Perdoe-me, Tio Alvo.

n/a: Olá, pessoas! Decidi fazer a nota da autora também no início, pois esse capítulo é um dos mais pesados que eu já escrevi. Foi difícil e até doloroso colocar em palavras tudo o que eu planejei para essa parte da história e é por isso que eu sinto o dever de avisar vocês que ele não será fácil. Essa história apesar de ser do fandom de Harry Potter, está na sessão de Restritas por um motivo. É para maiores de dezoito anos e todas nós sabemos que o site disponibiliza um termo de responsabilidade na primeira página da sessão. Contém cenas de tortura, violência exacerbada e aborto. Se algum desses temas for um gatilho para você, eu recomendo que não leia. Vou deixar um pequeno resumo sobre ele no final se você quiser pular. A única coisa que eu não quero é trazer problemas para vocês, de verdade. Explicado isso, eu espero que gostem e não se esqueçam de comentar. Boa leitura!

O movimento do trem me fazia querer sair daquela caixa de metal o mais rápido possível, mas nós tínhamos acabado de sair de Hogsmeade e ainda iria demorar muito para chegarmos a Londres. Eu tentava ler o livro de Feitiços por causa das provas depois do feriado, mas era impossível com Pansy Parkinson conversando alto em minha frente tentando chamar minha atenção. Goyle e Zabini babavam enquanto fingiam prestar atenção no que a garota falava, mas na verdade estavam focados em seu decote e eu apenas bufava irritado a cada segundo já perdendo a paciência. Larguei o livro em cima do banco e me levantei com pressa, chamando a atenção dos três já que Crabbe dormia com a cabeça apoiada no vidro.
- Onde você vai, Draco? - Pansy perguntou rapidamente e se preparou para levantar, mas eu a barrei.
- Dar uma volta. Sozinho.
Eu abri a porta da cabine e caminhei até achar uma janela aberta. A paisagem passava veloz, mas eu conseguia distinguir as plantas e os limites das fazendas bruxas que ficavam ao redor de Hogwarts. Eu suspirei sentindo o vento gelado em meu rosto e fiquei aliviado por sair daquele espaço tão pequeno e tão cheio de pessoas que não me ajudariam em nada naquele momento de nervosismo. Eu odiei ter que deixar com mais uma promessa quebrada para lidar, mas ao menos daquela vez eu não tinha culpa. Precisava ser o comensal perfeito e fiel, o servo competente e sempre pronto a ajudar Você-Sabe-Quem a se estabelecer. Pela primeira vez eu trabalhava não por mim, mas pelo futuro e bem estar de outras pessoas e isso me assustava um pouco. Em toda a minha história de vida eu tinha sido altruísta poucas vezes e todas foram coisas bobas se comparadas com o que eu estava fazendo. Era estranho, na verdade. De repente eu estava me preparando para trair meus pais e trair Você-Sabe-Quem, deixar tudo para trás para cuidar de minha namorada e do nosso bebê, e eu não estava arrependido.
Pensar em fazia uma agonia apertar meu coração e eu não entendia o motivo de estar tão nervoso. Ela estava bem junto com seus amigos e provavelmente estava estudando segura na sala comunal da Grifinória, mas mesmo assim eu sentia uma ansiedade estranha percorrer meu corpo.
Provavelmente era a vontade de voltar logo para ela, voltar a sentir seu cheiro tão familiar e ver seu sorriso quando me via pelos corredores. Era estranho pensar que em alguns meses seríamos apenas nós dois sozinhos no mundo e, naquele feriado eu iria até o cofre de minha família para pegar o anel Malfoy e pedi-la em casamento. Pensar nisso fazia meu coração bater mais rápido e eu sorria feito um idiota ao pensar que um dia seria minha esposa. Eu sabia que meus pais surtariam, mas no final não importava. Nós estaríamos longe de tudo, vivendo nossa vida em paz. Finalmente em paz.
A ansiedade desconhecida voltou a apertar meu peito e quando me dei conta eu estava com a respiração acelerada e suor descia pelas minhas costas. De repente uma dor lancinante atravessou meu corpo e eu arfei tentando entender o que estava acontecendo. Minha visão ficou escura e minhas pernas falharam, segurei inutilmente na parede, mas meu corpo foi ao chão fazendo um barulho alto. A dor voltou a queimar minha cabeça como se alguém tivesse ateado fogo ao meu corpo, lágrimas pingaram de meus olhos e eu ouvi portas abrindo e uma correria descontrolada ao meu redor, mas eu não conseguia prestar atenção em nada além da dor que me fazia querer gritar. Eu abri meus olhos e enxerguei o rosto de Pansy em cima do meu e ela tinha uma expressão de horror.
- Draco, seu nariz está sangrando! - ela gritou - Alguém ajuda!
Toquei meu rosto e o líquido vermelho manchou minha mão. A dor deu uma trégua e eu consegui me sentar, mas antes que eu pudesse falar alguma coisa, minha cabeça voltou a doer e eu gritei, caindo no chão mais uma vez. Era como se eu estivesse sendo torturado, mas não havia ninguém além de Pansy tentando segurar minha cabeça.
- Eu estou sendo torturado - eu disse - Minha cabeça está queimando.
- Draco, ninguém está te torturando - ela disse e segurou minha mão - Goyle foi chamar o curandeiro do trem, já vai passar.
Mas não passou e eu voltei a sentir a dor insuportável como se espadas tivessem sendo enfiadas em minha cabeça e fogo queimasse o resto do meu corpo. Em um segundo de razão eu me lembrei de e meu coração apertou. Algo estava acontecendo com ela, mas eu não pude dizer nada ou elaborar qualquer teoria já que mais uma onda de dor veio até mim, mas daquela vez eu apaguei.

’s POV

Meu coração batia com tanta velocidade que eu o sentia pulsar em meus ouvidos. Eu tentava me manter acordada, sabia que não podia desmaiar, mas a dor era demais. Meu rosto ardia por causa dos tapas e socos e meu corpo se contorcia mesmo preso naquela cadeira de madeira feita especialmente para torturas. Minhas mãos e pés estavam presos por pesadas algemas de ferro e à medida que eu me batia, a pele ao redor do ferro era ferida. Sangue saía de um ferimento em cima do meu olho esquerdo e meu nariz também pingava por causa do soco que eu tinha recebido de Amico.
Adrenalina era jogada em minhas veias e eu tremia freneticamente sentindo todos os meus sentidos em alerta, mas sabia que era por pouco tempo. Eu não tinha ideia de quanto tempo estava presa na sala de Amico, mas pareciam horas. Levantei minha cabeça e notei que Aleto, Amico e Jugson estavam conversando como se eu não estivesse ali, provavelmente esperando para a próxima sessão de tortura.
-… E é por isso que eu acho que devemos parar por aqui - Jugson disse - Teremos problemas com os Malfoy.
- Os Malfoy estão desacreditados no círculo interno, Jugson - Aleto disse e deu risada - Eles caíram em desgraça perante o mestre. Não podem nos tocar.
- Mas a família dela pode - Jugson rebateu - Os ainda possuem certa influência no Ministério.
- Os fugiram para fora do país, Jugson - Amico respondeu e riu - O que foi? Está com medo de se encrencar? Quer desistir?
- Não, mas é que não podemos matá-la, você sabe - Jugson afirmou - Isso seria péssimo para o Ministério e péssimo para nós, Snape iria nos matar.
- Eu estou pouco me fodendo para Snape - Aleto disse - Ele tem nos podado demais. Esperei meses para isso e não vou parar agora só porque você é um covarde!
Os três se viraram para mim e continuaram a conversar, mas eu não conseguia mais prestar atenção. Eles estavam fazendo isso pelas costas do diretor, é claro. Amico caminhou até mim e segurou em meus cabelos, levantando meu rosto para cima para que eu o encarasse. Ele deu um sorriso e apontou sua varinha para o meu pescoço. Eu o encarei com os olhos marejados, mas não derramei uma lágrima, afinal, era isso que ele queria.
- Você se acha indestrutível, não é? - ele disse e desceu as mãos para segurar em meu queixo com muita força - Você se acha a heroína deste lugar podre, mas hoje eu vou provar que você não é. Teu namoradinho não virá te salvar, teu amigo famoso também não. Teu professor está morto e tua família te abandonou. Você está completamente sozinha.
Suas palavras me acertaram em cheio e meu olhar confiante falhou pela primeira vez. Eu sabia que naquele momento eu estava sozinha, mas ter alguém falando isso em voz alta doía demais. Amico percebeu a mudança em minha postura e abriu um sorriso perverso.
- Ora, você já pensou nisso, não é? - ele disse e apertou mais meu cabelo - Claro que pensou! A indestrutível tem medo de ficar sozinha, ora ora.
Ele soltou meu cabelo somente para levantar sua mão e me dar um tapa no rosto que fez minha cabeça virar e sangue ser cuspido da minha boca. A ardência costumeira apareceu e meus olhos se encheram de lágrimas de novo, mas eu continuei segurando e somente voltei meu semblante para baixo. Entretanto, Amico não deixou já que mais uma vez segurou com força em meus cabelos e levantou minha cabeça para que eu o olhasse.
- Você vai morrer aqui - ele finalizou - E se não morrer, eu vou fazer você ser mais uma a morar na área dos incapacitados no St. Mungus.
Sua varinha estava bem próxima ao meu corpo quando ele gritou "crucio" e a sensação de que facas em brasas entravam em cada poro voltou. Meu corpo se debatia e a dor me cegava. Doía como nunca tinha doído antes e eu acreditava que era porque Amico realmente estava empenhado em me causar dor. As lágrimas finalmente rolaram pelos meus olhos e um grito saiu pelos lábios machucados. Amico sorria ao ver meu corpo se estrebuchar na cadeira e riu quando meu nariz voltou a sangrar. Eu sabia que estava perto de sucumbir, sabia que meu corpo não aguentaria por mais tempo e o desespero aumentou, eu não podia morrer.
As algemas tilintavam em contato com a madeira e a cadeira se mexia tanto que acabou virando. Meu lado direito bateu com força no chão de pedra e eu arfei ao sentir o chão duro em contato com meu crânio provocando mais dor. Minha consciência falhou por alguns segundos e quando voltei, eu ouvi a risada deles.
- Vá levantá-la, Jugson - a voz feminina de Aleto disse e Jugson caminhou até mim, me puxando para cima e me parando com força ao chão, fazendo minha cabeça doer mais - Você é patética, garota.
Amico deu lugar a sua irmã e ela se aproximou de mim lentamente fazendo a ansiedade aumentar mais. Eu sabia que ela era tão cruel quanto o irmão e continuei a tremer mesmo sem estar sob efeito de maldição nenhuma quando a comensal parou em minha frente e se pôs a me olhar friamente ficando em silêncio. Eu quase conseguia ouvir as engrenagens de sua cabeça girando enquanto ela pensava no que iria fazer para me machucar. Aleto se aproximou um pouco mais e tirou um pequeno punhal das vestes. Meus olhos se arregalaram e ela riu ao perceber o pânico em meu olhar. Seu sorriso se alargou quando ela colocou o punhal em meu pescoço e pressionou a pele com força o suficiente para furar o local. Eu engoli em seco e senti o sangue descendo calmamente para o meu colo, manchando minha camisa branca do uniforme.
- Eu poderia acabar com isso agora, - ela disse e furou mais um pouco, me fazendo arfar - Você não seria mais torturada se eu apenas deslizasse esse punhal pela tua garganta. Você quer isso?
Eu não respondi nada e tossi ao sentir a pressão em meu pescoço aumentar. Aleto continuou pressionando meu pescoço, mas num rompante, tirou o punhal do lugar e o enfiou em minha perna direita. Eu gritei e o sangue começou a escorrer pela minha perna enquanto a dor caminhava pelo meu corpo. Comecei a chorar de olhos fechados pedindo para que alguém aparecesse, implorando para qualquer força maior que me tirasse dali. Eu iria morrer. Ela arrancou o punhal da minha perna e eu gritei mais uma vez, notando que o fluxo de sangue aumentou ainda mais. Aleto limpou o sangue do punhal em minha camisa e riu ao notar meu desespero. Antes que eu pudesse sequer entender o que estava acontecendo, a comensal mirou a varinha para mim e começou a me torturar, mas daquela vez a dor foi tanta que eu apaguei.

Draco’s POV

Abri os olhos e notei o teto de madeira do trem em cima de mim. Minha cabeça continuava a doer e eu fechei os olhos ao sentir uma pontada na parte de trás. Olhei o ambiente e havia um curandeiro no extremo do vagão e Pansy estava sentada em uma cadeira com os olhos úmidos. Seu rosto se iluminou quando me viu e a garota se jogou em cima de mim chorando alto.
- Oh, Draco - ela disse agarrada em meu pescoço - Eu fiquei tão preocupada!
- Quantas vezes eu tenho que dizer para você não me tocar desse jeito? - eu disse com dificuldade entre seus cabelos - Não gosto quando você tenta agir como minha namorada na frente das pessoas. Você não é.
A garota se separou de mim e seus olhos se encheram de lágrimas mais uma vez. Droga, eu tinha pegado pesado. Bufei irritado e me sentei, coçando meus olhos e ainda sentindo minha cabeça doer. O curandeiro caminhou até mim com um vidro de poção e o estendeu.
- O que é isso? - eu perguntei.
- É a poção revigorante, vai te deixar melhor - ele respondeu - Nós precisamos ter uma conversa, garoto. - ele se virou para Pansy - Por favor, senhorita Parkinson, eu preciso conversar com o senhor Malfoy a sós.
Pansy me olhou como se pedisse para que eu a deixasse ficar, mas eu continuei em silêncio, então ela se dirigiu para porta dizendo que iria me esperar do lado de fora. Assim que ela bateu a porta, eu abri a pequena ampola e virei a poção, sentindo o gosto azedo, mas já me sentindo melhor. O curandeiro continuou parado no mesmo lugar e esperou eu terminar para começar a falar.
- Eu sou Ernest Roland, sou o curandeiro responsável pelo Expresso de Hogwarts.
- Bom, você já me conhece. - respondi sem humor algum.
- Senhor Malfoy, você teve todos os sinais de alguém que é torturado pela cruciatus - ele disse sem rodeios - A dor constante, os tremores, sangramento do nariz e acabou desmaiando. Você tem algum inimigo aqui? Algum desafeto ou algo parecido? Nós checamos todas as varinhas dos alunos nas cabines perto de onde você estava, mas não encontramos nada.
- Não, meus desafetos ficaram em Hogwarts e estão me esperando em Londres. - respondi sincero e a dor em minha cabeça tinha diminuído.
- Foi o que eu imaginei - o curandeiro disse e me encarou seriamente - Então, o que aconteceu, senhor Malfoy?
- Eu não sei, talvez eu esteja doente? - eu perguntei confuso e cocei minha cabeça frustrado - Eu… Eu senti uma ansiedade muito grande e muito medo antes de começar a sentir dor, como se algo ruim estivesse acontecendo.
- Você está ligando magicamente a alguém? - o curandeiro perguntou e foi como se tudo fizesse sentido.
- Não que eu saiba - eu menti - Eu já estou melhor, posso ir embora?
- Toda essa situação é muito estranha - o curandeiro disse e se levantou, caminhando até um pequeno armário e voltando com outro frasco - Tome a segunda dose em oito horas.
- Tudo bem - eu respondi e me levantei, sentindo uma leve tontura, mas fingi que não aconteceu - Huum, obrigado.
- Não há de que.
Eu abri a porta e Pansy estava lá observando a paisagem. Eu suspirei cansado e não tinha nenhuma vontade de ter que lidar com a garota, mas sabia que seria errado de minha parte simplesmente ignorá-la. Ela me olhou com seus olhos úmidos de novo e eu senti um desânimo total.
- O que ele queria? - ela perguntou.
- Perguntas de rotina - eu menti de novo - Obrigado por ter me ajudado.
- Não precisa agradecer, Draco - ela respondeu e deu um pequeno sorriso - Eu sempre estarei aqui por você. Sempre.
Eu não consegui responder, pois notei o tom em suas palavras e não queria magoá-la de novo, então somente assenti e voltei a caminhar para a minha cabine. As palavras do curandeiro não saíam de minha cabeça e o nervosismo já começava a corromper minha sanidade. Seria possível mesmo algo acontecer com e eu sentir? A ligação fazia isso ou seria a runa que desenhamos no corpo um do outro no início das aulas? Minha cabeça não parava de criar teorias, mas nenhuma delas me acalmava. Algo estava acontecendo com , ela estava sofrendo e eu não tinha dúvidas disso.
Enquanto eu andava de volta e já conseguia ver minha cabine, mais uma teoria pipocou em minha mente, mas essa eu tinha plena certeza: eu havia sido enganado, não deveria ter missão nenhuma para mim e se algo de errado estava acontecendo com , Amico estava por trás disso. Eu entrei em minha cabine e meus amigos começaram a fazer mil perguntas sobre o que tinha acontecido e eu menti mais uma vez dizendo que foi uma queda de pressão. Pansy não comprou minha mentira, mas decidiu não falar nada e sentou ao meu lado.
- Quanto tempo falta para chegarmos? - eu perguntei para ninguém em específico.
- Acho que mais uns trinta minutos. - Zabini respondeu depois de olhar no relógio.
- Você ainda está com dor, Draco? - Pansy perguntou preocupada quando a bruxa do carrinho de guloseimas apareceu na porta - Quer uma água ou qualquer coisa do carrinho?
- Não, eu estou bem - respondi simplesmente e uma nova onda de dor voltou. Fechei os olhos e respirei fundo tentando amenizar os sintomas, mas não aconteceu - Droga!
Meus amigos me olharam preocupados, mas eu não consegui tranquilizá-los, pois no minuto em que eu me preparei para falar mais uma leva de dor veio até mim e eu me encolhi no banco, sentindo cada parte do meu corpo doer em especial minha cabeça. Coloquei as mãos em minhas têmporas e tentei me concentrar em qualquer coisa que ajudasse a parar, mas não consegui. Pesquei a poção revigorante do meu bolso, mas não conseguia abrir, pois comecei a tremer de dor mais uma vez.
- Oh meu Deus - Pansy gritou e tomou a poção da minha mão para abrir - Aqui, Draco.
- O que está acontecendo? - Zabini disse com os olhos esbugalhados - Você está sangrando pelo nariz!
Dei um gole na poção e as dores diminuíram, mas continuaram ali persistentes. Meus olhos lacrimejaram e eu arfei sentindo cada músculo do meu corpo se retesar. estava sendo torturada naquele momento, eu tinha certeza e constatar isso fez com que o desespero se instalasse. Minha respiração falhou e eu tentei abrir a janela para conseguir mais ar, mas minhas mãos tremiam. Goyle fez isso por mim e eu me ajoelhei, colocando o rosto em contato com o ar gelado na tentativa estúpida de amenizar o que estava sentindo.
- O que podemos fazer, Draco? - Pansy perguntou com a voz chorosa.
- Chame o curandeiro - eu verbalizei com dificuldade - Chame ele AGORA!
Minha cabeça não parava de doer e quando me dei conta, estava sentado no chão do trem encolhido com a cabeça entre as pernas em uma tentativa idiota de fazer a dor ir embora. Meu coração batia acelerado em meus ouvidos e eu gritei de dor como se alguém estivesse me batendo. Ouvi passos apressados e uma voz chamando meu nome. Levantei a cabeça e limpei minhas lágrimas, encarando Ernest que tinha uma maleta e se aproximava de mim com a varinha em mãos.
- Você estava certo - eu disse baixo para meus amigos não ouvirem - O que você falou sobre ligação.
- Eu imaginei - Ernest respondeu - Eu preciso que todos saiam agora!
Meus amigos se afastaram e o curandeiro fechou a porta, abaixando as cortinas e voltando para perto de mim. Uma nova onda de dor veio e dessa vez eu gritei, sentindo mais sangue sair de meu nariz e meu corpo pegar fogo. Ernest se ajoelhou ao meu lado e esperou que eu me acalmasse.
- Você está ligado a quem? - ele perguntou.
- Minha namorada, - respondi com a respiração entrecortada - Eu acho que algo está acontecendo, ela está em perigo.
- Você tem como pedir para alguém ajudar? - o curandeiro perguntou - Algum contato em Londres que chegue até ela? Onde ela está?
- Em… - eu parei e suprimi um grito - Em Hogwarts.
- Tudo bem, nós pensamos nisso depois - ele disse - Preciso parar isso antes que comprometa teu cérebro.
Ernest se ajoelhou e empunhou a varinha enquanto recitava baixo uma série de palavras em latim que eu nunca tinha ouvido na minha vida. Uma luz amarelo-claro saiu da ponta de sua varinha e foi em direção ao meio da minha testa, mas eu não senti nada de diferente nos minutos iniciais. Ernest aumentou as palavras e colocou mais força em cada fonema como se estivesse batalhando com alguma coisa.
- Você é bom em legilimência? - ele perguntou enquanto fazia movimentos com a varinha.
- O melhor da minha família - respondi e a dor veio mais uma vez.
- Então essa é a hora de fechar a mente, rapaz - ele recomendou e eu fechei meus olhos - Preciso da tua ajuda, é um trabalho conjunto.
Eu me concentrei e tentei enxergar a magia como um fio condutor que trazia as ondas de dor vindas de . Entretanto, eu sabia que se conseguisse fechar minha mente, eu não teria mais o conhecimento do que estava acontecendo com ela. A maldição continuava chegando até mim e foi com pesar que eu decidi fechar a conexão de nossas mentes. A dor me impedia de me concentrar e eu tentei várias vezes sem sucesso fechar minha mente, mas era quase impossível já que tive que parar o processo várias vezes para gritar. Eu precisava tentar, precisava me esforçar ao máximo para que a dor fosse embora e aos poucos ela foi. Eu coloquei mais força nos bloqueios da minha mente e Ernest continuava a cochichar as palavras em latim para me ajudar até que em um instante a dor finalmente parou. Eu suspirei cansado e Ernest se afastou de mim, indo até a maleta e tirando outra poção de lá.
- Sente-se melhor? - ele perguntou e entregou o frasco pra mim - Poção de Wiggenweld é mais forte que a primeira que eu te dei.
- Bem melhor - eu respondi e me sentei no banco confortável, tomando a poção verde rapidamente - Obrigada.
- Ligações mágicas são muito perigosas - ele disse enquanto se sentava do outro lado da cabine - Elas podem causar muitos danos aos envolvidos.
- Nós nunca exploramos isso - eu disse - Sempre deixamos isso em segundo plano, nunca investigamos mais sobre. É assustador pensar que eu sei minimamente o que está acontecendo com ela.
- E isso é preocupante - ele respondeu - Se essa informação chegar aos ouvidos errados, vocês terão sérios problemas.
- está em perigo - eu disse e bufei irritado - Acho que minha saída de Hogwarts foi uma armadilha para pegá-la, eles sabem que eu não a deixo sozinha naquele castelo.
- Ela precisa da tua ajuda, senhor Malfoy - o curandeiro avisou - Quando não mata, a cruciatus pode deixar a pessoa mentalmente incapaz. Ela não tem muito tempo.
- Obrigada pela ajuda, senhor Roland - eu disse - Se contar a alguém sobre minha ligação mágica, eu juro que acabo com você. Não se esqueça de que eu sou um Malfoy e comensal, portanto, controlo o mundo bruxo.
- Não irei me esquecer - Ernest disse um pouco assustado e se levantou - Se acontecer de novo, procure o St. Mungus imediatamente.
O curandeiro disse e abriu a porta, passando por ela e deixando meus amigos entrarem na cabine. Eles me encheram de perguntas, mas eu me irritei e mandei todos ficarem calados, não queria falar com ninguém. Consegui ver Londres no horizonte e suspirei aliviado, sabendo que em pouco tempo eu sairia daquele caixote de madeira e ferro e poderia agir. precisava de ajuda e mais importante, ela precisava que eu consertasse o meu erro o mais rápido possível.

’s POV

n/a: dê play nessa música e deixe até o ponto de vista da principal acabar.

Senti algo gelado em meu rosto e ao abrir os olhos percebi que tinha sido acordada por um jato de água gelada vindo da varinha de Jugson. Eu tinha apagado mais uma vez e o comensal tinha me acordado molhando meu rosto com violência. Meu corpo tremeu de frio e os machucados em meu rosto ardiam. Jugson tinha um sorriso e se abaixou para ficar da minha altura. Eu o encarei com veemência e ele riu, voltando a ficar em pé e andando em volta de mim. O medo por não tê-lo as vistas se alojou em meu peito e eu tentava segui-lo com meu olhar, mas era impossível. O comensal parou atrás de mim e sussurrou em meu ouvido:
- Está com medo, ?
- Eu… Eu… - eu falava com dificuldade - Não tenho… Não tenho medo de você.
- Ah, jura? - Jugson disse - Pois deveria.
Minha perna latejava e eu sentia o sangue pingar no chão embaixo de mim. Eu já estava ficando fraca e sabia que não aguentaria mais por tanto tempo. Eu iria morrer naquela cadeira. Jugson se abaixou e empurrou meu cabelo para o lado e passou a varinha em meu pescoço, fazendo com que um arrepio de medo atravessasse minha coluna.
- Esse pescoço seria um prato cheio para Fenrir Greyback… - ele disse - Ele iria se esbaldar nessas veias e te transformar em um monstro nojento como ele.
Eu não pude responder, pois mais uma vez a onda de dor veio certeira pelas minhas costas e eu não pude conter o grito de dor que escapou pelos meus lábios. Minha consciência já estava falhando, meu sangue se esvaindo e minha visão já estava ficando turva. Eu estava morrendo. A dor era demais e eu me vi chorando enquanto era torturada por Jugson que ria atrás de mim. O som de sua risada foi se esvaindo aos poucos e meu corpo doía por inteiro. A única coisa que eu conseguia focar era na dor que eu sentia. O comensal retirou a maldição, mas eu continuei sentindo dor. Então, eu senti. O sangue que saía do ferimento da minha perna continuava a pingar no chão, mas naquele momento eu comecei a sangrar por outro lugar. Uma dor absurda se instalou no pé da minha barriga e nas minhas costas enquanto sangue saía de mim.
- Não, não, não, por favor, não, não…
Eu pedi para qualquer entidade que pudesse me ouvir, mas o rastro de sangue que saía do meu útero se misturava com o sangue do ferimento da minha coxa e descia pelas minhas pernas. Eu arfei de dor e meus olhos se encheram de lágrimas no mesmo instante. Uma nova onda de dor veio até mim e eu queria me encolher, mas não podia. Os três comensais pararam de rir e começaram a me encarar, seus olhares passaram de divertidos para preocupados e eles assistiam enquanto eu abortava.
- Não, por favor, fique aí, não, não…
Eu não conseguia parar de chorar e sabia que eles me olhavam, mas eu não conseguia me importar. Dei um grito de dor e encarei os três e daquela vez eu implorei.
- Por favor, me tirem daqui, me levem para a… - eu arfei e mais sangue saía de mim - Me levem para a enfermaria…
Eles não falaram nada e se olharam enquanto pensavam no que fazer. Eu sofria um aborto em frente aos três, mas eles não faziam nada. Meu rosto ardia por conta das lágrimas que saíam do meu rosto e eu comecei a implorar, deixando todo o meu orgulho de lado, tentando convencê-los a me tirar dali. Se eles fossem rápidos, nós ainda teríamos chances.
- Por favor, por favor, me tirem aqui - eu pedi - Eu não falo nada para ninguém, por favor, por favor. Eu não quero… Eu não quero perder meu bebê, por favor.
Eu encarei Aleto Carrow e seu olhar não tinha nada da determinação anterior, mas sim uma confusão. Eu sabia que eu tinha me rebaixado completamente, mas a cada cólica forte que eu sentia eu sabia que o feto em minha barriga estava se esvaindo aos poucos. Mais sangue escorria pelas minhas pernas e eu somente podia assistir enquanto ele ia embora. Aleto, Amico e Jugson somente me encaravam sem falar nada e quando a comensal começou a caminhar para me soltar, Amico segurou em seu braço, impedindo a mulher de chegar até mim. Ele sorriu e se abaixou em minha frente, sujando suas botas com o meu sangue.
- Agora você quer barganhar? - ele perguntou com um sorriso no rosto - Huum, acontece que agora eu não quero.
Ódio pelos três comensais desceu pelas minhas veias e algo dentro de mim despertou. Eu não tinha mais nada a perder ali. Eu sabia que minha magia era poderosa e naquele momento eu simplesmente deixei o controle de lado, deixei a magia se infiltrar em cada poro e a raiva, que eu tinha lutado tanto para varrer até o fundo da minha mente, tomar conta de tudo. Eu abracei a escuridão dentro de mim pela primeira vez depois de muito tempo. Perdoe-me, tio Alvo, mas agora eu preciso ser o monstro que o senhor tanto lutou para que eu não fosse.
- Eu vou matar vocês - eu disse com o rosto baixo e quando levantei, meu olhar era puro ódio e Amico deu um passo para trás. O fogo nas tochas do seu escritório começou a bruxulear com força - Bombarda!
As pesadas algemas em meus pulsos e tornozelos se quebraram em pedacinhos e os comensais se afastaram rapidamente. Eu dei um sorriso perverso e me levantei com dificuldade ainda sentindo a dor nas costas e as cólicas intensas, mas me mantive em pé. Pisei em meu sangue e ignorei a moleza em minha perna machucada. Eu encarei cada um e levantei minha mão, focando em todo ódio que eu sentia pelos três. Pensei no feto em minha barriga que morria e a tristeza se misturou ao ódio que queimava minha cabeça. Meu corpo tremia e meus olhos derramavam lágrimas ao pensar em tudo o que eu iria perder. Eu não teria mais meu bebê em meus braços ou veria seu rosto em meses. Jugson levantou sua varinha para mim, mas antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, eu pensei “Everte Statum” e seu corpo pesado saiu rodopiando até bater na parede de pedra atrás dos três. Os gêmeos se olharam desesperados e eu os encarei, pensando “Expeliarmus” fazendo suas varinhas virem parar em minhas mãos. “Crucio” saiu de meus lábios e automaticamente os dois começaram a se contorcer em minha frente. O rosto de Aleto foi parar no chão e Amico batia a cabeça freneticamente contra o chão de pedra. A dor em mim era grande, mas eu não podia parar. Eles tinham que morrer. Eu não era a única ali a perder algo valioso, eles iriam perder a própria vida. Eu gritei ao sentir mais uma pontada em meu útero, mas tentei ignorar. Minha perna falhou e eu caí ajoelhada, mas ainda torturava os dois. Amico perdeu a consciência, mas seu corpo continuou a se debater. Aleto me encarou com ódio e eu aumentei a intensidade da maldição enquanto ela gritava.
- Já chega, .
Uma voz disse e eu olhei para trás vendo Snape parado na porta. O diretor foi mais rápido que eu e antes que eu pudesse atacá-lo, ele agitou sua varinha e cordas vieram em minha direção, apertando meus pulsos e tornozelos, fazendo com que meu corpo caísse em meu próprio sangue. Snape se aproximou e observou os comensais, meneando sua cabeça com uma expressão de tédio. Ele me olhou e se ajoelhou ao meu lado, apontando sua varinha para mim e murmurando alguns encantamentos. Eu me debatia com raiva, mas ele continuou firme até que eu notei a dor indo embora aos poucos.
- Você deve matá-la, Snape - Aleto disse enquanto respirava fundo e tentava se levantar - Mate-a!
- Calada, Aleto! - Snape disse e continuou o que estava fazendo.
Outros comensais entraram na sala e se detiveram ao ver a quantidade de sangue no chão. Eles entraram devagar e ajudaram Jugson, Aleto e Amico a sair da sala. Jugson continuava desacordado, Amico também, mas Aleto passou por mim com ódio puro em seu olhar. Eu retribuí com a mesma intensidade, mas assim que eles saíram, eu arfei me dando conta do que tinha acontecido.
- Me deixe morrer, Snape - eu disse - Não tem mais nada que você possa fazer.
- Calada, . - o diretor disse e continuou com os encantamentos.
Meu corpo não doía tanto, mas meu coração estava acelerado e eu continuava a sangrar. Eu sabia que aquela batalha estava perdida. Minha cabeça começou a doer e quando eu notei sangue saía de meu nariz. Ouvi passos, mas meu olhar não focava em nada. A inconsciência era bem-vinda e eu me entregava cada vez mais a ela de bom grado. Então assim era morrer. Pela primeira vez eu senti uma paz estranha e um calafrio desceu pela minha coluna pela vigésima vez naquele dia. Senti meu corpo sair do chão e consegui ouvi o barulho de sangue gotejando. Pessoas conversavam ao meu redor, mas eu não conseguia entender uma palavra sequer. O teto começou a se mover, mas eu não tinha ideia para onde eu estava sendo levada ou se aquilo tudo era real. A dor continuava em meu corpo, mas não importava mais. Alguém chamou meu nome, mas eu não consegui reconhecer de quem era a voz. Minha mão foi apertada e eu senti meu corpo batendo em algo macio.
- Oh, meu Deus, oh, meu Deus - alguém disse e eu ouvia passos - , você consegue me ouvir? Oh, meu Deus, alguém já avisou o Malfoy?
Meu coração acelerou ao pensar em Draco e como ele iria ficar sozinho. Eu não queria morrer, mas sabia que não havia jeito. Eu só queria descansar e fazer com que a dor fosse embora e então eu deixei de resistir. A inconsciência finalmente veio e dessa vez eu não tentei lutar contra.

Draco’s POV

Eu andava apressado pela multidão arrastando meu malão com velocidade, tentando achar meus pais no meio de tantos bruxos. A felicidade ao redor me irritava completamente e eu só queria sair dali o mais rápido possível. Eu enxerguei um cabelo louro no meio de tantos outros e sabia que era minha mãe, então caminhei até ela que me abraçou rapidamente quando eu me aproximei.
- É muito bom te ver, filho - ela respondeu com um sorriso contido - Como foi a viagem?
- Nós não temos muito tempo, precisamos ir - eu disse apressado e comecei a andar em direção a passagem para a estação dos trouxas - está em perigo e preciso voltar para Hogwarts.
- O que? Não! - minha mãe disse enquanto andava ao meu lado - O que está acontecendo, Draco?
- Eu não posso explicar agora - eu respondi - Eu preciso ir para casa e voltar para Hogwarts pela Rede de Flu, é urgente!
Minha mãe não disse mais nada, somente me seguiu quando eu passei apressado para a estação dos trouxas e continuei andando para fora de King’s Cross. Nós fomos para um beco e aparatamos para casa juntos. A sensação de enjoo veio assim que eu firmei meus pés no chão de cascalho. A mansão Malfoy se erguia poderosa em minha frente e como vinha acontecendo há tempos, ela não me passava a sensação de lar como outrora passou. Eu olhei para minha mãe e perguntei:
- Quem está em casa? Você-Sabe-Quem está aí?
- Estamos apenas nós e sua tia Bella - mamãe respondeu - Ele está fora do país, não sei ao certo.
- Tudo bem - eu suspirei - Eu vou te contar o que aconteceu antes de entrarmos, pois tia Bella não pode saber.
Eu atualizei minha mãe sobre tudo o que havia acontecido no trem, sobre minha ligação mágica com e sobre como eu achava que havia caído em uma armadilha. Meu coração batia apressado e eu sabia que deveria contar para ela sobre a gravidez de .
- Eu preciso voltar, pois está em perigo - eu disse - Eu sei disso com toda a certeza além do que…
- Tem mais? - mamãe perguntou perplexa - O que?
- está grávida - eu respondi de uma vez - Eu preciso voltar, mamãe.
Mamãe não disse nada, mas seu olhar se endureceu quando ela olhou para mim. Ela deu um suspiro e me encarou com decepção genuína em cada traço de sua face. Começou a andar para dentro de casa e eu a segui sem falar mais nada. Nós entramos e subimos as escadas até a sala de visitas, as paredes roxas com retratos de Malfoys do passado deixava toda a situação mais angustiante e eu daria tudo para não estar ali. Encontramos meu pai sentado em uma poltrona lendo alguns papéis. Sua expressão era pura miséria, eu pude notar. Seus cabelos estavam desgrenhados e olheiras escuras emolduravam seus olhos claros. Ele nos olhou quando passamos pela porta e deu um pequeno sorriso ao me ver.
- Filho, que bom que veio! - ele começou a dizer, mas foi cortado pela minha mãe.
- Onde está Bella? - ela perguntou.
- Foi até o Beco Diagonal para fazer algumas coisas - ele respondeu e notou a urgência no rosto de minha mãe - O que houve?
- Conte, Draco - ela ordenou - Conte a seu pai o que me disse.
- O que aconteceu? - ele perguntou e se levantou para vir até nós - O que houve, meu filho?
Eu suspirei e repeti todo o discurso que tinha feito para minha mãe do lado de fora. Meu pai não disse nada enquanto ouvia e somente me encarou quando eu disse que estava esperando um filho.
- E quando você pretendia nos contar isso? - meu pai perguntou e eu senti que ele estava se contendo.
- Eu não ia - respondi abaixando a cabeça - Nós… Nós temos planos.
- Eu não consigo acreditar que você engravidou aquela garota, Draco - meu pai disse com um tom decepcionado - Um bastardo para a família Malfoy, como se nossa família já não estivesse em descrédito com o Mestre o suficiente.
- Ele não é um bastardo, eu vou me casar com – respondi, ignorando a tristeza que se instalou em meu peito ao ouvir as palavras de meu pai - Agora eu não tenho tempo de discutir com vocês, eu preciso voltar para Hogwarts, ela está em perigo!
- Você está se ouvindo, Draco? - minha mãe disse perplexa - Você só tem dezessete anos! Como você vai casar com essa idade? Você não pode fazer isso, você é o futuro da família Malfoy!
- Eu preciso ir - disse mais uma vez - Enquanto conversamos, está sendo torturada em Hogwarts!
- Você acha que eu me importo com isso? - meu pai disse aumentando o tom de voz - Ela é uma traidora de sangue, a família dela é impura! Nós precisamos dar um jeito nisso, Narcisa!
As palavras de meu pai foram como facas e meus olhos se encheram de lágrimas ao ouvi-lo dizer aquilo. Eu abaixei a cabeça tentando esconder meu choro, mas foi impossível. Eu voltei a olhar para os dois e me questionei se ficar ao lado deles valia a pena. Meu pai percebeu minha indignação e tentou consertar a situação:
- Eu sei que você gosta dela, mas ter um filho e se casar com essa garota é uma coisa totalmente diferente.
- Diferente por quê? - eu perguntei - vem de uma linhagem magnífica de bruxos, sua família lutou contra Grindewald e ela tem o sangue de Dumbledore nas veias! Ela é a bruxa mais poderosa que eu conheço e é capaz de derrotar comensais de olhos fechados! é corajosa e me salvou tantas vezes que eu não tenho como contar! Ela é minha família e eu não vou deixá-la agora! Nós vamos ter um bebê e enquanto temos essa conversa idiota, ela pode estar morrendo em Hogwarts! Morrendo, pai!
- Eu entendo sua preocupação, querido - minha mãe disse - Mas ela está em Hogwarts, Snape é um ótimo diretor e…
- Hogwarts é um inferno na terra, mamãe - eu respondi - Eles estão massacrando os alunos como formigas. Eu preciso ir!
- Eu não posso deixá-lo fazer isso - meu pai disse - Nós somos tua família, Draco! Você vai esquecê-la assim que sair da escola!
- Eu não vou mais discutir com vocês - eu disse cansado - Eu vou para Hogwarts agora!
Comecei a andar em direção a nossa lareira que fazia parte da Rede de Flu, mas assim que fiz isso, as portas se abriram e tia Bella entrou triunfante com um elfo doméstico segurando pesadas sacolas nas costas. Ela deu um sorriso ao me ver e se aproximou para me abraçar cordialmente.
- Draco, querido! Fico feliz que tenha chegado, como foi a viagem? - ela perguntou e notou a tensão no ambiente - O que houve?
- Foi tudo bem, tia Bella - eu menti e sorri para ela - Cansativa, mas tudo ocorreu perfeitamente. Fez boas compras no Beco Diagonal?
- Na medida do possível, fiz sim - ela respondeu se esquecendo da tensão ao redor - Aquele lugar está caindo aos pedaços, poucas lojas estão funcionando, um caos - ela se virou para o elfo - Coloque essas coisas no meu quarto agora! E então o que iremos fazer hoje à noite? Ciça pode preparar um jantar delicioso para comemorarmos sua chegada, certo?
- Sim, Bella - minha mãe respondeu com um sorriso e me olhou - Draco, suba para teu quarto e tome um banho, sim? Depois continuamos a conversar, agora eu vou preparar o jantar com tia Bella.
Eu queria jogar tudo para o alto e ir até a lareira, mas sabia que a lealdade de tia Bella era para o Mestre e não para nossa família. Ela nos sacrificaria em prol do Mestre sem pensar duas vezes e meus pais sabiam disso. Naquele momento, nossa conversa teria que esperar e minha ida também. Eu subi as escadas apressado e entrei em meu quarto, notando que meu malão já estava aberto e minhas roupas já tinham sido arrumadas em meus armários. A frustração corroía meu peito e eu queria fugir daquele lugar o mais rápido possível. Eu teria que esperar tia Bella se ausentar de novo para poder partir, pois sabia que ela contaria para Você-Sabe-Quem sobre minha partida tão rápida de volta a Hogwarts.
Meu coração ficou apertado e eu sabia que deveria esperar o momento certo para agir, teria que ser inteligente e não impulsivo. Eu me joguei em minha cama e encarei o teto escuro em cima de mim percebendo que mais uma vez eu falhei com .
Por que eu tinha que ser tão ingênuo? Por que não insisti mais para ficar? Por que eu não fui mais forte? Fui tirado dos meus pensamentos com batidas na porta e assim que eu abri com um agito da minha varinha, meu pai entrou e fechou a porta, murmurando “Abaffiato” para que nossa conversa não fosse ouvida.
- Veio insultar minha namorada de novo? - eu perguntei sem olhá-lo.
- Eu peço desculpas por isso, não deveria ter falado daquele jeito - meu pai respondeu - Draco, olhe para mim. - eu me levantei e obedeci - O que eu quero dizer é que você não pode arriscar tudo por causa dela, nós podemos dar um jeito, entende? Você não precisa se casar com ela ou…
- Você está dizendo para que eu convença a abortar? - eu perguntei diretamente.
- Bom, isso é uma hipótese, mas se vocês não querem, nós podemos ajudar a garota a criar a criança, você não precisa se casar. - ele repetiu.
- Nós não vamos abortar, pai - eu respondi - Nós decidimos juntos - eu dei ênfase nessa última palavra - Manter a gravidez e criar nosso filho.
- Como vocês vão fazer isso, Draco? - meu pai perguntou incrédulo.
- Acredite, nós pensamos em tudo e temos um bom plano - eu respondi - Só não vou te contar.
- Você é uma criança, Draco... - meu pai retrucou, mas eu o cortei.
- Não, eu não sou - eu respondi - Eu era uma criança até tempos atrás quando você falhou em uma missão e eu tive que me tornar comensal como uma punição pelos seus erros. Eu era uma criança até que recebi uma missão para matar meu professor e tive que mentir, roubar e envenenar pessoas para completá-la. Eu era uma criança até que infiltrei comensais em Hogwarts e assisti a mulher que eu amava ser atacada e quase morrer. Eu era uma criança até ter que torturar tantas pessoas que eu perdi as contas. Eu era uma criança mimada e arrogante até precisar não ser mais. Pela primeira vez na minha vida eu estou animado para alguma coisa e com esperança de dias melhores. Eu não vou abandonar porque você acha que eu devo. Se eu menti, roubei, torturei e enganei e fui bem sucedido em todas essas coisas então eu consigo criar uma criança e eu vou fazer isso com o teu apoio ou não. Eu não sou mais uma extensão de você há muito tempo, pai. Eu vou ser pai em alguns meses e eu não vou deixar meu filho por causa de vocês. Eu já sacrifiquei uma vez para seguir o que você queria e não vou fazer isso de novo. Quando tia Bella estiver distraída, eu vou voltar para Hogwarts.
Meu pai não me respondeu por alguns segundos, mas se apoiou na cômoda perto da porta. Coçou os olhos e naquele momento, eu percebi como ele estava velho e cansado.
- Eu fico feliz por esse teu senso de responsabilidade, filho - ele disse e eu não consegui detectar se aquelas palavras eram verdadeiras ou irônicas - Eu só me preocupo com o que vai acontecer quando Você-Sabe-Quem souber que você fugiu.
- Eu já estarei muito longe - respondi - Estou cansado dessa vida, pai. Eu… Não quero mais ser uma má pessoa. Eu não quero mais ter que torturar ou enganar.
- Eu acho que você está se esquecendo de quem é, Draco - meu pai disse e se aproximou de mim - Nós somos Malfoy. Nossa família enriqueceu enganando, traindo e manipulando. Nós nunca seremos os bonzinhos. Nosso nome foi feito em cima do massacre às outras famílias. Nós crescemos através dos outros e temos orgulho disso. Você não pode amolecer, Draco. Você é um Malfoy e Malfoy não fogem, Malfoy se sobressaem.
- E o que você sugere que eu faça? - eu perguntei incrédulo.
- Faça se tornar comensal - meu pai disse e eu o olhei perplexo - Se você fugir, então o Mestre irá te caçar ou te matar através da marca negra. Agora se você trazer para o nosso lado, ele não apenas poupará a vida dos dois, mas até abençoará o casamento de vocês e nós também. Os Malfoy sempre ficam do lado vencedor. Nunca se esqueça disso.
Meu pai saiu de meu quarto e eu me joguei na cama mais uma vez, suspirando frustrado e querendo sumir por alguns instantes. Eu não queria deixar seu discurso se infiltra em meu ser, mas já era tarde demais. Eu não queria acreditar que meu pai estava certo, mas era impossível pensar em como nossas vidas seriam menos complicadas se não precisássemos fugir. Entretanto, eu não tinha tempo para pensar e refletir sobre qualquer coisa, precisava ir embora daquela casa. Eu levantei e voltei a guardar minhas coisas no malão, tentando me distrair enquanto esperava minha tia ir embora ou ir dormir. Sentei em minha escrivaninha e escrevi uma carta para o professor Slughorn avisando que eu iria voltar para Hogwarts e precisava que sua lareira estivesse aberta para mim e assim que a coruja se foi, minha mãe abriu minha porta com força e entrou sem cerimônias.
- Eu servi o chá da tarde, venha comer - ela ordenou, mas eu não tinha a mínima vontade de obedecer.
- Eu não quero. - respondi sem levantar meu corpo.
- Draco, tua tia não tem ideia do que está acontecendo - mamãe disse - Então para o teu bem, levante daí e venha tomar esse chá. Precisamos fingir normalidade o máximo que conseguir.
- Eu preciso ir embora daqui - eu respondi cansado e cocei meus olhos, levantando da cama - precisa de mim.
- Eu sei, Draco - minha mãe respondeu - E você vai embora, eu só preciso que você aguente mais um pouco. Quando sua tia se retirar para seus aposentos, eu mesma envio você pela Rede de Flu. Agora, vamos.
Nós descemos devagar até a sala de visitas onde o chá estava sendo servido e eu me sentei na poltrona em frente à lareira observando o fogo queimar. Meu peito se contorcia de ansiedade para sair dali, eu me sentia sufocado por estar em minha própria casa e a angústia consumia minhas entranhas. Meu pai evitou me olhar enquanto mexia calmamente uma xícara de chá e eu sentia sua frieza se instalar ao nosso redor como uma muralha. Eu pesquei um biscoito da prataria e mordi sentindo o gosto doce, sentindo-me um idiota por estar tomando chá enquanto sofria em algum lugar. Minha tia não estava e eu agradeci por não ter que lidar com suas loucuras por uns instantes. Minha mãe se aproximou, mas assim que foi se sentar, um dos elfos domésticos se aproximou avisando que havia pessoas em nosso portão.
- Vá ver quem é, Narcisa. - meu pai mandou sem olhá-la e minha mãe obedeceu, indo em direção à cozinha. Depois de alguns minutos, as portas de onde estávamos se abriram e nós nos levantamos a tempo de ver minha mãe entrando com uma leva de pessoas. Eu reconheci Greyback e Scabior caminhando tranquilamente enquanto traziam quatro prisioneiros. Notei Granger e Weasley assim que eles entraram e meu corpo gelou ao me dar conta de que Harry Potter estava em minha sala. Olhei os outros dois prisioneiros, reconhecendo apenas Dino Thomas e alguém com o rosto desfigurado e inchado. Os cabelos pretos desciam até os ombros daquela pessoa e uma mancha escura moldava seu queixo. Com certeza Granger tinha feito alguma coisa para mascarar a aparência de Potter, mas somente pela presença dela eu sabia que era ele ali.
- Que é isso? - meu pai perguntou perplexo enquanto observava cada prisioneiro com nojo.
- Eles dizem que capturaram Potter - mamãe informou e me olhou - Draco, venha aqui.
Eu me aproximei devagar e Greyback virou Potter para que eu olhasse melhor. Meu coração batia acelerado em minhas costelas e suor descia pela minha coluna. Um conflito grandioso começava dentro de mim. Ao mesmo tempo em que eu sabia que deveria entregar Potter e seus amigos, uma voz dentro de mim dizia que não era correto. Pensei em desprotegida e lembrei-me de como minha namorada depositava todas as suas esperanças em Potter e contava com ele para que o mundo bruxo se livrasse de Você-Sabe-Quem. Eu olhei ao meu redor e notei expectativa no rosto de meus pais e vi Granger, Weasley e Thomas me olhando com desespero como se esperassem que eu mentisse. Eu não queria estar ali, não queria ter que decidir, eu só queria ir embora.
- Então, moleque? - Greyback perguntou, mas eu não respondi.
Andei para mais perto e notei Potter abaixando a cabeça evitando me encarar. Eu sabia que se eu comprovasse sua identidade, meus pais iriam chamar Você-Sabe-Quem e eu não poderia voltar para Hogwarts antes do feriado acabar. Eu teria que permanecer em casa dessa vez em sua presença e testemunhar mais mortes. Eu não queria isso, eu só queria voltar para . Evitei o rosto de Potter e olhei para outra direção.
- Então, Draco? - meu pai perguntou ao meu lado - É ele? É Harry Potter?
- Não tenho… Não tenho muita certeza - respondi sem olhar para ninguém. O medo fazia meu coração bater mais rápido e eu sabia que se fosse descoberto, iria morrer.
- Mas olhe-o com atenção - meu pai disse com empolgação na voz - Olhe, chegue mais perto! Draco, se formos nós que entregarmos Potter ao Lorde das Trevas, tudo será perdoad…
- Ora, não vamos se esquecer quem, de fato, o capturou, espero, senhor Malfoy - Greyback disse em um tom ameaçador e eu me afastei minimamente dele.
- Claro que não, claro que não! - papai respondeu impaciente. Ele se aproximou de Potter com uma expressão de nojo e se dirigiu ao lobisomem - Que foi que você fez com ele? Como foi que ele ficou nesse estado?
- Não fomos nós. - Greyback respondeu.
- Está parecendo mais uma Azaração Ferreteante - meu pai disse e continuou a olhar Potter - Tem alguma coisa ali… Poderia ser a cicatriz distendida… Draco, venha aqui, olhe direito! Que acha?
Eu tive que me aproximar mais uma vez e dessa vez encarei Potter percebendo o medo em meu olhar espelhado do dele. Nós dois éramos fraudes e meu coração acelerou quando menti mais uma vez.
- Não sei. - respondi simplesmente e me afastei, indo em direção à lareira e parando ao lado de minha mãe.
- É melhor termos certeza, Lúcio - mamãe disse - Absoluta certeza de que é Potter, antes de chamarmos o Lord das Trevas - ela pegou a varinha que estava com ele nas mãos - Dizem que isto é dele, mas não parece a que Olivaras descreveu - ela deu uma pausa antes de continuar - Se nos enganarmos, se chamarmos o Lorde das Trevas inutilmente… Lembra o que ele fez com Rowle e Dolohov?
- E a sangue- ruim aqui? - Greyback se pronunciou e arrancou os prisioneiros do chão para girá-los e colocar Granger bem embaixo da luz do lustre.
- Esperem - mamãe disse e eu senti um peso se instalar em meu estômago - Sim, sim! Ela esteve na Madame Malkin com Potter! Vi a foto dela no Profeta! Olhe, Draco, não é a garota Granger?
- Eu… - meu coração acelerou e eu desviei o olhar - Talvez… É.
- Então, esse garoto é o Weasley! - meu pai gritou empolgado enquanto dava a volta para chegar perto do garoto ruivo - São eles, os amigos de Potter! Draco, olhe para ele, não é filho de Arthur Weasley, como é mesmo o nome dele?
- É - eu disse e me virei de costas para os prisioneiros - Poderia ser.
Antes que essa conversa pudesse continuar, as portas da sala de visitas foram abertas e tia Bella entrou em um rompante, pisando firme no chão de madeira.
- Que é isso? O que aconteceu, Ciça?
Ela perguntou antes de parar perto dos prisioneiros e o observar um a um. Quando seu olhar parou em Hermione, ela disse:
- Mas, com certeza, essa é a garota sangue ruim, não é? É a Granger?
- É sim, é a Granger! - meu pai exclamou - E ao lado dela pensamos que seja Potter! Potter e seus amigos, enfim, capturados!
- Potter? - minha tia perguntou e se aproximou do que seria ele - Tem certeza? Bem, então o Lord das Trevas precisa ser imediatamente informado.
Meu estômago despencou e eu suspirei, tentando assimilar que eu não sairia daquela casa tão cedo como eu precisava. Minha tia levantou a manga da blusa e expôs a marca negra, mas meu pai foi até ela.
- Eu já ia chamá-lo! - ele disse e segurou em seu pulso, impedindo titia de tocar a marca negra - Eu o convocarei, Bella; Potter foi trazido à minha casa e, portanto, está sob minha autoridade e…
- Sua autoridade! - ela desdenhou e se debateu, tentando se soltar dos dedos de meu pai - Você perdeu a autoridade quando perdeu a varinha, Lúcio! Como se atreve! Tire as mãos de mim!
- Você não tem nada a ver com isso, não capturou o garoto... - meu pai disse, mas foi cortado.
- Me desculpe, senhor Malfoy - Greyback disse - Mas fomos nós que pegamos, Potter, e nós é que vamos cobrar o prêmio em ouro!
- Ouro! - titia disse enquanto ria e tentava se desvencilhar de papai. Com a mão livre, ela buscava a varinha em suas vestes - Fique com o seu ouro, seu abutre imundo, para que quero ouro? Pretendo apenas a honra de…
Tia Bella parou de falar e de se mexer, encarando algum ponto específico com fúria no olhar. Papai se irritou e a soltou, rasgando a própria manga para tocar a marca negra e convocar o Mestre.
- PARE! - Tia Bella gritou - Não toque nela! Todos nós pereceremos se o Lord das Trevas vier agora! - Papai parou seus movimentos e assistiu enquanto tia Bella caminhava confiante até um dos sequestradores e parava em sua frente. - Que é isso?
- Espada. - ele grunhiu sem ter ideia de que não deveria tratar tia Bella daquele jeito.
- Entregue-a. - ela ordenou estendendo a mão, mas ele riu.
- Não é sua, senhorita, é minha, fui eu que a encontrei. - ele respondeu e eu já sabia que o rapaz tinha assinado seu atestado de óbito.
Tia Bela com um agito da varinha estuporou o sequestrador e seu corpo bateu no chão com força. Os outros sequestradores ficaram indignados e Scabior sacou a varinha. Eu assistia a cena, perplexo demais para conseguir fazer qualquer coisa.
- Com quem acha que está lidando, mulher? - ele perguntou, mas não pôde falar mais nada já que foi estuporado também. Titia gritava o feitiço várias vezes e cada um dos sequestradores caiam ao chão. Greyback foi o último, mas ela fez com que ele se ajoelhasse em sua frente. Ela foi até ele com a espada na mão e seu olhar transbordava raiva.
- Onde foi que você obteve essa espada? - ela sussurrou para o lobisomem enquanto tomava a varinha dele sem dificuldade.
- Como ousa? - ele disse com raiva enquanto rosnava como o animal que era para a mulher em sua frente. Ela balançou a espada em frente ao rosto de Greyback - Solte-me, mulher!
- Onde foi que você obteve essa espada? - ela repetiu a pergunta - Snape mandou-a para o meu cofre em Gringotes!
- Estava na barraca deles! - ele respondeu - Solte-me, eu estou dizendo!
Tia Bella agitou a varinha e o lobisomem se levantou, correndo para trás de uma poltrona enquanto encarava minha tia com raiva em seu olhar. Ela se virou para mim e disse com desdém:
- Draco, leve esses lixos para fora - ela apontou para os homens desacordados - Se não tiver peito para acabar com eles, deixe-os no pátio para mim.
- Não se atreva a falar com Draco assim… - Mamãe retrucou com raiva, mas foi cortada por um berro de tia Bella.
- Cale-se! A situação é mais grave do que você seria capaz de imaginar, Ciça. Temos um problema muito sério!
Eu aproveitei a deixa e com um agito de minha varinha fiz os corpos desacordados dos sequestradores me seguirem enquanto eu abria a porta e descia as escadas até o hall de entrada. Abri a porta principal e apontei para o chão de cascalho, fazendo os corpos caírem com um estampido no chão. Eu os encarei e meu coração pesou sabendo que eu não conseguiria finalizar nenhum deles assim como tia Bella tinha dito. Murmurei Incarcerous e cordas envolveram cada um deles, apertando seus tornozelos e pulsos. Eu suspirei e os deixei ali, voltando a tempo de ver Greyback descendo para as masmorras com o resto dos prisioneiros e notei que Granger não estava com eles.
Subi as escadas rapidamente e quando cheguei à sala de visitas, consegui ouvir os gritos da garota antes mesmo de abrir as portas. Os gritos de Hermione faziam com que eu me lembrasse dos gritos de e mais uma vez meu coração apertou. Eu tive que me sentar em uma das poltronas da antessala para me recompor e não demonstrar fraqueza, mas era impossível não sentir um arrepio à medida que Granger gritava cada vez mais. Quando abri as portas, Hermione estava no meio da sala com tia Bella por cima e sua varinha estava contra a têmpora de Hermione. A garota gritava e seu olhar veio em minha direção como uma espécie de súplica. Eu já tinha visto aquele olhar tantas vezes.
- Vou lhe perguntar mais uma vez! Onde conseguiram esta espada? ONDE? - Bellatrix gritou e eu fechei os olhos.
- Achamos… Achamos… POR FAVOR! - Hermione gritou a plenos pulmões e tornou a olhar para mim.
- Você está mentindo, sua sangue-ruim imunda, sei que está! Você esteve em meu cofre em Gringotes! Diga a verdade, diga a verdade! - a comensal gritou contra o ouvido de Hermione.
- Não deve ser a espada verdadeira, tia Bella - eu disse - Granger sempre foi a sabe tudo que gosta de artefatos mágicos.
- CALADO, DRACO! - ela gritou comigo e eu fiquei quieto. A varinha continuava na têmpora da garota e de repente, tia Bella tirou um punhal das vestes - O que mais você tirou? O que mais tem com você? Me diga a verdade ou, eu juro, vou furar você com essa faca!
Hermione não disse nada somente recomeçou a chorar e então o punhal de tia Bella foi contra seu braço. Sangue jorrou das feridas e a garota voltou a gritar. Tia Bella estava insana e eu tinha medo dela. Meus pais olhavam a cena com certo receio de se aproximar e Hermione continuava a me encarar. Eu virei de costas e tornei a olhar o fogo que queimava enquanto a garota gritava e chorava atrás de mim. As lembranças de naquele mesmo estado vinham como flechas e eu me sentia sem fôlego, sendo forçado a viver aquilo tudo novamente. Eu me aproximei de minha mãe e sussurrei:
- Mãe, eu preciso ir.
- Draco, agora não - ela sussurrou de volta e fechou os olhos quando Hermione gritou mais uma vez - Aguente firme, tudo isso já está acabando.
- Que mais você tirou? Que mais? RESPONDA! CRUCIO! - tia Bella gritou - Como foi que você entrou no meu cofre? Aquele duende nojento, no porão, a ajudou?
- Só o conhecemos essa noite - Granger respondeu em meio aos soluços - Nunca estivemos em seu cofre, essa não é a espada verdadeira! É apenas uma cópia!
- Mas é muito fácil de descobrir! - meu pai tomou a frente dizendo - Draco, vá buscar o duende, ele poderá nos dizer se a espada é ou não verdadeira.
Eu nem esperei minha tia concordar, saí apressado daquela sala e fechei a porta, parando no corredor que levava para as masmorras. Tentei regular minha respiração, mas era impossível. Eu sentia medo e tudo dentro de mim gritava para que eu liberasse todos os prisioneiros, inclusive Potter. Meu coração batia apressado e eu caminhei rapidamente em direção à escada de mármore. A porta de madeira maciça se materializou em minha frente e eu desci apressado com a varinha em mãos.
- Afastem-se! - eu gritei enquanto iluminava o porão pela pequena portinhola, notei que todos os prisioneiros deram um passo para trás - Se enfileirem na parede dos fundos ou eu mato vocês!
Eles me obedeceram e foram para os fundos do porão enquanto eu abria a porta e buscava Grampo com força e o puxava para fora, fechando a porta rapidamente depois. Eu subi com o duende quase moribundo para o andar de cima e o empurrei para dentro da sala de visitas. Antes que Grampo pudesse falar qualquer coisa, um estalo veio diretamente do porão e ficamos em silêncio para ouvir.
- Que foi isso? - meu pai gritou - Vocês ouviram? Que barulho foi esse no porão? - nós nos olhamos perplexos - Draco, não… Chame o Rabicho! Mande-o descer e verificar!
Eu saí da sala mais uma vez e gritei por Rabicho. O idiota apareceu cambaleando e se aproximou de mim com sua mão de prata. Eu apontei para o porão e disse para ele descer o que prontamente ele fez, na vontade de ser útil. Meu pai apareceu e caminhou até o pé da escada enquanto ouvia atentamente a movimentação lá embaixo. Dentro da sala, Hermione voltava a gritar de dor sendo torturada mais uma vez.
- Que foi, Rabicho? - meu pai perguntou desconfiado depois de tanto silêncio.
- Nada! - a voz esganiçada do idiota respondeu - Está tudo bem!
- Vamos voltar, Draco - meu pai obrigou e eu voltei para a sala de visitas, deixando a porta entreaberta. Quando voltamos, tia Bella tinha deixado o corpo de Hermione e olhava com superioridade para o duende que tinha a espada em mãos.
- Então - ela perguntou - É a espada verdadeira?
- Não - respondeu Grampo - É falsa.
- Você tem certeza? - titia indagou - Certeza absoluta?
- Tenho.
- Ótimo - alívio transpassou o rosto de minha tia, mas logo a crueldade estava de volta ao seu lugar de origem. Com um aceno da varinha, um corte foi aberto no rosto do duende que caiu no chão gritando. Ela o chutou para o lado e levantou a manga novamente - E agora podemos chamar o Lorde das Trevas.
Com triunfo e determinação ela tocou com o dedo direito a marca negra e eu prendi a respiração, torcendo para que ele estivesse ocupado demais para se importar com o chamado de sua serva mais fiel. A marca se tornou ainda mais escura e Bellatrix deu um sorriso cruel ao voltar seu olhar para o horizonte. Sua atenção voltou à bruxa caída no chão imóvel e ela sentenciou a morte de Hermione Granger:
- E acho que podemos dar fim na sangue-ruim. Greyback, leve-a se quiser.
- NÃÃÃÃO! - um grito veio de repente e quando me virei, Weasley entrava em um rompante pela sala. Tia Bella empunhou a varinha para lutar contra ele, mas o garoto foi mais rápido - Experlliarmus! - A varinha de minha tia voou pelo ar e foi parar nas mãos de Potter. Eu observava tudo atônito e meu corpo congelou quando Harry mirou sua varinha em meu pai e o estuporou, fazendo meu pai ser arremessado para o outro canto da sala. Eu mirei em Potter e atirei feitiços sem pensar duas vezes sendo seguido por minha mãe e por Greyback. Potter se jogou no chão e se escondeu atrás de um sofá.
- PARE OU ELA MORRE! - A voz poderosa de tia Bella reverberou pela sala de visitas e quando eu a olhei, a mulher tinha Hermione presa em seus braços com o mesmo punhal de antes em sua garganta - Larguem suas varinhas! Larguem ou verão como o sangue dela é IMUNDO!
Eu observava tudo perplexo sem acreditar no que estava acontecendo. Weasley continuou com sua varinha em mãos e Potter se ergueu do sofá também com a varinha em mãos. Olhei para os lados e tia Bella tremia de ódio.
- Eu disse, larguem as varinhas! - ela gritou e forçou o punhal na garganta de Granger, fazendo sangue pingar.
- Está bem, está bem! - Potter gritou e levantou as mãos depois de soltar sua varinha, sendo seguido pelo garoto Weasley.
- Ótimo - ela disse e olhou para mim - Draco, apanhe-as! O Lord das Trevas está vindo! Harry Potter, sua morte está próxima! - eu corri para os dois e peguei as varinhas com pressa voltando para o meu lugar rapidamente - Agora, Ciça, acho que devemos amarrar esses heroizinhos outra vez enquanto Greyback cuida da sangue ruim. Tenho certeza que o Lord das Trevas não vai lhe negar a garota, Greyback, depois do que você fez esta noite.
Entretanto, antes que qualquer um de nós pudesse se mover, ouvimos um ranger vindo do alto. Ergui meu olhar a tempo de ver o grande lustre de cristal estremecer e ceder caindo em direção à tia Bella e Hermione. Minha tia correu para outra direção, mas o lustre caiu em cima da garota e seus estilhaços foram para todas as direções inclusive para mim. Senti os cacos de cristais rasgarem meu rosto e sangue começar a jorrar. Cobri meu rosto com as mãos e a dor veio rapidamente, fazendo minha pele reclamar. Ouvi passos e quando vi Potter estava em minha direção, colocando a mão nas varinhas. Nós nos encaramos por alguns segundos e ele puxou com força de meus dedos fracos, tomando as três de minha mão machucada e ensanguentada. Ele apontou todas para o lobisomem e o estuporou com violência. Greyback voou e caiu no chão com um barulho forte, tendo seu corpo arrebentado pelo feitiço e pelos estilhaços do lustre. Mamãe veio em minha direção e me puxou para longe, tentando me afastar da sala, mas seus movimentos pararam e sua varinha foi em direção à porta:
- Dobby? Você! Você fez o lustre cair!
Eu levantei meu olhar e vi o momento em que nosso antigo elfo entrou pelas portas com um olhar determinado.
- Não pode ferir Harry Potter. - ele disse para minha mãe.
- Mate-o, Ciça! - Tia Bella gritou com ódio, mas houve outro estalo e a varinha de mamãe foi para o outro lado da sala - Seu macaquinho imundo! Como ousar tirar a varinha de uma bruxa, como ousa desafiar os seus senhores?
- Dobby não tem senhores! - o pequeno elfo gritou - Dobby é um elfo livre, e Dobby veio salvar Harry Potter e seus amigos!
- Ronny, pegue e… VÁ! - Potter gritou enquanto atirava uma varinha para o amigo e pescava Grampo da armação do lustre. Eles aparataram, mas a faca que tia Bella arremessou foi junto com eles. Eu observava a cena, petrificado enquanto só pensava em uma coisa: nós iríamos morrer assim que Você-Sabe-Quem chegasse a minha casa.

I tried so hard and got so far
But in the end, it doesn't even matter
I had to fall to lose it all
But in the end, it doesn't even matter


RESUMO DO CAPÍTULO PARA QUEM NÃO LEU: A personagem principal é torturada por Jugson, Amico e Aleto enquanto Draco volta para Londres. Por conta da ligação mágica entre eles, o garoto sente todos os efeitos da cruciatus e decide fechar sua mente para que não sentisse mais dor. No meio da sessão de tortura, a principal começa a sofrer um aborto e mesmo assim, os comensais não a socorrem. Ela acaba liberando toda a magia destrutiva que tem em si e machuca gravemente os três até que Snape chega e a impede de mata-los. Enquanto isso, na mansão Malfoy, Draco conta aos pais sobre a gravidez da principal e Lúcio tenta persuadir seu filho a abandonar a namorada. Draco não tem tempo de pensar mais sobre o assunto, pois Harry Potter e seus amigos chegam à mansão após serem capturados pelos sequestradores. Draco fica em um conflito constante entre ajudar seus pais a entregar Potter ou ajudar os rebeldes por conta da namorada. Dobby surge e consegue dar fuga para todos os prisioneiros da mansão Malfoy enquanto Draco e sua família temem a represália de Lord Voldemort que fora convocado por Bellatrix.


Eu serei bom por todos os momentos que eu nunca pude ser

n/a: música do capítulo! Dê play quando ver a notinha!

Eu sempre achara o lustre da sala de visitas bonito. Os cristais brilhavam quando o sol se infiltrava pelas cortinas escuras. Pequenos raios de luz batiam nas paredes púrpuras e iluminavam o quadro de um dos meus antepassados. A lareira em pedra branca esculpida e o fogo crepitando faziam com que eu amasse ficar naquele lugar. Quando era pequeno, ficava sentado aos pés de minha mãe enquanto a via conversar com pessoas influentes que chegavam para o chá da tarde. O assoalho de madeira escura era mascarado pelo tapete preto e eu deitava ali de vez em quando para observar o lustre que se balançava levemente quando as janelas eram abertas e o vento invadia a sala de visitas. O lustre. O lustre que estava em minha família há gerações agora estava quebrado aos nossos pés. Os cristais antigos haviam se espalhado pela sala e um mar de estilhaços escondiam a madeira escura.
Eu ouvia o barulho dos cristais se partindo mais enquanto ele andava em círculos, observando o lugar com Nagini ao seu lado. Eu não me atrevia a levantar a cabeça e encará-lo, tinha medo de que sua raiva fosse direcionada somente a mim, então como bom covarde que era, eu olhava o chão manchado pelo sangue de Hermione que ainda estava fresco. Olhei minhas mãos sujas de sangue e vi estilhaços presos no tecido da minha roupa. Meu rosto continuava ardendo e eu sabia que continuava sangrando, mas não tinha coragem de fazer qualquer movimento. O ar carregava tensão e eu sentia que a qualquer momento iria ser torturado. Greyback estava caído perto da janela, mas nem ele ousava emitir qualquer som. Minha mãe estava parada ao meu lado com meu pai a sua direita e tia Bella estava mais à frente, parada no mesmo lugar de onde ela arremessou o punhal que fora junto com Potter e seus amigos.
- Mestre, eu… - ela começou a dizer, mas foi cortada pela voz dura de Lord Voldemort.
- Calada - ele disse e continuou a pisar nos estilhaços fazendo um barulho irritante - Potter esteve aqui?
- Sim, milorde. - tia Bella respondeu com a voz baixa.
- E como ele escapou?
- Teve ajuda de um elfo doméstico, milorde. - ela respondeu relutante.
- Essa conta não fecha, entende, minha querida, Bella - ele disse e eu notei sua voz mais perto. Levantei o olhar a tempo de vê-lo, segurando no pescoço de titia e a sufocando - EU NÃO ENTENDO COMO VOCÊS PERDERAM PARA UM ELFO!
Lord Voldemort continuou a enfocar tia Bella, tirando seus pés do chão enquanto apertava o pescoço esguio da mulher. Ela tentava se soltar, mas era inútil. Olhei meus pais e eles atônitos, observavam a cena, mas sem coragem de intervir. Quando seu rosto passou do vermelho para o roxo e eu já notava que tia Bella iria sucumbir, Lord Voldemort a soltou, fazendo com que ela caísse em cima dos pedaços de cristais e tendo seu corpo cortado por eles. Ela tossia freneticamente enquanto acariciava o próprio pescoço com a marca perfeita das mãos do mestre. Suor desceu pelas minhas costas, eu respirei fundo e meu estômago revirou de medo.
- Vocês são um bando de incompetentes! - ele gritou enquanto nos olhava - COMO VOCÊS DEIXARAM POTTER ESCAPAR, MALFOY?
- Eu… Eu sinto muito, mestre - meu pai respondeu acuado - Nós tínhamos controle da situação. Não apenas conseguimos Potter, mas os dois jovens que andam com ele. Tudo estava certo se não fosse…
- UM ELFO! - Lord gritou e riu amargo - Os elfos são mais nojentos que nascidos-trouxas, Malfoy. Nós esmagamos elfos com a sola dos nossos sapatos e vocês foram derrotados por um deles.
Nenhum de nós falou, o único barulho continuava a ser de tia Bella se debatendo em busca de ar no tapete. O Lord nos olhou e com um agito de sua varinha, nos colocou ajoelhados. Meus joelhos ardiam por causa dos estilhaços, mas eu não expressei nenhuma emoção. Meu coração batia acelerado e antes que eu pudesse ficar nervoso, a dor veio de encontro a mim e eu arfei, sentindo minhas pernas falharem. Todo o meu corpo doía e eu olhei para o lado só para ver meus pais e minha tia suprimindo os gritos de dor que eles também sentiam. O rosto de minha mãe se contorcia, mas o primeiro que cedeu foi meu pai que caiu com o rosto no chão. Meu pai, aquele que sempre havia sido o exemplo de força e superioridade, estava prostrado aos pés de Lord Voldemort gritando. Eu estava suportando a tortura melhor que ele e o mestre não deixou de reparar nisso. Caminhou até mim e parou a tortura somente para apontar a varinha em meu pescoço. Minha mãe deu um grito de horror ao meu lado e eu notei que seus olhos tinham lágrimas.
- Eu deveria puni-los acabando com a família Malfoy aqui e agora - ele disse e eu vi raiva em seu olhar. Ele iria fazer isso. - Eu deveria arrancar do chão essa árvore podre que não me serve para nada.
- Por favor, milorde - minha mãe disse com a voz embargada - Não faça isso.
- Cale a boca, Narcisa - ele brigou e minha mãe obedeceu. Voldemort me encarava com fúria - Vocês são fracos, frouxos. Não merecem estar ao meu lado.
- Lord, eu sei o quão grave foi nosso erro - meu pai disse enquanto a varinha continuava em meu pescoço - Eu peço perdão por tudo que causamos. Peço perdão pela falha neste dia e por termos deixado Potter escapar. Eu me comprometo a caçar Potter com mais afinco e...
- Gosta de ouvir teu pai implorando, Draco? - Voldemort disse com um sorriso ignorando totalmente as promessas de meu pai - Eu sei o quão orgulhoso você é, aposto que está querendo me assassinar nesse momento.
- Nunca, milorde - eu respondi com dificuldade - Nós cometemos erros hoje.
- Ainda bem que eu venho te punindo há bastante tempo, Draco - ele disse de repente e eu fiquei assustado - Ora, você nunca imaginou que fosse eu?
- Eu não tenho ideia do que o senhor está falando, milorde. - eu respondi com sinceridade, mas apavorado pela resposta.
- Todo o inferno que tua namoradinha está passando naquele castelo - ele sorriu sádico - Foi eu que ordenei. Você acha que eu não sei quem ela é? Eu quero quebrá-la, fazê-la te odiar e te culpar por tudo! Eu quero matá-la aos poucos!
Eu não respondi nada, mas meu sangue ferveu e naquele momento foi o mais perto que eu cheguei de atentar contra Voldemort. Minhas mãos se fecharam em punhos e meu olhar se endureceu. O ódio mais puro e genuíno invadiu meu coração e eu tive que usar todo o meu autocontrole para não acertá-lo. Era por causa dele que a vida de estava um inferno. Ele queria me machucar, me subjugar, atacando aquilo de mais precioso que eu tinha.
- Eu tenho invadido a mente dela, atormentado a garota com sonhos horripilantes - Lord Voldemort disse - Fazendo de sua existência miserável.
- Por que? - eu perguntei e ele riu.
- Porque eu posso, porque eu quero - ele disse antes de completar - Mas o mais importante é para te ferir e te punir por todos os erros que sua família vem cometendo desde que retornei. Quero fazê-lo entender que é apenas um servo, um nada. Eu controlo TUDO!
E quando terminou de falar, fez algo que eu nunca imaginei que faria. Não porque eu esperava qualquer tipo de pena vindo do mestre, mas sim porque nunca achei que ele seria capaz de usar tais métodos para me machucar. Voldemort agarrou meu cabelo e me empurrou para baixo, fazendo meu rosto bater com força no assoalho. Senti o osso do meu nariz quebrar e ouvi minha mãe gritando ao meu lado. Meus olhos se encheram de lágrimas e sangue descia como cascata das minhas narinas. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, Voldemort deu um chute em minhas costelas e eu arfei, sentindo mais dor. Quando eu não achava que podia piorar, ele voltou a me torturar com a cruciatus. Eu não consegui mais segurar e gritei. Meus gritos se confundiam com os gritos de Hermione e de , a memória das duas garotas se debatendo no chão a minha frente não desgrudavam das minhas pálpebras e a dor era tanta que eu não conseguia mais distinguir onde eu estava ou até mesmo quem estava me torturando. O presente se tornou um borrão e a dor era a única coisa que eu tinha. Minha cabeça queimava, meu corpo parecia ser atingido por punhais e lágrimas saíam dos meus olhos. Meu corpo estava entrando em colapso, eu sentia cada órgão em pane e meu coração estava ao ponto de parar.
Minha mãe não continha seus gritos e foi com eles que eu apaguei. Quando abri os olhos novamente, havia um zumbido em meus ouvidos. Olhei para o lado e vi minha família caída no chão. Minha mãe estava desmaiada e sangue saía de vários cortes em suas mãos e rosto. Meu pai cuspiu sangue ao seu lado e tia Bella estava sentada com o rosto dilacerado.
- Pai? - eu chamei baixo e ele me olhou, notei seu olho inchado como se tivesse levado um soco - O que aconteceu?
- Ele já se foi - foi somente o que meu pai disse - Como você está?
- Com dor - respondi - Mamãe?
- Ela está desacordada, mas iremos chamar curandeiros imediatamente. - ele respondeu.
- Tia Bella? - eu a chamei, mas ela não me respondeu. Sentei no chão com dificuldade e tentei me levantar, mas notei minhas pernas fracas.
- Ele me machucou - tia Bella disse de repente - Ele… Ele me machucou. Eu sou uma serva fiel. Eu sou fiel ao mestre e ele me machucou.
- Como se ele se importasse com qualquer pessoa, tia Bella - eu reclamei e consegui me levantar - Eu tenho que ir, pai.
- O que? Você tem que ser visto por um curandeiro! - meu pai reclamou, mas voltou sua atenção para minha mãe - Ciça, querida.
Eu não queria ficar naquele lugar. Todo o tempo perdido naquela casa só me afastava mais e mais do meu objetivo de voltar para Hogwarts. Eu me sentia exausto, mas não podia parar. Precisava partir imediatamente. Minha mãe foi acordando aos poucos e foi levantada por mim e por papai. Sua expressão era repleta de dor e ela estava fraca. Eu segurei em sua cintura e a conduzi até uma das poltronas, deixando-a repousar ali. Tia Bella continuava estática no chão, como se não acreditasse em tudo o que havia acontecido naquele lugar.
Depois da fuga de Potter, eu sabia que nossa família tinha caído em descrédito totalmente. Se antes não tínhamos prestígio nenhum no círculo interno do mestre, depois do fracasso daquele feriado, podíamos esquecer qualquer glória. Eu sabia que nosso orgulho como a família Malfoy havia sido destruído e era exatamente isso que o mestre queria. Ver meu pai sucumbindo e minha mãe implorando tinha sido um golpe fatal. Não éramos melhores do que qualquer sequestrador de bruxos que vinha até nós. Lord Voldemort havia nos quebrado definitivamente e eu estava cansado de tudo aquilo. Não queria mais nada que provinha da humilhação.
- Eu tenho que ir - disse simplesmente e comecei a caminhar com dor até a sala com a lareira ligada à rede de Flu - Não posso perder nem mais um minuto aqui.
- Nós temos que ficar juntos, Draco - meu pai disse - Nós cometemos um erro e agora precisamos pensar como família em como resolver…
- O que? Não acredito que você está tentando justificar toda essa atrocidade que vivemos! - eu respondi perplexo - Não tem cabimento para o que ele fez! Eu já estou cansado!
- Não ouse se indispor com o mestre, Draco! - meu pai gritou - Nós temos que servi-lo e…
- Será que você pode, por um minuto, admitir que também não aguenta mais isso? - eu disse com raiva - Eu não suporto mais essa situação! Somos torturados em nossa própria casa! O que a família Malfoy se tornou além de cachorros lambendo a mão de um mestre que nos espanca?
- Você está insinuando que não sei conduzir nossa família, Draco? - meu pai perguntou e eu notei raiva em sua voz - O que você sabe sobre a vida, moleque? Eu tomei as decisões certas para perpetuar nossa supremacia em relação às outras famílias bruxas! Nós estamos do lado vencedor por minha causa!
- Lado vencedor, pai - eu disse com a voz embargada - Olhe para mamãe, olhe para mim, olhe para si mesmo e até para tia Bella! Estamos mesmo do lado vencedor? Porque só o que eu tive até agora foram perdas.
Meu pai engasgou com suas palavras e abaixou a cabeça sem saber o que dizer. Minha mãe levantou seu olhar para mim e eu vi que ela também não aguentava mais. Eu suspirei e quando fui pegar minha varinha para dar um jeito em meu nariz, me lembrei de que Potter tinha a levado embora. Desespero bateu em meu coração e eu arfei, como eu iria fazer sem minha varinha? Não tinha o dom de de executar feitiços sem ela.
- Potter levou minha varinha - eu disse e bufei irritado - Merda!
- Fique com a minha, filho - minha mãe disse e a tirou das vestes, entregando para mim - Eu vou com você até a lareira.
- Narcisa, você não… - meu pai ia dizendo, mas parou ao ver que minha mãe já estava caminhando para o meu lado.
Mamãe curou meu nariz e minhas costelas, mas me fez prometer que iria conversar com madame Pomfrey só para garantir. Eu prometi e quando chegamos à sala com a lareira da rede de Flu, notei seus olhos se enchendo de lágrimas. Mamãe me puxou para um abraço e repousou a cabeça em meu peito enquanto chorava silenciosamente. Ela não iria chorar alto, gritar ou se desesperar. Derramar aquelas poucas lágrimas era o máximo de vulnerabilidade que eu veria dela, por isso continuei ali até que ela se acalmasse. Quando seu choro se tornou menor, mamãe levantou a cabeça e me olhou, fazendo um carinho leve em meu rosto machucado.
- Eu sinto muito por tudo isso, meu filho - ela disse - Eu sinto muito por tudo o que estamos passando.
- Eu sei, mamãe - respondi e segurei em sua mão - Eu também sinto.
- Eu espero que você cumpra seus planos - ela disse simplesmente - Você merece a chance de sair disso. Seu pai e eu nos vendemos há muito tempo, mas você só entrou nisso por um erro de Lúcio. precisa de você e bom, meu neto também.
- Ela acha que é uma menina - eu disse com um pequeno sorriso - Bem, na verdade, ela imagina uma menina toda vez que pensa sobre isso.
- Ela está de quantas semanas? - mamãe perguntou.
- Se nossas contas estiverem certas, na décima - eu respondi - Eu preciso ir até .
- Cuide dela, filho - mamãe disse por fim - Apesar de eu não gostar dela e do que a garota representa, eu sei que ela é importante para você.
- Eu vou cuidar. - respondi e a abracei mais uma vez. Eu joguei o pó de Flu no fogo e gritei “Hogwarts” sumindo pelas lareiras. Sentia a fuligem impregnando minhas narinas, mas antes que ficasse mais difícil de respirar, meu corpo foi lançado para frente e eu caí no chão de pedra. Meus joelhos bateram com força e uma dor horrível apareceu, mas eu não tinha tempo para isso. Fiquei em pé e limpei minhas roupas, notando que cacos de cristais caíram delas. Levantei meu olhar e professor Slughorn estava em pé com um olhar aflito.
- O que aconteceu, Malfoy? - ele perguntou.
- Nada que possa interessá-lo - eu respondi e comecei a andar - Obrigada pela ajuda.
- Você é meu aluno, filho - o senhor respondeu - Sempre irei ajudar você. A senhorita está na enfermaria.
- Como ela está? - eu parei meus movimentos e olhei para o senhor em minha frente. Sua expressão era dolorosa e eu já senti que nada estava bem.
- É melhor você ir logo. - foi apenas o que ele disse, então eu saí correndo em direção a Ala Hospitalar.
Meu corpo doía muito por conta do esforço que eu fazia, mas eu não podia diminuir o ritmo. Precisava chegar rápido até . Subi todos os andares e vi que a porta de carvalho da enfermaria estava fechada por conta do horário. Esmurrei a porta com violência e depois de longos minutos - que pareceram horas - madame Pomfrey apareceu vestida em seu robe.
- Senhor Malfoy? - ela disse confusa - O que faz aqui?
- Vim ver . - eu respondi.
- Agora não é o horário de visitas - ela respondeu, mas ao ver minha angústia, suspirou - Tudo bem, ela precisa de companhia.
A pequena senhora abriu a porta mais um pouco e eu passei como uma flecha, mas assim que entrei eu travei. Medo do que eu veria invadiu minha mente e a urgência de antes se dissipou. E se ela estivesse morrendo ou até morta? A coragem me faltou e eu notei que minha boca estava seca. Dei um suspiro e tive que me acalmar antes de agir, mas madame Pomfrey parou ao meu lado e pegou em meu ombro.
- O quão mal ela está? - eu perguntei sem olhá-la.
- Muito - ela respondeu - Se não fosse por Snape e Slughorn, não conseguiríamos salvá-la.
- O que aconteceu? - eu perguntei.
- Amico, Aleto e Jugson a torturaram - a curandeira falou - Snape a encontrou prestes a matar os três, mas ela estava à beira da morte. Se tivesse conseguido matá-los, provavelmente teria morrido também, pois seu corpo estava no limite.
- Filhos da puta. - eu resmunguei baixo e a olhei - Eu deveria ter ficado, fui burro em achar que não seria uma armadilha.
- Eu sinto muito, senhor Malfoy - madame Pomfrey disse e notei tristeza em seu olhar - está estabilizada, cuidamos de suas feridas, mas não temos como saber qual a extensão dos danos no cérebro causado pela cruciatus. Ainda há resquícios da maldição em seu corpo, então de vez em quando ela tem se debatido ainda sentindo dor. Se ela não acordar em alguns dias, teremos que removê-la para o St. Mungus.
- Por Merlim. - eu disse sentindo lágrimas em meus olhos.
- Senhor Malfoy, eu sinto muito em te perguntar isso, mas… - ela deu uma pausa antes de dizer - O senhor sabia que ela estava grávida?
- Sim - eu respondi e antes dela dizer eu já sabia - Ela perdeu o bebê, não é?
- Eu sinto muito, senhor - ela disse e naquele momento eu não consegui segurar o choro. Tive que sentar em uma cadeira que havia por perto - Ela já chegou aqui no meio do processo abortivo. Não havia nada que pudéssemos fazer.

n/a: dê play na música e deixe tocando até a cena acabar!

O chão em meus pés parecia ter sumido naquele momento e era como se eu estivesse me afogando. Eu queria chorar, mas não o faria na frente de alguém. A curandeira tinha lágrimas em seus olhos e soltou um suspiro sofrido. Todo o receio de ver foi embora e daquela vez, não fui um covarde. Madame Pomfrey me indicou o leito que estava e eu caminhei até lá. As cortinas estavam fechadas e eu as empurrei para o lado depois de respirar fundo. Minhas pernas falharam e o choro contido saiu em um soluço. estava sem cor nenhuma. Pálida como um fantasma e parecia tão pequena naquela cama. Seus cabelos longos estavam trançados e penteados. Seu rosto estava com diversos ferimentos em processo de cura, mas seus lábios estavam pálidos e parecia que estava morta se não fosse pela sua respiração baixa. Eu me aproximei devagar e peguei em sua mão que estava gelada. Mãos e pés estavam amarrados por pedaços de seda e eu entendi que ela ao se debater, estava se machucando. O que eu tinha feito?

I never meant to start a fire (eu nunca quis iniciar um incêndio)
I never meant to make you bleed (eu nunca quis te fazer sangrar)

Minhas lágrimas caiam fazendo os machucados do meu rosto arderem, mas eu não conseguia parar de chorar. Mais uma vez, estava num leito de hospital porque eu não fui capaz de protegê-la. Eu tinha falhado com ela de novo e a culpa apertava minha garganta com força. Eu puxei uma cadeira e me sentei, voltando a segurar em sua mão, tentando de algum modo fazê-la um carinho.
- Eu sinto muito, amor - eu disse em meio ao choro - Eu falhei com você mais uma vez.
não iria me ouvir. Talvez nunca mais voltasse a fazer isso ou qualquer outra coisa. O medo da mulher nunca mais voltar se abateu sobre mim e eu não conseguia parar de chorar. Meu choro se tornou alto e quando me dei conta eu estava com a cabeça enterrada no colchão de enquanto segurava sua mão. Eu era um estúpido, um moleque imaturo. Na minha ânsia de ser perfeito, eu não notei detalhe nenhum. Estava tão cego para mostrar eficiência que ignorei sinais claros de que tudo não passava de uma armadilha. tinha me pedido para ficar, mas eu a deixei. Ela estava naquele estado porque eu não a ouvi. Ela havia me dito que tinha um pressentimento ruim e eu ignorei, achando que eram suas emoções falando alto demais. Beijei sua mão e pedi desculpas mais uma vez, numa tentativa tola de me ouvir. Entretanto, eu sabia que ela não podia.
- Eu sinto tanto, - eu disse - Eu sinto muito por tudo, por termos perdido nosso bebê, por você estar nesse estado… Eu, eu te peço perdão.
Continuei segurando em sua mão e beijei cada um dos nós de seus dedos como eu sempre fazia, mas daquela vez, não esboçou nenhuma reação. O prazo de madame Pomfrey martelava em minha cabeça e a perspectiva de minha namorada nunca mais abrir os olhos parecia real demais para que eu conseguisse ao menos respirar com propriedade. Ar faltou em meus pulmões e eu solucei alto, sentindo o peso das minhas ações comprimindo meu corpo. Eu era responsável por tudo aquilo. Eu ignorei os sinais. Eu havia causado a ruína de . Ela havia perdido tanta coisa por causa de mim e da minha teimosia.
A cortina se abriu e madame Pomfrey apareceu com uma bandeja com um bule de chá e algumas bolachas, além de uma coberta, tudo isso levitando atrás dela. Eu dei um pequeno sorriso e a xícara veio em minha direção. Dei um gole sentindo o gosto de maçã e me senti mais quente. Somente naquele momento eu percebi que estava com fome e cansado.
- Obrigada, madame Pomfrey. - eu respondi.
- Você está machucado também - ela disse - Não quer ajuda com isso?
- Seria ótimo, na verdade - respondi - Acabei me metendo em encrenca para conseguir volta hoje mesmo. Onde estão os comensais?
- Snape achou melhor transferi-los para o St. Mungus por medo de represálias já que eles vão se recuperar antes dela - a senhora respondeu e eu assenti, não conseguindo deixar de ficar surpreso pelas atitudes de Snape.
A curandeira me ajudou com os machucados espalhados pelo meu rosto e me deu uma poção revigorante para que eu melhorasse sem perguntar nada para o meu completo alívio. Madame Pomfrey se despediu e eu me vi no silêncio. A luz estava apagada e somente uma lamparina estava acesa. Tomei o chá calmamente por conta da temperatura e me senti melhor por conta da poção. Os machucados não doíam mais e eu sabia que cicatrizes daquele dia ficariam para sempre em meu corpo e alma.
Eu sabia que madame Pomfrey odiava comensais, mas mesmo assim, ela havia me ajudado e sido gentil. Atitudes como essas faziam com que o processo de repensar todas as minhas certezas ficasse ainda mais forte. Dumbledore, madame Pomfrey, os pais de … Todos haviam me tratado com compaixão e misericórdias enquanto aqueles que estavam ao meu lado, me atacaram dentro da minha casa, tentaram matar minha namorada e haviam torturado a mim e a minha família. Todas as coisas ruins que eu havia feito, todas as torturas, toda a dor que eu havia ajudado a infligir, todas as mortes que eu apoiei, tudo voltava para mim naquele momento. Quantos familiares eu não havia deixado naquele mesmo estado em que eu estava? Velando alguém que poderia nunca mais abrir os olhos? Quantas famílias eu não ajudei a torturar? Quantas mortes estavam em minha conta? O peso de todas essas ações era demais para mim e eu me vi tremendo sentado naquela cadeira. Arrependimento se instalou em minhas veias e eu só queria voltar no tempo e evitar que tudo isso acontecesse.

Grace is just weakness or so I've been told (graça é apenas fraqueza ou foi isso que me disseram)
I've been cold, I've been merciless (eu tenho sido frio, tenho sido impiedoso)
But the blood on my hands scares me to death (mas o sangue em minhas mãos, me assusta até a morte)
Maybe I'm waking up today (talvez eu esteja acordando hoje)

Olhei para e observei sua respiração fraca. Ela não podia mais passar por isso. Olhando a garota desmaiada naquele leito, eu só pensava em como a vida dela tinha sido estragada por minha causa. Desde o momento inicial, ela tinha sido prejudicada por causa de mim. jamais iria admitir, mas havia sacrificado muito para estar comigo e daquela vez, nosso bebê havia sido o preço e por pouco, não fora sua vida. Uma memória me atingiu e eu senti ódio de mim mesmo. O quarto de apareceu em minha frente e eu me vi implorando para ela não me deixar e voltar para Hogwarts depois das férias de dezembro.
Eu deveria ter deixado ir. Ela estaria segura. Nada de ruim estaria acontecendo com ela, se eu não tivesse sido o moleque mimado que eu era. Eu deveria ter sido responsável. Mais uma falha com . Eu só a prejudicava e chegar nessa conclusão era como mais uma sessão de tortura. Era duro admitir, mas eu não fazia bem para ela. Nunca fiz. precisava ficar longe de mim para conseguir sobreviver. Segurei em sua mão e meus olhos se encheram de lágrimas ao entender que tudo aquilo era minha culpa e unicamente minha. Ela precisava ficar longe de mim para ao menos ter chance de sobreviver. Eu havia prometido uma vez que fazer viver seria a missão da minha vida e eu já tinha falhado inúmeras vezes. Entretanto, daquela vez seria diferente. Eu me recusava a falhar. Um plano se delineava em minha frente e eu sabia que teria que agir assim que acordasse. Se ela acordasse.

Yeah, I'll be good, I'll be good (sim, eu serei bom, eu serei bom)
For all of the times I never could (por todas as vezes que eu nunca pude ser)

A manhã finalmente veio e meu corpo estava dolorido por ter dormido a noite toda em uma cadeira. não tinha se debatido a noite, mas eu sabia que isso poderia acontecer. A cortina foi aberta e madame Pomfrey entrou com uma bandeja. Ela me olhou e deu um pequeno sorriso.
- Bom dia, senhor Malfoy - ela disse e se aproximou de . Colocou a varinha no coração da garota e a pulsão dela preencheu o ambiente. Estava fraca, mas regular - Ainda está muito fraca. Como ela passou a noite?
- Não se debateu - eu disse e me levantei, esticando meu corpo e sentindo minhas costas doerem - Isso é bom, certo?
- É sim - a curandeira disse e eu notei a mulher abrindo os olhos de e jogando um faixo de luz em cada pupila - A pupila contraiu. Isso é muito bom.
- O que significa? - eu perguntei.
- Os danos podem estar se revertendo - ela explicou - É difícil saber muita coisa, mas estou administrando poções e feitiços que ajudam. Por que você não vai tomar um banho, tomar café e depois volta? Os amigos de daqui a pouco vão aparecer.
- Como você sabe? - eu perguntei.
- Porque eles nunca deixam de visitar um deles quando estão aqui - ela explicou com um sorriso no rosto enquanto preparava uma seringa de ferro com uma ampola de poção e limpava o braço de com a varinha - Você precisa descansar, senhor Malfoy.
A necessidade de descanso pareceu triplicar depois que madame Pomfrey disse em voz alta e eu aceitei, sabendo que não ficaria sozinha. Dei uma última olhada em que continuava do mesmo jeito e saí de perto, cruzando com o professor Flitwick que entrava na Ala Hospitalar no mesmo instante. Ele apenas me cumprimentou e caminhou para o leito de , provavelmente sendo o responsável pelos feitiços que madame Pomfrey precisava. Fechei a porta pesada de madeira e caminhei devagar para a Sonserina, sentindo a noite mal dormida em cada pedaço de meu corpo. Eu precisava dormir, comer e descansar, mas a ansiedade de voltar para junto de fez com que eu não conseguisse fazer nada disso de um modo proveitoso. Eu só queria estar lá quando a garota acordasse, o que não aconteceu naquele dia. E nem nos outros.
Uma semana havia se passado e continuava desacordada. Ela estava emagrecendo cada vez mais e eu já conseguia enxergar os ossos de sua clavícula com perfeição. Ela ainda não tinha sido transferida para o St. Mungus porque Snape tinha proibido e eu havia sido expulso de sua sala depois de ter ido até confrontá-lo sobre isso. Então, agora eu era proibido de sequer me aproximar da sala do diretor e estava sentado na cadeira ao lado de .
Madame Pomfrey havia vestido a garota com uma camisola própria de hospital e uma poção descia para sua veia através de uma agulha enfiada em seu braço. Eu suspirei e tentei me concentrar no livro de poções para a aula daquela tarde, mas não conseguia tirar meu olhar dela. Dias antes eu havia mandado uma carta para seus pais contando sobre tudo o que havia acontecido e não havia tido uma resposta. Também havia contado para mamãe que havia perdido o bebê e estava quase morrendo e recebi apenas um “sinto muito”. Fui tirado de meus pensamentos com se debatendo mais uma vez. Suas mãos e pés continuavam amarrados, mas eu havia aprendido a virá-la de lado e abrir sua boca para impedir que a garota mordesse a própria língua. Madame Pomfrey havia me dito que enquanto ela continuasse a se debater, nós devíamos entender que ela ainda sofria os efeitos da cruciatus e era muito preocupante que depois de uma semana, ela ainda estivesse passando por isso.
Madame Pomfrey apareceu em seguida e me ajudou a segurar que se debatia muito, como se tentasse expulsar a cruciatus de si mesma. Meus olhos se encheram de lágrimas, mas eu fui firme e segurei em seu corpo frágil até que a crise passou e ela voltou ao seu estado anterior. Apenas uma respiração fraca em cima de uma cama. Olhei para a senhora em minha frente e ela suspirou, observando como se tentasse entender o que estava acontecendo.
- Já que Snape não permite que eu a transfira, eu terei que chamar os curandeiros - ela disse e me olhou - Senhor Malfoy, não saia daqui, ouviu? Eu vou falar com Snape.
Eu assenti e voltei para o meu lugar, limpando os lábios de que estavam sujos de saliva. Era triste vê-la naquelas condições. Ter a lembrança de bem e me deparar com seu estado atual doía mais que qualquer coisa. Beijei sua mão com carinho e sussurrei:
- , você precisa acordar.
Voltei sua mão para o lugar e ajeitei seu cabelo que estava bagunçado. Retornei para os meus estudos e assim passei aquela tarde, somente auxiliando madame Pomfrey com seus cuidados. Ela tinha autorizado que eu dormisse ali e havia me cedido uma cama que ficava ao lado da cama de e por incrível que pareça, Snape não se opôs. Eu não perdia minhas aulas, mas voltava correndo para a Ala Hospitalar com medo de perder qualquer melhora. Quando cheguei em seu leito no horário de almoço, encontrei Grings e Longbottom sentados em sua cama enquanto conversavam. Eles pararam de falar no segundo que notaram a minha presença e eu pulei formalidades para perguntar:
- Alguma melhora?
- Nada por enquanto - Grings respondeu sem me olhar - Madame Pomfrey disse que os curandeiros vão chegar amanhã.
- Isso é muito bom - eu respondi aliviado e fui até segurando em sua mão enquanto a olhava. Eu beijei o nó de seus dedos e senti a conhecida angústia vir até mim.
- Eu sinto muito, Malfoy - Grings disse de repente e eu o olhei enquanto continuava parado ao lado de - Por tudo, por e pelo bebê. Nós não sabíamos de nada. Achamos que ela tinha se isolado porque estava triste com a sua partida.
- Sim, nós só desconfiamos que algo estava errado quando se aproximou o horário do jantar e não apareceu - Longbottom disse - Nós a procuramos pelo castelo e só ficamos sabendo porque vimos uma movimentação estranha vindo da sala do Carrow.
- Eu queria ter feito mais - Grings confessou e eu notei seus olhos cheios de lágrimas - Estava bravo demais para sequer esperar por ela.
Eu não respondi, pois não senti que aquilo tinha vindo apenas de uma amizade. Nathan tinha uma tristeza em seus ombros e olhava com uma dor genuína. Um incômodo começou a se instalar em meu peito e eu desviei o olhar para novamente, vendo a garota do mesmo jeito que eu a tinha deixado naquela manhã.
- Eu não consigo imaginar pelo que você está passando - ele voltou a dizer como se tentasse disfarçar sua vulnerabilidade anterior - Mas sei que vai melhorar. Ela é forte.
- Mais forte do que nós três juntos - Longbottom disse fazendo o outro dar risada, eu apenas continuei em silêncio - Nós podemos ficar aqui para você ir comer alguma coisa.
- Não será necessário - eu apenas respondi - Vocês podem ir se quiserem.
- Vamos ficar, se você não se importar. - Longbottom disse e eu apenas arrastei uma cadeira e me sentei.
- Tanto faz. - eu respondi um pouco contrariado e tirei um pergaminho da bolsa para finalizar meu dever de arte das trevas.
Os dois grifinórios ficaram sentados aos pés de enquanto conversavam baixo com ela como se a garota pudesse ouvir. Eu tentava me concentrar, mas era inevitável não ouvir o que os dois falavam. Era apenas uma atualização das atividades no castelo e eles faziam piadas como se ela tivesse falado alguma coisa. Apesar de eu detestar os dois com todas as minhas forças, eu sabia que os amava sinceramente e eu deveria me comportar por ela. Era interessante ver que os garotos também se importavam assim como eu e eu sabia que a presença deles poderia ajudar. Os dois foram embora quando o sinal bateu e eu também tive que me retirar para as minhas aulas da tarde.
- Eu volto mais tarde, tudo bem? - eu disse para e beijei sua testa com carinho - Eu te amo.
Eu voltei depois do jantar e trouxe mais algumas coisas para fazer enquanto a noite se instalava do lado de fora da janela. Outros estudantes estavam internados na Ala Hospitalar junto com e no horário de visitas, eu não poderia fazer outra coisa a não ser conversar com por conta do barulho. Sentei ao seu lado e notei que madame Pomfrey tinha lavado os cabelos da garota, pois eles estavam emanando um cheiro doce que eu não conhecia. Ela emagrecia cada dia mais, seus braços já estavam começando a ficar finos e o osso de sua bacia já se tornava protuberante. O medo apertou meu peito e eu só via minhas esperanças indo embora um pouco a cada dia. Ela tinha que acordar, não podia me deixar sozinho.
- , por favor - eu pedi pela milésima vez - Acorde. Eu… Nós temos planos, lembra? Precisamos cumpri-lo.
Nenhuma reação. Nem ao menos um mexer nas pálpebras ou um aperto fraco em minha mão. Nada. Beijei seu pulso e acariciei a região, suspirando enquanto encarava seu rosto. Minha cabeça viajou por todos os momentos em que eu testemunhei ser uma força da natureza, um tornado que derrubava tudo ao seu redor ou uma tempestade que inundava o ambiente. Lembrar de como ela havia me defendido por tantas vezes ou brigado comigo com afinco era um murro em meu estômago. Eu queria brava comigo, irada com o mundo e não inerte em uma cama de hospital. Vê-la daquele jeito era desolador e me quebrava por dentro. Tudo ao meu redor estava desmoronando e eu não conseguia ver perspectiva nenhuma de melhora. Eu já não sabia quem eu era, eu já não sabia o que eu tinha ou qual seria meu futuro. Eu havia depositado todas as minhas fichas no plano de fugir com para cuidar do nosso bebê e agora tudo estava perdido. Nosso bebê não tivera nem a chance de desenvolver sequer um sistema nervoso completo. Nem ao menos pudemos fantasiar com nomes. Tudo havia sido nos tirado da forma mais desumana e cruel que era possível. Eu ainda não sabia o que havia acontecido naquela sessão de tortura, mas tinha a consciência de que não estava preparado para ouvir. Fui tirado dos meus pensamentos quando o barulho de passos aumentou e eu apenas fiquei em pé com minha varinha em mão, pronto para qualquer coisa.
A cortina foi empurrada para o lado e Snape estava ali com sua típica expressão de que havia algo podre embaixo de seu nariz. Ele me olhou com certo desprezo antes de falar:
- Quando madame Pomfrey me disse que você não saía de perto dela, não achei que seria tão literal.
- O que está fazendo aqui, Snape? - eu perguntei e guardei minha varinha.
- Vim ver como está - ele respondeu - Os curandeiros chegarão amanhã cedo.
- Por que toda essa preocupação agora? - eu perguntei - Pra que tudo isso sendo que eu sei que o mestre está por trás de tudo isso?
- Porque , apesar de todos os atos de rebeldia que cometeu dentro do castelo - ele respondeu - Continua sendo uma aluna de Hogwarts e merece o tratamento adequado.
- Então por que não permitiu que ela fosse transferida para o St. Mungus? - eu voltei a perguntar e notei Snape bufando irritado - Ora, mas é claro! Se sair do castelo, a Ordem da Fênix pode tentar resgatá-la ou se as pessoas souberem que uma aluna está à beira da morte em Hogwarts, o Ministério estará em maus lençóis, não é, Snape? O que vai fazer se ela morrer? Jogar o corpo dela no Lago Negro?
- Apesar de ser um comensal, você continua sendo um aluno, Malfoy - Snape alertou - E eu posso te proibir de colocar os pés neste andar, então tome cuidado com suas palavras!
- Você não ousaria - eu ameacei com raiva em minha voz - Você não faria isso!
- Ah, não? - Snape disse - Eu já estou fazendo muito mais do que eu deveria, Malfoy! Deveria mandá-la para Azkaban e deixar os dementadores terminarem com o serviço porco que os Carrow fizeram! Então, se contenha e não interfira em meu trabalho!
Eu me calei com suas palavras e recuei. Snape realmente estava fazendo muito mais do que qualquer comensal faria por uma inimiga. O diretor também não disse mais nada, somente caminhou até madame Pomfrey e recolheu um pergaminho, saindo do hospital logo depois. Eu me sentei tremendo de raiva, mas não conseguia parar de pensar que Snape estava tentando ajudar . Ele havia resgatado minha namorada e junto com Slughorn feito os primeiros socorros. Por quê? O que havia por trás de suas ações e o que havia naquela mente perturbada? Eu não conseguia entender o diretor há muito tempo, mas aquilo havia sido demais. Havia alguma coisa por trás, talvez o fato de ser uma Dumbledore? Mas se fosse isso, então Snape não era tão leal ao mestre assim. Snape teria um próprio plano com tudo isso? Eram tantas perguntas e eu me sentia cansado só de sequer tentar responder qualquer uma delas. Entretanto, nada me tirava da cabeça que Snape tinha um objetivo por trás de tudo aquilo e que ele jamais teria compaixão a troco de nada. Ele jamais iria ajudar sem ter um plano mirabolante por trás. Voltei aos meus estudos tentando inutilmente me concentrar neles, mas o cansaço falou mais alto, então me joguei na cama ao lado, tentando descansar um pouco que fosse, mas pela primeira vez desde que tudo aconteceu eu sonhei.
Eu estava novamente na sala de visitas de minha casa. O lustre estava lá, mas inteiro. Eu entrava pela porta principal e encontrava o ambiente vazio. Usava um terno preto parecido com os que meu pai tinha e o anel Malfoy estava em meu dedo junto com uma aliança dourada. Eu caminhava confiante pela sala, mas fui parado por entrando pela porta que dava acesso ao resto da casa. Ela parecia a mesma e estava bem, mas tinha uma expressão assustada. Usava um vestido longo vermelho e uma aliança parecida com a minha em seu dedo.
- Draco! - ela disse e segurou em meus braços - Não consigo achar Agnes!
- Como assim? - eu perguntei.
- Eu a deixei por uns minutos em seu quarto e quando fui buscá-la para esperar você, eu não a encontrei! Já procurei por todos os lugares!
- Calma, - eu disse e segurei em seu rosto - Nós vamos achá-la!
- Eu pedi para ela ficar no quarto, Draco - disse e caminhou em minha frente com rapidez - Eu pedi.
- Crianças fazem isso, - eu disse - Já tentou usar o Revelium?
- Sim, mas parece que ela não está aqui! - disse e de repente, seus movimentos pararam - Eu te pedi para ficar, por que você teve que sair? Nós perdemos Agnes porque você não estava aqui!
Eu também parei de andar e assisti se virar para me olhar, mas agora ela estava usando o uniforme de Hogwarts. Suas vestes estavam sujas de sangue e seu rosto machucado. A garota chorava muito e eu ouvi o lustre se espatifando na sala de visitas. Nagini apareceu e começou a se enrolar em volta de , subindo por suas pernas.
- Você não estava aqui, Draco - disse enquanto Nagini subia e se enrolava em seu pescoço - Perdemos Agnes porque você não ficou.
- Eu sinto muito - disse e procurei minha varinha, mas ela tinha sumido - Saia, Nagini!
A cobra começou a enforcar e eu avancei para tentar impedir, mas assim que eu fiz isso, e a cobra desapareceram e havia somente sangue no chão de madeira. Ouvi um grito ao longe e notei que vinha do segundo andar. Corri para a escada, mas quando fiz isso, caí. Eu tentava subir a escada, mas não conseguia. apareceu no pé da escada novamente e continuava a chorar, mas daquela vez carregava um emaranhado de panos nos braços. Ela me olhou antes de caminhar até o pé da escada e chacoalhar uma coberta vazia.
- Perdemos Agnes - ela continuava a dizer e daquela vez, abraçou a pequena coberta - Não… Agnes não está aqui. Eu não consigo encontrá-la, Draco! Por que eu não consigo encontrá-la? Eu cuidei dela!
- Eu sei, - respondi enquanto chorava e tentava subir os degraus, mas era impossível - Eu sinto muito, eu sinto muito.
- Você não estava aqui, não estava - disse e apertou a coberta com força entre os braços - Eu perdi tudo.
Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, caminhou até o guarda-corpo do segundo andar e com um agito de varinha, ele se desfez. me olhou e caminhou até o limite que a impedia de cair direto no térreo. Tentei gritar, mas não tinha voz e parecia que estava colado naqueles estúpidos degraus. A garota olhava para o chão fixamente enquanto chorava. Ouvi passos e Lord Voldemort apareceu no segundo andar parando atrás de . Ele a envolveu com os braços e afastou seus cabelos para deixar um beijo em seu pescoço. Gritei mais ainda, mas não me ouvia. Ouvi uma risada gélida e quando pisquei, o mestre empurrou com violência em direção ao primeiro andar. Acordei quando o corpo da garota se chocou com o chão e sua cabeça rachou, expelindo sangue.
Meu corpo estava suado e meu coração acelerado. Olhei dormindo tranquilamente ao meu lado e suspirei, grato por aquilo tudo ser apenas um sonho, mas triste, pois a realidade também não era nada agradável. Agnes. O nome grudou em minha mente e meus olhos se encheram de lágrimas.

I had all and then most of you, some and now none of you. Take me back to the night we met.*

Enquanto eu crescia, eu sempre assisti meu pai sendo uma rocha de autocontrole e paciência. Ele tinha seus negócios sujos e esperava pacientemente para que cada um se concretizasse. Ele esperou por anos pelo retorno do Lord das Trevas e enquanto isso não aconteceu, ele soube se articular perfeitamente para manipular e dominar o Ministério da Magia sem que ao menos fosse notado. O nome Malfoy nunca decaiu enquanto aguardávamos o retorno daquele que colocaria todos os bruxos de puro sangue no ponto mais alto da pirâmide social. Paciência foi a palavra que imperou no reinado de meu pai. Até mesmo depois de Azkaban e nosso declínio perante o círculo interno de comensais, meu pai continuou paciente e dando um passo de cada vez para nossa redenção ainda que todas as tentativas fossem frustradas. Eu assisti tudo, eu presenciei tudo isso e não aprendi nada.
Quase um mês. Em poucos dias iria se completar um mês que estava desacordada naquela cama da Ala Hospitalar e eu já não aguentava mais viver daquele jeito. Entretanto, lá estava eu sentado ao seu lado, conversando com alguém que não me respondia. Os dias de abril estavam passando, as provas finais iriam começar e ela continuava dormindo. Seus cabelos haviam crescido, ela tinha ganhado peso graças a uma poção nova que o St. Mungus havia mandado, mas seu cérebro não tinha pretensão nenhuma de esboçar qualquer reação. Apesar de eu tentar manter as esperanças, algo bem no fundo da minha mente dizia que sua cabeça tinha parado de vez e que o motivo dela ainda estar ali era porque Snape não tinha condições de tirá-la do castelo ainda para entregá-la para sua família.
Os eram uma família que havia desaparecido bem antes do regime do Lord das Trevas piorar, mas tinha ficado por mim. Eu me arrependia de ter pedido para ela ficar todas as vezes que olhava para seu corpo desacordado. A culpa de tudo aquilo era unicamente minha e não havia nada, nem ninguém que tiraria isso de mim. Eu carregaria esse fardo para o resto da minha vida.
Naquele dia em específico do começo de abril, fazia um frio incômodo para a primavera e eu acordei já com a conhecida vontade de morrer. Saí das masmorras com Crabbe, Goyle e Pansy em nosso encalço. Suas investidas haviam aumentado desde que estava desacordada, como se o antigo acordo das duas tivesse caído por terra já que minha namorada estava desacordada. De qualquer jeito, eu achava patético, mas não tinha forças para lidar com isso, então eu apenas ignorava todas suas ações. Eu sabia que isso a deixava mais chateada do que se eu apenas gritasse com ela e talvez por isso também eu mantinha minha postura. Eu nunca disse que era o mocinho. As refeições haviam se tornado mais tranquilas desde que os Carrow haviam se afastado, os alunos pareciam mais despreocupados e a tensão não pairava no ar, parecia quase como antes.
Eu olhei rapidamente para a mesa da Grifinória e pude ver o lugar de entre Longbottom e Grings. Eles tinham esperança de que ela iria voltar e isso me irritava completamente. Irritava-me saber que eles não eram fracos como eu que aos poucos me preparava para me acostumar com a ausência de . Eles continuavam lutando e mantendo o ânimo enquanto eu queria morrer com ela. Sentei-me em silêncio e tentei prestar atenção nas conversas ao meu redor, mas tudo parecia ridículo em comparação à situação que eu vivia. Dei um gole no meu chá e quando ia começar a comer, as corujas entraram pelo buraco na parede. Três cartas de três corujas diferentes caíram sobre mim. Eu apenas reconheci a coruja dos meus pais, mas decidi que as leria no horário de almoço quando eu fosse visitar . O café da manhã continuou e eu tinha aula de Poções no primeiro horário, então estava bem tranquilo, Slughorn sempre chegava atrasado. Comecei a ler o Profeta Diário quando notei uma comoção dentro do salão. Diversos alunos olhavam para as portas desesperados e quando eu olhei também, um arrepio desceu pela minha espinha. Os Carrow estavam de volta.
Aleto e Amico estavam parados na porta esquadrinhando o salão todo como se estivessem buscando alguma coisa e eu sabia perfeitamente o que era. Foi inevitável não olhar para a mesa da Grifinória e quando o fiz, Longbottom e Grings já me olhavam com seus olhos arregalados de preocupação. Naquele momento eu tive certeza de que a mesma coisa passou pela cabeça deles: . Os dois comensais caminharam devagar pelos corredores das mesas até chegarem à mesa dos professores e se sentarem triunfantes. O ar estava suspenso, mas eu não aguentei. Levantei com pressa e assim que eu fiz isso, os dois da Grifinória levantaram também. Eu precisava falar com Snape urgente. Olhei para trás e os dois me seguiam.

- Vocês precisam ir até - eu disse e eles afirmaram .- O mais rápido possível.
- E onde você vai? - Grings perguntou.
- Ver Snape.

Meus passos faziam um barulho incômodo na pedra do chão do castelo, mas eu só queria chegar logo até Snape e perguntar o que havia na cabeça dele para permitir que aqueles dois voltassem. A gárgula apareceu e depois de dizer a senha, eu subi com ela até a sala do diretor. Bati na porta e assim que tive permissão eu entrei na sala, sendo recebido por uma revirada de olhos de Snape.

- Eu sabia que você viria - Snape disse com uma voz entediada. - Já sei que você veio reclamar dos Carrow.
- O que eles estão fazendo aqui, Snape? - eu perguntei. - Você sabe o perigo que é eles ficarem aqui!
- Eles são funcionários desta escola, Malfoy - ele respondeu. - E ao contrário de você que não faz o teu trabalho direito, são excelente comensais. Eles se recuperaram e eu não via mais como adiar a volta dos dois.
- Eles vão tentar matar ! - eu disse exasperado - Você sabe disso, não sabe?
- Malfoy, ela já está morta - Snape disse como se não dissesse nada. - O único motivo para que eu ainda a mantenha em Hogwarts é o fato de eu não poder deixar a família dela vir até aqui e nem transferi-la para o St. Mungus.
- Tente transferi-la agora - eu disse. - Os Carrow estão aqui, se você a mandar para lá, eles podem fazer alguma coisa.
- É uma operação desnecessária - Snape disse. - Já se passou quase um mês, Draco.

Então eu entendi. Entendi porque para Snape não faria diferença se os Carrow voltassem ou não porque para ele, já estava morta. Aquilo foi como uma sentença, a morte da minha esperança. Eu não consegui responder nada, então apenas saí de sua sala e corri para o banheiro mais próximo. Meu estômago embrulhou e eu vomitei o chá que havia tomado. Lágrimas começaram a sair dos meus olhos e o desespero veio rapidamente. não podia estar morta, não. Ela era forte, só estava dormindo. Só estava se curando para voltar. Aquilo não podia estar acontecendo. Não era real. Não podia ser. Parecia uma grande piada de mau gosto. Tudo estava perto de acabar, tudo estava se encerrando. Ela não podia morrer agora. E os planos? E nossas esperanças? Meu choro ecoou pelas paredes do banheiro e eu me lembrei de todas as vezes em que eu havia chorado no ano anterior com medo do que eu iria fazer.
Tudo o que eu tinha vivido até aquele momento passou pela minha cabeça e de repente, eu me vi desejando voltar no tempo para aceitar a oferta de Dumbledore. estaria acordada e eu me recusava a dizer que ela estava morta. Ela não estava, ela respirava. Seu coração batia, seus pulmões puxavam ar. Ela estava viva. Eu tinha que me manter esperançoso. Eu precisava. Levantei com dificuldade e depois de lavar o rosto, eu fui para a Ala Hospitalar e quando cheguei lá, os dois amigos de estavam lá. Eles me olharam ansiosos e se fosse em outros tempos, eu adoraria despedaçar seus pobres corações de leão, mas naquele momento eu não consegui. Não pude dizer a eles o que tinha escutado de Snape.
- O que Snape disse? - Grings perguntou e eu neguei com a cabeça.
- Ele disse que os dois são funcionários da escola e que já estavam bem para voltar - eu disse uma meia verdade.
- Mas e a segurança da ? - Longbottom perguntou enquanto eu sentava na cadeira ao lado de e evitava olhar para ela.
- Acho que os únicos que se importam com isso agora são eu, você, Grings e a madame Pomfrey - eu respondi. - Podem ir para a aula de vocês, eu perco a minha primeira. É poções.
- Precisamos criar uma escala - Grings sugeriu. - Se você nos disser o teu horário, podemos pensar em alguma coisa.
- Tudo bem, podemos fazer isso depois - eu respondi e suspirei. - Vocês podem ir, está tudo bem.

Os dois saíram da Ala Hospitalar e eu suspirei enquanto encarava meus sapatos. Quando tive certeza de que estava sozinho, eu deixei algumas lágrimas caírem, mas quando me dei conta estava deitado com o rosto no colchão de , segurando em sua mão enquanto tentava abafar meu choro. Meu choro ridículo e inútil. Levantei a cabeça e olhei que continuava dormindo. Beijei sua mão e seu pulso.

- Você precisar acordar, meu bem - eu disse. - Querem me fazer desistir de esperar por você.

Eu comecei a olhá-la deitada e fiz um carinho em seu rosto, sentindo falta de seu sorriso acolhedor e que era capaz de acalmar qualquer tempestade dentro da minha cabeça. Lembrei de quando eu a encontrei no casamento do Weasley e ela tentou me afastar, mas assim que eu me aproximei, abriu os braços para mim e me pediu para tomar cuidado. Lembrei de nossa briga na chuva antes das aulas começarem e de como ela gritou que me odiava por não ter lutado por ela. Meu erro foi achar que eu poderia fazer isso no futuro quando eu deveria ter feito isso o tempo todo e não apenas quando estávamos em perigo iminente. Eu deveria ter levado comigo quando os comensais invadiram Hogwarts. Meu primeiro erro foi ali. Não, meu primeiro erro não foi ali. Meu primeiro foi erro foi ter beijado-a na sala de troféus. Eu a entreguei à morte naquele momento. Sua ruína começou quando a puxei para mim.
O segundo período começou e depois de conversar com madame Pomfrey, que prometeu me avisar se algo acontecesse, eu fui para a aula de Herbologia e tentei me concentrar nas aulas para não pensar no fato de que Snape já considerava morta. O dia se passou sem problemas e os Carrow não passaram nem perto da Ala Hospitalar. Eu sabia que em épocas anteriores, eles já teriam corrido para finalizar o serviço, mas eles decidiram não fazer nada. Eu não sabia o motivo, mas fiquei profundamente aliviado por conseguir passar por aquele dia. Eu havia conseguido um acordo para dormir na Ala Hospitalar aquela noite, pois tinha medo deles decidirem agir durante a noite. Puxei a minha conhecida cama da enfermaria ao lado e me deitei, olhando o perfil de .

- As provas estão chegando - eu disse. - Estou tentando anotar mais coisa para quando você acordar.

Fiz um carinho em seu rosto e observei sua beleza adormecida. Seus cabelo estavam com uma trança lateral, madame Pomfrey gostava de arrumar , usava a camisola do hospital e em seu braço direito tinha uma poção que pingava o tempo todo. Observei seus braços e eles estavam repletos de furos por causa das outras poções e tentativas que madame Pomfrey fazia de acordá-la. Aquilo devia ser estressante demais para seu corpo. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu entendi que meu pedido para que ela acordasse poderia ser difícil demais para ela cumprir. E se apenas descansasse? E se ela ainda estivesse se segurando por causa de mim? Era justo?

- - eu a chamei baixinho. - Eu amo você. Você é a pessoa com quem eu almejo passar o resto da minha vida, mas eu entendo se você estiver cansada - eu dei uma pausa e disse a coisa mais difícil da minha vida. - Eu quero muito que você acorde, mas vou entender se você quiser descansar. Meu amor por você permanece o mesmo. Você pode ir se quiser, encontrar nosso bebê e ter paz. Eu me junto a vocês em seguida.

Não consegui olhar mais para e decidi dormir com a certeza de que ela não iria estar mais respirando pela manhã. Meu sono foi atribulado e eu chorei baixinho em algum ponto da madrugada quando acordei e não consegui olhá-la. Quando dormi novamente, eu estava na sala de troféus. Os armários de vidro repletos de troféus de gerações e gerações me encaravam em um desafio para que eu limpasse aquilo tudo. Ouvi um barulho e a porta havia acabado de ser fechada com a saída de alguém.

- Ei - uma voz disse e quando olhei para frente, estava parada ali me olhando curiosa. - Não vai fazer nada?

Ela usava o uniforme da Grifinória e seu rosto estava limpo dos cabelos que estavam presos em um rabo de cavalo alto. Seu rosto estava corado do esforço e ela tinha um pano sujo nas mãos. Eu não consegui responder porque estava maravilhado demais pela presença dela. ignorou meu silêncio e voltou a limpar algumas medalhas que estavam na mesa de madeira. Eu voltei para meu lugar e tornei a limpar as prateleiras que também estavam imundas. Acabei sendo distraído pelo barulho de subindo a pequena escada. Sua camisa subiu e eu vi a cauda de uma fênix em suas costas. Eu me lembro daquele momento perfeitamente. Eu tinha me sentindo atraído por no segundo em que ela abriu as portas do salão com sua atitude rebelde e suas botas pretas. Havia tentado testá-la logo em seguida e, claro, ela não caiu em minhas provocações. Pelo contrário, me enfrentou de igual para igual e ainda me deu uma surra. Minha mão se esticou para tocar sua tatuagem, mas eu parei. Eu me lembrava do que aconteceria em seguida. Eu iria tocar seu corpo, segurá-la em meus braços por um segundo e depois não a deixaria ir embora. subiu calmamente e desceu do mesmo jeito sem me olhar. Eu assisti a garota guardar seus últimos troféus e medalhas, deixar o pano sujo na mesa e se preparar para sair da sala. O impulso de puxá-la de volta veio, mas eu me segurei no chão. E foi. Passou por mim, abriu a porta e foi embora. Quando a porta bateu, eu não resisti e saí da sala, encontrando quase virando o corredor. Eu a chamei pelo apelido e a garota se virou para me olhar.

- Eu sinto muito - eu disse e o choro ficou entalado em minha garganta. - Eu… sinto muito, .
- Eu sei, Draco - ela respondeu com um sorriso. - Eu sei.

Acordei no dia seguinte e antes de abrir os olhos, eu respirei fundo e me preparei. Preparei-me para encarar seu corpo sem vida e abri os olhos, entretanto, ainda respirava. Eu segurei o choro porque ouvi madame Pomfrey passando pelo corredor entre as macas, mas dei um sorriso e beijei a mão de .

- Obrigada por não desistir, querida - eu sussurrei em seu ouvido. - Eu estou aqui, ouviu? Eu não vou sair do teu lado.

Eu levantei e fui conversar com madame Pomfrey sobre a volta dos irmãos Carrow no castelo. O medo deles tentarem qualquer coisa contra era enorme e minha cabeça tentava trabalhar o mais rápido possível para pensar em uma solução. Lord Voldemort já deveria saber que ela estava desacordada há quase um mês e provavelmente, pensava que ela não iria acordar, o que me deixava de certa maneira aliviado, pois os Carrow agiram principalmente por ordens dele. Entretanto, o sentimento de vingança dos dois era muito forte. Eu tinha certeza que eles esperariam o momento certo para atacar novamente. Eu não sabia o que fazer.
Combinei com madame Pomfrey de que ela iria fechar a Ala Hospitalar para funcionários do castelo e só deixaria os alunos entrarem e que com a mínima aproximação dos Carrow naquele andar, ela iria me avisar com seu patrono. O ódio que eu sentia pelos dois queimava dentro de mim, mas eu não podia ser impulsivo.
Eu precisava calcular muito bem minhas ameaças e como eu iria agir, caso contrário, poderia colocar tudo a perder. Entretanto, esperar nunca foi meu forte. Eu sempre quis tudo no meu tempo e do meu jeito como o garoto mimado que sou. Quando virei em um corredor vazio do segundo andar, Amico Carrow caminhava distraído. Meu sangue ferveu e eu não resisti. Murmurei “Incarcerous” e gordas cordas foram até o comensal, prendendo seu corpo de surpresa e o fazendo cair no chão. O homem se debatia, mas sua boca estava tampada e eu tomei sua varinha com outro feitiço. Eu o deixei se debater um pouco e me aproximei calmamente. Seus olhos foram para completo pânico quando me viram e eu me abaixei em sua frente, mirando minha varinha em sua têmpora.

- Eu imagino o que o “Avada Kedavra” faria sendo lançado de tão perto… - eu disse. - Será que você iria voar para a outra parede? Será que você iria ricochetear por esse corredor? Ou seria algo tranquilo? De qualquer jeito, eu te jogaria daqui e faria tudo parecer um acidente, uma falha dessa tua cabeça incapaz - eu disse e apontei com mais força minha varinha em sua têmpora. - Eu sei o que você fez. Eu sei quevocê tentou matar minha namorada e matou meu filho. está desacordada há quase um mês por tua culpa e eu vou me vingar de você, Amico - eu dei uma pausa para frear os meus impulsos de matá-lo. - Eu vou acabar com você e com essa tua família podre. Eu vou deixá-los tão pobres que terão que vender quinquilharias no Beco Diagonal como o nojento do Mundungo Fletcher. Eu vou matar você e a tua irmã assim que sairmos dessa merda de castelo. E se você disser para alguém que nós conversamos ou tentar qualquer coisa contra mim ou , eu começo aqui mesmo - eu dei uma pausa. - Pelo que eu me lembre, Flora e Hestia Carrow, as pequenas gêmeas, ainda estão no Castelo, certo? - o olhar de pânico quando eu citei as duas garotas menores da família quase me fez rir. - E essas eu realmente posso matar aqui.

O comensal me olhou com ódio e eu novamente não aguentei. Dei um soco tão forte em seu nariz que eu consegui ouvir os ossos quebrando e até minha mão doeu um pouco. Sangue jorrou por suas narinas e Amico tombou para o lado, metendo a testa no chão. Eu me afastei um pouco e o liberei das cordas, mas o idiota continuou no chão.

- Vocês atacaram a única coisa que ainda me mantinha são e que me fazia ter medo - eu respondi. - Atacaram a única pessoa que me fazia ser forte e vocês não têm ideia da briga que compraram.

Amico me olhou uma última vez com o rosto no chão e eu saí andando do corredor, deixando o comensal caído no chão. Minha mão ardia, mas a sensação de êxtase fluía pelas minhas veias. Fui até o banheiro e a lavei antes de ir para a minha aula daquela manhã que era Transfiguração. De alguma forma, eu me sentia vingado e apesar de eu não ter pensado direito, eu sentia que aquilo adiantaria para deixar segura. Eu havia falado sério quando ameacei as gêmeas Carrow. Eu as jogaria em uma fogueira se fosse preciso para proteger . Entrei na sala de Transfiguração, que seria com a Corvinal, e aguardei meu coração parar de bater depressa. Pansy e os outros chegaram e ela logo notou minha mão vermelha.

- Oh, Draco! O que foi isso? - ela perguntou horrorizada.
- Nada, Pansy - eu respondi simplesmente.
- Draco, o que você fez? - Zabini perguntou preocupada.
- Algo que eu deveria ter feito há tempos - respondi sem dar mais detalhes.

Amico e Aleto não fizeram nada naquela semana e ela se passou tranquila para os outros alunos, mas é claro que minhas preocupações não foram amenizadas nenhum pouco. O primeiro mês de internação de passou e aquele era o prazo que madame Pomfrey havia me dado para seus esforços funcionarem. Snape não iria transferi-la para o St. Mungus nem por um decreto, mas eu poderia implorar para que ele liberasse a vinda de curandeiros para ajudar. Eu passei pelas portas da Ala Hospitalar e quando olhei a pobre madame Pomfrey, eu já sabia que teria que fazer isso. Caminhei até ela e fiz a mesma pergunta que eu fazia todos os dias:

- Alguma resposta?
- Eu sinto muito, senhor Malfoy - a senhora respondeu. - Ela continua do mesmo jeito.
- Eu vou falar com Snape de novo - respondi. - Vou tentar pelo menos que ele libere a visita de algum curandeiro do St. Mungus para te ajudar, madame Pomfrey.
- Seria uma boa, filho - ela respondeu com uma expressão triste. - Eu já tentei de tudo.

Assenti e caminhei em silêncio até a maca de . Havia flores em um vaso ao lado de sua cama e a mesma poção pingava em seu braço constantemente. Eu já havia decorado todas. Seu rosto continuava sereno, seu corpo já não estava tão magro, mas continuava pequeno e frágil como se eu apertasse um pouco mais, iria quebrar. Eu não podia desistir. Ela merecia viver. Mais do que eu, mais do que qualquer pessoa. merecia viver. Olhei para ela e suspirei.

- Eu vou trazer mais ajuda, - eu disse determinado. - Eu vou fazer o impossível, tudo bem?

Saí determinado da Ala Hospitalar e quando fui pegar minha varinha da bolsa, eu me deparei com as cartas que eu tinha recebido na semana anterior. Eu estava prestes a ignorá-las novamente quando notei que a escrita do lado de fora não batia com nenhuma que eu conhecia. Eu precisava ir até Snape urgente, então deixei a carta mais uma vez e caminhei determinado para a gárgula. Assim que passei e bati na porta, Snape gritou um sonoro “não”, me impedindo de entrar. Tentei abrir a pesada porta de madeira com um feitiço, mas não deu certo.

- Snape, eu preciso falar com você! - eu gritei do outro lado. - É importante.
- Eu estou ocupado, volte em outro momento - Snape disse do outro lado.
- Snape, por favor! - eu gritei de volta. - É urgente! Você precisa liberar a vinda de curandeiros para , é urgente! SNAPE, POR FAVOR! Ela está respirando, só precisamos de mais ajuda. ELA É UMA ALUNA DA ESCOLA, SNAPE. Você não pode colocar a briga de comensais e rebeldes a cima do fato de que é UMA ALUNA DE HOGWARTS!

Snape não me respondeu e eu sabia que ele não iria. Quis chorar de frustração, mas me contentei somente em dar um murro na porta e sair de lá com o choro preso na garganta. Tudo aquilo era inútil, tentar com Snape era inútil e eu precisava da ajuda de alguém de fora. Apesar de todo o incômodo que eu sentia pelo modo indiferente com que meus pais haviam tratado a perda do nosso bebê, eu precisava engolir meu orgulho e pedir para que eles fizessem alguma coisa. Achei um banco de madeira em um corredor qualquer e me sentei para ler as cartas. Fui diretamente naquela com a caligrafia estranha e quando li o primeiro parágrafo, eu percebi que a carta não era exatamente para mim. Fui para a carta dos meus pais, mas na verdade, era de minha mãe:

“Querido Draco,

Eu gostaria de saber como você está. Eu nunca passei pelo que você passou recentemente e por isso, não posso sequer imaginar o que é a perda de um filho.
Gostaria de saber como você está se sentindo e como está. Ela já acordou?
Espero que sim. Por favor, diga se há algo que eu possa fazer para te ajudar e consolar teu coração. Eu sinto muito, filho. Sei que você deve estar segurando , mas quem segura você? E a resposta sou eu, meu filho. Saiba que pode conversar comigo, não vou mostrar para o teu pai. Fique tranquilo.
Amamos você e não vemos a hora de ter em casa novamente.

Com amor,

Mamãe.”


Eram raras as vezes em que minha mãe deixava vazar qualquer discordância com as ideias de papai, mas naquele momento ela sabia que eu precisava disso. Eu sabia que a primeira carta tinha sido mera formalidade para meu pai e que, no fundo, ele estava aliviado. O fruto podre que a árvore Malfoy gerou foi podado quando ainda era semente e agora, ele podia respirar melhor e dormir tranquilo por não existir um bastardo Malfoy no mundo. Essa desgraça não veio em seu momento de liderar a família. Entretanto, mamãe discordava dele e isso me deixava feliz. Era bom saber que eu tinha quem me segurasse. Tornar-se um adulto da noite para o dia me custou muito. Eu guardei as cartas e caminhei para a aula de Estudos dos Trouxas com a outra pessoa que eu queria assassinar: Aleto Carrow. Ainda faltava Jugson, mas ele não havia voltado para o Castelo, então eu teria que esperar.

O olhar de Aleto congelou quando me viu entrar e eu a encarei demonstrando todo o ódio que existia em mim. Era óbvio que a mulher sabia o que eu tinha feito com seu irmão, então se limitou a olhar para o outro lado e soltar um pigarro. Sentei-me em meu lugar típico e Pansy logo correu para me acompanhar. Meus colegas da Sonserina começaram a conversar entre si, mas eu não acompanhei. Minha cabeça não comportava mais amenidades. Os alunos da Grifinória começaram a entrar e se acomodar e eu olhei para trás para me certificar de que Longbottom e Grings tinham deixado o lugar de vago e lá estava.
Aleto esperou o silêncio se alastrar e iniciou sua aula, mais uma vez, falando mal de qualquer hábito dos trouxas que ela se lembrava. No final, em suas tarefas, era só escrever como você achava trouxas repugnantes que ela te daria um A. Era minha técnica e tinha funcionado muito bem. Minha cabeça viajou por todos os meus problemas e eu estava distraído demais para prestar atenção nas coisas. Pensava em , relembrei todos os nossos momentos felizes, depois fui para a carta que eu iria escrever para minha mãe. De fato, eu não estava ali. Entretanto, voltei a prestar atenção rapidamente.

- É necessário que a propaganda anti-trouxa seja feita, pois sabemos que os rebeldes tentam manipular a cabeça de nossa população - Aleto disse e eu suspirei. - Nós precisamos acordar a população para o perigo que esse tipo de gente pode transmitir. Precisamos incentivar casamentos entre bruxos e assim deixar nosso sangue puro!
- Então, a senhora está dizendo que os sangues atuais não são puros? - uma voz se ergueu cortando a professora e eu me virei para ver Neville Longbottom em pé. - Então, diga-nos, professora, quanto de sangue trouxa a senhora tem?

O ar parecia suspenso. O silêncio foi tanto que se eu pudesse conseguiria ouvir a respiração pesada da professora. O rosto branco de Aleto Carrow se tornou vermelho e eu vi ódio descendo pelas suas veias. A sala toda esperou a reação de Aleto e a de Neville. O garoto se mantinha confiante, mas dava para ver o suor molhando sua testa. Aleto andou até o fundo da sala e num ímpeto, agarrou o colarinho de Neville e o jogou em cima da mesa, fazendo tudo voar. O garoto tentou se soltar, mas não conseguiu. Grings deu um passo para trás, pois quando foi tentar ajudar o amigo, Aleto mirou a varinha para seu peito. Ela não estava brincando.

- Você vai aprender a respeitar os professores e o Ministério! - ela disse com raiva e puxou das vestes um punhal pequeno. - Eu vou deixar marcado em teu rosto este dia! Para que você nunca se esqueça de que EU mando nesta escola!

E sem esperar, desceu o pequeno punhal no rosto de Neville Longbottom, abrindo um talho profundo da testa até o queixo. O garoto gritava de dor e o sangue brotava como água, manchando tudo ao redor. Ele se debatia com força na carteira e chorava, mas a professora não parava. Os alunos começaram a gritar assustados e alguém saiu correndo para chamar outro professor, mas o resto de nós ficamos ali, parados e com medo de se mexer. Aleto estava ensandecida e continuava a machucar a pele de Longbottom. Em um momento ela olhou para mim e sorriu perversamente. Eu sabia que a mulher estava me mandando um recado. Aleto tinha conhecimento da amizade de com Longbottom e aquilo era uma maneira dela de também enviar um recado. Claro que ela não podia me atacar ou atacar , mas poderia mirar nas outras pessoas que eram importantes para ela. De qualquer jeito, eu perderia e iria sofrer. A professora Mcgonagall entrou pela porta e deu um grito, fazendo Aleto parar. O corpo de Neville escorregou do tampo da mesa, mas Grings o segurou.

- Aleto Carrow, afaste-se deste aluno! - Mcgonagall gritou com sua varinha em mãos e o olhar mais cheio de determinação que eu já tinha visto. - Eu não vou hesitar em atacá-la para protegê-lo!
- Eu já terminei por aqui, morcego velho - Aleto respondeu com um sorriso. - Esse é apenas meu aviso para vocês. Não ousem me desrespeitar.

Aleto passou por Mcgonagall sem abaixar a cabeça e limpou a mão suja de sangue na túnica da professora. Assim que a comensal passou, a professora correu até Longbottom e outros alunos acompanharam. Mcgonagall deu um giro com sua varinha e faixas foram para o rosto de Neville. Ela fez o corpo do garoto levitar e o levou para a Ala Hospitalar. Eu ainda estava assustado com as ações de Aleto, então demorei para fazer alguma coisa. Só saí do lugar quando Pansy chamou meu nome para eu sair da sala junto com meus colegas sonserinos. Sem aula, voltamos para nossa Casa e o caminho todo, Crabbe, Goyle e os outros comentavam sobre as ações de Aleto Carrow. Se esse episódio tivesse acontecido antes, eu estaria tão impressionado e maravilhado como eles. Também estaria chamando Longbottom de idiota e até daria risada de sua desgraça. Entretanto, eu me mantive quieto porque aquilo me incomodava. Eu não queria pensar no que eles haviam dito de pelas minhas costas. As risadas e os deboches foram me irritando de tal maneira que eu cansei e decidi ir para a Ala Hospitalar.

- Draco, onde você vai? - Goyle perguntou quando eu me virei para seguir outro caminho.
- Para a Ala Hospitalar - eu respondi e dei o assunto por encerrado.

Quando passei pela porta de madeira, pude ouvir os gritos de Neville Longbottom logo da entrada e um arrepio passou pela minha espinha. O garoto estava em uma maca quase no fim da Ala Hospitalar e madame Pomfrey pingava algo no corte em seu rosto, provavelmente Essência de ditamno, para o ferimento cicatrizar rápido. Grings estava sentado em uma cadeira com uma expressão de dor e desespero. Madame Pomfrey estava distraída e não me viu, então eu só fui até a maca de e fechei as cortinas. A garota continuava do mesmo jeito, então eu somente fiz um carinho em seu rosto antes de me sentar. Os gritos de Longbottom chegavam até onde nós estávamos e eu suspirei repetidas vezes para conseguir me manter calmo.

- Eu sinto muito, , mas esse é o Longbottom - eu disse. - Quando você acordar, eu te conto tudo. Gostaria que você estivesse aqui. Acho que ele também.

Neville Longbottom finalmente se acalmou depois de um tempo e quando eu estava lendo o livro de Transfiguração, ouvi passos e em seguida, a cortina foi afastada devagar. Grings colocou a cabeça para dentro e disse:

- Posso conversar com você?
- Já está conversando - eu respondi de má vontade. - O que foi?
- O que foi aquilo, Malfoy? - ele me perguntou. - Por que Aleto fez aquilo?
- Porque ela é Aleto Carrow - eu respondi. - Ela faz o que ela quiser.
- Como vamos saber se está segura agora? - ele me perguntou. - O que Snape falou com você?
- Snape não vai fazer nada além de deixar aqui até o fim do ano letivo - eu respondi. - E não se preocupe com , eu já cuidei disso. Você deve se preocupar com si mesmo. Ela é problema meu.
- O que você fez? - ele perguntou. - E o que aconteceu com Neville é uma resposta ao que você fez?
- Grings, eu já disse que estou cuidando de - eu respondi seco. - Minha preocupação sempre foi e sempre será . Nós não somos amigos ou estamos lutando contra o mundo juntos. Não estamos do mesmo lado.
- Será que você pode deixar de ser um pouco egoísta? - ele disse de repente eu revirei os olhos. - Precisamos saber se algo desse tipo vai começar a acontecer sempre.
- Ora, Grings, você não é uma criança - eu retruquei. - É só não se meter em confusão e deixar de responder atravessado. Acho que você consegue fazer isso.
- Por Merlim, Malfoy! - Grings disse mais alto e se aproximou de mim. Eu me levantei no mesmo instante. - Não importa o que façamos, tem um alvo nas nossas costas porque pensamos diferente de vocês! E isso não está certo!
- Isso não é da minha conta, Grings! - eu respondi. - Eu não gosto de você, não gosto do Longbottom, estou pouco me fodendo para o que acontece com vocês! Não peça a minha ajuda porque eu não vou ajudar! Então, se vira, moleque.
- Eu quero só ver quando acordar e souber disso… - Nathan me ameaçou e eu ri.
- Oh, então você se acha o conhecedor de , não é? - eu disse sendo sarcástico. - Você se acha o guardião de , certo? O único que pode entendê-la! Você acha que eu não sei do que você sente por ela? É nítido o quão patético você é! me conhece, ela sabe quem eu sou e eu sei quem ela é! Qualquer coisa fora disso não nos importa!
- Vai se foder, Malfoy - Grings respondeu e eu revirei os olhos. - Eu queria entender o que vê em você, tua personalidade é podre.
- Então, ainda bem que eu namoro com ela e não com você, não é mesmo? - eu respondi e voltei a me sentar - Saia daqui.
- Ela quase morreu por causa de você, Malfoy - ele disse antes de ir embora. - Quem tinha que sair daqui era você.

Nathan Grings não disse mais nada e finalmente saiu de perto de mim, fazendo-me respirar aliviado. Eu sabia que muitos homens que se apaixonaram por a julgavam por estar comigo. Ela já tinha me contado sobre Fred e Nathan e sobre como os dois sempre faziam propagandas de como eles seriam namorados melhores que eu. Eu jamais iria admitir, mas no fundo, eu sabia que eles estavam certos. Olhei para a minha namorada e suspirei, segurando em sua mão e deixando um beijo em cada dedo de sua mão esquerda.

- Eu não vou mais te atrapalhar, amor - eu disse baixinho .- Eu só quero que você acorde, por favor. Seus pais mandaram uma carta para mim hoje, vou ler para você.

Eu disse depois de me lembrar da carta de Gregório e Ariana . Eu tirei o pequeno pedaço de pergaminho e suspirei antes de começar a ler.

Draco Malfoy,

Sabemos que esta carta é tão desconfortável para você quanto é para nós, mas não a escreveríamos se não fosse por extrema necessidade. Escolhemos você, pois sabemos que pode estar impossibilitada de receber qualquer carta e também porque acreditamos que tua correspondência não é vigiada como a dela.
Recebemos a carta que você escreveu e agradecemos por nos informar. Também recebemos uma carta do diretor da escola dizendo apenas que sofreu outro acidente. Até quando eles vão esconder a truculência dos comensais com acidentes? Então, também agradecemos por nos contar a verdade.
Antes do feriado da páscoa, havia nos mandado uma carta contando sobre o bebê e pedindo para nós protegermos você e a criança se algo desse errado. Apesar da perda da criança, a oferta continua. Sabemos que Dumbledore te estendeu a mão e também estendemos a nossa. deixou bem claro que você é importante demais para ela.
Sendo assim, só pedimos uma coisa: cuide de nossa menina enquanto não podemos fazer isso. Snape disse que ela só poderá sair ao final do ano letivo e ainda temos dois meses para isso. Se precisar de algo, mande-nos uma coruja e tentaremos ajudar mesmo de longe. Ela ainda está desacordada? Se já acordou, teve sequelas? Você pode mostrar esta carta a ela? Nós não abandonamos nossa família e queremos que ela saiba disso.

Desde já obrigada pela ajuda,

Gregório e Ariana .


Eu terminei de ler e dei um suspiro, enrolando novamente o pergaminho e enfiando em minha bolsa. Eu olhei para e torci para que ela tivesse escutado. Fiquei emocionado com o fato de que mesmo eu sendo quem era, os pais de continuaram com a mão estendida para me ajudar. E aquilo havia se tornado mais um ponto de interrogação no propósito de minha vida como comensal. Eu recebia bondade dos meus inimigos e maldade dos meus amigos. Era difícil admitir, mas eu estava cansado. Cansado de esperar, cansado de ser passado para trás e sofrer as consequências pelos erros do meu pai. Só cansado. O dia estava longe de terminar, mas eu só queria descansar um pouco. Parar o tempo, parar as desgraças por algumas horas e respirar. Entretanto, eu não podia fazer isso. O mundo não iria esperar por mim e nem se curvar às minhas vontades. Eu havia aprendido isso da pior maneira possível.
Neville Longbottom eventualmente parou de gritar e quando eu cheguei para passar a noite depois de jantar, a Ala Hospitalar estava silenciosa como sempre. Conversei mais uma vez com madame Pomfrey e ela me deu as atualizações sobre o caso de e como sempre, não haviam melhoras. A pupila se contraia quando era iluminada, o coração batia num ritmo tranquilo, os pulmões trabalhavam sozinhos, mas ela não acordava. Continuei fazendo minhas tarefas das aulas até o sono vir e me deitei em minha já conhecida maca depois de conversar com por maisum tempo. As imagens de Aleto Carrow rasgando o rosto de Neville Longbottom,, vinham todas as vezes que eu fechava os olhos e era inevitável não pensar o que ela, o irmão e Jugson haviam feito com . Eu cobri dos ventos gelados que entravam pelas janelas entreabertas e dormi mais um sono atribulado.
Entretanto, um barulho me acordou. Abri meus olhos rapidamente e puxei minha varinha, ficando em alerta e observando ao meu redor. Meu primeiro pensamento foi uma emboscada dos irmãos Carrow, mas depois de uns segundos, percebi que o barulho vinda da janela atrás da cama de . Uma figura estava parada atrás do vidro tentando entrar e eu imaginei que fosse uma coruja, mas assim que afastei o vidro, tive que segurar um grito. Um grande pássaro laranja e amarelo estava parado ali e me encarava com seus olhos pretos. Eu me preparei para atacar, mas então me lembrei da tatuagem de . A fênix de Dumbledore era maior que uma coruja e suas penas eram lindas e a cauda longa caía pelo peitoral. Eu sabia que ela havia sumido e que Dumbledore havia deixado a ave para , mas nunca havia imaginado que ela apareceria novamente.
Dei alguns passos para trás e a ave entrou, pousando na barriga de e encarando a menina desacordada. A fênix olhou por longos minutos e parecia que iria ficar ali. Eu não sabia o que fazer, mas sabia que não deveria tirá-la, pois parecia que a fênix tinha um propósito. Depois de consideráveis minutos, lágrimas começaram a cair dos olhos da ave e molhavam o rosto de , sendo absorvidas rapidamente pela pele. As lágrimas de fênix eram capazes de curar e lembrando-me disso, eu entendi o motivo dela aparecer. O momento era raro e precioso demais e até respirar mais alto parecia errado. Eu só podia observar aquela aparição de mais de um metro em minha frente chorar copiosamente sem expressar um piado que fosse. Quando até os cabelos de já estavam molhados, a fênix levantou a cabeça e voltou para a janela, voando sem olhar para trás. Eu continuei parado no mesmo lugar ainda embasbacado com o que eu tinha visto. Uma centelha de esperança nasceu em meu espírito e pela primeira vez naquela semana eu senti que finalmente iria acordar.

I had all and then most of you, some and now none of you. Take me back to the night we met.*: Eu tinha tudo e, então, a maior parte de você, um pouco e agora nada de você. Leve-me de volta para a noite que nos conhecemos.


And I found love where it wasn't supposed to be…*

Eu pensei que assim que Fawkes tivesse partido, fosse acordar. Eu pensei que veria a garota acordar na mesma hora, mas não aconteceu. Assim que a fênix partiu, continuou do mesmo jeito e eu também. Sempre um espectador do seu sono, nunca do seu despertar. Foi frustrante esperar o sol nascer com os olhos atentos e não me deparar com nada, nem ao menos um franzir de sobrancelhas. Foi desesperador cochilar por alguns minutos e acordar em pânico com medo de ter perdido algo importante, mas foi mais desesperador ainda notar que eu não tinha perdido nada, pois nada havia acontecido. As lágrimas foram absorvidas pela pele de . Seus cabelos secaram e seus olhos não abriram. Sua garganta não emitiu nenhum som e seu corpo não se mexeu. A dureza da realidade veio com o sol ao perceber que a garota estava do mesmo jeito. Eu tinha me enchido de esperanças e tive todas elas quebradas. Senti-me como um tolo, deveria estar acostumado por viver em um lugar sem esperança, mas não. Lá estava eu tal qual um fiel trouxa em uma igreja, esperando um milagre. Um milagre que bem lá no fundo, eu sabia que não viria, pois eu não era merecedor de tamanha dádiva. Se existisse um inferno como os trouxas acreditam, eu iria direto para lá.

Eu abri o biombo ao redor da cama de e vi madame Pomfrey já em pé atendendo um aluno à minha esquerda. Eu não consegui ir até ela e contar o que eu havia visto, então apenas saí pela porta e fui em direção a Sonserina, tomar um banho e me preparar para mais um dia que seria difícil e pesado. Assim que eu cheguei em minha Casa, Crabbe e Goyle estavam sentados juntos com Zabini e eles riam provavelmente enquanto me esperavam. Eles pareciam relaxados e agiam como se nada estivesse acontecendo e de fato, para eles estava tudo bem. Há dias eu me encontrava irritado com as atitudes de todos eles. Eu ficava irado com o fato de que o Hogwarts estava desmoronando em nossas cabeças e eles continuavam ali, aproveitando como se fosse um ano normal. Eu os ignorei de propósito e subi para o banheiro, indo tomar um banho e tentar juntar forças para viver. O peso da responsabilidade pelo que aconteceu com me sufocava mais e mais e quando me dei conta, eu derramava silenciosas lágrimas enquanto sentia a água quente queimar minhas costas. Eu sentia culpa, medo, mas principalmente, frustração.
Eu pensei que iria acordar imediatamente. Eu pensei que sua mente estaria curada, pois sabia que lágrimas de fênix tinham esse poder. Eu esperei. Obriguei-me a ficar acordado o tempo todo com medo de perder qualquer mínimo movimento, mas como sempre, nada. Eis o problema de ter esperanças. Eu depositei as minhas naquele pássaro idiota e inútil. Saí do banho e encarei meu reflexo. Olheiras escuras e fundas contornavam meus olhos e minha barba já dava sinais. Eu convoquei uma gilete e creme para barbear e me pus a livrar meu rosto daquela aparência de cansaço. Claro que era inútil. Ouvi passos e quando notei, Pansy Parkinson estava parada atrás de mim. Eu tive que me segurar para não bufar irritado e revirar os olhos, mas continuei apenas concentrado em meu rosto. Depois de alguns segundos observando meu corpo - eu estava apenas com uma toalha amarrada na cintura - enquanto me esperava falar, Pansy bufou e cruzou os braços.

- Você está péssimo - ela disse e eu não respondi. - E não dormiu na Sonserina de novo.
- E isso seria da sua conta, por quê? - eu retruquei e bati a gilete na pia, voltando a me barbear com cuidado. - O que você está fazendo aqui no banheiro masculino?
- Como se você um dia já tivesse se importado com a minha presença dentro desse banheiro. Eu quero conversar - Pansy disse. - E eu acho que você precisa me ouvir.
- Eu poderia chamar o monitor e ele te daria uma advertência por estar onde não deve - eu respondi sem olhá-la. - O que você quer?
- Você não pode continuar levando esta vida, Draco - Pansy começou e eu não consegui segurar meu revirar de olhos. - Ora, não faça essa cara! Teus pais sabem que você tem perdido aulas e ficado mais tempo na Ala Hospitalar do que na Sonserina?
- Pansy, novamente eu não estou entendendo o que isso tem a ver com você - eu disse e decidi lavar meu rosto. - Eu não pedi tua opinião sobre minhas atividades recentes.
- Draco, esse ritmo que você está levando não é saudável! - ela retrucou e eu me virei para encará-la. - Você emagreceu, não tem comido direito, não tem ficado com os seus amigos, só fica sentado ao lado daquela cama de hospital esperando sabe-se Deus o quê!
- Eu não me importo com o que você acha, Pansy – respondi. - Essa é a terceira vez que eu falo isso. Eu não preciso da tua preocupação falsa, eu sei que você está torcendo para não acordar.
- Draco, se ela fosse acordar, ela já teria feito isso - a garota falou e eu senti raiva no mesmo segundo. - Você precisa seguir em frente, ela não é um problema teu.
- Pansy, você está se aproximando muito do limite da minha paciência - eu adverti. - Eu já te disse para você nem ao menos mencionar o nome de !
- Eu não me importo com isso, Draco - ela disse e se aproximou de mim. Tentou tocar meu ombro, mas eu me esquivei. - Você tem que deixar essa coisa pra lá, essa dependência emocional por um corpo!
- Só cale a boca - eu disse direcionando meus olhos raivosos para ela. - Pare de falar.
- Você precisa aceitar que eu sou a tua melhor opção! - Pansy gritou quando eu já estava saindo das cabines e indo ao vestiário me trocar. A garota me seguiu e continuou a falar. - Eu sou de uma boa família e…
- VOCÊ É A PORCARIA DE UM ABUTRE, É ISSO QUE VOCÊ É! - eu gritei e percebi outros alunos saindo do ambiente. - Você nunca gostou de mim pelo que eu sou, mas sempre pelo que eu te ofereci! Presentes caros e depois sexo!
- E desde quando eu preciso do teu dinheiro? - ela retrucou
- Não precisa de dinheiro, mas precisa do meu nome! - eu respondi. - Eu achei que você tinha deixado de ser essa pessoa quando conversou com daquela vez, eu tinha começado a pensar que você era alguém diferente, Pansy. Mas não, você é só mais um abutre querendo alguma coisa de mim ou da minha família. Agora, por favor, saia daqui! Eu preciso me trocar.

Pansy Parkinson não respondeu nada. Eu via em seus olhos marejados toda a raiva que ela sentia de mim naquele momento. Em todos esses anos eu nunca havia mencionado o que eu achava de nossa relação de interesse. Era óbvio que eu sabia as reais intenções dela. Sempre soube e durante muito tempo, eu tirei vantagem disso e ela também. Enquanto eu ganhava carícias, beijos ao pé do ouvido e um sexo rápido em algum lugar do castelo, ela ganhava passeios longos em público e a inveja de todas as suas amigas sonserinas. Ela ganhava as festas na Mansão Malfoy e eu ganhava uma chupada no jardim. Nós sabíamos dessa relação de interesse e estávamos felizes assim. Tudo ruiu para ela quando apareceu e eu encontrei alguém que me desafiou e que me amou não porque eu era um Malfoy, mas apesar disso.
Pansy olhou no fundo dos meus olhos uma última vez e saiu do vestiário, finalmente me deixando sozinho. Eu bufei irritado e cansado, sentando-me no banco de madeira enquanto encarava meus pés, sentindo como se um dementador tivesse sugado minhas energias. Eu só queria suspender o mundo por alguns minutos somente para poder descansar. Porém, o tempo continuava, o relógio corria e eu não podia parar. Pelo contrário, o tempo passando era um lembrete de tudo o que eu ainda deveria fazer.

Eu coloquei meu uniforme, arrumei meus cabelos sempre do mesmo jeito e coloquei a capa do orgulho e da indiferença. As pessoas não podiam me ver fraquejar. Voltei para a Sonserina e assim que eu cheguei, vi Crabbe e Goyle me olhando ansiosos para seguir qualquer ordem. Pansy Parkinson desceu as escadas do dormitório das meninas e era óbvio seu rosto inchado e vermelho. Eu não conseguia me importar nenhum pouco. Zabini me olhou com um sorriso zombeteiro e empurrou a quintanista sentada no braço de sua poltrona e caminhou até Pansy, pronto para consolá-la.

- Crabbe, suba e pegue minha bolsa, nós estamos atrasados para o café - eu mandei e o idiota saiu correndo para as escadas. - Goyle, vamos descer.
- Mas e o Crabbe? - ele perguntou e eu revirei os olhos.
- Eles nos alcança, vamos embora.

A aula de Herbologia se arrastava dentro daquela estufa quente. Goyle tentava cuidar da minha planta carnívora e da dele enquanto eu fingia que escrevia coisas em meus pergaminho, mas na verdade, tinha minha cabeça em outros pensamentos. Os alunos da Corvinal brilhavam enquanto manipulavam as plantas e a professora Sprout esbravejava no centro da estufa. Eu queria sair daquele lugar. Queria fugir dali e daquele barulho. Tudo aquilo parecia bobo demais comparado ao que eu estava vivendo. Eu não podia ficar ali, precisava estar ao lado de . E foi pensando nela que a porta da estufa se abriu e o professor Slughorn apareceu.

- Oh, querida Sprout, como estamos nesta bela manhã? - ele disse animado.
- Oh, professor Slughorn, tudo está bem - a professora respondeu. - Algum problema com algum aluno da Sonserina?
- Na verdade sim - ele disse e colocou seus olhos em mim. - Eu preciso do senhor Malfoy.

A sonserina toda fez aquele barulho de quando alguém se mete em encrencas e eu somente suspirei, juntei minhas coisas e saí sem olhar para trás. Em minha cabeça a primeira coisa que veio foi que Snape tinha alguma missão para mim e eu teria que sair do Castelo por alguns dias. Automaticamente meu corpo ficou tenso, eu senti meu estômago doer e minha mente já desenhava todo um plano para que alguém ficasse com . Entretanto, assim que eu fechei a porta da estufa, professor Slughorn veio até mim e tentou me abraçar. Eu estranhei e recuei, mas ele me puxou com força para seus braços. Eu já estava quase gritando quando ele sussurrou em meu ouvido:

- Há comensais nos olhando, então me abrace de volta e faça uma cara de choro.
- O que está acontecendo? - eu perguntei, mas obedeci.
- está acordando - Slughorn disse. - McGonagall pediu para eu te avisar, mas não podemos fazer alarde, pois os Carrow estão atentos.
- Claro, eu entendi - respondi e não precisei fingir que estava chorando. A emoção veio até mim como um trem. - O que faremos agora?
- Vamos subir juntos até a Enfermaria com muita calma - Professor Slughorn disse. - Continue chorando.
- Obrigada, professor - eu me senti na obrigação de falar depois que ele parou de me abraçar. - Muito obrigada.

Eu queria correr. Queria subir aquelas colinas, entrar no castelo como uma bala de canhão, subir as escadas e chegar até com a maior pressa do mundo. Só que eu não podia. Meus passos estavam sendo monitorados e eu sabia que a qualquer agitação minha, Aleto e Amico Carrow estavam prontos para agir e me machucar. Então eu apenas caminhei. Caminhei sentindo minhas pernas pesarem como nunca em toda a minha vida. A emoção me inundava e eu derramei algumas lágrimas solitárias enquanto professor Slughorn dava batidinhas em meu ombro. Eu não o olhei, mas ele sabia que eu chorava. Mil pensamentos corriam pela minha mente: ela se lembrava de tudo? conseguiu me ouvir em algum momento? Ela seria a mesma de antes ou seria como os pais de Longbottom? Qual seria o próximo passo? As portas de carvalho da Ala Hospitalar apareceram em meu campo de visão e eu fiquei nervoso. A vontade de correr triplicou, mas por estar tão perto, eu precisava de calma. Nós paramos e antes de abrir, eu olhei para professor Slughorn em busca de alguma coisa e ele sabia, pois me deu um pequeno sorriso e disse:

- é muito forte. Uma das melhores grifinórias que eu já tive o prazer de conhecer.
- Eu sei - respondi e coloquei a mão na porta. - Obrigada, professor Slughorn.
- Não há de quê, filho.

Eu pensei que assim que eu passasse pelas portas, eu ouviria rindo ou até gritando. Eu achei que ela estaria em pé brigando com seus amigos ou agradecendo a madame Pomfrey por tudo. Entretanto, não foi isso que eu encontrei. Outra esperança que eu depositei em lugar nenhum. A Ala Hospitalar estava silenciosa, mas logo percebi uma pequena aglomeração no lugar onde o leito de ficava. Madame Pomfrey, Longbottom, Grings e a professora McGonagall estavam ali. Eu respirei fundo e caminhei até eles. Fui notado por Madame Pomfrey que abriu um sorriso cauteloso para mim.

- Oh, Draco, querido! - ela disse baixo. - Que bom que você está aqui!
- Como está? - eu perguntei parei antes do biombo.
- Acho que está acordando - ela respondeu e eu apertei o passo, passando pelo biombo e entrando na pequena aglomeração.

Para um observador desatento, parecia normal, mas eu notei a sobrancelha franzida. Seus olhos estavam fechados, mas sua respiração era rápida e o dedo indicador da mão direita mexia. Ela estava acordando. Eu segurei o choro, pois outras pessoas estavam ali, mas as ignorei totalmente quando parei ao lado de e segurei sua mão.

- ? - eu chamei. - Meu bem, eu estou aqui.

Então grunhiu. Seus olhos começaram a se mexer rápido e eu senti uma tentativa de aperto na minha mão. Ela grunhiu novamente e eu não consegui segurar a emoção. Comecei a chorar e acabei molhando seu braço quando minhas lágrimas caíram.

- Isso, - eu disse. - Sou eu, Draco.

Ela tentou falar meu nome, mas não conseguiu abrir a boca, então continuou com aqueles sons que vinham de sua garganta. As pessoas ao meu redor começaram a respirar aliviadas atrás de mim. Eu notei Grings e Longbottom se abraçando.

- Todos nós tentamos falar com ela, mas parece que estava esperando alguém - Madame Pomfrey disse e eu sorri. - Eu preciso que todos saiam, pois iniciarei as poções e os feitiços de cura.
- Eu posso ficar? - eu perguntei.
- Infelizmente não, senhor Malfoy - a curandeira disse e eu assenti.
- Meu bem, eu já volto, ok? - eu expliquei e beijei a mão de que tentou segurar a minha de volta, mas não tinha nenhuma força. - É rápido.

Eu soltei sua mão e me inclinei, beijando sua testa longamente. Sussurrei que a amava e saí, me juntando ao resto das pessoas no corredor entre as macas. Mcgonagall havia partido, então eu fiquei apenas com os dois amigos de . Eles estavam emocionados, eu pude notar, e Longbottom ainda estava com um curativo no rosto. Comecei a encarar o chão, pensando no que eu faria agora.
Eu precisava manter segura, pois ela continuava sendo um alvo para os Carrow. Minha ameaça tinha funcionado, mas até quando? Eu olhei para Longbottom que parecia tão confiante e feliz em minha frente. Eu sabia que confiava no potencial dele para ser um expoente forte na Resistência no Castelo. Lembrei-me do quinto ano e de como ele, Potter e os outros haviam se juntado para aprender sabe-se-lá-o-que e meu pai havia contado que Longbottom estava no Ministério junto com os outros quando a profecia foi perdida e o primo de mamãe, Sirius Black, foi morto. Com essas informações, minha mente trabalhou rápido e um plano se formou. Aquele era o momento que eu havia esperado para agir de um modo correto. Seria meu ato de bondade para uma pessoa que eu não gostava.

- Longbottom - eu o chamei e o garoto me olhou. - Nós precisamos agir. Se realmente acordar, ela estará muito menos segura. Não poderá ficar na Ala Hospitalar até o final do ano letivo.
- Eu sei - ele respondeu e eu senti o sorriso dele vacilar. - E ela não está segura.
- E nem você - eu respondi. - Os Carrow podem tentar te atacar novamente. Você e estão na mira deles.
- Bom, isso é verdade - ele respondeu. - Recebi uma carta esta manhã de minha avó. Eles tentaram capturá-la.
- O que? - eu disse surpreso. - Os comensais tentaram capturar a tua avó?
- Sim, tentaram fazer isso para me parar assim como fizeram com os Lovegood - Longbottom explicou. - Mas ela conseguiu fugir.
- Espero que ela fique segura - eu disse educadamente, mas mentindo, não estava nem aí para uma velha. - O fato é que vocês precisam se esconder.
- Sim - ele concordou.
- E você sabe onde - eu não perguntei.
- Sim - Longbottom respondeu e em seu olhar eu vi a coragem e a determinação que eu encontrava nos olhos de . A coragem da Grifinória.

O processo de cura demorou mais do que eu estava esperando. Madame Pomfrey saiu de trás do biombo e estava sem o chapéu do uniforme. Seu rosto estava suado e ela transparecia cansaço. Pediu para que fôssemos almoçar e agir como se nada estivesse acontecendo. Eu era ótimo nisso, mas Nathan não parava de sorrir. Neville continuava internado, era mais seguro, então somente eu e Grings tivemos que descer. Assim que passamos pelas portas, eu me afastei o máximo que pude, mas quando apertei o passo, eu o ouvi me chamar.

- O que é? - eu perguntei sem vontade.
- O que aconteceu? - ele perguntou. - Nós estávamos desenganados e…
- Um milagre - eu respondi. - Fique quieto e agradeça.

Fui obrigado a assistir minhas aulas da tarde e tentei continuar mentindo que estava tudo bem. Eu percebi o olhar atento de Amico Carrow enquanto o comensal me dava aula e continuei com a minha expressão máxima de desprezo por ele e por sua matéria ridícula. Pansy ficou buscando meu olhar o tempo inteiro e eu não aguentei, acabei revirando os meus. Assim que o sino tocou, eu juntei minhas coisas e saí da sala com calma e sem pressa. Os alunos passaram por mim rapidamente, pois nenhum deles queria passar mais tempo que o necessário na presença de qualquer um dos Carrow. Enquanto eu me afastava, ouvi um barulho e quando me virei, Amico Carrow estava segurando uma aluna pelo ombro e a arrastando pelo braço para o outro corredor. Pelo uniforme, era uma aluna da Lufa-Lufa. O corredor todo estava espantado, mas eu aproveitei esse momento para apressar o passo e não ser notado. Consegui chegar rápido no andar da Ala Hospitalar e respirei aliviado quando passei pelas portas de carvalho.

Meu coração disparou e eu travei mais uma vez antes de encontrar com . Eu estava apreensivo com o que eu iria ver. Já tinha me frustrado tantas e tantas vezes desde que ela tinha sido atacada que qualquer coisa boa era tomada com cautela. Tentei não deixar minhas expectativas muito altas, mas foi inevitável não querer que ela estivesse totalmente acordada. E qual foi a minha surpresa quando eu passei pelo biombo e lá estava : sentada e com os olhos atentos. Madame Pomfrey arrumava seus travesseiros quando eu me aproximei. Eu tossi para chamar a atenção de que assim que me viu, arregalou os olhos. Meus olhos se encheram de lágrimas e foi inevitável não apressar o passo para chegar até ela. sorriu e levantou os braços para me abraçar, começando a chorar sem reservas. Madame Pomfrey nos olhou e em seus olhos havia lágrimas também. Eu me aproximei e sentei em sua cama, finalmente abraçando o corpo de e sentindo seu cheiro típico. O tempo parou enquanto ela estava em meus braços. Eu poderia ficar ali para sempre. estava acordada. Ela estava ali. Viva. Nós nos olhamos e sorriu, limpando minhas lágrimas.

- Você está aqui - eu disse e beijei seu rosto. - Você acordou.
- Eu acordei - ela respondeu e sorriu. - Madame Pomfrey me disse que você esteve aqui todos os dias. Você não desistiu de mim.
- Eu jamais faria isso – respondi. - Não cometeria esse erro novamente.

voltou a me abraçar e eu enfiei meu rosto em seus cabelos. Eu não conseguia acreditar que minha namorada estava ali. A qualquer momento, eu esperava que eu fosse abrir os olhos e ela estaria novamente deitada inconsciente no leito de hospital. Parecia um sonho. Eu voltei a olhá-la e comecei a chorar copiosamente em sua frente. Eu pensava que jamais a veria bem de novo, já estava me treinando para vê-la sendo retirada do castelo pelo St. Mungus no final do ano letivo. Mas como sempre, - e toda a magia que a envolvia - me surpreendeu com sua força e determinação. Eu nunca conseguiria agradecer Dumbledore o suficiente por ter deixado a fênix para . Pensando melhor, ele provavelmente fez isso porque sabia que a sobrinha neta seria testada até quase morrer. O velho sempre soube mais.

- Eu te amo tanto - sussurrei em seu ouvido. - Eu te amo tanto…
- Eu também te amo, Draco - respondeu e segurou em meu rosto. - Obrigada por tudo.
- Não precisa agradecer – respondi. - Você faria o mesmo por mim. Eu sei disso.

Não conseguia soltá-la. Abracei com todo o meu corpo, com toda a minha mente. Ela era de verdade. Eu sentia seus braços me apertando de volta e seu choro contido em meus ouvidos. Não era apenas um sonho ou uma das várias vezes em que eu imaginei esse momento. Aquilo era real. Por um minuto no tempo, eu fui agraciado com felicidade plena. Sentir as mãos de passeando pelas minhas costas e seu toque faziam meu peito se abrir e era como se o sol tivesse nascido depois de um mês inteiro em completa escuridão. Eu a amava tanto. Tudo de bom que havia em mim era por causa dela, porque não desistiu de mim.

Eu sabia que os problemas não iriam parar de aparecer. Eu sabia que a caminhada seria tão turbulenta e difícil como antes. Depois das grandes portas de carvalho, o perigo nos esperava sair, pronto para nos atacar e devorar nossa sanidade. Aquilo não era um final feliz para a nossa jornada. Entretanto, por um curto período de tempo, eu pude respirar aliviado. Eu pude aproveitar um grão da felicidade que eu só via os outros experimentando. Eu podia rir novamente e me livrar de uma parcela do peso da ansiedade e do medo que eu carregava em minhas costas. tinha acordado e eu tinha presenciado um milagre da magia. Naquele momento, era tudo o que importava.

and I found love where it wasn't supposed to be…*: E eu encontrei amor onde não deveria encontrar.


'Cause us, traitors, never win…*

n/a: Música do capítulo. Dê play quando ver a notinha!

O tempo é algo engraçado. Eu costumava achar que ele deveria se curvar perante mim e que eu tinha total controle sobre ele. Até que eu virei um comensal da morte e percebi que o meu tempo já não era mais meu. As sessões de tortura que eu presenciava eram longas e o relógio não se alterava em nada. Os momentos de descanso voavam e quando eu me dava conta, já estava caminhando pela mansão Malfoy vestindo minha máscara de arrogância e tentando varrer o medo para debaixo do meu tapete junto com as minhas mentiras. O tempo se arrastou como um fantasma de Hogwarts até acordar e agora, ele voava como a fênix que veio, a salvou e foi embora sem deixar rastros.
A ansiedade dentro de mim quase me fazia vomitar, pois eu sabia que seria rápido até que os Carrow descobrissem que minha namorada estava desperta, entretanto, eu ainda não podia tirar da Ala Hospitalar. Madame Pomfrey ainda tinha muito a fazer e a pior missão de todas era comunicar que ela havia sofrido um aborto. Os amigos de estavam fingindo normalidade em alguma parte do castelo, por isso, nós tivemos certa privacidade. se sentou na cama e depois de passar por outra avaliação de seus sinais vitais, aguardou enquanto madame Pomfrey puxava uma cadeira.
Fazia somente uma hora desde que tinha acordado e eu não tinha saído de lá desde o momento em que fui chamado e o jantar logo seria servido. Entretanto, eu não iria embora e graças a isso, eu pude testemunhar passo a passo, seu espírito sendo quebrado e a atitude de mudar à medida em que madame Pomfrey explicava o que havia acontecido com seu corpo.
Eu sabia que era forte. Eu nunca tinha duvidado disso. Durante esses anos testemunhando seu existir, eu já tinha visto a garota lutar com bruxos com o dobro de seu tamanho e de seu poder mágico e sair vitoriosa. Eu sabia que tinha a plena capacidade de fazer tudo o que quisesse. Eu sabia que seu espírito era indestrutível, pois tentaram quebrá-lo desde o primeiro dia em que a garota havia chegado em Hogwarts naquele ano letivo. Porém, naquele momento eles haviam conseguido. Eu segurei um suspiro longo quando minha namorada disse:

- Eu perdi, não foi? Perdi meu bebê.

Eu testemunhei toda a batalha interna que havia passado decidindo se iria continuar ou não com a gestação. Depois da decisão, nós nos desdobramos em vários pedacinhos para pensar em um plano para que a criança pudesse sobreviver. Era quase possível assistir suas forças sendo destruídas quando a curandeira assentiu com a cabeça.

- Eu sinto muito, querida. Você já chegou aqui em processo de abortamento - a senhora disse e não se mexia. - Eu não tinha muito o que fazer. Eu sinto muito.
- Eu sei que a senhora fez o que podia - respondeu. - Eu senti que estava tudo acabado quando comecei a sangrar. Obrigada, madame Pomfrey.
- Você é nova, querida - a curandeira disse e segurou a mão de . - Você não está infértil, pode tentar daqui a alguns anos.
- Eu queria esse - foi a única coisa que respondeu e puxou sua mão do contato com a mais velha. - Você pode nos deixar um pouco, madame Pomfrey?
- Claro, claro - a senhora disse e se levantou, saindo e puxando os biombos ao redor.

não disse nada. Continuou olhando para seus pés que balançavam levemente por conta da altura do leito hospitalar. Eu me aproximei devagar e me sentei ao seu lado, fazendo um carinho em seu braço. puxou minha mão direita e entrelaçou nossos dedos, continuando em silêncio. Eu queria chorar ao vê-la daquele jeito. Queria dizer que sentia muito e até que nós podíamos tentar novamente se ela quisesse. Mas eu não consegui. As palavras e o choro travaram em minha garganta e ficava até difícil respirar.

- É minha culpa - disse depois de alguns minutos. - Isso foi porque eu não queria no começo.
- Amor, não… - eu comecei a dizer, mas fui cortado.
- Ele estava no único lugar onde ninguém podia alcançá-lo - ela respondeu. - Meu ventre era o lugar mais seguro. Eu deveria protegê-lo e eu falhei.
- , isso não foi tua culpa - eu reafirmei, mas sabia que não iria surtir muito efeito. - Foi uma fatalidade, você foi atacada. Eles queriam te matar.
- Eu deveria ter sabido melhor - ela respondeu. - Nós devíamos.
- Eu sei e eu sinto muito - eu disse. - Eu não deveria ter ido embora.
- Não, não deveria.
- Eu queria voltar no tempo e… - eu estava falando, mas fui cortado.
- Não, Draco. Acho que não adiantaria - disse - Foi ingênuo da nossa parte achar que daria certo.
- … Nós precisamos conversar, eu preciso te contar tudo o que aconteceu - eu disse como uma última tentativa de evitar que a menina se fechasse.
- Eu… Eu ainda não consigo, Draco - ela respondeu com os olhos marejados. - Eu quero dormir, por favor, peça a madame Pomfrey para me trazer uma poção do sono quando você sair - finalizou o assunto e voltou a se deitar, dando-me as costas.

Eu não consegui responder nada, então apenas me levantei. Em minha cabeça, nós iríamos ficar grudados no segundo em que ela tinha acordado, então me choquei quando educadamente me pediu para ir embora. Algo dentro dela havia mudado e não tinha sido para melhor. Eu olhei para uma última vez e vi seus olhos parados encarando o chão de pedra. Arrumei os biombos e depois de dar o recado a madame Pomfrey, eu corri para um banheiro qualquer e me tranquei em uma das cabines. A vontade de chorar de desespero veio e eu me permiti, deixando fluir tudo o que estava preso. Aquilo era difícil demais. Nós estávamos quebrados, cada um à sua maneira. O medo dela me culpar vinha em ondas gigantescas e eu me sentia cada vez mais afundando nesse mar de culpa, medo e incerteza. A que acordou não era a mesma que havia sido colocada para dormir. Era outra pessoa e eu não reconhecia. Eu percebia o movimento que estava fazendo desde que acordara. Ela ficou feliz por me ver, mas a constatação de ter perdido nosso feto havia mudado algo. Uma virada de chave em sua mente despertou algo que eu não conhecia. De repente, eu senti medo.
Senti medo porque dentro de mim algo se agitou: o fim de nós dois estava próximo. Antes de , eu estava determinado a fazer isso, pois sabia que eu só havia destruído a vida da garota, mas quando o momento de executar a ação chegou, eu me apavorei. Eu continuava amando com tudo o que havia de bom em mim. Minhas poucas virtudes eram totalmente para ela. Entretanto, era exatamente por isso que eu precisava ir. estava certa, nós tínhamos sido ingênuos de achar que as coisas iam dar certo. Nós não merecíamos que nosso plano desse certo por sermos nós: os dois traidores de seus próprios movimentos.
Eu respirei fundo e decidi continuar agindo como se não tivesse acordado, então, apenas saí do banheiro depois de lavar o rosto e vestir minha postura indiferente e desafiadora. Quando saí, as irmãs Greengrass estavam conversando baixinho, sentadas em um banco perto da saída e Daphne acenou para mim quando eu passei. Retribuí de qualquer jeito, mas não pude deixar de notar a irmã mais nova me olhando seriamente. Eu ignorei as duas e segui meu caminho, indo para a aula de Poções.

’s POV

Eu deveria ter continuado desacordada. Doía menos. A tristeza tinha me sugado completamente e eu só queria apagar. Sumir. Desaparecer. Nenhuma palavra de conforto de qualquer pessoa seria o suficiente para me ajudar. A culpa por ter sido fraca apertava meu peito ao ponto de me deixar sem ar. Nem conseguir me vingar, eu tinha conseguido. Madame Pomfrey veio com a poção de sono e eu tomei, sentindo a bendita inconsciência me beijar. Acordei quando já estava escuro e a Ala Hospitalar estava silenciosa. As palavras da curandeira haviam me perfurado como facas e eu me sentia uma incompetente. Talvez tudo aquilo tivesse acontecido porque eu e Draco seríamos péssimos como pais. Uma péssima bruxa, uma péssima rebelde e uma péssima mãe. A culpa dentro de mim era tão grande que eu me sentia engasgada com ela parada em minha garganta. Uma sucessão de erros havia custado a vida daquele feto. Aquele feto que eu não queria e depois passei a querer como meus pulmões querem ar. Draco não estava lá e eu agradeci aos céus, pois não conseguia vê-lo.
Eu sentia que o menino tinha muita coisa para falar, muitas explicações a dar e muitos pedidos a fazer, mas eu sabia que tudo o que ele teria que me falar era pesado demais. Não conseguia suportar o pedido mudo dele para que eu não o culpasse. Entretanto, era inevitável. Eu tinha dito para ele não ir embora, eu tinha avisado que a situação era estranha, mas ele não me escutou. Ele havia caído na armadilha e me puxado junto. Em seu olhar, eu via que o garoto buscava absolvição, mas eu não podia dar isso a ele, pois não conseguia fazer isso por mim. Esse peso eu carregaria para sempre.
Eu continuava amando Draco. Deus, como eu amava! Eu tinha ganhado forças para acordar só de ter escutado a voz dele, mas agora… agora eu queria ter continuado a dormir. Para sempre. No silêncio da Ala Hospitalar, foi mais fácil prestar atenção em meu próprio corpo e meu estômago roncava apesar de eu perceber uma poção caindo para dentro do meu braço. Eu me sentia bem. Meu corpo parecia recuperado. Eu queria sair daquele lugar, sair de Hogwarts se houvesse algum jeito. Ouvi passos e madame Pomfrey apareceu já com suas roupas de dormir. Ela me deu um sorriso singelo e se aproximou.

- Como está se sentindo, querida? - ela perguntou enquanto checava a poção.
- Bem, mas gostaria de comer alguma coisa e tomar banho - respondi sem dar muitos detalhes. - Teria como?
- Chamarei Draco para te ajudar e…
- Não, por favor - eu cortei a curandeira. - Ele não. Eu consigo sozinha.
- Por que não? - madame Pomfrey perguntou. - O que houve?
- Eu… - eu não sabia explicar. - Ele me olha como se eu tivesse que perdoá-lo.
- Ele também perdeu um filho, senhorita - a senhora me disse e quando eu percebi, eu já tinha os olhos ardendo. - Ele já te contou o que aconteceu enquanto você dormia?
- Eu só não queria falar sobre isso, ele ainda não me disse nada – respondi. - Não me sinto pronta para esta conversa.
- Tudo bem, como quiser - a senhorinha disse e se afastou.

O choro veio naquele momento e eu derramei minhas lágrimas em silêncio, tentando não acordar os outros alunos. Eu não entendia, mas queria me isolar e lamber minhas feridas em paz. Queria prantear meu filho não-nascido sozinha, chorar por todo o tempo em que eu fiquei desacordada prestes a morrer. Madame Pomfrey voltou e me conduziu ao banheiro que havia na Ala Hospitalar e pela primeira vez, eu pude avaliar meu corpo enquanto a bruxa me ajudava. Eu estava claramente mais magra e várias cicatrizes estavam salpicadas pelo meu corpo. Encarei aquela na minha coxa, onde Aleto havia cravado o punhal e foi impossível barrar a memória. Toquei o lugar e senti a dor novamente. Olhei para o espelho e para o meu desespero, Aleto estava parada ali. Meu coração acelerou e quando olhei para trás, não havia nem sinal da bruxa.

- Tudo bem, senhorita ? - madame Pomfrey perguntou ao notar minha movimentação acelerada.
- Sim, eu… - eu disse e me aproximei dela. - Estou bem.

O banho ajudou a tirar a sensação de entorpecência, mas eu queria continuar deitada. O jantar da escola tinha acabado de ser servido, então foi fácil para a curandeira dar alguns agitos na varinha e uma refeição chegar até mim. Eu comi com certa dificuldade, mas o purê de batata estava delicioso. Ninguém ainda podia me visitar e eu continuei sozinha para o meu alívio. Voltei a encarar o teto, aquele que no ano letivo havia me surpreendido por ter figuras esculpidas e nem notei quando adormeci. Então, eu estava novamente na sala de Amico Carrow. Novamente na cadeira de madeira e ferro. Os três comensais estavam lá e riam de mim enquanto eu abortava. Entretanto, daquela vez eu estava nua, logo, podia ver o sangue verter com mais facilidade. Lord Voldemort entrou pela porta e se aproximou.

- Draco deveria me agradecer por eliminar um bastardo - ele dizia, mas de repente seu rosto se transformava no rosto de Lúcio Malfoy. Eu queria gritar, mas não conseguia e as cólicas me faziam suar de tanta dor. A dor foi tão intensa que eu acordei. O dia já havia raiado, mas devia ser muito cedo, pois eu não escutava barulho nenhum.

Olhei para o lado e Draco estava dormindo de modo desajeitado em uma cadeira ao meu lado. Em algum momento daquela noite, ele havia aparecido. Meus olhos se encheram de lágrimas e uma tristeza imensa me inundou. Ele parecia tão cansado, mas mesmo assim estava lá. Por mim. Eu me lembrava de olhar para a porta e esperar que ele entrasse para me ajudar. Era triste saber que ele não havia conseguido chegar a tempo. Assim como eu tentei me defender e manter o feto a salvo, ele havia feito a parte dele. Entretanto, eu ainda não estava pronta. Voltei a deitar e me coloquei a observar Malfoy, percebendo que ele já não era mais um garoto. O cansaço estava lá e eu sabia que Draco tinha passado dos limites mais vezes neste último mês do que em toda a sua vida. E tudo por mim.
De repente, eu me senti pesada e um fardo que ele não merecia carregar. Nós nos tornamos pesados um para o outro, eu depositei minha carga em suas costas e ele depositou a dele nas minhas e agora, não tínhamos mais nada além do cansaço. Eu adormeci novamente enquanto olhava Malfoy. O dia veio e quando abri os olhos, Malfoy estava sentado me observando com uma expressão triste. Entretanto, seu rosto se iluminou um pouco ao colocar seus olhos no meu.

- Oh, como você se sente? - ele perguntou e eu notei receio em sua voz.
- Bem e você? - perguntei e cocei meus olhos, empurrando o cobertor e me sentando. - Você não precisa mais ficar dormindo aqui, Draco. Minha varinha está aqui, eu posso me defender.
- Não, eu - ele deu uma pausa e eu percebi que ele havia ficado triste com minhas palavras. - Tudo bem, como você quiser. Acho prudente você fazer algum feitiço de proteção ao redor do teu leito.
- É uma boa ideia.

O silêncio pairou entre nós e ele incomodava, entretanto, eu não sabia o que falar. Vi a expressão no rosto do garoto e de repente, o ar ficou difícil de ser puxado. Eu suspirei e senti vontade de chorar, mas me segurei. Tudo estava diferente, mas eu não sabia consertar e nem se eu queria consertar. Deixar as coisas pegarem fogo parecia uma boa ideia. Draco se levantou e respirou fundo e foi até o biombo, mas parou seus movimentos.

- Você precisa de alguma coisa? - ele perguntou. - Algum doce, alguma roupa? Posso tentar conseguir.
- Não, Draco, eu estou bem - eu respondi. - Eu preciso sair daqui, não é?
- Sim, eu já estou resolvendo isso - ele disse. - Estou pensando em algo e…
- Vai ficar tudo bem, não é? - Eu debochei de suas promessas sem pensar e percebi seus ombros caírem. - Desculpe, eu não…
- Eu sei que você me culpa - Draco disse. - E eu também me culpo. Eu sei que eu não deveria ter ido e…
- Draco, por favor - eu pedi já quase em prantos. - Eu não consigo fazer isso agora. Eu não quero brigar com você. Só me deixe quieta.
- Então, eu não venho mais - ele decretou como um garoto mimado e eu senti vontade de revirar os olhos.
- Se é isso que você quer, Malfoy - eu respondi.
- Não é, mas é isso que você precisa - ele disse e saiu dali sem olhar para trás.

A vontade de ir atrás dele nasceu, mas eu a matei rapidamente. Eu o amava, mas continuava querendo distância. Os olhos de Draco pediam por perdão e por ajuda, mas eu não conseguia. Eu não podia tomar conta dele agora. Então, eu me afastava. Deixava as águas me levarem para longe dele enquanto assistia o garoto gritar meu nome. Eu me lembrava de como estávamos conectados antes de tudo acontecer, mas aquilo parecia um sonho. Uma lembrança turva da infância que não temos certeza se aconteceu ou não. Eu sentia nosso relacionamento acabando, mas não tinha forças para tentar fazer alguma coisa. Eu apenas esperava por um milagre que fosse consertar tudo ou um milagre que fizesse tudo desmoronar de uma vez. Entretanto, eu sabia que não podia continuar adiando aquela conversa, pois cada minuto a mais que eu evitava Malfoy, a dor dele aumentava e eu não queria deixá-lo daquele jeito por mais que precisasse de distância.
Levantei da cama e decidi preparar os feitiços necessários para que ninguém me descobrisse e passei o resto da manhã me esforçando para conseguir fazer isso. Precisava acordar minha magia e voltar a ser quem eu era o mais rápido possível. Posicionei minhas mãos para o alto e me concentrei, pensando em todos os feitiços de proteção que eu conhecia. Salvio Hexia veio em minha mente e eu consegui ver um campo de força saindo de minha varinha e envolvendo toda a região ao redor da minha cama. O próximo feitiço a pipocar em minha mente foi o Cave inimicum e um poderoso escudo que barrava qualquer um de me ver, ouvir ou sentir meu cheiro foi erguido. Lancei também Repello Inimicum para repelir qualquer um que tentasse penetrar minha barreira. Por último eu lancei o Fianto Duri para fazer com que os dois feitiços anteriores continuassem a funcionar mesmo sem eu estar com a varinha em riste. Senti minhas barreiras erguidas e me sentei observando toda a Ala Hospitalar que agora enxergaria uma ainda desacordada. Eu estava sozinha e protegida e, pela primeira vez desde que eu acordara, eu consegui respirar aliviada. Assisti madame Pomfrey se aproximar e parar seus passos. Eu agitei a varinha e derrubei meus escudos para permitir que a senhora entrasse.

- Os escudos são bons - ela disse com um sorriso. - Vim colocar mais uma poção de cura.
- Eu ainda preciso delas? - eu perguntei, mas me deitei e permiti que a curandeira fizesse o procedimento. Suprimi uma careta quando a agulha furou meu braço.
- Infelizmente sim - a senhora respondeu. - Como eu ainda não sei como você acordou já que seu prognóstico não era animador, eu preciso continuar ministrando essas poções para você ficar totalmente boa.
- Eu acho que eu estou boa - eu argumentei. - Eu digo porque consegui erguer uma barreira de proteção aqui mesmo.
- Você sempre foi boa em se proteger - madame Pomfrey disse com um pequeno sorriso. - Prometo que essa será a última.
- Ok - eu respondi e quando olhei atrás dela, enxerguei novamente Aleto Carrow parada perto da mesa da curandeira. Dei um grito e peguei minha varinha no mesmo momento. Madame Pomfrey se assustou e se mexeu, olhando para trás, mas no segundo em que ela fez isso, Aleto desapareceu.
- O que houve, querida? - ela perguntou assustada. Meu coração estava acelerado e minha boca completamente seca.
- Eu… - eu travei e meus olhos arderam. - Eu pensei ter visto Aleto ali.
- Oh, querida, fique calma - a curandeira disse com um sorriso, mas também assustada. - Eles não sabem que você acordou. O senhor Malfoy tem cuidado muito bem disso, você está segura e permanecerá segura.
- Eu sei, mas é que a imagem é muito real - eu expliquei. - Essa é a segunda vez que eu a vejo.
- Senhorita , você passou por um trauma muito grande - ela disse. - Não é porque você acordou que não há mais nada para ser curado. Eu espero que o senhor Malfoy consiga logo te afastar deste lugar. Você só vai se livrar destes fantasmas quando sair do Castelo. Você quer alguma poção para essas alucinações? Podemos tentar alguma coisa.
- Eu seria muito grata, madame Pomfrey - eu respondi e percebi que ainda estava ofegante. - Acho que iria me ajudar muito.
- Eu vejo o que eu posso fazer, mas, você já se esforçou muito, senhorita - ela disse. - Tente descansar agora, tudo bem?
- Eu vou tentar, obrigada pela ajuda - eu respondi e ergui meus escudos assim que a curandeira passou pelo biombo.

A imagem das pisadas de Aleto Carrow em meu sangue vieram assim que fiquei sozinha e eu me vi tremendo, encolhida deitada na cama. Meu nariz ardeu como se eu tivesse levado o soco de Jugson novamente e meus olhos se encheram de lágrimas. As lembranças eram intensas e eu me vi olhando fixamente para a porta com a varinha em mãos prontas para qualquer coisa. A cada vez que a porta de carvalho se abria, eu prendia minha respiração e preparava um feitiço. Era como se eu não tivesse nenhum escudo me protegendo. Eu precisava continuar em alerta, caso contrário, algo poderia acontecer. Eles poderiam voltar para finalizar o trabalho. Meu coração estava tão acelerado e meu estômago se revirava de dor, mas eu não podia relaxar. Eles viriam e essa era a minha única certeza.

Draco’s POV

A indiferença de me acertou em cheio. Cada sílaba veio recheada de desprezo e eu me sentia um idiota por continuar tentando mantê-la a salvo. A vontade de deixá-la, mandá-la ir se foder e assumir minha postura de comensal veio junto com a raiva, mas eu sabia que não seria justo. De fato, tudo era minha culpa e se tinha raiva de mim, eu não podia culpá-la. Ela tinha avisado e pedido para que eu não fosse e eu ignorei. Talvez esse ataque tenha mudado as coisas para sempre. Eu sentia que nós ainda não sabíamos a dimensão de todos os estragos.
Eu tinha uma última coisa a fazer: cumprir minha promessa de manter a salvo até o fim do ano letivo. Cumprindo a última promessa e eu poderia caminhar para o mais longe de e assim, realizar seu desejo de se ver livre daquele que mais uma vez tinha quebrado outra promessa. A aula de Feitiços estava quase acabando e depois de quase um ano, eu já havia aprendido que a Grifinória estava tendo aula de Transfiguração naquele mesmo corredor. Eu precisava mais uma vez conversar com os dois amigos de e contar com a ajuda deles para concluir meu plano. O sinal tocou e eu saí da sala, deixando meus colegas sonserinos para trás. Eles nem perguntavam mais onde eu estava indo ou que estava fazendo, já tinham entendido que eu não estava mais aberto a conversas. Entretanto, eu percebia os olhares e cochichos todas as vezes.

Encontrei Longbottom e Grings conversando enquanto saíam da sala e assim que os dois me viram, ficaram tensos. Eu voltei a andar para longe da multidão de alunos e sabia que os dois me seguiam, aquela havia se tornado nossa dinâmica quando eu precisava dialogar com os dois idiotas. Virei em um corredor vazio e fui até a janela. Os dois pararam ao lado e ficamos em silêncio por um momento enquanto eu lançava um feitiço para disfarçar nossa conversa e assim nenhuma informação ser vazada. Eu suspirei e disse:

- Eu já sei o que nós vamos fazer.
- O que? - Grings perguntou.
- Vamos mover e Longbottom esta noite para a Sala Precisa - eu respondi. - já está boa o suficiente para caminhar e lançar feitiços.
- Tudo bem, que horas? - Longbottom perguntou.
- Meia noite - eu disse. - Saiam da Grifinória evitando as escadas principais. Grings, eu preciso que você seja a distração.
- Deixa comigo, Malfoy - ele respondeu. - Como Vitória está?
- Bem - eu disse. - Estejam prontos.

Eu voltei a andar e decidi ir para a Sonserina tentar estudar alguma coisa e me distrair, mas eu sabia que era inútil. Meu coração estava apertado e a ideia de terminar com piscava como se estivesse escrita em uma placa gigantesca. Eu precisava deixá-la em paz. Era isso que ela queria e era o certo a fazer. Eu havia destruído tudo e não havia mais nada. A dor que a garota sentia tinha sido causada unicamente por mim e eu não via como eu podia melhorar as coisas. Não havia como. Uma vontade de chorar se apossou de mim, mas eu me segurei. O tempo das lágrimas havia passado e eu precisava agir. Arrancar de vez aquela árvore que havia apodrecido.
Eu sempre pensei que nós seríamos eternos. Eu pensei que depois de Hogwarts e talvez depois de Potter e Voldemort, nós conseguiríamos prosperar. seria a senhora Malfoy e eu comandaria a família depois de meu pai. Depois do feto, esse pensamento havia mudado, mas ainda estava lá. Vivendo comigo como dois caipiras na casa de campo esquecida, mas haveria uma pequena criança correndo pelo lugar e tudo estaria bem. Eu sempre pensei que éramos indestrutíveis e que nada nos derrubaria novamente. Tínhamos reconstruído tudo com muito trabalho duro e amor. Eu sabia que tinha sido difícil para me perdoar da primeira vez, mas daquela, seria impossível. A ferida era profunda demais.
O dia passou para o meu total desespero e o grande relógio pendurado na parede da Sonserina indicava seis da tarde e horário do jantar. Eu precisava continuar com a minha rotina que consistia em: jantar e subir para a Ala Hospitalar. Precisava continuar agindo como se estivesse desacordada, pois eu sabia que todos me observavam, especialmente Snape e os dois comensais gêmeos. Eu precisava continuar fingindo que nada tinha melhorado. Eu sabia que os professores também estavam envolvidos na armação e nunca entenderia o altruísmo dessas pessoas.

Entretanto, naquele dia eu não queria subir. Não queria encontrar e ter que encarar seus olhos apáticos. Só de pensar em confrontá-la, meu estômago doía. A covardia que sempre me acompanhou sentou ao meu lado e durante todo o jantar, eu enrolei o triplo para comer e tentei me convencer de que eu precisava tomar um banho longo e demorado. E foi o que eu fiz, mas como eu não controlava o tempo, ele correu mais depressa do que eu poderia acompanhar e lá estava eu, novamente, travado em frente a porta da Ala Hospitalar pensando no que eu falaria. Eu havia dito que não iria mais aparecer, mas novamente eu estava quebrando outra promessa. Empurrei a porta e fui até o leito de , notando o feitiço que projetava a garota desacordada para qualquer desavisado. Notei que madame Pomfrey tinha colocado biombos ao redor de todas as camas utilizadas, então nenhum estudante internado via o que estava acontecendo ao redor. Eu parei em frente ao leito de e esperei até sentir os escudos de proteção se dissipando em minha frente. Quando eles finalmente caíram, eu pude enxergar a realidade: , sentada em uma cadeira, observando a janela e com a varinha nas mãos, pronta para um ataque. Meu coração se agitou e eu senti meu amor se debatendo, pedindo para que eu insistisse. notou minha presença e deu um suspiro, virando seu rosto para mim, colocando seus olhos tristes em meu rosto.

- Draco - ela disse meu nome.
- - eu respondi e caminhei até ela lentamente, tentando adiar de forma quase infantil tudo aquilo. - Eu já combinei com os teus amigos. Nós vamos para a Sala Precisa à meia noite.
- Tudo bem - ela respondeu baixo. - Obrigada por tudo o que você fez e tudo o que está fazendo agora.
- Eu prometi que iria manter você viva - respondi.
- Nós precisamos conversar - ela disse, por fim e me olhou com os olhos mais doloridos que eu já vira em toda a minha vida.
- Sim, nós precisamos - eu respondi. - Você já está pronta?
- Sim, acho que eu estou - ela respondeu. - Não dá mais para adiar isso.
- Por onde você quer começar? - eu perguntei.
- Pelo começo - ela respondeu. - Fale o que aconteceu depois que você saiu do castelo.

E nas próximas duas horas, nós decidimos falar sobre tudo o que havia acontecido. Eu contei sobre o ataque que tive no trem e como eu fui obrigado a fechar minha mente, pois eu estava sentindo todas as torturas por causa da ligação mágica. Contei sobre minha tia e sobre como fomos surpreendidos por Harry Potter. começou a chorar quando eu disse que tia Bella havia torturado Hermione e depois quando eu disse que Lord das Trevas havia me batido.

- Ele bateu em você? - ela disse horrorizada e com os olhos úmidos.
- , já passou, eu estou bem - eu disse para tranquilizá-la. - Ele admitiu que sabia de tudo e que Aleto, Amico e Jugson agiram sob suas ordens. Tudo era um plano para machucar nós dois e quebrar nossa ligação.
- Por que? - ela perguntou.
- Porque você é uma Dumbledore e você é você, - eu disse e suspirei. - Você causa problemas e precisava ser silenciada, mas Lord das Trevas não queria isso de modo simples. Ele queria brincar e me mostrar que tinha o controle de tudo, até de quem eu amo. Eu continuei a ser punido pelos erros do meu pai no meu quinto ano. Não acabou ano passado e claro, ele tinha que envolver você.
- Sempre fomos peças no tabuleiro dele, não é? - ela disse pensativa. - Desde o começo, desde o ano passado. Eu nunca tive chance. Sempre fui um brinquedo.
- Todos nós somos, - respondi com pesar, mas segurei o impulso de segurar em sua mão. - Potter conseguiu resgatar todos os nossos reféns, inclusive a Lovegood. Rabicho acabou morrendo enforcado pela própria mão metálica, presente do milorde.
- Eu sabia que Potter nunca me decepcionaria - comentou e esboçou um sorriso realmente feliz. - Isso é muito bom, nossa! Finalmente Luna está segura! Agora Rabicho…
- Pois é, quando descemos as escadas - eu expliquei. - O corpo dele estava perto da porta. Não sabemos o que aconteceu, mas a mão metálica estava em seu pescoço.
- Isso é horrível - ela disse com uma expressão assustada. - Morto enforcado pela própria mão.
- Ele talvez tenha ajudado Potter - eu sugeri. - Milorde só disse que ele era um traidor.
- E depois o que aconteceu? - ela perguntou e eu senti minha boca secar ao responder.
- Depois eu voltei para cá.
- Você voltou? No mesmo dia que tudo isso aconteceu? - ela perguntou surpresa.
- É claro, eu disse que voltaria num piscar de olhos - eu repeti o que havia dito antes de partir e provoquei um choro na menina. - Eu sinto muito por não ter chegado antes. Eu tentei.

n/a: dê play na música e deixe tocar até a conversa dos dois acabar!

ficou em silêncio e desviou o olhar para algum ponto ao meu lado. Eu abaixei a cabeça e de repente, me senti constrangido. Eu queria ir embora dali, queria correr para o mais longe dela e me isolar. Olhei rapidamente para seu rosto e ela estava chorando copiosamente enquanto ainda segurava sua varinha. Eu achava que se sentia do mesmo jeito. Eu suspirei e me levantei, caminhando até a janela para me afastar um pouco daquela atmosfera pesada. Percebi que me seguiu com o olhar, mas não disse uma única palavra. Ficamos em silêncio por mais alguns instantes, até que ela disse:

- E depois?
- Depois eu permaneci aqui - eu respondi. - Vim todos os dias até você acordar. Briguei com Snape porque ele não queria te transferir para o St. Mungus e descobri que ele já tinha desistido de você.
- Isso não me surpreende nenhum pouco - ela disse. - O que me surpreendeu foi ele ter aparecido na sala dos Carrow naquele dia. Eu sabia que estava prestes a morrer e sabia que matar os três ia ser minha última missão, mas Snape apareceu e me levou para a Ala Hospitalar. Madame Pomfrey disse que ele junto com Slughorn fizeram os primeiros socorros.
- Eu nunca vou entender Snape - eu respondi. - O jogo dele é muito confuso. Todos os professores ajudaram você de alguma forma. Eu sempre encontrava Flitwick saindo quando eu chegava pela manhã.
- E os Carrow? - ela perguntou e eu notei um olhar rápido para a porta no segundo seguinte ao que proferiu o nome dos comensais.
- Eles voltaram em abril, um pouco antes de você acordar - eu expliquei. - Fui falar com o Snape desesperado para ele te transferir novamente, mas não deu certo. Os três ainda acreditam que você está desacordada. Continuo a viver como se você não tivesse acordado.
- E meus pais? - ela disse. - Deus, eu preciso falar com eles. Minha última carta foi sobre o bebê, preciso avisá-los que… - parou de falar.
- Eu já cuidei disso - eu respondi e ela me olhou ainda mais surpresa. - Mandei uma carta para eles contando o que aconteceu e eles me responderam. Aqui está.

Eu tirei o pergaminho do bolso e entreguei para . A garota pegou o pedaço de papel e ficou encarando por alguns segundos antes de abrir e ler o conteúdo. Seus olhos voltaram a se encherem de lágrimas e eu desviei o olhar. demorou mais alguns minutos no papel e quando terminou, enxugou o rosto com as costas da mão esquerda. A direita continuava a segurar a varinha.

- Obrigada, Draco - ela disse e finalmente me olhou. - Eu não acho que conseguiria contar para eles que deu tudo errado. Obrigada.
- Não precisa agradecer, - eu respondi. - Eu fiz porque achei que seria o certo. Bom, esta carta chegou no mesmo dia que eu recebi a visita daquilo que eu tenho certeza foi o responsável por curar você.
- O que? - ela perguntou intrigada.
- Eu estava bem aí, sentado e observando você dormir pela milésima vez - eu disse. - Ouvi um barulho na janela e quando olhei, vi que havia um pássaro do lado de fora. Pensei que fosse uma coruja, mas quando eu abri, a fênix de Dumbledore estava parada lá.
- O que? - disse perplexa. - Fawkes? Ele veio até mim? Eu pensei que ele nunca mais iria aparecer.
- Bem, ele é teu, não é? - eu respondi. - Eu deixei a ave entrar e ela chorou sobre sua testa por alguns minutos e depois, simplesmente foi embora. Eu acho que foi isso que te salvou. As lágrimas de fênix são curadoras, não é?
- Por Merlim - disse ainda surpresa. - Isso explica tudo, não é? Ninguém sabe disso além de nós, certo?
- Sim, não achei certo sair contando para ninguém - eu disse. - Se a fênix não tivesse vindo, você nunca teria acordado.
- Eu penso do mesmo jeito - disse. - E então eu acordei.
- Então você acordou - eu repeti e me lembrei da pergunta que eu estava ansioso para fazer. - O que aconteceu quando eu fui embora?
- Bom, eles estavam me esperando no momento em que você desceu a colina para ir embora - disse. - Os meninos haviam subido na frente e eu tive que subir sozinha. Os comensais me encurralaram no quarto andar. Devem ter pensado previamente no que fazer, pois não consegui me esconder em nenhum lugar. Todas as salas estavam trancadas. Amico me atacou e eles me levaram para a sala dele. A partir daí, você pode imaginar o que aconteceu.
- , ele tocou em você? - eu perguntei sentindo um gelo descer pela minha espinha com medo da resposta.
- Sexualmente? Não - ela respondeu. - Embora, eu senti essa energia emanando de Jugson quando era a vez dele de me torturar.
- Jugson ainda não se recuperou - eu disse. - Você fez um bom trabalho quando atacou o comensal.
- Só não consegui atacar direito os Carrow - ela disse e eu senti uma fúria contida em suas palavras. - Ainda não entendi o motivo deles não terem aparecido aqui, mas estou em alerta.
- Eu ameacei Amico assim que ele voltou - eu expliquei. - Eu disse que mataria Flora e Hestia se algo acontecesse com você e acho que ele levou a sério, pois deixou você em paz.
- E você estava falando sério? - ela perguntou um pouco chocada.
- , você sabe que eu não me importo com ninguém além de você - eu respondi sendo sincero, mas depois me arrependi. - Quer dizer, você sabe que eu não respeito a vida de ninguém.
- Eu sei - ela respondeu e riu um pouco. - Bom, isso está nos dando algum tempo.
- Sim - eu disse. - Eu venho te buscar às onze e meia da noite, tudo bem? Mandei teus amigos subirem à meia noite porque a sala vai abrir primeiro para quem precisa mais.
- Tudo bem - ela me respondeu. - Obrigada por tudo, Malfoy. Eu acho que teria morrido se você não tivesse cuidado de tudo.
- Eu sei que você faria o mesmo por mim - eu respondi e finalmente coloquei meus olhos na garota. Meu coração pulou uma batida e eu me senti fraquejar no meu propósito.
- Eu faria - ela respondeu e me deu um sorriso contido. - Mil vezes se fosse necessário.

Ficamos em silêncio enquanto nossos olhares examinavam um ao outro. Eu sentia que sabia qual seria o rumo da conversa a partir daquele momento. Entretanto, ninguém parecia pronto para dar esse passo. Como em um enredo clichê e de pouca graça, toda a nossa história se repetia em minha cabeça somente para que eu hesitasse ainda mais. Nossa ligação mágica havia sido quebrada por mim quando eu senti as torturas e, portanto, nem ela poderia nos ajudar naquele momento. Não havia magia, runa ou poção que pudesse fazer algo por nós. Era melhor que nós tivéssemos caminhos diferentes. Perder nosso filho foi a primeira pá de terra jogada em cima do nosso relacionamento. Eu não podia mais prejudicar a vida de . Ela estava naquela situação porque fui egoísta. Ela estaria mais segura se nunca tivesse voltado para a escola no natal. Eu olhei seu rosto choroso, seus cabelos presos de qualquer jeito, seu corpo debilitado e a varinha sendo segurada por mãos cheias de cicatrizes. Ela era linda e eu sabia que meu coração pertencia inteiramente a ela. Entretanto, por mais amor que eu tivesse em mim, eu ainda a machucava. Ela estaria melhor com qualquer outra pessoa. E daquela vez eu precisava deixar meu egoísmo de lado uma última vez. Então por que eu não conseguia dizer as palavras para deixá-la livre? Por que eu não conseguia acabar logo com isso e deixá-la segura?

- Draco - me chamou e eu a olhei. - É agora, não é? É agora que nós nos separamos de uma vez por todas, não é? É isso que você está enrolando para falar?
- … - eu comecei a dizer, mas fui cortado.
- Eu sei que você está pensando nisso porque eu também estou - ela revelou o que eu já suspeitava. - Eu sei que você não quer que eu te culpe, eu sei que você quer que eu te perdoe, mas não acho que eu consiga mais. Eu também me culpo. Eu deveria protegê-lo, mantê-lo a salvo. Não acho que vamos conseguir passar por isso.
- Eu sei, - eu respondi. - Eu nunca fui uma boa opção para você. Desde o começo. Eu te magoei infinitas vezes, traí tua confiança e te desapontei. Você passou por tudo isso porque eu não te escutei. Eu sei que a culpa é minha, mais minha do que tua. Eu deveria saber mais. Eu atrapalho você e…
- Isso não é verdade, Draco - ela me cortou. - Eu amo você. Meu coração é inteiramente teu e eu iria até ao Hades pra te buscar, se fosse necessário. Isso não vai mudar. Você nunca me atrapalhou. Eu sempre escolhi você e sempre foi uma escolha consciente. Mesmo com todo mundo me achando louca por amar um inimigo, mesmo com todos os riscos. Só que agora…
- Agora não dá mais, certo? - eu completei e ela assentiu com os olhos marejados novamente. - Agora você não consegue me olhar sem lembrar de tudo o que aconteceu.
- E agora eu preciso voltar para a luta e depois de Hogwarts também - ela disse. - Eu sei que eu prometi para você que iria me manter segura, mas…
- Mas agora você não precisa mais proteger ninguém, não é? - eu a cortei. - Eu sei, . Acho que chegamos no ponto em que não dá mais para fingir que isso, nossa relação, dá certo apesar de todo o resto.
- O resto nos engoliu - ela completou. - Eu realmente achei que nosso plano iria dar certo, sabia?
- Eu também, - respondi e dei um sorriso triste. - Fugir com você era o que me dava vontade de continuar existindo. Foi bom ter uma motivação, afinal de contas.

não me respondeu. Eu encarei meus sapatos porque era mais fácil do que olhar para ela. Meu sentimento por ela continuava o mesmo. Eu ainda sentia vontade de sorrir quando a via e o sorriso dela era minha coisa favorita do mundo todo. O lugar dela em meu coração sempre estaria disponível. Nós não estávamos terminando porque não nos gostávamos mais, mas sim porque gostávamos demais um do outro para continuar causando mal. Era preciso admitir quando não dava mais. Em outros tempos, eu teria insistido e teria brigado até entender que ela deveria me perdoar. Porém, naquele momento eu sabia que isso era egoísmo demais. Era exigir demais de alguém que estava completamente quebrada.

- Eu sempre vou amar você - eu disse olhando em seus olhos e percebi a respiração de falhar. - Sempre vou me preocupar com você e sempre vou querer o teu bem. Você foi tão boa para mim durante todo esse tempo.
- Você também foi bom pra mim, Draco - ela respondeu. - Eu também sempre vou amar você. Na verdade, não acho que irei amar outra pessoa com a mesma intensidade que eu te amo. Eu não quero ter que fazer isso, Draco.
- Mas você precisa - eu respondi e ela assentiu. - Está tudo bem. Eu sei que você precisa voltar a ser quem você sempre foi. Nós podemos tentar de novo em outro momento…
- Sim, podemos - ela respondeu. - Quando tudo isso passar, nós podemos conversar e tentar de novo. Depois de Harry e Voldemort.
- Eu sinto muito, - eu disse finalmente e senti que aquele era o final da conversa. - Eu gostaria que nada disso estivesse acontecendo.
- Eu também, Draco - disse e levantou da cadeira onde estava sentada, vindo até mim. - Eu amo você.
- Eu te amo - respondi e veio até mim, me abraçando apertado.

Uma vontade de chorar veio até mim e fez meu nariz arder, mas eu me segurei em . O corpo dela estava mais magro e eu tinha medo de apertá-la mais e acabar machucando, mas eu a segurei como eu podia. O cheiro dela entrou pelas minhas narinas e eu pedi aos céus para que eu jamais esquecesse. Senti a textura de suas roupas e a textura de seus cabelos, tentando memorizar tudo o que eu podia. Eu não queria soltá-la. Queria travar o tempo de alguma maneira e ficar ali. se agarrou a mim com força e eu pude sentir o tecido da minha camisa na altura do ombro ficando molhado. Recebi beijinhos no pescoço e quando vi, a boca de vinha até minha com desespero. Nós nos beijamos e eu senti um alívio momentâneo, mas ele deu lugar à tristeza quando eu me dei conta de que aquele era o nosso último beijo. segurou em meu pescoço e me beijou devagar e eu sabia que ela estava aproveitando do mesmo jeito que eu: com a consciência de que aquela seria a última vez. Eu finalizei o beijo com um selinho longo. Não consegui olhá-la, então, beijei sua testa demoradamente. Nós nos olhamos depois de alguns segundos e sorriu.

- Eu venho te buscar no horário combinado, tudo bem? - eu disse.
- Claro. Obrigada mais uma vez, Draco - ela respondeu e se afastou de mim devagar. - Você precisa ir agora, não é?
- Sim, preciso aparecer no jantar - eu respondi e segurei em sua mão uma última vez, beijando a palma. - Vai dar tudo certo. Você só precisa ficar escondida esses últimos dois meses e eu já vou pensar em um jeito de te enfiar no expresso de Hogwarts no final.
- Eu acho que eu posso cuidar disso sozinha, Draco - ela respondeu. - Você já fez muito por mim. Não sou mais um fardo para você.
- Você nunca foi um fardo para mim, - eu respondi. - Jamais será.

Eu me afastei e esperei desfazer seus feitiços de proteção para que eu pudesse passar. Eu caminhei para longe e testemunhei quando os escudos começaram a se erguer. Eu consegui ver com o rosto vermelho uma última vez antes de receber a ilusão de seu corpo desacordado. Eu me virei para sair e madame Pomfrey estava sentada em sua mesa e me olhou com uma expressão triste. Eu apenas assenti e saí andando. A vontade de chorar ainda estava comigo, mas eu continuei segurando até finalmente chegar em um banheiro e me trancar em uma cabine. Estávamos acabados. Eu tinha deixado a garota em paz. Não iria machucá-la mais. Depois de Hogwarts, ela finalmente poderia seguir seu caminho sem precisar se preocupar comigo.

’s POV

Draco havia ido embora. Draco havia ido embora. Tinha acabado. Nós tínhamos terminado. Eu já não era mais uma responsabilidade do garoto e ele poderia ser o comensal que ele precisava ser sem a corda do conflito moral por me ajudar em seu pescoço. Agora eu poderia me esconder e fugir. Não tinha mais nada para me segurar em Hogwarts. O alívio veio acompanhado da tristeza e eu sentia que terminaria aquele ano letivo como terminei o ano anterior sozinha: em luto e sem Draco. A história se repetia. Eu perdi Dumbledore, perdi meu bebê e Draco havia ido embora. Era o preço a se pagar pela minha traição planejada. Malfoy havia saído e eu me permiti chorar um pouco mais, contudo, ainda olhava para a porta. O medo de ser descoberta pelos irmãos Carrow naquele momento de fragilidade não me permitiu ao menos dar uma pausa em minha vigília. Eu continuaria em alerta até poder sair daquele castelo.
No fundo, eu gostaria de ter sido forte. Gostaria que o meu amor pudesse ultrapassar a culpa e o arrependimento e queria me jogar nos braços de Draco até conseguir dormir sem ter pesadelos. A leveza da presença de Malfoy teria sido muito bem-vinda se ele não fosse um lembrete vivo do meu filho não-nascido. Meu embrião tinha acabado de se tornar um feto e em mais duas semanas, eu poderia descartar a fragilidade daquele período. Entretanto, não deu tempo. Aquela criança nunca existiria e seria apenas um pedaço da minha história. O laço que eu e Draco tínhamos foi destruído e eu não tinha ideia de que perder esta criança me destruiria tanto como destruiu.
A noite foi passando e depois de comer meu jantar que madame Pomfrey serviu, eu esperei pacientemente até que Draco voltasse para realizarmos nossa última empreitada juntos. O garoto apareceu e eu desfiz meus escudos uma última vez para ir até ele. Eu já andava normalmente e estava bem. Meu corpo estava curado e eu poderia lutar se fosse preciso. Malfoy me olhou com o olhar dolorido, mas mesmo assim, estava lá. Eu sabia que era difícil para ele, mas ele tinha vindo.

- Está pronta? - ele perguntou e eu assenti. - Vamos?
- Eu só preciso fazer uma coisa antes - eu respondi e caminhei até madame Pomfrey que estava parada com uma lamparina e já usava suas roupas de dormir. - Madame Pomfrey, eu jamais poderei agradecer o suficiente por tudo o que você fez por mim. A senhora salvou a minha vida. Eu estou viva por causa de você.
- Ora, criança - a senhorinha disse com algumas lágrimas nos olhos. - Eu estou aqui para isso. Dumbledore me escolheu para isso, salvar os alunos. Agora vá, esconda-se e seja feliz. Você merece, menina.

Eu e Draco subimos para o sétimo andar com certa dificuldade, pois era impossível não me assustar com cada mínimo barulho daquele castelo. Ele sabia que Hogwarts estava com poucos comensais, então era o dia perfeito. O garoto segurou minha mão com força e me guiou pelos pontos cegos. Malfoy evitava me olhar, mas sempre verificava se eu estava bem, pois sentia minha mão suada e gelada. Tudo estava indo bem até que eu ouvi passos e travei. Senti meu coração acelerado e quis correr para o outro lado. Era Amico. Ele estava ali. Ele estava ali.

- ? O que foi? - Draco perguntou tentando continuar a andar. - Não podemos parar.
- Tem alguém nesse corredor - eu respondi. - Amico vai me matar. Ele vai me matar.
- , não tem ninguém - Draco disse assustado. Eu soltei a mão dele e me encolhi sentada no chão enquanto hiperventilava. - Nós precisamos ir.
- Não, não, não - eu respondi e o olhei. - Eles vão me matar.
- Olha para mim - Malfoy pediu e se abaixou. - Não tem ninguém aqui. Confia em mim.

Eu queria correr, queria gritar para ele se afastar de mim, queria chorar, queria morrer para não ter que passar por isso. Meu corpo tremia inteiro e eu segurava minha varinha, mas parecia que eu não sabia usá-la. Ela tinha se tornado um graveto em minhas mãos. Eu comecei a chorar e cada vez os passos aumentavam. Amico estava vindo. Ele estava vindo. Malfoy percebeu minha angústia e notou que eu não iria olhar para ele, então, ele apenas sentou ao meu lado e me abraçou com força. Eu ouvi as batidas do coração dele que estavam calmas. Senti seu corpo que não tremia e sua respiração ritmada. Ele parecia bem. Draco estaria tão desesperado quanto eu se alguém estivesse vindo. Eu fechei meus olhos e esperei. Esperei pelo feitiço verde, pelas torturas e esperei alguém aparecer para me machucar. Não sei por quanto tempo, mas nada aconteceu. Meu coração parou de disparar e eu abri os olhos percebendo que havia somente eu e Draco ali. Não tinha ninguém.

- Draco? - eu chamei e o garoto me olhou. - Não tem ninguém?
- Não - ele respondeu. - Mas tome o teu tempo, eu isolei nosso barulho.
- Eu ouvi passos e… - eu disse, mas ele me cortou.
- E você se apavorou - ele completou. - Está tudo bem.
- Acho que podemos ir - eu disse e levantei do chão com dificuldade. - Eu não estou bem.
- Não, , você não está - Draco respondeu. - Vamos indo?

Conseguimos subir e eu quase chorei de felicidade quando a porta da Sala Precisa se materializou e eu pude entrar, finalmente me sentindo segura. O teto parecido com uma catedral era o mesmo, mas ela tinha se transformado em uma espécie de acampamento com várias camas de armar e redes. Eu e Draco entramos e foi inevitável não me lembrar de todas as nossas lembranças naquele lugar. Não consegui sorrir ou ficar feliz em recordá-las, somente queria dormir e esquecer que eu tive tanto medo ao ponto dele me paralisar. Draco olhava tudo com curiosidade e finalmente colocou os olhos em mim.

- Eu sinto muito - ele disse. - Você passou por um trauma muito grande.
- Eu não quero sentir medo - respondi sendo sincera. - Mas quando eu percebo, eu vi Aleto no reflexo do espelho ou vi Amico me observando em algum lugar. Eu não sei o que está acontecendo, Draco.
- Aqui você está segura, ouviu? - Draco disse e se aproximou com cautela. - Eles não vão achar você aqui. Hogwarts sempre protegerá seus alunos. São apenas dois meses e você poderá partir.
- Sim, eu estou segura - eu repeti para mim mesma, mas sem acreditar, de fato, naquelas três palavras.
- Eu preciso ir agora - Draco disse e de repente, eu me vi assustada novamente. - Longbottom daqui a pouco vai chegar e você terá companhia.
- Tudo bem - eu menti. Não queria ficar sozinha, mas sabia que não podia pedir mais coisa do que ele já tinha me dado. - Obrigada, Draco.
- Boa sorte, - ele me respondeu e beijou minha testa uma última vez antes de caminhar até a porta que se materializava. Ele olhou para trás uma última vez e partiu.
- Até daqui a pouco - eu respondi, mas Draco já tinha ido embora.

Eu me vi sozinha novamente e decidi sentar em frente à porta para estar pronta para qualquer coisa e estava com um feitiço pronto quando ela se abriu. Entretanto, eu respirei aliviada, pois Neville entrou e sorriu quando me viu. Eu abaixei a varinha e corri até ele, abraçando meu amigo. Seu rosto estava com uma cicatriz gigantesca.

- Neville! - eu disse e sorri. - Por Merlim, o que houve?
- Aleto Carrow - ele respondeu e eu senti um calafrio. - Foi isso que aconteceu.
- Nossa, nós temos muitas coisas para conversar - eu disse. - Nathan?
- Ele ficou para trás - meu amigo disse. - Nós vamos vir aos poucos. Tem mais alunos que querem se esconder aqui.
- Acho que foi por isso que a sala fez um acampamento - eu disse e sorri. - Como eu estou feliz em te ver!
- Eu também estou, - ele respondeu. - Muita coisa aconteceu enquanto você dormia.
- Eu sei, Draco me contou - eu disse. - Mas acho que podemos fazer isso com calma. A Sala Precisa é segura.
- Sim, mas e agora? - Neville me perguntou com um olhar preocupado.
- Agora esperamos.

And now I'm closing every door
(E agora estou fechando todas as portas)
'Cause I'm sick of wanting more
(Porque estou cansado de querer mais)
You were good to me
(Você foi bom para mim)
You were good to me, yeah
(Você foi bom para mim, sim)
Swear I'm different than before
(Juro que sou diferente de antes)
I won't hurt you anymore
(Eu não vou mais te machucar)
'Cause you were good to me
(Porque você foi boa para mim)


'Cause us, traitors, never win…*: trecho da música “Getaway car” da dona da minha vida aka Taylor Swift e significa: porque nós, os traidores, nunca ganhamos.


Nyx.

Era estranho estar naquele lugar depois de tanto tempo sem pisar ali. Por muito tempo, a Sala Precisa havia sido um lugar em que eu podia encontrar com Draco e pelo tempo em que estivéssemos ali, poderíamos ser apenas nós mesmos, sem o peso de nossas famílias ou de nossos lados políticos. Era um lugar de extrema felicidade e paz para mim. Em minha memória, eu podia enxergar eu e Draco em cada canto daquela sala, conversando e rindo sobre nossas infâncias extremamente diferentes, transando até sairmos com dores no corpo ou simplesmente passando longos minutos em silêncio, aproveitando a companhia um do outro. Era um lugar que significava felicidade. Contudo, naquele momento, a Sala Precisa havia se tornado um lugar de sobrevivência. O pé-direito imenso que parecia inalcançável e as paredes com painéis de madeira que pareciam um convés, só me lembravam que eu estava sendo caçada como um animal dentro daquele castelo. A Sala que habitava minha mente com tanto carinho, não existia mais.
Eu e Neville estávamos na Sala Precisa há um dia e meio e parecia que havia passado somente algumas horas. Nós já havíamos conversado sobre diversos assuntos, tentando fugir do tópico principal: a fome e a sede. Meu estômago roncava e minha garganta estava seca, mas eu sabia que com isso, a sala não poderia me ajudar. Eu sabia que Neville estava se sentindo do mesmo jeito, então evitava reclamar para não deixar nossa situação pior. Dormir ajudava, mas depois do sexto cochilo, eu já não tinha mais sono. De vez em quando, eu conseguia escutar o barulho dos alunos da Grifinória descendo e subindo em filas organizadas e meu coração doía pensando em meus colegas que ficaram para trás. Fui tirada dos meus pensamentos com a voz de Neville me chamando.

- O que disse, Neville? - eu perguntei e dei um sorriso envergonhado. - Estava distraída.
- Ah, eu perguntei se você está bem - ele respondeu. - Se quer conversar sobre algo, vamos ficar aqui por bastante tempo.
- Estou bem, Neville - eu respondi. - Eu me sinto segura aqui, apesar de também me sentir presa.
- É, aqui é complicado - ele disse e olhou ao redor. - É estranho escutar o pessoal do outro lado e pensar que estamos mais seguros que eles.
- Isso me dói, sabia? - eu disse. - Gostaria de trazer todos aqui pra dentro, o máximo que conseguirmos.
- Eu acho que podemos - Neville cogitou. - Bem, essa sala pode se tornar três vezes maior do que a que estamos vendo. Vai expandir o máximo que puder.
- Podemos fazer isso, talvez mandar uma mensagem para Nate com os galeões falsos? - eu sugeri.
- É, isso é uma boa, mas precisamos pensar primeiro - Neville fez uma pausa e suspirou. - Como vamos alimentar esse tanto de gente.
- Oh, sim - eu disse e suspirei também. - Está complicado aí?
- Muito, eu comeria qualquer coisa - ele disse. - Dormir ajuda, mas não resolve tudo.
- Nós podemos sair e roubar comida da cozinha? - eu sugeri. - Mas também é arriscado demais.
- A Sala vai dar um jeito - Neville disse. - , posso te perguntar uma coisa?
- Claro - eu disse por educação, mas torcia para que ele não tocasse no nome de Draco.
- Bem, você não está bem, não é? - o menino disse um pouco hesitante. - Você murmura em seu sono e parece sempre estar sofrendo. Tem algo acontecendo com você.

Eu não consegui responder de imediato, as palavras foram embora da minha língua e eu me vi encarando a mim mesma, visualizando todos os meus medos sentados ao meu lado, esperando o momento certo para tomarem o controle. Sim, havia algo acontecendo, mas eu ainda não sabia definir o que era. Eu me sentia assustada o tempo todo e via Amico e Aleto em cada lugar que eu olhasse. Toda vez em que eu escutava passos do outro lado da parede, meu coração pulava uma batida e meu corpo ficava frio enquanto meu coração disparava. Sonhava diversas vezes que eles estouravam aquela porta e me levavam para Azkaban. Contudo, os piores sonhos não eram esses. Eram todos aqueles em que eu envolviam meu filho não-nascido. Eu sempre sonhava que eu deixava meu bebê cair no chão ou que me dava conta de que a coberta em meus braços estava vazia.

- Ah, Neville - eu suspirei. - Você sabe… Eu não sou mais a mesma depois daquele ataque. Muita coisa mudou.
- Eu sei, sinto muito por tudo - ele respondeu e deu um sorriso triste. - Desculpa ter trazido esse assunto à tona.
- Não, tudo bem - eu disse e dei um sorriso sem mostrar os dentes. - Você está preocupado e eu acho isso muito gentil.
- Quer ver uma coisa legal? - ele disse de repente e tirou um papel meio dobrado, meio amassado do bolso. - Os comensais tentaram prender minha avó para me silenciarem aqui.
- O que? - eu perguntei perplexa e peguei o papel, desdobrando com cuidado e iniciando minha leitura.

Logo de início, pude perceber a pressa com que a pessoa escrevera aquele bilhete. As letras estavam quase laterais e foi até um pouco difícil entender o que estava escrito. Mas eu entendi e meus olhos se encheram de lágrimas. “Neville, eles estão atrás de mim, mas quando eles chegarem, estarei longe. Vovó tem orgulho de você pelo que está fazendo em Hogwarts. Você é mesmo filho de seus pais. Continue a resistir, está fazendo um excelente trabalho. Com amor, Vovó. Eu olhei para meu amigo e ele estava com um sorriso gigante. Mesmo com fome, cheio de machucados e sem um pingo de perspectiva, o garoto estava radiante pelas palavras que recebeu da avó. Aquilo era lindo de se ver.

- Neville, isso é lindo - eu respondi e devolvi o papel a ele. - Eles não conseguiram pegar a tua avó?
- Não, acharam que ia ser fácil - ele disse dando risada. - Pegar uma velhota sozinha em casa. Só não contaram que vovó é esperta e cheia de experiência.
- Isso é muito bom, Neville - eu respondi com um sorriso. - Que bom que ela escapou.
- Você viu? Ela tem orgulho de mim - ele disse com os olhos brilhando. - Eu passei a vida inteira buscando a aprovação da minha avó, . A vida inteira sendo um boboca aos olhos dela e agora ela tem orgulho de mim.
- Neville, você é um guerreiro - eu respondi. - Sempre foi.
- Era só isso que eu queria, sabe? Dar orgulho aos meus pais - ele disse. - Mostrar que mesmo sem ser criado por eles, eles estão aqui. Nos meus valores. Comigo.
- É lindo você ter essa consciência - eu respondi com um pequeno sorriso. - Você vai levar teus pais para sempre com você.
- E os teus pais, ? - ele perguntou e eu dei um suspiro. - Como eles estão?
- Eu não sei ao certo – respondi. - Desde que eu acordei, não consegui escrever uma carta para eles. Seja por causa do tempo, mas também porque não sei o que escrever. “Oi, mãe, estou viva e perdi meu bebê”? Eu sinto que deveria entrar em detalhes, mas eu não consigo.
- Eu sinto muito, - Neville disse. - Você quer ajuda? Você não precisa dizer muita coisa além de “estou viva” se você não quiser. Mas acho que eles deveriam saber.
- Eu deveria, não é? - eu disse e dei outro suspiro.
- Bom, não temos muita coisa para fazer aqui, certo? - ele brincou. - Bom, tome o seu tempo. Eles ficaram sabendo do que aconteceu?
- Draco contou para eles enquanto eu estava desacordada - eu disse. - Ele mandou uma carta e explicou tudo. Ele disse que nós perdemos o bebê.
- Draco me ajudou muito - Neville disse e eu senti uma pontada no estômago. - Ele que teve a ideia de virmos para cá e coordenou as coisas quando você estava desacordada.
- Ele é uma boa pessoa - eu respond.i - E um ótimo estrategista. Fico me perguntando como seria se ele estivesse n’A Ordem. Os comensais não aproveitam o potencial dele. Você sabia que ele é ótimo em Oclumência?
- Sério? - Neville disse um pouco surpreso. - Faz sentido, na verdade. Conviver tanto com Snape e com Você-Sabe-Quem deve te ensinar algumas coisinhas.
- Pois é - eu disse. - Ele é muito esperto. Bolou todo um plano para depois da escola, para que pudéssemos criar nosso bebê em segurança.
- Eu sinto muito, - Neville disse e dei um sorriso triste. - Eu sei que você queria muito esse bebê.
- Draco também queria - eu completei. - Nós dois. Nós terminamos, Neville. Draco não é mais meu namorado.
- Isso é sério? - ele perguntou perplexo. - Nossa, eu achava vocês tão sólidos apesar de tudo.
- Bom, nós também - eu disse. - Mas nada te prepara para a perda de um filho, ainda mais do jeito que perdemos o nosso.
- Você o culpa? - ele perguntou.
- Sim – respondi. - Culpo a nós dois, na verdade. Deveríamos ter sido mais espertos, era óbvio que a saída de Draco era uma armadilha. Estamos na luta há muito tempo para termos caído em uma desculpa tão esfarrapada dessa.
- , não tinha como vocês saberem - Neville tentou. - Não tem como prever o nível de maldade e crueldade na cabeça desse tipo de gente. Vocês são vítimas desse ministério.
- Eu vou demorar muito tempo para entender tudo isso, Neville - respondi já sentindo a conhecida vontade de me fechar. - Talvez eu nunca entenda, mas torço para que isso aconteça.
- Eu sinto muito, - Neville e se levantou, indo sentar ao meu lado na cama de armar que eu estava sentada. O garoto me puxou para um abraço apertado e eu permiti o carinho. - Eu também me sinto péssimo, nós deveríamos ter esperado você naquele dia. Mas subimos e…
- E a merda aconteceu - eu completei. - Não tinha como vocês saberem.
- Nate se culpa todos os dias - Neville comentou e eu estranhei.
- Ué, por que? - eu perguntei confusa e meu amigo fez uma expressão como se tivesse falado demais.
- Bom, nós subimos na frente porque ele não queria ver você se despedindo do Malfoy - Neville explicou. - Você sabe que ele gosta de você.
- Eu sei que ele gosta de mim, ele já me disse algumas vezes - eu respondi e dei um suspiro. - Vocês não tinham obrigação de me proteger e eu até entendo. Também odiava ver o Draco com a Pansy quando estávamos separados.
- Agora que você não está mais com o Draco, você acha que… - Neville começou a falar, mas eu o cortei.
- Ficar com o Nate? - eu disse. - Por que não? Mas isso não está nos meus planos agora, relacionar-me com alguém não está nem perto das minhas listas de prioridades. Espero que ele não tente nada.
- Ah, talvez não porque ele sabe como você está fragilizada - Neville respondeu. - Mas ele também é uma pessoa legal.
- Que isso, Neville? - eu perguntei. - Está tentando ser um cupido aqui?
- Claro que não! - ele disse e começou a rir. - Mas não vou negar que alguém pediu pra eu te perguntar…
- Ai, Nathan - eu disse e dei uma risada. - Ele não muda, não é? Eu pensei que ele viria para cá com você.
- Nós achamos melhor ele vir depois - Longbottom respondeu. - Para não dar muito na cara.
- Faz sentido - eu respondi e meu estômago roncou muito alto. - Estamos há um dia e meio aqui.
- Pois é - Neville disse e o estômago dele roncou dessa vez. - A fome está complicada, não?
- Demais - eu finalmente disse. - Eu não estou aguentando mais. Vamos pensar em alguma coisa.
- Ah, se ao menos a Sala fizesse alguma coisa - Neville disse. - Não sei o que, uma passagem direto para a cozinha, qualquer coisa!
- Isso seria muito bom - eu comentei e suspirei. - Quer praticar alguns feitiços? Podemos fazer isso para o tempo passar.
- Claro, vamos.

Contudo, assim que eu e Neville levantamos da cama de armar, escutamos um barulho de pedra raspando, como se algo tivesse se movendo. Meu coração disparou e meu primeiro pensamento foi direto para a porta da Sala Precisa. Apontei minha varinha para a porta já esperando por um combate que não veio. Os sons pararam e do outro lado da sala, uma porta de madeira apareceu. Eu continuei preocupada e cutuquei Neville que estava olhando para a entrada da sala do mesmo jeito que eu. Com a varinha apontada, eu me aproximei da porta. Conseguia sentir meu coração batendo em meus ouvidos, mas precisava ser cautelosa. Qualquer porta era mais um caminho para os Carrow entrar e eu tinha medo. Não esperava que fôssemos ser descobertos tão facilmente. Coloquei a mão na maçaneta e respirei fundo antes de abrir. O feitiço de desarmar já estava pronto em minha mente quando eu me deparei com o nada de uma passagem secreta. O silêncio do lugar era quase palpável e alguns archotes de latão iluminavam as paredes de pedra.

- Que merda é essa? - eu perguntei confusa. - Eu pensei que todas as passagens estavam fechadas.
- Vamos ver o que é - Neville já ia passando, mas eu segurei em seu ombro. - O que foi?
- Como sabemos que não é uma armadilha? - eu perguntei e lancei uma pequena fagulha no meio da passagem para ver se iria desencadear algo, mas nada aconteceu. - Bom, parece que não tem nada.
- Vamos logo! - Neville disse e saiu andando, descendo o pequeno lance de escadas. Eu não pude fazer nada além de segui-lo com minha varinha apontada para o nada.

A passagem continuava em declive. Neville descia rapidamente e eu ia logo atrás, ainda com meu coração saltando dentro do meu peito, morrendo de medo de ser uma armadilha. Quando já havíamos andado por uns bons minutos, a passagem virou para a direita e vi um faixo de luz vindo de um lado da parede. Sussurrei o nome de Neville e indiquei minha varinha em um pedido mudo para que ele fizesse o mesmo, entrasse em postura de combate. Aproximamo-nos lentamente do local com a luz e eu percebi que ela vinha das bordas de uma espécie de porta. Eu respirei fundo e empurrei, vendo que aquilo abria facilmente. A primeira coisa que eu notei ao me aproximar era que estávamos em cima de uma lareira. Olhei o ambiente e notei uma pequena sala quente por causa do calor do fogo. Os móveis eram antigos e as paredes possuíam diversas falhas na pintura. Em um lado, havia um espelho quebrado pendurado na parede. Contudo, eu reconhecia aquele lugar mesmo tendo estado ali poucas vezes ao longo de minha vida. Desci e pisei no tapete sujo em frente a lareira. Neville desceu logo depois e parou ao meu lado. Fui até a janela só para constatar minha hipótese e lá vi Hogwarts ao longe com as pequenas ruas de Hogsmeade embaixo de mim. De repente, a porta da pequena sala se abriu e de lá veio uma figura alta com a varinha em mãos. Fazia mais de um ano que eu não o encontrava. A diferença era notável, mais rugas estavam desenhadas em seu rosto e o cabelo estava maior, mais desgrenhado. Os olhos estavam duros, mas suavizaram quando me viram. Eu levantei as mãos e Neville continuou com a varinha em riste, mas depois me imitou.

- Oi, vovô - eu disse antes de correr até meu avô Aberforth e abraçá-lo apertado. O cheiro de naftalina e álcool estava em suas roupas, mas eu não importava. Vovô me apertou em seus braços e eu escutei sua voz surpresa.
- Filha, como chegou aqui?

Draco’s POV

“Boa sorte, ”. Eu deveria ter dito mais alguma coisa. Eu achava que o arrependimento e a angústia iriam embora depois de ter terminado com , mas, pelo contrário, parecia que o peso desses dois havia piorado em meus ombros. Eu deveria ter esperado mais um pouco, falado mais, deveria ter abraçado a garota uma última vez. Abraçado mais apertado, feito mais. Ouvi passos de alguém entrando no dormitório da Sonserina, mas ignorei. Dei mais um gole na garrafa de whisky de fogo que estava em minha mão. Estava sentado em frente à janela que mostrava o Lago Negro mais escuro naquela manhã. Percebi a hesitação da pessoa e calculei que seria Crabbe ou Goyle. Eles estavam me rondando desde o dia anterior quando não levantei para as aulas. Já estava na minha segunda garrafa e pretendia continuar naquele lugar, tomando todo o álcool que eu podia, na tentativa de me deixar devagar. Eu escutei um pigarro e revirei os olhos.

- O que vocês querem? - eu perguntei falando enrolado.
- Draco, você já está bebendo há um tempo - Goyle disse inseguro. - Você precisa ir para a aula.
- Saiam daqui - eu respondi e dei mais um gole no whisky, sentindo minha garganta queimar, mas percebendo que a cada gole, o desconforto diminuía. - Não pedi a preocupação de vocês.
- Os professores estão perguntando, Malfoy - Crabbe disse. - Daqui a pouco, Slughorn pode descer aqui e pegar você nesse estado.
- Eu não ligo a mínima – respondi. - Já disse para saírem.

Eu percebi os dois debatendo entre si, mas depois a porta se fechou e eu estava sozinho novamente. Continuei a olhar para o lago e observei toda a vida existente naquele lugar. Foi inevitável imaginar se minha criança iria ver as mesmas coisas que eu se tivesse ficado vivo. Será que ele ou ela seria da Sonserina? Será que ficaria em frente ao lago assim como eu fiquei tantas vezes? Meus olhos arderam e eu me obriguei a beber mais uma vez, torturando minha garganta e me sentindo mais leve. O álcool era divino por causa disso. Eu deveria ter feito mais por . Deveria ter insistido para que ficássemos juntos. Sóbrio, eu sabia que aquela era a melhor opção, mas bêbado, eu queria subir até a Sala Precisa e gritar até que ela entendesse que eu a amava mais que tudo. E eu iria fazer isso. Determinação invadiu meu corpo e eu respirei fundo, encarando com raiva um peixe que passava em frente à minha janela.

- Eu vou lá - eu disse para ninguém. - E ela VAI me ouvir!

Eu decidi levantar, mas parei meus momentos. Um pingo de sobriedade se abateu sobre mim e eu me lembrei dos motivos de ter feito o que fiz. Era para proteger . Eu havia causado todo o mal e precisava me afastar para que eu não causasse mais danos. Eu tinha feito certo, só não podia me esquecer. Olhei para a garrafa em minha mão que já estava na metade desde que havia começado a beber. Dei um suspiro cansado e voltei a apoiar minhas costas na poltrona. Eu jamais havia ficado nesse estado por ninguém. Quando havia deixado no ano anterior, eu havia ficado mal, mas não tinha me afundado em uma garrafa. Contudo, daquela vez era diferente. A decisão havia sido minha. Não havia sido uma separação forçada, mas escolhida por nós dois e isso doía mais que qualquer coisa. Senti minha barba que já estava começando a crescer e senti o cheiro de álcool ao meu redor. Era patético e vulnerável. Meus inimigos iriam adorar me ver desse jeito. Eu fiquei triste por quase dois dias inteiros e precisava me levantar. Mas eu não conseguia. Dei um último gole e decidi deitar em minha cama. Ouvi mais passos e um peso se instalou no pé da minha cama. Levantei a cabeça e Pansy estava ali.

- O que você quer? - eu perguntei e senti a garrafa ser puxada da minha mão. Pansy tirou a tampa e deu um gole, fazendo uma careta.
- Não sei como você gosta disso - ela disse e colocou a garrafa longe de mim. - Tem um gosto de morte.
- Aí está - eu disse e a encarei com o canto dos olhos. - O que você quer?
- Teus capangas burros me chamaram - ela respondeu. - Estão preocupados com você.
- Eles são dois idiotas – respondi. - Cadê a minha garrafa?
- Está ali - ela disse, mas não me devolveu. - Eu nunca te vi nesse estado.
- Nunca estive nesse estado - respondi.
- Escutei um burburinho pelo castelo - Pansy disse. - Algo sobre ter sumido. É por isso que você está assim?
- Não te interessa - eu respondi e escutei a garota suspirar. - Vai embora.
- Você sabe que não precisa me tratar desse jeito - ela protestou. - Sabe que pode confiar em mim, não sabe? Eu conheço você, Draco. Eu sei que você está triste, não precisa fingir pra mim.

Minha cabeça deu um nó e eu tentei me orientar olhando os desenhos de cobras no dossel da cama. Continuei em silêncio, tentando entender se podia mesmo confiar em Pansy. Eu não queria falar nada, mas sentia que iria explodir caso não tirasse tudo o que estava dentro do meu peito. Eu sentia falta de . Era com ela que eu conversava quando precisava expurgar meus fantasmas. Contudo, eu não tinha mais seu apoio. Estava sozinho e foi pensando nisso que conversar com Pansy pareceu uma boa ideia. Uma ideia que vinha 100% do whisky de fogo. Sim, ela me conhecia. Esteve comigo por muitos anos, presenciou muita coisa e esteve ao meu lado quando meu pai foi preso. Eu já havia sido vulnerável com ela antes e foi pensando nisso que eu disse:

- Eu terminei com a .
- Então ela de fato acordou? - Pansy perguntou perplexa. - Ouvi os Carrow comentando sobre isso, eles descobriram o feitiço de ilusão na Ala Hospitalar, mas não sabia se isso significava que ela estava viva ou não.
- Ah, ela está muito viva - eu respondi.
- E por que você terminou com ela, Draco? - a menina indagou e eu não senti nenhum escárnio ou esperança em sua pergunta. - Vocês pareciam tão sólidos.
- Eu fazia muito mal a ela, Pansy - respondi tentando evitar falar as informações principais. - Ela foi torturada pelos Carrow por minha causa.
- Eu sinto muito, Draco - ela disse, mas eu não soube dizer se ela estava sendo sincera ou não.
- Não, não sente - eu disse amargamente e Parkinson não me rebateu. - E eu me sinto um idiota porque eu sei que fiz certo, abrindo mão e deixando ir.
- Mas por que dói tanto? - ela fez uma das perguntas que rondavam minha mente.
- Por que dói tanto? - eu repeti e suspirei. - E eu sinto que não posso falar com ninguém, ninguém aqui é confiável.
- Eu sou - ela disse e eu ri. - Eu sei que já prejudiquei vocês no passado, mas agora eu não quero mais isso. Eu me importo com você, Draco. Nós estamos preocupados com você.
- Eu acho que estou bêbado demais para pensar direito – respondi. - Mas eu estou triste. Eu sinto a falta dela e eu sei que eu fiz certo. Eu sei, Pansy!
- Tudo bem - ela disse e deu um gole na garrafa, passando para mim. Eu me sentei direito e tomei mais um pouco. - Pode continuar a falar se quiser.
- Eu sei que eu nunca fiz bem a ela - eu comecei. - Desde o início, desde o ano passado. Eu, um comensal, apaixonado pela garota d’A Ordem da Fênix. É ridículo pensar que isso daria certo, mas deu. Por um tempo, deu certo.
- Eu sei, era irritante ver vocês ano passado - Pansy disse com uma voz amarga. - Ainda mais para mim.
- E aí eu a traí - eu disse. - Enfiei os comensais dentro do castelo e deixei ela pra trás depois de ser atacada. Eu disse pra que não tinha nada acontecendo, mas eu menti. O velho morreu e ela ficou com raiva de mim.
- Você foi um otário - Pansy disse e eu ri.
- Mas ela me perdoou - eu disse e dei outro gole no whisky. - me perdoou e nós seguimos juntos apesar de tudo. Apesar de você, do Snape, dos Carrow, da Ordem, de tudo. Nós éramos bons juntos.
- E agora deu errado - ela disse e eu percebi um incômodo vindo da garota, mas não conseguia me importar. Se em dias normais, eu já não ligava, bêbado, eu não tinha filtro nenhum.
- E eu terminei - eu disse. - Bom, ela também chegou nesse entendimento, mas quando ela estava desacordada, eu já sabia que precisava finalizar tudo. Só que eu estou arrependido.
- Fale com ela, então - Pansy disse.
- EU NÃO POSSO! - disse mais alto e meus olhos arderam. - Eu… Eu preciso manter minha palavra, eu disse que ia parar de atrapalhar e eu vou.
- Você precisa seguir em frente, Draco - Pansy disse, mas dessa vez eu não senti que ela estava dizendo aquilo para me convencer a ficar com ela. - Se você sabe que fez certo, então mantenha-se nisso. Se você vai causar mais mal que bem à , então fique afastado. Proteja-a do jeito que você consegue: não trazendo mais problemas.
- Se eu não tivesse tão bêbado, eu poderia concordar - respondi e dei um sorriso fraco. - Agora eu só consigo pensar que passei um mês com desacordada e quando ela finalmente acordou, eu terminei tudo.
- Bom, eu não gosto da - Pansy disse. - Mas eu gosto de você e confio no teu julgamento. Confie também.
- Eu só queria estar com ela - eu admiti e dei mais um gole no whisky, sentindo meu estômago doer. - Acho que eu preciso vomitar.
- Vamos ao banheiro, então - Pansy disse. - Você toma um banho e depois dorme até o jantar. Quando você acordar, vai estar se sentindo melhor.
- É uma boa - eu respondi e tentei levantar, mas estava muito tonto. - Opa.
- Vamos, eu te levo - ela disse e se aproximou de mim, segurando em minha cintura.
- Não conte para ninguém o que eu te falei - eu disse enquanto nós andávamos para o banheiro do dormitório masculino. Alguns garotos estavam lá e tomaram um susto com a presença de Pansy. - SAIAM!
- Não precisava expulsar todos eles - ela disse depois que os garotos saíram correndo, alguns ainda com a toalha enrolada na cintura. - Vamos, eu te ajudo.
- Eu consigo tirar minha própria roupa, você pode ir - eu disse quando ela já vinha até mim com os dedos espertos, abrindo o botão da minha calça. Pansy deu um sorriso safado e colou seu corpo no meu. - O que você está fazendo?
- Ah, não custa tentar - ela disse e passou as mãos pelos meus braços, fazendo um carinho em minha nuca. Sua boca se aproximou do meu pescoço e começou a deixar uma série de beijos no pé do meu ouvido. - Eu posso cuidar de você.
- Você não desiste, não é, garota? - eu disse dando uma risada. - Eu estou bêbado, você vai se aproveitar de um bêbado?
- Você está conseguindo conversar, está ótimo - ela disse e colou sua boca na minha.

Eu estava bêbado, mas queria aquele beijo. Segurei o corpo da garota mesmo estando instável e correspondi do jeito que eu sabia que Pansy gostava. Segurei a base de seus cabelos curtos e juntei mais nossos corpos, sentindo a mão dela passar pelas minhas costas sob a camisa do uniforme. Eu queria sentir alívio como eu sentia quando beijava , queria sentir tesão, qualquer coisa. Mas eu não senti nada. Em um momento de sobriedade, abri meus olhos no meio do beijo e me perguntei o que diabos eu estava fazendo beijando Pansy logo após ter terminado com . Eu era um canalha, mas não tanto. Não era mais esse garoto que não pensava antes de agir. Segurei nos ombros de Pansy e a afastei minimamente. Seu olhar confuso encarou os meus.

- O que foi? - ela perguntou e tentou me tocar, mas eu me esquivei.
- Isso não está certo - eu respondi e me afastei. - Não quero ser essa pessoa, fazer isso.
- Mas, Draco - Pansy foi dizer algo, mas eu a cortei.
- Obrigada pela conversa, Pansy - eu disse. - Mas eu não quero ficar com você. Por favor, saia.

Mesmo estando tonto, eu caminhei até o local onde os boxes estavam e me afastei da garota. Abri o registro e a água caiu, mas antes de entrar, meu estômago embrulhou e eu corri cambaleando até um vaso sanitário e vomitei todo o whisky, me sentindo um pouco melhor. Escutei a porta do banheiro batendo e suspirei cansado, me sentindo mais velho do que nunca. Eu devia ter percebido que Pansy iria querer alguma coisa de mim. Erro meu achar que não, afinal, esse era o nosso mundo. nunca faria isso comigo e foi pensando nisso que eu me permiti chorar. Naquele momento, só o que eu queria era estar com ela, mas isso talvez nunca mais fosse possível.

’s POV

O cheiro de carne recém assada entrava pelas minhas narinas e meu estômago deu uma volta. Vovô havia feito uma torta de carne e estava colocando na mesa para podermos comer. Havíamos conversado sobre a situação do castelo e quando falamos que estávamos sem comer há um dia e meio, vovô preparou rapidamente uma refeição. Assim que ele serviu a comida, eu e Neville perdemos a compostura e comemos como os dois esfomeados que éramos. Meu avô ficou em silêncio, mas eu percebi uma raiva ao nos ver naquele estado.

- Obrigada, vovô - eu disse depois de comer em silêncio por uns dez minutos. - Está realmente delicioso.
- Não precisa agradecer, criança - ele disse e se sentou na cadeira do outro lado da mesa. - Comam o quanto quiserem.
- Estava realmente difícil – Neville. - Não podemos convocar comida, então, acho que a Sala deu um jeito.
- É uma vergonha ver o que Hogwarts se tornou - vovô Aberforth disse. - Esses vermes estão maltratando nossas crianças.
- Eles até levaram a filha do Lovegood - Neville disse com tristeza. - Tentaram capturar a minha avó, mas não obtiveram sucesso.
- Esses crápulas! - meu avô xingou e eu permaneci em silêncio. - Precisamos avisar teus pais, , que você está comigo.
- Sim, mas vai ser difícil - eu respondi. - Eles estão vistoriando todas as correspondências.
- Eu envio um patrono, usamos a lareira, vamos dar um jeito! - meu avô disse. - E que bom que você está aqui, filha.
- Você sabe algo sobre os meus pais? - eu perguntei esperançosa. - Eu não falo com eles há muito tempo.
- Eles continuam na França - ele explicou. - Ariana me mandou uma mensagem pelo fogo na semana passada.
- Eles estão bem? Meu pai está melhor? - eu perguntei com medo da resposta.
- Estão, tua mãe não entrou em detalhes, mas disse que Gregório está quase completamente curado - ele disse e deu um gole no chá em sua frente. - E você, criança? Eles machucaram muito você?
- A todos nós - eu disse. - Está vendo essa cicatriz no rosto de Neville? Foi atacado por Aleto Carrow em uma aula.
- Eles empurraram a da escada de Hogwarts - Neville disse. - E a torturaram no mês passado. ficou desacordada por mais de um mês.
- Não há mais esperança nesse mundo - meu avô disse com uma expressão amarga. - Que bom que a sala abriu essa passagem. Vocês podem ficar aqui até o ano letivo acabar.
- Acho que precisamos discutir isso com mais calma - eu disse. - Mas só de podermos comer, eu já fico feliz.
- Eu não sabia que o teu avô morava em Hogsmeade, - Neville disse. - Você nunca fala muito da tua família.
- É, acho que estávamos sempre nos metendo em encrenca - eu tentei desviar o assunto. - Não tínhamos oportunidades para isso.
- Faz sentido - Neville disse e voltou a comer distraído com a comida. Meu avô me olhou seriamente. - Obrigada, senhor Aberforth.
- Eu vou descer para o Cabeça - meu avô disse enquanto se levantava. - Acabei fechando o bar momentaneamente, mas preciso abrir. Os comensais vão desconfiar, fiquem à vontade. Querida, nós precisamos conversar.
- Claro! - eu disse e sorri vendo o velho fechar as portas e murmurar um feitiço para o som. Olhei para Neville que não parava de comer e sorri. - O que você acha?
- Sobre o que? - Neville perguntou distraído enquanto se servia de mais um pouco de suco de uva.
- Ficarmos aqui com o meu avô até o ano letivo acabar - eu disse. - É uma ideia tentadora. Acolheremos você pelo tempo que você precisar. Depois que o ano acabar, você pode ir para a França comigo até acharmos tua avó.
- Obrigada, - ele disse e me deu um sorriso. - Eu acho que precisarei de apoio depois de Hogwarts, pelo menos para encontrar vovó. Agora sobre ficar aqui até o ano letivo acabar… Não sei se é isso que Hogwarts espera de nós, não sei se Harry gostaria também. Tem mais de duas camas na Sala Precisa. Aquilo é um abrigo.
- É, talvez seja isso que Hogwarts queira de nós quando abriu essa passagem - eu disse. - Essa pode ser uma rota de fuga para os alunos que puderem fugir. Dumbledore gostaria que eu ajudasse as outras pessoas. Foi para isso que ele me mentoreou a vida inteira.
- Dumbledore foi seu mentor? - Neville perguntou perplexo. - Eu não sabia que ele fazia esse tipo de consultoria.
- Nossas famílias eram muito próximas, digamos assim - eu sorri. - Então, voltamos para Hogwarts?
- Voltamos para Hogwarts - Neville disse e segurou em minha mão com um sorriso confiante.

Passamos o resto da tarde deitados no tapete em frente à lareira de vovô conversando e depois Neville caiu em um sono pesado enquanto eu permaneci acordada. O quadro de minha tia Ariana estava pendurado na parede e ela me olhava com doçura e certa curiosidade. Percebi que os olhos dela eram os mesmos de minha mãe. O cabelo castanho também. Meu coração apertou e eu pensei em minha família e no arrependimento que eu sentia por não ter partido com eles para França quando tive a chance. Eu havia ficado por Draco e logo em seguida, nós tínhamos brigado porque Lúcio Malfoy tinha mais poder na vida do filho do que o próprio Draco. Nossa história inteira foi marcada por mudanças de ideias e incertezas.
Caminhei até a janela e olhei Hogsmeade naquela tarde. Não havia ninguém na rua. Algumas construções possuíam tábuas na frente e outras até vidros quebrados. Meu avô não havia fechado por muito pouco. Ele dissera que os comensais gostavam de seu bar por ser afastado das demais construções e também por meu avô se manter a par de qualquer coisa. Ele odiava o grupo de Voldemort, mas depois de toda a história de nossa família, ele se mantinha afastado da luta. Eu suspirei e voltei para a poltrona onde eu estava sentada e voltei a observar o ambiente. Meu avô não devia passar uma tinta nas paredes desde os anos oitenta. Voltei meu olhar para o quadro de minha tia-avó e uma tristeza me invadiu ao constatar que eu quase tive o mesmo destino que ela. Eu não soube lidar com a magia por muito tempo durante minha vida e se não fosse Dumbledore, eu teria sucumbido e virado um obscurial. A magia sempre foi muito forte em mim, então aprender a lidar com tanta força, acabou tomando muito tempo. Minhas explosões de raiva vinham da força da magia. Era difícil controlar tudo, mas eu tive ajuda. Meus pais, Dumbledore, meus amigos, Draco. E lá estava eu pensando nele novamente.
Meu coração apertou e o nosso término voltou a passar em minha mente como um filme. Parte de mim se questionava se eu havia feito certo, se insistir era a melhor opção. Contudo, uma outra parte, aquela que obtinha a razão, sabia que não daria certo. Eu iria fazer da vida do garoto um inferno com a culpa, a que eu sentia e a que eu atribuía a ele. Eu precisava focar nisso, não podia esquecer que eu iria machucá-lo com a minha falta de tato para lidar com uma perda tão grande. Porque eu o culpava, é claro. Minha falta de maturidade fazia com que eu quisesse gritar para ele que a culpa de tudo era dele. Contudo, ao mesmo tempo em que eu queria fazer isso, também queria abraçá-lo até tudo passar. Ficar em seus braços até que o mundo se acalmasse. Meus olhos se encheram de lágrimas, mas o tempo de pranto já havia acabado. Aquele era o tempo da luta. Não podia ficar me lamentando e querendo Draco de volta. Tinha acabado.

- Acabou, - eu murmurei de olhos fechados - Por favor, aceite.

Mas eu não aceitava. Eu queria Draco de volta. Eu sentia falta dele e meu coração me traía, chorando desesperado para que eu reconsiderasse. Eu fechei os olhos e pude sentir o cheiro de Malfoy pairando ao meu redor. Daria qualquer coisa para ter mais tempo e para mandar essa culpa embora. Gostaria que tudo fosse diferente. Pensei em todos os nossos planos e a vontade de chorar aumentou. Nós tínhamos pensado em tudo. Nosso bebê teria um lugar calmo para crescer. Teria sido um momento bom. Respirei fundo e fechei os olhos por um momento, tentando me acalmar e parar de pensar em Draco, mas foi em vão. Eu o amava tanto. Foi tentando parar de pensar nele que eu adormeci, sentada toda torta na poltrona. E é claro que minha cabeça me pregou uma peça e eu sonhei com Malfoy. Nós estávamos novamente na Sala Precisa em algum ponto do ano anterior porque o colar de prata em formato de coração estava pendurado em meu pescoço. Eu lia concentrada um livro e Draco também lia, mas eu olhava para o garoto a cada segundo por cima do livro.

- O que foi? - ele perguntou sem me olhar e eu sorri - Você não para de me olhar.
- Nada - eu respondi e suprimi um sorriso - Nada não, Malfoy.
- Fala logo - Draco disse e largou o livro, segurando em minha perna e fazendo cócegas atrás do meu joelho. Eu comecei a rir e derrubei meu livro também - O que foi?
- Nada, só acho que poderíamos estar fazendo outra coisa - eu disse entre risos e Malfoy parou de fazer cócegas, segurando em minha mão. Eu fui até ele e sentei em seu colo. Draco segurou minhas mãos e beijou cada dedo - Parecemos um casal de velhos.
- O que você quer fazer? - ele perguntou e me puxou para baixo, beijando-me.

Segurei em sua nuca e correspondi com vontade, sentindo o conhecido alívio quando nossas bocas se juntavam. Draco segurou em meu quadril e sugou minha língua, puxando-me levemente para mais perto. Rebolei ligeiramente em seu colo e o garoto soltou um gemido baixo, agarrando-se mais a mim e eu suspirei em sua boca, sentindo que poderíamos continuar aquilo pelo resto da tarde. Contudo, fomos interrompidos com algumas batidas na porta. Nós nos separamos e não estávamos mais no castelo, mas em um quarto de casal com um estilo mais rústico, com móveis em madeira e paredes brancas. Olhei para Draco e ele estava com uma camisa de flanela xadrez e calça jeans. Não parecia o tipo de roupa que Draco usava e eu estranhei. Eu usava um vestido simples azul escuro que estava embolado em minha cintura. Uma voz fina disse do outro lado da porta:

- Mamãe?

Eu levantei rapidamente e caminhei até a porta, abrindo e me deparando com uma garotinha pequena, não devia ter três anos. Ela usava um vestido de linho claro e tinha cabelos louros. Ela sorriu e eu me abaixei para pegá-la no colo.

- O que foi, querida? - eu disse enquanto caminhava até Draco. A garotinha assim que o viu, esticou os bracinhos para ele e se jogou do meu colo com a certeza de que ele a pegaria. E ele fez. Eu revirei os olhos, mas sorri - Ela não nega a preferência.
- Oi, Nyx - Draco disse com um pequeno sorriso - O que foi?
- Brincar - ela disse sorrindo e eu já havia perdido a atenção de Draco.
- Ora, você quer brincar? - Draco disse divertido e levantou com a criança no colo - Desculpa, .
- Tá tudo bem, eu vou ver se o jantar está pronto - eu disse e assisti Draco chacoalhando Nyx em seu colo, fazendo a garotinha rir - Ela ficou o dia todo comigo, é normal que ela queira ficar com você.
- É, o papai trabalha demais, né, filha? - Draco disse e depois me olhou - Eu devia ficar mais tempo em casa. Sinto falta de vocês o dia todo.
- Você sabe que eu posso trabalhar também - eu disse e Nyx agitava os bracinhos enquanto Draco a girava - Posso conseguir um emprego no bairro trouxa assim como você conseguiu.
- Mas quem ficaria com a Nyx? - Draco disse - Eu sei que você gosta de ficar com ela e sabemos que ela pode manifestar a magia antes dos setes anos. Você foi assim.
- Ai, eu amo mesmo passar o dia com a minha bebê - eu confessei e dei um sorriso para a garotinha - Poderíamos falar com os meus pais, não sei.
- A vida bruxa ficou para trás, - Draco disse para mim, mas concentrado em nossa filha - Vivemos como trouxas agora.

Draco me olhou com ternura e Nyx me olhou também. Escutei meu nome, mas nenhum dos dois falava comigo. A última coisa que eu vi foi o rosto dos dois, colados, enquanto Nyx sorria. Abri meus olhos e meu avô me chamava com ternura. Foi difícil voltar à realidade, mas lá estava eu: sem Draco, sem Nyx, sentada em uma poltrona e com dor no pescoço. Neville continuava apagado, deitado no tapete felpudo em frente à lareira. Ariana olhava para mim com ternura.

- Já são quase oito horas da noite, querida - meu avô disse - Eu fiz o jantar. Teu amigo está roncando há horas no tapete.
- Obrigada, vovô - eu respondi e me estiquei, sentindo meu pescoço doer - Precisamos voltar, obrigada por ter me acordado.
- Vocês vão voltar mesmo para Hogwarts? - ele perguntou baixo enquanto colocava uma carne assada em cima da mesa junto com purê.
- Sim - eu respondi enquanto me levantava e desviava de Neville - Não seria correto escaparmos enquanto os nossos colegas sofrem dentro de Hogwarts. Dumbledore iria querer que…
- Você ainda segue o Alvo como se ele fosse um líder - meu avô criticou com amargura - Você precisa parar com isso, .
- Vovô, por favor - eu pedi - Você sabe da importância de Dumbledore não só para mim, mas para todos que resistem.
- E quem resiste, filha? - meu avô perguntou. - Potter desapareceu, a Ordem não existe mais, só você continua com essa fixação sobre o que Alvo disse.
- Harry não sumiu, ele está em missão - eu retruquei. - Ele também confia no plano de tio Alvo.
- Querida, você sabe que Alvo não era esse santo que vocês pregam - meu avô disse. - Você sabe o que aconteceu com minha irmã e com nossa mãe! A nossa família foi derrubada por causa de tudo o que o Alvo fez!
- Eu sei, vovô, mas tio Alvo me ajudou muito! - eu retruquei já sentindo a conhecida frustração que aparecia quando esse assunto vinha à tona. - Você sabe que eu não estaria aqui hoje se não fosse por ele! Sabe que eu teria um destino parecido com o da tia Ariana! Um obscurial!
- Ele não fez mais que a obrigação! - meu avô retrucou. - Você deve pensar mais em você! Na tua família e… Nesse filho que você carrega na barriga!

Meus olhos se encheram de lágrimas e eu suprimi um soluço alto. Meu avô ficou em silêncio e só o que conseguíamos ouvir era a respiração de Neville ritmada e forte. Eu já imaginava que minha mãe tinha comentado algo com meu avô, mas não estava pronta para falar sobre meu filho não-nascido. Falar sobre isso em voz alta doía muito mais do que apenas pensar. Eu respirei fundo e encarei meu avô que possuía uma expressão de completa tristeza.

- Minha mãe te contou - eu afirmei e ele assentiu.
- Sim - ele respondeu. - Ela me disse.
- Acho que ela não teve tempo de dizer que eu perdi o bebê - eu disse e meu avô adquiriu uma expressão de choque. - Lembra quando Neville disse que eu fui torturada pelos Carrow? Eu estava grávida. Meu corpo não aguentou e eu sofri um aborto espontâneo.
- Oh, querida - meu avô disse. - Eu sinto muito, me desculpe, eu não sabia.
- Eu fiquei um mês desacordada e quando acordei - eu suspirei. - Dois dias atrás, não tive tempo de fazer muita coisa além de me esconder dos Carrow.
- Tua mãe disse que o menino Malfoy que contou para ela - meu avô disse. - Ele era o pai?
- Sim, Draco era o pai - eu expliquei. - Ele cuidou de tudo para que eu conseguisse me recuperar e me ajudou a me esconder na Sala Precisa.
- Não gosto dos Malfoy - meu avô começou a dizer. - Mas o garoto tem um coração bom
- Ele me ama - eu respondi e caí no choro novamente. - Mas nós terminamos, não achamos possível superar uma perda desse tamanho. E além do mais, eu precisava fugir. Não tinha como continuar juntos depois de tudo.
- Eu sinto muito, querida - meu avô disse. - Mas você é forte, vai conseguir superar tudo.
- É por isso que eu preciso continuar em Hogwarts - eu expliquei. - A luta me afasta de pensar nesse assunto.
- Você tem o meu apoio - meu avô disse. - Pode sempre aparecer aqui, eu encoberto vocês.
- Obrigada, vovô - eu disse com um sorriso no rosto. - Vai ser de grande ajuda.

Naquela noite, eu e Neville jantamos com meu avô e voltamos para Hogwarts. Eu não comentei sobre a conversa que tive com vovô Aberforth e Neville, se escutou, também não disse nada. Dormimos de barriga cheia e o sono foi muito melhor do que nos dias anteriores. Antes de dormir, eu caminhei até a janela e observei os terrenos de Hogwarts na completa escuridão. A vontade de enviar uma carta para Draco veio com força, mas eu a ignorei, enfiando o desejo de contatá-lo para o fundo de minha mente. Eu ainda o amava tanto. Pensava se ele estava bem, se estava lidando bem com a nossa separação. Torcia para que ele não fizesse nenhuma besteira. O nome dele estava grudado em meus lábios, o gosto dele para sempre impregnado em minha boca e o cheiro dele preso em meu nariz. Fechei os olhos e o imaginei sentado na Sonserina, vivendo o resto do ano letivo sem o peso de ter que me ajudar. Ele estava melhor sem mim. Eu estava melhor sem ele.

- Deus, por favor, não me deixe esquecer disso - eu supliquei de olhos fechados e me preparei para dormir.

Alguns dias se passaram e eu e Neville criamos uma rotina que consistia em treinar e fazer as refeições com meu avô. Teria sido fácil continuar assim até o final do ano letivo, mas era claro que isso não iria acontecer. Uma noite em que eu e Neville estávamos jogados em frente à lareira da Sala Precisa, escutamos um barulho do lado de fora. Neville se levantou rapidamente e retirou um galeão do bolso. Eu apontei minha varinha para a direção da porta e esperei atentamente.

- Precisamos abrir - Neville disse de repente e correu até o local da porta.
- O que? Você está louco? - eu perguntei e ele me passou o galeão. Assim que eu li, meu corpo gelou e eu o segui.

A porta de madeira se materializou e foi aberta. Meu coração estava acelerado e piorou quando eu vi Nate e Simas entrando. Nate carregava Simas, segurando o garoto pela cintura. Eles estavam machucados, Nate tinha várias escoriações pelo rosto e sua camisa branca estava manchada de sangue. Simas parecia desacordado e contava com um grande ferimento na testa do lado esquerdo, onde sangue caía e manchava o chão. Os dois passaram pelo portal e caíram aos nossos pés, a porta se fechou rapidamente.

- Nathan, o que aconteceu? - eu perguntei enquanto me aproximava. - Simas está desacordado.
- Os Carrow estão prendendo os alunos nas masmorras - ele explicou ofegante. - Eu consegui resgatar Simas, mas ainda há outros.
- Por Merlim! - eu disse e me abaixei para ver Simas. Abri sua camisa e seu peito estava repleto de cortes.
- , precisamos resgatar esses alunos - Neville disse com uma voz alterada.
- Mas, primeiro, precisamos ajudar o Simas - eu disse antes de posicionar minha varinha sobre ele. - Stanque Sangria.

Simas permanecia desacordado, mas os ferimentos em seu corpo começavam a se fechar. Raiva foi injetada em meu coração e naquele momento, eu soube. Não dava para eu ficar trancada na Sala Precisa, precisava agir e bolar algo para resgatar meus amigos. Eu demorei um pouco e a luta veio até mim. A falta de Draco iria esperar.


Oh take it all away, I don't feel it anymore, oh take it all away...*

As rugas do olho direito do professor Slughorn tremiam toda vez que ele tentava dar um sorriso forçado, fingindo que não havia nada acontecendo. Ele tentava disfarçar o nervosismo dizendo os nomes das plantas e controlando a temperatura do fogo do caldeirão, mas tudo parecia falso. Dava para perceber a camada de suor em sua testa e buço, além de, claro, suas mãos tremerem um pouco toda vez que ele precisava mexer a poção em sua frente. As mesas da Grifinória estavam praticamente vazias. Os poucos alunos que sobraram ocupavam as primeiras fileiras e também pareciam nervosos, olhando a todo momento para a porta. Enquanto isso, meus colegas da Sonserina agiam como se fosse apenas mais uma aula normal da semana. Porque para eles era. Era apenas mais um dia de sua rotina enfadonha e mesquinha, em que eles se divertiam e usufruíam de todas as regalias por serem da Sonserina. Olhei a carteira em que sempre se sentava e meu estômago embrulhou, pensando em tudo o que ela estava passando e eu não podia fazer nada para ajudar.

— As provas finais estão chegando — Slughorn disse, depois de pigarrear. — Vocês precisam se preparar, pois serão elas que irão definir se vocês se formarão ou não.

O clima tenso ao nosso redor vinha das recentes incursões pelo castelo dos alunos escondidos. Cada dia mais, os estudantes das três casas diminuíam e isso se dava pelo medo generalizado que pairava em Hogwarts. Desde que e Neville haviam se escondido, outros alunos se juntaram a eles e desapareciam, para o completo ódio dos comensais, que pareciam não saber o que fazer para impedir. Não era possível saber se todos eles estavam na Sala Precisa ou se haviam conseguido uma rota de fuga, mas os estudantes tinham diminuído, de modo que a mesa da Grifinória no salão principal estava praticamente vazia. Uns poucos alunos não haviam ido com eles, possivelmente pelo medo de represálias. Contudo, ainda assim, era questão de tempo até não ter um único aluno da Grifinória para contar a história. A aula prosseguiu por mais uns minutos, até que escutamos o barulho de uma explosão. Os alunos gritaram assustados e se enfiaram debaixo das carteiras, cobrindo as cabeças. Nem pareciam bruxos. Eu revirei os olhos e saí da sala com a varinha em riste, ignorando os gritos do professor Slughorn, que também estava debaixo da mesa escondido.

Eu era um comensal e precisava verificar o que estava acontecendo. Assim que eu passei pela porta, notei uma fumaça densa e poeira no ar. Alguém havia disparado um Bombarda em algum lugar. Enquanto eu caminhava para mais fundo no corredor, comecei a perceber escombros pelo chão. Pedaços de madeira de portas e grandes restos de pedras estavam espalhados pelo local. Aproximei-me cada vez mais e notei um grande buraco no teto, mostrando o segundo andar. Era um dos maiores buracos que eu já tinha visto. A poeira se dissipou aos poucos e eu agitei minha varinha, conjurando um feitiço para limpar o ar. Assim que minha visão estava limpa, consegui enxergar dois comensais, Travers e Rowle, caídos no chão, embaixo dos escombros. Corri até eles e pude notar a perna de Travers totalmente dilacerada, sangue vertia e se misturava com a sujeira, criando uma pasta viscosa no chão. Eu automaticamente fiquei enojado, mas contive o impulso de correr para longe. Ele estava desacordado. Rowle estava com o rosto repleto de poeira, mas tinha os olhos abertos e me olhou atordoado quando me aproximei. Ele não parecia machucado, mas com certeza estava com algo quebrado.

— Rowle, o que houve? — eu perguntei.
— Aquela desgraçada — ele disse, enquanto tentava se levantar, mas sem sucesso. O comensal deu um grito quando tentou se mover e rolou, ficando de barriga para cima. Escutei passos e gritos de ordem. — Eu vou matar aquela vagabunda!
— De quem você está falando? — eu perguntei, enquanto tentava limpá-lo com um feitiço de limpeza, mas ele não parava de se debater, tentando levantar. — Fique parado, você não está conseguindo, deve ter machucado a coluna.

Enquanto eu dizia isso, percebi Snape e os irmãos Carrow se aproximando correndo. Slughorn também vinha com eles e todos possuíam varinha em mãos. Snape me olhou e se abaixou ao redor dos dois, proferindo feitiços de cura em um tom de voz baixo. Os irmãos Carrow me olharam com raiva pingando em seu olhar, mas não falaram nada. Já Slughorn, olhava tudo ao redor com medo. Snape deve ter terminado os primeiros socorros, pois se levantou e perguntou:

— Rowle, o que aconteceu?
— Você sabe o que aconteceu, Snape — ele disse, com uma voz mais calma. — Aquela maldita nos acertou com um Bombarda para conseguir fugir.
— Ela libertou os estudantes? — Snape perguntou.
— Sim, levou todos — ele respondeu. — Segurou a retaguarda enquanto eles fugiam e depois escapou, atirando o feitiço e quase nos matando.
— Aleto, Amico — Snape disse, sem olhá-los. — Levem os dois para a Ala Hospitalar e mandem madame Pomfrey tratá-los. Eu já subo, talvez tenhamos que removê-los para o Saint Mungus.
— Sim, Snape — eles disseram juntos como os gêmeos patéticos que eram e agitaram suas varinhas, fazendo os dois comensais machucados levitarem atrás deles. Ficamos eu, Slughorn e Snape.
— Slughorn, evacue este andar, tire todos os alunos daqui e os mande para as suas casas em segurança. Contate os outros professores.
— Quem fez isso, Snape? — ele perguntou, ainda sem entender, e eu respondi:
— A sua aluna preferida.
— Draco, tua namorada passou dos limites — Snape disse, me olhando com raiva e eu me mantive em silêncio.
— Vou consertar esse buraco e você — ele disse, sem me olhar. — Volte para a Sonserina.

Observei o buraco no teto e suspirei, pensando em como era poderosa. Desde que nós havíamos terminado, a garota se afundou até o pescoço na luta contra os comensais e os ataques haviam aumentado. Eu sabia que nenhum outro aluno tinha coragem de enfrentá-los, então só sobrava para segurar o poderio dos comensais, enquanto os demais roubavam comida, mantimentos e resgatavam estudantes das masmorras. Caminhei de volta para a Sonserina, pensando em como nossos caminhos estavam seguindo direções totalmente diferentes. cada vez mais se afastava e, apesar de uma grande parte de mim sofrer por isso, eu sabia que era o melhor para ela. Eu era um comensal e esse lado da minha vida tinha ganhado.

’s POV

Duas semanas haviam se passado desde que Draco havia me dito que não podia continuar ao meu lado. Duas semanas desde que eu e Neville havíamos nos escondido na Sala Precisa, tentando fugir dos Carrow. Duas semanas desde que outros estudantes começaram a chegar, pedindo ajuda e abrigo. Duas semanas desde que a Sala Precisa havia se transformado em um acampamento e o único lugar seguro daquele castelo. E duas semanas correram desde o momento em que eu, Neville e Nate nos tornamos líderes, curandeiros e ladrões para tentar ajudar os estudantes.
A notícia de que estávamos escondidos começou a se espalhar pelos alunos das casas e começamos a aceitar mais pessoas à medida que os dias iam passando. A “disciplina” dos Carrow ficou mais dura e eles nos caçavam pelo castelo, irados que havíamos desaparecido. A vida tinha se tornado mais difícil e os dois meses que ainda faltavam para o ano letivo acabar pareciam eternos. A Sala Precisa começou a ficar lotada, mais e mais alunos pediam abrigo e todos os dias eu, Nate e Neville trazíamos alguém, de modo que as salas começaram a ficar vazias. Alunos da Grifinória, Corvinal e até Sonserina se misturavam deitados em camas de armar e cada vez mais grupos de alunos fugiam pela nova rota de fuga criada através do Cabeça do Javali, bar do vovô Aberforth. Estávamos conseguindo evacuar aos poucos pequenos grupos de alunos, focando inicialmente nos alunos menores que eram os que mais sofriam com a repressão.

Sentei em uma cama aleatória para respirar depois de ter lançado um dos maiores Bombarda que eu já havia lançado em minha vida. Assim que passamos pela porta da Sala Precisa, eu senti a alegria dos que já estavam ali ao ver seus amigos que estavam presos nas masmorras. Os comensais começaram a prender estudantes pelos motivos mais estúpidos possíveis, deixando-os com fome, presos por grilhões e chorando de medo. Muitos deles eram dos primeiros anos. Crianças. Os mais velhos começaram a tratar e acalmar os mais novos, que choravam assustados. Tudo aquilo me revoltava profundamente, mas eu sabia que estava acabando. Neville se aproximou de mim, passando-me um cantil e eu abri, tomando longos goles de água.

— Você foi bem — ele disse. — Um dos alunos disse que você abriu o maior buraco que ele já viu no teto do andar das masmorras.
— Espero que eles demorem para consertar — eu respondi, com um sorriso. — Como estão os estudantes?
— Assustados, mas vão ficar bem — ele respondeu.
— Espero que sim — eu disse e me levantei, mas senti uma dor em minha perna. — Droga, devo ter me cortado.
— Vem, vamos cuidar disso aí — Neville disse e me levou para o setor dos alunos que faziam papel de curandeiros. As gêmeas Patil haviam se tornado grandes expoentes desse setor na Sala Precisa. — Ei, precisa de ajuda.
— Neville, eu estou bem — respondi, mas ele me fez sentar em uma cadeira e Padma se aproximou. — Deve ter sido um arranhão dos escombros, só isso.
— Não importa — ele disse e Padma pediu licença para olhar minha perna e havia um corte não tão profundo em minha panturrilha. — Eu vou avisar ao Lino Jordan sobre esse resgate pelo Observatório Potter.
— Tudo bem, Neville — eu disse e ele se afastou. Padma estava com a varinha apontada para minha perna, murmurando feitiços de cura. — Obrigada, Padma.
— Está tudo bem, — ela respondeu, com um sorriso, depois de terminar. — É um prazer poder ajudar.
— Você está indo muito bem — eu disse, com um sorriso. — Obrigada por estar aqui.
— Nós da Corvinal também somos corajosos — ela disse, com um sorriso orgulhoso. Deu uma pausa e depois disse: — Lilá tinha medo de você, sabia? Mas você é muito doce. Um pouco brava, mas doce.
— Ah, ela tinha motivos para ter medo de mim — eu respondi e captei Lilá em outro ponto da Sala, conversando com uns alunos menores. — Eu não era uma pessoa tão legal ano passado.
— Acho que ela te perdoou — Padma disse. — E bom, apesar de toda essa situação horrível, podemos nos conhecer melhor.
— Sim — respondi. — Acho que se eu não tivesse ficado o tempo todo correndo atrás do Draco, poderia ter feito mais amizades.
— Bom, nada nos impede de começar agora, certo? — ela disse, com um sorriso. — Você também está indo bem.

O dia passou e no horário do jantar, eu e mais alguns alunos fomos até meu avô pegar o jantar. Ele fazia o possível e preparou uma quantidade exorbitante de tortas recheadas e suco de abóbora. Muitos alunos haviam se afeiçoado a ele, o que ele dizia que o irritava, mas não mandava nenhum deles embora. Quando chegamos, havia alguns estudantes agitando varinhas e o ajudando com as refeições. Tia Ariana observava a cena atenta através da pintura em cima da lareira. Levamos toda a comida de volta para a Sala Precisa e distribuímos igualmente para cada grupo de amigos. Peguei minha porção e fui me sentar um pouco afastada dos outros, querendo espaço físico e mental para analisar toda aquela rotina maluca. Era duro viver daquele jeito. Sozinha, eu podia admitir que não aguentava mais. Eu sabia que o ânimo de todos dependia muito de mim e de Neville, mas era angustiante saber que eu não podia fraquejar. Observei a Sala Precisa repleta de alunos que conversavam felizes e até se divertiam e tentei focar nisso, pensar que todo o meu sacrifício era para que eles pudessem escapar. Contudo, podia admitir que estava cansada. Lembrei-me do ataque daquela manhã, a missão que executamos para libertar os alunos presos nas masmorras e como eu implorava para não encontrar Draco. Eu sabia que ele havia quebrado nossa ligação mágica no dia em que eu havia sido atacada, mas, mesmo assim, não queria me colocar em uma situação em que a única alternativa era atacá-lo. Então, durante toda a nossa ação daquela manhã, repetia como uma espécie de mantra: por favor, Draco, não apareça, não apareça. E ele não apareceu. Os comensais estavam desesperados, aprisionando todo e qualquer aluno que não era sonserino, então tínhamos cada vez mais a função de libertá-los das masmorras. Eles focavam seus esforços em capturar os alunos dos primeiros anos, crianças recém ingressadas em Hogwarts que mal sabiam se defender. Isso fazia meu sangue ferver de raiva e me impulsionava ainda mais a lutar, tomar a linha de frente. Naquela manhã, eu estourei o teto da masmorra perto das salas de Poções, pois eles haviam capturado cerca de dez estudantes entre lufanos e grifinórios. Nosso ataque fora simples, descemos explorando os pontos cegos do castelo — que sempre parecia criar mais deles quando precisávamos — e estuporamos um comensal desconhecido, trancando-o em um armário de vassouras logo em seguida. O plano ia bem, mas dois comensais apareceram e eu tive que dar meu jeito, abrindo um buraco no teto e usando as escadas para nos alavancar para os andares superiores. A missão tinha dado certo e era gratificante ver os alunos resgatados sorrindo, conversando ou se preparando para partir.

Toda a agitação foi suspensa quando a voz do Observatório Potter começou no rádio e foi como se a respiração das quase cinquenta pessoas dentro daquela sala tivesse parado:

“Boa noite, caros ouvintes. Essa é mais uma transmissão do Observatório Potter, a sua fonte confiável do que está acontecendo no mundo bruxo. Eu sou River”, eu consegui reconhecer a voz de Lino Jordan, “e hoje tenho comigo Rômulo!” Uma segunda voz se apresentou e eu sabia que era Remo Lupin falando. “Ataques aos bairros trouxas perto de comunidades bruxas continuam acontecendo, então queremos agradecer a todos os bruxos e bruxas que estão se arriscando, lançando feitiços em seus vizinhos para protegê-los. Vamos nos inspirar e cuidarmos uns dos outros.” Remo disse e meu coração veio parar em minha garganta, percebendo que a situação do lado de fora do castelo estava tão horrível quanto aqui. Lino voltou a falar. “Desaparecimentos continuam acontecendo e temos caçadores procurando nascidos-trouxas, por isso, tomem cuidado e se escondam. Não citem aquele nome ou nada relacionado a ele, colocaram um rastreio mágico e, se forem pegos, digam que são da Sonserina. A sala comunal da Sonserina fica nas masmorras com vista para o lago negro onde é possível ver as criaturas nadando.” Eu suspirei cansada e observei o desespero se instalando no rosto de cada um. “O último aviso é sobre Hogwarts: os alunos conseguiram uma rota de fuga que não iremos divulgar, então, famílias, fiquem atentas, pois suas crianças podem voltar para casa. A situação dentro da escola também não está segura. Alunos estão se refugiando na Sala Precisa. Vamos manter a fé e torcer por dias melhores. Não sabemos quando iremos voltar, mas a próxima senha é Sirius Black. Até lá.”

O silêncio se instaurou por alguns segundos, mas foi cortado por várias conversas se iniciando ao mesmo tempo e, com isso, muitos choros de vários alunos de diferentes idades. As notícias não eram animadoras, o perigo estava em todos os lugares e, mesmo saindo de Hogwarts, não havia garantia de que estaríamos seguros. Meu olhar foi direto para o de Neville, que também observava a cena atônito e depois olhei para Nate, que tinha uma expressão chorosa semi-controlada. Eu sabia que a família dele morava em um bairro de trouxas, então o medo dele deveria estar triplicado. Muitos começaram a chorar e a se abraçar, desolados pelo medo e pela incerteza do futuro. Eu não sabia o que fazer, não sabia o que dizer para acalmar tanta gente, nunca fui a pessoa de consolar outras, sempre fui a pessoa de agir. Hermione era a pessoa do discurso. Frustração inundou meu ser e eu simplesmente suspirei, querendo me isolar de todos e também entrar em desespero, contudo, eu sabia que não podia fazer isso, pois eles estavam olhando para mim em busca de inspiração. Se eu me desesperasse, eles se desesperariam também. E foi pensando nisso que eu suspirei, coloquei a varinha em minha garganta como tio Alvo fazia para aumentar o volume de sua voz e disse:

— Atenção, pessoal!

Todos os olhares se voltaram para mim e eu me senti pressionada a continuar sem ter pensado muito no que eu iria falar.

— As notícias não são animadoras em nenhum lugar, isso é verdade — eu comecei a dizer. — E isso dá medo, sim, claro que dá! Mas não podemos nos desesperar! — Percebi as crianças enxugando seus rostos e os maiores adquirindo expressões de determinação. — Nós estamos criando rotas de fuga e evacuando o castelo cada vez mais, já estamos mandando vocês para casa! Estamos trazendo cada vez mais alunos e aqui vocês estão sendo alimentados e estão seguros! Vamos manter a esperança, tudo está acabando e em breve, todos nós estaremos fora daqui!
— É — Neville disse de repente do outro lado da sala, usando o mesmo mecanismo para aumentar o volume da voz. — Então, terminem de comer, respeitem a escala do uso do banheiro e se preparem para dormir, apagaremos tudo às dez da noite! Teremos reunião do conselho às dez e meia!

Eu senti que os estudantes se acalmaram e voltaram a comer e conversar, então respirei aliviada e eu pude voltar a me alimentar afastada dos demais. Depois de todo o turbilhão do feriado da Páscoa, eu sentia a necessidade de ficar sozinha. Havia me tornado mais introspectiva e notava Neville e Nate me vigiando, mas respeitando meu espaço, e eu ficava grata por isso. Seria difícil se eles tentassem arrancar algo de mim porque nem eu mesma sabia o que estava acontecendo, só sabia que eu estava diferente. O tempo em coma e as duas semanas inseridas na luta armada me fizeram mudar. Eu só esperava que tais mudanças tivessem me deixado mais forte.

O conselho nada mais era do que uma reunião diária entre mim, Neville, Nate, Simas, vovô e mais três representantes de cada casa restante, Lufa-Lufa e Corvinal. Precisávamos debater o racionamento de comida, já que vovô vinha sustentando todas as cinquenta pessoas basicamente sozinho, porque nossos roubos eram arriscados e seguíamos a máxima: não roube mais do que possa carregar. Além disso, também discutíamos as fugas dos alunos, especialmente os menores, que viviam apavorados e ainda eram crianças. Naquele momento, tentávamos seguir a ordem de evacuação, priorizando primeiranistas e secundaristas, mas sempre havia um estudante mais velho que não gostava nada disso. Além disso, não podíamos simplesmente escolher qualquer estudante, mas havia todo um preparo: eles tinham que mandar cartas enigmáticas perguntando como estava a condição de suas famílias, se seria possível seus retornos e tudo isso levava tempo. Era por isso que mesmo que já estivéssemos escondidos há duas semanas, a Sala Precisa ainda estava cheia.

— E como está o bar, Ab? — Neville perguntou, enquanto tomava um gole de chá. Ele sabia que meu avô não gostava de ser chamado assim, mas continuava só para irritá-lo.
— Os comensais continuam vindo como sempre — vovô respondeu. — Eles se sentem confortáveis e acham que eu concordo com eles. Eu apenas sirvo bebida e finjo que não estou ouvindo.
— Você escutou algo interessante? — eu perguntei.
— Nada, a maioria reclama da rotina do castelo — ele disse. — Nem eles aguentam mais essa rotina de ficar correndo atrás dos alunos.
— O ano letivo está acabando — Simas disse, com um pequeno sorriso. — Logo mais, todos iremos embora.
— Vocês já escolheram os potenciais estudantes que irão embora? — eu perguntei e cada um deles tirou um pequeno pedaço de pergaminho do bolso e colocou em cima da mesa. — Os primeiranistas e secundaristas estão acabando?
— Na Grifinória ainda temos alguns — Simas disse. — Muitos não conseguem contato com os pais e temem pelo pior.
— E eles podem estar certos, infelizmente — eu disse. — As perseguições estão aumentando muito, vocês escutaram hoje durante o Observatório Potter.
— Falando nisso, onde será que ele está? — Neville perguntou.
— Escondido em algum lugar, eu espero — respondi, mas me lembrei no mesmo instante que Draco havia visto Harry e os outros no feriado da Páscoa. — E na Corvinal, Padma?
— Eu já pedi para esses estudantes checarem previamente com seus familiares se eles conseguem voltar e estão apenas esperando as confirmações — Padma disse, como a boa Corvinal que era.
— Perfeito, obrigada, Padma — eu respondi. — E a Lufa-Lufa?
— Estamos quase indo para os terceiranistas, — Gwendoline Hedgeflower disse, com um sorriso orgulhoso. — Essa é a lista das crianças que faltam.
— Então, pode pedir para eles começaram a enviar as cartas para os pais — Nate disse, tomando a frente e eu dei um sorriso orgulhoso. — Gwen, fale para eles serem discretos, peça para os alunos maiores ajudarem. Precisa ser algo sutil, como uma pergunta trivial sobre o status de casa.
— Pode deixar, Nate — ela disse, dando um sorriso para ele.
— Simas, continue tentando com os alunos da Grifinória — Nathan disse. — Precisamos tirar essas crianças daqui.
— Podemos mandar alguns amanhã? — eu perguntei.
— Eu não sei, tenho que pensar — meu avô disse e eu revirei os olhos.
— Tudo bem, nos avise amanhã durante o dia — Nate disse, ao ver que eu já estava perdendo a paciência com a teimosia do velho.
— Vovô, como estamos com as finanças? — eu perguntei, e vi o olhar do meu avô endurecer. — Você sabe que pode contatar meus pais e…
— Eu já disse que não preciso de ajuda! — ele me respondeu bravo e eu revirei os olhos. — Eu estou dando conta, estou alimentando vocês com dinheiro dos comensais e estou feliz assim!
— Eu sei, mas somos muitos e…
— Não tem discussão, ! — ele disse de maneira abrupta e eu levantei as mãos em um sinal de rendição. — Se eu precisar, eu dou um jeito.
— Okay, okay — eu respondi. — Vocês querem falar mais alguma coisa?
— Estamos bem na Lufa-Lufa — Gwen respondeu.
— Corvinal também.
— Grifinória também.
— Então, terminamos por aqui — eu respondi e suspirei, assistindo todos se levantarem da pequena mesa e se despedirem do meu avô dizendo “Tchau, Abby!”.

— meu avô me chamou e os meninos me olharam, mas eu acenei para que eles fossem adiante. Eu estava segura na pequena casa de meu avô. — Preciso conversar com você, filha.
— Claro, vovô — eu disse, sorrindo, e mordi um muffin de mirtilo que estava em minha frente. — Qual é o problema?
— Eu escutei os comensais conversando sobre você — ele disse e minha curiosidade aumentou. — Você destruiu um corredor de Hogwarts?
— Bom, falando desse jeito, parece ter sido sem motivo — eu comecei, mas ele me cortou.
— Então, é verdade? — ele perguntou. — , você não acha que já se colocou em risco o suficiente?
— E lá vamos nós de novo — eu disse e mordi meu muffin mais uma vez.
— Não me venha com gracinhas, menina! — meu avô disse, com uma voz severa. — Eu já aceitei muito das suas ideias, mas não quero que você pense que eu apoio você se colocando em perigo!
— Sim, vovô, eu explodi um corredor hoje — eu respondi. — Mas foi para conseguir libertar crianças das masmorras. Você sabe o que significa isso? Já ficou preso por correntes, por algemas? Já foi torturado? Eu faço isso porque não é justo deixá-las sofrendo enquanto eu aproveito isso aqui!
— Você precisa pensar mais em você — ele disse. — Ser mais egoísta, parar de querer ser a heroína como…
— Como o tio Alvo? — eu disse. — Era isso que o senhor iria dizer? Eu sei que ele não está mais aqui, mas eu não sou o tio Alvo. Não estou tentando bancar a heroína, estou tentando sobreviver.
— É impossível conversar com você, ! — ele disse e eu me levantei.
— Eu posso dizer a mesma coisa sobre o senhor, vovô — eu respondi. — Muito obrigada por todo apoio e por toda a ajuda. Não sei como iríamos fazer sem o senhor, mas eu sei o que eu estou fazendo. Já não sou criança há muito tempo. Fui torturada, quase morta, já fui mãe. Tenho certeza de que meu julgamento foi formado por muita dor.

Não quis continuar aquela discussão, pois era inútil. Meu avô era teimoso e eu também, afinal, havia puxado a teimosia dele. Ele também não me respondeu, então eu apenas aproveitei, subi na lareira e atravessei pelo buraco do quadro, fazendo minha caminhada até a Sala Precisa que já estava escura e silenciosa quando eu cheguei. Nate e Neville estavam acordados me esperando e correram para o meu lado, vindo até mim com expressões preocupadas.

— O que houve? — Neville perguntou.
— Problemas de família, meu bem — eu respondi. — Nada demais. Meu avô é muito teimoso e acha que sabe melhor que eu. Eu preciso de um banho e de descanso. Todos já usaram o banheiro?
— Sim, fique à vontade — Nate disse, com um sorriso, e eu caminhei para o banheiro que a Sala Precisa havia fornecido.

O espaço era uma versão reduzida do banheiro convencional de Hogwarts, com menos cabines e menos chuveiro, mas tinha água quente, toalhas, trincas e um banco de madeira em que eu poderia me sentar por alguns minutos. Tirei meus sapatos e minha capa do uniforme, deitando meu corpo cansado no banco frio, sentindo certo conforto. Eu já estava cansada daquele discurso, pois, no fundo, eu sabia que vovô estava certo. Não tinha necessidade de eu me arriscar tanto, mas lá estava eu, me colocando em confrontos diretos, explodindo lustres e paredes, olhando nos olhos de comensais e desviando de feitiços contando com a sorte. No fundo, não era apenas minha coragem grifinoriana ou meu senso de certo ou errado. Era o desprezo pela minha própria vida, era o fato de que eu não tinha mais nada a perder. Ter perdido meu bebê havia tirado algo de mim que aos poucos eu descobri melhor o que era: minha vontade de viver. Os dias passavam e só o que eu enxergava era a necessidade de manter todos aqueles estudantes vivos, alimentados e com possibilidade de voltar para casa. Não me importava mais comigo ou com a minha necessidade de sobreviver e voltar para casa. Vivia apenas planejando as ações do dia seguinte e sempre nos outros, nunca em mim. Fui tirada dos meus pensamentos com algumas batidas na porta.

— Quem é? — eu perguntei.
— É o Nate! — a voz respondeu e eu agitei minha varinha, destrancando a porta e me sentando. O garoto entrou, trancou novamente a porta e se aproximou com uma garrafa de chá embaixo do braço. Sua expressão era curiosa e ele sorriu. — Wow, acho que a conversa com o vovô não foi boa.
— Algum problema, Nate? — eu perguntei, já entrando em meu modo de ataque e indo colocar meus sapatos.
— Calma, calma, — ele disse e se sentou ao meu lado. — Está tudo bem, sério. Todos dormem tranquilos, só vim ver como você estava. Notei sua expressão tristonha quando você passou pela passagem.
— Ah, desculpe pela afobação — eu respondi aliviada e suspirei, fechando os olhos lentamente. — Eu estou bem, só que meu avô falou algumas coisas que eu não queria ouvir.
— Quer conversar sobre isso? — Nate perguntou, enquanto abria a garrafa de chá, dava um gole e fazia uma careta. — Um gole de chá?
— Nossa, esse chá é do que pra você fazer uma careta? — Eu peguei a garrafa da mão dele e cheirei, sentindo o cheiro de álcool entrar pelo meu nariz e queimar tudo. — Nate, o que é isso?
— Vinho de sabugueiro — ele respondeu zombeteiro. — Não me pergunte como eu consegui. Quer dividir comigo?
— Eu acho que eu aceito — respondi e dei um gole, sentindo o gosto peculiar do vinho de sabugueiro e o teor do álcool queimando minha garganta. — Fazia tanto tempo que eu não bebia algo alcoólico.
— Pois é, garota — ele disse, encarando o vitral em nossa frente, que mostrava algumas criaturas marítimas que com certeza Hermione saberia quais eram. — Faz tempo que não somos apenas jovens, não? O que teu avô te falou?
— Bom — eu disse e dei mais um gole no vinho —, ele falou sobre eu ser mais egoísta e parar de me meter em encrenca. Ele escutou pelos comensais que eu lancei um Bombarda que foi forte o suficiente para estourar o corredor inteiro.
— Você fez o que precisava fazer, — Nate disse.
— Bom, aí é que está — eu respondi e suspirei, juntando forças para admitir para Nate e para mim mesma. — Eu sinto que eu mudei depois de tudo o que aconteceu. Eu não me importo mais se vou viver ou morrer, só me importo em salvar o maior número de estudantes possíveis. Ele está um pouco certo. Eu não dou a mínima para a minha vida.
, não fale assim, por Merlin — Nate disse, com uma voz séria e me puxou para um abraço de lado, beijando minha cabeça. — Você é preciosa demais, tua vida vale muito.
— É que eu acho que você não entende, Nate — eu respondi e bebi mais um pouco. — Acho que ninguém entende.
— Quer tentar me explicar? — ele disse e me soltou.
— Eu… — Meus olhos se encheram de lágrimas e eu encarei o chão. — Eu fui mãe, Nate. Por um curto período de tempo, eu fui mãe e, de repente, uma urgência cresceu em mim. Eu tinha algo tão maior e tão precioso e agora…
— Agora você não tem mais — ele respondeu e eu percebi tristeza em seu olhar. — Não podemos culpá-la por não sentir mais motivação na vida, meu bem. Você passou por algo muito grande.
— Eu só queria voltar no tempo e tentar fazer as coisas de maneira diferente — eu respondi e bebi a garrafa de chá mais um pouco. — Mas não é possível e eu tenho que viver com um útero vazio e uma cabeça lotada de traumas.

O silêncio se instaurou entre nós e eu percebi que Nate não tinha mais nada para falar, mas também não foi embora. O bom do Nate como amigo era isso, ele não tentava me dizer algo que ele não sabia, apenas ficava ali até eu querer falar alguma coisa. Eu havia sofrido com suas ausências e apesar de todo o inferno, estava feliz por tê-lo ao meu lado novamente. Suspirei e deitei minha cabeça em seu ombro, também olhando para o céu escuro, pensando em como queria estar longe daquele castelo. Senti um beijinho em minha cabeça e sorri com o carinho, me agarrando mais ao Nate e sentindo seu braço esquerdo passar pela minha cintura. Ele bebeu mais um pouco de vinho e apoiou a cabeça na minha.

— Eu sei que as coisas estão difíceis — ele começou a dizer bem baixinho, quase como uma súplica. — Mas já estão acabando, . Você aguentou até aqui e faça as coisas por você também. Você também merece uma vida feliz longe desse castelo. E você vai conseguir, eu sei disso.

Eu levantei minha cabeça e o olhei. Nate tinha um pequeno sorriso nos lábios, como se soubesse totalmente que minha felicidade viria, com uma certeza absoluta de que eu seria feliz. Eu sorri de volta e enxuguei minhas poucas lágrimas, roubando a garrafa de sua mão e bebendo mais um pouco. Gostaria de acreditar naquilo assim como ele, mas eu não conseguia. Contudo, não iria refutá-lo ou menosprezar seu conforto, então apenas me mantive em silêncio. Estendi a garrafa para Nate e o garoto pegou, também bebendo.

— Como você conseguiu isso aqui? — eu perguntei. — Conta.
— Eu roubei do bar do teu avô — ele respondeu, com um sorriso de criança levada, e eu comecei a rir. — Por Merlin, isso não pode sair daqui.
— Não vai — eu respondi, ainda rindo. — Você é muito esperto, garoto!
— Ah, ele estava ocupado demais surtando porque os lufanos estavam fazendo o pãozinho da maneira errada — respondeu, dando risada. — Desci rapidamente e passei o vinho para a minha garrafa. Ele nem vai notar, eu completei o resto da garrafa dele com água.
— Nate, Nate — eu disse e sorri. — Espero que vovô nunca descubra.
— Ele não vai — ele respondeu. — Só não fale nunca isso para o Neville, na verdade, ele não pode saber que tem bebida aqui.
— Eu sei, se não, ele vai contar — eu disse e nós rimos mais uma vez.

Não sei por quanto tempo ficamos naquele momento de conversa, risos e bebedeira, mas sei que, por um período, eu me senti leve, quase me senti como uma simples adolescente fazendo algo divertido com um amigo. Não me lembrava a última vez que eu tinha sido isso, apenas uma bruxa de dezessete anos me divertindo, cometendo erros e aproveitando meu último ano da escola. Aquilo me deixava triste, de certa maneira. Pensar que parte da minha adolescência tinha ido embora e eu tive que amadurecer à força. No final, tudo aquilo era triste e extremamente perturbador. Eu suspirei e olhei para Nate, que me olhou de volta e sorriu de lado, se aconchegando mais ao meu lado. O garoto era bonito demais para o meu próprio bem e eu sabia que se eu não estivesse enfiada até os cotovelos em luta, eu olharia para Nathan com mais cuidado. Afinal, naquele ponto, eu estava solteira. Beijei seu rosto longamente e percebi os ombros dele ficarem tensos. Eu sabia que ele gostava de mim, mas queria apenas retribuir o carinho que ele tinha por mim.

— Por que fez isso? — ele perguntou, olhando em meus olhos, e eu notei, talvez pela primeira vez depois de muito tempo, que os azuis de seus olhos eram reconfortantes. Pareciam o mar em um dia de verão, não eram como os de Draco, que mais pareciam o mar em um dia nublado.
— Só queria te agradecer por tudo, por estar aqui, por estar sendo corajoso — eu disse baixo. — E por estar aqui comigo. Tua companhia me faz bem.
… — ele sussurrou meu apelido e encarou meus lábios. Eu sabia que, na cabeça dele, outras intenções começavam a crescer. — Eu quero te beijar.
— Eu sei — eu respondi e respirei fundo. A atmosfera do lugar mudou e, de repente, o vinho subiu para as minhas bochechas e eu sabia que estava corando. Eu recuei um pouco e suspirei. — Não posso te beijar porque eu sei que para você vai significar outra coisa.
— Certo — ele disse e também suspirou, dando um gole no vinho e fazendo uma careta. — É melhor eu ir.
— Sim, é melhor — eu respondi e assisti o garoto se levantar, mas minha vontade era pedir para que ele ficasse mais um pouco. — Nate, fica. Por favor, não quero que você vá embora.
— É melhor eu ir, você não ia tomar banho e se preparar para dormir? — ele disse e me olhou com um olhar gentil.
— Sim, mas eu quero a tua companhia — eu respondi e percebi ele abrir um mínimo sorriso. — Deixa, vai embora. Eu estou sendo egoísta.
— Não tem problema você ser egoísta, eu também quero ficar — ele respondeu e voltou para o meu lado, olhando para os meus lábios mais uma vez. — Eu quero te beijar, . Quero muito.
— Nathan… — eu disse, mas olhei para os lábios dele no mesmo instante e me aproximei de seu corpo instintivamente. — Eu também quero te beijar.

Segurei em seu pescoço e aproximei nossos rostos, finalmente juntando nossos lábios em um selinho longo. Nós nos separamos e eu captei seu olhar que transbordava calma. Nathan segurou em minha cintura e me puxou para mais perto, continuando a me olhar profundamente.

— Quanto de vinho você roubou? — eu perguntei baixo.
— Quase meia garrafa — ele explicou. — Por quê? Vai culpar o vinho?
— Não, eu… — Tentei achar uma resposta. — Também queria te beijar, mas o vinho me deu coragem para falar.
— Vamos culpar o vinho, — Nathan disse e afastou meu cabelo, beijando meu maxilar. Eu suspirei e senti a excitação começar a percorrer meu corpo. — E fazer o que quiser.
— Só um beijo, Nathan — eu disse e escutei uma risadinha em meu pescoço. — Apenas um.
— Claro, claro — ele disse e finalmente beijou meus lábios, arrancando um suspiro que eu não sabia que estava segurando.

A primeira coisa que eu notei foi a maciez de seus lábios e o gosto de vinho que deixava o beijo doce. Nate me segurou mais forte e envolveu minha cintura enquanto me beijava de língua. Eu me agarrei em seu pescoço e suguei sua língua, escutando sua respiração pesar. O beijo continuou, a mão esquerda do garoto foi para a pele exposta da minha coxa e eu senti um arrepio, pois a palma dele estava gelada por conta da garrafa e do ambiente gelado que nos encontrávamos. Nate mordiscou minha língua e eu puxei os cabelos de sua nuca, começando a ficar excitada. Gemi em seus lábios quando Nate me puxou para seu colo e eu fui de bom grado, continuando a beijá-lo. Caminhei com minhas mãos por todo o seu tronco e dessa vez meu amigo gemeu quando eu suguei seu lábio inferior. Sua mão direita foi para a minha bunda, fazendo-me rebolar em seu colo e foi nesse momento que eu senti sua ereção sob a calça do uniforme. Aquilo me excitou e eu me dei conta como fazia tempo que eu não recebia um carinho, um afago e uma carícia. Continuei rebolando e arfei quando as mãos de Nate foram direto para dentro da minha calcinha e apertaram minha bunda, continuando a guiar meus movimentos em cima de seu pênis. Os beijos do garoto foram para o meu pescoço e eu rebolei com mais vontade. Aquilo era bom, era diferente. Era gostoso me sentir desejada daquele jeito, eu não podia negar.

Puxei o rosto de Nathan para mim e o beijei, infiltrando minhas mãos por dentro de sua camisa e sentindo sua pele quente sob a minha palma. Arranhei suas costas e Nate gemeu em meus lábios, apertando minha bunda com vontade. Rebolei mais rápido e senti sua ereção diretamente no fundo da minha calcinha e dessa vez eu gemi. De repente, Nate segurou na parte de trás dos meus joelhos e me colocou deitada no banco de madeira, deitando-se no meio das minhas pernas e voltando a me beijar. A rapidez de seus movimentos me fez sorrir e ele percebeu, sorrindo comigo. Entrelacei minhas pernas em sua cintura e o puxei para mais perto, fazendo com que seu pênis roçasse em minha calcinha de novo. Ele entendeu e rebolou devagar, arrancando um suspiro longo de mim. Apertei a pele de suas costas e iniciei meus beijos por seu pescoço descendo até a linha da camisa do uniforme. Suas mãos foram para meus seios por cima da camisa e eu a puxei de dentro da saia para que ele pudesse tocar meus seios com mais facilidade. Continuamos com as carícias até que Nathan levantou a cabeça e olhou no fundo dos meus olhos.

— Nós vamos mesmo fazer isso? — ele perguntou, com uma expressão séria, e foi como se eu acordasse. Eu me dei conta do que estávamos fazendo e o encarei, sentindo minha determinação em ter prazer começar a fraquejar.
— Eu, eu não sei? — perguntei confusa. — Era só um beijo e…
— E de repente você estava rebolando no meu pau — ele disse e eu dei risada. — Nós podemos parar. É sério, não quero que você faça nada que você não queira.
— Eu sei, mas é que — eu de repente me vi corando diante de Nathan — fazia muito tempo que eu não recebia esse tipo de carinho.
— Podemos ir até onde você quiser — ele disse, com um sorriso. — É sério, .
— Você tem algum método contraceptivo aí? — eu perguntei. — Não tomo as poções há muito tempo.
— Bom, eu morava em um bairro trouxa e eu trouxe um preservativo — ele disse e eu achei o nome curioso. — Eles não têm poções como nós que resolvemos tudo com poções, então criaram algumas coisas. Eles até são espertos.
— E como funciona? — eu perguntei, um pouco desconfiada.
— Bom, eu coloco isso no meu pau e quando eu gozar — ele disse e deu uma risada ao ver minha confusão —, isso vai segurar meu gozo para que não entre em você.
— Como uma espécie de barreira — eu disse e ele assentiu. — Bom, eu não vou garantir que vamos usar, mas…
— Ele está no meu bolso — ele disse. — E eu sempre ando com um desse, é precaução.
— Tá bom, Nathan — eu disse, dando risada. — Não precisa me explicar nada.
— Não quero que você pense que eu vim aqui de caso pensado, embebedei você e já estava premeditando tudo — ele me explicou. — Morando em um bairro trouxa e andando com trouxas da minha idade, eu aprendi uma coisa ou outra. Eu só vim aqui oferecer ajuda.
— Nate — eu o chamei e sorri. — Está tudo bem. Eu não estou bêbada, eu sei o que eu estou fazendo. Você também sabe. Nós queremos isso, eu quero isso. Agora chega de falar.

Nate riu e voltou a me beijar, deitando-se sobre meu corpo e eu o apertei com as minhas pernas, sentindo-me feliz por estar ali, sentindo-me um pouco normal. Fiz carinho em suas costas e cabelo enquanto nos beijávamos e percebi a pele de Nathan se arrepiando. Eu não sabia o que tudo aquilo significava para ele, mas honestamente não queria saber. Só queria receber um pouco de carinho e atenção, sendo eu mesma, uma garota com desejos e vontades. Os dedos de Nate foram para a minha calcinha e eu suspirei, sentindo uma carícia nos grandes lábios. Eu já estava molhada e fiquei ainda mais quando Nate começou a me masturbar. Contudo, ele não me conhecia ainda e demorou um pouco para entender o local exato onde eu sentia mais prazer. Foi inevitável não comparar com Draco que já tinha o mapa do meu corpo e me deixava pingando em minutos. A imagem de Malfoy de repente rebentou em minha cabeça e eu me vi pensando nele, pensando no que ele estaria fazendo, no que ele iria pensar se soubesse que eu já estava me satisfazendo com outra pessoa. Meu coração pesou, mas eu me propus a ignorar. Draco estava fora da minha vida. Fora. E não iria assombrar meus pensamentos. A lembrança dele durou pouco, pois Nate massageou meu clitóris com um dedo e me penetrou com o outro, arrancando um gemido um pouco alto de mim.

, baixinho, amor — ele sussurrou no pé do meu ouvido e Draco se foi.

Draco’s POV

O corredor estava vazio, então eu me sentia um pouco livre. A mão dela era quente e segurava meus dedos com delicadeza. Astoria era silenciosa e não dizia nada enquanto voltávamos do jantar de mãos dadas depois de termos comido juntos. Ela era uma boa garota, eu poderia dizer. Ao contrário de Pansy, não era desagradável e não me venerava, então foi bom conversar com ela ao longo de toda a noite. Nós já estávamos conversando há uma semana e eu me sentia confortável com ela. Sua irmã, Dafne, que era do mesmo ano que eu, veio nos apresentar certa noite e, se fosse em outra época, eu não daria atenção, mas naquela noite eu me propus a ouvir as duas. Depois Dafne saiu e eu conversei com Astoria em um corredor de Hogwarts até o horário de dormir. Ela era esperta, educada e tinha uma boa família. Minha mãe iria pirar se eu a mencionasse.

— E é por isso que eu não acho interessante que a caça de dragões aconteça — ela disse, concluindo um argumento que eu não estava prestando atenção.
— Ah, sim, concordo — eu disse por educação e notei um sorriso zombeteiro aparecer em seu rosto.
— Draco, eu não estava falando de caça de dragões — ela respondeu e eu dei um sorriso sem graça. — Você não estava prestando atenção.
— Desculpe, Astoria — eu disse, me sentindo culpado. — Eu estou com muita coisa na cabeça, não queria demonstrar desprezo pelas suas ideias. Quer repetir?
— Não era nada importante — ela disse. — Está tudo bem? Quer conversar?
— Não, eu só… — eu ia dizendo, mas parei, pois notei preocupação genuína em seu rosto. Quase ninguém demonstrava esse tipo de preocupação comigo. — As provas finais. É, são as provas.
— Ah, sim — ela disse, com uma voz compreensiva. — Dafne tem surtado com os exames finais também. Mas vocês conseguem passar, são espertos.
— Obrigado pela confiança — eu disse e nós paramos de andar, pois já estávamos chegando ao andar da Corvinal. — E obrigada pelo jantar, foi ótimo conversar com você.
— Eu me diverti também — ela disse, com um sorriso, e se aproximou de mim enquanto ainda segurava minha mão. Eu encarei nossas mãos juntas e algo dentro de mim se agitou, mas eu ignorei. — Podemos nos ver amanhã, o que acha?
— Eu acho perfeito — respondi e me juntei mais a ela, fazendo um carinho em seu rosto. — Eu ganho um beijo de boa noite?

Astoria não me respondeu, mas se inclinou e me beijou com doçura e calma, como se estivesse esperando há muito por isso. E talvez estivesse, mas eu só não a enxergava. Foi apenas um selinho longo, mas foi o suficiente para que ela ficasse sorrindo. Eu segurei em seu rosto e a beijei novamente, dessa vez aprofundando o beijo e sentindo o gosto de sua língua. Ela cheirava bem e seus cabelos castanhos eram macios. Eu senti que deveria beijá-la com cuidado, como se ela fosse uma peça frágil, então foi o que eu fiz. Era estranho me sentir daquele jeito por alguém, parecia que era mais forte que eu. Astoria segurou em minha cintura e finalizou o beijo com um selinho.

— Eu acho melhor eu ir — ela disse baixo e me deu um sorriso terno. — Boa noite, Draco.
— Boa noite, Astoria — eu respondi, sorrindo de volta e ela me soltou, caminhando em direção à entrada da Corvinal que eu não sabia onde era.

Eu me virei para descer para a Sonserina e me sentia leve, contudo, o rosto de veio até mim. Meu coração ainda se agitava quando eu pensava nela e eu daria qualquer coisa para estar deixando-a no corredor da Grifinória. Contudo, eu precisava seguir em frente. Ela já estava fazendo isso, fazendo o que sempre quis desde que havia voltado para Hogwarts e eu deveria fazer o mesmo, voltar a ser quem eu era antes de tudo. No entanto, mesmo assim, eu ainda me importava com e gostaria, mais do que tudo, de estar com ela.

’s POV

Eu encarava Nate, que estava sentado ao meu lado no banco de madeira, mas não me olhava. Ele estava com o uniforme todo desarrumado e seus cabelos estavam grudados na testa. Ele era lindo demais e eu sabia que todas as garotas de Hogwarts sabiam disso. Nate me olhou e sorriu, fazendo um carinho em meu pé sem meia. Nós não havíamos transado, mas Nate havia me masturbado até me fazer gozar e eu havia masturbado o garoto também. Tinha sido gostoso dar prazer e receber prazer, mas eu ainda não me sentia pronta para transar. E ele tinha entendido, Nate sabia de tudo. O garoto me olhou e veio até mim, beijando-me calmamente.

— Eu acho melhor eu ir dormir — ele disse.
— Tudo bem — eu respondi e sorri. — Eu também já vou.
— Foi ótimo, — Nate disse e sorriu para mim. — E está tudo bem entre a gente, está bem?
— Tudo bem — eu respondi novamente e suspirei. — Está tudo bem.
— Boa noite, meu bem — Nathan disse e se levantou, beijando minha testa.
— Boa noite.

A manhã veio e com ela aquela troca de olhares que eu já conhecia. Nate não parava de me olhar com muita malícia e eu queria rir toda vez que Simas percebia e ficava confuso. Nate inventava desculpas para vir até mim e sempre que podia, fazia um carinho em minha cintura quando ninguém estava olhando. Era gostoso esse clima leve entre a gente e eu me vi desejando fazer de novo. Contudo, eu nem pude aproveitar nada daquilo, pois, mais uma vez, em uma reviravolta, eu sabia que eu teria que deixar minha adolescência ir embora mais uma vez.

No meio do almoço, recebemos uma transmissão urgente do Observatório Potter. Lino Jordan começou a gritar no rádio, fazendo com que nossa atenção fosse toda para o aparelho.

ATENÇÃO, ATENÇÃO! POTTER INVADIU GRINGOTES! REPITO: POTTER INVADIU GRINGOTES ESTA MANHÃ E FUGIU MONTADO EM UM DRAGÃO! AINDA NÃO SABEMOS QUAIS SÃO SUAS MOTIVAÇÕES, MAS ISSO PROVA QUE ELE ESTÁ VIVO E ESTÁ LUTANDO! ENTÃO, NÃO DESISTAM!

Assim como a transmissão veio, ela foi embora e eu fiquei parada ali no meio da Sala Precisa, olhando o rosto daqueles estudantes tão perplexos quanto eu. De repente, a Sala Precisa explodiu em vivas e felicidades. Harry estava vivo e não tinha nos abandonado. Algo iria acontecer e eu sabia que iria ser rápido.

Oh take it all away, I don't feel it anymore, oh take it all away…*: Oh, leve tudo embora, eu não sinto mais isso, oh, leve tudo embora. Trecho da música “I Don’t Feel it Anymore (Song of The Sparrow) de William Fitzsimmons.


Parte 1: I vowed not to cry anymore if we survived the Great War…

Os gritos ainda ecoavam em meus ouvidos e eu sentia meu corpo inteiro tremer de puro medo, puro terror. Eu tentava evitar olhar para o que acontecia, mas era difícil. O duende se contorcia no chão em minha frente e urrava de dor, sentindo os efeitos da Cruciatus. Naquele momento, eu desejei mais do que nunca estar em Hogwarts, mas não, ele me obrigou a vir, mais uma vez usando a situação como uma espécie de punição, de lembrete. Eu jamais poderia esquecer que o Lorde era quem controlava minha vida e minha família. Olhei para o lado e meu pai estava do mesmo jeito que eu, olhando para os próprios pés, e eu via seus ombros tremendo. Já a tia Bella, tinha o olhar vidrado em seu mestre, mas havia tensão em seu rosto. Medo e admiração perpassavam sua face. Estávamos em uma das masmorras que havia sido feita no porão de minha casa com a intenção de reter prisioneiros importantes e servir como sala de torturas. Estávamos em um semicírculo de comensais e, no centro, o duende responsável por Gringotes. Lorde Voldemort estava em sua frente, com a varinha apontada para o corpo frágil e já debilitado da criatura.

— Fale o que aconteceu, criatura — Voldemort disse, depois de torturar o duende mais uma vez. — O que aconteceu em Gringotes!
— Nós… — o duende começou, mas tossiu compulsivamente no chão, espirrando sangue para todos os lados. — Meu… Senhor, nós... Fomos invadidos, senhor.
— Que foi que você disse? — Lorde disse, com a voz aguda de ódio e seus olhos vermelhos faiscaram em cima do duende. O torturado não disse nada, só continuou gemendo no chão. — Repita isso! Repita!
— M-meu senhor — o duende gaguejou, enquanto tentava levantar do chão e se colocar de joelhos. — M-meu senhor, t-tentamos imped-dir os imp-postores, m-meu senhor… Arrombaram… Arrombaram o c-cofre da f-família L-Lestrange…
— Que impostores? — Voldemort perguntou irado. Ele ainda não sabia de todos os detalhes, estávamos contando para ele naquele exato segundo. — Que impostores? Pensei que o Gringotes tivesse meios para desmascarar impostores! Quem eram?
— Era o g-garoto P-Potter e seus d-dois cúmplices — o duende disse, e eu senti um arrepio correr pela minha coluna. Maldito Potter.
— E levaram? — Lorde perguntou e eu pensei ter sentido medo em sua voz e em seus olhos. — O que foi que levaram? Responda!
— U-ma p-pequena t-taça de ouro, m-meu senhor — o duende respondeu, mas não pôde dizer mais nada, pois Voldemort deu um grito enfurecido e acertou a criatura com uma maldição da morte.

Quando me dei conta, eu estava correndo com meu pai segurando em meu pulso e me arrastando com velocidade para fora da sala de tortura. Os gritos de ódio continuaram e, quando olhei para trás, disparos verdes voavam pela sala e acertavam o corpo de quem não conseguiu sair a tempo. Subimos as escadas correndo e só paramos quando já estávamos longe do porão. Tia Bella chegou em seguida e a admiração tinha ido embora de seu rosto, eu enxergava o mesmo pânico que estava estampado nos rostos de todos.

— Lúcio, venha comigo — ela disse e se colocou a andar para a sala de visitas. Eu me pus a segui-los, mas, quando fui entrar, titia me barrou. — Você não, Draco. Vá para outro lugar.
— Mas, tia… — eu comecei a reclamar, mas meu pai me cortou.
— Obedeça a sua tia, Draco — ele disse e eu percebi suor em sua face. — Ande.

Eu me contentei com essa decisão, mas antes de eles fecharem, eu escutei a tia Bella falando: “Eles pegaram a horcrux.” A palavra ficou presa em minha mente. Horcrux… Onde eu já tinha escutado isso antes? Saí das minhas indagações e corri para a biblioteca, buscando um lugar seguro e bem longe do caminho do porão. Abri a porta e me joguei no sofá preto de veludo que havia no meio do local, sentindo meu coração desacelerar do medo. Tranquei a porta em uma tentativa boba de me sentir mais seguro, mas eu sabia que, se ele quisesse me pegar, não seria uma tranca que iria impedir. Meus olhos lacrimejaram, mas eu segurei as lágrimas, tentando me acalmar e perceber que eu estava vivo, tinha sobrevivido. O peso das minhas decisões veio de uma vez e eu me vi odiando aquilo tudo, desejando minha vida de volta, minha vida antes de ele ter voltado. O ataque a Gringotes parecia ter sido um grande golpe nesse lado da guerra, pois significava que Potter estava mais vivo que nunca, mais corajoso do que antes, e isso daria combustível aos rebeldes. Além disso, as intenções de Potter ao ir até Gringotes também pareciam algo que preocupava o Lorde das Trevas. Eles não foram até lá para roubar galeões, mas algo do cofre da tia Bella. Por que o interesse no cofre da tia Bella? O que teria lá de tão importante? De qualquer jeito, eu sabia que minha vida ficaria pior porque os alunos de Hogwarts iam ter mais forças para lutar e, consequentemente, isso daria mais trabalho para os comensais.

Fui tirado dos meus pensamentos com passos do lado de fora no jardim. Meu coração disparou no mesmo segundo, mas minha curiosidade venceu e eu fui espiar pela janela da biblioteca. Era Lorde das Trevas, que caminhava pelo jardim e ele parecia compenetrado em seus pensamentos. Ele emitiu sons que eu não reconheci e, no mesmo momento, Nagini apareceu, ficando ao lado dele. O barulho da fonte mascarava meus próprios barulhos, então eu pude observar um pouco mais e notei uma expressão de medo no rosto do Lorde. Eu nunca tinha visto o mestre daquele jeito e eu também fiquei com medo, pois entendi que a situação era séria. Se ele estava com medo, aquilo era sinal de que as coisas não estavam bem para nós. Saí de perto da janela e fui procurar minha mãe, pois não queria ficar nenhum pouco perto daquela cobra maldita. No momento em que eu andava pela casa, esbarrei com papai e com tia Bella, que caminhavam pela casa.

— Viu o mestre, Draco? — papai perguntou e eu assenti.
— Ele está no jardim — eu disse e eles saíram depressa em direção ao jardim.
Esse desespero para encontrar o mestre também significava algo: a situação não era nem um pouco boa. Potter tinha mexido suas peças no tabuleiro e agora precisávamos correr atrás do espaço perdido. Encontrei minha mãe e ela também estava com medo.

— Draco, querido! — ela disse e me abraçou com força. — Você está bem?
— Estou, estou — eu respondi e ela me puxou para a sala de jogos, onde havia uma lareira acesa. — O que foi, mãe?
— Vou te mandar de volta para Hogwarts — ela disse preocupada. — Enquanto ele estiver aqui, não acho que você esteja seguro.
— Mas, mãe — eu tentei reclamar, mas ela já me puxava para mais perto da lareira. — Eu não sei se posso ir embora.
— Ele está distraído, Draco — ela disse e eu suspirei. — Por favor, filho. Saia daqui. Já falei com Snape, ele está te esperando.
— Tudo bem, tudo bem — eu disse, mas, antes de partir, eu a encarei seriamente. — Mãe, o que está acontecendo? Por que o desespero de todos? Papai está assustado e Ele também está, eu posso perceber.
— Filho, não devemos nos meter nos assuntos do mestre — ela respondeu, sem me olhar direito, mas eu suspeitava de que ela sabia de alguma coisa. Meu pai confiava em minha mãe e devia ter falado algo. — Volte para Hogwarts, sim?
— Mãe, tem alguma coisa errada, não tem? — eu perguntei e pela tensão em seus ombros, eu sabia que eu não estava errado. — Eu nunca tinha visto aquela expressão no rosto do mestre, ele parecia com medo.
— Ora, Draco, pense um pouco — minha mãe disse e olhou para a porta enquanto falava. — Potter finalmente fez seu movimento depois de meses escondido. Todos pensavam que ele havia fugido, que havia abandonado a luta, mas ele voltou da maneira mais espalhafatosa possível.
— E roubou algo importante do cofre da tia Bella — eu disse. — Você já ouviu falar algo sobre horcrux?
— Por que o interesse? — ela perguntou preocupada e eu vi medo em seu olhar. — Draco, volte para a escola e fique fora disso, entendeu? Esse é um assunto perigoso.
— Mas…
— Não tem mas — mamãe disse, encerrando o assunto, e me olhou com carinho. — Fique seguro, meu filho. Por favor.
— Tudo bem — eu respondi um pouco contrariado, mas peguei um pouco de Pó-de-Flu, gritando Hogwarts enquanto me mandava para a escola. Mais tarde naquele dia, eu pensei que mamãe se arrependeu amargamente por ter me mandado de volta.


’s POV

O almoço estava sendo servido e apesar de eu estar distribuindo as porções de alimento para todos os alunos, eu não conseguia prestar atenção em nada além do nervosismo que corria pelo meu corpo. Eu só queria arrancar mais e mais alunos daquele lugar e eu sabia que o tempo estava acabando. Algo iria acontecer, Voldemort não ia deixar barato o que Harry fizera e isso iria gerar uma reação em cadeia em toda a estrutura dos comensais. Minhas emoções brigavam para entrar no controle do meu corpo, pois ao mesmo tempo que eu sentia ânimo por Harry finalmente ter se mexido, eu sentia medo pela retaliação que aquilo iria gerar. Todos os alunos da Sala Precisa estavam eufóricos e Neville até falava em preparações para um possível combate. Contudo, eu era a única que não via nada disso apenas com ânimo de luta.

— Aqui. — Eu entreguei a porção de comida que vovô tinha feito, uma porção de purê de batatas com linguiça temperada, para mais um estudante e peguei meu próprio prato, indo me sentar afastada das outras pessoas.

Por mais que eu tentasse, havia outra coisa que rondava meus pensamentos: Draco. Eu sabia que Voldemort não estava nenhum pouco feliz com aquela situação e deveria ter descontado nos comensais mais próximos. Eu estava preocupada com ele, gostaria de saber se o garoto estava seguro ou se havia sido atacado em um surto de raiva de seu líder. Meu coração pesava ao pensar nisso e uma ideia passou pela minha cabeça: sair da Sala Precisa para procurá-lo. Eu sabia que não devia, mas eu queria tanto vê-lo e saber se estava tudo bem. Ele devia estar assustado e até com raiva. Contudo, ao mesmo tempo em que esse impulso veio, eu o suprimi com todas as minhas forças. Draco já não era mais uma prioridade. Eu precisava entender isso de uma vez por todas. Voltei a observar o jantar e o pôr-do-sol caía sobre Hogwarts, deixando os vitrais da sala com uma luz alaranjada. Tudo parecia calmo e tranquilo, mas claro que durou pouco. De repente, a porta se materializou na parede e eu me vi obrigada a deixar minha comida para o lado e correr para a frente. Outros alunos mais velhos vieram comigo e todos juntos ficamos com as varinhas em posição de ataque. Era impossível eles entrarem, mas o medo sempre estaria lá. Suspirei aliviada quando reconheci os cabelos escuros de Neville, mas o alívio passou rápido. Simas vinha junto e eles seguravam os braços de um garoto que parecia desacordado. Sangue pingava enquanto eles entravam e eu notei que havia diversas marcas de sangue pela camisa do garoto e o símbolo da Corvinal já estava em um tom de roxo. Eu não reconheci de imediato, mas quando alguém gritou “Por Merlin, Terêncio!”, eu entendi que se tratava de Terêncio Boot, um dos corajosos da Corvinal. Ele ainda não tinha se juntado a nós na Sala Precisa, então foi uma surpresa quando eu vi os meninos carregando o corpo dele.

— Neville, o que aconteceu? — eu perguntei e me aproximei deles, que depositaram o corpo desacordado do garoto, o deixando no chão.
— Boot foi espancado por Carrow — ele respondeu, enquanto me olhava. — Nós o resgatamos de uma das masmorras.
— Por que o Carrow bateu nele? — eu perguntei, enquanto amarrava meu cabelo e me aproximava. — Terêncio, pode me ouvir?
— Ele gritou durante o jantar que Harry havia invadido Gringotes — ele explicou, eu iluminei os olhos do garoto e as pupilas contraíram. A luz foi forte e Terêncio acordou, começando a se debater. — Terêncio, calma, calma! Você está seguro!
— Me ajude a abrir a camisa dele — eu disse e, nesse momento, Padma se aproximou. — Padma, traga Essência de Ditamno — eu pedi e notei diversos cortes ao longo do peito do garoto e nos braços, além do rosto dele estar cheio de hematomas. — Stanque Sangria!

Depois de uns trinta minutos e uma Poção Wiggendweld que eu carregava em minhas coisas desde o acidente de Draco, Terêncio finalmente conseguiu se recuperar. Nós demos uma porção de jantar para ele e deixamos o garoto descansar. Enquanto eu tentava curá-lo, eu só conseguia sentir indignação porque, mais uma vez, um de nós quase morria por conta da truculência dos comensais. Eu me sentei ao lado de Terêncio e perguntei:

— O que aconteceu, Terêncio?
— Eu queria espalhar para todos que Potter havia invadido Gringotes — ele respondeu. — As pessoas não sabem direito o que aconteceu, tudo corre como um boato e eles querem nos desacreditar, .
— Eu entendo, Terêncio — respondi. — Sinto muito pela tortura, mas você foi muito corajoso.
— Eu estou aqui desde a primeira formação da Armada de Dumbledore — o garoto disse. — Não posso me calar.

Eu apenas assenti e apertei seu ombro, saindo de perto e deixando Boot descansar. Fui até Nate e Neville, que conversavam baixinho, e suspirei, recebendo um sorriso contido dos dois.

— Qual é o problema agora? — eu perguntei, tentando fazer uma piada, mas não havia clima nenhum para isso.
— Terêncio quase foi morto, — Neville disse. — Eles estão piorando ainda mais as coisas.
— Estão desesperados — Nate disse. — Bom, pelo menos é o que eu acho.
— Você está certo, Nate — eu respondi. — Terêncio é um puro-sangue e quase foi morto. Eles não estão nem aí mais, só querem machucar a gente. Eu sabia que algo iria acontecer no momento em que o Observatório Potter avisou sobre Harry. Precisamos salvar mais alunos, meninos. Eles vão acabar matando alguém.
— Mas Harry vai fazer alguma coisa, — Neville disse esperançoso. — Eu sei disso! Ele pode até vir para Hogwarts para lutar!

Nossa conversa foi interrompida pelo retrato da minha tia aparecendo na porta que ligava a Sala Precisa até a casa de meu avô. O quadro havia aparecido depois de uma noite e sempre que meu avô precisava se comunicar conosco, a pintura da tia Ariana aparecia caminhando calmamente. Nossos olhos eram os mesmos, eu conseguia perceber.

— Meu avô deve querer alguma coisa — eu disse. — Neville, você pode ir?
— Claro, volto em um segundo! — ele disse e caminhou até a porta, abrindo e sumindo na escuridão da passagem secreta em seguida.

Eu não tinha conseguido conversar com Nate direito e aquele foi o primeiro momento em que ficamos sozinhos. Um leve nervosismo apareceu em meu peito, mas eu tentei ignorar, dando um sorriso pequeno para o garoto. Nathan se aproximou calmamente e me deu um sorriso também, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.

— Você parece preocupada demais — ele comentou.
— Eu estou — respondi e suspirei. — Eu sabia que eles iriam fazer alguma coisa aqui no castelo. Estou feliz porque Harry apareceu, eu sempre soube, mas…
— Mas você tem medo, — ele disse e me puxou para um abraço. Deitei minha cabeça em seu peito e me permiti relaxar por alguns segundos. — É normal. Você se tornou mais cuidadosa.
— Acho que é isso mesmo — eu respondi e levantei minha cabeça para olhá-lo. — A tempestade está chegando.
— Bom, mas se Harry está vindo para cá como Neville disse — Nate começou a dizer —, podemos respirar tranquilos, certo?
— Eu não sei, Nate — respondi. — Eu acho que, se ele vier, nós entraremos em guerra, talvez até tomaremos a escola. Precisamos estar prontos e evacuar os menores.

Mais uma vez, nossa conversa foi interrompida com o grito de Neville “Vejam quem está aqui! Eu não disse a vocês?” Meu olhar foi para o local de onde vinha o sol e meu coração pulou uma batida quando eu vi as três pessoas que vinham com Neville. Harry, Rony e Hermione estavam ali, parados com expressões confusas enquanto observavam a sala. Lágrimas se juntaram no canto dos meus olhos e eu corri na direção deles junto ao mar de alunos que estavam tão surpresos quanto eu. Neville estava certo. Eles vieram. Tentei me aproximar, mas foi em vão, alunos de todas as idades abraçavam o trio, apertavam suas mãos e gritavam seus nomes.

— Calma, calma, pessoal! — Neville gritou, pedindo para os alunos recuarem e eu me aproximei finalmente.
— Onde estamos? — Harry perguntou confuso, enquanto olhava tudo.
— Na Sala Precisa é claro! — Neville respondeu animado e, quando me viu, disse: — , eles vieram!
— Mione! — eu gritei e me atirei nos braços da minha amiga, sentindo seus braços me envolverem. — Por Merlin! Você está aqui!
! — ela gritou meu nome e notei alegria genuína em seu olhar. — Você está tão diferente!
— Que bom ver vocês! — eu disse e me coloquei a abraçar Rony, que tinha um sorriso gentil. Seus braços de goleiro me envolveram e ele bagunçou meus cabelos. — Eu sabia que vocês não tinham se escondido.
! — Harry disse e também me abraçou apertado, fazendo um carinho em minhas costas. — A Sala Precisa está tão diferente!
— Dessa vez, ela foi demais, não? — Neville respondeu feliz. — Os Carrow estavam perseguindo eu e a , e nós sabíamos que só existia um esconderijo possível!
— Conseguimos passar pela porta e encontramos ela assim — eu disse, com um sorriso genuíno no rosto. — Bem, não era exatamente assim, era bem menor, só tinha umas redes e camas de armar, além da tapeçaria da Grifinória. Foi aumentando quando mais gente da Armada de Dumbledore foi chegando.
— E os Carrow não podem entrar? — Harry perguntou, enquanto olhava ao redor.
— Não — Simas disse, de repente. — É um esconderijo de verdade. Desde que um de nós esteja sempre presente, eles não podem nos surpreender, a porta não se abrirá. É tudo obra do Neville. Ele realmente saca essa sala.
— Você tem que pedir exatamente o que precisa — eu expliquei. — Por exemplo, “Não quero que nenhum seguidor dos Carrow possa entrar” e a sala faz isso. Você só precisa garantir que não deixou nenhum furo. Neville é sensacional!
— Na realidade, não tem mistério — Neville disse, com muita modéstia. — Eu e já estávamos aqui há quase dois dias, mortos de fome, e queríamos conseguir comida, aí a passagem para o Cabeça do Javali se abriu. Entramos por ela e nos deparamos com Aberforth. Ele tem nos fornecido comida, porque, por alguma razão, essa é a única coisa que a sala não faz.
— É, bem, comida é uma das cinco exceções da Lei de Gamp sobre a Transfiguração Elementar — Rony disse, de repente, surpreendendo a todos.
— Onde foi que você aprendeu isso? — eu perguntei surpresa e, nesse momento, Nate veio até meu lado um pouco sem graça e eu aproveitei a deixa para apresentar o garoto para o trio. — Harry, Rony, Hermione, esse é o Nate. Entrou esse ano na Grifinória.
— Você era ensinado em casa? — Hermione perguntou curiosa.
— Sim, mas esse ano o ensino em Hogwarts foi obrigatório para todos — ele respondeu. — É um prazer conhecer vocês. e Neville não pararam de falar de vocês desde que eu os conheci.
— Ah, não precisa disso — Mione disse envergonhada e desviou o assunto. — A Sala parecia ser muito boa!
— Sim, estamos nos escondendo aqui há quase duas semanas — Simas disse. — E a sala acrescenta mais redes e camas toda vez que precisamos, até fez brotar um banheiro muito bom quando mais garotas começaram a chegar…
— Foi quando desejaram muito poder se lavar — Lilá Brown disse, de repente, e eu notei que Rony e Hermione ficaram tensos subitamente.
— Mas contem o que andaram fazendo — Ernesto MacMillan disse curioso. — São muitos os boatos que correm e temos procurado nos manter informados sobre vocês pelo Observatório Potter. — Ele indicou o rádio no fundo da sala. — Vocês não arrombaram o Gringotes?
— Arrombaram! — Neville disse, antes que qualquer um do trio pudesse responder. — E o dragão também é verdade! — Os alunos ao redor aplaudiram e Rony fez uma reverência.
— O que estavam procurando? — Simas perguntou, ansioso, mas a conversa foi interrompida.

Harry, de repente, perdeu a força nas pernas e quase caiu para o lado se não fosse Rony. O garoto fechou os olhos com força e começou a suar como se estivesse sentindo muita dor. A crise durou alguns segundos e Harry abriu os olhos, encarando a todos nós com uma expressão confusa.

— Você está bem, Harry? — Neville perguntou. — Quer se sentar? Imagino que esteja cansado, não?
— Não — Harry perguntou e eu notei certo desespero no olhar que ele lançou para Rony e Hermione. — Temos que ir andando.
— O que vamos fazer, então, Harry? — Simas perguntou. — Qual é o plano?
— Plano? — Harry perguntou confuso. — Bem, tem uma coisa que nós, Rony, Hermione e eu, precisamos fazer, e depois temos que sair daqui.

Eu percebi o balde de água fria que foi jogado nas costas de todos ao redor quando Harry disse aquilo. Neville me olhou e ele parecia mais confuso do que todos nós. Eu também não entendi de imediato, mas me lembrei do motivo de eles não terem vindo para Hogwarts esse ano e a missão que tio Alvo havia deixado para Harry. Eles estavam ali atrás de alguma horcrux, não estavam ali para nos ajudarem a tomar o castelo. Um incômodo se instalou, mas eu guardei para mim, pois precisava de mais informações.

— Como assim “sair daqui”? — Neville perguntou.
— Não viemos para ficar — Harry disse e nós trocamos olhares. — Tem uma coisa importante que precisamos fazer…
— O que é? — Neville perguntou.
— Eu… Eu não posso dizer — Harry disse e eu confirmei mais ainda minha hipótese.
— Por que não pode nos dizer? — Neville perguntou, com confusão em seu rosto. — É alguma coisa ligada à luta contra Você-Sabe-Quem?
— Bem, é… — Harry disse, tentando ser o mais evasivo possível.
— Então nós o ajudaremos — Neville disse determinado e outros membros da AD apoiaram sua ideia. Harry pareceu mais desesperado e prestes a explodir.
— Você não está entendendo — ele disse cansado. — Nós não podemos dizer. Temos que fazer isso sozinhos.
— Por quê? — Neville perguntou e ele parecia ter deixado Harry ainda mais perto de ter um colapso.
— Porque… — Ele deu uma pausa e passou a mão na cicatriz em sua testa. — Dumbledore nos encarregou de uma tarefa que não devíamos comentar. Quero dizer, ele queria que a fizéssemos, só nós três.
— Nós somos a Armada dele — Neville insistiu, mas eu sabia que nada daria certo. Eu me aproximei do meu amigo e segurei em seu braço, tentando dar um apoio e pedir a fala, mas Neville desembestou a falar. — A Armada de Dumbledore. Estivemos todos unidos nisso, temos continuado a resistir enquanto vocês três estiveram lá fora sozinhos…
— Não tem sido exatamente um piquenique, colega — Rony disse e eu senti um tom de crítica em sua voz.
— Eu nunca disse que foi — Neville continuou. — Mas não vejo por que não podem confiar na gente.
— Todos nesta sala estiveram lutando e acabaram aqui porque estavam sendo caçados pelo Carrow — eu disse, cortando a fala do meu amigo. — Nós perdemos muita coisa, mas provamos nossa lealdade a Dumbledore, lealdade a você, Harry.
— Escute — Harry ia começar a argumentar, mas toda a discussão foi cortada pelo barulho da porta do túnel sendo aberta.

— Recebemos sua mensagem, Neville! — uma voz masculina disse e eu reconheci Dino Thomas parado ao lado de Luna. Simas urrou de felicidade e correu para abraçar seu melhor amigo. — Olá, vocês três, achamos que deviam estar aqui!
— Oi, pessoal! — cumprimentou Luna e eu senti meus olhos lacrimejarem. — Ah, que ótimo estar aqui de novo!
— Luna? — Harry soltou, parecendo confuso. — O que está fazendo? Como foi que…
— Pedi a ela para vir — Neville o cortou e tirou o galeão falso do bolso. — Prometi a ela e a Gina que, se você voltasse, eu avisaria. Todos pensamos que a sua volta significaria realmente uma revolução, que íamos derrubar Snape e os Carrow.
— Claro que é isso que significa — Luna disse animada. — Não é, Harry? Vamos expulsá-los de Hogwarts à força?
— Escutem — Harry começou e eu percebi desespero pairando ao seu redor. — Sinto muito, mas não foi para isso que voltamos. Tem uma coisa que precisamos fazer e depois…
— Vocês vão nos deixar nessa confusão? — Miguel Corner perguntou.
— Não! — Rony respondeu rápido. — O que estamos fazendo vai acabar beneficiando todo mundo, estamos tentando nos livrar de Você-Sabe-Quem…
— Então nos deixe ajudar! — Neville disse, com um tom de voz elevado. — Queremos participar!

A porta da passagem se abriu mais uma vez e de lá vieram Gina, Fred, Jorge, Lino Jordan e Cho Chang. Meu coração deu um salto e eu senti que poderia gritar de felicidade. O rosto de Gina e de Fred brilhavam para mim e fui até eles para abraçá-los apertado. Fred me deu um sorriso reconfortante e passou o braço pelo meu ombro enquanto nos aproximávamos do resto das pessoas.

— Aberforth está meio rabugento — Fred comentou. — Ele quer dormir e aquilo virou uma estação de trem.
— Recebi a mensagem — Cho disse, enquanto sorria para Harry e caminhava para se sentar ao lado de Miguel Corner.
— Então, qual é o plano, Harry? — Jorge perguntou.
— Não há nenhum — Harry respondeu.
— Vai improvisar à medida que formos indo, é isso? — Fred disse. — É o que eu mais gosto.
— Você tem que fazer isso parar! — Harry olhou desesperado para Neville. — Para que chamou todos de volta? Isso é uma insanidade…
— Vamos lutar, não é? — Dino perguntou, enquanto tirava o galeão falso do bolso. — A mensagem dizia que Harry tinha voltado e que íamos lutar! Mas vou precisar de uma varinha…
— Você não tem uma varinha? — perguntou Simas e o foco se dissipou.
— Neville — eu chamei. — Eles não querem lutar, acho que continuar insistindo nisso é perda de tempo.
— Mas, , nós resistimos todo esse tempo para esse momento! — Neville reclamou e eu me aproximei dele para sussurrarmos um para o outro. — Precisamos lutar!
— Nós podemos deixá-los fazer o que querem e depois continuamos a tirar os alunos — eu disse. — Continuamos com o plano e esperamos o que eles querem fazer. Acho que é assim que vai ser. Eu sinto muito, Neville.

Nossa conversa foi cortada por Harry, que voltou a falar. A sala voltou ao completo silêncio e parecia que todos estavam sedentos por algo que viesse dele, qualquer orientação, qualquer comentário.

— Tem uma coisa que precisamos encontrar — ele começou. — Uma coisa… Uma coisa que nos ajudará a derrubar Você-Sabe-Quem. Está aqui em Hogwarts, mas não sabemos onde. — Ele deu uma pausa e suspirou. — Talvez tenha pertencido a Ravenclaw. Alguém já ouviu falar de um objeto assim? Alguém já topou com algum objeto com uma águia gravada, por exemplo?
— Bem, tem o diadema perdido — Luna respondeu. — Falei dele para você, lembra, Harry? O diadema perdido de Ravenclaw? Papai está tentando duplicar.
— É, mas o diadema perdido — Miguel Corner respondeu, com certa impaciência, revirando os olhos — está perdido, Luna. Essa é justamente a questão.
— Quando foi perdido? — Harry perguntou.
— Dizem que há séculos — Cho respondeu. — O professor Flitwick diz que o diadema desapareceu com a própria Ravenclaw. As pessoas têm procurado, mas ninguém encontrou o menor vestígio.
— Desculpem, mas o que é um diadema? — Rony perguntou.
— É uma espécie de coroa — Terêncio Boot explicou. — Acreditava-se que o da Ravenclaw tinha propriedades mágicas, ampliava a sabedoria de quem o usava.
— Isso, os sifões de zonzóbulos do papai… — Luna começou a dizer, mas Harry a cortou.
— E nenhum de vocês nunca viu nada parecido? — ele perguntou um pouco desanimado e murchou mais quando viu os alunos da Corvinal negando com a cabeça.
— Se você quiser ver a aparência que acreditam ter o diadema, eu posso levá-lo à nossa sala comunal e lhe mostrar, Harry — Cho se ofereceu. — Ravenclaw foi esculpida usando-o.
— Não, Luna levará o Harry. Fará isso, não, Luna? — Gina disse, com uma voz firme, e Cho se sentou novamente parecendo desapontada.
— Ah, claro, com todo o prazer — Luna respondeu animada e eu contive um riso.
— Como saímos? — Harry perguntou a Neville.
— Por aqui. — Neville apontou o caminho e os dois o seguiram, fazendo com que a Sala voltasse para o completo caos.

Fui diretamente para Hermione e Rony, que cochichavam entre si, mas pararam de falar quando eu apareci. Eu entendia que muita coisa tinha mudado nesse quase um ano em que eu não os via. Olhando melhor, eu notei que Hermione estava mais magra e havia uma preocupação constante pousada em suas sobrancelhas. Eu sabia que ela também estava me observando e tirando conclusões sobre mim. Nenhuma de nós estávamos iguais. Rony parecia igual, mas eu sentia a tensão em seus ombros e o olhar preocupado. Eu me aproximei dos dois e suspirei, dando um pequeno sorriso.

— O trabalho de vocês aqui é impressionante, — Hermione comentou, olhando ao redor. — Isso aqui está ótimo!
— Bom, é um local seguro — eu respondi. — Não há tanto conforto, mas é o suficiente.
— Vocês estão tirando os alunos mais novos do castelo? — Rony perguntou.
— Sim, os Carrow não poupam ninguém e os menores são os que sofrem mais — expliquei. — Tem sido muito difícil.
— Nós imaginamos — Mione respondeu. — Pelo tanto de pessoas que estão aqui…
— Temos sobrevivido — eu respondi. — Vocês estão conseguindo? As horcruxes?
— Ai, — Mione suspirou. — Tem sido a missão mais difícil de nossas vidas. Viemos por causa disso.
— Eu imaginei — respondi. — Algumas delas têm que estar aqui em Hogwarts. Faz sentido pensar no quão esse lugar é simbólico para Você-Sabe-Quem.
— Harry também pensa assim e é por isso que viemos — Rony respondeu. — Não para lutar ou tomar a escola.
— Neville está um pouco decepcionado com isso — eu respondi. — Acho que, no fundo, todos estamos. Esperar por vocês foi o que nos manteve em pé esse tempo todo.
— Eu sinto muito por isso, — Mione respondeu, com uma expressão triste. — Mas acho que seguiremos viagem depois daqui.
— Eu não vou convencer vocês a nada — respondi. — Eu sei o que vocês estão fazendo e mantive segredo, não contei para ninguém, mas acho que Harry vai ter que falar algumas palavras, algo assim.

Fui tirada dessa discussão com Gina segurando em meu braço e me abraçando apertado. Nós ainda não tínhamos conversado desde que ela havia chegado e, naquele abraço, eu senti que ela sentia minha falta também. Abracei minha amiga apertado e suspirei, tentando conter minhas lágrimas por ela estar ali. Viva e bem. Nós nos olhamos depois do abraço e Gina apertou minha mão.

— Você está horrível — ela disse e eu ri, revirando os olhos depois.
— Ai, Gina — eu disse, rindo. — Você é uma ridícula.
— Eu sinto muito por tudo, — ela disse. — Neville me contou em uma carta que você perdeu o…
— Sim — eu respondi e senti a tristeza pairando ao meu redor. — Desculpe não ter falado nada, eu não consegui me comunicar com ninguém.
— Está tudo bem — ela respondeu e me deu um sorriso triste. — Eu entendo que você precisava de um tempo. Pelo que Neville me contou, você não teve muito tempo para processar tudo e assimilar o que aconteceu.
— Sim, os Carrow colocaram um alvo na minha cabeça — eu respondi. — Estão me perseguindo, tentando me prender ou matar. De novo. Desde que eu acordei do coma, eu só tive tempo de vir para cá.
— E o Draco? — ela perguntou e eu me senti pior. — Ele sabe que você está aqui?
— Nós não estamos mais juntos — respondi. — Não deu pra continuar com tudo piorando e… Bem, depois do que aconteceu.
— Eu sinto muito, — ela disse e me abraçou de novo. — Eu queria tanto que nada disso estivesse acontecendo, que você tivesse conseguido sair comigo.
— Eu também, Gina — eu respondi. — Eu também.

Nossa conversa foi interrompida pelo barulho da porta da passagem secreta se abrindo e de lá saíram várias pessoas. Pessoas que eu não via há tempos, rostos que eu não encontrava e, entre os pais de Gina, Lupin, ShackleBolt e outras pessoas da Grifinória, eu vi meus pais. Eles pareciam mais velhos, mais cansados e seus olhos esquadrinharam o salão em busca de algo. Os rostos de ambos se iluminaram quando me viram e eu larguei Gina, correndo até eles o mais rápido que eu pude. Meu coração batia acelerado e lágrimas já despontavam de meus olhos sem que eu pudesse controlar. Finalmente os alcancei e me lancei sobre eles, abraçando os dois com meus braços e sentindo o abraço de volta. Escutava e sentia o choro deles, tão emocionados quanto eu. Eles estavam ali. Meus pais. Aqueles que me deram o espírito de luta, o espírito corajoso. Eles estavam vivos. Soltei-me deles e os olhei, minha mãe segurou em meu rosto, verificando cada pedacinho enquanto meu pai fazia um carinho nas minhas costas.

— Filha — mamãe me chamou e voltou a chorar. — Nós tivemos tanto medo por você!
— Eu estou bem, mamãe — respondi, dando um sorriso. — Estou viva.
— Como sentimos a tua falta, meu bem — papai disse, também com os olhos úmidos. — Nós não víamos a hora de você sair desse lugar.
— Bom, eu não saí e vocês vieram — eu disse e eles riram um pouco. — Estou feliz que vocês estejam aqui!
— Não poderíamos deixar você sem um suporte — minha mãe disse. — Mais uma vez. Nós sentimos muito por tudo.
— Eu sei, mamãe — respondi. — Mas já passou e nós podemos conversar melhor depois.
— Nós sabemos que você vai lutar — meu pai disse. — E ao invés de te impedir, nós viemos ajudar. Se algo acontecer, estaremos juntos.
— Como sempre foi — minha mãe completou. — Sempre fizemos tudo juntos e agora não vai ser diferente.

Olhei ao redor e vi a Sala Precisa mais e mais cheia, pessoas que eu conhecia, pessoas que eu não conhecia, mas todas conversavam sobre apenas uma coisa: lutar. O sentimento de impaciência e de urgência trespassava todo o salão de modo que o ânimo ali estava mudando. Mesmo se Harry não quisesse, o resto iria lutar para tirar os comensais e derrubar Snape. Essa luta já tinha ultrapassado Harry. Não era apenas sobre ele. Era muito maior.

! — Hermione me chamou e eu soltei meus pais para ir até ela. — Eu e Rony vamos sair! Precisamos fazer uma coisa.
— Sair? Você está maluca! — eu disse. — É perigoso sair agora, vamos esperar Harry voltar, vocês podem usar a capa e…
— Não temos tempo! — Rony disse. — Lembra que nós te contamos sobre a câmara secreta?
— Sim, eu lembro — respondi. — Mas o que isso tem a ver com tudo isso?
— Harry usou o dente do basilisco para destruir o diário do Tom Riddle — Hermione disse. — E o diário era uma horcrux, então…
— Vocês querem descer para pegar mais dentes — eu completei. — Isso é uma ótima ideia, na verdade!
— Nós temos que ir — Rony disse. — Avise ao Harry quando ele voltar, ouviu?
— Claro, claro! — eu disse. — Tomem cuidado, a porta da Sala Precisa sempre muda de lugar agora.
— Sim, já voltamos! — eles gritaram, enquanto saíam correndo até a saída.

— Aonde eles vão? — senhor Weasley perguntou e eu respondi:
— Ao banheiro.
— Mas tem banheiro aqui, não tem? — ele perguntou confuso, mas eu não respondi nada, apenas voltei para perto dos meus pais, querendo aproveitar o momento com os dois pelo tempo que me foi permitido.


Draco’s POV

A noite já tinha caído e eu observava a escuridão do Lago Negro em minha frente enquanto escutava a lareira queimando. Os alunos já dormiam, mas eu estava ali, acordado como uma coruja, sentindo a ansiedade apertar meu peito. A cor verde invadia meus pensamentos todas as vezes em que eu fechava os olhos e eu sabia que não importava quantas execuções eu visse, eu jamais iria me acostumar. Todas aquelas pessoas que haviam morrido na minha casa naquela tarde e tudo porque o mestre havia se zangado. Era óbvio que o que Potter havia feito tinha abalado a confiança do mestre de que seu reinado estava seguro. O jovem bruxo era a única coisa que faltava para que nós ganhássemos e isso me deixava tenso. Eu realmente queria que nós ganhássemos? Até um tempo atrás, eu planejava fugir, deixar tudo para trás. E se eu ainda quisesse? Será que depois da escola, eu conseguiria continuar meus planos e partir?

Pensar nisso fazia com que eu me lembrasse de e meu coração doía. Eu ainda amava aquela garota com tudo o que havia dentro de mim, tudo o que era bom. E com o amor vinha a preocupação porque eu sabia que com a situação piorando para nós, para ela também pioraria. Desde que nós havíamos nos separado, tinha se jogado em situações perigosas e isso me preocupava, contudo, não havia nada que eu pudesse fazer. Ela não era mais assunto meu. Eu tentava me enganar dizendo que tudo já havia passado, que nada mais importava, que agora ela tinha saído da minha vida para sempre, mas meu coração era teimoso, não me obedecia e todos os dias a vontade de procurar por ela acordava comigo. Eu gostaria de vê-la mais uma vez. Só mais uma. A vida que teríamos juntos sempre aparecia e eu conseguia imaginar perfeitamente nossa vida livre. Nossa vida com nossa bebê. Porque eu sentia que seria uma menina. Mas nada mais importava. Tudo isso tinha ido embora e eu me sentia vazio por dentro. era a centelha de esperança que existia em mim e agora já não tinha mais nada além da resignação.

Voltei à realidade com o barulho de passos e vi que Pansy se aproximava como uma cobra, tentando ser silenciosa. Ela usava uma camisola branca curta e um robe por cima, além de pantufas. Linda. Pansy se sentou na poltrona ao meu lado e suspirou, olhando para mim com certa curiosidade.

— Não deveria estar dormindo? — ela perguntou.
— Posso devolver a pergunta — eu respondi, sem olhá-la — O que quer?
— Quero saber o que faz aqui — ela respondeu de maneira petulante e se espalhou na poltrona, abrindo suas pernas levemente. Meu olhar foi direto para o meio de suas pernas e eu notei o fundo de sua calcinha preta. Ela sorriu quando viu que eu observava. — Por que não dormiu ainda?
— A vida de um comensal pode te deixar com insônia de vez em quando — eu respondi e voltei a olhar para a escuridão em minha frente. — Hoje foi um dia complicado.
— Por causa do que Potter fez? — ela perguntou. — Toda a escola está sabendo, até um garoto de outra casa gritou isso durante o jantar. Acho que ele foi espancado.
— É por causa do que Potter fez, sim — eu disse. — Isso agitou um pouco as coisas, precisamos achá-lo o mais rápido possível.
— Bom, eu não saberia o que fazer — ela disse. — Espero que vocês consigam capturar aquela praga, aquela doença.

Eu não respondi nada e fechei os olhos, tentando afastar a imagem de porque eu pensava nela enquanto Pansy tentava me seduzir e fazer algo acontecer. Escutei o barulho de Pansy se movimentando e, quando abri os olhos, a garota estava parada em minha frente. Seus cabelos curtos estavam jogados todos de um lado só e isso a deixava ainda mais bonita. Pansy pegou minhas mãos e as guiou para sua cintura. Eu permiti sem saber direito o motivo, mas me aproximei de seu corpo e levantei sua camisola, deixando toda a parte de seu corpo exposta. A garota permitiu e eu beijei sua barriga, agarrando seu quadril. Eu poderia me distrair um pouco, não poderia? Pansy me empurrou levemente e se sentou em meu colo, cobrindo meus lábios com os seus. voltou a aparecer. Eu ignorei e me empenhei no que eu estava fazendo, sentindo Pansy gemer em meus lábios quando eu intensifiquei nosso beijo e passei minhas mãos por todo o seu corpo. Mais uma vez, apareceu e de repente estar com Pansy era quase um insulto a ela. Era desrespeitoso.

— Pansy — eu chamei e ela me olhou com um olhar repleto de tesão. — Melhor pararmos. Eu não quero fazer isso.
— Mas, Draco — ela reclamou. — Por quê?
— Você não vai querer saber — eu respondi e eu só queria que ela saísse de cima de mim. — Levanta do meu colo.
— Mas — ela foi reclamar de novo, mas eu não consegui escutar.

Meu braço esquerdo começou a arder como se estivesse pegando fogo. Eu gritei de dor e acabei empurrando Pansy, que caiu no chão. Seu olhar estava assustado e eu não conseguia parar de gritar de dor enquanto segurava meu antebraço. A dor era excruciante como uma maldição. Estourei o botão do punho da minha camisa e expus a Marca Negra que estava mais escura do que nunca. O desespero se abateu sobre mim.

— Não, não, não, não aqui, não aqui — eu repeti, pois já sabia o que aquilo significava.
— Meu Deus, Draco — Pansy gritou e se aproximou de mim, segurando meus ombros. — O que foi?
— Ele está vindo pra cá — eu expliquei e continuei segurando meu braço. — Ele está vindo.

Ouvi passos e, quando vi, Crabbe e Goyle vinham cambaleando até mim, segurando o braço. Goyle tinha até lágrimas nos olhos.

— Draco, o que isso significa? — Crabbe perguntou e eu respondi entre dentes:
— Ele está vindo pra Hogwarts, seu idiota — eu respondi. — Potter está aqui.


’s POV

— Sua avó está ótima, querida — papai disse, com um sorriso, enquanto nós estávamos sentados juntos conversando. — Ela queria vir junto. Teu avô também, mas nós não deixamos.
— Eles não sabem a idade que têm, né? — eu disse e nós rimos. — Aposto que vocês dois serão assim, aurores até morrer.
— Ah, querida, eu não tenho dúvida — meu pai respondeu. — Enquanto pudermos voar em vassouras, nós estaremos por aí.
— Falando nisso, vocês conseguiram trabalho na França? — eu perguntei.
— Bom, nós estamos prestando consultoria para o ministério da magia francês — mamãe explicou. — Eles estão observando toda a situação aqui do Reino Unido e querem se preparar. Muitos bruxos ingleses têm se refugiado na França.
— Vocês precisam tomar cuidado — eu alertei. — Devem ter comensais na França também.
— Sim, nós fazemos de maneira anônima, filha, pode ficar tranquila — meu pai respondeu.
, você afundou de vez na luta — mamãe começou. — Mas e Draco? Ele sabe que você está aqui?
— Ah, mamãe. — Eu me preparei. — Nós não estamos mais juntos. Terminamos depois que eu acordei. Só não tinha mais como continuar. Eu precisava estar aqui, ele precisa estar lá e…
— Perder um filho não é fácil — ela completou e segurou minha mão. — , você teve que amadurecer tão rápido. Eu gostaria de ter conseguido te poupar de tudo isso.
— Você não teve culpa, mamãe — eu disse. — Nós não temos culpa.

Nossa conversa foi interrompida por barulho de pedra raspando em pedra. Todos ficaram em silêncio e, de repente, uma das estátuas de pedra que ficava na parede se desprendeu e caiu no chão, contudo, em vez de quebrar, ela se levantou e ficou parada. No momento seguinte, mais estátuas e armaduras começaram a cair e a se mexerem, entrando em posição de ataque, caminhando para a saída. Eu nunca tinha visto aquilo na minha frente. A porta se abriu e quanto elas saíram, o barulho de estátuas caindo e marchando invadiu a Sala Precisa. O que estava acontecendo?

— O piertotum locomotor! — Lupin disse. — A escola está se preparando para a batalha.

Nesse momento, todos os alunos gritaram em felicidade por finalmente a luta começar. Eu olhei para os meus pais e eles não comemoravam, mas havia preocupação genuína em seus olhares. Eles tinham experiência, sabiam que não havia nada para celebrar. Se as estátuas estavam se preparando, era sinal de que iríamos ser atacados.
— Eles descobriram que Harry está aqui — eu disse. — Os comensais estão vindo, Ele está vindo!

A felicidade se dissipou e, nesse momento, Harry e Luna entraram correndo, totalmente afobados. Deu pra perceber que Harry ficou assustado com o tanto de gente que estava na sala.

— Harry, o que está acontecendo? — Lupin perguntou, indo até Harry no pé da escada da entrada.
— Voldemort está a caminho, estão barricando a escola. — Meu amigo deu uma pausa para respirar. — Snape fugiu. O que estão fazendo aqui? Como souberam?
— Enviamos mensagens a todo o resto da Armada de Dumbledore — Fred explicou. — Você não esperava que o pessoal fosse perder a festa, Harry! A Armada avisou a Ordem e a coisa virou uma bola de neve.
— O que vai ser primeiro, Harry? — Jorge perguntou. — O que está acontecendo?
— Estão evacuando os alunos menores, e todos vão se encontrar no Salão Principal para nos organizarmos. Vamos lutar.

As pessoas nem esperaram ele terminar de falar e correram para a saída com varinhas nas mãos, apressadas. Harry se aproximou de quem ficou: eu, meus pais, os gêmeos, senhora Weasley, Gina, Lupin, Gui e Fleur. Gina e a mãe brigavam. Ela queria ficar para lutar, mas a mãe queria que ela fosse embora em segurança. Eu me virei para conversar com os meus pais.

— Bom, nós vamos lutar — eu disse.
— Sim, nós vamos. — Meu pai. — Não vamos te pedir para voltar ou para se esconder. Você não é essa pessoa.
— Não te criamos para ser — mamãe disse orgulhosa, mas tinha lágrimas nos olhos. — Nós queremos te dizer que…
— Não, mãe — eu disse e também meus olhos lacrimejaram. — Vocês não vão se despedir. Nós vamos sobreviver, eu não vou perder vocês também.
, nós temos que nos preparar — ela disse e segurou em minhas mãos. —
Essa é a realidade da batalha, querida. Nós só queremos dizer que temos muito orgulho de você.
— Independente do que acontecer, nós estamos felizes de podermos ser seus pais — meu pai disse e nós nos abraçamos apertado.
— Desculpe por todo aquele tempo que eu fiquei brava — eu disse, enquanto chorava. — Gostaria de voltar no tempo e aproveitar mais o tempo de paz.
— Está tudo bem, — mamãe disse e beijou meus cabelos. — Teremos a vida toda, não?

Fomos interrompidos pelo barulho de alguém vindo pela passagem do bar do vovô. Eu já estava pronta para soltar um feitiço em cima da pessoa, mas os cabelos vermelhos me pararam. Percy Weasley estava ali. Eu sabia pelo que Ron, Fred e Gina haviam me contado que ele havia dado as costas para a família, pois não queria ser associado a Harry, além de continuar fiel ao ministério. Eu observei a estranheza e o desconforto da família enquanto assistia Percy pedir desculpas e me dei conta de que ele estava ali porque sabia que algo ruim poderia acontecer. Não havia mais tempo para conflitos. Ou ele fazia as pazes com sua família ou alguém poderia morrer com a lembrança de que ele havia abandonado os seus. Vi Fred estendendo a mão para ele e parecia que estava tudo bem. Enquanto eles conversavam, Gina tentou fugir e recebeu um grito de sua mãe.

— Molly, vou dar uma sugestão — Lupin disse, de repente. — Por que Gina não fica aqui? Pelo menos permanecerá no castelo e saberá o que está acontecendo, mas não estará no meio da batalha.
— Eu… — Sra. Weasley tentou argumentar, mas foi cortada pelo marido.
— É uma boa ideia — ele disse com firmeza. — Gina, você fica aqui nesta sala, ouviu?

Gina concordou e quem sobrou voltou a se encaminhar para a saída. Eu me aproximei de Fred, pois ainda não tinha conseguido falar com ele. Eu havia desaparecido de sua vida. Desde que eu havia perdido o bebê, eu não consegui mais escrever para ninguém. Nem mesmo para Gina ou até para meus pais.

— Parece que alguém está viva, não é mesmo? — ele fez uma piadinha e eu sorri sem graça. — Fico feliz de saber que você está bem, .
— Fred, eu… — Eu não sabia o que dizer. — Eu… Me desculpe, mas eu passei por um momento horrível aqui no castelo.
, relaxa — Fred disse e deu um sorriso. — Eu não quero te cobrar de nada. Nós sempre seremos amigos. Você precisava de um tempo. Gina me contou algumas coisas. Você vai lutar mesmo estando…
— Eu não estou mais — respondi, entendendo que ele falava da gravidez. — Uma das coisas que eu não contei. Eu perdi meu bebê.
— Oh, , meu Deus, eu sinto muito. — Ele me abraçou apertado e eu senti seu cheiro familiar. Abracei Fred de volta. — Por que não me contou? Eu queria ter estado com você.
— Eu fui torturada, Fred — expliquei. — Perdi meu bebê numa sessão de tortura. Depois disso, eu fiquei desacordada por um mês. Saí do coma e vim me esconder.
— Eu sinto muito mesmo — ele disse e me soltou para segurar em minhas mãos. — Depois daqui, você vai lá na loja e a gente conversa melhor. Eu sei que ficamos sem conversar por um tempo, mas você ainda é uma das minhas pessoas favoritas.
— Você também, Fred — eu disse, sorrindo. — Você também.

O Salão Principal nunca estivera tão lotado. Além de todas as mesas estarem abarrotadas de alunos, toda a Ordem da Fênix estava em pé ao fundo da sala, escutando a professora McGonagall falar. Eu olhei rapidamente para a mesa da Sonserina e não vi Draco em nenhum lugar. Aquilo não era nada bom. Harry passou pelas mesas e todos os alunos que se davam conta de que ele estava ali ficavam surpresos, petrificados. Harry veio caminhando e parou ao meu lado, totalmente incomodado com alguma coisa.

— E a evacuação será supervisionada pelo Sr. Filch e por Madame Pomfrey — a professora McGonagall continuava a falar. — Monitores, quando eu der a ordem, vocês organizarão os alunos de suas Casas e os levarão, enfileirados, ao lugar da retirada.
— E se eu quiser lutar? — Ernesto Macmillan perguntou e foi aplaudido. Eu dei um sorriso ao perceber a coragem do garoto. Acho que ele tentava se redimir por ter cedido à pressão dos comensais daquela vez do bilhete anônimo.
— Se você for maior de idade, pode ficar — McGonagall explicou.
— E as nossas coisas? — uma garota da corvinal perguntou e eu revirei os olhos. — Nossos malões, nossas corujas?
— Não temos tempo para recolher pertences — a professora respondeu. — O importante é sair daqui são e salvo.
— Onde está o professor Snape? — uma garota da sonserina perguntou.
— Para usar a expressão vulgar, ele se mandou — esclareceu a professora e os alunos comemoraram. — Já fizemos a proteção ao redor do castelo, mas é pouco provável que dure muito tempo, a não ser que a reforcemos. Portanto, devo pedir a vocês que andem rápida e calmamente e façam o que seus monitores…

A fala da professora foi cortada pelo grito sofrido de uma aluna. Era uma das menores e ela gritava com as mãos no ouvido. Em seguida, outro aluno começou a gritar, também cobrindo os ouvidos. De repente, uma voz ecoou no ouvido de todos e eu senti o mais profundo pânico.

“Sei que estão se preparando para lutar.”

Mais gritos, mais caos. Alunos se abraçavam apavorados enquanto procuravam a origem da voz.

“Seus esforços são inúteis. Não podem lutar comigo. Não quero matar vocês. Tenho grande respeito pelos professores de Hogwarts. Não quero derramar sangue mágico.”

Os alunos pararam de gritar e o silêncio pairou ao nosso redor. O medo me sufocava e eu sabia que não era a única. Os rostos assustados e apreensivos dos alunos com certeza refletiam o meu próprio. Busquei o olhar da minha mãe e ela também parecia assustada. Nunca tinha visto aquele medo em seu rosto.

“Entregue-me Harry Potter e ninguém sairá ferido” — Voldemort disse.

“Entreguem-me Harry Potter e não tocarei na escola. Entreguem-me Harry Potter e serão recompensados. Terão até meia-noite.”

A voz se calou e todos se viraram para Harry, que estava parado ao meu lado e parecia congelado por todos aqueles olhares. Então, da mesa da Sonserina, Pansy Parkinson se levantou, gritando e apontando para Harry:

— Mas ele está ali! Potter está ali! Agarrem ele.

Meu sangue ferveu no mesmo segundo e eu me coloquei em frente a Harry com a varinha em mãos, pronta para atacar qualquer um que tocasse em um fio de cabelo de Harry. Eu não fui a única a pensar assim, pois todos os alunos da Grifinória me seguiram e se colocaram em frente a Harry, criando um cordão de isolamento entre ele e o resto do Salão. Alunos da Corvinal e da Lufa-Lufa também se levantaram, prontos para defender Harry.

— Obrigada, srta. Parkinson — a professora McGonagall respondeu irônica. — Será a primeira a deixar o salão com o Sr. Filch. Se os demais alunos de sua Casa puderem acompanhá-la… — Os alunos da Sonserina se levantaram e saíram do Salão, não sobrando uma alma viva para trás. Covardes. — Os alunos da Corvinal em seguida!

A grande maioria dos alunos da Corvinal foi embora, mas alguns maiores de idade permaneceram sentados. Na Lufa-Lufa, um número maior de alunos ficou e na Grifinória quase nenhum aluno se levantou. A professora McGonagall teve que ir até a mesa e gritar com os alunos menores de idade, que insistiam em ficar. Enquanto isso, eu prestei atenção em Kingsley, que já ditava ordens.

— Temos apenas meia hora até a meia-noite, portanto, precisamos agir com rapidez! Os professores de Hogwarts e a Ordem da Fênix concordaram com um plano de batalha. Os professores Flitwick, Sprout e McGonagall vão levar grupos de combatentes ao topo das três torres mais altas: Corvinal, Astronomia e Grifinória; dali terão uma visão abrangente e ótimas posições para lançar seus feitiços. Nesse meio tempo, Remo — ele apontou para Lupin — Arthur — apontou para o Sr. Weasley, sentado à mesa da Grifinória — e eu levaremos grupos para os jardins. Precisaremos de alguém para organizar a defesa das entradas das passagens da escola…
— Parece trabalho para nós — Fred disse em voz alta, apontando para si e para o irmão.
— Muito bem, os líderes subam aqui para dividirmos as tropas! — Kingsley disse.
— Potter — McGonagall chamou e Harry olhou. — Você não devia estar procurando alguma coisa?

Meu amigo saiu correndo junto ao mar de alunos, sem me dar tempo de dizer nada. Eu entendia a aflição de Harry. Ele não viera para Hogwarts em busca de um motim, mas agora estava preso em um enquanto tinha uma tarefa excruciante para cumprir. Respirei fundo e me dirigi até Lupin, sabendo que eu me dava melhor em batalhas de curto alcance. Lupin me olhou e depois que um certo número de alunos já estava ao redor deles, nós partimos para o lado de fora do castelo. Antes de seguir o grupo, eu percebi meus pais se separando também, cada um indo para o local que lutava melhor.

O barulho do lado de fora já estava alto. Eu conseguia escutar gritos vindos do outro lado da barreira e eu sabia que havia uma leva de comensais apenas esperando as barreiras mágicas caírem. Meu coração saltava pela boca, mas eu não podia fraquejar. Eu sentia medo. Medo por mim, por meus pais, meus amigos e também pelo Draco. Ele estava desaparecido, mas eu sabia que ele não tinha escapado junto aos outros alunos. Ele não podia, era um comensal. A angústia de imaginá-lo ferido se apossou de mim e quando eu notei, meus olhos ardiam. Afastei sua imagem de minha mente e foquei no céu estrelado em cima de mim e no jardim de Hogwarts, que parecia um manto escuro que se estendia sob meus pés. Eu tinha me preparado a vida inteira para ser uma lutadora e aquele era o momento de eu provar isso. Não podia deixar Draco atrapalhar isso também. Contudo, meu coração doía e no momento em que um feitiço estourou na barreira em cima de mim, eu só desejei estar com ele.


Draco’s POV

Assim que a dor da Marca Negra se dissipou, eu me levantei do chão com a ajuda de Pansy e pude ver desespero em seu rosto. Crabbe e Goyle estavam jogados no chão, Goyle encolhido segurando o braço e Crabbe parecia até desmaiado. Nós ainda não havíamos nos acostumado com a dor da convocação e talvez nunca iríamos. Sentei-me na poltrona e notei que havia outros alunos parados ao redor, com um semblante de preocupação também.

— O show acabou, vão embora! — eu gritei para eles. Fechei os olhos e não esperei para ver se haviam me obedecido. Eles sempre faziam.
— O que faremos, Malfoy? — Crabbe perguntou preocupado e eu notei que os dois já se recompunham.
— Deixem-me pensar — eu respondi, tentando passar uma sensação despreocupada, mas por dentro eu sentia completa agonia. — Ele vai atacar a escola. Potter está aqui.
— Deixem que os comensais cuidem disso, Draco — Pansy disse e eu tive vontade de gritar com ela. — Você é um aluno de Hogwarts.
— Pansy, eu vou fingir que não escutei isso — respondi e encarei o tapete debaixo dos meus pés.

A equação que se formava em minha cabeça fazia meu corpo gelar enquanto meu coração disparava. Se o Lorde das Trevas estava vindo por Potter, ele poderia querer . Punir-me mais uma vez e até provar minha lealdade. Saber onde meu coração, de fato, estava. E aí eu estaria completamente perdido. Tudo isso fazia minha cabeça voltar para o ano anterior, no momento em que eu planejei a invasão do castelo e tive que fugir, deixando para trás. Ela havia sido atacada e quase tinha perdido a vida. Por minha culpa. Eu não poderia permitir que isso acontecesse. Não de novo. Eu havia prometido que mantê-la viva seria minha missão de vida. Então era exatamente isso que eu faria. O plano se delineou em minha cabeça e eu sabia que minha boa intenção por trás dele jamais seria vista por . Ela iria me odiar de novo, mas, dessa vez, eu não tentaria mudar sua opinião. Se eu capturasse Potter o mais rápido possível e entregasse para o Lorde, a batalha não iria acontecer e não teríamos tempo para que ele a encontrasse. iria me odiar, mas isso seria mais uma das várias consequências que eu teria que lidar no futuro.

Nesse momento, Slughorn apareceu entrando nas masmorras e sua expressão também carregava preocupação. Ele conjurou pequenos pássaros que foram se infiltrando pela Sonserina e acordando os estudantes que ainda dormiam. Seu olhar de compreensão sabia o motivo de nós três estarmos acordados naquele momento. Assim que o Salão Comunal ficou cheio, o velho começou a falar:

— Boa noite, jovens. Temos que subir para o Salão Principal — ele disse. — Deixem tudo para trás e vão como estão. É de suma importância. Mais informações serão dadas no Salão. Monitores comigo!

Os alunos começaram a se organizar para a saída, inclusive Crabbe e Goyle, mas eu os segurei pelo ombro e os puxei para um canto. Pansy ficou me olhando por uns segundos, mas quando percebeu que não seria incluída, seguiu o resto dos estudantes.

— Nós não vamos para o Salão — eu expliquei.
— O quê? Por quê? — Crabbe perguntou assustado.
— Nós vamos subir para a Sala Precisa — eu expliquei. — Se há um lugar onde Potter pode estar escondido é lá. Pensem como não seríamos aplaudidos se formos nós que entregamos Potter ao mestre?
— Draco, você tem razão! — Goyle concordou e eu quis rir com o fato de eles acreditarem em tudo o que eu falava.
— Usamos um feitiço de desilusão e esperamos — eu expliquei. — Conseguimos dar conta dele e daqueles dois facilmente. Vamos logo!

Nós seguimos o resto do fluxo dos alunos, mas em vez de seguirmos para o Salão Principal, começamos a subir para o sétimo andar, explorando os pontos cegos. As lembranças de quando eu fazia esse caminho para levar para a Grifinória invadiram minha mente, causando-me desconforto. Mesmo com toda a sombra que pairava sobre mim, eu era feliz quando estava com ela. Tudo esvanecia quando sorria para mim. Eu sentia esperança. Sentia segurança em seus braços e a ilusão de que nada podia nos encontrar brotava em minha mente. A sensação de amar tinha sido boa.

No meio do caminho, a voz que assombrava meus pensamentos todos os dias ecoou pelo castelo. Voldemort devia estar perto para estar alcançando os alunos. Eu ouvi gritos ao longe. O medo paralisou minhas pernas e eu travei no lugar. Olhei para Crabbe e Goyle e eles me olhavam com o mesmo pânico que devia estar refletido em meu rosto. Entreguem-me Harry Potter. Vocês têm até meia-noite. Ouvir esse prazo fez meu corpo reagir e eu consegui voltar a me mexer. Precisava encontrar Potter antes.

— Vamos logo, andem! — eu gritei com os dois e nós continuamos a subir.

Lançamos o feitiço de desilusão e começamos a esperar no corredor ao lado do local onde a Sala Precisa geralmente aparecia. Meu coração estourava em meu tímpano e eu já sentia suor empapar o tecido da minha camisa do uniforme. Isso tinha que dar certo. Minha concentração foi levada para o barulho da porta se materializando com o barulho da multidão de alunos que começaram a subir as escadas e entrar pela porta. Eles estavam evacuando o castelo. Ótimo. Uma esperança boba de que estava naquele grupo veio até mim, mas eu conhecia a garota. Ela não iria fugir. A angústia de esperar Potter aparecer por ali era imensa e se não fosse a marca em meu braço, acho que eu mesmo teria ido embora somente para escapar da ansiedade da espera.

As paredes começaram a tremer e eu conseguia ver os reflexos dos feitiços sendo disparados pelos jardins da escola. era muito boa em combate de médio e curto alcance, então deveria estar lá embaixo, lutando enquanto eu estava ali, escondido, prestes a emboscar um de seus melhores amigos. Eu tentava me convencer de que estava fazendo aquilo somente por ela, mas também era por mim. No fundo, eu sabia que não aguentava mais. Tudo precisava acabar. Os estrondos de explosões causadas por feitiços me faziam querer fechar os olhos e era um pouco difícil assimilar que Hogwarts estava ruindo. Eu vivia reclamando daquele lugar, fingindo odiar estar ali, mas minhas melhores lembranças eram frutos da minha existência naquele castelo.

Fui tirado de meus pensamentos com o barulho da porta da Sala Precisa se materializando novamente e, com um olhar rápido, eu notei os cabelos vermelhos de Rony Weasley. Eles estavam ali. Meu coração disparou e quando eu ia começar a andar, a porta abriu de novo e a prima da mamãe, Ninfadora Tonks, saiu correndo. Eu fiquei surpreso em vê-la ali, afinal, tia Bella havia dito que ela havia acabado de ter um filho. Nem pude fazer nada, pois, no segundo seguinte, Gina Weasley passou pela porta como um raio, descendo as escadas com a varinha em mãos. Alguns segundos se passaram e ninguém mais saiu. Então, eu entendi. Eles precisavam da Sala.

Aguardei alguns segundos e quando ninguém mais apareceu, puxei Crabbe e Goyle e parei em frente ao local em que a parede deveria aparecer. Preciso do lugar onde tudo se perde. A porta de madeira apareceu e eu senti meu coração pulsar ainda mais rápido. Sinalizei para que os dois entrassem com a varinha em mãos e entramos.

Aquele lugar estava do mesmo jeito que eu lembrava. As pilhas de móveis e objetos estranhos, os livros empoeirados junto aos quadros vazios e tudo mais que se podia imaginar. Escutei passos ao longe e a voz de Potter gritando instruções. Meu suor descia pelas minhas costas em cachoeiras e uma ansiedade absurda veio até mim. Precisava pegar Potter sem que ele percebesse. O barulho de alguém mexendo em objetos chamou minha atenção e vi as costas de Potter bem perto de mim. Era isso, eu ia conseguir. O idiota levantou a mão para tocar em um busto, mas eu interrompi seus movimentos, dizendo:

— Pare, Potter.

Eu o olhei e notei a minha varinha em suas mãos. Meu sangue ferveu e foi difícil não me lançar em cima dele e tomar minha varinha de volta.

— É a minha varinha que está segurando, Potter.
— Não é mais — Potter disse entre respirações aceleradas — Ganhou, guardou, Malfoy. Quem lhe emprestou essa?
— Minha mãe — eu respondi e notei Potter dando uma risada de escárnio. Lembrei-me de mais um motivo do meu ódio por ele.
— Então por que não estão com Voldemort? — o cicatriz perguntou, mas antes que eu pudesse responder com uma mentira, Crabbe abriu a boca e contou tudo ao garoto em nossa frente.
— Vamos receber uma recompensa — ele disse e eu poderia enfiar a cabeça dele num balde de água se eu tivesse um. Apesar disso, tentei não transparecer minha indignação. — Ficamos na escola, Potter. Decidimos não sair. Decidimos levar você pra ele.
— Ótimo plano — Potter disse, fingindo estar admirado e deu alguns passos para trás. — Como foi que entraram aqui?
— Vivi praticamente nesta sala de objetivos escondidos ano passado — eu disse, tentando me manter calmo, mas minha voz acabou falhando. — Sei como entrar.
— Estávamos escondidos lá fora, no corredor. — Goyle decidiu abrir a boca e eu quis morrer mais um pouco. — Já sabemos lançar feitiços da Desilusão! Então, você apareceu bem na nossa frente e disse que estava procurando um dia-D! O que é um dia-D?
— Harry? — uma voz masculina chamou e eu sabia que era Rony. — Está falando com alguém?

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Crabbe apontou a varinha para uma parede de móveis de quase vinte metros e fez todos os móveis caírem em cima do lugar onde a voz do Weasley estava vindo. Potter tentou correr, mas Crabbe continuou agitando a varinha e mais paredes começaram a ruir. Ao longe, eu escutei um grito feminino. Granger.

— Não! — eu disse, enquanto segurava o braço de Crabbe, tentando impedi-lo de continuar. — Se você desmontar a sala, talvez enterre o tal diadema!
— E daí? — Crabbe gritou, enquanto se soltava de mim. — É o Potter que o Lorde das Trevas quer, quem se importa com um dia-D?
— Potter entrou aqui para apanhá-lo — eu tentei argumentar. — Então deve significar…
— Deve significar? — Crabbe me cortou e completou com raiva. — Quem se importa com o que você pensa? Não recebo mais ordens suas, Draco! Você e seu pai já eram!

As palavras infantis dele vieram como um tapa em meu rosto, mas eu nem pude retrucar ou fazer qualquer coisa, pois Potter se atirou em direção a um busto de pedra enquanto Crabbe atirava feitiços e gritava “Crucio!”. Meu pânico resolveu me ajudar e eu corri em direção a Crabbe, tentando pará-lo mais uma vez. O mestre queria Harry vivo.

— PARE! — eu gritei. — O Lorde das Trevas quer ele vivo!
— Então? Eu não estou matando ele, estou? — Crabbe disse e me empurrou mais uma vez. — Mas, se eu puder, é o que eu farei. O Lorde das Trevas quer ele morto mesmo assim, qual é a dif…

Pelo canto do meu olho, eu enxerguei o jato vermelho que vinha em nossa direção e antes que o feitiço atingisse a nós dois, eu empurrei Crabbe do caminho. No mesmo segundo, eu notei a raiva do garoto e Crabbe levantou, gritando e apontando a varinha.

— É aquela sangue-ruim! Avada Kedavra!

O feitiço proibido saiu de seus lábios sem um segundo de hesitação e isso despertou algo em Potter, pois, no mesmo segundo, um feitiço estuporante saiu de sua varinha e atingiu Crabbe. A alavanca do feitiço fez o corpo de Crabbe esbarrar em mim e minha varinha saiu voando junto, caindo numa pilha de móveis. Pânico me atingiu e eu voei naquela pilha, tentando a todo custo achar minha varinha.

— NÃO O MATE! NÃO O MATE! — eu gritei para Crabbe e Goyle, especialmente para Goyle, que resolvera se mexer.

Eles hesitaram e foi o suficiente para Potter desarmar Goyle e Granger se aproximar lançando mais um feitiço estuporante, dessa vez em mim. Consegui desviar daquele, deixando o local onde estava minha varinha. Uma chuva de feitiços se iniciou sobre mim e Crabbe e Goyle não me escutavam mais. Voei para atrás de um guarda-roupa de três pernas e vi Granger vindo imparável para cima de Goyle, soltando feitiços que o acertaram, fazendo seu corpo cair como uma pedra no chão.

— Está por aqui em algum lugar! — Potter gritou e eu notei que ele ainda procurava o tal diadema. Se era importante para ele, eu devia tentar conseguir primeiro, já que capturar Potter não seria mais o suficiente. — Procure enquanto eu vou ajudar R…
— HARRY! — Granger gritou e seu grito chamou a minha atenção também. De um corredor ao nosso lado, eu conseguia ouvir uma espécie de rugido e uma onda de calor se aproximando.
— Que tal o calor, idiotas? — Crabbe gritou ensandecido e notei que de sua varinha saía chamas do tamanho de animais gigantes, queimando todos os objetos por onde o garoto passava.

Puxei o corpo estuporado de Goyle e comecei a me afastar, somente escutando Crabbe enviar as chamas em direção aos três, que corriam desesperados para o outro lado. Aquela chama me assustou, principalmente porque eu via que Crabbe não sabia direito o que estava fazendo, agiu no puro ódio. Nesse momento, eu notei que as chamas já haviam se espalhado completamente pela Sala Precisa e as figuras animalescas de fogo tomavam conta de tudo. Nós três estávamos começando a ficar sem opção. Crabbe iria provocar a nossa morte. Olhei ao meu lado e vi uma pilha de escrivaninhas ao nosso redor. Sem pensar duas vezes empurrei o corpo de Goyle para cima e tentei subir também. Olhei para trás e não vi mais Crabbe em lugar algum, somente enxergava fogo. A consciência do que havia acontecido me atingiu e eu me vi com os olhos umedecidos. O ar começou a ficar difícil de respirar e eu tentava fugir das chamas, subindo mais e mais, porém uma hora a pilha de escrivaninhas iria acabar. Eu iria morrer naquele lugar.

De repente, escutei o barulho de ar sendo cortado e quando olhei para cima, Potter mergulhava montado em uma vassoura. Claro que ele iria voltar. Estendi meu braço, mas foi impossível conseguir subir segurando Goyle também. Nossas mãos colidiram, mas acabei escorregando. Granger e Weasley apareceram logo depois e juntos conseguiram colocar Goyle na vassoura de Hermione. Eu escalei a vassoura de Potter e gritei:

— A PORTA! VÃO PARA A PORTA!

A fumaça dentro daquele lugar era imensa e eu sentia meus olhos e garganta arderem. As criaturas de fogo estavam nos perseguindo e destruíram tudo ao nosso redor. Para o meu espanto, do nada, Potter mergulhou numa pilha de objetos e de frente para uma serpente de fogo.

— O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? A PORTA É PARA O OUTRO LADO! — eu gritei, tentando orientar Potter, mas ele estava determinado e, quando notei, o diadema estava pendurado em seu pulso enquanto a serpente de fogo tentava nos alcançar. Potter empinou a vassoura e subiu, fazendo com que eu me agarrasse a ele com força e torcesse para que ele tivesse nos levando para a saída. Abri meus olhos quando eu senti ar puro entrar em meus pulmões e o gelado da parede que Potter bateu com a vassoura.

Eu caí de barriga para baixo e continuei deitado por alguns segundos, tossindo meu pulmão para fora. Todos nós estávamos em silêncio ainda e somente o barulho de nossa respiração era ouvido. Consegui me sentar e olhei minha roupa, notando pedaços chamuscados. Goyle estava sentado perto de Granger e Weasley meio estuporado, meio acordado. Olhando para ele, eu me dei conta do que havia acontecido com Crabbe. Meus olhos arderam e eu já não sabia mais se era pela fumaça ou pela noção de que Crabbe estava morto.

— Crabbe — eu disse um pouco atônito. — Crabbe…
— Está morto — Weasley completou e eu notei rispidez em seu tom de voz.

Um barulho de cascos tomou o corredor e, de repente, uma cavalaria de fantasmas atravessou uma das paredes. Todos seguravam suas cabeças em seus braços e gritavam enquanto partiam. Os Caçadores Sem Cabeça. Depois que eles passaram, os barulhos da batalha voltaram aos nossos ouvidos. Potter se levantou e parecia desesperado.

— Onde está Gina? — ele perguntou. — Ela estava aqui. Devia ter voltado para a Sala Precisa.
— Caramba, você acha que ela funcionará depois desse incêndio? — Weasley perguntou, tentando descontrair, mas também se levantou rapidamente. Minhas pernas não queriam se mexer. — Vamos nos separar e procurar?
— Não — Granger respondeu e eu só ouvia a conversa dos três, incapaz de mover um só músculo. Além disso, também estava sem varinha. — Ficamos juntos. Vamos… Harry, o que é isso no teu braço?
— O quê? Ah, é — Potter disse e eu olhei em direção a eles, querendo saber o que era aquilo precioso ao ponto de quase morrermos para buscá-lo. O diadema se quebrou quando Potter o segurou e uma substância aquosa e escura começou a vazar do objeto.
— Deve ter sido o Fogomaldito! — Granger, como sempre sabendo de tudo, respondeu.
— Desculpe? — Potter perguntou confuso.
— Fogomaldito é uma das substâncias que destrói Horcruxes, mas eu nunca, jamais, teria me atrevido a usá-lo, tão perigoso que é. Como Crabbe terá…?
— Deve ter aprendido com os Carrow — Potter respondeu.
— Pena que não estivesse prestando atenção quando eles ensinaram a apagá-lo, pena mesmo — Weasley respondeu. — Se não tivesse tentado nos matar, eu lamentaria a morte dele.

Eu percebi que Granger começou a cochichar, mas tudo foi interrompido quando um estrondo encheu o corredor. Gritos de batalha bateram nas paredes e o desespero me colocou em movimento. Não iria ficar ali para ver o que era. Agarrei Goyle enquanto os três correram em direção ao barulho. Não olhei para trás e quando virei o corredor, escutei alguém gritando em desespero:

— Não, não, não! Fred, não!

I vowed not to cry anymore if we survived the Great War…: Eu jurei não chorar mais se sobrevivêssemos à Grande Guerra. (Trecho de The Great War, da Taylor Swift).


There's no morning glory, it was war, it wasn't fair…

ALERTA DE GATILHO: O capítulo a seguir possui cenas de insinuação a estupro. Caso tenha sensibilidade ao tema, não leia!






A explosão de quando a barreira mágica fora quebrada fez meus ouvidos sentirem a pressão no mesmo instante. O tempo correu como Aquiles e depois da evacuação das crianças menores e o aviso de Voldemort, a meia-noite veio e, com ela, o ataque definitivo. O desespero se alastrou quando vimos a barreira se desfazer e a chuva de feitiços multicoloridos invadir o céu como snaps explosivos gigantescos. A primeira coisa que eu consegui fazer foi conjurar um feitiço de proteção para mim e para as pessoas ao meu redor enquanto eu assistia os comensais subirem as colinas de Hogwarts, vindos de diferentes pontos da Floresta Proibida.

No primeiro momento em que os feitiços cessaram, eu disparei um Bombarda Maxima no pé da colina e um grande pedaço de terra explodiu, levando grama e comensais para o alto. Lupin gritava ordens, mas eu não consegui entender por causa do barulho. Só sabia que devia atacar com tudo o que eu tinha. Olhei para o lado e não reconheci nenhum colega, mas alunos de diferentes casas estavam ali com o mesmo pânico que eu deveria ter em meus olhos. Refletindo sobre aquele dois de maio depois, eu me lembrei de como todos aqueles rostos eram jovens demais para ver aquele tipo de coisa. Muitos ali nunca haviam chegado perto de qualquer conflito e agora estavam ali, defendendo sua escola e lutando por suas vidas. Ninguém merecia passar por isso em qualquer idade, em qualquer momento da vida.

A guerra é injusta. Tirou crianças de suas camas e as colocou no jardim para assistir seus amigos morrerem. Eu tentava a todo momento afastar meus pensamentos daqueles que eu amava e que corriam pelo castelo tentando impedir os comensais de subir as colinas. Feitiços começaram a ser disparados vindo das torres do castelo e, num trabalho conjunto conosco, que estávamos no chão, começamos a lançar feitiços, tentando barrar a subida dos comensais. A estratégia deu certo por um tempo, mas então eles pararam de subir e começaram a nos atacar de volta com feitiços de todas as cores. Com escudos ao nosso redor, conseguimos desviar grande parte deles, mas eles começaram a atingir as paredes do castelo, quebrando janelas e criando grandes buracos na estrutura. Os escombros começaram a cair com velocidade e soterraram alguns alunos que estavam muito perto das paredes. Uma parte do nosso grupo se deslocou para tentar ajudar e o resto de nós começou a tentar criar uma defesa.

Num ato de desespero, gritei Incendio e apontei minha varinha para os vastos arbustos que circundavam o castelo, tentando atrasar os comensais que foram pegos de surpresa pelas chamas. Os gritos dos inimigos se tornaram música em meus ouvidos e eu apontei para diferentes locais, tentando fazer o fogo se espalhar de uma maneira mais rápida. A surpresa do meu ataque fez com que ganhássemos alguns segundos e conseguimos imobilizar a segunda leva de inimigos que se aproximava. Contudo, isso não durou. Eles apagaram o fogo e continuaram a subir. Nossos esforços não foram o suficiente e os comensais chegaram até a entrada do castelo. A única coisa que eu pude fazer foi conjurar um Protego e mantê-lo fixo enquanto eu caminhava para trás, perdendo território. Ao meu redor, eu via estudantes e outros bruxos tombando como peças de dominós. Até que eu tombei também. Fui acertada por um feitiço e meu corpo foi lançado para o alto. Enquanto eu caía como um pássaro morto, lembrei do feitiço Arresto Momentum e meu corpo perdeu a velocidade até que meu nariz ficasse a centímetros do chão. Não tive tempo de me recuperar e já levantei, mas senti uma dor forte do lado esquerdo do meu corpo, local onde o feitiço bateu. Olhei para trás e os comensais subiam as colinas, vindos de todas as direções como formigas.
O chão começou a tremer de repente e urros violentos cortaram o ar. Gigantes. Eles trouxeram gigantes. Pedaços de destroços começaram a aparecer no horizonte e acertavam o castelo. Tentei subir a colina, mas a terra fofa fazia meu corpo deslizar. Utilizei um feitiço de aumento e as raízes das plantas embaixo de mim surgiram, me possibilitando subir.

Eu olhei para o pátio de Hogwarts e os comensais já estavam ali, atirando feitiços verdes para todo o lugar. Era necessário desarmá-los primeiro, então eu passei a gritar Expelliarmus e a apontar minha varinha para todo ser humano vestido de preto que eu me deparava, assistindo as varinhas pularem de suas mãos e eles ficarem sem entender o que havia acontecido. Os gigantes vinham correndo e eu notei os bruxos mais velhos lançando cordas e prendendo seus pés, fazendo com que seus corpos caíssem com força no chão e tudo tremesse ainda mais.
Um gigante de repente arrancou uma das árvores do chão, sem ajuda de ninguém, e lançou em um grupo de bruxos, que foi acertado com força. Os comensais continuaram a avançar e eu mais uma vez lancei um Bombarda Maxima, explodindo um dos destroços da vegetação, acertando também alguns comensais.
De repente, um gigante rompeu pelo lado norte e arremessou algo por uma janela e, em seguida, algo menor, que entrou pela janela do sétimo andar. O gigante parecia um pouco perdido e quando eu ia mirar nele para tentar derrubá-lo, ele pegou a carcaça de uma gárgula e foi acertar comensais perto do limite da floresta.

Mais um feitiço acertou a estrutura do castelo e dessa vez não deu tempo de eu lançar um escudo de proteção. A explosão acertou a parede que estava um pouco atrás de mim e os destroços voaram, acertando minhas costas, jogando meu corpo para frente. Não consegui conjurar o feitiço de velocidade e meu corpo desceu a colina, sendo queimado pelo resquício de fogo que eu mesma conjurei. Minhas costas arderam com a queda e eu perdi totalmente o ar, sentindo todo o meu corpo doer como há muito tempo não doía. A única coisa que eu fiz para tentar não me machucar ainda mais gravemente, foi cerrar os dentes para evitar uma lesão na cabeça. Depois eu descobriria que havia quebrado um molar, mas, no momento, não me dei conta. Havia terra e fuligem em meus olhos, o que me deixou momentaneamente cega. Precisava me mexer rápido, então engoli a dor e limpei meus olhos com a barra da minha camisa que estava completamente imunda. Quando tentei me levantar, urrei ao sentir uma dor horrível em meu pulso esquerdo. Provavelmente havia fraturado os ossos, mas eu não tinha tempo para isso.
Quando consegui me levantar e ia voltar a subir, um feitiço passou perto da minha orelha e eu pulei para o lado, já virando de costas para ver quem me atingira. Era um comensal da morte, que me olhava com ódio, enquanto tinha a varinha apontada para mim. Lancei um Expelliarmus, mas ele bloqueou com um escudo. Em seguida, ele tentou me acertar com o feitiço de estuporar, mas eu bloqueei também com um Protego. Tentei ser mais rápida e nem esperar o escudo se dissolver, já lançando novamente um Expelliarmus, mas ele também bloqueou. Lancei um feitiço de cordas para os seus pés, mas o canalha desviou. Eu já estava cansada e não queria continuar com aquilo, então em vez de mirar o próximo feitiço em seu peito, eu mirei no destroço que estava parado logo atrás dele. O comensal achou que iria ter que se defender, mas eu explodi o pedaço do castelo atrás. Fui acertada por estilhaços, mas ele foi catapultado para um lado e soltou a varinha, caindo no chão com força, não se movendo mais.
Eu não queria ficar para ver se tinha causado um dano muito grande e não tinha força para subir a colina de novo, então apenas corri em direção às estufas, na esperança de voltar para o castelo por trás. Eu fui notada e, enquanto corria, feitiços eram disparados atrás de mim. Eu lancei alguns também, sem olhar para trás, na esperança de frear quem estivesse me perseguindo. Porém, não deu certo.

Continuei a correr e mesmo meu peito pegando fogo, eu não parei. Olhei para trás e dois comensais vinham atrás de mim. Um deles lançou um feitiço e explodiu o vidro da estufa que estava ao meu lado. Só tive tempo de fechar os olhos, mas senti pedaços de vidro entrarem na minha pele, cortando pedaços do meu lado direito. O susto me fez tropeçar e eu caí, sentindo meus joelhos arderem. Foi nesse momento que os dois comensais se aproximaram e me agarraram. Um deles agarrou meus cabelos e começou a me puxar, enquanto o outro tentava segurar minhas pernas. O que segurava meus cabelos soltou e segurou meus pulsos, enquanto tentava arrancar minha varinha da minha mão, mas eu segurei firmemente, enquanto disparava feitiços aleatórios. Meu coração estava disparado e tudo piorou quando os dois me arrastaram para dentro de uma das estufas. Eu sabia o que eles pretendiam fazer e a confirmação veio quando o que segurava minhas pernas, levantou minha saia e agarrou minha coxa. Eu gritei ainda mais forte e eles começaram a rir.

— ME SOLTA! ME SOLTA! SOCORRO! — eu gritei, enquanto tentava me soltar e disparava feitiços. Minha mente gritava e eu não conseguia me organizar para me soltar.
— Cala a boca ou vai ser pior pra você! — um deles disse, enquanto eles me enfiaram dentro da estufa. Os feitiços começaram a acertar as plantas, as janelas e o teto.
— Se você colaborar, a gente te deixa ir embora depois — o outro disse, e me segurou pelas axilas, enquanto o outro comensal tentava abrir minhas pernas. Aquilo estava acontecendo. Disparei um feitiço de luz e a planta ao meu lado se encolheu.

Minha cabeça trabalhou rápido e eu só tinha um segundo para apostar naquilo. Continuei me debatendo, mas consegui focar e murmurei Engorgio, mirando nas plantas que estavam ao meu lado. De repente, tentáculos foram diretamente para o comensal que tentava abrir minhas pernas e o derrubaram no chão, agarrando suas pernas e o puxando para o escuro. O comensal que segurava meus braços se distraiu com seu amigo sendo atacado e eu consegui mirar minha varinha em seu peito, gritando Estupefaça. Não esperei para ver o que tinha acontecido, mas o aperto em meus braços afrouxou e, no mesmo segundo, o visgo do diabo enrolou o corpo petrificado do comensal e o puxou. Tentei ser mais rápida do que as raízes, mas elas também me agarraram quando eu tentava passar pela porta. Com o Lumus, eu consegui fazer com que elas soltassem e consegui sair da estufa, respirando o ar quente e empoeirado da noite.

Voltei a correr e consegui entrar no castelo por uma das portas laterais. A batalha já tinha tomado todo o pátio e o castelo estava quase todo destruído do lado de fora. Foi nesse momento em que eu passei pelas portas de carvalho que estavam derrubadas no chão que eu notei que a batalha já tinha invadido o interior também. Os fantasmas passavam por cima de nós, alguns lutando e outros fugiam desesperados. Muitos quadros tinham sido destruídos e a escada principal estava tomada de destroços e de corpos de alunos e bruxos que eu não sabia dizer se estavam desacordados ou mortos. Eu comecei a andar pelos corredores, buscando alguém conhecido, mas só enxergava duelos de comensais e de bruxos que eu não sabia quem era. Fui tirada da minha busca quando imensas aranhas começaram a entrar pelos rombos nas paredes do castelo. Pânico desceu por minhas veias e eu presenciei uma delas atacando um aluno da grifinória que lutava com um comensal. Uma aranha veio em minha direção e eu atirei um Estupefaça nela, vendo o corpo do monstro enrijecer no mesmo instante. Continuei a correr, buscando um rosto conhecido, mas encontrei algo que fez meus piores sentimentos aflorarem.

Nate estava duelando com uma comensal e estava perdendo. A comensal lançava feitiços numa velocidade impressionante e Nathan só conseguia conjurar o Protego para se proteger. Meu coração se encheu do mais puro ódio ao ver, mais uma vez, os comensais atacando alguém que eu amava. Eu não iria perder mais alguém que eu amava. Eles ainda não tinham me notado, o que me dava a vantagem da surpresa. O feitiço verde veio aos meus lábios e eu sabia que, com o ódio que sentia, eu assassinaria aquela mulher em um segundo. Era só dizer as duas palavras e eu protegeria Nate. Mas, daquele jeito, ela não saberia que tinha sido eu e eu não queria perder o olhar de terror ao saber que o feitiço da morte tinha vindo de mim, uma adolescente. Então, mirei em seu rosto e pensei: Crucio, canalizando todo o meu ódio. O olhar de susto foi a primeira coisa que apareceu, sendo seguido por suas costas arqueando e a bruxa caiu no chão gritando.
Eu me aproximei com a varinha em riste e não notei quando comecei a chorar de ódio. Cerrei meus dentes, suprimindo um grito e me aproximei para que a comensal me visse, para que soubesse que eu iria acabar com sua vida naquele momento.

! — Nate me chamou, mas eu ignorei e aumentei ainda mais a intensidade da Cruciatus, enquanto assistia a comensal se debater como um peixe que havia sido pescado e agora lutava por ar.
— Isso é pra você aprender a não atacar adolescentes, sua desgraçada! — eu gritei com ódio e intensifiquei a maldição, escutando a mulher gritar.

Pisei em sua mão com meu coturno e pude sentir os ossos e a varinha partindo embaixo dos meus pés. Os gritos de dor da bruxa ecoavam pelos corredores e eu assistia a cada segundo que passava sua sanidade se esvair. Ao ver isso, eu me lembrei dos pais de Neville por um segundo e isso foi o suficiente para me parar. Olhei para baixo e o sangue saía do nariz da comensal, além dela espumar pela boca como se estivesse convulsionando. Olhei ao redor e Nate levantou as mãos num claro sinal de rendição, com medo de mim. Naquele momento eu percebi o que eu estava fazendo. Eu parecia Bellatrix Lestrange.

— O que eu estou fazendo, por Merlin! — Eu abaixei a varinha e a bruxa parou de se debater, ficando inerte no chão, totalmente apagada. Olhei para Nate e ele continuava assustado. — Nate, me desculpa, me desculpa…
— Você não vai me atacar, vai? — ele perguntou com medo e eu me senti a pior pessoa do mundo.
— Não, claro que não — respondi e levantei as mãos também. — Eu perdi a cabeça.
— Eu vi — ele respondeu, mas não se mexeu.

Eu também não conseguia me mexer e estava travada naquele corredor, com a comensal caída aos meus pés e Nate me olhando com pânico. Minhas mãos estavam sujas de sangue e eu já não tinha ideia a quem pertencia. Pela primeira vez naquela noite, eu estava disposta a tirar a vida de alguém. Não para me defender, mas para me vingar. Eu poderia ter feito de qualquer outra maneira para ajudar Nathan, eu sabia como fazer de outra maneira. Contudo, eu escolhi a tortura. Levantei a cabeça e Nathan não estava mais ali, havia corrido para longe de mim e eu não poderia culpá-lo. Meus pés se recusaram a se mexer e eu escutava a batalha vindo para mais e mais perto. Uma explosão em uma das janelas ao meu redor acabou me derrubando no chão e foi assim que eu consegui engatinhar até uma parede. Encarava o corpo da comensal atônita, sem saber o que fazer. Ela era loira e seus cabelos estavam começando a ficar vermelhos por causa do sangue que escorria de seu nariz e boca.

Ouvi passos e eu sabia que iria morrer naquele momento, pois não tinha condições de me defender. Alguém chamou meu nome e quando eu levantei a cabeça, Draco estava ali.

— Draco? — eu chamei e o garoto se abaixou para ficar da minha altura. — O que faz aqui?
? O que você faz parada aqui? Você vai morrer! — ele gritou e segurou em meus braços, tentando me tirar do chão, mas eu não conseguia me mexer.
— Eu… eu… — Não conseguia dizer as palavras. A culpa me invadiu finalmente e eu comecei a chorar. — Draco, eu acho que eu matei aquela mulher.
— O quê? — ele disse, olhando para trás e seus olhos se arregalaram por um momento. Ele foi até a comensal e colocou a mão em seu pescoço, buscando sua pulsação. Voltou a mim e segurou meu rosto. — Ela está viva. Seu coração está batendo.
— Nate fugiu, ele tem medo de mim — eu disse. — Ele me viu torturando, ele… Ele fugiu de mim.
— Draco me chamou e eu encarei seus olhos cinzas que tinham certa determinação. Notei que seus cabelos estavam chamuscados. — Nós temos que sair daqui, ouviu? Preciso te levar para um lugar seguro.
— Você não tem medo de mim? — eu perguntei e meus olhos não paravam de derramar lágrimas. — Olha o que eu fiz.
— Eu nunca vou ter medo de você, — ele respondeu e eu notei ternura em seu olhar. — Você nunca vai me assustar. Vem comigo, por favor.

Draco segurou em minha cintura e me tirou do chão, meu rosto ficando quase colado com o dele. Consegui perceber que seu lábio estava cortado e havia um hematoma no lado direito do rosto, como se tivesse tomado um soco. Draco começou a me guiar pelos corredores, tentando nos afastar da batalha, mas aranhas começaram a aparecer e Draco tentava acertá-las com feitiços, enquanto corria me segurando pela cintura. De repente, outro comensal apareceu na nossa frente e ele quase nos acertou, mas abaixou a varinha quando nos viu.

— O que faz com essa garota, Draco? — ele perguntou.
— Não é da tua conta, sai da porra da minha frente! — Draco respondeu e empurrou o comensal pelo peito, passando e me carregando com ele.

Não sei como, mas chegamos a um banheiro e, assim que entramos, Draco trancou a porta com um feitiço e me colocou apoiada na pia. Tive que me segurar com as mãos para não cair, já que minhas pernas estavam bambas. O barulho da batalha enchia nossos ouvidos, mas Malfoy estava concentrado em arrancar um pedaço do próprio uniforme e molhá-lo para lavar meu rosto. Eu não conseguia falar nada e nem precisava. Draco sabia. Ele sempre soube de tudo.

— Draco, eu quase matei uma pessoa.
— Mas não matou — ele retrucou, enquanto limpava meu rosto. — Você parou quando precisava parar.
— Eu parei porque me assustei com o que eu estava fazendo — respondi. — Eu parecia a tua tia.
, você não é minha tia — ele retrucou. — Você parou. Astrid está viva.
— Foi como aquela vez em que eu ataquei Lilá ou a vez em que eu quase matei o Jugson no Beco Diagonal — respondi. — Eu quase perdi o controle da magia de novo.
, olha pra mim — Draco pediu e segurou meu rosto. — Não importa o que você quase fez. O que importa é o que você fez e você parou antes de tirar a vida de alguém. Você continua sendo você.

O silêncio se apossou de nós, mas escutamos as aranhas arranhando a porta do banheiro, tentando entrar, além das explosões que faziam o chão tremer levemente. Contudo, dentro daquele banheiro, nós estávamos seguros. Draco passava o pano molhado em meu rosto, pescoço, braços e mãos. Eu só conseguia observá-lo, sem forças para nada. A adrenalina baixou e eu sentia minhas pernas tendo espasmos, enquanto meus olhos continuavam a derramar lágrimas. Malfoy me olhou com carinho e se aproximou, beijando meu nariz. Segurei a sua camisa e o puxei para um abraço. Draco me envolveu e, por uns segundos, eu pude deixar minha postura combativa de lado. Flashes da batalha começaram a pipocar em minha mente e eu lembrei de tudo o que havia visto até aquele momento. A sensação das mãos dos comensais que tentaram abusar de mim ainda estava colada na pele das minhas pernas.

— Eu não aguento mais — eu disse e suspirei. — Eu quero que isso acabe.
— Eu sei, — ele respondeu e eu percebi sua voz embargada. — Eu… Crabbe está morto.
— O quê? — eu me afastei para olhar seu rosto e percebi seus olhos marejados. — Como?
— Estávamos lutando contra o Potter — ele explicou. — Crabbe conjurou Fogo Maldito e não soube controlar.
— Você estava lutando contra o Harry? — eu perguntei. — Como assim? Que horas foi isso?
— Eu ia capturá-lo — Draco respondeu e eu me soltei dele. — Eu queria entregá-lo para o mestre e…
— Você o quê? — eu perguntei. — Qual é o teu problema? Você ia contribuir com o assassinato de alguém importante para mim mais uma vez?
— Eu sei que você vai me odiar por isso — Draco respondeu e eu percebi que minhas palavras haviam machucado. — Mas se eu entregasse Potter, nada disso estaria acontecendo e…
— E o quê?
— Você estaria segura.

O chiado das aranhas tentando entrar pela porta cortou nossa conversa ao mesmo tempo em que algumas janelas do banheiro estouraram. Eu me assustei com o barulho e me encolhi, enquanto Draco veio até mim, abraçando minha cabeça. O pânico mais uma vez me travou e Malfoy continuou abraçado comigo enquanto eu me acalmava. De início, a indignação havia tomado meu peito, mas depois eu percebi que eu e Draco não éramos diferentes. Nós dois sacrificaríamos outra pessoa para proteger aqueles que amamos. Eu não era “a mocinha” da nossa história e ele não era “o vilão”. Não havia isso na guerra, somente a tentativa de sobreviver e proteger o que nos era precioso. Eu não era melhor que ele, também possuía motivos egoístas pulsando dentro de mim. Levantei a cabeça e encarei seus olhos azuis acinzentados, que estavam tão assustados quanto os meus.

— Eu sinto muito — eu disse baixo e suspirei. — Eu não sou ninguém pra julgar você.
— Está tudo bem, — ele respondeu e me apertou mais. — Você sabe que eu não me importo com mais ninguém além de você. Eu quero te pedir uma coisa.
— Hum?
— Saia do castelo — ele disse. — Fuja.
— Minha família está aqui, Draco — eu respondi. — Meus amigos. Eu não posso deixá-los.
— Por favor, — Malfoy começou a falar e abaixou a cabeça, mas quando levantou seu rosto, o garoto chorava. — Por favor, vá embora. Eu quero que você sobreviva. Não fique aqui. Nós podemos dar um jeito, tenho certeza de que a tua família vai concordar comigo. Por favor, amor.
— Não me peça isso, Draco — eu respondi e sem perceber já estava chorando. — Não posso deixá-los, não posso deixar você!

Nossa conversa foi quebrada mais uma vez pelas aranhas tentando estourar as portas. Ficamos em silêncio e Malfoy evitava me olhar, mas eu via que seus ombros se mexiam conforme o choro dele era liberado. Eu também chorava e odiava cada segundo em que nós estávamos naquela situação de vida e morte. De novo.


— Eu não sei se vou voltar a te ver — ele disse, pois sabia que não venceria essa briga comigo. Eu não iria deixar o castelo. Segurou em minha cintura, juntando nossos corpos. — Eu só quero dizer que, se eu pudesse voltar no tempo, eu faria tudo diferente. Se nós sobrevivermos… me deixe te procurar, por favor.
— Draco… — eu sussurrei seu nome e juntei nossas testas.

Ali em minha frente, estava o garoto que eu mais havia amado em toda a minha vida. Enquanto o mundo acabava ao nosso redor, eu só conseguia me concentrar em seu corpo, seu cheiro e no sentimento de angústia que apertava meu coração. Tanta coisa havia acontecido até aquele momento, mas absolutamente tudo parecia insignificante enquanto eu estava ali, nos braços de Draco, nos braços do garoto que eu amava. Porque eu ainda o amava, é claro. Apesar da culpa, do medo, do arrependimento, o amor por ele permanecia.

— Eu amo você — respondi. — Nunca deixei de te amar. Se algo acontecer, eu quero que você saiba disso.
— Eu também amo você — ele respondeu e me beijou.

Os lábios dele continuavam os mesmos, mas tinham gosto de fuligem e sangue. Eu não me importava. Passei minhas mãos pela sua nuca e o puxei para mais perto, beijando-o com todo o meu corpo, fazendo o possível para sentir Draco perto de mim. Aquele poderia ser nosso último beijo da vida. Nada estava garantido. Draco sugou minha língua e arfou quando eu fiz o mesmo. Agarrou minha cintura com força quando eu mordisquei seus lábios e continuei a beijá-lo. Eu não queria parar, mas tive que finalizar nosso momento. Nós voltamos a ficar com as testas encostadas e Draco entrelaçou nossos dedos. Ouvimos uma pancada na porta e a madeira tremeu. Se continuássemos ali, a porta iria ceder. Aquela foi nossa deixa para entender que nosso momento havia acabado.

— As aranhas estão quase entrando — Draco disse e me soltou, pegando a varinha do bolso e me entregando a minha. Eu o olhei com determinação e me posicionei.
— Juntos? — eu perguntei, percebendo que teríamos que lutar juntos se quiséssemos sair dali com vida.
— Juntos — ele respondeu.

Respirei fundo e mirei minha varinha na região onde os vasos sanitários estavam explodindo as bacias, fazendo água jorrar. Com um outro agito da varinha, transformei toda a água que saía em uma esfera densa. Sinalizei para Draco e o garoto removeu o feitiço que fechava a porta. No segundo que a primeira aranha entrou, eu avancei com a esfera d’água e fui envolvendo todos os monstros que estavam entrando. Draco estava logo atrás de mim, estuporando as aranhas que eu não conseguia alcançar. Avançamos, saindo do banheiro e com meu controle de magia, eu fui aumentando a esfera, engolindo mais e mais aranhas, até que as atirei por um buraco de explosão, fazendo com que todas caíssem nos jardins na parte debaixo.
Eu respirava ofegante por ter conjurado um feitiço daquele tamanho e não vi uma aranha que havia se lançado para me atacar. Contudo, Draco estava ali e assim que a aranha se arremessou para cima de mim e eu me encolhi, a aranha instantaneamente se tornou pedra e caiu, virando mil pedaços. Draco me olhou com determinação e sorriu, estendendo a mão para mim, me puxando para mais perto.

— Precisamos sair daqui! — Draco respondeu, enquanto lutava com mais aranhas.
— Eu preciso achar meus pais! — respondi.
— Vamos procurá-los! — Draco gritou, segurou meu pulso e me puxou para começarmos a correr para outro lado do corredor, fugindo das aranhas e das explosões.

Nossa corrida continuou e a cada curva que fazíamos, havia comensais lutando com alunos, aranhas chiando e pulando e feitiços que ricocheteavam violentamente.

— Onde seus pais estavam quando a luta começou? — Draco perguntou.
— Na torre de astronomia — eu respondi e nós rumamos para lá, na tentativa de achá-los. Meu coração pulava em meu peito, tanto pela corrida, mas pelo medo de chegarmos lá e encontrarmos seus corpos.

Nossa corrida foi interrompida por um grupo de dementadores que atravessaram as janelas, buscando vítimas. Nossos pés frearam com violência, fazendo um barulho altíssimo, chamando a atenção das criaturas, que vieram até nós com rapidez. Eu sabia que Draco não conseguia conjurar um patrono, então cabia a mim defender a nós dois. Malfoy se encolheu atrás de mim e olhei para o garoto, que parecia tão indefeso. Lembrei das aulas com Lupin e respirei fundo antes de imaginar eu e Draco felizes com nossa filha, em uma praia tranquila. Meus olhos se encheram de lágrimas nesse momento e antes que os dementadores pudessem se aproximar mais, eu gritei:

Expecto Patronum!

Uma poderosa fênix emergiu de minha varinha e iluminou todo o corredor, batendo suas asas e irradiando luz de maneira violenta. O patrono bateu de frente com os dementadores, fazendo com que as criaturas começassem a guinchar e se debater, indo para trás desesperados e saindo pelas janelas. Direcionei minha fênix com mais fúria. Draco estava parado atrás de mim e segurou minha mão esquerda enquanto assistia tudo maravilhado. Assim que os dementadores escaparam pelas janelas, meu patrono se desfez e eu suspirei cansada, quase caindo para trás, mas tendo meu corpo amparado por Malfoy.

, isto foi incrível! — ele disse, enquanto me segurava, e eu não consegui responder, pois estava ofegante. — Uma fênix? O patrono do Dumbledore era uma fênix!

O corredor ficou em paz por alguns milésimos de segundo, mas, de repente, o ar ficou suspenso e foi como se tudo tivesse congelado quando as palavras de Lord Voldemort ecoaram pelas paredes destruídas.

“Vocês lutaram valorosamente. Lord Voldemort sabe reconhecer isso.”

Medo desceu por minhas veias e eu encarei Draco, que estava tão assustado quanto eu. Os barulhos de batalha pararam completamente.

“Vocês sofreram pesadas baixas. Se continuarem a resistir a mim, todos morrerão, um a um. Não quero que isto aconteça. Cada gota de sangue mágico derramado é uma perda e um desperdício. Lord Voldemort é misericordioso. Ordeno que as minhas forças se retirem imediatamente. Vocês têm uma hora. Deem um destino digno aos seus mortos. Cuidem dos seus feridos.”

O som voltou ao castelo, mas era o barulho das criaturas recuando e dos comensais aparatando para longe. Eu achei que Draco iria também, mas ele não apenas ficou, como me abraçou mais apertado. Eu achei que tinha acabado, mas Lord Voldemort continuou a falar. Dessa vez, para Harry.

“Eu me dirijo agora diretamente a você, Harry Potter. Você permitiu que seus amigos morressem por você em lugar de me enfrentar pessoalmente. Esperarei uma hora na Floresta Proibida. Se, ao fim desse prazo, você não tiver vindo ao meu encontro, não tiver se entregado, então a batalha começará. Desta vez, eu participarei da luta, Harry Potter, e o encontrarei, e castigarei até o último homem, mulher e criança que tentou escondê-lo de mim. Uma hora.”

Draco me abraçou apertado quando Voldemort prometeu que iria castigar qualquer um que ajudasse Harry. Eu não conseguia me mover e parecia até que respirar faria com que algo acontecesse. Foi Draco quem me chamou, cutucando levemente meu braço.

? Agora seria um bom momento para procurar seus pais — ele recomendou e eu assenti.

Consegui — com muito custo — me reerguer e firmar minhas pernas. O castelo estava silencioso e enquanto andávamos em direção à torre de astronomia, eu pude pela primeira vez olhar para o céu e notei que estava quase amanhecendo. Muitos alunos estavam começando a se mexer e a tentar dar um jeito nos escombros enquanto nós passávamos e foi inevitável não perceber que todos encaravam Draco com raiva no olhar. Malfoy percebeu e sussurrou em meu ouvido:

— Talvez a gente pudesse andar um pouquinho mais rápido?

Eu assenti e segurei em sua mão, acelerando meus passos até que conseguíssemos chegar às escadas que se mexiam. Elas estavam paradas, mas muitas estavam quebradas e diversos quadros estavam caídos, estourados por feitiços e despedaçados. Em um quadro maior que ainda estava na parede, havia uma quantidade anormal de pinturas reunidas em completo silêncio, provavelmente aquelas em que os quadros haviam sido destruídos. Os degraus de várias estavam quebrados e eu percebi que seria uma tarefa difícil tentar subir, então só disse:

— E se nós descemos para o Salão Principal? Talvez eles desçam também.
— O que você quiser, .

Começamos a caminhada para o salão e as escadas para o térreo também estavam danificadas, mas ainda era possível descer. Muitos degraus estavam manchados de sangue e as pessoas estavam começando a descer com corpos. Engoli em seco e minha cabeça só pensava: Por favor, Deus, não deixe que eu encontre o corpo dos meus pais. Por favor, Deus. Em uma das escadas, havia um monte de escombros e, quando nós passamos, eu escutei um gemido. Olhei para Draco e ele também havia escutado.

— Tem alguém aqui? — eu perguntei e mais uma vez um gemido veio do meio dos escombros. — Oh, meu Deus, tem alguém ali embaixo!

Com o Wingardium Leviosa, eu e Draco conseguimos remover os escombros e meu coração gelou quando eu vi que era Nathan embaixo de tudo. Seu corpo estava totalmente tomado pela fuligem, mas o sangue vermelho havia se juntado com a sujeira. Suas pernas estavam totalmente destroçadas e eu tive que suprimir um grito. Fui até ele com desespero e conjurei faixas que foram para suas pernas. Gritei um Stanque Sangria, na esperança de impedir que mais sangue saísse do meu amigo. Ele estava acordado e arregalou os olhos quando me viu. Dois faróis azuis no meio da fuligem.

— Nate, eu estou aqui — eu respondi, segurando em suas mãos. — Nós vamos cuidar de você, eu prometo.
… — ele chamou meu nome com dificuldade, já que a parte de cima de seu corpo também tinha sido afetada.
— ALGUÉM! — eu gritei. — Por favor!

Escutei passos e, quando vi, alguns bruxos subiam correndo até mim e, para a minha felicidade, todos usavam uma braçadeira com o símbolo do St. Mungus. Eles se aproximaram e sinalizaram para que eu saísse, mas eu não queria. Queria ficar ali e ajudar no que fosse possível. Um deles olhou para Malfoy e pediu para que ele me tirasse, o que o garoto atendeu, segurando em meus ombros e me puxando para trás.

— Eu usei o Stanque Sangria — eu disse, enquanto chorava. — Eu fiz curativos nas pernas dele, eu…
— Você fez o que podia, senhorita — um deles disse. — Agora é com a gente. Obrigado, pode sair.
— Precisamos procurar teus pais, lembra? — Draco me alertou e eu assenti.
— Nate! — eu chamei e pude ver os olhos azuis do meu amigo me olhando com lágrimas. — Eu sinto muito.

Continuamos a descer e eu não conseguia parar de chorar ao pensar que se eu não tivesse passado por ali, Nate poderia estar morto. Sem perceber, eu havia começado a tremer e foi preciso que Draco apertasse mais forte minha mão para que eu conseguisse voltar a mim. Descemos o último lance de degraus e o saguão estava completamente destruído. Engoli em seco e limpei minhas lágrimas, percebendo que as esmeraldas da Sonserina estavam jogadas no chão, além de tudo estar sujo de sangue: chão, paredes e tetos. Havia muitos escombros também e muita madeira destruída, as portas de carvalho haviam virado pedacinhos. Eu estava com medo de entrar no salão principal, pois escutava muito choro vindo de lá. Travei na porta, mas Draco me olhou e disse:

— Independente de qualquer coisa, eu estarei com você.

Não respondi nada, somente assenti, mas, em minha cabeça, outra pergunta apareceu: Até quando? Finalmente entramos no salão principal e estava lotado. As mesas tinham sido retiradas e havia uma divisão entre feridos, desamparados e os que caíram na batalha. Os feridos estavam onde ficava a mesa dos professores e madame Pomfrey estava lá cuidando daqueles que precisavam de atendimento. Um poderoso centauro estava deitado com flanco machucado, enquanto se debatia com dor. Esquadrinhei com o olhar todo o salão e não encontrei meus pais, nem entre os feridos, nem entre os que estavam perambulando pelo salão e, para o meu alívio, também não estavam entre os mortos. Contudo, algo me chamou a atenção. Amontoados de cabelos ruivos estavam no meio do salão e o pranto deles chegou até meus ouvidos. Senti meu corpo gelar no mesmo instante e temi pelo pior. Larguei Draco no mesmo segundo e corri até lá, vendo a família Weasley em prantos. No mesmo momento, o nome de Rony veio à minha mente.

— Gina! — eu chamei minha amiga, que se afastou e chorou alto quando me viu. — Meu Deus, quem?
— É o Fred, — ela respondeu, com a voz embargada. — É o Fred.

As palavras vieram até mim como um soco no rosto e eu me soltei de Gina para olhar seu rosto. A mais pura tristeza estava ali e eu olhei para o resto da família, notando o mesmo pesar. Caminhei com Gina até mais perto, torcendo para que tivesse sido um erro, para que não fosse Fred. Nós não tínhamos conversado. Eu havia prometido a ele que iríamos conversar. Jorge estava sentado perto da cabeça de Fred e a senhora Weasley segurava a mão pálida do gêmeo morto. Fred estava todo sujo com fuligem por todo o corpo e suas mãos possuíam machucados. Estava sem o casaco. Notei que, entre os familiares, Percy estava ali.

— Oh, querido — eu disse e me abaixei também perto de sua cabeça, afastando os cabelos de sua testa. O choro veio com intensidade ao encarar uma das pessoas mais importantes para mim. — Fred… Eu tinha prometido que nós iríamos conversar… Me desculpe por ter sumido, me desculpa.

Fiz um carinho em sua testa e Jorge me deu um sorriso triste, enquanto continuava ali, velando seu irmão gêmeo. A senhora Weasley se levantou por um momento e eu consegui ter uma visão melhor das demais pessoas que estavam ali. O ar faltou dos meus pulmões quando eu vi Lupin e Tonks, deitados um ao lado do outro, como se estivessem dormindo.

— Por Merlin, Lupin e Tonks? — eu disse e a sensação de desespero aumentou. — Mas eles acabaram de ter um bebê, eles… Não podiam morrer.

Eu precisava sair daquele lugar e tentar respirar um pouco, então pedi desculpas à família Weasley e levantei, me afastando deles. Saí de perto sem enxergar um palmo à minha frente por causa das minhas lágrimas. Um grito de dor escapou pela minha garganta e quando as lágrimas caíram, a única coisa que eu enxerguei foi Draco vindo até mim com dor em seu rosto. Ele prontamente me segurou e me guiou para um dos cantos do salão, sentando comigo no chão e me abraçando enquanto eu chorava. O sentimento de desamparo, o gosto amargo na boca, o gosto da derrota, era só o que eu sentia. Havíamos perdido tantas pessoas e perderíamos muito mais.

— Eu sinto muito, — Draco sussurrou em meu ouvido, enquanto continuava me abraçando apertado. Eu levantei minha cabeça e o encarei, tentando enxergar a verdade em suas palavras.
— Eu prometi escrever toda semana, Draco — eu disse, enquanto enxugava as lágrimas que caíam do meu rosto. — Mas eu fiquei tão presa dentro da minha dor, tão envolvida com você, com todo o problema dos comensais, que simplesmente não escrevi. E agora… agora não dá mais. Fred está morto.

Draco se manteve em silêncio ao meu lado e somente me puxou para um segundo abraço. O arrependimento esmagava meu coração em seus dedos e eu não conseguia pensar em todas as vezes em que eu poderia ter escrito uma carta para Fred, mas não escrevi. Nossa última conversa, o dia em que ele havia viajado até Hogsmeade somente para me encontrar, tudo o que havíamos vivido nas férias… tudo havia ficado para trás. Eu não aguentava mais perder ninguém. Não tinha ideia se suportaria mais alguém se esvaindo da minha vida. Draco beijou minha testa com carinho e no momento em que nos olhávamos, eu escutei alguém chamando meu nome com desespero.
— É a voz da minha mãe — eu disse e me levantei rápido para olhar o que estava acontecendo.

Mamãe entrava pelo salão com um olhar desesperado, enquanto gritava meu nome a plenos pulmões. Papai estava logo atrás, mas havia uma grande ferida no lado esquerdo de sua cabeça e meu avô o segurava. Os três estavam vivos. Não aguentei a emoção e corri até minha mãe, chamando por ela.

— Filha… — minha mãe disse e eu me lancei em seus braços, chorando de alegria pela primeira vez desde que aquela luta horrível tinha começado. Era minha mãe ali. Ela estava viva. Mamãe me soltou e segurou em meu rosto, olhando com atenção — Você está bem? Está machucada?
— Eu estou bem, estou bem — respondi, enquanto chorava. — O que houve com papai?
— Foi atacado por um feitiço de corte — ela respondeu e eu segui minha família, que atravessava o salão. — Ele perdeu um pouco de sangue, mas vai ficar bem.

Eu os segui e percebi que Draco tinha vindo conosco até a frente do salão. Meu pai não estava totalmente consciente, então não pude falar com ele, mas meu avô me abraçou apertado depois de ter deixado meu pai em uma das macas. Eu estava feliz, não apenas que ele tinha aparecido, mas também que havia lutado e estava bem. Vovô sorriu para mim, mas olhou feio para Draco antes de dizer:

— O que ele faz aqui?
— Ele está comigo — eu respondi. — Nós nos encontramos na batalha e tivemos que fugir juntos. Fomos atacados por aranhas.
— Ele deveria ir embora — meu avô disse.
— Papai, por favor — minha mãe pediu. — Deixe Draco quieto. Obrigada por ter ficado com , Draco.
— Não precisa me agradecer, senhora — ele respondeu, cordial. — , posso falar com você do lado de fora?

n/a: coloque essa música para tocar!

Nós nos afastamos, mas tive que passar perto dos Weasley e meu estômago afundou novamente. Fomos para o corredor lateral ao salão e conseguimos ficar sozinhos um momento. Draco segurou meu rosto com gentileza, enquanto me encarava seriamente e me abraçou apertado, respirando fundo em meus cabelos. Eu o abracei de volta e meu coração já sabia o que iria acontecer. Ele precisava partir.


— Eu sei — eu o cortei. — Você precisa fugir.
— As pessoas estão me encarando muito, tenho medo de me prenderem — ele disse e suspirou. — Eu sou o inimigo deles, .
— Eu entendo — respondi. — Não vou te pedir para ficar. Não faz sentido. Você vai para a floresta?
— Eu deveria — ele disse e suspirou. — Eu estou com medo.

Meu coração ficou pequeno e eu suspirei, tentando conter minhas lágrimas e o pedido para que Draco ficasse se embolou em minha garganta junto ao choro. Eu sabia que não podia pedir para que ele ficasse comigo ali, no salão principal, e retornasse a lutar quando passasse uma hora do aviso. Aquele não era o lado dele da guerra, Malfoy estava ali somente por causa de mim. Draco me puxou para outro abraço e não me soltou, ficando comigo em seus braços por alguns minutos. Eu conseguia sentir seu coração pulsar acelerado, mas não sabia como confortá-lo, se é que era possível. Seu líder havia o convocado para continuar a guerra e, com a participação de Voldemort, aquela segunda parte seria ainda mais sangrenta.
Contudo, nada daquilo gritava tanto para mim quanto a constatação do que eu já sabia: nessa guerra de corações e de lealdade, Draco jamais me escolheria. Eu já havia aprendido essa lição. Mas por que havia uma parte de mim que queria implorar para que ele ficasse? Por que mesmo sabendo que isso não era possível, eu queria ser uma tola e pedir para que ele ficasse comigo até o fim?

Segurei em seu pescoço e juntei nossos lábios, sentindo o beijo que eu já conhecia e não havia deixado de desejar. Draco segurou em minha cintura e correspondeu à minha intensidade, forçando sua língua na minha e arfando quando eu permiti. Segurei em seus cabelos e pescoço, tentando de alguma maneira colar nossos corpos, nos aproximar o máximo que eu podia. Malfoy mordeu meu lábio inferior e sugou minha língua quando eu tentei interromper nosso beijo, não me soltando. Eu só conseguia pensar em como eu o queria comigo, em como eu queria que ele permanecesse. Porém, ele não me devia nada.

… — Draco sussurrou meu nome, quando encerramos nosso beijo. — Minha Como eu senti a tua falta.
— Eu também senti a tua, Draco — respondi e olhei seu rosto, que tinha uma expressão dolorida. — Por favor, fique. Não vá para a Floresta, fique no castelo ao menos até essa hora passar.
… — Draco disse meu nome e me olhou com lágrimas. — Eu…

Ele não pôde continuar. Escutei a voz da Hermione em prantos dentro do salão. Eu não os via desde antes da batalha. Algo havia acontecido. Não hesitei em deixar Malfoy para trás e voltar todo o caminho. Quando entrei no salão principal, tanto Hermione quanto Gina choravam desesperadas e Rony tinha uma expressão completa de tristeza e dor. Olhei todo o ambiente e percebi algo estranho: Harry não estava ali. No mesmo segundo, eu entendi. Corri até meus amigos e fiz a pergunta que eu não queria fazer:

— Cadê o Harry?
— Hermione disse meu nome e se lançou em meus braços enquanto chorava. — Harry sumiu.
— Mione, não… — eu respondi e a olhei para me certificar de que ela estava falando a verdade. — Harry… Ele se entregou? Mas por quê? Ele sabe que nós vamos lutar!
— Ah, — Rony disse e começou a chorar. Era a primeira vez que eu via o garoto chorando. — Eu sabia que ele ia fazer isso, eu tinha certeza.
— Vamos atrás dele! — eu disse. — Podemos descer até a Floresta e…
— É muito perigoso — ele respondeu e, com o olhar mais triste, completou. — Precisamos confiar em Harry.

Nesse momento, Neville entrou pelo salão e meu coração despertou um pouco ao saber que ele estava bem. O garoto estava lotado de ferimentos, um grande corte manchava grande parte da sua testa, mas ele caminhou determinado até nós depois de depositar mais um corpo ao chão. Neville veio correndo me abraçar apertado e sentir seu coração bater foi como um respiro.

— Vocês não vão acreditar — ele começou, dizendo como se não fosse nada. — Esbarrei com o Harry no jardim.
— O quê? — Hermione perguntou, incrédula. — Como assim? Pra onde ele estava indo? Ele disse?
— Você o deixou passar? — eu perguntei. — Por que você não o barrou, Neville?
— Como assim? Por que eu barraria o Harry? — ele perguntou, ingênuo. — Ele me disse que tudo fazia parte do plano.
— Oh, meu Deus, ele foi se entregar — Hermione disse e voltou a chorar. — Rony, ele foi!
— Não, ele disse que não iria se entregar — Neville tentou argumentar, mas, quando viu nosso desespero, a constatação caiu sobre seu rosto como uma máscara. — O que eu fiz, meu Deus?
— Ele falou algo pra você, Neville? — Rony perguntou.
— Ele disse apenas que eu devo matar aquela cobra que anda com o Voldemort — Neville explicou e Rony e Hermione se olharam. — Se caso vocês dois não conseguissem.
— Rony — Hermione disse e se jogou nos braços do ruivo, voltando a chorar. — Rony, ele foi.

Meus ouvidos pararam de captar os sons ao meu redor e eu senti minhas pernas falharem pela milésima vez naquele dia. Mais um que iria embora, que iria partir. Dentro de mim, mais um pedaço se quebrou e, quando eu vi, estava chorando novamente. Neville me abraçou e eu percebi pesar em seu rosto novamente. Nós quatro ficamos em silêncio, tentando não transparecer o que havíamos entendido do sumiço de Harry. A família Weasley tinha acabado de perder um filho e estavam prestes a perder outro. Quando me soltei de Neville, eu vi Draco parado no umbral da porta e ele percebeu o que estava acontecendo, mas não esboçou nenhuma reação. Deixei meus amigos e fui até minha mãe, pedindo por colo. Mamãe me abraçou prontamente e eu sussurrei em seu ouvido:

— Harry foi para a floresta.

Ela não disse nada, somente me envolveu ainda mais apertado. Em seu relógio de pulso, que estava com o vidro quebrado, mas ainda funcionava, eu pude perceber que o prazo de Voldemort havia acabado. As pessoas dentro do salão estavam tão compenetradas em suas missões que não haviam percebido nada. Meu olhar encontrou com o de Draco e eu me levantei para falar com ele novamente. Quando eu o encontrei no hall principal, Malfoy segurou em meu braço gentilmente e me levou até o jardim. Eu recomecei a chorar e Draco me abraçou de novo. Ele sabia que nós estávamos perdendo. De repente, uma chuva de cores invadiu o céu do crepúsculo e gritos de comemoração varreram todo o jardim. Feitiços estavam sendo lançados para o céu do meio da Floresta Proibida. Havia acabado. Provavelmente Harry estava morto. Nós tínhamos perdido. Draco me olhou assustado e segurou minhas mãos:

Pegue sua família e saia daqui.
— O quê? — eu perguntei, confusa, enquanto tentava limpar minhas lágrimas de novo. — Por quê?
, você sabe o que deve estar acontecendo — Draco disse e havia profundo pavor em seu olhar. — O Lord não vai cumprir sua promessa, você precisa fugir.

Não conseguimos continuar conversando, pois o barulho de gigantes caminhando e destruindo tudo na jornada encheu nossos ouvidos. Árvores começaram a tombar uma seguida da outra e gritos de comemoração subiam pelos jardins. O exército de Voldemort estava vindo. Nesse instante, mais e mais pessoas começaram a sair do castelo e se juntar a nós enquanto assistimos os comensais se aproximarem. Em um instante, a voz de Lord Voldemort ecoou por todo o lugar.

“Harry Potter está morto. Foi abatido em plena fuga, tentando se salvar enquanto vocês ofereciam as vidas por ele. Trazemos aqui o seu cadáver como prova de que o seu herói deixou de existir.”

Um barulho de comoção saiu da garganta de todos que estavam ao nosso redor, mas não tivemos de tempo de falar nada, pois Voldemort continuou:

“A batalha está ganha. Vocês perderam metade de seus combatentes. Os meus comensais da morte são mais numerosos que vocês e O Menino que Sobreviveu está liquidado. A guerra deve cessar. Quem continuar a resistir, homem, mulher ou criança, será exterminado, bem como todos os membros de sua família. Seus pais e filhos, seus irmãos e irmãs viverão e serão perdoados, e vocês se unirão a mim no novo mundo que construiremos juntos.”

Eu não conseguia fazer nada a não ser assistir enquanto a horda de comensais se aproximava mais e mais do castelo. Contudo, entre eles estava Hagrid e, em seus braços, o corpo do meu amigo, que parecia minúsculo em comparação com o meio-gigante. Eles foram subindo e pararam em uma linha bem no meio do jardim. Um grito veio da multidão e, quando eu olhei, a professora McGonagall estava em prantos enquanto via Harry. Bellatrix deu risada. No lugar onde eu estava, eu conseguia ver pela primeira vez Lord Voldemort e seu rosto com feições de serpente e os olhos vermelhos que pareciam faiscar de excitação. Gina, Hermione e Rony começaram a gritar e a chorar quando viram Harry morto e eu não conseguia esboçar nenhuma reação a não ser segurar a barra da camisa de Draco, que também encarava tudo perplexo. O grito de inconformidade da multidão foi aumentando à medida que mais e mais pessoas saíam do salão e se deparavam com Harry morto.

— SILÊNCIO! — Voldemort gritou e soltou um feitiço silenciador, calando todas as pessoas. — Acabou! Ponha-o no chão, Hagrid, aos meus pés, que é o lugar dele!

Com lágrimas nos olhos, Hagrid colocou o corpo de Harry gentilmente na grama. Voldemort começou a andar de um lado para o outro com um sorriso perverso no rosto, enquanto apontava a varinha para todos nós.

— Estão vendo? — ele continuou a tripudiar. — Harry Potter está morto! Entenderam agora, seus iludidos? Ele não era nada, jamais foi, era apenas um garoto confiante de que os outros se sacrificariam por ele!
— Ele o derrotou! — Rony gritou de repente e a multidão do castelo começou a gritar, indignados com as palavras de Voldemort. Outro feitiço silenciador foi disparado.
— Ele foi morto tentando sair escondido dos terrenos do castelo — Voldemort disse, mas parecia que ninguém havia comprado essa mentira ridícula. Harry jamais faria isso. — Morto tentando se salvar…

De repente, vindo do meio da multidão, Neville saiu correndo com a varinha em punho e tentou lançar um feitiço em Voldemort. A multidão se assustou, mas Voldemort prontamente não apenas bloqueou o feitiço, mas atacou o garoto. Eu tentei ir até meu amigo, mas Draco segurou meu braço e gesticulou para que eu ficasse parada. Havia pânico em seu olhar, não felicidade ou alívio, como eu achei que veria agora que eles haviam ganhado. Seu olhar caminhou até os comensais e eu o segui, percebendo o que ele estava vendo: Jugson e os gêmeos Carrow estavam ali. Se eu me destacasse naquele momento, era a hora perfeita dos três conseguirem o que tanto queriam: me exterminar. Fui trazida de volta à situação pelas risadas dos comensais, enquanto Neville gemia de dor.

— E quem é esse? — perguntou Voldemort. — Quem está se voluntariado para demonstrar o que acontece com os que insistem em lutar quando a batalha está perdida?
— É Neville Longbottom, milorde! — Bellatrix Lestrange respondeu. — O garoto que andou dando trabalho aos Carrow! O filho dos aurores, lembra?
— Ah, sim, lembro — Voldemort respondeu, enquanto olhava para meu amigo, que estava no chão e tentava se levantar com muita dificuldade. — Mas você tem sangue puro, não tem, meu bravo rapaz?
— E se eu tiver? — Neville respondeu, grosseiramente.
— Você demonstra vivacidade e coragem, e descende de linhagem nobre — Voldemort explicou. — Você dará um valioso comensal da morte. Precisamos de gente como você, Neville Longbottom.
— Eu me juntarei a você quando o inferno congelar — Neville respondeu, com ódio. — Armada de Dumbledore! — A multidão atrás de mim começou a dar vivas, mas eu continuava em silêncio. Aquilo tudo iria piorar rapidamente.
— Muito bem — Voldemort disse. — Se essa é a sua escolha, Longbottom, revertemos ao plano original. A culpa será toda tua.

Com um aceno da varinha, Voldemort fez um grande pássaro disforme romper de uma das janelas, trazendo consigo um pedaço de pano que eu não consegui identificar o que era. Só depois eu entendi que era o chapéu seletor.

— Não haverá mais seleção na Escola de Hogwarts — ele explicou. — Não haverá mais Casas. O emblema, escudo e cores do meu nobre antepassado, Salazar Slytherin, será suficiente para todos, não é mesmo, Neville Longbottom?

Meu amigo não respondeu, claramente assustado, e Voldemort fez o chapéu se enfiar com força na cabeça do garoto. A multidão, que assistia estarrecida, se mexeu, mas os comensais apontaram suas varinhas, fazendo com que todos nós travássemos no lugar. Eu sentia a apreensão no ar e o medo também me paralisava. Eu queria fazer alguma coisa, a mão pegajosa de suor de Malfoy me lembrava que eu não deveria, que eu precisava ficar parada.

— Neville agora vai demonstrar o que acontece com quem é suficientemente tolo para continuar a se opor a mim — Voldemort declarou e, pegando todos de surpresa, incendiou Neville.

Um grito de pânico saiu da minha garganta e foi seguido pelo grito de todos que assistiam aquela cena de tortura. Neville, que não podia se mexer por conta do feitiço do corpo preso, começou a gritar de dor. Como se alguma divindade tivesse escutado o berro de Neville, o chão começou a tremer e gritos de guerra encheram nossos ouvidos. Nesse momento, um poderoso gigante irrompeu pela lateral do castelo, gritando a plenos pulmões “Hagger!”, indo em direção a Hagrid. A multidão gritou nesse momento e os gigantes de Voldemort foram para cima do outro. Não tivemos nem tempo de entender o que estava acontecendo, quando uma chuva de flechas caiu sobre os comensais e o barulho de cascos vindo de vários lugares encheu nossos ouvidos. Os comensais foram pegos desprevenidos e se desorganizaram no mesmo momento, tentando bloquear as flechas.

Enquanto os gigantes lutavam e as pessoas se dispersaram, Draco segurou minha mão para sairmos dali, mas tudo ficou em suspenso quando o assobio de algo cortando o ar irrompeu pelo caos. Neville estava sem o chapéu seletor e segurava uma espada na mão, enquanto assistia a serpente que acompanhava Voldemort se contorcer no ar e cair bem aos pés do bruxo das trevas. A cabeça do animal caía para um lado, enquanto Voldemort gritava com ódio.

Os centauros irromperam e, com poderosas espadas e arcos e flechas, foram direto para cima dos comensais, que começaram a tentar entrar para o castelo para fugir tanto deles quanto dos gigantes e das criaturas aladas que também apareceram atacando os gigantes. Quando o caos se instalou, eu só conseguia pensar na minha família, que estava no salão principal antes de tudo começar, lugar onde comensais entravam e continuavam a duelar. Eu precisava entrar lá. O chão estremecia toda vez que um gigante pisava e caía no chão. Hipogrifos mergulhavam em direção aos olhos das criaturas e feitiços voavam sobre nós. Olhei para Draco, que parecia estar em choque, mas eu notei que o garoto esquadrinhou a multidão com o olhar. Então eu entendi. Meu estômago afundou e eu apertei a mão de Draco, chamando sua atenção. O poderoso sino da escola estava caído no chão a alguns metros de nós, então eu o puxei para lá e nós nos abaixamos, ficando escondidos por alguns segundos.

— Você precisa ir — eu disse e Malfoy me olhou com um olhar assustado. — Você precisa achar seus pais, eu sei.
… — Draco tentou argumentar, mas eu neguei com a cabeça e tentei segurar minhas lágrimas.
— Você não pode ficar comigo — eu disse. — Você precisa ir AGORA! Eles vão prender você se nós ganharmos e eu vou morrer se vocês ganharem. Você tem que ir e eu preciso procurar a minha família.
— Olha pra mim — Draco pediu e segurou meu rosto. — Eu vou encontrar você, ouviu?

Eu não respondi, somente beijei os lábios de Draco uma última vez antes dele finalmente levantar e se afastar. Eu não tive tempo de processar o que havia acontecido, pois um gigante arrancou o sino do chão bem atrás de mim e eu tive que correr. Contudo, enquanto eu corria pelo jardim, desviando de feitiços em minha mente, eu só conseguia pensar: Draco havia partido de novo. Perto da escada da entrada, eu vi um centauro sendo encurralado por três comensais. Eles haviam lançado cordas na criatura mágica e tentavam dominá-la. Com um agito da minha varinha, eu estuporei um deles e quando os dois se distraíram com a queda do que eu atingi, o centauro conseguiu o momento que precisava para se levantar e atacar um dos que sobraram, derrubando o bruxo no chão e pisoteando com intensidade. Eu estuporei o terceiro, que caiu como um peso morto no chão. Não fiquei para ver o resultado e consegui entrar no salão, finalmente encontrando alguém.

Vovô estava lutando com Rockwood e eu me aproximei, tentando atingir o comensal com um Everte Statum. O bruxo fez um escudo e se protegeu, mas tentou me atingir com um feitiço da morte. Vovô percebeu minha presença e eu notei o mais puro ódio quando ele notou que Rockwood havia tentado me matar. Vovô gritou e lançou um feitiço poderoso, fazendo o comensal rodopiar e cair estuporado no chão. Não consegui dizer nada, pois, no mesmo momento, eu vi Narcisa e Lúcio tentando se desviar da confusão enquanto chamavam por Draco.

— NARCISA! — eu gritei para a bruxa, que me olhou assustada. — Ele está lá fora! Draco está no jardim!

Os dois bruxos assentiram e correram ainda mais depressa para o lado de fora do castelo, buscando o filho. Eu engoli em seco e voltei minha atenção para meu avô, que havia assistido a cena.

— Cadê meus pais, vovô? — eu perguntei, gritando e tentando ultrapassar o barulho da batalha.
— Eles fugiram, teu pai está muito ferido — ele explicou. — Eu fiquei para procurar você.

De repente, eu escutei um grito e corri para dentro do salão e notei Bellatrix caída no chão, com Molly Weasley vitoriosa em pé, enquanto os combatentes ao redor comemoravam. Voldemort gritou de ódio e pela primeira vez eu observei ao meu redor que os principais comensais estavam caídos, somente Voldemort se mantinha de pé. Quando o bruxo das trevas levantou a varinha para atingir Molly Weasley, um feitiço de proteção irrompeu de lugar nenhum, assustando a todos, inclusive Voldemort. Nesse momento, Harry apareceu, provavelmente despindo a Capa da Invisibilidade. As pessoas gritaram de alegria e meus olhos se encheram de lágrimas ao perceber que meu amigo estava ali. Seu olhar era gélido para Voldemort e ambos se encaravam, começando a se rodear. O silêncio caiu dentro do salão e todos pareciam aguardar o próximo movimento de qualquer um deles.

— Não quero que mais ninguém tente ajudar — Harry gritou. — Tem que ser assim. Tem que ser eu.
— Potter não está falando sério — Voldemort respondeu. — Não é assim que ele age, é? Quem você vai usar como escudo hoje, Potter?
— Ninguém — Harry respondeu. — Não há mais horcruxes. Só você e eu. Nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver e um de nós está prestes a partir para sempre.
— Um de nós? — Voldemort ironizou, enquanto encarava Harry como uma cobra encarando sua presa. — Você acha que vai ser você, não é? O garoto que sobreviveu por acaso e porque Dumbledore estava puxando os cordões?
— Acaso, foi? Quando minha mãe morreu para me salvar? — Harry perguntou e os dois se rodeavam como dois animais prestes a lutar corpo a corpo. — Acaso quando decidi lutar naquele cemitério? Acaso quando não me defendi hoje à noite e, ainda assim, sobrevivi e retornei para lutar?
— Acasos! — Voldemort gritou, mas não atacou. — Acaso, sorte e o fato de você ter se escondido e choramingando atrás das saias de mulheres e homens superiores a você, e me permitido matá-los em seu lugar!
— Você não matará mais ninguém hoje à noite — Harry prometeu. — Você não será capaz de matar nenhum deles, nunca mais. Você não está entendendo? Eu estive disposto a morrer para impedir que você ferisse essas pessoas…
— Mas você não morreu!
— Mas tive a intenção e foi isso que fez a diferença! Fiz o que minha mãe fez. Protegi-os de você. Você não reparou que nenhum dos feitiços que lançou neles são duradouros? — Harry disse e pela primeira vez eu vi pânico naqueles olhos vermelhos. — Você não pode torturá-los. Você não pode atingi-los. Você não aprende com os seus erros, Riddle, não é?
— Você se atreve… — Voldemort tentou retrucar, mas foi cortado.
— Eu me atrevo, sim. Sei coisas que você ignora, Tom Riddle — Harry chamou Voldemort pelo nome original e eu percebi a multidão ao redor pular uma respiração. — Sei muitas coisas que você ignora. Quer ouvir algumas antes de cometer outro grande erro?
— É amor de novo? — Voldemort tentou zombar de Harry, mas dava para perceber a tensão em seus ombros. — A solução favorita de Dumbledore, amor, que ele alegava conquistar a morte, embora o amor não o tivesse impedido de cair da torre e se quebrar como uma velha estátua de cera? — Escutá-lo falando aquilo de alguém tão próximo fez meu sangue ferver, mas eu me contive. Olhei para vovô e ele parecia tão irritado quanto eu. — Amor, que não me impediu de matar sua mãe sangue-ruim como uma barata, Potter, e ninguém parece amá-lo o suficiente para se apresentar desta vez e receber minha maldição. Então, o que vai impedir que morra agora quando eu atacar?
— Só uma coisa — Harry respondeu, com muita paz, como se soubesse de algo que poderia facilmente quebrar Voldemort em pedacinhos.
— Se não for o amor que irá salvá-lo desta vez — Voldemort retrucou —, você deve acreditar que é dotado de uma magia que eu não tenho ou, então, de uma arma mais poderosa do que a minha?
— Creio que as duas coisas — Harry respondeu e foi notável o choque destruir a expressão convencida de Voldemort. O bruxo das trevas começou a rir.
— Você acha que conhece mais magia do que eu? — ele debochou. — Do que eu, Lord Voldemort, capaz de magias com que o próprio Dumbledore jamais sonhou?
— Ah, ele sonhou, sim, mas sabia mais do que você — Harry disse. — Sabia o suficiente para não fazer o que você fez.
— Você quer dizer que ele era fraco! — Voldemort respondeu e meu coração ficou mais raivoso ao ouvir. Meu tio não era fraco.
— Não, ele era mais inteligente do que você, um bruxo melhor e um homem melhor — Harry respondeu e eu fiquei emocionada ao escutar Harry defender meu tio.
— Eu causei a morte de Alvo Dumbledore! — Voldemort retrucou, como um garotinho contrariado.
— Você pensa que causou, mas se enganou. — Os bruxos que assistiam prenderam a respiração e eu senti meu avô ficar ainda mais tenso ao meu lado. Eu segurei em sua mão.
— Dumbledore está morto! — Voldemort gritou, como se quisesse atingir Harry. — O corpo dele está apodrecendo no túmulo de mármore, nos jardins deste castelo. Eu o vi, Potter, e ele não irá retornar!
— Dumbledore está morto, sim — Harry disse, calmamente. — Mas não foi você que mandou matá-lo. Ele escolheu como queria morrer, escolheu meses antes de morrer, combinou tudo com o homem que você julgou que era seu servo.
— Que sonho infantil é esse? — Voldemort perguntou.
Severo Snape não era homem seu. Snape era de Dumbledore desde o momento que você começou a caçar minha mãe. E você nunca percebeu por causa daquilo que não pode compreender. Você nunca viu Snape conjurar um patrono, viu, Riddle? O patrono de Snape era uma corça, o mesmo que o de minha mãe, porque ele a amou quase a vida toda, desde que eram crianças. Você devia ter percebido. — Voldemort parecia cada vez mais e mais incomodado com as palavras do meu amigo. — Ele lhe pediu para poupar a vida dela, não foi?
— Ele a desejava. Nada mais — Voldemort retrucou, com desdém. — Mas quando ela se foi, ele concordou que havia outras mulheres, de sangue mais puro, mais dignas dele…
— Naturalmente, foi o que Snape lhe disse, mas ele se tornou espião de Dumbledore a partir do momento em que você a ameaçou e, dali em diante, trabalhou contra você! — Harry disse. — Dumbledore já estava morrendo quando Snape o matou!
— Não faz diferença! — Voldemort gritou. — Não faz diferença se Snape era meu seguidor ou de Dumbledore, ou que mesquinhos obstáculos ele tentou colocar em meu caminho! Eu os esmaguei como esmaguei sua mãe, o pretenso amor de Snape. Ah, mas tudo isso faz sentido, Potter, e de modos que você não compreende! Dumbledore tentou me impedir de possuir a Varinha das Varinhas! Queria que Snape fosse o verdadeiro senhor da varinha! Mas passei à sua frente, garotinho, cheguei à varinha antes que você pudesse pôr as mãos nela, compreendi a verdade antes que você a percebesse! — Voldemort dizia cada palavra com orgulho e êxtase, mas Harry não se importava, continuava com aquela postura de alguém que já sabia o final da história. — Matei Severo Snape há três horas e a Varinha das Varinhas é realmente minha! O plano de Dumbledore falhou, Harry Potter!
— É, falhou. Você tem razão. — Harry mantinha a fala calma e contida. — Mas antes de você tentar me matar, eu o aconselharia a pensar no que fez. Pensar e tentar sentir algum remorso, Riddle…
— O quê? — Voldemort retrucou e parecia realmente surpreso com as palavras de misericórdia. Eu já havia visto aquele mesmo choque no rosto de Draco quando alguém o estendia a mão.
— É a sua última chance — meu amigo continuou. — E é só o que lhe resta. Eu vi em que se transformará se não a aproveitar. Seja homem, tente sentir algum remorso…
— Você ousa… — Voldemort o cortou, mas somente para ser cortado de volta.
— Ouso, sim, porque o último plano de Dumbledore não saiu às avessas para mim. Saiu às avessas para você, Riddle. A varinha não está funcionando corretamente para você, porque você matou a pessoa errada. Severo Snape jamais foi o verdadeiro senhor da Varinha das Varinhas. Ele jamais derrotou Dumbledore…
— Ele matou…
— Você não está prestando atenção? Snape nunca derrotou Dumbledore! A morte de Dumbledore foi planejada pelos dois! Dumbledore pretendia morrer sem ser derrotado, o último e verdadeiro senhor da varinha! Tudo correu conforme ele planejou, o poder da varinha morreria com ele, porque jamais foi arrebatada de suas mãos!
— Mas, então, Potter, Dumbledore praticamente me entregou a varinha! — Voldemort retrucou e ele se deliciava com cada palavra. — Roubei a varinha do túmulo do seu último senhor! Retirei-a, contrariando o desejo do seu último senhor! O seu poder é meu!
— Você ainda não entendeu, não é, Riddle! — Harry respondeu. — Possuir a varinha não é o suficiente! Empunhá-la, usá-la, não a torna realmente sua. Você não escutou o que Olivaras disse? A varinha escolhe o bruxo... a Varinha das Varinhas reconheceu um novo senhor antes de Dumbledore morrer, alguém que jamais tinha posto a mão nela. O novo senhor tirou a varinha de Dumbledore contra sua vontade, sem perceber exatamente o que tinha feito, ou que a varinha mais perigosa do mundo lhe dedicara a sua fidelidade…

E Harry disse as palavras que eu não esperava ouvir, mas que, no mesmo segundo, uma memória antiga surgiu em minha mente e eu percebi que Potter estava completamente certo.

— O verdadeiro senhor da Varinha das Varinhas era Draco Malfoy.

“Eu queria gritar que ele estava subindo, meus olhos arderam e eu comecei a chorar, mas eu fiquei sem voz e entrei em pânico. Eu estava paralisada no lugar, sem voz e não podia fazer nada. Dumbledore olhou para baixo e pareceu que ele sabia que eu estava ali, pois ele olhou justamente em minha direção e, no exato momento eu me senti paralisada, como se algo estivesse me bloqueando. Dumbledore não só sabia que eu estava ali, como também lançou um feitiço paralisante em mim, assim como fez com Harry. Jogou a capa em cima do menino e, assim que o fez, Draco já havia subido e gritado:
— Expelliarmus!

Dumbledore foi desarmado e agora eu e Harry éramos apenas testemunhas do que iria acontecer e eu tinha quase certeza de que não seria uma coisa boa.

— Boa noite, Draco — Dumbledore disse, sendo cortês, e Draco olhou para os lados para verificar se estava sozinho.
— Quem mais está aqui? – Draco perguntou, um pouco paranoico.”


Minha mente trabalhou rápido e eu consegui entender antes de Voldemort onde Harry queria chegar.

— Que diferença faz? — Voldemort perguntou. — Mesmo que você tenha razão, Potter, não faz a menor diferença para você, nem para mim. Você não possui mais a varinha de fênix: duelaremos apenas com a perícia... e depois de tê-lo matado, posso cuidar de Draco Malfoy...
— Mas é tarde demais. Você perdeu sua chance. Cheguei primeiro. Subjuguei Draco faz semanas. Arrebatei a varinha dele — Harry explicou e todas as pessoas suprimiram a expressão de surpresa. — Então, a questão se resume nisso, não é? Será que a varinha em sua mão sabe que o seu último senhor foi desarmado? Porque se sabe... eu sou o verdadeiro senhor da Varinha das Varinhas.

O sol da manhã entrou por uma das janelas quebradas e iluminou o meio do salão, cegando momentaneamente grande parte de quem estava dentro do salão principal. De repente, eu senti um empurrão. Era meu avô me jogando no chão e deitando sobre mim, tentando me proteger. Eu não entendi direito, até que escutei os gritos dos feitiços saindo da varinha de Harry e Voldemort.

O pânico me invadiu e eu só desejei que Harry tivesse ganhado. Escutei um barulho de corpo batendo no chão, mas não me atrevi a me levantar, mesmo depois que vovô havia saído de cima de mim. Meu corpo tremia e, por um milésimo de segundo, tudo ficou em silêncio. Até que eu escutei gritos de felicidade e o barulho de pessoas correndo. Quando comecei a me mexer, eu escutei vovô dizendo:

— Graças a Deus…

Eu me levantei finalmente e de longe pude perceber o corpo de Voldemort caído no chão, seus olhos vermelhos estavam abertos e a expressão de susto permanecia em seu rosto. Olhei para o outro lado e lá estava Harry sendo abraçado por Rony, Hermione e uma multidão de pessoas que comemoravam o fim daquela guerra. Porque havia acabado. Voldemort estava morto. E pela primeira vez em muito eu suspirei aliviada e chorei de felicidade. Havia acabado. Em um reflexo, eu olhei para o lado como se esperasse de alguma maneira que Draco estivesse ali. Mas ele não estava.


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Nota da autora: Sem nota.





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