha mão por mais que doesse.
Deixei que me algemassem.
Deixei .
CAPÍTULO 43 - Psychiatry
Fazia dois dias desde meu julgamento e a sentença. Eu continuaria presa ali naquele manicômio imundo junto com aquelas pessoas grotescas. Os remédios que me davam me faziam extremamente sonolenta, eu poderia dizer literalmente que só dormia e comia.
Elizabeth também fora afetada pelos remédios e se tornara uma criança calma dentro de minha barriga, fazia tempo que não a sentia mexer. Eu escrevia uma carta para a diretoria do hospital exigindo uma ultrassonografia, eu precisava de um bom obstetra também. Parecia que todos eram loucos naquele lugar, mas ironicamente não eram os pacientes, e sim os funcionários.
Às vezes se faziam de surdos, ou não me davam privacidade. E o Doutor Paolo? Céus! Que homem irritante, eu preferia fazer compras em um brechó do que ter conversas com aquele louco, todo santo dia!
- Alexis.
Me virei e a enfermeira Hannah entrava no quarto com uma bandeja.
- Olá, Hannah querida, infelizmente não vou poder tomar esses medicamentos agora, estou ocupada escrevendo uma carta de reivindicação de meus direitos e preciso estar com a mente limpa.
- Entendo, o que quer reivindicar ?
Voltei a escrever com dificuldade, já que minhas mãos estavam deformadas.
- Preciso ver um bom obstetra, e fazer alguns exames para saber sobre a saúde de Elizabeth.
Hannah colocou a bandeja sobre minha mesa e me observou.
- De onde tirou essa caneta Alexis? Sabe que é proibido qualquer objeto perfurante aqui.
- Oras, Hannah, não precisamos dessas cerimônias. Você mais do que ninguém sabe que não sou como esses outros dementes. Sou uma mulher de classe, sei cuidar de mim mesma.
- Eu sei que sim, mas regras são regras. Vou deixar que termine sua carta, pois confio em você, e em troca peço que tome seus medicamentos já que meu emprego depende disso. Mas que não se repita, se algum dos médicos vissem isso no meu turno, eu levaria um puxão de orelha.
- Você é um doce, querida.
Escrevi só mais algumas linhas, já que Hannah ficava me observando e me senti bem desconfortável. Entreguei-lhe a carta e ordenei que levasse até à direção. Infelizmente tive que tomar os três comprimidos da bandeja e como sempre mostrar a língua ao engoli-los. Hannah saíra com a carta e também levara a caneta que eu roubara da mesa de Paolo.
Me deitei na cama e em pouco tempo senti meus olhos pesarem e minha mente confusa. Enquanto alisava minha barriga, peguei no sono.
's P.O.V
Havia algo naquela poltrona que realmente me deixava relaxado.
- Sim, foi por pouco que não me mandaram para cadeia. Graças ao advogado, consegui que só aumentassem meus trabalhos comunitários.
- E como você manteve aquela pistola sendo que retiraram sua licença?
- Ah, Arnold, caro Arnold. Eu só a coloquei em outro lugar, sabia que poderia precisar a qualquer minuto, e não me arrependo de tê-la usado.
Arnold anotava algumas coisas em silêncio.
- O que tanto anota aí, cara? Não está desenhando como nos filmes, né?
O homem robusto sentado em minha frente com pernas cruzadas ria. As mãos dele eram tão grandes em torno daquele bloco de folhas minúsculas. Sua cabeça careca completava o look de médico virgem. A verdade é que Arnold era um cara legal, e se não fosse isso eu não levaria suas sessões, um tanto inúteis, de terapia a sério.
- E sua filha? Está se adaptando ao novo medicamento?
- Sim. Depois que Jade saiu do hospital, ficamos com medo de que ela só fosse piorar, mas ela está estabilizada.
- Mas você a queria curada.
- É tudo que eu mais quero na vida, Arnold.
O silêncio voltou a reinar na sala, pensei em Jade e como era bom tê-la de volta em casa, sem ter que vê-la cheia de aparelhos e agulhas enfiadas em suas veias. também estava feliz com sua volta, mas ela ainda estava muito abalada com tudo o que acontecera.
não sabia, mas eu a ouvia toda noite chorando baixo, entretanto eu fingia que continuava dormindo, não queria que ela se sentisse incomodada com minha presença. Eu a amava tanto, e às vezes não sabia como demostrar, como fazê-la sentir meu amor, e no fim eu só ficava quieto no meu canto.
- Já amou muito alguém, que sentisse seu coração quase esmagado ao estar perto dela?
- Sim, minhas filhas.
- Não, cara, um outro tipo de amor, de adultos sabe.
Arnold riu de minha expressão boba.
- Creio que amei muito minha ex-mulher.
- O que fazia para ela saber que a amava assim? Para que ela não achasse que você só a amava, mas que a amava mais do que jamais amou ou algum dia amaria alguém.
O sábio médico não respondeu de imediato, ele pareceu procurar algo em seu passado, mas sem sucesso.
- Sabe, , acho que nada. Eu não consegui fazê-la entender isso e por isso hoje ela é minha ex. Mas se é a mulher da sua vida, e você tem a certeza disso, dê seu jeito para que ela saiba disso para não perdê-la.
- Eu nunca senti isso. Nunca amei de verdade alguém, talvez meus avós, mas não sei se teria dado minha vida por eles. Hoje eu me vejo outra pessoa por causa dela, e mesmo que nossas vidas estejam uma merda, eu não voltaria no tempo, não faria nada diferente, não escolheria outra, nunca. É uma coisa estranha, eu sinto como se estivesse drogado ao lado dela.
- Isso é o amor verdadeiro, meu caro.
Amor verdadeiro. Quem diria que encontraria alguém que o fizesse se sentir assim?
- Saberia listar as coisas que mais gosta em sua mulher?
Sua mulher . Ninguém jamais falara de assim, nem mesmo eu. Mas a palavra lhe caía bem, me fazia sentir bem.
- O aroma incomparável dela foi a primeira coisa que notei. Gosto de olhar nos olhos dela que sempre fogem de meu olhar, mas no final quem acaba desconcertado sou eu. Ela não sabe disso. Gosto do sotaque escocês dela, mas só o dela, e como ela pronuncia meu nome. Gosto de como ela me acalma, tem paciência comigo e me faz ter o pé no chão. Gosto quando ela contorna minhas tatuagens com os dedos, uma por uma quando estamos na cama.
Deveria eu mencionar que gostava dos seios arredondados, seus mamilos alaranjados e pequenos, e quando ela deixava apenas uma camada fina em formato de coração de pelos pubianos em sua intimidade?
Não, eu guardaria isso só para mim, era muito ciumento para dividir qualquer divindade de com qualquer outro alguém.
- Gosto dos pés dela, cara, eles são tão macios e pequenos, quando estamos dormindo parece que estou tocando algodões. Gosto de assisti-la cozinhar, me dá um certo tesão, mas só com ela. Olha, eu gosto de muitas coisas em .
- Então agora diga uma dessas coisas a cada dia a ela.
- Não sei se consigo.
Soltei um riso nasalado, provavelmente estava ficando gripado.
- Você conseguiu dizer isso para um velho careca, não vai conseguir dizer para sua mulher, cara?
's P.O.V
Poderia jurar que elas haviam sido enviadas por alguma empresa, ou seja lá quem fosse, mas nunca imaginaria que tinha sido !
- Perdão, mãe, chegou uma entrega para mim e preciso processar o assunto. Mais tarde te ligo. Beijos.
Desliguei o celular e assinei meu nome na folha. As flores brancas tinham um perfume deslumbrante, e o que se seguia era uma caixa de bombons em formato de diamante e um gato de pelúcia.
- Passar bem, sra. .
Apenas acenei com a cabeça e a empregada logo tratou de pegar as milhares de flores de minha mão.
- quem as enviou. Acredita?
Falei com um sorriso de menina boba no rosto, eu nem gostava desses mimos, mas não podia fingir que não estava completamente radiante. Eu nunca em toda minha vida recebera algo assim, nunca ninguém me amara assim.
Assim que colocamos tudo em cima de uma mesa, ela se retirou e eu curiosa fui ler o cartão que dizia:
" , minha querida mulher.
Faz tempo que nos prendemos aos problemas, ao passado, às coisas negativas da vida. Mas você me ensinou que devemos olhar para o futuro, e vejo um futuro iluminado, pois não vejo outro alguém a não ser você nele. Hoje posso dizer com toda a certeza que um homem pode ter no mundo, que você, , você é o amor de toda a minha vida. É a única mulher nesse mundo inteiro por quem eu entreguei completamente meu coração tão complicado, e a única que soube o aceitar. Eu tão cético passei a acreditar em almas gêmeas e a minha é somente e exclusivamente sua, por toda a eternidade. Eu te amo de uma forma que nunca amei e nunca irei amar de novo, . Desculpe tudo isso, sei que você não é melosa, mas eu precisava te provar isso uma hora, mesmo que eu tenha sido tão cliché.
De seu sr. Hollywood.
Ps: Espero que possa me recompensar de noite, usando o presentinho que lhe deixei. "Era normal estar se apaixonando novamente por alguém que você já amava perdidamente? Pois era isso o que estava sentindo nesse momento. Aquele frio na barriga, o coração acelerando, um sorriso incontrolável no rosto. Eu era tão boba por . Segurei o bilhete contra meu peito e respirei fundo sentindo meu coração queimar. Meus olhos quase lacrimejaram, se eu não tivesse me lembrado da parte final de sua carta e fosse imediatamente vasculhar os presentes à procura do tal "presentinho".
Por entre as flores encontrei uma sacola de veludo preta. Dentro havia um conjunto de lingerie branca e uma caixa de joia, também preta. Dentro encontrei um lindo anel de brilhantes com pedras minúsculas ao redor e uma grande em formato de quadrado no centro. Nada servira tão bem em meu dedo quanto aquele anel, que beijei com meus lábios mordidos.
- O que acha de irmos assistir uma peça amanhã? Faz tempo que não saímos para nos divertir, e seu médico já liberou.
- Não sei se quero, mamãe, esse remédio me dá vontade de vomitar. Jura que não posso voltar a tomar o outro?
Suspirei devagar com sua queixa que já se tornara repetitiva, mas o que poderíamos fazer a não ser aguentar enquanto esperávamos pelo doador?
- Querida, já conversamos sobre isso, não faça isso comigo, sabe que por mim você não estaria doente.
- Eu sei, tudo bem.
Jade sorriu e voltou a olhar para a televisão, que com uma música lhe chamara a atenção, apesar do sono que já a incomodava.
Encostei minha cabeça no travesseiro e na mesma hora ouvi a voz de na casa. Despertei e Jade já estava sonolenta.
- Filha, se incomoda de dormir sozinha hoje? A mamãe precisa conversar com o seu pai.
Ela acenou com a cabeça praticamente já no primeiro estágio de um sono longo. Deliguei a televisão barulhenta, liguei seu abajur em formato de flores que girava e refletia várias flores no teto e dei um beijo em sua cabeça.
Saí do quarto sem fazer barulho e encontrei no corredor. Assim que vira meu sorriso, seu rosto adquirira um rubor que eu nunca havia visto. Corri em sua direção e lhe abracei o pescoço que não tinha mais o aroma do perfume que usava mais cedo, e sim o seu próprio.
Minhas mãos acariciaram seu rosto sério e não demorou muito para nos entregarmos a um lindo e intenso beijo. Eu estava na ponta dos pés, e minha coluna curvada. Suas mãos se sobreporão nas minhas que ainda lhe acariciavam o rosto e senti sua pele quente nas costas de minhas mãos.
Me sentia como em um primeiro beijo, como se eu houvesse esperado muito por aquele momento e finalmente ali estava eu com seus lábios apreciando os meus e os meus os seus.
Quando partimos o beijo por falta de fôlego, tentou falar sem sucesso palavras que eu ouvi como " eu chi eu chi a...".
Mas as entendi como "eu te amo", e não fiz questão que ele repetisse, por isso voltei a unir nossos lábios que nunca deveriam se separar nessa vida, como a água do mar e seu sal, a vida e sua morte, a música e seu som.
CAPÍTULO 44 - Happy and disturbed family
- Eu gostaria de propôr um brinde. À Felicidade.
, minha mãe, Melissa, Ernest, a tia de , e até meu pai com sua esposa, todos levantaram suas taças, algumas com champanhe outras apenas com água, e então fizemos um brinde sorrindo.
Eu me sentia leve, e não esperava me sentir de outra maneira por um bom tempo. Cada pensamento negativo era filtrado, eu procurava olhar apenas para as coisas boas que vinham acontecendo. Eu e estávamos mais felizes que nunca, Jade não se sentia mais tão mal com o novo medicamento, nós podíamos enfim esquecer os ressentimentos com nossas famílias e amigos, e tudo parecia melhorar a cada momento.
Alguém na lista de doadores, parecia se encaixar nos perfis de Jade, e só precisávamos esperar uma série de exames para confirmar e então finalmente minha querida filha poderia fazer a cirurgia e voltar a viver normalmente. Se hoje eu perdia o sono de noite, era apenas por ansiedade de que esse dia logo chegasse.
- E eu gostaria de brindar por , minha amiga de infância que nunca me abandonou, nunca me deixou de lado, que esteve comigo nas horas mais difíceis de minha vida me dando sua mão.
Mel falava com seu copo estendido em minha direção. Seus olhos sujos de lápis de olho preto de uma semana atrás se viraram para mim. Ela parecia emocionada. Vê-la emocionada me deixou emocionada.
- Eu te amo demais, , demais mesmo. Você é a única pessoa que me importa e tudo que faço na minha vida é por você. Por favor me perdoe por ser quem eu sou.
Melissa abaixou o copo devagar, todos estavam em silêncio, talvez incomodados com a cena de Melissa com lágrimas nos olhos se declarando. Eu estava um pouco desconsertada, não esperava por aquilo.
- Melissa, você é minha melhor amiga, minha irmã. Eu te amo exatamente do jeito que você é, com todos os problemas e encrencas. Não precisa pedir perdão por nada.
- Você não entende, nunca vai me entender, me desculpe.
Antes que eu pudesse dizer algo, Mel deixara a mesa. Olhei para que parecia tão confuso quanto eu e fez um sinal com a cabeça para que eu fosse atrás de Melissa, e foi o que fiz.
- Com licença.
Corri pela casa procurando por ela nos cantos possíveis, fui até o lado de fora e nada. Perguntei aos empregados da casa, aos jardineiros, motoristas e ninguém a vira. Andei pelo jardim. Andei pelos arredores da vizinhança, procurei Mel por toda a mansão . Liguei para seu celular, mas tudo o que encontrara era o vazio e a dúvida que ela deixara naquela noite.
- .
Me virei e encontrei Ernest atrás de mim, que se sentou ao meu lado nos degraus da escada que levava o jardim até o salão de festas.
- Sua amiga é um pouco confusa, não é?
- Perdão, Ernest, mas não me sinto à vontade para falar de Melissa.
- Entendo, só pensei que poderia te ajudar. Veja bem, estamos no mesmo barco. Nós dois temos em comum melhores amigos complicados e que abusaram de drogas.
Meu rosto estava apoiado em minhas mãos, mas o encarei franzindo o cenho.
- Como sabe que Melissa tem problemas com drogas?
- Oras, me conta muitas coisas. Mas isso não é o que importa aqui, o que importa é que não se pode confiar em pessoas assim, , é só o que te digo.
Ernest parecia uma boa pessoa e ao mesmo tempo me passava algo tão ruim, uma sensação estranha sempre aparecia quando ele se aproximava. Olhei em direção à sua mão que possuía um anel bizarro de ouro, e então logo ele tratou de esconder, o que só tornou as coisas estranhas.
- Obrigada pelos conselhos, vou entrar. Boa noite.
Assim que entrei encontrei todos os convidados de meu jantar prontos para irem.
- Só esperávamos você para irmos, querida, conseguiu encontrá-la?
- Não.
Disse desapontada, e recebi um beijo na testa de minha mãe.
- Tem certeza que não querem ficar?
Assisti a cena um tanto estranha de minha mãe, meu pai e Florence acenando a cabeça em uníssono.
- Precisamos resolver algumas coisas amanhã de manhã, mas eu adoraria.
- E eu preciso pegar um avião daqui a trinta minutos, certo, ?
- Sim, senhora .
- Então tudo bem, Martin vai acompanhar vocês.
Me despedi dos três que seguiram com o mordomo da casa.
- E sua tia?
- Foi embora há alguns minutos. Como você está?
perguntou enquanto me envolvia em seus braços. Me aconcheguei em seu afeto.
- Não muito bem. Fiquei preocupada com Melissa. O que ela quis dizer com aquelas coisas?
- Eu imaginei que ficaria, mas realmente não sei, meu amor.
- A propósito, por que contou ao Ernest que ela tinha problemas com drogas?
- Eu conto muitas coisas para ele, realmente não me lembro do motivo de ter dito isso, nem se disse, mas se ele sabe provavelmente eu disse.
Olhei repreensiva para que me retribuiu com um selinho.
- Vamos dar boa noite para Jade e nos deitar, o que acha?
Sorri e me desvencilhei de seus braços. Fui caminhando em direção ao nosso quarto levando pela mão.
Melissa's P.O.V
A vida parece injusta para alguns, parece uma merda para outros, para mim ela era apenas infeliz e sempre seria. Não importa o que eu fizesse. Não importa o que tentasse. Eu sempre seria o fracasso a qual todos estão acostumados, que todos esperam. “Qual a próxima bomba que a Moresby pode soltar no mundo?”
Não vou mentir e dizer que não doía. Doía demais. Não era a mesma dor que perder seus filhos por ser uma vadia drogada, ou a dor de não ter dinheiro para comprar químicos e passar a noite agonizando em um chão sujo. Era uma dor diferente, a dor de saber que não teria mais volta.
Traguei o cigarro e soltei a fumaça pela janela do carro. Cada segundo que se passava, era como se paredes em torno de meu coração se fechassem. O som que o vento fazia em meu ouvido chegava a doer, e minhas mãos tremiam ao volante. Olhei no relógio. Três da tarde. Eu precisava estar lá até às três e meia, ou quem sabe o que aconteceria? Eu não podia me dar ao luxo de me atrasar.
- Oi! O que é, seu desgraçado?
Atendi o celular rispidamente, eu já sabia que era ele. Aquele cafajeste voltara a me perseguir, voltara a me fazer parte de seu inferno. Eu não sabia quem eu odiava mais, ele, ela ou... Eu mesma.
- Isso é jeito de falar comigo? Não acha que está muito corajosa, não?
- Não. Estou ocupada, estou dirigindo.
- Não me importa se está dirigindo ou até se está viva. Vi a ligação em seu celular, sei muito bem de onde era. O que ela queria?
Buzinei freneticamente para o carro que acabara de me cortar na estrada. Imbecil! Mas não tanto quanto o imbecil que tornava minha vida um pouco mais pior a cada momento, se o arrependimento matasse... Eu estaria bem feliz de finalmente estar a cem palmos abaixo do chão. Que meus filhos me perdoem, mas eu estaria lhes fazendo um favor.
- Ela não queria nada, só queria saber notícias. Queria me pedir que lhe contasse o que vinha acontecendo.
- Não acredito em você.
- Que pena.
Desliguei o celular em seguida, eu sabia que ele não retornaria, não depois daquela afronta, ele armaria algo pior do que uma bronca por telefone.
E então logo eu havia chegado. Coloquei primeiro meus pés envolvidos em coturnos para fora e depois todo o corpo, e fechei a porta com uma batida estridente. Subi as escadas de pedra e cheguei até os grandes portões de ferro.
Naquele instante meu corpo fora acertado por flechas, e juro nunca ter sentido tanto medo e remorso ao mesmo tempo. Pressionei as mãos enluvadas no rosto.
MERDA! MERDA! MERDA! Esmurrei a parede sem pensar quem assistiria. Tinha que haver outra saída que eu deixara escapar, tinha que haver algo para se fazer. Eu não poderia fazer aquilo, aquilo era covardia, era... Traição? Mas se os motivos eram vidas, então ainda assim eu seria condenada?
Antes que eu pudesse dar meia volta, uma mulher bem vestida apareceu na minha frente, e talvez já estivesse ali faz tempo.
- Boa tarde, visita certo? Ou veio procurar ajuda?
- Sim, visita.
Era tão nítido que eu deveria estar presa naquele lugar?
- Senhorita Alexis Windhock?
- Isso mesmo.
CAPÍTULO 45 - Where the lies hide
Era provável que meus dedos se encheriam de calos. Jade pedira que eu a ajudasse a pentear todas as suas bonecas, que não eram poucas. Eu me sentia bem de passar um tempo com ela sem ser acompanhando procedimentos médicos ou vendo televisão em uma cama. A verdade é que essa semana Jade se mostrara bem mais ativa e disposta. Antes eu costumava me preocupar com o fato de que ela estaria perdendo muito tempo sem ir à escola, sem poder se socializar com meninas de sua idade, mas, na verdade eu só queria que ela estivesse bem logo, e ela teria toda uma vida para fazer essa coisas, agora era importante cuidar de sua saúde.
- Querida, eu te amo muito. Você é uma ótima filha, sabia?
Ela me olhou surpresa e risonha.
- Eu também, você é a melhor mãe do mundo inteirinho!
Lhe dei um abraço apertado que logo ela fizera acabar para continuar brincando. Às vezes achamos que os filhos precisam dos pais, mas são os pais que precisam dos filhos. Quantas coisas Jade já me ensinara? Quantas vezes foi seu sorriso puro que me ajudara a suportar coisas que nem eu sabia que suportaria. E olhar para ela assim, tão grande. Tínhamos tanta história juntas, tantas dificuldades vencidas, tantos orgulhos. Eu tinha orgulho de ser sua mãe, e esperava que ela tivesse orgulho de ser minha filha.
segurava minha mão fria enquanto entravámos no carro. Apoiei minha cabeça em seu ombro. A sensação que rondava era de que estávamos indo para um funeral. O carro seguiu viagem, e permanecemos em silêncio.
Se fosse um pouco mais longe, eu teria cochilado no ombro de , mas não deu tempo.
Subimos escadas de pedra e portões enormes de ferro se abriram. Havia uma pequena mulher loira, muito bem vestida que nos recebera. Apesar de toda boa recepção senti caláfrios.
- Boa tarde, visitantes para a senhorita Alexis Windhock, certo?
- Infelizmente.
disse seco deixando a moça simpática um pouco sem graça, mas logo recuperou seu sorriso falso.
- Me acompanhem, por favor, para preencherem as fichas.
Fomos de mãos dadas por todo o caminho a seguindo. Era uma trilha de pedra com um lindo gramado em volta. Em frente dava para ver uma enorme mansão que abrigava pessoas tão insanamente perturbadas como Alexis. Cada momento em que chegávamos perto, era como se algo me puxasse para fora. Como se eu fosse um vampiro e aquele lugar fosse cheio de água benta. Mas apertei a mão de e continuei.
- Está nervosa?
Ele perguntou num sussurro. Eu quase não pude responder.
- Sim, muito. Me sinto estranha.
- Eu também. Mas vamos acabar logo com isso, e então estaremos livres dela para sempre.
beijou minha testa. Não desacelerou meu coração, mas me senti segura.
Depois de assinar todos os papéis o médico que era responsável por Alexis no lugar viera nos atender.
- Então vocês são os famosos e .
A falta de expressão em nosso rosto provavelmente o alertou de que tentar estabelecer um humor era nada agradável.
- Bem, eu gostaria de pedir que conversassem com Alexis um pouco. Que vocês mesmos possam lhe dizer a notícia de que ela não possui mais nenhum contrato que a conecte com os senhores.
Olhei para , que mexia as mãos incessantemente.
- Nós falaremos com ela.
Eu mesma tomei a iniciativa. Se eu soubesse...
Ele nos acompanhou até a entrada, mas entramos sozinhos no corredor que levava ao quarto dela.
- Será que ela tem algo que possa nos ferir?
- Creio que eles não nos deixariam entrar sozinhos se tivesse a possibilidade.
me tranquilizou, e então finalmente abrimos a porta barulhenta.
E lá estava ela, sentada, nos esperando. Mas ao seu lado estava...
- O que é isso? O que você está fazendo aqui, Melissa?
Melissa se levantou com olhar de peixe morto, e veio em minha direção.
- Espero que possa me perdoar algum dia, mas faço isso por você.
Ela falou tão baixo que mal pude ouvir.
- Será que dá para parar de falar isso? Me explique o que faz aqui, e o que houve com você na última semana! Mas fale alguma coisa, Melissa!
- Por favor, , peço que se acalme, Alexis tem algo a dizer.
Melissa fez um sinal para a enfermeira que estava no quarto, de que estava tudo bem.
Não fazia sentido. Perplexa era a melhor forma de me descrever naquele momento. O que estava acontecendo, o que ela queria? parecia tão desnorteado quanto eu.
- , meu querido.
Ela se levantou, colocou os braços sobre Melissa que mantinha a cabeça abaixada.
- Alexis, estamos aqui para te falar algo e não me interesso para o que tem para dizer.
- Aposto que vai lhe interessar, já que é sobre sua querida amante e sua filhinha. Vamos, Melissa, conte para a gente. Como foi que engravidou de Jade, e por quê?
Olhamos todos para Melissa, eu gostaria de saber o que ela tinha para dizer, afinal ela estava ali de livre e espontânea vontade, não é mesmo?
- , eu não posso mais deixar te enganar. Preciso te contar toda a verdade por trás daquela noite há anos atrás.
- Como é que é?
Disparei. me agarrou o braço.
- Deixe que falem, assim as duas podem ser colegas de quarto.
Fiquei parada como estátua esperando ouvir a tal versão que Melissa sabia. O que Alexis estava tramando dessa vez?
- Pois bem, quando estávamos na boate, eu incentivei a falar com você, certo ?
- Sim, me lembro disso.
- E então ela o fez. Você gostou dela, e passaram a noite juntos, não foi ?
- Sim, foi isso que aconteceu. O que é isso? Vocês vão fazer um filme caseiro recriando a cena de nosso primeiro encontro?
Melissa parecia confusa e nervosa. Eu sabia que tinha algo de errado, mas o ódio, o ódio de vê-la ali junto de Alexis, a mulher que quase matou Jade, me impedia de pensar com clareza. E então ela continuou com o drama patético.
- Por fim me encontrou no outro dia, e me disse o que havia feito. Que havia dado um jeito de engravidar de , certo ?
- O que você...
Me calei. Pude refletir no que ela dizia, o que queria dizer, o que queria com tudo aquilo. E então me lembrei do dia. Aquela breve conversa de telefone. Me lembrei de minha total insegurança.
“- Não sei, foi mágico! Foi a melhor coisa que já aconteceu na minha vida! Não tem como especificar como foi.
- Nossa, amiga! Você vai ficar famosa. Não esquece de mim, ok?
- Só me diz por que eu estaria inventando isso, Melissa? Hein? E para sua informação, além de ter transado com ele, eu furei a camisinha, estou no período fértil e com sorte em breve terei um mini para mim.
- Espera! Você fez isso? Eu estava até acreditando na história, mas isso! Isso não é muito sua cara.
- Pois acredite se quiser. Pode não ter dado certo, mas eu segui seu conselho. Por que só fazer sexo, se você também pode ficar rica?
- Já vejo nós duas dando entrevistas e mais entrevistas, ficando realmente famosas.”
Depois me lembrei de todas as outras vezes em que tive a oportunidade para desmentir, mas senti medo. Puro e simples medo. Medo de desmentir minha pior mentira. No fundo eu tinha medo de que Melissa descobrisse não só que eu era uma mentirosa, mas que também era uma idiota. Eu queria que ela acreditasse que eu era talvez um pouco tão corajosa como ela. E meu silêncio fez com que me olhasse horrorizado.
- É uma pena que ela tenha te enganado por tanto tempo, meu amor. Mas você é bem bobinho, não é? Deveria ter percebido assim que ela aceitou assinar papéis para vender a imagem da própria filha por dinheiro.
Fechei os olhos. Não queria estar ali. Queria estar em Fife, em St. Andrews. Queria estar em meu quarto de menina, com ursos de pelúcia e pôsteres na parede. Pôsteres da minha banda favorita, os The Seasons. Eles tocam muito bem, sabia? Suas músicas tem arranjos impressionantes, e as vozes dos dois vocalistas... Eu caía de amores por um deles.
Meu armário cheio de revistas adolescentes. Na escola ninguém me imaginava uma tiete de primeira. sempre a primeira da classe, sempre boas notas, nenhum namorado. Tudo parecia em perfeito estado, uma vidinha chata, mas uma vidinha em paz.
- ! Isso é verdade? Responde?!
Abri os olhos. Aquele lugar parecia caótico. Todos me encaravam, mas cada um tinha uma expressão bem particular e singular. Alexis sorria, se sentia bem. Melissa tinha dor nos olhos, e um orgulho que impedia que se transformassem em lágrimas, e ... tinha fogo. Aquele mesmo fogo que apareceu em seus olhos no dia em que assassinara uma vida. Mas não era só isso, ele tinha medo, medo de que eu dissesse a palavra que todos esperavam. Minha cabeça estava congelada.
- Sim, eu disse isso.
Um vento viera e soprara dentro dos olhos de levando todo o fogo, todo o brilho e vida que neles tinham. Olhos cinzas vazios me encaravam, mas eu não sentia que estava ali. Não sentia que aquilo estava realmente acontecendo, não poderia estar acontecendo. Ouvi aquelas vozes, aqueles ruídos em meu ouvido que não me deixaram dormir por tanto tempo. O peso em minha cabeça era tanto que eu poderia acabar desmaiando a qualquer momento, mas não aconteceu em nenhum momento. Eu precisava lhe dizer, precisava contar a verdade agora.
- Mas não é verdade, eu...
- EU NÃO QUERO OUVIR MAIS NADA!
Respirei fundo em soluço. E em prantos fiquei, assim que sua voz alta me acordou do transe em que me encontrava. Eu vegetei por alguns minutos até entender realmente o que estava acontecendo ali, bem diante de meus olhos, e quando entendi era tarde demais. A dor já era insuportável, seu olhar raivoso me fazia sentir vontade de me afogar.
- ... Eu... Era mentira...
As lágrimas não paravam de sair. Não paravam. E não conseguia fazer com que parassem. Eu não podia perdê-lo, não podia deixar que se fosse por minha culpa. Não por minha culpa. Não podia. Não.
- Por favor, meu amor...
- AMOR? O QUE VOCÊ SABE SOBRE AMOR, ? COMO...?
também tinha lágrimas nos olhos. Por pouco não conseguia enxergá-lo. Ele já estava distante, distante o bastante para que eu pudesse tocá-lo pelo menos uma última vez.
- Como pôde fazer isso comigo?
E então sua voz mansa e destruída me acertara em cheio acabando com qualquer chance que imaginei ter de me recuperar em algum momento. Tudo em mim doía, doía, pois ele já não me pertencia e eu não poderia fazer nada. Abaixei a cabeça.
Tudo girava, tudo estava errado. Tudo estava perdido, morto.
Ouvi o barulho da porta se fechando e apertei os olhos. E então tudo o que se podia ouvir naquele quarto era meu choro arrasado e o de Melissa. Me virei de frente para ela. Esfreguei o rosto. Melissa tinha lágrimas nas bochechas e no queixo. Eu tinha várias espalhadas pelo rosto, e roupa. Abri a boca devagar.
- Por quê?
Ela soltou um choro preso e alto assim que ouviu meu pedido de explicações, e eu merecia. Como ela poderia pensar em fazer algo assim com a pessoa que dizia mais amar?
- Ela te deu dinheiro para comprar... Para comprar suas malditas drogas, não foi? Sua Infeliz! O que eu te fiz?!
Gritei com uma voz distorcida por meu estado emocional. Aquilo doía tanto. Tanto. Tanto. Tanto. Eu esperava de Alexis, mas Melissa não. Aquilo era algo que eu nunca esperaria na vida.
- Eu nunca vou te perdoar
Mas a maior culpada de tudo não era Melissa, nem Alexis, que era apenas uma mulher doentia. Estava neste momento sentada conversando e alisando seu ventre vazio.
E então eu e Melissa nos despedíamos ali. Todos os anos de nossa amizade, todo o amor, tudo acabava ali. Eu não a queria de novo em minha vida, nunca mais.
Me virei, e a dificuldade de andar quase me impediu de sair daquele quarto revolto. Andei pelo corredor, tentei secar o rosto com a barra de minha camisa, e continuei andando sem saber se estava na direção certa.
CAPÍTULO 46 - Oh how I wish, how I wish you were here
Senti o Sol atingir meus olhos fechados e os abri imediatamente colocando as mãos por cima.
- Céus! Quer me deixar cega, mãe?
- , vamos caminhar um pouco comigo. O sol está brilhando, é um novo dia. Vamos, querida.
Coloquei o travesseiro sobre a cabeça como uma criança mimada. Eu realmente não estava disposta para uma caminhada pela vizinhança em um dia ensolarado. Mas minha mãe parecia não entender isso, e puxou rapidamente as cobertas e o travesseiro que me protegia de toda aquela luz irritante.
- Filha, por favor, se anime. Você está em St. Andrews! Sua velha e pequena cidade. Deixe que eu te ajude a se animar.
- Mãe, eu vim para cá para esquecer Londres, esquecer tudo. Não acho que uma caminhada vá resolver.
- Não custa tentar.
Eu queria dizer não. Queria passar o dia na cama, assim como fizera nos dois dias em que estivera ali. Queria chorar sem ninguém para me encarar, ou sem ter que fingir que está tudo bem para Jade. Mas eu sabia que ela só tentava ajudar, por isso me levantei. Escovei meus dentes, penteei meus cabelos sujos, joguei água fria no rosto. Minhas olheiras permaneciam ali como um imã em meus olhos, nem sequer lembrava da última vez em que me vira sem olheiras. Tudo mudara em tão pouco tempo, e em tão pouco tudo estava perdido.
Me vesti com uma roupa larga de minha mãe. Ela havia jogado as roupas que eu havia deixado em sua casa fora, ou doado, algo do tipo, eu realmente não quis alongar o assunto.
Depois de um café da manhã com bastante gordura, típico de minha mãe, estávamos dando voltas nas quadras. E eu me senti bem. Me senti bem por estar fazendo isso por mim, por ela. Ela sorria. Meu celular tocava, preso ao meu sutiã. Pedi que parássemos para eu atender, e assim fizemos.
- Alô?
Era um número desconhecido, e uma voz desesperadamente estridente.
- Tia?! Tia ?! É você?!
- Oi, sou eu. Quem está falando?
- Ela não tá falando! Ela não se mexe! Socorro, por favor...
A voz de menina não me soava estranha, mas estava chorando e gritando, eu não conseguia entender.
- Quem quer que seja, ligue para uma ambulância imediatamente. Agora pode me dizer aonde você está?
- Em casa... Eu acho que ela morreu, tia ... Eu acho...
O desespero tomou conta de mim. Não só porque poderia ter alguém morrendo do outro lado, mas porque finalmente reconheci que aquela voz era de Naleigh, filha mais velha de Melissa, e ela só poderia estar falando de uma única pessoa.
Não. Não podia ser. Não. Com certeza não.
- Naleigh, estou longe de você agora, por isso vai ter que fazer o que mando. Não deixe seus irmãos a verem, e ligue para o 999 o mais rápido que puder. Acha que consegue?
- Eles não estão aqui. Tia , eu estou com medo...
- Vai ficar tudo bem, meu amor, agora ligue rápido.
Desliguei o celular, minhas mãos tremiam terrivelmente. Não era possível. Ela estava tendo uma overdose na frente da própria filha? Isso não era possível.
- Meu amor, o que era? O que houve?
- Mãe, acho que Melissa teve uma overdose e estava sozinha com a filha em casa.
Ela levou uma mão à testa, apreensiva. E quem não estaria? Eu estava a quilômetros de distância de Nottingham, não poderia chegar lá a tempo, não podia fazer nada a não ser esperar que a pobre menina me ligasse de volta para dizer que fora só um susto. Que Melissa apenas dormia intensamente, que estava muito bêbada e dera uma surra na menina por fazer tanto alarme. Era isso sim que havia acontecido, eu nem precisava me preocupar, oras. Tentei respirar fundo, sentindo dor nas costelas entrevadas há tanto tempo. Tudo daria certo por fim. Eu poderia até voltar a caminhar naquela bela manhã escocesa.
Apertei minhas pernas sob a calça. Não havia ninguém ao meu lado. Eu agradecia por isso. Eu não queria ver ninguém. Eu só queria vê-la, uma última vez. Dizer que a amo. Dizer que a perdoava sim, que nada era mais importante que nós duas, e nunca seria. Eu queria voltar no tempo e bater em seu rosto, bater até que parasse. Queria bater em mim mesma. Bater até que eu entendesse, entendesse que Melissa se fora. Minha irmã. Minha melhor amiga, se fora. Eu nunca mais a veria de novo. Eu nunca mais poderia abraçá-la. Eu a havia perdido.
Apertei mais forte as mãos sobre as pernas. Eu queria que ela estivesse ali, pois ela era a única para quem eu correria nesse momento para dizer o que eu sentia. Falta de ar, falta de amor, falta de vida, culpa...
- Por que fez isso comigo, Melissa?
Sussurrei para mim, socando minha coxa. Como eu queria que ela estivesse ali, pelo menos mais uma vez para lhe dizer tudo o que eu precisava dizer. Havia tanta coisa para falar. Havia uma vida pela frente para compartilhar, e agora ela havia partido.
- Por que fez isso?
Agradeci mais uma vez mentalmente estar sem ninguém ao meu lado para ver a cena de uma mulher chorando feito criança, sem se importar com o nariz escorrendo e o inchaço que se seguiria depois. Me amaldiçoei por ser uma estúpida. Por ter feito isso com ela, comigo.
Eu disse, e então assinei os papéis. Já era noite, eu cuidava dos assuntos do enterro de minha melhor amiga. Não era uma tarefa fácil, na verdade era bem difícil falar sem cair em um choro descontrolado. Mas eu precisava ser forte. Por ela.
Quando tudo estava pronto, me chamaram na sala de volta para dizer que o enterro seria amanhã. A palavra me feria toda vez que era falada.
Separei todos os documentos de Melissa, e levei-os comigo, sem me atrever a olhar e ter um ataque de pânico bem ali.
Assim que cheguei em meu apartamento, senti o peso em minhas costas. E aquela palavra. A palavra usada. Eu sabia o porquê. Eu preferia não saber. Preferia não saber que não fora overdose, não acidental, mas sim suicídio.
Suicídio.
A culpa era minha.
Seu suicídio era minha culpa.
Suicídio de Melissa Moresby só poderia ser culpa de .
culpada.
Melissa Moresby morta.
Deus, eu não queria que Melissa estivesse morta, droga. Se eu tivesse sido uma amiga melhor, tivesse cuidado melhor dela, tivesse sido menos dura...
Tirei toda a roupa e deixei pelo chão e entrei de cabeça no chuveiro quente. Deixei que a água queimasse a minha pele. Ao menos eu estava viva, eu podia sentir. Ela não podia sentir mais nada. Eu não poderia lhe dizer o quanto eu ainda a amava e o quanto amaria eternamente.
Me entreguei, não havia mais motivos para prender todas aquelas lágrimas dentro de mim. Não me cansaria tão cedo de me lamentar, me arrepender pelo que não fiz. Não me cansaria tão cedo de sentir tanto a sua falta.
Sentei-me no chão molhado. Inconsolavelmente me coloquei em posição fetal e enterrei a cabeça entre os joelhos. Eu demorava no máximo 30 minutos em um banho. Mas esse, esse em especial eu demorei a noite inteira.
E talvez fosse essa a realidade de quem leva a vida assim. Era assim que se terminava uma vida? Era assim que se interrompia uma vida como aquela? Tão de repente. Tão cedo. Tão minha. Minha melhor amiga. Minha irmã.
Não houvera discurso. Não houve ninguém. Melissa era totalmente solitária. Fazia amigos por onde passava, e lá mesmo os deixava. Ninguém poderia a segurar, nem mesmo a vida quando ela decidia que era hora de morrer. Afinal, eu tinha orgulho de quem ela era. De quem ela era por dentro daquela capa de arrogância, de todo aquele preto, e tachinhas de metal. Por dentro de seus cabelos negros e sua pele branca pálida. Eu tinha orgulho do coração fraco e bondoso que se deixava levar por suas fraquezas, e vícios.
Melissa, como eu te amava, como eu te amo.
- Eu prometo que vou cuidar de seus filhos, mas, por favor...
Sequei as lágrimas. Eu queria lhe dizer sem vacilar, sem uma voz trêmula.
- Me perdoe. Melissa, por favor, me perdoe. Me perdoe por ter te feito chorar, por ter mentido para você. Eu te perdoei, é claro. É claro que eu perdoei você por ter feito aquilo, eu sei que não fez por mal. Eu te amo muito e sempre vou amar. Hoje um pedaço enorme do meu coração vai embora com você para baixo dessa terra.
Suspirei. Estava nublado. Era um típico dia de funeral, mas sem pessoas chorando. Só havia eu, o caixão enterrado e ela. Coloquei as flores junto com nossa velha pulseira da amizade em seu túmulo.
- Céus, Melissa, me diga que isso é só um de seus sumiços. Por favor, me diz que você não está aí dentro de verdade.
Permaneci abaixada em frente ao túmulo como se realmente esperasse uma resposta sua. Talvez eu realmente esperasse, talvez eu passaria o resto da vida esperando por sua resposta.
Senti o cheiro da fumaça, eu ainda estava abaixada. E então eu vi a fumaça ali. E depois senti a presença. Alguém fumava bem atrás de mim. Virei o rosto, e vi seu rosto fitando o horizonte.
se abaixou ao meu lado e colocou o braço sobre meus ombros. Fechei os olhos. Meu corpo estava gelado, mas meu sangue voltava a circular nesse momento. Abri os olhos e estava tirando com cuidado as cinzas de seu cigarro dourado. Observei-o beijar o cigarro, agora pequeno e apagado, com a ponta dos lábios. Ele então depositou o cigarro com cuidado sob o túmulo, depois se levantou e estendeu sua mão para mim.
Apoiei-me em suas mãos e me levantei, e assim que o fiz, me abraçou.
Minha cabeça estava em seu peito e eu ouvia as batidas de seu coração. Ele não havia emitido nenhum som desde que se aproximara, e eu não senti que fosse necessário. Sua presença era mais do que suficiente naquele momento em que eu estava tão solitária.
- É assim que devemos nos lembrar, de quando ela era feliz e fazia o que queria. O que tinha vontade.
Acenei com a cabeça. Ainda não entendia como ele soubera, ou como chegara ali. Nem o porquê, já que a última vez em que nos vimos fora quando soube de tudo... Fora quando tudo começou.
- Eu não sei como vou viver sem ela.
Falei com a voz abafada em seu tronco quente. Eu precisava tanto dele. Eu não podia passar por isso sem ele ao meu lado.
- Ela foi na minha casa, uma semana antes. Eu acho que ela já estava pensando no que fazer.
- , por favor, me perdoe. Era mentira minha, eu menti para ela. Eu inventei aquilo, eu nunca seria capaz de fazer algo assim.
Falei olhando em seus olhos cansados. Eu o amava tanto. era parte de mim.
- Eu sei. Ela me disse. Me perdoe por ter te deixado sozinha. Eu realmente fiquei muito transtornado com aquilo tudo, eu precisei de um tempo para pôr as ideias às claras.
- Você vai voltar a me amar?
riu. Não uma risada alta, não uma risada, mas a única risada que cabia ali.
- Eu nunca sequer deixei de te amar um segundo, , e mesmo se aquilo fosse verdade, eu já estava disposto a ir atrás de você. Você não entende que não consigo viver sem você?
- Acho que entendo um pouco sobre isso.
Dessa vez fui eu que dei um sorriso. beijou minha testa e então me beijou os lábios tão suave e ternamente que praticamente me desmanchei em seus braços. Perguntei sobre como Jade passara os dias sem mim desde que estivera na Escócia, e se já sabia da notícia.
falava que ela sentiu que havia algo de errado e ele teve de contar, mas que ela estava bem. Perguntei se ele havia sentido muito minha falta, e ele tentou me animar dizendo que não lembrava mais quem eu era. Fiz mais outras perguntas sobre sua semana, e as respondeu com toda paciência do mundo. E por um momento seu amor me fez esquecer a dor que eu sentia.
E naquele dia eu percebi que a única coisa que poderia me curar era seu amor. E enquanto andávamos de mãos dadas em direção ao seu carro, eu notei que, afinal, a vida era assim. Não importava as dores, as mentiras, as farsas, as loucuras, crimes, vícios, só o amor era capaz de curar todos esses males que rondavam nossas vidas. E era no amor de que eu encontrava meu alicerce.
EPÍLOGO
Dez e meia da noite. Fazia frio, mas eu estava tão nervosa que se colocasse o sobretudo sentiria um calor tremendo. se sentou de volta. Depois foi minha vez de levantar e andar para lá e para cá. Eu que nunca roía as unhas, passei a roê-las hoje. passava as mãos nos cabelos que batiam nos ombros. Estava tão bonito.
Mais uma hora se passava. estava com a cabeça apoiada em meu ombro quando um dos médicos apareceu.
- Meu bem, é agora.
Eu falei para .
, que logo se pôs de pé.
- Olá, Sr. e Sra. . Fico muito feliz de informar que a cirurgia foi um sucesso.
Meu Deus! A sensação de quando você fica muito tempo sem respirar, prendendo o ar e então de repente pode respirar novamente? Pois foi exatamente ela que senti naquele momento.
- Jade passa muito bem, e não teve nenhuma complicação. É claro que ela terá que ficar algum tempo ainda conosco para observação, mas acredito que dentro de algumas horas vocês já poderão ver sua filha curada.
- Muito obrigado, doutor.
O médico careca acenou e se retirou. Me levantei num impulso e dei um abraço muito apertado em .
- , ela está curada! Você ouviu aquilo?
Eu estava mais do que feliz, estava radiante, eufórica. parecia nem conseguir falar. Segurei seus ombros e lhe dei um beijo. Eu realmente não podia acreditar que finalmente conseguimos. Depois de tanto tempo, dois anos haviam se passado, e eu finalmente senti que podia respirar novamente.
Depois de muito comemorar, e ligações para tranquilizar todos que torciam por Jade, só nos restava esperar para que pudéssemos ver nossa filha. Me sentei na mesma poltrona em que esperávamos mais cedo, se oferecera para buscar-nos café, e eu não recusei. Deixei-o ir com um selinho. Eu ainda não consegui tirar o sorriso do rosto, mal esperava para ver Jade e poder abraçá-la. Notei que estava bem mais frio agora, e resolvi colocar o casaco marrom de .
Coloquei os braços e usei a parte das costas como a parte da frente como uma menina faz com o casaco do pai. Para completar coloquei as mãos nos bolsos para esquentá-las. Senti que havia algo dentro de um dos bolsos e tirei. Era um papel. Parecia estar ali há muito tempo. Estava todo amassado e ao mesmo tempo intocado. Me senti extremamente curiosa, mas ao mesmo tempo não senti que poderia esconder algo de mim. Abri o papel muito bem dobrado, que dizia o seguinte:
"Querida ,
Nunca imaginei que teria de lhe escrever uma carta de suicídio. Muito menos que teria que escondê-la em um casaco velho que achei no closet de , aliás, nunca imaginei que teria que ir até a casa dele algum dia, mas cá estamos. Antes de tudo, peço seu perdão, sei que nunca vai poder me dar e isso está acabando comigo aos poucos. Sinto que não posso mais continuar assim. , você ainda não entende do que estou falando. mas logo vai entender. Estou nisso há praticamente dez anos? Não sei, nunca fui boa com números, sempre deixei essa parte para você. Eu só sei que não aguentava mais. Dessa vez não dava mais, e eu tinha que fazer algo, e essa foi a única forma que vi. Me desculpa por te deixar sozinha nesse mundo cruel. Mas preciso lhe contar algo muito importante, , um segredo que venho guardando há muito tempo, e preciso que siga minhas instruções, .
Se lembra de quando conheceu ? Nessa mesma noite conheci um amigo dele, uma pessoa muito perigosa. Dormi com ele, e na mesma noite ele me colocou na lista dele de clientes vip, o que na época me deixou muito feliz. Ele era envolvido com tráfico de drogas e muitas outras coisas, , mas a principal é que ele faz parte de uma seita. Ele tem como objetivo de vida se vingar de , e foi ele que rompeu todos os preservativos que tinha naquele dia, nunca foi você. Ele me disse que precisava que eu não deixasse que você escapasse naquele dia, que você tinha de fazer sexo com naquela noite, pois tudo fazia parte do ritual, está entendendo? Tinha algo a ver com a lua e marte, e uma mulher precisava gerar um filho de naquela noite. É claro que ele não me disse isso antes, ele só me disse que você engravidaria e como achei que era o que você queria, eu a incentivei. Mas depois tudo se tornou um inferno, ele passou a me trazer drogas e me contou que iria usar Jade em um ritual quando ela fizesse dez anos, que fazia parte de sua vingança contra . Ele me ameaçou por anos, dizendo que se eu lhe mencionasse algo, ele teria de matar você, e Jade. Eu tentei fugir diversas vezes, mas ele me achava, tentei pensar no que eu poderia fazer, e pode ter certeza, eu pensei. Me perdoe por isso, minha amiga, mas quando você mentiu, eu havia mentido muito antes. Não foram suas unhas, que fizeram Jade vir ao mundo, foi Ernest.
Por favor, não conte para . Você vai precisar da ajuda de Alexis se quiser saber informações sobre ele, afinal, eram amantes.
Eu só poderia lhe escrever essa carta, lhe contar tudo isso, se eu mesma já não soubesse de nada, assim ele não poderia fazer nada a respeito. E esse foi o único meio que vi. Cuide de minhas crianças, por favor, eles sabem se virar muito bem.
Com todo amor do mundo, sua melhor amiga e irmã, Melissa."
Terminei de ler em choque. O sorriso em meu rosto desaparecera.
Eu por um momento achei estar tudo bem finalmente, mas os problemas acabavam de começar.
Fim.
depois de anos, finalmente chegou ao fim! Essa fanfic começou a ser escrita quando eu tinha 17 anos, hoje tenho 26. Ainda me lembro de como eu me emocionava e me envolvia com os próprios personagens e enredo que criei em minha cabeça, e como me apaixonei por essa longa história. Espero que quem tiver lido possa sentir o mesmo, compreender cada personagem e tirar lições para suas próprias vidas. Agradeço muito à Nataly que continuou sendo minha beta por todos esses anos, ao site por continuar apoiando escritoras de fanfic, e a todos que acompanharam a trajetória.
Com respeito ao final, não pretendo escrever a continuação (o que era minha intenção de início), no entanto se alguém tiver interesse em uma continuação pode entrar em contato ou comentar, assim saberei que alguém tem interesse em ler e farei a continuação que já havia planejado.
Tudo de bom para vocês, e sempre se lembrem, as mentiras nunca morrem.