Prefácio
É com imensa satisfação que a Casa da Sonserina vem lhe convidar para a festa de boas-vindas pós-recesso! Contando este ano com os famosos produtos das Gemialidades Weasley, doces da Dedos de Mel e Playlist organizada por Blaise Zabini. Traga seu veneno e se prepare para uma noite no ninho das serpentes, diferente de tudo o que você possa imaginar.
Aproveitem, meus caros bruxos e bruxas, e que Filch não nos encontre!
Aproveitem, meus caros bruxos e bruxas, e que Filch não nos encontre!
Capítulo Único
— Puro-sangue. – Draco pronunciou em voz alta a senha escolhida da noite para a Comunal da Sonserina.
Mas, ultimamente, aquelas palavras tinham um gosto diferente quando cruzavam seus lábios.
Era seu sexto ano na estimada Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, e as coisas em casa não eram nem perto de ideais. Uma nova guerra se aproximava, sua família no meio de tudo. E o preço de seu berço de ouro se tornava cada vez mais alto.
Seu pai, Lucius Malfoy, em Azkaban. Ele e sua mãe, Narcisa, estampando a primeira página do Profeta Diário, humilhados, seu nome jogado à lama. E o Império de sangues puros recaía sobre as costas do príncipe de cabelos platinados, com apenas dezesseis anos.
Era sábado, o primeiro desde a volta às aulas após o recesso. Como de costume, a Sonserina estava sediando uma festa de “boas-vindas”, uma desculpa patética para que as imensas janelas que davam para o Lago Negro se tornassem uma vitrine para todo tipo de depravação. Sorte que a lula gigante não tem para quem delatar.
Sentia a fumaça espessa adentrar suas narinas assim que deu os primeiros passos pela Comunal. A música alta e os sons da aglomeração de alunos não ultrapassavam as masmorras, graças a uma excelente execução do feitiço abaffiato – um dos mais utilizados pelos alunos, nunca por motivos nobres.
Malfoy não poderia estar menos no clima para aquilo tudo, mas ainda era o príncipe da Sonserina. Sua presença era obrigatória, a menos que quisesse que todos aqueles imprestáveis pensassem que ele estivesse admitindo derrota; não, a humilhação nunca lhe caiu bem, não combinava com seus ternos pretos sob medida. Por pior que se sentisse, ainda devia agir como o melhor no recinto.
— Draco! – Ouviu Pansy Parkinson lhe chamar, sentada no colo de Blaise Zabini. – Achei que não viria. Onde estava?
Malfoy se aproximou daqueles que se denominavam seus amigos, mas que ele mesmo não sabia se os definiria assim. Tomou seu lugar ao centro do sofá de couro preto, sentando-se e se servindo uma dose de firewhisky da garrafa que descansava na mesa de centro logo à frente.
— Por incrível que pareça, Pansy, eu não lhe devo satisfações. – Disse com um décimo de desdém em sua voz.
Blaise deu uma risada, zombando de Pansy, que não levou muito bem.
— Whisky de fogo num copo plástico, quanta classe. Qual dos dois organizou esta festa de quinta? – Draco seguiu tecendo seus comentários casualmente cruéis sob um tom imparcial.
— Quem você acha? – Blaise disse, satírico. – Se fosse por ela teríamos só aquela droga de hidromel e cervejas amanteigadas.
Era isso, a última gota d’água que Pansy engoliria daquela dupla de tontos por agora. A garota de cabelos curtos e negros se levantou do colo de Zabini, revirou os olhos e se enfiou no meio da multidão que dançava próximo aos vitrais.
— Honestamente, Blaise, não se cansa disso? – Draco perguntou, observando a morena se distanciar.
— Não. – Respondeu, com um sorriso sacana cortando os lábios. – E acho que você também deveria aproveitar.
Malfoy franziu as sobrancelhas, olhando para Zabini com estranhamento.
— Pansy? Não, obrigado. - deu um gole de sua bebida.
— Não, Draco. Estou falando sobre garotas, de preferência alguma que eu não esteja pegando. Você precisa liberar essa tensão. – Blaise deu dois tapinhas no ombro do amigo. – Beijar alguém uma vez na vida não vai acabar com sua reputação de rico intangível e solitário. – Brincou.
Mas a piada não fora apreciada por Malfoy, que apenas lhe lançou um olhar em reprovação.
Beijar, com tantas coisas o perturbando em sua mente essa não era, nem de longe, uma de suas preocupações.
Certo que tinha dezesseis e podia perceber o apelo que seus colegas tinham por contato físico, mas ele não. Tinha mais o que fazer. Não tinha tempo para estas besteiras da puberdade, não quando quase sentia a marca negra pulsar por debaixo da manga de sua camisa. E muito menos quando a única garota que lhe despertava tais urgências era uma mestiça da , ainda por cima, com quem foi obrigado a fazer dupla na aula de poções e, fora isso, não trocava uma palavra.
Tratou de engolir logo vários goles de uma vez de seu firewhisky, tentando esquecer tais pensamentos.
Mas, assim que virou o copo, sua vista encontrou silhuetas extremamente familiares à entrada da Comunal. Sentiu seu coração pular uma batida, e preferiria estar morto antes que alguém percebesse.
Era ela, a mestiça. E como se não bastasse a impureza de seu sangue, ainda fazia questão de se cercar das piores companhias: grifinórios, mais especificamente, Weasleys, quatro deles de uma única vez.
— Estão deixando qualquer um entrar, agora? – Falou para Blaise, sem mover o foco de sua visão por sequer um milímetro.
— Sei que você não é fan, mas Fred e George sempre sabem como animar as coisas. – Sorriu de canto.
Do outro lado do salão, os recém-chegados se ambientavam: Ginny, George, Fred, Ron e sua amiga , uma garota da de cabelos longos e pernas também longilíneas, particularmente bem delineadas esta noite graças a seu vestido slipdress curto, preto e de veludo, acompanhado apenas por uma meia calça, também preta.
Os três primeiros não encontravam o menor problema em se misturar na festa, mas e Ron pareciam ainda tentar se decidir se deveriam estar a qualquer lugar perto das masmorras esta noite; apesar de haver gente de todas as casas ali, não eram as pessoas com quem eles costumavam interagir, tratava-se de um grupo seleto de jovens descolados e obviamente mais libertinos que eles. Mantinham semblantes meio assustados enquanto o barulho dos pequenos saltos das botinhas brancas de se perdia meio à musica no salão.
Ronald não escondia de ninguém seu desapreço por sonserinos, mas seus irmãos eram bem melhor sucedidos no campo social; queria ao menos tentar ser como eles. Convenceu então dois de seus três melhores amigos a acompanharem a presepada: Harry e . Hermione se recusou veementemente, por mais que ele e insistissem, ela era irredutível.
— Ron, a gente precisa mesmo fazer isso? – entrelaçava seu braço no de Ronald, acariciando a maciez do tricô do suéter vermelho que ele vestia, muito provavelmente feito por sua mãe.
— Fred e George disseram que vai ser legal, e acho que logo o Harry chega. – Tentou convencer a amiga enquanto ambos observavam o ambiente, mas no fundo ele tentava se convencer também.
— Ei, vocês dois! Desmanchem essa cara de espanto. – George disse, lançando a eles um sorriso maroto.
— É, vão pensar que vocês nunca foram a uma festa! – Completou Fred. – O que é verdade, mas ninguém aqui precisa descobrir.
Os gêmeos usavam ternos em jacquard estampado, um estava de verde e outro de laranja. Fred carregava uma maleta das Gemialidades Weasley, em couro marrom.
— Calem a boca, vocês nem estudam mais aqui! – Reclamou Ron.
— E ainda seguimos recebendo convites. – Disse Fred. – Sem nós vocês nem teriam entrado.
— Não podemos evitar ser tão populares. – George deu de ombros.
— Até parece, só chamaram vocês pelos produtos. – Ginny sorriu, implicando. – Mas vocês realmente precisam relaxar. – Apontou para a dupla de amigos de ombros tensos e braços enlaçados como se tivessem medo de se perder.
— Fácil pra ela falar. – Disse , observando a Weasley mais nova seguir a passos alegres para o meio do círculo de dança, balançando o godê de seu vestido verde esmeralda com bordados de arabescos na cor mostarda, seus cabelos ruivos flutuando no ritmo da música e iluminados pela luz estroboscópica verde ocasional.
E enquanto via Ginny dançar, seus olhos ousaram percorrer um caminho um pouco mais distante, encontrando àquelas outras pupilas acinzentadas que já a fitavam perto da lareira. Ela se virou para Ron de imediato.
— O que foi? – Ele perguntou.
— Vamos procurar comida? – Sugeriu.
Ron prontamente concordou, então começaram a perambular pela Comunal, em busca.
Precisava fugir do campo de vista de Malfoy o mais rápido possível, e sequer sabia o porquê. Mas toda vez que o encontrava pelos corredores de Hogwarts, suas pernas bambeavam e seu estômago faltava sair pela boca. Tudo só piorou quando Slughorn colocou os dois juntos como dupla de atividades na aula de poções.
Ela não podia evitar, como , era parte de sua natureza se interessar pelo que lhe intriga, pelos mistérios que ainda não pôde desvendar e pelo que os outros possam achar estranho, como o reservado, solitário e cruel príncipe da sonserina.
já nutria uma quedinha pelas madeixas prateadas pelo menos desde o quarto ano, mas jamais admitiu para nenhuma alma viva – ou morta – em Hogwarts. Era mais complicado que isso, com a reputação e a moral questionável da família Malfoy, não poderia se aproximar do garoto sem temer ser chamada de sangue-ruim ou coisas piores. Ficava aterrorizada por sentir o que sentia, logo por Draco Malfoy.
E em nada ajudou a forma cordial e gentil com que ele a trata nas aulas de poções. De fato, Draco nunca lhe deferiu sequer uma palavra ofensiva, muito pelo contrário. Ele a ajudava com tudo o que ela precisava nos exercícios, oferecia-se para triturar os ingredientes que não tinha força, emprestou-lhe suas anotações, e, ontem mesmo, suas mãos se tocaram quando ele lhe entregava um frasco de pó de chifre de bicórnio. Ele não disse nada, mas , a melhor aluna de Trelawney, pôde captar alguns dos sentimentos dele.
Não sabia o que Malfoy escondia, mas sabia que ele carregava muita dor. E sabia também que nada de negativo no coração daquele garoto era direcionado a ela.
Mesmo assim, não tinha ideia do que fazer com os próprios sentimentos. Muito menos se Ron os descobrisse. Céus, ele e Harry odiavam Draco e faziam sempre questão de frisar o quanto.
— Finalmente! – Ron exclamou, desenlaçando o braço de do seu e pondo logo as mãos nos doces da Dedos de Mel, dispostos numa mesa longa perto da entrada dos dormitórios.
tentou afastar seus pensamentos, pegando um quadrado cor de rosa de sorvete de coco. Não estava no clima para qualquer outro dos doces malucos que tanto a divertiam em dias normais.
— Sabia que encontraria vocês aqui! – Escutou o timbre famíliar soar por suas costas.
se virou para encontrar seu amigo Harry Potter, todo vestido com calças jeans e um moletom preto, cabelos meio bagunçados e um sorriso contente no rosto.
— Harry! – Ela o abraçou, prontamente.
— Hermione não vem mesmo? – Ron perguntou, as bochechas inchadas cheias de doces.
— Lamento, fiz o que pude, mas ela não quis nem pensar a respeito. – Potter respondeu, assim que o soltara.
— E o que vamos fazer aqui sem ela a noite toda? Não podemos mesmo ir embora? – choramingava.
— Qual é, pode ser divertido! – Harry encorajava. – Por que não procuramos Fred e George?
Os outros deram de ombros, saindo novamente pelo recinto, mas não antes que Ron pudesse colocar alguns bombons e feijõezinhos de todos os sabores nos bolsos de suas calças. e Harry riram, sem o repreender, pois sabiam bem que terminariam a noite dividindo os doces com ele.
Mas, ao invés de encontrar os gêmeos, acabaram se metendo no meio do grupo que dançava, esbarrando com Ginny.
— Até que enfim! – A ruiva disse, com um imenso sorriso, puxando e Harry pelo pulso para dançarem também.
Com exceção de Ginny, não eram bons em dança; mas começou a pular ao ritmo da música, o que incentivou Harry a fazer o mesmo.
Rony encarou o grupo, emburrado. então o puxou para mais perto, segurando sua mão e seguindo seus pulinhos desengonçados.
Rony não cedeu com facilidade, mas logo já estava gargalhando. Os quatro se divertiam, sem se importar com quem os estava vendo, como se o mundo fosse só deles – o que facilitou a se sentir confortável o suficiente para começar a mover seus quadris lentamente, como fazia quando dançava sozinha em seu quarto.
Mas havia gente vendo. Um deles bem de perto, seu melhor amigo Ron Weasley, que há algumas semanas começava a se perguntar se amigos sentiam o que ele sentia quando via com roupas como aquele vestido revelador que usava hoje; o outro mais distante, o sonserino ainda sentado ao sofá com a cabeça fervendo.
Draco já estava na terceira dose de whisky de fogo quando ela voltou para seu campo de visão. E, por mais que tentasse, não conseguia afastar de sua mente as palavras de Blaise.
“Você precisa liberar essa tensão.” - É, talvez Zabini estivesse certo no fim das contas, pois metade da preocupação de Draco com sua missão, dada diretamente pelo Lorde das Trevas, parecia se esvanecer com os movimentos de vai e vem hipnóticos dos quadris daquela .
Mas o que ele poderia fazer? Não sabia como se aproximar. Não sabia ao menos se deveria se aproximar.
A marca em seu braço afirmava que ele só deveria se misturar com quem tivesse seu mesmo status sanguíneo. Mas, talvez, só talvez, ele merecesse deixar isso para amanhã e esquecer por hoje tudo que seu pai tão insistentemente lhe doutrinava desde que nasceu.
A verdade é que há algum tempo percebia que nada daquilo lhe fazia muito sentido, mas não podia decepcionar seu pai, quanto mais agora. Precisava tomar a liderança da família.
Ao mesmo tempo, observando ela se divertir junto daqueles que mais odiava, podia reconhecer algum tipo insano de... Inveja? Mais uma vez, Potter tinha o que ele cobiçava: a leveza da juventude, o direito de aproveitar com seus amigos, e a companhia de seu mais recente objeto de desejo - .
E tudo isso, toda a indecisão e os paradoxos e antíteses que sentia naquele momento, só aumentava a tensão nos ombros de Draco, ficando cada vez mais insustentável.
A música ganhava um ritmo ainda mais acelerado, sentia seu corpo esquentar.
Jogou o copo de plástico vermelho que usava direto nas chamas da lareira, ao lado do sofá, causando um reboliço repentino e voraz nas chamas.
— Blaise! – Falou, impulsivo, observando o amigo afastar o rosto de Pansy (que há pouco havia voltado e já se agarravam de novo) do próprio, todo borrado de batom. – Preciso de um favor.
(...)
Após alguns minutos na pista, Harry e Ginny haviam saído para procurar água ou algo semelhante para beber. e Ron ficaram para trás, ainda dançando.
A cabeça de Ron se enchia de confusões e ele não sabia muito bem como reagir. Era óbvio que ela estava lhe despertando algo além da amizade, mas não sabia o que fazer com isso. Então ele só ficava olhando para , com uma cara meio de pateta.
— Eles estão demorando. – A garota comentou, preocupada. – Melhor irmos atrás.
— , espera! – Ron tentou falar algo, mas ela já havia se virado e se encaminhava para fora da aglomeração.
Tudo o que Weasley pôde fazer foi seguir em seu encalço.
Menos de um minuto depois, ouviram algumas vozes se exaltarem mais a frente: os gêmeos.
— Vem, Rony! – Ela segurou a mão do amigo, arrastando-o até o grupo que se formava próximo à lareira.
Chegando lá, encontraram Ginny e Harry sentados no tapete sobre o chão em volta da mesa de centro, os gêmeos de pé explicando algo e, é claro, Draco Malfoy do lado oposto junto a alguns outros sonserinos.
— Irmãozinho, ! – Fred exclamou. – Bem na hora! Juntem-se ao jogo.
— Que jogo? – Ron perguntou, franzindo os lábios, claramente desgostoso em qualquer interação com Draco.
, por sua vez, sentiu o pulso acelerar. Mais observadora que o amigo, viu logo aquela garrafa vazia ao centro da mesa. Ah, mas de jeito nenhum!
— Venham logo! – Ginny se levantou, animada, puxando os dois pelas mãos e fazendo-os se sentarem ao seu lado no tapete, de forma que o círculo se intercalasse sempre com um menino e uma menina.
ao lado de Ron, depois Ginny, Harry na cabeceira da mesa, o espaço vazio onde os gêmeos estavam, seguido por Blaise, Pansy e Draco, quase à frente da primeira.
— Ginny, eu não... – tentou argumentar, mas logo fora interrompida.
— Então, as regras são as mesmas de sempre. Quando a garrafa parar, quem estiver na direção do fundo faz uma pergunta, para o que a pessoa apontada pela tampa poderá escolher verdade ou desafio. – Explicava George.
— Mas é claro que nós estamos aqui para dar um pequeno twist nessa velha brincadeira! Afinal de contas, viemos a trabalho! – Disse Fred, abrindo a maleta das gemialidades, revelando seu conteúdo. – A pessoa que escolher verdade deverá tomar um shot de veritasserum, vocês sabem, só para garantir. E quem quiser ousar nos desafios, temos também uma série de produtos que tornarão as coisas interessantes.
— Se alguém quiser sair esse é o momento. – George instigou.
abriu a boca, mas antes que pudesse falar algo, Fred girou a garrafa e exclamou:
— Sinto muito, agora ninguém mais pode desistir!
— Como se vocês tivessem alguma chance! – Os gêmeos riam.
estava muito desconfortável.
Draco se arrependia de ter pedido para Blaise fazer algo, aquilo era ridículo. Não era a melhor forma de se aproximar de alguém, certamente. E ele sequer sabia se sentia qualquer interesse por ele.
Mas a garrafa parou, tendo de cara a como alvo e Blaise como inquisidor.
Malfoy não demonstrava nada, mantendo sua fachada blasé de sempre, enquanto Zabini sorria de lado e lançava um olhar malandro audaz na direção de , que sentia o sangue subir para suas bochechas de imediato.
— , verdade ou desafio? – Perguntou num tom malicioso.
— Verdade. – falou, nervosa, sem parar para analisar as consequências disso.
— Ora, ora! Temos nosso primeiro shot de veritasserum! – Fred clamou, satisfeito.
— Muito bem, , aqui vai! – George retirou da maleta um pequeno frasquinho delicado com um líquido incolor.
ficou de joelhos e esticou o braço por cima dos amigos para alcançar a poção. Quando voltou a se acomodar, observou a garrafinha em suas mãos, do tamanho de seu polegar, com uma rolha minúscula, o rótulo com a logo da loja dos gêmeos e alguns penduricalhos amarrados à uma fita fininha no gargalo.
Sentiu os olhares curiosos de todos a acompanharem. Captou a expectativa no sorriso de Ginny, absorvendo o sentimento, apesar de receosa.
Retirou a rolha do frasquinho e o virou, engolindo logo todo o conteúdo e batendo o vidro do recipiente vazio na mesa. Não sentiu cheiro ou gosto de nada, era como se tivesse bebido água. Tinha suas dúvidas de que aquilo lhe faria algum efeito.
— Faça a pergunta! Faça a pergunta! – Ginny gesticulava para Blaise, animada.
— Você se sente atraída por alguém nesta mesa?
Draco cerrou os olhos, tinha medo da falta de sutileza de Zabini, mas também sentia sua garganta dar um nó enquanto não soubesse a resposta.
Os olhos de desviaram por um milésimo de segundo de Blaise para Draco, ao seu lado, mas torcia para ninguém ter percebido.
— Física ou emocionalmente? – Ouviu a própria voz saindo de sua boca, sem qualquer controle; o efeito da poção era rápido!
— Sexualmente. – Blaise disse.
— Sim. – respondeu, ouvindo imediatamente gritinhos, assovios e palmas do grupo. – Na verdade nem precisava especificar, eu me sinto atraída de todas as formas por essa mesma pessoa há anos. – Arregalou os olhos e tapou a própria boca com as duas mãos.
— Por Merlin, ! – Ginny gritou, rindo. – Eu que não vou escolher verdade!
E com aquela resposta, as dúvidas de Malfoy se tornavam menos inoportunas e a expectativa crescia em seu peito.
Mas ele não era o único. Ron indagava a quem ela poderia estar se referindo, imaginava que seria ele ou Harry, afinal, são muito próximos desde o primeiro ano. É claro que era um dos dois.
— Não se preocupe, . A poção só dura alguns minutos, fizemos essa versão especialmente para esse tipo de jogo. – Fred sorriu, cheio de si, encontrando os olhos apavorados da menina.
Era certo que depois desta noite as garrafinhas de veritasserum seriam mais um top de vendas da loja.
Mas antes que tivesse a chance de dizer mais alguma coisa incriminadora, tratou de girar logo a maldita garrafa.
Todos os olhares se viraram para o centro da mesa, alguns hesitantes, outros excitados com a adrenalina de ter seus maiores segredos em risco de serem revelados.
Quando a garrafa finalmente apontou suas próximas vítimas, eram Ron e Draco.
— Ótimo. – Malfoy girou os olhos.
Ron franziu o cenho, encarando o adversário.
— Verdade ou desafio, Malfoy? – O ruivo falou, impaciente.
Todos aguardavam ansiosos, mas Draco não demonstrava qualquer preocupação.
— Verdade. – Encarou Ron bem dentro dos olhos, lançando-lhe aquele seu levantar rápido de sobrancelhas patenteado.
Ron franziu o nariz, enojado.
— É verdade que usa água oxigenada no cabelo?
— Sério? - E mais uma vez, Draco girou os olhos, soltando o ar pelo nariz como uma pequena risada de escárnio.
Malfoy levantou a mão direita e olhou para os gêmeos, que lhe arremessaram uma garrafinha da poção da verdade, a qual pegou sem qualquer dificuldade.
observava cada movimento dele meio enfeitiçada. Algo sobre Draco estava especialmente magnético hoje; talvez a atitude despreocupada, a forma como ele falava com todos como se fosse muito mais maduro que qualquer outro ali, ou o rápido reflexo do apanhador da sonserina. Ela precisava se concentrar em dobro para não delatar a quedinha que sentia por Malfoy.
Draco tomou a poção em uma virada rápida, como alguém que tem experiência em jogos com bebidas.
— Escutem bem, pois sei que falam isso pelas minhas costas. – Deu um sorriso de canto, egocêntrico. – Esse boato é falso. E, honestamente, Weasley, tente algo mais interessante da próxima.
E enquanto mais burburinhos e risadas tomavam conta da mesa, o ar de superioridade de Draco fazia todos os músculos da face de Ron se enrijecerem. Não era bom em esconder o que sentia.
percebeu, pondo sua mão sobre a do amigo, próximo ao chão. Ron estranhou de início, mas correspondeu o gesto, olhando para ela agradecido e liberando a tensão de seus ombros.
Aquele pequeno e discreto ato afetuoso passara despercebido por todos, mas não por Draco, que dedicava especial atenção à esta noite. Por algum motivo, aquilo o incomodava, despertava certa irritação.
— Certo, vamos logo para o próximo! – falou, num tom alguns décimos mais alto, girando a garrafa com força e capturando de volta a atenção de todos.
Controlou e extinguiu um sorriso involuntário no canto de seus lábios ao ver que tinha funcionado, afastara a mão de Ron com o leve susto.
Assim que parou, a garrafa apontava agora para Harry e uma direção vazia, que entraram em acordo que estava mais próximo de .
Ambos sorriram, principalmente a menina, aliviada por saber que o amigo não lhe colocaria numa posição tão ruim quanto Blaise na última rodada.
— , verdade ou desafio? – Potter perguntou num tom divertido, se opondo a toda a tensão que havia sido aquele jogo até o momento.
E confiava o suficiente em Harry para escolher.
— Verdade. – Respondeu.
— Um veritasserum saindo! – George falou de forma meio musical, pegando mais um recipiente da maleta e esticando seu braço até .
— Merlin, espero que não tenha nenhum efeito colateral por sobre-dose disso! – encarou os gêmeos, sugestiva.
— Improvável. – Fred disse, rindo.
Ela ingeriu a poção, colocando o pote vazio sobre a mesa, ao lado do último que tomara.
— Pergunte, Harry! – fitou o amigo, um sorriso folgazão cruzando seus lábios.
— Hum, vejamos... – Harry tentava pensar em algo, mas não conseguiu nada. Decidiu então ir pelo mais clichê. – Com quem foi seu primeiro beijo?
Ginny riu, dando um tapinha no braço de Potter por estar pegando leve. E ao mesmo tempo, instantaneamente, Pansy e Blaise reclamaram.
— Por favor, não nos mate de tédio! Estamos pagando caro por cada frasquinho desses! – Zabinni gesticulava com as mãos.
Mas o que todos tomavam como uma pergunta simples e irrelevante, fazia o coração de bater mais rápido desde que saíra da boca de Harry. Suas bochechas esquentavam de vergonha.
— Eu preciso mesmo? – Mordeu o lábio inferior, nervosa.
Harry levantou uma das sobrancelhas, indagando o motivo daquela reação com a pergunta mais branda que pôde pensar.
— É o jogo, . Apenas responda logo para irmos pra próxima. – Pansy não tinha a menor paciência com grifinórios, mas corvinos a tiravam mais ainda do sério.
Aquele teatrinho de ingenuidade e pureza que todos eles pareciam se prestar não lhe descia.
respirou fundo, e falou, sem conseguir mais conter a urgência de revelar a verdade.
— Fred.
E simples assim, todos se viraram incrédulos para ela. Ron tinha os olhos arregalados e Harry chegou a deixar o queixo cair.
— O quê? Como-Quando? O quê?! – Ron tentava formular algo, disparando tudo de uma vez. – Beijou ela?! – Encarou o irmão, exasperado.
Fred apenas o ofereceu um sorriso amarelo e levantou as duas mãos próximo aos ombros.
— Como isso aconteceu?! – o Weasley mais novo seguia chocado e indignado.
— Tá bom, retiro o que disse. Isso valeu a pena. – Blaise comentou, rindo.
— Não é? A santinha até que tem um pouco de fibra. – Pansy teve de concordar. – Beijar o irmão do melhor amigo. Mandou bem, . – Levantou seu copo minimamente, como se dedicasse um brinde a colega.
— Como isso aconteceu?! – Ron ignorava a conversa paralela e reforçava sua pergunta.
— Desculpa, Ron. – franzia as sobrancelhas e as bochechas, numa feição encabulada. – Lembra quando passamos o natal com sua família no terceiro ano?
— Não! Não quero mais ouvir! – Arregalava ainda mais os olhos.
— Eu sinto muito, Ron. Eu tinha treze anos, ele era mais velho, você sabe que isso deixa os caras mais interessantes. – Ela simplesmente não conseguia segurar nada, de novo. Maldita poção. Maldita poção! – E honestamente, Ron, seus irmãos são muito bem-apessoados. E charmosos.
George não conseguia mais conter uma gargalhada, que se fez ouvir bem alta. Fred piscou só com um dos olhos e mandou um sorrisinho brincalhão para .
Ron encarou os irmãos incrédulo, de boca aberta.
— Desculpe, maninho. Foi só uma coisa de visco de natal.
— E foi só um selinho! – completou. – Mas foi um bom primeiro beijo, eu guardo a lembrança com carinho.
— ! – Ginny não podia se conter também.
— É, Fred, você provou do nosso próprio veneno sem nem estar jogando. Brilhante! – George dava alguns tapinhas nas costas no irmão.
— Desculpe, , eu não fazia ideia. – Harry ria também, suas sobrancelhas erguidas e um ar inocente. – Imagina a cara da Hermione quando souber o que perdeu. – Cochichou para Ginny, que apoiou a testa no ombro de Potter, ainda gargalhando.
— Meu próprio irmão, ?! – Ron choramingava. – Seria como Harry beijar a Ginny!
Ginny pigarreou, se recompondo. Não podiam entrar naquele assunto, não mesmo.
— Bom, já passou. Isso foi anos atrás, Rony. Supere. – Comandou. – E já rimos o bastante, vamos para a próxima logo!
sibilou um “obrigada” na direção de Ginny, tratando de girar a garrafa e seguir o jogo.
Durante toda a discussão, Draco não demonstrara nenhuma reação, tentou parecer desinteressado. De início ficara meio inconformado por ela ter beijado um Weasley, mas depois teve de mascarar um sorrisinho incontrolável tomando alguns goles de firewhisky ao descobrir esse lado meio egoísta de , um lado que não se importou com a opinião ou sentimentos de Rony quando quis beijar seu irmão mais velho. Ela não era tão pura e perfeita quanto ele pensava, e isso a tornava mais desejável.
E quando parou novamente, a garrafa havia escolhido Ginny e Pansy.
— Essa vai ser boa. – Blaise comentou malicioso, trocando um rápido olhar cumplice com Parkinson.
Ron, Harry e observavam Ginny receosos.
— Verdade ou desafio? – A garota de cabelos curtos e negros perguntou, com certa satisfação sádica.
Ginny a fitou de cima a baixo, um sorriso provocador nos lábios.
— Desafio.
— Está com medo, Weasley? – Pansy atentou.
— De forma nenhuma. Só quero ver o quão criativa você pode ser. Aproveite bem, será a única chance em toda sua vida de ter algum controle sobre mim.
E mais gritinhos e gargalhadas tomaram conta do grupo. Ginny conseguia com muita facilidade deixar Pansy nervosa.
— Então eu-eu te desafio a comer uma vomitilha! – A garota gaguejava.
— Sério? Confiei demais no seu potencial, erro meu.
— Não, eu quis dizer... Eu te desafio a ir até a Floresta Proibida e trazer um ovo de acromântula.
— O quê? – Ron se chocou.
— Ginny, você pode ser expulsa se fizer isso! – tentou argumentar, mas a ruiva não deixaria a sonserina vencer.
— Ou morrer! – Ron completou, com os olhos arregalados.
— Não se eu fizer direito. – Deu de ombros.
Todos pareciam meio embasbacados enquanto a ruiva se levantava e procurava seu casaco no encosto do sofá.
— Tem certeza disso, maninha? – George perguntou, consternado.
— Não vai dar em nada, acredite em mim. – Sorriu, confiante.
Mas Harry não poderia simplesmente deixar Ginny fazer aquilo sozinha. Sabia bem do poder da garota, mas nem em um milhão de anos deixaria que corresse aquele risco gratuito sem estar ao seu lado para a proteger e auxiliar.
— Eu vou com você. – Harry disse, também se levantando. – Para te dar cobertura.
Ginny sorriu, estendendo a mão para Potter. Ambos se afastando do grupo pelo meio da multidão, em direção à saída.
— Ótimo, vou perder meu melhor amigo e minha irmã no mesmo dia. E vocês disseram que seria divertido vir a esta festa. – Ron reclamou, assim que perdeu os dois de vista.
— A porta da rua é a serventia da casa, Weasle-Bee. Não é como se alguém te quisesse aqui. – Draco falou sem qualquer trepidação em seu tom.
— Ora, seu! – Rony se agitou, furioso, mas pôs a mão sobre o ombro dele, o segurando.
Malfoy finalmente desviou seu olhar desinteressado de seu copo para os dois do outro lado da mesa. Era difícil engolir a proximidade de com Weasley. Seu estômago parecia arder, mas nada relacionado ao whisky de fogo, aquilo era... ciúmes? Não, não poderia ser.
— Isso não é jeito de falar com a gente, Malfoy. – repreendeu, extremamente séria.
— Não foi com você. Sabe que tem meu respeito, . – Draco deu mais um gole em sua bebida, jamais tirando os olhos dela.
Era como se aquelas pupilas cinzentas e dilatadas penetrassem sua pele, a devorassem, ele a intimidava como ninguém mais conseguia.
Sentia o sangue fugir de seu rosto.
— Acontece que Ron é meu melhor amigo. Se você me respeita, deve respeitá-lo também.
Draco olhou para Weasley por cerca de dois segundos. Estalou os lábios.
— Não vai rolar.
As bochechas de Ron ficavam vermelhas de raiva, e, apesar de quererem muito ver até onde aquilo iria, os gêmeos sabiam que era hora de jogar panos quentes. Afinal, ainda estavam ali a negócios e tudo precisava dar certo.
— Olha só a hora! É vez da próxima rodada! – Fred falou.
— Tem razão, Fred. Vamos girar logo essa garrafa! – George complementou, se esticando até a mesa e espiralando o objeto.
Pelo menos por enquanto, surtira efeito. Tanto Ron quanto Malfoy desviaram suas atenções para o jogo.
Os irmãos se entreolharam, cúmplices e meio aliviados.
A nova dupla indicada tinha Ron como inquisidor e Pansy como alvo.
— Me dê seu pior, Weasley. – Parkinson sorriu de canto.
— Verdade ou desafio?
— Desafio. Estou a fim de algo mais animado do que ficar dando pano para manga nesse clubinho. – revirou os olhos.
Agora que Ginny saíra numa desventura perigosa, não poderia fazer menos. Apesar de gostar muito mais de ficar ali descobrindo segredos dos outros, tinha algo a provar, e se escondia detrás de um ar de superioridade.
— Tudo bem. – Ron deu de ombros. – Desafio você a roubar uma crisálida de Aqueronte do depósito do Snape.
— Fácil. – Contou vitória, é sabido que Snape não é tão rigoroso com sonserinos.
— Mas! – Ron frisou, ainda não havia terminado. – Vai fazer isso depois de comer um Nugá Sangra Nariz, só a parte laranja. Para aumentar um pouco a dificuldade. Quando voltar com a prenda, pode comer a parte roxa que vai curar o sangramento.
Fred e George sorriram, surpresos.
— Nosso menino cresceu! – Disse George, fingindo limpar uma lágrima do rosto.
— A forma como ele conhece nossos produtos, nunca estive tão orgulhoso! – Completou Fred.
—Ah, parem com isso! Ainda estou com raiva de vocês. – Rony estalou os lábios.
— Eu nem fiz nada! – Clamou George.
Pansy suspirou impaciente com a conversa deles.
— Passem logo o tal sangrador de nariz! – Levantou-se e estendeu a mão para os mais velhos.
Fred procurou pela maleta e entregou o doce bicolor para a garota.
— Use com cautela. – alertou, mas Pansy logo removeu a embalagem e comeu um pedaço gigantesco da parte laranja.
Tinha um sabor esquisito, mas não era ruim.
— Essa não... É melhor você correr. – George disse, observando a sonserina com uma feição preocupada.
— Eu duvido que isso vá... – Parkinson começou a falar, mas, de repente, sentiu um líquido quente escorrer de seu nariz.
Tocou a região acima de seus lábios com o dedo indicador, e quando o levou pouco mais a frente, para seu campo de visão, constatou que era mesmo sangue. E a quantidade aumentava depressa, temia que em alguns minutos começasse a jorrar sangue em jatos por suas narinas.
Arregalou os olhos meio amedrontada, mas não deixaria ninguém saber disso.
— Já estou indo. E é bom que o antídoto funcione! – Aumentou seu tom e virou os calcanhares, seguindo a passos largos e ligeiros pela multidão, com a mão esquerda cobrindo seu nariz e boca.
— Pobrezinha. – Blaise observou a partida da menina. – Enfim, o show deve continuar! – Estalou os lábios, girando a garrafa.
e Ron, com caretas não muito sutis, estranharam a falta de preocupação de Blaise com sua ficante. Mas não era da conta deles, afinal.
Com três participantes fora, havia muito espaço em volta da mesa. Cada um se afastou um pouco, realocando-se para que cobrissem uma área maior e a garrafa pudesse escolher alguém.
Mas, com apenas quatro jogando, era obvio que as escolhas seriam repetidas.
sentia o estômago gelar de nervosismo e, involuntariamente, cruzou os braços frente seu torço.
A garrafa girou, girou e girou.
Ela fechou os olhos, ouvindo o barulho do vidro sobre a madeira e desejando que parasse em qualquer outra pessoa.
Quando o som parou, ela abriu os olhos para encontrar o que mais temia.
— Ora, ora, ora! Parece que somos eu e você de novo, lindinha. – Blaise falava animado. – O que vai ser dessa vez?
As mãos de tremiam. Após duas rodadas absolutamente constrangedoras, ela já teve o suficiente de verdade pela noite – ou, quem sabe, para o resto da vida!
— Desafio. – Falou, com uma pontada de medo subindo por sua espinha como um arrepio.
Blaise deu uma risadinha leve. Olhou de canto para Malfoy. Aquilo era perfeito.
— Muito bem, . Só temos você de menina agora, e por ter beijado o cavalheiro ali, - apontou para Fred. – assumo que se interesse por rapazes. Então acredito que não terá problema.
— Ai meu Deus... – muxoxou, prevendo o que estava por vir.
Se Blaise estava colocando sua sexualidade em pauta, só podia ser uma coisa.
— Gire a garrafa mais uma vez. Você vai beijar quem ela apontar.
O estômago de dava voltas, quase sentia vontade vomitar. Todo o seu corpo parecia colapsar com o nervosismo, suas mãos e tronco tremiam ainda mais que antes.
Ela olhou de um para outro, dos três jogadores.
Podia acabar beijando Blaise Zabini, que podia ter um humor meio sádico e, por algum motivo, resolvera lhe pressionar essa noite para seu próprio divertimento. Contudo, não era nada feio. Na verdade, ele era o contrário de feio: alto, com seu físico definido e sorriso hipnotizante, qualquer colega de hogwarts iria querer estar em seu lugar agora. É claro que Pansy a mataria depois, mas para , Blaise era a opção mais segura, em vista dos outros dois.
Também podia acabar beijando Ron Weasley. Seu melhor amigo, de fato, seu primeiro amigo em Hogwarts. Sendo mestiça, temia sofrer preconceito quando se mudasse para o castelo, mas Ron a recebeu e a acolheu logo de cara. Cresceram juntos, ele era como um irmão, seria estranho beijá-lo.
Ela não sabia, entretanto, que as palmas das mãos de Ron suavam com a possibilidade de acabar sendo o escolhido. Ele não compreendia como se sentia, parte dele gritava que aquilo era esquisito, mas a outra parte a desejava. Talvez fossem apenas seus hormônios da puberdade, talvez estivesse confundindo a natureza de seu relacionamento, mas ele definitivamente queria que a garrafa o escolhesse. Até porque ela não poderia acabar beijando um daqueles sonserinos desprezíveis, não é? Ele era a única opção possível.
E é claro, poderia acabar beijando Draco Malfoy. Céus! Só com aquela mera chance seu nervosismo aumentava. Passara a noite toda tentando esconder o que sentia, mas ele estava bem ali, a sua frente, com seu paletó preto e pele pálida quase doente. O perfume amadeirado dele tinha um frescor que exalava poder e nobreza, ela queria mais que qualquer coisa se aproximar mais, tocá-lo, sentir aquela essência mais de perto.
E era o que ele queria também. Havia pedido para Blaise armar todo esse jogo por essa ínfima desculpa de se aproximar dela, de ter um motivo plausível para a ter perto nesta festa excruciante. Também pedira que fosse algo sutil, não podia arriscar que ninguém soubesse de sua cobiça por uma meio-sangue. Mas quanto mais olhava para ela, menos aquilo tudo importava.
Observou se ajoelhar, se aproximando da mesa. Seus dedos delicados encontrando o vidro esverdeado da garrafa e a movimentando com destreza.
Amaldiçoava mentalmente tudo o que fora ensinado a acreditar. Xingava a si mesmo por ter se preocupado com o que os outros pensariam. Queria que Blaise a tivesse desafiado a lhe beijar, diretamente, ao invés de entregar essa decisão às mãos cruéis do destino.
Draco se encontrou apreensivo. Seu coração batendo forte em seu peito, tanto que temia ser visível mesmo através de seu blazer. Seu corpo quente e agitadiço. Sua mente com um turbilhão de pensamentos confusos.
E ao olhar os longos cabelos dela, desejava poder passar suas mãos por eles. Queria poder tatear todas as curvas de sua silhueta, sentir a textura aveludada daquele mini-vestido e das coxas dela.
A garrafa continuava girando, talvez não parasse nele.
Não suportaria vê-la beijar qualquer outro agora. Tinha que ser ele.
Que se dane a discrição, que se foda o jogo e o que pensariam. Que vá para o inferno toda Hogwarts. Precisava aliviar aquela tensão.
mantinha os olhos fechados, mais uma vez. Apreensiva demais para pensar nas consequências daquele resultado.
A garrafa parou.
Mas quando ela abriu os olhos, descobriu que na verdade, tinha sido parada.
Seus olhos fizeram caminho desde a mão que a segurava na mesa, o anel de cobra em um dos dedos, a manga de blazer com uma abotoadura gravada com um monograma da família puro-sangue.
Draco Malfoy segurava a garrafa com a tampa apontada para si mesmo. E tudo o que ela queria era queimar sob o gosto daquele whisky de fogo que ele vinha tomando durante toda a festa.
— Não pode fazer isso! – Ron acusou. – Não é assim que se joga!
Fred e George se entreolharam, sem saber o que aconteceria. parecia em transe.
Blaise observava, um sorriso orgulhoso. Finalmente Draco tomara atitude. Esperava que ao menos terminasse a noite menos rabugento.
encontrou os olhos de Draco.
— , gire de novo. Ele não pode fazer isso! – Ron seguia inconformado.
A menina suspirou, sem nunca cortar o contato visual com Malfoy.
— Ele pode, sim. – Disse simplesmente.
Draco sorriu, verdadeiramente pela primeira vez. Suas pupilas cinzas e claras estavam dilatadas e podia ver que ele queria tanto aquilo quanto ela.
Instintivamente, os dois se levantaram ao mesmo tempo. Ele deu dois passos até alcança-la.
Segurou o pescoço dela com sua mão direita, fechando os olhos e sentindo a pulsação da garota acelerar quando uniu seus lábios. Com a mão esquerda, Draco imprimia um pouco de força sobre a cintura de , a trazendo para mais perto de seu corpo. Ele tinha urgência em senti-la, absorvê-la o máximo que pudesse.
Ela tinha as mãos sobre o peito dele, segurando as lapelas de seu blazer.
Por um momento, ele cortou o selinho.
— Preciso que me avise se eu cruzar alguma barreira. – Sussurrou, para o que a menina, sem fala, apenas concordou com um aceno rápido de cabeça.
Então ele pressionou um pouco mais o pescoço dela, arrancando um suspiro de sua garganta. Sabia bem como fazer aquilo corretamente, sem machucá-la. Tornou a encontrar seus lábios, dessa vez aprofundando o beijo para além de um simples selinho.
Quando suas línguas se encontraram, ela pôde sentir o gosto de todo aquele whisky que Draco ingeriu. Nunca tinha provado nada alcoólico, mas provar através dele deixava as coisas ainda mais excitantes. Subiu suas mãos para as laterais do rosto de Malfoy, segurando-o perto e acariciando suas bochechas, sentindo os ossos de seu maxilar bem delineado.
Ele foi descendo sua mão da cintura para a lateral da coxa de , respeitosamente tomando cuidado para não encostar em nenhuma parte tão inapropriada. Com a palma quente de sua mão, finalmente pôde realizar seu desejo infame de apertar a coxa dela, mesmo que o fizesse por cima do tecido do vestido, afim de não a constranger.
Mas sorriu no meio do beijo, o cortando de repente.
Nunca havia feito nada assim, ainda mais em público, como se encontravam. Podia sentir a vergonha corroendo seus ossos, por mais que quisesse continuar o beijando até que sua energia se esgotasse.
Ela se afastou meio passo para longe de Malfoy, apanhando a mão que há pouco estava em torno de seu pescoço.
— Eu fiz algo errado? – Draco perguntou um pouco ofegante, meio preocupado em ter ido longe demais.
— Não, foi melhor do que eu poderia ter imaginado.
E então ela sorriu. Da mesma forma como sorrira antes de cortar o beijo.
De certo que aquele momento ficaria gravado na mente do garoto e o atormentaria dali em diante. O sorriso nos lábios enquanto o deixava frustrado com gostinho de quero-mais. Merlin! tinha mais poder sobre Draco Malfoy do que ele havia antecipado.
Foi quando ambos pareceram se dar conta de que não viviam uma realidade paralela compartilhada apenas pelos dois: ao seu redor, Rony enfurecido batia boca com Blaise, George tentava argumentar no meio dos dois, Fred lançava um joinha com uma cara maliciosa e orgulhosa para , e além de tudo, um grupo de uns 7 alunos de diversas casas se juntava perto deles com burburinhos de “Malfoy beijou uma mestiça” “Traidor de sangue” “interesseira” e outros.
Era certo que pela manhã não haveria uma só alma que não soubesse do ocorrido. Mas Draco não queria estragar seu momento com aquilo.
— Vocês não tem mais o que fazer, não?! – Falou alto, recriminando a todos que se mantinham ali pela fofoca, que logo se dispersaram de novo pelo salão. – Malditos palhaços. Essa escola e toda sua gente é uma piada. Lido com eles amanhã.
E lá estava, o Draco que todos conheciam e desgostavam. sentiu de novo aquele estranhamento que a fazia ter receio de se aproximar do garoto, mesmo depois de um momento tão marcante e íntimo.
Sem que percebesse, ela cruzara os braços frente o próprio torço e fisicamente se distanciou dele um passo. Mas ele percebeu, ao voltar seu pescoço para olhá-la, que algo já estava diferente.
E ironicamente, Draco Malfoy, acostumado a mandar em criados e colegas desde que se entende por gente, não sabia o que fazer para tomar controle da situação.
Então ele apenas assistiu sumir pela Comunal após um nada convincente “vou pegar uma bebida”.
Rony se levantou em seguida, tentando alcança-la.
Malfoy se jogou mais uma vez ao sofá de couro, recostando seu cotovelo no braço do móvel e apoiando o queixo em seu punho. Quem não o conhecesse poderia até pensar que ele demonstrava algum tipo de emoção, arrependimento, mas, é claro que o herdeiro de Lucius não liga para nada além de si mesmo, certo?
A passos rápidos misturados à pouca luz, Rony acabou perdendo de vista no meio de todas aquelas pessoas, podendo apenas ouvir os comentários sobre ela e Malfoy se espalhando. E, infelizmente, nem um deles era gentil com sua amiga.
E era culpa de Draco. Sempre é culpa dele. Deveria ter impedido que a beijasse, tudo o que aquele garoto faz tem um propósito nefasto por trás.
Mas Rony não deixaria por isso mesmo. Não assistiria sentado enquanto ele destruía a reputação e o espírito de sua melhor amiga.
O grifinório seguia se esgueirando quase cegamente pelo meio das pessoas, buscando . Precisava saber se ela estava bem.
Mas acabou por encontrar outros rostos familiares: Harry e Ginny, regressando à festa com um ovo de acromântula nas mãos da mais nova.
Ginny tinha um corte na bochecha e o moletom de Harry estava rasgado no braço direito, expondo uma quantidade considerável de sangue, mas, apesar disto, ambos carregavam também sorrisos vitoriosos nos lábios.
Eles acenaram para Rony, que vinha em sua direção com uma feição que os preocupava.
Quando os encontrou, Ron despejou tudo de uma vez para os dois, metralhando-os com palavras e nervosismo.
— Harry, precisamos fazer algo! Ele trapaceou no jogo, obrigou ela a beijar na frente de todo mundo, estão todos falando mal dela, eu não consigo a encontrar!
— Ei! Calma, Ron! O que está acontecendo? – Harry pôs as mãos nos ombros do amigo.
— Quem fez o quê, Rony? – O sorriso aventureiro de Ginny fora substituído por um cenho franzido, confuso e meio preocupado.
— Malfoy! Ele segurou a garrafa para ter que o beijar, na frente de todos.
— Ele fez o quê?! – Harry aumentou o tom de voz, irritado. – Isso é baixo até para um imbecil como ele!
— Por que ele faria isso? E toda aquela baboseira de meio-sangues? – Ginny se sentia enojada, revoltada. – Ela não é boa o bastante para ser tratada como igual, mas para se aproveitar não tem problema, é?
Ginny grunhiu, enfurecida. Entregou o ovo para Harry com um pouco de brutalidade.
— Onde você vai? – Rony perguntou à irmã.
— Encontrar minha amiga. – Falou, já virando os calcanhares e saindo à procura.
Harry cerrou os olhos, entregando o ovo para Rony segurar.
— O que vamos fazer?
— Continuar jogando. – Harry respondeu, altivo, indo em direção à mesa.
Haveria sangue na água esta noite, cada nervo de Potter e Weasley era preenchido com uma raiva vermelha ardente.
Os dois caminharam depressa até seu destino. Encontraram os gêmeos constrangidos, recolhendo seus produtos e os alocando de volta na maleta.
— Fred, George, não guardem as coisas ainda. O jogo não acabou. – Harry disse, comandante.
Draco levantou apenas os olhos para encará-lo.
— O que quer, Potter?! – Perguntou, irritado, se levantando de supetão. Já não apreciava ter de conviver com ele normalmente, mas aquele definitivamente não era um bom momento para lhe provocar.
— Me divertir. É uma festa, não é? – Harry o encarou, seu tom sarcástico e provocativo. – Vai se acovardar, Malfoy?
Draco sorriu, balançando minimamente a cabeça, sem cortar o contato visual com Harry.
— Vai desejar não ter dito isso, Potter. – Olhou para os gêmeos, em seguida. – Vamos continuar.
Os dois se sentaram em sofás opostos, de frente um para o outro. Ron se sentou ao lado de Harry, colocando o ovo de acromântula debaixo da mesa; mas Blaise girou os olhos, pôs a mão no ombro de Draco, aproximou-se de seu ouvido e disse “estou fora, lide com suas merdas sozinho”.
Malfoy sentiu o rosto arder de raiva, no fim, sempre estava sozinho. Nunca pôde contar com ninguém mesmo. Suas amizades só duravam enquanto podiam tirar algum proveito dele.
— Cavalheiros. – Zabini se levantou e deu um aceno de cabeça para os que ficavam, retirando-se para aproveitar o que ainda restava da festa sem a energia pesada de Draco. Não tinha e menor paciência para se importar com aquelas rixas infantis.
— Gire logo a porra da garrafa. – Malfoy ordenou, ríspido, enquanto Harry o encarava com um ar de escárnio.
Rony mordeu a língua para não pegar logo sua varinha e lançar uma azaração nele. Em vez disso, tratou de se controlar e mover a garrafa.
E menos de dois segundos depois, Harry a segurou, num movimento brusco que fez Draco vacilar.
— O que está fazendo?! – Perguntou, num tom alto e irritadiço.
— Soube que as regras mudaram por aqui. – Potter o afrontava, mas Draco sequer conseguiu responder a altura. – Verdade ou desafio?
— Des... – Draco começou a dizer, mas Harry o cortou.
— Adivinha só? Eu não ligo. Se você pode escolher por ela, eu também vou escolher por você. Vai ser verdade.
Draco apenas pressionou o maxilar, pressionando os próprios dentes.
— O que você quer com ela? Fez tudo isso só pra humilhar nossa amiga? – Harry falava, com um olhar ameaçador, projetando o corpo para frente. – É isso que você faz, não é? Gosta de humilhar todos que não são “sangues puros”. – fez aspas com as mãos. – Responda!
Rony e os gêmeos encaravam a cena, sem interferir.
Draco, que sempre tinha uma resposta na ponta da língua, dessa vez não sabia o que dizer. Beijar fora a coisa mais espontânea e sincera que fizera em muito tempo. Não havia nenhum propósito maldoso por trás daquilo, pelo contrário, fora apenas um momento de respiro e frescor no meio de tanta merda que está tendo de lidar ultimemente.
Aquilo não tinha a ver com os planos de sua família, não tinha relação com a marca em seu braço, de fato, ia contra tudo isso. Mas ele ainda o fez. Fez porque queria, muito, e achou que tinha o direito de se permitir viver um marco adolescente normal.
Mas é claro que questionariam suas intenções, afinal, o que um monstro como ele poderia querer com uma garota gentil e boa?
— Isso não é da sua conta, Potter. – Respondeu, com os dentes cerrados.
— Não é da minha conta? – Harry molhou os lábios com a língua. – Tudo bem. Então aí vai uma mais fácil, basta dizer sim ou não. – mantinha sua atitude intrépida e valente, enquanto Draco tentava não se recolher em seu assento. – É verdade que se tornou um comensal nas férias?
E com um simples frase, o coração de Draco acelerou tanto que poderia sair pela boca. Sua respiração se desregulou completamente, suas pernas gelaram.
— Harry! – O grifinório se virou, surpreso.
Atrás dele estavam , Ginny e Pansy. As duas primeiras ajudavam Parkinson, toda ensanguentada, a ficar de pé.
Draco aproveitou a deixa para se levantar, seus olhos assustados. Ele precisava sair dali, o mais depressa possível. Sentia que as paredes estavam se fechando e não conseguia respirar direito.
encarava Potter, chocada e em desaprovação.
— O que você fez?!
— Rony nos contou tudo. E sabemos que ele é um comensal, , já falamos sobre isso. – Harry se levantou, ficando de frente para as outras.
— George, o Nugá! Depressa! – Fred disse, correndo até Pansy.
George pegou o resto do doce e levou até a garota, fazendo o sangramento parar assim que ela o ingeriu.
— Temos que levá-la para Madame Pomfrey. – Afirmou, já a tomando em seus braços e saindo com o irmão ao encalço.
Ginny encarou Harry e Rony, uma feição indecifrável.
— Eu vou com eles. Para me certificar que Pansy fique bem. – Deu um meio sorriso sem nenhum humor na direção de , que a retribuiu com um aceno de cabeça.
Agora, estavam apenas os três melhores amigos, que vieram a festa sob a esperança de ter uma noite proveitosa e se divertirem.
Grande engano.
— Ronald te contou tudo, então, Harry? – Falou, séria.
— Sim, disse que Malfoy segurou a garrafa para você ser obrigada a beijá-lo. E depois você saiu humilhada enquanto todos espalhavam a história te criticando.
deu um sorriso de canto, incrédula, olhando para Rony por um microssegundo.
— E ele te contou que eu queria beijar o Draco?
Os olhos de Harry se arregalaram tanto quanto os de Rony, que abriu a boca, embasbacado.
— Você o quê? – Weasley verbalizou seu choque.
— E nós não sabemos – Enfatizou. - que ele é um comensal. Você tem suspeitas disso, Harry. Não tem como a gente ter certeza ainda.
— Qual é, ?! Não está falando sério, está? – Harry questionava.
— Como pode gostar dele? Ele odeia meio-sangues, ! Ele chamou Hermione de sangue-ruim, esqueceu? – Ron argumentava. – E por que você saiu correndo toda triste depois? O que eu deveria pensar?
sorriu de canto, com um sabor amargo. Aqueles eram os motivos pelos quais ela se sentia tão errada de tê-lo beijado, ou, pior ainda, de gostar dele. Por isso ela saiu depois do beijo, precisava tentar entender tudo. A resposta racional seria ignorar tudo isso e nunca ter se aproximado, mas não podia evitar sentir que havia algo mais naquele garoto, algo bom por debaixo de toda essa cortina obscura que o circunda.
— Vejo vocês depois. – Disse, meio baixo, sem encarar os olhares confusos dos amigos.
se retirou da comunal da sonserina, caminhando aflita pelos corredores de Hogwarts. Seu coração pesado, sua mente pesarosa.
O que ela devia fazer? Como deveria se posicionar quando seus princípios e tudo pelo que luta é confrontado pelos ideais da família Malfoy? Por anos, tentou fugir dessa atração que sentia, tentou ignorar até que passasse. Mas agora, ao fechar os olhos, todas as sensações voltavam. Os lábios dele contra os dela. A mão dele em sua cintura. O perfume dele em seu vestido.
Repetir em sua mente todas as coisas ruins que Draco fizera para seus amigos desde o primeiro ano não evitava a vontade inadequada que ela tinha de encontra-lo agora.
Isso tudo sem contar que, com seu dom sensitivo apurado pelas aulas de adivinhação, ela sabia que ele não era só o riquinho mimado e mal-humorado que se esforçava para parecer. Mas até isso começava a se questionar, até onde esse crush a estava tirando seu bom senso?
Sentia a brisa fria do pátio adentrar pelo pórtico do corredor e bater em seus ombros descobertos. E, por um diminuto acaso, um pequenino objeto no chão tomou sua atenção, frente à entrada do banheiro da Murta Que Geme.
se abaixou, apanhando-o e o observando mais de perto.
Era um minúsculo broche prateado, no formato de uma cobra. Tal qual aquele que ele costuma usar em suas gravatas.
Seria possível?
Franziu o cenho, levantando-se com o acessório guardado dentro da palma de sua mão, adentrando o banheiro sem tempo de se auto confrontar e não o fazer, não o procurar mais.
Com passos leves, caminhou para dentro do cômodo, os saltos de suas botas ecoando pelo lugar.
Malfoy chorava com as mãos apoiadas na pia e a cabeça baixa. Estava tendo mais um daqueles ataques de ansiedade. Desde que aquela marca fora posta em seu braço não se passa mais que dois dias sem ter um desses.
Mas a prática não garante o controle. Ainda não sabia o que fazer para se acalmar. Então, frequentemente, ele corria até o banheiro da Murta, sabendo que estaria sozinho ali.
seguia se aproximando devagar, andando cautelosamente pelo pequeno hall com uma parede que separava as cabines da porta, para que não ficassem à vista do corredor. Escutava alguém chorando, mas poderia ser qualquer um, não queria ser invasiva.
— Não vai assustá-lo, vai? – estremeceu, pondo a mão no peito. Era Murta, surgindo direto do chão sem qualquer aviso.
— Murta! – Sussurrou. – Quase me mata!
A menina fantasma sorriu, por detrás de suas maria-chiquinhas e óculos redondos. Antes de morrer, pertencia a e, por algum motivo, acabou caindo nas graças dela; mantinham uma relação bastante amigável.
— Quem está aí, Murta? – perguntou, ainda sussurrando.
— O menino da sonserina. Ele vem muito aqui para chorar. Eu até paro o meu próprio choro para tentar ajuda-lo às vezes. – Deu de ombros.
— Que menino é esse? – questionou, mas Murta apenas curvou os lábios num arco para baixo.
Não podia ser, podia?
— Vai falar com ele? – A fantasma perguntou, com um sorriso um pouco malicioso.
— Pode nos dar um momento sozinhos? – Pediu, com o tom mais doce que conseguiu.
— Eu moro aqui!
— Por favor? – Insistiu.
Murta grunhiu, ascendendo flutuando e sumindo pelo teto do banheiro.
continuou seu caminho, finalmente passando para a área das cabines.
Draco escutou o barulho dos saltos dela, virando-se com sua varinha em mãos e em posição de ataque.
— Quem está aí?! – Fez-se ouvir, com a voz e as mãos trêmulas.
— Draco? – se revelou, finalmente o vendo.
Era realmente ele. Chorando, sozinho. Sua gravata e blazer jogados ao chão.
E segundo Murta, aquilo era recorrente.
— Draco, sou eu! – Seguia se aproximando, devagar, com uma mão erguida.
Ele não baixou a varinha.
— Que faz aqui, ?!
— Eu achei isto. – Estendeu a mão na direção dele, mostrando o broche. – Pensei que poderia estar aqui, então vim. – Tentou encarar os olhos de Draco, mas ele desviava sua vista para qualquer outra coisa. - Pode baixar a varinha?
Draco olhou para a própria mão, trêmula, mas em posição ofensiva, apontada para ela. Piscou freneticamente umas três vezes, baixou o braço.
Ele tentava puxar ar, mas tinha dificuldade. O mundo parecia correr à 500km/h enquanto ele ficava parado.
Olhava para o chão, para as paredes, não parecia encontrar foco.
— Draco. – o chamou, inutilmente. – Draco! – Aumentou um pouco o tom, chamando sua atenção.
Ele a encarou, assustado, oscilante, ofegante. As bochechas molhadas de lágrimas.
jamais imaginaria vê-lo naquele estado.
— Eu posso me aproximar? – Perguntou, sua voz clara e calma.
Draco tentou racionalizar o que estava acontecendo, mas não conseguia. Sentia uma onda de energia pesada percorrer sua cabeça até seus pés, forçando-o para o chão.
— S-sim. – Disse.
se aproximou, devagar.
— Eu posso te tocar? – Pediu permissão.
Draco só pôde a encarar e mover a cabeça num movimento curto e rápido, sinalizando um sim.
E então, rapidamente contornou seus braços por ele, encaixando seu queixo na curva dos ombros de Malfoy.
E, no calor do corpo dela, ele desmoronou.
O choro se intensificou, ele largou a varinha de uma vez, o som da madeira colidindo com o piso ecoou. Ele a abraçou de volta.
fechou os olhos, sentindo toda a angustia dos soluçares de Draco em seus ombros.
E ela o segurou, o confortou.
Ficaram naquele abraço por algum tempo, sem que nenhum dos dois sentisse que deveria se afastar.
Draco podia ser herdeiro de uma das maiores fortunas do mundo bruxo, mas afeto físico sempre fora uma carência em sua casa. E, até agora, nunca soube o quanto aquilo lhe fez falta.
Em algum ponto, sentaram ao chão, ele com as costas apoiadas na parede da pia e ela a sua frente, segurando sua mão e o instruindo em exercícios de respiração.
Até que finalmente tudo se acalmou.
E, por incrível que pareça, ele apoiava a cabeça no ombro de , enquanto ela massageava gentilmente seus cabelos prateados.
Eles não conversaram muito, ficaram só ali no silencio da companhia um do outro, cada um cheio de questões na própria cabeça e coração.
Havia algo acontecendo entre eles, era inegável. Ambos sentiam algo nunca sentido antes, um tipo de conexão, de paz, como se não houvesse nada mais certo que estarem juntos.
Mas, quando se lembravam do mundo lá fora, ambos tinham seus motivos para saber que não deveriam, jamais, estarem juntos.
Os primeiros raios de sol da manhã começavam a penetrar os vitrais das janelas altas do banheiro, encontrando a parede na frente deles. Ouviam passarinhos lá fora.
— Acho que está na hora de irmos. – falou, baixinho, ainda mexendo nos cabelos dele.
Permitiu-se sorrir com aquilo. Nunca em um milhão de anos se imaginaria fazendo cafuné em Draco Malfoy, chegava a ser engraçado. Se dissessem a ela uma semana atrás que isso aconteceria, ela riria na cara da pessoa.
Mas com a luz do dia, a lucidez parecia retornar à mente de Draco. Não podia continuar fingindo que é apenas um adolescente normal, não podia ignorar por mais muito tempo a missão que fora dada a ele, ou o próprio Lorde das Trevas o viria cobrar as consequências.
Céus, imagine o que aconteceria à se fosse envolvida nisso? Não podia fazer isso com ela.
Há algum tempo se sentia atraído por , mas, depois de uma única noite, ele sabia que era mais do que isso.
Gostava dela. Gostava muito.
, a meio-sangue, não devia ser tratada como igual, mas por um motivo diferente do que a política de sangue pregava. Ela devia ser tratada com diferença porque era melhor que qualquer outra pessoa que já conhecera. Ele se importava com ela. E sentia que ela se importava com ele, o que era raro.
E por se importar é que ele não podia a envolver em sua vida, sendo agora um comensal da morte.
— Assim que passarmos por aquela porta, nada disso aconteceu. – Draco ordenou, recolhendo sua gravata do chão e se levantando, amarrando-a frente ao espelho.
O coração de perdeu uma batida, sentiu seu peito gelar. O que ele estava dizendo?
— Tá falando sério? – Levantou-se também, encarando os olhos dele pelo espelho.
— Sabe que isso entre nós não pode acontecer.
sorriu incrédula.
— Ah é? E por que, Draco? – Sua voz ameaçava embargar com o nó que se formava em sua garganta.
Aquilo não podia estar acontecendo. Ela o ofereceu compaixão e solidariedade, sem nenhuma segunda intenção, por mais que tivesse sentimentos por ele, não fora por isso que o confortara. E ele a estava fazendo sentir que aquilo tudo foi errado, como se fosse algo sujo.
— Você sabe o porquê. – Disse em seu típico tom blasé. – As pessoas comentam. Você viu o que aconteceu ontem depois que te beijei.
— Eu não poderia me importar menos pro que as pessoas dizem por ai, Malfoy. Eu quero ouvir você dizer, com todas as letras.
Ela o encarava, mantendo sua postura brava que ninguém poderia intimidar. Mesmo que por dentro estivesse se quebrando de cinco formas diferentes.
Draco suspirou, pondo todo o ar de seus pulmões para fora. Tomando toda a força que tinha em seu corpo, virou-se, encarando-a olho no olho.
— Você e eu somos diferentes, .
Ele viu os olhos dela brilharem cheios de lagrimas, por mais que mantivesse uma atitude inabalável.
Naquele segundo, não havia nada que Draco Malfoy quisesse mais do que . Queria a tomar em seus braços e agradecer por tê-lo ajudado sem nem pensar duas vezes. Queria se desculpar por toda essa merda que estava falando. Queria beijá-la e novo. Ele a queria tanto que chegava a doer seu peito fisicamente.
E era exatamente por isso que precisava protege-la de seu mundo.
— Fala, Malfoy. Eu quero ouvir você falando. – Ela insistia, enfurecida sem jamais aumentar o volume de sua voz.
Ele respirou fundo. Estava certo de que nem acreditava mais naquilo e, honestamente, sentia-se mal por todas as vezes que dissera algo ou agira dentro daquela linha.
Mas já estava envolvido demais na guerra bruxa que estava por vir para simplesmente sair limpo e recomeçar. Ele era o escolhido de Voldemort. Precisava compensar os erros que seu pai cometera ou acabaria morto.
Então, tomou coragem e disse, de uma vez:
— Não posso me envolver com uma sujeitinha de sangue-ruim como você.
o olhou incrédula por um segundo, soltando o ar pela boca num pequeno riso sádico e cáustico.
— Todos estavam certos sobre você. – Falou, olhando bem dentro das pupilas cinzas gélidas dele. – Mas não se preocupe. Isso – enfatizou. – entre nós não sairá daqui, porque não era absolutamente nada. Eu só estava ajudando alguém em crise.
deu as costas, caminhando com pressa para fora do banheiro, tentando não chorar.
Não importa o quanto tenha se humilhado no jogo da garrafa ontem, nenhum jogo era mais perdido e lastimável do que gostar de Draco Malfoy.
Mas, ultimamente, aquelas palavras tinham um gosto diferente quando cruzavam seus lábios.
Era seu sexto ano na estimada Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, e as coisas em casa não eram nem perto de ideais. Uma nova guerra se aproximava, sua família no meio de tudo. E o preço de seu berço de ouro se tornava cada vez mais alto.
Seu pai, Lucius Malfoy, em Azkaban. Ele e sua mãe, Narcisa, estampando a primeira página do Profeta Diário, humilhados, seu nome jogado à lama. E o Império de sangues puros recaía sobre as costas do príncipe de cabelos platinados, com apenas dezesseis anos.
Era sábado, o primeiro desde a volta às aulas após o recesso. Como de costume, a Sonserina estava sediando uma festa de “boas-vindas”, uma desculpa patética para que as imensas janelas que davam para o Lago Negro se tornassem uma vitrine para todo tipo de depravação. Sorte que a lula gigante não tem para quem delatar.
Sentia a fumaça espessa adentrar suas narinas assim que deu os primeiros passos pela Comunal. A música alta e os sons da aglomeração de alunos não ultrapassavam as masmorras, graças a uma excelente execução do feitiço abaffiato – um dos mais utilizados pelos alunos, nunca por motivos nobres.
Malfoy não poderia estar menos no clima para aquilo tudo, mas ainda era o príncipe da Sonserina. Sua presença era obrigatória, a menos que quisesse que todos aqueles imprestáveis pensassem que ele estivesse admitindo derrota; não, a humilhação nunca lhe caiu bem, não combinava com seus ternos pretos sob medida. Por pior que se sentisse, ainda devia agir como o melhor no recinto.
— Draco! – Ouviu Pansy Parkinson lhe chamar, sentada no colo de Blaise Zabini. – Achei que não viria. Onde estava?
Malfoy se aproximou daqueles que se denominavam seus amigos, mas que ele mesmo não sabia se os definiria assim. Tomou seu lugar ao centro do sofá de couro preto, sentando-se e se servindo uma dose de firewhisky da garrafa que descansava na mesa de centro logo à frente.
— Por incrível que pareça, Pansy, eu não lhe devo satisfações. – Disse com um décimo de desdém em sua voz.
Blaise deu uma risada, zombando de Pansy, que não levou muito bem.
— Whisky de fogo num copo plástico, quanta classe. Qual dos dois organizou esta festa de quinta? – Draco seguiu tecendo seus comentários casualmente cruéis sob um tom imparcial.
— Quem você acha? – Blaise disse, satírico. – Se fosse por ela teríamos só aquela droga de hidromel e cervejas amanteigadas.
Era isso, a última gota d’água que Pansy engoliria daquela dupla de tontos por agora. A garota de cabelos curtos e negros se levantou do colo de Zabini, revirou os olhos e se enfiou no meio da multidão que dançava próximo aos vitrais.
— Honestamente, Blaise, não se cansa disso? – Draco perguntou, observando a morena se distanciar.
— Não. – Respondeu, com um sorriso sacana cortando os lábios. – E acho que você também deveria aproveitar.
Malfoy franziu as sobrancelhas, olhando para Zabini com estranhamento.
— Pansy? Não, obrigado. - deu um gole de sua bebida.
— Não, Draco. Estou falando sobre garotas, de preferência alguma que eu não esteja pegando. Você precisa liberar essa tensão. – Blaise deu dois tapinhas no ombro do amigo. – Beijar alguém uma vez na vida não vai acabar com sua reputação de rico intangível e solitário. – Brincou.
Mas a piada não fora apreciada por Malfoy, que apenas lhe lançou um olhar em reprovação.
Beijar, com tantas coisas o perturbando em sua mente essa não era, nem de longe, uma de suas preocupações.
Certo que tinha dezesseis e podia perceber o apelo que seus colegas tinham por contato físico, mas ele não. Tinha mais o que fazer. Não tinha tempo para estas besteiras da puberdade, não quando quase sentia a marca negra pulsar por debaixo da manga de sua camisa. E muito menos quando a única garota que lhe despertava tais urgências era uma mestiça da , ainda por cima, com quem foi obrigado a fazer dupla na aula de poções e, fora isso, não trocava uma palavra.
Tratou de engolir logo vários goles de uma vez de seu firewhisky, tentando esquecer tais pensamentos.
Mas, assim que virou o copo, sua vista encontrou silhuetas extremamente familiares à entrada da Comunal. Sentiu seu coração pular uma batida, e preferiria estar morto antes que alguém percebesse.
Era ela, a mestiça. E como se não bastasse a impureza de seu sangue, ainda fazia questão de se cercar das piores companhias: grifinórios, mais especificamente, Weasleys, quatro deles de uma única vez.
— Estão deixando qualquer um entrar, agora? – Falou para Blaise, sem mover o foco de sua visão por sequer um milímetro.
— Sei que você não é fan, mas Fred e George sempre sabem como animar as coisas. – Sorriu de canto.
Do outro lado do salão, os recém-chegados se ambientavam: Ginny, George, Fred, Ron e sua amiga , uma garota da de cabelos longos e pernas também longilíneas, particularmente bem delineadas esta noite graças a seu vestido slipdress curto, preto e de veludo, acompanhado apenas por uma meia calça, também preta.
Os três primeiros não encontravam o menor problema em se misturar na festa, mas e Ron pareciam ainda tentar se decidir se deveriam estar a qualquer lugar perto das masmorras esta noite; apesar de haver gente de todas as casas ali, não eram as pessoas com quem eles costumavam interagir, tratava-se de um grupo seleto de jovens descolados e obviamente mais libertinos que eles. Mantinham semblantes meio assustados enquanto o barulho dos pequenos saltos das botinhas brancas de se perdia meio à musica no salão.
Ronald não escondia de ninguém seu desapreço por sonserinos, mas seus irmãos eram bem melhor sucedidos no campo social; queria ao menos tentar ser como eles. Convenceu então dois de seus três melhores amigos a acompanharem a presepada: Harry e . Hermione se recusou veementemente, por mais que ele e insistissem, ela era irredutível.
— Ron, a gente precisa mesmo fazer isso? – entrelaçava seu braço no de Ronald, acariciando a maciez do tricô do suéter vermelho que ele vestia, muito provavelmente feito por sua mãe.
— Fred e George disseram que vai ser legal, e acho que logo o Harry chega. – Tentou convencer a amiga enquanto ambos observavam o ambiente, mas no fundo ele tentava se convencer também.
— Ei, vocês dois! Desmanchem essa cara de espanto. – George disse, lançando a eles um sorriso maroto.
— É, vão pensar que vocês nunca foram a uma festa! – Completou Fred. – O que é verdade, mas ninguém aqui precisa descobrir.
Os gêmeos usavam ternos em jacquard estampado, um estava de verde e outro de laranja. Fred carregava uma maleta das Gemialidades Weasley, em couro marrom.
— Calem a boca, vocês nem estudam mais aqui! – Reclamou Ron.
— E ainda seguimos recebendo convites. – Disse Fred. – Sem nós vocês nem teriam entrado.
— Não podemos evitar ser tão populares. – George deu de ombros.
— Até parece, só chamaram vocês pelos produtos. – Ginny sorriu, implicando. – Mas vocês realmente precisam relaxar. – Apontou para a dupla de amigos de ombros tensos e braços enlaçados como se tivessem medo de se perder.
— Fácil pra ela falar. – Disse , observando a Weasley mais nova seguir a passos alegres para o meio do círculo de dança, balançando o godê de seu vestido verde esmeralda com bordados de arabescos na cor mostarda, seus cabelos ruivos flutuando no ritmo da música e iluminados pela luz estroboscópica verde ocasional.
E enquanto via Ginny dançar, seus olhos ousaram percorrer um caminho um pouco mais distante, encontrando àquelas outras pupilas acinzentadas que já a fitavam perto da lareira. Ela se virou para Ron de imediato.
— O que foi? – Ele perguntou.
— Vamos procurar comida? – Sugeriu.
Ron prontamente concordou, então começaram a perambular pela Comunal, em busca.
Precisava fugir do campo de vista de Malfoy o mais rápido possível, e sequer sabia o porquê. Mas toda vez que o encontrava pelos corredores de Hogwarts, suas pernas bambeavam e seu estômago faltava sair pela boca. Tudo só piorou quando Slughorn colocou os dois juntos como dupla de atividades na aula de poções.
Ela não podia evitar, como , era parte de sua natureza se interessar pelo que lhe intriga, pelos mistérios que ainda não pôde desvendar e pelo que os outros possam achar estranho, como o reservado, solitário e cruel príncipe da sonserina.
já nutria uma quedinha pelas madeixas prateadas pelo menos desde o quarto ano, mas jamais admitiu para nenhuma alma viva – ou morta – em Hogwarts. Era mais complicado que isso, com a reputação e a moral questionável da família Malfoy, não poderia se aproximar do garoto sem temer ser chamada de sangue-ruim ou coisas piores. Ficava aterrorizada por sentir o que sentia, logo por Draco Malfoy.
E em nada ajudou a forma cordial e gentil com que ele a trata nas aulas de poções. De fato, Draco nunca lhe deferiu sequer uma palavra ofensiva, muito pelo contrário. Ele a ajudava com tudo o que ela precisava nos exercícios, oferecia-se para triturar os ingredientes que não tinha força, emprestou-lhe suas anotações, e, ontem mesmo, suas mãos se tocaram quando ele lhe entregava um frasco de pó de chifre de bicórnio. Ele não disse nada, mas , a melhor aluna de Trelawney, pôde captar alguns dos sentimentos dele.
Não sabia o que Malfoy escondia, mas sabia que ele carregava muita dor. E sabia também que nada de negativo no coração daquele garoto era direcionado a ela.
Mesmo assim, não tinha ideia do que fazer com os próprios sentimentos. Muito menos se Ron os descobrisse. Céus, ele e Harry odiavam Draco e faziam sempre questão de frisar o quanto.
— Finalmente! – Ron exclamou, desenlaçando o braço de do seu e pondo logo as mãos nos doces da Dedos de Mel, dispostos numa mesa longa perto da entrada dos dormitórios.
tentou afastar seus pensamentos, pegando um quadrado cor de rosa de sorvete de coco. Não estava no clima para qualquer outro dos doces malucos que tanto a divertiam em dias normais.
— Sabia que encontraria vocês aqui! – Escutou o timbre famíliar soar por suas costas.
se virou para encontrar seu amigo Harry Potter, todo vestido com calças jeans e um moletom preto, cabelos meio bagunçados e um sorriso contente no rosto.
— Harry! – Ela o abraçou, prontamente.
— Hermione não vem mesmo? – Ron perguntou, as bochechas inchadas cheias de doces.
— Lamento, fiz o que pude, mas ela não quis nem pensar a respeito. – Potter respondeu, assim que o soltara.
— E o que vamos fazer aqui sem ela a noite toda? Não podemos mesmo ir embora? – choramingava.
— Qual é, pode ser divertido! – Harry encorajava. – Por que não procuramos Fred e George?
Os outros deram de ombros, saindo novamente pelo recinto, mas não antes que Ron pudesse colocar alguns bombons e feijõezinhos de todos os sabores nos bolsos de suas calças. e Harry riram, sem o repreender, pois sabiam bem que terminariam a noite dividindo os doces com ele.
Mas, ao invés de encontrar os gêmeos, acabaram se metendo no meio do grupo que dançava, esbarrando com Ginny.
— Até que enfim! – A ruiva disse, com um imenso sorriso, puxando e Harry pelo pulso para dançarem também.
Com exceção de Ginny, não eram bons em dança; mas começou a pular ao ritmo da música, o que incentivou Harry a fazer o mesmo.
Rony encarou o grupo, emburrado. então o puxou para mais perto, segurando sua mão e seguindo seus pulinhos desengonçados.
Rony não cedeu com facilidade, mas logo já estava gargalhando. Os quatro se divertiam, sem se importar com quem os estava vendo, como se o mundo fosse só deles – o que facilitou a se sentir confortável o suficiente para começar a mover seus quadris lentamente, como fazia quando dançava sozinha em seu quarto.
Mas havia gente vendo. Um deles bem de perto, seu melhor amigo Ron Weasley, que há algumas semanas começava a se perguntar se amigos sentiam o que ele sentia quando via com roupas como aquele vestido revelador que usava hoje; o outro mais distante, o sonserino ainda sentado ao sofá com a cabeça fervendo.
Draco já estava na terceira dose de whisky de fogo quando ela voltou para seu campo de visão. E, por mais que tentasse, não conseguia afastar de sua mente as palavras de Blaise.
“Você precisa liberar essa tensão.” - É, talvez Zabini estivesse certo no fim das contas, pois metade da preocupação de Draco com sua missão, dada diretamente pelo Lorde das Trevas, parecia se esvanecer com os movimentos de vai e vem hipnóticos dos quadris daquela .
Mas o que ele poderia fazer? Não sabia como se aproximar. Não sabia ao menos se deveria se aproximar.
A marca em seu braço afirmava que ele só deveria se misturar com quem tivesse seu mesmo status sanguíneo. Mas, talvez, só talvez, ele merecesse deixar isso para amanhã e esquecer por hoje tudo que seu pai tão insistentemente lhe doutrinava desde que nasceu.
A verdade é que há algum tempo percebia que nada daquilo lhe fazia muito sentido, mas não podia decepcionar seu pai, quanto mais agora. Precisava tomar a liderança da família.
Ao mesmo tempo, observando ela se divertir junto daqueles que mais odiava, podia reconhecer algum tipo insano de... Inveja? Mais uma vez, Potter tinha o que ele cobiçava: a leveza da juventude, o direito de aproveitar com seus amigos, e a companhia de seu mais recente objeto de desejo - .
E tudo isso, toda a indecisão e os paradoxos e antíteses que sentia naquele momento, só aumentava a tensão nos ombros de Draco, ficando cada vez mais insustentável.
A música ganhava um ritmo ainda mais acelerado, sentia seu corpo esquentar.
Jogou o copo de plástico vermelho que usava direto nas chamas da lareira, ao lado do sofá, causando um reboliço repentino e voraz nas chamas.
— Blaise! – Falou, impulsivo, observando o amigo afastar o rosto de Pansy (que há pouco havia voltado e já se agarravam de novo) do próprio, todo borrado de batom. – Preciso de um favor.
(...)
Após alguns minutos na pista, Harry e Ginny haviam saído para procurar água ou algo semelhante para beber. e Ron ficaram para trás, ainda dançando.
A cabeça de Ron se enchia de confusões e ele não sabia muito bem como reagir. Era óbvio que ela estava lhe despertando algo além da amizade, mas não sabia o que fazer com isso. Então ele só ficava olhando para , com uma cara meio de pateta.
— Eles estão demorando. – A garota comentou, preocupada. – Melhor irmos atrás.
— , espera! – Ron tentou falar algo, mas ela já havia se virado e se encaminhava para fora da aglomeração.
Tudo o que Weasley pôde fazer foi seguir em seu encalço.
Menos de um minuto depois, ouviram algumas vozes se exaltarem mais a frente: os gêmeos.
— Vem, Rony! – Ela segurou a mão do amigo, arrastando-o até o grupo que se formava próximo à lareira.
Chegando lá, encontraram Ginny e Harry sentados no tapete sobre o chão em volta da mesa de centro, os gêmeos de pé explicando algo e, é claro, Draco Malfoy do lado oposto junto a alguns outros sonserinos.
— Irmãozinho, ! – Fred exclamou. – Bem na hora! Juntem-se ao jogo.
— Que jogo? – Ron perguntou, franzindo os lábios, claramente desgostoso em qualquer interação com Draco.
, por sua vez, sentiu o pulso acelerar. Mais observadora que o amigo, viu logo aquela garrafa vazia ao centro da mesa. Ah, mas de jeito nenhum!
— Venham logo! – Ginny se levantou, animada, puxando os dois pelas mãos e fazendo-os se sentarem ao seu lado no tapete, de forma que o círculo se intercalasse sempre com um menino e uma menina.
ao lado de Ron, depois Ginny, Harry na cabeceira da mesa, o espaço vazio onde os gêmeos estavam, seguido por Blaise, Pansy e Draco, quase à frente da primeira.
— Ginny, eu não... – tentou argumentar, mas logo fora interrompida.
— Então, as regras são as mesmas de sempre. Quando a garrafa parar, quem estiver na direção do fundo faz uma pergunta, para o que a pessoa apontada pela tampa poderá escolher verdade ou desafio. – Explicava George.
— Mas é claro que nós estamos aqui para dar um pequeno twist nessa velha brincadeira! Afinal de contas, viemos a trabalho! – Disse Fred, abrindo a maleta das gemialidades, revelando seu conteúdo. – A pessoa que escolher verdade deverá tomar um shot de veritasserum, vocês sabem, só para garantir. E quem quiser ousar nos desafios, temos também uma série de produtos que tornarão as coisas interessantes.
— Se alguém quiser sair esse é o momento. – George instigou.
abriu a boca, mas antes que pudesse falar algo, Fred girou a garrafa e exclamou:
— Sinto muito, agora ninguém mais pode desistir!
— Como se vocês tivessem alguma chance! – Os gêmeos riam.
estava muito desconfortável.
Draco se arrependia de ter pedido para Blaise fazer algo, aquilo era ridículo. Não era a melhor forma de se aproximar de alguém, certamente. E ele sequer sabia se sentia qualquer interesse por ele.
Mas a garrafa parou, tendo de cara a como alvo e Blaise como inquisidor.
Malfoy não demonstrava nada, mantendo sua fachada blasé de sempre, enquanto Zabini sorria de lado e lançava um olhar malandro audaz na direção de , que sentia o sangue subir para suas bochechas de imediato.
— , verdade ou desafio? – Perguntou num tom malicioso.
— Verdade. – falou, nervosa, sem parar para analisar as consequências disso.
— Ora, ora! Temos nosso primeiro shot de veritasserum! – Fred clamou, satisfeito.
— Muito bem, , aqui vai! – George retirou da maleta um pequeno frasquinho delicado com um líquido incolor.
ficou de joelhos e esticou o braço por cima dos amigos para alcançar a poção. Quando voltou a se acomodar, observou a garrafinha em suas mãos, do tamanho de seu polegar, com uma rolha minúscula, o rótulo com a logo da loja dos gêmeos e alguns penduricalhos amarrados à uma fita fininha no gargalo.
Sentiu os olhares curiosos de todos a acompanharem. Captou a expectativa no sorriso de Ginny, absorvendo o sentimento, apesar de receosa.
Retirou a rolha do frasquinho e o virou, engolindo logo todo o conteúdo e batendo o vidro do recipiente vazio na mesa. Não sentiu cheiro ou gosto de nada, era como se tivesse bebido água. Tinha suas dúvidas de que aquilo lhe faria algum efeito.
— Faça a pergunta! Faça a pergunta! – Ginny gesticulava para Blaise, animada.
— Você se sente atraída por alguém nesta mesa?
Draco cerrou os olhos, tinha medo da falta de sutileza de Zabini, mas também sentia sua garganta dar um nó enquanto não soubesse a resposta.
Os olhos de desviaram por um milésimo de segundo de Blaise para Draco, ao seu lado, mas torcia para ninguém ter percebido.
— Física ou emocionalmente? – Ouviu a própria voz saindo de sua boca, sem qualquer controle; o efeito da poção era rápido!
— Sexualmente. – Blaise disse.
— Sim. – respondeu, ouvindo imediatamente gritinhos, assovios e palmas do grupo. – Na verdade nem precisava especificar, eu me sinto atraída de todas as formas por essa mesma pessoa há anos. – Arregalou os olhos e tapou a própria boca com as duas mãos.
— Por Merlin, ! – Ginny gritou, rindo. – Eu que não vou escolher verdade!
E com aquela resposta, as dúvidas de Malfoy se tornavam menos inoportunas e a expectativa crescia em seu peito.
Mas ele não era o único. Ron indagava a quem ela poderia estar se referindo, imaginava que seria ele ou Harry, afinal, são muito próximos desde o primeiro ano. É claro que era um dos dois.
— Não se preocupe, . A poção só dura alguns minutos, fizemos essa versão especialmente para esse tipo de jogo. – Fred sorriu, cheio de si, encontrando os olhos apavorados da menina.
Era certo que depois desta noite as garrafinhas de veritasserum seriam mais um top de vendas da loja.
Mas antes que tivesse a chance de dizer mais alguma coisa incriminadora, tratou de girar logo a maldita garrafa.
Todos os olhares se viraram para o centro da mesa, alguns hesitantes, outros excitados com a adrenalina de ter seus maiores segredos em risco de serem revelados.
Quando a garrafa finalmente apontou suas próximas vítimas, eram Ron e Draco.
— Ótimo. – Malfoy girou os olhos.
Ron franziu o cenho, encarando o adversário.
— Verdade ou desafio, Malfoy? – O ruivo falou, impaciente.
Todos aguardavam ansiosos, mas Draco não demonstrava qualquer preocupação.
— Verdade. – Encarou Ron bem dentro dos olhos, lançando-lhe aquele seu levantar rápido de sobrancelhas patenteado.
Ron franziu o nariz, enojado.
— É verdade que usa água oxigenada no cabelo?
— Sério? - E mais uma vez, Draco girou os olhos, soltando o ar pelo nariz como uma pequena risada de escárnio.
Malfoy levantou a mão direita e olhou para os gêmeos, que lhe arremessaram uma garrafinha da poção da verdade, a qual pegou sem qualquer dificuldade.
observava cada movimento dele meio enfeitiçada. Algo sobre Draco estava especialmente magnético hoje; talvez a atitude despreocupada, a forma como ele falava com todos como se fosse muito mais maduro que qualquer outro ali, ou o rápido reflexo do apanhador da sonserina. Ela precisava se concentrar em dobro para não delatar a quedinha que sentia por Malfoy.
Draco tomou a poção em uma virada rápida, como alguém que tem experiência em jogos com bebidas.
— Escutem bem, pois sei que falam isso pelas minhas costas. – Deu um sorriso de canto, egocêntrico. – Esse boato é falso. E, honestamente, Weasley, tente algo mais interessante da próxima.
E enquanto mais burburinhos e risadas tomavam conta da mesa, o ar de superioridade de Draco fazia todos os músculos da face de Ron se enrijecerem. Não era bom em esconder o que sentia.
percebeu, pondo sua mão sobre a do amigo, próximo ao chão. Ron estranhou de início, mas correspondeu o gesto, olhando para ela agradecido e liberando a tensão de seus ombros.
Aquele pequeno e discreto ato afetuoso passara despercebido por todos, mas não por Draco, que dedicava especial atenção à esta noite. Por algum motivo, aquilo o incomodava, despertava certa irritação.
— Certo, vamos logo para o próximo! – falou, num tom alguns décimos mais alto, girando a garrafa com força e capturando de volta a atenção de todos.
Controlou e extinguiu um sorriso involuntário no canto de seus lábios ao ver que tinha funcionado, afastara a mão de Ron com o leve susto.
Assim que parou, a garrafa apontava agora para Harry e uma direção vazia, que entraram em acordo que estava mais próximo de .
Ambos sorriram, principalmente a menina, aliviada por saber que o amigo não lhe colocaria numa posição tão ruim quanto Blaise na última rodada.
— , verdade ou desafio? – Potter perguntou num tom divertido, se opondo a toda a tensão que havia sido aquele jogo até o momento.
E confiava o suficiente em Harry para escolher.
— Verdade. – Respondeu.
— Um veritasserum saindo! – George falou de forma meio musical, pegando mais um recipiente da maleta e esticando seu braço até .
— Merlin, espero que não tenha nenhum efeito colateral por sobre-dose disso! – encarou os gêmeos, sugestiva.
— Improvável. – Fred disse, rindo.
Ela ingeriu a poção, colocando o pote vazio sobre a mesa, ao lado do último que tomara.
— Pergunte, Harry! – fitou o amigo, um sorriso folgazão cruzando seus lábios.
— Hum, vejamos... – Harry tentava pensar em algo, mas não conseguiu nada. Decidiu então ir pelo mais clichê. – Com quem foi seu primeiro beijo?
Ginny riu, dando um tapinha no braço de Potter por estar pegando leve. E ao mesmo tempo, instantaneamente, Pansy e Blaise reclamaram.
— Por favor, não nos mate de tédio! Estamos pagando caro por cada frasquinho desses! – Zabinni gesticulava com as mãos.
Mas o que todos tomavam como uma pergunta simples e irrelevante, fazia o coração de bater mais rápido desde que saíra da boca de Harry. Suas bochechas esquentavam de vergonha.
— Eu preciso mesmo? – Mordeu o lábio inferior, nervosa.
Harry levantou uma das sobrancelhas, indagando o motivo daquela reação com a pergunta mais branda que pôde pensar.
— É o jogo, . Apenas responda logo para irmos pra próxima. – Pansy não tinha a menor paciência com grifinórios, mas corvinos a tiravam mais ainda do sério.
Aquele teatrinho de ingenuidade e pureza que todos eles pareciam se prestar não lhe descia.
respirou fundo, e falou, sem conseguir mais conter a urgência de revelar a verdade.
— Fred.
E simples assim, todos se viraram incrédulos para ela. Ron tinha os olhos arregalados e Harry chegou a deixar o queixo cair.
— O quê? Como-Quando? O quê?! – Ron tentava formular algo, disparando tudo de uma vez. – Beijou ela?! – Encarou o irmão, exasperado.
Fred apenas o ofereceu um sorriso amarelo e levantou as duas mãos próximo aos ombros.
— Como isso aconteceu?! – o Weasley mais novo seguia chocado e indignado.
— Tá bom, retiro o que disse. Isso valeu a pena. – Blaise comentou, rindo.
— Não é? A santinha até que tem um pouco de fibra. – Pansy teve de concordar. – Beijar o irmão do melhor amigo. Mandou bem, . – Levantou seu copo minimamente, como se dedicasse um brinde a colega.
— Como isso aconteceu?! – Ron ignorava a conversa paralela e reforçava sua pergunta.
— Desculpa, Ron. – franzia as sobrancelhas e as bochechas, numa feição encabulada. – Lembra quando passamos o natal com sua família no terceiro ano?
— Não! Não quero mais ouvir! – Arregalava ainda mais os olhos.
— Eu sinto muito, Ron. Eu tinha treze anos, ele era mais velho, você sabe que isso deixa os caras mais interessantes. – Ela simplesmente não conseguia segurar nada, de novo. Maldita poção. Maldita poção! – E honestamente, Ron, seus irmãos são muito bem-apessoados. E charmosos.
George não conseguia mais conter uma gargalhada, que se fez ouvir bem alta. Fred piscou só com um dos olhos e mandou um sorrisinho brincalhão para .
Ron encarou os irmãos incrédulo, de boca aberta.
— Desculpe, maninho. Foi só uma coisa de visco de natal.
— E foi só um selinho! – completou. – Mas foi um bom primeiro beijo, eu guardo a lembrança com carinho.
— ! – Ginny não podia se conter também.
— É, Fred, você provou do nosso próprio veneno sem nem estar jogando. Brilhante! – George dava alguns tapinhas nas costas no irmão.
— Desculpe, , eu não fazia ideia. – Harry ria também, suas sobrancelhas erguidas e um ar inocente. – Imagina a cara da Hermione quando souber o que perdeu. – Cochichou para Ginny, que apoiou a testa no ombro de Potter, ainda gargalhando.
— Meu próprio irmão, ?! – Ron choramingava. – Seria como Harry beijar a Ginny!
Ginny pigarreou, se recompondo. Não podiam entrar naquele assunto, não mesmo.
— Bom, já passou. Isso foi anos atrás, Rony. Supere. – Comandou. – E já rimos o bastante, vamos para a próxima logo!
sibilou um “obrigada” na direção de Ginny, tratando de girar a garrafa e seguir o jogo.
Durante toda a discussão, Draco não demonstrara nenhuma reação, tentou parecer desinteressado. De início ficara meio inconformado por ela ter beijado um Weasley, mas depois teve de mascarar um sorrisinho incontrolável tomando alguns goles de firewhisky ao descobrir esse lado meio egoísta de , um lado que não se importou com a opinião ou sentimentos de Rony quando quis beijar seu irmão mais velho. Ela não era tão pura e perfeita quanto ele pensava, e isso a tornava mais desejável.
E quando parou novamente, a garrafa havia escolhido Ginny e Pansy.
— Essa vai ser boa. – Blaise comentou malicioso, trocando um rápido olhar cumplice com Parkinson.
Ron, Harry e observavam Ginny receosos.
— Verdade ou desafio? – A garota de cabelos curtos e negros perguntou, com certa satisfação sádica.
Ginny a fitou de cima a baixo, um sorriso provocador nos lábios.
— Desafio.
— Está com medo, Weasley? – Pansy atentou.
— De forma nenhuma. Só quero ver o quão criativa você pode ser. Aproveite bem, será a única chance em toda sua vida de ter algum controle sobre mim.
E mais gritinhos e gargalhadas tomaram conta do grupo. Ginny conseguia com muita facilidade deixar Pansy nervosa.
— Então eu-eu te desafio a comer uma vomitilha! – A garota gaguejava.
— Sério? Confiei demais no seu potencial, erro meu.
— Não, eu quis dizer... Eu te desafio a ir até a Floresta Proibida e trazer um ovo de acromântula.
— O quê? – Ron se chocou.
— Ginny, você pode ser expulsa se fizer isso! – tentou argumentar, mas a ruiva não deixaria a sonserina vencer.
— Ou morrer! – Ron completou, com os olhos arregalados.
— Não se eu fizer direito. – Deu de ombros.
Todos pareciam meio embasbacados enquanto a ruiva se levantava e procurava seu casaco no encosto do sofá.
— Tem certeza disso, maninha? – George perguntou, consternado.
— Não vai dar em nada, acredite em mim. – Sorriu, confiante.
Mas Harry não poderia simplesmente deixar Ginny fazer aquilo sozinha. Sabia bem do poder da garota, mas nem em um milhão de anos deixaria que corresse aquele risco gratuito sem estar ao seu lado para a proteger e auxiliar.
— Eu vou com você. – Harry disse, também se levantando. – Para te dar cobertura.
Ginny sorriu, estendendo a mão para Potter. Ambos se afastando do grupo pelo meio da multidão, em direção à saída.
— Ótimo, vou perder meu melhor amigo e minha irmã no mesmo dia. E vocês disseram que seria divertido vir a esta festa. – Ron reclamou, assim que perdeu os dois de vista.
— A porta da rua é a serventia da casa, Weasle-Bee. Não é como se alguém te quisesse aqui. – Draco falou sem qualquer trepidação em seu tom.
— Ora, seu! – Rony se agitou, furioso, mas pôs a mão sobre o ombro dele, o segurando.
Malfoy finalmente desviou seu olhar desinteressado de seu copo para os dois do outro lado da mesa. Era difícil engolir a proximidade de com Weasley. Seu estômago parecia arder, mas nada relacionado ao whisky de fogo, aquilo era... ciúmes? Não, não poderia ser.
— Isso não é jeito de falar com a gente, Malfoy. – repreendeu, extremamente séria.
— Não foi com você. Sabe que tem meu respeito, . – Draco deu mais um gole em sua bebida, jamais tirando os olhos dela.
Era como se aquelas pupilas cinzentas e dilatadas penetrassem sua pele, a devorassem, ele a intimidava como ninguém mais conseguia.
Sentia o sangue fugir de seu rosto.
— Acontece que Ron é meu melhor amigo. Se você me respeita, deve respeitá-lo também.
Draco olhou para Weasley por cerca de dois segundos. Estalou os lábios.
— Não vai rolar.
As bochechas de Ron ficavam vermelhas de raiva, e, apesar de quererem muito ver até onde aquilo iria, os gêmeos sabiam que era hora de jogar panos quentes. Afinal, ainda estavam ali a negócios e tudo precisava dar certo.
— Olha só a hora! É vez da próxima rodada! – Fred falou.
— Tem razão, Fred. Vamos girar logo essa garrafa! – George complementou, se esticando até a mesa e espiralando o objeto.
Pelo menos por enquanto, surtira efeito. Tanto Ron quanto Malfoy desviaram suas atenções para o jogo.
Os irmãos se entreolharam, cúmplices e meio aliviados.
A nova dupla indicada tinha Ron como inquisidor e Pansy como alvo.
— Me dê seu pior, Weasley. – Parkinson sorriu de canto.
— Verdade ou desafio?
— Desafio. Estou a fim de algo mais animado do que ficar dando pano para manga nesse clubinho. – revirou os olhos.
Agora que Ginny saíra numa desventura perigosa, não poderia fazer menos. Apesar de gostar muito mais de ficar ali descobrindo segredos dos outros, tinha algo a provar, e se escondia detrás de um ar de superioridade.
— Tudo bem. – Ron deu de ombros. – Desafio você a roubar uma crisálida de Aqueronte do depósito do Snape.
— Fácil. – Contou vitória, é sabido que Snape não é tão rigoroso com sonserinos.
— Mas! – Ron frisou, ainda não havia terminado. – Vai fazer isso depois de comer um Nugá Sangra Nariz, só a parte laranja. Para aumentar um pouco a dificuldade. Quando voltar com a prenda, pode comer a parte roxa que vai curar o sangramento.
Fred e George sorriram, surpresos.
— Nosso menino cresceu! – Disse George, fingindo limpar uma lágrima do rosto.
— A forma como ele conhece nossos produtos, nunca estive tão orgulhoso! – Completou Fred.
—Ah, parem com isso! Ainda estou com raiva de vocês. – Rony estalou os lábios.
— Eu nem fiz nada! – Clamou George.
Pansy suspirou impaciente com a conversa deles.
— Passem logo o tal sangrador de nariz! – Levantou-se e estendeu a mão para os mais velhos.
Fred procurou pela maleta e entregou o doce bicolor para a garota.
— Use com cautela. – alertou, mas Pansy logo removeu a embalagem e comeu um pedaço gigantesco da parte laranja.
Tinha um sabor esquisito, mas não era ruim.
— Essa não... É melhor você correr. – George disse, observando a sonserina com uma feição preocupada.
— Eu duvido que isso vá... – Parkinson começou a falar, mas, de repente, sentiu um líquido quente escorrer de seu nariz.
Tocou a região acima de seus lábios com o dedo indicador, e quando o levou pouco mais a frente, para seu campo de visão, constatou que era mesmo sangue. E a quantidade aumentava depressa, temia que em alguns minutos começasse a jorrar sangue em jatos por suas narinas.
Arregalou os olhos meio amedrontada, mas não deixaria ninguém saber disso.
— Já estou indo. E é bom que o antídoto funcione! – Aumentou seu tom e virou os calcanhares, seguindo a passos largos e ligeiros pela multidão, com a mão esquerda cobrindo seu nariz e boca.
— Pobrezinha. – Blaise observou a partida da menina. – Enfim, o show deve continuar! – Estalou os lábios, girando a garrafa.
e Ron, com caretas não muito sutis, estranharam a falta de preocupação de Blaise com sua ficante. Mas não era da conta deles, afinal.
Com três participantes fora, havia muito espaço em volta da mesa. Cada um se afastou um pouco, realocando-se para que cobrissem uma área maior e a garrafa pudesse escolher alguém.
Mas, com apenas quatro jogando, era obvio que as escolhas seriam repetidas.
sentia o estômago gelar de nervosismo e, involuntariamente, cruzou os braços frente seu torço.
A garrafa girou, girou e girou.
Ela fechou os olhos, ouvindo o barulho do vidro sobre a madeira e desejando que parasse em qualquer outra pessoa.
Quando o som parou, ela abriu os olhos para encontrar o que mais temia.
— Ora, ora, ora! Parece que somos eu e você de novo, lindinha. – Blaise falava animado. – O que vai ser dessa vez?
As mãos de tremiam. Após duas rodadas absolutamente constrangedoras, ela já teve o suficiente de verdade pela noite – ou, quem sabe, para o resto da vida!
— Desafio. – Falou, com uma pontada de medo subindo por sua espinha como um arrepio.
Blaise deu uma risadinha leve. Olhou de canto para Malfoy. Aquilo era perfeito.
— Muito bem, . Só temos você de menina agora, e por ter beijado o cavalheiro ali, - apontou para Fred. – assumo que se interesse por rapazes. Então acredito que não terá problema.
— Ai meu Deus... – muxoxou, prevendo o que estava por vir.
Se Blaise estava colocando sua sexualidade em pauta, só podia ser uma coisa.
— Gire a garrafa mais uma vez. Você vai beijar quem ela apontar.
O estômago de dava voltas, quase sentia vontade vomitar. Todo o seu corpo parecia colapsar com o nervosismo, suas mãos e tronco tremiam ainda mais que antes.
Ela olhou de um para outro, dos três jogadores.
Podia acabar beijando Blaise Zabini, que podia ter um humor meio sádico e, por algum motivo, resolvera lhe pressionar essa noite para seu próprio divertimento. Contudo, não era nada feio. Na verdade, ele era o contrário de feio: alto, com seu físico definido e sorriso hipnotizante, qualquer colega de hogwarts iria querer estar em seu lugar agora. É claro que Pansy a mataria depois, mas para , Blaise era a opção mais segura, em vista dos outros dois.
Também podia acabar beijando Ron Weasley. Seu melhor amigo, de fato, seu primeiro amigo em Hogwarts. Sendo mestiça, temia sofrer preconceito quando se mudasse para o castelo, mas Ron a recebeu e a acolheu logo de cara. Cresceram juntos, ele era como um irmão, seria estranho beijá-lo.
Ela não sabia, entretanto, que as palmas das mãos de Ron suavam com a possibilidade de acabar sendo o escolhido. Ele não compreendia como se sentia, parte dele gritava que aquilo era esquisito, mas a outra parte a desejava. Talvez fossem apenas seus hormônios da puberdade, talvez estivesse confundindo a natureza de seu relacionamento, mas ele definitivamente queria que a garrafa o escolhesse. Até porque ela não poderia acabar beijando um daqueles sonserinos desprezíveis, não é? Ele era a única opção possível.
E é claro, poderia acabar beijando Draco Malfoy. Céus! Só com aquela mera chance seu nervosismo aumentava. Passara a noite toda tentando esconder o que sentia, mas ele estava bem ali, a sua frente, com seu paletó preto e pele pálida quase doente. O perfume amadeirado dele tinha um frescor que exalava poder e nobreza, ela queria mais que qualquer coisa se aproximar mais, tocá-lo, sentir aquela essência mais de perto.
E era o que ele queria também. Havia pedido para Blaise armar todo esse jogo por essa ínfima desculpa de se aproximar dela, de ter um motivo plausível para a ter perto nesta festa excruciante. Também pedira que fosse algo sutil, não podia arriscar que ninguém soubesse de sua cobiça por uma meio-sangue. Mas quanto mais olhava para ela, menos aquilo tudo importava.
Observou se ajoelhar, se aproximando da mesa. Seus dedos delicados encontrando o vidro esverdeado da garrafa e a movimentando com destreza.
Amaldiçoava mentalmente tudo o que fora ensinado a acreditar. Xingava a si mesmo por ter se preocupado com o que os outros pensariam. Queria que Blaise a tivesse desafiado a lhe beijar, diretamente, ao invés de entregar essa decisão às mãos cruéis do destino.
Draco se encontrou apreensivo. Seu coração batendo forte em seu peito, tanto que temia ser visível mesmo através de seu blazer. Seu corpo quente e agitadiço. Sua mente com um turbilhão de pensamentos confusos.
E ao olhar os longos cabelos dela, desejava poder passar suas mãos por eles. Queria poder tatear todas as curvas de sua silhueta, sentir a textura aveludada daquele mini-vestido e das coxas dela.
A garrafa continuava girando, talvez não parasse nele.
Não suportaria vê-la beijar qualquer outro agora. Tinha que ser ele.
Que se dane a discrição, que se foda o jogo e o que pensariam. Que vá para o inferno toda Hogwarts. Precisava aliviar aquela tensão.
mantinha os olhos fechados, mais uma vez. Apreensiva demais para pensar nas consequências daquele resultado.
A garrafa parou.
Mas quando ela abriu os olhos, descobriu que na verdade, tinha sido parada.
Seus olhos fizeram caminho desde a mão que a segurava na mesa, o anel de cobra em um dos dedos, a manga de blazer com uma abotoadura gravada com um monograma da família puro-sangue.
Draco Malfoy segurava a garrafa com a tampa apontada para si mesmo. E tudo o que ela queria era queimar sob o gosto daquele whisky de fogo que ele vinha tomando durante toda a festa.
— Não pode fazer isso! – Ron acusou. – Não é assim que se joga!
Fred e George se entreolharam, sem saber o que aconteceria. parecia em transe.
Blaise observava, um sorriso orgulhoso. Finalmente Draco tomara atitude. Esperava que ao menos terminasse a noite menos rabugento.
encontrou os olhos de Draco.
— , gire de novo. Ele não pode fazer isso! – Ron seguia inconformado.
A menina suspirou, sem nunca cortar o contato visual com Malfoy.
— Ele pode, sim. – Disse simplesmente.
Draco sorriu, verdadeiramente pela primeira vez. Suas pupilas cinzas e claras estavam dilatadas e podia ver que ele queria tanto aquilo quanto ela.
Instintivamente, os dois se levantaram ao mesmo tempo. Ele deu dois passos até alcança-la.
Segurou o pescoço dela com sua mão direita, fechando os olhos e sentindo a pulsação da garota acelerar quando uniu seus lábios. Com a mão esquerda, Draco imprimia um pouco de força sobre a cintura de , a trazendo para mais perto de seu corpo. Ele tinha urgência em senti-la, absorvê-la o máximo que pudesse.
Ela tinha as mãos sobre o peito dele, segurando as lapelas de seu blazer.
Por um momento, ele cortou o selinho.
— Preciso que me avise se eu cruzar alguma barreira. – Sussurrou, para o que a menina, sem fala, apenas concordou com um aceno rápido de cabeça.
Então ele pressionou um pouco mais o pescoço dela, arrancando um suspiro de sua garganta. Sabia bem como fazer aquilo corretamente, sem machucá-la. Tornou a encontrar seus lábios, dessa vez aprofundando o beijo para além de um simples selinho.
Quando suas línguas se encontraram, ela pôde sentir o gosto de todo aquele whisky que Draco ingeriu. Nunca tinha provado nada alcoólico, mas provar através dele deixava as coisas ainda mais excitantes. Subiu suas mãos para as laterais do rosto de Malfoy, segurando-o perto e acariciando suas bochechas, sentindo os ossos de seu maxilar bem delineado.
Ele foi descendo sua mão da cintura para a lateral da coxa de , respeitosamente tomando cuidado para não encostar em nenhuma parte tão inapropriada. Com a palma quente de sua mão, finalmente pôde realizar seu desejo infame de apertar a coxa dela, mesmo que o fizesse por cima do tecido do vestido, afim de não a constranger.
Mas sorriu no meio do beijo, o cortando de repente.
Nunca havia feito nada assim, ainda mais em público, como se encontravam. Podia sentir a vergonha corroendo seus ossos, por mais que quisesse continuar o beijando até que sua energia se esgotasse.
Ela se afastou meio passo para longe de Malfoy, apanhando a mão que há pouco estava em torno de seu pescoço.
— Eu fiz algo errado? – Draco perguntou um pouco ofegante, meio preocupado em ter ido longe demais.
— Não, foi melhor do que eu poderia ter imaginado.
E então ela sorriu. Da mesma forma como sorrira antes de cortar o beijo.
De certo que aquele momento ficaria gravado na mente do garoto e o atormentaria dali em diante. O sorriso nos lábios enquanto o deixava frustrado com gostinho de quero-mais. Merlin! tinha mais poder sobre Draco Malfoy do que ele havia antecipado.
Foi quando ambos pareceram se dar conta de que não viviam uma realidade paralela compartilhada apenas pelos dois: ao seu redor, Rony enfurecido batia boca com Blaise, George tentava argumentar no meio dos dois, Fred lançava um joinha com uma cara maliciosa e orgulhosa para , e além de tudo, um grupo de uns 7 alunos de diversas casas se juntava perto deles com burburinhos de “Malfoy beijou uma mestiça” “Traidor de sangue” “interesseira” e outros.
Era certo que pela manhã não haveria uma só alma que não soubesse do ocorrido. Mas Draco não queria estragar seu momento com aquilo.
— Vocês não tem mais o que fazer, não?! – Falou alto, recriminando a todos que se mantinham ali pela fofoca, que logo se dispersaram de novo pelo salão. – Malditos palhaços. Essa escola e toda sua gente é uma piada. Lido com eles amanhã.
E lá estava, o Draco que todos conheciam e desgostavam. sentiu de novo aquele estranhamento que a fazia ter receio de se aproximar do garoto, mesmo depois de um momento tão marcante e íntimo.
Sem que percebesse, ela cruzara os braços frente o próprio torço e fisicamente se distanciou dele um passo. Mas ele percebeu, ao voltar seu pescoço para olhá-la, que algo já estava diferente.
E ironicamente, Draco Malfoy, acostumado a mandar em criados e colegas desde que se entende por gente, não sabia o que fazer para tomar controle da situação.
Então ele apenas assistiu sumir pela Comunal após um nada convincente “vou pegar uma bebida”.
Rony se levantou em seguida, tentando alcança-la.
Malfoy se jogou mais uma vez ao sofá de couro, recostando seu cotovelo no braço do móvel e apoiando o queixo em seu punho. Quem não o conhecesse poderia até pensar que ele demonstrava algum tipo de emoção, arrependimento, mas, é claro que o herdeiro de Lucius não liga para nada além de si mesmo, certo?
A passos rápidos misturados à pouca luz, Rony acabou perdendo de vista no meio de todas aquelas pessoas, podendo apenas ouvir os comentários sobre ela e Malfoy se espalhando. E, infelizmente, nem um deles era gentil com sua amiga.
E era culpa de Draco. Sempre é culpa dele. Deveria ter impedido que a beijasse, tudo o que aquele garoto faz tem um propósito nefasto por trás.
Mas Rony não deixaria por isso mesmo. Não assistiria sentado enquanto ele destruía a reputação e o espírito de sua melhor amiga.
O grifinório seguia se esgueirando quase cegamente pelo meio das pessoas, buscando . Precisava saber se ela estava bem.
Mas acabou por encontrar outros rostos familiares: Harry e Ginny, regressando à festa com um ovo de acromântula nas mãos da mais nova.
Ginny tinha um corte na bochecha e o moletom de Harry estava rasgado no braço direito, expondo uma quantidade considerável de sangue, mas, apesar disto, ambos carregavam também sorrisos vitoriosos nos lábios.
Eles acenaram para Rony, que vinha em sua direção com uma feição que os preocupava.
Quando os encontrou, Ron despejou tudo de uma vez para os dois, metralhando-os com palavras e nervosismo.
— Harry, precisamos fazer algo! Ele trapaceou no jogo, obrigou ela a beijar na frente de todo mundo, estão todos falando mal dela, eu não consigo a encontrar!
— Ei! Calma, Ron! O que está acontecendo? – Harry pôs as mãos nos ombros do amigo.
— Quem fez o quê, Rony? – O sorriso aventureiro de Ginny fora substituído por um cenho franzido, confuso e meio preocupado.
— Malfoy! Ele segurou a garrafa para ter que o beijar, na frente de todos.
— Ele fez o quê?! – Harry aumentou o tom de voz, irritado. – Isso é baixo até para um imbecil como ele!
— Por que ele faria isso? E toda aquela baboseira de meio-sangues? – Ginny se sentia enojada, revoltada. – Ela não é boa o bastante para ser tratada como igual, mas para se aproveitar não tem problema, é?
Ginny grunhiu, enfurecida. Entregou o ovo para Harry com um pouco de brutalidade.
— Onde você vai? – Rony perguntou à irmã.
— Encontrar minha amiga. – Falou, já virando os calcanhares e saindo à procura.
Harry cerrou os olhos, entregando o ovo para Rony segurar.
— O que vamos fazer?
— Continuar jogando. – Harry respondeu, altivo, indo em direção à mesa.
Haveria sangue na água esta noite, cada nervo de Potter e Weasley era preenchido com uma raiva vermelha ardente.
Os dois caminharam depressa até seu destino. Encontraram os gêmeos constrangidos, recolhendo seus produtos e os alocando de volta na maleta.
— Fred, George, não guardem as coisas ainda. O jogo não acabou. – Harry disse, comandante.
Draco levantou apenas os olhos para encará-lo.
— O que quer, Potter?! – Perguntou, irritado, se levantando de supetão. Já não apreciava ter de conviver com ele normalmente, mas aquele definitivamente não era um bom momento para lhe provocar.
— Me divertir. É uma festa, não é? – Harry o encarou, seu tom sarcástico e provocativo. – Vai se acovardar, Malfoy?
Draco sorriu, balançando minimamente a cabeça, sem cortar o contato visual com Harry.
— Vai desejar não ter dito isso, Potter. – Olhou para os gêmeos, em seguida. – Vamos continuar.
Os dois se sentaram em sofás opostos, de frente um para o outro. Ron se sentou ao lado de Harry, colocando o ovo de acromântula debaixo da mesa; mas Blaise girou os olhos, pôs a mão no ombro de Draco, aproximou-se de seu ouvido e disse “estou fora, lide com suas merdas sozinho”.
Malfoy sentiu o rosto arder de raiva, no fim, sempre estava sozinho. Nunca pôde contar com ninguém mesmo. Suas amizades só duravam enquanto podiam tirar algum proveito dele.
— Cavalheiros. – Zabini se levantou e deu um aceno de cabeça para os que ficavam, retirando-se para aproveitar o que ainda restava da festa sem a energia pesada de Draco. Não tinha e menor paciência para se importar com aquelas rixas infantis.
— Gire logo a porra da garrafa. – Malfoy ordenou, ríspido, enquanto Harry o encarava com um ar de escárnio.
Rony mordeu a língua para não pegar logo sua varinha e lançar uma azaração nele. Em vez disso, tratou de se controlar e mover a garrafa.
E menos de dois segundos depois, Harry a segurou, num movimento brusco que fez Draco vacilar.
— O que está fazendo?! – Perguntou, num tom alto e irritadiço.
— Soube que as regras mudaram por aqui. – Potter o afrontava, mas Draco sequer conseguiu responder a altura. – Verdade ou desafio?
— Des... – Draco começou a dizer, mas Harry o cortou.
— Adivinha só? Eu não ligo. Se você pode escolher por ela, eu também vou escolher por você. Vai ser verdade.
Draco apenas pressionou o maxilar, pressionando os próprios dentes.
— O que você quer com ela? Fez tudo isso só pra humilhar nossa amiga? – Harry falava, com um olhar ameaçador, projetando o corpo para frente. – É isso que você faz, não é? Gosta de humilhar todos que não são “sangues puros”. – fez aspas com as mãos. – Responda!
Rony e os gêmeos encaravam a cena, sem interferir.
Draco, que sempre tinha uma resposta na ponta da língua, dessa vez não sabia o que dizer. Beijar fora a coisa mais espontânea e sincera que fizera em muito tempo. Não havia nenhum propósito maldoso por trás daquilo, pelo contrário, fora apenas um momento de respiro e frescor no meio de tanta merda que está tendo de lidar ultimemente.
Aquilo não tinha a ver com os planos de sua família, não tinha relação com a marca em seu braço, de fato, ia contra tudo isso. Mas ele ainda o fez. Fez porque queria, muito, e achou que tinha o direito de se permitir viver um marco adolescente normal.
Mas é claro que questionariam suas intenções, afinal, o que um monstro como ele poderia querer com uma garota gentil e boa?
— Isso não é da sua conta, Potter. – Respondeu, com os dentes cerrados.
— Não é da minha conta? – Harry molhou os lábios com a língua. – Tudo bem. Então aí vai uma mais fácil, basta dizer sim ou não. – mantinha sua atitude intrépida e valente, enquanto Draco tentava não se recolher em seu assento. – É verdade que se tornou um comensal nas férias?
E com um simples frase, o coração de Draco acelerou tanto que poderia sair pela boca. Sua respiração se desregulou completamente, suas pernas gelaram.
— Harry! – O grifinório se virou, surpreso.
Atrás dele estavam , Ginny e Pansy. As duas primeiras ajudavam Parkinson, toda ensanguentada, a ficar de pé.
Draco aproveitou a deixa para se levantar, seus olhos assustados. Ele precisava sair dali, o mais depressa possível. Sentia que as paredes estavam se fechando e não conseguia respirar direito.
encarava Potter, chocada e em desaprovação.
— O que você fez?!
— Rony nos contou tudo. E sabemos que ele é um comensal, , já falamos sobre isso. – Harry se levantou, ficando de frente para as outras.
— George, o Nugá! Depressa! – Fred disse, correndo até Pansy.
George pegou o resto do doce e levou até a garota, fazendo o sangramento parar assim que ela o ingeriu.
— Temos que levá-la para Madame Pomfrey. – Afirmou, já a tomando em seus braços e saindo com o irmão ao encalço.
Ginny encarou Harry e Rony, uma feição indecifrável.
— Eu vou com eles. Para me certificar que Pansy fique bem. – Deu um meio sorriso sem nenhum humor na direção de , que a retribuiu com um aceno de cabeça.
Agora, estavam apenas os três melhores amigos, que vieram a festa sob a esperança de ter uma noite proveitosa e se divertirem.
Grande engano.
— Ronald te contou tudo, então, Harry? – Falou, séria.
— Sim, disse que Malfoy segurou a garrafa para você ser obrigada a beijá-lo. E depois você saiu humilhada enquanto todos espalhavam a história te criticando.
deu um sorriso de canto, incrédula, olhando para Rony por um microssegundo.
— E ele te contou que eu queria beijar o Draco?
Os olhos de Harry se arregalaram tanto quanto os de Rony, que abriu a boca, embasbacado.
— Você o quê? – Weasley verbalizou seu choque.
— E nós não sabemos – Enfatizou. - que ele é um comensal. Você tem suspeitas disso, Harry. Não tem como a gente ter certeza ainda.
— Qual é, ?! Não está falando sério, está? – Harry questionava.
— Como pode gostar dele? Ele odeia meio-sangues, ! Ele chamou Hermione de sangue-ruim, esqueceu? – Ron argumentava. – E por que você saiu correndo toda triste depois? O que eu deveria pensar?
sorriu de canto, com um sabor amargo. Aqueles eram os motivos pelos quais ela se sentia tão errada de tê-lo beijado, ou, pior ainda, de gostar dele. Por isso ela saiu depois do beijo, precisava tentar entender tudo. A resposta racional seria ignorar tudo isso e nunca ter se aproximado, mas não podia evitar sentir que havia algo mais naquele garoto, algo bom por debaixo de toda essa cortina obscura que o circunda.
— Vejo vocês depois. – Disse, meio baixo, sem encarar os olhares confusos dos amigos.
se retirou da comunal da sonserina, caminhando aflita pelos corredores de Hogwarts. Seu coração pesado, sua mente pesarosa.
O que ela devia fazer? Como deveria se posicionar quando seus princípios e tudo pelo que luta é confrontado pelos ideais da família Malfoy? Por anos, tentou fugir dessa atração que sentia, tentou ignorar até que passasse. Mas agora, ao fechar os olhos, todas as sensações voltavam. Os lábios dele contra os dela. A mão dele em sua cintura. O perfume dele em seu vestido.
Repetir em sua mente todas as coisas ruins que Draco fizera para seus amigos desde o primeiro ano não evitava a vontade inadequada que ela tinha de encontra-lo agora.
Isso tudo sem contar que, com seu dom sensitivo apurado pelas aulas de adivinhação, ela sabia que ele não era só o riquinho mimado e mal-humorado que se esforçava para parecer. Mas até isso começava a se questionar, até onde esse crush a estava tirando seu bom senso?
Sentia a brisa fria do pátio adentrar pelo pórtico do corredor e bater em seus ombros descobertos. E, por um diminuto acaso, um pequenino objeto no chão tomou sua atenção, frente à entrada do banheiro da Murta Que Geme.
se abaixou, apanhando-o e o observando mais de perto.
Era um minúsculo broche prateado, no formato de uma cobra. Tal qual aquele que ele costuma usar em suas gravatas.
Seria possível?
Franziu o cenho, levantando-se com o acessório guardado dentro da palma de sua mão, adentrando o banheiro sem tempo de se auto confrontar e não o fazer, não o procurar mais.
Com passos leves, caminhou para dentro do cômodo, os saltos de suas botas ecoando pelo lugar.
Malfoy chorava com as mãos apoiadas na pia e a cabeça baixa. Estava tendo mais um daqueles ataques de ansiedade. Desde que aquela marca fora posta em seu braço não se passa mais que dois dias sem ter um desses.
Mas a prática não garante o controle. Ainda não sabia o que fazer para se acalmar. Então, frequentemente, ele corria até o banheiro da Murta, sabendo que estaria sozinho ali.
seguia se aproximando devagar, andando cautelosamente pelo pequeno hall com uma parede que separava as cabines da porta, para que não ficassem à vista do corredor. Escutava alguém chorando, mas poderia ser qualquer um, não queria ser invasiva.
— Não vai assustá-lo, vai? – estremeceu, pondo a mão no peito. Era Murta, surgindo direto do chão sem qualquer aviso.
— Murta! – Sussurrou. – Quase me mata!
A menina fantasma sorriu, por detrás de suas maria-chiquinhas e óculos redondos. Antes de morrer, pertencia a e, por algum motivo, acabou caindo nas graças dela; mantinham uma relação bastante amigável.
— Quem está aí, Murta? – perguntou, ainda sussurrando.
— O menino da sonserina. Ele vem muito aqui para chorar. Eu até paro o meu próprio choro para tentar ajuda-lo às vezes. – Deu de ombros.
— Que menino é esse? – questionou, mas Murta apenas curvou os lábios num arco para baixo.
Não podia ser, podia?
— Vai falar com ele? – A fantasma perguntou, com um sorriso um pouco malicioso.
— Pode nos dar um momento sozinhos? – Pediu, com o tom mais doce que conseguiu.
— Eu moro aqui!
— Por favor? – Insistiu.
Murta grunhiu, ascendendo flutuando e sumindo pelo teto do banheiro.
continuou seu caminho, finalmente passando para a área das cabines.
Draco escutou o barulho dos saltos dela, virando-se com sua varinha em mãos e em posição de ataque.
— Quem está aí?! – Fez-se ouvir, com a voz e as mãos trêmulas.
— Draco? – se revelou, finalmente o vendo.
Era realmente ele. Chorando, sozinho. Sua gravata e blazer jogados ao chão.
E segundo Murta, aquilo era recorrente.
— Draco, sou eu! – Seguia se aproximando, devagar, com uma mão erguida.
Ele não baixou a varinha.
— Que faz aqui, ?!
— Eu achei isto. – Estendeu a mão na direção dele, mostrando o broche. – Pensei que poderia estar aqui, então vim. – Tentou encarar os olhos de Draco, mas ele desviava sua vista para qualquer outra coisa. - Pode baixar a varinha?
Draco olhou para a própria mão, trêmula, mas em posição ofensiva, apontada para ela. Piscou freneticamente umas três vezes, baixou o braço.
Ele tentava puxar ar, mas tinha dificuldade. O mundo parecia correr à 500km/h enquanto ele ficava parado.
Olhava para o chão, para as paredes, não parecia encontrar foco.
— Draco. – o chamou, inutilmente. – Draco! – Aumentou um pouco o tom, chamando sua atenção.
Ele a encarou, assustado, oscilante, ofegante. As bochechas molhadas de lágrimas.
jamais imaginaria vê-lo naquele estado.
— Eu posso me aproximar? – Perguntou, sua voz clara e calma.
Draco tentou racionalizar o que estava acontecendo, mas não conseguia. Sentia uma onda de energia pesada percorrer sua cabeça até seus pés, forçando-o para o chão.
— S-sim. – Disse.
se aproximou, devagar.
— Eu posso te tocar? – Pediu permissão.
Draco só pôde a encarar e mover a cabeça num movimento curto e rápido, sinalizando um sim.
E então, rapidamente contornou seus braços por ele, encaixando seu queixo na curva dos ombros de Malfoy.
E, no calor do corpo dela, ele desmoronou.
O choro se intensificou, ele largou a varinha de uma vez, o som da madeira colidindo com o piso ecoou. Ele a abraçou de volta.
fechou os olhos, sentindo toda a angustia dos soluçares de Draco em seus ombros.
E ela o segurou, o confortou.
Ficaram naquele abraço por algum tempo, sem que nenhum dos dois sentisse que deveria se afastar.
Draco podia ser herdeiro de uma das maiores fortunas do mundo bruxo, mas afeto físico sempre fora uma carência em sua casa. E, até agora, nunca soube o quanto aquilo lhe fez falta.
Em algum ponto, sentaram ao chão, ele com as costas apoiadas na parede da pia e ela a sua frente, segurando sua mão e o instruindo em exercícios de respiração.
Até que finalmente tudo se acalmou.
E, por incrível que pareça, ele apoiava a cabeça no ombro de , enquanto ela massageava gentilmente seus cabelos prateados.
Eles não conversaram muito, ficaram só ali no silencio da companhia um do outro, cada um cheio de questões na própria cabeça e coração.
Havia algo acontecendo entre eles, era inegável. Ambos sentiam algo nunca sentido antes, um tipo de conexão, de paz, como se não houvesse nada mais certo que estarem juntos.
Mas, quando se lembravam do mundo lá fora, ambos tinham seus motivos para saber que não deveriam, jamais, estarem juntos.
Os primeiros raios de sol da manhã começavam a penetrar os vitrais das janelas altas do banheiro, encontrando a parede na frente deles. Ouviam passarinhos lá fora.
— Acho que está na hora de irmos. – falou, baixinho, ainda mexendo nos cabelos dele.
Permitiu-se sorrir com aquilo. Nunca em um milhão de anos se imaginaria fazendo cafuné em Draco Malfoy, chegava a ser engraçado. Se dissessem a ela uma semana atrás que isso aconteceria, ela riria na cara da pessoa.
Mas com a luz do dia, a lucidez parecia retornar à mente de Draco. Não podia continuar fingindo que é apenas um adolescente normal, não podia ignorar por mais muito tempo a missão que fora dada a ele, ou o próprio Lorde das Trevas o viria cobrar as consequências.
Céus, imagine o que aconteceria à se fosse envolvida nisso? Não podia fazer isso com ela.
Há algum tempo se sentia atraído por , mas, depois de uma única noite, ele sabia que era mais do que isso.
Gostava dela. Gostava muito.
, a meio-sangue, não devia ser tratada como igual, mas por um motivo diferente do que a política de sangue pregava. Ela devia ser tratada com diferença porque era melhor que qualquer outra pessoa que já conhecera. Ele se importava com ela. E sentia que ela se importava com ele, o que era raro.
E por se importar é que ele não podia a envolver em sua vida, sendo agora um comensal da morte.
— Assim que passarmos por aquela porta, nada disso aconteceu. – Draco ordenou, recolhendo sua gravata do chão e se levantando, amarrando-a frente ao espelho.
O coração de perdeu uma batida, sentiu seu peito gelar. O que ele estava dizendo?
— Tá falando sério? – Levantou-se também, encarando os olhos dele pelo espelho.
— Sabe que isso entre nós não pode acontecer.
sorriu incrédula.
— Ah é? E por que, Draco? – Sua voz ameaçava embargar com o nó que se formava em sua garganta.
Aquilo não podia estar acontecendo. Ela o ofereceu compaixão e solidariedade, sem nenhuma segunda intenção, por mais que tivesse sentimentos por ele, não fora por isso que o confortara. E ele a estava fazendo sentir que aquilo tudo foi errado, como se fosse algo sujo.
— Você sabe o porquê. – Disse em seu típico tom blasé. – As pessoas comentam. Você viu o que aconteceu ontem depois que te beijei.
— Eu não poderia me importar menos pro que as pessoas dizem por ai, Malfoy. Eu quero ouvir você dizer, com todas as letras.
Ela o encarava, mantendo sua postura brava que ninguém poderia intimidar. Mesmo que por dentro estivesse se quebrando de cinco formas diferentes.
Draco suspirou, pondo todo o ar de seus pulmões para fora. Tomando toda a força que tinha em seu corpo, virou-se, encarando-a olho no olho.
— Você e eu somos diferentes, .
Ele viu os olhos dela brilharem cheios de lagrimas, por mais que mantivesse uma atitude inabalável.
Naquele segundo, não havia nada que Draco Malfoy quisesse mais do que . Queria a tomar em seus braços e agradecer por tê-lo ajudado sem nem pensar duas vezes. Queria se desculpar por toda essa merda que estava falando. Queria beijá-la e novo. Ele a queria tanto que chegava a doer seu peito fisicamente.
E era exatamente por isso que precisava protege-la de seu mundo.
— Fala, Malfoy. Eu quero ouvir você falando. – Ela insistia, enfurecida sem jamais aumentar o volume de sua voz.
Ele respirou fundo. Estava certo de que nem acreditava mais naquilo e, honestamente, sentia-se mal por todas as vezes que dissera algo ou agira dentro daquela linha.
Mas já estava envolvido demais na guerra bruxa que estava por vir para simplesmente sair limpo e recomeçar. Ele era o escolhido de Voldemort. Precisava compensar os erros que seu pai cometera ou acabaria morto.
Então, tomou coragem e disse, de uma vez:
— Não posso me envolver com uma sujeitinha de sangue-ruim como você.
o olhou incrédula por um segundo, soltando o ar pela boca num pequeno riso sádico e cáustico.
— Todos estavam certos sobre você. – Falou, olhando bem dentro das pupilas cinzas gélidas dele. – Mas não se preocupe. Isso – enfatizou. – entre nós não sairá daqui, porque não era absolutamente nada. Eu só estava ajudando alguém em crise.
deu as costas, caminhando com pressa para fora do banheiro, tentando não chorar.
Não importa o quanto tenha se humilhado no jogo da garrafa ontem, nenhum jogo era mais perdido e lastimável do que gostar de Draco Malfoy.
Fim.
Nota da autora: FELIZ ANIVERSÁRIO PRO MELHOR SITE DE FANFICS DO MUNDO! O FFOBS É TUDO OU NADA? TUDOOO!
Passei minha adolescência inteira por aqui, ganhando intercâmbios para Londres com mais 4 amigas, recebendo conselhos, vivenciando mundos fantásticos, períodos medievais, e tudo na companhia dos melhores amigos que poderia querer: os personagens e outras leitoras. Ser autora no Obsession e comemorar essa data me traz sentimentos inefáveis e espetaculares. Agradeço a toda a equipe por manter isso aqui por tantos anos, cada vez melhor.
Maaaas, estimadíssimas leitoras, vamos lá:
Saudações, minhas bruxinhas! Sei que o final é meio triste, mas é isso que se ganha por ter a doença Dracostan! (e eu, como porta-voz da causa, já aviso que é incurável) Hahah Agradeço imensamente do fundo do meu coraçãozinho a quem leu até aqui. Esta é minha primeira shortfic no site, e também a primeira coisa de Harry Potter que escrevo. Sei que o Ron foi meio chatinho, mas ele tem um lugarzinho imenso no meu coração e espero que vocês possam entender o lado dele também.
E se você gostou dessa fic, talvez goste também da minha longfic Until The End
E caso queira me xingar pelo final ou pedir uma possível continuação desta (deixei no ar hein), você pode deixar um comentário aqui ou me achar no meu instagram de autora @zuilalua
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Passei minha adolescência inteira por aqui, ganhando intercâmbios para Londres com mais 4 amigas, recebendo conselhos, vivenciando mundos fantásticos, períodos medievais, e tudo na companhia dos melhores amigos que poderia querer: os personagens e outras leitoras. Ser autora no Obsession e comemorar essa data me traz sentimentos inefáveis e espetaculares. Agradeço a toda a equipe por manter isso aqui por tantos anos, cada vez melhor.
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Saudações, minhas bruxinhas! Sei que o final é meio triste, mas é isso que se ganha por ter a doença Dracostan! (e eu, como porta-voz da causa, já aviso que é incurável) Hahah Agradeço imensamente do fundo do meu coraçãozinho a quem leu até aqui. Esta é minha primeira shortfic no site, e também a primeira coisa de Harry Potter que escrevo. Sei que o Ron foi meio chatinho, mas ele tem um lugarzinho imenso no meu coração e espero que vocês possam entender o lado dele também.
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