Addicted to lying

Última atualização: 07/10/2018

"Algumas pessoas costumam acreditar que almas gêmeas são unidas por Deus.
Outras acreditam ser pelo destino.
Ainda há quem acha ser graças aos amigos, internet, festas entre outros.
Também existe quem crê que um filho pode uni-los.
Mas todos temos que concordar que a mentira é a única que pode separá-los. "


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Capítulo 1 - Show time!

Lennon, Newt, Zack, e Lorey. Esses 5 lindos nomes formavam os The Seasons, a minha banda preferida, na verdade a melhor banda de todas diga-se de passagem. E amanhã meu sonho vai virar realidade, sim amanhã! Sinceramente ainda não consigo acreditar. Parece que é um sonho! Mas não é, então eu precisava parar de viajar e escolher a roupa que eu vou usar pra descer pra tomar café da manhã. É que eu simplesmente não consigo evitar. Toda vez que eu fico assim, só e em silencio, começo a pensar no que está acontecendo. Eu aqui em Londres só pra assistir o Show de abertura da nova turnê dos The Seasons! A verdade é que tudo aqui é mais bonito, moderno e maior do que St. Andrews, a medíocre cidadezinha histórica de 18.000 habitantes em Fife, Escócia. Essa é a primeira vez que saio do país, graças a meu pai ausente que virou pastor e acha que me dando uma viagem, dinheiro e ingressos para o show vai fazer Deus, eu e minha mãe perdoa-lo. Sinceramente não faz diferença o que ele faz ou deixa de fazer, mas não posso reclamar, ele atendeu todas minhas exigências, como ingresso pra minha melhor amiga e hospedagem para nós e o namorado dela no Hotel onde provavelmente alguns deles estarão. Bem mas agora está tudo resolvido e aqui estou eu. Ainda não acredito que não foi informado pra onde eles vão depois do show. Espero que seja aqui mesmo. Como estava um pouco frio pus meu moletom confortável. Desci e minha melhor amiga já estava lá com o Sean. Ela e eu somos fãs, ele não, mas fez questão de deixar claro que se ele não viesse Melissa também não viria. Não gosto muito do Sean, ele é da minha turma na faculdade e ele a traiu uma vez na minha frente, bom ela o perdoou, mas eu não.
- Bom dia Mel, Bom dia Sean.

Eu disse me aproximando.
- Bom dia amiga! Demorou tanto por quê? Posso saber?
- Eu fiquei viajando um pouquinho lá, parece até que não é real! A gente esperou isso a tanto tempo e finalmente chegou!
- Eu sei! Eu sei!
- Mais uma vez, não sei como vocês conseguem ser assim.

Sean disse revirando os olhos.
- Para de ser chato mô, quando você me conheceu eu já era assim tá?

Eles deram uma risada e se beijaram enquanto eu puxava a cadeira pra sentar.
- Tá e como a gente faz? Eu espero servir?
- Vai ali naquele quadro, marca a opção que você vai comer e espera que eles vão trazer.

Sean me disse apontando para o local.
- Uau! Que chique!
- Fala isso baixo Que vergonha! - Melissa disse sussurrando.
- Ah que se dane!

Ficamos conversando um pouco até chegar meu café, comi e voltei pro quarto. Eu ia fazer cabelo, unha, esfoliação, e tudo que tinha direito, afinal amanhã eu ia vê-los e com sorte no mesmo hotel. Passei a noite no telefone com a minha mãe. Sim, só porquê eu tenho 19 anos não quer dizer que não sou filhinha da mamãe! Mas também não tinha muito que fazer, estava frio, então não tinha nada para fazer no hotel e o casalzinho Sealissa mais parecia estar numa lua de mel.
Quando finalmente deitei, já era 00:30, nós iriamos pra fila 7:00 já que os portões se abririam às 17:00 , então eu tinha que descansar o bastante.
Meu celular despertou, eu fiz o que tinha que fazer e desci pra comer. Estava tudo bem cheio, tinha bastante fãs que se hospedaram aqui, uma pena porquê não foi pra cá que eles vieram , já que está tudo calmo no portão.

Voltei pro quarto liguei pra Mel e comecei minha arrumação, sorte que deixei mochila e tudo que eu precisaria para o show pronto.
Esperei por Mel no saguão e fomos em direção ao Wembley, local do show, estava um pouco engarrafado então chegamos lá quase oito horas, e já estava bem cheio.
- Que raiva desse transito!

Mel esbravejou.
- Calma, a gente vai conseguir, relaxa!

Eu disse fingindo paciência. Enquanto estávamos na fila fizemos amizades com as pessoas próximas a nós, conversamos, cantamos, e até que o tempo passou rápido, graças às meninas que conhecemos!

Quando deu 17:00 começou o empurra e empurra, e percebemos que estava na hora. Eu a olhei e ela me olhou com uma expressão Tipo 'Sério? É isso? Tá acontecendo?' Então fomos andando.
Demorou um pouco até entregarmos nossos ingressos, de repente aquele pequeno papel guardado por tanto tempo com tanto carinho foi embora, claro que doeu um pouquinho ver aquela cena, mas era por uma boa causa. Então antes que eu conseguisse me aperceber entramos. As pessoas a nossa volta já nem eram as mesmas, então nos acomodamos do melhor e mais confortável modo possível.
Em meio a tantas conversas e gritos nem nos apercebermos que o show de abertura acabara de começar. Não sabíamos cantar muitas das músicas tocadas, porem foi bem empolgante e conforme o show foi terminando nós ficávamos mais e mais ansiosas. Aos poucos nós fomos ficando muito mais nervosas se isso é possível. Enfim o show de abertura acabou e ficamos esperando a então esperada The Seasons.
Eu já não sentia minhas pernas, meu coração parecia querer fugir do meu peito e levar meus pulmões como refém, minhas mãos suavam e já nem tentava conter as lágrimas que já saiam sem eu nem perceber. Foi então que tudo ficou escuro e começou a passar o vídeo de abertura, como sempre foram os shows deles. Eu já o tinha visto centenas de vezes no Youtube, mas sinceramente vê-lo ali ao vivo, é algo completamente diferente. Em meio à escuridão, as luzes refletiram cinco meninos já no palco, eu paralisei.
Eles começaram a cantar a primeira musica e eu simplesmente estava em choque, era como se só existisse eu e eles naquele local, era tão surreal... Aos poucos os gritos foram ficando mais altos até que eu me reestabeleci e comecei a interagir. Eu olhei pra Melissa e ela estava da mesma forma que eu. Nós nos abraçamos e cantamos, em meio a lagrimas e desafinos! Parecíamos duas crianças em frente a seu tão esperado presente de natal, acho que o sentimento era tão puro quanto. Eu imaginava que esse momento seria um pouco mais... controlado, mas eu havia perdido totalmente o controle sobre mim, certos momentos achava que pagava até mico por gritar mais que as meninas algumas até mais novas que eu, mas ser madura era a ultima coisa em que eu pensava. Aos poucos minha voz já se tornara rouca, meus cabelos pingavam de suor e minhas pernas já doíam de tantos pulos.
Tão rapidamente como eles chegaram eles se foram, e aí sim eu sofri. Eu chorava como se o mundo fosse acabar, como se aquilo tudo fosse um sonho e alguém me acordasse na melhor parte, foi inacreditável como meu coração doía de vê-los dizer tchau e sair acenando, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo, mas não era. Não pra mim. Pra mim era o fim de tudo, pra mim era como se eles tivessem levado um pedaço meu.



Capítulo 2 - One Picture

Na estrada de volta ao hotel éramos simplesmente um silêncio total, tão extasiadas e ao mesmo tempo tentando discernir tudo pelo que acabamos de passar a poucas horas atrás. O taxi nos deixou em frente ao hotel com muita dificuldade já que não conseguíamos nem enxergar a entrada, estava lotado de fãs e paparazzis e repórteres... Espera! Isso só podia significar uma coisa, eles viam pra esse hotel. Como ficamos desde cedo fora, não tinha como sabermos aonde eles iriam se hospedar.
Nós demoramos cerca de 15 minutos até conseguirmos entrar no hotel, já que tivemos que enfrentar toda aquela multidão alucinada, eu observa as meninas se descabelando e perdendo o controle, e imaginava como as pessoas devem ter rido de mim.
- Tá isso deve ter algo de errado, nós não temos tanta sorte assim!
Mel disse apertando fortemente meu braço.
- Eu sei! Eu sei! Quem sabe eles não aparecem e atiram na gente? Seria mais normal né?
- Vira essa boca maldita pra lá !
Podia estar brincando mas parecia bem estranho mesmo, essa onda de sorte que nos rodeava. Subimos, nos trocamos enquanto esperávamos o ônibus deles chegarem. Simplesmente isso era realmente inacreditável. Tá! Nem tanto assim, nós gastamos uma fortuna com a hospedagem desse hotel só por causa deles, tinhamos que ter um recompensa né? Quem sabe uma foto, um autógrafo, um beijo, sexo... Ok sem viagens.
Mel batia na minha porta enquanto eu terminava minha maquiagem.
- Calma garota! Você acha que eu vou correr o risco de andar por aí sem maquiagem?
Eu disse abrindo a porta e a empurrando pra fora.
- Hum você tá de maquiagem? Não adiantou muito não hein...
Dei língua mas logo me rendi à risadas. Descemos as escadas e ficamos no saguão, claro não é isso que se faz 22:00 da noite num hotel, a não ser que seus ídolos estejam nele e podem passar por lá a qualquer momento. Esperar por eles com outras fãs ,óbvio, foi bem reconfortante em vista do sofrimento que foi deixa-los no show, era como se ainda existisse esperança.
Eles entraram pela entrada dos fundos como esperado, e quando nos viram esperando por eles vieram falar conosco, a vantagem de estar entre umas 30 fãs é que eles se sentiam mais livres pra vir tirar fotos e etc. Zack e Lennon subiram direto pro quarto enquanto acenavam pra nós, eles pareciam bem cansados então não senti que era dever deles virem até nós.
Lorey, e Newt tiravam fotos com todas as meninas, agradeciam pelos presentes e davam autógrafos um a um. Eu e Melissa tiramos foto com os três juntos, infelizmente fomos as ultimas a conseguir a atenção deles.
- Obrigada meninos, vocês não sabem como isso foi importante pra nós!
Mel disse, tentando fazer uma voz controlada, o que praticamente não funcionou.
- Não tem de que.
Newt agradeceu dando um sorriso lindo, acompanhado de mais dois sorrisos lindos que também se direcionavam a nós. Eles se afastaram parando perto da escada enquanto algumas pessoas da equipe do hotel entre outros vinham cumprimenta-los.
- Vamos subir Melissa, estou ficando com vergonha. Parece que estamos vigiando eles.
- Cala a boca! Estou tentando ouvir a conversa, eles estão falando sobre algum lugar que vão agora.
- E que diferença saber disso faz?
- Querida nós vamos para lá, você não quer?
- Melissa isso já é demais! A gente já conseguiu uma foto, já não basta?
- Shhh!
Melissa mexia a boca como se estivesse emitindo algum som para disfarçar enquanto ouvíamos o que se falava. Entrando no jogo doentio de Melissa passei a ouvir também a conversa alheia, descobrindo que eles estariam na boate Ministry of Sound.
Eles então subiram e nós disfarçadamente os observamos. Mel se virou pra mim com a boca aberta, que no caso era a mesma expressão que a minha.
- Tá, eu diria me belisca mas ia ser muito clichê Então me dá logo um soco!
Mel disse tentando se conter.
- Melissa não sei se é uma boa ideia se acharem que somos paparazzi e tudo mais?
- Você é muito ingênua , é claro que não! Acorda!
- E o que exatamente você pretende fazer Mel?
- Pretender não é mais uma opção. Já pra cima! Vamos nos arrumar!
- Você tem noção de quanto deve custar a agua lá Melissa? Só por que estamos nesse hotel de luxo, não quer dizer que somos ricas!
- Cara que se dane! Pensa, é a nossa única chance de ter não um dialogo, mas uma conversa com eles. Tem noção? Vamos agora ao caixa pegar todas nossas finanças e ir pra boate!

Eu cerrei os olhos e a encarei por um tempo, esperando que ela desistisse dessa loucura, mas logo vi que ela ia com isso até o fim. Eu revirei os olhos e injetei uma dose de adrenalina no meu sangue pra responder, o que eu iria me arrepender muito no futuro.
- Ta Melissa, então vamos nos frustrar naquele boate de gente podre de rica.
- Eu sabia que você ia me ouvir!
Ela disse levantando um ombro num tom de superioridade.

Nós fizemos o que planejamos e antes que eu me desse conta da loucura que eu fiz já estávamos dentro da boate. Como eu imaginava, minhas roupas eram um lixo perto de toda aquela gente, só tínhamos mais 100 reais pra gastar lá dentro com bebida, talvez desse pra beber água da bica. Eu não estava muito empolgada, já Melissa sorria e cumprimentava todo mundo que a olhavam, isso por que ela que tem namorado e eu sou solteira.
- Mel não acredito que você me fez gastar toda essa grana, só pra entrar aqui.
- Ah ! Para de fingir que não gostou, mesmo que eles não venham, essa boate é o máximo. Hoje você sai do atraso.
Depois que ela disse essas palavras, foi que eu realmente vi o quão eu poderia me arrepender de ter ido até lá. E se eles nem fossem pra lá? E se eles tivessem resolvido ficar no hotel ? E se eles estavam com as fãs enquanto nós estávamos aqui? Tudo bem, agora não tinha mais volta. Eu tinha que começar a aproveitar aquela situação. Mas mesmo assim me doía muito pensar que eu teria que ficar um ano sem gastos já que o dinheiro para essa espécie de missão impossível foi tirado do meu bolso, pensando bem dois anos cobriria uma boa parte das despesas. Nós fomos ao bar e pedimos a bebida mais barata, dava pra beber pelo menos umas 4, até que não estava tão mal quanto eu pensei.
No segundo copo resolvemos ir pra pista e graças a Deus e ao meu sofrido dinheirinho eles entravam pela porta. Nós os observamos entrar e ficamos mais uma vez em choque, eu já estava até me acostumando com aquela sensação que eles causavam em mim. Fiquei surpresa de ver que eles estavam todos juntos, e mais algumas pessoas com eles provavelmente da equipe.
Eu e Mel tentamos disfarçar mas logo algumas mulheres pediram fotos e autógrafos. Depois disso continuou tudo normalizado, eu e Mel voltamos pro bar e ficamos sentadas bebendo mais um pouco, quando e mais uns dois cara se sentaram no bar também e pediram bebidas. Melissa me olhou me incentivando a ir até eles, eu discordei da ideia. O que ele ia pensar? Que eu estava o perseguindo, ou que eu era uma fã assassina. Ela continuou me persuadindo falando que essa era uma chance única que eu tinha, e ressaltou o dinheiro que eu dei por aquele momento. Realmente ela sabia me convencer das coisas.
- Ta bom Melissa eu vou!
Eu disse apertando minhas unhas postiças em seu braço.
- Ta bom mas corte essas unhas por favor, olha o estado do meu braço? Você ta arranhando tudo que vê pela frente!
- Desculpa. É que a manicure colocou uma unha muito pontuda dessa vez, até eu acordo com o rosto arranhado.
- Ta vai lá agora sua bruxa! E por favor me deixe orgulhosa, não saia dessa sem ao menos um filho. - Melissa!
- Não seja boba amiga. É como 50 cent diz, tenha um filho comigo vire milionária, só que o que temos pra hoje é .
- Melissa, cai na real!
Quem ela pensa pra me dizer aquelas coisas? Quem ela pensa que sou? Me levantei do banco que não estava tão distante deles, e fui andando devagar quase parando mesmo. Minhas mãos suavam e eu nem sabia o que eu ia falar pra ele. O que eu to fazendo? Eu me perguntava. A minha sorte é que o pouco que eu bebi já estava causando algum efeito. Quando cheguei bem perto, estava de costas e um de seus amigos me viram e alertaram-no.
- Err... Oi ...
Eu disse gaguejando.
- Oi.
Ele disse abrindo um sorriso simpático.
- Eu queria... Eu... Sabe é melhor esquecer, desculpa te incomodar.
Eu disse de olhos fechados e entre suspiros devido a meu mico anterior.
- Espera não precisa ficar assim, você é uma fã certo? Quer uma foto? Ele disse com todo carinho do mundo. Não sei como pode existir alguém tão educado e simpático como .
- Sou sim mas, na verdade eu... Eu já tirei foto com você hoje, se você quiser tirar outra não tem problema pra mim também.
Eu disse tentando ser engraçada, tentando.
- Oh espere. Agora te reconheci. Você falou com a gente no hotel né?
- Isso mesmo. Está gostando da noite?
- Eu gosto bastante, e imagino que o resto dos meninos também, já que me perdi deles.
Ele disse dando sua risadinha rouca me contagiando.
- Que bom! Eu também estou gostando muito daqui. Na verdade é a primeira vez que venho à essa boate. Eu e minha amiga viemos só por que vocês estariam aqui. Me desculpe por essa idiotice.
- Isso não é nada, você não imagina o que as meninas fazem por nós. Só não faço idéia de como descobrem essas coisas.
Ele disse enquanto eu me sentava ao seu lado sorrindo e pensando no que responder.
- Eu também não, vejo pela internet. Mas vocês se incomodam?
- Não. Na verdade no inicio, ficamos bem assustados mas já nos acostumamos.
- Acho que nunca me acostumaria com isso.
Eu disse olhando por chão, já que era um pouco difícil olhar em seus olhos vibrantes sem querer agarrá-lo. Olhei por trás dele e vi que seus amigos tinham se retirado deixando-nos a sós.
- Bom você quer uma bebida?
Ele me perguntou virando-se pra frente.
- Não . Desculpa incomodar eu vou me retirar. Na verdade eu vim até você por que minha amiga que está ali...
Olhei para trás procurando-a e percebi que Melissa havia sumido.
- Bom estava. Ela me fez vir até você conversar já que viemos só por isso. E apesar de ter ficado com vergonha eu vim pra não me arrepender depois né?
Eu disse já num tom menos nervoso que do inicio e mais a vontade.
- Não é incomodo. É bom conversar com alguém que eu tecnicamente já conheço, e que me conhece tão bem como fã. Acho que são as únicas fãs que encontraremos por aqui.
Ele disse sendo totalmente simpático. Me parecia que ele estava sendo sincero, até porque nenhum de nós dois fazia ideia de onde nossos amigos estavam.
- Ainda aceita a bebida? Ou você não bebe?
- Aceito sim , Obrigada.
Eu disse super sem graça.
Ele pediu ao barman que trouxesse a bebida que eu quisesse, e aos poucos conforme nós bebíamos nos soltávamos. Depois de uns cinco copos eu estava solta até demais.
- Você não é daqui , deixe-me ver se descubro.
- Meu sotaque é tão forte assim?
- De que parte da Escócia você é?
- Uau você é bom nisso. Sou de St.Adrews, Fife.
- Eu sou de... Você sabe certo?
- Sim eu sei, isso é um pouco estranho.
- Eu entendo perfeitamente, também sei onde Fred Mercury nasceu. Claro que ele não era tão bonito quanto eu.
- Oh sr. Convencido.
Dei um soquinho em seu braço o que fez com que sessássemos as risadas com o famoso ‘ai ai’ e ficamos em silêncio. me observava com os olhos fixos no meu olhar enquanto eu os desviava.
- Imagino que você seja bem persistente, ter vindo aqui só por nós já é uma coisa.
Ele disse soltando algumas risadas bêbadas.
- Na verdade eu menti, vim pela bebida.
Ri da mesma forma que ele.
- Mas como você mesmo disse tem gente pior.
- Isso é verdade. Mas se uma pessoa persiste, ela persiste em algo. E qual seria sua meta a ser cumprida senhorita?
Soltou num tom bem intimidador. Ouvir aquelas palavras saindo de sua boca sendo dirigidas a mim me congelou. Com o resto de consciência que me restava eu pensei numa resposta a essa pergunta um tanto intimidadora, já que eu não tinha exatamente uma resposta coerente eu me fingi de boba.
- Bom missão te ver no show, cumprida. Missão estarmos no mesmo hotel , cumprida. Missão tirar uma foto, cumprida. Missão te encontrar na balada, cumprida. Só resta uma dança, o que acha?
- É uma vergonha receber esse convite vindo de uma mulher, geralmente é o homem, mas como não estamos seguindo formalidades, tudo bem, eu aceito sim.
Ele disse me estendendo a mão que eu demorei a assimilar devido à minha visão já turva devido a bebida. Nós atravessamos toda aquela multidão que já estava bem maior desde que cheguei. Dançamos de acordo com cada musica que tocava.

Depois de dançar bastante e arriscar soltar as letras de algumas musicas conhecidas eu estava exausta. Devido a isso eu me aproximei de seu ouvido inalando o delicioso aroma de seu perfume que ainda estava intacto em meio ao seu suor, e quase me perdendo por aquela sensação eu lhe disse:
- vou sentar, até mais.
- Espera!
Ele disse segurando meu braço me impedindo de continuar andando. Institivamente meus olhos se direcionaram aos seus que também encontravam os meus. Com o resto de consciência que minha mente ainda tinha, foi enviado a todos os pontos nervosos do meu corpo uma carga elétrica me causando um arrepio quando percebi as intenções daquele olhar. passou suas mãos antes firmes no meu braço pras minhas costas me juntando a ele. Com a outra mão livre ele afastou os cabelos do meu rosto e segurou em meu queixo. Minhas mãos continuam paralisadas rentes ao meu quadril. aproximou seu rosto do meu me fazendo fechar os olhos. Seus lábios macios e avermelhados tocaram os meus como uma explosão que fez meu corpo inteiro se estremecer. Logo demos inicio a um beijo calmo e carinhoso. Com ajuda da bebida em meu sangue eu pude mover finalmente meus braços até envolver seu pescoço entre eles. Sua língua fazia movimentos leves como uma pluma suave junto a minha.
então levou suas duas mãos à minha cintura colando nossos corpos e transformando o beijo calmo em intenso. Em poucos segundo já estávamos passeando nossas mãos pelo corpo do outro e causando sensação de excitamento. Com pouco folego eu parti o beijo com selinhos.
- Vamos sair daqui... Eu... Eu não quero estar amanhã nas revistas sendo tachada como 'a piranha que pegou'.
- Vem!
Proferiu me dando as costas e me puxando junto. Nós fomos até a porta dos fundos da Boate e enquanto sussurrava algo ao seu segurança eu procurei respirar e raciocinar um pouco. Eu estava numa boate luxuosa certo? Certo. Eu encontrei aqui, isso aconteceu certo? Hum... Certo. Nós dançamos e nos beijamos... Isso não é um sonho certo? Acho que Sim. Onde estava minha mente todo esse tempo? O que eu perdi? Pra onde nós vamos? Ele se virou de volta pra mim me chamando com um aceno.
- Vamos pra onde?
Eu perguntei com um pouquinho de raciocínio que eu consegui encontrar.
- Voltar para o nosso Hotel.
Disse com a maior naturalidade do mundo. Como ele pode achar isso normal? Ele me chamou pra voltar pro hotel! Ele queria transar comigo! Isso não é normal! Não pra mim pelo menos, não pra qualquer menina no mundo, mas pra ele eu era simplesmente uma mulher que ele conheceu, digo Foi obrigado a conhecer, e sentiu tesão depois de tanto beber e sentir algumas das minhas poucas curvas. Eu tinha que tentar imaginar isso como algo normal. Mas era impossível! É claro que ele já fez sexo com alguma fã, mas essas coisas boas não acontecem comigo, não comigo. Por que eu? Logo eu? O que ele viu em mim? Aposto que ele está tão bêbado que nem reparou que eu sou feia.



Capítulo 3 - The Hotel Room

Tudo o que se passou fora alguns amassos no carro e o silêncio que cabia ao momento.
Graças ao carro veloz, em pouco tempo já estávamos em frente a porta da sua suíte. tentava encaixar a chave na fechadura com grande esforço devido ao seu estado extremamente embriagado.Quando finalmente conseguiu dei de cara com um lindo quarto branco luxuoso.
- Uau! É bem maior e bem mais lindo que o quarto que eu estou.
Eu disse com olhos brilhando com tanta beleza e luxo daquele quarto de hotel.
- Serio? Tanto faz pra mim onde eu durmo, mas é bom um lugar bem confortável.
Ele disse trancando o quarto já um pouco cônscio.
- Você me permite te ter essa noite?
Ele disse se aproximando e envolvendo minha cintura com suas mãos largas e quentes.
- Não estaria aqui se não quisesse.
Eu disse dando um sorriso malicioso que logo foi desfeito com um beijo intenso. traçava um caminho apertando desde minha cintura até meus ombros, vez ou outra desciam até meus glúteos. Lancei minhas mãos aos seus cabelos, e entrelaçava meus dedos neles os puxando com leveza e força. Logo suas mãos adentraram a minha regata solta, e a levaram até a altura de meus ombros. Eu terminei o trabalho tirando-a. Permiti que minhas mãos me proporcionassem prazer sentindo seus músculos abdominais, que pareciam ter sido desenhados a mão. Cada toque tanto das suas mãos em mim como as minhas nele, me traziam um mix de sensações deliciosamente delirantes. partiu o beijo para tirar sua camisa branca. Me pegando de surpresa ele passou suas mãos por trás de meus joelhos me trazendo até seu colo e andando em direção a cama confortável que nos esperava. Com cuidado ele me colocou na cama e ficou por cima de mim apoiando seu peso nos cotovelos.
Começou a me observar sem desviar os olhos em momento algum assim como fez na boate, fazendo de mim um pimentão de tão vermelha.
- Você é muito bonita sabia?
- Obrigada.
Eu agradeci, mesmo que discordando de seu comentário.
- E sexy também. Pra ser sincero eu me senti um pouco atraído assim que te vi no hotel, mas tinha plena certeza que não passaria daquilo já que não te veria mais. E olha aonde estamos, não é louco?
Ele disse dando um risinho bobo. - Se é louco? Eu não estou conseguindo nem raciocinar! Acho que só vou me dar realmente conta do que está acontecendo amanhã, depois de um boa noite de sono.
Relatei sendo sincera, parecia que alguém estalaria os dedos e tudo não passaria de um mero sonho.
- Quem te disse que vou deixar você dormir?
Ele falou com um sorriso pervertido no rosto me fazendo gelar. Ainda sorrindo ele voltou a colar nossos lábios relaxando seu corpo em cima do meu. Pude perceber sua excitação apesar da roupa que infelizmente ainda cobria nossos corpos. alisava suavemente minha cintura enquanto me beijava. Minhas mãos passeavam por suas costas largas. Nossas pernas se entrelaçavam ao passo que aproximávamos nossas intimidades uma da outra. Ele começou a beijar e dar alguns chupões na linha entre meu pescoço, ombro e colo me trazendo arrepios incessantes. Minhas unhas afiadas arranhavam suas costas de leve, porem quando apertou com força meus seios sobre o sutiã enquanto beijava a área acima, eu cravei minhas unhas em suas costas. Um suspiro de dor rompeu o seu trabalho fazendo com que ele levantasse o rosto até mim com uma expressão de dor.
- Wow... O que... O que foi isso?
Ele disse ofegante levando uma mão as costas que assustaram tanto a ele como a mim quando voltaram com vestígios de sangue.
- Uau, pra que essa violência toda? Eu gosto, mas não precisa tirar sangue.
Ele disse já sorrindo.
- Desculpa , são essas unhas postiças.
Falei um pouco sem graça. Ele balançou a cabeça e me calou com selinhos. Depois desse trauma eu me refreei quanto as suas costas e mantive minhas mãos em seu peito. Ele desceu os beijos num trajeto desde meu pescoço até minha barriga. Subindo ele levou suas mãos as minhas costas a procura do fecho do sutiã, busca concluída ele o abriu e lançou-o pra longe. Suas duas mãos envolveram meus seios o apertando e fazendo tanto os seus como os meus olhos revirarem. Oh Deus! Como aquilo era bom, como o toque dele era gostoso, como ele sabia exatamente o momento certo de provocar as sensações certas nas partes mais sensíveis do meu corpo. Eu podia ter bebido muito, mas sabia exatamente o que eu estava sentindo e aquilo era surreal. que estava com os lábios livres em meu pescoço, os transferiu aos meus seios beijando em volta de meus mamilos. Sua língua fazia movimentos circulares em torno do meu seio direito enquanto sua mão estimulava meu já arrepiado mamilo esquerdo.
Suas mãos desceram até a barra da minha calça as puxando pra baixa sem muito progresso. Transferi minhas mãos de seus cabelos até a barra da calça pra abrir o botão e ajuda-lo a tira-la. Tiradas as minhas e as suas calças, voltou a beijar meus lábios e desceu suas mãos até adentrarem minha calcinha acariciando minha intimidade me fazendo soltar um gemido baixo. Com um dedo estimulando meu clítores, ele inseriu outro em meu canal. Seus movimentos rápidos me faziam curvar as costas e gemer como se ninguém pudesse me ouvir. Meu corpo estava tomado por uma onda de calor e arrepios, totalmente entregue aos seus comandos. me proporcionava tanto prazer com seu toque,seu cheiro de frutas que em pouco tempo meu orgasmo fora consumado de uma forma extremamente extasiante. retirou seus dedos e meu corpo ainda se estremecia pela intensidade do prazer que acabara de sentir.
Minha calcinha fora jogada ao chão do quarto.
- Nada mal...
Eu lhe disse tentando fazer a expressão mais sexy possível sem muito êxito. lançou seu olhar a mim com a expressão que eu tentei fazer, porém com muito mais sucesso que eu. Seus olhos antes inocentes deram lugar a uma labareda de prazer e perversão. Ele deu um sorriso pervertido de lado e se dirigiu aos meus lábios de volta com ferocidade. Mordi seu lábio inferior tentando não machuca-lo mais uma vez. Já ele mordia e puxava os meus com toda vontade como um preço que eu deveria pagar, e no caso eu adoraria pagar qualquer preço que ele quisesse me impor.
desceu novamente até meus seios, beijando e colocando-os em contato com sua língua quente. Seus beijos se dirigiram a linha entre meus seios e foram descendo até minha barriga. Eu o acompanhava com minhas mãos presas em seus cabelos, os enrolando nos dedos e puxando-os.
levou suas mãos desde a minha cintura até minhas coxas, deslizando a ponta de seus dedos me causando arrepios em todas as partes do corpo. As mesmas apertaram minhas coxas com força e num movimente brusco as afastou. Eu já imaginava o que ele iria fazer, já que eu mesma o provoquei, e era exatamente o que eu queria. dirigiu sua boca até minha intimidade. Mais uma vez ele causava sensações extremas no meu corpo, dessa vez com sua língua. Ele sugava meu clítores, e deslizava seus dedos no interior das minhas coxas acima de sua cabeça. Eu sentia como se meu corpo fosse explodir de tanto tesão. então foi diminuindo aos poucos os movimentos até para-los completamente. Ele então se ergueu um pouco para que pudesse subir e voltar a colar seu corpo no meu. - E agora? Consegui ser mau?
me encarou com uma expressão que me parecia uma espécie de ironia com seu olhar sexy e pervertido que me fazia quase ter um orgasmo só de olha-los. Enquanto eu ainda permanecia sem reação e com a cara abobalhada, ele começou a beijar meu pescoço e subir até a minha orelha, mordiscando meu lóbulo
- Foi o que pensei...
Sussurrou em meu ouvido com sua voz rouca e sexy. Eu estava ali totalmente rendida a ele e o que ele conseguia fazer comigo. Eu não costumava me render muito assim à alguém mas aquela não era uma transa qualquer com um cara qualquer. Na verdade eu ainda não estava me sentindo acordada, era como se minha mente estivesse desligada pra que eu pudesse apenas sentir e não pensar. E agora eu sentia que era a hora certa para agir. Ele tinha me feito chegar ao ápice só com seus dedos, eu tinha que mostrar que eu podia fazer algo que o fizesse sentir pelo menos o mínimo que ele conseguiu me fazer sentir. Tinha que mostrar que eu era uma mulher que faria aquela transa valer a pena de ser lembrada. Com o plano em mente eu tentei juntar todo meu conhecimento sobre sexualidade, e buscar toda promiscuidade que existia em mim para executa-lo com perfeição. Eu então o empurrei para o lado, o pegando de surpresa. Me virei para ficar em cima dele, e lancei uma perna ao lado dele deixando a outra do outro lado. Comecei a morder seu queixo enquanto passava as unhas bem de leve sobre seu peito. Sua excitação por baixo da boxer era visivelmente enorme em contato com a minha intimidade. Tudo que eu queria era controla-lo mas sentir o quão ele estava excitado quase me fez desistir de tudo e me entregar novamente. Ainda tentando me controlar pra que ele não percebesse tanto minha pele arrepiada eu comecei a fazer movimentos forçando minha intimidade contra a sua. Suas mãos agora estavam agarradas ao lençol talvez já premeditando o que eu estava prestes a fazer quando desci meus beijos até seu abdômen. Segurei o elástico da boxer com meus dentes e a desci até descobrir sua ereção e com as mãos eu retirei o resto. Lancei-lhe um olhar pervertido e mordi os lábios. Um pouco ofegante eu segurei com força seu membro pulsante em minhas mãos e comecei a masturba-lo. Ao passo que eu aumentava os movimentos ele cerrava os olhos e agarrava o lençol. Fui diminuindo os movimentos até para-los. então abriu os olhos com indignação, eu só dei uma risadinha e fui descendo meu rosto até seu membro. Mantive meus olhos no dele que ardiam em mim, e comecei a passar minha língua sobre sua glande e colocando aos poucos sua ereção na boca.
Comecei com movimentos lentos e conforme os aumentava via que fazia movimentos também com seu quadril o empurrando contra mim. Minhas mãos em suas coxas as apertavam e arranhavam, dessa vez ele nem se importou quanto a minha unha. Suas mãos enroscavam meus cabelos e tendo controle sobre a minha cabeça com ajuda deles, ele empurrava a mesma contra sua virilha ditando a sua velocidade preferida. Era visível o quanto ele estava desesperadamente se segurando, então ele levantou minha cabeça e disse ofegante me puxando pra si.
- Vem... cá. Não aguento mais...
Eu subi meu corpo de volta e ele me virou bruscamente na cama afastando minhas pernas e de uma vez só me penetrou. Uma onda de calor invadiu meu corpo junto com seu membro extremamente rígido.
- Merda!
Ele grunhiu se retirando de mim.
- O que foi?
Lhe perguntei sem entender nada. Ele ainda em silêncio revirou os lençóis com suas mãos tremulas soltando palavrões a procura de algo. Oh nós havíamos esquecido a camisinha! Agora eu tinha entendido toda sua raiva ao ter que se forçar a sair de dentro de mim bem no ápice. Eu levantei meu corpo me sentando e o ajudei a procurar. Achei sua calça e retirei a camisinha de dentro do bolso. Ele estendeu a mão para que eu pudesse lhe entregar e eu balancei a cabeça negativamente abrindo a embalagem com os dentes.
- Eu tenho uma técnica especial para isso.
Num tom sensual pronunciei, o deitando na cama. Com uma mão eu posicionei as unhas na borda da camisinha, de modo que ela ficasse ao redor de minhas unhas e coloquei devagar arranhando seu membro enquanto o envolvia com o preservativo dentro de minha mão. Seus olhos que estavam fechados com força se abriram quando meu trabalho estava pronto. Com um pouco mais de calma que da primeira vez ele me virou na cama se pondo sobre mim. Dessa vez ele colocou seu membro no meu canal aos poucos, muitas vezes o retirando completamente e voltando ao ponto onde estava. Eu lancei minhas pernas a sua cintura apertando a mesma. Ele mantinha seu olhar baixo enquanto se movimentava dentro de mim, apenas apertando minha cintura. Eu puxava seus cabelos e mordia os lábios de tanto prazer a cada estocada. Aquilo sim era prazer de verdade. Ele sim era um homem de verdade, ele sim sabia o que estava fazendo. Apesar de todo aquele rosto de bebê, sabia exatamente os pontos certos de prazer de uma mulher, e conseguia atingir todos os meus. Se mantendo num ritmo rápido, porém já bem exaustivo ele intensificou as estocadas indo cada vez mais fundo. Senti meu corpo estremecer e relaxar logo depois. Quando sentiu que eu havia atingido meu orgasmo ele se deixou livre para gozar com uma ultima e maravilhosa estocada. Ele se deixou cair sobre meu corpo exausto e suado. Nossas respirações ofegantes estavam quase que em sincronia. Quando sua respiração estava um pouco mais normalizada ele se jogou para o lado, tirou a camisinha e ficou encarando o teto. Eu puxei o lençol sobre nós e me deitei em seu peito.
- Acho que não estou mais bêbado.
Ele disse colocando seus braços grossos sobre mim. - Pois eu ainda estou, mas não por causa do álcool. Eu disse um pouco abobalhada.
- Foi maravilhoso , não tenho palavras pra descrever.
- Não precisamos disso agora só curta o momento.
Eu disse massageando seu peito e observando suas tatuagens. Fiz o contorno de cada uma com a ponta dos dedos e logo nós fomos pegos pelo sono, até sermos acordados por seu despertador às 7:00 AM.



Capítulo 4 - Letting all these things go

Ainda assustados por sermos acordados pelo despertador, e eu nos espreguiçamos na cama ao mesmo tempo. Me virei para seu lado, me deparando com sua figura coberta até o umbigo. Seus braços estavam cruzados atrás de sua cabeça, tornando os traços de seu biceps mais perceptíveis e desejáveis. foi aí que eu realmente percebi o que acontecera na minha vida.
- Meu Deus! Eu fiz sexo com ! Eu disse não podendo me conter e me amaldiçoando por ter dito isso. Me acalmando um pouco, deu uma risada.
- Bom e eu fiz sexo com você, estamos quites.
- Não. Eu sou só eu e você, bom você é você né ?
Eu disse tentando entender o motivo de estar agindo como uma idiota depois de tudo. Mais uma vez dando sua risada perfeita, se levantou vestiu sua boxer e foi até a mala pegar alguma coisa.
- Bom eu estou hospedado aqui porque temos uma entrevista marcada aqui, daqui a algumas horas. Adoraria passar o tempo com você, mas trabalho é trabalho né?.
Ele disse segurando uma muda de roupa e se dirigindo ao banheiro. Eu me levantei da cama vestindo minhas roupas enquanto ele estava lá e esperei ele sair para me despedir, infelizmente.
- Eu já vou , obrigada por sua caridade comigo.
Eu disse tentando ser engraçada. Apesar de não ter tirado um sorriso de seu rosto.
- Não faço esse tipo de caridade relaxa, você é especial assim como qualquer mulher que eu me sinta atraído sexualmente. Não faria por obrigação, ou com alguém que não sentisse vontade.
Ele disse sendo bastante sincero em suas palavras, mas que pra mim eram mais um consolo porque era óbvio que ele já transou com mulheres mil vezes melhor que eu.

Nos dirigimos até a porta, e selou nossos lábios num beijo calmo, mas rápido. Ele separou nossos lábios e deu um beijo em minha testa.
- Eu gostaria de te encontrar de novo, bom meu número você tem, o dia que quiser ligar...
fez uma expressão sugestiva e então continuou.
- Só por favor, eu te imploro não passe meu número a ninguém, caso contrario eu tenho que mudar de número.
Ele disse enquanto abria a porta a nossa frente.
- Não vou, ninguém precisa saber o que aconteceu , pode ficar tranquilo. E quem sabe um dia a gente não se esbarra por aí?
Lhe disse saindo, e ao mesmo tempo sentindo um imã me puxando de volta ao quarto.
- Vai ser difícil, mas vou torcer pra acontecer.
Disse dando seu sorriso mágico, fofo, e apaixonante. Nós acenamos e eu me fui em rumo a minha suíte ''barata''. Abri a porta e me joguei na cama com um sorriso que nem percebi estar em meu rosto. Eu fiz sexo com o ! Eu fiz sexo com o ! Eu fiz sexo com o ! Aquelas palavras se repetiam na minha cabeça tentando me convencer de que era realmente verdade. Meu rosto já estava dormente de tanto sorrir. Eu apertava o travesseiro e dava alguns gritos baixos. Então como uma criança eu comecei a pular na cama. Eu não podia estar louca, aquilo realmente aconteceu. Eu estava rindo alto agora e afundava meu rosto no travesseiro. Eu fiz! Eu fiz! Eu fiz! Eu transei com ! E foi magnifico! Foi a melhor transa da minha vida, e seria para sempre eu tinha certeza. Meu Deus! Eu não podia acreditar!
E o melhor de tudo é que ele não reclamou. Ele gostou de fazer sexo comigo, ele quis fazer por livre e espontânea vontade. Ou talvez Melissa tivesse jogado algum feitiço nele.
- Melissa!
Eu corri para o telefone pra tentar contata-la, já que não a via desde que a perdi na boate. Será que ela chegou bem? Será que ela chegou? O telefone chamava mas ninguém atendia. Eu esperei acabar os toques e fiquei em desespero. Onde ela estava? E o Sean?
Eu fui em direção ao quarto deles em desespero e bati na porta com força. Eu chamava seu nome e nada. Até que ouvi passos e fiquei mais aliviada. A maçaneta se abriu e Sean me encarou com uma cara amassada e com raiva.
- O que foi? São 8 horas da manhã !
- Putz! Que mancada! Eu esqueci totalmente que estava cedo pra quem foi dormir a hora que todos nós fomos. Desculpa Sean. Sério mesmo, eu perdi a noção da hora. Eu acordei agora pouco, tentei ligar para Melissa mas não consegui e fiquei preocupada com ela.
Eu disse ainda me sentindo péssima.
- Agora eu também já que ela não apareceu. Pensei que estivessem juntas.
Aquilo pesou sobre minha consciência. E se tiver acontecido algo com ela? Eu fui tão impulsiva e egoísta que deixei minha amiga sozinha numa boate num lugar desconhecido. Eu só podia ser um monstro, da pior espécie.
- Sean não brinca comigo vai, cadê ela?
Eu disse me forçando a acreditar que poderia ser uma simples brincadeira.
- Eu não sei já te disse! Vai procurar ela, afinal você que a deixou sozinha numa boate.
Ele disse de um modo arrogante. Ainda sem muita reação diante da minha incompetência como amiga, ouvi uma voz baixa ecoar de dentro do quarto, e era voz de mulher. Mas o pior de tudo é que não era a de Mel.
- Quem tá aí?
Eu disse levantando uma sobrancelha desconfiada. Uma voz arrastada, de piranha enjoada por sinal, falou algo novamente. Sean arregalou os olhos ao ver minha reação.
- Quem disse isso Sean? Você tá traindo a Melissa de novo?
- Cala sua boca! Você não sabe de nada entre mim e a Melissa, trate de não se meter no nosso namoro!
Ele disse violentamente. E eu retruquei.
- Eu me meto! Não por você, mas por ela! Eu não admito o modo que que você trata a minha amiga. Você não presta Sean! Maldita hora que eu apresentei vocês.
Sean suspirou de olhos fechados e bateu a porta na minha cara. Como ele ousava falar assim comigo? Quem ele pensa que é? Eu saí andando um pouco desnorteada de tanta raiva e voltei ao meu quarto. Ao entrar de volta no quarto uma paz posou sobre minha alma, a raiva anterior havia passado só de me lembrar que eu tinha todos os motivos do mundo para estar feliz, e não seria um idiota que iria estragar tudo! Agora com calma peguei meu celular e liguei para Melissa. Mais uma vez chamou, chamou e ninguém atendeu. Resolvi tentar mais uma vez por garantia, e finalmente sua voz rouca de quem acabara de ser acordada saiu pelo auto falante do celular.
- Er... Alô?
- Sua doente! Onde você Está?
Eu perguntei preocupada, mas não tanto por saber que ela estava viva e atendendo o celular.
- Ai Por favor, você me acordou pra isso?
Ela disse como se eu fosse culpada por estar preocupada.
- Melissa, você tá aonde? Por que não voltou pro Hotel? E eu preciso ter uma conversa séria com você!
Disse com um pouco de medo da sua reação.
- Ah eu bebi muito ontem e acordei, ou melhor fui acordada
Ela frisou a última parte num tom irritado, e então continuou.
- Bem... Nua na cama de um cara. O que você quer conversar?
Fiquei um pouco atordoada com sua confissão. Então quer dizer que ela também traia o Sean? Quem eram eles? Por que Melissa nunca me contou isso? Bom já que ela acha isso tão normal acho que realmente não conhecia eles como um casal. O melhor era fazer o que Sean disse, e não me meter. Mas o que eu ia falar , já que disse que queria conversar com ela?... Dã!
- Melissa está sentada?
- Estou por quê?
- Eu e o transamos ontem!
Depois de dizer essa frase eu fiquei obviamente em choque, e imagino que ela também já que só se ouvia o silêncio.
- Para! O ?
- Sim, que outro eu estaria falando?
Ouvi uma gargalhada de desdém típica de Melissa. As vezes ela conseguia ser tão soberba e irritante. Melissa sempre foi o tipo de pessoa que faz de tudo enquanto eu sou a amiga que fica até tarde na internet mandando mensagens de amor para artistas, e ela fazia questão de esfregar isso na minha cara sempre que tinha oportunidade. Tipo agora.
- Melissa, é verdade. Se não quer acreditar, não acredita. Mas não estou mentindo, e acho que você como minha única amiga deveria me ouvir e procurar não estragar esse momento tão especial para mim.
- Ok estressadinha, eu acredito em você. Mas isso é muito estranho, que fique sabendo. E como foi?
Mais gargalhadas. Procurei me concentrar no quanto eu precisava contar sobre aquilo e não na forma irônica que Melissa disse acreditar na minha história.
- Não sei, foi mágico! Foi a melhor coisa que já aconteceu na minha vida! Não tem como especificar como foi.
Realmente não tinha. Era algo que eu simplesmente sentia, mas não conseguia explicar a sensação. Fazer sexo com uma pessoa que você deseja tanto não era algo normal que a maioria das pessoas faziam e publicavam em livros. Era especial, era ainda pra mim inacreditável.
- Nossa amiga! Você vai ficar famosa. Não esquece de mim ok?
- Só me diz por que eu estaria inventando isso Melissa? Hein? E pra sua informação, além de ter transado com ele, eu furei a camisinha.
Menti tentando provar o quanto eu era audáciosa.
- Estou no período fértil e com sorte em breve terei um mini para mim.
- Espera! Você fez isso? Melissa ficou em silêncio por um longo tempo, e pareceu cochichar algo inaudível com alguém.
- Eu estava até acreditando na história, mas isso! Isso não é muito sua cara.
- Pois acredite se quiser. Pode não ter dado certo, mas eu segui seu conselho. Por que só fazer sexo, se você também pode ficar rica?
No fundo eu estava me divertindo por conseguir estar a enganando tão bem, com algo tão sério. Depois era só falar que não deu certo, mas o importante era ela saber que eu era capaz de furar a camisinha de alguém só para ficar rica, mesmo não sendo verdade.
- Já vejo nós duas dando entrevistas e mais entrevistas, ficando realmente famosas.
Ela disse um pouco animada agora, parecia que realmente acreditara em minha mentirinha.
- Mas tem um coisa sobre isso Mel, não quero que você conte nada para ninguém por enquanto. Quero fazer isso em grande estilo
- Então você quer que eu guarde segredo sobre minha melhor amiga ter comido um dos garotos mais desejados do planeta?
Isso foi forte, mas não tão forte quanto a mentira que acabara de inventar para mostrar de uma vez por todas que eu seria capaz sim de fazer isso, apesar de não ter feito. Não havia com o que me preocupar, era só falar que não deu certo. Meu raciocínio ainda estava lento. Era muita coisa pra processar de uma vez só, então por enquanto ele estava apenas tentando acreditar que aquilo foi realidade.
- Bom é isso mesmo, quero que ninguém fique sabendo.
Eu realmente temia aparecer em revistas sendo rotulada dessa maneira, principalmente por que eu sei como as fãs encarariam esse fato. E pior é que ele iria me ver simplesmente como uma piranha que se aproveitou dele pra ganhar fama. Eu sempre tive nojo dessas pessoas, não queria me transformar numa delas.
- Mel vou desligar, quando você voltar a gente conversa. E lembra que o voo sai 15:00. Temos de estar prontas. Vou arrumar minhas coisas, tchau.



Capítulo 5 - Never forget

3 semanas depois...

Eu simplesmente tinha ódio dessa aula! A Sra. Lloyde até que era um pouco, bem pouco mesmo, legal, porém quando ela inventava de fazer essas aulas debates era insuportável! Ela não entendia que os assuntos: sexualidade, religião, politica não são discutíveis?
- Não e não Hector! Se você não tem nada para dizer não diga!
Exclamou a mulher de vestido justo e cabelos curtos e vermelhos, como se fosse Deus.
- Pessoal, vocês precisam entender que filosofia é algo que se enxerga além dos olhos, além do que as pessoas dizem , além da capacidade de alguns. Por isso existem tantas pessoas ignorantes no mundo.
Ignorante era ela trajando aquele vestido tão apertado, com todo aquele excesso de peso e que não aceitava outras opiniões.
Já não participava dessas aulas ridículas há um bom tempo. Não tinha saco para isso, muito menos agora que minha mente , por mais que eu tentasse ,se focalizava em apenas uma coisa." ". Era inevitável, toda vez que eu o via na Tv, na internet, ou quando respondia seus Tweets no meio de milhões de outras garotas e passava despercebida por ele, como se eu não fosse ninguém. Mas eu era. Toda vez que eu olhava seus olhos nas fotos eu lembrava daquela noite, do modo como ele me olhava me deixando sem graça, lembrava do seu cheiro doce de maçã, da sua respiração quente e acelerada, do seu gosto de hortelã. Eu estava simplesmente apaixonada por ele. Não tinha problema nisso né? Quem nunca se apaixonou pelo ídolo? Principalmente depois de ter tido uma noite maravilhosa de prazer com ele. Esse era o estado em que eu me encontrava, totalmente sem rumo. Como eu iria substituí-lo? Eu nunca iria encontrar alguém a altura dele.
E também por mais que fosse meu sonho, um relacionamento com ele era impossível. Infelizmente era o que meu coração e meu corpo também, pediam. Eu sonhava desfrutar de seu toque, e sua companhia pelo menos mais uma vez. Mas eu era muito insegura. Eu simplesmente não tinha coragem de ligar pro seu celular e ouvir um ' desculpa não me lembro de você ' Então eu nunca liguei. Eu encarava aquele numero enorme de telefone, mas não me imaginava falando com ele novamente. Era como se o que aconteceu entre a gente fosse algo secreto, algo de um mundo paralelo. Eu não me imagino conversando com . Eu ficaria tão nervosa que desmaiaria. Tudo que aconteceu foi um impulso, eu estava tão despreparada para aquilo, que eu só fiz. Mas por mais que eu estivesse fora de mim naquela noite, eu ainda sentia o toque de suas mãos no meu corpo.
Eu sonhava com aquele momento praticamente toda noite, era como um ritual que eu nunca me cansava, e imagino que nunca me cansaria. Porém tinha aquelas noites em que eu chorava, eu chorava até dormir, sabendo que eu nunca o teria pra mim. Eu chorava porque eu não conseguia ligar pra ele, porque eu não era o suficiente pra ele e nunca seria. Eu nunca passaria de uma menina que ele pegou. E isso doía demais, rasgava meu peito e me fazia chorar até vomitar. Minha mãe que não sabia da história ' toda' havia me levado ao psicólogo há uma semana, e eu simplesmente não tinha o que dizer. O que eu ia falar? “Doutora estou deprimida porque eu tive a melhor transa da minha vida, com , o garoto mais gostoso e desejado do mundo, inclusive por mim. E agora eu não consigo esquecer isso, e eu sofro porque não posso ter nada além da lembrança.”
Bom podia até tentar, se eu quisesse ser internada num hospício. Quem acreditaria nessa história? E além do mais eu não queria que ninguém soubesse. Eu guardava aquilo pra mim, e pretendia guardar pra sempre. Era uma delícia quando eu via outras meninas falando em como devia ser bom fazer sexo com ele, ou quando as vadias da minha faculdade davam uma de ' eu pego homens gostosos e você é uma coitada'. Eu me sentia bem , mesmo que internamente, porque eu sabia como era ter feito sexo com , e que eu não era tão feia e excluída assim. A não ser por quase todos os babacas da faculdade que só transavam com bundas e peitos, mas infelizmente eu era uma mulher completa. Eles não gostam muito de cérebro e essas coisas diferentes. Por isso se contentavam com bundas e peitos, perdão, as vadias da faculdade. Uma delas eu descobri ser Melissa, minha melhor amiga era uma vadia de carteirinha.
As vezes eu tentava fingir que não ouvia quando os meninos falavam dos boquetes que ela distribuía no banheiro. Até hoje eu não conversei com ela sobre isso. Desde o dia em que eu percebi que ela e Sean traíam um ao outro com a consciência limpa, eu evitei tocar no assunto. Eu tinha nojo disso. Eu amava Melissa e a amiga que ela era pra mim, mas eu precisava dar conselhos a ela. Eu precisava faze-la enxergar que por mais que as pessoas pensem que isso é brega, nós temos de manter uma boa moral, ou pelo menos não trair o namorado. Mas Melissa sempre foi o tipo de pessoa que não ouve, e prefere pagar pra ver. Mas eu tinha que fazer algo. Minha mente me perturbava desde aquele dia da nossa viagem. Era como se eu estivesse encobrindo o erro deles.
O sinal finalmente tocou e era hora de sair daquela tortura.
- Sabe se a Melissa vai fazer alguma coisa hoje?
Sendo pega de surpresa, Sean disse se aproximando cabisbaixo, já que nossa relação que não era das melhores esfriou muito mais agora.
- Não sei, não a vi hoje.
Disse num tom frio.
- Obrigado.
Ele respondeu quase que no mesmo tom que eu, porém com um pouco de agradecimento em sua voz, por nunca mais me meter no seu namoro, ou o que ele acha que é aquilo que ele tem com a Mel.
Esperei no portão pela Jenny, uma amiga de outro campus. Nós sempre íamos no mesmo ônibus e era lei uma esperar a outra.
Chegando em casa liguei para Melissa para saber por que ela não havia ido a faculdade, mas a única coisa que consegui foi uma resposta malcriada de sua mãe sobre como eu não devia ligar pra lá, e que Melissa não estava. Mais uma vez preocupada com ela. As vezes parecia que eu era a mãe da Melissa ,já que a mãe dela não servia pra nada. Só encher a cara e a casa de homens de todos os tipos. Era esse o meu maior motivo de me preocupar tanto com ela. Ela não tinha uma base familiar. Se Melissa estava na faculdade hoje, foi com muita insistência minha.
Entretanto ainda não tinha motivo para preocupação, a não ser que ela não aparecesse no trabalho hoje.



Capítulo 6 - I Don’t know who you are anymore

Banho tomado, comida na barriga e casa arrumada.
Ainda tinha tempo pra tirar um cochilo, e foi o que fiz. Depois de quase 30 min lutando contra meus pensamentos, eu consegui pegar no sono até ser acordada algum tempo depois pelo despertador. Coloquei meu uniforme e fui para o trabalho, hoje eu pegaria mais cedo mas em compensação ia embora cedo também. Eu simplesmente odiava ficar até tarde no trabalho. Quanto mais tarde, mais as pessoas ficavam bêbadas e insuportáveis naquele pub de meia tigela onde eu era obrigada a servir.
- Boa noite Ross.
Disse cumprimentando meu chefe e entrando para vestir meu avental. Melissa não havia chegado ainda, mas nada de desespero, ela ainda vai chegar e explicar que teve um dor de cabeça e esse foi o motivo de sua ausência na faculdade.
Comecei meu expediente muito bem, atendendo várias mesas e sendo bem rápida. Nesses últimos dias eu estava tão mal que meu rendimento no trabalho tinha caído. Talvez por que eu ficava parada muitas vezes olhando para o horizonte e enxergando um par de olhos me observando. Eu ficava pensando se ele talvez pensou em mim depois do que aconteceu, se ele contou pra alguém. Talvez ele tenha dito coisas do tipo: 'Peguei uma Escocesa uma vez'. Mas nada além disso, Talvez ele nem lembrasse quem eu sou.
- Ei, Cadê meu Whisky?
Uma voz alta gritou me tirando de meu transe. Parecia que eu continuava me perdendo em pensamentos como esse ainda, e parecia que seria por um longo, talvez um eterno período. Entreguei o pedido da mesa e quando olhei o relógio marcava 7:15 PM. Era obvio que Mel não iria chegar mais, meia hora de atraso é um coisa, mas uma hora já é pedir demissão. Eu não podia fazer nada, a não ser ficar com mais uma coisa martelando na cabeça.

Já era hora de ir pra casa, e eu pedi ao meu chefe que me liberasse antes, pra poder ir à casa de Melissa.
Apertei a campainha velha e enferrujada de sua porta esperando por algo positivo.
- Quem é?
Uma voz irritantemente aguda ecoou de dentro da casa. Era Roxane sua mãe, ou melhor uma vadia que morava com ela.
- Sou eu, .
Eu disse educadamente.
- O que você quer? Melissa tá aqui não!
Ela respondeu num tom completamente diferente do meu, abrindo a porta.
- A senhora sabe onde ela está? Ela não foi à aula nem ao trabalho hoje.
Eu disse mantendo a educação que recebi.
- A Melissa tem 20 anos na cara , não tenho que saber aonde ela anda ou deixa de andar. O problema é dela.
Ela disse um pouco mais calma, talvez ela não tivesse bebido tanto, ou eu não interrompi um de seus programas grátis como infelizmente já acontecera algumas vezes.
- Bom eu vou pra casa então, diz a ela que eu estive aqui e pede a ela pra me ligar quando puder.
Eu disse dando as costas e indo até o ponto de ônibus.
Já estava escuro e a ruas perto de sua casa geralmente ficavam desertas devido ao perigo do local. Ouvi alguns passos atrás de mim e meu coração começou a disparar. Eu nem sabia se aquilo era real, ou se eu estava simplesmente imaginando devido ao meu medo de estar ali sozinha. Os ruídos foram ficando mais altos e a única coisa que pude fazer era fingir calma a continuar andando. A pessoa que andava atrás de mim passou então à minha frente me causando um enorme alívio. Ele dava passos largos e logo estava bem a minha frente. Ele então virou a esquina, passei por aquele local olhando em direção àquele beco escuro, no qual algo me chamou a atenção. Vi aquele mesmo homem numa discussão. Fiquei com medo de alguém me ver observando-os, porém continuei olhando para o caso de ser necessário chamar a policia ou algo parecido. Ele então deu um tapa no rosto da pessoa, e veio em minha direção.
Logo me escondi atrás de um carro parado na esquina. Assim que ele se foi eu pude ouvir o som de um choro baixo, imaginando que seria da pessoa que acabara de sofrer certos maus tratos anteriormente. Olhei em volta e vi que não tinha ninguém por perto então resolvi ir ver se a pobre criatura precisaria de algum tipo de ajuda, apesar das minhas mãos tremulas devido ao medo de estar me intrometendo nesse assunto. Entrei no beco e fui andando em direção a pessoa a qual agora estava sentava chorando com as mãos no rosto. Apesar da pouca luz, vi que era uma mulher e me senti mais segura e ao mesmo tempo determinada a resolver tal injustiça. Me agachei ao seu lado tomei fôlego então lhe disse:
- Está tudo bem, vou te ajudar. Vamos resolver essa injustiça, você foi assaltada?
Ela vestia um casaco grande com um capuz cobrindo a cabeça, mesmo assim consegui ver que ao ouvir minhas palavras seu corpo se estremeceu. Então continuei tentando ganhar algum tipo de confiança.
- Você mora por aqui? Quer que eu chame alguém?
Ela apertou ainda mais seu rosto em meio as suas mãos. Eu então resolvi tocar seus ombros para dá-la um pouco de consolo. Não sabia o que estava acontecendo com aquela mulher, mas me sentia na obrigação de ajuda-la por ser mulher, e por que eu era a única pessoa que havia visto o ocorrido.
- Não se preocupe, vai ficar tudo bem, não precisa dizer nada, quando quiser eu te ajudo a chegar em casa.
Disse alisando seus ombros e ela continuava em silêncio com seu rosto tampado por suas mãos e o capuz. Fiquei ali por alguns minutos esperando alguma reação de sua parte, mas tudo que consegui foi o silêncio total. Ela então se levantou de repente num ato brusco e saiu correndo, até tropeçar. Eu andei até ela e a ajudei a levantar, o que me causou um susto enorme ao finalmente ver seu rosto.
- Melissa? O que é isso? O que significa isso?
Eu disse segurando seu braço fortemente numa tentativa de não deixá-la escapar. Ela virou e tentou se livrar de meu aperto, porém me mantive firme.
- Melissa! O que está acontecendo aqui? Me responde Melissa!
- Nada! Mas que merda! Me solta ! Sai daqui!
Ela disse tentando se soltar de mim. Eu estava realmente muito confusa com aquilo tudo. O que ela estava fazendo ali? Quem era aquele homem? Quem era ela? Eu realmente não sabia o que estava havendo com minha melhor amiga. Ela simplesmente se transformou em outra pessoa. Seus olhos estavam avermelhados e ainda continham uma enxurrada de lagrimas presas. Meu olhar estava distante, e mantinha ainda uma expressão extremamente confusa.
- Amiga, me escuta. Desculpa se eu agi rude, mas eu só quero te ajudar. Você precisa se abrir comigo, eu não vou brigar com você ou algo parecido, eu sou sua melhor amiga e tudo que eu puder fazer pra te ajudar eu quero fazer.
Ela abaixou o olhar, que antes estava fixo nos meus, enquanto tentava escolher as melhores palavras para acalma-la.
- Eu não quero falar sobre isso, não agora. Me desculpe.
Eu soltei seu braço e a puxei num abraço. Ela levou um tempo até retribuir meu abraço, porém quando o fez eu pude sentir que realmente tinha algo de muito errado com ela.
- Vamos, eu te levo em casa.
Disse desfazendo o abraço e segurando sua mão para guiá-la. Nós fomos então caminhando em direção a sua casa em pleno silêncio. Então resolvi quebrá-lo dizendo algo sobre o dia.
- Sua mãe parecia estar sóbria hoje, ela até me tratou um pouco bem.
Disse-lhe tentando forçar um sorriso. Mas ela continuou com a expressão fria e olhando adiante. Ela então parou de andar, abaixou a cabeça.
- Eu estou usando drogas .
O modo frio como aquelas palavras foram ditas fizeram minha cabeça doer um pouco. Aquilo era... Era algo que eu não estava esperando, era algo que eu não queria aceitar. Então ela estava usando drogas. Era isso o tempo todo. Isso significava que meu trabalho como amiga e protetora estava completamente falho. Mas eu não podia deixar minha amiga se perder desse jeito, não sem fazer algo. Eu então pensei em algo para falar e as únicas palavras que saíram da minha boca foram:
- Eu estou com você. Eu vou te ajudar, se você me deixar.
- Não quero que você se envolva nisso. Eu estou devendo dinheiro.
- Como assim Melissa? A quanto tempo você está fazendo isso?
- Provavelmente um mês.
Um mês? Como ela conseguiu esconder isso de mim? Eu entendo que ela sempre foi uma pessoa difícil de se abrir, mas isso era demais. Como nunca percebi algo assim?
- Vamos para casa, eu vou pensar em algo. Amanhã conversamos sobre isso, mas me prometa que vai me contar as coisas a partir de hoje.
Ela permaneceu em silêncio e continuamos andando. Eu não ousei acabar com aquele silêncio, já que minha cabeça estava rodando. Minha mente estava desnorteada com todas aquelas infelizes informações que eu lutava por dentro pra acreditar. Era difícil acreditar que minha amiga, que sempre foi tão pra cima, tão destemida. Era ela que sempre me incentivava a lutar pelo que eu quero, me dava forças pra ir em frente. Até então isso era o que eu sempre pensei sobre ela, era o que eu esperava dela. Eu sabia que Mel não era uma pessoa muito ajuizada, mas nunca imaginei que ela estaria no estado em que se encontrava. Meu coração doía de ver minha amiga assim, nesse estado, totalmente perdida. Quando finalmente chegamos, ela se dirigiu até a porta sem olhar para trás e entrou cambaleando um pouco. Eu permaneci a olhando até ela sumir através da porta, agora fechada. Eu precisava ajuda-la, mas como?

XX

Minha mãe cantarolava algumas músicas enquanto elas tocavam em ordem no meu celular. Minha mãe sempre foi do tipo que se interessa pelas tendências dos jovens. Era assim que cozinhávamos juntas, cantando e rindo uma da outra. O frango já estava quase ficando pronto, e a propósito eu já estava morrendo de fome.
- Bom agora é só isso filha, pode subir e se arrumar que eu lavo a louça.
- Tudo bem mãe, vou tentar ficar bonita.
Hoje era um dia especial para minha mãe, eu iria conhecer seu novo namorado. Eu já havia o visto por fotos e etc. Mas nunca tivemos chance de jantar assim como hoje, espero que ele se sinta parte da família. Minha mãe realmente merece alguém especial, depois de todo esse tempo sozinha. Meu pai nos deixou quando eu tinha 4 anos, todas as lembranças que tenho dessa época são ruins, e coisas que eu tento esquecer até hoje. Apesar de todo ódio que eu sentia por ele ter feito isso eu senti falta de uma figura paterna. Minha mãe sempre fora muito minha amiga, sempre fomos eu e ela pra tudo, e independente de quem ela escolheu eu iria apoia-la e fazer o possível para entendê-la.
Coloquei meu celular para tocar Far away do Avenged Sevenfold, tinha um tempo que não a ouvia e ela me trazia uma paz inexplicável, algo que eu precisava para relaxar naquela noite. Entrei no box e comecei a tomar meu banho quente, já que fazia um pouco de frio hoje. O clima daqui era realmente uma loucura, estávamos em pleno verão e de repente fazia frio. A última vez que presenciei um clima frio foi há um mês atrás em Londres. Na verdade o frio era a ultima coisa que eu recordava daqueles dias. Aquilo já não doía tanto, eu conseguia repor as lembranças daquele dia, que aos poucos eu me obriguei a esquecer. Elas eram somente uma boa recordação que eu tinha agora, ás vezes eu ainda achava aquilo completamente louco. Eu não ouvia, via, nem procurava noticias há um bom tempo sobre , ou qualquer um dos outros membros da banda.
Fazia parte da terapia, mesmo que não explicada à psicóloga, ela me aconselhou a me forçar a evitar qualquer contato com o que estava me fazendo tão mau e foi simplesmente o que eu fiz. Mas agora era diferente, aquilo era algo bom de lembrar. As raras vezes que me pegava pensando no assunto um sorriso bobo se formava instantaneamente em meu rosto.
Banho terminado eu pus as roupas escolhidas, prendi o cabelo num rabo de cavalo e fui até a cozinha ver como estava o andamento das coisas, e fui surpreendida pela presença de um homem relativamente alto e bonito.
- Er.. Oi.
Eu disse um pouco sem graça. Eles se viraram para mim com olhos brilhando e um sorriso largo no rosto.
- Então você que é a herdeira de toda beleza?
Ele disse estendendo uma mão para um cumprimento.
- Sou herdeira de tudo, menos da beleza.
Eu disse contagiando-os com minha piadinha. Minha mãe nos apresentou formalmente e mantemos um diálogo até o frango ficar pronto.
Todos a mesa, nós pomos nossa comida e começamos a comer e bater papo.
- você devia conhecer a filha dele, ela tem 7 anos e é uma fofura de menina.
Minha mãe disse com comida na boca.
- Da próxima vez eu a trago, ela vai amar conhecer você.
- Eu vou adorar, ela deve ser uma graça. Se ela soub...
Fui interrompida por uma serie de batidas bruscas na porta.
- Atende pra gente filha?
Eu acenei com a cabeça e fui até a porta. Meu corpo gelou ao abrir a porta e me deparar com Melissa, que até então tinha sumido desde a última vez que eu a encontrei na rua.
- Deixa eu entrar!
Ela disse me empurrando e entrando na sala. Ao mesmo tempo que eu senti um alívio de vê-la, eu entrava em desespero ao vê-la daquela forma, totalmente transtornada.
- Entra, mas fala baixo. Estou com visita Melissa.
Eu lhe respondi num tom um pouco ríspido. Ela não tinha o direito de estragar a noite da minha mãe, só porque ela não tinha critérios sobre o que fazer ou não com sua medíocre vida. Eu estava um pouco irritada com ela, pela atitude que ela havia tomado de fugir, porém aquela não era hora de resolvermos diferenças.
- O que você está fazendo aqui? Não tinha fugido pra se drogar em paz? Sem ninguém te atrapalhando.
- Eu preciso da sua ajuda. Eu posso me esconder aqui?
- Se esconder na minha casa Melissa? Esconder de quem? Por que você acha que merece minha ajuda depois do que fez?
Eu disse firme apesar de no fundo querer realmente ajudá-la, mas ajudá-la a se esconder não era a melhor coisa a se fazer.
- Estão querendo me matar ! Eu tô sem dinheiro!
- Ninguém vai te matar ok? Eu dou um jeito de arranjar o dinheiro para você.
Eu disse fechando os olhos e suspirando. Ela me vencia em tudo. Mas eu ainda não sabia o que realmente estava acontecendo com ela.
- Melissa, você precisa me explicar o que está acontecendo! Não vou fazer o que você quer se você não falar.
- Eu falo.
Ela disse se sentando no sofá.
- Mas não agora. Eu estou com visita e você está atrapalhando.
Eu lhe respondi com um pouco de medo de que ela fosse se magoar, mas eu precisava ser firme se pretendia realmente ajudá-la.
- Não tem problema, mas pode ser tarde demais depois.
Ela disse dando a entender seu drama, o que só me fez ficar mais furiosa com ela. Precisava disso? Ela escolheu esse caminho, e agora estava ali simplesmente olhando para a morte como se fosse algo natural como para qualquer pessoa, mas ela não tinha esse direito. Ela quem escolheu isso, ela tinha que encarar as consequências!
- Então fala logo droga! Não estou com paciência pra você Melissa.
- Eu comecei a usar porquê o Sean tá usando também. Mas ele parou de comprar pra mim e eu tive que começar a comprar sozinha. E não consegui parar.
- Você está usando o quê?
Eu perguntei indigna com sua história. Aquilo era algo irritante. Como Melissa podia ser tão cabeça fraca?
- Eu usei só cocaína no inicio, mas aí agora eu usei crack também por que eu tava sem grana. E depois eu tive que transar com o cara que me vendia, pra ele continuar me dando. Mas o chefe dele descobriu e matou ele. E agora ele quer que eu pague o que eu gastei, mas eu não tenho mais nada! E você sabe que minha mãe não pode me ajudar, ela não trabalha e o pouco que eu ganho da pensão e do bar ela gasta nas bebidas.
Eu realmente não podia acreditar em tudo que ela acabara de contar. Toda a raiva que eu sentia antes se triplicou. Minha amiga era uma imbecil! Eu estava me forçando a não dar um soco em seu rosto. Como alguém como ela pode ser tão estupida? Eu entendo que ela tenha problemas familiares, mas isso não faz dela uma coitada que precise de drogas! Ela era inteligente, tinha amigos, era amada por todo mundo, era bonita. Isso não era motivo para ela fazer o que faz, nunca foi. Por que seria agora?
- Filha vai esfriar volta logo.
A voz da minha mãe ecoou da cozinha e me fez lembrar que eu estava estragando seu dia especial com minha amiga idiota.
- Melissa, eu vou te dizer uma coisa. Eu vou te ajudar, mas você vai ter que aceitar a ajuda! Se você voltar a ser idiota assim, eu vou lavar minhas mãos pra você, e eu juro! Eu não vou sentir pena se você for assassinada.
As palavras me pareceram mais assustadoras depois de soltá-las. Já para Melissa elas pareciam esperadas, devido a sua reação nula. Ela me conhecia, sabia que eu não aceitava essas coisas, e não era do tipo de ficar com pena quando sabia que o erro era dela. Eu estava realmente muito estressada, e com muita raiva de tudo aquilo. Meu corpo se estremecia de tanto estresse.
- Melissa, me dá licença. Eu vou para cozinha terminar o jantar que você interrompeu!
Eu lhe disse com as mãos em punhos andando em direção à cozinha, porém minhas pernas começaram a falhar e minha visão ficou turva. Senti uma enorme pressão na cabeça e minha visão antes embaçada se escurecia aos poucos ficando completamente apagada. Eu então não aguentando, caí no chão sentindo apenas o pouco do ar que entravam em meus pulmões. Eu nunca havia sentido uma sensação como aquela, e esperava nunca mais sentir na vida.

XX

- !
Uma voz baixa soou aos meus tímpanos me fazendo abrir os olhos e fecha-los rapidamente devido a claridade acima.
- Filha! Tá acordada? Tá me ouvindo?
Me dei conta de que aquela voz era a da minha mãe, porém ainda não estava muito cônscia do que estava ocorrendo. Tentei abrir meus olhos mais uma vez e pus a mão sobre os olhos para não ser pega de surpresa pela luminosidade do local novamente. Ao realizar tal ação percebi que estava com fios presos a mão, provavelmente ligadas a um soro.
- Mãe ... Er... O que aconteceu?
Eu falei com a voz rouca e um pouco falhada.
- Filha você desmaiou, e nós ligamos para a ambulância. Eles resolveram te por no soro até você acordar , e enquanto esperam o exame de sangue estar pronto para sabermos se está tudo bem com você.
Depois que minha mãe esclareceu o que havia acontecido pude então por meus pensamentos no lugar.
Depois de alguns minutos na enfermaria do hospital, o médico, provavelmente que havia me atendido, chegou segurando alguns papéis. E disse se dirigindo a nós.
- Vamos te tirar logo do soro e você pode ir para casa. O que eu vi no seu exame não indica nada de anormal. Provavelmente você passou por algum estresse muito grande e devido a gravidez seu corpo já com imunidade baixa, reagiu dessa forma.
Ele disse ajustando o soro para descer mais gotas. Eu não prestei muito a atenção no que ele dissera já que ainda me sentia um pouco tonta, mas minha mãe com os olhos arregalados e a expressão assustada soltou algumas palavras quase como um urro.
- O que você disse?! Gravidez?! Que gravidez?!
Que? Do que ela estava falando? O médico manteve uma expressão um pouco assustada e desconcertada pelo comentário de minha mãe.
- Bom, mil perdões ter dado essa noticia assim... Imaginei que você soubesse.
- Como assim? Que gravidez? Eu não estou grávida não doutor.
Eu disse achando um pouco engraçado, mas ao mesmo tempo com uma pontada de medo de aquilo realmente ser verdade.
- Bom eu posso estar enganado, já que me baseei pelo exame de sangue. Mas você pode fazer uma ultrassonografia para confirmar, apesar do exame constar isso. Eu preciso ir, uma enfermeira virá tirar seu soro, boa noite.
Ele disse indo embora e me deixando completamente sem chão. A sensação que senti antes de vir pra cá não se comparava com o que estava sentindo agora. O pior era ter ouvido aquilo do lado da minha mãe, que mantinha uma expressão fria e assustada olhando pro chão. Eu não consegui emitir som algum. Eu não consegui raciocinar direito. Como isso podia ser verdade? Gravidez? Aquele exame só podia ser errado. Não era possível!
- Você sabia disso ?
Fui interrompida de meus pensamentos com a pergunta um tanto intimadora de minha mãe. Eu imagino que tanto para mim como para ela era difícil acreditar naquilo.
- Não, eu não sei de nada disso. Esse exame está errado mãe, é impossível eu estar grávida!
E era mesmo, não era?
- Vamos fazer uma ultra amanhã.
Ela disse ignorando a minha resposta, como se o que eu disse fosse apenas uma mentira mal formulada. Voltamos ao completo silêncio até a enfermeira vir retirar o soro.



Capítulo 7 - Falling down

Eu olhava pela janela, ainda aflita com aquele dia. As vezes que eu desviava meu olhar para minha mãe, ela parecia que poderia perder o controle a qualquer momento, mantinha uma expressão fechada. Durante esses dois dias em que esperamos até chegar a data do exame marcado, foi simplesmente torturante. Minha mãe só se dirigia a mim quando muito necessário. Mel havia ficado lá em casa com a desculpa de que ela e a mãe não estavam se falando. Nós ainda não tínhamos conversado sobre os assuntos recentes, eu ainda estava magoada e com muita raiva dela, porém minha cabeça estava muito cheia para pensar na estupidez de Melissa, e por algum milagre ela entendia isso, e aguardava nosso acerto com paciência.
- Vem!
Minha mãe rosnou, se levantando sem ainda olhar para mim. Apenas a segui em direção a saída do ônibus. Assim que descemos eu logo vi a clínica onde tínhamos marcado minha ultrassonografia. No momento em que bati meus olhos no local, meu coração simplesmente parou, eu estava com medo. Depois de todos esses dias procurando algum indício de verdade nessa hipótese de gravidez, sempre negativos, eu estava com medo de isso ser possível. Eu não havia menstruado aquele mês ainda. E se eu realmente estava grávida? De quem era? Como aquilo aconteceu? O que vai ser da minha vida?
Minhas pernas permaneciam trêmulas enquanto eu entregava meus documentos à recepcionista. Minha mãe já havia sentado, e infelizmente a clínica estava vazia, o que indicava que seria mais rápido do que eu imaginei. Talvez não desse tempo de eu fugir dali e me mudar de país, e só assim então fazer esse maldito exame.
Já tinham se passado 20 minutos, eu já havia bebido uns 200 copos de água para tentar me acalmar, obviamente essa tentativa foi falha já que eu simplesmente quase derramava eles devido ao meus tremeliques.
- .
.
.
Uma voz longe chamou, e foi aí que eu realmente vi que na verdade eu ainda não estava nervosa. Eu simplesmente segui em direção à sala enquanto minha mãe esperava na recepção. Entrei, tirei a roupa e coloquei um avental que a médica me indicou e me deitei na cama com as pernas abertas.
- Hmm então a mocinha quer saber se tem um neném aí, certo?
- Hmm.. Er... Sim.
- O exame que farei é um transvaginal, ou seja vai incomodar um pouquinho, mas a dica é você se manter relaxada para não machucar.
Ela só podia estar brincando ao me mandar relaxar! Eu não iria sentir dor nenhuma de tanta adrenalina que meu corpo estava produzindo. Depois de passar meus dados para o computador, ela colocou a camisinha no aparelho, e observar aquilo só me deixou nervosa. Eu nunca tinha feito esse tipo de exame, não por aí. Não devia ser tão pior do que o pavor que eu estava sentindo em relação ao resultado. Ela introduziu o aparelho e eu senti um incomodo e uma dor horrível, mas não era nada desesperador. Eu fechei meus olhos apertando-os, meu coração quase saltava pela boca. Era quase perceptível o som dos meus batimentos naquela sala tão silenciosa. Ela movimentava o aparelho devagar dentro de mim, o que incomodava muito, e eu mantive meus olhos fechados para não olhar a tela e achar algo indesejado, algo inexplicável.
Até que ela cortou o silêncio, exatamente como eu tanto temia.
- Bom, pelo que estou vendo aqui, você tem um feto, e pela formação dele deve estar entre 3 e 4 semanas, parabéns.
Não! Não! Não! Eram as únicas palavras que passavam na minha cabeça. Merda! Que merda! Eu simplesmente não conseguia racíocinar a ponto de formular alguma palavra para dizer a ela. Isso não podia estar acontecendo.Eu não fiz sexo sem camisinha. Eu não fiz sexo com ninguém! Eu não fiz sexo com ninguém! Como eu estou grávida?
A dor do exame já parecia não estar ali, diante da pontada que eu senti no coração. Foi quando eu pude ter um pouco de clareza, um pouco de possibilidade diante daquilo. 4 semanas, são um mês. E isso batia exatamente a ultima vez em que tive relações com alguém. Com alguém não, com o . Eu abri meus olhos arregalados, e passei a encarar o teto. Nós usamos camisinha, não usamos? Usamos sim. Eu estava um pouco bêbada, mas me lembro perfeitamente o modo como coloquei a camisinha em seu membro. Me lembro que a coloquei ,com minhas unhas postiças na época, arranhando-o. Eu me lembro, mas então como? Dentro de todos esse tempo havia sido meu único parceiro, e antes dele minha última vez já fazia meses. Se eu realmente estava grávida, por que eu ainda acreditava na possibilidade de que essa médica fosse louca, ou que o aparelho estava com problemas? Como isso foi acontecer? Por que comigo?
E se for do .
? E se eu realmente estou esperando um... Filho de .
.
? O que eu vou fazer da minha vida? O que eu vou fazer da vida dele?
Eram tantas perguntas, mas eu nem tinha certeza da primeira, e a principal.
- Bom, ainda não podemos ver sexo e essas coisas. Mas ele está saudável, e se desenvolvendo normalmente. Esse primeiro é só pra ter a certeza absoluta mesmo, agora a próxima você já vai poder checar mais detalhes.
Ela disse enquanto retirava o aparelho de mim. Eu a observei retirando o preservativo e limpando o aparelho. Eu ainda estava desnorteada, paralisada, literalmente em estado de choque, mas agora eu não podia mais correr pra lugar algum. Era verdade, eu estava grávida.
- Dr. Er... Eu não estava esperando... Não foi planejado.
Disse-lhe com vestígios de lágrimas nos olhos, o que resultava numa voz totalmente falha.
- Eu percebi, assim que eu lhe disse e você simplesmente congelou.
Ela disse sorrindo um pouco sem graça, devido a minha reação.
- Eu transei com camisinha, eu sei que usei. Como isso é possível?
- Isso é algo bem comum. Camisinhas são feitas por humanos, humanos são imperfeitos. E quem as usa também. Muitas vezes as pessoas não tomam cuidado com o modo de colocá-la e acabam fazendo furos. E mesmo com a menor fissura os espermatozoides conseguem passar. E provavelmente você estava numa época fértil.
Então a culpa era minha? A culpa era minha. Eu havia colocado aquela camisinha idiota nele. Eu me engravidei. - Obrigada... E desculpa o transtorno.
Ela apenas ascentiu e sorriu. Assim que ela saiu, eu me levantei e fui ao banheiro colocar minhas roupas de volta. Tirei o avental e olhei imediatamente para minha barriga, pela primeira vez eu a percebi inchada, talvez fosse só psicológico, mas agora que eu estava ciente que realmente existia algo ali, eu já podia sentir. E eu não queria sentir, de jeito nenhum.
Levantei meu olhar embaçado pelas lagrimas já acumuladas. Percebe-las ali, fez com que logo elas transbordassem e em questão de segundos eu estava sentada no vaso chorando e soluçando. A única coisa que eu pensava em meio a todo aquele choro desesperado, era: E agora?



Capítulo 8 - It’s so hard to tell

6 Anos depois...

Eu a olhava dormir serena abraçada com o ursinho que dei a ela em seu terceiro aniversário. Seus olhinhos se mantinham fechados levemente como se qualquer toque fosse acordá-la, quem me dera que isso fosse verdade. Seus cachinhos dourados, perfeitamente projetados só para ela, estavam desgrenhados e alguns fios caiam e balançavam em seu rosto de acordo com o vento do ventilador de teto de estrelinhas. Eu sempre me sentia péssima de ter que acordá-la tão cedo, mas não tinha jeito.
- Jade.. Jade.. Acorda filha, tá na hora da escola.
Eu a balançava devagar enquanto ela emitia alguns grunhidos, eu sabia que era difícil acordá-la principalmente por termos ido dormir bem tarde ontem.
- Filha você tem que levantar, a mamãe já te acordou até um pouco mais tarde hoje.
- Hmmmmm eu não quero ir pra escola hoje mãe.
- Mas você não pode faltar aula sem motivo filha, você me pede isso todo dia. Se fosse assim era mais fácil você parar de estudar.
Eu soltei um risinho prevendo a alegria dela ao cogitar tal ideia. Ainda com o rosto contra o travesseiro ela soltou uma risadinha.
- Então eu devia parar mãe, o que acha?
Agora com o rosto levantado olhando em minha direção ela disse com uma expressão sarcástica.
- Eu acho que você já tá bem acordadinha, e é melhor você ir tomar seu banho logo engraçadinha.
- Droga.
Ela disse voltando a jogar a cara no travesseiro. Depois se sentou espreguiçando-se na ponta da cama enquanto eu me levantava com a mesma intensidade de preguiça que ela.
Logo estávamos prontas e a caminho do colégio de Jade. Eu sempre a levava de carro, digo meu Fiesta de segunda mão, para a escola e ia direto ao trabalho. Eu trabalhava como secretária num escritório de contabilidade, não era muito mas dava pra nos sustentar.
- Tchau mãe.
- Tchau meu amor, me dá um beijinho.
Jade me deu um beijinho na bochecha e seguiu em direção ao corredor a nossa frente. Voltei para meu carro em direção à minha rotina entediante.
- Bom dia, Dr.Lewis.
- Bom dia. Os papéis que você me deu, já estão assinados. Só entregue para mim. Depois você vai enviar os e-mails para aquelas três empresas, e envie o formulário, junto com a aceitação de serviço para a Sony. Agora contabilizamos a filial da Sony em Fife minha querida, pode comemorar.
- Jura? Não acredito! Parabéns Dr. Lewis eu sei o quanto você batalhou para isso.
- É verdade menina, e agora eu consegui. Foi simplesmente questão de tempo. No tempo certo tudo que queremos acontece, só precisamos ter paciência.
- Com certeza, então já vou indo. Se precisar de algo a mais...
- Por enquanto é só mesmo isso.
Fui para minha mesa ainda boquiaberta pela grande capacidade de meu patrão. Ele era realmente a pessoa mais determinada e por sorte, abençoada que eu conhecia. Ele sempre pensava no futuro, tudo que ele fazia hoje, era pro melhor do amanhã, e isso me motivava muito. Eu queria muito voltar à minha faculdade e terminar o que eu tanto queria. Cada ano que passava eu me sentia menos segura, e tinha menos tempo de voltar à faculdade. Mas eu precisava me organizar, organizar minha vida e me empenhar por aquilo que eu quero. Minha vida não era nada fácil. Eu era mãe solteira, não tinha formação, morava longe da minha família, e mesmo que morasse, eu ainda não teria muito apoio vindo de lá. Já que minha mãe não se dava mais muito bem comigo desde o nascimento de Jade. Ainda assim existiam duas pessoas que me faziam olhar pra frente e acreditar em mim, minha filhinha e meu namorado. Por eles eu tinha a determinação de conseguir algo melhor pra mim, era eles que me motivavam.
Terminei meu turno sem muito trabalho, aparentemente. Peguei o elevador e assim que saí consegui sinal para ligar para Luke.
- Oi amor.
- Oi, você vai lá pra casa hoje?
- Sim, vou sim. Por quê? Algum imprevisto?
- Não, só estou perguntando. É que tô saindo daqui agora, vou buscar a Jade e te espero lá.
Fui em direção ao meu carro, apoiando o celular no ombro enquanto procurava as chaves na bolsa.
- Tudo bem amor, eu tô mesmo com saudade de você. Por isso espero que sua lingerie seja nova.
- Desculpa, eu sou pobre. Não tenho dinheiro para alimentar suas fantasias querido.
- Não tem problema, minha fantasia é o que tem dentro da lingerie meu amor.
- Eu realmente espero que não tenha ninguém perto de você.
Disse rindo e finalmente encontrando a maldita chave.
- Não.
- Tchau amor, vou ligar o carro. Até mais.
- Até, Beijo.
Desliguei o celular com um sorriso no rosto. Luke tinha a capacidade incrível de me fazer rir com suas piadinhas, principalmente as eróticas e ridículas, como se ele fosse um deus do sexo.
Cheguei à casa de Anne, a menina que eu pagava para ficar com Jade enquanto eu trabalhava.
- Oi Dona .
, a Jade tava meio tristinha hoje, ela não quis me falar o que é. Acho melhor a senhora perguntar.
- Obrigada por avisar Anne, eu vejo se consigo tirar algo dela.
Terminamos o assunto assim que Jade apareceu no corredor em direção a porta, e realmente mantinha uma expressão um pouco triste, um pouco cansada também. Peguei suas coisas e fomos para o carro em silêncio, a não ser pelo meu 'oi' não respondido.
Percorri parte do caminho ainda calada, me sentindo estranha por minha própria filha parecer está passando por algo e eu sem perceber nada.
- Hoje o Luke vai dormir lá em casa filha.
Eu disse desviando meu olhar da estrada para ela, que mantinha o rosto virado para janela fixo em algum ponto. Voltei minha atenção à estrada e ela virou seu rosto para mim num ato rápido. Eu não ousei olhá-la já que estava prestes a virar uma curva, mas pude sentir um certo ar de sofrimento em seu olhar, o que me preocupou muito.
- Por que eu mãe? Por que você fez isso comigo?
- Isso o que Jade?
- Por que eu não tenho pai? Ela enxugou algumas lagrimas, jogando-as pelo rosto todo. - Por que você nunca procurou meu pai? E se ele gostasse de mim?
Olhei em sua direção, e vi seus olhinhos ainda derramando algumas lágrimas. A menção de seu pai, o modo como ela o mencionou causou uma pontada em meu estomago, como se tudo que eu sempre quis evitar tivesse vindo assim, tão de repente.
- Eu já te expliquei isso, Jade.
- Mas mãe, todo ano nos dias dos pais todas as minhas amigas cantam a musica pros pais delas. E muitos vão, mesmo sendo separados da mãe. Mas eu canto pro nada. Eu nem sei como é meu pai, não sei nem o nome dele. Não sei nem se eu pareço com ele. Você nunca me diz nada! E ficam sempre perguntando e rindo de mim quando eu falo que não tenho pai. Uma colega minha falou que eu não sei quem é meu pai por que minha mãe é puta. Você é isso mamãe?
- Jade nunca mais repete isso ouviu?! Eu a olhei aterrorizada, no entanto voltei rapidamente minha atenção para um carro parando em minha frente. - Não eu não sou isso, e eu quero saber quem é que fica ensinando essas coisas feias pra você. E não é por esse motivo que você nunca conheceu seu pai.
- Então é por que mamãe?
O ar entrou se preparando para respondê-la, mas eu simplesmente não tinha o que responder. Eu nunca contei a verdade sobre seu pai à ela, nunca contei isso a ninguém. Sempre dava a desculpa que foi um deslize com um namoradinho de faculdade e que ele nunca quis assumi-la. Mas de Jade eu sempre escondi tudo. Porque eu sabia que a mentira doeria tanto quanto a verdade para ela, e para mim também.
Eu simplesmente evitava o assunto, sempre evitei. E quando precisava falar sobre isso eu simplesmente dizia que era melhor ela não conhecê-lo. Eu sempre achei que ela sempre era nova demais para entender isso, ou enfrentar isso. Mas Jade crescia cada vez mais, cada dia que passava ela ficava mais esperta, e mais difícil de controlar esse desejo que ela sempre teve de conhecer o pai. Mas hoje era diferente, ela nunca tinha falado comigo desse jeito. Nunca tinha chorado por isso, não na minha frente. Me doía saber que por um erro meu, a vidinha de uma criança tinha sido tão afetada. Eu me culpava por tudo de ruim que acontecia com Jade. Eu tentava sempre agradá-la, sempre fazer o possível para deixá-la feliz, mas isso que ela me pedia era algo complicado. Eu sumi com tudo relacionado a esse assunto durante esses 6 anos.
Eu me obriguei a esquecer isso, eu passei a me acostumar com a ideia de que a existência de um pai na vida de Jade não era necessária, e ela não precisaria nunca disso. Mas eu me enganei completamente, só não sabia que seria assim tão cedo.
Entramos em casa, Jade ainda soltava alguns soluços e enxugava algumas lágrimas insistentes com as costas das suas mãos. Eu a observei ir direto para seu novo e minúsculo quartinho que havia sido feito a cerca de meses.
Preferi não incomodá-la e não entrei em seu quarto todo o tempo em que ela ficou lá. Estava na cozinha preparando o jantar, quando a campanhia tocou.
Luke entrou com um selinho como cumprimento e se sentou no sofá. Vê-lo me causou mais alívio. - Carne assada?
- Sim, não tinha muitas opções hoje.
Disse me sentando ao seu lado, e logo sendo envolvida por seus braços.
- Eu gosto, não se preocupe. Sabe mais do que eu gosto?
- Do quê?
- De ficar assim com você, ao meu lado.
- Eu também gosto querido.
Luke aproximou seu rosto do meu para me beijar. Então demos inicio a um beijo calmo a lento. Luke tinha toda calma do mundo quando o assunto era eu e ele, aproveitávamos cada milésimo de segundo.
- Eu gosto de carne assada, mas não queimada.
Ele disse partindo o beijo devagar. A principio minha expressão se tornou confusa, mas logo entendi o que ele quis dizer e fui até a cozinha desligar o forno, que com sorte não estragou nosso jantar.
Tive que ir até o quarto chamar Jade para comer. Ao abrir a porta vi que ela estava deitada na cama abraçada a um travesseiro. Então suspirei e tomei coragem de chamá-la.
- Filha vem comer, tá pronto, o Luke já está aí te esperando.
- Ele não é meu pai.
Ouvir aquelas palavras tão frias saindo de sua boca quebraram meu coração. Ela nunca se referiu à Luke desse jeito. Talvez eu não devesse ter mencionado Luke, que a tanto tempo eu venho fingindo ser sua figura paterna.
- Filha, ele não tem nada a ver com isso. Não devia tratá-lo assim. Ele gosta de você e faria de tudo para te ver feliz.
Dessa vez ela permaneceu calada mas continuou deitada. Então tive uma ideia ao menos.
- Eu trago seu prato, e você pode comer aqui mesmo o que acha?
- Tá.
Ela respondeu secamente e eu me retirei do quarto para fazer seu prato.
- Ué ela não vem?
- Não, ela não está bem hoje. Eu vou levar a comida até lá.
- Não quer levá-la a um hospital?
- Não, é só uma dorzinha, logo passa.
Luke deu de ombros e aceitou minha desculpa. Jantamos na mesa e Jade no quarto. Depois assistimos um pouco de televisão e fomos deitar.
Fizemos sexo rapidamente, nada muito prolongado ou especial e depois ficamos conversando.
- Tá tudo bem mesmo amor?
Luke perguntou , apoiando a cabeça na mão e se levantando para me olhar.
- Você estava diferente.
- Desculpa, eu estou um pouco preocupada com a Jade, só isso.
- Você quer que eu vá para sala e ela durma aqui com você?
- Não, ela não quer dormir comigo.
- Me explique por que então? Você sabe que pode conversar o que quiser comigo. Eu amo a Jade como se fosse minha filha.
Suas palavras arderam minha pele juntamente com seu toque. Lembrar-me do que Jade disse a poucas horas me trouxe essa sensação. Eu realmente me sentia confiante de contar tudo para Luke. Tudo menos isso. Ele não sabia a real historia sobre o pai de Jade. Ninguém sabia, a não ser uma certa pessoa. Eu resolvi omitir tudo. Por que? Eu não queria ser a golpista. Eu não queria dar um fim a carreira de... Do gerador de Jade. Eu não queria ser odiada por ele, pelo mundo. Eu estava frágil e pensei ser o certo na época. Obviamente eu achava que era madura o suficiente para lidar com tudo isso, e fingir que nada aconteceu.
Porém eu não era, eu não sabia como isso iria influenciar no futuro de Jade. Nunca imaginei passar pelo conflito que estou passando agora. O que Luke pensaria de mim se eu contasse? Ele me odiaria por acreditar que eu dei o golpe do baú, ou me apoiaria e ajudaria a contar toda a verdade a Jade? Só havia um meio de descobrir e isso exigia coragem, coisa que eu não tinha. Coisa que eu nunca tive, nunca fui uma pessoa capaz de enfrentar a verdade, sempre usava o caminho mais fácil, a mentira. Mas não era hora de luxos e frescuras minhas.
- Luke eu preciso te contar algumas coisas antes de explicar o que está acontecendo.
Contei a ele toda historia, desde o show que assisti em Londres até o parto complicado de Jade. Estava claro que Luke tentava manter uma postura confortante e normal. Mas eu via em seus olhos a surpresa, o conflito, a falta de oxigênio.
- Você não tem contato com ele desde que isso ocorreu?
- Não. Eu tenho o numero dele ainda. Obviamente não é mais esse, eu acho. Mas nunca procurei saber dele. Pra falar a verdade não sei se ele ainda está vivo. Não vejo mais televisão nem entro na internet direito para saber sobre artistas.
- Eu sei quem é ele. Eu me lembro. E sei como ele está agora. Você se interessa em saber?
- Hmm. Já superei isso. Acho que não fará mal saber do paradeiro dele.
- Bom como todas as outras, a banda acabou. Ele é artista solo. Gosto muito das musicas dele agora, é um rock com toque de Jazz e letras inteligentes. Seu estilo é bem diferente de quando eu o odiava na bandinha de garotos bonitinhos.
Ouvir que ele odiava a banda me fez lembrar de minha adolescência onde eu defendia-os com unhas e dentes quando alguém dizia que odiava eles. Percebi que menti ao dizer que havia superado esse assunto e ouvir a respeito dele não mudaria nada. Meu coração doía pelas lembranças trazidas a minha mente. Lembranças que eu tanto me forcei a esquecer. Lembranças da melhor noite da minha vida. Poderia levar anos, eu poderia ter vários homens, Luke podia ser o amor de minha vida. A noite que tive com... .
, foi a melhor e sempre seria. Isso doía tanto. Lembrar de tudo aquilo me machucava, quase me mutilava por dentro como uma lamina que descia lentamente por minhas entranhas, levando toda minha lucidez junto com o sangue derramado. Sim ainda doía, e muito.
- Está com raiva de mim?
- Raiva não amor. Estou surpreso, chocado, minha ficha ainda não caiu. Sinceramente levará um tempo até que eu possa processar tudo isso e saber ao certo o que te dizer. Mas de jeito algum estou com raiva de você. Por que estaria?
- Obrigada por me compreender.
Enterrei meu rosto em seu peito nu, e senti algumas lágrimas preencherem meus olhos. Seu abraço estava mais apertado agora, como se aquilo fosse me confortar. E realmente confortava. Tentei parar de pensar no passado e voltei o foco ao presente e futuro. Eu ainda não tinha explicado o motivo dessa minha confissão. Levantei meu rosto até ele e o olhando nos olhos disse:
- Ela quer o conhecer.



Capítulo 9 - Your ghosts are backing to your life

[Caso queira, coloque para carregar W.D.Y.W.F.M - The Neighbourhood quando a letra aparecer.]

- Bom dia.
Ouvi ao me espreguiçar e ver Luke trazendo uma xicara de café para mim.
- Bom dia e obrigada.
Tomamos nosso café em silêncio enquanto assistíamos ao jornal local.
- Vou ter que ir daqui a pouco. A faxineira chega em uma hora e eu preciso estar lá para abrir o apartamento para ela.
- Já disse que não precisa ficar pagando faxina. Quando eu for pra lá eu te ajudo com a limpeza.
- Você acha mesmo que eu vou deixar você limpar minha casa? Não seria uma boa ideia te imaginar encontrando boxers minhas perdidas há anos embaixo da minha cama.
- Eu te ajudo a pagar a faxineira, foi o que eu disse.
Aumentamos nossos sorrisos até estarmos rindo feito idiotas na cama.

Luke já havia saído a alguns minutos então resolvi dar uma olhada em Jade que ainda não tinha acordado.
- Filha? Tá acordada?
Sussurrei enquanto abria a porta devagar. Não ouvi uma resposta então me dirigi até sua caminha. Meus olhos se arregalam ao encontrar sua cama vazia. Pronunciei algumas palavras inexistentes, e palavrões.
- JADE! JADE!
Eu gritei seu nome a procurando por toda a casa.

Two nights ago she got that look in her eyes
Kaleidoscope, but that's only half the time
Three days before she told me that I don't even try
She's crazy, through. I guess there's something wrong
inside


(Duas noites atrás, ela tinha aquele olhar
Caleidoscópio, mas isso é só a metade do tempo
Três dias antes, ela me disse que eu nem sequer tentei
Ela é louca, completamente. Eu acho que há algo de errado
por dentro)


Sem encontrá-la entrei em desespero e liguei para a policia. 15 minutos depois os encontrei na porta de minha casa, já que estava procurando pela vizinhança. Expliquei o ocorrido enquanto eles faziam a ocorrência. Minha pernas tremiam como se fossem feitas de papel. Minhas lágrimas saiam em meio às palavras involuntariamente. Onde estaria minha filha? O que eu faria sem a coisa mais preciosa que eu tinha. A morte parecia ser minha única escolha caso Jade se fosse de meus braços.
- A senhora precisa se acalmar. Vamos encontrar sua filha.
Fingi estar mais calma e apenas aceno com a cabeça para o policial.
Na delegacia a mais de uma hora telefonei desesperadamente para toda a minha agenda telefônica, e botando todos nervosos.
Depois de tanto chorar e tanto desespero eles aparecem com Jade e Melissa! Melissa? A minha vontade ao vê-la era apertar seu pescoço até estourá-lo. Melissa e eu não nos falávamos desde que me mudei para Dunfermline. Melissa agora tinha três filhos, vivia miseravelmente. A última vez em que nos falamos foi quando discutimos sobre sua fuga da clínica de reabilitação. A qual finalizou nossa amizade de anos.
- O que você está fazendo com minha filha sua vadia? Tira as mãos dela!
Eu ataquei, enquanto alguns guardas me seguravam.
- Ela veio até mim, sua maluca! Não tire conclusões precipitadas. Aliás não adianta falar nada, você sempre julga as pessoas, porque só você é a certa!
- Cala a merda da sua boca Melissa!

Maybe you're right, maybe this is all that I can be
But what if it's you, and it wasn't me?
What do you want from me? What do you want from me?


(Talvez você esteja certa, talvez isso é tudo que eu posso ser.
Mas e se fosse você e não eu?
O que você quer de mim? O que você quer de mim?)


Nesse ponto já estávamos gritando uma para outra enquanto éramos detidas por simplesmente um policial cada. Tentei me acalmar e pude ver Jade segurando a mão de um guarda e chorando. Ao vê-la mudei totalmente meu foco de tentar matar Melissa, para entender o que ocorreu com minha filha.
- Pode me soltar, eu quero vê-la.
Instantaneamente quando o policial me liberou de seus braços corri em direção a Jade e lhe abracei, o mais forte que pude. Eu estava com muita raiva dela, mas eu tive tanto medo de perdê-la que a raiva já era trivial.
- Nunca mais faça isso tá me ouvindo? Você não pode sair de casa sem me falar! As pessoas na rua são ruins, elas podem levar você de mim para sempre. Nunca mais faça isso ouviu?
Seus olhos nos pés, denunciavam algumas lágrimas que caiam e ela apenas acenou com a cabeça.
Eu me levantei e fui em direção a Melissa tentando me controlar ao máximo.
- Pode soltá-la. Ela não é perigo para nós.
- Tem certeza senhora? Não é motivo para prestar ocorrência de sequestro?
- Não.
O Guarda soltou Melissa, e ela tentava manter uma postura superior como se aquilo não fosse humilhante. Olhamos uma nos olhos da outra, havia tanta mágoa, tanto ressentimento ali. Tanta saudade, havia tudo de ruim nos nossos olhares. Mas não era esse o ponto em questão agora.
- Não tenho muito tempo. Então por favor seja objetiva e me explique o que estava fazendo com Jade?
- Ela me ligou de madrugada. Duas da manhã pra ser precisa. Ela estava chorando e disse que eu era a única pessoa que podia ajudá-la.

Four weeks ahead, I thought that I should think some more
I'm fucked in the head, and my mind is turning into a
whore
Five months go by, and I thought about letting her go
She's crazy, though And I guess she took control


(Quatro semanas antes eu pensei que deveria pensar mais
Estou fodido da cabeça, minha mente está se transformando
em uma puta
Cinco meses se passaram, e eu pensei em deixá-la ir
Ela é louca, completamente e eu acho que ela assumiu o controle)


- Ela pediu desesperadamente que eu a encontrasse o mais rápido na rodoviária. E acredite ou não , eu não iria deixar sua filha ir até a rodoviária sozinha. Então peguei um ônibus e vim até Edimburgo. Eu achei que alguém estava mantendo vocês como refém, ou algo do tipo. Quando cheguei Jade estava na porta carregando uma mochila. Ela ainda estava chorando e pediu que eu a levasse para algum lugar. Sem hesitar eu a levei até a casa de minha prima que fica próximo daqui. Chegando lá ela disse que ia fugir de casa e procurar o pai. Mas que precisava de mim para saber quem era e pra onde ir.
Melissa falava com clareza porém as palavras se embaralhavam em meu consciente. Jade estaria disposta a fugir? A fugir só para encontrar o pai?
- Eu disse que não podia deixar ela fugir de casa e andar por aí sozinha. Mas disse que podia contá-la quem era seu pai e onde ele estava se ela prometesse que não fugiria. Ela concordou, e eu contei tudo a ela. E como já era quase manhã, eu a traria de volta logo mais. Eu imaginei que você tinha ao menos contado a ela sobre isso. Que tipo de mãe é você?
Melissa gesticulou e eu apenas levantei uma sobrancelha.
- Que tipo de mãe sou eu? Eu sou a mãe que pensa no que isso pode acarretar na vida da minha filha! Quem é você para me ensinar a ser mãe, se nem de você mesma você sabe cuidar Melissa? E quem te autorizou a contar isso a ela? Seu eu não disse eu tenho meus motivos!
Explodi como uma bomba rélogio. Melissa não pareceu surpresa, pelo contrário, parecia entediada.
- Por favor ! Só por que você quer sempre ser a santinha, a boa moça, você deixou a garota sem pai? O pai dela é milionário, podia dar uma vida bem melhor a ela, como você mesma planejou. E por egoísmo, por você ter medo de ser julgada como piranha, você priva sua filha disso! Que se dane você! Ela merece ter um pai! Eu posso não ser a melhor mãe do mundo. Mas eu nunca deixaria meus filhos passando fome se tivesse alguma outra alternativa.
- Tipo parar de se drogar? Isso não é nem uma alternativa para você né?

Maybe you're right, maybe this is all that I can be
But what if it's you, and it wasn't me?
What do you want from me? What do you want from me?


(Talvez você esteja certa, talvez isso é tudo que eu posso ser.
Mas e se fosse você e não eu?
O que você quer de mim? O que você quer de mim?)


Melissa permaneceu em silêncio. Eu sabia que aquilo a feria. E fiz por isso mesmo. Nossa amizade foi destruída por conta de erros nossos do passado que sempre queríamos justificar, ou amenizar. Sempre eu era a piranha que deu para cantor preferido e ela a sem juízo e idiota que dava pros outros pra manter o vicio. E foi isso que nos levou até a situação que nos encontramos. Isso doía muito. Melissa havia sido a minha única melhor amiga de sempre, nunca houve outra em seu lugar. Eu sentia falta dela, mas eu não podia lutar por uma pessoa sozinha, se a própria pessoa não quer lutar.
Melissa se retirou da sala sem dizer nada. E voltei minha atenção para Jade que já não chorava mais.
- Vamos para casa. Temos muito o que conversar mocinha.

Depois de uma viagem silenciosa, eu me sentei ao lado de Jade no sofá e sentia que ela estava ainda muito confusa com tudo o que aconteceu. Então procurei não deixá-la ainda mais, e tentei ser compreensiva.
- Filha a mamãe não vai brigar com você. Não vou mentir mais. Por que você fez aquilo?
- Eu queria conhecer meu pai. Eu queria saber quem era ela mãe. Só isso.
- Você agora já sabe da verdade certo? Fiquei um pouco triste por você ter dito que ia fugir e me deixar sozinha. Mas já passou. Também me senti muito mal de não ter te contado e ter feito você ir atrás da tia Melissa, que a propósito eu já disse que não quero que você tenha contato com ela, não disse?
- Desculpa mãe, eu não ia fugir mesmo. Eu nem sei como fazer isso. Eu vejo nos filmes que as crianças que querem conhecer o pai elas fogem e vão até eles.
- Mas isso não é um filme filha. A vida é bem diferente. E ás vezes a mamãe teve um motivo para não te contar a verdade. Mas agora que você sabe... Está satisfeita?
- Não. A tia Melissa só falou o nome dele, falou que ele era da banda preferida de vocês na época. Mas não disse onde ele mora, nem como você conheceu ele, nem me mostrou uma foto dele.
- Bom eu disse que não ia mentir né? Então não vou. A mamãe conheceu ele no hotel em que estávamos hospedados. Depois fomos a mesma festa e foi nesse dia que você foi formada. Já te expliquei que quando um moço e uma moça ficam muito juntos, tipo namorados, eles podem formar um bebêzinho. E foi isso que aconteceu. Mas ele era rico e famoso, ele é lá da Inglaterra. Isso ia ser muito difícil pra mim. Por que ele ia ficar com raiva de mim, achando que eu fiquei muito junto dele por interesse. Mas não foi filha, eu não planejei isso, mas quando eu olhei no seu rostinho, eu vi que foi a melhor coisa que me aconteceu, e não me arrependi mais.
- Tem foto dele? Ele é bonito mãe?
- Tem sim. A única foto que tenho, é a que tiramos juntos no hotel. Eu joguei fora todos os meus posters, cds e dvds, tudo deles. Mas essa foto por algum motivo não foi para o lixo. Eu vou buscar.
Fui até meu quarto e peguei a caixa com minhas fotos antigas, e lá estava ela. Empoeirada e no fundo da caixa. Talvez tenha sido minha mãe que a tinha posto aqui depois que revelei. Tanto que na época não achei. Olhei para a foto e aquilo me parecia finalmente tão certo. Mostrar para Jade me parecia justo. Era bom ela ver que toda sua beleza não havia sido puxada por mim, mas sim pela parte de seu pai. Jade era praticamente ele em forma de menina. E como ele era lindo, como ele devia estar esplendidamente lindo agora que era um homem totalmente formado.
Voltei à sala segurando a foto virada para mim para que ela não visse até que eu chegasse lá. Jade segurou a foto com suas mãozinhas e seus olhos brilharam ao ver .
. Ela nem precisou perguntar qual deles era ele, era nítido.
- Ele é lindo mamãe! Muito lindo.
- Você é a cara dele filha, não acha?
- É sim.
Jade não desgrudava os olhos da foto por um segundo e matinha o mesmo brilho desde o inicio.
- Posso ficar com ela?
- Pode sim filha.
Saber que teria que me acostumar a ver aquela foto o tempo todo me causou certo medo. Ver eu Melissa, .
, Newt e Lorey assim tão jovens me dava muita dor. O que será que aconteceu com o resto dos integrantes? Era muitas coisas que eu precisaria me atualizar. E o que eu simplesmente não parava de pensar era: Como vou apresentar Jade para ? Já que era esse seu único desejo.

Maybe she's right, maybe I'm wrong
Maybe we'll fight 'til it moves us along
I can't deny writing a song
Hoping she'll find she's not alone


(Talvez ela esteja certa, talvez eu esteja errado
Talvez nós vamos brigar até que isso nos mova
Eu não posso me negar a escrever uma canção
Esperando que ela descubra que não está sozinha)




Capítulo 10 - The Management

Já havia se passado uma semana desde o incidente que levou a descoberta de Jade em relação a . Ela não me perguntou mais nada, mas dormia com a foto dele junto ao seu ursinho. Era meu aniversário de dois anos de namoro com Luke e nós sairíamos para jantar enquanto Jade dormiria na casa de uma amiguinha da escola.
- Eu estou feliz por vocês mamãe.
Jade disse entrando no quarto. Ela não fazia ideia de como ouvir algo como isso me fazia bem.
- Obrigada filha, quero que saiba que sua opinião é muito importante para mim, e sei que para Luke também.
Jade não disse nada, apenas abriu seu sorriso lindo com covinhas. Isso pode parecer clichê mas minha filha era a criança mais linda do mundo.
Já estávamos em frente a casa de Brooke, lugar onde Jade passaria a noite.
- Tem certeza que vai ficar tudo bem filha?
- Tenho mãe, tenho, para com isso.
Apenas ri do modo adolescente rebelde que Jade se pronunciou virando os olhos.

Na ida ao restaurante Luke e eu conversamos sobre assuntos diversos e um deles incluía a paternidade de Jade.
- Como você acha que vai fazer isso?
- Sinceramente? Eu não faço ideia. Quer dizer, eu não tenho como me comunicar com ele, e mesmo assim como vou fazê-lo acreditar?
- Eu entendo, mas vamos dar um jeito nisso. Juntos ok?
Até então estava olhando para a janela, mas me virei para Luke e fiquei encarando-o enquanto ele me olhou rapidamente de canto de olho.
- Obrigada por sempre me apoiar, eu sei que não é fácil aguentar uma pessoa como eu, que sempre está precisando de ajuda com a vida pessoal, sei que você não tem nada a ver com isso e mesmo assim me ajuda. Obrigada mesmo.
Luke se manteve em silêncio olhando atentamente para a pista e eu virei meu rosto de volta para a paisagem que mudava constantemente de acordo com o carro. Luke desligou a musica que tocava baixo e dei um breve suspiro, o que me fez virar novamente para ele.
- Sabe, ás vezes acho que você só me vê como um namorado qualquer. Mas , nós somos um casal, a sua vida é minha vida. O que acontece com você e com sua filha me afeta. Eu não faço nada de favor pra você, eu faço porque eu tenho que fazer.
- Desculpe-me, não quis me expressar mal. É que ás vezes me sinto culpada por isso. Foi mal.
Mantivemos o silêncio até chegarmos ao restaurante. Nos sentamos no lugar reservado para nós e jantamos um maravilhoso jantar acompanhado de um maravilhoso champanhe.

XX

Hoje era um dia bem especial já que Dr. Lewis teria a sua primeira reunião com os representantes da Sony. Resolvi ao menos por uma roupa que desse honra a situação, apesar de ser só a pessoa que levaria água, mas mesmo assim era algo importante, inclusive porquê aquele seria o momento certo de tentar conseguir algum contato com os representantes de , já que o mesmo tinha contrato com a Sony. Como não tinha pensado nisso antes? Agora a única coisa que eu tinha de fazer era pegar algum numero de contato, mas como?
- . Venha até a sala de reuniões por favor.
Dr. Lewis Falou me tirando dos devaneios.
- Claro, já estou indo.
Me dirigi à sala de reuniões, ainda vazia.
- Pois não?
- .
, você pode ficar aqui esperando o pessoal enquanto eu resolvo algumas coisas lá embaixo.
- Tudo bem sr. Mas o que eu faço se eles chegarem?
- Vá servindo café, fale como sou uma bom chefe e um ótimo contador.
- Pode deixar.
Disse-lhe rindo enquanto Dr. Lewis saía da sala. Talvez as coisas estivessem dando certo para meus planos, mas eu não podia confiar nisso. Olhar aquela sala cheia de cadeiras, com uma mesa verticalmente gigante e cheia de papéis organizados a cada cadeira era quase excitante. Tive uma enorme vontade de sentar em uma daquelas cadeiras e me sentir tão poderosa quanto aqueles homens que se sentariam ali dentro de alguns minutos, mas refreei meus instintos infantis e comecei a pensar no que faria para conseguir o precioso número.
A reunião começara há algumas horas e eu já havia servido café e chá umas dez vezes. Eles pareciam boas pessoas e propícias a acreditar na minha história.
As horas realmente pareciam não passar, ou talvez eu estivesse contando os ponteiros e vendo-os se moverem devagar. George me chamara mais uma vez na sala, dessa vez sem explicar o motivo.
- Pois não?
- , busque na minha sala os formulários.
- Sim senhor.
Fui até a sala do Dr. Lewis. Sempre me sentia estranha quando entrava na sala dele, só. Sentia-me vulnerável, era como se caso algo sumisse eu poderia ser demitida. George mudara a decoração da sala a algumas semanas. Agora as janelas que tomavam toda a parede do fundo tinha cortinas cinza, os móveis da mesa e a estante repleta de livros era branca, não tinha cor. George ainda mantinha os porta retratos de suas filhas organizados de acordo com cada aniversário que as duas meninas atravessavam. E lá em cima da gaveta de arquivos estava a pasta com os formulários e informações das contas bancárias da Sony na Escócia. A curiosidade quase me mordia. E se dentro daqueles papéis eu pudesse ter alguma informação, das quais eu ansiava encontrar? E se tivesse algo relacionado com os artistas que tinham contrato com a Sony? E se ali tivesse o número de ? Perguntas que nunca seriam respondidas já que George acabara de entrar na sala.
- Achou?
- Sim, já estava levando.
Foi então que tive uma ideia. E tudo se basearia na confiança que conquistei de meu chefe.
- Dr. Lewis, antes de entra na sala de volta eu preciso de um favor, se você não se importar.
- Você está bem ? Tá se sentindo mal?
- Não, não é nada disso. Eu preciso de um número, e eu imagino que o presidente da Sony music, que está bem na sua sala tenha ele.
- Você quer número de artista ? Francamente, achei que isso era coisa de adolescente.
- Eu não quero numero de artista. Eu preciso de algum numero, o qual eu possa ter um contato com um artista em especial. Mas não pelo motivo que você está pensando. Jade, minha filha, é filha dele. Ela quer conhecê-lo.
- O que? Não estamos em hora de brincadeiras !
- Eu sei disso George, mas essa é minha única oportunidade. O que eu quero está bem ali dentro, e só o senhor pode me ajudar.
- Isso não pode ser verdade . E quem é o tal pai famoso da sua filha?
Silêncio era a única coisa que eu queria que soasse de meus lábios. Mas eu precisava dizer, isso era extremamente desconfortável. Contar para o seu chefe que você engravidou de um famoso e agora, depois de anos quer que ele conheça a filha não é tarefa fácil. E se ele pensar que eu quero somente dinheiro? O que diabos eu tinha feito ao pedir ajuda do meu chefe, correndo risco de ser até demitida? Agora não tinha mais volta. Eu teria de falar, e foi o que fiz.
- , sr. Eu tenho uma filha de . Eu engravidei quando era jovem, em uma viagem à Londres para assistir ao show da banda que ele fazia parte. Nunca contei à ele. Nunca contei à ninguém. Jade descobriu e me pediu isso. É o mínimo que posso dá-la. Ao menos o telefone do pai. Ao menos para que ela ouça sua voz, uma vez na vida.
Surpreendentemente Dr. Lewis se manteve calado, refletindo em minha situação.
- Vou ver o que posso fazer por você . Não te dou garantia de nada, mas farei o máximo.
- Obrigada de verdade Dr. Lewis.
Olhei firme em seu olhos, que transpareciam o modo como ele se sentiu tocado ao ouvir minha historia, então lhe entreguei os papéis e voltei para minha mesa, com toda esperança do mundo.
Vi os representantes da Sony saindo, e sinceramente achei que iriam na minha mesa me chamar de vadia ou algo do tipo. Mas eles simplesmente saíram do escritório sem se despedir.
- ? Está ocupada?
George me disse de dentro de sua sala.
- Não, estou indo.
Dirigi-me até sua sala, e encontrei-o analisando e assinando alguns papéis em silêncio. Então fiquei parada na porta esperando alguma ação da parte dele.
- Está tudo feito, agora contabilizo para Sony Music . Isso não é um avanço?
- É sim senhor.
- Você se lembra quando veio trabalhar comigo, e nós trabalhávamos num edifício horrível e eu tinha uma sala minúscula?
- Claro que lembro Sr. É muito bom estar aqui e ver seu progresso.
- É por isso que eu tenho um e-mail para te dar. Não daria se fosse para outra pessoa. Olha eu não sei se sua historia é verdadeira ou não, mas você deve realmente precisar desse contato.
- Muito obrigada senhor, muito, muito mesmo. Você não sabe como isso foi importante para mim. Eu não tenho como agradecer mesmo, me desculpe por isso.
- Tudo bem, e juízo menina.
Fui até ele e peguei uma folha dobrada de suas mãos, e então saí da sala o deixando terminar seu serviço. Olhei para o papel branco em minhas mãos. Nele havia o que eu precisava, com ele eu conseguiria o que queria ou eu também poderia estragar tudo. Abri o papel e nele tinha um e-mail para contato de alguém chamada Alexis Windhock, provavelmente a empresária ou algo assim, e nada além disso. Meu coração borbulhava de agonia. Eu tinha agora o contato que precisava para Jade conhecer o pai. Eu tinha o contato para falar com , e contar a verdade, o que significava que eu já podia o ver abrindo um processo por acreditar que eu dei o golpe do baú. Era esse meu maior medo, era esse o motivo de eu ter ocultado isso durante todos esses anos. Mas enfrentar isso era algo necessário, era algo necessário por Jade.



Capítulo 11 - D.N.A

Hoje faria cinco dias que enviara o e-mail para Alexis. Nada de resposta até agora. Jade estava em um passeio da escola, ironicamente para minha antiga e querida Universidade de St. Andrews. Às vezes eu sentia falta da cidade, e toda a riqueza da arquitetura real. Toda aquela capa de cidade clássica que no final era apenas uma cidade com pessoas normais e problemas normais, e eu. Luke estava visitando os pais em Livingston e eu estava em casa como sempre. Hoje fazia calor, mas nada preocupante. As paredes recém-pintadas de lilás e bege em minha sala de estar me causavam certo conforto. A televisão estava ligada em algum canal qualquer, alguns brinquedos de Jade espalhados pelo sofá branco, que agora havia se tornado bege.
Fui até a cozinha e peguei uma garrafa de vinho tinto suave que ganhara no natal, até então nunca aberta. Abri e coloquei o liquido devagar na taça observando o mesmo preenchendo o espaço e empurrando o ar contido ali. Dei um gole, dois, três. Mas nada fazia passar o mau estar instalado no meu peito. Nem mesmo Jesy minha amiga de trabalho me convenceria a sair hoje. Terminei a taça de vinho e andei até meu quarto calmamente alisando os móveis de madeira no caminho. Entrei em meu quarto e acendi as luzes, me defrontando com meus lençóis verdes meu armário de madeira escura e as paredes amarelas. Olhei para as fotos na parede enfileiradas, algumas minha sozinha, outras com Jade, outras com Luke, algumas com minha família e amigos, e uma com Melissa. Tínhamos 16 anos na época e ainda nem estávamos na faculdade. Ainda não sabíamos o que era a vida, o quão difícil é a vida. O quanto nossas ações no presente podem nos perseguir como fantasmas no futuro.
Todas as fotos eram em preto e branco, talvez como toda minha vida. Em todas, meus companheiros de foto davam sorrisos, alguns sinceros, outro apenas para serem guardados. Mas eu não, meu rosto se mantinha fechado em todas. Mostrando o quanto eu queria falar, o quanto eu queria sorrir e dizer coisas que eram simplesmente substituídas pelo silencio que era minha vida. Só existiam três fotos em que eu mostrava um sorriso. Que eu era eu. Que eu estava feliz de estar ali, e nada me importava.
Minha foto com Melissa aos dezesseis anos, minha foto ao sair do hospital depois de dar a luz a Jade, e minha foto com que eu tinha que encarar toda vez que entrava no quarto de Jade. Mas eu sorria, eu era feliz, eu tinha pessoas que me amavam e amava a elas, talvez eu só não conseguisse sorrir para fotos. Talvez eu só não quisesse que as pessoas achassem que eu estava bem, quando não estava.
Depois de tomar uma ducha eu queria apenas dormir um pouco, aproveitar minha tarde solitária em casa. Mas antes resolvi checar meus e-mails. Ainda sem esperança abri minha caixa de entrada e me deparei com uma resposta de e-mail. Não era de Alexis, era de um e-mail automático, mesmo assim abri. Nele diziam as seguintes palavras:
“Prezada Sra. .
Mandaremos um pedido de exame de D.N.A para seu endereço dentro do prazo de 10 dias. Você deverá ir ao laboratório mais próximo de sua localidade e fazer o teste em seu/sua filho(a).
Feito isso deverá enviar o resultado por e-mail para este mesmo endereço, faremos a comparação e entraremos em contato. Obrigada
Atenciosamente equipe Normman.“

Ok, eu não tinha o costume de receber esse tipo de e-mail, mas parecia que muitas pessoas já o tinham recebido. Muitas pessoas já tentaram forjar uma gravidez e arrancar um pouco de dinheiro de .
. Eu seria só mais uma delas, o problema todo é que eu realmente era.
Ouvi o toque de meu celular, olhei no visor e vi que era Luke.
- Oi querido.
- Oi meu anjinho. Me desculpe estar ligando agora, é que não tive tempo.
- Tudo bem, como estão as coisas por aí.
- Aqui está chato como sempre. Meus pais estão me mostrando fotos antigas, como se não fosse eu quem estivesse nelas.
- Tenha paciência, eles sentem sua falta e ficam empolgado com sua presença, só isso.
- Eu sei. Mas e você como estão as coisas por aí?
Fiquei um pouco nervosa ao recordar que havia recebido a resposta do e-mail. Respirei fundo e comecei a falar.
- Estou bem, e recebi a resposta do e-mail.
- E então?
- Eles enviaram de um e-mail automático e vai chegar um pedido de exame de D.N.A em alguns dias.
- Não tem com que se preocupar, docinho. Você tem certeza de que Jade é filha dele. Você tem né?
- Luke! É claro que tenho.
Falei séria porém soltei uma risada ao ouvir a sua.
- Quer dizer, a não ser que eu tenha sido fecundada pelo Espirito Santo, Buda, ou qualquer uma dessas entidades espirituais.
- Creio que não.
Rimos mais uma vez, rapidamente. - Volta domingo mesmo?
- Se tudo ocorrer bem, sim. Amanhã passarei no cartório pra pegar o resto dos papéis e já posso enviar pra empresa.
- Que ótimo querido, você vai conseguir resolver isso e recuperar o emprego.
- Espero que sim. Meu anjo eu vou ter que desligar, amanhã nos falamos. Te amo muito minha princesa.
- Até, também.
A questão não é que eu não o amasse, mas as vezes Luke me enjoava um pouco. Seu modo extremamente carinhoso e compreensível me irritava um pouco. Mas não era só eu que saia em falta, ele também sentia falta de uma mulher carinhosa e compreensível, o que eu não era e nunca seria.
Jade acabara de chegar e assistia My Little Pony, seu desenho favorito. Qualquer um que entrasse em seu quarto perceberia seu amor pelo desenho. Mochila, brinquedos, roupas, desenhos. Praticamente tudo que Jade tinha era da série.
- Mãe, eu quero mais leite por favor.
Peguei o leite e coloquei no copo para entregá-la.
- Aqui está, não derrame.
Jade estendeu a mão e sem desviar os olhos da Tv pegou o copo. Sentei-me ao seu lado e comi um de seus biscoitos de chocolate. Eu tinha que explicar a ela sobre o exame, apesar de não ter muito conhecimento sobre como era o processo.
- Filha, essa semana vamos fazer um exame, tudo bem pra você?
- Aham.
- Não vai doer nem nada, é só pra ter certeza de uma coisa.
- Aham.
Jade falava mas sua mente não estava ali.
- Filha é pra o seu pai saber que você é filha dele. Depois do exame ele vai querer te conhecer.
Era como se eu tivesse dado um beliscão e Jade despertasse de um sono profundo. Ela se virou para mim com o queixo caído, dando indícios de um sorriso aberto. Num ato surpresa ela me abraçou.
- Obrigada mamãe. Obrigada por fazer isso por mim.
- É o mínimo que posso fazer meu amor.
Respondi-lhe ainda recebendo seu abraço apertado. Depois de algum tempo Jade desfez o abraço e voltou a assistir seu desenho até dormir.



Capítulo 12

Parecia que minha mesa era feita de papel. Eu tinha que dar uma organizada em minha mesa, mas o telefone não parava. Dr. Lewis se mantinha quieto na sala enquanto eu resolvia alguns problemas para ele.
- Ei! Você! Anda me evitando é?
Olhei para cima e deparei com uma Jesy de minissaia justa e blazer preto.
- Não é isso Jesy, você sabe. Estou com problemas lá em casa e aqui não tenho tempo de ir até sua sala conversar.
- Não tem problema. A não ser por eu, você, Luke, e Justin. Num pub com música ao vivo maravilhoso que eu descobri.
- Ah Jesy, não estou com muita cabeça para ir.
Disse bufando, e sem perceber fiz cara de cansada.
- A não seja mal agradecida, estou tentando te ajudar, só não sei como.
Eu realmente não estava com cabeça para sair com ela, aliás, com ninguém. Mas Jesy estava sendo bem legal comigo, desde que trabalho aqui, ela é a única da equipe do Dr. Lewis que tem algum tipo de contato comigo, talvez a única que me suporte.
- A que horas?
- Eu sabia que ia te convencer. Às oito, pode ser?
- Claro. Eu te ligo.
Jesy me responderia algo se George não nos tivesse interrompido.
- Pode vir até aqui ?
- Claro. Com licença Jesy, até mais tarde.
Jesy voltou para sua sala, enquanto me dirigia para sala do Dr. Lewis.
- Pois não?
- Como ficou o teste?
Teste? Não deu para conter meu espanto ao ouvir George mencionar o tal teste de D.N.A de Jade.
- Farei amanhã de manhã antes de vir trabalhar sr.
- Então é verdade mesmo. Confesso que não acreditava até você se mostrar disposta a fazer esse teste.
- Perdão sr. Mas como o senhor ficou sabendo que Jade passaria por um teste de D.N.A?
Falei tentando mostrar todo respeito do mundo.
- Mandaram um e-mail para mim, uma tal de Alexis. Ela fez algumas perguntas sobre você, e disse que lhe mandaria um e-mail. Mas que ficou comovida com sua historia, apesar de receberem algumas historias melhores.
- E por que ela enviou isso pra você?
- Fui eu que pedi o e-mail dela, então tive que dar meu contato.
- Entendo. Desculpe o incomodo, não era a intenção.
- Sem problemas. Só tome cuidado . Essa gente, não é como você. Eles não são como você vê na Tv.
- Obrigada pelo conselho senhor, vou me retirar.
"Eles não são como você vê na Tv?" O que o Dr. Lewis quis dizer com isso? E se isso tudo for uma péssima ideia? E se não for mais o menino que costumava ser? E se eu não soubesse com quem eu estava mexendo? Muitas perguntas, e como sempre nunca tinha as respostas depois de formulá-las.

XX

O carro parecia ter sido transferido para um universo paralelo de alegria, que não me contagiava. Jade sorria e cantarolava como se aquele fosse o melhor dia de sua vida. Jade não reclamara para acordar como sempre, apesar de acordar mais cedo ainda, nem para tomar banho, ou comer. Ela sorria a cada pedido meu, como se isso fizesse seu destino, a que tanto ansiava, chegar cada vez mais perto. Mas apesar de toda positividade, Jade não proferira muitas palavras. Jade era por fora, mas ainda era eu por dentro.
Chegamos ao laboratório mais rápido do que pensei. Jade rapidamente se sentou na parte reservada para crianças onde tinha algumas mesas coloridas com folhas em branco, giz de cera e blocos de lego. Dirigi-me para a recepção e entreguei os documentos e a ficha de pedido de exame que recebi para uma mulher de meia idade com os cabelos loiros amarelados, cheios de cachos. Usava uma maquiagem pesada apesar de ser de manhã.
- O exame é feito em você também, para separar o seu, do pai e do dela. Preciso dos documentos do pai também para a parte dele no exame.
- O pai não está aqui, ele não mora aqui.
A recepcionista me olhava com uma feição de deboche, como se eu fosse uma idiota que nunca fez um exame de D.N.A, o que era a verdade.
- Não tem como fazer o teste para saber se o D.N.A da criança bate com a do pai, sem o pai.
- Olha eu nunca fiz isso, e não sei se você entendeu mas o pai só pode vir se ele tiver certeza que ela é filha dele. Não sei como vocês fazem isso, mas me mandaram esse pedido.
A mulher com um ar de arrogância voltou a atenção para a folha. De acordo com o que ela ia lendo o mesmo sorriso de deboche reapareceu em seu rosto.
- Ah entendi. Filho de artista. Nesse caso nós só colhemos a amostra de vocês duas e enviamos para o laboratório que vai comparar com os do pai. - Obrigada.
- Não tem de que, é só esperar chamarem. Ah e uma dica, quem sabe se você enviar uma graninha, o laboratório não faz sua filha ser filha de artista?
Minhas mãos em seu pescoço apertando até estourar, era a coisa que eu mais queria fazer nesse momento na presença da mulher desprezível. Mas ao invés disso eu lhe sorri com o mesmo sorriso que preenchia seus lábios, e me sentei para esperar.
Ouvi o nome de Jade ser chamado e então entramos. Uma enfermeira morena que aparentava ter uns 30 anos nos direcionou.
- Vou usar esse aparelhinho no seu dedo. Ele é o mesmo usado em pacientes diabéticos. Você só vai sentir uma picadinha na ponta do dedo, tá bom lindinha?
- Tudo bem.
Jade respondeu, com um ar de desconfiança, já que nunca usara o aparelho.
Depois de recolher a pequena porção de sangue de Jade a mulher fez o mesmo procedimento em mim.
- O resultado fica pronto em 2 dias. Aqui nesse cartão tem o número para você vir buscar ou pode imprimir no nosso site usando o número do cartão.
A doce mulher, diferente da outra, me entregou um cartão.
- Tudo bem obrigada.
- De nada, tchau.
Saímos do laboratório e entramos no carro em rumo à escola e ao meu trabalho. Jade agora mantinha uma expressão séria. Olhava pela janela com o olhar distante.
- Está tudo bem filha?
- Sim mamãe. Eu só estou pensando.
Não é normal ouvir de sua filha de seis anos que ela só está pensando.
Nada relacionado à Jade era totalmente normal. Não quis atrapalhar seus pensamentos seja lá quais fossem.
O dia estava tranquilo , sem muito trabalho, sem muito estresse, não relacionado ao trabalho, claro. Eu simplesmente não conseguia tirar da minha cabeça toda a situação envolvendo Jade e e todos que ainda entrariam nessa historia. Eu estava uma pilha de nervos e a cada dia que passava era mais difícil de esconder isso de Jade e Luke. Fingir que eu estava bem com isso, e que eu queria isso era mais difícil do que eu esperava.

XX

Cinco dias haviam se passado desde que enviara o e-mail com o resultado dos exames para o e-mail que recebi, e nenhuma resposta até então.
Jade já não estava animada com a ideia. Não tinha como tirar da mente dela de que talvez o pai não a quisesse ver, porque talvez fosse essa a verdade. Em momento algum me perguntei se iria querer realmente assumir a paternidade de Jade depois de todo esse tempo, ou se ele iria querer ter algum contato com ela. Eu estava mais uma vez estragando a vida de minha filha, colocando esperanças vazias em seu coração. Mas e se não quisesse simplesmente vê-la? E se ele não fosse realmente o pai dela? E se o teste tivesse dado negativo? Ás vezes eu me surpreendia com a estupidez de minhas auto análises.
A cozinha estava quente devido ao calor do forno. Hoje Luke viria jantar e depois levaríamos Jade ao carnival que passava pela cidade. Ela brincava no quarto, enquanto eu terminava o jantar. Ouvi a campanhia tocar e já imaginava um Luke se desculpando pelo atraso, mas não foi isso que encontrei.
- Andrew?
- Oi filha! Como você está?
A verdade é que eu estava um tanto surpresa com sua presença que preferi não responder.
- Entre.
Andrew com seu terno claro, cabeça raspada e cara de bunda irritante, entrava observando os detalhes de minha sala de estar como se procurasse algo para aprovar. A questão era: Como ele sabia meu endereço? Eu nunca dei meu telefone, ou procurei manter um contato com Andrew.
- Sua casa é muito bonita minha filha.
- Como sabe meu endereço?
- Sua mãe.
Ah então viraram amiguinhos? Que fofo. Deveriam criar o grupo de não apoio aos filhos. E como minha mãe sabia meu endereço?
- E o que faz aqui?
- Vim te fazer um convite. Farei o culto especial para o aniversário de Edimburgo, terá transmissão ao vivo. Quero apresentar você e Jade à comunidade, então quero que vão.
- Obrigada pelo convite, mas eu não vou.
- Não se preocupe, eu pagarei a passagem de vocês duas e do seu namorido, caso queira levá-lo.
- Você não entendeu, não vou porque eu não quero. Não acredito nas mesmas coisas que você Andrew.
- Não sabia que você é agnóstica minha filha.
- E não sou. Eu acredito em Deus, só não é o mesmo deus idiota que você acredita te abençoar.
- Eu não sabia que você não aprovava minha profissão de ajudar as pessoas.
- Na verdade eu acho sua profissão esplendida. Enriquecer às custas de pessoas inocentes é genial, só não sei se teria a mesma coragem.
Falei sem pensar, e senti meu sangue ferver. Qualquer palavra trocada com Andrew me fazia nervosa. E ele tinha o dom de falar as coisas mais irritantes.
- Você não sabe o que está falando. Deus castiga pessoas como você no inferno. Você não teme?
- Não quero discutir religião, apesar de não ter nenhuma. Religião é a principal causa para as tragédias no mundo, só vocês não veem.
- Filha me deixe te ajudar, Jesus te quer do lado dele, no céu.
Virei-me em sua direção cerrando os olhos e cruzando os braços. Eu podia jurar que minha intenção não era magoá-lo, mas simplesmente explodi.
- Ah claro se eu for boazinha vou morrer e ironicamente continuar a viver no céu. Lá vou ter uma horta, quem sabe trabalhar numa fábrica de nuvens e transar muito com meu marido no quarto ao lado do de Jesus. Se eu for má e morrer,mas olha que incrível, vou continuar viva depois de morrer, vou fazer as mesmas coisas, só que dessa vez farei tudo enquanto minha alma invisível queima eternamente. Realmente tem muita lógica e ciência nisso tudo. Sabe eu acho que a historinha do céu e inferno que as pessoas contam para amedrontar, é a crença ocidental mais patética que existe. E eu sou muito mais fã do coelhinho que põe ovos de chocolate. E é por isso que não vou no seu culto hipócrita!
Andrew se manteve quieto com olhos arregalados e algumas lágrimas os preenchendo. O homem caminhava em minha direção lentamente, e eu tinha quase certeza de que ele iria dar um tapa em meu rosto. Ao invés disso ele colocou a mão em minha testa e começou a gritar palavras desconexas.
- Me solta! Me solta! Você está maluco?
Andrew se jogou no sofá , apoiou as mãos nos joelhos e permaneceu de olhos fechados enquanto eu falava.
- Saia da minha casa agora! Antes que eu chame a policia!
- Não precisa, eu vou.
Andrew se levantou num ato brusco e andou até a porta rapidamente enquanto eu me dirigia à mesma para colocar o louco para fora.
- Antes de ir, preciso dizer. Você está arruinando seu lar. É você que está praguejando a vida da sua filha, você acabou de amaldiçoá-la.
- É eu sei, tenho esse dom desde que nasci, talvez tenha puxado de você né? Até porquê, quem arruinou a vida de quem primeiro?
Ele se manteve calado com a mesma expressão assustada e de bunda enquanto eu batia a porta em sua cara. Não era a primeira, nem a ultima vez em que eu discutia com Andrew. O modo como ele achava que podia me aconselhar em algo, interferir em minha vida, me dava nos nervos. Eu o achava o ser mais patético existente. Resolveu assumir minha paternidade quando eu já não precisava de um. Tarde demais. Já havia muita raiva, muita dor em meu coração. Coisas que nunca me permitiram perdoá-lo. Coisas que eu não queria que se instalassem no coração de Jade.

Jade brincava nos brinquedo, e toda sua preocupação de criança ia embora junto com o vento que levitava seus cachos perfeitos.
- Já está com fome?
- Sim, depois que acabar o tempo nesse brinquedo iremos.
Fui interrompida pelo toque de meu celular. Olhei no visor e era um número bloqueado. Atendi.
- ? ?
- Eu.
- Quanto você quer? Digo quanto você quer para manter a história em segredo.
- Quem está falando?
- Alexis Windhock, assistente pessoal de . Os resultados do exame de D.N.A deram positivo. Quero saber quanto você quer.
- Não quero dinheiro. Quero que minha filha conheça o pai, só isso.
- Nem tudo que queremos, devemos querer querida. É melhor você aceitar o dinheiro e manter sua vidinha medíocre esbanjando grana. nem precisará saber de sua história, e evitará muitos problemas para você.
- Você não entendeu né? Eu não quero dinheiro, eu quero que saiba, mas se puder não quero ver o rosto dele. Só quero que minha filha possa ver ao menos uma vez o pai. Luke já tinha entendido o que se passava e pediu que eu passasse o telefone para ele. Mas não o fiz.
- Você sabe quanto dinheiro você pode ganhar com isso? Não era isso que queria desde o inicio. É a sua chance.
- Não sei e nem quero saber quanto. Só quero que ela o conheça. Ela é uma criança e merece isso.
Ouvi a mulher bufar do outro lado da linha e terminar nosso primeiro contato.
- Ok vou ver o que posso fazer. Entrarei em contato.
Antes que eu pudesse dizer algo ela desligou. Luke me olhava com a expressão confusa, sem saber se era hora de alegria ou tristeza.
- E então?
- Eu não sei. Ela me disse que me daria dinheiro se eu mantivesse segredo. Eu expliquei que só queria que Jade conhecesse o pai, sem dinheiro envolvido. Ela insistiu mas acho que se convenceu. Luke, às vezes não sei se isso foi uma boa ideia.
- Claro que foi, você quer o melhor para Jade certo?
- E se não for o melhor para ela?
Luke não me respondeu, nenhum dos dois sabiam a resposta. Estávamos num campo minado onde tudo podia dar certo como tudo podia dar errado.
Jade comia seu cachorro quente enquanto Luke e eu tomávamos um copo de cerveja. Já estava um pouco tarde, mas isso não importava. Fiquei observando as pessoas ao redor, o modo como se divertiam com poucas coisas. Me via nas adolescentes cheias de confusão na cabeça passeando com seus namorados em suas vidinhas normais, achando que aquilo era o fim, que ser adolescente era a pior coisa do mundo. Não era. Ser adulta, ser mãe, ser mãe solteira, ser mãe solteira consequência de idiotices na adolescência, ser mãe solteira consequência de uma relação com um artista na adolescência, isso era difícil. Continuei olhando enquanto os dois conversavam e vi algo que me chocou. Vi Thomas o filho caçula de Melissa de mãos dadas a uma mulher de aparência feia. Levantei-me de onde estávamos e me dirigi à mulher.
- Ei! Cadê a mãe dele?
- Eu sou a mãe dele.
- Desculpe, eu conheço a mãe dele e não é você.
- Você está enganada senhorita.
- Thomas cadê a sua mãe?
Thomas apontou para a mulher a qual segurava a mão. O que era aquilo?
- Essa moça te forçou a falar isso Thomas?
- Já chega! Você está assustando a criança!
A mulher chegou mais perto e falou mais baixo.
- Ele é adotado sua maluca! Tá satisfeita?
- Adotado? Aonde você adotou ele?
- Num lar adotivo, obviamente.
- Desculpe-me, eu conheci a mãe dele, e achei que eles ainda viviam juntos.
- Ele esteve lá um ano. Parece que ela perdeu a guarda de todos os filhos, eu não tenho o mesmo privilégio de dar a luz que ela, então adotei Thomas.
- Me perdoe pela confusão. Vou me retirar.
- Tudo bem.
- Tchau Thomas.
O menino acenou com cara de espanto para mim. Talvez ele não lembrasse de mim exatamente. Voltei à mesa onde Luke e Jade se encontravam. - O que foi aquilo?
- Aquele menino é filho da Melissa. Ele foi adotado, Luke. Melissa perdeu a guarda dos filhos a um ano.
- Nada de surpreendente, anjo.
Senti uma pontada no peito. Melissa conseguia arruinar até a vida dos próprios filhos. É por isso que ela fora até minha cidade no dia em que Jade a procurara, ela havia perdido os filhos.
- Eu sei. Não sei por que ainda insisto na ideia de que Melissa vai melhorar algum dia.
- Você tem um coração bom anjo, é só isso.
Antes fosse. Eu tinha tanta raiva de Melissa que às vezes imaginava que ela pudesse diminuir isso, mas a verdade é que ela só aumentava a cada idiotice que fazia.



Capítulo 13 - Who do you think they are, is who they are not

Luke apertava minha cintura deixando marcas posteriores. Nossos lábios se prensavam um contra o outro sem beijos, apenas unidos. Luke mantinha movimentos rápidos, e consistentes contra minha pélvis. Já podia sentir o gosto do prazer. Seu suor escorria pelo seu peito nu, minhas mãos os espalhavam por toda extensão de seu tórax e suas costas.
- Não sei se vou aguentar muito anjo.
Luke se esforçava para manter o ritmo, e eu me esforçava para atingir meu clímax. Movimentava-me juntamente dele, seu membro atingido fundo de meu canal. Luke gemeu e seu corpo todo estremeceu, mas ele continuou com os movimentos mesmo que não tão rápidos. Enquanto eu só sentia seu prazer em mim, mas não o meu. Luke continuava se movimentando dentro de mim sem sucesso. Suas forças já haviam expirado e seu membro perdera a ereção. Até que ele parou por completo e se retirou de mim, deitando a meu lado.
- Conseguiu?
Ele disse aos suspiros.
- Não, tudo bem, acho que não estava relaxada o bastante.
- Me desculpe anjo.
Luke beijou minha testa e depois os lábios. Levantou-se, retirou o preservativo e colocou sua boxer preta enquanto eu vestia minha calcinha. Deitei na cama a sua espera mas Luke continuou em pé, caminhando até a janela fechada. Observei-o. Luke tinha costas incríveis e invejáveis. Não era o homem forte que toda mulher deseja, mas tinha traços masculinos bem valorizados. Lembrava-me da primeira vez em que o vi na praia, seus cabelos dourados batiam na altura dos ombros e seus olhos verdes quase escondidos pelas sobrancelhas gigantes, brilhavam à luz do Sol. Luke tinha cheiro de protetor solar e laranja. Esse ainda era seu cheiro, mas o cabelo curto e os olhos mais visíveis graças à pinça não eram do mesmo menino. Luke era um homem. Eu o havia transformado num homem, desde o momento em que o fiz assumir o lugar de um pai que nunca existiu. Talvez esse não fosse o momento dele, não era o momento para mim. Às vezes me perguntava se realmente o amava. Se era com ele que queria passar o resto da vida.
Se as respostas sempre eram sim, por que eu sentia que não? Por que ainda não estávamos casados? Por que não atingia mais meu orgasmo ao fazer sexo com ele?
- Ei. Volta pra cá.
Luke se virou e deu um sorriso. Fechou a janela, deitou-se e puxou a coberta sobre nós.
- Não quero te forçar a nada que não queira meu anjo.
- Não entendi Luke. Eu quero ficar ao seu lado para todo o sempre. Você não vai me forçar a deixá-lo.
- Você sabe que não disse isso. É que estamos tendo alguns problemas, eu até pensei consultar um médico pra saber se tem algo de errado comigo.
- Ei! Não tem nada de errado com você Luke! Tem algo de errado é comigo. Eu estou estressada com todo esse assunto, não consigo relaxar é isso. E uma relação não é só sexo. Você me ama e eu te amo, podemos viver com isso?
- Eu posso, não sei se você aguenta um velho brocha.
Finalmente vi um sorriso em seu rosto, o mesmo que apareceu no meu. Aconcheguei-me em seu peito e fechei os olhos sentindo o cheiro de protetor solar e laranja de meu homem, até sermos assustados com o toque do celular.
- É o meu.
Peguei o celular de cima do criado mudo e o visor mostrava um número bloqueado.
- Alô.
- , aqui é Newton. Você deve comparecer a uma reunião no edifício empresarial Nomman, a qual a filial na Escócia fica em Edimburgo. Mandaremos as informações por e-mail, sobre como chegar e horário. Precisamos de sua confirmação.
- Sim eu vou, mas essa reunião é referente à que?
- Você deverá assinar alguns termos e deverá entender algumas regras para falar com o sr. . Ele estará presente.
Putz grilo! Cacete! O que eu ia fazer agora? No que eu estava me metendo? O iceberg do Titanic não era nada comparado ao que meu peito colidia no momento.
- Tudo bem. Estarei lá. Boa no...
Antes mesmo que pudesse terminar já tinham desligado. Luke me olhava com a mesma expressão confusa de mais cedo.
- Eles marcaram uma reunião, onde vou ter que assinar algumas coisas e receber regras. E o vai estar lá.
- Isso é ótimo! Aonde vai ser e quando?
- Não sei, vão mandar um e-mail, mas é lá em Edimburgo. Parece que é na filial da empresa que assessoria ele aqui na Escócia.
- Edimburgo? É um pouco longe não?
- É, não sei de onde vou tirar dinheiro para pagar passagem.
- Eu te ajudo.
- Claro que não Luke! Você ainda não se firmou no emprego, não vou pegar um tostão com você!
- E você vai tirar dinheiro de onde ?
- Já sei de onde. Bolso do papai, o que acha?
Luke riu de minha expressão maligna inspirada em algum filme de terror caseiro qualquer.

XX

Jade dormia no avião de primeira classe. Andrew acreditava que seu dinheiro seria para um fim de semana religioso e em família, mas o que ele achava era a ultima coisa que passava por minha mente naqueles dias.
Não conseguiria dormir de jeito algum, apesar de sentir sono. Minha cabeça repassava um discurso sobre o que falar na reunião, apesar não saber exatamente do que a mesma se tratava. Resolvi então ver um filme qualquer. Coloquei os fones e abri a tela, escolhi um filme chamado Um Sonho de Liberdade, que tinha como sinopse dois presidiários que se tornam grandes amigos. O problema é que o filme tinha mais de duas horas de duração e só faltavam 30 min até chegarmos, 30 minutos que pareciam 30 horas. Resolvi não ver para não perder a melhor parte e desliguei. Voltei a pensar, já que era a minha ultima opção.
Chegamos em Edimburgo no tempo estipulado. Jade carregava a mochila em formato de Apple Jack, sua pônei preferida. Eu levava a mala mais pesada, mas não tanto em vista do pouco tempo que ficaríamos. Logo encontramos um Andrew saltitante ao lado de uma moça baixinha, que imaginei ser alguma tia que nunca tive o interesse de conhecer.
- Chegaram rápido.
- Rápido pra quem espera.
Respondi ríspida. Andrew não esboçou reação e se voltou a paparicar Jade. A mulher de baixa estatura me encarava, e eu desviava o olhar como sempre. A coisa que mais odiava era contato visual com as pessoas, sentia-me invadida, como se a pessoa pudesse me ver nua, ver meus segredos, ver minhas mentiras e verdades através de meu olhar.
- Filha essa é sua madrasta, Florence.
- Madrasta? Você não é puro agora?
Vi os olhos da pequena mulher se abaixarem como uma subalterna faria em frente a sua rainha. Não era a minha intenção, não me importo com o que meu gerador fazia ou deixava de fazer. Errei também ao deixar transparecer que minha opinião em relação a sua escolha religiosa continuava a mesma, divergindo o que lhe dissera ao telefone, algo sobre arrependimento, e ecumenismo.
- É um prazer Florence.
Dei-lhe um abraço de boas vindas e pude ver com o canto do olho a expressão surpresa de Andrew.
- É um prazer pra mim conhecer a unigênita McEvoy.
- Na verdade só , não ganhei esse lindo sobrenome, é mesmo uma pena.
- Oh me desculpe.
Sorri-lhe um sorriso simpático, o que era sincero. A moça não tinha que pagar pelos erros do homem que ela escolheu para se relacionar.
- E essa pequena princesa? Tem nome?
Jade fazia o tipo de criança bicho do mato. Nunca fora do tipo que vai com qualquer um, ou faz amizades rápido. Mantinha a mão presa a minha e a outra segurava a maldita foto de seu pai.
- Jade.
Para minha surpresa Andrew sabia o nome da neta, pelo menos ela recebeu o carinho de um avô enquanto eu não tive nem pai.
- Jade de quê?
Florence falou acariciando o rosto de Jade em busca de algum tipo de retribuição da garota. Jade até então era somente , assim como eu. O assunto ainda era segredo. Somente Melissa, e agora Jade e Luke sabiam da ligação de Jade com .
- Jade , somente isso.
Respondi séria a fim de mudar o rumo do assunto. O que não deu certo.
- Não quis ficar com o nome do pai? É muito ruim?
- Na verdade não tive a opção da escolha, talvez se ele estivesse presente eu colocaria.
Andrew lhe abraçou tentando consolar a mulher que havia perdido a cara no chão. A um tempo atrás esse assunto resultaria em noites sem dormir, Jade revoltada e Luke sem graça. Mas agora tudo era diferente, ela sabia.
- Me desculpe, não quis ser inconveniente.
- Vamos?
Andrew nos interrompeu antes que eu pudesse dizer a ela que estava tudo bem, que isso não me matava mais, que eu estava prestes a fazer por minha filha, o que minha mãe não fez por mim. Dá-la um pai.
Com a desculpa de que queria visitar uma amiga, deixei Jade na casa de Andrew onde estávamos hospedadas. E andava em rumo ao grande edifico onde seria a reunião. O Sol brilhava forte, era um típico dia de verão.
Entrei no prédio e fui até a recepção. Tudo era muito luxuoso e brilhante. Havia uma moça no balcão de informações. E essa mesma me encaminhou para o local onde meus problemas e preocupações acabariam.
No elevador minha cabeça praticamente explodia, meu coração batia muito forte. As pessoas ao meu redor me olhavam como se eu fosse algum tipo de louca, já que estava agindo como uma. O andar finalmente chegara. Eu usava um conjunto de blazer e saia nude que costumava usar no trabalho em dias especiais. Os cabelos loiros presos num rabo de cavalo, e uma maquiagem leve. Minhas mãos suavam excessivamente conforme me aproximava da sala indicada. Pus minha mão na maçaneta da porta alta de madeira, que ficava ao lado de um enorme vidro com plástico fumê, o que me ocultava a sala adentro. Eu a apertava mas minhas mãos pareciam imóveis, eu tinha tanto medo do que encontraria lá dentro. Enfim abri a porta e me deparei com uma sala vazia, preenchida com a luz solar, uma mesa de madeira enorme com várias cadeiras com detalhes dourados. Em uma parede se encontrava uma série de prateleiras com livros. Na outra alguns quadros de artistas, provavelmente os quais aquela empresa prestava serviço.
Atrás uma enorme janela com uma cortina laranja luxuosa, com franjas douradas. No chão um carpete fofo preto. Depois de visualizar cada parte da sala, sentei-me em uma das cadeiras mas não na cadeira principal. Depois de alguns minutos de pleno desespero e ansiedade um homem adentrou a sala.
- Sra. ?
- Sim, sou eu.
- Representantes do sr. entrarão na sala para a reunião em alguns.
- Obrigada.
O homem de terno saiu da sala me deixando novamente no desespero e um pouco mais de ansiedade. Tentava firmar uma respiração calma, quando entraram na sala umas 10 pessoas dando boa tarde. Sentaram–se, e quem se sentou na cadeira principal foi um homem de aparência de uns 30 anos. Ele arrumava alguns papéis enquanto os outros pareciam apenas esperá-lo para falarem.
- Sra. , como já havíamos dito, a senhorita está presente nessa sala para responder algumas perguntas, entender algumas questões e assinar alguns papéis referentes à regras e o modo que deverá agir daqui em diante.
- Sim.
- Começaremos com as apresentações. Sou Ernest Buonarroti, empresário chefe do sr. , esse são três de seus assessores. Esses quatro são produtores executivos do sr. . E esses dois são seus gerentes de marketing. Você está na presença de apenas uma parte da equipe do sr. .
O homem foi apontando para cada grupo enquanto falava e eu o acompanhava sorrindo-lhes, o que não era reciproco.
- Agora vamos a você. Apresente-se e diga o porquê está aqui por favor.
- Me chamo Josie . Na juventude tive uma filha de , mas não o contatei por medo. Estou aqui porque quero que minha filha, Jade, o conheça. É um pedido dela, não meu.
- Entendo. Os testes deram positivo você sabia?
- Sim, eu sempre soube.
- Assine alguns desse papéis. Você precisa seguir tudo o que vamos instruir para que possamos realizar o pedido de sua filha, ou então nada feito.
- Tudo bem.
Assinei os papéis sem ler. Burrice, mas tinha de ser feito.
- Certo, passo a palavra para Mark.
- Sra. , me chamo Mark e sou assessor de . Vou listar para você algumas regras. Sua filha estará presente em programas de auditório entre outros. Participará de photoshots com sr. . Para o publico você estará morta, e caso descubram sua ligação com a menina, você será apenas a irmã da mãe. Sua família não poderá aparecer em publico com a menina. Serão essas algumas condições por enquanto. Você não receberá nenhuma quantia para seguir isso.
- Mas eu não posso obrigá-la a fazer essas coisas, eu só queria que ela o encontrasse, não que virasse parte da sua imagem publica.
- Perdão sra. Mas a vida do sr. é publica.
Mantive-me em silêncio enquanto eles discutiam algumas coisas da empresa. Aquilo não era bom, não era nada bom. Sem que eu percebesse estavam impondo condições e regras, e eu não tinha outra escolha a não ser aceitá-las. Meus pensamentos foram interrompidos por Ernest que falava algo sobre ao telefone.
- O sr. está subindo, vamos esperá-lo.
Sua frase causara calafrios por todo o meu ser, eu estava com muito medo do que iria encontrar. Talvez um raivoso por ter que tirar tempo para isso, talvez um ansioso para conhecer a filha única, até então. Seja lá o que fosse, não imaginava nem de perto o que iria encontrar.
surgiu no salão ao lado acompanhado de uns três seguranças. Ele estava parado em frente ao vidro da sala, então eu podia vê-lo antes de estarmos frente a frente. Ele usava uma camisa comum preta, uma calça preta justa, e um sapato marrom nos pés. Seus cabelos castanhos estavam bagunçados pra trás e não havia mais cachos neles, apenas ondulações nas pontas. tinha agora uma coleção de tatuagens pretas em seus braços, todas pequenas. Seu rosto tinha uma barba rala e mal feita, suas covinhas continuavam as mesmas, e seu sorriso ainda era mágico. Seus olhos eram do mesmo verde que chegava a cegar, e intimidavam qualquer um. se virou de frente para o vidro e o encarou com o rosto sério. Desviei os olhos rapidamente com medo de que talvez ele conseguisse enxergar através do vidro fumê, mas logo voltei a observá-lo.
Ele mantinha uma postura relaxada e braços cruzados, encarando o vidro escuro como se pudesse me intimidar e talvez me fazer sair correndo daquela sala. ainda era lindo. Melhor, ele estava muito mais lindo agora que era um homem formado. Sua masculinidade era mais visível, seus músculos se ressaltavam na camisa, e seus olhos eram mais fixos e possuíam chamas. Eu o observava enquanto as pessoas ao meu redor falavam ao telefone, mexiam em papéis ou em laptops. Em alguns segundos alguém o chamou a atenção e então ele passou a caminhar em direção a sala, saindo de meu campo de visão. Eu estava com tanto medo, eu queria tanto ter alguém ali comigo, eu queria poder ter a certeza de que tudo daria certo.
Poucos segundos depois ele entrou na sala, mas não me encarou com fúria do modo como imaginei. Ele simplesmente nem me notou e sentou em um cadeira colocada à sua disposição sem dar ao menos boa tarde.
- Sr. .
Ernest acenou com a cabeça, o que me pareceu mais uma reverência.
- Então quem é a menina que eu comi e deixei rastros?
Harry soltou indiferente, pegando todos de surpresa. Aquilo realmente me magoou. Talvez eu tivesse esperando que ele me tratasse pelo menos com alguma educação e respeito. Talvez ele estivesse.
- Sra. .
Ernest me olhou como se me desse a deixa para falar, e e isso era a ultima coisa que eu queria.
- Bem , eu...
- ? ? Sr. pra você sua ingênua. Ou você viu algum dos meus empregados me chamando de nesta sala?
Desgraçado! Desgraçado! Ele falava de um modo tão desprezível, e sua cara de deboche estava praticamente me tirando do sério em apenas um minuto em sua presença. Ele era um babaca, como ele podia tratar as pessoas assim. Ele acabara de chamar seu próprio empresário de empregado! Isso era demais pra mim! Como em segundos atrás eu estava o observando e reparando seus lindos detalhes? Como eu pude ter o achado irresistivelmente lindo? Talvez ele realmente fosse, mas só isso. Ele era um monstro na verdade. E eu estava presa a esse monstro agora, e todos os seus caprichos que envolviam minha filha e o maldito contrato. Mas não era por aquele monstro que eu havia me apaixonada quando jovem, não mesmo. O que seis anos não fazem com uma pessoa certo?
- Perdão sr. .
- Cadê a garota? Eu preciso ver se ela parece ao menos comigo, ninguém quer ver uma criança feia ao meu lado.
- Paciência sr. , você a conhecerá num jantar onde vamos apresentá-la.
deu de ombros e continuou seu showzinho particular.
- Num jantar? Em Londres, certo? Não quero ter que vir pra esse projeto de país de novo.
Provavelmente se passara apenas cinco minutos de conversa e já havia ofendido a mim, minha filha, sua equipe e meu país. E eu permanecia calada, quase estourando todos os meus nervos, mas calada.
- Com licença. Jade estuda e eu trabalho, não estamos à disposição.
- Você só fala quando eu pedir para falar! Cale essa boca sua vagabunda!
Por pior que ele estivesse se mostrando ser aquilo me pegara de surpresa. Ele ficava cada vez pior, minha ânsia de vomito aumentava a cada palavra grossa e cheia de maldade que saia de sua boca desprezível. Alguns de seus colegas o acalmavam, como se ele fosse o dono do mundo. Talvez fosse o deles, mas não o meu. Eu não precisava me submeter aquilo, como se ele estivesse fazendo um favor.
- Me respeite! É o mínimo que peço em relação a mim.
Minha voz havia saído um pouco trêmula, me causando surpresa. Não imaginava que aquilo estivesse me causando todo aquele mal e tristeza. Ele não era nada, mas suas palavras me feriam. .
se manteve em silencio, mas isso não fazia diferença já que sua expressão debochada e seu ar superior falavam por ele.
- por favor, podemos fazer isso do nosso jeito ou então nada.
Ernest disse num tom de derrota.
- Continuem.
exclamou e depois se manteve calado com braços cruzados e uma expressão de descaso como uma criança mimada. me lembrava Jade, por pior que isso soasse. Mas o pouco tempo de contato com o maldito me fez ver que Jade não havia só puxado ele em sentido físico, mas também no seu gênio. Jade poderia ser a criança mais doce do mundo, mas quando ela queria algo, fazia de tudo para conseguir, por exemplo eu nessa sala com pessoas desprezíveis agora. E parecia ser exatamente esse tipo de pessoa, só que com dinheiro e o mundo aos seus pés. Minha mente estava confusa e eu não conseguia formular opiniões, frases ou qualquer coisa.
Nada do que aquelas pessoas falavam me interessavam, era como se eu nem estivesse ali. parecia estar do mesmo modo, mas não por estar confuso e temeroso mas por que estava pouco se lixando para aquele assunto que por algum motivo estava sendo tratado com muita atenção, mais do que eu queria.
- Então fechamos a discussão. E quanto a Sra. deverá estar presente no sábado ao jantar de apresentação de Jade. Enviaremos um jato particular e a hospedagem será por nossa conta por enquanto.
- Tudo bem.
Foi tudo que consegui afirmar. Apesar de ainda estar confusa com toda a situação.
- Esteja no aeroporto de Dunfermline às sete horas da manhã de sábado, ligaremos para te informar. O jantar será realizado no salão do hotel onde vocês ficarão em Londres. Você só precisa seguir as instruções e regras a quais já mencionamos. O resto é nosso trabalho.
- Tudo bem, obrigada.
- Por hoje é só. Foi um prazer Sra. .
Apenas acenei enquanto as pessoas se levantavam e se dirigiam a porta, menos uma. continuava sentado com a mesma postura e expressão de antes. Levantei-me por último e depois de todos saírem me dirigi a porta até ter meus braços praticamente esmagados e ser arrastada para dentro de volta pelos seguranças gigantes. Eu estava em pânico, imaginava que aquele seria meu fim. Continuavam me segurando enquanto .
se levantava e caminhava lentamente em minha direção. Não emiti qualquer tipo de som até que ele segurou meu rosto. Debati-me totalmente em vão já que os seguranças conseguiam me segurar com um dedo. segurava meu rosto com força, quase machucando e mantinha os olhos fixos nos meus, eu desviava pois sentia medo, e a última coisa que queria é que ele percebesse que ele me causava medo. se divertia com minha situação constrangedora.
- Acalme-se, não vou machucar você. Só preciso esclarecer algumas coisas que aqueles babacas não souberam fazer. Eu não sei quem você é, não me lembro de nunca se quer ter tocado no seu corpo sem valor, imagino que eu paguei bem barato por você. Você precisa saber que não me importo com você ou sua filhinha que sonha com um pai. Vocês vão agir de acordo, como boas meninas e podemos manter essa maquina de fazer dinheiro por um bom tempo.
então soltou meu rosto e fez sinal para os seguranças me soltarem também. Eu gostaria de poder estar lidando com uma pessoa normal e não com ele. Queria perguntar o por quê? Por que tudo aquilo? saiu da sala e fechou a porta enquanto eu ainda estava dentro. Ali fiquei processando tudo que acontecera naquela tarde. Condições, marketing, dinheiro, ofensas. Não era isso que eu estava procurando. Céus! Eu só queria que Jade parasse de encher meu saco com a historia de querer conhecer o pai. Só queria realizar esse desejo dela, e não isso. A verdade é que ela nunca iria conhecer seu pai, e sim o monstro que a formou. Ao finalmente sair daquela sala horrível, fiz a primeira coisa para colocar minha cabeça um pouco no lugar. Peguei o celular e disquei o numero já gravado em minha mente.
- Amor?
Apesar de ainda estar trêmula, a voz de Luke me acalmara um pouco.
- Luke, acabei de sair da reunião. Você não imagina o que aconteceu aqui.



Capítulo 14 - Showbiz

Fazia uma semana desde que voltamos para Dunfermline, minha nova cidade. Andrew acreditou, apesar de mostrar bastante despontamento, na minha desculpa de que Luke estava muito doente e precisava de mim em Dunfermline, por isso Jade e eu precisávamos voltar urgentemente, ou pelo menos a tempo de não ter que ir em seu culto.
Minha mente ainda estava totalmente confusa quanto a esse final de semana que passaríamos em Londres. Ernest havia me ligado para passar todas as informações com respeito a horários, hospedagem e como deveria lidar com . Ernest, apesar de tudo, parecia ser uma boa pessoa, talvez só estivesse no emprego errado. Arrumava as malas enquanto Jade fazia compras com Luke. Eu não tinha contado toda a verdade para Jade. Eu lhe disse que estava muito confuso, então ela não deveria esperar por um pai de braços abertos, o que não era mentira. Eu ainda não sabia exatamente como lidar com isso tudo. Será que eu deveria ir à esse jantar cercado de pessoas fúteis? Até onde eu deveria ir? Ou deixar que me fizessem ir? Será que doeria menos para Jade se eu inventasse que morrera e destruísse seus sonhos? Era pra mim, mas e para ela? Como sempre eram apenas perguntas ao vento.
Jade e Luke haviam chegado a tempo do jantar. Sentamo-nos à mesa como em toda sexta, e fartamo-nos de comida japonesa.
Jade havia ido para sala ver TV enquanto eu e Luke arrumávamos a cozinha.
- Eu sei que digo isso toda hora, mas você acha é uma boa ideia?
- Eu acho que você deve se preocupar de se empanturrar de comida de rico e fazer de Jade a criança mais invejável do planeta.
- Falo sério Luke. E se ele magoar ela nesse jantar?
- Amor não se preocupe com esse babaca. Vai ter imprensa no jantar certo? Ele vai tratá-la com todo amor do mundo. E afinal você está fazendo isso por ela.
- Eu sei, mas e depois do jantar?
- Você vai estar lá, para fazer tudo dar certo.
Luke tinha razão. a trataria bem no jantar, e depois ele não faria mal a uma criança inocente, principalmente sendo filha dele.

XX

Simplesmente não havia palavras para descrever o quão lindo era o jato em que viajávamos. Talvez aquele fosse o lugar mais luxuoso em que pisei. Jade jogava algo no laptop, eu estava apenas relaxando e bebendo champagne, sim champagne. Dentro do jato, além da equipe de voo, havia um empregado nos servindo. Alguém poderia morar ali dentro se pudesse.
Finalmente aterrissamos em Londres. Eu não carregava nenhuma das poucas malas, graças as pessoas incríveis que nos acompanhava. Logo estávamos passando dentro do aeroporto. Depressivamente me apercebi de que não pisava em território Londrino desde... Desde que Jade foi formada. Ter tido contato com , me fez lembrar de sua aparência, voz e toque. E agora eu podia me recordar daquelas lembranças que há anos eu não conseguia memorizar. Aquelas lembranças que me faziam tão mal, que eu escolhi esquecer e guardar apenas a parte boa. A parte boa era que sem aquele acontecimento, eu não teria meu bem mais precioso, minha filha. Mas lembrar daquilo agora era diferente, ainda havia a parte boa mas também me causava ânsia lembrar que um dia já deixei que aquele ser asqueroso me tocasse. A cada passo que eu dava uma parte daquela noite vinha em minha cabeça, e o meu café da manhã voltava até minha garganta.
Eu diria que faria de tudo para que aquilo nunca tivesse acontecido, mas isso não se concluía por causa de Jade. Jade era a única coisa que não me deixava odiar aquela noite, apenas ela. Se Jade ao menos soubesse como era podre, ela não iria querer conhecê-lo. Se eu soubesse também não.
Jade tomava banho na banheira extremamente branca da suíte. O jato ficaria em segundo lugar, depois que entrei no hotel. Luz baixa, adereços de ouro, e a cerâmica impecavelmente limpa e brilhante era algumas das características daquele lugar. No quarto havia uma king size enorme. Lençóis esplendidamente brancos, cortinas rosa claro com uma leve estampa de rosas que cobriam todo o quarto. Havia um closet branco, uma penteadeira com tudo que uma mulher precisa. As poucas paredes que não eram cobertas pelas cortinas eram um branco gelo. No banheiro havia uma banheira, um box, um vaso sanitário e uma pia enorme com direito a tudo. Tudo incrivelmente branco, a não ser pelos detalhes dourados do azulejo. Eu observava Jade se divertindo na banheira que era incrivelmente muito maior e luxuosa do que a nossa.
- Mamãe eu estou muito feliz, obrigada.
Jade disse me tirando dos devaneios. Eu só pude lhe sorrir, porque ainda escondia o fato de que ela não deveria agradecer a nada, e que as coisas não seriam tão boas quanto pareciam.
- Se apresse, falta uma hora para o jantar anjo.
- Já vou sair.
Jade parecia não ter dado muita ideia para minha admoestação e continuou brincando. Voltei para o quarto e fiquei fazendo o que fiz o dia inteiro: olhando a vista. Londres era linda. Todos aqueles prédios juntos, muitos reconhecíveis, outros eram apenas arquiteturas bem boladas que faziam bem aos olhos. Aquele lugar não me trazia só lembranças ruins, mas boas também. Como minha juventude, minha amizade com Melissa. Eu sentia tanta falta dela. A verdade é que depois de Mel, eu não tive outra melhor amiga. Eram só amigas, só pessoas. Eu não conseguia deixá-las se aproximar. Às vezes eu acreditava que estava fadada ao delírio, ao isolamento. Doía ver as pessoas se esforçando para serem minhas amigas, para manter a amizade enquanto eu apenas queria ficar só. Depois de um tempo elas percebiam que eu não valia tanto a pena e desistiam. Melissa sempre foi um pé no saco. Ela praticamente perturbava minha vida. Sempre com convites de festas, shows, música, gente pra apresentar.
Eu fingia gostar, algumas vezes eu até gostava, outras eu só queria estar com ela, não importava onde ou com quem. Ninguém no mundo seria tão chata quanto Melissa. Ninguém faria isso por mim.
Duas batidas na porta foi o suficiente para eu e Jade checarmos os últimos detalhes e sair do quarto. Um segurança andava com a gente em direção ao salão, onde seria o jantar. Eu vestia um vestido preto justo, até o joelho, na região do colo havia algumas aplicações de pedrarias. No pés um peep toe verde musgo. Usava brincos dignos de uma madame. Meus cabelos estavam soltos e formavam algumas ondas. Minha maquiagem era simples mas marcante: Batom vermelho nos lábios; Olhos esfumaçados com sombra marrom; Rímel; Um pouco de blush, e só.
Jade usava um vestido digno de princesa. Era rosa e cheio de brilho. Em seus pés uma sapatilha de boneca. Seus cabelos soltos denunciando os lindos e perfeitos cachos herdados por seu pai.
Andávamos de mãos dadas em direção ao elevador, seguindo o segurança. Eu já sabia o que estaria me esperando lá embaixo, mas ainda era basicamente uma surpresa.
- por aqui.
Alguém da equipe de que eu não recordava o nome, gritou ao me ver sair do elevador. Segui as instruções e finalmente chegamos à uma enorme escada com pinturas de anjos e deuses barrocos nos degraus. Apoiei minhas mãos no corrimão de ouro e desci lentamente as escadas, sendo cegada por flashes de câmeras ao aparecer em seu campo de visão.
- Pare aqui.
O homem sussurrou, e eu obedeci. Jade apertava minha mão demonstrando que ela não estava gostando daquela situação, mas entendia que era ligado ao fato do pai ser famoso, então manteve-se quieta.
surgiu no meio da multidão que nos observava. Ele usava uma camisa social preta, calça jeans preta e sapatos pretos. Seus cabelos continuavam bagunçados, mas a barba rala do dia em que nos vimos não estavam mais lá. agora corria em nossa direção com um sorriso enorme no rosto, tão lindo que eu era a única naquele recinto que sabia que era falso. se aproximou de nós e abraçou Jade por um longo tempo. Os flashes eram mais fortes e constantes agora, e pessoas nos aplaudiam. então desfez o abraço e jogou seu corpo contra o meu me abraçando, o que me pegara totalmente desprevenida. Senti-lo tão perto causou certo choque em mim. Eu podia sentir seu cheiro perfeitamente, e acompanhar o ritmo de sua respiração, isso me fazia muito mal.
Eu o odiava tanto, mas não podia negar que senti-lo tão perto era algo que fazia todos os pensamentos ruins, aliás, todos os pensamentos sumirem de minha cabeça. Talvez tivesse algum tipo de substância química que engana as pessoas que o toquem fazendo-as achar que ele não é alguém desprezível. Mas eu sabia, no fundo que aquilo era puro teatro.
- Além de cantor você é ator também? Sussurrei em seu ouvido.
- Sou tudo o que eu quiser ser querida.
sussurrou de volta. E então desfez o abraço e rapidamente me sorriu um sorriso sarcástico, que finalmente era um verdadeiro. Ao se virar para as câmeras e toda aquela gente idiota voltou a sorrir aquele sorriso sonhador e emocionado, quase que de um anjo, de antes.
- Senhoras e senhores.
olhou de volta para Jade, e eu jurava ver lágrimas em seus olhos.
- Essa é minha filha, essa é a minha pequena .
Ouvíamos uma salva de palmas, e até soluços de pessoas emocionadas. Jade não sorria. Jade não queria nada daquilo, só queria conhecer o pai. Mas mesmo com toda aquela presepada desnecessária ela estava satisfeita de ter o contato com o pai.
Descemos as escadas, segurando a mão de Jade como se isso fizesse recuperar todo o tempo perdido.
Depois de algum tempo, levou Jade consigo para fotos e entrevistas. Não queria deixar Jade sozinha, mas não tive outra opção. Dei entrevistas contando a história a qual fui mandada contar. Aquilo era tudo muito estranho para mim, eu não estava acostumada com entrevistas, câmeras, contratos, nada disso. Era como se em um dia eu estivesse apenas querendo dar o melhor para minha filha e no outro eu fazia parte de um marketing extremamente forçado.
Jantamos em uma mesa gigantesca com todo tipo de luxo. Sentamos Ernest, eu, Jade, e nessa ordem. Os outros eram apenas faces desconhecidas, que no caso eu não fazia a mísera questão de conhecer.
A sobremesa foi servida quando já era meia noite. Jade reclamava de sono havia um tempo. E quando fugi de alguma conversa estúpida sobre a pobre mãe de Jade morta num acidente vi que Jade havia pegado no sono à mesa.
- Ei, eu tenho que levá-la para cima, ela dormiu.
Sussurrei para que conversava animadamente com algumas pessoas.
- Então suma daqui.
virou-se de volta para o grupo de pessoas mas Alexis sua assistente pessoal e surpreendentemente noiva que sentava ao seu lado, se virou em minha direção fechando as pessoas em volta.
- Leve ela , pare de ser estúpido. Leve ela e deixe claro que estará contando alguma história idiota para ela dormir. Passe um tempo lá em cima para terem certeza de que está cumprindo com seu papel de pai. E você vá e fique por lá, não precisamos mais de você.
Alexis falou no mesmo tom baixo para que apenas Harry ouvisse. Naquele momento entendi que estava lidando com pessoas inteligentes que sabiam como aproveitar cada situação para o bem próprio. apenas suspirou em desgosto, e se levantou.
- Obrigado pela presença de todos, mas como podem ver minha princesinha está dormindo, e eu preciso ter essa privacidade como pai que vai pela primeira vez por a filha na cama. Você pode me acompanhar querida ?
A verdade é que eu queria ter socado seu lindo rosto, até não sobrar nada. Eu queria fazer aquilo desde que aquela noite infernal havia começado. Mas ao invés disso eu apenas me levantei e fiz um gesto com a cabeça para as pessoas presentes. pegou Jade no colo e enquanto subíamos as escadas fomos mais uma vez aplaudidos. Aquilo era ridículo. Todas aquelas pessoas aplaudiam qualquer coisa que fazia, não duvidava nada que seus gases eram recebidos com aplausos e assovios. Eram sangue sugas, puxadores de saco que queriam tirar uma casquinha. Entramos no elevador em silêncio e em silêncio chegamos no andar. andava na minha frente com uma Jade adormecida em seus fortes braços.
- Afinal aonde fica esse maldito quarto duzentos e treze?
- No final do corredor.
- Céus! Por que essa criança pesa tanto?
Mantive-me em silêncio para não dar inicio à uma discussão. Enfim chegamos ao quarto e fomos deixados a sós pelos seguranças. pôs Jade na cama e andou até a porta se encostando lá. Sentei-me na ponta da cama o observando tirar um maço de cigarros do bolso.
- Da próxima vez você carrega a Jessie.
- É Jade, o nome dela é Jade.
- Tanto faz.
disse ascendendo o cigarro em seus lábios.
- Seria pedir demais que você fumasse na janela, já quem tem uma criança dormindo no quarto?
- E me fotografarem fumando, ao invés de estar passando um tempo com minha preciosa filha? Não vou fazer isso.
- Talvez você realmente devesse passar um tempo com sua filha.
- Não tenho filha.
disse com o cigarro entre seus dentes. Eu poderia socá-lo agora certo? Estávamos sozinhos. Eu poderia matá-lo agora, mas faria barulho e Jade acordaria.
- Você tem sim . Eu só queria que você entendesse isso. Eu só queria que ela pudesse conhecê-lo e pronto.
Eu me levantei enquanto falava, aproximei-me como se estivesse tentando selar um acordo de paz impossível.
- Por favor nos deixe em paz. Já que você nunca vai ser um pai para ela, apenas nos deixe.
se aproximou de mim e segurou meu rosto com a mesma mão que segurava o cigarro. tinha raiva nos olhos, e poderia me matar com apenas o aperto em meu rosto.
- Não me importo com isso. E não, eu não queria isso. Você realmente acha que quero perder meu tempo com essa baboseira? Mas é algo que eu tenho que fazer. Nós dois ganhamos com isso. Você ganhou fama e grana pra sua filha. Eu ganhei um meio de recuperar meu público. Eu ganhei um meio de mostrar para as pessoas que a Reabilitação realmente fez efeito e que não sou mais aquele drogado que destrói quartos de hotel. Eu ganhei mais dinheiro, e meus fãs me amam de novo. Então não vou deixar vocês em paz, nunca mais.
Apesar de segurar meu rosto com força eu pude pronunciar palavras à altura das suas.
- Não sei se dará certo. Faz um bom tempo que não sou mais sua fã.
Instantanêamente um sorriso sarcástico se formou em meu rosto e pude ver o rosto confuso e irritado de que desviara rapidamente o olhar para meus lábios transbordando veneno. Seus olhos faziam uma rápida e repetida viagem entre meu rosto e meu corpo, como se a análise o fizesse lembrar da coisa mais temível do mundo. soltou então meu rosto num ato brusco e me olhava ainda com cara de espanto, a qual eu me deleitava.
- Você... Foi você... Eu me lembro de você.
Fiz uma reverência sorrindo o mais feliz e sarcástico sorriso que pude imaginar, enquanto o dele parecia que nunca mais residiria naqueles lindos lábios. andou até a mesa de centro, apagou o cigarro no cinzeiro e se dirigiu à porta, mas não sem antes dar a ultima palavra.
- Acho que já deu tempo suficiente de fazer uma criança dormir, e a propósito foi uma péssima transa.
sorriu-me o mesmo sorriso irônico de mais cedo e bateu a porta atrás de si. Aquele sorriso ainda era uma especie doentia de sorriso verdadeiro já que todos os outros eram apenas sorrisos angelicais, os quais não combinavam nada com .
.
Por um momento senti-me realizada, colocá-lo no chão, no seu lugar, era o que eu esperava por todo esse tempo.



Capítulo 15 - I do

Já havia se passado duas semanas desde que Jade ficou conhecida oficialmente como filha de . Obviamente meu telefone não parava de tocar por causa das ligações de amigas "verdadeiras", minhas contas nas redes sociais estavam lotadas de mensagens, e eu e Jade até tiramos fotos com pessoas fúteis. Todos queriam tirar uma casquinha da tia de Jade, ou dizer que sempre souberam que eu era sua tia, não sua mãe, fora isso mantinhamos a mesma rotina. Luke passaria a noite aqui, então eu arrumava a casa, até ser interrompida pela campanhia.
- Já vai.
Gritei enquanto deixava as coisas de lado e corria até a porta.
- Oi.
- Oi Melissa... Err o que faz aqui?
- Preciso de um favor seu.
- Quem não precisa né? Apareci na TV.
- Sim esse é um dos motivos, se não eu não saberia que você havia contado a verdade para . Como ele reagiu?
- Indiferente. Ele não tem nenhum interesse em Jade, já seus empresários acham que assumir a paternidade é um bom marketing. Era o único jeito de aproximá-los, então assinei um contrato.
- Jade sabe? Do contrato, ela sabe?
- Melissa, Jade é uma criança! Não posso dizer a ela que seu pai ganha dinheiro pra tê-la como filha.
- Mas deveria. Jade é uma criança, mas deveria saber a verdade. Deveria saber o que esperar do pai.
Melissa talvez tivesse razão, talvez não. Ela parecia bem, seu rosto estava rosado apesar de sua pele extremamente clara. As olheiras constantes embaixo de seus olhos verdes eram quase imperceptivéis. E suas roupas negras estavam em bom estado. Talvez pudessemos manter uma conversa pacífica.
- Você quer entrar?
Melissa entrou em minha casa. Nunca me imaginei nessa cena, mas por algum motivo me sentia confiante quanto a nossa reaproximação, é claro que não esperava nenhum juramento de amizade eterna ou algo do tipo, mas só de tê-la por perto, ter a certeza de que está bem, está viva, era um peso a menos em minha cabeça. Sentamo-nos e lhe servi chá.
- Obrigada.
- Então, diga o que quer.
- Perdi a guarda dos meus filhos e...
- Eu sei
Interrompi.
- Como?
- Eu vi Thomas com sua mãe adotiva.
- Como ele está?
- Está bem, parecia bem. E ela parecia ser uma boa mãe.
- Eu preciso deles de volta ! Thomas, Garret e Naleigh estão separados. Estão sem mim. Eu sei que minha vida não passa de um merda, mas você precisa me ajudar. Agora você pode, você tem poder na sociedade.
Ao fim de suas palavras só pude gargalhar. Melissa realmente não havia entendido o 'contrato'.
- Melissa, eu tenho que fingir que sou tia da Jade, você realmente acha que tenho algum direito nisso tudo? É um mundo sujo querida.
- , eu imploro. Se tiver algo que você possa fazer...
- Não posso fazer nada Melissa. Simples assim. Apesar de tudo que você me fez, e todas as mágoas que me causou, eu te ajudaria principalmente porque seus filhos não tem culpa. Mas não há nada que eu possa fazer por você.
- Tudo bem. Você continua com o mesmo número?
- Sim.
- Eu vou indo então, estou trabalhando.
Melissa se levantou num pulo e foi em direção à porta e eu a acompanhei.
- Melissa err... Como está? Seu vício, como você está?
- Estou indo bem, tentando me recuperar.
- Espero que sim. Você não acha que deveria voltar para alguma clínica?
- Não. Eu poderia passar anos lá, só aumentaria minha dependência nessas malditas.
- Você sabe o que é melhor para você, sempre soube.
- Obrigada pelo chá.
- Tchau Melissa.
Fechei a porta atrás de mim e em questão de segundos, entreguei-me ao choro. Como eu sentia falta de Melissa, como eu queria poder ajudá-la. Estava sentada do lado da porta com as mãos apoiadas no rosto molhado. Ouvi barulho na porta de chave e corri para à cozinha onde sequei o rosto e tentei me recompor.
- Anjo?
- Mamãe! O tio Luke comprou um batom pra mim!
Permaneci o tempo que pude na cozinha até estar bem para respondê-los.
- Olá gente.
Apareci na sala sem os encarar.
- Está tudo bem querida?
- Sim, só estou um pouco cansada e resfriada.
- Está se cuidando?
- Sim. Nossa filha que cor de batom linda!
Ignorei Luke antes que surgisse alguma outra pergunta e peguei Jade no colo.
- Vou usar ele na próxima vez que eu for ver o papai.
Fugi de um e ganhei algo pior. Ainda era costume sentir uma pontada no peito quando o assunto era esse. Mas eu já me sentia um pouco confortável com a idéia.
- Claro minha princesinha.
Luke me lançou um olhar compreensivo devido minha notável mudança de humor.
Jade já estava na cama, eu e Luke assistíamos TV e tomávamos chocolate quente, quando meu celular tocou. Olhei o visor e só pelo meu suspiro Luke já sabia do que se tratava.
- Sim Alexis.
- precisaremos de vocês amanhã. tem um ensaio para uma revista a qual dobrou o cachê com a presença da princesinha escocesa.
- Alexis, Jade tem escola, e eu tenho emprego.
- Já disse que você vai passar a receber?
- Não me importo. Eu estou realmente tentado cooperar com vocês, mas não tem como eu viver em função da carreira do .
- Hmm Talvez se você se mudasse pra cá...
- Não vou me mudar para Londres, isso é loucura.
- A parte que não mencionei é que se você se mudar para cá terá todas as despezas pagas, inclusive sua casa seria um apartamento na melhor área de Londres. E também morando aqui seria mais fácil de estar presente onde precisamos de você, e que no caso você é obrigada a vir porque você tem um contrato, esqueceu disso querida?
- Não. Estarei aí amanhã.
- Mandaremos o avião amanhã às 5 horas da manhã esteja lá.
- Preciso levar algo de diferente?
- Que tal sua mudança?
- O quê?
- É apenas um brincadeira querida, onde está seu senso de humor? Ainda não resolvemos que dia virá morar aqui, mas será esse mês. Até logo.
Alexis desligou a chamada e Luke esperava minha resposta às suas duvidas.
- Querem que eu me mude pra lá, tudo pago.
Não sei se Luke reagiu bem ou não, eu simplesmente não consegui decifrar o que seu rosto dizia.
- Faça o que for melhor para vocês.
Será que era isso o melhor?



Capítulo 16 - Where everything happens

A mesma cena de um tempo atrás se repetia. Eu e Jade num jato esplendidamente luxuoso, só que dessa vez pousaríamos na pista de vôo da casa de . Eu usava uma roupa confortável. Uma calça jeans azul clara, uma camisa branca larga do mickey, nos pés sapatilhas beges. Zero de maquiagem e o cabelo preso numa trança de lado.
Chegando ao destino nos deparamos com a maior e mais luxuosa casa em que já pisara. Era tudo extremamente branco, desde os carpetes até as prateleiras. Sim era algo perfeitamente agradável aos olhos, e eu não me cansava de mostrar o quanto estava impressionada com toda aquela ostentação.
- Por aqui sra. . Vocês podem descansar e esperar os comandos nesse quarto.
- Obrigada.
Segui as ordens do mordomo e entramos no quarto. Era tão lindo quanto o resto da casa. No meio do quarto havia uma cama convidativa, com várias almofadas e colcha florida. As cortinas eram verde claro, e as paredes brancas. O chão era branco e havia um closet com a porta espelhada. Jade correu e se jogou na cama, eu não resisti e me joguei junto com ela. A cama era muito fofa e começamos a pular alegres, até que alguém entrou no quarto sem bater. Parei de pular no susto mas a cama ainda se balançava. Encontrei um com cara de sono, apenas de calça moletom, o trono nú e mente confusa.
- O que é isso? O que vocês estão fazendo aqui?
Jade desceu da cama e abraçou antes que eu pudesse o responder. Ele não a abraçou de volta, mas deixou que o abrassace.
- Alexis disse que hoje teriamos que vir para o ensaio fotográfico.
- Sim, mas o que vocês fazem na minha casa?
- Calma querido, eu as convidei.
Alexis apareceu atrás dele com uma camisola sensual e minúscula, e começou a fazer massagem em seus ombros. Lançou-me então um olhar de cobra e passou a beijar o pescoço e ombros de , bem ali na minha frente e de Jade. parecia não se incomodar com a mulher agarrada ao seu pescoço, mas não mostrava indícios de que lhe agradava. Seus olhos se mantinham fixos nos meus como uma faísca. Eu lhe retribuía o olhar com a mesma intensidade, coisa que sempre evitei. Era difícil manter contato visual sem acabar me perdendo em seu peito perfeitamente desenhado por músculos estimulados ao crescimento na medida certa, parte coberto por tatuagens negras. Além de seu rosto masculino e atraente, seus olhos apertados devido ao recente sono interrompido, seu aroma forte de perfume masculino misturado com o seu natural, e seus cabelos bagunçados pela cama.
Eu diria que por um mísero segundo eu desejei estar na mesma posição que Alexis, agarrada a seu pescoço quer fosse para matá-lo quer fosse para satisfazer desejos subcumbidos, mas esse segundo logo acabou.
- Se arrumem bem, não quero fotos minhas ao lado de gente mal arrumada.
disse a saiu de vista deixando Alexis parada e sem jeito.
- Espero que siga as ordens dele, querida você não vai querer contrariá-lo.
Alexis deu um sorriso debochado e virou as costas mas voltou a atenção à mim quando retruquei seu comentrário.
- Ou ele fará o quê? Vai me matar e matar a própria filha? Ele vai acabar com a renda extra dele, e depois inventar mais uma mentira como todas as outras sujeiras quem saeem da boca de vocês?
Alexis entrou no quarto, sua postura não indicava que eu deveria sentir medo, era relaxada.
- Lembre-se sempre, você está dentro de toda essa mentira. Ninguém te forçou a assinar seu maldito nome. A escollha foi sua.
Por pior que isso parecesse, Alexis tinha razão, não havia nada que eu pudesse fazer.

XX

Jade usava um vestido rodado vermelho com bolinhas brancas, sapatilhas pretas e uma faixa branca na cabeça com um lacinho em cima. Já eu usava uma roupa simples já que não ia sair nas fotos. Optei por uma calça jeans de lavagem escura, uma camisa branca com botões na frente, cabelos soltos com algumas ondas e uma sapatilha vermelha de camurça.
Estávamos em uma espécie de camarim esperando para sermos chamadas, quando entrou usando a mesma roupa de sempre, uma camisa preta, calça preta, sapatos marrons e cabelos perfeitamente bagunçados. Uma mulher entrou junto com ele e nos disse para esperar ali até terminarem de arrumar os equipamentos para as fotos. não havia dito uma palavra, simplesmente pegou um cigarro do bolso acendeu-o e ficou perto da janela para fumar. Jade o observava. Seu olhar era de adimiração e orgulho, não era o mesmo que o meu: desprezo.
- Querem um autógrafo ou algo assim?
disse sem mesmo desviar sua atenção da janela.
- Eu só queria saber se você já era assim quando nos conhecemos e fingiu ser aquele cara gentil, ou quando você passou a ser essa pessoa horrivel de hoje.
- Não lembro de nos conhecermos antigamente, e também não lembro desse cara que você diz.
- Você sabia que a Jade não tem nada a ver com isso? Sabia que é desnecessário magoa-lá?
permaneceu calado, e olhando pela janela até que Jade se pronunciou.
- Eu sei a verdade. Sei que o papai não está pronto para me amar como eu o amo, e sei que ele finge que está, pra ajudar no trabalho dele. E se eu preciso fingir que ele me ama, eu faço pra ajudar o papai.
Nunca imaginei ter a mesma reação a algo como , que assim como eu, estava de queixo caído com o pequeno discurso de Jade que agora me abraçava.
- Obrigado, menina.
disse assim que conseguiu assimilar as palavras. Vindo dele um obrigado era algo extremamente gentil, seus lábios até formavam um sorriso contido. A mesma mulher de antes entrou então na sala e chamou Jade para fazer as fotos em que sairia sozinha. Resultado: eu e teríamos que ficar sozinhos sobre o mesmo teto de novo, nunca era coisa boa. Continuei sentada no sofá enquanto ele fumava encostado na parede. O silêncio era muito descofortável, então resolvi quebrá-lo com alguma coisa estúpida.
- Obrigada por fumar na janela.
- A janela ainda faz parte do quarto.
Talvez tivesse realmente sido uma péssima ideia dialogar com uma pessoa arrogante e complicada. Depois disso me mantive em silêncio. Percebi que havia uma cafeteira no canto, então peguei uma moeda e escolhi um capuccino de avelã com chocolate, meu predileto. Sentei-me no mesmo lugar bebericando minha bebida enquanto acendia outro cigarro e se sentava no sofá à minha direita.
- Sabe, foi muito inteligente o que você fez.
Disse com o cigarro entre os dentes numa postura totalmente esparramada no sofá negro.
- Fiz?
- Ter feito a menina gravar todo aquele discurso para me dizer aquilo. Parece que não somos tão diferentes assim.
soltou a fumaça dando um lindo sorriso irônico, era quase divertido. Já estava cansada de brigar e revidar sua estupidez. Dessa vez apenas ri, deixei-me divertir com mais uma de suas piadinhas ácidas.
- Você é mesmo um filho da mãe não é? Idiota? Infantil? Hipócrita ou simplesmente um doente mental? São muitos adjetivos para escolher um só.
Eu disse rindo, pela primeira vez me sentia leve, não me sentia em perigo ao dizer o que pensava, talvez fosse o sorriso tolo estampado também no rosto de , era como se estivéssemos desistindo de toda aquela pose de pessoas frias arrogantes e que não se importam com sentimentos, era como se não houvesse mentira entre nós, e realmente não existia.
- Sabe de uma coisa? As pessoas acham que eu gosto de ser chamado de lindo, príncipe, maravilhoso e todas essas baboseiras. Realmente eu sou, mas elas não sabem que isso me enjoa, eu me acostumaria muito bem com uma vida em que eu fosse chamados por alguns dos nomes que me deu antes, é bem mais excitante.
- Mais uma mentira desvendada a seu respeito, sr. príncipe, lindo e maravilhoso.
- Hmmm errado, você está usando ironicamente esses adjetivos. Ainda me faz bem.
- Oh céus , você me faz rir.
- É o que faço com as mulheres.
Dessa vez eu dei uma gargalhada, afinal eu estava realmente me divertindo com o poder que uma pessoa tinha de ser tão arrogante e metido.
- E quanto a você e Alexis? Casamento não faz muito seu estilo.
- Por que estamos conversando mesmo?
- Você que puxou assunto, seu louco.
- E eu também o havia terminado.
se manteve sério, como se aquela pergunta tivesse realmente o incomodado, ou talvez ele só quisesse fumar em paz sem uma chata no seu pé. Levantei-me e fui até a janela, nesse ponto me preocupava com Jade que estava tirando fotos sozinha até então. Ainda segurava meu copo até que .
me empurrou para ficar na janela também, fazendo com que o resto de bebida entornasse em minha roupa.
- Seu idiota! Olha o que fez!
me olhou de canto como se nada tivesse acontecido, ele realmente era estranho e completamente maluco.
- Se fosse eu, alguém traria uma nova para vestir, talvez Prada. Sim, é um bom dia para se usar Prada. Mas como é você, deve ter alguma roupa perdida naquele armário.
Apontou para um armário de madeira.
- Obrigada sr. Hollywood.
- É um prazer ajudar, super mamãe.
Lancei-lhe um olhar de ódio. Como eu odiava aquele ser, será que alguém mais conseguia atingir esse nível de ódio por uma pessoa? Fui até o armário e revirei algumas roupas em tamanhos diversos, havia uma blusa de alça que talvez me servisse. Ela era vermelha, justa e tinha um decote gigante. Imaginei que talvez tivesse sido deixada ali por Paris Hilton. Olhei para trás e vi que me observava com o cigarro entre os dedos encontado na janela.
- Pode olhar para outro lugar por favor?
- Não estou a fim. E não se preocupe, eu vejo mais mulheres de sutiã do que um cego vê a escuridão, não faz diferença para mim.
Idiota! Estúpido! Eu me rendi, me virei de costas e comecei a desabotoar a camisa molhada. No ultimo botão senti uma presença atrás de mim e me virei com medo. Num movimento rápido e brusco, segurou meus pulsos e os levou ao alto de minha cabeça, me prensando contra a parede. Seu toque e sua proximidade me impediram de emitir qualquer som. Era como se por dentro eu quisesse gritar e chamar a policia, mas eu simplesmente estava paralisada. olhava fixamente para meus seios cobertos pelo sutiã de renda branco. Sua respiração batendo no meu peito fazia com que todos os pelos de meu corpo se arrepiassem. Lutei e consegui me mexer, tentei soltar minhas mãos de seu aperto, mas sem sucesso. Assim como previ a consequência de estar num local sozinha com um louco como era terminar presa por ele de alguma forma.
Porém dessa vez eu não queria me soltar, logo desisti de me soltar de suas mãos.
então levantou o olhar até meus olhos. Ele trazia consigo um sorriso de canto, como se estivesse se divertindo com o modo que meu corpo reagia ao seu contato.
Por outro lado minha expressão era confusa, e submissa. então colocou o corpo no meu fazendo com que eu fechasse os olhos. Imagens do passado, do nosso passado passavam como flashes na minha mente e tudo o que eu queria naquele momento era que aquilo se repetisse. Por algum motivo tomei uma atitude impensada, fui em direção aos seus lábios para beijá-lo, mas afastou o rosto e não me permitiu beijá-lo. Abri os olhos com toda a vergonha do mundo. porém ria como se estivesse num parque de diversões.
- Ei, calma menina má. Não sabia desse seu interesse por mim, achei que pra você eu era apenas um...
chegou mais perto, e disse sussurrando em meu ouvido direito:
- Mentiroso.
Permanecendo ali ele passou a deslizar o nariz até meu pescoço e a beijar o mesmo. Minhas pernas cruzavam a sua, e meu corpo inteiro se tornava quente e trêmulo. Sua intimidade perto da minha me fazia delirar, eram muitas sensações acontecendo ao mesmo tempo. Seus beijos quentes em meu pescoço faziam com que eu quisesse me soltar de suas mãos, não para impedi-lo, mas para tocá-lo também. me fazia sentir como a muito tempo não sentia. Ele desceu então as mãos devagar alisando meus braços e colo, até chegar em minha cintura, apertando-a. Desci minhas mãos e agarrrei seus cabelos. subiu a mão até meus seios e apertou-os enquanto dava leves mordidas em meu pescoço. Eu o queria, como eu o queria. Eu o queria tanto como o odiava, será que alguém alguma vez chegou a esse nivel de desejo por alguém?
era extremamente delicioso mesmo que ainda estivesse completamente vestido e apenas beijando meu pescoço e seios cobertos.
Involuntáriamente passei a gemer baixo quando seus beijos em meu colo se tornaram intensos, até que ele subiu-os devagar até meu queixo. Parou quando chegou aos meus lábios, e ficamos assim, respirando ofegante, com os lábios próximos mas sem tocá-los. então desceu as mãos até meu quadril e as tirou de meu corpo quente, e aquilo mais parecia com uma corrente de ar gélido invadindo a sala. Olhávamos nos olhos um do outro sem dizer uma palavra, sem precisar dizer uma palavra. então selou meus lábios. Pensei que ele aprofundaria o beijo, então o dei passagem, mas ele afastou nossos lábios de volta, e se afastou de mim por completo. Andou até o espelhos e limpou a boca, arrumou os cabelos e a roupa.
Já eu fiquei paralisada na mesma parede, com uma cara de espanto e êxtase. Algum momento depois alguém bateu na porta indicando que era a hora de ir para as fotos. Ele se dirigiu até a porta como se nem existisse uma pessoa na parede inconformada. Antes de fechar a porta virou o rosto mas não me olhou.
- Espero que sua camisa esteja seca.
Assim que fechou a porta senti uma dor no peito. Essa dor tinha nome e sobrenome, e era Luke Hamilton.



Capítulo 17 - Beautiful nightmare

segurava meus cabelos fortemente, e eu cedia a todos seus comandos. Em pouco tempo ele se livrara de meu sutiã preto passando assim a beijar meus seios livres e vúlneraveis. Eu gemia de prazer, torturante, delirante e puro prazer. Agarrava minhas mãos nos lençóis da cama enquanto sentia o toque e os beijos sufocantes de em meu colo e abdômem.
- Gemidos são minha parte favorita. Você não quer mais alto vadia?
Por pior que parecesse, seu lado grosso e pervertido era o que mais me excitava em .
- Vou acabar com você. Sem mim você não será mais nada. Vou te destruir. Você está viciada em mim. Você é minha.
ofegava em meu ouvido, e eu apenas gemia. Eu o queria dentro de mim. Senti uma mão acariciar meu cabelo, porém as duas mãos de estavam apertando minha cintura. Abri os olhos e observei Luke deitado ao nosso lado.
- Você realmente gosta dele não é querida? É ele que te faz delirar não é? Quando vai me contar?
- Eu não quero ele Luke, quero você. Eu amo só você.
Eu falei com lágrimas nos olhos.
- Calem a boca vocês dois! Estou tentando comer essa piranha!
Olhei para o lado e já não estava comigo, ele estava nú e beijava o corpo também nú de Alexis.
Acordei com um grito que mais parecia um urro.
- ? O que foi meu amor? Está tudo bem?
Eu estava suando, e Luke estava assustado ao meu lado. Agradecia por tudo não ter passado de um pesadelo. Eu tentava evitar olhar nos olhos de Luke desde que voltei de Londres, e essa não seria a melhor hora para fazer isso.
- Estou bem querido, só tive um pesadelo.
- Tem certeza? Você quer uma água?
- Não, estou bem. Não precisa se preocupar.
- Tem certeza? Eu busco pra você.
- NÃO LUKE! Eu estou bem tá legal?
Luke não proferiu mais nenhuma palavra, apenas me olhou assustado e voltou a dormir. Eu por outro lado sabia que passaria a noite em claro, talvez fosse melhor do que deixar minha mente vaguear para novamente.

George me entregara uma montanha de papéis para revisar devido minhas últimas e constantes faltas no trabalho. George não estava muito satisfeito e se mostrava frio para comigo. E eu, eu não conseguia me concentrar no que devia fazer, aliás eu não conseguia fazer nada ultimamente. Fazia-me lembrar uma menina a anos atrás que se encontrava na mesma situação, será que era algum tipo de feiticeiro? Ou eu que era fraca demais?
Jade se aprontava no quarto enquanto eu preparava algo para comermos antes de sair. Iríamos visitar Melissa hoje. Sim era algo totalmente estranho mas era um pedido seu. nem nenhum de seus representantes entraram em contato conosco essa semana, o que era praticamente um alívio. Estávamos no transporte em à direção a St. Andrews quando fomos bobardeadas por pessoas nos observando. Algumas até filmavam o momento. Era extremamente incomodo. '' O que a princesinha escocesa está fazendo em um transporte público?'' '' Por que sua tia se veste tão mal?'' '' Onde será que elas estão indo?'' '' Será que vai estar aonde elas vão?'' Essas eram algumas das perguntas que murmuravam entre si, como se fôssemos apenas objetos e não pudéssemos escutar ou nos magoar com as palavras. Jade estava mais incomodada do que eu, mas ultimamente aquilo já estava se tornando normal.
Apesar disso decidi descer do ônibus e pegar um táxi. Estar em lugares onde as pessoas estivéssem junto conosco não era mais uma opção.
O táxi nos levou até lá em poucos minutos. Jade e eu paramos em frente à antiga casa de Melissa, nunca visitara sua casa depois que foi morar só. Era um lugar sinistro, mais do que o lugar que habitava antes com sua falecida mãe. A rua era escura em plena luz do dia, o chão era coberto de folhas secas pelo fato de estarmos no outono. Não havia uma alma na rua, e as portas daquelas casas todas iguais eram feitas de uma madeira velha. As paredes eram cinza com marcas pretas devido a chuva. Era quase um conjunto de pequenas casas mal assombradas. Eu bati em sua porta e senti a umidade na madeira. Melissa em alguns segundos nos atendeu sorridente.
- Entrem!
Ela disse num tom quase que impolgante. Seguimos o que ela disse e sentamo-nos no sofá rasgado. Se a casa parecia de terror por fora, por dentro era pior ainda. Eu não tinha noção de que Mel vivia nesse estado lástimavel. Eu não era rica e não tinha uma casa luxuosa mas ainda assim tinha um lugar aconchegante para mim e para minha filha. Melissa não tinha nem mais seus filhos. Uma dor fez com que eu ameaçasse a chorar, mas não podia fazer algo estúpido como chorar por ter pena da única pessoa que eu amava tirando Jade e Luke.
- Chá?
- Aceito, obrigada Melissa.
- E para mocinha um chocolate quente, está um pouco frio lá fora.
- Obrigada tia Melissa.
Bebiamos nossas bebidas em silêncio como de costume, na sala escura. Reparei que em uma mesa no canto havia um retrato. Melissa abraçava seus três filhos de pais diversos. Ela sorria e eles ainda mais. Se amavam, se apegavam um ao outro como se aquilo fosse a única coisa que tivessem, e realmente era, mas não mais. Melissa havia perdido a única coisa importante em sua vida, Melissa era fraca, fraca demais para mostrar a eles que eles eram a coisa mais importante em sua vida. Melissa sofria. Sim ela havia escolhido aquele caminho, mas ainda assim ela sofria, ela sempre sofreu, mesmo antes da dependência química.
- Então , eu estive pensando. Como está sua mãe?
Melissa me despertara das reflexões com sua pergunta. Apesar de não ver muito sentido na pergunta eu respondi.
- Não falo com minha mãe a um bom tempo Melissa. Ela praticamente disse que não queria saber de mim ou de Jade.
- Ela não disse sério. Ela quer que você ligue.
- Melissa isso foi a seis anos atrás, imagino que se ela não guardasse ressentimentos ela me procuraria.
- Eu sei do tempo, mas só você pode curar isso.
- Talvez.
Voltamos ao silêncio e percebi que Jade estava ouvindo nossa conversa, então pedi que ela fosse brincar em algum outro comodo para podermos conversar, afinal não era para ela saber que sua avó não falava mais comigo por sua causa.
- Pode brincar no quarto, tem alguns brinquedos que as crianças deixaram quando foram embora.
Melissa se dispôs a entrar no jogo. Jade foi, obedecendo meu pedido.
- Melissa, eu tive algo com .
- Sim, teve um filha.
- Não, eu digo agora.
- Vocês transaram? Oh meu Deus! Você me disse que tinha nojo dele, e ele de você.
- Não transamos, na verdade eu não sei o que aconteceu, nem chegamos a nos beijar. Ele praticamente só se aproveitou de mim.
- E você não denunciou ele por assédio.
Melissa afirmou rindo.
- O problema Melissa é que eu simplesmente, deixei. Eu me entreguei a ele, como se eu fosse um lixo, algo fácil. Como se eu estivesse desesperada.
- Hmm isso é um problema. E Luke?
- Eu não sei, não sei exatamente o que deveria sentir a respeito disso.
- Você deveria se aproveitar disso.
- Como assim Melissa ? Ele tem uma noiva, uma noiva que pode me destruir.
- Essa é a intenção, ameace contar pra que você ganhe vantagens.
Não parecia ser uma idéia tão ruim assim, Melissa pensava sempre no que podia tirar proveito em qualquer assunto que fosse.
- Vou pensar nisso. Mas Por que exatamente você me chamou aqui ?
- Queria ver vocês duas. Não sei se você percebeu mas não tenho mais ninguém. Você é a única pessoa que se importa apesar de tudo que te fiz.
Meu coração batia tão fortemente. O assunto tocado era tão frágil, tão dificil, tão valioso. Eu sentia um pontada no meu coração. Como eu amava Melissa. Sempre amei, sempre me importei. Todo o tempo em que ficamos distantes eu sempre me senti mal por não ter notícias dela, não ter a certeza de que ela estava viva ou não me matava aos poucos. Por incrível que pareça, e por mais contraditório, Melissa também se preocupava comigo, do jeito dela, mas sim. Tê-la perto de mim, trazia-me uma paz que nada mais podia trazer.
- Melissa como você está?
- Como sempre sem dinheiro, meus filhos longe.
- Melissa perguntei como você está, você me entendeu.
- Estou bem. Estou sóbria a uma semana.
- Isso é bom, isso é ótimo.
Respondi animada.
- Não sei se vou aguentar muito tempo . Você sabe, eu tento, não por mim mas pelos meus filhos.
- Você precisa. Melissa não posso te ajudar a recuperá-los se você pôr tudo a perder mais uma vez.
- Não é fácil assim .
Melissa abaixou o olhar e se silenciou. Foi nesse momento que não consegui mais me conter e um lágrima escapou. Abracei-a. Permaneci a consolando enquanto as duas choravam sem pronunciar um palavra se quer. Apenas sentimos aquele momento de reconciliação. Aquele abraço, aquele contato significava que estávamos deixando para trás o ressentimento, a dor, a raiva, tudo de negativo que sentíamos em relação uma a outra. Aquilo me fazia bem apesar de meu coração estar em prantos. Nos soltamos e passamos a secar as lágrimas e nos recompor.
- Você promete que vai me ajudar?
- Prometo.
- Promete pra mim que não vai ter raiva de mim mais, apesar de tudo que te causei e tudo que ainda posso causar.
- Prometo Melissa. Mas não tem porque isso, você não me causou nada. Tudo que você causou de ruim foi a você mesma, e isso realmente me fazia mal, mas não tinha raiva de você por isso.
- Não é simples assim. Um dia você vai entender que eu sou a pior coisa que já te aconteceu, apesar de te amar incondicionalmente.
- Não fale assim Melissa, suas ações não fazem de você uma pessoa que não vale a pena.
Melissa finalmente levantou o olhar até o meu, seus olhos estavam marejados porém as lágrimas não caíram. Ela as secou e eu vi a necessidade de deixá-la a sós.
- Melissa, eu preciso ir. Eu te agradeço por me receber em sua casa, e me dar a chance de ter sua amizade de volta. Não sei se você sabe, mas também não estou muito melhor que você. Eu te amo mesmo Melissa, e vou lutar para que você possa ter seus filhos de volta.
- Obrigada.
Melissa se levantou e nos guiou até a porta, depois que eu e Jade perdemos sua casa de vista esperamos o táxi para voltarmos para casa. Já estava escuro e o frio já era incomodo. Vesti um casaco em mim e em Jade, que dormia no meu colo dentro do carro. Voltando até casa eu olhava pela janela e refletia no que havia ocorrido essa tarde, tudo aquilo parecia surreal e as palavras de Melissa me causavam calafrios. Ela realmente se culpava por tudo de ruim que acontecia com as pessoas a sua volta, apesar de serem totalmente alheios.
Depois de pôr Jade na cama eu peguei o celular para discar um número precioso para muitos, asqueroso para mim. Depois de muita reflexão, eu tinha em mente o plano perfeito para o final de semana. Quando a linha telefoncia deu sinal eu me concentrei em manter o que eu planejara falar.
- Oi.
- Oi , Preciso que me encontre amanhã para um jantar no The Dorchester, às oito horas.
- A pergunta é: não é um restaurante muito fino para alguém como você não?
- É por isso que preciso de você querido. Mande um jato no horário certo para que eu te encontre lá às oito horas para tratarmos de alguns assuntos que eu tenho certeza que tem a ver com você.
- Hmm e por que eu deveria estar lá?
- Você saberá se for, se não for...
- Você está tentando me manipular?
- Aprendi com o melhor. Esteja lá .
Desliguei o celular antes que ele pudesse dar um resposta. Conhecendo ele como conhecia, eu podia ter certeza de que ele iria, não por mim ou por nada nesse mundo, mas pela curiosidade, pelo receio.



Capítulo 18 - New Friends

Eu usava um vestido verde musgo de camurça com manga. Ele ia até os joelhos e era justo, deixando minhas curvas em evidência. Ele tinha um bordado no decote, que fazia par com meu colar e brincos de pedras pretas.
Nos pés eu usava um sapato fechado de salto agulha, e nas pernas meia calça preta. Meus cabelos loiros estavam soltos e ondulados, como sempre. Minha maquiagem era simples, como sempre, a não ser pelo batom vermelho realçado em meus lábios. Eu descia do porshe prata, que me deixou em frente ao The Dorchester. Ele era realmente incrivelmente luxuoso apesar da abordagem simples e neutra.
Eu segurava minha bolsa carteira e me agarrava ao casaco ao entrar. Na porta, um rapaz belo e ruivo se ofereceu para guardar meu casaco e me levar até a mesa reservada. Eu estava me sentindo uma madame, e aquilo era bom. Aquilo era extremamente agradável.
Cheguei à mesa onde encontrava-se largado. Obviamente ele continuou sugando seu vinho caríssimo ao invés de se levantar e puxar uma cadeira para mim. Sentei-me e pedi um vinho Romanée-Conti. Sim, eu havia pesquisado sobre a vida dos ricos e famosos e essa noite eu iria pedir tudo do bom e do melhor.
- Você sabe quanto custa esse vinho? Por acaso você vai pagar a conta? - Você é que não vai.
Harry permaneceu me encarando, como se investigasse pela sua mente uma resposta à altura da minha, mas continuou calado. Ele vestia uma camisa social preta e calça preta. Sempre preto. Sempre simples. Sempre impecavelmente lindo sem esforço algum.
Harry olhava o cardápio quando meu vinho chegou, eu estava um pouco animada, eu nunca o havia bebido, nem nada perto disso. Nós bebíamos nossos vinhos e olhávamos os cardápios como duas pessoas normais, dadas às circunstâncias, até que Harry quebrou o silêncio e o momento elegante.
- Olha, eu quero estar na minha casa até às dez. Você poderia me explicar logo o que eu estou fazendo aqui?
- Preciso de um favor.
fechou o cardápio dramaticamente e me encarou com uma expressão totalmente raivosa. Revirei os olhos.
- Eu vou embora daqui!
- Não, ! Você não me entendeu. Eu preciso de um favor e você precisa atendê-lo. Falei firme.
- Estou te ouvindo.
- Preciso que você coloque um dedinho seu na justiça, para que minha amiga recupere seus filhos.
- Desculpa, sou uma pessoa muito correta, não faria algo contra a lei.
Soltei uma gargalhada, mas não.
- Se você não fizer isso, eu conto para Alexis sobre o que você andou fazendo.
Dessa vez foi quem gargalhou, muito mais alto e mais debochado do que eu.
- Você é tão inocente. Você realmente acha que eu e Alexis nos amamos e que esse amor lindo e puro faz com que eu seja fiel a ela? Ora, , achei mesmo que você era mais esperta.
- Não me importa se você come uma vadia diferente a cada noite e sua noiva não se importa, mas, sim, eu sou esperta. É por isso que essa não era a única opção para te chantagear. Eu ainda posso contar para a mídia sobre tudo. Contar quem você realmente é, e sobre nosso lindo passado.
coçou a testa, revirando os olhos.
- O que exatamente você quer?
Ouvir cedendo a algo me dava uma sensação de poder imenso.
- Quero que minha amiga Melissa ganhe a causa para recuperar os filhos. Quero receber o prometido e continuar morando na Escócia. Quero tudo do bom e do melhor, , quero ter a sua vida, quero ter os privilégios que você tem.
- Temos mais em comum do que eu pensei,
levantou a sua taça em sinal de brinde e eu fiz o mesmo, com um sorriso maldoso no rosto.
Nossa comida chegou e eu realmente poderia ter ido embora, já que havia cumprido meu propósito tão rápido, mas fiquei e, por algum motivo desconhecido, fez o mesmo.
- O que exatamente fez o The Seasons acabar?
pareceu se surpreender com minha pergunta um tanto boba. Ele terminou de mastigar e olhou para cima, como se procurasse a resposta.
- Brigas.
- Só isso?
- Sim, só isso. Já não basta?
- E você é feliz, ?
foi pego de surpresa pela minha outra pergunta. Eu mantinha um sorriso superior no rosto e bebia minha segunda taça de vinho. , então, me olhou fixamente e, pela primeira vez, não vi raiva no seu olhar, não vi nada. Vi sua expressão se esvaziar e então ele olhou para o lado, como se estivesse refletindo em sua vida vazia. Pegou sua taça e tomou um gole demorado.
- O que você acha?
respondeu perguntando, e cruzou os braços esperando uma reposta.
- Acho que não. Acho que você tem tudo muito fácil, e por isso não dá valor às coisas. Não dá valor à vida.
Eu falara de coração. Eu realmente achava aquilo, não era uma pessoa ruim. Ele era... Não saberia usar uma palavra para expressá-lo.
- Sim, você está certa, e não há nada que eu possa fazer para mudar isso. Apesar de tudo, gosto da minha vida. Você gosta da sua?
Irritantemente, invertera os papéis e agora eu é que havia sido pega de surpresa. Eu pensei em sua pergunta, realmente pensei.
- Quem é que gosta, ? Nunca estamos satisfeitos e nunca estaremos.
olhava agora em meus olhos, eu desviei. Eu acabara de ficar completamente vermelha, e não queria que ele percebesse. Mas parecia que ele queria me ver como um tomate.
- Você está muito gostosa hoje. Pensando bem, estou louco para transar com você desde que chegou.
Olhei assustada para ele. Não sabia se ele estava brincando ou não. Não sabia se o sentimento era recíproco. Eu estava nervosa e meu sangue pulsava. Se eu pudesse, eu o agarraria e faria de tudo com ele ali mesmo, naquela mesa. Se eu pudesse... Eu não podia. Não podia nunca mais fazer nada daquilo, apesar de estar sentindo um desejo enorme que só havia aumentado ao ouvir suas palavras excitantes.
- , preciso ir embora.
Eu disse, já me levantando. começou a rir, o que me irritou muito.
- Calma, não sou um tarado maníaco. Vou te levar até o aeroporto.
- Não precisa, você mandou um carro para me trazer, lembra?
- Ops, eu posso mandá-lo embora e te levar. Só vou te levar até o aeroporto, 15 minutos, , não tenha medo.
se divertia com meu estado, e fazia tudo o que estava ao seu alcance para me provocar. Eu não podia deixar que ele pensasse que eu era fraca com ele por perto, ou que cederia. Era isso. Ele queria ver até onde eu iria, até onde eu me submetia a ele. Por isso eu decidi ir com ele, para mostrar que ele não exercia nenhum controle sobre mim.
- Então tudo bem. Mas vamos logo, quero estar em casa até às onze.
pagava a conta e fazia Deus sabe lá o que lá dentro, enquanto eu o esperava dentro de seu Lamborghini Reventon preto. Aquele carro era mais caro que todas as casas da minha cidade juntas. Ele era lindo, não lindo, era extremamente encantador. Por fora e por dentro.
Alguns minutos depois entrou no carro e deu partida. - Seu carro é lindo.
- Não é o meu preferido. Gosto dele para usa à noite. Mas, quando estou com mulheres, eu prefiro meu bom e velho Range Rover.
- Olha, eu gostaria de pedir respeito. Você me ofereceu uma carona e só isso. Você não está com mulheres no seu carro.
- Desculpe, mamãe maravilha.
- Isso está incluído no meu pedido.
sorriu, um sorriso debochado e mágico. Eu olhei para fora e chovia um pouco. Já corria muito.
- Música?
Ele perguntou, já ligando o rádio, como se minha resposta fizesse alguma diferença. A música começara e eu pude reconhecer pelo instrumental. Era Wish You Were Here do Pink Floyd. A letra fazia sentido, e permanecemos em silêncio enquanto ouvíamos. murmurava algumas frase da música. Sua voz era linda, uma das vozes mais bonitas da época. era extremamente talentoso.
Ouvindo-o se soltar e cantar mais alto, eu percebi que estava sentada ao lado de uma lenda da música. Era isso que fazia continuar sendo . Ele era arrogante, grosso, mentiroso, mesquinho, ignorante, egocêntrico e ambicioso, mas era o melhor naquilo que fazia. Eu estava encantada com um show particular de uma pessoa tão única. A música acabou e outra deu início, mas essa eu não conhecia.
- Por que você não está em turnê?
Perguntei sem motivo, realmente queria saber.
- Estou, digamos, de castigo.
- O quê?
Eu soltei uma risada, mas parecia que não estava brincando.
- Estive na Rehab há alguns meses. Quase fiquei na cadeia por dirigir embriagado, porte de drogas, espancar um papparazzi e algumas coisas mais. Fui obrigado a ir para reabilitação e prestar serviços comunitários. Parei de usar as ilícitas, mas ainda bebo e fumo. Meus fãs se revoltaram e fizeram um protesto falando que, se eu continuasse assim, eles não iriam aos meus shows ou comprariam meus álbuns. Minha equipe achou que eu deveria desacelerar um pouco. Então não farei turnê ou lançarei algum disco por um bom tempo.
- Ual. Talvez isso faça bem a você.
- Talvez.
Voltamos ao silêncio e a ouvir o som. se pronunciou logo depois que eu já começara a me acostumar com a música.
- Esqueci-me de avisar, mas essa semana acontece o Brit Awards e estou nomeado e blá blá blá, terei que comparecer, e querem você e Jade junto comigo.
- Tudo bem.
Brit Awards? Meu Deus, como eu estava animada, aquilo parecia um sonho. Eu estava realmente gostando de tudo aquilo. Apesar de toda a mentira, eu estava ganhando mais do que eu poderia imaginar.
chegou ao aeroporto e entrou por uma outra passagem, passagem para pessoas especiais. Era um túnel subterrâneo e parou no meio dele.
- É aqui?
Perguntei confusa, já que ainda havia um caminho escuro pela frente.
- Não, não é aqui.
tirou o cinto e eu fiquei esperando ele me explicar o que estava acontecendo. Mas ele ficou parado, sentado, olhando para frente. Tudo estava escuro e tínhamos apenas a luz interna do carro para iluminar. soltou o meu cinto também. Arrepiei-me com o toque de sua mão. Seu cheiro me deixava inebriada, e então ele me olhou nos olhos. Seus olhos estavam limpos. Seus olhos cintilavam e enfeitiçavam. Em questão de segundos, eu estava sentada em seu colo, com uma perna para cada lado. E nos beijávamos desesperadamente.
Suas mãos apertavam minha cintura e meus glúteos. Eu agarrava-lhe os cabelos e sugava seus lábios com certa urgência. Eu estava ardendo em desejo. Então parei. Algo me fez pensar, eu não podia ceder. Eu não estava ali para ceder. Soltei-me de seus lábios e os transferiu para meu pescoço. Putz! Merda! Ele beijava meu pescoço. Eu o queria tanto, eu estava tão entorpecida de desejo. O meu tesão era praticamente concreto.
Mas eu criei forças para resistir.
- Não. . Não podemos.
- O quê?
continuou a beijar-me, então eu me afastei dele.
- , eu tenho namorado. Você não se sente mal, mas eu me sinto. Desculpe.
havia parado de me beijar, mas não movera uma palha, ficou me encarando com uma expressão de ''acabe logo com o showzinho, pois tenho algo para terminar''. Havia marcas borradas de meu batom vermelho por todo o seu rosto, porém suas roupas estavam limpas. Talvez roupas sempre pretas não fossem coincidência, afinal. Analisar isso me deu mais força para dar impulso e sair de cima de seu colo. Uma ação totalmente falha, já que me segurou pelo braço e me juntou a ele para mais um beijo, o qual, por algum motivo, não tentei impedir, não poderia negar que estava surpresa. segurava me rosto com muita força, não a mesma que ele usava para segurá-lo enquanto me ameaçava. Nossos lábios não estavam sincronizados, aquele beijo era uma bagunça, não que nos importávamos, era como se estivéssemos desesperados. Então diminuiu a velocidade e a agressividade do beijo, e começou a beijar meu queixo, bochecha, até chegar em minha orelha, a qual mordeu o lóbulo, me fazendo puxar seus cabelos involuntariamente.
- Não vou te obrigar a nada. Mas se não for hoje, nunca mais tocarei um dedo sequer no seu corpo, a não ser por raiva.
Disse, sussurrando em meu ouvido. Sua voz e meu ouvido eram coisas que deveriam ser deixados separados, para evitar danos maiores. Permaneci onde estava, enquanto beijava meu pescoço e apertava minhas coxas, já que empurrara o vestido até minha calcinha. Isso era prazeroso, eu não podia negar, mas o que propôs era importante. Não era isso que eu queria? Era isso que eu deveria fazer, afinal, certo? Acabar com tudo isso de uma vez. Empurrei um pouco para trás, desfazendo seus beijos em meu pescoço.
- O que te faz pensar que estou tão desesperada em fazer sexo com você, a ponto de ceder uma proposta tão ridícula?
- Não é questão de opinião, querida, e sim de percepção.
Afastou uma mexa de cabelo que caíra bem nos meus olhos. Se estava certo? Eu nunca saberia. Num ato rápido, me levantei e sentei no banco do carona. Arrumei-me e peguei minha bolsa. Ambos ficamos em silêncio até eu quebrá-lo, abrindo a porta do carro.
- Espero que tenha entendido o recado. A propósito, me avise com uma semana de antecedência sobre o Brits.
Saí do carro com vontade de voltar e terminar o que começamos. Mas bem, eu estava livre daquilo, daquela culpa, agora.

xx

Cheguei em minha casa silenciosamente, temendo acordar Jade e Luke. Porém, encontrei Luke cochilando no sofá, provavelmente estava me esperando.
Como eu o amava, sim, o amava muito. Depois de muitas reflexões, percebi que o que sentia por era apenas atração, algo físico, químico. Afinal, era esplendidamente lindo, de todas as formas. Porém tinha muitos defeitos. Por dentro, era alguém vazio e podre. Não existia ' e ', era algo mais como 'Homem e mulher'. Eu era como uma mulher comum, que sente atração por um homem lindo qualquer. era apenas um qualquer para mim, certo?
- Desculpe, amor, queria te esperar acordado, mas...
- Tudo bem.
Luke se aproximou e me deu um selinho rápido de boas vindas. Senti-me suja por deixá-lo beijar um lugar que estava imundo, mas, pelo menos, teria tirado a marca do outro de mim.
- Jade dormiu quase agora, ela insistiu em te esperar acordada, também, mas queria saber como o foi o tal jantar com o pai.
Senti uma pontada no peito. Não, , infelizmente, não era um qualquer para mim, era o pai da minha filha. Era sim, um pai ausente por livre e espontânea vontade, mas ainda era o pai. E eu estaria presa a ele até o fim dos tempos. Maldita hora em que o procurei, maldita hora em que deixei tudo isso acontecer. O que estava acontecendo comigo?
- Vou só tomar um banho, pode ir deitando que eu já vou.
Luke apenas confirmou com a cabeça e foi em direção ao meu quarto, eu precisava de um tempo sozinha para por a cabeça no lugar.



Capítulo 19 - I can't let you

Melissa estava radiante como não a via a tempos. Eu acabara de contar o que consegui com a chantagem. Claro que não contei as outras partes, isso estava enterrado.
- Olha quem voltou, a dupla que consegue tudo. Mas com uma diferença, você costumava ser o cérebro e eu quem agia. - Melissa disse, relembrando os velhos tempos. Realmente éramos assim. Não que eu me orgulhasse de ajudá-la a fazer certas coisas, mas éramos duas crianças.
- Estou feliz, de verdade. - Eu disse olhando-a nos olhos. Melissa sorria, seu sorriso era mágico e me fazia muito bem.
- E ele?
- O que tem ele? - Peguei meu café de cima da mesa da cafeteria em que estávamos e bebi freneticamente. Eu sabia o que Melissa estava perguntando, apenas pelo modo com que fez a pergunta. Só me perguntava por que ela achava que aquele assunto se repetiria.
- Você sabe, . Rolou finalmente?
- Melissa! Não tem nada para rolar! Eu tenho o Luke esqueceu?
- Ah, o lerdo?
- Ele não é lerdo, ele ... Ele é calmo, ele é carinhoso e paciente.
- Lerdo. Olha, acho que já tá na hora de você dar um agito nessa vida de mãe de família pacata. Isso é chato, .
- Eu sou chata, Melissa, você sabe que eu gosto da minha vida assim.
- Não gosta não, eu te conheço.
- Pode até ser, mas existe outros tipos de aventura, não preciso trair a pessoa que amo com a pessoa mais asquerosa do mundo.
- Pessoa asquerosa que você está a fim. Olha, não disse que você deveria transferir seu amor por Luke para . Só curte o momento, você mesma falou que ele é praticamente um deus só com o toque.
- É errado, Melissa. É o que eu acho.
- Bom, a vida é sua, a decisão é sua.
- Podemos mudar de assunto agora? - Eu disse dando um sorriso fraco, quase que um pedido de socorro.

XX

Eu organizava os papéis. Deixaria tudo arrumado para a próxima secretária não ter muito trabalho. Quando entrei na empresa, eu não sabia nem onde ficava o bebedouro.
- Você vai fazer falta de verdade, . - Lewis me despertara. Eu também sentiria falta daquele ambiente. Mas não havia mais motivos para eu continuar trabalhando. Afinal, eu estava usufruindo o quanto podia de toda aquela mentira. Um advogado ajudara a legalizar como pai de Jade, o que me rendeu uma pensão de 500 mil libras por mês, devido ao quanto ganhava.
- Eu também sentirei falta do senhor.
- , sei que agora está, digamos, "rica", mas nunca se esqueça dos seus objetivos. Lembre-se o quanto queria terminar sua faculdade, e por que a queria tanto.
Eu deixei meu olhar fixar em algum canto da sala. Eu não lembrava mais desse meu objetivo nesses meses, desde que tudo aconteceu. Não havia sentido eu terminá-la, pois não ganharia nem metade do que ganho à custa de , mas eu ainda queria pelo outro motivo.
- Vou voltar para minha sala, quando estiver partindo passe aqui para que eu possa me despedir.
Apenas balancei a cabeça afirmativamente e continuei o que estava fazendo. Porém, senti meu celular vibrar. Olhei no visor e era Alexis. O que ela queria numa hora dessas?
- Pode falar.
- , está pronta para amanhã?
- Sim.
- Tudo o que você e Jade irão usar já está aqui.
- Como assim?
- Você realmente acha que iria ao Brit Awards vestida com roupa de brechó, querida?
- Não, mas eu queria ao menos escolher.
- Não se preocupe, assinada por essa mulher, você usaria até um saco de batatas.
- Tudo bem. - Bufei um pouco enojada com sua enorme arrogância. - Ah, e mais uma coisinha. Quero que conte detalhes de como Johene morreu.
- Céus, quem é Johene?
- A mãe de Jade, oras. Ela morreu num acidente de carro, Jade estava com ela. Você não sabia da existência de Jade, já que Johene era apenas uma alcoólatra e drogadinha. Jade não fora mandada para um reformatório, pois você, como tia, a acolheu como filha. Será bem fácil. Você já está bem familiarizada com esse tipo de coisa, não é? - Pude ouvir Alexis dar uma gargalhada sombria do outro lado. Ela me dava sim um pouco de medo. Eu sentia muita raiva dela, e sabia que ela também sentia de mim. Desde o dia em que nos conhecemos, nunca nos damos muito bem. Diferente de Ernest, que sempre se mostrava uma boa pessoa.
- Tudo bem Alexis, vou seguir com o plano. - Antes que eu falasse algo, ela desligou. Suspirei. Ao certo não sabia se era um boa ideia tudo isso, de envolver Melissa com essa gente.

Um empregado levava eu e Jade pelos cômodos daquela mansão gigantesca até o quarto. Nenhum sinal de ou de Alexis pelo caminho, apenas mais empregados. Chegamos ao quarto já conhecido. Passaríamos a noite e iriamos para a premiação amanhã. Eu tirava as coisas da mala e as guardava num armário branco. Jade olhava pela janela.
- Mãe. Tô com dor de cabeça.
- Ah, filha, deve ter sido por causa do voo. Vou pedir um analgésico para você.
Jade continuou o que fazia e eu desci as escadas a procura da cozinha. Eu realmente não sabia como chegar lá, ou então pelo menos encontrar alguém para me ajudar. Continuei caminhando pelos corredores e entrei em uma dar portas enormes. Não era a cozinha, era muito mais intrigante. Eu acabara de entrar em uma sala, que mais parecia outro corredor, onde tinha todos os tipos de armas que poderia se imaginar. Era um quarto escuro, com pequenas luzes reluzindo cada conjunto de armas por trás de um vidro. Eu caminhei por aquela sala estranha. Dava-me medo estar ali, mas eu estava curiosa, por que diabos tinha uma sala cheia de armas?
Continuei caminhando, reconhecendo algumas, me espantando com outras. Havia um canhão de ouro, esse aparentemente era o mais esquisito. Toquei no vidro límpido que o protegia e quase tive um colapso devido ao susto que levei ao ouvir uma voz rouca.
- São lindas, não são? - entrara pelo outro lado. Ele tinha uma expressão séria e os braços cruzados. - O que está fazendo aqui? - Ele perguntou, mas eu estava congelada e com uma cara de algum tipo de doença que causa retardamento mental.
- Eu só... Eu estava... É...
- Vou perguntar de novo. O que está fazendo aqui?
- Eu... Eu estava procurando a cozinha, ou alguém. Queria pedir um remédio para Jade.
- Bom, pela porta dá pra ver que aqui não tem nenhum remédio. Talvez o remédio para você, mas não precisamos usar agora...
- Cretino!
gargalhava. Não sei se era pelo meu estado deplorável, ou pela piadinha estúpida que acabara de soltar. Por fim, ele trancou a porta de onde havia saído e foi em direção à outra, pela qual entrei. Eu apenas o segui. Então trancou-a. - Esqueci que tem gente estranha aqui.
Eu tive vontade de quebrar aquele vidro do canhão e atirar em nesse exato momento. Como ele poderia chamar a filha de uma estranha? Me controlei e continuei o seguindo. usava uma calça jeans preta e, por incrível que pareça, um moletom verde. Deixava também seu perfume por onde passava, inclusive em mim.
- Por que você tem uma sala com armas? - não se virou e continuou andando.
- Preciso delas para tirar pessoas do meu caminho. Já matei com cada uma delas, cada uma é especial para cada tipo de pessoa. Só o canhão que nunca usei.
Eu parei, completamente gelada. Meu rosto deveria estar pior do que quando dei de cara com ele naquela sala sinistra. E então se virou e começou a rir de mim. Ele estava rindo tanto que até apertava a barriga. Eu não conseguia entender qual era a graça do momento.
- , . Pobre, . Você não deveria ser tão boba, vai acabar nas mãos erradas. Eu não sou matador, é apenas um hobbie, tá legal? Eu faço tiro ao alvo por diversão. – Ele ainda ria. Eu não consegui rir. Apenas dei uma risadinha sarcástica. Eu estava com tanto ódio, por que raios ele era tão infantil e babaca daquele jeito? Céus, como uma pessoa assim consegue viver?
Continuamos em silêncio caminhando até o local onde pegaria os medicamentos. Chegamos até uma espécie de quarto cheio de coisas. Desde papel higiênico até computadores sem uso. Continuei encarando o quarto enquanto tirava do bolso um maço de cigarros dourado. O cigarro era fino e também tinha a cor dourada na metade. Ele ascendeu-o, usando um isqueiro prata.
- Qual é desse cigarro besta? - me olhou pelo canto dos olhos, praticamente me fuzilando. Eu tinha dito algo ruim?
- Isso não é um cigarro, é um treasurer black.
- Sinceramente, para mim isso é uma frescura. Você é gay, afinal? - Levantei uma sobrancelha, fazendo-o fechar os olhos, apertando-os. Ele estava com raiva, e eu adorava ser a causa dela. Ele abriu os olhos de volta e soltou a fumaça. Voltou a procurar a caixa de medicamentos até achar.
- Procure você essa merda, tenho empregados para fazer isso para mim. Tenho empregados para sentirem a dor de cabeça para mim.
- E continua infeliz assim? Acho que deveria demiti-los. - não disse nada. Parece que estávamos em uma espécie de evolução, em um tempo não muito distante essa minha rebeldia me causaria um tapa na cara, quem sabe.
Mas agora não, eu estava no controle, ou achava que o tinha. Eu procurei o remédio e, quando achei o certo, atravessei pela porta e por , que me esperava para fechá-la. iria para outro lado enquanto eu iria até o salão principal para subir a escada, mas lembrei de perguntar algo antes.
- Onde está Alexis? Ela me disse que...
- Não te interessa, não me interessa. Apenas cale a boca.
- Olha, às vezes eu acho que você tem algum tipo de lista com respostas arrogantes e rápidas, por que não é possível.
- E eu acho que você tem uma lista de como ser demente e irritar as pessoas. - soltou a fumaça do cigarro e continuou andando, já eu permaneci parada. Onde eu estava com a cabeça em aceitar passar a noite aqui? era um estúpido e Alexis não estava ali. Não que Alexis fosse uma pessoa agradável, mas pelo menos ela sabia conversar.
Subi de volta para o quarto com o remédio em mãos. Peguei um pouco de água no frigobar, coloquei as gostas e entreguei a Jade. - Obrigada, mamãe. Por que demorou tanto?
- Me perdi.
- Por que não chamou o papai?
- Filha, poderia chamá-lo de , ou tio, sei lá?
- Mas ele é meu pai, tenho que chamar ele de pai.
- Eu sei, filha, mas é que ainda me sinto estranha com isso. Gostaria que fizesse isso por mim.
Jade apenas acenou afirmativamente com a cabeça enquanto bebia o remédio e fazia careta devido ao gosto ruim. Passei a mão por seus lindos cabelos e comecei a acariciá-los. Jade bocejou com sono. Depois de um tempo de conversa, Jade pegou no sono. Eu a observei, tão serena. Jade era tão nova e já enfrentara coisas tão difíceis. E esse era apenas o começo de sua vida, se fosse eu em seu lugar, não sei se aguentaria. Parei de pensar ao ouvir meu celular vibrar. Senti um conforto e paz ao olhar o visor.
- Oi.
- Oi meu anjo, como estão as coisas?
- Não sei, Luke. é uma pessoa muito difícil de lidar. Uma hora eu penso que ele está melhorando na outra ele age como uma criança irritante. Fora que ele é totalmente mimado pelo dinheiro. Você tinha que ver o cigarrinho de ouro dele, Luke. - Luke gargalhou do outro lado, como eu amava aquele som. Como eu sentia falta de ouvir Luke rir de alguma baboseira que eu falava, como nos tempos atrás. Ultimamente mal tínhamos tempo, e quando tínhamos, estávamos resolvendo problemas e mais problemas. Luke não me tocava, desde a última vez que ele falhou. Talvez ele estivesse com medo de falhar de novo, mas quem eu queria enganar? Eu estava subindo pelas paredes. Se não estivesse, não teria nem deixado chegar perto de mim. Muito menos por duas vezes.
- Preciso te dizer que não sei se é uma boa ideia inventar sobre a morte da... A sua morte. Já basta isso.
- Não tenho opção, Luke, preciso disso para seguir o plano e conseguir a ajudinha de no caso da Melissa.
- Eu sei, é só que... - Luke suspirou, sabia que eu não tinha outra opção, por mais que eu quisesse.
- Tudo bem, querida, eu preciso desligar amanhã nos falamos, certo?
- Está bem.
- Te amo.
- Também. - Desliguei o celular e me arrependi assim que o fiz. estava na porta, me encarando como um fantasma. Se não fosse tão atraente, eu teria me assustado e chamado a polícia.
- Então é esse o tal que fez você recusar um homem como eu? - Não resisti e ri de sua presunção.
- Oras, o que quer ?
- Me mandaram... Melhor, eu quis trazer o seu vestido de amanhã. Prove-o. - Me levantei e fui até ele, pegando o vestido de suas mãos. Ele estava embrulhado em um papel fino com detalhes dourados. Abri o embrulho e dei uma risada alta ao ver o vestido, me arrependendo, pois Jade estava dormindo naquele quarto. me olhou confuso. Seus olhos não eram como de mais cedo. Talvez ele só ficasse daquele jeito, mais desprezível que o normal, quando alguém o irritava. Quando atingiam seu ponto fraco, talvez.
- Eu não uso esse tipo de roupa, - Eu disse, entregando o vestido vermelho brilhante, justo com um decote que ia até provavelmente o umbigo.
- Não entendi, você se refere ao fato de ser pobre, né? Porque vadias adoram um decote. - pronunciou com um sorriso triunfante nos lábios. Meu sangue fervia. Como ele podia fazer aquilo? Meu Deus, quanto ódio eu sentia daquele ser, eu nunca me cansaria de dizer o quanto o odiava, o quanto o achava nojento. Eu poderia ter estapeado seu rosto, o que seria bem compreensível. Mas eu respirei fundo.
- Pode me xingar do que quiser, sua opinião não faz diferença para mim. Eu tenho seu dinheiro, tenho tudo o que preciso de você.
- Você esquece que só tem isso porque eu deixei, não é? - Então vai, ! Quebra aquela merda de contrato! Conta pro mundo, pros seus fãs de merda que compram seus cd's. Conta como você é um mentiroso. Você não passa de um nada. Você é um drogadinho mimado que não tem nada na vida. Se enxerga! - Jade se remexeu na cama devido ao barulho alto. Eu suspirei ao ver que não a acordara. Voltei a encarar , que tinha um maldito sorriso nos lábios.
- Use o vestido. - disse e saiu do quarto, me deixando só.

O sol já invadia o quarto e Jade ainda não acordara. Por que diabos estava dormindo tanto? Tinha deitado cedo na noite anterior. Eu tinha de esperá-la para descermos para o café. Aquele seria um longo dia.
Depois que uma das empregadas me avisou que o almoço já estava na mesa, decidi acordar Jade.
- Querida, vamos, acorde.- Eu a acariciava devagar. Jade abriu os olhos sonolenta.
- Bom dia. – Jade murmurou com a voz rouca devido à falta de uso. Seus cabelos estavam embolados e provavelmente bem embaraçados.
- Filha, acho melhor acordar, porque com o cabelo do jeito que o seu está, teremos que começar a arrumar desde agora. - Jade soltou uma risada fraca com a minha tentativa de fazer humor. Nos preparamos para descer. Jade usava uma calça e casaco de moletom rosa, que faziam conjunto. Já eu usava um suéter preto e calça jeans azul escuro. Prendi o cabelo fazendo um coque qualquer e descemos. Chegamos até a sala de jantar, que a propósito, era linda, pois atrás uma das paredes era de vidro e ficava de frente para o lindo jardim.
- Bom dia a todos. - Nos sentamos e Alexis respondeu o meu bom dia com um sorriso. A mesa estava farta, e mexia no celular. Em momento algum levantou seus olhos ou tentou fingir que tinha alguma educação.
- O que achou do seu Carolina Herrera?
- Fala do vestido?
- Sim.
- Sinceramente, não vou me sentir à vontade com ele. Não estou acostumada a usar roupas tão ousadas e chamativas.
- Querida, mulheres bonitas como você devem usar esse tipo de roupa. Olhe seu corpo, é esbelto. O vestido não deve se moldar a você, você deve se moldar ao vestido.
- Eu sei, e sim, ele é lindo. Mas...
- Sem mas. Você vai usá-lo. O que você acha que aconteceria a você se minha querida amiga Carolina descobre que não usou o vestido dela?
- Tudo bem. Mas posso por uma blusa por baixo ou algo assim? - Querida, já disse para não se preocupar. Seus seios não ficarão a mostra. O decote serve para valorizá-los, não denegri-los. - Apenas assenti com a cabeça e pus um pedaço de batata na boca. lançou-me um olhar exatamente na hora em que olhei em sua direção. Que raiva! Desviei o olhar assim como ele, que voltara a sua atenção ao celular.
- Meu amor, você não vai comer? - Alexis disse, percebendo que estava como uma criança que não quer espinafre.
- Não tô a fim. - Alexis olhou para . Seu olhar era quase que uma ameaça. Parece que ela tinha esse poder sobre qualquer pessoa.
- O que é? Não sou criança, Alexis.
- É assim que dá exemplo para 'sua filha’? - Alexis disse debochadamente, fazendo revirar os olhos. Pelo menos não era nenhuma mentira, Jade realmente era a filha de .
- Com licença. - se levantou e saiu em direção a escada. Alexis jogou o copo que estava em suas mãos no chão, espatifando o vidro fino, e se levantou, indo em direção à .
- Limpe isso! - A mulher raivosa soltou para e empregada enquanto subia apressadamente atrás de . Eu e Jade ficamos sozinhas, sem saber o que fazer. Continuamos a comer enquanto a empregada limpava o ultimo feito de Alexis.
- Como aguenta isso? - Perguntei com medo de não receber uma resposta, mas mesmo assim a obtive.
- Ele é um bom menino. Ela eu não diria tanto assim. Mas ele... - A pequena mulher parou de falar enquanto puxava um pano do cinto especial para limpeza. - Trabalho para desde que ele era menino. Ele era uma boa pessoa, mas a vida o tornou assim. - Engoli seco ao ouvir suas palavras. Então realmente era isso. Esse era o que conheci, esse era o que foi pai de Jade. Sentia uma certa culpa, talvez se eu o tivesse contado naquela época, na época em que ele não tinha tantos problemas, talvez tudo seria diferente. Mas já estava feito, e eu não podia fazer nada para mudar. Terminamos de comer e Jade pediu para ir para fora. Fomos até o jardim e lá ficamos.

Alexis's pov.

- Droga, ! Que saco!
- Já mandei calar a boca, Alexis! - segurava seu treasurer black fortemente entre os dedos. Por um segundo pensei que apertaria as cinzas sobre mim. Mas ele não faria, não tinha tal coragem.
- Não, eu não vou calar! Você sabe que eu não suporto quando você me trata daquele jeito na frente de outras pessoas! Principalmente da vadia da !
- Que jeito, Alexis? Você é louca! - era uma pessoa extremamente afanosa para se lidar. Às vezes eu me questionava se tudo aquilo valia a pena. Será que o dinheiro que eu ganhava valia ter que aturar ? Sim. A resposta sempre seria sim, e eu sempre daria um jeito de tirar o que estava sobre meu caminho, como sempre fiz a vida inteira. Não era a toa que eu era uma das mulheres mais invejáveis no mundo. Alexis Windhock, que se tornou noiva de um dos homens mais famosos e ricos do mundo.
- Ei, vamos esquecer isso, ok? - Eu disse, me aproximando de seu ouvido, e passei a sussurrar.- Que tal você descobrir que estou sem nada por baixo deste roupão? - sorriu, um sorriso malicioso e único, que só ele sabia como fazer. Deu uma última tragada, jogando o cigarro no chão e soltou a fumaça em meu rosto. Depois disso, segurou firme em minha cintura, colando nossos corpos. passou a beijar meu pescoço até chegar em minha orelha.
- Que tal você se abaixar para mim? - disse sussurrando, e eu ri. Será que existia alguém mais sujo nesse mundo? Soltei meu roupão, ficando totalmente nua. Levantei uma das pernas até seus quadris e encostei minha intimidade na sua sobre as roupas, o fazendo fechar os olhos, ele já sabia o que viria a seguir. Fui descendo passando minha intimidade nas suas pernas até ficar de joelhos. encostou os cotovelos na janela, se apoiando enquanto eu abria seu zíper e lançava lhe um olhar promíscuo.

's pov.

Jade e eu entramos depois de ficar quase uma hora no jardim. Ele parecia que não teria mais fim. Ao entrarmos, vi fumando em uma das varandas. Ele vestia apenas uma calça jeans, que deixava sua boxer branca a mostra. Jade subiu correndo as escadas. Enquanto eu fui até . Sim, eu fui até , porém não sabia por quê.
- Devo estar pronta que horas? - não se assustou com minha presença, parecia que ele já sabia que eu estava ali. Ele virou lentamente para mim e bagunçou um pouco os cabelos, os jogando para trás depois.
- Sei lá. Você é mulher, você que sabe.
- Não perguntei em quanto tempo devo me arrumar, perguntei que horas nós vamos. - riu e mexeu nos olhos, mostrando um pouco de tédio.
- Não sei. Só sei que vou por uma roupa qualquer cara, receber um prêmio e falar baboseiras.
- Bom, vou tentar estar pronta seis horas, tudo bem?
- Certo. - Me virei para voltar e subir, mas senti que continuava me observando, e aquilo me deixou um pouco desconfortável.
- Ei! - Me virei apreensiva com seu tom ao me chamar, mas nada comparado com o que senti ao ouvir o que ele tinha a dizer. - Estou ansioso para te ver naquele vestido. - deu um sorriso transbordando malicia e pôs o cigarro de volta a sua boca. Eu senti minhas bochechas corarem, talvez a ponto de explodir. Não que eu não tivesse gostado de ouvir aquilo, porque eu havia gostado, e esse era o problema. Me virei ainda sem reação e andei o mais rápido possível até o quarto.
Chegando lá, me deparei com Jade conversando com uma mulher que eu realmente não sabia se conhecia.
- Pois não?
- Olá! Você deve ser , a tia da Jade. Estou explicando a ela que vim buscá-la para se arrumar no salão infantil, que Alexis marcou horário.
- Ah, ela não comentou nada comigo.
- Desculpa, . Esqueci de te avisar. Essa é Margaret, ela é assistente de Jolie Lejavoí. Uma das maiores cabelereiras infantis de toda Londres. - Eu a olhei confusa e ela apenas assentiu com a cabeça, para que eu confirmasse. Eu dei minha permissão e a mulher de cabelos pretos e curtos levou Jade e uma mala com as roupas.
- Me avise antes.
- Querida, apenas relaxe, certo? Em cinco minutos virá um carro me buscar, para eu ir até um salão me arrumar. Se eu fosse você, começava a me arrumar agora, estaremos lá às seis horas.
- Tudo bem. - Alexis deu um sorrisinho forçado e saiu fechando a porta atrás de si. Agora eu estava só, eu poderia realmente voltar para o jardim e relaxar um pouco, mas tinha que me arrumar para ir a premiação. A princípio, achei que estaria empolgada, mas com tudo que acontecera e toda a pressão que eu sentia por estar naquela casa, aquilo tudo me desmotivara.
Entrei no banheiro e tirei minhas roupas para tentar relaxar com um banho quente. Deixei que a água aquecesse todas as partes do meu corpo aos poucos. Minha mente estava tão pesada e cheia ultimamente que eu nem sabia mais como era relaxar. Por que as coisas não podiam ser fáceis como pareciam ser para os outros? Terminei meu banho e me enrolei na toalha. Estava muito frio e, apesar do banheiro ter ficado quente devido ao vapor, eu ainda tremia enquanto me secava.
Saí do banheiro enrolada na toalha e encarei o vestido em cima da cama. Bufei, o que eu faria? Eu teria que usá-lo. Continuei enrolada na toalha e soltei meu cabelo, que já estava feito. Peguei minha nécessaire e comecei a passar as maquiagens básicas. Depois, escolhi uma sombra azul escura para passar. Nos lábios eu deixaria com apenas um gloss claro, já que os olhos estavam marcados. Senti um vento frio. O quarto estava todo fechado, porém começou a ventar lá dentro. Continuei passando a sombra, tentando não errar. Depois de terminar a maquiagem, era hora de pôr a roupa. Peguei só a calcinha, já que não usaria sutiã devido ao vestido, que estava em cima da mesa a qual eu me arrumava em cima, e então me virei para pegar o vestido na cama. Meus lábios ficaram brancos, era como se eu tivesse visto um fantasma. Mas mesmo não sendo um fantasma ele continuava a me assombrar. estava encostado na porta me encarando com o mesmo sorriso de mais cedo.
- Há quanto tempo você está aí? Seu louco! - riu de meu modo de reagir e balançou a cabeça negativamente. Eu tentei puxar a toalha para cobrir o máximo que ela conseguia.
- Vim te fazer um favor e é assim que me recebe? Vim te avisar que sairemos seis horas.
- E por que não avisou?
- Por que fiquei esperando você tirar a toalha. - Oh céus! Eu ri nervosamente. Não por que eu achava engraçado, eu até achava, mas porque só podia ser um maníaco.
- Obrigada, já avisou. - revirou os olhos ainda rindo e saiu. Eu estava um pouco nervosa pelo ocorrido. me pegara totalmente desprevenida, e se ele me visse nua? Não que ele nunca tivesse visto, mas eu não iria me sentir à vontade agora. Não que eu não gostaria.
Eu estava apoiada na mesa ainda, tentando respirar quando minha respiração foi interrompida mais uma vez, mas dessa vez pelas mãos de . Sem que eu o percebesse, em uma velocidade surpreendente, ele entrou no quarto, me segurou e me jogou na cama, jogando-se sobre mim e tampando minha boca com uma mão e com a outra me segurando. Eu tentei relutar. Eu tentei o empurrar. Eu tentei gritar. Tentei não olhar para seus olhos e me perder no sorriso que seus lábios formavam, mas eu simplesmente falhei, como todas as vezes. Eu já estava mais calma quando soltou-me, porém continuou tampando minha boca, para que eu não falasse alguma idiotice, provavelmente.
- Shhh. - Ele fez sinal de silêncio e roçou os lábios no meu queixo, até chegar na minha bochecha. Arrepiei-me completamente com esse contato, não que eu já não estivesse arrepiada por sentir o peso do corpo de sobre o meu, que estava coberto apenas com uma toalha branca. beijou meu pescoço levemente, dando selinhos e mordidas fracas. Aquilo era um pouco torturante, pois por pior que isso pareça, e eu sabia que depois me odiaria, eu queria mesmo é que ele fosse selvagem como nas outras vezes e jogasse minha toalha longe. Mas isso não aconteceu. Eu estava com os olhos fechados, apertando-os, tentando buscar forçar para não gostar daquilo, mas, oras, era impossível. Um homem como ele me beijava da forma mais deliciosa que se possa imaginar e apertava minha cintura com firmeza, que tipo de mulher heterossexual não gostaria?
subiu os beijos até minha orelha e sussurrou: - Disse que não tocaria em você. - Ele respirou fundo, e eu pude ouvir o barulho que o ar fazia ao entrar em seus pulmões. - Mas eu sou homem e você estava apenas de toalha, não pude me controlar, ou eu realmente não quis. - Mordeu o lóbulo da minha orelha devagar e puxou. - Mas trato é trato. Apenas me diga não e eu me levanto e te deixo.
então soltou a mão que pousava sobre minha boca e levantou um pouco o rosto para me observar. Eu estava com uma expressão boba, eu não sabia o que dizer. Porém sabia que não queria dizer não. Fechei os olhos e, com as mãos livre, eu estava com as mãos livres, totalmente livre, poderia sair dali a qualquer momento, mas, ao invés disso, entrelacei seu pescoço, o puxando para perto e fazendo rir sobre meus lábios, que involuntariamente formavam um sorriso. A partir dali já voltara ao normal, com toques firmes e beijos apressados.
Aprofundamos o beijo e apertava minha cintura com as duas mãos enquanto eu puxava seus cabelos. Meu sangue fluía rapidamente e meu coração já estava acelerado. Se um dia meu coração parasse, era só pôr perto que ele voltaria. Suas mãos percorriam entre minha cintura até meus ombros, aos poucos soltava a toalha. Aproveitei que ele agora beijava meu pescoço para puxar a barra de sua camisa, e ele mesmo fez o resto do trabalho retirando-a.
Como era bom sentir sua pele, por mais que eu ainda tivesse a toalha me cobrindo, ela cobria pouca parte. levou uma mão até a barra da toalha e adentrou-a. Sua mão fez um caminho lento e excitante passando pela minha coxa, virilha, barriga, e parou em meu seio esquerdo. Não pude deixar de soltar um gemido involuntário com a rapidez dos acontecimentos. Eu não tinha percebido o quanto desejava aquele toque naquelas partes do corpo desde o dia no camarim. Era como se agora eu percebesse algo que faltara todo esse tempo e agora estava ali.
apertava meu seio e beijava meu pescoço, mordia-o vez ou outra. Ele subiu os beijos até meu queixo, me fazendo levantar a cabeça e apertar seus ombros. Ele então desceu de volta até meu colo e com a outra mão abriu a toalha. Devagar, ele parou de me beijar, e levantou um pouco o corpo para me observar. Ele fez um tour com os olhos de baixo para cima. Tinha um sorriso de lado e malicioso no rosto. Seus olhos então pararam nos meus. Eu estava respirando um pouco ofegante e praticamente implorava para que ele colasse seu corpo de volta ao meu, mas ele continuou me olhando. Desviei o olhar do dele, eu não conseguia ficar muito tempo o encarando, principalmente estando nua. Na verdade, era raro os momentos em que eu o olhava nos olhos, seus olhos eram quase hipnotizantes e me faziam sentir algo que eu simplesmente não sabia explicar, era algo estranho, mas bom.
- Você é muito gostosa, meu Deus. - disse com uma expressão de 'É isso aí, sou demais e vou te comer sem esforço'. Depois voltou a beijar meus lábios e segurou meus dois seios dessa vez. acariciava-os e apertava-os. Gemidos meus saíam entre o beijo, eu tentava controlar, pelo menos para parecer que eu não o desejava tanto, mas sim, eu o fazia. Naquele momento nada me importava, era como se só existisse aquele momento, só eu e ele. Eu queria nossos corpos fundidos, ou talvez além disso. Queria que beijasse todo o meu corpo, dos pés à cabeça, queria que ele fizesse o que quisesse comigo, e ele podia.
Não era bem eu que era a gostosa da história, era maravilhoso. Não maravilhoso no sentido bom da palavra, mas sim no ruim. Ele sabia deixar rastros de fogo por onde suas mãos passavam, e seus lábios, seus lábios eram divinos, experientes, conheciam o corpo de uma mulher e o que ela precisava. E eram esses lábios que estavam sobre os meus, me fazendo pensar esse tipo de coisa. desceu os beijos e foi até meus seios. Ele mordia, passava a língua e beijava meu seio direito enquanto uma de suas mãos fazia movimentos circulares no outro. Sua outra mão apertava desde minha coxa até a cintura, traçando esse caminho devagar, vez após vez.
Eu, bemm eu só tentava respirar, soltava alguns gemidos e puxava seus cabelos ou arranhava suas costas definida. As costas eram minha parte preferida em um homem, não que eu não gostasse de todo o resto. voltou sua atenção aos meus lábios, mas mantendo as mãos no mesmo lugar. Ele beijava-os com pressa e eu o acompanhava. Sua língua quente invadia minha boca e me deixava sem folego, e eu não me importava. Eu mordia seu lábio inferior e o puxava sempre que podia. Meu corpo estava em transe. Eu não sabia mais se os arrepios e sensações de prazer se originavam de suas carícias, seus beijos, ou simplesmente seu corpo junto ao meu. Eu só sabia que não me incomodaria em viver eternamente naquele estado.
soltou meu seio e minha cintura e segurou meu rosto ainda me beijando intensamente. Passou então a beijar meu queixo e foi beijando a linha de minha mandíbula devagar, deixando um rastro úmido por ali. Chegou então em minha orelha e depositou beijos abaixo dela. Parou e sua respiração quente no local me fazia agarrar-lhe os cabelos e apertar os olhos.
- Não sei porquê... - Ele sussurrou com uma voz rouca e pouco folego. Depositou mais um beijo no mesmo local de antes. - Você... Logo você tem esse... Isso. - Dessa vez ele beijou um pouco abaixo, já no meu pescoço. - Eu odeio você, mas não... Não consigo... Não consigo resistir... - Um sorriso se formou em meus lábios, era normal sorrir ao ouvir alguém dizer que te odeia? Mas não era isso que causava meu sorriso. Saber que mesmo com todo ódio que tinha, eu causava isso nele. Ele também me causava, afinal, eu o odiava talvez o dobro do que ele em relação a mim. No entanto, ali estava eu, em sua casa, nua, em cima de uma cama com ele por cima, se deleitando com meu corpo. Eu também me deleitava com o dele. Quando ele me beijava ou me tocava eu sentia prazer tanto quanto ele sentia em beijar e tocar. Era a ordem natural das coisas, simplesmente isso.
beijava meu pescoço e descia os beijos. Desceu pelo meu colo, depois pelos meus seios, até chegar em minha barriga. Suas mãos, que o acompanharam, apertavam agora minhas coxas. Ele desceu mais os beijos até chegar em minha intimidade. Começou então a beijar minha virilha devagar. Minhas pernas estavam abertas, como se tudo que ele quisesse estivesse ali, à sua mercê. Eu não me incomodava, eu gostava da sensação de estar entregue a ele, mesmo com toda controvérsia, mesmo com toda raiva, com todo nojo. Naquela hora, eu o desejava tanto dentro de mim, de um modo que nem eu reconhecia que desejava. Nunca neguei que era lindo, extremamente sexy e atraente. Qualquer uma, e digo isso por experiência própria, qualquer uma teria essa visão dele e sentiria vontade de fazer de tudo com ele em qualquer lugar. Mas eu não imaginava tamanha vontade. Se meu orgulho fosse um pouco menor, eu o imploraria para me penetrar, quer fosse com sua língua, dedos ou o próprio membro. Eu o queria dentro de mim. parecia ter algum tipo de pressentimento sexual e sabia como agir e o que fazer em qualquer momento.
Sua língua adentrou minha intimidade, arrancando de mim suspiros, gemidos e mordidas nos lábios. Ele começou então a fazer movimentos circulares com a língua e a pressionava sobre meu clitóris. Eu arqueava as costas e acabava involuntariamente movendo os quadris. soltou um riso, me fazendo estremecer ao sentir sua respiração em minha intimidade já sensível. Ele continuou os movimentos enquanto apertava minhas coxas. Eu estava em completo êxtase e gemia coisas sem sentido. então parou por um momento, mas manteve o rosto perto de minha intimidade, como se estivesse sentido prazer em sentir meu cheiro. Percebi que ele ainda estava de calça, o que não era muito justo, já que eu estava completamente nua.
beijou minha barriga e foi subindo pelo caminho, passando sua língua. Desde minha barriga, passando pelo meio de meus seios até meu pescoço. Passei as unhas levemente pelo seu abdômen. Lembrei-me da primeira vez que me entreguei à , e o efeito que minhas unhas causaram. Lembrei de tudo, lembrei que nunca tinha tido uma noite daquelas e depois disso também nunca mais teria, a não ser agora, com ele. Nenhum homem superaria . Não na cama.
Quando minhas mãos já estavam na barra de sua calça pude desabotoar e abrir o zíper com facilidade. fez o resto e ficou só com a boxer. Continuei com minha mãos lá por baixo e sem querer toquei seu membro, que estava praticamente ereto. Mordi o lábio ao sentir aquela sensação. segurou minhas duas pernas, que estavam em volta dele, e as cruzou sobre ele. Desceu suas mãos, apertando desde minhas coxas até meus glúteos e apertou o local com força, me fazendo empurrar o quadril para cima, de encontro com seu membro rígido, me fazendo soltar um gemido. riu da situação e foi até meu ouvido sussurrar mais coisas.
- Você o quer aí dentro, certo? - Não respondi nada, apenas balancei a cabeça afirmando. - Vamos. Fale. Você quer? Você me quer aí dentro? - empurrou seu quadril contra o meu, depois levantou um pouco, deixando a ponta de seu membro, que ainda estava coberto pelo pano da boxer, roçar em minha intimidade.
- Sim... Eu quero. - Respondi quase que como um suspiro, eu não tinha fôlego direito para falar. Não tinha condições de manter uma conversa, não com me provocando.
- O que você quer? - disse e repetiu seu último ato. Eu apertava meus olhos e puxava seus cabelos. Eu só queria gemer seu nome enquanto ele me levava a loucura, não queria joguinhos, não aguentava mais joguinhos, estava velha para esse tipo de coisa. Mas era excitante, como nunca alguém fizera.
- Você. Dentro... Eu quero você dentro de mim. Agora. - riu enquanto segurava minhas mãos e as colocava no elástico de sua boxer.
- Então liberte-o. - Ouvir aquilo foi o suficiente para não conseguir mais me segurar. Puxei sua boxer para baixo e atacou meus lábios com os seus e minha cintura com suas mãos. Ele tirou a boxer no resto do caminho de suas pernas. E levantou o quadril, roçando a cabeça de seu membro na minha entrada. De modo involuntário eu movimente meus quadris para cima e entendeu como aviso e me penetrou de uma vez só.
Parou de me beijar para se concentrar no prazer em baixo. Mas continuou com o rosto junto ao meu e o lábios que roçavam um no outro de acordo com seus movimentos de vai e vem. Eu também me movimentava, numa tentativa de ir o mais fundo possível. aumentou a velocidade, me fazendo dar gemidos seguidos e lhe arranhar as costas. Como aquilo era bom. Céus, eu estava nas alturas. O modo como ele se movimentava, a velocidade com que fazia e a precisão me faziam querer aquilo mais e mais. Nossos corpos se encontravam em meio ao suor, gemidos e suspiros.
também gemia, ouvir aquilo era tão bom quanto senti-lo dentro de mim. Entrando e saindo, rápido. Sua boca agora estava no meu pescoço e o mordia juntamente com beijos úmidos. Eu estava delirando ou estava prestes a ter um orgasmo?
Havia um tempo que não sentia aquela sensação. Não que alguma vez cheguei a ter um orgasmo à altura do que me proporcionou da primeira vez e estava me proporcionando agora. Eu diria que esse ainda era melhor que o outro. Talvez o ódio e o desejo andassem lado a lado. Por causa do ódio intenso, o desejo é maior. E o desejo sendo incontrolável tornava o ódio mais forte. Era isso o que eu sentia naquele momento. Não era como da primeira vez, nunca mais seria. manteve o ritmo veloz e firme. Meu corpo enfrentava espasmos por todas as minhas terminações nervosas. Eu estava chegando lá. E cheguei ao meu clímax com um gemido longo e alto para fechar a noite, ou quase noite.
Meu corpo todo tremia e eu me sentia fraca. Porém ainda não chegara aonde cheguei, e continuou investindo. Ele também estava cansando e sentia que precisava parar, mas parar era algo que não estava em seus planos, mesmo que ficássemos até amanhã naquele mesmo ato. Depois de algumas poucas investidas, senti estremecer e relaxar o corpo sobre o meu. Ele pôs as mãos ao meu redor, na altura dos meus seios, com o polegar, acariciando-os.
Eu enlacei seu pescoço com minhas mãos e ficamos nessa posição enquanto tentávamos voltar a respirar normalmente. estava com o rosto deitado na curva de meu pescoço, sua respiração me fazia sentir cócegas. Eu estava sorrindo.
- Você usa anticoncepcional. - disse meio abafado com o rosto enterrado em meu pescoço. Fiz uma cara confusa. E fiz uma cara de espanto ao perceber que transamos sem preservativo. Não que eu estivesse com medo de engravidar, porque eu realmente fazia uso de anticoncepcional. Mas não sabia disso antes, nem sabia como ele sabia disso agora.
- Como você sabe disso? - Eu perguntei sem me mover, era algo implícito, mas não queríamos olhar nos olhos do outro.
- Conheço o corpo das mulheres.
- E foi por isso que não usou camisinha? Como poderia saber antes? - Fiz mais uma pergunta inocente e riu. Então ele tomou iniciativa de levantar a cabeça para me olhar.
- Quem te disse que não coloquei antes mesmo de vir aqui? - Que ódio! Como fui tão idiota de me entregar dessa maneira tão fácil? já imaginava que eu cederia e já estava até prevenido. Eu tinha vontade de socá-lo, mas a vontade de permanecer com seu corpo esquentando o meu era maior. Virei meu rosto para o lado para evitar o contato, eu estava com raiva. Muita mesmo, mas não queria que ele percebesse. Vi revirar os olhos e com um dedo puxou meu rosto, colocando-o em frente ao seu. Pude olhar seus olhos profundos. Tinha tanta coisa ali, coisas que eu não entendia, coisas que só eu entendia.
se aproximou e uniu nossos lábios num beijo. Ele grunhiu sobre meus lábios ao ouvir o celular tocar em sua calça, que estava espalhada pela enorme cama. Olhou no visor e bufou.
- Que? - Bufou novamente.
- Me dá dez minutos, já vou descer. - Eu o observava revirar os olhos para alguma coisa, que queria ouvir, curiosa. afastou o aparelho do ouvido e o jogou pela cama. Voltou a deitar a cabeça sobre mim. Ele realmente achava que eu não iria querer satisfação.
- O que era?
- Alexis está lá em baixo esperando. - Meu corpo, que antes estava quente, congelou. Fitei a porta aberta e me preparei para levantar e reclamar, mas segurou minhas mãos no alto de minha cabeça.
- Shhh. - disse com os lábios colados no meu, mas não pode me impedir de surtar.
- Alexis está lá em baixo! Ela pode entrar aqui a qualquer momento!
- E você não acha isso.... - Dessa vez grudou os lábios no meu ouvido para proferir a última palavra. - Excitante?
Um arrepio correu por toda minha espinha ao ouvir sua voz rouca e sexy tão perto do meu ouvido pela última vez. - Vai dizer que não acha excitante estar aqui nua comigo deitado nu por cima, enquanto minha noiva louca está lá em baixo e pode subir a qualquer momento? Você não acha? - Sim eu achava, e muito além do recomendado. Só que aquilo era arriscado demais, eu não sabia do que Alexis era capaz, nem pretendia saber.
- , por favor. Eu...Acho. Mas temos que ir. - se levantou devagar, pude notar que ele realmente usava um preservativo. Levantei também e fechei a porta. estava no banheiro e eu colocava de volta minha calcinha e tentava dar um jeito no cabelo bagunçado e maquiagem borrada. saiu do banheiro e já estava vestido com a roupa de antes, enquanto eu apenas estava de calcinha e cobria os seios com a toalha.
- Você vai ficar aqui. Esqueci de te avisar que amanhã será a audiência. - Eu o olhei surpresa. E suspirei, pensando em como aguentaria mais um dia naquela casa infernal.
- Espere um pouco. - Eu disse, pegando o vestido e indo ao banheiro para vesti-lo. Quando sai ainda estava lá, sentado na cama olhando o nada. Sua atenção voltou a mim e percebi seus olhos arregalarem um pouco e o queixo cair. Fiquei vermelha na hora, mas fingi que não percebi sua reação ao me ver no vestido.
- Tudo bem. E quanto a Melissa, ela terá que vir? - riu debochado, dessa vez eu não entendi realmente qual fora a estupidez que eu disse.
- Tão inocente... Isso é só uma fachada. Ela precisará ficar alguns minutinhos. O caso está ganho. Só precisamos ir até lá, falar baboseiras e pronto.
- Tudo bem, então. Mas não ache que eu deva saber toda a sujeira que rola com quem tem grana. Eu não estou nesse meio.
- Não? - levantou uma sobrancelha e eu bufei com raiva. Vi se levantar e vir em minha direção. Quando chegou bem perto, segurou meu rosto e me beijou com certa urgência. Eu não tinha a mínima ideia do porque ele estar fazendo aquilo. Só sabia que o permitia fazer, como tudo.
Como eu era tola, boba e inocente, como ele sempre dizia. desceu os beijos para meu pescoço. Segurou minhas mãos e as subiu para o alto de minha cabeça, colando-a na parede atrás de nós.
- , por favor... Eu acabei de fazer sexo com você, o que mais você quer?
- O que eu quero? Quero arrancar esse vestido e repetir tudo. - se abaixou até a altura de meu umbigo, que era aonde o decote terminava. Depositou um beijo lá e voltou pelo mesmo caminho, passando o lábio inferior. Conforme levantava levava minhas mãos para o mesmo local de antes. - Vestidinho dos infernos. - riu e me fez rir também. Ele soltou minhas mãos devagar, mas manteve o corpo colado ao meu. - Vou me arrumar, desça. Você está liberada.
Desci as escadas e Alexis falava ao telefone, parecendo estar discutindo. Quando me viu descer, desligou e abriu um sorriso. Seu sorriso era branco e brilhante com a cor vermelha nos lábios. Toda vez que Alexis sorria para mim, eu sentia um pouco de medo, receio. Era como se fosse o diabo lhe sorrindo e mostrando o quanto ele te quer. Porém você ainda é cônscio de quão arriscado é aceitá-lo.
- Viu como está linda?
- Obrigada, você também está. - Trocamos sorrisos como agradecimento aos elogios feitos. Minha mente estava tão paralisada que eu mal sabia qual era meu nome. Não vi Jade com Alexis então resolvi perguntar o paradeiro de minha filha. - E Jade?
- Ainda não estava pronta, vão levar ela até lá. A encontraremos na entrada. - Assenti com a cabeça, voltando ao silêncio. Algum tempo depois, desceu as escadas. Estava lindo, como sempre, porém estava arrumado. Vestia uma camisa social preta com detalhes brancos, uma jaqueta de couro preta, calças jeans pretas e sapatos marrom. O cabelo era o de sempre, porém jogado para trás dessa vez. Seu perfume exalava pela sala. Nunca o vira tão lindo, só perdia para alguns minutos atrás, quando estava nu e colado ao meu corpo. Meu coração acelerou ao lembrar de tais fatos.
Apesar de tudo, eu estava alegre por aquilo ter acabado. Eu havia feito o que tanto queria, havia saciado meu desejo de fazer o que ele queria. Eu estava livre, poderia voltar a ter a consciência limpa. Eu preferia acreditar que eu simplesmente me deixara levar, e se nunca mais eu faria aquilo de novo, eu não deveria contar à Luke ou me sentir mal com aquilo.
Estávamos no carro em direção ao lugar onde aconteceria a premiação. Era um completo silêncio. No banco da frente ia o motorista e um segurança, atrás eu, Alexis e , nessa ordem. Havia alguns outros carros por perto, com o resto da equipe. Quando chegamos, Jade esperava em outro carro. Descemos e a encontramos. E então eu e ela fomos a frente, e Alexis de mãos dadas atrás. Passamos pelo tapete aonde ficavam os fotógrafos. Fui instruída a ficar ali um tempo para as fotos com Jade, que, por incrível que pareça, estava se divertindo com aquilo.
Entramos um tempo depois com um segurança nos guiando até a nossa mesa, que ficava bem perto do palco. Só havia algumas pessoas, que eu não reconhecia, e Ernest. O segurança puxou a cadeira para mim e Jade. As pessoas olhavam para o palco, porém Ernest voltou sua atenção a nós. Seu olhar correu automaticamente para meu decote, o qual eu julgava sim, vulgar.
Ernest logo tratou de disfarçar e me lançou um sorriso.
- Estão lindas. Você já foi informada sobre o que vai acontecer?
- Sobre a história que terei de contar?
- Sim. Você vai ter que subir ao palco e contar a triste história de sua irmã e em seguida vai ser anunciado a campanha contra o uso de álcool no trânsito.
- Isso não é meio irônico, vindo de ?
- Aí é que tá. mostrará o quanto mudou por criar essa campanha, principalmente depois de descobrir que a mãe de sua filha morreu por causa disso.
- E por que eu terei que subir no palco?
- Porque foi sua irmã que morreu, isso será feito no final, você terá que ir por ali com e Jade. - Ernest apontou para a entrada do backstage.
- Lá esperará até a hora em que deve subir e vai apenas contar a história, o resto é por conta de . - Eu assenti com a cabeça e comecei a tremer. Eu não estava preparada para subir num palco.
e Alexis chegaram e se sentaram. Na mesa havia algumas bebidas e petiscos, mas eu não tinha fome. Jade comia algo e bebia algum suco que fora servido. Notei lançando um olhar cúmplice para Ernest e depois em direção a mim. Os dois riram, então entendi aquele olhar como "Já consegui pegar", me senti um lixo. E era isso o que eu era, um lixo.
Sempre preguei a boa moral e ali estava eu, sendo tachada como uma prostituta, só que, claro, de graça. Não me arrependia de ter perdido o controle e ter feito sexo com , porém me arrependia das consequências disso.
Logo a cerimônia começou e voltamos nossa atenção às apresentações e ganhadores. Eu estava pirando por estar presente no mesmo local que tantos nomes da música britânica, além de alguns de fora. subira no palco por duas vezes para receber os dois prêmios a qual estava concorrendo. Em meio a isso tudo eles conversavam entre si como se eu não existisse. Era incomodo, mas talvez não tanto quanto ter que manter diálogo com aquelas pessoas tão desprezíveis.
Um tempo depois, fomos para onde tínhamos que ir até a hora em que anunciaram a nossa entrada. falaria primeiro e então me daria a deixa. Eu tremia da cabeça aos pés. Tudo bem que eu só falaria poucas palavras, mas mesmo assim eu estava nervosa. Não é todo dia que se mente descaradamente em rede nacional.
Me pegava pensando se todos aqueles artistas também eram assim. Será que também faziam isso? Passavam uma coisa que não são para ganhar mais? Será que criavam histórias loucas para fazer as pessoas boas darem dinheiro para eles? Será que todo aquele dinheiro que doavam, e faziam questão de saberem que doavam, ia mesmo para caridade? Se sim, todos eram podres como .
Como eu estava sendo agora. Jade sorria a todo instante, talvez eu deveria aproveitar aquele momento como ela aproveitava. olhava algo em seu celular, e me encarava algumas vezes.
- Me dê a mão. - disse para Jade, lhe estendendo a mão. Jade sorriu e atendeu o pedido do pai. - Vamos ou vai ficar aí suando frio? - disse e eu notei que ele e Jade já estavam andando em direção ao palco. Acompanhei os dois e quando subimos eu percebi que ainda não estava realmente nervosa. Pessoas aplaudiam-nos de pé. Que vergonha. falou algumas coisas no microfone. Eu simplesmente não conseguiria repetir, já que ouvir era complicado quando se está muito, muito nervosa.
Passaram um vídeo no telão sobre uma instituição que cuida de pessoas que sofrem acidentes e ficam com sequelas. estaria se associando à eles, pelo que entendi. Assim que acabasse o vídeo, era minha vez de falar.
E então ele acabou. Não sei como, mas consegui chegar ao microfone e falar as tais palavras. Eu estava tão nervosa que as pessoas achavam que era emoção por estar lembrando de minha pobre irmã.
- Eu fiquei sem chão quando soube que minha irmã tão querida havia sido morta por um maluco que dirigia alcoolizado e nem se quer prestou ajuda. Ela deixou uma filha, e então sem nenhuma ajuda eu cuidei dela, para então descobrir que ela era filha de . nos acolheu na situação difícil e está sendo um anjo para nós. Obrigada, . - Eu o olhei e parecia surpreso com todas minha atuação, ele abriu os braços e me abraçou.
As pessoas aplaudiam com tanta força e vontade que eu estava quase rindo. Ainda estávamos abraçados, porém aquele contato fez meu corpo pedir mais. Eu queria beijá-lo. Queria tirar a roupa e fazer o que fizemos antes. Eu estava tendo aquele desejo. De novo.
- Será que alguém se importa se eu por minhas mãos na sua bunda? - sussurrou em meu ouvido, me fazendo rir baixo. Se alguém se importava ou não, eu seria a primeira a não se importar. Mas não disse isso, apenas me afastei de seu abraço. pegou Jade no colo e a abraçou também. Jade sabia de toda a mentira e, por incrível que pareça, assim como eu, se aproveitava daquilo. Jade podia se aproximar do pai, abraçá-lo, sentir sua presença mesmo que fosse tão falsa. Mas ela não ligava, ela gostava de abraçar o pai, não importava como. então soltou Jade e voltou a falar.
- É por isso que peço que doem! É por isso que peço que mudem suas vidas como eu mudei. Parem de dirigir alcoolizados, porque você pode deixar vítimas como minha filha. Mas você também pode ser uma vítima. - Eu pude ver algumas pessoas chorarem. Que circo. Aquilo era ridículo. Como conseguia?
Saímos do palco e voltamos para a parte de trás antes de voltar à mesa.
- Estamos no Brit Awards não no Oscar, . - debochava. Depois do que eu fiz por ele, nem um obrigado o cafajeste era capaz de dar. Mas era , eu já devia esperar, a quem eu estava querendo enganar? - Você também, Jade. Podemos até te levar para algum teste de alguma série idiota da Disney. - Jade sorriu com o quase elogio de .
- Obrigada, pai. - Jade soltou minha mão e lançou um olhar como se pedisse perdão, já que eu me incomodava quando ela o chamava de pai. Pela primeira vez vi um totalmente desconcertado. Ele desviou o olhar e fingiu estar encarando algum ponto. tinha uma consciência. Ela o permitia fazer basicamente tudo, mas ás vezes ela ainda o acusava em casos extremos, como Jade. sabia que Jade era sua filha, sabia que, querendo ou não, tinha a tal paternidade. Sabia que Jade era uma criança, que não escolhera estar ali, sabia que Jade o amava. Sabia que, no fundo no fundo, desde que pôs os olhos na garotinha, também desenvolveria o tal amor paternal. Era a natureza.
- Vamos? - desconversou e então seguimos de volta à mesa. ficara estranho desde a hora em que Jade lhe chamou de pai. Já eu tinha adrenalina por todo meu sangue, era como se nada do que eu fiz naquele palco tivesse acontecido. A ficha ainda não havia caído.
Chegamos até a casa de , que não iria para casa, pois tinha um after party. Eu e Jade voltamos. E fomos para o quarto. Jade quase dormia em pé. Eu desfiz seu penteado e lhe coloquei um pijama quente. Ela, em questão de segundos, já estava apagada. Fui até o banheiro e tomei uma ducha rápida e bem quente. Coloquei a roupa e deitei ao lado de Jade. Peguei meu celular e olhei no visor. Dez chamadas perdidas de Luke. Meu coração doeu ao ler seu nome com um coração ao lado. Eu poderia retornar e conversas sobre meu dia, mas não o fiz.
Não enquanto eu ainda estivesse poluída e desejando o corpo de outro homem sobre o meu.



Capítulo 20 - Angel or demon?

- Mamãe? Mamãe? - Ainda estava no estado de não discernir o que era sonho ou realidade. Porém senti alguém me balançar e me chamar.
- Mamãe? - Abri os olhos lentamente e Jade me chamava. Olhei em volta, mas vi que ainda era noite. O que Jade queria àquela hora?
- O que foi, filha?
- Não consigo respirar direito, tô me sentindo cansada. Você trouxe o nebulizador?
- Claro, deve ser da asma. Bota dois travesseiros pra ficar alto e fica deitadinha. Vou preparar a nebulização e já volto. - Jade assentiu e fez o que eu dissera. Peguei o aparelho e os remédios da asma e desci para pegar água. Estava tudo silencioso e escuro. Eram exatamente 4:20 da manhã. Fui até a cozinha e preparei a nebulização de Jade. Céus eu estava tão cansada, precisava de uma boa noite de sono.
Subi com tudo pronto e Jade me esperava deitada. Fiz os procedimentos e esperei acabar.
- Está se sentindo melhor? - Jade confirmou com a cabeça, já que estava com a máscara no rosto. Depois que acabou dava para sentir que ela respirava melhor. Guardei as coisas e voltei a deitar com ela. A coloquei nos braços e passei a acariciar seu rostinho e cabelo.
- Consegue dormir, filha?
- Sim, estou melhor. - Jade disse com os olhos fechados. Em pouco tempo eu e ela já havíamos pegado no sono.
Esperávamos Melissa no aeroporto. Sim, bancara sua vinda para Londres. Eu e Jade a avistamos e abrimos um enorme sorriso. Ela veio de encontro conosco nos abraçando.
- Como Londres mudou desde a última vez em que estive aqui. - Melissa disse, olhando ao redor, como se fizesse uma fiscalização do local.
- E quando foi sua última vez em Londres?
- Acho que você se lembra, foi há uns seis sete anos eu acho. - Engoli em seco. Sabia de que época estava falando. Não que aquilo ainda fosse algo ruim, mas eu ainda tinha meus demônios.
- Vamos? - Eu lhe disse enquanto andávamos em direção ao carro. Melissa vestia shorts jeans rasgados com uma meia calça arrastão por baixo, coturnos e uma jaqueta enorme. Jade usava uma calça jeans e sobretudo preto. Eu vestia uma calça jeans e usava um sobretudo verde musgo com um cachecol roxo. Notei que Melissa não estava, digamos assim, vestida para lutar pela guarda dos filhos em um tribunal. Melissa me cansava.
- Melissa, você acha que essa roupa tá legal?
- A sua? Tá ótima.
- Não, Melissa, você sabe que me referi à sua. Lembre-se que estamos indo a um tribunal, não para uma festa. - Melissa revirou os olhos, daquele modo tão dela. Eu estava certa, não estava?
- Você mesma disse que eu só vim para marcar presença. Acho que a roupa que eu uso não vai fazer diferença.
- Tudo bem, Melissa, faça o que você quiser, tá legal?
- Para de ser chata, ! Meu Deus! Você continua ranzinza. - Dessa vez fui eu que revirei os olhos. Como sempre Melissa fazia o que queria, independente das consequências. Quem era eu para fazê-la mudar de ideia? Não consegui por todos esses anos, não era agora que conseguiria.
Entramos no carro em silêncio. Comentávamos algo sobre a paisagem e só. Em pouco tempo chegamos ao tal tribunal. Milhares de repórteres estavam na porta à espera. Eles me irritavam. Passamos por eles cobrindo o rosto e com a ajuda do segurança. Nunca imaginei na minha vida que teria que cobrir o rosto para não tirarem fotos de mim, ou teria que andar com um segurança. ainda não havia chegado. Por isso esperamos sentada em um banco. Depois de alguns minutos, chegou acompanhado de um homem de terno e gravata. estava vestido praticamente como Melissa. Calça jeans, blusa branca e uma jaqueta de couro. Será que eu era a única que tinha bom senso?
Eles nos olharam, indicando que era hora de entrar. Nos colocamos em nosso lugar e rapidamente o Juiz já estava olhando o caso. Como se já não estivesse resolvido.

's pov

Minha cabeça latejava.
Que merda!
Eu não devia ter bebido tanto na noite anterior. Tudo que eu queria era voltar para a cama e dormir até o mundo acabar. Mas eu fui acordado e tive que vir para cá resolver essa idiotice da estúpida da . Escocesinha insuportável. Eu estava mais mal-humorado que o normal hoje. Hoje não era meu dia. O advogado falava coisas que eu nem se querer queria ouvir ao meu lado.
Eu apoiava a cabeça sobre minhas mãos, tentando não pegar no sono. Olhei para e ela estava sorrindo, já a amiguinha dela, que era bem gostosa, diga-se de passagem, não estava nem aí. tinha algum tipo de distúrbio mental, não era possível. Ela vestia um sobretudo escuro e um cachecol no pescoço. Não era uma das minhas preferidas. Eu preferia ela com aquele vestido de ontem, ou nua. de repente me encarou. Percebi que ela não era a única com distúrbios, eu também tinha. Por que raios eu estava a observando? Desviei o olha rapidamente e voltei a encarar o nada, com tédio total. Tédio. Tédio. Tédio era a essência daquele local. Depois de um tempo, o juiz pediu que ficassem só e a outra que eu não conseguia lembrar o nome, mas eu tinha que lembrar de pegar o telefone dela. Ninguém resistia a mim mesmo. me chamou com um sinal e fui até aonde elas estavam sentadas.
- Que?
- Pode olhar a Jade enquanto estou aqui?
- Olha, tem seguranças e tudo mais...
- , quero que fique por perto dela, é só isso que estou pedindo, acha que consegue? - Revirei os olhos e bufei. Com quem ela pensava que estava falando? Não se pode dar confiança para vadias ou então elas vão achar que mandam em você.
Ela tinha tanta sorte de eu ser obrigado a estar ali por causa da minha carreira. Se fosse em outra época, eu viraria minha mão em sua cara.
Tá, eu não faria isso, porque ela é mulher, é gostosa, e eu ainda queria transar com ela mais algumas vezes, mas chegaria perto.
Saímos do salão e Jade se sentou num banco do lado da porta. Me sentei ao seu lado e encostei a cabeça na parede, tentando dormir um pouco. Mas claro que aquilo seria bom demais para ser verdade, alguns minutos depois a família Buscapé já estava atacando de novo.
- ? - Abri os olhos lentamente e bufando. Será que ela choraria se eu apenas ignorasse?
- O que é? - Respondi olhando em sua direção. Ela bocejava e esfregava os olhos, como se estivesse com sono. Cassete! Como ela se parecia comigo. Tudo. O nariz, a boca, o sorriso, os cachos na ponta do cabelo. A cor do cabelo dela era idêntica ao meu quando tinha sua idade. Sua pele era branquinha e rosada. Ela era quase um anjo, se não fosse tão chata e estivesse perturbando meu cochilo.
- Estou com sono, e cansada. Posso deitar minha cabeça em você? - O que? O que estava acontecendo comigo? Desde quando as pessoas se sentem tão à vontade assim comigo? Daqui a pouco eu estaria doando dinheiro para mendigos na rua. Não faria mal algum deixá-la dormir, mas e a minha moral? A que se dane, ninguém estava vendo.
- Ta bom, mas não babe na minha calça, por favor. - Jade sorriu para mim, e eu tentei retribuir o sorriso, mas não consegui. Ela deitou sua cabeça sobre minhas pernas e eu fiquei paralisado. Não tinha jeito nenhum com crianças, muito menos sabia como agir com uma deitada sobre mim. Será que eu precisava parar de respirar ou algo assim? Eu estava com uma vontade do caramba de acender um cigarro. Que merda! Maldita hora que essa gente apareceu na minha vida e estavam a virando de cabeça para baixo. Olhei para Jade e ela estava com os olhos fechados e um sorriso no rosto. - Ta dormindo? - Perguntei, mas não tive resposta, então deduzi que a resposta era sim. Agora dormindo ela realmente era um anjo. Toquei seu cabelo de leve para sentir a textura. Na verdade, não sei exatamente o porquê de estar fazendo aquilo. Mas era bom.
Afinal, a garotinha me amava. E eu. Eu era. Eu era o... Pai. Eu era pai dela. Engoli em seco. Isso era um assunto incomodo de uns tempos para cá. No início, eu só queria que essas duas sumissem, mas agora a ideia de que eu era seu pai já passava pela minha cabeça e aquilo era difícil de lidar. Eu não sabia lidar com o difícil. Para mim tudo era sempre fácil. Sempre. Deixei minha cabeça cair para trás e fechei os olhos, tentando dormir.
Peguei no sono levemente até ser acordado com uma mão no ombro. Abri os olhos assustado e de cara com e a amiga dela.
- Acabou. Agora Melissa só precisa entregar alguns papéis, porém lá em Fife mesmo. - Melissa... Isso o nome dela era Melissa.
tagarelava algo enquanto eu tentava acordar de verdade. Olhei para a tal da Melissa com um sorriso de lado no rosto. Ela retribuiu o sorriso. Ela parecia ser legal, parecia ser uma das minhas. Parecia ser ótima na cama. Daquelas que faz tudo o que você quer, sabe? Mas ela era amiga da , algum defeito ela tinha. Ninguém em sã consciência se torna amiga de uma pessoa tão irritante e chata como , que a propósito, ainda falava algo e eu ainda não escutava.
- Certo, ?
- O que? - Eu disse esfregando os olhos. bufou e revirou os olhos. Como era bom irritá-la.
- , eu disse que vou embora assim que chegarmos.
- Tanto faz. - Melissa deu uma risada baixa e eu a lancei um sorriso. Eu sabia exatamente como conquistar mulheres. Meu sorriso nunca falhava. a olhou com raiva e ela levantou as mãos, como se provasse sua inocência.
pegou Jade, que dormia sobre minhas pernas. Assim que se abaixou em direção a ela, lançou me um olhar. E eu não desviei, continuei a encarando. Sabia que em poucos segundos ela desviaria o olhar do meu. era estranha. Levantei, me espreguiçando. Fomos até o carro.
- Eu vou levar vocês. - Eu disse num tom sério, para mostrar que aquilo não era uma opção.
- Tenho que passar na sua casa antes, para pegar as coisas, mas a Melissa precisa ir agora.
- Então eu levo ela.
- Nós levamos ela. - parecia mais que iria me fuzilar com os olhos. O que era aquilo? Ciúme? De mim ou de Melissa? Existiam tantas coisas que eu deveria me preocupar, e não me preocupo. Não era isso que iria fazer eu começar a me preocupar com as coisas.
Melissa ia atrás com Jade e ia na frente. Hoje eu vim com meu Range Rover. Lembrei-me sobre o que falei sobre esse carro com . Sim, eu estava carregando mulheres nele, mas não era esse tipo de mulher a que me referia. Geralmente elas estariam nuas e fazendo tudo o que eu mando.
Eu dirigia em silêncio e e Melissa conversavam algumas coisas baixo. Em pouco tempo chegamos ao aeroporto. e Melissa saíram do carro e Jade ficou deitada dormindo no banco atrás. Me assustei ao dar de cara com Melissa apoiada na janela do carro.
- Quero agradecer por tudo. Sei que não foi de coração, mas mesmo assim obrigada, você me devolveu a coisa mais importante da minha vida. - Eu poderia contar nos dedos às pessoas que me agradeciam algo. Sim, elas eram ingratas à minha bondade, principalmente. Sorri para a mulher com cabelos negros à minha frente. Melissa foi de encontro a , então as duas foram até sumir de vista.
Fiquei encarando o nada e sem nada para pensar até adentrar o carro em silêncio. Andamos até um certo ponto assim, completo silêncio. Até que resolvi tirar algumas dúvidas, tipo quem é a mulher que acabei de devolver os filhos?
- Qual é a dessa Melissa? - continuou olhando pela janela, sem me responder. Eu poderia bater o carro e acabar com a vida dela, mas meu carro era muito bonito para isso. - Dá pra me responder, cassete? - Falei alto. estava passando dos limites, estava na hora de entender quem manda naquela merda. Ou eu estava virando algum tipo de viadinho que dá o rabo? Acho que não.
- Pare de gritar comigo! O que você quer saber, oras?
- Se ela tem o vírus da HIV. - Apesar da minha ironia, era sempre bom saber isso sobre a pessoa com quem quer transar.
- Você é patético. Bem, Melissa é dependente química. Por isso perdeu a guarda dos três filhos.
- Ual, três?
- Sim. Melissa é o tipo de pessoa que não se importa com nada. Não no sentido ruim, como você, ela só não tem responsabilidade alguma com nada.
- Obrigado pelo "não se importa". - Dei um sorriso sarcástico. Então a pensava aquilo de mim? Ótimo, estava achando que tinha perdido minha moral.
- E quando e como vocês se conheceram?
- Escola. Estudamos juntas desde o primário.
- Estranho a amizade de vocês. Ela parece ser tão legal e divertida e você.... Aliás, me passe o número dela.
- Não vou te dar número algum.
- Qual é, ? Se não quiser me dar, eu conseguirei de outro jeito.
- Melhor assim, não quero estar metida nisso. E, por favor, não curto filmes pornôs, então fiquem longe. E relaxa que ela não tem Aids. - piscou para mim como se fosse esperta por entender meu interesse naquele assunto. Bobinha. Voltamos ao silêncio até chegarmos no portão de minha casa.
- Obrigada por ajudar Melissa, .
- Tudo bem, não foi de graça. - Virei para encarar , que começara a falar.
- Obrigada também por ficar com a Jade hoje, ela deve estar muito feliz. - Os lábios rosados e grossos de faziam um perfeito movimento. Eu não estava ouvindo o que ela dizia, mais uma vez. Era mais interessante imaginar o que ela usava por baixo de toda aquela roupa. - ... E então ela vai crescer e não vai ser uma adolescente rebelde e traumatizada... - Qual será a cor da lingerie que ela usava hoje? Como eu queria descobrir. Como eu queria calar aquela maldita boca com um beijo. Como achei feia quando a vi a primeira vez? Talvez, a medida que meu ódio por ela foi crescendo, meu desejo também.
Céus eu só penso nisso? Sexo, sexo, sexo. Tá, eu também penso em bebidas e drogas.
continuava a tagarelar, e eu continuava a imaginar o que estávamos prestes a fazer naquele carro. Eu gostava de transar no carro. me dava nos nervos em todos os sentidos. Ela era daquele tipo de pessoa que você joga fora a parte de dentro e fica com a parte de fora. Não no sentido ruim, pelo contrário. era boa demais, inteligente demais, certinha demais e por aí vai.
Quando eu vi que ela não ia parar de falar eu fui com tudo e juntei nossos lábios. Sem nenhum esforço minha língua já explorava sua boca. Depois de tudo o que fiz hoje, merecia uma recompensa. Eu segurava sua nuca com uma mão e com a outra sua cintura e a puxava para mais perto, apesar de sua relutância. me empurrou e é claro que eu fiquei com ódio mortal.
- , está louco? Estamos na rua e Jade está dormindo ali atrás! - Que lindo. Mal descubro que tenho uma filha e ela já atrapalha meus relacionamentos. Cocei a cabeça. Jade dormia como uma pedra. Mas ainda tinha os paparazzi e tudo mais. Merda.
- Tá bom. Mas não pense que já enjoei de você, , ainda temos muitas coisas para fazer pela frente.
- Dispenso. Pode ficar com a Melissa, só não a faça mal.
- Oras, oras, oras, alguém com ciúme?
- , me poupe disso, por favor.
- Relaxa, não vou te deixar de fora, a gente faz um ménage. - riu e fez um sinal para que eu abrisse a garagem e entrássemos. Fiz isso. Entramos e pegou Jade no colo, já que estava dormindo. Fui para o meu quarto, para tentar voltar a dormir, já que fui acordado tão cedo.
Tomei alguns analgésicos, minha cabeça ainda estourava. Passaram-se cinco, dez, quinze minutos e aquela dor de cabeça infernal não passava. Por onde será que Alexis andava? Ultimamente ela sumia e nem sequer me dava satisfação. Mais uma vadia enfiada na minha vida. Alexis era como um meio de escape. Eu sempre tinha alguém para transar que fosse gostosa, de graça e que ainda faz meu trabalho por mim. Bom, agora tinha a também, mas ela não estava sempre à disposição, já que morava longe e vivia se fazendo de difícil.
Pensando bem, ela estava a disposição agora, não estava? Jade ainda estava dormindo, Alexis não estava aqui.
Levantei-me num pulo, fui direto à uma gaveta onde guardava preservativos, mas logo lembrei que não precisava usar com ela. Tirei a camisa, mas continuei com a calça. Eu sabia que ela não resistiria ao me ver sem camisa. Fui então em direção ao quarto em que elas estavam. Cheguei lá e estava arrumando algumas coisas na mala. Era tão irritante que ela não percebia minha presença ali, como pessoas normais fazem. Foi preciso eu soltar uma tosse forçada para que ela olhasse para mim, assustada. Aquele rostinho com medo. Medo de se deixar levar. Aquilo era o paraíso.
- O que você quer? Estou só esperando ela acordar. - voltou a arrumar as coisas. Revirei os olhos. Ela era tão lerda. Me aproximei dela, que estava abaixada. Me abaixei e depositei um beijo em sua nuca, já que estava com o cabelo preso. Senti seus pelos levantarem e parar o que estava fazendo e soltar um suspiro pesado.
- , para, por favor.
- Você sabe o que eu quero. – Falei, passando minha mão sobre sua cintura e juntado nossos corpos. Colei minha boca em sua nuca, mas não beijei, apenas fiquei ali, para que ela perdesse o controle, exatamente como eu queria. colocou a mão sobre a minha para tentar tirá-la, mas não o fez. Eu estava quase conseguindo. Não imaginava que fosse tão rápido. se virou rápido e grudou nossos lábios num beijo. Eu dei passagem para sua língua quente, que fazia movimentos apressados. segurava meu rosto e eu segurava sua cintura.
Deixei meu corpo cair no chão e caiu sobre mim. Seu corpo sobre o meu fazia meu amiguinho dar sinal de vida. espalmava as mãos sobre meu peito, arranhando-o. Coloquei minhas mãos geladas em sua cintura por baixo de sua blusa. gemeu ao sentir meu toque. Aquele era meu som preferido de ouvir. Sim, eu era um maníaco por sexo.
Assim que eu estava começando a sentir minha excitação, ela se foi, ao ouvirmos tosses de Jade acordando. parou um instante, me encarando assustada. Eu apenas ri da situação, por pior que fosse, era engraçada. se pôs de pé e logo depois eu também. Ela foi até Jade, que tossia repetidamente.
- Calma, querida. - tentava acalmá-la. Fiquei ali com cara de bunda observando a cena. Não sabia ao certo o que fazer.
- Err... Você quer que eu pegue alguma coisa? - me olhou como se procurasse se lembrar de algo.
- Pega nessa mala verde, no bolso da frente. Uma caixinha com os remédios de asma dela. - Asma? Putz. Fui até a mala e peguei a única caixa que tinha no bolso da frente. Era uma caixa lilás com várias figurinhas femininas coladas. Entreguei a caixa à e a observei colocando algo na boca de Jade e a mesma respirou algo naquele aparelho. Eu deveria assistir mais dr. House, porque eu não fazia ideia do que eram aquelas coisas. Jade parou de tossir depois de inalar o remédio. acariciava suas costas. Era difícil ter pensamentos maldosos vendo ela naquela posição. parecia ser uma boa mãe.
- Obrigada, . - Assenti com a cabeça. Não entendi o porquê de ela ter me agradecido.
se levantou e foi terminar de arrumar as malas. Continuei ali, sentado na cama, observando Jade se espreguiçar. Ela me lançou um sorriso tímido, não pude deixar de devolver-lhe. Jade era encantadora, nenhuma pessoa em si não a encararia dessa forma. voltou a se sentar ao seu lado e murmurar algumas coisas para a filha. Por um segundo parei e pensei, o que exatamente eu estava fazendo ali? Eu estava agindo de uma forma preocupada, bondosa. E, bom, não era exatamente essa a imagem que eu queria passar para as duas. Trabalho é trabalho. Pensei em me levantar e sair daquele quarto com atmosfera de arco íris e unicórnios. Antes que eu pudesse agir, uma voz bem conhecida nos chamou a atenção.
- O que está havendo aqui? - Alexis perguntou indignada. Os três estavam assustados. Olhei para o chão, para pensar na resposta, que na verdade eu não tinha.
- Jade estava com uma crise de asma. estava me ajudando. - principiou em falar e eu respirei aliviado. Apesar de tudo, eu não devia satisfações à Alexis.
- Nessa casa tem mais de 10 empregados. Da próxima vez, chame algum deles, não é enfermeiro. - Quase soltei um riso, quase porque sabia que Alexis não estava de brincadeira. Me levantei num pulo e saí do quarto sem falar com nenhuma das três. Alexis tentou segurar meu braço, mas não dei confiança e saí. Eu precisava fumar. Precisa transar também, mas pelo jeito teria que ir para algum puteiro qualquer.
Me tranquei no quarto e não saí dali até o outro dia. Eu odiava estar na presença de pessoas, isso é irônico por causa do meu trabalho, mas o que eu podia fazer?
Eu amava a música e como eu podia me expressar e esquecer a merda que era minha vida quando estava no palco, amava o meu dinheiro, mas odiava dar autógrafos, entrevistas e todas essas farsas.
Fumei uns três cigarros olhando pela janela. Londres era fria e cinza como sempre, eu amava aquilo também.

's pov

O sol invadia todo o quarto. Luke acabara de ligar avisando que chegaria em pouco tempo. Jade ainda estava na escola, iríamos buscá-la assim que Luke chegasse. Meu emprego fazia falta, por mais que eu preferisse não trabalhar. Eu olhava pela janela e havia um sol tímido. Não dormira a noite toda.
O que diabos estava acontecendo comigo? Eu simplesmente estava confusa. Confusa quanto a tudo que sempre acreditei, sempre pensei. Minha vida estava perdendo o rumo, eu estava perdendo as rédeas. Fui até a sala tentar ver se esfriava a cabeça, preferia encher minha cabeça com coisas fúteis do que ficar meditando.
Peguei o jornal na porta e sentei-me no degrau de cima da escada de frente. Na segunda folha de jornal tinha uma matéria um tanto interessante. Eu estava na foto. Era engraçada, me fez rir, apesar de ter sido totalmente contrária ao meu jejum de pensamentos referentes a esse assunto.
A matéria era o seguinte:

“ ‘ , de demônio a anjo.’
, a estrela problema britânica, provou essa semana que todos podem mudar. deu início a campanha 'Londres sem álcool por Johene.'
Essa campanha teve início para conscientizar a população britânica sobre o uso do álcool na estrada, já que sua filha, Jade, perdeu a mãe, Johene , por conta de um acidente envolvendo um motorista bêbado. Desde então, pede para que as pessoas doem para a instituição Could be you, que atende vítimas que passam o resto da vida sofrendo por conta desse problema.
E não é só isso, foi visto ontem indo à tribunal para defender a causa de um parente da família materna de Jade e sua tia, a qual cuida dela até hoje. lutou no tribunal para que a parente muito pobre, que ainda não foi reconhecida, pudesse voltar a ter a guarda de seus filhos. E, para a alegria do povo, ele conseguiu.
Fãs esperavam na porta do tribunal e afirmavam a melhora de após o tempo na Reabilitação.
mudou muito. Ele é um novo homem. Agora é um pai carinhoso, uma alma caridosa. Ele sabe que seus erros no passado poderiam ter causado estragos na vida de muitas pessoas, assim como causaram na vida de sua filha. é nosso herói”. Diz uma fã que mostrou o quanto conhece o ídolo, e criou fã clube até para , tia de Jade.
é uma dama. Muito linda e educada. Uma vez eu esperava na frente da casa de por alguma aparição e ela acenou para mim”. Acrescentou a fã.


Eu, sinceramente, não me lembrava de ter acenado para ninguém. Aquilo me fez realmente rir. estava conseguindo limpar sua imagem às nossas custas. Porém, eu estava tendo uma vida cheia de luxo e privilégios às custas dele também. Contudo, nós ainda saíamos perdendo algo.
Vi o carro de Luke estacionar, e um frio na barriga chegou junto. Luke saiu do carro com um sorriso brilhante e veio ao meu encontro com os braços abertos de saudade. Como eu estava com saudade daquele abraço.

Alexis's pov

Estava um pouco frio, mas eu não me importava de estar de lingerie, sentada em seu colo tomando café enquanto lia jornal. A matéria falando sobre estava na segunda folha e era realmente engraçada.
- Para mim a parte do tribunal foi a melhor. Ela realmente acha que tem poder sobre ele, e ele sobre ele mesmo. - Ri de minha reflexão. E senti o beijo que ele depositou em meu ombro.
- Deixe eles pensarem que estão no poder, é exatamente o que queremos.
- Mas e a tal da Melissa?
- Dou meu jeito com ela, não é a primeira vez. Na hora certa tiro aquelas crianças dela.
- Ótimo. - Beijei-lhe os lábios. Aquele homem me fazia suspirar. Não somente por sua aparência, mas sua inteligência e facilidade em controlar as coisas.
Num piscar de olhos, meu café estava derramado no chão junto ao meu sutiã. Eu estava deitada com o tronco na mesa enquanto ele beijava meus seios a vontade.
Aquilo era apenas uma continuação de algo que ainda estava começando naquele lindo dia.

's pov

Uma semana se passara.
Como previsto, não ligara, nem para dizer um oi para Jade. Tudo o que pensei sobre ele quando estávamos no quarto quando Jade teve crise de asma tinha sido ilusão.
Melissa estava com suas crianças de volta, eu tinha meu Luke de volta, e um pouco de paz. Porém a culpa me sobrecarregava. Era como se eu estivesse no mar e sempre que eu achava que a onda estava me levando para a areia, ela puxava de volta para as profundezas.
Eu me sentia sufocada, irritada, enojada. Eu chorava toda noite porque sabia que poderia ter evitado. Sabia que a culpa não era só dele, era minha. Eu havia traído Luke, a pessoa mais doce, gentil, especial. O sonho de toda mulher. Eu havia agido falsamente com ele, como uma judas.
Eu sentia meu coração apertar pela dor da consciência. Por mais que eu parasse com tudo aquilo, eu não poderia voltar no tempo e mudar. Onde eu estava com a cabeça? Por que não pensei nisso? Por que me deixei seduzir por ? Por uma pessoa tão suja, tão hipócrita, tão.... Tão tudo de ruim. não era metade do que Luke era, e nunca seria. Eu derramava algumas lágrimas em frente ao espelho do banheiro, apoiada na pia. Era sempre assim.
Eu estava tão confusa. Em poucos meses minha vida virara totalmente de ponta a cabeça. Eu era uma pessoa tecnicamente famosa, fazia parte de um marketing, traía meu namorado, mentia para o mundo inteiro.
Às vezes eu nem lembrava o porquê disso tudo. Jade estava feliz, ao menos. Era isso que importava. Estávamos tendo uma vida financeiramente melhor. Talvez esse fosse o preço da fama e da riqueza. Você tinha que dar sua paz, sua sanidade mental e alegria para tê-las. Por hora, eu apenas tinha que conviver com aquilo.
Lavei meu rosto devagar, apertando meus olhos para esconder a vermelhidão. Dei alguns sorrisos forçados para o espelho, para espantar o rosto de choro. Logo mais Melissa chegaria para levarmos as crianças ao circo.
Jade estava no quarto dela vendo Tv, enquanto esperávamos. Saí do banheiro e ouvi alguém bater na porta. Abri e me deparei com Melissa.
- Olá. - Melissa disse, dando um enorme sorriso, eu lhe respondi dando um sorriso também e dei passagem para todos entrarem.
- Oi, crianças. - Todos sorriram em uníssono. Melissa tinha filhos lindos. Thomas era o mais parecido com ela. Cabelos negros, lisos, os olhos verdes brilhantes, a pele branca. Garret tinha os cabelos loiros e lisos, os olhos verdes como o de Melissa. Sua pele não era tão branca como a de Melissa ou Thomas, porém tinha as bochechas avermelhadas. Naleigh tinha cachos castanhos e a pele morena. Seus olhos eram mel. Os olhos de Naleigh eram lindos e intrigantes. Eram um pouco puxados e sumiam quando a mesma sorria.
- Vou chamar a Jade. – Disse, indo em direção ao quarto. Eu não havia contado a Melissa o que acontecera nessa semana. Porém me sentia sufocada. Mas tinha medo da reação de Mel com respeito a isso.
Chamei Jade, que correu para a sala, cumprimentando os antigos amigos.
Saímos e pegamos um táxi com espaço para todos. No táxi, as crianças cantavam e brincavam enquanto eu e Melissa ríamos. Estava sendo uma tarde agradável. Chegamos em pouco tempo e compramos nossos ingressos. Nos acomodamos na área vip e então meu celular tocou. Atendi sem olhar o número, estava bem barulhento o local.
- Oi. - Ouvi uma voz rouca bem conhecida do outro lado. Se não estivesse sentada, teria caído. Não sabia se aquilo havia sido causado pelo medo que sentia de ouvir aquela voz, ou o modo como aquela voz falando certas coisas me fazia ficar louca de desejo.
Sendo o que fosse, levantei e fui para algum lugar mais calmo para ouvir melhor.
- O que você quer?
- Não posso ligar para saber como está minha família? - riu debochadamente do outro lado da linha. Deixava-me extremamente irritada o modo como ele fazia humor com uma coisa tão séria. Irritava-me também o fato de ser totalmente bipolar, e mudar de personalidade vez ou outra. Eu não tinha paciência para aquilo, não mesmo.
- Se quisesse saber algo de Jade, teria ligado assim que chegamos aqui.
- Sou um homem de negócios, meu amor, não tenho tanto tempo quanto você, aliás, sou eu quem te sustento, ou se esqueceu?
- Não tem tempo? Você é um artista falido, mimado. Você não pode fazer shows, não pode gravar um cd, não pode fazer a única coisa a qual é útil. Tudo isso porquê é um imbecil e jogou tudo por água abaixo. Agora você precisa se manter na mídia para não ser esquecido, usando mentiras e sua própria filha. Realmente, você tem muita coisa para fazer. - Silêncio. Arregalei um pouco os olhos. Eu não queria ter dito àquelas coisas, por mais que fossem verdades.
- Vá para o inferno, , vá para o inferno e leve sua filha junto. Não me importo com nenhuma de vocês, e você sabe muito bem disso. Agora não fale sobre coisas as quais não sabe. Você pensa que me conhece só porque dá pra mim quando eu quero. Você não sabe nada sobre mim ou sobre minha vida. Você é só uma vadia aproveitadora. - Meu sangue fervia, como se pudesse ser criado bolhas dentro de minhas veias. Eu estava com tanta raiva. Não só raiva dele, raiva de mim por ter ficado magoada. Sim, aquelas ofensas não eram como as outros, que apenas me faziam sentir mais ódio de . Daquela vez eu não queria ouvir aquilo. Daquela vez aquilo tinha doído em meu coração. Meu coração estava apertado e eu pude sentir algumas lágrimas sendo formadas. não só tinha me irritado, tinha me magoado.
Desliguei o celular sem responder mais nada, não queria que ele me ouvisse chorar ou algo assim. Não queria que ele soubesse que agora eu me importava com o modo que ele me tratava. E em pouco tempo eu estava soluçando naquele banheiro. Estava sentada no vaso sanitário com as mãos apoiadas no rosto.
O que estava acontecendo comigo? Por que eu estava agindo como uma idiota? Ergui minha cabeça e limpei as lágrimas. Elas não mereciam ser usadas com . Não mesmo. Voltei para meu lugar com o rosto limpo.
- Por que demorou tanto? Já começou.
- Estava com Luke no telefone.
- Podia ter pedido para ligar depois, oras.
Voltamos a ficar em silêncio, já que o espetáculo estava passando. Eu não conseguia me concentrar em nada. A plateia toda ria de algo e eu nem se quer sabia do que estavam rindo. Eu ainda estava com vontade de chorar. Queria ir para casa, queria desabafar com Melissa, mas não conseguia.
Depois de um bom tempo, o espetáculo havia acabado e estávamos comendo em uma lanchonete. Eu e Melissa estávamos na mesa sozinhas, já que os menores brincavam nos brinquedos do lugar.
- Ta bom, , pode me dizer agora o que tá rolando?
- Nada. - Respondi automaticamente. Eu nem se quer tentei fingir naturalidade. Mel me olhou como se soubesse que eu estava mentindo, e então desisti. Para que guardar segredo de uma coisa tão insignificante?
- Melissa, eu transei com o . - Vi Melissa abrir a boca e depois formar um sorriso no rosto. Revirei os olhos e a mesma percebeu que não era um assunto muito agradável.
- E como foi?
- Foi ótimo. Melhor do que a primeira vez. Melhor do que qualquer que eu já tive. Mas não posso continuar com isso.
- Por que não?
- Porque tenho namorado, Melissa, não venha com essa de novo.
- , presta atenção no que está falando. É só sexo, não é?
- Sim.
- Você o ama?
- Não, eu o odeio, e é por isso que não posso fazer isso.
- Pare de ser boba, . Você acha que toda mulher não faz isso?
- Toda mulher? Não, só as do seu tipo. - Assim que as palavras saíram me arrependi amargamente. O que tinha de errado comigo? Não queria ofender Melissa, não quando estávamos nos dando tão bem.
Melissa havia ficado quieta, sabia no fundo que era verdade.
- Olha, Mel, me desculpa. Eu só estou tensa com algumas coisas.
- Tudo bem, eu sou uma puta. Sou mesmo. Sou uma puta e uma viciada. Me esqueci que você não sai abrindo as pernas para qualquer homem assim como eu. Eu daria para aquele cara ali, e aquele ali, e aquele. - Ela havia se levantado e apontado para todos. - Eu teria mais dez filhos se meu útero não estivesse ferrado! Eu sou uma vagabunda, ! Sempre fui, sempre vou ser!
- Melissa... - Melissa pegou as coisas e chamou as crianças, que relutaram até ouvir o grito da mãe. Melissa andou em direção a saída um pouco desnorteada.
Não me levantei.
Fiquei ali observando ela ir, mais uma vez.

XX

Luke estava deitado ao meu lado enquanto conversávamos na cama.
- Ela vai voltar, você a ajudou muito, amor.
- Eu sei é que Melissa é muito complicada.
- Mas por que você falou aquilo para ela? - Eu havia contado para Luke sobre o que acontecera com Melissa, mas é claro que não podia contar o motivo daquilo. Afinal, aquilo girava em torno de e o que fizemos. Luke não merecia saber daquilo, porque aquilo não era nada.
Eu o amava e ficaria ao seu lado, nunca o deixaria. Não podia pôr em risco nosso relacionamento tão sólido por causa de um maníaco idiota.
- Falávamos sobre como as mulheres traem seus maridos, Melissa acha normal e é liberal a esse assunto. Disse que não era igual a ela. É claro que ela entendeu como eu a chamando de vadia. - Não era totalmente mentira o que havia falado. Isso realmente aconteceu.
- Poxa, ela podia entender seu lado, você não falou nesse sentido.
- Na verdade, eu falei nesse sentido, Luke. - Luke não disse nada, apenas continuou me observando. Ele estava virado para mim, apoiando o cotovelo no travesseiro e o rosto em sua mão. Eu estava ao seu lado encarando o teto.
- Tem algo que quero te falar faz um tempo.
- O que? - Fiquei um pouco nervosa ao ouvir suas palavras. Tudo o que saia da boca de Luke me assustava ultimamente. Talvez isso fosse a síndrome da consciência pesada, ou medo de que ele descobrisse minha falta de caráter.
- Fale.
- Estamos juntos há tempos e não acho que precisamos seguir as regras. Mas queria saber sua opinião sobre um assunto, não é nada oficial. - Luke parecia nervoso. Eu estava mais aliviada por saber que o assunto não seria aquele o qual eu tanto temia. Então ele continuou. - Você quer se casar comigo?
Fiquei parada. Congelada. Isso não passou pela minha cabeça em momento algum. Eu estava totalmente sem ar e não conseguia raciocinar. Por que eu estava tão nervosa ao invés de radiante?
A verdade é que eu não podia casar com Luke.
Não enquanto eu ainda estivesse com um problema para resolver. Casamento era algo sério. Eu levava a sério. Eu amava Luke e não queria magoá-lo, não mesmo.
- Luke, não posso te responder assim sem pensar antes. É algo muito sério.
- , não estou te entendendo. Nós somos praticamente casados. Por que você não iria querer?
- Desculpa, Luke, não estou dizendo não, entenda. Só quero um tempo para pensar.
- É por que não consigo te dar prazer? É isso, não é? Não vejo outra razão. - Não era isso. Era algo pior. Eu estava totalmente em desespero. Eu queria me tornar sua esposa, mas não nas circunstâncias em que nos encontrávamos. Não queria começar um casamento no meio de uma traição. Eu tinha de resolver esse problema antes. Porém, eu estava totalmente perdida. Eu odiava . Odiava o modo ultrajante que ele me tratava. Odiava tudo em relação a ele. Odiava gostar de fazer sexo com ele. Odiava tudo e ainda sim, quando estávamos juntos, era como se existisse algo maior que nos puxasse. Era como se eu não me importasse que ele me achasse uma vadia, eu só queria estar o mais próximo possível dele e tocar-lhe e sentir seu toque maravilhoso. Eu o desejava a todo instante. Eu não podia casar com Luke no meio disso.
- Luke, eu preciso resolver umas coisas, você sabe que não tem nada a ver com isso. Eu estou com a vida toda revirada. Não posso estragar sua vida agora.
- Então é mais uma vez por causa desse maldito cara que te perturba. Por que você não desfaz esse contrato de merda?
- Não é tão simples e.... - Luke se levantou num pulo antes que eu terminasse a frase. Pegou sua mochila e a pôs nas costas. - Luke, aonde vai? Ainda não terminamos.
- Sim, . Nós terminamos.
Continuei sentada na cama. Luke estava passando pela porta agora e eu sentia vontade de chorar e de morrer.
Luke estava.... Me deixando? Eu não podia deixar. Me levantei e não me importei com o frio ao sair da cama. Fui até a porta, que acabara de ser fechada. Abri e vi Luke abrindo a porta de seu carro.
- Luke, por favor! Me perdoa. Luke! - Luke continuou fazendo a mesma coisa, calado. – Luke, por favor...
Finalmente Luke pareceu ouvir. Apoiou o rosto no carro e depois levantou, até sustentar meu olhar. Ele tinha lágrimas nos olhos, assim como eu. Ao ver aquela cena meu coração apertou e as lágrimas presas em meus olhos se derramaram. Luke esfregou o rosto e voltou a me encarar.
- Preciso de um tempo. Nosso relacionamento precisa. Não me procure, , adeus.
Não pronunciei uma palavra, até abri a boca para tentar falar, mas Luke já havia entrado no carro e saído. Desabei.
Sentei me no degrau de minha porta e chorei. A rua estava deserta. Todas as pessoas em sã consciência estavam em baixo de um cobertor ou na frente de suas lareiras. Mas o frio não era nada em comparação ao que meu coração sentia. Ele doía. Eu estava afastando tudo que conquistei. Perdi Melissa, Luke. As duas pessoas, depois de Jade, mais importantes em minha vida. Deixei-os ir. E o que mais me matava era que isso tudo tinha a ver com o maldito .
Eu queria simplesmente que ele fosse para o inferno, e eu teria o maior prazer de mandá-lo para lá. Não me importava mais se aquilo era o que Jade queria. Eu só queria que acabasse. Não queria vê-lo, não queria desejá-lo. Eu me odiava por ter tomado decisões erradas. Mas eu tinha aquela maldita promessa. Aquele maldito fantasma que me perseguia. Eu tinha de passar por tudo aquilo pela promessa que fiz a mim mesma.
Mas, céus, aquilo estava passando dos limites. Eu estava me envolvendo cada vez mais com a pessoa que estava tornando minha vida um inferno. Isso não fazia parte da promessa, nem do plano. Mas eu não sabia o que fazer. Chorar já não era mais a solução, porém continuei ali.
Senti uma mão gelada nas costas e me virei, e Jade estava ali. Me abraçou, e pude sentir o calor e amor de minha filha, a coisa mais preciosa que tinha. Eu faria tudo por aquela menina, eu mataria, roubaria, iria contra meus princípios mais profundo por ela. Faria de tudo mesmo para protegê-la. Jade não perguntara porquê eu chorava, só estava me abraçando.
Jade nunca perguntava o que estava acontecendo quando me via naquele estado. Talvez tivesse medo de ser culpada daquilo. Nunca fiz questão de preocupá-la com meus problemas. Jade soltou o abraço e limpou as lágrimas em meu rosto com suas mãozinhas. Um pequeno sorriso se abriu em meus lábios. Eu a amava tanto, tinha tanto medo de perdê-la. Às vezes me perguntava se todas as mães sentem isso, ou eu que era exagerada.
- Não fique assim, mamãe. Não gosto de te ver assim.
Continuei sorrindo para ela, que já havia secado minhas lágrimas. Eu estava, mais uma vez, trazendo tormento para a vida de minha filha.
- O que acha de dormimos juntas essa noite? - Pisquei com um olho, ainda inchado pela crise de choro. Jade sorriu e assentiu.
Levantei e a peguei no colo, para irmos deitar. Coloquei Jade na cama, mas antes que eu pudesse me deitar ao seu lado, o celular tocou. Olhei no visor e a minha vontade era realmente não atender, mas poderia ser algo bom, nunca se sabe.
- Oi, Windhock.
- Onde você está, ? Pensei que chegaria hoje à noite.
- Estou na minha casa, me preparando para dormir. Aonde exatamente eu deveria estar?
- Querida, não te avisou do jantar da caridade?
- Não, ele não falou.
- Bem. Ele disse que falou e que estava tudo pronto para você vir. Enfim, vocês virão amanhã cedo. O jantar é as sete.
- Que jantar é esse, Alexis? - Perguntei o mais entediada possível. Eu não queria ir à canto algum. Queria ficar em casa e resolver meus problemas, não me pôr diante deles.
- Para a fundação a qual estamos fazendo a campanha contra a bebida no trânsito, querida.
- Tá bom. Estarei aí.
- Só mais uma coisinha. Fique longe de . Sei que ele é um doente por sexo e não pode ver alguém que tenha espaço para ele enfiar aquele pênisinho de merda. Por isso é você quem deve evitar.
- O que?! Do que você está falando?
- Não se faça de boba, meu bem. Sabe exatamente do que estou falando. E falo sério. Não estarei no jantar ou na casa de . Viajarei a negócios. Por isso não poderei controlá-los. - Engoli em seco. Como? Como Alexis sabia daquilo? Eu me senti totalmente humilhada. Totalmente constrangida. Eu não podia simplesmente negar aquilo, porque Alexis não havia dado essa opção. Permaneci em silêncio, o que ela entendeu como sim.
- Então esteja no aeroporto as três da tarde. - Ouvi o sinal da linha, Alexis desligara e eu estava confusa.
Estava mais perturbada do que antes, agora. Será que mais alguma coisa poderia acontecer? Era impossível ficar pior. Mas, e se ficasse?



Capítulo 21 - Darkness is just the beginning.

Caso queira, coloque para carregar You Know I’m No Good – Amy Winehouse

Aquele jato continuava o mesmo. Eu diria que já estava acostumada. Meu coração não acelerava ao ver todo aquele luxo mais. Eu não achava mais divertido usufruir de tudo o que aquele avião oferecia. Aquilo estava sendo... Normal. Talvez normal não fosse a palavra certa, mas se encaixava bem.
Aproveitei o tempo livre do voo para terminar de ler meu mais novo livro preferido. 'Pai' Não, não tinha nada a ver com autoajuda para filhos que cresceram sem pais. O livro contava a história fictícia de um filho perdido de Hitler, que sofria com os distúrbios herdados pelo pai. Aquele livro era um verdadeiro achado, não sabia por que não fazia sucesso. Comparado à literatura atual, que era praticamente apelativa e melosa. Aquele nunca foi meu forte. Ser melosa, correr atrás de outras pessoas. Se a pessoa quiser ir, que vá. Sentirei falta, mas não moveria um dedo para forçá-la a ficar.
E foi exatamente o que fiz na última semana, dei espaço para que as pessoas que me deixaram. Dei escolha. Diferente do que eu tinha. Eu não tinha escolha. Não estava lidando com alguém que entenderia meu pedido de espaço e tempo. só pensava nele e nele.
Chegamos em pouco tempo. E passamos por aquele mesmo procedimento entediante. Sai do aeroporto, vai para o carro, chega na grande mansão, vai para o quarto e se enfia lá até alguém vir encher minha paciência. Aquilo estava virando um ritual até.
Jade já tomava uma ducha enquanto eu guardava as roupas no armário. Notei que da última vez em que estive aqui deixei algumas roupas. Jade havia terminado, então era minha vez de tomar o banho. O fiz em menos de trinta minutos e pus o vestido que estava em cima da cama. Provavelmente teria sido Alexis a escolhê-lo. Era mais discreto e tampado, diferente do outro. Ele era cinza. Longo. Tomara que caia. Havia uma fenda do lado que ia até a coxa, mas nada exagerado, ia só até a coxa mesmo. O pano era reluzente e tinha em algumas partes brilho. Era um lindo e elegante vestido. Não era o mais confortável, porém era mais que o outro. A roupa de Jade, que já estava em seu corpo, era um vestido florido. Flores vermelhas num fundo preto. Era tão exuberante quanto o meu.
Às seis horas já estávamos devidamente prontas. não deu as caras em momento algum. Porém, depois de alguns minutos de espera, o mordomo nos avisou que o nosso carro partiria agora. Descemos as escadas.
Eu segurava o vestido e meus cabelos estavam de lado. estava lá em baixo. Descemos e nenhum cumprimento foi feito, a não ser Jade, que sorrira para e o mesmo retribuiu, dando um tapinha no topo de sua cabeça. Fomos em direção ao carro em silêncio e em silêncio chegamos até o local do jantar. Era no salão de um hotel. Me lembrava a primeira que fiz uma aparição pública com Jade. Entramos e Ernest estava à nossa espera.
- Olá, moças bonitas e rapaz rabugento.
Jade sorriu, porém provou que Ernest estava certo. Ele nos acompanhou até a mesa. Conversávamos coisas diversas e apenas revirava os olhos de minuto a minuto. Talvez quisesse chamar atenção.
- Querido, está com algum problema nos olhos?
Perguntei irônica. apenas me lançou um olhar fuzilante, o que me fez rir e voltar a atenção para Ernest. Talvez o ponto alto da noite seria implicar com . Ah sim, eu faria aquilo pelo resto de minha vida, se pudesse. Um tempo depois, chegou a nossa mesa alguns representantes da tal fundação, que eu nem fazia questão de lembrar o nome. Não faria mal se eu provocasse um pouquinho mais, certo?
- Gostaria de agradecer a vocês pelo apoio que estão dando à minha família.
- É apenas nosso trabalho.
- Eu queria propor um brinde, posso?
- Claro.
A única outra mulher da mesa respondeu e me olhou com raiva. Fiz questão de manter o olhar com a mesma intensidade.
- Senhoras e senhores, quero propor um brinde à fundação e à .
Eu disse de pé, em voz alta, batendo um garfo na taça de champanhe.
- , como todos sabem, sofreu muito na vida. Quando jovem, foi abusado sexualmente. Hoje, ele tem problemas para se relacionar com as pessoas, devido ao trauma. Mas...
Não pude terminar a linda frase, já que me puxara e me arrastava para algum lugar privado. As pessoas nos olhavam, tentando disfarçar o choque que havia ocorrido ao ouvir minhas mentiras.

Meet you downstairs in the bar and heard you rolled up
sleeves in your skull T-shirt

(Te encontrei lá embaixo no bar e ouvi. Mangas arregaçadas
na sua camiseta de caveira)


Entramos numa espécie de estoque da cozinha e simplesmente ordenou que as pessoas saíssem. Depois trancou a porta e me empurrou contra a parede mais próxima, apertando meus pulsos, quase estourando minhas veias.
- O que você pretende fazer? Você tem algum tipo de problema? Não tem medo da morte? Ham?
Não pude evitar uma gargalhada. Quem me mataria? Ele?
- Eu estava te ajudando. Você não quer isso? Que as pessoas engulam mentiras para sentirem pena de você e gastem o dinheiro delas com você?
- Isso tudo é por causa daquela idiotice no telefone? Ora, , achei que era uma mulher formada.
- Não. Não é só isso. Você vem fazendo da minha vida um inferno e sabe disso. Sabe também que isso não tem nada a ver com o nosso contrato, mas sim algum tipo de fetiche doentio que tem por mim.
Dessa vez quem gargalhou. Me mantive em silêncio e paralisada. Às vezes eu tinha medo de . - Então era isso? Está com falta? Você sabe o que você fez? Você queimou sua própria imagem na mídia. Terei que falar que estava bêbada, que é uma alcoólatra e não sabe se controlar. Coitada.
- Hm, tipo você, né?
- Sim, exatamente como eu. Afinal, somos iguais. Você sabe, e não pode negar, que é igual a mim. Talvez seja esse meu fetiche. Alguém que chega à minha altura.
- Vá se ferrar, . Tenho nojo de você. Quero acabar com isso logo. Não quero mais esse contrato idiota.
- Não? Sente nojo de mim?
proferiu as palavras em sussurros, me fazendo estremecer. Não. Eu não queria sentir aquilo de novo. Não agora, que a minha raiva era tanta a ponto de sucumbir aquele desejo infernal.

'Cause you're my fella, my guy. Hand me your Stella an fly
By the time I'm out the door. You tear me down like Roger Moore.

(Porque você é meu companheiro, meu cara. Entregue-me sua Stella e voe.
Quando estou porta à fora. Você me arrasa como Roger Moore.)


- Diga-me, ... Você não gosta de como te toco? Não gosta do que provoco em você?
Meu corpo todo se arrepiava. O desejo já estava ali. A raiva já tinha ido. Eu não conseguia mais pensar em nada, a não ser tê-lo. Ele me usava. Usava minhas fraquezas para satisfazer seus desejos imundos. Usava minha sensibilidade. Eu estava tão vulnerável naquele momento, tão fraca.
- Vamos, . Diga não, e não te levarei ao paraíso bem aqui, nesta cozinha.
Aquilo era tudo o que eu queria ouvir. O que eu queria que acontecesse. Mas eu ainda podia lutar, não podia?
- A porta. Pode vir alguém. Podem notar a demora e...
- A porta está trancada. E aprenda que, nesse mundo, ninguém pergunta aonde ninguém esta. Fingimos não saber o que, na verdade, temos certeza. Podem desconfiar, porém ninguém perguntará.
soltou meus pulsos devagar e levou meus braços até seu pescoço. Deixei que ficassem ali. Eu não podia resistir, não queria resistir. Afinal, eu estava solteira e nada me impedia de fazer com a única coisa em que somos bons juntos. sorriu ao ver que não sai correndo ao me soltar. Num impulso, que nenhum de nós esperávamos, eu juntei nossos lábios. rapidamente deu passagem para que eu aprofundasse o beijo. sorriu. Sabia que era um sorriso podre, por me ganhar tão fácil. Porém lá estava eu, com o mesmo sorriso entre o beijo. Já nem estávamos nos beijando direito. Arrastávamos os lábios e tocavam-se as línguas. O sorriso de ambos estampados não nos deixava seguir em frente. parou o beijo, ou quase beijo, e me encarou.
- O que foi?
Perguntei em dúvida. Naquele momento, deveríamos estar sem roupas e nos tocando livremente.
- Você.
Meu rosto todo estava vermelho, eu nem precisava de espelho, podia sentir. E nunca senti aquela sensação com antes. Tudo o que ele causava em mim era baseado na perversão. Na promiscuidade. Tudo o que ele falava era vulgar. Deixava-me extremamente excitada, por mais horrível que isso soe. Achava que apenas vadias gostassem de ouvir o que sussurrava para mim. Porém eu me sentia a mulher mais poderosa e maravilhosa do mundo quando ele falava sujeiras.
Mas... Aquilo.
O modo doce como aquela palavra saiu e o sorriso que ele tinha. Era diferente, também me excitava e me causava sensações diversas. Mas era diferente, era quase carinhoso. Era quase delirante. Eu quase sentia vontade de ser dele. Eu era dele naqueles momentos de prazer, afinal, eu me entregava totalmente. Tudo o que quisesse de mim eu faria. Ele causava isso em mim.
Mas só nesses momentos. Ali não. Quando olhávamos nos olhos, eu não cedia, eu não o deixava me possuir. Mas ouvir aquilo, daquele jeito, me fez deixá-lo. Deixá-lo ser minha ruína. A partir daquele momento, eu seria sua amante. Sua escrava. Sua.
Não fugiria mais. Eu não queria, nunca quis fugir. Tudo estava nítido agora. Eu queria ser dele. Não do modo como eu fui de Luke. Mesmo que eu tivesse que dividir com milhares mulheres, eu ainda queria aquele cargo. Eu estava assinando mais um contrato com ele. Um contrato permanente.
- Quero ser sua. Sempre.

I cheated myself. Like I knew I would. I told you I was trouble. You know that I'm no good

(Eu me enganei. Como eu sabia que enganaria. Eu te disse que eu era encrenca. Você sabe que eu não presto)


fazia um leve carinho com as mãos em minha cintura. Apesar de estar de olhos fechados, pude imaginar o sorriso perverso em seus lábios. Seus lindos lábios irresistíveis. Cheios de veneno, feitiços.
Senti então sua respiração próxima ao meu pescoço, me causando calafrios.
- Você já era minha, . Desde o dia em que te toquei a primeira vez.
Começou a beijar o local bem devagar. Suas mãos ainda faziam os mesmos movimentos leves e calmos. Eu apenas apertei mais meus braços em seu pescoço, queria o perto.
- Agora, espero que não se arrependa. Porque não vou esquecer suas palavras.
Céus! Aquilo me enlouquecia. Não sabia dizer se eram as palavras que ele usava, sua voz, ou simplesmente por ser ele quem o estava dizendo. Talvez qualquer bobagem que falasse daquele jeito me causaria esse tipo de coisa. Onde eu estava com a cabeça? Esse homem era tudo que eu precisava. Como pude pensar em evitá-lo? Como me manter afastada da única pessoa no mundo que me causava sensações tão singulares? Eu não tinha a resposta. Não por enquanto.
Meu corpo pertencia a ele agora, mesmo que por dentro eu pertencesse ainda a outro, e sabia que nunca chegaria a me possuir nesse aspecto. Aliás, aquilo, para ele, não faria sentido. Ele tinha o que queria, meu corpo e minha vontade de fazer tudo com ele. Era só isso que ele precisava.
subiu os beijos lentos até meu queixo. Beijou toda extensão do queixo, maxilar, bochecha. Era como se marcasse território. Talvez fosse, talvez para ele eu fosse apenas uma cadela. Eu não me importava, de verdade. Não mais.
Por fim chegou aos meus lábios, e passou a língua quente bem devagar por eles. Subi a perna que estava livre, devido à fenda do vestido, e coloquei em volta de seu quadril, juntando nossas intimidades e automaticamente me causando arrepios. Nossos corpos estavam totalmente colados agora. Minhas mãos estavam em seus cabelos e meus cotovelos apoiados em seus ombros. Nos beijávamos devagar, como nunca fizemos antes. Sem pressa. Não estávamos usando o beijo apenas como preliminares, estávamos nos beijando. Não era só o sexo em si que era bom. Descobrimos que tudo era. O beijo, as vozes, os olhares, os toques, tudo poderia ser aproveitado e desejado sem precisar do orgasmo. Aquilo já nos dava prazer. Eu passaria horas apenas o beijando e então horas apenas o tocando e sendo tocada, depois mais algumas horas nos encarando, coisa que nunca consegui fazer por muito tempo.
Sustentar um olhar era algo muito forte e difícil para mim. Mas eu o faria se necessário.
subiu suas mãos às minhas costas, ainda me beijando. Bem devagar desceu o zíper do vestido. Eu não usava sutiã, então assim que a parte de cima caiu sobre minha cintura, pode sentir que meus seios já estavam ali, o esperando. sorriu entre o beijo, me fazendo sorrir junto, como da primeira vez, porém voltamos ao beijo. Suas duas mãos foram em cheio aos meus seios. arfou em meus lábios e parou de me beijar. Deixou os lábios ali tocando os meus.
- Isso. Amo isso.
disse entre suspiros. Meus olhos estavam fechados. Eu sentia um prazer imensurável de tê-lo tocando meus seios sensíveis. Puxei seus cabelos enquanto ele apertava e soltava meus seios. deu início ao beijo novamente, com vontade dessa vez. Uma de suas mãos foi para minha nuca, porém a outro continuou acariciando meu seio. Sua língua fazia ora movimentos rápidos ora devagar. Desci minha mão para desabotoar sua camisa. soltou meu seio para me ajudar a tirar os botões rapidamente e depois que seu peito estava nu voltou a apertar meu seio.
Passei as unhas levemente sobre seus ombros, levando a camisa sobre eles até cair. Passei as mãos em seu peito nu, desenhando seus músculos. segurou minha perna, que estava apoiada em seu quadril, e a desceu. Puxou assim o resto do vestido para que caísse no chão. Tudo isso mantendo o beijo na mesma intensidade. Depois que eu estava apenas de calcinha e salto alto, segurou minhas pernas e dei impulso para cruzá-las em seu quadril. , desajeitada e lentamente, começou a caminhar até achar algum lugar para me apoiar. Depois, me sentou em algum tipo de bancada de madeira. Ouvi barulho de algumas coisas caindo, mas não me dei o trabalho de olhar. estava entre minhas pernas e apertava minha cintura com precisão. Minhas mãos estavam em seus ombros e também apertavam o local. Sua pele era macia e convidativa.
Desviei os beijos de seus lábios para seu pescoço e ombros. Mordi o local, sentindo o gosto de sua pele. soltou um gemido em meu ouvido. Passei a beijar o local com intensidade. Enquanto isso, desci minhas mãos até sua calça. Abri o botão e o zíper devagar.
Quanto mais eu chegava perto de concluir o que tinha em mente, apertava mais minha cintura. Desci sua calça até a mesma cair sozinha. Beijei seu pescoço e colo. Subi para seu queixo e maxilar. Enquanto isso, pus minhas duas mãos dentro de sua boxer, envolvendo seu membro rígido, e comecei a fazer carícias leves no mesmo. gemia baixo, coisas sujas, e pude sentir a irritação em sua voz e pelas marcas roxas que provavelmente ficariam em minha cintura. Cheguei até sua orelha e mordi seu lóbulo.
- Acha que é o único que pode brincar?
Eu disse no tom mais sexy que já ouvi de minha voz. Continuei a massagear seu membro. Sabia que ele queria que eu o apertasse e fizesse movimentos rápidos com as mãos, por isso não fiz.
- Faça logo isso.
disse, quase que como um gemido. Ri baixo em seu ouvido.
- Hm. Se for um bom garoto, da próxima ganhará logo seu prêmio.
Continuei no mesmo ritmo, assistindo perceptivamente, claro, se contorcer pelos meus toques. Suas mãos me puxaram, colando nossas intimidades. Depois pôs as mãos sobre as minhas e fez os movimentos de vai e vem que tanto queriam. Aquilo não só o enlouquecia como a mim também. Quando nossas mãos vinham, ele tocava minha intimidade, e quando iam, seu membro rígido tocava a mesma. Aquilo me fez movimentar involuntariamente os quadris. tirou então suas mãos da minha e abaixou a boxer. Continuei os movimentos no mesmo ritmo que começamos. Sua boca agora estava em meu pescoço e ombros.
Suas mãos seguravam cada lado de minha calcinha, a abaixando. não estava conseguindo fazer nada muito bem, pois estava concentrado no prazer que eu estava lhe dando. Levantei um pouco para que ele tirasse a calcinha por inteiro. Eu podia ver que já estava perto de seu ponto alto. Seu coração batia forte e ele estava suando. tirou minhas mãos de seu membro e o posicionou na minha entrada, deixando meu sangue borbulhando. Sentia minha intimidade pulsar e então segurou minha cintura e me empurrou contra seu membro, me preenchendo totalmente. Soltei um gemido alto. Eu não me importava se alguém iria ouvir ou entrar naquele lugar. Não me importava com nada se estivesse sempre assim.
começou a se movimentar dentro de mim. Meu corpo fazia movimentos de vai e vem automaticamente. aumentava vez ou outra os movimentos. Toda vez que nosso corpo se encontrava, ouvíamos um estalo devido ao impacto. conseguia chegar em pontos de meu ventre que nenhum homem algum dia foi capaz. E era por isso que não podia negar aquilo. Não é sempre que encontramos uma pessoa que parece ter sido feita da mesma forma que você. Tudo na mesma medida e harmonia. era assim. Parecia que nossos corpos foram projetados para se encaixar, de uma forma gloriosa e deliciosa.
O modo como nossos quadris se chocavam era esplêndido. Até nossos gemidos eram sincronizados. Eu sabia que tinha consciência daquilo. Talvez ele tenha percebido isso desde a primeira vez, enquanto eu apenas preferia acreditar que o ódio era a única coisa que criávamos. empurrou meu tronco devagar até que eu deitasse no balcão, porém do quadril para baixo permanecíamos unidos e em movimento. abaixou-se um pouco para beijar meus seios, parando os movimentos, porém deixando seu membro dentro de mim. Deixei meus braços livres ao lado de minha cabeça, eu estava cansada. levantou-se, me encarando. Seu olhar tinha desejo, provocação. Arqueei as costas e empurrei mais minha intimidade contra seu membro, como se eu implorasse para que ele continuasse.
- Te aconselho a se segurar.
disse com sua voz rouca e sexy e olhos cheios de malícia. Segurei então nas bordas do balcão onde estava deitada. começou a movimentar-se. Entendi o motivo de ter mandado eu me segurar. Eu me mantinha firme mesmo quando ele forçava seu membro dentro de mim fortemente, fazendo com que ele fosse fundo. Eu gemia a cada estocada.
Como aquilo era bom. Eu estava viciada naquele tipo de prazer. Eu chamaria de masoquista, misturado com divino e um pouco de profundidade. dava o seu melhor, mas parecia que cada vez se tornava melhor ainda. Minhas pernas estavam cruzadas em seu quadril. Volta e meia parava os movimentos e apenas empurrava seu membro o mais fundo que podia. Era como se quiséssemos mais. Queria que me preenchesse o corpo inteiro, não apenas meu canal. Notei que já estava muito sensível e perto de chegar ao ápice. Aproveitei cada segundo antes de relaxar o corpo e sentir todos meus membros tremerem e o sangue fervendo preencher minha intimidade, que pulsava.
continuava a movimentar-se, mas logo depois chegou ao clímax, como eu. Deixou seu membro dentro de mim. Minhas pernas estavam soltas, elas não tinham forças para empurrar-me contra ele, mas vontade não faltava. tinha os olhos fechados e a boca entre aberta. Seu peito descia e subia rapidamente buscando fôlego, assim como eu. Ele estava em êxtase. Aquela era o tipo de imagem que eu guardaria para sempre na cabeça. se retirou de mim, me causando um vazio. Estendeu a mão e eu a segurei, me levantando. Ainda estávamos respirando com dificuldade e gotículas de suor estavam presas em nossos corpos. Agora eu estava de pé, em frente a ele. Mantive meus olhos fechados. Envolvi seu pescoço num ato involuntário, e se aproximou, colando nossos corpos.
Eu estava exausta e, se fosse para esperar nossas respirações normalizarem, que fosse com os corpos juntos um ao outro. não me abraçou. Eu sentia vez ou outros seus dedos tocando alguma parte das minhas costas, mas não chegou a tocar com a mão inteira. Seu cheiro era tão bom e inebriante.
Eu queria ficar ali. começou a desenhar com a ponta dos dedos minhas costas, bem de leve. Se eu não estivesse tão sensível, nem teria sentido.
- Das próximas vezes vamos fazer assim. Sem enrolações. Sem se fazer de difícil.
- Outras vezes?
Eu disse em tom de desafio. É claro que teria outras vezes. É claro que nunca nos cansaríamos.
soltou um suspiro, me fazendo arrepiar ao sentir o vento quente saindo de seus lábios em meu pescoço.
- Gosto do seu corpo. - falou baixo. - Na verdade, eu o venero, não sei por quê. Gosto de transar com você. É diferente de qualquer outra mulher com que me relaciono. Imagino que sinta o mesmo que eu. Por isso não vou enjoar de você tão cedo.
Me afastei de seu pescoço para que eu pudesse o ver. Segurei seu rosto em minhas mãos e coloquei meus lábios sobre os seus.
- Farei com que você não enjoe nunca.
sorriu sobre meus lábios, que também sorriam. E então nos beijamos. Não tínhamos noção do relógio. Não sabíamos quanto tempo passamos ali. Não sabíamos nem se ainda havia alguém naquele local. Sabíamos que ainda tínhamos tempo para um beijo. Só um beijo. Por que eu amava beijar e amava me beijar.

XX

Jade dormia no meu colo. Estávamos quase chegando em casa. Assim como disse, tudo dera certo. Ninguém perguntou por que demoramos, nem onde estávamos. Ernest tinha noção do que aconteceu, já que sabia que dormia com todas as mulheres que passavam em sua frente e comigo não seria diferente. Mas era diferente. Ele tinha me dito que era diferente.
Dentro desses dias, era a primeira vez em que um sorriso sincero se instalava em meu rosto. Eu me sentia leve depois de tanto transtorno. Me sentia leve porque não estava traindo Luke, apesar de ainda amá-lo. Estava leve porque resolvi admitir para mim mesma que não deveria fugir mais. Não deveria me negar do usufruto do prazer que , e infelizmente só , me proporcionava. Mas o ódio ainda estava ali. A vontade de matá-lo também. Assim como sua arrogância, egocentrismo, grosseria entre outros, ainda estavam ali também.
Não daríamos trégua quando não estivéssemos em momentos íntimos. Não tínhamos uma relação amigável, nem iríamos ter, independente do desejo mútuo que sentíamos. estava no banco da frente e foi o primeiro a sair do carro e ir em direção à casa. Fui à última. Desci do carro com Jade no colo. Ultimamente, Jade não aguentava mais ficar acordada até tarde. Ernest vinha logo atrás e se ofereceu para levar Jade. Aceitei, já que ela era pesada.
- Já pensou na minha proposta, ?
- Eu tenho que pensar melhor, Ernest. Não posso me mudar do meu país de uma hora para outra. Nem privar Jade de ir a uma escola e estudar em casa.
- Convenhamos que é o melhor. Tanto para você, quanto para mim. Não é agradável ter que mandar um jato de Londres até a Escócia para buscar vocês toda vez.
- Eu sei.
- Então pense nisso quase concordando.
Fiquei em silêncio e logo chegamos ao quarto. Agradeci a ajuda de Ernest e fechei a porta. Eu estava exausta. Precisava deitar naquela cama e dormir até não poder mais. Porém tínhamos de ir para casa às dez da manhã.
Troquei a roupa e pus uma camisola de mangas longas. Em Londres não estava fazendo tanto frio quanto fazia em Fife, mas ainda fazia. Aquela frente fria não ia embora nunca e nem estávamos no inverno ainda. Chamei Jade, tentando acordá-la para trocar de roupa, mas vi que seria praticamente impossível.
Deitei ao seu lado e senti meu corpo todo doer ao relaxar os músculos. Quando senti que meu corpo havia relaxado, permaneci fitando o teto e pensando em tudo. Parecia que, assim que deitei, o sono se foi. Virei para cá, virei para lá e não conseguia desligar meu cérebro. Eu estava com sono, mas não conseguia dormir.

Upstairs in bed with my ex-boy. He's in a place,
but i can't get joy. Thinking on you in the final throes,
This is when my buzzer goes.

(Lá em cima na cama com meu ex-namorado. Ele está no lugar certo,
mas não consigo ter prazer. Pensando em você nos lances finais,
é quando eu gozo)


Levantei da cama e esfreguei o rosto. Olhei para o relógio e marcava três e vinte da manhã. Eu havia ficado mais de uma hora apenas me revirando na cama.
Fiquei de pé e calcei meu par de pantufas pretas. Desci as escadas, tentando fazer o máximo de silêncio. Fui até a cozinha e bebi um copo de água. Parei na porta do cômodo onde ficavam as piscinas e pensei em como seria bom entrar na piscina de águas termais de .
Cheguei até o cômodo, que era um dos mais lindos da casa. As paredes eram todas em vidros e ficava no meio do jardim. O chão era uma madeira escura. Coloquei minha mão na água e vi que a temperatura estava quente, como eu queria. Tirei a pantufa dos pés e os pus na água. Fiquei ali, mexendo os pés e ouvindo o barulho da água. Minhas costas doíam tanto que eu deitei o tronco.
Não havia percebido como o teto também era lindo. Ele tinha umas pinturas barrocas, dessas que você encontra em igrejas do mesmo estilo. Havia um anjo e atrás dele uma nuvem negra. Mas não lhe tocava, apesar de estar perto. Fiquei pensando se aquela pintura teria sido escolhida propositadamente ou era mais algo que tinha empregados para fazê-lo. Deixei que meus olhos se fechassem. A água quente acalmava meu corpo. Comecei a cantarolar baixo uma canção antiga.
Como eu estava encrencada. Como eu estava perdida. Era engraçado. Comecei a rir de minha própria desgraça. Eu estava enlouquecendo. Aos poucos eu estava me tornando outra pessoa e até gostava daquilo, gostava até demais. Essa era minha preocupação. Gostar demais. Gostar demais do dinheiro, do luxo, do fácil, do sexo.
tinha razão. Éramos iguais, se não sentíssemos tanta atração um pelo outro, eu diria que éramos irmãos. Irmãos, não. Gêmeos. Ri mais uma vez de minha conclusão e voltei a cantar, um pouco mais alto dessa vez.
Aquele cômodo tinha cheiro de cigarro ou o que? Abri os olhos.
- Espero que não se sinta intimidada com um cantor te ouvindo.
disse depois de soltar a fumaça que inalava. Há quanto tempo ele estava ali? Não me importava. Sua presença não me incomodava mais. Me fazia querer agarrá-lo, mas não incomodava. A verdade é que nunca incomodou, eu apenas achava que incomodava. se sentou ao meu lado e pós os pés na piscina, mas não deitou assim como eu. Fechei meus olhos de novo. Eu estava me sentindo muito bem para que ele estragasse.

Run out to meet you chips and pitta. You say when
"we're married", 'Cause you're not bitter
"There'll be none of him no more" I cried for you on the kitchen floor.

(Corro pra te encontrar, batatinhas e cerveja. Você fala
"Quando estivermos casados", porque você não tem rancor.
"Não haverá mais nada dele" Eu chorei por você no chão da
cozinha)


Ficamos em silêncio por um tempo. O único barulho feito era dos pés, que se moviam em baixo da água, e de tragando e soltando a fumaça do cigarro. Sim, ele fazia questão de fazer barulho. Ele preenchia todo o pulmão com o tóxico e depois o soltava devagar. Mas era um som quase agradável.
- Você acredita em Deus?
perguntou, me fazendo abrir os olhos, confusa. Que tipo de pergunta era aquela e por que logo ele a estava fazendo?
- Sim. Mas não no mesmo que o resto das pessoas acredita.
não disse nada, continuou fumando seu segundo cigarro e fitando sua frente.
- E você?
Perguntei constrangida. Deus me fazia lembrar meu pai. Eu odiava me lembrar de meu pai. Lembrar tudo o que ele me causou. Todo trauma. As noites sem dormir. E aquela coisa que até hoje me perturbava.
- Hm, não sei. Na verdade, nunca parei para pensar nesses assuntos.
- Então por que me perguntou isso, oras?
- Tive vontade.
se deitou, mas não virou para mim, ficou exatamente do modo como eu estava, encarando o teto que, ironicamente, tinha aquela imagem tão religiosa.
- Acha errado?
- O que, ?
- O que fazemos.
- Acho.
Meu coração sentiu aquela pontada, que eu sentia toda vez que percebia o quanto aquilo era errado. Da última, vez eu não havia sentido isso. Era como se aquela minha parte estivesse adormecida. E então ela acordara, mas não crítica como antes. Ela só estava ali e eu ignorava.
- Sei que tem alguém e tal.
- Sim, eu tenho.
Eu ainda tinha. Luke pedira um tempo, não um término. Ainda éramos um casal. Em crise, mas éramos.
- Não se julgue por isso. Não é tão errado assim. Sou o pai da sua filha. Cheguei antes.
sorria ao soltar aquela frase tão forte.
Agora estávamos com a cabeça de lado e nos encarávamos. sorria, daquele modo que ele sempre sorriu. Irônico, sarcástico e sujo. Seu sorriso verdadeiro. Eu não. Eu estava séria, estava confusa. Não que eu fosse me sentir menos culpada só porque era pai de Jade. Mas estava confusa pelo modo como falara daquele assunto tão intocável.
- Obrigada pela consideração.
Respondi-lhe num tom irônico. acenou com a cabeça concordando. era tão inexplicável. Eu tinha tantas perguntas. Tantos mistérios que gostaria a de descobrir, ou talvez não. Mas ainda tinha curiosidade sobre quem realmente é .
Que ele era de lua eu já sabia. estava sorrindo para você num minuto e no outro estava te xingando, e então arrancando suas roupas e depois gritando o quanto você é vadia. Eu diria que já estava até me acostumando com essa ordem natural das coisas. E então eu sorri.
era tão lindo. Tão atraente e sexy. Seus olhos eram o começo de tudo. Depois que você os encarava, era o seu fim.
Num estalo, estava de pé e tirava a camisa.
- Sério que veio aqui e não vai entrar?
Levei um tempo para pensar em sua pergunta, já que estava completamente perdida em seu tronco nu. Era a visão do paraíso, eu ousaria dizer. Suas tatuagens negras tornavam tudo mais sexy, se é que era possível.
- Na verdade, não. E não trouxe roupa de banho nem nada.
já havia entrado na água deliciosamente quente. Eu realmente estava com vontade de entrar, já que nunca entrara ali.
- Você é assim ou se faz boba por diversão?
- Desculpa, essa eu não entendi.
bufou e revirou os olhos. Eu sabia que as vezes tirava sua paciência de propósito, mas as vezes eu realmente não entendia seus duplos sentidos.
- Está me vendo de roupa?
No mesmo instante fitei a boxer, que usava antes, em sua mão, e a jogou longe.
- Sua vez. Estou ansioso, ande com isso.
Eu ri. Ri, porque quem achava que era, para me dar ordens?
- Desculpe, não vai rolar.
Eu disse, revirando os olhos. Eu não ficaria nua em sua frente. Muito menos entraria ali com ele nu. Sabia no que daria. Voltei a me deitar, com os pés ainda dentro da piscina. Ouvi o barulho de se movendo na água e sabia para onde ele estava indo. Num impulso, se deitou sobre mim, molhando minha camisola, e me fazendo ficar emburrada. Porém o contato com seu corpo me fez querer realmente tirar a roupa.
- Vai ficar com essa roupa molhada? Não sei se lembra, mas já te vi nua, e pretendo vê-la de novo. Agora.
sussurrou a última palavra em meu ouvido. Ele sabia o que causava em mim e jogava sujo. Segurei seu rosto com as duas mãos. Caiam gotas de água de seus cabelos no meu rosto. Ele estava tão lindo com aquele cabelo molhado. Céus, eu estava louca por aquele homem. Eu reparava em tudo nele e me sentia atraída por tudo. Que tipo de vida seria a minha de agora em diante? Viveria querendo sempre mais e mais. tinha um sorriso nos lábios. Passei meus dedos por eles, fitando-os. fechou os olhos com meu toque tão calmo e doce.
Passei meus dedos pelo seu queixo, maxilar, bochechas. Sua pele era convidativa. Extremamente convidativa. Devagar, juntou nossos lábios, aprofundando o beijo em seguida. Aquele beijo, que eu apreciava tanto, e só ele sabia como me dar. Agarrei seus cabelos molhados, puxando-os de leve. Num ato rápido e que me pegou de surpresa, puxou meu corpo para dentro da piscina. Deixei-me levar. Continuamos o beijo. soltou seus lábios dos meus para tirar minha camisola. Depois, segurou em minha nuca e continuou o beijo no mesmo ritmo. Arfei ao sentir o impacto nas minhas costas, de me empurrando contra a parede da piscina.
Senti seu membro já rígido me tocar com a junção de nossos corpos. Um arrepio se instalou em minha espinha e, mesmo debaixo da água, senti meus pelos eriçarem. A água tornava tudo mais próximo e distante ao mesmo tempo. passou as mãos, que estavam em minha nuca, para minha cintura, apertando o local, que ainda estava dolorido de algumas horas antes. Seus lábios se dirigiram para meu pescoço, me fazendo revirar os olhos com seu beijo. Minhas mãos estavam em seus ombros e eu arranhava de leve o local, que também parecia estar vermelho devido antes. desceu as mãos até meus glúteos e os apertou. Senti meu corpo estremecer e implorar por mais toques. Logo desceu as mãos pelas minhas coxas, sempre apertando em cada parada.
Prendeu-as em sua cintura, com facilidade, graças a água, me fazendo ficar mais alta. Entendi por que me pôs naquela posição, afinal, seu rosto ficaria de frente para meus seios descobertos e molhados. não demorou em preencher sua boca com eles. Minha cabeça ia para trás, sentindo total prazer com seus beijos em uma das partes mais sensíveis de meu corpo. beijava-os em volta. Passava a língua pelo meio. E, ás vezes, mordia meus mamilos. Minhas mãos estavam agarradas a seus cabelos. Aquilo era ótimo. Aquela sensação preenchendo meu ser novamente. Era delirante. Viciante. levou então as duas mãos até meu par de seios e começou a fazer movimentos circulares nos mamilos enquanto passava a língua lentamente entre os dois. Eu agarrava mais seus cabelos a cada hora e jogava a cabeça para trás, revirando os olhos.
Estava em transe, hipnotizada. Nem eu conhecia meu corpo daquela forma. Nem mesmo eu sabia que era capaz de sentir todo aquele prazer delirante. Todo aquele pecado infiltrado. Sim, para mim, aquilo era pecado. Um pecado contra mim mesma. Eu sabia onde estava me metendo quando decidi me entregar ao desejo. Eu sabia que aquilo não acabaria bem e eu sairia machucada. Mas eu estava vivendo aquele presente tão prazeroso. Se teria um futuro? Não saberia dizer, não fazia questão de ousar pensar nisso. Eu só queria aquilo. Sempre. Todo dia. Talvez não para sempre, mas sempre que eu pudesse.
era extraordinariamente inteligente e sabia disso. Sabia que eu estaria ali sempre, talvez não para sempre, mas sempre que ele quisesse.
Seus lábios fusos à água quente transportavam-me para um tipo de mundo paralelo, onde a realidade não existia. A realidade de que minha vida estava em ruínas, que eu estava sendo a pessoa estúpida que sempre critiquei. O tipo de pessoa que arrisca tudo por um prazer momentâneo. Que não pensa no futuro e nas consequências.
Para , não fazia diferença. Ele não perderia nada ao me entregar o paraíso. Já eu.... Eu perderia muita coisa. Eu estava perdendo muita coisa. Eu perdi muita coisa. Será que era cônscio de que tinha mudado minha vida inteira? E cada dia que eu passava ao seu lado, ele mudava mais e mais. Se, em uma noite só, ele mudou minha vida para sempre, o que seria da minha vida agora, que nos entregávamos ao prazer todas as noites?
deslizava seus lábios devagar, roçando em minha pele, desde meus seios até meu queixo. Eu sorri. Mordi os lábios. Abaixei para tocar-lhe os lábios com os meus. tinha a cabeça levantada de encontro ao meu rosto. Eu passava os lábios por seu rosto. Mordendo algumas partes. Suas mãos estavam em minha cintura novamente. Nossos lábios estavam juntos e em perfeita sincronia agora. Nos beijávamos com vontade. Sua língua invadia minha boca com movimentos e pressão. Sorríamos às vezes. Aqueles sorrisos significavam tanto. Significava que eu não ligava mais para o ódio que sentia. Significava que eu estava querendo aquilo e não apenas deixando acontecer. Já , eu não sabia o motivo. Talvez eu nunca fosse saber ao certo.
Uma de suas mãos desceu devagar até meus glúteos e apertou o local. Mordi seu lábio inferior e o puxei de leve, ainda com um sorriso malicioso nos lábios. A mesma mão foi em direção a barra de minha calcinha. pôs a mão por dentro de minha calcinha, na parte de trás, e foi deslizando a mão devagar até chegar na frente. Senti meu corpo queimar. O suor molhava nossos rostos, apesar da água. Tudo contribuía para o calor. Nossos corpos juntos e a água quente. Senti pressionar o polegar sobre meu clitóris. Aquilo era.... Eu não tinha palavras para expressar. Eu não conseguia nem raciocinar.
começou a fazer movimentos circulares e rápidos. Automaticamente, soltei um gemido sobre seus lábios e não consegui acompanhar o beijo. diminuiu a velocidade assim que percebeu que eu estava muito sensível e poderia chegar ao orgasmo rápido. Gemi em protesto. Eu queria que ele deixasse. Não queria que me torturasse.
- Deixe. Eu quero. Continue.
Eu disse sem fôlego algum. tinha um sorriso sujo. Aquilo estava claro para quem quisesse ver. Ele não faria o que eu pedi.
- Quero que. Seja depois.
estava sem fôlego tanto quanto eu. Era um bom sinal. Significava que aquilo era tão forte para ele quanto para mim. Não queria esperar. Eu queria agora.
- Duas... Duas vezes. Acha que é capaz?
riu diante de meu desafio. Eu sabia que ele era capaz. Era capaz de me dar dois, três, quatro orgasmos, se tivéssemos tempo.
- Não só dois, mas. Os dois melhores de sua vida.
Quem era eu para discordar? aumentou a velocidade gradativamente dessa vez. Eu estava agindo como se estivesse sendo penetrada, e estava apenas massageando meu clitóris. Porém, o modo que ele fazia aquilo. Sua voz. Seu corpo, pareciam que tornava tudo mais intenso que o normal. Enquanto movimentava seu polegar agilmente em baixo, seus lábios sugavam meu pescoço e deixava marcas.
Senti dois dedos de adentrando minha intimidade, sem que eu estivesse preparada. Seus dedos molhados deslizaram para dentro com a maior facilidade. Eu estava gemendo tanto que tinha medo de chamar atenção de alguém na casa. Porém isso devia ser o som mais ouvido pelos empregados daquela casa. Com quantas será que já havia feito sexo naquela piscina? Aquilo me dava certa ânsia. Não por que queria exclusividade ou ser a primeira, mas... Talvez sim, eu queria. Queria ser para ele o que ele era para mim. Eu sabia que sentia algo de diferente das outras quando me tocava. Mas quem me garantia que ele havia dito isso só para me convencer a ser seu brinquedinho particular?
Não era hora de pensar naquilo. Não era hora de pensar em nada, a não ser na sensação de ter seus dedos se movendo lentamente dentro de mim. Meu quadril fazia involuntariamente movimentos sobre seus dedos. aumentou a velocidade, me fazendo afundar minhas unhas, dessa vez curtas, em seus ombros. manteve os movimentos por um tempo e então parou. Seus dedos continuavam lá dentro, porém parados.
- ...
Eu praticamente gritei. Movi meus quadris fazendo sozinha o que antes fazíamos em conjunto. parecia não me ouvir, parecia não estar ali. Ele beijava meu pescoço como se aquilo fosse a única coisa para se fazer. Continuei rebolando sobre seus dedos. Me pegando de surpresa, abriu os dedos dentro de mim, fazendo as paredes de meu canal moverem. Eu gemi alto e rouca. Aquilo doía um pouco, mas trazia uma sensação maravilhosa, única, nunca explorada. começou a mover os dedos afastados devagar, talvez para não me machucar. Eu tentava me segurar para não chegar ao meu ponto tão rápido. Mas estava sendo praticamente impossível. A sensação era como se eu fosse explodir a qualquer instante. Eu sentia todos os meus membros tremendo, os músculos se contraiam.
Eu continuava me movimentando, porém eu estava cansada demais. Vez ou outra eu diminuía a velocidade dos movimentos. , por outro lado, não. Ele mantinha o mesmo ritmo, a mesma pressão. Quando pensei que não poderia ficar melhor, uniu seu polegar de volta ao meu clitóris, massageando-o. Levantou seu rosto, que estava enterrado em meu pescoço, para que pudesse me ver. Seu rosto estava vermelho. O cabelo estava agarrado ao seu rosto. Sua expressão era de puro prazer e diversão.
Ele estava se divertindo ao me ver naquele estado. Eu não estava diferente. Eu o olhando, com um pouco de dificuldade, já que estava subindo e descendo em seus dedos. Mantinha meus lábios presos entre os dentes, para evitar mais gemidos. Meus olhos abriam e fechavam. A água me ajudava a movimentar-me, apesar do cansaço. Ajudava a me manter apoiada em sem esforço. levou sua mão livre à minha nuca e agarrou os cabelos dali. Eu já não estava mais alta que ele, pois já havia deslizado para um pouco para baixo. puxou meu cabelo, fazendo minha cabeça ir para trás.
Aquele movimento me fez sentir uma sensação de prazer nas costas. Aquilo era realmente bom. Tudo era bom. Até apenas olha-lo já era bom. Talvez agora eu entendesse o sentido do yin yang. Sempre existiria o lado bom no mal, e o lado ruim do bom. E aquilo explicava . Apesar de ser praticamente a parte ruim, existia algo bom. Algo que nos unia.
- Olhe para mim.
disse, empurrando minha cabeça em direção ao seu rosto, para que eu olhasse em seus olhos. Mantive meus olhos fechados, não queria olhá-lo. Sabia que ,se visse seu rosto transbordando prazer e seus olhos, seus olhos hipnotizantes, eu me entregaria naquela hora. Seus olhos eram tudo. Aqueles olhos , que nunca mudaram. mudara por fora, por dentro. Mas seus olhos continuavam os mesmos. E quando eu olhava em seus olhos, me lembrava de quando eu era apenas uma menina e ele um menino. Quando nos tocamos pela primeira vez. Quando eu o achava o máximo, e era simplesmente sua fã. Quando tudo mudou. Quando eu era apaixonada por ele. Eu era apaixonada por ele. Fui apaixonada por ele durante tanto tempo e tive uma filha dele.
Não, eu não era qualquer uma na vida de . Tudo o que eu temi naquela época, depois de nossa primeira vez, era ser simplesmente uma transa para ele. E ali eu percebi que realmente eu não era só aquilo. Eu não sabia o que éramos ao certo. Amantes do corpo um do outro, talvez. Mas aquilo não existia no mundo real. Aquilo não fazia o mínimo sentido. E, por incrível que pareça, não queríamos sentido. Pois, se buscássemos sentido, estaríamos brigando, xingando um ao outro, como era o costume. Porém estávamos ali, desfrutando de um prazer privado, prazer esse que só eu podia dá-lo e só ele podia me dar. Deixei meus olhos se abrirem e encontrarem os dele. Deixei que invadisse meu íntimo por meu olhar.
- Olhe para mim. Quero ver seu rosto quando chegar lá.
- Estarei aqui.
Eu disse sem desviar. E então me deixei levar.

I cheated myself. Like I knew I would. I told you I was
trouble. You know that I'm no good

(Eu me enganei. Como eu sabia que enganaria. Eu te disse
que eu era encrenca. Você sabe que eu não presto)


intensificou, se é que aquilo era possível, os movimentos. Me mantive fixa em seus olhos. Me perdendo neles a cada segundo que se passava lentamente. Revirei os olhos e gemi.
Ali estava eu, chegando ao orgasmo apenas em seus dedos.
Minha respiração era quase falha e desesperada. Eu contraí todo o meu corpo e me apertei contra o seu. Colei nossas testas. Eu mordia os lábios enquanto passava por aquele momento. sorria. Meu corpo relaxou e minha intimidade ficou sensível automaticamente. retirou os dedos e passou-os em meu rosto. Seus dedos tinham, além da água, obviamente, meu líquido humano. passou os dedos molhados, pelos dois elementos, em meu rosto. Desde minha bochecha até o queixo.
Meus olhos se fecharam mais uma vez. Queria beijá-lo agora. Queria passar o resto da vida ali com ele. Não queria voltar para a realidade. Não queria odiá-lo. Não queria mais brigar. Porém, era inevitável, se não estivéssemos em nosso paraíso secreto.
levou os lábios para os meus, como se tivesse lido meus pensamentos. Porém, rapidamente os soltou, me deixando querendo mais.
- Te prometi duas vezes. Mas.... Será que aguenta?
Ri sobre seus lábios. Não importava se eu aguentava ou não. Se quisesse fundir seu corpo no meu até me matar, eu iria querer que a teoria de que nossas vidas são transferidas para o um universo paralelo depois da morte fosse real, só para que continuássemos lá.
Eu o queria dentro de mim. Não queria que acabasse nunca. Não queria deixá-lo. Céus, eu estava louca. Ri mais uma vez de minha insanidade.
- Aguento tudo que quiser fazer comigo.
Respondi sem fôlego. riu.
- Não deveria me dar tanta confiança, . Farei da sua vida um inferno.
O modo como sussurrou a frase e a própria frase me fez soltar o ar pesadamente. realmente achava que tornaria minha vida um inferno? A questão é, por que falar daquilo como se fosse acontecer num tempo futuro?
- Você já é meu inferno, . Não vê?
Encarei seus olhos em seguida. Eles tinham fogo. estava gostando do modo como o provocava. Como usava as palavras certas para excitá-lo. gostava daquilo. Da ideia de me possuir, mesmo que isso fosse a coisa mais absurda que alguém pudesse dizer. Aquilo não era mais só sexo. Era uma reação em cadeia. Era uma conquista. Um luxo.
voltou a me beijar. Minhas pernas ainda estavam cruzadas ao seu redor. me girou, ficando encostado na borda da piscina. Devagar, se moveu, me levando para o outro lado, sem soltar nossos lábios. A movimentação na água, descobrindo algumas partes do corpo que estavam de baixo da água a um bom tempo, me fez sentir um pouco de frio. Me agarrei mais ao seu corpo quente. parou em um lugar, que imaginei ser um degrau, onde sentávamos dentro da água. Se virou novamente num movimento rápido, fazendo ondulações na água.
Ainda me guiando e colando os lábios nos meus, se sentou no banco, que percorria toda aquele lado da piscina. Não sentei. Fiquei de joelhos, entre suas pernas. Ainda nos beijávamos. Eu estava quase sem ar. pôs as mãos sobre meus seios e os apertou. Sem querer, encostei minha coxa em seu membro totalmente ereto. Meus nervos foram a loucura ao ter noção de seu excitamento. desceu as mãos devagar por minha barriga, até chegar no elástico de minha calcinha. Abaixou-a devagar, até chegar em minhas coxas. Tirei as mãos de seu rosto para tirar de uma vez aquela calcinha, que por algum motivo ainda estava ali. Depois, voltei a agarrar seus cabelos e sentir seus beijos pelo meu pescoço. Suas mãos estavam em minhas coxas e as apertava. Soltou os lábios para que pudéssemos garantir nossas respirações.
- Sua vez.

Sweet reunion, Jamaica and Spain. We're like how we were again.
I'm in the tub, you on the sear. Lick your lips as I soak my feet

(Doce reconciliação, Jamaica e Espanha. Estamos agora como estivemos antes.
Eu na banheira e você na cadeira. Lambe seus lábios enquanto eu molho meus pés)


disse, puxando minha cintura com força e chocando nossos corpos, levantando água. Desceu suas mãos até meus glúteos e então na parte de trás de minhas coxas. As afastou, para que eu sentasse.
Para que eu sentasse sobre seu membro rígido. Eu apenas deixei que ele me guiasse. Seus lábios estavam em meu pescoço de novo e subiam conforme meu corpo descia. Lentamente. Encontrei a parte superior de seu membro, e meu corpo todo estremeceu. Deixei que me invadisse. Sentei devagar, deixando a sensação de ser preenchida voltar. Quando sentei totalmente, segurei suas mãos e levei-as até meus seios. arfou, e então sorriu de olhos fechados. Com suas mãos envolvidas nas minhas, apertei meus próprios seios devagar.
Comecei a como que ‘rebolar’ sobre seu membro lentamente. Eu queria que ele implorasse por mais. Mantive os dois movimentos, em cima e em baixo, vagarosos. subia seu quadril vez ou outra, mas lentamente, assim como eu. Segurando suas mãos, as levei para meu rosto. Soltei-as e deixei que as minhas caíssem sobre seus ombros. deixou suas mãos em meu rosto e, por mais absurdo que soasse, ele fazia um carinho doce em minhas bochechas em meio ao beijo.
Ficamos ali por vários minutos, talvez horas, movendo nossos quadris. Nos provocando e trocando carícias. Poucas carícias calmas e delicadas e muitas impulsivas e dolorosas. gemia tanto quanto eu. gostava daquilo tanto quanto eu. precisava daquilo tanto quanto eu. Era difícil mover o corpo rápido na água, por mais que ela tornasse o peso leve. Muitas vezes eu não levantava, retirando seu membro. Eu apenas me movimentava e deixava que ele encontrasse as paredes de minha intimidade.
Não nos beijávamos. Era impossível respirar e evitávamos morrer de asfixia. Se algo pudesse nos matar, que fosse o prazer. Num ato impensado, gemi seu nome. Quando gememos o nome da pessoa, significa que não estamos apenas interessados no sexo, mas sim no sexo com a tal pessoa. Sim, aquilo era verdade, mas não precisava saber disso. Ao ouvir minha borrada, soltou um riso rouco e deliciosamente sexy.
- Me lembre.... Me lembre de deixá-la comandar sempre.
se esforçou para dizer, já que o ar era escasso. Não me importei com seu comentário egocêntrico. Continuei aproveitando o momento. Sabia que estava próxima de meu segundo orgasmo seguido. Aquilo era algo difícil, mas para parecia tão fácil. Olhei em seus olhos e levou suas mãos à minha nuca, unindo nossos lábios com dificuldade. E então eu senti minha intimidade contrair. Aumentei a velocidade dos movimentos. Eu estava exausta e não tinha ideia de onde vinha aquela força.
também movia seu quadril rapidamente. Ele também estava perto como eu. Meu rosto queimava. Meu corpo devia estar numa temperatura tão alta que faria mal à saúde. Mas aquilo não era nenhum problema.

Then you notice a likkle carpet burn. My stomach drop and my guts churn.
You shrug and it's the worst. Who truly stuck the knife in first

(Então você nota uma pequena mancha no carpete. Sinto um frio no estômago e me agito por dentro.
Você não dá a mínima e isso é o pior. Quem realmente cravou a faca primeiro?)


Senti o sangue quente chegar até as veias de minha intimidade. Eu estava a ponto de explodir. Aquela sensação maravilhosa de prazer preenchia todo meu ser. Mordi meus lábios. Senti meu corpo estremecer. Senti todo cansaço se esvair. relaxou seu corpo assim como o meu. Ele havia chegado ao clímax juntamente de mim.
Deixei meu corpo cair sobre o dele. Não meu preocupei se seu membro ainda estava dentro de mim. Eu só queria descansar. envolveu minha cintura e eu segurei em seus braços fortes. Nossas respirações estavam descompassadas. Abri a boca, tentando dizer algo, qualquer coisa. Mas não consegui, eu precisava me recuperar antes. Mas aquele silêncio, tendo nossas respirações como trilha sonora, era incomodo. Era incomodo, porque eu não estava mais em transe. Mas não conseguíamos sair dali e agir normalmente. Tantas coisas para me preocupar. Tantos problemas.

I cheated myself. Like I knew I would. I told you I was trouble. You know that I'm no good

(Eu me enganei. Como eu sabia que enganaria. Eu te disse que eu era encrenca. Você sabe que eu não presto)


Fechei meus olhos. Alguns fios do cabelo de caiam sobre meu rosto, que estava deitado na curva de seu pescoço. também apoiava sua cabeça sobre a minha. Levou uma mão até meus cabelos e começou a acariciar minha cabeça. Como eu estava exausta.

Alexis' s pov
Seus lábios estavam molhados pelo whisky. Seus lábios sempre tinham gosto de whisky. Eu estava deitada, coberta apenas pelo lençol. Ele estava em pé de frente para a janela, fumava um cigarro e bebericava em seu copo. Seus olhos eram meu delírio. O que aquele homem estava fazendo comigo? Ou melhor, o que aquele homem fez comigo? Todos esses anos. Eu queria que aquilo acabasse às vezes. Que pudéssemos viver nossas vidas. Que ele esquecesse aquela vingança, o tráfico, o pacto idiota e apenas aproveitasse o dinheiro que já tinha. Mas ele não me ouvia.
- Não vai voltar?
Reclamei, fazendo um bico. E então ele riu. Ele me amava. Eu sabia que ele me amava. Eu também o amava. Mas até que ponto nos amávamos? Deu o último gole e apagou o cigarro no cinzeiro. Se jogou na cama, como uma criança. Estávamos rindo. Não havia outro homem como ele. Não havia outro homem para mim. era bom de cama, não era nenhum sacrifício transarmos.
Já ele, era maravilhoso, me completava. Fazia-me feliz. Porém era meu. Eu sabia que ele tinha outras, mas ele era única e exclusivamente meu. Aquilo era como um território marcado.
Eu tinha meu homem sobre mim agora e sorriamos. Nos beijávamos. O céu já clareava, mas não nos importávamos. Queríamos aproveitar cada tempo que tínhamos.
- Gostosa. Deliciosa. Maravilhosa.
Eu ri sobre seus lábios. Aquilo era o som mais surreal que eu poderia ouvir. Elogios sempre me fizeram bem. Sempre recebi elogios. Talvez eu morresse se as pessoas parassem de falar o quanto eu era tudo o que eu era. Talvez fosse um defeito meu. Ou talvez uma qualidade.
- Ei. Te falei que o está se pegando com a mamãe vadia?
- Sim. Mas eu já sabia.
- Precisamos dar um jeito nisso. Eu falei para ela não...
- Não vamos começar isso de novo, Alexis. Não se meta nisso.
Assim que terminou a frase, voltou a beijar meu pescoço.
- Para. Eu falo sério! Isso pode estragar tudo.
- Que saco, Alexis! Não se meta nisso. Deixe eles se pegarem, se casarem, não me importa.
- Mas...
- O que é isso? Está com ciúme, merda?
- Não!
- Então esquece isso. Se você se meter nisso, não vou te livrar como te livrei quando tentou ferrar aquela outra vagabunda que estava com ele, e acabou se ferrando. Eu juro, Alexis, te deixo sozinha.
- Não vou, está bem?
- Acho bom.
Antes que ele voltasse a me beijar, levantei da cama.
Quem ele pensava que era para mandar em mim? Se eu estava com ciúme? Estava mesmo. E agiria sozinha contra aquela vagabunda. Não me importava se ela estava incluída no plano. Eu acabaria com ela. Assim como fazia com todos que cruzavam meu caminho.

.
's pov
Assustei-me com a água no rosto. Abri os olhos e mais algumas gotas de água foram jogadas em meus olhos, me fazendo fechá-los de novo.
- O que...
Encarei à minha frente, que ria como uma criança.
- Pensei que tinha morrido.
- Imbecil.
Revirei meus olhos, que ardiam devido aos raios solares, que tomavam conta daquele lugar.
Droga! Estava de manhã!
Eu havia pegado no sono ali. Levantei-me desajeitada. Minhas pernas estavam dormentes de ficar naquela posição por tanto tempo. Meus dedos estavam enrugados. Comecei a andar dificilmente pela água. Botei a mão sobre minhas partes íntimas, me sentindo constrangida. Eu estava tão irritada.
- Por que me deixou dormir? Que raiva! E se alguém entrasse aqui?
- Para de drama, . Você dormiu durante uma hora ou menos. E estou na minha casa.
disse, revirando os olhos. Eu estava certa. Não importa se dormi pouco ou se a casa era dele. O que iam pensar de mim?
- Desculpa se suas prostitutas não se importam com a imagem delas. Eu me importo. Minha filha está dormindo lá em cima.
- Cala a boca, . Você estraga tudo. Apenas relaxe, ok? E, a propósito, por que está escondendo seus peitos?
- Filho da mãe.
Voltei a me mover até a escada. jogou mais água em mim.
Aquilo era irritante.
- Ei, pare de ser chata.
Ouvi sua voz perto. estava atrás de mim. Passou uma mão pela minha cintura e colou nossos corpos. Senti aquele arrepio, que sempre sentia quando me tocava de repente. depositou um selinho em minha nuca. Como eu podia resistir àquilo? Soltei um riso baixo e tímido. Me virei de frente para e selei nossos lábios, ainda sorrindo.
- Não era brincadeira. Preciso sair daqui.
Me soltei de seus braços e subi finalmente na escada. Fitei , que me encarava mordendo os lábios. Minha calcinha provavelmente estava perdida na água e não tive a paciência de ir pegar. Abaixei para pegar a camisola, que ainda estava molhada. ainda me encarava da cabeça aos pés, com um sorriso malicioso e mordendo metade do lábio inferior.
- Pare de ser tão tarado, por favor. Parece um adolescente cheio de hormônios.
riu de minha comparação. Vesti a camisola, sem esconder um sorriso. Eu estava me sentido bem. Por enquanto estava. Fui em direção à porta, mas continuou na piscina.
Antes que eu fechasse a porta, disse:
- Estarei te esperando.
Fechei os olhos e soltei um suspiro. Fechei a porta e encostei-me a ela. O que eu faria agora?

XX

Jade já estava pronta para irmos. Eu terminava de pentear meus cabelos. Estaríamos no avião em algumas horas e não dava as caras. Martin, mordomo da casa, o vira saindo com um de seus carros mais velozes. Eu queria ao menos me despedir, mas não fazia ideia se ele voltara ou não. Desci as escadas para avisar Martin que já poderia preparar o carro. Ouvi alguns barulhos vindo da sala onde ficava a coleção de armas de . Será que alguém estava ali?
Fui até a grande porta. Girei a maçaneta e estava aberta. Entrei, mas não vi ninguém. Porém o barulho continuava. Vinha da porta de onde saíra no dia em que entrei naquele lugar um tanto tenebroso. Atravessei a sala e girei a outra maçaneta. Também estava aberta. Entrei e dei de cara com usando uns óculos de proteção, segurando uma arma, que eu não fazia ideia o calibre. Só sabia que era um fuzil. Ele a segurava com as mãos e apoiava no ombro. não notou minha presença. Ele mirava em um alvo, que tinha vários buracos. Fiquei com um pouco de medo por vê-lo naquela situação intimadora. Não é sempre que você vê o homem o qual você se entrega segurando uma arma daquelas.
- Ei.
Disse antes que disparasse. Virou-se para mim assustado, e revirou os olhos. Talvez não fosse uma boa ideia minha presença ali. Onde eu estava com a cabeça para ir até ali?
- Mas que.... Vai acabar morrendo por causa dessa merda de curiosidade um dia. O que você quer?
ignorante. Sim, eu tinha que identificar com qual eu estava lidando, para medir minhas palavras. Por exemplo, para o ignorante eu não podia dizer que queria que ele me deixasse nua e me levasse à loucura. No mínimo, ele me olharia com desprezo e mandaria eu procurar um garoto de programa.
- Estava te procurando a manhã toda. Já estou indo.
- E o que eu tenho a ver com isso?
- Por favor, , não dificulte as coisas. Não queria que não soubesse onde estamos.
Bufei e me virei para sair daquele lugar medonho.
- Ei! Venha aqui.
Me virei com uma expressão de indignação no rosto. Eu era o que? Um cachorro, que você maltrata, depois volta abanando o rabo?
- Acho que você não entendeu a parte que estou indo embora.
- Você vai embora quando eu quiser. Se eu quiser te manter presa aqui, eu faço. Agora, pare com essa merda de estupidez e venha aqui, quero te mostrar algo.
Dois numa mesma frase. ignorante e calmo. O calmo só apareceu nas últimas quatro palavras, mas ainda era algo a se analisar. Suspirei e fui em sua direção. Eu era uma idiota.
- Pegue.
tirou a arma do suporte e me entregou, com um sorriso nos lábios.
- Não toco nisso nem morta.
- Pegue. Ela não vai te matar. Não se evitar ser boba, como sempre.
Cerrei os olhos. tinha umas piadinhas tão sem graças às vezes. Porém a pergunta que não queria calar era: O que eu estava fazendo ali ainda?
Coloquei minhas mãos na arma. segurou minhas mãos e posicionou no lugar certo. Segurei a arma pesada. pôs as mãos de volta sobre a minha e me guiou até o lugar certo aonde a arma deveria ficar. Ficou por trás de mim e segurou sobre minhas mãos a arma. Se eu já estava tremendo de estar com aquele objeto nas mãos, a respiração de em minha nuca me fez ter um colapso.
- Veja, mire no alvo.
Guiou-me para o alvo.
- Pense que é a pessoa ou a coisa que mais odeia.
- Pode ser você?
Disse, fazendo piada. Não, eu não atiraria em . Não por enquanto.
- Ou você, o que acha?
Engoli em seco.
- Apenas pense.
E então pensei. Pensei naquilo. Pensei nele. Pensei no medo que senti. Pensei em quem deixou aquilo acontecer. Pensei naquele momento desgraçado. Pensei no meu choro. Pensei na minha dor. Pensei no meu medo de contar. Pensei em mim.
- Agora, apenas destrua.
apertou meu dedo indicador no gatilho. E então dei um pulo para trás, soltando a arma no suporte, e quase o derrubando. Além da pressão da bala, o barulho me assustou. ria agora. Talvez ria de minha expressão assustada.
- Por isso uso óculos e fones de ouvido. Mas é bom sentir. Sentir isso o que você sentiu.
- Sim.
Eu havia acabado de pegar numa arma e atirado. Quando pensei em fazer isso em toda minha vida?
Eu continuava ali, abobalhada. Talvez pelo que aquilo significou para mim. tirava os óculos e o fone. E os largou por ali. Tirou a arma do suporte e a segurou em uma das mãos. Se aproximou de mim, com um sorriso quase doentio no rosto. Eu ainda estava paralisada. segurou minha cintura e colo nossos corpos. Colou os lábios em minha bochecha. Seguiu um caminho roçando os mesmo até meus lábios. Dei passagem para que aprofundasse o beijo. passou a arma na minha coxa descoberta por causa do comprimento do vestido. Subiu, a passando pela minha coxa, levantando o vestido. Passou pelos meus quadris. Pela minha cintura. Minhas mãos estavam em seus braços e pude sentir seus músculos enrijecer ao levantar a arma pesada. Passou-a pelo meu tórax, até chegar a minha bochecha. Senti um calafrio ao sentir aquele metal gelado em meu rosto. desfez o beijo, sorrindo.
- Não deveria confiar tanto em mim a ponto de me deixar por um fuzil em seu rosto.
Meus olhos ainda estavam fechados. Dei um sorriso, que eu julgava ser sexy.
- Por que não?
riu sarcástico.
- Porque eu atiraria.
Abri os olhos para encará-lo. Seus olhos transbordavam desejo e veneno. Aquele era o que eu mais gostava. Talvez esse fosse a junção de todos. Escolhi bem minhas palavras e cheguei até seu ouvido para sussurrar.
- Eu disse que aguentaria tudo o que quisesse fazer comigo. Não era brincadeira.
Mordi o lóbulo de sua orelha. parecia que estava num sono profundo e de repente acordou. Jogou a arma no chão, fazendo um barulho alto, e me empurrou contra a parede brutalmente. Suas mãos foram até meus cabelos e os agarraram. Senti um pouco de dor, mas aquilo era mais prazeroso do que doloroso.
simplesmente atacou minha boca com a sua, com uma fúria inexplicável. Eu já o vira irritado, excitado, talvez até selvagem. Porém nunca o vira daquele jeito. Eu adorava aquele jeito. fazia tanta pressão contra meu corpo, que eu quase me fundi com a parede. agarrou meu lábio inferior com os dentes e os sugou. Eu tinha certeza que ficariam roxos depois, mas quem se importava? se dirigiu para meu pescoço e desceu as mãos para minhas coxas, apertando o local. Subiu a mão levantando meu vestido, e, quando chegou em minha intimidade, segurou a barra de minha calcinha. dava chupões tão fortes em meu pescoço que eu sabia que estavam ficando roxos na hora. puxou o elástico de minha calcinha tão forte, até que arrebentou. Eu estava ficando sufocada. Eu estava muito excitada. Estava louca. Estava tudo indo rápido demais. Eu estava a ponto de explodir e minha calcinha já estava rasgada no chão. Tudo isso numa rapidez incrível.
subiu as mãos para o meu vestido e, quando segurou dos dois lados para tirá-lo, ouvimos vozes gritando ali perto. Automaticamente empurrei pelo peito. Ainda estava sem fôlego, e quem entrasse ali entenderia rapidamente o que estava acontecendo. tinha um olhar cheio de fúria. Parecia que nem tínhamos transado mais de uma vez há algumas horas atrás. Fiz sinal para que ele fosse ver o que era, enquanto pegava minha calcinha rasgada no chão. Eu gostava tanto dela. Tinha sido um presente de Luke. Aquele aperto de novo. Quase enchi meus olhos de lágrimas. já tinha saído da sala. Fui até a porta para ouvir melhor.
E eu preferia não ter ouvido naquele momento.
'Jade!' 'Sangue!'
Foram as únicas coisas que consegui discernir. E então tudo virou um vulto. Saí pela porta sem me importar com quem estava ali. Corri até o quarto em desespero. Tudo tremia e meu coração estava disparado. Abri a porta e encontrei Jade no colo de uma das empregadas, desacordada.
Havia sangue pelo quarto. Era tudo em câmera lenta. Meus olhos já estavam com uma enxurrada de lágrimas, que caiam sem parar.
- JADE! FILHA! MINHA FILHA!
Corri, gritando em sua direção. Tudo estava escuro e embaçado. Passei a mão em seu rostinho, fazendo carinho.
Chorei sobre ela.
- Vamos.
Ouvi dizer da porta.
- O que houve?! Quem fez isso com a minha filha?!
- Não sei. Ela estava cuspindo todo esse sangue quando cheguei ao quarto. E então desmaiou.
Eu gritava e chorava ao mesmo tempo. Eu estava desesperada. Minha filhinha. Minha única filhinha!
- Solte o corpo dela, a maca está a caminho. Ela está desacordada. É perigoso.
- Não me diga o que fazer com a minha filha, cacete! Merda!
entrou no quarto e me segurou, para que algumas pessoas entrassem e imobilizassem Jade. Eu tentava me soltar de seus braços. Eu gritava como uma louca. Eu chorava como se o mundo estivesse acabando. Era minha culpa. Eu deveria estar ali com ela. Eu devia...
Perdi Jade de vista. Saíram com ela do quarto naquela maca. Eu havia parado de gritar. Apenas chorava. me virou de frente para ele.
- Fique calma. Vamos para o hospital agora no carro. Eles não podem nos esperar, ela vai na frente.
Não respondi. Eu apenas chorava. Eu não pensava. segurava meus ombros, mas, se não fosse assim, eu estaria caída no chão.
- ! Está me ouvindo?
Acenei a cabeça. me soltou e desceu. Virei para um lado e para outro. Aquilo era real? Peguei uma calcinha qualquer, enfiei e desci tropeçando. Quando cheguei até a garagem, já estava no carro. A ambulância já havia partido, e eu rezava para que estivesse no hospital naquela hora.
arrancou com o carro numa velocidade incrível e nem se preocupou em fechar o portão. Não emitimos uma palavra. Eu ainda chorava. Não alto, nem desesperadamente. Mas eu ainda chorava. Chegamos ao hospital num tempo recorde e sujeito a multas.
Corri pelos corredores sem nem saber onde estava indo. Chegamos à recepção e deu as informações que precisávamos para chegar até Jade. Fomos direto para o local indicado. Jade estava entubada e ainda desacordada. Entrei tão tensa no quarto que nem me dei ao trabalho de falar com o médico, que nos esperava. Coloquei minhas mãos em seu rostinho. Aquela cena era insuportável. O que estava acontecendo com a única coisa que me importava? Com a razão da minha vida? Ela parecia tão indefesa. Tão vulnerável. Tão frágil. Algumas lágrimas caiam em seu rostinho. Limpei com delicadeza.
- Vai ficar tudo bem, meu amor. Eu te amo. Te amo mais que tudo. A mamãe vai fazer de tudo por você.
Disse baixinho, entre soluços e mais lágrimas. Ouvi me chamarem, mas não queria sair dali, não queria ouvir nada. Queria segurá-la e nunca mais soltar.
- . Dessa vez chamou com cuidado. Me virei para os dois, que estavam parados na porta. Andei em direção a eles.
- Sua filha está estável. Ainda não sabemos o motivo do sangue. Mas o desmaio pode ter sido devido à perda de sangue muito rápida. Ou o susto que levou, quando viu sangue saindo de sua boca.
O médico disse calmamente. Para mim, ela não estava bem. Se estivesse bem, estaria ali rindo e brincando, não dormindo numa cama de hospital.
- Jade perdeu muito sangue. Ela não apenas vomitou. Ela eliminou sangue por praticamente todos os orifícios. E corre risco de continuar, por isso está entubada. Para não correr risco de asfixia.
Aquilo não era bom. Céus. Por quê?
- Bom, vocês não poderão ficar aqui. Vamos terminar os exames, e logo teremos mais clareza sobre o problema. Que pode não ser nada. Assim que ela acordar, chamarei o sr. e a sra...?
- .
- A senhora. é mãe dela?
me olhou. Não estávamos preparados para aquilo.
- Não. Sou tia. Porém sou responsável por ela.
- Tudo bem.
Ele abriu a porta e saímos. Eu estava exausta. Meu rosto estava inchado e tudo o que eu queria fazer era chorar mais.
estava parado ao meu lado. Ele estava tão nervoso quanto eu. Menos, porém estava preocupado. Estava sem saber o que fazer, o que sentir. Estávamos apenas parados na porta, assustados. Então andou em direção ao elevador.
O acompanhei com os olhos, até a porta se fechar. Vi umas cadeiras vazias perto do quarto, e me sentei nelas. Meu corpo todo doeu ao relaxar. Olhei minhas mãos e elas ainda tremiam. Eu precisava ficar calma. Tudo daria certo. Aquilo era apenas um mal-estar.
Não daria em nada.



Capítulo 22 - The sky is falling but I can stand for you.

Minha cabeça doía a um nível insuportável para um ser humano.
Eu estava com sono. Cansada. Meu corpo doía por inteiro.
Minha cabeça estava trabalhando a todo vapor, quase entrando em colapso. E eu estava ali sentada. Olhando aquelas paredes brancas, sentindo aquele cheiro de hospital que era repulsivo.
Eu estava ali a algumas horas. Cinco, seis? Eu não me preocupava com isso. Jade não acordara. Estava muito debilitada, e cansada. Seu corpo precisava descansar. Mas aquilo... O que ouvi do médico, era muito mais preocupante do que o tempo que ela dormia.
sumira desde a hora em que o perdi de vista. Eu não podia esperar que ele ficasse. Na verdade, não podia esperar nada vindo dele. Era sempre uma surpresa. Mas eu estava satisfeita por ele ter agido, pelo menos como um ser humano racional ao trazer Jade para um dos melhores hospitais de Londres. Eles ainda estavam fazendo exames, e esperando ela acordar. Eu queria desligar. Queria voltar no tempo. Voltar no dia em que decidi que faria de tudo para Jade realizar o sonho de conhecer o pai. Voltar no tempo para não fazer metade das coisas que fiz, ou vivi. Eu estava mais calma, porém volta e meia as lágrimas invadiam meus olhos e a agonia voltava. Eu estava com fome. Com frio. Eu estava usando apenas um vestido solto. Eu pretendia estar em Fife de tarde. Já era noite.
Me levantei e fui até a porta. Eu precisava tomar um ar. Eu estava presa naquele lugar o dia inteiro.
Na porta do hospital havia uns bancos de madeira, como esses de parques. Sentei-me em um deles. Inspirei fundo, sentindo o ar gelado entrar em meus pulmões. Me encolhi e abracei-me tentando espantar o frio. Saía fumaça da minha boca ao respirar. Fechei os olhos e encostei minha cabeça na parede. Eu preferia tentar ficar calma sentido frio, do que naquele hospital. Eu odiava aquele lugar. Não importava se era luxuoso ou não. Meus olhos estavam tão pesados que eles pareciam pregados.
Contei alguns números.
Um. Dois. Três.
Queria pôr qualquer coisa na cabeça, que não envolvesse problemas.
Quatro. Cinco. Seis.
Senti um ar diferente ao inspirar. Era fumaça de cigarro. Abri os olhos, tossindo. estava olhando a rua com o cigarro entre os lábios.
- Voltou?
Perguntei. Se eu não estivesse tão exausta, aquilo teria soado irônico ou implicante, mas eu perguntei num tom derrotado. E era assim que eu me sentia. Tão de repente.
- Não fui a lugar algum.
pareceu não se importar com a expressão surpresa em meu rosto. Continuou fitando algo distante. Sempre com o cigarro caro e dourado em seus lábios.
- Pensei que tivesse ido para casa. Já nos trouxe aqui, não precisava ficar.
- Fiquei aqui fora. Não queria ficar lá dentro. Mas também não iria embora enquanto não sei o motivo de minha filha estar numa maldita cama de hospital.
Era loucura minha, ou acabara de chamar Jade de filha?
Aquilo. Era... Aquilo me fez sorrir. Ele estava ali. Do jeito dele, mas estava dando apoio para Jade. Eu queria que ela tivesse ouvido aquelas palavras.
- Obrigada. Ela ainda está dormindo. Está muito cansada.
- O que eles falaram?
perguntou ignorando minha última frase.
- É complicado. Ainda estão fazendo exames. Descobriram coisas e então encaminharam para médicos especializados e ainda estão procurando.
- Que problemas? Que tipo de médico?
tinha uma leve irritação na voz. Não sabia se encarava aquilo como algo bom, ou ruim.
- No sangue. Está nas mãos de um hematologista. O problema está no sangue. Mas é só isso que sei até agora.
não respondeu. Continuou na mesma posição, fazendo a mesma coisa. Levei as mãos ao rosto esfregando-o. Aquilo estava voltando. Aquela sensação que tive algumas horas antes. As pessoas não entendiam por que eu fazia de tudo por Jade, e às vezes cedia seus caprichos. Tudo pela culpa. Eu me sentia culpada.
- Quer ouvir uma história?
Perguntei. me olhou sem expressão, então fechou os olhos afirmando. Tomei fôlego ao perceber que estava prestes a contar aquilo para ele.
- Tudo começou quando descobri a gravidez. Eu não contei à minha mãe de imediato. Não busquei o resultado do exame, pois já sabia. Adiei esse dia até quando pude. Eu tinha tanto medo. Eu era uma menina, queria terminar a faculdade, queria que minha filha tivesse um pai, queria que tudo fosse diferente, mas não era.

Flashback 6 anos atrás...

Minha barriga estava crescendo. Eu escondia à todo custo. Não queria que as pessoas me julgassem e apontassem para mim na rua. Assim como minha mãe havia feito.
Minha mãe tinha vergonha de mim. Assim que descobriu, fingiu não me conhecer. Minha mãe tinha em mente que, me criara sozinha e com todo sacrifício, então ela não aceitava a ideia de que joguei minha vida fora ao gerar esta criança. Eu perderia minha juventude, perderia tudo. E era por isso que eu estava ali. Eu havia tomado a decisão. As coisas estavam ruins, mas eu podia pelo menos remediar. Essa era minha última e mais arriscada opção.
Eu já havia tomado remédios, ficado sem comer, fazia coisas que uma grávida não poderia, mas nada adiantou. A criança continuava ali. Minha última opção, por mais que fosse tão errado, na minha percepção, era forçar o aborto.
Era um consultório pequeno. Havia mais três mulheres além de mim. Eu as observava e imaginava o motivo de estarem ali. Será que estavam em uma situação pior que a minha, ou era apenas luxo? Eu não queria pensar naquilo, afinal era algo errado mas, seria para o bem. A criança não merecia vir ao mundo naquelas condições. O que seria de mim e dessa criança? Eu ainda não sabia se era menina ou menino. E não queria saber. Não queria nem me apegar. Mas eu sabia que ele estava ali. Aquele feto. Aquele filho. Filho de e meu.
Minha vida estava um inferno e tudo era culpa, em partes, dele. Eu deveria ter deixado os impulsos de lado. Ou ele deveria ter consciência de que estava fazendo sexo com uma menina burra. Como eu era burra. Como queria voltar no tempo, eu queria poder ter a escolha de minhas ações. Se eu pudesse mudar tudo, mudaria.
Se eu pudesse teria mudado aquele passado que me perseguia. Aquele dia que sempre me assombrava. Eu podia não lembrar do meu pai enquanto ele estava com minha mãe, mas lembrava cada detalhe de quando Rodney, seu melhor amigo abusou de mim. Eu tinha três anos. Três anos. E aquelas imagens e sensações de medo martelavam em minha cabeça até hoje.
Não me lembrava de nada além da hora em que entrou em meu quarto por algum motivo e estava bêbado. Da hora em que me acordou e abri um sorriso tímido. Era um grande amigo da família e então me disse algumas coisas sobre massagens. Não entendi nada. Era inocente. E então aquele monstro sujo me tocou. Tentei tirar sua mão, com minhas mãozinhas. Suas mãos eram mais fortes. Chamei por meus pais. Rodney tampou minha boca. E continuou.
Nunca contei.
Um dia depois meu pai nos deixou sem explicações. Achei que fosse minha culpa. Eu era uma criança. Achei que eu era a culpada por meu pai nos deixar e então ninguém nunca soube o que acontecera. Guardei essas memórias, guardei tudo para mim.
Eu não lembrava de mais nada de minha infância, a não ser aquele dia. Talvez por que tinha pesadelos com aquilo toda noite. Quando cresci, minha raiva pelo meu pai era tanta que eu o mataria se o visse. Eu não só o odiava por nos deixar, mas também por ser um bêbado louco e ter amigos como Rodney. Por ter deixado aquilo acontecer. Por isso havia escolhido a faculdade de sociologia. Queria ajudar as pessoas que passaram pelo mesmo que eu.
Era um jeito de me sentir útil e tentar evitar esse trauma para outras crianças, porém estaria tudo perdido se eu tivesse um filho agora. E um filho sem pai. Não porque não quisesse, mas sim porque eu tinha medo. Medo de que ele me processasse, que as pessoas me julgassem. E então era mais uma coisa que eu enfrentaria e no futuro teria meus demônios sempre me atormentando. Tudo seria apenas um passado para me incriminar.
As horas passavam e então eu era a próxima.
As mulheres que entraram, não saíram por ali. Eu havia pesquisado sobre os procedimentos, e tudo só me deixou mais nervosa. Seria dolorido, eu sabia. Mexeria comigo, mas eu devia pensar no futuro, pensar em mim pela primeira vez. A cada batida do relógio, meu coração acelerava. No final eu tinha medo. Medo de estar fazendo algo de errado. Medo de ter tomado a decisão errada.
Apertei os olhos, senti gotas de lágrimas caindo. Senti meu coração apertar. Eu estava ali sozinha, não tinha ninguém.
Melissa havia sumido de novo, assim que o cara que a ameaçava apareceu morto. Minha mãe não era mais minha mãe. E ali estava eu sozinha. Ou não tão sozinha. Senti uma pontada na barriga. Abri os olhos assustada. Será que estava perdendo o bebê? Pus as mãos na barriga e senti de novo. Senti seus pés em minha barriga. O feto poderia não estar totalmente desenvolvido, mas se movia, senti o chute mais uma vez. A criança se movia sem parar dentro de mim. Meu coração apertava a cada segundo.
Acariciei minha própria barriga, não pude impedir que as lágrimas invadissem meus olhos. Comecei a chorar como se estivesse à beira da morte. Ele ou ela se mexia devagar, mas constante. Parecia que entendia o que estava para acontecer. Parecia que implorava pela vida.
Céus! O que eu estava fazendo? Eu iria destruir a vida de meu próprio filho!
Esse tempo todo procurei pensar que aquilo não iria afetar o bebê. Fingi que não era um assassinato, mas eu estava agindo pior que minha mãe, meu pai, pior que Rodney. Eu não podia fazer aquilo com aquela criança. Não podia fazer aquilo comigo mesma. O que havia dado em mim? Que se dane minha vida, eu não podia destruir a vida de uma criança indefesa por que achava que ela destruiria a minha.
Me levantei assustada, bebi um copo de água e saí pela porta. Nem me preocupei em pegar o dinheiro de volta. Eu precisava ir embora dali.
Precisava fazer exames, fazer uma ultrassonografia.
Precisava ver minha pequena criança. Precisava recuperar os danos que eu provavelmente teria causado por ter feito de tudo para acabar com a gravidez. Precisava ajeitar minha vida para ter meu bebê.
Eu precisava ter meu bebê.

Fim do flashback.

estava sentado e mantinha o olhar distante. Eu acabara de contar que tentei de todas as formas matar Jade. Por isso me sentia tão culpada por tudo de ruim que a acontecesse, principalmente relacionado à saúde.
- Não é sua culpa.
jogou o cigarro no chão e pisou. Ele também estava com frio, mas não tanto quanto eu.
- Se ela nascesse com alguma deficiência, sim seria sua culpa, mas isso não.
- Talvez. Ainda me sinto culpada, não consigo evitar.
- Imagino.
Sua presença pela primeira vez era confortante. Eu só me sentia bem em sua presença, quando estava excitada. Porém ali não. Só o fato de estar ali, me fazia bem.
- Está com fome?
- Muita, imagino que você também.
- Vou pedir para entregarem alguma coisa aqui. Não como nada de dentro desse lugar.
- Mas aqui é um hospital. Quem vai entregar um pedido aqui?
- Sou , . Aprenda a tirar proveito. Comida chinesa?
Confirmei com a cabeça. Sim, eu esquecia às vezes de sua fama e poder. Esquecia que ele usava aquilo como benefício muito bem. Agora era um silêncio total, havia alguns paparazzis de longe. Talvez tenham ficado ali o dia todo tirando fotos de tudo o que fazia.
parecia não se importar, era como se eles nem estivessem ali. Tentei seguir seu exemplo, mas aquilo era incômodo. Estávamos num hospital, oras! Aonde estava o respeito? Cada dia meu ódio crescia por aquela gente.
estava de pé falando ao telefone. Ele fazia gestos com as mãos. Ele estava lindo. Ri de mim mesma, quando aquele homem não estava lindo? Observei-o desligar o celular e se sentar ao meu lado. O contato com seu corpo fez meu corpo arrepiar.
- Quer ligar para alguém para avisar?
- Não. Por enquanto não.
Pra quem eu ligaria? Luke não me atendia. Melissa o mesmo. Minha mãe, eu nem tinha o telefone. E meu pai bem, eu não o queria perto numa hora tão difícil. Ele inventaria de fazer uma oração coletiva ou algo do tipo.
- Obrigada por tudo que fez hoje,. Sério.
- Tudo? Ou tudo...?
Soltei uma gargalhada ao ouvir seu duplo sentido. Era bom rir. Era bom esquecer aquilo tudo, e por incrível que pareça, com a pessoa que mais me fazia lembrar. Talvez eu agradecesse por tudo mesmo. Antes eu estava totalmente arrependida pelo que havia ocorrido, mas quando vi aqui. Quando soube que na verdade não nos deixou aqui, tudo passou. no fundo era uma boa pessoa.
Uma pessoa problemática, bipolar, enjoada, irritante, mesquinha, egocêntrica, arrogante, ignorante, psicologicamente perturbada, porém boa. não faria mal à quem ele amava, ou seja lá o que ele sentia por Jade. Encostei minha cabeça na parede atrás.
Como eu queria o abraçar e me aconchegar em seus braços, mas não podia. Não ali, em público. Ou talvez por que não fosse gostar do gesto. Mas sim eu precisava de um abraço seu. Naquele momento, aquilo me confortaria. Por incrível que pareça naquele momento meu ódio por ele era mínimo.
Quase nada.
Dentro de alguns minutos uma moto parou em frente a nós. pegou duas caixinhas, pagou pela comida e tirou uma foto com o cara. Depois observou a moto arrancar deixando um rastro de fumaça. voltou ao banco e me entregou minha comida.
- É o melhor de Londres.
disse já atacando a comida com seu rachi. Eu não sabia usar aquilo sem o elástico. Era um pouco vergonhoso.
Comemos em silêncio. Assim que fui jogar a caixa no lixo, ouvi alguém me chamar. Me virei em direção ao vidro da parede do hospital e uma enfermeira acenava para mim com um sorriso.
Chamei por e entramos. Fomos até a tal enfermeira, que nos levou até o andar onde Jade estava. Ela havia acordado e eu estava mais do que ansiosa para vê-la.
Assim que o elevador se abriu, saí com um impulso. O médico que estava cuidando do caso, nos esperava na porta.
- Olá. Imagino que estejam ansiosos para ver Jade. Entrem e conversamos depois.
Dr. Houlton abriu a porta e então entramos. Jade não estava mais entubada. Apenas tinha soro em suas veias, aparelho de pressão no braço, e um no dedo. Uma máquina fazia barulho ao seu lado, indicava suas frequências cardíacas, pressão e outros que eu não sabia identificar.
- Meu amor.
Beijei sua testa calmamente e lentamente. Deixei uma lágrima escorrer, caindo em seu rostinho.
- Vai ficar tudo bem, meu amor. A mamãe está aqui. Vamos sair daqui a pouco.
Jade tentou falar, mas sua garganta estava muito irritada. Fiz sinal para que evitasse de falar e então ela abriu um sorriso fraco. Aquilo foi o suficiente para que meu coração se aquecesse novamente.
- também está aqui. Saí do caminho para dar visão de à Jade. Ele estava encostado na porta e assim que seus olhos encontraram os da filha, sorriu e acenou. Um lindo, puro e sincero sorriso.
Jade também sorria. O sorriso de só não era mais belo e puro do que o de Jade. Apesar de ser o mesmo sorriso. Os dois tinham o sorriso totalmente igual. Era incrível a semelhança dos dois.
- Filha, a mamãe tem que sair para falar com o médico. Tudo bem?
Jade confirmou com a cabeça e então enchi seu rosto de beijos. Me virei e fiz sinal para que saísse. O dr. Houlton estava à nossa espera.
- Vamos até minha sala, por favor.
Disse ele, nos guiando até sua sala. Ele tinha papéis na mão. Meu coração se apertava cada vez mais, eu sabia que infelizmente tinha algo de errado com Jade. Só não sabia o que, ou o quão grave.
Entramos em sua sala e nos sentamos. Sua sala era grande e branca. Notei um porta retrato em cima de sua mesa. Era ele e um outro cara tão atraente quanto ele. Estavam abraçados e mostravam alianças nos dedos. Ele se sentou em nossa frente e arrumou alguns papéis em total silêncio.
- Bom, como eu havia explicado à srt. , Jade está com algo no sangue. Fizemos alguns exames específicos para algumas doenças divergentes no sangue.
Ele deu uma pausa e pôs um papel mais perto de nós, suspirando.
- Fizemos esse exame que detecta um problema um tanto chato. E deu positivo. Enfim, o que quero dizer é que Jade está com essa doença, a qual chamamos popularmente de leucemia, porém ainda não temos como saber o quão grave é, ou qual seria o tipo dela. Só teremos um oncologista amanhã de manhã.
Eu não ouvi nada do que ele disse. Apenas leucemia.
Leucemia. Leucemia. Leucemia.
Aquilo era a única palavra em minha mente. Eu estava em estado de choque. Não caia a ficha. Não. Não. Minha filha não está doente, isso não podia ser verdade.
Soltei o ar pesado em meus pulmões e olhei para o teto.
- Esse é um problema que tem cura. Só precisamos esperar até amanhã para darmos início ao tratamento. Agora vou deixá-los sozinhos. Com licença.
Esfreguei as mãos no rosto. Tudo estava girando. Minha respiração parecia não existir. Eu estava paralisada. Eu queria morrer.
Me levantei e fiquei de frente para a parede. Encostei meu rosto ali. Eu estava tonta. Eu estava com medo. Tanto medo. Senti um toque em meu ombro, e então eu já estava em seus braços. me abraçou firmemente.
E então eu chorei. Chorei. Chorei.
Ficamos minutos, talvez horas naquela sala em silêncio. me apertava contra seu corpo e eu apenas chorava.

XX

Eu ainda sentia um pouco de frio, mas o lençol do hospital aliviava um pouco. Jade via um filme de cachorro qualquer na televisão. Aquela poltrona aonde eu estava sentada e enrolada em um lençol branco, ficava mais desconfortável a cada hora que passava. Eu tentava assistir ao tal filme, mas minha mente não conseguia parar de doer e pensar naquela maldita doença.
Por que logo minha filhinha? Aquilo não era justo, mas eu sabia que daria tudo certo. O tratamento iria funcionar e logo, logo, Jade estaria brincado pela casa, mas o medo não me me deixava por um mísero segundo.
havia ido buscar algumas roupas e coisas para mim e Jade. Pode parecer ironia, mas eu não sabia o que seria de mim sem naquele momento. Ele finalmente estava agindo como pai, do jeito dele, mas estava.
Ouvi um barulho na porta e era um enfermeiro entrando.
- Olá, Jade. Vim trazer alguns remédios e daqui a pouco vem seu jantar.
Ele disse sorrindo. Colocou as luvas e começou a retirar o conteúdo do frasco com a seringa e injetar no acesso. O mais incrível é que Jade sorria. Sorria para qualquer um que entrasse ali. Ela não estava de mal humor, nem sequer triste.
- Está com fome?
- Sim.
Lhe respondeu rouca. Jade observava o líquido se movendo no fino fio do soro.
- Bom, agora que está medicada, a moça vai trazer sua comida tá bom? E aí vai matar esse monstro nessa barriguinha.
Jade riu e o enfermeiro saiu pela porta. Ele parecia ser muito cuidadoso e sabia animar os pacientes. Jade já bocejava.
- Está com sono, filha? Dormiu o dia todo.
Disse rindo. Jade se contagiou e riu também.
- Eu não sei, eu tô com muito sono esses dias.
Fiquei em silêncio. Aquilo devia ser sintoma e eu nem se quer dei atenção.
- Isso é por que estou doente né, mamãe?
Jade se virou para mim com um olhar apreensivo, porém tinha um sorriso nos lábios. A olhei derrotada, mentir não era opção. Jade sabia daquilo, só não sabia o que tinha e o quão grave era.
- Sim, filha, imagino que seja, mas logo pela manhã vão começar seu tratamento e você vai melhorar.
- O que eu tenho?
Agora ela não sorria.
Graças a Deus, alguém bateu à porta cortando o assunto. Era , ele segurava desajeitadamente uma mala, usava uma jaqueta de couro marrom, por cima das mesmas roupas que usava desde cedo.
- Oi.
Ele disse sem graça. Ele estava se esforçando, estava ali por vontade própria, mas ainda tinha aquele maldito orgulho que o impedia de se sentir a vontade.
Jade sorria enquanto ele se aproximava.
- Eu não sabia o que trazer, então mandei alguém comprar algumas coisas.
Ri de sua situação. Imaginei como isso ocorreu. ignorante do jeito que era, deve ter entrado gritando pela casa e quebrando tudo. Depois obrigado a um dos empregados ir comprar aquele monte de coisas.
- Não precisava, podia trazer só uma peça de roupa, provavelmente já sairemos amanhã.
devolveu meu olhar triste. Ele sabia que eu havia falado aquilo, apenas para acalmar Jade. Sabíamos que aquilo não acabaria tão cedo, talvez nunca.
- Enfim, vi que você gostava de um desenho de pôneis, e comprei tudo deles.
Vi os olhos de Jade brilharem ao ouvir aquilo. Para ela, era como ganhar uma barra de ouro.
entregou a mala cheia e ela começou a descobrir o que tinha dentro. Seu sorriso aumentava a cada roupa linda e com estampa de my little pony por todos os lados. Olhei para e ele também sorria ao observar a cena. Era um sorriso orgulhoso, mas tímido, sempre seus sorrisos sinceros eram tímidos.
E então percebi que finalmente Jade estava tendo aquilo que desejava. Um pai. E aquilo me confortava por dentro. Eu não aguentaria brigas num momento desses.
- Obrigada, .
Jade sorriu e acenou com a cabeça. Ele estava sendo ótimo, mas ainda não conseguia mostrar afeto direito, porém eu o entendia, não o forçaria a nada.
- Preciso ir. Alexis me espera lá em baixo. Ela queria entrar para te ver, mas não pode.
Jade assentiu. Talvez ela nem quisesse a presença de Alexis ali, tanto quanto eu. se dirigiu à porta e fui atrás para agradecê-lo mais uma vez. Fechei a porta atrás de mim. Não havia ninguém além de nós naquele corredor.
estava próximo. Próximo o bastante para me inebriar com seu cheiro e me fazer tremer com sua respiração gelada tocando meu rosto. Próximo o bastante para que eu quisesse beijá-lo e talvez avançar para outras coisas depois. Mas eu não podia perder a cabeça assim, além do mais estávamos num hospital e aquilo era impossível.
- , obrigada por tudo. Você foi incrível hoje.
- , por favor, pare de agradecer, como se eu fosse um estranho fazendo caridade. Isso não é mais do que minha obrigação. O acordo era dar o que vocês precisam em troca de uma mentira e estou dando.
- Sei que isso não tem nada a ver com o contrato.
Soltei sorrindo. Eu sabia que aquilo era a mais pura verdade. também, só não conseguia admitir.
- Acredite no que quiser, .
chegou mais perto me prensando contra a parede. Agora ele estava próximo o bastante para que eu não resistisse. pôs as mãos em meu rosto, uma em cada lado e então levou seus lábios até os meus. Passei meus braços ao redor de seu pescoço.
Como eu precisava daquilo. Era como uma droga, e se eu passasse muito tempo sem, teria um colapso. Aprofundamos o beijo, mas era um beijo calmo e silencioso. Nossas línguas se tocavam calmamente, sem pressão. Era um beijo confortável. Talvez não quisesse ser muito agressivo e levar aquele beijo à outra coisa que não poderíamos controlar. partiu o beijo, mas continuou próximo ao meu rosto.
- Fique calma. Vai dar tudo certo.
Se soltou de meu abraço e foi até o elevador. Fiquei ali parada, sem reação. Fitei seus olhos e seu sorriso de lado enquanto a porta do elevador se fechava lentamente.
Assim que se foi, levei uma mão aos lábios confusa. Aquele eu ainda não conhecia, mas estava adorando conhecer. Voltei para o mundo real e entrei no quarto. Jade segurava algumas roupas nas mãos enquanto eu entrava, me sentei ao seu lado devagar e em silêncio.
- O que deu nele, mamãe?
- Não sei, filha. Sinceramente não sei.
Respondi sincera. Jade sorriu e então voltou a fitar suas roupas novas.

XX

Abri os olhos assustada. Uma enfermeira entrava no quarto para trocar o soro. Havia alguns raios de Sol, que a cortina não pôde conter. Eu havia dormido por trinta minutos provavelmente, meu pescoço doía muito devido à má posição. Era praticamente impossível dormir, eu devia estar com uma aparência horrível. Afinal, estava a duas noites sem dormir direito.
Estiquei as pernas e braços me espreguiçando, meu corpo inteiro doía. Jade ainda estava dormindo e eu agradecia por isso, quem sabe eu pudesse dormir mais? Olhei no relógio e eram nove horas da manhã. O médico logo estaria ali para decidir o que fazer com ela. Eu estava confiante agora. Ainda morria de medo, mas no fundo acreditava que daria certo.
Me levantei e fui até o banheiro, escovei meus dentes, troquei aquela roupa por uma que havia comprado.
Ao olhar dentro da mala vi algo preto de renda. Tendo visão melhor, era uma lingerie. Soltei uma gargalhada. Nela havia um bilhete que dizia: 'Não posso morrer sem te ver dentro dela e depois rasgá-lo com os dentes.' Soltei outra gargalhada, porém senti um arrepio ao imaginar a cena. Que se eu pudesse concretizaria ali, naquele instante.
Guardei aquilo de volta. Olhei meu rosto e eu tinha olheiras, quase roxas. Suspirei. Eu estava tão cansada. De tudo. Saí do banheiro e fiquei sentada, lendo um livro pequeno que estava em minha bolsa. Algum tempo depois ouvi batidas na porta. E então surgiu.
- O médico já está aí. Está te chamando.
- Bom dia pra você também.
- Obrigado.
disse ironicamente enquanto eu ia até a porta. Saímos em silêncio e continuamos em silêncio até chegar na sala. bateu à porta e em seguida entramos. O médico estava sentado em uma cadeira grande. Ele tinha características indianas. Era moreno e calvo. Parecia ser de confiança.
- Sentem-se, por favor. Me chamo Rafiyn. Rafiyn Mulimed. Estarei cuidando de Jade.
Sentei-me com aperto no coração. Eu não estava preparada para ouvir aquilo.
- Bom o caso dela é sim grave, não posso mentir. Descobrimos cedo então ela tem 90% de chances de cura se começarmos o tratamento logo. Mas tem um porém. A leucemia mielomonocítica juvenil é bastante rara, por isso, tem sido difícil seu estudo, e não há nenhum tratamento quimioterápico padrão para esta doença. O transplante alogênico de células-tronco é o tratamento de escolha, quando possível, uma vez que oferece a melhor chance de cura da doença. Cerca da metade das crianças com LMJ que recebem um transplante de células-tronco ainda estão livres da leucemia depois de muitos anos. Às vezes, mesmo em caso de uma recidiva, um segundo transplante ainda é uma boa opção de tratamento.
Minha cabeça latejava ao ouvir sobre aquela doença infeliz. Ele continuou.
- Como a LMJ é difícil de tratar com os medicamentos quimioterápicos atuais, participar de um protocolo clínico com novos medicamentos pode ser uma boa opção para as crianças que não podem fazer um transplante de células-tronco.
- Como assim para as crianças que não podem fazer transplante?
perguntou irritado.
- Nós já verificamos os genes necessários dela para o transplante. Acontece que Jade tem genes que cerca de 3% da população tem compatíveis. Ou seja é mais difícil de encontrar alguém compatível para fazer o transplante. Mas não impossível.
- Eu pago qualquer quantia. Eu pago. Pago qualquer coisa.
- Desculpe, senhor. Isso não tem nada a ver com dinheiro. Sim o dinheiro ajuda, por que a põe em primeiro lugar no banco de espera. Mas não muda o fato das pessoas doadoras não serem compatíveis. De qualquer forma teremos que esperar até achar um doador compatível, ou que ele nasça. Mil perdões. Mas por enquanto não podemos fazer nada para atacar a doença, apenas vamos remediar e diminuir a dor dela, porém não vou submetê-la à quimioterapia. É muito agressivo e não vai ajudar. Conseguem compreender?
Ficamos em silêncio. Eu mantinha uma expressão acabada. Desolada e fora de mim. estava estressado. Os olhos estavam escuros e esfregava o rosto de cinco em cinco segundos.
- Bom, espero que entendam que o caso de Jade é delicado, mas não é algo que devamos nos desesperar. Ela está respondendo bem aos medicamentos que amenizam vários tipos de câncer. Se ela continuar assim podemos esperar até um ano para o transplante. Então fiquem calmos, creio que bem antes disso, encontraremos o doador e ela ficará bem.
- Tudo bem, doutor. Obrigada pela explicação.
Eu disse calma. Afinal, o que eu faria? Me desesperar não era a solução. De acordo com o médico, só precisávamos esperar. O problema era, até quando?
Saímos da sala. Eu parecia uma pessoa acéfala. Eu não tinha expressão. Eu estava apenas vivendo.
ainda mantinha um nervosismo aparente. Socou uma parede. Apenas o observei. Ele rangia os dentes e apertava as mãos em punhos. Ele se sentia impotente, eu o entendia. Ele se sentia fraco e vencido. Ele não podia fazer nada. Todo seu dinheiro não valia de nada. Nada. Éramos nada. Toquei seu ombro tentando acalmá-lo.
- Ei. Vai dar tudo certo.
não ousou me olhar. Apenas saiu. Foi embora. Eu não sabia para onde ele iria, até tinha medo. Medo de que fizesse alguma besteira, mas agora ele estava longe. Talvez já estivesse no elevador e eu não podia fazer nada.
Jade estava acordada. Alguém havia trocado seus lençóis e deixado uma toalha para tomar banho.
- Bom dia, minha princesa.
- Bom dia, mamãe.
Dei um beijo em sua cabeça. Uma lágrima escorreu. Sequei rapidamente para que ela não visse.
- Então, vou embora hoje?
Meus olhos se encheram de lágrimas de novo. Eu não podia ser fraca. Não podia chorar em sua frente. Não podia desanimá-la. - Parece que ainda vamos ter que ficar aqui um tempinho, filha. Você precisa tomar esses remédios aqui.
- Eu quero ir pra casa.
Jade disse tristonha. Meu coração doía a cada batimento lento. Aquilo era massacrante. Como alguém consegue conviver com aquilo? Como uma mãe consegue dizer para sua filha de seis anos que ela tem uma doença maligna? Como? Eu não sabia. Simplesmente, não sabia.
- Já, já, nós vamos. É pouco tempo. Você está sentindo dor?
- Não. Só não quero ficar nessa cama chata. Quero ir pra escola.
- Hm vou gravar isso. Afinal, você acabou de dizer que ficar na cama é chato e quer ir para escola.
Disse fazendo-a rir. Era bom vê-la rir. Se Jade tivesse metade de minha melancolia, eu não aguentaria viver. Mas Jade sempre era positiva. Se não fosse, nem estaria aqui.
Assistíamos televisão juntas e então ouvi batidas na porta, mas ninguém entrou. Ouvi de novo. Fui até a porta e abri.
Meu coração gelou ao dar de cara com ninguém mais ninguém menos que Luke.
- .
Luke me abraçou. Não consegui nem me mover. Eu estava em estado de choque. Coloquei as mãos em suas costas o abraçando também. Senti falta daquilo. Mas como ele sabia daquilo? Como ele sabia onde estávamos?
- Como sabia que eu estava aqui?
Perguntei desfazendo o abraço contra sua vontade.
- Você é famosa e eu vejo o noticiário, . Esqueceu? Vim o mais rápido que pude.
- É verdade. Não pensei nisso.
Encarei seu olhar doce e preocupado. Ele não deveria estar ali. Ele não deveria ter feito aquilo por mim. Eu não merecia. Jade merecia, mas eu não. E eu estava confusa. Não sabia mais o que sentia em relação à ele. Não depois de ter feito o que fiz com .
- Não devia ter vindo. Podia ter ligado. Não precisava.
- Eu nunca iria deixar vocês numa situação dessas sozinhas. Aposto que o alucinado do te trouxe e te jogou aqui.
Não respondi. Ele não entenderia se eu dissesse que não. Que ele ficou ao meu lado. Que ele era um louco, mas ficou totalmente mexido quando viu a situação de Jade. Sustentei seu olhar de volta. Luke tocou meu rosto e então fechei os olhos. Eu não queria, mas ao mesmo tempo queria aquilo. Isso era possível?
Luke chegou mais perto tocou meus lábios com os seus. Manteve nossos lábios unidos num selinho demorado. E então aprofundou o beijo. Sua língua contornava a minha gentilmente. Seu beijo era calmo, doce, acalentador. Era como se eu estivesse sendo beijada por um anjo. Em seu beijo não havia maldade. Luke nunca fora assim. As coisas aconteciam naturalmente, ele nunca me beijava na intenção de conseguir mais. Elas simplesmente fluíam. Luke soltou os lábios dos meus. Sorri. Eu estava me sentindo mais leve.
- Me desculpe. Me desculpe por ter dado aquela crise boba e infantil?
- Não foi boba e infantil. Eu que...
- Shhh. Foi sim. Foi minha culpa. Fui um idiota por te forçar. Quero que aceite quando estiver preparada.
Mais uma vez me mantive em silêncio. Que argumentos eu usaria?
'Olha Luke, eu não queria casar porque te traí. Quando você supostamente terminou, eu fiz e aconteci. Fiz de tudo com o . E vou trocar uma vida feliz e calma ao seu lado para ser sua prostituta particular e de graça. Acho que agora fica mais complicado, não?'
Por pior que parecesse, era a verdade. Eu não me casaria com ele, naquelas condições. Talvez em um bom tempo se eu conseguisse me livrar de e me arrependesse de tudo, eu pudesse pensar naquilo seriamente. Porém gostava da companhia de Luke. Gostava do modo como cuidava de mim. Gostava do modo como era meu amigo, mesmo sendo um casal. Era diferente.
- Obrigada por estar aqui.
Soltei sinceramente. Era bom tê-lo por perto, naquele momento.
- Não tem de que. Agora, posso vê-la?
Ri do modo como falou e abri a porta de volta. Ao entrarmos Luke correu em direção à Jade, que o aguardava sorrindo.
- Olha, eu acho que você está enganando todo mundo, só para faltar aula. Mas vou fingir que acredito que está doente.
Rimos com sua brincadeira. Eu já estava perto da cama de volta.
- Me diz como você está? O que aconteceu? Porque na televisão eles nunca falam a verdade.
- Apareci na televisão?
Jade perguntou radiante.
- E nos jornais, revistas, e Internet.
Jade ria como se aquilo fosse a melhor coisa do mundo.
- Aposto que as meninas da escola devem estar com inveja.
- Jade!
Falei em repreensão, mas não segurei o riso. Era engraçado, afinal. Luke engrenou em uma conversa com Jade. Me sentei na poltrona tentando pelo menos uma vez, relaxar. Encostei minha cabeça na parede sorrindo.
Já haviam iniciado o tratamento, e Jade estava feliz, isso era o mais importante. Eu teria de contar à Luke depois o que ela tinha. Teria que contar que estávamos de mãos e pés atados. E o caso era pior do que poderíamos imaginar. Eu precisaria dele agora. Agora que aparentemente havíamos voltado, eu precisaria de todo apoio e compreensão. E eu sabia que Luke com certeza seria a pessoa certa para aquilo.


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