I want you to stay

Música do Capítulo

Minhas pernas se recusavam a mexer. Minhas mãos estavam paradas ao lado do meu corpo e meus olhos não queriam piscar. Eu encarava a cena petrificada enquanto meu pai colocava Draco em cima da mesa da cozinha e minha mãe tirava sua capa de viagem.

- , , ! – meu pai gritou chamando a minha atenção. – Nós precisamos de você, filha.
- Okay. – eu respondi e com muita dificuldade me aproximei da mesa. Draco ainda estava inconsciente. – O que vocês querem que eu faça?
- Tire os sapatos dele e a camisa. – minha mãe pediu. – Vamos deixá-lo confortável e ver se há lesões no tórax.
- Tudo bem. – eu fiz o que ela pediu e ao observar o peito marfim de Malfoy eu notei várias escoriações. – Mãe, olhe.

Draco começou a se bater de repente, seu corpo foi tomado de vários espasmos e tivemos que segurar seus braços e pernas.

- , segure a língua dele para que ele não morda. – minha mãe pediu e eu abri a boca de Malfoy fazendo o que ela pediu. – Ele foi torturado pela cruciatus, Greg.
- Sim. – meu pai acendeu a varinha e levantou sua pálpebra assim que ele parou de se debater. – Ótimo, as pupilas se contraem, aparentemente não houve danos no cérebro.
- Ele se esforçou demais vindo até aqui. – mamãe disse. – Seu corpo não aguentou as torturas e a viagem.
- O que nós vamos fazer? – eu perguntei observando Draco desacordado.
- Vamos dá-lo a Poção de Wiggenweld. – mamãe disse. – Isso vai restaurar suas forças e ajudá-lo a se curar.
- Filha, vá até aquele armário ali. – meu pai apontou. – O nome estará no rótulo, ela é verde.
- Tudo bem. – eu respondi e caminhei até o armário procurando o frasquinho e o achei rapidamente. – Essência de ditamno vai ajudar nos ferimentos do rosto, certo?
- Isso, traga também. – meu pai disse e eu peguei os dois frascos e caminhei até eles. – Pingue a essência no rosto do Draco enquanto nós o fazemos beber a poção.
- Okay. – eu comecei a aplicar a essência e os machucados em seu rosto foram fechando. Minha mãe tocou suas costelas devagar enquanto meu pai fazia Draco beber a outra poção. – O que foi, mãe?
- Ele está com algumas costelas quebradas. – ela explicou. – Precisamos tratar antes que elas furem algum órgão.
- Tudo bem. – eu disse. – Qual delas é?
- Nós não temos a poção, . – minha mãe disse. – Precisamos da Esquelesce, mas não temos aqui.
- O que vamos fazer? – eu perguntei já sentindo o desespero se instalar.
- Greg, converse com nosso contato no St. Mungus. – minha mãe disse. – Ela pode nos ajudar.
- Draco fugiu para cá, mãe. – eu disse observando meu namorado inconsciente. – Ele jamais abandonaria a mansão Malfoy, se alguém do ministério souber o que está acontecendo, podem vir atrás dele.
- Nosso contato não vai falar nada, querida. – meu pai explicou. – Ela faz parte da Ordem da Fênix.
- Eu espero que ele acorde logo. – eu disse fazendo um carinho em sua testa. – Vamos levá-lo para o meu quarto.
- Sim, eu vou enfaixar as costelas para que ele não se mexa e piore mais. – mamãe disse e fez um movimento com a varinha e algumas faixas vieram até ela. – Se ele não acordar em duas horas, dê a poção de Wiggenweld para ele novamente. O resto dos machucados vai sarar aos poucos e os efeitos da cruciatus vão passar também.

Draco não acordou nas duas horas seguintes. Nem nas outras duas e quando o sol invadiu a janela do meu quarto, ele continuava apagado. Seu rosto estava calmo e os hematomas já estavam sumindo, contudo eu estava preocupada. O que tinha acontecido com Draco para que ele viesse até mim? O que havia acontecido dentro daquela mansão para que afastasse seu herdeiro? Os pais de Malfoy sabiam que ele estava aqui? Tantas perguntas, mas que as respostas eu só teria assim que o rapaz ao meu lado acordasse. Caminhei até o banheiro e as olheiras embaixo de meus olhos mostravam a noite sem dormir em vigília. Meus pais ainda não tinham voltado de St. Mungus com a poção para os ossos e isso me deixava ainda mais nervosa. Ouvi batidas na porta e caminhei até lá encontrando Prince, a elfa doméstica, com uma bandeja.

- Bom dia, minha senhora. – ela disse baixo. – Sua avó pediu para que eu trouxesse seu café da manhã.
- Muito obrigada, querida. – eu respondi e peguei a bandeja de seus braços pequenos. – Meus pais chegaram?
- Ainda não, minha senhora. – ela respondeu. – Eu lavei as roupas do hóspede.
- Muito obrigada, Prince. – respondi. – Mais tarde eu vou buscá-las.
- Tudo bem, minha senhora. – ela respondeu e saiu andando em direção às escadas.

Eu entrei no quarto e deixei a bandeja no criado-mudo ao lado da cama e dei um gole no chá de camomila quentinho sentando na poltrona ao lado de Draco. Ele suspirou, mas não abriu seus olhos para mim. O medo apertou meu coração com força e eu não percebi quando meus olhos se encheram de lágrimas. Ele era meu parceiro, minha pessoa, meu refúgio quando as coisas dessem errado, eu não queria perdê-lo. Draco precisava acordar, ele não podia me deixar de novo. Apertei sua mão e beijei cada um dos nós de seus dedos sussurrando para que ele voltasse.

- ?

Levantei minha cabeça e Draco me encarava confuso. Eu comecei a chorar ainda mais e o abracei, enterrando meu rosto em seu pescoço. Senti suas mãos em meus cabelos e o olhei mais uma vez finalmente encarando os olhos azuis que eu tanto amava.

- Como você está se sentindo? – eu perguntei limpando minhas lágrimas. – Está com dor?
- Um pouco, o que aconteceu? – ele perguntou e tentou se mexer, mas arfou.
- Suas costelas estão quebradas. – eu expliquei. – Não se mexa muito, meus pais foram buscar a poção com um membro da Ordem da Fênix.
- Eu consegui chegar aqui, ainda bem. – ele suspirou. – Eu estou com sede.
- Aqui tem água. – eu respondi o servindo com um copo. – O que houve com você, Draco?
- Uma longa história. – ele respondeu vagamente. – Eu estou com fome.
- Vou pedir para Prince fazer alguma coisa para você comer. – eu disse e beijei seus lábios rapidamente. – Não se mexa, eu já volto.
- Não vou sair daqui. – ele respondeu.

Voltei minutos depois com um ensopado de galinha bem forte que minha avó disse que iria colocar Draco em pé em minutos. Ele observava meu quarto quando eu abri a porta. Ajudei-o a se arrumar e meu namorado começou a comer lentamente ainda analisando meu quarto.

- Eu achei que você tinha mudado alguma coisa desde a última vez que eu vim aqui. – ele disse. – Mas você manteve tudo do mesmo jeito.
- É, quando eu vim para cá nas férias de julho eu estava de luto, a decoração é a última coisa em que eu iria pensar. – eu disse. – Você está querendo mudar de assunto. O que aconteceu, Malfoy?
- Você me conhece. O que acha que aconteceu? – ele perguntou.
- A famosa frase “O meu pai vai ficar sabendo disso” irritou alguém? – eu perguntei brincando e ele riu, mas fez uma careta de dor logo em seguida.
- Você-Sabe-Quem não está na mansão e levou meu pai e minha tia em alguma missão. – ele explicou. – Eu tinha uma tarefa e falhei. Era coisa idiota, mas como os outros comensais detestam a mim e a meu pai por termos lugar no pequeno conselho, eles se vingaram.
- Isso é horrível. – eu disse. – O que tua mãe fez?
- Ela não estava em casa também na hora da briga. – ele explicou. – Tinha saído para comprar as coisas para a ceia de natal.
- Ela não sabe onde você está? – eu perguntei e ele assentiu. – Ela deve estar pirando.
- Eu disse para ela que viria para cá em algum momento das férias. – Draco explicou depois de terminar de comer. – Mas eu preciso voltar, não posso deixá-la sozinha.
- Você não pode voltar agora. – eu disse. – Precisa tomar a poção e esperar que ela faça efeito.
- Eu não posso... – ele disse fazendo força para levantar, mas arfou de dor e desistiu. – Eu estou muito mal, não é?
- Sim, Draco. – eu respondi e dei um sorriso. – Como você chegou aqui?
- Eu vim aparatando. – ele explicou. – A viagem foi dolorida demais e atravessar o país para chegar aqui deve ter piorado as coisas.
- Mas agora está tudo bem. – eu disse, mas ele me cortou.
- Não está tudo bem, eu fugi da minha própria casa! – ele disse e percebi raiva em sua voz. – O ódio que eu sinto por aqueles idiotas agora...
- Você veio de muito longe, precisa descansar. – eu disse. – Quer comer mais alguma coisa?
- Não, eu estou bem. – ele segurou minha mão e a beijou. – Obrigado.
- Não precisa agradecer, eu sei que você faria o mesmo por mim. – eu respondi e beijei seus lábios levemente. Draco segurou meu rosto e quis aprofundar o beijo, mas eu não deixei – Você não pode se mexer muito.
- Sim, mas eu preciso beijá-la. – ele disse como se fosse um argumento plausível.
- Isso não vale. – eu respondi. – Nada de beijos sérios até essas costelas estarem boas.
- Você é muito chata. – ele resmungou, mas depois me deu um sorriso. – O que vamos fazer então?
- Conversar, o que acha? – eu disse. – Quantos te atacaram?
- Cinco. – ele respondeu. – Eu voltei da missão e eles estavam me esperando na porcaria da minha sala de jantar! Da minha sala de jantar, !
- Eu sei, eu sei, eu sei. – eu disse e segurei sua mão. – Já passou, Malfoy. Não há nada que você possa fazer.
- Claro que há, eu vou matar todos eles! – ele disse bravo e eu suspirei.
- Isso, mate-os e provoque a ira de Você-Sabe-Quem. – eu disse irônica. – Você não pode matá-los.
- Eu sei que não, só estou com raiva. – ele disse bufando.
- Mas você pode atacá-los separadamente. – eu sugeri e percebi seu olhar ganhando vida. – E eu sou uma péssima namorada por te aconselhar a vingança. - Você é perfeita pra mim, você sabe disso, não é? – ele respondeu e eu ri. – Se você fosse comensal, nós seríamos um casal mortal.
- Claro, com você correndo para o teu pai toda vez que fizesse algo errado. – eu disse e ele ficou surpreso. – Eu estou mentindo? Tudo o que acontece, você corre para contar para o teu pai.
- Eu não faço isso! – ele disse indignado e eu ri mais uma vez.
- Malfoy, não negue. – eu disse. – Você faz isso.
- Eu não faço. – ele resmungou e eu me deitei ao seu lado suspirando.
- Tudo bem, você não faz. – eu disse irônica e suspirei. – Droga, eu estou cansada, mas não posso dormir.
- Eu estou bem. – ele fez um carinho em minha testa e me puxou para deixar minha cabeça em seu ombro. – Quando seus pais chegarem, eu te acordo.
- Se você sentir dor me chame. – eu disse, mas com o carinho que Malfoy fazia em minha testa, eu já estava ficando sonolenta. – Há poções que eu preciso...
- Eu sei, meu amor. – ele disse me chamando de amor como poucas vezes ele fazia. – Descanse.

O céu azul estava lá mais uma vez. A grama verde incomodava minhas costas, mas eu não me importava. Levantei meu tronco e meu olhar foi para a grandiosa mansão atrás de mim que destoava com o resto do cenário. Ela continuava escura, com as paredes sujas e janelas quebradas enquanto o jardim era esplêndido. Contudo, nada disso atraiu tanto minha atenção quanto o homem parado a alguns metros de mim me esperando levantar. Draco sorriu para mim e eu caminhei até ele. Nossas mãos se entrelaçaram e nossas testas se juntaram, senti seu cheiro, sua pele sob meu tato e uma súbita vontade de chorar veio até mim.

- Eu sinto tanta saudade. – eu disse baixinho e Draco afirmou com a cabeça. – Tanta saudade de você...
- Eu também sinto... – ele disse fechando os olhos e apertando nossas mãos. – Você me perdoa?
- Você sabe que sim. – eu comecei a chorar de verdade e Draco me deu um selinho. – Só volta pra mim, por favor.
- Eu não posso. – ele disse e eu percebi que nós dois chorávamos. – Mas nós vamos encontrar um lugar pra gente, um lugar só nosso.
- Promete? – eu perguntei e ele deu um sorriso bobo.
- Sempre me pedindo para prometer coisas, você não muda, . – ele disse e eu sorri. – Mas eu prometo.

Draco colocou as mãos em meu rosto e me beijou devagar. Passou os braços ao redor da minha cintura e intensificou o beijo cada vez mais. Minhas mãos acariciavam sua nuca e cabelos, Draco sugou minha língua de leve, apertou minha cintura e desceu as mãos para meu quadril. Tudo estava ótimo, a saudade estava se dissipando aos poucos com cada beijo, cada abraço, mas como sempre, o momento foi interrompido por um barulho estranho. Olhei para a casa e de uma das janelas, uma figura estranha sorria malignamente. Draco puxou minha mão e começamos a correr enquanto feitiços eram disparados vindo da casa. Meu vestido branco se enrolava em minhas pernas, mas eu não parava de correr, foi nessa distração que Draco parou ao meu lado. Eu o olhei e ele olhou para mim e eu percebi que um feitiço estava se dissipando em seu corpo. De sua camisa branca começou a jorrar sangue e eu tive que segurar Draco enquanto ele caía no chão. O que estava acontecendo? Ele não podia morrer, eu havia acabado de tê-lo de volta. Ele cuspiu sangue e manchou meu vestido branco.

- Não, não, não. – eu murmurei e tentei estancar o sangramento, mas ele vinha de todos os lugares. Sua pele foi ficando mais branca e seus olhos azuis já estavam opacos. – Não me deixe, por favor, não me deixe...

Draco Malfoy estava morto. Apertei seu corpo contra o meu e gritei inconformada. Beijei sua testa e limpei seus lábios que estavam sujos de sangue. Uma calma se apoderou de mim e eu sabia que minha hora também havia chegado. Eu queria morrer, não haveria um futuro sem ele. Draco era meu e agora estava morto.

- Eu sinto muito. – eu disse e percebi uma criatura em uma das janelas da mansão. Ela mirou sua varinha em mim e eu aceitei a morte como uma velha amiga. O feitiço verde veio até mim e quando ele me atingiu, eu acordei.

Abri meus olhos e para meu alívio Draco estava deitado ao meu lado. Vivo, respirando, com suas bochechas rosadas e sem sangue saindo de seu peito. O sonho que me perseguiu durante todas as férias havia voltado e eu agradecia por ser somente um sonho. Eu estava banhada em suor e precisava de um banho. Deixei Draco em minha cama e caminhei até o banheiro. Assim que havia terminado e me trocado, caminhei para a cama e me sentei ao lado de Malfoy para esperá-lo acordar, mas sua expressão me assustou. Ele parecia em sofrimento enquanto dormia e suas mãos se fecharam como se estivesse lutando com alguém. Eu ia acordá-lo, mas não precisei, pois Draco abriu seus olhos e me encarou assustado.

- Está tudo bem. – eu disse tentando tranquilizá-lo, mas ele me encarou e segurou meu rosto.
- Você está bem? – ele perguntou me analisando.
- Sim, o que houve? – eu perguntei preocupada.
- Eu tive um pesadelo. – ele disse suspirando e esfregando os olhos. – Um que eu não tinha há um bom tempo.
- Qual? – eu perguntei.
- Eu morrendo. – ele disse e eu gelei. – Em seus braços depois de você dizer que me perdoa.
- Você não pode estar falando sério. – eu disse assustada. – Não pode ter esse pesadelo.
- Mas eu tenho, . – ele disse um pouco bravo. – Eu sei que é um pouco narcisista, mas...
- Cala a boca. – eu disse e ele obedeceu. – No teu sonho nós estamos em um jardim?
- Sim, o da minha casa. – ele respondeu e eu me assustei. – Por que, ?
- Eu tenho esse mesmo sonho desde que você fugiu. – eu disse. – Você sempre morre por uma maldição, mas hoje você morreu como naquele ataque do Harry.
- Sim. – ele disse me olhando sério.
- O que está acontecendo? – eu perguntei confusa.
- Mas não é óbvio, ? – Draco disse. – Tem alguém entrando em nossas mentes e nos forçando a ver a minha morte.
- O que nós vamos fazer? – eu perguntei e suspirei. – Mais essa agora.
- Eu ainda não sei. – ele disse. – Droga, eu sempre fui bom em Oclumência.
- Jura? Eu nunca tentei. – respondi e joguei meu corpo na cama. – O que vamos fazer, Draco?
- Você faz perguntas que as respostas são óbvias, . – ele disse calmamente. – Primeiro temos que descobrir quem está colocando esse sonho perturbador na nossa cabeça, segundo temos que saber como estão colocando, afinal, eu sou bom em Oclumência e isso não deveria acontecer, e terceiro, você vai aprender a fechar sua mente.
- E quem vai me ensinar?
- Eu. – ele sorriu confiante. – Tia Bella me ensinou depois que eu me tornei comensal.
- Quando começamos? – eu perguntei.
- Quando voltarmos para o castelo. – ele respondeu e eu me lembrei da conversa com meu pai.
- Eu preciso te contar uma coisa. – eu disse dando um suspiro. – Antes de você chegar, meu pai me pediu para ir para França com ele e minha mãe.
- Você diz... Abandonar a escola? – ele perguntou. – Você não vai fazer isso, não é?
- Eu ainda não sei, Malfoy. – eu respondi sinceramente. – Eu quase morri naquele lugar, meus pais quase morreram e eu não pude nem visitá-los.
- Mas e eu? – ele perguntou e seus olhos demonstraram uma fraqueza que eu nunca tinha visto antes. – Você vai me deixar sozinho?
- Não é como se já não tivéssemos passado por isso antes. – eu respondi e suspirei. – Olha, eu não tomei nenhuma decisão ainda, eu só queria te contar.
- Eu deveria ser altruísta e te dizer para escolher o que é melhor para você, mas você me conhece, eu não sou. – Draco segurou minhas mãos e me encarou profundamente. – Eu só quero que você fique comigo, já é um inferno com você ao meu lado, imagina sem? Eu não quero que você vá.
- Eu sei que você não quer. – eu respondi e meus olhos encheram-se de lágrimas. – Só vamos deixar isso para lá, tudo bem? Eu tenho até o fim das férias para decidir isso. Nós temos tempo.
- Se você fugir, o ministério te colocará na lista de Indesejáveis. – Draco disse. – Eu não vou poder ter contato com você depois disso.
- Nós vamos dar um jeito. – eu disse. – Nós sempre damos.
- Droga. – Draco disse e suspirou. – Droga!
- Draco, calma. – eu disse e me aproximei dele segurando seu rosto. – Vai ficar tudo bem. Eu sei que vai.
- Não vai, . – ele respondeu. – Nós sabemos que não vai, tudo vai piorar. - Nós temos que ter esperança, meu bem. – eu disse e beijei seus lábios rapidamente. – Por que é a única coisa que nos sobrou.
- Eu não quero ter esperanças. – ele respondeu e segurou meus cabelos me puxando para mais perto. – Eu quero você.
- Eu estou aqui. – eu respondi. – E não vou embora agora.
- Mas um dia você vai. – ele disse me encarando com o olhar mais dolorido que eu já tinha visto em seu rosto.
- Mas esse dia não é hoje. – eu respondi antes de beijá-lo.

Eu não prometi nada a Draco. Eu não podia prometer algo sem ter a certeza de que iria cumprir, aprendi isso com ele depois de tantas promessas vazias que ele já havia feito. Contudo, por mais que eu o amasse, não haveria mais amor se eu estivesse morta. Era doloroso admitir, mas o convite de meu pai foi muito tentador. Antes eu me envergonharia de sequer cogitar essa hipótese, mas naquele momento, a opção de fugir pareceu ser tudo o que eu precisava. Eu estava cansada de lutar, cansada de ser a resistência, cansada de ser a única luz no meio de tantas trevas. Se eu fugisse para a França, tudo iria melhorar. Eu teria meus pais por perto como sempre foi, eu teria uma adolescência normal, eu teria uma vida. Porém, eu não teria Draco. E isso era doloroso demais.
Ouvi batidas na porta e levantei para ir abrir e encontrei meus pais com uma expressão cansada, mas com uma ampola em mãos.

- Conseguimos. – meu pai disse e me entregou o objeto. – Tivemos que esperar, pois a curandeira nossa amiga estava com o St. Mungus cheio.
- Muito obrigada. – eu respondi. – É só ministrar uma vez?
- Sim. – minha mãe respondeu. – Draco vai tomar agora e em duas horas terá os ossos em perfeito estado.
- Eu vou entregar a poção para ele. – eu respondi e eles assentiram antes de irem para seu quarto.
- A poção chegou. – eu disse e Draco assentiu. – Você vai tomar agora e daqui a duas horas estará bom.
- Tudo bem. – ele disse e eu entreguei o frasco a ele. – Tomara que não tenha um gosto ruim.
- Vai ter. – eu disse e dei risada com a careta que ele fez quando virou a ampola. - Isso é horrível. – ele disse reclamando.
- Mas vai te curar. – eu respondi. – Como você quebrou as costelas, o tempo não será tão grande. Há pessoas que quebram ossos maiores e podem ficar até oito horas em completo repouso esperando a poção funcionar.
- Obrigado por tudo, . – Draco disse dando um sorriso.
- De nada, Malfoy. – eu respondi e deitei ao seu lado.


(n/a: dê play na música e se necessário, repita até o capítulo acabar)


Passamos a manhã toda conversando sobre amenidades, utilizando nosso tempo para fazer aquilo que Hogwarts e seus problemas não nos permitiam fazer: ser adolescentes. Nós conversamos, rimos, jogamos xadrez bruxo (eu perdi, é claro), almoçamos com meus pais e tivemos um gosto do que seria a vida sem todos os problemas que nos cercavam. Draco deitou ao meu lado observando o teto e o silêncio caiu sobre nós. Eu pude observar cada traço de seu rosto. As pequenas cicatrizes da briga já estavam brancas e somente era possível vê-las de perto. Pequenos fios de barba loira ameaçavam crescer em seu queixo, mas eu sabia que Draco iria apará-los assim que tivesse chance. As olheiras já estavam indo embora, deixariam o rosto branco que eu tanto amava com a aparência saudável que ele tinha. Os olhos azuis de um mar calmo encaravam o teto sem me olhar e de perfil, eu só podia observar seus cílios loiros que formavam arcos perfeitos. Os cabelos loiros estavam impecavelmente cortados, contudo, bagunçados desde muito tempo. Malfoy finalmente me encarou e deu um pequeno sorriso ao notar que eu o observava. Ele sustentou meu olhar e entrelaçou nossos dedos em um gesto de carinho que só Draco me proporcionava. Eu sei que muitos casais dão as mãos, mas somente ele transmitia aquele sentimento de que tudo iria ficar bem, aquela sensação de que eu tinha um lugar para voltar, somente Malfoy me dava essa certeza.
Sentei na cama e me abaixei beijando cada pedaço de seu rosto. A testa, os olhos, o nariz, as bochechas, o queixo e os lábios. Depois beijei cada uma da ponta de seus dados e a palma. Draco não tirava os olhos de mim e aguardava pacientemente para me tocar. Coloquei minhas mãos sob sua camiseta e senti os músculos e os ossos do quadril que estavam ficando protuberantes a medida que ele emagrecia mais e mais. Senti as cicatrizes do feitiço que Harry havia aplicado em Malfoy e seu coração batendo um pouco acelerado.

- Está nervoso? – eu perguntei baixo e ele assentiu. – Por quê?
- Você me deixa nervoso. – ele respondeu quando eu sentei em cima de seu quadril e entrelacei nossas mãos. – Eu nunca sei o que você vai fazer.
- Eu acho que agora você sabe. – eu respondi me debruçando sobre ele e unindo nossos lábios.

Segurei seu rosto em minhas mãos e aprofundei o beijo sugando sua língua que prontamente invadiu minha boca. Draco segurou meu quadril com força com a mão esquerda e com a direita apertou minha cintura em um carinho simples. Meus cabelos caíam sobre nós, mas ninguém se importava. Mordi seu lábio inferior e voltei a beijá-lo. Malfoy colocou a mão dentro da minha camiseta e fez um carinho em minha barriga antes de empurrar a barra para cima e eu levantei os braços para ele tirar. Os dedos de Draco foram diretos para meus seios sem sutiã e eu me senti mais quente. Beijei seu pescoço e suguei o lóbulo de sua orelha enquanto recebia uma massagem lenta no seio esquerdo.

- Você está com dor? – eu perguntei apontando para as suas costelas.
- Acho que já estou bem. – ele respondeu e voltou a me beijar. – Tudo bem ser hoje?
- Sim, eu olhei a tabelinha. – eu respondi. – Estamos seguros.

Senti suas mãos entrando pela minha calça de moletom e como sempre, fiquei surpresa com o toque gelado de seus dedos que nunca estavam quentes. Draco me encarou e seu olhar transbordava sensualidade.

- Você comanda hoje. – ele disse. – Coloca esse quadril pra funcionar.

Eu ri e infiltrei meus dedos em sua calça já notando o quanto ele estava pronto. Ele era meu. Draco era meu e sempre seria.

Eu respirei fundo e senti Draco tremer embaixo de mim, logo o segui tremendo também e sentindo meus músculos se contraírem em torno dele. Depois de alguns segundos, eu saí de cima de Malfoy e deitei ao seu lado tentando regular minha respiração descompassada. Eu olhei para Draco e ele estava de olhos fechados respirando pesadamente também.

- O quão difícil foi para você me deixar naquele dia? – eu perguntei.
- Por quê? – ele devolveu me encarando.
- Só responde.
- Eu me arrependi no segundo em que te empurrei no corredor da Sala Precisa. – ele disse. – Eu fiz aquilo para que nenhum comensal te achasse, mas sabia que a partir daquele momento eu tinha te perdido. Então, te deixar foi a coisa mais difícil que eu fiz. Não foi tentar matar o Dumbledore várias vezes ou desistir na última hora como eu fiz. O mais difícil foi olhar a decepção em seus olhos, a tristeza que estava lá por minha causa. Eu causei sua dor, eu fiz você se isolar de todos, eu te destruí. Isso foi o mais difícil pra mim.
- Eu não vou embora. – eu disse o encarando. – Eu não quero isso de novo para nós.
Ficar depressiva, esperando alguém que não vai aparecer. Eu não posso te deixar, eu não quero fazer isso. Eu vou ficar e vou lutar.
- Você vai ficar comigo? – ele perguntou sorrindo e segurando meu rosto. – Você não vai embora?
- Eu não vou. – eu respondi e ele me abraçou beijando meu rosto várias vezes depois. – Eu vou ficar com você.
- Eu te amo. – ele disse ainda beijando meu rosto. – Eu te amo, eu te amo, eu te amo...
- Eu também te amo, Draco. – eu respondi rindo e caindo na cama com Draco em cima de mim beijando minha barriga e fazendo cócegas.

Capítulo betado por Gi Craveiro


Lembranças dolorosas.

(n/a: música do capítulo, deixe carregando e dê play quando ver a notinha.)

- Eu não acredito que concordei com isso – eu disse suspirando e Draco deu uma risada – Eu sou péssima.
- Não, você não é – ele respondeu sem me encarar – Você só precisa de prática.
- É por isso que você está me fazendo jogar desde que você acordou – eu retruquei e Malfoy riu mais uma vez – Eu sou um lixo em xadrez de bruxo.
- Ainda bem, eu me sentiria péssimo se você fosse melhor que eu em tudo – ele respondeu e eu mostrei meu dedo do meio – Tem alguém irritada por aqui.
- Só mais essa partida, você ouviu? – eu disse – Torre na C9.
- Morreu – ele respondeu e minha Torre se partiu em pedaços – Rainha na E12. Morreu de novo.
- Eu desisto – eu disse e deitei na cama suspirando e Draco riu vindo para cima de mim – Você é um ridículo.
- Por que eu ganho de você no xadrez? – ele perguntou se acomodando entre minhas pernas e fazendo um carinho em meu rosto – Você precisa aprender a perder.
- Não, eu não preciso – eu respondi emburrada e recebi um beijo na bochecha – Eu preciso aprender a jogar isso.
- É assim que eu gosto, minha garota não desiste fácil – ele respondeu me roubando um beijo e saindo de cima de mim indo sentar – Você precisa pensar bem antes de fazer uma jogada, não pode ser ansiosa.
- Mas eu sou ansiosa, você sabe disso – eu respondi e observei o tabuleiro de xadrez – Eu não penso muito antes de fazer.
- Isso pode vir a ser um problema em duelos – Draco comentou também olhando nosso jogo – Isso pode custar a tua vida.
- Ou salvá-la – eu respondi – Essa loucura já me salvou várias vezes.
- Eu nunca vou te entender – ele respondeu – Eu sou muito cauteloso em duelos, sempre penso no que irei fazer e acabo me ferrando. Você diz o primeiro feitiço que aparece em sua mente e sai ilesa.
- Isso não é verdade – eu respondi – Bispo na D7 – minha peça derrubou o cavalo de Malfoy – Eu penso o feitiço adequado para aquela situação, o primeiro que aparecer, mas o certo para o que eu preciso.
- Você é boa, – Malfoy disse me encarando sério – Essa é a explicação. Existem pessoas que treinando tornam-se boas, mas você nasceu assim.
- Obrigada – eu respondi dando um sorriso – Meu bem, eu preciso te perguntar uma coisa.
- Lá vem – Draco disse e eu ri – Pergunte.
- Você sabe alguma coisa sobre Luna? – eu perguntei e percebi meu namorado ficando tenso – Eu sei que você odeia falar sobre isso, mas eu me importo com Luna tanto quanto me importo com você e preciso saber se ela está bem, se ela está viva.
- Você não pode contar isso para ninguém, ouviu? – Draco disse e eu senti meu estômago se contorcer de ansiedade – A Lovegood está na minha casa, ela está sendo mantida lá.
- Ela está bem? Está assustada? – eu perguntei e senti meus olhos se encherem de lágrimas.
- Ela está bem, mas eu não sei muita coisa – ele explicou – Tia Bella não me deixa encontrar com ela já que somos colegas de escola. Ela diz que Luna pode tentar me manipular por isso.
- Isso é ridículo – eu respondi – No máximo que Luna faria seria perguntar pelos amigos e perguntar pelo pai.
- Eu sei, mas eu não quero vê-la – ele disse sério – Eu fui entregar comida para ela apenas uma vez e me senti um lixo.
- Por que?
- Como você disse, ela é muito boa para estar ali – Malfoy disse – Você é briguenta, iria xingar até ficar sem voz, Neville iria se borrar nas calças e a Weasley iria tentar escapar. Já Luna aceitou a situação e apesar de tudo, continua tratando todos com cortesia.
- Por isso sua tia não deixou mais você ter contato com ela – eu disse – Você se compadeceu dela.
- Tem ideia do quão vergonhoso é isso para um comensal da morte? – ele me perguntou e de repente o xadrez não importava mais. Eu só queria ouvi-lo falar sobre seu mundo que eu sabia tão pouco – Luna me olhou profundamente e agradeceu quando eu entreguei o prato de comida. Ela não disse nada, mas seus olhos... Eu entendi porque você gosta tanto dela.
- Apesar de parecer frágil – eu expliquei – Luna tem um espírito forte e jamais mudará seu jeito de ser por estar presa.
- Acho que estamos começando a perceber isso – ele disse e me deu um sorriso – Está cada vez mais difícil para mim.
- Eu sei, amor – eu disse e dei um sorriso – Mas você é forte.
- Você também – Draco disse antes de vir até mim e me beijar.

O natal veio, foi embora e com ele Draco. Meu namorado voltou para sua casa e por mais que ele negasse, eu conseguia sentir seu nervosismo quando se despediu de meus pais agradecendo pelos cuidados. Senti seu coração bater acelerado quando o abracei e tentei tranquiliza-lo, mas não adiantou. Ele estava com medo do que encontraria em casa e eu não poderia culpá-lo.
O dia de voltar para Hogwarts chegou também e meu coração apertou mais ainda ao perceber que aquela poderia ser a última vez que eu veria meus pais.
- Eu amo vocês – eu disse abraçando os dois – E obrigada por entenderem o motivo de eu não ir para a França.
- Me quebra o coração te deixar para trás – mamãe disse – Mas eu sei que se você ficar longe do Draco vai acabar ficando doente e eu não quero isso.
- Nós queremos que você seja feliz, minha filha – papai disse e percebi lágrimas em seus olhos – Só isso.
- Eu sei – eu respondi e não notei quando comecei a chorar – Eu vou sobreviver e nós teremos uma vida longa e feliz juntos. Todos nós.
- Volte para nós, pequena – minha mãe disse me abraçando apertado – Volte para nós.
- Eu vou voltar – eu respondi antes de jogar o pó de Flu e gritar Hogwarts.

O solavanco que eu senti fez meu estômago embrulhar e eu fechei os olhos esperando que aquilo tudo passasse. As lareiras iam passando e quando abri os olhos novamente eu estava jogada no chão do escritório da professora McGonagall.

- Bom dia, – ela disse enquanto lia O Profeta – Como foi o natal?
- Muito bom, professora – eu respondi e peguei meu malão que estava caindo no chão – Eu vou indo.
- Tenha um bom dia – ela respondeu sem ao menos me olhar.

Eu saí andando pelos corredores para ir até a Grifinória e vários alunos passavam por mim conversando baixinho. Eu queria ver meus amigos, mas principalmente queria ver Draco e saber o que tinha acontecido. Os comensais me encaravam quando eu passava por eles e isso me deixava desconfortável, como se eles soubessem de algo que eu ainda não sabia. Virei um corredor do primeiro andar e encontrei Draco conversando com seu pai.

- Eu já disse que está tudo bem – meu namorado disse – Eu vou ficar bem.
- Eu sei que você estará mais seguro aqui do que em casa – Lúcio Malfoy disse – Só que eventualmente você precisará ir para casa. Lorde das Trevas precisará de você.
- Só que também – Draco retrucou – E eu não posso deixa-la por muito tempo.
- Ela é uma garota! – o mais velho disse – Uma simples garota, seu dever para com o Lorde das Trevas é muito mais importante do que uma paixonite de escola!
- não é apenas uma paixonite e você sabe muito bem disso, pai – Draco disse e suspirou – Olha, eu tenho que ir. Preciso encontrar minha namorada, arrumar minhas coisas e...
- Você não precisa procura-la, ela está bem atrás de nós ouvindo toda a conversa – Lúcio disse e Draco se virou me encontrando parada roxa de vergonha.
- Eu não quis ouvir nada, me desculpe – eu fiquei sem graça e olhei para meus pés – Eu não quis interromper, eu vou indo embora.
- Não precisa ir, – Draco disse com uma voz séria – Venha até aqui.
- Eu posso ir embora, Draco – eu disse envergonhada – Não tem problema.
- Não – Draco disse e seu olhar transbordava determinação – Venha até aqui.

Eu caminhei vacilante até eles com meu malão fazendo um barulho irritante contra o chão. Lúcio Malfoy me olhava concentrado e em seu olhar eu via desaprovação. Encarei minhas roupas minhas roupas e percebi o quanto elas se contrastavam com a sobriedade das roupas deles que eram ternos muito bem cortados com capas de viagem feitas de pele de dragão e claro, tudo na cor preta.

- Pai, essa é – Draco disse quando me aproximei dele passando a mão em minha cintura – Minha namorada.
- É um prazer, senhor – eu disse e estendi a mão para que Lúcio apertasse e ele apertou, mas soltou rapidamente.
- Eu digo o mesmo, senhorita – ele disse me encarando longamente – Seu pai é Gregório ?
- Sim, o senhor conhece? – eu perguntei.
- Sim, fizemos Hogwarts juntos – ele explicou – Onde ele está?
- Bem, depois do acidente meses atrás ele foi afastado do serviço de auror – eu expliquei – Está com a minha família paterna em algum lugar.
- Você não sabe? – ele perguntou e eu me senti em um interrogatório olhando para Draco pedindo ajuda.
- Já chega com essas perguntas, pai – ele disse – Os pais dela são funcionários do ministério.
- Arthur Weasley também é – Lúcio disse – E bem, sabemos quem ele é.
- Um excelente pai, funcionário e amigo, pelo que eu sei – eu respondi e percebi seus olhos faiscando de surpresa em minha direção – Mas o senhor já sabe disso, não é?
- Sei – ele respondeu – Então você é do círculo de amizades das crianças Weasley.
- O que isso tem de relevância? – eu perguntei e naquele momento nada importava, eu só precisava me defender – As crianças Weasley são meus melhores amigos, sim.
- Então eu assumo que Harry Potter também – ele disse me encarando com um olhar carregado de significado – Draco namora uma amiga de Harry Potter.
- Não se esqueça de Hermione Granger também – eu respondi – Ela é minha melhor amiga.
- Não creio que essas sejam as melhores amizades para se ter nesse momento – Lúcio disse.
- Pai, já chega – Draco alertou e apertou minha cintura.
- Eu tenho que discordar com o senhor – eu respondi – Antes ter amigos como eles do que quaisquer outros que estejam esperando para me ferir ou machucar minha família dentro da minha própria casa.
- Eu acho melhor você ter cuidado com o que fala, garota – Lúcio disse aproximando e pegando sua varinha nas vestes – Você não sabe com quem está conversando.
- Quem não sabe com quem está conversando é o senhor – eu respondi o encarando sério – Não tem a mínima ideia.
- , já chega! – Draco disse segurando meu braço que já estava se preparando para pegar minha varinha – Eu acho melhor você ir.
- Sim, eu também acho – eu respondi encarando Lúcio e depois me virei para o Malfoy mais novo – Amanhã nós conversamos.
- Tudo bem, boa noite – ele disse e beijou meu rosto rapidamente antes de eu me afastar.

Meu sangue fervia de raiva e por mim eu ainda estaria naquele corredor falando poucas e boas para aquele velho convencido. Lúcio Malfoy era uma pessoa desagradável e nada me faria mudar de ideia. Eu sabia que Draco ficaria bravo comigo pelo ocorrido, mas não poderia permitir que Lúcio me intimidasse daquele jeito, não é da minha natureza aceitar aquelas provocações e Draco me conhecia o bastante para saber que minha resposta viria certeira. Se havia uma certeza sobre mim era que eu não abaixava minha cabeça por nada.

A manhã veio mais gélida que qualquer uma e eu precisei de forças para levantar da cama e enfrentar aquele dia. Eu tinha aulas com a Corvinal e Lufa-Lufa e só conseguiria encontrar Draco no horário de almoço e longe dos demais olhares. Era complicado estar em lados opostos ainda mais agora, contudo, era uma questão de tempo até todos saberem já que era nítido que nos importávamos com o outro e quando se tratava de proteger o parceiro nenhum de nós media consequências. Caminhei com Nate e Neville com dificuldade por causa da neve até as estufas e suspirei pensando no que já me esperava quando encontrasse Draco.

- Você está muito quieta hoje, menina – Nate disse me observando com seus olhos ridiculamente azuis – O que houve?
- Eu acho que exagerei em algo e Draco não deve estar muito feliz comigo – eu expliquei.
- Você nunca pensa para falar, não é? – Neville disse – Todo mundo sabe disso e Malfoy também. Ele não deveria ficar bravo por você ser quem é.
- Eu sei, mas eu – eu suspirei – Eu meio que ameacei o pai dele.
- Tudo bem, isso é um pouquinho demais, não acha? – Nathan disse dando risada – Eu concordo com Neville, mas não se ameaça parentes do parceiro.
- Mas ele insultou meus amigos e quando eu vi já estava puxando a varinha – eu expliquei – Eu sou impulsiva, todo mundo sabe disso.
- Você sabe que colocou Draco em um beco sem saída, não é? – Nathan disse e eu suspirei – Se ele ficar do lado do pai, fica contra você, se ficar ao seu favor, fica contra o pai.
- Ele não vai poder tomar partido dessa vez, – Neville disse – Então não fique querendo mata-lo. Você não tem esse direito.
- Não ficar indignada se ele escolher defender o pai – eu disse como nota mental – Nós sabemos que ele vai fazer isso.
- Sim, não se iluda – Nate disse e eu ri – Vamos logo, está frio para caralho aqui.

Depois de uma aula inteira suando dentro daquela estufa que apesar do frio mantinha-se quente, meus meninos e eu saímos para ir almoçar com nossos estômagos roncando alto. Eu só queria almoçar e resolver a situação com meu namorado. Queria saber o que ele iria fazer, o que iria falar e não encontra-lo no Salão Principal só fez minha ansiedade aumentar junto com a dor no estômago.

- Ele não apareceu – eu comentei com Nate que comia uma coxa de frango feito um animal – Draco não está aqui.
- Os capangas dele estão aqui? – ele perguntou e eu olhei a mesa da Sonserina percebendo que Crabbe e Goyle também não estavam lá.
- Não – eu respondi – Aconteceu alguma coisa.
- Calma, não se desespere à toa – Nathan disse – Ele pode estar ocupado com alguma coisa.
Eu não pude responder já que uma coruja pairou exatamente em cima do meu prato e esticou a pata para eu pegar um bilhete. Meu coração bateu acelerado já esperando algo dos meus pais, mas não parou de acelerar quando eu li que o bilhete pertencia a Draco.

“Encontre-me na torre de astronomia agora.”

- Ele quer que eu o encontre na torre de astronomia – eu disse para Nate – Eu vou.
- Tudo bem, qualquer coisa você me chama – ele disse e eu beijei seu ombro antes de levantar rapidamente colocando minha bolsa no ombro.

(n/a: dê play na música e deixe tocando até a cena na torre de astronomia acabar.)

Voltar para a torre de astronomia depois da noite da morte de Dumbledore foi mais difícil que eu imaginei. Um sentimento horrível se apossou de mim e quando eu percebi eu estava a ponto de chorar. Subi as escadas que Malfoy e os outros comensais subiram naquela noite e percebi Draco parado no lugar onde Dumbledore estava naquela noite.
- Draco? – eu chamei e ele se virou para me olhar.
- Oi – ele respondeu secamente – Você veio rápido.
- Sim – eu disse – Por que pediu para que eu viesse aqui?
- Esse lugar marca a nossa história, – ele disse – Aqui foi onde tudo terminou da última vez.
- Sim, Dumbledore estava exatamente aí quando Snape o matou – eu respondi – Se você não lembra eu vi tudo.
- Eu sei que você viu – ele respondeu – Eu sempre soube que você estava lá e acho que esse foi um dos motivos que eu hesitei.
- Onde você está querendo chegar com tudo isso? – eu perguntei confusa – Estar aqui me machuca, eu quero ir embora.
- Não, você vai me ouvir – ele disse e percebi que meu namorado estava nervoso – Você me envergonhou ontem na frente do meu pai.
- Eu te envergonhei? – eu perguntei incrédula esquecendo tudo o que Nate e Neville haviam me dito – Ele insultou meus amigos e me interrogou sobre minha família, o que você queria que eu tivesse feito?
- Eu não sei, talvez ter sido um pouco mais educada – ele retrucou vindo para perto de mim – E não puxado a varinha para atacar meu pai!
- Eu jamais o atacaria e você sabe disso, Draco! – eu respondi exacerbada – Eu me senti ameaçada por ele e você sabe que eu ataco quando me sinto assim.
- O que, você é um animal agora? – ele perguntou bufando irritado – Eu não gostei da tua atitude ontem. Já é difícil para eles acreditarem que o que eu sinto é real e você ainda me apronta uma dessa.
- Você tem vergonha de mim? – eu perguntei me aproximando dele – É isso, Malfoy?
- Claro que não – ele respondeu perplexo – Não fale bobagens.
- Porque é isso que está parecendo – eu disse – Você queria que eu concordasse com seu pai ou respondesse como uma idiota da Sonserina que apoia os pensamentos dele? Eu não apoio e jamais irei!
- Você poderia ser educada, – ele disse me encarando cansado – Só isso.
- Bem, eu não sou educada com quem não é educada comigo – eu retruquei brava.
- Isso não está dando certo – Draco disse de repente encarando o chão enquanto se apoiava na grade da torre – Isso não vai dar certo.
- Aonde você quer chegar com isso? – eu perguntei em alerta percebendo que o tom da conversa estava mudando.
- Você sabe onde eu quero chegar, – Draco disse – O seu temperamento, minha família, o jeito que eu mudo quando estou perto de você. Perco a noção de quem eu sou e do que eu devo fazer.
- Voltamos a esse tópico de novo, não é? – eu disse e suspirei – O que teu pai disse sobre mim ontem? Foi ele, não é?
- Não interessa o que ele disse – Draco respondeu se aproximando de mim – Porque é isso que fazemos um com o outro, !
- Eu sei que foi ele, Draco – eu respondi – Até final de semana passado, tudo estava bem. O que ele disse?
- A verdade sobre nós – ele disse e suspirou virando de costas para mim e encarando o horizonte – Nós vamos acabar nos matando, você não percebe isso?
- Morreremos de qualquer jeito, Draco – eu respondi e já sentia a frustração inundando meu coração – Você não tentou tanto para desistir agora. Eu estou aqui, eu te perdoei, você não pode desistir de nós. Você não pode deixar que meias palavras bobas sobre eu ser impulsiva e louca te afetem.
- Eu quero que você viva – ele disse com uma voz embargada – Eu quero que você tenha uma vida feliz e plena e eu não posso te dar isso.
- Eu me recuso a acreditar que você está fazendo isso – eu disse e comecei a chorar de frustração – Você não é um fraco, Draco. Nós somos fortes juntos e separados.
- Pare, nós já tentamos uma vez e não deu certo – ele disse e eu o abracei pelas costas entrelaçando nossas mãos – Eu te decepcionei, lembra? Quebrei seu coração em mil pedaços.
- Não fale essas coisas – eu pedi baixo – Você não vai conseguir me machucar para me afastar. Eu disse que não vou embora, não disse? Eu disse que ficarei com você – ele não me respondeu e eu continuei a falar - Somos nós, Draco e – eu disse e apoiei meu rosto em suas costas – Nós que enfrentamos um leão por dia, que achamos um lugar no espaço-tempo para nós.
- Eu não quero que você morra – ele disse e percebi que o garoto segurava o choro – Eu já infligi muita dor a você, não quero causar mais.
- Se afastar de mim é exatamente isso que você vai fazer – eu disse e beijei seu ombro – Eu não sei o que teu pai disse, mas ele está errado. Nós podemos lidar com tudo isso.
- Eu não sou o herói no cavalo branco, eu não vou te salvar – ele disse sem me olhar.
- Eu não preciso que ninguém me salve – eu respondi – Eu consigo me salvar sozinha, você me obrigou a aprender. Eu só preciso que você fique comigo.
- Eles vão nos usar de novo como meio de tortura – ele disse e eu suspirei – E eu não quero que você se machuque novamente.
- Foi o que ele disse para você, não é? – eu perguntei e pelo silêncio eu sabia que estava certa – Ele sabe de alguma coisa.
- Sim – Draco respondeu – Ele me disse que ouviu minha tia Bella comentando algo com outro comensal de que Lorde das Trevas tem grandes planos para você.
- E você acha que isso tem a ver com me matar? – eu perguntei e pela primeira vez eu senti medo naquele dia – Por que eu? O que eu fiz?
- Você é uma Dumbledore – ele respondeu – Ele sabe disso.
- Não tem como ele saber, Draco – eu disse – Nós nos certificamos que a linhagem acabasse no tio Alvo.
- A questão não é essa, – Draco disse – Se ele tem algo reservado para você, deve me envolver de alguma forma.
- Você acha que os sonhos são obra dele? – eu perguntei divagando – Ele é muito sádico, ele não vai me matar. Não agora.
- Ele vai te torturar devagar – Draco se virou e segurou meus braços impedindo-me de tocá-lo – É isso, ele vai te enlouquecer até você pedir a morte.
- Ele não vai conseguir – eu disse e segurei seu rosto beijando seu nariz – Ele não vai.
- Ou me enlouquecer – Malfoy disse – Nós precisamos fazer alguma coisa.
- Eu sei – respondi – Mas o que?
- Treinar você para fechar a mente – ele explicou – Podemos começar daí.
- Você não vai mais me deixar? – eu perguntei o encarando sério – Você vai lutar por nós.
- Eu vou fazer a única coisa altruísta da minha vida – ele disse – Manter você viva.

E sem mais nem menos, Draco me beijou com vontade me prensando no parapeito na torre. Seus lábios apertaram os meus e seus braços me apertaram em um abraço que ele me deu com o corpo todo. Draco estava dividido, era nítido, algo que seu pai dissera o colocou em uma posição difícil, mas ele decidiu agir por conta própria daquela vez. Suguei seus lábios e arranhei sua nuca pedindo por mais contato. Eu precisava dele.

- Eu preciso de você em mim – eu disse tirando seu casaco pesado e arrancando o meu – Agora.
- Aqui? – ele perguntou me olhando sério – Você é louca.
- Eu sei – eu disse e desencostei da grade o empurrando para uma parede qualquer e que pudesse ficar longe dos olhares – Você vai ter que ser rápido.
- Essa vai ser uma exceção – ele disse e eu ri antes de entrelaçar minhas pernas em sua cintura e Draco me prensar em uma parede.

Eu suspirei aliviada quando senti seus beijos em meu pescoço. Ele estava ali. Ele não iria embora. Draco não iria me deixar mais uma vez. Estávamos juntos em todos os aspectos a partir daquele momento e nada poderia nos separar. Pelo menos era isso que eu esperava. Draco me encarou fixamente antes de me beijar mais uma vez e colocar suas mãos em minhas pernas e me puxar para cima. Minhas costas bateram na parede e ele tirou meus sapatos os jogando no chão e puxou minha meia-calça pelas minhas pernas rapidamente. O vento frio me fez arrepiar, mas o calor que emanava do corpo de Malfoy me esquentou rapidamente. Voltei a beijá-lo sugando sua língua e empurrando sua capa do uniforme pelos ombros. Puxei sua camisa de dentro da calça e pude finalmente tocar seu tórax. Parei de beijá-lo e o encarei enquanto desafivelava o cinto e abria seu zíper já percebendo sua rigidez através da cueca preta. Eu sorri quando Draco beijou meu pescoço e empurrou minha calcinha que já estava encharcada. Eu suspirei alto quando o senti dentro de mim me penetrando com força. Naquele momento eu nos sentia totalmente conectados, era como se fôssemos uma pessoa, um só corpo, uma só mente. Pensei nos momentos em que ele não estava comigo e senti uma dor no coração.

- Olha pra mim – eu pedi e ele me encarou enquanto fazia o movimento de vai-e-vem dentro de mim. Minhas costas batiam com força na parede, mas eu não me importava. Seus olhos azuis estavam nublados de prazer e eu sentia seu aperto em minhas coxas aumentarem cada vez mais. Observei seus cabelos começando a grudar na testa e o suor descendo pelo seu pescoço e o puxei para beijá-lo ali. Como ele era lindo e bom no que fazia. Um sentimento de posse irracional pairou em mim e eu o beijei com mais vontade, querendo marca-lo com meu cheiro, meus beijos, com minha essência. Draco era meu. Ele era meu e ninguém iria tirá-lo de mim. – Você é meu – eu disse e ele me olhou dando um sorriso safado enquanto aumentava a velocidade – Você entendeu? Só meu.
- Só seu – ele respondeu me beijando com vontade – Somente seu.

Eu não sentia minhas pernas e quando eu cheguei no meu ápice pensei que iria cair no chão já que meu corpo todo amoleceu, mas Draco estava ali e não me deixaria cair. Ele continuou por mais um tempo em pedidos baixos para que eu aguentasse mais um pouco. Ele gemeu em meu ouvido e eu senti Draco se derramando em mim completamente. Suas pernas cederam e escorregamos juntos até o chão gelado. Ele ainda me segurava enquanto me encarava respirando ofegante depois de ser saído de mim. Não precisávamos falar nada por um tempo já que nossas respirações falavam por si só. Eu sorri para ele e me aproximei deitando minha cabeça em seu ombro enquanto Draco me abraçava apertado.

- Eu amo você – ele disse de repente – Me desculpa por pensar em desistir.
- Está tudo bem – eu respondi – Contanto que você não desista de fato, está tudo bem. Eu fiz isso, lembra?
- Eu sei, mas eu me sinto um lixo – ele respondeu me encarando sério – Como sempre.
- Draco, nós somos seres humanos – eu disse antes de beijar sua testa suada – Nós transitamos entre o bem e o mal todos os dias em cada uma das nossas escolhas. Permanecer no bem ou no mal é o que realmente conta.
- Eu sei, mas eu não consigo me esquecer das coisas que fiz – ele disse – E foi-me dito que essas coisas devem ser motivos de orgulho. Só que eu não sinto orgulho nenhum, só me sinto mal. E se tudo isso que eu fui ensinado para ser for mentira? E se eu não for assim?
- Você vai descobrir, Draco – eu respondi – Quando for a hora certa você vai saber quem é.

Ele me beijou profundamente, passando a mão pelo meu corpo lentamente e fazendo um carinho em meu rosto. E então, ao finalizar o beijo, Draco me abraçou apertado, beijando meu pescoço ocasionalmente. Ali, em meus braços eu quase conseguia sentir a angústia que o garoto passava. Alguém que recebeu ajuda de pessoas que ele deveria odiar e recebeu ódio de pessoas que ele deveria ter apoio. Com certeza, isso fazia Draco questionar todas as verdades absolutas de sua vida e isso não era fácil para ninguém.

- Foi por isso que você me trouxe aqui, não é? – eu disse baixinho – Dumbledore te mostrou compaixão nesse lugar.
- Eu achei que você não fosse notar – ele respondeu ainda me abraçando.
- Há mais pessoas como ele, Draco – eu respondi – Você só precisa encontra-las.
- Eu encontrei você – ele respondeu me dando um sorriso tímido.

Draco me beijou mais uma vez e eu podia sentir meu coração explodindo, batendo com força contra minhas costelas e eu torcia para aquele momento não acabar nunca. Eu o queria tanto, com todos os defeitos, qualidades, acertos e também com todos os erros que vinha no pacote. Suguei sua língua e embrenhei meus dedos em sua nuca o puxando para mais perto como se fosse possível. Senti suas mãos em minha cintura me puxando para que eu sentasse em seu colo. Draco me beijava com voracidade como se pudesse deixar em mim sua marca, sugando meus lábios com força e me apertando com seu corpo. Ele estava mais magro do que antes e eu sentia os ossos de seu quadril através do uniforme. O sinal tocou ao longe e eu sabia que deveria voltar para as aulas.

- Nós precisamos ir, Draco – eu sussurrei e o senti respirando em meu pescoço.
- Eu sei – ele me olhou – Mas agora eu não posso sair daqui.
- Por quê? – eu perguntei enquanto descia do seu colo e colocava minha meia-calça.
- Eu estou tendo uma ereção – ele respondeu e eu gargalhei alto percebendo o volume em suas calças – Então não ouse se aproximar.
- Ah, jura? – eu respondi e me aproximei dele segurando em seu pescoço e juntando nossos corpos – Desse jeito?
- Você tem um coração muito muito mau – ele respondeu e eu ri beijando seu maxilar – É sério, eu não vou conseguir sair daqui.
- Isso não é problema meu, você é amigo do diretor, não é? – eu comentei e ele riu – Eu vou indo, tenho aula de História da Magia.
- Tudo bem, eu te mando uma coruja para nos encontrarmos mais tarde – Draco respondeu e me puxou para mais um beijo – Tome cuidado.
- Você também – eu respondi antes de pegar minha bolsa e sorrir para Draco antes de descer as escadas.
A aula de História da Magia já havia se iniciado quando eu cheguei, porém o professor Binns não se importou muito. Tirei meu livro e comecei a acompanhar a aula, mas sem que eu percebesse minha cabeça já tinha viajado para bem longe. O que iria acontecer quando acabasse o ano letivo? O que eu faria quando tivesse que deixar Hogwarts? Será que Harry estava tendo sucesso na missão de Dumbledore? Como eu e Draco ficaríamos depois da escola? Essas perguntas estavam cada vez mais aparentes em minha mente e já estavam começando a me fazer mal. Eu não me concentrava mais, somente pensava no que iria acontecer comigo no outro dia ou na próxima semana. Apesar das torturas terem diminuído comigo, eu sabia que meus colegas continuavam sendo oprimidos e que logo eu iria voltar a encarar os irmãos Carrow em uma sala escura. Presa em meus pensamentos eu não notei que o sinal tocou, somente quando o professor Binns tocou meu ombro e eu senti como se estivesse sendo tocada por uma água fria, eu acordei.

- Senhorita ? – ele chamou e eu sorri sem graça – A aula acabou.
- Muito obrigada pelo aviso, professor – eu respondi juntando minhas coisas – Desculpe, eu estava distraída.
- Sim, eu notei – ele respondeu – Tome cuidado com as distrações, não é seguro para uma mente complexa como a sua.
- Vou me lembrar disso – eu respondi e me despedi caminhando para fora da sala.

Encontrei Nate e Neville jogando snaps explosivos quando fui deixar minhas coisas na Torre da Grifinória e pegar alguma muda de roupa para tomar banho já que havia feito sexo naquela tarde.

- Ei, garota – Nate disse – Quer jogar?
- Não, eu prefiro olhar vocês – eu respondi – Vocês vão assistir ao jogo no final de semana?
- Quase ninguém mais assiste aos jogos – Neville respondeu – A Sonserina ganha todos.
- Isso é um saco – eu comentei – Logo no ano que eu sou reserva do time, o diretor é um ridículo que privilegia a Sonserina.
- Era meio óbvio que o Snape iria fazer isso – Neville disse – Ele já fazia isso como professor, lembra? Harry vivia reclamando que Snape dava os horários de treino para a Sonserina toda vez.
- Como eu sinto saudade da escola de antes – eu disse – Nós não precisávamos andar em fila.
- Não tínhamos um monstro no poder – Nate disse – Bons tempos.
- O que vocês acham que está acontecendo com Harry, Rony e Hermione? – eu perguntei – Nós não temos notícia deles há semanas.
- Vocês acreditam no que estão dizendo? Que ele fugiu e nos abandonou? – Neville perguntou – Há boatos que ele está fora do país e não vai voltar.
- Eu acho besteira – eu respondi – Harry não faria isso e Dumbledore não o teria escolhido.
- Como você tem tanta certeza, ? – Nate perguntou.
- Eu conheço Dumbledore – eu expliquei – Ele não deixaria alguma missão importante para alguém que poderia desistir.
- Como você conhece Dumbledore tanto assim? – Neville perguntou – A maioria de nós só encontrava com ele no início do ano.
- Ele era um amigo da minha família – eu menti – Só isso.
- Bom, espero que você esteja certa – Nate disse – Porque o futuro do mundo bruxo está nas mãos de Harry Potter.
- Imagina viver com esse estigma – eu comentei – Ser O Eleito, perseguido pelo ministério e por um bruxo poderoso. Não sei se eu aguentaria.
- Ele tem que conseguir, não é? – Neville disse e parou de jogar para nos encarar – Ele não pode desistir.
- Eu sei, Neville – eu disse – Mas Harry é um ser humano. Ele tem esse direito.
- Mas ele não pode – Neville voltou a dizer – Nós precisamos dele.
- Eu sei, meu bem – eu respondi – Mas não podemos fazer nada, nem sabemos onde ele está.
- Eu acho que deveríamos voltar a agir de algum jeito – Nate disse – Nós estávamos conseguindo alguma coisa antes de você se machucar.
- Eu também acho – eu respondi – Agora que não temos Luna, não podemos parar. Devemos isso a ela.
- O que podemos fazer? – Nate perguntou sentando ao meu lado e Neville do outro – Os bilhetes de novo?
- Eles vão descobrir muito rápido – eu expliquei – Gina deve pensar em alguma coisa.
- Talvez mais gente queira ajudar dessa vez – Neville disse – As pessoas se sensibilizaram com o teu acidente, principalmente quando fizemos questão de dizer para todos que Aleto te empurrou.
- Bem, eu acho isso válido... – não pude concluir meu pensamento, pois uma coruja arranhou a janela chamando nossa atenção – Nate, vá lá ver.

Meu amigo levantou e uma coruja de penugem negra nos encarava com a pata esticada. Nate pegou o pergaminho e a coruja foi embora.

- ? É pra você – ele disse e me entregou um pequeno pergaminho com a caligrafia que eu já conhecia – Essa cara sua e eu já sei de quem é.
- Cala a boca – eu respondi me levantando, mas sem evitar o sorriso em meu rosto já que sabia de quem era. Draco me pedia para encontra-lo em frente a Sala Precisa – Eu tenho que ir.
- Cara, eu queria uma namorada também – Nate disse e eu ri – Se o Draco te largar, me procure.
- Isso é bem desrespeitoso, não acha? – eu comentei enquanto colocava meu coturno de volta.
- Sim, mas não supero o fato de que nem um beijo você me deu enquanto estava solteira – Nathan disse e eu e Neville rimos – Olha para mim, olhe meus olhos estupidamente azuis!
- Como você é narcisista, por Merlim! – eu reclamei, mas damos risadas – Vejo vocês mais tarde.

Eu acabei me atrasando por causa do meu banho rápido, mas quando cheguei ao sétimo andar Draco me esperava pacientemente enquanto observava a tapeçaria de trasgo que se movimentava à medida que um vento frio de inverno batia. Ele estava usando o uniforme, mas a capa da Sonserina estava fechada e ele usava o capuz por causa do frio. Draco ouviu o barulho dos meus passos e se virou para me encarar dando um sorriso veio até o meio do caminho abraçar-me apertado. Eu sorri para ele de volta e fiquei na ponta dos pés para abraça-lo já que ele era meia cabeça mais alto que eu. Senti seu cheiro e beijei seu pescoço diversas vezes seguindo para seu maxilar e o beijando também. Ele segurou em minha cintura com a mão direita e com a esquerda segurou em minha nuca retribuindo o beijo. Deixei minhas mãos em seu rosto e depois arranhei seu pescoço devagar finalizando o beijo com um selinho.

- Você demorou – ele comentou me segurando apertado.
- Eu precisava tomar um banho – eu expliquei – Fiquei com a impressão de que estava com cheiro de sexo.
- Eu tomei um banho também já que tinha o período livre – ele respondeu cheirando meu pescoço – Tão cheirosa.
- Vamos? – eu perguntei e ficamos parados esperando a Sala Precisa aparecer, mas ela não veio – Vamos ter que procurar alguma sala vazia.
- Sim – ele respondeu entrelaçando nossas mãos e achamos uma sala em outro corredor – Caramba, hoje está frio.
- Sim, não vejo a hora de chegar a primavera – eu comentei depois de fazer um feitiço para trancar a porta.
- Vem cá – ele disse e sentou na mesa do professor.
- O que foi? – eu perguntei e me aproximei ficando entre suas pernas segurando em seu pescoço.
- Nada, só queria você pertinho – ele explicou e eu sorri – Está frio demais.
- Sim – eu respondi e me aproximei – Como você vai me ensinar Oclumência?
- Fácil – Malfoy respondeu – Eu vou tentar entrar em sua mente, mas você não pode deixar.
- Tudo bem – eu respondi – Podemos começar quando você quiser.
- Sente-se ali – Draco pediu e eu me afastei sentando na cadeira do professor – Eu quero que você pense em alguma memória e assim que eu dizer o feitiço você tente fechar sua mente – ele explicou – Tudo bem?
- Como eu vou fechar minha mente? – eu perguntei confusa.
- Você vai sentir uma pressão na cabeça – explicou – Para fechar a mente é só não deixar essa pressão vencer.
- Falando assim parece fácil – eu disse empolgada, mas ele riu
- Você não vai conseguir de imediato, nem espere muito – ele disse acabando com minhas esperanças – Pronta?
- Sim – eu respondi e encarei Draco que apontou a varinha para mim.
- Evite contato visual comigo, isso também ajuda a impedir que eu entre – ele alertou – Tente se esvaziar das emoções também, isso é primordial.
- Nossa, já estou vendo que terei dificuldade – eu respondi e ele sorriu – Pode começar.
- Legilimens!

Eu senti como se algo estivesse forçando passagem em meu cérebro. Fechei meus olhos e tentei me concentrar em barrar essa força, mas não adiantou. Minha cabeça ardeu e quando abri os olhos eu enxerguei Draco passeando pelas minhas lembranças.

“ – Papai, olha pra mim!
Eu pedia enquanto observava o vento varrer todas as folhas de um grande carvalho que existia em frente a uma casa em que morávamos quando eu era pequena. Eu me concentrei e fiz todas as folhas voarem em um redemoinho, já demonstrando os primeiros sinais de magia.
- Muito bem, querida!”


A pressão em meu crânio aumentou mais e eu abri os olhos encarando Draco que me olhava concentrado. Aparentemente eu havia me debatido e estava caída no chão toda suja de giz.

- Isso dói – eu respondi e Malfoy me ajudou a levantar – A cabeça dói demais
- Eu avisei, – ele respondeu – Você caiu no chão.
- Nossa, que patética – eu disse e ele riu – Vamos continuar.
- Tudo bem – ele respondeu e apontou a varinha para mim depois que eu havia sentado – Legilimens!

Mais uma vez a pressão em minha cabeça veio e eu fechei os olhos tentando empurrar Draco para longe. Eu sentia o feitiço pairando ao meu redor e eu tentei ser forte, mas não consegui de novo.

“- Mamãe? Eu sei que eu fiz errado, me desculpe!
Eu estava mais uma vez trancada em meu quarto na casa de meus avós porque tinha atacado minha prima Meredith fazendo seus cabelos caírem e eu ao menos não conseguia entender o por quê. Eu estava nervosa e quando percebi, seus cabelos tinham caído. Eu tinha seis anos e ainda não sabia como a magia seria extremamente danosa para mim várias vezes. Aquela tinha sido apenas a primeira. Eu tinha ouvido minha tia murmurar naquele dia que eu seria uma aberração e acabaria em Azkaban se meus pais não me controlassem. Aquilo doeu e eu jamais me esqueceria daquilo.”


Draco saiu de minha mente e me encarou com um olhar triste. Eu me senti envergonhada por ele estar vasculhando aspectos da minha infância que ainda me afetavam profundamente. As palavras de minha tia sempre voltavam até mim quando eu fazia algo errado ou me descontrolava e me tornar algo ruim era um dos meus maiores medo.

- Você está vermelha e evitando me encarar – ele comentou e se agachou para ficar na minha altura – Olha pra mim, .
- Não – eu respondi sem graça já sentindo meus olhos arderem – Isso é muito pessoal, é uma parte da minha vida que eu sinto vergonha.
- Não precisa, – ele disse segurando em minha mão.
- Claro que eu preciso – eu respondi baixo ainda sem encará-lo – Eu era a criança estranha da família que nunca tinha amigos porque machucava qualquer pessoa. Todo mundo esperava que eu fosse para o lado dos comensais da morte, Draco.
- Bem, você estaria ao meu lado agora – ele brincou – Mas você não foi para o lado dos comensais e é uma das melhores bruxas em combate que eu já vi.
- Você acha isso? – eu perguntei o encarando finalmente e percebi que ele sorria.
- Eu confiaria minha vida a você, – ele respondeu e beijou minha testa – Quer parar por hoje?
- Eu acho melhor – eu respondi suspirando – Reviver tudo isso foi pesado para mim.
- Eu sei – ele disse e me puxou para cima me abraçando – Eu sinto muito que você tenha que passar por isso, mas você precisa fechar sua mente.
- Eu sei e agradeço por você estar me ajudando – eu respondi e sentei-me à mesa batendo ao meu lado para que ele sentasse junto. Eu me aconcheguei em Draco e suspirei – Você acha que iremos conseguir?
- Você será uma ótima oclumente, – ele respondeu beijando minha testa e me apertando forte – Nós vamos ficar bem. Eu sei que vamos.

O recomeço da luta.

O vento frio varria com dificuldade a camada fina de neve que manchava o chão do castelo de branco. Eu estava envolvida com várias camadas de roupas, mas o frio conseguia penetrar e gelava meus ossos, mas eu não conseguia parar de olhar aquela paisagem branca que quase cegava. Minha respiração estava ficando difícil, mas eu não queria voltar para o castelo. O almoço já tinha acabado e em alguns minutos eu teria aula de Artes das Trevas, mas eu não me importava.
Ali, parada na ponte que dava acesso à cabana do Hagrid e a Floresta Proibida, tudo parecia como antes. Tudo parecia como naquela época em que Dumbledore estava vivo; Harry, Rony e Hermione estavam perambulando pelo castelo; meus pais tinham emprego e eu e Draco podíamos curtir nossa adolescência sem sermos tocados pelos problemas. Contudo, assim como o frio, eles conseguiram penetrar nossas barreiras e agora se instalavam até em meus sonhos fazendo-me acordar em desespero sempre com a imagem de Draco morrendo em meus braços. Eu chorava baixinho para não acordar as outras meninas e na maioria das vezes, não conseguia dormir e observava o nascer do sol da minha janela. Eu tentava fechar minha mente, mas pelos pesadelos não estava tendo resultado nenhum. Ouvi passos e olhei para o lado vendo um cabelo vermelho se destacando na neve.

- Gina? – eu perguntei quando ela se aproximou parando ao meu lado.
- O que estamos olhando? – ela perguntou encarando a paisagem a nossa frente – Como esse castelo consegue ser tão bonito?
- Eu não sei – respondi – Estamos olhando exatamente isso.
- Você não está bem – ela comentou me encarando – O que está acontecendo?
- Tanta coisa e nada ao mesmo tempo – eu disse vagamente – Eu estou tendo pesadelos.
- Quer me contar?
- Draco – eu comecei a dizer – São sempre sobre Draco morrendo de algum jeito diferente.
- Você está pensando nisso muito ultimamente? – ela perguntou – Isso às vezes fica preso em sua mente e te faz sonhar.
- Draco acha que é alguém entrando na minha cabeça – eu expliquei – Ele está me ajudando com Oclumência, mas não está adiantando.
- Por que você não pede alguma poção para madame Pomfrey? – ela sugeriu.
- Não acho que isso iria adiantar – eu respondi – Talvez eu não conseguisse acordar e seria bem pior.
- Eu não tinha pensado nisso – ela disse – Eu queria te falar uma coisa.
- Tudo bem.
- Nós estamos pensando em voltar com a resistência – Gina disse um pouco receosa – Eu sei que da última vez quase custou sua vida e nós entendemos perfeitamente se você não quiser participar, mas não podemos mais permitir que eles continuem fazendo o que fazem.
- Eu não sei de mais nada, Gina – eu respondi e suspirei – Eu entrei aqui com um espírito corajoso, vim para esse último ano com uma vontade absurda de enfrentar comensais e impor minhas verdades. Só que eu já fui agredida, torturada, quebrada ao meio, vi meus amigos sendo torturados e Draco também. E tudo isso me faz pensar: eu sou tão corajosa assim? Será que eu tenho forças para passar por tudo isso? Talvez o chapéu tenha errado minha Casa, já que eu não tenho mais a bravura da Grifinória.
- , não fale assim – Gina disse e apertou minha mão – Você está com medo e isso é perfeitamente normal. Seria estranho se você não tivesse com medo, todos nós estamos. Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço e o chapéu acertou na escolha. Leve o tempo que precisar. Você é forte.
- Como eu queria ser, Gina – eu respondi – Eu preciso te contar algo porque eu sinto que vou explodir se eu não contar para ninguém.
- Você não está grávida, não é? – ela perguntou e eu ri.
- Claro que não, sua louca – eu respondi dando uma risada – Draco me disse algo que ele suspeita e isso que está me apavorando.
- Tá legal, você está começando a me deixar preocupada – ela disse – O que é?
- Ele acha que Você-Sabe-Quem está preparando algo para mim – eu expliquei sem encará-la – Algo que envolve Draco e nosso relacionamento.
- Mas ele sabe de vocês juntos? – ela perguntou assustada.
- Não tem como não saberem, não é? – eu respondi – Eu odeio o fato de sermos tão óbvios.
- O que você vai fazer? O que vocês vão fazer? – ela perguntou assustada – , isso é muito grave. Você precisa contar para alguém, talvez Lupin ou Kingsley ou até meu pai.
- Não, Gina – eu respondi – Eu teria que dizer que Draco me contou e se os comensais descobrissem, eles poderiam matá-lo por traição.
- Mas e agora? – ela perguntou preocupada.
- Eu não sei – eu respondi e senti meus olhos se encheram de lágrimas – E isso me paralisa, eu tenho medo por mim e por Draco, tenho medo até pela família dele já que são mais reféns de Você-Sabe-Quem do que outra coisa.
- Isso é muito sério – Gina disse me encarando perplexa – Você precisa pensar em alguma coisa.
- Eu não sei o que fazer – eu disse limpando as lágrimas em meu rosto – Nós estamos fazendo uma coisa de cada vez. Primeiro, eu preciso aprender a fechar minha mente e depois...
- Depois? – ela perguntou.
- Eu não tenho a mínima ideia – eu disse – A única coisa que eu sei é que por enquanto eu não sou importante caso contrário, eu já estaria morta.
- Nós vamos te proteger dentro do castelo – Gina disse determinada – Eu vou falar com os meninos e bolaremos algum plano para você nunca ficar sozinha.
- Gina, eu não quero que vocês se machuquem por minha causa – eu argumentei – Eu jamais me perdoaria se algo acontecesse a vocês.
- Você foi empurrada de dois andares por nós, – ela disse sorrindo – Isso é o mínimo que podemos fazer.
- Vocês são demais – eu disse e abracei Gina com força – Acho melhor nós voltarmos.
- Sim, antes que eles venham até aqui – ela respondeu sorrindo para mim.

A aula de Arte das Trevas era com a Sonserina e para meu completo pânico, Draco não estava lá. Minha cabeça começou a bolar diversas teorias do que poderia ter acontecido e a ansiedade começou a corroer todos os meus órgãos já imaginando os piores cenários possíveis. Eu me sentei e depois de alguns minutos, Nate e Neville entraram junto com os outros alunos da Grifinória. Os meninos sentaram ao meu lado e Nate beijou meu ombro me encarando seriamente.

- Neville, a está com aquela expressão de louca de novo – ele comentou baixo e Neville riu – Opa, ela não riu, temos um problema.
- Ele não está – eu disse baixo encarando a porta – Draco não está aqui.
- Como é? – Neville perguntou confuso – Eu não consegui ouvir você.
- Draco não está aqui – eu disse um pouco mais alto finalmente encarando os dois – Eu não encontrei com ele o dia inteiro.
- , você precisa manter a calma – Nathan disse me encarando sério – Você não pode achar que tem alguma coisa errada com Malfoy toda vez que ele não está por perto.
- O Nate está certo, – Neville disse – Talvez ele não esteja muito bem de saúde ou preferiu ficar na Sonserina fazendo os deveres.
- Não seja paranoica – Nate disse – Vai ficar tudo bem.
- Ok – eu respondi, mas não pude deixar de olhar uma última vez para a porta antes do professor entrar.

Amico Carrow começou e quando colocou os olhos em mim deu um sorriso de escárnio que fez um calafrio passar pela minha espinha. Eu tinha medo daquele homem e do que ele era capaz de fazer. Sua mente poderia elaborar qualquer tortura junto com a irmã e isso me assustava tanto. Ele parou no centro da sala e observou todos os alunos calmamente esperando que a sala ficasse em silêncio completamente. Assim que todos pararam de falar, ele deu o sorriso de escárnio novamente e retirou a varinha das vestes a segurando mirando no rosto dos alunos da Grifinória sentados da primeira fileira.

- Hoje teremos uma aula sobre as Maldições Imperdoáveis – ele começou a dizer – Tenho informações de que muitos de vocês não sabem usá-las ou até não possuem a vontade certa para isso.
- Mas, professor, essas maldições são proibidas pelo ministério – Padma Patil disse em um ato de coragem.
- Elas ERAM proibidas pelo ministério – Amico disse – Contudo, nosso excelente ministro entendeu que tais maldições são imprescindíveis para defesa.
- Não, não são – um aluno da Sonserina disse e eu olhei surpresa – Elas são imperdoáveis por um motivo, professor. Meu pai disse que não devemos usá-las em combate, isso demonstra fraqueza e falta de sabedoria em duelos.
- Vocês ouviram o que esse jovem acaba de dizer? – Amico disse se aproximando dele devagar. A sala mal respirava de apreensão – O senhor acha as maldições tão erradas assim?
- Bem, eu não usaria – ele disse encarando o professor e já percebendo que havia dito o que não devia.
- Então, vamos fazer o teste – Amico disse apontando a varinha para o rosto do garoto – Vamos duelar e você não usará nenhuma maldição.
- Professor, eu acho mel... – ele começou a falar, mas foi cortado.
- Agora.

A sala toda observava a cena sem conseguir desviar os olhos. Um sonserino indo contra um professor comensal era algo que eu achei que jamais iria presenciar. Talvez realmente não fossem todos os sonserinos que iriam para o lado das trevas. O garoto levantou devagar e era visível o medo que sentia. Ele olhou para mim profundamente e eu percebi um pedido de ajuda. Eu não poderia deixar aquilo acontecer, não na minha frente. Eu olhei ao redor e ninguém se manifestava enquanto o garoto caminhava para um duelo desigual. Olhei para Nate que nem respirava com os olhos arregalados e Neville apertava a pena com tanta força que eu jurava que iria arrebentar. O garoto nem mal chegou a frente da sala quando Amico levantou a varinha para gritando Crucio. Ele caiu no chão e começou a gritar em desespero. Eu ouvi uma exclamação da sala toda e quando um aluno da Grifinória se aproximou para ajudar também foi acertado e começou a se debater ao lado do outro aluno. Amico interrompeu a tortura e gargalhou alto ao perceber o pânico no rosto da sala inteira.

- Isso é o que acontece quando vocês são fracos! – ele disse mais alto – Isso é o que acontece quando vocês não obedecem às regras do Ministério! A partir de agora vocês treinarão as maldições nos alunos que pegarem detenções. Alguma objeção? - A sala permaneceu um silencio total – Então podemos continuar a aula. Vocês dois – ele disse e deu um chute nos alunos – Levantem agora.

A aula continuou, mas eu não consegui me concentrar. As imagens de quando Draco foi torturado pipocavam em minha mente e os gritos dele ecoavam em meus ouvidos. Eu precisava sair dali, eu precisava achar Draco e ter certeza de que estava tudo bem. Eu senti aquela dor, eu senti minha cabeça queimar, meu corpo se debater e querer parar de funcionar, eu já tinha estado ali. Aquilo era mais real para mim do que para qualquer outro naquela sala e por isso eu fiquei paralisada de medo. Eu encarei o professor e me levantei indo para longe daquele lugar. Cheguei até o banheiro do andar e molhei meu rosto tentando com água gelada me acalmar, mas não obtive o resultado esperado.

- ? – alguém me chamou e eu percebi Nate parado na porta – Tem alguma menina aí?
- Não, pode entrar – eu respondi e o garoto entrou parando ao meu lado encostado na pia – Eu odeio aquele homem.
- Eu sei – ele disse - Ele é um monstro.
- Sim – eu disse – Eu ainda sou muito afetada pelo que ele fez comigo e com Draco.
- Eu sinto muito – ele me puxou para um abraço apertado – Podemos cabular o resto da aula, o que acha?
- Uma ótima ideia – eu respondi e ele riu – O que vamos fazer?

Nate e eu saímos andando pelo castelo fugindo dos comensais e fomos para a sala comunal jogar snaps explosivos como sempre. Ele estava fazendo o máximo que podia para me distrair e eu apreciava isso. Ele era um ótimo amigo e eu jamais conseguiria retribuir tudo o que ele e os outros faziam por mim. Eu sorri para ele e Nathan retribuiu e continuamos a jogar até a hora da próxima aula. Era muito importante ter uma rede de amigos que esteja ao seu lado quando as coisas dão errado e ter Nate ali comigo era maravilhoso. A última aula era com a Corvinal, então mais uma vez eu não veria Draco e isso me deixava agoniada. A aula de feitiços ocorreu muito mais calma do que a aula de artes das trevas, mas por mais que eu tentasse não conseguia prestar atenção. Quando a sineta tocou marcando o fim da aula, meus amigos e eu fomos caminhando junto com o resto da sala até o salão principal para finalmente jantarmos. Como sempre, os comensais estavam ao redor das mesas e as conversas que antes eram altas e animadas, se limitavam a sussurros baixos. Olhei a mesa da Sonserina e Draco também não estava lá. As comidas apareceram no prato, mas eu não tinha muita fome, por isso, me limitei a comer pequenas porções de cada coisa. Gina me observava preocupada do outro lado da mesa e quando não estavam olhando, me passou um pequeno pedaço de papel.

Reunião hoje à meia-noite da sala comunal. Espere todos os demais dormirem.

Eu li e assenti para ela, passando o bilhete para Nate que passou para Neville. O ocorrido na sala de aula naquela tarde já circulava pelo castelo e todos os alunos fugiam do olhar de Amico durante o jantar. Ele estava sentado na mesa dos professores, em seu lugar, ao lado de Snape e cochichava com o diretor. Eu continuei a comer e tentei não olhar novamente para os dois, mas eu me corroía para saber o que eles estavam falando. A indignação também me fazia querer gritar para Snape como ele conseguia deixar Amico continuar naquela escola sem ao menos uma punição. Aquele monstro tinha torturado dois alunos em frente de uma sala inteira e nada foi feito. Eu me senti esgotada e derrotada porque eles tinham vencido ali. A impunidade estava ao lado deles e Amico terminaria aquele dia deitado em sua cama dormindo tranquilamente enquanto dois alunos estavam na enfermaria tendo espasmos de dor pelo resto da noite.

O jantar prosseguiu com os dois conversando e então eu me lembrei de quando Draco tinha sido torturado por causa de mim e o que Dumbledore tinha deixado para mim. Eu não tinha me esquecido do símbolo no colar que Snape havia roubado, mas por causa dos últimos eventos, eu havia deixado isso de lado. Mas não mais. Eu iria atrás daquilo e depois do jantar, fui até meu malão e peguei os pertences deixados por Dumbledore. As horcruxes destruídas, a chave do cofre, a carta e a caixa com o mesmo símbolo entalhado na madeira. Eu comecei a ler os livros que ele havia deixado para mim calmamente quando algo me chamou a atenção. Em cima da contracapa de um deles, lá estava o mesmo símbolo. Dumbledore havia me deixado esse desenho em diversos lugares, ou seja, ele queria que eu pesquisasse sobre isso. Copiei o desenho em um papel e decidi que precisava de mais a respeito de Dumbledore. Eu conhecia a história de nossa família apenas por cima, já que falar sobre o passado machucava a todos, mas eu sabia de alguém que tinha ido até o fundo da nossa família, alguém que não apenas pesquisou, mas fez um livro sobre e eu precisava daquele livro.
- Ei, Lilá – eu perguntei enquanto ela entrou no quarto que dividíamos – Você tem aquele livro sobre o professor Dumbledore? Aquele que a Rita Skeeter escreveu?
- Claro, você quer? – ela perguntou abrindo o malão e procurando tirando o livro de dentro e me entregando.
- Posso ficar com ele por um tempo? – eu perguntei percebendo o rosto de tio Alvo na capa.
- Claro, sem problemas – ela respondeu pegando alguns livros e saindo do quarto.

Eu me sentei à janela com o livro em mãos e comecei a ler os primeiros capítulos. Eu me sentia invadida ao ler aquelas palavras, Rita Skeeter fez questão de retratar minha família como uma coisa quebrada e repleta de problemas. Olhar aquelas fotos era dolorido porque eles tinham tudo para dar certo, tinham tudo para ser uma família grande e feliz se não fossem aqueles trouxas para desgraçarem a cabeça de minha tia Ariana. Nossa família carregava uma história de dor que jamais seria esquecida. Tio Dumbledore se afastou de nós e só tivemos contato com ele, pois minha mãe foi atrás querendo reaproximar a família o que claramente não deu certo, pois meu avô ainda possuía muitas feridas no coração. Continuei a leitura do livro, mas tive que parar, pois não aguentava mais ver o jeito que Rita Skeeter havia retratado meu tio. Dentro daquelas páginas, ela distorceu totalmente a história de Dumbledore e quem lesse aquilo terminaria o livro achando que meu tio um dia tinha sido um bruxo das trevas. Eu fechei o livro e respirei fundo tentando suprimir as lágrimas que teimavam em cair, mas fui tirada do meu momento quando Gina apareceu na porta do quarto com uma expressão surpresa.

- Algo aconteceu – ela disse me encarando – Draco Malfoy falou comigo.
- Ele apareceu? – eu perguntei me levantando deixando o livro em cima da cama – O que ele disse?
- Ele pediu para eu te chamar, disse que vai estar te esperando no corredor do sétimo andar – Gina disse e me encarou – Ele até que foi educado na medida do possível.
- Garanto que deve ter sido um sacrifício para ele fazer isso – eu respondi e ela bufou irritada.
- Deu para ver no rosto dele – ela disse me encarando enquanto eu colocava meus sapatos – Se ele fez tal esforço é porque coisa boa não é.
- Eu pensei a mesma coisa – respondi pegando um cachecol e colocando no pescoço – Eu volto mais tarde.

Caminhei rapidamente saindo da Grifinória e virando os corredores querendo chegar até Draco. Algo não estava bem, meu coração batia acelerado e minha respiração estava descompassada, mas eu não queria diminuir o ritmo, precisava chegar até ele o mais rápido que eu podia. Meu coração apertava cada vez mais e quando percebi Malfoy sentado no chão encostado na parede, eu notei que meus instintos estavam certos. O barulho dos meus pés chamou a atenção do garoto que me encarou com um olhar perdido. Ele não levantou, então eu me sentei ao seu lado e entrelacei nossas mãos.

- Quer falar a respeito? – eu perguntei baixo.
- Não – ele respondeu.
- Eu vou ficar aqui o tempo que precisar – eu disse e ele se aconchegou, deitando a cabeça em meu ombro.
- Eu sei – Draco respondeu e apertou mais minha mão.

Durante longos minutos ficamos ali sentados no chão gelado sem dizer nada. Ele não queria que eu dissesse coisa alguma, só queria que eu estivesse ali ao seu lado. Olhei para seu rosto e Draco encarava um ponto a nossa frente, mas sem expressar emoção. Olhei suas roupas pretas e elas estavam molhadas de neve derretida, além de estarem com várias manchas estranhas que eu não queria saber o que eram. Suas mãos estavam sujas e seus dedos estavam cortados. Seus cabelos também estavam sujos e bagunçados e fuligem deixava suas roupas com pequenas manchas.

- Vamos – eu disse levantando – Você precisa de um banho.
- O que? – ele perguntou confuso me encarando – Do que você está falando?
- O Malfoy que eu conheço sempre está impecável – eu respondi – Duvido que sua mãe iria aprovar essa sujeira toda.
- Você é insuportável – ele respondeu, mas levantou – Onde iremos tomar banho, gênio?
- Eu conheço um lugar – eu respondi caminhando pelo castelo e descendo até o quinto andar – Hermione me disse sobre o banheiro dos monitores uma vez.
- Eu conheço esse banheiro, eu fui monitor – ele disse sério.
- Então é pra lá que você vai – eu respondi chegando e empurrando a porta.

Era um dos banheiros mais bonitos que eu já tinha visto. Os vitrais com desenhos de sereia deixavam o banheiro parecendo uma catedral e a grande banheira do tamanho de uma piscina fazia o banheiro das meninas parecer um pequeno lavabo. Eu fiz um gesto com a varinha e as torneiras se abriram derrubando na banheira água quente. Draco encarava tudo, mas ainda sem me olhar. Eu respirei fundo e me aproximei dele ajoelhando e desamarrando o cadarço de seus sapatos antes dele tirá-los. Ele somente observava meus movimentos, mas não dizia uma palavra sequer. Eu levantei e tirei a capa que ele usava jogando no chão depois desabotoando sua camisa devagar. Sua pele branca guardava cicatrizes e alguns roxos que eu não queria saber do que eram. Encarei Draco e ele me olhou apreensivo quando eu desabotoei sua calça e empurrei para baixo. Ele ficou somente de cueca e eu tirei minha roupa também ficando apenas com uma calcinha preta e um sutiã branco. Eu me aproximei e o beijei devagar, sentindo seus lábios e seus braços ao meu redor. Eu finalizei o beijo com alguns selinhos e o encarei mais uma vez finalmente tirando sua cueca e ficando nua logo depois.
Peguei em sua mão e o guiei até a banheira entrando finalmente na água quente. Draco fechou os olhos quando sentiu a temperatura e submergiu em silêncio ficando alguns segundos debaixo da água. Eu o imitei e submergi, molhando meus cabelos e rosto. Peguei uma esponja e me aproximei de Draco esfregando seus braços devagar e percebendo mais escoriações pela região. Lavei seu peito, pescoço, cabelos, barriga e pernas bem devagar, não precisávamos de pressa naquele lugar ou naquele momento. Malfoy necessitava de um momento relaxante para poder esquecer tudo o que havia acontecido nesse tempo fora. Ele me puxou para perto e me beijou segurando em minha cintura e em meu pescoço, sugando minha língua devagar enquanto me beijava. Draco finalizou o beijo e me abraçou apertado beijando meu pescoço várias vezes.

- Obrigada – ele murmurou em meu ouvido.
- Não precisa agradecer – eu respondi dando um sorriso leve e beijando seu pescoço também – Você precisava.
- Sim – ele respondeu – Provavelmente eu estava fedido.
- Eu não queria falar, mas estava chegando aqui – eu disse e nós rimos juntos.
- Eu precisava esquecer – ele disse e beijou minha testa. A água começava a ficar fria, mas nenhum de nós queria sair dali – Precisava esquecer o que eu fiz, o que eu vi.
- Está tudo bem – eu respondi – Não se preocupe com nada agora, já passou, você está aqui comigo, nada mais vai acontecer.

Nas últimas horas do dia, nós ficamos ali fazendo guerra de água, conversando, molhando todo o banheiro, fazendo competição de quem conseguia ficar mais tempo de baixo d’água e por algum tempo, Draco conseguiu esquecer o que havia acontecido. Eu não queria saber, não tinha curiosidade nenhuma em descobrir os horrores que aquele garoto tinha presenciado, o que importava para mim era colocar um sorriso sequer no rosto do garoto que eu tanto amava.

- Acho melhor nós voltarmos, Draco – eu disse depois de um tempo – A água está fria.
- Sim – ele respondeu e me puxou para perto dele me abraçando pela cintura – Mas eu não quero voltar.
- Eu também não – eu respondi – Mas já está ficando tarde.
- Sim – ele disse e me beijou uma última vez antes de levantar e me puxar para cima junto com ele – Você é linda.
- Você que é – eu respondi observando seu corpo minuciosamente – Mas temos que ir antes que nos encontre pelados aqui.
- Eu iria odiar que alguém visse seu corpo – ele respondeu me puxando para fora e molhando ainda mais o chão. Jogou uma toalha para mim e começamos a nos secar – Eu não sou só teu? Então, você é só minha.
- Sim – eu respondi – Eu também iria odiar que alguém visse essa tua bunda branca aí.
- Ei! – ele disse fingindo surpresa, mas depois caiu na gargalhada – Isso eu não posso mentir, minha bunda é branca mesmo.
- É quase da cor desse mármore – eu respondi rindo e ele veio até mim me abraçando
- Engraçadinha – ele disse beijando minha testa e começando a se vestir – Eu acho que vou ter que jogar essas roupas fora.
- Só as coloque para lavar, Draco – eu disse – Não seja tão chato.
- Tudo você crítica, por Merlim! – ele brincou e nós rimos. Ele esperou que eu colocasse minhas roupas e foi arrumando o banheiro com alguns feitiços – Agora podemos ir.
- Sim – eu disse colocando minha capa do uniforme e abri a porta do banheiro dando uma espiada do lado de fora – Podemos ir.
- Eu fiquei ausente hoje, mas amanhã nós voltaremos para sua aula de Oclumência – ele lembrou segurando minha mão enquanto andávamos por um corredor – Os pesadelos melhoraram?
- Nem um pouco – eu respondi – Eu acho que não sou boa.
- Você precisa treinar mais, – ele respondeu me encarando seriamente – Você precisa ir para a Grifinória, melhor nos separamos aqui.
- Você tem razão – respondi o abraçando e deitando minha cabeça em seu peito. Senti um beijo no topo da minha cabeça e Draco me abraçou mais forte – Malfoy.
- Hum? – ele murmurou.
- Obrigada por confiar em mim – eu disse baixo – Por contar comigo para aliviar o peso que você carrega.
- Eu sei que você sempre estará disponível para mim – ele respondeu e beijou minha testa – Nos vemos amanhã.

Draco desceu as escadas indo para as masmorras e eu fui à outra direção para subir até o sétimo andar. Depois de passar pelo buraco do retrato, encontrei a sala comunal com poucos alunos. Já passava das oito quando eu cheguei e encontrei Gina sentada com algumas alunas da sua idade. Eu acenei para minha amiga e decidi que tiraria um cochilo antes da reunião à meia-noite. Tirei meus sapatos e sentei em minha cama encarando o livro de Rita Skeeter. Eu deitei, murmurei “lumus” e continuei a leitura de onde eu tinha parado, porém acabei adormecendo.
A primeira coisa que eu notei foram os galhos das plantas pinicando minha pele e se prendendo em minha roupa enquanto eu corria. Meus cabelos estavam todos sujos com folhas e eu apertava minha varinha com força em meus dedos olhando para trás só para perceber que eles estavam vindo. Eu ouvia a risada de Bellatrix alta cada vez que ela se aproximava e feitiços de diferentes cores passavam sobre minha cabeça. Eu precisava parar caso contrário, meu coração não iria aguentar mais. Eu deitei no chão e me enfiei embaixo de um arbusto enquanto segurava minha varinha mais forte. O medo me fazia tremer e eu só queria sair dali. Senti meus pés sendo puxados e gritei tentando me segurar, mas não adiantou. Alguém me virou de costas e eu encarei todos aqueles comensais em volta de mim com máscaras sem dizer uma única palavra. O comensal que havia puxado apontava a varinha para a minha garganta e me fez ficar de joelhos em sua frente, tomando minha varinha logo depois.

- – ele disse e eu reconhecia aquela voz – Você é acusada de traição.
- Não, não – eu balbuciei nervosa – Eu não fiz nada.
- Onde está Harry Potter? – a pessoa perguntou e eu levantei meus braços em rendição.
- Eu não sei – respondi e senti meus olhos marejarem – Eu não sei, não faço ideia.
- Você será executada – ele disse e eu reconhecia aquela voz. De repente, eu não tinha mais medo. Eu me levantei devagar e encarei meu algoz com coragem – O que você está fazendo?
- Você não vai me machucar – eu disse e arranquei sua máscara a jogando no chão percebendo Draco Malfoy em minha frente – Eu não vou permitir.

Os comensais em nossa volta desapareceram e somente Draco e eu ficamos ali. Eu o encarei seriamente e tomei a varinha de sua mão. Ele me olhou e me agarrou com força segurando meu rosto enquanto me beijava. Eu agarrei sua cintura e correspondi o beijo na mesma intensidade, sugando sua língua com força. Draco me puxou para mais perto e colocou a mão em minha nuca, descendo seus beijos para o meu maxilar e com a outra mão abrindo o botão da minha calça. Eu sentia seus dedos entrando em minha calcinha, mas meu foco não estava ali. Eu dei um sorriso maligno e apontei a varinha de Draco para sua barriga. Ele travou no mesmo segundo e me encarou assustado.

- O que você está fazendo? – ele perguntou me olhando.
- O que eu deveria ter feito há muito tempo – eu respondi e beijei sua bochecha – Adeus, amor. AVADA KEDAVRA.

Eu abri os olhos e Gina me encarava com um olhar confuso. O livro que eu lia antes de cochilar estava caído no chão e minha varinha também. Tudo havia sido um sonho, eu não matara Draco de fato. Ele ainda estava vivo. Eu me sentei e Gina continuava me encarando.
- Outro pesadelo? – ela perguntou e eu assenti.
- Dessa vez eu matava Draco – eu disse – Eu preciso aprender logo a fechar minha mente, não aguento mais isso.
- Você vai conseguir – ela disse – Eu vim te acordar, já é meia-noite.
- Então vamos.
Eu calcei meus sapatos e desci as escadas em silêncio junto com Gina. A torre estava silenciosa e meus passos no chão de pedra pareciam dados por um gigante tamanho o silêncio daquele lugar. Nathan e Neville já estavam lá embaixo perto da lareira e sorriram quando viram a nós duas. Eu me sentei ao lado de Neville e Gina ao lado de Nate.

- Eu acho que vocês sabem o motivo de estarmos aqui – ela disse baixo.
- Sim – Nate disse – O que vamos fazer agora?
- Bem, algo que não nos descubram tão fácil – eu respondi – Porque da última vez foi muito rápido.
- Eu tenho a impressão que eles não tinham certeza de que nós éramos os responsáveis – Gina disse – Mas o Mcmillan acabou dizendo.
- Ele estava assustado – eu disse – Nós precisamos de mais pessoas envolvidas nisso, se continuarmos sendo apenas nós quatro, a resistência vai acabar muito rápido.
- Você acha que eles vão nos matar? – Nate perguntou.
- Não nos matar, mas nos prender sim – eu respondi – E precisamos de outras pessoas para continuar nosso trabalho.
- E como vamos fazer isso? – Neville perguntou enquanto observava o fogo.
- Eu tenho uma ideia – Gina disse – No segundo ano, eu acabei sendo influenciada pela memória de Você-sabe-Quem que estava presa em um diário.
- Você o que? – Nate perguntou confuso.
- Ninguém mandou chegar atrasado à escola – Neville disse e nós rimos.
- Eu explico mais tarde, mas acabei escrevendo coisas na parede – Gina explicou – Podemos fazer isso.
- E em que hora? – eu perguntei.
- De madrugada seria o único jeito – Nate respondeu – Assim quando os alunos acordassem, as mensagens poderiam estar nas paredes.
- Isso é muito genial – eu disse e bocejei – Teremos que ter um cuidado maior ainda do que antes.
- Quando vamos começar? – Nate perguntou.
- O mais rápido possível – eu disse.
- E como vamos escrever? – Neville perguntou.
- Podemos usar nossos tinteiros, encomendamos mais alguns e depois aumentamos com o Engorgio – eu expliquei.
- Vamos fazer isso semana que vem? – Gina perguntou e nós concordamos – O que iremos escrever?
- Algo que as pessoas nos procurem para ajudar – Nate disse jogando um pedaço de papel na lareira.
- Algo sobre a Armada de Dumbledore? – Gina perguntou – Algo sobre recrutar as pessoas.
- Mas vão descobrir que somos nós – eu disse.
- E daí? O que eles podem fazer conosco? – Gina perguntou – Meu pai me mandou uma carta dizendo que a publicação sobre Hogwarts no Pasquim fez muitos pais irem ao Ministério exigindo uma explicação, dizendo que vão retirar seus filhos da escola. Eles não podem mais nos machucar, caso contrário, avisamos nossos pais e eles terão problemas muito mais sérios.
- E eles conseguem disciplinar quatro alunos – Neville disse – Mas e se for a escola inteira? E se pessoas de diferentes casas quisessem lutar? Eles não vão poder torturar todos os alunos.
- Nós precisamos agir, – Gina disse – Eu sei que você tem medo, mas não podemos ficar parados mais. Você se machucou seriamente e se não tivermos muitas pessoas, eles podem te machucar de novo.
- Os números importam aqui – Nate disse olhando para mim – Precisamos de pessoas, o maior número que conseguirmos.
- Vai dar certo, tem que dar certo – eu disse tentando convencer a mim mesma – Então o que vamos escrever?
- Armada de Dumbledore: o recrutamento continua – Neville disse dando um sorriso – Isso pode dar certo.
- Vamos usar as moedas – Gina disse – Cada um leva uma e vamos a diferentes andares, se algo der errado usamos as moedas.
- Sim, terminar de escrever e voltem para cá – eu disse – A não ser que alguém precise de ajuda, nós voltamos para cá.
- Nós vamos conseguir – Gina disse dando um sorriso confiante – O ano está quase acabando, vai dar certo.

Eu abri a porta do quarto e as outras meninas dormiam pesado, mas eu ainda não tinha sono. Apesar da reunião com meus amigos, eu não conseguia parar de pensar no sonho. Era óbvio que aquilo havia sido colocado na minha mente e Você-Sabe-Quem estava contando com a minha loucura. O sonho sempre mudava, mas somente uma coisa permanecia a mesma: a morte de Draco.
Caminhei até a janela e observei o céu escuro e a neve acumulada no parapeito e suspirei, sentindo meu coração apertado. O medo de perdê-lo crescia a cada dia e eu queria fugir com Draco para qualquer lugar distante. Eu trocaria qualquer coisa para viver em paz com o garoto que eu tanto amava. Qualquer coisa. Meus olhos se encheram de lágrimas e a vontade de tê-lo ao meu lado naquele momento triplicou. Voltei para minha cama e me enrolei nas cobertas pronta para dormir, mas torcendo para que dessa vez, eu ao menos tivesse um sonho bom.


O recrutamento continua.

Janeiro finalmente tinha acabado e fevereiro chegou levando um pouco do frio embora. Aquela segunda-feira de aula veio deixando todos os alunos nervosos já que estava próximo do fim das aulas. Eu coloquei meu uniforme com uma meia-calça vinho, coturno preto e fechei a capa preta completamente para impedir o frio entrar. Peguei minha mochila e desci as escadas encontrando Gina sentada com as amigas do seu ano e me aproximei delas.

- Bom dia – eu disse e elas me olharam – Gina, os meninos já foram?
- Eu acho que sim, – ela respondeu dando um sorriso – Eu já estou descendo.
- Eu vou indo, quero encontrar uma pessoa antes – eu expliquei, mas ela entendeu quem era e deu um sorriso.

Eu passei pelo buraco do retrato e caminhei pelos corredores calmamente, apreciando o silêncio daquela manhã. Antes o castelo sempre era barulhento com gritos e risadas altas, agora era possível ouvir uma agulha caindo no chão.
Cheguei ao Salão Principal e os comensais já estavam lá supervisionando o café da manhã. Os professores estavam sentados na mesa principal, mas Snape não estava lá. Olhei a mesa da Sonserina e Draco estava sentado com os outros alunos, mas em silêncio. Nate e Neville estavam sentados juntos e eu me aproximei deles.

- Bom dia – eu disse a eles e dei um gole no chá quente na caneca em minha frente – Qual é o nosso horário hoje? - Feitiços e Transfiguração antes do almoço – Nate disse – E o resto...
- Eu pergunto para alguém depois – eu disse percebendo que ele não sabia – Quando vamos começar o plano?
- Hoje à noite – Nate disse dando um sorriso de lado – Você está bonita, .
- Obrigada – eu respondi e percebi malícia em seu olhar – Você não vai deixar de tentar mesmo, não é?
- Não – ele respondeu dando uma gargalhada, mas depois viu uma menina bonita da Corvinal passando por ele sorrindo e levantou – Eu tenho que ir.
- Nate tem o espírito livre – eu comentei com Neville – Eu acho que ele vai tentar beijar todas as garotas que ele não beijou estudando em casa.
- Eu duvido muito – Neville disse – Ele beijava muitas meninas fora daqui também. Olha pra ele.
- Você acha o Nate bonito, Neville? – eu perguntei dando uma risada.
- Quem não acha? – ele rebateu e nós rimos – Você deveria ficar com ele, você sabe disso, não é?
- Eu deveria estar com tantas pessoas de acordo com vocês – eu respondi – Gina acha que eu deveria estar com Fred, você com o Nate e o trio achava que eu deveria dar chance para qualquer ser humano que não fosse o Draco.
- E por que você não deu? – ele perguntou.
- Porque meu coração pertence a outra pessoa – eu disse – Meu coração é dele. – e apontei com a cabeça para Draco que olhava tudo ao seu redor com tédio – E vai ser assim por um bom tempo.
- Ou até que você mude de ideia – Neville disse – Vamos subir?
- Pode ir, eu já vou – eu respondi e percebi que Draco estava me olhando – Eu preciso...
- Eu sei – ele respondeu levantando – Por que só eu me ferro para beijar bocas?

Eu dei risada e levantei um tempo depois, sendo seguida por Draco que também saiu e me encontrou do lado de fora do castelo. Seus cabelos estavam despenteados naquela manhã e ele veio até mim com um sorriso preguiçoso nos lábios. Eu sorri feliz e dei risada quando Draco me abraçou apertado beijando minha bochecha várias vezes. Nós nos olhamos depois e ele me deu um selinho longo.

- E então? – ele perguntou – O que vai fazer hoje a noite?
- Por que? – eu perguntei e ele continuava me abraçando segurando em minha cintura.
- Eu estava pensando em algo – ele respondeu dando um sorriso malicioso – Mas nós temos que ser cuidadosos.
- O que você está pensando, senhor Malfoy? – eu perguntei dando um sorriso para ele.
- Acho que poderemos dormir juntos essa noite – ele disse – Sala Precisa.
- Hoje eu não posso, meu bem – eu respondi – Eu tenho que fazer uma coisa.
- O que? – ele perguntou e me soltou imediatamente.
- Eu não posso falar – eu respondi o encarando – Desculpe.
- Você vai se meter em confusão de novo, não é? – ele disse sem me olhar – Droga, ! Você não aprende?
- Não, eu não aprendo – eu retruquei – Eu não posso deixar as coisas acontecerem sem fazer nada.
- Você quase morreu por causa da sua insistência em lutar e ser uma heroína, ! – ele disse bravo – Você parece que não leva sua vida a sério.
- Eu levo e muito até – respondi brava – Eu não preciso da sua aprovação ou da sua permissão para fazer nada, só não vou poder dormir com você hoje. Só isso.
- Só toma cuidado, ouviu? – Draco disse me olhando bravo – Eu não quero que você se machuque.
- Eu não vou me machucar – eu respondi – Eu sei me virar.
- Malfoy! – alguém gritou atrás de nós e era um comensal – O que está fazendo aqui com essa garota?
- Não é da tua conta – ele gritou em resposta – Vamos logo.

Draco ficou bravo comigo. Era óbvio. Contudo, ele não tinha controle nenhum da minha vida e não poderia me impedir. Eu tinha medo de dar errado, tinha medo de me torturarem de novo, mas eu não podia me acovardar. Eu não voltei para o castelo para ficar paralisada de medo, eu voltei para ficar com Draco e o principal: ser a resistência. Nós caminhamos para dentro do castelo e seguimos direções diferentes, mas enquanto eu andava sentia ele me observando. Eu só queria que ele entendesse que eu precisava agir, não podia ficar quieta enquanto pessoas sumiam fora da escola e outras eram torturadas e coagidas em Hogwarts. Dumbledore não me treinou para nada, ele não me ensinou a ter controle sobre meus sentimentos, não ajudou a desenvolver meu caráter enquanto eu crescia para depois eu dar as costas para tudo o que ele me ensinou. Eu tinha princípios que não me permitiam dormir sabendo que eu não estava fazendo nada.

As aulas com o professor Flitwick e a professora McGonagall passaram sem problemas. O pânico era permanecer cinquenta minutos em uma sala com os irmãos Carrow. Eles estavam no almoço e andavam pelas mesas observando os alunos. Draco estava na mesa da Sonserina e me olhou quando eu entrei no Salão Principal. Eu sustentei seu olhar enquanto andava, mas fui parada por Amico no corredor.

- O que tanto você encara a mesa da Sonserina, garota? – ele perguntou me encarando.
- Não sabia que tínhamos regra até para a direção em que olhamos – eu respondi baixo e o encarei de volta – Com licença, eu quero almoçar.
- Você acha que pode nos enganar, sua garota insolente – ele disse segurando meu braço com foça – Nós vamos te prender no próximo deslize.
- Tente – eu respondi e puxei meu braço com força indo me sentar ao lado de Nate que me abraçou no mesmo momento.
- Você está bem? – ele perguntou e me encarou preocupado.
- Sim, Nate – eu respondi e olhei para Draco que também mostrava preocupação – Está tudo bem.
- Você não anda mais sozinha – ele disse – Eles estão marcando você.
- Eles sempre fizeram isso – eu expliquei – Só que aparentemente está mais explícito.
- Filhos da puta – Nate reclamou baixo ao meu lado e começamos a comer em silêncio.

Eu estava ansiosa para o que aconteceria naquela noite. Meu estômago doía esporadicamente quando eu lembrava que teria que me arriscar nos corredores gelados do castelo naquela madrugada. Draco se recusava a falar comigo mais uma vez, em uma forma de mostrar que não apoiava minha ideia, mas eu sabia que ele não iria me entregar. Ou pelo menos esperava que ele não fizesse isso. A última aula acabou e depois de deixar minhas coisas na Grifinória, eu desci para o jantar com os demais alunos da minha Casa em uma fila organizada. Entrando no Salão Principal, Draco já estava lá, mas evitou me olhar mais uma vez, me dando o famoso “gelo”. Ele sabia que eu poderia me encrencar mais uma vez e não passaria a mão na minha cabeça como ele já havia feito antes quando tentava me reconquistar. Eu me sentei ao lado de Gina e começamos a comer sem conversar muito. Ela estava nervosa, eu podia perceber, mas cada vez que ela percebia que eu estava encarando, ela apenas dava um sorriso tímido. O jantar acabou rápido e quando estávamos subindo para a Grifinória – ainda em grupo – eu senti um puxão em meu braço e de repente eu estava dentro de um armário de vassouras.

- Que porra é essa? – eu perguntei tirando minha varinha das vezes, pronta para acabar.
- Sou eu, sou eu – Draco disse e eu relaxei percebendo que não estava em perigo – Desculpe te assustar.
- Tudo bem, o que foi? – eu perguntei enquanto posicionava minha varinha entre nós – Lumus.
- Eu queria te dar uma coisa – ele disse baixo – Eu não sei o que você vai fazer hoje e também não quero saber.
- De novo esse assunto, Malfoy? – eu perguntei dando um suspiro – Eu não vou mudar de ideia!
- Eu sei – ele respondeu e me encarou seriamente com aqueles lindos olhos azuis – Eu só queria te dar um presente de natal atrasado, eu demorei para achar porque você escondeu no lugar mais cheio de coisas desse castelo.
- Do que você está falando? – eu perguntei baixo e percebi que ele sorria para mim enquanto tirava o colar de prata com um pingente em forma de coração – Você encontrou.
- Sim, eu tive que procurar muito, mas aqui está – Draco disse – E ainda tem a foto daquele dia.
- Eu não sei o que falar – eu respondi sendo sincera e apertei o coração percebendo nós dois na porta sorrindo para a câmera – Obrigada, Draco.
- Use hoje – ele pediu – Eu vou estar com você de algum modo, você vai estar protegida de alguma forma.
- Obrigada – eu disse mais uma vez e me virei para ele fechar o colar em meu pescoço. Draco beijou minha nuca várias vezes e me apertou em seus braços – Eu jamais vou tirá-lo novamente.
- Eu sei que você não vai – ele disse e me abraçou por trás repousando a cabeça em meu ombro – Tome cuidado, por favor. Não tente bancar a heroína, faça o que tem que fazer e volte para a Grifinória.
- Eu sei, Draco – eu respondi segurando seus braços – Eu não vou me machucar.
- Se você precisar, vá para a Sala Precisa – ele explicou – Não vão te achar lá e Hogwarts sempre ajuda seus alunos.
- Tudo bem, amor – eu disse para tranquilizá-lo e me virei para olhar em seus olhos – Vai dar tudo certo.
- Por que eu estou sentindo que você vai se machucar? – ele suspirou e me abraçou mais uma vez.
- Porque você é preocupado demais – eu respondi dando um sorriso – Vai ficar tudo bem, Draco. Eu... Eu prometo.
- Eu conheço essas promessas, – ele disse sério – São iguais àquelas que eu nunca consegui cumprir.
- Confia em mim – eu segurei seu rosto e olhei bem em seus olhos – Vai ficar tudo bem.

Draco me beijou rapidamente me pegando desprevenida enquanto segurava minha nuca com uma mão e minha cintura com a outra. Seus lábios estavam quentes, mas suas mãos frias, deixando claro o quão nervoso ele estava. Deixei minhas mãos em seu pescoço e o puxei para mais perto enquanto aprofundava aquele beijo que me deixou calma, afastou meus medos e me deu vontade de ficar com Draco. Não fazer nada, não lutar por nada, somente existir naqueles lábios. Ele sugou meu lábio inferior e finalizou o beijo me dando um selinho.

- Eu amo você – ele disse segurando meu rosto entre as mãos – Muito.
- Eu também te amo – eu respondi e o abracei mais uma vez.
O relógio em meu pulso marcava exatamente 00h00min. Meu coração batia tão rápido que eu o sentia pulsar através da minha camiseta fina. Coloquei meu coturno preto e peguei a capa do uniforme cobrindo minha cabeça. Minha varinha estava guardada no bolso junto com um tinteiro que seria usado naquela noite. Eu desci as escadas e cheguei ao Salão Comunal encontrando meus amigos vestidos com as capas também.
- Prontos? – eu perguntei baixo e eles afirmaram – Neville fica com o sétimo andar e sexto, Nate com quinto e quarto, Gina com terceiro e segundo e eu fico com o primeiro e as masmorras.
- Qualquer sinal de pessoas, nós nos escondemos – Gina disse – Procurem uma sala vazia, um banheiro, qualquer coisa, mas não podemos ser pegos.
- Nós vamos conseguir – eu disse e sorri para meus amigos – Vai dar tudo certo, pessoal.
Cada um saiu para um lado e eu peguei as escadas em direção ao primeiro andar. Iríamos pular o térreo, pois lá ficava a maioria dos comensais. Eu estava nervosa, não podia negar que a ansiedade fazia minhas mãos tremerem e meu estômago doer, mas não podia voltar atrás. Eu tinha me comprometido com meus amigos. Eu andava rápido e virei o corredor chegando ao topo da escada enquanto esperava. O castelo estava totalmente escuro e eu murmurei “lumus” para iluminar meus passos. Evitei encarar os quadros para que eles não vissem meu rosto e desci os degraus correndo até chegar finalmente ao primeiro andar. Caminhei rapidamente pelos corredores e escolhi a parede ao lado do banheiro principal para começar minha obra. Respirei fundo, olhei para os lados para verificar se não tinha ninguém e tirei o capuz encarando a parede em minha frente. Abri o tinteiro e com a ponta dos dedos comecei a escrever a frase escolhida para aquele momento. Enquanto escrevia olhava para os lados e sentia meu coração bater cada vez mais rápido tamanha a adrenalina que eu sentia naquele momento. Eu estava fazendo algo errado, mas por uma boa causa. Finalizei a primeira palavra e respirei fundo, juntando fôlego para ir mais rápido. Eu tirei a capa, pois não parava de suar e continuei escrevendo até terminar a frase e no final desenhei a cicatriz de raio do Harry. Peguei minha varinha e murmurei “Engorgio” e as letras começaram a crescer até que alcançaram o teto. Para finalizar, eu usei o “Impervius” para tornar as letras impermeáveis e assim, serem impossíveis de serem apagadas.
Eu sorri vitoriosa e me permiti observar meu trabalho por alguns segundos antes de limpar minha mão com mais um encanto da varinha, colocar a capa novamente e me preparar para passar pelo térreo e ir para as masmorras. Caminhei pelos corredores e cheguei à escada do salão principal, mas me escondi por alguns segundos esperando ouvir passos. Apontei minha varinha e pensei “Sonorus” a fim de aumentar o barulho no andar debaixo, mas tudo estava em completo silêncio. Respirei fundo e desci a escada o mais rápido que pude sem fazer barulho e atravessei o Saguão com a varinha em mãos pronta para atacar caso alguém aparecesse, mas ninguém estava ali e eu peguei a escada para as masmorras sentindo a adrenalina correr pelo meu corpo.
Desci as escadas devagar com a varinha no alto e preparada para qualquer coisa. O frio começava a penetrar minhas roupas e meus dentes já começavam a querer bater, mas eu mordi meus lábios e me mantive firme. Quando cheguei ao chão, eu virei e caminhei até a sala de poções e decidi que seria ali minha obra de arte. A escuridão estava me deixando cega, então eu acendi minha varinha e comecei novamente a escrever só que dessa vez o mais rápido que eu podia já que algum sonserino poderia aparecer. Terminei a frase “Armada de Dumbledore: o recrutamento continua!” e aumentei as palavras com um feitiço, finalizando meu trabalho a deixando impermeável. Pronto, minha parte estava feita. Eu caminhei rapidamente e fui até o banheiro para lavar as mãos e me livrar do tinteiro bem longe da Grifinória. Abri a porta e tudo estava vazio, então lavei as mãos rapidamente e diminui o tinteiro até que ele ficasse do tamanho de uma borracha e depois pisei em cima jogando os cacos de vidro no ralo. Respirei fundo e me preparei fazer todo o caminho de volta para a Grifinória. Saí do banheiro e como uma sombra eu tentei fazer novamente todo o caminho passando despercebida, mas quando virei um corredor, alguém me segurou pelos braços. Eu tremia de medo e não podia gritar já que iria revelar que eu estava ali embaixo, então teria que me defender sem deixar que me vissem. Eu dei uma cabeçada na pessoa e consegui me desvencilhar apontando a varinha para o ser humano e quando preparava um feitiço de defesa ouvi a voz que eu tanto conhecia:

- Caramba! - Draco! – eu disse mais alto apontando minha varinha para ele – Lumus! Você me assustou.
- Não temos tempo de discussão, eles estão chegando – ele disse segurando minha mão e correndo para a direção que eu tinha vindo.
Eu o acompanhei em silêncio até o banheiro masculino e Draco entrou comigo, trancando a porta com um feitiço e entrando em uma cabine me puxando junto logo depois.
- Eles acharam o desenho do primeiro andar e convocaram todos os comensais – ele explicou enquanto colocava a mão no nariz que sangrava pela cabeçada que tinha levado – Eu sabia que você estava envolvida e comecei a te procurar pelo castelo. Estava voltando quando ouvi sua respiração e te segurei no pé da escada.
- Desculpe pela cabeçada – eu disse e peguei um pouco de papel higiênico colocando em seu nariz limpando o sangue como podia – Eu cuido disso. Episkey!
- Obrigada e desculpe ter te assustado também – Draco disse e seu nariz já estava melhor – Limpar! – ele murmurou e tudo estava limpo sem um rastro de sangue – Vamos ficar aqui por um tempo.
- Será que eles acharam os outros? – eu me perguntei já sentindo a preocupação inundar meu ser – Tomara que não.
- Bom, eu achei uma – ele disse dando um sorriso – Vou ter que te punir.
- Como eu vou fazer para voltar para a Grifinória? – eu perguntei para Draco e ignorei sua piada – Vou ter que ficar a noite toda aqui?
- Não, calma – ele tentou me tranquilizar e colocou suas mãos em meu rosto – Nós vamos esperar e depois saímos juntos, se alguém nos encontrar eu digo que estou te levando para o Snape.
- Mas não podem saber quem eu sou – eu respondi – E você vai entrar em confusão por minha causa.
- , eu prefiro mil vezes te encontrar a eles te encontrarem – Draco respondeu me abraçando – Vamos esperar um pouco e depois você vai, tudo bem?
- Tudo bem – eu disse e respirei fundo – Pelo menos deu certo, eles não vão conseguir apagar.
- Você é louca – ele disse dando um sorriso.
- E você me ama mesmo assim – eu disse e fui até ele o abraçando apertado.
- Sim, eu amo – ele respondeu beijando o topo da minha cabeça.
Estávamos em silêncio no escuro quando ouvimos um barulho na porta, alguém estava tentando entrar. Eu encarei Draco apavorada e ele fez sinal para que eu não fizesse barulho. O nervosismo começou a me inundar e eu preparei minha varinha para atacar qualquer pessoa que tentasse me machucar ou me levar para Snape. Com um estrondo a porta foi aberta e a luz acesa, me deixando ainda mais apavorada. Ouvi passos e tive uma ideia, comecei a beijar o pescoço de Draco fazendo um barulho muito alto e gemi um pouco alto também.

- Quem está aí? – o homem do outro lado perguntou e eu cutuquei Draco.
- Sou eu – Draco disse – Eu estou com um probleminha aqui.
- Você está com uma garota ai dentro, Malfoy? – o outro comensal respondeu e eu encarei Draco desesperada.
- É... Sabe como é – ele deu uma risada – É bom ter um alívio de vez em quando.
- Como eu não sou monitor dessa escola, se divirta aí, garoto – o homem disse dando uma risada – Só tome cuidado pra não engravidar a garota.
- Pode deixar, irmão – Draco respondeu rindo e esperamos até que a luz foi apagada mais uma vez. Eu respirei aliviada – Isso foi por pouco – eu disse –Nunca fiquei tão nervosa.
- Você é... – Draco disse e me encarou – Sensacional.
Ele segurou meu rosto e me beijou com vontade me empurrando até a parede o que causou uma dor momentânea, mas eu não me importei, sustentei o beijo com a mesma intensidade que Malfoy. O ar ao nosso redor estava frio, mas fazia um contraste com nossos corpos quentes. Como sempre, Draco me beijava com o corpo todo deixando claro o quanto ele me queria naquele momento. Suas mãos foram para a minha cintura enquanto seus lábios beijavam meu pescoço deixando um rastro de saliva por onde passava. Sua mão esquerda continuou em minha cintura por dentro da minha blusa de mangra comprida preta e sua mão direita foi direto para meu seio direito que começou a ser massageado. Sua mão gelada me causou calafrios e ele beliscou meu mamilo rígido me fazendo gemer em sua boca. Draco parou seus movimentos para tirar minha capa enquanto eu tirava meu coturno, abriu o zíper da minha calça jeans e a empurrou pelas minhas pernas para que eu tirasse, eu tirei minhas meias enquanto ele desabotoava sua calça. Eu suspirei e senti Draco puxando minhas pernas para cima, segurando em minhas coxas enquanto eu o prendia pelo quadril e segurava em seu pescoço. Draco ficou alguns segundos me encarando em silêncio e depois deu o sorriso mais perverso que eu já vi enquanto colocava sua mão entre nossos corpo fazendo movimentos com os dedos em meu clitóris. Eu segurei um gemido e segurei na parte de cima da parede da cabine para me segurar um pouco melhor, eu sabia que teria dor nos braços no dia seguinte, mas não me importava. Só o que importava era Draco ali, se enfiando em mim, e me fazendo ter certeza de que eu poderia morrer em seus braços naquele momento, que estaria feliz e completa.

O caminho para a Grifinória foi difícil e eu tive que tomar o dobro de cuidado para desviar dos comensais que estavam patrulhando os andares, mas consegui chegar inteira. Eu sentia uma leve dor nos braços e no quadril, mas não importava, sexo selvagem no banheiro da escola embaixo do nariz dos comensais compensava. Depois de acordar a Mulher Gorda e ouvir resmungos, eu entrei no Salão Comunal querendo ir direto para o banheiro tomar um banho e dormir as poucas horas que restavam, mas meus planos foram frustrados já que Gina, Neville e Nathan estavam me esperando.

- Caramba, ! – Nate disse alto e veio até mim – O que aconteceu? Nós ficamos preocupados!
- Está tudo bem, deu tudo certo – eu respondi dando um sorriso.
- Como assim? Por que demorou? – Gina perguntou – E por que você está toda vermelha? O que aconteceu?
- Eu vou tomar banho, okay? – eu respondi sem querer dar muitas explicações, mas parei quando ouvi Nate dar risada.
- Parece que alguém se deu bem por aqui – ele disse entendendo o que eu tinha feito – Vamos dormir, estava muito bem.
- O que? Como assim? – Gina perguntou sem entender.
- Ela estava transando. – Nate disse curto e grosso.
- NATHAN! – eu falei mais alto – Não precisava falar assim.
- E eu estou mentindo? – ele retrucou dando risada – Vamos embora, ela estava ótima tendo orgasmos e eu aqui tendo que usar minha mão.
- Muita informação, Nathan – Neville disse – Muita informação.
- Você é muito inconsequente, ! – Gina disse se aproximando de mim – E se pegassem você?
- Um comensal me pegou – eu respondi e dei risada da minha própria piada ridícula – Se você entende o que eu quero dizer. - Muita informação, – Neville repetiu – Muita informação.
- Eu vou tomar banho, com licença – eu disse – Eu consegui escrever no primeiro andar e nas masmorras quando eu encontrei com Draco. Foi tudo bem, fiquem tranquilos.
- Pelo menos você conseguiu – Gina disse – Vamos dormir antes que alguém chegue.
- Eu vejo vocês amanhã – respondi dando um sorriso.
- Olha como ela está feliz – Nate disse – Era disso que eu precisava.
- Só pare de reclamar, Nate – Neville disse enquanto eles subiam as escadas – Eu já não aguento mais.

No outro dia de manhã, como esperado eu acordei com o corpo todo dolorido, mas uma felicidade que não cabia dentro de mim. Estar com Draco era a melhor parte do meu dia, eu não podia negar. Coloquei meu uniforme calmamente naquela manhã e encontrei meus amigos no Salão Comunal.

- Vocês acham que vão nos acusar de primeira? – Neville perguntou. - Provavelmente, tudo o que acontece nesse castelo é nossa culpa – eu respondi e bocejei – Mas não tem como provarem. - Não tem mesmo – Nate disse – Bem, vamos esperar.

Assim que viramos um corredor, vimos um aglomerado de pessoas paradas em frente à parede que Neville havia escrito “Armada de Dumbledore: o recrutamento continua”. Elas cochichavam sobre quem poderia ter feito isso e o que iria acontecer com as pessoas. Paramos junto com os demais alunos e tentamos ouvir as conversas que se dividiam entre “nossa, como são corajosos”, “eles vão se ferrar” e “como será que fazemos para encontrar com eles? Eu quero ajudar”. Então, professora McGonagall rompeu pelo corredor e parou ao nosso lado por alguns segundos lendo a frase. Ela suspirou e como se soubesse, nos encarou com uma expressão que eu não saberia identificar.

- Todos para o Salão Principal agora – ela disse friamente e fez o caminho de volta para os andares inferiores. Eu olhei para Neville e suspirei.
- Ela sabe que fomos nós – eu disse.
- Mas é claro – Nate disse e deu um sorriso – Ela não vai nos entregar.
- Eu espero – disse e puxei meus amigos para o andar de baixo seguindo o fluxo dos alunos que acataram prontamente a ordem da professora.

Chegando ao Salão, notamos o silêncio que se instalava naquele lugar. Ninguém abria a boca para falar uma palavra sequer e o número de comensais que estavam ao redor das mesas era muito maior do que o normal. Os professores estavam todos na mesa principal e Snape estava sentado na cadeira de Dumbledore encarando um ponto qualquer no local. Draco não estava sentado à mesa da Sonserina e me olhou quando eu entrei. Depois que mais alunos chegaram e todos estavam lá, Snape levantou e se aproximou do púlpito em forma de coruja que tantas vezes foi auxílio de Dumbledore em seus discursos.

- Bom dia a todos – ele disse passando seu olhar pelos alunos – Juntamos todos vocês para falar sobre os atos de vandalismo nessa escola que ocorreram nessa madrugada. – ele deu uma pausa – Acordamos hoje com as paredes de nossa amada escola emporcalhada com frases que sujam o nome de nosso querido professor Dumbledore. Nós estamos procurando os responsáveis e iremos interrogar todos os alunos se for necessário. Qualquer aluno que for pego associado com esses atos rebelde terá uma passagem só de ida para Azkaban.

O burburinho de indignação se alastrou pelo Salão Principal e o pânico no rosto dos alunos foi aparecendo enquanto Snape encarava a todos com um semblante frio e calculista. Ele não estava brincando. Ele falava muito sério e a partir daquele momento, não apenas a integridade física dos alunos estava em jogo, mas principalmente nossa liberdade. Eu evitava encarar meus amigos, pois sentia olhar dos comensais, em especial os gêmeos Carrow, estudando nossos movimentos, mas foi inevitável olhar para a mesa da Sonserina e ver Draco me encarando sério. Por último, eu olhei para a mesa principal e Snape me encarava fixamente. Então, como um instalo eu percebi: ele sabia que tinha sido nós. Ele sabia e eu sentia que tinha me afundado ainda mais em problemas.


A escolha certa?

O medo sempre foi uma constante em minha vida. Ele alternava o posto com a coragem, mas de algum modo sempre estava lá.
O medo surgiu quando eu comecei a perceber que não conseguia controlar meus poderes; também deu as caras quando eu treinava com professor Dumbledore e me sentia uma bomba relógio; também apareceu quando Draco apareceu naquela torre e me deixou sozinha jogada no chão. Contudo, esse medo sempre foi meu, um fardo que somente eu tinha que carregar.
As pessoas ao meu redor sempre se mostraram corajosas enquanto eu tremia diante das situações. Até agora.
Eu nunca tinha visto medo como eu estava vendo naqueles dias que se seguiram depois do pronunciamento de Snape. Os alunos se encolhiam nas paredes quando viam um comensal – que haviam dobrado em quantidade – e andavam rapidamente e sempre em grupos grandes de pessoas.
Eu também estava com medo, principalmente porque Snape sabia que eu estava envolvida, mas de alguma maneira ainda não tinha chamado eu ou meus amigos para sua sala. Então eu aguardava, esperava por uma reunião na sala do diretor ou uma sessão de tortura nas masmorras. Cada aula do dia em que alguém entrava na sala para dar um recado, meu coração batia tão depressa que eu podia senti-lo se encostasse minha mão em meu peito. Contudo, as pessoas vinham, iam embora e nada. Eu queria saber o que estava acontecendo, queria entender o que se passava dentro daquela cabeça perversa, mas nunca iria saber por que Snape estava demorando tanto para tomar uma atitude.

O gelo já estava quase todo derretido, o frio estava começando a ir embora, a primavera estava chegando e com isso, o fim do ano letivo. Eu me perguntaria o que faria depois. Iria encontrar meus pais? Iria à busca de um emprego? E Draco? O que seria de nós dois? Essas perguntas me cercavam todos os dias e me deixavam mais ansiosa ainda. Naquela manhã, finalmente uma carta dos meus pais chegou e meus olhos se encheram de lágrimas ao notar a letra de papai no envelope.

“Querida filha,
nós estamos muito bem, claro que a saudade de você e seu jeitinho especial nos corta o coração, mas estamos sobrevivendo a essa distância. Você sempre viveu colada com nós dois e agora está a dois anos longe. Sua mãe não aguenta mais e todos os dias vem até mim com um plano mirabolante para te tirar da escola.
Nós sabemos que as coisas não estão fáceis na Grã-Bretanha, em especial em Hogwarts. Nós sentimos muito por tudo, mas sempre iremos respeitar suas decisões. Estamos mandando essa carta pra te avisar que assim que o ano letivo acabar, você virá conosco. Você precisa passar um tempo aqui, longe de todo esse perigo. Seu namorado pode vir também, se ele quiser, nós iremos preparar tudo. Ele pode confiar em nossa família. Mande uma carta avisando. Depois das férias de final de ano, nós percebemos que vocês estão realmente ligados e jamais iremos tentar acabar com isso. Ele é parte da família agora.
Amamos você, nosso pequeno raio de sol.
Papai e Mamãe.”


Eu terminei a carta e limpei as lágrimas que caíram dos meus olhos enquanto eu lia. Eles estavam bem. Um alívio percorreu meu corpo como nunca tinha sentido antes e minha respiração ficou mais leve. Ao menos um aspecto da minha vida continuava certo: meus pais. Eu dobrei a carta com cuidado e coloquei dentro do meu bolso, decidida a mostrar para Draco. Ele poderia vir conosco e só isso foi suficiente para reacender a chama de esperança dentro do meu coração.

- Tudo bem, ? – Gina perguntou enquanto segurava uma edição do Profeta Diário.
- Tudo ótimo, meus pais estão bem – eu respondi sorrindo – Eles estão vivos. Está tudo bem.
- Isso é maravilhoso, ! – ela disse me dando um sorriso – O que eles disseram?
- Eles vêm me buscar depois do ano letivo – eu disse baixo – Eu vou para a França com eles.
- Você tem que ir – ela disse e olhou para Draco atrás de mim – Não deixe que nada te impeça mais uma vez.
- Ele vai comigo – eu respondi já sentindo minha esperança vacilar – Ele também não aguenta mais.
- Você tem que pensar na possibilidade dele não querer ir – ela disse e segurou em minha mão – Sua vida é mais importante. Seus pais são mais importantes. Não deixe de escapar.
Gina não me deu direito de resposta, soltou minha mão, colocou o jornal debaixo do braço, pegou uma maçã e levantou rapidamente da mesa me deixando sozinha. Eu olhei para Draco atrás de mim e ele comia distraído enquanto olhava para baixo. Eu não tinha pensado na possibilidade dele não ir, mas e se ele me dissesse não? E se escolhesse ficar? O que seria de nós?
Contudo, eu não podia pensar nisso naquele momento, tinha aula de Feitiços com o professor Flitwick e já estava atrasada. Os meninos provavelmente haviam descido mais cedo para tomar café, pois tinham deveres atrasados, então eu teria que ir sozinha para a sala. Levantei, pegando minha bolsa e caminhei até a porta do salão, mas quando saía, dei de frente com o professor Snape que me encarou seriamente.

- Com licença, senhor – eu disse sem olhá-lo e desviei o caminho, mas parei quando ele me chamou.
- Tenha um bom dia, senhorita – Snape disse e fixou seus olhos nos meus – Não ande sozinha pelos corredores.
- Sim, senhor – eu respondi, mas minha expressão declarou minha confusão mental.
- São as ordens – ele explicou – Espere outro aluno.
- Tudo bem, senhor – eu respondi e Snape se afastou de mim caminhando rápido até a cadeira de Dumbledore.

Eu saí da frente das portas e fui até um banco perto da escada e me sentei para esperar Draco que provavelmente sairia em poucos minutos, mas enquanto isso eu pensei no diálogo breve com Snape. A expressão fechada costumeira não tinha ido embora, a voz dura também estava lá, mas o conteúdo da conversa me pegou de surpresa. Ele sempre quis me ferrar, fazia qualquer coisa para me prejudicar naquele lugar, mas havia me dado um alerta sobre andar sozinha? Ele sabia de alguma coisa, talvez uma emboscada? Aquilo era estranho e quando Draco saiu com as mãos nos bolsos, eu corri até ele.

- Algo estranhou aconteceu – eu disse o encarando.
- O que?
- Snape falou comigo e disse para eu tomar cuidado nos corredores – eu expliquei – E completou com: espere outro aluno. Ele deve saber que estamos juntos de novo.
- Quem não sabe? – Draco disse – Isso foi muito estranho. Você acha que ele sabe sobre as mensagens?
- Eu acho que sim, mas se ele sabe por que quis ser gentil agora? – eu perguntei.
- Talvez ele tenha lembrado que antes de ser um diretor pau mandado no ministério, ele é professor – Malfoy respondeu – Qual aula você tem agora?
- Feitiços.
- Eu te levo até a sala – ele disse caminhando ao meu lado enquanto subíamos a escada. Os Comensais nos encaravam, mas não falavam nada.
- Isso está muito estranho – eu comentei – Eles estão me deixando viver em paz. O que está acontecendo? Você sabe de alguma coisa?
- Por incrível que pareça, não – ele respondeu e entrelaçou nossos dedos rapidamente, mas depois soltou, pois um estudante da Sonserina nos encarou – Eu simplesmente odeio o fato deles te encararem como um bicho de sete cabeças.
- Talvez eu tenha e você nunca percebeu – eu respondi fazendo uma piadinha que arrancou um sorriso de Draco.

Ele tagarelou sobre qualquer assunto, mas eu me lembrei da carta dos meus pais que pesava em meu bolso. De alguma maneira, as palavras de Gina ecoavam em meus ouvidos e eu fiquei receosa de contar para Malfoy que eu iria embora e que ele poderia vir comigo. Eu não sei o que eu faria se ele quisesse ficar ou como sobreviveríamos separados. A Ligação Mágica tinha seus contras, certo? Eu definharia aos poucos estando longe dele e ele de mim, então somente de pensar na possibilidade disso acontecer, já me deixava nervosa.
A esperança que eu havia sentido minutos antes, me abandonou completamente e eu decidi que por enquanto eu não falaria nada. Guardaria aquela carta para mim e só mostraria para Draco no momento certo. Meu estômago doeu e eu senti um enjoo muito forte, provavelmente oriundo da ansiedade que se instalou em meu peito. O ar faltou e eu parei de andar, segurando no braço de Draco.

- O que foi? – ele perguntou com um olhar preocupado.
- Eu não sei, meu estômago embrulhou – eu expliquei – Só estou um pouco nervosa.
- , essa situação com o Snape não pode te afetar tanto – Draco começou a falar – Foi só um diálogo.
- Eu sei, mas isso me deixa preocupada – eu contei uma meia verdade – A sensação de que ele pode aparecer a qualquer momento em alguma aula e me levar para Azkaban continua aqui.
- Mas ele ainda não fez isso – ele disse se aproximando colocando a mão em meu rosto, fazendo um carinho leve – Eu entendo que nada do que eu falar vai mudar a sua realidade, mas você não pode se desesperar. Você tem continuar sendo forte.
- Mas, Draco...
- Você andou por um castelo cheio de comensais em plena madrugada, – Draco disse me dando um sorriso – Se isso não é coragem, eu não sei o que é.

Ele me deu um sorriso sem mostrar os dentes e eu pude relaxar por alguns segundos somente de olhá-lo. Draco beijou minha testa demoradamente e me abraçou apertado, fazendo um carinho em minhas costas. Eu senti seu cheiro, ouvi seu coração bater e eu me sentia grata ao universo por estar ali, no meio de um corredor, nos braços do cara que eu amava. Eu não queria ficar sem aqueles momentos ainda que por pouco tempo. Suspirei e me soltei dele, encarando meu namorado por alguns segundos, antes de beijar seus lábios em um selinho demorado.

- Obrigada por me acalmar – eu disse e sorri.
- Eu sempre vou estar aqui – Draco respondeu – Mas já estamos nos atrasando, vamos?
- Vamos.

Como de costume, a aula do professor Flitwick era relaxante se comparada com as aulas dos irmãos Carrow, então eu consegui estudar e aprender feitiços sem o pânico de ser torturada de alguma forma. Havia um comensal perto da porta, mas ele se mantinha em silêncio e era possível ignorar sua presença. O sinal tocou e a Grifinória tinha aula com a professora Sprout nas estufas. Como sempre, os alunos foram todos juntos em direção ao lado externo do castelo. O caminho demorou mais do que se eu tivesse feito com os meninos, mas depois do anúncio de Snape, poucos se atreviam a andar sozinhos por aí. O vento frio me deu bom dia assim que eu saí para o pátio e eu suspirei, fechando minha capa até em cima. A neve derretia aos poucos e eu sabia que em pouco tempo, a primavera estaria aí para aquecer um pouco as coisas. Os meninos estavam atrasados, tinham passado no banheiro e eu decidi descer sem eles, mas acompanhada do resto dos meus colegas de sala. Chegando perto das estufas, eu notei que Hagrid estava parado com alguns papeis nas mãos e parecia um pouco ansioso. Eu tinha um tempinho, então caminhei até ele que sorriu quando me viu.

- Senhorita , exatamente quem eu estava procurando! – ele disse dando um sorriso e se aproximando de mim, me deixando intimidada com aquela altura.
- Olá, Hagrid – eu respondi – O que eu posso fazer?
- Bem, eu lembro que ano passado eu sempre te via junto com Harry, Rony e Hermione – ele explicou dessa vez falando mais baixo – Então, eu sinto que posso contar com você.
- Pode falar.
- Eu estou organizando uma pequena reunião para as pessoas que apoiam o Harry – ele disse baixo – Temos que ter cuidado, mas acho que podemos nos encontrar.
- Eu acho isso ótimo – eu respondi e ele me deu um papel todo amassado pelas suas grandes mãos, além de todo manchado de tinta.
- Aqui estão as informações – ele explicou – Se quiser chamar mais alguém, tudo bem, só tome cuidado. Não quero nem imaginar o que irá acontecer se formos pegos.
- Pode ficar tranquilo – eu sorri para ele – Eu preciso ir, obrigada pelo convite, Hagrid.
- Eu acho importante nos unir – ele disse dando um sorriso – Eu vou continuar aqui por mais um tempo.
- Tudo bem, até mais.
Os garranchos do gigante diziam que a reunião aconteceria naquela noite em sua cabana, a partir das oito da noite. Seria complicado sair do castelo, mas como sempre eu podia dar um jeito. Hagrid sempre gostou muito de Harry e seria uma forma de apoiar meu amigo enquanto ele estava em um lugar desconhecido. Eu enfiei o papel no bolso e caminhei para dentro das estufas, onde a professora já estava cheia de terra dando bom dia aos alunos.
As aulas do dia acabaram e eu subi para a torre da Grifinória para deixar minha bolsa antes de descer para o jantar. Assim que passei pelo buraco eu vi uma roda de alunos em volta de um rádio ouvindo atentamente.

- O que está acontecendo? – eu perguntei para um aluno que estava perto da porta.
- Observatório Potter – ele explicou – O Grings conseguiu sintonizar finalmente e agora estamos ouvindo.
- E qual a importância dessa rádio? – eu perguntei.
- Eles falam a verdade, diferente de todos os outros que se venderam para o ministério – ele explicou e depois que eu agradeci, me enfiei na multidão para ouvir.

“É um prazer voltar a apresentar nosso programa de rádio que fala a verdade sobre o que está acontecendo no mundo bruxo.” Eu conhecia aquela voz, mas não estava conseguindo me lembrar direito. “Eu, River, tenho notícias, mas antes vamos tirar um minuto para citar as mortes de pessoas que se foram, mas que o Profeta Diário e a Rede de Bruxos não irá mencionar. Samuel Austins e Cassandra Minsk foram encontrados perto do Beco Diagonal. Sentimos muito pela perda dessas pessoas. O número de desaparecidos já subiu para cerca de quinze pessoas e agora incluímos a estudante de Hogwarts Luna Lovegood que desapareceu durante as festas de fim de ano. Seus amigos e família estão a sua procura.” Um peso em meu estômago se instalou quando ouvi o nome de minha amiga e me lembrei de quando ela narrou o jogo de quadribol e deixou a professora McGonagall louca. Então, fazendo a associação, eu me toquei de que aquela voz era de Lino Jordan, aluno de Hogwarts que narrava as partidas de quadribol. “Também tivemos a informação de que um casal de trouxas foi morto no centro de Londres perto do Parlamento. As autoridades trouxas declararam que a morte foi causada por uma parada cardíaca, mas nossos informantes no mundo não-mágico, atestaram que essa morte provem da Maldição da Morte. Tomem cuidado, meus amigos, os Comensais estão intensificando a matança tanto de bruxos quanto de trouxas. Não saiam sozinhos, procurem se proteger e para finalizar nossa transmissão, faremos um minuto de silêncio em respeito aqueles que partiram injustamente.”

A sala comunal ficou em tamanho silêncio que era possível ouvir o crepitar da lareira. O sentimento mútuo era de tristeza e inconformismo por todas aquelas que pessoas que morreram fruto desse regime opressor e que caçava aqueles que eram diferentes. O minuto de silêncio acabou e o chiado do rádio começou, mas ninguém tinha a coragem de sair dali ou falar uma palavra sequer. A comoção era generalizada naquela sala e somente depois de mais um minuto, aos poucos as pessoas começaram a descer para o jantar. Eu me aproximei de meus dois amigos e deu um sorriso triste, sendo abraçada por Nate que permaneceu ao meu lado.

- Eu não tinha ideia de que essa rádio existia – eu comentei.
- Eles começaram recentemente, logo depois que O Pasquim começou a publicar notícias falsas como todos os outros jornais – Longbottom explicou.
- Isso foi muito sábio da parte deles – eu disse – Era o Lino Jordan, certo?
- Sim, a gente guarda a voz de alguém quando essa pessoa passa seis anos narrando jogos de quadribol – Neville brincou e nós rimos.
- O Hagrid falou com vocês? – eu perguntei tirando o papel do bolso.
- Sim, ele disse que as informações estavam com você já que ele não tinha feito muitos convites – Nate disse.
- Nós vamos, certo? – eu perguntei dando um sorriso – Eu achei um gesto nobre e extremamente arriscado do Hagrid, seria triste se ninguém aparecesse.
- Arriscado? Agora você me convenceu, eu quero mesmo correr perigos pelo castelo mais uma vez – Nathan disse irônico e eu ri.
- Vamos jantar, já são quase seis horas e nós ainda estamos aqui – eu disse e juntos nós descemos para o salão principal, encontrando Gina logo depois e a atualizando do que iriamos fazer mais tarde.
Depois do jantar, Gina e eu fomos para o banheiro tomar banho para aproveitar que as outras meninas só tomavam banho mais tarde e enquanto eu tirava a roupa, algo me chamou a atenção. Tanta coisa tinha acontecido nos últimos meses que eu tinha me esquecido de um pequeno detalhe: minha menstruação. Eu não tinha um ciclo muito regular, mas mesmo assim visitava a madame Pomfrey todos os meses para tomar uma poção que me prevenia de engravidar, um privilégio de ter passado tanto tempo internada é que você acaba criando amizade com a pessoa que cuida de você. Eu havia contado que no ano anterior eu dependia de coisas não tão seguras como fazer tabelinha ou o pior método de todos, o coito interrompido, então madame Pomfrey começou a me dar algumas poções. Contudo, eu tinha me esquecido de tomar no mês passado, mas como eu nunca tinha um ciclo regular, talvez se atrasasse naquele mês, fosse normal.

- Gina, que dia é hoje? – eu perguntei para minha amiga.
- Sete de fevereiro – ela respondeu – Por quê?
- Minha menstruação ainda não veio – eu respondi.
- Quando era para ter vindo? – ela perguntou.
- Bem, eu não tenho um ciclo certinho – expliquei – Mas se eu tivesse, deveria ter vindo semana passada.
- Está atrasada só uma semana – ela disse – Não deve ser nada.
- Sim – eu disse me olhando no espelho – Não deve ser nada.

A noite estava fria, então eu me vesti com uma calça jeans preta, uma blusa de tricô bordô, uma capa cinza , um gorro bem quente e meus coturnos . Esperei Gina e os meninos ficarem prontos e assim que todos estavam na sala comunal , fomos para um canto conversar.

- Como vamos fazer para descer? – Nate perguntou.
- Eu acho que podemos ir descendo explorando os pontos cegos do castelo – eu disse – Esse horário podemos ir desviando de onde os comensais estão. Entrando em salas, esperando uma oportunidade. Vamos demorar, mas não machucamos ninguém.
- Sim, pode ser – Gina disse – Vamos?
- Vamos.

Passamos pelo buraco do retrato e começamos a descer as escadas, entrando em salas quando era conveniente e aguardando dois comensais que caminhavam tranquilamente por um corredor. Depois de trinta minutos nessa caminhada, conseguimos passar por uma porta lateral do castelo e encaramos o céu escuro do lado de fora. A caminhada até a cabana de Hagrid foi silenciosa, mas rápida e quando batemos em sua porta, já conseguimos ouvir barulho de outras pessoas. Hagrid abriu a porta e deu um grande sorriso quando viu nós quatro parados ali.

- Vocês vieram! – ele disse mais alto dando passagem – Entrem, Entrem!

Quando entramos, a lareira estava acesa e alguns outros alunos estavam por lá, segurando canecas que mais pareciam baldes e olhando desconfiados para alguns bolinhos que estavam sobre a mesa. Simas Finningan estava encarando o teto da cabana que havia uma série de peles, pelos e outras coisas penduradas, Lilá Brown conversava baixo com uma das gêmeas Patil e até Cho Chang estava lá com uma amiga. Eu caminhei até perto de Simas e dei um sorriso.

- Simas! – eu disse – O que tanto você encara?
- Estou tentando descobrir o que é isso pendurado – ele apontou para algo que parecia com couro, mas que com certeza não era.
- Melhor não descobrir – eu disse e nós rimos.
- Eu chamei todos aqui porque acho importante mostrarmos nosso apoio ao Harry – Hagrid explicou – Apesar dos tempos difíceis, não podemos perder a esperança. Eu fiz bolinhos e tem chá quente em cima da mesa, sirvam-se e vamos conversar.

As pessoas começaram a conversar sobre Harry, Rony e Hermione e logo, a discussão de que eles não tinham nos abandonado apareceu. Neville defendia com veemência que eles estavam trabalhando para nos ajudar a tomar Hogwarts, já Simas não tinha tanta certeza, mas apoiava Harry sem sombra de dúvidas. Eu sabia que Dumbledore tinha deixado para Harry a missão de achar as Horcruxes, mas sabia que isso não era algo que deveria ser dito, mesmo que no meio de amigos, então me mantive quieta. Eu deixei meus amigos por um instante e caminhei até Hagrid que conversava com Cho sobre o campo de quadribol. Eu sabia que o guarda-caça era muito próximo de meu tio e talvez, ele tivesse as respostas que eu estaria procurando. Eu não queria ter que falar com o senhor Xenofílio Lovegood, pois Luna estava desaparecida e provavelmente, o homem deveria estar passando por horrores, não queria trazer mais um problema para ele, então conversar com Hagrid seria minha última jogada antes de apelar para o pai de minha amiga.

- Hagrid – eu me aproximei sorrindo – Eu queria te perguntar algo sobre o professor Dumbledore.
- Será um prazer responder, senhorita – ele disse dando um sorriso – Até mesmo o castelo sente falta do nosso querido professor.
- Sim – eu disse sentindo o coração apertar – Bem, você saberia me dizer o que ele estava fazendo antes de... Partir.
- Cuidando da escola, não é mesmo? – ele respondeu dando um pequeno sorriso – Dumbledore cumpriu sua função até o último minuto.
- Sim, mas eu queria saber de coisas que ele fazia além da escola – eu expliquei – Você sabe como o professor Dumbledore era próximo da minha família.
- Sim, eu sei – Hagrid respondeu – Contudo, eu não saberia responder essa pergunta, o professor Dumbledore contava comigo mais nos assuntos relacionados à escola mesmo.
- Se eu te mostrasse um símbolo você saberia me responder? – eu apelei – É algo que eu encontrei em um livro que Dumbledore me deixou e não consigo encontrar o significado.
- Bom, eu não sou a melhor pessoa para te ajudar com isso, senhorita – Hagrid disse – Eu, bem, não sou muito letrado nas Runas.
- Tudo bem, mas só me diz se você viu – eu disse e puxei minha varinha das vestes, mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, notei um movimento na janela – Tem alguém lá fora.
- O que? – Hagrid disse, mas assim que se virou, um feitiço arrebentou o vidro da janela e acertou a parede do outro lado – Eles descobriram, fujam, crianças!

Uma chuva de feitiços irrompeu por todas as janelas e eu me joguei no chão tentando escapar deles. Os alunos começaram a gritar, Canino latia freneticamente e Hagrid gritava “Temos alunos aqui dentro, parem, parem!”, sem obter sucesso nenhum. Eu engatinhei pelo chão até a porta e gritei “Bombarda” abrindo a porta em uma explosão. Mais feitiços começaram a vir e dois comensais entraram na cabana, porém não me viram, então eu estuporei os dois e saí porta a fora correndo, quase caindo nos degraus da frente. A poeira da explosão me acobertou, mas eu acabei sendo atingida no ombro esquerdo, senti o sangue molhar minha blusa, mas não podia parar. Ouvi passos atrás de mim, mas desviei dos comensais pela plantação de abóboras e mirei minha varinha em dois comensais que estavam caminhando para entrar na cabana. Eles caíram no chão como pedras e eu entrei na floresta proibida sem ao menos pensar direito. Meu coração batia acelerado, meus pulmões ardiam por causa do vento frio, mas eu não conseguia parar. Ouvi gritos atrás de mim, mas continuei subindo a colina por dentro da floresta. Um feitiço passou perto do meu ouvido e eu parei a tempo de gritar “Everte Statum” para um comensal que vinha atrás de mim. Minha capa protegia minha identidade, mas eu não tinha ideia se iria conseguir chegar ao castelo sem ser pega.

- ! !

Gina gritava subindo atrás de mim e eu parei para esperá-la. A garota vinha com um corte na testa que sangrava muito, mas estava com a mesma pose corajosa de sempre.

- Onde estão os outros? – eu perguntei enquanto subíamos pelo limite da floresta, olhando para trás esporadicamente, mas ninguém estava atrás de nós.
- Eu não sei, assim que você saiu todo mundo começou a te seguir, eu consegui sair a tempo, mas os outros não consegui ver – ela explicou.
- Eu preciso parar – eu disse e me apoiei em meus joelhos, tentando controlar minha respiração – Não aguento mais correr, meu estômago está embrulhado.
- VOCÊS AI, EU EXIJO QUE PAREM! – alguém gritou vindo de baixo e eu voltei a correr subindo cada vez mais – PAREM AGORA!

Um feitiço passou por nós e acertou uma árvore, arrancando seu galho e o partindo em pedacinhos. Minhas pernas já doíam por tanta subida, mas eu conseguia enxergar o castelo cada vez mais perto. Gina respirava fundo atrás de mim, mas seguia meu ritmo. Eu só queria chegar ao castelo e parar de correr, mas assim que estava chegando, um comensal apareceu e apontou a varinha para nós duas.

- Parem agora e entreguem suas varinhas – ele disse me olhando com raiva. Eu respirei fundo e tirei a varinha do bolso, torcendo para conseguir executar um feitiço mudo. Encarei seu rosto e pensei: “Estupefaça!”. O comensal deu um solavanco para trás e caiu rolando pela colina. Eu sorri vitoriosa e voltei a correr.
- Como fez aquilo? – Gina perguntou ao meu lado.
- Feitiços mudos, Snape nos ensinou bem ano passado – eu expliquei. Eu já conseguia ver a porta lateral e aumentei meu passo, finalmente chegando até ela e virando a maçaneta, entrando no castelo logo depois. Todos os comensais estavam do lado de fora do castelo, mas assim que passamos pela porta, o professor Slughorn estava parado nos encarando. Ele deu um sorriso e como se não tivesse nos visto, começou a assobiar em outra direção, mas parou e disse sem se virar:

- Evitem o quinto andar.

E continuou a andar assobiando uma canção qualquer. Eu dei um sorriso me sentindo extremamente grata e comecei a subir as escadas em direção a Grifinória. A subida foi tranquila, pois todos os comensais tinham descido para atacar a cabana de Hagrid, então Gina e eu conseguimos chegar rapidamente na torre. Assim que passamos pelo buraco do retrato, eu me joguei em uma das poltronas e respirei aliviada.

- Conseguimos, Gina – eu disse para minha amiga que estava sentada na poltrona ao meu lado.
- Sim – ela respondeu – Será que os outros conseguiram?
- Eu espero que sim – ela disse – Ainda bem que você estourou a porta, caso contrário, talvez todos seriam capturados.
- Eu preciso de um banho, precisamos tratar esses ferimentos – eu disse – E de um álibi.
- Sim, vamos lá.

Eu encarava o relógio em meu pulso esperando o tempo passar. Mas ele não passava. Eu sentia o sono se acumulando em meu corpo, mas eu não podia dormir, não sem saber o que tinha acontecido com todos aqueles alunos. Nate e Neville tinham ficado para trás no meio daquela confusão toda e eu queria saber como eles estavam. Então, quando estava perto das três da manhã, o buraco no retrato se abriu e os alunos da Grifinória entraram de cabeça baixa. Nate tinha um rasgo em sua camiseta e manchas de sangue respingavam por ela. Neville tinha um corte na bochecha e suas mãos estavam enfaixadas. Eu respirei aliviada e eles se aproximaram.

- O que aconteceu? – eu perguntei e os meninos se sentaram no chão.
- Bom, assim que você derrubou os dois primeiros comensais, eu consegui sair, mas quando ouvi os outros falando que eram para pegar o Hagrid, eu voltei e o ajudei a fugir para as montanhas – Neville explicou.
- Como é? – Gina perguntou perplexa – Hagrid não está mais na escola?
- Não, ele seria preso se descobrissem que ele tinha feito uma reunião para exaltar o Harry – Nate disse deitando no tapete – Então, nós conseguimos dar cobertura para ele fugir com o Canino, mas fomos pegos junto com os outros alunos.
- Vocês duas foram as únicas que conseguiram fugir – Neville disse – Depois fomos todos levados para a Ala Hospitalar para os curativos já que muitos ficaram machucados com aquele ataque.
- Snape sabe que não pode provar que estávamos nos encontrando por causa de Harry, mas somente que havia um grupo de alunos fora das Casas – Nate contou – Juntando isso ao fator de que muitos se machucaram, se ele nos disciplinasse como os comensais queriam, o ministério teria mais um motivo para ser odiado. Então, ele deu detenção para todos nós e nos deixou ir.
- Menos mal – eu disse e respirei aliviada – Acho melhor nós irmos dormir, tivemos muitas emoções por hoje.
- Sim – Gina disse e levantou – Boa noite.
- , eu preciso falar com você – Nathan disse me encarando.
- O que foi? – eu perguntei vendo Gina e Neville subirem para os dormitórios rapidamente.

A lareira fazia um som calmo e relaxante, mas de repente o jeito como Nathan me olhou, acabou me deixando nervosa. Ele estava tenso, seus ombros estavam rígidos e ele me encarava com aqueles olhos azuis de um jeito mais intenso do que o comum. Eu engoli em seco e o encarei ignorando o nervosismo, tentando prever o que iria acontecer.

- , você é uma das minhas melhores amigas – ele disse – E eu sou muito feliz sendo seu amigo – eu permaneci quieta – Mas eu preciso te dizer isso que está entalado na minha garganta desde o primeiro momento que eu coloquei meus olhos em você.
- Você...
- Não, me deixa falar – ele me cortou e eu nunca tinha visto Nate tão nervoso assim – Eu fui muito burro em não ter tentado quando você estava solteira, mas hoje eu percebi que eu poderia ter morrido e...
- O que você quer dizer com isso? – eu fiquei nervosa e dei um passo para trás. Ele não falaria o que eu estava pensando, não é?
- Você sabe o que eu quero dizer – ele disse e me encarou de um jeito sério – Eu... Eu amo você e eu sei que eu poderia te fazer feliz. Nós já damos certo como amigos e eu sinto que a gente daria certo como outra coisa.

Eu me mantive em silêncio e suspirei, me sentindo impotente mais uma vez. A sensação era a mesma quando Fred tinha se declarado para mim, aquela sensação de não poder fazer nada para mudar a realidade de alguém, muito menos a minha. Mais uma vez, outra pessoa totalmente fora da situação se julgava no direito de opinar sobre quem eu devia namorar. Contudo, eu não poderia explodir com Nate, pois ele sentia algo por mim e não era justo com ele.
Eu o encarei pela primeira vez e uma súbita vontade de chorar veio até mim, fazendo meus olhos lacrimejarem. Eu tinha certeza dos meus sentimentos por Draco, eu não tinha deixado de amá-lo em nenhum momento desde que ele havia me deixado no ano anterior, meu coração era dele, mas ver Nathan exposto e vulnerável acabou comigo porque eu sabia que teria que quebrar mais um coração. E seria o coração de uma das minhas pessoas favoritas. Eu encarei meu amigo e coloquei minha mão em seu rosto fazendo um carinho, Nathan me olhou e segurou minha mão, beijando a palma e a ponta dos meus dedos calmamente.

- Você sabe o que eu vou dizer – eu disse com a voz embargada.
- Eu sei – ele disse entrelaçando nossos dedos e encarando nossas mãos juntas. Eu não me esquivei de seu toque. Nate me puxou para um abraço apertado e cheirou meus cabelos, me mantendo em seus braços enquanto falava – Eu não sou ele.
- Eu sinto muito – eu disse e comecei a chorar – Eu amo você, Nate. Só que não é do jeito que você quer.
- Eu sei, – ele disse e beijou minha testa depois de me soltar – Eu vou me afastar do grupo por um tempo.
- O que? – eu perguntei o encarando – Como assim?
- Eu não posso conviver com você por enquanto – ele deu uma pausa – Não depois de hoje.
- Você é meu amigo – eu disse já sentindo as lágrimas caírem pelo meu rosto.
- Eu sei, vou continuar por perto, ajudando no que for necessário, mas agora não dá – Nate disse e se aproximou de mim, segurando em meu rosto, colocando sua mão sobre a minha boca e beijando o dorso. Permaneceu assim por alguns segundos enquanto apertava minha cintura gentilmente – Me desculpe.

Nate me deixou na sala comunal e foi em direção as escadas, subindo para o dormitório logo depois. Eu suspirei e sentei em uma das poltronas, me sentindo a pior pessoa do mundo. Eu não queria que Nate se afastasse de mim, meu lado egoísta queria o menino por perto, mas eu sabia que não era justo deixá-lo sofrer ao meu lado. Se ele precisasse se afastar, então eu iria respeitar o espaço dele. Nathan era meu amigo, mas assim como Fred via em mim algo a mais e eu não poderia fazer nada para mudar isso. Eu enxuguei minhas lágrimas e subi para o dormitório com um peso no estômago, lágrimas nos olhos e o coração apertado.


O dia seguinte veio e minha cabeça doía, me fazendo querer ficar o resto do dia na cama, mas eu tinha aulas e não podia me dar ao luxo de perder um dia. Levantei com dificuldade e juntei minhas coisas para ir até o banheiro tomar banho. Mais uma vez eu lembrei que minha menstruação estava atrasada e um nervosismo se apossou de mim. Eu respirei fundo e tentei manter calma, pois sabia que quanto mais nervosa eu ficasse, mais demoraria para descer.
Coloquei o uniforme e voltei para o dormitório para deixar minhas coisas. Enquanto revirava meu malão, eu achei o livro de Rita Skeeter que tinha pegado emprestado com Lilá e suspirei pensando se deveria ou não mandar uma carta para o senhor Lovegood já que agora minha última esperança dentro do castelo, tinha ido embora. Eu suspirei, pegando os livros da aula daquele dia e desci para o café da manhã sem encontrar nenhum dos meus amigos. Quando cheguei ao Salão Principal, Nate estava sentado na extrema ponta da mesa junto com outros alunos e Neville estava sozinho tomando alguma coisa numa xícara enquanto lia O Profeta Diário.

- Bom dia – eu disse me sentando em sua frente, pegando um pouco ovos e colocando no prato.
- O que aconteceu com o Nathan? – ele perguntou indo direto ao assunto.
- Bom, ele disse que precisava de um tempo longe de mim – eu expliquei.
- Ah, ele falou com você – Neville disse me encarando e ao ver minha expressão surpresa, completou: - Sim, eu sabia.
- Eu me sinto um lixo, essa já é a segunda vez que acontece isso – eu disse – São dois caras legais que gostam de mim, mas eu não posso ficar com nenhum deles porque já tenho alguém. Por que isso não aconteceu quando eu estava solteira?
- Porque a vida dá dessas – ele respondeu dando um sorriso – Temos Poções hoje.
- Sim, será que Nate vai sentar com a gente? – eu perguntei – Eu espero que sim, nós sempre sentamos juntos.
- Se ele não quiser, nós temos que respeitar – ele argumentou.
- Sim, eu sei.
Eu parei de falar porque Snape entrou no salão acompanhado do ministro da magia, Pio Thicknesse, eles pararam na porta e observaram os alunos tomando café em silêncio, eu tinha a impressão de que estavam procurando alguém, mas depois de alguns segundos atravessaram o salão e passaram pela porta atrás da mesa dos professores. Em seguida, outros comensais fizeram o mesmo caminho. Eu encarei Neville logo depois, mas assim que ia falar, Draco apareceu logo depois com uma expressão fechada e se sentou-se à mesa da Sonserina.

- Algum problema deve ter surgido – Neville disse – Ele deve estar precisando conversar.
- Sim, mas não posso arrancar a informação dele – eu completei – Já terminou de comer?
- Sim – meu amigo respondeu – Vamos?
- Você acha melhor falarmos com Nate? – eu perguntei um pouco receosa – Quero dizer, ele sempre ficou conosco.
- Eu vou lá falar com ele – Neville levantou e caminhou até o outro lado da mesa. Conversou com Nathan enquanto eu aguardava, Grings olhou para mim por alguns segundos e abaixou a cabeça. Neville voltou sozinho – Ele disse que vai daqui a pouco.
- Tudo bem – eu disse e dei um suspiro, sentindo uma vontade de chorar.

Gina apareceu mais tarde para o café, mas como precisamos descer para as masmorras, não conseguimos conversar muito. Assim que chegamos à sala do professor Slughorn, eu me lembrei do que tinha acontecido na noite anterior e pensei em falar com ele, mas o professor ignorou minha existência lindamente, então eu fui sentar.
Nate chegou logo depois e colocou os olhos em mim assim que passou pela porta. Eu estava apreensiva para saber o que o garoto iria fazer, mas ele caminhou tranquilamente e sentou ao lado de Neville. Eu senti um alívio, pois ele estaria por perto. Eu me virei e o encarei seriamente. Seus olhos azuis da cor do mar em um dia de verão me miraram, mas ele desviou rapidamente e começou a conversar com Neville. Eu virei para a porta e Draco entrou logo depois com a mesma expressão fechada de antes.
Quando todos os alunos tinham chegado, a aula começou. A poção daquela aula era uma de nome e execução complicados. Eu comecei a cortar os ingredientes calmamente e a jogá-los em meu caldeirão, ligando o fogo e os vendo cozinhar. Eu sentia o olhar de Nate em cima de mim, mas não virava minha cabeça, pelo contrário, olhava Draco esporadicamente, mas ele me ignorava. Minha cabeça me traiu e eu me imaginei com Nathan ao invés de estar com Malfoy. Provavelmente, eu não estaria naquela situação, estaria dando risada altas por aí e Nate até iria comigo para a França. Olhei para Draco novamente e suspirei, notando que ele não iria me olhar mesmo. A aula continuou e assim que ela acabou, eu juntei minhas coisas, mas ao olhar para Draco ele já tinha saído da sala como um foguete. Fui andando rápido até ele e segurei seu braço quando Malfoy virava o corredor.

- Ei, o que aconteceu? – eu perguntei.
- Nada, – ele respondeu curto e grosso – Não aconteceu nada.
- Jura? Então por que você está sendo hostil? – eu perguntei séria enquanto cruzava os braços.
- Eu não tenho tempo para o seu questionário do dia, tenho que ir – ele disse e começou a andar, mas voltou rapidamente e me deu um beijo na testa – Eu explico depois.
- Draco – eu chamei mais uma vez e segurei o seu braço – Você está muito nervoso, vem comigo.
- Eu tenho aula agora – ele rebateu nervoso e eu suspirei.
- Você está muito nervoso, está com a cara fechada desde o café – eu disse – Você acha mesmo que vai conseguir se concentrar em alguma coisa estando nervoso desse jeito?
- Tudo bem – ele disse, dando-se por vencido porque sabia que precisava conversar. Eu entrei em uma sala junto com o garoto.
- O que aconteceu? – eu repeti a pergunta e meu namorado suspirou.
- Eles me deixam de fora – Draco começou a falar e sentou em uma cadeira – Eu faço parte tanto quanto eles e os desgraçados me deixam de fora porque eu sou aluno. Você viu que o ministro está no castelo, certo?
- Sim.
- Eu tinha que estar está lá também, naquela reunião, eu mereço estar lá, carrego essa marca no braço assim como eles – ele desabafou e eu suspirei – E Snape me impediu de entrar, dizendo que eu tinha aula.
- Mas você tem.
- E você acha que eu me importo? – Draco disse olhando para mim com indignação – Meu pai era o braço direito de Você-Sabe-Quem e tudo acabou por causa desse babaca do Snape. Era meu dever participar dessa reunião e orgulhar meu pai, mas Snape me considera um moleque!

Era nítido como Draco estava irritado com aquela situação. Eu achava tudo aquilo ridículo, afinal, ele estava se queixando de estar por fora dos esquemas do pior bruxo que já existiu, mas eu enxergava as coisas diferentes dele. Enquanto eu estava preocupada em escapar daquele inferno, Malfoy queria participar e ainda voltar a ter a glória que um dia ele e a família tiveram. De repente, a carta dos meus pais se tornou um assunto tão bobo, minha menstruação atrasada algo que não era digno de ser mencionado e eu me senti totalmente fora da vida dele. Naquele momento, eu percebi o tanto que nossas vidas não se encaixavam e suspeitei de que nossa relação só funcionava porque estávamos dentro daquele castelo. Pela primeira vez depois de ter voltado com Draco, eu questionei a minha escolha.

- Eu sinto muito, Draco – respondi sem olhar para seu rosto – Eu sinto muito por você estar por fora disso.
- Eu também sinto – ele disse e se aproximou de mim – Isso me deixa irritado.
- Eu percebi – eu respondi e finalmente o encarei – Eu tenho que ir.
- Mas já? – Draco perguntou e segurou em minha cintura, mas eu me esquivei – , o que foi? Eu não deveria ter sido grosso com você, me desculpe.
- Nada – eu respondi dando um sorriso falso e indo em direção à porta – Eu só tenho que ir.
- Mas, ...

Eu não dei oportunidade de Draco falar mais, eu só precisava sair dali e ficar longe dele o mais rápido possível. Que futuro nós teríamos? O que seria de nós? Eu comecei a andar rapidamente indo para outra direção sem saber direito para onde eu ia, eu só queria me afastar. O fato de minha menstruação estar atrasada me fez parar de andar e a ansiedade me fez tremer. Eu não tinha ideia do que iria acontecer comigo, quanto mais o que eu faria com uma criança. Eu comecei a tremer, minha respiração ficou descompassada e meu estômago ardia, uma crise de ansiedade começou a se aproximar e eu não conseguia me concentrar. Eu comecei a chorar de desespero e a ideia de estar grávida finalmente me atingiu. Aquilo não podia estar acontecendo, não podia, não podia. Minhas mãos ficaram geladas e eu escorreguei no chão olhando em volta, mas ninguém estava por perto. Eu estava sozinha.


When we're not together, I'm so afraid*

N/A: Música do capítulo. Deixe carregando e dei play quando a notinha aparecer!

Eu não conseguia dormir naquela noite. Por mais que eu tentasse, ficar com os olhos esperando o sono vir só me deixava mais agoniada. Eu empurrei as cobertas e suspirei encarando o teto sentindo uma súbita vontade de chorar. O que eu ia fazer? A única coisa que rondava minha cabeça era que minha menstruação ainda não tinha vindo. Depois daquela tentativa frustrada de conversar com Draco sobre o assunto, eu me acovardei e decidi que não o importunaria com esse assunto, afinal, minha menstruação tinha que vir. Mas ela não veio e agora eu sentia que a ideia de estar grávida era uma realidade que se aproximava aos poucos. O que eu ia fazer? Eu suspirei e tentei dormir mais uma vez, só que dessa vez eu consegui. E sonhei com sombras que me rondavam enquanto eu corria já com uma barriga enorme enquanto segurava minha varinha nas mãos. A risada de Bellatrix era a única coisa que eu ouvia e eu sentia que estava em perigo, mas de alguma maneira eu não me importava comigo, eu sentia que precisava proteger aquela criança que estava dentro de mim. Ao longe eu avistei Draco, mas quando me aproximei dele, era como se ele não me ouvia ou sentia meu toque. Eu o chacoalhava, mas nada adiantava e quando eu comecei a sentir as dores do parto, ele saiu andando. Era como se eu não estivesse ali, implorando por ajuda. As sombras chegaram e quando tudo ao meu redor ficou escuro, eu acordei. Sentei na cama e as meninas estavam levantando. Parvati me olhou e perguntou:

- Você está bem?
- Pesadelos – eu respondi e coloquei as pernas para fora da cama, dando um suspiro. – Sempre pesadelos.
- Isso é uma droga – ela comentou e saiu andando para fora do quarto. Sim, eles eram uma droga.

A primeira aula daquele dia era com a Corvinal, então eu não precisaria passar um tempo no mesmo ambiente que Draco, mas assim que eu entrei no café foi inevitável dar uma olhada na mesa da Sonserina e para o meu alívio ele não estava lá. Eu não queria contar para ele minhas suspeitas porque sabia que ele não iria entender. Ele não me levaria a sério e eu não queria ser mais um problema para a cabeça dele. Não queria deixa-lo mais nervoso do que já estava, minha menstruação viria e eu deixaria essa paranoia para trás. Pronto, eu já tinha tomado minha decisão. Ouvi um barulho e olhei para frente a tempo de ver Gina sentando no banco e me dando um sorriso.

- Bom dia – ela disse, mas assim que viu minha expressão, ela perguntou – Está tudo bem?
- Sim, só tive uma péssima noite – eu respondi dando um sorriso fraco – Isso vai passar.
- Vai sim – ela deu um sorriso e Neville chegou logo depois com Nate que passou reto e foi sentar do outro lado da mesa – Ele ainda está na política “Não quero ficar perto da ”?
- É o que parece – eu disse e o observei sentando na mesa do outro lado sozinho. Meu coração doeu e eu senti que precisava fazer alguma coisa. – Eu preciso falar com ele.
- Não, você precisa respeitar o espaço do Nathan – Gina disse segurando minha mão – Ele precisa de espaço, . E você também, eu acho que não deve ter sido fácil dispensar seu melhor amigo gato.
- Você está sendo de grande ajuda, Gina – eu disse irônica e ela riu.
- Vai ficar tudo bem, ele vai voltar – ela disse confiante – É o Nate, ele nos ama.
- Estou contando com isso – eu respondi e quando olhei para a porta, Draco passava por ela com a mesma expressão fechada do outro dia. Eu abaixei a cabeça e me concentrei no meu prato torcendo para que ele não tivesse visto que eu estava olhando. Eu me senti nervosa no mesmo segundo.
- , você não está bem – Gina disse.
- Eu estou sim.
- Isso não foi uma pergunta – ela rebateu – Quer conversar?
- Não – eu disse categórica e dei um sorriso – Está tudo bem.
- , é sério – ela começou a dizer, mas eu a cortei.
- Não, Gina – eu disse – Está tudo bem.

Ela me olhou seriamente, mas não falou mais nada. Neville também não disse nada, somente nos olhou e continuou a tomar o seu café da manhã em silêncio. Eu suspirei e inconscientemente minha mão foi até a barriga e eu abracei meu ventre. Assim que me dei conta, eu tirei a mão rapidamente e voltei a comer. O correio coruja chegou e uma delas parou em cima do meu prato e esticou a pata. Eu peguei o pequeno pergaminho e dei um biscoito para ela que levantou voo e vou embora. Eu abri o pergaminho e eu conhecia aquela letra:

Só passando para dizer que eu te amo! Muito!

Eu olhei para trás e Draco me olhava com um sorriso no rosto. Uma súbita vontade de chorar me acometeu e eu senti que precisava sair dali. Joguei o pergaminho em meu bolso, peguei minha bolsa e saí andando o mais rápido que eu pude para o banheiro. Meu estômago embrulhou e eu corri para uma das cabines, vomitando todo o meu café da manhã de minutos atrás. Senti alguém segurando meu cabelo enquanto eu vomitava e quando olhei para trás, Gina me deu um pequeno sorriso. Ela não disse nada e somente esperou ao meu lado enquanto eu me recuperava. Meus olhos estavam cheios de lágrimas devido ao esforço e minha amiga secou meu rosto.

- Agora você vai me dizer o que está acontecendo? – ela perguntou – Você não está bem.
- Não posso falar aqui – eu disse me levantando e indo até pia para lavar o rosto e escovar os dentes – E nem agora.
- Tudo bem – ela disse.
- Me encontre na Floresta Proibida no almoço – eu disse depois de terminar de me recompor – Ninguém pode saber.
- Conte comigo – ela disse – Os meninos estão lá fora. Eles se assustaram com sua saída repentina.
- Eu não quero encontrar com Draco – eu disse e percebi Gina fechando a cara.
- Ele não está lá fora – ela anunciou e eu senti como se tivesse tomado um soco no estômago.
- Ah, okay – eu respondi, tentando fingir que não me importava, mas sabia que isso não enganaria Gina – Podemos ir.

Assim que eu saí do banheiro, Neville e Nate estavam parados com um olhar preocupado. Neville veio até mim e segurou em meus ombros.

- O que aconteceu? – ele perguntou.
- Nada, está tudo bem – eu disse – Só precisava usar o banheiro.
- O que tinha no pergaminho? – ele perguntou e eu olhei para o Nate.
- Nada, não tinha nada no pergaminho – eu respondi – Podemos ir para a aula.

Eu sabia que estava sendo misteriosa, mas não sentia que podia me abrir com eles ainda. Eu ainda nem tinha certeza se falaria com Gina ou se amarelaria em cima da hora, então preferi ficar quieta. Caminhei até a sala em silêncio, sem conversar com ninguém e me sentei junto com os meninos ainda sem dar um pio. Minha cabeça rodava em torno de possibilidades. O que eu iria fazer se realmente estivesse grávida? Draco iria me dar apoio? Eu iria ficar com aquela criança? O que meus pais iriam pensar de mim? E se eu morresse na luta, com quem ela ficaria? Porque eu não a deixaria ser criada pelos Malfoy. Eu não permitiria que ela fosse criada no meio de comensais da morte mesmo que o pai dela fosse um. Esses pensamentos vieram com um turbilhão e eu tratei de enfiá-los no fundo da minha mente, eu não estava grávida.

- ? – alguém me chamou e eu percebi que a classe toda me olhava – O professor Flitwick fez uma pergunta.
- Desculpe, senhor – eu disse dando um sorriso – Eu estava distraída.
- Eu percebi, senhorita – ele disse dando um sorriso – Mas eu deixo passar. Alguém saberia me responder?
- Tá legal, essa é uma das suas aulas preferidas, o que está acontecendo? – Nate perguntou pela primeira vez falando comigo depois de um tempo.
- Você está falando comigo – eu disse abobada.
- Sim, eu estou porque é isso que você faz comigo – ele disse – Faz eu descumprir minha palavra me deixando preocupado.
- Você me odeia? – eu perguntei baixo e ele riu.
- Nem se eu quisesse – ele disse e eu sorri – Você quer conversar?
- Não, eu...
- Se você disser que está tudo bem, eu te enfeitiço aqui mesmo – ele disse e dessa vez eu ri – Você sabe que pode contar comigo para qualquer coisa, não sabe?
- Eu sei – eu respondi e fiz um carinho em seu braço – Mas dessa vez eu preciso me virar sozinha.
- Como assim? – ele perguntou.
- É só isso que eu posso dizer por enquanto – eu respondi e voltei minha atenção para a tarefa daquele dia.

As duas aulas eram com outras casas que não fossem a Sonserina, então eu estava aliviada. Não sabia por que estava tão receosa de encontrar com Draco, a única coisa que eu queria era distância dele por um tempo. Não por causa dele, mas por causa de mim. Eu não queria preocupa-lo com um assunto que somente meu corpo poderia resolver e ainda sem a minha vontade, já que eu nada podia fazer para minha menstruação descer. Eu tinha que esperar ou me arriscar a ir até a enfermaria e ver o que madame Pomfrey podia fazer, mas isso eu não queria já que provavelmente isso se tornaria um assunto da escola e meus pais seriam envolvidos. Então, eu tinha que esperar, mas isso estava me matando aos poucos. O sinal bateu indicando o final da segunda aula e eu corri para fora da sala, encontrando Gina no caminho para o almoço.

- Vamos? – eu perguntei e ela assentiu, então juntas descemos com cuidado até a floresta proibida. Assim que entramos na mata, eu suspirei. – Sabe quando você não quer verbalizar alguma coisa para não torna-la real?
- Sim – ela disse – Isso está acontecendo com você.
- Exatamente – eu disse e encarei minha amiga, já sentindo as lágrimas em meus olhos.
- Você acha que está grávida – ela disse e eu assenti, finalmente chorando. Senti seus braços ao meu redor e eu me permiti ser abraçada, recebendo um conforto que eu não sabia que precisava até aquele momento – Por isso você vomitou hoje de manhã?
- Sim – eu disse – Minha menstruação está atrasada há duas semanas, Gina.
- Bom, você já falou com o Draco? – ela perguntou e eu neguei – Eu imaginei, você está fugindo dele, certo? – eu afirmei – É, deu pra perceber. Por que, ?
- Eu não sei – eu disse, limpando meu rosto – Eu não quero arruinar a vida dele mais um pouco, ele já tem problemas demais, não quero ser mais um.
- Se você estiver grávida, você não fez esse filho sozinha – ela disse o óbvio e eu sabia antes de ela terminar, que Gina estava certa – Ele tem tanta responsabilidade quanto você nisso. Você não é obrigada a carregar tudo sem ajuda de ninguém.
- Eu sei, mas se eu não tiver, não quero deixa-lo nervoso – eu expliquei – Eu tenho medo dele me virar às costas, entende?
- , por mais que eu não goste do Draco, não acho que ele irá fazer isso – ela disse e eu me surpreendi – Ele gosta de você e dá pra ver que é de verdade.
- Mas isso pode mudar, ninguém quer ser responsável por uma criança aos dezessete anos, Gina – eu disse.
- Mas não importa o que ele quer, ele é o pai, não pode simplesmente ignorar você e essa criança – ela retrucou – Ele também faz parte disso.
- Eu não sei o que fazer – eu disse.
- Bom, eu sei – Gina disse e tirou a varinha das vestes – Tem um jeito de descobrir se você está grávida ou não.
- Como? – eu perguntei.
- Coloque sua varinha em seu coração e diga Sonorus! – ela indicou e eu obedeci, ouvindo meu coração bater em alto e bom som – Agora eu vou fazer a mesma coisa, só que apontando para o seu ventre.
- Se ouvirmos outra frequência cardíaca... – eu não precisei completar e ela assentiu.
- Sonorus! – Gina disse e apontou a varinha para o meu ventre e então, algo aconteceu. Eu ouvia os meus batimentos, mas eles não estavam sozinhos. De onde Gina estava com a varinha, um barulho de batimento muito acelerado, como um trenzinho, chegava a meus ouvidos. – .
- Eu sei – eu disse, sentindo a força das minhas pernas falharem – Isso não pode estar acontecendo.
- Mas está – Gina disse e tirou a varinha de perto e o barulho cessou – Vou fazer de novo.
- Tudo bem – ela repetiu o gesto e lá estava o trenzinho mais uma vez. Gina me encarou e se afastou de mim, me dando espaço.

Eu sentei no chão da floresta e comecei a chorar. Tampei meu rosto, mas os soluços reverberaram por toda a clareira. Senti um carinho em meu ombro e quando abri os olhos, minha amiga estava ao meu lado me dando um sorriso reconfortante.

- Isso não pode estar acontecendo – eu disse pra mim mesma sentindo o pânico se instalar – Isso não pode estar acontecendo, não pode, não pode...
– Vai ficar tudo bem, . Não é o fim do mundo – Gina disse e eu não conseguia parar de chorar.
- O que eu vou fazer, Gina? – eu disse enxugando meu rosto – Eu não tenho capacidade pra criar uma criança.
- Você não sabe disso – Gina disse, mas foi interrompida.
- Criança? – uma voz disse e quando olhei Nathan estava na outra ponta da clareira com os olhos arregalados. Neville estava logo atrás e nos encarou.
- Por Merlim – eu disse e levantei, enxugando meu rosto – O que vocês estão fazendo aqui?
- Que criança? – Nate me ignorou e se aproximou – , você está grávida?
- O que vocês estão fazendo aqui? – eu repeti a pergunta – Eu não chamei vocês.
- Nós ficamos preocupados e vimos o cabelo da Gina de longe – Neville explicou e ele parecia perplexo – Isso é sério? Você vai ter um bebê?
- Vocês não ouviram nada, entenderam? – eu disse e me aproximei deles – Ninguém pode saber disso, ouviram?
- O Malfoy já sabe? – Neville perguntou.
- Nem eu sabia há dois minutos – eu expliquei e dei um suspiro – Ninguém pode saber que... – eu não conseguia completar, a ideia não parecia real – Que eu estou assim.
- Por que não? – Neville perguntou e ele parecia ainda sem acreditar – Isso é uma coisa boa, não é?
- Não, não é, Neville – Gina disse por mim – Se eles descobrirem que a está grávida sabe-se lá o que podem fazer com ela.
- Considerando a outra metade que tem parte nisso – eu disse – Não posso arriscar, eu ainda nem sei se vou continuar com isso.
- Como assim? – Nathan disse de um jeito chocado – Você está pensando em...
- Eu não sei de nada, Nate – eu disse e senti o choro voltando – Eu não tenho ideia do que vai acontecer agora, eu só preciso que vocês guardem segredo.
- Pode contar comigo – ele respondeu e me puxou para um abraço apertado – Vai ficar tudo bem, . Você não está sozinha.

Eu não respondi ao seu comentário porque eu sabia que ele estava errado. Eu estava sozinha daquela vez, tinha um problema que só eu podia resolver porque não tinha como saber como Draco reagiria. Ele iria me abandonar? Iria dizer que ficaria ao meu lado independente do que eu decidisse? Meus pais iriam me dar às costas? Meus amigos não tinham obrigação nenhuma de me ajudar, eles também poderiam ir embora quando bem entendessem. O medo mais uma vez pairou ao meu redor e eu tremi só de tentar imaginar o que eu enfrentaria nos próximos meses.

- Nós temos que ir – eu disse me separando de Nathan. Com uma frieza que eu não sabia que tinha, enxuguei minhas lágrimas e peguei minha bolsa que estava no chão – Nós temos aula.

Draco’s POV
Tinha algo acontecendo com . Eu não sabia o que era, mas que tinha, ah, tinha sim. Eu suspirei e tentei prestar atenção no que a professora Sprout dizia, mas eu não conseguia. Meu coração apertava com vontade de conversar com minha namorada e saber o que estava acontecendo com ela. Eu senti que ela tinha ficado chateada no nosso último encontro.
Eu tinha contado meus problemas para e isso pareceu tirar sua vitalidade. Se ela fosse uma flor, teria murchado naquele momento e se afastou de mim, me deixando sozinho. Depois daquela dia, ela tinha sumido. Bem, considerando que tínhamos aulas juntos, ela acenava para mim de longe e assim que o sinal tocava, ela saía da sala escoltada pelos dois amigos babacas dela. Eu devia ter feito algo de errado, então quando tentei melhoras as coisas mandando um pequeno recado para , ela saiu correndo do salão e não voltou mais. Eu tinha que fazer alguma coisa, mas ao mesmo tempo sentia que ela não me queria por perto. Eu esperei por mais uns dias e a situação continuou.

- Senhor Malfoy – a professora Sprout me chamou e eu olhei para ela – Assim você vai se machucar, essa planta morde.
- Ah, obrigada, professora – eu respondi e empurrei o vaso para longe escapando de uma mordida.
- Malfoy – Crabbe me chamou – Você está distraído.
- Como você é observador, Crabbe – eu resmunguei e suspirei – Eu acho que fiz merda.
- Como assim?
- Acho que a está com raiva de mim ou coisa parecida – eu expliquei – Ela está me evitando.
- Talvez ela não esteja mais interessada – Goyle disse de repente e eu notei que ele estava prestando atenção na conversa.
- Vai se ferrar – eu disse e eles riram – Ele não perdeu o interesse – eu disse para eles, mas no fundo, dizendo para mim mesmo.
- Você já tentou, sei lá, conversar com ela? – Crabbe disse e eu suspirei.
- Eu teria feito isso se ela tivesse me dado a chance, não é, seu idiota – eu respondi.
- Então está na hora de você fazer sua chance – ele disse – Vai atrás dela.
- É, meu, diz que a ama, mulher gosta dessas coisas – Goyle disse e eu ri.
- Como você sabe disso? – eu perguntei – A única mulher que você já se aproximou é a professora McGonagall.
- Nossa, vai se ferrar – ele retrucou e nós rimos.

O sinal finalmente tocou e eu subi para o castelo, torcendo para encontrar em algum lugar, mas ela adquiriu o dom de sumir da minha vista nesses horários. Eu sentei na mesa da Sonserina e fiquei encarando a porta, esperando que ela passasse, mas a única pessoa que apareceu para o almoço do grupinho deles foi o Longbottom. Agora eu estava preocupado, provavelmente eles estavam planejando outra ação contra os comensais que iria causar algum problema. Eu continuei esperando e quando Longbottom levantei, eu fui atrás e assim que estávamos longe da vista de outras pessoas, eu me aproximei.

- Longbottom – eu chamei e ele travou no lugar, me olhando com os olhares arregalados – Onde está a ?
- Por que você está falando comigo? – ele perguntou e eu revirei os olhos.
- Desembucha logo – eu disse com uma voz mais firme – Cadê a ?
- Ela... Ela... – ele travou e eu me irritei.
- Você não serve mesmo pra nada, Longbottom – eu disse e saí andando indo para minha aula que não seria com a Grifinória para o meu desespero.

O dia acabou e durante o jantar eu continuei esperando para que aparecesse. Eu tinha um aperto no peito e comecei a ficar realmente preocupado com toda aquela situação. Por que ela estava me evitando? O comentário de Crabbe sobre ela não querer mais nada ficava voltando em minha mente. Pela primeira vez eu me toquei de que isso podia ser uma opção.
poderia querer terminar comigo e eu estava ali perdendo tempo, eu precisava lutar, não podia deixa-la ir embora sem me esforçar. Eu tinha batalhado tanto para ter de volta em minha vida que não desistiria tão fácil. Eu não tinha ideia de onde ficava a Grifinória, tinha uma vaga ideia, pois quando estava consertando o armário na Sala Precisa, eu conseguia ouvir os alunos da Grifinória, inclusive Potter e seus amigos, passando pelo sétimo andar. Então, eu decidi ficar lá. Plantado feito o Salgueiro Lutador, torcendo para que ela aparecesse. O frio era um incômodo, mas eu não desistiria. Então, depois de uns quarenta minutos, eu ouvi passos e a voz de no meio de um bocejo.

- Eu estou com muito sono, que isso – ela disse – Esse horário parece ser o pior.
- Você sempre foi dorminhoca, – Aquele babaca do Grings disse e eles riram juntos.
- Eu sei, mas agora eu estou mais – ela retrucou, mas parou de falar assim que nossos olhos se encontraram.

Ela parecia a mesma, mas ao mesmo tempo, tinha algo diferente. O seu olhar foi de completo pânico para mim e eu me senti mal, desejando até não ter ficado ali durante tanto tempo. Ela travou no lugar enquanto me encarava como se eu fosse um fantasma e seus amigos me encararam seriamente.

- ? – A Weasley disse – Você quer que a gente espere?

Eu percebi que seu grupo de amigos estava protetor demais e isso só confirmou que tinha algo de errado. Grings me encarava seriamente, como se eu tivesse machucado e isso só me deixou mais alarmado.

- Não, eu... – ela finalmente percebeu que não estávamos sozinhos e encarou seus amigos – Eu posso lidar com isso.
- Tem certeza? – Longbottom perguntou e isso me deixou mais assustado.
- Sim – ela deu um sorriso vacilante e eles caminharam para longe. Quando eles tinham virado um corredor e sumido, ela finalmente me encarou – Oi, Draco.
- Oi – eu respondi e coloquei minhas mãos no bolso – A gente pode conversar? Eu soube do que aconteceu com o Hagrid e queria saber se você estava envolvida, eu juro que eu não sabia, eles me deixaram de fora mais uma vez.
- Eu acho que agora não é uma boa hora – ela respondeu e se encolheu, ignorando minha explicação sincera – Eu preciso ir, estou com muito sono, não estou me sentindo bem.
- Você está doente? – eu perguntei preocupado e ela negou com a cabeça – Então por que não pode conversar comigo?
- Porque... – ela não tinha resposta e de repente seus olhos se encheram de lágrimas. Eu me aproximei e segurei em seu braço, puxando minha namorada para um abraço, mas ela recuou – Eu tenho que ir.
- Não, por favor – eu disse, mas ela continuava chorando – O que houve, ? Eu fiz alguma coisa de errado?
- Eu realmente preciso ir – ela me ignorou e passou por mim, mas eu segurei em seu braço e ela me olhou.
- Sou eu – eu disse um pouco agoniado – Não sou um estranho, você pode confiar em mim – assim que eu disse isso, ela pareceu piorar, mas eu segurei o impulso de abraça-la, já que como ela tinha se esquivado antes, não iria forçar um contato que ela não queria – Se eu fiz alguma coisa que te magoou, me desculpe, . De coração, eu só quero que a gente volte ao que era antes.
- Não, Draco – ela disse e me encarou – Você não fez nada de errado.
- Então o que aconteceu? – eu perguntei.
- Eu tenho que ir – ela puxou o braço e caminhou rapidamente para longe de mim.

Eu me sentia um fracasso completo. Ela realmente não queria mais saber de mim. Uma vontade de chorar veio até mim, mas eu me segurei e esperei passar. Não podia ser vulnerável, eu tinha outras coisas em mente, se ela não queria mais ficar comigo, então eu iria respeitar. Não iria correr atrás. Quem eu queria enganar? É claro que eu iria correr atrás, correria até em círculos em forma de doninha (de novo) se fosse preciso. Eu não podia deixar ir. Aceitando minha derrota, eu voltei para a Sonserina.

O dia seguinte veio e eu suspirei quando saí da cama, já sentindo a agonia que pairava ao meu redor. Eu queria fazer alguma coisa, mas não tinha nenhuma ideia, porém, se queria distância, eu iria respeitar seu espaço e depois de uns dias eu tentaria contato com ela de novo. Coloquei meu uniforme e encontrei Crabbe e Goyle no Salão Comunal.
A Lula Gigante nadava livremente no lago e eu suspirei saindo da Sonserina e indo para o café na esperança de ao menos ver minha namorada. Assim que sentei na mesa e me servi, passei a olhar para a porta, só que mais uma vez não apareceu. Eu vi Weasley sentando ao lado dos outros dois e tentei entender o que ela estava falando, mas não obtive sucesso. Ela gesticulou muito e Grings negou com a cabeça, me deixando preocupado. Tinha alguma coisa acontecendo.
Fui tirado dos meus pensamentos com uma coruja parando em minha frente. Ela mostrou a pata e eu tirei o pergaminho de sua pata. Depois que ela foi embora, eu abri e percebi que era uma carta dos meus pais.

“Querido filho, não trazemos boas notícias. As coisas não estão bem por aqui. O Lord das Trevas está começando a perder a paciência com o sumiço de Potter e está cogitando colocar todos os comensais atrás dele. A filha do Lovegood também não ajuda e não diz onde ele está. O caos está instalado em nossa casa, talvez você tenha que deixar o castelo para ajudar.”

Eu suspirei e agora sentia como se mais um peso tivesse se instalado em meus ombros, mas eu não podia deixar as coisas que ainda não aconteceram atrapalhar meu julgamento. Eu tinha um foco por enquanto e era descobrir o que estava acontecendo com . Por sorte, a primeira aula era Poções, então eu caminhei com Crabbe e Goyle até as masmorras com certa esperança. Contudo, depois de todos os alunos da Grifinória chegarem, ainda não tinha aparecido e só apareceu depois de vinte minutos de aula.

- Com licença – ela disse e eu percebi grandes olheiras debaixo de seus olhos. Ela evitou me olhar – Eu posso participar da aula?
- Claro, senhorita – Professor Slughorn disse com um sorriso – Só não se atrase mais, tudo bem?
- Não vou – ela disse simplesmente e foi sentar com os dois amigos lá atrás. Eu me virei para olhá-la e assim que percebeu meu olhar, abaixou a cabeça e escondeu o rosto entre os braços. Grings fez um carinho em sua cabeça, mas ela nem se mexeu.

n/a: dê play e deixe tocando até o final do ponto de vista do Draco!

O sinal bateu e eu mal olhei para trás, já estava saindo da sala em disparada. Eu gritei para Goyle pegar minhas coisas e fui atrás, correndo atrás dela pelos corredores. Eu consegui alcança-la e segurei em seu braço. Ela virou para me olhar e mais uma vez, o pânico estava lá. Eu me senti um lixo de novo.

- Você não tem como negar que algo está acontecendo – eu disse sério – Você vai me falar agora. Vamos entrar nessa sala – eu expliquei e ela não mostrou resistência, mas entrou sem falar nada.

Ela não disse nada, mas me encarou seriamente como se procurasse algo em mim, uma resposta para alguma pergunta que ela não tinha feito. olhou para minha mão segurando seu braço e eu percebi que era um aviso para soltá-la. Eu tirei minha mão e ela me encarou endurecendo o olhar de um jeito que eu nunca tinha visto fazer. Eu vi que seus olhos estavam úmidos, mas ela não iria chorar. Então, com uma frieza que eu nunca tinha visto, ela soltou as palavras que mudariam minha vida:

- Eu estou grávida.

Eu não soube o que responder. Não duvidei em nenhum momento, pois sua postura era de alguém que falava muito sério. Eu olhei para e ela olhava para outra direção, me evitando mais uma vez. Minha respiração falhou e eu tive que respirar fundo, tentando não me deixar abalar, precisava me acalmar. Meus olhos se encheram de lágrimas sem eu perceber e eu disse com a voz falhando:

- Nós vamos ter um bebê?
- Eu não sei, Draco – ela respondeu e deu um suspiro – Eu não sei.
- Por Merlim – eu balbuciei como uma criança – Você tem certeza absoluta?
- Bom, eu não tenho dois corações – ela respondeu ainda sem me encarar.
- Por Merlim – eu repeti.

Eu segurei o choro e sentei-me à mesa do professor da sala em que estávamos procurando por um apoio. Um bebê. Onde eu enfiaria um bebê? Eu não sabia nem cuidar de mim, precisava da minha mãe pra tudo, como eu cuidaria de uma criança? Meu coração acelerou e eu queria gritar de nervoso. Entretanto, eu precisava de mais respostas, mais informações para fazer com que aquilo tudo fosse real porque ainda parecia um sonho, parecia que eu estava observando a vida de alguém mudar e não a minha.

- Quando você descobriu? – eu perguntei e me olhou.
- Há uma semana, mas estava suspeitando há duas – ela explicou – Minha menstruação não veio.
- E por que você não me disse de imediato? – eu perguntei e percebi que essa pergunta fez vacilar em sua postura. Minha namorada encarou suas próprias mãos e respondeu com a voz embargada.
- Eu não queria... Não queria te dar mais problemas – respondeu baixo – Naquele dia que tivemos aquela conversa sobre você não participar das coisas que... – ela hesitou e eu sabia o motivo – Bem, das coisas que ele planeja, eu percebi que você estava muito nervoso e não quis atrapalhar com minhas paranoias – ela deu uma risada melancólica – O que eu achava que eram paranoias.

Então, foi aí que eu entendi o porquê dela ter me evitado por uma semana inteira. Tudo fez sentido na minha cabeça e eu me senti um lixo por ter sido tão egoísta quando precisava tanto de mim. Mais uma vez, eu tinha colocado meus problemas primeiro e não estava lá por ela. Eu tinha sido o garoto mimado de novo.

- Meu amor, não – eu disse e fui até me abaixando em sua frente e segurando em suas mãos – Eu fui um idiota, deveria ter sido mais atencioso com você, você precisava de mim e eu falhei – Ela começou a chorar e eu a abracei apertado – Me desculpe, eu sou um merda.
- Não, eu deveria ter falado – ela respondeu e me encarou com os olhos vermelhos e foi como se eu tivesse tomado um soco no estômago. Lá estava chorando por causa de mim de novo – Mas eu me acovardei, fiquei com medo da sua reação.
- Me desculpe – eu beijei sua testa e tentei sorrir – Eu me sinto horrível, me desculpe.
- Está tudo bem – ela disse e limpou o rosto – Agora você sabe.
- Agora eu sei – eu disse e pareceu que eu tinha tomado um choque – Agora eu sei.

Minha namorada estava grávida. Em nove meses nós teríamos um bebê. ONDE EU ENFIARIA UM BEBÊ? Eu estava surtando internamente, mas sabia que deveria manter a calma por que estava totalmente quebrada ali em minha frente. Contudo, tinha muito mais coisa para falar e saber.

- Quando você disse que não sabia se nós teríamos um bebê – eu disse cauteloso – Você estava falando por que não sabia se iria manter a gravidez?
- Sim – ela disse e eu percebi que esse tópico já estava sendo pensado por ela há um tempo – Quero dizer, como nós vamos criar uma criança, Draco? – ela perguntou e voltou a chorar – Nós não temos uma casa, estamos presos dentro desse castelo e quando sairmos daqui, eu já vou ter uma barriga avantajada, as pessoas vão saber e isso é arriscado demais. Essa criança não tem um futuro.
- O que você quer dizer? – eu perguntei sentindo que tinha visto a situação de outro jeito que eu não estava enxergando.
- Eu sou uma traidora de sangue e você é um comensal – ela explicou e sua voz ficou mais embargada – Você acha que quando Você-Sabe-Quem descobrir que um de seus comensais da morte engravidou uma traidora de sangue, ele vai deixar por isso mesmo? Vai enviar um presente para a criança? Desejar boas energias? Você acha que os comensais vão fazer um chá de bebê e dar uma pequena capa preta?
- Tá bom, tá bom, eu entendi seu ponto – eu respondi e todas suas perguntas retóricas me atingiram no coração.

Minha cabeça trabalhou rápida e eu tremi com as possibilidades do que poderiam acontecer. O que meus pais iriam pensar? Eles iriam brigar comigo, eu tinha certeza. O perfeito filho engravidou a namorada, sendo ambos adolescentes. estava certa, não tinha possibilidade de essa criança viver em paz. Não tinha a possibilidade dela sequer viver. Então, eu entendi que teria que abrir mão disso, esse feto não tinha qualquer chance. Contudo, eu fiquei curioso com uma coisa.

- Você ouviu o coração? – eu perguntei e ela afirmou – Posso ouvir também?
- Claro – ela disse e ficou em pé – Vamos precisar da sua varinha, Gina me ajudou a descobrir.
- Ela sabe? – eu perguntei – Quem sabe?
- Bom, Gina – ela disse – E os meninos porque descobriram de curiosos. Eles nos seguiram e ouviram nossa conversa.
- Então todos os teus amigos sabem menos eu? – eu perguntei e confesso que me senti um pouco ofendido – Caramba, .
- Me desculpe por isso, mas eu já expliquei meus motivos – ela disse – Você quer ouvir ou não?
- Quero.
- Tudo bem, aponte sua varinha para o meu coração e diga Sonorus explicou e eu obedeci, ouvindo seu coração bater em um ritmo calmo – Agora eu vou botar minha varinha em minha barriga e fazer a mesma coisa – Assim que ela fez isso, um barulho de coração acelerado preencheu a sala.

Um sentimento que eu não sabia definir se apossou de mim e aquele era o som mais bonito que eu já tinha ouvido. Um pequeno coração batia rapidamente, mas em um ritmo constante. Tinha uma centelha de vida existindo dentro do amor da minha vida. E essa centelha era metade de mim. Aquilo também era meu e eu tinha tanta responsabilidade quanto . Essa constatação pesou em meus ombros e eu me afastei de , mas percebi que ela continuou ouvindo.

- Continua batendo – ela murmurou e eu notei alívio em sua voz. me encarou e seus olhos estavam brilhando. – O que foi?
- Você não quer tirar, não é? – eu perguntei e ela pareceu chocada de início, mas depois deu um suspiro e se sentou mais uma vez. Ela pareceu cansada, como se seu espírito fosse tão antigo quanto aquele castelo – Está tudo bem, você pode me dizer.
- Eu não sei o que eu quero – ela disse sincera e me encarou – Tem horas que eu tenho certeza de que não vou continuar com essa gravidez, tenho todos os argumentos racionais para essa decisão e passo o dia tendo certeza. Então, no final do dia, eu me pego ouvindo o coração dele bater e quando percebo estou a dez minutos ouvindo e me sentindo aliviada por ele ainda estar ali.
- Você não precisa decidir nada por enquanto, – eu disse.
- Bom, preciso sim porque o recomendado é interromper a gravidez em até doze semanas e de acordo com minhas contas, eu estou na sétima – explicou e me deu um sorriso triste – O relógio está correndo, Draco.
- Você tem o meu apoio para o que decidir – eu disse, sem saber se aquilo era totalmente verdade porque as perguntas retóricas de rondavam minha mente.
- Eu só preciso comer – ela disse e riu – Minha fome aumentou demais e o sono também.
- Por isso você chegou atrasada – eu disse e ela afirmou – As pessoas vão começar a notar seus atrasos. Você teve enjoos?
- Tive um pouco – ela explicou e levantou, pegando sua bolsa e colocando no ombro – Nós temos que ir.
- Sim – eu disse e fui até ela, puxando para os meus braços e abraçando muito forte – Vai ficar tudo bem, .
- É o que eu espero, Malfoy – ela respondeu e me encarou seriamente enquanto segurava em minha cintura. Ela deitou a cabeça em meu peito e ficou ali por alguns segundos, ouvindo as batidas do meu coração.
- Tem outra coisa – ela disse de repente e tirou um papel da bolsa, me entregando – Meus pais me mandaram isso – eu li a carta em silêncio por mais segundos – É nossa passagem de fuga desse lugar.
- Podemos falar sobre isso em outro momento? – eu pedi cansado demais de tanta surpresa em um dia.
- Esse é outro assunto que não pode esperar, Draco – respondeu me olhando com a mesma seriedade de antes. Ela não estava ali para brincadeiras.
- Eu sei, – eu suspirei e a abracei de novo – Eu sei.

’s POV

Draco tinha me surpreendido de novo. E dessa vez, de um jeito bom. Eu tinha certeza absoluta de que ele iria me abandonar e me deixar resolver tudo sozinha, mas não. Ele não brigou comigo, mas sim, disse que eu tinha todo o seu apoio e apesar de tudo, isso foi algo que me deixou feliz. Nós saímos da sala e como já tínhamos perdido metade da segunda aula, Draco teve a ideia de irmos para a Sala Precisa ficar lá até o almoço. Eu precisava tirar um cochilo e sempre era bom deitar de conchinha com quem amamos.

- Eu realmente preciso dormir – eu disse enquanto tirava o sapato já que a Sala Precisa tinha providenciado uma cama para nós dois.
- Eu percebi, você bocejou umas dez vezes no caminho até aqui – ele comentou e nós rimos. Ele deitou e eu me apoiei em seu peito, sentindo seu abraço – Nós precisamos voltar com seu treino de Oclumência, agora que você está grávida é ainda mais importante sua mente estar fechada.
- Eu sei, eu sei – respondi e bocejei – Só vamos dormir um pouquinho, tá bem?
- Está bem – ele respondeu dando uma risada e assim que Draco começou a me fazer um cafuné, eu apaguei. Acordei minutos depois com Malfoy falando baixinho – ? Nós precisamos ir, meu bem.
- Mas já? – eu respondi ainda com os olhos fechados – Eu dormi tão pouco.
- Não, vou dormiu por quase meia hora – ele disse e eu me sentei enquanto coçava meus olhos – Nós precisamos almoçar.
- Sim, o almoço – eu disse animada e ele deu risada – Obrigada.
- Pelo que? – ele perguntou e eu sorri.
- Por estar aqui, por não ter me abandonado como eu achei que você faria – eu fui sincera.
- Outch! – ele disse, mas deu risada e se aproximou de mim, entrelaçando nossas mãos – Eu não vou deixar você. Eu nunca mais vou fazer isso.

Eu não respondi de imediato. Não sabia o que dizer porque dentro de mim eu ainda sentia medo. Era difícil confiar totalmente, mas lá estava eu tentando. Eu não tinha a menor do que iria fazer nos próximos dias, não sabia se iria continuar com a gravidez, se iria interromper, se colocaria a criança para adoção quando chegasse a hora. Contudo, eu tinha o apoio do garoto que eu amava e isso me dava uma pequena esperança naquele lugar sem esperança nenhuma de que as coisas poderiam acabar bem.

“So tell me where your heart is,
tell me where you keep it,
tell me where it stays.”**


When we're not together, I'm so afraid*: Trecho retirado da música desse capítulo “Where It Stays” da Charlotte OC e significa: Quando não estamos juntos, eu tenho tanto medo.
So tell me where your heart is, tell me where you keep it, tell me where it stays.”**: Trecho também da música desse capítulo e significa: Então me diga onde seu coração está, me diga onde você o guarda, me diga onde ele fica.



Um ato de coragem.

Eu sabia que deveria estar prestando atenção, tinha plena consciência, mas a única coisa que eu pensava era na azia que eu sentia. Ela queimava meu estômago e eu não conseguia me concentrar em nada do que o professor Slughorn dizia. Meu caldeirão estava borbulhando, soltando um cheiro que aos poucos embrulhava mais e mais meu estômago e, junto com a azia, fazia a vontade de vomitar aumentar gradativamente.

- Agora, por favor, cortem o bezoar em pequenos pedaços e joguem no caldeirão. – ele disse e eu comecei a executar com dificuldade já que o cheiro me deixando tonta.
- , você está bem? – Neville perguntou e eu o encarei – Você está pálida e suando.
- Eu estou enjoada, Neville – eu respondi baixinho – O cheiro dessa poção está...
- Sai um pouco da sala, você vai se sentir melhor. – ele sugeriu e eu concordei.
- Sim, vou fazer isso, só vou jogar esses pedacinhos aqui. – eu disse e assim que eu joguei, uma fumaça subiu e meu estômago deu uma volta.

Eu não disse nada, somente saí da sala com pressa correndo para o banheiro mais perto. Eu sentia o vômito vindo aos poucos e quando eu abri a porta da cabine, coloquei todo meu café da manhã pra fora. Senti uma vertigem e caí sentada batendo a cabeça na porta atrás de mim. Bufei irritada e depois de dar descarga, saí da cabine dando de cara com Draco encostado na pia.

- O que você está fazendo aqui? – eu perguntei e fui até a pia lavar o rosto e escovar os dentes já que andava com uma escova e uma pasta para todo o lado.
- Vim ver como você estava, ué – ele respondeu calmamente – Você saiu de repente.
- O cheiro da poção embrulhou meu estômago – eu respondi depois de escovar os dentes – Alguém falou alguma coisa?
- O professor Slughorn deu risada e disse que nem muitos aguentam o cheiro das poções – Draco explicou – Aquela poção estava fedorenta mesmo.
- Ai que droga – eu resmunguei e segurei o choro – Agora eu sou a piada da turma toda.
- Claro que não, ! – ele disse e me deu um sorriso – Ninguém se importa.
- Eu odeio estar... Assim. – eu disse um pouco hesitante – Nós precisamos decidir rápido o que vamos fazer.
- Eu apoio o que você decidir, já disse – Malfoy disse calmamente e segurou firmemente em minha mão – Eu estou aqui.
- Você vai estar aqui agora – respondi com uma voz chorosa – Quando eu estiver suja e fedendo a leite, você vai embora.
- Eu vou ignorar o que você disse – ele respondeu e se aproximou, me abraçando de lado e beijando minha testa – Eu vou te amar mesmo que você fique fedendo a leite.
- Eu só queria que isso não estivesse acontecendo. – eu desabafei.

Draco não disse nada, só me abraçou mais apertado e eu soltei um suspiro, sentindo a vontade de chorar voltar. Eu ainda não tinha tomado nenhuma decisão sobre o que iria fazer, se iria continuar com a gravidez ou se iria colocar um fim, mas de qualquer jeito, as duas alternativas me assustavam. De qualquer jeito minha barriga ainda não estava aparecendo e eu me sentia grata por isso. Eu dei um suspiro e encarei Draco que me deu um sorriso mínimo. Malfoy encostou nossas testas e suspirou, ficando em silêncio. Sua expressão – como sempre – era em sua totalidade enigmática, mas o suspiro longo que o garoto soltou, me deu um indicativo de que algo não estava bem.

- O que foi? – eu perguntei.
- Nada, está tudo bem – ele respondeu e me encarou, dando outro sorriso – Vai ficar tudo bem. Você não precisa decidir nada ainda... Só... Respeite o teu tempo... Não, não se apresse.
- Eu já disse pra você que eu tenho que decidir rápido porque depois... – eu não consegui terminar de dizer, mas ele entendeu.
- Tudo bem, tudo bem – Malfoy respondeu – Você quer cabular o resto da aula?
- Eu acho que não consigo voltar pra lá – eu respondi e nós rimos – Será que eu vou vomitar toda vez que eu tiver aula de Poções?
- Claro que não, – Draco respondeu segurando minha mão enquanto saíamos – Você percebeu que sempre estamos conversando ou se pegando em banheiros?
- É porque gostamos do cheiro de produto de limpeza – eu respondi e ele riu.

Enquanto descíamos as escadas para ir até o Lago Negro, eu tentava me decidir. O medo rondava meu coração e ansiedade sempre teimava em aparecer para me fazer tremer, chorar e vomitar mais uma vez. Contudo, eu sabia que chorar e me sentir horrível adiantava somente por um tempo e eu precisava tomar uma decisão. Precisava escolher entre ter um filho no meio de uma guerra ou nunca tê-lo. Eu não tinha nem ideia de como faria isso para começo de conversa, só sabia que as chances estavam contra mim e contra aquele feto que estava se formando. Eu não tinha ideia do que fazer e isso me atormentava. Eu queria muito poder contar para os meus pais, mas tinha medo da reação deles. Assim que chegamos em frente ao Lago, eu compartilhei com meu namorado, meu dilema:

- Eu acho que devemos contar para os nossos pais.
- O que? – Draco disse – Nós não podemos falar nada ainda!
- Por que não? – eu perguntei – Minha mãe saberia o que fazer.
- Mas sua mãe não pode decidir por você e se você decidir não continuar com a gravidez, ela pode ficar decepcionada. – ele respondeu.
- Você está certo – eu disse – Me mata não poder contar para ninguém ou pedir a opinião de outra pessoa.
- Você pode pedir a opinião, mas a decisão final sempre será tua – ele respondeu – Eu não posso te dizer ou te obrigar porque o corpo é teu, .
- Eu sei disso – eu respondi e dei um suspiro - Mas e se...
- O que foi?
- E se eu decidir manter a gravidez? – eu perguntei – O que nós vamos fazer?
- Você quer manter? – Draco me perguntou.
- Não! – eu disse rápido demais – Quero dizer... Eu não sei.

A conversa cessou depois disso e eu senti o clima pesando entre nós dois. Draco estava estranho, escolhendo palavras e se policiando para não falar nada de errado. Ele sempre dizia a primeira coisa que viesse em sua mente ainda que fosse me machucar, mas naquele momento ele estava tomando cuidado com o que iria me dizer. Talvez ele tivesse tendo um pouco de cautela já que eu estava prestes a tomar uma decisão que mudaria nossas vidas e se fosse realmente isso, eu agradeci mentalmente. Não teria cabeça para lidar com Draco surtando e me magoando. Ele deu um suspiro e segurou minha mão apertando com força.

- O que foi, meu bem? – eu perguntei.
- Nada, . – ele respondeu sem me olhar, continuava a encarar a paisagem.
- Tem certeza? – eu perguntei e apertei sua mão de volta.
- Sim – ele disse e me olhou. Seu olhar era enigmático, o azul estava um pouco apagado naquele dia, o que deixava tudo mais melancólico. Eu me perguntava se nosso filho teria os olhos deles – Eu posso... Ouvir?
- O que? – eu perguntei sem entender, mas depois de encará-lo, eu entendi – Ah... O coração.
- Sim, só mais uma vez – ele pediu – Você não pode negar que é um pouco impressionante.
- Nós não podemos nos apegar, Draco – eu adverti – Eu ainda não sei se vou continuar com a gravidez.
- Eu sei, não vou me apegar – ele disse – Eu só queria ouvir.

Ele não disse mais nada, mas me olhou com um misto de sentimentos. Meu coração apertou ao perceber que por mais que ele falasse que a decisão era minha, Draco também estava num conflito. Ele tentava decidir como se sentiria com a escolha que eu fizesse. Eu segurei em seu rosto e o encarei mais uma vez procurando uma resposta naquele mar cinzento que eram seus olhos. Eu suspirei e dei um sorriso mínimo, soltando seu rosto e dizendo:

- Tudo bem, mas vai ser rápido.
- Okay, okay – ele disse empolgado e eu levantei minha blusa depois que Draco apontou a varinha para ela – Sonorus – Contudo, tudo permaneceu em silêncio – Cadê o som? , o coração, não tem som!
- Calma, calma – eu disse e observei minha barriga e percebi uma pequena bolinha no canto direito – Ele está aqui.
- Ele pode mudar de lugar? – Draco perguntou perplexo e eu ri.
- Claro, ele ainda está pequeno – eu expliquei – Tem bastante espaço.
- Ele pode nadar bastante ainda – ele brincou e eu ri – Pronto?
- Sim, pode colocar – eu disse assim que Malfoy posicionou a varinha na pequena protuberância do canto esquerdo, o som de batimentos rápidos inundou o ar – Aí está.

Aquele som me dava um alívio que eu não sabia explicar, fazia com que minha respiração melhorasse e eu suspirei, suprimindo um sorriso. Não podia me dar o direito de ficar aliviada com o batimento de um coração que não era meu já que ele não iria permanecer comigo por mais um tempo. Se eu iria interromper a gravidez, então não deveria sequer me permitir ficar feliz. Eu deveria suprimir todo e qualquer sentimento que pudesse minimamente me dar uma sensação boa. Eu não tinha esse direito. Meus olhos se encheram de lágrimas ao me dar conta desse fato, mas eu me segurei. Não iria chorar mais uma vez por causa de uma situação que eu já sabia o que fazer. Draco estava em silêncio e ouvia compenetrado, sem ao menos piscar. Ele parecia entretido demais para sequer me olhar.

- Já chega – eu disse e empurrei sua varinha de minha barriga – Já ouvimos demais.
- Não, eu queria ouvir mais um pouco. – ele reclamou e eu bufei irritada me levantando.
- Não, você não pode ouvir – eu disse – Nós não podemos mais ouvir!
- Por que não? – ele retrucou enquanto me olhava com indignação – É só um batimento.
- Não, não é só isso, Draco! – eu disse um pouco mais alto – Não é um som aleatório, é um coração! Um coração!

A compreensão pairou em seu olhar e ele suspirou, abaixando a cabeça. As lágrimas que eu segurava finalmente caíram e eu enxuguei meu rosto rapidamente para que Draco não me visse chorando. Eu me virei e olhei o castelo que naquele momento estava cheio de alunos em suas aulas. Então, senti braços me envolvendo por trás e uma respiração pesada em meu ouvido. Draco me apertou gentilmente e eu não consegui mais me conter. Comecei a chorar e meus soluços ecoaram pelo lugar aberto. Um vento gelado bateu em meu rosto e eu suspirei, tentando conter meu choro, mas não obtendo nenhum sucesso. Malfoy beijou meu ombro e depois meu pescoço, sussurrando em meu ouvido que estava ali e que eu não estava sozinha, mas essas palavras não me ajudavam em nada porque no final do dia, a escolha era minha. E eu não queria escolher. Se não tivéssemos uma guerra praticamente explodindo em nossa porta, se eu tivesse meus pais em Londres, se Draco não fosse comensal e se não estivéssemos lutando em lados opostos, então só aí, eu manteria a gravidez. Mas não era o caso e nunca seria.

- Eu sinto muito – eu disse entre soluços – Mas não vejo como podemos fazer isso, Draco.
- Eu sei – ele respondeu baixinho – Eu também não vejo.
- Eu não quero que... – eu segurei o choro para falar – Que os comensais descubram e queiram matá-lo ou nos matar. Não quero que ele cresça sem pais. Se eu for manter a gravidez, não quero que ele fique sozinho ou seja criado por outras pessoas.
- Eu sei, . – ele respondeu e eu me virei para encará-lo.
- Eu não quero que ele seja tirado de mim ou que acabe virando comensal por ter que conviver somente com a tua família – eu disse sendo sincera – Não vejo como podemos criar uma criança na mesma mansão que Você-Sabe-Quem habita.
- Você acha que eu não sei de tudo isso? – Draco disse enquanto segurava minha cintura e eu senti que ele estava prestes a sucumbir – Você acha que eu vou gostar de ver meu filho convivendo com as pessoas que eu convivo? Ou que ele veja as coisas que eu vi? Ou faça as coisas que eu tive que fazer? Eu também não quero isso pra ele, nem pra ninguém. Eu estou nessa vida porque eu escolhi, essa criança não.
- Eu quero flores na janela e... – eu voltei a chorar – E quero café da manhã na cama e um quarto especialmente pra ele, como o teu que tem o papel de parede de dragão. Eu quero isso pra ele e não uma masmorra escura porque é onde me colocarão se descobrirem.
- Você acha que eu deixaria te prenderem assim? – Draco disse um pouco ofendido – Nem que nós três tivéssemos que viver dentro do meu quarto, eu jamais permitiria que você ficasse presa dentro da minha própria casa.
- Draco, você não tem esse poder – eu disse – Os comensais te expulsaram da tua casa nas férias! Eu sinto muito, meu bem, mas nós estamos nessa sozinhos.

Draco não respondeu mais nada e me encarou com os olhos mais doídos que eu já tinha visto porque eu sabia que não era somente eu que tinha imaginado os cenários mais diversos para aquela criança. Nós nos afastamos e ficamos um lado do outro olhando o horizonte. Eu sentia que Draco estava tenso, prestes a ter um colapso, mas ele continuava firme.

- Nós não temos nenhuma chance, Malfoy – eu desabafei – Nenhuma.
- Eu acho melhor voltarmos para o castelo – ele disse e começou a andar para longe sem dizer mais nada. Eu acabei ficando para trás no frio e voltei a me sentar.

Eu não entendia como conseguia chorar tanto. Minha cabeça já estava começando a doer e eu não conseguia controlar o barulho do meu pranto de modo que qualquer pessoa que passasse por ali conseguiria ouvir. Nós não tínhamos chance nenhuma de dar certo. Eu sabia que não conseguiria coloca-lo para adoção, além do que ao menor sinal de que o herdeiro Malfoy teria um filho, Narcisa e Lúcio fariam o possível para desaparecer com a criança e assim não manchar a honra dos Malfoy.
Eu precisava protegê-lo de todo mal e se ele nascesse, o mal seria a única coisa que ele conheceria. E eu não queria a vida de Draco para ele ou ela e também não queria a minha vida para essa criança. A vida de não ter raízes em nenhum lugar, ter que morar na casa dos avós ou viver fugindo. Eu passei por isso minha infância inteira, além do que eu não tinha controle dos meus sentimentos ou da minha magia, não queria passar esse fardo para frente. Contudo, eu não podia mais ficar ali, tinha mais uma aula antes do almoço. Enxuguei minhas lágrimas, tornei a enrolar o cachecol que usava em meu pescoço e caminhei devagar até o castelo, na esperança de que a decisão surgisse em minha mente.

A última aula do dia finalmente ia acontecer e eu encarei o relógio na parede em cima da sala de Amico Carrow. Artes das Trevas estava tomando proporções desastrosas e eu estava vendo o dia em que ele nos obrigaria a matar outro aluno. Eu comecei a rabiscar feitiços em um pedaço de pergaminho quando Nate começou a conversar comigo:

- Você está com cara de quem chorou o dia todo.
- Bingo! – eu respondi e ele me olhou triste – Eu tenho que tomar a decisão mais importante da minha vida e não consigo.
- Eu sinto muito, – ele disse e fez um carinho em meu ombro – Mas eu acho que bem lá no fundo você sabe o que fazer. Só não tem coragem de admitir pra si mesma.
- Não, Nate – eu respondi – Eu não tenho a mínima ideia, nada!
- Você sabe sim – ele disse e me deu um sorriso – Você é a pessoa mais inteligente que eu conheço, vai surgir um plano dessa cabecinha linda.
- O que eu faria sem você? – eu perguntei e ele me abraçou de lado, beijando minha têmpora – Eu não conseguiria ir almoçar.
- Deixa de ser besta, garota – ele respondeu e eu ri – O Neville está atrasado.
- Deve estar procurando aquele sapo – eu disse – O Trevo sempre foge.

Nós rimos juntos e logo depois, Neville entrou depressa e se sentou ao meu lado já que eu ficava no meio. Ele estava ofegante e suava muito.

- O que aconteceu? – eu perguntei.
- Trevo. Ele sumiu na torre da Grifinória – ele explicou e eu ri.
- Eu disse.

Minutos depois Amico Carrow entrou na sala, acompanhado de alguns alunos da Sonserina e entre eles estava Draco. Ele me olhou e desviou o olhar, indo sentar com Crabbe e Goyle. É claro. Em seguida, uns seis alunos do primeiro ano entraram na sala e ficaram encostados à parede da lousa. Rapidamente, eu fiquei em alerta e percebi que entre as crianças, estava a aluna da Grifinória que fez amizade comigo no primeiro dia, Lisa. Ela estava com os olhos arregalados e insistia em se espremer contra a parede, num sinal claro de que estava com muito medo. Amico nos encarou e deu um sorriso de escárnio antes de começar a falar:

- Finalmente, eu achei algo para fazer com esses alunos burros do primeiro ano. Incapazes de executar uma maldição sem chorarem. São fracos e agora vão sofrer as consequências.
- Do que será que ele está falando? – Nate perguntou confuso.
- Boa coisa não é. – eu respondi.
- Eu preciso de voluntários – Amico disse – Hoje nós vamos treinar as Maldições nestes fracos do primeiro ano.
- O que? – eu ouvi algumas pessoas falando.
- E na próxima aula, vamos praticar nos alunos que pegarem detenções – o professor disse e eu percebi os alunos da Grifinória indignados.
- O senhor não pode fazer isso! – um aluno da Grifinória disse – Isso é tortura!
- Quer se juntar a eles? – Amico disse – Então, quem quer ser voluntário? – e para a minha surpresa um bom número de sonserinos levantou a mão, entre eles Crabbe e Goyle. Draco continuou quieto. – Senhor Goyle! Por favor, venha à frente!

O ódio queimou minhas veias e eu comecei a tremer, tamanha raiva que eu sentia. Eu encarava Amico com ódio e ele me encarou de volta, mas assim que viu minha expressão, o sorrisinho murchou. Goyle marchou convencido até a frente e apontou a varinha para um aluno, o menor deles que estava bem no canto. Ele era muito pequeno para ter onze anos e tremia de medo.

- Senhor Goyle, por favor, a maldição Imperius.

No fundo do meu coração eu esperava que Goyle não fizesse, mas ele deu um sorriso feliz e apontou a varinha para o rosto do menino que pôde apenas se encolher mais e mais enquanto tremia. Goyle murmurou o feitiço e imediatamente o menino ficou parado olhando para nenhum ponto em particular. Sua expressão suavizou rapidamente e Goyle disse:

- Eu quero que você imite uma galinha.

No mesmo instante o garoto começou a cacarejar e a ciscar o chão. As pessoas começaram a rir loucamente e a única coisa que eu sentia era pena já que o menino estava passando uma das maiores vergonhas de sua vida. Ele continuou ciscando o chão e mexendo a cabeça como uma galinha enquanto Goyle ria feliz.

- Muito bem, muito bem – Amico disse – 20 pontos para a Sonserina. Pode liberar o garoto. – Goyle retirou o feitiço e o menino voltou ao normal, ficando totalmente vermelho ao ver que uma grande parte das pessoas ria dele. – Agora, vamos para a próxima maldição. Alguém?

Pansy Parkinson levantou a mão rapidamente e foi aplaudida pelo exército de garotas que andava com ela. Eu não tinha mais nenhum problema com Pansy. Para mim, tudo estava resolvido, mas foi inevitável querer enfiar a cabeça daquela mula na privada. Ela caminhou confiante até parar em frente as crianças e apontou a varinha para Lisa que começou a tremer no mesmo instante. Meu sangue ferveu e eu percebi que tinha quebrado a pena que segurava. Eu não podia permitir que mais um aluno fosse prejudicado. A escola de Dumbledore não era essa.

- Quando quiser, senhorita Parkinson. – Amico disse.
- Crucio! – ela disse e assim que terminou de pronunciar, Lisa começou a gritar.

A garota começou a chorar e caiu no chão fazendo um barulho horrível. Ela se debatia na frente da sala e isso me fez lembrar quando eu era a que estava se debatendo no chão. Os gritos de Lisa se misturaram com os meus em minha cabeça e eu senti minha cabeça queimar assim como a dela provavelmente estava. Eu não poderia mais tolerar isso, não mais. Num âmbito de fúria, eu me levantei e apontei minha varinha para Pansy.

- Estupefaça! – eu gritei e ela foi jogada com violência na lousa, caindo no chão desacordada. A sala toda gritou com o barulho e viraram para trás para ver quem tinha estuporado Pansy. O ar se encheu de pó de giz e os alunos da frente começaram a tossir. Eu caminhei confiante até a frente e estava pronta para correr quando parei.

De repente toda a raiva que eu sentia foi embora junto com a ansiedade que me seguia durante os últimos dias. O ar ficou leve e eu me sentia muito calma.

- Vire-se – alguém disse e eu me virei até ficar de frente com Amico que apontava a varinha para mim. Eu sabia que as pessoas estavam me observando, mas eu não me importava nem um pouco. Eu estava feliz e relaxada. Era ótimo. – Pegue essa faca. – a frase me soou um pouco errada, mas de alguma maneira eu simplesmente peguei a faca que Amico tirou do bolso, jogando na mesa e segurei em minhas mãos.
- O que você está fazendo, professor? – alguém disse, mas eu não tinha interesse nenhum em saber quem era. Talvez fosse Draco, mas eu não me importava.
- Essa menina vai aprender a lição da maneira mais prática – Amico disse e algo dentro de mim acordou. – Muito bem, . Agora coloque a mão sobre a mesa – Eu obedeci, mas minha cabeça dizia que aquilo não estava certo e com muita dificuldade minha mão seguia para o tampo da mesa. Uma dor atingiu minha testa e eu tentei parar os movimentos da minha mão, mas sem muito sucesso.
- Não, não, não! – eu olhei para trás e vi Malfoy levantando depressa e caminhando até a frente da sala. Seu olhar era de desespero e quando ameaçou se aproximar, Amico apontou a varinha para ele:
- NÃO SE META, MALFOY! – o professor gritou e eu voltei a prestar atenção nos movimentos da minha mão.

Com muita dificuldade, eu executei a ordem de Amico e senti minha cabeça doer mais. Um fio de consciência me atingiu e eu me dei conta de que estava sob o efeito da Imperius. Eu não queria isso, não queria estar ali! – Agore corte seus dedos um por um... – Um impulso muito grande de resistir veio de encontro ao impulso de obedecer e eu tentei com força parar minha mão direita que aos poucos caminhava com a faca até meu polegar. Eu ouvia gritos atrás de mim, mas não conseguia distinguir o que diziam. A dor de cabeça continuava e meu braço direito doía demais. Tentei mexer minha mão esquerda, mas não obtive sucesso. Eu estava prestes a cortar meus próprios dedos. Eu suspirei e dei um grito de dor ao sentir a faca afiada tocar minha pele e o sangue vermelho começou a tingir a mesa. Eu não iria fazer isso comigo mesma. Com o resto de força de vontade que eu tinha, eu consegui parar meus movimentos e joguei a faca no chão sentindo a dor do meu dedo cortado me atingir em cheio – O QUE? – Amico gritou, mas era tarde demais para ele. Antes que ele pudesse se mexer, mirei minha varinha contra ele e gritei:

- Estupefaça!

E assim como Pansy o corpo do professor foi lançado contra a parede da janela. Os vidros foram quebrados e ele caiu ao chão junto com estilhaços. Eu corri até ele e arranquei a varinha de sua mão, respirando aliviada ao ver que ele estava desacordado. Minha mão continuava sangrando e eu tirei o cachecol do meu pescoço e enrolei em meu dedo, tentando estancar o sangue. Olhei para o resto da sala e eles estavam perplexos.

- Você... Conseguiu parar a Imperius! – Neville disse lá do fundo.
- Nós não temos tempo – eu disse – Nate, Neville, levem as crianças para a enfermaria. – os dois levantaram e cada um pegou um dos alunos do primeiro ano e carregou para fora da sala – Zabini, leve Pansy para a enfermaria também.
- Por que eu receberia ordens de você? – ele perguntou debochado, mas a raiva queimava dentro de mim.
- PORQUE EU TO MANDANDO! – eu gritei e a sala toda se assustou. Zabini e mais um aluno levantaram e carregaram Pansy para fora da sala.
- Malfoy – eu disse e meu namorado me encarou assustado – Comigo agora!

Eu saí da sala e comecei a andar apressada e ouvi passos vindo atrás de mim. Virei o rosto e Draco me alcançou rapidamente. Nós não falamos nada por um tempo até que ele quebrou o silêncio.

- , teu dedo ainda está sangrando – ele disse – Está fazendo um traço de sangue por todo o castelo.
- Ah, eu não percebi – eu disse e apertei mais o cachecol.
- Vamos, pare de andar – Draco disse – Me deixe ajudar.
- Tudo bem, mas rápido! – eu adverti. Nós paramos de andar e Malfoy desenrolou o cachecol da minha mão que estava manchado de sangue, misturando com os fios vermelhos da lã que representava a Grifinória. Continuava a sangrar como uma torneira. – Ai.
- Não está tão feio – ele disse e me deu um sorriso – Você foi maravilhosa lá.
- Eu não fui maravilhosa, coisa nenhuma – respondi ainda brava – Só fiz o que era certo.
- Estou falando de ter resistido à maldição – meu namorado disse e apontou a varinha para o corte – Episkey. – rapidamente o corte se fechou e o sangue foi embora da minha mão. Era como se nunca tivesse sido cortada – Pronto.
- Obrigada, Draco – eu respondi e voltei a andar – Nós temos que ir.
- Pra onde? – ele perguntou, mas continuava me seguindo.
- Até a sala do Snape – eu respondi e virei um corredor.
- Por que você vai fazer isso? – Draco perguntou – E por que precisa de mim?
- Eu vou entregar a varinha de Amico para ele e você deve saber a senha da Gárgula – eu expliquei.
- Eu não sei a senha! – Draco disse afetado e eu bufei irritada.
- Para de mentir e outra, se você não souber, você é um péssimo comensal! – eu retruquei.
- Tudo bem, você está certa, eu sei a senha – ele respondeu e eu ri.
- Eu sabia, vamos logo antes que Aleto e os outros fiquem sabendo. – eu disse e nós começamos a andar mais rápido. Avistei a Gárgula e apertei o passo e Draco me acompanhou.
- Você vai se meter em problemas – ele alertou e nós paramos – Mas por que eu estou dizendo isso? Você não se importa.
- Exatamente, eu não me importo – eu respondi – Diga logo a senha.
- Lord das Trevas – Draco disse e a Gárgula começou a se mexer.
- Isso é a senha? – eu perguntei – Mas que merda.
- Ei, não foi ideia minha – ele disse.

Assim que a escada apareceu, Draco e eu subimos e a Gárgula começou a se mexer. Meu coração ainda estava acelerado e a raiva ainda queimava dentro de mim. Se eu tivesse continuado na sala era muito capaz de eu ter aniquilado outros comensais. Assim que chegamos às portas do escritório de Snape eu nem bati na porta. Empurrei com força e elas se abriram com violência. Entrei rapidamente e Draco me seguia. Vi Snape sentado na cadeira de Dumbledore e minha raiva aumentou já que Severo não deveria estar ali. O retrato do meu tio-avô me olhou atento e meu coração tomou uma pontada.

- Toma aqui esta merda! – eu gritei e subi as escadas até Snape jogando a varinha em cima da mesa. Ele me olhou sem entender, mas ainda com a frieza.
- A senhorita pode me dizer por que entrou como um furacão em minha sala e de quem é esta varinha, senhorita ? – o diretor perguntou com uma calma que me irritou ainda mais.
- Esta varinha pertence ao imundo Amico! – eu respondi – Teu funcionário, professor desta escola e que levou alunos do primeiro ano para serem TORTURADOS NA MINHA SALA DE ARTES DAS TREVAS! – eu elevei o tom de voz – ELE FEZ OS ALUNOS TORTURAREM CRIANÇAS! CRIANÇAS, SNAPE! – dei uma pausa e Draco somente observava a cena assim como os diretores nos quadros – Você tem alguma noção do que Hogwarts se tornou? Dumbledore teria vergonha de você, Snape! Além de matá-lo, você permite que crianças sejam torturadas! Eu não me importo de ser torturada, pois assumi o risco, mas alunos do primeiro ano? Nem mal saíram da infância e foram jogados neste inferno!
- Já acabou? – Snape disse com frieza e se levantou, colocando a xícara de chá que tinha em mãos, em cima da mesa. – Eu entendo a tua revolta, mas são as novas regras do Ministério. Os professores têm autonomia para decidirem como bem entenderem.
- Pelo amor de Deus! – eu gritei – Vocês são doentes! Eu estou cansada dessa conivência com crimes! Eu espero que você, Aleto, Amico e todo o resto apodreçam em Azakban quando Harry voltar.
- Você está realmente indo contra o Ministério? – Snape disse.
- ESTOU! – eu gritei – Eu não me importo mais. Me coloque pra limpar banheiros, limpar as estufas, me torture, tanto faz. Eu não me importo.

Eu saí andando, mas parei no meu do caminho:

- Ah, fui eu que pichei as paredes.


The best of the best and the worst of the worst*

n/a: Música do capítulo. Deixe carregando e dê play quando ver a notinha!

Fevereiro estava na metade e o relógio era um inimigo. Ao mesmo tempo em que o ano letivo acabava e eu riscava mais um dia do calendário, eu sentia que as coisas não iriam melhorar. No começo de tudo, eu tinha esperanças. Do fundo do coração eu achava que tudo ia se resolver, que Dumbledore tinha pensado em tudo e que Harry apareceria triunfante no horizonte com a solução e um jeito de vencer Voldemort. Contudo, os meses passaram e nada tinha acontecido. Nada de bom aconteceu, Harry tinha desaparecido e Voldemort estava cada vez mais forte. Ele tinha vencido. Dentro do castelo não tínhamos ideia do que estava acontecendo do lado de fora, as cartas eram censuradas, então tínhamos a ilusão de que tudo estava bem. E estava para quem apoiasse o regime ditatorial de Voldemort. Já para os poucos que resistiam, a vida era um inferno.
Eu estava sentada em cima de uma mesa qualquer da Sala Precisa e só conseguia encarar o chão, enquanto Draco estava parado em minha frente dando a pior bronca que eu recebi em toda a minha vida.
- Você é inconsequente, , você não pensa nas coisas que você faz – ele disse bravo – Eu fiz de tudo para te proteger naquela noite para você contar para o Snape POR LIVRE E ESPONTÂNEA VONTADE que pichou as paredes.
- Eu sei, eu dei mancada. – eu respondi baixo.
- Por que você não pode pensar um pouco? Analisar os próximos passos como uma pessoa normal? – ele perguntou – Você precisa ser organizada, o caos não vence coisa nenhuma!
- Eu sei, Draco.
- Agora o que nós vamos fazer, hein? – ele perguntou e me olhou – O que nós vamos fazer? Eu não vou poder fazer muita coisa, nós temos que torcer para que Snape não leve isso para fora do castelo. O que eu duvido, já que você atacou um professor!
- Draco, você estava lá, ele ia deixar uma criança ser torturada para fins didáticos! – eu retruquei – Isso não é certo!
- E você acha que eles se importam para o que é certo ou errado? – Malfoy retrucou e eu voltei a olhar para o chão – Você sabe que não, !
- Eu sinto muito, Draco – eu respondi – Eu não pensei muito, eu só... Fiz.
Nós ficamos em silêncio e Malfoy se aproximou de mim, me puxando para um abraço apertado. Apoiei minha cabeça em seu peito e respirei fundo sentindo o cheiro de roupa limpa e perfeição que ele sempre carregava. Eu beijei seu pescoço e seu maxilar várias vezes e dei um sorriso quando vi que ele também sorria, apesar da expressão brava.
- Não fica bravo comigo – eu pedi – Eu só cometi um errinho.
- Errinho que pode custar o teu pescoço – ele retrucou e eu sorri – Eu não tenho ideia do que pode acontecer agora.
- Eu também não – eu respondi – Eu também não sei.
- Como você pode estar calma, ? – Draco perguntou e eu beijei sua bochecha demoradamente – Por que você não está surtando?
- Eu sei lá. – eu respondi e o abracei mais uma vez. Draco repousou o queixo no topo da minha cabeça.
Draco estar ali me deixava tranquila, era bom saber que eu tinha um apoio, tinha braços para voltar quando as coisas davam errado e eu sentia que a partir daquele momento as coisas iam dar muito errado para mim. Depois de eu ter saído da sala do Snape, – ele tinha me deixado ir embora, para a minha surpresa – Malfoy tinha me arrastado para a Sala Precisa e tinha me dado uma lição de moral absurda e eu não poderia nem tentar me defender porque ele estava certo. Eu tinha sido inconsequente mais uma vez e colocado tudo a perder. Eu ainda não tinha encontrado meus amigos, não tinha dito nada para ninguém da minha recente visita a sala do diretor e provavelmente ainda tinha um tempo até os comensais me acharem.
- Você acha que eles vão me mandar para Azkaban? – eu perguntei e Draco suspirou.
- Eu não sei, o que aconteceu foi algo interno, Azkaban seria uma opção se você tivesse feito alguma coisa do lado de fora – ele explicou – Acho que Snape vai tentar resolver as coisas aqui.
A tranquilidade que pairava ali era muito preciosa para mim naquele momento. Um mau presságio tentava se infiltrar naquela bolha de paz que existia ao meu redor e eu não queria ter que enfrentar as consequências dos meus atos ainda.
Eu sabia que no segundo que eu passasse por aquela porta, seria presa, torturada ou até morta. O medo estava à espreita, mas eu não queria deixa-lo se aproximar, não naquele momento. Se algo acontecesse comigo, eu precisava aproveitar a última chance de felicidade e liberdade que havia em minha frente. Eu encarei Draco e como sempre, fiz isso para gravar o rosto dele e nunca me esquecer. Os olhos azuis estavam calmos, mas uma ruguinha de preocupação estava no meio de sua testa. As olheiras continuavam lá e eu duvidava de que elas iriam sair dali tão cedo. A barba estava perfeitamente aparada, mas eu podia ver seus poros e percebi que ela queria voltar a crescer. Seus lábios estavam entreabertos enquanto ele me olhava de volta e eu sorri constatando de que era ele mesmo ali.
Eu não tinha ideia de que ele se tornaria tão importante para mim como ele era naquele momento. Eu faria tudo de novo se fosse para trazê-lo para mim. Amar Draco naquele momento tomava conta de tudo em minha mente e sentir sua pele, seus dedos entrelaçados aos meus, aquecia meu coração. Draco estava ali, transbordando sentimento do jeito que só ele sabia fazer, não com palavras, mas pelo olhar azul penetrante e pelo sorriso de lado ao perceber que eu o observava minuciosamente.
- O que foi? – ele perguntou e apertou os dedos nos meus.
- Eu gosto de olhar para você – eu respondi – Você é uma ótima visão.
- Isso é bom – ele riu – Você também é uma ótima visão.
- Eu sei – respondi e ele riu mais uma vez – Eu gosto quando sorri, você deve fazer isso mais isso.
- Então, eu tenho que te encontrar mais vezes porque você é a maior razão do meu sorriso – ele respondeu galanteador e eu gargalhei alto.
- Você não perde um momento, não é mesmo? – eu respondi e segurei seu rosto, deixando um selinho em seus lábios.
- Nunca vou perder. – Malfoy respondeu antes de me beijar.
Suas mãos foram para minha cintura, me puxando para mais perto e eu abri minhas pernas para que ele se encaixasse ali. Draco me beijou devagar, aproveitando cada parte de mim e como sempre, me beijando com o corpo todo.
Suas mãos se infiltraram pela minha camisa e eu senti seu toque contra a pele da base das minhas costas, fazendo um carinho. Suguei sua língua e agarrei sua nuca com mais força quando senti sua mão direita subir pelas minhas costas. Minhas pernas foram para sua cintura e eu finalizei o beijo sugando seu lábio inferior com força. Beijei seu pescoço com vontade e voltei a beijá-lo rapidamente com uma necessidade sufocante de ter os lábios dele contra os meus. Draco segurou minhas coxas e mordiscou meu lábio inferior, indo depois para minha orelha e sugando o lóbulo. Um arrepio percorreu minha espinha e eu precisava de mais contato, precisava sentir sua pele quente contra minha.
Puxei sua camisa de dentro da calça e Malfoy a puxou pela cabeça, jogando em qualquer lugar atrás de nós. Eu também tirei a minha e agora nossos tórax se encontravam. Porém, eu queria mais. Draco tirou meus sapatos e puxou minhas meias ¾ tirando também. Beijei seu peito e ele apertou minhas costas enquanto respirava fundo. Nós nos encaramos por alguns segundos compenetrados. Os lábios dele estavam ficando vermelhos e seu rosto já tinha perdido a feição preocupada. Voltamos a nos beijar e eu segurei em seus ombros nus sentindo sua pele quente nas palmas das minhas mãos. Malfoy me puxou pela cintura e fez um carinho com os polegares naquela região.
Apesar da necessidade insana pelo corpo um do outro, ainda havia afeto. Draco conseguia mesclar esses dois lados muito bem e eu me sentia tão amada estando com ele. Meu namorado finalizou o beijo sugando meu lábio inferior com certa força e me encarou profundamente antes de se inclinar e me dar um selinho longo segurando meu rosto. Depois ele desceu os beijos para meu maxilar e eu fechei os olhos sentindo suas carícias. Eu ainda segurava seus ombros e suspirei longamente quando senti seus beijos em meu pescoço.
Draco me beijava bem devagar, sugando gentilmente minha pele da região até chegar a meu ombro que recebeu uma mordidinha. Enquanto ele beijava meu colo, eu senti os dedos rápidos de Draco apertarem meu mamilo direito por dentro do sutiã bege que eu usava. Eu sorri sentindo seu toque no exato momento que Malfoy tinha parado de me beijar e passou a me encarar. Ele sorriu também e beijou meus lábios, segurando meu rosto gentilmente. Eu suguei seus lábios finalizando o beijo e o encarei enquanto tirava meu sutiã.
Draco nem esperou eu jogar o sutiã para longe e me beijou com vontade fazendo com que meus seios se chocassem com seu peitoral. Meus pensamentos já estavam totalmente focados em Draco e no que estávamos fazendo, momentaneamente eu esqueci a confusão que eu tinha me metido do lado de fora daquela sala.
Eu joguei minha cabeça para trás quando senti sua língua rápida lamber e chupar meu mamilo esquerdo e sua mão massagear o direito. Puxei seus cabelos e colei nossas bocas mais uma vez, roçando meus mamilos duros em seu peitoral mais uma vez. Draco me empurrou levemente para trás e sem nenhum aviso – para meu total alívio – enfiou a mão por baixo da minha saia e empurrou minha calcinha, pressionando meu clitóris em movimentos circulares. Eu arfei e segurei em sua nuca, empurrando minha vagina em direção à mão dele. Malfoy aumentou a velocidade de sua mão e voltou a me beijar, sugando minha língua enquanto fazia movimentos circulares, incentivando minha lubrificação. O mundo iria cair sobre minha cabeça logo em seguida, mas naquele instante tudo tinha sumido e a única coisa que havia nela era Draco.
- Deita na mesa – ele pediu e eu obedeci, sentindo o tampo gelado em contato com minhas costas quentes – Você nunca mais se esquecer de mim depois de hoje.
Como sempre pretensioso, mas naquele momento eu não iria reclamar de nada. Draco puxou minha saia para baixo junto com a calcinha me deixando completamente nua naquela sala gelada, mas nós estávamos tão quentes que eu não sentia frio nenhum. Ele se ajoelhou, enterrando seu rosto no meio das minhas pernas e meu corpo foi para outro nível de prazer. Eu estava entregue completamente à ele e a tudo o que ele me oferecia.
- Por Merlin... – eu sussurrei e foi a última coisa que eu disse, antes de segurar meus lábios com os dentes para não emitir sons muito altos.
O tampo da mesa, inicialmente gelado, já tinha ficado quente onde meu toráx estava encostado. Meus seios estavam amassados contra a madeira e eu segurava a borda da mesa como se minha vida dependesse disso. Minha respiração estava descompassada e eu tremia inteira – talvez por causa do frio – ao mesmo tempo em que minhas pernas formigavam e pareciam gelatinas.
Meu rosto estava de lado e eu não tinha coragem de abrir os olhos, queria prolongar a sensação gostosa e de alívio que eu sentia percorrer meu corpo. Eu sorri abobada quando Draco começou a beijar o contorno da minha tatuagem de fênix, que provavelmente devia estar queimando muito. Os beijos passaram pelos meus ombros e nuca, chegando finalmente em minha bochecha. Eu finalmente abri os olhos e levantei meu corpo, virando para encarar Draco que sorria para mim. Eu o puxei para um abraço e repousei minha cabeça em seu peito ouvindo seu coração bater rápido como o meu. Malfoy me abraçou, deixando suas mãos em meus ombros para não tocar em minha tatuagem que queimava, e eu abracei seu tronco com força. Seu corpo estava quente e era tão reconfortante estar em seus braços. Eu levantei meu olho e segurei em sua nuca, puxando meu namorado para um beijo molhado. Draco sugou meu lábio inferior e me deu vários selinhos. Eu permaneci de olhos fechados enquanto ainda segurava sua nuca, aproveitando a presença dele ali. Ficamos assim por alguns segundos até que eu o encarei e sorri.
- Vamos nos vestir, esse castelo é gelado. – eu disse e nós nos separamos e começamos a nos vestir.
- Você não vai falar nada? Nem um eu te amo? – ele brincou enquanto colocava a cueca – Eu não recebo nada?
- Nossa, como eu pude me esquecer de enaltecer seu ego, Draco? – eu perguntei irônica e ele riu – Isso é um crime.
- Crime é a gente não poder fazer isso toda hora – ele disse e nós rimos – Eu poderia ficar com você o dia todo.
- Eu também ficaria – eu disse e me aproximei deixando um selinho em seus lábios – Nós nunca sairíamos da cama.
- Isso é um fato. – ele respondeu e nós rimos juntos.
A felicidade estava ali conosco e eu sentia vontade de sorrir o tempo inteiro. Não era apenas pelo sexo, era por ter alguém que me entendia. A sensação de plenitude ia passar logo, mas eu queria aproveitar, então assim que terminamos de nos vestir, voltamos a ficar abraçados sentados no tampo da mesa. Malfoy me apertava de lado e eu deitei minha cabeça em seu peito ouvindo as batidas do coração do garoto voltar ao normal aos poucos.
- Eu amo você – eu disse baixo e recebi um beijinho na bochecha – De verdade.
- Eu também te amo, – ele respondeu – E eu queria te falar uma coisa antes que as coisas mudem.
- O que? – eu perguntei e a ansiedade apareceu.
Draco me soltou, segurou minhas mãos e deu um suspiro. Ele começou a ficar nervoso e parecia que escolhia as palavras que iria usar para falar. Eu fiquei em alerta, mas esperei até ele ter coragem para falar.
- Eu sei que a decisão é tua – ele começou a dizer – Eu sei que eu não tenho muito direito de opinar já que é do teu corpo que estamos falando, mas... Eu acho que tenho uma solução.
Eu não quis falar nada, na verdade não tinha o que falar, mas a tranquilidade que nos envolvia foi embora rapidamente. Apesar do momento maravilhoso que tivemos, ainda havia questões e um problema muito maior para resolvermos.
- Eu tenho um plano – ele começou a dizer – Eu acho que podermos ter esse filho.
- O que? – eu perguntei sem acreditar – Do que você está falando? Nós já tivermos essa conversa e concordamos que não temos chance.
- Eu pensei bem e eu acho que temos sim – Malfoy disse – Mas teríamos que coloca-lo em prática em poucas semanas.
- Draco... – eu ia começar a falar, mas ele me cortou.
- Não, , me deixa falar – ele pediu – Eu quero ter esse filho, eu sei que as nossas chances estão contra nós, mas eu quero.
- Não importa o que você quer, não tem como! – eu retruquei nervosa – E você só está falando isso porque acabamos de transar e eu estou sensível.
- Você não ouviu meu plano ainda. – ele disse.
- Então fale qual é. – eu pedi e suspirei.
- Meus pais e eu temos uma casa de férias no País de Gales – ele explicou – Nós não vamos lá há décadas, ela está totalmente abandonada, nem nos lembramos mais de lá. Nós podemos ir pra lá e viver longe de tudo.
- Você não vai abandonar os teus pais, Draco – eu disse descrente – Você não fez isso antes e não vai fazer agora.
- Mas agora é diferente. – ele disse.
- Por que?
- Porque eu tenho minha própria família – ele explicou – Se você quiser manter a gravidez... Nós podemos dar um jeito. – Draco disse e eu suspirei, segurando a vontade de chorar.
- Como nós vamos fazer isso, Draco? – eu perguntei – Como vamos chegar nesse lugar? E se seus pais soltarem nossa localização para alguém?
- Eu não vou falar pra eles – ele respondeu e percebi tristeza em seu rosto – Eu vou desaparecer. Eu estou cansado dessa vida, . Cansado e arrependido das coisas que eu fiz. Eu não quero mais ser comensal, eu cansei. Entrei nisso achando que seria algo que me daria orgulho, mas a única coisa que eu vi foram coisas erradas. Eu fui um idiota quando achei que seria honrado e faria grandes feitos. Eu só machuquei pessoas e fiz trabalhos sujos, eu não quero mais isso.
Eu continuei em silêncio, não tinha como continuar a conversa depois desse desabafo. Draco parou de me olhar e suspirou, encarando nossas mãos entrelaçadas e eu percebi que ele estava triste. Se eu aceitasse esse plano, a vida dele seguiria outro rumo e ele daria as costas para as pessoas mais importantes de sua vida: os pais. Malfoy possuía uma veneração cega em especial pelo pai e eu sabia o quão difícil estava sendo para ele sugerir um plano que o colocaria por tempo indeterminado longe dos pais. Draco estava disposto a um sacrifício para assumir a responsabilidade por um ato que cometemos. Ele estava cumprindo com a obrigação que iria possuir e cabia a mim “autorizar” isso.
- Como chegaremos até lá? – eu perguntei.
- O feriado da páscoa será em dez dias – Draco começou a explicar – Nós vamos dizer para os nossos pais que iremos ficar no castelo e para a direção que iremos para a casa. Como somos maiores de idade, eles não vão questionar.
“Vamos em cabines separadas no Expresso para não levantarmos dúvidas e claro, não vamos levar todos os nossos pertences, teremos que deixar algumas coisas em Hogwarts para não levantar suspeitas. Atravessaremos a plataforma, saímos da estação separados e nos encontramos na última travessa da Pancras Road. De lá, nós nos escondemos em Londres já que não poderemos usar os meios bruxos para viajar e viajamos de trem. Será muito difícil, mas podemos dar um jeito.”
O plano era tentador, mas muito arriscado. Sem que eu tivesse controle, uma vida simples com Draco e nosso bebê pipocou em minha cabeça e meu coração se encheu de esperança. Eu quase podia visualizar nossa vida longe de todos os problemas, longe da perseguição e do caos que estávamos vivendo. Era como respirar de novo depois de se afogar, uma oportunidade de ter uma vida normal. Draco me encarou e seu olhar transbordava expectativa.
- Por que você quer? – eu perguntei – Seria mais fácil pra você se eu tirasse esse bebê. Por que você quer que eu continue com a gravidez?
- Eu não sei direito – ele respondeu – Eu sinto que se nós não tivéssemos nenhuma chance, seria uma opção, mas nós temos uma chance. Eu tinha me esquecido daquela casa, mas é um lugar ótimo.
- Você vai se apavorar nos primeiros dias e me largar sozinha – eu o acusei – Eu sei disso.
- Falando desse jeito você me ofende – Draco respondeu e ficou sério – Eu não vou fazer isso, . Estou desde o começo dessa conversa te dando argumentos plausíveis, estou dizendo que se você quiser manter, você vai ter o meu apoio, eu não vou te abandonar.
- Você já fez isso antes – eu mais uma vez o acusei sem ter ideia do motivo de estar fazendo isso – Você me abandonou jogada no chão machucada enquanto fugia.
- Aquilo foi diferente, foi em outra época, nós éramos outras pessoas – Malfoy argumentou – Eu me arrependo de ter feito aquilo e eu sei como agir agora. Você tem problemas de confiança causados unicamente por mim, eu sei disso. Só que eu nunca mais traí sua confiança e você sabe.
- Eu vou pensar mais um pouco – eu disse e suspirei – Eu ainda não sei.
- Não se sinta pressionada a aceitar meu plano, ouviu? – Draco disse – Vou te apoiar independente do que você decida. Você não vai me decepcionar se escolher outra coisa.
- Eu sei que eu não vou – respondi – Mas obrigada por pensar nisso.
Nós nos abraçamos mais uma vez e eu fiquei deitada em seu peito pensando em tudo o que poderia acontecer se eu aceitasse o plano. A casa teria que ser reformada, teríamos que colocar barreiras mágicas, além de dar um jeito de conseguir comida e até roupas. Seria uma aventura louca que teríamos que começar se eu concordasse.
- Você acha que eles estão procurando por mim? – eu perguntei.
- Provavelmente, mas eu coloquei uma barreira na porta, eles não vão nos achar aqui – Draco disse enquanto fazia um carinho em meu braço.
- É melhor voltarmos – eu sugeri – Meus amigos devem estar preocupados e eu preciso enfrentar as consequências.
- Não, fica mais um pouco – ele pediu – Não vai agora. Fica comigo.
E nós ficamos ali não sei quanto tempo simplesmente sem fazer nada somente aproveitando a companhia um do outro, aproveitando que todos os nossos problemas estavam do lado de fora. Nós nos sentamos um de frente para o outro e Draco entrelaçou nossos dedos enquanto me olhava. Eu sustentei seu olhar e ganhei um beijo na testa como resposta. Eu suspirei e fiz um carinho em seu rosto, beijando Malfoy demoradamente depois. Encaixei minhas pernas em sua cintura e assim conseguimos ficar mais próximos. Repousei minha cabeça em seu ombro e Draco me abraçou apertado, fazendo um carinho em minhas costas.
- Droga, eu amo tanto você, ... – ele sussurrou em meu ouvido, mas de um jeito sofrido – Tanto.
- E por que o tom sofrido? – eu perguntei e ele me encarou.
- Você não é a única que tem medo por aqui – ele respondeu – Eu não quero que você saia dessa sala, não quero que você se machuque.
- Eu também não quero, amor – eu respondi e fiz um carinho em seu rosto. Draco tinha o olhar mais dolorido que eu já vira e isso me machucava por dentro – Eu também estou com medo.
- Tente colaborar de algum jeito, sim? – ele pediu e segurou minha mão esquerda com força – Não responda com grosseria e não seja insubordinada, tente colaborar, por favor.
- Eu vou – eu respondi – Por você, eu faço isso.
- Eu quero você viva – ele disse – Eu quero você respirando, quente e com batidas no coração.
Eu segurei o choro e assenti, abraçando Malfoy apertado. Segurei seu rosto e dei um selinho demorado em seus lábios, beijando as bochechas e a testa logo depois. Draco beijou minhas mãos, cada um dos meus dedos e me abraçou de novo, demorando mais para me soltar daquela vez.
- Nós temos que ir – eu respondi – Acho que está na hora.
- Sim, está. – ele respondeu.
Draco levantou da mesa e eu encarei o teto de abóbada mais uma vez antes de me levantar também. O Espelho de Ojesed estava logo ao nosso lado e eu caminhei até ele, puxando o pano que o cobria e vendo meu reflexo ali.
Quando eu tinha feito isso, quase um ano antes, estava usando uma blusa vermelha e meus cabelos não estavam tão grandes como estavam naquele momento. Encarei meu reflexo e era como se outra pessoa estivesse ali. O coração quebrado que eu possuía naquela vez tinha sido consertado, mas eu não tinha a mínima ideia do que eu iria passar. Ao meu lado apareceu Draco, mas diferente daquela vez, o verdadeiro Malfoy estava parado ao meu lado segurando minha mão. Não era apenas um desejo da minha cabeça, sua mão quente estava em contato com a minha. Contudo, saindo de trás de minhas pernas uma criança apareceu. Era uma menina e não devia nem ter chegado aos dois anos. Ela se equilibrava em minha perna e meu reflexo se abaixou para pegá-la no colo. Ela me abraçou apertado, mas se jogou na direção de Draco quando o viu sem pestanejar e ele estava ali para pegá-la. Ela não era tão pálida quanto Draco, mas tinha a cor dos meus cabelos. Ela ria das brincadeiras que ele fazia e meu reflexo sorria da cena. O meu eu do espelho me encarou profundamente e eu entendi o que ele quis me mostrar.
- O que você está vendo? – eu perguntei.
- É difícil falar... – ele começou a percebi sua voz embargada – O que você está vendo?
- Eu, você e... – eu não conseguia continuar, na verdade, não conseguia parar de olhar para a pequena criança no espelho.
- A menina, não é? – ele completou – Eu também estou vendo.
- Acho melhor nós irmos – eu disse, mas não saí do lugar e Draco riu.
- Você não quer embora mais, não é? – ele perguntou.
- Não, eu só quero ficar aqui olhando para esse reflexo. – eu respondi e nós rimos juntos.
- Será que ela vai ser assim? – ele perguntou.
- Por que você está supondo que vai ser uma menina? – eu perguntei.
- Eu não sei, acho que é o espelho mostrando o que eu quero. – ele disse.
- Já chega – eu disse – Melhor não olharmos muito.
Soltei sua mão e peguei o tecido, jogando em cima do espelho e me afastando de lá. O conflito em meu coração piorou depois de eu ter visto o que eu mais queria. Draco se aproximou de mim e me abraçou apertado também sem dizer nada.
- Nós temos que ir. – eu disse e enxuguei meus olhos, segurando firme na mão de Draco enquanto caminhávamos para a saída. A porta se materializou à nossa frente e eu suspirei antes de dar um passo em direção à ela.
O corredor estava silencioso e não tinha ninguém. Eu dei um suspiro aliviado e olhei para Draco. Ele olhava para todos os lados e mantinha a mão direita sobre a varinha em seu bolso. Eu me inclinei e beijei sua bochecha, dando um sorriso sem mostrar os dentes tentando passar uma tranquilidade que eu não tinha.
- Pra onde iremos? – ele perguntou.
- Eu vou para a Grifinória – respondi – Preciso falar com meus amigos e esperar.
- Melhor – Draco segurou meu rosto e beijou minha testa – Se algo acontecer, eu te mando uma coruja.
- Isso está muito parecido com nossa despedida ano passado, lembra? – eu disse – Antes dos comensais invadirem o castelo.
- Eu lembro.
- Eu vou indo, tudo bem? – eu disse e o abracei uma vez mais, mas Malfoy me segurou em seus braços.
- Eu não quero te deixar ir embora... – ele sussurrou em meu ouvido.
- Mas você precisa – eu sussurrei de volta – Eu vou ficar bem, Draco. Eu sou a fênix, sempre vou renascer das cinzas. Não vai ser minha primeira vez.
- Você é forte, mais do que eu – ele respondeu e me deu um selinho – Eu te amo.
- Eu também te amo. – eu respondi e me separei dele caminhando com passos rápidos até a Grifinória e deixando Draco para trás, não quis olhá-lo senão iria voltar correndo.
Assim que eu passei pelo buraco do retrato, eu ouvi uma salva de palmas começar e me assustei. Olhei ao redor e todos da Grifinória estavam ali batendo palmas para mim e me olhando com sorrisos. Eu não entendi nada e me aproximei de Gina que me abraçou apertado.
- O que está acontecendo? – eu perguntei em seu ouvido já que o barulho estava muito alto. As pessoas gritavam meu nome, assobiavam e davam vivas.
- A Grifinória toda ficou sabendo do teu ato de coragem na sala da Carrow – ela explicou sorrindo – Todos estão orgulhosos de você, !
Em seguida meus amigos vieram me abraçar e outros alunos que eu só conhecia de vista. Eles me davam parabéns e tapinhas no ombro, me agradecendo pela coragem. Alguém me entregou uma garrafa de cerveja amanteigada que eu não tinha ideia de como tinha parado na sala comunal e Nate veio até mim com um sorriso de orelha a orelha.
¬- Lembra-se daquele grande ato que precisávamos para mobilizar as pessoas? – ele disse e eu assenti – Você conseguiu, .
- Isso é muito louco – eu respondi e dei um gole em minha cerveja – Como conseguimos cerveja?
- Cortesia de nossos amigos lufanos. – ele respondeu e me abraçou de lado.
- Eu não sei se deveria comemorar – eu disse, mas pausei para receber um abraço de uma secundarista que veio até mim – Provavelmente os comensais devem estar me caçando pela escola.
- Aproveite, meu bem – Nate respondeu e me deu um sorriso safado – Você merece.
Alguém ligou o rádio e uma música animada começou a tocar e de repente todos os grifinórios estavam pulando e dançando como se nada de ruim estivesse acontecendo. De repente, todos ali voltaram a ser os adolescentes que deveríamos ser e eu sorri quando vi Simas soltando snaps explosivos com os outros alunos enquanto algumas alunas dançavam animadas.
- Dança comigo. – Nate pediu segurando minha mão.
- O que? Não! – eu disse, mas ele já estava me arrastando para o meio das pessoas.
- É melhor fazer isso agora – ele disse antes de me girar e sorrir – Antes da casa pegar fogo.
Eu sorri e dei de ombros, começando a pular com o resto dos alunos. Alguém aumentou ainda mais a música e eu sorri feliz ao ver que meus amigos vinham para perto de mim. Era ótimo passar tempo com eles antes de tudo piorar. Os alunos faziam passinhos e alguns casais se beijavam enquanto dançavam juntos. Neville se aproximou e começou a dançar de um jeito desengonçado que me arrancou muitas risadas. Gina e eu começamos a dançar juntas mexendo os quadris e nossos braços. Nate se aproximou e me puxou, girando comigo e eu acabei derrubando cerveja no chão. Dei um gole na bebida e mais uma vez naquele dia minha cabeça fez os problemas desaparecerem e eu me senti feliz no meio de pessoas que estavam felizes por mim. Eu continuei a dançar de olhos fechados e senti a música animada fluir pelo meu corpo e eu sorri. A música estava alta e todos continuaram a dançar sem perceber que alguém passava pelo buraco do retrato.
- MAS O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? – a professora McGonagall gritou e nos encarou bravos. Todos que estavam dançando pararam com os olhos esbugalhados e eu tentei segurar o riso. A música abaixou e todos os alunos ficaram em silêncio – NÃO CREIO QUE NO MEIO DE UMA CRISE EM HOGWARTS, VOCÊS ESTEJAM FAZENDO UMA FESTA!
- Nós estamos comemorando, professora – Nathan disse ao meu lado – Comemorando um dos poucos atos de coragem.
- 50 pontos a menos para a Grifinória – ela disse e quando ouviu a indignação das pessoas completou – PELA FESTA NÃO AUTORIZADA NO SALÃO COMUNAL!
- Eu sinto muito professora – eu me pronunciei – Eles fizeram isso por mim.
McGonagall ficou em silêncio e observou o rosto de cada um dos alunos. Seu rosto estava sério e por um segundo, eu cogitei que ela iria tirar mais 50 pontos da Grifinória, dessa vez por causa de mim.
- Muito bem – ela disse e deu uma pausa – 50 pontos para a Grifinória pela sua coragem, senhorita – a sala toda começou a gritar em comemoração – Você é uma verdadeira Grifinória.
- Obrigada, professora. – eu respondi sem acreditar.
- Contudo, eu preciso que você venha comigo – ela disse e seu rosto assumiu genuína preocupação - O professor Snape quer vê-la.
- Tudo bem – eu respondi e dei um último gole entregando a garrafa para Nate – Eu tenho que ir.
- Nós vamos com você! – Gina disse.
- É melhor não – eu respondi – Eu vou ficar bem, Gina.
Eu sorri para meus amigos e tentei passar confiança para eles, mas dentro de mim, eu estava a ponto de explodir. Minha ansiedade aumentou e eu senti minhas mãos suarem a medida que eu andava para fora da sala comunal. Meu estômago doía e a única coisa que rondava minha mente era que eu iria morrer naquele dia. Ao chegarmos em frente à Gárgula, eu parei por uns instantes e suspirei. McGonagall foi gentil e esperou.
- Professora – eu pedi segurando o choro – Não me deixa sozinha.
- Eu não vou deixar, senhorita – ela respondeu – Você é minha aluna.
A porta da sala do diretor estava aberta e quando entramos Snape estava sentado na cadeira de Dumbledore e sua expressão não demonstrava sentimento nenhum, nem positivo ou negativo. Somente ele estava lá, mas isso não me deixou nada tranquila. Ele fez um movimento com a varinha e a porta atrás de nós se fechou. O silêncio pairava ao nosso redor e eu não tinha coragem de quebrá-lo. Minha boca estava seca e eu estava ao ponto de explodir de ansiedade.
- Muito bem – Snape disse e se levantou descendo os degraus que dividia a sala em dois pavimentos e se aproximou de nós – Senhorita .
- Professor Snape. – eu respondi e tentei exalar tranquilidade, mas qualquer pessoa inteligente veria que era um blefe total.
- Você está constantemente me causando problemas – ele começou a dizer – Incitando os alunos contra o regime, brigando dentro da sala de aula, não uma, mas duas vezes, entregando folhetos com mensagens apoiadores ao Indesejável Número Um, participando de comemorações que celebram Potter e agora... Admite a pichação das paredes e ataca um professor.
- Nós já conversamos sobre isso, professor Snape – McGonagall se pronunciou – Ela agiu em defesa dos alunos do primeiro ano que seriam usados como cobaias das Maldições Imperdoáveis.
- Amico jogou a Imperius em mim e tentou fazer com que eu cortasse meu dedo fora – eu disse – Tenho testemunhas, qualquer pessoa que eu chamar pode te garantir isso.
- Calada! – ele disse firme e eu obedeci somente porque tinha prometido à Draco que iria tentar – Você me deixou em um impasse, senhorita . O certo a se fazer é te expulsar, mas no momento atual precisamos te manter sob nossa vigia. Por mim, eu te mandaria direto para o buraco onde seus pais traidores de sangue moram e você não seria mais problema meu. Eu também deveria te mandar para Azkaban para os dementadores sugarem até a última gota de felicidade que existe em você, mas isso só traria mais publicidade negativa para a nova direção do Ministério da Magia. Você se tornou um símbolo de resistência nessa escola e se algo acontecer com você só irá incitar ainda mais os alunos a se rebelarem como já está acontecendo. Eu sei perfeitamente da festa ilegal que vocês estavam fazendo na Grifinória. Não tem nada que aconteça nesse castelo que eu não saiba. Contudo, não vou deixar você sair ilesa desta situação.
O suor descia pelas minhas costas e eu não estava aguentando mais. O medo me corroía por dentro e eu só pensava em correr para longe dali e me esconder até o ano letivo acabar em qualquer lugar daquele castelo. Olhei o retrato de Dumbledore que parecia extremamente preocupado de sua cadeira e meus olhos se encheram de lágrimas. Eu imaginei Dumbledore vindo me ajudar, descendo daquele retrato e enfrentando Snape, Voldemort e toda a corja de comensais. Imaginei meu tio-avô restaurando Hogwarts e o Ministério da Magia, salvando o mundo junto com Harry e trazendo paz ao mundo bruxo. Contudo, isso nunca poderia acontecer. Não havia mais solução.
Uma porta lateral se abriu e para meu completo desespero, Draco entrou sendo segurado por Amico Carrow que estava com uma faixa na cabeça e por Jugson. O olho esquerdo de Malfoy estava roxo e ele se debatia tentando se soltar. No mesmo instante eu entendi o que Snape iria fazer e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, dois comensais que eu não tinha ideia de onde tinham vindo seguraram meus braços e os braços da professora McGonagall.
- Snape! – a professora McGonagall gritou – O que está fazendo?
- Dando a punição que a senhorita merece – ele respondeu – Tragam Draco aqui.
Eu não piscava enquanto via Carrow e Jugson jogando Draco no meio da sala. Meu namorado levantou a cabeça e me olhou sério, mas não disse uma palavra sequer. Carrow apontou a varinha para a cabeça dele e me encarou com um sorriso debochado no rosto.
- Com uma ordem minha, Carrow pode fritar o cérebro de Draco assim como Bellatrix fez com os Longbottom – Snape disse – Eu mando nessa escola e posso decidir tudo.
- Mas Draco é comensal! – eu respondi – Vocês não podem machuca-lo, ele é um de vocês!
- Draco deixou de ser um de nós quando você atravessou o caminho dele – Snape respondeu – Ele não é importante para o Lord das Trevas.
- O que você quer? – eu perguntei desesperada – O que você quer, Snape?
- Agora você está querendo negociar, ? – ele disse debochado – Antes você não queria.
- As coisas mudam, o que você quer? – eu disse.
- Você perdeu a saída da Páscoa – ele respondeu e eu gelei, o plano de Draco falhou antes de mesmo de começar – Você vai ficar aqui nesse castelo até o final do ano letivo e será vigiada o tempo inteiro.
- Tudo bem, eu fico – eu respondi afobada – Agora, por favor, solte ele.
- E vai fazer um pronunciamento em frente a todos os alunos – Snape disse e deu um sorriso de escárnio – Pedindo desculpas e dizendo que apoia o ministério.
- O que? Eu não vou fazer isso! – eu respondi, mas assim que eu disse, Amico deu um soco no estômago de Draco que caiu ajoelhado no chão arfando – Não, não, não! Eu faço! Eu falo, só, por favor, não machuquem ele!
Eu estava claramente aflita e queria correr até meu namorado, mas o comensal ainda me segurava. Eu segurei o choro e tive que esperar Snape dizer alguma coisa. Propositalmente ele se manteve em silêncio só para que o barulho de Draco arfando reverberasse pelas paredes. Malfoy estava encolhido no chão em posição fetal e evitava me olhar. Era agoniante vê-lo ali machucado e não poder fazer nada. Meu coração acelerou e eu encarei Snape com raiva sentindo meu controle ir para o saco. Entretanto, Snape percebeu que eu iria explodir e levantou caminhando até mim.
- Muito bem – ele respondeu – Você vai fazer isso antes do jantar.
Assim que meus braços foram livres, eu corri até Draco e me ajoelhei ao seu lado segurando em seu ombro. Draco ainda estava encolhido no chão quando eu ouvi Amico dizer:
- Mas só isso? Ela só vai receber isso de punição? Você está fora de si, Snape? Essa fedelha tem que sofrer muito mais do que perder a saída para o castelo! Eu não admito que...
- Recolha-se a tua insignificância, Amico! – Snape disse mais alto – Você é um mísero professor e não tem poder de mandar em nada aqui! Eu decido o que fazer com os meus alunos. Lord das Trevas me deu esta função e você obedeça!
Eu estava focada em Draco, não estava vendo o que estava acontecendo e por isso meu coração disparou fortemente quando eu senti uma mão no meu pescoço. Eu fechei os olhos e senti o impacto do chão em minhas costas me deixando sem ar. Assim que eu abri meus olhos a primeira coisa que eu vi foi o rosto irado de Amico bem perto do meu. Ele parecia um animal e apertava meu pescoço com as duas mãos. Seus olhos estavam arregalados e raiva jorrava de suas íris.
- Pode não ser hoje, mas eu vou me vingar de você – ele sussurrou com o rosto bem próximo do meu – Eu não vou parar enquanto não ver teu corpo sem vida no chão.
Dois comensais puxaram Amico de cima de mim e ele saiu arrastado da sala. Eu comecei a tossir sem ar e meus olhos se encheram de lágrimas. Eu virei para o lado e Draco me encarava com o os olhos assustados. Ele se levantou com dificuldade e me amparou, ajudando com que eu ficasse sentada. Eu segurei em seu braço enquanto tossia, tentando recuperar meu fôlego.
- Ah, tirem esses dois da minha frente, professora McGonagall – Snape disse – E , não se esqueça. Antes do jantar, você vai finalmente ter todo o destaque que sempre quis.

n/a: dê play e deixe tocar até o fim do capítulo!

Minhas pernas tremiam e eu me sentia um lixo por isso, mas eu precisava obedecer. Dessa vez eu precisava me comportar e abaixar a cabeça. Meu coração doía e eu sabia que toda a Grifinória iria me julgar como traidora, mas eu não tinha outra opção. Eu sabia que meus amigos entenderiam, mas o resto... O resto me veria como a pior pessoa do mundo. Talvez eu fosse até mais odiada do que Lord Voldemort. Minha mão suava e eu estava a ponto de vomitar tamanha era ansiedade que fazia meu estômago doer. Eu queria chorar, mas eu não podia, por isso segurei e tentei parecer forte. O jantar estava prestes a começar e eu estava somente esperando o aval de Snape para atravessar a porta lateral e encarar todos os alunos. Meu estômago deu outra volta e eu encarei os comensais ao meu redor – para meu alívio, Amico não estava ali – e suspirei nervosa.
- Eu acho que vou vomitar. – eu disse e eles apenas riram.
- Só não suje meu sapato, bonitinha. – um deles disse e os outros gargalharam.
Eu tinha concordado com Snape. Em minutos eu iria dizer palavras que eram totalmente contra tudo o que eu acreditava, tudo o que Dumbledore me ensinou. Eu iria decepcionar meu maior mestre e isso me destruía por dentro.
E tudo isso para, talvez, não permitir que Draco se machucasse, porque mesmo concordando com as exigências de Snape eu não tinha a certeza de que ele sairia bem e vivo de toda essa história. Meu consciente dizia que era somente isso, mas lá no fundo eu sabia que tinha concordado também para que nada acontecesse comigo e, consequentemente, o bebê ficasse bem também. O plano de Draco teria que esperar mais um pouco, mas ele não tinha deixado de ser uma opção por mais que eu lutasse para que ele não fosse.
Meu pescoço estava todo vermelho com as marcas das mãos de Amico e ao me lembrar disso, um pavor exorbitante desceu pela minha espinha e quando percebi lá estava eu de novo tentando segurar o choro.
- Ô, bonitinha – o comensal que tinha falado comigo antes me chamou e eu olhei – Chegou a hora.
- Certo.
A porta se abriu e eu suspirei, enxugando minhas mãos suadas na saia preta do meu uniforme. Eu caminhei com passos vacilantes e atravessei a porta, me deparando com todos os professores me olhando confusos. Andei mais um pouco e fui até o púlpito em formato de coruja que Dumbledore usava tantas e tantas vezes. Toda a escola olhou para mim e eu percebi a confusão de todos que me conheciam, em especial meus amigos que não estavam entendendo nada. Eu olhei para Draco sentado com os sonserinos e ele me olhava assustado enquanto murmurava: não faça isso, não faça isso, não faça isso! Bom, já era tarde demais, meu amor. Infelizmente nós perdemos. Eles tinham conseguido, não havia mais nada que eu pudesse fazer. Quero dizer, só tinha uma coisa. Eu suspirei e antes de começar a falar, eu coloquei meu cabelo para trás e deixei meu pescoço machucado à mostra. Automaticamente os alunos que estavam mais a frente começaram a cochichar.
- Boa noite a todos – eu comecei a dizer seguindo o pedaço de pergaminho que Snape tinha me entregado quando fora me buscar pessoalmente na Ala Hospitalar – Eu sou , aluna do sétimo ano e pertenço à Grifinória. Muitos não sabem, mas hoje eu cometi atrocidades neste castelo – um burburinho aumentou e eu encarei meus amigos que ficaram ainda mais confusos – Ataquei um professor em uma aula injustamente – a confusão se espalhou pelo salão e Draco abaixou a cabeça – E por isso venho aqui publicamente pedir desculpas ao professor Amico Carrow que estava tentando somente ensinar seus alunos.
- O que? Você enlouqueceu? – alguém gritou e recebeu um empurrão de um comensal que passava perto.
- Meu comportamento é inaceitável – eu prossegui e dei um suspiro – E de hoje em diante eu me comprometo a melhorar. Seguir as ordens da escola e respeitar as decisões do diretor.
- FALE A VERDADE!
- VOCÊ ESTÁ MENTINDO!
- TRAIDORA!
- Quero também deixar claro que antes eu estava passando por problemas psicológicos que nublaram meu julgamento e agora eu vejo como apoiar Harry Potter é errado. Potter é um assassino, subversivo e só traz malefícios para a sociedade forte e limpa que estamos construindo – a cada palavra que eu dizia meu coração tomava uma pontada. Eu queria gritar que nada daquilo era algo que eu realmente pensava, mas eu não podia. Eu levantei meu olhar e vi raiva no olhar de todos da Grifinória. – O Ministério da Magia deve ser respeitado junto com suas novas regras que só estão aqui para nos proteger e limpar nosso mundo da... – eu respirei fundo e me senti um lixo por continuar – E limpar nosso munda da... Da escória dos sangues ruins.
Eu guardei o papel no bolso e ainda tive que caminhar até a mesa da Grifinória e me sentar. O salão continuava em silêncio, as pessoas estavam perplexas e não conseguiam dizer nada. Assim que eu me sentei ao lado de Nate, ele me olhou assustado e perguntou:
- O que foi isso, ? Por Merlin, o que foi isso?
- Eles conseguiram me derrubar, Nate – eu disse – Foi isso que aconteceu.
Meus olhos se encheram de lágrimas e eu finalmente me permiti chorar, deitando minha cabeça em meus braços e escondendo meu rosto para que impedir que o show que Snape preparou fosse ainda pior. Era isso, eu tinha perdido mais uma vez.

The best of the best and the worst of the worst: trecho retirado da música do capítulo “Big God” e significa: o melhor do melhor e o pior do pior.


Consequências

Eu encarava a vista da janela do quarto que eu dividia com as outras meninas. Hogwarts vista da torre da Grifinória parecia pacífica. De longe não podemos notar os problemas, somente quando nos aproximamos é que as mazelas finalmente aparecem em nossa visão. Para encontrar as dificuldades de Hogwarts era preciso usar um microscópio. Aos olhos das pessoas de fora, a escola era o lugar mais seguro. Para nós que vivíamos dentro do castelo, era um inferno. Contudo, era difícil não olhar para Hogwarts e não sentir certa melancolia.
Em poucos meses, meu último ano da escola chegaria ao fim – se eu sobrevivesse até lá – e eu me veria livre para partir. Porém, eu não tinha ideia para onde eu iria. Não sabia se meus pais me aceitariam, já que o prazo para que eu encerrasse a gravidez estava quase no fim e eu ainda não tinha tomado nenhuma decisão. O plano de Draco tinha dado errado antes mesmo de começar e minha saída do castelo tinha ficado cada vez mais longe. Eu suspirei frustrada, mas não deixei de encarar o lado de fora.
A Floresta Proibida parecia que respirava em contraste com a cabana vazia e apagada de Hagrid. Era estranho não ver uma fumaça sequer saindo da chaminé do Guarda-Caças. Sua horta estava completamente morta e as abóboras que antes pareciam pequenos pontos laranjas que eram vistos de qualquer lugar, agora estavam estragadas e pássaros pousavam para procurar o que restou. Era triste ver o que a escola tinha se tornado.
A página do livro de Skeeter estava marcada já que eu não conseguia continuar a leitura, pois meu coração estava apertado demais. Assim como Hermione fazia quando estava triste, eu me refugiei nos livros e tentei encontrar alguma coisa, qualquer mínimo sinal que indicasse o motivo de Snape ter tomado meu colar ainda no começo do ano. A caixa que Dumbledore tinha me deixado estava ao meu lado, mas eu não conseguia tirar nenhuma informação dali. Ou talvez não enxergasse nada.
Fiquei tanto tempo me metendo em problemas e tentando sobreviver a eles que tinha me esquecido de Dumbledore e do que ele havia deixado para mim. Olhei o relógio em meu pulso e em trinta minutos eu tinha aula de Feitiços. Fechei o livro, tranquei a caixinha e coloquei tudo no fundo de meu malão. Peguei minha bolsa e um cachecol, já que havia um vento gelado ainda que estivéssemos em março.
Desci as escadas e logo notei os olhares dos outros alunos voltados para mim. Eu já estava acostumada com isso, porém daquela vez era diferente. A maioria deles estava com raiva de mim ou de alguma maneira decepcionados pelo meu pronunciamento no último jantar. Alguns vieram me procurar e perguntar o que tinha acontecido, mas uma grande parte decidiu me odiar sem nem me ouvir. Encontrei Neville sentado em uma das poltronas com uma expressão de tédio e me aproximei, dando um sorriso:
- Neville? O que foi?
- Estou esperando o senhor “arrasa corações” ali para a aula – ele respondeu e apontou para uma região atrás de nós. Nate estava conversando com uma aluna do quinto ano – Eu acho impressionante como ele consegue flertar tão facilmente e eu aqui gaguejo pra falar com qualquer menina.
- Você precisa ter mais autoconfiança, Neville – eu respondi – E isso não acontece de um dia para o outro. É um processo.
- Falando assim parece fácil – ele disse e suspirou mais uma vez – Mas a única garota que eu me interessei, está em algum lugar presa ou sabe-se lá o que.
- Eu pergunto ao Draco de vez em quando se ele sabe alguma coisa de Luna – eu respondi – Ele me disse que ela está na mansão Malfoy.
- Mas eles estão cuidando dela? – Neville perguntou.
- Malfoy me disse que eles estão cuidando de Luna na medida em que os comensais podem cuidar de alguém. – eu respondi.
- Todas as cartas da minha avó chegam com pedaços faltando – ele mudou de assunto – As tuas estão chegando assim também?
- Ao menos as cartas da sua família chegam – eu respondi – Nem isso acontece comigo, eu acho que eles estão fazendo alguma coisa.
- É, eles podem estar capturando as cartas – ele sugeriu – Você tem ido ao corujal?
- Sim, todas as manhãs – eu respondi – Só que não tem nada e minha coruja ainda não voltou. Acho que meus pais não permitiram que ela voltasse.
Nate apareceu ao meu lado com um sorriso convencido. Ele trazia as mãos nos bolsos e sua bolsa-carteiro estava transpassada pelo seu corpo. Ele me olhou profundamente antes de falar:
- Eu consegui um encontro essa tarde.
Eu senti que ele analisava meu rosto completamente, procurando uma reação, a mínima que fosse. Eu dei um sorriso e respondi:
- Isso é muito bom, Nathan! É bom um pouco de normalidade nesse castelo de vez em quando.
- Isso é verdade – Neville concordou e se levantou – Acho melhor irmos.
- Você e Draco estão bem? – Nate perguntou enquanto caminhávamos – Já decidiram o que vão fazer?
Meu corpo foi atingido por uma carga intensa de ansiedade e eu arfei, me lembrando do feto dentro de mim. Eu me sentia cada dia mais diferente, minha barriga pesava e eu já estava na oitava semana. Dois meses de gestação e eu ainda não tinha decidido nada. Minha barriga ainda não aparecia muito e eu conseguia disfarçar muito bem com a capa do uniforme, conseguiria usar esse método pelo menos até o final do ano letivo, já que eu não sairia mais daquele castelo até as aulas acabarem. Eu encarei Nate e apenas neguei com a cabeça, entrando na sala e já reparando que o professor Flitwick se encontrava em seu palquinho. O problema com os comensais tomou tanto meu tempo que eu simplesmente joguei a decisão mais séria daquele momento para debaixo do tapete. Porém, eu não podia adiar mais. Eu precisava escolher. Eu estava com muita azia naquela tarde e tive que sair da sala pelo menos duas vezes para lavar o rosto e tomar um pouco de água já que além da azia, eu estava com muito sono. Não conseguia ficar concentrada por muito tempo e bocejava a cada minuto. Era um sono que eu nunca tinha sentido em toda a minha vida e eu tinha certeza que assim que a última aula do dia acabasse eu ia direto para a torre tirar um cochilo. Era difícil me concentrar na aula, mas eu fazia um esforço.
- – alguém me chamou e eu me virei para ver Nate me encarando – Está tudo bem?
- Sim, eu só estou com muito sono – eu respondi e bocejei – Eu queria dormir um pouco.
- Não dormiu direito? – ele perguntou.
- Não, eu dormi muito bem. – eu respondi seriamente e ele entendeu, não dizendo mais nada depois.
O sinal finalmente tocou e eu me levantei devagar, dando mais um bocejo e cocei os olhos. Enquanto guardava minhas coisas, o professor se aproximou de mim e me chamou. Eu olhei para baixo e dei um sorriso, esperando que ele falasse.
- Senhorita , quero dizer que fiquei muito surpreso com o teu discurso no último jantar.
Eu não sabia o que responder. Eu estava bastante envergonhada com o que tinha acontecido, toda a minha luta havia sido jogada no lixo depois do meu pronunciamento. As pessoas me olhavam de um jeito diferente. Muitos alunos que antes falavam comigo, passavam por mim e me olhavam feio ou simplesmente ignoravam minha existência. Eu não podia fazer nada a não ser aceitar essa situação, pois eu entendia a raiva de todos eles. Entendia a indignação e se eu tivesse presenciado, eu também ficaria com raiva.
- Eu não tinha muito que fazer, professor – eu respondi sendo sincera – Agora tem muito mais em jogo.
- Você se adaptou, dançou conforme a música – ele disse e eu assenti – Eu sinto muito, sei que nada disso era o plano inicial dos fundadores de Hogwarts.
- Nada disso era o ideal – eu completei – Nem aqui, nem no mundo bruxo.
- Eu espero que tudo dê certo para você, senhorita – ele disse – Você é uma boa aluna.
Professor Flitwick deu um sorriso e saiu andando em direção à saída. Eu suspirei e me sentei, sentindo o peso do mundo cair sobre meus ombros. As palavras do pequeno professor me causaram certo conforto, mas ainda assim eu me sentia muito mal. Eu tinha traído meus ideais, traído o movimento que eu já tinha me sacrificado várias vezes para manter, tinha perdido toda a minha credibilidade e ainda ajudado o lado inimigo. Eu deveria ter lutado na sala do Snape, deveria ter sido firme e aceitado as consequências, mas eu amoleci.
Limpei as poucas lágrimas que molharam meu rosto e peguei minhas coisas, saindo da sala e encontrando um corredor cheio de alunos. A ansiedade resolveu atacar e parecia que todos me olhavam com raiva. Cada passo que eu dava, eu recebia um olhar irritado e muitos cochichavam apontando para mim. Eu já tinha passado por isso antes, mas agora era diferente. Antes eu simplesmente estava sendo afrontosa com minhas roupas pretas, meu comportamento rebelde e meu sorriso presunçoso. Agora, eu era uma pessoa derrotada, tinha me tornado chacota e motivo de ódio.
Uma aluna da Sonserina passou por mim, esbarrando em meu ombro e derrubando minha bolsa no chão que se abriu, fazendo com que minhas coisas caíssem e meu tinteiro quebrasse, sujando todo o chão e meus pergaminhos com tinta. Meus livros foram para o meio do corredor e alguns alunos pisaram neles de propósito. Eu suspirei e me abaixei para juntar tudo e limpar minhas coisas. Murmurei “Reparo” e o tinteiro se refez. Alguém se abaixou para me ajudar e eu disse:
- Não precisa me ajudar, obrigada.
- Não tem problema – ele disse e eu levantei minha cabeça para ver Draco em minha frente. Ele me deu um sorriso e com sua ajuda, nós terminamos rápido. Ele colocou minha bolsa em seu ombro e me encarou – Prontinho.
- Obrigada, Malfoy – eu respondi e sorri para ele – O que está fazendo aqui?
- Tenho aula de feitiços agora – ele respondeu – Tem aula agora?
- Não, eu vou tirar um cochilo antes do jantar. – eu disse e ele riu.
- Podemos nos encontrar depois do jantar? No sétimo andar – ele pediu e segurou em minha mão, beijando o dorso logo depois.
- Sim, acho que precisamos – eu disse e ele assentiu – Não estou tendo um dia muito bom.
- O que houve? – ele perguntou e se aproximou, fazendo um carinho em meu rosto.
- As pessoas estão com raiva de mim – eu respondi – Estão se esforçando muito para fazer meu dia miserável.
- , eu... Eu não sei o que falar – Draco disse e percebi tristeza em suas feições – Eu me sinto um lixo por você estar passando por isso por causa de mim.
- Não é por tua causa, Draco – eu disse – Snape é um melhor jogador do que nós dois juntos.
- Eu sinto muito – ele disse mais uma vez e beijou minha bochecha – Eu tenho que ir.
Malfoy se foi e eu me vi sozinha, à mercê de todos aqueles olhares que pareciam facas. Voltei a caminhar para a torre da Grifinória e passei pelo corredor onde nós tínhamos pichado a parede. Eles tinham colocado uma tapeçaria em cima já que não puderam remover a tinta, mas eu sabia que a mensagem ainda estava ali por baixo do pano. Parecia que tinha passado muito tempo desde aquele dia. Eu voltei para a Grifinória e quando fui passar pelo Retrato, a Mulher Gorda me olhou feio antes de dizer:
- Você não merece as cores do teu uniforme. Não deveria ser da Grifinória.
Eu ignorei o que a pintura dizia e entrei na sala comunal em silêncio. Assim que eu desci os degraus e levantei meu olhar, eu vi que todos me olhavam mais uma vez com raiva nos olhos. A sala ficou em silêncio como se eles estivessem falando de mim e eu me pus a segurar o choro mais uma vez. Eu me virei para subir as escadas e fui para meu quarto, na esperança de que por um tempo esse sentimento horrível fosse embora do meu coração. Acordei uns quarenta minutos depois com um embrulho no estômago e com meu corpo todo suado por ter dormido com o uniforme quente de Hogwarts. Fui tomar um banho e observei minha barriga no espelho. Ainda parecia apenas que eu tinha comido muito, então eu não estava preocupada, mas eu precisava decidir.
Encarei meu reflexo profundamente, analisando cada pedaço do meu rosto, tentando buscar uma resposta milagrosa nas minhas olheiras. Tomei banho e me troquei, descendo para o jantar com meus cabelos molhados. A mesa estava cheia e eu sentei ao lado de Gina. Ela me deu um sorriso, mas sua expressão parecia tensa.
- Está tudo bem, Gina? – eu perguntei enquanto me servia.
- Está sim, . – ela deu um sorriso inseguro e evitou me olhar.
- Aconteceu alguma coisa? – eu perguntei.
- Não, está tudo bem. – ela disse novamente e se virou para conversar com uma amiga do outro lado, evitando me olhar.
Tinha alguma coisa acontecendo, mas não parecia que Gina iria me dizer. Minha cabeça começou a trabalhar e eu automaticamente achei que ela era mais uma que estava decepcionada comigo. Os meninos chegaram e começaram a conversar amenidades, mas eu não conseguia participar do diálogo. Eu me sentia cada vez pior e eu queria gritar, queria me defender, queria dizer para todos que eu estava passando por uma injustiça, mas eu não podia. O olhar de Snape durante o jantar era gélido e estava sobre mim o tempo inteiro como se estudasse meus movimentos e esperasse qualquer reação minha.
O jantar acabou e eu tive que subir em conjunto com os demais alunos. Nossos passos sincronizados faziam um barulho alto. Os comensais ficavam em todas as escadas do andar principal observando nossa subida e quando eu passei ao lado de Amico, ele deu um sorriso de escárnio. Eu o encarei seriamente até onde meu olhar pôde e sua expressão se fechou quando percebeu que eu não abaixei a cabeça. Assim que todos passaram pelo buraco do retrato, eu segui Gina e segurei em seu braço.
- O que foi? – eu perguntei – Aconteceu alguma coisa?
- ... – ela disse e seu olhar estava cheio de agonia – Eu...
- Você está com raiva de mim? – eu perguntei – Você não acha que eu realmente acredito naquilo, não é?
- O que? Claro que não! – ela disse exasperada – Eu só não sei como te falar o que eu preciso...
- Você está me assustando – eu alertei – Gina, o que foi?
- Eu acho melhor conversarmos mais tarde – ela disse – Agora tem muita gente por aqui.
E depois disso, ela foi sentar com algumas alunas do sexto ano. Eu suspirei, sentindo uma agonia invadir meu coração, mas não podia fazer nada além de respeitar o tempo de Gina. Eu fui somente ao banheiro escovar os dentes e depois saí, indo até o corredor em que Draco e eu sempre nos encontrávamos. Ele estava vazio e eu sentei ao lado da janela para esperar. O sono veio rápido e eu bocejei longamente, observando a tapeçaria do trasgo que me encarava de volta algumas vezes.
Eu abri minha capa e dei uma olhada em minha barriga, tentando notar se ela já aparecia através da camiseta, mas ela ainda estava discreta. Eu não me sentia mãe de jeito nenhum, a ideia não existia na minha cabeça, não tinha tomado forma, mas eu sentia a necessidade de protegê-lo. Eu não tinha ideia do motivo, mas dentro de mim ele parecia mais seguro do que estaria se já tivesse nascido.
- Ei – alguém chamou e eu me virei para ver Draco caminhando em minha direção. Ele não estava mais com o uniforme, mas com uma cacharréu preta e um blazer. Eu sorri e levantei para abraçá-lo forte. Malfoy me apertou com vontade e beijou meus lábios rapidamente – Chegou faz tempo?
- Faz uns minutinhos – eu respondi – Mas não tem problema.
- Vamos?
Draco nos conduziu até uma sala trancada e depois de abrir a porta com o Alohomora, nós entramos e não ligamos as luzes, mas usamos nossas varinhas como lanternas. O silêncio reinava entre nós e depois de enfeitiçarmos tudo com proteções, sentamos no tampo da mesa do professor um ao lado do outro. Draco buscou minha mão e entrelaçou nossos dedos enquanto eu me pronunciava:
- Nós precisamos decidir.
- Eu sei.
O silêncio continuou. Eu iluminei o rosto de Malfoy e percebi que o rapaz estava calmo. Nós nos encaramos e ele me passou a tranquilidade que eu precisava para sequer discutir o assunto. Draco se inclinou e beijou minha testa e eu dei um sorriso sem mostrar os dentes.
- Eu tenho outro plano – ele começou a dizer – Na verdade, acho que essa é a única opção que temos se você decidir manter a gravidez.
- Diga – eu respondi, mas antes do garoto começar a falar, eu estava cética.
- O ano letivo está acabando, temos até junho – Malfoy disse – Você vai sair desse castelo e vai para a França, ficar com teus pais.
- Mas e você? – eu perguntei e Malfoy abaixou a cabeça.
A constatação do plano de Draco atravessou meu crânio e eu entendi qual era a sua ideia. Se eu decidisse continuar, o futuro dessa criança não teria a presença de Draco. Eu teria que fugir do país e Malfoy ficaria para trás como eu suspeitei que ele fizesse. Eu ri amargurada.
- Mas é claro que você vai pular fora – eu disse e senti meus olhos arderem – É claro que você vai me deixar assumir isso sozinha.
- Não, você está louca? – ele disse exasperado – Eu iria depois quando a poeira abaixasse por aqui.
- Mas você não sabe quando isso vai ser – eu respondi – Pode ser um mês ou um ano, Draco!
- Eu vou tentar ir embora o mais rápido que eu conseguir, – Malfoy disse – Só não vou poder ir junto com você.
- E por que não? – eu perguntei – Por que não pode vir comigo assim que o ano letivo acabar?
- Porque eu já tenho missões para fazer assim que sair daqui – ele respondeu e eu suspirei – Eu preciso cumprir algumas antes de ir embora.
- E se você nunca vir? – eu perguntei – E se você nunca aparecer?
- Isso não vai acontecer, .
- Você não tem certeza! – eu rebati nervosa – E se algo acontecer com você? Eu nem vou ficar sabendo! Tua família não vai ter a gentileza de me avisar!
- Eu vou conversar com minha mãe quando eu for sair do castelo – ele respondeu – Ela não é comensal.
- Ela é casada com um, Draco! – eu retruquei – E ela me odeia!
- Ela não te odeia... – ele disse com uma voz cansada – E eu confio em minha mãe, . Eu sei que ela vai ajudar, ela quer me ver feliz.
Eu não consegui mais responder já que o desespero tomava conta de mim. Minha cabeça só imaginava os piores cenários possíveis, não tinha como dar certo.
- Eu não consigo proteger vocês – eu desabafei enquanto segurava o choro – Parece que eu sempre terei que escolher.
- Do que você está falando? – ele perguntou confuso.
- Se eu escolho você, eu interrompo a gravidez – eu disse – Se eu mantenho a gravidez, eu posso nunca mais te ver. Eu não quero escolher, Draco.
- Você quer os dois. – Malfoy disse e me puxou para um abraço apertado.
- Eu quero os dois. – eu finalmente verbalizei sem conseguir parar de soluçar.
Um pesou saiu das minhas costas somente para que outro ocupasse seu lugar. Eu não queria ficar sem nenhum dos dois, queria a ideia clichê de família bruxa e não pedaços jogados pela Europa. Eu, a aberração da Grifinória, só queria a coisa mais banal da existência humana. Uma família. Encarei Malfoy e ele secou minhas lágrimas com a manga do blazer. Toda a tristeza que eu senti quando estava longe dele me atingiu em cheio e eu fiz um carinho em seu rosto, lembrando como era minha vida sem Draco. Eu superei, mas não queria passar por tudo aquilo de novo.
- Você sabe o que fazer – ele disse – Está tudo bem, . Eu vou encontrar vocês. Por mais que demore. Eu vou.
- E se eu não for para a França? – eu perguntei enquanto uma hipótese se formava em minha mente.
- Como assim?
- Meu avô mora em Hogsmeade – eu respondi - Posso ir para lá até você conseguir sair.
- Por que você não me disse isso antes? – Draco disse e sua expressão transbordava esperança – Isso resolve tudo, ! Todos os nossos problemas, eu consigo até te visitar enquanto ainda estiver com os comensais.
- Você acha que vai dar certo? – eu perguntei um pouco insegura – Digo, meu avô é muito duro, ele pode não me aceitar por eu estar grávida.
- Você pode falar quando já estiver lá – Draco sugeriu – Não acho que ele vai te mandar embora.
- Você não sabe o quão duro meu avô pode ser, ele quebrou o nariz do tio Dumbledore em uma briga. – eu comentei e Draco riu.
- Agora estou um pouco assustado, não vou negar – ele respondeu e dessa vez eu ri – O que você acha? Esse é um plano.
- É um bom plano – eu completei – Você vai poder me visitar.
- E de Hogsmeade poderemos ir para a casa de campo dos meus pais – Malfoy disse e deu um sorriso esperançoso – Nós podemos fazer isso.
- E teremos o bebê em um lugar seguro – eu completei e também sorri – Eu não quero criar esperanças, Draco.
- Vai dar certo, – ele completou – Só precisamos de um pouquinho de esperança. E claro, esconder tua barriga muito bem.
Eu me permiti sorrir pela primeira vez por causa da gravidez desde que tinha descoberto. Um alívio percorreu meu corpo e minhas costas relaxaram. Era aquilo. Eu iria viver com vovô Aberforth enquanto Draco não viesse. Eu teria que exercitar a confiança que estava reconstruindo em Draco mais uma vez. Olhei para ele e me lembrei de tudo o que tínhamos vivido até ali. Ele tinha a aparência de um garoto, mas eu sabia que as coisas que Draco tinha vivido o fizeram amadurecer dez anos em dois. A luz proveniente de nossas varinhas não iluminava a sala inteira, mas eu ainda conseguia enxergar Malfoy. Meu namorado parecia cansado, mas parecia mais leve e sorriu para mim, segurando em minhas mãos e me recebendo em seus braços.
- Você está mais calma? – ele perguntou.
- Acho que sim, por que? – eu devolvi a pergunta.
- Porque eu estou apavorado – Malfoy explicou – Nós vamos ter um bebê, isso é muito assustador.
- Nós vamos ter um bebê – eu repeti e senti o peso das palavras me atingirem – Você acha que eu devo mandar uma carta para os meus pais?
- Eu não acho seguro, o Ministério olha as cartas das pessoas que estão na lista de Indesejáveis – ele explicou – Com certeza, eles olham as tuas e ninguém pode saber que você está grávida.
- Você está certo – eu disse – Mas me dói muito não poder contar com a minha mãe, pelo menos nesse início.
- Eu sinto muito por isso, deve ser difícil ficar afastada dos teus pais, ainda mais você que antes de entrar em Hogwarts vivia agarrada com eles. – ele comentou enquanto fazia um carinho em meu braço.
- Eu sinto a falta deles – eu comentei – Eu me arrependo de ter ignorado a existência dos meus pais durante todas as férias. Eu fiquei ocupada demais chorando pelo Dumbledore e odiando você que não prestei atenção em nada.
- Eu não sei o que falar, além de me sentir um merda por ter feito tanto mal a você. – ele disse e me apertou mais forte.
- Só cala a boca – eu retruquei – Não fale assim.
- Tudo bem, desculpe.
Eu beijei seu pescoço e suspirei, aproveitando a presença de Draco e me agarrando ainda mais a ele. Pensei no que Malfoy dissera sobre ficar apavorado e esse sentimento passou pra mim. Nós estávamos entrando em uma missão muito arriscada, não sabíamos ainda qual era a dimensão de tudo aquilo e isso me deixava sem ar.
Eu sabia que tudo ficaria ainda mais difícil, mais complicado, mas havia esperança. Nós tínhamos algo pelo qual lutar, algo maior que nós dois e eu só tinha que me manter longe de problemas até o final do ano letivo.
- Você ainda tem aqueles sonhos? – Draco perguntou de repente.
- Eu não tive mais, acho que consegui fechar minha mente. – eu respondi.
- Mas ainda sim nós temos que voltar a treinar – Draco disse – Quanto mais fechada tua mente estiver, melhor. Ainda mais agora, ninguém pode saber que...
- Nós vamos ter um bebê – eu respondi e encarei Malfoy – Nós vamos ter um bebê!
- Podemos ouvir o coração dele? – Draco perguntou – Eu não ouço há muito tempo.
Assim que eu apontei a varinha para minha barriga, o coração acelerado começou a pulsar. Ouvir aqueles batimentos no escuro fazia tudo parecer mais bonito e eu sorri aliviada por perceber que ele ainda estava ali. Senti uma vontade de chorar absurda e as lágrimas começaram a cair, molhando todo meu rosto e a gola do meu casaco. Todos os argumentos para que eu não mantivesse a gravidez rondavam minha cabeça, mas algo dentro de mim dizia que iriamos conseguir.
Fazia muito tempo que eu não me sentia tão esperançosa como eu estava, contudo, eu tinha os pés no chão. Tinha plena consciência de que tudo iria piorar, só de pensar no que eu teria que enfrentar para manter essa gravidez a ansiedade ameaçava atacar, mas naquele momento eu só decidi ignorar e aproveitar os batimentos daquele que seria meu filho.
- Isso tudo só é muito louco – eu comentei e percebi Draco fungar – Você estava chorando?
- Claro que não, – ele respondeu, mas fungou de novo – Quem eu estou querendo enganar?
Eu dei uma risada e beijei a testa de Draco enquanto continuávamos a ouvir o coração do feto. Era muito acelerado, como se ele estivesse em uma corrida, mas de acordo com um livro da biblioteca, isso era normal.
- Você acha que madame Pomfrey guardaria segredo? – eu perguntei – Por que eu acho que deveria tomar poções, certo?
- Isso é verdade – ele concordou – Ela gosta muito de você, eu acho que ela vai guardar segredo.
- Nós temos que falar com ela – eu disse – Ela vai saber o que fazer.
- E você precisa avisar aos teus pais que vai ficar com teu avô – Draco disse – E avisar teu avô.
- Tomara que ele me aceite. – eu disse e senti o nervosismo.
- Vai ficar tudo bem, .
Eu guardei a varinha e abracei Malfoy com vontade, beijando seu pescoço logo depois. Draco segurou meu rosto e me beijou, sugando minha língua enquanto suspirava em meus lábios. Eu segurei em seu ombro e o puxei para mais perto correspondendo seu beijo com intensidade. A confusão em minha mente deu lugar ao foco total em Malfoy e eu me agarrei mais ainda ao rapaz – se é que era possível – para tê-lo mais próximo.
Draco fez um carinho em meu rosto com o polegar e finalizou o beijo, sugando meu lábio inferior. Ficamos em silêncio por uns segundos e eu suspirei, sentindo meu coração bater acelerado. Só de imaginar viver com Draco longe de todo aquele caos fazia um sorriso teimoso aparecer em meus lábios. Eu não queria criar expectativas, mas era tarde demais. Uma vida tranquila se formava em minha mente e eu me agarrava a esta imaginação com todas as minhas forças.
- Acho que nós temos que ir. – eu disse, mas não me afastei dele.
- Depois. – Draco disse e eu ri antes de receber mais um beijo nos lábios.
Eu voltei para a Grifinória com um peso diferente em minhas costas. Se antes, o peso da indecisão destruía meu coração, naquele momento, o peso da decisão me deixava sem ar. Mesmo depois de ter decidido manter a gravidez, o medo ainda estava lá. E acho que nunca me deixaria completamente. Eu teria que aprender a conviver com ele, acostumar com sua presença e viver do melhor jeito possível. Eu caminhava rapidamente com medo de encontrar outro comensal, então cheguei rápido até o retrato da Mulher Gorda que assim que me viu, fechou a expressão. Eu disse a senha e ela abriu com muita má vontade.
Assim que eu pisei na sala comunal, os olhares raivosos voltaram para mim e eu respirei fundo, vendo que a sala já estava um pouco mais vazia. Olhei para as poltronas em frente à lareira e Gina, Nathan e Neville estavam lá. Seus olhares eram apreensivos e Gina levantou, vindo até minha direção.
- , nós precisamos conversar.
- Tudo bem.
Eu caminhei até eles e me sentei no chão diante dos três. O fogo da lareira esquentou minhas costas e eu me senti um pouco mais relaxada. Eles se olharam, mas não conseguiam dizer e eu notei que tinha algo errado. Havia certa apreensão no ar e eu já me preparei para receber uma má notícia.
- Por que vocês estão tão nervosos? – eu perguntei – Aconteceu alguma coisa?
- Nós queremos te dizer algo – Gina disse e dei uma pausa – Meus pais me mandaram uma carta hoje.
- E o que tinha nela? – eu perguntei.
- Eles não querem que eu volte para Hogwarts – ela explicou e percebi que Gina evitava me olhar – Eu não volto para cá depois do feriado da páscoa. Eu sinto muito, não queria ter que ir embora, mas meus pais acham que é mais seguro que eu fique em casa.
- E por que você estava me evitando, Gina? – eu perguntei – Era por causa disso?
- Sim, eu pensei que você ficaria decepcionada comigo de alguma maneira – ela explicou – Eu sei como você se importa com o que estamos fazendo para resistir aqui.
- Gina, se eu pudesse ir embora, eu também iria – eu confessei e dei um suspiro – Eu não posso sair nesse feriado, mas se pudesse... Eu também iria. Ainda mais agora que...
- Que? – Neville perguntou e eu encarei os três seriamente.
- Eu decidi que – eu me aproximei deles e sussurrei o mais baixo que eu pude – Eu vou manter a...
- Isso é sério? – Gina disse e dei um sorriso radiante – , isso é maravilhoso!
- Meus parabéns! – Nathan disse e me abraçou apertado – Eu sabia que você tomaria a decisão certa.
- Eu não entendi ainda – Neville disse com uma expressão confusa e nós rimos – O que estamos comemorando?
- tomou a decisão – Nate comentou e me olhou sorrindo – Eu... Puxa, isso é muito louco de se pensar.
- Eu sei – respondi e dei um sorriso nervoso – Draco e eu conseguimos pensar em um plano. Antes nós não tínhamos nada, mas agora...
- Agora vocês tem esperança – Gina completou e eu assenti.
- Gina, vá – eu disse e a encarei – Fique viva, saia desse lugar e fique segura. Eu queria estar segura ainda mais agora, mas eu não posso. Então, por favor, saia daqui sem remorsos ou culpa. Eu apoio qualquer um de vocês, se não quiserem voltar.
- Minha avó não me quer na casa dela, então eu vou ficar. – Neville disse e nós rimos.
- Eu vou ficar. – Nate disse de repente e percebi confusão nos olhos de Gina e Neville.
- Mas, Nate... – Gina começou a falar, mas ele a cortou.
- Eu vou ficar. – ele disse mais firme e me deu um sorriso.
- Então, nós temos que voltar a agir – eu disse – Mas agora eu preciso focar em algo que eu ignorei por muito tempo. Dumbledore me deixou algumas coisas e eu sei que ele não as deixou de modo aleatório.
- O que ele deixou? – Nate perguntou.
- Alguns livros, objetos quebrados... – eu respondi – Eu mostro para vocês amanhã, quem sabe vocês reconhecem alguma coisa.
- Você já leu todos os livros? – Gina perguntou e eu assenti – E não tinha nada neles?
- Bom, são assuntos diversos, ligações mágicas, como ser curandeiro... – eu expliquei – Eu mostro tudo para vocês amanhã, agora eu realmente preciso ir dormir.
Dei tchau para meus amigos e quando levantei para ir até os dormitórios, Lilá Brown me parou no meio do caminho, olhando com uma expressão não muito boa.
- Eu quero meu livro de volta. – ela disse.
- Tudo bem, Lilá – eu respondi calmamente – O livro está em meu malão e...
- Como você pode? – ela perguntou de repente, me impedindo de continuar a falar – Você vivia colada no trio e agora faz isso? Você é uma aberração mesmo, não merece estar aqui.
- Você não sabe os meus motivos – eu disse um pouco mais alto – Não sabe o que aconteceu. Aquilo não é nem metade de toda a história.
- Então, nos conte, – ela disse mais alto – O que de fato aconteceu?
Os hormônios da gravidez me desestabilizaram inteira e ao invés de me defender, eu senti uma vontade de chorar absurda. Meus olhos ficaram cheios de lágrimas e eu respondi:
- Eu... Eu não posso falar.
- Ah, você não pode falar? – ela disse mais alto – Vá para a Lufa-Lufa, sua fraca. Rony ficaria envergonhado.
Eu não consegui responder e comecei a chorar, me sentindo um lixo por ter sido diminuída por Lilá Brown, a menina que ano passado eu quase matei em um corredor. Ela se afastou e eu continuei parada com a cabeça abaixada, sem conseguir sair do lugar. As pessoas tinham decidido me atacar justo quando eu estava mais sensível. Eu me encolhi e limpei meu rosto, finalmente levantando a cabeça e percebendo que algumas pessoas me olhavam feio. Senti alguém pegando em meu braço e quando me virei, Nathan me olhava triste. Ele me puxou para perto e me abraçou apertado, beijando meus cabelos e limpando meu rosto.
- Eu sinto muito...
- Por que você está falando com ela, Grings? – alguém falou e Simas nos encarava com um olhar raivoso – Ela nos abandonou! Assim como Potter!
- Não fala o que você não sabe, Simas – Nate disse bravo – Vocês não sabem de nada!
- O que aconteceu, então? – Sima retrucou – ONDE ESTÁ O POTTER?
- EU NÃO SEI, SIMAS! – eu gritei mais alto que ele – Eu não tenho ideia de onde ele esteja, mas Dumbledore confiou nele e...
- Dumbledore está morto! E dizem que Harry o matou! – Simas disse e eu bufei irritada.
- NÃO FALE DO QUE VOCÊ NÃO SABE! – eu gritei – Snape matou professor Dumbledore, eu estava lá! Eu vi com meus próprios olhos!
- E por que não fez nada para impedir? – ele perguntou – Dumbledore estaria vivo se você não tivesse se acovardado.
- Eu... – eu me calei, não podia dizer que não fiz nada para não prejudicar Draco – Eu estou cansada de vocês me trataram mal sem saberem de nada! Nenhum de vocês fez metade do que eu fiz para salvar nossa escola, para sermos a resistência! – eu disse – Então não me julguem pelo que vocês não entendem! Vocês não sabem como Snape pode ser cruel e ameaçar tirar de vocês o que mais importa! Vocês não sabem de nada!
- , você não precisa explicar nada para ninguém – Gina disse e eu percebi que ela e Neville também estavam ao meu lado – Eles não merecem nenhuma explicação.
- Eu sei, Gina – eu respondi e encarei Simas com um olhar raivoso – Eu não preciso explicar nada para esses injustos.
Limpei minhas lágrimas e subi as escadas até o dormitório, correndo para o meu quarto e sentando em minha cama, tentando controlar meu choro, mas era impossível. Era insuportável ser injustiçada daquela maneira. Snape tinha conseguido colocar toda a escola contra mim e todos me odiavam por algo que eu não tinha intenção nenhuma de fazer. Mas eles iriam machucar Draco e eu tinha que cuidar dele, sentia uma necessidade de protegê-lo e eu sabia que Malfoy se sentia do mesmo jeito. Nossa relação era o que mais nos causava mal e não era por causa de nós, mas sim, por causa dos outros.
Eu só queria ir embora de Hogwarts e nunca mais voltar.
Era irônico como eu passei tanto tempo querendo estudar ali e naquele momento, Hogwarts era o único lugar onde eu não queria estar. Tirei o livro de Lilá do malão e coloquei em sua cama e depois deitei na minha, sem tirar o uniforme mesmo, tentando dormir rápido e ficar longe de tudo. Contudo, é claro que isso não aconteceu.

Os contornos de Hogwarts na escuridão eram uma das poucas coisas que eu conseguia enxergar. O castelo estava todo apagado e eu olhava para ele antes de dar as costas e me embrenhar dentro da Floresta Proibida. Eu usava uma roupa de comensal e meu braço esquerdo pulsava de dor. Levantei a manga da blusa e a marca de Lord Voldemort estava em alto relevo, mas eu não estranhei.
Afastei algumas árvores e cheguei a uma clareira vendo Draco parado sozinho. Ele também usava as vestes dos comensais e sorriu para mim, estendendo a mão em um pedido para que eu a segurasse.
- Você veio – ele disse e beijou meus lábios lentamente enquanto segurava meu rosto – Eu achava que você não viria.
- É claro que eu estaria aqui – eu respondi e segurei suas mãos – Não perderia isso por nada.
Assim que eu terminei de falar, comensais começaram a chegar à clareira e atrás deles, Harry, Rony e Hermione vinham algemados. Eu dei um sorriso presunçoso e me afastei, indo para o lado com Draco segurando minha mão. Logo depois deles, Lord Voldemort chegou com Snape e Bellatrix ao seu lado e observava todos. Você-Sabe-Quem colocou seus olhos vermelhos em mim e deu um sorriso de escárnio.
- Senhorita , fico feliz de que você finalmente tenha aceitado se juntar a nós – ele disse – Gostaria de fazer as honras? Deixe Harry para mim, é claro.
- Será um prazer, milorde. – eu respondi e caminhei até o meio da clareira, percebendo o trio me olhar, havia decepção em seus olhos, mas eu não me importava nenhum pouco – Hermione Granger, sujeitinha de sangue-ruim.
- Você não é assim, . – Hermione disse, mas eu revirei os olhos.
- Só por ter aberto a boca, vai ser a primeira. – eu disse e ouvi algumas risadas.
Segurei a raiz de seus cabelos com força e Hermione gritou de dor, tentando se soltar do meu aperto, mas não obteve sucesso. Levantei sua cabeça e plantei um beijo em seus lábios antes de apontar a varinha para sua garganta e sorrir.
- Adeus, Mione – eu disse – Avada Kedavra!
O jato verde saiu de minha varinha e a garota tomou um solavanco, caindo para trás morta. Seus olhos estavam abertos e eu gargalhei ao perceber seu corpo sem vida. Meu corpo sentiu uma onda de ansiedade e eu senti mãos me envolvendo, sentindo o cheiro de Draco. Ele afastou meu cabelo e beijou meu pescoço longamente.
- Você é tão linda – ele sussurrou e eu fechei os olhos – Me enche de orgulho.
Eu me virei para encará-lo e seu olhar transbordava desejo. Um nó se formou em meu ventre e eu o beijei com vontade, sentindo suas mãos me puxarem pela cintura e seus lábios corresponderem meu beijo. Matar tinha me deixado excitada e eu abri os botões da camisa de Draco, deixando seu peito marfim à mostra. As pessoas ao nosso redor nos olhavam, mas eu não me importava nenhum pouco. Eu queria Draco. Era tão bom ser má. Segurei o rosto de Draco enquanto o beijava e assim que finalizei o beijo, vi que seu rosto estava sujo de sangue.
- Draco, você se machucou? – eu perguntei preocupada segurando seu rosto mais uma vez.
- Não. – ele respondeu e segurou em minha mão. Assim que eu olhei elas estavam vermelhas e sangue escorria pelos meus dedos como se eu os tivesse cortado.
- O que é isso? – eu perguntei e percebi as pessoas ao meu redor dando risada.
- Sangue inocente. – Malfoy respondeu e eu limpei minhas mãos em meu casaco, mas elas continuavam a jorrar sangue.
Olhei para as mãos dele e elas também pingavam sangue assim como as mãos de todos que estavam ali. Draco levantou minha mão e beijou o dorso, manchando seus lábios de sangue.
- Você é uma de nós, – ele sussurrou antes de segurar meu rosto e eu senti o líquido em minha bochecha – Sempre foi.

Eu acordei assustada e a primeira coisa que eu fiz foi acender minha varinha e olhar minhas mãos, mas elas estavam limpas. Sem sangue em nenhum lugar e eu suspirei aliviada. Mais um pesadelo, mas daquela vez foi diferente. No sonho ser comensal era algo normal, algo que eu fazia muito bem, diga-se de passagem.
Seria assim se eu fosse para o outro lado? Eu ficaria excitada em matar? Mataria alguém querido? Coloquei a mão em minha barriga e fiz um carinho, tentando me acalmar e ignorar essas ideias idiotas. Ver Draco quebrado tantas vezes por estar naquela vida era apenas um lembrete para nunca me aproximar. Eu sabia os danos, acompanhei a queda moral de Malfoy de perto e não queria aquilo para mim, não queria sangue inocente em minhas mãos. Contudo, o pesadelo me pôs a pensar: teria Draco sangue inocente nas mãos?

Na manhã seguinte, eu desci as escadas, pronta para ir até o café e mais uma vez os alunos me olhavam. Porém, daquela vez de um jeito estranho. Eles não me olhavam com raiva, mas havia um genuíno questionamento. Elas cochichavam, mas não vieram até mim e eu agradeci por isso, não iria aguentar mais nenhuma cena, ainda mais tão cedo. Encontrei meus amigos nas poltronas perto da lareira e nós descemos juntos para o café.
- As pessoas estão falando de você, . – Nathan disse.
- Isso é uma novidade – eu respondi irônica – Elas nunca falam de mim, não é mesmo?
- Não, dessa vez elas estão falando coisas diferentes – ele completou – Seu desabafo ontem fez os alunos questionarem seu pronunciamento.
- Não vai dar em nada, Nate – eu disse – Eu não posso falar meus reais motivos para eu ter dito aquilo tudo, então não vai adiantar.
- Bom, já é alguma coisa. – ele disse e sorriu confiante para mim, mas quando chegamos ao Salão Principal, ele foi sentar com uma menina do quinto ano. - Gina – eu chamei minha amiga que me encarou – Eu preciso de um favor.
- Só dizer.
- Você conseguiria entregar uma carta aos meus pais quando você sair? – eu pedi – Não posso mandar por coruja.
- Claro, eu mando pela minha casa – ela disse – Por que você parou de falar com Fred?
- Como você sabe? – eu perguntei surpresa.
- Bom, ele é meu irmão – ela respondeu – Praticamente me intimou a te perguntar.
- Ele vai ficar decepcionado comigo se souber do que aconteceu e como eu não tenho coragem de mentir, eu só ignoro a última carta dele. – eu expliquei.
- , para de ser ridícula – Gina disse – Fred não é assim, ele jamais vai ficar decepcionado com você.
- Eu estou decepcionada comigo, Gina – eu respondi – Eu me odeio por ter desistido tão fácil, por ter falado aquilo tudo, imagina como Fred vai se sentir?
- Só mande uma carta para ele – ela pediu – Ele sente a tua falta.
- Eu sei, eu também sinto a dele – eu comentei – Sinto demais. Ele me trazia uma tranquilidade que eu não tenho mais.
- Então, mande uma carta – ela disse – Não precisa de muita coisa, só conte para ele como você está. Fred realmente sente sua falta.
A aula de Transfiguração ia começar em dez minutos e a professora McGonagall já estava na sala, escrevendo em uns pergaminhos. Assim que eu entrei na sala, ela me encarou por alguns segundos sem ter nenhuma expressão específica no rosto. Ela sabia o que tinha acontecido, meus reais motivos para ter dado aquela declaração polêmica e eu dei um sorriso triste depois de uma aluna da Corvinal esbarrar em mim de propósito. Continuei a andar e fui para o fundo da sala, sentando no meu lugar ao lado de Nate. A aula continuou tranquila e antes do sinal bater, McGonagall fez um pequeno teste, nos fazendo conjurar uma jaula para abrigar um animal mágico. A aula acabou e quando eu estava saindo da sala, McGonagall me chamou.
- , eu sinto que preciso te dizer umas palavras – a professora disse de um jeito duro. Eu automaticamente fiquei nervosa – Eu estava lá, sei que suas palavras não foram verdadeiras. Eu sou testemunha do que o professor Snape fez e entendo teus motivos.
- Obrigada, professora – eu respondi e abaixei a cabeça – Os alunos me odeiam.
- Você é uma boa garota, – ela disse assim como professor Flitwick e meus olhos se encheram de lágrimas – Você protegeu alguém de muita estima para você, não se sinta errada por fazer isso.
- Obrigada, professora. – eu repeti sem conseguir pensar em nada a mais para dizer.
- Não há de quê. – ela respondeu e me deu um sorriso.
Meus olhos se encheram de lágrimas, mas daquela vez eu tinha um sorriso no rosto. Era bom perceber que não eram todos que me odiavam naquele lugar. Sem ter muita noção a professora McGonagall tinha feito eu me sentir muito melhor e salvou meu dia completamente. Eu não estava errada em proteger alguém que eu amava e a melhor professora de Hogwarts concordava comigo.
Eu era uma boa pessoa, não era má ou iria acabar caindo no lado dos comensais. A declaração da professora fez com que eu voltasse a acreditar nisso e me livrou de focar no sonho horrível que eu tivera na noite anterior. Eu não tinha sangue inocente em minhas mãos, eu era uma boa pessoa.
O fim do dia finalmente chegou e eu não tinha conseguido encontrar com Draco em nenhum momento. Subi para a Grifinória muito cansada, mas ainda tinha que terminar meu dever de Poções, então assim que entrei, fui até uma das mesas e espalhei meu material começando a preencher meus pergaminhos. Ouvia uns cochichos, mas tratei de ignorar para o bem da minha sanidade.
- Eu não vou falar com ela. – alguém disse na tentativa de falar baixo, mas claramente não obtendo sucesso.
- Eu também não vou. – outra pessoa disse.
- Alguém tem que ir!
- Está bem, está bem – uma voz masculina disse – Eu vou!
- .
Olhei para cima e um aluno do sexto ano que eu não lembrava o nome estava parado junto com um grupo de alunos. Eles me encaravam seriamente e eu fiquei em alerta. Encarei o rapaz bem no fundo de seus olhos e disse:
- Sou eu.
- Nós queremos conversar com você. – ele falou.
- Tudo bem – eu respondi calmamente – O que querem?
- Você falou a verdade? – ele perguntou – No jantar? Você realmente quis dizer tudo aquilo?
- Eu estava sentada na frente – a menina que estava ao seu lado esquerdo disse – Eu vi teu pescoço ferido. Eles fizeram alguma coisa com você?
- O que vocês acham? – eu perguntei – Com tudo o que vocês sabem sobre mim, com tudo o que eu fiz neste castelo durante esse ano. Vocês acham que eu realmente penso aquilo?
- Eu sabia – o garoto disse e seu rosto assumiu um sorriso contagiante – Sabia que você não tinha falado sério. Eu disse, pessoal! - ele se virou e foi então que eu me dei conta de que toda a sala comunal nos olhava – ELA NÃO FALOU SÉRIO!
Assim que ele terminou de falar, todos os alunos que estavam presentes na sala comunal se aproximaram, me olhando curiosos e esperando que eu dissesse mais alguma coisa. Eu os encarei de volta e suspirei, colocando minha pena de lado.
- O que vocês querem saber?


Cultivando decepções

Eu suspirei enquanto encarava pela milésima vez a pequena caixa que Dumbledore tinha me deixado. Já estava a horas debruçada nos livros que tinham vindo junto com a caixa e em outros da biblioteca. O local estava abarrotado de alunos já que as provas finais começariam depois do feriado da páscoa, mas eu tinha conseguido uma mesa no canto mais afastado do ambiente e aproveitava minha solidão. Lilá havia me emprestado novamente o livro da Rita Skeeter e eu já tinha perdido as contas de quantas vezes eu folheei as páginas em busca de respostas. O que Dumbledore queria me dizer com aquele símbolo que Snape tinha tomado de mim? As Horcruxes continuavam escondidas dentro da pequena caixa e eu evitava tocar nelas já que sempre uma sensação ruim pairava sobre mim todas as vezes que eu encostava em uma delas. Por que Dumbledore tinha me deixado todas aquelas coisas? Ele sabia que eu voltaria para a escola, então as respostas para as minhas perguntas estavam aqui, mas eu não conseguia nem ao menos começar minhas buscas.
Já estava perto das quatro da tarde quando eu ouvi passos vindo até mim e Draco vinha caminhando lentamente com uma xícara nas mãos. Eu rapidamente enfiei a caixinha em minha bolsa e torci para que ele não tivesse notado meus movimentos.
- Você disse que estaria aqui depois do almoço - Draco disse e sentou ao meu lado - Quando não te encontrei em lugar nenhum presumi que ainda estava na biblioteca. Trouxe chá pra você.
- Obrigada, meu bem - eu respondi e beijei seu rosto carinhosamente antes de pegar a xícara e dar um gole no chá, sentindo o gosto de hortelã invadir minha boca - Eu estou precisando de uma pausa mesmo.
- O que está estudando? - ele perguntou curioso enquanto bisbilhotava minhas anotações.
- Dumbledore deixou algumas coisas para mim, estou tentando entender o que elas significam. - eu expliquei.
- Quem sabe eu posso ajudar - ele sugeriu e viu que eu estava lendo o livro da Skeeter - Esse livro fala a verdade? Eu pensei que fosse invenção dessa maluca.
- Eu queria que fosse - disse com sinceridade - Mas a Skeeter conseguiu quase tudo sobre Dumbledore e eu não tenho ideia de como ela teve acesso a tanta coisa. Ao menos ela está me ajudando em algo.
- Eu sinto muito - Draco disse e beijou minha mão livre - Deve ser horrível ver tua família ser exposta desse jeito.
- Ao menos ela não descobriu tudo - eu respondi e suspirei - Os Dumbledore possuem tantos segredos que daria para fazer outro livro.
- Eu espero que eles não sejam revelados, - Draco disse e sorriu para mim - Você pensou na carta que vai mandar para o teu avô?
- Sim, eu não vou dizer a respeito da… - eu não queria falar já que os corredores de livros eram vazados e já tivemos problemas uma vez com pessoas ouvindo nossas conversas - Vou falar que desejo passar um tempo com ele assim que o ano letivo acabar. Ele vai me acolher, com certeza.
- E eu vou te visitar já na primeira semana - Malfoy disse e eu sorri. Era nítido que ele estava mais esperançoso que eu - Vai dar certo, .
- Eu sei que vai, confio em você. - eu respondi antes de juntar nossos lábios em um selinho demorado.
- Não vou te atrapalhar mais - meu namorado disse e deu um sorriso mínimo - Nos vemos no jantar?
- Até lá! - eu respondi e assisti Draco se afastar enquanto assustava alunos do primeiro ano com suas roupas pretas e cara de mal.
Assim que ele sumiu, eu dei um suspiro e voltei a pegar a caixinha. Coloquei em minha frente e observei cada detalhe, em busca de qualquer coisa, qualquer sinal que me ajudasse a entender o que Dumbledore tinha reservado para mim. Já fazia um tempo que ele tinha ido, mas eu sentia a falta de sua sabedoria todos os dias. Ele sempre dizia algo que fazia minha mente se acalmar. Dumbledore tinha completado meu treinamento, de algum jeito me preparou para esses momentos e eu só não tinha surtado totalmente porque eu sempre me lembrava de seus conselhos.
Nossa família possuía um histórico de “bombas” prontas a explodir, tia Ariana, minha mãe e eu… Tio Dumbledore sempre cuidou de tudo, mas como seria daqui pra frente? E se essa criança em minha barriga também se tornasse uma bomba? Como eu iria fazer para que o destino dela não se tornasse o destino de minha tia? Ter um obscurial em nossa família causou danos que colhemos até hoje. Vovô Aberforth se tornou amargo, tio Dumbledore se afogou nos estudos, ignorando completamente a família e tia Ariana… Não teve sequer a chance de envelhecer. Observei seu rosto jovem em uma das fotos existentes no livro da Skeeter e segurei o choro, vendo que meus olhos eram iguais ao dela, entretanto eu sabia que não tinha metade da paz existente neles. Draco não sabia dessa parte manchada de minha família e eu queria que continuasse assim, mas em alguns momentos - como esses - carregar esse fardo sozinha era esmagador.
Ver os danos que Lord Voldemort causava na família de Draco, me lembrava muito o estrago que Grindelwald fez na minha e me doía ver que os Malfoy estavam se afundando mais e mais. Eles teriam muita sorte se os três saíssem com vida de toda essa história. Nós não tivemos.
Peguei um dos livros que Dumbledore havia me deixado, um guia sobre curandeiros e comecei a folhear despretensiosamente. Ele tinha feito anotações em quase todas as bordas, mas nada de muito significante. Nomes de curandeiros famosos, principalmente. Havia anotado na última folha, uma espécie de nota:

Ora, o último inimigo a ser aniquilado é a morte.

Essa frase brilhou para mim na página amarelada e logo em cima dela, havia o símbolo do meu colar. O triângulo com o círculo e uma reta. Um ânimo se apossou de mim e eu senti que finalmente tinha descoberto algo importante só não sabia exatamente o quê. Por que Dumbledore havia anotado o lema dos Dementadores em um livro sobre curandeiros? Coloquei a caixa em minha bolsa e saí à procura de um livro especializado em Dementadores e achei depois de quase quinze minutos. Era um livro de capa escura e possuía gravuras assustadoras. Achei uma explicação a respeito desta frase.
Aniquilar a morte era o que eles faziam quando davam o beijo, a vítima não morria, mas também deixava de viver já que sua felicidade era roubada. Como se aniquila a morte? Porém, o que isso tinha a ver com o propósito de Dumbledore? Eu suspirei cansada, já não conseguia tirar mais nenhuma conclusão. Anotei aquela passagem e juntei minhas coisas, decidida a tomar um banho antes do jantar e até encontrar Draco.
Assim que eu saí da biblioteca depois de ter devolvido os livros, virei em um corredor e Amico Carrow guiava um aluno que eu não conhecia para outro lugar. Ele estava acompanhado por mais dois comensais que eu não conheci. O aluno - devia ser do sexto ano - estava com as mãos soltas, mas provavelmente estava sem varinha. Estava de uniforme, mas não tinha capa e eu pude notar pelo brasão em sua camisa que era da Corvinal. Ele me olhou rapidamente, mas Carrow deu um tapa forte em sua cabeça, forçando o garoto a olhar para baixo. Ele se aproximou de mim e com um sorriso sujo nos lábios disse:
- Você é a próxima, . Você é a próxima.
- Então, venha. - eu respondi fazendo Carrow se irritar e me empurrar na parede. Minhas costas bateram com força na pedra e eu arfei, perdendo o fôlego. Eu comecei a tossir e os comensais riram.
- Traidora de sangue dissimulada - ele disse e quando o aluno fez menção de se aproximar, tomou um tapa no rosto - Eu já disse que vou me vingar de você. Não vejo o dia que irei derramar teu sangue por este chão.
Eu não consegui responder nada, pois ainda estava sem fôlego já que a pancada na parede expulsou todo o ar de meus pulmões. Encarei Amico com toda a raiva que podia enquanto pegava minha bolsa que tinha caído no chão e o grupo de comensais continuou a andar. Assim que eles viraram pelo corredor, eu comecei a andar rápido buscando no meio dos alunos qualquer um da Corvinal que pudesse me dizer o que tinha acontecido com aquele rapaz. Ele estava muito encrencado e isso me preocupava muito. Chegando quase perto da Grifinória eu encontrei um grupo de alunos da Corvinal e me aproximei.
- Ei - eu disse e os alunos me encararam seriamente - Vocês sabem o que aconteceu com um aluno da casa de vocês que estava sendo levado pelos comensais? Eu fiquei preocupada.
- Por que quer saber? - uma garota loira disse - O teu pronunciamento no jantar mostrou que você compactua com eles.
- Vocês realmente acreditaram naquilo? - eu perguntei perplexa - Eles me ameaçaram! Todo mundo aqui sabe como eu luto contra os comensais, então por que raios eu iria apoiá-los de uma hora pra outra?
Os alunos se olharam e um garoto que tinha as aulas de Poções comigo, disse:
- Ele disse que não acreditava no que você disse no jantar. Ernest disse que você tinha sido manipulada na aula do Carrow.
- O que? - eu perguntei perplexa - Por que ele fez isso?
- Ele não sabia que o Carrow iria entrar na sala no mesmo instante - uma garota disse - Ernest estava apenas conversando conosco e acabou encrencado.
- Isso é horrível! - eu disse - O que Hogwarts se tornou? Eu sinto muito.
- Eu espero que ele esteja certo sobre você - uma garota que estava quieta desde que a conversa tinha começado, resolveu falar - Porque vai ser injusto que Ernest tenha se ferrado por uma pessoa mentirosa.
Eles se afastaram de mim depois disso e eu suspirei, sentindo uma frustração tremenda. Eu não podia parar de resistir, as pessoas precisavam de mim. Eu não tinha o direito de parar e focar em Dumbledore ou qualquer outra coisa. Eu precisava continuar agindo. Sentia como se todo o peso da resistência tivesse caído em minhas costas, mas diferente de meses atrás, eu tinha outras coisas em mente. Havia uma responsabilidade maior em meus braços e eu não podia mais me meter em problemas. Estava de mãos atadas e naquele momento a única coisa que eu podia fazer era voltar para a Grifinória e me preparar para o jantar. Passei pelo retrato da Mulher Gorda - que ainda me olhava feio, mas tinha parado de me ofender - e senti meus músculos relaxando ao ver meus amigos reunidos jogando Snaps Explosivos.
- Ei, ! - Gina gritou enquanto passava o snap para Neville - Vem jogar com a gente!
Eu precisava muito de um banho e talvez um cochilo, mas Gina iria embora em uma semana e ter esses momentos de paz era tão importante quanto descansar. Eu caminhei até eles e deixei minha bolsa no chão entrando na brincadeira. Era tranquilizante estar ali, dando risada e jogando conversa fora. Por quase uma hora, eu me esqueci de todos os meus problemas e ri tanto que lágrimas saíram dos meus olhos quando a carta explodiu e queimou a manga da blusa de Nate. Ficamos jogando quase até a hora do jantar e depois eu e Gina fomos tomar banho. Olhei minha fênix antes de entrar na cabine do chuveiro e sorri, sentindo que mais uma vez eu estava renascendo. Foi impossível não cultivar a esperança de que tudo iria ficar bem logo e eu sorri finalmente molhando meu corpo, deixando a água quente levar meus anseios por um momento.
Snape não estava presente durante o jantar, mas o Salão estava com alguns comensais prontos para atacar qualquer um. A mesa da Sonserina fazia uma festa enquanto as outras mesas eram obrigadas a ficar na mais completa ordem. O tratamento para a Sonserina - que já era privilegiado - tinha piorado muito de modo que seus alunos podiam fazer literalmente qualquer coisa que não eram punidos. Alunos mais velhos assustavam os alunos menores das outras casas, roubavam galeões, lanches e outras coisas, além de sempre azararem qualquer primeiranista ou secundarista que passasse perto deles. As crianças viviam apavoradas e sempre eram encontradas escondidas dentro de armários pelos monitores. A situação em Hogwarts já estava passando do abusivo, mas simplesmente Snape não se importava. Quem cuidava da disciplina eram os irmãos Carrow e eles pioravam os castigos a cada dia.
Olhei para a mesa da Sonserina e Draco ria divertido enquanto conversava com Crabbe e Goyle. Era bom vê-lo feliz nem que fosse por uns instantes. Seus cabelos estavam úmidos e ele estava com uma camisa branca por baixo do cardigã preto. Eu sabia que ele devia estar cheiroso e eu daria tudo para poder sentar ao seu lado em pelo menos uma refeição. Draco era tão hipnotizante que eu parei de comer e virei meu torso levemente para continuar a olhá-lo. Qualquer pessoa que me visse notaria o quão apaixonada por ele eu era, mas eu não me importava. Observá-lo era melhor que qualquer coisa na televisão dos trouxas. Seu sorriso se abria a cada vez que um de seus amigos fazia uma piada e eu trocaria qualquer coisa somente para continuar vendo aquele sorriso todos os dias. Ver Malfoy vivendo, respirando, existindo era viciante. Meu amor por ele transbordava pelo meu corpo e como um rio poderia inundar todo aquele salão. Como era possível eu me sentir daquele jeito? Como tudo aquilo cabia dentro de mim mesmo eu sendo tão pequena? Meus olhos se encheram de lágrimas por um segundo, mas eu segurei já que estava em público.
Minha cabeça viajou e eu me imaginei, levantando do meu lugar, caminhando até Draco calmamente e sentando ao seu lado, recebendo um sorriso feliz pela surpresa. Eu beijaria seu rosto e ele juntaria nossas mãos por baixo da mesa enquanto me servia uma taça de suco de abóbora. Então, jantaríamos juntos, planejaríamos nossa viagem e nossa vida.
Voltei à realidade com um barulho alto ao meu lado que me assustou e fez meu coração disparar. Eu olhei para frente e Aleto tinha estourado a taça que estava em minha frente, fazendo com que todo o suco de abóbora caísse em minhas roupas limpas e no rosto de Neville. O líquido pingava pelo meu cabelo recém-lavado e ela tinha um sorriso perverso em seus lábios. Todo o salão se emudeceu e eu olhei para Draco que estava em pé no mesmo instante. Aleto se aproximou de Neville e disse:
- Uma reação e eu te jogo da escada. Eu já fiz isso antes com a tua amiguinha.
Meu sangue ferveu e eu respirei fundo várias vezes tentando manter o controle, mas minha raiva me guiava e a primeira coisa que eu vi em minha frente foi um garfo afiado. Aleto estava bem em minha frente e para acertar sua jugular era fácil se eu pulasse em cima da mesa. Minhas mãos começaram a tremer e eu senti que estava prestes a perder o controle da minha magia. Olhei para Gina que estava com os olhos arregalados e as mãos na boca. Nate me encarava assustado e eu percebi que sua mão já estava em seu bolso, pronto para me ajudar caso eu decidisse atacar. O suco laranja descia pela minha camisa branca manchando tudo e somente quando minha barriga começou a ser molhada, eu me lembrei de que eu não podia revidar. Não quando o feto em minha barriga sofreria se eu fizesse algo. Eu tinha prometido para Draco que não iria mais me meter em problemas e pelo feto eu iria cumprir. As pessoas aguardavam minha resposta e eu comecei a rir enquanto encarava minha barriga. Neville me olhava assustado enquanto Aleto continuava parada atrás dele provavelmente com a varinha apontada para suas costas. Ela desferiu um tapa no ouvido esquerdo de Neville, fazendo as pessoas ao redor gritarem e meu amigo perder o equilíbrio, caindo com o rosto no purê em sua frente.
- Por que está fazendo isso, Aleto? - eu perguntei enquanto Neville levantava o tronco aos poucos muito atordoado.
- Porque eu posso, porque eu quero - ela respondeu - Vocês realmente acharam que iríamos deixar vocês em paz?
- É melhor você ir embora, já entendemos o teu recado. - eu disse, mas meu corpo tremia e eu sabia que estava por um fio. Encarei o garfo longamente.
- Mas eu nem comecei - ela disse e quando Neville se mexeu mais bruscamente, sua coluna ficou reta e eu sabia que mais uma vez a varinha de Aleto estava cutucando as costas do meu amigo.
- Vai embora - eu disse mais uma vez - Saia daqui.
- Você não vai me dar ordens, sua vagabunda! - Aleto gritou.
- O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? - alguém gritou e quando olhei para o lado, professora McGonagall vinha com a varinha em riste - Aleto Carrow, afaste-se deste aluno.
- Eu faço o que eu quiser aqui, sua velha - a comensal disse e forçou as costas de Neville - Eu coordeno a ordem deste lugar.
- É melhor se afastar deste aluno, senhorita Carrow. - outra voz disse e professor Flitwick também se aproximava junto com os outros professores.
- A velharia de Hogwarts está me dizendo o que fazer? - Aleto disse e riu enquanto enfiava as mãos no cabelo de Neville e puxava com força. Ele suprimiu um gemido, mas Nate arfou ao seu lado.
- Aleto, não faça cena - ouvi uma voz e quando olhei em direção a porta, Snape vinha andando - Solte o aluno. Você é patética, horas no poder desta escola e já me prova que não serve nem para ocupar o cargo do Filch. Eu mandei soltá-lo.
Aleto soltou Neville, mas antes o empurrou com força fazendo com que o menino batesse o peito na mesa. Meu amigo - mais uma vez - enfiou o rosto no prato e se sujou, gritando de dor em seguida. Aleto saiu do Salão dando risada e eu ainda estava chocada com tudo o que tinha se desenrolado diante dos meus olhos. Nate teve que segurar o ombro de Neville já que o garoto oscilava de um lado para outro. Eu ainda tremia de raiva e não conseguia dizer nada tamanha indignação que se debatia dentro do meu peito. Eu me sentia como um animal enjaulado querendo quebrar todo o ambiente ao meu redor. Olhei para Snape e ele suspirou com uma expressão entediada.
- Francamente, eu não posso me afastar desta escola um segundo? - ele disse - O que você aprontou de novo, Longbottom?
- Ele não fez nada, senhor! - Gina disse e com um aceno de mão, Snape fez ela se calar.
- Menos cinquenta pontos da Grifinória - ele disse e eu percebi a indignação da mesa - Vou chamar um comensal para te escoltar até a enfermaria. - ele olhou pelo salão - Malfoy!
Eu dei um suspiro aliviado e ouvi passos apressados vindo até mim. Draco se aproximou e parou ao lado de Snape. Nós nos encaramos e percebi que seu rosto estava transtornado.
- Leve esse garoto até Madame Pomfrey. Todos subam para suas Casas, o jantar acabou. - Snape disse antes de sair andando e os professores o seguiram.
- Eu vou junto! - eu exclamei, mas quando me levantei, Snape fez um gesto com a mão, parando meus movimentos.
- Todos subam para suas Casas! - ele repetiu e eu me calei vendo Draco dar a volta e puxar Neville pra cima.
Os dois começaram a andar, mas outro comensal teve que ajudar já que Neville ainda estava desnorteado por causa do tapa na orelha. Eu suspirei nervosa e ainda tremia de raiva. Encarei meus amigos e Gina tinha os olhos raivosos, mas segurava o choro e Nate possuía indignação estampada em seu rosto. A situação estava insustentável naquele lugar e eu queria gritar, mas ninguém iria me ouvir. O mundo estava surdo.

Draco’s POV

Era difícil caminhar pelos corredores de Hogwarts com Longbottom pendurado em meu pescoço. Ele era mais alto que eu e era complicado ter que levá-lo até a enfermaria com o idiota sem conseguir dar um passo sozinho. O tapa que Aleto tinha dado em seu ouvido tinha deixado o garoto desnorteado até demais e eu acreditava que algo mais sério tinha acontecido. Rockwood, o comensal que me ajudava a carregar Longbottom se irritou com a imobilidade do garoto e o soltou. Eu não consegui segurá-lo sozinho e o corpo desnorteado caiu no chão, fazendo um barulho seco. Eu quase senti pena dele.
- Ah, por Merlim - Rockwood ao meu lado disse - Esse moleque é muito mole.
- Longbottom, levanta. - eu pedi e dei um suspiro quando ele não levantou e somente gemeu dolorido.
- Já estamos chegando - eu disse e quando percebi que ele não iria levantar, bufei irritado de novo. - Aleto pegou pesado.
- Claro que não, esses alunos precisam aprender a obedecerem. - ele disse, mas eu ignorei.
Longbottom não tinha a menor condição de levantar do chão sozinho e o outro comensal não tinha a intenção nobre de me ajudar. Tirei minha varinha do uniforme e com uma volta no ar, Longbottom começou a levitar e eu me senti burro por ter me esquecido do Vingardium Leviosa.
Fomos até a enfermaria e eu empurrei a porta, passando com Longbottom gemendo de dor atrás de mim. Madame Pomfrey cuidava de um aluno da Corvinal que tinha sido torturado naquele mesmo dia. Ele se debatia enquanto tinha os pulsos amarrados na cama, claramente tendo convulsões por causa da Cruciatus. Eu engoli em seco e o remorso - já tão conhecido - veio até mim e eu questionei pela milésima vez se tudo aquilo valia a pena. A enfermeira finalmente se aproximou e seus olhos estavam vermelhos. Ela nos olhou com uma expressão raivosa e disse:
- Vocês não cansam de causarem mal a esta escola?
Eu não respondi nada porque ela estava certa. Os comensais estavam destruindo os alunos e eu não enxergava uma melhora. Eu ainda simpatizava com os ideais do meu grupo, mas os métodos faziam com que eu duvidasse disso. A cada dia que passava eu questionava mais e mais os propósitos do Lord das Trevas. Tantas pessoas se machucando enquanto ele buscava algo que nem nós, comensais, sabíamos o que era. Eu sabia que ele passava o tempo longe da minha casa e isso me preocupava. Lord das Trevas estava ficando cada vez mais insano e suas maldades se tornavam impensáveis. Entretanto, parecia que eu era o único a perceber isso. Papai me mandava cartas, orgulhoso do mundo que estava sendo construído e eu queria gritar que ele estava errado, mas não tinha coragem para questioná-lo. Então eu guardava dentro de mim todas as minhas dúvidas e esperava que tudo isso passasse.
Eu guiei Longbottom até uma cama e ele automaticamente ficou em posição fetal, ainda de olhos fechados. tinha o garoto como um de seus melhores amigos e eu só não entendia como ela podia sequer conversar com alguém tão patético como ele.
- O que aconteceu? - Madame Pomfrey perguntou enquanto se aproximava do garoto e observava atentamente.
- Aleto se excedeu - respondi - Deu um tapa no ouvido esquerdo dele e empurrou seu corpo contra a mesa. É melhor dar uma olhada em seu peito.
- Vocês podem sair da minha enfermaria por enquanto, eu chamo vocês quando terminar de tratá-lo. - Madame Pomfrey disse e nós obedecemos.
Enquanto Rockwood ia até uma janela para fumar, eu fui até a outra e comecei a observar a escola, ação que sempre fazia. Pensar nela fez com que meu raciocínio anterior voltasse e eu também não entendia como ela tinha sequer começado a ficar comigo. Quanto mais eu a conhecia, mais eu percebia o quão mal eu era. Enquanto ela transbordava coragem e bondade, eu era mais raso que uma poça de água. Minhas únicas boas ações eram aquelas que vinham por causa de , mas eu não me importava com isso. Na verdade, não me importava com mais nada além dela e do nosso bebê que estava vindo. Entretanto, eu não conseguia mais ser desagradável com seus amigos imbecis. Eu sabia que se eu os tratasse mal acabaria encrencado e eu não queria problemas com . Somente por ela eu os suportava, mas também não achava correto o que os comensais faziam. Longbottom não tinha feito nada de errado e não merecia ser punido daquele jeito.
E se fosse ? E se minha namorada tivesse levado o tapa na orelha? Pensar nisso fazia um calafrio percorrer minha espinha e eu não queria nem imaginar como seria. Eu só queria que o ano acabasse para que eu pudesse partir. A lembrança do nosso plano fez com que uma centelha de felicidade se acendesse em meu peito e eu não via a hora de finalmente estar em paz. Entretanto, até minha frágil esperança vinha revestida de receio. Meus pais com certeza sofreriam as consequências dos meus atos. Do mesmo jeito que eu me tornei comensal como punição ao meu pai pela falha no Ministério em meu quinto ano, eles seriam punidos por eu ter abandonado Lord Voldemort.
Durante muito tempo eu realmente achei que ele tinha me escolhido porque tinha visto potencial em mim e acreditava que eu merecia uma chance. Entretanto, depois de tudo o que eu perdi e tive que fazer, eu notei que minha aceitação como comensal não passava apenas de uma estratégia para que eu morresse e a família Malfoy acabasse em mim.
Minha manga subiu e eu tive que encarar a Marca Negra por alguns segundos e meu cérebro começou a se desesperar: nosso plano tinha que dar certo. Não tínhamos outra chance. Eu não podia morrer, não podia morrer e nosso bebê não podia morrer.
Ouvi passos e olhei em direção ao corredor, notando que e seus amigos tinham dado um jeito de se desvencilhar das ordens de Snape. Minha namorada marchava e caminhando decidida parecia uma força da natureza prestes a inundar aquele corredor. O outro comensal prontamente parou seus movimentos e apontou a varinha para o rosto de . Antes que eu pudesse piscar ela já estava com sua varinha em mãos e seus amigos também.
- O que vocês fazem aqui? - ele perguntou
- Viemos checar nosso amigo - ela respondeu sem desviar seu olhar e eu percebi que estava em seu modo guerra. Ao menor sinal e ela atacaria sem pensar duas vezes, ainda que estivesse na escola. - Saia da frente.
- Snape mandou os alunos voltarem. - o comensal respondeu e eu me aproximei.
- Eu tô pouco me fodendo para o que Snape mandou - ela respondeu e colocou os olhos em mim - Malfoy, mande ele abaixar a varinha.
- Está tudo bem, Rockwood - eu disse - Pode abaixar a varinha. É melhor abaixar a varinha.
- Nós não viemos atrapalhar - a garota Weasley disse - Só queremos saber como nosso amigo está.
- Vão embora daqui, respeitam as regras! - Rockwood gritou e eu suspirei.
- Rockwood - eu disse - Eles só querem ver como o amigo está, não há mal nenhum nisso.
Ele pensou por alguns segundos e abaixou a varinha, guardando no bolso. e seus amigos fizeram o mesmo e ela passou por ele como um furacão, empurrando a porta da enfermaria e entrando. Todos a seguiram e eu somente observei enquanto ela assumia a posição de liderança que deram a ela depois que o Potter fugiu.
- Madame Pomfrey - ela disse baixo - Como está Neville?
- Vocês não deveriam entrar aqui, - a enfermeira disse - Ninguém deveria estar aqui.
- Por favor - pediu - Só precisamos de uma informação.
- Ele está dormindo já que seu tímpano foi estourado com o tapa e ele perdeu um pouco da noção de equilíbrio - Madame Pomfrey disse - Eu já cuidei disso, ministrei alguns feitiços e poções que reconstruíram o tímpano e recuperaram o machucado no tórax.
- Obrigada por cuidar dele - ela respondeu como se fosse responsável por todos ali - E o garoto da Corvinal?
- Ele está se recuperando, mas talvez tenha que mandá-lo para o St. Mungus - Madame Pomfrey explicou - Eu ainda não consigo medir os danos causados pela Cruciatus.
- Eu sinto muito - disse e eu estranhei, por que ela estava pedindo desculpas? - Eu sinto muito mesmo.
- Eu sei que sente, querida - Madame Pomfrey - Mas vocês precisam ir embora, eu preciso continuar cuidando deles.
- Tudo bem, muito obrigada. - disse e deu as costas saindo da sala rapidamente. Todos a seguiram e quando chegamos ao corredor, ela estava parada de costas e com as mãos no rosto, como se tentasse segurar o choro.
- ? - eu chamei e me aproximei, segurando em seu cotovelo. Ela tirou uma das mãos dos olhos e segurou a minha - O que houve?
- O garoto da Corvinal foi torturado porque me defendeu - ela disse com uma voz triste - Foi torturado porque não acreditava no que eu disse no jantar. Amico ouviu.
tirou a mão do rosto e me encarou, mostrando seus olhos vermelhos. Ela tinha segurado o choro muito bem, mas tinha uma expressão miserável. Eu sabia que Rockwood observava tudo atentamente, mas minha namorada precisava de mim. Puxei para um abraço e ela se agarrou a mim no mesmo instante, apertando minhas costas e deitando a cabeça em meu peito. Eu beijei seus cabelos e fiz um carinho em suas costas enquanto percebia que ela tentava segurar o choro de novo.
- Não é tua culpa, entendeu? - eu sussurrei em seu ouvido - Você não é responsável por isso.
- Eu sei, Draco - ela respondeu e levantou a cabeça para me encarar com os olhos vermelhos - Eu só quero que isso acabe logo.
- Só mais um pouco, - eu disse e beijei sua testa - Só mais um pouco.
Ela não respondeu, mas se soltou de mim e coçou os olhos, parecendo uma criança pequena. Foi inevitável não sorrir e querer puxá-la para mais um abraço, mas eu me segurei. Olhei ao redor e Rockwood me encarava surpreso enquanto Grings, o amigo de , tinha uma expressão amarga, como se estivesse vendo algo que não queria.
- Eu preciso ir - ela disse - Estou com muito sono.
- Eu entendo, ainda vou ficar por aqui - eu respondi - Ordens do Snape.
- Mande-me uma coruja se algo acontecer com o Neville - ela pediu e eu assenti - Até mais.
- Até mais, . - ela se inclinou, beijou minha bochecha e seus amigos a seguiram pelo corredor.
Eu assisti enquanto ela se afastava e me dei conta de que sentia falta de . Falta de passar uma tarde toda ao seu lado, falando besteira ou fazendo amor até o corpo inteiro doer. Desde que ela tinha atacado Amico em sala de aula e o regime ficou mais autoritário, nós tínhamos pouco tempo juntos. Snape havia me colocado para cumprir meu papel de comensal dentro do castelo também e tinha se afundado nos livros já que as provas finais estavam chegando. Eu deveria estudar também, mas não me sobrava tempo. Eu olhei para Rockwood e ele me olhava de um jeito estranho.
- O que foi? - eu perguntei
- Você namora com essa menina? - ele perguntou e eu suspirei.
- Desde o ano passado - respondi simplesmente - Por quê?
- Todos sabem disso? Snape sabe disso? - ele perguntou.
- Não que seja da conta dele ou de ninguém - eu coloquei limites - Mas sim.
- Isso vai custar a tua cabeça, Malfoy. - Rockwood disse enquanto acendia outro cigarro.
- Eu não me lembro de ter pedido a tua opinião para qualquer coisa, Rockwood - eu respondi cortando sua intromissão - O que eu faço ou deixo de fazer não é da tua conta, então recolha-se ao teu cargo e não se mete na minha vida.
Eu disse dando o assunto por encerrado e o comensal simplesmente levantou as mãos em rendição, parando de falar. Ouvimos mais passos e Snape vinha caminhando rapidamente como se estivesse com pressa. Sua expressão nunca era boa, mas naquele dia estava pior.
- Notícias do garoto Longbottom? - ele perguntou.
- Aleto estourou o tímpano do moleque - Rockwood disse entre uma tragada e outra - A enfermeira deu algumas poções e disse que ele precisa de descanso.
- Ótimo, vocês podem se retirar - ele disse - Rockwood, me siga, Lord das Trevas quer você fora do castelo pelos próximos dias.
Os dois foram para um lado e eu caminhei pelo oposto, seguindo meu caminho calmamente para chegar até a sala comunal da Sonserina. O céu já estava escuro e um vento gelado fazia o fogo dos archotes vacilar, mas eu não me importava. Estava descendo as escadas para as masmorras quando notei alguém sentado nos degraus. Eu segurei minha varinha no mesmo instante enquanto descia devagar, mas assim que ouviu os barulhos dos meus passos, a pessoa se virou para me olhar e eu suavizei meus movimentos. me encarava com os olhos úmidos enquanto se levantava e eu desci os degraus que nos separavam rapidamente. Ela segurou minha capa e me puxou para perto, segurando meu rosto enquanto me encarava seriamente. Eu não conseguia falar nada e só esperei para ver o que ela queria.
- Eu preciso de você agora - ela disse - Preciso da tua companhia.
- O que houve? - eu perguntei e segurei em seu rosto, fazendo um carinho em sua bochecha.
- Nada, eu só estou um pouco triste - ela respondeu - Vamos sair daqui?
Eu apenas peguei em sua mão e nós fizemos todo o caminho de volta até chegarmos à Torre de Astronomia. Eu sabia que aquele lugar era doloroso para , mas ali batia um vento frio que clareava as ideias e eu sentia que era exatamente o que ela precisava. soltou minha mão e foi até o parapeito, encarando o terreno da escola. Eu me juntei a ela e ficamos em silêncio por alguns segundos até que ela se sentiu confortável para falar.
- Eu não estou arrependida da nossa escolha - ela começou a dizer - Eu quero o nosso bebê.
- Mas? - eu completei e fiquei apreensivo.
- Mas eu não estou mais aguentando ser a resistência nesse lugar - ela revelou e buscou minha mão na escuridão - Eu não quero me meter em problemas porque nosso bebê precisa que eu fique bem, mas…
- Os problemas te esperam a cada corredor - eu completei e ela suspirou - Eu sei que a tua zona de conforto é o campo de batalha, . Entendo como deve estar sendo difícil para você frear os instintos de luta.
- Eu me senti mal quando soube do menino da Corvinal - ela respondeu - Ele se machucou por causa de mim.
- Não foi por causa de você, - eu disse e a puxei para mais perto - Você não é responsável pelo que Amico ou Aleto fazem. Você é uma vítima deles quase o tempo todo.
- Amico disse algo que me assustou hoje - ela comentou e eu automaticamente fiquei em alerta - Ele disse que eu era a próxima. Você está sabendo de alguma coisa?
- Não estou, mas não fica preocupada com isso - eu disse tentando acalmá-la, mas ocultando o fato de que se algo estivesse sendo preparado, eu nunca saberia - Amico não gosta de você porque você não tem medo dele e isso o deixa enfurecido.
- Eu sei, só foi muito estranho - ela disse e fez um carinho em minha mão com o polegar - Agora com o bebê qualquer ameaça, por mais boba que seja, me deixa nervosa.
- Vai dar tudo certo - eu disse e a puxei para mais perto de mim - A barriga já está aparecendo?
- Ainda não - ela respondeu - Eu consigo notar uma diferença, mas está longe de aparecer no uniforme.
- Isso é ótimo - eu disse e sorri - Você tinha que tomar algumas poções, certo? Para o bebê ficar bem.
- Eu sei disso, estou tentando fabricá-las escondidas, mas elas são muito complicadas - respondeu e se aconchegou em meu peito. Eu amava tê-la em meus braços - Estamos tão perto de partir… Tão perto.
- É só aguentarmos mais um pouco, - eu disse e suspirei - Só alguns meses a mais e estaremos livres.
- Livres - ela repetiu - O que você acha que é? Menino ou menina?
- Quando eu penso sobre, a imagem de uma menina aparece - eu respondi sorrindo - Sempre uma menina com os meus cabelos e os seus olhos.
- Eu também penso em uma menina - ela respondeu e se agarrou ainda mais a mim - Você já pensou em nomes?
- Você não acha que é muito cedo para pensar em nomes? - eu perguntei e ela riu puxando o meu riso - Nós só vamos saber o sexo no final.
- Eu sei, mas eu estou ansiosa - ela disse e beijou meu rosto algumas vezes - Eu estou feliz porque estamos sólidos assim, sabe? Nós estamos planejando uma vida juntos.
- Nós evoluímos, não? - eu comentei - Começamos em Hogwarts com você me odiando profundamente e agora estamos prestes a viver juntos.
- Eu gosto do que somos agora - disse depois de rir um pouco - Apesar de todo o inferno que vivemos, alcançamos certa estabilidade.
- Eu também gosto do que somos. - eu completei e ficamos em silêncio depois.
Eu senti que não estava mais triste e isso me deixou aliviado. Odiava vê-la triste ainda mais quando eu não podia fazer nada para melhorar, mas falar sobre nosso bebê fez com que o humor dela melhorasse e o meu também. Era estranho sentir a noção de responsabilidade que eu sentia e ainda assim ficar radiante por isso. No final de toda a preocupação, nós teríamos uma recompensa. Eu apertei mais um pouco em meus braços e recebi um beijo no maxilar. Ela puxou meu rosto para baixo de um jeito espontâneo e buscou meus lábios, iniciando um beijo calmo. Eu a deixei conduzir e segurou minha nuca, ficando na ponta dos pés para aprofundar mais nosso beijo. Segurei em sua cintura e correspondi sua empolgação, sentindo que ela se agarrava em mim como se dependesse dos meus lábios. Eu suspirei e apertei sua cintura, guiando minhas mãos para a sua nuca. segurou em meus braços e mordeu meu lábio inferior, finalizando o beijo com um selinho longo. Nossas testas permaneceram encostadas e eu respirei fundo, sentindo meu corpo pedir por mais contato, pedir por mais . Ela me olhou concentrada e mesmo na escuridão eu podia ver o sorriso contido em seus lábios. Eu sorri de volta e fiz um carinho em sua testa.
- Você é tão linda - eu comentei e ela sorriu - Tão linda…
me beijou de novo e eu não consegui pensar em nada além do quanto meu coração pertencia a ela. Eu nunca tinha sentido isso por ninguém, nem mesmo por Pansy que foi a garota que eu mais tive contato antes de . tinha mudado meu jeito de sentir e também mudado o jeito que eu enxergava os sentimentos. Antes dela, eu não perdia tempo me apaixonando, mas assim que ela passou pelas portas do Salão Principal no início do ano passado, eu senti algo diferente. Olhando para trás, eu percebia que ela ganhou meu coração naquele primeiro dia e eu só tinha sido um babaca para chamar atenção dela como o moleque que eu era.
me conduziu até o guarda-corpo e se acomodou em meus braços, deixando nossos corpos mais juntos, se é que era possível. Um vento batia e me deixava com frio, mas eu não queria sair dali e voltar para a Sonserina, não queria ficar longe dela. Todo o tempo que tínhamos era precioso demais e se eu pudesse, teria um vira-tempo somente para subir mais uma vez na Torre de Astronomia e repetir esse momento.
Eu me via várias vezes pensando em como eu, sendo a pessoa que eu era, poderia sentir algo tão bom. Eu era um comensal da morte, tinha feitos coisas horríveis, odiava a maioria das pessoas e mesmo assim, lá estava eu tendo um dos sentimentos mais puros da humanidade. Tinha medo de que isso fosse tirado de mim por conta de toda a maldade que eu já tinha praticado e que ainda iria praticar. Pensar em ficar mais uma vez sem em minha vida fez medo descer pela minha espinha e eu me vi finalizando o beijo para poder abraçá-la com força. Apertei contra meu peito e beijei o topo de sua cabeça, sentindo o cheiro do shampoo que ela usava.
-O que foi? - ela perguntou baixo dentro do meu abraço.
-Só queria te abraçar - eu respondi e a apertei ainda mais - Deixar você mais perto.
não respondeu, mas continuou em meus braços pelo tempo que eu precisei. Ali, ela estava segura e se ficássemos ali, a luta não nos alcançaria e nem nos faria mal. Estávamos bem, estávamos a salvo nem que tudo aquilo fosse apenas uma ilusão. Eu sabia que no segundo que saíssemos da Torre, algo poderia acontecer, mas eu me deixei enganar, imaginando como nossa vida seria se não fossemos de lados diferentes, ou melhor, se não tivessem lados para se escolher. Fechei meus olhos e só me permiti sentir o amor que habitava em mim, ignorando todo o resto.
- Eu sei que a ligação pode ser algo que nos influencia muito - eu comecei a dizer - Mas se ela não existisse, eu continuaria te amando do mesmo jeito e com a mesma intensidade.
- Por que está dizendo isso? - ela perguntou baixo, mas não senti desconfiança em seu tom de voz somente curiosidade.
- Eu sei que eu não sou muito de falar como eu me sinto em relação… - eu dei uma pausa e ri nervoso - Bem, em relação a tudo. Sei que saber como eu me sinto faz você se sentir mais segura já que tivemos problemas no passado com confiança e…
- Eu entendi, Draco - ela me cortou e eu recebi um rápido selinho - Eu escolheria você ainda se não tivesse a ligação mágica.
E então eu me calei porque era isso que eu precisava escutar. Nós éramos fortes juntos e era isso que importava. Finalmente dei um espaço para , mas durou pouco já que ela veio até mim e me beijou segurando meu rosto com força. Eu arfei um pouco surpreso com a urgência, mas logo correspondi, segurei em sua cintura e colei nossos corpos. me puxou pela camisa e desceu os beijos pelo meu pescoço enquanto infiltrava seus dedos gelados pela minha camisa e tocava a pele das minhas costas, causando-me um arrepio. Seus lábios foram até o lóbulo da minha orelha e respirei fundo, sentindo meu corpo se arrepiar. Era impressionante como a atmosfera tinha mudado em segundos. Voltamos a nos beijar, eu apertei sua bunda por baixo da saia do uniforme e arfou em meus lábios, se esfregando em mim de um jeito gostoso. Nós já tínhamos transado ali e somente a memória daquele ato fez com que algo despertasse em mim. Puxei sua camisa de dentro da saia e finalmente consegui tocar em sua pele quente que se arrepiou inteira embaixo da palma da minha mão.
Eu sabia que fazia muito tempo desde que nós tínhamos um momento entre nós, por isso minha cabeça trabalhou rápido e eu pensei em algo para fazermos no final de semana.
- - eu chamei e fez um barulho de que estava me ouvindo, mas continuou a beijar meu pescoço - Como o castelo vai esvaziar esse final de semana, nós poderíamos pensar em alguma coisa.
- O que você sugere? - ela perguntou enquanto segurava meu maxilar e me dava beijos longos.
- Poderíamos jantar e dormir juntos - eu disse - Não lembro a última vez que passamos um tempo de qualidade na companhia um do outro.
- Eu acho uma ótima ideia, Draco - ela respondeu e me abraçou, deitando a cabeça em meu peito - Estou com sono.
- Então é melhor irmos. - eu disse e ela concordou, segurando em minha mão para sairmos dali.
Eu deixei no corredor do sétimo andar em que provavelmente ficava a Grifinória e segui meu caminho para a Sonserina com o coração um pouco mais leve, se é que isso era possível. Assim que entrei no Salão Comunal, Crabbe e Goyle levantaram correndo e vieram até mim com expressões ansiosas. Eu bufei irritado e disse:
- O que é agora?
- Chegou uma carta para você enquanto estava fora. - Goyle disse me passando o pergaminho e pelo selo eu reconheci o brasão Malfoy.
Peguei a carta da mão dele e afrouxei a gravata do uniforme, retirei minha capa e me joguei em uma das poltronas. Rompi o selo e antes de começar a ler, fiquei ansioso e apreensivo.

Querido filho,
Como já é de praxe as coisas estão cada vez mais difíceis aqui em casa. Lord das Trevas e Snape estão cada vez mais com segredinhos e não nos deixam a par de qualquer coisa que está acontecendo, entretanto, o mestre não passa tanto tempo em nosso lar. Lucio acha que ele está em busca de alguma coisa. Preciso que você volte para casa no feriado da Páscoa, teu pai tem uma missão e precisa da tua ajuda.
Nossa casa já não é mais a mesma, você precisa se dedicar ao máximo assim que sair de Hogwarts para conseguirmos achar Potter e ter nosso lar de volta.
Com amor,
Mamãe.

Deixei a carta em meu colo e me permiti fechar os olhos por alguns segundos enquanto absorvia as palavras de minha mãe. Meu peito ficou apertado e meus olhos arderam, mas eu não tinha o direito de chorar. Ela não sabia sobre o filho que esperava e contava comigo para que nossa família voltasse ao patamar que tínhamos no círculo interno do mestre. Meu coração doía ao saber que eu os decepcionaria quando o ano letivo acabasse. Eu teria um tempo para me despedir e deixar tudo pronto para que minha deserção não os prejudicasse tanto, mas eu sabia que eles iriam colher os frutos dos meus atos. Entretanto, para o que eu estava planejando, para que meu filho não sofresse, eu teria que deixar meus pais para trás e isso seria a coisa mais difícil que eu teria que fazer.

And I'm kicking the dirt cause I never gave you the place that you needed to have*

n/a: música do capítulo! Dê play quando ver a notinha!

Eu já estivera ali naquela enfermaria tantas vezes que eu não conseguia me lembrar, entretanto, todas como paciente, quase nunca como visita. Eu suspirei e apertei um pouco mais a capa do uniforme em volta do meu corpo, já que fazia frio mesmo o inverno estando quase acabando. A neve começava a derreter em Hogwarts e agora criava uma camada fina de água que encharcava nossos sapatos.
Estávamos na segunda semana de março e naquele final de semana os alunos iriam para a casa comemorar o feriado da páscoa. Exceto por mim. Eu continuaria naquele castelo gelado.
Olhei para Neville e o rapaz continuava dormindo um sono pesado, pois não ouvia nada da conversa que Gina e Nate estavam tendo. Eu sabia que deveria estar participando, mas minha cabeça estava longe.
- Vocês não podem tentar fazer algo com o castelo vazio, Nathan! - Gina disse mais alto e bufou irritada.
- Claro que podemos! Alguns comensais estarão aqui - meu amigo retrucou - Em número menor, o que nos dá uma ótima vantagem!
- Nós não podemos atacar de graça, nosso intuito é envolver os outros alunos! - ela explicou - Atacá-los só colocará mais um alvo em nossa testa!
- Falem baixo! - eu pedi e voltei a observar Neville.
Eu sabia que os pais de Neville estavam no St. Mungus loucos por causa da maldição Cruciatus. Por conta dos comensais, o garoto foi criado pela avó mesmo que seus pais ainda estivessem vivos. Eu suspirei e desviei meu olhar para olhar a paisagem fria do lado de fora por uns instantes, mas minha cabeça continuava nos pais de Neville. Se algo acontecesse comigo eu não queria que meu bebê fosse criado pelos pais de Draco, entretanto, eu não estaria viva para saber. Meus pais não sabiam da minha gravidez e não poderiam ter a guarda. Se algo acontecesse comigo ou com Draco, nosso bebê ficaria a própria sorte e isso me causava pânico.
Neville se remexeu um pouco, mas continuou dormindo e eu decidi prestar atenção na conversa dos outros dois que estavam quase sendo expulsos por causa do barulho.
- Só não faz sentido, Nathan! - Gina disse - Não podemos atacá-los com tão poucos alunos no castelo!
- É claro que podemos, Gina! - ele argumentou - Podemos ter um confronto direto!
- Eu não posso ter um conflito direto, Nate - eu finalmente entrei na conversa - Eu prometi a mim mesma que eu não me colocaria em risco mais. Gina está certa, não podemos fazer nada neste feriado, pois estaremos em menos gente.
- Mas eles também estarão! - ele retrucou.
- Independente disso, com menos alunos as suspeitas diminuem, Nate - eu expliquei - Estamos sem o Neville, ele ainda está se recuperando. Eu sei que precisamos fazer alguma coisa, mas tenha mais um pouco de paciência.
- A está certa, Nate - Gina concordou - Aproveita esse feriado para estudar já que as provas finais estão chegando.
- Apesar de todo esse movimento de resistência - eu disse - Ainda precisamos estudar.
- Vocês estão certas - Nathan disse e se jogou em uma cadeira - Eu só fico angustiado sem fazer nada.
- Se você fica angustiado, imagine eu - eu disse e ri amargamente - Nem se eu quisesse, eu poderia fazer alguma coisa. Prometi para o Draco que terminaria o ano em segurança.
- Você diz isso por causa… - Gina disse e eu afirmei - Faz sentido.
- Eu conversei com ele semana passada sobre isso - eu comentei - Ele entende como dói não poder fazer nada para frear os comensais.
- É por pouco tempo, - Gina disse e eu olhei para Nate que encarava o chão - O ano letivo está acabando.
- Isso também me assusta - eu respondi - O que vai acontecer depois que o ano letivo acabar.
- Vocês já pensaram nisso? - ela perguntou.
- Sim, nós já pensamos nisso - eu respondi e dei um sorriso mínimo - Já pensamos em tudo e agora é só…
- Eu estou indo embora! - Nate disse de repente e levantou com pressa, saindo da enfermaria sem ao menos se despedir.
Eu engoli em seco e fiquei em silêncio, pois sabia o quanto minha relação com Draco machucava Nathan. Na maioria das vezes eu ignorava esse fato, mas eu sabia que ele não conseguia fazer isso. Olhei para Gina e ela tinha uma expressão sem graça.
- Eu me odeio tanto por isso - eu comentei - Eu queria poder fazer alguma coisa.
- A não ser que você termine com Malfoy - ela disse - Não tem nada que você possa fazer. Ele não pode ter uma explosão dessa toda vez que você menciona seu namoro.
- Eu sei, mas o que eu posso fazer além de ignorar? - eu perguntei - Eu evito falar sobre Malfoy ou qualquer outro assunto na frente dele, mas algumas vezes eu não consigo.
- Eu sei, - ela respondeu - Acho melhor nós irmos.
Eu levantei da cadeira e toquei a mão de Neville antes de sair de perto da cama dele e caminhar até Madame Pomfrey. Ela estava sentada em sua mesa enquanto preenchia uma série de papéis.
- Madame Pomfrey - eu chamei - Como Neville está?
- O estrago no tímpano foi mais sério do que eu tinha previsto - ela explicou enquanto tirava os óculos - Ele vai ficar só mais um dia aqui, pois estou administrando poções para isso. Mas ele está bem, só está dormindo.
- Isso é ótimo - eu disse sorrindo - Bom, nós vamos indo. Amanhã voltamos para buscá-lo.
- Até amanhã, queridas.
Gina e eu saímos da Ala Hospitalar e como o almoço já estava acabando começamos a andar para o quinto andar onde seriam nossas aulas. Aquela era a última semana de Gina no castelo, depois do feriado ela não iria mais voltar e antes mesmo dela partir, meu coração doía ao pensar que mais uma amiga minha iria embora. Hermione, Luna e agora Gina. Eu amava os meninos, mas não seria a mesma coisa sem ela. Depois de ficar mais de dez anos da minha vida contando apenas com a amizade dos meus pais, eu consegui um grupo de amigos completo e era triste ver que, em menos de um ano, a maioria deles tinha ido embora. Entretanto, a dor maior era a incerteza do meu destino naquele castelo. Hogwarts tinha se tornado um lugar perigoso para mim ainda mais agora.
- Gina, eu vou precisar de um favor - eu disse - Eu preciso que você entregue uma carta para os meus pais.
- Claro, com certeza! - ela respondeu - Você vai contar para eles?
- Vou - eu respondi - Quando estávamos na Ala Hospitalar e eu lembrei que o Neville cresceu sem os pais… Eu não quero meu bebê sendo criado pelos Malfoy.
- Eu entendo, - ela respondeu e me deu um sorriso - Aquele não é um lugar bom para crianças.
- Aquele não é um lugar bom para ninguém - eu respondi - Se algo acontecer comigo ou com Draco, não quero meu bebê naquele lugar e meus pais precisam saber que eu estou grávida para ficarem em alerta.
- Você está certa - ela disse - Eu queria poder ajudar, tirar você daqui de alguma forma.
- Você já vai fazer muito, Gina - eu respondi e dei um sorriso - É só isso que eu preciso.
Gina se despediu de mim na primeira sala do quinto andar e eu caminhei calmamente para o fim do corredor até chegar à sala de Transfiguração. Professora Minerva já estava lá sentada escrevendo em alguns pergaminhos e somente levantou o olhar quando eu passei pela porta, mas logo voltou a se concentrar em seu trabalho. Olhei para o fundo da sala e Nate já estava sentado em uma das carteiras. Eu respirei fundo e caminhei confiante até ele, tentando fingir que nada aconteceu.
- Madame Pomfrey disse que Neville vai sair amanhã - eu comentei - Podemos ir buscá-lo amanhã no almoço.
- Isso é ótimo. - ele respondeu secamente ainda sem me encarar.
- Nate, eu sinto muito - eu disse um pouco angustiada - Eu…
- Está tudo bem, - ele me cortou - Você não pode se privar de conversar sobre seu namoro por causa de mim, isso é ridículo.
Eu não consegui responder e somente me sentei sem olhá-lo. De fato, eu não podia me privar de falar sobre meu namoro com meus amigos, mas eu o fazia para não machucá-lo.
- Eu não quero te machucar, Nate - eu disse baixo - Nunca quis.
- Eu sei - ele respondeu e tirou um pergaminho da bolsa, pois professora Minerva tinha se colocado em pé - Eu mesmo me machuco.
Eu suspirei e optei por finalizar a conversa, já que não sabia o que responder e a professora já tinha iniciado a aula. Eu sabia que não era responsável pelos sentimentos de Nathan, mas mesmo assim eu me sentia péssima quando eu me lembrava de que ele gostava de mim e eu não podia corresponder. Nate era um lembrete ambulante da vida que eu teria se meu coração não pertencesse a Draco. Com certeza, tudo seria mais fácil. Provavelmente eu não estaria atolada em problemas de tamanha magnitude. Entretanto, eu amava Draco com todas as minhas forças e não podia fazer nada para mudar isso.
Malfoy ocupava meus pensamentos todo o tempo e cada porção do meu corpo era fiel a ele. Eu o amava mais do que eu podia mensurar e se ele precisasse de mim eu iria até o Hades para socorrê-lo. E eu sabia que era exatamente por isso que eu poderia perdê-lo. Eu não pensava quando se tratava de Draco, eu somente agia.
A aula da professora Minerva acabou e eu enrolei meu pergaminho com minhas anotações, colocando-o na minha bolsa. Nate jogou tudo de qualquer jeito na bolsa-carteiro e se levantou caminhando para fora da sala sem nem olhar para mim. Eu somente levantei lentamente e quando passei pela porta eu notei Nathan parado encarando alguém que estava de costas. Assim que eu cheguei ao corredor eu notei os cabelos louros que emolduravam o rosto de Draco. Ele tinha ido me buscar e foi inevitável sorrir pelo gesto. Nathan nos olhou com dor no olhar e saiu caminhando para longe. Meu sorriso vacilou, mas Draco estava ali sorrindo minimamente. Eu me aproximei dele e recebi um singelo beijo na mão que segurava a dele.
- Minha aula acabou mais cedo e eu pensei em vir buscá-la. - ele explicou enquanto me guiava para longe dos olhares dos outros alunos.
- Eu amei a surpresa - respondi sorrindo - Você tem a última aula?
- Não, você?
- Também não. - eu disse e assim que estávamos em um corredor vazio, Malfoy me puxou para mais perto e me segurou pela cintura.
- Podemos ficar juntos até o jantar - ele disse com um sorriso - O castelo estará vazio esse final de semana e você sabe o que isso significa?
- Huum, não - eu respondi e segurei em seu pescoço, beijando seu rosto - O que significa?
- Significa um final de semana todo comigo - ele respondeu e sorriu - Você vai enjoar de ver meu rosto.
- Nossa, tomara! - eu brinquei e nós rimos - Mas nós temos que estudar para os exames finais.
- Eu odeio quando você resolve ser responsável - ele comentou arrancando uma risada minha - Mas depois fazemos isso, eu quero ficar com você o máximo de tempo que eu puder.
- Então vamos começar agora - eu respondi e o beijei.
Draco prontamente me correspondeu como eu sabia que faria. Segurou em meu rosto e sugou minha língua enquanto eu o abraçava com força. Malfoy juntou nossos corpos e eu notei como eu me encaixava em seus braços perfeitamente. Continuei a beijá-lo e sorri no meio do beijo quando senti seu braço direito envolvendo minha cintura com delicadeza. Eu parei de beijá-lo por alguns segundos, mas Malfoy se inclinou para mim e iniciou outro beijo. Eu me permiti ser beijada e respirei fundo quando Draco começou a beijar meu pescoço com desejo. Segurei seus braços e mordi meus lábios quando Malfoy chupou o lóbulo da minha orelha. Voltei a beijá-lo com vontade e Draco segurou meu pescoço enquanto me correspondia. Era bom tê-lo ali para lavar minha mente de todos os problemas que eu não podia resolver. Suguei sua língua e Draco mordiscou meu lábio inferior, sugando logo depois. Nós nos olhamos por alguns segundos e ele sussurrou em meu ouvido:
- Vai ser difícil esperar até o castelo estar vazio…
- Nós não precisamos esperar. - eu sussurrei de volta e Draco sorriu para mim, entrelaçando nossas mãos e caminhando até uma sala vazia.
Assim que Draco fechou a porta, eu o empurrei contra a madeira e o beijei com toda a vontade que eu tinha em mim. Eu jamais me cansaria dele. Seus lábios estavam ficando vermelhos, mas ele me beijou de volta, segurando minha cintura e me puxando para mais perto. Segurei seu rosto e finalizei o beijo, mordendo seu lábio inferior. Malfoy me olhou seriamente e deu um sorriso de lado, trocando nossas posições rapidamente e eu me assustei com sua velocidade. Ele riu rapidamente, mas enfiou o rosto em meu pescoço e respirou fundo, fazendo com que cada pedaço de mim se arrepiasse. Mordiscou minha pele e eu suprimi um suspiro, aproveitando cada carinho. Draco caminhou com os beijos até chegar a minha boca e segurou em meu rosto. Malfoy me beijou diversas vezes antes de encostar nossas testas e fechar os olhos. Deu um suspiro longo e se apertou mais contra mim, passando seu calor. Eu envolvi sua cintura e encarei seu rosto que apesar de pacífico carregava aquela preocupação que eu já conhecia.
- Amor? - eu perguntei baixinho.
- Sim?
- Você está bem?
- Sim - ele respondeu - Eu só quero sentir que você está aqui…
Eu assenti e me apertei mais a Draco, beijando seu rosto repetidas vezes enquanto sentia seu perfume. Ele abriu os olhos percebendo que eu o encarava e sorriu minimamente, beijando meus lábios rapidamente. Afastou meus cabelos, colocando as mechas para trás e segurou em meu pescoço enquanto me beijava lentamente como antes. Eu passei minhas mãos por sua barriga e adentrei sua camisa, arranhando suas costas devagar. Ele suspirou e me agarrou pela cintura, não parando de me beijar. Eu me afastei alguns segundos para respirar e Draco rapidamente voltou a beijar meu pescoço, não se afastando em nenhum momento do meu corpo. Eu voltei minhas mãos para suas costas e me agarrei a ele quando senti seus beijos descendo para o pequeno decote da minha camisa do uniforme que estava com alguns poucos botões abertos. Suas mãos foram para os meus seios e os apertaram, mas diferente das outras vezes, eu senti um incômodo muito grande. Resolvi ignorar, mas quando Malfoy apertou meu seio esquerdo com um pouco mais de pressão, eu o empurrei pelo peito, sentindo uma dor muito grande.
- O que foi? - ele perguntou preocupado.
- Meus seios estão doloridos - eu respondi - E muito inchados.
- Oh, me desculpe - ele pediu e se aproximou de mim, segurando em minhas mãos - Eu não sabia.
- Eu sei, eles começaram a doer essa semana - eu expliquei - E doem muito.
- Eu sinto muito, - ele disse e deu um sorriso sem graça.
- Está tudo bem - eu respondi - É apenas uma das coisas que eu estou me acostumando.
Depois disso um silêncio incômodo pairou sobre nós e eu não sabia o que falar para que ele fosse quebrado. Eu só comecei a observar Draco que encarava o chão como se buscasse a pedra filosofal ali.
- O que foi? - eu perguntei.
- Eu estou com tantas coisas na cabeça - ele começou a explicar finalmente me olhando. Draco se aproximou e me segurou pela cintura gentilmente - Que eu esqueço que nós vamos embora.
- Você esquece? - eu perguntei - Ir embora é tudo o que me segura por enquanto.
- Mas então eu me lembro - ele continuou - E automaticamente fico esperançoso. Eu lembro o propósito de tudo o que estamos fazendo.
- É por uma boa causa. - eu disse sorrindo.
- Uma excelente causa. - ele respondeu e me beijou mais uma vez.
Apesar de estar em seus braços e me sentir tranquila, minha cabeça já trabalhava em todas as coisas que eu precisava falar para Draco antes de Gina partir. Pensar em um plano b era algo que precisávamos fazer e eu jamais faria algo sem comunicar a Draco, afinal, ele estava comigo nessa. Eu segurei em seu rosto correspondendo seu beijo e dessa vez, Malfoy foi mais cuidadoso com seus movimentos, evitando encostar muito em meus seios. Finalizei o beijo, deixando um selinho longo e o encarei.
- Nós precisamos conversar - eu disse - Aproveitar que temos esse tempo livre.
- O que foi? É algo sério com o bebê? - ele perguntou preocupado.
- Não, eu só vou fazer alguns feitiços para essa conversa não vazar. - eu expliquei e me soltei de Malfoy enquanto me virava e ele foi se sentar em uma das mesas dos alunos.
- Nós precisamos pensar em um plano b - eu comecei a dizer depois de me sentar ao seu lado no tampo de uma mesa - Se caso algo aconteça conosco.
- Eu também pensei nisso - Malfoy disse para minha surpresa - Precisamos pensar em uma rota de fuga.
- Isso também - eu disse e notei que ele ainda não tinha entendido - Eu estou dizendo sobre nós sermos capturados depois do bebê nascer.
A expressão de Draco mudou drasticamente e ele deu um suspiro, olhando para o chão por alguns segundos. Geralmente quando eu estava sendo negativa, ele me cortava e enchia meu coração de esperanças, mas naquele momento Draco sabia que eu estava certa. Ele sabia que sermos presos ou torturados era uma possibilidade e não iria tentar me distrair.
- O que você pensou? - ele perguntou baixo ainda sem me olhar e somente de pensar em nosso bebê crescendo sem nós, eu sentia meus olhos se encherem de lágrimas.
- Gina vai sair do castelo para o feriado da páscoa - eu disse - Ela pode entregar uma carta para os meus pais sem o perigo de alguém saber.
- Isso é bom - ele disse somente e eu senti um peso em meu estômago - Você quer deixar a guarda para eles?
- Sim. - eu respondi sem conseguir completar que eu não confiava em seus pais.
- Você está certa - ele respondeu e segurou em minha mão - Minha casa só não é um lugar seguro para ninguém, ainda mais para uma criança.
- Eu só quero que tudo dê certo, Malfoy - eu disse antes de suspirar - Ainda que nós não estejamos por perto.
- Eu sei, - ele respondeu e olhou para o chão - Temos que pensar em todas as possibilidades, você não está errada.
- Neville só possui uma avó que o critica em tudo - eu expliquei - E eu não quero isso para o bebê. Também não quero que ele seja criado por pessoas que não o querem, como Harry foi criado pelos tios.
- Seus pais vão acolhê-lo? - ele perguntou baixo.
- Eu não tenho dúvidas. - respondi.
Malfoy não disse mais nada somente me puxou para perto e me abraçou com cuidado, repousando o queixo no topo da minha cabeça. Eu descansei minha cabeça em seu peito e inalei o cheiro do seu perfume, sentindo-me um pouco mais calma. Eu tive que amadurecer muito mais rápido do que os outros bruxos, pois meus pais me levavam em suas viagens em busca de bruxos das trevas. Quando eu era muito nova para o permitido, presenciei cenas de torturas, corpos mutilados por causa de azarações e prisões turbulentas. Meus pais haviam me criado para ser uma guerreira, para lutar mesmo depois de cair, para ser uma fortaleza no meio do caos. Enquanto eles e tio Dumbledore tentavam a todo custo me ajudar a controlar minha magia também me ensinaram a lutar e me defender. Minha zona de conforto era o campo de batalha, entretanto, nada nunca havia me preparado para aquilo. Eu não fui ensinada a pensar nas consequências da minha morte porque fui ensinada a não morrer.
Estar grávida aos dezessete anos de um comensal da morte sendo da ordem da fênix arrancou meu pedestal e me fez entender que sim, eu podia morrer e deixar a pessoa que dependeria de mim indefesa. Minha zona de conforto não poderia mais ser a zona de batalha, mas sim algum lugar longínquo e seguro. Eu sabia me virar, mas meu bebê precisaria de mim viva e saudável.
Draco se afastou de mim para conseguir me olhar, mas continuou me segurando e disse:
- Eu amo você e eu não quero que você se machuque por minha causa.
Eu não respondi, pois notei que ele tinha mais coisa para falar. Malfoy me soltou e tampou os olhos por alguns segundos e quando me olhou, lágrimas estavam suspensas.
- Se formos atacados em nosso esconderijo - ele disse e suspirou - E você tiver a chance de fugir com o bebê, fuja. Você não vai me esperar ou tentar me salvar, entendeu? Fuja.
- Você também - eu respondi, mas diferente dele não consegui segurar o choro - Se algo acontecer e você tiver que escolher, escolha o bebê. Salve o bebê.
- Eu espero que não precisemos chegar nesse ponto - Draco disse e algumas poucas lágrimas caíram de seus olhos - Não vamos precisar, assim que chegarmos ao esconderijo, criaremos rotas de fuga.
Eu o abracei mais uma vez e nós choramos juntos porque nosso medo era real, estávamos nos preparando para algo que de fato, poderia acontecer. Aquilo era pesado, destruía meu coração e eu sabia que não era a única. Era difícil assimilar que nosso filho poderia crescer sem a nossa presença, mas era necessário pensar nisso.
O horário do jantar chegou e nós fomos juntos até o Salão Principal que ainda estava vazio, pois os alunos ainda estavam descendo. Draco foi para a mesa dele e eu para minha, notando mais uma vez que Snape não estava lá. O salão começou a encher, mas como sempre as conversas eram baixas e os comensais estavam lá para monitorar tudo e conter a todos. Eu jantei calmamente na companhia de Gina, já que Nate foi para o outro lado da mesa como sempre fazia quando estava chateado comigo. Eu não conseguia me importar com mais uma crise de ciúme do garoto já que minha vida estava prestes a dar uma volta.
O jantar acabou e eu subi rapidamente para tomar banho e me preparar para escrever a carta para os meus pais. Sentei-me perto da lareira e aproveitei o silêncio momentâneo.

Queridos pai e mãe,
Decidi mandar essa carta pela Gina, já que as corujas não são mais seguras. Como vocês já devem ter notado, eu perdi minha saída para o feriado da páscoa por ter feito o que eu sempre faço: causar problemas aos comensais. Eu estou bem, mas tantas coisas aconteceram desde a última vez que eu os vi. Eu espero que vocês estejam seguros.
Antes de qualquer coisa eu quero agradecer a vocês pela educação que me deram, por terem acreditado que eu era uma pessoa boa e por não terem desistido de mim quando todos diziam que eu jamais daria certo por ser uma bomba. Obrigada por acreditarem em mim. E é lembrando isso que eu peço para que vocês acreditem agora.
Eu estou grávida.
Draco e eu teremos um filho.
Estou entrando na décima semana enquanto escrevo essa carta e depois de muito pensar, nós decidimos que vamos tentar. Apesar de todo o ambiente hostil e das chances não estarem a nosso lado, nós vamos tentar. E é aí que vocês entram. Eu não posso contar o que vai acontecer, mas nós temos um plano. Um ótimo plano, mas o perigo nos ronda.
Por isso, eu escrevo essa carta. Se algo der errado comigo e com Draco, nós decidimos que a guarda do nosso bebê é de vocês. Não de Narcisa e Lúcio, mas de vocês. Nós não queremos nosso filho perto de comensais, queremos que ele cresça em um ambiente acolhedor, mas principalmente, seguro. Eu sei que vocês vão amá-lo como vocês me amaram.
Eu sei que não é isso que vocês planejaram para mim, afinal, eu tenho dezessete anos, mas é isso que aconteceu. Eu peço perdão por deixar um fardo tão pesado como esse cair nas costas de vocês, mas eu não confio em mais ninguém. Protejam nosso bebê e ajudem Draco se algo acontecer unicamente comigo. Não o deixem sozinho, por favor. Ele é uma pessoa boa que fez escolhas más. Eu o amo, mamãe.
Obrigada por tudo e perdão mais uma vez. Eu amo vocês com todo o meu coração e até mais.


Assim que assinei, minha visão estava embaçada pelas lágrimas. Eu não conseguia parar de chorar e alguns alunos começaram a me olhar. Eu me levantei com pressa juntando minhas coisas e subi para o meu quarto, conseguindo chorar com liberdade. De tudo o que eu já tinha feito, escrever aquela carta tinha sido uma das mais difíceis. Imaginar meu bebê sem mim era como uma faca cravada diretamente em meu coração, mas ao menos eu tinha cuidado de tudo. Ele não ficaria desamparado, ele teria um lugar seguro mesmo sem mim e Draco. Enxuguei minhas lágrimas e coloquei a carta em um envelope, esperando Gina chegar para entregar para ela. Olhei ao redor e as garotas já começavam a arrumar seus malões para partir e isso fez com que eu chorasse mais. Eu estava presa naquele castelo que antes significava conforto, mas agora era o último lugar onde eu queria estar.
A porta foi aberta e um cabelo vermelho apareceu no batente, olhando para mim com tristeza. Gina caminhou até mim e sentou em minha frente, segurando em minhas mãos antes de me puxar para um abraço apertado. Eu me permiti chorar naquele dia, pois precisava aliviar toda a carga emocional que eu carregava em meus ombros.
- O que foi, ? - ela perguntou baixo depois dos longos minutos que eu passei chorando.
- Escrever a carta para os meus pais - eu expliquei - É a constatação de que as coisas podem dar muito errado. Nós vamos deixar a guarda do bebê para eles se caso alguma coisa acontecer. Isso não é uma brincadeira, nosso filho pode ser morto ou crescer sem os pais.
- Eu sinto muito por isso, - ela disse e percebi que Gina também segurava as lágrimas - Pais não deveriam pensar ou sequer passar por isso.
- Aqui está - eu disse e estendi o envelope - Só entregue aos meus pais, Gina. Somente a eles, por favor.
- Pode deixar - ela disse determinada - Vai dar tudo certo, .
- Eu espero, Gina. - eu respondi - As coisas precisam dar certo.
Quinta-feira chegou veloz e finalmente Neville iria ter alta, então no horário do almoço, lá estávamos Gina, Nate e eu prontos para recebê-lo. Nate continuava magoado e evitava me olhar, mas pelo bem de Neville eu iria continuar ignorando essa postura imatura do garoto. A porta se abriu e Longbottom apareceu caminhando devagar. Assim que ele nos viu, abriu um sorriso largo e veio até nós para nos abraçar.
- Vocês vieram! - ele disse feliz.
- É claro, Neville! - Gina disse.
- Estou muito feliz por vocês estarem aqui - ele disse sorrindo me abraçando - Mas eu estou morrendo de fome, que tal almoçarmos?
Era bom ter meu amigo de volta e naquele almoço, eu me permiti esquecer por alguns minutos todo o drama que eu vivia e focar somente naquelas pessoas, afinal, eu não sabia se ao menos os veria de novo. Gina ria animada ao ouvir Neville reclamando que Madame Pomfrey o tratava como um bebê, Nate sorria minimamente, mas ainda evitava me olhar e Neville estava um pouco acuado - como sempre - ao ser o centro das atenções. Precisávamos rir baixo, mas ainda assim, era um momento feliz no meio de tanto medo. Olhei para cada um fixamente na tentativa de memorizar seus rostos e não me esquecer de nenhum deles já que estava começando a esquecer até a voz de Hermione. Um sentimento de despedida se abateu sobre mim e quando notei, estava segurando as lágrimas.
- Eu queria dizer uma coisa - comecei a falar - Eu nunca tive muitos amigos. Meus pais sempre me levaram em suas viagens e eu nunca pude criar raízes em nenhum lugar. Então, eu fico muito feliz por vocês terem me aceitado e me incluído.
- - Gina começou a falar, mas deu uma pausa para segurar minha mão - Eu não poderia estar mais feliz por ter feito tanto nesse castelo com a tua ajuda e a tua companhia. A Armada não seria a mesma sem você.
Eu segurei o choro e sorri, sentindo meu coração aquecido. Eles tinham se tornado parte essencial da minha vida e seria difícil demais ficar longe de todos por tempo indeterminado. Olhei para Gina que ria baixo da história que Nate contava, Neville olhando para mim com um sorriso nos lábios e me permiti ser leve. Somente naquele momento. Somente com eles.

Draco’s POV

Eu me sentia ligeiramente idiota por estar com o rosto enfiado em pergaminhos e livros quando tinha tanta coisa importante para acontecer, mas eu precisava estudar. Meus olhos já estavam começando a pesar, mas eu tinha que aproveitar o horário livre antes da última aula para me preparar para os exames finais que aconteceriam logo após o feriado. Eu afrouxei minha gravata e larguei a pena, esticando minhas pernas e fechando os olhos momentaneamente. Eu poderia mandar qualquer colega da Sonserina fazer minhas tarefas - o que acontecia sempre - entretanto, daquela vez eu precisava saber para não ficar em recuperação e não atrasar minha partida do castelo com . Minhas tarefas como comensal já estavam sendo encaminhadas e eu conseguiria finalizar tudo um mês depois do fim das aulas. Também já estava cuidando da parte financeira e tirando galeões aos poucos da minha conta sem ninguém perceber. Mandava uma coruja a minha mãe pedindo por mais um pouco da mesada regular e ela não desconfiava de nada. Eu sabia que com o que eu tinha, poderia nos manter por um ano de forma confortável. Era difícil manter as expectativas baixas, mas meu plano não tinha como dar errado. Eu tinha pensado em tudo. Voltei a prestar atenção na lição de Transfiguração quando a entrada da Sonserina se abriu e Crabbe e Goyle caminharam em minha direção.
- Malfoy. - Goyle disse e eu levantei meu olhar repleto de tédio para eles.
- O que vocês querem? - eu perguntei.
- Amico está te chamando - Crabbe respondeu - Parecia urgente.
- Ele não disse o que era? - eu perguntei tentando manter minha postura de desinteresse, mas por dentro começando a ficar nervoso.
- Não - Goyle disse - Ele apenas disse que queria você na sala dele agora.
- Guardem minhas coisas, eu já volto. - respondi enquanto pegava minha varinha, ajeitava minha gravata e passava com rapidez pela porta.
Eu estava apreensivo, é claro. Amico geralmente era um dos poucos comensais que saía com frequência do castelo e era incumbido de ser o elo entre a escola e o ministério. Sua mente era perversa e no mesmo segundo eu me lembrei do medo que tinha dele e fiquei ainda mais nervoso. Nossa conversa naquela semana continuava como foco em meus pensamentos e eu entendia mais do que nunca o que ela tinha dito.
Eu tinha deixado de confiar em meus pais e na minha casa. Eu tinha medo do que o Lord das Trevas poderia fazer se soubesse que eu teria um filho ou até mesmo o que minha tia Bella faria, ao saber que meu sangue tinha se misturado com o sangue de uma traidora. Porque era assim que eles viam e sua família, a família Weasley e qualquer uma que compactuava com nascidos-trouxas. Eu costumava acreditar nisso, mas minhas convicções estavam cada vez mais sendo postas as provas e eu não sabia mais em que acreditar.
Quando me dei conta, já estava no andar certo e a sala de Arte das Trevas estava logo à frente. Eu estava nervoso e demorei alguns segundos para bater os nós dos meus dedos contra a madeira. A porta se abriu e eu entrei, notando que daquela vez apenas Amico estava presente, sentado na mesa do professor enquanto escrevia em uma pilha de pergaminhos. Meus passos faziam um barulho seco conforme eu andava e eu tentava transparecer o desinteresse comum que eu tinha quando se tratava de Amico. Eu não o suportava, sabia que ele era não tinha valor nenhum e poderia ser pior do que muitos comensais juntos.
- Lord das Trevas precisa dos teus serviços no feriado - ele disse e eu caminhei até lá para pegar o papel - Você não ficará no castelo.
- Carrow, eu preciso ficar - respondi tentando controlar minha voz e não deixar transparecer o desespero que eu sentia - Os exames finais serão nas próximas semanas, preciso desse feriado para estudar.
- Nós passamos você depois - ele respondeu voltando a escrever - Você vai para casa.
- Mais alguma coisa? - eu perguntei sentindo a frustração corroer meu espírito.
- Pode sair.
Eu caminhei devagar para longe daquele lugar enquanto pensava em como iria ficar brava e como todos os meus instintos apitavam para algum perigo. Lord das Trevas me designava tarefas enquanto eu estava de férias, não era típico que eu precisasse sair assim, mas meus pais já tinham me avisado de que algo desse tipo poderia acontecer. Abri o pequeno envelope e eu tinha uma missão de busca para ser feita em Londres, alguns rebeldes foram vistos pelo subúrbio da cidade e precisavam de mim para achá-los. Eu estranhei uma missão daquele tipo ser dada a mim, mas provavelmente eles estavam sem comensais disponíveis. Guardei o envelope no bolso da minha calça e voltei para a Sonserina já sentindo o quão decepcionada comigo ficaria, mas ela precisava entender, pois eu precisava ser o comensal perfeito na reta final. Passei pela porta e me atirei em uma poltrona, coçando meus olhos e sentindo todo o cansaço se apoderar de mim de uma só vez. Eu ainda tinha uma aula naquele dia e precisava pensar em como conversar com . Eu sabia que esse final de semana era a pausa necessária para nossas mentes cheias de problemas e para que tivesse certeza de que eu não iria deixá-la, pois eu sabia dos seus medos. Eu não podia culpá-la, é claro, pois eu de fato, tinha feito isso no ano anterior. Havia escolhido os comensais ao invés dela e isso assombrava constantemente. Eu suspirei de novo, minha garganta pedindo por alguma bebida e meu corpo pedindo pelo de . Mais uma vez nossos planos não davam certo e eu temia que o plano principal falhasse também.

’s POV

Enquanto a aula de Poções acontecia naquela quinta-feira e o professor Slughorn tentava captar a atenção de seus alunos, minha cabeça estava longe e eu analisava os livros que Dumbledore tinha me deixado, buscando mais uma vez qualquer coisa que pudesse me ajudar. Eu já tinha escrito nas bordas do pergaminho diversas vezes o lema dos dementadores, “aniquilar a morte” não saía dos meus pensamentos e eu tentava entender o significado daquela frase, qualquer coisa. Como era possível aniquilar a morte? Acabar com ela? A única forma que eu me lembrava era através da pedra filosofal, mas pelo que eu sabia, Nicolau Flamel tinha destruído o objeto anos atrás.
Qual outra forma existia de vencer a morte? Eu suspirei e olhei o relógio, vendo que ainda faltava muito tempo para que a aula acabasse. Neville encarava o teto compenetrado e Nate dormia com o rosto apoiado na mão. Segurei um riso e me lembrei de tantas vezes em que Harry e Rony faziam exatamente a mesma coisa.
Então, como uma lâmpada se acendendo, meu cérebro finalmente decidiu cooperar e eu me lembrei do que estava acontecendo exatamente naquela época no ano anterior. Harry estava se empenhando para conseguir as lembranças de Slughorn e descobrir sobre as horcruxes, método que Lord Voldemort tinha usado para vencer a morte. Dumbledore havia morrido logo após a viagem que tinha feito com Harry para encontrar uma, o medalhão de Salazar Sonserina, descobrimos depois que era falso. Comecei a anotar em um pedaço de pergaminho tudo o que me vinha à mente: as aulas de Harry no sexto ano e em como todas as lembranças que tio Alvo mostrava eram sobre objetos, como Harry e ele tinham ido até uma praia deserta em busca de uma horcruxes e como tudo isso estava interligado com o lema dos dementadores: “aniquilar a morte”.
Uma das aulas de Harry havia sido sobre o anel da família Gaunt e algo em mim já sabia que aquele anel destruído na caixa no meio das minhas roupas era uma horcrux e provavelmente o livro detonado também. Dumbledore havia deixado todas essas coisas comigo para que eu resolvesse esse enigma complicado, mas como eu poderia ajudar Harry estando tão longe? Ou será que tudo aquilo havia ficado comigo para que eu guardasse? O que venceria as Horcruxes? Eu não conseguia me segurar na cadeira tamanha a epifania que tinha acontecido e eu voltei a me debruçar sobre os livros de Dumbledore. Precisava extrair mais coisas e me arrependia já de antemão por ter demorado tanto para me dedicar a isso. O sinal finalmente tocou e eu juntei minhas coisas com pressa, querendo voar para a biblioteca o mais rápido possível, mas eu não pude. Malfoy tinha se aproximado de mim e me observava guardar meu material com paciência.

n/a: dê play e deixe tocar até acabar a cena!

- Amor, eu não posso agora... - eu comecei a dizer, mas ele me cortou e por sua expressão corporal, eu notei que havia algo errado.
- Nós precisamos conversar. - Draco disse com uma voz firme e seus olhos estavam aflitos.
- Tudo bem - eu respondi simplesmente e notei Neville e Nate nos observando - Eu vou para o jantar, mas não precisam me esperar.
Draco Malfoy começou a andar na frente e eu apenas o segui, notando suas mãos nos bolsos e sua postura tensa. Nós passamos por seus amigos que o olharam de um jeito estranho e também por Pansy Parkinson que apesar de ter nos deixado em paz, continuava com o olhar dolorido quando nos via juntos.
Passei pelo professor Slughorn que tinha aquele sorriso abobado no rosto e eu retribuí por educação. Os corredores estavam cheios de alunos, mas como todos eram obrigados a andar em grupo, passar por eles não foi um problema. Draco chegou às escadas que se moviam e começou a fazer a longa caminhada até o último andar, provavelmente o mais vazio já que todos estavam descendo para o jantar. Enquanto andávamos, Malfoy não dava explicações a nenhum comensal e isso foi mais um lembrete de quem ele era. Assim que chegamos, ele caminhou até uma sala vazia e destrancou a porta, passando por ela e parando no meio da sala de costas para mim.
- Draco - eu chamei e deixei minha bolsa em cima da mesa do professor - O que foi?
Malfoy se virou e eu notei sua expressão banhada em tristeza. Eu me aproximei no mesmo instante e o abracei com força, sentindo seus braços me apertando e sua respiração pesada em meu ombro.
- Eu sei que você não vai entender, mas eu preciso que você tente - ele começou a dizer baixo e se afastou para me olhar.
- O que foi agora? - eu repeti e segurei em suas mãos notando que elas estavam geladas.
- Eu vou precisar sair do castelo nesse feriado - Draco disse e eu automaticamente soltei suas mãos - Eles precisam que eu procure por alguns rebeldes em Londres e…
- Você precisa ir. - eu o cortei e dei um passo para trás sentindo meu coração acelerar enquanto raiva subia pelas minhas veias - Como sempre, não é?
- , por favor - ele pediu e suspirou - Você sabe que eu preciso ser o comensal perfeito nessa reta final, não posso mostrar que eu vou deixá-los.
- Nós precisamos desse feriado, Draco - eu disse - Você podia ter pedido para outros comensais.
- Eu não posso, a maioria está fora do país ou trabalhando no ministério - ele explicou - Eu… Eu sinto muito, .
- Não, não sente - eu retruquei e olhei para o chão - Você prometeu.
- Eu sei que eu prometi, - Malfoy se aproximou e voltou a juntar nossas mãos - Mas eu preciso fazer isso por nós, não posso levantar suspeitas.
Eu sabia que ele estava certo, mas minha mente não conseguia assimilar o que Malfoy dizia. Só o que eu conseguia pensar era que mais uma vez ele tinha me trocado pelos comensais e de repente, todo o nosso plano parecia patético porque no final, eu ficaria sozinha com o bebê. Meus olhos arderam e eu tentei segurar o choro, mas não consegui. Chorei em silêncio, tentando entender.
- Por favor - eu pedi em meio aos soluços - Não faça isso, eu preciso que você fique. Ter que pensar sobre nosso bebê crescendo sem nós foi demais pra mim.
- , por favor - Draco pediu e eu percebi dor em sua voz - Eu preciso ir para o nosso bem, o feriado dura um final de semana. Eu volto na manhã de segunda-feira. Por favor, não me faça jogar tudo para o alto e ficar com você. Tente entender que isso é necessário para o nosso plano.
As palavras de Draco entravam por um ouvido e saíam por outro e eu não conseguia parar de chorar. Era como se ele estivesse terminando comigo e não me contando que iria ficar fora por uns dias. Eu sabia que grande parte da minha tristeza vinha da gravidez porque eu tinha certeza de que se eu estivesse em condições normais teria entendido.
- Você está fazendo isso por causa do aconteceu antes, não é? - eu perguntei - Por que eu não deixei você me tocar.
- , por Merlim! - Draco disse mais alto - É claro que não, meu bem!
- Desculpa, eu só não consigo entender - eu contei - Não consigo entender como você não mexeu uns pauzinhos para se livrar dessa missão ridícula. É claro que qualquer um poderia fazer isso!
- Não é tão simples assim, - ele respondeu com uma paciência que eu sabia que ele não tinha - Para eu questionar isso teria que sair do castelo de qualquer jeito, não iria adiantar. Por favor, tente entender.
Eu enxuguei meu rosto e o encarei. Malfoy deu um sorriso triste e me puxou para um abraço apertado. Eu deitei minha cabeça em seu peito e fiquei ali ouvindo seu coração bater ligeiramente acelerado.
- Isso está sendo difícil para mim tanto quanto é para você - Draco disse - Eu também não quero ir, quero ficar com você, mas eu sei que teremos que fazer concessões pela nossa família. Você se afastou do movimento de resistência e eu terei que partir.
Eu não respondi nada somente continuei ali, ouvindo seu coração e imaginando quando as coisas iriam começar a dar certo. Talvez nunca mais e nós tivéssemos que viver em contenção de danos para sempre. Talvez aquela fosse a nossa vida. Eu já vivia abrindo mãos de muitas coisas: deixei de vir para Hogwarts no ano certo por causa dos meus pais, deixei meus pais para voltar para a escola por causa de Draco e agora teria que abrir de Malfoy por nosso bebê. Eu estava cansada.
- Eu não quero mais viver desse jeito - eu disse - Eu só quero um momento de paz, Draco. Não precisa ser longo, mas só um.
- Eu volto o mais rápido que conseguir, eu prometo - Malfoy disse e eu ri - Dessa vez é verdade.
Draco segurou meu rosto e deu um pequeno sorriso antes de se inclinar e beijar meus lábios com cuidado. Sua testa encostou-se à minha e nós ficamos ali juntos por um tempo que eu não sabia medir, mas tivemos que nos separar já que o relógio nunca foi nosso amigo.
- Vamos descer, você precisa comer - ele disse, mas eu continuei em seus braços - O que foi?
- Toda essa história, está muito estranha - eu comentei - Estou com um mau pressentimento.
- É só impressão - ele disse para me acalmar - Vem, vou te levar até o jantar.
Malfoy segurou minha mão e sorriu para mim tentando me tranquilizar mesmo sabendo que seria impossível. Eu olhei bem para seu rosto e o segui, tentando me segurar em suas palavras e não surtar pelo período que ele estava longe.
Sexta-feira chegou e eu acordei naquele dia com o coração pesado. Ajudei Gina a terminar de arrumar suas coisas em uma tentativa de ficar mais tempo com ela e gravar tudo o que eu podia. Apesar de tudo, eu sabia que a menina estaria segura com sua família e isso me tranquilizava. Tomamos café juntos e quando o momento chegou, ela se despediu de nós com um abraço apertado e com seu típico olhar determinado. Ela era forte, mais do que eu. Seus cabelos vermelhos se afastaram de nós e foram descendo a colina enquanto Nate, Neville e eu ficamos olhando o movimento de todos os alunos. Draco passou por nós e eu fui até ele como sempre acontecia. Malfoy segurou minha mão e sorriu.
- Eu vou voltar em um piscar de olhos - disse e beijou os nós dos meus dedos - Quando você menos esperar, eu estarei de volta.
- Eu sei - respondi e nos abraçamos apertado - Eu amo você, Draco.
- Eu também te amo - ele respondeu e beijou minha testa, descendo a colina com os outros alunos.
Eu me virei e notei que o pátio já estava vazio. Nate e Neville provavelmente já tinham subido, pois Nathan evitava presenciar qualquer interação minha e de Malfoy. Suspirei e voltei a caminhar calmamente para a Grifinória, prometendo a mim mesma que enquanto Draco não voltava eu iria me dedicar ao enigma que Dumbledore tinha me deixado. Meus passos ecoavam pelas paredes e eu estranhei ao notar que não havia ninguém mesmo pelos corredores. Subi a primeira escada tranquilamente e quando já estava passando para o segundo lance de escadas, notei Aleto Carrow subindo pelo mesmo lugar que eu. Fiquei em estado de alerta, mas tentei não transparecer já que eu tinha uma boa distância de vantagem. Apertei o passo e subi mais um lance, mas notei que na escada adjacente outro comensal fazia seu caminho para o mesmo andar que eu.
Olhei para trás e Aleto continuava a subir, então passei para a próxima escada e a esperei virar na direção oposta, saltando com pressa no quarto andar. O comensal vinha na mesma direção e pânico desceu pela minha espinha. Minha varinha já estava em minha mão e eu comecei a correr pelos corredores do quarto andar, tentando dar a volta para os outros lances de escada longe dos dois, mas assim que eu cheguei do outro lado, vi Amico Carrow me esperando no topo do sétimo andar. Minhas mãos começaram a tremer e eu voltei para o quarto andar tentando achar qualquer sala vazia, mas todas estavam trancadas com algum feitiço que eu não conseguia desfazer. Meu coração batia disparado e eu corria desesperada para conseguir alguma saída. Virei um corredor e notei Jugson de braços cruzados na ponta e ele, eu podia enfrentar. Caminhei confiante em sua direção e quando o comensal notou que eu não ia parar, apontou sua varinha para mim, mas era tarde demais. Seu corpo caiu duro estuporado no chão e eu passei por ele, pegando sua varinha e jogando pela janela.
Eu estava presa no quarto andar e tentava chegar às outras escadas, mas assim que eu dei a volta para pegar a escada do fundo do corredor e não a principal, Amico descia dela e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, um feitiço foi disparado e meu corpo foi arremessado contra um quadro. Minhas costas bateram com força e eu perdi o fôlego, sentindo meu corpo escorregar no chão e sangue sair da parte de trás da minha cabeça.
Eu tentei levantar, mas a dor era muito grande. Ouvi passos e de repente, alguém me puxou pelos cabelos enquanto arrancava a varinha de minha mão. Eu gritei de dor e olhei para trás somente para ver Aleto sorrindo maligna.
- Você não é tão valente quando está sozinha, não é mesmo? - Amico disse e eu me dei conta de que ele já estava perto. O comensal segurou meu queixo enquanto falava - Você achou mesmo que eu tinha me esquecido de você? Achou mesmo que eu não iria me vingar?
- Você é um merda - eu respondi e recebi um soco no olho. Meu corpo caiu para o lado e eu sentia meu lado esquerdo do rosto pulsar. Tentei me levantar, mas recebi uma cotovelada no meio das costas. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu arfei sentindo todo o ar de meus pulmões sair. Aleto me puxou pelos cabelos e me colocou ajoelhada - Vocês vão me matar aqui?
- Oh, aqui não - Amico respondeu - Temos muitas testemunhas nesses quadros estúpidos.
Antes que eu pudesse dizer mais nada, senti uma dor no meio das costas novamente e meu corpo ficou duro. Eu tinha sido estuporada. Com um agito da varinha, meu corpo levitou e contra a minha vontade eu segui os gêmeos pela escadaria enquanto descia até a sala de Amico e assim que a porta foi fechada, meu corpo caiu com força no chão e eu senti meu joelho arder. Eu não podia me mexer ou falar somente observava os dois me rodeando enquanto conversavam entre si.
- Foi muito fácil enganar teu namoradinho, sabia? - Amico disse - Ele é tão desesperado para mostrar bom serviço ao Lord das Trevas que nem percebeu que não havia missão nenhuma.
- Era difícil chegar até você com o menino Malfoy como cão de guarda - Aleto disse - Mas nós só precisamos ser pacientes.
- Você só vai sair daqui morta, - Amico disse e eu sabia que ele falava sério - Dessa vez não tenho Snape ou Malfoy para me impedir de finalmente colocar as mãos em você.

And I'm kicking the dirt cause I never gave you the place that you needed to have*: E eu estou chutando a sujeira porque eu nunca te dei o lugar que você precisava ter. Trecho retirado da música do capítulo.


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Nota da autora: Sem nota.



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